Aspectos Médicos Das Drogas Facilitadoras de Crime
Aspectos Médicos Das Drogas Facilitadoras de Crime
Aspectos Médicos Das Drogas Facilitadoras de Crime
Artigos
DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2317-2770.v22i2p66-71
Takitane J, Pimenta DS, Fukushima FM, Fonte VG, Leyton V. Aspectos médico-legais das substâncias utilizadas como
facilitadoras de crime. Saúde, Ética & Justiça. 2017;22(2):66-71.
RESUMO: O uso de substâncias modificadoras de comportamento para cometimento de delitos não é um fenômeno recente,
elas já foram utilizadas para o cometimento de roubos, homicídios, estupro e violência sexual. A prevalência e o tipo de
droga utilizada variam de acordo com o país estudado, mas seu número real ainda é de difícil mensuração frente à hesitação
da vítima em contatar as autoridades policiais competentes ou, ainda, ao longo tempo decorrido entre o fato, a denúncia,
a coleta de material(is) biológico(s) e a análise deste(s) espécime(s). No Brasil, diferentemente do observado no resto do
mundo, os crimes facilitados por drogas têm como finalidade principal o roubo e têm como principais vítimas indivíduos
do sexo masculino. São conhecidas mais de 100 substâncias empregadas para estes fins, sendo as principais o etanol, os
benzodiazepínicos, o gama-hidroxibutirato (GHB) e a cetamina. Algumas características destas drogas incluem a produção
de certos sintomas inespecíficos nas vítimas (desinibição, sedação/hipnose, confusão mental, amnésia anterógrada), além
de serem de fácil obtenção, de difícil detecção analítica, permitirem uma administração discreta e início rápido dos efeitos.
Diante do exposto e da gravidade dos crimes aos quais tais substâncias estão relacionadas, torna-se evidente a necessidade
de investimentos em pesquisa e levantamentos epidemiológicos de qualidade, que possibilitem a geração e a divulgação de
informações fidedignas que reflitam o problema.
1.
Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. Doutoranda em Ciências, área de concentração Fisiopatologia Experimental, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. [email protected]
2.
Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. Médico Residente de Medicina Legal do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do
Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. [email protected]
3.
Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. Médico Residente de Medicina Legal do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do
Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. [email protected]
4.
Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. Médica Residente de Medicina Legal do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do
Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. [email protected]
5.
Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo. Professora Doutora do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo. [email protected]
O
duas principais hipóteses. A primeira seria que o nome
uso de substâncias modificadoras de “Boa Noite, Cinderela” é dado como referência a um
comportamento para cometimento de programa de televisão brasileira homônimo no qual
delitos não é um fenômeno recente, o apresentador premiava uma participante com uma
tendo, essas drogas, sido utilizadas para o cometimento noite de princesa. A outra hipótese é que a personagem
de roubos, homicídios, estupro e violência sexual1,2. Cinderela é uma princesa que participou de um grande
A prevalência e o tipo de droga utilizada variam de baile, fazendo referência aos locais preferenciais da
acordo com o país estudado, mas seu número real ainda prática do golpe, como bares e casas noturnas, e que esta
é de difícil mensuração frente à hesitação da vítima em perde seu sapato de cristal, como referência à perda do
contatar as autoridades policiais competentes ou, ainda, controle pela vítima8.
ao longo tempo decorrido entre o fato, a denúncia, a Ao contrário dos países da América Latina e
coleta de material(is) biológico(s) e a análise deste(s) do resto do mundo, no Brasil os crimes facilitados por
espécime(s)2,3. drogas apresentam um perfil diferente. Em nosso país,
O principal crime facilitado por uso de drogas no esses tipos de crimes têm como finalidade principal o
mundo é o estupro1. No Brasil, quando não há o necessário roubo e têm como principais vítimas indivíduos do sexo
discernimento para a prática do ato ou se a vítima não masculino, tendo ocorrido só na capital paulista 415
pode oferecer resistência, o crime é enquadrado em roubos deste tipo entre 2014 e a segunda metade de 2017,
estupro de vulnerável, de acordo com o artigo 217-A do segundo mesmo autor9.
Código Penal Brasileiro, o qual apresenta uma penalidade Em estudo sobre violência sexual realizado com
agravada4. adolescentes e adultos jovens, foi determinado como
De acordo com Anderson et al.5, em 2017, o principais fatores de risco a precocidade no primeiro
termo drug-facilitated sexual assault (DFSA) refere-se encontro e precocidade de início sexual, precocidade da
à violência sexual em que a vítima está incapacitada e/ menarca, história anterior de abuso sexual ou vitimização e
ou incapaz de prover consentimento ao ato sexual como maior aceitação pessoal de violência contra mulheres10.
resultado do consumo de álcool ou droga. Gee et al.6,
em 2006, descreveram duas categorias de DFSA: (a) OBJETIVOS
“DFSA proativa”, na qual à vítima é administrada uma
substância incapacitante ou desinibidora, secretamente Fornecer informações acerca das principais
ou de maneira forçada, pelo agressor, com fins de praticar substâncias utilizadas nos crimes facilitados pelo uso
o abuso sexual; e (b) “DFSA oportunista”, na qual o de drogas, além dos diferentes tipos de crimes a ele
agressor se aproveita do estado inebriado da vítima, relacionados e o perfil geral das vítimas, tanto no Brasil
alcançado pelo consumo voluntário de álcool ou droga como em outros países.
pela mesma, para a prática da agressão sexual. Em ambos
os casos, a vítima apresenta prejuízos no seu estado de MATERIAL E MÉTODOS
consciência e capacidade reduzida para resistir às ações
indesejadas. Foi realizada uma revisão de literatura em
Para Hindmarch et al.7 ( 2001) o álcool apenas, ou bases de dados disponíveis na Internet, como Pubmed,
associado a outras drogas é a substância mais comumente Google Scholar, Scielo. A busca por artigos se baseou
encontrada neste tipo de crime, seguido por Cannabis. nos descritores: “drogas facilitadoras de crimes” (“drug-
Este resultado, corroborado por Anderson et al.5 (2017) facilitated crimes”) e “drogas facilitadoras de abuso
contraria o entendimento comum e sugere que o uso sexual“ (“drug-facilitated sexual assault”).
de benzodiazepínicos e hipnóticos não é tão prevalente
neste tipo de ocorrência como se pensa. Estes últimos RESULTADOS E DISCUSSÃO
realizaram uma revisão sistemática para encontrar
características de violência sexual facilitada por uso de Existem mais de 100 Drogas Facilitadores de
drogas e verificaram que a combinação entre intoxicação Crimes (DFCs) listadas nos guias da Sociedade de
alcoólica e uso voluntário de drogas é o maior fator de Toxicologistas Forenses (SOFT) e do Escritório das
risco para este tipo de violência sexual, contrariando a Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC)11,12.
crença popular de que é mais comum a indução ao seu Na comunidade científica, as substâncias mais
uso de forma ardilosa e não consensual5. conhecidas por serem utilizadas como DFCs são o etanol, os
No Brasil, o termo “Boa Noite, Cinderela” é benzodiazepínicos (como por exemplo, o flunitrazepam),
utilizado popularmente nos casos em que um criminoso o gama-hidroxibutirato (GHB) e a cetamina, podendo ser
faz a vítima ingerir algum tipo de substância que a deixe usadas separadas ou em associação13-15.
sem memória para roubar seus pertences. A origem do O GHB já foi uma substância usada por
fisiculturistas na forma de suplemento alimentar com efeito em duas horas e duração de até 8 horas13. Para o
a finalidade de perder massa gorda, sendo vendido em uso como DFC, o flunitrazepam é macerado até virar
ginásios e ervanários. No entanto, por ser considerado pó ou dissolvido, mas pode ser fumado, cheirado ou
doping, seu uso para fins esportistas diminuiu, passando injetado27. Pode ser usado como droga recreativa também,
a ser consumido em festas tipo “rave”, substituindo inclusive para aumentar o efeito de outras drogas como
drogas como o “ecstasy”, por exemplo, cujo princípio maconha, cocaína ou álcool27. Tem alto potencial em
ativo é a metilenodioximetanfetamina (MDMA), por causar dependência química23. Nos EUA pode ser
suas propriedades alucinógenas, euforizantes e hipnóticas encontrado em escolas, clubes ou com gangues. Dos
sendo, finalmente, usado como DFC, associado ou não efeitos adversos, o mais importante é a abstinência, que
com flunitrazepam16,17. Os principais efeitos do GHB causa cefaleia, dores musculares, ansiedade e inquietude,
são a sensação de euforia e bem-estar, no entanto, os confusão, alucinações e delírio, convulsões e choque
principais efeitos usados para a execução do crime cardiovascular13.
são a amnésia e a incoordenação motora, impedindo a A cetamina é composto derivado do cloridrato de
vítima de oferecer resistência e dificultando a memória fenciclidina (PCP), utilizado como analgésico e anestésico
para lembrar o ocorrido15. O efeito inicia-se 20 minutos geral na medicina veterinária e em emergências médicas,
após a ingestão, dissipando-se após 2 ou 3 horas13. A com restrições28. Apesar de seu mecanismo ainda não ter
apresentação do GHB é conveniente pela facilidade sido completamente desvendado, sabe-se que bloqueia
do transporte e da aplicação, geralmente encontra-se receptores do tipo NMDA e pode interagir com receptores
na forma aquosa, também podendo ser encontrado em Sigma. A droga produz rapidamente um estado hipnótico,
pó e de fácil dissolução. É de aspecto incolor, inodoro com profunda analgesia, amnésia, não responsividade a
e tem sabor levemente salgado15. O GHB é encontrado comandos, mas o paciente pode manter os olhos abertos,
endogenamente (presente naturalmente no Sistema respirar e mover os membros livremente29. Apresenta-
Nervoso Central dos mamíferos), não sendo detectado se na forma de um pó branco, que pode ser inalado ou
por todos os laboratórios e rapidamente eliminado do misturado com maconha e/ou tabaco e fumado, ou,
organismo (totalmente eliminado do sangue em cinco ainda, um líquido incolor e inodoro, para administração
horas e da urina, em 10 horas), o que pode dificultar intramuscular. Ambas formas permitem facilmente sua
sua detecção18,19. É conhecido como “Ecstasy líquido”, mistura de forma disfarçada às bebidas de potenciais
“Líquido X”, “G”, “Fantasy”, “Gama-OH”, “Água vítimas30.
salgada”, “Cherry meth”, “Scoop” ou “Easy Lay”, Outras drogas usadas como DFCs são maconha,
podendo ser usado como droga recreativa, também, cocaína, barbituratos, opiáceos, triazolam, “Mickey Finn”
principalmente entre estudantes e adolescentes20-22. (mistura entre hidrato de cloral com bebida alcoólica), e
Outra substância bastante utilizada para o outros benzodiazepínicos13. Todas essas drogas podem
cometimento de crimes é o flunitrazepam. Usado na ser usadas como facilitadores de crimes que possuem
Europa para o tratamento de insônia grave ou em perfis diferentes, dependendo da localidade em que são
anestesia, o flunitrazepam é um tipo de benzodiazepínico cometidos. Um levantamento feito na capital paulista
potente23,24. Esta substância não tem cheiro, sabor ou cor, com dados de 414 boletins de ocorrência registrados
sendo facilmente diluída em álcool. O flunitrazepam entre os anos de 2014 e 2017, que citavam o termo
foi tão utilizado como DFC que o fabricante Hoffman- “Boa Noite, Cinderela”, como é conhecida esta prática
LaRoche alterou o medicamento para um que fosse no Brasil, mostrou que a maioria das vítimas foram
menos solúvel e que gerasse uma coloração azul, criando homens (82,1%, contra 14,0% mulheres e 3,9% sem
uma heterogeneidade ao ser mergulhada em liquido, sexo definido). Foi observado também que as vítimas,
mudando, inclusive, a disponibilidade para comércio em sua maioria, eram homossexuais e que os agressores
de 2mg para apenas 1mg13. Devido ao seu uso como eram geralmente homens atraentes9. De acordo com
DFC, não se comercializa legalmente flunitrazepam no outro levantamento, a finalidade principal deste tipo de
Canadá ou nos EUA, porém, como a venda é facilitada abordagem é o roubo, sendo que crimes como roubo,
em países como Colômbia e México, tal substância entra furto e estelionato somaram 95% dos casos reportados,
ilegalmente naqueles países sob os nomes “Roffies”, e o estupro totalizou 5% dos casos. Segundo a mesma
“Roachies”, “Rope” e “Pílula do Esquecer” (“Forget fonte, as principais substâncias utilizadas nestes crimes
Pill”), sob o facilitador de custar menos de 5 dólares o foram cetamina, GHB e até cocaína31. Tais informações,
tablete13,20,25,26. Os principais efeitos do flunitrazepam são ainda que possam parecer frágeis do ponto de vista
sedação, redução da ansiedade, desinibição, relaxamento científico, foram as únicas publicações encontradas pelos
muscular e amnésia25. Tais efeitos, principalmente a autores que pudessem descrever a realidade brasileira
amnésia, demonstram a conveniência para o criminoso nesse tocante.
obter o controle desejado da vítima. O início da ação De acordo com matéria veiculada no site da
ocorre em 20 minutos após a ingestão, com o pico de British Broadcasting Corporation (BBC), o número de
crimes envolvendo as “drogas de estupro” tem tido uma por uso de drogas é o estupro2. A vítima principal é do
evolução muito rápida. A reportagem cita como principais sexo feminino, de acordo com um estudo realizado em
drogas da América Latina os benzodiazepínicos, o GHB, Paris. Neste, Chèze et al.35, em 2005, estudaram 128
e a burundanga, que tem como princípio ativo o alcaloide casos nesta cidade e reportaram que 85% das vítimas
escapolamina e que tem caído em desuso nos últimos de crimes facilitados por uso de drogas eram mulheres.
anos32. Em contrapartida, 82,1% das vítimas reportadas em
Na América do Norte, Hindmarch et al.7, em levantamento feito no Brasil eram do sexo masculino e
2001, fizeram análise de urina em 3303 amostras, no 3,9% não tiveram seu sexo definido9. Além disso, outra
período entre junho de 1996 e fevereiro de 2000, e pesquisa revelou que a natureza jurídica deste tipo de
encontraram que a droga mais comumente utilizada crime no país correspondeu a apenas 5% dos casos,
nos crimes sexuais foi o álcool (sozinho em 44% dos sendo mais comuns os casos de roubo, furto e estelionato
casos, ou em conjunto com outras substâncias em (87%, 23% e 4%, respectivamente)31. Os tipos de drogas
23%), seguido por Cannabis e medicamentos da classe encontrados neste tipo de crime no Brasil possuem
dos benzodiazepínicos. Entre estes últimos, as drogas perfil similar se comparados com as publicações de
mais encontradas foram Oxazepam e Diazepam (71%). outros países. Neste país, as principais drogas utilizadas
Flunitrazepam foi encontrado em apenas 0,3% dos nos crimes facilitados por uso de drogas são álcool,
casos envolvendo benzodiazepínicos. Além disso, foram cetamina, flunitrazepam, diazepam e cocaína. Resultados
detectados cocaína em 14% dos casos, anfetaminas em semelhantes são encontrados nos trabalhos de Hurley e
11% das amostras e GHB em 5% dos casos. colaboradores e no guideline de análise forense de drogas
Em estudo realizado em 2005, no Reino Unido, em crimes e violência sexual facilitados por drogas da
Scott-Ham e Burton33 fizeram análise de sangue e ONU12,34.
urina de 1014 casos envolvendo a administração de Um ponto importante a ser discutido é a
drogas facilitadores de crimes sexuais no reino Unido importância do papel das drogas autoadministradas
entre janeiro de 2000 e dezembro de 2002. Álcool foi e consentidas nos crimes deste tipo. Para Hindmarch
detectado em 46% dos casos, drogas ilícitas foram et al.7, reforçado pelo trabalho de Anderson et al.5, o
encontradas em 34%, sendo Cannabis a mais frequente chamado “drug spiking”, situação em que uma pessoa
(26%) seguida da cocaína (11%). Em 21 casos (2%), uma coloca inadvertidamente uma droga na bebida da vítima,
droga não admitida pela vítima foi encontrada, e pode ter é muito menos comum do que é reportado na mídia. Na
sido administrada sem consentimento, incluindo GHB, realidade, a grande maioria dos casos envolve grande
diazepam e temazepam. ingestão de álcool, associada a uso consentido de drogas.
Hurley et al.34 (2006) revisaram casos de alegada O papel das drogas que induzem o efeito de sedação e/
violência sexual facilitada por drogas por a partir de ou amnésia, ainda que importante, não é tão prevalente
dados do Instituto Victoriano de Medicina Forense na quanto se imaginava. Deve-se ressaltar, porém, que os
Austrália por 12 meses, período concluído em abril de dados podem ter sido afetados pela maior dificuldade de
2003. 76 casos foram selecionados, com histórico de detecção de alguns tipos de substâncias, seja pelo tempo
uso de álcool em 77% destes. 49% dos participantes de meia-vida mais curto, seja pela limitação da técnica de
disseram usar medicações e 26% disseram fazer uso detecção disponível ou, ainda, simplesmente por não ter
de drogas recreativas. Drogas não relatadas pelos sido suspeitado à época da denúncia do crime5,7,36.
participantes foram encontradas em 15 pessoas (20%).
Quatro amostras foram positivas para Cannabis, quatro CONCLUSÃO
para antidepressivos, três para anfetaminas, quatro para
benzodiazepínicos e três para opiáceos. Este estudo As drogas mais utilizadas para a prática de
também mostrou que a maioria das vítimas era do sexo crimes são álcool, GHB, benzodiazepínicos, tanto no
feminino (95%) e com média de idade de 25,6 anos. Brasil quanto no mundo. As vítimas no Brasil são em
O perfil de vítima no Brasil difere quando sua maioria homens, e os criminosos têm como objetivo
comparado ao da América Latina e ao do resto do principal o roubo ou furto. Em outros países, a vítima
mundo: de acordo com dados encontrados em outros principal é do sexo feminino e a natureza jurídica do
países, a principal motivação dos crimes facilitados crime é, predominantemente, de crimes sexuais.
Takitane J, Pimenta DS, Fukushima FM, Fonte VG, Leyton V. Medical-legal aspects of drug-facilitated crime. Saúde, Ética
& Justiça. 2017;22(2):66-71.
ABSTRACT: Drug-facilitated crime is not a recent phenomenon and crimes such as robbery, homicide, rape and sexual
violence associated with substance consumption have already been reported. The prevalence and class of drugs vary
worldwide, but these data are still difficult to measure given the victim’s hesitation to contact the competent police authorities
or, moreover, due to the extent of time between the fact, the complaint, the collection of biological specimens and their
analysis. Unlike in the rest of the world, drug-facilitated crimes in Brazil involve mainly theft and the main victims are men.
More than 100 substances are known to be used for this purpose, the main ones being ethanol, benzodiazepines, gamma-
hydroxybutyrate (GHB) and ketamine. Some characteristics of these drugs include the production of certain nonspecific
symptoms in the victims (lowered inhibition, sedation / hypnosis, mental confusion, anterograde amnesia), besides being
easy to obtain, difficult to detect analytically, allow discreet administration and rapid onset of effects. Given the significance
of the crimes related these substances, action is required. Investment in research and quality epidemiological surveys that
result in reliable information are urgent.
REFERÊNCIAS
a forensic handbook. 1st ed. San Diego: Academic Press; 29. NIH – National Institutes of Health. Drug record:
2001. Ketamine [Internet]. Maryland; 2014 [Acesso em 2017
19. Haller C, Thai D, Jacob P, Dyer JE. GHB urine fev. 9]. Disponível em: https://livertox.nlm.nih.gov//
concentrations after single-dose administration in Ketamine.htm
humans. J Anal Toxicol. 2006;30(6):360-4. 30. Adamowicz P, Kala M. Urinary excretion rates of
20. Smith KM. Drugs used in acquaintance rape. J Amer ketamine and norketamine following therapeutic
Pharm Assoc. 1999;39(4):519-25. DOI: https://dx.doi. ketamine administration: method and detection window
org/10.1016/S1086-5802(16)30472-7 considerations. J Anal Toxicol. 2005;29(5):378-82.
21. Verjee Z, Giesbrecht E. Abuse of gamma-hydroxybutyrate 31. Paula Paiva Paulo. Golpe ‘boa noite, Cinderela’ em SP:
(liquid ecstacy) with other street drugs. In: Sixth maior parte das vítimas é homem e objetivo do crime é
International Congress Of Therapeutic Drug Monitoring roubo [Internet]. São Paulo; 2017 [Acesso em 2017 fev.
And Clinical Toxicology. Cairns, Australia: Lippincott 07]. Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/
Williams & Wilkins, Inc; 1999;21(4):470. noticia/golpe-boa-noite-cinderela-em-sp-maior-parte-
22. Slaughter L. Involvement of drugs in sexual assault. J das-vitimas-e-homem-e-objetivo-do-crime-e-roubo.
Reprod Med. 2000;45(5):425-30. ghtml
23. Hartelius H, Larsson AK, Lepp M, Maim U, Arvidsson 32. Martin Riepl. Crescente uso de ‘drogas do estupro’ na
A, Dahlström H. A controlled long-term study of América Latina preocupa autoridades [Internet]. São
flunitrazepam, nitrazepam and placebo, with special Paulo; 2016 [Acesso em 2017 fev. 06]. Disponível em:
regard to withdrawal effects. Acta Psychiatr Scand. http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36346967
1978;58(1):1-15. 33. Scott-Ham M, Burton FC. Toxicological findings in cases
24. Hoffman-LaRoche. Substance Related Rape [Internet]. of alleged drug facilitated sexual assault in the United
The Vaults of Erowid. Grass Valley, CA; 1999 [Acesso Kingdom over a three-year period. J Clin Forensic Med.
em 2017 fev. 06]. Disponível em: https://erowid.org/ 2005;12(4):175-86. DOI: https://dx.doi.org/10.1016/j.
psychoactives/assault/assault_article2.shtml jcfm.2005.03.009
25. George KA, Dundee JW. Relative amnesic actions of 34. Hurley M., Parker H, Wells DL. The epidemiology of
diazepam, flunitrazepam and lorazepam in man. Br J Clin drug facilitated sexual assault. J Clin Forensic Med.
Pharm. 1977;4(1):45-50. 2006;13(4):181-5. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/
26. Calhoun SR, Wesson DR, Galloway GP, Smith DE. Abuse jcfm.2006.02.005
of flunitrazepam (Rohypnol) and other benzodiazepines 35. Chèze M, Duffort G, Deveaux M, Pépin G. Hair analysis
in Austin and South Texas. J Psychoactive Drugs. by liquid chromatography–tandem mass spectrometry
1996;28(2):183-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/02791 in toxicological investigation of drug-facilitated crimes:
072.1996.10524390 Report of 128 cases over the period June 2003–May 2004
27. Bond A, Seijas D, Dawling S, Lader M. Systemic in metropolitan Paris. Forensic Sci Int. 2005;153(1):3-10.
absorption and abuse liability of snorted flunitrazepam. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.forsciint.2005.04.021
Addiction. 1994;89(7):821-30. 36. Dinis-Oliveira RJ, Magalhães T. Forensic toxicology
28. Vasconcelos SMM, Andrade MM, Soares PM, Chaves in drug-facilitated sexual assault. Toxicol Mech
BG, Patrocínio MCA, Sousa FCF, Macêdo DS. Cetamina: Methods. 2013;23(7):471-8. DOI: http://dx.doi.org/10.3
aspectos gerais e relação com a esquizofrenia. Rev Psiq 109/15376516.2013.796034
Clín. 2005;32(1):10-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/
S0101-60832005000100002