CPDC II Trabalho Final
CPDC II Trabalho Final
CPDC II Trabalho Final
Faculdade de Direito
Ciência Política e Direito Constitucional II
TEMA: O Poder Político e sua organização no Estado Moçambicano: princípios gerais
relativos à organização do poder político; o Presidente da República e a Assembleia da
República.
Grupo IV
Discentes:
Docentes:
Prof. Doutor António Salomão Chipanga
Prof. Doutora Lúcia Ribeiro
Lic. Ana Sénia Sambo
2
5.4 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO.........................................................................24
5.5 Competências Parlamentares da Assembleia da República..................................................26
5.5.1 Competências Parlamentares....................................................................................26
6 Relação entre a Assembleia Da República e o Presidente Da República.....................................27
7 O Tribunal Supremo....................................................................................................................28
7.1 Princípio da separação de poderes.......................................................................................28
7.2 Os Tribunais.........................................................................................................................29
7.2.1 Objectivos Dos Tribunais...........................................................................................29
7.3 Hierarquia dos tribunais.......................................................................................................30
7.4 O Tribunal Supremo.............................................................................................................30
7.4.1 Organização do Tribunal supremo...........................................................................30
8 ÓRGÃOS CENTRAIS E SECRETÁRIO DE ESTADO.............................................................33
8.1 Definição de Órgãos Centrais..............................................................................................33
8.2 Secretário de Estado.............................................................................................................33
Conclusão............................................................................................................................................35
Referências Bibliográficas...................................................................................................................36
9 Relatório Da Realização Do Trabalho..........................................................................................37
3
Introdução
O trabalho visa abordar sobre o poder político como a capacidade de obrigar os outros a
adoptar certo comportamento ou a possibilidade de ímpor, de forma eficaz, o respeito da
conduta, própria ou alhei. Portanto, vamos explicar sobre a sua organização no Estado
Moçambicano.
Falaremos também dos princípios relativos a organização do poder político desde os órgãos
de soberania do Estado, a separação e interdependência dos poderes , do seu sistema eleitoral
até aos órgãos colegiais.
Abordaremos, de forma especial, sobre o Presidente da República como um órgão político e
como órgão admnistrativo, e da Assembleia da República como um órgão colegial de base
pluralista politico-partidária. Faremos um breve historial dos órgãos, falaremos das sua
natureza, funções e competências, da sua organização e da relação existente entre estes
órgãos e da relação do Presidente da República com o Tribunal Supremo.
Por fim mas não menos importante, faremos menção aos órgãos centrais e aos Secretários de
Estado.
4
Objectivos:
Objectivos gerais:
Analisar a Organização do Poder Politico do Estado Moçambicano;
Entender sobre o a Organização e Funcionamento dos Órgãos de Soberania, em
especifico, o Presidente da Republica de Moçambique e a Assembleia da Republica;
Objetivos específicos:
Ilustrar a Organização do Poder Politico de Moçambique;
Identificar os Órgãos de Soberania;
Identificar as Funções do Presidente da Republica e da Assembleia da República;
Caracterizar os Órgãos de Soberania: Presidente e Assembleia da República;
Relacionar o Presidente da Republica a Assembleia Republica;
Indicar o papel do Tribunal Supremo em relação ao Presidente e aos Órgãos que
gozam de imunidade
2. Metodologia
Valemo-nos da pesquisa bibliográfica, visto que fomos buscar os manuais que tratam
do nosso tema, tendo em via disso usado o método comparativo no trato dos manuais. Fez-se
também a discussão em grupo, no qual conseguimos definir os conteúdos que dizem respeito
ao nosso tema.
5
1. PODER POLÍTICO
1.1 Conceito de poder
Aristóteles (384 a. – 322 a.C.) defende que o Homem é, naturalmente, um animal
político “feito para viver em sociedade”.1 Faz parte da natureza humana a sociabilidade, a
tendência de viver em sociedade e a necessidade de se juntar e organizar comunidades. Porém
este mesmo Homem possui interesses próprios, e, quando em sociedade, disputam iguais
oportunidades e tratamento em circunstâncias semelhantes que faz nascer conflitos.
Por conta desses conflitos da vida social, o filósofo inglês Thomas Hobbes afirma que é
necessário estabelecer limites a convivência social. Para ele o “estado de natureza” do
Homem é sinónimo de “estado de guerra, onde o individuo luta apenas pelos seus interesses,
há um conflito de interesses.2
Max Weber define poder como sendo a “possibilidade de obter obediência, em certas
pessoas, a uma ordem que tenha um conteúdo determinado”.
Marcelo Rebelo de Sousa5 define poder como sendo “ a faculdade de intervenção do ser
humano pelo ser humano, de molde a determinar ou influenciar a conduta alheia”. E, deste
surgem duas noções que são a do poder de influência, entendido como um poder de
condicionar condutas, sem vincular, recorrendo à recompensa e não à punição. E a de poder
de injunção entendido como um poder de determinar condutas alheias, servindo-se
privilegiadamente da punição u ameaça de punição.
1
AMARAL, Diego Freitas do, Manual de Introdução ao Direito, Lisboa, Vol. I, 2004, Cascais, Almeida, 2003.
2
SABADELL, Ana Lúcia, Manual de Sociologia Jurídica: Introdução a uma leitura externado Direito, 2ª ed.,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2002.
3
BONAVIDES, Paulo, Ciência Política, 10ª edição, Malheiros Editora, Brasil, 2000.
4
CAETANO, Marcelo, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra, 1996, pág. 9.
5
SOUSA, Marcelo Rebelo de, GALVÃO, Sofia, Introdução ao estudo do Direito, 5ª edição, Lex, Lisboa, 2000,
pág. 14.
6
1 Conceito de Poder Político
Em ciência política fala-se de Poder como Poder político que é um dos elementos que
caracterizam o Estado.
Autores como Adriano Moreira definem o poder político como “ capacidade de obrigar
os outros a adoptar certo comportamento”6. Seria, portanto, essa intervenção do Homem pelo
Homem.
A legitimidade dos governantes implica, segundo Jorge Miranda 10, que não basta o
governante invocar qualquer intenção do seu poder ou ter, pura e simplesmente, a força
material para se fazer obedecer (...) tem ainda de obter o consentimento, pelo menos passivo,
dos destinatários do poder. Tem ainda de se configurar como autoridade”.
6
MOREIRA, Adriano, Ciência Política, Coimbra, 1995, pág. 72.
7
Manual de ciência ... pág. 5
8
Introdução ao estudo do Direito, pág. 16
9
Introdução ao ..., pág. 16
10
MIRANDA, Jorge, Ciência Política, Formas de Governo, pág. 43
7
Legitimidade de exercício – é a legitimidade que resulta do modo como é exercido
o poder político pelos governantes.
Desta distinção pode, em conformidade, resultar que uma decisão política seja
simultaneamente legal e ilegítima. Legal, porque está em enquadrada pelas regras em vigor
no âmbito de uma determinada ordem jurídica. E porque, neste caso, o fundamental é as
regras vigentes terem sido criadas em conformidade com os procedimentos de produção de
normas jurídicas existentes. Ilegítima, porque as regras em vigor que sustentam a decisão
política não traduzem, nem respeitam, a vontade da comunidade a que se destinam ou um
conjunto de normas que transcendam a vontade dos seus governantes.
11
BONAVIDES, Paulo …2000.
12
AMARAL, D. F.; (2014, P. 112), Uma Introdução à Politica, Lisboa, Bernardo Editora.
8
Segundo Gouveia13 a organização do poder político (poderes do Estado) consiste na defi-
nição do estatuto dos diversos órgãos de soberania, isto é, conforme Silva 14 consiste da
definição, da formação, composição e competência dos órgãos de soberania do Estado.
Nesta pesquisa, debruçamo-nos sobre os órgãos de soberania do Estado moçambicano
que são: O Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo, os Tribunais e o
Conselho Constitucional (art.133 e seguintes da Constituição da República de Moçambique -
CRM15).
13
GOUVEIA, J. B. (2015, p. 95), Direito Constitucional de Moçambique, Lisboa/Maputo
14
SILVA, M. M. G; (2017, p. 6), O poder local e a organização política e administrativa do Estado português;
evolução no regime político democrático vigente’
15
Constituição da Republica de Moçambique, Revisão aprovada pela Lei 1/2018 de 12 de Junho.
16
CHIPANGA, A. S. Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, p.2
9
2.4 Órgãos Do Plano Constitucional
Além dos órgãos de soberania que são órgãos centrais do Estado, existem outros órgãos
do plano constitucional que também são órgãos centrais, aqueles cujo âmbito de actuação é a
totalidade do território nacional e compreendem o conjunto dos órgãos governamentais e as
demais instituições do Estado com âmbito nacional, (Chipanga…) Conselho Superior da
Comunicação Social, artigo 50 CRM, Comissão Nacional de Eleições, artigo 135, n.˚3 CRM,
Conselho de Estado, artigo 164 CRM, Ministério, Secretarias de Estado e Comissões
Nacionais, Banco de Moçambique, artigo 160 CRM, Ministério Público, artigo 234 e
seguintes. CRM; Conselho Superior da magistratura do Ministério Público artigo 238 CRM;
Administração Pública, artigo 249 e seguintes CRM; Policia da República, artigo 254 CRM;
Provedor de Justiça, artigo 256 e seguintes CRM; Forças de Defesa e segurança, artigo 266 e
seguintes CRM; Conselho Nacional de Defesa e Segurança, artigo 268 e seguintes CRM,
incluindo as áreas sob jurisdição do Estado Moçambicano no estrangeiro (Embaixadas,
consulados, agencias e outras formas de representação do Estado) cujos titulares são
nomeados pelo Presidente da República.
17
e 7 No dia 3 de Agosto de 2023, a Assembleia da República aprovou a alteração do no 3 do artigo 311, que
estabelecia a realização das primeiras eleições distritais em 2024.
18
10
Os proponentes dos candidatos são os cidadãos moçambicanos organizados em grupos
de eleitores proponentes, partidos políticos ou em coligações de partidos políticos. (n o3 do
169 CRM)
A democracia moçambicana é representativa, significa que o povo exerce o seu poder
através de representantes eleitos por ele. Presidente da República (n o 1 do art. 145 CRM)
Assembleia da República (art.167), Assembleia Provincial (n o1 do art. 278).
Neste sentido, os órgãos colegiais são os órgãos que do ponto de vista estrutural,
apresentam um número plural de titulares, sendo aquelas questões tanto mais difíceis quanto
maior for aquele número.
Obviamente que tais questões acabam por se diferencial assim como a complexidade
funcional e estrutural do respectivo estatuto, em razão da destrinca, que ficou assinalada,
entre órgãos colegiais parlamentares e restritos.
As reuniões e deliberações tem que ser previamente marcadas, a fim de se poder contar
com a presença dos respectivos titulares, agindo por razões de eficiência com base numa
ordem de trabalho sendo definidos o especo e tempo em que vai ter lugar, para o efeito se
produzindo a necessidade convocatória.
Para que o funcionamento possa validamente acontecer e necessário que esteja presente
um número mínimo de titulares, sob pena de o órgão não funcionar uma vontade funcional
minimamente consciente. A esta exigência se chama quórum.
11
Os regimentos internos dos órgãos colegiais podem estabelecer desvios a esta orientação
geral, de acordo com a consideração de algumas singularidades.
A produção da vontade dos órgãos colegiais exige ainda, por definição, a contagem dos
votos para a respectiva formação, partindo-se da pluralidade dos votos a favor, dos votos
contra e dos votos de abstenção, sem esquecer que os titulares podem não estar todos
presentes no momento de votação, se bem que presentes noutros momentos da reunião do
órgão colegial em questão, que se pode prolongar por horas ou dias.
A CRM tem sobre o assunto uma disposição específica, que pode assim arvorar-se a
regra geral de deliberação no Direito Constitucional Moçambicano: “As deliberações da
Assembleia da República são tomadas por mais de metade dos votos dos Deputados
presentes”
12
4 Formas De Designação Dos Titulares Do Poder Político
Segundo o professor Jorge Miranda entende-se por órgão “o centro autónomo
institucionalizado de emanação de uma vontade que lhe é atribuída, sejam quais forem a
relevância, o alcance, os efeitos (externos ou mesmo internos) que ela assuma; o centro de
formação de actos jurídicos do Estado (e no Estado); a instituição, tornada efectiva através de
uma ou mais de uma pessoa física, de que o Estado carece para agir (para agir juridicamente).
(Republica, 2004)19.
Os titulares dos órgãos e agentes detentores das faculdades ou parcelas do poder político
pertence à comunidade estadual e é desta que são designados segundo regras e procedimentos
estabelecidos na Constituição e na lei.
São dois os grandes grupos em que se arrumam os modos de designação dos titulares dos
órgãos públicos do seu cruzamento se apresentando os
correspondentes tipos:21
A designação por mero efeito do Direito significa que as escolhas dos titulares, de
alguma sorte, estão pré-determinadas por uma previsão jurídico-normativa, apenas se
distinguindo conforme a ocorrência de certas circunstâncias que não são o produto específico
de uma vontade relevante que tivesse esse desiderato.
19
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade Constitucional do Estado, Coimbra,
1997, pág. 45.
20
António Chipanga, Apontamentos sobre a organização do poder politico em Moçambique.
21
sobre os diversos modos de designação dos governantes, v. Marcelo Rebelo de
Sousa, Direito Constitucional…, pp. 283 e ss.; Marcello Caetano, Manual de Ciência Política…,
I, pp. 235 e ss.; Jorge Miranda, Manual…, V, pp. 62 e ss.; Jorge Bacelar Gouveia, Manual…,
II, pp. 1171 e ss.
13
Inerência: a escolha de alguém para um cargo em razão do facto de ser titular de
outro cargo;
Sorteio: a escolha de alguém em função de uma solução estatística, de entre um mais
amplo leque de hipóteses possíveis;
Rotação: a escolha de alguém por se encontrar no momento da assunção do cargo,
numa sequência plural de igual distribuição por várias pessoas;
Antiguidade: a escolha de alguém por ser a mais antiga no exercício de outro cargo,
antiguidade que também pode ser da idade;
Herança: a escolha de alguém por adquirir o direito de ser titular de um cargo na
morte de outra pessoa.
14
Revolução: a escolha de alguém na sequência de um processo revolucionário, com
ruptura da Ordem Constitucional;
Aclamação: a escolha de alguém através da expressão de uma vontade colectiva e
pública.
1. Sufrágio Universal- consiste no pleno direito de votar e ser votado de todos os cidadãos
elegíveis e na garantia da correcta e transparente apuração dos resultados.
22
Artigo 133º da Constituição da República de Moçambique
15
Têm sido dois os critérios propostos para explicar a conclusão de serem estes órgãos, e
não outros a possuírem esta qualidade de órgãos de soberania:23
- O critério da decisão cogente: é o órgão de soberania o órgão que produz atos obrigatórios.
Quer parecer-nos que o critério válido só pode ser a conjugação destes dois, num sentido
ecléctico: os órgãos de soberania são órgãos que, desenvolvendo um ou vários dos poderes
públicos, se assumem como produzindo atos decisórios. Do ponto do regime aplicável,
sobressai a orientação geral de o seu estatuto estar submetido a uma reserva de Constituição:
“Os órgãos de soberania (…) devem obediência à Constituição e às leis”.24
A Assembleia da República- o órgão legislativo do país, composto por deputados eleitos pelo
voto directo.
23
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Manual de Direito Constitucional de Moçambique,v.Ed.IdiLP, Lisboa,2015,pp, 378 e
ss
24
Artigo 134º da CRM
25
CANOTILHO,J.J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição,6ª edição, Almedina, Coimbra,
2002,pp.615.
16
O Governo- liderado pelo primeiro-ministro e composto por ministros responsáveis por
diferentes áreas governamentais.
Os Tribunais- incluindo o Tribunal Supremo, que é o tribunal mais alto do país e os outros
restantes tribunais.
Segundo o prof. Gouveia, ele afirma que os órgãos de soberania são sempre órgãos do
Estado, a inversa não é verdadeira, porque nem todos os órgãos do Estado são órgãos de
soberania. Ex: O Provedor de Justiça, o Procurador-geral da República.
Órgãos Constitucionais
26
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade Constitucional do Estado,
Coimbra,1997,pág.45.
17
- Estabelecem uma relação de interdependência e de controlo em relação a outros órgãos
igualmente ordenados na e pela constituição;
Diz-se que é um órgão político pirarucu, como refere Marcelo CAETANO, “em todos os
regimes, a par dos políticos que são os titulares dos órgãos governativos, e por isso, se situam
acima da administração, certos agentes administrativos designados para exercício de funções
de confiança política. O Presidente da República é na verdade um titular de órgãos
governativos, designadamente: à Presidência da República e o Governo.
18
c. Celebrar tratados internacionais, orientar a política interna e externa, receber cartas
credenciais dos embaixadores e enviados diplomáticos dos outros países e nomear,
exonerar e demitir os Embaixadores e enviados Diplomáticos da República de
Moçambique.
Composição:
5 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
5.1 A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NO SISTEMA POLÍTICO-CONS-
TITUCIONAL
A Assembleia da República, que vem sistematicamente localizada a seguir ao Presidente
da República, é um órgão colegial, de base pluralista político-partidária28.
28
MACIE, ALBANO, Direito do Processo Parlamentar, 2012, pág. 22
20
No plano do texto constitucional, a regulamentação do mesmo vem dividido por três
capítulos, inseridos no Título VII da seguinte forma:
29
Art. 168, nº 1, da CRM.
30
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 449
21
5.3 ELEIÇÃO E MANDATO DOS DEPUTADOS
5.3.1 A designação dos Deputados
A designação dos Deputados à Assembleia da República obedece ao esquema geral do
“…sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoal e periódico”, sendo “…as listas
plurinominais fechadas em cada círculo eleitoral, dispondo o eleitor de um voto singular de
lista.
As candidaturas, todavia, são restritas às formações partidárias, isto é, concorrem às
eleições os partidos políticos, isoladamente ou em coligação de partidos, e as respectivas
listas podem integrar cidadãos não filiados nos partidos.
Há uma pluralidade de colégios eleitorais, os quais coincidem com as áreas
administrativas das províncias e Cidade de Maputo (248 deputados), ainda se estabelecendo
dois círculos eleitorais para os cidadãos residentes no exterior, um para os países da região de
África e outro para os restantes países, ambos com sede na Cidade de Maputo (2
deputados).31
22
– Renúncia: declaração de vontade de não querer ser mais titular do cargo;
– Perda: cessação do mandato por razões alheias à sua vontade.
Deputados dispõem de situações funcionais, as quais incluem um feixe de posições
activas e passivas reguladas pelo Direito Constitucional, exprimindo a sua qualidade de
titulares do órgão parlamentar, de que cumpre sublinhar:
– Poderes relacionados com o exercício da actividade parlamentar, assim participando no
funcionamento do órgão, para além de poderes instrumentais que permitem o exercício
daqueles poderes;
– Imunidades relacionadas com a garantia da liberdade do exercício das suas funções,
imunidades que se desdobram na irresponsabilidade pelas opiniões emitidas e na
inviolabilidade das respectivas pessoas contra a aplicação de medidas penais, com
várias excepções;
– Direitos e regalias relacionados com os benefícios de que são titulares, incluindo as
remunerações e outros benefícios materiais;
– deveres relacionados com o bom exercício da função parlamentar, contribuindo para a
sua máxima efectividade e que se traduzem na responsabilidade das competências
parlamentares, para além de outros deveres que sobre eles impendem, como em matéria
de transparência, assim como em matéria de incompatibilidades e impedimentos.
O exercício do cargo de Deputado à Assembleia da República é envolvido por um
conjunto de incompatibilidades, as quais se destinam a preservar a idoneidade da função e a
torná-la impermeável a interesses espúrios ao alto interesse público que deve protagonizar.
O texto constitucional vai inclusivamente ao ponto de estabelecer um conjunto de
situações de incompatibilidade, além de outras que podem ser acrescentadas por norma
legal:
– Membro do Governo;
– Magistrado em efectividade de funções;
– Diplomata em efectividade de serviço;
– Militar e polícia no activo;
– Governador provincial e administrador distrital;
– Titular de órgãos autárquicos.
O regime das imunidades constitucionalmente estabelecidas em favor dos Deputados à
Assembleia da República bifurca-se em dois âmbitos fundamentais33:
33
Cfr. oart. 178 da CRM e arts. 3 ess. do ED.
23
– Na irresponsabilidade: “Os Deputados da Assembleia da República não podem ser
processados judicialmente, detidos ou julgados pelas opiniões ou votos emitidos no exercício
da sua função de Deputado”;
– Na inviolabilidade: “Nenhum Deputado pode ser detido ou preso, salvo em flagrante
delito, ou submetido a julgamento sem consentimento da Assembleia da República”.
A amplitude desta imunidade, na dimensão da irresponsabilidade, é atenuada por enfrentar
excepções: “Exceptuam-se a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal por injúria,
difamação ou calúnia”.
Em matéria de estatuto de Deputados, confere-se um regime especial ao Deputado que
seja o líder do partido político que represente a oposição, dando-se-lhe o nome de “Líder do
Segundo Partido com Assento Parlamentar”34.
34
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 453
35
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 455
24
São “órgãos político-legislativos” da Assembleia da República:36
– O Plenário;
– A Comissão Permanente;
– As Comissões de Trabalho;
– O Presidente da Assembleia da República.
36
Cfr.oart. 59 do RAR
37
Cfr. oart. 20 da LOAR e o art. 59 do RAR.
25
Comissão dos Assuntos Sociais, do Género e Ambientais;
Comissão da Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social;
Comissão de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Actividades Económicas e
Serviços;
Comissão de Defesa e Ordem Pública;
Comissão das Relações Internacionais;
Comissão de Petições.
26
l) Deliberar sobre as grandes opções do Plano Económico e Social e do Orçamento do
Estado e os respectivos relatórios de execução;
m) Aprovar o Orçamento do Estado;
n) Definir a política de defesa e segurança, ouvido o Conselho Nacional de Defesa e
Segurança;
o) Definir as bases da política de impostos e o sistema fiscal;
p) Autorizar o Governo, definindo as condições gerais, a contrair ou a conceder
empréstimos, a realizar outras operações de crédito, por período superior a um
exercício económico e a estabelecer o limite máximo dos avales a conceder pelo
Estado;
q) Definir o estatuto dos titulares dos órgãos de soberania, das províncias e dos órgãos
autárquicos;
r) Etc.
Prestar informação anual sobre a situação geral da nação em Sessão Plenária e solene,
convocada para o efeito e sem sujeição à debate;
Em caso de rejeição do Programa Quinquenal do Governo, após o debate o PR pode
dissolver a Assembleia da República, convocando novas eleições legislativas;
Declarar o estado de sitia e de emergência;
Depois que a AR ratifique a nomeação do Presidente do Tribunal Supremo, do
Presidente do Conselho Constitucional, do Presidente do Tribunal Administrativo e
do Vice-Presidente do Tribunal Supremo, o PR faz a nomeação;
Declara o estado de guerra ou sua cessação, sujeita ao parecer da Assembleia da
República;
Compete a Assembleia da República requerer o exercício da acção penal contra o
Presidente da República;
27
Cabe ao PR, o poder de veto das leis aprovadas pela AR, isto é, as leis para poderem
valer como tais, devem ser promulgadas pelo Presidente da República. Pode devolver
a lei à AR com mensagem fundamentada para reavaliação, como também, em caso de
dúvidas sobre a constitucionalidade, pode requerer ao Conselho Constitucional para a
verificação da sua constitucionalidade, servindo o acórdão de fundamento para a não
promulgação e posterior devolução à AR.
É ao Presidente da Assembleia da República que lhe compete exercer, de forma
interina, as funções do Presidente da República em caso de vacatura do cargo;
Em caso de ausência ou impedimento do Presidente da República, o Presidente da
Assembleia da República tem a função de substituí-lo.
7 O Tribunal Supremo
7.1 Princípio da separação de poderes
FILHO, afirma que, essencialmente, a separação de poderes consiste na distinção dos
três (3) poderes estatais, ou em outras palavras, este princípio pressupõe a tripartição das
funções do Estado no caso, a função legislativa, a função executiva e a função jurisdicional.
38
A função legislativa esta encarregue de legislar, ou seja, tem a função de criar e aprovar
leis, e este poder é exercido, nos termos do n° 1 do artigo 178° da CRM.
38
FILHO, Manuel Goncalves Ferreira; Curso de Direito Constitucional; 38ªEdição, Editora Saraiva, 2012,
39
https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/acedido aos
03/09/2023
28
um conflito de interesses. Esta função é exercida pelos Tribunais, que são representados pelos
juízes, desembargadores, entre outros40
De acordo com Martins, embora estes poderes exerçam controlos recíprocos, eles
também fundamentam-se na independência, ou seja, um poder não pode subordinar-se ao
outro. 41
7.2 Os Tribunais
O dicionário define tribunal como sendo um órgão de soberania com competência para
julgar causas forenses e do contencioso administrativo, aplicando a lei de forma a assegurar a
defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e a dirimir os confeitos de
interesse publico e privado. 42
40
Ibidem
41
MARTINS, Flávio; Curso de Direito Constitucional, 3ª Edição, São Paulo, Saraiva Educação, 2019
42
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/tribunal acedido aos 04/09/2023
43
MENDES, João de Castro; Introdução ao Estudo do Direito, 1 Edição, Lisboa[s.n], 1979, p: 117
44
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, art. 3
29
7.3 Hierarquia dos tribunais
Os tribunais seguem uma hierarquia determinada constitucionalmente (vide art. 222°, n°
1 da CRM). Os tribunais hierarquizam-se para efeitos de recurso das suas decisões e de
organização do aparelho judicial, e estão estruturados da seguinte maneira:45
1. Tribunal Supremo
2. Tribunal Administrativo
3. Os tribunais Judiciais
Destes, iremos nos debruçar somente sobre o Tribunal Supremo, que será o foco do
desenvolvimento que se segue.
Em sua composição, podemos encontrar, de acordo com o artigo 30 da Lei Orgânica dos
Tribunais Judiciais, as seguintes figuras:
Presidente
Vice-presidente
Um mínimo de sete juízes profissionais e dezassete juízes eleitos, sendo oito
suplentes.
Plenários
Secções
45
Cf. Artigo 222° da CRM de 2004, I serie, 16 de novembro de 2004, Maputo, 2004, plural editores
46
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, Art. 28
30
Julgar os processos-crime em que sejam arguidos o Presidente da República, o
Presidente da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro e o Presidente do
Conselho Constitucional;
Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes profissionais do Tribunal
Supremo, Magistrados do Ministério Público junto deste, e o Presidente do Tribunal
Administrativo;
Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes eleitos do mesmo tribunal, por
actos relacionados com o exercício das suas funções;
Conhecer e decidir das acções de perdas e danos instaurados contra os juízes do
Tribunal Supremo e Magistrados do Ministério Público junto deste por atos
praticados no exercício das suas funções;
Exercer as demais atribuições conferidas por lei.
47
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, Arts. 33, 34
31
a. Julgar os processos-crime em que sejam arguidos deputados da Assembleia da
República, membros do Conselho de Ministros e outras entidades nomeadas pelo
Presidente da República nos termos da Constituição, e todas as demais entidades que
gozam do foro especial nos termos da lei e não estejam abrangidos pelo disposto no
artigo 34;
b. Julgar os processos-crime em que sejam arguidos juízes profissionais dos tribunais
judiciais de província e magistrados do Ministério Público junto dos mesmos
tribunais;
c. Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes eleitos dos mesmos tribunais
por actos relacionados com o exercício das suas funções;
d. Conhecer e decidir das acções de perdas e danos instaurados contra juízes e
magistrados do Ministério Público dos tribunais judiciais de província por actos
relacionados com o exercício das suas funções;
e. Julgar os processos de extradição;
f. Exercer as demais atribuições conferidas por lei.
a. Julgar em matéria de facto e de direito os recursos que nos termos da lei devam ser
interpostos para o Tribunal Supremo;
b. Conhecer dos conflitos de competência entre os tribunais judiciais de província, ou
entre estes e os tribunais judiciais de distrito;
c. Ordenar a suspensão, a requerimento do representante do Ministério Público junto do
Tribunal Supremo da execução de sentenças proferidas por tribunais de escalão
inferior, quando se mostrem manifestamente injustas ou ilegais;
d. Anular as sentenças a que se refere a alínea anterior;
e. Proceder nos termos mencionados nas alíneas
f. Julgar os processos de revisão e confirmação de sentenças estrangeiras;
g. Conhecer dos pedidos de habeas corpus;
h. Conhecer dos pedidos de revisão de sentenças cíveis e penais;
i. Propor ao Plenário a adopção das medidas necessárias à uniformização da
jurisprudência e boa administração da justiça;
j. Exercer as demais atribuições conferidas por lei.48
Elaborado por: CAMBULA, Yone da Lia
48
Cf.Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de Maio, Arts. 38, 39
32
8 ÓRGÃOS CENTRAIS E SECRETÁRIO DE ESTADO
49
CHIPANGA, Antônio, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, Maputo, 2011, pp. 2
50
Vide Artigo 138 CRM.
51
Vide Artigo 139 CRM.
52
https://pt.wikipedia.org/wiki/Secret%C3%A1rio_de_Estado?wprov=sfla1
33
Estado, superintende e supervisiona os serviços de representação do Estado na província e
nos distritos.53
Como consta da alínea e) do nº 2 do artigo 139, que estabelece que uma das atribuições
dos órgãos centrais é a representação do Estado ao nível provincial, distrital e autárquico,
sendo que os dirigentes dos governos provinciais e das autarquias, isto é, o governador e o
presidente do conselho municipal respectivamente, são eleitos por voto popular, estando
ainda programadas as eleições distritais para eleição do administrador de distrito também por
voto popular.
53
Vide Artigo 141 CRM
54
CHIPANGA, Antônio, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, Maputo, 2011, pp. 24
34
Conclusão
Após debruçarmo-nos sobre os temas que versam sobre a Organização do Poder
Politico e parte dos órgãos de soberania que são o Presidente da República e a Assembleia da
República, buscando analisar de forma aprofundada as várias nuances que giram em torno de
cada um e por fim buscando uma relação entre ambas, pudemos inferir que o Estado
Moçambicano esta politicamente organizado de forma a corporizar formalmente o principio
do Estado Democrático, ficando clara a separação de poderes.
Estes dois órgãos relacionam-se à medida em que agem muitas vezes em consonância
um com outro e pela prerrogativa que ambos têm de fiscalizar alguns actos protagonizados
um pelo outro de modo a garantir que o fim último que é a segurança e o bem-estar do Povo
moçambicano seja assegurado.
Coube fazer menção ao Tribunal Supremo, que é o órgão judiciário à que cabe a
competência de julgar o Presidente da Republica, os Deputados e outros órgãos que gozam de
imunidade e consequentemente, as suas infracções são tratadas num regime especial. Este
facto acentua o Principio do Estado de Direito Democrático que denota a posição superior da
lei em relação toda.
35
Referências Bibliográficas:
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2014;
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CHIPANGA, António, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano,
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CANOTILHO, J.J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, 6ª ed.
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Educação, 2019
MENDES, João de Castro; Introdução ao Estudo do Direito, 1 Edição, Lisboa [s.n],
1979;
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade
Constitucional do Estado, Coimbra, 1997;
MOREIRA, Adriano, Ciência Política, Coimbra, 1995;
SABADELL, Ana Lúcia, Manual de Sociologia Jurídica: Introdução a uma leitura
externado Direito, 2ª ed., Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2002.
SOUSA, Marcelo Rebelo de, GALVÃO, Sofia, Introdução ao estudo do Direito, 5ª
edição, Lex, Lisboa, 2000.
Legislações
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editores, Maputo, 2004;
Lei do Direitos e Deveres do Presidente da Republica: Lei n°32/2014 de 30 de
Dezembro
Lei Orgânica da Assembleia da Republica: Lei n° 13/2013 de 12 de Agosto
Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de Maio;
Regimento da Assembleia da Republica: Lei n°1/2015 de 27 de Fevereiro
Sites da internet
• https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-
legislativo-e-judiciario/ - acedido aos 03/09/2023
• https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/tribunal - acedido
aos 04/09/2023
36
9 Relatório Da Realização Do Trabalho
Após a distribuição dos respectivos temas aos grupos de trabalho que comportam a turma do
curso de Direito, primeiro ano laboral, no dia 18 de Agosto de 2023, o quarto grupo composto
por 10 membros, fez a distribuição dos subtemas da seguinte forma:
OLIVEIRA, Rádica Moisés O poder político
ZAMBUCO, Júlia Ramos Princípios gerais relativos à organização do
poder político
OMAR, Edmilson Ismael João Órgãos colegiais
SANDACA, Marinalva da Paula Formas de designação dos titulares do poder
políticos e as respectivas formas do exercício
do mesmo
ANTÓNIO, Madalena Luciano Órgãos de soberania, do Estado e
constitucionais
MAMUGY, Abdul Alimo Momade O Presidente da República
CUMBANE, Hilton do Rosário A Assembleia da República
SIGAÚQUE, Neidy Helena Julião Relação entre o Presidente da República e a
Assembleia República e o sistema de governo
moçambicano
CAMBULA, Yone da Lia Armando Tribunal Supremo
MAMBO, Quiyola de Castro Órgãos centrais e o secretário do Estado
37