CPDC II Trabalho Final

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UNIVERDIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Direito
Ciência Política e Direito Constitucional II
TEMA: O Poder Político e sua organização no Estado Moçambicano: princípios gerais
relativos à organização do poder político; o Presidente da República e a Assembleia da
República.
Grupo IV

Discentes:

 ANTÓNIO, Madalena Luciano


 CAMBULA, Yone da Lia Armando
 CUMBANE, Hilton Rosário
 MAMBO, Quiyola de Castro
 MAMUGY, Abdul Alimo Momade
 OLIVEIRA, Rádica Moisés
 OMAR, Edmilson João Ismael.
 SANDACA, Marinalva da Paula
 SIGAÚQUE, Neidy Helena
 ZAMBUCO, Júlia

Docentes:
Prof. Doutor António Salomão Chipanga
Prof. Doutora Lúcia Ribeiro
Lic. Ana Sénia Sambo

Maputo, Setembro de 2023


Índice
Introdução.............................................................................................................................................4
Objectivos:............................................................................................................................................5
Objectivos gerais:..............................................................................................................................5
Objetivos específicos:...................................................................................................................5
2. Metodologia...................................................................................................................................5
1. PODER POLÍTICO.......................................................................................................................6
1.1 Conceito de poder..................................................................................................................6
1 Conceito de Poder Político............................................................................................................7
1.1.1 Legitimidade no exercício do poder político...............................................................7
1.2 O Princípio Da Legalidade.....................................................................................................8
2 Princípios Gerais da Organização Politica.....................................................................................8
2.1 Órgãos De Soberania Do Estado............................................................................................8
2.2 Separação e Interdependência................................................................................................9
2.3 Órgãos não Centrais do Estado..............................................................................................9
2.4 Órgãos Do Plano Constitucional..........................................................................................10
2.5 Sistema Eleitoral..................................................................................................................10
3 Órgãos Colegiais em Especial.....................................................................................................11
3.1 O Funcionamento Dos Órgãos Colegiais.............................................................................11
3.2 A Expressão de Vontade dos Órgãos Colegiais....................................................................12
4 Formas De Designação Dos Titulares Do Poder Político.............................................................13
4.1 Formas de Exercício do Poder.............................................................................................15
Órgãos De Soberania, Do Estado E Órgãos Constitucionais...............................................................15
4.2 Órgãos de Soberania............................................................................................................15
4.2.1 Estrutura e Função dos Órgãos De Soberania Moçambicana Politicamente
Conformadores..........................................................................................................................16
4.3 Órgãos do Estado e Órgãos Constitucionais.........................................................................17
4.3.1 Órgão do Estado.........................................................................................................17
4.4 PRESIDENTE DA REPÚBLICA........................................................................................18
4.5 CONSELHO DE ESTADO.................................................................................................20
Composição................................................................................................................................20
5 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA...............................................................................................21
5.1 A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NO SISTEMA POLÍTICO-CONSTITUCIONAL.....21
5.2 A natureza da função parlamentar........................................................................................21
5.3 ELEIÇÃO E MANDATO DOS DEPUTADOS...................................................................22
5.3.1 A designação dos Deputados.....................................................................................22

2
5.4 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO.........................................................................24
5.5 Competências Parlamentares da Assembleia da República..................................................26
5.5.1 Competências Parlamentares....................................................................................26
6 Relação entre a Assembleia Da República e o Presidente Da República.....................................27
7 O Tribunal Supremo....................................................................................................................28
7.1 Princípio da separação de poderes.......................................................................................28
7.2 Os Tribunais.........................................................................................................................29
7.2.1 Objectivos Dos Tribunais...........................................................................................29
7.3 Hierarquia dos tribunais.......................................................................................................30
7.4 O Tribunal Supremo.............................................................................................................30
7.4.1 Organização do Tribunal supremo...........................................................................30
8 ÓRGÃOS CENTRAIS E SECRETÁRIO DE ESTADO.............................................................33
8.1 Definição de Órgãos Centrais..............................................................................................33
8.2 Secretário de Estado.............................................................................................................33
Conclusão............................................................................................................................................35
Referências Bibliográficas...................................................................................................................36
9 Relatório Da Realização Do Trabalho..........................................................................................37

3
Introdução

O trabalho visa abordar sobre o poder político como a capacidade de obrigar os outros a
adoptar certo comportamento ou a possibilidade de ímpor, de forma eficaz, o respeito da
conduta, própria ou alhei. Portanto, vamos explicar sobre a sua organização no Estado
Moçambicano.
Falaremos também dos princípios relativos a organização do poder político desde os órgãos
de soberania do Estado, a separação e interdependência dos poderes , do seu sistema eleitoral
até aos órgãos colegiais.
Abordaremos, de forma especial, sobre o Presidente da República como um órgão político e
como órgão admnistrativo, e da Assembleia da República como um órgão colegial de base
pluralista politico-partidária. Faremos um breve historial dos órgãos, falaremos das sua
natureza, funções e competências, da sua organização e da relação existente entre estes
órgãos e da relação do Presidente da República com o Tribunal Supremo.
Por fim mas não menos importante, faremos menção aos órgãos centrais e aos Secretários de
Estado.

4
Objectivos:

Objectivos gerais:
 Analisar a Organização do Poder Politico do Estado Moçambicano;
 Entender sobre o a Organização e Funcionamento dos Órgãos de Soberania, em
especifico, o Presidente da Republica de Moçambique e a Assembleia da Republica;

Objetivos específicos:
 Ilustrar a Organização do Poder Politico de Moçambique;
 Identificar os Órgãos de Soberania;
 Identificar as Funções do Presidente da Republica e da Assembleia da República;
 Caracterizar os Órgãos de Soberania: Presidente e Assembleia da República;
 Relacionar o Presidente da Republica a Assembleia Republica;
 Indicar o papel do Tribunal Supremo em relação ao Presidente e aos Órgãos que
gozam de imunidade

2. Metodologia

Valemo-nos da pesquisa bibliográfica, visto que fomos buscar os manuais que tratam
do nosso tema, tendo em via disso usado o método comparativo no trato dos manuais. Fez-se
também a discussão em grupo, no qual conseguimos definir os conteúdos que dizem respeito
ao nosso tema.

5
1. PODER POLÍTICO
1.1 Conceito de poder
Aristóteles (384 a. – 322 a.C.) defende que o Homem é, naturalmente, um animal
político “feito para viver em sociedade”.1 Faz parte da natureza humana a sociabilidade, a
tendência de viver em sociedade e a necessidade de se juntar e organizar comunidades. Porém
este mesmo Homem possui interesses próprios, e, quando em sociedade, disputam iguais
oportunidades e tratamento em circunstâncias semelhantes que faz nascer conflitos.

Por conta desses conflitos da vida social, o filósofo inglês Thomas Hobbes afirma que é
necessário estabelecer limites a convivência social. Para ele o “estado de natureza” do
Homem é sinónimo de “estado de guerra, onde o individuo luta apenas pelos seus interesses,
há um conflito de interesses.2

O poder surge para eliminar o conflito de interesses.

O Poder é o elemento essencial do Estado, é a energia a existência da comunidade


humana num determinado território, conservando-a unida, coesa e solidária.3

Max Weber define poder como sendo a “possibilidade de obter obediência, em certas
pessoas, a uma ordem que tenha um conteúdo determinado”.

Para o Professor Marcelo Caetano4, a função do poder é a de subordinar os interesses


particulares ao interesse geral, seguindo princípios racionais de justiça traduzidos por Direito
Comum a todas sociedades primárias englobadas ma sociedade política.

Marcelo Rebelo de Sousa5 define poder como sendo “ a faculdade de intervenção do ser
humano pelo ser humano, de molde a determinar ou influenciar a conduta alheia”. E, deste
surgem duas noções que são a do poder de influência, entendido como um poder de
condicionar condutas, sem vincular, recorrendo à recompensa e não à punição. E a de poder
de injunção entendido como um poder de determinar condutas alheias, servindo-se
privilegiadamente da punição u ameaça de punição.

1
AMARAL, Diego Freitas do, Manual de Introdução ao Direito, Lisboa, Vol. I, 2004, Cascais, Almeida, 2003.
2
SABADELL, Ana Lúcia, Manual de Sociologia Jurídica: Introdução a uma leitura externado Direito, 2ª ed.,
Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2002.
3
BONAVIDES, Paulo, Ciência Política, 10ª edição, Malheiros Editora, Brasil, 2000.
4
CAETANO, Marcelo, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra, 1996, pág. 9.
5
SOUSA, Marcelo Rebelo de, GALVÃO, Sofia, Introdução ao estudo do Direito, 5ª edição, Lex, Lisboa, 2000,
pág. 14.

6
1 Conceito de Poder Político
Em ciência política fala-se de Poder como Poder político que é um dos elementos que
caracterizam o Estado.

Autores como Adriano Moreira definem o poder político como “ capacidade de obrigar
os outros a adoptar certo comportamento”6. Seria, portanto, essa intervenção do Homem pelo
Homem.

Marcelo Caetano7define como sendo “a possibilidade eficazmente impor aos outros o


respeito da própria conduta ou de traçar a conduta alheia.”

Também, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa8, considera como o “ poder de injunção


dotado de coercibilidade material”. Ou seja, é “um poder que, servido de susceptibilidade de
aplicação de punição material, condiciona vinculativamente condutas alheias e, assim,
resolve conflitos”. Este poder deve, portanto, ser legítimo. Isto para que o poder político seja
incontroverso. Não deve ser nunca ditatorial e ilegítimo.

1.1.1 Legitimidade no exercício do poder político


O poder político para ser legítimo tem de ser socialmente admissível e consensual. 9

A legitimidade dos governantes implica, segundo Jorge Miranda 10, que não basta o
governante invocar qualquer intenção do seu poder ou ter, pura e simplesmente, a força
material para se fazer obedecer (...) tem ainda de obter o consentimento, pelo menos passivo,
dos destinatários do poder. Tem ainda de se configurar como autoridade”.

Isto significa que é fundamental a existência legitimidade no exercício do poder


político. E que, em conformidade, o recurso ao emprego da força para que o poder consiga
atingir os seus objectivos estará na proporção inversa do consentimento dos governos em
relação aos governantes.

Distinguem dois tipos de legitimidade:

 Legitimidade de título - é a legitimidade que resulta do modo de designação dos


titulares do poder político;

6
MOREIRA, Adriano, Ciência Política, Coimbra, 1995, pág. 72.
7
Manual de ciência ... pág. 5
8
Introdução ao estudo do Direito, pág. 16
9
Introdução ao ..., pág. 16
10
MIRANDA, Jorge, Ciência Política, Formas de Governo, pág. 43

7
 Legitimidade de exercício – é a legitimidade que resulta do modo como é exercido
o poder político pelos governantes.

1.2 O Princípio Da Legalidade


A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância das leis. Ou, em
outras palavras traduz a noção de que todo o poder estatal deve actuar sempre em
conformidade com as regras jurídicas vigentes11.

É importante sublinhar a diferença entre legitimidade e legalidade. Assim, enquanto a


legitimidade vai ter em consideração a forma como os governantes ascenderam ao poder
político e a forma como se comportam no seu exercício tendo como referente de actuação um
conjunto de valores, a legalidade fá-lo de acordo com as regras jurídicas em vigor.

Desta distinção pode, em conformidade, resultar que uma decisão política seja
simultaneamente legal e ilegítima. Legal, porque está em enquadrada pelas regras em vigor
no âmbito de uma determinada ordem jurídica. E porque, neste caso, o fundamental é as
regras vigentes terem sido criadas em conformidade com os procedimentos de produção de
normas jurídicas existentes. Ilegítima, porque as regras em vigor que sustentam a decisão
política não traduzem, nem respeitam, a vontade da comunidade a que se destinam ou um
conjunto de normas que transcendam a vontade dos seus governantes.

Elaborado por: OLIVEIRA, Rádica Moisés

2 Princípios Gerais da Organização Politica


2.1 Órgãos De Soberania Do Estado
As funções do Estado são entendidas “(...) como modelos de acção em que se manifesta
o exercício do poder público”, os poderes do Estado, teorizados por John Locke e Charles
Montesquieu, assentam na “necessidade da distribuição dessas funções por diversos órgãos
de soberania. (Amaral, 2014, p. 112)12

11
BONAVIDES, Paulo …2000.
12
AMARAL, D. F.; (2014, P. 112), Uma Introdução à Politica, Lisboa, Bernardo Editora.

8
Segundo Gouveia13 a organização do poder político (poderes do Estado) consiste na defi-
nição do estatuto dos diversos órgãos de soberania, isto é, conforme Silva 14 consiste da
definição, da formação, composição e competência dos órgãos de soberania do Estado.
Nesta pesquisa, debruçamo-nos sobre os órgãos de soberania do Estado moçambicano
que são: O Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo, os Tribunais e o
Conselho Constitucional (art.133 e seguintes da Constituição da República de Moçambique -
CRM15).

2.2 Separação e Interdependência


Segundo Amaral (2014, p.112), num Estado de Direito, o funcionamento dos órgãos de
soberania do Estado baseia-se nos princípios de separação e interdependência de poderes e
devem obediência à Constituição e às leis vigentes (art. 134 CRM).
Segundo Chipanga16 cada órgão de soberania do Estado realiza tão-somente as funções
que especialmente lhe foram confiadas e não outras.
A separação de poderes requer que se fixe regras que materialmente não permitem aos
titulares dos órgãos do Estado exercerem as funções em regime de acumulação dos cargos
públicos, simultaneamente. Trata-se do princípio das incompatibilidades (artigo 137 CRM).
Os conflitos de competências entre os órgãos de soberania do Estado são dirimidos pelo
Conselho Constitucional, nos termos da al. b), n.˚1, do artigo 244 CRM.

2.3 Órgãos não Centrais do Estado


Segundo Gouveia (2015, p.95), a organização do poder político, dentro do princípio da
unidade do Estado, também conhece a descentralização administrativa em: Órgãos de
governação provincial e distrital (alínea a. do n o 1 do art.º. 268 da CRM) e as autarquias
locais, alínea b) do no 1 do art.º. 268 da CRM).
Ao nível da Província e do Distrito, o Governo Central é representado pelo Secretário de
Estado na Província e no Distrito, nomeados (art.º. 141 e no 2 do art.º. 281 da CRM).

13
GOUVEIA, J. B. (2015, p. 95), Direito Constitucional de Moçambique, Lisboa/Maputo
14
SILVA, M. M. G; (2017, p. 6), O poder local e a organização política e administrativa do Estado português;
evolução no regime político democrático vigente’
15
Constituição da Republica de Moçambique, Revisão aprovada pela Lei 1/2018 de 12 de Junho.
16
CHIPANGA, A. S. Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, p.2

9
2.4 Órgãos Do Plano Constitucional
Além dos órgãos de soberania que são órgãos centrais do Estado, existem outros órgãos
do plano constitucional que também são órgãos centrais, aqueles cujo âmbito de actuação é a
totalidade do território nacional e compreendem o conjunto dos órgãos governamentais e as
demais instituições do Estado com âmbito nacional, (Chipanga…) Conselho Superior da
Comunicação Social, artigo 50 CRM, Comissão Nacional de Eleições, artigo 135, n.˚3 CRM,
Conselho de Estado, artigo 164 CRM, Ministério, Secretarias de Estado e Comissões
Nacionais, Banco de Moçambique, artigo 160 CRM, Ministério Público, artigo 234 e
seguintes. CRM; Conselho Superior da magistratura do Ministério Público artigo 238 CRM;
Administração Pública, artigo 249 e seguintes CRM; Policia da República, artigo 254 CRM;
Provedor de Justiça, artigo 256 e seguintes CRM; Forças de Defesa e segurança, artigo 266 e
seguintes CRM; Conselho Nacional de Defesa e Segurança, artigo 268 e seguintes CRM,
incluindo as áreas sob jurisdição do Estado Moçambicano no estrangeiro (Embaixadas,
consulados, agencias e outras formas de representação do Estado) cujos titulares são
nomeados pelo Presidente da República.

2.5 Sistema Eleitoral


Miranda (1996, p.163) nos ensina que o princípio democrático é aplicado quando o
povo é titular do poder de decidir sobre a sua Constituição e na escolha dos titulares dos
cargos dos órgãos de soberania do Estado.
A República de Moçambique é uma democracia (art. 1 CRM). Isto quer dizer que, o
povo é titular do poder, a soberania reside no povo (n o 1 do art.2 CRM). Os titulares dos
órgãos de soberania: Presidente da República (art.135, n o1 do art. 146 e 147 CRM),
Deputados da Assembleia da República (arts.135 e 169 CRM), Membros das Assembleias
Provinciais (arts. 135 e 278 CRM), Governadores das Províncias (arts.135 e n o2 do 279
CRM), Membros das Assembleias Distritais (arts. 135 e n o1 do art.282 CRM)17,
Administradores de Distrito (arts. 135 e n o 2 do 283 CRM)18, Membros da Assembleia das
autarquias locais (arts. 135 e no 2 do 289 CRM) e Presidentes dos Conselhos Autárquicos
(arts. 135 e no 5 do 289 CRM) são eleitos por sufrágio universal, directo, igual, secreto,
pessoal e periódico (art. 135 CRM).

17
e 7 No dia 3 de Agosto de 2023, a Assembleia da República aprovou a alteração do no 3 do artigo 311, que
estabelecia a realização das primeiras eleições distritais em 2024.
18

10
Os proponentes dos candidatos são os cidadãos moçambicanos organizados em grupos
de eleitores proponentes, partidos políticos ou em coligações de partidos políticos. (n o3 do
169 CRM)
A democracia moçambicana é representativa, significa que o povo exerce o seu poder
através de representantes eleitos por ele. Presidente da República (n o 1 do art. 145 CRM)
Assembleia da República (art.167), Assembleia Provincial (n o1 do art. 278).

Elaborado por: ZAMBUCO, Júlia Ramos

3 Órgãos Colegiais em Especial


Devidas as questões que a sua organização e funcionamento levam, os órgãos colegiais
requerem um pouco mais de atenção.

Neste sentido, os órgãos colegiais são os órgãos que do ponto de vista estrutural,
apresentam um número plural de titulares, sendo aquelas questões tanto mais difíceis quanto
maior for aquele número.

Obviamente que tais questões acabam por se diferencial assim como a complexidade
funcional e estrutural do respectivo estatuto, em razão da destrinca, que ficou assinalada,
entre órgãos colegiais parlamentares e restritos.

3.1 O Funcionamento Dos Órgãos Colegiais


Não sendo de funcionamento perante, pressupõe a realização de reuniões e de cessões,
oque significa que por estes conceitos se designa a activação do mesmo, que fica apto a tomar
deliberações.

As reuniões e deliberações tem que ser previamente marcadas, a fim de se poder contar
com a presença dos respectivos titulares, agindo por razões de eficiência com base numa
ordem de trabalho sendo definidos o especo e tempo em que vai ter lugar, para o efeito se
produzindo a necessidade convocatória.

Para que o funcionamento possa validamente acontecer e necessário que esteja presente
um número mínimo de titulares, sob pena de o órgão não funcionar uma vontade funcional
minimamente consciente. A esta exigência se chama quórum.

11
Os regimentos internos dos órgãos colegiais podem estabelecer desvios a esta orientação
geral, de acordo com a consideração de algumas singularidades.

A orientação da CRM no tocante ao funcionamento da assembleia da república é a


seguinte: “A assembleia da república só pode deliberar achando-se presentes mais da metade
dos seus membros”.

3.2 A Expressão de Vontade dos Órgãos Colegiais


As suas votações revestem-se de algumas particularidades, em nome da complexidade
das matérias, bem como da solenidade que se quer atribuir a esse momento deliberativo,
sendo assim de diferenciar entre:

 A votação e o consenso: a votação significa a expressão da vontade colectiva do


órgão, com apuramento da vontade individual, enquanto o consenso significa um
consentimento geral e difuso a certo acto, sem que seja revelado individualmente, nos
termos da proposta previamente apresentada ao órgão;
 As votações abertas e fechadas: as votações abertas são votações públicas, sabendo-
se em quem e no que votam os titulares do órgão, podendo ainda ser nominais no caso
de se registar o sentido do voto de cada um dos membros, ao passo que as votações
fechadas são votações secretas que ocorrem no esquema do sufrágio secreto, não se
sabendo em quem votam os titulares do órgão.

A produção da vontade dos órgãos colegiais exige ainda, por definição, a contagem dos
votos para a respectiva formação, partindo-se da pluralidade dos votos a favor, dos votos
contra e dos votos de abstenção, sem esquecer que os titulares podem não estar todos
presentes no momento de votação, se bem que presentes noutros momentos da reunião do
órgão colegial em questão, que se pode prolongar por horas ou dias.

Por força da igualdade radical de todos os seus titulares, a declaração de vontade de um


órgão colegial é dada pelo conceito de maioria, que representa a existência de mais votos a
favor do que contra em relação àquilo que está em deliberação.

A CRM tem sobre o assunto uma disposição específica, que pode assim arvorar-se a
regra geral de deliberação no Direito Constitucional Moçambicano: “As deliberações da
Assembleia da República são tomadas por mais de metade dos votos dos Deputados
presentes”

Elaborado por: OMAR, Edmilson Ismael João

12
4 Formas De Designação Dos Titulares Do Poder Político
Segundo o professor Jorge Miranda entende-se por órgão “o centro autónomo
institucionalizado de emanação de uma vontade que lhe é atribuída, sejam quais forem a
relevância, o alcance, os efeitos (externos ou mesmo internos) que ela assuma; o centro de
formação de actos jurídicos do Estado (e no Estado); a instituição, tornada efectiva através de
uma ou mais de uma pessoa física, de que o Estado carece para agir (para agir juridicamente).
(Republica, 2004)19.

Os titulares dos órgãos e agentes detentores das faculdades ou parcelas do poder político
pertence à comunidade estadual e é desta que são designados segundo regras e procedimentos
estabelecidos na Constituição e na lei.

O Estado moçambicano tal como os demais Estados modernos fixa no nº 1 do artigo


135, o princípio geral que se deve obedecer para a designação dos titulares do poder politico
na República de Moçambique.

Os titulares do poder e os agentes detentores das faculdades ou parcelas do poder


político são designados dentre os membros da comunidade política do Estado ou organização
a que se refere os órgãos de soberania provêm do Estado Moçambicano, os das províncias, da
respectiva província e da autarquia da área municipal.20

São dois os grandes grupos em que se arrumam os modos de designação dos titulares dos
órgãos públicos do seu cruzamento se apresentando os
correspondentes tipos:21

 a designação por mero efeito do Direito; e


 a designação por efeito do Direito e da vontade.

A designação por mero efeito do Direito significa que as escolhas dos titulares, de
alguma sorte, estão pré-determinadas por uma previsão jurídico-normativa, apenas se
distinguindo conforme a ocorrência de certas circunstâncias que não são o produto específico
de uma vontade relevante que tivesse esse desiderato.
19
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade Constitucional do Estado, Coimbra,
1997, pág. 45.
20
António Chipanga, Apontamentos sobre a organização do poder politico em Moçambique.
21
sobre os diversos modos de designação dos governantes, v. Marcelo Rebelo de
Sousa, Direito Constitucional…, pp. 283 e ss.; Marcello Caetano, Manual de Ciência Política…,
I, pp. 235 e ss.; Jorge Miranda, Manual…, V, pp. 62 e ss.; Jorge Bacelar Gouveia, Manual…,
II, pp. 1171 e ss.

13
 Inerência: a escolha de alguém para um cargo em razão do facto de ser titular de
outro cargo;
 Sorteio: a escolha de alguém em função de uma solução estatística, de entre um mais
amplo leque de hipóteses possíveis;
 Rotação: a escolha de alguém por se encontrar no momento da assunção do cargo,
numa sequência plural de igual distribuição por várias pessoas;
 Antiguidade: a escolha de alguém por ser a mais antiga no exercício de outro cargo,
antiguidade que também pode ser da idade;
 Herança: a escolha de alguém por adquirir o direito de ser titular de um cargo na
morte de outra pessoa.

A designação por efeito do Direito e da vontade engloba as situações em que, havendo


uma disciplina jurídico-normativa, ela conta também, na determinação do titular, com a
vontade na respectiva escolha:

 Eleição: a escolha de alguém tendo por base um universo pluralista no colégio de


votantes, assim como no conjunto dos candidatos apresentados, em nome da
diversidade político-ideológica;

As eleições podem ser:

 Eleição Directa- o povo escolhe os seus representantes por meio do sufrágio


universal. Exemplo: presidente da república, deputados da Assembleia presidencial e
os órgãos de soberania e os governadores das províncias, deputados das assembleias
municipais e os órgãos de descentralização.
 Eleição Indirecta – os representantes do povo, deputados da Assembleia da
República votam em nome do povo e dos seguintes órgãos, membros do conselho
superior dos magistrados judicial art.º 231, e os juízes conselheiros do Conselho
Constitucional art.º 240.
 Nomeação: a escolha de alguém por indicação unilateral, sem qualquer contraditório
de candidaturas; O Presidente da República na qualidade de chefe de Estado nomeia o
Presidente do tribunal supremo, vice-presidente, o Presidente do Conselho
Constitucional, o Presidente do Tribunal Administrativo, sendo os actos verificados
pela Assembleia da República, art.º 158, art.º 225 nº 2, art.º 228 nº 2.
 Cooptação: a escolha de alguém para fazer parte de um órgão determinada pela
vontade dos outros titulares que já fazem parte desse mesmo órgão;

14
 Revolução: a escolha de alguém na sequência de um processo revolucionário, com
ruptura da Ordem Constitucional;
 Aclamação: a escolha de alguém através da expressão de uma vontade colectiva e
pública.

4.1 Formas de Exercício do Poder


Há 2 modalidades na qual o povo exerce o poder:

1. Sufrágio Universal art.º 73 da CRM.


2. Referendo art.º 136 da CRM.

1. Sufrágio Universal- consiste no pleno direito de votar e ser votado de todos os cidadãos
elegíveis e na garantia da correcta e transparente apuração dos resultados.

2. Referendo- é um instrumento da democracia semidirecta por meio do qual os cidadãos são


chamados a pronunciar-se por sufrágio directo e secreto sobre determinados assuntos de
relevante interesse à nação.

De acordo com o art.º 136 nº 6 e 7 da CRM o Referendo só é valido e vinculativo se nele


votarem mais da metade dos eleitores inscritos no recenseamento eleitoral e a Assembleia da
República aprovar uma lei especial que determina as condições de formulação e efectivação
do referendo.

Elaborado por: SANDACA, Marinalva da Paula

Órgãos De Soberania, Do Estado E Órgãos Constitucionais.

4.2 Órgãos de Soberania


Entende-se por órgãos de soberania como aqueles que agem em nome do Estado,
praticando actos decorrentes do exercício da soberania. Vide o artigo 133º da Constituição da
República de Moçambique,“ são órgãos de soberania o Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional.”22

22
Artigo 133º da Constituição da República de Moçambique

15
Têm sido dois os critérios propostos para explicar a conclusão de serem estes órgãos, e
não outros a possuírem esta qualidade de órgãos de soberania:23

- O critério da função jurídico-pública: é o órgão de soberania o órgão que se insere numa


função jurídico-pública;

- O critério da decisão cogente: é o órgão de soberania o órgão que produz atos obrigatórios.

Quer parecer-nos que o critério válido só pode ser a conjugação destes dois, num sentido
ecléctico: os órgãos de soberania são órgãos que, desenvolvendo um ou vários dos poderes
públicos, se assumem como produzindo atos decisórios. Do ponto do regime aplicável,
sobressai a orientação geral de o seu estatuto estar submetido a uma reserva de Constituição:
“Os órgãos de soberania (…) devem obediência à Constituição e às leis”.24

4.2.1 Estrutura e Função dos Órgãos De Soberania Moçambicana Politicamente


Conformadores
O Presidente da República (PR) é um órgão constitucional de soberania, uma vez que,
não só é mencionado na Constituição (artigo 133º), como também encontra o seu estatuto
jurídico-constitucional expresso na CRM (art. 146º e seguintes). O PR é o Chefe de Estado
(art. 146º nº 1), porquanto representa juridicamente o Estado nos planos interno e
internacional e nas dimensões de permanência, continuidade e direcção do Estado (cf. Artigo
7 da Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados).

Segundo o professor Gomes Canotilho, o PR exerce a função de reserva, essa que


consiste na tomada de decisões políticas pelo PR, nos casos diversos. A CRM não admite a
possibilidade do exercício da função de reserva da República, porquanto, havendo inércia dos
membros do Governo, cabe ao Presidente supri-la na qualidade de Chefe de Governo. Como
por exemplo, o regime de independência dos Tribunais, não permite que o PR possa exercer
funções jurisdicionais.25

A Assembleia da República- o órgão legislativo do país, composto por deputados eleitos pelo
voto directo.

23
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Manual de Direito Constitucional de Moçambique,v.Ed.IdiLP, Lisboa,2015,pp, 378 e
ss
24
Artigo 134º da CRM
25
CANOTILHO,J.J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição,6ª edição, Almedina, Coimbra,
2002,pp.615.

16
O Governo- liderado pelo primeiro-ministro e composto por ministros responsáveis por
diferentes áreas governamentais.

Os Tribunais- incluindo o Tribunal Supremo, que é o tribunal mais alto do país e os outros
restantes tribunais.

O Conselho Constitucional – responsável pela interpretação da Constituição e garante o


cumprimento geral das leis.

4.3 Órgãos do Estado e Órgãos Constitucionais


4.3.1 Órgão do Estado
O prof. Jorge Miranda, entende por órgão “o centro autónomo institucionalizado de
emanação de uma vontade que lhe é atribuída, sejam quais forem a relevância, o alcance, os
efeitos (externos e internos) que ela assuma; o centro de formação de actos jurídicos do
Estado; a instituição, tomada efectiva através de uma ou mais de uma pessoa física, de que o
Estado carece para agir (juridicamente).”26

Segundo o prof. Gouveia, ele afirma que os órgãos de soberania são sempre órgãos do
Estado, a inversa não é verdadeira, porque nem todos os órgãos do Estado são órgãos de
soberania. Ex: O Provedor de Justiça, o Procurador-geral da República.

Órgãos Constitucionais

O seu conceito, no sentido amplo, refere-se a todos órgãos mencionados na Constituição


e este engloba os órgãos de soberania e do estado.

Para o prof. GOUVEIA, cotejando os órgãos constitucionais e os órgãos de soberania,


pode-se dizer que todos os órgãos de soberania são órgãos constitucionais, mas nem todos
órgãos constitucionais são órgãos de soberania, como dois círculos concêntricos, um menor
dentro do outro maior. “Órgãos constitucionais são os que:

- Não estão subordinados a quaisquer outros;

- Cujo status e competências são imediata e fundamentalmente constituídos pela


constituição;

26
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade Constitucional do Estado,
Coimbra,1997,pág.45.

17
- Estabelecem uma relação de interdependência e de controlo em relação a outros órgãos
igualmente ordenados na e pela constituição;

- Dispõem de auto-organização interna”.27

Elaborado por: ANTÓNIO, Madalena Luciano

4.4 PRESIDENTE DA REPÚBLICA


É um órgão unipessoal, eleito por sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoas e
periódico (de cinco em cinco anos). O presidente da República, como cargo ou função,
assume, simultaneamente, duas funções: a de ser um órgão político e um órgão
administrativo.

Diz-se que é um órgão político pirarucu, como refere Marcelo CAETANO, “em todos os
regimes, a par dos políticos que são os titulares dos órgãos governativos, e por isso, se situam
acima da administração, certos agentes administrativos designados para exercício de funções
de confiança política. O Presidente da República é na verdade um titular de órgãos
governativos, designadamente: à Presidência da República e o Governo.

É preciso discernir, nesta pesquisa, sobre quais são os poderes do Presidente da


República enquanto órgão político e enquanto órgão administrativo.

 Enquanto órgão político o Presidente da República é o chefe do estado, simboliza a


unidade nacional, representa a nação no plano internacional e zela pelo correcto
funcionamento dos órgãos do Estado. Dai que a ele compete:

a. Dirigir a nação através de mensagem e comunicações, informar, anualmente, a


Assembleia da República sobre a situação geral da nação, decretar a mobilização
geral ou parcial, convocar eleições gerais, dissolver a Assembleia da República,
nomear, demitir e exonerar o Procurador-Geral da República, o Vice-Procurador Geral
da República e os Procuradores Gerais Adjuntos.;
b. Nomear o Presidente do Tribunal Supremo, do Conselho Constitucional e do Tribunal
Administrativo;
27
CANOTILHO, J.J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição,6ª ed,Almedina, Coimbra,2002,pp.561
e ss.

18
c. Celebrar tratados internacionais, orientar a política interna e externa, receber cartas
credenciais dos embaixadores e enviados diplomáticos dos outros países e nomear,
exonerar e demitir os Embaixadores e enviados Diplomáticos da República de
Moçambique.

 Enquanto órgão administrativo e superior da Administração Pública, compete ao


Presidente da República:

a. Convocar e presidir as sessões do Conselho de Ministros;


b. Nomear, demitir, e exonerar o Primeiro-ministro, os Ministros e Vice-ministros, os
Governadores de Província, os Reitores e Vice-Reitores das Universidades Públicas, o
Governador e Vice-Governador do Banco de Moçambique e os Secretários de Estado;
c. Criar ministérios e comissões de natureza interministerial.

O Presidente da República desenvolve um conjunto de relações com os outros órgãos de


soberania, nomeadamente:

 Com a Assembleia da República: presta informação anula sobre a situação geral da


nação em plenário e solene convocada para o efeito e sem sujeição de debate;
 Com o Poder Judicial: o Presidente da República nomeia os titulares dos cargos de
Presidente do Tribunal Supremo, vice do Conselho Constitucional e do Tribunal
Administrativo, embora sujeitos a ratificação pela Assembleia da República.

Este relacionamento concretiza, nas palavras do art. 134 da CRM, a interdependência


dos poderes. Como se vê, a função do Presidente da República concentra em si um leque de
poderes que lhes conduz a uma figura incontornável do sistema, dai a que este governo,
caracteriza-se como presidencialista atípico.

4.5 CONSELHO DE ESTADO


O conselho de Estado tem a natureza jurídica de um órgão político de consulta do
Presidente da República (cf. n.• 1 do artigo 164 da CRM).

É presidido pelo Presidente da República.


19
Compete ao conselho de Estado aconselhar o Presidente da República e emitir pareceres
obrigatórios, sobre as matérias seguintes:

o Dissolução da Assembleia da República;


o Declaração de Guerra;
o Declaração de Estado de sítio ou de emergência;
o Realização do referendo;
o Convocação de eleições gerais.

O conselho de Estado detém uma composição heterogénea, como o próprio Presidente


do órgão realçou na tomada de posse de um membro seu, particularmente, que a composição
heterogénea deste órgão cria uma oportunidade para que beneficie de uma diversidade de
opiniões, saberes e experiência, reflexos da nossa realidade política, social e cultural. Está
diversidade contribui para cultivar o Estado de Direito e à cultura Democrática e para reforçar
as instituições democráticas.

Composição:

É composto pelo Presidente da República, que preside, o Presidente da Assembleia da


República, o Primeiro-ministro, Presidente do Conselho Constitucional, Provedor de Justiça,
os antigos Presidentes não destituídos do cargo, os antigos Presidentes da Assembleia da
República, sete personalidades de reconhecimento mérito indicados pela Assembleia da
República, 4 personalidades de mérito indicados pela sociedade civil e o segundo candidato
mais votado ao cargo de Presidente da República.

Elaborado por: MAMUGY, Abdul Alimo Momade

5 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
5.1 A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NO SISTEMA POLÍTICO-CONS-
TITUCIONAL
A Assembleia da República, que vem sistematicamente localizada a seguir ao Presidente
da República, é um órgão colegial, de base pluralista político-partidária28.

28
MACIE, ALBANO, Direito do Processo Parlamentar, 2012, pág. 22

20
No plano do texto constitucional, a regulamentação do mesmo vem dividido por três
capítulos, inseridos no Título VII da seguinte forma:

– Capítulo I – Estatuto e Eleição


– Capítulo II – Competências
– Capítulo III – Organização e Funcionamento
Devido à complexidade organizacional e funcional, a regulamentação deste não se cinge a
CRM, apenas, mas também há dois importantes diplomas que são:
– A Lei Orgânica da Assembleia Nacional (LOAR); e
– O Regimento da Assembleia da República (RAR).
A LOAR (L nº 13/2013, de 12 de Agosto) é um diploma legislativo de cunho
essencialmente organizatório-administrativo, com 80 artigos.
O RAR (L nº 17/2013, de 12 de Agosto, alterada pela L nº 1/2015, de 27 de Fevereiro) é
muito mais extenso com 226 artigos.

5.2 A natureza da função parlamentar


A natureza da Assembleia da República é a de ser um órgão representativo dos
moçambicanos, tal como o diz a própria CRM: “A Assembleia da República é a assembleia
representativa de todos os cidadãos moçambicanos”.29
A CRM define a Assembleia da República como o mais alto órgão legislativo da
República de Moçambique. A Assembleia da República determina as normas que regem o
funcionamento do Estado e a vida económica e social através de leis e deliberações de
carácter genérico.
A Assembleia da República é um órgão colegial, de tipo parlamentar, sendo “…
constituída por duzentos e cinquenta Deputados”.30
Tal como o Presidente da República, a Assembleia da República assume uma apreciável
centralidade no exercício do poder político em Moçambique, desta feita prevalecendo-se de
outras características, que lhe são muito próprias:
– Ser um órgão colegial amplo;
– Ser um órgão representativo da diversidade político-partidária do país;
– Ser um órgão que detém o mais relevante poder público, que é o poder para rever a
Constituição.

29
Art. 168, nº 1, da CRM.
30
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 449

21
5.3 ELEIÇÃO E MANDATO DOS DEPUTADOS
5.3.1 A designação dos Deputados
A designação dos Deputados à Assembleia da República obedece ao esquema geral do
“…sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoal e periódico”, sendo “…as listas
plurinominais fechadas em cada círculo eleitoral, dispondo o eleitor de um voto singular de
lista.
As candidaturas, todavia, são restritas às formações partidárias, isto é, concorrem às
eleições os partidos políticos, isoladamente ou em coligação de partidos, e as respectivas
listas podem integrar cidadãos não filiados nos partidos.
Há uma pluralidade de colégios eleitorais, os quais coincidem com as áreas
administrativas das províncias e Cidade de Maputo (248 deputados), ainda se estabelecendo
dois círculos eleitorais para os cidadãos residentes no exterior, um para os países da região de
África e outro para os restantes países, ambos com sede na Cidade de Maputo (2
deputados).31

Mandato dos Deputados; o Líder do Segundo Partido


Os Deputados são os titulares da Assembleia da República e têm o seu estatuto
claramente definido ao nível da CRM, sendo eleitos para um mandato de cinco anos, o prazo
de duração da legislatura.
Os Deputados, embora eleitos em círculos, são Deputados da República, representando o
interesse nacional: “O Deputado representa todo o país e não apenas o círculo pelo qual é
eleito”32.
Contudo, muitos aspectos do regime dos Deputados são definidos – além daquilo que é
constitucionalmente relevante – no Estatuto do Deputado (ED), aprovado pela L nº 31/2014,
de 30 de Dezembro, diploma legislativo com 72 artigos.
O mandato do Deputado inicia-se com a sua tomada de posse e são várias as vicissitudes
que se repercutem sobre a sua efectividade:

– Caducidade: fim do mandato por decurso da legislatura;

– Suspensão: temporária, por um conjunto de razões constitucionalmente admissíveis;


– Substituição: temporária por outra pessoa, ou definitiva, o que equivale à sua cessação
antecipada;
31
CHIPANGA, António Salomão, Sumários: Organização do Poder Político, pág. 16
32
Ibidem ou Ibid

22
– Renúncia: declaração de vontade de não querer ser mais titular do cargo;
– Perda: cessação do mandato por razões alheias à sua vontade.
Deputados dispõem de situações funcionais, as quais incluem um feixe de posições
activas e passivas reguladas pelo Direito Constitucional, exprimindo a sua qualidade de
titulares do órgão parlamentar, de que cumpre sublinhar:
– Poderes relacionados com o exercício da actividade parlamentar, assim participando no
funcionamento do órgão, para além de poderes instrumentais que permitem o exercício
daqueles poderes;
– Imunidades relacionadas com a garantia da liberdade do exercício das suas funções,
imunidades que se desdobram na irresponsabilidade pelas opiniões emitidas e na
inviolabilidade das respectivas pessoas contra a aplicação de medidas penais, com
várias excepções;
– Direitos e regalias relacionados com os benefícios de que são titulares, incluindo as
remunerações e outros benefícios materiais;
– deveres relacionados com o bom exercício da função parlamentar, contribuindo para a
sua máxima efectividade e que se traduzem na responsabilidade das competências
parlamentares, para além de outros deveres que sobre eles impendem, como em matéria
de transparência, assim como em matéria de incompatibilidades e impedimentos.
O exercício do cargo de Deputado à Assembleia da República é envolvido por um
conjunto de incompatibilidades, as quais se destinam a preservar a idoneidade da função e a
torná-la impermeável a interesses espúrios ao alto interesse público que deve protagonizar.
O texto constitucional vai inclusivamente ao ponto de estabelecer um conjunto de
situações de incompatibilidade, além de outras que podem ser acrescentadas por norma
legal:
– Membro do Governo;
– Magistrado em efectividade de funções;
– Diplomata em efectividade de serviço;
– Militar e polícia no activo;
– Governador provincial e administrador distrital;
– Titular de órgãos autárquicos.
O regime das imunidades constitucionalmente estabelecidas em favor dos Deputados à
Assembleia da República bifurca-se em dois âmbitos fundamentais33:

33
Cfr. oart. 178 da CRM e arts. 3 ess. do ED.

23
– Na irresponsabilidade: “Os Deputados da Assembleia da República não podem ser
processados judicialmente, detidos ou julgados pelas opiniões ou votos emitidos no exercício
da sua função de Deputado”;
– Na inviolabilidade: “Nenhum Deputado pode ser detido ou preso, salvo em flagrante
delito, ou submetido a julgamento sem consentimento da Assembleia da República”.
A amplitude desta imunidade, na dimensão da irresponsabilidade, é atenuada por enfrentar
excepções: “Exceptuam-se a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal por injúria,
difamação ou calúnia”.
Em matéria de estatuto de Deputados, confere-se um regime especial ao Deputado que
seja o líder do partido político que represente a oposição, dando-se-lhe o nome de “Líder do
Segundo Partido com Assento Parlamentar”34.

É disso de que se desincumbiu a L nº 33/2014, de 30 de Dezembro, que teve por objecto


“…a atribuição de estatuto especial ao Líder do Segundo Partido com Assento Parlamentar”.
Tal diploma, com 9 artigos, regulou diversas situações funcionais específicas:
– Direitos;
– Deveres; e
– Imunidade.

5.4 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO


Os órgãos parlamentares; os órgãos político-legislativos em especial a Assembleia da
República é porventura o órgão mais tipicamente complexo que a Teoria do Direito
Constitucional conhece: desdobra-se por vários centros decisórios, que produzem uma
vontade politicamente relevante e imputável ao Estado-Poder.35
A principal vertente de decisão da Assembleia da República, sendo ela também a que
interessa residualmente, é a respectiva valência como universo dos seus membros: como o
conjunto de todos os seus Deputados, tecnicamente representados pelo plenário parlamentar,
a quem estão cometidas as suas fundamentais competências.
Mas a Assembleia da República também toma importantes decisões, ainda que não tão
relevantes quanto aquelas, no âmbito de outros centros de decisão, havendo que dissociar os
órgãos político-legislativos dos órgãos administrativos:

34
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 453
35
GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional Moçambicano, pág. 455

24
São “órgãos político-legislativos” da Assembleia da República:36
– O Plenário;
– A Comissão Permanente;
– As Comissões de Trabalho;
– O Presidente da Assembleia da República.

São órgãos da administração da Assembleia da República, nos termos da definição


constante da LOAR:
– O Presidente da Assembleia da República;37
– A Comissão Permanente;
– O Conselho de Administração;
– O Secretariado Geral.
Cumpre ver com alguma detença os principais destes órgãos parlamentares, sendo certo
que sobressai a importância da dimensão político-legislativa em detrimento da dimensão
meramente administrativa para uma análise tributária do Direito Constitucional:
– A Comissão Permanente: órgão que funciona nas ausências e impedimentos do Plenário
e que assegura as funções mínimas vitais que são prototípicas de um Parlamento democrático,
de entre as quais se conta a autorização para o Presidente da República se ausentar do
território nacional e para a decretação do estado de excepção e do estado de guerra, sem
esquecer as competências gerais de fiscalização política e de vigilância pelo cumprimento da
Constituição;
– O Presidente da Assembleia da República: órgão que desempenha competências de
direcção e de coordenação burocrática dos trabalhos parlamentares, havendo ainda dois
Vice-Presidentes, com competências de coadjuvação e substituição do Presidente da
Assembleia da República;
– As Comissões de Trabalho (parlamentares especializadas): órgãos que agregam vários
Deputados de acordo com a representatividade parlamentar geral, em razão de matérias
específicas da actividade desenvolvida, com uma duração permanente ou com uma duração
limitada, não esquecendo ainda as comissões de inquérito;

A Assembleia da República tem as seguintes Comissões de trabalho:


 Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade;
 Comissão do Plano e Orçamento;

36
Cfr.oart. 59 do RAR
37
Cfr. oart. 20 da LOAR e o art. 59 do RAR.

25
 Comissão dos Assuntos Sociais, do Género e Ambientais;
 Comissão da Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social;
 Comissão de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Actividades Económicas e
Serviços;
 Comissão de Defesa e Ordem Pública;
 Comissão das Relações Internacionais;

 Comissão de Petições.

5.5 Competências Parlamentares da Assembleia da República


1. Competência constitucional: para aprovar leis de revisão constitucional
2. Competência política: para aprovar tratados e acordos internacionais; produzir actos
de fiscalização política em relação ao Governo e a Administração Pública
3. Competência legislativa: para aprovar actos legislativos e actos regulamentares.

5.5.1 Competências Parlamentares


De acordo com a CRM|04, no artigo 178, estabelecem-se as competências da Assembleia
da República. Temos:

a) Aprovar as leis constitucionais;


b) Aprovar a delimitação das fronteiras da República de Moçambique;
c) Deliberar sobre a divisão territorial;
d) Aprovar a legislação eleitoral e o regime do referendo;
e) Aprovar e denunciar os tratados que versem sobre matérias da sua competência;
f) Propor a realização de referendo sobre questões de interesse nacional;
g) Sancionar a suspensão de garantias constitucionais e a declaração do estado de sítio
ou do estado de emergência;
h) Ratificar a nomeação do Presidente do Tribunal Supremo, do Presidente do Conselho
Constitucional, do Presidente do Tribunal Administrativo e do Vice-Presidente do
Tribunal Supremo;
i) Eleger o Provedor de Justiça;
j) Deliberar sobre o programa do Governo;
k) Deliberar sobre os relatórios de actividades do Conselho de Ministros;

26
l) Deliberar sobre as grandes opções do Plano Económico e Social e do Orçamento do
Estado e os respectivos relatórios de execução;
m) Aprovar o Orçamento do Estado;
n) Definir a política de defesa e segurança, ouvido o Conselho Nacional de Defesa e
Segurança;
o) Definir as bases da política de impostos e o sistema fiscal;
p) Autorizar o Governo, definindo as condições gerais, a contrair ou a conceder
empréstimos, a realizar outras operações de crédito, por período superior a um
exercício económico e a estabelecer o limite máximo dos avales a conceder pelo
Estado;
q) Definir o estatuto dos titulares dos órgãos de soberania, das províncias e dos órgãos
autárquicos;
r) Etc.

Elaborado por: CUMBANE, Hilton do Rosário

6 Relação entre a Assembleia Da República e o Presidente Da República


O Presidente da República desenvolve um conjunto de relações com os outros órgãos de
soberania. Para com a Assembleia, o presidente da República deve:

 Prestar informação anual sobre a situação geral da nação em Sessão Plenária e solene,
convocada para o efeito e sem sujeição à debate;
 Em caso de rejeição do Programa Quinquenal do Governo, após o debate o PR pode
dissolver a Assembleia da República, convocando novas eleições legislativas;
 Declarar o estado de sitia e de emergência;
 Depois que a AR ratifique a nomeação do Presidente do Tribunal Supremo, do
Presidente do Conselho Constitucional, do Presidente do Tribunal Administrativo e
do Vice-Presidente do Tribunal Supremo, o PR faz a nomeação;
 Declara o estado de guerra ou sua cessação, sujeita ao parecer da Assembleia da
República;
 Compete a Assembleia da República requerer o exercício da acção penal contra o
Presidente da República;

27
 Cabe ao PR, o poder de veto das leis aprovadas pela AR, isto é, as leis para poderem
valer como tais, devem ser promulgadas pelo Presidente da República. Pode devolver
a lei à AR com mensagem fundamentada para reavaliação, como também, em caso de
dúvidas sobre a constitucionalidade, pode requerer ao Conselho Constitucional para a
verificação da sua constitucionalidade, servindo o acórdão de fundamento para a não
promulgação e posterior devolução à AR.
 É ao Presidente da Assembleia da República que lhe compete exercer, de forma
interina, as funções do Presidente da República em caso de vacatura do cargo;
 Em caso de ausência ou impedimento do Presidente da República, o Presidente da
Assembleia da República tem a função de substituí-lo.

Elaborado por: SIGAÚQUE, Neidy Helena Julião

7 O Tribunal Supremo
7.1 Princípio da separação de poderes
FILHO, afirma que, essencialmente, a separação de poderes consiste na distinção dos
três (3) poderes estatais, ou em outras palavras, este princípio pressupõe a tripartição das
funções do Estado no caso, a função legislativa, a função executiva e a função jurisdicional.
38

A função legislativa esta encarregue de legislar, ou seja, tem a função de criar e aprovar
leis, e este poder é exercido, nos termos do n° 1 do artigo 178° da CRM.

A função executiva, cabe a responsabilidade de administrar o estado, observando as


normas vigentes no país, alem de governar o povo, executar as leis, propor planos de ação e
administrar os interesses públicos. Este poder é exercido pelo Presidente da Republica,
juntamente com os ministros por ele indicados, os órgãos da Administração pública, entre
outros.39

A função jurisdicional, que será o foco deste tema, tem a responsabilidade de


interpretar as leis e julgar os casos de acordo com as regras constitucionais e as leis criadas
pelo legislativo, aplicando a lei a um caso concreto, que lhe é apresentado como resultado de

38
FILHO, Manuel Goncalves Ferreira; Curso de Direito Constitucional; 38ªEdição, Editora Saraiva, 2012,
39
https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/acedido aos
03/09/2023

28
um conflito de interesses. Esta função é exercida pelos Tribunais, que são representados pelos
juízes, desembargadores, entre outros40

De acordo com Martins, embora estes poderes exerçam controlos recíprocos, eles
também fundamentam-se na independência, ou seja, um poder não pode subordinar-se ao
outro. 41

7.2 Os Tribunais
O dicionário define tribunal como sendo um órgão de soberania com competência para
julgar causas forenses e do contencioso administrativo, aplicando a lei de forma a assegurar a
defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e a dirimir os confeitos de
interesse publico e privado. 42

Segundo MENDES, “os tribunais são órgãos encarregados de aplicar o direito em


casos concretos litigiosos”43

Legalmente, os tribunais podem ser definidos como órgãos de soberania que


administram justiça em nome do povo, vide artigo 1° da Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais.

7.2.1 Objectivos Dos Tribunais


Os tribunais têm como objectivos:

 Garantir e reforçar a legalidade como instrumento da estabilidade jurídica, garantir o


respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos, assim como os
interesses jurídicos dos diferentes órgãos e entidades com existência legal.
 Educar os cidadãos no cumprimento voluntário e consciente das leis, estabelecendo
uma justa e harmoniosa convivência social.
 Penalizar as violações da legalidade e decidir pleitos de acordo com o estabelecido na
lei.44

40
Ibidem
41
MARTINS, Flávio; Curso de Direito Constitucional, 3ª Edição, São Paulo, Saraiva Educação, 2019
42
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/tribunal acedido aos 04/09/2023
43
MENDES, João de Castro; Introdução ao Estudo do Direito, 1 Edição, Lisboa[s.n], 1979, p: 117
44
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, art. 3

29
7.3 Hierarquia dos tribunais
Os tribunais seguem uma hierarquia determinada constitucionalmente (vide art. 222°, n°
1 da CRM). Os tribunais hierarquizam-se para efeitos de recurso das suas decisões e de
organização do aparelho judicial, e estão estruturados da seguinte maneira:45

1. Tribunal Supremo
2. Tribunal Administrativo
3. Os tribunais Judiciais

Destes, iremos nos debruçar somente sobre o Tribunal Supremo, que será o foco do
desenvolvimento que se segue.

7.4 O Tribunal Supremo


O Tribunal Supremo é o mais alto órgão judicial e tem jurisdição em todo o território
nacional. É o Tribunal Supremo que garante a aplicação uniforme da lei, ao serviço dos
interesses do povo moçambicano. Incumbe-se ainda, ao Tribunal Supremo, a direção do
aparelho judicial.46

Em sua composição, podemos encontrar, de acordo com o artigo 30 da Lei Orgânica dos
Tribunais Judiciais, as seguintes figuras:

 Presidente
 Vice-presidente
 Um mínimo de sete juízes profissionais e dezassete juízes eleitos, sendo oito
suplentes.

7.4.1 Organização do Tribunal supremo


Para o exercício da função jurisdicional, o Tribunal Supremo organiza-se da seguinte
maneira:

 Plenários
 Secções

7.4.1.1 Competências do plenário


Aas competências do plenário são dívidas em duas instâncias, nomeadamente, em Instância
Única e em 2ª Instancia

Em Instancia Única, compete ao Plenário do Tribunal Supremo:

45
Cf. Artigo 222° da CRM de 2004, I serie, 16 de novembro de 2004, Maputo, 2004, plural editores
46
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, Art. 28

30
 Julgar os processos-crime em que sejam arguidos o Presidente da República, o
Presidente da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro e o Presidente do
Conselho Constitucional;
 Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes profissionais do Tribunal
Supremo, Magistrados do Ministério Público junto deste, e o Presidente do Tribunal
Administrativo;
 Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes eleitos do mesmo tribunal, por
actos relacionados com o exercício das suas funções;
 Conhecer e decidir das acções de perdas e danos instaurados contra os juízes do
Tribunal Supremo e Magistrados do Ministério Público junto deste por atos
praticados no exercício das suas funções;
 Exercer as demais atribuições conferidas por lei.

Como Tribunal de 2ª Instancia, compete ao plenário do Tribunal Supremo, os seguintes:

 Uniformizar a jurisprudência quando no domínio da mesma legislação e sobre uma


mesma questão fundamental de direito tenham sido proferidas decisões contraditórias
nas várias instâncias do Tribunal Supremo;
 Conhecer de conflitos de jurisdição entre tribunais e outras autoridades;
 Decidir de conflitos de competência cujo conhecimento não esteja, por lei, reservado
a outros tribunais;
 Julgar em última instância e em matéria do direito, os recursos interpostos das
decisões proferidas nas diversas jurisdições previstas na lei;
 Julgar os recursos de decisões proferidas em primeira instância pelas secções do
Tribunal Supremo;
 Ordenar que qualquer processo nos casos específicos, seja julgado em tribunal diverso
do legalmente competente, nos termos da lei;
 Exercer as demais atribuições conferidas por lei.47

7.4.1.2 Competências das Secções


A semelhança dos plenários, as secções podem ser divididas em secções de 1ª Instancia e
secções em 2ª Instancia

As Secções do Tribunal Supremo, como tribunal de 1ª Instancia, compete:

47
Cf. Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de maio, Arts. 33, 34

31
a. Julgar os processos-crime em que sejam arguidos deputados da Assembleia da
República, membros do Conselho de Ministros e outras entidades nomeadas pelo
Presidente da República nos termos da Constituição, e todas as demais entidades que
gozam do foro especial nos termos da lei e não estejam abrangidos pelo disposto no
artigo 34;
b. Julgar os processos-crime em que sejam arguidos juízes profissionais dos tribunais
judiciais de província e magistrados do Ministério Público junto dos mesmos
tribunais;
c. Julgar os processos-crime instaurados contra os juízes eleitos dos mesmos tribunais
por actos relacionados com o exercício das suas funções;
d. Conhecer e decidir das acções de perdas e danos instaurados contra juízes e
magistrados do Ministério Público dos tribunais judiciais de província por actos
relacionados com o exercício das suas funções;
e. Julgar os processos de extradição;
f. Exercer as demais atribuições conferidas por lei.

As secções do Tribunal Supremo, como tribunal de segunda instância compete:

a. Julgar em matéria de facto e de direito os recursos que nos termos da lei devam ser
interpostos para o Tribunal Supremo;
b. Conhecer dos conflitos de competência entre os tribunais judiciais de província, ou
entre estes e os tribunais judiciais de distrito;
c. Ordenar a suspensão, a requerimento do representante do Ministério Público junto do
Tribunal Supremo da execução de sentenças proferidas por tribunais de escalão
inferior, quando se mostrem manifestamente injustas ou ilegais;
d. Anular as sentenças a que se refere a alínea anterior;
e. Proceder nos termos mencionados nas alíneas
f. Julgar os processos de revisão e confirmação de sentenças estrangeiras;
g. Conhecer dos pedidos de habeas corpus;
h. Conhecer dos pedidos de revisão de sentenças cíveis e penais;
i. Propor ao Plenário a adopção das medidas necessárias à uniformização da
jurisprudência e boa administração da justiça;
j. Exercer as demais atribuições conferidas por lei.48
Elaborado por: CAMBULA, Yone da Lia
48
Cf.Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de Maio, Arts. 38, 39

32
8 ÓRGÃOS CENTRAIS E SECRETÁRIO DE ESTADO

8.1 Definição de Órgãos Centrais


De acordo com a doutrina, Órgãos Centrais são aqueles cujo âmbito de actuação é a
totalidade do território nacional e compreende o conjunto de órgãos governamentais e as
demais instituições do Estado com bito nacional, incluindo as áreas sob jurisdição do Estado
moçambicano no estrangeiro (embaixadas, consulados, agências e outras formas de
representação do Estado).49

A definição legal da jurisprudência consta da Constituição da República de


Moçambique, que estabelece que são órgãos centrais do Estado, os órgãos de soberania, o
conjunto dos órgãos governativos e a realização da política unitária do estado.50

São atribuições dos órgãos centrais, as seguintes: as funções de soberania, a normação de


matérias de âmbito da lei, a definição de políticas nacionais, a realização da política unitária
do estado, a realização política unitária do Estado, a representação do Estado ao nível
provincial, distrital e autárquico, a definição e organização do território, a defesa nacional, a
segurança e ordem públicas, a fiscalização das fronteiras, a emissão da moeda, as relações
diplomáticas, os recursos minerais e energia, os recursos situados no solo e no subsolo, nas
águas interiores, no mar territorial, zona contígua ao mar territorial, na plataforma continental
e na zona económica exclusiva e a criação e alteração dos impostos. 51

8.2 Secretário de Estado


As tarefas dos órgãos centrais são asseguradas por eles próprios ou por agentes da
administração que são peles nomeados para fiscalizar e supervisionar a relação das tarefas
dos órgãos centrais em cada província.

O órgão que tem a prerrogativa de agir em determinada província é denominado


Secretário de Estado que é o cargo criado no seguimento da revisão constitucional de 2018 e
da nova legislação sobre descentralização de 2018 e 2019. O Secretário de Estado na
província representa o governo central e é nomeado e empossado pelo Presidente da
52
República. Este órgão assegura a realização das funções exclusivas e de soberania do

49
CHIPANGA, Antônio, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, Maputo, 2011, pp. 2
50
Vide Artigo 138 CRM.
51
Vide Artigo 139 CRM.
52
https://pt.wikipedia.org/wiki/Secret%C3%A1rio_de_Estado?wprov=sfla1

33
Estado, superintende e supervisiona os serviços de representação do Estado na província e
nos distritos.53

O Secretário de Estado é nomeado e empossado pelo Presidente da República. Dirige


uma área específica que pela sua natureza requer uma certa autonomia de direcção política,
administrativa e gestão própria. Em conformidade do decreto da criação pode ter uma
subordinação directa ao Presidente da República, ao Primeiro-ministro ou ao Ministro que for
designado para o efeito, goza de uma certa autonomia administrativa.54

Como consta da alínea e) do nº 2 do artigo 139, que estabelece que uma das atribuições
dos órgãos centrais é a representação do Estado ao nível provincial, distrital e autárquico,
sendo que os dirigentes dos governos provinciais e das autarquias, isto é, o governador e o
presidente do conselho municipal respectivamente, são eleitos por voto popular, estando
ainda programadas as eleições distritais para eleição do administrador de distrito também por
voto popular.

Elaborado por: MAMBO, Quiyola de


Castro

53
Vide Artigo 141 CRM
54
CHIPANGA, Antônio, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano, Maputo, 2011, pp. 24

34
Conclusão
Após debruçarmo-nos sobre os temas que versam sobre a Organização do Poder
Politico e parte dos órgãos de soberania que são o Presidente da República e a Assembleia da
República, buscando analisar de forma aprofundada as várias nuances que giram em torno de
cada um e por fim buscando uma relação entre ambas, pudemos inferir que o Estado
Moçambicano esta politicamente organizado de forma a corporizar formalmente o principio
do Estado Democrático, ficando clara a separação de poderes.

O Presidente da Republica que ocupa a primeira posição na hierarquia dos Órgãos de


Soberania, tem todas suas funções muito bem fixadas por lei, assim como os seus benéficos e
circunstancialismos que o levariam a perda do cargo.

A Assembleia da Republica que é o mais alto Órgão Legislativo do Estado, ocupa a


segunda posição na hierarquia. Esta que é também chamada de “A Casa do Povo” pelo seu
caracter maioritariamente representativo, tem a função primordial de proceder com actos
legislativos, mas também exerce outras funções mencionadas no desenvolvimento.

Estes dois órgãos relacionam-se à medida em que agem muitas vezes em consonância
um com outro e pela prerrogativa que ambos têm de fiscalizar alguns actos protagonizados
um pelo outro de modo a garantir que o fim último que é a segurança e o bem-estar do Povo
moçambicano seja assegurado.

Coube fazer menção ao Tribunal Supremo, que é o órgão judiciário à que cabe a
competência de julgar o Presidente da Republica, os Deputados e outros órgãos que gozam de
imunidade e consequentemente, as suas infracções são tratadas num regime especial. Este
facto acentua o Principio do Estado de Direito Democrático que denota a posição superior da
lei em relação toda.

35
Referências Bibliográficas:

 AMARAL, Diego Freitas do, Manual de Introdução ao Direito, Lisboa, Vol. I, 2004, Cascais,
Almeida, 2003;
 AMARAL, Direitos Fundamentais Uma Introdução à Politica, Lisboa, Bernardo Editora,
2014;
 BONAVIDES, Paulo, Ciência Política, 10ª edição, Malheiros Editora, Brasil, 2000;
 CAETANO, Marcelo, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra,
1996;
 CHIPANGA, António Salomão, Sumários: Organização do Poder Politico;
 CHIPANGA, António, Lições sumárias de Direito Constitucional Moçambicano,
Maputo, 2011;
 CANOTILHO, J.J Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, 6ª ed.
Almedina, Coimbra, 2002;
 FILHO, Manuel Goncalves Ferreira; Curso de Direito Constitucional; 38ªEdição,
Editora Saraiva, 2012;
 GOUVEIA, Jorge Bacelar, Manual de Direito Constitucional de Moçambique, v.Ed.
IdiLP, Lisboa,2015;
 MACIE, ALBANO, Direito do Processo Parlamentar, 2012;
 MARTINS, Flávio; Curso de Direito Constitucional, 3ª Edição, São Paulo, Saraiva
Educação, 2019
 MENDES, João de Castro; Introdução ao Estudo do Direito, 1 Edição, Lisboa [s.n],
1979;
 MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Actividade
Constitucional do Estado, Coimbra, 1997;
 MOREIRA, Adriano, Ciência Política, Coimbra, 1995;
 SABADELL, Ana Lúcia, Manual de Sociologia Jurídica: Introdução a uma leitura
externado Direito, 2ª ed., Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2002.
 SOUSA, Marcelo Rebelo de, GALVÃO, Sofia, Introdução ao estudo do Direito, 5ª
edição, Lex, Lisboa, 2000.
Legislações
 Constituição da Republica de Moçambique, I serie, 16 de novembro de 2004, Plural
editores, Maputo, 2004;
 Lei do Direitos e Deveres do Presidente da Republica: Lei n°32/2014 de 30 de
Dezembro
 Lei Orgânica da Assembleia da Republica: Lei n° 13/2013 de 12 de Agosto
 Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; Lei n°10/92 de 06 de Maio;
 Regimento da Assembleia da Republica: Lei n°1/2015 de 27 de Fevereiro
Sites da internet
• https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-
legislativo-e-judiciario/ - acedido aos 03/09/2023
• https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/tribunal - acedido
aos 04/09/2023

36
9 Relatório Da Realização Do Trabalho
Após a distribuição dos respectivos temas aos grupos de trabalho que comportam a turma do
curso de Direito, primeiro ano laboral, no dia 18 de Agosto de 2023, o quarto grupo composto
por 10 membros, fez a distribuição dos subtemas da seguinte forma:
OLIVEIRA, Rádica Moisés O poder político
ZAMBUCO, Júlia Ramos Princípios gerais relativos à organização do
poder político
OMAR, Edmilson Ismael João Órgãos colegiais
SANDACA, Marinalva da Paula Formas de designação dos titulares do poder
políticos e as respectivas formas do exercício
do mesmo
ANTÓNIO, Madalena Luciano Órgãos de soberania, do Estado e
constitucionais
MAMUGY, Abdul Alimo Momade O Presidente da República
CUMBANE, Hilton do Rosário A Assembleia da República
SIGAÚQUE, Neidy Helena Julião Relação entre o Presidente da República e a
Assembleia República e o sistema de governo
moçambicano
CAMBULA, Yone da Lia Armando Tribunal Supremo
MAMBO, Quiyola de Castro Órgãos centrais e o secretário do Estado

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