14) Conceitos de Testes, Escalas e Inventários

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

CBI of Miami 1

DIREITOS AUTORAIS
Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os
direitos sobre o mesmo estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar
e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações
legais.

CBI of Miami 2
Modelos Cognitivos e Diferentes Abordagens Sobre
Inteligência
Fernando Pessotto

Muito se fala sobre a inteligência, tanto na ciência quanto no senso


comum. Aliás, a história da psicometria se confunde com a história da
compreensão e mensuração da cognição. Embora existam muitas formas de
compreender e definir a inteligência, até hoje não existe um consenso devido,
sobretudo, às diferenças metodológicas. Mesmo assim, uma sinergia entre as
diferentes áreas é que a inteligência consiste basicamente num processo de
adaptação ao meio. Por isso, a cultura local exerce um importante papel na
compreensão da mesma.
Partindo de Galton, passando por Spearman, até a considerações de
Cattell, hoje é possível compreender a inteligência a partir de dois fatores
principais, a Inteligência Fluida (Gf) e a Inteligência Cristalizada (Gc). A
Inteligência Fluida caracteriza-se basicamente pela habilidade de raciocínio em
si, pelo processamento das informações e ligações entre novos estímulos, e a
Inteligência Cristalizada (Gc), mais recentemente denominada de
Conhecimento e Compreensão, diz respeito à quantidade e profundidade de
informações adquiridas numa determinada cultura, ou seja, é a “parte
cristalizada” da inteligência, ligada diretamente à memória de longo prazo.
Estes são os dois principais elementos do Modelo CHC das Habilidades
Cognitivas, que conta com 16 fatores amplos em seu segundo estrato, além de
mais de 80 habilidades específicas no estrato I.
Esta pequena contextualização serve para dar base nos processos de
avaliação psicológica abordados neste curso. É muito comum, ouvir por
exemplo, que o WISC-IV é um teste de QI, e ainda verificar que na prática,
muitas vezes, ele tem apenas esta função, verificar uma capacidade geral de
raciocínio. Isso não está errado, apenas incompleto, pois negligenciar a grande
quantidade de informações que esta rica ferramenta fornece, é um grave erro.
Independentemente de ser o WISC-IV ou qualquer outra bateria ou teste, o
foco será sempre identificar o perfil cognitivo da pessoa avaliada, não
simplesmente, o “nível de inteligência” dela.

CBI of Miami 3
Numa avaliação, quando se caracteriza o perfil cognitivo do avaliando,
mais do que um diagnóstico, é possível compreender quais são as
potencialidades e fraquezas dele, possibilitando assim, criar uma intervenção
específica a partir de como a sujeito interage com o meio externo. Desta forma,
é possível adaptar tarefas e exercícios do ponto de vista mais idiográfico
possível.
A validade ecológica deve estar presente na avaliação da cognição, para
auxiliar neste processo. Provas ecológicas são justamente atividades que
“fazem parte do ecossistema” do indivíduo, do seu dia a dia. No caso de
crianças, são jogo e brincadeiras que de forma mais simples ou complexa,
exigem processamento cognitivo. Comparando com os testes, por exemplo,
estes, em geral, devido às exigências psicométricas, buscam isolar as
habilidades a serem avaliadas, buscando em suas tarefas, utilizar a forma mais
específica possível da habilidade. Contudo, no dia a dia, nas tarefas escolares,
nas brincadeiras e jogos, em geral, a criança tem que utilizar várias habilidades
cognitivas em conjunto.
Um exemplo disso, pode ser verificado nas provas de avaliação da
atenção. Basicamente, todas as tarefas que temos hoje disponíveis para
avaliação da atenção, são compostas por estímulos visuais e muitas vezes o
avaliando acaba indo bem. Mas vale lembrar, que as definições de atenção,
quando tratam sobre “estímulos” não os definem como estímulos visuais.
Sendo assim, algumas atividades ecológicas, podem auxiliar na identificação
de uma dificuldade atencional que não seja visual. Este fator, pode fazer com
que a criança se distraia na sala de aula, não pela dificuldade em focar na
lousa ou caderno, mas na dificuldade de se concentrar em meio a conversas
paralelas, por exemplo.
Especificamente no que diz respeito ao TEA, existe uma crença de que
o desempenho cognitivo, será sempre baixo, o que não é verdade, pois isso vai
depender muito do nível em que o sujeito se encontra. Considerando os
prejuízos principais do TEA sendo comportamentais, a cognição será um
elemento importante, mas não central nestes processos de avaliação. Sendo
assim, a partir do perfil comportamental, alinhado à rota cognitiva que o sujeito

CBI of Miami 4
apresentar, poderão ser traçados modelos de intervenção considerando o
modo predominante de processamento de informação do sujeito.
Neste ponto, além de saber a pontuação do sujeito, compreender as
provas e como o mesmo interagiu com cada uma, proporcionará uma avaliação
assertiva. Por exemplo, é comum ouvir que o desempenho por pessoas om
TEA no WISC-IV seja imprecisa, variando muito, e que uma avaliação com o
RAVEN seria mais indicada. Importante aqui destacar que não se discute a
eficácia dos instrumentos, sendo dois excelentes ferramentas para avaliação
cognitiva. Contudo, é necessário compreender a natureza das provas, sendo
que o subteste Raciocínio Matricial do WISC-IV é basicamente a mesma tarefa
que o RAVEN, sendo assim, esta habilidade já está sendo mensurada. Ao
mesmo tempo, considerando as provas de conteúdos verbais do WISC-IV (Gc),
é esperado que crianças com amis dificuldades escolares, apresentem menor
desempenho o que vai afetar diretamente o QU Total. Sendo assim,
compreender que tipo de habilidade subjacente está sendo avaliada tendo por
base as dimensões do Modelo CHC, vai possibilitar “qualificar uma informação
que é quantitativa”, caso contrário, será “apenas uma informação normativa
fora de contexto”.
Sintetizando, a capacidade cognitiva é um grande indicador dentro de
um processo de avaliação psicológica ou neuropsicológica, contudo, nunca
deve ser visto isoladamente, sem considerar elementos culturais,
comportamentais, emocionais entre outros. A informação quantitativa é de
grande importância, até mesmo no que diz respeito a parâmetros de
classificação e/ou diagnóstico, contudo, esta informação sempre diz respeito a
um sujeito que é constituído de muitos outros elementos, igualmente
importantes. Quando for iniciar um processo de avaliação, busque norteá-lo
seguindo 3 questões centrais. (1) Quais são os pontos fortes do sujeito
avaliado? (2) Quais pontos ele apresenta dificuldades? (3) Quais rotas de ação
poderão auxiliá-lo, ou seja, como os pontos fortes, podem ajudar nas
dificuldades?

CBI of Miami 5

Você também pode gostar