09 O Desenvolvimento Psicológico Do Deficiente Visual

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O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DO DEFICIENTE VISUAL

O Desenvolvimento Psicológico Do Deficiente Visual

A importância de um processo diferenciado de avaliação psicológica de deficientes visuais baseia-se


na constatação de que a visão desempenha um papel muito importante no começo da vida, pois é uma
ferramenta estimuladora para a comunicação e a realização de tarefas. Assim, qualquer anormalidade,
seja total ou parcial, pode trazer dificuldades ao desenvolvimento tanto cognitivo como social ao longo
da vida de um indivíduo, influenciando também em seu rendimento físico, intelectual e social, conforme
apontado por Melo e Pupo.

Embora existam avaliações extensas sobre o processo de desenvolvimento e de qualidade de vida da


pessoa cega, nota-se que, embora o sentido visual tenha desaparecido, as pessoas cegas podem tra-
balhar a favor delas, ao se defrontarem com uma variedade de situações, podendo desenvolver, de
forma normal, diversas outras habilidades.

Esses dados contribuem para o objetivo dos processos de avaliação psicológica, pois possibilitam que,
embora o indivíduo não disponha do recurso visual, seus outros sentidos possam ser bem desenvolvi-
dos, facilitando sua interação com o mundo e com qualquer tipo de processo avaliativo a que seja
submetido.

O termo "avaliar" pode ser entendido de diferentes maneiras, seja para determinar algum valor ou
mesmo para apreciar e considerar condições. No caso da avaliação psicológica, seu principal objetivo
é auxiliar na mensuração e buscar descrever características e processos psicológicos. Assim, o que há
disponível na literatura sobre o uso da avaliação psicológica direcionada a deficientes visuais acaba
por ser escasso, estando o deficiente visual oculto ou mesmo inexistente dentro dessa área.

Considerando que a maioria dos testes psicológicos disponíveis no mercado nacional e internacional
requer o funcionamento da visão, a falta de instrumentos psicológicos para avaliação dessa parcela da
população e a realização de investigações em amostras heterogêneas trazem, como consequência,
uma escassa produção científica sobre o desenvolvimento e o perfil de crianças e adultos cegos. Como
consequência, observa-se uma dificuldade expressiva de profissionais que buscam ferramentas que
fomentem sua prática, seja clínica, escolar, organizacional, entre outras.

Essa escassez de material pode ser justificada pela dificuldade de construção, adaptação e cumpri-
mento das exigências mínimas para se formalizar um teste. Segundo Baron, todo teste deve ter condi-
ções de ser aplicado em qualquer público, seja este com deficiência visual, auditiva, outras ou sem
deficiência. Deve ser adaptado sem alterar seu objetivo, ou seja, avaliar o que pretende e estar de
acordo com os recursos de que o participante necessita sem que nada prejudique o seu desempenho.

Entretanto, não se pode deixar de considerar que "a deficiência visual impõe restrições às capacidades
de movimento livre, seguro e confiante da criança no ambiente", de forma que deve haver um planeja-
mento antecedente a qualquer processo avaliativo visando garantir que o participante tenha todos os
recursos que substituam a visão, ou seja, o avaliador deve fornecer a ele as condições necessárias
para que as atividades propostas não se tornem inválidas ou dificultem sua elaboração.

É relevante enfatizar que esse planejamento deve ocorrer durante todo o processo avaliativo e não
apenas durante a aplicação de instrumentos e materiais. No caso de crianças, por exemplo, é impres-
cindível o envolvimento da família, estreitando a relação entre psicólogo e criança.

Esse envolvimento permite ao psicólogo conhecer a criança, o quadro médico da deficiência e as es-
pecificidades de aprendizado. Nesse sentido, o foco deve ser a identificação de condições que podem
trazer consequências para o desenvolvimento ao longo da vida, por meio de testagem, observações,
entrevistas e demais técnicas que o psicólogo compreenda como necessárias. No tocante a isso, faz-
se imprescindível também que a coleta de informações seja feita por meio de diferentes informantes,
como cuidadores, professores, além do próprio avaliado e de familiares.

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Visando clarificar procedimentos e necessidades específicas do processo de avaliação psicológica do


deficiente visual, buscou-se apresentar alguns passos essenciais que possibilitam alcançar, de modo
mais integral e fiel, os resultados esperados.

Deve-se atentar para o fato de que a demanda de cada avaliado requer atenção de acordo com a
especificidade da deficiência, no entanto, o objetivo é diminuir a possibilidade de que a estrutura/ope-
racionalização do processo avaliativo influencie ou impacte negativamente na compreensão do cons-
truto que está sendo medido.

a) Levantamento dos objetivos da avaliação e particularidades do indivíduo ou grupo a ser avaliado: de-
finidos os objetivos e construtos a serem avaliados, a parte mais importante refere-se às particularida-
des que deverão ser atendidas durante a escolha das estratégias e instrumentos de avaliação.

Como estratégias, sugere-se que o avaliador busque coletar informações por recursos complementares
(utilizando outros sentidos - auditivo, tátil, olfativo). Sob esse aspecto, o papel do avaliador é extrema-
mente relevante, a fim de identificar as necessidades específicas do deficiente visual.

Essas necessidades podem estar relacionadas a preferências por presença/ausência de iluminação,


uso de recursos de tecnologia assistiva (lupas, diferenciações de papéis com cores vibrantes/tons de
cinza), posição do avaliador em sala (lado direito/esquerdo, estar de frente), uso de materiais de função
háptica (texturas, pranchetas em alto relevo).

b) Coleta de informações (entrevistas, dinâmicas, observações, testes projetivos e/ou psicométri-


cos): salienta-se que o avaliador explore diferentes recursos de observação e intercale o uso dos sen-
tidos sensoriais. Mesclar as técnicas e a forma permite explorar um leque de habilidades e compreender
diversas competências do avaliado.

Nesse caso, também é indicado que sejam realizadas coletas de informações nos diferentes contextos
nos quais ele está inserido. Por exemplo, no caso de uma criança em avaliação cognitiva, para com-
preender suas potencialidades e limitações, faz-se importante também compreendê-la sob a ótica da
escola e da família (por meio de entrevistas, dinâmicas e técnicas complementares de observação),
visando garantir uma avaliação integrada.

c) Integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais: faz parte do papel do psicó-
logo refinar suas interpretações a partir das informações coletadas e elaborar hipóteses pertinentes,
levando em consideração as especificidades da deficiência, realizando suas ponderações de forma
ética e responsável.

Nesse processo é necessário que o avaliador seja preciso em relação às eventuais limitações da ava-
liação realizada e aos possíveis impactos nas hipóteses e proposições. Deve-se deixar claro o que faz
parte das limitações da deficiência e o que reflete a avaliação do que foi proposto (construto psicoló-
gico).

d) Indicação das respostas à situação que motivou o processo de avaliação e comunicação cuidadosa
dos resultados: os encaminhamentos e propostas de intervenção devem ser sinalizados de forma clara
e objetiva ao avaliado e aos familiares (no caso de crianças).

Devem-se considerar as especificidades da deficiência no processo avaliativo e nas propostas de in-


tervenção, visando otimizar o desenvolvimento e minimizar dificuldades. De forma mais clara, deve-se
identificar o que faz parte da demanda envolvida e o que é ou pode ser influenciado pela deficiência do
avaliado.

Para que isso seja feito corretamente, Ormelezi cita a importância de uma entrevista inicial antecedente
para conhecimento das aptidões do participante e do material utilizado, além de um olhar crítico e
categórico do aplicador no enquadre do participante ao grupo de pesquisa que está sendo realizado.

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Em certos casos, como na avaliação de pessoas com baixa visão que façam uso da visão residual,
deve-se ter o cuidado de trabalhar com materiais e recursos ópticos e não ópticos, de informática e
eletrônicos, pois estes recursos auxiliam essas pessoas a trabalharem e realizarem atividades, aumen-
tando a eficiência.

Estudos como os de Ribeiro apontam que, embora existam restrições para pessoas com a visão resi-
dual, esta deve ser estimulada, ao contrário do que se pensava anteriormente, uma vez que a estimu-
lação e a motivação dessa visão aumentam a possibilidade de um melhor desempenho visual.

No tocante à avaliação da população em questão, o recurso mais utilizado por pesquisadores é a lin-
guagem oral falada. A maioria dos testes que necessitam do recurso da visão facilmente pode ser
adaptada por esta forma de aplicação, embora esses testes precisem de cuidados quando utilizados.
Baron explica que quando se utiliza a linguagem falada, deve-se atentar para algumas questões. O
ambiente no qual a aplicação será realizada deve ser silencioso e não ter nenhum tipo de interrupção
ou outra forma de som que possa dificultar a audição, como a presença de celulares e meio externo
com muito barulho.

Outro cuidado envolve a dicção do aplicador, uma vez que está se faz extremamente importante, sendo
a ferramenta que o participante tem para executar o teste, por isso, um profissional familiarizado com
o teste, com o tom de voz alto e a fala limpa torna a aplicação e a validade ainda mais condizentes.
Ainda, em relação à capacidade de audição do participante, existem cegos que possuem maiores ha-
bilidades e desenvolvimento auditivo e outros não, por isso, deve-se ter o cuidado de avaliar o teste,
não a sua capacidade auditiva.

De acordo com Camargo, Nardi e Veraszto, utilizar recursos que não envolvem a visão pode sustentar
o desenvolvimento de cegos e, quando otimizados, esses recursos podem contribuir para o crescimento
dos mesmos. Citam, por fim, a importância do tato para qualquer tipo de atividade e também a concili-
ação de sentidos, como os recursos táteis-auditivos, que enriquecem a aprendizagem.

Nessa mesma perspectiva, Nunes e Lomônaco também afirmam que o tato permite o conhecimento
de características, ou seja, de reconhecimento de tamanhos, texturas, formas e temperaturas, envol-
vendo uma reorganização biopsicossocial, uma vez que ele possui esse conhecimento a partir do mo-
mento em que entra em contato com o objeto, percorre determinada distância ou sente alguma tempe-
ratura na pele.

Entretanto, o que se nota, na prática, é que as propostas de novos instrumentos desconsideram os


demais sentidos, trazendo o uso da visão como predominante, de forma a encobertar e/ou deixar, em
segundo plano, os outros sentidos. Como resultado, o deficiente visual tem permanecido, historica-
mente, oculto ou ignorado dentro da área da Avaliação Psicológica.

Também Bizerra, Cizauskas, Inglez e Franco fazem menção à maneira como os deficientes visuais são
capazes de interpretar materiais educativos.

De acordo com os autores, a ausência do sentido da visão acaba por propiciar a estimulação e o de-
senvolvimento de outros sentidos capazes de facilitar o processo de significação de objetos e de co-
nhecimento, por isso, a importância da estimulação dos sentidos táteis e auditivos, da movimentação
do corpo e do uso do método Braille.

Torna-se importante salientar que estes recursos, quando considerados no processo de avaliação,
também possibilitam otimizar o desempenho durante as atividades realizadas ou testes aplicados.

No entanto, essa estimulação e esse desenvolvimento não são substitutos, mas, sim, garantidores da
produção de novas habilidades e, por isso, devem ser considerados como especificidades durante um
processo de avaliação psicológica ou mesmo de aplicação de um instrumento psicológico com esta
finalidade.

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Desafios e demandas na área da Avaliação Psicológica para deficientes visuais

Como dito anteriormente, poucos são os estudos brasileiros encontrados direcionados para deficientes
visuais, principalmente os que envolvem o processo de construção e investigação de seus parâmetros
psicométricos, haja vista a dificuldade de construção desses instrumentos, justificada principalmente
pela necessidade de um olhar criterioso que deve considerar as especificidades que tais sujeitos pos-
suem, ainda que dentro de uma mesma característica.

Tais considerações foram foco de uma nota técnica específica publicada pelo CFP em 2013, sob a Lei
5.766/71, enfocando a construção, adaptação e utilização de instrumentos psicológicos para avaliação
de pessoas com deficiência.

Nela, recomenda-se que tanto a construção quanto a adaptação de um instrumento direcionado para
essas pessoas envolvam diversos critérios específicos e conhecimento na temática, sendo uma tarefa
complexa e que demanda tempo e pesquisa.

Segundo Baron, os testes psicológicos devem ter qualidade suficiente para ser aplicados em qualquer
público e levar em consideração qualquer recurso que se faça necessário para que o participante tenha
seu melhor desempenho. Nessa perspectiva, uma problemática que se tem feito presente é o uso de
instrumentos que não apresentam evidências de validade para a população específica na qual vêm
sendo aplicados.

Esse quadro se torna preocupante, quando se adentra as instituições especializadas e se observa que,
quando realizadas, as avaliações são feitas a partir do uso de materiais adaptados sem qualquer em-
basamento científico (do tipo jogos ou atividades), ou ainda fazendo utilização, de forma não adequada,
dos instrumentos validados para uso em normovisuais.

As consequências dessa avaliação, no caso da deficiência visual, apontam para o fato de que a utiliza-
ção de instrumentos que requerem o uso da visão pode interferir diretamente no desempenho de um
avaliado cego ou com baixa visão.

Considerando-se que algumas pesquisas reforçam que a ausência do recurso da visão pode prejudicar
o desenvolvimento desses indivíduos, principalmente pela falta de experiência, limitada capacidade
para ligar ideias e objetos ou ainda dificuldades na classificação de objetos, os resultados de avaliações
construídas e validadas para uso em normovisuais, não adaptadas a cegos, podem gerar resultados
questionáveis.

Esse uso inadequado de instrumentos que não são direcionados à população deficiente visual recai
sobre outra problemática: a falta de instrumentos pare esse fim. De fato, não se pode deixar de menci-
onar que os instrumentos psicológicos têm importante função na área da avaliação psicológica e que o
processo de construção/adaptação de um instrumento psicológico até sua devida disponibilidade para
uso demanda esforços.

Seguindo a proposta de Carvalho e Ambiel, um instrumento psicológico deve ser construído a partir do
estabelecimento do construto subjacente, definindo claramente suas bases teóricas, natureza, público-
alvo e contexto. Somente após definir tais aspectos e com conhecimento aprofundado, deve-se objeti-
var a operacionalização do construto e o desenvolvimento dos itens.

Essas etapas se tornam ainda mais relevantes e necessárias quando o foco é direcionado à população
com deficiência.

O pesquisador deve articular claramente sua proposta (construto e referencial teórico) sob o enfoque
do público-alvo e do contexto, maximizando as possibilidades de mudanças de acordo com cada es-
pecificidade da deficiência, além de alinhá-los com o conhecimento sobre as etapas de desenvolvi-
mento humano.

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Segundo orientações da American Educational Research Association, American Psychological Associ-


ation e National Council on Measurement in Education, há uma série de cuidados que se fazem perti-
nentes durante a realização de testagens em indivíduos com deficiência, principalmente em relação às
modificações no formato de apresentação do teste ou das respostas, tempo disponível, ambiente, uso
de partes do instrumento ou emprego de testes alternativos, quando possível.

Assim, de acordo com Decker, Englund, Roberts e Ferraracci, torna-se imprescindível que o psicólogo
tenha responsabilidade na seleção de instrumentos apropriados, de modo a evitar viés na administra-
ção ou interpretação dos resultados, buscando considerar as modificações necessárias para cada ava-
liado.

Além disso, aspectos adicionais devem ser considerados visando à manutenção da qualidade psico-
métrica de instrumentos psicológicos. Para isso, é importante que pressupostos teóricos e técnicos
inerentes ao processo de construção e adaptação de instrumentos sejam seguidos.

De acordo com a nota técnica atualizada pelo Conselho Federal de Psicologia, nº 4/2019/GTEC/CG,
sobre construção, adaptação e validação de instrumentos para pessoas com deficiência, é necessária
a compreensão da heterogeneidade da população com deficiência, assim como o conhecimento pro-
fundo sobre o público ao qual o teste é destinado, bem como as características específicas, a fim de
contribuir para o alinhamento de materiais que sejam familiares e de fácil manuseio. No tocante a esse
contexto, o cuidado com a qualidade psicométrica e estudos direcionados a esse fim são imprescindí-
veis.

Nessa perspectiva, deve haver uma proximidade entre a equipe de desenvolvimento ou adaptação de
instrumentos e os indivíduos com as deficiências-alvo, com o objetivo de avaliar o impacto das adap-
tações realizadas em relação à usabilidade, acessibilidade, clareza das tarefas, compreensão e modi-
ficações necessárias.

Faz-se relevante, nesses casos, que a equipe também tenha acesso a especialistas na área do cons-
truto ou a psicólogos que apresentem a deficiência para a qual o teste está sendo adaptado, visando
garantir que as especificidades sejam identificadas e consideradas no instrumento.

Especificamente nos processos envolvendo adaptação de instrumentos para a população com defici-
ência, essa nota técnica ainda esclarece que qualquer tipo de adaptação realizada em um instrumento
psicológico deve ser devidamente avaliado, principalmente considerando as consequências que essas
alterações podem ter no processo avaliativo como um todo, bem como nos resultados e procedimentos
do próprio teste. Cabe aqui citar também modificações de ordens estruturais, tais como medidas de
compreensão escrita e oral, que podem modificar ou enviesar o construto que está sendo medido.

Além disso, deve-se ter claro que as demais etapas de construção de instrumentos/adaptações devem
ser cumpridas, tais como os estudos de validade e precisão, das propriedades psicométricas dos itens
do instrumento, do sistema de correção e interpretação dos escores e dos procedimentos de aplicação
e correção, que devem estar claros no manual do instrumento. No caso de instrumentos direcionados
a populações específicas, essas etapas passam a ser mais desafiadoras para estudiosos da área.

Para garantir a qualidade psicométrica do teste psicológico, são necessárias amostras representativas
para a condução de estudos de inferência à população-alvo. Diante desse fato, a problemática que se
estabelece com amostras específicas recai em estudos com amostras pequenas que, por consequên-
cia, podem evidenciar resultados enviesados e que não possam ser generalizados ou interpretados
como representativos. Nesse caso, os resultados podem inviabilizar os demais processos de padroni-
zação, ajuste dos itens desenvolvidos, busca de evidências de validade e processos de normatização,
dificultando a interpretação dos resultados e limitando as inferências, e por consequência, diminuindo
as chances de submissão para avaliação e aprovação pelo SATEPSI.

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Como ilustração pode-se pensar, por exemplo, em utilizar um teste de raciocínio para avaliação de
duas crianças com deficiência visual com grau de deficiência diferente (baixa visão com visão residual
e cegueira).

Claramente, o instrumento deve contemplar em seu manual estudos que indiquem e viabilizem a apli-
cação do instrumento com o objetivo de atender ambas, assim também se houver necessidade de uso
de tabelas normativas para interpretação do resultado de cada especificidade.

Para isso, são necessárias amostras representativas de cada categoria, estudos que tenham investi-
gado diferenças significativas e até mesmo se a aplicação deve ser realizada da mesma forma, embora
estudos como os de Jamali, Ayatollahi, & Jafari já tragam indícios de possíveis soluções para tal pro-
blemática.

De modo geral, nota-se que grande parte dos estudos científicos específicos em deficientes acaba por
não ter continuidade quando chegam a essas fases, o que inviabiliza que esses instrumentos sejam
disponibilizados e utilizados para fins profissionais, visando auxiliar diagnósticos e processos interven-
tivos.

Dessa forma, a construção e a adaptação de testes psicológicos para pessoas com deficiência acabam
sendo algo pouco estimulado e, por consequência, um grande desafio para pesquisadores interessados
da área de avaliação psicológica.

A área de avaliação direcionada a pessoas com deficiência ainda traz questões a serem resolvidas,
principalmente no que tange às dificuldades relacionadas às suas especificidades, processos de avali-
ação e realização de diagnóstico correto.

Essas dificuldades trazem consequências no atendimento especializado, seja por conta de ausência
de serviços (ainda que previstos em lei), seja por desconhecimento dos procedimentos e escassez de
instrumentos psicológicos que podem auxiliar nas identificações e nos procedimentos que possam ser
realizados por professores e psicólogos.

Nesse sentido, este artigo buscou apresentar as possibilidades e os principais desafios a serem supe-
rados dentro da área de avaliação psicológica direcionada a pessoas com deficiência.

Faz-se relevante enfatizar que, de acordo com o que foi abordado, a adaptação de um teste psicológico
não compreende apenas alterar estímulos de testes desenvolvidos para pessoas sem deficiência, e
sob essa perspectiva, o modo de vida das pessoas com deficiência é imprescindível de ser reconhecido
e compreendido para elaboração de instrumentos.

Ainda no que tange às possibilidades nos processos avaliativos, buscou-se clarificar a importância de
se compreender a forma de linguagem da população e suas diferentes expressões e meios de comu-
nicação, além de considerar a forma como influenciam e podem influenciar durante a aplicação de
instrumentos/atividades.

Além disso, trouxe à tona uma reflexão sobre o uso indevido de instrumentos sem embasamento cien-
tífico e/ou sem estudos de padronização e normatização para o público com deficiência (crianças/ado-
lescentes/adultos/idosos) que comprovem que não há diferenças nesse construto psicológico entre as
pessoas com e sem deficiência.

Portanto, espera-se que este artigo situe o leitor acerca das principais demandas da área, traçando um
panorama da avaliação psicológica direcionada à população deficiente visual. Dessa forma, espera-se
ainda contribuir para a área de avaliação psicológica, estimulando novos pesquisadores e auxiliando
profissionais com as demandas específicas a serem consideradas durante os processos avaliativos
para essa população.

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