TCC Concluído-Lirani
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ABSTRACT
The Psychological Plan consists of a reception service that aims to respond to a demand for
psychological help, and can be carried out at school. When based on the Rogers Person-Centered
Approach, it will have three basic assumptions: unconditional availability; the enlightening and
facilitating listening and the possibilities of unfolding that the meeting can take. Therefore, the
present article aims to discuss how the Psychological Plan can be practiced within the school from
the perspective of the Person Centered Approach, using the methodology of narrative revision in
databases. Then, this service can be used to help the school deal with the most varied problems,
such as: the lack of motivation of the students; emotional problems; violence, bullying, self-harm
and suicide, issues of gender, prejudice and discriminatory practices. Therefore, the Psychological
Plan is one of the forms of action that the school and educational psychologist can develop within
the school, offering a space of reception and listening, providing dialog spaces where subjects
share their anguish and suffering and promote self-knowledge and the inclusion.
KEYWORDS: Home Psychology. Educational Psychology. Person-Centered Approach.
1. INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes- UNIT/ AL. Contato:
[email protected]
2
Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes- UNIT/ AL. Contato:
[email protected]
3
Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Docente do Centro Universitário Tiradentes
(UNIT). Contato: [email protected]
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O Plantão Psicológico consiste num serviço de acolhimento em situações emergenciais que
objetiva atender a uma demanda de ajuda psicológica, disponibilizando para uma clientela um
tempo e uma escuta abertos à diversidade e à pluralidade dessas demandas, sendo um serviço
abrangente, podendo ser aplicado em vários contextos, dentre eles o escolar. Isso faz com que seja
muito grande a demanda pelo mesmo, sendo diversificadas as possibilidades de encaminhamento
e continuidade que poderão ser feitos, seja interna ou externamente à instituição no qual ele é
ofertado. Além disso, mesmo sabendo que existem várias abordagens que podem ser utilizadas
para embasar este serviço, optou-se pela Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers,
uma vez que, foi a partir dela que o mesmo surgiu.
Destarte, são muitas as problemáticas enfrentadas pela escola na atualidade e que se
constituem também num desafio para a Psicologia Escolar e Educacional. Dentre elas destacam-
se: a falta de motivação dos alunos, os problemas emocionais, que incluem: atos antissociais,
agressão, desobediência, rebeldia, oposição, violação de regras, roubos, atividade sexual precoce;
vandalismo; transtornos de ansiedade (como fobia social, transtorno de ansiedade de separação),
fobia a escola; a depressão e o uso de e abuso de substâncias. Por último, outra problemática comum
é a violência, que possui várias facetas, entre elas, o bullying, a autolesão e o suicídio; como
também as questões de gênero, o preconceito e as práticas discriminatórias.
Apesar de ainda serem muito escassas as pesquisas que abordem a temática do Plantão
Psicológico praticado na escola, é possível perceber que ele pode ser utilizado como um dos
serviços que o psicólogo escolar e educacional poderá fazer uso diante das inúmeras problemáticas
da escola. O plantonista, a partir do embasamento da ACP de Rogers, irá fazer o acolhimento e
escuta clínica das queixas escolares e ofertando espaços dialógicos que possibilitam o
compartilhamento de dores e aflições e, consequentemente o autoconhecimento e a inclusão.
Finalmente, o interesse pela temática surgiu no período em que as autoras cursavam as
disciplinas de Psicologia Escolar e Aconselhamento Psicológico, fazendo com que surgisse uma
afinidade e curiosidade sobre o assunto supracitado e o desejo de publicar sobre o mesmo. Espera-
se, ainda, que a compilação de informações produzidas nesta pesquisa auxilie no preenchimento
de lacunas existentes na literatura sobre este assunto e também fomente novas pesquisas sobre a
temática.
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Diante disso, o presente artigo tem como objetivo discutir como o Plantão Psicológico pode
ser praticado dentro da escola na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa.
2. METODOLOGIA
O presente artigo consiste numa revisão de literatura do tipo narrativa em bases de dados,
visando trazer o estado da arte em torno desta temática, fazendo uso de uma análise qualitativa da
literatura produzida, seguida da interpretação e análise crítica pessoal por parte dos pesquisadores.
Então, o intuito não foi trazer dados quantitativos, mas sim fomentar a aquisição e atualização do
conhecimento sobre este assunto (COZBY, 2003; APPOLINÁRIO, 2009; MEDEIROS, 2009;
CRESWELL, 2010; BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). Então, inicialmente foi feita uma
pesquisa assistemática a respeito do assunto a partir da leitura de livros, periódicos e internet, em
redes informais e em buscas livres no Google. O objetivo foi ter um entendimento sobre o assunto
e também fazer uma aproximação inicial e o mapeamento dos cenários da produção de
conhecimento para uma maior clareza deste interesse de pesquisa para então empreender uma
busca sistemática (RIBEIRO; MARTINS; LIMA, 2015).
Em seguida, foi realizada uma busca sistemática em algumas bases de dados. Para isso,
foram selecionadas as seguintes bases: Scielo; Google Acadêmico e Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações (BDOT). As mesmas foram selecionadas devido à facilidade de acesso as
suas publicações, cuja consulta acontece gratuitamente. Depois de selecionadas as bases de dados,
foram escolhidos os descritores utilizados na busca dos textos. Para isso, foi feita a consulta em um
banco de descritores denominado: Descritores em Ciências da Saúde – DeCS (Disponível no site:
http://decs.bvs.br), tendo sido selecionados: Plantão; Psicologia; Psicologia Educacional e
Abordagem Centrada na Pessoa. Foi realizada uma investigação nas fontes e feitos refinamentos
na busca, visando obter um número de publicações que possibilitasse a leitura, análise e construção
do corpus desta pesquisa (COZBY, 2003; CRESWELL, 2010; RIBEIRO; MARTINS; LIMA,
2015; KAMLER; THOMSON, 2017).
Finalmente, não foi feito nenhum recorte temporal, tendo em vista ser ainda muito reduzido
o número de publicações sobre esta temática e por procurar aproveitar o maior número possível
delas nesta pesquisa, tendo sido utilizadas 59 referências no total.
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3. O PLANTÃO PSICOLÓGICO
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A ACP de Rogers tem como principal pressuposto o fato de que o ser humano é um
organismo vivo, global, com capacidade de crescimento e desenvolvimento em direção às suas
potencialidades intrínsecas, tendência do desenvolvimento pleno que reverbera em maturidade
psicológica. Consequentemente, a teoria rogeriana focaliza em três atitudes que devem ser tomadas
por parte do terapeuta como indispensáveis e suficientes para que ocorra uma atenção psicológica
eficaz. São elas: a congruência, a empatia e a capacidade de aceitação positiva incondicional.
Então, as mesmas são recursos necessários para auxiliar o cliente a desenvolver sua autonomia e
solucionar suas questões (ZANONI, 2008; SCHULTZ; SCHULTZ, 2014).
Rogers (1983) também afirmou que o ser humano possui duas tendências potenciais em
relação ao seu crescimento psicológico que se constituem como o núcleo da ACP. São elas: a
tendência à atualização e a tendência formativa. A primeira se refere a uma característica da vida
biológica que gerencia o desenvolvimento psíquico. Já a segunda determina o desenvolvimento do
ambiente como um todo. Segundo Scorsolini-Comin (2015) a Abordagem Centrada na Pessoa
(ACP), concebida na década de 1950 por Rogers, faz parte da Psicologia Humanista. Este
movimento surgiu na década de 1940, sendo considerada como a “terceira força” dentro da
Psicologia, em oposição as duas forças predoominant5es na Psicologia da época: a Psicanálise e o
Behaviorismo.
Dessa forma, a abordagem humanista propõe um rompimento com as perspectivas
deterministas que vigoravam até então. Consequentemente, os sujeitos deixam de ser resultados ou
efeito de causas anteriores e tornam-se livres e causa de suas ações. Também são vistos como
possuidores de autonomia e de capacidade de direcionar a sua própria vida de forma positiva para
si mesmos a para a coletividade. Concebe-os ainda como seres que estão a todo o momento
buscando a sua própria realização e construção de si mesmos, precisando utilizar seus recursos para
que consiga desenvolver de forma plena o seu potencial. Propunha ainda uma mudança social e
cultural a fim de que nascesse uma sociedade mais humana, que atendesse as demandas intrínsecas
de autorrealização, considerada a meta mais elevada do ser humano (FADIMAN; FRAGER, 1986;
SCORSOLINI-COMIN, 2015).
Além disso, Rogers e Kinget (1977) propõem a terminologia “cliente” ao invés de paciente,
tendo em vista que a terapia deve levar a pessoa a clarear as nuances de seus sofrimentos e o
terapeuta deverá se posicionar de forma não-diretiva, como se fosse um espelho (metaforicamente
falando). Dessa forma, Rogers (1997) substitui a figura do paciente pela do cliente uma vez que
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não visualizava os sujeitos que buscavam terapia como seres que reagiam passivamente às
recomendações diretivas de um “especialista sabe tudo”. Ele os via como possuidores da
capacidade de entender a intervir em suas próprias questões. Entretanto, por terem as habilidades
para fazer isso sozinhos, tornava-se importante a presença do psicoterapeuta.
Zanoni (2008) afirma que, de um modo geral os estudiosos da teoria de Rogers dividem-
na em quatro fases. A primeira estava fundamentada nas respostas reiterativas e reflexos de
sentimentos, ficando conhecida como etapa não-diretiva. Teve como marco principal a obra
Aconselhamento e Psicoterapia, no ano de 1942. A segunda fase estava balizada na compreensão
empática, aceitação e autenticidade, sendo denominada de etapa das atitudes terapêuticas. A
principal publicação dessa fase foi Terapia Centrada no Cliente, em 1951.
A terceira caracterizou-se por uma aproximação ao Existencialismo, ficando conhecida
como etapa da investigação do processo terapêutico. O principal texto dessa fase foi Tornar-se
Pessoa, de 1961. Finalmente, a quarta e última etapa caracterizou-se como Psicoterapia Centrada
na Pessoa, quando Rogers passou a fazer uso de um modo mais fenomenológico de refletir a
respeito da Psicoterapia. Ele retira então o foco do cliente e amplia a Terapia Centrada no Cliente
para a Abordagem Centrada na Pessoa. O resultado disso foi um maior respeito pela filosofia da
autodeterminação; uma compreensão mais abrangente do processo psicoterápico e a melhora da
prática e aplicações na área educacional e na resolução de conflitos grupais e sociais (ZANONI,
2008).
Dessa forma, conceber o Plantão Psicológico na perspectiva da ACP é seguir um método
não-diretivo, como afirma Scheeffer (1983). Esta autora concebe o método não-diretivo como
sinônimo da própria ACP, tendo como principais características:
4
Centrado no Cliente. Tradução nossa.
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emocional propícia para que o cliente relaxe as suas defesas, não se preocupando em realizar
diagnósticos, nem de lhe inculcar a autocompreensão. Todavia, se preocupará em proporcionar, no
decorrer da entrevista, uma atmosfera favorável para que ele possa atingir, por si mesmo, o
autoconhecimento e a elaboração de seus planos de ação (SCHEEFFER, 1983); sendo esse método
comumente utilizado no serviço do Plantão Psicológico que, como já foi falado anteriormente,
pode ser implantado em vários contextos e instituições.
Além disso, a importância do Plantão também se estende a outros contextos, como é o caso
da escola, onde o mesmo é igualmente importante, onde poderá auxiliar a escola a lidar com as
mais variadas problemáticas pelas quais ela vem enfrentando na atualidade.
Educação inclusiva exige uma mudança radical na escola. Não se deve pensar que
o aluno é incluído em algo que já estava em seu caminho e funcionamento. A
escola deve ser pensada diferentemente. Deve se reorganizar; repensar suas
práticas pedagógicas; atualizar seu material e seus conteúdos. Devemos criar uma
nova escola, onde caibam todos, cada um com suas dificuldades e facilidades, com
suas necessidades e facilidades e dificuldades; com suas necessidades que não
devem ser mais vistas como especiais. Devemos trabalhar pra superar a ideia de
uma educação inclusiva, para pensá-la como a educação necessária que inclui
todos, sem distinções (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 277).
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A escola, como uma instituição social, tem refletido as problemáticas de uma sociedade que
massifica os sujeitos (JERUSALINSKY; FENDRIK, 2011), podendo ser resumida nas palavras de
Cassorla (2013), que afirma que estamos vivendo
Diante de tantas problemáticas que a escola enfrenta, faz-se necessário que seja ofertado
um espaço de acolhimento a fim de auxiliar os sujeitos, como o acontece no Plantão Psicológico.
[...] um espaço onde o aluno possa buscar ajuda para rever, repensar e refletir suas
questões. O objetivo é possibilitar aos alunos a oportunidade de se cuidar, de
estarem atentos ao que é realmente importante para eles naquele momento, e então
de se posicionarem diante disso. O psicólogo neste tipo de serviço não está ali
atento a solucionar algum problema, mas procura estar presente acolhendo a
pessoa e escutando-a ativamente, possibilitando com isso que ela se mobilize
frente á sua situação; procura estar centrado na pessoa mais do que no problema
(MAHFOUD et al., 2012, p. 69).
Bezerra (2014), corroborando com os autores acima acrescenta três premissas da ACP que
fundamentam a prática do Plantão Psicológico: 1) a disponibilidade incondicional para aqueles que
buscam atendimento. Tal posicionamento está longe de ser um comportamento preestabelecido ou
uma técnica, se aproximando da consideração positiva incondicional rogeriana. A 2) escuta
esclarecedora e facilitadora da demanda apresentada pela pessoa, o que significa dizer que não é
só compreender a lógica do problema trazido, mas também junto com a pessoa encontrar a solução
para o mesmo. Refere-se ao modo como a demanda é compreendida pela pessoa atendida. E 3) os
desdobramentos do processo de encontro. Isso significa dizer que a clareza da delimitação do
encontro para os seus participantes proporciona uma maior exploração mútua no decorrer deste
processo, podendo ser feitos, espontaneamente, encaminhamentos para uma Psicoterapia,
Orientação Profissional, etc.
O autor também ressalta que quando forem feitos encaminhamentos, é necessário que o
psicólogo leve em consideração a complexa diversidade da cultura escolar envolvida e ao mesmo
tempo não abdicar da escuta ativa e interessada diante da pessoa que busca atendimento e a forma
como ele percebe a queixa apresentada. Também é importante não confundir o fato de haver uma
demanda de escuta clínica na escola com um atendimento psicoterápico, uma vez que o trabalho
do psicólogo na escola consiste numa escuta clínica pontual e também não faz obrigatoriamente
encaminhamentos para atendimento psicoterápico (BEZERRA, 2014).
Para Mahfoud (2012), o plantonista, ao atuar na escola embasado na ACP, irá ofertar um
espaço de escuta focado nas pessoas e não nos problemas. Então, sua atuação não se restringirá aos
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comportamentos dos alunos, suas notas, etc. O que não quer dizer que se o aluno trouxer essas
questões elas não possam ser acolhidas e discutidas; entretanto, a pessoa sempre estará no centro e
a respostas as suas questões caberá sempre a ela própria, tendo na figura do psicólogo alguém para
se apoiar, com quem se avaliar e a quem se referir. Este serviço também irá proporcionar
disponibilidade e cumplicidade para que o aluno viva de forma cuidadosa e realista consigo mesmo.
Tal postura tem a ver com a chamada tendência atualizante proposta por Rogers (1883), segundo a
qual:
Existe uma tendência direcional formativa no universo, que pode ser rastreada e
observada no espaço escolar, nos cristais, nos micro-organismos, na vida orgânica
mais complexa e nos seres humanos. Trata-se de uma tendência evolutiva para
uma maior ordem, uma maior complexidade, uma maior inter-relação (ROGERS,
1983, p. 50).
Além disso, neste serviço a busca de ajuda ocorre de forma livre, sem qualquer imposição
ou limitação de horários por parte da escola. Isso significa que o aluno pode procurar o Plantão no
momento que fizer mais sentido para ele, da forma que achar melhor e para falar sobre os assuntos
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de sua preferência. Consequentemente, o plantonista está sempre aberto ao inesperado,
acompanhando um processo sem nenhum tipo de planejamento, estando disponível em termos de
tempo e escuta (MAHFOUD et al., 2012). A escuta clínica na escola também
[...] a práxis psicológica no âmbito educacional requer dos profissionais dessa área
um posicionamento de conscientização constante sobre a sua atuação para
responder ás seguintes questões: a que veio a Psicologia e a que ela serve?
(FERRO; ANTUNES, 2015, p. 79).
Já Passos (2007), afirma que o psicólogo escolar e educacional precisa estar atento as
contradições que se alinham no seio da escola e da sociedade e fim de encarar os discursos que
aparentemente buscam a igualdade, mas que na verdade promovem a desigualdade. Ele também
deverá atuar desfazendo os conceitos e preconceitos em torno da sua atuação, deixando bem clara
a sua função, combatendo a falsa inclusão escolar e social, na medida em que irá colocar a sua
teoria, técnica e princípios contra a marginalização e a exclusão.
Por possuir tantas características como as que foram elencadas ao longo deste texto, o
Plantão Psicológico é considerado por alguns autores, como Ferro e Antunes (2015), como um
instrumento de promoção de saúde e prevenção de doenças, na medida em que promove o bem
estar biopsicossocial e a diminuição do sofrimento dos sujeitos, (por exemplo, proporcionando o
alívio da ansiedade). Quando implantado na escola, este serviço atua promovendo a saúde psíquica
deste ambiente, uma vez que contempla a dimensão psicológica dos atores sociais que compõem a
instituição escolar.
Também é importante estar atento a um fenômeno muito corriqueiro no Plantão Psicológico
que se dá em qualquer instituição em que ele é implantado, e na escola não sendo diferente: a visita
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de alunos curiosos querendo saber o que é o serviço. O que a literatura aponta é que tais situações
na maioria das vezes acabam funcionando como uma via de acesso á ajuda, pois ao chegar “como
quem não quer nada” eles comumente vão se familiarizando com o ambiente e passam a falarem
sobre si próprios e trazer as suas questões (ALMEIDA et al., s\d; MAHFOUD et al., 2012).
Mahfoud et al. (2012) ressaltam que o plantonista também precisa ficar atento para as
repercussões de sua presença na escola, pois isso também faz parte da proposta desse serviço. A
razão disso é que ao escutar os alunos o psicólogo também está intervindo na instituição, auxiliando
estes a se dar conta de suas necessidades e frente á escola, o que, na opinião destes autores, pode
mobilizá-los para atuar nela para transformá-la.
Assim, é inegável que a escola se constitui como um local de promoção do desenvolvimento
humano, mas a mesma também se apresenta como um lócus de convergência de inúmeras
problemáticas humanas que podem trazer sofrimento e angústia para os sujeitos. Similarmente, o
processo de ensino-aprendizagem envolve questões interpessoais, existenciais e emocionais,
fazendo com que seja urgente a necessidade de um serviço de escuta clínica não-diretiva, como
ocorre no Plantão Psicológico, objetivando acolher as demandas afetivas e emocionais de todos
aqueles que compõem a escola (ALMEIDA et al., s/d), contribuindo com o caráter transformador
da escola, transformando os seres humanos por meio do processo de autoconhecimento, que
decorre da exposição, a partir do discurso, da angústia do ser (FERRO; ANTUNES, 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, o Plantão Psicológico constitui-se numa das formas de atuação que o psicólogo
escolar/ educacional pode desenvolver dentro da escola, diante da diversidade de problemáticas
que ela enfrenta na atualidade, ofertando um espaço de acolhimento e de escuta do indivíduo
enquanto pessoa onde, a partir da livre expressão das questões que o incomodam visa promover a
reflexão e o manejo construtivo das mesmas. O mesmo consiste num serviço prestado dentro da
escola onde a busca ocorre de forma espontânea, não havendo a obrigatoriedade de uma próxima
sessão.
Torna-se necessário então que a Psicologia venha auxiliar a escola a lidar com as inúmeras
problemáticas que vêm atingindo a escola na atualidade, onde as mais frequentes têm sido a falta
de motivação, os problemas emocionais, a violência e suas várias facetas, que incluem o bullying,
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os comportamentos autolesivos e o suicídio, bem como as questões de gênero, preconceito e
práticas discriminatórias. Tais problemáticas são o reflexo de uma sociedade que massifica os
sujeitos, globalizada e impregnada pela cultura do narcisismo, que desumanizam, coisificam as
pessoas. Diante disso, plantão pode ser um importante instrumento de trabalho do psicólogo escolar
e educacional diante dessas e de outras problemáticas enfrentadas pela escola.
Então, este serviço, quando fundamentado na Abordagem Centrada na Pessoa de Rogers,
terá três pressupostos básicos: a disponibilidade incondicional para os que buscam ajuda; a escuta
esclarecedora e facilitadora da demanda trazida e as possibilidades de desdobramentos que o
encontro poderá tomar, cujos encaminhamentos podem ser realizados, sempre que houver
necessidade, podem ser feitos de diversas formas, pois o que norteia o percurso dos atendimentos
é a necessidade da pessoa. O plantonista irá fomentar o valor e a potência criadora e inovadora do
indivíduo, pois o seu foco estará na pessoa e não no problema, corroborando para a promoção da
saúde e da cidadania dentro da escola, proporcionando a formação integral do discente.
Todavia, é importante que o plantonista procure desmistificar o papel do psicólogo escolar
e educacional, quebrando a estereotipia ainda existente em torno do seu fazer na escola, a fim de
que não se confunda a escuta clínica na escola com atendimento psicoterápico. Isso porque esta
área de atuação da Psicologia não faz a transposição do modelo clínico curativista para a sua
prática, postura essa que já vem sendo muito problematizada no âmbito da Psicologia Escolar e
Educacional. Ao contrário disso, ele irá proporcionar um espaço para a circulação de discursos,
numa escuta ativa e livre de interpretações e preconceitos, cujo intuito é fazer o outro escutar a si
mesmo, numa postura facilitadora do processo do cliente, ao invés de conduzir e acompanhar.
Finalmente, o Plantão ainda proporciona espaços dialógicos na escola onde os sujeitos
podem compartilhar suas angústias e sofrimentos e possibilitar o manejo de suas vicissitudes
humanas, como também promover o autoconhecimento e a inclusão de todos em uma sociedade
que, como bem colocou Anache (2007), clama pela inclusão, mas que se organiza pela exclusão.
Assim, percebeu-se que ainda é muito reduzido o número de publicações que apresentam o Plantão
Psicológico como uma modalidade de atendimento que pode ser implementada na escola, o que
torna urgente a necessidade de que mais pesquisas sejam produzidas e de que este assunto seja
mais discutido na academia, especialmente dentro dos cursos de Psicologia. Além disso, o presente
artigo abordou o Plantão Psicológico na escola direcionado aos alunos. Todavia, faz-se necessário
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que sejam feitas publicações que abordem outros públicos que também compõem a escola, como
funcionários da escola e pais de alunos, a fim de observar o quão profícuo este serviço pode ser.
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