MARC 11 - Mil Faces
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- Etiologias da LRA específicas de cada região:
MARC 11 – “MIL
Envenenamentos por serpentes, aranhas, lagartas e
abelhas; infecciosas como malária e leptospirose; e
lesões por esmagamento e de rabdomiólise por
FACES” terremotos.
(Lesão renal aguda e crônica) - Tradicionalmente, as etiologias da LRA são
subdivididas em 3 grupos gerais: azotemia pré-
Objetivos: renal, doença renal parenquimatosa intrínseca e
- Discutir doença renal aguda (DRA) e crônica obstrução pós-renal.
(DRC);
- Discutir o diagnóstico e manejo clínico do
paciente com DRA e DRC;
- Compreender a classificação da DRC;
- Abordar sobre os cuidados paliativos do paciente
com DRC;
- Verificar os aspectos relacionados à prevenção da
DRC na Atenção Primária à Saúde (APS).
- Hemograma completo:
Anemia pode estar presente.
Eosinofilia periférica pode estar associada à
nefrite intersticial, à doença ateroembólica,
à poliarterite nodosa e à vasculite de Churg-
Strauss.
Anemia grave sem sangramento pode
indicar hemólise, mieloma múltiplo ou
microangiopatia trombótica (SHU ou PTT).
Trombocitopenia, esquizócitos no esfregaço
de sangue periférico, nível alto de LDH e
concentração baixa de haptoglobina
também sugerem microangiopatia.
Outros critérios para definir LRA - Eletrólitos:
* Critérios de RIFLE (2004) e de AKIN (2007) são mais LRA pode ser acompanhada de
antigos e serviram como base para a elaboração dos critérios hiperpotassemia, hiperfosfatemia e
de KDIGO (2012). hipocalcemia.
* Em ambos os sistemas, apenas um critério precisa ser
preenchido para definir LRA. Hiperfosfatemia acentuada com
hipocalcemia sugere rabdomiólise ou
- Exame de urina simples/tipo I (EAS) e exame síndrome da lise tumoral.
do sedimento urinário: Recursos de valor ◦ Os níveis séricos de creatina-cinase e de
inestimável. ácido úrico com frequência estão
Conforme a LRA progride, identificam-se elevados na rabdomiólise, enquanto a
proteinúria, hematúria e cilindros, quadro síndrome da lise tumoral caracteriza-se
mais compatível com LRA intrínseca. por níveis normais ou ligeiramente
Caso a urina 1 apresente proteinúria, a elevados de creatina-cinase e
quantificação deve ser realizada com concentrações séricas muito altas de
relação proteína urinária/creatinina urinária ácido úrico.
em amostra isolada ou por proteinúria de 24 O anion gap pode aumentar diante de
h. qualquer causa de uremia, em consequência
da retenção de ânions como fosfato,
hipurato, sulfato e urato.
Coexistência de anion gap e gap osmolar
aumentados pode sugerir intoxicação por
etilenoglicol, que também pode causar
cristalúria de oxalato e deposição de
oxalato no tecido renal.
Anion gap reduzido pode ser um indício do
diagnóstico de mieloma múltiplo em
consequência da presença de proteínas
catiônicas não quantificadas.
- Índices de insuficiência renal:
Excreção fracionada de sódio (FeNa):
Fração da carga de sódio filtrado
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reabsorvida pelos túbulos. Depende da 100%, quando há hidronefrose de
ingesta de sódio, do volume intravascular moderada a importante.
efetivo, da TFG, do uso de diuréticos e da ◦ Na DRC, os rins costumam ser
integridade dos mecanismos de reabsorção menores, a não ser que o paciente tenha
tubular. nefropatia diabética, nefropatia
◦ < 1%: Sugere azotemia pré-renal (há associada ao HIV ou doenças
uma ávida reabsorção do sódio nos infiltrativas.
túbulos renais). ◦ Na LRA, espera-se encontrar rins de
◦ > 1%: Sugere DRC ou NTA. tamanho normal.
◦ Algumas condições elevam a FeNa ◦ Rins de tamanho aumentado em um
falsamente, como DRC e uso prévio de paciente com LRA sugerem a
diuréticos. possibilidade de nefrite intersticial
◦ IC, SHR, grande queimado, sepse, aguda ou doenças infiltrativas.
rabdomiólise, nefropatia induzida por TC também pode ser considerada.
contraste podem reduzir indevidamente - Biópsia renal: Quando a etiologia da LRA não é
a FeNa. evidenciada com base na história clínica, no exame
Fração excretória de ureia (FEUr): físico, nos exames laboratoriais e na avaliação
Vantagem de não ser afetada pelo uso de radiológica, a biópsia renal deve ser considerada.
diuréticos e valores ≤ 35% são compatíveis Os resultados podem fornecer informações
com LRA pré-renal. diagnósticas e prognósticas definitivas
sobre a LRA e a DRC.
Na maioria dos casos, esse exame é
realizado nos pacientes com LRA quando
as possibilidades de azotemia pré-renal,
LRA pós-renal e LRA isquêmica ou
nefrotóxica foram consideradas
improváveis e quando outros diagnósticos
possíveis ainda são considerados, incluindo
Relação ureia/creatinina: Se > 40 é glomerulonefrite, vasculite, nefrite
sugestiva de LRA pré-renal e de melhor intersticial, nefropatia do mieloma, SHU e
prognóstico. PTT e disfunção de um aloenxerto.
◦ Diversos fatores interferem nos níveis Há risco de sangramento, que pode ser
séricos de ureia, como nutrição (ingesta grave e colocar em risco o rim ou a vida.
de proteínas e catabolismo),
sangramento gastrointestinal e
corticosteroide (elevam a ureia) e
hepatopatia avançada (reduzem).
◦ A creatinina, por sua vez, é afetada por
várias outras condições, como massa
muscular, idade, raça e gênero.
- Exames de imagem:
USG renal com Doppler:
◦ Alterações parenquimatosas renais
podem ser facilmente distinguidas pelo
USG, com o achado de aumento da
ecogenicidade, com especificidade de
96%.
▪ Sua associação com redução dos
tamanhos dos rins possui boa
correlação com DRC.
◦ Outra utilidade da USG é na LRA pós-
renal. A sensibilidade do exame é de
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1.6. Tratamento
2.4. Fisiopatologia
- Caracteriza-se por 2 amplos grupos de
mecanismos lesivos:
Mecanismos iniciais específicos da
etiologia subjacente (p. ex., anormalidades
do desenvolvimento ou da integridade
renal, deposição de imunocomplexos e
inflamação em alguns tipos de
glomerulonefrite, ou exposição a toxinas
em algumas doenças dos túbulos e do
interstício renais);
Hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons
OBS: Causas de DRC com rins de tamanho viáveis remanescentes, que são uma
normal ou aumentado: DM, infecção por HIV, consequência comum da redução da massa
doenças granulomatosas (sarcoidose ou renal a longo prazo, independentemente da
tuberculose), anemia falciforme, amiloidose e etiologia subjacente e que leva ao declínio
doença renal policística. adicional da função renal.
- As respostas à redução da quantidade de néfrons
- A grande maioria dos pacientes com DRC nos são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas
estágios iniciais morre em razão das complicações e fatores de crescimento.
cardiovasculares e cerebrovasculares, antes de - Por fim, essas adaptações de curto prazo
progredir para os estágios mais avançados da DRC. (hiperfiltração e hipertrofia) para manter a TFG
tornam-se mal-adaptativas à medida que a pressão
OBS: LRA x DRC: e o fluxo sanguíneo aumentados dentro do néfron
predispõem à distorção da arquitetura dos
glomérulos, função anormal dos podócitos e
rompimento da barreira de filtração, levando à
esclerose e à destruição dos néfrons remanescentes.
- O aumento da atividade intrarrenal do SRAA
parece contribuir para a hiperfiltração
compensatória inicial e para a subsequente
hipertrofia e esclerose mal-adaptativas.
- Exames de imagem:
USG renal: Mostra-se particularmente útil
ao diagnóstico de alguns casos de DRC
[doença renal policística e uropatia
obstrutiva], bem como para diferenciar a
LRA da DRC.
◦ Rins simetricamente pequenos (< 8,5
cm) sustentam o diagnóstico de DRC,
enquanto a observação de rins de
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tamanho normal favorece um processo ◦ Um ciclo breve de hemodiálise (sem
agudo mais do que crônico. heparina) também pode ser considerado
Outros exames de imagem podem ajudar a antes da biópsia renal para normalizar o
estabelecer a causa da DRC. tempo de sangramento.
◦ USG com Doppler dúplex das artérias
renais, cintigrafia renal e 2.7. Tratamento
angiorressonância magnética são úteis - Tratamento conservador: Indicado para todos
aos pacientes com suspeita de doença os pacientes com DRC.
isquêmica renovascular. Objetivos:
◦ Uretrocistografia miccional mostra-se ◦ Tratar a causa da DRC, se possível, e
útil para afastar a possibilidade de detectar assim como tratar qualquer
nefropatia de refluxo. causa reversível de diminuição da
◦ TC possibilita avaliar a atividade dos função renal, como depleção de
cálculos renais, bem como evidências volume, ITU, uropatia obstrutiva, uso
de necrose papilar. de agentes nefrotóxicos, hipertensão
- Biópsia renal: Deve ser reservada aos pacientes acelerada ou descontrolada e reativação
com rins de tamanho quase normal, nos quais não é ou exacerbação do processo mórbido
possível estabelecer um diagnóstico bem-definido etiológico subjacente;
através de métodos menos invasivos e quando há ◦ Implementar as intervenções
suspeita de causa potencialmente tratável. necessárias para evitar ou retardar a
Nos pacientes com rins pequenos progressão da DRC;
bilateralmente, a biópsia renal não é ◦ Prevenir ou tratar as complicações da
recomendável porque: DRC;
◦ É tecnicamente difícil e tem maior ◦ Prevenir ou tratar as complicações
tendência a provocar sangramento e associadas a outras condições
outras consequências desfavoráveis; comórbidas, particularmente diabetes e
◦ Costuma haver tanta fibrose que a doença cardiovascular;
doença primária não pode ser definida; ◦ Preparar o paciente e a sua família para
◦ A janela de oportunidade para promover a terapia renal substitutiva.
um tratamento para a doença específica Os pacientes com DRC devem ser
já passou. encaminhados a um nefrologista quando a
Outras contraindicações à biópsia renal: TFGe for < 30 mL/min (estágio 4), visto
Hipertensão descontrolada, infecção que essa conduta permite tempo suficiente
urinária em atividade, diátese hemorrágica ao preparo adequado do paciente para
(inclusive sob tratamento anticoagulante) e terapia renal substitutiva.
obesidade grave.
A biópsia percutânea orientada pela USG é
a abordagem preferível, mas a técnica
cirúrgica ou laparoscópica pode ser
considerada, especialmente, nos pacientes
com rim único, nos quais a visualização
direta e o controle do sangramento são
cruciais.
Em pacientes com DRC para os quais a
biópsia renal é indicada (p. ex., suspeita de
processo concomitante ou superposto em
atividade, como nefrite intersticial, ou nos - Intervenções para retardar a progressão da
casos de perda acelerada da TFG), o tempo DRC:
de sangramento precisa ser determinado e, Controle da pressão arterial (PA):
se estiver aumentado, deve-se administrar ◦ Dieta com baixo teor de sal (< 2 g/dia);
desmopressina imediatamente antes do ◦ IECAs e BRAs constituem os agentes
procedimento. anti-hipertensivos de escolha, visto que
reduzem a hipertensão glomerular
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através de um mecanismo duplo: Hipermagnesemia: Evitar o uso de
redução da PA sistêmica e vasodilatação antiácidos e catárticos contendo magnésio.
predominante da arteríola eferente; Excesso de bicarbonato sérico: O nível
além disso, melhoram a permeabilidade sérico de bicarbonato deve ser mantido em
da membrana glomerular e diminuem a ≥ 22 mEq/L com a administração de
produção de citocinas fibrogênicas. bicarbonato de sódio, particularmente, em
▪ Os BRAs têm menos efeitos pacientes sintomáticos, bem como para
colaterais do que os IECAs, como prevenir o retardo do crescimento em
tosse ou hiperpotassemia; crianças.
entretanto, devido a seu custo mais Desnutrição: Acompanhamento por um
elevado, são habitualmente nutricionista qualificado, a fim de evitar a
recomendados aos pacientes que desnutrição; em geral, recomenda-se um
não respondem aos IECAs ou que aporte proteico e energético de 0,75
não os toleram. g/kg/dia e 30 a 35 kcal/kg/dia,
◦ A PA-alvo recomendada é < 130/80 respectivamente.
para pacientes com proteinúria de < 1 ◦ Manter ingesta de proteínas < 0,8
g/dia e < 125/75 para aqueles com g/kg/dia.
proteinúria de > 1 g/dia. Disfunção plaquetária: O tratamento é
Controle da glicemia em pacientes indicado aos pacientes com sangramento
diabéticos. ativo, bem como antes da realização de
◦ Diminui o risco de desenvolvimento de procedimento cirúrgico; as medidas
nefropatia, particularmente, quando apropriadas incluem: correção da anemia
iniciada precocemente na evolução do com eritropoietina ou transfusão sanguínea,
diabetes e/ou nefropatia diabética administração de desmopressina ou
(estágio de normo ou crioprecipitado para correção rápida,
microalbuminúria). utilização de estrogênios conjugados para
◦ Se TFG entre 45-30 mL/min, limitar a correção a longo prazo e redução da
dose da metformina a 1 g/dia, e se TFG azotemia com diálise, quando indicado.
< 30 ml/min, suspender o uso desse ◦ Os alvos são: hemoglobina entre 10-12
medicamento. g/dL, ferritina > 100-200 ng/mL e
◦ Inibidores da SGLT2 mostram-se índice de saturação de transferrina >
benéficos se TFG > 30 mL/min. 20%.
◦ Alvo de hemoglobina glicada por volta Deficiência de vitamina D: Repor
de 7% (mas o alvo deve ser vitamina D (colecalciferol) para manter o
individualizado). alvo > 30 ng/mL.
Restrição dietética de proteína. - Prevenção e tratamento das condições
- Prevenção e tratamento das complicações comórbidas: Como as complicações
urêmicas: cardiovasculares representam a principal causa de
Sobrecarga de volume: Dieta com baixo morte em pacientes com DRC, o controle
teor de sal (2 a 3 g de sódio/dia) e apropriado dos fatores de risco e da doença
diuréticos de alça para a sobrecarga de cardiovascular estabelecida é da máxima
volume. importância. As complicações diabéticas também
◦ Os diuréticos tiazídicos não são eficazes devem ser tratadas apropriadamente.
quando a TFG é < 30 mL/min. - Preparação para terapia renal substitutiva:
Hiponatremia: Pode ser evitada reduzindo Informação sobre as diferentes modalidades
o aporte de água (p. ex., para 1,5 L/dia). de tratamento;
Hiperpotassemia: Dieta com baixo teor de Educação sobre a preservação das veias do
potássio (40 a 60 mEq/dia) e evitar as antebraço visando a futuro acesso vascular
fontes exógenas de potássio, incluindo para hemodiálise;
transfusões sanguíneas, substituto do sal e Encaminhamento aos serviços sociais para
certas medicações (AINEs e diuréticos avaliar a necessidade de transporte até a
poupadores de potássio). unidade de diálise, continuação do trabalho
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em alguns casos, reabilitação e participação
em grupos de apoio;
Colocação de acesso vascular permanente,
de preferência uma fístula arteriovenosa,
quando a depuração de creatinina for < 25
mL/min, o nível sérico de creatinina for > 4
mg/dL, ou o tempo estimado até o início da
diálise for de 12 meses.
◦ Os cateteres para diálise peritonial
devem ser colocados 2 a 4 semanas
antes de iniciar a diálise.
Indicações de terapia renal substitutiva:
Referências:
- BRANDÃO NETO, R. et al. Medicina de
emergência: abordagem prática. 17. ed. Santana de
Parnaíba [SP]: Manole, 2023.
- JAMESON, J. Medicina interna de Harrison. 20.
ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
- LERMA, E. CURRENT nefrologia e hipertensão:
diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: AMGH,
2012.