Carta Aberta Sofri Violencia Psicologica em Silencio
Carta Aberta Sofri Violencia Psicologica em Silencio
Carta Aberta Sofri Violencia Psicologica em Silencio
Hoje 20 de junho de 20024 estou escrevendo esta carta aberta da minha história para
descrever as agressões que vivi durante 24 anos.
Lembro-me dos primeiros episódios como se fosse hoje! Na época com apenas 16 anos de
idade hoje com 39 anos tenho lembrança de exatamente como aconteceu as agressões que eu
vivi com detalhes, me casei muito nova e não tinha ideia do que eu passaria. No início éramos
imaturos muito jovens eu 16 e ele 17 então pensei deve ser normal ele vai mudar com o tempo,
mas logo nos primeiros anos de casados passei por muita dificuldade e agressões físicas, essa
foi a primeira de várias agressões que vivi foi muito difícil de entender que a pessoa que falava
palavras de amor de cuidado ao mesmo tempo me machucava então não entendia que era na
verdade uma relação abusiva.
Olhar pra mim e reconhecer-me como vítima de violência doméstica não foi um processo fácil,
senti medo, vergonha, e não acreditava que ele era assim tão mal, pois ele me dava muitos
presentes, muitas viagens... ‘e todo mundo via que ele era um homem que me amava e me dava
uma vida boa’ mas na verdade eu sabia quem ele era quando estávamos só e já não suportava
mais.
Fui vitima de violência VERBAL, MORAL, FÍSICA, SEXUAL, PATRIMONIAL E
PSICOLÓGICA. Entre tantos abusos e agressões quero destacar entre essas a PSICOLÓGICA,
pois a mesma tenho em mente como a mais grave pandemia que a nossa sociedade tem vivido.
Quando enfim me dei conta que estava sofrendo abuso não tive apoio nem um acolhimento
para tomar uma atitude, pois a sociedade patriarcal nos ensina a normalizara-los chama-los
de outros nomes, pois desta forma fica mais difícil de identificar.
Um desses nomes é DEVER o dever da mulher, algo que era constantemente jogado na minha
cara sempre quando manifestava minha negatividade ao sexo.
Apesar da rotina dolorosa sofri calada por longos anos receosa das consequências que poderia
sofre caso eu me manifestasse.
Então criei táticas para que aquilo acabasse logo, como por exemplo fingir o orgasmo na hora
do sexo só assim ganhava mais uma semana de sossego pra cuidar um pouco da minha mente
dilacerada.
Daí meu corpo não suportou estava no limite comecei a ter tremores já não me reconhecia,
tinha medo muito medo e não sorria mais. Acabei acreditando que o problema era meu, que o
problema era eu. Durante anos fui abusada sem saber! apenas cumprindo ´´meu dever de
mulher´´ a elaboração desse tipo de trauma muitas vezes leva anos... foi assim comigo, me vi
num fundo do poço. Quantas palavras eu ouvi vindo dele você não precisa de ninguém só
precisa de mim, você tem uma vida de rainha não precisa se preocupa com as contas eu resolvo
tudo e lhe dou tudo que precisar. Você compra as roupas que você gosta não precisa se
desgasta arrumando a casa vou contratar uma pessoa pra isso! A pessoa da minha família eu
só saia se fosse com ele não podia ter outras pessoas foi me sentido sufocada sem tempo pra
mim e sempre as palavras dele era as pessoas que se aproximavam de você é por interesse e
tem inveja da sua vida, tantas palavras que pareciam ser uma verdade na minha mente que já
doente gritava por socorro. Ansiedade depressão, ansiolíticos, antidepressivos. Meu corpo foi
somatizando e eu foi me anulando cada vez mais. Quando decidi mudar fui criticada, apontada
jugada mal interpretado chamado de egotista, mas eu só queria viver um pouco comigo mesmo.
Fiquei sozinha sem apoio de familiares sem nem uma rede de apoio. Apenas uma amiga que
também sofria com o mesmo sofrimento que o meu, então apoiamos uma a outra e aos poucos
com muitas dificuldades e choros conseguimos sair desses relacionamentos abusivos e as
agressões psicológicas. Ela saiu primeiro e depois foi eu, poucas coisas ainda eram muito
difíceis para eu entender que o que vivia era agressão cada vez mais vendo e ouvindo que
agressão não era apenas física mais a psicológica a pior delas, que as marcas não são visíveis
essa eu demorei a perceber. Hoje tenho tentado viver mas, com muitas marcas e medos ainda
não superados e não visto a olho nu. Mas com a alegria de poder está contribuindo com o meu
relato para que outras mulheres tenham a força de reconhecer que pode estar vivendo agressão
psicológica, não tenho ninguém da minha família pra poder me escutar ou dar ouvidos a
minhas palavras em todas as dores essa do direito de falar ou de ser ouvida é mais uma ferida
não tratada, o agressor pode ser ouvido apoiado acolhido mas nós mulheres somos as vítimas e
mesmo assim sem direito de defesa ou de fala, pois ainda somos culpadas por não cumprir com
‘O DEVER DA MULHER’.