Peça
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Peça
Phelipe Estevam: 22 anos, carioca, cursando o terceiro semestre do curso de Pedagogia, e mora no Rio de
Janeiro. Foi vítima de bullying por vários anos, em várias escolas. Sofreu muito, mas deu a volta por cima.
Hoje é expert no assunto e, por sensibilidade e grandeza de espírito, ajuda muita gente que sofre o que um dia
ela sofreu. Criou o blog BullyingNoMore e é um exemplo de força e superação. Lembro da nossa última
consulta
Meu nome é Felipe Estevam, que não tive muita sorte na escola, mas dei a volta por cima! Minha vida escolar
começou razoavelmente bem, só não teve o final feliz que eu esperava. Desde a pré-escola, quando via algum
coleguinha sendo motivo de risada, eu ia lá e defendia. Não achava certo!
Com o tempo, isso virou contra mim: por virar amigo das vítimas, passei a ser uma. As desculpas utilizadas
na época eram coisas banais: eu ser muito gordo, [eu olhando pra minha barriga] muito alegre, muito bom
em desenhos, e mais tarde minha gagueira virou motivo de piada também. No começo, as agressões vinham
mais de outras turmas, e não muito da que eu estudava. O clima passou a ficar pesado demais, e com 14 anos
resolvi mudar de escola.
Achava que a mudança seria um recomeço, e não sofreria mais. Isso foi um grande engano. Aquela escola foi
um pesadelo: lá, eu era visto como assombração, as pessoas me tratavam como se fosse uma aberração.
Berravam quando me viam, empurravam, [ Marcelo me empurrando] davam muita risada, [alguém rindo
de mim e apontando] roubavam coisas, [Raphael e marcelo pegam meu caderno e fazem bobinho] e o
pior: alguns professores apoiavam as atitudes dos meus colegas.
Troquei de escola no meio daquele ano. E dei sorte! Fui para uma escola pequena, simples, mas muito boa!
Mesmo ficando sempre quieto, lá ninguém mexia comigo - pelo contrário, queriam que eu participasse!
Infelizmente aquela escola era só de ensino fundamental. [aparece de cabeça baixa, e Andressa e Isabelle
me puxando pra participar do grupo]
No ano seguinte, fui para outra escola: a última escola que estudei.
Lá, fiz como sempre: via quem estava sozinho, e fazia amizade. Mais do que nunca, eu era tida como o
diferente. Tinha 15 anos, não usava roupas de marca, não ia festas, passei a ser muito tímido, tirava notas
altas. Para eles, aquilo não era considerado normal. Mas consegui fazer duas amigas, e no ano seguinte fiz
amizade com mais dois meninos. [primeiro aparece eu andando com Michelle e Bianca e depois com
Belarmino e Charbel]
Logo, uma delas começou a dizer o quanto os outros falavam mal de mim. [conversando em particular com
Michelle sério]
Aquilo foi me incomodando muito, pois já era humilhado todos os dias lá dentro. [Eu triste] Não aguentei e
abri o jogo: falei que sabia que falavam mal de mim, mas não disse quem havia me contado. [Eu batendo
boca com os 4] Assim, me acharam mentiroso, e se afastaram. Quem se afastou também, para o meu espanto,
foi justamente a garota que me contou essa história toda. Ai caiu a ficha: ela queria me tirar do grupo, afinal,
comigo eles poderiam ser zoados também. [ Eu virando as costas e Michelle com cara de falsa]
Mas como todo ser humano, eu também amei alguém. Maria Clara, aaah ela é tudo que um garoto poderia
querer, ela é tão linda, se vestia bem, tinha um cabelo tão perfeitamente perfeito KKKK. [Close em
Fernanda] Ela gostava de um garoto lá, mas ele ficava com ela e depois largava ela. Daí eu tomei coragem e
escrevi uma carta pra ela, mas ela não estava nem aí pra mim. Acho que ela deve ter guardado na caixinha
cheia disso, ai namoral, que fase heim. [ Ela lendo o papel, e cara de falsa]
Daí eu vi que garoto bonzinho só se fode. Daí eu fiz umas merdinhas na escola, levava advertência e daí as
pessoas começaram a me ver como o revoltadozinho. Mas por dentro eu tava muito mal. [Eu entrando
dentro da coordenação]
Com isso me deprimi mais ainda. Ia caminhando até a escola, e parei de olhar ao atravessar a rua. Comecei a
me cortar, Para mim, morrer seria lucro. [Eu meio emo] Estava novamente sozinho numa escola enorme,
tentando me refugiar na biblioteca, e até lá neguinho me achava. [Eu sozinho no recreio, e depois na
biblioteca]
Passei a comer menos, a me cortar, que foi uma fase MUITO EMO, e ver tudo como uma possível arma para
acabar meu sofrimento. Nas férias de julho, me fechei mais ainda, não poderia voltar para escola nenhuma.
Via meus pais feito loucos me procurando uma escola nova, e piorava mais ainda por isso. Foi ai que pedi
para ir numa psicóloga, e ela contou aos meus pais que, naquele estado, eu não teria condições de enfrentar
uma nova escola. [Eu entrando no piscicologo, muito triste]
Comecei um tratamento com ela, e em seguida, com um psiquiatra. No ano seguinte, conheci uma garota
super legal, daí começamos a namorar. E com um pouco mais de dois meses de namoro, numa recaída da
depressão, a psicóloga resolveu achar que eu era esquizofrênico, o psiquiatra, concordou, e com isso, fui
internado, levando tratamento de louco. [Achar vídeo de uma ambulância] A família não sabia o que se
passava, e eu também não tinha como contar. Era uma prisão. Nos dois primeiros dias, não ganhei comida,
porque a nutricionista tinha que falar comigo primeiro. Tomava copos com em torno de 10 comprimidos 4
vezes ao dia. Quase mataram um interno de lá na minha frente. Só não o fizeram, porque impedi. Sai após 11
dias de internação... depois de incomodar muito para conseguir isso.
Maria Clara, graças a Deus, nunca deixou de acreditar em mim. Falando com ela, vi que se eu tentei me
matar, muitas vítimas também tentavam, e muitas vezes, conseguiam. Vendo também o que fizeram com o
outro interno do hospital, decidi que se pudesse evitar um suicídio que fosse, daria tudo de mim pra isso. [eu e
Fernanda conversando, serio, eu de cabeça baixa] Comecei a pesquisar sobre bullying - quando fui vítima,
não sabia que tinha nome. Só achava informações em sites internacionais, e ia traduzindo. [eu no
computador]
Ai resolvi criar um blog: BullyingNoMore. Foi a forma que encontrei para ajudar e alertar pais e professores.
Participei de matérias que divulgaram o endereço. [vídeo de palestras] Pude conversar com muitas vítimas. É
triste ver tantos casos acontecendo, mas ao menos posso ajudar vítimas a mudar o modo de pensar, a serem
mais felizes.
Na época em que fui vítima, a cada humilhação pensava “devo ser estranho mesmo”. Hoje percebo o erro que
é pensar assim. É o que tento ensinar para as vítimas: que nunca acreditem no que dizem de ruim, pois o
agressor é muito inseguro, quer chamar atenção. Sentem tanto medo quanto nós, mas eles só conseguem
esconder esse medo. Não é sua culpa, e por mais duro que seja, avise seus pais. Se não conseguir, peça para
alguém... Não é vergonha ser vítima, e pedir ajuda é o diferencial entre acabar com a vida mais cedo ou
garantir um longo e belo futuro. Psicólogos ajudam muito, e se com o primeiro profissional não der certo, vá
tentando até encontrar alguém que realmente anseie por seu progresso! [vídeo de pessoas sofrendo bullying]
Na escola, é importante observar, nos intervalos, se tem mais alunos sozinhos, excluídos. Provavelmente são
vítimas também. Anote dia, data, hora da agressão, e se nada for feito - mesmo depois da escola ser avisada -
fazer a lei ser obedecida, encaminhando o caso ao conselho tutelar. [eu sendo agredido por Marcelo e
raphael]
Enquanto isso, você pode ir treinando sua confiança novamente! Pensando diferente, como “olha o que ele
tem que fazer para se sentir o poderoso, tem que pisar em mim, só sendo muito inseguro pra fazer isso. Eu sei
o que tenho de bom, e não é por insegurança dele que vou deixar de acreditar nisso”.
Hoje tenho 22 anos, e a Maria Clara virou minha noiva. Terminei o ensino médio, e estou cursando Pedagogia
na faculdade! [Foto de casamento ] Não tomo mais remédios, nem faço tratamentos. A maior lição que tirei
do que aconteceu é que não podemos acreditar em tudo que dizem de nós, e sim acreditar que as coisas podem
mudar, e lutar pra isso! Afinal, enquanto estamos vivos, ainda temos chance de mudar a nossa história.
Fim.