Teatro y Neurociencia
Teatro y Neurociencia
Teatro y Neurociencia
A Intenção Dilatada
O problema que se apresenta com maior rapidez no
diálogo com os neurocientistas é tanto banal quanto difícil
de resolver: no que a relação entre ator e espectador difere
da relação cotidiana entre duas pessoas? Qual poderia ser a
diferença em nível fisiológico e neurocientífico?
Essa pergunta, preciosa para o diálogo com as neurociên-
cias, no passado, abriu caminho para o surgimento de novos
campos de estudo como, por exemplo, a Antropologia Teatral
que formulou hipóteses de resposta bem claras: cada vez que
o ator executa uma ação em cena, ele deve responder a duas
necessidades, a primeira é realizar a ação prevista e a segunda
consiste em manter, estimular ou surpreeender os mecanismos
de atenção do espectador no mesmo instante e com a mesma
ação. Dou um exemplo: se um ator, durante um espetáculo,
deve agarrar um copo de água colocado sobre a mesa, a sua
intenção não será endereçada somente para alcançar o copo de
água colocado na mesa (como seria no comportamento cotidia-
no), mas seria endereçada tanto ao encontro do copo quanto a
estimular, guiar, atrair e manter a atenção do espectador com
a simples ação de agarrar o copo. Isso torna as ações em cena
e a consequente organização do sistema corpo-mente do ator,
Intersubjetividade e Co-constituição
A tradição dos estudos fenomenológicos, de fato, des-
creve o mundo como algo que não é pré-determinado, mas
que é constituído pela interação das diferentes subjetividades
(Merleau-Ponty, 1962). A estudiosa Dorothée Legrand, em um
artigo publicado recentemente juntamente com o neurocien-
tista Marco Iacoboni, destaca que é, justamente, a ressonância
da intencionalidade alheia a tornar possível a percepção do
mundo e a relação intersubjetiva que o constitui.
É possível fazer uma relação intersubjetiva primária
através do compartilhamento de um mundo comum, em
virtude da execução e observação de ações com propó-
sitos determinados: o propósito de uma ação é represen-
tado como algo que pode ser compartilhado no sentido
de que o objeto não é apenas o objeto intencional de um
indivíduo, mas, também, o objeto intencional de outras
pessoas (Legrand; Iacoboni, 2010, p. 238-239).
Marinis, 2000).
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As mesmas dinâmicas e a sua complementariedade foram evidenciadas com grande precisão
por Franco Ruffini em um artigo publicado na década de 1990: “Há, na ação do ator, dois
componentes positivos e cada um deles tem uma faixa negativa. Controle e precisão são dois
componentes positivos; esforço e automatismo são as respectivas faixas negativas” (Ruffini,
1993, p. 218).
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A valenza di contrainte do princípio de fragmentação em Stanislavski é ainda mais evidente
se, para a palavra tarefa, substituímos o temo problema/obstáculo como sugere Paolo Asso:
“Em Stanislavski o termo zadača expressa justamente este conceito geral de vínculo estrutural.
Traduzido em inglês por objetivo e conhecido na Europa, mais corretamente como tarefa,
Zadača significa primeiro problema. O Zadača, então, é tanto o problema quanto a ação que
o resolve, a tarefa imposta ao ator/personagem [...]” (Asso, 2011, p. 90). Sobre esse ponto se
debruçam, também, os estudos de Sharon Carnicke (Carnicke, 2009, p. 226).
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Clelia Falletti foi quem primeiro colocou em relação os fractais com o comportamento
cênico do ator nas aulas na Università di Malta e em La Sapienza e em uma palestra intitulada
L’attore è un frattale no Congresso L’attore di teatro oggi: atleta del cuore o clown?, realizada
em 2005 em Magliano Sabina (Rieti).
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Nota-se que não se trata somente de uma questão de escalas de observação, porque isso
tornaria os fractais não diferentes pela geometria euclidiana. O mérito de Mandelbrot foi o de
descrever com os fractais um verdadeiro e próprio espaço entre dois pontos quaisquer de uma