Historia Das Lutas Pela Autogestão No Mundo.

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Claudio Nascimento

O Principio da Autogesto Comunal

Tomo -2

As EXPERIENCIAS HISTORICAS das LUTAS pela AUTOGESTO

-Indice:

PARTE I=

1- As Experiencias das comunidades autogeridas na Inglaterra do seculo XVII

. Origens da prxis autogestionaria (E.P.Thompson):

.Owen: New Lanark

.A Economia Moral da Multido

2.A Clase Operaria e o capitalismo:

.Lutas contra a misria

.Os passeios de Flora Tristan

.Os novos escravos: o operario e a mulher

3-Os Comuneros na America Latina e Central

- A rebelio de Tupac Amaru

- Os Jacobinos Negros do Haiti

PARTE II :

1.Os Ciclos das lutas autogestionarias:


1.Teorias dos Ciclos:

.Joo Bernardo

.Mario Tronti

.Daniel Guerin

.Mario Pedrosa

.Berverly J. Silver

2. As Experiencias Histricas:

a- Sculo XIX

- A revolta dos CANUTS, Lyon, Frana, 1831-1834

- A revolta dos teceles na silesia, Alemanha, 1844

- Rochdale, Manchester,Inglaterra, 1844

- A Comuna de Paris, Frana ,1871

b - O CICLO das LUTAS AUTOGESTIONARIAS aps a REVOLUO RUSSA de 1905

- A Comuna de Morelos, Mxico, 1910

- A Revoluo Sovietica, 1905-1917

- A Comuna de SPARTACUS, Alemanha, 1919

- A Republica dos Conselhos Operarios da Hungria, Budapeste 1919

- Os Conselhos Operarios de Turim, Italia, 1919-1920

- A Autogesto nas Coletividades rurais ,Espanha 19936-1939

c- O CICLO das LUTAS AUTOGESTIONARIAS no ps 2 GUERRA, na EUROPA

- LIP , Autogesto na cidade de Proudhon e Fourier, Besanon,Frana 1973

- Ocupao de empresas e autogesto na Blgica, anos 70

- O Outono caldo na Italia,os Comites Unitarios de base

- As Comisses de Trabalhadores na Revoluo dos Cravos, Portugal ,1974


-As Comisses Operarias na Espanha,anos 70

d- O CICLO das LUTAS AUTOGESTIONARIAS no ps 2 GUERRA, no LESTE


EUROPEU

. Introduo: Revoltas,rebelies e revolues

- Yugoslavia, a autogesto como sistema,1950-1970

- A revoluo na hungria, 1956

- A Primavera de Praga, uma revoluo de conselhos de trabalhadores,Thecoslovaquia 1968-


1969

- Polonia, as lutas operarias nos anos 70 , e a construo da Rede Autogestionaria (1980-1981)

e-AS LUTAS AUTOGESTIONARIAS na ASIA

- A Comuna de Shangai, China,1966

- A Autogesto japonesa (jishu-kanri),anos 70

f-AS LUTAS AUTOGESTIONARIAS na AFRICA

- O Sistema Autogestionario na Argelia,anos 60

. A autogesto nasserista ,no EGITO,anos 60

g- OS CICLOS das LUTAS AUTOGESTIONARIAS na AMERICA LATINA

- AS AREAS DE PROPRIEDADE DOCIAL

- Bolivia: A Central Operaria e a revoluo nacionalista ,1952

. as Teses de Pulacayo,1947

.Assemblia popular , Governo Torres ,1971

- A revoluo cubana e o poder popular,1959

- A revoluo do sandinismo, Nicaragua 1979

- Socialismo nos Andes, autogesto de farda no Peru ,1968

- Argentina,crise de hegemonia e cordobazzo,1968-1969

- o poder popular autogestionario no Chile de S.Allende, 1970-1973

- A economia popular e solidaria na revoluo bolivariana, Venezuela anos 90-2000


- O poder operrio em Osasco,1968

- Empresas recuperadas, Argentina anos 70

-Controle Operario, Argentina anos 2000

-Usina Harmonia Catende,autogesto territorial, anos 90-2000

PARTE 3=

- bibliografia

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A Experiencia das Comunidades Autogeridas na Inglaterra Seculo 17.

Na Europa, as primeiras experincias de autogesto,no sentido de organizao de


comunidades autogeridas, vm do sculo XVII, na Inglaterra. Surgiram nas camadas mais pobres
da populao, eram vrios tipos de seitas religiosas radicais que se organizavam contra a nobreza e
o clero e contra os capitalistas.

Os Diggers (movimento campons sem-terra ,surgido na Inglaterra em 1649-50,


que defendia a propriedade comum da terra) formavam um destes grupos. Seus membros eram
pessoas pobres, vtimas da crise econmica que seguiu a guerra civil. Suas reivindicaes davam-
se no nvel econmico e social e foram expressas por um de seus lderes: Gerard Wistanley, um
comerciante falido. Suas ideias partiam de uma viso pantesta de Deus, considerado como a
Razo imanente presente em cada ser humano, com o objetivo de que o homem pudesse agir em
harmonia com sua natureza racional para cumprir seu dever enquanto ser social. Considera-se que
toda forma de autoridade, tanto poltica quanto econmica, corrompe o homem. Autoridade e
dominao devem ser rejeitadas em prol de uma sociedade igualitria1.

As primeiras revoltas das classes oprimidas eram de camponeses rebelies contra a fome

1
Em abril de 1649, Wistanley, e uns quarenta seguidores, comearam a cultivar a terra para concretizar esta
sociedade igualitria. Todavia, em 1650, por presso do clero e dos latifundirios tiveram que abandonar o projeto.
- e suas motivaes ideolgicas eram muito vagas e de inspirao crist, em ruptura com a Igreja
oficial: luta pela igualdade entre os seres humanos, no apenas no cu, mas sobretudo na terra.

Na Revoluo Francesa, sobretudo em 1793-94, vamos encontrar a ao direta dos sans


cullotes, os bras nus estudados, entre outros, por Daniel Guerin. Estas aes tm uma
importncia fundamental, pois, delas nasceram os embries dos conselhos populares.

Nesta perspectiva, a obra de E.P.THOMPSON nos mostra que as formas embrionrias do


movimento operrio tinham esta mesma caracterstica comunal crist. Na Inglaterra, nesta poca,
surgiram as Sociedades de Correspondncia-SC, como tentativas de quebrar o isolamento das
pequenas cidades e dos bairros. Estas organizaes mutualistas e fraternais tiveram vida curta
devido a represso.

Thompson define a SCL (Sociedade de Correspondencia de Londres) mais como uma


sociedade radical e popular que operria, ou seja, uma sociedade comunal. A sua primeira
reunio ocorreu em 1792, numa taberna de Londres. Participaram 09 homens para discutir a
possibilidade de uma Reforma Parlamentar. Em 1794, as Sociedade de Correspondncia so
acusadas de prticas sediciosas. A SCL foi dissolvida e toda reunio foi proibida. A SCL
exercia sua influncia em duas direes opostas: de uma parte, os cafs, as tabernas e as igrejas
dissidentes de Picadilly, de Fleet Street e do Strand, onde se reuniam os companheiros
autodidatas; de outra parte, a este e a sul do rio Tamisa, ela atingia as comunidades operrias mais
antigas, os operrios das docas de Wapping, os teceles de seda de Spitalfields e Southwark,
velhos basties dissidentes.(1988.p.24)

Thompson afirma que durante 200 anos, a Londres radical foi mais heterognea e fluida
em sua composio social e profissional que os centros das Midlands e do Norte agrupados em
torno de duas ou trs indstrias de base. O radicalismo londrino tinha uma complexidade maior
pelo fato de necessitar unir tendncias divergentes em um movimento comum.

Neste sentido, a SCL serviu de ponto de convergncia. Os documentos da SCL apontam


para o nascimento de uma nova forma de organizao,e, podem definir o que era uma organizao
operaria nos anos 1790-1850. Portanto, em poca anterior, a prpria fundao da Cooperativa de
Rochdale. Para Thompson, o desafio revolucionrio vinha da regra principal da SCL (nossos
aderentes so em nmero ilimitado), que exprimia a abertura das portas propaganda e
atividade poltica de forma ilimitada, implicando uma nova concepo da democracia que,
rejeitando as velhas inibies, fazia confiana aos modos de ao e de organizao autnomos do
povo. Desafio que tinha sido lanado no sculo XVII, pelos niveladores.(apud,p.25)

Advertindo que, temos tendncia a s ver os elementos novos, Thompson chama nossa
ateno para dois aspectos: 1) a continuidade das tradies; e 2) a modificao do contexto.

Se partimos de 1789, o jacobinismo ingls se apresenta como um sub-produto da


Revoluo francesa.Se,ao contrario,partimos de 1819 e de Peterloo,o radicalismo ingls
se apresenta,ento,como uma conseqncia direta da revoluo industrial.Sem duvidas, a
Revoluo francesa precipita uma nova onda de agitao,e que esta agitao tem razes
entre os operrios e se enriquece nas regies manufatureiras em pleno progresso.

Estamos, assim, confrontados s antigas tradies dos artesos e dos comerciantes das
cidades, to prximos do menu peuple que George Rude mostrou como constitua o
elemento revolucionrio mais ativo da massa de Paris. Podemos tratar a complexidade e a
continuidade destas tradies distinguindo trs problemas:

- a tradio dissidente e sua modificao devido a renovao metodista,

- a tradio composta da ideiaideia do direito de nascer do ingls,

- e, a tradio ambgua do populacho do sculo XVIII, que assustava tanto Wyvil e que
Hardy tentava organizar em comits, sees e manifestaes.(apud,p.27)

Diz Thompson que

Se o cristianismo racional dos unitrios seduzia alguns comerciantes de Londres e de


outras grandes cidades, parecia muito frio, distante, polido, e ligado a valores confortveis
de uma classe prspera, para seduzir os pobres da cidade e das vilas. Ocorreu, ento, uma
separao clara entre as aspiraes temporais e as espirituais no puritanismo dos
pobres.(idem)

Para Thompson, vital entender o refgio no reino interior para poder entender o sculo
XVIII e os elementos de continuidade na poltica ulterior da classe operria. Esta mudana se
expressa atravs das conotaes das palavras Puritanismo e Dissidncia, energia positiva, de uma
parte, e, de outra, recuo prudente.
fundamental ver como a deciso das seitas de suportar este mundo com pacincia,
abandonando toda esperana de reg-lo e govern-lo, lhes permitiu combinar uma certa
quietude poltica a uma espcie de radicalismo latente, que se expressava, entre outras, nas formas
de organizao democrtica, possveis de reviver em contextos mais favorveis. Podemos
encontr-la nos batistas e nos quakers.

Se os quakers contribuam mais para conscincia social da classe mdia que ao movimento
popular, foi com Bunyan que encontramos o radicalismo latente, que se manifestou ao longo do
sculo XVIII e que voltou vrias outras vezes no curso do sculo XIX. Foi A viagem de um
peregrino que, com os Direitos do Homem, constitui o texto base do movimento operrio
ingls.

Com Cobbett e Owen, foram Bunyan e Paine que enriqueceram o substrato de ideias e de
comportamentos que formam a matria-prima do movimento entre 1790 e 1850. Com todas as
suas contradies e ambivalncias, o metodismo progrediu mais rapidamente, entre os pobres,
nas regies em que a dissidncia estava enraizada.

Thompson reala a contribuio do metodismo ao qual os operrios do txtil e das minas


de Bistrol, estavam ligados, nos anos 1760 para a organizao das sociedades,

o metodismo transmite as sociedades operarias as suas estruturas prprias. O metodismo


contribui no apenas para as reunies sob forma de classes,mas na forma de cotizao,
frequentemente encontrada nas organizaes radicais e sindicais, e tambm a experincia
de organizao centralizada eficaz, em nvel de municpio e em nvel nacional, que fazia
falta a Dissidncia. O metodismo do fim do sculo XVIII estava, assim, atravessado
por correntes democrticas.(apud,p.43)

Thompson mostra como nas fases contra-revolucionrias o metodismo progredia entre os


operrios como uma fora social estabilizadora e regressiva. Durante todo o perodo da Revoluo
Industrial, o metodismo no conseguiu superar a tenso entre suas tendncias autoritrias e
democrticas. Alm disso, h outras duas caractersticas da tradio dissidente:

Mesmo que elas no tenham jogado um grande papel,nem uma nem outra,no sculo
XVIII, elas adquiriram ambas uma nova importncia aps 1790. Um mesmo fio liga
ideiaideias e experincias comunitrias associadas aos Quakers,aos Camisards e,mais
especialmente,aos Moravios.Foi em Bolton e Manchester que a agitao no seio de um
pequeno grupo de Quakers dissidentes levou a partida, em 1774, da Me Ann e de
alguns outros que fundaram as primeiras comunidades de Shakers nos EUA. Quarenta
anos mais tarde, Robert Owen iria encorajar os Shakers e populazaria suas ideiaideias sob
uma forma secular.(apud, 46 )

4.1. OWEN: New Lanark


Thompson dedicou toda uma parte do captulo Conscincia de Classe ao owenismo,
buscando refazer os momentos que marcam o encontro dos economistas socialistas ou owenistas
com a experincia do movimento operrio. Dois elementos do socialismo owenista destacam-se: a
filantropia das luzes, que imagina sistemas inteiramente novos segundo os princpios da
utilidade e da benevolncia; e a experincia dos grupos de trabalhadores que optaram por ideias no
owenismo e as adapataram ou as desenvolveram em seus contextos particulares.(1988-p.702)

A histria de Robert Owen, de New Lanark, deve partir da tradio paternalista; as grandes
experincias de New Lanark foram institudas para responder as dificuldades na instaurao de
uma disciplina do trabalho e na adaptao dos turbulentos trabalhadores escoceses aos novos
hbitos de trabalho em fbrica. O problema era de inculcar juventude os hbitos de ateno, de
celeridade e de ordem. Owen no escolheu nem o terrorismo psicolgico do metodismo nem a
ameaa do contra-mestre e as penas, para obter seus fins. No entanto, no se deve esquecer que,
em sua fase socialista ulterior, o pensamento de Owen conservou sempre a marca de origem. Era
visto como o bom papa do socialismo.(ibid-p.708)

A esse respeito, Thompson remarca que

ele foi uma espcie de Hanway do mundo industrial, que pensava muito nas crianas,
amava v-las felizes, e ficava realmente indignado frente a explorao impiedosa. Mas a
ideia que a classe operria pudesse progredir de forma autnoma em direo a seus
prprios objetivos era estranha Owen, mesmo que, entre 1829 e 1834, ele esteve
relacionado a um movimento deste tipo. claro em todos os seus escritos. Ele desejava,
dizia em 1817, remoralizar as classes inferiores.(ibid-p.

Esta atitude erigiu uma barreira quase insupervel entre Owen e o movimento popular ou
o movimento sindical. A relao entre Owen e os radicais estava pautada por dois
aspectos: de um lado, Owen tinha simplesmente uma caixa vazia na cabea l onde a
maior parte dos homens tm sentimentos polticos; de outro lado, os radicais tinham
uma fraqueza: no tinham nenhuma teoria social.(ibid-p.705)

Para Thompson, Owen no foi o primeiro terico socialista moderno, mas um dos ltimos
racionalistas do sculo XVIII.

Owen, admirvel enquanto pessoa, foi um pensador extravagante e um dirigente poltico


medocre. Em todos os seus escritos, no percebemos o menor sentido dos processos
dialticos de mudana social, da prtica revolucionria .

Devemos buscar a resposta no salto milenarista feito por Owen: o rigor de seu
materialismo de determinao mecnica pelo meio ambiente o leva seja ao desespero, seja
a proclamar um milenarismo laico. Marx e Engels analisaram este aspecto do owenismo.
Owen apresenta, em 1820, a ideia de realizar a prosperidade no pas.Quanto a suas
comunidades, ele oferecia nada menos que o Paraso.(ibid-p.706)

Em 1820, uma sociedade oweniana estava em formao na metrpole, e o prospecto que


anunciava o surgimento de seu rgo de imprensa, o Economist, afirmava: A abundncia
submergir a terra ! O conhecimento crescer! A virtude florescer! A felicidade ser reconhecida,
assegurada e provada!. Em seu iderio, o lucro cederia seu lugar cooperao, e os vcios do
individualismo cederiam espao s virtudes do mutualismo, todas as formas de organizao
existentes cederiam lugar s federaes de cidades, agrcolas e industriais. Nessa perspectiva,
Thompson explica a razo que permitiu a rpida propagao do owenismo:

de incio, o owenismo propriamente dito, a partir do fim dos anos 1820, no se resumia
mais aos escritos e as proclamaes de Robert Owen. A impreciso de suas teorias, que
ofereciam a perspectiva de um outro sistema de sociedade, as tornava adaptveis aos
diversos grupos operrios. Nos escritos dos owenistas, os artesos, os teceles e os
operrios qualificados escolhiam as passagens que concerniam tudo particularmente sua
prpria situao e as modificavam em funo das discusses e da prtica [...]os escritos de
Owen podem ser considerados como uma matria prima ideolgica, difundida entre os
operrios que a transformavam em diferentes produtos.(ibid-p.710)

Analisando os discursos do radicalismo poltico dos artesos da poca, Thompson


mostra como a maior parte das ideias de Owen podem ser encontradas em germe nas prticas
anteriores ou independentes de seus escritos.

4.2. A AUTOGESTO dos ARTESOS


Sempre no vis de Thompson, As Sociedades de Socorro Mtuo criavam clubes sociais
ou casas de asilo; os sindicatos pr-owenistas em greve faziam trabalhar seus prprios membros e
vendiam seus produtos. Em 1827, um novo bazar funcionava como centro de troca de produtos
fabricados pelos desempregados das profisses londrinas marceneiros, alfaiates, sapateiros e
outros, que trabalhavam com matria comprada com fundos dos sindicatos.(ibid-p.712)

As Bolsas de Troca Equitveis do Trabalho foram fundadas em Londres e em


Birmingham em 1832-1833, com seus bnus de trabalho e suas trocas de pequenos produtos. Nas
regies de velhas tradies sindicais e de ajuda mtua, como Lancashire e Yorkshire, a
cooperao oferecia um quadro no qual os racionalistas e os cristos, os radicais e os indivduos
politicamente neutros podiam trabalhar em conjunto. O movimento prolongou tambm suas
tradies de aperfeioamento pessoal e de educao, fornecendo salas de leitura, escolas e
conferncias itinerantes. Em 1832, existiam talvez 500 sociedades cooperativas no conjunto do
pas, agregando no mnimo 20.000 membros 2.(ibid-ps.712-713)

Para os operrios qualificados, o movimento dava corpo a uma velha aspirao: um


sindicalismo geral em escala nacional. Desde ento, a histria do owenismo e a do sindicalismo
geral devem ser estudadas juntas. A maior parte das sociedades e dos armazns do incio dos anos
1830 renasceram sob o modelo de Rochdale alguns anos mais tarde.

Os planos comunitrios de Owen eram considerados impraticveis e no conseguiam


derrubar o ceticismo dos trabalhadores da construo naval e da grande indstria: para que lhes
serviria uma cidade de cooperao? Todavia, no final dos anos 1820, uma certa forma da teoria da
cooperao e da economia socialista chegou ao movimento operrio. Thompson afirma que A

2
Por exemplo, os teceles, em algumas cidades, adaptaram as ideias de Owen aos termos que correspondia s suas
experincias; em lugar do tom messinico, encontra-se um tom de bom senso. Criavam fundos para compra de ch,
acar, po, farinha, para escaparem as compras na cantina da fbrica e do pequeno atravessador. Esta ideia atraiu
tambm os trabalhadores qualificados e organizados da grande indstria, onde a adoo do owenismo era mais difcil.
impreciso do pensamento de Owen tornou possvel a coexistncia de vrias tendncias
intelectuais no seio do movimento.[...] o owenismo era mais so enrgico, em termos
intelectuais, que o pensamento de seu mestre.(ibid-p.716)

Nos anos 1830, a classe operria inglesa no tinha inteiramente adquirido a ideologia laica.
A cultura radical era a dos operrios qualificados, dos artesos e de alguns operrios domiclio.
Alm dessa cultura (ou coexistindo com ela), existiam os nveis mais obscuros de ideologia. A
nostalgia comunitria renascia e a linguagem do racionalismo era traduzida como fraternidade.
Desta forma, para os pobres, o owenismo tocava um dos elementos mais profundos; o sonho que,
de um certo modo, por algum milagre, eles poderiam ter de novo a sua parte da terra.(ibid-p.722)

Com os owenistas, o reino milenar deveria ser fabricado por seus prprios esforos, o
que mostra que os trabalhadores aproximavam-se da maturidade, tornavam-se conscientes de seus
prprios interesses e de suas aspiraes enquanto classe. Longe de ser voltado para o passado, o
owenismo foi a primeira das grandes doutrinas sociais em que o ponto de partida foi a aceitao
do crescimento das foras produtivas ligadas ao vapor e fbrica.O socialismo cooperativo
deveria simplesmente superar o capitalismo sem dores e sem lutas, por exemplo, pela educao e
pelo desenvolvimento de suas prprias cidades, atelis, armazns no interior do capitalismo. A
esse respeito, Thompson avalia: Eis a fraqueza que perverteu o owenismo.(ibid-ps 723-724-
725)

4.3. A Economia Moral da Multido (Controle de Preos e Mercado)

Em outra grande obra de E.P. Thompson, vamos identificar as primeiras lutas de controle
social, no caso, em relao aos preos. Em Costumbres en Comn(1995), Thompson analisa o
termo motim. Nestes ensaios, Thompson estuda um modelo de protesto social, a economia
moral do bem-estar em tempos de escassez e busca captar o povo como agente histrico antes
da Revoluo Francesa de 1789, atravs dos motins de subsistncia na Inglaterra do sculo XVIII:
uma forma complexa de ao popular direta, disciplinada e com objetivos claros.

O que vem a ser, segundo Thompson, a economia moral dos pobres:


Os motins de subsistncia eram provocados por elevao vertiginosa de preos, por
prticas incorretas dos comerciantes ou pela fome. Porm, estes fatos operavam dentro de
um consenso popular sobre as prticas que eram legtimas ou ilegtimas na
comercializao, na elaborao do po, etc. Isto estava, por sua vez, baseado em uma
viso tradicional consequente das normas e obrigaes sociais, das funes econmicas
prprias dos distintos setores dentro da comunidade que, em conjunto, pode dizer-se que
formavam a economia moral dos pobres. Um atropelo a estes presupostos morais, tanto
como a privao em si, constituam o momento para a ao direta.(1995-ps.216-217)

Para o historiador ingls, assim como falamos de um nexo do dinheiro surgido da


Revoluo Industrial, existe um sentido em que podemos falar do nexo do po no sculo XVIII.
Ou seja:

O conflito econmico de classes na Inglaterra do sculo XIX teve sua expresso


caracterstica no problema dos salrios; na Inglaterra do sculo XVIII, os trabalhadores
eram iniciados na ao mais impulsionados pela alta dos preos. [...] O mercado foi o
campo de batalha da guerra de classes na mesma medida em que chegaram a s-lo a
fbrica e a mina durante a Revoluo Industrial.(ibid-p.217)

Assim, podemos pautar estas lutas no plano do mercado como a busca do controle de
preos, baseadas na ao direta dos pobres. Sem dvidas, elas tm corte autogestionrio.
Thompson assinala uma onda de longa durao na Inglaterra, marcada por estes motins: Nos
anos que levaram a agricultura inglesa a um novo patamar, podemos assinalar uma cadeia de
motins, ou como os contemporneos as vezes os descrevem, de insurreies ou levantes dos
pobres: 1709, 1740, 1756-1757, 1766-1767, 1773, 1782 e, sobretudo, 1795 e 1800-1801. Como
podemos ver, um onda de longa durao quase paralela a que marca os anos da Revoluo
Francesa.

Thompson descreve a dinmica da indstria capitalista inglesa desta poca:

As fortunas das classes capitalistas mais fortes repousavam, em ltimo termo, na venda de
cereais, carne e l; e os dois primeiros artigos deviam ser vendidos, com pouca
interveno dos intermedirios a milhes de pessoas que compunham a legio de
consumidores.[...] No sculo XVII, a classe trabalhadora no vivia s de po, porm,
muitos deles subsistiam quase exclusivamente graas ao po (ibid-p.217).

4.3.1. Economia Moral e o Preo Justo


Thompson ressalta que a palavra motin um instrumento de anlise fraco para dar conta
dos fatos concretos e mesmo para descrever os movimentos populares.

Se buscarmos a frmula caracterstica da ao direta, deveramos tomar, no as disputas


nas padarias na periferia de Londres, nem ainda as grandes refregas provocadas pelo
descontentamento contra os grandes moinhos, mas os levantes populares (muito
especialmente os de 1740, 1756, 1766, 1795 e 1800) nos quais os mineiros do carvo e do
estanho,os teceles e operrios do calado oram os que se destacaram. O extraordinrio
nestas insurreies , em primeiro lugar, sua disciplina e, em segundo lugar, o fato de
que exibem um modelo de conduta cuja origem devemos buscar uns cem anos atrs.que
ganha mais complexidade no sculo XVIII; que se repete ,aparentemente de modo
espontneo,em diferentes pontos do pas e depois da existncia de muitos anos
tranqilos.A ao central neste modelo no o saque de gros nem o roubo de gro ou
farinha, mas o ato de fixar o preo.(ibid-p.255)

[...] Este modelo, retoma as medidas de emergncia de pocas de escassez,codificadas no


Book of Orders, entre os anos 1580 e 1630. Se esta legislao de emergncia se
desmoronou durante as guerras civis, porm, a memria popular, especialmente em uma
sociedade analfabeta, extraordinariamente ampla.(idem)

E que: Cabe pouca dvida de que h uma tradio direta que se extende desdo o Book of
Orders de 1630 aos movimentos dos trabalhadores padeiros no Leste e Oeste da Inglaterra durante
o sculo XVIII.

Thompson, ento, relata um destes movimentos. Primeiro, nos fala de uma copla fixada
na entrada da Igreja na parquia de Wye (Kent), em 1630, que adverte e ameaa os comerciantes:
cento e trinta anos depois (1768) se pregaram novamente folhas incendiarias nas portas das
Igrejas de parquias dentro do mesmo contorno de Scray,em Kent,incitando o povo a sublevar-
se.

Atravs de relatos da poca,Thompson descreve estas aes populares:

na sexta passada,ao toque da trombeta,se ps de p uma multido composta toda ela da


gente mais baixa,como teceles,menestreis,lavradores,aprendizes e crianas,etc.Se
dirigiram a um moinho perto do povoado [...] abriram os sacos de farinha e os
repartiram,os levaram e destruram o armazm,etc. [...] Se comportaram com grande
regularidade e decncia onde no encontraram oposio, sem freios e violncia onda a
encontraram, mas saqueram muito pouco, para evitar o que no permitem agora as
mulheres e as crianas que os acompanham.(ibid-ps. 258-259)
Prossegue, desta vez,o prprio Thompson:

Aps visitar os moinhos e mercados nos arredores de Gloucester, Stroud e Cirencester,se


dividiram em grupos de cinqenta e de cem,e visitaram as aldeias e fazendas pedindo que
se pusesse um preo justo ao gro no mercado, e entrando a fora nos armazens de gros.
Um grupo grande visitou em pessoa o sheriff, soltaram suas armas enquanto falavam de
seus delitos, escutaram com pacincia, gritaram alegremente Deus salve o Rei e depois
recolheram suas armas e voltaram ao trabalho de fixar o preo. O movimento teve, em
parte, o carter de greve geral de todo o distrito txtil: os amotinados entraram em
nossos talheres[...] e foraram a sair a todos os homens que queriam ou no unir-se a
eles.Foi este movimento extraordinariamente disciplinado e em grande escala.(idem)

Para Thompson,

O notvel a moderao, mais que a desordem. E no h a menor duvida de que estas


aes eram aprovadas por um consenso popular imenso; se sente a profunda convio de
que os preos devem ser regulados em pocas de escassez, e de que os exploradores se
excluem a si mesmos da sociedade.(ibid-p.260)

Thompson destaca que houve casos de aproveitadores que pegaram mercadorias sem
pagar. Contudo, existem abundantes testemunhos do contrrio, e alguns so impressionantes. o
caso dos encaixadores de Honiton que, em 1766, tiraram os gros dos agricultores, o venderam no
mercado a preo popular e devolveram aos agricultores, no somente o dinheiro, mas tambm os
sacos.

Os motins de subsistncia tinha por principal caracterstica que homens e mulheres a


ponto de morrer de inanio atacavam os moinhos e armazns de gros, no para roubar o
alimento, mas para castigar os proprietrios.

Outro elemento importante: As iniciadoras dos motins eram, com frequncia, as


mulheres. Southey, em 1807, escreveu que As mulheres esto mais dispostas a amotinar-se:
tm menos temor lei, em parte por ignorncia, e em parte porque abusam do privilgio de seu
sexo e, por consequncia, em todo tumulto pblico sobressaem em violncia e ferocidade.(ibid-
p.266)
Em relao aos anos de crise blica, 1800-1801, Thompson faz uma inflexo em sua
pesquisa:

Necessitariam um estudo parte. Estamos chegando ao fim de uma tradio, e a nova


apenas surgia. Nestes anos, a forma alternativa de represso econmica presso sobre os
salrios se torna mais vigorosa; h tambm algo mais que retrica sob a linguagem
subversiva: organizao operria clandestina, juramentos, os sombrios Ingleses unidos.
Em 1812, os motins tradicionais de subsistncia coincidem com o ludismo.(ibid-p.282)

Nas novas reas da Revoluo Industrial surgem outras formas de organizao.

O Mercado era o ponto em que trabalhadores sentiam com maior freqncia que estavam
expostos explorao,e era tambm especialmente em distritos rurais ou em distritos
fabris dispersos onde podiam chegar a se organizarem com mais facilidade...Os
confrontos no mercado,em uma sociedade pre-industrial,so, claro,mais universais que
qualquer experincia nacional,e os preceitos morais elementares do preo razoavel so
igualmente universais.(ibid-p 271)

E.P.Thompson conclui seu estudo: A economia moral da multido demorou mais tempo
para morrer: foi recolhida nos primeiros moinhos de farinha cooperativos, por alguns dos
socialistas seguidores de Owen, e subsistiu durante anos em algum fundo das entranhas da
Sociedade Cooperativa Mayorista.(ibid-ps 292-293)

Aqui,voltariamos a seu estudo sobre The Making of the English Working Class ,que
vimos acima.

4.4. Os Passeios de Flora Tristan (Os Novos Escravos: o Operrio e a Mulher)

Flora Tristan ficou conhecida, sobretudo, pelo seu trabalho sobre a UNIAO OPERRIA,
que antecede Marx em relao a uma viso internacionalista das lutas operarias. Mas F.Tristan fez
4 viagens ao corao do capitalismo e do industrialismo : a Inglaterra. Nestas viagens fez seus
Passeios nos bairros operrios da capital industrial da poca: Londres. Flora pode,ento,deixar
registrada uma denuncia feroz contra a condio degradante dos trabalhadores.

Seu livro chama-se Passeios em Londres.ou a aristocracia & os proletrios ingleses


(paris,1978), Dividiu sua obra em 7 captulos com seus respectivos contedos:

- A cidade e o meio - Partindo da anlise do fenmeno urbano, A Cidade monstra: onde


sociologia urbana e geografia se encontram para descrever a aglomerao e a diviso das funes
por bairro, o clima e o meio ambiente e as conseqncias conjuntas sobre as mentalidades: o
carter dos londrinos e os estrangeiros em Londres;

- O poder - Os captulos sobre os cartistas e uma visita ao parlamento mostram um par


radicalmente antittico. De um lado, o Parlamento do povo, honesto, digno e resoluto (onde as
mulheres so admitidas); do outro, o Parlamento oficial, dos ricos e dos opressores, assembleia
cnica e sexista;

- O Trabalho e a misria dos trabalhadores - O maquinismo e industrialismo (operrios das


manufaturas); moradia dos trabalhadores irlandeses; bairro judeu; insuficincia das maternidades;
salas de asilo; trabalho das crianas; alimentao;

- Os grandes males sociais - A prostituio e a deliquncia.

- Os costumes - Corridas de cavalo; estrangeiros; clubes; viagens; conforto; cultura;

- A condio feminina - as mulheres inglesas; e

- Os remdios - o socialismo de Owen.

Os Passeios so uma acusao inpiedosa contra a injustia da sociedade inglesa.Londres


vista como o microcosmo do mundo industrial moderno,lugar de ajuntamento de todos os
deserdados. Por exemplo,

O proletariado ingls, de qualquer profisso que seja, tem uma vida de tal modo atroz,
pior que a dos os negros que saram das habitaes-aucareiras de Guadalupe e da
Martinica em busca da liberdade inglesa em Domingos e Santa-Lucia, que voltam quando
podem para seus mestres. Longe de mim defender qualquer tipo de escravido! Quero
simplesmente provar por este fato que a lei inglesa mais dura para o proletrio que o
bom prazer do mestre francs em relao a seu negro;que o escravo da propriedade
inglesa tem, para ganhar seu po e pagar as taxas que lhe so impostas, uma tarefa
inifinitamente mais dura. (...) Cruelmente explorado pelo seu empregador, o operario
ainda pressionado pelo fisco e enfomeado pelos proprietrios de terras; quase sempre ele
morre jovem; sua vida diminuda pelo excesso de trabalho ou pela natureza de seus
trabalhos. Sua mulher e seus filhos no lhe sobrevivem por muito tempo; trabalhando na
manufatura, eles sucumbem pelas mesmas causas; se eles no tm ocupao no inverno,
morrem de fome!(1978-p.111)

A diviso do trabalho impulsiona ao extremo limite, e se traz progressos imenso


fabricao, tem aniquilado a inteligncia, para reduzir o homem a uma engrenagem das
maquinas.(idem)

Deve-se visitar as cidades manufatureiras,ver o operrio em Birmingham, em Manchester,


Glasgow, Sheffield, Staffordshire e outros para se ter uma ideiaideia justa dos sofrimentos fsicos
e o abaixamento moral desta classe da populao.(ibid-p.112)

A maior parte dos operrios no tem vestimentas, nem leito, nem moveis,fogo,alimentos
sos e mesmo batatas! Ficam fechados doze quatorze horas por dia em salas sujas, onde
se aspira um ar viciado, de fiadoras de algodo, de l, de cobre, de ferro, etc. e passam
freqentemente de uma alimentao insuficiente aos excessos da bebida; assim todos
estes infelizes so raquticos, fracos, sofredores; tm o corpo magro, os membros fracos, a
pele plida, os olhos mortos; todos parecem ter doenas de pulmo(...). difcil achar seu
ponto visual: todos tm constantemente os olhos abaixados e no nos olham (...) No
vemos nas manufaturas inglesas, o riso, as brincadeiras, as histrias, como nas nossas. O
mestre quer que um minuto da existncia possa distrair um minuto seus operrios de suas
tarefas; ele exige o silncio, e reina um silncio de morte.(ibid-ps.112 ,113)

Duas ideias estiveram sempre presentes no pensamento e na ao dos ltimos anos de


Flora Tristan: a reabilitao da mulher e a emancipao da classe operaria.Para ela,dois destinos
indissoluvelmente ligados.A Inglaterra lhe abriu os olhos sobre o infortunio dos operrios, parias
da sociedade inglesa, o trabalhador est reduzido a condio de escravo do proprietario,
escravo mais infeliz que o negro e o servo. Para Flora, a mulher a proletria do proletario.

O socialismo de Flora Tristan teve influencia fundamental de trs movimentos: Owenismo,


Cartismo, OConnell. A contribuio de Owen vem da necessidade de uma viso terica ampla
reunindo a analise do sistema econmico e social e o carter messinico que anuncia um mundo
melhor. Os Cartistas trazem na sua viso a base social: a classe trabalhadora. OConnel traz a
noo da Organizao associativa.

Assim, Flora faz uma critica severa aos socialistas utpicos.Tanto a Fourier quanto a
Owen,Flora acusa de que no organizam a classe operaria.Mas,tm um ponto em comum; O
trabalho associado o nico que pode assegurar os homens contra a opresso e a fome.

De Cabet, Flora diz que busca uma sociedade fechada que no pe de partida a questo da
unio da classe operaria. A ideia da Unio Operaria de Flora a de uma organizao
internacional constituda atravs de comites de correspondencia em todas as cidades da
Europa,mostrando,assim,a conscincia clara do carter internacional da classe operaria.A Unio
Operaria com hegemonia dos trabalhadores forma uma aliana de todos os oprimidos em torno de
si.

4. Os Comuneros de Nuestra America,1780

Antes da grande Revoluo francesa -1789,e da revoluo dos escravos na colnia


francesa das Indias Ocidentais de So Domingos , conduzida por Toussaint
LOuverture, em Nuestra America ocorreram sublevaes e revoltas .

E, fundamental o fato que estas lutas tinham certa correspondncia na


historia.Assim, CLR James que escreveu Os jacobinos Negros,sobre a revoluo
haitiana, analisa a repercusso dessa revoluo:

Uma outra pergunta permanece sem resposta : a mais realista e significativa


de todas. Toussaint Louverture e os escravos haitianos trouxeram para o mundo
muito mais que a abolio da escravido.Quando os altinos americanos viram que
o pequeno e insignificante Haiti podia conquistar e manter a independncia,
comearam a pensar qued everiam ser capazes de fazer o mesmo.Ption, o
governante do Haiti, ajudou na recuperao da sade do enfermo e derrotado

Bolivar: deu-lhe dinheiro, armas e uma prensa tipogrfica para auxili-lo na


campanha que culminou com a libertao dos Cinco Estados.(James.p.364).

A obra de German Arciniegas ,intitulada Los Comuneros , traa as lutas


ocorridas no continente americano ,incluso muito antes das lutas que vimos na
obra de E.P.Thompson, e tambm, da grande Revoluo francesa de 1789.

As sublevaes da plebe na segunda metade do Seculo XVIII indicam que muito


antes de ocorrer a guerra da Independencia havia no povo um fermento de
rebeldia e um desejo de emancipao que conduz a uma das maiores revolues de
Nuestra America (p.5).

Nos ltimos meses de 1780 ocorreram levantes em Simgota,Moroles e


Charal,porm a cabea do movimento foi a cidade de Socorro.(TeneNbaum.2006-
.p.174).Esse movimento aglutinou mais de 60 cidades.segundo TENEBAUM Criolos,
mestios,ndios, negros livres, conformaram a chamada Coalizo multitnica.Os
Criolos constituram a Junta chamada El Comum ,de onde veio o nome de
comuneros.

Para Arciniegas, Sem esse antecedente seria impossvel explicar a imediata


acolhida que se passou em 1810 aos caudilhos que fizeram o chamado para
guerra.O grosso das tropas libertadoras foi formado sempre pelas classes mais
humildes..

Para Arcinegas, Quem seguir a maior campanha de Bolivar ,quando saindo de


Cartagena em 1812 se dirigiu para Magdalena, remontou os Andes e veio at
Venezuela, no mais atrevido e surpreendente dos movimentos militares,se
admirar de como foram integrando-se a suas tropas negros , mulatos, andinos ou
cobrizos,que ao final de quase 3 seculos de domnio colonial, sem vacilar,
deixaram suas tradixionais tarefas para correr atrs das bandeiras da
revoluo(ibid).

Deste modo, A guerra foi a etapa final de um processo de meio sculo. Primeiro
ocorreu a revoluo dos Comuneros,em 1780...Como pano de fundo da sublevao de
1810, devemos,pois,considerar as revolues da plebe, com todo seu colorido de
montoneras iluminadas(p.6)

German ressalta tambm as derrotas: certo que os comuneros do Paraguai foram


vencidos, como ocorreu antes com Tpac Amaru no Peru,como tambm nos
levantamentos de Latacunga no Equador, como Galn na Nueva Granada sofreu um
horrvel suplicio,como nas revoltas de Mrida na Venezuela no sobraram que as
dores da recordao..

Mas,destaca os avanos :Mas, o que no se perdeu foi a esperana. O que ficou


flutuando e incitando foi o desejo.A plebe fracassou, e fracassaram os
ndios,porque careciam de lideres(ibid).

A Revoluo social de Tupac Amaru (1780-1781).

Fernando Mires,em sua obra sobre Las revoluciones sociales em America


Latina, destaca que o movimento de Tupac Amaru se situou no justo meio entre
dois processos; um, o da resistncia indgena tardia frente colonizao
hispnica; o outro, o da independncia politica das naes hispano-
americanas;ou melhor dizendo: foi ponto culminante de muitas tentativas
isoladas de resistncia e tambm o ponto inicial ou precursor da independncia
da America.(Mires.1988-p.15).

Mires ressalta que , O indiginismo ideolgico da revoluo se expressava


na exaltao de alguns valores que existiram em correspondncia com as relaes
sociais originrias.Isto quer dizer que a nova ordem que esta revoluo supe
no deve ser buscada em nenhum futuro desconhecido mas na prpria
tradio(idem-p.46)

Com isso, Mires aponta para existncia da comunidade indgena andina: O


recurso tradio se expressa tambm na exaltao das formas organizativas que
no passado foram prprias dos ndios.Destas, a principal o ayllu,ceula
primaria nas comunidades agrarias do Peru incaico.Literalmente o ayllu um
conceito que designaa grupos de parentesco endgenos vinculados a um territrio
comum(...).Sobretudo representava o ayllu para os ndios da etapa colonial a
ideia da propriedade coletiva da terra.Portanto, a saudade do ayllu era comum a
todas as fraes indgenas integradas ao movimento(idem.p.47).

Mires recorre a Arciniegas: So dias de indescretivel emoo, em que os ndios


creem por um instante que vo renovar-se, a reverdecer as arvores do ayllu para
que sob sua sombra protetora outra vez se congregue o povo dos incas em um
cordial e humanitrio comunismo(idem)

E que , Desse modo, associada ideia do ayllu surgiu uma ideologia


indigenista de traos igualitrios.(Mires-p.48)

Mires caracteriza o movimento tupamarista como uma revoluo social: foi


primeiro uma rebelio crioula-indigena, que no curso de seu processo se
transformou em uma revoluo indgena-popular(idem-p.49)

O objetivo central de Tupac Amarua era uma revoluo dupla: Dupla revoluo
em que uma, a dos ndios, estava contina em outra, a dos crioulos, mas que, no
cabendo nela, lutava para supera-la(...).No fundo, as duas revolues
emergentes apenas expressavam s diviso clara entre duas naes poptenciais.Por
um lado, a nao crioula,cujo ponto de partida se encontra s no perodo
colonial como resultado das relaes sociais originadas pelas prprias guerras
de conquista;por outro lado, a nao indgena, cujas origens remontavam a
sculos de historia sepultada e que mediante o ato da subverso pretendia
ressurgir(idem-p.38)

Utilizando instrumental terico gramsciano,Mires analisa o objetivo


estratgico:Tupac Amaru tinha por objetivo a construo de uma frente social
anti-Europa: Formar uma ampla frente social contra os peninsulares, partindo
dos interesses dos mais humildes...Desse modo, o bloco social antieuropeu
concebido por Tupac Amaru comeou a perfilar-se desde seu inicio como uma
rebelio popular hegemonizada pelos etor indigena(idem-p.37).

Por fim, Mires mostra que a utopia do movimento tupamarista no era


nostlgica:Tupac Amaru foi o porta voz de uma revoluo no somente
popular,mas tambm nacional,pois quem se levantou em armas foi a prpria nao
indgena.Todavia, no se deve pensar que Tupac Amaru buscava a ressurreio do
antigo imprio.Ao contrario, sua prpria formao ideolgica o fazia ver na
conquista espanhola um fato irreversvel.(idem-p.48)

Nesse sentido, foi mais um movimento de carter romantico revolucionrio.

5. OS CICLOS DE LUTAS AUTOGESTIONRIAS


Walter Benjamin afirmava que a historia dos oprimidos marcada pela descontinuidade e
a dos opressores pela continuidade.Essa descontinuidade se expressa no processo histrico atravs
de ciclos de longa durao.Nesse sentido,fazemos nossas as palavras de Mariategui:

A historia durao. No vale o grito isolado, por maior que seja seu eco; vale a predica
constante, continua, persistente. No vale a idia perfeita, absoluta, abstrata, indiferente aos fatos,
`a realidade mutvel e mvel; vale a idia germinal, concreta, dialtica, operante, rica em potencia
e capaz de movimento.(Amauta.1928.n.17.p.1.).

Essa idia (aristotlica ) de um ser constante, continuo,persistente, e,


germinal,concreta,dialtica,operante,rica em potencia e capaz de movimento extamente o
principio da autogesto comunal. a velha toupeira !

A idia de W.Benjamin nos lembra um depoimento em que Hans H. Holz,aluno e discpulo de


Ernst Bloch , nos relata uma visita que fez ao filosofo em sua residncia de Tubingen.

Holz define ,de inicio, uma viso da historia:

A historia se assemelha mais a uma acumulao de ruinas de esperanas destrudas, dispersas e


quebradas, que a uma lgica do progresso organizada de acordo com os estgios da superao.O
tema de Bloch no so os vencedores, mas os derrotados, os oprimidos, os humilhados e
ultrajados, que ,sem duvidas, engendram sinais que , em geral, j no podem ser apagados da
lembrana coletiva dos homens.(Holz.Herramienta.2007.p.49)

Em seguida, narra sua visita ao velho filosofo:

Quando visitei Bloch em Tubingen pouco antes de sua morte, a conversa, que durou algumas
horas, girou uma e outra vez em torno grande Revoluo dos Camponeses, e em torno a
revolues que fracassam (grifo nosso), mas que deixam algo humano que nos legado como
algo ainda incompleto, como uma promessa(ibid-p.50)

Na ocasio Bloch menciona a cano dos camponeses aps uma batalha perdida; Voltemos para
casa vencidos, nossos netos sairo melhor da luta (ibid).

Portanto, a dialtica da derrota e um tema inerente as lutas dos trabalhadores.

Nesta parte vamos nos basear em alguns teoricos que analisaram -alguns de modo
sistematico outros nem tanto- os ciclos das lutas operarias. Pela ordem trataremos as ideias de:

Joo Bernardo

Mario Tronti

Daniel Guerin
C.L.R. James

Mario Pedrosa

Beverly J. Silver

Ernst Mandel

1) Joo Bernardo em sua obra Economia dos Conflitos Sociais (escrita nos anos 1987-89 e
publicada em 1991), elaborou uma cronologia na qual podemos situar o arco temporal que nos
facilita a contextualizao.

Bernardo, fazendo uso de uma conceituao prpria, nos fala de Ciclos longos da mais-
valia relativa em contraposio aos ciclos curtos de mais-valia relativa. Estes ltimos se
caracterizam pela quotidiana assimilao das reivindicaes e presses dos trabalhadores, e, a
degenerescncia das formas de organizao da luta autnoma. J os ciclos longos se caracterizam
pela ascenso de formas autnomas de luta dos trabalhadores.

Bernardo caracteriza:

a fase de ascenso de formas autnomas de luta marca o incio de um ciclo longo de mais-
valia relativa. Os repetidos colapsos constituem, por si mesmos, o quadro em que essas
formas degeneram-se e so assimiladas pelo capitalismo, criando-se progressivamente
mecanismos que permitem a assimilao cada vez mais fcil e rpida das lutas do mesmo
tipo que venham a desencadear-se. Esta a segunda fase. Quanto mais solidamente a fase
de assimilao parece estar implantada, mais comeam, porm, a difundir-se novos tipos
de luta autnoma, cuja recuperao invivel no interior dos mecanismos j constitudos.
A generalizao destes novos tipos de luta marca o incio da primeira fase do ciclo
seguinte.(1991-p.352)

Bernardo acrescenta: Em termos muito genricos, a fase que considero de ascenso de um


dado tipo de luta autnoma corresponde s fases de recesso e depresso, sobrepondo-se fase de
assimilao plena s fases de recuperao e prosperidade.(idem)

Na cronologia que proponho, deixo numa data incerta da abertura do primeiro ciclo,
comeando a fase de assimilao em torno do ano de 1848, para se esgotar nos meados da
dcada de 1860, quando se passou ao segundo ciclo longo. Neste, a ascenso de novos
tipos de luta autnoma processou-se at o princpio da dcada de 1870, iniciando-se a sua
assimilao desde os meados dessa dcada at 1916 ou 1917. De 1917 at meados da
dcada de 30, teve lugar um surto ascensional de lutas autnomas, que foi plenamente
assimilado desde ento at os anos iniciais da dcada de 60. Com o comeo dessa dcada
inaugurou-se o quarto dos ciclos longos, cuja fase de ascenso das formas autnomas de
luta julgo ter em geral ocorrido at meados da dcada de 70, por vezes, mesmo tocando os
anos iniciais da dcada de 80, parecendo-me que entrou j na fase de assimilao plena.
(idem)

Portanto, resumidamente:

1. Abertura do primeiro ciclo: possivelmente 1830

Fase de assimilao: 1848 at 1864

2. Abertura segundo ciclo: 1870

Fase de assimilao: 1875 at 1916-1917

3. Abertura terceiro ciclo: 1917

Fase de Assimilao: 1930 at 1960

4. Abertura quarto ciclo: 1960 at 1975 e, mesmo 1980 at 1981

Fase de assimilao: 1982 at ....(idem)

Bernardo caracteriza o movimento Solidarnosc dos trabalhadores na Polnia, dentro deste


contexto: desde meados de 1980 at o final de 1981 agitou a totalidade da classe trabalhadora na
Polnia e que coroou esta fase de ascenso como sendo a fase de ascenso da autonomia, ao
mesmo tempo que parece ter constitudo por agora (1989), o seu ltimo perodo.(ibid-p.363).

Bernardo especifica os ciclos e caracteriza as lutas exatamente do perodo que cobre os


anos 60 e 70. Segundo ele, Cada segunda fase de um ciclo longo, pelas mesmas razes por que
constitui a assimilao das formas autnomas ocorridas na fase anterior, inaugura um novo quadro
de conflitos. Assim,

A partir dos incios da dcada de 60, generalizaram-se greves sugestivamente apelidadas


de selvagens, quer dizer, exteriores aos sindicatos oficiais, alheias aos mecanismos
institudos de recuperao dos conflitos. Com este movimento, inaugurou-se a primeira
fase do quarto ciclo longo. J na dcada de 50, vinham realizando-se greves, tanto na
esfera norte-americana como na sovitica, em que as burocracias sindicais eram
completamente ultrapassadas, mas foi apenas a partir dos primeiros anos da dcada
seguinte (60) que assumiram dimenses tais e uma to ampla difuso que permitem
defini-las como integrando um novo ciclo. Este movimento obedeceu a um crescimento
at conhecer, na FRANA, em princpios de 1967, uma etapa nova, com a ocupao de
uma empresa por mais de dez mil trabalhadores. Pouco mais de um ano depois, cerca de
dez milhes de grevistas paralisavam o capitalismo na FRANA, muito para alm de
quaisquer palavras de ordem das centrais sindicais, e cerca de cem empresas foram ento
ocupadas. A partir do final de 1968, porm, esboaram-se na ITLIA ocupaes que
incluam formas de organizao da produo e a partir de 1973 este tipo de movimento
atingiu um estgio superior, com clebres experincias na FRANA e, mais
generalizadamente, em Portugal de 1974 a 1975.(ibid-p.363)

Bernardo abre um campo de novas complexidades para as lutas contra o Capital:

Enfim, a crise de 1974 deu novo flego estrategia da mais-valia relativa, permitindo
aparentemente encetar a fase de assimilao. A experincia polaca de 1980-81 parece ter
sido a ultima fase ascendente da autonomia,correspondendo a presente dcada de 80 ao
comeo da segunda fase do quarto ciclo longo.Mas a assimilao destas formas de luta
assume hoje uma feio nova.(ibid-p.365)

2)Vejamos como o principal terico do operaismo italiano ,MARIO TRONTI, teceu


consideraes politico-metodolgicas sobre estes ciclos. Destacamos dois pontos: primeiro,o
mtodo de Anlise das lutas passadas, e, segundo, sua apreciao das Lutas dos operrios
americanos e o papel do marxismo.

Em sua obra magna, Operai e Capitale (1970),Tronti tem um ensaio intitulado Lnin na
Inglaterra (1964) ,em que comea afirmando Uma epoca nova da luta de classes est para se
abrir.Os operrios impuseram-na aos capitalistas com a violncia objetiva da sua fora de fabrica
organizada.(1970-p.93)

Aqui,Tronti,em janeiro de 1964, capta a conjuntura de lutas que viria em seguida e, localiza seu
centro : a fabrica organizada. E d o tom da dcada que comea: Tambm ns prprios
comeamos por ver primeiro o desenvolvimento capitalista e s depois as lutas operarias. um
erro. Tem de se inverter o problema,muda-lo de sinal,recomear desde o principio: e o principio

a luta de classe operaria.(idem)

Ao dizer que a sociedade tem suas leis de desenvolvimento,Tronti pergunta Mas e as leis
de desenvolvimento da classe operaria quem as descobrir ? O capital tem a sua histria, que
escrita pelos seus historiadores.Mas a histria da classe operaria quem a escrever? (idem)

Quando comeou essa histria ?

Se assim ,todos so obrigados a saber que pelo menos depois daquele ms de Junho de
1848 ,mil vezes maldito para os burgueses, os operrios subiram para o palco e nunca
mais o abandonaram: escolheram voluntariamente , de vez em vez, apresentar-se sob
diversos papeis,como atores,como sugerdores,como tcnicos,como trabalhadores
enquanto esperam descar platia para agreidr os espectadores.Como se apresentam eles
hoje nos palcos modernos.(ibid-p 94)

Do ponto de vista metodolgico Tronti fala de que Existem dois modos de encarar o lado
histrico da mudana da classe operaria depois de Marx:

O primeiro consiste num desenvolvimento cronolgico que avana passo a passo na reconstruo
dos grandes ciclos da luta operaria aps os anos sessenta do sculo passado,tendo atrs toda uma
serie de acontecimentos que fazem precisamente histria:

A histria da industria no capital;

A histria do capital na poltica;

Nas transformaes da camada poltica e,

ao mesmo tempo,as grandes teorizaes , aquilo que uma vez se chamou a histria do
pensamento,a primeira sociologia,a ultima forma de sistema assumida pela economia,o
nascimento de uma teoria cientifica a teoria do fato tecnolgico,como cincia do
trabalho,inimiga do operrio.

A periodizao da histria definida por Tronti no arco temporal de 1870 a 1914.


Contudo,Tronti adverte:

Desejando ser generosos, e no querendo revolucionar constantemente os hbitos mentais


do intelectual mdio,poder-se-ia mesmo aceitar fechar um primeiro grande bloco de fatos
nesta poca da sua histria.E da avanar em direo a ns, na direo das lutas
operarias novas,que produzem a verdadeira mudana poltica, ainda hoje no principio,na
nossa opinio.(ibid-p.299)
E,que,No entanto, h um outro modo,ou seja,o de um movimento atravs de grandes
ns histricos,com paradas em conjuntos de fatos macroscpicos,mas que ainda no foram
abrangidos pelo conhecimento critico do pensamento operrio e, portanto,longnquos de
uma compreenso de classe que permita a utilizao politica das suas conseqncias. Estes
ns, quando so importantes,isolam um aspecto fundamental da sociedade capitalista,dandod
ela,por assim dizer,um perfil vertical de respostas,quer poltico-institucionais,quer cientificas,quer
organizativas.(idem)

Tronti avana sua proposta metodolgica:

Quando,como um fruto raro num mar de circunstancias favorveis,um n se


isola,selecionando horizontalmente todas esasas linhas que saem de baixo para
cima,estamos ento diante de um modelo de histria,um perodo privilegiado para a
pesquisa,uma terra prometida de fatos,de pensamentos,de aes,com a explorao do qual
nos devemos preocupar.(ibid-ps.299,300)

Ento,Tronti define sua opo metodolgica pelo segundo modo:O fruto de experincias
praticas que da se pode extrair incomparvel com todo e qualquer relato cronolgico passivo de
transformaes indiferentemente ocorridas.(idem)

Avanando seu raciocnio Tronti diferencia caminhos:

A alternativa est entre a narrao como interpretao incorporada que a velha


pretenso do objetivo histrico- eo seu contrario: a interpretao como narrao
incorporada que o novo rumo da pesquisa poltica operaria. A escolha entre
histria e poltica, dois horizontes legtimos,porem,cada um para uma classe
diferente.(idem)

Tronti, ento, aplica a seu trabalho a perspectiva que escolheu como meto de pesquisa: a
narrao como interpretao incorporada. Para ele,

O ponto de vista operrio no tem qualquer interesse em definir,com o conceito de


revoluo,as transformaes do passado.O apelo a um precedente histrico,que
antecipe e prefigure os movimentos dos operrios, sempre um fato
reacionrio,conservador,bloqueador,temperador do prprio movimento dentro dos
horizontes de quem hoje controla o curso da histria,daqueles que dominam,portanto,o
desenvolvimento da sociedade. Nada mais estranho ao ponto de vista operrio do que o
culto oportunista da continuidade histrica,nada para ele mais repugnante do que o
conceito de tradio [grifos nossos].{ibid-p.271)
Para Tronti, Os operrios reconhecem como nica continuidade adas suas experincias
polticas diretas; uma nica tradio, a das suas lutas.(idem). Partindo dessas consideraes,
Tronti proclama: j tempo de por de p a histria operaria da sociedade socialista. (ibid-
p.272).Como no lembrar Walter Benjamin quando diz que A histria dos opressores
continuidade;a histria dos oprimidos descontinua?

Tronti busca apoio em Marx,afirmando que reconstruo terica e destruio pratica no


podem a partir desse momento,deixar de andar juntas,como duas pernas de um mesmo corpo,o da
classe operaria. Alm disso,

As revolues proletrias dizia Marx_ criticam-se continuamente a si mesmas;


interrompem em cada instante o seu curso; voltam aquilo que parecia j coisa acabada
para recomear de novo; so escarnecidas impiedosamente e sem respeito pelas meia-
medidas,debilidades e misrias das suas primeiras tentativas;parece que s derruba o
adversrio para que este tire da terra novas foras e se levante novamente mais forte em
face delas; retraiem-se continuamente,espavoridas pela imensidade infinita dos seus
prprios fins, at que se crie a situao em que se torna impossvel qualquer recuo e as
proprias circunstancias gritem : hic Rhodus, hic salta (18 brumrio).(idem)

Para M.Tronti esse o prprio conceito de revoluo e no o processo das revolues


proletrias;esta a revoluo como processo. Quantas afinidades com a ideia de Longa
Revoluo de R.Williams!

A aplicao da ideia de revoluo burguesa revoluo proletria, conduziu a runa


estrategia do movimento operario. Para Tronti, neste modelo, Os operrios deviam
demonstrar,pelos fatos,a sua capacidade de gesto econmica da sociedade capacidade
naturalmente muito maior que a dos capitalistas- e,nesta base,reivindicar a direo do Estado.Dai a
gesto operaria do capital como via emstra clsica- para o socialismo. Por vezes, o movimento
comunista tentou romper e destruir essa lgica social-democrata.(ibid-p.273)

Avanando sua analise, Tronti traa exemplos da diferena entre estes dois files do
movimento operrio:

Se existe uma histria interior classe operaria a reconstruir ao lado da do capital- ela
comportar certamente as duas experincias de organizao,mas no com o emsmo titulo
nem com o emsmo significado.

Com efeito,existe uma diferena de qualidade entre momentos diferentes da esma luta
operaria. O dia 9 de Agosto de 1842,quando 10.000 operarios marcham em Manchester
com o cartista Richard Pilling frente,para negociar na Bolsa de Manchester com os
fabricantes e tambm para ver como vai por ali o mercado, no domingo de 28 de maio
de 1871 em Paris,quando Gallifet manda sair das filas dos prisioneiros aqueles que tm os
cabelhos grisalhos,para os fuzilar rapidamente,porque tinham visto,alm de Maro de 71,
o Junho de 48. (...) Seja como for, certo que surge a articulao operaria do
desenvolvimento capitalista: mas ,da primeira vez caso de Manchester-,como indicao
positiva ao funcionamento do sistema, tal como ele e s para o melhorar,iniciativa que
s organizada por meio de instituies; da segunda vez caso de paris- como um no
gesto do mecanismo da sociedade e um no que reprimido com a violncia pura.

a diferena de qualidade que existe at no inetrior de um mesmo contedo operrio-


entre reivindicao sindical e recusa poltica. [grifos nossos](ibid-p.273,274)

A diferena entre os dois files: A social-democracia mesmo depois de conquistar o


poder poltico estatal,nunca foi alm dos limites reivindicativos de um sindicato face ao patro.
Por sua vez, O movimento comunista, em singulares esperiencias provisrias,bloqueou com a
arma partidria da no-colaboraa o desenvolvimento pacifico da inciiativa capitalista. Para
Tronti, a escolha entre os dois caminhos simples; o problema o preo, a nivel terico, que se
paga ao optar pelo caminho comunista. No h respostas para essa questo fora da luta dos
trabalhadores.(ibid-p.274)

Tronti refuta as ideias correntes nos anos 60 da nova classe operaria


(GORZ,MALLET,BELVILLE): Nada deve ser combatido com mais ferocidade do que a imagem
hoje corrente de uma nova classe operaria que renasce continuamente ,renovada e s, dos
diversos saltos tecnolgicos do capital,como de um laboratrio cientifico de produo.(ibid-p.
274).Para Tronti,

No o passado de revolta da classe operaria que se deve renegar,esse passado de


loucuras dessesperadas que foram sempre as suas insurreies,sob o signo da
violncia. preciso no cometer o erro dos frios cientistas da histria de liquidar ,como
revolta popular,todos os combates de massa em que se levantaram barricadas,e ir
procurar as verdadeiras lutas unicamente nas ultimas formas de contratao com o capital
coletivo.1848, 1871 e 1917 so luta de classe operaria ? Empiricamente-
historicamente- pode-se chegar a mostrar que no,que no o so,no limite do
desenvolvimento que justifique os objetivos propostos por aqueles acontecimentos.(ibid-
ps.274,275)
Neste ponto, Tronti clama ao cus: No entanto, experimentai construir o conceito de
classe operaria,a sua realidade poltica,sem os insurretos de Junho, sem os communards, sem os
bolcheviques: tereis nas mos uma forma vazia e,no papel,um modleo sem vida.A classe operaria
no ,com certeza,povo.Mas vem do povo! (ibid-p.275)

Tronti volta a flar da forma de luta da recusa,a forma de organizao do no operrio.


Segundo Tronti,

na histria operaria do capital possvel voltar a encontrar em germinao,desde o


inicio,desde que os primeiros proletrios se constituem em classe,estas formas de luta e
organizao.Mas, no seu pleno desenvolvimento,no seu real significado,s surgem muito
depois,,continuando em vida at hoje,como estratgia do futuro.E que, ao nvel mais
elevado do desenvolvimento,e no nos primrdios da histria,que se torna evidente o
contedo mais simples da verdade revolucionria; o capital no pode destruir a classe
operaria,a classe operaria pode destruir o capital.(ibid-p.277)

Aps as questes de metodo, M.Tronti passa a relao lutas-organizao, na Alemanha,o


terreno politico classico da luta operaria.Por exemplo: em 1913,5.672.034 jornadas de trabalho
perdidas nas greves operarias.(ibid-p.308).

Conforme o autor, Era o tempo em que as lutas andavam com sua inslita
violncia,vizinhas da sublevao,mas igualmente vizinhas e quase idnticas derrota.(ibid-
p.309).Tronti caracteriza os anos sessenta do seculo XIX como tempos de crescente rebeldia e
indisciplina:

entre 1871 e 72 h um crescendo de lutas,dos metalrgicos de Chemitz aos mecnicos da


Cramer-Klett de Nuremberg e at os 16.000 mineiros do Ruhr, descendo rua e gritando:
oito horas de trabalho e 25% de aumento de salrios.Em 1873,uma crise violenta abate-se
sobre a economia alem e os operrios defendem-se aguerridamente contra o desemprego,
contra o corte dos salrios [...].(ibid-p.309)

Tronti aponta o erro principal na estratgia da social-democracia:

ela tirou,objetivamente,a forma poltica do partido do contedo das lutas,que ela deslocou
a relao lutas-organizao para o terreno da pratica estatal e, portanto,,que usou as lutas
para crescer como poder alternativo,como potencia institucional de sinal
contrario,provisoriamente,como anti-Estado espera de se tornar governo.(ibid-p.310)

Tronti passa as lutas operarias,apoiado em obra de J.Kuczynski:

Abramos o terceiro volume da monumental Histria da classe operaria alem - de 1789


aos dias atuais (...),obra que despida da sua conceitualizao e da sua terminologia
apelo-marxista,constitui uma mina de noticias sobre a classe.Ano chave: 1889.O ano do
anscimento da 2 Internacional esta filha legitima da social-democracia e do capital na
Alemanha- v,de cada lado da Mancha,a greve dos estivadores ingleses e a greve dos
mineiros alemes.Aps as lutas dos 25.000 pedreiros e carpinteiros de Berlim,com a
plataforma horrio de dez para nove horas, saalrio de 50 para 60 pfenning,eis que
explode a vanguarda de massa histrica que sempre foram os mineiros: 13.000 no sarre,
10.000 na Saxnia, 18.000 na Silesia, 90.000 na Renania-Vestflia, todos parados,com o
exercito expedido contra os grevistas, cinco operrios mortos, nove feridos.(ibid-p.311)

Prossegue tronti,escavocando sua mina:

De novembro de 90 a setembro de 91, h uma trintena de greves com 40.000 operarios


em luta; na primeira fila os tipgrafos, os ingleses do movimento sindical alemo,com
sucesso legal nos horrios.

Entre 91 e 94, 320 greves,difusas ,pequenas e breves,com 20.000 operarios.

Em 95 e sobretudo em 96,outra grande onda em Berlim,no Sarre e no Ruhr.A media dos


conflitos favorveis aos operrios sobe de 55,5 a 74,7 por cento. H uma atmosfera de
vitoria operaria. A greve dos estivadores de Hamburgo,em 96, faz voltar a moda das leis
antigrevistas(...).Por sua vez, a greve de Crimmitschau,em 1903,tem um xito
diverso.Oito mil teceles param o trabalho durante cinco meses,em luta pelo salario. [...]

Os anos que vo de 1903 a 1907 conhecem uma intensidade de lutas emelhante sua
extenso quantitativa: a ponta situa-se em 1905, quando os operrios em greve so
370.000 e as jornadas de trabalho perdidas se elevam a 7.362.802..mas ainda em 1910 os
operrios em greve so 370.000 e as jornadas de trabalho perdidas 9 milhes. E assim se
passa,a um nvel um pouco inferior, at 1913.Sa estes os dados de Walter Galenson ,para
os anos de 1890 a 1917.(ibid-ps.311,312)

Aqui,Tronti sai da Europa para falar das lutas operarias na America.Mas,fazendo uma
comparao muito heterodoxa entre os dois continentes. Inicialmente,Tronti apresenta uma
hiptese: a luta operaria atingiu, em absoluto, o nvel mais alto do seu desenvolvimento durante
os anos que vo de 1933 a 1947,nos Estados Unidos.(ibid-p.316).
Lembremos que este o periodo que no Brasil correspondeu ao regime do Estado Novo
de Vargas,e,para nosso interesse aqui,do exlio de Mario Pedrosa,de quem vamos falar mais
abaixo.

Prossegue Tronti:

Lutas avanadas,lutas vitoriosas,lutas operarias de massa ou lutas de massa diretamente


operarias e mesmo simples lutas contratuais: tomemos uma experincia revolucionria
qualquer da velha Europa,confrontemo-la com este ciclo particular da America operaria e
saberemos assim os nossos limites,os nosos contratempos,as nossas derrotas,no melhor
dos casos os nossos atrasos subjetivos,no pior a nossa absurda pretenso de ser vanguarda
sem movimento,generais sem exercito,sacerdotes do verbo subversivo sem sapiencia
poltica.(ibid-p.316,317)

Vamos as lutas dos operrios americanos. Existem excelentes premissas de luta. Uma
onda tinha surgido mesmo no auge dos anos da guerra,transformando, sua maneira,a guerra
nacional,no em uma guerra civil, mas em luta de classe..(ibid-p.317). E,Tronti inicia sua tese
sobre a classe operaria americana:

O modo de comportamento dos operrios americanos durante as grandes guerras um


capitulo da histria contempornea ainda por escrever,por falta de coragem cientifica , por
receio de saber como so as coisas(...) A luta operaria nos seio da guerra capitalista um
grande fato poltico da nosa poca.No por acaso que o vamos buscar,por ausente na
Europa, no corao americano do sistema internacional do capital.(ibid-p.317)

E Tronti parte para os dados:

Se em 1914 e 15 o numero de greves fora de 1.204 e 1.593, j em 1916 o numero salta


para 3.789 e em 1917 para 4.450,respectivamente com 1.600.000 e 1.230.000 operarios
em luta.

parte o fabuloso ano de 1937,ser necessrio chegar a 1941 para voltar a encontrar
4.288 greves num ano, com 2.360.000 operarios,8,4% do total da fora-de-trabalho
empregada,extamente como em 1916: percentagem nunca alcanada at 1945, parte
outro ano fabuloso, 1919.

Em 1943,44 e 45 um crsecendo impressionante: numero de greves, 3.752 e 4.750;


operrios em luta,1.980.000, 2.120.000 e 3.470.000.

A intensidade da luta operaria durante a guerra s superada num caso,o imediato ps-
guerra,no momento da primeira reconverso das industrias blicas em industrias de paz e
de bem-estar civil.Pareceria que os operrios deveriam abster-se de criar dificuldades a
um propsito to humano...Vejamos.

Em 1946: 4.985 greves, 4.600.000 operarios fora do trabalho, 16,5% de toda a fora-de-
trabalho empregada.Em 1919: 3.630 foi o numero de greves, 4.160.000 o numero de
grevistas, 20,2% do total dos operrios ento empregados.

Do ponto de vista dos operrios,a guerra uma grande oportunidade para pedir mais.Tronti fala dos direitos
conquistados: direito de organizao, contratao coletivo por meio de representao sindical, contratos union shop e
open shop reconhecidos igualitariamente, paridade de pagamento para as mulheres, salrio mnimo garantido para
todos foram as conquistas do primeiro perodo da guerra.Consolidada a orgnizao,explorando as necessidades
nacionais doa dversario de classe as Unies ultrapassaram em 1918 os 4 milhes de filiados- eis que, j nos ps
guerra, o combate se desloca para o salrio.(ibid-ps 317,318)

Tronti faz a critica de uma viso centrada nas lutas da Europa e Asia:

Quando se fala em 1919,o militante revolucionrio pensa noutras coisas: na guerra civil
na Rssia bolchevique, na republica dos Sovietes na Baviera,na terceira Internacional e
em Bela Kun,e o nosso militante pensa em Turim,no Ordine Nuovo,nos Conselhos antes
das coupaes das fbricas.

Mas, Seattle um nome desconhecido e os seus mecnicos navais,coordenados por James


A.Duncan, que arrastaram durante cinco dias de greve geral 60.000 trabalhadores,nunca
so citados.No entanto,comeava ali um ano-chave das lutas de classe na America, que
por destino positivo da revoluo mundial era talvez mais importante do que todos os
outros acontecimentos euro-asiaticos em conjunto. (ibid-p.318)

Tronti considera estas lutas na America como que coisas de um Maio de 68, um pouco
mais serias, porque aconteceram meio sculo antes!. (idem).E que,

Estavam em greve mecnicos e ferrovirios,trabalhadores dos textis e


estivadores,industrias de alimentao e de vesturio.Chegou-se ao combate decisivo, no
terreno da matria ento fundamental para qualquer tipo de produo: ao e
carvo.350.000 operarios da siderurgia exigiam: contrato coletivo com aumento salarial e
jornada de trabalho de 8 horas.(ibid-ps.318,319)

A represso foi a resposta patronal. A caa as bruxas antioperaria(idem).Veio,ento,um


longo ciclo de descenso.

Seguiu-se um impressionante silencio das lutas da massa operaria,a seguir derrota dos 400.000
ferroviarios,em 1922,que se prolongou at 1929 e mesmo para alm. E Tronti pe a grande
questo da poca: Porque no houve um 17 em 1927? (ibid-p.320)

Os operrios no avanam reivindicaes e no as impem pela luta em duas nicas


ocasies: quandio obtm sem exigir e quando sabem que no podem obter.A ausncia de
grandes lutas de 1922 e 1923 teve portanto, duas motivaes diferentes nos dois perodos
diferentes,de 22 a 29 e de 29 a 33.(idem)

Tronti,aps essa bela exposio sobre a classe operaria americana,tira uma concluso
importante: temos que nos convencer que os operrios americanos tm sido ate hoje face
escondida da classe operaria internacional. A seguir, o autor acrescenta:

Para decifrar o vulto desta esfinge de classe que a histria contempornea pe ante ns,
preciso,antes de mais,completar todo o circulo do planeta operrio.As faces iluminadas
pelo esplendor das nossas revolues no tudo o que se h para ver.A noite americana
parece escura, porque olhamos o dia de olhos fechados.(ibid-p.321)

Sorte teve, assim, Mario Pedrosa ao se exilar nos EUA e poder estudar as lutas dos
trabalhadores americanos! Mario Tronti busca ento completar o circulo do planeta operario dos
EUA. As lutas e numero de operrios em greve sofreram grande peso da organizao nas
empresas:

[...] o pargrafo 7 ,do National Industrial Recovey Act, com o direito de os operrios se
organizarem e tratarem coletivamente dos seus assuntos por meio de representantes foi
aprovado em Junho de 33. Na segunda metade deste ano,o numero de greves foi idntico
ao de todo o ano precedente,os operrios em luta foram trs vezes e meia os de 1932.

Em 34, houve 1.856 greves, 1.500.000 operarios abrangidos,mais de 7% da populao


ativa.No ,portanto,elevado o numero de conflitos,mas nele participaram as grandes
industrias e as grandes categorias,os trabalhadores da siderurgia , os operrios do
automvel,os estivadores da Costa do Pacifico,os lenhadores do Noroeste,e na primeira
fila e com voz mais alta, quase 500.000 operarios txteis,com as reinvindicaes
seguintes:semana de trabalho de trinta horas, salrio mnimo de 13 dolares,abolio do
strech-out, do speed-up da industria txtil,e reconhecimento da United Textile
Workers.(ibid-p.321)
Os trabalhadores dos setores de ponta adentravam assim nos locais de trabalho.tronti relata
esse processo:

A palavra de ordem: organizar os desorganizados,isto ,entrar com o sindicato nas


grandes industrias com produo de massa,s se tornar possvel a partir do momento em
que,por parte da conscincia coletiva do capital,se abria a fabrica a um poder operrio
moderno, que contabalanasse o poder patronal, antiquado e atrasado. [...]

O ano de 1935 assiste ao nascimento simultaneamente,do Wagner Act e da CIO, vendo-os


vencer. Arranca o sindicato da empresa,entrega-o pela primeira vez ao operrio
comum.a identificao da figura do novo operrio-massa nas grandes industrias do ao,
do automvel, da borracha e da radio.S assim se explica que no fim de 1937 o numero
de filiados da CIO supere o da AFL.(ibid-p.322)

Vejamos os dados, em grfico que construimos: O despertar de 1936 tinha muitos


aspectos de um renascimento [...]. Surgiam novas sees locais na base do espirito de corpo que
unia os trabalhadores..a CIO contava com uma fora de 3.700.000 membros contra os 3.400.000
da AFL:

Setor Nmero de trabalhadores

Mineiros 600.000

Operrios da indstria de 400.000


automveis

Siderurgia 475.000

Txteis 300.000

Vesturio 250.000

Agrcolas 100.000

Indstria da alimentao 100.000

(Ibid-p.335)

Este quadro d um novo sentido e forma as lutas:

apareceu por meados de 1937: 4.740 greves num ano,cifra nunca atingida ate aquele
momento, um movimento ampliado,no massificado em grandes pontos,mas
ramificado em ns vitais da produo,com formas de luta inditas,com instrumentos
de presso de uma eficcia jamais experimentada.

Comeara pela fundao do Steel WorkersOrganizing Committee e,s com o sucesso


desta ao organizativa o Big Steel,essa fortaleza inexpubnavel da United State Steel
Corporation, obrigada a render-se: aumento de salrio de 10%,jornada de 8 horas ES
emana de 40.Foi a vez da Little Steel: 75.000 operarios viram-se obrigados a uma luta
durssima contra as companhias menores da produo siderrgica,com o massacre do
memorial Day,em Chicago (...).Mas,o ponto alto do combate teve lugar na industria de
automveis: por um lado, a mais potente unio sindical do pas, a United Automobile
Workers, por outro, as mais fortes corporaes do capital, a GM, a Chrysler e a Ford.A
sit-down strike fez a sua apario e,durante quarenta e quatro dias, a produo da GM
bloqueada,em Flint,Cleveland,Detroit e por toda a parte. Houve uma ordem para
evacuao das fbricas, mas foi ignorada; houve uma tentativa de irrupo da policia, mas
foi repelida.Solidarty for ever foi o slogan que uniu operrios e populao.(ibid-p.323)

Depois foi a vitoria: contrato coeltivo com a UAW como reconhecido. Irrompe esta
forma americana de ocupao de fabrica. Foi a vez da Chrysler ceder.S a Ford
resistiria ainda quatro anos antes do primeiro contrato coletivo,mas devendo conceder
nada mais nada menos do que o maldito closed shop.(idem)

A extenso quantitativa do numero de greves,tpica do ano 1937,crescia: os operrios da


borracha e do vidro,os operrios dos txteis,da otica e os eletricistas. [...] Chega-se
guerra com uma relao de foras vioentamente deslocada com vantagens para o lado
operrio. O que nunca tinha contecido,tornou-se desta vez possvel: a soluo da crise deu
poder aos operrios,arrancando-o aos capitalistas.(ibid-ps.323,324)

Tronti destaca o papel do 250.000 mineiros americanos,com Lewis a frente das lutas:

Em 1943 juntaram a sua fora organizada macia aos milhares de greves espontneas que
estalaram em todo o pas contra o governo e sem os sindicatos.Dai parte um novo
crescendo de lutas que invade os dois ltimos anos de guerra e o imediato ps-
guerra.1946 como 1919.Foi de quase 5.000 o numero de greves,quase 5 milhs de
operrios em luta, 16,5% de todos os empregados, 120 milhes de jornadas de trabalho
perdidas.Praticamente todas as industrias estiveram em conflito de trabalho.(ibid-p.324)

Tronti destaca os slogans da poca: o salrio de paz igual salario de guerra! E,o slogan
que voltaremos a encontrar um quarto de sculo depois nas ruas da Europa: sem contrato,
nenhum trabalho, 52 para 40 e a forma americana de controle operrio: uma olha nos
livros mestres!(ibid-p.324)

Enfim ,Tronti vai concluindo, a partir de sua metodologia, com a analise poltica da
histria operaria dos EUA:

Um episodio historicamente rico pela profunda sntese do passado, uma sntese


dos fatos fundamentais,dos elemetnos decisivos que a luta de classe tinha at ento
acumulado desordenadamente,encargo de um futuro ainda por arranhar politicamente (...)
Um fato da histria do capital que , ao mesmo tempo, uma ao poltica operaria.Tudo
isso nos quatorze anos que vo de 33 a 37.Tudo o que tnhamos encontrado separado em
diversos perodos e em pases diferentes antes dessa poca,vamos encontra aqui unificado
no n de uma nica rede global de fatos e pensamentos: (ibid-p.325)

A relao lutas-iniciativa poltica do capital;

A relao lutas-ciencia;

A relao lutas-organizao operaria;

Isto , a Progressiva Era, a poca de Marshall,a poca da social-democracia, confluem e


encontram-se juntas, juntas e reconhecendo como partes destacadas de uma nica
totalidade,precisamente nestes anos em que conclui,portanto, na America uma fase
clssica da luta de classe,que vai do ps-Marx primeira das nossas possibilidades atuais
do movimento.(ibid-ps.325,326)

Chegado a esse ponto da sua analise,Tronti parte para questo de mtodo:

Mas se lanarmos uma olhada para os resultados,vemos que aquilo que o novo
sindicalismo industrial (dos EUA) obteve durante o New Deal nunca foi obtido por
nenhum partido poltico da classe operaria.Os operrios americanos vivem ainda
sombra destas conquistas histricas. (...) Nesta altura, pode-se defender que a primeira
CIO foi a experincia mais avanada de organizao politica operaria possivel em terreno
americano.Levar a melhor num lugar em que falharam os Knights of Labor e Eugene
V.Debs,a American Railway Union e os IWW, De Leon e os comunistas,no era uma
tarefa fcil.(ibid-p.336)

Tronti destaca trs aspectos desse novo sindicalismo.

O novo sindicato era um fato de natureza poltica por trs razes:

1-porque surgia de um terreno de lutas operarias avanadas;

2- porque respondia a uma necessidade de uma nova organizao para uma nova classe
operaria;

3-e porque se chocava com uma grande inciativa do capital.(idem)


Tronti parte para critica a abordagem marxista das lutas operarias:

Por trs da escolha de uma organizao particular,pode esconder-se a resposta


contempornea pergunta de sempre : o que , em geral, a classe operaria ?

Postas assima s coisas, aqui que a abordagem marxista , da ortodoxia marxista do


problema operrio se revela gravemente inadequada.(ibid-p.337)

E proclama algumas tarefas : Mais: ler hoje, com Marx nas mos, as lutas de classe na
America,tornar-se to difcil que se diria impossvel.Seria fazer um trabalho interessante,um
trabalho novo de histria ou de nova teoria:escrever um capitulo sobre a sorte (ou infortnio) de
Marx na America.(ibid-p.338).

Para Tronti ,nos EUA, a respeito da relao marxismo e luta de classe, aconteceu algo
muito distinto do que ocorreu na Europa ,isto , uma mediao a partir das lutas x uma mediao a
partir da teoria.

Nos Estados Unidos aconteceu o contrario do que a ns.L,a iniciativa poltica do


capital,a sua cincia e,por outro lado,a organizao operaria,sempre viram Marx
indiretamente,atravs da mediao da luta de classe.

Na Europa,vimos sempre indiretamente a luta de classe atravs da mediao do marxismo

A situao americana foi objetivamente marxiana.Durante pelo menos meio sculo,at


o segundo ps guerra, Marx podia-se ler nas coisas , isto , nas lutas e nas respostas
que as lutas provocavam.No interessa,decerto,ir procurar nos livros de Marx a
interpretao das lutas operarias americanas,mas , ao contrario, talvez seja possvel
encontrar nestas lutas a mais correta interpretao dos textos amrxianos.Uma leitura
americana do Capital e dos Grundrisse recomenda-se a quem tenha o gosto ou o
gnio da descoberta critica.(ibid-p.338)

Sem dvidas, essa leitura americana foi tentada pela Tendncia Johson-Forester e, pelo
brasileiro Mario Pedrosa, ento ligado a essa tendncia operaria-marxista americana. E Tronti
parte para critica da viso da histria da ortodoxia marxista.
Tnhamos dito que existe uma esfinge modern, um enigma obscuro (...) que ,para o
marxismo contemporneo, a classe operaria americana.Pois aqui que preciso fixar
os olhos, profundamente, para tentar ver.

H uma forma de eurocentrismo limitado que est condenada: a de se referir unicamente


s experincias revolucionrias europias sempre que se procuram ou citam modelos de
comportamento correto na luta.

H que inutilizar a lenda segundo a qual a histria da classe operaria tem tido como
epicentro a Europa e a Rssia. uma viso oitocentista que se manteve at os nossos dias
em virtudae do ultimo jorro esplendoroso operrio,que foi entre ns,o primeiro ps guerra
e os primeiros anos vinte.

Fala-se de dois grandes files do movimento operrio

1= o social-democrata e

2= o comunista

Mas,qualquer dos dois na sua aparente irredutvel diversidade, acabam por se unir num
nico bloco, uma vez comparados ao movimento operrio americano.(ibid-p.341)

Deste modo,Tronti abre um terceiro filo? Lembremo-nos que Lnin, seguindo os passos
de Kautsky,falava das 3 fontes do marxismo: Inglaterra, Alemanha e Frana, excluindo os EUA. O
que na realidade no ocorreu com Marx: veremos como esteve ligado s lutas operarias da
America,sobretudo,para pensar a jornada de 8 horas em um capitulo do Capital.

Para abordar,segueTronti,a situao da classe operaria inglesa ou alem,da italiana ou da


francesa, basta v-las,precisamente,em completa oposio situao da classe operaria nos
Estados Unidos: so estes os dois verdadeiroos grandes files, as duas vertentes em que est
dividida a histria das lutas operarias,os dois pontos de vista particulares que so possiveis para o
futuro,dentro do ponto de vista operrio em geral,conclui Tronti.(ibid-p.341).

O que significa essa proposta? Hierarquizar os pases em relao s lutas operarias? No!
Ele pe alguns critrios dentro de sua metodologia:

Trata-se de ver como funcionam,respectivamente,no nosso contexto da luta de clsse,se


ajudam compreenso dos acontecimentos e se avanam,ou sugerem,ou excluem,
instrumentos de organizao de base na fabrica e meios de interveno ao nvel do
poder no vrtice do Estado.(ibid-p.341,342))
Sem dvidas, critrios que fazem parte do que chamamos de O Principio da Autogesto:
Deste ponto de vista [...] o que h de diferente nas lutas operrias de alm-oceano ,
precisamente, o que ainda temos que fazer no velho continente.(ibid-p.342)

M.Tronti insiste na sua ideia de que Os acontecimentos operrios da histria europia


esto literalmente submersos nas ideiaideias dos intelectuais marxistas. Mas os acontecimentos da
histria americana esto ali nus e crus,sem que ningum os tenha alguma vez pensado.(idem)

Tronti extrai outra lio da classe operria americana, explicitando os caminhos da luta de
classe:

Por um lado, os patres respondem as vitorias operarias com violncia e-ou na base do
simples acrscimo de rendimento[...]. No reside aqui o ponto real em que a vitria
operria se transforma em derrota, porque essa grosseira resposta patronal no faz seno
provocar a repetio de um ciclo de lutas ao mesmo nivel que as precedentes,
acrescido de uma grande carga de espontanesmo e, assim, uma necessidade menor de
organizao.(ibid-p.344)

E extrai lies de carter estratgico da luta de classes:

Por outro lado, existe outro caso em que a resposta patronal pode se definir como
avanada .O capital, mesmo depois de uma derrota parcial a seguir a uma simples batalha
contratual, violentamente pressiondao a ajustar contas consigo prprio, a repor em jogo
precisamente a qualidade do seu desenvolvimento, a propor de novo o problema da
relao como adversrio de classe, no de forma direta, mas mediatizada por um tipo de
iniciativa privada que implica a reorganizao do processo produtivo e a reestruturao
do emrcado, a racionalizao da fbrica e a planificao da sociedade, chamando em sua
ajuda a tecnologia e a poltica, novos modos de consumo do trabalho e novas formas de
exerccio da autoridade. Aqui reside o grande perigo de uma posivel derrota operria. Os
operrios venceram a batalha contratual e, precisamente por isso, podem perder a guerra
da luta de classe durante um perodo histrico porventura longo. A Amrica ensina
exatamente isso.(ibid-p 345)

Nesse pargrafo acima, Tronti captou de forma profunda a dialetica que vai caraterizar a
resposta do capital aos avanos e vitorias dos trabalhadores nos anos 1960 e mesmo 1970: o
processo de mutaes nos mundos do trabalho da dcada de 1990.

Anteriormente, Tronti havia analisado a questo da derrota:


[...] Na luta de classe moderna, pode-se dizer que nunca h vitorias nem derrotas
decisivas: quando os operrios vencem uma batalha parcial,do-se conta mais tarde,de a
terem ganho por conta do capital. Quando os capitalistas desafiam a classe operaria para o
enfrentamento aberto, para vencer o movimento poltico no terreno, pagam depois esse
xito momentneo com longos perodos de passividade que o trabalho vivo introduz
como resposta no mecanismo econmico.As leis de movimento da sociedade capitalista
no permite que uma classe elimine a outra.Enquanto existir capital,tm de existir no
seu seio ambas as classes e estas tero de lutar. O ponto de vista operrio parte do
principio que, quando houve luta,esta nunca foi intil [...] Todavia, preciso no esquecer
que a recusa da luta , pode ser, em certos casos, uma forma de luta.(ibid-p. 232)

Enfim, M.Tronti finaliza esse capitulo com a seguinte observao:

Apesar de tudo o que dissemos, as lutas operarias americanas deviam,talvez,


primeiramente, ser traduzidas em linguagem europia,para que o ponto devista operrio
tomasse verdadeira conscincia delas.Esta romada de cosnciencia ,sobretudo,destrutiva
de uma tradio. Para construir, necessrio atirar para trs das costas esse nosso
processo de lutas operarias clsicas, entretanto, com a antecipao da pesquisa, na nossa
poca ps-clssica, ao termo da qual, se a histria do capital nos ajudar, no fica
excluidoo que bossa brotar a centelha de uma teoria geral da parte operaria.(ibid-p. 350)

O militante libertrio francs, Daniel Guerin, deixou um livro em que analisou O Movimento
operrio nos estados-Unidos de 1866 a nossos dias.Em sua obra publicada em 1950, por Ls
temps Modernes,em 2 volumes ,com o titulo : Ou va L Peuple amricain ? , encontramos um
capitulo chamado de La Revolte ouvrire. Esse capitulo foi republicado por Franois
Maspero,em 1968 e 1977, com o titulo que acima citamos sobre o Movimento operrio norte-
americano.
Podemos afirmar que, de certa forma, e nos anos 1950, Daniel Guerin realizou o pedido de
Mario Tronti, ou seja, uma leitura europeia da classe operria da Amrica, mas , uma viso
libertria, com elementos do princpio da autogesto. Super interessante para nosso objetivo,
pois essa viso porta afinidades com a autogesto de Pedrosa e com a autonomia em Tronti.
Entretanto, da obra de Guerin vamos estabelecer um foco: a crise da AFL e sua substituio pelo
sindicalismo industrial da CIO.

6.1. FUNDAO DO CIO


Os dirigentes que refundaram o sindicalismo norteamericano eram
pragmticos;entenderam que a crise econmica e o afluxo em massa de trabalhadores aos
sindicatos tornavam possivel a organizao dos operrios dagrande industria,com base em um
sindicalismo industrial. Primeiro tentaram pord entro da velha AFL,depois de muitas tentativas
fracassadas,tentaram uma nova organizao.

Guerin diz que uma arma a favor do sindicalismo industrial foi o progresso tcnico.
Operarios mais qualificados, ento, por exemplo, a FORD declara que 43% de seus diferentes
empregos exigiam apenas um dia de aprendizagem. 85% dos trabalhadores da Ford podiam
alcanar sua qualificao mxima em menos de 2 semanas. A produtividade crescie de forma
galopante: na construo, uma maquina escavadora manobrada por um s operrio realizava o
trabalho de 44 homens.Portanto, a estrutura do sindicalismo de oficio no se adaptava a estas
mutaes tcnicas.(1977.paris-p.79)

Enfim, em 1936, ocorreu a ciso no movimento sindical. Em 1938, foi fundado o CIO.
Mais de 1 milho de trabalhadores se filiam. A tarefa principal era a organizao dos
desorganizados. Essa mudana ocorreu numa conjuntura de lutas operarias. Com o New deal
melhorou a conjuntura econmica;diminuindo o desemprego,aumentando o credito,os
trabalhadores eram mais numerosos nas fbricas e podiam reivindicar melhores salrios. Mas,esta
situao se chocava com o reacionarismo patronal.(ibid-p.81)

A reeleio de Roosevelt,Nov.1936,cria mais aberturas polticas. Neste momento muda a


legislao sindical; em 5 julho de 1935 foi lanado o Wagner Act, lei do senador Robert Wagner
(National Labor Relations Act): esse Act confirmava o direito para os trabalhadores de se
organizar livremente,de negociar coletivamente e fazer greve.

Um movimento de ocupao de fbricas comea no ramo da borracha, na Akron de


Ohio, a capital do pneu. As ocupaes de fbricas ocorrem num contexto poltico anlogo ao que,
na Frana, meses depois, foi criado pela vitoria da Frente Popular com a eleio de Leon Blum.
No final de janeiro, os operrios da Firestone entram em greve e ocupam a fabrica. Segundo
Guerin, essa ttica nova,com objetivo de prevenir a entrada de fura greves na empresa,parece ter
sido ensinada por um operrio impressor hngaro ou servo. Ela foi batizada de sit-down strike
(greve no cho). Aps apenas 2 dias a greve foi vitoriosa. Dias aps, nova greve tipo sit-down nas
fbricas Goodyear e Goodrich.(ibid-p.84)

Guerin assinala o movimento das greves sit-down: Akron tinha lanado o movimento.
Flint asegue. Flint (Michigan) era aps Detroit, o segundo centro industrial automobilstico
americano e o reino da toda-poderosa General Motors. A greve vitoriosa. As sit-down surgiram
no fim de 1936. Nas diversas fbricas da GM, o patronato no negociou. Os trabalhadores se
rebelam: para Guerin, a rebelio foi uma combinao ntima de espontanesmo e de clculo; a
fora potente da massa associada perfeitamente com a direo esclarecida de uma minoria de
tcnicos sindicalistas. Foi um movimento ao mesmotempo democrtico e centralizado. (idem)

Foram ciados Comits de Greve com muito poder. As decises eram tomadas em
assembleias, controladas diariamente pelos grevistas. Os dirigentes eram operrios recm saidos
da produo e ainda no tinham tido tempo de se diferenciarem da base.

E D.Guerin coincide em seu juzo, tanto com M.Tronti quanto com M.Pedrosa:

os dois fatores detoda ao revolucionria espontaneidade e conscincia estavam


conjugados. As sit-down,bem que menos politizadas,foram melhores coordenadas que
as ocupaes de fbricas na Frana.O movimento operrio americano,que foi qualificado
na Europa de retardatrio,oferecia assim um modelo seguir pelo proletariado do
mundo todo.(ibid-p.87)

Essa epidemia de greves siy-down alcanou seu apogeu em maro 1937, poca em que
participam 200.000 trabalhadores. Como resultado destas greves especiais, a Corte Suprema dos
EUA valida o Wagner Act.(ibid-p.89)

4) Antes de entrarmos na viso de Mario Pedrosa sobre as lutas operarias americanas,passemos


um breve olhar na cahamada Tendencia Johnson-Forester (codinomes,respectivamente,de CLR
James e Raya Dunayevskaia).essa Corrente teve grande influencia na viso de Pedrosa
e,tambem,na de Tronti.

Segundo Harry Cleaver (Uma Lectura Politica de El Capital-1979), A Tendencia


Johnson-Forester surgiu pela primeira vez em 1941 dentro do Partido dos
Trabalhadores,Trotskista, que se separou do Partido dos trabalhadores socialistas ( ligada a IV
Internacional) em 1940. Nos anos 40,tanto James quanto Dunayevskaya realizaram estudos
intensos sobre a natureza do regime na URSS e sua relao com o capitalismo ocidental,e,iam se
distanciando cada vez mais da viso trotskista sobre a revoluo russa.

Concluiam suas teses classificando o sistema da URSS como Capitalismo de Estado.

Em State Capitalism and World Revolution (1950), sua principal obra politica, James
analizou o modo de produo existente nos EUA e defendeu que o surgimento do taylorismo e do
fordismo anunciavam uma nova afse da luta de classes. James percebeu que as novas tecnologias
(automao e informtica) constituiam novos mtodos de dominao;mas,tambm que, abri
possibilidades imensas para o poder dos trabalhadores.Analisou a luta dos trabalhadores
americanos contra a burocracia sindical e a automao.(Cleaver.1979-p.136)

Em 1956,quando da revolta dos trabalhadores na Hungria e Polonia,James apoiou os


Conselhos Operarios. Segundo Cleaver, Quanto a natureza das novas frmas de organizao
apropriadas para a nova poca, James e sua Tendencia observaram os movimentos dos prprios
trabalhadores:

As grandes organizaes das massas populares e dos trabalhadores observadas no passado


no foram forjadas por nenhuma elite terica ou de vanguarda.Estas organizaes
surgiram da expresso de milhes de pessoas e de suas necessidades de superar as
presses intolerveis que a sociedade lhes tinha imposto durante geraes...As novas
organizaes surgiram como surgiu o Partido Nivelador de Liburne, como as sees e as
sociedades de Paris de 1793, como a Comuna de Paris em 1871 e os Soviets em 1905,sem
que ningum tivera uma ideia concreta a respeito ate que apareceram com todo seu poder
e gloria.(ibid-p.140)

Porem,enquanto temos uma perspectiva historica clara podemos ver bosquejos do futuro
na rebelio ocorrida em 1953 na Alemanha oriental,a grande greve de Nantes de 1955, a greve
geral contra Reuther da UAW...a incrvel luta de dez anos dos ALIJADORES britnicos e agora,
quando escrevo estas linhas,a dos trabalhadores de Coventry...Todas estas lutas ,com sua
diversidade d amplitude e significados,tm algo em comum: Que encarnam formaes e
atividades que transciendem ou conscientemente tratam de substituir as organizaes tradicionais
dos trabalhadores por novas formas sociais.Por muito que se elevem,estas lutas se baseiam nas
organizaes da oficina e na ao desenvolvida no trabalho.(idem)
Eis a linha mestra da viso da Tendencia, e que tanto marcou Pedrosa, Tronti e, tambem,
Castoriadis.

6.2. AUTOGESTO E AUTOMAO

Vimos como Mario Tronti,em Operrios e Capital, reunindo ensaios dos anos 70, afirma que
tinhamos dito que existe uma esfinge moderna, um enigma obscuro, (...) que para o marxismo
contemporneo, a classe operaria norte-americana. Pois aqui preciso fixar os olhos,
profundamente,para tentar ver(ibid-341). (...) Os fatos operrios da histria americana esto ali
nus e crus , sem que ninnguem os tenha alguma vez pensado.E,acrescenta que Uma leitura
americana de O Capital e dos Grundrisse recomenda-se a quem tenha o gosto ou o gnio da
descoberta critica.(ibid-p.338)

Um brasileiro, Pernambucano, exilado nos EUA nos anos 30-40, realizou essa tarefa, pois,
Mario Pedrosa no apenas tentou ler os EUA luz de O Capital e dos Grundrisse, como
analisou profundamente e formao e as lutas operarias daquela poca. Com certeza Tronti no
conhecia a obra de Mario Pedrosa A Opo Imperialista(1966).Neste trabalho Pedrosa faz uma
analise profunda das lutas operarias nos EUA. Mesmo que o operaismo italiano tenha recebido
fortes influencias da Tendncia Johnson-Forester, a qual Pedrosa foi ligado em New York.

A Opo de Pedrosa tem o sentido e o esprito da obra magna de CLRJames, porem,


claro, pelas condies da poca, menos sistemtica. James, em seu exlio nos EUA,para o qual
foi junto com Pedrosa,j que ambos foram delegados na Conferencia que fundou a IV
Internacional na periferia de Paris,em 1938.Neste mesmo ano Pedrosa e James foram deslocados
para os EUA. James ai residiu ate 1953,quando foi expulso.James analisou a Civilizao
Americana em obra do mesmo nome. Uma pesquisa demorada,longa e publicada aps sua morte
(1989),em 1993.

Vejamos, ento , a analise de Mario. Ele inicia caracterizando o momento:

A NOVA REVOLUO tecnolgica levanta problemas de inteira originalidade. A


classe operaria clssica foi o primeiro agrupamento social a sofrer coletivamente o seu
embate.Seu peso especifico na produo tende a cair; nas relaes de foras sociais em
presena,se ainda o maior bloco em face de outros agrupamentos e sobretudo em face
das estruturas emsmas da sociedade, no cresce, verifica-se at certo declnio estatstico
relativo em todos os pases de produo em massa: os grupos de empregados de
escritorioss,sevios,comercio ,pequenos funcionrios,agentes,tcnicos,engenheiros e
similares cresceram mais do que ela.(M.Pedrosa.1966-p.496)

Para Mario , classe operaria repugna a automao. O processo de trabalho alterado de alto a baixo.
Onde a automao entra numa usina, os trabalhadores j no esto em conjunto com as mos nas alavancas de
comando para faze-la parar,se asasim lhes parecer til(ibid-p. 500)

E que , Em varias regies dos Estados unidos o processo ou reduo da mo-de-obra


industrial ou sua disperso,ou reduo e descentralizao juntas,tem sido de tal violncia a ponto
de transformar zonas geogrficas inteiras marcadas pelo desemprgo macio e duradouro.(ibid-
p.492).

Ou ainda que O ncleo central de desemprego formado em sua maioria de operrios


fabris mas tambm de contabilistas, estatsticos, secretrios, mecanografos substitudos pelas
maquinas eletrnicas(ibid-p. 505)

Pedrosa diz que

O maior acontecimento da histria operaria americana foi o advento da CIO (Comisso


para a Organizao Industrial),liderada pela pitoresca e formidvel figura de John Lewis,o
chefe dos mineiros.Com ela chegaram os trabalhadores da grande industria,como um
todo, cena histrica dos estados Unidos.Foi ela quem abriu as portas feudais das grandes
corporaes ao direitos dos operrios l dentro se organizarem livremente em
sindicatos.Com efeito,graas a ela o movimento sindical moderno americano tornou-se
fora social autnoma,fora poltica,mesmo,decisivo instrumento de progresso
econmico,social,tecnicologico,poltico,democrtico da sociedade americana ao sair do
provincianismo do inicio do sculo para a gesto mundial.(ibid-p.444)

Mario fala da luta dos operrios da Chrysler:

As vantagens conquistadas foram importantes e os turiferrios da Chrysler quase choram


porque os benefcios concedidos iriam custar empresa cerca de cinquenta e sete
centavos por hora por empregado,(...) E,finalmente, vitoria dos 12 minutos a mais por
dia,acrescidos aos 24 j assegurados,para os operrios, verca de 20.000,que trabalham nas
linhas de montagem.esse aumento de doze minutos em tempo de descanso foi a
reivindicao mais difcil de ser arrancada (...) Esses doze minutos eram o ponto
nevrlgico da disputa entre os dois lados(...)Para os operrios no se tratava de uma
questo de salrio, mas de fugir ao ritmo e vontade mecnica da maquina.(ibid-p.445)
A partir d seus contatos com a Tendencia Johnson-Forester e dos estudos da obra de Marx
(O Capital e Grundrisse) Mario aprofundou a analise das lutas operarias americanas frente
automao, destacando o aspecto da possvel gesto operaria da produo: Os inquritos nas
fbricas e oficinas sobre o comportamento dos operrios nas linhas de montagem ou em relao
automao no so s numerosos como penetrantes ;todo um ramo psicolgico e sociolgico se
formou,indispensvel a quem quer que pretenda interessar-se pelo assunto3. (ibid-p. 444)

Mas, diz Nosso fim aqui no este. Aqui nos baste fazer pequena indagao para
caractrizar a situao dos trabaljadores americanos diante do surto prodigioso deprosperidade e
das contradies do trabalho organizado em face da intensificao tecnolgica da industria. Os
trabalhadores esto preplexos ,inseguros esse mostram combativos,no visam precipuamente ao
aumento de salrios.. (idem).

E Mario aponta o exemplo da luta acima citada na Chrysler.

A partir da obra de Jack Barbash, Mario periodiza a histria das lutas operarias
norteamericanas:

Nos idos de 30,a nota dominante no tnus das relaes idnustriais era o reconhecimento
dos sindicatos; no perodo da Guerra, era salrios; no imediato ps-guerra,beneficios
secundrios,com especial nfase sobres eguro de vida e penses.O leitmotiv das relaes
industriais contemporneas eexpresso por uma variao ou outra das mudanas
tecnolgicas e seu equivalente popular, automao. [...] As mudanas teconologicas de
nossa poca. J obrigaram a uma inverso de posies estratgicas entre o trabalho e o
capital. (ibid-p.449)

Para entender esse processo entre Capital x Trabalho,Mario busca apoio no Livro Primeiro
de O Capital:

Mas at hoje no se viu a produtividade intensa e tcnica do capitalismo tenha


determinado espontaneamente altas salariais sucessivas para manter a participao dos
salarios mais ou emnos constante no total da produo crsecente. [...] imposivel
estabelecer uma relao fixa ou constante entre a taxa de desenvolvimento da
produtividade e a taxa de aumento salarial.Nem mesmo com todos os computadores
eletrnicos em funo plena (sem mau humor),essa relao
ideal,constante,automtica,pode ser encontrada.Marx colocou o problema em termos
histricos culturais que continuam ao fim de contas a prevalecer em sua essncia.(ibid-

3
Em outro momento, Mario far referencia obra de George Friedmann,pioneiro na sociologia do trabalho.
ps.451)

Mario,ento,mostra o carter social da tecnologia:

[...]Quando o mais alto capitalismo enfrenta o operariado menos politizado e mais


emprico e realista do mundo,numa questo de doze minutos a mais sobre 24 para o
cafezinho,para seus operrios os mais bem pagos do mundo- espairecerem em meio
jornada de trabalho,a relao real,oculta nos clculos dos computadores eletrnicos, se
desnuda sem seus elementos histrico-culturais; suas raizses sociais vem tona.(idem)

Quais desafios a automo trouxe classe operaria na poca? Mario ressalta o momento
sindical dos EUA, destacando as mudanas provocadas nas lideranas:

Um sentimento embrionrio de insegurana tende a generalizar-se,produzido pelos


desafios tecnolgicos (informo,automao) e por motivos de renovao dos quadros
da liderana superior dos sindicatos, j envelhecida para os tempos novos com questes
inteiramente novas e para a qual aqueles quadros,com excees,no esto
preparados.(ibid-p.456)

Os novos tempos e desafios pem segundo Pedrosa novas questes: O que est em jogo
o destino daqueles operarios livres de que falava Marx,no processo da produo
capitalista.(ibid-p.457).

Mario, numa linha de seu amigo trindadiano CLR James,analisa aspectos da civilizao
americana.Vamos ver,nessa longa citao,que Tronti ficaria maravilhado com o estudo de
Pedrosa.Inicialmente,Pedrosa analisa a formao da casse promida:

O proletariado americano,depois de sua fase das fronteiras abertas, em que o imigrante


desembarcava em Nova Yorque e pegava da picareta que o outro,anteriormente
chegado,deixava ali mesmo no local onde trabalhava para penetrar tambm as
fronteiras,tornando-se bodegueiro,pequeno lavrador,produtor independente, teve
formao histrica j moderna.Comeou a formar-se como operrio livre na base de
umaorganizao corporativa profissional cujas tradies ideolgicas vinham de
minoria que se sentia separada do resto da sociedade aberta e catica de ento,
extremamente combativa,vilenta por vezes,em face de um patronato desabusado,seme
scrupulos, vido de acumular fortunas,em plena fria da acumulao primitiva, um baro
salteador. Mas a todos dominava o que era peculiar atmosfera americana: os aspectos
abertos de fronteiras que se alargavam de dia para dia,oferecendo oprotunidades e
aventuras para os que se arriscassem. Os operrios, mesmo os mais
radicais,frequentemente largavam,um belo dia,o martelo para ir montar negocio por conta
prpria no condado vizinho (ou distante).Walt Withman cantava: I celebrate myself.
(ibid-p. 457)

Mario passa analise da formao da classe dominante americana:

Uma aristocracia fechada e em regresso, uma burguesia abertssima,apodrecendo numa


ponta,reverdejando na outra,uma agricultura de pioneiros ou cansados,de imigrantes
recm-chegados,de boiadeiros de duvidosa probidade,aventureiros de minas e
contrabando,tinham diante delas uma formao operaria que nas cidades ,nos seus
slums,vivia contudo como nas selvas ou nos confins com o Mxico.(ibid-ps .457,458)

E,analisa a relao de classe:

A grande industria moderna pegava de aluvio quem aparecesse no admitia qualquer


sinal de organizao deassalariados dentro dela.Uma verdadeira policia interna fora
organizada para liquidar totalmente qualquer vislumbre de organizao e resistncia de
seus operrios.E entre esses os que teimassem,que assumissem qualquer veleidade de
lder,a lei era despedi-los sumariamente,s vezes jogando para fora dos portes da
fabrica,ou da mina,ou da usina o que insistisse; a surra,o espancamento tambm eram
aplicados.Nos casos extremos de incidncia,o sumio ou o assasinio.Nessas condies
organizavam-se apenas os quadros do operariado
qualificado,tipgrafos,alfaiates,padeiros,pedreiros,sapateiros,maquinistas,ferreiros,senhor
es deum oficio,em suma. [...] A American Federation of Labor-AFL acolheu todos esses
grupos corporativos,reuniu-os,tornando-se a primeira grande central operaria do
pas.(idem)

Mario prope queimar as etapas histricas:

Quando veio a Grande Depresso,em meio a milhes e milhes de desempregados,o


sindicalismo moderno e revolucionrio surgia nos Estados Unidos,so o lema que
opunha ao principio mesmo da organizao da velha AFL uma industria,um sindicato e
no uma profisso,um sindicato-O novo principio respondia s necessidades da
reorganizao dos trabalhadores num novo contexto industrial capitalista a produo em
massa.(idem)

Foi possvel,ento,por exemplo,ao Sindicato dos traballhadores de Automoveis,nascido


em 1933,falar por todos os assalariados da Ford Corp. ou da GM,ou ao Sindicato dos
Traballhadores do Ao falar por todos os operrios da United Steel Corp.,da
Bethlehem,etc.

O Comite pela Organizao Industrial nasceu dessa exigncia dos tempos.E dos flancos
da AFL.Em 1937,tem a sua grande vitoria: depois de uma greve de ocupao (
modalidade de luta nova no movimento operrio ) das fbricas da GM, ele arranca da
grande corporao a assinatura de um contrato coletivo.

Pouco depois, arranca outro United States Steel. (idem)

Contrariando analises da epoca, Mario se aprofunda nas lutas operarias para mostrar como
os sindicatos e os trabalhadores lutam por mais que aumentos de salrios. E segue de perto, nos
anos 60, o movimento sindical americano.

Ainda no faz tanto tempo assim que 550.000 operarios eletricistas em 40.000 usinas da
Westinghouse se levantaram em greve contra a automao,que durou 5 meses.Tambm,
por outro lado,o problema de liderana se vem colocando no seio da prpria massa
organizada cada vez com maior vigor.Ainda no ano passado,movimentos espontneos de
base se formaram em vrios sidnictos para enxotar os velhos bonzos sindicais cheiosde
compromisso e j baldos de energia.Desde 1964,as eleies para renovao da diretoria
em grande numero de sindicatos americanos e dos maires (do ao,dos martimos,etc) se
vm caracterizando por verdadeiras revoltas de base [...].{ibid-p.464)

Mario capta o profundo significado pedagogico autogestionario deste movimento:

Ali,no entanto,deveriam estar os lideres em potencial de um novo movimento trabalhista


americano, formados no tanto pelo diploma mas educados em outra escola menos
polida, a do trabalho da vida coletiva e disciplinada da usina.O fenmeno de
transcendente importncia [...].{ibid-p.465)

Pedrosa no se limita ao estudo da produo.Entra em analise da supestrutura Estatal dos


EUA,no que diz respeito legislao laboral.

Uma clausula de extrema significao para essa tendncia de ligar a empresa no seu todo
vida dos trabalhadores foi a famosa able and willing clause dos mineiros, inserida no
contrato coletivo com as companhias de carvo betuminoso em 1948.Por ela os mineiros
tinham o direito de s trabalhar quando se declarassem aptos e desejosos de o fazer.Na
verdade esta clausula punha em evidencia um problema que se colocava tambm para os
mineiros ingleses: a extrema dureza da extrao de carvo das minas por processos
manuais. Atraves da clausula acima o sindicato dosmineiros controlava o trabalho
e,sobretudo,tinha achado o meio de reduzir a semana de tarbalho dos
sindicalizados.Armado com a clausula, o velho Lewis chegou a impor aos gerentesdas
companhias carbonferas a semana de 3dias.(ibid-p.470)
Mario aponta o esprito ergolgico, defesa do corpo mesmo,da clausula: Houve quem
a respeito falasse em conquista de lazer para os mineiros. No era lazer,era defesa de seus
msculos, nervos e crebro, defesa da sade, de sua intangibilidade humana em face de
condies cada vez mais desastrosas quela intangibilidade.( Alis,nunca mais a industria do
carvo se recuperou;trata-se de uma industria decadente.(ibid-p.471)

Uma questo estratgia do trabalhadores e sindicatos da poca foi a abertura dos livros das
empresas. Mario caracteriza e qualifica essa questo emr elao a gesto da produo: Diz Mario:
Abrir os livros das empresas ... significa tornar pblicas operaes financeiras que sempre foram
secretas, mais do que privativas da direo.Que sociedade de negocio poderia permitir-se tal
violao do que lhe mais privado? (ibid-p. 477).E, indo fundo na questo:De outro lado,a
aceitao de tal premissa levaria inevitavelmente participao dos trabalhadores
sindicalizados na direo da empresa. Para os pases industriais adiantados esta hoje a palavra
de ordem central de todo o programa socialista conseqente.(idem)

Arrematando,diz Pedrosa: A empresa capitalista ao atingir seu mais alto grau de


produtividade, dee ficacia administrativa, disputada pelo movimento operrio sindicalizado a
fima de faze-la passar a novas relaes de produo baseadas na propriedade social dos meios
de produo.(ibid-p.idem). Essa questo ser por ns aprofundada na parte deste
trabalho,Teorias da Autogesto, em que veremos a viso de Pedrosa sobre a Autogesto.

Pedrosa destaca varias lutas dos operrios americanos: O estado de espirito das camadas
sindicais mais jovens no anuncia calma e muito menos complacncia nas relaes sindicais
desses prximos anos.(ibid-p.486)

Com um linguajar que lembra Rosa Luxemburgo falando sobre os sindicalistas,Mario


segue sua analise ,apontando uma vaga de inconformismo que vem de baixo: o estado de
esprito das camadas mais jovens no anuncia calma e muito menos complacncia nas relaes
sindicais desses prximos anos. Bonzos sindicais e gerentes empresariais esto aprensivos quanto
a sua maior combatividade na luta por uma serie de reinvindicaes no usuais. (idem)

6.3. A ALIENAO DO SISIFO MODERNO


Para finalizar,vejamos como Pedrosa, tal como M.Tronti, assinala elementos que se
tornaro realidade clara nos anos 1990:

Parte de toda essa onda de descontentamento (...)a agitar as bases do sindicalismo


norteamericano se deve graas a graves problemas sociais e polticos,polticos e
tecnolgicos. [...] Tudo isso , no fundo, cristalizado na visceral desconfiana da classe
trabalhadora em geral diante da nova tecnologia eda automao.(ibid-p. 487)

E diz: Agora,quando a automao aparece e enfraquece a posio tradicional do


trabalho,ele aproveita-se do alcance indubitvel da automao para quebrar a resisetncia do
trabalho eliquidar o contrato coeltivo e a ao sindical.

Para Mario,

classe operaria repugna a automao.O processo de trabalho alterado de alto a


baixo.onde a automao entra numa usina,os trabalhadores j no esto em conjunto com
as mos nas alavancas de comando para afze-la parar,se assim lhes parece til. Os
trabalhadores marchavam para identificar-se cada vez mais com a empresa,a grande
empresa,para controla-la quando preciso,para viver nela e dela,sentindo-se cada vez mais
a ela ligados.Ums entimentode segurana os animava: ela no funcionava sem o trabalho
deles, sem os seus msculos,nervos,crebro.(..).Que fica de proletrios neles ?.(ibid-
p.500)

Com base nas pesquisas de G.Friedmann, Mario aponta que

A automao capitalista no quer operrios, no quer assalariados produtores, quer


consumidores.O quelhe interessa memso no o homem de macaco ou na prancheta,mas
o homem de short,o homem de canio,chuteira,o homem de gravata,de smoking ou
mesmo de pijama. O que lhe interessa o homem-depois-do-trabalho.Friedamnn fala,a
propsito,docidado mdio que mesmo assistido pela automao no curso e fora
dotrabalho,arrisca-se a ser um Sisifo, condenado a rolar,sem parar,na sua procura do
bem-estar atravs da necessidades cada vez mais estendidas,um fardo sempre a
recair.(ibid-p.500)

E segue Mario,ao suprimir o trabalho no sentido tradicional do termo (G.Friedamnn),


afirma:

A civilizao tecnicista esvazia o cidado,dissolvendo-lhe os meios do viver


cotidiano,onde encontra seu ganha-po (...).As principais dificuldades parecem vir da
contradio seguinte:

De um lado,a civilizao tecnicista oferece ao homem depois do trabalho (e breve ao


homem para alem do trabalho) as condies tericas que permitem um desabrochamento
da cultura, da arte, da vida espiritual.Do outro lado, ela o entrega (j se viu) ao
condicionamento pelo meio tcnico e aos piores perigos da degradao.(ibid.p.500)

Pedrosa aponta a questo central: preciso recondicionar o homem depois em homem


para alm do trabalho. Mas quem o vai fazer? A prpria civilizao tecnicista que o
privativismo econmico capitalista chegado ao desenvolvimento at o absurdo (...){ibid-p.501).
Aqui, Mario abre espao para alternativa de Rosa Luxembourgo: Socialismo ou Barbarie !

Em seu estilo peculiar, Pedrosa, num sentimento agnico,lamenta-se: Ai do homem


depois do trabalho que no consumir em massa: ser um homem fora do circuito da vida
social:ser umpobre emsmo pelo estalo americano,ou um ancio,em idade fsica ou em idade
social,quando,apesar de moo,faz parte do desemprego estrutural.(ibid-p. 501)

Afirmando que Com o prosseguimento da revoluo tecnolgica da automao e da


informao,essa ideia generalizada e seus efeitos quanto ao desemprego estrutural e aos
progressos organizacional ir surgindo porto da parte do mundo do trabalho,com freqncia
maior(ibid-p.542); e que,A revoluo tecnologica da automao e da informao,por sua
vez,no respeita fronteiras nem regimes sociais.(ibid-p.532)

Nos idos dos anos 60,Mario conclamava que O projeto de uma ao internacional contra
os perigos da automao equivaleria assim ao renascimento do movimento operrio, como fora
independente, em escala internacional.(ibid.-p.532)

Deste modo, definia sua palavra-de-ordem: Colocar o problema da automao em escala


sindical internacional ,sem duvida,ideiaideia de importncia transcendente.(ibid-p. 523)

Onde vai o capital, a luta vai atrs !

6) Ainda em relao ideia dos ciclos de lutas, Beverly J.Silver realizou uma pesquisa ampla
em Arquivos dos EUA (o World Labor Group, do Centro Fernand Braudel, em Binghamton,
Nova York), em que focaliza dois setores fundamentais das lutas operarias. Seu estudo inicia-se
exatamente em 1870, data ligada, como vimos, Comuna de Paris, e vem at o perodo em curso
de globalizao do Capital. Vejamos alguns elementos desta Pesquisa.

Uma das teses da autora a de que a trajetria da industria automobilistica mundial


sugere que: Onde o capital vai,o conflito vai atrs (Beverly-p.12). Desta dinmica, nos fala do
solo sempre movedio do capitalismo histrico:

[...]o que saltava aos olhos era um processo histrico-mundial de militncia trabalhista e
de relocao de capital. De fato, um dos principais argumentos de Foras do Trabalho
que, ao longo do sculo XX, o capital de produo em massa correu o mundo atrs de
mo de obra barata e disciplinada,e terminou por recriar continuamente movimentos
trabalhistas militantes nos novos lugares onde se instalava.(ibid-p. 12)

Berverly levanta uma ideia fundamental para nosso estudo:

Alm disso,este livro defende a ideiaideia de que tal analise da dinmica do sculo XX
tem implicaes importantes para a reflexo sobre a dinmica do sculo XXI.Pois,se a
dinmica passada serve de indicio para dinmicas futuras,ento temos boas razes para
esperar que surja um movimento trabalhista forte e militante na China local de
industrializao rpida e proletarizao mais recentes.(ibid-p.12)

Berverly aborda o que chama de ao coletiva dos trabalhadores,em linha que porta
muitas afinidades com as questes que estudamos em Joo Bernardo ,sobre as aes coletivas e
ativas.

este livro no pretende analisar todas as formas de ao coletiva dos trabalhadores.Nosso


foco so os epriodos de insatisfao operaria particularmente intensa(...).Essas grandes
ondas de isatisfao trabalhista, ao contrario das formas de protesto mais
institucionalizadas,pressionam Estados e capitalistas a promover inovaes e
so,portanto,as formas de protesto operrio mais relevantes para se compreender perodos
de transformao dramtica no sistema capitalista mundial (por exemplo,a fase
contempornea da globalizao).dito de outra maneira,ao centrarmos o foco nessas
grandes ondas de insatisfao de trabalhadores [grifo nosso]{ibid-p. 46)

A partir de pesquisas ,nossa autora expe em grficos seus resultados sobre a militncia
operaria na industria automobilistica,com a seguinte concluso:

Nota-se uma serie de mudanas geogrficas no epicentro da militancia desses


operrios,ao longo do tempo da America do Norte nos anos 1930 e 1940 para o noroeste
( e depois para o sul) da Europa nos anos 1960 e 1970, e da para um grupo de pases em
industrializao acelerada nos anos 1980 e 1990.Mesmo tendo sido objeto da vasta
maioria das reportagens sobre agitaes operarias nos anos 1930 e 1940 ( 75% em ambas
as dcadas ), a Amrica do Norte responsvel por uma minoria do total de reportagens (
15% e 20% ,respectivamente ).Diferentemente, a parte do total de manifestaes de
trabalhadores que cabe ao noroeste da Europa aumenta de 23% nos anos 1930 e 1940 para
39% nos anos 1950 e quase 50% nos anos 1960 e 1970,antes de comear a baixar nos
anos 1980 e 1990.O grande aumento da participao da Europa meridional acontece nos
anos 1970,indo de 2% nos anos 1950 para 10% nos 1960 e chegando a 32% nos 1970. A
ltima grande mudana o aumento do total relativo ao Sul,que se desenvolve
rapidamente ,e cuja participao pula de 3% nos anos 1980 e 40% nos anos 1990.(ibid-p.
55)

Os pases estudados so: Estados Unidos, Canad, Reino Unido, Frana, Itlia, Alemanha,
Espanha, Argentina, frica do Sul, Brasil e Coria do Sul.

Beverli traa uma explicao para anomalia japonesa: O Japo no entra na lista dos
pases selecionados.[...] A rpida expanso da industria automobilistica no Japo no culminou
com uma grande onda de agitao operaria[...]. No entanto,o Japo sofreu uma grande onda de
agitao imediatamente aps a guerra[...]. (ibid-p.54)

Beverly descreve o que chama de picos de ondas:

essas ondas que aconteceram em contextos culturais e polticos e em perodos histricos


mundiais extremamente diferentes- tm semelhanas impressionantes.Elas entram em
cena com uma rapidez e uma fora que no eram esperadas por seus
contemporneos.Alcanaram grandes vitrias rapidamente,apesar de terem se deparado
com empregadores hostis e contrrios aos sindicatos (e,em alguns casos,governos hostis
tambm). Todos lanaram mo de formas no-convencionais de protesto notadamente as
greves de ocupao de fbricas-, que paralisavam a produo de enormes complexos
industriais e expunham efetivamente a vulnerabilidade da complexa diviso tcnica do
trabalho dessas empresas ao direta dos trabalhadores no local de produo.(ibid-p.57)

Difuso
da
agitao
operria
Fase de inovao fase madura fase de padronizao

Linha de Greves do Ressurgimento Coria do


montagem da COI nos do conflito de
Sul China?
Ford 1913-4 EUA 1936-7 classes, Europa Brasil e
ocidental frica do Sul
Fonte: SILVER (2005, p.84).4

Aqui,vemos toda a conexo com os ciclos de lutas ativas e autonomas de Joo


Bernardo.

Segue Beverly:

Em todos os casos,as foras de trabalho eram predominantemente de primeira


e segunda geraes,migrantes internacionais e inter-regionais, e o forte apoio
da comunidade foi essencial para a sua luta.Finalmente,as lutas dos
trabalhadores da industria automobilstica assumiram um significado
nacional para alm deles prprios e do setor em questo.Assim sendo,essas
ondas representaram momentos de virada nas relaes trabalho-capital de
cada pas.(ibid-p.57)

Em sua reformulao critica da teoria dos ciclos de produto,Beverly define que


o capitalismo histrico caractriza-se por uma serie de ciclos de produto sobrepostos
(solues de produto),em que os estgios finais de um ciclo de produto coincidem com
o inicio de um novo ciclo os novos ciclos comeam quase sempre nos pases mais
ricos.A formao e os protestos da classe trabalhadora so processos fundamentais por
trs tanto dessas mudanas de fase dentro de um ciclo de produto quanto da mudana
de um ciclo de produto para outro.(ibid-p. 83)

Solues espaciais (o deslocamento geogrfico da produo,enfatizado no


modelo original de ciclos de produto) e solues tecnolgicas/organizacionais
(inovaes de processo) articulam-se com a insatisfao dos trabalhadores de maneira
historicamente especifica(idem),conclue Beverly.

Analisa-se o ciclo do produto do automovel, em que a agitao operria um


componente essencial (ibid-p.84). Vemos,ento, os seguintes elementos:

No estagio inicial (inovador) do ciclo de vida do produto,as presses


competitivas so baixas e,portanto,os custos so relativamente insignificantes; contudo,

4
Leitura do mapa:o ressurgimento do conflito de classes na Europa ocidental ocorre de 1968 a 1973.
medida que os produtos vo alcanando seu estagio de maturidade e finalmente de
padronizao,o numero real ou potencial de competidores aumenta,assim como a
presso para cortar custos.

Beverly conclui:

a produo em massa de automveis progressivamente dispersa por locais


onde os salrios so mais baixos.Mas ainda que as teorias de ciclo de produto
tendam a focalizar as variveis economicas (por exemplo,competio,custo
dos fatores) como causas e efeitos do ciclo,uma variavel social,como a
formao e o protesto de uma classe trabalhadora, algo essencial para a
histria de ciclos de produto que contamos.Uma grande onda de agitao
operaria um dos fatores que empurram na direo de cada novo estagio de
disperso da produo,e cada novo estagio da disperso da produo
desencadeia uma nova instancia de formao de classe trabalhadora.deste
modo,o estagio de inovao no ciclo de vida do automvel atingiu seu limite
com as lutas da COI nos Estados Unidos.Os limites do segundo estagio
(maduro) foram alcanados com as ondas de agitao operaria em fins dos
anos 1960 e nos anos 1970,e o terceiro estagio (padronizao) comeou a
atingir seus limites com os vrios surtos de militncia operaria de
industrializao recente,nos anos 1980 e 1990.(ibid-ps. 84, 85)

A Crise dos anos 70

7) Antes da abordagem das lutas experincias histricas de autogesto, vejamos como


Ernst Mandel, em um ensaio intitulado A explicao Marxista dos ciclos 1971-1975 e
1976-1982, pode nos acrescentar mais elementos. (vide: Dinamiche Della Crisi
Mondiale Editori Riuniti - 1988). Para Mandel,

Se desejamos aplicar a teoria geral da crise a explicao dos ciclos 1971-


1975 e 1976-1982, e mais precisamente as origens da recesso generalizada
do 1974-1975 e do 1980-1982 e os perodos imediatamente sucessivos,
devemos levar em conta elementos particulares que derivam da situao e da
contradio especfica da economia capitalista internacional nos incios dos
anos 70. Esta recesso, e em conjunto, a retomada que lhe seguiu e que do
ao perodo 1974-1982 um carter de clara depresso, devem ser vista como o
ponto de convergncia de 5 crises de tipo diverso. (Mandel-p.215)

Destacamos o ponto 4, pois, traz mais elementos em relao Frana e, de


outros pases da Europa, explicitando mais claramente os ciclos de lutas autnomas dos
trabalhadores. Assim:

Uma crise clssica de superproduo;


A combinao da crise clssica de superproduo com o renascimento da onda
longa que, no fim dos anos 60, parou de funcionar em sentido expansivo;
Uma nova fase da crise do sistema imperialista;
Uma crise social e poltica agravada nos pases imperialistas, que nasce de um
lado da conjuntura entre a depresso econmica e um ciclo ascendente da luta
operria, da combatividade e da participao dos trabalhadores em toda uma
srie de pases imperialistas e da reao provocada pela tentativa da burguesia
imperialista para impor aos trabalhadores o fardo da crise e da redistribuio
mundial da mais-valia (tabela 1).
A combinao destas 4 crises com a crise estrutural da sociedade burguesa que
atua em profundidade por mais de um decnio e acentua a crise de todas as
relaes sociais burguesas e, em particular, a crise das relaes de produo
capitalistas.(ibid-ps.215 a 217)
O movimento de greves foi uma das caractersticas dos ciclos ascendentes. Por
exemplo, Joo Bernardo,em sua obra labirintos do Fascismo(2003), relata o clima
poltico do ciclo que se segui a primeira Guerra.

De 1915 a 1916 o numero de dias de trabalho perdidos por greve na


Alemanha aumentou 500%, e 700% de 1916 a 1917, quando atingiu os dois
milhes.As greves de abril de 1917 em Berlim mobilizaram entre 200.000 e
300.000 trabalhadores,e na mesma altura uma vaga de greves agitou o
operariado do Imprio Austro-Hungaro.De 1915 a 1916 o numero de
grevistas na Frana subiu 220% e a quantidade de participantes aumentou
mais de 340%, sendo as cifras correspondentes entre 1916 e 1917 de cerca de
120% e de 610%.Entretanto o rendimento do trabalho diminui 15% nas
fbricas de material de guerra da regio parisiense e 50% nas de Bourges...Na
Gr-bretanha as greves de 1916 e 1917 suscitaram a expanso e a
generalizao do movimento dos shop stewards,membros dos sindicatos
eleitos pelos trabalhadores no quadro das unidades de produo,e que
defendiam naquela poca as posies da base operaria,freqentemente em
oposio s direes sindicais.(Bernardo,2003-p.169)

Em relao ao perodo ps segunda Guerra:

Quadro 1. Evoluo das aes de greves (mdia anual)


Ano RFA Inglaterra USA Japo Frana Itlia

1951-1955 2.468 205 658 1.415 2.343

1956-1960 1.710 68 771 1.414 1.685

1961-1965 1.362 186 1.512 2.102 2.971

1966-1970 2.563 111 1.393 3.755 4.044

1971 3.280 1.896 536 1.171 3.235 3.981

1972 1.714 1.544 23 1.722 2.721 4.405

1973 2.251 2.232 185 1.513 2.342 8.081

1974 2.700 8.500 250 1.601 8.464

Fonte: Dinamichi della crise mondiale,(p.217)

Quadro 2. Dias de greves (mdia anual em milhares)


Ano RFA Inglaterra USA Japo Frana Itlia

1951-55 32.220 1.193 2.382 3.894 4.974

1956-60 32.320 707 4.446 1.980 5.581

1961-65 27.300 486 2.562 2.794 13.017

1966-70 45.166 157 5.540 32.138 17.676

1971 47.592 5.777 4.484 13.552 4.392 14.799

1972 23.918 3.871 66 23.909 3.912 19.497

1973 27.949 4.210 563 7.200 3.915 20.400

1974 48.505 9.684 1.051 14.740 3.380 16.747

Fonte:ibid-(p.217)

Vamos qualificar estes dados: o que foi esse movimento grevista ,que tipo de
greves, quais as formas de luta e organizao.
Mandel, em obra intitulada La Longue marche de La Rvolution (1976)
,reuniu ensaios escritos no Ps Guerra. uma tentativa de traar ciclos das lutas
operarias.Mandel usa a palavras Etapas , Ondas, tendo por caracterstica
fundamental a Dualidade de Poderes.

Neste sentido,podemos notar afinidades de metodo e conteudo ,com a analise de Joo


Bernardo.

6.4. UMA ONDA REVOLUCIONRIA NO PS GUERRA EUROPEU

Em ensaio Problemas da revoluo europia (datado de 1946), Ernst Mandell


analisa o ciclo do ps 2a Guerra. uma analise com dados importantes para
completarmos a viso de M.Tronti e M.Pedrosa ,para o mesmo perodo do ps
Guerra,mas em relao aos EUA.

Para E. Mandel, na Europa,a vontade de luta das massas alcanou seu mais
baixo nvel em 1939-1940.os velhos aparelhos estatais dos pases ocupados pelo nazi-
fascismo ruram,ficandos em condies de no poder conter a arremetida das massas,o
que fez surgir uma serie de movimentos revolucionrios insurreicionais.

Mandel define como socialmente revolucionrio,os acontecimentos que


conhecemos na Europa entre julho de 1943 e julho de 1945.

Mandel analisa as greves do perodo: aps o fim de 1943,as curvas grevistas


(vide tabelas acima) mostram em todos os pases da europa um fluxo,em comparao
com o periodo anterior a Guerra,para atingir em 1945 um nivel que supera a ultima onda
grevista,exceto na Frana (com a Frente Popular),de 1936.(ibid-p.19)

Mesmo com a presena nazista e sua Gestapo, os trabalhadores realizam greves:


por exemplo, 4 greves gerais na Itlia e na Grcia, 2 na Holanda e
Dinamarca,movimento contra a releve na Frana,
vitria dos partisans na Yugoslavia,uma serie de greves gerais com formao de
conselhos de empresa em Lige na Blgica,formam um contraste geral com a
passividade geral dos trabalhadores em 1939-1940 e trata-se de uma onda
revolucionria. O enfraquecimento e falencia dos rgos estatais e a existncia dos
Conselhos de fbricas definem o carter do movimento: a dualidade de poderes !
Mandel,ento,passa a analisar esse movimento,em varios pases da Europa(ibid-p 20):

Foi na Itlia que a dualidade de poder alcanou sua forma mais madura.J na
primeira fase da revoluo italiana,em julho de 1943, surgiram os conselhos
operrios,e mesmo um conselho de operrios e soldados,em Milo.
Em seguida,foram constitudas as Comisses Internas nas empresas,e
inmeros comits de libertao nacional nas cidades e vilas da
Pennsula.Durante o inverno 1944-1945,o armamento dos partisans italianos
comeou q tomar uma amplitude de mssa.Enfim,em abril de 1945,foi uma
verdadeira insurreio que levou a tomada de todas as fbricas do Norte da
Itlia pelo Comits Operrios, ao controle completo da vida social pelos
partisans, organizao de uma justia revolucionria,e ao exerccio de todas
as funes pblicas pelos Comits de Libertao Nacional.(idem)

Ao analisar o caso da Thecoslovaquia, Mandel define as carateristicas da


Revoluo Social em curso:

No leste europeu,por exemplo, na Thecoslovaquia,as coisas se passaram de


modo semelhante durante a Revoluo de maio 1945.Os quatro principais
elementos do duplo poder estavam presentes:

-conselhos operrios controlando as fbricas;

-milicia operaria;

-comites de libertao funcionando como rgos polticos soberanos e,

-tribunais populares.(ibid-p. 21)

Ainda sobre a Thecosolovaquia, Mandel recorre a matria de The Economist,


(09-02-1946):

Os comites que realizaram o controle de praticamente cada fabrica durante a


Revoluo,eram o coroamento da luta comunista clandestina(...) Os cmites de
fabrica ensaiaram,numa primeira onda plena de entusiasmo revolucionrio,de
ditar como as fbricas deveriam ser dirigidas [...].{ibid-p. 21)
E.Mandel , caracteriza o movimento dos Conselhos:

O verdadeiro carter dos rgos de poder nascidos da primeira onda


revolucionria aparece claramente desde sua origem e de sua posio frente
as rgos do Estado burgus.todos eles so devidos INICIATIVA
AUTONOMA das massas operarias e pequeno-burguesas,ou aoo
menos,de sua vanguarda.Na BASE, o carter de espontaneidade aparece
claramente nas eleies dos chefes,como tambm dos comits de fabrica,e
nas formaes militares de base e nos Comits de Libertao nas cidades
,bairros,etc. Por sua vez, na Frana, a insurreio de Paris conduz um
amplo armamento das massas, varias ocupaes de fbricas e ao
estabelecimento de comits na maior parte delas. Na Provncia
francesa,aparecem os mesmos elementos: em Lyon, Limoges, Toulouse,
Prigueux, com um particular,em vrios locais,certos elemetnos destes
rgos de dualidade de poder,mesmo militares, funcionaram durante longos
meses.(ibid-p. 25)

Na Grcia, o movimento dos partisans controlavam antes da Libertao muitas


partes do territrio. A dualidade de poder existia em um sentido literal: face ao governo
oficial grego no cairo, suas formaes militares e aos vestgios de seu poder
executivo e judicirio na Grcia mesma, funcionando por comits,milcias e tribunais
populares eleitos pelas massas.

Durante a guerra civil aberta (dezembro de 1944),esta coexistncia foi mesmo


suprimida em muitos bairos de Atenas e noutras zonas controladas pela EAM* e todo o
pdoer em certos setores (sobretudo o setor jurdico) ficou nas mos dos organismos
populares e eleitos.

Na Yugoslavia, o movimento dos partisans foi no inicio similar ao dos


partisans gregos e formou tambm rgos de poder popular em todos os campos.

Na Polnia,com a aproximao do exercito Vermelho da URSS ocorre um


movimento revolucionrio de camponeses e operrios;os operrios ocupam fbricas e os
camponeses tomam terras.Os operrios estabelecem um controle completo na produo.
Na Blgica, a dualidade de poder s existiu no campo militar.Mas, os comits de
fbricas em Lieg eram os rgos potenciais do poder,s vsperas da Libertao.
(ibid-p.22)

Enfim, na zona russa da Alemanha,

as mudanas quase revolucionrias tiveram lugar aps a queda do III reich,


no foram aniquilados [...] Atravs da zona russa os comits de empresa
(Betriebsraete) tiveram papel fundamental na industria [...]Todo o esquema
mostra muita senelhana com a democracia de fabrica dos primeiros anos
da revoluo russa.(ibid-p. 23)

Mandel cita matria de The Economist(23 maro 1946):

Na zona russa da Alemanha como em outros locais,o afundamento do


nazismo foi seguido pelas demonstraes de ume spirito socialmente
revolucionrio: os operrios ocuparama s fbricas e acertaram suas contas
com os diretores nazistas ou nazificados. A mesma coisa aconteceu no
RUHR. Sabemos que com a aproximao da Armada vermelha,os
traballhadores agrcolas do Macklenbourg tomaram as terra onde estavam a
sculos.No mesmo momento,os operrios da Saxe levantaram as bandeiras
vermelhas nas fbricas e elegeram verdadeiros sovietes [...].{idem}

6.5. EXPERINCIA X CONSCINCIA

No prximo ponto, Mandel compara essa onda revolucionria de 1943-1945


com a outra onda ocorrida no 1 ps Guerra de 1918-1919,assinalando diferenas
fundamentais.

Em primeiro lugar,

em 1917-1919, o movimento revolucionrio propriamente se limitou


Europa oriental e central. Na Europa ocidental, s conhecemos as lutas
econmicas do proletariado (...). Em1917-1919, a onda revolucionria inicia
por exploses muito importantes,nos principais centros industriais: vitria da
Revoluo russa,peripcias sucessivas da revoluo alem entre 1918 e
1923[...].{ibid-p.27)

Mandel descreve:

Aps a 1 guerra mundial,a curva geral da luta revolucionria caraterizda


por uma breve brusca ascenso ao inicio,depois declina,alcana o ponto
culminante na primavera de 1919,depois declina rapidamente e
constantemente.Esse declnio interrompido por uma e muito breve ascenso
em 1923.(idem)

J na onda da 2 guerra, a curva geral da luta revolucionria comea por uma


scenso lento e hesitante,interrompido por numerosos acontecimentos de recuos
particulares, mas sua tendencia geral de ascenso.(idem)

E E.Mandel analisa a diferena entre os dois movimentos:

O movimento do pos 1 guerra mundial se ressentia do peso das derrotas


iniciais,sobretudo da derrota Alem,o movimento do pos 2 guerra mundial
sofre ao contrario pelo fato de que em nenhum momento,todas as foras do
proletariado no se lanaram na batalha.O carter das derrotas por
conseqncia um carter passageiro,relativo,no pondo em causa a derrota
posterior do movimento,e podem ser neutralizadas pela passagem da luta a
uma fase superior.(ibid-ps.27 e 28)

[...] Esta diferena importante no provm apenas do carter potencialmente


limitado da 1 onda ( ausncia do proletariado russo e alemo da
luta).Decorre igualmente e sobretudo de todo o passado do movimento
operrio.O proletariado que se lana na luta revolucionria,em 1918,era um
proletariado que no tinha conhecido derrotas definitivas.Momentaneamente
desmoralizado pela traio reformista de 1914*,ele encontrou na evoluo da
situao objetiva ( enfraquecmento do aparelho estatal burgus,agravao das
condies de vida)as condies iniciais necessarias para desencadear as lutas
de massa.(ibid-p. 28)

Mandel destaca uma contradio fundamental entre as duas ondas


revolucionrias: o proletariado da 1 onda,

Travava essas lutas com uma COSNCIENCIA SOCIALISTA bem definida,e


com uma AUSENCIA DE EXPERINCIA REVOLUCIONRIA completa.
[...] Sua luta na Alemanha, ustria, Hungria,Thecoslovaquia, Bulgria,
Polnia,Yugoslavia, nos pases balticos e na Italia a forma das lutas PELO
SOCIALISMO ,nas quais a atrao da revoluo russa jogava um apelo
proeminente.(idem)

As dicusses dento do movimento operrio, nesta poca,diz Mandel, so sobre


De qual forma vamos construir o socialismo? podemos constru-lo imediatamente ?
E,aqui Mandel pontua a contradio:

Ao contrario a ausncia de experiencia de lutas revolucionrias determinou


da parte das massas e dos dirigentes comunistas, uma assimilao incompleta
das lies de outubro , um tatear continuo dos mtodos de ao.S em
raros momento,e como coroao de dolorosas peripcias,que o movimento
DAS MASSAS tomou as formas mais maduras da dualidade de poder.(ibid-
ps.28 e 29)

E, ao contrrio dessa 1 onda de 1917-1919, no fim da 2 guerra,


o proletariado europeu tinha atrs de si uma longa seqncia de derrotas
duras.As jovens geraes no tiveram uma educao socialista.As geraes
antigas estavam gengrenadas pello ceticismo paralizantes [...]. A palavra
socialismo no intervem que raramente na imprensa,nas discusses e
mesmo nos discursos.As massas no tinham que raramente,e de uma forma
isolada, CONSCIENCIA do carter objetivamente anti-
capitalista,revolucionrio,de sua luta.(ibid-p.29)

O autor adverte:

Mas se as massas se achavam em um nivel inferior de CONSCIENCIA em


relao 1918,elas alcanaram ao contrario um nvel superior de
EXPERINCIA.O fio,cortado pela guerra e pelo fascismo, retomado pelas
massas no ponto em que o tinham perdido. [...] As formas as mais maduras
da luta do passado no constituem mais o apice,mas o ponto de partida,das
aes de massa no perodo atual.Isto se mostra da forma mais evidente na
Itlia,onde a luta INICIA pela formao de Sovietes e de conselhos de
soldados,e pelo armamento,formas que ela no pode tomar,ou que ela no
tomou que esporadicamente nos 4 anos de combate revolucionrio aps a 1
guerra mundial.(idem)

Assim,voltamos ao inicio da reflexo de E.Mandel,sobre as lutas do ps 1943 na


Europa. Ento,chegado a esse nvel,Mandel busca as razes das derrotas: da liquidao
dos rgos de dualidade de poder.

Para o marxista belga,a principal causa dessas derrotas no foram as polticas


reformistas e stalinistas dos grupos dirigentes da poca.o fator PRINCIPAL Mandel o
localiza aps ter analisado as FORMAS das lutas de massa,sua ORIGEM e seu
CARATER social ,na ausencia de amplitude e de coordenao.(ibid-p.30)

O ponto de partida das sublevaes de massa,coincide com o intervalo entre a


partida (ou afundamento) do aparelho militar alemo e a chegada ,e estabelecimento
firme,do aparelho militar anglo-americano.

Esse intervalo deixa um vazio na administrao dos homens e das


coisas,vazio que as massas tm tendncia preencher automaticamente pela
CONSTITUIO DE SEUS PRORPIOS ORGOS.Para Mandel,nesse
intervalo se formam o sistema de dualidade de pderes bastante slido.(idem)

Na Frana,por exemplo,uma decalage de 24 horas permitiu a constituia de


um embrio de dualidade de poder em Paris ,eno por acaso que os
rgos autnomos de massa se mantiveram o mais longo tempo nas regies
francesas que a armada aliada tinha deixado de lado durante suas
operaes de agosto e de setembro 1944 ! (ibid-p. 31)
Esses intervalos,chama nossa ateno Mandel,se deram em momentos diferentes
em cada pas. Um acontecimento que pudesse GENERALIZAR as lutas seria ,para
Mandel,a Revoluo Alem,assim conclui que: Foi,portanto,a ausncia da revoluo
na Alemanha que constitui a causa FUNDAMENTAL do carter espordico da apario
da dualidade de poder e de seu aniquilamento rpido.(ibid-p. 32)

7.6. O FIM DA DUALIDADE DE PODER

Mandel narra e analisa a dialetica da derrota destas lutas do ps guerra:

Uma vez que os lideres oportunistas so includos na cpula do aparelho de


governo,que as massas entram em suas casas e ,so lanadas as bases para
reconstruo de um novo aparelho coercitivo,a burguesia passa realizao
de seu objetivo seguinte: a liquidao dos ncleos de dualidade de poder,em
primeiro lugar,a liquidao das foras armadas autnomas das massas.O
ritmo e o sucesso desta liquidao diferem de pas para pas e so,em ultima
analise, em relao inversa presso operaria.(ibid-p. 50)

Mandel destaca um particular desse processo: Mas,de uma forma geral,a


liquidao dos ncleos de dualidade de poder se opera a frio,sem colizes armadas,onde
a vontade das massas tinha sido decisivamente quebrada pelos dirigentes
oportunistas.(ibid-p.51)

A sucesso de fatos: os chefes estalinistas conduziram a liquidao do controle


operrio,depois a supresso da gesto operaria e o controle completo do Estado burgus
sobre as empresas [...]. Os dirigentes oportunistas transformaram as expropriaes
pelos trabalhadores em fraudulentas operaes econmico-financeiras com os antigos
porprietarios capitalistas.(ibid-p.52)
Parte II

8.AS LUTAS HISTORICAS dos CICLOS LONGOS da


AUTOGESTO

1. A REVOLTA dos CANUTS*

O primeiro esboo de uma ideologia socialista apareceu na Frana em 1831-


1834 com a Revolta dos CANUTS de Lyon., que tinham como lema Viver
trabalhando ou morrer em combate , uma ideiaideia que supera as reivindicaes
imediatas.No era mais o Ludismo, quebrando maquinas, mas uma luta contra os
patres, a polcia e as tropas do rei.

Esta prxima parte totalmente extrada do Capitulo primeiro da Tese de


Mauricio Sarda*. Exclumos algumas notas de p de pgina ,para o texto no ficar
muito extenso.

Nos anos seguintes, de 1830 a 1834, com a mira ajustada para a burguesia,
mas tambm com aes direcionadas para a introduo e o funcionamento
das mquinas, os operrios continuam a se bater pela melhoria das condies
de existncia. E o fazem cada vez mais por sua prpria conta, desenvolvendo
nessas lutas suas prprias instituies: associaes, organizaes de ajuda
mutua, cooperativas e, ao que parece pela primeira vez, uma imprensa
autnoma.

cone das lutas deste perodo a revolta dos canuts em 1831, como so
conhecidos os teceles de Lyon. A questo no nova: a luta pelo
estabelecimento de uma tarifa mnima. (...) De incio, a proposta e
organizao do movimento reivindicativo tm origem nos chefes de oficina, e
somente por eles a luta inicialmente levada diante, contando para isso
com a Sociedade do Dever Mtuo, associao fundada em 1827. Conseguem
o apoio do prefeito para a nica reivindicao: o estabelecimento de uma
tarifa mnima para os trabalhadores txteis, cujo trabalho era remunerado
pea, que lhes garantisse ao menos a sade suprema, isto , a condio de
continuarem sobrevivendo. O prefeito, temento uma insurreio armada
como a de Julho, e julgando deter boa margem de manobra, pressiona os
fabricantes e os leva participar das negociaes. () Mas os fabricantes-
negociantes recusam-se aceitar como uma obrigao a fixao da tarifa.()
Aps algumas rodadas sem resultado, os operrios desfilam unidos pela
cidade, desta vez ainda em silncio e tendo os chefes de oficina como
maioria. O prefeito convoca ento uma reunio para o dia 25 de outubro, para
definir a tarifa a ser aplicada a partir do dia primeiro de novembro. Enquanto
decorre a negociao entre os delegados dos chefes de oficina e os
representantes dos fabricantes, os companheiros (compagnons) organizam-se
nos bairros operrios e formam uma imensa manifestao, contando-se cerca
de seis mil operrios.() A deciso de postergar suspender a reunio irrompe o
silncio e, aos gritos de no ao adiamento, marcham prefeitura e
arrancam do prefeito o estabelecimento da tarifa ao final da tarde. A noite
de festa para os canuts, saboreando a vitria que poderia mudar a sua sorte
ou, pelo menos, minimizar as duras condies de existncia. Danam,
cantam, e o tumulto tamanho nos bairros operios que, das comunidades
vizinhas, achando tratar-se de um ataque, muitos grupos de trabalhadores se
colocam a caminho para ajudar seus camaradas.()

A decretao da tarifa, no entanto, deu-se sem o consentimento dos


fabricantes, que no tardam reunir foras para revidar o golpe sofrido.
Como primeira ao, apelam ao ministro do interior, o banqueiro Cassimir-
Perier, e exigem uma interveno para reverter a questo, culpando o prefeito
pela desordem. Os fabricantes no respeitam a tarifa e a agitao cresce entre
os operrios. Em 4 de novembro, nova manifestao que resulta em algumas
prises. A prefeitura publica um anncio proibindo as reunies. O que no
impediu que uma multido de operrios acorressem audincia do dia 17,
quando Conselho de Prudhommes reuniu-se para tratar do diferendo.
Assustado, o presidente do Conselho tenta demitir-se e suspender a sesso.
Mas impedido pela assistncia e obrigado recomear os trabalhos. O
Conselho vacila, dizendo-se impossibilitado de julgar a contenda, e decide
no decidir. Em Paris, os jornais desaconselham o arbtrio. J o jornal dos
canuts sintetiza a situao da seguinte maneira: O Conselho dos
Prudhommes est variando. Deus nos preserve da tempestade!

As correspondncias entre Cassimir-Perier e o prefeito tornam-se mais intensas,


e mais speras. O prefeito defende a posio argumentando que a reivindicao dos
trabalhadores era justificada. O Ministro lembra que os operrios de Bourdeaux
apresentaram a mesma reivindicao, detalha as aes prvias que os netralizaram e,
golpe fatal, acusa o prefeito de, ao receber a reivindicao dos trabalhadores, ter com
isso violado a Lei le Chapelier, a que impedia as coalizes.

Neste momento, os companheiros haviam j ultrapassado os chefes de oficina e,


tomando para si a reivindicao, organizam-se para garantir a tarifa. No dia 16 de
novembro, percorrem alguns bairros para recolher as armas da Guarda Nacional.
Enquanto isso, as foras da ordem traam os planos de defesa: seis destacamentos de
cinquenta homens, um batalho da Guarda Nacional e trezentos homens de linha devem
dissolver toda a aglomerao. Cinco batalhes da Guarda Nacional de reserva e em
alerta. Um posto de infantaria e cavalaria no Hotel de Ville.
Os chefes de oficina recuam, buscam a conciliao. J era tarde. No dia 21, pela
manh, comea o que todos esperavam. Os trabalhadores renem-se e passam de oficina
em oficina, cortam os fios daqueles que insistem em trabalhar e os arrastam para a
manifestao. s 11 horas, desfilam pela cidade e os primeiros choques acontecem. Em
meio manifestao, desponta a divisa em uma bandeira negra: Viver trabalhando ou
morrer combatendo. Em resposta ao prefeito, que tenta os desencorajar, replicam: Du
travail ou la mort! Nous aimons mieux prir dune balle que de faim5. Durante a noite,
delegaes das cidades vizinhas juntam-se aos canuts no bairro da Cruz Vermelha. No
dia seguinte tomam a cidade e tornam-se mestres da vila, contando-se no menos do que
600 o nmero de mortos e feridos, tanto civs como militares. () Para Moissonier, neste
momento, faltava aos trabalhadores uma organizao, um programa de governo prprio.
Sem isso, copiam os vellhos modelos.() Instalam um Estado Maior e organizam uma
polcia para manter a rdem pblica, evitar as badernas e atentados propriedade.
Estranho zelo: pegos em flagrante pilhagem, dois ladres so imediatamente fuzilados
pela polcia operria. Os trabalhadores seguem s rdens do prefeito, mas rejeitam a
manuteno do pedgio sobre as pontes e declaram a livre circulao pela cidade.() A
imprensa francesa percebe o perigo e soma-se voz ativa pela punio exemplar aos
inssuretos. Para o jornal Le Temps, edio de 26 de novembro, Quando a propriedade
est ameaada, no h mais opinio pblica, nuances, ministerialismo e oposio, e
alerta: Os movimentos dos operrios so contagiosos... Lyon um ponto central.()
At mesmo o LEcho faz coro por uma reconciliao: Unio, fraternidade,
esquecimento completo do passado.() No dia 3 de dezembro, tendo frente o filho do
Rei, Duque dOrlens, 30 mil homens com 50 canhes entram na cidade, instauram um
novo governo, declaram nulo o decreto sobre a tarifa e do incio s perseguies aos
operrios. A ordem volta a Lyon.

A derrota dos canuts no impediu que o movimento irradiasse para outras


cidades, verificando-se no final de 1831 incidentes em Toulouse, Bayonne, Marseille,
Bar-le-Duc, Grenoble, Bdarieux, Rive-de-Gier, Paris, Rouen, Montpellier, Anzin entre
outros inmeros movimentos que ameaam imitar os operrios de Lyon. E mesmo
nesta cidade, despeito da represso, da militarizao e das deportaes, o movimento
renasce pouco pouco. De incio, so as levas cada vez maiores de operrios que
passam a assistir aos julgamentos dos companheiros presos, protestando quando o

5
Traduo: O trabalho ou a morte! Ns preferimos tombar por uma bala do que de fome.
resultado lhes desfavorvel. Em 1832, o LEcho de la Fabrique ressurge numa linha
mais fechada, fruto de uma ao de solidariedade que havia se estendido para alm de
Lyon. Em Paris, os trabalhadores realizam coletas favor dos canuts. Em fevereiro de
1832, os teceles fundam outra associao, a Compagnons Ferrandiniers du Devoir,
exclusiva para os companheiros e aprendizes, e que ter grande importncia na
insurreio de 1834 ao lado da Mtua dos chefes de oficina. A febre de coaliso
continua, mas agora j se manifesta em todas as profisses. Comea-se a empregar a
palavra greve. No h uma corporao, uma cidade, que no tenha vivenciado situaes
de greve neste perodo.()

Os intelectuais burgueses logo perceberam que a situao havia mudado, como


expressa essa passagem do Journal des Dbats, em que o jornalista Saint-Marc Girardin
lana uma espcie de alerta sobre a ameaa que ronda a organizao da sociedade:

No deve-se dissimular[...] A sedio de Lyon revelou um grave segredo, o


da luta intestina que tem lugar na sociedade entre a classe que possui e aquela
que no possui. Nossa sociedade comercial e industrial tm sua ferida como
todas as outras sociedades; essa ferida so os operrios. Nada de fbricas sem
operrios e, com uma populao de operrios sempre crescente e sempre
necessitada, nada de repouso para a sociedade. [...] Cada fabricante vive em
sua fbrica como os plantadores das colnias em meio aos seus escravos, um
contra cem, e a sedio de Lyon uma espcie de insurreio de So
Domingos[...] Os brbaros que ameaam a sociedade no esto precisamente
no Clcaso [...]; eles esto nos bairros das nossas cidades manufatureiras...
preciso portanto que a classe mdia saiba bem qual o atual estado das
coisas. Ela deve conhecer bem a sua posio. Ela tem atrs dela uma
multido de proletrios que se agita, sem saber o que quer, sem saber para
onde ir; o que lhe importa? Ela est mal, ela quer mudar[...]

E a concluso do artigo de Girardin clara:

A democracia proletria e a Repblica so suas coisas bastante diferentes.


Republicanos, monarquistas de classe mdia, qualquer que seja a diversidade
de opinies sobre a melhor forma de governo, no h nenhuma voz tratando,
eu imagino, sobre a manuteno da sociedade. Ora, ir contra a manuteno
da sociedade dar os direitos polticos e as armas nacionais a quem no tem
nada a defender e tudo a perder. ()

A revolta dos canuts, a forma que assumiu e se propagou, o vigor que mostrou a
unidade dos trabalhadores por uma reivindicao que era apenas sua, revelou a todos
que as lutas sociais atingiram um novo centro. A burguesia, por seu turno, percebeu
rapidamente que ceder ou ampliar o direito de voto aos trabalhadores, a liberdade de
imprensa e o direito de associao, naquela altura meios para a organizao da sua ao
de classe, seria correr o risco de fornecer-lhes os instrumentos de corroso social. Nos
termos de Singer, seria conceder os implantes socialistas.

Ao longo deste perodo, o governo vai pondo em prtica os mecanismos para


tentar por fim s lutas operrias. A represso direta parecia no mais ter efeito, pois
bastava serem sufocados os trabalhadores em um stio, logo em outro insurgiam-se em
busca de melhores condies de trabalho e de vida. Nesta situao, o governo
experimenta, em 1833, colocar a armada disposio dos fabricantes, para substituir os
operiros grevistas por soldados. Soluo que no poderia deixar de ser pontual, pois
nesta altura o trabalho manual preservava ainda dependncia do saber profissional do
ofcio, requerendo um tempo de aprendizagem. Mas a cartada decisiva estava reservada
s associaes, com uma nova legislao que lhes pretendia por termo de uma vez por
todas.

At ento, para fugir do enquadramento no cdigo penal (Artigos 291 e 294 da


Lei de 1810) que estabelecia o limite de vinte pessoas para qualquer forma de coaliso,
os trabalhadores subividiam suas organizaes em inmeras clulas, respeitando o
limite. Pelo projeto de lei de 1834, nem mesmo isso seria mais possvel, e em caso de
persistirem as coalises, passariam a ser responsabilizados todos os seus membros e no
apenas seus dirigentes, prevendo-se ao mesmo tempo o aumento das penas para este
delito. O projeto foi votado em maro de 1834, no sem antes os trabalhadores terem
demonstrado seu desacordo. E os canuts so os primeiros manifest-lo.

A estrutura mutualista dos canuts, j bastante prxima da forma sindical, sofre


uma grande modificao no incio de 1834. De pouco mais de 1200 membros em 1831,
chega soma de 2.340 membros, repartidos em onze centrais.() Cada central nomeia
dois delegados para constituir o conselho executivo de vinte e dois membros que
assessora o conselho dos presidentes das centrais. O conselho executivo destitui o
conselho de presidentes no incio de 1834, acusando-os de serem muito moderados, e
empossa novos membros que logo se vem frente de duas jornadas singulares.

Em fevereiro de 1834, os chefes de oficina batem-se novamente em uma greve


geral que dura 10 dias, tendo como motivo principal a reduo da tarifa de alguns
produtos pelos fabricantes. Louis Blanqui fica impressionado com a disposio dos
canuts, esses homens-mquinas: Nada mais comovente do que ver cinquenta mil
operrios suspenderem num s golpe os trabalhos que lhes fazem viver e se resignar s
privaes mais duras para garantir ao todo a recuperao de 12 centavos para seus
irmos mais infelizes!

Manifestao da prtica que vai dar sentido palavra solidariedade, a greve


geral de fevereiro fra decidida pelos chefes de oficina numa votao apertada (1297
votos favor e 1044 contra). Os companheiros e aprendizes solidarizam-se e engrossam
o movimento. As duas associaes de classe, a Mtua dos chefes de Oficina e a
Associao dos companheiros revelam uma capacidade organizativa at ento indita.
Os fabricantes fogem, e os que ficam recusam-se de incio negociar com os delegados
dos operrios. No dia 17, porm, os fabricantes abrem um canal de negociao e
remetem uma carta ao comit executivo dos mutualistas pedindo calma. No dia 19,
uma proposta aceita pelos 162 fabricantes mais diretamente envolvidos na contenda, e
os operrios votam pelo retorno ao trabalho.

Como resultado da greve geral de fevereiro, treze lideranas so presas: dez


chefes de oficina e trs companheiros. Esse fato abre o caminho para a jornada seguinte,
qual vem se juntar a lei contra as coalises votada em maro. Os mutualistas redigem
um protesto contra a lei que ataca suas associaes, plublicada no LEcho em 6 de abril:

Considerando em tese geral que a associao o direito natural de todos os


homens [...] Considerando em particular que a associao dos trabalhadores
uma necessidade de nossa poca, que ela para esses uma condio de
existncia, que todas as leis que atentam esse direito tem por efeito
imediato o de livr-los sem defesa ao egosmo e avidez desses que os
exploram:

Por tudo isso, os mutualistas protestam contra a lei liberticida das


associaes, e declaram que jamais curvaro sua cabea a um jugo to
embrutecedor, que suas reunies no sero suspensas, e, apoiando-se sobre o
direito mais inviolvel, o de viver trabalhando, eles sabero resistir, com toda
a energia que caracteriza os homens livres, todas as tentativas brutais, e no
recuaro diante qualquer sacrifcio para a defesa de um direito que nenhum
poder humano poder lhes pilhar.

No dia 5 de abril, comea o julgamento dos treze trabalhadores presos em


funo da greve geral de fevereiro. Os chefes de oficina e os companheiros fazem-se
presentes ao tribunal. Os arredores e a sala ficam repletos, impossvel circular. Um
tumulto produzido por provocadores da polcia impede a realizao da sesso e o
tribunal esvaziado. sada, os dois destacamentos de infantaria ligeira enviados
Lyon confraternizam-se com os operrios. Na nova data marcada para o julgamento, dia
9 de abril, os trabalhadores decretam outra parada geral do trabalho. Mas neste dia as
tropas so mantidas em isolamento dos trabalhadores, e um grande trabalho de calnia
realizado contra os canuts. Novamente, sob as palavras de ordem Associao,
Resistncia, Coragem, os canuts decidem resistir todo ataque. A batalha comea cedo
e, em menos quatro dias, as tropas lanam mo de meios de guerra e os canuts so
derrotados, com um saldo de centenas de mortos e feridos nos bairros operrios que
acabaram incendiados.

Em 1833, os trabalhadores de Lyon criam uma nova associao que rene


vrias profisses, a ordem dos Frres-Unis, saudada pelo LEcho como um grande
passo para a emancipao dos trabalhadores.() As coalises aproximam-se neste
momento da forma sindical e vo alm dela, pois a associao projetada como modelo
de organizao para a sociedade futura, que no outra coisa seno o socialista avant la
lettre:

Do seio das associaes deve despontar a organizao futura; essas


associaes, neste momento dispersas sobre o solo, so os germes que logo
crescero; so os materiais dispersos que o presente prepara e junta, que a
mo do futuro encontrar, que ela ajustar e alinhar para fundar a
administrao geral do trabalho [...] [O operrios sentem] a necessidade
sempre crescente de uma confederao.

Ainda assim, considera-se freqentemente que os limites das lutas dos canuts
reside na base artesanal que prevalesce na indstria txtil naquele momento, na ausncia
de manufaturas, isto , no fato de que o capital ainda no ter operado constituio de
uma classe proletria no sentido moderno, reunindo os trabalhadores sob um mesmo
teto para laborarem sob o comando de um mesmo capitalista. No entanto, nos parece ser
precisamente esta situao que torna as lutas dos canuts ainda mais significativas.

Primeiramente, possvel dizer que, embora fossem os proprietrios dos meios


de produo, das ferramentas e teares, os chefes de oficina encontravam-se j
submetidos na realidade prtica aos fabricantes-comerciantes. Estando submetidos aos
capitalistas, de quem dependem para a aquisio de matria-prima e para quem
entregam os produtos para a venda, estes artesos-proletrios encontam-se a meio termo
entre o artesanato e o assalariamento, sofrendo j uma parte do processo de trabalho os
efeitos da especializao. E esta condio de sub-contratados, se ainda no a de um
proletrio, est a um passo de s-lo. A deciso do que produzir j no mais lhes
pertence, nem mesmo o ritmo da produo, pois o salrio pea exige um volume
mnimo a ser realizado para compensar os custos da produo e da prpria reproduo
da fora de trabalho. A luta pelo aumento da tarifa no significa outra coisa seno que a
subsuno formal dos trabalhadores aos seus mestres fabricantes ja era fato consumado,
ainda que a subsuno real tenha se tornado efetiva mais tarde, para utilizar aqui os
termos de Marx, quando introduz-se os princpios da diviso do trabalho e impe-se a
produo industrial.

A base da produo artesanal, mas o modo de produo j capitalista. Isso


com efeito pode ter condicionado aos trabalhadores o recurso quelas formas de
organizao, isto , criao de associaes mutualistas que visavam, em ltima
anlise, a constituio de cooperativas de produo que lhes desembaraassem das
relaes de dependncia aos fabricantes-negociantes. Este parece ser o horizonte
primeiro dos canuts. Essas lutas abrem um perodo novo na histria do movimento
operrio francs, constituindo o pano de fundo sobre o qual vai se verificar o
desenvolvimento do cooperativismo no seu sentido moderno (...).

* Este histrico da luta dos Canuts ,digamos assim, de segunda mo, da Tese de
Mauricio Sarda (vide Bibliografia),que fez grande parte de sua pesquisa em minha
biblioteca,que chama de Spartacus.

2. REVOLTA DOS TECELES , SILESIA, ALEMANHA,1844

O historiador da social-democracia alem, Franz Mehring chama a rebelio dos


teceles da Silesia de Insurreio contra a fome. O novo proletariado em massa no
tinha direitos legais para se defender e para lutar. Ao passo que o capital tudo
podia.Vimos nas vises de Ernst Bloch e de Flora Tristan, o quo miservel eram os
trabalhadores neste perodo do capitalismo europeu.

Por sua vez, M.Lowy ressaltou o papel fundamental que teve a rebelio na
Silesia na obra de Marx.

A insurreio dos teceles em junho de 1844 na Silsia,fato que jogou para


Marx um papel de catalisador,de transformo terico-pratico,de
demonstrao concreta e violenta do que j se desenvolvia de suas leituras e
contatos parisienses: a tendncia potencialmente revolucionria do
proletariado.

M. LOWY destaca dois aspectos dessa rebelio:

1) Foi um conflito entre proletrios e capitalistas e no um movimento ludista de


artesos contra as maquinas. Foi contra os burgueses e no contra as maquinas que a
sublevao ocorreu.

2) A repercusso do fato em toda a Silesia ,na Boemia,em Praga e mesmo em


Berlim,onde as greves e rebelies operarias ocorreram durante junho,julho e agosto de
1844, indicam que no foi um simples acontecimento local,mas uma amnifestao
explosiva de um sentimento generalizado.

Em relao obra de Marx,M.Lowy afirma que Foi a insurreio que,de uma


certa forma,desencadeou em Marx o processo de elaborao terica que levou em
1846 ruptura definitiva com todas as implicaes do jovem hegelianismo e,mesmo
com Feurbach.

Em sua obra Operrio e Capital, Mario Tronti recorre a Marx para assinalar o carter
da luta dos teceles: [...],quanto mais a revolta operaria avana neste terreno pratico-
material,mais ele ganha um carter terico e consciente. E, com Marx:

Lembremo-nos da cano dos teceles,aquela ousada palavra de ordem da


luta onde nem casa, nem fabrica,nem bairro so mencionados uma nica
vez,e onde em contrapartida o proletariado proclama os eu antagonismo em
relao propriedade privada, de maneira clara,cortante,sem preconceitos
nem debilidade. A revolta da silesia comea exatamente onde acabam as
revoltas dos trabalhadores farnceses e ingleses,isto , com as conscincia
daquilo que a essncia do proletariado (Vorwaerts, 1844).

Em torno de1845 e de modo ferquente com a intensificao da carestia, os


tumultos violentos se intensificaram.Era insurreies pela fome,sem um plano e sem
objetivo, originadas pelo selvagem desespero.estes tumultos se ampliaram em toda
Alemanha,o que mostrava trabalhadores tomando conscincia de seus direitos e da
condio humana.
A maior destas rebelies pela fome ocorreu em junho de 1844 nas vilas
silesianas dos teceles de Peterswaldau e Langenbielau.Vilas em que os senhores
exploravam de forma profunda os trabalhadores e exibiam de forma ostensiva suas
riquezas.

Os teceles inventaram canes em que dennciavam a explorao.Os teceles de


Peterswaldau,com seus 5.000 habitantes,cantavam repetidamente estas canes em
frente a casa de seus senhores. Em 4 de junho, a policia prendeu um tecelo que fazia
parte de um grupo que canatava suas musicas de denuncias em frente a casa de um
fabricante ,que pagava salrios de misria e que era o smbolo da repressoda opresso
dos ricos.

Foi a gota dagua: uma massa de teceles revoltada saqueou as casas dos
industriais e destruiu os livros de comtabilidade;alguns queriam queimar tudo,recusada
pela maioria porque os industriais receberiam,ento,as indenizaes,e que queriam
arruna-los,para que aprendam o que a fome.

No dia seguinte,uma massa de 3.000 teceles marcha para cidade vizinha


(Langebielau),onde as cenas se repetem.Mas, a policia chega e atira na massa,matando
11 operarios e ferindo 24;os trabalhadores deseperados reagem com pedras e tijolos
expulsando os soldados da cidade.

Foi uma vitoria parcial,pois no dia 6 de junho,chegam trs companhias de


infantaria e uma bateria de artilharia que destroem a rebelio.Os que sobrevivem
buscam refugio nas montanhas e nas florestas vizinhas onde so atacados pela policia=
38 teceles so presos e condenados a pesadas penas de trabalhos forados.

O jornal Vorwarts publica matria respeito nod ia 6 de junho:

Em junho 1844,em Peterswalden e Langebielau na Silsia, um dia se


rebeleram 5 mil teceles,com pedras,facas,tijolos em suas magras mos;
lutaram coragosamente contra batalhes de soldados ! saquearam os palcios
dos pincipes da fabrica,e destruram os livros de dividas e as cartas de
credito;mas ,no cometeram nenhum roubo,nenhuma fraude(...).Em uma
palavra: pela primeira vez no solo da ptria alem,nesta Silesia de habito to
tranqila,surgiu um sinal precursor da transformao social, que dirige o
mundo irresistivelmente para o desenvolvimento superior da humanidade.
M. Lowy acrescenta o testemunho de um ferrovirio,pela escrita de um
jornalista annimo:

Temos agora pouco respeito pelas pessoas ricas e distinguidas.O que cada um
de ns,ousar pensar em silencio,podemos dize-lo agora em voz alta: somos
ns que sustentamos os ricos,e se o roubarmos suficiente para que sejam
obrigados a nos mendigar um pedao de po ou morrer de fome,se no
quiserem trabalhar.Podem me crer,se os teceles tivessem resistido mais
tempo teria havido agitao entre ns.O acontecimento dos teceles no
fundo tambm nosso problema.E como ns somos 20.000 homes trabalhar
nos trens da Silsia,teramos tambm nossa palavra para dizer.

Finalizemos com a analise que fez M.Lowy sobre o papel desta rebelio dos
teceles na obra de Marx:

Com efeito,aps alguns meses que Marx tinha previsto (a partir de um


raciocnio abstrato e desmentido por todas as aparncias ausencia de
movimento operrio na Alemanha- que o proletariado era a nica classe
revolucionria da Alemanha,uma rebelio aconteceu,que marcou a entrada na
cena da histria da classe operaria alem.

Marx recebeu cartas que confirmavam suas ideiaideias sobre a rebelio: As


revoltas da Silesia nos surpreenderam.So um testemunho claro da justeza de vossa
construo do presente e do futuro alemes na Introduo Filosofia do Direito nos
Annales [...]. O que era em voc uma construo bruta e toda nova tornou-se quase
um lugar comum.

Segue Lowy:

Compreendemos,ento,o entusiasmo com que Marx saudou o movimento dos


teceles,em que sublinha com insistncia o carter terico e consciente;
Que recordemos A cano dos Teceles,este forte grito de guerra,onde no
se faz meno ao lar,a fabrica,ao distrito,mas onde o proletariado clama
imediatamente,de forma brutal,violenta e decisiva, sua oposio sociedade.

A revolta silesiana comea precisamente pelo que marca o fim das


insurreies operarias inglesas e francesas,a conscincia da essencia do
proletariado.A ao mesmo com esse carter refletido.No se destri somente
as maquinas,estas rivais do operrio, mas ainda os livros, os ttulos de
propriedade;e enquanto que todos os movimentos no so dirigidos que
contra o patro industrial,o inimigo visvel,esse movimento visa igualmente o
banqueiro, o inimigo oculto.Enfim nenhum movimento ingls no foi
conduzido com tanta coragem,superioridade e firmeza.
Por fim,

A partir de sua analise da revolta silesiana,Marx chega uma concluso


nova[...] no socialismo que um povo filosofo pode achar sua pratica
(Prxis) adequada;e no proletariado que ele pode achar o elemento ativo de
sua libertao.Ento,o proletariado torna-se o elemento ativo da
emancipao.

8.3. MANCHESTER, INGLATERRA, ROCHDALE, 1844

A Economia Solidria, a partir de suas diversas matrizes e de um longo processo


histrico de prticas com afinidades entre si, incorpora diversas palavras que tm um
significado profundo. Vejamos algumas: a palavra cooperar vem do latim cum
operari, que significa trabalhar conjuntamente com algum; a palavra sindicato
vem do grego atravs das lnguas romanas e tem duas razes: com e justia, isto ,
os sindicalizados so os que tm por defesa a mesma causa; a palavra mutualidade
vem do latim mutuum, isto , troca. Troca eqitvel de servios; a palavra
solidariedade, tem sua etimologia em o que solidrio, ou o que se torna slido
como o solo.

Se solidariedade significa slido como o solo, apesar das palavras de


Marx/Engels no Manifesto Comunista, nem tudo que slido se desmancha no ar. A
Economia Popular e Solidria um exemplo desta persistncia dos trabalhadores que,
em busca de sua autoemancipao, esto reinventando formas novas para a expresso de
suas lutas pela autogesto.

No incio do sculo XIX, o movimento cooperativo, no seu sentido amplo, e o


movimento socialista eram prximos e, s vezes, chegavam a se confundir. A palavra
cooperao foi usada a primeira vez por Robert Owen, em 1821, no sentido oposto
concorrncia e como sinnimo de socialismo, e, at mesmo de comunismo.

O socialista argentino, Juan B. JUSTO, em um ensaio intitulado La


Cooperacion Libre (1932), comparou a cooperao com a greve: Frente a cooperao
forada que lhe impe a direo capitalista, a classe trabalhadora exercita e desenvolve
suas aptides para organizar e dirigir por si prpria a produo, praticando em escala
crescente a cooperao voluntaria na ao econmica. A cooperao livre a
solidariedade para agir, e exige dos associados um grau muito mais alto de capacidade
histrica que a ao gremial negativa nas greves(...) Ela ,antes de tudo, um dos
mtodos da emancipao operaria, uma das modalidades da moderna luta de classes (
La Cooperacion Libre. 1932.p.46)

Nessa mesma obra , J.B.Justo nos fornece dados quantitavos sobre o


cooperativismo nos sculos XVIII e XIX.

A forma inicial da cooperao livre o mutualismo com fins de assistncia e


socorro. As sociedades de socorro mutuo , verdadeiras cooperativas de seguro contra
doenas , apareceram nos inicios dos culo XVIII , e se multiplicaram e robusteceram
sobretudo nos ltimos cinquenta anos. Em 1906 seus scios eram 7.612.316 na Gr
Bretanha e 3.865.000 na Frana, formando respectivamente em cada um destes pases
23,40% e 9,90% da populao. Em 1905 os mutualistas eram na Italia cerca de 1 milho
, e quase meio milho na Suia. (ibid.p.48).

Segur Justo,aprofundado sua viso: De uma importncia maior a associao


livre de trabalhadores para adquirir e produzir seus artigos de consumo,para dar conta
de suas necessidades permanentes e principais.Nascida na Inglaterra, ao calor do
entusiasmo humanitrio de Roberto Owen, a cooperao de produo e consumo teve
princpios utpicos.(ibid-p.50).

Justo caracteriza as experincias owenistas como Dentro de um mundo da


propriedade privada e da concorrncia capitalista, queriam inserir pequenos mundos
heterocliticos, focos isolados de prosperidade material e de perfeio moral(ibid).

Nesta mesma poca dos experimentos owenianos, datam os ensaios de troca


direta entre produtores via bnus de trabalho em que se avaliavam seus produtos
segundo o tempo necessrio para sua produo, tentativa que culminou nos bazares ou
bolsas do trabalho fundados em Londres e noutras cidades inglesas em 1832-33.(ibid-
p.51)

Por fim, Anos aps os memorveis experimentos de Owen, apareceram no


continente europeu as primeiras idias de cooperao livre, porm no mais como uma
combinao de artesos e camponeses autnomos para libertarem-se da tirania do
dinheiro.A nova agitao cooperativa se preocupava antes tudo com os proprietrios da
indstria: queria a fabrica dos trabalhadores, e reivindicava para as associaes
operarias a ajuda do credito do Estado.Tal foi a propaganda de Luis Blanc na Frana e,
mais tarde,na Alemanha,a de Lassale.Para Justo, estes planos desvirtuaram os
objetivos realmente cooperativos(idem-p.51)

R.Owen , por cooperao, entendia o oposto ao sistema individualista de


concorrncia, ou seja, a cooperao mtua:

A primeira sociedade cooperativa, que agrega seus discpulos, so


associaes em que os membros versam uma cota semanal com o objetivo de
acumular um capital destinado fundao de cidades comunistas. A
cooperativa de produo comunista a preocupao essencial dos primeiros
congressos cooperativistas ingleses de 1831-1832 (Edouard Dollans,
Robert Owen, Paris,1905)

Os socialistas do sculo XIX eram chamados de socialistas associonistas ou


societrios. Para muitos a associao livre bastava para solucionar todos os
problemas sociais e por esta concepo, se diferenciavam de Saint-Simon e seus
seguidores, que, na verdade, defendiam a estatizao ou o coletivismo estatal.
Portanto, havia uma identidade de origem, na primeira metade do sculo XIX, entre o
movimento cooperativista e o movimento socialista.

Charles Gide afirma que:

O carter mais saliente do Socialismo atual ser Socialismo de classe.


preciso notar que este carter no existia no Socialismo antigo nem no
Socialismo francs do ltimo sculo (19) e que este, especificamente
operrio, afirmou-se sobretudo no Sindicalismo, esta recentssima forma do
socialismo.

Fourier, Owen e Blanc tinham a ideia de que a soluo das questes sociais estava na
fundao de pequenos grupos fechados que empregariam toda a fora de trabalho de
seus membros. A instituio destes pequenos microcosmos autnomos foi a panacia de
todos estes inventores sociais e socialistas. Para Fourier, seria o Falanstrio, uma
colnia imaginria de 400 hectares e com 400 famlias. Para Owen, a Colnia de New-
Harmony fundada na Amrica, em 1825. Para Fourier, no Falanstrio, 5/12 do lucro
seria para o trabalho, 4/12 para o capital, 3/12 para a obra de direo da empresa.
Assim, Fourier no tinha ideiaideia do princpio cooperativo.
Charles Gide e Beatriz Potter-Weber lanaram as bases da nova doutrina: as
cooperativas de consumo. Para Gide, Fourier era tido como o criador do cooperativismo
de consumo. Em sua obra La Rivoluzione Cooperativa o il Socialismo dOccidente
(Roma, 1953), Bernard Alvergne afirma:

Fourier, nem Owen, no tinham ideia do que poderia ser a cooperativa de


consumo. Mas com seu trabalho de divulgao, no princpio do sculo XIX,
suscitaram na classe operria da Frana e da Inglaterra, uma emoo e um
entusiasmo essencialmente favorvel ao desenvolvimento de associaes
com tendncias socializantes. Atravs de tentativas, de erros e acertos, foi
descoberta a ideiaideia da repartio cooperativa do lucro. Aps ter sido
pressentida por dois operrios fourieristas, que fundaram em Lyion uma
sociedade mais ou menos similar nossa cooperativa distributiva e lhe deram
um magnfico nome essencialmente fourierista: Ao comrcio verdico e
social, a nova ideia foi reinventada e precisada em 1844 por um discpulo de
R. Owen.

O principal estudioso de Fourier, Henri DESROCHE, em sua obra principal ( La Societ Festive)
distingui entre um fouririsme escrito e um pratico.E que, Foi mais atravs deste fourierismo
praticado que do escrito que o fourierismo alcanou o desenvolvimento cooperativo
(Desroche.1975.p.197).

Para Desroche o fourierismo escrito assemelha-se a um tipo ideal de Max Weber. um esquma
complexo que no se encontra na pratica.Para Desroche, na pratica cooperativista ,o schma fouririste
crit abrange pelo menos 3 ou 4 sub-esquemas:

1) um esquema de distribuio;

2) um esquema de apropriao;

3) um esquema de produo;

4) um esquema de vida coletiva implicando um regime indito de vida cotidiana,desde a gastrosofia at


novas relaes entre os sexos. (ibid ).

Portanto, uma visa de mundo.E,romantica ,no conceito ,por exemplo,de Octavio Paz: O
romantismo foi a grande mudana , no s no campo das letras e das artes,mas na imaginao, na
sensibilidade, no gosto,nas idias. Foi uma moral, uma ertica, uma politica, uma maneira de se vestir e
uma maneira de amar, uma maneira de viver e de morrer.( O.Paz.Filhos do barro).

E, por isso, Dos quatro principais esquemas implicados e mesmo imbricados no projeto fourierista
inicial, os dois ltimos permaneceram praticamente ausentes do desenvolvimento cooperativoe os dois
primeiros , ao contrario, se impuseram...(idem-p.199)

A passagem das idias pratica, ocorreu com Charles Howart, quando em


1843, redigiu os estatutos da futura sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale.
Georges Jacob Holyoake, em livro publicado em 1893, descreveu a epopia de
Rochdale:
No final de 1843, havia grande prosperidade nas manufaturas de Rochdale,
condado de Lancashire, na Inglaterra. Nesta conjuntura, os teceles
reivindicavam aumento salarial. No conseguindo aumento pelos patres,
lembraram das ideiaideias de Owen. Um Comit formulou e tentou diversos
caminhos, todos sem resultados totalmente satisfatrios. Enfim, aps
conseguir a unidade dos trabalhadores, decidiram pelo cooperativismo:
fundar um armazm cooperativo de consumo.

Este Comit era formado por 28 teceles, militantes dos movimentos Cartista
e socialista. Definiram alguns princpios da cooperativa. Baseados em sua educao
socialista, os teceles viam o crdito como um dos males da concorrncia. Assim, as
vendas seriam vista. Em 24 de outubro de 1844, a cooperativa foi registrada com o
nome de Rochdale Society of Equitable Pioneers. Em pouco tempo, a sociedade tinha
aumentado seus scios de 28 para 40, espalhados por todos os bairros e subrbios da
cidade. A cidade foi dividida em 3 distritos e 3 cobradores visitavam os scios em suas
casas todos os domingos. Toda semana havia um piquenique para o qual os scios
pagavam uma taxa. Em 21 de dezembro, na Toad Lane (beco dos sapos) os
pioneiros iniciaram suas operaes.

Os princpios cooperativos foram sintetizados em 7:

- Livre adeso;

- Administrao democrtica;

- Sobre capital emprestado a cooperativa pagaria taxa de juros fixa;

- Repartio do excedente econmico (sem que constitua formas de lucro capitalista);

- Neutralidade poltica e religiosa;

- Educao dos scios;

- Integrao cooperativa.

A Educao e a tica so dois elementos fortes da experincia de Rochdale.


Quando se definiam como os Probos, isto significa uma definio de economia
moral ou de uma tica baseada na solidariedade.

Por sua parte, o Departamento de Educao foi criado em 1849; um comit foi
fundado para recolher as doaes voluntrias de dinheiro e livros. Em 1853, 2,5% do
lucro da sociedade foi dedicado educao. Em 1856, a biblioteca tinha 1.400 volumes
e a sala de leitura de livros e jornais ficou aberta gratuitamente a todos nos scios. Em
1867, a biblioteca tinha 7.000 volumes e 11 salas de leitura em vrios bairros da cidade,
abertas por 7 horas dirias. Neste ano, foi editado um catlogo da biblioteca, com uma
tiragem de 7.000 exemplares. Dez anos depois, em 1876, o nmero de volumes era de
12.000. O nmero de livros consultados pelos leitores de junho de 1876 a junho de 1877
foi de 37.316.

O Comit de Educao organizava Conferncias temticas. Em 1873, diversas


entidades organizavam conferncias pblicas. Em certas ocasies, havia 6 conferncias
em uma mesma noite. Este Comit tinha 11 membros eleitos, uma metade, na
assemblia geral de abril e a outra, na assemblia de outubro; assim, cada membro
ficava um ano nas funes.

Quadro 3. Perfil dos Pioneiros


Nome Profisso opo politica

James Starding Tecelo Owenista, reforma social

John Bent Alfaiate Socialista

James Smithies Grfico Reforma social

Charles Howart Txtil Socialista

David Brooks Impressor Reforma social

Benjamin Reedman Tecelo Reforma social

John Scrowcroft Vendedor ambulante Religioso

James Manock Tecelo Reforma social

John Collier Mecnico Socialista

Samuel Ashwort Tecelo Sem dados

William Cooper Tecelo Socialista

James Tweedale Carregador Socialista


Joseph Smith Tecelo Reforma social

Miles Ashworth Tecelo Cartista

John Kershaw Mineiro Cartista

James Maden Tecelo teetolar

Robert Taylor Sem dados Sem dados

William Taylor Sem dados

Samuel Tweedale Tecelo

John Garside Ebanista

Georges Healey Arteso de chapus

James Wilkson Sem dados

James Daly Sem dados

John Hill Sem dados

John Holt Sem dados

William Mallalien Sem dados

James Bramford Sd

Ana Tweedale (nica mulher do grupo ) Sd

4. A COMUNA DE PARIS

o PODER POPULAR e COMUNAL

Fazer a histria no consiste em restaurar o


passado ,

nem em prever o futuro,

mas em imaginar o presente

( Yvon Bourdet )
Hoje a festa nupcial da ideiaideia e da
revoluo.

Aps a poesia do triunfo, a poesia do trabalho.

[ Le cri du peuple, 30 maro de 1971]

Considrant quil vous est impossible

De payer ds salaires dcents

Nous allons prendre em nos mains

les usines :

Vous em moins,cest pour nous

bien suffisant.

(B.Brecht.Os dias da Comuna)

8.4.1. A Comuna como forma do Poder Popular e Comunal

Por que os trabalhadores de Paris erigiram uma Comuna ,ao substiturem de


forma revolucionria o Estado capitalista ? De onde buscaram esta ideia, da qual disse
Marx, a forma poltica finalmente encontrada ? Em que fontes histricas,teoria e
pratica,foram beber ?

Vamos tomar como referencia a obra de Luiz Francisco F. de Souza (2003) em


que traa as origens das comunas: O termo comunismo nasceu na Idade Mdia,ligado
ao movimento das comunas da propriedade comunitaria (da propriedade comum , uso
comum dos bens) [grifos nossos]. Nosso autor fala de uma corrente revolucionria
comunal.Cita Jacques Grandjonc,do PCF,que escreveu obras sobre a origem e o
desenvolvimento da terminologia comunitria pr-marxista nos socialistas utpicos e
entre os neo-babovistas: Entre os sculos XII e XIV, o adjetivo comunismo emergiu na
corrente revolucionria comunal deflagrada a partir do final do sculo XI e que
representa um dos momentos fortes da vida social medieval(...).

Segundo Francisco,

Essa corrente revolucionria comunal ( de resistncia dos camponeses em


defesa da propriedade comunitria,contra os nobres e contra a burguesia que
nascia,especialmente o grande comercio) teve ampla participao
religiosa.As cidades surgiram ,cheias de artesos,camponeses e de epquenos
burgueses que fugiam dos feudos,em guerra contra os nobres.As cidades
surgidas na Itlia,Frana,Espanha,Pases Baixos,Alemanha so
profundamente religiosas e organizam os artesos e pequenos produtores em
guildas,em cooperativas que planejavam a produo para evitar a
competio,etc.

Seguindo as ideias de J.Grandjonc Sob o Antigo regime,o adjetivo comunista


designa,de uma parte, o sistema de mo morta e, de outra parte, diversos direitos de
uso,especficos organizao comunitria das vilas..

Marx definiu com muita clareza a Comuna:

A Comuna foi essencialmente um governo da classe


trabalhadora(Marx).To work out the economic emancipation of labour
through the political form at last discovered,so that free and associated labour
should assume the form of united co-operative societies in order to regule
national production upon a common plan (MSZROS).

conhecida a histria da reunio do Partido Bolchevique,que aps a Revoluo


completar um minuto a mais do que os 3 meses de durao da Comuna de Paris,os
participantes foram para rua comemorar este fato! Alis,Lenine que escreveu em pleno
fazer da revoluo seu livro, O Estado e a Revoluo,poderia t-lo intitulado
merecidamente de A Comuna e a Revoluo.

Mas,antes mesmo da Revoluo russa de 1917, em 1910-11,na regio de


Morelos,os camponeses mexicanos ,com Zapata frente,erigiram a Comuna de
Morelos. E em janeiro de 1994,os indios Mayas da regio de Chiapas iniciaram uma
rebelio chamada de Zapatista,retomando em pleno momento de hegemonia
neoliberal,os ideias da Comuna de Morelos,um neozapatismo,que anos depois,constroi
formas de autogesto nos seus territorios liberados,os Caracois .

Daniel Guerin, estudando o papel dos Braos Nus*, na Revoluo Francesa de


1789, traou a origem e a histria desta forma poltica de poder do povo.Vamos tentar
fazer uma sntese de suas ideias. Todo ao longo da revoluo francesa encontra-se posta
,de forma constante e antagnica, a questo das formas do poder popular. Foi a propria
burguesia que se apropriou da noo de soberania popular,usando-a em sua luta contra
o feudalismo e o absolutismo. Assim,o filosofo ingls Locke foi a primeiro a lana-la
conta a ideiaideia do direito divino da moarquia (o monarca tem seu poder advndo de
Deus e que no necessita prestar contas na terra a ningum).

Locke dizia que, na Antiguidade os homens eram naturalmente livres,iguais e


independentes.da mesma forma,o telogo francs protestante Pierre Jurieu,adversrio do
absolutismo,opunha soberania divina a soberania do povo. Todavia, a ideiaideia de
soberania popular poderia,um dia,ser volta contra a prpria burguesia.Assim, a
burguesia tenta limitar esta ideiaideia.Em verdade, na Antiguidade no apenas foi
concebida a ideiaideia de soberania popular,mas e principalmente,a do exerccio desta
soberania pelo prprio povo mesmo.

A democracia direta,existiu em algumas cidades,como Atenas. E, jamais foi


total: exclua as mulheres e,tinha por base um sistema de opresso:a escravido. Os
republicanos ingleses,no sculo XVII, enxertaram a soberania popular em uma
instituio que nada tinha a ver com essa ideiaideia: o Parlamento,que foi fruto de um
compromisso entre a aristocracia e a burguesia.os grandes senhores feudais tinham por
habito se reunirem para discutirem seus negcios;era o chamado Conselho dos bares.
Pouco a pouco, este Conselho teve que admitir a presena dos deputados da burguesia
nascida nas cidades.Assim, surge o republicanismo burgus, um
parlamento,assemblia nica, nico representante do povo), que na teoria admitia que
todo o poder emana do povo, mas que, na pratica, negava-lhe o direito do exercico por
si prprio; tinha apenas o direito de delegarseu poder uma assemblia que fazia leis e
governava por ele.

A burguesia francesa,do sculo XVIII,adotou este sistema representativo;


Montesquieu a frente: o povo deve entrar no governo apenas atravs de seus
representantes; para este pensador,um dos vicios das repblicas antigas que o povo
podia legislar diretamente.Condorcet,Turgot s admitiam o direito de cidado aos
proprietrios. Revolucionrios burgueses,como Camille Desmoulins admirava o
legislador antigo por retirar do corpo poltico essa classe de gente que chamamos de
proletrios (...) Essa centria no pode jamais dominar no Estado(...) O domestico
poder opinar com o mestre ?.

Rousseau iniciou a critica a este sistema de representao:

O povo ingls pensar ser livre,ele se engana; ele s livre durante as eleies
dos membros do Parlamento;aps estes serem eleitos,o povo escravo,no
nada.(...) A ideiaideia dos representantes moderna;ela nos chega do governo
feudal(...)Nas antigas repblicas(...)o povo no tinha representante;no se
conhecia essa palavra(...). Quando escolhe representantes,o povo no mais
livre,ele no mais.

Contudo, Rousseau afirmava que a forma de governo de uma pequena republica


antiga pudesse ser adotada no mundo moderno.Nem sistema representativo nem
democracia direta.Rousseau defende,ento, garantias ao povo para o exercico da
representao.os deputados seriam no representantes do povo ,mas seus
comissarios.Nada poderiam concluir em definitivo: Toda lei que o povo em pessoa
no ratifica nula.Rousseau preparou o caminho para Robespierre.

Para D.Guerin: A constituio robespierriana de 1793, a mais democrtica das


constituies francesas,foi uma tentativa hbil de compromisso entre a concepo
burguesa do parlamento soberano e `a aspirao popular soberania direta. O
povo,atravs de suas assemblias primarias podia apenas seu voto algumas leis
elaboradas pelo parlamento central.Aqui,foi o Maximo de concesso feita pela
burguesia revolucionria,para obter o apoio dos braos nus.Como os outros
revolucionrios franceses, Robespierre era hostil a democracia direta.

Contudo, Para temor da burguesia revolucionria,os sans-culottes


opunham,muitas vezes,a soberania da assemblia parlamentar,a verdadeira soberania do
povo,a exercendo diretamente onde se faziam assemblias: nas sees, nas comunas,em
suas sociedades populares. Desta forma,em 3 novembro 1792,a seo do bairro Cit
apresenta aprovao das outras sees de Paris ,um Apelo : Os cidados de Paris
declaram (...) que eles no reconhecem como soberana a maioria das comunas da
republica(...),no reconhecem os deputados Conveno que como redatores de um
projeto de constituio e administradores provisrios da Republica. No curso desta
insurreio abortada,do 10 maro 1793,varias sees,mais o Clube dos Cordeliers
adotaram uma moo,redigida pelo enrag Varlet: O departamento de Paris ,parte
integrante do soberano,est convidado a se apoderar do exerccio da soberania;o corpo
eleitoral de Paris est autorizado renovar os membros (da Conveno) traidores da
causa popular.

Para Guerin,A Comuna de Paris vem de uma antiga tradio que remonta ao
sculo XI,poca em que o terceiro estado das cidades se formou dentro da sociedade
feudal e tinha conquistado com muitas lutas as liberdades comunais.esta ,em breve,a
origem histrica da Comuna.E,eis como ela ressuscita: os deputados de Paris nos
Estados Gerais foram eleitos,em 1789,por uma assemblia de eleitores; essa,aps a
queda da Bastilha,tomou em mos a administrao da capital e se nomeou com o antigo
nome de Comuna.Mas essa Comuna s tinha uma semelhana formal com a da Idade
Media.Entre a comuna medieval e a comuna revolucionria, havia a mesma diferena
que h entre a corporao de antes 1789 e o sindicato operrio moderno:a comuna
medieval,a corporao vivia ainda na sociedade feudal,eram abaixo da sociedade
burguesa da qual foram os primeiros rudimentos,ao apsso que a comuna
revolucionria,o sindicato operrio moderno estavam alm da sociedade
burguesa,abrindo as vias para um tipo de nova sociedade.

importante marcar que Gustav Landauer, em sua obra de 1907, A


Revoluo, analisando o longo processo revolucionrio francs,denomina da seguinte
forma a Revoluo de 1789:

Chegou assim, em maio de 1588, o dia das barricadas: o povo de Paris , em armas.
Se atrincheirou na ruas, com os dezesseis prefeitos e os padres a frente (...).Em
dezembro foi assaltada a Bastilha, que j era ento o baluarte e o smbolo do
absolutismo...

Quase exatamente duzentos anos depois , no 4 de agosto de 1789, uma vez que se
estendeu por todo o pais a revoluo da comuna de Paris (que culminou tambm na
tomada da Bastilha...)(Landauer,1977-ps. 109-110)

As 48 sees parisienses que constituam os espaos do novo poder popular


tinham uma origem bem mais recente.Necker,ministro de Luiz XVI, dividiu Paris em 60
distritos para eleio .Houve protestos,pois tinha por objetivo dividir o esprito
revolucionrio da capital.A burguesai parisiense completava a obra iniciada no Antigo
Regime:forgar os instrumentos da democracia de tipo comunal.Em 1792,as sees
populares obtiveram da Assemblia o direito de reunio permanente das ,ento, 48
sees,e com a participao de todos e qualquer cidado.

Para Guerin,

Um fenmeno caracterstico de todas as revolues consiste na coexistncia


momentnea de duas formas antagnicas de poder poltico.A dualidade de
poderes,embora embrionria,se manifestou na Revoluo francesa. Seus
primeiros fenmenos apareceram em julho de 1789: de inicio,entre o Rei e a
Assemblia Nacional,depois,entre esta Assemblia nacional,representante da
vontade da alta burguesia,e a Comuna de Paris,apoiada nas camadas
inferiores do terceiro estado da capital.

A dualidade de poderes se manifestou de forma mais aguda por ocasio da


insurreio de 10 agosto 1792.Desde a segunda quinzena de julho,as sees tinham
nomeado delegados que se reuniram no Hotel da Cidade (Hotel de Ville).No dia 10,a
assemblia dass ecoes populares substitui Comuna legal e se constitui em Comuna
revolucionria,que se pe frente Assemblia nacional burguesa como rgo da
vontade popular.

Mas a dualidade de poderes um fato revolucionrio e no formal.Ela s pode ser


transitria,cedo ou tarde um dos dois poderes deve eliminar o outro.No 31 maro 1793,a
dualidade de poderes toma uma nova forma aberta.Em inicio de 1794,a luta foi
reavivada entre os dois poderes: o das massas representado pelas sociedades populares
das sees agrupadas em um comit central,mais que pela Comuna mesmo.

Os sans-culottes sentiam por instinto a necessidade de opor democracia


parlamentar,indireta e abstrata,as formas mais diretas,mais flexveis e mais
transparentes de representao.Assim,as sees,as comunas,as sociedades
populares,traduziam imediatamente,no dia-a-dia,a vontade da vanguarda revolucionria.
Mas, a cabea da Revoluo estava na capital.Havia,a necessidade de expressar
a vanguarda popular tambm em todo a Frana,e no somente em Paris.Assim,surgiu a
ideiaideia de uma federao das Comunas.Bem diferente das Ligas das comunas da
Idade Media.Esta federao tambm foi uma criao da burguesia avanada.Comunas
tinham sido constitudas,seguindo o exemplo de Paris,em todo o pas.

A Assemblia nacional tentou recuperar a ideiaideia das federaes atravs da


festa do 14 de julho.Os federados vieram assistir festa da federao,se uniram
espontaneamente aos bras nus das sees parisienses para derubar a realeza.A comuna
insurrecioanl do 10 agosto foi a dupla emanao da assemblia dos delegados das 48
sees parisisenses e do Comit de ao dos federados presentes em Paris.

A Comuna de Paris se apresenta como coordenao das 44.000 comunas do


pas.A partir de dezembro de 1793, a burguesia iniciou uma luta ferrenha para reforar o
poder central e quebrar toda tentativa de federao entre as comunas ou as sociedades
populares.

Deste modo,espontaneamente,a Comuna descobriu uma forma nova de


representao,mais direta e mais flexvel que o sistema parlamentar.Para Guerin,este
federalismo inspirou depois as obras de Proudhon,Bakounin , Marx e Lenine.

O marxista italiano, Antonio NEGRI, estudando as alternativas da


modernidade,tambm,se debruou sobre a experincia do poder popular na
Revoluo francesa.Em obra intitulada O Poder Constituinte, Negri,em seu capitulo
V,intitulado Revoluo e constituio do trabalho,parte i: O enigma de Rousseau e o
tempo dos sans-culottes, Negri aborda questes que vimos na obra de Daniel Guerin.

Inicialmente,Negri afirma que difcil interpretar a Revoluo Francesa do


ponto de vista da luta de classess,mas certo que ela,ao desenvolver-se,molda os novos
sujeitos polticos da luta de classes: burguesia e proletariado.A luta de classes no a
sua origem,mas o seu resultado.

Analisando a ideia do Poder Constituinte na obra de Marx, A.Negri faz referencia


Comuna de Paris:

Nos escritos sobre a Comuna de Paris,de 1871, o poder constituinte


manifesta-se,enfim,como sntese perfeita entre um sujeito histrico o
proletariado parisiense em armas- e um procedimento absoluto: ele a
propeia Comuna proletria, essencialmente um governo da classe
operaria,o produto da luta de classes dos produtores contra a classe
apropriadora,a forma poltica finalmente descoberta atravs da qual se pode
dar a emancipao economica do trabalho [...] A classe operaria no esperava
milagres da Comuna.Ela no no tem utopias belas e prontas para introduzir
per dcret du peuple[...] A classe operaria no tem que realizar ideiaideias,e
sim liberar os elementos da nova sociedade[...]. A grande medida social da
Comuna foi a sua prpria existncia.As medidas particulares por ela
aprovadas podiam somente prenunciar a tendncia a um governo do povo por
obra do povo.

Para A.Negri,
neste ponto que o conceito de poder constituinte alcana a sua significao
mxima em Marx: quando o projeto de dissoluo do Estado no est
subordinado espontaneidade anrquica,mas concentrado no nexo
dinmico,expansivo,no obstante pontual,entre political movement e
political power[...]. O que Marx traduz como political movement a
potencia , aquela fora constituinte de uma democracia radical em que a
critica do poder conjuga-se com a emancipao do trabalho, o movimento
real.

8.4.1. Poder Constituinte, trabalho vivo e Autogesto

Em Marx,a revoluo poltica e a emancipao social so duas matrizes


histricas que se entrecruzam no terreno constitucional.A liberao poltica e a
emancipao econmica so uma mesma coisa:

Esta coisa ns a encontramos no centro da teoria marxista do capital,na qual


o trabalho vivo aparece como fundamento e motor de toda produo,de todo
desenvolvimento,de toda inovao[...] trabalho vivo contra trabalho
morto,poder constituinte contra poder constitudo: esta polaridade nica
percorre todo o esquema de analise de Marx e o resolve numa totalidade
terico-pratica totalmente original.

A critica marxista do poder mostra a teoria burguesa do poder como


sobredeterminao do trabalho vivo pelo trabalho morto.

Ao contrario, o trabalho vivo encarna o poder constituinte e oferece-lhe


condies gerais de expresso- o poder constituinte instaura-se politicamente
dobre aquela cooperao social que conatural ao trabalho
vivo,interpretando-lhe a produtividade,ou melhor,a criatividade. no carter
imediato e na espontaneidade criativa do trabalho vivo que o poder
constituinte decifra a prpria capacidade de inovao, no carter imediato e
cooperativo do trabalho vivo que o poder constituinte encontra a sua
massificao criadora.

preciso considerar com ateno este ncleo de trabalho vivo, esta tenso
criadora que ao mesmo tempo politica e econmica,produtora de estruturas
civis,sociais e polticas,constituinte.O trabalho vivo cooperativo produz uma
ontologia social que constitutiva e inovadora,um entrelaamento de formas
que tocam o econmico e o poltico o trabalho vivo produz uma indistino
entre o poltico e o econmico que assume uma forma criadora.
O que resta ,para A.Negri ,desta tentativa feita por Marx ?

Mais de um sculo se passou desde que Marx elaborou esta teoria do poder
constituinte,identificando no proletariado seu sujeito histrico.Sem duvida,tal
teoria produziu amplos efeitos,ainda que,como outras teorias,j tenha
atingido seu limite histrico.O que dela resta no propriamente a tentativa
de identificar o proletariado como ator da revoluo permanente[...] mas o
formidvel esforo metafsico de propor o poder cosntituinte como
dispositivo genealogico geral das determinaes sociopoliticas que formam o
horizonte da histria do homem. Mais do que nunca,esta problemtica atual
[...].

Deste modo, A denuncia da questo social est em sintonia com uma


concepo superabundante e expansiva da institucionalidade ontolgica da democracia
poltica: em todas as suas formas, da polis grega cidade renascentista,das
assemblias americanas aos conselhos operrios revolucionrios de 1919 e de 1956.

Voltemos a reflexo de Negri sobre a Revoluo Francesa: a revolta contra o


Ancien Regime comea aos poucos a indicar,e depois revela em sua plenitude,a luta
proletaria contra o trabalho.A temporalidade dos comportamentos de massa e sua
progresso introduzem um novo conteudo de fundao e uma nova alternativa o
trabalho ou a sua critica ,sua organizao pela burguesia ou sua liberao pelo
proletariado.

Estudando a temporalidade das massas, Negri afirma que

para os senas-culottes,o soberano nada tinha de metafsico,era de carne e


sangue,o porprio povo era quem exercia os seus direitos nas assemblias de
suas sees...A ambigidade de Resseau desmistificada, e a soberania
popular inscrita na teoria e na pratica do exerccio do poder no apenas
como contrapoder,mas na universalidade de sua irradiao.Como diriam os
burgueses e os polticos,a ruptura no poderia ter sido mais feroz[...]
Contudo,esta ruptura ainda no significa a primazia da temtica do
trabalho,nem no sentido de que a organizao burguesa do trabalho deva ser
concebida como chave da sociedade poltica, nem no sentido oposto, ou
seja,de que a sociedade poltica deva intervir para modificar o antagonismo
da organizao social do trabalho.Como se opera ento esse aprofundamento
da critica ? Eis a resposta: no terreno do trabalho,ela o resultado do
desenvolvimento do poder constituinte das massas,na medida em que ele
recusa ser transformado em poder constitudo.

Para Negri,
o poder constituinte das massas encontra o tempo da jornada da burguesia
como obstculo,ou seja, a organizao do tempo da jornada do trabalho.
nesta articulao que a produtividade do poder,sua organizao econmica e
sua potencia social se manifestam- para uns e outros,burguesia e
proletariado.Com esta conscincia da temporalidade,no curso da revoluo e
quanto mais o conflito progride,ambos constroem suas conscincias de classe
em termos antagnicos.Assim,o tempo o limite que se contrape s massas
parisienses.O tempo acabou.O tempo deve ser to somente o tempo da
repetio da jornada de trabalho. este bloqueio do tempo que,ao
contrario,aumenta a conscincia das massas: lev-as da poltica
sociedade,da critica do poder critica do trabalho.As massas respondem ao
bloqueio do tempo com aceleraes formidveis e imprevistas que,a cada
vez,ultrapassam o obstculo e deslocam o limite para frente.A ruptura do
tempo toca e cobre cada vez mais o espao social e tenta subvert-
lo.Inscritas nesta temporalidade,as aceleraes do movimento revolucionrio
das massas revelam o desejo de ruptura do tempo social do tempo do
trabalho.

O carter social do poder constituinte das massas na Revoluo Francesa, a


critica do trabalho que,atravs deste processo,toma lugar como elemento
central da histria contempornea,decorrem da temporalidade vivida,da
vivencia (Erlebnis) e do gosto pelo exerccio direto do poder constituinte.No
no contedo da revoluo burguesa,nem atravs de sua radicalizao,que o
self-making do proletariado desencadeado e efetivado,e sim por meio do
exerccio concreto ,pratico e continuo do poder constituinte.A fome,a dor,o
desejo,o movimento e as lutas organizam a descoberta da critica do
trabalho.Atraves da acelerao do tempo revolucionrio,constri-se a
ideiaideia de um tempo concebido como potencia,ou melhor, de um outro
tempo.A ideiaideia de um tempo como potencia,isto ,a descoberta de um
espao poltico definido pela titularidade e pelo exerccio do poder
soberano(...)O tempo dos sans-culottes subverte a concepo do espao
poltico porque no o define como espao de representao,mas como lugar
dee xercicio do poder de massa no como espao constitudo e
delimitado,mas como espao continuo de poder constituinte.

Em nota de rodap, A.Negri ressalta muito bem,que o tempo descoberto pelo


movimento revolucionrio no uma forma de modernizao,mas de insubordinao e
de revolta. A fuso entre o social e o politico, o elemento central da concepo do
poder constituinte e Na mesma medida em que o capital abarca a sociedade inteira
em seu comando econmico-politico,esta pequena verdade materialista (o poder
constituinte uma atividade indistinta e indistinguivel,social e poltica) assume todo o
necessrio relevo.

Alm disso, o autor analisa que Os movimentos sociais da classe operaria,antes


e depois de Marx,tm fornecido demonstraes extraordinrias desta verdade
fundamental.O que tem caracterizado a histria contempornea no a inveeno do
social por parte do Estado,mas o self-making of the working class6.

8.4.2. A Experincia da Comuna de Paris - uma Utopia Concreta

Como j vimos, a Comuna tem um longo histrico. Na obra coletiva,Ls


Socialismes Franais, lpreuve du pouvoir (Textuel,2006) ,podemos ler que: 1864-
1879. Continuidades e renovaes- A experincia da democracia direta na Comuna de
Paris.O retorno e a renovao dos movimentos operrios e socialistas aps a dura
represso de 1848 ocorrem no decnio 1860.O ano de 1864 marca uma virada: o
Manisfesto dos 60, lanado por Henri Tolain,reivindica as candidaturas
especificamente operarias nas eleies legislativas; o delito de coalizo suprimido,o
que d imediatamente um lan as greves; uma delegao francesa foi enviada reunio
fundadora da AIT (a Ia Internacional) em Londres. As continuidades ficam com os o
neo-jacobinismo (Charles Delescluze...),o blanquismo (Eudes,Granger...),a continuidade
de experimentaes comunitrias na Frana e no estrangeiro.

Mas, a lembrana amarga da Segunda republica e as realizaes das asociaes


cooperativas, a pratica crescente da greve alimentaram as rupturas e os deslocamentos.
A hostilidade frente a centralizao governamental bonapartista, a desconfiana em
relao da democracia representativa parlamentar e o sucesso de certas ideiaideias
proudhonianas (espontaneismo, mutualismo, federalismo) impregnaram um bom
numero de militantes operrios, e mesmo os internacionalistas. O principio de Flora
Tristan, retomado pela AIT, A emancipao da classe operaria deve ser obra dos
prprios trabalhadores, ou a tese segundo a qual todo movimento econmico da classe
operaria o grande objetivo ao qual todo movimento poltico deve ser subordinado
como meio foram interpretados de forma diversa.

6
Em nota, Negri esclarece: Refiro-me ao The making of the English Working Class,de Thompson).
Sem duvida, a Comuna de Paris a primeira demonstrao extraordinria em que as classes oprimidas
fundam a forma politica do poder constituinte dos trabalhadores,atraves da autogesto social.
A Comuna de Paris (18 de maro-28 maio 1871) ps a prova todas as
sensibilidades.os dirigentes de inspiraoo e de geraes polticas distintas,de onde
muitos vinham do mundo do trabalho,foram eleitos ao Conselho da Comuna e se
contraporam em conjunto frente Versailhes.

Durante cerca de 72 dias de guerra civil,medidas polticas e sociais foram adotadas ( por
exemplo, a separao da Igreja e do Estado, a supresso do trabalho noturno nas
padarias, o recenseamento das fbricas abandonadas para serem postas sob controle das
associaes cooperativas...) sem todavia tocar o Banco da Frana nem aceitar o direito
de voto das mulheres,apesar da participao destas ultimas nos espaos pblicos.Mas os
communeux chegaram a improvisar,em nvel da capital, praticas de democracia
direta (mandato imperativo,controle dos eleitos pelos clubes,cmaras
sindicais,revogabilidade permanente,regime de destribuio mais igualitrio...). Deram
ao projeto socialista revolucionrio uma forma poltica especifica em estado de
esboo,mas concretamente possvel.

Essa primeira conquista do poder pelo proletariado suscitar interpretaes


divergentes sobre sua natureza poltica e social e as lies a tirar concernem a passagem
do capitalismo ao comunismo,sobretudo entre Marx e Bakunin, conclue Alain
Millard,autor destas palavras.

Vamos aos detalhes da experincia da Comuna.

No final do seculo XIX, no ano de 1871, a classe trabalhadora de Paris tentou


assaltar o cu. Este movimento ficou conhecido como a Comuna de Paris. O exemplo
do povo parisiense ainda significativo, sobretudo, quando pensamos a questo do
poder local, isto , a transformao revolucionria do aparato estatal em poltica de
construo de uma nova hegemonia de carter socialista das cidades.

A Comuna de Paris foi o acontecimento mais importante da luta pela auto-


emancipao dos trabalhadores no sculo XIX. Pela primeira vez, no perodo de dois
meses, o proletariado teve nas mos o poder e criou as condies objetivas para
extino do poder poltico. De 30 de abril a 5 de maio de 1871, a Comuna eleita em 26
de maro por sufrgio universal e majoritariamente formada por trabalhadores da
produo, tomou um conjunto de decises tendentes a destruir o Estado burgus e
edificar a democracia direta, uma sociedade socialista autogestionria.
Entre as medidas, contidas na "Proclamao da Comuna ao Povo Trabalhador de
Paris", pela sua importncia e pela repercusso que viriam a ter no movimento operrio
internacional, desde ento at nossos dias, destacamos as seguintes:

- combate burocracia - supresso do funcionamento estatal;

- abolio do exrcito e sua substituio pelas milcias populares;

- interdio do acmulo de cargos;

- organizao de conselhos operrios nas fbricas abandonadas pelos patres;

- reduo da jornada de trabalho para 10 horas;

- eleio da direo das fbricas pelos trabalhadores;

- reforma do ensino;

- revoluo cultural do cotidiano;

Em nvel da organizao do trabalho, mola mestra do sistema de explorao,


houve uma demolio, pedao por pedao, de toda a organizao capitalista do trabalho:
as fbricas da comuna foram exemplo de democracia proletria. Os operrios
nomeavam os seus diretores, chefes de equipe, etc. Tinham o direito de revog-los, eles
mesmos decidiam os salrios, horrios e condies de trabalho; um comit de fbrica se
reunia todos os dias para programar o trabalho. Um verdadeiro autogoverno dos
trabalhadores.

Assim, pela primeira vez, veio luz no mundo real as formas prticas de
superao do poder poltico: a organizao do social e do econmico exercida cada vez
mais diretamente pelas massas, a eleio pelas massas de todos os intermedirios e sua
revogabilidade a qualquer momento, a inexistncia de privilgios econmicos para estes
intermedirios.

As instituies da Comuna de Paris, estruturalmente novas, criadas no prprio


processo real, constituram as bases materiais de um poder poltico de novo tipo, ou
seja, a extino do poder poltico. Um Estado gerido por Conselhos Operrios
democraticamente eleitos, um Estado Comuna. A Comuna inaugurou a era da
expropriao dos expropriados ao decretar a socializao das fbricas abandonadas
pelos patres e ao instaurar um regime de autogesto operria.

Para Marx, "O verdadeiro segredo da Comuna residiu em ser essencialmente um


Governo de classe operria, o produto da luta de classes dos produtores contra a classe
dos expropriadores, a forma poltica por fim descoberta, pela qual se podia realizar a
emancipao econmica do trabalho".

Ainda para Marx, "A Comuna foi uma revoluo, foi o ressurgimento da
autntica vida social do povo, realizada pelo povo, foi uma revolta contra o poder
executivo e as formas parlamentares".

Para Bakounin, "A Comuna foi uma negao audaciosa, bem clara, do Estado e
a exaltao da ao espontnea e comum das massas, dos grupos de associaes
populares, porque as massas tm, eminentemente, o instinto socialista".

Por sua vez, Lenin reconheceu na Comuna a primeira tentativa feita pela
revoluo proletria para destruir a mquina do Estado burgus: "A Comuna ensinou o
proletariado europeu a pr concretamente os problemas da revoluo socialista. A causa
da Comuna a revoluo social, a emancipao poltica e econmica total dos
trabalhadores, a do proletariado universal. E, neste sentido, ela universal".

Assim, exaltada por vrios revolucionrios, a Comuna foi a primeira grande


revoluo moderna. Muitos foram os motivos do aniquilamento da Comuna de Paris
pela burguesia europia. Contudo, assinalemos apenas duas condies analisadas por
Lenin:

Para que uma revoluo social possa triunfar, duas condies ao menos so
necessrias: as foras produtivas altamente desenvolvidas e um proletariado
bem preparado. Mas, em 1871, estas duas condies faziam falta. O
capitalismo francs era ainda pouco desenvolvido,e a Frana era um pas de
pequeno-burgueses (artesos, camponeses, comerciantes, etc). Mas o que fez
falta Comuna foi o tempo e a possibilidade de se orientar e de abordar a
realizao de seu programa.

DECOUFL=====

Andr Decoufl, um dos principais analistas das revolues dos sculos XIX e XX, com
o objetivo de superar o que chamou de o mito da comuna na memoria coletiva das
revolues do ocidente e do Oriente, realizou uma analise histrica da Comuna de
Paris, destacando alguns pontos :

1- Uma teoria da comuna politica que a Declarao comunalista de 19 de abril


estende a todas as comunas da Frana.Esse texto reivindica a autonomia
absoluta para cada localidade constituda em comuna assegurando a cada uma a
integralidade de seus direitos e a todo francs o pleno exerccio de suas
faculdades e aptides como homem , cidado e trabalhador. Assim como os
direitos da comuna livre lhe devem assegurar as condies necessrias plena e
inteira autogesto de seus interesses, isto , das necessidades de seus habitantes,
expressos por meios de autos que o jurista se encarregaria de ligar a praticas de
democracia semidireta, assim tambm esses direitos, em face de prerrogativas
similares adquiridas pelas outras cidades, dvem constituir um novo tipo de
unidade nacional, o federalismo harmonioso das cidades livres.

2- Uma teoria da economia social, baseada na velha idia de associao e


desenvolvendo-se num plano duplo: reconhecem-se comuna livre
determinadas funes sociais (luta contra a misria, ensino profissional e
integral, controle das instituies e empresas de interesse geral, tais como as
companhias de estradas de ferro ), que implicam uma oilitica particular a
respeito das liberdades; associao sob todas as suas formas confia-se a misso
de assegurar a organizao do trabalho.(1970.ps.103-104)

Esse ,de forma sintetizada, o Programa da Comuna . Com seu pouco tempo de
existncia , na realidade ,como aconteceu ?

3- Na prtica , contudo , as reformas realizadas s atingiram setores muito


isolados. Deixaram assim, de lado, as grandes industrias parisienses e a fora do
hbito venceu muitas vezes o desejo de renovar.(ibid)

Decoufl nos mostra um exemplo extrado do cotidiano:

Como escreveu um velho operrio Comuna: Cidados, a Comuna faz encomendas


de pregos aos patres; no est certo, ela deve dirigir-se aos operrios; sou comunista
guarda-nacional e h muito tempo inscrito na Camara do Trabalho; no estou
trabalhando proque no quero trabalhar para um patro sob a Comuna, pois estamos
esclarecidos demais....(ibid)

Em sintese, assinalando as contradies e ambiguidades da experincia, Decoufl


sintetiza : Na pratica, a Comuna de Paris representou ao mesmo tempo um
anarquismo difuso em que cada qual pode entregar-se ao pleno exerccio de suas
faculdades quando no de suas aptides, e um misto bastante stil de democracia de
massas e do governo do povo por um punhado de gerentes da revoluo, sem que
aquelas exercessem um controle efetivo sobre suas atividades(ibid.p.103)

8.4.3. O Contexto da Comuna de Paris

Antes de apresentarmos o Programa de governo da Comuna, vejamos algumas


reflexes que elucidam a dinmica e a natureza da experincia da classe operria em se
tornar uma fora estatal, ou, nas palavras de Gramsci, hegemnica, ser governo.
Vejamos em duas partes: na primeira, a conjuntura de Paris, na perspectiva da fora da
classe operria. Na segunda, alguns elementos da dinmica de poder.

1) A situao econmica e social apresentava uma burguesia forte e ampliada no


Segundo Imprio. Iniciava-se uma classe operria concentrada nas grandes fbricas e
em algumas regies francesas, porm, a pequena indstria e o artesanato eram
numericamente predominantes e a Frana era um pas rural.

Grandes imprios industriais dominavam a Frana. Schneider ocupa 10.000


operrios na indstria metalrgica no Creusot, de Wendel ocupa cerca de 10.000 em
suas fbricas siderrgicas da Lorena. As Minas dAnzin ocupam mais de 10.000
mineiros. Havia uma grande classe operria concentrada nas grandes empresas
metalrgicas, siderurgias, txteis e qumicas.

Em 1860, os canteiros navais de Paris tinham mais de 70.000 operrios, grande


parte vinda da provncia, num fluxo migratrio de propores enormes, como resultado
do processo de concentrao da terra e atrados pela reforma urbana do prefeito
Haussman.

No Censo de 1866, temos 4.715.084 pessoas empregadas nas fbricas e na


indstria, mas apenas 1.500.000 operrios trabalhavam nas empresas com mais de 10
pessoas. Assim, o fenmeno da concentrao foi rpido e brutal, mas limitado a alguns
ramos industriais e em algumas regies geogrficas [ Paris, Norte, Lorena, Sena-inferior
e Lyon]. Entre 37 milhes de habitantes no pas, mais de 25 milhes aso rurais.
Entretanto, as pequenas empresas eram maioria na indstria.

Paris tinha uma populao de 2 milhes de habitantes. A nova diviso


administrativa, criada em 1859, tem 20 bairros [arrondissements] com 1.800.000
habitantes. A Paris dos 20 bairros, conta com 442.000 operrios em 1866 e, com
550.000 em 1872. Seu nmero cresce e tambm sua concentrao, pois o nmero de
patres diminui de 650.000 em 1847 para 39.000 em 1872; a relao patro/operrio
passa de 1 a 5 em 1847 para 1 a 14 em 1872. Em Paris, existe muitas empresas com
mais de 5.000 operrios e na periferia tambm.

Cail, na metalurgia, emprega mais de 2.000 operrios. Gouin mais de 1.5000


[construo de locomotivas], Gevelot com 1.500 operrios em Moulineaux e 400 em
Paris. Mas, a maior parte das empresas da metalurgia ocupa 50,20,10 operrios.

Jacques Rougerie assinala o seguinte quadro. Nas profisses tradicionais de


Paris, txtil, calados, artesanato, predomina a estrutura da pequena indstria artesanal.
Havia na cidade 3 grandes casas de produo de calados. Na insurreio, as categorias
mais presentes foram a Metalurgia, a Construo, Jornalistas.

Populao revolucionrios deportados:

Metalurgia 8% 12% 12%

Construo 10% 17% 18%

Jornalistas 20% 14% 15%

Textil-roupa 8% 9% 9%

Calados

Livros 10% 10% 9%

Na Guarda nacional temos a seguinte composio:

Para cada 100 guardas:

Trabalhadores %

Livro 31,9%
Madeira 19,2%

Metalurgia 16,9%

Construo 7,3%

Empregados 36,8%

Pequenos comerciantes 23,3%

8.4.4. A Represso

No domingo, 28 de maio de 1871, caiu a ltima barricada da Comuna. A batalha


de Paris produziu 20.000 vtimas; 26.000 comunards foram capturados entre 21 e 28 de
maio; mais 3.500 nas lutas contra Versalhes, em abril; 5 000 prises entre junho julho.
Um total, entre presos, fugitivos e mortos, cerca de 100.000 habitantes parisienses.

Entre os 38.578 revolucionrios presos e julgados em 1o de janeiro de 1875,


temos 36.909 homens, 1.054 mulheres, 615 crianas com menos de 16 anos. 1.090
foram libertados aps interrogatrios. Portanto, cerca de 40.000 prisioneiros e mais de
50.000 julgamentos.

2) Elleinstein analisou a Paris assediada no inverno de 1871. As principais


atividades estavam paradas pelo cerco prussiano. "Rapidamente, a liberdade de
imprensa e de reunio ressurgiram, multiplicando o nmero de jornais e clubes
polticos. A palavra-de-ordem que unificava as diferentes tendncias socialistas e
radicais foi a da Comuna. As reunies pblicas eram numerosas e quase diariamente,
desde o dia 5 de setembro. Decidiu-se que em cada bairro [arrondissement] seria eleito
um comit de vigilncia nas reunies pblicas e que, um comit central dos 20 bairros
seria formado na proporo de 4 delegados por bairro. A federao das escoes
parisienses da PRIMEIRA INTERNACIONAL teve um papel determinante na criao
desta organizao. Foi este Comit central que adotou na noite de 13 para 14 de
setembro de 1870 um texto que foi o primeiro "affiche vermelho" publicado - que
um verdadeiro programa de governo. Era um verdadeiro comit de frente nica
agrupando os internacionalistas das diferentes tendncias, blanquistas e radicais um
pouco imagem da Comuna alguns meses mais tarde".
Sobre a Guarda Nacional, Elleinstein assegura que "Bismarck no pensou em desarm-
la. O motivo foi porque, em Paris, a Guarda Nacional teve um papel essencial,
dominante. J antes do fim do cerco, houve tentativas para realizar uma organizao
poltica da Guarda Nacional. Esta nomeava seus oficiais em cada batalho, mas o
comando era nomeado pelo Governo. Foi em 15 de fevereiro 1871 que se reuniu em
uma grande sala parisiense, sala de Tivoli-Vauxhall, os delegados dos batalhes de 18
bairros. Neste dia decidiu-se pela criao de um Comit central da Guarda Nacional.
Uma comisso parisiense de 20 membros foi designada e encarregada de elaborar um
projeto de estatuto. O comit central dos 20 bairros manifestou sua existncia atravs de
uma declarao de princpio reconhecendo a "Comuna revolucionria da cidade" como
nico governo. Aps vrias reunies, ocorridas em fevereiro e maro, os delegados
marcharam para a praa da Bastille onde se juntaram a 14 batalhes da Guarda
Nacional. Renderam homenagem s vitimas das revolues de 1830 e 1848 e
depositaram bandeiras vermelhas e flores ao p da coluna de julho.

A Guarda Nacional de 1870, com 300.000 efetivos, conserva o nome antigo mas
uma criao nova de tempos novos; um organismo poltico-militar de massa com
maioria operria, com base na vida dos bairros populares e, um poder em potencial
antagnico ao poder estatal burgus.

Em 3 de maro, os delegados dos batalhes da Guarda Nacional, em nova


reunio a Tivoli-Vauxhal adotam os estatutos da organizao. Um Comit central
provisrio eleito. A organizao decide fundar estruturas verticais e horizontais. Na
base, encontramos as companhias, os batalhes, a legio e, enfim, o Comit central da
Guarda Nacional. Entre os 29 membros eleitos na comisso provisria, encontramos 6
membros do Comit central republicano dos 20 bairros signatrios do affiche vermelho
de setembro 1870. Entre eles, Varlin e Pindy, membros da Internacional. Assim, foram
estabelecidas relaes estreitas entre as 3 organizaes essenciais para Comuna:

1) O comit central dos 20 bairros;

2) O conselho federal da Associao Internacional dos Trabalhadores;

3) O comit central da Guarda Nacional.

As eleies ocorreram no domingo, 26 de maro. O Comit central da Guarda


Nacional lanou um apelo geral em 25 de maro: "Nossa misso terminou. Vamos ceder
o lugar no Hotel de Ville a vossos novos eleitos, a nossos mandatrios regulares".

No bairro nmero 11 de Paris, foi formado um comit central eleitoral


republicano, democrata e socialista e que apresentou um programa poltico mais
definido.

1) Direito de viver

2) Liberdade individual

3) Liberdade de conscincia

4) Liberdade de reunio e associao

5) Liberdade de palavra, de imprensa e de todos os modos de expresso do pensamento

6) Liberdade de sufrgio.

Em seu plano de organizao poltica define que:

Poltica - O Estado e o povo se governando por si-prprio, composto de


mandatrios revogveis, eleitos pelo sufrgio universal direto, organizado.

Trabalho Produo Distribuio - O trabalho coletivo dever ser


organizado. O objetivo da vida o desenvolvimento indefinido de nosso ser
fsico, intelectual e moral; a propriedade no deve ser que o direito de cada
um participar, em razo da cooperao individual, no fruto coletivo do
trabalho de todos, que a forma da riqueza social.

Na pea de B.Brecht ,Os Dias da Comuna, o personagem Beslay,na primeira


plenria da Comuna no Hotel de Ville ,em 29 maro 1871,declara sob aplausos: [...] a
propriedade o direito que tem cada individuo, segundo seu proprio trabalho,ao tomar
parte no produto do trabalho coeltivo de todos. Nas fbricas e nas usinas ser
organizado o trabalho coletivo.

Outros pontos foram abordados, por exemplo: Funes Pblicas, Defesa


Nacional, Justia e Magistratura, Educao e Instruo, Impostos, Unidades,
Reparties, Percepo.

A concluso reza que: "No haver mais opressores e oprimidos fim da distino de
classes entre os cidados, fim das barreiras entre os povos - a famlia, sendo a primeira
forma de associao, todas as famlias se uniro em uma maior, a partia nesta
personalidade coletiva, superior a humanidade."

Entre os membros do Conselho geral, temos 25 operrios, entre os quais, 6


metalrgicos, prova do carretar operrio da Comuna. O Conselho geral se reunia
regularmente, s vezes noite, s vezes em sesso secreta. Nestas reunies participava
um grande nmero de pessoas. A partir de 13 de abril, relatrios destas sesses foram
publicados no Jornal oficial. Ao lado do Conselho geral, havia comisses
especializadas, em nmero de 10, funcionando a partir de 29 de maro.

Em 24 fevereiro, na Vauxhall, dois mil delegados participam de uma segunda


assemblia. O clima de pleno acesso, e a reunio termina com uma forte manifestao
na praa da Bastilha. A federao, orago poltico-militar de massa, concebida por
delegados, segundo um plano muito simples, baseado no principio fundamental da
eleio pela base, da responsabilidade e da revogao dos chefes, em todos os nveis,
isto , a companhia elege os seus delegados, estes escolhem delegados de batalho, que,
por sua vez, designam os delegados gerais, ou generais de legio, estes ltimos,
compem o Comit central, que funciona segundo o princpio da gesto coletiva de
comando.

O Comit de delegados dos 20 bairros elaborou uma Declarao de Princpios,


em 22/23 de fevereiro de 1871. Esta Declarao retoma vrios pontos do Regulamento
de 18/19 de outubro de 1870, elaborado pelo Comit dos 20 bairros. O regulamento
apresenta um salto de qualidade a nvel poltico.

Todo membro do comit de vigilncia declara pertencer ao partido socialista


revolucionrio. Em conseqncia, busca com todos os meios suprimir os privilgios da
burguesia, seu fim como casta dirigente e, o poder dos trabalhadores. Em uma palavra, a
igualdade social. No mais patres, no mais proletrios, no mais classes. Reconhece o
trabalho como a nica base da sociabilidade onde o produto integral do trabalho deve
pertencer aos trabalhadores.

No plano poltico, se opor em caso de necessidade com a fora, a convocao


de qualquer Constituinte ou outro tipo de Assemblia Nacional, antes que a base do
atual quadro social no seja mudada por meio de uma liquidao revolucionria poltica
e social. A espera desta revoluo definitiva, no reconhece como governo da cidade
que a Comuna revolucionria formada por delegados dos grupos revolucionrios desta
mesma cidade Reconhece apenas como governo do pas, o governo formado por
delegados da Comuna revolucionria do pas e dos principais centros operrios.
Empenha-se no combate a esta ideiaideia e a divulgar, formando onde no existe,
grupos socialistas revolucionrios. Articular estes grupos entre si e com a Delegao
central. Colocar todos os meios que dispe ao servio da propaganda pela Associao
internacional dos trabalhadores.

Vittorio Mancini destaca os seguintes pontos deste programa:

A sntese terica realizada no documento entre luta social e luta poltica, a


viso histrica absolutamente nova do perodo de transio entre a revoluo
poltica e a edificao da sociedade igualitria, a relao corretamente intuda
entre centralismo e democracia operria, autonomia municipal e unidade
nacional, so aquisies que portam o sinal de uma dialtica social
desconhecida em 1789 ou em 1793; o patriotismo tradicional e superado, no
quadro de uma estratgia revolucionria que no reconhece limites O
militante socialista deve por em primeiro lugar a propaganda da associao
internacional dos trabalhadores e lutar a todo momento pela Repblica social
universal.

Rougerie remarca a democracia direta: Governo direto, controle permanente


dos eleitos pelos eleitores, revogabilidade permanente dos mandatrios pelos
mandatados: assim se estabeleceu a verdadeira soberania popular". O exerccio deste
governo popular fez-se atravs de "uma boa cinqentona de clubes, funcionando em
abril e maio de 1871 - a maior parte nas Igrejas laicizadas - e que controlavam
alegremente as aes dos eleitos para Comuna".

O Documento supera quaisquer correntes, tais como Blanquismo, Federalismo


Proudhoniano, Anarquismo Bakuniano, Marxismo. Na verdade, um produto da
criatividade terica do proletariado em uma situao de crise revolucionria. O Decreto
de 16 de abril conclama:

A Comuna de Paris

Considerando que uma quantidade de fbricas foram abandonadas por seus


patres para escapar das obrigaes cvicas, e sem levar em conta os
interesses dos trabalhadores;

Considerando que devido a este covarde abandono, numerosos trabalhos


essenciais vida comunal esto interrompidos e a existncia dos
trabalhadores comprometida;

Decreta:
As cmaras sindicais operrias esto convocadas a constiturem uma
comisso que tem por objetivo:

Fazer uma estatstica das fbricas abandonadas, e um inventrio exato do


estado em que se encontram e os instrumentos de trabalho existentes;

Apresentar um relatrio sobre a rpida ativao destas fbricas, no mais


pelos desertores que as abandonaram, mas pela associao cooperativa dos
trabalhadores nelas empregados.

Elaborar um projeto de formao destas sociedades cooperativas operrias;

Constituir um jri para fundamentar em estatuto, quando do retorno dos


patres, sobre as condies de cesso definitiva destas fbricas para as
sociedades operrias e sobre a cota de indenizao que se deve pagar aos
patres.

O personagem Langevin, delegado da Comuna ,na pea de B.Brecht afirma : os


novos mercados sero realizados com as empresas geridas pelas associaes de
trabalhadores. O personagem comunarde Rigault, declara que a ao direta do povo
exige que assumamos imediatamente as empresas e os bancos para geri-los ns
mesmos. Outra vez,o personagem Langevin,discutindo com a delegada Genevive, o
que fazer caso os patres das padarias boicotem as leis da Comuna,fechando suas
empresas: Se eles fecham suas padarias, ns as confiscaremos e vamos dirigi-las ns
mesmos.

Rougerie analisa o decreto do 16 de abril:

Com a Comuna, a utopia comeou a existir na prtica. O Decreto tinha por


objetivo buscar nas organizaes operrias algumas fbricas onde pudessem
iniciar o movimento. Desde 24 de abril, o delegado na Comisso do Trabalho
e Trocas, Leo Frankel, convocou uma reunio dos representantes sindicais.
No dia 25, convocou-se o sindicato que iria ficar frente do movimento, os
metalrgicos. Os outros sindicatos atenderam convocao, e em 4 maio
estava definitivamente constituda uma Comisso executiva permanente dos
sindicatos. Apesar do pouco tempo da experincia, a operao obteve
resultados importantes. Uma dezena de fbricas confiscadas, sobretudo as
que interessavam defesa militar, recuperao de armas, fabricao de
cartuchos e balas de canho. Cinco empresas haviam feito o recenseamento
das fbricas antes da confiscao. A Comuna tinha igualmente sua
disposio, os estabelecimentos industriais pertencentes ao Estado, Moeda,
Impressora Nacional, Manuteno, Manufaturas de Tabacos, algumas
empresas de armas e, tinha confiado sua gesto a seus trabalhadores.

O que freiou os sindicatos foi sua desorganizao consecutiva represso do


fim do Imprio, e com o cerco de Paris. Restaram apenas 3 sindicatos fortes,
metalrgicos, alfaiates e sapateiros.
O sindicato dos metalrgicos (um dos mais influentes e numerosos, com 5 ou
6.000 filiados) controlava 20 fbricas de recuperao e de fabricao de
armas, uma por bairro, em que a mais importante era a das oficinas Louvre.
Um de seus membros, Avrial, Diretor do material na Comisso de Guerra e
membro da Comuna, era muito ativo no sindicato. As vsperas da derrota, os
metalrgicos tentaram tomar uma das maiores fbricas metalrgicas da
capital, a fbrica Barriquand, que tinha conhecido durante o Imprio greves
violentas. Em torno de um slido ncleo de fbricas, algumas com mais de
100 trabalhadores, que os metalrgicos pensavam conquistar o controle da
produo.

Os alfaiates obtiveram da Comuna a preferncia sobre as empresas privadas.


Em maio, tinham o monoplio da "vestimenta" da Guarda Nacional para suas
fbricas.

Os sapateiros no tiveram a mesma oportunidade: Godilot detinha o


monoplio da fabricao de calados para Comuna, o que impediu o confisco
de sua empresa, mas gerou protestos violentos na categoria.

As outras categorias eram menos ativas e menores, exceto, a siderurgia, os


grficos, serralheiros, etc. A Comuna foi um momento de intensa retomada
sindical, com o apoio da Comisso do Trabalho e Trocas. Organizaram-se,
sempre com o fim de confiscar e gerir a produo: papeleiros, cozinheiros,
etc. Inclusive os garons de caf e os porteiros de edifcios.

8.4.5. A Gesto Operria

Ainda Rougerie: "nas fbricas socializadas reinava a mais estrita gesto


operria. Eis o regulamento interno dos operrios da fbrica de armas do Louvre (onde
houve uma disputa com um diretor autoritrio nomeado pela Comuna).

Art. 1. A fbrica fica sob a direo de um delegado da Comuna. O delegado


para direo ser eleito pelos operrios reunidos, e revogvel toda vez que
no cumprir seu dever.

Art. 2. O diretor da empresa e os chefes de setor sero igualmente eleitos


pelos operrios reunidos; sero responsveis pelos seus atos e mesmo
revogveis.

Art. 6. Um Conselho ser reunido obrigatoriamente todo dia, s 5 horas, 1/2


de releve, para deliberar sobre as aes do dia seguinte e sobre as relaes e
propostas feitas, seja pelo delegado na direo, seja pelo diretor da empresa,
pelo chefe de setor ou pelos operrios delegados.

Art. 7. O Conselho se compe do delegado na direo, do chefe de empresa,


dos chefes de setor e de um operrio por cada setor eleito como delegado.

Art. 8. Os delegados so renovveis a cada 15 dias. A renovao ser feita


pela metade, a cada 8 dias, e por funo.

Art. 9. Os delegados devero prestar contas aos operrios; sero seus


representantes diante do conselho da direo, e devero levar suas
observaes e reivindicaes.

Art. 13. A contratao de operrios seguir o seguinte: por proposta do chefe


da empresa, o conselho decidir se h vagas para empregar os operrios e
determinar os nomes. Os candidatos s vagas podero ser apresentados por
todos os operrios. O Conselho ser o nico a fazer a avaliao.

Art. 14. A demisso de um operrio s poder ocorrer por deciso do


Conselho, com um relatrio do chefe da empresa.

Art. 15. A durao da jornada fixada em 10 horas.

Diante do Programa da Comuna, recorremos a viso de Elleinstein de que,


"Mais que as medidas concretas tomadas pela Comuna, so as tendncias gerais do
movimento que importa de olhar". Mais as intenes dos atores do que suas aes, pois
tiveram pouco tempo, numa conjuntura de guerra, para concretizar seu Programa.

Os 13 pontos do Programa da Comuna que apresentamos, foram adaptados para


discusso em atividades de formao poltica da CUT e do PT.

8.4.6. Proclamao ao Povo Trabalhador

Em 28 de maro, a Comuna de Paris foi proclamada em uma memorvel


atmosfera de entusiasmo e mobilizao popular. A imprensa revolucionria acentua o
carretar de festa do evento. O jornal Le cri du Peuple, de 30 de maro de 1871,
conclama:

A Comuna foi proclamada. Os batalhes que, espontaneamente, marcharam


pelas ruas, cais, bulevares soam no canto a fanfarra da trombeta, fazendo
ribombar o eco e bater os coraes com o bater do tambor, vieram aclamar e
saudar a Comuna, dar-lhe a promulgao soberana da grande parada cvica
que desafia Versalhes, rindo, armas nas costas, em direo aos faubourgs,
impregnando de rumores a grande cidade.

A Comuna foi proclamada. Hoje a festa nupcial da ideiaideia e da


Revoluo; Amanh, cidado-soldado, para fecundar a Comuna aclamada e abraada
a vigilncia, necessitar retomar, sempre fieis, agora libertos, o prprio posto na
fbrica; Aps a poesia do triunfo, a prosa do trabalho; "O povo trabalhador de Paris
e seus arredores proclama a fundao da COMUNA DE PARIS.

Os delegados dos conselhos de bairro constitudos em Assemblia da


Comuna, nico poder soberano, decretam:
Artigo I:

As velhas autoridades de tutela, criadas para oprimir o povo de Paris, so


abolidas, tais como, comando da polcia, governo civil, cmaras e conselho
municipal. E, as suas mltiplas ramificaes: comissariados, esquadras,
juzes de paz, tribunais, etc so igualmente dissolvidos.

Artigo II:

A Comuna proclama que dois princpios governaro os assuntos municipais:

a gesto popular de todos os meios da vida coletiva;

a gratuidade de tudo o que necessrio e de todos os servios pblicos.

Artigo III:

O poder exercido, no mbito dos princpios a seguir indicados em


pormenor, pelos conselhos de bairro eleitos. So eleitores e legveis para
estes conselhos de bairro todas as pessoas que nele habitem e que tenham
mais de 16 anos de idade.

Artigo IV:

Sobre o problema da HABITAO tomam-se as seguintes medidas:

expropriao geral dos solos e sua comunizao, requisio das residncias


secundrias e dos apartamentos ocupados parcialmente;

so proibidas as profisses de promotores, agentes de imveis e outros


exploradores da misria geral;

os servios populares de habitao trabalharo com a finalidade de restituir


verdadeiramente populao parisiense o seu carter trabalhador e popular.

Artigo V:

Sobre os TRANSPORTES tomam-se as medidas seguintes:

"metr", os autocarros, os trens suburbanos e outros meios de transportes


pblicos so gratuitos e de livre utilizao;

uso de viaturas particulares proibido em toda a zona parisiense, com


exceo das viaturas de bombeiros, ambulncias e de servio em domiclio;

a Comuna pe disposio dos habitantes de Paris um milho de bicicletas


cuja utilizao livre, mas no podero sair da zona parisiense e seus
arredores.

Artigo VI:

Sobre os SERVIOS SOCIAIS tomam-se as seguintes medidas:

todos os servios ficam sob controle das juntas populares de bairro e so


geridos em condies paritrias pelos habitantes de bairro e pelos
trabalhadores destes servios;

as visitas mdicas, consultas, assistncia mdica e medicamentos so


gratuitos.

Artigo VII:

A Comuna proclama a anistia geral e a abolio da pena de morte e declara


que a sua ao se baseia nos seguintes princpios:

dissoluo da polcia municipal, dita polcia parisiense;

dissoluo dos tribunais e tribunais superiores; transformao do Palcio da


Justia, situado no centro da cidade, num vasto recinto de atrao e de
divertimento para crianas de todas as idades;

em cada bairro de Paris criada uma MILCIA POPULAR composta por


todos os cidados, homens e mulheres, de idade superior a 15 anos e inferior
a 60 anos, que habitem o bairro;

so abolidos todos os casos de delitos de opinio, de imprensa e as diversas


formas de censura: poltica, moral, religiosa, etc

Paris proclamada terra de asilo e aberta a todos os revolucionrios


estrangeiros, expulsos pelas suas ideiaideias e aes.

Artigo VIII:

Sobre o URBANISMO de Paris e arredores, consideravelmente simplificado


pelas medidas precedentes, tomam-se as decises seguintes:

proibio de todas as operaes de destruio de Paris: vias rpidas, parques


subterrneos, etc;

criao de servios populares encarregados de embelezar a cidade, fazendo e


mantendo canteiros de flores em todos os locais onde a estupidez do
"urbanismo do automvel" levou a solido, a desolao e ao inabitvel;

uso domstico (no industrial nem comercial) da gua, da eletricidade e do


telefone assegurado gratuitamente em cada domiclio; os contadores so
suprimidos e os empregados so colocados em atividades mais teis.

Artigo IX:

Sobre a PRODUO, a Comuna proclama que:

todas as empresas privadas (fbricas, grandes armazns, etc) so


expropriados e os seus bens entregues coletividade;

os trabalhadores que exercem tarefas predominantemente intelectuais


(direo, gesto, planificao, investigao, etc) periodicamente sero
obrigados a desempenhar tarefas manuais;

todas as unidades de produo so administradas pelos trabalhadores em


geral e diretamente pelos trabalhadores da empresa, em relao organizao
do trabalho, distribuio de tarefas;

fica abolida a organizao hierrquica da produo; as diferentes categorias


de trabalhadores devem desaparecer e desenvolver-se a rotatividade dos
cargos de trabalho;
a nova organizao da produo tender para assegurar a gratuidade mxima
de tudo o que necessrio e diminuir o tempo de trabalho. Devem-se
combater os gastadores e parasitas "profissionais". Desde j so suprimidas
as funes de contramestre, cronometrista, psicotcnico e fiscal.

Artigo X:

Os trabalhadores com mais de 55 anos, que desejem reduzir ou suspender a


sua atividade profissional, tm direito a receber integralmente os seus meios
de existncia. Este limite de idade ser menor em relao a trabalhos
particularmente custosos.

Artigo XI:

abolida a ESCOLA "velha". As crianas devem se sentir como em sua


casa, aberta para a cidade e para a vida. A sua nica funo a de torn-las
felizes e criadoras. As crianas decidem a sua arquitetura, o seu horrio de
trabalho, e o que desejam aprender. O professor antigo deixa de existir:
ningum fica com o monoplio da educao, pois ela j no concebida
como transmisso do saber livresco, mas como transmisso das capacidades
profissionais de cada um.

Artigo XII:

A submisso das crianas e da MULHER autoridade do pai, que prepara a


submisso de cada um autoridade do Chefe, morreu.

O casal constitui-se livremente com o nico fim de buscar o prazer.

Portanto, a propriedade privada abolida no campo da familia.

A Comuna proclama a liberdade de nascimento, o direito de informaes


sexual desde a infncia, o direito ao aborto, o direito a anti-concepo.

As crianas deixam de ser propriedade de seus pas. Passam a viver em


conjunto na sua casa (a Escola) e dirigem a sua prpria vida.

Artigo XIII:

A Comuna decreta: todos os BENS DE CONSUMO, cuja produo em


massa possa ser realizada imediatamente, so distribudos gratuitamente; so
postos disposio de todos nos mercados da Comuna.
9 O CICLO DAS LUTAS AUTOGESTIONRIAS APS A
REVOLUO RUSSA DE 1905

9.1. A COMUNA DE MORELOS - MXICO, 1910

La revolucin fue muchas revoluciones

(Octavio Paz)

A crise econmica mundial de 1907 foi combinada com muitas lutas sociais:
Rssia 1905, Ir 1906-1911, Portugal 1909, China 1909, greves nos EUA, greves no
Chile, greve geral de 1910 na Argentina. Pode-se dizer qu estes acontecimentos
marcavam uma mudana de poca. Esse foi o cenrio mundial em que ocorreu o
revoluo mexicana.

Do ponto de vista interno,mexicano, a revoluo zapatista de 1910 foi o ultimo


elo de uma onda longa de revoltas dos ndios yaquis em 1825, 1885 e 1890 no
nordeste,como no sudeste com a insurreio de Yucatan de 1847, passando por muitas
outras em todo o Mxico; o levante de Lozada ,com lutas agrrias, em 1859, em
Morelos, o de 1878 no estado de Puebla; em 1879 com os trabalhadores indigenas e
mestios de Queretaro e Guanajuato;os do estado de Veracruz em 1883 e 1891;a
rebelio de Huasteca em 1879.

Estas rebelies foram liquidadas com grande represso pelo poder


dominante.RENE DUMONT diz que: A revoluo mexicana de 1911-1912 estava
amplamente justificada pelo paternalismo, pelos abusos e inclusive pela crueldade dos
latifundirios,descendentes dos assassinos dos ndios,que possuam a maior parte das
terras.

Enfim, A revoluo Mexicana deve ser vista como um movimento que se inicia
em 1910 e que acaba em 1930(...)O que distingui esse perodo,sobretudo e antes tudo,
a participao popular. (OCTAVIO PAZ ).

A histria do Mxico pode ser vista como uma sucesso de exploses


seguidas de disperses e reunies. A ltima exploso, a mais poderosa, foi a
Revoluo mexicana...A revoluo resgatou muitos grupos e minorias que
tinham sido excludos tanto da sociedade novohispana como da
republicana.me refiro as comunidades campesinas e, em menor grau,s
minorias indgenas.Alm do que, conseguiu criar uma conscincia de
identidade nacional que no existia antes.Na esfera das ideiaideias e das
crenas, logrou a reconciliao do mxico moderno e do antigo. [X1] Comentrio: Dumont? Conferir.

Quanto influencia das ideologias de fora,nenhuma preponderante,as mais


apreciveis foram: o anarquismo ,a herana do liberalismo, o obrerismo
ecos do 1o de Maio de Chicago- e, em fim, um vago porm poderoso sonho
de redeno social.O essencial,sem duvidas, foi a corrente igualitria e
comunitria duplo lagado de Mesoamrica e de Nueva Espaa. No era tanto
uma doutrina claramente definida como um conjunto de aspiraes e crenas,
uma tradio subterrnea que se acreditava desaparecida e que ressucitou no
grande terremoto revolucionrio.

Em termos de autogesto, a revoluo tem sua essncia na realizao da


Comuna de Morelos, primeiro governo operrio e campons da Amrica latina. Essa
experincia situa-se aps a Comuna de Paris , a revoluo de 1905 na Rssia e, antes da
Revoluo de Outubro 1917 na Rssia.

No Estado de Morelos, as fazendas aucareiras dominavam a economia desde o


sculo XVI sendo a regio a primeira produtora de acar no pas.No final do seculo
XIX, as fazendas tinham engolido a maior parte das terras dos povos.Em 1910,as
fazendas representavam 81% das terras do Mxico.Havia no pas, menos de 13 mil
povos livres contra cerca de 57 mil nas fazendas.

No Mxico, a civilizao e a organizao social anteriores a Conquista se


baseavam na antiga comunidade agrria,em suas formas de economia coletiva.Sobre
estas comunidades ( calpulli- yallus) foram construdos, o Imprio azteca e sua
capital,a cidade do Mxico-Tenochtitlan.

Na Republica, com sua doutrina individualista e sua oposio a todo tipo de


organizao autnoma dos trabalhadores,e a toda relao que no fosse mediada pelo
dinheiro e no se tornasse mercadoria, necessitava-se eliminar as formas de organizao
camponesas e de relao autnoma precapitalista que eram os povos livres nucleados
em torno de suas terras comunais.

O Governo de Porfrio Diaz,iniciado em 1876 e que durou at 1910, as leis da reforma


criaram uma concentrao latifundiria da propriedade agrria. As terras das
comunidades agrarias indgenas foram fracionadas, o que facilitou sua aquisio por
grandes latifundirios vizinhos,por preos irrisrios.

Contudo, parte dessas comunidades agrcolas subsistiram e no meio campons


permanecram os costumes coletivos,relaes igualitrias,formas de produo e de
trabalho baseados na cooperao e na ajuda mutua. A organizao comunal foi o
instrumento que permitiu organizar: tornou-se o principal centro poltico da guerra
camponesa no Mxico de 1910 a 1920. Cumpriu um papel revolucionrio na luta dos
camponesses contra o Estado,o latifndio e a burguesia.

Em pocas de revoluo, estas tradies cumprem uma tripla funo:

- servir como parte da estrutura e de sustentao dos rgos da luta revolucionria;

- articular a viso individual com a perspectiva coletiva;

- servir de apoio para a transio a uma organizao produtiva e social superior; de uma
sociedade com base na propriedade privada uma outra com base na propriedade
coletiva.

Esta sobrevivncia se deveu a muitas lutas,revoltas e rebelies. Inclusive,


algumas delas sob a bandeira do socialismo. A principal foi a rebelio de Julio Chavez
Lpez no Chalco,estado de Mxico. O socialista utpico grego Plotino Rhodakanaty
fundou em 1865 uma Escuela del rayo y del Socialismo. Defendia que o Mxico era
a terra ideal para promoo das comunas agricolas. Somou-se a estas ideiaideias,o
anarquista Francisco Zalacosta. A rebelio ocorreu em 1868,mais de mil camponeses
invadiram fazendas em Texcoco, San Martin Texmelucano,Tlalpan e no estado de
Morelos.

Houve uma grande represso e povos inteiros foram deportados.Julio Chavez


Lopez recebia influencias do fourierista Rhodakanaty ,e as da ao direta do anarquista
Zalacosta. Como disse ANGEL RAMA : Nenhum movimento posterior foi to frtil e
novo como a introduo do pensamento anarquista, j preparado pelo utopismo, cuja
primeira iniciao pode ser datada pela Cartilha Socialista do recm-desembarcado no
Mxico, Plotino Rhodakanaty (1861).

Os revolucionrios mexicanos,no sculo XIX,receberam influencias da


experincia da Comuna de Paris. Octavio Jahan ,foi um veterano da Comuna e
participou da Revoluo mexicana. Esta influencia veio pela propaganda da I
Internacional (1864) e pelos comuneros espalhados pelo mundo devido represso em
Paris. Em 1872, o jornal El Socialista , publicou os Estatutos gerais da AIT; em
1884,publicou O Manifesto Comunista. Em 1874, o jornal La Comuna Mexicana
defendia as ideiaideias do Programa da Comuna de Paris. Em 1872, a primeira Central
Operaria mexicana, o Gran Circulo de Obreros ,cujo joenal era El
Socialista,defendia em seu programa o estabelecimento de talleres cooperativos.

Em 1878, o anarquista Zalacosta fundou o jornal La Internacional, publicando


em vrios nmeros documentos sobre a Comuna de Paris. O anarquismo tambm era
divulgado pelos irmos Ricardo e Flores Magn atravs do jornal Regeneracion do
Partido Liberal Mexicano , que tinha sua sede nos EUA,onde os dois irmos tinham
contato e apoio de anarquistas do IWW (sindicalismo revolucionrio).

Havia uma verdadeira revoluo cultural,sobretudo,entre as camadas mdias.As


novas geraes intelectuais devoravam livros de autores como: Kropotkin, Victor Hugo,
Proudhon, Eugene Sue, Max Nordeau. Surgiam por todas as partes crculos literrios,
clubes cientficos, centros de discusso, escolas populares.

PEDRO H. URENA, em um ensaio famoso intitulado

A Revoluo e a cultura no Mxico( 1925), assinalava que Para o povo, a


revoluo foi uma transformao espiritual(...). Sobre a tristeza antiga,
tradicional, sobre a velha lagrima das pessoas do povo mexicano,comeou a
brilhar a esperana.Agora jogam e riem como nunca o fizeram antes.Esto de
cabea erguida.

E, poeticamente diz que Talvez o melhor smbolo do Mxico atual a vigorosa


pintura de Diego Rivera em que,enquanto o revolucionrio armado par seu cavalo para
descansar,a professora rural aparece cercada de crianas e adultos pobremente vestidos
como ela, mas animados com a viso do futuro.

A Revoluo mexicana exibiu particularidades em suas varias manifestaes em


relao ao Norte e ao Sul do pas. No primeiro se deu a luta de Pancho Villa e o
segundo foi o palco de luta de Zapata. Na histria do Mxico, o latifndio no Norte do
pas assumiu forma especial: regio com pouca populao ( em 1870, os estados de
Sonora, Sinaloa e Baja califrnia tinam apenas 3% da populao total do pas), e
marginal no desenvolvimento colonial, sem populao indgena sedentria e com
vastas,ridas e montanhosas extenses de terras onde as tribos nmades de ndios
resistiram aos colonizadores brancos e mestios,sobretudo em Sonora e Chihuahua. As
terras foram conquistadas em luta contra os apaches e se constituiu junto aos grandes
latifundios, um conjunto de propriedades medias e relativamente pequenas (ranchos e
pequenas fazendas), que originaram uma classe media rural.

No norte, foram constitudas grandes propriedades de terra ,mas tambm,


jornaleros livres,s em nenhum tipo de propriedade alm de sua fora de trabalho. Os
primeiros grandes movimentos que antecederam a revoluo de 1910 foram iniciados
pelo proletariado mexicano. O capitalismo tinha desenvolvido concentraes urbanas e
industriais, linhas ferrovirias.

Em Morelos,por exemplo, ao estourar a revoluo,existia uma moderna industria


aucareira,com 24 engenhos.De Morelos provinha a terceira parte da produo
aucareira do Mxico; o estado era a terceira regio no mundo pela importncia de sua
produo de acar,depois de Hawai e Porto Rico. 24 engenhos e 40 fazendas em um
territrio de 4.911 kms quadrados,com uma populao total de 180 mil habitantes
(cifras do censo de 1910), significam uma grande concentrao de proletariado
aucareiro e dos camponeses .

O sindicalismo revolucionrio tinha suas organizaes e mantinha relaes com


seus congneres nos EUA.Assim, em 1905,em Chicago ocorreu o Congresso de
fundao dos Industrial Workers of the World,com propostas revolucionrias:
Estamos aqui para confederar os trabalhadores deste pas em um movimento operrio
que ter como objetivo a emancipao da classe operaria frente a escravido do capital
(...).

No inicio do sculo XX, ocorreram grandes greves operarias: 3 importantes


greves dos ferrovirios,em 1903, 1906 e 1908,em San Luis Potosi e povoados
prximos.Os mineiros e os textis desenvolveram formas insurrecionais em suas greves:
no 1o de junho de 1906, os mineiros de Cananea,mina de cobre do norte de Sonora
explorada pelos americanos,entraram em greve
Trs mil operrios mineiros marcharam pela cidade em busca de apoio e mais 5.300
mineiros do cobre aderiram ao movimento. Houve enfrentamento com a policia com
mortos para ambos os lados.O conflito durou 2 dias.O governo chamou 275 rangers e a
greve foi reprimida com prises de muitos lideres operrios.

Sete meses aps esta greve, ocorreu a segunda grande greve.Em 1906, os
operrios txteis de Rio Blanco,estado de Veracruz, fundaram o Gran Circulo de
Obreros Libres.Em outras cidades os trabalhadores criaram tambm seus Crculos
Obreros.Em dezembro desse mesmo ano,ocorreu a greve txtil nos estados de Puebla e
Tlaxcala. Os patres decretaram um lock-out,fechando suas fbricas e deixando sem
trabalho a 30.000 operarios. O conflito se estendeu ate 1907,com grande represso que
ocasionou centenas de mortos e feridos.O presidente e o secretario do Gran Circulo de
Obreros Libres foram fusilados.

Estas greves influenciaram o anarquismo .Em junho de 1908, R.F.Magn e seus


companheiros anarquistas organizaram uma rebelio que foi precursora da revoluo.A
rebelio foi debelada e muitos foram presos.

Um dos principais Documento da revoluo foi o plano zapatista ou Plano


Ayala ,elaborado a partir das experincias camponesas, tinha dois aspectos que
determinavams eu carater revolucionrio: 1) a nacionalizao de todos os bens dos
inimigos da revoluo,ou seja,de todos os latifubdiarios e capitalistas do Mxico; 2)
com um carter anti-capitalista,prope que os camponeses despojados de suas terras
tomaro posse delas imediatamente,exercendo seu prprio poder,com armas nas mos.

Estes pontos,sobretudo o segundo,mostram que o poder se baseia no principio da


Comuna de Paris, o povo em armas. Neste sentido, a organizao militar estava
baseada em milicias territoriais ligadas produo (milicias operarias), sem
necessidade de quartis, exercito profissional . Seriam substitudos pelos trabalhadores
em armas,organizados sobre a base de seus locais de trabalho.

`A medida em que se ampliava a luta, os camponeses tomavam as terras das


fazendas, faziam acordos coletivos e cultivavam com seu proprio trabalho e as
defendiam com seus fuzis. O exercito zapatista assumiu a forma de guerrilhas baseadas
em milcias territoriais.As tropas no tinham quartis ,nem recebiam salrios,nem
abastecimento regular, exceto o que recebiam do povo.Cada soldado era um campons
que trabalhava sua terra,se reuniam para realizar aes e aps voltavam a seus
trabalhos.A incorporao massiva da populao deriva do fato de ter sido uma
insurreio em massa da populao explorada dos campos de Morelos.

As foras guerrilheiras no mantinham a ocupao de cidades:


atacavam,tomavam povoados e cidades, retiravam-se;as vezes, povoados inteiros se
somavam a um combate de um destacamento zapatista contra a policia.

A nova Constituio, surgida a partir da reforma da Constituio de 1857,


portava dois artigos fundamentais: 1) a questo agrria e, 2) os direitos do trabalhador.

O artigo 123 estabelecia a jornada de 8 horas diurnas de trabalho, e 7 horas


noturnas; a proibio do trabalho noturno, perigoso ou insalubre para mulheres e
menores de 16 anos;aproibio do trabalho de menores de 12 anos e 6 horas de jornada
mxima para os maiores de 12 anos e menores de 16 anos;um dia de descanso semanal
obrigatrio;um ms de descanso aps o parto e facilidades durante a lactancia;salrio
vital mnimo (de acordo com as necessidades bsicas e as regies);participao nas
utilidades em toda empresa agrcola,comercial,fabril ou mineira;a igual trabalho, igual
salrio,sem difernas de sexo e nacionalidade,etc.

A Constituio mexicana de 1917 expresso das conquistas e lutas dos


camponeses. Em 1915, a revoluo mexicana voltou a dividir-se em dois setores: uma
retirada at as regies de origem. Contra Pancho Villa, no Norte, o exercito travava uma
guerra militar,de exercito contra exercito; mas, no Sul,contra Zapata,entrincheirado em
sua regio, a luta era muito mais uma guerra social encoberta por formas militares.

Enquanto o exercito combatia no norte , os povos do sul tiveram um respiro nas


aes militares, sentiram-se donos do seu estado de Morelos e desenvolveram sua
democracia camponesa. O retrocesso em nvel nacional, permitiu o avano em nvel
local.

A experincia da luta armada, a repartio das terras desde 1911, a vitria militar sobre
o exercito federal,a derrota do Estado burgus e a ocupao da capital do pas,
forneceram aos camponeses de Morelos a auto-confiana e a segurana para estabelecer
um governo popular.

Aplicaram a realidade de Morelos o Plan de Ayala, conferindo-lhe um contedo


anti-capitalista e socialista: o que significou na pratica a liquidao do latifndio e seu
centro econmico, o engenho de acar. Tomaram como referencial a velha concepo
camponesa pr-capitalista e comunitria: expropriao sem pagamento dos engenhos e
nacionaliza-los,pondo-os sob administrao dos prprios camponeses atravs de seus
chefes militares.

O ponto Maximo a que chegou o projeto socializante zapatista foi a lei (outubro
1915) cuja ideiaideia essencial previa que os bens dos inimigos da revoluo
,capitalistas e latifundirios, seriam expropriados sem pagamento e que, para pagar as
expropriaes que tivessem direito indenizaes deveria se usar o dinheiro
proveniente dos bens urbanos confiscados aos inimigos da revoluo.

Nos artigos 28 e 29 autorizam a formao de cooperativas de produo e de


venda entre os proprietrios de lotes.

9.1.1. A organizao da Comuna: Abajo haciendas y viva pueblos

A democracia campesina de Morelos era uma comuna,criada na pratica,nos


fatos. Os zapatistas criaram uma sociedade igualitria com raiz camponesa e coletiva:
uma revoluo camponesa convertida em poder local dois anos antes da Revoluo
russa de 1917.

A organizao do governo popular foi estabelecida a partir de decretos oriundos


da experincia dos camponeses,baseando-se nos costumes locais de cooperao e de
debate coletivo dos problemas da comunidade agrria.Assim,os zapatistas fundaram
rgos similares aos criados pela primeira revoluo russa, em 1905, os
conselhos(soviets).

A lei sobre os direitos e obrigaes dos povose das foras armadas do Exercito
de Libertao do Sul,de maro 1917, foram estabelecidos as formas de participao da
populao no governo dos povos: a lei fixava um funcionamento regular de assemblias
populares que permitiriam a interveno permanente dos habitantes dos povoados em
todos os assuntos polticos,sua discusso e sua deciso.
Os homens deveriam se reunir em assemblia em cada localidade no dia 15 de
cada ms.Estas assemblias,aps discutir e decidir sobre os problemas em
debate,designavam seus delegados.No dia 20 deveriam reunir-se esses delegados de
todos os povoados na capital local,onde tomavam as decises coletivas.Estas
assemblias municipais,por sua vez,designavam seus delegados s assemblias distritais
que se reuniam no dia 1o do ms na capital dos distritos para decidir,com a interveno
e voto dos delegados designados,sobre os temas gerais de todo o distrito.

Outro decreto estabelecia os direitos dos povos frente aos chefes oficiais e
soldados do Exercito de Libertao do Sul e destinava-se a conter abusos contra os
povos.Estes no apenas tinham o direito de eleger seus governos locais,mas tambm o
de nomear seus prprios tribunais e policias.As autoridades populares podiam
apreender, desarmar e prender no quartel-geral a qualquer chefe,oficial ou soldado que
no apresentasse as credenciais dadas pela comisso que lhes designou. Os militares
deviam se abster de intervir na poltica dos povoados.

Outras disposies asseguravam a eleio popular dos funcionrios municipais e


dos presidentes de distritos.Tambm, se estabeleceu a eleio pelos povoados de 2
funcionarios independentes das autoridades municipais,que durariam um ano,sem
receber salrio, e cuja misso era representar e defender os povoados em assuntos de
terras, montes e guas.Estes funcionrios deveriam ser vizinhos com mais de 5 anos de
residncia no povoado, e maiores de 25 anos e nascidos no local.Entre outras
funes,tinham a fundamental de conservar os ttulos e planos do ejido,isto , os
papeis que eram a prova legal da existncia do povoado,da comunidade agrria,como
entidade com vida e direitos prprios.

Assim,em suas bases econmicas e polticas,o poder estabelecido em Morelos


pelos zapatistas teve um carter de classe. Em Morelos, o aparato do poder burgus foi
destrudo pelos camponesse em armas,foram suprimidos o exercito e a policia,os
funcionrios e o governador.

No campo da produo, os engenhos nacionalizados foram postos sob a gesto dos


proprios camponeses: foi a prova de que se podia continuar produzindo sem os patres!

A organizao dos municpios,a partir de assemblias peridicas e delegados


revogveis, significava uma nova forma de poder : o autogoverno popular. Estabeleceu
programas sobre as terras, abastecimento,educao,finanas ,policia,exercito;emitiu
moeda,realizou obras pblicas,construiu escolas. Por tudo isso, a Comuna de Morelos
foi o primeiro governo dos camponeses e operrios da Amrica Latina.

80 anos depois, outros zapatistas ,em 1 de janeiro de 1994, se sublevaram


contra o regime: o movimento das comunidades indgenas de Chiapas ,de origem maya,
reclamando a herana de Zapata , os soldados do EZLN so os herdeiros de 5 seculos de
resistncia indgena e camponesa contra a modernizao capitalista.

9.2. A REVOLUO SOVITICA, 1905- 1917

Na Rssia, em 1905, os Soviets(Conselhos) nasceram espontaneamente, como


comisses de greve e de delegados operrios, encarregados de organizar e orientar as
greves ocorridas aps a tentativa revolucionria de Petrogrado. O primeiro Conselho
foi eleito em assemblia geral dos operrios da cidade de IVANOV, e tinha objetivos
puramente econmicos. O Conselho de Petrogrado (capital da Rssia) foi eleito por
200.000 operrios, composto com base territorial (bairro) e industrial (fbrica), abrangia
226 delegados operrios eleitos por 96 fbricas e 5 sindicatos, mais 3 delegados eleitos
de cada um dos partidos socialistas: Bolchevique, Menchevique e Socialista
revolucionrio.

O Conselho de Petrogrado tinha sua prpria imprensa, o IZVESTIA


(Notcias). Os 200.000 trabalhadores do Conselho de Petrogrado reuniam-se todos os
dias para confirmar ou revogar seus delegados eleitos, para decidir sobre as medidas
econmicas e a linha poltica.

9.2.1. Os Comits de Fbrica

Em 1917, os Conselhos surgiram outra vez. Desta vez, paralelamente, foram


organizados os Comits de fbrica, organizados segundo os mesmos princpios dos
Conselhos. Mltiplas instancias de poder surgiram nas lutas dos trabalhadores, todos
com o nome de Conselho (Soviet): no mundo operrio, nas cidades, os mais
importantes foram os Conselhos dos Comits de Fbrica, emanados dos vrios
comits de fbrica, e, os Conselhos dos Comits de Bairro, emanao dos comits de
bairro.

Estas instituies surgem como expresso do poder popular, paralelamente aos


partidos polticos, aos sindicatos e s cooperativas. Em geral, os Conselhos (Soviets)
tinham a seguinte estrutura:

- uma Assemblia geral;

- um Presidium;

- um Comit executivo;

- Sees (operrios, soldados, camponeses);

-Comisses.

Os primeiros trabalhadores que tomaram posse de armas foram os manifestantes


que ocuparam o ARSENAL. O Conselho de Petrogrado lanou um apelo para que
todos os operrios formassem milcias para defender a revoluo. As milcias se
organizavam a partir das fbricas. Foi formada uma milcia urbana composta, sobretudo,
por estudantes revolucionrios. As milcias operrias atuavam nos bairros da periferia e,
a milcia municipal, no centro de Petrogrado. Em cada fbrica, elegia-se 100 homens
para cada grupo de 1.000 operrios. Estes operrios recebiam 1 salrio mdio. A idade
de 18 anos foi fixada como base para se entrar nas milcias e, as mulheres participavam.

Os milicianos eram escolhidos por comits de fbrica, atravs de uma lista de


inscrio. As vrias listas aprovadas eram submetidas ao Comit Executivo do
Conselho dos deputados operrios.

Havia convergncia entre as aspiraes da classe operria e o programa dos


Bolcheviques e Mencheviques, sobretudo, por melhores condies de vida (salrio,
segurana, etc). Contudo, estes Partidos de esquerda no traziam em seus Programas a
questo do estatuto dos trabalhadores nas fbricas. Assim, os operrios se identificavam
com outras instituies: Comits de fbrica, Comits de bairro, Guarda vermelha.

Com os Sindicatos pouco organizados e os Partidos pouco representativos,


sobravam os Comits de fbrica como correia de transmisso entre o Conselho e a
massa operria. Os Comits de fbrica eram eleitos nas fbricas, no contato cotidiano e
direto com os trabalhadores, tomavam suas decises sob o controle da Assemblia geral
dos Trabalhadores.

Ao passo que a Rssia se cobria de Conselhos e, surgiam em todos os locais


comits de fbrica, o Governo provisrio estava paralizado. A classe operria punha-se
em greve, respondida com lock-out pelos patres; ocorriam seqestros de patres,
ocupaes de fbricas. Assim, os trabalhadores comearam a gerir estas empresas;
nasce a autogesto, sobretudo nas pequenas e mdias empresas, mais fceis de serem
geridas. Os Comits de fbrica eram apoiados pelos Comits de bairro.

Os Comits de fbrica decidiram se federar horizontalmente, em nvel da capital,


para conduzir uma poltica comum frente aos patres. Foi realizada uma Confrencia
dos Comits de fbrica, em Petrogrado, por iniciativa das fbricas de armas. Em
seguida, em menos de um ms, 367 fbricas organizaram suas Conferncias em toda a
capital russa.

Por este fenmeno de expanso horizontal, semelhante ao dos Comits de


fbrica, os bairros organizaram tambm uma Conferncia inter-bairros.

9.2.2. A burocratizao das organizaes dos trabalhadores

Nas primeiras etapas da revoluo sovitica, a ofensiva contra os Comits de


fbrica, partiu dos Sindicatos que temiam a organizao dentro das fbricas pelos
comits. Assim como os Bolcheviques, eles eram maioria nos Sindicatos, aps outubro,
e desempenharam um papel de arbitragem entre os Sindicatos e os comits de fbrica.

No decreto sobre O Controle Operrio, em novembro de 1917, o Partido


Bolchevique colocou os comits de fbrica na dependncia dos Sindicatos. O 1
Congresso dos Sindicatos, em janeiro de 1918, tentou esvaziar a atividade dos comits
na gesto das fbricas. Com a formao de um Conselho da Economia Nacional,
iniciou-se o fenmeno de captura burocrtica das organizaes operrias, com o
objetivo de absorver os comits de fbricas, e, em seguida, a absoro dos sindicatos
pelas estruturas burocrticas dos Ministrios do Estado.

As Milcias operrias tambm sofreram o mesmo processo desde quando as


inscries passaram a ser feitas pelos Sindicatos e no mais nos Comits de fbrica.

Os Conselhos (Soviets) apresentavam 3 caractersticas fundamentais: de massa,


conjugando o pluralismo e harmonizando os vrios interesses presentes na classe
operria; de classe (operria), fundamento e justificativa histrica de uma organizao
social alternativa sociedade capitalista; de base, toda a sua estrutura se organizava da
base para a cpula e da periferia para o centro.

Os nicos rgos que se engajaram na prtica da autogesto foram os comits de


fbrica, combatidos pelos Partidos de esquerda e, em seguida, submetidos ao controle
dos Sindicatos (estes, por sua vez, submetidos ao aparato estatal). A eliminao
burocrtica destes Comits de fbrica foi um dos elementos da subordinao
generalizada das formas de democracia direta s estruturas representativas
(Conselhos-Soviets de deputados), esvaziadas de todo poder real pelo Estado.

Os Conselhos na Revoluo sovitica no tiveram, no essencial, um papel de


gesto direta. Os Conselhos de deputados operrios e soldados, foram dirigidos pelos
representantes dos partidos socialistas, aos quais as assemblias delegavam poder.
Enquanto parlamentos operrios, eles exerciam as funes de controle sobre os
patres e o Governo provisrio e, em seguida, sobre as instituies centrais do Estado
Operrio, que concentravam as decises econmicas e polticas.

Alm dos Conselhos de deputados e dos partidos de esquerda, a Repblica dos


Conselhos inclua, no seu incio, os Conselhos de comits de fbrica, milcia
operria e urbana, comits de bairro, os sindicatos, as cooperativas, os movimentos
de jovens e mulheres. O conjunto destas foras foi reduzido a uma pirmide estruturada
e dominada pelo aparato do Estado.

JOO BERNARDO assinalou que a guerra civil russa foi na verdade uma
revoluo internacionalista:

Em 1920, quando o Exercito vermelho se viu obrigado a entrar em campanha


contra a Polnia e a enfrentar no sul a ultima das tentativas militares brancas,
os trabalhadores alemes no porto da Cidade Livre de Danzig entraram em
greve para no descarregar munies destinadas ao exercito polaco, ao
mesmo tempo que em vrios lugares da Alemanha a ao dos operrios
impedia que chegassem a Polnia trens carregados de munies e na Gr-
Bretanha os trabalhadores alm de se oporem ao envio de material de guerra
para a Polnia,formaram Conselhos de Ao e ameaaram iniciar um
movimento revolucionrio se o governo de Londres decidisse intervir
diretamente contra as tropas soviticas na Polnia,ou mesmo
indiretamente,em auxilio da contra-revoluo no sul da Rssia.

Por isto, afirma que: Em suma, o que sucedeu dew 1916 at 1921 se fundarmos
a cronologia nos acontecimentos da Alemanha, foi um processo nico, escala europia
e com repercusses nos Estados Unidos. A insurreio bolchevique foi um mero
episodio, que se distinguiu por um detalhe: ter vencido.

Um dos melhores ensaios sobre este processo encontra-se em uma carta que o
bolchevique C. RAKOVSKY escreveu em 1928. Sua publicao traz o nome de Os
perigos profissionais do poder - sobre as causas da degenerescncia do partido e do
aparelho de Estado. Faamos uma sntese de suas ideias:

9.2.3. Os perigos profissionais do poder (Christian Rakovsky )

O documento de C.Racovsky ,na verdade, uma carta escrita para Grigori


B.Valentinov,jornalista membro da Oposio de Esquerda,na poca tambm
deportado. A carta foi publicada no Boletim da Oposio de Esquerda (bolchevique-
leninista) ,com o titulo de Os perigos profissionais do poder.sobre as causas da
degenerescncia do Partido e do aparelho de Estado, foi escrito em agosto de 1928.

CR tenta responder a questo que lhe foi posta: como o proletariado pode
manter seu papel dirigente no Estado? Esta questo,claro,associada ao conjunto do
problema da tomada e da conservao do poder . Para CR, A Oposio soou o
alarme frente ao incrvel declnio do militantismo das massas trabalhadoras e a
indiferena crescente em relao ao destino da ditadura do proletariado e do Estado
sovitico. O principal perigo a passividade das massas diante de fatos escandalosos:
roubos,prevaricao,violencias fisicas,extorso de fundos,abuso de poder ,arbitrariedade
ilimitada,alcoolismo,demisses, fala-se de tudo isto como se fossem coisas naturais e
todos toleram sem saber por que.

Encontrar uma analise cientifica do fenmeno que penetre em suas razes.Para


CR, agora podemos ,baseado em fatos, podemos avaliar as mudanas do estado de
esprito de uma classe operaria que se tornou classe dirigente. Para CR, esta questo
inerente as dificuldades a toda nova classe dirigente, (conseqncias da tomada de
poder e do seu exerccio e da forma de como se servir deste poder),e no apenas a
fatores histricos tipo cerco capitalista, presso da pequena-burguesia. Estas
dificuldades podem tomar o nome de perigos profissionais do poder.

A situao de uma classe que luta pela tomada do poder diferente da de uma
classe que j detm o poder aps um certo tempo.Quando uma classe se apodera do
poder,uma frao dela torna-se agente deste poder. assim que aparece a burocracia.Em
um Estado proletrio,em que a acumulao capitalista proibida aos membros do
partido dirigente,esta diferenaa comea por ser funcional,sem eguida torna-se
social.No falo de classe,mas social.Penso na posio social de um comunista que
dispe de um carro, de um bom apartamento, de frias regulares, e que recebe o salrio
maximo autorizado pelo partido.Sua posio difere daquela do comunista que trabalha
nas minas de carvo e que recebe um salario de 50 a 60 rubros mensais.

H necessidade de um processo longo e delicado.

Consiste em educar politicamente a classe dominante, lhe fazer adquirir a arte


de tomar em mos o aparelho do seu Estado,de seu partido,de seus
sindicatos,de os controlar e de os dirigir. Trata-se de uma questo de
educao.Nenhuma classe veio ao mundo possuindo a arte de governar.Esta
arte se adquire somente pela experincia,cometendo erros e tirando lies das
prprias faltas. [...] A inadequao entre as capacidades polticas de uma
classe dominada, sua habilidade para governar e as formas jurdico-
constitucionais que ela estabelece para seu uso aps a tomada do poder , um
fato histrico.

Nesta parte,CR busca exemplos na histria da burguesia da Europa, nas


revolues inglesa e,sobretudo,na francesa. Tratando da realidade russa,CR analisa o
partido e as massas:

Nem a classe operaria nem o partido so mais nem fisicamente nem


moralmente o que eles eram h uma dezena de anos.No penso que estou
exagerando quando falo que o membro do partido de 1917 teria dificuldade
para se reconhecer no partido de 1928. Uma mudana profunda ocorreu na
anatomia e na fisiologia da classe operaria.

Precisamos concentrar nossa ateno no estudo das mudanas ocorridas tanto no


tecido que nas suas funes.A analise destas mudanas nos mostrar a forma de sentir a
situao criada.Vou me limitar a alguns pontos:

Sobre a classe operaria devemos encontrar resposata uma serie de questes, por
exemplo:

- qual a proporo de operrios empregados atualmente na nossa industria que


entraram aps a revoluo,e qual a proporo dos que trabalhavam antes ?

- qual a proporo dos que participaram antes no movimento revolucionrio,nas


greves,foram deportados,presos,fizeram a guerra civil ou lutaram no Exercito vermelho?

-qual a proproo de operrios empregados na industria e que trabalham sem


minterrupo? Quantos entre eles s trabalham provisoriamente ?

-na industria, qual a proporo de elementos semi-proletarios,semi-camponeses,etc ?

Vendo a situao do partido importante ver a colorao trazida pelos


trnsfugas de outras classes. A estrutura social do partido mais heterognea que a da
classe operaria. A burocracia dos sovietes e do partido formam um fenmeno de uma
nova ordem..trata-se de uma nova categoria sociolgica a qual devemos dedicar todo
um tratado.

CR fala das posies de Trotsky, Boukharine,Preobrajenski. Lamenta


que,diferentemente dos estudos sobre a traio da social-democracia alem em 1914,
muito pouco foi dito e s em termos gerais, sobre o papel jogado por nossa burocracia
dos sovietes e do partido, na decomposio do partido e do Estado sovitico.

Voc pergunta o que aconteceu com o espirito militante do aprtido e de nosso


proletariado ?Como pessoas com um rico passado revolucionrio,de honestidade
pessoal acima de quaisquer suspeitas, se transformam em impiedosos burocratas ?
Deixando de lado os pontos de vista das ideias e da moralidade,como explicar que o
mesmo fenmeno se aplique classe operaria ?

O fato que mais nos aflige a ausncia de reaes por parte do partido e das
massas.Durante dois anos, uma luta excepcionalmente dura ocorreu entre a Oposio e a
a maioria das altas esferas do partido e, nestes ltimosoito meses,acontecimentos se
desenvolveram que deveriam abrir os olhos aos mais cegos.isot,sem que, durante todo o
tempo,a massa do aprtido no tenha intervido.

C.Racovsky buasca exemplo na perplexidade de Babeuf ,quando de sua sada da


priso de lAbbaye,e se pergunta o que aconteceu com o povo de Paris,os operrios dos
faubourgs Saint-Antoine e Saint-Marceau que, no 14 de julho de 1789,tinham tomado
a Bastilha,no 10 agosto 1792 as Tulherias, assediado a Conveno no 30 maio 1793,sem
falar de numerosas aes armadas. [X2] Comentrio: Onde inicia esta
citao? todo o pargrafo?

Babeuf resume suas observaes em uma frase no qual se sente o amargor do


revolucionrio: mais difcil reeducar o povo no amor Liberdade que a conquistar.
Vimos porque o povo de Paris se distanciou da Liberdade. A fome, o desemprego, a
liquidao dos quadros revolucionrios (muito de seus dirigentes foram guilhotinados),
a eliminao das massas da direo do pas,tudo isto trouxe uma grande lassido moral
e fsica das massas que o povo de Paris e do resto da Frana teve necessidade de 37 anos
de recuo antes de iniciar uma nova revoluo.

Para Racovsky, Zinoziev,Kamenev e outros dirigentes de Leningrado ,vieram


para OE em 1923, com a esperana de uma rapida tomada do poder. Tinham
necessidade de Trotsky para apenas para governar. Faltou por como premissa que o
trabalho de educao do partido e da classe operaria uma tarefa dificil e de longo
prazo.

Os operrios que chegaram ao partido aps a guerra civil,em sua grande maioria
aps 1923 (promoo Lenine),no tinham nenhuma ideia do que antes foi o regime do
partido.A maioria destes operrios estava desprovida desta educao revolucionria de
classe que foi adquirida durante a luta,na vida,na ao consciente. Na poca,esta
conscincia de classe foi construda na luta contra o capitalismo, hoje,ela deve se formar
na participo da construo do socialismo.Mas,como nossa burocracia reduziu esta
participao uma frase vazia,os operrios no encontram em nenhum lugar , aes
para formar essa conscincia.

Tnhamos a esperana que, a direo do partido deveria criar um novo


aparelho,verdadeiramente operrio e campons,novos sindicatos,verdadeiramente
proletrios,uma nova moral da vida cotidiana. Devemos reconhecer
francamente,claramente em alta voz: o aparelho do partido no realizou esta tarefa que
era sua. Demonstrou a incompetncia mais completa nesta dupla tarefa de preservao
e educao, ele fracassou e fez bancarrota.

Nossas criticas ao partido no dizem respeito ao aspecto quantitativo de seu


trabalho,mas a seu lado qualitativo.isto deve ser esclarecido,pois nos afogam em cifras
sobre o sucesso obtido pelo aparelho do partido e dos sovietes.Etempo de pro fim a
esse charlatanismo estatstico.vejam as contas apresentadas no XV congresso do
partido:cifras,cifras e ainda cifras.

Esta burocracia no mudar se apenas houver uma depurao,que pode ser


salutar.Sublinho apenas que, no se trata unicamente de mudar de pessoas, mais de
mudar de mtodo. Para mim, a primeira condio para tornar a direo de nosso partido
capaz de exercer um papel educativo, de reduzir o tamanho e as funes desta
direo.Os trs quartos do aparelho devem ser licenciados e as tarefas do quarto restante
deveriam ter os limites estritam,ente determinados.Isto deveria tambm se aplicar as
atrefas,as funes e aos direitos dos organismos centrais.Os membros do partido devem
recobrar seus direitos que foram perdidos e receber slidas garantias contra o arbtrio ao
qual os crculos dirigentes nos acostumaram.

Apenas podemos imaginar o que se passa nas camadas inferiores do aparelho do


partido.Foi na luta contra a Oposio que se manifestou a indigncia ideolgica destes
quadros,assim como a influencia corruptora que eles exercem sobre a base operaria do
partido.

Se,na cpula,ainda existia ainda uma certa linha ideolgica (mesmo que errada,feita de
sofismos ,com uma forte dose de m f ) no escalo inferior, h sobretudo recurso as
mais desenfreadas demagogias contra a Oposio. Os agentes do partido no hesitaram
em usar o anti-semitismo,a xenofobia, a raiva contra os intelectuais,etc.

Sou convencido que toda reforma do partido que se apia sobre a burocracia no
que uma utopia..

No final de sua carta, Racovsky faz uma sntese e assina-a,datando de 1928.

Essa dinmica regressiva, atravs da qual uma burocracia sui generis se


cristalizou e se organizou no poder, foi determinada em parte pelo atraso
material e cultural da Rssia, acelerada pela Guerra civil e pela interveno
imperialista e, sem duvidas, agravada pelas lacunas e os limites do
movimento revolucionrio da poca, engajado pela primeira vez em uma
experincia de transio socialista.
O funcionamento e a prtica dos Conselhos/Soviets, renovaram a experincia da
Comuna de Paris. A substncia e a dinmica dos dois movimentos (Soviets e Comuna)
foi a mesma: Autonomia, Autogesto, Auto-emancipao dos Trabalhadores.

O socilogo G. GURVITCH participou da constituio de conselhos operrios


revolucionrios em 1917. No Colquio realizado em Bruxelas em homenagem a
Proudhon, fez um importante depoimento:

A Frana, portanto, no o nico pas em que os problemas do sindicalismo


revolucionrio foram postos. Penso em particular em um outro pas, de onde
sou originrio, a Rssia, e onde estes problemas tomaram forma desde 1905
com a criao dos primeiros conselhos operrios. Eles surgiram uma segunda
vez sob o governo provisrio de Kerensky, e uma terceira vez sob o governo
sovitico e eu posso testemunhar da extraordinria penetrao das ideias de
Phoudhon, tanto entre os intelectuais russos quanto nos sindicatos operrios
russos. De minha parte, no foi na Frana, mas na Rssia, que eu me tornei
proudhoniano, e se eu vim para Frana, foi para aprofundar meu
conhecimento de Proudhon. Eu porto, portanto, um testemunho pessoal
direto: os primeiros soviets russos foram organizados pelos proudhonianos,
proudhonianos que vinham dos elementos de esquerda do partido socialista
revolucionrio ou da ala esquerda da social-democracia russa. No foi em
Marx que eles tomaram a ideia da revoluo pelos soviets de base, pois
uma ideia essencialmente, exclusivamente proudhoniana. Como eu sou um
dos organizadores dos soviets russos de 1917, posso falar com conhecimento
de causa. Recordo-me dos primeiros soviets organizados na fbrica de
Poutilov antes da chegada ao poder dos comunistas e testemunho que os seus
organizadores estavam tomados, como aqueles que se organizaram das ideias
proudhonianas. A um ponto tal, que Lenine no pode evitar esta influencia.
Acreditem-me, Sorel no pode servir de intermedirio! Foi uma influencia
proudhoniana direta que vinha dos distintos meios revolucionrios russos.
Em seus primeiros discursos Lenine tinha proclamado que uma planificao,
que uma revoluo social no so possveis que se fundadas em uma
representao direta dos operrios na base. E posso mesmo revelar um
segredo: que o programa do partido comunista , o segundo programa
absolutamente incontrvel vocs podem procur-lo em toda a Rssia,
procurar em todas as livrarias da Frana, a menos que tenham comprado em
maio de 1917, vocs no vo encontr-lo este segundo programa do qual
no sei se todos os exemplares foram queimados ou eliminados, o que posso
lhes dizer, que ele reproduzia como pontos principais as prprias palavras
de Lenine: nenhuma revoluo, nenhuma planificao coletiva no possvel
sem uma participao direta dos soviets de base e de seus representantes.
Vocs podem ver que a ideia da autogesto operria est toda a. O que no
impediu Trostsky e Stalin, que nesta poca eram os amigos, de pressionar
Lenine no curso da guerra contra os guardas brancos e de conduzir
suprimir temporariamente eu conheo muito bem o texto os conselhos
de base, sob pretexto que eles impediam uma produtividade crescente de
armamento. A Rssia, notem bem, ficou neste paradoxo que seu
campesinato, sempre muito reservado frente ao governo comunista, que se
beneficiou da democracia econmica (kolkhozes, sovkhoses), ao passo que
seu proletariado, que domina oficialmente, no obteve ainda aquilo pelo qual
tinha comeado a revoluo social: a autogesto operria.

9.3. A COMUNA SPARTACUS, BERLIM 1919

No final de 1915 e 1916, na Alemanha explodem em muitas cidades motins


causados pela fome. Estes movimentos culminam numa onda de greves em 1917. No
inicio de 1918, mais de 1 milho de trabalhadores participam do movimento grevista,
brutalmente reprimido; o Exrcito ocupa muitas fbricas.

Para Joo BERNARDO ,

A revoluo alem inicada em novembro de 1918 impos como tema central a


questo da auto-organizao. Os conselhos criados pelos marinheiros,pelos
soldados e pelos trabalhadores no se limitaram a ser uma instituio poltica
e tiveram como vocao modelar todos os nveis da vida social, nas empresas
e nas foras armadas,nos locais de habitao,na produo artstica.

Os operrios em greve, criam novas formas de organizao nas fbricas,pois


no tinham apoio dos sindicatos existentes. Assim, surgem os Conselho Operrios. Em
janeiro de 1918, forma-se o primeiro Conselho Operrios da Grande Berlim,composto
por delegados de diversas fbricas e,constitudo segundo o Conselho de Petrogrado na
Rssia. Em novembro deste ano, ocorre o motim dos marinheiros da cidade de Kiel;
apoiado pelos operrios dos arsenais, os marinheiros elegem um Conselho de operrios
e marinheiros, que toma o poder na cidade.Entre 4 e 9 novembro, os conselhos tomam o
poder em todas as cidades. Berlim foi a ltima a resistir. Estes Conselhos operrios,
surgidos em todas as cidades da Alemanha (cerca de 10 mil) tinham profundas
similitudes com os Conselhos criados na revoluo Sovitica.

Em 9 de novembro, eclode a revoluo em Berlim, preparada pela organizao


ilegal dos Delegados revolucionrios de fbricas, criada aps as greves de janeiro.
Grandes massas operrias abandonam as fbricas e os bairros indo em direo ao centro
de Berlim. A polcia foge, os quartis so abertos, libertando-se todos os presos.
proclamada a Repblica Alem; formado um Conselho de Comissrio do Povo; o
poder poltico permanece em mos dos Conselhos de Operrios e Soldados.

Em 12 de novembro, h a implantao da jornada de trabalho de 8 horas. Em


dezembro, ocorrem as primeiras aes da Liga Spartacus, dirigida por Rosa
Luxemburgo; de 16 a 21 de dezembro realiza-se o 1 Congresso dos Conselhos de
Operrios e Soldados, composto por 489 delegados.

A Liga Spartacus define seus objetivos em panfleto de 1918: a massa


proletria est chamada, no somente a marcar com claros conhecimentos os objetivos e
a orientao da revoluo. Deve tambm, por si mesma, pr sua prpria ao, pr em
marcha o socialismo, dar-lhe vida. A essncia da sociedade socialista consiste em que
a grande massa de trabalhadores deixe de ser uma massa dirigida para transformar-se
em uma massa que vive por si mesma a vida em toda sua plenitude poltica e
econmica, com base na autodeterminao. Somente uma recproca influncia
permanente viva entre as massas populares e seus rgos, os Conselhos Operrios e
Soldados, pode assegurar a evoluo da sociedade em um esprito socialista.

Em luta encarniada contra o capital, corpo a corpo, fbrica por fbrica, na


presso direta das massas, mediante a greve, mediante a construo de seus rgos
permanentes, os operrios podem apropriar-se do controle da produo e, finalmente,
tornar-se direo efetiva. A socializao da sociedade, no pode ser alcanada por outra
via, que no seja a luta infatigvel das massas operrias. A libertao da classe operria
deve ser obra da classe operria.

Medidas imediatas para proteo da revoluo:

- desarme da polcia, dos oficiais e dos soldados no-operrios, e de todos os membros


da classe dominante;

- os Conselhos de Operrios e Soldados devem se apropriar de todos os depsitos de


armas e munies, e das fbricas de armamentos;

- distribuio de armamento a toda a populao operaria masculina e adulta, organizada


como milcia operaria;formao de um guarda vermelha formada por operrios;

- supresso do modo de chefes, oficiais e sub-oficiais; elegibilidade de todos os


superiores pela tropa, que poder revog-los a qualquer momento; supresso da justia
militar;

- excluso de oficiais e indivduos desertores de todos os Conselhos de Soldados;


- supresso de todos os rgos polticos e administrativos do antigo regime, que sero
substitudos por homens de confiana dos Conselhos de Operrios e Soldados;

- criao de um tribunal revolucionrio;

- requisio imediata de todos os alimentos para assegurar a alimentao do povo;

Primeiras medidas polticas e sociais:

- estabelecimento da republica Socialista unitria da Alemanha;

- supresso de todos os parlamentos e conselhos municipais,cujas funes sero


assumidas pelos Conselhos de Operrios e Soldados e por comits e rgos que aqueles
deleguem;

- eleies de Conselho de Operrios em toda a Alemanha por parte da populao


operaria de ambos os sexos,na cidade e no campo,sob a base da fabrica;direito dos
operrios e soldados de revogar a qualquer momento seus representantes;

- eleio de delegados dos Conselhos de Operrios e Soldados de toda a Alemanha para


o Conselho Central dos Conselhos,em cujo seio ser eleito um conselho executivo,como
instancia suprema do poder legislativo e executivo;

- reunio do Conselho central dos Conselhos pelo menos a cada trs meses,com o fim
de manter um constante controle da atividade do conselho executivo e estabelecer uma
relao viva com as massas;

- abolio de todos os privilgios de classe,ordens e ttulos;igualdade completa dos


sexos perante a lei e a sociedade;

- introduo de leis sociais decisivas;reduo da jornada de trabalho,ao mximo a 6


horas;

transformao imediata das condies de alimentao ,higiene e educao;

De 5 a 12 de janeiro de 1919, ocorreu a semana sangrenta de Berlim, os


assassinatos de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknetch e o fim da insurreio dos
Spartakistas, como tambm da Repblica dos Conselhos na Baviera. Em 3 de maro
ocorre uma greve geral em Berlim. Os grevistas reclamam o cumprimento de um
programa com 6 pontos:
- reconhecimento dos Conselhos de Operrios e Soldados;

- imediato cumprimento dos Acordos de Hamburgo;

- libertao de todos os presos polticos;

- formao de uma Guarda Operaria revolucionria;

- dissoluo imediata de todos os corpos-francos (grupos contra-revolucionrios);

- imediatas relaes com a Rssia revolucionria.

Em resposta, o Governo decretou o Estado de Stio com durao at 5 de


dezembro. Os metalrgicos de Berlim entraram em greve no 18 de agosto e s
retomaram o trabalho em 11 de novembro.

9.4. A REPBLICA DOS CONSELHOS OPERRIOS DA HUNGRIA, 1919

Em janeiro de 1918,aps a onda de greves que tinha paralisado as duas capitais


do Imprio Austro-Hungaro,comeou em Berlim uma serie de greves que se alastrou
por outras cidades alemes. Tambm, em Viena e Budapeste a agitao operaria deu
lugar a fundao de conselhos, assemblias de base que no alienavam o controle
exercido sobre o processo de luta porque podiam em qualquer momento revogar o
mandato dos delegados eleitos(Bernardo)

Sob influencia e dentro da grande onda de lutas revolucionrias marcadas pela


revoluo Sovitica, na Hungria em 1918-1919. O Conselho revolucionrio e
Administrativo da Repblica Sovitica da Hungria promulgou o seguinte decreto, em
maro de 1919:

A Republica Sovitica julga que a sua tarefa assumir os meios de produo,


que passam a ser propriedade dos trabalhadores, organizar e incrementar a
produo;

todas as empresas industriais e de transportes e todas as minas,em que o


numero de trabalhadores seja superior a 20, dependem da administrao
estatal e ficam sob controle operrio;

nas empresas mencionadas , os operrios elegem o Soviet (Conselho)


operrio de controle;

Ainda em 1917, revolta-se a Frota estacionada em Cattaro; os marinheiros


formam soviets de soldados;a represso foi violenta.

Em janeiro de 1918, surgem greves nas fbricas de munies em Budapest;em


outubro, soviets de trabalhadores e soldados foram criados na capital e, rapidamente se
expandiam s outras cidades.O Exercito hngaro, em guerra,se encontra em completo
processo de dissoluo; os soldados desertam em massa e,a cada dia,formam-se novos
soviets que exigem a paz e a republica.

Em Conferencia socialista,em 13 outubro , os dirigentes do Sindicato dos Metalrgicos


prope armar os operrios ,e Bela Szanto,futuro membro do PC, incita os soldados
ao direta. No 25 outubro, o Conselho Nacional formado com representantes dos
Independentes de karoly,os Radicais e os Social-Democratas e divulga seu programa :

- Tratado de paz e independncia da Hungria;

- Resoluo do problema das nacionalidades em base aos princpios de Wilson;

- Democratizao da administrao e do parlamento;

- liberdades pblicas: sufrgio universal, liberdades de imprensa e reunio;

- Reformas sociais: repartio das terras, socializao dos monoplios,taxao das


acumulaes excessivas de capital;

- relanar a produo;

- Aliana de todas as organizaes nacionais para realizar estes objetivos.

Entretanto, o pas j estava sem governo. No mesmo dia, em torno de Szanto e


de jovens oficiais repatriados da rssia, surge um Conselho de Soldados , que federa
os representantes de todas as unidades e grupos de soldados desmobilizados. Em dois
dias, este Conselho coordena todas as foras militares da capital e dispe de 80
unidades de guardas .

Em 25 de outubro, os estudantes formam um conselho de 50 membros.

9.5. O CONSELHO OPERRIO CENTRAL DE BUDAPEST

Na manh de 29, os operrios espontaneamente entram em greve.No dia 30,


quando do horrio de almoo,os trabalhadores da maior parte das fbricas se renem em
assemblias gerais para eleio dos delegados encarregados de recontituir o grande
Conselho de Budapeste.Mais de 100.000 operarios participam destas reunies e adotam
uma Resoluo que diz:

A Assemblia constata que tarefas sem precedentes esperam o proletariado


hngaro.Por isto,ele acha necessrio fundar uma organizao de combate
para completar e reunir as organizaes que j existem; criar imediatamente o
conselho operrio. Ela ordena ao mesmo tempo ao corpo de representantes de
fabrica ,eleger sem demora, os delegados dos trabalhadores de fabrica ao
conselho operrio (31 Outubro de 1918).

Para D. GROS , o Conselho Central polariza a energia da classe operaria e


suscita a multiplicao de comits de fabrica. Surgiu da necessidade para classe operaria
de centralisar seu combate contra o Estado em uma fase pr-insurreicional e de unir
todas as foras deste combate em uma mesma instancia eleita.

O principal da atividade dos comits de fabrica e dos vrios soviets convergiam


para o Conselho Central Operrio, que tinha funo similar ao Conselho de Operrios e
de Soldados de Petrogrado,na Rssia de 1917.

Na tarde do dia 30 de outubro, os operrios em greve se renem e cantam A


Internacional e a Marselhesa dos Trabalhadores,os soldados,os estudantes invadem
as ruas de Budapest. Tendo os soldados a frente, civis se armam,grupos ocupam as
casernas, o quartel geral,garagens,Central telefnica,depsitos de alimentos e a maior
parte da administrao

Vrias manifestaes de massa ocorrem; o poder fica nas mos dos Soviets; em
novembro,proclama-se a Republica.Bela Kun,lder revolucionrio,regressa ao pas.O
Partido Operrio Comunista hngaro fundado;os camponeses apossam-se de
propriedades e fundam seus soviets.No interior do pas, conselhos populares de vilas
foram fundados. Estes Conselhos Populares eram formados por soldados,operrios e
agricultores. Mantinha a ordem local e solucionava os problemas de abastecimento.

A represso foi violenta; Bela Kun foi preso.Em fevereiro 1918,uma nova
insurreio,dirigida pelos comunistas, reprimida;varias regies ficam sob controle dos
Soviets;em maro,o Conselho Operrio da fabrica WIEZ MANFRED,de Csepel (que
desde novembro detinha o controle da produo),em nome de 20.000
trabalhadores,decide apoiar o Partido Comunista e marcha para capital. Firma-se um
novo governo,com a presena de Bela Kun. Os Soviets controlam a capital.

Todavia, este novo governo apenas teve durao de 130 dias. Foi derrotado
pelas foras invasoras (Exrcitos da Romnia, da Frana e milicianos do almirante
Horty). A represso fuzila e enforca 9.000 e, para os campos de concentrao so
enviadas 30.000.

Em seu curto perodo de existncia, a Republica dos Conselhos Operrios


realizou obras revolucionrias:

pelo decreto numero 9, os Conselhos Operrios ordenaram a socializao das


fbricas,empregando mais de 20.000 trabalhadores;
para resolver os problemas de abastecimento,foi socializado o comercio;todo o
abastecimento com mais de 10 operrios ficou sob o controle operrio;
o servio de transporte foi nacionalizado;
teatros, museus, etc foram nacionalizados e, a entrada passou a ser gratuita,com
apresentao do talo sindical;
o matrimnio passou a ser livre; o divrcio se fazia de forma unilateral e em 24
horas;
legalizou-se o aborto;criaram-se centros educativos para as crianas;o ensino foi
reformado.

9.6. OS CONSELHOS OPERRIOS DE TURIM, ITLIA 1919-1920

JOO BERNARDO ,em seu estudo sobre o Fascismo, caracteriza a situao


italiana:

E na Itlia a insatisfao generalizou-se em 1917 entre operrios e


camponeses,culminando em Agosto numa revolta de cinco dias em
Turim,reprimida com uma violncia tal que se contaram cerca de cinqenta
mortos e duzentos feridos, e mais de oito centenas de presos. Foi ento que
comearam a aparecer no norte do pas as comsses internas de fabrica,cujas
novas implicaes sociais s mais tarde se iriam manifestar
plenamente,durante as grandes greves de Agosto e Setembro de 1919.

A experincia dos Conselhos Operrios na Itlia, ficou limitada a Turim, centro


industrial onde existia uma concentrao com 50.000 operrios, dos quais 35.000 na
FIAT. Em 1917, a classe operria de Turim tentou reviver a Comuna; a insurreio foi
sufocada a ferro e fogo: 500 mortos e 200 feridos.

No final de 1919, os operrios de Turim entram em greve para comemorar o 2


aniversrio da revoluo Sovitica; Em maro de 1920, vrias fbricas so ocupadas em
Milo e Turim; no Sul, camponeses ocupam terras dos grandes proprietrios. Durante
cerca de 2 anos, o chamado Binio vermelho desenvolveu-se um processo de lutas
muito violento; em agosto de 1920, o movimento atinge o auge: as greves se
multiplicam, os patres decretam lock-out e tentam fechar as fbricas. Os
trabalhadores ocupam as fbricas; so cerca de 500.000, organizados os em Conselhos.

Em informe ao Comit executivo da Internacional Comunista-Komintern, o


lder revolucionrio Antonio GRAMSCI, escreveu: A propaganda pelos conselhos de
fbrica foi acolhida com entusiasmo pelas massas; em 6 meses foram constitudos
conselhos de fbrica em todas as fbricas metalrgicas o principio dos conselhos de
fbrica e, de controle sobre a produo foi aprovado e aceito.

O elemento caracterstico da ocupao de fbricas em Turim, estava constitudo


pelo esforo dos operrios para organizar, desde os primeiros dias, um sistema de gesto
operria da metalurgia. Em vrias fbricas foram realizadas assemblias abertas; as
guardas vermelhas, milcias operrias, cuidavam da vigilncia. Entretanto, ao
contrario dos Soviets russos e dos movimentos de conselhos na Alemanha e na Hungria,
os conselhos de fbrica na Itlia no chegaram a formular uma plataforma poltica
prpria, nem a estabelecer uma organizao em nvel nacional.

No aspecto militar, o movimento tambm estava sem preparao a altura do


momento histrico: a FIAT, a mais bem preparada neste aspecto, s dispunha de 5 mil
balas de metralhadora,o que dava 10 minutos de fogo.

A greve geral de agosto 1921 fracassou, inclusive em Turim; foi o inicio do


refluxo; a desocupao das fbricas tornou-se um drama: s em Turim existia 30.000
desempregados.

A represso foi violenta: em Npoles, as fbricas foram evacuadas aps uso de


metralhadoras e de canhes. No Piemonte, aps 1 ms de greve dos metalrgicos e 10
dias de greve geral, os patres triunfam e surgem os primeiros grupos fascistas
financiados pelo patronato. Este movimento dos conselhos na Itlia marcou o fim da
onda de ascenso no ps Guerra.

9.7. A AUTOGESTO NAS COLETIVIDADES RURAIS,ESPANHA 1936-1939

A Espanha realizou sua revoluo com cerca de 12 anos de atraso em relao as


outras experincias dos Conselhos operrios na Europa, e, em pleno perodo de contra-
revoluo mundial (ascenso do nazi-fascismo e consolidao do stalinismo). A
experincia autogestionria na Espanha, chama ateno pela sua durao (1936-39) e
por sua extenso poltica e geogrfica: ela ultrapassou o nvel econmico e manteve-se
durante 33 meses de guerra civil no pas, alcanando varias regies.

Em seu estudo sobre a revoluo espanhola, PIERRE BROUE traa um quadro


preciso do movimento operrio.

O movimento operrio espanhol era jovem, o proletariado estava unido ao


mundo rural por muito laos e compartilhava com ele tradies e costumes,o
temperamento rural provocava sentimentos de resignao e, ao mesmo
tempo, brutais exploses revolucionrias. S `a poca da I internacional
(1864) se constitui em todo o pas ,e como ela se dividiu rapidamente entre
socialistas e libertrios. Sem duvidas, os anarquistas os libertrios-
tiveram uma influencia muito maior que nos pases industrializados da
Europa ocidental.Em 1930, a diviso do movimento operrio espanhol
reproduzia a fragmentao que existia no inicio do sculo na Frana,entre um
sindicalismo revolucionrio combativo, partidrio da ao direta,e um
movimento socialista reformista e doutrinrio.

O desenvolvimento do movimento dos trabalhadores espanhis, operrios e


camponeses, se realizou sob a direo quase exclusiva dos anarquistas; a primeira greve
geral ocorreu na Catalunha em 1855;a primeira grande insurreio camponesa em
Andaluzia ,com repartio das terras para mais de 10.000 camponeses em Granada,foi
em 1863.

O movimento sindical tinha duas Centrais: a CNT foi fundada em 1919, com
755.000 trabalhadores; a UGT tinha 200.000 filiados. O Cooperativismo, entre 1931 e
1936 teve um desenvolvimento grande, sobretudo, na Catalunha. No Congresso
Nacional da Federao Nacional de Cooperativas,em 1935, havia 120.000 membros e
465 cooperativas. Em abril de 1936,apenas na Catalunha, existiam 205 cooperativas e
88.233 membros.

A estrutura econmico-social do pas apresentava as seguintes caractersticas:


em 1932, a produo da indstria do ao era suficiente para satisfazer muitas Espanhas;
a indstria txtil catal tambm tinha condies de suprir o mercado interno com a
produo de apenas 4 meses. A indstria espanhola dependia do comrcio internacional
e a crise de 29 agravou a situao: as exportaes e a produo caram
consideravelmente: em 1933 a exportao de ferro foi inferior 15% de 1913, e sua
produo foi de 2.000 toneladas em 1934, enquanto em 1929 tinha sido de 6.546
toneladas. As fbricas reduziram as horas de trabalho e, algumas fecharam suas portas;
o desemprego assumiu nmeros alarmantes: os nmeros variavam segundo as fontes:
480.000 no campo, 689.000, 700.000; e, na imprensa anarquista: 800.000 e 1.000.000.

Pelo Censo oficial, a Espanha tinha 1.900.000 trabalhadores nas indstrias,


sobre uma populao de 24.000.000 de habitantes. Em primeiro plano, estava a
indstria de vestimento com um nmero de mulheres superior aos homens. Em segundo
plano, vinha a indstria txtil, sobretudo,para exportao; cerca de 300.000 operrios e
operarias. Em terceiro lugar, a indstria da construo,com 270.000 homens.Em quarto
lugar, a industria de alimentao,com 200.000 pessoas. A indstria de caa e pesca, com
150.000 trabalhadores.

No setor da produo de base, a indstria de extrativismo com 100.000 mineiros


e a indstria metalrgica com 120.000 trabalhadores. No setor dos meios de transporte,
aparelhos de transmisso e eletricidade, 60.000 trabalhadores; em pequenas fbricas de
produtos qumicos, 40.000 trabalhadores. Na Catalunha estavam localizadas 70% das
indstrias.

Indstria: 22/23 % da populao ativa

Agricultura: 52% da populao ativa

Tercirio: 25% da populao ativa

Estatsticas oficiais de 1929 falam de 1.023.600 proprietrios de terra,dos quais


845.000 devem trabalhar como operrio agrcola para ganhar a vida; 160.000 viviam
miseravelmente do produto da terra;9.700 viviam luxuosamente em suas fazendas,eram
os grandes senhores feudais das terras,proprietrios de latifndios. Assim, os
camponeses constituam a maioria da populao.

Neste quadro, entre 1931 e 1936, ocorriam agitaes todos os meses. A poltica de
represso era muito violenta; os rgos policiais recebiam 60% do oramento do
governo e tinham 64.000 agentes.

Quadro ? A estrutura agrcola da Catalunha em 1936

empresas 1-5 hectares 5-100 hectares mais de 100


hectares

classificao pequena empresa media empresa grande empresa

% de empresas 77,54% 20,42% 2,04%

% Terras 13,16% 19,69% 67,15%


coletivizadas

Quadro ? Distribuio da populao da Catalunha por estratos sociais - 1936

Classes e estratos sociais em 1936

Empresrios 18,18%

Classes mdias 18,18%

Camponeses 40,9%

Operrios 22,72%

Uma reforma agrria limitada a algumas regies, foi iniciada em 1932,mas


apenas em 1936 foi efetivada,quando os camponeses ocuparam as terras.

9.7.1. Uma longa herana de lutas

Podemos traar uma cronologia das lutas dos camponeses e operrios na


Espanha:

1879- execuo, no garrote, de um campons anarquista que havia executado um


proprietrio de terras. Dissoluo das sociedades operarias em arragone ( Catalunha ) e
de uma cooperativa na cidade de olivera 9provincia de cadix0.greves camponesas em
Valencia,prises e deporaes de 75 grevistas; em Arcosde la Frontera (
Cadix),Granada, Ronda,Jan (Andaluzia) manifestaes de desempregados
reivindicando trabalho e po.

Incndio de colheitas ,vinheiras,florestas,moinhos e granjas dos grandes proprietrios de


Castilha,de Estremadura ( regio valenciana}e,sobretudo, de Andaluzia.

1880- grupos saqueiam as igrejas e os servios de recepo, ameaando os ricos das


provncias de Tarragona,Toledo,Ciudad Real;agitao em Andaluzia. Incndios nas
propriedades da regio de Xres (Andaluzia).Na provncia de Huelva (Andaluzia), os
grevistas matam animais e destroem plantaes de arvores; diversas sublevaes contra
os fiscais cobradores de impostos ( Valls, Arriate,Orense ,na Galicia; Almodvar
(Ciudad real).

1881- Congresso das Federaes Comarcais em Barcelona, adota resoluo a favor do


anarquismo coletivista,confrontando-se com os socialistas;

1882- Congresso nacional em Sevilha, com a seguinte representao: 212 delegados


representando 10 regies, 218 federaes locais,633 sees sindicais e 59.711 filiados
nas federaes.

1885-86-87- Revolta de camponeses na Galicia,a insurreio dura 2 dias,com muita


represso.Na provncia de Valencia,o povo toma de assalto a municipalidade de
Onteniente, queima os documentos protestando contra os impostos . Em 86, o Estado
toma 75 fazendas em Jodar por atraso de impostos; 32.000 na provncia de
Logrono;4.000 em Baleares. Em 87,na regio de Alcaniz (provncia de Teruel) ,3.000
fazendas so vendidas por no pagar os impostos.

A imprensa vizinha de Portugal anuncia mais de 400.000 confiscaes de terras em


Cuenca e Saragossa.Os camponeses emigram em massa.

1931 em outubro, a misria provocou insurreies camponesas com repartio das


terras: em Arganzon(Guadalajara) e,em dezembro do mesmo ano, em Carmona
(Sevilha) e em Santa Maria de Magarra (Cceres).

1932 no ms de janeiro, houve um movimento insurrecional na regio mineira do


Haut Llobregat e em Cardoner (Barcelona).Berga,Cardona,Figols,Sallent,Suria
proclamaram o comunismo libertario,que durou apenas 5 dias,sendo reprimido pelo
governo. No final de 32,no Levant,houve experincias de comunismo libertrio (em
Betara,Bugarra,Pedralba,Ribarroja). Em Sardanola-Ripollet , tambm,foi proclamado o
comunismo libertario.Estes movimentos ficaram marcados por uma trgica represso,
em Casas Viejas (Cadix): um destacamento de guardas civis tocou fogo em uma casa
onde estavam refugiados uns 30 militantes anarquistas que foram queimados
vivos,alm de outros 14 que foram friamente fuzilados

Estes movimentos so diferenciados: o de 1932 ocorreu em uma regio


mineira,cujas cidades foram: Berga (7.000
operrios),Cardona(6.000),Figols(960),Sallent (4.653),Suria(3.194). O segundo,de
1933, foi inteiramente campons,exceto Sardanola-Ripollet(3.500).No Levant, eram
cidades de 1.500 habitantes (Bugarra) at 4.400(Ribarroja);ou, pequenas cidades (Casas
Viejas) e cidades industriais (Salent).

O movimento de dezembro 1932, teve grande sucesso nas cidades: em


Teruel,eram cidades de 800 habitantes (Arenys de Lledo,Fornoles,Torre del Compte),
ou 3.000 (Beceite,Valderrobres).Em Lograno, cidades de 2.000 habitantes,exceto
Haro(8.000).Nas Astrias,a insurreio triunfou nas pequenas cidades,os minrios e
operrios tomaram Oviedo e Gijon.

Em 1934, o movimento nas Astrias tinha caractersticas iguais aos


movimentos de 1932 e 1933. A aliana entre comunistas,socialistas e anarquistas ,
adotou as medidas seguintes: abolio da moeda; distribuio de mercadorias pelos
comites operrios que imprimiam bnus com valor igual a 1 quilo de po cada
famlia adquiria uma certa quantia de alimentos de acordo com o numero de
pessoas;proibio de venda de bebidas alcolicas.

Esta tradio de luta foi uma marca forte na conscincia do povo espanhol: um
certo fundo mstico o impulsionava a lutar pelas grandes causas, desenvolvendo um
esprito de solidariedade e de igualdade.

9.7.2. A Frente Popular

Duas grandes organizaes revolucionrias representavam os trabalhadores: a


CNT e a FAI. A CNT,em 1936, tinha 1 milho de filiados,numa populao de 25
milhes de habitantes. Em maio de 1936, foi realizado o Congresso de Saragossa, da
CNT (com 550.000 membros) que adota oficialmente o programa do comunismo
libertrio e um projeto de aliana com a UGT.

No 19 de julho de 1936,um grande acontecimento: a vitria eleitoral da


FRENTE POPULAR; milhares de iniciativas foram surgindo: comits locais nas
regies e provncias,como novos orgaes de poder. Barcelona o smbolo deste
movimento de conselhos e comits de trabalhadores. Os restaurantes, hotis de
luxo,cabars,foram requisitados pelas organizaes operarias e tornam-se comedoros
populares.Cada comit tinha sua imprensa e sua emissora de radio.Com exceo da
Catedral, varias Igrejas foram queimadas;dezenas de milhares de fuzis foram
distribudos nas cidades.As portas das prises foram abertas.Em todas as cidades
existiam comits populares,eleitos quase sempre em assemblias gerais,como no caso
das fbricas.

Estes comits tinham um trao comum: apropriao do poder local, com


funes executivas e legislativas.Em Barcelona, o conselho das milcias foi criado apos
a dissoluo da Fora Publica e do Exercito. O poder real estava nas mos dos operrios
armados e dos comits populares.

Em setembro quando se formou o Goberno Largo Caballero, o aparato estatal se


desagregava, deixando espao para os comits nas cidades e no campo, e as milicas
anti-fascistas. Em geral, os Comits operrios ou camponeses formavam-se no campo e
na cidade de uma regio ,eliminavam ou subordinavam a Junta municipal,eliminavam o
aparato estatal local (burocrtico,policial,militar,fiscal),e assumiam todo o poder
local,organizando ou reforando a Milcia para combater os militares fascistas. Destes
comits faziam parte varias organizaes polticas e sindicais.

Os Comits surgiram em vrias regies, por exemplo: em Arago, a


Coletividade Agrcola aglutina 400.000 camponeses; no Levante, 500.000 camponeses;
em Nuova Castillha, 230.000. A.Guillen afirma que as coletividades autogestionrias
espanholas surgiram mais pela praxis e pela unidade entre pensamento e ao diante
de situaes concretas ,que por opo ideolgica . Numerosos patres haviam
fugido;os operrios e camponeses,ento, se apoderam das empresas ,seguindo o slogan
do movimento: As fbricas para os operrios. Assim,surgiram as Empresas
Coletivizadas ou Sindicalizadas.

No Congresso sindical ,em Barcelona outubro 1936, convocado para exigir a


legalizao das socializaes espontneas das fbricas, 600.000 operrios esto
representados. A autogesto rural abrange um numero importante de camponeses e
volantes.As funes locais so confiadas s assemblias gerais de bairro.

A direo das fbricas autogeridas tem a seguinte estrutura:

- uma assemblia geral;

-um comit de gesto,eleito a cada 2 anos,pela assemblia geral;metade dos eleitos


revogvel a cada ano;

-um diretor designado pelo comit de gesto.

Em 1936, o Governo da Catalunha reconhecia a autogesto operaria., atravs do


Decreto de Coletivizao. Este Decreto estabelecia que o Conselho da fabrica
nomeasse o seu Gestor ,se a fabrica tivesse menos de 500 operarios,ou um capital
menor que 1 milho de pesetas; nas fbricas maiores, o Gestor era nomeado pelo
Conselho de fabrica,mas deveria ser aprovado pelo Ministrio Catalo da Economia. Os
Conselhos de fabrica indicavam os delegados ao Conselho de empresas que geriam a
industria socializada;em acordo com os trabalhadores, o Ministrio Catalo da
Economia nomeava um fiscal. Entre outras medidas, os Conselhos de fabrica
estabeleceram um salrio igual para todos os trabalhadores das fbricas socializadas.

Um terceiro rgo existia em Barcelona: o Conselho Geral da Industria -CGI,


formado por 4 delegados do Conselho das empresas, 8 delegados dos sindicatos
operrios(CNT,UGT), 4 tcnicos do Ministrio da Economia catal,que nomeava o
Presidente do CGI.

Em agosto 1939, o Governo Caballero nacionaliza quase todas as industrias


catales , convertidas em industrias de Guerra;nos outros ramos de produo, a
autogesto catal s terminar com a fim da Espanha republicana.Ao criar,em todos os
nveis,organismos do tipo organismos ,rgos de luta e poder, chamados de
conselhos,comitejuntas,etc,os trabalhadores espanhis ,a seu modo, resgataram a
tradio das Revolues operarias: os Soviets,das Revolues russas de 1905,1917,os
Conselhos da revoluo Alem e Hngara.

9.7.3. As Comunas Libertrias

GUILLEN escreveu paginas memorveis sobre a economia das coletividades


libertarias:

Na Espanha,durante a revoluo de 1936-39 ,as coletividades libertarias


foram donas de sua produo, de seu excedente econmico,em que as
assemblias exerceram a democracia direta,nomeando os comits e
designando delegados por setores ou por grupos de trabalho ,atuando com
plena liberdade,independentemente do Estado.

Como vimos, em maio 1936 ,o Congresso Nacional da CNT,em Zaragoa,


adotou algumas medidas:

terminado o aspecto violento da revoluo, declara-se:

Abolidos a propriedade privada;o Estado;o principio de autoridade,e,por conseqncia,


as classes que dividem os homens em explorados e exploradores, oprimidos e
opressores.

Socializada a riqueza, as organizaes de produtores, j livres, se


encarregaro da administrao direta da produo e do consumo. [...]
Estabelecida em cada localidade a Comuna Libertaria, criaremos o novo
mecanismo social. Os produtores de cada ramo ou oficio,reunidos sem eus
sindicatos e nos locais de trabalho,determinaram livremente a forma em que
este deve ser organizado. [...] Estabelecida a comuna livre ,se apoderar dos
bens da burguesia,tais como, roupa,alimentao,calado,matrias-
primas,ferramentas de trabalho,etc.Estes instrumentos de trabalho e matrias
primas passaro ao poder dos produtores para que estes o administrem
diretamente em beneficio da coletividade.

A.GUILLEN esclarece:

Sem duvidas, a revoluo espanhola de 1936-39 criou coletividades agrrias


e industriais e no comunas, o que no pe em contradio estes organismos
revolucionrios,mas que se diferenciam por funes diferentes, j que a
comuna um auto-governo local,regional e mesmo ancional,como rgo de
auto-administrao,enquanto as coletividades so rgos de produo.

Para GUILLEN , este modo de organizao responde as ideias de BAKUNIN:


um duplo federalismo socialista: um, auto-administrativo ,substituindo o velho Estado;
outro, coletivos de trabalho integrados federativamente em seus respectivos ramos de
industria e servios sociais e pblicos.

As relaes de intercambio:

Os habitantes de uma comuna discutiro entre si seus problemas internos:


produo,consumo,educao,higiene e o que for necessrio para o
desenvolvimento moral e econmico[...]. Para o intercambio de produtos de
comuna a comuna,os conselhos comunais se poro em relao com as
federaes regionais das comunas e com o Conselho Confederal de produo
e Distribuio,reclamando o que fizer falta.Quando se trate de problemas que
afetem toda uma comarca ou provncia,sero as federaes quem
deliberaro[...]

Por meio da rede de relaes estabelecidas entre as comunas e os conselhos de


produo e estatstica,formados pelas federaes nacionais de produo, fica resolvido e
simplificado este problema. Assim, se cria um Mercado Autogestionrio Integrado.

GUILLEN nos fornece experincias concretas de organizao do trabalho


associado:

Em JATIVA, a passagem da propriedade privada propriedade social,gerida


diretamente pelos trabalhadores e no por diretores vindos do aparato
estatal,quando surgiu a coletividade libertaria,em janeiro de 1937, os
camponeses elaboram um estatuto de carter socialista,em que a Assemblia
Soberana eleita tinha um presidente,um secretario e um tesoureiro,mais um
vogal para cada uma das sees ou comisses: todos estes cargos eram
elegveis e revogaveis;os delegados das comisses no se
burocratizavam:tinham a obrigao de trabalhar como cada coletivista,
excetuando as horas dedicadas a gesto de sua especialidade setorial.

A coletividade integrou muitos artesos da localidade nas sees e comisses,


implicando uma integrao maior do trabalho social em toda a cidade e no municpio:
assim, a autogesto no se dava apenas em nvel de uma fabrica,mas em toda a cidade.

A experincia de coletivizaao de Jativa apenas ume exemplo de varias outras


regies onde ocorreu processo similar: Arago, Valencia,Murcia,Castilla e mesmo no
pas Basco. Nas Astrias e Catalunha, ou no Pas basco,por serem zonas industriais, a
autogesto operaria se expressou atravs dos Comits de Fabrica CNT-UGT.Por
exemplo, na coletivizao em Arago,na cidade de GRAUS,uma pequena cidade de
2.600 habitantes,em 1936,a socializao foi mais integral que em Jativa,pois todos os
meios de produo e de troca foram coletivizados.A coletividade de Graus geria 90% da
produo agrcola, artesanal e os servios sociais e pblicos.A Comisso Autogestora
era formada por 8 membros: 4 de cada sindicato (agrcola, industrial e servios); 6 das
sees de cultura e sade (teatro, academias, desportes, mdicos e farmcias); trabalho e
censo (pessoal, cafs, censo, abastecimento, comercio, carvo, armazns, insumos;
agricultura (cultivos, granjas, gado, irrigao); indstrias (fbricas, talheres,
eletricidade, gua, construo); transportes e comunicaes (caminhes, carros, txis,
correios, garagens). O municpio de Graus era uma comuna, um auto-governo
popular.

Em Arago, o modelo de distribuio no foi nico;teve como base o salrio


familiar,pago em vales ou bnus.Contudo,como a moeda local no erab legal em todo o
pas,as coletividades facilitavam a seus coletivizados moeda nacional quando
necessitavam para viagens fora da esfera local; Ningum podia acumular capital para
explorao;todo o excedente econmico da coletividade estava destinado a assegurar ou
melhorar o consumo, a formar reservas operativas para algum ano ruim,para formar
mais capital para investimento,para mais produtividade do trabalho com emprego de
melhores mtodos de produo e equipamento tcnico.

Em Alcorisa , a coletividade emitiu uma ficha de consumo familiar,como uma


carta de credito: se ao consumo de carne tinha 100 pontos e o consumidor no queria
carne, em compensao recebia outro produto de pontuao igual,para se cumprir a lei
do valor de intercambio em um mercado autogestionrio.

Quando os produtos locais no eram suficientes, a coletividade por meio de seu


conselho ou seo apropriada,obtinha por intercambio eqitativo,os bens e servios que
faltavam,em outra coletividade,praticando o federalismo econmico atravs da
Federao regional de Coletividades de Arago.

A inflao de preos, durante 1936-39, foi triplicando em relao aos


salrios.Nas coletividades agrcolas, o nvel de preos,em bnus e registrados nas
cartilhas do consumidor se manteve estvel.O bnus ou vale meio de troca, quase-
dinheiro,que no se transforma em capital acumulado e individualizado.O bnus, o vale
e a cartilha ou tarjeta de racionamento familiar s podem abolir o dinheiro em nvel
local ,para garantir o poder aquisitivo dos coletivistas,segundo o principio de que cada
bnus ou vale tm a garantia do trabalho produtivo de cada um e de todos os
coletivistas,todos devem trabalhar para ter direito a retirar bens ou servios.

Dados da Inflao

Inflao Valor da Peseta

Ano %

1929 100

1930 79,5%

1931 65%

1932 54,8%

1933 56,8%

1934 55,3%

Assim, GUILLEN afirma:

Na esfera limitada da coletividade local ou de varias coletividades integradas


na comarca para ter uma diviso social do trabalho mais correta, o dinheiro
pode ser abolido em muitos aspectos da vida cotidiana,se esto socializados
os transportes, a educao, a assistncia medica, a habitao,o consumo
domestico,o restaurante e outros aspectos da economia comarcal e local[...]
Alm da coletividade local ou comarcal, a produo para comercializao
externa,deve tomar a forma de moeda ou divisa, sendo comercializada
nacional ou internacionalmente [...]Se o vale ou o bnus tinham um valor
local estvel,se podiam ser emitidos pelos sindicatos e pelas coletividades,era
porque havia umas colheitas ou uma produo industrial como garantia.No
se pode emitir nenhum tipo de moeda se no est respaldada por produtos ou
servios...Alm do nvel local, funciona uma moeda de contas, ajuste e
calculo econmico,para quantificar a economia.

A Conselheira de Economia e Abastecimento do Conselho de Arago abriu uma


conta corrente para cada coletividade que concedia credito as coletividades deficitrias
sem cobrar juros; este credito seria restitudo quando a produo fosse
recuperada,destinando-o a investimentos (equipos, maquinarias, ferramentas,
saneamento, etc).

Segundo GUILLEN , o dinheiro pode ter um papel justo de intercambio de bens


e servios em um mercado autogestionrio,com base na economia moral: o dinheiro,a
condio de que no compre trabalho alheio na forma de salrio,de que no permita que
ningum usurpe mais-valia e de que no se acumule como capital individual ou
estatal,de que no intercambie produtos,bens ou servios,segundo a lei do valor-trabalho
em um mercado autogestionrio,de que no seja usurrio com tipo de juros,de que
ningum obtenha ganhos a custa de outro.de que facilite e quantifique a economia
social,para programa-la e conduzi-la a maior progresso tecnolgico e econmico;

A autogesto em Indstrias e Servios - com o golpe de Estado militar de 1936 ,


a Espanha ficou caracterizada pela ausncia de poder e pelas necessidades da guerra
civil; deste forma, surgiram novos rgos para dirigir a economia e a administrao: a
coletivizao foi parte fundamental destas novas formas econmicas.

Tal como no campo surgiram as Coletividades, nas cidades surgiram as


Socializaes das industrias.;este fenmeno no foi generalizado no pas, ocorreu
sobretudo em Barcelona, Valencia e nas Astrias. Em Madri, a UGT era contra as
socializaes e foi um grande obstculo.

Nas industrias e minas das Astrias, os proprietrios das fbricas e minas tinham
fugido ou morrido,mas a burocracia tinha permanecido na direo . assim, a CNT e a
UGT das Astrias se limitaram a criao de Comits de Controle Operrio,formados
por sindicalistas das duas centrais ,no eleitos pelos trabalhadores. Nas astrias, a
socializao ocorreu no setor da Pesca. Na industria,conserva e distribuio. Em
Barcelona, em cada fabrica foi criado um Conselho de fabrica,eleito pelos operrios.
As empresas estrangeiras no foram socializadas, e tinham apenas um Comit de
controle Operrio.

A Catalunha o palco central deste processo: os anarquistas da Confederao


regional da Catalunha determinam a poltica da CNT. As foras militares foram
derrotadas pela CNT-FAI (federao anarquista ibrica) junto com militantes do
POUM (partido operrio unificado marxista). A classe operaria se arma. A CNT
Catalunha realiza uma Plenria onde adota as propostas do comunismo libertrio,
tiradas um ms antes, no Congresso de Saragossa, e das lutas anteriores,sobretudo,nas
Astrias.

Foi na militncia de base deste movimento que surgiram as praticas


autogestionrias. Os sindicatos se apoderam de todos os setores vitais da economia:
metalurgia, transportes,fontes de energia,comunicaes,comercio e abastecimento.

Em Solidaridad Obrera,da imprensa anarquista, anuncia que o sindicato


nico da metalurgia conclama os militantes das sees de calderaria e solda a se
apoderarem dos centro de produo. E que,nas empresas metalrgicas surgiram duas
novas formas de administrao. Uma, implica a direo operaria sem nenhum tipo de
restrio;a aoutra, representa um tipo de administrao burguesa,atravs do controle dos
comits operrio de fabrica. Nos Transportes,por exemplo, foi instaurada a
igualizao salarial e a reduo da jornada para dar emprego aos desempregados.

A autogesto se organiza na base e de forma espontnea. O programa anarquista


tem 3 orientaes: as estatsticas (para dominar a economia), as novas tcnicas (para
reestruturar a economia) e a cultura ( para ter uma nova viso do mundo).

A cronologia da luta autogestionria teve dois momentos: o primeiro,quando do


vazio de poder legal, de junho at agosto 1936. Neste perodo, 26 fbricas foram
ocupadas pelos comits de base: 9 na metalurgia, 6 nos transportes e 11 nos servios.

Em cidades como Barcelona, houve autogesto na maior parte das industrias e


servios.Contudo, no foi to fcil como em Arago, abolir o dinheiro ou substitui-lo
por bnus ou vales ,ou cartilhas de abastecimento familiar. Em cidades com poucos
milhares de habitantes, no campo, foi possvel integrar a industria , a agricultura e os
servios. Guillen mostra alguns exemplos:

- Na cidade de Villajoyosa (Ailicante), a autogesto foi alm do nvel das


fbricas ,atingindo o de autogoverno comarcal: foram coletivizadas a maior parte das
terras, uma fabrica de txtil com mais de 400 operrios e a pesca martima da qual
viviam umas 4.000 pessoas;

- Em Calanda (Teruel), alm da coletivizao da terra, os metalrgicos, os


ceramistas, carpinteiros, ferreiros, costureiras, salitraria, barbeiros e outros artesos
foram coletivizados e se integraram com os agricultores para constituir o autogoverno
local;

- A cidade de Alcoy , em 1936, tinha uma populao de 45.000 habitantes; a


populao assalariada era de mais de 20.000,das quais 17.000 pertenciam aos sindicatos
da CNT. Em julho 1936 foram constitudos 16 sindicatos da CNT,integrados na
Federao local, para onde convergiam os ramos de produo industrial,agrcola e de
servios.

A gesto direta das empresas de Alcoy foi um grande exemplo de autogesto


geral: os 5 ramos da produo txtil elegiam um delegado ao comit de empresa,mais
1 do pessoal de oficinas e outro do pessoal de armazns.Funcionava uma comisso de
controle nomeada pelo comit sindical.Tambm,foi criada uma comisso tcnica
integrada por tcnicos das 5 especialidades: fabricao, administrao,vendas,compras e
seguros.A seo de auto-administrao se dividia em 3 partes;fabricao geral,
organizao tcnica e de controle de maquinaria, controle da produo e estatstica.

Tudo isto significava o auto-governo federativo das empresas,dando trabalho a mais


de 20.000 operrios, o que correspondia a 103 empresas.

A. GUILLEN assinala que


a experincia de Alcoy foi superior a autogesto yugoslava,pois enquanto
esta se limitava no inicio as empresas,na cidade espanhola as empresas
autogeridas estavam integradas em federaes de produo e servios.
Todavia,remarca um limite da experincia: o poder financeiro e poltico no
era um autopoder libertrio,o Estado governava por cima dos trabalhadores.

Como concluso, podemos nos apoiar em PIERRE BROU analisando as


bases dos organismos de poder conclui que

O fato mais importante , a apario ,em diversas escalas,de verdadeiros


GOVERNOS.Os rgos de poder,com sua infinita variedade de formas,que
surgiram desde julho tm todos em comum o fato de estarem organizados
como governos, com ministerios,um aparato, unidades especializadas,seu
exercito (as milcias),sua policia 9milicias de retaguarda,patrulhas de
controle,Segurana,etc),seus tribunais,e tambm seus sistemas esolares,seus
conselhos de economia criados formalmente ou no,etc.E,o trao comum
fundamental: que estes comits-governos em escala territorial,mais ou menos
extensa,no podem construir seu aparato a no ser apoiando-se nos comits-
governos da base.

Muitos militantes brasileiros participaram da Revoluo espanhola, integrando


as Brigadas Internacionalistas. Um deles, foi APOLONIO DE CARVALHO . Em
seus depoimentos , relata alguns fatos importantes:

Nutria apenas imensa simpatia pelo POUM*, no s pelo Andrs Nin ,que
era um terico,elaborador,pesquisador,uma grande figura cheia de
promessas,mas tambm porque a mais bela figura de jovem comunista que eu
conheci chamava-se Alberto Bomilcar Besouchet, trotskista,militante do PCB
e combatente na Espanha.Participou da rebelio (1935) de Recife, foi para
Espanha, apresentado a Andrs Nin pelo velho Mario pedrosa, era oficial do
exercito republicano,foi preso e acabou assassinado na priso como figura
ligada ao trotskismo,portanto ao POUM.Eu tive contatos com os
anarquists,mas no entrei em contato com PC espanhol e suas problemticas
internas. Eu no admitia, de maneira nenhuma, o choque com os
anarquistas,com os poumistas,com a dissidncia.

O Partido Operario de Unificao Marxista surgiu da fuso de outras duas


organizaes ( o Bloc Obrer i Camperol com a Esquerda Comunista), em 29
setembro 1935,em Barcelona,e considerava-se uma etapa na via da unificao dos
marxistas revolucionrios espanhis. Defendia a realizao de um Congresso de
Unificao Marxista Revolucionrio. Segundo P. BROU ,

contava com uns 8.000 militantes,uma base operaria real, especialmente na


Catalunha em cidades como Lrida ,gerona,e grupos menos solidamente
implantados em Andaluzia e Astrias.Seus dirigentes eram todos homens
conhecidos no movimento operrio.no apenas Maurin e Nin,mas tambm
Luis Portela e Juan Andrade,antigos dirigentes das Juventudes Socialistas e
do primeiro PC, Luis Garcia Palcios,um dos primeiros responsveis das
juventudes Comunistas,David e Pere Bonet,pioneiros do comunismo e dos
Conselhos Socialistas Revolucionrios da Catalunha,o antigo funcionrio do
partido e da Internacional,Julian Gorkin.Na Catalunha, o POUM fundo a
Federao Operaria de Unidade Sindical(FOUS),da qual Andreu Nin foi o
secretario-geral, e que reunia a maioria dos trabalhadores organizados em
Tarragona,Lrida e Gerona.
10. O CICLO DAS LUTAS AUTOGESTIONRIAS NO PS-
GUERRA, NA EUROPA

10.1. FRANA: AUTOGESTO NA CIDADE DE PROUDHON E FOURIER

possvel: produzir, vender e pagar salrios!

Os patres licenciam...licenciemos os patres!

(consignas da LIP)

Nos anos 70 do sculo 20, a cidade de Besanon, no leste da Frana, teria mais
alguns elementos para se incorporar a cultura socialista da autogesto. Dos sculos
anteriores, a cidade tinha suas referencias neste campo: No sculo 18, nesta cidade
nasceu ,em 7 de abril 1772, Charles Fourier. No sculo 19 , em 15 janeiro de 1809,
Proudhon nascia em um bairro operrio da cidade.

No primeiro semestre de 1973 , o jornal Estado de So Paulo , (apesar de no


publicar noticias sobre as greves no Brasil,como a da PIRELLI de Santo Amaro,em
1973 ), noticiou a ocupao de uma fabrica numa cidade do interior da Frana: os
trabalhadores de uma empresa de relgios,em Besanon, ocuparam a empresa e
passaram a produzir por conta prpria.

Esta luta empolgou a Europa durante seus 9 meses de durao e,ficou como
smbolo da autogesto.Neste perodo,1973-1974, os militantes da OS brasileira estavam
chegando a Europa. Sem duvidas, Besanon ,um marco no campo da CFDT, tambm
se tornou uma referencia para os companheiros brasileiros.

O 73, ainda foi um ano no ciclo longo de lutas pela autonomia e autogesto
na Frana. A principal luta deste ano ocorreu em Besanon , na empresa LIP ( nome de
um capitalista: Fred Lip).Os trabalhadores ocupam a empresa e passam a produzir e
vender os relgios produzidos. Para maioria das esquerdas, a autogesto presupunha a
tomada do aparato estatal. A revoluo poltica precede a revoluo social.

Ren Lourau estudou a luta da Lip em sua obra LanalyseurLip ( 1974).


Lourau define a conjuntura: Nos momentos quentes da historia, tudo ocorre como se a
palavra de ordem analisemos nossas instituies tomasse conta das massas. A analise
institucional generalizada significa libertao da palavra,mas tambm, um
comportamento um pouco louco, uma ruptura com as relaes sociais habituais(1974-
p.II ).

Para R.Lourau, a experincia Lip se situa numa temporalidade de longa durao


, em que estabelece memorias de curta ,media e longa durao:

A greve iniciada em abril de 1973, termina somente em janeiro de 1974, se


inscreve por sua vez na temporalidade do movimento operrio e do movimento
revolucionrio clssico,e no da contestao moderna em que os primeiros elos foram
dados nos anos 60 nos USA, em1967 na Alemanha, em 1968 na Frana, em 1969 na
Italia. Uma temporalidade intermediaria pode ser traada se tomamos o perodo do aps
guerra.A grande greve dos mineiros em 1963 serve assim de referencia para a
Frana.Outros perodos so visados: em relao as experincias modernas de conselhos
operrios (Hungria, Polonia, Thecoslovaquia); em relao as ondas de greves selvagens
na Inglaterra, na Escabdinavia,etc; em relao as experincias generalizadas de
autogesto na Espanha republicana, na Yugoslavia, na Argelia...(ibid-p.30)

As foras de esquerda , o PS , o PC e a CGT, chamam esta luta de auto-


defesa; Edmond Maire,da CFDT,fala de uma ilegalidade,precursora da legalidade
futura; o PSU fala de controle operrio; a LCR fala de greve geral; Libration
fala de gesto operaria. Michel Rocard disse, em ps-facio ao livro de Charles Piaget;
Esse conflito exemplar de uma situao de autogesto (...).As formas de organizao
na LIP prefiguram as formas da sociedade em transio para o socialismo (...).

Anos depois,em 1978, DANIEL MOTH ,antigo militante do grupo


Socialisme et Barbrie , escrevia uma obra para questionar estas vises: A
autogesto gota-a-gota(...). Perguntava: se a autogesto deve ser sempre
generalizada,como trabalhar com as experincias concretas do dia-a-dia ?

10.1.1. A economia moral do tempo na Lip

A Lip tinha uma longa existencia : foi fundada em 1886 .Na empresa de Fred
Lip, a organizao do trabalho funcionava atravs de cadeia automtica, em que os
operrios no podiam parar nenhum segundo ; para os operrios, era como um priso
em que produziam 800 relogios por dia ,com gestos montonos ,sem poder fumar um
cigarro;quando se fazia amizade com um vizinho na linha, te mudavam de posto.No se
podia trocar palavras.Havia multa pelos atrasos na chegada a fabrica. Os operrios
saiam do trabalho esgotados .

No entanto, 5 geraes produziram relgios Lip, que transmitiam a preciso e a


perfeio destes produtos de alta qualidade.Os trabalhadores se orgulhavam de seus
relgios.;afinal, tinham criado o relgio eletrnico a pilha e,sobretudo, o primeiro
relgio a quartz do pas,um salto tecnolgico.

Este processo de trabalho estava refletido em uma pintura ocupando uma imensa
parede da fabrica: uma viso de campo e montanha,tendo em frente Fred Lip, o patro,
dando as horas a Einstein e conversando com Galileu.No cu, antigos smbolos do
tempo.Uma mulher com rosto da senhora Lip,a filha do patro. uma espcie de criao
do mundo, atravs do tempo assinalado por Lip: o tempo constri a cidade e muda os
costumes. Esta pintura representa a idealizao delirente do patro: uma moral de um
tempo abstrato, fora da vida;a cadeia automtica modelo representa o resultado pratico
do idealismo: o dio pelo homem,a negao de suas necessidades.

Ao lado da produo de relgios, a Lip fabricava tambm armas.Produo


iniciada no ps guerra, que em 1946, aumentou sua produo devido a guerra francesa
de ocupao do Vietnam. Chegava-se a montagem de 7.000 peas para msseis na Lip
de Issoudnun.

JOO BERNARDO remarca o carter de solidariedade dos trabalhadores:

o exemplo pioneiro da luta na Lip,quando,a 17 de Junho de 1973,um


negociante do Kuwait props a aquisio a pronto pagamento a vista de trinta
mil relgios,montados autonomamente pelos grevistas.Sob o ponto de vista
material,essa contribuio resolveria sem duvida muitas dificuldades mas,
para os trabalhadores em luta,era o ponto de vista social o determinante ,por
isso recusaram a propoata e continuaram a vender os relgios diretamente aos
trabalhadores de outras empresas.Aqueles bens no eram,aqui,incorporados
de valor,mas de um outro tipo de relaes sociais,expressas na solidariedade.
(in: A Economia dos Conflitos Sociais).

No 68, os trabalhadores da Lip j tinham coupado a empresa;em junho de 70,,


tinham bloqueado estradas como protesto;dias depois, reocuparam a empresa por 16
dias,contra uma reduo de pagamentos,inclusive,ocupando as salas da direo;em
1971-72 ,novas lutas contra demisses.

A democracia de base na Lip foi outra expresso da prxis


autogestionria,herdada das lutas de 68;por exemplo, um comit de ao,com no
sindicalizados,ao lado das sees sindicais da CFDT e da CGT; assemblias gerais,
trabalhos em grupo, divulgao de informaes. O impulso maior luta veio da seo
sindical empresa CFDT,em que se destacou a liderana de Charles PIAGET ,
militante da ACO e do PSUF.

Os dirigentes nacionais da FGM,acompanharam diretamente a luta: R.Briesch


ficou um ms em Besanon; Alfred MUTET* e J.CHERQUE,coordenaram o trabalho
na FGM.

Em sntese,podemos afirmar que o carter exemplar da greve da Lip est no fato de que
os trabalhadores concentraram em suas lutas todas as formas de ao novas que tinham
surgido,sobretudo,aps 1968:seqestro,ocupao, movimentar a empresa sem os
patres,gesto operaria da produo e da luta, popularizao,articulao atravs de
marchas a outras regies,etc.

10.1.2. O Contexto da modernizao francesa

Na Frana, de 1960 a 1968 a media anual de aumento de preos foi entre 3,5-
4%;nos anos 1969-73, esta media foi multiplicada por dois ( 6 a 8%) e,em 1973, dobrou
mais uma vez (15%). De 1969-73, o crescimento foi sustenatdo pelo desenvolvimento
do consumo e das trocas externas alm de um forte crescimento dos investimentos.O
patrono falava,ento,de um crsecimento a japonesa centrado na industria devido a
eliminao de empresas medias e pequenas.O Governo comea um processo de
reestruturao das empresas. Os investimentos e os aumentos de salrio so
financiados pela inflao.

Nessa metade dos 60, aO pas tinha alcanado um nvel de prosperidade sem
precedentes., parecendo que o pas estaria fora do alcance de quaisquer crises sociais. A
moeda estava slida e o crescimento anual era de 5%. As guerras coloniais tinham
acabado.Num perodo de 20 anos, houve uma mudana de poca. Toda uma imagem do
pas sofria mudanas formidveis.A da Dulce france,com suas vilas e sinos , mudava
radicalmente.Todavia, continuava presente na educao .Coexistiam temporalidades
distintas.As classes sociais e a desigualdade permaneciam.

A Frana conseguia acompanhar a sdegunda revoluo industrial, com a


industrializao e a urbanizao;ocorre uma melhora global da condio operaria ,com o
desenvolvimento da produo e do consumo e da redistribuio alicerados pelo
Estado providencia . Acabava o xodo rural e os centos urbanos se
desenvoviam.Assim, os modos de vida e de estruturao das classes mudaram.

Esta modernizao traz junto uma crise de ideias e de valores da ao poltica.:


a aparente satisfao geral e o conformismo mascaram uma vida vazia,com o
consumismo e o mal estar das metropolis.

J. Le Gouff assinala que

O fenmeno marcante destes anos a emergncia de novas camadas ditas


intermediarias (entre a burguesia e a classe operaria).As camadas medias
tradicionais (camponeses, artesos e pequeno-comerciantes)
desaparecem,enquanto outras emergem.O setor tercirio progride e emprega
a maioria das mulheres que trabalham.Aos empregados somam-se os quadros
superiores e mdios,os tcnicos,os profissionais liberais em plena expanso.

Em 1962, mais de 7 ativos entre 10 so assalariados e o emprego feminino


cresce. Os operrios ainda continuam a classe mais numerosa,mesmo que diminua em
relao a outras categorias de assalariados que, em 1962 eram de 6,6 milhes e, em
1968, eram de 7,3 milhes. NO aps Guerra houve uma recomposio: os operrios
pouco ou no qualificados eram maioria,pois,o taylorismo favorecia o
desenvolvimento da categoria dos OS (ouvriers especialiss), no qualificados,vindos
do campoou de outros pases (Portugal,Espanha,Magreb).Os jovens, as mulheres,os
imigrantes formavam a maioria.Ao mesmo tempo,aumenta a categoria de operrios
qualificados e dos contra-mestres, e os operarios de colarinho branco
(tcnicos,engenheiros de produo,desenhistas industriais,etc).

Este progresso diz respeito a vida cotidiana: a estrutura de consumo muda;


maquinas de lavar, refrigeradores, automveis e televiso so smbolos da mutao, que
traz junto uma deshumanizao das relaes pessoais e o anonimato caracterstico da
multido solitria de David Riesman.Um novo conformismo de massa se instala no
pas.

Os sociologos do trabalho assinalam que as lutas reivindicativas dos sindicatos


deveriam evoluir para aspectos mais qualitativos do estatuto dos trabalhadores, o
controle do poder e a gesto nas empresas.

10.1.4. O ramo da relejoaria

A partir das lies extradas da crise de 1921-22 , os patres do setor da


relojoaria se reagrupam e criam a Federao da relojoaria.Em 1926, as fbricas que
produzem os esboos se federam e formam a Ebauchs AS.Em 1931, fundam uma
sociedade holding a ASUAG (Sociedade geral da relojoaria Sua).Em 1967,Ebauches
SA entra no capital da Lip com 33% das partes. Com o tempo,controlaria a fabrica.

Com a crise do petrleo, o emprego paga os custos da poltica anti-inflao.No


perodo de crescimento da criao de mepregos,o numero de desempregados aumentou
de 100.000.Com o aprofundamento da crise a partir de 1974 , em final de 1977 o
numero de desempregados atinge 1,2 milhes.Em 1975, a estagnao atinge o pas.

Em relao a 1969-70, o ano de 1971 e os que se seguem so marcados pela


combatividade dos trabalhadores. Diversas greves de longa durao ocorrem em
diversos setores:

Joint Franais de 13 de maro a 9 de maio; Nouvelles galeries de Thionville,do 13


abril ao 26 junho 1972; greves nos Bancos na primavera de 1974 (de 4 a 8 semanas),
greves nos correios em 1974. Apenas para 1971, ocorrem 260 conflitos,das quais 18%
duraram mais de 7 dias.

No ps 1968, o fenmeno novo no a longa durao das greves, mas o recurso


a aes reprovadas pela lei: ocupao dos locais de trabalho, seqestros,etc.Se no so
formas novas de luta, todavia, a ocorrncia em varias empresas no mesmo perodo, um
fato novo.

Os trabalhadores reagem a violncia patronal: por exemplo, a direo da


REUNAULT,em Saint-Etienne,em abril de 1973, forma um comando que entre na
fabrica ocupada,agride os operarios e seqestra as fichas tcnicas para prosseguir a
produo em outro local. A Unio das industrias metalurgicas e mineiras cria um
fundo de greve para se defender das greves.

Muitos trabalhadores se beneficiaram da expanso econmica do perodo 1969-


73; fenmeno que trouxe uma disparidade de remunerao e uma deteriorizao das
condies de trabalho (aumento das cadencias,etc). As trabalhadoras de Joint Franais
em Saint-Brieuc (Bretanha) desencadeiam uma greve que durou 57 dias , tendo um
enorme solidariedade da populao da regio.Nas 29 magasins do trust Nouvelles
Galeries,as jovens trabalhadoras realizam uma greve que contou com a solidariedade
de vrios comites de apoio.

Muitos destes conflitos tm como atores os trabalhadores imigrantes,por


exemplo, em Lyon 1972: algerianos,marroquinos e tunisianos entram em greve no trust
Penarroya,com durao de 32 dias. Mulheres,jovens,camponeses,imigrantes marcam
as novas lutas.

10.1.5. As lutas pelo emprego

Neste contexto, a partir de 1974, os conflitos pela manuteno do emprego


crescem. Os conflitos sobre o eixo do emprego marcam os anos 1974-77 e se
caracterizam pela sua durao.Em julho 1976, houve 5 conflitos que duraram mais de
16 meses, 11 de 12 a 14 meses, 12 de 8 a 10 meses, 11 de 4 a 7 meses. Mas a partir da
greve na Lip que o fenmeno chamou a ateno.

A originalidade dos mtodos de luta tem por marca a ocupao das fbricas e
manter um nvel de produo para assegurar um complemento de renda para prosseguir
a luta e,para manifestar simbolicamente que os operrios so capazes de produzir sem
patro e de organizar o trabalho segundo suas ideias. A venda dos seus produtos,ficou
conhecida como vendas selvagens,e, o pagamento dos trabalhadores nestas
empresas,chama-se pagamento operrio.As duas centrais,CGT e CFDT,em 1974
articulam uma manifestaosob a Torre Eiffel com milhares de jovens trabalhadores
representando 450 empresas em luta.
O mrito dos operrios da Lip de Besanon , est no uso de mtodos originais
em condies difceis,pois se tratou de lutar contra a liquidao da fabrica,atravs da
ocupao de uma empresa em falncia. Charles Piaget afirma que Na Lip, aps o maio
68, fomos mais audazes!. Piaget reconhece que o grmen de 73 est em 1970:

A luta que conduzimos em abril de 1973 foi o pico de uma serie de outras
lutas[...]. O conflito tal qual ocorre hoje s foi possvel porque houve Maio
de 68. Ele seria impossvel nos anos 60[...] Ele nasceu dessa potente onda de
fundo do movimento operrio. Em Maio de 68, alguns redescobriram,outros
descobriram,como para mim,as formas de combate que no eram mais
utilizadas depois muito tempo: a greve com ocupao de fabrica, a greve
ativa,com a participao efetiva de um grande numero de trabalhadores, a
elaborao das reivindicaes feitas pelos prprios trabalhadores.
Descobrimos ou redescobrimos as assemblias gerais cotidianas,soberanas
nas tomadas de deciso,o comit de greve ativa. Maio 68 foi uma boa escola.

10.1.6. A ocupao da fbrica!

Em um primeiro momento,a luta foi caracterizada pelo carter revolucionrio de


massa.Os operrios tomavam conscincia do grande contraste entre seu trabalho e a
destruio das foras de produo operada pelo capitalismo. Desde as primeiras
inquietaes frente as demisses repentinas de trabalhadores, a deciso de reduzir os
ritmos de produo como forma de protesto contra a venda da Lip , em 1967, ao
monoplio Ebauches S.A.(grupo suo do trust multinacional ASUAG, que controla
10 grupos financeiros);a rebelio de massa quando no receberam os salrios e os
administradores provisrios no davam respostas sobre o futuro da fabrica.

A EBAUCHES tem 26 sociedades e fbricas com produo de peas de


relgios.Tinha por objetivo o controle da Lip: os capitalistas suos tinham um mercado
minimo na Frana de 500.000 relogios por ano;enquanto na Inglaterra vendiam 6
milhes anuais; assim,queriam conquistar o mercado francs,atravs da melhor fabrica
existente:Lip.

Fred Lip torna-se acionista da Ebauches e monta uma nova fabrica de montagem
de relgios: a ELECTRA, com todo o equipamento e estrutura da Lip; uma operao
para destruir a fabrica ,e abrir a falncia.

A produo vai se modificando: a Lip produz sempre menos peas para


montagem de seus relgios: em 1967 fabrica 67% dos relgios;em 1972 apenas 49%.
Todavia, a Lip tinha um ciclo integral de produo: da pea simples ao relgio
inteiro;assim, decidiu-se pela reestruturao da Lip: esta se limitaria a montar para
Frana peas produzidas em outros locais. A conquista do mercado francs, aumentaria
a disputa pela concorrncia coma produo dos americanos e japoneses na Europa. A
EBAUCHES,portanto, insere-se no novo campo de repartio da mais-valia em nvel
mundial.

A produo de relgios tinha a caracterstica de constantes crises.O monoplio


do setor ,para aumentar sua taxa de lucro, recorre a concentraes,destruindo o
artesanato e as fbricas pequenas.S na Frana,em 10 anos foram destrudas 70
empresas do setor.

Na luta feroz pelo mercado mundial, a EBAUCHES tinha destrudo varias


fbricas.Na Lip, sua participao passou dos 33% para os 56%.A gesto da empresa se
fazia cada vez com mais violncia e se preparava a futura reestruturao,ameaando
os 1.200 operarios da Lip.

Fred Lip,minoritrio, pede demisso e deixa o lugar para os patres da ebauches


AS,que,com apenas 4 meses depois,solicitam ao tribunal do Comercio a falencia da Lip.

A classe operaria da regio onde fica Besanon , muito original. A histria da


classe operaria de Franche-Comte marcada pela combinao de influencias
proudhonianas, anarco-sindicalistas,socialistas,comunistas e social-crist. Os lippianos
tinham uma forte tradio de luta: em 1968,os trabalhadores tinham ocupado a Lip; em
1970, bloquearam as estradas como protesto,porque os patres queriam reduzir a
participao assistencial; logo depois,ocuparam outra vez a fabrica por 16 dias,contra
uma reduo de pagamento;em 1971 e 72,mais uma vez lutaram contra demisses.

Na fabrica Lip de Besanon-Palente, a seo sindical CFDT uma das mais


combativas da Central.Viveu a mudana da CFDT,preparada pelo grupo
Reconstruo, foi estimulada pelo Maio 68 e pela chegada de jovens militantes
entusiasmados,ativistas sindicais.Seus militantes esto sob a influencia do PSU ,onde
existem todas as tendncias da poca: social-democracia de esquerda, marxistas crticos,
maostas,trotskistas,etc.

Em 1973, em Asnires houve uma Conferencia Operaria reagrupando militantes


de empresas ,filiados ao PSU, Luta Operaria e AMR.Nesta Conferencia, Charles
Piaget,responsvel CFDT na Lip e militante do PSU, colocou a questo: diante da
proposta de reestruturao da Lip, o que fazer ? Que ao desenvolver ? Ocupar a
fabrica, e depois ?.Alguns militantes propuseram a greve ativa de 1968 e, a autogesto
social generalizada.

Em 17 de abril, o Tribunal do Comercio designa 2 administradores judiciais.No


27 de abril, 1.000 trabalhadores da Lip desfilam nas ruas at a Prefeitura.No 12 de maio,
criado o Comit de Apoio a Lip, com a CGT,a CFDT,o PCF,o PSF,o PSU,Luta
Operaria,Liga Comunista,a JOC,o MRJC e a JC. O bispo e as 4 lojas manicas de
Besanon apiam publicamente os trabalhadores.Por exemplo: no 15 de junho, na
manifestao de 15.000 trabalhadores, o arcebispo fala em frente a Igreja So
Pedro,junto com os delegados sindicais.O carter social da Igreja abre tambm as portas
para um luta com apoio da populao.

10.1.7. Assim, comeou a luta dos trabalhadores.

Em 25 e 26 de abril 1973, manifestam frente a prefeitura de Besanon;no 10 de


maio, bloqueiam as estradas que levam as 3 entradas da cidade,solidarizando-se com os
caminhoeiros;a noite, vo ao consulado suo;no dia seguinte,um cortejo de automveis
assedia a casa do deputado gaulista da regio.

No 12 de maio, 200 operarios vo a Sua para uma manifestao frente a sede


da EBAUCHES; voltaram a Sua 2 semanas depois,para desfile junto com operrios
suos, com cartazes defendendo Contra a Europa dos trusts,solidariedade
internacional de todos os trabalhadores. Em seguida, 500 operarios vo a Paris
manifestar-se frente a Embaixada Sua. Organizam um comit de apoio , em nvel
nacional,para preparar uma grande manifestao em Besanon.

No 12 de junho 1973, os operrios tomam os escritrios,seqestram os


administradores e acham em suas pastas os planos de centenas de demisses:Lip
,fabrica de relgios de qualidade seria fechada,s ficando a marca para o uso do
monopolio suo. Neste mesmo dia 12 junho,os operrios ocupam a fabrica ;queriam
justia e manter os postos de trabalho.Adotaram o slogan Lip,Lip vencer!.
Em 15 de junho, houve uma manifestao popular de solidariedade .A policia
atacou e os operrios se defenderam. Surgiu a proposta de continuar a produo de
relgios na fabrica ocupada, para venda e pagamento de salrios. Dos 1.150 relogios
produzidos no primeiro dia da ocupao, venderam imediatamente 454 relogios. Neste
dia 15, a manifestao tem mais de 100.000 pessoas que desfilaram durante 3 horas em
Besanon.

Em assemblia, no 18 de junho, na fabrica ocupada,os trabalhadores decidem


por: retomar a fabrica e produzir; criar comisses e, um comit de ao.As palavras de
um padre ,conduz a que os no-sindicalizados integrem este comit.

Dias depois , uma delegao visitou a Renault-Bilancourt : distriburam todos


os volantes e ,em plena praa,os operrios das duas empresas se solidarizavam, se
abraavam,cantavam musicas regionais.Compravam os relgios. Muito significativo o
telegrama enviado pela seo sindical da CFDT-RENAULT:

A CFDT-Renault protesta vigorosamente contra a agresso da fora policial


contra a fabrica Lip...Esta miservel ao mostra a incapacidade do regime
atual para responder as reivindicaes dos trabalhadores, a no ser com a
fora..Com isto, o estado demonstra,uma vez mais, no passar de um aparato
ao servio da classe dominante e que o seu papel essencial consiste na
manuteno da ordem social existente,com todos os meios que detm :
administrao, justia, fora policial.Em tal contexto, a luta dos operrios da
Lip, por sua fora dinmica e por sua combatividade,mostra o caminho para
toda classe operaria.Esta luta poe em questo o prprio domnio patronal.De
outra parte,mostra nos fatos a capacidade da classe operaria de gerir sua
prpria vida.

Os trabalhadores da Renault se sentem parte desta luta, devem tambm


lutar contra a reestruturao capitalista, que se expressa para eles no aumento
dos ritmos,na continua degradao das condies de trabalho e no
crescimento da represso no interior da fabrica.Seguramente,a futura luta da
Renault se inspirar largamente na forma de luta indicada pelos
companheiros da Lip.

No obstante, o atual fechamento (chiusura estiva) da fabrica Renault,a


CFDT-SRTA empenha-se em organizar, para assegurar a Lip a solidariedade
concreta dos trabalhadores da Renault.

Lip-Renault, mesma luta!

Eis as palavras de um metalrgico da Renault:


Para mim comprar um relgio mais que um apoio financeiro, tambm
um apoio moral. ajudar uma coisa formidvel que est acontecendo,e que
maior que as clssicas reivindicaes sindicais. Dos operrios que tm posto
em funcionamento uma fabrica, e que vendem o seu produto; muito mais
que uma luta por questes materiais.

A Seo Sindical-CFDT e o Comite de Ao , divulgam um manifesto:

Dizemos No ao capitalismo internacional.

Dizemos No aos poderes pblicos,que desejam desmantelar a Lip e


organiza-la segundo os seus interesses.

Dizemos No a poltica da direo, que por 3 anos nos tem enganado, que
assegurou que tudo iria se resolver,enquanto preparava em segredo o golpe
de mo.

Dizemos No intolervel situao dos trabalhadores,os quais, aps 3 meses


de luta,ignoram ainda qual ser a sua sorte.

Exigimos a sobrevivncia da fabnrica, a garantia do posto de trabalho,a


possibilidade para os trabalhadores de educar seus prprios filhos com
dignidade,sem temer continuamente pelos seus futuros.

Por tudo isto,estamos prontos a lutar at o fim,crentes que nossa luta serve
para defender nossos interesses fundamentais,como os de todos os
trabalhadores.

Esta luta demosntra de fato que uma outra sociedade possvel,uma


sociedade igualitria em que os trabalhadores cuidaro de seus prprios
interesses.Se o pdoder no liquidou nossa experincia, por que sabe que
muitos esto do nosso lado,por que sabe que uma enorme corrente de
solidariedade se desenvolver nas prximas semanas e se expressar em
assemblias,comcios,delegaes,etc.

A luta da Lip diz respeito a todos os trabalhadores.O governo e os patres


devem convencer-se que, se tocarem na Lip, a resposta operaria ser
massiva.

Besanon, 6 julho 1973

Semanas depois, chegavam a Besanon centenas de camponeses para se


manifestarem contra o parasitismo e as pssimas condies no campo.No centro da
cidade, vendiam aos trabalhadores de Besanon seus queijos a preo poltico; por sua
parte,os operrios da Lip,vendiam seus relgios.
Em assemblia na fabrica , os operrios se organizaram em comisses : a que se
ocupava da comunicao de massa: volantes circulavam pela cidade;participaram do
Tour de France,sendo que,as noites faziam assemblias em sindicatos para explicar a
luta. Ao passo que a TV falava de desmobilizao da luta , a comisso de massa, redigiu
um volante para cidade de Besanon : Os operrios da Lip so como vocs,so homens
e mulheres como vocs que lutam pelo trabalho. A midia fala que os trabalhadores
recebem para nada fazer. Em Besanon se lana uma pesquisa para saber a ideias dos
trabalhadores sobre a luta.Um volante com 20.000 copias foi,ento,distribudo para
explicar a luta.Contatos telefnicos so feitos com todo o pas para difundir o contedo
do Boletim Lip Unit.Surgem novos comits pela vitria dos operrios da Lip. O
Lip Unit tinha tiragem de 30.000 cpias,com uma difuso superior a esta cifra.Era
sustentado financeiramente pelos prprios trabalhadores

10.1.8. O apoio popular!

Em um segundo momento a luta foi caracterizada pela resposta dos operrios a


contradio com a populao, pelo rompimento da paz social. LIP uma fabrica de
provncia,uma grande fabrica de 1.300 trabalhadores, que so pessoas
simples,dedicadas as famlias.A ocupao e seus derivados, abrem contradies entre os
trabalhadores e os tcnicos, entre os operrios e as operarias,entre os trabalhadores e os
familiares fora da fabrica,entre os antigos sindicalistas e os jovens rebeldes,entre os
operrios e a cidade ,que considera os Lip como privilegiados,entre os operrios e os
camponeses.

Todavia, com a evoluo da greve, mulheres e crianas participaram das lutas.


Na Lip havia mais mulheres que homens ( 60% de mulheres).Uma operaria afirma: Os
meus filhos esto de frias,vou dedicar-me propaganda da luta. Afirma que
participou da marcha at a cidade de Angers,onde lhe perguntaram qual o papel da
mulher na luta da Lip;explicou toda a luta para uma assemblia de 600 pessoas e que foi
muito aplaudida. Outra operaria ,de 60 anos ,expressa o sentimento dominante entre os
trabalhadores:

No tenho escrpulo em dizer que o direito propriedade a base da nossa


sociedade,da nossa civilizao que tem o sistema capitalista como motor.Para
mim, a propriedade isto que cada um tem construdo com seu trabalho
pessoal.Uma fabrica como a nossa, mais que centenria,representa o fruto do
trabalho de todos os operrios que nela trabalharam e no o bem privado do
senhor Lip ou de um grupelho de capitalistas.E,os instrumentos de produo
? a mesma coisa,so de todos.No me faa crer que foi Fred Lip que
comprou toda a maquinaria da fabrica com o suor de seu rosto!

Assim, os sentimentos mais profundos de solidariedade e generosidade vieram


das mulheres; ocorreu um grande processo de mudanas nas estruturas de
sentimentos,rompendo uma grossa camada de opresso, fazendo emergir varias
lideranas entre as mulheres. As mulheres afirmavam que fora da Lip houve um
mudana no modo de viver.

Os jovens eram os primeiros nas viagens para outras cidades e regies, e nos
espetculos promovidos na cidade como forma de animao cultural em solidariedade a
luta.

O desenvolvimento da democracia operaria,com o Comit de Ao no inicio


com 300 operarios, composto por trabalhadores dos sindicatos CFDT,CGT e de no
sindicalizado- a organizao de comisses,a abertura da fabrica a todos os amigos da
Lip, as viagens de propaganda , atuam sobre estas contradies no sentido de supera-las.
Se produz,se vende,se paga,torna-se a palavra-de-ordem de unidade popular,junto
com outros slogans: a fabrica dos trabalhadores, os operrios podem dirigir
tudo, a justia a dos trabalhadores.

Os trabalhadores se organizaram em varias comisses : comisso de produo ,


comisso de venda, comisso contra represso,comisso de propaganda de massa,uma
sub-comisso de cinema,comisso de esportes,comisso de acolhimento, comisso de
solidariedade,comisso de inprensa ,comisso animao,comisso alimentao (por
exemplo, os camponeses do Lazarc enviaram 45 kg de queijo Roquefot ), comisso de
administrao.

A comisso de vigilncia,por exemplo,tinha por tarefa montar um esquema de


controle,com turnos de vigilncia,telefone para comunicao com a assemblia operaria
em caso de necessidade de mobilizao,e um esquema de automveis para,em caso de
seqestro das maquinas pelos patres, perseguir os ladres.

Piaget explica o esquema montado para caso de ocupao policial da fabrica:


Tomamos duas decises:a primeira consistia em tirar peas e o material necessrio
fabricao dos relgios; a segunda, deixar a fabrica sem condies de funcionar sem
ns,para isto tirarmos peas vitais da maquinaria.

10.1.9. A represso reage a unidade do povo de Besanon.

No 14 de agosto, pela noite, 3.000 policias assaltam a fabrica e o bairro popular


de Palente,desmobilizando a ocupao. s 8 da manh, 10.000 trabalhadores
expulsam os policiais.Ocorre greves em quase todas as fbricas da regio do Doubs na
Franch-Comte, os correio e as estaes de trem so bloqueadas.Os sindicatos chamam
uma manifestao para a tarde deste dia,na qual participam 15.000 pessoas.Durante 5
dias houve confronto entre 4.000 pessoas e policia.

Como resultado, 34 pessoas so condenadas. Comea a produo clandestina de


relgios nos domiclios privados.A policia busca identificar estes laboratrios privados
para seqestrar os relgios,matria prima e maquinas,mas no tem xito: os laboratrios
mudam continuamente de lugar.A populao sustenta o movimento da Lip.

Como vimos, os operrios ao sarem da fabrica levaram peas vitais da


maquinaria. Assim, a produo de relgios passou para uma fabrica clandestina,onde
trabalhavam operrios voluntrios,produzindo de 80 a 100 relogios por dia;os muros da
fabrica estavam cobertos de manifestos satricos,avisos e diretrizes de organizao e
paneis com centenas de telegramas de solidariedade.A Comisso de Espetculo
articula manifestaes com artistas: Nos painis da fabrica , aparece inscrita uma cano
feita pelos prprios operrios , que se tornou smbolo da luta: Lip,uma luta,uma
esperana,que foi cantada por uma cantora progressista (Claire).A ltima estrofe
explicita claramente a luta dos lippianos:

Agora os operrios invadiram com uma ira justa,

Para assegurar-se o po cotidiano,

De tudo se apropriaram. Girando a maquina, abrem os portes

O que lhes d segurana para os dias que viro.


Quando da ocupao policial , os trabalhadores e a populao de
Besanon,informados pela radio e pelos alto falantes do carro que atravessava a
cidade,vieram manifestar a sua clera e a sua solidariedade.Operarios da
RHODIA,trabalhadores dos Correios,chegavam em grupo ou em cortejo. ..trabalhadores
da Monnier,da Unimel,da Previdncia Social,da Spirax,da Yma,da Micromega,da
Weil,chegam com cartazes com os nomes de suas fbricas.Os manifestantes se
encontram na rua principal que conduz a fabrica .

Charles Piaget depe sobre este momento:

No 15 agosto houve greves ou interrupes de trabalho em todas as fbricas


no fechadas para as frias.Em Besanon pararam 11 fbricas e 7
oficinas,entre muitas fbricas da regio.A Agencia France Presse fez greve de
2 horas em nvel nacional,divulgando somente noticias sobre a Lip. Em
outras cidades francesas , 37 fbricas metalurgicas e 13 na industria eltrica e
do gs fizeram greve;2 agencias de correio e 2 bancos tambm pararam,os
eletricitrios do Norte diminuram a tenso em 2 Centrais eltricas.Os
camponeses do Larzac pararam para divulgar a luta da Lip.Os ferrovirios
decidiram 1 hora de greve.Numerosas greves ocorreram tambm na Sua.

Na China, Radio Pequim Informa exalta a luta da Lip.

Os camponeses do Lazarc enviaram 2 telegramas. Um deles dizia: Aos


trabalhadores da Lip,os camponeses do Lazarc,indignados pela invaso policial em
vossa fabrica.Suspendemos a colheita para diminuirmos a circulao na rodovia
nacional 9,e manifestar solidariedade militante.Ns venceremos. 14 agosto.Camponeses
do Lazarc. O outro telegrama declarava: Aos trabalhadores da Lip. Conduzimos a
mesma luta pela justia, para que os trabalhadores sejam donos de suas
vidas.Combatemos a violncia policial.Desejamos sucesso em vossa luta contra as
demisses,o desmantelamento,pela ocupao. 16 agosto. Camponeses do Lazarc.

Os Ferroviarios da Linha Paris-Lion organizaram um comite de ao,que


envia uma carta para os operrios da Lip:

Obrigado por tudo que tm feito por ns. Em um momento em que a luta da
Lip atravessa um momento difcil, viemos lhes dar nossa mxima
solidariedade.Solidariedade do nosso comit de ao dos ferrovirios da
estao Paris-Lion CGT,CFDT e no sindicalizados.O comit foi criado
segundo o exemplo do Comit de Ao-Lip,e tem como programa a unio
dos ferrovirios e favorecer a mobilizao.Graas aos lip, a sua coragem,as
suas ideias que nos ajudaram a desenvolver a combatividade operaria [...].
At a vitria! 25 de Outubro.
A seo sindical CFDT da Renault envia um telegrama de protesto:
protestamos vigorosamente contra a agresso da fora policial contra a fabrica Lip[...].
A luta dos operrios da Lip,pela sua fora e sua dinamica e combatividade,mostra o
caminho para toda a classe operaria. Lip-Renault mesma luta!.

No bairro operrio de Palente ,via-se um cartaz indicando de uma parte Lip-


caserna, de outra parte Nova Lip-Fabrica Jean Zay;a poucos metros de distancia est
uma fabrica da outra, uma ocupada pela policia e a nova fabrica dos
trabalhadores,cedida pela comuna de Besanon. No se produz nesta fabrica,mas,os
trabalhadores dizem A fabrica onde esto os operarios,porque na fabrica so as
pessoas que contam e no as maquinas. No muro externo da fabrica havia uma faixa
onde estava escrito: possvel produzir, vender e pagar salrios.

Uma delegao da Lip visita fbricas na Itlia: a FIAT de Miraflores- Turim,


onde se renem em assemblia de 1 hora com o Conselho de fabrica; no Sul, visitam a
COMEC, de Catania,ocupada pelos operrios.Esta visita Itlia,foi retribuda por uma
delegao de trabalhadores de Turim que visitaram Besanon. Na visita a Milo,
formulou-se uma mensagem:

Hoje, da experincia de produo,do dio ao Imperialismo e aos parasitas ,os


operrios apresentam a capacidade de dirigir; aps terem gerido a Lip,se pode
gerir um Estado.Aps termos gerido um Estado, necessrio desenvolver a
edificao do partido;e todo o povo,intelectuais,mulheres,jovens,camponeses,
identificaro nesta vontade operaria de gerir o Estado a sua verdadeira razo
de unidade.

Em uma manh, no cinema LUX(local das assemblas) ,reuniram-se mil


pessoas, incluindo a delegao de trabalhadores italianos. Charles Piaget falou da luta
da empresa Kelton (grande fabrica de relgios de Besanon,de capital norte-
americano) que foi ocupada pelos operarios. Uma operaria italiana da FEDA (fabrica
de vesturio de Cinisello, ocupada pelas 35 operarias durante 3 meses), apresentada a
assemblia como operaria da mini-Lip italiana, foi ovacionada pelos trabalhadores.
Um operrio anuncia a aquisio de um stock de roupas da FEDA para os
trabalhadores da Lip,novos aplausos! Apos a assembleia todos marcham 10 kms em
direo a montanha para um almoo de solidariedade,aps o qual,cantam,bailam e
terminam a festa com a Internacional!

A montanha de Chteau-Farine est repleta de gente e de bandeiras vermelhas;a


palavra-de-ordem: Todos pela Lip,a Lip por todos!

10.1.10. A Solidariedade Internacional !

Em um terceiro momento, a caracterizao da luta est na autonomia crescente,


em que os operrios criticam o acordo feito pelas centrais sindicais: a CGT aceitava 160
demisses, e ,a CFDT tambm props um plano de reabertura da fabrica no aceito
pelos operrios.

Em outras regies da Frana,como no Lazarc,os camponeses protestam contra o


servio militar imposto pelo governo; ocorre uma marcha de outros 100.000 operarios e
trabalhadores vindos de todas as regies do pas.

Assim, os operrios da LIP lutam no apenas contra o desemprego,mas pelos


operrios de outras fbricas em luta e,pelos camponeses; testemunham com o exemplo
de uma parte de seus salrio que doam em favor de outras fbricas em luta.

Uma delegao visitou fbricas da Itlia: o conselho operario da FIAT,em


Turim ; a fabrica Comec,ocupada pelos trabalhadores da Catania; nas fbricas em
Milo. Os trabalhadores de Turim so os primeiros a visitar a Lip. Lip recebia centenas
de telegramas e de letras de comits de fabrica de vrios pases. 2.000 mulheres e
crianas fizeram uma passeata atravessando o centro de Besanon.

Toda a cidade est fechada,as fbricas e as escolas no funcionam,a populao


est na praa central para solidarizar-se com a luta; na cidade ressoa a palavra-de-
ordem: Na Lip no se toca! Nos cartazes que as crianas carregavam podia-se ler:
No as demisses de papai e mame; Pelo futuro dos nossos filhos,dos vossos
filhos,todos conosco na luta; Po Lip para nossos filhos. Os trabalhadores de
Besanon propem uma Conferencia Nacional sobre a Ocupao:

Ns,trabalhadores da Lip, fazemos apelo,em conjunto com a CFDT,para


termos uma Conferencia nacional pelo Trabalho,em Besanon,nos dias 7,8 e
9 dezembro de 1973,visando o desenvolvimento da luta pelo trabalho e pela
solidariedade efetiva com nossa luta.
Os trabalhadores da Lip, a CFDT.

Besanon, 1973.

10.1.11. A fase final da luta : Os acordos

No inicio de 1974, houve uma manifestao frente a fabrica ocupada pela


policia. Os administyradosres da falncia da Lip tinham feito um acordo com a
liquidao do setor de armamento da empresa SPEMELEC , que previa um contrato de
venda do setor a empresa Arbel. A prefeitura de Besanon cedeu um espao para Arbel,
na rue Violet ,para instalar a maquinaria Lip para fabricao de armas.

Todavia, os trabalhadores do setor de armas recusaram o desmantelamento da


Lip em solidariedade aos operrios do setor de relgios.Assim, o boicote a Arbel
tornou-se fundamental para os operrios em luta.Significava estancar a poltica de
desmembramento da fabrica e a diviso das frentes de luta. Os operrios diziam:
Ocuparemos duas fbricas: a Palente e na rue Violet!.

Na assemblia geral da Lip,os operrios queriam marchar ate a fabrica de armas


e derrubar o edifcio para impedir o inicio da produo blica.No dia seguinte, ocorre a
manifestao ate a rue Violet: vingam-se no teto,na porta,nas janelas;a policia no se
aproximou dos manifestantes.

Em 1973, os trabalhadores j tinham votado uma proposta de Acordo,o Plano


Girard(assessor do Ministro da Economia),que previa a retomada do trabalho mas com
de 160 demisses. Em outubro do mesmo ano, no dia 11 : os trabalhadores se reuniram
e se dividiram em uma dezena de grupos de trabalho,com 50 operarios em cada
grupo,para debater o plano Girard.

No dia 12, a asembleia geral teve uma participao enorme: aps seis meses de luta,
90% dos trabalhadores participaram.Votam duas propostas: retomar o trabalho ou
seguir a luta.Resultado: 17 abstenes; 174 pela volta ao trabalho; 626 para continuar
a luta.
10.1.12. Nova fase da luta!

Para o acordo de 1974, a assembleia teve o seguinte resultado: 4 contra a volta


ao trabalho; 14 abstences e, 632 pela volta ao trabalho. Votaram um novo Acordo,
diferente do Plano Girard. Este Acordo com um grupo financeiro franco-suo preve a
reabertura de todos os setores da fabrica,sem nenhuma demisso. Assim, pela primeira
vez, uma fabrica destinada ao fechamento,declarada falida pelos rgos
governamentais, reaberta graas a fora dos trabalhadores e a solidariedade popular.
Na Assemblia Geral,no 30 janeiro 1974, C. PIAGET declara que:

Com o acordo os operrios garantiram a base para continuar a luta:a ps um


breve perodo de salario-desemprego,no primeiro de maro sero
readmitidos 300 trabalhadores,enquanto outros sero inscritos em um curso
de formao nos ramos de necessidade da nova fabrica,com um salrio
praticamente igual a antiga base de pagamento.Destes,em julho,200 sero
readmitidos.Para os outros,h promessa de readmisso mas sem data
definida.

Na Assemblia,os trabalhadores acham que nesta fase no h como avanar


mais.Decide-se como se organizar para os prximos meses: novas comisses foram
criadas: comisso de ocupao, comisso de propaganda de massa,comisso de
animao.Portanto,os trabalhadores decidem manter a estrutura militante de luta,em
condies de ligar os trabalhadores readmitidos com os que ficam em espera de
admisso.Permanece o Esprito da LIP!

A sociedade europia de relojoaria SEHEM sucede LIP. Como vimos na fala


de Piaget, previsto uma capacitao acelerada para todos os trabalhadores. A evoluo
das readmisses ocorreu da seguinte forma:

Quadro

At 11 de maro 1974 114 trabalhadores so readmitidos

At 8 de abril 297 trabalhadores readmitido

At 17 de junho 447

At 24 setembro 570 (restam de fora apenas 260)

Ate 8 novembro 699


Ate 15 dezembro 809

Ate maro 1975 todos os trabalhadores foram


readmitidos, isto , 830

Todavia, a luta dos trabalhadores da Lip no estava acabada. Em fevereiro de


1976, o novo diretor parte de Besanon.Em 13 de Maio, a SEHEM posta em
liquidao e todos os trabalhadores so, outra vez,demitidos.

Em 1976 -1977: os operrios de Palente recusam as ordens judiciais de


liquidao dos sndicos; ocupam de novo a fabrica,retomam a produo e as vendas
selvagens de relgios.Varias Comisses so criadas para manter os instrumentos de
trabalho e o pessoal. Assim, a LIP ,finalmente, busca a soluo da Cooperativa.

10.1.13. Anos 1980: a Comunidade Lip

Nos dias 23 a 30 de maro 1980 os lipianos deixaram a fabrica de Palente,aps


20 anos de trabalho neste bairro de Besanon. Em setembro de 1979, O Governo tirou
toda possibilidade de ajuda financeira a Lip, a no ser que deixassem a fabrica de
Palente.Em Outubro do mesmo ano,os trabalhadores decidiram sair do local. Alugaram
uma outra fabrica, cedida pela Cmara do Comercio e a Prefeitura.

Contudo, no era o fim do combate dos trabalhadores da Lip.Criaram,ento,


outras empresas, tipo SCOP (Sociedade de Cooperativas de Produo) , localizadas em
um mesmo bairro, constituindo a Comunidade Lip.

A primeira Cooperativa, As Industrias de palente,aparece em novembro 1979,


reagrupando as atividades de relojoaria e de mecnica.Com 175 trabalhadores.

- A SCOP-LIP( Industrias de Palente);foi comprada por outras empresas em


1988.

- A SCOP- C.A.P.(Comisses Artesanais de Palente), com 26


trabalhadores;

- O Restaurante (No Caminho de Palente) ,com 7 operarios; funcionou


at agosto de 1985.
- O CLEF ( Coletivo de relaes, estudos e formao), para promover
atividades formativas, e turismo social;

-A SCEIP (Servio Consultoria Estudos Industriais-Promoo), no centro


de Besanon - funcionou ate 1986;

-A Grfica (La Liliputienne);funcionou at 1993;

- A AAL (Associao dos Amigos de LIP);

-LIP UNIT (Jornal dos Trabalhadores e da Seo Sindical CFDT da


LIP).

Foi criado um fundo de solidariedade para estas cooperativas.Varios


trabalhadores preferiram no permanecer nas cooperativas

Uma SCOP, uma sociedade comercial ,cuja originalidade reside em que os


trabalhadores so scios majoritrios da empresa detendo ao menos 51% do capital.
No obrigatrio que todos os assalariados sejam associados.Como scios, os
trabalhadores decidem o conjunto das grandes orientaes da empresa e escolhem seus
lideres.Assim a originalidade de uma SCOP que a propriedade dos assalariados e
no do capital.

Em 1987, a Cooperativa de Palente , deposita um balano apresentando um


dficit de maid de 10 milhes de francos. Dois anos antes, a Lip tinha abandonado a
fabricao de relgios, que foi retomada pela empresa Kipl do Doubs.

Em 1988, os ativos da SCOP As Industrias de Palente,foram cedidos pelo


tribunal do Comercio de Besanon uma Sociedade Annima (Lip Prcisions S.A. ) .
Este fato ocorre aps 6 meses em que o balano da Cooperativa chegou a um passivo de
25 milhes de francos. Neste momento, a Cooperativa Industrias de Palente
empregavam 95 operarios em uma fabrica cedida em 1980 pela cidade de Besanon e
pela Cmara de Comercio e Industria do Doubs.

Ainda em 1988,o novo espao industrial do bairro Palente foi inaugurado.O


espao de Palente foi comprado pela prefeitura de Besanon e pela Cmara do
Comercio e Industria do Doubs. Este espao acolhe uma Encubadora (ppinire )
de empresas (cerca de 38 empresas).
10.1.14. Comunidade Lip e Solidarnosc , na Polnia

Em outubro de 1980, logo aps o surgimento de Solidarnosc em agosto, Roland


VITOT foi a Polnia,representando os trabalhadores da Lip. Em fevereiro de 1981,
durante 11 dias, Jean Michel (de Lyon) e Cristhian Pigeard visitaram a Polnia. O
nmero 25-25 do Boletim Lip Unit relata esta viagem.

Por que esta viagem? Aps a viagem de Vitot, os lipianos lanaram uma
campanha de solidariedade com os operrios da Polnia. Nesta segunda viagem, um
objetivo era o de levar o material coletado e discutir o uso do dinheiro arrecadado.
Participaram da viagem: Jean e Cristhian Pigeard,da Lip; Michel ,de Lyon eum
sindicalista da CFDT. Todavia, os trabalhadores da Lip conheciam as as afinidades
existentes com as lutas dos companheiros poloneses:

Como trabalhadores da Lip e como homens ns nos sentimos profundamente


interpelados por este grande movimento nascido em agosto de 80 em
Gdansk...Como sindicalistas,ns nos sentimos igualmente
interpelados...Como trabalhadores da Lip ,certas convergncias com o
movimento polons aprecem para ns,mesmo que de modo confuso...Olhar a
experincia da Polnia atravs de nossa prpria experincia.Descobri-la com
nossos olhos de trabalhadores[...]

Os trabalhadores de Besanon doaram 1 megafone a Solidarnosc de Varsvia;


mais outro megafone a Solidarnosc de Cracovia; 2 maquinas de escrever a editora
NOVA,prxima ao KOR*; 1 Gesteitner a Solidarnosc de Nowa-Huta. Os relatores da
viagem falam do problema do corporativismo nos sindicatos e como os poloneses
atacam na pratica este problema:

Conhecemos a estrutura do sindicalismo francs: unio local,


departamental,regional,inter-profissional,etc ,de um lado; sindicato
profissional,etc, de um lado; sindicato da metalurgia,do txtil,dos
qumicos,etc,de outro. De um lado, as unidades plurais de articulao, do
outro as unidades especificas chamadas de sindicatos de categorias e
federaes. No conjunto,encabeados pela Confederao.

Esta estruturao tem sua origem na histria do sindicalismo francs, a do


movimento operrio e da situao especifica de nosso pas. Os poloneses no
tem nem esta histria nem essa situao. Para nos lembrar,exceto os
sindicatos oficiais, ao ltimas tradies sindicais na Polnia remontam
1939 ,data do surgimento do ltimo sindicato livre! Portanto, os poloneses
tiveram que reiventar.

Os trabalhadores poloneses privilegiam a seo sindical de base e de


regio.De um lado, a articulao especifica no local de trabalho ou a unidade
profissional,do outro, a articulao plural no territrio regional. Entre os
dois, no h espao para um sindicalismo de categoria profissional.
Reconhecem a necessidade de aes comuns e reflexes no interior de uma
mesma categoria profissional (comit),mas estas no justiticam o
corporativismo.O verdadeiro centro do sindicalismo polons,sua alavanca e
razes, a expresso na Regio.

Estas questes nos conduzem uma reflexo que nos permitir esboar uma
COMPARAO com LIP. Com que comparar nossa fabrica antes de abril
73,data que marca o inicio do primeiro conflito? A um universo fechado
como so todas as outras fbricas.Um mundo onde s so admitidas as
pessoas que nela exercem sua atividade profissional. Um universo fechado,
exta replica da diviso do trabalho, dos corporativismos culturais,
sociais,intelectuais.Mundo das moradias isoladas sem rosto e da vida
mecanizada.Triste realidade que compatilhamos com o Leste...

Ou, que fizemos em 73 ? Abrimos as portas da fabrica.

O que ocorreu neste momento? Samos da fabrica,freqentemente.

Milhares de pessoas de todas as idades,de todas atividades profissionais e


confessionais entraram na fabrica.

Ns samos da fabrica: de inicio, em Besanon e na regio para encontrar no


apenas os trabalhadores da relojoaria,mas tambm os de outros ramos
profissionais,das profisses liberais,etc;depois,pouco a pouco , em toda a
Frana ( EM Todas as cidades de mais de 100.000 habitantes framos
popularizar a luta).

Milhares de visitantes entraram na fabrica: relojoeiros,


mecnicos,etc...igualmente trabalhadores qumicos, textis, madeireiros,
impressores, etc; camponeses, estudantes, jornalistas, juristas, economistas,
mdicos, padres, aposentados, desempregados,etc. Pessoas de todas
nacionalidades e culturas.

Por exemplo, no perodo do conflito 76-81,Lip acolheu representantes de mais


de 100 nacionalidades). Mas, a saida dos LIP,como a entrada do visitantes no devem
ser analisadas do nico ponto de vista fisico. infinitamente maior que isso.De fato,
saindo como entrando , fazemos mais que aumentar o numero de ocupantes de um
espao.Modificamos cada um de nos em profundidade ( em todo caso ,cria-se esta
possibilidade) e nas nossas concepes culturais, polticas,sindicais ,ticas,etc).
A abertura das portas, favorecendo a troca, a comunicao, a relao,poe em
presena sensibilidades,energias e ideias mltiplas que, em intercambiando uns com
outros, num esprito de abertura, so fonte de novas possibilidades de ideias e de formas
de aes novas. Isto que importante: a existncia, a dinmica e o desenvolvimento
de topdos os movimentos scio-culturais,ticos e religiosos,os movimentos
comunitrios que esto em jogo. O fechamento das portas significa o fim dos
movimentos em uma fragmentao de seus membros ou de uma institucionalizao
esclerosada, se, as portas se abrem a marcha para frente,o avano coletivo e pessoal,o
nascimento de uma sociedade mais fraterna,mais humana e mais justa.

J dissemos que se deve desconfiar das comparaes.A Polnia no a LIP.De


um lado, 36 milhes de poloneses,no Leste,em um sistema marxista, sado de uma
cultura e de uma tradio especifica,de outro 1.000 tranbalhadores (em 73),no Oeste,em
um sistema capitalista (ainda em expanso na poca !) saido de uma tradio francesa e
FranCHE-Comtoise...

Apesar destas diferenas, nos ousamos tentar uma comparao: a Polnia e LIP
tm em comum a vontade de abrir as portas. As portas fsicas que favorecem a troca e
a comunicao dos seres,e mais ainda as portas meta-fisicas que, permitindo o choque
das ideias e das sensibilidades entre os espaos scio-culturais e profissionais os mais
diversos,estimulam a imaginao e a criao e por a,favorecem o avano perssoal e
coeltivo.

Temos igualmente em comum com os poloneses uma mesma interrogao sobre


o futuro. talvez a nica relao em que temos uma pequena vantagem: como
estruturar um movimento sem cair da armadilha de uma instituio esclerosada ? Como
conservar e estimular o sopro do inicio,aquele do lan (revolucionrio e autos !) e
construir a comunidade e a Sociedade? Como construirr sua casa no tempo e evitar que
ela torne-se inbitavel com o tempo ? Como conciliar profetismo e gesto ? Os dois,
so inconciliveis ?

Em outros termos, como estruturar Solidariedade e evitar que se torne uma


instituio burocratizada, ou mesmo recuperada ? Como estruturar LIP e evitar de
construir uma empresa igual as outras ?

Diisemos que neste ponto levamos pequena vantagem.Sim, no sentido que nosso
processo de estruturao comeou depois de longo tempo (fim de 77,criao das
empresas) e que,ento,podemos tirar o maximo de ensinamentos.No, no sentido em
que os Poloneses parecem at o momento ter melhor respondido que ns a esta
questo.Cada passo adiante de Solidarnosc testemunha uma preocupao constante de
abertura, de comunicao entre os diversos percairos sociais e outros (e mesmo
parceiros polticos!) e de uma vontade de fazer o maximo para evitar a armadilha da
institucionalizao (da, o questionamento sobre os permanentes sindicais, por
exemplo).

Na LIP, no soubemos sempre evitar estas armadilhas.As portas da fabrica tm a


tendncia se refecharem e os demnios da normalizao pululam entre ns...
Algum nos dir: Vocs esto em um sistema que no permite!.Sem duvidas! Mas os
poloneses esto em um outro sistema que tambm no lhes favorvel!

Alguns diro: intil querer mudar a Sociedade se no atacamos ,de inicio,


natureza e a existncia do Poder poltico. Respondemos (e nisto somos diferentes dos
poloneses que no t~em esperana de mudana mdio prazo): Sem duvidas!
Mas,acrescentamos: E necessrio,indispensvel memso,mas insuficiente. A vitoria
eleitoral no nos trar o conhecimento e a realizao instantneos da autogesto...

Com os poloneses,dizemos: temos que fazer, desde agora, tudo o que for
possivel. Realizar o possvel,todo o possvel. O que nos construmos hoje constitui os
fundamentos, as bases da sociedade de amanh. E sabemos que no existe construo
durvel sem fundamentos slidos...

Apoiado por todo o povo, Solidarnosc est realizando este programa. Dizemos
talvez- pois no podemos fazer abstrao do contexto geo-politico Polons,nem das
recuperaes possveis do Poder e do esvaziamento e da eroso que acompanham
fatalmente a evoluo de todos os grandes movimentos histricos,mesmo os mais
generosos.Ao menos, e este o sinal mais positivo,Solidarnosc, 10 meses aps sua
criao,no parece se esvaziar.Continua sendo,como desde sua origem,um movimento
de mulheres e de homens de cabeas erguidas ,em p.

O que nos faltou, na LIP, foi mais uma popularizao e um apoio massivo que a
falta de outras Lip. No no sentido de Lip seria um modelo para outras fbricas,mas
nos entido de que faltou outros movimentos profundos e duraveis,nas esferas mais
diversificadas da vida cultural, tica, social, poltica, etc., e isto entre as camadas mais
diversificadas da populao.S a profuso destes movimentos, seu encontro em
profundidade teria permitido a cada um de se confortar duravelmente e de lanar as
bases de uma verdadeira mudana social,de uma outra forma de organizao da vida...

As experincias, os movimentos muito isolados como o nosso so fatalmente


levados defensiva e correm o risco grave de fracasso, que termina pelo desvio ou pela
normalizao.

Todas as questes essenciais que discutimos na Lip,so exatamente as que


encontramos na Polnia,no movimento Solidarnosc.Apenas se poeem em escalas
diferentes: uma pequena comunidade com 8 anos de luta na Lip; um territrio de 36
milhes de pessoas em luta aps apenas 1 ano na Polnia.isto dito, qualitativamente, a
convergncia das preocupaes ,a similitude do caminho profundo permitem traduzir
LIP em polons e vice-versa.

A autogesto relacionada geralmente uma tcnica de bom funcionamento,


que assegura a participao de todos, em vista de resoluo dos interesses de cada
um.Esta viso restrita muito perigosa,pois permite a aceitao de qualquer coisa,
deixando de lado a questo da finalidade,no importa qual tipo de egosmo individual
ou de grupo.E LIP e a Polnia nos questionam neste aspecto: nelas se organiza o
Sentido, a Viso da existncia social e a Esperana na unificao humana.

Tanto em LIP quanto na Polnia,redescobrimos a significao oriuginal e


profunda da palavra economia: a construo da casa,a edificao da moradia.A casa
,seguramente,o local da tranbquilidade indispensvel e prazeirosa, frente incerteza
angustiante do mundo,do meio ambiente.Mas tambm ,e sobretudo, a casa, o espao
da presena humana,do acolho possvel,da hospitalidade do estrangeiro.

O que na LIP chamamos Comunidade, o mesmo que os poloneses chamam a


Solidariedade, que corresponde a emergencia de espaos sociais mltiplos onde o
homem verdadeiramente presente diante do prprio homem. esta proximidade
humana que nos esforamos de assumir a 8 anos, que os poloneses vievm fora de um
regime estatal.A Polnia,LIP: dois espaos ardentes na periferia dos grandes blocos;de
um lado, nas margens do Imprio sovitico,do outro lado,nas margens dos grandes
centros industriais e administrativos...
Dito isto, a verdade consiste em reconhecer que aps 8 anos,nos estamos
acossados consideravelmente na Lip, nos temos grandes dificuldades para viver nesta
comunidade humana isolada.O risco que ameaa, que nossa coletividade se esvazie,
perca suas foras vivas,ao assimilar progressivamente o ambiente individualista e a-
social.Para reistir a isto, deveria desde agora,2 espaos,3espaos,10,100 espaos se
desenvolvendo no teritorio francs e europeu,que estes espaos e locais team relaes
entre eles,se federem depois.Partindo da periferia,LIP no pode sobreviver de forma
marginal.O lARZAC tem sido para ns um espao de solidariedade de grande
importncia.Pensamos que,como ns,a comunidade camponesa deve se sentir
terrivelmente isolada.

Mas,ento, esta florao de espao e locais mltiplos,no um sonho vo e


utpico ? Ns no podemos responder.Simplesmente, uma evidencia deve ser repetida:
a utopia concreta que ,na LIP,fooi realista; esta utopia concreta, portadora de
Esperana,que permitiu que o impossvel se torne possvel ,e que vivem hoje,e apesar
de tudo, 7 cooperativas e associaes.Victor Hugo chamou a utopia de a verdade de
amanh.Como um eco,LIP pode afirmar em 1977: LIP, j amanh...

Concluindo,

Para ns, esta viagem a Polnia foi a ocasio de nos reencontrarmos no


contato da loucura criadora,de mergulharmos nas fontes da impulso
solidria,do lan comunitrio.E ,reencontramos o gosto j conhecido m um
passado prximo [...] assim que se torna possvel renarcermos
juntos.E,incorrigveis,ns pensamos: que a Europa se levante do Atlntico
ao Oural,e que a Solidariedade tome conta do esprito dos povos!

No contexto da viagem a Polnia, a Associao dos Amigos da LIP,organizou


um Seminrio de reflexo de 3 dias,com 40 participantes:

- uma dezena de poloneses convidados,intelectuais e operrios,todos engajados no


movimento Solidarnosc:

- um grupo de trabalhadores da LIP e amigos prximos;

- vrios intelectuais franceses que foram sensibilizados por LIP e pela Polnia.

O encontro ser na prpria LIP e tem como reflexo os temas:


- os fundamentos culturais do social;

- como pensar uma economia tica.

A luta dos lippianos colocou a possibilidade da existncia de um movimento


com base em Conselhos Operarios,pela primeira vez na Frana do ps-guerra.

10.2. BLGICA: OCUPAO DE EMPRESAS E AUTOGESTO

Na Blgica au lutas autogestionrias ocorreram na dcada de 70.Em um primeiro


perodo,at 1974,a autogesto foi sobretudo ponto de cristalizao da radicalizao
operaria.Nos anos 1973-75, a ideia aparece em algumas lutas,sobretudo,contra o
fechamento de empresas.Com a crise econmica de longa durao, aps 1981, a ideia
desapareceu do universo operrio.

Todavia,nos anos 60, a FGTB se pronunciou pelo controle operrioA CSC,


por sua vez,identifica a empresa e o trabalho com os dois principais locais de alienao.

Nos anos 70,a questo da reforma da empresa tomou novo


rumo,sobretudo,aps a revolta estudantil de 1968.Os trabalhadores passaram,ento,a
questionar a integrao dos sidnicatos ao sistema.Uma onda de protestos teve 3
consequencias importantes:

1- ps a empresa no corao do debate sindical;


2- o esprito de contestao trouxe uma radicalizao do
sindicalismo,centrada no esprito da autogesto;
3- novas formas de ao foram realizadas,principalmente , a ocupao de
fbricas e algumas experincias de autogesto.
Em 1971,ambas centrais,A CSC e a FGTB se pronunciam pro controle
operario e pela autogesto.A principal fonte de inspirao foi a experincia da
Yugoslavia.Em 1969,uma delegao sindical visitou esse pas,e tambm as experincias
da Itlia.Tinham contato permanente com a CFDT.
Nesta perspectiva,a Fundao Andr Renard, organizou em Lieg um
Seminrio intitulado Controle Operrio e Autogesto.

A partir de 1970 a onda de greves introduziu novos tipos de ao,a ocupao de


empresas e a produo em autogesto.Por exemplo:

- Michelin em St. Pietersleeuw em 1970;

- ACEC em Gand e Charleroi em 1973;

- RPB em Anvers em 1978;

- Fabelta Tubize,em 1980.

Estas ocupaes ocorreram na Walonia a partir de 1970 e 1973.Experincias


europias como a LIP na Frana, e outras nos pases baixos serviram de
exemplo.Foram sobretudo lutas para preservar emprego.

Algumas levaram autogesto na produo.Na fabrica de cristal Val Saint-


Lambert,os operrios em greve desde dezembro 1974, retomaram a produo em janeiro
de 1975 e a venda de seus produtos por conta prpria.Ficou chamada de pequena Lip.

Na greve das empresas Glaverbel, com 1.150 trabalhadores,aps o anuncio de


fechamento de trs fornos, os trabalhadores ,em fevereiro de 1975, passaram a vender
seus produtos.O exemplo maior de ocupao-autogesto o da empresa de utenslios de
cozina Prestige,em Tessenderlo, no perodo de final 1975 e inicio de 1976.As o
anuncio do fechamento da empresa e a demisso de operrios,estes ocuparam a empresa
e comearam a produo em autogesto.Fundaram um tipo de Cooperativa para vender
seus produtos no mercado.com o que tiveram o apoio da maioria da populao local.

O exemplo da LIP francesa foi muito forte entre os jovens catlicos da CSC
do Brabant walone. Em 1979, fundaram uma associao para ajuda tcnica,jurdica e
econmica s empresas ocupadas e que aderiam autogesto.

10.3. ITLIA: AUTOGESTO E LUTAS OPERRIAS NO OUTONO


CALDO

As lutas de 1969 na Itlia resultaram de um longo processo de acumulao de


foras pelos trabalhadores.Podemos reconstruir uma breve cronologia.

O ano de 1960 terminou com uma greve de 150.000 metalurgicos dos etor
privado,no 27 dezembro. Em 1961, a greve mais difcil foi a dos 50.000 operarios dos
canteiros navais. Em 1962, os movimentos sociais adquirem uma amplitude
nova.Umtotal de 181.732.000 horas de greve, o dobro de 1961.Os operrios dos
canteiros navais iniciam as greves nos primeiros meses; os metalrgicos fazem greves
por fbricas,contra as disposies dos sindicatos que defendiam greve por setor. Neste
ano, os trabalhadores tomam as iniciativas,mas ainda no alcanam uma ruptura,o que
s ocorrer em 1968-69.

Em 1963, em maro as 3 centrais sindicais decretam uma greve geral: todas as


fbricas param;manifestaes ocorrem nos principais centros urbanos.Em dezembro,os
operrios do setor txtil iniciam uma greve de grandes dimenses: 400.000 grevistas.
Neste ano, vrios tipos de novas formas de luta so experimentadas: operaes
tartaruga, marchas para Roma, bloqueios. Em setembro, h uma greve unitria em
Milo: 1.000.000 de grevistas, em torno de uma questo : habitao.

Em 1964,apesar da recesso econmica, a agitao social permanece forte:


104.709.000 horas de greve.

1965 o ponto maximo da recesso: dispensas e desemprego tomam carter


catastrfico: tetxil, 60.000 demisses ;metalurgia, 100.000;construo, 150.000; na
metalurgia, 500.000 operarios com reduo da jornada e salrios reduzidos. O numero
de horas-greve o menor dos anos 60: 55.943.000.

1966, aberto com ao na Metalurgia: um acordo envolvendo 150.000


metalurgicos. Em fevereiro, 500.000 trabalhadores da alimentao fazem greve.Este
ano,marcou a retomada das lutas operarias: 115.788 horas de greve.

Em 1967, o setor da agricultura , desde janeiro,conhece grandes agitaes: o


ponto alto foi uma greve de 17 dias, os Pouilles ,em Bari,com grandes manifestaes
de apoio popular. No mesmo ano, o numero de horas-greve caiu para 68.548.
considerado como um ano de transio. Mas,em 1968 e 1969, o numero dispara:
73.918 e 302.597;volta a cair em 1970: 146.212 horas de greve.

Em 1968, o encontro do movimento estudantil com o dos trabalhadores levar as


lutas sociais mis fortes e amplas da Itlia.Em novembro,comeam as ocupaes de
fabrica: Trento,Milo,Turim,Genes,Cagliari. Em maro,aps 14 anos, os 100.000
operrios da FIAT entram em greve. A presena constante dos estudantes nos locais de
conflito estimula os operrios.

Inicia-se,ento, o outono quente( autono caldo), no qual se generalizam novas formas


de luta e novos conteudos das reivindicaes dos trabalhadores (reduo de ritmos,
reduo das horas de trabalho, ambiente de trabalho: sade na fabrica), assinalando o
fenmeno mais original da dcada: a autonomia operaria.

Nesta perspectiva, de 1968 a 1973 , o movimento operrio italiano apresentou


caractersticas inegveis de iniciativas espontneas, de autogesto das lutas e de
participao de massa e de democracia direta;enfim, de autonomia operaria, e
capacidade dos trabalhadores para elaborar suas prprias reivindicaes,de uma parte, e
capacidade de inveno,gesto e organizao de seus prprios modos de intervir,de
outra parte.

A origem histrica e estrutural da crise poltica e social italiana, nos anos 1968-
69, est na origem dos fatos que contriburam para agravar o sentimento de insatisfao
das massas trabalhadoras contra um modelo de desenvolvimento anti-popular. A
insatisfao das reformas sociais (habitao,escola,sade,etc) reivindicadas pelos
trabalhadores, e a intensificao dos ritmos de trabalho nas fbricas, contibuiram para
agravar o clima de tenso no pas.

No plano do trabalho nas fbricas, surge o estimulo luta contra o autoritarismo


, contra a represso, e todas as formas de hierarquia. A criao de comits operrios de
base, surge para a maioria dos trabalhadores como a mais eficaz forma de superar as
divises nos aparelhos sindicais.

Em Milo, nas empresas PIRELLI, BORTELTI, SIT SIEMENS e outras menos


importantes, os ncleos de oposio j tinham iniciado, na primavera de
1968,encontros para discusso , fora das fbricas , a questo das estruturas sindicais,
salientando a exigncia de luta contra certos aspectos bsicos da organizao capitalista
do trabalho.

Em Roma, as exigncias de democracia direta, e a recusa de delegar em forma


permanente a representao s organizaes sindicais mais burocratizadas,encontraram
um terreno fcil no setor mais combativo da classe operaria : os trabalhadores da
construo. Assim, em certas obras do maior canteiro, SPINACETO, essa recusa
massiva de renovar a delegao ao sindicato,coincide com a criao de um comit de
base, formado pelos operrios mais combativos e mais populares.

O Maio Francs, favoreceu a emergncia de uma forma de conscincia


operaria: 10 milhes de grevistas, fbricas ocupadas,contestao contra a hierarquia nas
fbricas, aparecem como um smbolo de poder operrio e popular.

10.3.1. Os Comits Unitrios de Base

Os primeiros resultados dessa onda de contestao, que se expandiu nas


principais empresas italianas,no inicio do vero de 1968, se traduziram nas lutas na
PIRELLI de Milo e na MONTEDSON de Veneza.

Na PIRELLI-Bicocca, onde um COMIT UNITRIO de BASE (CUB), foi


criado, em julho ocorre uma luta em torno do problema do trabalho por peas e das
cadencias.

Estes CUBs operrios se expandem rapidamente , no perodo entre o fim de 1968 e o


inicio das grandes lutas pela renovao dos contratos de 1969. O fenmeno
concerne,essencialmente,os principais centros infustriais do Norte, onde a
sindicalizao mais alta e onde existe o setor mais avanado da classe operaria ,os
metalrgicos e os qumicos.

Na Regio central, a experincia mais limitada,com a nica exceo da


FATME (fbrica de telefones, na periferia de Roma). No Sul, o fenmeno se produz
como eco das atividades dos principais CUBs do Norte industrializado.

Prximos dos principais CUBs, so os organismos constitudos pelos


trabalhadores agrcolas para defesa de seus prprios interesses. As Ligas de
Trabalhadores Agrcolas (Leghe Bracciantili) e os diferentes tipos de comits
similares, representando do ponto de vista de classwe, uma correspondncia ideal no
mundo rural da onda de contestao, que sacudia as velhas estruturas da industria.

10.3.2. Os conselhos de delegados

As lutas do perodo 1968-69,colocaram o desafio para os trabalhadores, na


Itlia e em outros pases da Europa, a exigncia de criar estruturas permanentes de
organizao de massa, no exclusivamente sindicais, mas capazes de associar a luta
econmica com a luta poltica.

A Itlia possua uma forte tradio de Conselhos, que influiu notavelmente nos
grandes conflitos baseados na espontaneidade operaria. O outono quente no fugiu a
essa tradio e, rapidamente nas fbricas,sob ocupao ou no, surgiram os comits ou
conselhos de trabalhadores.

A experincia mais significativa de autogesto das lutas e da livre expresso de


uma verdadeira democracia operaria, foi a da FIAT Turim, a partir de maiuo 1969. As
mobilizao de maio-junho deste ano, criam uma nova atmosfera de mobilizao da
massa trabalhadora.Os organismos abertos, criados pelo Movimento estudantil de
Turim,com o objetivo de unificar a luta operaria nas fbricas com as lutas nos bairros e
a luta nas Universidades, se adaptam melhor a esta nova atmosfera.

Um dos aspectos mais revolucionrios destas lutas operarias de 1968-69, e


sobretudo do outono quente, foi o surgimento espontneo e a extenso , nos setores
mais combativos, do Movimento de Delegados Operrios, de uma parte, e , de outra
parte, a pratica das Assemblias de Trabalhadores.

Assim, uma nova estrutura de massa foi criada: a Assemblia Operaria


estudantil, que se reunia quase todos os dias durante maio e julho,no inicio ou aps a
saida do trabalho, em frente aos portes,ou num bar vizinho,ou na Universidade.

O reconhecimento da existncia de delegados ,como novos rgos institucionais


de representao operaria,tem a seguinte ordem:

MARZOTTO, 28 maro 1969


DIELLA, 13 junho

FIAT, 30 junho

ITALSIDER, 1 de agosto

No outono quente de 1969,ocorre uma serie de experincias em que os


delegados de fabrica,de seo,de grupo ou de linha de montagem,so considerados
como uma alternativa seo sindical, comisso interna.

Em 1970, h um renascimento da experincia dos conselhos : em poucos meses,


so criados os Conselhos de Fabrica.Em um perodo relativamente curto, cerca de 7000
Conselhos de Fabrica foram fundados,contra apenas 60 sees sindicais organizadas no
longo perodo de 10 anos.

As antigas comisses internas e as sees sindicais, testemunham sua


incapacidade de gerir um confronto social de uma amplitude indita,sendo absorvidas e
mesmo varridas do cenrio pelos novos organismos de representao direta. Assim, os
Conselhos de fabrica operam uma mudana qualitativa das formas tradicionais de
representao sindical. Surgia o sindicalismo dos conselhos.

At 1968,os organismos fundamentais nas fbricas eram as comisses internas


e,fora das fbricas,as Cmaras de Trabalho.As comisses internas, no influam
realmente sobre o conjunto da organizao capitalista do trabalho.No eram um
instrumento de massa, nem um instrumento de luta permanente.Assim, no podiam
concretizar a unidade ofensiva da classe operaria italiana.

10.3.3. O sindicalismo unitrio dos Conselhos

O perodo 1970-73 caracterizado pela extenso e institucionalizao,no interior


dos sindicatos,depois nas empresas,dos organismos autnomos surgidos nas lutas
operarias. Em dezembro 1970, a CGIL (Confederao Geral Italiana do
Trabalho),prxima ao PCI, reconhece que os delegados e os Conselhos constituem a
estrutura de base do novo sindicato unitario. Em 1971, seria a vez da CISL
(Confederao Italiana dos Sindicatos de Trabalhadores),prxima aos socialistas, de
reconhecer seus delegados.
A marcha para unidade sindical foi conseqncia direta das lutas operarias de
base do outono quente. O ano de 1969 termina com a realizao de 3 Congressos
unitrios.Em outubro,foi realizada a 1 Assemblia Unitria dos Conselhos Gerais das 3
Confederaes (CGIL, CISL e UIL), em Florena e conhecido como Florena 1.

Aps esta Assemblia, o processo unitrio deu um grande salto


adiante,notadamente nas bases,onde os conselhos se multiplicavam. Os mais decididos
so os metalrgicos que em maro realizam uma nova Assemblia Unitria,em que um
Projeto de Estatuto foi construdo e submetido aos trabalhadores.Este projeto
revolucionrio em matria de organizao: a estrutura de base a assemblia de
fabrica, da qual o conselho o orgo de direo eleito por todos os trabalhadores,
sindicalizados ou no.Os membros dos conselhos,isto ,os delegados,so revogveis a
qualquer momento.

Surge, tambm, a Zona Homognea, organizao das fbricas que aglutinam


os trabalhadores na base da homogeneidade dos problemas sociais. O rgo de direo
da zona homognea o Conselho de Zona, formado por delegados dos diferentes
conselhos de fabrica, em um determinado nvel geogrfico. Em um novel superior a
zona homogenea, no Provincial,surge o Sindicato Territorial. Os diferentes rgos
dirigentes so eleitos em 70% pelo Congresso e 30% pelos conselhos de fabrica.

Esta experincia uma das fontes do Sindicalismo Cidado. O Acordo de 4


julho de 1972, expressa o surgimento da Federao Unitria CGIL-CISL-UIL, que
no encontra forma de unidade orgnica nos nveis intermedirios e superior da
organizao sindical,entretanto,assegura a unidade orgnica nos locais de
trabalho,atravs dos Conselhos de fabrica. O sindicalismo unitrio italiano nasce com o
outono quente.No fim de 1970, a CISL, a CGIL e a UIL adotam a dissoluo das
sees sindicais tradicionais,substituindo-as pelos Conselhos de fabrica.

Desde 1970, o desenvolvimento dos Conselhos de fabrica superava de longe a


implantao sindical.Uma pesquisa da Federao dos Trabalhadores metalrgicos
(FLM),em 1972,mostra que sobre 3 milhes de metalrgicos, 42.886 delegados esto
presentes nos 4.291 Conselhos de fabrica.

O fenmeno foi generalizado em todo o pas,mas,o Norte estava melhor


representado que o Sul; os ramos industriais mais combativos em 1969
(metalurgia,txtil,qumico.alimentao), melhor que os outros ramos.As grandes
empresas,melhor representadas que as pequenas.No geral, 68% das empresas tm
delegados operrios eleitos ou nomeados aps 1969.

O resultado que as duas grandes centrais italianas ,a CGIL e a CISL,organizam


um numero de operrios quase em numero duplicado em relao,por exemplo, as duas
centrais da Frana, a CGT e a CFDT.

10.4. PORTUGAL: AS COMISSES DE TRABALHADORES NA


REVOLUO DOS CRAVOS,1974

Em 1973, as lutas dos trabalhadores portugueses alcanaram atingiram um


patamar extremamente elevado,apesar de os medios de comunicao manterem silencio
total . desde outubro, os trabalhadores buscavam uma forma autnoma de
organizao.O 25 de abril serviu como uma descompresso A abertura controlada no
governo Caetano,expressando conflitos no interior da burguesia, serviu para os
trabalhadores desenvolverem lutas nos locais de trabalho , de carter anticapitalista.

55% da classe operaria industrial estava agrupado na zona do Porto-Braga-


Aveiro . Das 33.000 empresas industriais, menos de um milhar empregavam mais de
100 operarios e somente 156 tinham mais de 500 operarios.outra zona de forte presena
operaria era nos canteiros navais de Lisboa e de Setbal.

Nos anos 70, a classe operaria portuguesa apresenta 3 nveis em seu interior:

1.formado por trabalhadores de pequenas empresas,s vezes de carter familiar,e


no campo: empresas textis e de alimentao,com baixos salrios,longas
jornadas,paternalismo e represso constituem a realidade de uma classe operaria com
forte contingente feminino; a ideologia da burguesia rural e cleriacl,devido a relao
com a terra desta parte dos trabalhadores, marca um forte condicionamento ideolgico;

2. trabalhadores das empresas mais antigas (metalurgia,mecnica,setores estatis)


qualificados e experimentados;com forte tradio e capacidade de reivindicao
participaram da constituio de sindicatos durante o fascismo; uma base forte do PCP;
3. novas camadas operarias, fruto da industrializao mais recente (chimiquica,
eletrnica,canteiros navais,texties sintticos), com alto nvel de qualificao.O grau de
concentrao pemitiu a penetrao de novas ideias e formas de luta avanadas;campo de
disputa entre o PCP, o PSP e os vrios grupos de extrema-esquerda.

Deste modo,entre outubro de 73 e o 25 de abril 74, ocorreram conflitos em 33


empresas na grande Lisboa, envolvendo cerca de 17.000 trabalhadores. Duas questes
se destacaram: as reinvindicaes salariais e o recurso greve.As greves tinham origem
em movimentos espontneos,com suspenso parcial ou completa do trabalho ou atravs
das organizaes sindicais.Outras formas de expresso surgiram nas lutas:,como a
reduo dos ritmos de produo,manifestaes de rua,concentraes junto as fbricas e
reunies,apresentao de cadernos reivindicativos,abaixo-assinados,recusa de horas
extras.

Neste mesmo perodo ocorreram as greves dos trabalhadores rurais do Ribatejo e


dos pescadores de Matosinhos. Calcula-se que,de outubro a maro,mais de 100.000
trabalhadores de cerca 200 empresas fizeram reivindicaes e cerca de 60.000
recorreram a greve. O maior numero de greves foi nos subgrupos metalrgicos e metal-
mecanico,material eltrico e transportes e comercio.

Um relatrio de junho 1973, do lder do PCP, lvaro Cunhal fornece uma ideia
das lutas ocorridas antes da queda do fascismo:

Os trabalhadores partem de greve nas empresas MAGUE e CIMA, em


Alhandra,GIALLO, no Porto)com manifestao de rua), ABELHEIRA em
Tojal (com ocupao da fabrica),SIPE em Carcavelos (os trabalhadores ,
cruzam os braos frente as maquinas),MOVITEJO em Alverca (recusam hoas
extras).Entram em greve tambm os pescadores na Costa Norte e na Figueira
da Foz (22 junho),os pescadores de sardinha de Matosinhos(72 horas) e
Portimao,os operrios das conservas de Setbal e os camponese de Alpara.
Os trabalhadores pararam nas empresas SEPSA no Porto, CIMA, OLIVA,
MESSA, FIRESTONE (Alcochete),GIL (dos Vinhos),
PROMETALIS(Porto), CELCAT, CABOS(Ayila), SOPREM (Pampilhosa),
GRUNDIG(Trola), RABOR, CUF, TRANSUL (lado sul do Tejo), DIARIO
POPULAR e em muitas outras.

Neste relatrio do PCP, j se fala em comisses de trabalhadores desde


1969.Em 1972,Cunhal fala das lutas por multiplicao das comisses nas
empresas;em 1973 , do sucesso obtido nas eleies sindicais.Desde 1968-69, os
trabalhadores ganharam a direo de muito sindicatos: nos bancos de Lisboa e do porto,
sindicato dos metalrgicos de Lisboa, no txtil.Em outubro de 1970,os sindicatos se
articulam numa Inter Sindical,contando com 42 sindicatos.As principais
reivindicaes eram: salrio mnimo, direito de greve e liberdade sindical.

Portanto, nestes conflitos,os trabalhadores criaram as Comisses de


Trabalhadores.Em outubro 1974, existiam em todo o pas umas 200 comisses de
trabalhadores.Estas comisses eram eleitas por um ano e sempre revogveis.

O movimento popular e operrio pode ser periodizado em 3 etapas:

1. 25 abril-28 setembro 1974- nascimento do poder popular; fase do governo Spinola

2. 28 setembro-11maro 1975 - fase socializante;

3. 11 maro- agosto 1975 - fase socialista.

Em Portugal, o fascismo caiu em abril de 1974.Os salrios mais baixos duplicam


em julho de 1974 pela lei que eleva a 4.000 escudos por ms o salrio mnimo (os
operrios agrcolas,do txtil,pescadores ganham 2.000).Todos os salrios de
trabalhadores aumentam neste momento, mas, em menor valor a medida que so mais
altos. Ao mesmo tempo, o aumento de preos diminui, passando de uma taxa anual de
30% durante os seis ltimos meses do regime fascista,a 15% durante o primeiro ano
seguinte (maio 1974 a maio 1975,ndice dos preos de consumo de Lisboa), devido ao
controle de preos que chega a dominuir os alugueis. Assim, a parte da renda nacional
passam de 50% a 100% para os salrios e de 50% para 0% para os lucros.

O movimento das ocupaes de empresas tomou velocidade no vero de 1975.

-a lavanderia Portuglia, com sede na Ajuda (Lisboa) e com 198 trabalhadores,


sobretudo mulheres, em final de 74 aps um lock-out,os trabalhadores demitiram o
patro e entraram em autogesto;

-Na Marinha Grande, 700 trabalhadores ocuparam uma fabrica de vidros ,sanearam a
administrao e passaram a gerir a empresa;

-Na fbrica de Iogurtes Bom Dia, 19 trabalhadores ocuparam as instalaes e


instituram um sistema de autogesto;
-Na txtil Penteadora, os 1.100 operarios decidiram criar uma comisso de
trabalhadores e assumir a administrao;

-perto de Avo,uma fbrica entreou em autogesto;

-no Porto, uma empresa de sintticos,com 60 operarios,entrou em autogesto;

-a fabrica de bolachas Cuetara do pombal,com 35 operarios,entrou no sistema de


autogesto;

-a Clona Mining Cia,em loul, com 100 trabalhadores em trou em autogesto;

-em Setbal,os operrios da fabrica Sapec ,raptaram dois administradores para mostrar
ao Governo como a situao estava ruim.

Assim, em agosto de 1975, cerca de 380 fbricas estavam em autogesto.

O perodo de maio-junho de 1974 foi fortemente dinamizado pelas Comisses


de Trabalhadores.Atraves destas Comisses,aps o 25 de abril,os trabnalhadores
iniciaram a pratica da autogesto,chegando a formao de inter-comisses de
trabalhadores, ligando varias fbricas. Em 75, por iniciativa dos operrios da empresa
Eface-Inel, decidiu-se pela fundao de uma Federao de Comisses de
Trabalhadores,com o nome de Inter-Empresas. Esta federao reunia 24 empresas
entre as maiores do pas, para auxiliar e apoiar as lutas dos trabalhadores.

No perodo posterior ao 25 de abril, os trabalhadores se lanaram a tomada dos


sindicatos,at ento sob controle da legislao fascista do salazarismo. Os sindicatos
estavam organizados por profisso: por exemplo na Lisnave, existiam 13 sindicatos , na
TAP 15.Assim,os trabalhadores realizavam assemblias gerais e plenrias.

Ao mesmo tempo, em nvel de fabrica,as Comisses de trabalhadores


elaboravam cadernos de reivindicaes: salrios,diminuir a jornada de
trabalho,melhores condies de trabalho,etc. Conquistada a liberdade sindical nas
empresas, os delegados sindicais em ao coordenada com as Comisses de
trabalhadores,realizavam Convenes Coletivas.Os operrios rurais se uniram e
tomaram em suas mos a tarefa de realizar a Reforma Agrria: exproipriao de
terras, ocupao de terrenos vazios,unidades coletivas de produo,sindicatos
agrcolas.Assim,se fez a aliana operrio e camponesa.
10.4.1. O Poder Popular: as Comisses de Moradores

O movimento autogestionario liberado pela queda do fascismo no ficou restrito


organizao na produo.Foi um amplo movimento que chegou a atingir as foras
armadas,atravs da formao de conselhos de soldados. O Movimento dos SUV (
Soldados Unidos Vencero) foi uma tentativa de coordenao dos conselhos de
soldados.Este bairro tinha o apelido de Tarrafal (campo de concentrao fascista na
ilha de Cabo Verde) e, um dos imveis se chamava bloco dos condenados.No 30 de
abril, os moradores constituem uma comisso de bairrro. No 1 de maio, apresentam um
caderno de reivindicaes na prefeitura.Varios outros bairros seguem o mesmo
exemplo. Em junho, os vrios bairros se articulam.Em agosto, foi criada uma
assemblia de todos os moradores,rgo supremo para tomada de decises e, uma
comisso central ,formada por um mebro de cada comisso de bairro,rgo
executivo.

Em muitos outros centros urbanos,nasceram as Comisses de


Moradores,organizadas nos bairros. Organizaram-se as intercomisses de
Moradores.Ocuparam-se casas devolutas e abandonadas que,em assemblias de
moradores,eram distribudas aos mais necessitados.Construiram-se cooperativas de
habitao. E construram parques e centros sociais

Na cidade de Porto , a questo da habitao tinha caractersticas especiais:

- herana de alojamentos que remontavam revoluo industrial do sculo XIX : as


ilhas insalubres;

-a superpopulao e a superexplorao nos velhos bairros do centro da Cidade ( s vezes


7 a 8 pessoas por pea,sem equipamento sanitrio.

- os guetos perifericos,construidos pelo fascismo depois da Guerra e ,sobretudo, aps


1956. (60.000 pessoas vivendo em um total de 10.000 apartamentos distribudos em 26
bairros);

Na cidade do Porto, o primeiro baiiro a se organizar foi o de So Joo de


Deus,no norte da cidade. Depois, com o avano da direita em novembro 75, as
comisses de moradores do Porto iniciaram um debate que levou a um sistema de troca
direta com os camponeses do Norte: vendas de produtos agrcolas diretamente aos
moradores. A Comisso de Moradores de Igreja Velha,no Porto, buscou a possibilidade
de venda aos camponeses dos produtos de fbricas de autogesto ou sob controle das
comisses de trabalhadores. Estes laos solidrios foram comuns; a cooperativa de
Cortios,perto de Mirandelaconstituida no final de 75 pela ocupao de terras;em abril
de 76, varias fbricas de Lisboa se cotizaram para enviar um trator a Cortios.300
operarios vieram a Lisboa para levar o trator para cooperativa. Desta forma, negociando
entre si, os trabalhadores criavam um mercado autogestionrio.A Cooperativa 25 de
Abril, construiu casas para substituir os barracos de lata,chegando a ter uma demanda
por 600 casas.

Os trabalhadores dos estaleiros Lisnave fizeram encomendas de maquinas a


empresas de autogesto. A federao das comisses de Moradores de Setbal adquriu os
seus produtos nas cooperativas agrcolas da regio de Azambuja,enquanto as comisses
de moradores de Lisboa apoiavam as cooperativas de Alcacer e Evora.

Estes grupos de base se articularam para coordenao de suas lutas. Assim, 23


comisses,unidades coletivas e cooperativas criaram a Assemblia popular.Em Marvila,
a Assemblia Popular era formada pelas Comisses de Moradores e pelas comisses de
Trabalhadores.Muitas assemblias populares surgiram na rea de Lisboa,mas tambm
em Faro,Porto,Coimbra e Braga.

Estas vendas diretas entre comisses de moradorese cooperativa ou fbricas


autogeridas ,foi organizada em larga escala no Sul e no Centro do pas e tornou-se
muito popular devido ao aumento do custo de vida.

Em 13 setembro 74,uma 50 Comisses de trabalhadores do cinturo industrial


de Lisboa reuniram-se em Conferencia na fabrica Copam. Outra tentativa de
reagrupamento mais amplo foi a Federao da Covilh,uma cidade do Centro onde
existiam muitas fbricas txteis e com tradio de lutas. Mais de 90 Comisses de
Trabalhadores se reuniram sem etembro de 75,um verdadeiro Congresso das Comisses
de Fabrica. A pauta deste congresso:

-O controle dos trabalhadores (formas de controle exercido pelas comisses de


trabalhadores sobre a produo e o consumo, autogesto,etc);

-horas de trabalho; o armamento da classe operaria;saneamentos;desemprego;aliana


operrio-camponesa;nacionalizaes,etc.

O movimento dos trabalhadores partiu de lutas reivindicatrias para questo do


poder,atravs das formas de organizao e mobilizao das comisses de
trabalhadores e pela capacidade de produo coletiva autnoma das assemblias de
trabalhadores frente aos sindicatos ,partidos,Governo e patronato.

Outra forma de organizao autnoma foram os Conselhos revolucionrios dos


Trabalhadores. Em abril 1975, num grande comcio em Lisboa,ocorreu o debate pela
organizao de um novo tipo de organizao. Participaram partidos de esquerda,
comisses de trabalhadores e militantes da Inter-Empresas. Participaram as comisses
de soldados e marinheiros.Deste encontro saram os conselhos revolucionrios de
trabalhadores,soldados e marinheiros.

Em agosto 75,ocorreu o 2o Congresso dos Conselhos.

10.4.2. As Cooperativas

Uma das mais significativas expresses deste movimento foram as


Cooperativas. Surgiram em diversos setores: cultural,artstico,produtivo.As
cooperativas agricolas contriburam para a aliana operrio-camponesa.Muitas
vezes,grupos de trabalhadores urbanos foram ao campo para ajudar os camponeses nas
colheitas, ocupando desta maneira suas frias.Em agosto 75, existiam 300 cooperativas
e mais 200 se formaram em setembro. No conjunto, foram cerca de 3.000 cooperativas.

Aps o 25 abril, o cooperativismo foi reinventado em Portugal por milhares de


trabalhadores,a partir de uma conjuntura especifica, reconduzindo-o s suas origens
populares e revolucionrias.

O cooperativismo foi divulgado em Portugal por Antonio Sergio ,inpirando-se


nas ideias da Escola de Nimes,de Charles Gide.

O abandono das empresas por parte dos patres e o boicote de outras,os


trabalhadores foram obrigados a realizar a gesto das fbricas,para manterem seus
postos de trabalho. Os operarioss e organizavam em cooperativas ou em
autogesto.Muitas pequenas e medias empresas se transformaram em cooperativas ou
formas de autogesto ( uma comisso de trabalhadores era credenciada para gerir a
empresa).

Em cerca de 2 anos,os trabalhadores viram em suas mos cerca de 500 empresas


em crise,com a obrigao de as gerirem para manter seus postos de trabalho.Muitas
destas empresas foram abandonadas pelos seus patres.Em muitos casos, os Ministrios
do Trabalho e de Tutela concediam uma credencial atravs da qual eram conferidos
poderes de gesto aos trabalhadores destas empresas abandonadas. A este fenmeno
,chamava-se regularizao patrimonial.Os trabalhadores que assumiam a
empresa,agora como cooperativa, tinham que pagar o Ativo da empresa abandonada.O
valor deste Ativo no era suficiente para fazer frente ao passivo da empresa.

O patronato usa 3 vias para retomar as empresas: pela violncia,via


assalto,geralmente a mo armada,as instalaes que os trabalhadores ocupavam; em
1976, houve 10 assaltos de ex-patres a cooperativas de trabalhadores; pela via
judicial,mediante aes de reivindicao de posse; pela via poltica, dependendo da
relao de foras, em que possam ter leis favorveis.

Alguns mecanismos legais existiam: o decreto-lei numero 4/76, que permitia ao


Governo pedir aos tribunais a declarao de falncia destas empresas e dispor,como lhe
prouver,da respectiva massa falida inclusive,arrenda-la ou vende-la a cooperativa que
explore esses meios de produo. A Constituio prev no art. 87o, a foigura do
abandono dos meios de produo,sem haver imdenizao nos casos de abandono
injustificado.

Em junho 1975, houve a 2a reunio Inter-Comisses de Trabalhadores,no


Porto,em que se decidiu optar pela forma cooperativa e repudiar toda a forma de tipo
autogestionrio e cogestionario.Alm dos sindicatos,participaram desta reunio
comisses de trabalhadores representando 11 empresas da regio.

A Constituio de Portugal define o setor cooperativo,ao lado do setor privado e


do publico,como constitudo pelos bens e unidades de produo,possudos e geridos
pelos cooperadores,em obedincia aos princpios cooperativos(art.89o.3).E,engloba o
setor cooperativo no que chama de Propriedade Social,dando a esta uma dinmica
que tender a ser dominante.

No art. 84o.1,a constituio define que O Estado deve fomentar a criao e a atividade
de cooperativas. Portanto, a Constituio define que: apoio e fomento
cooperativo,englobando o setor cooperativo no qued enomina de propriedade social e
atribui a este a tendncia de predominncia: constituem a base do desenvolvimento da
propriedade social,tender ser predominante,os bens e unidades de produo com posse
util e gesto dos coletivos de trabalhadores,os bens comunitarios com posse til e gestao
das comunidades locais e o setor cooperativo(art. 90o .1).

A Constituio da revoluo define a vontade popular de Portugal ser uma


republica independente,em transio para o socialismo,mediante a criao de condies
para o exericio democrtico do poder pelas classes trabalhadoras(art.2o).

Assim,temos 3 setores caracteriz\ados pela forma de propriedade e gesto dos


meios de produo: publico, privado e cooperativo.

O Programa de Governo definia no que se refere ao FOMENTO do


cooperativismo,o Governo assegurar todo o estimulo possvel s iniciativas
cooperativistas,sob a nica condio de que respeitem o ideal cooperativo e os
princpios que o informam,definidos pela Aliana Cooperativa Internacioanl,entre ns
difundidos por Antonio Sergio e finalmente integrados no texto constitucional.

Estes princpios cooperativos ,que esto na Constituio,so:

- a solidariedade ou o compromisso recproco;

- a igualdade;

- a gesto social;

- a moral da equidade ou proporcionalidade;

- a educao.

A Assemblia da republica aprovou o Decreto-lei que criou o


INSCOOP(Instituto nacional Setor Cooperativo)que tomou o nome de Antonio Sergio,e
que cuida de formao, apoio pontual, econmico e financeiro. Como parte deste
processo, em 1978, a BASE-FUT ,movimento social originado deste perodo, organizou
a Primeira Conferencia Nacional pelo Socialismo Autogestionrio,em Lisboa. De suas
declaraes, podemos extrair esta definio:
A autogesto a construo permanente de um modelo de Socialismo, em
que as diversas alavancas do poder, os centros de deciso, de gesto e
controle, e os mecanismos produtivos sociais, polticos e ideolgicos, se
encontrem nas mos dos produtores-cidados,organizados livres e
democraticamente, em fomas associativas criadas pelos prprios produtores-
cidados, com base no principio de que toda a organizao deve ser
estruturada da base para a cpula e da periferia para o centro,nas quais se
implante a vivencia da democracia direta, a livre eleio e revogao, em
qualquer momento das decises, dos cargos e dos acordos. [ cf. 1a
Conferencia Nacional pelo Socialismo Autogestionrio. Lisboa, Maio de
1978].

10.4.3. As ocupaes no Campo

No Alentejo,o modelo de empresa dominante era a grande explorao


agrcola.Os proprietrios cultivavam trigo nas melhores terras dando as piores de
parceiria;colhia azeitona, arrancava o cortio e noutras partes cultivava gado suno.O
proletariado rural era atingido pelo desemprego , disputava os pequenos pedaos de
terra para parceiria e, tinha uma fratura entre assalariados permanentes e os temporrios
,estes afetados pelo desemprego.As condies de vida estavam marcadas pela fome em
largos perodos do ano e,os salrio eram muito baixos.

A emigrao para o estrangeiro e a ida para cidades afetavam este modelo de


empresa. As lutas dos rurais em 1962 (por mais salrio e jornada de 8 horas) assinalam
o declnio do latifndio. Estas grandes propriedades contaram,ento,com o apoio da
poltica de credito do regime fascista e puderam se mecanizar,se capitalizarem. As outras
exploraes em que no houve esta capitalizao , ficaram abandonadas a uma
gricultura extensiva de azeitona e cortia e alguma criao de gado.Desta forma,quando
de 1974, uma burguesia capitalista agrria tinha a hegemonia no Sul.

Nass duas provncias do Alto e do Baixo Alentejo ( o Algarve tinha traos


comuns com o Norte do pas), domina a grande propriedade do latifndio: empregavam
um total de 300.000 trabalhadores rurais,um verdadeiro proletariado rural.

A reforma Agrria dos trabalhadores aponta para uma via que modfica as
relaes de produo dominantes nos campos do Sul,o que significa tomar no apenas
as terras piores ,como queriam os latifundirios,mas tambm as melhores terras dos
grandes proprietrios. O Partido Comunista de Portugal privilegiava as UCPs.,pois no
tinha hegemonia no aparato estatal , para apoiar as organizaes do prprio Estado.
No Norte do pas, a situao era diametralmente oposta ao Sul. Dominava o
minifndio , a pequana propriedade;diminua a presena dos assalariados sem terra, que
emigravam,ficando apenas os mais velhosEm alguns municpios, o prprio operrio
industrial cultiva um pedao de terra para subsistncia (Coimbra, Aveiro, Porto e
Braga).

H, portanto, uma ligao terra muito forte. Nesta parte do pas, foi muito
acentuada a convergncia do fascismo com a Igreja oficial,tendo como ideologia
dominante o anticomunismo.Um universo ideolgico profundamente enraizado na
populao,manifestando-se em um horror de mudar; esta ideologia agiu como fora
historica que os adversrios do socialismo fizeram atuar como fora material contras
as transformaes.

Populao Agrcola de Portugal 1968

Assalariados 445.000 51%

Proprietrios 330.000 38%

Familiares 100.000 11%

Total 875.000 100%

No Alentejo, os assalariados representam 83% e, no Norte representam 37%.O


total de 875.00 se dividem assim:

Assalariados de Portugal em 1974 por regio.

Algarve 37.000

Alentejo 150.000

Ribatejo 150.000

Norte 538.000
Com 34% da populao ativa, a agricultura apenas representa 13,6% do PIB

A Unidade Coletiva de Produo (UCP) o segundo momento aps o primeiro,a


tomada da terra : luta pelo emprego, assegurar a produo,criar formas de
organizao,etc. Alm da UCP, h outras formas : pr-cooperativa e
cooperativa,significando o mesmo tipo de organizao.

Abril de 1974 encontrou intocado o Ministerio da Agricultura: voltado para os


interesses dos grandes proprietrios de terra. No Sul ,no Baixo-Alentejo, os
trabalhadores agrcolas tinham uma longa trajetria de lutas pela reforma agrria ,que
liquidar os latifundirios e dar a ter a quem nela trabalha. Nesta rea, os sindicatos
estavam bem implantados. Em BEJA o sindicato existia em quase todos os
municpios,porem,em Setubal e Santarm (no Ribatejo e no Alto-alentejo)a implantao
sindical era fraca.

A questo do desemprego foi um dos motivos para ocupao de terras. Os


distriros onde mais se fazia forte o desemprego eram vora,PortoAlegre e Beja.Em
Setbal e noutros locais do Sul,o desemprego era menos. Muitos eram os motivos deste
desenprego: o regresso ao campo de operrios vindos da zona de Lisboa-Setubal ,onde
trabalhavam na construo vivil; a seca de 1974;desmobilizao no ritmo de
incorporao ao servio militar; a quebra do surto da emigrao;o aumento de salrios
trouxe muitas mulheres ao mercado de trabalho.

As lutas freqentes levaram os grandes proprietrios modernizao


tecnolgica,e,assim, criando as condies para o desemprego e o sub-emprego
permanente.O recurso ao trabalho temporrio (os assalariados agrcolas so 80%
temporrios em Setbal);o operrio agrcola tem 3 a 4 meses de desemprego por
ano;por exemplo,a cultura de tomata exigia apenas 4 meses de trabalho por ano.Uma
das conseqncias desta situao, o xodo rural (a populao de Bja diminuiu de
25% entre 1960 e 1970).

Um passado de explorao e opresso esto na base das ocupaes.Os


trabalhadores rurais do Sul tinham uma histria de lutas: uma greve geral em 1917 pela
jornada de 8 horas; durante o fsacismo salazarista: marchas de fome nos anos 40 e
uma serie de lutas que atingiu seu auge em 1946, 1948-49,1953,1956,1948 e nas greves
gerais no Alentejo e no Ribatejo em 1962. A influencia do PCP era muito antiga e forte.

Logo sem eguida ao 25 Abril,os trabalhadores rurais tiveram um aumento


importante de salrios, conquistado nas primeiras Convenes Coletivas de Trabalho.
As segundas Convenes j incluram regras para combater o desemprego.

As terras que seriam ocupadas pelos trabalhadores, ou estavam bandonadas ou


sem cultivo. Em maio, 200 hectares no Alentejo foram ocupados por cerca de 100
trabalhadores. A ocupao foi apoiada pelo Instituto reforma Agrria (IRA) e plos
militares do Movimento Foras Armadas (MFA).Em junho, a Quinta da Torre, perto de
Cabanas, foi transformada em cooperativa. As terras tinham sido abandonadas pelo
proprietrio. A ocupao foi realizada com apoio da Comisso de Moradores local. Uma
fabrica prxima cedeu as maquinas para a limpeza de 30 hectares.

Os 300 hectares da Quinta das Alagoas, perto de Lagoa (Algarve), foram


transformados numa UCP ,com o nome de Estrela Vermelha. Os 2.000 hectares da
Quinta de Sousa da S, perto de vora, foram ocupados; na aldeia de Cuba (Alentejo), a
Quinta de So Pedro, tambm foi transformada em cooperativa, aps sua ocupao.

Em Castelo Branco (Beira baixa) ,no final de 1975, havia uma rea ocupada
pelos trabalhadores de 3.100 hectares. Em Malpica,tambm em Castelo
Branco,trabalhadores desempregados da Celtejo (fabrica de celulose) ocuparam uma
propriedade com cerca de 1.100 hectares. Estas UCPs foram trabalhadas e geridas pelos
prprios trabalhadores.

Em Faro (no Algarve) ocorreram 4 casos de ocupao de terras. Em um caso,


houve regresso do patro.

Em agosto 74, 206.645 hectares de 330 latifundios tinham sido ocupados por
6.000 trabalhadores.As principais regies onde ocorreram as ocupaes de terra foram:
o Alentejo e, o Ribatejo e a zona em volta de Castelo Branco (na Beira baixa).Os
trabalhadores rurais se organizavam em cooperativas e UCPs. O modelo adotado foi da
partilha : a terra era trabalhada e possuda pelo conjunto dos habitantes da aldeia.

Apenas em vora,ocoreram cerca de 100 ocupaes;em agosto de


1975,ocupaes ocorriam diariamente. Vejamos, ms a ms de 1975, a evoluo na rea
do Alentejo:

Distritos

Ms Beja vora Portalegre

Junho 5 22 31

Julho 23 - 50

Agosto 58 122 -

Setembro 75 - -

Outubro 246 - -

Novembro 288 - 145

Dezembro 295 390 -

A reforma Agrria avanou onde os trabalhadores se impuseram atravs das


ocupaes de terras, com apoio do IRA e dos militares.

10.5. ESPANHA: AS COMISSES OPERARIAS (CCOO)

O contexto da luta dos trabalhadores espanhis sob o franquismo transparece


em documento,datado de janeiro de 1966, uma Declarao de Princpios intitulada
Ante el futuro del Sindicalismo, em que aponta,tambm, a longa crise de hegemonia
da classe dirigente e o nascimento das Comisses Operarias (CCOO):

Durante estes ltimos 27 anos, o abandono da classe trabalhadora tem sido


total. Nossas organizaes destrudas,nossos militantes perseguidods,nossos
peridicos e locais confiscados.Em substituio a elas, nos montaram
estruturas (ou sindicato vertical) imobilistas, que no sendo
independentes,esto controlados pelos patres...Sem duvidas, apesar das
terrveis dificuldades de todo o tipo, ns os trabalhadores, no deixamos de
lutar nem um s dia por nossos interesses de classe.Seria interminvel,
enumerar as milhares de aes operarias, desde as simples visitas de uma
comisso ao patronato at a greve, que se tem produzido na Espanha desde
1939 at nossos dias.

Esta acumulao de esforos e sacrifcios dos trabalhadores espanhis foi o


elemento essencial , que possibilitou o nascimento das CCOO. Nas greves de
1956-57 , a presso das massas acelerou a crise, que atingia a burguesia
espanhola, que foi obrigada a mudar de poltica.Estas mudanas tiveram
conseqncia na legislao trabalhista. Em 1958, a lei espanhola deu aos
patres a possibilidade de negociar com os delegados dos sindicatos oficiais.
Porm, em vrios casos, os operrios no votaram nos candidatos oficiais e,
escolheram trabalhadores nos quais tinham confiana.

Assim, de 1958 a 1962, foram constitudas em nvel de fabrica, comisses de


delegados, que podem ser consideradas como os embries das CCOO.Essas comisses
s se formavam quando havia um conflito ou negociaes, se dissolvendo em seguida.

Em 1962, ecoldiu nas ASTURIAS, no pas Basco e Catalunha, um forte


movimento de greves. Em todas as partes se formaram comisses de delegados
operrios,democraticamente eleitos, e os patres se viram obrigados a reconhecer sua
representatividade.Desta forma, as CCOO nasciam,de forma espontnea.

Em Madri ,essas comisses nasciam e morriam em seguida s lutas. Os


militantes mais ativos,que se formaram nestas lutas,entenderam a necessidade de uma
organizao permanente que tomasse forma de movimento de oposio sindical s
estruturas oficiais do sindicalismo fascista.

A partir de 1964,as CCOO assumiam um carter de organizao permanente,


assegurando um minico de coordenao em nvel local, regional e nacional. medida
que crescia a conscincia e a combatividade dos trabalhadores, aumentava a
represso.Nas fbricas surgiram as listas negras com nomes dos operrios ativos.As
CCOO se aproveitam das eleies de 1966 para organizar assemblias de
trabalhadores.Apesar da priso dos principais dirigentes,as CCOO realizam suas
principais aes neste ano. Em janeiro, maio e , sobretudo, outubro, centenas de
milhares de trabalhadores se manifestaram nas principais cidades, contra o aumento de
preos, o bloqueio dos salrios,as demisses,a represso politica.

A semana de luta ,organizada pelas CCOO,em outubro,teve um eco


considervel no estrangeiro e demonstrou a combatividade do movimento operrio
espanhol. Assim,pela primeira vez, depois da Guerra Civil de 1936-39, se podia realizar
com xito a coordenao de um movimento em nvel nacional.

Nos anos seguintes, se organizaram CCOO de Jovens e CCOO de


Bairro.Em 1968, foram formadas as CCOO Camponesas , que lutam por terra para
quem a trabalha , salrio mnimo direito de greve,liberdade de
organizao.Delegaes camponesas de vrias regies (Castilla,
Catalunha,Arago,Andaluzia) participaram ,em agosto 1969,da primeira reunio de
coordenao de CCOO Camponesas.

Na Declarao das CCOO de Madrid ,podemos encontrar uma concepo das


CCOO:

Que so CCOO ?

As CCOO so uma forma de oposio unitria de todos os trabalhadores,sem


distino de crenas ou compromissos religiosos ou polticos, s estruturas
sindicais. Nascem como uma necessidade da defesa de nossas reivindicaes
imediatas e de rpeparar um amanh de liberdade e unidade sindical;

As CCOO so um movimento independente, da classe operaria, para a defesa


dos interesses da classe operaria.Recusamos por isto, qualquer tipo de
verticalismo ou de submisso s palavras de ordem do Estado ou de
qualquer grupo poltico;

O principio democrtico a regra de atuao das CCOO.;

respeitando o principio democrtico,segundo o qual seremos ns os prprios


trabalhadores, que decidiremos sobre a forma do futuro sindicato espanhol,as
CCOO,advogamos e lutamos pela Unidade Sindical...Consideramos que a
diviso ser um suicdio de Classe.

As CCOO de Madri, no documento Ante el futuro del Sindicalismo,elaborado


em 1966,definem a linha em relao a um sindicalismo democrtico e unitrio:

Aceitando a necessidade de unidade do movimento operrio e de sua


independncia, consideramos que o instrumento eficaz ser a Central Sindical
nica , cujas bases de construo devero ser livres e democraticamente
eleitas pelas Assemblias de trabnalhadores, realizadas com a colaborao
das organizaes sindicais operarias representadas nas fbricas.

As CCOO exerceram uma grande influencia no movimento operrio e


sindical.Na Polnia,nos anos 70, houve um debate sobre o papel das comisses
clandestinas nas empresas. No artigo de ROBOTNIK (O Operrio), jornal dos
ativistas do futuro sindicato SOLIDARNOSC,intitulado As Comisses Operarias na
Espanha, podemos ler:

Uma das lies mais importantes do que se passa na espanha, o papel que
tem desempenhado o movimento sindical independente e, em particular, o
movimento operrio que se desenvolve em centenas de fbricas
espanholas.Trata-se das CCOO[...]

As CCOO se formam em segredo,da seguinte maneira: aqueles que tm


confiana entre si, formam pequenos grupos que atuam nas sees; a partir
deste nvel, criam-se comisses em nvel de fabrica, que , pouco a pouco,
com grande precauo, fazem contatos com as comisses de outras fbricas
(Robotnik,n.8 , janeiro 1978).
11. O CICLO DAS LUTAS AUTO-GESTIONRIAS NO PS-
GUERRA, NO LESTE EUROPEU7

Os vrios ciclos de lutas operarias no Leste europeu exigem uma certa


caracterizao deste processo de longa durao,pois inicia-se nos anos 50 e vai at a
dcada de 80. O socialismo estatal burocrtico, implantado no leste europeu no ps
Guerra , foi diversas vezes contestado de forma radical pelos trabalhadores. Desde
1953,ano da morte de Stalin, at a revoluo do Solidarnoisc polons,em 1981 e a queda
do Muro de berlim,em 1989.

As lutas operarias se expressaram atravs de greves gerais, revoltas e


revolues.Podemos assinalar um onda de longa durao marcada por estas lutas:

1953 - greves na Alemanha oriental e na Thecoslovaquia.

1956 - revolues na Hungria e na Polnia.

1968 - revoluo dos conselhos na Thecoslovaquia.

1970 - revoltas na Polnia.

1977 revoltas na polnia,sindicatos livres na URSS e Romnia,oposio na


Thecoslovaquia.

1980 revoluo na Polnia.

1989 rebelies populares no conjunto do leste da europa.

Como caracterizar estes processos ? Quais os elementos de unidade e de


diversidade ? Partindo de analises de militantes e tericos do prprio leste,tentemos
trabalhar alguns conceitos.

Inicialmente, a REFORMA : entendida como mudanas polticas ,econmicas e


estruturais no contexto do leste; reforma no significa retorno ao capitalismo;ela pode
evoluir em dois sentidos,que se confundem durante um certo perodo:

7
Esta parte resumo de um trabalho intitulado Leste europeu: a dialtica da revoluo passiva.
Liberalizao= processo que se origina e que dirigido exclusivamente do
alto; a direo do PC decide o momento em que o povo ou o pas est maduro
para certas reformas;a iniciativa encontra-se nas mos do grupo dirigente;
Democratizao= processo envolve o grupo dirigente,mas que comea pela
presso da base,que tem a iniciativa;os trabalhadores defendem as mudanas
propostas pela direo do PC,mas formulando suas prrpias reivindicaes e
pressinando por sua realizao.
Inicalmente, reivindica-se reformas limitadas,sem eguida,transformaes
institucionais que garantam o controle popular sobre o Estado.Neste caso,as mudanas
atingem a natureza do modelo estatal de socialismo: o monoplio poltico do PC, a
estatizao dos meios de produo, a censura, o sistema de correia de transmisso, a
dependncia frente URSS.Este processo pode ser chamado de Revoluo Poltica.

Em resumo, REFORMA um termo marcado pela iniciativa do poder e procede do


alto,com tendncia a manter o status quo,e,para tal,busca o apoio passivo dos
trabalhadores e cidados.

J a REVOLUO ,procede de baixo e,no seu inicio, desprovida de objetivos


gerais claramente definidos;supera esta fase inicial ao criar novas formas de
organizao ou socializao antagnicas velha ordem.

Alm destas 2 vias,podemos falar de outra revoluo que visa substituir o sistema
socialista pelo capitalismo;na verdade,uma CONTRA-REVOLUO.Quando,trata
de assegurar o status quo ,estamos diante de uma NORMALIZAO,como ocorreu
na Hungria e na Polnia,em 1956 e na Thecoslovaquia,em 1968.

Em relao as FORMAS de LUTA,as experincias do leste europeu podem ser


classificadas em 5 blocos:

REVOLTAS, tendo por causa a carncia de bens de consumo, aumento nas


normas de trabalho,reformas fiscais,aumento dos preos bsicos. Por exemplo:
.Berlim-Alemanha oriental, em 1953; Pilsen,Thecoslovaquia,em 1953;
Poznan,Polnia,em 1956; Novatcherkasek,URSS,em 1962; Vale do
Zhill,Romnia, em 1977.
Foram manifestaes espontneas e amadurecidas no interior deste pases pelo
desespero das suas populaes; no-ideolgicas e limitadas no tempo e no
espao.Podemos caracteriza-las como ensaios de tempestades futuras.Terminaram sob
intensa represso.

TIPO REVOLUO Hngara,em 1956. Movimento total e


radical,questionando e derrubando o regime vigente;obra das massas
trabalhadoras,com opes ideolgicas variadas.Seu ponto principal foi a auto-
organizao dos trabalhadores em conselhos.
TIPO SOLIDARNOSC,Polnia,em 1980-81; resultado de dezenas de anos de
lutas.Sua marca caracterstica foi tambm a auto-organizao dos
trabalhadores em conselhos e com base autogesto social.
TIPO PERESTROIKA e revolues democrticas em 1989. Na URSS,por
iniciativa do grupo dirigente do PCUS.No leste,as revolues democrticas
tiveram ampla participao popular,enquanto luta por cidadania e no como
classe;talvez,as excees sejam Thecoslovaquia e Polnia,onde houve uma
participao maior dos trabalhadores enquanto classe.Exceto na Romnia,as
demais foram revolues de veludo,pacificas.

No seu conjunto, assinalaram o esgotamento histrico do socialismo


estatal.Segundo Ernst MANDEL ,combinaram agitaes tpicas da Primavera de
Praga com as do Maio europeu de 1968.

As experincias do socialismo estatal surgiram de revolues passivas


(Gramsci),ou seja, revoluo sem revoluo. Neste sentido, os regimes do leste
pdoem ser chamados de diatdura sem hegemonia.

O corolario destas revolues passivas, foi definido pela prxis dos


trabalhadores,em diversos momentos: alguns destes momentos foram verdadeiras
revolues ativas de massa,ou revolues anti-passivas.

Quais so as caractersticas principais destas formas de revoluo? A revoluo


ativa democrtica e de massa:

1.os trabalhadores se revoltam contra o que visto como seu Estado; reinventam
formas radicais de democracia em todas as frentes de luta (poltica,econmica e
cultural);

2.a classe operaria torna-se o ator central e decisivo do processo de democratizao


socialista;

3.os trabalhadores defendem amplas liberdades, criticam e abolem os privilgios da


nomenclatura,criam novas formas de democracia de base (conselhos,comisses),
autonomizam a sociedade civil em relao ao Estado,criam elementos de autodefesa,
destroem o velho sistema sindical estatal ,iniciam a revoluo cultural e tica do
cotidiano.

No sentido de Castoriadis, As coisas so ainda mais claras quando vemos, no


a revolta,enquanto exploso e destruio da velha ordem,mas a revoluo,enquanto
atividade auto-organizada visando a instituio de uma ordem nova.

A sistematizao das experincias histricas no leste , nos mostra que estes


elementos estiveram presentes,total ou parcialmente,em varias das lutas dos
trabalhadores. Destacamos 3 desses momentos criticos da histria,como revolues
ativas de massa :

A revoluo na Hungria, em 1956


A revoluo dos conselhos na Thecoslovaquia, em 1968
A revoluo do Solidarnosc na Polnia, em 1980-81
Podemos assinalar que o processo polons de 1980-81,foi uma revoluo ativa de
massa;posteriormente,desrrotada pela normalizao com a decretao do Estado de
Guerra (dezembro 1981).Por sua vez, o processo polons iniciado em 1989,com a
mesa redonda de negociaes (entre a Igreja, O POUP e as Foras Armadas) e as
eleies de julho desse ano,significou uma reforma pelo alto.

Em 1965, os poloneses Jacek KURON e Karel MODEZELEVSKY , aps sarem


da priso, divulgaram um documento intitulado Carta aberta ao Partido Comunista da
Polnia (POUP). Tratava-se de uma Plataforma para as lutas anti-burocraticas no leste
europeu que s encontraria paralelo na obra do thecolosvaquo Rudolf Bahro, A
Alternativa.Para uma critica do socialismo real , publicada em 1977 e que custou uma
condenaoo de 8 anos de priso para seu autor.

Em 1969, Kuron foi condenado a 3 anos de priso e Modezlevski a 3 anos e meio.

Em resumo, a carta prope:

Supresso da propriedade burocrtica dos meios de produo.Que a classe


operaria organize seu controle do trabalho;

Controle das condies e objetivos do trabalho nas fbricas pelos Conselhos


Operrios;

Os Conselhos operrios enviaram Delegados operrios em nvel nacional:


estes delegados (eleitos,revogveis) devero ser a armadura do Estado
proletrio;

Pluralidade dos partidos.Supresso da censura.No ao regime parlamentarista


atomizando a opinio ;

Sindicatos independentes do Estado.Direito efetivo de greve econmica e


poltica;

Instruo geral operaria articulada produo;

No a armada regular permanente,nem policia poltica.Milcia operaria


subordinada aos Conselhos;

As empresas agrcolas do Estado devem proceder uma industrializao


rural progressiva.

Pierre Naville aponta 3 pontos da revoluo politica do Estado: supresso da


propriedade burocrtica dos meios de produo. Naville d outra traduo:

reapropriao dos meios de produo pelos conselhos operrios,isto ,


supresso da propriedade estatal do aparelho produtivo.Esta reapropriao
pode ser de vrios modos (inclusive o sistema de autogesto yugoslavo).de
todos modos, ela presupe uma poltica permanente de controle operrio e
uma nova forma de planificao.

A organizao da estrutura do Estado proletrio por uma pirmide de


Conselhos de trabalhadores,a eliminao do parlamento fictcio,e a abolio
da ditadura do partido nico;

O terceiro ponto,chave de tudo: intil pensar que um pas ou uma


sociedade possa viver sem poder burgus capitalista na ausncia de partidos
polticos e de associaes organizadas.O jogo das estruturas transitrias do
Estado s ocorrer na medida em que os partidos socialistas so livres de
agir, nos Conselhos ou noutros espaos,

Isto supe que os partidos,jamais o partido nico,no tenham um monoplio


na direo do estado,constitucionalmente ou no...Isto significa que os
partidos so apenas um elemento na pratica das opes feitas sob diferentes
formas pela populao.

11.1. YUGOSLVIA: A AUTOGESTO COMO SISTEMA HISTRICO


Os primeiros passos e os presupostos da autogesto na Yugoslavia, foram
criados durante a insurreio popular da guerra de libertao (1941-1945), que criou
novos orgos revolucionrios do poder: os comits populares de libertao. Estes
comites populares ,com uma dinmica de democracia direta e de
autogoverno.Eram responsveis pela gesto dos bens e da economia publica dos
territrios liberados. J na poca da guerra de libertao, a gesto das fbricas era feita
pelos trabalhadores;por exemplo, a fabrica de antimnio de KRUPANJ, uma cidade do
territrio liberado da Servia ocidental, em setembro de 1941,por deciso do comit
popular, foi eleito um conselho operario de fabrica , que geriu com sucesso a fabrica
,at a retomada do territrio pelos alemes. Foi um exemplo nico de autogesto
operaria na Europa ocupada.

Em seguida,outras fbricas em territrios liberados, a Uzice,a Cacak, passaram por


experincias de autogesto.

O sistema yugoslavo de autogesto foi se constituindo aos poucos, por etapas.


Os autores yugoslavos assinalam 5 fases principais:

1949-1953

1953-1963

1963-1974

1974-1978

1978-1983

Vejamos as caractersticas principais de cada uma destas etapas.

11.1.1. Primeira Etapa (1949-1953)

Esta primeira etapa abrange os incios, modestos, da autogesto: a formao dos


conselhos operrios nas fbricas estatais e, as primeiras mudanas no sistema
econmico ,de administrao centralizada, com o objetivo de criar os espaos para o
desenvolvimento das relaes de autogesto.

Os primeiros conselhos operarios foram formados a partir da Instruo do


Tribunal econmico federal e dos Sindicatos, dezembro 1949, que,apesar de manter as
posies do diretor de empresa e do sindicato,j assinalava o conselho operario
como o principal rgo de gesto:

Os coletivos de trabalho realizam a gesto por meio dos conselhos operrios e dos
comits de direo de empresa. Os conselhos eram eleitos por todos os trabalhadores
(operrios e tecnicos) com base no voto secreto. A partir de uma lista de candidatos
apresentada pelo sindicato ou por um grupo de operrios; inclusive,existia a
possibilidade de revogao de mandatos.

O conselho operrio podia contar,nas garndes empresas, de 15 a 120


membros;nas pequenas empresas,com menos de 30 trabalhadores,o conselho era
formado pelos 30 trabalhadores. Por sua vez, o comite diretivo da empresa (3 a 11
membros), era eleito e podia ser revogado pelo conselho operario.

As primeiras eleies para os conselhos operrios foram realizadas entre agosto


e outubro de 1950. As atividades dos conselhos de autogesto se davam ainda no quadro
do sistema de direo estatal da economia.

Nesta primeira fase, a posio autogestionria dos trabalhadores nas empresas


foi articulada com mudanas no sistema econmico e na vida poltica. Assim, no V
Congresso do PCY,em 1952,foi decidido sua transformao em Liga dos Comunistas.
Esta mudana de nome tinha por contedo a vontade poltica de impedir o processo de
burocratizao dos aparatos do Partido e do Estado. Gradualmente, foi abandonada a
estrutura hierrquica de direo estatal da economia.Varios ministrios foram abolidos e
transformados em conselhos (rgos estatais)

Em 1952, a nova lei sobre os comites populares,organismos de base do poder,ampliou


a rea do autogoverno local e abriu espaos para descentralizao em nveis econmico
e poltico.

Em 1953, foi a vez da nova Constituio que fornecia as bases constitucionais a


autogesto e as novas transformaes sociais. A nova Constituio ampliou os espaos
de autogesto dos trabalhadores: introduziu o Conselho de produtores (eleito pelos
trabalhadores organizados em forma autogestionria por ramo de produo) que
funcionava como uma segunda Camara do maximo corpo representativo
(Assemblia) em nveis de distrito e comunas.Desta forma, reforava-se o influxo
poltico direto do trabalho associado ,organizado em forma autogestionria, no conjunto
da sociedade.

11.1.2. Segunda Etapa (1953-1963)

Esta etapa se caracterizou por mudanas socias profundas e rpidas,tanto na


esfera poltica quanto na econmica. Abarcaram 4 direes.

A primeira direo diz respeito extenso da autogesto `a novos setores do


trabalho e da vida social,que estavam fora do campo da autogesto na primeira etapa.
Em 1944, a autogesto operaria foi ampliada ao setor das ferrovias,aos
correios,telgrafos e telefones,e,tambm,aos servios pblicos,tais como transporte
urbanos, limpeza urbana, gua. Em nvel municipal, os rgos do poder local (comits
populares) podiam intervir nas atividades da Empresa do setor (por exemplo, aprovao
de preos nos transportes urbanos).Um controle social tambm operava em outras
empresas. Assim,surgiram os Comites dos consumidores,relativos as empresas do
comercio em varejo e, os Conselhos editoriais nas empresas jornalsticas e editoras.

Portanto, a autogesto se estendia a vrios setores da atividade social extra


economica.Este processo tinha como base jurdica a Constituio de 1953. Seu artigo
4,garantia a autogesto do povo trabalhador nos setores da educao, da culrura e dos
servios sociais. As escolas,os hospitais,as instituies culturais e
cientificas,transformavam-se em organizao do trabalho autogerido,em que todos os
trabalhadores decidiam sobre a organizao do trabalho, os salrios,a politica de
desenvolvimento e elegiam os seus prprios rgos de autogesto.

Os rgos de autogesto nesta rea dos servios sociais (comit,conselho) eram


compostos por membros de dois tipos: os que eram eleitos pelos trabalhadores do
servio em questo , e os que eram delegados das instituies ou dos cidados
interessados.

Todavia, estes organismos dependiam diretamente de financiamentos estatais, o


que limitava a base material do desenvolvimento da autogesto.Para superar estes
limites, foram criados fundos financeiros autnomos.Estes fundos eram dirigidos
por comits compostos por representantes dos trabalhadores dos servios em questo,
de cidados interessados e de representantes de toda a comunidade.

A segunda direo do desenvolvimento da autogesto foi constituda pelo


aprofundamento das relaes autogestionrias,pela descentralizao e democratizao
do processo de tomada de decises no interior das empresas e da organizao do
trabalho. O artigo 126, da Lei sobre as relaes de trabalho,janeiro 1958, estabelecia
que os coletivos de trabalhadores decidem autonomamente as contrataes e as
demisses e outras questes relativas ao estatuto do trabalhador.

A terceira direo reforou a independncia da empresa e da extenso dos


direitos dos coletivos de decidirem sobre a renda produzida . Este processo foi lento.
Contudo, o monoplio estatal permaneceu intacto em relao ao direito de dispor da
reproduo ampliada (investimentos). Em 1957 e 58,novas leis ampliaram os direitos
dos coletivos de trabalho.

Em 1957, foi realizado o primeiro Congresso dos conselhos operarios da


Yugoslavia,que trouxe um forte impulso `a autonomia da empresa e a poder dos
trabalhadores. Lei de 1961, significou outro grande passo: a repartio da renda entre a
fabrica e a comunidade social, afastando os rgos do Estado deste campo. Os fundos
da empresa ficam subdivididos em: fundo de gesto,fundo de reserva e fundo de
consumo coletivo.

O Estado ainda controlava e regulava os preos de 70% dos produtos e, todo o


comercio exterior.

A quarta direo investia no setor da organizao poltica,buscando


democratizar o sistema poltico: ampliao do auto-governo local e transformao em
todo o sistema de decises polticas. Em 1955-56, ocorreram mudanas no campo das
comunas, comunidades scio-politicas (territrio), buscando articular os interesses
pessoais dos trabalhadores com os interesses coletivos de toda a comunidade. No nvel
da comuna, poderia haver uma participao real dos trabalhadores-autogeridos nas
decises polticas relativas aos interesses coletivos e sociais.

Nesta perspectiva, a descentralizao tirava negocios do Estado e transferia


para as comunas; associaes de comunas substituam o centralismo da hierarquia
estatal; os distritos transformaram-se em consorcios de comunas. Assim, a maior
parte da ao estatal frente as empresas e das instituies de autogesto, passou para
competncia da comuna e,sobretudo,para competncia comunal e do seu conselho de
produtores.

11.1.3. Terceira Etapa ( 1963-1974)

Esta etapa apresenta uma grande mudana em todo o sistema socio-economico e


politico. A base principal foi o esforo , para por em mos dos trabalhadores, o controle
direto do trabalho associado com base na autogesto , de todo o capital social. Na
verdade, o sistema scio-economico yugoslavo apresentava,ainda nesta poca,um
dualismo: de um lado se desenvolvia a autogeso nas fbricas e nos servios sociais e,
de outro lado,a gesto dos meios destinados a reproduo ampliada permanecia nas
mos dos rgos do Estado,sobretudo,em nivel Federal.

Em 1961, surgiram tendncias econmicas negativas: queda da taxa de


desenvolvimento (antes tinha sido a maior do mundo), queda da produtividade, baixo
grau de utilizao do potencial produtivo. O monoplio estatal sobre a gesto dos meios
de reproduo ampliada foi apontado como causa destes fenomenos O 5 Congresso da
Unio do sindcatos do pas (1964) e o 8 Congresso da LCY,dedicaram todo o tempo a
discutir as mudanas do sistema econmico e o papel do trabalho associado no campo
da reproduo ampliada.

Assim, em 1964, houve avanos no sentido da desestatizao da gesto do


capital social: abolio dos fundos de investimento dcomunidade scio-
politica(Estado) e a transferncia de seus recursos para os BANCOS , que foram
transformados em rgos econmicos autnomos e autogeridos.Em 1965, foi a vez da
reforma economica , que trouxe mudanas importantes. Por exemplo, em 1961, as
organizaes econmicas dispunham dispunham diretamente do 29,5% dos meios
destinados aos investimentos fundamentais, os 7,9% era gerido por instituies e 0,9%
pelos bancos. A maior parte dos meios de investimento era administrada pelo Estado :
os fundos de investimento da comunidade scio-politica (federao,republica,regies e
comunas) compreendiam 61,7% de todos os meios financeiros destinados aos
investimentos.

Dez anos depois (1971),este quadro mudou radicalmente: as organizaes


geriam 26,8% dos meios de investimento,as instituies 7,1%,os bancos
50,9%,enquanto a incidncia da comunidade socio-politica caiu para 15,2%. Assim,os
bancos passavam a ter a gesto da maior parte dos meios de investimento.

Em relao a autonomia nas empresas, houve mudanas relativas a posio dos


quadros dirigentes (diretor) e o direito obtido pelos coletivos de trabalho para regular de
forma autnoma os problemas da organizao e da gesto e da direo das empresas.
Assim, a lei (1964) sobre as eleies dos rgos de autogesto na organizao do
trabalho introduziu a reeleio obrigatria do diretor a cada 4 ou 5 anos.

Em 1968, ocorreram emendas a Constituio que introduziram mudanas


radicais na autogesto. Os coletivos de trabalho passaram a estabelecer autonomamente
a estrutura,a modalidade de eleio, a durao do mandato,as funes e as competncias
dos rgos de autogesto.Toda organizao do trabalho associado era obrigada a eleger
seu conselho operrio. Nesse contexto, a partir de 1965, surgiram a partir das
experincias dos operrios, novas formas de associaes autogestionrias entre as
diversas esferas do trabalho social: a Comunidade de Interesse
Autogerido,substituindo os rgos estatais.

Vrios aspectos da reforma econmica no favoreceram os trabalhadores. Por


exemplo, a empresa autogerida, obriggada a crditos bancrios para os investimentos,se
encontrou dependente dos bancos. Os bancos, formalmente autogeridos, na prtica
estavam submetidos aos fatores polticos (funcionrios estatais e diretores de grandes
empresas). Formou-se centros independentes e com grande poder econmico,um tipo de
capital financeiro, sem controle social e autogerido. Assim, o poder arbitrrio dos
grandes bancos,junto com outros fatores, minavam as relaes de autogesto. O
desequilbrio no grau de sub-desenvolvimento econmico de algumas regies do pas ,a
posio do banco central, propiciavam o surgimento de descontentamento e conflitos de
interesses regionais e nacionais.

No prprio campo do trabalho, reforou-se a posio e influencia da


tecnoestrutura , dos grupos empresariais profissionais,usurpando os direitos
autogestionrios.

Nos primeiros anos da reforma econmica (1965-1971), a usurpao


tecnocrtica dos direitos de autogesto encontrou expresso na organizao social e no
plano social. Estes problemas levaram a um processo que terminou com uma nova
Constituio em 1974.

Neste sentido, no 2 Congresso dos Autogestores do pas (maio 1971) ,, a classe


operaria organizada na autogesto ,demonstrou o apego a linha do desenvolvimento
social fundado na ideia da autogesto, como sistema global de organizao da sociedade
socialista.

11.1.4. Quarta Etapa ( 1974 -1978)

Esta etapa tem por caractersticas principais os esforos para viabilizar


estrategicamente o sistema de autogesto, expressos na nova Constituio (1974) e na
Lei do Trabalho associado (1976). Na fase anterior, estes esforos esbarraram e foram
quase anulados pelo poder reforado da tecnocracia nas empresas e em outros nveis da
sociedade.

A luta de classes pressionava no sentido de uma resoluo deste dualismo .


Desta disputa,surge o conceito de Organizao de Base do Trabalho
Associado(OBTA), que suprimia algumas ambigidades no campo juridico do
conceito de fabrica ( que subentendia uma estrutura hierrquica,separao da funo
de gesto da funo de produo,etc).

Os organismos dirigentes das OBTA eram constitudos com base no principio


de delegao. Dados do Anurio estatistico da Yugoslavia de 1978 , indicam que ,
em 1977, existiam no pas, 16.402 organizaes de base do trabalho associado que
faziam parte de mais de 2 .000 organizaes de trabalho com duas ou mais organizaes
de base; existiam outras 14.785 organizaes de trabalho, que por seu tamanho ou por
circunstancias, no eram compostas de OBTA.

O elemento fundamental de todo o sistema poltico-social que este novo


sistema no se funda mais no cidado, entendido como individuo isolado ou como
eleitor que transfere a outros o direito de deciso, mas se funda sobre o trabalhador-
autogestor. Este trabalhador-autogestor pode exercitar seu poder diretamente no mbito
do seu mais prximo ambiente de vida e de trabalho associado.em qualidade de
habitante de bairro, na comunidade de habitao autogerida,e,na qualidade de individuo
com uma base social organizada, satisfaz sua prpria necessidade e tambm dos
familiares nos setores da cultura,da educao,da sade,etc e,na comunidade de interesse
autogerido.

A introduo do sistema de delegao criou uma vasta rede de delegados eleitos,


em diversos nveis e organizaes.O monoplio detido pelo Partido e pelo estado cede
cada vez mais espao ao pluralismo dos interesses autogestionrios organizados,os
quais se incluem diretamente no processo decisrio em todos os nveis sociais.

Este sistema de delegao abre a perspectiva de uma completa socializao do


sistema poltico, de uma substituio sempre maior da estrutura estatal. O esqueleto
institucional do sistema delegao o seguinte:

a) as delegaes so constitudas por trabalhadores eleitos com o objetivo de realizao


de forma direta dos prprios direitos,deveres e responsabilidades , na esfera da
assemblia da comunidade scio-politica,formada por:

- organizao de base do trabalho asscoiado e na coletividade de trabalho;

- cooperativas camponesas e arteses;

- coletividade de trabalho dos rgos estatais;

- na comunidade de moradia;

- na organizao scio-politica.

b) Os delegados so eleitos por suas organizaes e comunidades;

c) A assemblia da comunidade scio-politica composta por rgos do auto-


gioverno e constituem o maximo rgo do poder no mbito dos direitos e dos deveres
da correspondente comunidade scio-politica

Conforme os aspectos principais (produtivo-trabalho, territorial, poltico) da


organizao autogestionria dos trabalhadores, cada assemblia das comunas,da
republica e das regies autnomas , composta por:

- do conselho de trabalho associado, que o conselho dos trabalhadores da organizao


de base do trabalho associado e de outras organizaes ou comunidades autogeridas;

- do conselho scio-politico, que o conselho dos trabalhadores e dos cidados reunidos


na organizao scio-politica;

- o conselho da comunidade de moradia (na assemblia das comunas), que o conselho


dos delegados dos trabalhadores da comunidade de moradia.

Enfim, desta mesma base delegatoria , nascem a assemblia das comunas, a


assembleia das regies autonomas, a assembleia da republica e, a Assembleia da
Republica Socialista da Federao Yugoslava. Todas so constitudas com base no
mesmo principio e formadas por 3 conselhos. S a Assemblia da RSFY , formada por
dois conselhos: o conselho federal e o conselho das repblicas e regies autnomas.

Este sistema de delegao deveria representar uma forma de constituio e de


ao dos rgos de deciso poltica , diferentemente do sistema da democracia
parlamentar poltico-representativa, e mais prximos da expresso direta e autentica dos
interesses histricos da classe operaria e do trabalho associado.

11.1.5. Autogesto nas empresas

Em todas as empresas h 2 estruturas fundamentais: os rgos de autogesto e os


rgos de execuo. Os de autogesto,representam a estrutura de deciso e poder;seu
rgo principal o Conselho Operrio,eleito pelo conjunto de trabalhadores. o
Conselho Operrio que elege o Comit de gesto;tambm,elege o Diretor entre os
candidatos que se apresentam , aps um concurso publico.Este Diretor submetido
reeleio a cada 4 anos.

Nas pequenas empresas, o coletivo dos trabalhadores que assume o papel do


Conselho Operrio.

11.1.6. Autogesto social

A Constituio yugoslava garante desde 1953, o direito autogesto fora das


empresas: o o que se chama autogestao social;nas empresas chamada de
autogesto operaria. No plano social , a autogesto compreende:

-as instituies de gesto social (ensino, sade,cultura,etc);


-os servios sociais (segurana) e os servios de Estado (bancos,seguros,administrao).

A autogesto operariaevidentemente, diferente da autogesto social.Nas


empresas, so os operrios que criam renda pelo seu trabalho,enquanto que,nas
instituies sociais,os trabalhadores no criam renda. S podem gerir o oramento que
lhes atribudo. H outra diferena: os poderes pblicos (municpio,republica e
federao) guardam um controle sobre as instituies sociais.

Buscou-se a independncia das instituies sociais em relao aos poderes


pblicos: em 1966, foram criadas as Co-unidades de Ensino,para tirar o ensino da
burocracia do Estado. Estas comunidades eram financiadas de dois modos: por um
imposto de renda,cuja importncia era fixada pelo Estado e, pelas
Empresas,organizaes sociais,etc;utilizavam os servios de educao ou de formao
permanente.

Neste sentido, foi proposto um projeto em 1971,de Comunidades de


Interesse.Essas comunidades reuniam os trabalhadores de uma instituio social e os
que se serviam dos servios. Nos Bancos, nos seguros sociais e na administrao, a
autogesto menos desenvolvida que no ensino e na sade. Os conselhos e os comits
limitavam-se, de fato, aos problemas de gesto dos empregados e organizao do
trabalho.

11.1.7. Autogesto e vida poltica

A autogesto no campo do poder poltico traduzia-se de duas maneiras: numa


ampla descentralizao da vida poltica e numa tentativa de redefinio das relaes
entre eleitos e eleitores,representados e representantes.

A yugoslavia era um Estado federativo,composto por 6 Repblicas e 2


provincias autnomas,todas usufruindo de uma grande autonomia.As Repblicas e as
provncias,representadas igualmente na Federaoi, tinham o direito de veto sobre as
decises importantes da Federao. O papel desta limitava-se a poltica estrangeira e
defesa nacional.

A comuna representava o elemento de base da autogesto no campo poltico.


o lugar de coordenao da atividade dos rgos de autogesto.Para facilitar uma
coerncia econmica e reduzir a administrao abusiva, o numero de comunas foi
bastante reduzido: 500 comunas.

Em um pas descentralizado e atomizado, a LC, garantia ,pela centralizao e por sua


ideologia, significa um elemento de manuteno da segurana social: estava presente
em toda parte,atravs de seus membros nas fbricas, nas comunas,nas instituies
sociais,etc. Desta forma, o papel dirigente da LC foi impulsionado junto com o
desenvolvimento da autogesto.

A nova Constituio previa um sistema de delegao,para abolir o sistema


clssico de representao: os deputados eleitos mantinham seus postos de trabalho e
eram controlados pelos prprios eleitores.

Para KOLM , a nova Constituio Yugoslava se expressar em sua realizao


no campo da economia com carter revolucionrio.A empresa desaparece.A entidade
fundamental se transforma em Unidade de Trabalho Associado de Base (UTAB).Seus
trabalhadores devem encontrar-se fisicamente prximos, e serem puco numerosos,para
que as decises possam ser tomadas por democracia direta...Vrias UTABs se associam
em uma Unidade de Trabalho Associado (UTA),que pode ser,porexemplo, uma antiga
empresa.Porm,uma UTAB pode pertencer a varias UTA cujas unidades de base
utilizem seus produtos ou servios,ou lhes forneam os seus.Da, surge o modelo de
Plano.As UTAB estabelecem entre elas,livremente,contratos a mdio prazo de
subministrar seus produtos,indicando tambm os preos.O conjunto destes contratos
constitui o Plano.

No conjunto, a autogesto Yugoslava era uma pirmide de elos e relaes desde


as unidades de base at o Parlamento.O sistema autogestionrio buscava assegurar a
influencia mais forte dos trabalhadores em relao aos rgos representativos. A
Assemblia federal compreendia 5 camaras ou Conselhos;trs dos quais eram
formados de representantes das organizaes autogeridas dos trabalhadores dos
principais setores da atividade social (economia,educao e cultura); o quarto
Conselho,eleito diretamente pelos cidados, era o das comunidades locais.Enfim, o
Conselho das Nacionalidades, composto por deputados eleitos e delegados, pela
Assemblia das Repblicas e das Provncias socialistas.

Uma politica de desestatizao estava em processo no pas.As decises eram


muito descentralizadas em nvel de Republica e comunas. Assim, o Estado em nvel
federal no controlava as instituies como ensino e sade.As empresas eram totalmente
autnomas;as comunas eram pequenos estados.Todavia, as instituies socio-politicas
(a Liga dos Comunistas ,os Sindicatos e a Aliana Socialista) eram fortemente
centralizadas.

A estrutura e a concepo de partido ( a LC) eram prximas do modelo


leninista clssico. Esta situao,de um partido centralizado e nico,numa sociedade
descentralizada, reforava seu papel de centralizador poltico. De qualquer forma,
diferentemente dos outros pases do leste da Europa,onde os PCs se apoiavam numa
ampla burocracia,na Yugoslavia , a LC era mais um centro de ortodoxia ideolgica do
que um aparato burocrtico.

Alguns dados oficias indicam que, no inicio dos anos 70, havia 11.000 conselhos
operrios,com um total de mais de 220.000 membros ( 170.000 operarios e 50.000
funcionarios). Cerca de 50% eram mulheres e jovens.Contava-se mais de 1 milho de
pessoas que tinham passado pelos rgos de autogesto operaria.

Para 1964, no setor socializado havia 3.668.000 empregos, em que 1.362.000 na


industria de manufatura, 376.000 na construo e 346.000 na agricultura. Em 1961, no
setor privado, a agricultura tinha 4.551.000,cifra que diminua progressivamente. O
ganho mensal dos operrios na industria em 1963 era de 28.000 dinares*,as calorias por
habitante eram de 3.116. De 1953 1963, 1.600.000 trabalhadores foram integrados na
produo.

Pierre Naville realizou trabalhos importantes sobre a autogesto na Yugoslavia.


Sobretudo, no que diz respeito ao poder dos trabalhadores, suas greves e a questo
salarial. Partindo do estudo do yugoslavo N. Popov As greves na sociedade yugoslava
contempornea (Belgrado, 1969), apresentado nos debates na Conferencia
Internacional sobre Autogesto e Participao ( Dubrovnik, 1972), Naville nos
fornece um quadro das greves no pas.

A primeira greve reconhecida e admitida ocorreu de 13 a 15 janeiro


1958,quando cerca de 4.000 mineiros de Trborlje e de Hrastovik, na
Slovenia,operrios,tcnicos ,engenheiros e empregados,entraram em greve para
protestar contra o baixo nvel das rendas; nas minas de Pagorje de carvo de Savi,1.200
operario fizeram greve de uma dia em solidariedade. Eis os dados:

Ano N de greves % n de grevistas

1958 28 1,6 -

1959 35 2 -

1960 61 3,5 -

1961 130 7,4 -

1962 225 12,8 -

1963 213 12,2 -

1964 271 15,5 11.000

1965 231 13,2 9.000

1966 152 8,7 -

1967 118 6,7 16.762

1968 148 8,5 19.206

1969 (8 meses) 138 7,9 21.629

Total 1.750 100 77.597

70% dos conflitos surgiram na Servia, na Crocia e na Slovenia, as repblicas


mais industrializadas da Federao Yugoslava. E, entre 27 ramos de produo , a
metalurgia, o txtil e florestal , agrupam mais da metade das greves (240 sobre 512),so
os ramos em que os salrios ficam abaixo da escala de rendas.

Dados de greves por ramo na Federao Yugoslava

Ramo de Produo N de Greves % N de Grevistas


Metalurgia 123 24,50% 14.623

Txtil 55 10,8% 13.823

Florestal 62 12,2% 6.781

80% das greves ocorrem com a participao de membros dos conselhos


operrios, dos comites de gesto e de outros rgos da autogesto. A principal causa
imediata das greves relativa renda.

Dados sobre causas das greves

Causas N de greves % N de grevistas

Renda baixa 134 26,6 19.049

Organizao do trabalho 67 14,9 10.423


- Sub-desenvolvimento
da autogesto

Diferenas abusivas de 164 36,4 20.472


renda

Ms condies da 202 90,6 32.120


atividade e posio ruim
no mercado

Naville estuda as relaes de trabalho no sistema de autogesto da


Yugoslavia,para chegar a algumas concluses sobre a questo fundamental: a fora de
trabalho deixa de ser um valor de troca ? .Esta questo subjacente ao grande debate
iniciado em 1943,na URSS,pelo economista Leontiev,sobre o Mercado Socialista. O
autor elogia a coragem dos yugoslavos relativos aos dados sobre conflitos de
classes,fornecidos pelos sindicatos:pela primeira vez h dados sobre greves no leste
europeu. Geralmente, estes movimentos so camuflados sob nomes como interrupes
de trabalho, conflitos, sabotagens.

Partindo de um estudo de Neca Jovanov sobre a relao entre a greve como


conflito social e a autogesto como sistema social, apresentado na Conferencia
Internacional sobre Autogesto e Participao, 1972), Naville tira algumas concluses.
Os motivos que produziram as exploses de Gdansk e Szezcin na Polnia (em 1970),
so tambm os motivos que levaram a onda de greves yugoslavas.

As greves surgiram e se desenvolveram com o aumento numrico relativo e


absoluto da classe operaria,com sua concentrao crsecente, e com o
desenvolvimento das relaes de autogesto.Em 1972,os operrios (setor
econmico) eram 4 milhes de pessoas, crescendo cerca de 200% em relao
a 1950.O setor na-economico aumentou ainda mais, de 22% , mesmo que
sua grandeza absoluta seja inferior.A parte da populao agrcola na
populao total recuou de 60,7% para 36% de 1953 1971,com fortes
diferenas segundo as regies: de 18% na Slovenia 50,1% na provncia de
Kosovo.Devemos ajuntar um forte contingente de desempregados (320.000
em 1970),e de trabalhadores que saram do pas (mais de 800.000 em 1970).

As greves no so contra a autogesto, mas devido as suas condies sociais e


materiais.O sistema de autogesto e de gesto social-estatal comporta uma dupla
oposio: entre categorias de operrios (e assalariados em geral), e entre o conjunto dos
operrarios e o aparelho burocrtico do Estado. O que se revela abertamente na
yugoslavia justamente o que se oculta na URSS,conclue Naville.

Naville analisa a estrutura de poder:

A autogesto constituda por coletivos de trabalho na base,atravs de


mecanismos de representao e rgos de deciso autnomos.Entretanto,
estes centros de deciso primrios (base) se superpoem outros, de natureza
regional (Republica) ou federal,que tm o controle do pdoer do Estado sob a
forma de mecanismos econmicos centrais,sobretudo,bancarios e de
planificao; instituies polticas (assemblias parlamentares) e os rgos de
segurana,sem contar o poder do partido (liga dos comunistas).

Assim, Longe de trabalhar indistintamente para sociedade, o assalariado


continua a trabalhar,ao mesmo tempo, para ele mesmo, para outros, mesmo que sejam
outros assalariados. A explorao subsiste,mas sob uma nova forma que chamamos de
Explorao Mtua. Esta a tese de Pierre Naville sobre a questo do valor de troca nos
socialismos de Estado.
Enfim: Um modo particular de explorao, a explorao mtua,existe ainda
nos regimes de socialismo de Estado,mesmo que,como o caso da Yugoslavia,haja sido
iniciado um corajoso processo de autogesto. Analisando o quadro de greves:

Quem so principalmente os grevistas? Os operrios da produo. Quem so


seus adversrios? Segundo os casos, diretamente ou no, os quadros
dirigentes ou outras categorias de trabalhadorres. Porque fazem greve? Antes
de tudo, para defender e melhorar seus salrios, que na Yugoslavia se chama
de renda pessoal.

O filosofo do grupo Prxis , Mihailo Markovic assinalou as trs contradies


que atravessavam as experincias da maioria dos pases do Leste europeu:

1) subsiste um conflito permanente,frequentemente latente, entre a burocracia reinante


e o povo dos trabalhadores sem poder;

2) h uma guerra constante entre as diferentes camadas e fraes da burocracia;

3) enfim, manifestam-se sempre,apesar dos esforos do poder central para exercer seu
controle absoluto sobre os grupos de direo nas repblicas nacionais no plano local e
regional, as tentativas destas repblicas para ampliar a autonomia e o poder em seu
porprio solo, o que desenvolve de uma parte, as tendncias secessionistas,de orientao
particularista, e de outra parte, contra-medidas centralizadoras: campanhas contra as
minorias nacionais, depuraes,intervenes militares,que assumem no cenrio
internacional um carter claramente imperialista.

Na mesma perspectiva, MARKOVIC ,analisando as contradies internas dos Estados


de constituio socialista , em 1975, j assinalava os perigos destes conflitos
nacionais:

Uma outra evoluo desfavorvel porque retrograda, seria a modificao do


carter da oposio: se ela substitui o conflito social no resolvido por seu
sucedneo o conflito nacional(...). Faamos um breve parentesis: em agosto
de 1989, Jacek Kuron ,militante da oposio polonesa, em sua residncia na
rua Comuna de Paris,em varsvia,nos falava sobre o que ocorria naquele
momento no Leste e na prpria Rssia . Exatamente, nos dizia que as
contradies nacionais j tinham superado as contradies sociais,e que a
situao era incontrolvel.Com estilo irreverente ,conclua: vai ser uma
merda! Infelizmente,e mais uma vez em sua vida,Kuron acertou!

Continua MARKOVIC:
As razes destes conflitos so mltiplas: tradies histricas,injustias
cometidas,disparidade hereditria em nvel do desenvolvimento ,
desempenham um certo papel.Mas, o fator predominante para ns, o papel
da burocracia no surgimento das tendncias nacionais dentro das federaes
multinacionas.

As burocracias da federao, assim como a das unidades nacionais, so


responsveis do crescimento das foras nacionalistas: a burocracia
central,baseada no centralismo nico, do tratamento uniforme e no
diferenciado de todas as unidades nacionais e no direito do poder central de
interveno (...) A burocracia nacional condena o nacionalismo mas tende ao
mesmo tempo a favorece-lo.

Em sua analise dos cinco comunismos,G. MARTINET assinala as


contradies existentes dentro do PC e do sistema politico: Tudo provem da crescente
autonomia de que dispe cada partido nacional
(srvio,croata,esloveno,montenegrino,bosniano e macednio ),sendo esta autonomia a
conseqncia da poltica de descentralizao econmica.No existem no seio do
Governo e do Parlamento iugoslavos tendncias de direita e tendncias de esquerda,mas
sim uma frao croata,uma frao servia,uma frao macednia,etc que defendem
posies diferentes,segundo os interesses das repblicas que representam...o pluralismo
intriduziu-se no partido, mas pela via tnica.

Aps a morte do marechal Tito (1980), todos os problemas se agravariam de


forma incontrolvel. Yvon Bourdet e J. Pluet , em artigo na revista Autogestions ( n.4
1980), traaram os cenarios possiveis:

Reconhecimento de que a estruturao atual dos poderes em todos os niveis


tornar impossvel o retorno um poder fortemente autoritrio e a
Yugoslavia se engajar no caminho de uma profunda liberalizao utilisando
todo o potencial do sistema autogestionrio,com todos os riscos que este
caminho provocara em foras que resistiro por se sentirem ameaados.

Ou, apoio das em eventuais ameaas entre algumas repblicas os


partidrios do modo autoritrio, com apoio das foras armadas e de uma
policia ainda indecisas, decidiro virar a roda da histria em sentido contrario
e defendero a volta aos mtodos que tornaro a autogesto um triste esplio
e liquidaro 25 anos de histria.

Infelizmente, entre diversos problemas, o tradicional antagonismo entre Servia e


Crocia, levou ao prevalecimento do segundo destes cenrios: a barbrie se instalou
com uma guerra fraticida, marcada pelo fundamentalismo e a xenofobia ,com elementos
de genocdio.

Bourdet e Pluet atestam a importncia da experincia ocorrida na yugoslavia:

A Yugoslavia submeteu em suas condies especificas- autogestoaprova


da experincia dos fatos.E, desta forma, podemos falar de um verdadeiro
laboratrio com dimenses de um pas inteiro.Se h apenas um merito a
conceder a esta experincia o de existir;e ,por este fato, de estimular a
reflexo sobre a autogesto, a analise de suas contradies , o exame de suas
virtualidades.

Vamos dar destaque a leitura que TONI ANDREONI fez da experincia


yugoslava,,pelo fato de ser do inicio dos anos 2000, aps uma prpria avalaiao feita
pela prpria histria, e mis de 10 anos aps a derroca geral do socialismo real com a
queda do Muro de Berlim e a crise na URSS em 1992.

T.Andreoni em sua obra Le Socialisme Est (A)venir.L Inventaire ,Tomo 1


(2001), na parte em que analisa o Legado Historico das experincias socialistas,
destaca a importncia da experincia Yugoslava:

Vou me dedicar mais longamente a experincia yugoslava, porque ela foi o


nico exemplo histrico de longa durao de socialismo autogestionario,
porque ela interpelou os socialistas do mundo inteiro ms que fossem hstia a
ela (lembremos da excomunho do titismo) e porque ela inspirou muitas
pesquisas tericas atuais.

T.Andreoni extrai Algumas Lies da experincia yugoslava. Para Andreoni,


A Yugoslavia foi antes da Hungria e durante mais de 30 anos, um verdadeiro
laboratrio do socialismo de mercado. Mas,

Essa experimentao histrica infelizmente s suscitou hostilidade na URSS


e nos outros pases que se reclamavam do socialismo real ( fora de alguns
crculos restritor de partidrios de uma reformadefundo ) e apenas
interessou esquerda revolucionria no Ocidente que por suas inovaes
autogestionrias. Mas,ela inspirou obras interessantes, que deveramos reler
hoje, ao invs de esquecer uma histria apaixonante,sob o pretexto de que
acabou no caos.

E,T.Andreoni explica a razo dessa atrao:

Se a Yugoslavia foi um terreno de experimentao, dos mais apaixonantes,


porque ela tentou, em uma longa durao e atravs de varias mudanas de
eixo, de conciliar os aspectos mais positivos do sistema cooperativo (
autogesto, insero no mercado ) com os da propriedade publica, mais social
que estatal.Podemos tirar desse fato ensinos particularmente esclarecedores.

Em primeiro lugar, Andreoni conclui que

A economia yugoslava sofria tanto de uma ausncia de mercado quanto


de uma falha de Plano. A fraqueza do Plano est na origem das desigualdades
regionais (a separao entre regies ricas e pobres duplicou). A concorrencia
entre as empresas levou-as a procurar no estrangeiro os melhores meios de
produo , o que aumentou o deficit externo (multiplicou por 4 ).

(...). Na ausncia de um mercado os direitos de propriedade e de controle


exercido pelos a acionarios, como no sistema capitalista, as empresas
sociais, que no so submetidas as presses oramentrias das cooperativas,
tomaram riscos excessivos em materiade investimentos, de efetivos e de
remunerao.A autogesto socialista se ope ao rigor das leis do
mercado.Mas,ao mesmo tempo ela sofre as conseqncias,pois, quando o
enquadramentoe o palno tornam-se pesados, ela no sipoe de outro regulador
suficientemente eficaz.Os empresarioss e apoderam do poder,porque tm a
missade serem competitivos e de obterem lucro e jogam todo o peso no
sistema de credito.

Qual sada nessa situao, pergunta Andreoni?

Faltou, para o sistema ser eficaz, de uma parte que o mercado de emprego
fosse fortemente regulado, demodo a assegurar a mobilidade da mo de obra
sem a penalisar e a conter a hierarquia das remuneraes e,de outra parte, que
o sistema bancrio jogasse plenamente seu papel,ou seja, distribuir os
crditos segundo os critrios puramente de mercado,mas oao mesmo
tempo,segundo as orientaes do plano as empresas.

Todavia, diz Andreoni,a via escolhida aps 1971 no foi esta:

tentou-se impulsionar os fogos da autogesto sem para tal restaurar o poder


do Plano, sem juntar os dois eixos da cadeia.Esse foi um perodo de criao
institucional fascinante,em que o laboratrio yugoslavo pariu o maior numero
de inovaes, mas em que os resultados foram to decepcionantes ou ruins
que contriburam a desacreditar o sistema autogestionario.

Quais resultados?

As empresas foram desmanteladas em organizaes de base do trabalho


associado para quebrar o pdoer dos tecnocratas.Estes rgos eram como
mini-empresas, dispondo cada umde seu conselho operrio,livres de decidir
sobre a produo, a renda e mesmo o emprego. Para lutar contra a
profissionalizao dos delegados ao conselho operrio deveriam manter seu
trabalho, sendo revogveis, e seus mandatos limitados a 2 anos ( o que
lembra certas medidas da Comuna de Paris ).

Estas organizaes de base faziamcontratos entre elas para formar as


organizaes do trabalho associado (as empresas) para onde enviavam os
delegados. Durante o mesmo tempo foi adotada a Constituio
maisdemocratica do mundo,euma grande campanha foi conduzida contra a
burocracia em nvel central.A luta contra o carreirismo, o enriquecimento
ilcito,acorrupo,foi tal que milhares de empresas se encontraram sem
diretores e que se tornou difcil recrut-los tal o emprego se tornou precrio.

Porque este processo fracasssou?

Se essa verdadeira revoluo s deu fracos resultados,foi de inicio,penso,


porque no se teve conscincia dos vicios do sistema de delegao
piramidial, isto , as eleies a vrios nveis e os limites da democracia
direta, defeitos que levaram uma perda de eficcia na gesto,e sem
eguida,essa autogesto radical, ao intoruzir os mecnismos de tipo mercantil
no interior das empresas ,multiplicou problemas do sistema precedente:
anemia de investimentos, sobre-emprego, disparidades e deriva das
remuneraes.

No que diz respeito ao financiamento ,a orientao foi cada vez mais para
um sitema de credito cooperativo.Os recursos foram sempre alocados pelos
bancos no quadro de um plano adotado por assemblia geral das empresas
membros,mas,desta vez, todas as empresas tinham direito de voto igual (cada
cabea um voto), fossem grandes ou pequenas.

Elas distriburam,assim,generosamente as dividas , mesmo as mais


duvidosas,desde que elas no tinham obrigao de fazer benefcios.Vemos
portanto os inconvenientes de uma separao entre o organismo que aloca os
crditos e as empresas que demandam (ANDREONI).

Quanto a Planificao, ela se limitou aos setores prioritrios (onde era


imperativa). Para T.Andreoni, h outros elementos que explicam o fracasso do sistema
yugoslavo.Por exemplo, a confederalizao do Estado ,que reavivou os antagonismos e
irredentismos das Repblicas, originados na histria atormentada dos Balkans,as
dificuldades de insero no mercado mundial,o peso crescente da divida externa e as
presses impostas pelo FMI,uma poltica monetria muito frouxa, um aparelhamento
excessivo da Liga dos Comunistas sobre os cargos polticos e mesmo os postos
econmicos, que esvaziou de substancia toda a poltica de luta contra a burocracia e a
tecnocracia e a vontade de desengajamento do Estado.

Foi somente no fim dos anos 80 que a crise econmica, com o peso de todos esss
fatores, tornou-se severa (desemprego, dficit externo,inflao crsecente ,falncia de
regies inteiras). Enfim, para Andreoni,

Ao menos fica que o sistema yugoslavo ,durante perto de 40 anos, funcionou


bem melhor que o sistema sovitico e que o balano, o que concerne
autogesto em si est longe de ser negativo, contrariamente ao que afirmam
as teorias neo-institucionalistas e como reconhecem os especialistas mesmo
que sejam hostis ao sistema yugoslavo.

11.2. A REVOLUO NA HUNGRIA, 1956

Os pases do Leste europeu que erigiram os regimes ditos "Democracias


Populares"no ps-Guerra,atravessavam condies originais:

Transformaes economico-sociais que,no contexto politico de "revolues


passivas",marcaram profundamente a consciencia de milhes de
pessoas.Podemos,portanto,falar de grandes transformaes em 1945-48,tais como:
reforma agraria,expropriaes da burguesia,escolarizao ampla,difuso da instruo e
da cultura,mesmo no quadro de dominio da URSS,obtiveram um amplo consentimento
passivo das massas.Este elemento facilitou a liquidao politica dos conselhos de
fabrica,das milicias operarias,partidos operarios em gestao na clandestinidade
e,favoreceu a robustez do aparato partido-Estado.

O ano de 1956 representa um corte de varios setores sociais com o socialismo


estatal-burocratico; as ideias-fora do socialismo retornam,aps uma decada de
stalinismo,como se fosse uma "Vingana da Histria Violada", nas palavras de Pierre
Broe,empunhada pelos setores revolucionrios,sobretudo,os intelectuais ,os estudantes
e as massas operarias.
Sobre a revoluo hungara,houve uma "conspirao do silencio", tanto no Leste
quanto no Ocidente,a direita e a esquerda.A razo estava no conteudo do movimento
enquanto revoluo dos conselhos operarios,pregando a gesto coletiva da sociedade.
Nesse sentido,como bem o expressou Claude Lefort,foi a primeira revoluo anti-
capitalista e anti-burocratica; no exigia o retorno a propriedade privada,mas a gesto
coletiva das empresas pelos trabalhadores,o que inconcebivel no capitalismo
e,tambm,no socialismo estatal-burocratico.

Aps 10 anos de socialismo estatal,as massas rejeitaram na praxis concreta o


regime sob o qual tinham vivido e,que lhes era apresentado como o "socialismo": elas,
na verdade, aspiravam a um socialismo que chamavam de "democrtico".

Os trabalhadores hungaros e poloneses,em 1956,construiram junto com outros


setores,um programa revolucionrio,usando o instrumental que dispunham: as tradies
nacionais do movimento operario,a herana do movimento clandestino,das lutas
sindicais,exemplos de outros pases como a autogesto na Yugoslava.assim,os
conselhos foram a forma mais simples e pratica de tomarem em proprias mos seus
destinos.Talvez,fossem o resultado de uma meditao sobre a histria
revolucionria:dos conselhos operarios hungaros de 1919,dos poloneses de 1918,ou dos
soviets de 1917 na URSS.

Lefort destaca alguns elementos dessa revoluo ativa de massa:

1.seu carater de "revelador historico"da natureza dos regimes do socialismo estatal-


burocratico;

2.a prova de uma radicalidade inedita e,

3.sua inventividade

Neste sentido, militantes comunistas tomaram consciencia dos "vicios"do


regime;a formao dos conselhos operarios autonomos a nivel de produo e
territorio,provocou uma ciso entre o aparato estatal e a sociedade;a participao da
classe operaria trouxe os reformistas do PCH para o lado da revoluo;fundaram-se
associaes e comites em todos os setores da sociedade hungara.

11.2.1. O Contedo e a Lgica da Revoluo Ativa na Hungria

Castoriadis foi pioneiro, com o grupo "Socialismo e Barbarie", das anlises


sobre a revoluo ativa massa hungara. Seu texto, A fonte hungara", publicado na
revista "Telos", em 1976, explicita os elementos do que chamamos de revoluo ativa
de massa,no que chamou de "carater radical da revoluo: o contedo, o sentido e suas
implicaes".

Castoriadis diferencia 1956 na Polonia e na Hungria:em 1956,o povo polones


no pegou em armas.Apesar de seu devotamento e efervescncia ,os conselhos
operarios no questionaram de modo explicito a estrutura de poder existente.O PC foi
vitorioso... controlando nas mos a situao durante todo o periodo critico,e esmagou o
movimento de massa".

Sobre a Hungria nos diz:

o movimento de massas foi to potente e radical que em alguns dias


literalmente pulverizou o PC e o parelho estatal.Nem mesmo "dualidade de
poder",tudo o que subsistia como poder estava nas mos da juventude armada
e dos conselhos operarios.O "Programa"dos conselhos operarios era
absolutamente incompativel com a conservao da estrutura burocratica da
sociedade.Exigia a autogesto das empresas,a abolio das normas de
trabalho;a reduo drastica das desigualdades de rendas,o monopolio sobre os
aspectos gerais da planificao,o controle da composio do governo,e uma
nova orientao da politica externa.e tudo isso,claramente formulado no
espao de alguns dias.

Em relao a auto-organizao da sociedade civil , diz Castoriadis:"Qual o


significado historico e sociologico dessa extraordinaria proliferao de
partidos,organizaes,etc,no espao de alguns dias? Muito precisamente,este: uma
autentica revoluo ocorria.Tal proliferao,ao mesmo tempo que se experimenta em
toda sua variedade as ideias que lhe correspondem, na verdade,a marca distintiva da
revoluo".
Castoriadis distingue reforma de revolta: "As coisas so ainda mais claras
quando visamos, no a revolta, enquanto exploso e destruio da velha ordem, mas a
revoluo, enquanto atividade auto-organizada visando a instaurao de uma ordem
nova".

Em relao a dialetica "passividade x atividade": " um lugar comum dizer que


uma verdadeira revoluo sempre nacional:todos os setores, todas as camadas da
nao abandonam sua passividade e sua submisso conformista a ordem antiga;todos se
esforam por tomar parte ativa em sua destruio e na formulao de uma nova ordem".
Define, ento, a revoluo:

esse estado de fervilhar e de fuso da sociedade que acompanha a


mobilizao geral de todas as categorias e de todas as camadas e a demolio
de todas as barreiras. o trao que torna compreensivel a libertao e a
multiplicao extraordinarias do potencial criador da sociedade nos perodos
revolucionrios,a ruptura dos ciclos repetitivos da vida social - e a abertura
repentina da histria.

Para o filsofo grego, a fonte de criao scio-histrica a atividade do povo


hngaro. No curso de sua atividade autnoma, e a favor dessa, o povo cria novas
verdades positivas[...] pois encarnam novas formas de organizao da vida coletiva com
base em princpios novos. Estes princpios portam uma ruptura radical com as estruturas
sociais vigentes (a Leste como a Oeste)".

Na revoluo hngara,encontra-se uma nova fonte,um novo ponto de partida


para pensar a politica. Para Castoriadis o carater espontneo da revoluo
fundamental:

a auto-organizao , aqui, auto-organizar e, a conscincia, o devenir-


consciente; nos dois casos, temos um processo, no um estado[...] Nesse
sentido, a revoluo a auto-instituio em seu nascimento como no seu
desenvolvimento. Pois a revoluo auto-instituio explcita da sociedade; a
espontaneidade" apenas designa a atividade criadora social-histrica em sua
expresso mais elevada[...].

Qual, ento, o contedo desta revoluo ativa massa?

O contedo positivo foi a formao dos conselhos operrios, a reivindicao


da autogesto e da abolio das normas de trabalho[...] que tem suas razes
em uma relao profunda e orgnica com as criaes anteriores do
movimento operrio e com o contedo de outras fases da atividade
revolucionria[...]. Isto mostra o fato que a revoluo hungara se inscreve na
serie de lutas que visam,aps cerca de 200 anos,uma reconstruo radical da
sociedade".

Qual o papel destes conselhos operarios? Castoriadis avalia: "O que contm em
potencial os conselhos operarios hungaros,em sua formao e seus objetivos, a
destruio das significaes sociais tradicionais,herdadas e instituidas,do poder
politico,de uma parte,e de outra,da produo e do trabalho;dai,o germe de uma nova
instituio da sociedade".

Ou,"A importncia dos conselhos est em:

a) estabelecimento da democracia direta,isto ,da verdadeira igualdade politica (quanto


ao poder);

b) enraizamento nas coletividades concretas (no apenas nas fabricas);

c)reivindicaes relativas a autogesto e a abolio das normas de trabalho".

Como vimos, a definio por Castoriadis da revoluo hungara similar ao


que,por exemplo, Glucksmann chama de revoluo anti-passiva,a partir de
Gramsci.Vejamos,uma analise a partir de "dentro": de dois membros da chamada
Escola de Budapeste (discpulos de Lukacs), Agnes Heller e Ferenc Feher.

Para os dois pensadores hungaros,a revolucao dos conselhos na hungria foi um


exemplo classico de revolucao politica pura;contrariamente,as revolues de 1848,da
Comuna de Paris,da Sovietica,da Alemanha em 1919 e da propria Hungria em 1918,que
ocorreram concomitantemente com guerras.Seu eixo foi o questionamento radical da
estrutura social.

O Governo Rakosi, ento em vigencia, caracterizava o pas como de um povo


humilhado, esmagado e menos livre. A economia centrava-se em projetos faraonicos,
privilegiando a industria de bens de capital;como consequencia,o consumo de calorias,
em 1950, era o mesmo de 1940. No campo dos fatores historicos, ocorreu uma
sincronizao de elementos que favoreceu o desencadear da revoluo,a saber:

crise moral do grupo dirigente


uma figura do porte de Irmy Nagy
existencia de oposio
uma linguagem comum.

O contexto da "desestalinizao"propiciou as iniciativas de mudana na URSS e


na prpria Hungria, onde o governo Nagy propunha o fim da coletivizao no campo,
reduo da represso, condenou a politica economica, enfim, estabeleceu uma
"legalidade socialista". A disputa Nagy x Rakosi, foi o primeiro enfrentamento pblico
aps as lutas dos anos 1920 e da liquidao do trotskismo; trouxe os reformadores para
o cenario principal.

Houve um consenso entre as massas revolucionrias em torno de eleies


livres,pluralismo e independencia nacional.No processo revolucionrio,os trabalhadores
assumiram o controle dos centros de comunicao,das estaes de radio e
impressoras,destruiram os simbolos estalinistas,desorganizaram o aparato
repressor,distribuiram armas ao povo,criaram novos jornais e,sobretudo,fundaram novos
orgos de poder politico.

Neste sentido, houve um retorno as tradies democraticas do socialismo.a


fundao dos conselhos operarios foi criao espontanea da classe
operaria,democraticamente eleitos nas fabricas,escolas,institutos cientificos,servios,em
todos os locais de trabalho,materializando uma praxis socialista:defendiam a
propriedade social e a democracia direta.

Para Heller e Feher, poderia ter sido a primeira experiencia historica de


democracia mixta": democracia direta nas fabricas e cidades (frente operario-popular)
mais sistema de democracia representativa.

Neste aspecto, fundamental o testemunho e a analise de Edgar Morin.:


movimento espontaneo,o movimento natural da revoluo hungara duplo:

1.Ele tende a integrar em si as estruturas de garantia e controle que tomara emprestado a


democracia burguesa:a pluralidade de partidos,sufragio universal livre,vida parlamentar
efetiva,separao de poderes,liberdade de expresso,abolio da policia politica;

2.Mas,ao mesmo tempo,tende a criar um quadro realmente socialista sobre a base da


propriedade nacional: o sistema dos conseelhos.
Os conselhos de empresa tendem a se federar horizontalmente, e dessa federao
tende a se originar um segundo Parlamento,um Parlamento economico.Tendem a se
federar verticalmente segundo cada ramo industrial ou profissional de modo a
constituir,por delegao,os orgos de direo corporativos e planificadores"

Morin fala sobre o sentido da revoluo hungara: "gestao de estruturas sociais


para alm do capitalismo e do sistema de aparato,pela elaborao de um regime
pluralista".

Aps a invaso pela URSS,a principal forma de resistencia das massas foi a
greve geral politica. Essa greve de massa durou 7 semanas, exceto no setor publico.
Seus objetivos foram claramente politicos: retirada das tropas soviticas, retorno do
governo Nagy, libertao dos dirigentes operrios presos. O centro da resistncia
poltica foi o Conselho Operrio de Budapest, unificando as foras.

Como surgiram estes conselhos? Quais necessidades respondiam? Qual sua


dinmica e que propunham?

Vejamos, inicialmente, o que E.Morin chamou de "sociologia da grande empresa


nacionalizada", como a Zeran ou a W.F.M. em Varsovia, a Csepel em Budapeste. Pois,
a partir deste micro entenderemos melhor as condies de nascimento dos conselhos de
fbrica.

No interior da grande fbrica "socialista" reinava o trabalho semi-


concentracionrio ou disciplinar; as primeiras resistencias a esse trabalho
disciplinar podem encontrar eco e organizao imediata onde os
trabalhadores esto concentrados as centenas ou milhares;a organizao
revolucionria torna-se a tanto mais facilitada quanto menor o numero de
excrescencias burocraticas ou parasitarias dentro da empresa;os responsaveis
do partido,pouco numerosos,esto ligados a vida cotidiana e aos problemas
dos operarios;os que tinham um temperamento de aparatista j subiram na
hierarquia e deixaram a empresa. Os tecnicos so especialistas produtivos,e
mais contrarios ao parasitismo exterior do ministerio e a abstrao do plano
imposto,que aos operarios.A oposio comum a planificao abstrata do
Estado cria a possibilidade de uma unio sagrada "dentro da empresa.Disto
resultam o nascimento e o desenvolvimento da formula dos conselhos, que
consagram e exprimem a unio dos operarios em todos os niveis com os
tecnicos.Disso resulta o papel diretor e organizador das usinas avanadas,que
se tornam nucleos de aao politica e de resistencia armada.
Morin aborda,especificamente,a situao polonesa: os acontecimentos de
outubro so bem conhecidos. Menos conhecida e a revoluo operaria que rompe os
quadros semi-concentracionarios do trabalho industrial.A presso policial sobre a
fabrica j se tinha aliviado bastante depois da morte de Stalin e da liquidao de
Beria.J em fins de 1955 ou inicio de 1956,a demisso de operarios tinha deixado de ser
arbitraria e estava submetida a comisses de arbitragem mistas (sindicatos e direo).A
partir da primavera de 1956 a presso operaria se faz nos seguintes pontos:1.revogar as
condies disciplinares do trabalho;2.garantir o salario;3.participar da gesto e dos
lucros da empresa.

Na crista da onda de outubro que o leva ao poder,Gomulka reconhece


solenemente o direito de greve.Pouco depois, revogada a destestada lei sobre "a
disciplina socialista do trabalho",isto ,a lei semi-concentracionaria padro,que pune
com multas e cadeia toda infrao ao trabalho forado.

Ao mesmo tempo,a vanguarda operaria faz garantir,estabilizar e at mesmo


aumentar os salarios...Uma parte dos lucros(17%) ser destinada ao pessoal das
empresas".

Em relao a Hungria,Morin sintetiza o que seria o Programa Socialista,suas


palavras-de-ordem:

1.liberdade total de cultura;

2.liberdade para os partidos que aceitam as bases socialistas;

3.eleies livres;

4.vida e realidade parlamentar;

5.gesto e controle democratico das empresas;

6.federao nacional dos conselhos e constituio desta federao como orgo direto
de poder;

7.abolio da coletivizao forcada no campo;

8.em certos setores artesanais e comerciais, eventualmente NEP(nova poltica


econmica);
9. economia orientada para as necessidades de consumo;

10. transformao estrutural do Partido e dos partidos comunistas;

11. direito irrecusavel a independencia nacional.

Miklos Molnar, em seu livro-romance "Victoire d"une dfaite-Budapest 1956",


relata a experincia conselhista hngara:

A luta estava em pleno auge quando os primeiros conselhos, os novos orgos


revolucionrios, se formaram tanto em Budapeste quanto no interior. Na
capital, os operarios da grande fabrica de lampadas ,"Fbrica Conjuntas de
Lampadas", elegeram seu conselho operario desde o 24 de outubro. No dia
25, foi a vez dos grandes centros industriais do interior, Misolc e
Sztalinvaros, depois Debrecen,Gior. Por sua vez, o PC encorajava o
movimento espontneo. Desde o dia 26,o novo comite central do PC declara-
se a favor das "eleies dos conselhos operarios nas fabricas com a
assistencia dos orgos sindicais". O conselho Central dos sindicatos,tentando
recuperar o prestigio comprometido nos anos anteriores, organiza as eleies.
No espao de 48 horas, todas as grandes empresas no pas tinham seus
conselhos eleitos e, no momento de cessar-fogo, 29 e 30 outubro, vrios
conselhos centrais representam os operarios de toda uma cidade ou de uma
regio, sobretudo, formados em Miskolc, Gyor e Magyarovar, como tambem
em alguns bairros de Budapeste.

Os conselhos eram mais que orgos de consulta ou direo colegiada, eram


orgos politicos. "Breve,em lugar de imitar o modelo yugoslavo,pouco
conhecido,seguiam o exemplo dos soviets de 1905 e 1917". A primeira preocupao dos
conselhos no era apenas a produo, mas a greve, poltica e logo greve geral, para
apoiar a insurreio armada. As foras revolucionrias eram compostas de varios
conselhos: conselhos operrios, comits revolucionrios como os conselhos dos
intelectuais e dos estudantes, comits nacionais das grandes cidades e de provncias. At
29 e 30 de outubro, os conselhos operrios, como todos os outros conselhos e comits,
apresentavam uma grande reivindicao: independncia nacional.

"No interior, de fato, era a revoluo: uma revoluo dos conselhos, levando em todas
as cidades importantes do pas a tomada do poder efetivo por estas organizaes".
Tratava-se, sobretudo, dos centros industriais como Gyor no Noroeste, Sztalinvaros ao
Sul de Budapeste, Miskolc no Nordeste, verdadeiros ncleos revolucionrios
incorporando ao movimento suas respectivas regies. No interior, os conselhos se
impuseram desde o incio, ao passo que na capital, a revoluo dos conselhos s tomou
amplitude aps a vitria da insurreio armada.

Conselhos operarios, comites de bairro,conselhos revolucionrios dos


intelectuais e outros,realizaram sua primeira revoluo.Sua influencia foi
decisiva sobre o poder e sobre o proprio Nagy...entre 29 e 30 de outubro,o
movimento dos conselhos afirma-se como a principal suporte da democracia
operaria e socialista.

De fato, os programas dos conselhos at 4 de novembro era uma mistura de


reivindicaes democraticas e socialistas anti-burocraticas,sem que fosse adotada
unanimemente a palavra-de-ordem "todo o poder aos soviets",como em 1905 e 1917.

Para Molnar,"Os conselhos portavam uma tendencia proletaria.Em que consistia ?


Duas palavras: autonomia e socialismo".

Vejamos um testemunho operario sobre a experiencia destes conselhos operarios


hungaros.Trata-se do testemunho de FERENC TOKE,vice-presidente do Conselho
Central da Grande Budapeste,operario da fabrica TSF-ORION,de aparelhos eletronicos.

No clima existente nas fbricas, antes do 23.10.56, todo o mundo estava


politicamente ativo,pois os operrios tinham a esperana de achar uma sada
para a situao insustentvel em que se achava o pas, nos ltimos anos.Os
operrios reagiam a deciso do Conselho nacional dos Sindicatos,sobre os
conselhos operrios que queriam nomear seus candidatos.Os trabalhadores
elegeram seus candidatos , e declararam que os conselhos operrios foram
fundados por eles...O conselho operrio eleito compreendia 25
membros.Cada seo de fabrica elegeu 2 ou 3.No total, 19 membros do
conselho eram trabalhadores manuais.Ns o consideramos como conselho
provisrio,pois dos 3.000 trabalhadores s 800 estavam presentes.O
Conselho foi encarregado de estabelecer um caderno de reivindicaes que
deveria ser aprovado pelos trabalhadores, e depois levado ao Governo...Devo
precisar que 50% dos membros do conselho era de jovens, de 23 a 28 anos,
que tinham participado nas diversas aes revolucionrias,nas manifestaes,
na derrubada da estatua de Stalin,nos combates de rua,etc...

Ao mesmo tempo, em todas as fabricas de Budapeste,os conselhos foram


fundados.Os operrios da capital hngara sabiam que na Yugoslavia* os
conselhos operrios dirigiam as fabricas...E, a criao dos conselhos se
estendia progressivamente de Budapest todo o territrio do pas.No
primeiro de novembro, os conselhos estavam em todos os lugares e
comearam a funcionar.Demitiam os velhos dirigentes e os operrios
demandavam a descentralizao industrial, o que, no plano pratico,
significava que a fabrica deveria tornar-se propriedade efetiva dos que
trabalham,e que uma parte dos lucros iria para o Estado.

Na nossa empresa, comeamos este processo desde o 30 ou 31 de outubro,


numa tera.Com uma delegao, fui ao Parlamento para entrevista com
Zoltan Tildy, com o objetivo de submeter um memorando a
Nagy...Decidimos retornar fabrica e de pedir aos trabalhadores a retomada
do trabalho...No sbado, 3 de novembro, os trabalhadores da fabrica tomaram
a deciso de retomar o trabalho,na segunda seguinte...

O Conselho Operrio foi constitudo de tal forma que, exceto seu


presidente e o secretario, no havia nenhum membro permanente.Cada um de
seus membros devia participar da produo...Os membros do conselho
deviam prestar contas,todo dia,dosa contecimentos polticos, dos negcios da
fabrica e de seu proprio trabalho.No 4 de novembro,pela manha, nos fomos
despertados pelos canhes soviticos.A segunda interveno sovitica iria
subverter nossos planos .De imediato, os trabalhadores da fabrica entraram
em estado de greve...nem os trabalhadores,em particular,nem a populao em
geral, tinham resrevas suficientes para suportar uma greve que poderia durar
vrios meses.O dinheiro fazia uma falta cruel...nenhuma tendncia
reacionria se manifestou durante toda a durao da greve.

Uma reunio comeou.Os delegados, cerca de 40/50,foram agrupados numa


pequena sala ao lado...Em geral, o acordo foi bom entre as organizaes
revolucionrias...escolhemos os delegados para falar com este grande publico
operrio...todos queriam se expressar..uma comisso de 20 membros foi
criada para engociar e formular uma deciso comum para ser apresentada ao
publico...A resoluo final adotada retomava a proposta dos operrios da
metalrgica de BELOIANIS quanto a reintegrao de Yrme Nagy ao
Governo.Ela conclamava todas as fabricas da capital a se fazerem representar
no Conselho Central da Grande Budapeste,para se poder criar um Conselho
nacional...Foi dito que os operrios s retomariam o trabalho uma vez que as
reivindicaes polticas fossem satisfeitas...

Uma delegao de 6 membros foi designada para levar a resoluo a


Kadar...Os trabalhos do Conselho Operrio da Grande Budapeste comearam
na sede da Companhia dos Transportes da Municipalidade de Budapeste
(BESZKART), rua AKACFA. Os 22 bairros da capital enviaram cada um , 1
delegado.Elegeu-se 1 presidente e 1 secretario.Aps a entrevista com
Kadar,na tarde de 14 novembro, um dos membros do Conselho Central,
Arpd Balzs, creio,declarou pelo radio que um conselho central foi formado
e que deveria se retomar o trabalho,etc.Ocorreu uma grande
indignao,dando a impresso que o Conselho Central era cmplice de
Kadar...Para ns, a retomada do trabalho no implicava reconhecer o
Governo.Tomamos,imediatamente,a deciso de afastar Blazs que era
presidente,e de ligar toda declarao poltica uma deciso precedente e
enviar imediatamente os delegados s fabricas para levar adiante nossa
resoluo.Esta tinha sido lida diante dos conselhos operrios de cada fabrica
pelo presidente,que explicava a necessidade da retomada do trabalho.Os
operrios se renderam a estas razes...

A formao do Conselho Central Operrio da Grande Budapeste no nos


satisfazia completamente.Devia ser seguida da criao de um Conselho
Nacional...Foi numa segunda-feira que informaram Kadar da nossa deciso
de formar um Conselho nacional Operrio e,na tera,uma delegao foi
conversar com os soviticos. O general Grebennik,o comandante, recebeu em
pessoa a delegao que lhe informou da nossa inteno de organizar uma
reunio do Conselho nacional Operrio,no Palcio dos espportes,a qual
convidaramos um representante do comando sovitico...Eu fui responsvel
pelos ervio de ordem, que estava formado por operrios da fabrica
CSEPEL...A reunio foi fixada para o 21 de novembro.Desde s 6 da manh
os organizadores estavam no local...s 8 horas precisas,comeou um
formidvel desfile militar sovitico...o Palcio dos Esportes foi cercado em
um instante e todas as ruas adjacentes bloqueadas.os membros do Conselho
central Operrio da Grande Budapeste,nos dirigimos para a sede do Sindicato
dos Trabalhadores da Construo,que ficava perto.Um certo numero de
camaradas ficou perto do palcio dos esportes para esperar os delegados das
minas,fabricas siderrgicas e empresas do interior,vindos dos 4 cantos da
Hungria...Eleies democrticas tinham ocorrido em todos os lugares.Cada
delegado tinha uma credencial oficial...Eles vinham com a inteno de
impulsionar a greve,que ainda paralizava os grandes centros no
interior...Acertamos de no insistir na criao de um Conselho Nacional,para
no envenenar os acontecimentos...Contudo,o Conselho Central da Grande
Budapeste continuaria suas atividades...Embora, nossa organizao tivesse o
nome de Conselho Central Operrio da Grande-Budapeste, um Conselho
Nacional foi criado na pratica, e de forma ilegal...Quando os trabalhadores
viram os deslocamentos das tropas, pensaram que os membros do Conselho
Central tinham sido presos.De imediato, lanaram a ordem de greve de 24
horas...metade de Budapeste parou...

O trabalho do Conselho Central continuou.Criou comisses para diversas


questes...Kadar consentiu que houvesse negociao entre o Conselho central
e o Conselho Nacional dos Sindicatos,para elaborar uma legislao sobre a
atividade dos conselhos operrios.O projeto se inspirava na lei Yugoslava. 8
horas aps recebe-lo, o Governo publica um decreto.Todavia, o decreto
suprimia as disposies que asseguravam a independncia dos Conselhos
Operrios frente ao Partido oficial.O Partido Comunista se opinha criao
dos conselhos operrios na Administrao; correios, telefones, transportes,
ministrios, etc.

...Uma das reivindicaes do Conselho Central Operrio foi de dispor de um


jornal para informar os trabalhadores.O Governo recusoui
categoricamente...ns estvamos para publicar um jornal chamado
MUNKASUJSAG (Gazeta Operaria),que foi apreendido na grfica...nos
limitamos a publicar ( sem aprovao do Governo ) uma folha
mimeografada...cada bairro recebia um exemplar que multiplicava de acordo
com o numero de fabricas; cada fabrica multiplicava de acordo mcom o
numero de trabalhadores...o comando sovitico apreendeu todos os
mimegrafos...em 23 de novembro, um ms aps o inicio da revoluo,o
Conselho Central Operrio abre sua Assemblia.Estava presente um oficial
poltico sovitico de alta patente...

Antes de sairmos do prdio do Sindicato da Construo para o Ministrio


da Agricultura, decidimos organizar uma reunio secreta para discutir a
criao do Conselho Nacional Operrio.A situao estava cada vez mais
tensa, o interior pressionava,pois vrios membros dos conselhos operrios
desapareceram; era uma forma de chantagem do Governo.Em PECS,vrios
mineiros faziam greve de fome dentro das minas em protesto contra a priso
de seus camaradas.

...Eu fui o responsvel de organizar a reunio secreta...o delegado do 9


Bairro,que era da policia,informou seus superiores...varios delegados do
interior estavam presentes.Indignados com a ao terrorista do Governo para
intimidar os trabalhadores.Os mineiros da Salgo Targan eram os mais
decididos a recorrer greve geral...Todos esto de acordo e, a nica questo
que foi discutida, era em torno da durao da greve: 24 ou 48 horas?

Um telefonema da Salgo Targan informou que os soldados tinhama


tirado numa multido que exigia,no Conselho Operrio local, a libertao de
seus dirigentes.Cerca de 30 vitimas,feridos e mortos.Esta noticia foi como
gasolina no fogo. Uma tempestade de indignao tomou conta da sala e
decidiu-se que a nica resposta era a greve...

Decidimos lanar um apelo aos sindicatos livres do mundo inteiro para que
os trabalhadores do Ocidente organizassem manifestaes de
solidariedade...decidimos pela greve de 48 horas...

Em 8 de dezembro,Domingo, dia em que as reaes operarias so menores,o


Governo divulgou pela radio um comunicado sobre a dissoluo do Conselho
Central Operrio da Grande-Budapeste.Desde a madrugada deste dia,os
membros do Conselho estavam sendo caados pela policia..eu fui preso por
volta do meio-dia...os operrios da minha fabrica iniciaram uma greve. Um
comit se formou para obter minha liberao...apesar das prises e das
manobras do Governo, a greve de 48 horas foi um sucesso.

A partir dos elementos do depoimento do operrio F.Toke, podemos assinalar


que, por suas formas de luta e organizao ativas e coletivas, a importncia
internacional da revoluo hngara situa-se no plano da organizao autnoma, e do
poder dos trabalhadores na perspectiva da democracia operaria.A revoluo ativa de
massa,na Hungria,constitui o ponto mais avanado j atingido pela ao revolucionria
das massas aps 1917.

Desde os primeiros dias, a revoluo hngara se caracterizou pela fundao em todo o


pas dos Conselhos Operrios; estes se estruturaram enquanto rgos de poder poltico,
articulando-se verticalmente,do plano lcoal e regional ao nacional, se atribuindo funes
polticas e combinando o legislativo com o executivo.

Os conselhos locais,os conselhos regionais e o Conselho Central Operrio da Grande-


Budapeste (na verdade, um Conselho Nacional),constituam rgos de um novo poder
poltico,de novas relaes sociais e de produo.Neste sentido, declarava a Radio-
Budapeste, em 26 de Outubro de 1956: Os conselhos operrios tero por tarefa tomar
decises que dizem respeito a produo ,a administrao e a direo das fabricas.Os
conselhos operrios tero igualmente por misso, elaborar o plano de produo da
fabrica e de preparar a tabela do sistema de salrios.

Sob o pretexto da greve geral de 48 horas, ocorrida em todo o pas, por ordem do
Conselho Central, em 9 de Dezembro,o Governo Kadar aproveitou-se para se livrar de
vez dos conselhos operrios, enquanto rgos polticos.O argumento do decreto
governamental significativo; vejamos os termos do decreto, ordenando a dissoluo
do Conselho Central Operrio da Grande-Budapeste e dos Conselhos Operrios
regionais:

-DOCUMENTOS dos Conselhos Operrios;

I) Os princpios de base dos direitos e da ao dos Conselhos Operrios.

(Resoluo do Parlamento dos conselhos Operrios consagrados autonomia dos


conselhos de fabrica.Este Parlamento se rene no 31 Outubro 1956,em presena dos
delegados de 24 grandes fabricas,entre outras as seguintes: Fabrica de vages GANZ,
Canteiro Naval GANZ, Fabrica eltrica GANZ,Fabrica de maquinas LANG,Fabrica de
Maquinas e de Locomotivas MAVAG,as fabricas de Aparelhos Eltricos Beloiannis e
Egyesult Izzo,etc).

Os delegados das fabricas representadas na reunio,no interesse da realizao da


democracia socialista,decidem e reivindicam os seguintes pontos:

1- A fabrica pertence aos operrios.Estes pagam ao Estado o imposto calculado


sobre a base da produo e o dividendo fixado segundo os benefcios;
2- O rgo supremo dirigente da empresa e o Conselho Operrio
democraticamente eleito pelos trabalhadores;
3- O Conselho Operrio elege sem eu seio um comit de direo de trs a nove
membros que o rgo executivo do Conselho Operrio e que assumir
igualmente as tarefas fixar posteiormente;
4- O diretor empregado da fabrica. o Conselho Operrio que elege o diretor e os
empregados superiores.Esta eleio precedida de um concurso publico
anunciado pelo comit de direo;
5- O diretor,gerente dos negcios da empresa, responsvel diante o Conselho
Operrio;
6- O Conselho Operrio reserva para si os direitos seguintes:
a) Aprovao de todos os planos da empresa;
b) Deciso da fixao e do emprego de fundos de salarios;
c) Deciso de todo contrato com o estrangeiro;
d) Deciso da operao de todo negocio de credito.
7- Do mesmo, o conselho Operrio resolve,em caso de conflito,o emprego e a
demisso de trabalhadores;
8- Ele aprova os balanos financeiros e decide do uso dos benefcios;
9- O conselho Operrio toma em mos os negcios sociais da empresa.

Os conselhos Revolucionrios das fabricas,empresas,instituies e universidades


de Budapeste, 90% de seus Comits revolucionrios,assim como a Aliana Camponesa
em formao representando cinco regies,j aceitaram a proprosio acima e tomaram
as medidas necessrias sua realizao.

II) Resoluo dos delegados dos Conselhos Operrios do 11 bairro de


Budapeste:

Os operrios delegados dos trabalhadores das fabricas do 11 bairro tm


unanimamente decidido, no interesse da construo do socialismo na Hungria
e do futuro do povo, retomar o trabalho nas condies seguintes:

1) Queremos sublinhar que a classe operria revolucionria considera as


fabricas e a terra como propriedade do povo trabalhador.

2) O Oarlamento Operrio reconhece,como parceiro de negociao, a


competncia do governo Kdr condio todavia que, no interesse de
assegurar sua prpria legalidade, ele se transforme conforme vontade do
povo.

3) O povo, com confiana, criou os conselhos operrios para que sua vontade
prevalea. Por isto reivindicamos a ampliao total da esfera de atividades
dos conselhos operrios no domnio econmico, cultural e social, e o reforo
desta ampliao pelo governo.

4) No interesse da ordem interna e do restabelecimento da calma geral,


reivindicamos a fixao de eleies livres onde no possa participar que os
partidos que tm reconhecido nossas conquistas socialistas baseadas na
propriedade social dos meios de produo.

5) reiivndicamos a libertao imediata dos membros do governo Imre Nagy


eleitos pela revoluo,a libertao de seus colegas,assim como dos
combatentes da liberdade.

6) reivindicamos o cessar-fogo imediato e a retirada imediata das tropas


soviticas de Budapeste,-dado que, as foras operarias,as unidades hngaras
de manuteno da ordem podem assegurar a ordem interna. Reivinidcamos
tambm que o governo hngaro, aps a retomada do trabalho pelos operrios,
comece imediatamente as negociaes, informando regularmente a opinio
pblica,sobre a retirada progressiva e ordenada das tropas soviticas do
territrio do pas.

7) necessrio organizar as foras de manuteno da ordem interna do pas


dos trabalhadores das fabricas e das unidades da armada fiis ao povo.

8) Pedimos ao governo que faa conhecer pela radio e pela imprensa nossas
decises aqui enumeradas.

Nota= Retomamos imediatamente os trabalhos em relao com a reparao


das destruies,com o abastecimento e os transportes,mas nos no retomamos
outros trabalhos que a condio que nossas reivindicaes sejam
reconhecidas e que nos dem satisfaes.

Budapeste, 12 novembro 1956

Os Conselhos Operrios das fabricas do 11


bairro.

III) Resoluo sobre o Conselho Central Operrio:

Hoje, no 14 novembro 1956, os delegados dos conselhos operrios de bairro


formaram o Conselho Central Operrio da Grande Budapeste. O conselho central
operrio recebeu o poder de negociar em nome dos operrios de todas as empresas
situadas no territrio de Budapeste, e de decidir sobre a parada ou a retomada do
trabalho.Nos proclamamos nosso rigoroso respeito dos princpios do socialismo.Nos
consideramos os meios de produo como propriedade coletiva que nos estamos
empre dispostos a defender.

1) nos,os operrios,estimamos que o restabelecimento da calma e da ordem exige a


atribuio da direo uma personalidade gozando da confiana do povo.nos
propomos,assim,que o camarada Imre Nagy assuma a direo do governo.
2) Nos protestamos contra o fato que no interior dos novos rgos de segurana,
nomearam-se membros dos antigos servios de segurana do Estado
(A.V.H.).Nos queremos que os homens constituindo estes novos rgos de
segurana sejam recrutados entre os jovens revolucionrios,os membros da
policia e da armada fiis ao povo e os operrios de fabrica.O novo organismo de
segurana no pode em nenhum caso assegurar a defesa de interesses de partido
ou de particulares.
3) Egimos que uma liberdade absoluta seja garantida todos os que lutam pela
liberdade,entre outros Pal Malter e seus camaradas.Solicitamos a libertao
de todos os detidos atuais.
4) Pedimos a retirada rpida das tropas soviticas para que a amizade entre nosso
pas e a URSS seja reforada.A possibilidade de uma reconstruo de nosso pas
deve nos ser garantida.
5) Reivindicamos que a radio e a imprensa no divulgem mais noticias que no
correspondem aos fatos.
6) Enquanto nossas exigncias no forem satisfeitas, s permitiremos o
funcionamento das empresas indispensveis para assegurar a vida cotidiana da
populao. Os trabalhos de manuteno e de reconstruo s sero retomados na
medida em que respondam as necessidades imediatas da economia nacional.
7) Exigimos a abolio do sistema do partido nico e a o reconhecimento apenas
dos partidos que se baseiam no socialismo.
8) O trabalho ser retomado desde que recebamos as respostas satisfatrias.

O Conselho Central Operrio da Grande-Budapeste.

IV) Poder Efetivo aos Conselhos Operrios:


(...) O que fazer para que os conselhos operrios tenham um poder efetivo? Para
ns, eis os pontos mais importantes:

1) Estabelecimento de um milcia operaria aramada.o governo Kdr


prometeu,mas no o realizou.Ora,esta fora armada poderia impedir toda
tentativa contra-revolucionria e assegurar a verdadeira democracia e o
socialismo,se ela toma em mos a manuteno da ordem,paralelamente a
retirada das tropas soviticas de ocupao.
2) No lugar dos sindicatos desacreditados, os conselhos de fabrica dos ramos
industriais deveriam eleger um conselho operrio de ramo industrial.Este
seria a nova direo do sindicato correspondente.
3) Os conselhos operrios dos ramos industriais elegero o Conselho Nacional
Operrio que ser o rgo dirigente democraticamente eleito de toda a classe
operaria.tomando em mos as tarefas do Conselho dos Sindicatos,em aliana
com os estudantes,intelectuais,foras armadas revolucionrias e com o rgo
central dos conselhos camponeses,ele poder realmente garantir que o
governo,posto no poder e apoiado por ele,seja verdadeiramente um governo
revolucionrio operrio-campones e intelectual.

11.3. TCHECOSLOVQUIA: A REVOLUO DOS CONSELHOS


OPERRIOS

A "revoluo dos conselhos operrios" na Tchecoslovquia apresenta


caracteristicas bem particulares,tanto pelo contexto das lutas autonomas-
autogestionrias em que ocorreu (1968-69),quanto pelas particularidades da formacao
historico-social do pas.neste aspecto,retomemos um pouco o fio da histria.

Apos a primeira Guerra,a Thecoslovaquia integrava o Imperio austro-


hungaro.Este fato marcou profundamente o movimento operario.Desde 1840,os
sindicatos thecos lutavam pela autonomia de seu pas.Em inicio de 1870,uma
conferencia de varias pequenas organizacoes sindicais ocorreu em Praga,decidindo a
fundacao de um movimento sindical unificado, abrigando todos os operarios thecos na
Austria. Por sua vez,o movimento eslovaco s_ aparecer mais tarde. A industrializacao
da Hungria se desenvolveu lentamente. Na Hungria, em 1847,havia 136.000 operarios
e,em 1872,havia 435.000.J na Thecoslovaquia,em 1869,havia 3.267.068 operarios.

De todas as nacoes do Imperio,a Bohemia,devido a sua riqueza de materias-


primas,era a mais industrializada.Neste sentido,a Thecoslovaquia apresentava,em
1963,uma percentagem de 70% de operarios em relacao a populacao global.Na mesma
epoca,a percentagem para Polonia era de 37,5%;para hungria de 33%;para Yugoslavia
de 30% e,para Alemanha Oriental,de 35%.

Portanto,a dependencia politica e o desenvolvimento industrial sao dois


elementos importantes para analise do movimento operario thecolovaco.Com a
"liberacao"do pos Guerra,estes elementos diferenciavam a Thecoslovaquia dos outros
pases do leste europeu e,indicavam duas conclusoes favoraveis para a contrucao do
socialismo,pos 1945.

Ademais,no pas, diferentemente dos outros do leste europeu, o PC(PCT) tinha


uma sustentacao na classe trabalhadora,nao tendo seu poder politico fundado,como nos
outros pases, na presenca do Exercito da URSS. Assim, por exemplo,nas eleicoes de
1946,o PCT obteve cerca de 40% dos votos.

A epoca da "liberacao",os sindicatos thecos estavam agrupados,durante a


resistencia,no Conselho central dos sindicatos clkandestinos(URO) e,decidiram fundar a
central intitulada de "Movimento Sindical Revolucionrio"(ROH),cujas bases
assentavam nos conselhos operarios formados espontaneamente na maioria das fbricas
durante a insurreicao de Praga,de 5 a 9 de maio 1945.Nesta ocasiao,o URO lancou um
apelo pela formacao de conselhos operarios com amplo poderes de gestao.A
originalidade destes conselhos residia no fato de,sendo a estrutura de base
sindical,serem eleitos por todos os trabalhadores,exceto a direcao da empresa
e,representar unitariamente o conjunto da classe operaria.Esta concepcao de
sindicalismo foi combatida pelo PCT,que defendia uma politica sindical apenas para os
sindicalizados.O PCT conseguiu "neutralizar " o sindicalismo do URO,numa estrategia
aplicada em duas etapas:

1.controlando o aparelho central dos sindicatos e,elegendo o presidente do


MSR;todos os postos foram ocupados por funcionarios do PCT;
2.subordinando os conselhos operarios ao aparato sindical,lancando nas
empresas uma estrutura sindical paralela:os"grupos sindicais".

Desta forma, foi fundado um sindicalismo centralizado,a moda do "sindicalismo


tipo sovietico".Na Frente Nacional,o PCT desenvolveu a sua politica com base nas
organizacoes de massa,tipo sindicatos.

No periodo entre 1945 e 1948,ocorreram mudancas importantes no pas.A


presenca de uma classe operaria numericamente forte e politicamente homogenea,alem
de um PC muito forte,aceleraram o ritmo das nacionalizacoes.Por exemplo,em marco de
1947,no setor publico existiam 3.000 unidades de producao,sendo 16,4% na industria e
61,2% de operarios industriaisOs principais setores economicos eram: minas,
siderurgia, metalurgia, quimica, vidro, acucar, energia. Estas mudancas ocorreram no
quadro de um sistema politico de coalizao: a Frente Nacional, composta de 6 partidos,
com um bloco socialista (PCT, social-democracia e partido socialista), formando a ala
mais avancada.

Este periodo inicial do pos Guerra foi uma fase de tregua e foram os anos mais
dinamicos do pas. O periodo de reconstrucao economica se encerrou em 1948. O PCT
formulou um plano quinquenal -1949 a1953-,visando mudar a gestao da economia para
um sistema de planificacao inspirado no modelo da URSS. Como resultado,no inicio
dos anos 60, verificou-se a queda de crescimento do PIB e da renda nacional, conforme
mostra o quadro abaixo:

Quadro

Ano PIB RN

1961 7 6,8

1962 3 1,4

1963 -0,1 -2,2

1964 3,1 0,6

Fonte:

A crise econmica de 1963 teve um papel importante para o ano de 1968.A


centralizacao das decisoes economicas,o monopolio do mercado externo,acarretaram
mudancas na experincia theca.No campo socialista,a divisao do trabalho pos a
Thecoslovaquia como fornecedora de equipamentos produtivospara os outros pases.Isto
trouxe uma mudanca radical na estrutura de producao do apis.Ao mesmo tempo,ocorreu
a formacao de um sistema hierarquico com base na autoridade do centro planificador e
dos diretores de empresa;a concentracao das decisoses e dos meios financeiros com o
fim de orienta-los para industria pesada,o aumento do peso da industria em detrimento
da agricultura,o inicio da campanha de coletivizacao da terra e com o objetivo de liberar
forca de trabalho para industria,suprindo a carencia de mao-de-obra. A tabela abaixo
mostra a mudanca operada pelo plano quinquenal na estrutura de producao:

Renda nacional na Tchecoslovquia (Praga - 1969)

Ano Indstria Construo Agricultura e Comunicaes Comrcio


Floresta

1948 58,60% 7,00% 22,10% 3,70% 8,60%

1949 62,80% 8,40% 18,00% 3,50% 7,30%

1950 61,40% 8,70% 17,40% 3,30% 9,20%

1951 66,10% 9,30% 14,30% 3,20% 7,10%

1952 68,60% 9,60% 11,50% 3,30% 7,00%

Fonte: Nachtigal ,Narodni duchod Ceskoslovenska

As raizes da crise theca residem nesta transformacao do sistema de gestao da


economia nacional e na mudanca radical no comercio exterior. Este quadro foi
acompanhado por uma onda politica repressiva. De outro lado, a esclerose do PCT, a
corrupcao dos diretores de empresa,correspondiam cada vez mais,manifestacoes de
resistencia passiva dos trabalhadores.ocorreu um aumento constante dos custos sociais
de reproducao, agravado pelo debil desenvolvimento tecnologico devido a rigidez do
sistema e sua lentidao em introduzir inovacoes tecnologicas. Verifica-se um crescente
deterioramento da produtivodade do trabalho. Neste sentido, o movimento social
conhecido como "A Primavera de Praga", desenvolveu-se em condicoes historicas
particulares:

crise do regime de Novotny;


lentidao no crescimento economico,apos a crise de 1963;
crescente descontentamento da populacao;
relacao de conflitos entre thecos e elovacos.

Vladimir Fisera caracteriza da seguinte forma a Thecoslovaquia de 1968-69: um


potencial economico muito desenvolvido;a democracia tem uma grande tradicao;alto
nivel de educacao e qualificacao dos operarios.

11.3.1. O Movimento dos Conselhos Operrios

Combinar uma democracia representativa de tipo


parlamentar com uma democracia direta exercida
pelos Conselhos operarios,e gracas a autogestao
dos cidadas em todos os nveis (PELIKAN).

O movimento dos conselhos operarios se desenvolveu entre dezembro de 1968 e


junho de 1969. Numa primeira etapa,antes de janeiro 1968, a ideia dos conselhos foi
defendida por economistas.Fisera expoe a situacao economica do pas neste periodo.

O pas se desenvolveu entre 1950 e 1964 segundo o modelo extensivo de tipo


sovietico.a taxa de crescimento foi de cerca de 6% em media,para afundar entre 1961 e
1964 (-1% em 1962 e 0% em 1964).Esta taxa relativamente elevada nos anos 50,se
explica pela reorientacao economia:industrias ligeiras e voltadas para
exportacao,substituidas,entao,pela industria pesada no quadro da politica autarquica
stalinista) e pela industrializacao da parte oriental do pas, a eslovaquia.

Nos anos 60,o sistema de planificacao centralizada tinha se esgotado.Em um


pas de 14 milhoes de habitantes,tinham se esgotado as reservas de mao-de-obra (menos
de 1 milhao na agricultura,queda demigrafica nas cidades),como tambem as
possibilidades de aumento da produtividade do trabalho.

O crescimento acelerado do capital necessario aos investimentos nas novas


empresas e nos novos canteiros,para manter o nivel anterior de producao,privou o resto
da industria dos meios necesssarios para modernizar o aparelho produtivo existente e
favorecer as industrias de ponta. Este processo desenvolveu um desperdicio de mao-de-
obra nao qualificada e manteve uma penuria relativa dos bens de consumo.O Estado
evitou a explosao,consagrando uma parte do excedente em subvencoes,alocadas nas
empresas em dificuldades,fixando de forma centralizada e artificialmente os salarios e
os precos.Uma parte importante deste excedente serviu para o consumo da burocracia
central.

Desde 1963, uma reforma economica foi tentada, visando indicadores objetivos
e qualificados na economia:desconcentracao da economia, autonomia maior para os
chefes de empresa, dinamizacao da economia pelo mercado de bens de consumo e a
abertura ao mercado mundial. Contudo, rapidamente, a reforma foi bloqueda pelas
resitencias no interior da elite dirigente e pela impossibilidade de controle das diretrizes
'as estruturas descentralizadas.

Entre 1966 e 1968, a reforma comecou a ser realmente aplicada e a taxa de


crescimento subiu (6a8%). Entretanto, a economia sofria de doencas velhas e novas.
Velhas: superconsumo dos investimentos e das materias-primas, atraso e obseletizacao
tecnologicos. Novos: dependencia das importacoes, deficit comercial devido aos precos
elevados, explosao das reivindicacoes salariais por longo tempo reprimidas, estoque de
mercadorias, consumidores preferiam poupar, inflacao".

Desde 1966, apos o XII Congresso do PCT, uma "comissao para a gestao e
organizacao" foi criada. Previa um sistema de cogestao nas fbricas,em torno de um
Conselho composto de 1/3 de operarios eleitos,e 1/3 de tecnicos mais 1/3 representacao
do Estado.Este projeto veio a publico em abril de 1968,alimentando a reflexao dos
trabalhadores quando da fundacao dos primeiros conselhos de trabalhadores,em junho
1968.

De junho a abril de 1968,a democratizacao se desenvolveu lentamente.Nesse


ultimo mes,foi adotado o "Programa de acao" do PCT,prevendo a autogestao da
propriedade social. Durante este periodo(junho-agi\osto),ocorre o fim da censura,a
condenacao dos stalinistas,uma avalanche de reivindicacoes setoriais,sobretudo, nos
meios intelectuais.O aparato sindical se democratiza lentamente;muitos sindicalistas
ligados ao governo Novotny,se demitem.Ota Sik torna-se primeiro ministro para a
reforma economica e,apela a iniciativa dos operarios contra a burocracia.
A partir de 15 maio,varias comissoes se reunem para preparar a "lei sobre a
Empresa Socialista". Surgem greves contra a inconpetencia dos diretores de empresa.
Criam-se federacoes sindicais por categoria, novos sindicatos e unioes inter-sindicais;
implode, entao, o sindicalismo oficial.

A partir de junho, os conselhos operarios foram fundados nas fbricas EKD-


Praga e SKODA-Plzen, as maiores do pas.apos agosto,os sindicatos realizam uma
Conferencia dos orgaos de base e adotam uma posicao radical em materia de conselhos
operarios; reintroduzem, tambem, o direito de greve. No PCT, as decisoes do congresso
extraordinario de agosto 1968, sao renegadas,sobretudo a proposta de um modelo
autogestionrio de base(empresas) e na cupula (Camara por setor de atividade). Ocorre,
entao, uma aproximacao entre a esquerda dos dubcekianos e as organizacoes de massa.

Este Congresso extra do PCT, pertence aos grandes momentos da histria das
revolucoes. Diante da invasao sovietica de 20-21 agosto 1968,ocorreu a convocacao
imediata do XIV Congresso extraordianrio do PCT; realizado na fabrica CKD de
Vysocany, na periferia operaria de Praga.Estava regularmente convocado para 9
setembro 1968; tinha por objetivo, a elaboracao dos Estatutos,implicando eleicoes via
boletins secretos. Fixou-se o avanco da democracia socialista atraves dos orgaos de
autogestao. Para Fisera, este Congresso figura como uma especie de "Constituinte" da
revolucao dos de lei, sobre a "empresa socialista" foi publicado no final de janeiro 1969,
15 dias apos a reuniao nacional dos conselhos operarios,de carater preparatorio e
representando 190 empresas, num total de 890.000 trabalhadores (mais de 1/6 dos
operarios do pas);a reuniao ocorreu em Plzen.

Em fevereiro, este projeto de lei foi emendado, voltando ao modelo de


cogestao.Entretanto,no movimento sindical crescia outra perspectiva: a autogestao. No
Congresso Sindical,marco 1969, j existiam cerca de 500 conselhos operarios.Em
abril,o reformista Dubcek foi substituido por Husak ,no posto de secretario do PCT.O
projeto de lei foi engavetado.A primeira medida do conselho nacional Theco,em
abril,seria a suspensao do projeto de lei.

As reunioes de coordenacao dos conselhos operarios foram proibidas e a direcao


sindical _ decapitada.Em julho,o ministro da industria iria interditar os conselhos
operarios,acusando-os de "anarco-sindicalismo", e de "liquidar a planificacao central,o
PCT,o Estado Socialista e os Sindicatos".
O movimento dos conselhos operarios foi um fenomeno de massa:atingiu mais
de 1.000.000 de trabalhadores,cerca de 80% dos ramos da economia.

11.4. POLONIA8: AS LUTAS OPERRIAS NA DCADA DE 1970 E A


CONSTRUO DA REDE PELA AUTOGESTO(1980-81).

Em agosto de 1980,pouco mais de um sculo aps a Comuna de Paris, a classe


operaria de Gdansk desencadeou um movimento grevista que teve a durao de 15
meses, criando em seu bojo,formas de auto-organizao de carter autogestionrio.

A Polnia foi palco de numerosas lutas dos trabalhadores: 1956, 1970 , 1976 e
1980. Assim,uma onda de longa durao de revoltas ,rebelies e
revolues,determinando esse pas como o elo fraco no bloco do socialismo estatal
.A maturidade da classe operaria polonesa foi fruto de um longo e lento
amadurecimento.

Em agosto de 1980, os trabalhadores tinham como principal objetivo a formao


de uma fora autnoma real.A contestao operaria se pos fora das estruturas oficiais do
poder (POUP-partido Comunista polons,Sindicatos,etc) e buscou construir um poder
autnomo.

As greves de 1980 tiveram inicio no ms de julho, no porto de Varsvia e em


Tczew, regio de Gdansk.Em agosto, ocorreu a greve de 17.000 trabalhadores dos
estaleiros navais Lenine de Gdansk, em protesto pela demisso da lder operaria Anna
Walentynowicz. Nas empresas da regio de Gdansk foi criada uma comisso de greve
inter-fbricas(MKS) , que tem como sede os estaleiros Lenine e elabora uma
plataforma de 21 pontos.

O dia 22 de setembro marca o fim das greves. fundado o SOLIDARNOSC,


constitudo por 38 comites inter-fbricas. Conta,ento,com 10 milhes de filiados e
representa 3.500 fbricas ,agrupando 39 organizaes regionais(MKZ),que se
subdividem em sindicatos profissionais e sees de fabrica. Um sindicalismo de base e
de massa.

Por sua vez, o movimento dos Conselhos Operarios teve inicio em abril de

8
Para aprofundamento da experincia da Polnia, consultar Leste Ram.
1981. Nessa ocasio,as sees de Solidarnosc e dos canteiros navais de Gdansk e
Szczecin deram inicio aos debates sobre a Autogesto operaria.A situao era de
enormes dificuldades econmicas, com as fbricas semi-paralisadas e o PC (POUP)
completamente paralisado,sem ao.

Em 14 e 15 de abril, foi realizada a Conferencia de fundao do que ficou


conhecido como a Rede Autogestionria das grandes empresas de Solidarnosc. Essa
Rede reunia delegaes de 17 regies do pas; sub-redes foram formadas e varias
reunies nacionais e regionais foram realizadas. Entre varias delegaes, a Rede
agrupoava os canteiros navais de Gdansk e Szczecin, das siderrgicas de
Cracovia,varias fbricas de Wroclaw, a mina de carvo Wujek.

O primeiro encontro publico da Rede,realizado em 8 de julho,em


Gdansk,contou com a participao de 1.500 delegados das 150 principais empresas do
pas.Nessa poca, a rede existia sob a forma de conselhos de gesto operaria,em
cerca de 3.000 empresas. No movimento autogestionrio polons encontramos,
claramente, os sinais da atividade autnoma das massas: a fundao de rgos
democrticos de gesto das fbricas, nos conselhos de trabalhadores. A multiplicao
desses conselhos, sua coordenao em nvel regional e, as primeiras reunies nacionais
dos delegados operrios,eis a expresso clara do movimento autogestionrio.

Alem da Rede autogestionria, dois outros grupos se destacaram neste


movimento pela autogesto: os grupos de Lodz e Lublin, formando um bloco das
correntes mais radicais da autogesto operaria. Combinavam o desenvolvimento do
controle operario com a estratgia da greve ativa.

A greve ativa,marcada para o dia 21 dezembro de 1981,na regio de


Lodz,deveria assegurar a gesto operaria da produo,o controle da distribuio de
alimentos e a formao de milicias operarias.Em sua estratgia estavam previstos:

- favorecer a emergencia da autogesto territorial, liberando a energia de milhes de


trabalhadores;

- estimular a luta pelo poder poltico e pelas eleies livres;

- criar uma situao de prolongamento da dualidade de poder,baseada na formao de


uma Camara autogestionria no parlamento,eleita democraticamente por todos os
produtores assalariados, camponeses e artesos individuais, concentrando todo o poder
econmico do Estado.

Assim ,portanto,greve ativa e autogesto operaria se generalizando no conjunto


da vida social,destruindo as instituies burocrticas e reestruturando por baixo a
sociedade. Essas eram grandes linhas alternativas do movimento pela autogesto na
polnia.

11.4.1. A Repblica Autogestionria

O Congresso Nacional de Solidarnosc,em outubro 1981, foi perpassado pela


ideia de que a auto-organizao e controle social em todos os nveis da sociedade so o
caminho correto para Republica autogestionria. Vejamos as suas principais Teses:

19. O pluralismo das ideias, sociais,polticas e culturais deve constituir a base


da democracia na republica autogerida.

A vida publica na Polnia necessita de profundas reformas que devero conduzir


instaurao definitiva da autogesto, da democracia e do pluralismo. Por isso, lutaremos
tambm pela mudana das estruturas do Estado e pela criao e desenvolvimento das
instituies independentes e autogeridas em todos os domnios da vida social (...)

20. A autogesto autentica a garantia de uma republica autogerida.

O sistema que liga o poder poltico ao poder econmico, baseado na ingerncia


oermanente do partido no funcionamento das empresas, constitui a razo principal da
crise atual da nossa economia(...)

A nica soluo para mudar esta situao a criao de comisses autogestionrias de


trabalhadores que daro o verdadeiro poder de deciso ao pessoal das empresas.O nosso
sindicato reivindica a restaurao do principio da autogesto nas cooperativas(...)

21. As estruturas autogestionrias regionais, jurdica e financeiramente


autnomas, devem representar realmente os interesses da populao local.

A autenticidade da autogesto de uma estrutura regional fundada sobre o principio das


eleies livres.As listas eleitorais devero ser abertas a todos. Todos os candidatos so
iguais.Uma grande campanha eleitoral deve ser organizada para permitir aos diferentes
candidatos apresentare os seus pontos de vista.As prximas eleies devero realizar-se
nestas condies(...)

22. Os organismos e as estruturas da autogesto devem estar representados na


mais alta instancia do poder de Estado.

Consideramos til examinar a necessidade de criar um organismo de autogesto


no mais alto nvel de pdoer do Estado. Ele ter por tarefa o controle da realizao do
programa de reformas econmicas e das atividades dos organismos autogestionrios
regionais(...).

Em dezembro de 1983, dois anos aps o Golpe militar, a Comisso de


Coordenao de Solidarnosc (TKK),tomou iniciativa de realizar um encontro de 5
grandes empresas: a siderurgica Lenine,a siderrgica Katowice, a mina Wujek, a
fabrica de avies Swidnik e a fabrica de tratores Ursus. O encontro teve como
objetivo a reativao da Rede Autogestionria das grandes empresas de
Solidarnosc.Decidiu-se,em plena clandestinidade, a continuao das atividades da
Rede,sob as bases estabelecidas antes da decretao do Estado de Guerra.

T. Petkoff , em outubro de 1981,pouco antes da decretao do estado de Guerra


na Polnia, assinalou:

Polnia marca hoje o terceiro grande momento da histria das revolues


socialistas. O primeiro,obviamente, 1917,na velha Rssia; revoluo
bolchevique. O segundo,1948, cisma sovitico-yugoslavo,que inaugura o
caminho dos modelos nacionais de socialismo e que mediante a introduo
da autogesto na Yugoslavia questiona a validade do modelo estatal e
burocrtico.O terceiro, a Polnia.No desconheo aimportancia da Hungria
em 1956 e da Thecoslovaquia em 1968,porm trata-se de processos frustados
e que no alcanaram a cristalizao em realizaes concretas alternativas ao
socialismo burocrtico e policial.

Petkoff diz qua a Polnia viveu um genuno movimento revolucionrio de


massas e que ,seu eixo central, a autogesto no conjunto da sociedade e a quebra do
partido nico, so uma superao da experincia yugoslava.
12. OS CICLOS DAS LUTAS AUTOGESTIONRIAS NO PS-
GUERRA, NA SIA

12.1. A COMUNA DE SHANGAI, CHINA

A experincia da Comuna de Shangai surge num quadro em que a forma


comuna era conhecida dos chineses.

A Comuna popular foi uma forma de organizao nascida cerca de 10 anos aps
i inicio da Revoluo Chinesa. Portanto, foi resultado de um longo processo de
experimentao de organizaes econmico-sociais de carter coletivo no campo. Para
a cncepo ideolgica do pas,tratava-se da passagem de um domo de prduo
(capitalista) ,ou de uma formao social caracterizada pela combinao de varios modos
de produo uma sociedade onde domina o modo de produo comunista.

A mudana das relaes de produo no campo paassou por 3 etapas: a reforma


agrria, a cooperao agrcola , o estabelecimento das comunas.As cooperativas de
produo agrcolas passaram por diversos problemas. Estas cooperativas tinham dois
grandes limites: a debilidade quantitativa da fora de trabalho; a especializao na
produo agrcola.Para resolver vrios problemas,os camponeses se reagrupavam em
cooperativas de grandes dimenses (de varias centenas a um milhar de
famlias),mudando os regulamentos e a organizao das cooperativas: surgiam as
comunas populares, em 1958,ano do grande salto para frente.

Aps o vero de 1958, 740.000 cooperativas de produo agrcola foram


reorganizadas em 26.000 comunas populares.Em 3 provincias ( Honan,Liaoning e
Hopei) ,em varias reunies ficou claro que os modos de gesto e os sitemas de
remunerao das cooperativas agrcolas estavam superados e que era necessrio
experimentar outro modo de organizao.Assim,em Honan 5.370 cooperativas tornam-
se 208 comunas,cada uma com 8.000 familias.As principais vantagens da comuna
popular eram:

Maior facilidade na distribuio de alimentos devido as cantinas;


Um novo modo de remunerao;
O reforo da direo do PCC.
Em Hsinyang, as comunas tinha entre 5.000 a 10.000 familias.A administrao local
passou para comuna,onde existiam brigadas de trabalho.As cooperativas de credito
passaram para administrao comunal.

A comuna popular no era apenas uma organizao econmica socialista (com laos
de ajuda mtua e solidariedade entre os membros) mas tambm a unidade de base do
poder poltico no campo. A fundao das comunas resultou de iniciativas locais,o que
explica a diversidade das situaes regionais.

A forma comuna popular para organizao da produo no campo e para o exerccio


do poder poltico resultou da combinao de alguns fatores:

a fuso da administrao local e as cooperativas;


a coordenao das atividades mltiplas
(agricultura,silvicultura,psicultura,criao de animais, atividades subsidiarias);
integrao das atividades industriais, agrcolas,culturais e militares.
Uma Conferencia regional (Norte e Nordeste da China) foi realizada em Sian ,em
outubro 1958. Duas orientaes fundamentais foram adotadas: movimento de educao
da populao rural na linha do socialismo e do comunismo; fornecimento de um
conjunto de servios sociais. A revoluo cultural chinesa, foi iniciada em julho de
1966 , com o movimento revolucionrio estudantil dos guardas vermelhos.Este
movimento,composto por estudantes de origem operaria e camponesa,tinha por objetivo
destruir o monopolio cultural da burocracia estatal. O movimento ampliou-se classe
operaria.mais uma vez ressurge das cinzas a organizao autnoma dos trabalhadores:
os conselhos operrios.

A partir de dezembro de 1966, as greves sucedem-se por toda parte.Elas so


dirigidas por organizaes de fabrica.As manifestaes operarias eclodem em ritmo
crescente.Em janeiro de 67, mais de um milho de trabalhadores participam de uma
Conferencia em pequim,para protestar contra a represso e a explorao exercidas pela
burocracia do Estado e do PCC.

Shangai, principal centro industrial da China, encontra-se na linha de frente das


lutas. Desde agosto 1966, processaram-se contatos dos guardas vermelhos com os
operrios.As organizaes operarias de Shangai enviam delegados a outras cidades.

A organizao da comuna de Shangai apia-se nos conselhos operarios que


dirigem as fbricas.Esses conselhos funcionam ligados por ramos de atividade,
originando sees prprias de coordenao entre os diversos ramos econmicos.Mais
uma vez,ressurgia a organizao autnoma dos trabalhadores e, os princpios da
comuna de Shangai foram inspirados na experincia da comuna de Paris(1870).
Portanto, a organizao dos conselhos operrios tem a seguinte forma:

- eleio de delegados pelos trabalhadores;

- revogabilidade permanente dos eleitos;

- fuso do econmico e politico, como condio para abolio e separao dos poderes e
da burocracia;

- salrios dos delegados iguais aos dos operrios especializados;

- a comuna de Shangai tem por objetivos revolucionrios: atingir a sociedade sem


classes (comunismo);criar novas formas de produo;extinguir a separao de classes
(tcnicos,polticos profissionais,etc);originar,com a expanso do movimento comunal a
outras cidades, a comuna da China.

Neste sentido, surgiram comunas em Pequim, Canto e Tayan.

Todavia, a revoluo cultural no atingiu o Exercito,coluna dorsal do aparelho


de Estado.A burocracia fez de tudo para impedir o contato dos soldados com a
organizao operaria. A partir de janeiro de 1967, foi decidida a interveno militar.O
Exercito interviu onde existia organizaes revolucionrias,para destru-las . Em
fevereiro,o Exercito eliminou a comuna de Pequim e a capital do pas fica sob controle
de um organismo militar.A comuna de Shangai tambm foi destruda em fevereiro de
1967;Shangai fica sob controle militar. O PCC, aps a destruio das comunas,
converteu-as em outro tipo de organismo : os comits revolucionrios, forma de
reestruturao do aparato estatal, um certo tipo de normalizao.

A represso a classe operaria foi rigorosa.Surge a proibio imediata de contatos


entre organizaes operarias de fbricas , impedindo a organizao inter-fbricas
;probem o deslocamento dos operrios de uma regio para outra; so proibidas formas
de organizao que abranjam mais de uma empresa ou de uma profisso.

1967;Shangai fica sob controle militar. O PCC, aps a destruio das comunas,
converteu-as em outro tipo de organismo : os comits revolucionrios, forma de
reestruturao do aparato estatal, um certo tipo de normalizao.

A represso a classe operaria foi rigorosa.Surge a proibio imediata de contatos


entre organizaes operarias de fbricas , impedindo a organizao inter-fbricas
;probem o deslocamento dos operrios de uma regio para outra; so proibidas formas
de organizao que abranjam mais de uma empresa ou de uma profisso.

12.2. A autogesto japonesa ( jishu-kanri).

Um dos nmeros da revista autogestions ( n. 1 1980 ), a partir de um


dossier elaborado por Akihiro Ishikawa, relata uma serie de experincias , a partir de
fbricas que fecharam ou faliram.

A revista adverte-nos que o termo jishu-kanri est mais prximo de uma


espcie de gesto autnoma da empresa que da autogesto, o que pode criar confuso
entre realidades heterogneas.

Aps a crise do petrleo (1973) e a crise economia mundial , diversas empresas


japonesas faliram ou fecharam por outras razes. A maioria destas empresas era do
campo das PME.O numero de desempregados cresceu muito e pos na pauta a questo
do desemprego.

Uma das sadas dos trabalhadores foi a ocupao de fbricas,mesmo que nada
pudessem produzir, guardavam os estoques, a maquinaria,etc. Foi o caso da empresa
Hamada-seiki que fabricava maquinas de impresso.Os trabalhadores aps uma cordo
com o sindico , iniciaram a produo para assegurar a continuidade da marca.

No campo das PME, a taxa de sindicalizao era muito baixa.Por exemplo,nas


empresas com 100 a 499 operarios, esta taxa de cerca de 30%. Nas empresas de 10 a
99 empregados, a taxa era de 10%,e de 3& no caso das empresas com menos de 30
operarios.

Mesmo sendo sindicalizados, os operrios participam das lutas de associaes


ou de bairro. As lutas operarias esto relacionadas a longos processos, visando obter
pagamento dos salrios e penses.Aps conseguirem seus objetivos, os trabalhadores se
dispersam.

Entretanto, na segunda metade dos anos 70, os trabalhadores das fbricas em


falncia tentaram retomar a produo e reconstituir por eles-mesmos a industria em
falncia.Este movimento, chamado de administrao das empresas pelos
trabalhadores,pode ser chamado de autogesto operaria,nas condies do Japo,ou de
movimento de reconstruo de empresas,

O interesse maior pela autogesto no pas ocorre no final dos anos 60, quando
surgem os problemas scio-economicos ligados ao crescimento rpido da economia. O
imobilismo dos movimentos operrios e socialistas foi um dos pontos de partida deste
interesse pela autogesto.

No ps Guerra surgiram experincias de fbricas geridas e controladas pelos


prprios operrios,mas que desapareceram no final dos anos 40. J na dcada de 50, a
classe dominante assegurou a paz social atravs da modernizao e do crescimento da
produtividade das empresas.

Na segunda metade dos anos 60, surge um novo quadro: a indiferena dos
trabalhadores frente aos sindicatos e um sentimento de alienao frente as novas
tecnologias.Cresce a renda dos trabalhadores mas h uma decepo com o trabalho,com
sua alienao. Nesta poca, surge um novo tipo de sindicalismo,no mais centrado
apenas nas questes econmica : o movimento pela autogesto.

H uma influencia da sociologia do trabalho francesa,dos tericos da nova


classe operaria (Gorz,Touraine,P.Belleville,Malet) e pelo PSUF,com a ideia do
controle operario.Esta tendncia se associa a critica ao socialismo real do Leste
europeu,a partir da experincia da Yugoslavia e de obras de Gramsci.

O milagre economico trouxe um processo de burocratizao nas grandes


empresas. Em varias empresas surgiram grupos de autogesto: em escala de ateliers
,para melhor integrar os trabalhadores.Um outro movimento foi o das comunidades
utopicas,movimento entre os jovens de oposio a tecnocracia e ao individualismo da
sociedade de massas.

O autor do dossier nos fala de 4 tipos de autogesto:

1) autogesto realizada por sindicatos no caso de falncia de empresas;

2) propriedade e gesto operarias no campo das PME;

3) atividades de um atelier autogerido por um pequeno grupo de trabalhadores em uma


grande empresa;

4) as comunidades utopicas.

Vejamos as experincias do tipo 1: nos anos 70 ocorre um grande numero de


falncias de empresas. Nas PME:

Ano N de falncias

1976 15.641

1977 18.741

1978 15.875

Na maioria dos casos, os operrios no so sindicalizados e,assim,no recebem


indenizaes e, as vezes,nem mesmo o salrio do tempo trabalhado. Quando h o
sindicato, ocorre um processo contra os dirigentes da empresa em falncia;mas,aps o
processo acabar,os operrios se dispersam. Mas,h outros exemplos.os operrios
reivindicam os salrios no pagos e alocaes, mas se organizam para recuperar a
empresa.Um destes casos, o da autogesto operaria da PETRI,uma manufatura de
cmeras que faliu em 1977. Outras empresas passaram pelo mesmo processo:
Paramount, uma fabrica de calados; Chbunsha,editora; Van , txtil. Fujiya
Seika,favrica de chocolate que faliu em 1977 e que foi recuperada com sucesso,aps
ocupao pelo sindicato.Todas eram de Tkio.

H casos de autogesto que datam dos anos 20,por exemplo, a cooperativa de


pescadores de Amani Oshima, uma ilha . Aps a falncia, 22 pescadores assumiram a
empresa .

As experincias do Tipo 2 desenvolvem-se em condies boas para os


trabalhadores. Alguns proprietrios repartem o capital com os trabalhadores, alugando
os direitos sobre a gesto da empresa. Komiya, fabrica de doces ; um restaurante ,o
Hikobanban ,so dois exemplos.

As experincias do tipo 3 ocorreram aps grandes investimentos,nos anos 60


algumas grandes empresas instauraram novos modos de administrao do pessoal,
para integrar e motivar os operrios nos ateliers, frente as novas tecnologias e a nova
organizao do trabalho. Comearam com os CQ (comits de qualidade), em 1962.

Deste processo surgiu o movimento A. D. (nenhum defeito),que cresceu


rapidamente em um numero grande de ateliers (oficinas) de medias e grandes empresas.
Os sindicatos apoiaram o movimento: a federao japonesa do ferro e do Ao (FJFA)
adotou,em 1969, um comit Jishu-Kanri (JK) para promoo das aes JK.

Em 1977, uma pesquisa mostrava que 60% das grandes empresas possuam estes
comits. O autor do dossier assinala que:

Podemos pensar qus estes pequenos grupos de ao ao nvel de


oficinas/ateliers no significam autogesto operaria sem entido estrito e que
podem ser tidos como meios de manipulao.Mas,ao mesmo tempo, mesmo
que o inicio seja por impulso da direo da empresa e que suas atividades no
dizem respeito a produo,os grupos agem de forma autnoma e os operrios
tm satisfao de seu trabalho.

As experincias do tipo 4 eram comunidades baseadas na agricultura e com


forte esprito religioso, com repartio dos bens de consumo e dos meios de produo.

O caso de Ittoen, a comunidade foi instalada em uma propriedade de cerca 30 hectares e


instalaes cobrindo 10.000 metros quadrados, seja florestas,laboratrio de
agronomia,um atelier de confeco e de tricot,uma escola e um jardim de infncia,uma
empresa de construo,uma casa de edio e impresso e um teatro. Viviam na
comunidade 300 pessoas.

Nosso autor,ento,classifica os 4 tipos.

O primeiro tipo chama de autogesto imposta , pela falncia. Neste tipo, os


trabalhadores se sentem solidrios, fazem prova de uma moral elevada e de iniciativa e
estabelecimento de relaes scio-economicas de igualdade e de uma organizao
frouxa sem hierarquias. Estas qualidades se manifestam no curso da primeira fase do
movimento da autogesto, nascido de motivos econmicos.

Em seguida, mesmo que a conscincia operaria seja modificada pelo


movimento, os sentimentos calorosos do inicio enfraquecem,novas divergncias de
interesse aparecem entre a nova equipe dirigente e a mo-de-obra e a estrutura perde sua
frouxido e igualitarismo. O sindicato exerce nestas experincias a gesto das empresas.

O segundo tipo de autogesto outorgada , por um proprietrio-gerente. O terceiro de


autogesto instalada , pela direo e pela equipe de gesto. Por fim, o quarto tipo de
autogesto de origem ideologica.

Vejamos os casos concretos de algumas empresas recuperadas para autogesto.

12.2.1. Empresa VAN.

Sociedade de vestimentas de alta moda, faliu em qbril 1978.O crescimento


rpido da economia japonesa favoreceu a industria de vestimentas,contudo a crise de
1973 (crise do dlar e do petrleo) atingiu de cheio este setor econmico. Com a crise
as condies dos trabalhadores se deterioraram e, os trabalhadores criaram o sindicato
em 1974.Quando da declarao da falncia a divida chegava a 50 milhes de yens. O
sindicato se filou ao central nacional das PME, que fazia parte da ala esquerda da
Sohyo.

As condies em que se iniciou a experincia de autogesto foram as seguintes:

O sindico acorodu com o sindicato uma poltica de retomada da empresa;


postura muitoexcepcional,pois em geral o sindico no dialoga com os idnicato;
Havia um estoque muito grande e com a venda deste, o sindicato pode pagar os
operrios;O sindicato ajudou os trabalhadores a encontrar pequenos trabalhos
para suplementar a renda. Assim, ficou garantida 80% dos salrios; os
trabalhadores formaram um fundo de ajuda para os que tinham mais
necessidades;
No momento da falncia havia 1.450 trabalhadores; este numero caiu para 80; os
outros se tornaram indfependentes ou acharam trabalhos em outros locais. O
sindicato organizou equipes que dormem nos locais de trabalho para tomar conta
dos equipamentos.Estes grupos organizam debates. Desta forma,mobiliza os
trabalhadores para participao em outros sindicatos Estes grupos exercem um
processo de rotatividade nas funes,quebrando a parcelarizao do processo de
trabalho.
Os diferentes setores da empresa so: projetos (desenhadores), gesto da fabrica
(compras em grosso), gesto das mercadorias(estoque) e servio de vendase os setores
da administrao.

Todas as questes relativas empresa so decididas em assemblia geral semanal com


presena do sindicato.Os problemas de gesto so decididas pela administrao dos
operarios.Os 80 trabalhadores tm idade media entre 29 e 30 anos.

Um elemento muito particular: para o sindicato o perodo de a autogesto na


VAN uma soluo provisria enquanto aguardam as condies para recuperao da
empresa. A empresa tem duas grandes concorrentes no ramo.contra as quais o sindicato
luta e mantem a unidade dos trabalhadores.

12.2.2. Empresa Paramount

Paramount foi criada em 1953 (fabrica de sapatos femininos), e comprada em


1956 por Standard uma das quatro grandes do ramo. Avanou para sapatos masculinos e
a Paramount apenas cuidava da produo enquanto Standard se ocupava da
coemrcializao.

Esta empresa declarou falncia em 1977.O sindicato dos trabalhadores tinha sido
fundado em 1956. Com a falncia os operrios se agruparam no sindicato para exigir
seus salrios no pagos, a garantia de emprego e a recuperao da empresa. O sindicato
passou a produzir outros produtos com a matria-prima existente (por exemplo, capas
para garrafas). Um acordo com o sindicato nacional de calados e com a Paramount-
Standar permitiu a volta produo de sapatos.

Antes da falncia existiam 70 operarios,apenas 41 permaneceram na empresa:


pessoas idosas so 11; meio-tempo so 6; empregados so 21,e 5 mulheres. O
salrio pago sob a rubrica dinheiro para atividades sindicais e representa 80% do
salrio anterior a falncia.

No inicio, os trabalhadores tinham emprstimo do sindicato nacional;depois,passaram a


se auto-financiar. A partir de janeiro 1979,passaram a produzir novos produtos.Todavia,
o maior problema a comercializao,pois era um ramo com muita
concorrncia.Atravs da solidariedade com algumas associaes ,tipo cooperao na
vida cotidiana, havia uma espcie de mercado solidario.

Uma dificuldade era que o consumidor no via bem uma empresa em falencia e
dirigida por um sindicato.Assim,tinham que agir muito no campo da publicidade para
quebrar esta imagem. A pratica da autogesto era a preocupao principal do sindicato,
que formou um comitee xecutivo com 9 pessoas para cuidar de toda empresa,da
produo aos estoques.Este comite formado por 2 grupos:um da produo e outro da
administrao (gesto).

Entretanto,o que parece ser uma carateristica da experincia japonesa, os


dirigentes sindicais viam a autogesto como uma soluo provisoria at a retomada
total da empresa. Esta transio seria apenas para mostrar que os operrios podiam gerir
uma empresa,com ajuda de administradores.

12.2.3. Empresa Ptri

Fbrica de maquinas para fotografia. A falncia foi declarada em outubro de


1977.A empresa dependia do emrcadoe xterno em mais de 90%.Com a crise econmica
e o fim da guerra no Vietnam que reduziu a demanda do mercado militar,e uma gesto
pssima da famailia dona da empresa ,no havia outra sada. Os responsveis da gesto
e os patres desapareceram.

Alem da sede em Tkio,existia outra empresa,bem menor,em Saitama,com 90


trabalhadores.Do total de 660 empregados,apenas restaram 330.Uma segunda onda de
partidas,em 1978,baixou o numero para 170. Os que ficaram,junto com o
sidnicato,decidiram recuperar a empresa por meio da auto-produo.

O sindicato estava ligado Zenkoku-kinzoku,ala esquerda da Sohyo,e formado


por PME do setor da metalurgia.Utilisando os equipamentos da empresa,cedidos por
lei,o sidnicato iniciou a autogesto.

Ni inicio, os produtos eram vendidos para outros sindicatos;depois,voltaram a


exportar 1.000 aparelhos por ms.Foi criado um fundo de solidariedade para
completar os salarios, que caram em 40%.

As construes da empresa que ficaram vazias aps a partida de muitos


operrios, foram transformadas em quartos gratuitos para jovens casais e para uma
creche.

O comit de gesto se rene uma vez por semana. A autogesto vista como
algo imposto pela situao de falncia. Mas, a gesto coeltiva desenvolve uma nova
conscincia nos trabalhadores e,se chega um novo patro aps a recuperao da
empresa, este coletivo ser capaz de exercer o controle.
13. OS CICLOS DAS LUTAS AUTOGESTIONRIAS NO PS-
GUERRA, NA FRICA

13.1. O sistema autogestionrio na Arglia

Na Arglia, desde a libertao do pas do jugo imperialista francs, em 1962, ate


a queda do Governo de Ahmed Bem Bella,em 1965, ocorreu uma experincia de
institucionalizao da autogesto. Sua caracterstica principal foi a introduo da
autogesto nas empresas agrcolas e nas empresas abandonadas pelos patres europeus.

O colonialismo na Arglia foi exercido quase exclusivamente de forma militar.A


Arglia nunca foi considerado como colnia, mas como um pas conquistado ,tido como
um departamento do Ministrio da Guerra francs e como fonte de riquezas. Assim, o
aparelho de Estado colonial teve como elemento dominante o militar.O primeiro ato das
foras armadas francesas no pas, foi o desmantelamento de toda forma de
Estado,acompanhado do no reconhecimento da Arglia como nao e da existncia de
uma cultura original.

Neste sentido, a ao colonialista na Arglia tornou fisicamente impossvel a


organizao poltica. Por exemplo, num total de 29 lideres do Comit Revolucionrio de
Unidade e de Ao,que iniciou a luta de libertao em 1954, 13 foram mortos em
combate ou assassinados,e 5 membros seqestrados. A Armada francesa,recebeu em
1956, a ordem de aniquilar por todos os meios o quadros poltico-militares da Arglia.

Tocqueville taxativo sobre o papel do colonialismo: tornamos a sociedade


argeliana mais miservel,mais desordenada,mais ignorante e mais brbara. Alguns
autores afirmam que excluindo as sociedades da America Latina,colonizadas por
espanhis e portugueses,em que as antigas civilizaes (Mayas,Incas,Astecas,etc) foram
dizimadas, nenhuma outra sociedade sofreu uma desintegrao cultural semelhante
que sofreu a Arglia.

Jacques Arnault em seu estudo sobre o colonialismo , traa um amplo quadro da


Arglia deste perodo: nenhum pas se encontrou na situao do povo da Arglia no
dia de sua independncia.Aps 7 anos de guerra, registrava-se um milho de mortos (
10% da populao ), 300.000 refugiados nas fronteiras, 3 milhes de pessoas deslocadas
e regarupadas, 700.000 pessoas emigradas do campo para a cidade, 400.000 vitimas ou
internadas, 8.000 aldeias destrudas, milhas de hectares de bosques incendiados, terras
infertis, o plantel ovino (grande recurso da populao camponesa) reduzido de 7 a 3
milhes de cabeas, o plantel bovino aniquilado.

O xodo dos europeus foi o da quase totalidade do potencial tcnico da Arglia:


33.000 chefes de exploraes,d indiscutvel capacidade de organizao e iniciativa;
15.000 quadros superiores; 100.000 quadros mdios; 35.000 operarios qualificados, ou
seja cerca de 200.000 pessoas de um nvel tcnico superior ao mdio.

As correntes econmicas se encontravam distorcidas.A populao europia


comprava 40 % da produo local, e uns 60% dos produtos importados. Assim mesmo,
pagava uns 43% dos impostos.Seu xodo foi acompanhado de uma retirada de capitais
da ordem de 110.000 milhes de francos.

O setor agrcola tradicional ocupava 70% da renda nacional (esta massa de


populao agrcola,consome o que produz); o setor industrial empregava menos de
100.000 trabalhadores argelinos, dos quais o 50% eram trabalhadores manuais.nas
cidades, a taxa de desemprego era de 45%.

A agricultura produzia menos de 25% das matrias primas necessrias para a


industria; e a industria no lhe vendia quase nada: o campesinato ao no ter excedente
para vender no tinha tambm os mdios para comprar.

A industria no utilizava as matrias primas argelinas; mineral de ferro,


chumbo,zinco,cobre.As fbricas eram sucursais de grandes sociedades francesas
integradas no circuito dos grandes negcios capitalistas metropolitanos.

O desequilbrio interno era enorme: para um ingresso nacional mdio estimado


em 100, o ingresso da regio de Batna era de 30, o de Tlemcen de 70, o de Argel de
275,ou seja um desequilbrio de 1 a 9.

A Frana absorvia 80% das exportaes argelinas e provia a Arglia da quase


totalidade de seu equipamento.
A Arglia , no perodo da luta pela libertao,apresentava uma estrutura
social com as seguintes caractersticas de pas sub-desenvolvido da
periferia:

Em janeiro 1964, a populao era avaliada em 10,5 milhes de habitantes. A


camada dominante era formada pelos Europeus: uma populao europia de
300.000 pessoas,dos quais 33.000 chefes de exploraes agrcolas e de
empresas industriais; 15.000 tecnicos superiores ou de profisses liberais;
100.000 tecnicos mdios e empregados; 35.000 operarios qualificados,isto ,
cerca de 200.000 pessoas constituam o essencial dos tcnicos da
sociedade.J no lado argeliano da populao, aps 130 anos de colonizao,
havia um pequeno numero de industriais e alguns tcnicos superiores ou
intelectuais.mais numerosos eram os grandes comerciantes e,sobretudo,os
grandes proprietrios de terra.mas, no conjunto,esta grande burguesia
argeliana compreendia no maximo 50.000 (menos de 2,5% da populao
ativa).

A pequena burguesia constitua uma frao mais importante: pequenos e


medios proprietrios na agricultura, comerciantes em varejo,
artesos,empregados subalternos.No total, 12% da populao ativa.

A classe operaria era numericamente frgil: 200.000 trabalhadores industriais


para uma populao do pas de 11 milhes.

Quadro Mo de Obra Agrcola no Setor Autogerido 1965

Setor autogerido N de trabalhadores

Mo de obra 134.430
permanente
Mo de obra 52.145
temporaria
Total 186.575
Fonte: LUCAS

Quadro Evoluo do Emprego Industrial 1967-1973

Ano 1967 1969 1971 1973 (previses)

Setor Autogerido 21.264 18.492 12.202 -

Setor Privado 49.002 48.446 64.823 -

Setor Pblico 38.032 76.920 96.163 -

Total 108.298 143.878 173.188 210.000

Fonte: Lucas
Nos anos 50 (1954), a Arglia contava com 900.000 assalariados ( 570.000
agricolas e 330.000 no agrcolas). O numero de assalariados da industria no era,sem
duvidas,seno 96.405, dos quais 60.450 eram argelinos e 33.955 europeus.Mais de
100.000 argelinos ocupavam empregos industriais na Frana.

Mais da metade dos trabalhadores argelinos ,tanto na Arglia como na Frana,


estavam classificados como braeiros (54% na arglia e 61% na Frana);cerca de 25%
como braeiros especializados (24% e 30%);o resto como operarios profissionais
(16% e 9%).contava-se na Arglia 4% de tcnicos e encarregados argelinos.A quase
totalidade da populao tcnica em todas as hierarquias era populao europia; 33.000
chefes de exploraes, 15.000 executivos e profissionais liberais, 100.00 na hierarquia
mdia e empregados, 35.000 operarios qualificados (entre os trabalhadores europeus
menos de 5% de braeiros).

Aps 130 anos de colonialismo,a Arglia possua apenas alguns industriais


de certa importncia, e alguns funcionrios superiores e intelectuais.os
ncleos burgueses estavam formados pelos comerciantes em atacado e
sobretudo pelos proprietrios de terra mdios e ricos.No total,o estrato
burgus propriamente dito no excedia os 50.000,isto ,menos da
quadragsima parte da populao ativa (ARNAULT).

No campo,tnhamos as seguintes camadas:

- 200.000 trabalhadores do setor autogerido (dos quais 70.000 integrados ao setor


autogerido desde maro 1963);

- os trabalhadores agrcolas,temporrios, em torno de 450.000;

-1 milho de desempregados agrcolas sem terra e sem trabalho;

- os pequenos proprietrios (possuindo entre 1 e 10 hectares),em torno de 450.000;

-os proprietrios mdios (possuindo entre 10 e 50 hectares), um total de 170.000;

-os grandes proprietrios (possuindo acima de 50 hectares), cerca de 25.000, mas que,no
total,detinham a posse de 2.800.000 hectares

Jacques Arnault nos fornece a seguinte situao:


Na Arglia foi a colonizao que ,em grande parte, imps a propriedade privada com
objetivo de apoderar-se das terras dos argelinos.Enumeravam-se em 1951:

- 400.000 exploraes argelinas de menos de 10 hectares;

- 150.000 de 10 a 50 hectares;

- 25.000 de mais de 50 hectares , concentrando 30% das terras argelinas pertencentes a


argelinos.

Frente a isto, 22.000 exploraes europias totalizavam 2.700.000 hectares das


melhores terras; entre elas, 6.386 concentravam o 85% desta superficie. Contavam-se,
60.000 parceiros argelinos; 100.000 trabalhadores agrcolas permanentes e 400.000
temporarios ( entre os quais numerosos camponeses argelinos com pouca terra e
obrigados a por seus servios nas grandes fazendas nas pocas de menos trabalho).as
mesmas estatsticas agrrias apontavam 1.500.000 pessoas consideradas como ajuda
familiar.

- um tero da populao era urbana ,pois,a urbanizao foi acelerada aps a partida dos
franceses em 1962;

- um proletariado urbano em torno de 110.000 operarios; na Frana, havia 500.000


trabalhadores argelianos,em 1963;

- o sub-proletariado urbano, vindo do xodo rural ( a capital Argel, em janeiro 1964


tinha 900.000 habitantes, 80.000 a mais que em 1961);

- a pequena-burguesia,composta na maioria de pequenos comerciantes e artesos, era


avaliada em 170.000 pessoas;

60.000 estabelecimentos artesanais e 60.000 empresas comerciais formavam a base


econmica da pequena-burguesia;

- a burguesia contava com 50.000 pessoas,composta de comerciantes,proprietrios de


imveis,e pequeno-industriais do setor artesanal: 7 a 8.000 do pas empregavam uma
mo-de-obra assalariada (os profissionais liberais representavam 10.000 pessoas). A
maioria das 2.500 empresas industriais permaneciam nas mas do capital estrangeiro.

A Arglia possua uma infraestrutura tcnica e industrial inportantes: 10 portos


,com 3 de importncia internacional (Argel,Oran e Annaba); 10.000 km de boas
estradas;20 aerodromos civis;4.300 km de vias ferrovirias;;uma rede eltrica de
600.000 km (com 16.000 km de linhas de alta tenso).Esta infraestrutura ainda
abrangia, dezenas de barragens, produzindo mais de 1 milho de kilowatts-hora,uma
base de infraestrutura sanitria e escolar.O pas produzia 3 milhes de toneladas de ferro
( Ouenza) e 600.000 toneladas de fosfato (Tebessa),cerca de 1 milho de toneladas de
carvo (Kenadza).

Sobretudo, a Argelia produzia riquzas de importncia capital: o gas e o petroleo


( 20.000 toneladas em 1962). Na industria dispunha de recursos do subsolo do sahara,
foras hidro-eletricas, leo ,minerais de ferro, zinco e cobre.As matrias primas tambm
eram abundantes.

Em sua obra Sociologia da Arglia (1958),Pierre Bourdie nos fornece dados


sobre o Sistema Colonial:

Segundo os dados estatsticos agrcolas, 22 037 exploraes europias (em que


13 017 com menos de 50 hectares, seja 59%, 2635 de 50 a 100 , 2588 de 100 a 200 ,e

3 797 com mais de 200. Seja 17%) ocupam 2 726 000 ha.

Ao passo que 630 732 autochtones (em que 438 483 de 50 a 100 ha, 8 499 com mais de
100,seja 1,3%) cobrem 7 349 160 ha ( a superficie media de uma explorao
erespectivamente de 120 e de 11 ha.(Bourdie,p.121)

Roger Garaudy remarca os problemas essenciais quando da libertao:

resolver com urgncia a desorganizao da gesto econmica devido a partida


massiva dos Europeus, que constituam a maioria dos tcnicos;
impedir,devido a estrutura social do pas, que a grande burguesia argeliana,que
dispunha de reserva de capitais, no comprasse os domnios abandonados pelos
colonos e no substitusse a explorao colonial pela explorao autctone;
impedir que a pequena e media burguesia do pas no confiscasse em seu
proveito a revoluo , ao assumir os comandos da gesto econmica e do
Estado,constituindo uma casta burocrtica com as camadas j integradas a
administrao colonial.
Para responder a estes desafios, as medidas adotas se orientavam na perspectiva de
uma forma original de gesto socialista das exploraes agrcolas e das empresas
industriais: a AUTOGESTO .

Qual foi a dinamica do movimento pela autogesto ?

-No campo:

O exodo em massa dos europeus criou uma situao nova.Assim, no


campo,os trabalhadores agrcolas para assegurar o armazenamento das
colheitas de vero, dedicar-se a ateno devida a hortas e vinhedos,seguir a
fabricao de vinho e salvaguardar os instrumentos de seu trabalho cotidiano,
acedem por um movimento natural ou articulado- a substituir os
proprietrios europeus fugidos,e logo a organizar-se coletivamente para
desenvolver a tarefa que requer a conservao das exploraes.

-Na industria:

No setor industrial,os operrios tomaram a iniciativa da mesma natureza para


a reabertura de fbricas e empresas comerciais abandonadas, para impedir o
exodo do material industrial ou dos capitais,e realizar as melhores formas de
organizao para seguir a atividade econmica.De tal modo que a herana
dos europeus ( um milho de hectares de terra, 400 empresas industriais e
artesanais,e 200.000 imovis ) abre na economia argelina por um
procedimento inesperado- um importante setor socializado (ARNAULT).

O procedimento inesperado, a Autogesto! Jacques Arnault assim define esse


processo:

Pode-se ver um certo paralelismo entre a reforma agraria cubana,abrindo um


grande setor de propriedade coletiva, e o fato consumado na Argelia,da toma
de posse coletiva,por parte dos trabalhadores,de terras e empresas
abandonadas por seus porprietarios europeus.

Este setor de propriedade coletiva obrigou a cada um a definir-se em relao


ao mesmo,e nas piores condies polticas para seus adversrios. BEM
BELLA declarou no Primeiro Congresso de Trabalhadores da Autogesto no
Campo:A deciso do poder revolucionrio em favor da autogesto(...)
respondia tambm a uma necessidade objetiva.carente de tcnicos e de
quadros competentes vinculados ao povo,o emprego de formulas de controle
direto por parte do Estado era impraticvel(...) Mas ainda, o nico que podia
assegurar a produtividade do trabalho era que os camponeses tiveram
conscincia de ser os donos da explorao e que estavam rompendo com seu
destino secular, no vendendo mais sua fora de trabalho.

Prossegue Arnault:
A autogesto no foi,em suas origens,o resultado de uma escolha,mas foi
imposta por um conjunto de possibilidades e de impossibilidades.Os
argelinos esclarecidos no querem que a autogesto seja o melhor sistema de
gesto possvel,de aplicao universal; mas, to somente que o melhor
sistema de gesto nas condies atuais da Arglia.

A opo do socialismo na Arglia correspondeu a traos especficos do pas. O


editorial do rgo da UGTA9 ,Revoluo e Trabalho ,de fevreiro 1965, declarava que
: O Partido, que sensvel as aspiraes das massas trabalhadoras, definiu de forma
irreversvel nossa opo socialista, tendo em comta nossas origens islmicas.

O Presidente Ben BELLA proclama: No importamos nosso socialismo do


estrangeiro , ns o formamos do mais profundo da realidade argeliana.O socialismo saiu
dos altos valores rabes. Em setembro de 1963,quando da ratificao da Constituio
da Arglia, pode-se ler na sua proclamo: A Republica argelina democrtica e popular
orienta suas atividades na via da reconstruo do pais, conforme os princpios do
socialismo e do exerccio efetivo do poder pelo povo, do que os fellahs, massas
trabalhadoras e intelectuais revolucionrios constituem a vanguarda.

Na Arglia, os militantes extraiam uma moral socialista da tradio islmica:


O Islam apresenta uma grande elasticidade de interpretao e de adaptao s situaes
revolucionrias.No Coro,se voc se fixa bem,se pode encontrar o socialismo.

Roger Garaudy , que esteve preso durante 33 meses na Argelia no perodo da 2


guerra mundial, relata em sua autobiografia , a conversa que teve com Ben Bella quando
voltou a Argelia nos anos 60:

O presidente Ben Bella me agradeceu por ter contribudo em sua busca do


socialismo argelino, me felicitou por ter mostrado o papel que podiam jogar o
socialismo utpico dos Carmathas , o racionalismo de Averres, a sociologia de Ibn
Khaldoun ,precursor do materialismo histrico, para ir em direo ao socialismo
cientifco de Marx, como esse papel foi desenvolvido na europa por Ricardo, Hegel ou
Saint-Simon.(...).Ele me explicou tambm sua preocupao, em um pais em que 90% da

9
O jornal da ANAP acentuava mais fortemente essa opo: O que nos separa do comunismo, que nos
desejamos construir o socialismo com Deus: o progresso social e material de uma parte, o
desenvolvimento dos valores espirituais de outra.
populao ligada ao Islam, de enraizar o socialismo nessa tradio popular profunda.

Roger Garaudy explica esse socialismo islamico

prolonga uma tradio especifica argeliana de apropriao coletiva da terra e


das tropas de animais: at o inicio do XIX sculo, apesar da coexistncia de
mltiplas formas de propriedade ( propriedade de tipo feudal caracterstica
dos ocupantes turcos, possuidores de azel, e apropriao privada dos meios
de produo (proprietarios melk), e o domnio arch (propriedade coletiva)
que cobria a maior parte do solo argeliano.

O regime da Arglia,sob dominao turca, no era ainda capitalista ,nem


escravagista nem tipicamente feudal. Desta particularidade da histria decorre a ideia
carateristica da concepo argeliana do socialismo.

Esta tradio vinha de uma fonte religiosa,do Coro, a concepo expressa na


Sunna,segundo a qual o trabalho funda a propriedade: Deus diz que s pode ser
proprietrio da terra aquele que a trabalha,que a cultiva pessoalmente.

13.1.1. Autogesto no Canal de Suez

Outras fontes da autogesto argelina so importantes: a experincia da


Yugoslavia e do Nasserismo :

A experincia nacionalista no Egito,sob o governo de Gamal Abdel NASSER ,


10 anos antes,em 1952, decretava a reforma agrria,abolindo os latifndios Esta reforma
teve como centro de sua elaborao uma Comisso,na qual participavam: o professor
Rachid Barawi,tradutor rabe das obras de Marx, Ahmed Fouad,de orientao
marxista.Mais de 100 cooperativas foram criadas para dar uma base coletiva a reforma
agrria.

Em 1956,aps o final da Guerra no Canal de Suez,foi lanado o Primeiro Plano


Decenal (1960-70) , concretizando a Carta de 1962 que institua o Setor Publico da
Economia. A este Setor,passavam o controle e a explorao estatal das ferrovias,
rodovias,portos,aeroportos e outros servios, a industria pesada e media,o caital
financeiro e as sociedades de credito,o comercio importador, parte do comercio externo
e parte do comercio pequeno e mdio.Em 1963, foram votadas as leis socialistas: mais
de 200 grandes empresas de capital mixto (estatal e privado) foram estatizadas;o
Governo expropriou vrios hospitais e casas de sade privadas.

Em relao a participao dos trabalhadores na direo das empresas, o Governo


adotou medidas : primeiro,fixou em dois o nuimero de operrios em um total de 7
diretores nas empresas;depois, elevou este numero de diretores das grandes empresas
para 9 ,incluindo 4 operarios,eleitos livremente. Os outros 4 so designados pela direo
e devem representar os diversos setores da empresa,cujo presidente designado pelo
Governo. Ao mesmo tempo, foi institudo o sindicato nico por categoriaconsolidando a
Central operariaFoi fixada um Maximo de 42 horas de trabalho semanal e proibidas as
horas-extras, fixando 25% dos lucros das empresas para os trabalhadores.O processo de
imigrao do campo para cidade foi crescente,o que elevou o numero de trabalhadores
industriais de 4.600.000 em 1952 para 7.290.000 em 1967.

Em 1965,o antigo PC E se dissolvia ,passando a integrar a Unio Socialista


rabe,

Em discurso pronunciado em 1964 ,na Assemblia Nacional,Nasser definia sua


concepo de socialismo:

A democracia socialista significa a associao das massas s questes


polticas , e se baseia essencialmente na descentralizao e na autogesto;

b) A democracia socialista uma afirmao da soberania do povo trabalhador


e consiste em por o pdoer em suas mos;

democracia o poder do povo inteiro e de sua soberania.A democracia


socialista significa que autoridade dos Conselhos Populares deve ser
erafirmada continuamente e deve ser superior a dos aparatos executivos do
Estado.A democracia socialista significa que a autoridade do Estado diminue
em proveito da autoridade do povo, que o mais qualificado para conhecer
seus prprios problemas.

Em relao a experincia da autogesto na Yugoslavia, Gregrio LAZAREV


,em seu livro remarques sur lautogestion agricole em Algrie (Paris,1965) , responde
a questo:

-Por que a Arglia escolheu precisamente o modelo yugoslavo ? :

difcil,mas no impossvel,encontrar o processo lgico que levou a adoo


da autogesto. Devemos assinlar,sem duvidas, as temporadas que passaram
na Yugoslavia numerosos quadros argelinos durante o perodo de luta. Os
contatos parecem ter sido particularmente ntimos em nvel das organizaes
sindicais.Deve-se igualmente notar que a formao quase espontnea de
comits de gesto predispunha a soluo yugoslava..O qu de todos modos
certo que os textos yugoslavos foram estudados de perto pelos redatores dos
texts da autogesto.

O principal documento da experincia da Arglia, a Carta de Argel, precisa bem que:

Por o problema do capitalismo em termos puramente econmico e no ver a


contradio entre dirigentes e executantes, condenar a fazer do socialismo
uma receita da acumulao primitiva e a perder,assim, seu significado
humano.O socialismo no somente uma certa organizao da produo, a
recuperao da sociedade pelos indivduos que a compem e seu livre
desenvolvimento.

O socialismo no se define unicamente pela nacionalizao dos meios de


produo.Ele se define tambm e sobretudo pela autogesto, soluo
verdadeira dupla contradio da propriedade privada e a separao direo-
execuo.

No campo cultural , ocorreram inmeros debates sobre diversos temas. A ideia


de Revoluo Cultural apresentava o seguinte Programa:

- Abrir as portas do saber e do saber-fazer as massas populares;

- favorecer o desenvolvimento cultural e a democratizao da cultura;

- formar um homem novo em uma sociedade nova;

-manter um esforo permanente de animao e explicao.

P. Lucas apresenta alguns elementos da personalidade algeriana(segundo


definio de A.Taleb):

- autenticidade;

-sentido da luta (intransigncia,esprito de sacrifcio,coragem);

-humildade (sentido de justia e de igualdade);

-realismo (lucidez,segurana de instinto,clareza de pensamento);

-sociabilidade (sentido de comunidade e da democracia).


Com a formao do Governo da Republica, presidido por Ben Bella, foram
adotadas medidas para acelerar o processo autogestionrio. Uma delas, foi a criao de
um Comit Nacional de Proteo a Gesto dos Bens Vacantes (BNASS), que teve a
tarefa de impulsionar o processo de formao dos comites de gesto e de
institucionalizar a autogesto no pas.

Em 1964, a Arglia tinha quebrado o essencial das estruturas agrrias herdadas


do colonialismo .A fuga de cerca de 95% dos colonos criou uma situao caracterizada
pela possibilidade de fazer a reforma agrria e pela impossibilidade para frao mais
conciliadora do movimento nacional argeliano, de colaborar com a burguesia liberal
europia instalada no pas. Os Acordos de Evian e a relao com a Frana limitaram a
soberania do pas.

O pas estava marcado por grande desigualdade de desenvolvimento entre varias


regies,o que conferia uma situao especial aos fenmenos regionais,sobretudo em
Kabylie e as sobrevivncias feudais, marcadas pela viso de clans.

Com a formao do Governo da Republica, presidido por Ben Bella, foram


adotadas medidas para acelerar o processo. Uma delas, foi a criao de um Comit
Nacional de Proteo a Gesto dos Bens Vacantes (BNASS), que teve a tarefa de
impulsionar o processo de formao dos comites de gesto e de institucionalizar a
autogesto no pas.

No final de 62, surgiu o Projeto de Estatutos , regendo as modalidades de


autogesto:

Por autogesto,entendemos uma forma de organizao precisa dos


trabalhadores de cada empresa,e uma funo de gesto precisa.As formas de
organizao da autogesto : Assemblia dos Trabalhadores, o Conselho dos
Operrios, o Comit de Gesto e, o Diretor Administrativo. [...] A
Assemblia compreende todos os membros da empresa agrcola ou industrial,
considerada como pessoa moral tendo os poderes legais sobre os meios de
produo. a Assemblia que adota os regulamentos gerais da empresa. [...]
O Conselho do s Trabalhadores eleito pela Assemblia e abrange um
numero mais restrito de trabalhadores da empresa. O Comit de gesto o
rgo executivco do Conselho dos Trabalhadores e conta entre 5 e 9 ou 11
membros. O Diretor executa as decises do Comit de gesto, organiza e
dirige o processo de trabalho na empresa.

.
13.1.2. Os decretos de Maro de 1963

Em maro de 63, a situao poltica foi clarificada em favor da ala esquerda do


poder dirigida por Bem Bella. Foram,ento,adotados 3 decretos sobre a autogesto.Estes
decretos tinham um objetivo comum: definir e legalizar a estrutura de funcionamento do
setor econmico socializado e gerido democraticamente pelos coletivos de
trabalhadores. No dia 29 maro,Bem Bella falara pela TV para todo o pas:

Trabalhadores, trabalhadoras da Arglia ,depende de vocs e somente de


vocs provar ao mundo que a revoluo argelina quer e pode ser a vanguarda
das experincias socialistas de nosso tempo...Organizai-vos para que em todo
territrio argelino,as assemblias gerais dos trabalhadores possam se reunir e
que em todo o territrio, os comits de gesto democraticamente
eleitos,possam realizar a edificao socialista de nosso pas.

O decreto de 18 maro regulamentava as empresas abandonadas (os bens


vacantes) em 4 pontos:

- toda empresa abandonada ser considerada como nacionalizada;

- toda empresa que cessar sua atividade,ou a reduza, poder ser declarada abandonada;

-toda pessoa que disponha de empresas abandonadas sem autorizao ser severamente
punida;

-as empresas abandonadas passaram a tutela administrativa da presidncia do Conselho.

O decreto de 22 maro legaliza e institui a autogesto das empresas pelos


trabalhadores, com os seguintes rgos:

- assemblia geral dos trabalhadores;

-Conselho dos trabalhadores;

- Comit de gesto, com um presidente;

- o diretor.

O decreto de 28 maro regulamenta as modalidades de repatio das rendas das


empresas autogeridas:
- uma remunerao de base garantida em quaisquer circunstancias (7 F por dia);

-uma remunerao indireta sem ervios sociais: moradia, assistncia social;

- no fim de cada ano, um premio sobre lucros da empresa .

Estes 3 decretos foram celebrados com uma manifestao


monstruosa,organizada pela Central Sindical UGTA, 3 de abril na Casa do
Povo,em Argel. Os decretos suscitaram um grande entusiasmo entre os militantes
socialistas e as massas trabalhadoras.Os meses de maro,abril e maio,viram a
mobilizao mais ampla dos trabalhadores aps a Independncia.Em maio, o Comite
Nacional inaugurou uma emisso radiofnica cotidiana com o objetivo de tornar
conhecidos os decretos e ajudar os trabalhadores na sua aplicao.

A distribuio de renda nas empresas autogeridas tinha diferentes dedues. Do


valor global da produo bruta da empresa, deduziam-se:

-os custos materiais da produo;

-a parte de investimentos;

-o valor de compra dos produtos da empresa, outros custos gerais;

-o imposto territorial;

- mais ,o imposto demandado pelo Estado, composto de 2 partes: o que vai para o
Fundo nacional de Investimento; o que vai para o Fundo nacional de equilbrio do
emprego (para as regies menos desenvolvidas).

A renda lquida da empresa o que sobra aps a deduo do imposto global.A


repartio desta sobra decidida pela assemblia dos trabalhadores e, no deveria ser
inferior a 50% da renda bruta da empresa. A renda lquida repartida na proporo
prxima a 35% para as rendas do pessoal e de 15% para os fundos da empresa

Em abril de 1963, 70.000 trabalhadores gestavam gerindo exploraes agrcolas


abrangendo 1.200.000 hectares das terras mais produtivas do pas. Aps estes decretos,
o entusiasmo foi real durante alguns meses, exceto nas regies das montanhas,Kabylie e
Aurs ,em que houve grande participao durante a guerra de libertao,mas onde a
independncia no trouxe grandes mudanas.
Na sua pesquisa, J. ARNAULT pe uma serie de problemas da autogesto no
campo:

O setor agrcola de autogesto cobre atualmente 2.600.000 hectares;ou seja,


mais de 40% das terras produtivas;estas so as melhores terras. Mas, devido a
seu alto grau de mecanizao s emprega 150.000 trabalhadores permanentes
(ao redor de um trabalhador para cada 20 hectares),ou seja, apenas uns 10%
da mo de obra agrcola total, estimada em 1.600.000 pessoas.

Os trabalhadores da autogesto salvaguardaram o patrimnio agrcola;


agora,para superar a produtividade dos colonos, necessrio inovar.A
inovao sup~e um aporte tcnico exterior aos comits de gesto.

A fragilidade do setor de autogesto deriva tambm de seus mercados: a


produo vincola (300.000 hectares) estava voltada quase toda para o
mercado francs...O setor de autogesto no dispe nem dos meios de
presso polticos nem da experincia condies,rotas de
distribuio,intermedirios,conhecimento de mercado- que tinham os colonos
h muito tempo,para vender sua produo no mercado metropolitano ou
europeu.

O setor agrcola da autogesto tem,neste sentido, os mesmos problemas que o


setor industrial de autogesto: obter em boas condies de preos e de
prazos de pagamento- as matrias primas e o equipamento que lhes so
necessrios,e colocar em boas condies de preos e prazos,sua
produo.Porm, estes elementos esto ainda sob o domnio da empresa
capitalista argelina ou europia- cuja tendncia no facilitar sua tarefa.

Seria necessrio que o aparato do Estado lhe concedera uma ateno


privilegiada.Mas,no h segurana de que o aparato do Estado lhe seja
favorvel.Dai,a necessidade de criar organismos especiais para a
comercializao,o aprovisionamento e os crditos.Estes organismos,por outra
parte,sofrem a influencia do aparato do Estado.

Em relao Reforma Agrria, J. ARNAULT destaca que: Embora o setor de


autogesto tenha resolvido o problema agrcola,no podia ,sem duvidas,resolver o
problema agrrio; problema posto pela existncia de mais de 1 milho de pequenos
camponeses sem terra,ou possuidores de poucas terras.

Em 1964, BEM BELLA lhe afirmou,em entrevista:

A reforma agrria que programamos deve ser uma verdadeira revoluo


agrria,uma revoluo a respeito das relaes do campesinato com a
natureza,e das relaes sociais no campo.Existem na frica 23.000
exploraes argelinas de mais de 50 hectares,enquanto que 600.000 pequnas
exploraes no dispem de mais que 7 milhes de hectares.Ha mais de 1
milho de fellahs desempregados ou subempregados.A reforma agrria deve
limitar a propriedade privada a um nvel razovel e liberar a terra para os
pequenos camponeses.
O que nos atrasa no tanto a resistncia dos proprietrios argelinos,mas que
os pequenos camponeses com seus pobres meios materiais no podem
desenvolver a produo.Seus mtodos so rudimentares.

Seria necessrio agrupa-los em cooperativas.para para isto teramos que por


imediatamente material a sua disposio: tratores, pessoal para manej-los,
armazns,que a cooperativa se forme a partir destas vantagens
palpveis.Precisariamos 20.000 tratores e arados.

A autogesto industrial foi limitada. Nas cidades todo o setor comercial passado
para autogesto: cafs,restaurantes,hotis,etc.;provocando pnico entre os comerciantes
,artesos e pequenos proprietrios.As empresas industriais do setor autogerido,
totalizam o numero de 450 (5%); as unidades semi-artesanais significavam 45%;na
construo, 30%;as pequenas insdustrias de transformao,35%. No conjunto,
representavam um total de 10.000 trabalhadores,isto , 8% do total de trabalhadores.

Vejamos algumas tabelas sobre o campo das empresas autogeridas:

Mo de obra agrcola: 1965-1965

Setor Autogerido

Mo-de-obra permanente 134.430

Mo de obra 52.145

temporaria

Total 186.575

Fonte: Lucas

Repartio de Terras: 1964-1965

Setor Autogerido

Terras utilizadas para agricultura 2.302.280

Exploraes de florestas 107.280

Total 2.409.560

Fonte: Lucas
Mo de obra na industria autogerida - 1969

Ramos industriais autogeridos Mo de obra

Energia , gua -

Minas e estradas 429

Industrias siderrgicas, metalicas,mecnicas,eltricas 1.396

Materiais de construo 3.464

Qumica,borracha e plstico 292

Industrias alimentares -

Couro e pele 159

Madeira e papel,diversos 861

Industrias de alimentao 893

Industrias txteis 586

Total 8.080

Fonte: Lucas

Estrutura da Indstria Txtil - 1969

Forma de propriedade Numero de empresas Numero de Cifra de negcios (em


trabalhadores mil dinares)

Empresas autogeridas 6 586 16.065

Empresas pblicas 3 40 1.358

Empresas privadas 559 15.325 577.328

Total 570 24.927 767.788

Fonte: Lucas

Estrutura da Indstria Alimentar - 1969

Cifras de
Numero de
Forma de propriedade Numero de empresas negcios (em mil
trabalhadores
dinares)

Empresas autogeridas 24 893 58.474

Empresas Privadas 382 8.172 625.912


Sociedades Nacionais 8 13.857 1.392.743

Empresas Pblicas 6 412 34.768

Total 420 23.334 2.111.897

Fonte: Lucas

Evoluo do emprego industrial (exceto construo e trabalhos pblicos)

Ano 1973
1967 1969 1971
Setor (previses)

Autogerido 21.264 18.492 12.202 -

Privado 49.002 48.446 64.823 -

Pblico 38.032 76.920 96.163 -

Total 108.298 143.878 173.188 210.000

Fonte: Lucas

13.2. OUTRAS EXPERINCIAS

A partir da pesquisa de JACQUES ARNAULT , podemos relatar algumas


experincias de autogesto.

A Fazenda Malvalle (700 hectares de terra) faz parte de um conjunto de 27 granjas


(2.700 hectares) cultivadas sob responsabilidade de um Comit de Gesto, 185
operarios permanentes e 300 operarios temporrios. O Comit de Gesto eleito pelos
operrios permanentes consta de 7 membros. Seu presidente sempre trabalhou na
fazenda, como muitos outros operrios [...]. Um encarregado da gesto designado pelo
Estado tem a responsabilidade da administrao,da contabilidades,e da compatibilizao
do funcionamento da explorao com as leis em vigor,e com os planos de produo
nacionais. O prprio plano da fazenda,a repartio da mo de obra,a contratao de
operrios temporrios,so regimentadas de forma conjunta.Em cada equipe de trabalho,
um control toma nota das presenas e das tarefas realizadas.As sanes so a
despedida,ou uma multa que vai para um fundo social.No final do ano, o ingresso da
empresa deve ser dividido em trs partes: uma parte para a remunerao do
pessoal,superando o salrio garantido (750 francos por dia); uma parte reservada para a
amortizao do material e as inverses futuras, e uma parte reservada ao Estado para o
desenvolvimento do pas.
No houve queda de produo nem de produtividade agrcola.Os operrios tm uma
grande experincia pratica na fazenda.no momento, a nica inovao a aquisio
com ajuda do Estado- de 25 vacas trazidas de Saboya,que se pensa aclimatar sem
dificuldade,segundo me disse um jovem engenheiro agrnomo que assessora o Comite
de Gesto.O dia em que chegaram as vacas,toda a populao se apertava para olha-
las.O Comite de Gesto construiu ,pelo sistema de trabalho voluntario,uma
mesquita.Uma oficina de manuteno das maquinarias assegura a reparao do material
agrcola para os comits de gesto de Damieta e Medea.

Na Kabilia, por sua vez, o Comite de Gesto agrupa 5 exploraes que somam 160
hectares, das quais 34 so de vinho. Consta s de 8 operarios permanentes,que dispem
de 2 tratores manuais e 3 de rodas.Emprega 25 a 30 operarios temporariso,e mais na
poca da colheita. Dos 8 permanentes, 3 so antigos operrios (um deles trabalha na
fazenda desde mais de 30 anos).A idade varia entre 30 e 45 anos.Quando ocorreu a
renovao do Comit de Gesto (por teros todos os anos) o presidente eme xercicio
no foi reeleito por incompetncia,me disseram-, e o encarregado de gesto acabava de
sair de uma etapa de formao.Quando lhe perguntei se ele daria uma mo no
trabalho,posto que seu pessoal s contava com 8 operarios permanentes, me respondeu
que no,e pareceu assombrar-see com minha pergunta.Aqui um operrio permanente
ganha de 20.000 a 24.000 francos por ms,e um operrio temporrio 754 francos por
dia. No inicio, no foram previstas normas,o que se traduzia em ume xod de operrios
qualificados para o setor privado.os salrios estavam diversificados: 1.200 francos para
um podador de vinhas , 2.300 francos para um operrio mecnico, 3.500 francos para
um mecnico chefe.temos aqui,como em Cuba,o mesmo movimento de operrios
agrcolas em favor de um salrio fixo e no da repartio de benefcios no fim do ano.

Yesera do campo dos Robles:

Tem por cliente aos Cimentos Lafargue, sociedade francesa que continua
detendo em Arglia o monoplio do cimento.O Comit de Gesto manteve o
monoplio da empresa,apesar do material velho; e com os mesmos operrios.
Existe um projeto de remodelao dos acessos canteira para aumentar a
produtividade melhorando os transportes.perguntei a um velho oeprario que
sempre trabalhou aqui- como ele v a repartio dos ingressos no fim de
ano.Me disse que nos eu entender teria que destinar o mais possvel do
ingresso remodelao e a modernizao,embora se ganhe menos este
ano.Ante minha insistncia,parece que todo o mundo est de acordo.E se o
truste Lafargue decide no comprar mais a produo ? Ou baixar o preo ?

J. Arnault entrevista um secretario nacional da UGTA, que nos apresenta uma


serie de depoimentos sobre os problemas da autogesto:

Nem todos os comits de gesto funcionam to bem como os que voc


visitou.Pensamos que o excedente dos comits de gesto poderia aplicar-se
inverso nacional.Mas difcil transgredir a lei do interesse material dos
trabalhadores, que joga um papel importante na elevao da produtividade e
da produo.Devemos consagrar remunerao mais do que o previsto.

[...] temos aceitado,para salvar o setor agrcola da autogesto,fixar uma


remunerao uniforme de 750 francos.Por outra parte,era difcil ter critrios
validos.Logo na partida dos colonos ,nos faltavam estatsticas e avaliaes
corretas. E quadros para estabelece-las.Agora vemos as coisas mais claras,e
podemos fixar remuneraes mais justas,J era tempo,porque se corria o risco
de por em perigo a produo.[...]

Ao mesmo tempo,existe uma tendncia entre os operrios permanentes, de


contratar o menor numero possvel de operrios no permanentes embora
descontamos, a partir dos comits de gesto,poder reabsorver a desocupao
rural; por outra parte,em outros comits de gesto se tem contratado sob
presso dos operrios temporrios,para absorver a desocupao,o que resulta
em efetivos demasiado elevados,em relao superfcie a cultivar,e em uma
gesto deficitria. [...] As unidades de produo so,s vezes,demasiado
grandes.H uma disperso da responsabilidade.Nos faltam quadros
administrativos,que so todavia fracos.Sua contabilidade,em dinheiro,matria
prima ou material,nem sempre lhes permite ver quais so as exploraes que
realizam uma maisvalia e quais so deficitrias,Avanamos por ensaios. [...]

Nos lugares em que existe uma Seo Sindical, se esfora por estabelecer um
certo equlibrio: os trabalhadores podem cair em certos excessos,e
transformar-se em patres.A seo sindical joga um papel moderador.Os
trabalhadores sindicalizados so por principio conscientes.os comits de
gesto tm mais poder que os trabalhadores,mas atualmente no esto em
condies de exerce-lo desde o ponto de vista dos conhecimentos. [...] No
h superposio de funes.O comit de gesto se encontra a cargo dos
interesses imediatos, particulares e administrativos dos trabalhadores;os
militantes do partido defemdem os interesses do Estado,e o sidnicato os da
classe operaria.A educao poltica s pode estar a cargo dos militantes que
crm nisto,e em principio daqueles militantes do partido e do sindicato.

O papel do sindicato agir de modo que um trabalhador no qualificado


alcance o nvel de um operrio qualificado.Isto no papel do comit de
gesto. Atualmente estamos fazendo a renovao parcial dos comits de
gesto.nos esforamos para lutar contra os componentes familiares ou
tribais.Estes jogam um papel importante quando h muita desocupao.
muito importante a eleio dos homens.Aplicando uma democracia honesta
se pode obter tudo dos trabalhadores.

Tambm devemos ter em conta a falta de quadros.O setor privado os atrai.Se


l damos um milho a um engenheiro e ele faz trabalhar a quinhentos ou
seiscentos trabalhadores,ento vale a pena . O setor privado quer despojar ao
setor de autogesto de seus quadros.

Apesar da campanha pela reorganizao democrtica da autogesto, houve o


desenvolvimento de tendncias burocratizantes e deformadoras da autogesto.O perigo
da burocratizao residia na impotncia pratica da assemblia de trabalhadores para
controlar realmente os rgos como conselhos de operrios e os comits de gesto.

O fim do vero de 63, foi marcado por uma virada capital no desenvolvimento
posterior da autogesto.Ocorre a interdio do programa Voz da Arglia Socialista e o
desmantelamento do Comit Nacional (BNASS),em que uma parte passa para o
Ministrio da Agricultura e, outra parte,para o Ministrio da Industria.

Em 1963-65, o aparelho de Estado argelino era composto por:

- funcionrios franceses em cargos de cooperao: 13.729;

-tecnicos argelinos promovidos nas escolas de administrao colonial:22.182;

-quadros da FLN: 34.097.

Portanto, os tcnicos detinham mais de 50% dos psotos de gesto.A maioria dos
quadros da FLN ocupavam cargos secundrios.

O velho aparato estatal ficou quase intacto.As despesas administrativas


chegavam a 33% do PIB. A ajuda externa ao pas foi importante. A URSS emprestou
500 milhes de francos,e a China 250 milhes de francos.No total, a Arglia recebeu
145 bilhes dos quais 2/3 foram para o setor de administrao.

Varias correntes politicas se disputavam no aparato estatal;inicialmente, duas


correntes minoritrias:

uma corrente orientada para o capitalismo privado, fraca devido a fraqueza da


burguesia argeliana; mais enfraquecida devido a tomada das empresas
abandonadas pelos trabalhadores;
uma corrente socialista ,reagrupando um grupo de intelectuais revolucionrios,
quadros sindicais,etc; fracos na ausncia de uma organizao capaz de estruturar
os trabalhadores do setor autogerido e de se implantar entre os camponeses
pobres e os setores pobres urbanos.
Este segundo setor,socialista,foi responsvel pelos Decretos de maro 63 e,pela
Carta de Argel de 64. Por sua parte, a corrente majoritria no aparato estatal, vinha da
pequena burguesia e defendia um forte setor estatal para criar um caoitalismo de
Estado. Esta corrente foi favorvel a criao de empresas pblicas,geridas por
administradores,sem controle dos trabalhadores (hostil ao principio da autogesto) e
com objetivo de construir uma burguesia administrativa.Todavia, esta corrente no
podia mobilisar as massas para resolver o problema do desemprego e do sub-emprego
nem poara elevar o nvel de vida das massas.

Como vimos, a ANAP (Armada Nacional popular),detinha a metade dos postos


chaves do Estado. Por exemplo, o Ministrio da Defesa tinha uma importante parte do
oramento do pas,era como um Estado a parte. Assim , a ANAP geria os domnios
agrcolas, numa perspectiva fora da autogesto, mas na linha das cooperativas.

Os trabalhadores reagem ao processo de burocratizao atravs de vrios encontros:


o Congresso dos Fellahs(camponeses),reunindo os trabalhadores das exploraes
agrcolas em autogesto, e realizado em outubro 63; o Congresso dos trabalhadores das
industrias em autogesto,reunido de 28 a 30 de maro 1964, e o Congresso da
FLN,foram momentos fundamentais da reao dos trabalhadores.

O Congresso dos Fellahs, o primeiro setor agrcola autogerido,reuniu 2.500


delegados e demonstrou a que ponto as opes da autogesto e do socialismo tinham
penetrado profundamente nas massas trabalhadoras.

Por sua vez, o Congresso do setor autogerido das Industrias,adotou resolues que
refletiam uma soluo de compromisso com as tendencias favorveis estatizao.Era
a luta interna que ocorria dentro da Central Sindical, na FLN e na Administrao,entre
duas correntes opostas, duas concepes diferentes da autogesto e da construo
socialista no pas.

13.3. A CARTA DE ARGEL

J no Congresso da FLN,a autogesto foi erigida como um sistema econmico


e social caracteristico do socialismo argelino. A Carta de Argel ,elaborada pelo
Congresso,tornou-se o principal documento produzido pela revoluo argelina.Esta
Carta define o regime do pas como caracterstico de uma Sociedade de transio para
o Socialismo.

Este Congresso da FLN, foi o ponto culminante na elaborao da concepo


de autogesto,aps os 3 decretos de 1963. Todavia, a corrente revolucionria que
elaborou a Carta de Argel era muit frgil em nvel dos aparelhos do Estado. Assim, a
ANAP resistiu a criao das milicias populares e ao controle do exercito pela FLN.
Atravs de presses, a ANAP conseguiu a demisso do conselheiro de BeN Bella,
Mohamed Harbi,ento diretor do jornal Revoluo argeliana.

Entretanto, BeN Bella sofria as presses das foras antagonistas que lutavam no
interior do regime, levando a paralisao e ao desencorajamento. A aliana ttica entre
Bem Bella ,chefe do governo e Boumedien, lder das foras armadas, construda em
1962, foi marcada todo o tempo por disputas entre os dois setores.

A luta de classes no pas durante o Governo Bem BELLA, foi feita entre ,de um
lado, uma frao ultra-minoritaria de intelectuais revolucionrios apoiados na frao
sindical da classe operaria e dos trabalhadores da autogesto , que no seu conjunto
podiam agrupar entre 110.000 e 150.000 trabalhadores; por outro lado, a grande maioria
do aparato estatal,do partido e da Armada.

Inicia-se um controle crescente da autogesto pelo aparato do Estado que conduz,de


inicio, uma estatizao da agricultura moderna e transformao dos trabalhadores da
autogesto em assalariados do estado,podendo levar a uma nica soluo: o capitalismo
de Estado.

Assim, a reivindicao dos trabalhadores sobre a gesto da comercializao do


seus produtos,no foi realizada.No campo industrial, de modo geral, o setor industrial
autogerido passou para tutela da direo administrativa do Ministrio da economia.Os
rgos democrticos da autogesto, eleitos democraticamente pelos trabalhadores,
tornaram-se apenas consultivos.

A segunda metade de 1964 foi marcada por um despertar da classe operaria


urbana.Varios Congressos sindicais foram realizados neste perodo,em que todas as
resolues giram em torno da defesa e da consolidao do setor socialista
autogestionrio da economia, numa exigncia de aplicao estrita dos decretos de maro
1963.

Em junho de 1965,o regime presidido por Ben Bella foi derrubado por um golpe
militar, impopular,mas que no despertou resistncias na populao.

Assim, a gesto estatal da economia nacionalizada se ampliou,as foras


tecnocratas e autoritrias se desenvolveram mais rapidamente.Inicou-se o crepsculo da
ao livre dos sindicatos e das organizaes de autogesto e, o desmantelamento da
agricultura autogerida em favor dos proprietrios argelinos.

O novo regime, comandado pelo coronel Boumediene,tinha uma composio


poltica no CNR (Conselho Nacional da Revoluo) em que havia 25 membros ,mas
sem nenhum sindicalista nem intelectual revolucionrio;os postos chaves pertenciam
aos quadros da ANAP, sendo que o coronel Boumediene era o chefe das foras armadas
e do governo. Alm disso, o novo regime definiu um plano quadrienal de
industrializao (1969-1973),que substitua o papel que a autogesto tinha no regime
anterior.Neste processo, reforou-se o papel do Estado e da burguesia administrativa
consolidada pelo poltica das nacionalizaes.

Diversas greves ocorreram em 1968: os porturios, motoristas de


txis,petroleiros.Em 1969, o poder passa a controlar todos os sindicatos.

A disputa em nvel do poder de Estado , abrangendo tambm a sociedade civil,


foi analisada por Ahmed Mahsas, que foi membro do Governo no Governo Ben Bella (
com quem esteve e preso e fugira juntos da priso de Blida em 1950),como Ministro da
Agricultura.O livro de A.Mahsas chama-se Lautogetion em algrie,publicado por
ditions anthropos, 1975.

Em um dos sub-capitulos,intitulado Clivagem das foras polticas,A.Mahsas


traa a conjunrura de disputa:

A FLN, em sua tendncia dominante ( da poca de Khyder ) representava o


militantismo tradicional, ligado aos valores arabemusulmanos, mas sem perspectivas
serias, a no ser o poder e um socialismo vaho.

Por sua vez,a fora armada, Quantoo a armada, de composio popular e


camponesa em sua grande maioria, a nica fora realmente organizada, formava um
potencial socialista,se bem que uma parte de seus quadros superiores mostrava uma
tendncia contraria e muito mais militaristaSeus dirigentes oficiais se declaravam
socialistas e antes de tudo algerianos.Se levamos em conta as experincias de
cooperativas que ela organizou isoladamente e de seu modo de gesto, tratava-se de um
socialismo autoritrio em contradio com o socialismo democrtico da autogesto.

No campo sindical, A UGTA representava evidentemente os trabalhadores e


reivindicava o socialismo sem portanto constituir uma fora homognea devido a
formao e orientao de seus quadros.

No campo poltico, O PCA que, de fato, no se fundiu nunca na FLN-ALN


conservou seu particularismo e tentou tirar proveito da participao de alguns de seus
elementos na revoluo.

O PCA apouou Bem Bella,e manteve uma estrategia ligada ao PCF,na orbita do
PC sovitico.Segundo Ahmed Sua influencia no superou um circulo pequeno de
aderentes e de simpatizantes; mas, dispunha de militantes sinceros e convictos e bem
organizados.

E,o Governo:Enfim a corrente animado por B.Bella detentora do poder parecia


a mais preponderante.Era mais a popularidade do responsvel frente as massas que lhe
assegurava o sucesso e a coeso.Essa corrente estava composta por um mosaico de
tendncias e de personalidades reunidas em alianas (...) essa gama se estendia a todas
as correntes polticas, dos conservadores moderados at um grupusculo de extrema
esquerda marxista*(pgs. 73 a 75)

Ahmed analisa o papel dos setores envolvidos na autogesto: A agitao feita


em torno dos decretos de maro e da autogesto no foi acompanhada de uma ao de
envergadura para organizar essa fora popular, nem de explicaes, nem de
esclarecimentos idologicos do mesmo nvel.Essa carncia no podia ser compensada
pela promoo do BNBV (Bureau nacional de proteo e gesto dos bens vacantes) em
BNASS (Bureau nacional de Animao do setor Socialista) se bem que seus partidrios
viram nisto uma garantia do sucesso da autogesto e do socialismo.Tambm no foi a
criao da ONRA (Oeganizao nacional reforma agrria) encarregada da gesto das
fazendas abandonadas por seus prorpietarios e para realizar o programa da reforma
agraria do governo que iria cumprir essa tarefa (p.128).
Para Ahmed, o BNBV-BNASS fazia uma animao via ardio e escritos de
carter estreitamente obrerista e anti-estatal,segundo viso do seu grupo dirigente
de orientao pablista-trotskista.

Ahmed relembra que a fora principal organizada,a ANP sobre a qual se


apoiava o poder no via na autogesto a formula do socialismo algeriano.o Ministro da
Agricultura da poca O.Ouzegane parecia pender mais para as fazendas do Estado,
tanto que o partido FLN (direo da emsma poca oficial em disputa acirrada) se
reclamava do scoialismo e no defendia suficientemente a autogesto.No era destes
meios que a autogesto receberia seu impulso decisivo(p.129)

Esse campo de contradies profundas entre setores do Estado,do Governo,do


partido e da Armada,Ahmed tambm o identifica no campo das Comunas, na
constituio dos chamados Conselhos Comunais de Animao do Setor Socialista: nem
Sua concepo respondia ao espirito da autogesto,a edificao democratica partindo
da base.Entretanto, nem o partido, nem os Sindicatos,nem as outras instituies
nacionais no funcionaram segundo esse principio ( mesmo que a vontade do regime era
de transform-los nesse sentido). O exemplo dos Conselhos Comunais ilustra a
contradio de fato entre o sistema autogerido e o conjunto das instituies baseadas no
principio da centralizao(p.143).

O conflito entre o Partido e o estado residia na concepo sobre o papel do


partido e o do Estado.Seguindo o raciocnio de Ahmed, a outra divergncia estava na
concepo do soailismo.Khyder julgava a autogesto impossvel e manifestava
abertamente sua hostilidade.Optava,aps uma viagem ao Cairo em 1962,por um regime
inspirado pelo do Egito de Nasser,ou seja,pelo socialismo estatal.

Outro campo de contradio se desenvolveu entre o Governo Bem Bella e a


Assembleia Nacional,na pessoa de F.Abbas,que foi o primeiro presidente do
GPRA.Para Bem Bella a Assemblia no dispunha do poder para controlar a ao do
Governo.Khyder e F.Abbas se demitiram,A crise se concentrou entre o Governo Bem
Bela e a Armada de Boumdienne,Ministro da Defesa Nacional.

A concentrao de poder nas mos de Ben Bella acirrou ainda mais as


disputas.Ben Bella era secretario geral do partido-FLN;Presidente da republica;Chefe do
Governo;Ministro do Interior,das Finanas e da Informao.
Ahmed Mahsas assimde fine o novo regime: O novo poder privado da sustentao
popular,se erigiu em casta preocupado exclusivamente pela conservao do poder,sem
outra perspectiva seria que a condenao do antigo presidente(...)Em vez de criar
estruturas para mobilizar as foras revolucionarias, se limita ao contrariop a destrui-las
pela represso seja pela intimidao seja pela corrupo(p.255).
14. OS CICLOS DAS LUTAS AUTOGESTIONRIAS NO PS-
GUERRA, NA AMRICA LATINA: AS EXPERINCIAS DE
REAS DE PROPRIEDADE SOCIAL

Em relao a Amrica Latina , vamos abordar lutas operarias com carter de


autonomia e experincias de Governos democrticos ,que adotaram as reas de
propriedade social.

Todavia, o ciclo em curso,inicado em janeiro de 1994 com a prxis do ELN em


Chiapas-Mxico e ainda em curso com as experincias de poder popular comunal na
Bolivia,Venezuela e Equador, ser abordado em outro volume.*

Para esse ciclo, com exceo do processo da Venezuela, no utilizamos nossa


matriz metodologica, pois , o carter em curso deste ciclo , nos permite extrair
elementos tericos em relao a autogesto comunal. Desse modo, articulamos histrico
e terico ao mesmo tempo.

14.1. BOLVIA: A CENTRAL OBRERA BOLIVIANA E A REVOLUO DE


1952

No final de 1943, a Bolvia passava por mais um golpe de Estado: o major


Villaroel assumia o poder. O movimento operrio, durante o Governo Villaroel, obteve
conquistas importantes no campo das leis sociais.

Em 1945, foi fundada a Federao Sindical dos Trabalhadores Mineiros da


Bolvia (FSTMB) , em um Congresso que designou Juan LECHIN seu primeiro
secretrio-geral. A FSTMB se tornaria a vanguarda dos trabalhadores do pas.

Em julho de 1946, um golpe derruba o Governo nacionalista de Villaroel. A


classe operaria,organizada na FSTMB assume a vanguarda das lutas de resistncia.A
poucos meses de instalo do novo Governo,de carter reacionrio,a FSTMB convoca
um Congresso para PULACAYO,em que adota as teses do mesmo nome.
As famosas Teses de Pulacayo constituem um programa socialista
revolucionrio,inspirado no Programa de Transio da IV Internacional trotskista.
Seu principal ponto foi a reivindicao do Contole Operrio, que entraria em vigor
com a revoluo de 1952.

14.1.1. As Teses de Pulacayo

Nas teses se diz, por exemplo: O proletariado dos pases atrasados est
obrigado a combinar a luta pelas tarefas democrtico-burguesas com a luta pelas
reivindicaes socialistas.

A FSTMB apia toda medida que tome os sindicatos no sentido da


realizao do controle efetivo pelos operrios de todos os aspectos de
funcionamento das minas. Devemos romper os segredos patronais da
explorao,da contabilidade tcnica,da transformao dos minerais,etc,para
estabelecermos a interveno direta dos trabalhadores sobre os tais
segredos.Nosso objetivo a ocupao das minas,por isto devemos nos
interessar pelos segredos patronais.

Os operrios devem controlar a direo tcnica da explorao,os livros de


contas,intervir na designao dos empregados,e sobretudo,devem se
interessar em publicar os lucros que recebem os grandes mineiros e as
fraudes que eles efetuam quando se trata de pagar os impostos do Estado e
de contribuir para a Caixa da Previdncia e Poupana dos operrios.Aos
reformistas que falam do direito sagrado dos patres, opomos a palavra de
ordem do CONTROLE OPERARIO DAS MINAS.

14.1.2. A Revoluo de 1952

A COB surgir da mais importante exploso do proletariado boliviano;surge sob


o impulso da vitria dos trabalhadores em 1952. A revoluo de abril,consecutiva a uma
insurreio operaria e popular,alterou os esquemas polticos vigentes. Neste contexto, a
COB tornou-se um rgo estatal, no sentido de um Soviet (Conselho),de origem
sindical.A COB detinha o poder atravs das milicias operarias que substituram o
Exercito oficial.

Em 1954, a COB realizaria seu primeiro Congresso,que se auto-proclama


PARLAMENTO OPERARIO.Em 1956, Siles ZUAZO foi eleito presidente do
pas,representando os setores de direita do MNR.A direo da COB concilia, enquanto
as bases operarias realizam manifestaes de protesto pelas ruas, com a palavra de
ordem, TODO O PODER A COB e A COB o poder.

Nestas circunstancias,realiza-se o segundo Congresso em 1957.Aprova-se uma


resoluo de programa,retomando a linha fundamental das Teses de Pulacayo: defesa
e aplicao do controle operrio coletivo pelkas bases;fortalecimento das milicias
armadas e armamento em massa dos mineiros.

O proceeso ocorrido no grupo dirigente da COB, sofreu resistncias na base


operaria: nas minas de So Jos e Siglo Veinte,realizaram-se assemblias exigindo
a aplicao das resolues do segundo Congresso da COB.Em Catavi e Pulacayo,os
operrios destituram os dirigentes que haviam capitulado e elegeram novos dirigentes.

Os mineiros mantiveram o funcionamento das milcias, a principal conquista da


revoluo de abril;puseram em ao as rdios mineiras e estabeleceram uma zona
liberada.Em 1958, foi realizado o IX Congresso nacional da FSTMB,adotanto,entre
outroas, as seguintes resolues:

tendo presente que s as Milcias armadas garantem os direitos operrios, a


livre expresso dos trabalhadores em congressos e reunies...se organiza o
Estado maior das Milcias mineiras com os seguintes objetivos: o Estado
Maior se constituir no centro de agrupamento das milicias operarias e
camponesas de todo o pas, para formar o Estado maior Central das milcias
operarias e camponesas.

O enfrentamento com o Governo se aprofunda.A situao de dualidade de


poderes,que se mantinha desde 1952,exige uma soluo.O Exercito e a COB polarizam
a situao.O golpe militar do general Barrientos, em 1964,ser o ponto final deste
processo.Como amaioria dos pases da Amrica Latina, a Bolvia passava a ser dirigida
por uma ditadura militar.

14.1.3. A Assembleia Popular em 1971

Em outubro de 1970,uma junta militar efetua mais um golpe na Bolvia. O


general TORRES resiste ao golpe e convoca os trabalhadores.A junta militar durou
apenas algumas horas.A vitria do gal. Nacionalista Torres abriu um perodo de
democratizao no pas. A corrente nacionalista dos militares se aliou aos trabalhadores
para derrotar a direita do Exercito.

Em seguida, os partido polticos organizam o Comado Poltico da classe operaria, que


foi uma ante-sala da Asemblia Popular,que existiu com caracter de
Soviet(Conselho),superando ,em nvel ideolgico, a experincia de
1952.Entretanto,desta vez, a assemblia no tinha um brao armado de carter popular.

O Governo de Torres buscou o equilbrio entre as classes atravs de um


Programa nacionalista,com concesses paralelas classe operaria e ao
imperialismo.Quando fracassou a paz entre as classes, os fascistas deram o golpe
dirigido pelo gal. Hugo BANZER,liquidando de uma s vez, a Assemblia Popular e o
Gov. de Torres.

A Assemblia Popular foi obra da prpria classe operaria,e,resultado de suas


experincias passadas. A reproduo prevista, da Asembleia Popular, em rgo de nvel
municipal,iria constituir uma experincia de auto-governo para os trabalhadores em
todo o pas.

14.1.4. A FSTMB e a Co-gesto

Durante o periodo da AP, a FSTMB concentrou suas foras no programa de


cogesto na COMIBOL (Corporao Mineira da Bolvia),estatal de explorao
mineira,criada a partir das nacionalizaes da revoluo de 1952.

A cogesto era o caso mais ntido de ocupao pelo alto,de acordo com o
Governo,em oposio s coupaes de fbricas e minas, por baixo,pela ao direta
dos trabalhadores.Entretanto, a cogesto respondia de uma maneira autentica a um
impulso espontneo vindo da massa operaria.

A aprovao unnime do projeto da FSTMB,pos em prova a profunda


capacidade criativa dos mineiros bolivianos.Mesmo aps a queda do Governo Torres,
no regime militar de Banzer, a tese da cogesto operaria manteve-se presente nas lutas
dos operrios.

Com a volta da democracia ao pas, com o Governo civil de Zuazo,em


1983,mais uma vez os mineiros ensaiaram de concretizar as Tese de Siglo veinte
sobre a cogesto operaria.

Em maro de 83, aps um amplo debate nas bases, a FSTMB adotou um


documento sobre a cogesto,aceito tambm pela COB, nos termos da proposta de 1971.
no ms de abril, a FSTMB interviu na COMIBOL,como primeiro passo na definio
concreta de uma estratgia de poder popular.

Em janeiro de 1985, a COB iniciou uma greve geral que teve durao de 15
dias: 10.000 mineiros ocuparam as ruas de La Paz ,com assemblias e manifestaes.A
COB reivindica a escala mvel de salrios e o congelamento dos preos dos artigos de
primeira necessidade e dos transportes,alm da renuncia do presidente Siles Zuazo.

A COB,ento,assumiu o controle dos servios de emergncia,desde


transportes,imprensa,e medicamentos.Os automveis s podiam circular no pas com
um salvo-conduto da COB,apoiada pela Central dos camponeses.

A inflao no pas atingia a cifra de 2.177% e a media salarial era de US


50.Aps 11 dias de greve geral, a COB avanou em suas reivindicaes ao exigir um
governo operrio e campones.ems etembro,houve greves e manifestaes no
pas.Desta vez, o Governo respondeu a mobilizao de massa dos trabalhadores,com
represso violenta, prendendo , matando e exilando sindicalistas.

14.2. A REVOLUAO CUBANA E O PODER POPULAR (1959)

Michael Lowy em seu estudo sobre o pensamento de Che Guevara , afirma


que O pensamento poltico do Che,como o de Marx e de Lenine, construdo em
torno do eixo fundamental de toda teoria autenticamente revolucionria: a emancipao
dos trabalhadores ser obra dos prprios trabalhadores. Como bem o sabemos, este o
lema da autogesto, surgido ainda na Primeira Internacional.

LOWY, analisando a questo da democracia em Cuba e Nicargua, nos diz que


deve-se resgatar o valor positivo de experincias como o poder popular de Cuba, mas
levando em conta tambm suas limitaes. (...)

O prprio processo da revoluo cubana, a larga participao popular, fez com


que ,desde o inicio, a revoluo combata a ameaa burocrtica.Algumas medidas neste
sentido foram importantes:

Em 1962, o Partido foi reorganizado para permitir que os trabalhadores


pudessem escolher,entre eles mesmos,os que consideravam dignos de fazer
parte da vanguarda.Foram criadas as Assemblias nos locais de trabalho,para
organizar a distribuio de certos bens de consumo;

Entre 1963-1966,foi feita uma discusso publica e aberta sobre as


divergncias em torno dos mtodos de gesto econmica (papel da lei do
valor no planejamento socialista,incentivos materiais ou morais,etc) e sobre
os mtodos de ensino do marxismo (a partir dos manuais soviticos ou das
prprias obras de Marx,Engels e Lnin);

Foi realizada uma ampla consulta popular sobre as principais reformas legais
do pas: a reforma judicial em 1973, o cdigo da famlia em 1974, e a nova
Constituio em 1976.

Contudo, a questo chave da participao democrtica das massas no Estado


no fora resolvida.A partir de 1975,seria criada uma soluo nova e
original,sem precedentes em nenhum outro estado de transio para o
socialismo: o poder popular (LOWY ).

O principio essencial do poder popular que toda unidade de produo ou de


servio que fornece bens ou servios comunidade deve ser gerida e
contolada poressa comunidade.isso significa que as escolas,centros
mdicos,lojas,bares,fbricas,cinemas,centros de diverso,etc,so
administrados pelo poder popular de cada localidade.

Este princpio o mesmo que vimos na gesto popular da Comuna de Paris,isto


, um dos fundamentos da autogesto social. As revolues na Amrica Latina
desenvolveram esta forma original de organizao das populaes por bairros.

S as unidades e setores de atividade que trabalham para o pas inteiros ero


controladas a nvel nacional: a frota mercante,a industria pesada,os bancos,a
pesca, o sistema ferrovirio,a gesto das outras atividades ser feita a nvel
municipal ou provincial.Numa comunidade dada,a populao elege seus
delegados assemblia municipal;as assemblias municipais elegem as
assemblias provinciais,e estas,a Assemblia nacional,numa estrutura
piramidial de delegao de poderes.

[...]

A cada dois anos e meio, a populao elege seus representantes (um total de
10.735 delegados) s assemblias municipais do poder popular. O delegado
tem que prestar contas periodicamente populao (assemblias de
prestao de contas),e esta tem a possibilidade de destitui-lo,se ele tiver um
comportamento burocrtico ou corrupto.
[...]

Graas ao poder popular, as decises foram descentralizadas;as solues


coletivas substituram as solues administrativas e foi estimulada a
criatividade espontnea das massas.O poder popular permitiu que o povo
cubano tomasse em suas prprias mos os problemas locais,
imediatos,atravs das assemblias municipais.Com isto conseguiu frear as
tendncias burocrticas a nvel local, quer dizer,no mbito da vida cotidiana
em que as massas manifestam,com razo,uma grande
sensibilidade.Participando ativamente da gesto comunitria das atividades e
servios, o povo manifestou concretamente sua adeso revoluo.Deste
ponto de vista, o poder popular de Cuba representa um avano democrtico
real na transio para o socialismo e ume xemplo que merece ser estudado
com ateno (LOWY).

Todavia, Lowy assinala os limites deste sistema cubano:

Na ausncia de um pluralismo poltico,da discusso de ponstos de vista


diferentes e de partidos diversos concorrentes na eleio dos delegados,as
massas no tm o poder de deciso entre varias orientaes econmicas ou
polticas,quer dizer,entre varias alternativas.O resultado que a base popular
tem muito pouco controle real sobre os nveis provinciais
e,sobretudo,nacionais do poder (Assemblia Nacional, Conselho de Estado e
Conselhos de Ministros)...O sistema de partido nico e a estrutura interna
monoltica do partido so as principais limitaes da democracia socialista no
poder cubano.

Lowy assinala alguns princpios do poder popular: Como neutralizar a tendncia


espontnea burocratizao? A nica via a participao ativa do povo em todos os
nveis da atividade do Estado. No mbito econmico, esta participao viabiliza-se
pela autogesto local, atravs de conselhos de fbricas e assembleias de trabalhadores.
Em 1961, Che Guevara colocava o seguinte:

A assemblia de produo engloba todos os operrios de uma fabrica que,


democraticamente reunidos,expem seus pontos de vista sobre o andamento
da industria e do planejamento. A assemblia de produo representa uma
espcie de cmara legislativa que julga sua tarefa prpria e a de todos os
funcionrios e operrios. As armas de educao socialista que ali devem
imperar so a critica e a autocrtica.Esta modalidade permite educar os
administradores na escola da analise critica de sua prpria tarefa em relao
ao conjunto da massa operaria,e esta para o controle efetivo das tarefas de
administrao [...].

Pode-se acrescentar a necessidade de discutir,nessas assemblias,as propostas


gerais do planejamento econmico central,durante o perodo de sua
preparao,para que os planejadores possam conhecer a opinio dos
trabalhadoressobre as questes chaveas do planejamento: prioridades da
produo,foemas de distribuio de bens escassos,etc.

E que, naturalmente, a autogesto das empresas,escolas,hospitais,etc,tem que


ser coordenada com o poder popular municipal,encarregado da administrao do
conjunto de empresas locais,e com o plano econmico geral (LOWY).

Lowy acresce outra sugesto, que esteve presente nas lutas autogestionrias:
Uma hiptese que pode ser considerada a eleio de uma SEGUNDA
ASSEMBLIA,para a qual seriam eleitos delegados de todas as organizaes de massas
do pas. Esta Assemblia dos Trabalhadores teria a tarefa de controlar ou completar as
atividades da Assemblia Nacional.isto permitiria que as organizaes de massas,que
representam a parte mais ativa do povo trabalhador,influsse diretamente nas
orientaes polticas e econmicas do pas.

Cuba chegou a estas definies e praxis de poder popular devido a que ,neste
pas, houve uma autentica e original revoluo popular. A Revoluo Cubana no foi
um ato insurrecional, produto do vanguardismo de um grupo de guerrilheiros ,como
apareceu nas teses do foquismo. Foi, como toda revoluo, um processo histrico
complexo e longo que culminou uma luta de 100 anos, atravs do qual o povo cubano
foi forjando conscincia e experincia organizativa.

O movimento operrio cubano um dos mais fortes e mais antigos da Amrica


Latina: as tradies de organizao datam de 1866 (primeira greve dos trabalhadores do
Tabaco).Em 1892 foi realizado um congresso operrio,com 1.000
delegados,reivindicando a Independncia poltica do pas e a jornada de 8 horas.

Em meados do sculo XIX, coexistiam a economia escravista com a produo


capitalista.Em 1840, o ramo da tabacaria se caracterizava pelo maior numero de
trabalhadores assalariados e pelo tamanho das fbricas.Em 1859, estas fbricas
agrupavam mais de 15.000 operarios.A fabrica Hija de Cabaas y Carbajal tinha cerca
de 300 trabalhadores,marcando uma concentrao operaria significativa para poca.

O desenvolvimento do movimento operrio e seu papel na formao das


organizaes revolucionrias datam de uma longa experincia.Em nenhum pas do
Continente, o proletariado participou tanto na formao de uma conscincia anti-
Imperialista e na orientao das lutas polticas.Sem a contibuio da classe operaria
cubana, a vitria teria sido impossvel.

Trs grandes movimentos grevistas se destacam no processo revolucionrio


cubano:

a greve geral do setor aucareiro em 1955;


a greve geral revolucionria iniciada em Santiago,em 1957;
a greve geral que que permite a tomada do poder pelo Exercito Rebelde,em
1959.

A greve de 1955, ocorre no perodo da crise do acar cubano, com um nvel de


desemprego muito alto. Em dezembro de 1955, explodiu a greve geral,tendo como
origem uma reivindicao salarial; desde os primeiros dias, a greve assumiu um carter
violento;abrangeu os setores operrios mais importantes do pas,cerca de 500.000 de
trabalhadores,tanto os agrcolas temporrios quanto os dos etor industrial dos
engenhos.As direes sindicais mujalistas (pelegas) foram superadas pelas
massas,desmacarando sua atuao de freiar a greve.

Aps vrios anos de imobilismo,devido ao golpe de Estado de 1952, o


movimento operrio retornava a cena poltica. A greve aucareira foi a resposta da
vertente de oposio operaria a ditadura de Batista. A greve assumiu um carter poltico
bem claro: as massas gritavam pelo fim da tirania! abaixo o governo criminoso! Trs
anos e dois emses aps o golpe militar de Batista,ocorre uma mudana qualitativa no
movimento operrio.A classe operaria cubana se incorporava ao processo
revolucionrio dos anos 50.O movimento Estudantil tambm tinha entrado em conflito
com a ditadura.Duas semanas antes da greve aucareira,as escolas entraram em greve e
houve manifestaes de rua.Assim, ocorria um encadeamento cronolgico entre os
movimentos operrio e estudantil.Foi nessa poca,que os dirigentes da Federao
Estudantil UNIVERSITRIA-FEU,fundaram o Diretrio Revolucionrio,com o
objetivo de promover a insurreio.

Destaca-se na greve, o trabalho clandestino na organizao dos Comites de


Defesa das reivindicaes operarias e pela democratizao da Confederao dos
Trabalhadores Cubanos, ento sob controle do peleguismo mujalista. A greve
terminou com a vitoria dos trabalhadores.Deste modo,a greve foi uma prova de foras
das massas trabalhadoras.O regime de Batista se encontrava em uma situao difcil
diante da rebelio nacional do setor aucareiro,o mais importante e numeroso do pas.

Aps o assalto ao quartel de MONCADA ,em 1956 (que colocou a luta armada
na ordem-do-dia.ocupando o vazio deixado pela oposio liberal ),e aps a greve
aucareira ,(que colocou a luta ao nvel das massa e incorporou classe operaria
oposio,) a ditadura militar cubana comeou a ruir.

Nesta poca, Fidel Castro se encontrava exilado no Mxico,preparando a


expedio do iate Granma.Em dezembro de 1956,o Granma desembarca nas costas
do litoral cubano,conduzindo 80 combatentes;foram surpreendidos e quase dizimados
pelo exercito ditatorial;os sobreviventes iniciam a fase de combate de guerrilhas na
Sierra Maestra,na Provncia de Oriente.

O desembarque do Granma deveria se articular com uma insurreio armada


em Santiago de Cuba, capital da Provncia de Oriente e segunda cidade do pas, situada
perto das monatanhas.A sublevao popular em Santiago ocorreu dois dias antes do
desembarque do Granma.Seu carter prematuro,indicava que as cndies ainda no
estavam maduras para que a massa participasse da rebelio.A represso se alastrou
sobre a cidade,ento batizada como a capital da rebeldia.Contudo, a rebelio
visualizava para populao de Santiago que a luta contra a ditadura continuava: as
milcias urbanas dirigidas por Frank Pais na plancie e, a guerrilha de Castro e Che
Guevara nas montanhas.Santiago se converteu no ponto de apoio urbano fundamental
para a guerrilha.Em seis meses se constoi o plo revolucionrio contra a ditadura: o eixo
Sierra Maestra-Santiago de Cuba.

14.2.1. A greve geral revolucionria de agosto 1957

O assassinato do companheiro Frank Pais,


marcou uma virada emt oda a estrutura do
movimento revolucionrio (CHE GUEVARA)

Aps a sublevao de Santiago, em novembro de 1955, a represso assassinou


centenas de militantes revolucionrios. Em 30 de julho, Frank Pais, lder do
Movimento Revolucionrio 26 de Julho, na Provncia de Oriente, foi morto pela
polcia. De 1 a 5 de agosto, ocorreu a greve geral. Pais, vestido com o uniforme de
verde-oliva de comandante guerrilheiro, foi sepultado.Um cortejo que ocupou 14
quadras acompanhou o enterro. Comeava a greve geral que se estendeu por toda a ilha,
sobretudo, nas Provncias de Oriente, Camaguey e Ls Villas.

Che Guevara analisava o movimento:

O povo de Santiago lanou-se espontaneamente s ruas, produzindo o


primeiro sinal da greve geral poltica que, embora sem direo, paralizou
totalmente o Oriente. A ditadura liquidou este movimento surgido sem
preparao e sem direo revolucionrias. Este fenmeno popular serviu para
que nos dssemos conta que era necessrio incorporarmos luta pela
libertao de Cuba,o fator social dos trabalhadores e, imediatamente,
comearam os trabalhos clandestinos nos centros operrios para prepararmos
uma greve geral a fim de ajudar o Exrcito Rebelde a conquistar o poder.

Por sua parte, a guerrilha havia tomado a Sierra,mas, se no se extendesse pela


ilha, a ditadura no seria derrubada. O instrumento para este objetivo, havia ocorrido
espontaneamente nas ruas de Santiago: era a greve geral revolucionria. A gueerilha
tirou as lies e adotou a tarefa de combinar a luta na Sierra com a preparao da greve
geral na Plancie, ajustando sua estratgia para tomada do poder.

O carter espontneo das aes de agosto em Santiago demonstrou at que ponto


a insurreio tinha se apoderado das massas. A greve aucareira de 1955 havia
significado um salto qualitativo na atitude das massas frente ao golpe de Batista. A
criao de condies subjetivas para revoluo cubana. Foi seu aspecto positivo.Quanto
a seu lado negativo, os trabalhadores sem direo foram obrigadas a recuar aps vrios
dias de resistncia, sem alcanar o objetivo proposto: a queda da ditadura. Assim, a
greve de agosto marca um salto qualitativo em relao a greve de 1955. Esta se limitou
ao setor aucareiro, ao passo que em 1957 a greve foi geral, englobando 2/3 do pas.

Atravs de uma carta de Frank Pais a Fidel Castro,podemos ter uma ideia do
nvel de organizao do movimento revolucionrio:

[...]sempre se tem falado de greve geral[...], era necessrio dar-lhe o impulso


que necessitava, e se comeou por Oriente. Agora, a situao mudou, a greve
geral possvel[...] Existe nesse momento uma Direo provincial Operaria
com suas Direes Municipais funcionando a todo pulmo e com bastante
independente econmica e de propaganda. Era necessrio que o mesmo
trabalho se realizasse em toda a ilha e, se constituiu uma Direo Nacional
Operria que dar a pauta e marcar o dia da greve geral[...]. O objetivo dos
delegados de nossas organizaes ser o de acoplar todas as figuras, setores e
organizaes cvicas, polticas, religiosas, comerciais e operrias em um
Comit de greve [...]Toda Cuba se lanar greve geral com uma onda de
sabotagem operria, tcnica e revolucionria nunca vista at ento[...] (PAIS,
1957).

14.2.2. A greve geral revolucionria de janeiro 1959

Foi a greve geral que destruiu a ltima manobra


dos inimigos do povo; foi a greve geral que nos
entregou as fortalezas da capital da Repblica; e
foi a greve geral que deu todo o poder a
revoluo (FIDEL CASTRO).

Na Sierra Maestra, a guerrilha esgotara sua fase nmade; soldara-se cada vez
mais com o meio rural, estando em vista de transformar-se em Exercito Rebelde; os
combatentes de uniforme no passavam de 300; porm, milhares no uniformizados
participaram da luta: contribuam com o abastecimento, o refgio, a comunicao com
as cidades, etc. Eram rurais, expulsos de suas terras, semi-proletarizados. Terra e
Trabalho eram suas reivindicaes basicas. A revoluo era a promessa de terra e, antes
da vitria total, foi realizada uma primeira reforma agrria na Sierra.

Fenmeno tpico de uma economia de plantao latifundiria.a semi-


proletarizao existia nas montanhas cubanas. Quando a revoluo entrou em sua fase
final, encontrou-se com este fenmeno no alto da Sierra Maestra. Ento, a classe
operaria se fez presente na guerrilha, atravs dos camponeses semi-proletarios.A adeso
orgnica do campons se refletiu nas Comisses Camponesas Revolucionrias,presentes
na Sierra. Na Plancie, a classe operria foi protagonista da revoluo. O apoio e a
participao do campesinato e do operariado foram essenciais para avanar o processo
revolucionrio.

A revoluo deve ser obra de todo o povo cubano (CHE GUEVARA).


Em fins de 1958, a guerrilha tinha se tornado Exercito Rebelde: duas Colunas
Invasoras ,comandadas por Che Guevara e Camilo Cienfuegos,se encaminham para
Plancie. importante o trabalho desenvolvido pela coluna de Cienfuegos, sobretudo,
em relao a atividade da classe operria. Cienfuegos se destacou de forma especial na
tarefa de incorporar revoluo o proletariado agrcola da Zona Norte da Provncia de
Ls Villas.

Cienfuegos declara: tenho necessidade de criar uma Comisso Operaria ligada


ao comando da Coluna invasora, que se encarregue da vertebrao e organizao do
movimento operrio em todas as zonas libertadas . Acrescenta:

O esquema geral foi muito simples: liquidar as direes mujalistas; que os


trabalhadores, por intermdio de assemblias gerais e democrticas, elejam
seus dirigentes; estabeleam a pauta de reivindicaes especficas para cada
povoao de colonos, apresentada pelos trabalhadores; ao mesmo tempo, o
Exrcito Rebelde obriga os patres da zona a cumprirem imediatamente esta
pauta, realizando reunies prvias para discusso, primeiro com os
trabalhadores e depois com os patres.

Em Guaba, foi realizada uma Assemblia com cerca de 800 trabalhadores da


zona aucareira;a participao dos trabalhadores se expressou tambm,atravs da
organizao das Milcias Operrias e Camponesas. Em dezembro, foi realizado o
Congresso dos trabalhadores aucareiros; uma de suas finalidades foi a organizao de
uma greve geral em todas ou na maioria das centrais aucareiras do pas.

Na provncia de oriente, foi convocado um Congresso operrio de todos os


setores da 2 frente, no territrio comandado por Raul Castro; no dia da abertura, houve
uma concentrao de 3.000 trabalhadores. Por sua parte, a resistncia armada se
expressou em iniciativas revolucionrias, tanto na Sierra como na Plancie,nas quais a
ao do Movimento 26 de julho foi decisiva. Este Movimento tinha uma base social
em toda a ilha e tinha uma forma de organizao flexvel e funcional: Direo nacional;
direes provinciais e municipais; e sees. A seo operria mobilizava as massas
atravs de uma Frente Operria Nacional, cujas ramificaes se estendiam at as
unidades de produo, as fbricas.

As vrias organizaes revolucionrias formaram uma Frente Anti-Ditatorial:


Movimento 26 de Julho, Partido Socialista Popular, Diretrio Revolucionrio. Seu
Documento Poltico precisa a estratgia de luta: Mobilizao popular de todas as
foras operrias, cvicas, profissionais, econmicas, para culminar o esforo cvico de
uma grande greve e, no plano blico, em uma ao armada conjuntamente em todo o
pas.

A greve geral havia fracassado em 9 de abril de 1958. Segundo Che Guevara,

a greve fracassou por erros de organizao, entre eles, principalmente, a falta


de contatos entre as massas operrias e a direo, e sua atitude equivocada.
Mas, a experincia foi aproveitada e ensinou a seus dirigentes uma verdade
preciosa: a revoluo no pertencia a tal ou qual grupo, mas deve ser a obra
de todo o povo cubano.

Quando as Colunas invasoras Ciro Redondo, comandada pelo Che e


Antonio Maceo, comandada por Cienfuegos, comearam a deslocar-se para a
Plancie, a guerra revolucionria estava caracterizada pela combinao de varias formas
de luta, em que a guerrilha rural deixa de ser a forma principal. A invaso da Plancie s
foi possvel com o apoio massivo do povo e com a generalizao da luta e da resistncia
a todo o pas, em formas de luta que iam da guerrilha at a sabotagem da produo.

As Colunas do Che e de Cienfuegos invadiram a regio central de Cuba (Ls


Villas); o ditador Batista fugiu em 1o de Janeiro de 1959, quando Santiago de Cuba e
Santa Clara caram em mos do Exrcito Rebelde. Em Havana, polticos burgueses
organizaram um Governo Constitucional, como ltima manobra da classe dominante.
Da Provncia de Oriente, Fidel Castro, junto com a Frente Operria Nacional Unida,
lanam o apelo greve geral que paralisa todo o pas durante 4 dias e proclamam o
Governo Provisrio, em Santiago de Cuba, verdadeira capital da revoluo. As Colunas
dos comandantes Guevara e Cienfuegos marcham para conquistar Havana.

14.3. A REVOLUO NICARAGUENSE (1979)

no se pode ser revolucionrio sem lagrimas


nos olhos,

sem ternura nas mos

(TOMAS BORGE)

A vitria da Frente Sandinista de Libertao nacional (FSLN), em Julho de


1979, foi o resultado de um longo processo do qual participaram vrios fatores. Nos
interessa destacar um deles: a formao de amplos movimentos de massa, organizados
por local de moradia e de trabalho, expresses do poder popular. Porm, antes da
formao da FSLN, importante conhecer a histria de seus fundadores (Os Filhos de
Sandino), especialmente Carlos Fonseca Amador, para entendermos como se
processou a nacionalio do marxismo na Nicargua.

Herdeira da tradio revolucionria e anti-Imperialista de Sandino contra a


interveno dos EUA, a FSLN foi criada nos anos 1960, fruto da unio de vrios grupos
que faziam a luta armada. A luta contra a famlia Somoza comeou desde a morte do
ditador,pelas mos do herico poeta Rigoberto Lopes Prez. Nesta poca, foi
desencadeada uma violenta represso contra o povo, 150 estudantes foram presos,entre
eles,Carlos Fonseca e Toms Borge.

Carlos Fonseca nasceu em Matagalpa,filho de uma cozinheira.Entrou no


Partido Socialista Nicaragense e logo se tornou um lder entre seus companheiros.

Em 1957, viajou para Moscou,representando os estudantes no Festival Mundial


da Juventude e dos Estudantes.Em 1959, foi expulso da Nicargua e partiu para
Guatemala.Em junho,participa na guerrilha de Honduras , ferido e vai para Cuba. Em
1960, regressa clandestinamente a Nicargua, preso e outra vez expulso do pas para
Guatemala,onde foi mais uma vez,preso. Foge da priso e volta para Cuba,onde estuda a
experincia da revoluo cubana.

Mais uma vez,volta clandestinamente a Nicargua e comea a reunir os


sobreviventes do Partido Socialista da Nicargua para formar o Movimento Nova
Nicargua, junto com a Frente Unitria Nacional e,os veteranos combatentes
sandinistas. Desta forma, surge a FSLN,em 25 de Julho de 1961.Seus fundadores foram
12 revolucionrios,entre eles, Carlos Fonseca Amador e Tomas Borge. Adotam a
mesma bandeira vermelha-negra de Sandino,e o lema de Ptria Libre o Morir.

Carlos Fonseca, aps muita discusso,convenceu seus camaradas a incorporar o


nome Sandinista Frente de Libertao Nacional, deste modo,nacionalizando o
marxismo., no esprito que expressava o poeta nicaragense RICARDO M. AVILS:
temos que estudar a nossa histria e nossa realidade como marxistas e estudar o
marxismo como nicaragenses.
No queremos,certamente,que o socialismo seja na Amrica nem imitao nem cpia

(MARIATEGUI )

No encontramos o marxismo de Carlos Fonseca em textos sistemticos.


Todavia, podemos sintetizar um ideario de seu pensamento:

assimilao de forma rica e criativa da herana de Sandino;


resgate da imagem de Sandino;
assimilao das razes culturais do povo nicaragense, principalmente,o
elemento religioso;
criar as condies polticas para FSLN crescer no seio do povo;
o anti-dogmatismo.
Giulio Girardi assim sintetiza o marxismo sandinista:

teoria da prxis libertadora;


nicaragense;
nacionalista;
anti-Dogmatico;
aberto contribuio da subjetividade, isto , da tica ,da utopia, das
imaginaes e da cultura;
capaz de reconhecer e valorizar a carga revolucionria da f crist;
elaborado coletivamente.

Victor Tirado analisou este processo de nicaraguanizar o marxismo:

um grupo de jovens resgatou as bandeiras de sandino. Estudou sua doutrina, a


analisou e a reelaborou.porm, quem realizou esta tarefa minuciosa,
escrupulosamente, foi Carlos Fonseca. Ele proclamou,antes de tudo,ao
movimento revolucionrio,que as ideias de Sandino eram atuais.To atuais
como os clssicos da literatura ou do pensamento revolucionrio.Sandino no
foi uma efemeridade, um caminho, um guia para ao,dizia Carlos. [...] ir s
razes da ptria,reivindicar e usar o pensamento nacional como fonte para
construir a teoria revolucionria prpria, no ser nacionalista , no sentido de
fechar-se em si mesmo.Carlos Fonseca no s via desde dentro, mas tambm
desde fora.Para elaborar a teoria revolucionria da FSLn, ele tomou
elementos da rica e valiosa experincia do movimento revolucionrio
mundial.

Carlos Fonseca afirmava:

O importante no declamar frases dos grandes revolucionrios universais,


mas aplicar na realidade,com criatividade seus ensinos. Em todo caso,estes
revolucionrios no nos legaram meras frases,mas toda uma ao
criadora[...], declamar o nome do socialismo e o titulo das mais conhecidas
teorias revolucionrias,no garante a profundidade das transformaes que
nos propomos.Em uma palavra,a fraseologia revolucionria no garante a
profundidade da mudana.

Victor Tirado conclui:

necessrio relembrar que Carlos Fonseca nunca acreditou que as doutrinas


revolucionrias internacionais poderiam dar,por si mesmas,a chave para fazer
uma revoluo,ou o segredo para tomar o poder.Ele compreendeu clara e
lucidamente,que estas doutrinas so inteis se no se combinam com o
pensamento e a pratica revolucionria nacionais (...) sim, somos sandinistas,
e por isso mesmo, tambm somos internacionalistas. A fonte original da
nossa produo terica revolucionria nacional,porem, nunca deixamos de
ter em conta as experincias de Cuba, URSS, Vietnam, e de outros povos que
se lanaram contra a opresso e a explorao. Partimos do pensamento de
Sandino, porm, nunca deixamos de ter em conta o pensamento de Marx,
Lenine, do Che Guevara, Zapata e tantos outros revolucionrios.

No campo da abertura subjetividade, utopia, imaginao, encontramos uma


expresso forte nas palavras do sandinista TOMS BORGE ,sobre a arte e a cultura:

[...]Os artistas tm que ser criadores de novos mitos, os poetas devem


empunhar seus poemas como se fossem fuzis e os fuzis como se fossem
poemas; quero dizer que os artistas devem ser defensores da ptria na linha
de fogo e milicianos da arte , ou o que igual, esto obrigados a lutar para
restaurar a imaginao.

O homem que no capaz de sonhar um pobre diabo, um eunuco; o homem


que capaz de sonhar e transformar seus sonhos em realidade um
revolucionrio; o homem que no capaz de amar um animal;[...] o homem
que capaz de amar e de fazer do amor um instrumento de mudana
tambm um revolucionrio, tambm um sonhador,um amante; um poeta,
porque no se pode ser revolucionrio sem lgrimas nos olhos, sem ternura
nas mos.
Aps a fundao da FSLN, Carlos Fonseca realizou tarefas clandestinas de
organizao no campo , cidade e bairros de Mangua. Em 20 julho 1964, foi preso e
condenado a 6 meses de priso. No inicio de 1965, foi deportado para Guatemala e
depois para o Mxico.na metade de 1966, volta novamente a Nicargua e parte para as
montanhas,para lutar junto ao movimento guerrilheiro de PANCASAN.

Muitos dos fundadores da FSLN so mortos pelo regime somozista. Carlos


Fonseca foi preso outra vez,em 1969. Em Outubro de 1970, um comando da FSLN
seqestra um avio e exige a liberdade de Carlos Fonseca,em troca dos refns. Aps sua
libertao,Carlos volta para Cuba. Todavia, em setembro de 1975, regressa a
Nicargua,permanece nas cidades e depois vai para guerrilha nas montanhas de
Matagalpa.

Em 1976, Tomas Borge foi preso.E,neste mesmo ano,em 8 novembro,Carlos


Fonseca Amador morre em um combate na regio montanhosa de Zinica.

14.3.1. A FSLN

O nascimento da FSLN nos anos 60,logo aps a revoluo cubana,marca na


Nicargua o inicio da revoluo e rompe de vez o monoplio burgus liberal da
oposio a ditadura de Somoza.Trs momentos e trs tendncias caracterizam a luta
anti-somozista da FSLN:

1) corresponde a etapa do foco gueerilheiro nas montanhas. A nvel da Nicargua,


reflete o contexto da poca guevarista das guerrilhas na Amrica Latina, na dcada de
60.Este momento dura at os anos 1974-75,poca da ofensiva somozista com o apoio
dos Exrcitos centro-americanos e dos comandos norte-americanos.

2) caracterizada pela busca de refugio poltico nas cidades e nos setores operrios.O
desenvolvimento industrial produzia uma proletarizao que servia de motivao
estratgica para que a guerrilha sandinista declare seu carter proletrio;

3) Os fracassos militares do 1 momento e a importncia da luta poltico-ideologica


contra a estrutura de explorao,cindiu a FSLN em 2 Tendencias:

- uma Tendncia que amadurece o conceito de Guerra Popular prolongada ( frao


GPP);

- outra Tendncia,que concentra seus esforos na preparao poltico-organizativa de


seus quadros nos setores operarios da cidade e do campo,dentro de uma estratgia
proletria ( tendncia proletria).

Aps os primeiros momentos,em que a Guarda nacional somozista massacra a


guerrilha nas montanhas e,aps a ciso da FSLN, o exlio se enche de militantes
sandinistas. A represso parecia ter aniquilado a guerrilha sandinista.Para os militantes
no exlio (Costa Rica e Mxico) as experincias de So Domingos em 1965 e do Chile
de Allende,contriburam para amadurecer uma terceira concepo,chamada de
Insurreicional ,conhecida como Tendncia terceirista. Defendia uma aliana ttica
com setores da burguesia e colocava o elemento militar como forma de preparar a
insurreio;esta frao tinha uma presena fraca entre as massas.

A separao no interior da estrutura organizativa da FSLN no significou uma


diviso na luta contra a ditadura;mas, uma diviso pratica do trabalho revolucionrio,em
que as 3 tendencias aparecem como unidade de um mesmo conjunto,a FSLN.

Assim, com a retomada da ofensiva pelas massas populares,no interior da


FSLN,desenvolveu-se uma aliana chamada de unidade na ao;era a reunificao da
FSLN e a formao de uma Direo nica.

14.3.2. A luta anti-somozista

Podemos dividir a luta contra a ditadura de Somoza em 3 periodos:

1. dezembro de 1974 a setembro de 1977, momento que coincide com o


estabelecimento do Estado de Sitio,a lei marcial,a censura,etc;
2. setembro de 1977 a setembro 1978, momento que coincide com o fim do Estado
de Sitio;comea a ofensiva da oposio anti-somozista;
3. setembro 1978 a julho 1979, tomada do poder; comea com uma greve geral,o
ataque sandinista ao Palcio Nacional e a insurreio popular generalizada.

Vejamos o desenvolvimento deste processo atravs da participao popular e


operaria.

12.3.3. A Frente de Massas

No final de 1978, o Movimento Popular Unitrio (MPU) adquire maior


legitimidade,com o apoio que recebe da FSLN,atravs da unificao de suas 3
tendencias.Durante os 3 primeiros meses de 1979, o MPU fixou como tarefa
fundamental a defesa combativa nos bairros,atravs dos Conselhos de Defesa Civil
(CDC).

O MPU desenvolve uma ao de solidariedade e de unidade,para ampliar as


foras que lutam contra a ditadura,partindo para fundao da Frente Patritica nacional
(FPN),em 1o fevereiro de 1979.

Nos locais de trabalho e nos bairros, a mobilizao do povo multiplica suas


foras.A propaganda e a agitao nos bairros toma cada vez mais formas populares de
participao.

A luta sandinista,que comeou nas montanhas, continua nos bairros das


cidades, atravs dos CDC e adquire,ento,uma pujana de classe cristalizada na
fundao dos Comits de Defesa dos Trabalhadores (CDT) . Fundados pela FPN,estes
Comits atingiam os locais de trabalho mais importantes de Mangua.Com eles, o poder
popular das Milcias armadas e dos bairros adquire o selo de classe,enriquecendo o
contedo da revoluo sandinista.

Os Comits de Trabalhadores nasceram no momento mais agudo da crise


econmica e,tornam-se presentes na luta atravs de reivindicaes econmicas e
sindicais (emprego,salrios,direito sindicalizao).

A fundao destes CT tem um carter significativo: so rgos de luta que


agrupam os trabalhadores das fbricas, independentemente de filiao sindical ou
partidria;so verdadeiros Conselhos Operrios.

Ao lado da FSLN, as massas contam com uma base organizativa nos rgos de
massa do MPU,e no prestigio poltico da FPN,devido ao crescimento de sua comisso
sindical em torno dos Comits dos Trabalhadores.No interior do MPU, os CDC e os
Comits Populares, formam uma base orgnica que garante a capacidade de
mobilizao das massas. Contudo, este nvel de organizao no tem ainda envergadura
nacional: suas principais bases esto nas estratgicas cidades de Mangua, Masaya e
Leon.

Assim, a FPN no era apenas uma aliana poltica;paralelamente ao poder


popular, foi forjado o poder operrio.A Comisso Sindical da FPN deu um salto
qualitativo na luta contra a ditadura,ao estimular a formao dos rgos do poder dos
trabalhadores,os Comits de Defesa dos Trabalhadores.

O desenvolvimento acelerado dos CDC nos bairros, a proliferao dos CT,uma


integrao maior dos trabalhadores no campo na Associao dos Trabalhadores do
Campo (ATC), representaram um avano em termos de organizao,mobilizao e
unidade dos trabalhadores. Estes rgos de luta, e particularmente, os Comits dos
Trabalhadores (por sua composio ampla e democrtica) garantiram uma aprticipao
massiva e autonoma dos trabalhadores,sobretudo,nas jornadas grevistas.

A luta comum por reakustes salariais,contra o desemprego,a fome e a


represso,tornou-se um poderoso elo de agitao e mobilizao unitria da classe
operaria contra a ditadura.

Nos bairros urbanos,multiplicaram-se as tarefas dos CDC,rgos de grande


prestigio e apoio popular,verdadeiros embries do poder popular. Os CDC organizaram
a populao dos bairros para lutas concretas,como o controle de preos nos bairros.Suas
deliberaes nasciam nas assemblias populares.

Todas estas diversas formas de organizao foram se adapatndo s tarefas da


insurreio popular. O Exercito Sandinista, os Comits de Defesa dos Trabalhadores e
os Comits de Defesa Cvica, constituam ao nvel de massa, os principais embries do
novo poder.

Como rgos de luta dos trabalhadores durante a greve geral, os CDT


desempenharam um papel estartegico,garantindo a presena da classe operaria durante a
insurreio.As tarefas de controle e reorganizao da produo foram realizadas pelos
CDT durante a greve geral,dando-lhe um carter de classe e autonomia.

Os CDC surgiram com instrumentos de luta das massas com a finalidade de


organizar o poder popular nos bairros e preparar a populao para o controle e a defesa
das zonas urbanas.

O Exercito Sandinista com suas Colunas guerrilheiras e Unidades especiais,as


varias brigadas,milcias e esquadras armadas, foi o orgo dirigente da insurreio e, se
tornou uma das bases organizativas do novo poder.

14.3.4. O Processo Revolucionrio

Em 27 dezembro 1974, o Comando Juan Jos Quezada tomou a residncia de


um somozista,onde se realizava uma festa em honra ao embaixador dos EUA.A
operao foi vitoriosa e obrigou a ditadura a ceder 1 milho de dlares ,por em
liberdade os presos polticos e publicizar,via radio,televiso e jornais, um comunicado
da FSLN. Entre os presos libertados estava Daniel Ortega.

A ditadura desencadeia uma violenta represso em nvel nacional.De janeiro


1974 at 1977, a ditadura assassina,tortura,emprega o terror para paralisar as
manifestaes do movimento popular. `A represso se junta a degradao das condies
de vida do povo, devido a inflao, ao congelamento de salrios e ao desemprego.Este
perodo representa uma fase de refluxo do movimento revolucionrio.Durantes estes
anos,so decretados o Estado de Sitio,a lei marcial e a censura.

Em setembro de 1977, a ditadura restabelece as garantias constitucionais.A


oposio burguesa liberal o funda a Unio Democrtica de Libertao,presidida por
Pedro Joaquim Chamorro,diretor do jornal La Prensa.O programa da UDL coerente
com a politica de Direitos Humanos do presidente norte-americano J.Carter.

Somoza tenta negociar com a UDL.Chamorro torna-se o eventual substituto de


Somoza,de acordo com a poltica dos EUA.A famlia Somoza decide,ento,elimin-lo
fisicamente. O crime constitui um detonador da conscincia popular em todas as classes
sociais. A reao popular no se faz esperar; mltiplas manifestaes percorrem as ruas
de Mangua e outras cidades.A mobilizao , em parte espontnea,e dirigida,em parte
pela UDL. Os empresrios anti-somozistas decretam uma greve, que se transforma em
greve de repudio popular ao somozismo.

No 1o de janeiro 1978, data do assassinato de Chamorro,marca o inicio de uma


fase aguda de luta inter-burguesa e tambm o Ascenso das lutas de massas.Nesta etapa,
a FSLN conquista a hegemonia dos movimentos populares urbanos. A UDL proclama a
greve no 24 janeiro;o povo incendeia algumas empresas de Somoza.Realizam-se
violentas manifestaes de repudio; a represso se faz presente.

Na verdade, o crime provoca um salto de qualidade na conscincia


popular.dentro de um clima de repudio tirania,em pleno Ascenso, a FSLN ataca as
cidades de Rivas e Granada.J em outubro de 1977, pode-se constatar o reinicio da
ofensiva sandinista: um comando armado tomou o quartel da Guarda nacional em So
Carlos,perto da Costa Rica. O povoado de Monzonte,no Departamento de Nueva
Segovia,foi assaltado e ocupado pelos sandinistas.O quartel principal de
Masaya,situada a 20 kms da capital, foi atacado por 3 esquadras de uma Coluna da
FSLN, que ocupam o povoado de San Fernando,rendendo o quartel. Estas aes de
outubro de 1977, significam a reconquista da inciiativa por parte dos sandinistas.As
aes da guerrilha do um grande impulso ao movimento de massas.

Importante papel histrico no processo revolucionrio tiveram as insurreies


populares,principalmente a de Monimb. Foi a primeira insurreio popular; foi
organizada pelos ndios do bairo de Masaya,chamado Monimb. Da insurreio
participaram alguns dirigentes sandinistas;nela, morreu o dirigente sandinista Camilo
Ortega.Os indgenas resistiram a represso durante uma semana.Tambm, foram
importantes os movimentos ocorridos em Mangua, Dirimba e,principalmente, o
levante dos indgenas do bairro de Subtiava,na cidade de Leon.

Em julho de 1978,foi fundada a Frente Ampla de Oposio (FAO).Um de seus


objetivos era a saida de Somoza do poder. O Grupo dos Doze,formado em outubro
1977, apoiava a participao da FSLN. Assinaram seu Manifesto nomes como Miguel
DEscoto,Fernando Cardenal,Sergio Ramirez Mercado.Este novo grupo integva ,com as
organizaes da UDL,da nova frente anti-somozista com hegemonia da frao liberal da
burguesia.Pela primeira vez, militantes da FSLN participam de uma frente com
aburguesia.Ernesto cardenal era o representante dos sandinistas,pela tendencia
terceirista.

14.3.5. A Operao Morte ao Somozismo, Carlos Fonseca Amador.


Em agosto de 1978, o Comando sandinista Rigoberto Lopez Perez ocupa o
Palcio nacional em Mangua.A operao permite a captura de somozisas membros do
Congresso .A ao foi realizada sob a direo do comandante zero, den Pastora.A
direo nacional da FSLN (a tendencia terceirista) reinvidica a ao.Como
resultado,foram libertados mais de 80 presos polticos.Entre eles, Tomas Borge.

A FSLN divulga mensagem Nao: So os pobres de nosso pas, os que tm


suportado todo o peso da explorao econmica e a represso poltica e militar da
tirania somozista.E s este povo, apoiado firmemente em seus operrios e
camponeses,podar ser o verdadeiro forjador da sociedade de homens livres pela qual
lutou Sandino.

Em setembro, os sandinistas lanam uma nova ofensiva.Leon e Estali so


atacadas por unidades da FSLN-DN (tendencia terceirista).Estes ataques combinados
com o levante popular,conduzem a queda das duas cidades.O contra-ataque da tirania
feroz.As massas so objetos de massacres.Os sandinistas so obrigados a se retirarem
destas cidades.

neste contexto, que a burguesia integrante da FAO e o Governo


Carter,conjugam esforos para derrubar Somoza e substitui-lo por um governo sem
participao dos sandinistas.Trata-se da operao Somozismo sem Somoza. Os EUA
tentam intervir atravs de uma comisso de mediao via Organizao dos Estados
Americanos (OEA).A FSLN rompe com a FAO e o Grupo dos Doze ,e recusa a
interveno mediadora dos EUA,renunciando a participar na FAO.

Neste momento, outubro 1978, o MPU se converte em uma Frente de Massas de


carter revolucionrio, ocupando o espao da FAO.

O MPU formado por partidos de esquerda,comits de bairro,comits de


greve,associaes de mulheres,sindicatos,grmios,comits operrios,etc.

A ao de massas, atravs da combinao das mais variadas formas de


luta,complementa as aes poltico-militares da FSLN.

As condies de unificao, para iniciar o processo de unidade das 3 Tendencias


da FSLN, so forjadas a ferro e fogo.Em 30 dezembro 1978,proclama-se a
unidade.Surge o Documento Ao povo nicaragense e a todos os povos do mundo.
Janeiro,fevereiro e maro, marcam uma fase do processo unitrio de importncia
especial.dentro deste processo unitrio se inserem a organizao e o trabalho do MPU, e
a formao da Frente patritica Nacional(FPN).Em dezembro 1979, aparece a Ata
Constitucional da FPN, que adota uma plataforma entre cujos objetivos encontra-se o
fim da Guarda nacional e a expropriao de todos os bens da famlia Somoza.Em maro
1979,surge o documento Aspectos bsicos dos acordos de unidade.Traz as assinaturas
de Daniel Ortega,Victor Tirado,Humberto Ortega pela tendencia terceirista ou
insurrecional;Henry Ruiz,Tomas Borge,Bayardo Arce pela tendencia GPP;e,Jaime
Wheelock,Luis Carrion,Carlos Nuez pela tendencia proletaria.

De acordo com o Documento da unidade,l-se: Construir de imediato,uma


democracia revolucionria e popular que assente as bases para aprofundar o processo
revolucionrio nicaragense,e,para o qual se converta em tarefa imediata a derrubada
revolucionria da ditadura somozista e a organizao do Poder Sandinista.

Segundo os acordos, o objetivo da unidade nacional contra o somozismo se


expressa,no momento, na Frente Patritica Nacional, cujo eixo fundamental o MPU.
O Documento assinala:

O processo insurrecional nicaragense se caracteriza pela combinao das


sublevaes populares e as aes violentas das massas e dos ncleos
sandinistas nas cidades,com a guerra de guerrilhas nas zonas rurais e nas
montanhas.A conjugao destas 2 modalidades de luta (dentro de uma
estratgia nica) dar como resultado a vitria [...].

No mesmo 7 de maro 1979, assinada a Proclamao da unidade, pela qual


se denomina a Direo Nacional Conjunta da FSLN.

No contexto internacional, se aprofundam as contradies entre o Governo


Carter e a tirania somozista.O Departamento de Estado norte-americano corta sua ajuda
economia e militar no inicio de fevereiro.Entretanto, o FMI concede um credito de mais
de 65 milhes de dlares. As ditaduras militares do Cone Sul apiam moralmente e com
armas a ditadura somozista.

A ofensiva armada da FSLN em 8 de abril,conduz a ocupao de Estaeli.A


reao do somozismo diante da ocupao e do apoio do povo aos sandinistas, no
encontra precedentes.A cidade bombardeada.Ao recuperar a cidade,a Guarda nacional
comete represlias contra a populao.

A crise econmica se aprofunda. pela primeira vez,aps 1930, a moeda nacional


desvalorizada.os preos dos artigos bsicos aumentam em mais de 50%.O
descontentamento das classes mdias e das classes exploradas e marginais aumenta ao
mesmo tempo que o desemprego e a queda do nvel de vida.A luta interna no exterior e
o isolamento da ditadura, acrescido do isolamento no exterior.

14.3.6. A Ofensiva Final

A ofensiva final se inicia em maro 1979,com a tomada de Jicaro e a ocupao


de Esteli.Depois vem a luta em Nueva Guinea.Em maio, a tomada de Jinotega e os
combates de El Naranjo na Frente Sul.Em 4 julho,a FSLN apela a greve geral.O pas
fica paralisado.As insurreies populares,sob a direo sandinista,comeam a pipocar:
Leon, Chinandega, Matagalpa,Esteli,Masaya,Granada e outras cidades menores.Em 10
junho, se iniciam os combates na capital,Mangua. Explode a insurreio popular. A
cidade,sem eus bairros populares, bombardeada constantemente.O levante se
aprofunda, a insurreio se amplia.Em 16 junho, formado o Governo provisrio.Em
19 julho,entram em Managua as Colunas guerrilheiras da FSLN.

14.4. PERU: SOCIALISMO NOS ANDES

Em Outubro de 1968,inicia-se o Governo do general nacionalista ALVARADO.

A intervaeno militar de outubro foi resultado de um longo processo de


amadurecimento nas Foras Armadas.O abandono do apoliticismo como posio
institucional foi resultado direto do enfrentamento com os problemas estruturais da
sociedade.A maioria da oficialidade das FA vinha de setores populares e intermedirios
e se caracterizava por sua origem provinciana.os oficias,como regra,faziam rotatividade
em todos os estabelecimentos militares do pas,conhecendo,assim,todos os problemas
dramticos do Peru.A experincia da luta contra a guerrilha em 1965, teve um papel de
destaque na tomada de conscincia pois a guerrilha mostrou a profundidade dos
problemas sociais,sobretudo,no campo.
Algumas cifras nos revelam a situao da economia peruana no momento da
tomada de poder pelos militares. No campo, 831 das 840.000 unidades de explorao
agrcola tinham menos de 5 hectares (280.000 com menos de meio
hectare),representando 6% da superfcie agrcola do pas; no outro extremo, 0,4% das
exploraes,menos de 3.4000, tinham mais de 500 hectares e ocupavam 75% da
superfcie agrcola;em 3 milhes e meio de indgenas, um milho dependia diretamente
de 1.290 fazendas; entre 1950 e 1960, Lima recebeu uma imigrao de 1 milho de
serranos.

Estas cifras indicam tanto a necessidade de uma reforma agrria,mas tambm


justificam o medo da burguesia urbana frente possibilidade de uma insurreio do
povo indgena.Em 1970, a populao ativa do pas era de 4,27 milhes, decompondo-se
assim:

- 47,2% no setor primrio , 95% na agricultura;

- 8,7% no setor secundrio, um total de 22% do PIB;

- 30,9% no setor tercirio (contra 16,9% em 1940);

- 3,2% em outros setores.

Umas 50 familias controlavam o conjunto da atividade econmica em ligao


com grandes firmas estrangeiras.Em 1968, identificava-se 6 grandes grupos de
interesses controlando 70% das vendas do setor industrial. Por exemplo, 80 % do setor
mineiro era controlado por 3 empresas (Cerro Pasco, Southern Peru e Marcona).

14.4.1. Participao Popular

Carlos Delgado, um dos principais tericos da experincia peruana, e da direo


do SINAMOS (sistema nacional de apoio a mobilizao social) , explicava a opo pela
participao popular vinda da experincia da Yugoslavia: De todas as revolues
europias feitas em nome do marxismo s a Yugoslava constitui exceo neste
campo,porque enfrentou e em grande parte resolveu o problema de garantir a efetiva
participao dos trabalhadores e do povo nos distintos nveis de deciso na sociedade.

O Governo define um tipo de socialismo peruano,que tinha como eixo a area


de propriedade social dos meios de produoe a Comunidade de Trabalho. Estes dois
intrumentos serviram para assegurar a transferencia dos meios de produo para os
trabalhadores.

A Comunidade de Trabalho: toda empresa do pas que empregue mais de seis


pessoas deve reservar 10% dos lucros para distribuio aos trabalhadores,e 15% sero
convertidos em aes para serem entregues Comunidade de Trabalho.Com isto,evita-
se a propriedade individual,de carter neo-capitalista.O mecanismo de distribuio das
aes acumulativo , at alcanar 50% da propriedade da empresa.Neste momento,os
trabalhadores tero o mesmo numero de diretores que os antigos proprietrios e o
Presidente ser eleito por consenso ou ,em caso de empate,por sorteio.A partir de ento,
os operrios de cada fabrica tm um ou mais diretores,segundo o ritmo de crescimento
da sua participao acionista. Enfim,um tipo de co-gesto.

Por sua vez, a EPS uma verso peruana da empresa socialista. Um grupo de
trabalhadores rene-se e decide instalar uma fabrica,partindo do principio que dominam
os conhecimentos essenciais para o empreendimento.A Corporao Financeira de
Desenvolvimento do Peru COFIDE-,o organismo estatal que financia os projetos de
desenvolvimento,uma vez comprovado que a ideia daqueles operrios se enquadra nos
seus planos,facilita-lhes um apoio que inclui a preparao tcnica imediata dos futuros
administradores,o projeto de operacionalidade e,por ultimo,a prpria instalao da
fabrica.

A nova empresa no ser propriedade,mas comunidade de todos os


trabalhadores das fbricas de Propriedade Social. As despesas do COFIDE sero
recuperados em prazos muito longos e 10% dos lucros devem ser transferidos para o
Fundo de propriedade Social para a criao de novas empresas de trabalhadores.

Previa-se um perodo no muito longo para que a propriedade Social


representasse 40% da economia peruana,justamente com 35% para a economia
estatal,os restantes 25% seriam da propriedade privada modificada ,isto ,a Comunidade
de Trabalho e do pequeno setor da propriedade individual.

CARLOS DELGADO define este caminho:

Nesta perspectiva, a Comunidade de Trabalho comunidad laboral- uma


expresso revolucionria da reforma da empresa capitalista prpria de um
sistema econmico cujo futuro desenvolvimento,para ser conseqente com a
orientao fundamental da Revoluo,ter de responder a uma concepo
autogestionria,cooperativista,comunitria,de controle direto dos
trabalhadores peruanos sobre a riqueza que cria seu trabalho.

Varias medidas foram adotadas:

- A lei sobre as EPS , de 1974.

-nova lei das industrias, que criou a primeira Comunidade do Trabalho


(comunidade industrial permitindo acesso at 50% da propriedade e da gesto
aos trabalhadores);

- as cooperativas agro-industriais;

-as empresas autogestionrias de propriedade social,que serviam como suporte


scio-economico participao social;

-medidas anti-imperialistas,como,a reforma Agrria e a expulso da


International Petroleum Company,filial da Standard Oil,dos EUA.

O projeto Decreto-lei sobre a transferncia dos meios de produo para os


trabalhadores,afirma:

Artigo 1.-Denominam-se Empresas de Propriedade Social as entidades


jurdicas de direito social exclusivamente integradas por
trabalhadores,constitudas dentro do principio da solidariedade,com o fim de
exercerem atividades econmicas e cuja caractersticas so: plena
participao,propriedade social da empresa,acumulao social e
aperfeioamento permanente.

Artigo 2.- A plena participao consiste no direito de todos os trabalhadores


participarem na gesto e nos lucros da empresa,que se exercem tomando em
conta o interesse social atravs da gesto democrtica e da distribuio do
excedente em funo do trabalho prestado e das necessidades dos mesmos
trabalhadores.

Artigo 3.- A propriedade social porque corresponde ao conjunto de


trabalhadores que, trabalham nas Empresas de propriedade Social,sem que a
qualquer deles correspondam direitos de propriedade individual,pelo,que,ao
dar origem a novas unidades econmicas da mesma natureza,a sociedade
beneficia.

A empresas ficaram agrupadas em 5 setores:


o setor da pequena propriedade artesanal e comercial, de longe o mais
importante no plano dos efetivos (63% dos operrios da industria so do
artesanato);
o setor da propriedade privada reformada pela lei sobre a comunidade
industrial (1970),agrupando todas as empresas com mais de 5 trabalhadores e
com uma cifra de negcios anuais de mais de 1 milho de soles;a lei se aplica ao
setor manufatureiro que produz cerca de 15% da renda nacional e ocupa 5% da
fora de trabalho:
o setor de propriedade social(APS),com a lei de maio 1974. o capital neste
setor propriedade do setor inteiro,tipo propriedade social como no modelo
autogestionrio yugoslavo; esperava-se que as cooperativas de produo e as
sociedades agrcolas de interesse social iriam passar para este soteor
socializado;
as empresas de Estado, surgidas com a nacionalizao nos setores da insdustria
de base e estratgicas;
as empresas mixtas,criadas a partir das joint ventures entre os grandes grupos
estrangeiros e o Estado;neste setor,os trabalhadores recebiam participao nos
lucros,mas no participavam na gesto;
importante falar de um setor, margem desses 5, as Empresas Administradas
pelos Trabalhadores (EAT), originadas de lutas sociais aps o processo falimentar.

Em 2 de maio 1974, o decreto-lei n. 20598 instituiu as empresas de propriedade


social.Foi a ltima grande reforma do Presidente Alvarado Velasco, 5 anos aps a
reforma agrria(1969), 4 anos aps a Comunidade Industrial(1970) e, cerca de 1 ano
antes da direitizao do regime,com a chegada ao poder do gal. Bermudez(1975).

O projeto da APS,foi submetido ao debate na sociedade, em agosto de 1973; as


principais organizaes polticas,sindicais,profissionais,religiosas e intelectuais
participaram deste debate.Os fundamentos ideolgicos do setor APS estavam inspirados
no modelo yugoslavo.

As estruturas de base deste setor repousavam em 4 principios:

participao total: direito de todos trabalhadores de participar na direo,na


gesto e lucros da empresa.
propriedade social,pois pertence ao conjunto dos trabalhadores;
acumulao social,
o setor reforado pela incorporao ao patrimnio do excedente das atividades
produtivas (os lucros);
formao permanente,para desenvolver a participao dos trabalhadores em
todos os nveis.
Sobre a organizao das empresas do setor,o decreto prev os seguintes orgos
da autogesto:

assemblia geral dos trabalhadores;


comit de direo (composto de 3 a 6 membros eleitos pela Assemblia );
vrios comits (formao, eleitoral,tica e especialistas).
O gerente ou os gerentes so nomeados por uma durao indefinida pelo Comit
de Direo,aps ratificao da AG. O financiamento inicial destas empresas de
propriedade social assegurado pelo Fundo nacional de Propriedade Social (FONAPS),
cujos recursos provm de uma linha de credito aberta Corporao Financeira de
Desenvolvimento (COFIDE).

As relaes com o Estado ficam sob responsabilidade da Comisso nacional de


propriedade Social(CONAPS). Esta Comisso tem papel fundamental: a criao das
empresas de propriedade social,sua constituio oficial,as mudanas de outras empresas
em empresas de propriedade social,o numero de aes-bens que cada empresa pode
emitir,a planificao do setor,o nivel de remunerao,dependem ou so controladas pela
CONAPS.

Em agosto de 1975, havia uma s empresa constituda e 28 empresas em


formao.no fim de 1977, havia 6 empresas constitudas e 34 em formao,com um
total de 5.578 assalariados. Em 1978, os trabalhadores do setor de propriedade social,
fundaram a Federao nacional dos Trabalhadores de propriedade
Social(FENATEPS),que lutava para incluir o setor das APS na nova Constituio que
estava sendo redigida em 1978-1979.Esta campanha no foi coroada de sucesso,e,assim
estas empresas foram abandonadas a sua prpria sorte.

No entanto,em 1975,existiam cerca de 3.500 Comunidades laborais agrupando


mais de 200.000 trabalhadores.
No setor das empresas socializadas encontramos todo tipo de atividade
econmica: agrcola,mineiro,industrial,construo e servios.Em 1979, havia 44
empresas de propriedade social empregando 7.156 trabalhadores; destas 44 empresas,
20 so implantadas na metrpole de Lima ;as outras ficam no norte do pas e nas regies
de fronteira (Puno,Puccalpa...);os destas empresas empregam menos de 100
assalariados; 15% so trabalhadores temporrios.No conjunho,este setor representa
apenas 1% do PIB.

Carlos Delgado assinala a estrategia destas medidas: reforma agrria,reforma


da empresa e a criao do setor de propriedade Social,tm por finalidade socializar o
acesso propriedade e a riqueza e,por conseqncia,democratizar e desprivatizar a
riqueza e o poder.

Os PIAR (Projetos Integrais de Assentamento Rural) e os PID (planos


integrados de desenvolvimento), representavam a proposta estratgia de
desenvolvimento do pas. Um PIAR significava a integrao de todos os recursos das
empresas camponesas de uma zona. Em 1975,existioam 704 e agrupavam 800 empresas
camponesas. Diversos PIAR dentro de uma zona ou vale formavam uma Central.

Os PID, buscava a convergncia de todos os setores de atividade em um espao


considerado como mbito de planejamento regional. Os PID e os PIAR estavam
inseridos na Planificao de Base desenvolvida pelo SINAMOS. Este rgo
governamental tinha 4 setores prioritrios de ao:

1-as populaes rurais;

2-o setor laboral das cidades;

3-os povos jovens;

4-o setor juvenil.

A planificao de base, tipo de planejamento estratgico, tem por base que a


planificao do desenvolvimento econmico deve incorporar de modo efetivo a
contribuio que vem da realidade e das experincias das instituies de base.Em
niveis local e regional,o SINAMOS tinha as Oficinas Zonais de Apoio Mobilizao
Social (OZAMS). Cada OZAMS estava subdividida em subzonas,nas quais se
estruturavam as Unidades de Planificao de Base (UPB).
14.4.2. As Empresas em Falncia e a Autogesto

Autogesto, Boletim do Comit de Empresas Administradas por seus


Trabalhadores,ano 1,n. 3, relata uma experincia de ocupao e controle de empresas:

Em maro 1973, os trabalhadores ocuparam a Empresa Dominador


S.A.,localizada em Barranco.A ocupao durou 4 meses.Coim o governo de
Velsquez e a lei sobre a Comunidade Industrial, o patro desta empresa do
setor de papel higinico e talheres, com 30 a 40 trabalhadores, pediu
falncia.Apos 2 meses sem pagamento dos salrio , 50% dos operrios
decidem pela ocupao da fabrica. Estas experincias de ocupao de
empresas,permitiram uma tomada de conscincia mais ampla dos operrios, o
desenvolvimento da solidariedade, fraternidade e camaradagem., entre os
trabalhadores que participam da ocupao; garantir a segurana e a
manuteno da fabrica, a organizao interna e externa da administrao da
empresa,como tambm a distribuio dos recursos econmicos (frutos das
contribuies de solidariedade). A confluencia e utilizao coletiva dos
meiosa disposio dos operrios, o fato de dormir no local durante toda a
ocupao,representa uma fora importante para formao dos trabalhadores.

As empresas administradas pelos trabalhadores(EAT) , chegavam a um total de


60,empregando entre 7.000 a 9.000 assalariados. Estas empresas esto no setor
industrial ou de servios: construo de moveis de escritrios, grficas
,confeo,laboratrio farmacutico,etc..esto localizadas em Lina ou na sua area
metropolitana.

Suas origens esto na Lei da Comunidade Industrial. O decreto-lei 20 023,


permite a Comunidade Industrial,aps pronunciada a alencia de uma empresa,soilicitar
ao juiz a suspenso da declarao de falncia durante 90 dias.Durrante este perodo a
direo da empresa assegurada pela Comunidade Industrial, que prepara um projeto de
recuperao . Em caso de acordo, a Comunidade recebe todo o patrimnio da empresa
e inclusive seu passivo.

Esta poltica levou muitas comunidades industriais a pedir sua incorporao ao


setor da propriedade social.Todavia, um segundo decreto (21 584) obrigou a
Comunidade Industrial,que recebeu a propriedade da empresa em falncia, a
transforma-la em cooperativa de produo e de trabalho. Assim, as empresas de EAT
surgiram de falncias recuperadas pela Comunidade Industrial e pelo Sindicato.
As EAT tm sua origem nas lutas dos trabalhadores para defesa de seus
empregos em empresas falimentares. Portanto,diferem de outros setores em que a
iniciativa do Governo era determinante. Estas empresas estavam submetidas a enormes
dificuldades econmicas: em primeiro lugar, a recuperao de uma empresa industrial
em falncia, descapitalizada;ausncia de quadros competentes que em geral
abandonaram as empresas;crditos bancrios e tesouraria fechada por ausncia de
finanas.

Este processo de lutas levou a uma conscincia mais desenvolvidas dos


trabalhadores deste setor. Esta conscincia levou a um nvel superior de organizao.Em
1973,foi criado um Comit de ajuda Mutua e,em 1978, o Comit das Empresas
Administradas pelos trabalhadores (CEAT). Este Comit desenvolveu 3 projetos :

a criao de um Fundo (fonds tournant) composto de contribuies das


prprias empresas, de Fundaes e do Governo Holands;
um programa de desenvolvimento do setor autogestionrio a partir de um
Convenio com o Centro de Informao e de Desenvolvimento Internacional da
Autogesto (CIDIAG);este Centro assegurava a formao administrativa a 7
empresas;
preparou a instalao de uma Cmara de Comercio das empresas de
autogesto que permitia uma coordenao inter-empresas.
Apesar do papel de apoio jogado pelo presidente Velasco para o sucesso da
propriedade social, sua queda em 1975 no impediu o prolongamento deste apoio pelas
altas instancias do Estado at metade de 1976.No final de 1975, o banco Central de
Reserva do Peru abriu ao CONAPS um credito de 60 milhes de dlares, a 2%% de
juros;nesta mesma poca, foi criado o Sistema nacional para o Desenvolvimento da
propriedade Social (SINADEPS),que permitiu a criao de Oficinas regionais da
propriedade Social dependentes do CONAPS.

Em maio de 1976,foram tomadas outras medidas importantes: em resposta a


Assemblia Nacional dos Trabalhadores da propriedade Social e,em seguida, a uma
intensa campanha de mdia,dirigida pelos partidrios do SPS,incluindo os militares
radicais, o FONAPS tornou-se uma instituio financeira independente e, um Centro
de estudos Superiores da propriedade Social (CESUPS) foi criado com a funo de
preencher o vazio existente em matria de formao e pesquisa para o setor da
propriedade Social.

Contudo, estas mudanas ocorreram juntas de uma que tirava a autonomia do


setor: a modificao na na composio do CONAPS,que passou ao controle efetivo do
Ministrio das Finanas e , o baixo oramento inicial do CESUPS restringindo em
muito suas atividades.

Em julho de 1976, ocorreram as demisses das direes do SINADEPS e da


CONAPS,com objetivos de estabilizao da poltica econmica. Vrios ministros
militares,do grupo radical,prximo a Velsquez foram demitidos. No final de 1976, o
presidente Bermudez ,em entrevista a mdia, fala do papel da SPS na segunda fase do
processo revolucionrio, defende o pluralismo economico,limitando o papel
hegemonico que este setor tinha na primeira fase da revoluo.

A busca de um socialismo peruano,como alternativa ao capitalismo e ao


socialismo estatal burocrtico ,caracterizou a revoluo peruana. Em lugar de
substituir a propriedade privada capitalista dos meios de produo pela propriedade
estatal, o processo revolucionrio propunha-se a substitui-la pela propriedade social
,fincando suas inspiraes nas razes profundas e adormecidas na memria do povo do
Tahuantinsuyo, que tornou celebre o Imprio dos INCAS.

Sem duvidas, o projeto socialista peruano tambm tinha inspirao nas ideias do
marxista MARIATEGUI, que propunha 3 eixos estratgicos em sua proposta do
socialismo indoamericano:

- O Socialismo Autogestionrio Indo-americano *

Em Mariategui no se acha, de forma explicita, uma viso do que o


socialismo, a sociedade socialista. H uma ausencia do tema socialismo na analise da
obra do marxista peruano. Entretanto, aps a derrocada do socialismo estatal, e no
periodo de comemorao do seu centenario [1994], novos estudos mostram que a ideia
do Amauta sobre o socialismo faz jus as ideias do socialismo autogestionrio.

Em suas varias polemicas, seja com o ideologo do nacionalismo,Victor Haya


dela Torre, seja com os dirigentes da Comintern, e no livro " Em Defensa del
Marxismo",polemizando com Henry de Man, Mariategui rechaou 3 vias para
sociedade peruana:
a democracia liberal
o capitalismo de Estado
o socialismo de Estado
Qual, portanto, a alternativa socialista traada por Mariategui ? A relao
"socialismo e democracia" na obra do Amauta, porta concluses fundamentais para
compreenso da ideia socialista em Mariategui,inclusive, de grande atualidade para a
conjuntura que vivemos, aps a derrocada das experincias do socialismo estatal no
Leste europeu e Russia , da crise das experincias do Welfare State e da crise profunda
do sistema neoliberal em curso.

No " projeto socialista"mariateguiano, tres instancias se destacam:

A socializao dos meios de produo, implicando a abolio da propriedade


privada dos recursos produtivos e sua substituio pela propriedade social; ou
seja, a AUTOGESTO SOCIAL;
A socializao do poder politico, a participao dos cidados livres e iguais na
formao coletiva de uma vontade politica e no exercicio direto da autoridade,ou
seja, A DEMOCRACIA DIRETA;
enfim, a transformao do mundo das relaes intersubjetivas ,no sentido da
afirmao da solidariedade;ou seja, a REVOLUAO CULTURAL do
COTIDIANO.
Atraves da analise dos camponeses indigenas na comunidade e dos operarios no
sindicato,Mariategui pensou outro tipo de organizao politica,em que as funes
estatais no se autonomizariam em relao a sociedade.As organizaes da democracia
direta constituiriam a via pela qual o poder iria sendo socializado,deixando de ser uma
funo especializada e separada da sociedade.As organizaes autonomas dos
trabalhadores seriam os orgos da democracia direta. A ideia da "conquista do estado
significava para Mariategui,o longo processo pelo qual a experincia associativa dos
trabalhadores os levaria a uma forma de autogoverno e do exercicio direto do poder".

A revoluo socialista implica para o Amauta, um 'REENCANTAMENTO DO


MUNDO'; o reestabelecimento de uma relao harmoniosa dos homens entre si e dos
homens com a natureza, superando as dicotomias do mundo atomizado caracteristico da
sociedade moderna.Mariategui foi buscar esta "estrutura de sentimentos" na cultura dos
Incas peruanos; um estilo particular de vida em que as relaes entre os membros da
comunidade se regem pela solidariedade,nas diversas esferas sociais: trabalho,
festas;enfim, o " espirito comunista" do indigena. Segundo o autor, "Para tornar possivel
o exercicio da democracia direta, a condio indispensavel deveria ser a erradicao do
poder administrativo e do dinheiro;Para Mariategui, a sociedade socialista se orientaria
para a realizao de um maximo de comunicao e um minimo de institucionalizao".
(cf. MARIATEGUI: Il Socialismo Indoamericano. Casa Editrice Francoangeli.Milano
1996]

O projeto socialista de Mariategui porta uma radical subverso das relaes


intersubjetivas". Mariategui prestou ateno particularmente a toda uma area da vida
social descuidada pela corrente do marxismo oficial da III Internacional.Esta area
correspondia ao que ele descreve, nos "7 Ensayos", como "Os costumes, os sentimentos,
os mitos-os elementos espirituais e formais destes fenomenos que se designam com os
termos de sociedade e de cultura".

14.5. ARGENTINA: A CRISE DE HEGEMONIA, AS LUTAS OPERARIAS E O


CORDOBAZO

Segundo Monica Peralta, o ano de 1955 uma data chave para histria
Argentina, pois: assinala o momento em que as contradies que j existiam tanto a
nivel economico como poltico desde incios da dcada de 50, explodem a plena luz do
dia. Esse processo marca a passagem uma nova poca que se caracterizar pela
estruturao de uma nova aliana de classes no poder e uma mudana no modelo de
acumulao.

Peralta caracteriza o periodo entre 1955 e 1966 como de desenvolvimento e


aprofundamento de uma crise de hegemonia no seio das classes dominantes: produz-se
,ento, um equilbrio instvel de foras que progressivamente debilita ao conjunto
frente ao potencial avano do inimigo principal : a classe operaria.

O golpe de 1966 representou a irrupo da crise organica, que resolveu os


problemas entre a classe dominante, consolidando o poder de uma de suas fraes,mas
que aprodundou as contradies com as classes subordinadas.

Para muitos histriadores argentinos, o processo historico compreendido entre


1966 e 1976 deve ser visto como parte de um processo mais amplo que abarca a luta
popular contra a Revoluo Libertadora* no perodo entre 1955 e 1973;como uma s
luta da resistncia Popular,que culmina com o retorno de Pern e do peronismo ao
poder.

Alberto J. Lapolla subdivide essa onda de longa durao da seguinte forma:

Insistimos na compreenso do periodo historico entre 1966 e 1974 como um


s que abarca o perodo de 1945 a 1976,com dois subperiodos especiais: um
que vem de 16 de junho de 1955 e culmina no 25 de maio de 1973 ,e, outro
que se inicia no 20 de junho de 1973 e que se extende at mediados de
1977,quando o movimento popular originado em 1945 definitivamente
derrotado pelas foras oligrquicas.

A rebelio popular de 19 e 20 dezembro 2001 , significa um novo momento


deste processo. A classe operaria na Argentina destacava-se por ser combativa nos
sindicatos ,por um notvel nvel cultural e politizada pela memria dos governos
peronistas de 1946-1955.

Durante o governo anti-popular do general Aramburu (1955-1958),os


trabalhadores desenvolveram o movimento conhecido como Resistncia peronista.
Nessa resistncia, os sindicatos da cidade de Crdoba tiveram papel fundamental. A
resistncia cordobesa a partir de Congressos na regio,elaborou dois documentos
fundamentais: uma para coordenar a resistncia, La Falda em 1957 e outro, para
manter viva sua tradio, Huerta Grande em 1962. Tornaram-se os programas mais
radicais do movimento sindical da poca.

Pode-se traar todo um ciclo longo de lutas expresso no arco temporal 1955
1969. O Governo peronista iniciado em 1946, trouxe ganhos para os trabalhadores:
delegados de fabrica, convnios coletivos, legislao previdenciaraia, pleno
emprego,etc. Em 1955, um golpe de Estado tira Pern do poder. Inicia-se a chamada
revolucin Libertadora; interveno na CGT, priso de centenas de sindicalistas,
destituio de milhares de delegados de fabrica,dissoluo das comisses internas de
fabrica,dissoluo do Partido peronista.

A Resistncia peronista se articula e em 1956 retoma seu vigor.Por exemplo,


uma greve metalrgica dirigida por delegados clandestinos se mantm por mais de um
ms. No 1o de Maio de 1957, as manifestaes ocorrem dirigidas pela Intersindical com
hegemonia dos sindicalistas peronistas, a partir da retomada das comisses internas de
fabrica.

Em Rosario, ainda em setembro de 1955, houve uma insurreio popular: uma


polarizao na luta de classes, de um lado, o campo popular,sobretudo os operrios e,de
outro as foras armadas do Estado.A sociedade se dividiu em duas partes que se
enfrentaram nas ruas da cidade por mais de uma semana.Gigantescas colunas
avanaram a partir de cinco locais da periferia para o centro da cidade. As foras
policiais desalojaram os manifestantes do centro da cidade; esses foram para os bairros
perifricos.A cidade ficou sitiada,sob toque de recolher e sem abastecimento.

Em 1959, houve uma sublevao popular de todo o bairro de Mataderos da


cidade de Buenos Ayres, causada pela tentativa de privatizao frigorfico Lisandro de
La Torre. Ocorre uma grande concentrao em frente ao Congresso nacional para
protestar contra a medida do Governo. Em janeiro de 1959, nove mil operrios
ocuparam a fabrica. As 62 Organizaes ,tipo de coordenao sindical, chama uma
greve geral por tempo indeterminado. No dia 19 janeiro, toda a industria esta paralizada.
O conflito se generaliza: uma mobilizao popular em todo o bairro e, em seguida, o
enfrentamento com as foras armadas.

O Governo realiza a ocupao militar.Todavia, o frigorfico continua em mos


dos operrios. A feroz represso produz feridos e mortos. A populao de Mataderos se
subleva: o povo sai para as ruas, o comercio fecha suas portas,levantam barricadas, Por
48 horas o bairro se tornou uma zona de resistncia popular. A represso cresce e os
operrios so desalojados do frigorfico,alm de muitas prises de trabalhadores.

As condies sociais impostas aos trabalhadores a partir de 1960,em relao as


condies de vida e de trabalho, levaram a uma serie de mobilizaes, greves,greves
gerais e planos de luta que conduziram a ocupao massiva de fbricas durante 1964,em
todo o pas. O Governo de Illia a decretar uma nova lei sindical,que tirava o poder das
organizaes sindicais de carter nacional.No 28 de junho de 1966 ocorre o golpe
militar encabeado pelo general Ongania.

Em dezembro de 1966,os trabalhadores realizam a primeira greve de caracter


nacional. Em Tucuman, as lutas vo tomando um carter de puebladas: os operrios
dos engenhos de acar e os povos que os rodeam se mobilizam contra a poltica
econmica.

14.5.1. Cordobazo e Rosariazo (1969)

Em maio de 69, Crdoba ocorreu o movimento conhecido como


cordobazo,em setembro do mesmo ano de 69, ocorreu o movimento conhecido como
rozariazo,na cidade de Rosrio. No 29 de maio h uma greve geral ativa liderada pela
CGT.

O Sindicato Luz y Fuerza,dirigido pelo lder sindical Agustn Tosco, era o


maior e mais forte depois do SMATA* ,da UOM* e dos sindicatos da FIAT. Atravs de
suas aes,podia controlar os cortes e apages de energia e de paralizar a cidade e
desencadear uma crise na regio ou mesmo no pas.Era um sindicato estratgico em
uma industria estratgica da Crdoba industrial.

SMATA (Sindicato dos Mecnicos e Afins de Trabalhadores da Indstria


Automotriz).

UOM (Unio Operria Metalrgica).

Em maio de 1969, a industria automotriz de Crdoba eliminou o sabado ingls


(por meio dia de trabalho no sbado,se pagava o sbado inteiro).O SMATA chamou
uma assemblia geral. A policia reprimiu os operrios.O Sindicato chamou uma marcha
at o centro da cidade, que foi ocupado por trs horas.

Em varias cidades ocorreram paralisaes de operrios e estudantes.O regime


militar decretou Conselhos de Guerra em todo o pas.A CGT dos Argentinos decretou
greve geral para o 30 de maio.

Na troca do turno da noite pelo da manh na fabrica Renault,em Santa Isabel,os


trabalhadores pararam cada taller e seo durante cerca de duas horas para formar uma
coluna com mais de 4.000 trabalhadores,armados com diversos tipos de instrumentos
de metal,barras,borarcha,etc. Por sua vez,na sede do EPC foi formada outra coluna
encabeada pelo sindicato Luz y Fuerza,que devia caminhar pelo baiiro Clinicas.
Tambm,foram agredidos pela policia com gs lacrimogenio.Na Plaza Vlez Sarfield, a
policia assustada com o numero de manifestantes,disparou suas armas de fogo,
matando um operrio e ferindo muitos outros.

A multido,furiosa,atacou a policia que fugiu do local.A partir desse momento,o


protesto se transformou em uma exploso espontnea das massas cordobesas contra a
ditadura.Aps amorte do operrio Maximo Mena, os vizinhos do local se somaram aos
manifestantes operraios,dando colchs e moveis para fazer fogueiras e
barricadas,dando-lhes comida e bebida. Ao todo,eram cerca de 50.000 manifestantes
ocupando o cnetro da cidade.Toda a cidade,ao passo que sabia do assassinato do
operrio,se somava aos manifestantes,que ocuparam o bairro Clinicas e diversas outras
localidades.nibus e carros foram queimados,vidros de lojas quebrados ;barricadas
foram levantadas com postes de luz,materiais de construo,arames,etc.Opredio da
xerox foi incendiado;os carros da Citroen-Tecnicor foram levados para fora da loja e
usados para barricadas.Contudo,no houve nenhum saque: a palavra-de-ordem era;
romper pero no robar.

Ao anoitecer o protesto tinha um carter mais popular e estudantil que sindical: os


bairros universitrios Clinicas e Alberdy concentravam o principal da resistncia,ali
estavam vizinhos,donas de casa,empregados,sacerdotes ,o povo todo;na barricada de
Clinicas havia mais de 50.000 pessoas.

s 23 horas, um comando do sindicato Luz y Fuerza cortou a energia da


cidade,paralizando a represso militar. O Cordobazo deixou um saldo de mais de 1.000
pessoas detidas,centenas de feridos,90 graves,e uma cifra oficial de 12 mortos que as
fontes populares elevavam para mais de 60.

O Cordobazo teve um componente espontneo de luta de massas e forou as


foras aramadas abuscar uma sada poltica via eleies,alm de questionar a velha
liderana sindical pelega,e,vincular as classes medias a luta dos trabalhadores. O
Cordobazo abriu um novo perodo na histria do pas: do 29 de maio de 1969 at o 20
de junho de 1973,data da matana de ezeiza quando do retorno de Pern. Aps o
Cordobazo nada seria como antes, aps tantas derrostas populares, maio de 1969
marcou um tempo de vitrias.

Em julho,ocorre um conflito muito especifico em Rosrio; contudo,muito


importante para entendimento do Rosariazo em setembro 1969. Primeiro,uma disputa
interna na Igreja Argentina,que leva a demisso de 30 sacerdotes catlicos da cidade de
Canad de Gmez e de outras localidades do sul da provncia de Santa F. Estes
sacerdotes criticam a falta de sensibilidade social do bispo de Rosrio. Em 22 de
julho,ocorre uma greve dos trabalhadores,com adeso do comercio local, em apoio aos
30 sacerdotes.

Rosrio uma zona com grande peso dos ferrovirios.Em 8 de setembro inicou-
se uma greve de braos cruzados,dos ferrovirios em solidariedade a um delegado
demitido. 5.000 ferroviarios das oficinas de Rosrio, de Perez e Villa
Diogo,organizados na Unio Ferroviria,ligada a CGT dos argentinos.A greve se
estendeu a outras provncias,at chegar a Capital,Crdoba e a Grande Buenos Ayres.

Na cidade de Cipolleti ,provncia de Rio Negro, desenvolve-se uma luta entre a


populao da cidade e a policia;a luta dura vrios dias exigindo a interveno do prprio
Exercito. As mulheres dos ferroviairos participam da greve.No dia 16 setembro, ocorre
a greve ativa da CGT de Rosrio. 30.000 pesssoas,na maioria operrios participam.Os
operrios partiam das fbricas agrupando-se em colunas .Mulheres e crianas se
incorporam a luta.

A fabrica CID onde houve um conflito em maio, foi incendiada pela massa e
outras fbricas so queimadas em todo o cordo industrial. A greve dos ferrovirios
durou 27 dias.

Estes combates de massa conduziram ocupao militar da cidade e a implantao do


Conselho de Guerra das Foras Armadas.

Darci Ribeiro em seu estudo sobre El dilema de Amrica latina (estructuras del
poder y fuerzas insurgentes) ,analisa as rebelies desse tipo:

Uma terceira modalidade, mais complexa e mais madura de rebelio popular


parece ter surgido com as recentes rebelies de Crdoba (1969-1971),que
configuram movimentos abertamente polticos e mais caracteristicamente
revolucionrio que todos os anteriores. Aqui, esto combinados e
reformulados vrios dos elementos bsicos das grandes insurreies
histricas. A rebeldia contra a ordem instituda, que acusada de responsvel
ou conivente com a opresso poltica, a probreza e a humilhao de enormes
pores da populao.Um projeto de reoordenar radicalmente as bases da
vida social.

Uma estratgia de organizao da luta contra o sistema,dirigida por


lideranas prprias.A coragem de investir contra os agentes da represso
enfrentando com violncia de massas, a violncia do sistema.E, finalmente,o
carter pluriclassista desta exploso, acuja cabea se colocaram lideres
operrios e estudantis.

No caso das modalidades mais complexas de rebelio popular e,sobretudo,


das que so exemplo os dois cordobazos,no cabe duvidas de que se tarta de
irrupes com caractersticas visivelmente revolucionrias.Encontramos
nelas, pela primeira vez, movimentos majoritariamente operrios,mas que
envolvem tambm as classes intermediarias e setores marginalizados.Porm,
encontramos sobretudo, a presena de uma ideologia poltica,uma
organizao sindical-partidaria e uma estratgia de luta claramente
identificveis. Seu objetivo instaurar um poder nacional-popular
coparticipado pela maioria da populao.Sua motivao ideolgica se
expressa simbolicamente pela imagem do Che Guevara presente na
manifestaes e,mais concretamente, pelo projeto de conquistar o poder para
reordenar a vida social sobre bases socialistas.

Em fevereiro de 1970 ocorreu a primeira greve contra a burocracia sindical: na


represa de Chocon , em Neuqun, como protesto contra a demisso dos delegados da
empresa por participerem de uma reunio nacional de Sindicatos,convocada pelo lder
Tosco. A greve foi deflagrada por um Comit eleito democraticamente pelos operrios
da megaempresa , e durou varias semanas.Essa greve inaugurou um tipo de lutas que se
ampliou por todo o pas ,aps o Cordobazo e at 1973; a luta dos trabalhadores por uma
nova direo sindical democrtica, plural, combativa e elita pelas bases.

14.5.2. Sindicalismo de classe : SITRAC-SITRAM*

A oposio composta por jovens sindicalistas rebeldes ganhou a eleio na


FIAT-CONCORD. O sindicalismo classista dava seus primeiros passos sob a direo
democrtica de uma nova gerao de trabalhadores.Seu secretario-geral,Carlos
Massera,tinha apenas 37 anos.As condies de trabalho na FIAT eram mais duras em
relao ao resto da insdustria de autos, fato que os operrios descobriram aps contatos
com seus colegas da FIAT de Turim , na Itlia. Por exemplo, na Argentina a FIAT
usava maquinas que eram proibidas na sua irm italiana.

Desde os anos 20,quando o PCA tinha criado o Comit Sindical de Unidade


Classista, no tinha surgido nenhum movimento com este qualificativo.O novo
sindicalismo,nascido nas plantas da FIAT,em ferreyra, espressava uma reao
espontnea dos operrios da FIAT por construir sindicatos
autnomos,democrticos,representativos e vinculados s bases.
14.5.3. Greve na FIAT

Em janeiro de 1971, a FIAT demitiu sete operrios membros da executiva do


SITRAC. Os trabalhadores ocuparam a empresa e tomaram executivos como refns.O
governo militar ameaou declarar Crdoba rea de emergncia militar.Os operrios
mecnicos da cidade ocuparam todas as plantas da industria automotora da provncia.
Aps o final da greve,com a readmisso dos demitidos,o SITRAC apresentou um plano
de convenio coletivo ao governo.Em maro, todos os sindicatos realizaram greves.

O governo interviu em Crdoba na pessoa do fascista Jos Uriburu.Os


sindicalistas criaram um Comit de greve da provncia,logo aps uma greve geral
convocada pela CGT.Segundo planos do Comit de greve, os operrios ocuparam
diversas empresas.Os trabalhadores da FIAT convocaram um ato reunindo operrios de
varias fbricas.Os trabalhadores decidiram marchar at Barrio Avellaneda para libertar
um padre que tinha sido preso.Cerca de 4.000 pessoas compunham essa marcha;no
local, a policia atirou e matou um operrio de 18 anos.

Operrios e policiais combateram durante varias horas em Ferreyra: estas lutas


tomaram o nome de Ferreyrazo. Mais de 10.000 cordobeses caminharam em silencio
em repudio represso. Assim, nasceu o segundo cordobazo,chamado de
Viborazo,nome dado pelo interventor Uriburu ao movimento dos operrios.

Os trabalhadores se concentraram em duas zonas: Villa Libertador e Villa


Rebol,onde se encontra a planta eltrica ,que foi ocupada pelo Sindicato Fuerza y
Luz.Os trabalhadores caminharam para o centro da cidade,que,nas primeiras horas da
tarde estava totalmente ocupada pelo povo.

Bairro Clinicas e Villa Rebol, ocupados por Luz y Fuerza foram os locais
melhor organizados e que resistiram mais tempo;tinham a experincia acumulada do
primeiro cordobazo em 1969 e uma forte organizao democrtica do sindicato eltrico
cordobes.O nvel de destruio material foi maior que o do primeiro cordobazo,pois se
produziram grande quantidade de incndios e houve poucas baixas,no havendo saques.

Desta vez, os trabalhadores construram as barricadas na periferia.No Bairro


Clinicas havia 200 barricadas. O interventor foi retirado e Crdoba declarada rea de
emergncia.A policia prendeu muitos sindicalistas.

Em outubro de 1971, o exercito ocupou a FIAT em Crdoba e a ditadura pos na


ilegalidade SITRAC-SITRAM, congelou seus fundos e a policia e o exercito ocuparam
suas sedes.

- o poder dual - Lapolla relata a conjuntura de 1973,com o fim do regime militar,a


eleio de Campora e, por fim, volta de Juan Pern Argentina:

A provocao estava em curso. Ezeiza* seria o cenrio para mudar a


correlao de foras a favor da oligarquiaA esquerda peronista caiu na
armadilha. Junho de 1973 foi trgico. Era o primeiro ms do governo de
Campora e o nico completo-, foi quando comeou a colapsar esse duplo
poder , que se ia construindo na Argentina depois do Cordobazo e que se
inclinaria para o lado contrario ao campo popular.

De um lado, o poder formal do Estado e das estruturas burocrticas


tradicionais do poder; por outro, o poder popular que vinha se acumulando na
ao direta das massas na rua,nas ocupaes de povoados,greves,paradas
ativas,insurreies sublevaes e as aes armadas dos grupos guerrilheiros*.

Este duplo poder era a tenso entre os setores populares e reacionrio no


governo de Campora e se expressava tambm na ocupao massiva por parte
do povo,de todo tipo de instituies:
hospitais,escolas,rdios,fbricas,dependncias municipais,nacionais,de
empresas do Estado,de servios pblicos,e instituies de todo tipo que
queriam expulsar as pessoas da ditadura.Este duplo poder colidiria antes de
que as foras populares estivessem em condies de ter um comando
nico,j que pelo logar que ocupava na balana Pern,a partir de Ezeiza,o
comando popular se colocou ao lado do poder formal do Estado. Estava em
vigncia um poder plebeu,direto,revolucionrio que fazia que os hospitais e
escolas passasem a ser governados por seus integrantes,que os operrios
tomaram algumas fbricas e fizeram plano e cotas de produo prprias,que
as assemblias das bases designaram aos delegados interventores dos entes
estatais,que em algumas bairros pessoas se misturavam as autoridades para
controlar os preos,que a policia tivera ordem de no machucar o povo(...).
Havia corpos de delegados,comisses internas,assemblias populares por
bairro, que tomavam decises que se levavam pratica: o povo estava
exercendo sua liberdade em forma direta, o que era terrivelmente perigoso
para a tica da oligarquia e o imperialismo(...). Se exercia uma nunca vista
democracia de massas nas bases,com a qual o duplo poder era realmente
palpvel(...). O pas era uma festa,talvez em um sentido, nunca antes vivida;
todavia, esse poder popular seria desafiado e vencido pelo poder da classe
dominante em um processo feroz e sangruento,com a ajuda do prprio
Pern,que no queria,o que nunca quis: a ao direta das masas(...).

Um breve parnteses:
Em 1975 havia 6.000.000 de trabalhadores industriais, em 2003 s restam mais
de 1.000.000 e dos 30.000 desaparecidos,mais de 54% foram delegados de base do
movimento sindical antiburocratico).

De modo parecido Rssia entre fevereiro e outubro d 1917, a Mxico durante a


revoluo de Villa e Zapata,ou na Italia dos Conselhos Operarios de Turim em 1918-
1919, esse duplo poder no podia ser eterno ou se inclinava para o lado das massas
populares ou se inclinaria para oligarquia e o imperialismo.

14.5.4. As ocupaes de fbrica ps 1973

Em maro 1974, durante dez dias os operrios de Villa Constituicion se


rebelaram para eleger livrementes eus dirigentes. Esta luta e a vitria dos trabalhadores
trouxe novo alento ao movimento sindical combativo do pas,em particular o de
Crdoba,golpeado pela represso.

A chapa de oposio sindical (Lista Marrn) ganhou as eleies na UOM.


Assim, a principal seo da UOM,onde estavam as principais industrias siderrgicas e
metalrgicas do pas, estava nas mos do sindicalismo classista e combativo.Nas
principais plantas industriais do interior da Argentina,onde se acahva a nova classe
operaria industrial,concentrada e qualificada, com peso organizativo,econmico e
estratgico.

O fim da ditadura militar, no ms de maio surgiram diversos conflitos nas


empresas. A existncia de um governo eleito pelo sufrgio nacional,criou um novo
espao para uma ofensiva operaria, com carter anti-burocratico. Como no perodo
anterior, os conflitos giravam em torno as questes das condies de trabalho nas
fbricas,juntos as reivindicaes de substituio das direes sindicais pelegas por
delegados eleitos pelas bases. O questionamento dos ritmos de produo, a
insalubridade, enfim do conjunto das condies de trabalho ,eram reivindicaes de um
controle por parte dos trabalhadores.

Com a volta de Juan Pern do exlio , os trabalhadores iniciam uma serie de


lutas , a partir de maio 1973:

ASTRARSA: o maior estaleiro do norte.Um grave acidente de trabalho causa a


morte de um operrio.Os trabalhadores espontaneamente convocam uma
assemblia e exigem a demisso da equipe tcnica responsvel pela
segurana.Os operrios criam novas bases organizativas ,e o movimento
articulado entre os delegados sindicais e ativistas de base, ocupam a empresa ,
tomam os funcionrios como refns. A reivindicao assume um carter mais
poltico ao exigir o Controle Operrio da segurana e da insalubridade do
estaleiro.
Complexo VITAL-ZRATE: junho-julho.os 2.000 operarios da
construo,trabalhando em obras da ponte,renem-se em assemblia e destituem
a comisso interna,elegendo novos delegados e liquidando o aparato sindical
corrupto.
Malinas, Rio de la Plata, junho-agosto,a fabrica de produtos alimentcios do
grupo BUNG y BORN ocupada e os trabalhadores independentemente dos
delegados e do sindicato, elaboram uma lista de reivindicaes: medidas de
segurana; reconhecimento da salubridade de certas tarefas; instalao de um
restaurante; e abertura de um consultrio mdico. Os operrios obrigam os
delegados a apresentarem suas renuncias perante assemblia geral realizada na
fabrica sob ocupao.
PHILIPIS. Novembro. Na fbrica de eletro-domestico de capital
holands, h uma greve de 50 minutos em uma das sees. Uma lista de
reivindicaes apresentada: reduo da jornada de trabalho para 8 horas e 45
minutos; elevao da gratificao de produo de 40% para 50%; soluo dos
problemas de insalubridade; que no haja represso contra os grevistas. A
comisso interna do sindicato no participa da luta; h 7 anos que seus membros
esto nos cargos, sempre em cumplicidade com a gerencia da empresa;os
operrios,uma semana aps, exigem: formar comisses em todas as
sees,eleitas democraticamente; que a comisso interna proclame as eleies de
imediato.
Estas experincias de 1973, so exemplos de mobilizao dos trabalhadores a
partir de suas reivindicaes especificas,contra a burocracia sindical e com o objetivo de
negociar diretamente com os patres.Buscam por fim as formas de representao e de
poder materializadas em corpos especializados e profissionalizados.
14.6. CHILE: A REA DE PROPRIEDADE SOCIAL E OS CORDES
INDUSTRIAIS

Mario Pedrosa, em seu exlio chileno, afirmava que a experincia do


socialismo chileno era profundamente original. A Unidade Popular foi uma aliana
de partidos de esquerda, formada em vistas das eleies de 1970.
repousava,essencialmente, na aliana entre o OS e o PC.Com a vitria da UP, em
novembro de 1970, um novo perodo histrico se abriu para os trabalhadores chilenos.

Analisando as transies socialistas, KOLM mostra como no Chile os


primeiros passos do Governo Allende foram de grande impulso aos desejos dos
trabalhadores.

O governo da UP se instala em outubro de 1970.Os salrios de operrios e


camponeses duplicam no 1o de janeiro de 1971. Todos os salrios aumentam
ao mesmo tempo, porm,em menos valor medida que so mais altos.Por
sua vez, a subida de preos diminue,passando do 35% em 1970 para 22% em
1971,devido ao controle de preos que foi imposto,inclusive quedas para
produtos de consumo popular (como aluguel). Em consequencia, a parte dosa
lucros na renda nacional cai sensivelmente de 1970 a 1971,a dos salrios
passa de 55% para 62%;mas,os lucros se mantem,pois a taxa de crescimento
da renda nacional passa de 3,8% para 8,3% nestes dois anos,ao passso que a
taxa de desemprego diminui igualando estas cifras na ordem inversa.No total,
os salrios reais isto ,em poder de compra- crescem mais de 31% de
outubro de 1970 at final de 1971.Em 1972, a UP obtm seu maior xito
eleitoral com mais de 50% dos votos.

No final dos anos 60, JAMES PETRAS lanou um livro,fruto de pesquisa no


Chile,em que j apontava a polarizao em curso nas classes sociais, na questo dos
projetos de sociedade e na disputa de hegemonia, nos quais , as possibilidades da
experincia de autogesto estavam presentes:

Na poltica de mobilizao aparecem duas formas diferentes de abordar a


reorganizao da sociedade; o enfoque CORPORATIVO ,em virtude do qual
o governo controla e dirige s organizaes populares e as vincula com as
elites econmicas atuais,em um intento de fomentar a colaborao em favor
do desenvolvimento nacional, e o enfoque COLETIVISTA , em virtude do
qual os protagonistas polticos com conscincia de classe difundem uma
cultura poltica radical entre os membros da classe baixa, com o fim de
mobilizar seu apoio e socavar a posio das elites atuais, como primeira etapa
at a criao de uma sociedade coletivista.
O Programa bsico da UP,em seu capitulo referente a nova economia,estabelecia
que: As foras populares unidas, buscam como objetivo central de sua poltica
substituir a atual estrutura econmica,terminando com o poder do capital monopolista
nacional e estrangeiro e do latifndio,para iniciar a construo do socialismo.

O primeiro ano do governo da UP foi de euforia econmica: aumento da


produo e do consumo,queda do desemprego e da inflao.Foi tambm o ano da
reforma Agrria,das grandes nacionalizaes e da formao das Aras de Propriedade
Social(APS).

14.6.1. A Reforma Agrria

No primeiro ano,surgiram no campo,atravs de lutas violentas,novos rgos do


poder das massas,sobretudo,no Sul do pas (Cautin e Colchagua). So os
CONSELHOS COMUNAIS CAMPONESES , formados pela base,superando os
projetos iniciais do Governo e acelerando a reforma agrria. O Conselho Comunal de
cautin, foi formado em eleio livre,com base em um Congresso com 220 delegados.

14.6.2. A Propriedade Social

No 7 de novembro, Allende subscreveu um Acordo com a CUT,instituindo a


participao dos trabalhadores na transformao da estrutura econmica e social do
pas.Assim, surgiram as NORMAS BASICAS DE PARTICIPAO dos
trabalhadores nas empresas da rea Social e Mixta da economia.

Este Acordo CUT-Governo,definia os organismos por empresa:

assemblia de trabalhadores;
assemblia de unidades produtivas;
comit coordenador de trabalhadores;
conselho de administrao.
Assemblia de trabalhadores tinha por funes:

discutir os planos e polticas de produo da empresa,de acordo com as linhas


gerais estabelecidas para o ramo respectivo pelos organismos de planificao
nacional e setorial;
eleger os representantes dos trabalhadores perante o conselho de administrao;
solucionar os conflitos que surjam no comit coordenador de trabalhadores da
empresa sobre a aplicao da poltica fixada pela Assemblia de trabalhadores.

Comit de Trabalhadores:

formar a conscincia da importncia da propriedade social dos meios de


produo;
assessorar o chefe da unidade produtiva, com sugestes convenientes para o
melhor funcionamento da unidade produtiva,com debate prvio e votao no
Comit de produo.
A mensagem de Salvador ALLENDE , em 21 de maio 1971, afirmava:

No plano econmico,instaurar o socialismo significa substitui o modo de


produo capitalista mediante uma mudana qualitativa das relaes de
propriedade e uma redefinio das relaes de produo. Neste contexto, a
construo da rea de propriedade Social,tem um significadoo humano,
poltico e econmico...No campo poltico, a classe trabalhadora sabe que sua
luta por socializar nossos principais meios de produo.No h socialismo
sem rea de propriedade Social...O estabelecimento da APS no significa
criar um novo capitalismo de Estado,mas o verdadeiro inicio de uma
estrutura socialista.A APS ser dirigida conjuntamente pelos trabalhadores e
pelos representantes do Estado[...].

Na APS, os Comits de Produo foram os nicos organismos que funcionaram


em quase todas as empresas.A participao s atingiu 20% da classe trabalhadora. A
extenso das APS ir refletir a presso exercida por numerosos setores da classe
operaria. Surgiro inmeros conflitos sociais: os trabalhadores de empresas ameaadas
de falncia buscaro assegurar a estabilidade do emprego e de renda,atravs das greves
com ocupao,seguidas de reivindicaes de interveno do Estado, preparando a
passagem para a APS.

O numero de grevistas na industria privada foi multiplicado por 10,entre maio de


1971 e maio de 1972. Mais de 250 empresas foram colocadas sob regime de interveno
estatal em 1972;em 1971,a cifra foi de 91 empresas. 80 empresas,com cerca de 10.000
trabalhadores,recusadas de integrao APS,foram convertidas em Cooperativas
Operarias e, reagrupadas em uma Federao das Empresas e das Brigadas de
Trabalhadores. As APS e as Cooperativas Operarias foram as duas formas heterogneas
de participao com tendncia formao de coletivos operrios quase proletrios dos
meios de produo.

As ocupaes de fabrica eram impulsionadas pelo MIR e pelo OS.A linha do


Ministro Yuskovic,do OS,defendia o Controle Operrio nas empresas,se bem ,com o
objetivo poltico de quebrar o poder poltico da Democracia Crist. O despertar da
classe trabalhadora teve sua origem no descontentamento que se expressou nos
trabalhadores e nos bairros populares,frente a nova poltica econmica, resultante de um
acordo com a pequena e media burguesias, e contra as altas de preos decididas para
consolidar o acordo de conciliao com a burguesia mdia.

14.6.3. O Poder Popular : os Cordes Industriais

Na histria das lutas latino-americanas, a classe operaria jamais havia


demonstrado uma capacidade to grande de recursos polticos.pela primeira vez,na
histria do Chile,os trabalhadores tiveram a totalidade das fbricas sob seu
poder.Durante 26 dias,eles assumiram o controle da produo e da distribuio.

As lutas de outbro 1972,mostraram a necessidade de coordenao das tarefas nas


reas industriais e de defende-las atravs de estruturas de carter popular. Assim,
surgiram os CORDES INDUSTRIAIS, a expresso mais dinmica e vigorosa do
poder popular.Nos principais centros fabris de santiago foram criados 7
Cordes,exclusivamente baseados no proletariado industrial.

O primeiro Cordo Industrial data de junho.Uma serie de greves explodem


,em junho,na zona industrial Cerrilos Maipu,em uma serie de medias empresas.Os
operrios ocupam as fbricas reivindicando a passagem APS.O Governo envia os
carabineiros (policia);18 fbricas entram em greve e um Comando Comunal
formado.Os trabalhadores se declaram em assemblia permanente.

Em julho e agosto, o Governo assinou decretos de restituio de fbricas


ocupadas.Um dos objetivos dos Cordes foi a constituio de organismos mais
amplos, formados no apenas por trabalhadores, mas tambm por outros setores:
populao de bairros, estudantes, camponeses e organizaes de vizinhos (Clubes de
Mes,Juntas de distribuio e consumo,etc).Esta articulao das foras populares de um
setor geogrfico foi chamada de COMANDO COMUNAL, e tinha por objetivo a
criao de um poder popular, alternativo ao poder burgus.

Em 1970, foi criada a Comuna de Cisterna,no bairro popular Clara


Estrella.mais de 7.000 habitantes,lutando por asfalto,habitao e transportes.Mais de
80% dos habitantes ,so operrios das industrias de Santiago.

14.6.4. O Outubro Chileno

O ms de outubro marcou o surgimento de um projeto de socializao das


relaes de produo,vivido concretamente nas lutas dos trabalhadores .Neste ms, a
luta de classes atingiu um nvel muito alto e violento.A batalha pela sustenatao da
produo,boicotada pela burguesia, e a batalha pelo poder de classe,tornaram-se uma s
luta,uma mesma linha poltica de massas.

As hostilidades da burguesia comearam no dia 11,com a greve ilimitada dos


proprietrios de caminhes; em seguida, os setores da pequena e media burguesia
aderiram e, enfim,os patres tentaram parar a produo atravs de um lock-out
tecnico.

A partir do 15 de outubro, os coletivos operrios asseguraram a produo e


organizaram a segurana contra os atentados terroristas que se multiplicavam contra as
fbricas. Em santiago, e em torno da cidade, surgiram ento, novos rgos de poder
operrio: os Cordes Industriais.Assemblias gerais agrupavam os operrios
delegados em todas as empresas de uma zona industrial,criando as coordenaes
operarias locais.Os Cordes se institucionalizam;reagrupam,tambm,os representantes
dos rgos populares dos bairros vizinhos.

O conjunto das atividades necessrias manuteno da produo,da distribuio


e consumo e servios de sade , coordenado em nvel superior pelos Comandos
Comunais,representando as comunas suburbanas, os conselhos de camponeses e, os
centros de reforma agrria.Os circuitos comerciais estavam em greve,assim,estes rgos
populares assumiram as tarefas para p-los em funcionamento.
14.6.5. Autogesto Operria nas Fbricas

O movimento de outubro 72, modificou a situao nas empresas:mesmo as


pequenas,menos estratgicas,haviam se transformado em ncleo de poder popular e de
controle operrio.Aps o fim da crise,o retorno dos patres a direo das empresas
parecia sem sentido para os trabalhadores que tinham ocupado-as e posto em
funcionamento durante o lock-out. assim,os trabalhadores mantiveram as ocupaes e
reivindicaram a passagem ao setor das APS.

Por exemplo: na fabrica DEVA,serralharia,os trabalhadores mantiveram a


ocupao e reivindicaram passagem a APS.Trata-se de uma empresa media,com 200
operarios.Os trabalhadores foram ameaados por uma ordem judicial de
expluso,contudo,foram protegidos pela solidariedade de toda zona industrial de
Conchali,que se organizou em um comite de coordenao. A venda da produo
passou a ser realizada diretamente s empresas,sem passar pelas grandes empresas do
ramo.

Em janeiro de 73, um projeto de lei,chamado MALLI, sobre a definio do


setor social,foi enviado ao Congresso chileno. Este projeto previa a expropiao de 42
empresas, a maior parte j ocupada pelos trabalhadores,postas sob interveno do
Estado ou autogeridas pelos comites de trabalhadores,eleitos durante o ms deoutubro
72.

Este projeto previa a criao de um comite dos casos especiais,gerido pelo


Ministrio do Trabalho e no exclua a devoluo aos proprietrios privados. Era uma
formula de cogesto estado-Trabalhadores-patres, chamada de administrao
integral , tambm estava prevista.

Em 25 e 26 de janeiro, os trabalhadores da zona industrial de Maipu,


organizados desde a crise de outubro 72,ocupam o bairro e armam barricadas.O projeto
foi recolhido aps varias discusses no interior do Governo.Uma plataforma de luta dos
Cordes industriais de santiago foi construda,e definia que:

Ns, trabalhadores dos cordes industriais, avanamos como programa


imediato de ao de classe:

- a luta pela passagem s mos dos trabalhadores do setor socializado de


todas as empresas que produzem os bens de primeira necessidade,do setor
alimentao e das fbricas de material de construo;

- a expropriao das exploraes de mais de 40 hectares (irrigados);


confiscao da terra e nacionalizao da explorao;

- constituir um controle operrio da produo e um controle popular da


distribuio.Os trabalhadores decidiro o que produzir para o povo,o uso dos
lucros, e os locais para armazenar os alimentos.Para isto, ns chamamos a
constituio imediata de comits de vigilncia operaria em todas as empresas
do setor privado;

- a luta para implantar uma direo operaria em todas as empresas do setor


socializado;

- no devoluo de nenhuma empresa que esteja em mos dos


trabalhadores;retirada imediata do Projeto Milla;

- poder de sano das Juntas de Distribuio e Consumo(JAP) e dos


comandos das comunas.Controle do que fornecido aos comerciantes e
castigo para aqueles que no vendem, que especulam.fechamento de seus
comrcios e vendas diretas populao.Os operrios dos cordes industriais
se mobilizaro para tornar este poder efetivo;

- chamamos todos os trabalhadores constituir os comandos industriais opor


cordes e os comandos comunais,nico meio para classe operaria de dispor
de um organismo de ao,eficaz,capaz de mobilizar e de propor novas
tarefas;

Ns cremos que, controlar os meios de produo e distribuio, consolidar


o processo, criar uma nova economia em mos da classe operaria, avanar.
por isso que nos opomos a qualquer concesso a burguesia...exigimos que
nos abram as portas para participar diretamente na busca de solues dos
problemas.

Cordes industriais de Santiago,Comandos comunais

Coordenao nacional da Construo - Fevereiro de 1973

14.6.6. As Juntas de Abastecimento (JAPs)

As JAPs eram coletivos populares de bairro, aglutinando os ocnsumidores e os


pequenos comerciantes com o objetivo de gerir a distribuio, controlar os preos, lutar
contra os atravessadores e o mercado paralelo. Foram lanadas em julho de 1972,
representando uma fora organizada que se desenvolvia baseada no controle que o
Estado tinha sobre a distribuio, devido a nacionalizao de vrios monoplios de
comercio em grosso.

Primeira Assemblia provincial das JAPs da grande Santiago foi realizado em 5


de maro. Para formar uma JAP, era suficiente uma assemblia de bairro onde se
articulavam as juntas de vizinho, os clube de mes e as associaes de jovens e
pequeno-comerciantes. A assemblia elegia uma comisso e a registrava no biro da
DIRICO (direo industrial e comercial do Ministrio da economia) e no posto de
carabineiros (policia) mais prximo.

Em maro 73, foi realizado um Congreso Popular sobre a distribuio e


consumo,em que participaram:

62 delegados das casas do povo da comisso provincial;


4 delegados dos cordes industriais;
5 delegados dos conselhos comunais camponeses das comunas suburbanas;
80 delegados dos comandos de distribuio da provncia.
O Congresso aprovou as seguintes proposies:

-Expropriao de todas as grandes industrias privadas da alimentao e sua


passagem ao setor de propriedade social,sob a direo operaria dos
trabalhadores.O controle operrio na pequena industria;

-Expropriao de todos os domnios agrcolas superiores a 40 hectares de


terra irrigadas ou equivalentes e a portas fechadas sem direito reserva para
o patro. Controle operrio da produo em todos os domnios inferiores a 40
hectares.Tudo isto sob a direo dos conselhos comunais e camponeses;

-Criao de uma Central nica de Distribuio, centralizando toda a


produo nacional e as importaes sob controle popular;

- A Distribuio sob controle dos Comandos Comunais de trabalhadores. A


criao de casas do povo controladas e dirigidas pelos habitantes em todos os
bairros,onde no haja comercio privado j estabelecido.Onde exista o
comercio,controle da distribuio pelos habitantes ,utilizando o carto de
distribuio do consumo;

-Eleio e formao de um comando provincial nico do consumo e de um


comando nacional nico.

- Hoje,em cada comuna e mesmo nos bairros, existe uma grande diversidade
de organizao (associao de vizinhos,comits de casas do
povo,JAPs,sindicatos,etc).devemos unir esforos de todos os camaradas
numa s organizao,os comandos dos trabalhadores[...].
14.6.7. O Tancazo : um ensaio geral golpista

Aps o ms de maio 73, o golpe de Estado militar tornou-se a nica sada lgica
para direita. Em junho, no curso de uma manifestao de masas ,convocada pela
CUT,reunindo 700.000 paraticipantes, o presidente Salvador Allende,pela primeira
vez,defende o reforo do poder popular atravs dos Cordes. Em julho,,ocorreu a
tentativa de putsch conhecida como Tancazo (golpe dos tanques),a partir do 2
regimento Blindado,que cercou o Palcio do Governo (La Moneda). A tentativa
fracassou,mas serviu de bala de ensaio para as foras fascistas.

Os comandos comunais e os Cordes industriais mostraram uma grande


capacidade de mobilizao e de resistncia militar.Um novo aspecto do poder popular
surgiu: o militar, com as milicias operrias. O comando comunal representava,neste
processo,o plo revolucionrio;o secretario-geral da CUT, MANUEL DINAMARCA ,
declarava,ento:

O comando comunal uma organizao nova que pretende realizar a


transferncia do poder institucionalizado burgus para a institucionalidade
proletria.isto deve desembocar num exerccio concreto de poder...Por
exemplo, no Norte de Santiago, os comandos aplicaram as decises em
matria de sade e transportes em comum (prolongamento ou modificao de
itinerrios). Vai chegar um momento em que o Comando vai dar ordens
sobre a colocao dos crditos de uma sucursal bancaria local,decidir sobre a
implantao de uma industria na zona e,finalmente,vai dar as ordens aos
outros tipos de organismos,como as prefeituras. Os comandos vo surgir com
ou sem consentimento do Congresso e se fortalecero como rgo de poder
popular pela resoluo dos problemas concretos e pela capacidade de
mobilizao da populao na busca de solues. Os Cordes como a CUT,
so organizaes de trabalhadores independentes do Governo,dos
partidos,das instituies do pas.

A classe operaria,mobilizada nos Cordes, apresenta um esprito ofensivo


formidvel. A Instruo no 1 do Cordo VICUNA-MACKENNA,testemunha as
medidas concretas adotadas pelo Cordo e pela CUT:

ocupar todas as fbricas;


organizar as brigadas de 11 camaradas e um chefe.Os chefes destas brigadas e os
membros da direo sindical dirigiro a empresa;
centralizar ,no interior das fbricas,os veculos e todo material,podendo servir
defesa da fabrica,da classe operaria e do governo;
de hora em hora, as fbricas tocaro suas sirenes para assinalar que a situao
est normal.Se a situao anormal, a sirene deve soar de forma continua para
pedir ajuda;
permanecer constantemente na escuta da radio Corporao,mesmo se a cadeia
nacional funcionar;
manter contato permanente com as fbricas vizinhas;usar mensageiros;
organizar assemblias e divulgar a presente Instruo aos camaradas de todas
as empresas.
Entretanto, a mobilizao de masas a epoca do Tancazo , no foi utilizada no
sentido de uma ofensiva contra as foras militares,ento divididas.

Os grupos de auto-defesa operaria no foram considerados pelo Governo como


um ponto de apoio fundamental.A Democracuia Crist,atravs de eduardo Frei,denuncia
em 8 de julho,a formao das milcias operarias. A partir desta data, a Armada aplica
sistematicamente a Lei de controle de armas: centenas de perseguies violentas so
dirigidas contra as fbricas e as sedes dos partidos de esquerda,em busca de armas.tres
dias antes do golpe fascista de Pinochet , 800.000 desfilaram para apoiar Allende e para
reclamar armas.

A partir do Tancazo,cerca de 100 fbricas tinham sido ocupadas pelos


trabalhadores,exigindo passagem das mesmas as APS.Em 10 de julho,a CUT se
pronuncia em favor do retorno a normalidade nas fbricas ocupadas.

O socialista brasileiro MARIO PEDROSA ,nesta poca,estava exilado no Chile.

Mario ressalta o papel dos trabalhadores no processo chileno,sem duvidas,a


partir de sua visao politica de forte conotacao luxemburgiana.:

O que caracteriza a situacao politica atual o processo de crescente


conscientizacao da classe trabalhadora.isso comecou a acentuar-se nas
fbricas e usinas tomadas da area social.A cousa de tal ordem que ameca os
proprios burocratas dos partidos.E tudo culminou com o ato publico de 4 de
setembro.A classe sente que o que est em jogo o seu governo,que esta a
sua hora.A pressao tal alta que os dirigentes sindicais do PC se sentem cada
vez mais da classe,e menos do partido.Este,por sua vez,teve que fazer uma
reviravolta a esquerda,e para com o sectarismo anti-esquerda.Toda a UP sabe
hoje que afinal nao se trata de ganhar eleicao,mas o poder.

Prossegue analisando a dinamica autonoma e autogestionria dos trabalhadores:


Tomar usinas,fbricas,bancos,terras,com jeito,interpretacoes e perito se faz e
se tem feito,com mais ou menos acidentes e choques.O aparato legislativo
grita,o aparato da justica zurra,reclama,sabota. Mas a cousa feita,feita fica,e
nao se volta atras,em geral,pois os trabalhadores se poem de permeio.

Para Mario, a politica economica do governo da UP chocava-se com a


"legalidade"do mercado.

Impor,porem,que as mercadorias circulem pelos seus canais de distribuicao


"normais"e cheguem aos estuarios a tempo,em quantidade e a precos
cristaos,ah,isso outra cousa.30% delas desperdicado de
saida,contrabandeado e mais ainda acambarcado.aqui as interpretacoes da
legalidade nao teem cabida,a barragem dos operarios nao tem onde operar.

Neste contexto,

O que importa entao chamar a iniciativa da base para ir as fucas dos


acambarcadores,controlar precos,o diabo.Sao as juntas populares que se
organizam por toda a parte.Enquanto isso se faz,o governo trata de organizar
seu aparelho de distribuicao proprio,com suas frotas de caminhoes e
transportes para pegar os generos nos centros apropriados,portos,etc,e leva-
los aos centros populares de consumo,onde se instalam os armazens
destinados a entrega-los ao povo.

Para as classes medias h as cooperativas de distribuicao e consumo.Quanto


aos ricos,que se arrumem.Ao lado disso,a montagem de um outro sistema de
distribuicao de rendas...A burguesia vai chiar,as classes medias gritam,mas se
vao dividindo,como j o estao,inclusive ideologicamente;a pata,porem,do
poder proletario se vai fazendo sentir de mais a mais.Este o poder novo que
est surgindo de dentro do velho.o aparelho de Estado range por todos os
cantos.

Mario sentia o desfecho do processo chileno.Nessa mesma carta comenta:

Dei-me aqui a tarefa de criar e instalar o Museu da Solidariedade,e nao largo


a cousa para fugir para nao sei onde.A hora das dificuldades nao passou.Mas
sao os ossos do oficio para os que no Chile botaram na cabeca que teem de
fazer a famosa transicao ao socialismo.Creio que a coisa vai se tornando cada
vez mais irreversivel.Esses proximos seis meses sao decisivos.Nao h porque
tragificar as cousas.

Aqui Mario revela seu apego e paixao a esse processo:


nao h porque tragificar as cousas.isso bom para meia duzia de brasileiros
super-revolucionrios que se afastaram do Brasil mas nao chegaram ao Chile,
e vivem soberanamente alienados,a espera do momento de refugiar-se numa
embaixada[...]. Sao revolucionrios que s admitem a revolucao no Brasil, e
segundo o figurino que confeccionaram[...] Existe um processo no chile,mas
continua sendo ao modo chileno. E este complicado, e dificil de se
entender. Mas est andando, e mais incompreensivel ainda, com democracia.

Em outra carta, de 13-11-72, Mario assinala que

mando junto com esta recortes de cartas minhas para varios amigos em que
saliento alguns tracos sobre a formidavel crise por que acabamos de
passar.Sob muitos aspectos, deu-se um passo a frente, de certa forma,o
famoso salto qualitativo.Revi agora a carta que vos mandei,e verifico que ela
foi confirmada pelo desenvolvimento ulterior. Antes assim.

Vejamos,numa especie de dossier chileno,o que Mario escreveu a varios amigos.


Na carta de 12-11-72,destinada a L.M., Pedrosa analisa a dinamica da luta de classes no
Chile,enfatizando,como sempre,o papel dos trabalhadores:

A proposito do Chile (...).Temos vivido uma experincia riquissima(...). A


tensao politica porem era alta,e sentia-se um clima pr ou para-
revolucionrio.Neste pas de povo moderado e,em geral,sem imaginacao,mas
de comportamento surrealista,tivemos a originalidade unica na histria de
uma greve geral burguesa,em nome da solidariedade gremial,contra o
governo,mas a favor da restauracao da ordem capitalista j em pandarecos
talvez irreversivel.

E todos os dias entrava mais um contingente social em paro. Camioneros,


comerciantes, medicos, dentistas, donas-de-casa, putas, engenheiros, arquitetos, por um
dia ou dois onibus e taxis, bavcarios, servios, construtores, estudantes, garotos armados
de estilingue, iam parando e o governo, nos primeiros dias, olhando tudo, sem saber
muito o que fazer, e dizendo besteira at que a cadeia de paros estacou na porta das
fbricas, usinas, empresas industriais:

Os operarios recusaram a ordem de parar,mesmo com a jornada paga. E nao s


foram para as fbricas,como as puseram a trabalhar.E nos dias em que os onibus da
cidade e os taxis nao funcionaram,andaram quilometros a p,e nao faltou um s,nem
mesmo nas segundas feiras em que matam muito o trabalho. Os patroes ficaram bestas,
o Governo saiu do bobeamento em que caiu, os partidos de esquerda enfim
desencantaram,os comunistas a frente.

Restabeleceu-se um servico de distribuicao,sobretudo para os bairros pobres,que


nunca estiveranm tao bem sortidos,com carne de vaca,etc.E os bairros chic na
pendura...Atras dos trabalhadores sairam os estudantes,professores universitarios,ao
trabalho voluntario,descarregando e carregando milhares e milhares de sacos de
arroz,farinha,acucar,o diabo(...).

Na carta para Herv Fischer,pedrosa conclue seu relato do mesmo processo: "A
outra surpresa foi a atitude de lealdade ao governo por parte das forcas armadas.A
sublevacao burguesa despertou a consciencia operaria e popular: isso foi magnifico".

Para George Boudaille,escreveu na mesma epoca:"...o governo Allende muito


slido.Mesmo se perdeu as eleicoes gerais em marco.(...) Nao direi que nao haverao
novas crises,mas ser dificil uma outra tao grave quanto essa que vivemos...A grande
burguesia e os imperialistas receberam um golpe muito duro com esta derrota que
sofreram".

Contudo, na carta para critica de arte norte-americana,Dore Ashton,finaliza nos


seguintes termos:" mas, isto no fignifica que no posssa ocorrer uma nova crise. Ela
ocorrer. Contudo, um novo passo foi dado.

Em carta de 1973 (sem data), Mario escrevia mais uma vez para seus
parentes,tambem exilados.

Isto aqui est atravessando uma fase chata,sobretudo depois do paro,quando


havia tensao nos espiritos e certa excitacao, sinal dos tempos. Agora h
pasmaceira,e algumas colas chatas para se prover de cousas[...] O caminho da
revolucao chilena complicado.Vale a pena segui-lo de perto.A experincia
cada vez mais rica [...].

Maria fala da tarefa no Museu: Aqui,tudo ainda devagar,sobretudo em materia


de arte ou cultura.E o Museu com excelentes perspectivas nao faz excecao,e o trabalho
de preparar sua sede,instala-la,etc, demorado[...].

Em agosto de 1973, Pedrosa encontrava-se na Europa, promovendo o seu


Museu. Nos dias 6 e 9 ,escreve de Madri, mais uma vez analisando o quadro chileno:

"Quanto a situacao politica,3 coisas achei importantes agora:


a poderosa contra-ofensiva da DC que parece ter quebrado o
monopolio pratico do Allende das manobras com o Exercito.Ela agora j
tenta manobrar com ele contra o governo...Mas o que quer agora a DC fazer
do Exercito o arbitro bonapartista acima das classes.
a ocupacao macica das empresas pelos trabalhadores e destas fazer os
bastioes do poder proletario...
indicios mais claros de divisao dentro da UP.Que h divisoes no PS
certo,mas no PC?
Tudo indica que vamos chegando proximo a ponto de desenlace.
Mas,tendo em conta o surrealismo politico que a domina - esperamos o
desenvolvimento.

Na carta seguinte, Mario volta a falar do Chile:

Pelo que vejo - todo o palavreado politico se reduz aos que detem poder de
fato: exercito e povo. Este -numa posicao tipicamente chilena- no seu reduto
final: a fabrica,a empresa. A grande vantagem estrategica do governo UP
terem como principal aliado os operarios ocupando as empresas e armados
dentro delas.

Comenta a participacao dos chefes militares no novo gabinete:

[...]apos longas conversacoes,resolveram refazer mais uma vez o


gabinete,desta vez,com os altos chefes militares no governo e mais o chefe
dos carabineiros (os que fazem a repressao geral). Isso, para qu? Para evitar
que o Exercito se divida ou se divida "antes"do tempo e o Allende continue a
ser chefe de governo[...] obedecido? Na realidade,este governo tao debil
que s agora (treze dias da greve estalada) h decreto de priso contra o
Villarin[...] Repete-se outubro, com mais radicalismo. Agora, o Exercito nao
pode mais bancar o neutro em toda essa embrulhada. E o governo Allende s
se sustenta se puder baixar o pau nos Villarins & Cia e sustentar incolume as
empresas com seus trabalhadores e armas.( A lei do registro de armas foi
aprovada por inepcia,ineficiencia ou negligencia dos deputados da UP...

Mario ressalva que "isto foi um exercicio de analise que fiz,com as poucas
noticias que tenho,para tentar-me esclarecer a situacao.Coincide com a de voces ai?".
Em 26 de agosto, outra carta:

Sua carta ultima, hoje recebida, otimista, mas eu nao.espero que voces j
tenham recebido minha ultima carta em que fiz uma analise da situacao,
polarizada entre a greve subversiva dos camioneros e a ocupacao das fbricas
pelos obreros. Ou Allende punha termo a greve e dava uma cana seria nos
Villarins,ou estava frito.Daqui o que ressalta que nao teve forca para jogar
os seus milicos contra os Villarins,acabar com a greve,o que levou a
demissao de Pratts (pressionado pelas mulheres dos generais de sua casta),o
reforcamento da direita e a demonstracao de impotencia da UP.
Mario Pedrosa, entao, tirava conclusoes proximas do que iria ocorrer no
Chile,em 11 setembro de 1973.

Nessas condicoes,podem nao derrubar o Allende mas este ser forcado a um


acordo com a DC e milicos para evitar a guerra civil,etc.isso significa que
eles todos vao transar.Ficam de fora os "extremistas" sobretudo de direita que
poderao tentar um golpe de mao contra o proprio Allende (assassinando-o,etc
).O preco da acomodacao ou da capitulacao que vai depender de muita
negociacao,que se far sob a hegemonia das classes medias.

Mario Pedrosa voltou ao Chile em 9 setembro,dois dias antes do golpe


militar.Ficou 17 dias escondido em casa de amigos e ,depois,mais 17 dias na embaixada
do Mexico.Em seguida iria para Franca.Mais um exilio.De Paris,escreveria,em
12.03.74: "Mas que o mundo est tenebrosamente interessante est".

14.7. VENEZUELA - A ECONOMIA POPULAR E SOLIDRIA NA


REVOLUO BOLIVARIANA

Darci Ribeiro ,em sua tipologia dos regimes latino-americanos, analisa os que
chama de Regimes Nacionalistas Modernizadores, por exemplo: a revoluo
mexicana de 1910, a boliviana de 1952, a experincia peruana de 1968, a experincia,
outra vez, da Bolvia do general Torres nos anos 70, a experincia nasserista no Egito, a
revoluo argelina de Ben Bella.

So regimes que, oriundos de movimentos revolucionrios e de golpes


militares, se estruturam como regimes nacionalistas modernizadores.

Sem duvidas, guardando suas especificidades, a experincia venezuelana de


Chavez uma das muitas variantes deste campo. Tambm, encontramos outra
similaridade: a tentativa de mudanas no campo da produo, atravs de algo parecido
as ares de propriedade social . Aqui, entra a economia popular e solidria,inserida
no caso venezuelano,numa estratgia de desenvolvimento territorial endogeno.

Vejamos as caractersticas ,construdas por DARCI RIBIRO (em 1970-71), para


esta tipologia: O modelo nacionalista modernizador,exemplificado na AL pelas
variantes das revolues sociais ocorridas no Mxico (1910) e na Bolvia (1952) e pela
recente experincia peruana,corresponde a um regime sociopolitico de natureza distinta
dos estudados at agora (Darci refere-se aos regimes populistas e reformistas).

Suas caractersticas bsicas so:

a mobilizao de sociedades arcaicas, imersas no subdesenvolvimento, atravs


de movimentos revolucionrios que se institucionalizam em governo
autocrticos;
a proscrio das elites dirigentes tradicionais e sua substituio por uma
antielite, muitas vezes de origem militar;
esta antielite se prope mobilizar as energias nacionais para promover o
desenvolvimento autnomo, integrar as massas marginalizadas no sistema
produtivo,e criar uma nova estrutura institucional.
Seu programa renovador se baseia,fundamentalmente,na execuo de uma
reforma agrria radical conduzida pelo prprio campesinato que,dessa forma se vincula
ao novo regime,e ao enfrentamento da explorao imperialista.

TULLO VIGEVANI ,em ensaio sobre os novos paradoxos latino-americanos,


remarca que:

A chegada de personagens novas no cenrio poltico latino anericano,parece


ser um fato inquestionvel. Os ltimos anos do sculo XX e a primeira
dcada do sculo XXI trazem sinais claros,simbolizam a emergncia de
novas populaes que anteriormente no tiveram acesso ao Estado, ou o
tiveram de forma bastante limitada. Como acontece em outros continentes,
essa emergncia apresenta-se sobretudo como grito de resgate da
dignidade.Quaisquer que sejam os desdobramentos, possui essa fora
simblica.

Em relao a tipologia relativa aos regimes analisados por Darci Ribeiro,


Tullio traa novos elementos:

A emergncia apresenta-se com caractersticas especificas,distintas,das


apresentadas por movimentos populares e mesmo revolucionrios de dcadas
passadas. No tocante ao programa poltico e econmico,estos endo
consideradas propostas parecidas a algumas muito anteriores, que foram
centraisem movimentos ocorridos desde oinicio do sculo XX,como seria a
nacionalizao das riquezas naturais.Mas a emergncia de grupos
historicamente marginalizados nunca havia se dado com o impacto que
estamos assistindo hoje em alguns pases,como no Equador e na Bolvia.
Tullio relembra como

Experincias de governos militares de esquerda, como o de Velasco Alvarado


no Peru,no final dos anos de 60,tambm se encerraram com a reabsoro do
movimento pelas foras polticas tardicionais.(...).Na Bolvia,os
acontecimentos dos anos de 1940 e a revoluo liderada pelo Movimento
nacionalista Revolucionrio (MNR) de 1952 demonstraram a fora e a
capacidade de grupos sociais no-dominantes.Mas aquela emergncia
esgotou-se em pouco tempo.

Tullio assinala diferenas fundamentais:

Boa parte das caractersticas dos movimentos sociais hoje mobilizados so


diferentes daquelas anteriormentee xistentes.Em 1952, a fora social que deu
bases revoluo na Bolvia era o movimento operrio e os sidnicatos.Agora,
a componente tnica e cultural,seus crivos,so de grande significado os
ndios pobres e camponeses so os atores centrais(...).

Nos movimentos atuais no Peru,Bolvia,Venezuela,Equador e Brasil , no de


modo generalizado mas de acordo com a formao socio-economica e cultural de cada
pas ,as ideias de refundao da Nao e do resgate da dignidade so caractersticas
importantes.

H ideias igualitrias,valores msticos,a busca da reconstruo de formas


polticas das civilizaes incas,astecas ou maias,a reconjungao com o
passado,a crena no socialismo entendido como modo de alcanar a justia
social(...). O poder local retomou formas de organizao poltica do perodo
Inca(...). A convocao de uma Assemblia Constituinte ,que em diferentes
pases foi inmeras vezes a bandeira liberal e socialista, surge como o
caminho para a refundao nacional.

Nos pases andinos,

Agora,de modo indito,contituindo-se um fenmeno novo ainda que com


algumas semelhanas a experincias do sculo XX- emergem com fora
grupos,setores,etnias,classes externas ao Estado.A simbologia,o significado
do imprio inca, o Tawantinsuyu exercem papel importante nos pases
andinos, no Peru,na Bolvia,no Equador.Essas sociedades,esses povos
buscam conectar-se com as estruturas sociopoliticas do passado (TULLO).

Faamos um longo mergulho na histria da Venezuela para melhor enterdermos


os desafios em curso da Revoluo Bolivariana. Nesse mergulho,focaremos sobretudo o
movimento operrio-campones.

A formao econmico e social do pas apresenta grande grau de complexidade.


um pas que DARCI RIBEIRO , em sua obra As Amricas e a Civilizao, inclui
entre os povos novos que surgiram da conjuno, da aculturao e fuso de matrizes
africanas, europias e tribos aborigenes, na maioria dos casos sob compulses do
escravismo e da monocultura.

No caso venezuelano, coexistem cinco distintas formaes:

um sistema econmico de ordem comunal primitivo;


um sistema de pequena produo mercantil;
um sistema que domina na produo agropecuria, pr-capitalista no
fundamental, em que se destacam elementos de ordem feudal e,de modo
limitado, mesmo reminiscensias escravistas;
um sistema capitalista nacional,com desenvolvimento heterogneo;
enfim, um sistema capitalista dominado pelos monoplios dos pases
imperialistas ou metropolitanos.
O latifndio prosperou na cultura do cacau.Foi a partir das fazenda cacaueiras
que surgiu uma classe de latifundirios,concentrada na regio central do pas. A crise
mundial do cacau, no final do sculo XVIII,debilitou essa classe.

Entre 1936 e 1948 uma burguesia industrial incipiente apareceu no cenrio


poltico e mudou qualitativamente as alianas entre as classes sociais. Na metade dos
30, houve um processo de reformas, promovido pela dbil burguesia nacional e um
setor reformista da classe mdia.Houve,portanto,como em tantos pases do continente
nesta fase, uma modernizao democrtica do Estado no sentido liberal.

A partir da metade do sculo XIX, o eixo da economia agro-exportadora passou


a ser o caf. Forma-se um bloco scio-politico de latifundirios e camponeses ricos da
regio andina.A explorao de ouro na Guyana a partir de 1875, forma uma burguesia
mineira. Desta forma, a transio de uma economia agrcola-pastoril,com base em
relaes pr-capitalistas de produo, para um regime capitalista minero-
exportador,recai nos grandes latifndios do caf subordinados ao capitalismo
europeu,sobretudo,o britnico. Durante o perodo da republica, junto ao crescimento das
cidades,sobretudo,Maracaibo e Caracas, cresce a burocracia estatal, originando uma
pequena-burguesia.

Em 1881, sobre mais de 2.000.000 de habitantes 80% vive no campo. A


Venezuela,nesta fase, podia ser tida como um pas de hegemonia latifundiria,com um
fraca classe media rural e urbana,e uma maioria absoluta de camponeses pobres.

Em 1846 , mais da metade da populao era rural que vivia sob condies de um
regime de terror nas fazendas . O analfabetismo e varias doenas malaria,
paludismo,tuberculose eram o grande flagelo que dizimava a populao no
campo.Esta situao criava uma grande insatisfao entre os camponeses enfeudados e
os negros escravos.

14.7.1. A Guerra Civil 1840-1850

A situao de insatisfao profunda no campo foi capitalizada por Ezequiel


Zamora ,de origem rural e que passou a organizar os camponeses para uma guerra de
morte e uma revoluo social.No 1o de setembro 1846, espontaneamente comeou a
primeira insurreio camponesa do pas, diante da represso nos vales centrais quando
das eleies.Comeou com a rebelio de Francisco Jose Rangel a frente de 300
camponeses e escravos das fazendas de Pacarigua e Manuare.

Ocuparam a cidade de Guigue aos gritos de via Antonio leocadio Guzman(


poltico da oposio), viva Venezuela livre, terras e homens livres,oligarcas tremei!. A
eles,se incorporam os pees e escravos da fazenda Panecito,da Amapola,El Milagro e
La Florida e a Yuma. Nesta ltima, propriedade de um poltico oligarca , libertam os
escravos , queimam os ttulos de propriedade, e fuzilam os capatazes.

Ocupam a cidade de Villa Cura onde se defrontam com foras militares e so


derrotados;fogem para as fazendas de Magdaleno,onde enfrentam a policia e fogem
para as montanhas vizinhas,onde ficam sabendo da revolta dirigida por Zamora. A
insurreio dos camponeses se extende pelos vales e plancies centrais, vales
centrais,pelo norte at a costa e pelo sul ate as serras interiores da cordilheira Caribe.

Em 10 setembro, a insurreio toma todo o pas,sob as bandeiras do programa


principio alternativo,eleio popular,horror oligarquia,terra e homens livres. No dia
9, Zamora e Rangel tinham se reunido na montanha de ls Mulas. Nos vales
ocidentais,os grupos guerrilheiros entram nas fazendas da jurisdio de San
Felipe,Yaritagua e Barquisimeto, cobrindo todo o territrio nacional.

No perodo 1846-47, se organiza ento o exercito do povo soberano, uma fora


poltica organizada com objetivos revolucionrios. Em 29 maro de 1859, Zamora
dominou a cidade de San Felipe;antes de sair desta cidade,instituram uma nova
entidade federal,o Estado de Yaracuy. Diversas cidades so ocupadas . Os guerrilheiros
se dirigiam para Caracas. Zamora e Rangel so derrotados na batalha de Laguna. Rangel
foi assassinado a machadadas.

Zamora foi condenado a morte e depois anistiado. Morreria em 1859 na batalha


de San Carlos. Com sua morte, a rebelio entrava numa fase de conciliaes e acordos
com a oligarquia.O resultado disto:ressurgia outra vez a grande propriedade agrria.
Durante um longo perodo, as lutas camponesas cessaram.

A guerrilha venezuelana dos anos 60, homenageou Zamora dando seu nome ao
principal destacamento liderado por Douglas Bravo.

Muda o eixo de acumulao: do caf ao petrleo. Na metade do sculo XIX o


eixo da economia passa do cacau para o caf. As grandes casas comerciais estrangeiras ,
alemes e inglesas, financiavam os grandes latifndios cafeeiros, formando um lao
estrutural entre o latifundio e o capital estrangeiro. Esta aliana impdediu uma
revoluo burguesa clssica e o surgimento de uma burguesia industrial.

O caf foi o principal produto econmico antes de 1918, tendo sido


desenvolvido no sculo XIX,no perodo republicano, nas regies centrais,andinas e
orientais do pas.Durante as primeiras dcadas do sculo XIX, a Venezuela passou por
grandes transformaes em sua estrutura econmica. As crises mundias de 1873 e 1889-
90, fizeram cair os preos agrcolas,afetaram em 1896-97 de forma profunda a
economia do caf e do cacau.

Duas dcadas depois desta crise, o caf foi substitudo pelo petrolero como seu
produto econmico mais importante.E, o maior mercado para este novo produto era os
EUA e no mais a Europa.Mas, apenas em tachira o petrleo era explorado e para uso
domestico e para energia.

Havia um enorme processo de concentrao de terra. Gmez,que presidiu o pas de


1908 a 1935, considerado o primeiro latifundirio da Venezuela.Sua famlia detinha
1/3 das terras cultivveis.Para 1920, 80% das terras estava em mos de 8% da
populao.

A crise de 1929-30 acelerou a crise da agricultura. A concentrao de terra se


ampliou e as grandes empresas de petrleo adquiriam muitas terras. Muitos camponeses
eram atradas pelas reas de minerao,onde recebiam ums alario e tinham melhores
condies de trabalho.A esse processo se agregou o da destruio das economias
comunais e das comunidades indgenas. Os ndios eram expulsos de suas terras e eram
obrigados a trabalhar nos campos mineiros.

Este processo mantinha um baixo nvel de industrializao do pas. Em 1920, a


industria mais importante era a txtil,que processava algodo.Existiam sete talheres de
grandes propores.Outras fbricas da poca: trs fbricas de tabaco;trs
cervejarias;duas fbricas de papel;uma fabrica de fsforo;uma de manufatura de vidros
e louas;uma fabrica de chocolate;fbricas menores dedicadas a produo de salame e
velas; e, industrias artesanais.

Gmez representava o mdio rural pr-capitalista,chefe militar e caudilho,foi o


executor da implantao do capitalismo como modo de produo dominante no
pas,superando o antigo sistema colonial de economia rural,deixa de ser um pas
agrcola e passa a um pas que produz petrleo. Seu longo governo contou com apoio
dos EUA e dos pases da Europa,. Representou a burguesia financeira local e apoiou os
interesses do setor petroleiro.Entre 1920 e 1935 o eixo de acumulao modificou-se de
forma radical.

Configurou o que se chama de gomecismo: As caractersticas de seu regime


foram:

destruiu os caciques regionais;


teve apoio sempre dos EUA e Europa;
manteve domnio absoluto sobre o Exercito;
eliminou as formas de organizao e restringiu fortemente as liberdades;
contou com recursos fiscais da rea petroleira.
O auge da industria petroleira ,a partir de 1921,foi a principal causa da
industrializao. Esta estrutura economia teve entre suas conseqncias o surgimento de
uma classe operaria forte. Entre 1918 e 1937,os operrios do petrleo se rebelaram
varias vezes.

Nas primeiras dcadas do sculo XX os petroleiros emigraram de varias partes


da Venezuela e do mundo. A maior parte veio das comunidades indgenas e rurais e
urbanas. Os camponeses fugiam do latifndio em busca de futuro na rea petroleira. As
industrias do petrleo traziam operrios de varias partes do mundo,inclusive dos
EUA,da Europa e do Caribe.

O impacto da industria do petrleo abalou a Venezuela rural.De varias


regies,os camponeses abandonaram as fazendas.Entre 1916-1921,entre os que
emigraram das cidades para os campos petroleiros havia sapateiros,
carpinteiros,padeiros,linotipistas,etc.

Em 1914, o poo Zumaque numero 1, de Mene Grande,comeou a produzir


petrleo em grandes quantidades.Abriam-se imensas possibilidades para a economia do
pas. A vida destes trabalhadores era muito dura. Depoimento de um sindicalista da
poca expressa bem:

Faz mais de quarenta anos o Central Venezuela, El Batey,instalado em


Bobures de la Costa Del Lago, era mais fiel expresso da explorao feudal
da mo de obra, composta geralmente por indgenas recrutados pela caa por
ndios enriquecidos,na sabanas de la Guajira e vendidos como escravos ou
animais,para morrer prematuramente[...]

Esse processo desenvolveu uma consciencia regionalista,pois os que buscavam


os campos de petrleo,continuavam ligados por costumes,posturas,etc, s suas terras de
origem,dificultando,assim,a tomada de conscincia de classe.

Origem regional dos petroleiros - 1921

Estados % nativos

Zulia 35

Nueva Esparta 25
Falcon 18

Trujillo 8

Merida e Tachira 6

Lara 8

Nos anos 1918-28, estes campos de petrleo eram construes primitivas,com


cercas de arame, pequenas cabanas; os trabalhadores estrangeiros viviam separados dos
nacionais.Os campos eram isolados uns dos outros e ficavam longe das cidades.
Existaiam nestes campos dois modos de vida. Um depoimento:

os campos petroleiros de Cabimas, Lagunillas,bachaquero,Men Grande e


San Lorenzo eram verdadeiros infernos dantescos.Pareciam campos de
concentrao hitlerianos,com suas ceracas por toda as partes[...]. No haviam
casas para os trabalhadores, nem medico,nem medicamentos, nem gua, nem
luz.

Por sua vez,para os trabalhadores estrangeiros e norte-americanos era totalmente


diferente,pois viviam com privilgios.

Salrios de trabalhadores no petrleo-1932-1935

Salrio Dirio

Profisso Venezuelano Estrangeiro

Tool pusher $27,50 $45,50

Perfurador $24,25 $42,25

Soldador $21,75 $35,75

Desenhista $17,50 $32,50


14.7.2. As primeiras greves e organizao

Os primeiros operrios rurais do pas vm do perodo colonial, na explorao do


cacau. Existiam operrios livres na construo,em obras religiosas e municipais e,
assalariados na industria defiao do algodo,fundada em Maracaibo em 1788.

A jornada de 8 horas , para mineiros, construo de rodovias e fortes ,veio com a


primeira lei trabalhista, em 1694 , ainda no sistema agrrio-pastoril pr-capitalista.A
escravido foi abolida em 1854.

A contrarevoluo de 1848 na Europa trouxe intelectuais socialistas para o exlio


na Venezuela: por exemplo, de 1852 a 1858 houve um francs, Pierre Cerreau,
socialista utpico ,fourierista, que editou um jornal chamado Credo Igualitrio,ideia
formada a partir do Manifesto dos Iguais, de Graco Babeuf.

Em 1847, Guillermo iribarren publicou um livro, Pensamientos sobre


Caminos,com base em Saint-Simon,pregando uma nova organizao do
trabalho.;e;fez traduzir o livro de Wolowski,Organizao do trabalho,em que se
propunha um sistema utpico de trabalho associativo.

Em 1852, foram publicadas obras sobre Saint-Simon, Fourier, Owen, Leroux e


Proudhon. No final da dcada de 80 dos culo XIX, surgem os primeiros movimentos
de protesto social por parte dos trabalhadores urbanos e rurais e artesos..A partir de
1880,ocorrem greves de camponeses em Tachira.Mas,os maiores movimentos so em
Caracas.

Em 1896,realiza-se um Congresso Operrio , um dos obejtivos era fundar um


Partido Popular. A fase mutualista ser superada com a formao do operariado do
petrleo.

Em 1920, existiam 69.000 operarios nas industrias manufatureira,


minas,petrleo,construo, transportes,comercio e servios pblicos. Eram empresas
manufatureira e artesanais, em media com 4 operarios por empresa.

Numero de trabalhadores
1920 % 1936 %

Camponeses 457.000 81,1 625.000 70,2

Domsticas 35.000 6,2 108.000 12,1

Artesos 43.000 7,8 123.000 13,8

Pequenos 27.000 4,9 34.000 3,8


proprietrios no
comrcio/servios

A grande maioria da populao estava alocada nos setores pr-capitalistas ,


margem do circulo capitalista de produo. Atravs de um processo contraditrio,
subterrneo,se desenvolveu a conscincia de classe nos operrios de Zulia, que
desembocar na primeira greve em 1925.

Em 1919 foi criada a Confederacin Geral Obrera,que editou EL Obrero.


Surgem os sindicatos dos sapateiros,dos ferrovirios;comea a notar-se a influencia da
Revoluo na Rssia;publica-se resumos de O Capital de Marx, e alguns textos de
Lnin.

A Revoluo mexicana foi o primeiro fato poltico a ter influencia na construo


de uma alternativa poltica democratico-nacional. Em 1926, se formou o Partido
Revolucionrio Venezuelano.com um Programa de carter anti-imperialista.

Nos anos de 1921, 1922, 1923 e 1924 tinham ocorrido algumas greves.Em
1925, ocorreu a primeira grande greve petroleira, em Mene Grande(Zulia). Houve uma
conquista de aumento salarial que impacto a categoria, e houve greves em outros
locais,chegando a paralisar toda a zona costeira do distrito de Bolvar no estado de
Zulia, e durou 12 dias. Esta greve revelou uma consciencia operaria subterranea;
mostra a formao de ncleos dirigentes formados na clandestinidade . A existencia de
boletins impressos,mostra a presena de trabalhadores com acesso a impressoras.A
solidariedade da policia.O Governo intervem mas no reprime.

A greve influiu em outros campos e,em agosto 1926 em Cabimas,100 operarios


fizeram uma manifestao.
Pela primeira vez ocorria uma greve de longa durao e amplitude,alm da
conquista salarial.

Os sindicatos petroleiros foram fundados em 1936,aps a morte de Gmez em


1935,que abriu um perodo de liberdades no pas. Em 1936, surgem concepes
nacionalistas e anti-imperialistas. Os trabalhadores necessitaram um longo perodo para
desenvolver sua conscincia classista: de 1918 a 1936.

14.7.3. A Grande Greve de 1936

A greve petroleira de dezembro 1936 a janeiro 1937, teve uma caracterstica


importante na sua organizao: refeltiu um alto grau de organizao e de conscincia
poltica. Um comit de greve formado pelosd elegados dos sindicatos e um comit de
greve de cada centro de trabalho;os comits funcionavam como comandos de
greve,tendo seus delegados em cada campo , que informavam diariamente sobre a
situao da greve, em assemblias permanentes

Foram organizados comits de desempragados para evitar que as companhias


petroleiras usassem a mo-de-obra desempregada. Estes desempregados foram
alimentados pelos sindicatos.As mulheres tiveram grande participao,ajudando os
comits.Os comits asseguravam leite e comida para as casas.

Os marinheiros tambm participaram da greve. Os trabalhadores informaram de


modo amplo a populao.A populao,bem informada dos objetivos da greve, deu apoio
total.

O jornal EL Panorama descreve parte da fala de um i]orador no discurso em


San Lorenzo:

Era como se a alma bolivariana tivesse despertado em cada corao


venezuelano a chama do patriotismo.

Esta greve levou a organizao do primeiro Congresso sindical,para fundar a


CTV. O Congresso ocorreu em Caracas,no teatro Bolvar e foi um avano
extraordinrio para os trabalhadores.Neste evento foi adotada a consigna dos
petroleiros: El Imperialismo no pasar.
A greve foi fundamental em trs nveis. As companhias de petrleo perderam
milhes de dlares, pois a produo se reduziu em 90%; do ponto de vista poltico , a
greve resgatou o movimento popular e desenvolveu um contedo democrtico,classista
e nacionalista,revolucionrio e anti-imperialista; a greve educou politicamente a
sociedade venezuelana,sobre a verdadeira natureza do Estado.

At 1936, as classes sociais que desempenhavam papel proponderante no pas


eram os militares,a classe media e a classe dominante (latifundirios, banqueiros e
comerciantes). A greve forou a participaoa tiva dos trabalhadores no destino do pas.
A greve contribuiu no resgate da nacionalidade.

14.7.4. A Greve de 1950

Em novembro de 1948,um golpe militar instaurou uma ditadura na Venezuela e


que se prolongou at janeiro de 1953. A ditadura perseguiu os dirigentes
sindicais,fechando suas organizaes. Em 1949, dos 1.053 sindicatos somente restavam
327.Procurou estimular um sindicalismo oficial e pelego.Desta forma, em 1956 o
numero de sindicatos legalizados subiu para 692.

Os setores de oposio ditadura, tentaram um golpe com apoio dos


trabalhadores do petrleo. Assim, surgiu a grande greve de 1950. No 1o de Maio, mais
de 60 sidnicatos se reuniram em Caracas:o objetivo era transformar a data numa
manifestao contra o regime.

Um Comit de greve e defesa dos trabalhadores petroleros assumiu o comando


do movimento. No dia 3 de maio, os petroleiros entraram em greve em vrios campos
do pas. A resposta do governo foi a represso: declara o movimento ilegal eestabelece
o controle militar.

Mas, a greve se ampliou: 70% dos trabalhadores estavam parados. Os sindicatos


recorreram a uma ttica de greve passiva , informando atravs de comunicados por
uma radio clandestina e distribuindo volantes, que a greve de braos cruzados. No
dia 6 de maio, a produo de petrleo caiu em 75%.

Contudo, a greve no conseguiu produzir o levante militar, ficou isolada e os


trabalhadores no tinham um fundo de greve importante. O comando militar cortou o
gs domestico dos bairros operrios, depois a gua e a luz,e no 10 dia de greve,
fecharam as portas das empresas.Enfim, invadiram as casas dos operrios retirando
alimentos das dispensas e jogando na rua. No dia 8, 46 sindicatos foram fechados. Os
partidos de esquerda foram postos na ilegalidade e as prises,os centros de tortura
ficaram cheios de trabalhadores. O Comit de Greve, ento, analisou o movimento: Em
torno de 35.000 operarios,empregados e marinheiros petroleiros no movimento
grevista de maior envergadura que registra a histria de nosso movimento sindical-
cumpriram uma fecunda e positiva jornada de luta,em defesa de suas especificas
reivindicaes econmicas e sociais.

De 1918 a 1936 as companhias estrangeiras de petrleo decidiam os destinos do


pas. Eram um estado dentro do estado. A burguesia nacional estava aliada dos trustes
petroleiros,no tinham uma poltica voltada para os interesses da nao. Os
trabalhadores do petrleo lutaram durante varias dcadas por um nacionalismo
proletario e democratico.Suas greves marcaram a identidade do pas.

14.7.5. A Autogesto em debate na Venezuela.

Em Maio de 1976 , na Universidade Central da Venezuela, o departamento da


Antropologia realizou um seminrio de troca de experiencias entre comunidades
indigenas do Estado Bolivar.O objetivo foi elaborar uma viso mais ampla do problema
da autogesto indgena no pais.

Foi publicada uma obra que cobria os debates ocorridos no seminrio: Indigenismo y
Autogestion (Monte avila Editores, 1980 ). Indigenismo e autogesto so apresentadas
como duas propostas antagnicas.As abordagens colocam o indigenismo como
uma corrente ideolgica que postula a integrao do indgena sociedade
colonizadora. A esta corrente se ops outra chamada de indigenismo de vanguarda ou
de libertao. Nessa , encontramos a autogesto ou auto-determinao indgena : Esta
tendncia (...) buscou reverter os postulados originais do indigenismo (...), refairmando
a importncia do papel da autodeterminao indgena e denunciando o nefasto papel
integracionista das politicas missioneiras e/ou oficiais.No marco destas concepes se
produziu uma revalorizao da tradicional capacidade autogestionaria das etnias
indgenas ... ( 1980.p.15).

Tal Indigenismo , sob a aparncia do respeito pelas formas tradicionais de trabalho


coletivo, e da repartio equitativa dos benefcios, introduziu uma produo agrcola
orientada pelas necessidades do mercado( idem.p.18).

Dos debates no seminrio fica claro que uma integrao no etnosuicidiaria s pode
surgir dos prprios indgenas, atravs de outra alternativa considerada no encontro: a
autogesto, e de um adequado trabalho de conscientizao realizado em um marco
autogestionrio.(idem-p.19)

Mas, que vem a ser a autogesto indgena ?

A autogesto um primeiro passo at a autodeterminao tnica.A introduo do


termo no campo cultural indgena no faz mais que reformular, na linguagem do
colonizador, uma tradio coletivista muito mais rica que a simples gesto
democrtica de uma empresa por seus trabalhadores e que, historicamente,
desenvolveu uma serie de dimenses que excedam o estritamente econmico.(idem)

Enfim, a autogesto nos e limita a elaborar a sada econmica da situao em que


vivem, mas lhes permite integrar uma estratgia mais ampla emq eu se fundem a
reivindicao cultural com a capacidade de deciso politica...(idem).Nesse sentido,
autogesto se identifica para os indgenas com autodeterminao.

Nos anos 60, j existia na Venezuela um certo acumulo terico sobre as questes da
autogesto. Por exemplo, durante anos a editora El CID publicou uma coleo com o
tema da Autogesto.

( colar pesquisa dos ttulos da coleo enviada para Caracas em 2011 )

14.7.5. Emergncia de novos atores e neo-populismo

Os anos recentes de instabilidade poltica na Amrica Latina portam duas


caractersticas:

a emergncia de novos atores e movimentos sociais; a emergncia de regimes que


caracterizam um novo surto de populismo (um neo-populismo). O neo-populismo
apresentaria, segundo alguns analistas, 5 elementos estratgicos,a saber:
um padro de liderana personalizado no necessariamente carismtico;
uma coaliso de apoio multiclassista;
uma forte mobilizao social vertical (de cima para baixo);
uma ideologia ecletica e anti-establishment;
um uso sistemtico de mtodos redistributivos.
Todavia,em relao especificamente a experincia venezuelana de Hugo
Chaves,alguns analistas questionam esta tipologia.

Um aspecto central que o ocnceito de neopopulismo pouco considera e no


consegue refletir de maneira eficaz refere-se ao aspecto da legitimidade.sem
negar que existem traos marcadamente populistas em alguns governantes
rotulados de neopopulistas na Amrica do Sul, o fato que uma parte deles
emergiu da vontade poltica de maiorias significativas de suas populaes...os
casos de Hugo Chaves e Evo Morales pem a nu, de maneira objetiva, essa
deficincia do conceito de neopopulismo.

No caso de Chavez,

Algumas interpretaes do fenmeno chavista o rotulam como


neopopulista.No entanto,diferentemente do populismo clssico,o chavismo
no se articula com uma classe operaria forte e organizada em grandes
sindicatos,posto que estes estavam em mos dos partidos tradicionais.

Para alguns analistas, a solidez politica do chavismo est ancorada na sua


legitimidade oriunda das urnas , inclusive do referendum presidencial de agosto 2004.
Alm da poltica redistributivista com base no petrleo , a partir de 2003 Chavez
implementou programas sociais ,as missiones, com forte impacto em amplos setores
populares e parcelas da classe mdia. O financiamento desta poltica depende
fundamentalmente do petrleo,tendo sido criado na PDVSA* ,o Fundo de
Desenvolvimento Econmico e Social.

A Economia Solidria e Popular est inserida neste contexto venezuelano. A


Ecosol surgiu dentro da perspectiva de construo de um projeto de desenvolvimento
alternativo. Este projeto est inserido no processo de luta poltica no pas.O fracasso do
golpe militar da oposio oligrquica,em abril 2002, significou uma profunda derrota da
direita. E, no campo popular, um grande crescimento da organizao do povo: novas
organizaes foram fundadas,como, Comits de Tierras Urbanas , Crculos
Bolivarianos,assemblias de cidados,e diversas organizaes dos setores mdios.
A derrota da tentativa de greve nacional no final de 2002 por parte da oligarquia,
tambm serviu para desenvolver a conscincia e a organizao do povo. Foi mais uma
derrota da direita. Em 2003, o goveno lanou programas sociais para as camadas mais
pobres: as Missiones.

Contudo, ser a vitria de Chavez no referendum revogatrio,em agosto 2004,


que assinala o inicio da ofensiva do governo. Para o processo eleitoral, foram criados
nucleos de militantes,patrulhas eleitorais, ( 10 militantes que trabalhavam cada um
com mais 10 pessoas, um total de 100 por ncleo), que consolidaram a organizao de
base. Esse processo permitiu um salto de qualidade na participao popular.

A rebelio popular de 1989 e as rebelies militares de 1992 anunciaram o fim de


uma poca na Venezuela.A eleio de Hugo Chavez para presidncia em 1998 abriu
perspectivas de um novo tipo de regime,com caractersticas inovadoras: um governo
popular; uma economia solidria, recuperao da soberania ;refundao da nao com a
republica Bolivariana. Em 1999, a nova Constituio incorporaria estes valores.

Campo poltico - Democracia participativa - Fim da represso da


organizao popular alternativa, empoderamento dos excludos,
redimensionamento da democracia ao servio das maiorias,organizao popular
para participao direta na gesto publica, promoo das instancias de
participao social e poltica,radicalizao do controle social,interpelao direta
entre governo e povo sem mediaes da burguesia,energia poltica soberana e de
autodeterminao dos povos, fim do apartheid do estamento militar e sua
incorporao ao desenvolvimento nacional;
Campo econmico Economia solidria - Fim das polticas econmicas
neoliberais e da ingerncia extrangeira nas polticas econmicas e de
desenvolvimento, medidas eficientes de redistribuio da riqueza, defesa dos
recursos naturais para o desenvolvimento social, nacionalizao eficiente do
petrleo,proteo dos setores tradicionais da economia popular, promoo das
formas de economia solidria,fiscalizao da atividade econmica privada, luta
contra o monoplio e o latifndio.
Reconhece-se as limitaes do aparelho estatal em processo de
decomposio,produto do esgotamento do modelo,a corrupo estrutural .Visando
aprofundar a democracia participativa e deste diagnostico de ineficincia estal surge a
necessidade de um novo modelo de politicas participativas que articulem a agilizao
dos processos estatais com a participao direta das comunidades.

14.7.6. As Misiones Sociales Bolivarianas

Em 2003 foram criadas diversas Misiones, polticas revolucionrias com o


objetivo de erradicar as causas da pobreza e da excluso,com a participao popular. As
Missies so novos instrumentos na relao Sociedade Estado.

Mision Robinson I - Lanada em junho 2003, tem como objetivo a erradicao


do analfabetismo; Em 2004, tinha incorporado 1.411.000 pessoas e alfabetizado
1.370.000.
Mision Robinson II - a segunda fase do proceso educativo dos setores
excluidos e tem por proposito garantir os estudos basicos da populao
alfabetizada. Incoporado 1.261.000 e tinha 87.000 erducadores facilitadores,e
um total de 81.300 locais de aula.e fornecido 100.872 bolsas;
Mision Ribas - Lanada em novembro 2003, ocupa-se da incorporao
educao secundaria os que no puderam conclui-la. Incoporado 726.681 em
29.900 salas com 31.000 educadores , 3.700 coordenadores e, 200.000 bolsas
(US 100 mensais);
Mision Sucre - Completa o ciclo e orienta o acesso educao superior doss
etores populares que no puderam completa-la. Desenvolve formao distancia
em comunidades populares e aldeias universitrias. Articula os programas da
Universidade Bolivariana. 334.452 bachareis concluram o Programa de
Inicciao Universitria. Matricularam-se em carreiras universitrias 76.894 em
2004,ingressaram 400.000 estudantes na educao superior,50% provem da
Mision Sucre. Estas Misiones educativas tinham,em 2004,incorporado
3.844.000 pessoas,do total de 25 milhes de habitantes. Contava com 250.000
educadores voluntrios.
Mision Barrio Adentro - Surgiu em 2003, com origem em um programa de
saude popular do Municpio Libertador de Caracas, ampliando-se a todo o pas.
desenvolvida em comvenio com o governo cubano,que tem longa experincia
dos medicos de familia. Acumulou em 3 anos,86.500.000 consultas ate 2004.
Com a construo dos consultorios populares foi erguido o novo Sistema
nacional de Sade;
Mision bairrio Adentro II - Segundo escalo do Novo Sistema de Saude,com
construo de Centros de Diagnosticos e reabilitao integral nas comunidades.
Ate 2005, 600 centros diag...;
Mision Milagro - Milhares de cidados se benefeciam de acordo com Cuba para
recuperao da vista;
Mision Negra Hipolita - Cuida dos problemas de meninos e meninas de rua;
Mision Hbitat - Em 2002, foram criados os Comits de Tierras Urbanas para
promoo a organizao popular com vistas regularizao da posse de terra
nos bairros populares.As Mesas Tecnicas de gua respondem pela viabilidade
e qualidade dos servios pblicos nos barros populares. Em 2004, foi criado o
Ministrio da habitao. A Mision Hbitat ,por meio de repasse de
recursos,ferramenta e capacitao para que as comunidades possam desenvolver
de forma autogestionria o desenvolvimento de habitat social e
ambiental,fortalecendo o poder local e o ocoperativismo,atravs de polticas
pblicas;
Mision Mercal - parte do Programa de Seguridad Alimentaria (PESA);
combate a fome por meio de comercializao e venda direta de alimentos
bsicos a preos solidrios em mercados populares(comedores populares);
Mision Zamora - Busca fortalecer a Ley de Tierras y Desarrollo
Agrrio,aprovada em 2001 pela Assemblia Nacional, atravs da
democratizao da terra e seguridade alimentar, redistribuindo terras, sementes,
maquinarias, assessoria, capacitao, recursos financeiros e a associao
solidria dos camponeses;
Mision identidad - Consolidar a plena incluso vida democrtica, facilitando a
regularizao de estatus jurdico (como ttulo de eleitor) e cdulas de identidade;
Mision Pilar - Garantir o desenvolvimento da pequena minerao com equilbrio
ambiental; freia a dependncia do petrleo e a apropriao por empresas
transnacionais das reas de minerao e diversifica as fontes energticas do pas;
Mision Miranda - Aliana cvico-militar centrada na organizao,capacitao e
treinamento da Fora Armada.Capacita jovens reservistas desempregados para o
campo do associativismo e da cooperao em micro-empresas;
Misin Vuelvan Caras. Ou Inventamos ou morremos.
O processo de luta poltica no pas apresenta algumas etapas. Na sua mensagem
Nao,em janeiro de 2005, o presidente Hugo Chavez fez uma periodizao deste
processo intenso de luta poltica, apresentado-o como Um projeto para 200 anos:

O ano 1999 podemos chama-lo o ano da Assemblia Nacional Constituinte


e do nascimento da Constituio Bolivariana,este o signo que marcou 1999;

O ano 2000, foi o ano da reletigimao de todos os poderes e com isto, o do


nascimento da Quinta Republica.

O ano 2001, foi o das Leis habilitadoras; mas,foi tambm o do nascimento


da contra-revoluo.

O ano 2002,marca a agresso imperialista conta a Venezuela. Mas, ao


mesmo tempo,foi o ano da resposta revolucionria,popular,cvico-
militar,democrtica.

O ano 2003, ano da contraofensiva nacional, do nascimento das Misiones


sociais,para a incluso e a justia.

O ano 2004,foi em primeiro lugar, o primeiro ano da vitria,da nova


democracia,da grande vitria poltica da Nao,da Republica,da Constituio.

Tambm,foi, em segundo lugar, o ano do nascimento de partida de um novo


ciclo econmico de expanso e crescimento,rompendo os ciclos expansivos-
recessivos.

Em terceiro lugar, foi o ano de consolidao e expanso das Misiones


sociais.

Em quarto lugar, o ano 2004 foi o do arranque do modelo de


desenvolvimento endgeno territorial.

Em quinto lugar, foi o ano da contra-ofensiva internacional, com o


lanamento da ALBA. (Alternativa Bolivariana para AL).

Por ultimo, foi o ano do big bang poltico,iniciando uma nova etapa:
lanamento dos 10 grandes objetivos estratgicos,para chegar ao final de
2006 e continuar a marcha at 2013.

1 Uma nova estrutura social

2 Uma nova estratgia comunicacional

3 Construo do novo modelo democrtico

4 Nova institucionalidade do Estado

5 Nova estratgia integral e eficaz conta a corrupo


6 nova estratgia eleitoral

7 novo modelo produtivo para um novo sistema econmico ( Mision Vuelvan


caras/MIEP)

8 nova estrutura territorial (ncleos dese. Endgeno)

9 nova estratgia militar nacional

10 novo sistema multipolar e internacional

Aps o referendum de agosto 2004, o processo venezuelano entrou numa fase


de aprofundamento . Em setembro, foi criado o Ministrio para a Economia Popular
Solidria,cujo objetivo principal conslolidar a Misso Vuelvan Caras ,buscando a
transformao do modelo econmico capitalista dependente por um modelo de
economia social,sustentvel e de cogesto.

O MINEP (Ministrio da Economia Popular) tem como objetivos:

-Dignificar o trabalho e a qualidade de vida das familias venezuelanas;

-Fortalecer a poltica micro-financeira, orientando a entrega de microcreditos de forma


coordenada e focalizando o esforo em torno aos Ncleos de Desenvolvimento
Endgeno (NUDE);

-Por em pratica o conceito de economia Popular integrado na Constituioo


Bolivariana;

promover mecanismos de democratizao da riqueza,combatendo as vises neoliberais


e privatizadoras que geram o subdesenvolvimento.

O MINEP est composto por:

1) ViceMinisterio para Formaoi e Desenvolvimento Popular;

2)Vice-Ministerio para o Financiamento e Assistencia para a Comercializao Popular.

O acmulo nas experincias das diversas Missiones permitiu lanar,no inicio


de 2004, a formulao da Mision Vuelvan Caras, la mision de ls misiones,
visando a promoo da transio para um novo modelo de desenvolvimento
endogeno,sustentavel e solidario, a partir da transformao cultural das relaes sociais
e de produo e por meio da capacitao para o trabalho e a promoo da associao em
cooperativas doss etores pobres e excludos, e sua plena incluso nos processos scio-
produtivos locais.

Esta Misso unifica e culmina os processos educativos e sociais do conjunto de


misses participativas, incorporando os atores sociais aos processos scio-produtivos
desde uma perspectiva de associao econmica solidria.

Desenvolve a capacitao profissional e ideolgica e promove a associao em


cooperativas locais de carter mutualista,de acordo com as particularidades de cada
comunidade e em funo de suas vocaes e possibilidades,com assessoria de gesto
organizacional e do apoio de instituies microfinanceiras.

A formao scio-profissional se insere nas polticas territoriais scio-


economicas,identificando os objetivos locais ded esenvolvimento, realizando
diagniosticos participativos entre o Estado e as comunidades. Uma vez realizada essa
etapa de capacitao e insero das cooperativas , os objetivos se transformam em
nucelos de desenvolvimento endgeno,articulados com redes scio-produtivas
articuladas ao desenvolvimento nacional.

O programa est assentado em dois eixos estratgicos: Educao e Trabalho. A


Mision Vuelva caras articula capacitao com incorporao ao trabalho produtivo.
Sob o lema de Aprender fazendo, os participantes da mision so incorporados aos
ncleos de desenvolvimento endogeno. A Mission privilegia o setor agrcola (50%
das pessoas), para cumprir as polticas de segurana alimentar. O setor industrial
agrupa 30% do pessoal e o setor turismo, 10%,cabendo ao setor infraestrutura 5%.

A Mision Vuelve Caras tem tambm por objetivo recuperar parques


industriais abandonados. Neste sentido, em 2005,o Governo anuncia uma lista de mais
de mil empresas fechadas que seriam nacionalizadas e entregues aos trabalhadores,para
que as dirijam em sistema de cogesto.

Estas industrias que no foram reativadas aps a greve patronal de 2004 , seram
compradas pelo Estado e postas em funcionamento sob o modelo de Empresas de
Produo Social (EPS): a propriedade ser mixta entre o Estado e Cooperativas de
trabalhadores.
Deste modo, a experincia da Venezuela retoma a tradio das Empresas de
propriedade Social,que existiram em alguns regimes das dcadas de 60 e 70 no
continente (peru,Chile,etc).

Em janeiro de 2004,aps a greve patronal, o estado expropriou a fabrica


processadora de papel VENEPAL.Seus patres iam declarar falncia,mas os operrios
no abandonaram a empresa e,com apoio do Governo,recuperaram a empresa. A
empresa tem um capital de 6 milhes de euros (2005) e propriedade do Estado e dos
Trabalhadores.

A Companhia Nacional de Vlvulas,que produz equipamentos para a industria


do petrleo,seguiu o mesmo processo.

A Mision Vuelve Caras,em sua primeira fase (2004) contava com 64 Nucleos
de desenvolvimento Endgeno, atuando em 5 frentes:

1. Frente Agrcola,com ncleos de agricultura em pequena e grande escala;

2. Frente Industrial; reativao de parques industriais;

3. Frente de Turismo: com ncleos de desenvolvimento turstico em vrios estado do


pas;

4. Frente de Infraestrutura; trabalhando em conjunto com as comunidades beneficiadas;

5. Frente de Servios: sistemas de afuaduto e servios bsicos;saneamento, parques


nacionais e reas de patrimnio histrico.

O processo educativo de Vuelve Caras divide-se em duas reas:

1. educao para o trabalho;

2. educao scio-politica

Na primeira etapa, a Mision incorporou 100 mil pessoas no campo educativo e


no produtivo.A meta global incorporar a mais de 1 milho de pessoas. Cada pessoa
recebe uma bolsa de 185 mil bolivares como incentivo ao estudo e ao trabalho.

Dados de 2005 mostravam a eficcia do programa:

Quadro Resultados do Programa


Ncleos de Desenvolvimento Endgeno ativos 107

Ncleos em formao 853

Pessoas incorporadas aos ncleos 61.965

Pessoas incorporadas aos ncleos em formao 257.672

Instrutores ativos 16.786

Cooperativas da Misso Vuelvan Caras 2.122

Nmero planejado de cooperativas 10.100

Para cumprir estas e outras metas e planos, o Governo fundou o Ministrio de


Desenvolvimento da Economia Social. A esse Ministrio estam vinculados o banco de
Desenvolvimento da Economia Social da Venezuela (BANDES) , o Banco do Povo
Soberano (BPS), o Banco da Mulher(banmujer),o Fundo de Desenvolvimento
Microfinanceiro(Fondemi), o Instituto Autnomo Fundo nico Social (IAFUS) e a
Fundao povo Soberano (FPS).

Documento sobre desenvolvimento endgeno : da economia da explorao economia


popular solidaria exibe seus objetivos:

nas lutas populares para alcanar a democracia econmica, uma das tarefas
fundamentais que se traa o governo revolucionrio o desmantelamento do
sistema capitalista e sua substituio por um modelo econmico alternativo,
solidrio, sustentvel e coletivista, orientado ao desenvolvimento social e
humano integral e um reordenamento socioprodutivo e territorial,centrado
nas vocaes naturais das prprias comunidades, os valores dos nossos povos
e a explorao racional das nossas riquezas.

Para isso, complementa as polticas revolucionrias de radicalizao da


democracia e resgate da soberania poltica, cultural e econmica da
democraciae resgate da soberania poltica,culturale e econmica do povo
venezuelano com um conjunto de polticas pblicas territoriais de proteo da
segurana e da soberania alimentar, desconcentrao populacional e
identificao e promoo de eixos e plos de desenvolvimento local e
regional em todo o territrio nacioanl,para sua progressiva articulao em
conglomerados socioeconmicos de mtuo interesse.

Assim,sob o chamamento robinsoniano (ou inventamos ou erramos) o


governo bolivariano examina com a participao direta do povo a construo
de um modelo de desenvolvimento prprio,centrado na construo na
incluso de todos e vida socioprodutiva da nao e da cidadania plena; a
interao em redes dos atores socioewconomicos e culturais locais e
regionais, e a auditoria corresponsavel das polticas pblicas entre povo e
governo.

Como toda transformao,a revoluo bolivariana tem sua originalidade e


,sendo asssim,desperta as mais diversas apreciaes no campo das esquerdas.

O ensaista Miguel Urbano Rodrigues assinala a originalidade da revoluo


bolivariana:

A excepcionalidade da revoluo bolivariana precisamente a sua


originalidade.No h precedente para um processo de mudana social como o
venezuelano que desafia a lgica da histria. Lenine afirmava que no h
revoluo sem partido revolucionrio preparado para a var adiante.Ora,na
Venezuela desenvolve-se h meia dzia de anos um processo que,tendo
principiado com a eleio para a Presidncia de um militar cristo e o
esmagamento dos partidos da burguesia,se encaminhou para uma
confrontao explosiva com o imperialismo.Com a peculiaridade de que no
existia partido de massas revolucionrio nem foi ate hoje possvel estrutura-lo
apesar dos esforos empreendidos nesse sentido.A pessoa do lder tem
funcionado como o fator decisivo para a concretizao das medidas
revolucionrias e a sua defesa.

Essa a fragilidade maior da revoluo bolivariana: a dependncia de um


dirignetes carismtico. Como mobilizador das massas oprimidas pelo sistema
capitalista,ele cumpre a funo do partido revolucionrio inexistente...O
mobilizador coletivo Hugo Chavez.

Paulo Arantes muito mais critico em sua analise:

cenrio da Amrica Latina variou muito nos ltimos anos,mas no mudou


nada.Sobre Chavez:

[...]Com base na renda do petrleo,redirecionada para programas de


mobilizao popular.Faz um programa social,com o qual contorna um
aparelho de Estado inexistente e,ao mesmo tempo,mobiliza a populao que
ele assiste.Sem o poder convocatorio dele que carismtico e legitimo,mas
um poder convocatorio- a populao no vai nem votar,como aconteceu nas
eleies legislativas. preciso que ele diga o seguinte: estou sendo
acossado,cercado e sabotado e preciso de vocs.Ai a populao apia em
massa(...).

O que eu vejo nessa famosa AL que teria dado uma guinada para a esquerda
a consolidao de uma nova classe dirigente com apoio popular para extrair
riqueza,renda e recursos da sociedade em outras bases.De um ponto de vista
socialista e de esquerda,isso no tem nada a ver.

Um estudioso do populismo na AL,Ernesto Laclau ,compara a experincia atual


com a histria dos populismos no Continente,especificando o caso Chavez:

O caso de Chavez o que mais se aproxima do populismo clssico pelo fato


mesmo de que se tinha l um sistema poltico podre,com uma base
clientelista,com uma escassissima participao de massa. Havia a tpica
situao pr-populista;havia demandas que ningum podia canalizar dentro
do sistema poltico.(...) O que se d no um populismo de tipo
autoritrio,porque essa no uma mobilizao de cima.pelo contrario, h um
aspecto de auto-organizao das massas,nos locais de trabalho.

A experincia venezuelana tem atrado e aproximado diversos setores da


sociedade brasileira.Por exemplo no campo da Economia Solidria ocorreram
Seminrios em Caracas e em So Paulo na busca de articular cadeias produtivas.

14.8. BRASIL: A GREVE DE OSASCO-SP EM 1968 E AS OPOSIES


SINDICAIS

Nesta parte, vamos nos utilizar de alguns documentos produzidos pelos atores
diretos da greve. Assim, um ensaio intitulado Greve illegale; organisation
clandestine,assinado por Jos Ibrahim, Manoel Dias do Nascimento e Roque
Aparecido da Silva. Escrito no exlio,em outubro 1972. Um segundo documento,
Osasco:as lies de uma Greve, escrito por Jose Ibrahim e Jos Barreto. um balano
da greve,escrito no ano mesmo do movimento,1968.Este documento vai no nosso
Anexo. O livro de Ibrahim, O que so Comisses de Fabrica(editora global,1986.)

Por fim,utilizaremos elementos de outros dois ensaios: o de F.Weffort,dos Cadernos


CEBRAP,publicado em 1972 e, uma entrevista de Regis Castro Andrade,de 1998,da
Revista Tempo Social.

F.Weffort caracteriza as cidades de Osasco-SP e Contagem-MG:

Apesar de suas caractersticas de alta concentrao industrial,Contagem e


Osasco no se ajustam s condies tpicas das comunidades industriais
isoladas,Comunidades desteb tipo encontram-se geralmente volta das
minas ( por exemplo, Nova Lima) ou de grandes siderurgicas (p.ex,Volta
redonda, Usiminas,etc),combinando uma alta concentrao espacial das
industrias a um grende isolamento dosmoperarios em face das demais
classes. Esta combinao de concentrao e isolamento pode levar
formao de um sentimento comunitrio que, por favorecer o despertar da
solidariedade de classe (ou ainda por sobrepor-se a ela e refora-la) constitui
em geral, um fator excepcionalmente favoravel ecloso do movimento
operrio em greves,protestos,etc.

Contagem e Osasco apresentam condies de alta concentrao


industrial,mas faltam-lhes as caractersticas de isolamento ecolgico e
social.De fato, so dois casos tpicos de reas industriais metropolitanas e,at
h pouco tempo,foram bairros perifricos de belo Horizonte e So
Paulo.Osasco s conquistou sua autonomia municipal em 1962 e
Contagem,embora mais antigo como municpio,s assumiu sua conformao
atual depois de 1963 com a incorporao da Cidade Industrial,at ento um
bairro de belo Horizonte.

Vejamos alguns dados de Weffort:

Contagem tinha,em 1960,uma populao de 28.065 habitantes,dos quais a


grande maioria (21.645) concentrada na Cidade industrial e os demais repartidos entre
a sede do municpio (3.708) e a zona rural(2.850). Em 1968,a populao era de 33.000.
A partir de 1955, se estabelecem na regio uma Usina Hidroeltrica e varias empresas
como a Mannesman, belgo-Mineira, Mafersa,RCA Victor,etc.O numero de operrios da
Cidade Industrial passa de 2.850 em 1952 para 5.731 em 1960 e, atinge 16.610 em
1966.Estima-se que em 1968 houvesse mais de 18.000 operarios trabalhando na
Cidade Industrial,dos quais 63% reside na prpria Cidsade Industrial.

Osasco tambm um municpio predominantemente urbano e


industrial.Contudo, enquanto contagem e um dos poucos pontos de forte concentrao
industrial da regio metropolitana de belo Horizonte, Osasco aoenas um exemplo das
varias reas industriais da regio metropolitana de SP.isto faz de Osasco um municpio
que cumpre as funes de cidade industrial ao lado das funes de cidade dormitorio
para uma grande massa de operrios que trabalha em SP ou em outros municpios
vizinhos.

Pesquisa de 1966,aponta para Osasco uma populao empregada de 62.000


pessoas,das quais 49.000 vinculadas s atividades industriais,mas com apenas 15.500
trabalhando nas industrias locais. A populao industrial de Osasco,como a de
Contagem,est altamente concentrada.No centro da cidade e as duas zonas industriais ao
Norte e a sudeste,concentram quase 80% do total dos que trabalham nas industrias.Esta
rea de alta concentra industrial tambm um importante setor de residncia
operaria.Dos que ai residem (11.450), 58% trabalham na regio, 18% trabalham em
outros bairros de Osasco e 24% em SP.

As fbricas Cobrasma,Braseixos Rockwell e brow-Boveri esto entre as 5


primeiras maiores de Osasco.

Portanto, Osasco uma cidade industrial da periferia de SP.Contava em 1968


com cerca de 350 mil habitantes.As principais fbricas eram COBRASMA, Brow
Boveri, Braseixo,Ford,Chaleroi,Lona-Flex,Osram e Cimaf. O Sindicato dos
Metalrgicos ,at o golpe de 64,tinha hegemonia do PCB,que se estendia ao movimento
operrio local em seu conjunto.

O trabalho de base nas fbricas vinha de antes de 68.Assim, militantes crticos


da linha sindical do PCB na Braseixos tinham uma organizao clandestina na empresa,
onde ensaiavam novos mtodos de luta.

A Cobrasma foi o palco central das lutas de 68, onde 3 organizaes se


articulavam nas lutas: a Comisso de fabrica, o Sindicato e o Comit Clandestino.

A CF,inicalmente semi-legal,com 10 militantes, tinha sido fundada em 1962


pela FNT *, organizao de orientao crist. Alguns operrios fundam o CC ,com base
na experincia da Braseixos. Este Comit Clandestino era independente do PCB,do
Sindicato e mesmo da CF,com a qual mantinha contatos..

Em meados de 64,a morte de um operrio em acidente de trabalho permitiu que


a CF e o CC paralizassem a Cobrasma por 5 minutos.A partir deste momento, a CF
reconhecida.As primeiras eleies para a representao dos trabalhadores na empresa
foi em agosto de 65.A fabrica foi dividida em 19 setores e cada setor indicava um
representante efetivo e um suplente.Para o CC,que no iria se dissolver na CF
legalizada, era importante a eleio do lder Jos Ibrahim como seu porta-voz na
CF.Ibrahim foi eleito por maioria esmagadora para o cargo de 2o secretario.O
presidente era da FNT.Varias sub-comisses foram se formando nos diversos setores.

Diversas mobilizaes internas e uma operao tartaruga na empresa serviu


para educar os trabalhadores para lutas mais duras. Em agosto 66,nas novas eleies, a
CF se renovouO CC sai reforado em relao a FNT. Ibrahim assume a presidncia e
Roque Aparecido a 1a secretaria.

Antes das primeiras eleies para Cf, os interventores no Sindicato chamaram


eleies.Contudo,no foi apresentada chapa de oposio.A FNT entrou na composio
da chapa nica oficial,mas sem fora para influir na diretoria.A OS no s critica o
pleguismo mas,sobretudo,se opunha a estrutura sindical vertical e corporativa. A OS
dos metalrgicos de Osasco estava composta pelo militantes do CC, da FNT e alguns
operrios que comeavam a romper com o PCB.

A fora da OS crece a medida que aglutina operrios de outras fbricas. A partir


do final de 65,em todos os eventos sindicais a nvel nacional, a OS se faz presente
atravs de operrios eleitos em assemblias.

A luta contra a direo sindical pelega se dava atravs das lutas concretas dentro
das fbricas. Por exemplo,a mobilizao que ocorreu no setor Montagem de vages da
Cobrasma , com uma greve.Os patres demitiram todos os envolvidos; houve uma
assemblia geral com participao de todos os trabalhadores da Cobrasma e tambm de
outras fbricas.Os diretores do Sindicato receberam fortes criticas, abandonaram a
assemblia que passou as mos da CF.Os patres recuaram das demisses e concederam
o aumento reivindicado.

Dois fatos novos viriam ajudar na luta. Os trabalhadores decidiram apoai um


candidato operrio e um estudante nas eleies para prefeito e vereador pelo MDB.
Eleito o prefeito criou o cargo de assessor sindical e assessor estudantil no seu
gabinete,indicados pelo Sindicato e pelo CEO (entidade estudantil municipal).Estes
assessores desenvolveram um trabalho poltico na cidade baseado na criao de
Associao de mOradores em todos os bairros.

6 meses antes das eleies sindicais,comeou o trabalho de agitao e


organizao. As discusses do CC com a FNT e o PCB para composio da chapa de
oposio, encontrou entraves na relao com o PCB,que considerava o programa da
oposio como aventureirista. A composio da chapa ficou restrita a FNT,aos
Independentes e ao grupo de esquerda do CC. O Programa da OS foi discutido em todas
as fbricas,o que j significava a formao de futuros Comits de Empresa:

luta contra o arrocho salarial;


luta contra a Lei anti-greve;
luta contra o FGTS;
organizao pela base em Comits de empresa;
pelas liberdades sindicais;
contrato coletivo de trabalho;
campanha permanente de sindicalizao.
Como parte da campanha foram organizados Comits de Apoio a chapa verde
(em oposio a chapa azul dos pelegos) em todas as fbricas; cada trabalhador
voluntariamente dedicava um dia de trabalho para o trabalho da campamha nas portas
de fabrica e na sindicalizao. Os estudantess ecundaristas de Osasco tiveram grande
participao na campanha.O Presidente do CEO era Jos Campos Barreto,que era
tambm operrio como muitos estudantes. Barreto era do grupo de esquerda na
Cobrasma.

No final da campanha, foi organizado um dia de estudo para aprofundar o


programa da OS.Participaram delegados das oposies dos bancrios,
metalrgicos,Construo Civil e Qumicos.

A chapa verde obteve 80% dos votos.Alem da Cobrasma, a maioria dos votos
da OS vieram das grandes empresas.portanto,pela primeira vez uma chapa de OS vencia
uma eleio.Em julho de 1967, a nova direo tomou posse. O Presidente Jos Ibrahim,
era membro do grupo de esquerda,que tem o CC na Cobrasma e ncleos clandestinos
em outras fbricas como Brow-Boveri, Lona-Flex, Braseixos,etc.

14.8.1. Nova etapa das lutas nas fbricas

Assemblias de fabrica foram realizadas para ampliar a organizao dos


comits.Nas assemblias eram analizadas as condies de cada fabrica e as formas de
luta necessrias. Na Lona-Flex se desenvolveu uma grande mobilizao por aumento
slarial e pagamento da insalubridade. Nesta fabrica o Comit era dirigido por Manoel
Dias do nascimento (Paiva).Uma CF foi reconhecida,na qual participavam alguns do
CC.

Em 17 novembro de cada ano se dava a data do dissdio salarial dos


metalrgicos de Osasco,SP,e Guarlhos.Os metalrgicos de Osasco,em
assemblia,decidiram no requerer o dissdio como protesto pela poltica de arrocho
salarial. Pela primeira vez,aps 64,um Sindicato adotava esta postura. Decide-se por
uma greve no dia do Dissdio.

Desde inicio de 1966, a CNTI* organizava uma campanha de coleta de


assinaturas nas fbricas para propor modificaes na lei salarial.Deveria culminar em
um ato publico,com a presena do Ministro do Trabalho,que receberia,ento,a lista de
assinaturas.Quando do ato publico,no Rio,o Ministro no compareceu.

A maioria dos sindicatos paulistas,em uma reunio para discutir novas formas de
luta contra a poltica salarial, fundou o MIA*. Decidiu-se a organizao de atos inter-
sindicais que culminaria com um ato em praa publica.

O MIA programou 5 concentraes nos Sindicatos Metalrgicos, at o 1o de


Maio 1967:

1) comeo de novembro, no sindicato dos metalrgicos de SP;

2) fins de novembro, sindicato dos metalrgicos de Santo Andr;

3) meados dezembro, em Osasco;

4) em janeiro, em Campinas

5) em fevereiro, em Guarulhos.

O MIA decidiu que nestas concentraes s poderiam falar os dirigentes


sindicais, no podendo falar nem operrios de base nem estudantes. o que manteria a
hegemonia dos pelegos. Contudo, j no primeiro ato, alm da fala de Ibrahim, um
operrio de base tambm falou durante 10 minutos, e os estudantes tomaram o
microfone e falaram.

No ato em Osasco, alem de Ibrahim,falaram representantes de todas as OS,um


representante dos Sindicatos Rurais e um estudante.Os pelegos se negaram a falar.O
deputado do MDB, David Lerer quis falar mas a mesa no permitiu.Aassembleia deciiu
que o deputado falaria,o que ocorreu. Ibrahim props que o 1o de Maio fosse realizado
na Praa da S,na capital paulista.

O Ministrio do trabalho denunciou que a Assemblia de Osasco teve caracter


marcadamente subversivo e que o principal responsvel era o Presidente do
Sindicato,Jos Ibrahim. O MT chamou a diretoria e apresentou as segiuintes opes:

destituio do presidente pela diretoria;


estituio do presidente pelo Ministrio;
interveno geral no sindicato.
A classe foi mobilizada;os dirigentes do MIA,por motio de auto-
preservao,apoiaram os metalrgicos de Osasco.O MT se limitou a uma advertncia \o
presidente dos metalrgicos. A prxima manifestao,em Campinas,girou em torno do
caso Osasco;de Osasco foram 6 onibus lotados por operrios. Aps a concentrao de
Guarulhos, a ultima prevista e que no chegou ao final devido as divergncias, o MIA
se dissolveu. Ficou um comit para preparar o 1o de Maio.

14.8.2. Greve em Contagem MG

Em Belo Horizonte, o sindicato dos metalrgicos desenvolvia trabalho


semelhante a Osasco.Nas eleies de 67,elegeram um direo de esquerda. Mas, 8 dos
23 da direo foram impedidos de assumir: a policia tinha suas fichas. Contudo, alguns
militantes de esquerda no fichados puderam continuar na direo. Foi realizada uma
ao de organizao de comits clandestinos.

Em abril de 68, ocorre a 1a grande greve aps 64,com novos mtodos de luta:
paralizao pela ao do Comit de empresa clandestino e ocupao da fabrica. A greve
comeou com a ocupao da belgo-Mineira pelos operrios que a ocuparam por 3 dias.
A greve se estendeu a toda cidade industrial de Contagem. Com a desocupao da
belgo, os trabalhadores se concentraram no Sindicato. O Ministro do trabalho.coronel
Jarbas passarinho foi ao Sindicato para begociaes.Aps uma semna de greve,os
metalrgicos conquistaram 10% de aumento salarial aps o 1o de Maio,para todos os
operrios do pas.

Em SP e sobretudo Osasco, a reprercussa desta greve foi enorme: mostrou que


era possvel lutar contra o arrocho,tendo organizao de base. Esta greve em MG, vinha
coincidir com a preparao do 1 de maio.

14.8.4. O 1 de Maio em SP
O MIA tirou uma comisso para conversar com o Governador paulista Abreu
Sodr. Este decidiu particpar do ato na praa da S. Os trabalhadores de Osasco
defenderam a participao no ato e, derrotaram outras propostas de ato paralelo. A
proposta era de expulsar os pelegos,tomar o palanque e realizar um ato verdadeiramente
dos operrios.

No nvel do movimento operrio a preparao revelou um alto grau de auto-


defesa: foram organizados em grupos e armados com barra de ferro uns 250
operarios.Na Praa da S, os grupos ficaram divididos em 11 ruas que davam acesso a
praa. Noutras ruas, ficaram operrios armados de molotovs para impedir a chegada da
represso. Perto do palanque,outros grupos para realizar a sua tomada.Entre a
massa,vrios grupos para agitao.

Varias organizaes de esquerda estiveram no ato: como VPR, ALN ,e


estudantes. Dorival Ferreira, dirigente da OS da Construo Civil,foi responsvel pelas
barras de ferro.No ABC, os trabalhadores foraram os pelegos a por vrios nibus para
leva-los S. Assim, alem dos grupos organizados, mais 7.000 trabalhadores foram ao
ato.

No ato os operrios bradavam as palavras-de-ordem: Minas nosso


exemplo;Fora pelegos,patres e ditadura; greve contra o arrocho;s o povo
armado derruba a ditadura;Operrio sim, pelego no.

Aps impedirem a fala do governador e lhe jogarem ovos e tomates, e mesmo


uma pedrada na testa, (Abreu sodr e os pelegos se refugiaram na Catedral)os
trabalhadores tomaram o palanque ,usaram da palavra , atearam fogo no palanque e,
saram em passeata na direo da Praa da Republica.

Na Praa da republica falaram vrios trabalhadores e, Jos Campos Barreto


fechou a manifestao: falou da experincia do Vietnam e que o caminho era o da luta
armada.Pela primeira vez se colocava ,abertamente, para os trabalhadores esta
perspectiva.

14.8.5. As greves em Osasco

A vitria em MG e no 1o de Maio paulista cria um clima de muita agitao nas


fbricas de Osasco. Assemblias so realizadas nas fbricas, levantando as
reivindicaes; organizando comits e comisses. Neste clima, em junho 68 ocorre a
greve na Barreto Keller. Os operrios abandonaram a fabrica e foram ao Sindicato.Aps
6 dias de greve ,os patres propuseram aumento de 15%,aceito pelos trabalhadores.

Esta greve localizada teve grande repercusso nas outras fbricas, mais que a
greve de MG,pois se passava prxima dos trabalhadores.As OS decidiram que uma
greve em Osasco deveria ser na poca do dissdio,em novembro,em que toda a categoria
estaria mobilizada em SP e Guarulhos. Todavia, as bases pressionavam pela greve;o
grupo de esquerda assumiu a preparao da greve. Em junho, as discusses com o
Sindicato e os comits decidiram a greve para julho.

Nos dias antes da greve, a massa pressionava atravs de agitaes nas fbricas:
havia comits na Cobrasma, LonaFlex,Barreto Keller,Brow Boveri,Braseixos e um
ncleo de comit na Granada. Foi formado,a partir das bases, um Comando Geral de
Greve(CGG),que decidiu pela ocupao da Cobrasma no primeiro dia da greve.

A Cobrasma tinha uma organizao interna de um comit de greve e da fabrica,


e comits por seo.A ocupao da fabrica apresentava oss eguintes problemas:

ocupao dos portes e domnio da guarda;

controle da comunicao (PB-X,telefones) e da central de eletricidade;

controle dos patres e dos chefes em geral que permaneciam como refns;

sistema de segurana para controlar todas as entradas e sadas para evitar a


entrada de provocadores da policia,etc;

grupos encarregados de discutir com a massa questes como o sentido e o


objetivo da greve, o carter das ocupaes,o papel da classe na revoluo,etc,atravs de
assemblias e grupos de discusses;

sistema de comunicaes entre as fbricas ocupadas, o sindicato e o CGG.

No dia 17 julho, houve um toque extra de sirene da fabrica: era a senha para
greve! Em 20 minutos se relaiza a primeira Assemblia geral,que decidiu pela ocupao
por tempo indefinido. Grupos pararam outras fbricas e, em passeata,se dirigiram ao
centro da cidade, num percurso de 3km ate o Sindicato dos metalrgicos.
Quando O ministrio do trabalho chegou ao Sindicato para negociar,foi avisado
que teria que ir a Cobrasma para negociar diante de todos trabalhadores com o CGG.

noite comeou a represso pela Fora Publica, Cavalaria e carros de combate


(brucutu e tatu),sob comando do exercito.A LonaFlex foi desocupada pela policia. A
Cobrasma foi ocupada e 60 trabalhadores foram presos. Todos foram msoltos
depois,exceto o dirigente Barreto que fiocu 98 dias na priso,onde foi barbaramente
torturado.

No segundo dia, apesar de Osasco se encontrar sitiada pelos militares,outras


empresas entraram em greve: a Brow-Boveri e a Braseixos. Na tarde do dia 18, um
interventor chegou no Sindicato para tomar posse. Sendo impedido pelos operrios,na
manha do dia seguinte voltaria com a cavalaria e os carros de combate,o Sindicato foi
invadido.Nesta situao,um padre tinha posto a Igreja Matriz de Osasco disposio
dos operrios para a realizao da assemblia.Mas,a Policia invadiu a Igreja e prendeu
vrios operrios.

No sbado,dia 21,o CGG se reuniu e decidiu pela volta ao servio,com a


orientao de se reorganizar nas fbricas.
15. ECONOMIA SOLIDRIA : EMPRESAS RECUPERADAS

15.1. ARGENTINA - O MOVIMENTO DAS EMPRESAS RECUPERADAS

Na segunda metade da dcada de 70, as polticas neoliberais ocasionaram uma


profunda crise social, poltica e econmica na Argentina. Durante vrios anos,houve o
desmantelamento do aparato de produo.No final de 2001, ocorreu o colapso do
mercado financeiro.Na segunda metade da dcada de 90, o movimento social se refez e
lanou diversas formas de protesto ; neste contexto, emergiu uma diversidade de novos
atores : piqueiteiros,assemblias de bairro, clubes de troca,etc.

No final da dcada de 90 e inicio de 2000, surgiram muitas empresas que


estavam em processo falimentar e que foram recuperadas pelos trabalhadores .Um total
de 170 unidades produtivas. So uma resposta crise e ao mesmo tempo alternativas de
gesto,combinando a participao democrtica na gesto e a propriedade coletiva dos
meios de produo.

No livro Fbricas y empresas recuperadas. Protesta social, autogestion y


rupturas em la subjetividade(Centro Cultural de la Cooperacion. Buenos
Aires.novembro 2003), encontramos uma periodizao :

A ocupao de fbricas tem sido uma pratica utilizada pela classe


trabalhadora na Argentina em diferentes momentos de sua histria.Cabe
recordar o Ciclo de lutas abertos no final dos anos 60 at inicio dos anos 70,
encabeados pelo operrios das grandes corporaes econmicas,como a
FIAT em Crdoba. (...) A estrutura de oportunidades polticas, as condies e
recursos do movimento operrio, o papel jogado pelas direes sindicais e as
estratgias ofensivas que desenvolveram os trabalhadores naquele cenrio
tem muito pouco a ver com o novo Ciclo de protestos dos ltimos anos.Aps
o retorcesso das polticas neoliberais para os trabalhadores, do fim de muitas
conquistas histricas, da reduo constante de trabalhadores empregados, de
um sindicalismo muito burocratizado e longe de suas bases, a estratgia de
ocupao e recuperao de fbricas representa uma estratgia defensiva
quase derrotada- que se enquadra fundamentalmente na sobrevivncia da
empresa e na conservao do posto de trabalho(...)
Os autores citam a frase de um operrio: O que acontece que nos anos 70 se
tomava as fbricas por ideologia, agora a tomada por necessidade e a ideologia vem
depois.

A histria do movimento operrio argentino porta experincias que, em


diferentes momentos, tentyaram implementar formas autogestionrias e de
controle da produo (Passa, Lozadur,etc).Embora, o fenomeno nunca tenha
alcanado a magnitude e o conglomerado de fbricas e empresas de servios
que fazem parte do movimento social de recuperao de rempresas no
perodo atual.

Na segunda metade dos anos 90, a conjuntura em que ocorre a tomada de


fbricas tem as seguintes caractersticas:

Ascenso no ciclo de protestos de trabalhadores assalariados e


desocupados.Se bem que,varias empresas da Capital e da Grande Buenos
Aires,como no interior do pas,se encontravam em situao de crise e conflito
interno nos primeiros anos da dcada de 90 , o ciclo de protestos comeou a
crescer paralelamente ao conjunto dos protestos sociais emergentes na
segunda metade da dcada de 90.

O surgimento de algumas empresas que se encontram em situao de crise


(convocatrias, falncias ,etc) ,so tomadas por trabalhadores para sua recuperao: os
casos mais conhecidos so os das metalrgicas IMPA e o frigorfico Yaguan,e tambm
a metalrgica Polimec. Algumas destas fbricas tinham trabalhadores com experincia
na militncia sindical , o que lhes permitiu estabelecer relaes com seus sindicatos.
Aps o golpe de 1976, o movimento sindical passou a desenvolver diversas formas de
oposio ditadura militar.

Voltemos na histria a esse perodo de luta contra a ditadura militar.

15.1.1. A Oposio Operria aps 1976

O historiador Pablo Pozzi escreveu um ensaio sobre a resistncia dos


trabalhadores argentinos ditadura militar instalada em 24 de maro de 1976. A luta
teve como arena principal o espao dentro das fbricas.os trabalhadores lanaram mo
das experincias de resistncia de anos anteriores: 1955-1958, 1966-1973.Em
julho,agosto e setembro de 1976,ocorreram greves no setor automotriz que foram
brutalmente reprimidas com desaparies,prises,assassinatos e a ocupao de fbricas
pelas Foraas Armadas. Outros setores, como metalrgicos, (maro 1796), porturios
(novembro 1976), os trabalhadores da Fuerza y Luz, estiveram na frente destas lutas e
tambm sofrendo grande represso.

Novos mtodos de luta foram criados.No Sindicato automotriz, o primeiro


desafio veio dos operrios da fabrica IKA-renault de Crdoba no 24 de maro,dia do
golpe:

Nesse dia, os trabalhadores comearam o trabalho baixando a produo de


40 para 20 unidades e, no segundo dia,baixando para 14. Pichavam as
paredes com palavras-de-ordem: Fuera los milicos asesinos, Tenemos
hambre, Sabotage a la superexplotacion. O exercito tentou invadir a
fabrica, sendo rechaado pelos operrios que o obrigaram a retirar-se.Nas
semanas seguintes as foras repressivas se dedicaram a sequestrar e
assassinar a varios delegados e operarios combativos da fabrica.

No inicio de abril, na fabrica General Motors de Barracas (Capital federal), a


seo de pintura entrou em greve,tendo sido ocupada pela rerpesso que prendeu trs
operrios grevistas.Sem eguida, toda a fabrica entrou em greve,obrigando o rgeime a
libertar os trs grevistas.

Em meados de maio, comearam as primeiras paradas rotativas de 15 minutos


na fabrica Mercedes-Benz.Na Chrysler Monte Chingolo y Avallaneda, se adotam
medidas similares com cortes de luz a cada dez minutos.Durante todo o ms de
setembro, no setor automotriz ocorreram greves,sabotagem,etc.

A experincia do Sindicato Luz y Fuerza ,entre outubro de 1976 e maro de


1977,expressa a mudana dos mtodos de luta frente ao fracasso de uma ttica de
enfrentamento direto ditadura militar. Em abril de 1976, esse Sindicato sofreu
interveno ,com demisses e outras medidas. A partir do 5 de outubro, os
trabalhadores desse Sindicato, que abrange todas as empresas de eletricidade ,privadas e
estatais,iniciaram uma greve de braos parados em protesto pela demisso de 208
operarios. Esta luta durou foi o ms de novembro. A ditadura respondeu com represso:
seqestros,torturas,prises.

Um dos delegados sindicais falou sobre a luta: No dia 5 ,a noite, fizemos uma
reunio de delegados e no dia 6 comeou a luta. Nas reunies que tivemos com outros
delegados e ativistas formamos Comisses de propaganda,que se responsabilizaram de
fazer volantes explicando os motivos de nossa luta. Tambm, se criou uma Comisso de
organizao e outra de contatos.

Depois, fizemos assemblias com os trabalhadores edifcio por edifcio e lhes dissemos
que aluta inciiada no ia ser facilo. Muitos nos lembramos das coisas que fizemos aos
militares em 1965 e voltamos a repeti-las. Cortes de luz,sabotagem.

Trabalho a desgano significa que no podemos trabalhar porque setamos


tristes Tristes porque demitem nossos companheiros;tristes porque
ganhamos pouco;tristes porque cerceiam nossos convnios.Enfim, h mil
motivos para que os trabalhadores fiquem tristes. Por isso no levantamos
um dedo para fazer o que nos mandam.

As greves continuaram atravs de dezembro,janeiro e fevereiro de 1977.Em


Rosrio,Crdoba e Corrientes se formaram Comisses coordenadoras que extedeu a luta
outras provncias. Estas Comisses tinham um carater semi-clandestino.

No final de 1976, o Exercito tentou invadir a fabrica Peugeot que estava em


greve.Teve que enfrentar a resistncia de 5.000 operarios que gritavam
Argentina,Argentina e depois cantaram o hino nacional. No final, os operrios
obtiveram a libertao de seus companheiros e a fabrica no foi invadida.

Para Pablo Pozzi,

O mais valioso das lutas do movimento operrio durante esses meses foram
as lies deixadas. A unidade, solidariedade e firmeza dos trabalhadores era a
chave da resistncia. Isto s podia ser garantido pela organizao clandestina
pela base, tal como ocorreu com Luz y Fuerza. Evitar os mtodos e formas
organizativas que denunciassem os dirigentes. Assim, recorreram a
experincia da Resistncia Peronista (1955-1975), acrescida de inovaes
(trabalho com tristeza, trabalho a reglamento,e sobretudo sabotagem).

Os resultados foram muitos,por exemplo: no final de 1976, a Renault anunciou


queda de sua produo em 85%; na general Motors,25% dos carros produzidos estavam
danificados;na Ford,foram destrudos os motores de 30 patruilheiros Falcon pedidos
pela Policia Federal;no Frigorfico Swift toneladas de carne para exportao foram
inutilizadas;na Mercedes-Benz,em um dia desapareceram todos os instrumentos de
medio.

O resultado destes conflitos de 1976 (ano do golpe militar) que em 1977,com


raras excees,foi um ano cheio de tristezas,sabotagens,sem grandes movimentos de
massa. Um perodo em que os trabalhadores avanaram mtodos de luta,formas de
organizao que pudessem proteger os ativistas e os delegados sindicais dos golpes da
rerpesso.

De 13 a 17 de junho na zona industrial de Rosrio y San Lorenzo (Provncia de


Santa F),mais de 6.000 trabalhadores agrcolas se uniram a vrios conflitos de
operrios da industria,conseguindo apenas 20% de aumento e muitas demisses e
prises.

Contudo,essas lutas levaram a um primeiro salto de qualidade da resistncia


operaria:

Em outubro,na cidade de Crdoba,os operrios da IKA-renault reclamaram


aumento de 50%. A empresa ofereceu 15%. Os trabalhadores no aceitaram e
iniciaram uma greve de braos cruzados.No dia seguinte, o exercito entrou
na fabrica,exgindo o reinicio do trabalho. Em uma seo, um oficial
discursava para os operrios contra a greve;a reao foi imediata: atiraram
todo tipo de material no oficial.Uma batalha tomou conta da fabrica,com um
saldo de quatro operrios mortos.No dia seguinte, ocorreu um abandono
massivo das tarefas.Seis mil operrios,sob uma represso violente,se
mobilizaram de forma ampla e unitariamente,sem nenhuma organizao
legal.

130 trabalhadores foram detidos e depois demitidos. Essa greve na IKA-Renault


durou quatro dias e teve como resultado romper a muralha do silencio.A Mdia
comeou a falar de amea de Cordobazo.Imediatamente,outros setores operrios se
somaram a luta: em novembro, vinte e um sindicatos representando milhares de
trabalhadores tinham realizado greves por melhoria salarial.

Esta greve da Renault desencadeou um onda de greves bem organizadas pela


base. A onda de greves mostrou que havia um nvel de organizao subterrnea que
abaracava vrios sindicatos.A greve dos ferrovirios em outubro, foi um exemplo claro
de um movimento de foras organizadas semiclandestinamente,que realizou
assemblias nos locais de trabalho,escapando da represso; essa greve quase se tornou
geral e consegui xito em termos de reivindicaes salariais.
Em 1978, cresceu o numero de conflitos: 1.300 na primeira metade do ano.4.000 em
todo o ano.As principais greves foram as dos Porturios (julho) , a do Frigorfico Swift
de Rosrio (outubro) e da Fiat (outubro).

15.1.2 As Ocupaes (Tomadas) De Fbricas

O processo converge para um segundo salto de qualidade durante todo o ano de


1979. No h um momento especial,mas vrios moemntos que marcam o avano do
acumulo de foras. Ocorre a primeira ocupao de fabrica desde 1976: em 8 de maro
de 1979, entram em greve os operrios de Aceros Ohler. Em abril, os 3.800 operarios de
Alpargatas decretam,em assemblia na porta da fabrica, uma greve por tempo
indeterminado.Trs meses depois,ocorrem trs ocupaes de fabrica; as metalrgicas
Cura Hnos, IME e a Cantafbrica.

Em setembro ocorreu a greve na Peugeot, a partir das comisses de fabrica.Em


novembro,seria a vez com tomada do frigorfico Swift,com apoio da comunidade
local.Em dezembro de 1979, a greve de transportes em Rosrio. Assim, com dados da
prorpia imprensa, 1979 apresentou um saldo de mais de 500.000 dias/homens de greve
durante os primeiros meses, cinco vezes mais que em 1978.

O numero de conflitos duplicou em relao a 1977 ,e quadruplicou o numero de


trabalhadores envolvidos. O movimento operrio,neste 1979,retomou formas de luta (
ocupaes de fabrica,greves por tempo indeterminado,varias mobilizaes) que no
tiveram xito em 1976 e que no foram tentadas em 1977 e 1978,o que significou um
grande acumulo de foras. Neste sentido, foi possvel a grande Jornada nacional de
protesto de abril 1979.A Comisso dos 25 organizou um Comit de Greve clandestino
para dirigir a Jornada, da qual participaram 75% dos trabalhadores do pas.

Pablo Pozzi remarca a nfase na reivindicao sobre o controle operrio da


produo passando por cima da propriedade privada.Deste modo, Podemos inferir
um projeto scio-economico autnomo da classe operaria, que contm elementos mais
radicalizados que os das lutas nacionalistas de 1946-50. Particularmente na nfase
clara em aspectos coletivistas e de controle operrio sobre a produo contm pontos de
contato com um projeto socialista.
A partir de 1979,como vimos, h um claro acumulo de foras do movimento
operrio.No final de 1980, ocorrem tomadas de varias fbricas (Deutz, La Cantabrica,
Sevel, Merex); greves articulando a comunidade com os trabalhadores (Tafi Viejo,
Ingenio Nunorco); coordenadoras clandestinas em nvel nacional (trabalhadores do
Estado, transportes); mobilizaes (Deutz, La Cantabrica). A isto se agrega a greve
surpresa: durao curta, surpresa total e nveis de organizao muito alto,com grande
participao das bases, que permanecem sem eus locais de trabalho.

Greves em 1980

Ms Nmero de greves Nmero de operrios


parados

janeiro 13 3.299

fevereiro 07 2.000

maro 12 6.940

abril 20 25.625

maio 22 32.337

junho 21 45.422

79 87.811

Os conflitos produzidos na Capital federal e na grande Buenos Ayres


representam 70% do parque industrial do pas. Na industria os conflitos mobilizaram
34.815 trabalhadores e nas empresas de servios 52.996,isto e, 60% do total.

De 56 casos estudados, dentre os 79 ocorridos, 44 foram conduzidos por


organizao de empresa; 10 por comisses internas;1 por comissa de demitidos;1 por
coordenao de agrupaes. Alguns por coordenaes nacionais: 3 de bancrios, 1 de
pesca, 1 de transporte, 1 de mecnicos.Outros 5 pelas sees sindicais.

Os 44 conflitos dirigidos por rgos de empresa , significam umpapel maior


destes rgos em relao as direes sindicais.Um fenmeno novo foi o surgimento de
conflitos de mais de uma empresa: pesca na Bahia Blanca, transportes de
Crdoba,martimos e bancos de Quilmes e Popular Argentina.O que exigia a presena
de coordenaes nacionais.

Se bem que a maioria dos conflitos se localizou na zona da Grande Buenos


Ayres,em Crdoba e Rosrio, houve tambm um movimento muito forte no interior do
pas.

Os setores quee stiveram a frente destas lutas foram os ferrovirios, os


metalrgicos e automotrizes.Os filiados de SMATA e da UOM os que estiveram a
frente de todas as ocupaes (tomadas) de fbricas.

Em 1981, em junho-julho ocorreram greves na Mercedes-Benz e na Perkins


Argentina;os metalrgicos entraram em estado de alerta;em agosto, os metalrgicos
ocuparam a fabrica Bellusi,antes haviam ocupado as Industrias Metalrgicas de
Rosrio.Luz y Fuerza mobilizou por salrios.

Todavia, o principal foram as duas greves nacionais de SMATA e a greve geral


da CGT em julho. A situao dos trabalhadores piorava,a ponto que, o Episcopado de
Quilmes organizou uma Marcha de Fome, exigindo po e trabalho e que os
manifestantes levassem roupas para os necessitados.

Em novembro ocorreu a marcha Paz, Pan y Trabajo em San


cayetano,convocada pela CGT e alguns Partidos polticos,chegando a mobilizar 50.000
pessoas.Assim,outros setores sociais entravam na oposio.Em outras cidades
ocorreram marchas similares.

O avano deste processo se fez claro em maro de 1982: mais de 2.000 pessoas
se mobilizaram em frente a casa de Governo para reclamar pelos desaparecidos
polticos. No 19 maro, a CGT realizou no dia 30 de maio uma manifestao na Plaza
de Mayi,com o lema: decir basta a este Proceso que h logrado hambrear al pueblo
sumiendo a miles de trabajadores em la indigncia y la desesperacion. Em varios
outros locais ocorreram manifestaes.

Dias depois se iniciaria a Guerra das Malvinas acelerando o fim do regime


militar.

15.1.3. Controle Operrio e Autogesto, de 2000 a dezembro de 2001

Os traos caractersticos do perodo: rpida intensificao dos protestos e


crescimento significativo na quantidade de empresas ocupadas pelos trabalhadores com
objetivo de recupera-las.Somando estes 2 anos, concentra-se o maior numero de
fbricas recuperadas do ciclo,superando os 40% de casos registrados. Empresas com
trabalhadores de diversas trajetrias,alguns poucos com contato sindicais e muitos sem
experincia sindical.

Talvez, um dos primeiros casos deste ciclo se converteu em uma referencia


obrigatria, porque conjuga os ingredientes que se repetiriam no futuro em muitas
fbricas. A metalrgica Cooperativa Unin y Fuerza (ex-Gip Metal) de Sarandi,onde
os patres conduziam um processo de falncia fraudulenta,mas ,os operrios com os
advogados puderam desmontar o processo.Aps a ocupao da fabrica durante vrios
meses e conseguirem a expropriao temporria do imvel, os 54 trabalhadores no
ficou ningum da administrao nem da hierarquia- colocaram a fabrica em
funcionamento.Hoje, uma referencia obrigatria de fabrica autogerida,com um nvel
quase total de capacidade produtiva em funcionamento,superando entre 3 e 4 vezes o
nvel de remunerao de todos os scios,e incorporando fabrica 20 novos
trabalhadores.

Outro caso paradigmtico a cermica ZANON,na provncia de


Neuqun.Ocupada pelos trabalhadores em Outubro de 2001, reivindicando a
ESTATIZAO da empresa sob Controle Operrio. Esta empresa se destaca pelo grau
de participao,deliberao e convices que manifestam seus trabalhadores com o
projeto coletivo;pelo grau de adeso e defesa ativa que a sociedade neuquina tem com
os trabalhadores,mobilizando-se ativamente frente as tentativas de desalojar e, pelos
laos realizados com outros movimentos (trabalhadores desocupados, Madres de la
Plaza de Mayo,mapuches,Sindicatos,etc).Esta a empresa mais desenvolvida em
tecnologia de todas as recuperadas neste ciclo,contando com robtica e tecnologia de
ultima gerao.

Iniciam-se a partilha de ideias com relao a formas de resistncia e estratgias


legais para sobrevivncia da fabrica...Neste perodo no h um movimento estruturado e
homogneo que integre e proteja as fbricas que se encontram com problemas.os
vnculos iniciais foram informais e se estabeleceram algumas com empresas prximas
territorialmente.

Dezembro (2001-2003)

A partir de dezembro 2001 configuram-se modificaes de importncia no


movimento de recuperao de empresas:

- adquirem maior visibilidade publica e apoio social as fbricas que esto em


processos de recuperao, relacionado tambm com a maior difuso que
encontram nos meios massivos de comunicao e nas redes alternativas de
divulgao;

- apario de novos atores sociais organizados,como as assemblias de bairro,


que participam ativamente nas ocupaes e acampamentos de algumas
fbricas e ,em alguns casos,chegam a propor as ocupaes.

Durante este perodo, a quantidade de empresas em processo de recuperao


alcana o ponto ( ano 2001) mais elevado e se mantm um alto grau de
intensidade nos conflitos, maior articulao das empresas que esto
recuperadas ou em processo de recuperao,que se articulam em diferentes
blocos como formas de representao: MNER (Movimento Nacional de
Empresas recuperadas); FENCOOTER; as empresas agrupadas em torno ao
CONTROL OBRERO ,etc. Neste perodo, registram-se pelo menos 10
encontros destas varias organizaes.

2003: neste ano, houve uma evoluo complexa dos conflitos: desocupao pela
represso violenta em varias fbricas (Brukman, Sassetru); por outro lado, o
crescimento de ocupaes de fbricas e a decretao de novas expropriaes.O ciclo de
conflitos segue em aberto... Finalezemos com um quadro sobre a distribuio geogrfica
de 87 das fbricas recuperadas:

Localizao das fbricas recuperadas da Argentina (2001-2003)

Provncia %

Buenos Aires 54,0


Cidade de Buenos Aires 19,5

Crdoba 4,6

Entre Rios 1,1

Mendoza 1,1

Neuqun 2,3

Santa F 16,1

Tierra del Fuego 1,1

Fonte:

Economia Solidaria no Brasil

15.1.3.1. Usina Harmonia Catende

Aps o fim do programa Pr lcool(Governo Collor Melo) e a diminuio


dos incentivos fiscais, os usineiros rolaram suas dividas e a situao se tornou
dramtica: das 41 usinas e destilarias, 18 fecharam suas portas, desempregando mais de
150.000 trabalhadores,expulsando os camponeses do campo e destruindo cerca de
35.000 sitios. As usinas fechadas ,em dados atuais, deixaram dividas pblicas superiores
aos RS 12 bilhes.

A Zona da Mata palco de lutas histricas dos trabalhadores,desde a poca dos


Quilombos. Nos anos 60, foi palco de lutas memorveis dos camponeses atravs dos
Sindicatos de Trabalhadores Rurais. No Governo de Miguel Arraes,antes do Golpe
Militar, o campo foi favorecido por polticas importantes no setor de salrios. Alm de
Arraes, figuras como Francisco Julio e Gregrio Bezerra fazem parte do imaginrio
social dos trabalhadores.

Nas atividades de formao, os relatos dos trabalhadores mais idosos sobre o


processo de trabalho introduzido pelo Tenente, o usineiro Antonio Ferreira da Costa
Azevedo,que adquiriu a Usina na dcada de 20 do Sculo passado, aponta para relaes
de carter feudal: no se troca uma s lmpada queimada, a Usina tudo sabe e tudo
v! Os camponeses no podiam plantar nenhum tipo de cultura para alimentao da
famlia,nem ter animais de criao;se o faziam, o feitor os confiscava;se plantavam
mandioca,milho,feijo,etc , o feitor tudo destrua. As compras deveriam ser feitas no
Barraco do usineiro,no qual os trabalhadores se endividavam sem possibilidade de
um dia pagar suas dividas, tornavam-se escravos. A nomenclatura da hierarquia tinha
origem na linguagem militar: coronel,capito,sargento, feitor,etc. Assim,os
trabalhadores viviam em profunda misria fsica e espiritual.Eis uma visualizao da
hierarquia desenhada durante uma das atividades de formao:

Usineiro

Gerente

Capito

Administrador

Fiscal

Cabos

Trabalhadores

Nos anos 60, poca do Governo Miguel Arraes,houve grandes transformaes


na Regio.Com o famoso Acordo do Campo os camponeses passaram a ter direitos
fundamentais.Houve mudana de vida para estes trabalhadores .Muito camponeses,os
mais idosos,trazem lembranas ricas desta poca.

O romance nunca houve guerrilha em Palmares ,do escritor Luiz Berto,nos


traz momentos importantes desta poca. O autor nos mostra o papel da Feira no
Domingo.Feira popular,tal qual a da cidade prxima, Caruaru, cantada em belos versos
pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga.Nos mostra o papel destas feiras como Mercado
Solidrio em contraste com o Barraco do usineiro,que transforma o campons em
escravo.

Vimos nas paginas de E.P.Thompson as lutas pelo controle dos preos no


Mercado ingls.Talvez,uma das primeiras formas de controle social popular,antes das
lutas nas fbricas em torno do salrio.

Assim nos romancea Luiz Berto:

A hora encantada do ajuntamento de gente que ia vender, comprar, trocar,


discutir, ouvir, passear, viver, se divertir. Espao de tempo sagrado, completo
de paz e de beleza, bem espichado no seu durar de um dia. Um remanso
semanal de tranqilidade naquela guerra sombria da luta pela vida na palha
da cana.Consecutivamente,desde a iniciatura do mundo,no tinha o homem
vivente criado coisa mais efetivamente boa do que a histria de fazer uma
feira toda semana.

A Usina Catende remonta ao final do Sculo XIX. Foi a maior usina de acar
na Amrica Latina, chegando a ocupar uma rea de 70.000 h. entre o estado de
Pernambuco e o de Alagoas.Era proprietria de uma rede ferroviria com mais de 150
kms de extenso.

Hoje,Catende, tem 25.000 h. ,distribudos nos municpios de


Palmares,Jaqueira,Xexu e gua Preta,envolvendo 2.500 trabalhadores e uma
populao de 17.000 pessoas residentes no campo e 2.500 na cidade de Catende.

Em seu perodo de ouro, (1940 e 1950), Catende foi a primeira usina nacional
em toneladas de sucro-alcooleira em Pernambuco e no Brasil; foi tambm a primeira
usina nacional em toneladas de aucar exportado.

15.1.4. Falncia e Autogesto

O projeto de autogesto da Usina surgiu de um pedido de falncia articulado por


2.300 trabalhadores rurais demitidos em 1993. A falncia, ocorrida pela primeira vez na
regio, foi decretada em 1995. No ano anterior, Arraes, vencia as eleies e seria mais
uma vez Governador do estado de Pernambuco. Abria-se uma conjuntura favorvel aos
trabalhadores neste estado, enquanto que no conjunto do pas, o novo Presidente eleito
em 1994, FHC, aprofundava a poltica neoliberal, jogando o movimento operrio-
sindical numa fase de refluxo.

Em 1993, 2.300 trabalhadores da rea rural foram demitidos de uma s vez.


Houve ameaa de retomada das casas e de destruio dos stios. Este fato propiciou a
luta pelos direitos trabalhistas e permanncia na terra.

Os sindicatos da regio se articularam. Um processo de mobilizao foi


deflagrado. Vrias tentativas de negociao foram feitas com a empresa para que ela
arcasse com a indenizao dos trabalhadores. Ocorreram, tambm, acampamentos e
greves para pressionar o cumprimento do pagamento dos direitos.

Em resposta s presses dos trabalhadores, os usineiros desencadearam uma


ofensiva visando desarticular e frear a luta dos trabalhadores. Anunciaram que a usina
iria falir, gerando medo e insegurana naqueles que ainda permaneciam empregados,
fragilizando a mobilizao do conjunto dos envolvidos na Usina Catende.

No final de 1994 a usina deixou de pagar o salrio e o 13. Isso mobilizou e deu
fora aos demitidos de 1993, com mais 1.500 que ainda detinham o emprego.

Os donos fizeram uma procurao para um administrador gerenciar a usina por


um perodo de trs meses, com plenos poderes. O Estado fez um aporte de recursos no
valor de R$450 mil. Ao final da safra 94/95, os recursos foram devolvidos na sua
totalidade, dando credibilidade a uma nova etapa na vida dos trabalhadores. Em 1995,
quando terminou a procurao, os trabalhadores tomaram a iniciativa de pedir a falncia
da empresa.

O Banco do Brasil, como maior credor, assinou a indicao da massa falida.


Nesse momento, os sindicatos dos trabalhadores rurais resolveram indicar novo
procurador para a usina.

Esta luta significava uma ofensiva dos trabalhadores e o incio de um projeto


estruturador, como alternativa ao regime secular de latifndio e de monocultura da cana.
Eles tomaram a iniciativa indita de requerer a falncia da empresa.Em suma, foram
buscar a apropriao legal dos meios de produo, a que tm direito por lei, para
implantar um projeto transformador.

O patrimnio da usina hoje est avaliado em 62 milhes de reais.

Foi criada, em 1998, a Companhia Agrcola Harmonia.

No incio se discutiu a possibilidade de criar uma cooperativa. Tambm foram


discutidas outras alternativas at descobrir a melhor forma para absorver o patrimnio.
Por enquanto, a Companhia Agrcola Harmonia tem 2.500 associados - trabalhadores
demitidos e da ativa, do campo e da indstria.

O projeto dos trabalhadores da Usina Catende envolve 48 engenhos/fazendas.


Censo feito pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais da regio, em 1998, levantou que
11.804 pessoas moram nessas propriedades. A populao economicamente ativa
(trabalhadores e trabalhadoras acima de 16 anos) de 6.225 pessoas. H nessas
propriedades 1.670 crianas e adolescentes entre 10 e 15 anos.

O patrimnio envolve um parque industrial, uma hidroeltrica que gera energia


prpria, uma olaria, uma marcenaria, 48 engenhos, um hospital, 7 audes e canais de
irrigao, 26 mil hectares de terras, frota de veculos e implementos, entre tratores,
caminhes e enchedeiras, rede ferroviria margem da empresa, uma bacia hidrogrfica
com vrios rios perenes.

O projeto pretende superar o ciclo historicamente encerrado da monocultura da


cana, da exclusividade industrial e da concentrao da propriedade.

O projeto um desafio para os trabalhadores envolvidos, pois esto introduzindo


condies e postos de trabalho, alternativas para a regio, bancadas pelos prprios
trabalhadores.

O momento falimentar traz grandes questes pauta:

1) recuperar a estrutura produtiva para manter e gerar novos empregos;


2) erradicar o analfabetismo;
3) erradicar a fome nos perodos de entresafra da cana de aucar;
4) implantar solues inovadoras de produo e de gesto.

A taxa de analfabetismo caiu de 82% da populao adulta em 1995 para 16,7%


em 2002.

H dois mil hectares de lavoura de subsistncia, plantados com milho, mandioca e


batata doce; 14 barreiros de peixes, resultado de uma parceria entre CENTRU, CEAS e
o sindicato, para reforo da agricultura familiar; 14 audes nos terrenos da usina,
tambm parceria com aquelas entidades, alm do Colgio Agrcola de Palmares; 500
hectares de mandioca plantada. Nas dependncias da usina Catende foi implantada uma
fbrica de rao, com patente cubana, pioneira no estado e no pas.
Foram implantados, ainda, quatro ncleos de vacas leiteiras que esto
espalhados pelos diversos municpios e em vrios engenhos de Catende. A sua
utilizao ainda para o consumo dos trabalhadores. Essa uma forma de incentivar o
trabalhador a buscar outras alternativas, alm do trabalho na cana-de-acar.

Uma das casas-grandes est destinada formao dos trabalhadores. Na poca


da administrao dos usineiros, os trabalhadores s chegavam at o porto, hoje esto
dentro, discutindo seu prprio futuro. O processo de formao apoiado por uma
entidade ligada Igreja Catlica da Holanda. A capacitao se d tanto nos engenhos
como em seminrios, com os trabalhadores do campo e da indstria, juntos. Para os
trabalhadores e seus rgos de classe, a experincia tem sido rica. No se conhecia uma
iniciativa de autogesto de uma empresa.

A maior de todas as dificuldades a consolidao de uma empresa


economicamente auto-sustentvel e lucrativa, que responda aos desafios de manter
1.500 empregos e de gerar ocupao e renda para um nmero trs vezes superior de
trabalhadores, em uma regio economicamente falida (a zona da mata) e partindo de um
processo judicial de falncia em relao ao qual no h fontes de financiamento
disponveis, fato que exige todo um esforo de gerao de recursos prprios em uma
empresa em fase de recuperao, mas ainda estruturalmente deficitria.

Em suma, o grave problema scio-econmico provocado pela quebra da


empresa, por parte dos usineiros, vem sendo enfrentado por um projeto consistente e
estruturador que j gerou positivos efeitos imediatos e prev o desenvolvimento de uma
proposta de autogesto.

Nunca demais dizer que Catende sofreu grandes desgastes com uma enchente e um
incndio ambos em 2002.Alm, de uma greve provocada por usineiros e sindicatos
pelegos da regio no final de 2003.

Durante os 10 anos aps a falncia, os trabalhadores mantiveram a empresa em


funcionamento,preservando 1,400 empregos diretos e gerando nas safras ,em
media,mais de 1.300 empregos temporrios. Assim, milhares de ex-assalariados rurais,
demitidos e credores da falncia, foram conertidos em agricultores familiares.Estes
agricultores diversifiam a cultura: criam gado bovino, caprino,ovino e peixe; plantam
lavoura de subsistncia,caf e cana, em cerca de 2.200 h.
15.1.5. Trabalho associado/cooperativo

O processo de trabalho segue dois regimes:

1. Explorao coletiva; a relao entre trabalhadores rurais e a gerencia da Usina , na


forma de administrao judicial,semelhante tradio prevalecente na zona
canavieira,todavia, sem reproduzir o modelo de apropriao dos resultados do trabalho
coletivo por um reduzido grupo de proprietrios. A cana colhida sob esse regime
chamada de cana prpria,pois pertence a Usina,e os gastos integram os custos de
produo.

2. Agricultura familiar; a unidade familiar desenvolve as tarefas, a partir da ocupao


dos engenhos,com autonomia,assumindo os custos da produo,e o produto principal
vendido Usina. O uso das reas negociado e autorizado pelo coletivo e pela
justia.As atividades de plantio,corte e transporte so planejadas;no cobrado qualquer
arrendamento pelo uso da terra,considerando que todos so credores e moradores.

A cana colhida se chama cana de morador; neste setor, os trabalhadores


exercitam a participao coletiva na tomada de decises que envolvem a
comunidade.No momento, mais de 2.200 trabalhadores credores integram o
programa,atravs de crditos com o Pronaf, tendo nos ltimos 3 anos inadimplncia
zero. Plantam cerca de 3 mil h.,tendo colhiro na safra de 2003, 130 mil toneladas.

Vrios cenrios so projetados para a fase ps o fim do processo falimentar da


antiga Usina. Alguns elementos so importantes no plano da autogesto:

- preservao da undidade do patrimnio fundirio;

- propriedade coletiva da terra;

- uso coletivo combinado com o uso individual da terra;

- produo em regime coletivo (trabalho cooperativado e/ou assalariado), conciliado


com a produo em regime de agricultura familiar;

- diversificao da produo agrcola e industrial,com explorao coletiva e familiar da


cana-de-aucar,de outras, de outras lavouras e da pecuria;
- sustentabilidade social , econmica e ambiental;

- gesto participativa,solidria e autnoma dos trabalhadores.

As organizaes que participam do processo autogestionrio so:

- uma Sociedade annima denominada Cia. Agrcola Harmonia ,fundada em 1998 por
mais de 2.000 trabalhadores credores no campo e na industria;

-uma Cooperativa de produo denominada Cooperativa Harmonia de Agricultores e


Agricultoras Familiares, fundada em dezembro 2004 por mais de 2.200 trabalhador@s
rurais credores que desenvolvem a agricultura familiar e que residem nas terras da
Massa Falida da usina catende;

- 48 Associaes de Moradores dos Engenhos da Massa falida ,criadas


progressivamente a partir da decretao da falncia em 1995,nas quais se organizam as
comunidades de camponeses que moram nas propriedades rurais.

No quadro administrativo de gesto agrcola,cada engenho tem um


administrador.O processo de coordenao administrativa da produo agrcola est
vinculado a um territrio subdividido em grupos de engenhos,que formam as 6 Zonas
de Produo Agrcolas (ZPAS) e exercido por supervisore,pelo gerente agrcola e pelo
sindico.

A agricultura familiar sobretudo o programa Cana do Morador, tem uma


unidade especifica de gesto e acompanhamento,com uma Coordenao que tem
estrutura prpria,mas interagindo com todos os setores administrativos do campo. Esta
estrutura administrativa tem um Radio comunicador interno,transmitindo informaes
e avisos de interesse geral todos os dias.

Na Fabrica, processo semelhante ocorre com os operrios.H um gerente geral


que assessorado por chefias de unidades,sempre com a superviso do sindicoOs
operrios se organizam em uma Comisso de Representantes que participa e acompanha
todo o debate e deliberaes do coletivo de gesto. Esta estrutura funcional
acompanhada horizontalmente pelos Sindicatos,Associaes,Assessorias e, sobretudo,
pelos prprios trabalhadores credores.
15.1.6. Fundamentos da Autogesto

Em relao ao cenrio ps falimentar, este projeto de gesto, resultado das lutas


dos trabalhadores da Catende , ser consolidado em alguns Fundamentos Centrais da
Autogesto, que sero aprofundados ao longo da dinmica da nova etapa institucional e
de acordo com as particularidades da experincia:

a criao de organizaes pela ampla maioria dos trabalhador@s j firmam o


roteiro gerencial e institucional,isto , o patrimnio ser coletivo e incorporado
Cia. Agrcola Harmonia ou Cooperativa Harmonia de Agricultor@s
Familiares;
a gesto no empreendimento dever aprofundar o carter solidrio,
autogestionrio e transparente, priorizando as aes educacionais e formtivas;
o processo decisrio continuar democrtico, horizontal e amplo, mas com lastro
em gerenciamento profissional e executivo, preservando a eficincia, a
qualidade tcnica e administrativa e a autonomia dos gestores para poder
implementar as decises e metas colegiadas;
o exerccio do controle e das prestaes peridicas de contas sero rotinas
permanentes e prioritrias, cabendo aos Sindicatos e s Associaes funes
essenciais no desenvolvimento do papel fiscalizador em nome dos
representados;
a investidura nas funes principais de comando dever sempre decorrer de
eleio em assemblias gerais dos trabalhadores acionistas e/ou cooperados,
observando-se o principio de a cada trabalhador um voto,evitando a
institucionalizao das desigualdades,embora sempre estimulando e respeitando
a diversidade.

Enfim, a autogesto dever ser aprimorada para responder aos desafios


seguintes:

conciliar a agricultura familiar individual e coletiva;


fazer interagir o uso coletivo com o uso individual da terra;
desenvolver a cana-de-aucar,mas tambm priorizando a diversificao agrcola
e industrial;
garantir a distribuio coletiva e proporcional dos resultados do trabalho;
atender a estas metas sem comprometer a sustentabilidade social e ambiental.

15.1.7. Autogesto um ato pedaggico (P.Singer)

Em 2004, a CONAB comprou antecipadamente a safra de cana-de-aucar. Este


processo levou a uma grande mobilizao dos trabalhadores dos 48 Engenhos,pois, a
compra foi feita a cada um dos trabalhadores.isto implicou uma grande discusso com
cada um dos cerca de 3.000 trabalhadores, desenvolvido pelos jovens educadores que
so responsveis pela educao das Comisses de Moradores dos 48 Engenhos.

Este debate nas bases foi fundamental para o processo de fundao da


Cooperativa Harmonia, em final de 2004,pois,os trabalhadores mostraram um grau
muito avanado de conscincia poltica ao tomarem esta deciso,ao invs de cada um
receber individualmente os recursos provenientes da desapropriao de alguns
Engenhos: destinaram parte destes recursos para um fundo cooperativo;outra parte para
comprar alguns caminhes para renovao da frota; parte para os 5 Sindicatos;outra
parte para pagar 15 advogados; uma parte tambm para as 48 associaes de Moradores
dos Engenhos;enfim, uma parte para cada trabalhador.Desta forma, o ato educativo
um elemento fundamental na construo do projeto Catende.

Por fim, os dados levantados no Censo da Populao que integra o projeto


Catende Harmonia,realizado pela equipe dos Sindicatos,em 1998 e atualizado em
2002,apresentam o seguinte perfil populacional:

residem nos Engenhos cerca de 17.500 pessoas que integram as 3.500 familias
de trabalhadores rurais do Projeto;
residem na cidade de Catende cerca de 2.240 pessoas que integram as 560
familias dos operrios e funcionrios da fabrica;
as famlias residentes nos engenhos, de um modo geral numerosas, so
integradas em mdia por 5 ou mais membros.

A populao est distribuda,por faixa etria,nos seguintes percentuais:

% Faixa Etria
37,1% 0 a 12 anos

13,22% 13 a 17 anos

14,61% 18 a 24 anos

31,67% 25 a 60 anos

5,75% Acima de 60 anos

O maior contingente populacional,por faixa etria, de crianas de zero a 12


anos de idade, seguido pela populao economicamente ativa que formada por adultos
de 25 a 60 anos de idade. Apesar dos esforos bem sucedidos de alfabetizao de
adultos, o ndice de analfabetismo ainda de 16,66%. A totalidade das crianas em
idade escolar est freqentando a escola. Com relao ao gnero, a populao
constituda por 50,6% de pessoas do sexo feminino e 49,4% do sexo masculino. O
trabalho educativo na Catende abrange,portanto, 3 geraes de trabalhadores:

um pequeno grupo com idade prxima de 60 anos;


um grupo intermedirio com idade entre 18 e 24 anos;
um grupo maior com idade entre 25 e 30 anos.
O primeiro grupo fundamental na reconstruo das lutas e do processo de
organizao do trabalho nos tempos antigos da Usina,so os portadores da memria
coletiva; o segundo, so filhos dos camponeses,geralmente,tm o papel de educadores e
freqentam curso na Faculdade de Palmares; o terceiro, so os trabalhadores que
vivenciam o processo desde seu inicio,em 1993,desempenham papeis fundamentais na
gesto atual10.

10
A fonte principal desta parte: Plano de Gesto de Sustentabilidade Autogestionria para a usina
Catende-Projeto Harmonia. ANTEAG. 2006. Outros elementos vm dos relatrios do programa de
formao que realizamos pela SENAES, em duas etapas com durao de uma semana cada,com 40
camponeses, operarios e jovens, em 2004,uma primeira etapa no Hotel Poetas de Palmares , a segunda na
antiga Casa Grande da prpria Usina.
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