Psicologia e COVID19

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REPERCUSSÕES E CONSEQUÊNCIAS

PSICOLÓGICAS NO CONTEXTO DA COVID-19

Laís Santos-Vitti (Pontifícia Universidade Católica de Campinas, PUC-Campinas),


Milena de Andrade Bahiano (UFS),
Tatiana de Cássia Nakano (PUC-Campinas)
André Faro (UFS)

A Coronavirus Disease 2019 (Covid-19) causou grande impacto


no mundo devido ao rápido contágio e inúmeras consequências, de
modo que desencadeou uma verdadeira crise em saúde. Diante dessa
crise global, pesquisadores e profissionais das mais diversas áreas
passaram a realizar inúmeros estudos com o objetivo de identificar
formas eficazes de prevenção, tratamento da doença e imunização ao
vírus, bem como promoção de bem-estar para a população ao longo da
pandemia e para o futuro pós-crise.
Nesse contexto e de forma repentina ou quase que imediata, as
pessoas tiveram que mudar hábitos, desistir de planos e metas, tendo que
delinear novas rotas de vida. Em meio ao caos, houve diversos relatos e
exemplos de comportamentos altruístas e empáticos. Em contrapartida,
foi possível observar também ações não adaptativas, tais como o não
cumprimento das medidas de distanciamento social e de quarentena.
Com isso, ficou evidente que, para além das consequências físicas, a
Covid-19 contribuiu substancialmente para a construção de “um novo
normal” em termos sociais e psicológicos.
Observou-se, quase que diariamente, a ocorrência de desgaste
físico e emocional em profissionais de saúde que lidaram diretamente com
a Covid-19, além do medo de contágio pelo cuidado prestado às pessoas
que testaram positivo para o novo coronavírus. Verificou-se também a
presença de sofrimento psicológico em familiares de pessoas que vieram
a óbito e consequências negativas para os grupos mais vulneráveis, como
os idosos, visto o estigma e vulnerabilidade associado a eles. Constatou-
se que tanto as pessoas que apresentavam algum transtorno mental ou
maior predisposição para desenvolver essas desordens, quanto na parcela
da população considerada “saudável” a presença de sofrimento psíquico.

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Assim sendo, a Covid-19 deixou claro que, independentemente do país,


região, etnia, cor ou credo, doenças como a do novo coronavírus podem
rapidamente destruir o que parecia indissolúvel e obrigar as pessoas a
refazer as suas vidas a partir de uma nova realidade.
Diversos fatores atuaram como agravantes, a saber: (1) a falta
de informações consistentes, principalmente no cenário brasileiro, (2) a
falta de recursos financeiros, (3) a ausência de uma vacina eficaz para
a proteção contra o vírus, (4) medidas de distanciamento social e a
quarentena, (5) mudança repentina na rotina de trabalho e estudos, (6) o
fechamento de estabelecimentos comerciais, e (8) a ausência de espaços
de lazer. Tendo em vista a verdadeira crise psicológica e social instalada,
a Covid-19 escancarou também outra realidade difícil: a inconsistência
em relação às ações de prevenção e promoção de cuidado difundidas pelo
mundo, mesmo diante da gravidade da doença.
Proteger-se de acordo com as orientações estabelecidas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos governamentais foi
suficiente para que as pessoas não testassem positivo para a Covid-19?
E os profissionais da saúde, como eles puderam enfrentar o medo da
doença, medo de que familiares e pessoas próximas apresentassem a
Covid-19, assim como o estresse frente aos números elevados de novos
casos e óbitos diários? Como as crianças, os adolescentes, os adultos e
os idosos puderam reorganizar as suas vidas frente ao caos instaurado
pela Covid-19? Caso haja novos surtos da Covid-19 será que o mundo
estará preparado para enfrentá-los? E se surgirem outros vírus ainda
mais potentes do que a Síndrome Aguda Respiratória Severa do
Coronavírus 2 (Sars-Cov-2), será que o mundo terá condições de lidar
com tamanha adversidade?

ENFIM, O QUE HÁ EM COMUM ENTRE TODOS ESSES


QUESTIONAMENTOS?
Podemos concluir que cenários como o desencadeado pela
Covid-19 envolvem reações psicológicas, como medo, angústia, tristeza e
tensão, que, quando exacerbadas, favorecem o surgimento e agravamento
de problemas de saúde mental, abuso de substâncias, suicídio, vícios,
transtorno de ansiedade, de estresse pós-traumático e depressão (Jiloha,
2020). Por razões como essas, tais quadros clínicos dificultam o processo
de ajustamento e enfrentamento dos indivíduos frente a adversidades

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impactantes, assim como a Covid-19. Desse modo, ressalta-se que não


basta apenas atentar-se aos dados e previsões estatísticas, pois é preciso
que profissionais e pesquisadores consigam direcionar as suas ações para
a prevenção e promoção de cuidados adequados – sobretudo no campo
da saúde mental – para toda a população.
Diante da amplitude e emergência do tema e a fim de contribuir
para o esclarecimento da comunidade acadêmica e profissional a respeito
das dimensões do impacto da pandemia do novo coronavírus na saúde
mental das pessoas, o presente capítulo objetivou abordar consequências
psicológicas e psiquiátricas, correntes ou em potencial, que envolvem
crises e emergências em saúde, em especial a Covid-19. Inicialmente,
optou-se por apresentar um breve histórico de evidências da relação entre
a pandemia e a saúde mental, trazendo-se conceitos básicos para a área
da saúde. Em seguida, foram elencados elementos estressores e de risco
para o adoecimento mental. Por fim, foram sumarizadas informações
a respeito de possíveis práticas de cuidado que podem ser ofertadas
pela Psicologia, levando-se em consideração os diferentes períodos do
desenvolvimento humano.

COVID-19, CRISE E SAÚDE MENTAL: QUAIS AS RELAÇÕES?


Pouco mais de um século (1818-1819) após a ocorrência da
gripe espanhola, considerada a maior e mais avassaladora pandemia da
história, uma nova doença pandêmica, com alto potencial de contágio
e transmissibilidade viral, propagou-se pelo mundo. A Covid-19
acumulou, desde a sua identificação, em dezembro de 2019 na província
chinesa de Wuhan, mais de um milhão de óbitos e cinquenta milhões
de casos de infecção por todo mundo até meados de novembro de
2020 (Coronavirus Resource Center, 2020). Certamente, diante de uma
emergência em saúde pública dessa magnitude, torna-se visível o efeito
cascata de diversos eventos preocupantes, tais como desintegração da
estrutura familiar e desequilíbrios econômicos e sociais, os quais tendem,
quase que invariavelmente e em larga escala, a culminar em agravos à
saúde física e mental das pessoas.
Com o avançar da Covid-19, as medidas de restrição social e o
confinamento domiciliar impuseram subitamente à população um novo
modo de se relacionar e de viver. Houve a interrupção da maioria dos
setores de trabalho, suspensão do ensino em universidades, escolas e
creches e das atividades de esporte e lazer. Famílias passaram a conviver

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por muito mais tempo juntas e tiveram que reorganizar o modo de


funcionamento dos seus lares, adequando-se, por exemplo, ao trabalho
e ensino realizado de forma remota durante o período pandêmico
(Linhares & Enumo, 2020).
Comumente, os cuidados e sequelas ocasionados à saúde física
das pessoas afetadas por pandemias, epidemias e situações de desastres
tendem a ser bastante difundidos pelos meios de comunicação. Porém, a
depender da extensão da crise em saúde e dos eventos a ela associados,
é presumido que a população acometida por essas circunstâncias de
emergências em saúde e desastres também apresentem algum tipo
de sofrimento psicológico (Franco, 2012; Ho, Chee, & Hoo, 2020;
Organización Panamericana de la Salud [OPAS], 2006).
A rigor, compreende-se por desastre toda perturbação grave
causada por eventos naturais ou tecnológicos que ocasionam alterações
na dinâmica da sociedade ou comunidade provocando mortalidade e
significativos prejuízos sociais, materiais, econômicos e/ou ambientais
(World Health Organization [WHO], 2007). Na história, é possível
observar diversos desastres que ocorreram no mundo, tais como a
destruição causada pelos tsunamis no Japão (2011) e Tailândia (2004),
a devastação do furacão Katrina (2005) nos EUA, e no Brasil, os
rompimentos das barragens de rejeitos de minérios nas cidades de
Brumadinho (2019) e Mariana (2015), ambos os desastres ocorridos no
Estado de Minas Gerais. A exemplo dessa extensão do impacto, na Ásia,
um estudo realizado com 342 turistas afetados diretamente pelo tsunami,
mostrou que 16,8% dos entrevistados preencheram critérios diagnósticos
para o transtorno de estresse pós-traumático, 15,6% para transtornos
de natureza ansiosa e 8,0% apresentaram sintomatologia depressiva,
evidenciando o surgimento de adoecimento mental após a experiência
do evento traumático (Kraemer, Wittmann, Jenewein, & Schnyder, 2009).
A epidemia é definida pela ocorrência de uma doença que
atinge um número considerável de pessoas, que se espalha rapidamente
em determinadas regiões ou territórios. Já o surto é caracterizado pela
crescente concentração, de casos simultâneos, de uma enfermidade,
geralmente atingindo uma população delimitada (bairros, colégios,
entre outros) (Ministério da Saúde do Brasil, 2018). Destacam-se nesse
contexto, as epidemias ocasionadas pela Síndrome Aguda Respiratória
Severa (SARS) na China (2003), Midlle East Respiratory Syndrome
(MERS) no Oriente Médio (2012) e a doença causada pelo vírus Ebola
na República do Congo (2014), as quais provocaram extensos danos

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psicológicos e em saúde às suas respectivas nações (Maunder, 2009;


Mohammed et al., 2020).
Cabe ressaltar que o Ebola provocou, nas populações atingidas
pela epidemia, maior ocorrência de transtornos mentais comuns de
natureza depressiva e ansiosa, bem como o aumento nos índices de
diagnóstico para o transtorno de estresse pós-traumático (Shultz,
Baingana, & Neria, 2015). Um Centro de Tratamento de Ebola, em
Serra Leoa, identificou que, devido à doença, todos os 74 participantes
do estudo tiveram perdas familiares e 71% da amostra apresentaram,
após a alta hospitalar, sintomas expressivos de estresse pós-traumático
(Hugo et al., 2015). Todavia, vale salientar que um dos fatores que podem
ter potencializado o sofrimento psicológico e a evolução dos sintomas
psicopatológicos pode ter sido a escassez de serviços de saúde mental e
profissionais capacitados para o manejo da crise em saúde.
Por sua vez, a pandemia vai diferir da epidemia justamente pelo
alcance e extensão da propagação da doença. Na pandemia, o agente
infeccioso expande-se sem controle, podendo atingir várias localidades
e países ao mesmo tempo (Ministério da Saúde do Brasil, 2018). Tal fato
pode ser explicado devido à ampla mobilidade que atualmente as pessoas
têm para se locomover por todo o planeta, o que propicia a transmissão
e disseminação da doença em larga escala por diversos lugares. A H1N1
(Influenza A), em 2009, e a atual crise pandêmica da COVID -19 tornaram
evidente a evolução epidemiológica de uma doença, a qual pode se elevar
rapidamente de uma categoria epidêmica para pandêmica e atingir um
grande contingente de pessoas no mundo.
Em relação à pandemia gerada pelo novo coronavírus, o Brasil
alcançou mais de cinco milhões de casos de pessoas contaminadas e
160 mil mortes no país, até o início de novembro de 2020 (Coronavirus
Resource Center, 2020). Contudo, não é somente o quantitativo de mortos
que causa impacto à vida das pessoas. Isso pode ser exemplificado
a partir de uma pesquisa realizada com 45161 brasileiros, durante a
crise suscitada pela Covid-19. Os resultados apontaram que 52,6% dos
respondentes relataram sintomas frequentes de tristeza/depressão, 40,4%
de ansiedade/nervosismo e 48,0% tiveram seus problemas de sono
agravados no período do distanciamento social (Barros et al., 2020).
O impacto psicológico infligido à população diante de
situações de desastres, crises epidêmicas e pandêmicas, como a do novo
coronavírus, podem precipitar sintomas psicológicos e psiquiátricos até
mesmo em pessoas que não possuam desordens mentais identificadas

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(Cullen, Gulati, & Kelly, 2020; Ransing et al., 2020). Nesses cenários,
reações psicológicas, como medo, pânico, angústia, tristeza e ansiedade
podem ser maximizadas e, com isso, dificultar o processo de ajustamento
e enfrentamento dos indivíduos frente a adversidade (OPAS, 2006). Além
disso, observa-se que as pessoas com diagnóstico de transtorno mental
e condição prévia de doença mental podem vir a apresentar quadros
clínicos agravados, de modo a aumentar o sofrimento psicológico para si,
para os cuidadores e para os familiares (Cullen et al., 2020; Duan & Zhu,
2020; Shigemura, Ursano, Morganstein, Kurosawa, & Benedek, 2020).
Para que as reações psicológicas frente a estas emergências em
saúde sejam mais bem ajustadas, a Psicologia da Saúde possui um papel
relevante, uma vez que pode auxiliar os profissionais de saúde e a população
em geral a lidar de modo satisfatório com as situações adversas. O intuito
é mobilizar a parte saudável preservada no funcionamento adaptativo
da pessoa, assim como seus recursos sociais para que, de maneira
favorável, ela possa enfrentar os efeitos do estresse ocasionados diante
da adversidade (Franco, 2012; Paranhos & Werlang, 2015). Ademais,
a intervenção prestada durante o momento da crise pode influenciar
positivamente o funcionamento psicológico dos indivíduos amenizando
o impacto do evento traumático.

REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS ASSOCIADAS À COVID-19


Independente da faixa etária, o conhecimento dos fatores
psicológicos (exemplo: enfrentamento), fisiológicos (sono e nutrição)
e estruturais (trabalho e rotina diária), mostra-se um importante fator
protetivo frente as adversidades que podem afetar a saúde mental da
população (Holmes et al., 2020). Para além das consequências físicas
associadas a qualquer tipo de doença infecciosa, como é o caso da
Covid-19, podem ser elencadas diversas reações psicológicas, as quais
exercem influência na maneira como as pessoas lidam com suas emoções,
bem como na adesão a comportamentos saudáveis (Brooks et al., 2020).
A quebra da rotina e problemas mais amplos, como a falta
de trabalho e dificuldades econômicas e sociais, atuam como fatores
de impacto negativo para a saúde mental das pessoas durante crises
em saúde (Ozili & Arun, 2020; Torales, O’Higgins, Castaldelli-Maia,
& Ventriglio, 2020). O impacto dos aspectos psicológicos quanto ao
cumprimento de medidas de distanciamento social e higiene também
são importantes para a redução do contágio em larga escala (Bavel et al.,

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2020; Cullen et al., 2020). A sensação de constante incerteza associada


ao risco iminente de contaminação, dúvidas sobre o número de casos
positivos e de óbitos ocasionados pela Covid-19 são outros elementos
que podem contribuir para o surgimento de sintomas de ansiedade e
medo (Quezada-Scholz, 2020; Wang et al., 2020; Xiang et al., 2020).
Dessa maneira, o estresse e sofrimento psicológico vivenciados são
importantes vetores de risco para o surgimento e agravamento de
problemas de saúde mental, abuso de substâncias, casos de suicídio,
vício em jogos e até mesmo aumento de situações de violência doméstica
(Holmes et al.,2020; Lung, Lu, Chang, & Shu, 2009).
Outro ponto que pode eliciar alterações psicológicas importantes
diz respeito à duração do período de quarentena e às medidas de
distanciamento social (Jiloha, 2020). Entende-se distanciamento social,
ou distanciamento físico, como uma medida necessária para a redução
de contato entre pessoas e a consequente diminuição da propagação
e transmissibilidade de vírus, como é o caso da Covid-19. A rigor, a
distância mínima exigida para a prevenção e redução da exposição ao
risco de contágio é de aproximadamente dois metros (Centers for Disease
Control and Prevention [CDC], 2020). Assim, autoridades em saúde
recomendaram que, independentemente de apresentar sintomas ou não,
as pessoas deveriam se manter distantes umas das outras, evitar locais
públicos e aglomerações.
Já a quarentena é uma medida em saúde que objetiva separar e
restringir a circulação de pessoas que foram expostas a alguma doença
contagiosa, a fim de verificar o desenvolvimento ou não da doença (CDC,
2020). Embora a quarentena seja importante para reduzir o contágio de
doenças infecciosas como a Covid-19, ela também pode acarretar diversas
consequências negativas para a saúde mental das pessoas (Brooks et
al., 2020). De fato, acredita-se que períodos mais longos de quarentena
tendem a estar associados positivamente a sintomas depressivos, piores
níveis de saúde mental, maior presença de comportamentos de evitação
e raiva e sintomas de estresse pós-traumático (Kaseda & Levine, 2020;
Pancani, Marinucci, Aureli, & Riva 2020). Uma possível explicação para a
influência da duração da quarentena na saúde mental se deve ao impacto
do tédio e da frustração decorrentes do isolamento social, mudanças na
rotina e necessidade de manter-se recluso em casa (Duan & Zhu, 2020).
As pessoas tendem a ficar angustiadas e podem apresentar mais sintomas
de ansiedade, visto que as suas rotinas mudaram completamente de

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maneira abrupta, de modo que tarefas cotidianas não podem mais ser
realizadas como antes (Rossi et al., 2020; Usher, Durkin, & Bhullar, 2020).
O sofrimento mental e emocional a curto, médio e longo prazos
são bastante comuns durante uma pandemia (Cullen et al., 2020). O
medo e ansiedade são dois sintomas psicológicos comuns, que podem se
associar a formas de autorregulação mais ou menos adaptativas (Mertens,
Gerritsen, Duijndam, Salemink, & Engelhard, 2020). É possível observar
que, nessas circunstâncias, muitas pessoas apresentam comportamentos
focados na autoproteção e pouco, ou nada, pautados no altruísmo. A
exemplo disto, elenca-se a exposição desnecessária a ambientes com
aglomeração de pessoas, não uso de máscaras, negação e crenças irreais
sobre possível imunidade ao vírus (Raude et al., 2020).
O medo de testar positivo ou até mesmo transmitir o vírus para
outras pessoas também é outro aspecto que pode levar ao sofrimento
mental na população que passa por uma crise pandêmica ou epidêmica
(Mertens et al., 2020). Especialmente quando se trata de transmitir
a doença para familiares, essa preocupação tende a ser ainda maior
do que o risco de transmitir a patologia para outras pessoas que não
pertencem ao ciclo pessoal (Ornell, Schuch, Sordi, & Kessler, 2020).
A partir de um estudo realizado na China, durante o período inicial
da Covid-19, foi possível constatar que os participantes apresentaram
sintomas (moderados a graves) de ansiedade, depressão, distresse e
medo acentuado de contaminação de familiares. Em contrapartida, os
resultados também apontaram uma menor prevalência dos mesmos
sintomas quando a população obteve informações mais precisas em
relação à Covid-19 (Brooks et al., 2020).
Outro problema psicológico relacionado a contextos como
o da Covid-19 é o surgimento de sintomas obsessivos-compulsivos
relacionados à limpeza e mesmo à verificação constante da temperatura
(Banerjee, 2020). Por exemplo, durante o pico de contaminação da
H1N1, muitas pessoas apresentaram sintomas acentuados de ansiedade
que as levaram a buscar serviços hospitalares com queixas somáticas
que se confundiam com sintomas da doença (Brooks et al., 2020). De
modo similar, dados relacionados a SARS atestaram o crescimento do
número de suicídios em pessoas com idade igual ou superior a 65 anos
(Yip, Cheung, Chau, & Law, 2010) e a presença de sintomas depressivos,
ansiosos, estresse e maior probabilidade para cometer suicídio e
automutilação (Gunnel et al., 2020).

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PSICOLOGIA E COVID-19

Em meio ao cenário de crise em saúde mental, como o visto


na pandemia do novo coronavírus, os meios de comunicação têm
sido importantes, pois a partir deles são difundidas informações
relacionadas aos cuidados e sequelas em saúde (Gomes & Cavalcante,
2012; Ho et al., 2020). Contudo, pressupõe-se que informações
inadequadas ou insuficientes, repassadas pela mídia e/ou autoridades
da saúde podem ser importantes estressores. Isto porque, em virtude
da ausência de informações adequadas, as pessoas tendem a sentir mais
medo e insegurança a respeito das ações e da finalidade das medidas
de contenção e prevenção da doença (Serafini, Parmigiani, Amerio,
Aguglia, Sher, & Amore, 2020).
As perdas financeiras, vivenciadas durante pandemias, como a da
Covid-19, configura-se como um outro elemento que pode desencadear
sofrimento psicológico entre as pessoas (Brooks et al., 2020). Por conta
da mudança de hábitos e atividades cotidianas, muitas empresas e
pequenos negócios não conseguem arcar com as despesas e se manter em
funcionamento, vindo à falência. Para além do quantitativo expressivo
de óbitos e pessoas que testaram positivo para o vírus, famílias precisam
ser reestruturadas não só quanto às consequências físicas, mas também
frente às consequências sociais e à falta de rendimentos adequados que
assegurem seus direitos básicos (Nicola et al., 2020). Com isso, a perda
financeira pode acarretar problemas econômicos, bem como problemas
relacionados a maior predisposição ao desenvolvimento de sintomas
de raiva, medo, insegurança, ansiedade e níveis elevados de estresse
(Pfefferbaum & North, 2020).
As crises em saúde, em especial a causada pelo novo coronavírus,
tendem a acarretar grandes consequências para a população,
principalmente no que tange ao sofrimento psicológico. Frente ao
impacto psicológico associado à Covid-19 ficou evidente a necessidade de
estratégias emergenciais de cuidado em saúde mental a fim de minimizar
possíveis danos à população (Faro et al., 2020). Nesse sentido, o incentivo
às pesquisas de rastreamento voltadas para a avaliação dos sintomas
psicológicos, como os sintomas de ansiedade e depressão, pode ajudar
a compreender o panorama brasileiro e internacional e fomentar ações
efetivas de intervenção.
Levantamentos anteriores de pandemias e epidemias também
devem ser considerados, pois podem ajudar profissionais e pesquisadores
da área a direcionar os seus esforços com base nas evidências decorrentes
desses eventos, acerca do percurso e principais consequências associadas

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a outras crises pandêmicas e epidêmicas (Holmes et al., 2020). Com base


em pesquisas anteriores foi possível observar que os efeitos psicológicos
negativos presentes no período de quarentena, inerentes a contextos de
emergência em saúde, podem perdurar por meses ou anos após o fim de
uma crise pandêmica ou epidêmica (Brooks et al., 2020).
Recomenda-se também atenção especial para com as pessoas
com comorbidades, dada a sua vulnerabilidade aos efeitos físicos e
psicológicos negativos decorrentes da pandemia. As pessoas que não
apresentam diagnóstico de alguma desordem mental também poderão
ser afetadas psicologicamente, seja em menor ou maior grau, por sintomas
de ansiedade, depressão e até mesmo pelo transtorno de estresse pós-
traumático. Idosos, crianças, adolescentes e profissionais da saúde são
grupos que também merecem a atenção de pesquisadores e das equipes
de saúde. Em especial, os profissionais da saúde, visto que estão na linha
de frente do cuidado estando, portanto, mais vulneráveis ao distresse,
ansiedade, medo, depressão e mais propensos a desenvolverem sintomas
de transtornos psicológicos a longo prazo (Cullen et al., 2020).

Ideias-chave

• Crises em saúde como a Covid-19 podem provocar inúmeras consequências


psicológicas para a população.

• A duração da quarentena e as medidas de distanciamento social podem estar


associadas a maior sofrimento psicológico.

• Medo, angústia e ansiedade são alguns dos sintomas psicológicos mais


comuns em pandemias como a da Covid-19.

• É necessário que autoridades de saúde e veículos de comunicação repassem


para a população informações claras e precisas.

• É essencial desenvolver estudos e ações efetivas voltadas para a promoção


de saúde mental da população que passou por situações de crise em saúde.

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PSICOLOGIA E COVID-19

PROPOSTAS DE CUIDADO DA PSICOLOGIA FRENTE A


SEQUELAS PSICOLÓGICAS
De modo geral, os indivíduos se sentem mais confortáveis
quando são capazes de explicar, prever e controlar os acontecimentos.
Quando isso não é possível, por exemplo em meio a um desastre, crise
ou pandemia, isso aumenta a incerteza, confusão, comportamentos
disfuncionais e a fragilidade das pessoas (Jakovljevic, Bjedov, Jaksic, &
Jakovljevic, 2020). Sabemos que nesse tipo de situação, mudanças de
conduta ou estilo de vida podem salvar vidas ao modificarem a maneira
como as pessoas percebem a situação e gerenciam suas emoções, de
modo que a atuação da Psicologia se faz essencial, dentro de um trabalho
voltado à prevenção e minimização dos danos que tais eventos podem
causar à saúde mental (Nakano, 2020).
A ideia de crise como um acontecimento inesperado e
potencialmente traumático envolve a necessidade de ações voltadas ao
problema e suas possíveis soluções, um projeto de implementação e um
plano que o sustente por um período prolongado, dentro de uma atuação
preventiva e curativa (Faro et al., 2020). As intervenções psicológicas nas
crises devem minimizar os danos psicológicos e fornecer assistência, na
tentativa de evitar problemas posteriores como o estresse pós-traumático
(Úrzua, Vera-Villarroel, Caqueo-Úrizar, & Polando-Carrasco, 2020).
Durante períodos de crise, psicólogos podem oferecer seus serviços
a distância, por meio das tecnologias de informação e comunicação,
de modo a minimizar os possíveis riscos psicossociais mediante ações
de prevenção até o pós-trauma, incluindo vítimas, profissionais e a
população geral. Entretanto, a atuação nesses contextos tem se mostrado
um desafio, especialmente porque a formação em Psicologia é marcada
por importantes lacunas relacionadas à intervenção psicológica nas
emergências e desastres, bem como em relação a modalidades de
atendimento não presenciais (Grincenkov, 2020).
A forma como as pessoas podem reagir a uma situação de crise
varia grandemente. Enquanto uma parte da população provavelmente
poderá não apresentar grande impacto psicológico, mantendo a
sua funcionalidade de forma adequada e adaptativa, outra parte
poderá desenvolver respostas de hipervigilância e hiperatividade
(envolvendo medo, ansiedade), ou ainda, imobilização (apresentando
comportamentos semelhantes a um quadro depressivo ou de estresse

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pós-traumático) (Malloy-Diniz et al., 2020). Tanto para crianças como


para adolescentes mudanças de humor, cognição e comportamentos
devem ser cuidadosamente observados. Visto que, esse público tem
sido frequentemente negligenciado quanto ao estudo de seu estado
mental e possíveis consequências negativas decorrentes da pandemia
da Covid-19 (Duan et al., 2020).
O medo, apesar de ser uma emoção básica e fundamental para a
sobrevivência, pode causar diversas consequências para a saúde física e
mental. Pode originar respostas autônomas (como respiração encurtada,
aumento da pressão arterial e frequência cardíaca), comportamentais
(congelamento, resposta de luta ou evitação) e hormonais (liberação de
hormônios relacionados ao estresse, como adrenalina e cortisol), que a
médio e longo prazos podem favorecer o adoecimento mental (Quezada-
Scholz, 2020). Dada a complexidade das reações que as pessoas podem
apresentar perante uma situação adversa ou de crise, uma série de
possibilidades envolvendo a atuação da Psicologia serão apresentadas a
seguir. Ainda que elas façam referência a algum acontecimento específico
(mais intensamente à Covid-19 devido a atualidade do tema), certamente
podem ser generalizadas para outras situações envolvendo adversidades
e crises em saúde (Bavel et al., 2020).

Crianças e Adolescentes

Por estarem em um período crucial do desenvolvimento, crianças


e adolescentes devem receber cuidados especiais em relação à sua saúde
mental, isso porque “as medidas de isolamento social aumentam o risco
para violência doméstica, maus-tratos, sobrecarga ou acomodação
acadêmica, perda de vínculos sociais” (Malloy-Diniz et al., 2020, p.
14). Os adolescentes, especificamente, podem se sentir frustrados com
eventos que foram cancelados ou adiados, fazendo-se notar uma piora do
rendimento escolar, aumento da agressividade, regressão e falsa sensação
de segurança. Tanto para crianças como para adolescentes, mudanças
de humor, cognição e comportamentos devem ser cuidadosamente
observadas, visto que esse público tem sido frequentemente negligenciado
quanto ao estudo de seu estado mental e consequências negativas
decorrentes da pandemia de Covid-19 (Duan et al., 2020).
A exposição a eventos imprevisíveis tais como crises, desastres,
eventos estressantes e pandemias podem trazer consequências
significativas para a saúde física, psicológica, emocional e social de

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PSICOLOGIA E COVID-19

crianças, afetando sua trajetória de desenvolvimento e, em alguns casos,


estender-se até a vida adulta (Wisner et al., 2018). Desastres têm um
impacto profundo na saúde mental das crianças, especialmente em
relação ao transtorno do estresse pós-traumático, considerado um dos
resultados mais comuns após a exposição a este tipo de situação (Danzi
& La Greca, 2016). A atuação neste contexto pode favorecer o encontro
de uma forma adequada de se comunicar com as crianças sem produzir
ansiedade, bem como o desenvolvimento de estratégias de comunicação
com aquelas que já sofreram algum trauma ou perda relacionada a
desastres (Libero, Johnson, Stefan, & Schulenberg, 2020).
Outra contribuição importante da Psicologia da Saúde pode
envolver o trabalho com crianças, adolescentes e suas famílias no
contexto doméstico, comunitário e escolar. Especialmente através do
reconhecimento de que crianças e adolescentes podem atuar como
agentes ativos na resposta à crise e fase de recuperação (Venberg,
Hambrick, Cho, & Hendrickson, 2016). As crises podem influenciar, de
forma positiva ou negativa, as crenças, expectativas emergentes sobre
segurança, compaixão, conexão social e esperança para o futuro. Em
tal contexto, os profissionais de saúde mental, incluindo os psicólogos,
também podem desempenhar papel importante para auxiliar os
jovens a usar as experiências de crise como oportunidades favoráveis
de crescimento pós-traumático (Morgado, 2020). Ressalta-se, no
entanto, que a conscientização da linguagem utilizada e dos conceitos
adequados a cada faixa etária, e nível de desenvolvimento se mostram
fundamentais no planejamento e na implementação de esforços voltados
à prevenção e intervenção em saúde mental. Durante o período da crise,
é importante informar as crianças e aos adolescentes sobre o que está
acontecendo, usando uma linguagem clara, prática e simples, devendo
se concentrar no presente e nas ações que estão sendo consideradas
para mantê-los seguros e com sua família (Venberg et al., 2016). Não é
apropriado divulgar informações que podem, potencialmente, provocar
perturbação ou que não sejam diretamente relevantes (fatalidades
e extensão dos danos por exemplo). Assim, acredita-se ser possível
limitar o período em que os indivíduos vivenciam respostas de luta,
fuga, fortes emoções e excitação fisiológica, respostas comuns de curto
prazo a eventos traumáticos de alta intensidade.
Dependendo da idade, nível de desenvolvimento sociocognitivo
e dos materiais e tecnologia que se tem acesso, diversos métodos podem
ser utilizados para estabelecer uma comunicação adequada com crianças,

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de modo a abordar conhecimento sobre perigos e maneiras de reduzir


riscos, apoiando professores, crianças e adolescentes no período pós-
recuperação (Wisner et al., 2018). Além disso, treinamentos com
professores podem ser realizados com o objetivo de enfatizar, para tais
profissionais, que algumas crianças precisarão de mais ajuda do que
eles podem oferecer, esclarecendo que seu papel não é o de substituir os
profissionais que atuam na área da saúde mental, como os psicólogos. A
ideia é que, com suporte adequado, as crianças e adolescentes possam
manter ou recuperar um senso de rotina e normalidade apesar da situação
traumática e estressora (Golberstein, Wen, & Miller, 2020).

Adultos

Considerando-se que os comportamentos são sustentados por


suas consequências, o trabalho psicológico deve ter, como base, variáveis
comportamentais, emocionais, motivacionais, e cognitivas, por meio
do reforço de comportamentos adequados e estímulo a estratégias
de enfrentamento eficazes perante as reações mais comumente
apresentadas: (1) angústia, (2) raiva, (3) medo, (4) transtornos de
ansiedade, depressão e pânico, (5) distúrbios do sono, (6) isolamento
social e (7) estresse pós-traumático, não só em pacientes, mas também
na população em geral, familiares e profissionais da área da saúde (Gil-
Rivas & Kilmer, 2016; Kaniasty, 2020).
As variáveis comportamentais se referem ao que a pessoa pensa
sobre a doença, crenças racionais ou irracionais sobre a patologia e a
percepção de risco, visto que tais variáveis podem explicar e prever se
um indivíduo tem tendência a assumir comportamentos de risco ou se
é capaz de modificá-lo. Já as variáveis emocionais negativas, bastante
presentes em contextos pandêmicos, tais como: (1) raiva, (2) medo,
(3) surpresa, (4) tristeza, (5) ansiedade e (6) asco/nojo se mostram
importantes, visto que os estados afetivos comprometem, diretamente,
a saúde e bem-estar do indivíduo (Vera-Villarroel et al., 2019). Outros
dois pontos importantes a serem trabalhados são a motivação e a
cognição das pessoas. Conceitualmente, a motivação é compreendida
como um processo psicológico associado ao início, desenvolvimento,
manutenção e mudança de comportamentos (Vera-Villarroel et al.,
2020). Isto posto, sugere-se que a atuação do psicólogo deva envolver o
desenvolvimento de estratégias, as quais estimulem a população a mudar
seus comportamentos, a maneira que percebem a sua realidade, eliciem

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PSICOLOGIA E COVID-19

a motivação para mudar ações desadaptativas, assim como a forma como


podem gerenciar as suas emoções de modo a gerar novos hábitos e um
estilo de vida mais saudável (Zhang, Wu, Zhao, & Zhang, 2020).
Aspectos relacionados a preocupações devido ao medo ou real
perda do trabalho, insegurança financeira e perda do local de moradia
devem ser considerados como ameaças potenciais a saúde mental dos
adultos (Holmes et al., 2020). Os cuidados podem incluir (1) estímulo
à busca por suporte da comunidade, (2) prática de exercícios físicos, (3)
treino de assertividade, (4) resolução de conflito, e (5) suporte dos pares.
Durante períodos difíceis, as pessoas também podem ser incentivadas
a desenvolver comportamentos de (1) altruísmo, (2) empatia, (3)
cooperação, (4) confiança, e (5) amizade, os quais poderão ajudá-las a
enfrentar a situação e desenvolver-se de maneira mais adaptativa após tais
adversidades, auxiliando-as a resistirem aos efeitos negativos (Jakovljevic
et al., 2020). Nesse sentido, as melhores abordagens e medidas são aquelas
que visam a proteger todos os membros da população, promovendo a
resiliência coletiva e o combate à fragilidade.
Diferentes públicos podem ser atendidos pelo psicólogo: (1)
profissionais da saúde (buscando prevenir a ocorrência de adoecimento,
por meio, por exemplo, da disponibilização de plantões psicológicos com
orientações sobre os cuidados com a saúde mental, além de atendimentos
virtuais), (2) usuários dos serviços de saúde e familiares (possibilitando o
contato virtual entre paciente e família, visando minimizar o desamparo
vivenciado pelos pacientes diagnosticados, trabalhando também os
sentimentos e pensamentos decorrentes da experiência) e (3) pessoas em
cuidado paliativo em casos graves de doença, buscando-se minimizar os
impactos da impossibilidade de vivência de um processo adequado de
luto (Grincenkov, 2020).
Nos períodos posteriores à crise, recomenda-se que a psicoterapia
seja oferecida como primeira alternativa, na tentativa de evitar o uso
de medicamentos psicotrópicos, bem como estimular os mecanismos
naturais de enfrentamento. Desse modo, recomenda-se o monitoramento
ativo durante o primeiro mês após a exposição do indivíduo a um trauma.
Se, após esse período, a pessoa apresentar sinais psicopatológicos, deve
ser aconselhada a procurar atendimento especializado. De mais a mais,
faz-se importante também rastrear tanto os pacientes infectados, quanto
a população em geral e os profissionais de saúde, identificando os grupos
de risco e adequando a implementação de medidas preventivas específicas
de saúde mental, bem como as intervenções às suas necessidades

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específicas (Inchausti, García-Poveda, Prado-Abril, & Sánchez-Reales,


2020). Qualquer intervenção psicológica deve se basear em uma
avaliação minuciosa dos possíveis fatores de risco que podem agravar o
problema, tais como estado de saúde anterior do paciente, histórico de
luto, comportamento e ideação suicida, histórico de traumas anteriores e
seu contexto socioeconômico (Duan & Zhu, 2020).

Idosos

Os idosos são um importante grupo de risco em saúde durante


uma crise pandêmica assim como a Covid-19. Entre as principais
consequências negativas para a saúde mental dos idosos destacam-se o
risco para desenvolver transtornos de humor a exemplo da depressão,
vulnerabilidade ao estresse, irritabilidade, distúrbios relacionados ao
sono além das elevadas taxas de suicídio (Courtin & Knapp, 2017; Yip
et al., 2010). De mais a mais, as maiores taxas de mortalidade, frente
às pandemias e epidemias, são vistas entre os idosos. Uma possível
justificativa para isso se deve ao fato de que é na velhice que se concentram
a maior porcentagem de pessoas com doenças crônicas e limitações
físicas e cognitivas (Lloyd-Sherlock, Ebrahim, Geffen, & Mckee, 2020)
elementos considerados fatores de risco de mortalidade diante da
infecção por Covid-19. Sendo assim, faz-se necessário investir em ações
de prevenção e de promoção de saúde específicas para esse público,
devido a sua vulnerabilidade a complicações associadas a Covid-19
(Hammerschmidt & Santana, 2020).
No geral, sabe-se que a ausência e/ou falta de contato social
prolongado podem incidir em maior risco de adoecimento mental por
depressão e ansiedade (Leão, Ferreira, & Faustino, 2020). Via de regra, os
idosos tendem a ter possibilidades de contatos sociais mais escassas, não
sendo improvável se isolarem em suas próprias residências em situações
adversas. Essas podem potencializar o risco de surgimento de problemas
de saúde mental e piorar sintomas psiquiátricos já existente em idosos,
de modo a prejudicar sua qualidade de vida e funcionalidade (Malloy-
Diniz et al., 2020). Geralmente, os mais vulneráveis são aqueles que já
apresentam baixa qualidade de vida, história de eventos estressores,
com limitação funcional ou com doenças crônicas. Soma-se a este
quadro a dificuldade de acesso a serviços de internet, computadores e
celulares, bem como certa inflexibilidade cognitiva que aumenta com o
envelhecimento, gerando resistência a mudanças na rotina.

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PSICOLOGIA E COVID-19

Cabe salientar também que, no contexto nacional e


internacional, os idosos têm estado cada vez mais ativos, devido ao
envelhecimento populacional. Muitos idosos, além de estarem ativos no
mercado de trabalho, continuam sendo a principal ou a única fonte de
renda de sua casa (Faustino, Levy, Canella, Oliveira, & Novaes, 2020).
Logo, os idosos economicamente ativos são um grupo ainda mais
vulnerável, visto que precisam trabalhar para manter ou complementar
os rendimentos familiares e, dessa forma, estão em constante exposição
ao contato social. Adicionalmente, uma boa parcela dessa população
vive em asilos, o que os tornam um público de maior risco para testagem
positiva de Covid-19 e possíveis complicações, visto que nesses lugares
há grande concentração de idosos com doenças crônicas, limitações
físicas, contato com profissionais de saúde, visitantes e cuidadores
(Hammerschmidt & Santana, 2020).
Diante da vulnerabilidade dos idosos, psicólogos podem trabalhar
o desenvolvimento de crenças mais realistas e adaptativas, favorecendo
e fortalecendo contatos sociais, aumentando estímulos ambientais e
promovendo o treino da assertividade social (Hammerschmidt & Santana,
2020; Malloy-Diniz et al., 2020). Para fortalecer as relações sociais dos
idosos, recomenda-se incentivar o uso de tecnologias, aplicativos de
celular, chamadas de vídeo, oferta de canais de suporte individuais e/
ou grupais, incentivo à prática de atividade física, regulação do sono e
alimentação (Holmes et al., 2020; Ransing et al., 2020).
Os cuidadores apresentam papel relevante para a promoção de
bem-estar físico e mental dos idosos em situações de crise em saúde. A
fim de reduzir sintomas de ansiedade, depressão, estresse e alterações de
humor em geral, os cuidadores podem estimular a prática de atividades
cognitivas, controlar a exposição à mídia, explicar de maneira clara e
adequada a importância de cumprir as medidas de prevenção em saúde,
entre outros. Sugere-se que psicólogos, cuidadores e profissionais da
saúde, não enfatizem a vulnerabilidade, mas foquem as suas atuações
na valorização e no reconhecimento das contribuições para a sociedade
e seu contexto familiar, de modo a fortalecer a resiliência e o bem-estar
dos idosos (Doraiswamy, Cheema, & Mamtani, 2020; Holmes et al.,
2020; Yang et al., 2020).

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Impactos psicológicos associados à Covid-19

• A infância e adolescência são fases decisivas para o desenvolvimento humano,


as quais são marcadas por intensas mudanças, o que inclui fatores de risco e
proteção específicos no que se refere ao processo saúde-doença;

• Ao longo da pandemia da Covid-19, crianças e adolescentes podem


apresentar uma significativa queda no rendimento escolar, mudanças de
humor, maior retraimento ou maior reatividade emocional, dificuldade de
concentração, e em alguns casos a presença de comportamentos agressivos,
inclusive autolesivos;

• Nos adultos, sintomas ansiosos e depressivos, medo, angústia, problemas


relacionados ao transtorno do pânico e transtorno de estresse pós-traumático
são exemplos de repercussões observadas na pandemia da Covid-19;

• Os idosos constituem um dos grupos mais vulneráveis ao adoecimento


ocasionado pela Covid-19, visto que se trata de uma fase na qual há a maior
ocorrência de doenças crônicas (por exemplo, diabetes e hipertensão). Destaca-
se o aumento de sintomas depressivos, variações no humor, alterações no sono,
além do aumento das taxas de suicídio nessa faixa etária.

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PSICOLOGIA E COVID-19

Propostas de cuidado da Psicologia

• Recomenda-se que os psicólogos comuniquem para crianças e adolescentes


as informações necessárias sobre a situação real do problema, de modo a não
gerar ansiedade. Para tanto, faz-se imprescindível o uso de linguagem clara e
adequada a cada faixa etária e nível de desenvolvimento dos sujeitos;

• O psicólogo pode fornecer treinamento para os professores, com vista a


conscientizar esses profissionais sobre o estresse vivido pelas crianças e
adolescentes, quanto à importância do impacto psicológico negativo para a
saúde mental e física desses sujeitos;

• Para os adultos, a atuação do psicólogo deve pautar-se em quatro aspectos básicos:


(1) emoções, (2) motivação, (3) crenças, e (4) comportamento. Dessa forma cabe
ao profissional, atuar de modo a desenvolver estratégias de enfrentamento mais
adaptativas, a fim de eliciar maiores níveis de bem-estar e saúde em geral;

• Deve-se fornecer aos idosos informações adequadas, sobre a importância


de que eles cumpram as medidas de prevenção, estímulos a prática de
atividades cognitivas, fortalecer a rede de contatos sociais, a resiliência e os
níveis de bem-estar dos idosos;

• Não se deve enfatizar a vulnerabilidade dos idosos, mas sim aspectos positivos
e o reconhecimento das contribuições desse público para a sociedade e
contexto familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo reuniu aspectos acerca das repercussões psicológicas
presentes em situações de crise e emergências em saúde. Sobretudo,
objetivou-se explanar sobre o impacto psicológico da Covid-19, visto
a emergência em saúde pública ocasionada pelo novo coronavírus.
Conforme discutido anteriormente, crises como a Covid-19 podem gerar
inúmeras consequências para a saúde física e mental da população. Para
além do elevado número de óbitos, impacto na saúde física, em especial na
saúde mental das pessoas com problemas de ordem mental mais graves.

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Pessoas que apresentam histórico de transtorno mental ou


aquelas que já sofrem por alguma doença crônica são mais vulneráveis a
apresentar transtornos psicológicos a médio e longo prazos. Além disso,
fatores como a duração da quarentena, a falta de informações adequadas
sobre medidas de distanciamento, proteção e formas de contágio, assim
como as consequências econômicas, são aspectos que favorecem o
surgimento de sintomas de ansiedade, estresse, medo e angústia.
O atual cenário de crise, devido à Covid-19, exige de profissionais
e pesquisadores uma atenção especial a fim de fornecer cuidado adequado
à população, principalmente aos grupos de maior vulnerabilidade. Isto
posto, faz-se necessário atenção especial a ações de prevenção, promoção
e oferta de tratamento em saúde mental para a população como um todo,
visto o cenário de importantes preocupações a respeito da dimensão das
repercussões da experiência da pandemia na vida das pessoas.

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