Cap 3

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CAPÍTULO 3

Produto Interno e Geometria

Neste capítulo apresentaremos as principais propriedades geométricas de um


espaço com produto interno. Quase todos esses resultados dependem do (sub)espaço
envolvido ser completo: o Teorema de Representação de Riesz, o Teorema de Separação
de Hahn-Banach, a decomposição ortogonal de um subespaço e o Teorema de
Lax-Milgram. Os resultados que apresentaremos estão, muitas vezes associados a
resultados do Capítulo 2; enquanto lá nossa abordagem enfatizava propriedades de
um sistema ortonormal, aqui a nossa ênfase é mais diretamente geométrica.

3.1 Funcionais Lineares e Hiperplanos


Definição 3.1 Seja V um espaço vetorial arbitrário. Um hiperplano H é um subespaço
vetorial de codimensão 1, isto é, existe v0 ∈ V tal que

V = H ⊕ < v0 > .1

Proposição 3.2 Sejam V um espaço vetorial arbitrário e g : V → K um funcional linear não


nulo. Então H = ker g = {z ∈ V : g(z) = 0} é um hiperplano.

Demonstração: Como g não é nulo, existe v0 ∈ V tal que g(v0 ) 6= 0. Supondo que
v = z + γv0 ∈ ker¡ f ⊕ < v0 >¢ , temos g(v) = g(z + γv0 ) = γg(v0 ), de modo que
z = v − γv0 = v − g(v)/g(v0 ) v0 . Assim, para todo v ∈ V ,
µ ¶
g(v)
v= v− v0 + g(v)v0 ∈ ker g ⊕ < v0 > .
g ( v0 )

(Observe que toda a demonstração resume-se à igualdade acima.) 2

Lema 3.3 Sejam X um espaço normado, f : X → K um funcional linear não nulo, x0 ∈ X


um ponto arbitrário e N = ker f . Para dist ( x0 , N ) = infz∈ N k x0 − zk vale:

(i ) se f não for contínuo, então dist ( x0 , N ) = 0;


1 Um (sub)espaço vetorial V é soma direta dos subespaços U e W se cada elemento v ∈ V puder ser

escrito de maneira única como v = u + w, com u ∈ U e w ∈ W. Veja [AL], seção 1.3.

1
2 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

(ii ) se f for contínuo, então


| f ( x0 )|
dist ( x0 , N ) = (3.1)
kfk
e N é fechado.
Observação 3.4 Se convencionarmos que k f k = ∞ no caso em que f for descontínuo,
| f ( x )|
então a fórmula dist ( x0 , N ) = k f k0 será sempre válida. Utilizaremos essa convenção
na demonstração do resultado. Note que, se dist ( x0 , N ) = 0, estamos provando que N
é denso em X. Uma demonstração alternativa desse fato é sugerida no Exercício ??. ¢
Demonstração: Se v 6∈ ker f , a Proposição 3.2 garante que N = ker f é um hiperplano,
de modo que para todo x ∈ X vale a decomposição
x = z + λv ∈ N ⊕ < v > .
Sem perda de generalidade, podemos supor que f (v) = 1.
Seja agora ( xn ) uma sequência tal que | f ( xn )| → k f k, com k xn k = 1 para todo
n ∈ N. (No caso do funcional f ser descontínuo, isso quer dizer | f ( xn )| → ∞.)
Utilizando a decomposição anterior, temos
x0 = z0 + λ0 v ∈ N ⊕ < v > e xn = zn + λn v ∈ N ⊕ < v > .
Se for λ0 = 0, então x0 = z0 ∈ N. Daí, d( x0 , N ) = 0, f ( x0 ) = 0 e o teorema
está demonstrado. Assim, podemos supor que λ0 6= 0. Além disso, | f ( xn )| =
| f (zn + λn v)| = |λn |. A igualdade mostra que |λn | → k f k > 0. Logo, λn 6= 0 para
todo n suficientemente grande e podemos supor λn 6= 0 para todo n ∈ N. Assim,
° °
|λn | ° λ 0 °
° z n + λ0 v °
1 = k xn k = kzn + λn vk = ° °
| λ0 | λ n
° µ ¶°
|λn | ° °
° ( z0 + λ0 v ) − z0 − λ n z n ° = | λ n | k x0 − w n k,
= ° °
| λ0 | λ0 | λ0 |
λn
em que wn = z0 − λ0 z n ∈ N. Daí decorre que
| λ0 | | f ( x0 )| | f ( x0 )|
lim k x0 − wn k = lim = lim = ,
n→∞ n→∞ |λn | n→∞ | f ( xn )| kfk
| f ( x )|
em que k f k = ∞, se f for descontínuo. Assim, d( x0 , N ) = k f k0 , se f for contínuo e
d( x0 , N ) = 0, se f não for contínuo.
Uma vez que N é fechado se f for contínuo, a demonstração está completa. 2

Observação 3.5 Mostramos assim, para todo funcional f : X → K:


(i ) ker f é fechado se, e somente se, f for contínuo;
(ii ) ker f é denso em X se, e somente se, f for descontínuo.
Note que a expressão (3.1) generaliza a fórmula tradicionalmente empregada para se
calcular, no R3 , a distância de um P ao plano ax + by + cz = 0, dada por |h P, ni|/knk,
em que n = ( a, b, c) é a normal ao plano. O funcional, nesse caso, é dado por
f ( P) = h P, ni. ¢
3.2. CONVEXIDADE E PRODUTO INTERNO 3

3.2 Convexidade e Produto Interno


Relembramos que um subconjunto C de um espaço vetorial V é convexo se, para
todos x, y ∈ C e λ ∈ [0, 1], tivermos

λx + (1 − λ)y ∈ C.

3.2.1 Convexos e o Ponto de Menor Norma


Lema 3.6 (Ponto de Menor Norma)
Seja C um conjunto convexo e completo de um espaço com produto interno E. Então
existe um único ponto x0 ∈ C tal que, para todo x ∈ C,

k x0 k ≤ k x k.

Note que, se E for um espaço de Hilbert, basta supor que C seja um subconjunto
fechado e convexo.
Demonstração: A demonstração é bem geométrica e decorre da identidade do para-
lelogramo. Seja δ = infx∈C k x k.
Pela definição de δ, existe uma seqüência ( xn ) em C tal que k xn k → δ. Afirmamos
que ( xn ) é de Cauchy. De fato, da identidade do paralelogramo decorre que

k x n − x m k2 = 2k x n k2 + 2k x m k2 − k x n + x m k2 .

Uma vez que C é convexo, temos que ( xn + xm )/2 ∈ C. Logo k( xn + xm )/2k ≥ δ,


isto é (veja a Figura 3.1),
k xn + xm k2 ≥ 4δ2 .

xn

 
xn Cxm xn
 @ 2
CO@
3
 xm
C @xn Cx
 m

@ @
2
ı  ı C
XX@@
z
X
  xm

Figura 3.1: Se os pontos xm e xn da seqüência ( xn ) não se aproximarem um do outro


para m e n suficientemente grandes, o ponto xn +2 xm ficaria dentro do círculo de raio δ.

Portanto, temos
k xn − xm k2 ≤ 2k xn k2 + 2k xm k2 − 4δ2 . (3.2)
Quando m, n tendem para infinito, k xn k → δ e k xm k → δ. Assim, ( xn ) é de Cauchy,
como afirmado.
Como C é completo, existe x0 ∈ C tal que xn → x0 ; assim, δ = limn→∞ k xn k = k x0 k.
Mas a desigualdade (3.2) também prova a unicidade do ponto de menor norma: se
x0 , x̄0 ∈ C forem tais que k x0 k = δ = k x̄0 k, então k x0 − x̄0 k2 = 2δ2 + 2δ2 − 4δ2 = 0,
mostrando que x0 = x̄0 . 2

Note que o produto interno não aparece explicitamente na demonstração apre-


sentada: ele foi substituído pela identidade do paralelogramo.
4 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Uma conseqüência imediata do Lema 3.6 é que podemos minimizar a distância de


um convexo completo C a qualquer ponto y ∈ E. Isto é, fixado y ∈ E, existe um único
ponto x0 ∈ C tal que
ky − x0 k ≤ ky − x k, ∀ x ∈ C. (3.3)
Mostraremos esse fato e, ao mesmo tempo, forneceremos uma descrição alternativa,
frequentemente útil, do ponto x0 . (Note que, tomando y = 0, estamos caracterizando o
ponto de menor norma de um conjunto convexo e completo.)

Teorema 3.7 (Caracterização do Ponto de Menor Norma)


Seja C um conjunto convexo e completo de um espaço com produto interno E. Então,
para todo y ∈ E, existe um único ponto x0 ∈ C tal que

k y − x0 k ≤ k y − x k, ∀ x ∈ C.

Esse ponto x0 é caracterizado por

Re h x − x0 , y − x0 i ≤ 0, ∀ x ∈ C.

Demonstração: Para garantir a existência de x0 , basta considerar o conjunto (convexo


e completo) C0 = C − y e encontrar o ponto x1 ∈ C0 de menor norma (veja o Exercício
3). Então, x0 = x1 + y é o ponto procurado.
Passemos à caracterização de x0 . Tome x ∈ C arbitrário. Como C é convexo, o
segmento tx + (1 − t) x0 ∈ C para todo 0 ≤ t ≤ 1. Portanto,

ky − x0 k ≤ ky − (tx + (1 − t) x0 )k = k(y − x0 ) − t( x − x0 )k.

Elevando essa desigualdade ao quadrado, obtemos

h y − x0 , y − x0 i ≤
­ ®
≤ ( y − x0 ) − t ( x − x0 ), ( y − x0 ) − t ( x − x0 )
= hy − x0 , y − x0 i − 2t Re h x − x0 , y − x0 i + t2 k x − x0 k2 . (3.4)

Consequentemente,

t
Re h x − x0 , y − x0 i ≤ k x0 − x k2 .
2
Passando ao limite com t tendendo a zero, obtemos a desigualdade desejada.
Reciprocamente, suponhamos que Re h x − x0 , y − x0 i = Re hy − x0 , x − x0 i ≤ 0
para todo x ∈ C. Então

k y − x k2 = k y − x0 + x0 − x k2
= ky − x0 k2 + 2 Re hy − x0 , x0 − x i + k x0 − x k2 ≥ k x0 − x k2 ,

pois todos os termos considerados são não negativos. 2

O Lema 3.6 e o Teorema 3.7 não são válidos em espaços de Banach. Veja os
Exercícios 4 e 5. A definição de um espaço de Banach uniformemente convexo (veja [23])
resgata essa importante propriedade de espaços de Hilbert.
3.2. CONVEXIDADE E PRODUTO INTERNO 5

xp − x0

C 

x0p

p?
y − x0
Figura 3.2: O ponto x0 do conjunto convexo completo C mais próximo de y é
caracterizado por Re h x − x0 , y − x0 i ≤ 0, ∀ x ∈ C.

3.2.2 O Teorema de Separação de Hahn-Banach


Mostraremos agora um resultado clássico da Análise Funcional, que proporcionará
uma interpretação mais completa do Teorema 3.7. Para formulações mais gerais do
Teorema de Separação de Hahn-Banach veja, por exemplo, [4] ou [30].

Teorema 3.8 (Teorema de Separação de Hahn-Banach)


Seja C um subconjunto convexo e completo do espaço com produto interno E. Se y 6∈ C,
então existe um funcional linear contínuo f : E → K tal que

Re f ( x ) ≤ α < Re f (y), ∀ x ∈ C.

Demonstração: De acordo com o Teorema 3.7, o ponto x0 ∈ C mais próximo de y é


caracterizado por Re h x − x0 , y − x0 i ≤ 0 para todo x ∈ C, ou seja,

Re h x, y − x0 i ≤ Re h x0 , y − x0 i, ∀ x ∈ C. (3.5)

Definimos o funcional contínuo f : E → K por f ( x ) = h x, y − x0 i e α = Re h x0 , y −


x0 i. A desigualdade (3.5) expressa que

Re f ( x ) ≤ α = Re hy, y − x0 i + Re h x0 − y, y − x0 i
= Re f (y) − ky − x0 k2 < Re f (y),

a última desigualdade sendo verdadeira porque ky − x0 k 6= 0, já que y 6∈ C. 2

Note que o valor α é atingido no ponto x0 .


Assim, temos a seguinte interpretação geométrica do Teorema de Separação de
Hahn-Banach: dados um conjunto convexo e completo C do espaço com produto
interno E e um ponto y 6∈ C, o funcional linear contínuo g : E → K dado por
g( x ) = h x − x0 , y − x0 i define o hiperplano ker g, ao qual pertence x0 . O conjunto C
está contido em { x : Re g( x ) ≤ 0}, enquanto y 6∈ C está contido em { x : Re g( x ) > 0}.

Observação 3.9 Podemos inverter as desigualdades satisfeitas por f . De fato, tomando


g = − f , obtemos
Re g(y) < β ≤ Re g( x ), ∀ x ∈ C,
sendo β = −α. ¢
6 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

xp x0

C 


x0p
ker f

p?
y x0
Figura 3.3: O funcional f ( x ) = h x, y − x0 i é tal que ker f separa o espaço E em duas
partes: o convexo C está contido em Re f ( x ) ≤ α = Re f ( x0 ).

3.2.3 Projeção Ortogonal


Retornemos à situação do Teorema 3.7 num caso particular: vamos considerar
o caso em que o convexo C é um subespaço completo F do espaço com produto
interno E. O Teorema de Separação de Hahn-Banach mostra a existência de um
hiperplano que divide o espaço em duas regiões, uma delas contendo o subespaço
F. Geometricamente, é natural supor que F seja um subespaço desse hiperplano, que
tem y − x0 como vetor perpendicular. Assim, o ponto x0 ∈ C mais próximo de y ∈ E,
seria caracterizado por
y − x0 ∈ C ⊥ .

Vamos mostrar que essa caracterização realmente é válida.


De fato, fixado x ∈ F, temos que x0 + t( x − x0 ) ∈ F para todo t ∈ R. Logo,
° ¡ ¢°
k y − x0 k ≤ ° y − x0 + t ( x − x0 ) ° , ∀ t ∈ R,

o que implica, como antes,2

0 ≤ −2tRe h x − x0 , y − x0 i + t2 k x − x0 k2 , ∀ t ∈ R,

o que só é possível se Re h x − x0 , y − x0 i = 0 para todo x ∈ F. Isso quer dizer que


Re hw, y − x0 i = 0 para todo w ∈ F, e prova o resultado no caso de espaços reais.
Se E for um espaço complexo e w ∈ F, então −iw ∈ F. Como Re − iw, hy − x0 i =
Im hw, y − x0 i, o resultado está provado no caso geral.
Ressaltamos o resultado demonstrado:

Teorema 3.10 Seja F um subespaço completo do espaço com produto interno E. Então, dado
y ∈ E, o ponto x0 ∈ F mais próximo de y é caracterizado por

( y − x0 ) ∈ F ⊥ .

O ponto x0 é chamado projeção ortogonal de y no subespaço F.

2 Note que estamos repetindo a argumentação da prova do Teorema 3.7.


3.2. CONVEXIDADE E PRODUTO INTERNO 7

y
q

 
 
 
 
 q 
 x0 
 
 
 F 
 

Figura 3.4: O ponto x0 pertencente ao subespaço completo F mais próximo de y é


caracterizado por (y − x0 ) ⊥ F.

Utilizando bases ortonormais, ainda é possível uma outra demonstração desse


mesmo resultado: veja o Exercício 6.

Relembramos que, dados F, G subespaços do espaço vetorial X, denotamos por


F + G o conjunto {y + z : y ∈ F, z ∈ G }, chamado soma dos subespaços F e G. É fácil
verificar que F + G é um subespaço de X. Se, adicionalmente, todo elemento x ∈ E
puder ser escrito de maneira única como y + z ∈ F + G, denotamos F + G por F ⊕ G e
dizemos que F ⊕ G é a soma direta dos subespaços F e G. (Veja o Exercício 7.)
Teorema 3.11 (Complemento Ortogonal de um Subespaço)
Seja F 6= {0} um subespaço completo do espaço com produto interno E. Então
E = F ⊕ F⊥
e y ∈ E pode ser escrito como x + z, em que x ∈ F é o elemento de F mais próximo de y e
z ∈ F ⊥ . Além disso, as aplicações Π1 : E → F e Π2 : E → F ⊥ , definidas por Π1 y = x ∈ F
e Π2 y = z, respectivamente, são lineares e satisfazem kΠ1 k = 1 = kΠ2 k. (Os elementos
x = Π1 y e z = Π2 y são denominados projeção ortogonal de y sobre F e de y sobre F ⊥ ,
respectivamente.)
Demonstração: Se x denotar o elemento de F mais próximo de y (cuja existência é
garantida pelo fato de F ser completo), então y = x + (y − x ). O Teorema 3.10 garante
que y − x ∈ F ⊥ e a unicidade da representação de y decorre de F ∩ F ⊥ = {0}.
Para y ∈ E, denotemos Π1 y = x e Π2 y = w ∈ F ⊥ . Isto é, estamos escrevendo
y = x + w, com x ∈ F e w ∈ F ⊥ , como y = Π1 y + Π2 y. Assim,
y1 + αy2 = Π1 (y1 + αy2 ) + Π2 (y1 + αy2 )
y1 = Π1 y1 + Π2 y1
αy2 = αΠ1 y2 + αΠ2 y2
Subtraindo da primeira equação a segunda e a terceira, concluímos que
Π1 (y1 + αy2 ) − Π1 y1 − αΠ1 y2 = Π2 y1 + αΠ2 y2 − Π2 (y1 + αy2 ).
Como o lado esquerdo dessa igualdade está em F e o lado direito em F ⊥ , ambos são
nulos. Isso prova a linearidade das aplicações Π1 e Π2 . Finalmente, do Teorema
de Pitágoras vem que kyk2 = kΠ1 yk2 + kΠ2 yk2 . Isso mostra que kΠ1 yk ≤ kyk e
kΠy k ≤ kyk, provando que Π1 e Π2 são contínuas e kΠ1 k, kΠ2 k ≤ 1. Se 0 6= x ∈ F,
então Π1 x = x garante que kΠ1 k = 1. De maneira análoga verificamos kΠ2 k = 1. 2
8 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Observação 3.12 Note que, dado y ∈ E e F ⊂ E subespaço completo, sempre existe o


ponto de F ⊥ mais próximo de y: ele é o ponto y − x F . Se E não for de Hilbert, mas F
for completo, então o subespaço F ⊥ não é completo (veja o Exercício 10). Relembramos
que F ⊥ sempre é um subespaço fechado. (Veja o Exercício 9 do Capítulo ??.) Nesse caso,
temos uma soma direta F ⊕ F ⊥ = G, mas pode ser que G 6= E.
É fácil provar o Teorema 3.11 usando bases: como F é um espaço de Hilbert,
ele possui uma base ortonormal, que é um sistema ortonormal no espaço E. Dado
y ∈ E, seja x a representação de y com relação a esse sistema ortonormal. Então
y = x + (y − x ), com x ∈ F e y − x ∈ F ⊥ (de acordo com o Exercício 6). ¢

No Exercício ?? do Capítulo ?? demos exemplo de um subespaço fechado F tal


que F ⊕ F ⊥ 6= E. Um exemplo mais simples é apresentado no Exemplo 3.18. Uma
“concretização” deste é apresentada no Exercício 13.

3.3 O Teorema de Representação de Riesz


Seja E um espaço com produto interno. Fixado y ∈ E, a desigualdade de Cauchy-
Schwarz garante que f y ( x ) = h x, yi é um funcional linear contínuo. Em outras
palavras, cada elemento y ∈ E induz um elemento f y ∈ E∗ . Se E for um espaço de
Hilbert, vale a recíproca; mais precisamente:

Teorema 3.13 (de Representação de Riesz)


Sejam H um espaço de Hilbert e f um elemento do espaço dual H∗ , isto é, um funcional
linear contínuo f : H → K. Então existe um único elemento y ∈ H tal que

f ( x ) = h x, yi, ∀ x ∈ H.

Além disso, k f k = kyk.

Apresentaremos duas demonstrações do Teorema de Representação de Riesz. A


primeira fará uso de uma base do espaço H, generalizando a demonstração usualmente
apresentada em espaços de dimensão finita (veja [AL], Capítulo 8). Veja também o
Exercício 15.
Demonstração: Suponhamos que H seja separável. Sejam S = { xi : i ∈ N} uma base
ortonormal de H e x = ∑i∞=1 xi ei . Então, procedendo formalmente,
à ! * +
∞ ∞ ∞ ∞
f ∑ x i ei = ∑ x i f ( ei ) = ∑ x i ei , ∑ f ( ei ) ei . (3.6)
i =1 i =1 i =1 i =1

Assim, teríamos y = ∑i∞=1 f (ei ) ei . Para justificar nosso procedimento formal,


precisamos mostrar que y ∈ H, isto é, que o somatório converge. Para isso,
consideramos ∑in=1 f (ei ) ei . Então, para todo n ∈ N,
à ! ° ° à !1/2
n n ° n ° n
° °
∑ | f (ei )|2 = f ∑ f (ei ) ei ≤ k f k ° ∑ f (ei ) ei ° = k f k ∑ | f (ei )|2
° i =1 °
,
i =1 i =1 i =1

de modo que
à !1/2
n
2
∑ | f (ei )| ≤ k f k. (3.7)
i =1
3.3. O TEOREMA DE REPRESENTAÇÃO DE RIESZ 9

Passando ao limite, mostramos que


à !1/2

2
∑ | f (ei )| ≤ k f k.
i =1

Decorre então do Teorema de Riesz-Fischer ?? que ∑i∞=1 f (ei ) ei ∈ H, o que justifica


nosso procedimento formal e completa a prova no caso de um espaço H separável.
Se você leu a Seção ??, consideremos agora o caso geral de um espaço com uma base ortonormal
S = {eα : α ∈ A}, em que A é um conjunto não enumerável. Nesse caso, (3.6) é substituída por
¡ ¢ ­ ®
f ∑α∈ A xα eα = xα eα , ∑α f (eα ) eα . Para justificar esse procedimento formal, defina Se = {eα ∈ S :
| f (eα )|2 > e}. Se e1 , . . . , en ∈ Se , a desigualdade (3.7) implica que Se é finito. Decorre então, como na
demonstração do Lema ??, que {eα : | f (eα )|2 > 0} é um conjunto enumerável. Isso mostra que o caso
não enumerável recai no caso contável. 2

A segunda prova que apresentaremos ressalta a geometria da situação:3


Demonstração alternativa do Teorema 3.13: Se f for identicamente nula, basta tomar
y = 0. Caso contrário, ker f = { x ∈ H : f ( x ) = 0} é um hiperplano fechado e,
portanto, completo. Logo,
H = ker f ⊕ (ker f )⊥ ,
de acordo com o Teorema 3.11. Seja z ∈ (ker f )⊥ , com kzk = 1. Definindo w =
f ( x )z − f (z) x, então w ∈ ker f e

0 = hw, zi = f ( x )kzk2 − f (z)h x, zi = f ( x ) − h x, f (z)zi,

o que mostra que f ( x ) = h x, yi, em que y = f (z)z.


A unicidade de y é óbvia: se tivermos h x, y1 i = h x, yi para todo x ∈ H, então
h x, y − y1 i = 0 para todo x ∈ H, de onde concluímos que y = y1 ao tomarmos
x = y − y1 .
Finalmente,
¯ ¯
k f k = sup | f ( x )| = sup ¯h x, yi¯ ≤ sup k x k kyk = kyk.
k x k=1 k x k=1 k x k=1

Por outro lado,


kyk2 = hy, yi = | f (y)| ≤ k f k kyk.
Assim, k f k = kyk. 2
Em espaços reais H, o Teorema de Representação de Riesz produz uma isometria
linear entre H e H0 ; em espaços complexos, o Exercício 22 expressa o Teorema de
Representação de Riesz como a existência de uma aplicação anti-linear que preserva
normas entre H e seu espaço dual H0 .
¡ ¢
Exemplo 3.14 Consideremos o espaço de Hilbert L2 [ a, b] e um funcional linear
¡ ¢
contínuo ` : L2 [ a, b] → K. O Teorema de Representação de Riesz garante a existência
¡ ¢ ¡ ¢
de uma única função g ∈ L2 [ a, b] tal que, para todo f ∈ L2 [ a, b] , temos
Z b
`( f ) = f ( x ) g( x )dx.
a ¢
3 Veja também o Exercício 16.
10 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Exemplo 3.15 Seja f : `2 → K um funcional linear contínuo. Se x = ( xi ) ∈ `2 , o


Teorema de Representação de Riesz garante a existência de uma seqüência ( ai ) ∈ `2
tal que
­ ® ∞
f ( x ) = ( xi ), ( ai ) = ∑ xi āi . ¢
i =1

Exemplo 3.16 As hipóteses do Teorema de Riesz são necessárias: para vermos isso,
basta considerarmos duas espécies de contra-exemplos.
O resultado não é verdadeiro se o espaço com produto interno não for completo:
consideremos o espaço E = `0 de todas as seqüência ( xi ) com xi = 0 exceto talvez para
um número finito de índices (veja o Exemplo ??). Claramente `0 é um subespaço de `2
que não é completo.
Consideremos a base ortonormal S = {e1 , . . . , en , . . .} do espaço `2 . Dado x ∈ `0 ,
temos que existe m = m( x ) ∈ N tal que x = x1 e1 + . . . + xm em . Assim, S é uma base de
Hamel do espaço `0 .
Consideremos f : `0 → K definido por
x2 xm
f ( x ) = f ( x 1 e1 + . . . + x m e m ) = x 1 + +...+ .
2 m
A desigualdade de Hölder garante que o funcional f é contínuo. Suponhamos a
existência de v ∈ `0 tal que f ( x ) = h x, vi para todo x ∈ `0 . Como f (ei ) = 1/i
para todo i ∈ N, temos que 1/i = f (ei ) = hei , vi para todo i ∈ N. Isso implicaria
v = (1, 1/2, . . . , 1/m, . . .), que não é um elemento de `0 . Isso prova que o Teorema de
Representação de Riesz não é válido em `0 . (Note que a idéia desse contra-exemplo é
muito simples: consideramos `2 e g : `2 → K dado por g( x ) = h x, vi. Escolhemos v e
um subespaço de `2 que não contém o ponto v (no caso, o espaço `0 ) e a restrição de f
a esse subespaço. Pronto!)
Se f : H → K for um funcional linear descontínuo, então nunca poderemos ter f ( x ) = h x, x0 i
para todo x ∈ H, pois h x, x0 i sempre define um funcional linear contínuo. O segundo contra-exemplo
responde, então, uma pergunta básica: em espaços de Hilbert, existem funcionais lineares que não são
contínuos? (Esse contra-exemplo é mais sofisticado, e sua leitura é facultativa, a critério do professor.)
Para isso, fazemos uma ligeira modificação na situação anterior. Consideremos o espaço `2 e sua base
ortonormal S = {e1 , . . . , en , . . .}. Esse conjunto não é uma base de Hamel de `2 , mas pode ser completado
por um conjunto R, de modo que S ∪ R seja uma base de Hamel de `2 . Definimos então f (ei ) = i, se
ei ∈ S e f (e) = 0, se e ∈ R. Estendemos então linearmente o funcional f a todo espaço H. (Note que o
funcional f só não será nulo no subespaço `0 ⊂ `2 !) Essa (única) extensão não é limitada.
Essa construção pode ser generalizada para um espaço de Hilbert qualquer, ao se considerar um
subconjunto enumerável de uma base de Hamel e definir o funcional f como acima. ¢

Complementando o Exemplo 3.16, verificamos que o Teorema de Representação de


Riesz caracteriza os espaços de Hilbert:
Teorema 3.17 Seja E um espaço com produto interno. Então E é um espaço completo se, e
somente se, for válido o Teorema de Representação de Riesz.
Demonstração: Se E for completo, já mostramos a validade do Teorema de
Representação de Riesz. Por sua vez, a validade desse teorema implica a existência
de um isometria (anti-linear, no caso complexo) entre E e E∗ . (Veja o Exercício 22.)
Como E∗ sempre é completo (veja a Seção ??), E é completo. 2

Assim, se E for um espaço com produto interno que não é completo, existe um
funcional linear contínuo f : E → K tal que f 6= f y para todo y ∈ H, em que
3.3. O TEOREMA DE REPRESENTAÇÃO DE RIESZ 11

f y : E → K é dado por f y ( x ) = h x, yi. Como ker f tem codimensão 1, isso quer dizer
que (ker f )⊥ = {0}.

Exemplo 3.18 Vamos mostrar que, em um espaço com produto interno E que não é completo, sempre
existem subespaços fechados F tais que F ⊕ F ⊥ 6= E. (Compare com o Exercício ?? do Capítulo ??.)
Assim, supondo que E que não seja completo, consideremos um funcional linear contínuo f : E → K,
ou seja, um elemento de E∗ . Como vimos, existe f ∈ E∗ tal que (ker f )⊥ = {0}. Sejam F = ker f . Como
f não é identicamente nulo, F é um subespaço próprio de E. Como F ⊥ = {0}, temos E 6= F ⊕ F ⊥ . (Note
que F ⊥⊥ = E, de modo que F é um subconjunto próprio de F ⊥⊥ . Veja o Exercício 9.)
A mesma situação gera um exemplo de um sistema ortonormal maximal que não é base ortonormal.
(A leitura do restante deste Exemplo é facultativa, à critério do professor.) Seja S um sistema ortonormal
maximal em F e F = < S > o espaço gerado por S . (Veja o Teorema ??.)
De acordo com o Teorema ??, se o fecho F for igual a F, então S é uma base ortonormal de F. Como
F $ E, S não é uma base ortonormal de E.
Por sua vez, se F 6= F, então S é um sistema ortonormal maximal em F que não é uma base ortonormal
de F, de acordo com o Teorema ??. ¢

Exemplo 3.19 Podemos ilustrar de maneira significativa a diferença entre espaços de Banach e espaços
de Hilbert com a seguinte situação associada ao Teorema de Riesz ??: consideremos o hiperplano
½ Z 1/2 Z 1 ¾
H= f ∈X : f ( x )dx = f ( x )dx ,
0 1/2

2
¡ ¢ ¡ ¢
em que X será tanto o espaço de Hilbert L [0, 1], R como o espaço de Banach C [0, 1], R (com a norma
da convergência uniforme).
¡ ¢
Se X = L2 [0, 1], R , o hiperplano H é o núcleo do funcional linear γ( f ) = h f , gi, em que g é definida
por
½
1, se 0 ≤ x < 1/2;
g( x ) =
−1, se 1/2 < x ≤ 1.

A função g tem norma unitária e, pelo Teorema 3.10, ela satisfaz dist ( g, H ) = k g − 0k L2 = 1.
¡ ¢
Agora consideremos o espaço de Banach X = C [0, 1], R (com a norma da convergência uniforme).
¡ ¢
Afirmamos que não existe elemento h ∈ C [0, 1], R satisfazendo k hk = 1 e dist (h, H ) = 1.
¡ ¡ ¢ ¢
Começamos notando que podemos considerar C [0, 1], R , k · k∞ como um subespaço de
¡ 2¡ ¢ ¢
L [0, 1], R , k · k L2 . De fato, a imersão
¡ ¡ ¢ ¢ ³ ¡ ¢ ´
ı: C [0, 1], R , k · k∞ → L2 [0, 1], R , k · k L2

é contínua.
¡ ¢
A função g satisfaz k gk∞ = 1 e dist ( g, H ) = 1; contudo, g 6∈ X = C [0, 1], R . Assim, intuitivamente,
não existe elemento em X com norma unitária que dista 1 do hiperplano H. Mas, uma vez que
k · k L2 ≤ k · k∞ , poderia existir h ∈ X com ¡ khk =¢ 1 e dist (h, H ) = 1. Como antes, o hiperplano H é
o núcleo do funcional linear contínuo γ : C [0, 1], R → R dado por
Z 1/2 Z 1
γ( f ) = f ( x )dx − f ( x )dx.
0 1/2

Escolhendo f n tal que f n ( x ) = 1 para x ∈ [0, (1/2) − (1/n)] e f n ( x ) = −1 para x ∈ [(1/2) + (1/n), 1]
e definindo f n por meio da reta unindo os pontos ((1/2) − (1/n), 1) e ((1/2) + (1/n), −1), vemos que
kγk = 1.
Aplicando o Lema 3.3, vamos mostrar que não existe h ∈ X tal que |γ(h)| = 1. Podemos supor que
γ(h) > 0; de fato, se fosse γ(h) < 0, então −h teria essa propriedade. Mas apenas a função g satisfaz
γ( g) = 1. Logo,
Z 1/2 Z 1
1 1
dist (h, H ) = γ(h) = h( x )dx − h( x )dx < + < 1.
0 1/2 2 2 ¢
12 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

3.4 O Teorema de Lax-Milgram

Sejam E, F espaços com produto interno. Como sabemos, o espaço L( E, F ) de todas


as aplicações lineares contínuas T : E → F é um espaço normado com a norma

k T k = sup k Tx k.
k x k=1

Daí decorre imediatamente que k Tx k ≤ k T k k x k para todo x ∈ E. Assim, se S ∈


L( F, G ) (em que G é um espaço normado), então kSTx k ≤ kSk k Tx k ≤ kSk k T k k x k,
de modo que
kST k ≤ kSk k T k.

Em particular, se F = G = E, temos que L( E) = L( E, E) é uma álgebra normada.


Se E for completo, então L( E) é completo; por esse motivo, L( E) é chamado álgebra de
Banach.

Lema 3.20 Seja E um espaço com produto interno e T ∈ L( E). Então

(i ) k x k = sup |h x, yi|;
kyk=1

(ii ) k T k = sup |h Tx, yi|.


k x k=1=kyk

¯ ¯
Demonstração: Para provar (i ), notamos que ¯h x, yi¯ ≤ k x k kyk ≤ k x k, se kyk = 1. A
igualdade é verificada ao tomarmos y = x/k x k.
Aplicando esse resultado, obtemos
¯ ¯
k T k = sup k Tx k = sup ¯h Tx, yi¯.
k x k=1 k x k=1=kyk 2

Uma forma sesquilinear é uma generalização de um produto interno:4

Definição 3.21 Sejam X, Y espaços vetoriais. Uma forma sesquilinear é uma função
B : X × Y → K tal que

(i ) para todo y ∈ Y fixo, B(·, y) : X → K é linear;

(ii ) para todo x ∈ X fixo,B( x, ·) : Y → K é antilinear.

No caso em que K = R, B é bilinear. Em qualquer caso, vamos nos referir a uma forma
sesquilinear simplesmente como forma.

4 Este assunto foi tratado detalhadamente no Apêndice ??.


3.4. O TEOREMA DE LAX-MILGRAM 13

Sejam X, Y espaços normados. Uma simples adaptação do Exercício ?? do Capítulo


?? nos mostra que uma forma B : X × Y → K é contínua se, e somente se, for limitada,
isto é, se
sup | B( x, y)| ≤ M < ∞.
k x k≤1,kyk≤1

Nessa caso, definimos a norma de B por

k Bk = sup | B( x, y)|.
k x k=1=kyk

Como no caso de aplicações (bi-)lineares, segue-se daí imediatamente que5

| B( x, y)| ≤ k Bk k x k kyk, ∀ x ∈ X, ∀ y ∈ Y. (3.8)

Proposição 3.22 Sejam E1 , E2 espaços com produto interno e T : E2 → E1 uma aplicação


linear contínua. Então, definindo B : E1 × E2 → K por

B( x, y) = h x, Tyi

ou B : E2 × E1 → K por
B(y, x ) = h Ty, x i,
a função B é uma forma sesquilinear contínua, satisfazendo

k B k = k T k.

Demonstração: Consideremos o caso em que B( x, y) = h x, Tyi. Claramente B é uma


forma sesquilinear em E. Temos que
¯ ¯
| B( x, y)| = ¯h x, Tyi¯ ≤ k x k k Tyk ≤ k T k k x k kyk.

Tomando o supremo com k x k = 1 = kyk, temos que k Bk ≤ k T k (e, portanto, B é


contínua).
Por outro lado, temos
¯ ¯
k Tx k2 = ¯h Tx, Tx i¯ = | B( Tx, x )| ≤ k Bk k Tx k k x k. (3.9)

Portanto, se Tx 6= 0, concluímos que

k Tx k ≤ k Bk k x k,

desigualdade que claramente é válida também no caso em que Tx = 0. Como a última


desigualdade garante que k T k ≤ k Bk, completamos a demonstração.
É claro que, por analogia, podemos concluir o mesmo resultado também para
2
B( x, y) = h Tx, yi.
O próximo resultado mostra que, em espaços de Hilbert, todas as formas
sesquilineares são como na Proposição 3.22:
5 Em caso de dúvida, veja a Seção ?? do Apêndice ??.
14 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Teorema 3.23 Sejam H1 e H2 espaços de Hilbert e B : H1 × H2 → K uma forma contínua.


Então existe uma única aplicação linear contínua T : H2 → H1 tal que

B( x, y) = h x, Tyi, ∀ x, y ∈ H
e k B k = k T k.

Demonstração: Fixe y ∈ H2 . Então B(·, y) : H1 → K é um funcional linear contínuo.


Pelo Teorema de Representação de Riesz 3.13, existe um elemento z ∈ H1 tal que
B( x, y) = h x, zi. Fazendo y variar em H2 , associamos a cada y um elemento z = z(y) ∈
H1 . Denotando z(y) = Ty, temos B( x, y) = h x, Tyi. Vamos mostrar que T : H2 → H1 é
linear e contínua. De fato,

h x, T (y + λw)i = B( x, y + λw) = B( x, y) + λ̄B( x, w)


= h x, Tyi + λ̄h x, Twi
= h x, Tyi + h x, λTwi.
Assim,

h x, T (y + λw) − Ty − λTwi = 0, ∀ x ∈ H1 , ∀ y, w ∈ H2 , ∀ λ ∈ K.
Tomando x = T (y + λw) − Ty − λTw, obtemos k T (y + λw) − Ty − λTwk = 0, o que
prova a linearidade de T.
Na Proposição 3.22 provamos que k Bk = k T k. Assim, T é contínuo. Finalmente,
se tivéssemos h x, Tyi = h x, Syi para quaisquer x ∈ H1 e y ∈ H2 , então obteríamos
h x, Ty − Syi = 0 e, como antes, Ty = Sy para todo y ∈ H2 . 2

O Exercício 23 interpreta o Teorema 3.23 como a existência de um isomorfismo que


preserva normas entre os espaços L(H) e o espaço Sc (H × H, K) de todas as formas
sesquilineares contínuas definidas em H.
Definição 3.24 Seja X um espaço normado. Uma forma B : X × X → K é coerciva, se existir
uma constante C > 0 tal que

| B( x, x )| ≥ C k x k2 , ∀ x ∈ X.

Exemplo 3.25 Considere o espaço E = CL2 ([0, 1], K) de todas as funções contínuas
f : [0, 1] → K com a norma L2 . Fixe ρ : [0, 1] → R tal que C = mint∈[0,1] ρ(t) > 0.6
Defina B : E × E → K por
Z 1
B( f , g) = f (t) g(t) ρ(t)dt.
0

É claro que B é uma forma. (Na verdade, é fácil verificar que B define um produto
interno em E.) Uma vez que
Z 1
B( f , f ) = | f (t)|2 ρ(t)dt ≥ C k f k2L2 ,
0

vemos que B é coerciva. (A última ¡expressão


¢ mostra
¡ que B¢ é coerciva também se for
considerada como uma forma B : L2 [0, 1], K × L2 [0, 1], K → K.) ¢
6 Esse tipo de função muitas vezes é chamado de função peso.
3.4. O TEOREMA DE LAX-MILGRAM 15

O próximo resultado é importante porque não se supõe que a forma B seja simétrica
(hermitiana). Veja o Exercício 25.
Teorema 3.26 (Lax-Milgram)
Seja B : H × H → K uma forma contínua e coerciva no espaço de Hilbert H. Então existe
uma única aplicação linear T : H → H tal que
B( x, y) = h x, Tyi.
A aplicação T é contínua, bijetora e tem inversa T −1 contínua, com k T −1 k ≥ 1/C. Em
particular, existe um único elemento y f ∈ H tal que
f ( x ) = B( x, y f )
para todo funcional contínuo f : H → K.
Demonstração: De acordo com o Teorema 3.23, existe uma aplicação linear contínua
T : H → H tal que
B( x, y) = h x, Tyi.
Uma vez que B é coerciva, temos
¯ ¯
C k x k2 ≤ | B( x, x )| = ¯h x, Tx i¯ ≤ k Tx k k x k,
de modo que
k Tx k ≥ C k x k ∀ x ∈ H. (3.10)
Essa desigualdade implica que ker T = {0}, mostrando que T é injetora. Note que,
como conseqüência do Corolário ??, a mesma desigualdade implica a continuidade de
T −1 : imT ⊂ H → H e também que k T −1 k ≤ 1/C.
Agora vamos mostrar que imT é um subespaço completo de H (e, portanto,
fechado). De fato, dada uma seqüência de Cauchy Txn ∈ imT, a desigualdade (3.10)
implica que ( xn ) é uma seqüência de Cauchy. Logo, existe x ∈ H tal que xn → x. A
continuidade de T implica que Txn → Tx.
Para mostrarmos que imT = H, aplicamos o Teorema 3.11. De fato, caso contrário,
existiria 0 6= y ∈ (imT )⊥ , isto é,
hy, Tx i = 0 ∀ x ∈ H.
Tomando y = x, obtemos
¯ ¯
0 = ¯hy, Tyi¯ = | B(y, y)| ≥ C kyk2 ,
o que contradiz a hipótese y 6= 0.
Seja agora f : H → K um funcional linear contínuo. Pelo Teorema de Representação
de Riesz, existe x0 ∈ H tal que
f ( x ) = h x, x0 i ∀ x ∈ H.
Como T é uma bijeção, existe um elemento y f ∈ H tal que Ty f = x0 . Logo,
f ( x ) = h x, x0 i = h x, Ty f i = B( x, y f ),
completando a demonstração. 2

O ponto y f pode ser caracterizado como o ponto em que certo funcional linear
atinge seu mínimo. Veja o Exercício 26.
16 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

3.5 Convergência Fraca e Limitação Uniforme


Como vimos (Corolário ?? e Observação ??), a topologia de um espaço de
Hilbert não permite concluirmos que uma sequência limitada possui subsequência
convergente. Por outro lado, muitos resultados importantes válidos no espaço Rn
foram demonstrados usando tal propriedade. Assim, é importante ter um conceito
de convergência de uma sequência que permita obtermos, de uma sequência limitada,
uma subsequência convergente. Para isso, definimos

Definição 3.27 Seja E um espaço com produto interno. A sequência ( xn ) ⊂ E converge


fracamente para x, denotado
w
xn * x ou lim xn = x,
n→∞

se lim f ( xn ) = f ( x ) para todo f ∈ E∗ .


n→∞
Dizemos que ( xn ) é fracamente convergente se existir x ∈ H tal que xn * x.

Para contrastar com a definição usual de convergência de uma sequência em um


n
espaço normado, algumas vezes a convergência xn → x é denotada por lim xn = x
n→∞
e denominada convergência forte ou em norma. Uma vez que os elementos do dual E∗
são funções contínuas, é imediato que

xn → x ⇒ xn * x.

Note que, em um espaço de Hilbert, o Teorema de Representação de Riesz garante


que todo funcional linear f : H → K é da forma f ( x ) = h x, yi para algum y ∈ H.
Assim,
xn * x ⇔ h xn , yi → h x, yi ∀ y ∈ H.

Exemplo 3.28 No espaço `2 de todas as sequências x = ( x1 , . . . , xi , . . .) tais que


∑i∞=1 | xi |2 < ∞, consideremos o elemento en com todos os termos iguais a 0, exceto
o n-ésimo, que é igual a 1. Afirmamos que a seqüência (en ) satisfaz en * 0. De fato, o
Teorema de Representação de Riesz garante que existe y ∈ `2 tal que f ( x ) = h x, yi para
todo f : `2 → K contínuo. Como ∑i∞=1 |yi |2 < ∞, dado e > 0 existe n0 ∈ N tal que

n ≥ n0 ⇒ |yi | < e.
Logo, | f (en )| = |yn | < e para todo n ≥ n0 , mostrando o afirmado. Note que en não
converge fortemente para 0. ¢

Exemplo 3.29 Generalizando o exemplo anterior, seja H um espaço de Hilbert e S =


{en : n ∈ N} uma sistema ortonormal. Uma vez que todo funcional f ∈ H∗ é da forma
h·, yi para algum y ∈ H, | f (en )| = |yn |. Dado e > 0, como ∑ n = 1∞ |yn | ≤ kyk, temos
que |yn | < e para n suficientemente grande. Isso quer dizer que en * 0. ¢

Assim, convergência fraca não implica convergência forte. Um critério útil para
verificar a convergência forte de uma seqüência é dado pelo

Teorema 3.30 Seja E um espaço com produto interno. Suponhamos que xn * x. Então
k x k ≤ lim infn→∞ k xn k. Se, adicionalmente, k xn k → k x k, então xn → x.
3.5. CONVERGÊNCIA FRACA E LIMITAÇÃO UNIFORME 17

Demonstração: Temos

k x k2 = h x, x i = lim h xn , x i ≤ k x k lim inf k xn k,


n→∞ n→∞

mostrando a primeira afirmação.


Temos

k xn − x k2 = k xn k2 − 2Re h xn , x i + k x k2 → k x k2 − 2k x k2 + k x k2 = 0,

quando n → ∞, pois h xn , x i → k x k2 . 2

Mostraremos que seqüências fracamente convergentes são limitadas. Para isso,


começamos com um resultado técnico:

Lema 3.31 Seja { f n : X → R : n ∈ N} uma sequência de funcionais lineares definida no


espaço de Banach X. Suponha que existam M > 0 e uma bola Br ( x0 ) (com r > 0) tal que
| f n ( x )| ≤ M para todo x ∈ Br ( x0 ). Então existe uma constante C tal que k f n k ≤ C, ou seja,
{ f n } é limitado em X ∗ .

Demonstração: Seja x0 6= x ∈ X. Então temos


¯ µ ¶¯
k x − x0 k ¯¯ r ( x − x0 ) ¯¯
| f n ( x )| = | f n ( x − x0 ) + f n ( x0 )k ≤ ¯ f n k x − x0 k ¯ + | f n ( x0 )|
r
M
≤ k x − x0 k + | f n ( x0 )|
r
Assim, se k x k ≤ 1, então
M
| f n ( x )| ≤ (1 + k x0 k) + | f n ( x0 )|.
r
Uma vez que {| f n ( x0 )| : n ∈ N} é limitado, concluímos o afirmado. 2

Teorema 3.32 (Princípio da Limitação Uniforme)


Seja { f n : X → R : n ∈ N} uma sequência de funcionais lineares definida no espaço de
Banach X. Suponha que { f n ( x ) : n ∈ N} seja um conjunto limitado. Então {k f n k : n ∈ N}
é limitado.

Demonstração: Suponhamos que {k f n k} seja ilimitado. Então, pelo Lema 3.31, para
toda bola Br ( x0 ) (com r > 0), o conjunto {| f n ( x )| : x ∈ Br ( x0 ) e n ∈ N} não é limitado.
Escolhemos então n1 ∈ N e x1 ∈ Br ( x0 ) tal que | f n1 ( x1 )| > 1. Como f n1 é contínua,
existe 0 < r1 < 1 tal que | f n1 ( x )| > 1 para todo x ∈ Br1 ( x1 ). Note que podemos tomar
r1 de modo que Br1 ( x1 ) ⊂ Br ( x0 ). Agora tomamos n2 > n1 e x2 ∈ Br1 ( x1 ) tal que
| f n2 ( x2 )| > 2. Do mesmo modo, podemos escolher 0 < r2 < 1/2 tal que | f n2 ( x )| > 2
para todo x ∈ Br2 ( x2 ), com Br2 ( x2 ) ⊂ Br1 ( x1 ). Continuando ¡desse modo,¢ obtemos uma
subsequência ( f nk ) de funcionais lineares e uma sequência Brk ( xk ) de bolas abertas,
com
1
Brk+1 ( xk+1 ) ⊂ Brk ( xk ) e rk <
k
tal que
| f nk ( x )| > k ∀ x ∈ Brk ( xk ).
18 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Uma vez que a sequência ( xk ) é de Cauchy, temos que xk → z ∈ X. Uma vez que
z ∈ Brk ( xk ) para todo k ∈ N, vemos que | f nk (z)| → ∞ quando k → ∞, o que é uma
contradição. 2

Um critério útil para verificar a convergência fraca de uma sequência é dado pelo
próximo resultado:

Teorema 3.33 Sejam ( xn ) uma seqüência no espaço de Hilbert H e D ⊂ H um subconjunto


denso. Então xn * x se, e somente se,
(i ) existe uma constante M tal que k xn k ≤ M para todo n ∈ N;
(ii ) h xn , yi → h x, yi quando n → ∞ para todo y ∈ D.

Demonstração: Suponha que xn * x. Defina f n ( x ) = h xn , x i. Então k f n k = k xn k.


Como f n ( x ) converge para todo x ∈ H,©vemos ª que ( f n ( x )) é uma sequência limitada.
Pelo Princípio da Limitação Uniforme, k f n k é limitado, provando (i ). A afirmação
(ii ) é imediata, pois xn * x.
Reciprocamente, dado w ∈ H, existe y ∈ D tal que kw − yk < e, qualquer que seja
e > 0. De (ii ) decorre a existência de n0 ∈ N tal que |h xn − x, yi| < e para todo n ≥ n0 .
Temos

|h xn − x, wi ≤ |h xn − x, yi + |h xn − x, w − yi|
≤ e + k xn − x k kw − yk
≤ (1 + M + k x k)e.

Logo, h xn − x, wi → 0 quando n → ∞, qualquer que seja w ∈ H, o que prova que


xn * x. 2

Observação 3.34 Pode-se mostrar que a topologia gerada pelo convergência fraca
de seqüências não provém de uma métrica. Assim, os conceitos de conjunto
sequencialmente compacto e compacto por coberturas não são equivalentes. Em particular,
não vale o resultado enunciado no Exercício ?? do Capítulo ??. ¢

Vamos mostrar agora que toda seqüência limitada em um espaço de Hilbert possui
uma subseqüência fracamente convergente.
Teorema 3.35 Seja H um espaço de Hilbert separável. Se ( xn ) for uma seqüência limitada em
H, isto é, se existir C > 0 tal que k xn k ≤ C para todo n, então existem uma subseqüência ( xni )
e um elemento x ∈ H tais que

h xni , yi → h x, yi ∀ y ∈ H.

Assim, toda seqüência limitada em H possui uma subseqüência que converge fracamente.
Demonstração: Fixado y ∈ H, temos
¯ ¯
¯ h x n , y i ¯ ≤ k x n k k y k ≤ C k y k,

mostrando que a seqüência de números reais h xn , yi é limitada e, portanto, possui uma


subseqüência convergente.
3.5. CONVERGÊNCIA FRACA E LIMITAÇÃO UNIFORME 19

Seja D = {d1 , d2 , . . .} ⊂ H um conjunto denso. (Veja o Teorema ??.) Tomando


y = d1 , existe uma subseqüência ( xn1i ) tal que h xn1i , d1 i é convergente.
Do mesmo modo, existe agora uma subseqüência ( xn2i ) de ( xn1i ) tal que h xn2i , d2 i é
convergente.
Repetindo esse processo (chamado método diagonal de Cantor), obtemos uma
subseqüência ( xn j ) de ( xn ) tal que h xn j , di é convergente, qualquer que seja d ∈ D.
Para simplificar a nossa notação, vamos escrever ( xn ) ao invés de ( xn j ). Assim, temos
que
h xn , di
é convergente, para todo d ∈ D.
Decorre do Teorema 3.33 que h xn , yi é convergente para todo y ∈ H.
Definimos então f : H → K por

f (y) = lim h xn , yi = lim hy, xn i.


n→∞ n→∞

Obviamente f é um funcional linear. A continuidade de f também é imediata:


| f (y)| ≤ C kyk.
Pelo Teorema de Representação de Riesz 3.13, existe x ∈ H tal que f (y) = hy, x i
para todo y ∈ H. Mas isso é o mesmo que afirmar que

lim hy, xn i = hy, x i ∀ y ∈ H.


n→∞

Daí decorre imediatamente que xn * x. 2

Corolário 3.36 Toda sequência limitada ( xn ) em um espaço de Hilbert H possui uma


subsequência ( xni ) fracamente convergente.

Demonstração: Sejam D = { xn : n ∈ N} e F = < D >, o fecho do espaço das


combinações lineares dos elementos de D. O conjunto F é um subespaço fechado de
um espaço de Hilbert e, portanto, completo. Assim,

H = F ⊕ F⊥ .

Seja f : H → K um funcional linear contínuo. O Teorema de Representação de


Riesz garante que f (y) = hy, zi para algum z ∈ H. Temos que z = z1 + z2 ∈ F ⊕ F ⊥ .
Assim,
f (y) = hy, z1 i + hy, z2 i. (3.11)
Ora, g : F → K definido por g(z) = hz, z1 i é um funcional linear contínuo definido
em F, espaço de Hilbert separável. Logo, o Teorema 3.35 garante a existência de
x ∈ F e de uma subseqüência ( xni ) tal que g( xni ) → g( x ). Como (3.11) mostra que
f ( xni ) = h xni , z1 i = g( xni ), o resultado está provado. 2

Teorema 3.37 Seja C um subconjunto convexo do espaço de Hilbert H. Então o conjunto C é


sequencialmente fechado com relação à topologia fraca7 se, e somente se, for fechado com relação
à topologia forte.
7 Isto é, satisfaz o Teorema ??.
20 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

Demonstração: Suponhamos que C seja fechado com relação à topologia forte de H.


(Quer dizer, se ( xn ) ⊂ C satisfizer xn → x, então x ∈ C.) Seja ( xn ) ⊂ C uma sequência
tal que xn * x. Queremos mostrar que x ∈ C. Suponhamos o contrário. Então, pelo
Teorema de Separação de Hahn-Banach (Teorema 3.8), existem um funcional linear
contínuo f : H → K e α ∈ R tais que

Re f (z) ≤ α < Re f ( x ), ∀ z ∈ C. (3.12)

Pelo Teorema de Representação de Riesz, existe y ∈ H tal que f (w) = hw, yi para todo
w ∈ H. Assim, (3.12) significa que

Rehz, yi ≤ α < Reh x, yi, ∀ z ∈ C,

o que contradiz xn * x. Assim, C também é sequencialmente fechado com relação à


topologia fraca de H. A afirmação direta é imediata. 2

Definição 3.38 Seja C um subconjunto do espaço vetorial V . O vetor v ∈ V é uma


combinação convexa de elementos de C se existirem escalares 0 ≤ λi ∈ R e n ∈ N tais
que
n n
v= ∑ λi vi , ∑ λi = 1.
i =1 i =1

O conjunto das combinações convexas de elementos de C é chamado fecho convexo8 do


conjunto C.

Corolário 3.39 (Teorema de Mazur) Suponha que ( xn ) convirja fracamente para x no


espaço de Hilbert H. Então existe uma seqüência (yn ) de combinações convexas de { xi }i∈N
tal que yn → x.

Demonstração: Seja C o fecho convexo do conjunto { xi : i ∈ N}. Uma vez que xn * x,


temos que x pertence ao fecho de C na topologia fraca de H. Pelo Teorema 3.37, temos
que x pertence ao fecho de C na topologia forte. Quer dizer, existe uma seqüência
(yn ) ⊂ C tal que yn → x, provando o afirmado. 2

Um trajeto alternativo para demonstrar o Teoremas 3.37 e de Mazur é sugerido nos


Exercícios 30 e 31.

3.6 Exercícios
1. Seja B uma bola (aberta ou fechada) em um espaço de Banach X. Mostre que B é
um conjunto convexo.

2. Sejam E um espaço com produto interno e k · k a norma por ele gerada. Mostre
que k · k2 é uma função convexa.
8 Em inglês, convex hull.
3.6. EXERCÍCIOS 21

3. Mostre que todo subespaço de um espaço vetorial é convexo; que translações


de conjuntos convexos são conjuntos convexos; que qualquer interseção de
conjuntos convexos é um conjunto convexo (mesmo que vazio). Mostre também
que, se p for uma semi-norma9 em E, então, para todo r ≥ 0, os conjuntos

{ x ∈ E : p( x ) ≤ r } e { x ∈ E : p( x ) < r }

são convexos.

4. Considere o espaço de Banach X = R2 com k( x, y)k = max{| x |, |y|}. Mostre que


X não satisfaz o Lema 3.6.

5. Em um espaço de Banach X, dê exemplo de um conjunto convexo e fechado


C ⊂ X e um ponto x 6∈ C tal que não existe y ∈ C satisfazendo k x − yk ≤ k x − zk
para todo z ∈ C.

6. Demonstre o Teorema 3.10 aplicando o fato que F possui uma base ortonormal.

7. Se F, G forem subespaços do espaço vetorial X, mostre que F + G é um subespaço


de X. Mostre que todo elemento x ∈ E pode ser escrito de maneira única como
y + z ∈ F + G se, e somente se, F ∩ G = {0}.

8. Seja F um subespaço completo do espaço com produto interno E. Se F 6= E, mostre


que existe 0 6= y ∈ F ⊥ .

9. Seja E um espaço com produto interno e R, S ⊂ E subconjuntos não vazios


arbitrários. Mostre:

(a) S⊥ é um subespaço fechado de E;


(b) R ⊂ S implica S⊥ ⊂ R⊥ ;
(c) S⊥ = (< S >)⊥ ;
(d) S ∩ S⊥ ⊂ {0} e S ∩ S⊥ = {0}, apenas se 0 ∈ S;
(e) S ⊂ S⊥⊥ := (S⊥ )⊥ ;
(f) se S for um subespaço fechado do espaço de Hilbert10 H, então S = S⊥⊥ ;
(g) se S for um subconjunto qualquer de um espaço de Hilbert H, então S⊥⊥ =
< S >;
(h) (S⊥⊥ )⊥ =: S⊥⊥⊥ = S⊥ .

10. Seja E um espaço com produto interno e F um subespaço completo de E. Mostre


que, se E não for completo, então F ⊥ também não é.

Definição 3.40 Seja V um espaço vetorial sobre o corpo K. Dizemos que um subespaço M 6= V
é maximal se, para todo subespaço W tal que M ⊂ W ⊂ V , tivermos W = M ou W = V .

11. Mostre que um subespaço M do espaço vetorial V é maximal se, e somente se, M
tiver codimensão 1.
9 Uma semi-norma é uma função não-negativa p que satisfaz as propriedades (i ) e (ii ) da Definição ??.
10 OExemplo 3.18 mostra que esse resultado pode não ser válido em um espaço com produto interno
que não seja completo. Veja também o Exercício 13.
22 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

12. Seja F um subespaço completo do espaço com produto interno E e G = z + F,


em que z ∈ E é um elemento fixo. Então o elemento x0 ∈ G de menor norma é
caracterizado por
x0 ∈ F ⊥ .

13. Defina ( )

xi
F= ( x i ) ∈ `0 : ∑ i
=0 .
i =1

(a) Interprete geometricamente o subespaço F e mostre que F é um subespaço


fechado de `0 ;
(b) Mostre que `0 6= F ⊕ F ⊥ e F 6= F ⊥⊥ . (Compare esse exercício com o Exercício
?? do Capítulo ??.)

14. Defina F = {(0, x2 , . . . , xm , 0, . . . , ) : xi ∈ K}.

(a) Verifique que F é subespaço de `0 e, portanto, de `2 ;


(b) Ache F ⊥⊥ como subespaço de `0 ;
(c) Ache F ⊥ como subespaço de `2 .

15. Na primeira demonstração do Teorema de Riesz, supondo ker f 6= H, escolha


uma base ortonormal para o subespaço ker f e escolha e0 ∈ (ker f )⊥ de modo a
obter uma base ortonormal para H. Demonstre então o Teorema de Riesz.

16. Na segunda demonstração do Teorema de Riesz, supondo ker f 6= H, escolha


x0 ∈ (ker f )⊥ com f ( x0 ) = 1.

(a) Verifique que

x = ( x − f ( x ) x0 ) + f ( x ) x0 ∈ ker f ⊕ < x0 > .

(b) Defina g : H → K por g( x ) = h x, x0 i. Mostre que g é nulo em ker f e


g( x0 ) = k x0 k2 6= 0.
x0
(c) Calcule g( x ) e obtenha que f ( x ) = h x, yi, com y = k x0 k2
.

Observe que essa demonstração do Teorema de Representação de Riesz mostra


que, se dois funcionais se anulam no mesmo hiperplano, então um é múltiplo do
outro.

17. Considere o espaço CL2 ([0, π ], R) e seu subespaço R2 [t]. Considere o funcional
linear ` : R2 [t] → R dado por

`( p) = h p(t), sen ti.

Ache q ∈ R2 [t] tal que

`( p) = h p(t), q(t)i ∀ p ∈ R2 [t].


3.6. EXERCÍCIOS 23

18. Considere o espaço CL2 ([−π, π ], R) e seu subespaço R5 [t]. Ache p ∈ R5 [t] de
modo que Z π
|sen t − p(t)|2 dt
π
assuma o menor valor possível. Compare as aproximações de sen t obtidas por
meio desse polinômio e da série de Maclaurin de sen t.

19. Seja S = {eα : α ∈ A} uma base ortonormal do espaço de Hilbert H. Defina o


funcional linear eα∗ : H → K por eα∗ ( x ) = h x, eα i. Mostre que S ∗ = {eα : α ∈ A}
define uma base ortonormal em H∗ .

20. Denote por F (H × H, K) o espaço de todas as formas sesquilineares contínuas


definidas em H. Mostre que F (H × H, K) é um espaço de Banach com a norma
definida na Seção ??.

21. Seja F ⊂ H um subespaço fechado do espaço de Hilbert H. Seja f : F → K um


funcional linear contínuo. Mostre que existe um funcional linear f˜ : H → K que
estende f , com k f˜k = k f k. (Esse resultado pode ser generalizado para espaços
de Banach – chama-se Teorema de Hahn-Banach – mas a demonstração então não é
trivial.) No caso de espaços de Hilbert, a extensão f˜ é única!

22. Seja H um espaço de Hilbert. Então, para todo x ∈ H, a aplicação x 7→ f x , em que


f x : H → K é definido por f x (y) = hy, x i é uma aplicação conjugada-linear, isto é,

f x1 + x2 ( y ) = f x1 ( y ) + f x2 ( y )
∀ x1 , x2 ∈ H , ∀ λ ∈ K
f λx (y) = λ̄ f x (y),

que preserva normas entre H e seu espaço dual H0 .

23. Considere o espaço L(H) de todas as aplicações lineares contínuas T : H → H.


Mostre que a aplicação
T 7 → BT ,
em que BT ( x, y) = h x, Tyi, é uma aplicação linear que preserva normas entre
L(H) e F (H × H, K).
24. Mostre que o produto interno no espaço de Hilbert H é coecivo.

25. Suponha que B : H × H → K seja uma forma contínua e coerciva, como


no enunciado do Teorema de Lax-Milgram. Suponha, adicionalmente, que B
seja simétrica (hermitiana). Defina hu, vi1 = B(u, v) e verifique que h·, ·i1 é
um produto interno em H. Obtenha então o Teorema de Lax-Milgram como
consequência do Teorema de Representação de Riesz.

26. (Lax-Milgram e Minimização)No Teorema de Lax-Milgram 3.26, considere um


funcional linear f : H → K e o elemento y f tal que f ( x ) = B( x, y f ). Mostre que
1
(a) ky f k ≤ C k f k;
(b) se a forma B for um produto interno, então y f é o único mínimo do funcional

1
F (y) = B(y, y) − Re f (y).
2
24 CAPÍTULO 3. PRODUTO INTERNO E GEOMETRIA

27. Seja E um espaço com produto interno. Mostre que se xn → x e yn * y, então


h xn , yn i → h x, yi.
¡ ¢
28. Mostre que a sequência (sen nx ) converge fracamente para 0 em L2 [−π, π ] , mas
não converge fortemente para 0.

29. Defina a sequência f n : [0, 1] → R por


½ √
n, se 0 ≤ x ≤ 1/n,
f n (x) =
0, se 1/n ≤ x ≤ 1.
¡ ¢
Mostre que h p, f i → 0 em L2 [0, 1] para todo polinômio p. Aplique então o
Teorema de Aproximação de Weierstraß¡ (Exercício¢ ?? do Capítulo ??) e conclua
que f n * 0. Verifique que f n 6→ 0 em L2 [0, 1] .

30. Demonstre o Teorema de Mazur seguindo o roteiro:

(a) Mostre que podemos assumir que x = 0, isto é, que xn * 0


(b) Escolha, indutivamente, uma subseqüência ( xn j ) tal que n1 = 1, n j+1 > n j e

1 1 1
|h xn1 , xn j+1 i| ≤ , |h xn2 , xn j+1 i| ≤ , ... |h xn j , xn j+1 i| ≤ .
j j j

(Justifique a existência de uma tal sequência.)


(c) Defina y j = ( xn1 + . . . + xn j )/j e mostre que

j j k
1 2
k y j k2 = ∑ k xn j k + Re ∑ ∑ h x ni , x n k i.
j2 i =1
j2 k =1 i =1

(d) Uma vez que existe M tal que k xn k ≤ M para todo n ∈ N, mostre que

M2 + 2
k y j k2 ≤
j

e conclua que y j → 0 quando j → ∞.

31. Utilizando o Teorema de Mazur, mostre o Teorema 3.37.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[10] D.G. de Figueiredo: Positive solutions of semilinear elliptic problems, Lecture Notes in
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Rio de Janeiro, 1997.

[18] L. Jantscher: Hilberträume, Akademische Verlagsgesellschaft, Wiesbaden, 1977.

25
26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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www.mat.ufmg.br/ regi/eqdif/teoaproximweierstrass.pdf

[33] I. Stakgold: Green’s Functions and Boundary Value Problems, Wiley, New York,
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[35] J. Weidmann: Linear Operators in Hilbert Spaces, Springer-Verlag, New York,


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[37] A. Wilansky: Functional Analysis, Blaisdell, New York, 1964.

[38] R.L. Wheeden e A. Zygmund: Measure and Integral, Marcel Dekker, New York,
1977.
ÍNDICE REMISSIVO

álgebra, 12 teorema
de Banach, 12 da limitação uniforme, 17
de caracterização do ponto de menor
aplicação norma, 4
conjugada-linear, 23 de Hahn-Banach, 23
de Lax-Milgram, 15
Cantor de Mazur, 20
método diagonal de, 19 de Representação de Riesz, 8
combinação convexa, 20 de separação de Hahn-Banach, 5
conjunto do complementar ortogonal, 7
convexo, 3 do ponto de menor norma, 3
convergência fraca
de uma sequência, 16

fecho convexo, 20
forma
coerciva, 14
sesquilinear, 12
função
peso, 14
funcional linear
descontínuo, 10

método diagonal de Cantor, 19


Mazur
teorema de, 20

norma
de uma forma, 13

princípio
da limitação uniforme, 17
projeção ortogonal, 7
de um vetor sobre um subespaço, 6

semi-norma, 21
sequência
fracamente convergente, 16
soma
de subespaços, 7
direta de subespaços, 7

27

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