DISSERTAÇÃO Tarcísio Souto Bacelar
DISSERTAÇÃO Tarcísio Souto Bacelar
DISSERTAÇÃO Tarcísio Souto Bacelar
Recife
2019
TARCISIO SOUTO BACELAR
Recife
2019
Catalogação na fonte
Bibliotecário Carlos Moura, CRB-4 / 1502
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Brayner de Oliveira Lira (examinador interno)
CRCN-NE/CNEN/UFPE
___________________________________________________
Prof. Dr. Prof. José Bione de Melo Filho (examinador externo)
IFPE e CHESF
____________________________________________________
Prof. Dr. Luis Arturo Gómes Malagón (examinador externo)
UPE
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Tércio Bacelar e Silva e Eleonora Souto Silva (in memoriam),
à minha família, em especial à minha esposa e filhos, pelo incentivo e compreensão pelas
minhas ausências.
Às minhas orientadoras Profa. Olga Castro Vilela e Profa. Elieza de Souza Barbosa
pelos ensinamentos, por guiarem meus caminhos na pesquisa e pelas correções de rotas com
foco nos objetivos traçados.
Aos meus colegas que sempre me motivaram com seu dinamismo, natural da idade, e
em particular ao técnico do grupo FAE/UFPE: Rinaldo de O. Melo pelo apoio na montagem e
acompanhamento na bancada de testes.
Ao grupo de pesquisas em fontes alternativas de energia do departamento de energia
nuclear da UFPE (grupo FAE) pela cessão dos equipamentos e sensores de precisão, instalados
na bancada de testes, tão importantes à minha pesquisa.
À Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, pelo apoio logístico, no difícil
acesso à ilha flutuante no reservatório da UHE-Sobradinho, aos seus gerentes e em especial ao
Eng. Pedro Sinval Ferreira Rodrigues que nos acompanhou em todas nossas visitas à bancada
de testes.
E à Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL pelo incentivo e fomento à pesquisa
através de seus programas de P&D+I, notadamente no âmbito do P&D “Exploração de Energia
Solar em lagos de Usinas Hidrelétricas”, contrato CHESF: CTNI - 92.2016.0430.00, chamada
pública Eletronorte / Chesf - 003/2015.
.
RESUMO
The main objective of the study is to analyze the environmental conditions in the site of
the photovoltaic floating plant Sobradinho - BA and the characteristics of the photovoltaic
generator as well as to estimate the generator operating temperature, a fundamental parameter
in the performance of photovoltaic generation and strongly related to weather conditions. To
this end, a floating test bench formed by a set of environmental measurement sensors coupled
to a floating base was connected to 1 MWp UFF-Sobradinho (first stage of 5 MWp and in the
final phase). The bench also includes two short-circuit and open-circuit photovoltaic modules,
with instrumentation for temperature measurement and electrical parameters of the photovoltaic
generator. The information collected is not available in the literature on these specific
environmental conditions of floating photovoltaic systems in hydroelectric lakes, particularly
in the UHE - Sobradinho lake. The behavior of the temperature variation of the photovoltaic
generator as a function of the measured local weather conditions (solar irradiance, temperature,
and relative humidity, wind speed and direction) is analyzed and estimated considering a model
of energy balance and physical characteristics of the photovoltaic generator. The results confirm
the excellent environmental conditions of the UHE - Sobradinho reservoir region and the
operating efficiency of the generator, about 15.5% when operating in the real environmental
conditions of the site. In addition to experimental studies and the development of a simple and
effective generator performance estimation model, the work also presents an extensive analysis
of the latest generation of Floating Photovoltaic Power Plants (UFF) in the world to provide
relevant information on the technology trends of this Application.
Keywords: Solar Power Generation. Floating Photovoltaic Plant. Operating Temperature and
Performance of Photovoltaic Generators.
LISTA DE FIGURAS
Figura 41 – Perdas térmicas totais calculadas com base nos dados experimentais para o 84
módulo instalado no Lago de Sobradinho................................. .................
Figura 42 – Perdas térmicas (a) radiativas e (b) convectivas, calculadas com base nos 85
dados experimentais para o módulo instalado no lago............... .....................
Figura 43 – Relação entre a diferença de temperatura do módulo e ambiente (T FV- Tamb) e
a irradiância solar incidente Icol. Temperatura TFV calculada considerando o 86
módulo com geração ................................................... ............... ..................
Figura 44 – Histograma de frequência do parâmetro k de Ross calculado considerando–se
a condição de módulo com geração.................................................. ................. 87
Figura 45 – Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross com geração.......... 87
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 17
2 ESTADO DA ARTE DA TECNOLOGIA FOTOVOLTAICA FLUTUANTE ........ 18
2.1 TIPOS DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS FLUTUANTES - UFF ............................. 23
2.1.1 Sistema fotovoltaico no oceano ...................................................................................... 23
2.1.2 Sistema fotovoltaico flutuante sobre canal de irrigação ............................................. 24
2.1.3 Sistema fotovoltaico flutuante em lago de hidrelétrica ............................................... 25
2.1.3.1 Redução do uso da terra.................................................................................................... 26
2.1.3.2 Redução da evaporação .................................................................................................... 26
2.1.3.3 Custo de operação e manutenção...................................................................................... 28
2.1.3.4 Sombreamento .................................................................................................................. 29
2.1.3.5 Tempo de instalação ......................................................................................................... 29
2.2 Inovações na tecnologia de sistemas fotovoltaicos flutuantes.......................................... 29
2.2.1 Sistema solar flutuante com rastreamento ................................................................... 30
2.2.2 Sistemas fotovoltaicos flutuantes submersos ................................................................ 31
2.2.3 Diferentes tipos de flutuadores (materiais e geometria) ............................................. 32
2.2.4 Fabricantes de Flutuadores no Mundo ......................................................................... 33
2.2.5 Sistema de Ancoragem ................................................................................................... 37
2.3 POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE SISTEMA HÍBRIDO FOTOVOLTAICO
FLUTUANTE EM RESERVATÓRIO DE HIDRELÉTRICA NO MUNDO ................ 38
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DE USINAS FOTO VOLTAICAS
FLUTUANTES EM LAGOS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL. ................................... 41
2.5 O SISTEMA FOTOVOLTAICO FLUTUANTE DE SOBRADINHO ........................... 42
2.5.1 Sistema gerador .............................................................................................................. 43
2.5.2 Conexões elétricas e Eletrocentro ................................................................................. 45
3 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................................... 46
4 MATERIAS E MÉTODOS............................................................................................ 50
4.1 CAMPANHA DE MEDIÇÃO ......................................................................................... 50
4.1.1 Descrição do arranjo experimental ............................................................................... 51
4.2 TEMPERATURA DE OPERAÇÃO DOS MÓDULOS .................................................. 56
4.2.1 Estimativa da Temperatura do módulo com geração de potência a partir de
medições do módulo em 𝑽𝒐𝒄 ........................................................................................ 61
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 63
5.1 ANÁLISE DOS DADOS DA CAMPANHA DE MEDIÇÃO NO LAGO DE
SOBRADINHO ............................................................................................................... 63
5.1.1 Recurso Solar - irradiações incidentes.......................................................................... 65
5.1.2 Temperatura ambiente, umidade relativa do ar, velocidade do vento ...................... 67
5.1.3 Características específicas do dispositivo fotovoltaico flutuante ............................... 69
5.1.4 Comparação entre os resultados obtidos e valores de referência .............................. 75
5.1.5 Radiação Solar Sobradinho e Petrolina........................................................................ 77
5.1.6 Temperatura ambiente Sobradinho e Petrolina .......................................................... 77
5.1.7 Umidade do ar e Velocidade do vento Sobradinho e Petrolina .................................. 79
5.2 TEMPERATURA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO E POTÊNCIA GERADA.......... 80
5.2.1 Coeficiente de Ross para a condição NOCT - dados do fabricante ........................... 80
5.2.2 Cálculo do coeficiente de Ross – dados experimentais ................................................ 80
5.3 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO MÓDULO EM CONDIÇÃO DE
OPERAÇÃO (𝑷𝒆𝒍 ≠0)................................................................................................... 83
5.3.1 Temperatura do módulo em geração e potência gerada ............................................. 84
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 88
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 90
ANEXO A - MODELOS PARA ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DOS
MÓDULOS FOTOVOLTÁCOS .................................................................................. 94
14
1 INTRODUÇÃO
A potência total acumulada no mundo até 2018, por fontes renováveis, atingiu 2.351
GW onde 1.172 GW pela hidreletricidade, 564 GW pela eólica e 486 GW pela fonte solar. A
China, o Japão, os EUA e a Alemanha são responsáveis por 67% desse montante mundial
acumulado.
15
Esse rápido e continuado crescimento da geração solar fotovoltaica pode ser atribuído à
melhoria da curva de conhecimento tecnológico com consequente barateamento de toda a
cadeia de produção, notadamente a dos painéis fotovoltaicos que experimentam uma crescente
redução de custos e aumento de eficiência.
As primeiras iniciativas no Brasil ocorreram com a implantação de sistemas FV
autônomos na zona rural do Nordeste Oriental, no final da década de 90, no âmbito do Programa
de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios – PRODEEM (Neto e Carvalho,
2006). A primeira usina fotovoltaica foi instalada no país apenas em 2011, em Tauá-CE (MPX,
2011). No ano de 2012 iniciou-se o ciclo virtuoso dessa fonte em consequência do P&D
Estratégico nº13/2011, da ANEEL - “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração
Solar Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira” que buscou induzir investimentos na
geração de energia fotovoltaica fomentando o “financiamento/execução”, por empresas de
energia elétrica em 18 projetos de usinas fotovoltaicas.
No ano de 2016 o Brasil contava com uma potência fotovoltaica instalada da ordem de
150 MW, o que correspondia a aproximadamente 0,1% da matriz energética brasileira. De
acordo com o Balanço Energético Nacional da EPE (2018), em 2017, a participação da energia
solar na matriz elétrica era de 0,13%. Com rápido crescimento, em 2019 o Brasil atingiu mais
de 2 GW de potência solar instalada, o que representa 1,27% de sua matriz energética de acordo
com o Banco de Informações de Geração – BIG da ANEEL (2019). Vale salientar que a essa
Agência já outorgou 86 novos empreendimentos com capacidade instalada de 2,76 GW que se
encontram em construção ou ainda não iniciados.
A experiência adquirida no país com respeito às instalações fotovoltaicas, tanto técnica
quanto no âmbito de negócios, permitiu o estabelecimento de um ambiente favorável ao
surgimento de propostas inovadoras, como a da geração fotovoltaica em meio aquático. Essa
opção tecnológica, no entanto, já era usada em outros locais, principalmente nos países
Asiáticos e foram incentivadas pela ANEEL através da chamada pública Eletronorte/Chesf
003/2015 – “Exploração de Energia Solar em lagos de Usinas Hidrelétricas”. A chamada visava
a implantação de sistemas de geração de energia solar de 10 MWp de potência, utilizando
painéis fotovoltaicos montados em plataformas flutuantes a ser instaladas nos reservatórios das
usinas hidrelétricas de Balbina-AM e de Sobradinho-BA. Esses sistemas foram propostos como
base de pesquisa aplicada para avaliação dos impactos desta nova tecnologia nos ecossistemas
amazônico e semiárido nordestino, respectivamente.
16
1.1 OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo principal descrever e conhecer o ambiente do lago de
Sobradinho, local onde está sendo implantada uma usina fotovoltaica flutuante, com base em
experimentos realizados neste local. Para tal, uma bancada de ensaios formada por um conjunto
de sensores de medições ambientais, acoplada a uma base flutuante, foi justaposta à usina
fotovoltaica flutuante de 1 MWp de Sobradinho. A bancada agrega ainda, dois módulos
fotovoltaicos com instrumentação para medição da temperatura e parâmetros elétricos. As
medições realizadas fornecem informações sobre as condições ambientais específicas às quais
os sistemas fotovoltaicos flutuantes são submetidos, quando instalados no lago de Sobradinho.
Como objetivo secundário, propõe-se construir modelagem, utilizando os dados
experimentais baseada em um modelo de balanço de energia, com vistas a descrever o
comportamento da variação da temperatura do gerador fotovoltaico em função das condições
meteorológicas locais (irradiância solar, temperatura ambiente, velocidade do vento). Nesse
estudo são consideradas as características físicas e elétricas do gerador (módulo) escolhido para
compor a usina fotovoltaica flutuante de 1 MWp projetada para o lago de Sobradinho.
Agregando aos estudos experimentais, este trabalho buscou também apresentar uma
extensa análise do Estado da Arte das Usinas Fotovoltaicas Flutuantes (UFF) no mundo, com
vistas a disponibilizar informações importantes sobre as tendências tecnológicas dessa
aplicação.
18
A tabela 2 mostra a expansão das UFFs no mundo até o ano de 2016, com um
incremento da ordem de 240 MWp. Cabe ressaltar que 47% desse acréscimo deveu-se ao Japão
que contava à época com 45 usinas flutuantes (Sauh e Yadav, 2016; Thi, 2017). Os autores
citam previsão de expansão muito grande nesse tipo de aplicação UFF e ressaltam que só a
China implantou em 2017 uma usina de 40 MWp numa área de mineração chamada Anhui.
A seguir são descritos tipos de sistemas fotovoltaicos flutuantes do ponto de vista do local
de instalação, das características, vantagens e desvantagens dos sistemas.
23
Fonte: Montagem do autor com informações do site [email protected] Bjørneklett et al. (2019)
Os módulos fotovoltaicos são fixados sobre a manta de forma a permitir um bom contato
térmico com a água. A figura 4 mostra um projeto de 2 MWp (quatro trampolins) instalado na
Usina Fotovoltaica Flutuante de Banja, na Albânia.
A solução apresentada pela Empresa OceanSun consiste na instalação modular da Usina
com três configurações possíveis de sistemas padrões: com 100 kWp, com 200 kWp e com 500
kWp em ilha circular. Um sistema de 2 MWp, por exemplo, é montado em quatro unidades de
24
500 kWp sobre ilhas circulares com 72 m de diâmetro e área de aproximadamente 4.000 m².
Conforme apresentado na figura 4.
Figura 4 - Sistema FV com quatro ilhas circulares. (a) Apresenta resistência mecânica.
(b) Ilhas circulares de 500 kWp.
(a) (b)
Farfan e Breyer (2018) apresentaram uma visão otimista para a expansão da aplicação
hibrida das UFF e usinas hidrelétricas com base na utilização máxima de 25% dos reservatórios
no mundo. Pelas suas estimativas os reservatórios das hidrelétricas poderiam hospedar cerca de
4400 GW de usinas fotovoltaicas flutuantes e gerar aproximadamente 6.270 TWh. Destacando
como principal vantagem a flexibilidade na operação das usinas e compartilhamento da
conexão às redes de transmissão, funcionando como “bateria virtual” no atendimento à
demanda de eletricidade.
Conforme mencionado anteriormente, os sistemas flutuantes têm sido propostos como
vantajosos quando comparados a sistemas FV convencionais instalados em terra, devido à
possibilidade de uma maior produção de energia ocasionada, principalmente, por uma redução
esperada da temperatura de operação dos módulos, e consequente aumento de sua eficiência.
Esses fatores impactam diretamente no incremento de receita. Os sistemas fotovoltaicos
flutuantes em lagos de reservatórios de hidroelétricas, além das vantagens citadas, apresentam-
se como uma aplicação interessante devido a diversos fatores tais como:
▪ Custos evitados com a compra ou arrendamento de terra, obras civis e fundação;
▪ Custos reduzidos com a operação e manutenção – esses últimos devido à disponibilidade
de água para limpeza e o não crescimento de vegetação sob os painéis;
▪ Possibilidade de redução da proliferação de algas no lago devido ao sombreamento dos
painéis;
▪ Tempo reduzido de implantação da usina dada à simplificação e agilização na montagem;
▪ Possibilidade de economia de água devido à redução na evapotranspiração;
▪ Custos reduzidos com estudos de impactos ambientais, principalmente para as usinas
hidrelétricas existentes que já cumpriram grande parte das exigências dos órgãos
ambientais, facilitando a obtenção das licenças de construção e operação;
▪ Redução de investimentos em conexão à rede, pois a usina instalada no reservatório
aproveitaria a própria subestação elevadora da hidrelétrica para o escoamento da energia
produzida;
As desvantagens dessas usinas com relação às instaladas em terra estão relacionadas aos
fatores intrínsecos que diferenciam essas aplicações e que resultam em custos extra, tais como,
os custos com flutuadores, sistema de ancoragem, vedação e cabeamento especiais para o meio
aquático. Além desses fatores, é esperada uma redução da vida útil dos equipamentos devido à
26
corrosão. Essa redução irá depender do grau de salinidade dos corpos de água. Quanto maior a
salinidade, maior a aceleração na depreciação dos equipamentos aplicados ao meio aquático.
A seguir são detalhadas algumas das vantagens listadas acima.
A área utilizável por uma usina FV é calculada aplicando um fator de adequação que é
determinado por uma variedade de diferentes restrições socioambientais. Para se avaliar o
impacto da ocupação da terra numa região como a do médio São Francisco onde está instalada
a usina flutuante de Sobradinho – UFF Sobradinho – identificou-se os tipos de uso da terra de
acordo com o Relatório de Análise de Mercado de Terras – RAMT (Silva et al., 2016) onde se
destacam: terras de pecuária de sequeiro com valor total do imóvel -VTI = 385,18 R$/ha, terras
de agricultura irrigada na margem do rio São Francisco com -VTI = 22.431,71 R$/ha e terras
de agricultura irrigada em perímetro irrigado com -VTI = 135.436,4 R$/ha. Este relatório
destaca o baixo custo da terra no sertão Pernambucano, com VTI em torno de 1.000,00 R$/ha
e 2.000,00 R$/ha no sertão Baiano.
Em termos de uso dos solos, de acordo com estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – EMBRAPA - (Santos, 2007) a maior parte da Bacia Hidrográfica do São
Francisco pode ser enquadrada como: 38% da área total que corresponde a terras para as quais
não existem restrições quanto ao uso agrícola intensivo, desde que utilizadas as técnicas
adequadas de manejo de solo e 47% da área total representadas por terras inaptas para o uso
agrícola, para as quais recomendam-se práticas de silvicultura, preservação ambiental ou a
utilização de pastagens nativas.
Como se pode observar, não existem restrições significativas para o uso da terra que
justifique o uso dessa tecnologia fotovoltaica flutuante no lago da hidrelétrica de Sobradinho
quando se leva em conta apenas o uso da terra. Entretanto, ao se considerar outros fatores, como
analisados a seguir, a expansão da geração fotovoltaica flutuante se justifica não apenas em
Sobradinho, como nas demais usinas hidrelétricas do Brasil.
armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos em sua cota nominal de 392,50 m. A área
ocupada pela UFF de 1 MWp de Sobradinho pode ser estimada considerando-se um fator
ocupação da ilha de flutuadores de 1,5 da área dos módulos fotovoltaicos Canadian CS6P 265
Wp totalizando aproximadamente 9.120,3 m2 ou seja, o percentual de cobertura da ilha
fotovoltaica de 1 MWp é de 0,0002% do espelho de água de seu reservatório, praticamente
desprezível.
Um dos principais fatores que impacta a gestão de recursos hídricos numa bacia
hidrográfica refere-se às perdas de água por evaporação nos reservatórios de regularização. A
evaporação é função da área do espelho de água desses reservatórios e das condições climáticas.
Segundo relatório da Agência Nacional de Águas, ANA (2017), a evaporação nos
reservatórios é o segundo maior gasto hídrico do país, atrás apenas da irrigação na agricultura,
onde o volume de água perdido por evaporação é mais que 5 vezes o necessário ao
abastecimento humano em todo Brasil.
No caso do reservatório da hidrelétrica de Sobradinho o volume de água evaporado é
bastante elevado, cerca de 123 m³/s de acordo com Pereira et al. (2009), considerando sua
extensa área numa região semiárida, com baixos níveis de precipitação, baixa umidade relativa,
temperaturas elevadas, baixa amplitude térmica e elevados níveis de insolação. Embora a
construção do reservatório de Sobradinho, associada às demais atividades desenvolvidas na
bacia, tenha causado redução da vazão média da ordem de 163 m³/s, promoveu também um
expressivo efeito de regularização com elevação da vazão média mensal correspondente ao mês
mais seco, de 1.306 m3/s para 1.950 m3/s segundo Pereira et al. (2009).
Nessas condições, a cobertura do espelho de água por ilha fotovoltaica flutuante vem ao
encontro da redução da evaporação dos reservatórios artificias, canais de irrigação e açudes que
no caso da região Nordeste são bastante numerosos devido à sua baixa disponibilidade hídrica,
como pode ser observado na figura 5 publicada no relatório ANA (2017) .
No nível mundial os resultados são muito promissores por causa de grandes superfícies
de espelho de água disponíveis e por causa da possibilidade de construir estruturas flutuantes
que são mais compactas do que plantas fotovoltaicas terrestres. Segundo Tina et al. (2018),
usando apenas 1% das bacias naturais já se disporia de área necessária à instalação de UFF
capaz de atender cerca de 25% da demanda mundial de energia em 2024.
28
2.1.3.4 Sombreamento
Dois benefícios são esperados com sombreamentos da área da ilha fotovoltaica sobre o
espelho de água: a economia de água pela diminuição da evaporação e a diminuição da
proliferação de algas. Vale destacar que, por outro lado, o sombreamento nos painéis, com
grande impacto na produção de energia, é praticamente eliminado quando se considera o
posicionamento da ilha fotovoltaica no meio de um corpo de água situado mais longe de objetos
que causam sombra, como prédios e árvores.
Como parte do escopo do projeto de P&D - chamada pública Eletronorte/Chesf
003/2015 - serão pesquisados impactos no meio ambiente através do monitoramento dos
seguintes aspectos: ictiofauna e biologia pesqueira, ictioplâncton e formas jovens, aspecto
limnológico, qualidade da água e macrófitas aquáticas. Considerando que os impactos
ambientais já foram analisados, quando da formação do lago artificial na época da construção
da usina hidrelétrica, resta pesquisar os aspectos aquáticos devido ao sombreamento da ilha de
painéis solares sobre a água.
Figura 6 - Sistema com rastreamento (a) com confinamento e (b) sem confinamento (com
corda)
(a) (b)
Fonte: Cazzanigaa et al. (2018)
31
Nesse tipo de sistema os painéis são imersos em água, sendo importante observar: os
efeitos da redução da temperatura no módulo; as perdas da radiação que incide sobre a
superfície do painel; a posição em relação à superfície da água; a coluna de água sobre os
módulos; o tipo de água onde o sistema está submerso – água doce (lago, rio) ou salgada (água
do mar); o tipo de módulo fotovoltaico: rígido ou flexível.
Na presença da água, vários fenômenos podem ser observados, como: a modificação
do espectro de radiação solar; a redução da temperatura de operação do módulo; o desgaste do
material; o isolamento elétrico; as perdas elétricas; o comportamento do material sob constante
esforço; entre outros. Estes fenômenos têm diferentes impactos na produção da energia elétrica
como destacados por Cazzanigaa et al. (2018). Em sua pesquisa observou que se a camada de
água é fina (1–2 cm), o ganho devido à temperatura mais baixa supera amplamente a pequena
perda devido à absorção de radiação.
A figura 7 apresenta pesquisa realizada pela Scienza Industria Tecnologia - Scintec
(Rosa-Clot et al., 2011). Esse sistema não consegue ondular com as ondas já que ele é rígido.
Então, ao invés de resistir às condições de águas agitadas, ele foi projetado para submergir até
2 metros. A submersão e a flutuação do arranjo são realizadas pelo bombeamento de água para
dentro ou fora de boias fechadas que estão ao seu redor.
Figura 7 - Sistema fotovoltaico submerso para proteção de ondas. (Pesquisa apenas com
interesse militar)
CANADA -
www.jnnewenergy.com
Andrew.Mills@layfieldg
Layfield Floating Solar
roup.com
ITALIA –
NRG Island Viareggio (LU)
www.nrgisland.com
www.fotovoltaicogal
leggiante.com
Filme Fino
Ocean Sun AS NORUEGA - Lysaker
oceansun.no Norway
CHINA -
Suzhou Prime Floating Suzhou, Jiangsu
Water Engineering Co., Ltd.
https://www.deenton.co
m
Sun_Track COREA –
www.suntrack.co.kr Sujeong-gu, Seongnam-
si, Gyeonggi-do
Fonte: Eleborado pelo autor – informações retiradas do sitio: https:// www.enfsolar.com/ directory/
component/ mounting_system?mount_type=f
37
a) b)
ilha painéis flutuantes boia
despacháveis que possibilitam uma operação (função do ONS no Brasil) com alto nível de
penetração das fontes de energia renováveis.
Um estudo de caso foi realizado para a usina híbrida Longyangxia hydrod PV na China.
Os resultados mostraram que, em comparação com a operação tradicional, a média anual de
produção de energia e confiabilidade aumentaram 4,3% e 47,5% respectivamente, enquanto o
índice de escassez de água caiu 6,6% (Ming et al., 2019).
Uma pesquisa realizada pela International Hydropower Association apresentou em seu
relatório hydropower status report – 2017 (IHA, 2017) sobre a expansão da hidroeletricidade
mundial, um cenário de implantação de hidrelétricas reversíveis incluindo aquelas hibridas com
aproveitamento solar flutuante instaladas em seus respectivos reservatórios. A tabela 3 mostra
o balanço geral dessa pesquisa. Verifica-se uma baixa participação dessa tecnologia na África,
América do Sul e Ásia Central.
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com os dados do hydropower status report – 2017
solar cada vez mais barata, a UFF pode ser usada diretamente para bombear a água turbinada
de volta ao reservatório da usina hidrelétrica. A hidreletricidade reversível seria uma forma de
armazenamento em grande escala com o objetivo de equilibrar a geração de eletricidade
intermitente, características das fontes eólica e solar.
Um aspecto importante a se considerar é repotenciação e modernização de usinas
hidrelétricas antigas (maioria das usinas Brasileiras). Nesse caso, tendo-se em vista a
hibridização da hidroelétrica com a fotovoltaica, seria indicada a substituição por turbinas
reversíveis viabilizando assim o bombeamento da água. Ainda, parte da energia assegurada
poderia vir de um ciclo fechado de produção de energia fotovoltaica flutuante.
Incentivos aos agentes que apresentem propostas de repotenciação de usinas
hidrelétricas com turbinas reversíveis e geração FV flutuante, na oportunidade de realização de
leilões a partir de recursos ofertados (energia velha), poderiam alavancar a recuperação das
usinas mais antigas e ampliar a geração de energia renovável no Brasil.
Fonte: WEG
46
3 REVISÃO DA LITERATURA
Assume-se ainda que a transferência de calor dos módulos fotovoltaicos para o meio
ambiente ocorre de maneira constante em cada intervalo de tempo e que a temperatura em cada
ponto do módulo é uniforme nesse período.
Alguns modelos propostos determinam a temperatura do módulo de maneira implícita,
envolvendo variáveis que dependem da diferença de temperatura entre o módulo e o meio
ambiente; dessa maneira, para se determinar a temperatura do módulo deve-se recorrer a
métodos recursivos (Jakhrani et al., 2011).
A expressão mais comum para se determinar a temperatura do módulo a partir da
condição normal de operação (NOCT) foi proposta por Ross (1976).
Um modelo bastante utilizado, inclusive pelo software PVSYST, foi proposto por
Faiman (2008). Na proposta, a condição normal de operação que é fornecida pelo fabricante do
módulo não é utilizada. Em lugar dessa informação utiliza-se um fator de absorção fixo e um
modelo linear de transferência de calor por convecção.
Skoplaki e Palyvos (2009) destacam a importância de se considerar a velocidade do
vento para a determinação da temperatura do módulo (T FV). Os autores apresentam um modelo
detalhado de balanço térmico para o módulo, considerando as trocas de energia em cada uma
de suas camadas, e os comportamentos diferenciados das faces superior e inferior. No artigo, o
modelo proposto é comparado com modelos utilizados em programas comercias como
PVFORMS e PVWATTS do NREL que estimam a produção fotovoltaica média mensal e anual
considerando a influência da temperatura do módulo.
Um modelo apresentado por Olukan e Emziane (2014) usa método de elementos finitos
(Saadon et al., 2016; Lupu et al., 2018). A proposta desse método é diferente das demais, pois
considera as variações dinâmicas dos efeitos da radiação solar. Esse método calcula a resposta
térmica em regime não estacionário e pode levar em consideração diversos tipos de montagens
dos módulos (Hasan et al., 2012). Ele também considera diferentes perdas térmicas em função
das velocidades e direção do vento e ainda considera os dois lados (frente e trás) dos módulos.
Jakhrani et al., 2011 compararam 16 modelos para determinação da temperatura de
operação de módulos, testando entre eles, inclusive, modelos mais simples como o de Ross
(1976). Os resultados mostraram que os modelos apresentaram tendências similares com
relação à variação da temperatura do módulo. Entretanto, os valores resultantes dos modelos
foram distintos quando comparados entre eles. Os autores ressaltam que as diferenças entre os
resultados dos modelos foram devidas ao uso de diferentes variáveis, diferentes condições
48
Uma pesquisa realizada por Bist e Saaqib (2019) buscou determinar a diferença entre o
desempenho do sistema solar fotovoltaico flutuante UFF e um sistema solar fotovoltaico
instalado em terra, investigando os seguintes parâmetros: diferença de temperatura; quantidade
de água economizada pela redução na evaporação; e produção de energia. A localidade de
estudo foi no lago Bhimtal, no estado Indiano de Uttarakhand, situado a uma altitude de 1370
metros acima do nível do mar. Foi observada uma variação de temperatura dos módulos no lago
de 5 °C abaixo do operando em terra (temperatura média de 34,35 °C na terra e 29,35 °C na
água). A radiação solar anual no local é de 5,61 kWh/m²/dia. O sistema UFF de Bhimtal possui
8,3 kWp, ocupando uma área de cerca de 50 m2 onde foi estimada uma economia de água anual
de cerca de 1000 galões/m2/ano de água devido à redução na evaporação. Simulações com
respeito à produção de energia mostraram que o sistema flutuante apresenta um incremento de
2,25% na energia anual com um decréscimo de 14,29% na temperatura do módulo.
Rosa-Clot et al. (2011) estudaram o comportamento de um painel fotovoltaico submerso
em água e observaram um aumento médio de 11% na eficiência elétrica.
Verifica-se na revisão da literatura uma grande variedade de modelos para estimar a
temperatura operacional de módulos fotovoltaicos em terra. Quando se considera a aplicação
da tecnologia solar FV flutuante, as poucas referências encontradas na literatura são bastante
recentes. Considerando que o arranjo dos sistemas, radiação, condições climáticas e
características dos módulos influenciam no cálculo da temperatura de operação, as diferentes
experiências descritas na literatura são um indicativo de que a temática deve ser analisada caso
a caso. A análise da literatura sugere que a influência da temperatura de operação do módulo
no desempenho de geradores FV em meio aquático ainda é um tema que merece maior
aprofundamento.
50
4 MATERIAS E MÉTODOS
principal
secundário
▪ Gerador fotovoltaico na situação de curto circuito (I cc): Valores da corrente de curto circuito
mantém uma relação diretamente proporcional com a taxa de irradiância incidente no plano
do coletor.
▪ Gerador fotovoltaico na situação de tensão de circuito aberto (Voc): A temperatura do
módulo pode ser acompanhada e representada pelos valores da tensão de circuito aberto.
O período de aquisição de dados foi de 10/11/2018 até 17/06/2019 com as ocorrências
medidas com taxa de aquisição de um segundo e registradas a cada minuto para posterior
tratamento em termos de médias horárias, diárias e mensais. Os dados eram transmitidos
diariamente, às 23:59h para o laboratório do grupo FAE - UFPE, localizado em Recife-PE,
Brasil. Os dados utilizados nesse trabalho correspondem a 223 dias de operação contínua sem
interrupções para manutenção ou outras paradas inevitáveis, ou seja, foi gerada uma massa de
321.120 minutos de acompanhamento da variação temporal das variáveis listadas a seguir:
Irradiação nos planos horizontal e inclinado, Ih e Icol (W/m2): Medições realizadas
com piranômetros Preto & Branco instalados para as medições das irradiações incidentes nos
planos: horizontal (Ih), e do coletor (Icol), detalhes na figura 18.
Irradiação refletida pela superfície da água-Albedo (W/m2): medições realizadas
como estimativa do Albedo, mediante um piranômetro Preto & Branco instalado faceando a
superfície da água a cerca de 2 metros da estrutura flutuante, visando evitar possíveis
interferências reflectivas dos flutuadores.
Temperatura e umidade relativa do ar, Tamb e UR (°C; %): parâmetros medidos com
sensores acoplados para a temperatura e a umidade do tipo PT100 RTD Probe HMP4.
Velocidade e direção do vento, v (m/s; graus): medições realizadas mediante um
Anemômetro Ultrasonônico – WindSonic.
Corrente de curto-circuito, ICC (A): medições da corrente do dispositivo fotovoltaico
na situação de curto-circuito, através de um shunt calibrado. Nessa situação os dados obtidos
podem ser utilizados como valores da irradiação no plano do módulo (Icol)
Tensão de circuito aberto, VOC (V): valores da tensão do módulo na condição de
circuito aberto, mediante um divisor de tensão. Nessa situação os dados obtidos podem ser
utilizados como indicadores da temperatura do módulo.
Temperatura do módulo fotovoltaico, TFV (°C): medições são realizadas mediante
um circuito integrado do tipo LM35 fixado atrás do módulo na condição de circuito aberto
(medindo Voc).
54
Piranômetro preto & branco - The Eppley Laboratory inc. U.S.A. Modelo 8-48 podendo ser usado
para radiação difusa (com sombreador) ou para radiação global em ondas curtas (295-2800 nm),
saída de 0-10 mV, erro < 2%, temperatura de operação -450C a +800C, incerteza < 5 W/m2 para
difusa < 30 W/m2 para global. No caso de Albedo, inverte-se o piranômetro.
LM -35
a) Sistema de aquisição de dados para coleta das informações geradas e caixa de abrigo
à intempérie; Antena de transmissão dos dados coletados.
b) Anemômetro Ultrasonônico para medição da velocidade e direção do vento.
c) Instrumentação para as medições de temperatura e umidade relativa do ar.
d) O modem de comunicação encontra-se instalado na caixa do SAD.
e) Módulos fotovoltaicos nas condições de Icc e Voc; e Sensores do tipo LM-35 para
medições das temperaturas do módulo fotovoltaico e do flutuador, instalados sem
incidência direta dos raios solares.
56
A potência elétrica produzida por um gerador fotovoltaico (FV) varia com a irradiância
incidente no mesmo. A temperatura de operação das células nos módulos FV também promove
uma forte influência na potência gerada, produzindo uma redução da mesma com o aumento da
temperatura. A irradiância incidente no plano dos módulos pode ser medida, ou estimada
utilizando como base a irradiância global (plano horizontal). Nesse último caso, modelos
clássicos disponíveis na literatura podem ser utilizados (Pereira e Rabl, 1979; Duffle et al.,
1982).
A figura 20 (a) mostra as curvas características Corrente versus Tensão (I versus V) para
o módulo em análise (Canadian CS6P- 265P), para irradiâncias variando entre 400 W/m² e
1000 W/m². Verifica-se uma pequena variação na tensão de circuito aberto (Voc; I=0) com o
aumento da irradiância. Já a corrente de curto circuito (Icc; V=0) aumenta proporcionalmente
com o aumento da irradiância incidente. Como resultado, a máxima potência gerada, localizada
na região do joelho das curvas, apresenta uma variação (aumento) praticamente linear com o
aumento da irradiância.
Na figura 20 (b) é possível notar que com o aumento da temperatura ocorre um pequeno
incremento na corrente de curto circuito. Entretanto, ao mesmo tempo, observa-se uma redução
57
A Potência solar que ingressa no módulo fotovoltaico 𝑷𝒔𝒐𝒍 é dada pela Eq. 3
onde 𝑨𝑭𝑽 é a área do módulo, 𝑨𝒍𝒃𝑭𝑽 o albedo (ou reflexividade) do módulo e 𝑰𝒄𝒐𝒍 é a
irradiância solar incidente no plano do módulo (𝑰𝒄𝒐𝒍 =1000 W/m2 na condição padrão STC1).
A potência elétrica produzida pelo módulo fotovoltaico pode ser obtida de forma
convencional, deslocando-se a potência fornecida pelo fabricante, na condição padrão (1000
W/m²), para a condição de operação. Para tal, são realizadas as devidas correções resultantes
das variações da irradiância e da temperatura, conforme apresentado na Eq. 4.
𝑰𝒄𝒐𝒍
𝑷𝒆𝒍 = − 𝑷𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 . (𝟏 + 𝛄(𝑻𝑭𝑽 − 𝟐𝟓℃)) (4)
𝟏𝟎𝟎𝟎
1
STC - condições padrão de ensaio. Representa as condições específicas às quais um painel solar é testado para fins de certificação. Os
fabricantes fornecem os resultados dos testes nas condições STC nos datasheets dos módulos. As condições padrão de teste são: Temperatura
da Célula = 25°C; Irradiância solar = 1000 W/m2 (com incidência normal); Massa de Ar = 1.5.
60
A potência térmica irradiada pelo módulo (𝑷𝒊𝒓𝒓 ) nas superfícies frontal e traseira é dada
pela Eq. 5.
onde 𝑨𝑭𝑽 é a área do módulo (2 vezes por considerar a superfície frontal e traseira do módulo),
𝝈 (W/(m² K4)) é a constante de Boltzman, 𝝃𝑭𝑽𝒇 , 𝝃𝑭𝑽𝒃, 𝝃𝒔𝒌𝒚 , 𝝃𝒈𝒓𝒐𝒖𝒏𝒅 são fatores de
emissividades da frente do painel, da traseira do painel, do céu e do solo (ou do flutuador para
módulos flutuantes), respectivamente, 𝑇𝐹𝑉 é a temperatura do módulo e 𝑇𝑎𝑚𝑏 é a temperatura
do ambiente.
A potência térmica transferida por convecção (𝑷𝒄𝒐𝒏𝒗) pelas superfícies frontal e traseira
do módulo é dada pela Eq. 6.
onde 𝑲𝒏 (W/ (m² K)) é o coeficiente de troca de calor por convecção natural, 𝑲𝒇𝒄 (Ws/ (m³ K))
é o coeficiente de troca de calor por convecção forçada e 𝒗 é a velocidade do vento.
O modelo descrito foi aplicado às condições específicas do sistema fotovoltaico
flutuante Pato II instalado em Sobradinho, utilizando os dados experimentais obtidos com um
módulo em circuito aberto (tensão igual à tensão de circuito aberto, Voc), portanto, sem geração
de energia (𝑷𝒆𝒍 = 0). Os valores de 𝑇𝐹𝑉 , 𝑇𝑎𝑚𝑏 , 𝐼𝑐𝑜𝑙 e v foram utilizadas de forma a obter o
coeficiente de Ross para a condição de instalação no lago, sem geração (Eq. 2). Para simular a
condição com geração, foram considerados os dados de catálogo do módulo ensaiado (Potência
pico (PFV_STC), e coeficiente de variação da potência com a temperatura (𝛄)).
O valor do coeficiente de Ross foi obtido de diferentes maneiras: a) utilizando os dados
do fabricante na condição NOCT, com o módulo em circuito aberto; b) utilizando os dados
medidos de 𝑇𝐹𝑉 , 𝑇𝑎𝑚𝑏 , 𝐼𝑐𝑜𝑙 na condição do módulo instalado no lago e em circuito aberto; c)
utilizando a temperatura do módulo calculada para as condições locais, em operação (𝑷𝒆𝒍 ≠ 0).
Nesse último caso, o procedimento aplicado é descrito a seguir.
61
O coeficiente global de perdas h pode ser calculado, com base nos dados experimentais por
meio da representação das perdas totais (𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠_𝑡𝑜𝑡 ) em função de (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) (Eq. 9).
𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕
𝒉= (9)
(𝑻𝑭𝑽 −𝑻𝒂𝒎𝒃 )
Dessa forma, o balanço de energia, considerando o módulo com geração de potência, pode ser
descrito conforme a Eq. 10
𝟎 = 𝑷𝒔𝒐𝒍 + 𝑷𝒆𝒍 + 𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕 (10)
Substituindo-se as Eqs. (3), (4) e (8) na Eq. (10) obtém-se a temperatura do módulo FV na
condição de geração de energia (Eq. 11).
Parâmetro Valor
𝑨𝑭𝑽 1,6085 m²
𝑷𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 265 Wp
𝑇𝑁𝑂𝐶𝑇 45±2 °C
𝛄 -0,0041%/°C
𝝈 5,67E-08 W/m².K4
𝑨𝒍𝒃𝑭𝑽 0,07
𝝃𝑭𝑽𝒇 0,91
𝝃𝑭𝑽𝒃 0,93
𝝃𝒔𝒌𝒚 0,8
𝝃𝒈𝒓𝒐𝒖𝒏𝒅 0,94
𝑲𝒏 7,2 W/m².K
𝑲𝒇𝒄 2,3 W.s/(m³.K)
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Frequência de ocorrências
Irradiância plano horizontal (W/m 2 )
25%
23% 22%
20%
20%
18%
15% 17%
10%
5%
0%
100 <Ih < 300 300 <Ih < 500 500<Ih < 700 700 <Ih < 900 900 < Ih
ventos de até 10 m/s, que provocaram danos no sistema de transmissão de sinais da bancada
(ST-Pato II).
Os valores da radiação, em médias mensais constam na figura 25b. Observa-se o alto
nível de radiação com valor médio durante todo o período de cerca de 5,7 kWh/m 2.dia. Os
menores valores correspondem aos meses de maio/19 (5,0 kWh/m 2.dia) e junho/19 (4,0
kWh/m2.dia).
Figura 25 - Radiação no plano horizontal - lago de Sobradinho
Reservatório da UHE-Sobradinho/BR 9°35' Sul; 40°50' Oeste. Média diárias (kWh/m2.dia)
a)
Uma visão do comportamento dos dados medidos das três grandezas: temperatura
ambiente, velocidade do vento, umidade relativa do ar são apresentadas na figura 26.
a)
b)
c)
Fonte: elaborada pelo autor
69
De modo geral, como mostra a figura 26 (a), a temperatura máxima durante o período
observado se mantem na faixa de (30°C a 35°C), as médias entre (26°C a 28°C) e as mínimas
entre (22°C a 24°C) . Para o mês de janeiro, o mais quente, observou-se a máxima de 32,8°C e
com maior radiação solar, a amplitude térmica acusada foi de 7,91°C. No mês mais frio, junho,
obteve-se máxima de 29,7°C e amplitude de 6,42°C. As amplitudes térmicas, considerando o
período de irradiância solar presente (11 a 12 horas), são muito próximas das amplitudes do dia
(24 horas).
Temperaturas ambientes elevadas exigem uma troca convectiva eficaz para que possa
manter a temperatura do dispositivo a mais reduzida possível. O vento pode ser um grande
aliado.
Nas medições da velocidade do vento, figura 26 (b), o sensor se encontra instalado em
uma altura de cerca de 50 cm da base flutuante; assim os dados são relativos ao vento atuando
no conjunto módulo fotovoltaico-flutuador.
Os meses de dezembro/18 a março/19 apresentaram os maiores valores da velocidade
de vento, acima de 8,5 m/s.
Salienta-se que o posicionamento da ilha flutuante em relação à barragem, influencia
negativamente na intensidade do vento pois sua direção oscila nas direções: ESE - leste/sudeste
(>112,5°); SE – sudeste (>135°) e SSE – sul/sudeste (>157,5°).
O período de medição da umidade relativa do ar foi iniciado cinco meses após as demais
medições. Os resultados mostrados na figura 26 (c) indicam valores médios mensais
praticamente constantes e tendem a aumentar à medida que os meses de inverno se aproximam.
(a)
(b)
(a)
(b)
(c)
Fonte: elaborada pelo autor
74
(a)
(b)
Para o mês de janeiro, o mais quente e com maior radiação solar, a amplitude térmica
em Sobradinho (6,7°C) é cerca de três vezes menor que a de Petrolina (18°C).
Utilizando-se as condições NOCT do módulo especificado, 𝑇𝑁𝑂𝐶𝑇 (45°), 𝑇𝑎 (20°C) e 𝐼𝑐𝑜𝑙 (800
W/m²), o coeficiente de Ross é obtido conforme a Eq. 12 (ver Eq. 1).
𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃
𝒌= 𝑰𝒄𝒐𝒍
(12)
distribuição deslocada para a esquerda (Obliquidade > 0), com média igual a 0,0234 (linha
vermelha) e mediana de 0,0219 (linha laranja).
Estatísticos Valores
Número de observações 115371
Média aritmética 0.0234
Intervalo de confiança inferior para média 0.0233
Intervalo de confiança superior para média 0.0234
Mediana 0.0219
Mínimo -0.0207
Máximo 0.1623
Desvio padrão (amostra) 0.0098
Intervalo de confiança inferior para desvio padrão 0.0097
Intervalo de confiança superior para desvio padrão 0.0098
Variância (amostra) 0.0001
Primeiro quartil (Q1) 0.0187
Terceiro quartil (Q3) 0.0260
Intervalo interquartílico 0.0073
Obliquidade 2.8188
83
Figura 42 - Perdas térmicas (a) radiativas e (b) convectivas, calculadas com base nos
dados experimentais para o módulo instalado no lago
(a) (b)
Na figura 42 verifica-se que as perdas convectivas são, em média, maiores que as perdas
radiativas. O coeficiente de perdas devido à irradiação de calor é da ordem de -25,3 W/K,
representando 37% das perdas totais, enquanto para a convecção, esse valor é da ordem de
- 42,6 W/K (63% das perdas totais). Ainda, é possível verificar na figura 42 (a) que as perdas
por radiação são bastante comportadas, apresentando baixa dispersão e alto coeficiente de
determinação (96,6%). Já as perdas por convecção na figura 42 (b) apresentam alta dispersão.
Esta última, explica também a alta dispersão das perdas totais apresentadas na figura 41.
O coeficiente de Ross de 0,0179 K/W/m² foi obtido para a temperatura (TFV) estimada,
considerando-se (𝑷𝒆𝒍 ≠0) (inclinação da linha de tendência da figura 43. Observa-se nesta
figura uma dispersão menor que aquela apresentada para os dados medidos, sem geração da
figura 38. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de que a temperatura do módulo FV foi
calculada, não apenas em função de Icol, mas envolvendo também as perdas térmicas do módulo.
O coeficiente de determinação da reta (linha de tendência) indica alta correlação, da ordem de
97%.
Uma análise estatística foi realizada para os valores de k de Ross calculados, minuto a
minuto, considerando-se a condição do módulo com geração. A figura 44 mostra a distribuição
de frequência das ocorrências desse parâmetro. Observa-se uma distribuição deslocada para a
direita (Obliquidade < 0), com média igual a 0,0169 e mediana de 0,0170 (linha vermelha).
O gráfico de Box plot é mostrado na figura 45. Nessa representação, além do valor da
média (marcada com x dentro da caixa), e do quartil Q2 que indica a mediana, são apresentados
os quartis Q1, ou percentil 25%, e Q3, ou percentil 75% (limites inferior e superior da caixa
respectivamente). Os whiskers (ou bigodes) mostram os valores da menor observação
estatisticamente válida (mínimo igual a 0,0107) e da maior observação (máximo igual a
0,0234). Acima do whisker superior e abaixo do inferior são valores fora do padrão (outliers).
86
Figura 45 - Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross com geração
6 CONCLUSÃO
das trocas de calor entre a parte posterior do módulo e os flutuadores. Particularmente, as perdas
térmicas por convecção, que representam o maior percentual entre as perdas totais (67%),
podem ser fortemente impactadas pela possibilidade ou não de aeração na região entre os
módulos e os flutuadores. A escolha do tipo de flutuador é, portanto, uma das etapas de grande
relevância no projeto de sistemas FV flutuantes (Seção 2.2.3).
O valor do parâmetro k de Ross obtido das especificações do fabricante (NOCT) é da
ordem de 0,031 K/W/m². Quando se considera o módulo em circuito aberto, nas condições
ambientais do lago de Sobradinho, os valores calculados para esse parâmetro são bem menores.
O valor obtido diretamente da reta de regressão entre (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) e (𝑰𝒄𝒐𝒍) foi de 0,022
K/W/m². Uma análise estatística dos dados de k de Ross calculados ponto a ponto (para cada
minuto), pela relação entre (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) e (𝑰𝒄𝒐𝒍) resultou em um valor médio de 0,023
K/W/m². Considerando-se o módulo operando em máxima potência, nas mesmas condições
ambientais do lago, o valor estimado com o modelo proposto, para o parâmetro k de Ross é
ainda menor, da ordem de 0,018 K/W/m².
Com base no modelo de balanço de energia foi estimada a potência máxima gerada pelo
módulo nas condições ambientais do lago. Verificou-se que a potência elétrica, em função da
irradiância incidente no plano do módulo FV, pode ser expressa por uma reta, com coeficiente
angular de 0,2423 e uma correlação superior a 99%. Essa representação permite estimar de
forma simples, e com boa acurácia, o valor da potência gerada para diferentes valores de
irradiância incidente, nas condições de temperatura e vento do lago. Ainda, dividindo-se o
coeficiente encontrado pela área do módulo, foi possível estimar a eficiência média de operação
do módulo no lago, da ordem de 15%.
Por fim, ressalta-se a necessidade de um acompanhamento de longo prazo para se
observar as tendências dos parâmetros encontrados, atentando ainda para a degradação dos
módulos fotovoltaicos.
90
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