DISSERTAÇÃO Tarcísio Souto Bacelar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS


DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR
COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR
CENTRO REGIONAL DE CIÊNCIAS NUCLEARES DO NORDESTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E
NUCLEARES

TARCISIO SOUTO BACELAR

CARACTERÍSTICAS DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO RESERVATÓRIO DA


UHE SOBRADINHO NO CONTEXTO DA GERAÇÃO FOTOVOLTAICA
FLUTUANTE

Recife
2019
TARCISIO SOUTO BACELAR

CARACTERÍSTICAS DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO RESERVATÓRIO DA


UHE SOBRADINHO NO CONTEXTO DA GERAÇÃO FOTOVOLTAICA
FLUTUANTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Tecnologias Energéticas e
Nucleares para obtenção do título de Mestre em
Ciências.

Área de Concentração: Fontes Renováveis de


Energia

Orientadora: Profa. Dr. Olga Castro Vilela


Coorientadora: Profa. Dr. Elielza Souza Barbosa

Recife
2019
Catalogação na fonte
Bibliotecário Carlos Moura, CRB-4 / 1502

B117c Bacelar, Tarcisio Souto.


Características das condições ambientais no reservatório da
UHE Sobradinho no contexto da geração fotovoltaica flutuante. /
Tarcisio Souto Bacelar. - Recife, 2019.
94 f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Olga de Castro Vilela.


Coorientadora: Profa. Dra. Elielza Moura de Souza Barbosa.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.


CTG. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e
Nucleares, 2019.
Inclui referências e anexo.

1. Engenharia de energia solar. 2. Geração de eletricidade solar.


3. Usina fotovoltaica flutuante. 4. Temperatura de operação e
desempenho de geradores fotovoltaicos. I. Vilela, Olga de Castro,
orientadora. II. Barbosa, Elielza Moura de Souza, coorientadora.
III. Título.

621.47 CDD (22. ed.) UFPE/BDEN-2019/22


TARCÍSIO SOUTO BACELAR

CARACTERÍSTICAS DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO RESERVATÓRIO DA


UHE SOBRADINHO NO CONTEXTO DA GERAÇÃO FOTOVOLTAICA
FLUTUANTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Tecnologias Energéticas e
Nucleares para obtenção do título de Mestre em
Ciências.

Aprovada em: 30.08.2019

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Brayner de Oliveira Lira (examinador interno)
CRCN-NE/CNEN/UFPE

___________________________________________________
Prof. Dr. Prof. José Bione de Melo Filho (examinador externo)
IFPE e CHESF

____________________________________________________
Prof. Dr. Luis Arturo Gómes Malagón (examinador externo)
UPE
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Tércio Bacelar e Silva e Eleonora Souto Silva (in memoriam),
à minha família, em especial à minha esposa e filhos, pelo incentivo e compreensão pelas
minhas ausências.
Às minhas orientadoras Profa. Olga Castro Vilela e Profa. Elieza de Souza Barbosa
pelos ensinamentos, por guiarem meus caminhos na pesquisa e pelas correções de rotas com
foco nos objetivos traçados.
Aos meus colegas que sempre me motivaram com seu dinamismo, natural da idade, e
em particular ao técnico do grupo FAE/UFPE: Rinaldo de O. Melo pelo apoio na montagem e
acompanhamento na bancada de testes.
Ao grupo de pesquisas em fontes alternativas de energia do departamento de energia
nuclear da UFPE (grupo FAE) pela cessão dos equipamentos e sensores de precisão, instalados
na bancada de testes, tão importantes à minha pesquisa.
À Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, pelo apoio logístico, no difícil
acesso à ilha flutuante no reservatório da UHE-Sobradinho, aos seus gerentes e em especial ao
Eng. Pedro Sinval Ferreira Rodrigues que nos acompanhou em todas nossas visitas à bancada
de testes.
E à Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL pelo incentivo e fomento à pesquisa
através de seus programas de P&D+I, notadamente no âmbito do P&D “Exploração de Energia
Solar em lagos de Usinas Hidrelétricas”, contrato CHESF: CTNI - 92.2016.0430.00, chamada
pública Eletronorte / Chesf - 003/2015.
.
RESUMO

O principal objetivo do estudo é analisar as condições ambientais do local da usina


fotovoltaica flutuante de Sobradinho – BA e as características do gerador fotovoltaico assim
como estimar a temperatura de operação do gerador, parâmetro fundamental no desempenho
da geração fotovoltaica e fortemente relacionado às condições climáticas. Para tanto, uma
bancada de testes flutuante formada por um conjunto de sensores de medição ambiental foi
instalada sobre flutuadores conectados à UFF-Sobradinho (1 MWp na primeira etapa e 5 MWp
na fase final). A bancada também inclui dois módulos fotovoltaicos, em curto-circuito e em
circuito aberto, com instrumentação para medição de temperatura e parâmetros elétricos do
gerador fotovoltaico. As informações coletadas nas condições ambientais específicas de
sistemas em lagos hidrelétricos, particularmente no lago da UHE – Sobradinho, não estão
disponíveis na literatura. O comportamento da variação de temperatura do gerador fotovoltaico
em função das condições meteorológicas locais medidas (irradiância solar, temperatura e
umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento) foi analisado e estimado considerando
um modelo de balanço energético e características físicas do gerador fotovoltaico. Os resultados
confirmam as excelentes condições ambientais da região do reservatório da UHE - Sobradinho
e a eficiência operacional do gerador, cerca de 15,5%, quando operando nas condições
ambientais reais do local. Além de estudos experimentais e o desenvolvimento de um modelo
de estimativa de desempenho de geradores simples e eficaz, o trabalho também apresenta uma
ampla análise de última geração de Usinas de Energia Fotovoltaica Flutuante (UFF) no mundo
para fornecer informações relevantes sobre as tendências tecnológicas desta aplicação.

Palavras-chave: Geração de eletricidade solar. Usina fotovoltaica flutuante. Temperatura de


operação e desempenho de geradores fotovoltaicos.
ABSTRACT

The main objective of the study is to analyze the environmental conditions in the site of
the photovoltaic floating plant Sobradinho - BA and the characteristics of the photovoltaic
generator as well as to estimate the generator operating temperature, a fundamental parameter
in the performance of photovoltaic generation and strongly related to weather conditions. To
this end, a floating test bench formed by a set of environmental measurement sensors coupled
to a floating base was connected to 1 MWp UFF-Sobradinho (first stage of 5 MWp and in the
final phase). The bench also includes two short-circuit and open-circuit photovoltaic modules,
with instrumentation for temperature measurement and electrical parameters of the photovoltaic
generator. The information collected is not available in the literature on these specific
environmental conditions of floating photovoltaic systems in hydroelectric lakes, particularly
in the UHE - Sobradinho lake. The behavior of the temperature variation of the photovoltaic
generator as a function of the measured local weather conditions (solar irradiance, temperature,
and relative humidity, wind speed and direction) is analyzed and estimated considering a model
of energy balance and physical characteristics of the photovoltaic generator. The results confirm
the excellent environmental conditions of the UHE - Sobradinho reservoir region and the
operating efficiency of the generator, about 15.5% when operating in the real environmental
conditions of the site. In addition to experimental studies and the development of a simple and
effective generator performance estimation model, the work also presents an extensive analysis
of the latest generation of Floating Photovoltaic Power Plants (UFF) in the world to provide
relevant information on the technology trends of this Application.

Keywords: Solar Power Generation. Floating Photovoltaic Plant. Operating Temperature and
Performance of Photovoltaic Generators.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capacidade de geração adicionada em 2018 por fontes renováveis ........................ 14


Figura 2 - Usinas flutuantes instaladas no mundo até 2017 ..................................................... 22
Figura 3 - Módulos implantados sobre membrana não permeável projetada para suportar o
estresse mecânico e a exposição ao sol. (a) Coletores dual-glass, silicon
crystaline instalados sobre manta. (b) Membrana não permeável suportando
estresse mecânico e radiação solar. ....................................................................... 23
Figura 4 - Sistema FV com quatro ilhas circulares. (a) Apresenta resistência mecânica. (b) Ilhas
circulares de 500 kWp. ............................................................................................ 24
Figura 5 - Concentração das massas de água artificias na região Nordeste ............................. 28
Figura 6 - Sistema com rastreamento (a) com confinamento e (b) sem confinamento (com
corda) ..................................................................................................................... 30
Figura 7 - Sistema fotovoltaico submerso para proteção de ondas. (Pesquisa apenas com
interesse militar) ................................................................................................... 31
Figura 8 - Configurações de flutuadores na Coreia .................................................................. 32
Figura 9 - Tipos de flutuadores e arranjos instalados na área de teste do (SERIS) .................. 33
Figura 10 - Fabricantes de flutuadores no mundo .................................................................... 34
Figura 11 - Esquema do sistema de ancoragem e detalhe das molas elásticas. a) esquema de
amarração com molas eláticas. b) mola elástica fabricada pela Seaflex. ............. 38
Figura 12 - Distribuição da capacidade instalada total usinas hidrelétricas reversíveis ........... 41
Figura 13- Fotografia dos flutuadores principal e secundário (Hydrelio©) ............................. 43
Figura 14- Exemplo da caixa de junção montadas nos flutuadores principais ......................... 45
Figura 15 - Visão externa frontal do eletrocentro WEG .......................................................... 45
Figura 16 - Roteiro do desenvolvimento da metodologia aplicada .......................................... 51
Figura 17 - Arranjo experimental (Pato-II) instalado justaposto à usina de 1MWp ................ 52
Figura 18 - Arranjo experimental Pato-II- Equipamentos e instrumentação (I)....................... 54
Figura 19 - Arranjo experimental Pato-II- Equipamentos e Instrumentação (II) ..................... 55
Figura 20 - Curvas características fornecidas pelo fabricante do módulo Canadian ............... 56
Figura 21 - Representação esquemática do balanço de energia no módulo fotovoltaico ......... 58
Figura 22 - Dados coletados dos parâmetros meteorológicos .................................................. 64
Figura 23 - Histograma das taxas de irradiância solar no plano horizontal ............................. 65
Figura 24 - Taxas de irradiância incidentes nos planos horizontal e inclinado ........................ 66
Figura 25 - Radiação no plano horizontal - lago de Sobradinho .............................................. 67
Figura 26 - Temperaturas do ar, velocidade do vento e umidade relativa do ar ...................... 68
Figura 27 – Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância incidente:
Corrente de curto circuito. ..................................................................................... 70
Figura 28 - Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância incidente:
Tensão de circuito aberto ....................................................................................... 70
Figura 29 - Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância incidente:
Diferença entre temperatura do módulo fotovoltaico e do ambiente..................... 71
Figura 30 - Comportamento das variáveis no dia 03/01/2019 - Céu Claro .............................. 72

Figura 31 - Comportamento das variáveis no dia 11/01/2019 - Céu Moderado ...................... 73

Figura 32 - Comportamento das variáveis no dia 10/01/2019 - Céu Nublado ......................... 74

Figura 33 – Comparação Sobradinho e Petrolina - Temperatura Ambiente ............................ 75

Figura 34 - Comparação Sobradinho e Petrolina – Velocidade do Vento................................ 76

Figura 35 - Comparação Sobradinho e Petrolina – Umidade Relativa do Ar .......................... 76

Figura 36 - Radiação Horizontal .............................................................................................. 78

Figura 37 - Sobradinho e Petrolina - Temperatura Ambiente .................................................. 78

Figura 38 - Relação entre a diferença de temperatura (TFV-Tamb) e a irradiância incidente no


plano do módulo FV (Icol) ................................................................................... 83

Figura 39- Histograma de frequência do parâmetro k de Ross – período de 19/12/2018 a


17/06/2019 ............................................................................................................. 87
Figura 40 – Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross................. ........... 83

Figura 41 – Perdas térmicas totais calculadas com base nos dados experimentais para o 84
módulo instalado no Lago de Sobradinho................................. .................
Figura 42 – Perdas térmicas (a) radiativas e (b) convectivas, calculadas com base nos 85
dados experimentais para o módulo instalado no lago............... .....................
Figura 43 – Relação entre a diferença de temperatura do módulo e ambiente (T FV- Tamb) e
a irradiância solar incidente Icol. Temperatura TFV calculada considerando o 86
módulo com geração ................................................... ............... ..................
Figura 44 – Histograma de frequência do parâmetro k de Ross calculado considerando–se
a condição de módulo com geração.................................................. ................. 87
Figura 45 – Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross com geração.......... 87

Figura 46 – Potência elétrica calculada em função da irradiância incidente medida............ 88


LISTA DE SÍMBOLOS GREGOS

αi Coeficiente de temperatura de Icc


αv Coeficiente de temperatura de Voc
β Inclinação do plano coletor fotovoltaico
γ Coeficiente de temperatura da potência máxima
σ Constante de Stefan-Boltzman
η Eficiência do módulo FV
ξ FVf Fator de emissividade da frente do módulo
ξ FVb Fator de emissividade da traseira do módulo
ξ sky Fator de emissividade do céu
ξ ground Fator de emissividade do solo ou do flutuador para módulo flutuante
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFV Área do módulo


AlbFV Albedo ou Reflexividade do módulo
CC Corrente contínua
FV Fotovoltaico
FVT Fotovoltaico térmico
Wp Watt pico (Potência CC)
h Coeficiente global de perdas
ha Hectare - unidade de medida de área equivalente 10.000 m2
Hh Radiação incidente média diária
Icol Irradiância no plano do coletor
Icc Corrente de curto circuito
K Coeficiente de Ross
Kfc Coeficiente de troca de calor por convecção forçado
Kn Coeficiente de troca de calor por convecção natural (livre)
MPPT Seguidor de máxima potência
NOCT Temperatura nominal de operação da célula
Pcovb Potência cedida por convecção traseira ao meio ambiente
Pcovf Potência cedida por convecção frontal ao meio ambiente
Pel Potência elétrica do módulo
Pirrb Potência irradiada pela traseira do módulo
Pirrf Potência irradiada pela frente do módulo
Psol Potência solar incidente no módulo
PR Peformance ratio - medida de qualidade da usina
SAD Sistema de aquisição de dados
STC Condições padrão de ensaio
Tamb Temperatura do ambiente
TFV Temperatura do módulo
UFF Usina fotovoltaica flutuante
UHR Usina hidrelétrica reversível
UR Umidade relativa do ar
v Velocidade do vento
Voc Tensão em circuito aberto
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Primeiras usinas fotovoltaicas flutuantes - UFF...................................................... 18


Tabela 2 - Expansão das usinas fotovoltaicas flutuantes no mundo......................................... 19
Tabela 3 - Potência instalada mundial de hidreletricidade reversível até 2016 ........................ 39
Tabela 4 - Especificações elétricas do painel CS6P 265 Wp ................................................... 44
Tabela 5 - Valores dos parâmetros utilizados na modelagem .................................................. 62
Tabela 6 - Estatísticos dos valores de k Ross ........................................................................... 82
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 17
2 ESTADO DA ARTE DA TECNOLOGIA FOTOVOLTAICA FLUTUANTE ........ 18
2.1 TIPOS DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS FLUTUANTES - UFF ............................. 23
2.1.1 Sistema fotovoltaico no oceano ...................................................................................... 23
2.1.2 Sistema fotovoltaico flutuante sobre canal de irrigação ............................................. 24
2.1.3 Sistema fotovoltaico flutuante em lago de hidrelétrica ............................................... 25
2.1.3.1 Redução do uso da terra.................................................................................................... 26
2.1.3.2 Redução da evaporação .................................................................................................... 26
2.1.3.3 Custo de operação e manutenção...................................................................................... 28
2.1.3.4 Sombreamento .................................................................................................................. 29
2.1.3.5 Tempo de instalação ......................................................................................................... 29
2.2 Inovações na tecnologia de sistemas fotovoltaicos flutuantes.......................................... 29
2.2.1 Sistema solar flutuante com rastreamento ................................................................... 30
2.2.2 Sistemas fotovoltaicos flutuantes submersos ................................................................ 31
2.2.3 Diferentes tipos de flutuadores (materiais e geometria) ............................................. 32
2.2.4 Fabricantes de Flutuadores no Mundo ......................................................................... 33
2.2.5 Sistema de Ancoragem ................................................................................................... 37
2.3 POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE SISTEMA HÍBRIDO FOTOVOLTAICO
FLUTUANTE EM RESERVATÓRIO DE HIDRELÉTRICA NO MUNDO ................ 38
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DE USINAS FOTO VOLTAICAS
FLUTUANTES EM LAGOS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL. ................................... 41
2.5 O SISTEMA FOTOVOLTAICO FLUTUANTE DE SOBRADINHO ........................... 42
2.5.1 Sistema gerador .............................................................................................................. 43
2.5.2 Conexões elétricas e Eletrocentro ................................................................................. 45
3 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................................... 46
4 MATERIAS E MÉTODOS............................................................................................ 50
4.1 CAMPANHA DE MEDIÇÃO ......................................................................................... 50
4.1.1 Descrição do arranjo experimental ............................................................................... 51
4.2 TEMPERATURA DE OPERAÇÃO DOS MÓDULOS .................................................. 56
4.2.1 Estimativa da Temperatura do módulo com geração de potência a partir de
medições do módulo em 𝑽𝒐𝒄 ........................................................................................ 61
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 63
5.1 ANÁLISE DOS DADOS DA CAMPANHA DE MEDIÇÃO NO LAGO DE
SOBRADINHO ............................................................................................................... 63
5.1.1 Recurso Solar - irradiações incidentes.......................................................................... 65
5.1.2 Temperatura ambiente, umidade relativa do ar, velocidade do vento ...................... 67
5.1.3 Características específicas do dispositivo fotovoltaico flutuante ............................... 69
5.1.4 Comparação entre os resultados obtidos e valores de referência .............................. 75
5.1.5 Radiação Solar Sobradinho e Petrolina........................................................................ 77
5.1.6 Temperatura ambiente Sobradinho e Petrolina .......................................................... 77
5.1.7 Umidade do ar e Velocidade do vento Sobradinho e Petrolina .................................. 79
5.2 TEMPERATURA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO E POTÊNCIA GERADA.......... 80
5.2.1 Coeficiente de Ross para a condição NOCT - dados do fabricante ........................... 80
5.2.2 Cálculo do coeficiente de Ross – dados experimentais ................................................ 80
5.3 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO MÓDULO EM CONDIÇÃO DE
OPERAÇÃO (𝑷𝒆𝒍 ≠0)................................................................................................... 83
5.3.1 Temperatura do módulo em geração e potência gerada ............................................. 84
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 88
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 90
ANEXO A - MODELOS PARA ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DOS
MÓDULOS FOTOVOLTÁCOS .................................................................................. 94
14

1 INTRODUÇÃO

A energia solar para produção de energia elétrica vem sistematicamente aumentando


sua participação na matriz energética mundial e já se apresenta como a fonte de energia
renovável que mais cresce na atualidade, como destaca o Renewables Global Status Report da
IRENA (2017). O relatório destaca que a geração de energia pela fonte solar cresceu, em 2016,
mais que as demais fontes de energia renováveis. Naquele ano, a fonte solar participou com
aproximadamente 47% de toda nova energia renovável implantada, no nível mundial, enquanto
que as fontes eólica e hidrelétrica detinham cerca de 34% e 15,5% respectivamente (IRENA,
2017). Essa expansão continuou sendo impulsionada, primeiramente, pela energia solar, em
seguida pela eólica, segundo o balanço das fontes renováveis no mundo, divulgado também
pela IRENA (2019), como pode ser observado na figura 1. Dos cerca de 170 GW introduzidos
no ano de 2018, 55% foram provenientes da fonte solar, confirmando a tendência.
Figura 1 Capacidade de geração adicionada em 2018 por fontes renováveis

Fonte: Elaborado pelo autor com dados da Irena (2019)

A potência total acumulada no mundo até 2018, por fontes renováveis, atingiu 2.351
GW onde 1.172 GW pela hidreletricidade, 564 GW pela eólica e 486 GW pela fonte solar. A
China, o Japão, os EUA e a Alemanha são responsáveis por 67% desse montante mundial
acumulado.
15

Esse rápido e continuado crescimento da geração solar fotovoltaica pode ser atribuído à
melhoria da curva de conhecimento tecnológico com consequente barateamento de toda a
cadeia de produção, notadamente a dos painéis fotovoltaicos que experimentam uma crescente
redução de custos e aumento de eficiência.
As primeiras iniciativas no Brasil ocorreram com a implantação de sistemas FV
autônomos na zona rural do Nordeste Oriental, no final da década de 90, no âmbito do Programa
de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios – PRODEEM (Neto e Carvalho,
2006). A primeira usina fotovoltaica foi instalada no país apenas em 2011, em Tauá-CE (MPX,
2011). No ano de 2012 iniciou-se o ciclo virtuoso dessa fonte em consequência do P&D
Estratégico nº13/2011, da ANEEL - “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração
Solar Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira” que buscou induzir investimentos na
geração de energia fotovoltaica fomentando o “financiamento/execução”, por empresas de
energia elétrica em 18 projetos de usinas fotovoltaicas.
No ano de 2016 o Brasil contava com uma potência fotovoltaica instalada da ordem de
150 MW, o que correspondia a aproximadamente 0,1% da matriz energética brasileira. De
acordo com o Balanço Energético Nacional da EPE (2018), em 2017, a participação da energia
solar na matriz elétrica era de 0,13%. Com rápido crescimento, em 2019 o Brasil atingiu mais
de 2 GW de potência solar instalada, o que representa 1,27% de sua matriz energética de acordo
com o Banco de Informações de Geração – BIG da ANEEL (2019). Vale salientar que a essa
Agência já outorgou 86 novos empreendimentos com capacidade instalada de 2,76 GW que se
encontram em construção ou ainda não iniciados.
A experiência adquirida no país com respeito às instalações fotovoltaicas, tanto técnica
quanto no âmbito de negócios, permitiu o estabelecimento de um ambiente favorável ao
surgimento de propostas inovadoras, como a da geração fotovoltaica em meio aquático. Essa
opção tecnológica, no entanto, já era usada em outros locais, principalmente nos países
Asiáticos e foram incentivadas pela ANEEL através da chamada pública Eletronorte/Chesf
003/2015 – “Exploração de Energia Solar em lagos de Usinas Hidrelétricas”. A chamada visava
a implantação de sistemas de geração de energia solar de 10 MWp de potência, utilizando
painéis fotovoltaicos montados em plataformas flutuantes a ser instaladas nos reservatórios das
usinas hidrelétricas de Balbina-AM e de Sobradinho-BA. Esses sistemas foram propostos como
base de pesquisa aplicada para avaliação dos impactos desta nova tecnologia nos ecossistemas
amazônico e semiárido nordestino, respectivamente.
16

As Usinas Fotovoltaicas Flutuantes (UFF) em lagos de hidroelétricas vêm sendo


propostas como uma alternativa vantajosa aos sistemas em terra pela possibilidade de aumento
da eficiência pela redução da temperatura de operação dos geradores, além de vantagens
econômicas de custos evitados com a aquisição de terra, maior rapidez na instalação e na
obtenção de licença ambiental, economia de água pela redução na evaporação, entre outras. As
propostas de instalação de usinas FV flutuantes em reservatórios partem do pressuposto de que
os ganhos advindos das vantagens mencionadas possam compensar os custos adicionais com
flutuadores, ancoragem, vedação, cabeamento aquático, além da possibilidade de redução da
vida útil dos equipamentos.
Este trabalho visa contribuir com informações sobre as condições meteorológicas e
ambientais em meio aquático que diferem das coletadas por meio de estações solarimétricas
instaladas em terra, notadamente na região semiárida do Nordeste do Brasil. Na área do estudo
realizado, existem informações de boa qualidade provenientes de uma estação instalada na
cidade de Petrolina (Rede Sonda), a aproximadamente 50 km do lago de Sobradinho – foco da
pesquisa realizada. Entretanto, as condições meteorológicas específicas no local de instalação
do sistema fotovoltaico flutuante (reservatório), imprescindíveis para a estimativa da
temperatura de operação dos módulos e, consequentemente, para a estimativa da energia
gerada, não são habitualmente medidas.
É nesse contexto que se inscreve a pesquisa cujos resultados estão aqui apresentados.
17

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo principal descrever e conhecer o ambiente do lago de
Sobradinho, local onde está sendo implantada uma usina fotovoltaica flutuante, com base em
experimentos realizados neste local. Para tal, uma bancada de ensaios formada por um conjunto
de sensores de medições ambientais, acoplada a uma base flutuante, foi justaposta à usina
fotovoltaica flutuante de 1 MWp de Sobradinho. A bancada agrega ainda, dois módulos
fotovoltaicos com instrumentação para medição da temperatura e parâmetros elétricos. As
medições realizadas fornecem informações sobre as condições ambientais específicas às quais
os sistemas fotovoltaicos flutuantes são submetidos, quando instalados no lago de Sobradinho.
Como objetivo secundário, propõe-se construir modelagem, utilizando os dados
experimentais baseada em um modelo de balanço de energia, com vistas a descrever o
comportamento da variação da temperatura do gerador fotovoltaico em função das condições
meteorológicas locais (irradiância solar, temperatura ambiente, velocidade do vento). Nesse
estudo são consideradas as características físicas e elétricas do gerador (módulo) escolhido para
compor a usina fotovoltaica flutuante de 1 MWp projetada para o lago de Sobradinho.
Agregando aos estudos experimentais, este trabalho buscou também apresentar uma
extensa análise do Estado da Arte das Usinas Fotovoltaicas Flutuantes (UFF) no mundo, com
vistas a disponibilizar informações importantes sobre as tendências tecnológicas dessa
aplicação.
18

2 ESTADO DA ARTE DA TECNOLOGIA FOTOVOLTAICA FLUTUANTE

A aplicação de usinas fotovoltaicas flutuantes (UFF) é relativamente recente. A partir


de 2007 esse tipo de tecnologia começou a ser testada na Itália, USA, França, Espanha, China,
Japão e Coreia. Mais recentemente, sua aplicação em larga escala cresceu muito nos países
Asiáticos devido ao grande adensamento populacional, limitações e concorrência no
aproveitamento de terras, grande disponibilidade de corpos de água para sua aplicação e
economia de água pela redução da evaporação (Trapani e Santafé, 2014; Thi, 2017).
Inicialmente foram instaladas usinas de pequeno porte, com poucas dezenas de kWp.
Com o passar do tempo e o sucesso da experimentação, a tecnologia, passou para um patamar
da ordem de MWp e foi sendo experimentada em diferentes corpos de água. Ressalta-se que
até 2014 nenhuma usina fotovoltaica flutuante (UFF) havia sido experimentada em
reservatórios de hidrelétricas, como observou Trapani e Santafé (2014) que apresentaram 18
UFFs instaladas no mundo, somando cerca de 2,4 MWp de sistemas flutuantes de pequena a
média capacidade, como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1 - Primeiras usinas fotovoltaicas flutuantes - UFF

Fonte: Elaborado pelo autor com informações de Trapani e Santafé (2014)


19

A tabela 2 mostra a expansão das UFFs no mundo até o ano de 2016, com um
incremento da ordem de 240 MWp. Cabe ressaltar que 47% desse acréscimo deveu-se ao Japão
que contava à época com 45 usinas flutuantes (Sauh e Yadav, 2016; Thi, 2017). Os autores
citam previsão de expansão muito grande nesse tipo de aplicação UFF e ressaltam que só a
China implantou em 2017 uma usina de 40 MWp numa área de mineração chamada Anhui.

Tabela 2 - Expansão das usinas fotovoltaicas flutuantes no mundo

Fonte: Elaborado pelo autor com informações de Sauh e Yadav (2016)


20

Tabela 2 - Expansão das usinas fotovoltaicas flutuantes no mundo


(continuação)

Fonte: Elaborado pelo autor com informações de Sauh e Yadav (2016)


21

Tabela 2 - Expansão das usinas fotovoltaicas flutuantes no mundo


(continuação)

Fonte: Elaborado pelo autor com informações de Sauh e Yadav (2016)


22

A diferenciada participação do Japão, como pode ser observada na figura 2, na


implantação desse tipo de tecnologia, pode ser atribuída a dois fatores principais: à escassez de
terra na ilha e devido à regulamentação da “Feed in Tarif Law”, assinada em 01/07/2011 pelo
governo Japonês (Minamino e Langone, 2017), logo após o acidente nuclear de Fukushima,
que determinou que suas empresas de eletricidade são obrigadas a comprar 100% da energia de
fontes renováveis produzida no país.
Os vetores que têm impulsionado a geração de energia FV flutuante a experimentar um
alto crescimento relativo comparado aos demais tipos de energia renováveis são: incentivos
governamentais, declínio de preço dos elementos da cadeia de produção e o aumento da
eficiência na produção de energia proveniente de pesquisas no nível global (Thi, 2017).

Figura 2 - Usinas flutuantes instaladas no mundo até 2017

Fonte: Adaptada pelo autor com informações de Thi (2017)

A seguir são descritos tipos de sistemas fotovoltaicos flutuantes do ponto de vista do local
de instalação, das características, vantagens e desvantagens dos sistemas.
23

2.1 TIPOS DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS FLUTUANTES - UFF

Os sistemas solares flutuantes podem ser instalados em praticamente qualquer corpo de


água como oceanos, lagos, lagoas, reservatórios de hidrelétrica, canal de irrigação, estações de
tratamento de águas, fazendas de peixes, açudes, represas etc. Segue uma descrição de alguns
tipos de sistemas de acordo com o corpo de água e com as características das instalações.

2.1.1 Sistema fotovoltaico no oceano

A instalação de sistemas fotovoltaicos no mar é mais complicada do que em água doce,


considerando as condições extremas sob as quais o sistema é submetido, tais como: aumento
do movimento e vibração causada por ondas maiores, traços de água salgada no vidro na
superfície do painel, perdas elétricas extras através de cabos longos, aumento da corrosão e
degradação causados pelo alto teor de sal (Sauh e Yadav, 2016).
Uma proposta inovadora com respeito às UFFs em mar foi apresentada pela empresa
Norueguesa Ocean Sun, consistindo da utilização de uma manta não permeável constituída de
uma fina membrana de polímero projetada para suportar estresse mecânico e radiação solar
Bjørneklett et al. (2019), como mostrado na figura 3.
Figura 3 - Módulos implantados sobre membrana não permeável projetada para
suportar o estresse mecânico e a exposição ao sol. (a) Coletores dual-glass, silicon
crystaline instalados sobre manta. (b) Membrana não permeável suportando estresse mecânico e
radiação solar.
(a) (b)
(a) (a)

Fonte: Montagem do autor com informações do site [email protected] Bjørneklett et al. (2019)

Os módulos fotovoltaicos são fixados sobre a manta de forma a permitir um bom contato
térmico com a água. A figura 4 mostra um projeto de 2 MWp (quatro trampolins) instalado na
Usina Fotovoltaica Flutuante de Banja, na Albânia.
A solução apresentada pela Empresa OceanSun consiste na instalação modular da Usina
com três configurações possíveis de sistemas padrões: com 100 kWp, com 200 kWp e com 500
kWp em ilha circular. Um sistema de 2 MWp, por exemplo, é montado em quatro unidades de
24

500 kWp sobre ilhas circulares com 72 m de diâmetro e área de aproximadamente 4.000 m².
Conforme apresentado na figura 4.
Figura 4 - Sistema FV com quatro ilhas circulares. (a) Apresenta resistência mecânica.
(b) Ilhas circulares de 500 kWp.

(a) (b)

Fonte: Fotos Ocean Sun obtidas no site [email protected]

2.1.2 Sistema fotovoltaico flutuante sobre canal de irrigação

Os sistemas fotovoltaicos instalados como coberturas em canais de irrigação apresentam


algumas vantagens tais como: evitar evaporação, possibilidade de gerar energia elétrica
necessária ao recalque de água, proteger o acesso de animais ao canal, entre outras.
Este tipo de aplicação poderia ser usado em diversos canais de irrigação existentes no
Semiárido da região Nordeste do Brasil, como por exemplo, no entorno do reservatório de
Sobradinho. Essa proposta permitiria, além da geração de energia à rede, alimentar
motobombas dos sistemas de abastecimento de água na cultura irrigada na região. De acordo
com o relatório de conjuntura dos recursos hídricos do Brasil da ANA (2014), estimava-se que
a região hidrográfica do São Francisco, no ano base 2012, detinha 10,9% dos 5,8 milhões de
hectares irrigados no Brasil. Destacam-se as cidades de Juazeiro e Petrolina (perímetros
irrigados para fruticultura), o Polo de Barreiras, no Oeste Baiano (produção de soja) e a bacia
do Rio Preto/Paracatu como principais áreas de irrigação da região.
Mais especificamente, a tecnologia fotovoltaica flutuante poderia ser utilizada no
espelho de água de projetos de interligação de mananciais, como na Região Hidrográfica -
Atlântico Nordeste Oriental referenciada pela Agência Nacional de Águas - como PISF -
Projeto de Integração do Rio São Francisco – que capta água a jusante da barragem da UHE
Sobradinho e contempla 27 reservatórios, 4 túneis, 14 aquedutos, 9 estações de bombeamento
com uma extensão de 477 km, dividida em dois trechos, eixos Norte e Leste.
25

2.1.3 Sistema fotovoltaico flutuante em lago de hidrelétrica

Farfan e Breyer (2018) apresentaram uma visão otimista para a expansão da aplicação
hibrida das UFF e usinas hidrelétricas com base na utilização máxima de 25% dos reservatórios
no mundo. Pelas suas estimativas os reservatórios das hidrelétricas poderiam hospedar cerca de
4400 GW de usinas fotovoltaicas flutuantes e gerar aproximadamente 6.270 TWh. Destacando
como principal vantagem a flexibilidade na operação das usinas e compartilhamento da
conexão às redes de transmissão, funcionando como “bateria virtual” no atendimento à
demanda de eletricidade.
Conforme mencionado anteriormente, os sistemas flutuantes têm sido propostos como
vantajosos quando comparados a sistemas FV convencionais instalados em terra, devido à
possibilidade de uma maior produção de energia ocasionada, principalmente, por uma redução
esperada da temperatura de operação dos módulos, e consequente aumento de sua eficiência.
Esses fatores impactam diretamente no incremento de receita. Os sistemas fotovoltaicos
flutuantes em lagos de reservatórios de hidroelétricas, além das vantagens citadas, apresentam-
se como uma aplicação interessante devido a diversos fatores tais como:
▪ Custos evitados com a compra ou arrendamento de terra, obras civis e fundação;
▪ Custos reduzidos com a operação e manutenção – esses últimos devido à disponibilidade
de água para limpeza e o não crescimento de vegetação sob os painéis;
▪ Possibilidade de redução da proliferação de algas no lago devido ao sombreamento dos
painéis;
▪ Tempo reduzido de implantação da usina dada à simplificação e agilização na montagem;
▪ Possibilidade de economia de água devido à redução na evapotranspiração;
▪ Custos reduzidos com estudos de impactos ambientais, principalmente para as usinas
hidrelétricas existentes que já cumpriram grande parte das exigências dos órgãos
ambientais, facilitando a obtenção das licenças de construção e operação;
▪ Redução de investimentos em conexão à rede, pois a usina instalada no reservatório
aproveitaria a própria subestação elevadora da hidrelétrica para o escoamento da energia
produzida;
As desvantagens dessas usinas com relação às instaladas em terra estão relacionadas aos
fatores intrínsecos que diferenciam essas aplicações e que resultam em custos extra, tais como,
os custos com flutuadores, sistema de ancoragem, vedação e cabeamento especiais para o meio
aquático. Além desses fatores, é esperada uma redução da vida útil dos equipamentos devido à
26

corrosão. Essa redução irá depender do grau de salinidade dos corpos de água. Quanto maior a
salinidade, maior a aceleração na depreciação dos equipamentos aplicados ao meio aquático.
A seguir são detalhadas algumas das vantagens listadas acima.

2.1.3.1 Redução do uso da terra

A área utilizável por uma usina FV é calculada aplicando um fator de adequação que é
determinado por uma variedade de diferentes restrições socioambientais. Para se avaliar o
impacto da ocupação da terra numa região como a do médio São Francisco onde está instalada
a usina flutuante de Sobradinho – UFF Sobradinho – identificou-se os tipos de uso da terra de
acordo com o Relatório de Análise de Mercado de Terras – RAMT (Silva et al., 2016) onde se
destacam: terras de pecuária de sequeiro com valor total do imóvel -VTI = 385,18 R$/ha, terras
de agricultura irrigada na margem do rio São Francisco com -VTI = 22.431,71 R$/ha e terras
de agricultura irrigada em perímetro irrigado com -VTI = 135.436,4 R$/ha. Este relatório
destaca o baixo custo da terra no sertão Pernambucano, com VTI em torno de 1.000,00 R$/ha
e 2.000,00 R$/ha no sertão Baiano.
Em termos de uso dos solos, de acordo com estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – EMBRAPA - (Santos, 2007) a maior parte da Bacia Hidrográfica do São
Francisco pode ser enquadrada como: 38% da área total que corresponde a terras para as quais
não existem restrições quanto ao uso agrícola intensivo, desde que utilizadas as técnicas
adequadas de manejo de solo e 47% da área total representadas por terras inaptas para o uso
agrícola, para as quais recomendam-se práticas de silvicultura, preservação ambiental ou a
utilização de pastagens nativas.
Como se pode observar, não existem restrições significativas para o uso da terra que
justifique o uso dessa tecnologia fotovoltaica flutuante no lago da hidrelétrica de Sobradinho
quando se leva em conta apenas o uso da terra. Entretanto, ao se considerar outros fatores, como
analisados a seguir, a expansão da geração fotovoltaica flutuante se justifica não apenas em
Sobradinho, como nas demais usinas hidrelétricas do Brasil.

2.1.3.2 Redução da evaporação

No caso em estudo dessa pesquisa, o reservatório de Sobradinho possui cerca de 320


km de extensão, com uma superfície de espelho de água de 4.214 km2 e uma capacidade de
27

armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos em sua cota nominal de 392,50 m. A área
ocupada pela UFF de 1 MWp de Sobradinho pode ser estimada considerando-se um fator
ocupação da ilha de flutuadores de 1,5 da área dos módulos fotovoltaicos Canadian CS6P 265
Wp totalizando aproximadamente 9.120,3 m2 ou seja, o percentual de cobertura da ilha
fotovoltaica de 1 MWp é de 0,0002% do espelho de água de seu reservatório, praticamente
desprezível.
Um dos principais fatores que impacta a gestão de recursos hídricos numa bacia
hidrográfica refere-se às perdas de água por evaporação nos reservatórios de regularização. A
evaporação é função da área do espelho de água desses reservatórios e das condições climáticas.
Segundo relatório da Agência Nacional de Águas, ANA (2017), a evaporação nos
reservatórios é o segundo maior gasto hídrico do país, atrás apenas da irrigação na agricultura,
onde o volume de água perdido por evaporação é mais que 5 vezes o necessário ao
abastecimento humano em todo Brasil.
No caso do reservatório da hidrelétrica de Sobradinho o volume de água evaporado é
bastante elevado, cerca de 123 m³/s de acordo com Pereira et al. (2009), considerando sua
extensa área numa região semiárida, com baixos níveis de precipitação, baixa umidade relativa,
temperaturas elevadas, baixa amplitude térmica e elevados níveis de insolação. Embora a
construção do reservatório de Sobradinho, associada às demais atividades desenvolvidas na
bacia, tenha causado redução da vazão média da ordem de 163 m³/s, promoveu também um
expressivo efeito de regularização com elevação da vazão média mensal correspondente ao mês
mais seco, de 1.306 m3/s para 1.950 m3/s segundo Pereira et al. (2009).
Nessas condições, a cobertura do espelho de água por ilha fotovoltaica flutuante vem ao
encontro da redução da evaporação dos reservatórios artificias, canais de irrigação e açudes que
no caso da região Nordeste são bastante numerosos devido à sua baixa disponibilidade hídrica,
como pode ser observado na figura 5 publicada no relatório ANA (2017) .
No nível mundial os resultados são muito promissores por causa de grandes superfícies
de espelho de água disponíveis e por causa da possibilidade de construir estruturas flutuantes
que são mais compactas do que plantas fotovoltaicas terrestres. Segundo Tina et al. (2018),
usando apenas 1% das bacias naturais já se disporia de área necessária à instalação de UFF
capaz de atender cerca de 25% da demanda mundial de energia em 2024.
28

Figura 5 - Concentração das massas de água artificias na região Nordeste

Fonte: Relatório Pleno da ANA (2017)

2.1.3.3 Custo de operação e manutenção

Os custos com O&M em meio aquático possuem peculiaridades que carecem de


pesquisa e adaptações dos procedimentos usados em terra para as atividades de monitoramento,
limpeza periódica dos módulos, inspeção termográfica, verificação periódica nível de sujidade
do sistema, verificação das conexões elétricas, traçamento da curva IV dos arranjos
fotovoltaicos, realização dos ensaios elétricos e respeito às normas de inspeção e de segurança.
O meio aquático possibilita maior facilidade de limpeza quando comparado com as instalações
em terra, propicia redução da sujeira sobre o painel pela baixa incidência de poeira. Alguns
estudos de sujidade em painéis fotovoltaicos indicam perdas em torno 5% dependendo do
ambiente e da umidade (Lemos, 2016).
De fato, um suprimento abundante de água para limpar a superfície do painel e a
disponibilidade de energia possibilita uma redução de custo de manutenção além de que os
custos com segurança patrimonial podem ser reduzidos pela proximidade a uma usina
hidrelétrica contribuindo todos para redução dos custos operacionais.
A corrosão, especialmente em ambientes costeiros mais agressivos, pode afetar as
caixas de passagem, inversores, cabos e quaisquer outras estruturas metálicas de suporte.
29

2.1.3.4 Sombreamento

Dois benefícios são esperados com sombreamentos da área da ilha fotovoltaica sobre o
espelho de água: a economia de água pela diminuição da evaporação e a diminuição da
proliferação de algas. Vale destacar que, por outro lado, o sombreamento nos painéis, com
grande impacto na produção de energia, é praticamente eliminado quando se considera o
posicionamento da ilha fotovoltaica no meio de um corpo de água situado mais longe de objetos
que causam sombra, como prédios e árvores.
Como parte do escopo do projeto de P&D - chamada pública Eletronorte/Chesf
003/2015 - serão pesquisados impactos no meio ambiente através do monitoramento dos
seguintes aspectos: ictiofauna e biologia pesqueira, ictioplâncton e formas jovens, aspecto
limnológico, qualidade da água e macrófitas aquáticas. Considerando que os impactos
ambientais já foram analisados, quando da formação do lago artificial na época da construção
da usina hidrelétrica, resta pesquisar os aspectos aquáticos devido ao sombreamento da ilha de
painéis solares sobre a água.

2.1.3.5 Tempo de instalação

Espera-se que o tempo de instalação de um sistema fotovoltaico flutuante seja menor


que o tempo de montagem de um sistema de tamanho similar no solo. Sem a necessidade de
terraplenagem ou realizar outras operações de fundação e obras civis, o tempo total de
preparação do sistema pode ser reduzido em comparação com uma instalação terrestre. Por
outro lado, o quesito de ancoragem merece especial atenção.

2.2 INOVAÇÕES NA TECNOLOGIA DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS


FLUTUANTES

Como principais inovações da tecnologia FV flutuante destacam-se os sistemas flutuantes


com rastreamento e os sistemas submersos, descritos a seguir.
30

2.2.1 Sistema solar flutuante com rastreamento

Os sistemas fotovoltaicos flutuantes com rastreamento solar permitem acompanhar a


trajetória do sol ao longo do dia pela rotação da ilha de módulos fotovoltaicos em seu ângulo
azimutal. Duas técnicas foram apresentadas por Cazzanigaa et al. (2018): Rastreamento dentro
de uma estrutura de confinamento ou sem confinamento.
No caso de sistemas com confinamento (Fig. 6), uma ilha flutuante é formatada como
círculo ou polígono e um motor elétrico gira a plataforma. Essa tecnologia é de alto custo e,
portanto, ainda não se apresenta como uma aplicação comercial. Os sistemas estão limitados a
pequenas ilhas de 30 m de diâmetro (Cazzanigaa et al., 2018).
No rastreamento sem estrutura de confinamento a ilha é fixada em seu ponto central e
girada externamente, por exemplo, por meio de uma corda. Esta solução se destaca pela
simplicidade do mecanismo de rastreamento. Uma ilha grande e flutuante pode girar sem
esforço em torno de um eixo vertical, simplificando a mecânica do rastreamento e, assim,
reduzindo seus custos. A maior dificuldade reside no sistema de controle que deve atuar com
baixa frequência para não sobrecarregar os motores. Segundo Sauh e Yadav (2016), os sistemas
com rastreador circulado por corda podem ser 20% mais baratos quando comparados com
sistemas com rastreamento instalados em terra.

Figura 6 - Sistema com rastreamento (a) com confinamento e (b) sem confinamento (com
corda)

(a) (b)
Fonte: Cazzanigaa et al. (2018)
31

2.2.2 Sistemas fotovoltaicos flutuantes submersos

Nesse tipo de sistema os painéis são imersos em água, sendo importante observar: os
efeitos da redução da temperatura no módulo; as perdas da radiação que incide sobre a
superfície do painel; a posição em relação à superfície da água; a coluna de água sobre os
módulos; o tipo de água onde o sistema está submerso – água doce (lago, rio) ou salgada (água
do mar); o tipo de módulo fotovoltaico: rígido ou flexível.
Na presença da água, vários fenômenos podem ser observados, como: a modificação
do espectro de radiação solar; a redução da temperatura de operação do módulo; o desgaste do
material; o isolamento elétrico; as perdas elétricas; o comportamento do material sob constante
esforço; entre outros. Estes fenômenos têm diferentes impactos na produção da energia elétrica
como destacados por Cazzanigaa et al. (2018). Em sua pesquisa observou que se a camada de
água é fina (1–2 cm), o ganho devido à temperatura mais baixa supera amplamente a pequena
perda devido à absorção de radiação.
A figura 7 apresenta pesquisa realizada pela Scienza Industria Tecnologia - Scintec
(Rosa-Clot et al., 2011). Esse sistema não consegue ondular com as ondas já que ele é rígido.
Então, ao invés de resistir às condições de águas agitadas, ele foi projetado para submergir até
2 metros. A submersão e a flutuação do arranjo são realizadas pelo bombeamento de água para
dentro ou fora de boias fechadas que estão ao seu redor.

Figura 7 - Sistema fotovoltaico submerso para proteção de ondas. (Pesquisa apenas com
interesse militar)

Fonte: Cazzanigaa et al. (2018)


32

De acordo com os experimentos descritos por Lanzafame et al. (2010), a profundidade


ótima do painel na água é de 8 a 10 cm, o que foi confirmado por modelo matemático. Outra
importante constatação foi a presença significativa de radiação difusa quando aumenta a
profundidade da submersão do painel na água. A presença dessa radiação difusa aponta uma
vantagem na utilização da tecnologia de filme fino para a geração de energia em sistemas
submersos. Este fato foi confirmado nos experimentos de Cazzanigaa et al. (2018) que
constataram que em profundidades entre 0 e 50 cm, no ponto máxima potência, experimentou
uma redução de cerca de 20% para a tecnologia cristalina e 10% para a tecnologia de filme fino.
O ponto marcante, no entanto, é que, em águas rasas, foi observado um aumento na
eficiência de 10 a 20% mesmo considerando que o rendimento do filme fino é inferior à da
célula fotovoltaica de silício.

2.2.3 Diferentes tipos de flutuadores (materiais e geometria)

A ideia básica na construção de uma usina solar flutuante é instalar os módulos


fotovoltaicos sobre flutuadores e conectá-los entre si formando uma ilha flutuante devidamente
ancorada ao fundo ou nas bordas do lago ou reservatório. Dessa forma, o flutuador apresenta-
se como um componente de alta relevância no conjunto que compõe a UFF.
A figura 8 mostra vários tipos de flutuadores que permitem manter os módulos elevados
com relação ao nível da água, facilitando a troca de calor por convecção do módulo com o
ambiente próximo da água. Na figura 8 são apresentadas algumas configurações de flutuadores
instalados na Coreia.
Figura 8 - Configurações de flutuadores na Coreia

Fonte: Cazzanigaa et al. (2018)


33

A figura 9 mostra vários tipos de flutuadores e arranjos instalados com propósito de


pesquisa na área de teste do Solar Energy Research Institute of Singapore (SERIS), National
University of Singapore. Uma característica importante no projeto dos flutuadores é a
disponibilização de área livre na parte posterior dos painéis com objetivo de aumentar o
resfriamento do módulo por convecção.

Figura 9 - Tipos de flutuadores e arranjos instalados na área de teste do (SERIS)

Fonte: Liu et al. (2018)

2.2.4 Fabricantes de Flutuadores no Mundo

Devido ao caráter inovador dos sistemas fotovoltaicos flutuantes, o número de


fabricantes de flutuadores no mundo é bastante reduzido. Em uma pesquisa recente realizada
no site da ENF Solar (empresa especializada em troca de informações comerciais), foram
encontradas 20 empresas que fabricam flutuadores no mundo sendo 14 delas na China. A figura
10 apresenta as 20 empresas, suas localizações e fotos ilustrativas dos flutuadores (ENF, 2019).
34

Figura 10 - Fabricantes de flutuadores no mundo


Nome Empresa Localidade Flutuador
Extrusion Machine 1000T, 2

Xiamen HQ Mount Co., Ltd. CHINA - Xinglin Bay


www.hqmount.com Operations Center, Jimei
District, Xiamen, Fujian

CHINA Haicang Distri


Xiamen Trip Solar Technolo
ct, Xiamen, Fujian
gy Co., Ltd
www.tripsolar.com

Ciel et Terre FRANÇA - Sainghin-en-


www.ciel-et-terre.net Mélantois

FloatPac Solar AUSTRALIA –


https://floatpac.com Melbourne
Mt Waverley, Victoria 3149

FOEN Floating Solar System CHINA – Jimei District,


www.foenpv.com Xiamen City

Future Science and CHINA–


Technology Co., Ltd. Licheng_District
www.FutureSolarPVcom

CANADA -
www.jnnewenergy.com
Andrew.Mills@layfieldg
Layfield Floating Solar
roup.com

Fonte: Eleborado pelo autor – informações retiradas do sitio: https:// www.enfsolar.com/


directory/ component/ mounting_system?mount_type=f
35

Figura 10 - Fabricantes de flutuadores no mundo (continuação)

Nome Empresa Localidade Flutuador

Xiamen Megan Solar Co., CHINA - Jimei District,


Ltd. Xiamen, Fujian
www.mgsolarracking.com

Mibet (Xiamen) New Energy CHINA - Houxi Town,


Co., Ltd. Jimei District, Xiamen,
www.mbt-energy.com Fujian

ITALIA –
NRG Island Viareggio (LU)
www.nrgisland.com
www.fotovoltaicogal
leggiante.com

Filme Fino
Ocean Sun AS NORUEGA - Lysaker
oceansun.no Norway

Xiamen Suneon Power CHINA –


Technology Co., Ltd Hengtian Road, Jimei
www.suneonsolar.com District, Xiamen

Sungrow Power Supply CHINA - Industrial


Co.,Ltd. Development Zone,
en.sungrowpower.com 230088, Hefei, Anhui

Fonte: Eleborado pelo autor – informações retiradas do sitio: https:// www.enfsolar.com/


directory/ component/ mounting_system?mount_type=f
36

Figura 10 - Fabricantes de flutuadores no mundo (continuação)

Nome Empresa Localidade Flutuador

Hefei Sunhome Technology CHINA -


Co., Ltd. Hi-tech District, Hefei,
www.sunhomepv.com Anhui

Topper Floating Solar PV


Mounting Manufacturer Co., CHINA - Siming,
Ltd. Xiamen, Fujian
www.floatingsolarmounting.
com

Xiamen Trip Solar Technolo CHINA -


gy Co., Ltd. Haicang District, Xiamen
www.tripsolar.com , Fujian

CHINA -
Suzhou Prime Floating Suzhou, Jiangsu
Water Engineering Co., Ltd.
https://www.deenton.co
m

Sun_Track COREA –
www.suntrack.co.kr Sujeong-gu, Seongnam-
si, Gyeonggi-do

Jiangsu Next Polymer CHINA - Economic


Materials Co., Ltd. Development Zone, Pei
jsnext.cn County

Fonte: Eleborado pelo autor – informações retiradas do sitio: https:// www.enfsolar.com/ directory/
component/ mounting_system?mount_type=f
37

Nesta consulta a 20 fabricantes de flutuadores disponíveis no mercado, pôde-se observar


diversos projetos com diferentes soluções de aeração da face traseira do gerador.
Esta característica impacta diretamente as perdas por convecção no módulo,
possibilitando maior resfriamento do módulo e consequentemente maior desempenho na
geração de energia. O impacto no desempenho do módulo devido a essa característica deve ser
investigado.

2.2.5 Sistema de Ancoragem

Além do flutuador, o sistema de ancoragem é outro dispositivo importante no conjunto


de componentes do sistema FV flutuante. Um sistema de ancoragem pode usar várias
possibilidades de amarração, como: cais, molhes, píeres, estacas fincadas ao chão ou poitas. No
caso de um sistema solar flutuante, o sistema de ancoragem mantém os painéis na mesma
posição. A instalação de um sistema de ancoragem pode ser um desafio e custar caro em águas
profundas. Manter os cabos de amarração tracionados acompanhando a variação de nível do
espelho de água também é outro desafio que pode ser solucionado com boias de superfície ou
molas elásticas tracionando os tirantes de amarração.
Algumas informações adicionais foram obtidas diretamente com o fabricante Seaflex
(2019) de molas elásticas entre elas, merecem especial atenção:
“Durante tempestades, ventos fortes podem causar uma distribuição desigual de força em
determinados pontos da matriz. Se o sistema estiver conectado apenas com cordas e cabos, não
haverá amortecimento suficiente dessas forças, o que pode levar a pontos de fixação quebrados
nos flutuadores”.
Outro aspecto importante é a durabilidade do sistema à corda e corrente que, segundo a
Seaflex, a ancoragem desse tipo necessita ser substituída dentro de alguns anos de operação. A
figura 11 apresenta de forma esquemática a ideia do uso de molas elásticas no sistema de
ancoragem das ilhas flutuantes.
38

Figura 11 - Esquema do sistema de ancoragem e detalhe das molas elásticas. a) esquema


de amarração com molas eláticas. b) mola elástica fabricada pela Seaflex.

a) b)
ilha painéis flutuantes boia

mola elástica mola elástica


tirantes

Fonte: Seaflex (2019)

2.3 POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE SISTEMA HÍBRIDO FOTOVOLTAICO


FLUTUANTE EM RESERVATÓRIO DE HIDRELÉTRICA NO MUNDO

Apesar de ambas as tecnologias fazerem parte do sistema elétrico global há décadas, a


energia fotovoltaica e a energia hídrica só começaram, recentemente, a serem estudadas de
forma integrada.
No que se refere à possibilidade de armazenamento de energia, embora as baterias sejam
uma tecnologia de rápida expansão atualmente no mundo (com capacidade total instalada de
cerca de 2GW em 2016), essa tecnologia, entretanto, não supera as possibilidades do
armazenamento bombeado em reservatórios de hidrelétrica, que conta com cerca de 150 GW
instalado em 2016 (IRENA, 2017). Investimentos em novas tecnologias de armazenamento
bombeado, como turbina-bomba de velocidade variável e sistemas ternários, estão crescendo e
prometem se tornar uma alternativa para o aumento da eficiência energética das hidrelétricas,
principalmente quando associadas a fontes complementares renováveis como solar flutuante e
eólica.
Uma das desvantagens da energia solar é que ela depende das condições climatológicas,
da radiação, da localização e dos ciclos naturais diários. Por causa disso, a produção de energia
solar não é controlável. Por outro lado, a hidroeletricidade baseada em reservatórios é altamente
controlável. A operação integrada dessas fontes foi estudada por Ming et al. (2019), que
destacaram as vantagens da operação integrada de fontes de energia despacháveis e não
39

despacháveis que possibilitam uma operação (função do ONS no Brasil) com alto nível de
penetração das fontes de energia renováveis.
Um estudo de caso foi realizado para a usina híbrida Longyangxia hydrod PV na China.
Os resultados mostraram que, em comparação com a operação tradicional, a média anual de
produção de energia e confiabilidade aumentaram 4,3% e 47,5% respectivamente, enquanto o
índice de escassez de água caiu 6,6% (Ming et al., 2019).
Uma pesquisa realizada pela International Hydropower Association apresentou em seu
relatório hydropower status report – 2017 (IHA, 2017) sobre a expansão da hidroeletricidade
mundial, um cenário de implantação de hidrelétricas reversíveis incluindo aquelas hibridas com
aproveitamento solar flutuante instaladas em seus respectivos reservatórios. A tabela 3 mostra
o balanço geral dessa pesquisa. Verifica-se uma baixa participação dessa tecnologia na África,
América do Sul e Ásia Central.

Tabela 3 - Potência instalada mundial de hidreletricidade reversível até 2016

Fonte: Tabela elaborada pelo autor com os dados do hydropower status report – 2017

As informações a seguir detalhadas por países foram obtidas no hydropower status


report da IHA (2017).
Os Estados Unidos possuem meta de implantar 13 GW com a modernização das
hidrelétricas existentes, adicionando energia a barragens e canais existentes e a adição de 36
GW de nova capacidade de armazenamento bombeado.
O Canadá ocupa o quarto lugar no mundo em produção hidrelétrica, com mais de 79
GW de capacidade instalada, incluindo armazenamento bombeado.
O Chile planeja implantar a usina reversível de 300 MW (Espejo de Tarapacá). O
projeto híbrido propõe combinar a energia hidrelétrica e a energia solar. O sistema de
40

armazenamento bombeado usará o Oceano Pacífico como um reservatório inferior e as


depressões naturais nos planaltos sobrepostos como um reservatório de armazenamento
superior.
O continente africano adicionou mais de 3 GW de nova capacidade de energia hídrica
em 2016, incluindo o comissionamento do projeto de armazenamento bombeado de 1.332 MW
em Ingula na África do Sul.
Na Europa, cerca de 2.500 MW de capacidade de armazenamento reversível foram
planejados ou em construção, concentrados principalmente na França e na Espanha até 2020.
Em Portugal, a unidade de armazenamento reversível de velocidade variável Frades
(760 MW) elevará a capacidade instalada total do complexo de Venda Nova a 1.058 MW e será
utilizada para apoiar a estabilização de frequências na rede local.
Na Alemanha, um projeto inovador de Naturstromspeicher em desenvolvimento
contempla uma usina eólica híbrida e de armazenamento bombeado que consiste em um parque
eólico de 13,6 MW e um sistema de armazenamento bombeado de 16 MW, onde as bases dos
aerogeradores atuam como reservatórios superiores. O sistema híbrido é projetado para garantir
uma saída de energia firme e equilibrar as flutuações de curto prazo.
A Índia desenvolve um projeto único, combinando FV flutuante com armazenamento
de energia hidrelétrica bombeada. Este será localizado no reservatório da hidrelétrica de Koyna,
no distrito de Satara, em Maharashtra.
Bangladesh e Nepal assinaram um acordo para desenvolver dois projetos de
armazenamento reversível no Nepal: os 1.110 MW Sunkoshi II e os 536 MW Sunkoshi III.
Dubai está com planos de construir um projeto hidrelétrico reversível de 250 MW em
Hatta, na represa de Al Hattawi. As turbinas hidráulicas alimentadas por energia solar
bombearão a água do reservatório inferior para o superior.
Somente a China responde por quase um terço da capacidade global de energia
hidrelétrica e 11,74 GW de nova capacidade em 2016, incluindo 3,74 GW de armazenamento
bombeado, levando sua capacidade instalada total para 331 GW, incluindo 26,7 GW de
armazenamento reversível.
Não há dúvida de que tanto o armazenamento de energia hidrelétrica reversível quanto
o armazenamento em baterias desempenharão um papel fundamental nos futuros sistemas de
energia.
41

A figura 12 apresenta um resumo da participação da hidreletricidade com


armazenamento por bombeamento apresentado pela EPE (2019) em sua Nota Técnica No.
EPE-DEE-NT-006/2019-r0 (13 de fevereiro de 2019).

Figura 12 - Distribuição da capacidade instalada total das usinas hidrelétricas reversíveis


(2017)

Fonte: Elaborado pela EPE a partir dos dados da IHA (2018)

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DE USINAS FOTOVOLTAICAS


FLUTUANTES EM LAGOS DE HIDRELÉTRICAS NO BRASIL.

Conforme descrito anteriormente, são várias as motivações para implantação UFFs em


reservatórios de usinas hidrelétricas no Brasil. Pode-se afirmar que a escolha dessa tecnologia
é bastante apropriada do ponto de vista da própria usina hidrelétrica que comercializa sua
energia lastreada na garantia física de sua produção, de acordo com a legislação Brasileira.
A garantia física determina a quantidade de energia que uma usina consegue produzir
de maneira firme. Ela é uma métrica importante para a adequabilidade à oferta do sistema e é
utilizada para duas finalidades fundamentais no Brasil: a garantia física define a quantidade
máxima de energia que uma usina pode comercializar e, no caso das hidrelétricas, define sua
cota de participação no suprimento do mercado cativo.
A hibridização de energia solar e hidráulica vem ao encontro da manutenção ou aumento
de sua garantia física. Manutenção, quando pode garantir sua produção, mesmo em períodos
secos, e aumento quando pode disponibilizar a energia FV para bombear água de volta ao
reservatório à montante da hidrelétrica. Ainda, no cenário de crescimento da inserção da energia
42

solar cada vez mais barata, a UFF pode ser usada diretamente para bombear a água turbinada
de volta ao reservatório da usina hidrelétrica. A hidreletricidade reversível seria uma forma de
armazenamento em grande escala com o objetivo de equilibrar a geração de eletricidade
intermitente, características das fontes eólica e solar.
Um aspecto importante a se considerar é repotenciação e modernização de usinas
hidrelétricas antigas (maioria das usinas Brasileiras). Nesse caso, tendo-se em vista a
hibridização da hidroelétrica com a fotovoltaica, seria indicada a substituição por turbinas
reversíveis viabilizando assim o bombeamento da água. Ainda, parte da energia assegurada
poderia vir de um ciclo fechado de produção de energia fotovoltaica flutuante.
Incentivos aos agentes que apresentem propostas de repotenciação de usinas
hidrelétricas com turbinas reversíveis e geração FV flutuante, na oportunidade de realização de
leilões a partir de recursos ofertados (energia velha), poderiam alavancar a recuperação das
usinas mais antigas e ampliar a geração de energia renovável no Brasil.

2.5 O SISTEMA FOTOVOLTAICO FLUTUANTE DE SOBRADINHO

O sistema fotovoltaico flutuante de Sobradinho é fruto de um projeto de P&D referente


a uma chamada pública Eletronorte/Chesf 003/2015 – “Exploração de Energia Solar em lagos
de Usinas Hidrelétricas”, cujo objetivo é a implantação de um sistema de geração de energia
solar de 10MWp, utilizando painéis fotovoltaicos, montados em plataformas flutuantes,
instaladas nos reservatórios das usinas hidrelétricas de Balbina-AM e de Sobradinho-BA, cada
uma com 5 MWp de dispositivos fotovoltaicos. O projeto tem como proponente a CHESF e
ELETRONORTE, como ambiente de pesquisa e formação de recursos humanos, as
Universidades Federais de Pernambuco e da Amazônia (UFPE e UFAM), como fornecedora, a
empresa Weg e como integradora, a empresa Sunlution.
Com motivações inerentes ao desenvolvimento de tecnologias na área de energia solar,
notadamente na produção de eletricidade, destaca-se o desenvolvimento de um modo inovador
de geração complementar à hidroeletricidade.
Salienta-se a carência de pesquisas com foco na interação operacional entre as usinas
fotovoltaica flutuante (UFF) e a hidroelétrica (UHE), em diversos aspectos tais como: o nível
de irradiância solar incidente na plataforma flutuante, a produção e escoamento da energia
produtiva, o comportamento dinâmico do fator de capacidade na geração complementar, efeitos
e influências de fatores operacionais e ambientais no desempenho da UFF e as oportunidades
43

para a redução de custos e novos negócios. Um aspecto de fundamental importância a ser


estudado, se refere às alterações que possam ocorrer provenientes da instalação da ilha na
superfície do lago como por exemplo, redução da taxa de evaporação da água, modificações na
qualidade da água, biomassa do fitoplâncton e produtividade primaria-ictiofauma decorrentes
do sombreamento pela ilha flutuante.
Nesse contexto, a usina fotovoltaica flutuante de Sobradinho de 1 MWp é considerada
uma planta piloto com o objetivo de avaliar técnica e economicamente a viabilidade da
tecnologia onde o conhecimento do ambiente e meteorologia no local do lago de Sobradinho,
objetivo do presente trabalho, servirão de base às futuras pesquisas.
O sistema de 1 MWp é composto por 3.792 painéis solares montados em uma estrutura
flutuante, sobre flutuadores ligados entre si para formarem uma grande ilha solar ocupando uma
área do lago de aproximadamente 10 mil metros quadrados. O arranjo foi dimensionado com
158 (cento e cinquenta e oito) conjuntos (strings) conectados em paralelo, cada um com 24
(vinte e quatro) módulos Canadian Solar CS6P265 Wp conectados em série, ligados em um
único MPPT no inversor WEG.
A planta de 1 MWp de Sobradinho se encontra em fase final de implantação, com
previsão de conexão à rede para início de setembro de 2019. Segue uma descrição sucinta das
principais características dos seus componentes.

2.5.1 Sistema gerador

O sistema gerador é constituído por módulos fotovoltaicos e flutuadores. Para a


montagem do sistema, são utilizados dois tipos de flutuadores (Fig. 13), um flutuador principal,
para a sustentação do painel fotovoltaico, e um flutuador secundário.

Figura 13- Fotografia dos flutuadores principal e secundário (Hydrelio©)

Fonte: Ciel Et Terre


44

O flutuador principal sustenta o módulo a uma inclinação de 12º em relação ao espelho


d’água e o flutuador secundário se presta para espaçamentos entre os módulos e passarela para
os mantenedores. Com a junção de flutuadores primários e secundários forma-se a ilha
flutuante.
Os módulos fotovoltaicos de Silício policristalino integram o gerador da usina, com
potência nominal (STC) de 265 Wp, o modelo escolhido é resistente à intempérie e uma caixa
de conexão com grau de proteção IP67 é utilizada para as interligações. A tabela 4 apresenta as
características elétricas dos módulos FV.
As características elétricas dos módulos são estimadas de acordo com sua potência
máxima de saída, sob condições padrão de teste (STC - Standard Test Conditions), irradiância
solar 1000 W.m², temperatura da célula de 25ºC e distribuição espectral AM=1,5. Essa
temperatura raramente é atingida em condições reais de operação. Em dias de sol claro a
temperatura dos módulos pode chegar a valores de 20 a 40ºC acima da temperatura ambiente.
Os coeficientes de variação da tensão, corrente e potência com a temperatura, bem como a
temperatura nominal de operação do módulo (NOCT –Nominal Operating Cell Temperature)
são apresentadas na tabela 4. A condição NOCT considera a temperatura que o módulo atinge
submetido a uma irradiância incidente de 800 W/m², temperatura ambiente de 20 ºC e
velocidade de vento de 1m/s.

Tabela 4 - Especificações elétricas do painel CS6P 265 Wp


Características STC NOCT
Potência Máxima 265 W 192 W
Tensão de Circuito Aberto 30,6 V 27,9 V
Corrente de Potência Máxima 8,66 A 6,88 A
Corrente de Curto-Circuito 9,23 A 9,32 A
Proteção Máxima de Corrente Reversa 15 A
Quantidade de Diodos By-Pass por Painel 3
Eficiência do Módulo 16,47 %
Limites de Temperatura Operacional -40°C ~ +85°C
Tensão Máxima Admissível 1000 VDC
Tolerância de Potência 0~+5W
Coeficiente Térmico Pmax - 0,41 % / ºC
Coeficiente Térmico Icc 0,053 %/°C
Coeficiente Térmico Voc -0,31 %/°C
Temperatura Nominal de Operação da Célula 45±2 °C
Fonte: Canadian Solar
45

2.5.2 Conexões elétricas e Eletrocentro

As conexões elétricas dos arranjos no sistema fotovoltaico flutuante de sobradinho são


realizadas utilizando quadros elétricos (caixas de junção) instalados sobre a ilha FV. Elas
agregam os cabos de corrente contínua dos conjuntos de painéis em série, fazendo o paralelismo
das strings, onde a energia obtida é transmitida através de um circuito alimentador de corrente
contínua conectado diretamente ao inversor.
A caixa de junção (Fig. 14) tem por finalidade a proteção dos circuitos de CC utilizando
fusíveis e dispositivo de proteção contra surtos (DPS).
Figura 14- Exemplo da caixa de junção montadas nos flutuadores principais

Fonte: Ciel Et Terre


O Eletrocentro é um container (Fig. 15), com a finalidade de abrigar os inversores, a
proteção, o transformador e a sala de supervisão e controle. O Eletrocentro do sistema da UFF
de Sobradinho foi desenvolvido pela WEG. Este eletrocentro foi instalado a jusante da
barragem numa plataforma de 4 metros de altura para evitar possíveis inundações.
Para o projeto de 1 MWp em Sobradinho, foi utilizado um inversor de 1.250 kW,
modelo SIW700 T1300-33 da WEG. O Inversor possui um MPPT com 15 entradas para strings.
Figura 15 - Visão externa frontal do eletrocentro WEG

Fonte: WEG
46

3 REVISÃO DA LITERATURA

A eficiência na operação do módulo fotovoltaico varia em função da irradiância


incidente no plano do coletor e da temperatura de operação do módulo. A temperatura de
operação do módulo, por sua vez, se estabelece em função das características do módulo, da
temperatura ambiente no local de instalação, da irradiância incidente e das características do
ambiente no entorno.
O tema temperatura de operação de módulos fotovoltaicos foi bastante estudado para
aplicações de produção de energia solar em terra como será visto nesta revisão da literatura.
Entretanto, trabalhos que tratam da análise desse aspecto em meio aquático são ainda escassos.
O aprofundamento desse tema vem ao encontro da necessidade de se estimar a geração
fotovoltaica de módulos instalados em lagos de hidroelétricas, no caso particular deste trabalho,
no lago de Sobradinho, onde o conhecimento das características de operação dos módulos, no
ambiente lago, permite inferir sobre o desempenho da Usina Fotovoltaica Flutuante.
Modelos de estimativa da temperatura de operação de módulos fotovoltaicos são
apresentados em um vasto acervo na literatura (Skoplaki e Palyvos, 2009; Kurnik et al., 2011;
Dubey et al., 2013). Esses modelos, baseados em balanços de energia, permitem estimar a
temperatura do módulo, em condições ambientais específicas, partindo do pressuposto de que
as grandezas ambientais são conhecidas (temperatura ambiente (T amb), velocidade do vento (v),
radiação solar incidente no plano do módulo (Icol)). São também consideradas as características
do material de fabricação do módulo FV como transmitância e absortância do vidro e demais
materiais de cobertura.
Os modelos podem ser classificados como paramétricos e não paramétricos, ou por sua
natureza estacionária ou dinâmica, em função da variação temporal das grandezas envolvidas.
Os modelos paramétricos determinam a temperatura pelo balanço de energia no módulo, ou
seja, toda energia que entra no módulo (irradiação incidente menos a refletida) é transformada
em energia elétrica (8 a 20%) e o restante é dissipado em forma de calor por convecção,
condução e irradiação (Jakhrani et al., 2011; Kurnik et al., 2011; Souza et al., 2016). Os
modelos não paramétricos são baseados em análise de séreis temporais de valores médios
horários das radiações e variações de temperaturas.
Os modelos de regime estacionário assumem, por simplificação, que em um período
curto (menor que uma hora), as variações nas grandezas como radiação solar, temperatura
ambiente, velocidade do vento, entre outras, não impactam o desempenho dos módulos.
47

Assume-se ainda que a transferência de calor dos módulos fotovoltaicos para o meio
ambiente ocorre de maneira constante em cada intervalo de tempo e que a temperatura em cada
ponto do módulo é uniforme nesse período.
Alguns modelos propostos determinam a temperatura do módulo de maneira implícita,
envolvendo variáveis que dependem da diferença de temperatura entre o módulo e o meio
ambiente; dessa maneira, para se determinar a temperatura do módulo deve-se recorrer a
métodos recursivos (Jakhrani et al., 2011).
A expressão mais comum para se determinar a temperatura do módulo a partir da
condição normal de operação (NOCT) foi proposta por Ross (1976).
Um modelo bastante utilizado, inclusive pelo software PVSYST, foi proposto por
Faiman (2008). Na proposta, a condição normal de operação que é fornecida pelo fabricante do
módulo não é utilizada. Em lugar dessa informação utiliza-se um fator de absorção fixo e um
modelo linear de transferência de calor por convecção.
Skoplaki e Palyvos (2009) destacam a importância de se considerar a velocidade do
vento para a determinação da temperatura do módulo (T FV). Os autores apresentam um modelo
detalhado de balanço térmico para o módulo, considerando as trocas de energia em cada uma
de suas camadas, e os comportamentos diferenciados das faces superior e inferior. No artigo, o
modelo proposto é comparado com modelos utilizados em programas comercias como
PVFORMS e PVWATTS do NREL que estimam a produção fotovoltaica média mensal e anual
considerando a influência da temperatura do módulo.
Um modelo apresentado por Olukan e Emziane (2014) usa método de elementos finitos
(Saadon et al., 2016; Lupu et al., 2018). A proposta desse método é diferente das demais, pois
considera as variações dinâmicas dos efeitos da radiação solar. Esse método calcula a resposta
térmica em regime não estacionário e pode levar em consideração diversos tipos de montagens
dos módulos (Hasan et al., 2012). Ele também considera diferentes perdas térmicas em função
das velocidades e direção do vento e ainda considera os dois lados (frente e trás) dos módulos.
Jakhrani et al., 2011 compararam 16 modelos para determinação da temperatura de
operação de módulos, testando entre eles, inclusive, modelos mais simples como o de Ross
(1976). Os resultados mostraram que os modelos apresentaram tendências similares com
relação à variação da temperatura do módulo. Entretanto, os valores resultantes dos modelos
foram distintos quando comparados entre eles. Os autores ressaltam que as diferenças entre os
resultados dos modelos foram devidas ao uso de diferentes variáveis, diferentes condições
48

climáticas e diferentes características e configurações de geradores como apresentados no


ANEXO A.
Em seus ensaios com módulo fotovoltaico resfriado com água FVT, Bahaidarah et al.
(2013) obtiveram um aumento do rendimento elétrico em 10,3% ao longo do dia (8 e 9% após
contabilizar a energia usada para bombeamento). Utilizando técnica de gotejamento de água
na superfície superior do painel Odeh e Behnia (2014) obtiveram um aumento de cerca de 15%
na saída do sistema em condições de pico de radiação.
Todas as pesquisas até então citadas são endereçadas ao estudo da influência da
temperatura do módulo no desempenho ou eficiência da produção de energia elétrica em terra.
Choi et al. (2013) apresentaram uma pesquisa empírica realizada em um sistema
fotovoltaico flutuante de 100 kWp instalado no reservatório em Hapcheon na Corea e outro
sistema FV de 1 MWp em terra instalado em Haman-gun, a 60 km a sudeste da Hapcheon.
Como resultado destacaram que a eficiência de geração do sistema fotovoltaico flutuante foi
superior ao de terra em 11%. O valor médio da temperatura anual da UFF reportado foi de 21
°C, com 4 °C abaixo do valor em terra.
Kamuyu et al. (2018) compararam dois modelos propostos para a determinação da
temperatura de operação de módulos FV flutuantes. Os autores mostraram que um modelo mais
simples, que considera a temperatura ambiente, radiação solar e velocidade do vento apresentou
resultados melhores, em comparação com os dados experimentais (desvio de 2%). O modelo
que inclui, além das variáveis mencionadas, a temperatura da água, apresentou desvios maiores,
da ordem de 4%. Os desvios são apresentados em base anual.
Liu et al. (2018) apresentaram uma pesquisa contemplando 8 sistemas aquáticos, com
diferentes configurações de módulos, inversores e estruturas flutuadoras. Nessa pesquisa os
sistemas foram comparados experimentalmente com uma referência em terra. O desempenho e
confiabilidade desses sistemas foram analisados. Os autores destacam, entretanto, a
necessidade de um acompanhamento de longo prazo para se observar a degradação dos módulos
fotovoltaicos e componentes do sistema. Algumas constatações importantes merecem reflexão,
tais como: a temperatura do módulo depende do tipo e arranjo dos flutuadores; foram usados
dois tipos de flutuadores onde o primeiro se comportou semelhante ao sistema terra e o segundo
trabalhou com temperatura média de 5ºC abaixo. Como resultado, são apresentados valores de
desempenho (PR) entre 5% a 10% superiores para os sistemas flutuantes, o que os autores
julgam coerente com a redução da temperatura observada.
49

Uma pesquisa realizada por Bist e Saaqib (2019) buscou determinar a diferença entre o
desempenho do sistema solar fotovoltaico flutuante UFF e um sistema solar fotovoltaico
instalado em terra, investigando os seguintes parâmetros: diferença de temperatura; quantidade
de água economizada pela redução na evaporação; e produção de energia. A localidade de
estudo foi no lago Bhimtal, no estado Indiano de Uttarakhand, situado a uma altitude de 1370
metros acima do nível do mar. Foi observada uma variação de temperatura dos módulos no lago
de 5 °C abaixo do operando em terra (temperatura média de 34,35 °C na terra e 29,35 °C na
água). A radiação solar anual no local é de 5,61 kWh/m²/dia. O sistema UFF de Bhimtal possui
8,3 kWp, ocupando uma área de cerca de 50 m2 onde foi estimada uma economia de água anual
de cerca de 1000 galões/m2/ano de água devido à redução na evaporação. Simulações com
respeito à produção de energia mostraram que o sistema flutuante apresenta um incremento de
2,25% na energia anual com um decréscimo de 14,29% na temperatura do módulo.
Rosa-Clot et al. (2011) estudaram o comportamento de um painel fotovoltaico submerso
em água e observaram um aumento médio de 11% na eficiência elétrica.
Verifica-se na revisão da literatura uma grande variedade de modelos para estimar a
temperatura operacional de módulos fotovoltaicos em terra. Quando se considera a aplicação
da tecnologia solar FV flutuante, as poucas referências encontradas na literatura são bastante
recentes. Considerando que o arranjo dos sistemas, radiação, condições climáticas e
características dos módulos influenciam no cálculo da temperatura de operação, as diferentes
experiências descritas na literatura são um indicativo de que a temática deve ser analisada caso
a caso. A análise da literatura sugere que a influência da temperatura de operação do módulo
no desempenho de geradores FV em meio aquático ainda é um tema que merece maior
aprofundamento.
50

4 MATERIAS E MÉTODOS

A metodologia proposta neste trabalho é descrita a seguir.

4.1 CAMPANHA DE MEDIÇÃO

Conforme já mencionado nesse trabalho, um dos principais parâmetros no desempenho


de dispositivos fotovoltaicos é sua temperatura de operação, a qual está fortemente relacionada
com as condições ambientais locais onde o dispositivo se encontra instalado, neste caso, no
lago da Usina Hidrelétrica de Sobradinho.
Neste contexto, concomitantemente à implantação da usina de 1 MW, estudos
específicos foram realizados, com o auxílio de sistemas testes de reduzida capacidade que
permitem a realização de experimentos sem a necessidade de intervenção na usina de 1 MWp.
Os experimentos tiveram como foco a avaliação das condições meteorológicas locais e o
comportamento do dispositivo fotovoltaico frente às reais condições ambientais.
A metodologia aplicada para a avaliação das condições operacionais previsíveis para a
operação da UFF foi dividida em duas partes, cada uma seguindo uma metodologia bem
específica, de acordo com o requisito em observação.
A primeira parte da metodologia, denominada de Estudo Experimental tem como
requisito primordial a obtenção de dados sobre as condições meteorológicas no lago de
Sobradinho e das características específicas do dispositivo fotovoltaico flutuante, frente a essas
condições, particularmente do comportamento da sua temperatura.
Num segundo momento, através de um Balanço de Energia e com a utilização dos dados
experimentais, foi desenvolvida uma metodologia para a estimativa da temperatura operacional
do gerador fotovoltaico.
A figura 16 mostra um esquema ilustrativo do roteiro de desenvolvimento da
metodologia.
51

Figura 16 - Roteiro do desenvolvimento da metodologia aplicada

Fonte: Elaborado pelo autor

4.1.1 Descrição do arranjo experimental

Arranjos de pequenas capacidades permitem uma maior versatilidade, flexibilidade e


rapidez para testes experimentais que podem subsidiar o desenvolvimento de modelos de
simulação baseados em condições de operação. Dentro desse entendimento, foi projetada uma
bancada de testes flutuante composta por 30 flutuadores, 9 do tipo principal (P) com desnível
apropriado, de tal forma que o plano inclinado do gerador resulta na inclinação de projeto, e 21
do tipo secundário (S) que interligam os flutuadores e também funcionam como passarelas. A
bancada, bastante versátil, pode ser utilizada para diversos tipos de ensaios, foi instalada e
ancorada justaposta à usina de 1 MWp como mostra a figura 17.
A campanha de medição, aqui relatada, se refere aos ensaios realizados com o Sistema
Testes Pato II (ST-Pato II), composto por dois módulos FV, semelhantes aos que compõem a
usina (Canadian Solar CS6P 265 Wp) instalados em dois flutuadores do tipo (P) mantendo,
assim, a mesma posição dos geradores da usina, ou seja, faceando o Norte Verdadeiro com
inclinação de 12º. Um sistema de aquisição de dados, tipo CR 1000 da Campbell, monitora os
parâmetros meteorológicos e elétricos. A alimentação do sistema de aquisição de dados (SAD)
é realizada mediante outro dispositivo FV de pequena capacidade e tensão compatível. Cada
variável envolvida é medida individualmente por sensores apropriados. Fotos e especificações
técnicas dos equipamentos e instrumentos constam nas figuras 18 e 19.
52

Figura 17 - Arranjo experimental (Pato-II) instalado justaposto à usina de 1MWp

a) Vista olhando o Norte Verdadeiro, ao fundo a barragem da UH-Sobradinho

principal
secundário

b) Vista posterior e detalhe dos flutuadores


principal e secundário

As medições foram realizadas em tempo real com a instrumentação posicionada nas


coordenadas 9°35' Sul e 40°50' Oeste, para duas situações específicas do gerador FV:
53

▪ Gerador fotovoltaico na situação de curto circuito (I cc): Valores da corrente de curto circuito
mantém uma relação diretamente proporcional com a taxa de irradiância incidente no plano
do coletor.
▪ Gerador fotovoltaico na situação de tensão de circuito aberto (Voc): A temperatura do
módulo pode ser acompanhada e representada pelos valores da tensão de circuito aberto.
O período de aquisição de dados foi de 10/11/2018 até 17/06/2019 com as ocorrências
medidas com taxa de aquisição de um segundo e registradas a cada minuto para posterior
tratamento em termos de médias horárias, diárias e mensais. Os dados eram transmitidos
diariamente, às 23:59h para o laboratório do grupo FAE - UFPE, localizado em Recife-PE,
Brasil. Os dados utilizados nesse trabalho correspondem a 223 dias de operação contínua sem
interrupções para manutenção ou outras paradas inevitáveis, ou seja, foi gerada uma massa de
321.120 minutos de acompanhamento da variação temporal das variáveis listadas a seguir:
Irradiação nos planos horizontal e inclinado, Ih e Icol (W/m2): Medições realizadas
com piranômetros Preto & Branco instalados para as medições das irradiações incidentes nos
planos: horizontal (Ih), e do coletor (Icol), detalhes na figura 18.
Irradiação refletida pela superfície da água-Albedo (W/m2): medições realizadas
como estimativa do Albedo, mediante um piranômetro Preto & Branco instalado faceando a
superfície da água a cerca de 2 metros da estrutura flutuante, visando evitar possíveis
interferências reflectivas dos flutuadores.
Temperatura e umidade relativa do ar, Tamb e UR (°C; %): parâmetros medidos com
sensores acoplados para a temperatura e a umidade do tipo PT100 RTD Probe HMP4.
Velocidade e direção do vento, v (m/s; graus): medições realizadas mediante um
Anemômetro Ultrasonônico – WindSonic.
Corrente de curto-circuito, ICC (A): medições da corrente do dispositivo fotovoltaico
na situação de curto-circuito, através de um shunt calibrado. Nessa situação os dados obtidos
podem ser utilizados como valores da irradiação no plano do módulo (Icol)
Tensão de circuito aberto, VOC (V): valores da tensão do módulo na condição de
circuito aberto, mediante um divisor de tensão. Nessa situação os dados obtidos podem ser
utilizados como indicadores da temperatura do módulo.
Temperatura do módulo fotovoltaico, TFV (°C): medições são realizadas mediante
um circuito integrado do tipo LM35 fixado atrás do módulo na condição de circuito aberto
(medindo Voc).
54

Temperatura do flutuador, TFL (°C): medições através de circuito integrado do tipo


LM35 afixado na superfície do flutuador do mesmo módulo onde se processam as medições de
tensão de circuito aberto e temperatura do dispositivo. O próprio módulo protege o sensor da
irradiação incidente.

Figura 18 - Arranjo experimental Pato-II- Equipamentos e instrumentação (I)

Piranômetro preto & branco - The Eppley Laboratory inc. U.S.A. Modelo 8-48 podendo ser usado
para radiação difusa (com sombreador) ou para radiação global em ondas curtas (295-2800 nm),
saída de 0-10 mV, erro < 2%, temperatura de operação -450C a +800C, incerteza < 5 W/m2 para
difusa < 30 W/m2 para global. No caso de Albedo, inverte-se o piranômetro.

Montagem dos piranômetros do tipo Preto & Branco:

a) Irradiação total no plano do módulo;


b) Irradiação total no plano horizontal e;
c) Parcela da irradiação refletida pela água do lago (Albedo).
55

Figura 19 - Arranjo experimental Pato-II- Equipamentos e Instrumentação (II)

LM -35

(1) Transmissão de Dados – Modem GSM/GPRS MC55iT-BR da Duodigit – para


aplicações M2M, podendo fazer transmissões e envio de mensagens via redes móveis
GSM/GPRS, interface RS232/RS485 selecionável por software.
(2) Datalloger da Campbell Scientific, Inc., modelo CR 1000. Possui as seguintes
características: Entradas analógicas (8 diferenciais ou 16 simples) caso se disponha de
uma referência de tensão (aterramento) pode-se usar 16 medições neste equipamento.
No meio aquático embora se disponha de aterramento, fica muito distante e sujeito a
interferências. As entradas analógicas no modo diferencial possuem melhor resolução.
Possuem precisão de 0,06% até 40°C e 0,18% até 85°C. Amostragem das medições
analógicas diferenciais de 40 ms e das medições analógicas simples de 20 ms. Possui
8 medições digitais selecionáveis por software. Comunicação RS232, protocolos
Telnet, Modbus, FTP, HTML, HTTP, PPP, POP3, entre outros. Memória 2 Mb Flash,
Bateria 9,6 a 16 VDC.
(3) Umidade e Temperatura do Ar – Vaisala Humidity and Temperature PT100 RTD
probe HMP4 – mede de 0 a 100 % com precisão humidade relativa 0,8%, mede
temperaturas -70° a 180° com precisão de 0,1%.
(4) Anemômetro Ultrassônico - WindSonic manufatured by Gill Insytruments.
Velocidade do vento – faixa de medição 0-60 m/s, precisão < 2% a 12°, resolução 0,01
m/s, Direção do vento – faixa de medição 0 - 359°, precisão<2% a 12°, resolução 1°,
temperatura -35°C a +70 °C, proteção IP 66, humidade até 100%.

a) Sistema de aquisição de dados para coleta das informações geradas e caixa de abrigo
à intempérie; Antena de transmissão dos dados coletados.
b) Anemômetro Ultrasonônico para medição da velocidade e direção do vento.
c) Instrumentação para as medições de temperatura e umidade relativa do ar.
d) O modem de comunicação encontra-se instalado na caixa do SAD.
e) Módulos fotovoltaicos nas condições de Icc e Voc; e Sensores do tipo LM-35 para
medições das temperaturas do módulo fotovoltaico e do flutuador, instalados sem
incidência direta dos raios solares.
56

4.2 TEMPERATURA DE OPERAÇÃO DOS MÓDULOS

A potência elétrica produzida por um gerador fotovoltaico (FV) varia com a irradiância
incidente no mesmo. A temperatura de operação das células nos módulos FV também promove
uma forte influência na potência gerada, produzindo uma redução da mesma com o aumento da
temperatura. A irradiância incidente no plano dos módulos pode ser medida, ou estimada
utilizando como base a irradiância global (plano horizontal). Nesse último caso, modelos
clássicos disponíveis na literatura podem ser utilizados (Pereira e Rabl, 1979; Duffle et al.,
1982).
A figura 20 (a) mostra as curvas características Corrente versus Tensão (I versus V) para
o módulo em análise (Canadian CS6P- 265P), para irradiâncias variando entre 400 W/m² e
1000 W/m². Verifica-se uma pequena variação na tensão de circuito aberto (Voc; I=0) com o
aumento da irradiância. Já a corrente de curto circuito (Icc; V=0) aumenta proporcionalmente
com o aumento da irradiância incidente. Como resultado, a máxima potência gerada, localizada
na região do joelho das curvas, apresenta uma variação (aumento) praticamente linear com o
aumento da irradiância.

Figura 20 - Curvas características fornecidas pelo fabricante do módulo Canadian


CS6P- 265P. (a) Efeito da variação da irradiância; (b) Efeito da variação
da temperatura

Fonte: Datasheet Canadian CS6P- 265P

Na figura 20 (b) é possível notar que com o aumento da temperatura ocorre um pequeno
incremento na corrente de curto circuito. Entretanto, ao mesmo tempo, observa-se uma redução
57

importante na tensão de circuito aberto. Como resultado, as curvas características deslocam-se


para a esquerda com uma consequente redução na potência máxima da ordem de 0,40%/°C no
caso analisado.
Devido à dificuldade de medir diretamente a temperatura das células em um módulo
fotovoltaico encapsulado, o procedimento habitual consiste em medir a temperatura na parte
posterior dos módulos e aproximar esse valor à temperatura das células. Neste trabalho, a
temperatura das células será referida como temperatura do módulo fotovoltaico, denotada por
(𝑇𝐹𝑉 ).
A temperatura do módulo FV varia com a irradiância solar incidente (no plano do
módulo), com a temperatura ambiente e com a velocidade do vento. Dessa forma, para a
estimativa da potência FV gerada, é necessário conhecer, além das características dos
geradores, as variáveis meteorológicas locais (temperatura ambiente, irradiância solar,
velocidade do vento, entre outros). Diferentes modelos são apresentados na literatura para a
obtenção da temperatura dos módulos FV, desde modelos estacionários simplificados até
modelos computacionais sofisticados que consideram o comportamento transiente do módulo
sob os efeitos das variações da irradiância, velocidade do vento e temperatura ambiente (Olukan
e Emziane, 2014).
No apêndice A é apresentada uma tabela fornecida por Jakhrani et al. (2011) com os
modelos mais tradicionais encontrados na literatura.
Um método bastante usual utilizado para calcular a temperatura de um módulo FV
consiste em relacionar a diferença de temperatura entre módulo e ambiente com a irradiância
solar incidente. Segundo Ross (1976) essa diferença de temperatura é linearmente proporcional
à irradiância incidente, conforme Eq. 1:

𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 = 𝒌. 𝑰𝒄𝒐𝒍 (1)

onde 𝑇𝐹𝑉 é a temperatura do módulo fotovoltaico, 𝑇𝑎𝑚𝑏 é a temperatura ambiente e 𝐼𝑐𝑜𝑙 a


irradiância incidente no plano do módulo. O parâmetro 𝑘, conhecido como coeficiente Ross, é
uma a constante que depende das características do módulo (coeficientes de reflexão e absorção
de radiação), da eficiência das células e das perdas globais do módulo (perdas térmicas por
convecção e radiação nas partes frontal e traseira, e por condução na parte traseira no caso de
contato do módulo com uma superfície). De acordo com Skoplaki e Palyvos (2009) o valor de
𝑘 varia aproximadamente entre 0,02 K.m²/W, para módulos instalados em condições favoráveis
58

de resfriamento, a 0,0563 K.m²/W para módulos instalados em condições desfavoráveis de


resfriamento.
Em projetos de sistemas FV, é usual se obter o parâmetro 𝑘 utilizando as informações
fornecidas pelo fabricante com respeito à condição operacional do módulo (NOCT – Nominal
Operating Cell Temperature). Os ensaios que resultam na condição NOCT são realizados de
forma a obter a temperatura do módulo FV (𝑇𝑁𝑂𝐶𝑇 ) em circuito aberto (Ramos, 2006), em uma
condição de equilíbrio térmico, para uma irradiância incidente de 800 W/m², temperatura
ambiente de 20°C, velocidade do vento de 1 m/s, e espectro solar AM 1.5. A condição NOCT
pode ser, portanto, utilizada diretamente para estimar o coeficiente de Ross utilizando-se os
valores fornecidos pelo fabricante.
Uma forma mais acurada para se estimar a temperatura do módulo em função da
temperatura ambiente, irradiância incidente e velocidade do vento, consiste em realizar um
balanço de energia, considerando-se as condições específicas de operação às quais o módulo
(instalado) está submetido ao longo do tempo. Neste trabalho, a temperatura de um módulo
fotovoltaico instalado no lago de Sobradinho foi estimada por meio de balanço de energia,
inicialmente proposto por Jones e Underwood (2001) e adaptado por Kurnik et al. (2011).
Este modelo considera o sistema em regime estacionário, ou seja, com variações lentas
nos intervalos de observação. Nessas condições o balanço de energia é nulo: toda energia que
entra é transformada em eletricidade ou calor. São computadas no balanço a taxa de energia
(potência) que ingressa no módulo FV (𝑷𝒔𝒐𝒍), a potência elétrica produzida (𝑷𝒆𝒍 ), a taxa de
energia trocada em forma de calor por processos radiativos (𝑷𝒊𝒓𝒓 ) e por processos convectivos
(𝑷𝒄𝒐𝒏𝒗). A troca de calor por condução não foi considerada devido ao pequeno contato entre
módulo e estrutura no caso em estudo (módulo sobre o flutuador sem contato direto). A Eq. 2
apresenta o balanço realizado.

𝟎 = 𝑷𝒔𝒐𝒍 − (𝑷𝒆𝒍 + 𝑷𝒊𝒓𝒓𝒇 + 𝑷𝒊𝒓𝒓𝒃 + 𝑷𝒄𝒐𝒗𝒇 + 𝑷𝒄𝒐𝒗𝒃 ) (2)

As letras f e b nos sub-índices dos termos referentes aos processos radiativos e


convectivos representam as parcelas de troca realizadas pela parte frontal e traseira (back)
respectivamente. A figura 21 mostra, de forma esquemática, o balanço proposto.

Figura 21 - Representação esquemática do balanço de energia no módulo fotovoltaico


59

Potência Convecção Frente – Pconvf


Potência Irradiação Frente – Pirrf Potência Convecção Trás – Pconvb
Potência Incidente Psol
Potência Irradiação Trás – Pirrb
Albedo
FV

Potência Elétrica Pel

Fonte: elaborada pelo autor

A Potência solar que ingressa no módulo fotovoltaico 𝑷𝒔𝒐𝒍 é dada pela Eq. 3

𝑷𝒔𝒐𝒍 = 𝑨𝑭𝑽 . 𝑰𝒄𝒐𝒍 (𝟏 − 𝑨𝒍𝒃𝑭𝑽 ) (3)

onde 𝑨𝑭𝑽 é a área do módulo, 𝑨𝒍𝒃𝑭𝑽 o albedo (ou reflexividade) do módulo e 𝑰𝒄𝒐𝒍 é a
irradiância solar incidente no plano do módulo (𝑰𝒄𝒐𝒍 =1000 W/m2 na condição padrão STC1).
A potência elétrica produzida pelo módulo fotovoltaico pode ser obtida de forma
convencional, deslocando-se a potência fornecida pelo fabricante, na condição padrão (1000
W/m²), para a condição de operação. Para tal, são realizadas as devidas correções resultantes
das variações da irradiância e da temperatura, conforme apresentado na Eq. 4.

𝑰𝒄𝒐𝒍
𝑷𝒆𝒍 = − 𝑷𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 . (𝟏 + 𝛄(𝑻𝑭𝑽 − 𝟐𝟓℃)) (4)
𝟏𝟎𝟎𝟎

Onde, P𝐹𝑉_𝑆𝑇𝐶 é a potência do módulo na condição padrão (STC) e γ é o coeficiente de variação


da potência com a variação da temperatura do módulo em relação à temperatura nas condições
STC de 25 ℃.

1
STC - condições padrão de ensaio. Representa as condições específicas às quais um painel solar é testado para fins de certificação. Os
fabricantes fornecem os resultados dos testes nas condições STC nos datasheets dos módulos. As condições padrão de teste são: Temperatura
da Célula = 25°C; Irradiância solar = 1000 W/m2 (com incidência normal); Massa de Ar = 1.5.
60

A potência térmica irradiada pelo módulo (𝑷𝒊𝒓𝒓 ) nas superfícies frontal e traseira é dada
pela Eq. 5.

𝝃𝑭𝑽𝒇 + 𝝃𝑭𝑽𝒃 𝝃𝒔𝒌𝒚 + 𝝃𝒈𝒓𝒐𝒖𝒏𝒅


𝑷𝒊𝒓𝒓 = −𝟐. 𝑨𝑭𝑽 . 𝝈 [( ) . 𝑻𝟒𝑭𝑽 − ( ) . 𝑻𝟒𝒂𝒎𝒃 ] (5)
𝟐 𝟐

onde 𝑨𝑭𝑽 é a área do módulo (2 vezes por considerar a superfície frontal e traseira do módulo),
𝝈 (W/(m² K4)) é a constante de Boltzman, 𝝃𝑭𝑽𝒇 , 𝝃𝑭𝑽𝒃, 𝝃𝒔𝒌𝒚 , 𝝃𝒈𝒓𝒐𝒖𝒏𝒅 são fatores de
emissividades da frente do painel, da traseira do painel, do céu e do solo (ou do flutuador para
módulos flutuantes), respectivamente, 𝑇𝐹𝑉 é a temperatura do módulo e 𝑇𝑎𝑚𝑏 é a temperatura
do ambiente.
A potência térmica transferida por convecção (𝑷𝒄𝒐𝒏𝒗) pelas superfícies frontal e traseira
do módulo é dada pela Eq. 6.

𝑷𝒄𝒐𝒏𝒗 = −𝟐. 𝑨𝑭𝑽 . (𝑲𝒏 + 𝑲𝒇𝒄 . 𝒗 ) . (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) (6)

onde 𝑲𝒏 (W/ (m² K)) é o coeficiente de troca de calor por convecção natural, 𝑲𝒇𝒄 (Ws/ (m³ K))
é o coeficiente de troca de calor por convecção forçada e 𝒗 é a velocidade do vento.
O modelo descrito foi aplicado às condições específicas do sistema fotovoltaico
flutuante Pato II instalado em Sobradinho, utilizando os dados experimentais obtidos com um
módulo em circuito aberto (tensão igual à tensão de circuito aberto, Voc), portanto, sem geração
de energia (𝑷𝒆𝒍 = 0). Os valores de 𝑇𝐹𝑉 , 𝑇𝑎𝑚𝑏 , 𝐼𝑐𝑜𝑙 e v foram utilizadas de forma a obter o
coeficiente de Ross para a condição de instalação no lago, sem geração (Eq. 2). Para simular a
condição com geração, foram considerados os dados de catálogo do módulo ensaiado (Potência
pico (PFV_STC), e coeficiente de variação da potência com a temperatura (𝛄)).
O valor do coeficiente de Ross foi obtido de diferentes maneiras: a) utilizando os dados
do fabricante na condição NOCT, com o módulo em circuito aberto; b) utilizando os dados
medidos de 𝑇𝐹𝑉 , 𝑇𝑎𝑚𝑏 , 𝐼𝑐𝑜𝑙 na condição do módulo instalado no lago e em circuito aberto; c)
utilizando a temperatura do módulo calculada para as condições locais, em operação (𝑷𝒆𝒍 ≠ 0).
Nesse último caso, o procedimento aplicado é descrito a seguir.
61

4.2.1 Estimativa da Temperatura do módulo com geração de potência a partir de


medições do módulo em 𝑽𝒐𝒄

Para estimar a temperatura que o módulo FV poderia alcançar na condição de geração


de eletricidade, propõe-se obter um coeficiente global de perdas a partir do balanço de energia
do módulo na condição real de instalação, em circuito aberto. Assume-se que o coeficiente
global de perdas é o mesmo em ambas condições, embora as perdas e as diferenças de
temperaturas (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) sejam diferentes. Dessa forma, o balanço de energia para o módulo
sem geração pode ser escrito (com base na Eq. (2)) conforme Eq. 7.

𝟎 = 𝑷𝒔𝒐𝒍 + 𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕 (7)


onde 𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕 engloba as perdas por radiação e convecção, e pode ser expressa de acordo
com a Eq. 8
𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕 = 𝒉 (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) (8)

O coeficiente global de perdas h pode ser calculado, com base nos dados experimentais por
meio da representação das perdas totais (𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠_𝑡𝑜𝑡 ) em função de (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) (Eq. 9).

𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕
𝒉= (9)
(𝑻𝑭𝑽 −𝑻𝒂𝒎𝒃 )

Dessa forma, o balanço de energia, considerando o módulo com geração de potência, pode ser
descrito conforme a Eq. 10
𝟎 = 𝑷𝒔𝒐𝒍 + 𝑷𝒆𝒍 + 𝑷𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔_𝒕𝒐𝒕 (10)

Substituindo-se as Eqs. (3), (4) e (8) na Eq. (10) obtém-se a temperatura do módulo FV na
condição de geração de energia (Eq. 11).

𝑷𝒔𝒐𝒍 .+𝒉 .𝑻𝒂𝒎𝒃 −𝑷𝑭𝑽𝒊 (𝟏−𝛄 .𝑻𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 )


𝑻𝑭𝑽 = (11)
𝒉+𝛄.𝑷𝑭𝑽𝒊

Onde 𝑷𝑭𝑽𝒊 é a potência fotovoltaica dependente apenas da irradiância, ou seja, é a potência FV


padrão corrigida para a irradiância que efetivamente incide sobre o módulo a cada instante
𝑰
𝒄𝒐𝒍
(𝑷𝑭𝑽𝒊 = 𝑷𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 . 𝟏𝟎𝟎𝟎 ).
62

Os parâmetros de geração elétrica do módulo utilizado (módulo policristalino Canadian CS6P)


foram apresentados anteriormente. Alguns desses parâmetros são repetidos na tabela 5
juntamente com os demais parâmetros utilizados no balanço de energia.

Tabela 5 - Valores dos parâmetros utilizados na modelagem

Parâmetro Valor
𝑨𝑭𝑽 1,6085 m²
𝑷𝑭𝑽_𝑺𝑻𝑪 265 Wp
𝑇𝑁𝑂𝐶𝑇 45±2 °C
𝛄 -0,0041%/°C
𝝈 5,67E-08 W/m².K4
𝑨𝒍𝒃𝑭𝑽 0,07
𝝃𝑭𝑽𝒇 0,91
𝝃𝑭𝑽𝒃 0,93
𝝃𝒔𝒌𝒚 0,8
𝝃𝒈𝒓𝒐𝒖𝒏𝒅 0,94
𝑲𝒏 7,2 W/m².K
𝑲𝒇𝒄 2,3 W.s/(m³.K)

Fonte: elaborado pelo autor


63

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos são apresentados a seguir, mantendo a ordem das metodologias


apresentadas. Dos 223 dias com observações contínuas, 220 dias acusam dados válidos para
todos os parâmetros observados, com exceção das medições da umidade relativa do ar e do
índice de irradiância refletida pela água com períodos de observação menores. Inicia-se com a
apresentação geral dos dados coletados, seguindo para os resultados obtidos do recurso solar,
das condições ambientais locais e das características específicas do módulo fotovoltaico. Os
resultados são, na medida do possível, comparados com valores de referência da Estação
Meteorológica Petrolina (INMET) localizada na cidade de Petrolina. Em seguida, no item (5.2),
são apresentados os resultados da estimativa da temperatura e do desempenho do gerador,
considerando os valores experimentais obtidos com o ST- Pato II instalado na bancada flutuante
ancorada e justaposta à ilha flutuante da usina de 1MWp em fase de instalação.

5.1 ANÁLISE DOS DADOS DA CAMPANHA DE MEDIÇÃO NO LAGO DE


SOBRADINHO

Os dados coletados dos parâmetros em observação são apresentados e avaliados em


termos de suas amplitudes (máximos e mínimos) e/ou de valores médios.
A figura 22 ilustra a massa de dados coletados, com taxa de aquisição de 1 em 1 minuto.
Enfocando esse universo de 223 dias de observações, os valores máximos e mínimos absolutos
foram registrados.
Para o recurso solar, foi observado um valor de irradiância máxima de 1.314W/m2. Os
resultados integrados por dia evidenciaram a presença de dias bem diferentes, de excelente
potencial do recurso solar com médias diárias (Hh) superiores a 7,0 kWh/m2. dia; dias bons (Hh
> 6,0 kWh/m2. dia), moderados (Hh > 5 kWh/m2. dia) e de baixo nível de radiação, (Hh < 4,0
kWh/m2. dia).
A temperatura ambiente apresenta amplitudes características do clima da região. O valor
medido mais elevado de temperatura ambiente foi de 34,80°C e mínimo de 22,30°C no período
considerado.
Sobre a umidade relativa do ar, valores se situam entre 57 a 83 %. Mas, a faixa entre 72
a 63% é predominante.
64

Em condições habituais, as velocidades do vento mais frequentes se situam na faixa de


1 a 5 m/s. Em alguns dias as condições ambientais favoreceram ventos fortes maiores que 9,4
m/s ou menos frequentemente, “terrais” com velocidade menor que 1m/s.
As medições da irradiância refletida pela água apresentaram bastante dificuldades de
realização e não serão, nesse momento, abordadas.

Figura 22 - Dados coletados dos parâmetros meteorológicos


Reservatório da UHE-Sobradinho/BR: 9°35' Sul; 40°50' Oeste
(Período 10/11/18 a 17 /06/19)

Temp. Ambiente (°C)


Radiação Hoz. (W/m2)

Fonte: elaborada pelo autor

De modo geral, as radiações medidas, assim como as condições de temperatura


ambiente e velocidade de vento, estão dentro dos valores esperados para localidades próximas
a Sobradinho, como será evidenciado nos próximos itens. Apresenta-se a seguir os resultados
por parâmetro observado.
65

5.1.1 Recurso Solar - irradiações incidentes.

A primeira grandeza a ser analisada é a irradiância, a qual baliza as condições


climatológicas e parâmetros característicos do dispositivo fotovoltaico.
Para o dia luminoso, foi considerado o intervalo desde o nascer do sol até o pôr do sol,
englobando aproximadamente o período de 5:30h a 17:30h. Essa “janela” temporal varia com
as estações do ano.
A massa de dados analisada nesse trabalho, foi submetida à validação qualitativa,
utilizando-se os critérios proposto por Petribú et al. (2017). Um histograma dos níveis de
irradiância no plano horizontal (Ih) é apresentado na figura 23.
Observa-se que cerca de 43% das ocorrências apresentam níveis de irradiância menores
que 500W/m2 e 57% ou acima de 500W/m2. Dentro dessa faixa (Ih>500W/m2), 70%
apresentam índices iguais ou superiores a 700 W/m2 e entre esses, 56% dos resultados têm
índices iguais ou superiores a 900 W/m2. Esses resultados indicam o excelente nível de radiação
da região do reservatório da UHE- Sobradinho.

Figura 23 - Histograma das taxas de irradiância solar no plano horizontal


Reservatório da UHE-Sobradinho/BR: 9°35' Sul; 40°50' Oeste
(Período 10/11/18 a 17/06/19)

Frequência de ocorrências
Irradiância plano horizontal (W/m 2 )
25%
23% 22%
20%
20%
18%
15% 17%

10%

5%

0%
100 <Ih < 300 300 <Ih < 500 500<Ih < 700 700 <Ih < 900 900 < Ih

Fonte: elaborada pelo autor


66

A irradiância coletada no plano inclinado (Icol) é abordada em função da irradiância no


plano horizontal (Ih), como consta no gráfico da figura 24.
Observa-se a linearidade existente entre ambas taxas de irradiância. O baixo valor da
latitude e, portanto, também da inclinação do plano coletor, favorecem a semelhança entre os
resultados, principalmente nos meses de novembro a março. É evidente que nos meses de
inverno, o plano inclinado, faceando o norte verdadeiro com 120, recebe uma incidência um
pouco maior.

Figura 24 - Taxas de irradiância incidentes nos planos horizontal e inclinado


Reservatório da UHE-Sobradinho/BR: 9°35' Sul; 40°50' Oeste
(Período 10/11/18 a 17/06/19)

Fonte: elaborada pelo autor

Os resultados integrados por dia, médias diárias, mostram a variabilidade da radiação


solar, figura 25a. São observados dias excelentes com valores superiores a 7,0 kWh/m2.dia e
dias com valores muito baixos, abaixo de 3 kWh/m2. No entanto, a grande parcela dos dias se
apresenta com níveis de radiação altos, acima de 5,0 kWh/m2.dia. Alguns dias, são
característicos de dia de céu claro (dia sem nuvens). Observa-se que, mesmo no período do
verão, ocorreram dias esporádicos com chuvas e ventos fortes e com baixo nível de radiação,
(Hh < 4,0 kWh/m2.dia.). Salientam-se os dias 27/01/19 e 27/03/19, com ocorrências de fortes
temporais, resultando em valores diários de radiação muito baixos, da ordem de 0,7
kWh/m2.dia. Particularmente, nesses dias os experimentos que necessitam de navegação, como
nas medições da qualidade da água, foram interrompidos, devido à chuva muito densa com
67

ventos de até 10 m/s, que provocaram danos no sistema de transmissão de sinais da bancada
(ST-Pato II).
Os valores da radiação, em médias mensais constam na figura 25b. Observa-se o alto
nível de radiação com valor médio durante todo o período de cerca de 5,7 kWh/m 2.dia. Os
menores valores correspondem aos meses de maio/19 (5,0 kWh/m 2.dia) e junho/19 (4,0
kWh/m2.dia).
Figura 25 - Radiação no plano horizontal - lago de Sobradinho
Reservatório da UHE-Sobradinho/BR 9°35' Sul; 40°50' Oeste. Média diárias (kWh/m2.dia)

a)

Fonte: elaborada pelo autor b)

5.1.2 Temperatura ambiente, umidade relativa do ar, velocidade do vento


A interdependência entre os parâmetros climatológicos com a radiação solar é complexa
e de difícil previsão. Uma análise dos efeitos conjuntos desses parâmetros no comportamento
da temperatura do dispositivo fotovoltaico será apresentada mais adiante.
68

Uma visão do comportamento dos dados medidos das três grandezas: temperatura
ambiente, velocidade do vento, umidade relativa do ar são apresentadas na figura 26.

Figura 26 - Temperaturas do ar, velocidade do vento e umidade relativa do ar

lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35’ Sul; 40°50’ Oeste.

a)

b)

c)
Fonte: elaborada pelo autor
69

De modo geral, como mostra a figura 26 (a), a temperatura máxima durante o período
observado se mantem na faixa de (30°C a 35°C), as médias entre (26°C a 28°C) e as mínimas
entre (22°C a 24°C) . Para o mês de janeiro, o mais quente, observou-se a máxima de 32,8°C e
com maior radiação solar, a amplitude térmica acusada foi de 7,91°C. No mês mais frio, junho,
obteve-se máxima de 29,7°C e amplitude de 6,42°C. As amplitudes térmicas, considerando o
período de irradiância solar presente (11 a 12 horas), são muito próximas das amplitudes do dia
(24 horas).
Temperaturas ambientes elevadas exigem uma troca convectiva eficaz para que possa
manter a temperatura do dispositivo a mais reduzida possível. O vento pode ser um grande
aliado.
Nas medições da velocidade do vento, figura 26 (b), o sensor se encontra instalado em
uma altura de cerca de 50 cm da base flutuante; assim os dados são relativos ao vento atuando
no conjunto módulo fotovoltaico-flutuador.
Os meses de dezembro/18 a março/19 apresentaram os maiores valores da velocidade
de vento, acima de 8,5 m/s.
Salienta-se que o posicionamento da ilha flutuante em relação à barragem, influencia
negativamente na intensidade do vento pois sua direção oscila nas direções: ESE - leste/sudeste
(>112,5°); SE – sudeste (>135°) e SSE – sul/sudeste (>157,5°).
O período de medição da umidade relativa do ar foi iniciado cinco meses após as demais
medições. Os resultados mostrados na figura 26 (c) indicam valores médios mensais
praticamente constantes e tendem a aumentar à medida que os meses de inverno se aproximam.

5.1.3 Características específicas do dispositivo fotovoltaico flutuante

As medições dos parâmetros relativos ao módulo fotovoltaico-flutuador: corrente de


curto circuito (Icc), tensão de circuito aberto (Voc) e temperaturas do módulo (TFV) e do flutuador
(TFL) em função das irradiações incidentes no plano coletor (I col) são apresentadas nas figuras
27, 28 e 29.
Na figura 27 observa-se, a linearidade entre a radiação incidente no plano do coletor
(Icol) e a corrente de curto circuito (Icc).
A tensão de operação não guarda uma relação linear com a temperatura de operação do
módulo, mas, quando conjugada com a relação da radiação incidente, pode ser utilizada na
70

determinação da temperatura de operação durante a geração de energia, como pode ser


observado na figura 28.
Figura 27 – Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância
incidente: Corrente de curto circuito.
lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

Fonte: elaborada pelo autor

Figura 28 - Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância


incidente: Tensão de circuito aberto
lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

Fonte: elaborada pelo autor


71

A figura 29 mostra a correlação linear entre a diferença de temperatura do módulo (TFV)


e a temperatura ambiente (Tamb) com a irradiância incidente no plano do módulo (Icol).

Figura 29 - Características específicas do dispositivo fotovoltaico com a irradiância


incidente: Diferença entre temperatura do módulo fotovoltaico e do ambiente
lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

O comportamento das variáveis ao longo do dia, como radiação horizontal, velocidade


do vento e temperaturas nos três elementos: ar, módulo FV e flutuador, pode ser evidenciado
nos gráficos das figuras 30, 31 e 32 que exemplificam 3 situações de dias distintos em função
da radiação diária: céu claro, céu moderado e céu nublado.
Nas três situações se evidencia o segmento da temperatura ambiente com a irradiância,
figuras 30(a), 31(a) e 32(a). Assim que o sol nasce, a temperatura ambiente aumenta e prossegue
no mesmo ritmo, com certo descompasso, pela inercia térmica da atmosfera. Observe que a
curva da irradiância na figura 30 (a) fica bem definida sem variações provocadas pela passagem
de nuvens. Essas variações são nitidamente apresentadas na figura 31 (a) e bastante acentuadas
na figura 32 (a).
A velocidade do vento apresenta fortes variações ao longo do dia. As figuras 30(b),
31(b) e 32(b) mostram valores mais elevados no início da manhã com redução no final do dia.
A influência da velocidade do vento sobre a temperatura do módulo não é perceptível nas
figuras 30(b), 31(b) e 32(b). Entretanto, estas figuras mostram uma visível correlação da
temperatura do módulo com a irradiância apresentada nas figuras 30(a), 31(a) e 32(a).
72

Figura 30 - Comportamento das variáveis no dia 03/01/2019 - Céu Claro


lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

(a)

(b)

Fonte: elaborada pelo autor (c)


73

Figura 31 - Comportamento das variáveis no dia 11/01/2019 - Céu Moderado


lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

(a)

(b)

(c)
Fonte: elaborada pelo autor
74

Figura 32 - Comportamento das variáveis no dia 10/01/2019 - Céu Nublado


lago de Sobradinho/Reservatório da UHE-Sobradinho 9°35' Sul; 40°50' Oeste.

(a)

(b)

Fonte: elaborada pelo autor (c)


75

5.1.4 Comparação entre os resultados obtidos e valores de referência

Nesta seção buscou-se comparar os dados coletados do SAD de Sobradinho com


referências obtidas nas redes de supervisão meteorológicas. É importante salientar que não há
informações meteorológicas para a região do lago de Sobradinho, particularmente para a
localidade do reservatório da UHE-Sobradinho, para que se possa validar os resultados obtidos.
A estação meteorológica mais perto se encontra em Petrolina (Estação Petrolina - INMET) a
cerca de 50 km da UHE – Sobradinho.
Foram utilizadas informações (dados meteorológicos) extraídas do sistema de
informações hidro meteorológica (SIM) do INMET. Note que os dados das estações
automáticas são brutos e não passaram por um processo de consistência (validação).
As figuras 33, 34 e 35 apresentam a comparação entre os valores médios mensais
obtidos no SIM e os valores médios mensais totalizados a partir dos dados minuto a minuto
disponibilizados pelo sistema Pato II, instalado em UHE – Sobradinho, no período de
10/11/2018 e 17/06/2019 em análise.
Na figura 33 observa-se que o ambiente no lago de Sobradinho não esfria tanto quanto
Petrolina. Por outro lado, possui temperaturas mais amenas que em Petrolina o que influencia
positivamente na temperatura do módulo e consequentemente em seu rendimento.

Figura 33 – Comparação Sobradinho e Petrolina - Temperatura Ambiente

Fonte: elaborada pelo autor


76

Figura 34 - Comparação Sobradinho e Petrolina – Velocidade do Vento

Período 10/11/2018 e 17/06/2019

Fonte: elaborada pelo autor

Figura 35 - Comparação Sobradinho e Petrolina – Umidade Relativa do Ar


Período 10/11/2018 e 17/06/2019

Fonte: elaborada pelo autor


É importante se salientar que a comparação apresentada contempla apenas um período
de 8 meses, o que não permite uma análise conclusiva sobre o comportamento das variáveis
observadas.
77

A seguir serão confrontadas as medições disponíveis de apenas 8 meses de Sobradinho


com os valores de séries históricas de 10 ou mais anos (2007-2016 e 1970-1991) de Petrolina.
Um aspecto importante a salientar é a peculiaridade do local das medições. O
reservatório da UHE-Sobradinho fica localizado no distrito Sobradinho, vizinho a Petrolina;
ambos localizados no semiárido Nordestino e às margens do Rio São Francisco. Mas, as
condições meteorológicas na região onde a usina fotovoltaica está sendo instalada podem
apresentar características bem distintas. Mesmo que as medições sejam realizadas em uma
estação-terra, ainda assim os valores podem ser diferentes.
As figuras seguintes apresentam uma comparação entre os resultados obtidos e dados
de referência da Estação Petrolina – (INMET) divulgados pela rede Sonda (Inmet, 2019). A
comparação entre os resultados obtidos, foi realizada em termos de valores médios mensais
como consta a seguir.

5.1.5 Radiação Solar Sobradinho e Petrolina

O gráfico da figura 36 mostra, comparativamente, o índice de radiação solar para as


duas localidades. Os valores médios mensais de Sobradinho se apresentam um pouco mais
elevados em todos os meses, com exceção do mês de junho. O valor médio, para o período de
8 meses de Sobradinho (5,67 kWh/m2.d) em comparação com o valor médio anual da série
histórica de Petrolina (5,22 kWh/m2.d), mostra uma diferença de cerca de 9% favorável para
Sobradinho.

5.1.6 Temperatura ambiente Sobradinho e Petrolina

Os resultados da variação da temperatura média mensal e os valores máximos, médios


e mínimos são apresentados na figura 37.
De forma sistemática os resultados da temperatura ambiente para Sobradinho são
menores, portanto, melhores do ponto de vista da geração fotovoltaica, que os de Petrolina.
De modo geral, as médias diárias mensais de radiação assim como as condições de
temperatura ambiente e velocidade de vento, estão dentro dos valores esperados para a região
do reservatório da UHE-Sobradinho, tendo como base a Estação metodológica de Petrolina.
78

Figura 36 - Radiação Horizontal


Sobradinho e Petrolina Média mensal

Fonte: elaborada pelo autor

Figura 37 - Sobradinho e Petrolina - Temperatura Ambiente

Fonte: elaborada pelo autor


79

Para o mês de janeiro, o mais quente e com maior radiação solar, a amplitude térmica
em Sobradinho (6,7°C) é cerca de três vezes menor que a de Petrolina (18°C).

5.1.7 Umidade do ar e Velocidade do vento Sobradinho e Petrolina

A figura 38 apresenta a comparação entre as taxas de umidade relativa do ar e velocidade


do vento para os dois sítios, Sobradinho e Petrolina: valores calculados como média diária
mensal da base de dados (2007-20016) INPE. Estação de Petrolina - Climatologia Local. 2019.
Disponível em: http://sonda.ccst.inpe.br/estacoes/petrolina_clima.html >. Acesso em:
06/07/2019
80

5.2 TEMPERATURA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO E POTÊNCIA GERADA

A seguir são apresentados os resultados da análise da temperatura do módulo realizada com


base nas medições e no modelo proposto.

5.2.1 Coeficiente de Ross para a condição NOCT - dados do fabricante

Utilizando-se as condições NOCT do módulo especificado, 𝑇𝑁𝑂𝐶𝑇 (45°), 𝑇𝑎 (20°C) e 𝐼𝑐𝑜𝑙 (800
W/m²), o coeficiente de Ross é obtido conforme a Eq. 12 (ver Eq. 1).

𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃
𝒌= 𝑰𝒄𝒐𝒍
(12)

O valor do coeficiente de Ross calculado, considerando-se o módulo instalado em um suporte


aberto, sob condição de regime permanente, com velocidade de vento da ordem de 1 m/s,
operando em circuito aberto (sem carga) foi k = 0,0313 K/W/m².

5.2.2 Cálculo do coeficiente de Ross – dados experimentais

O coeficiente de Ross foi obtido utilizando-se os dados do monitoramento realizado no


lago de Sobradinho no sistema Pato II, no período de 19/12/2018 a 17/06/2019. Os dados foram
filtrados para valores de irradiância superiores a 50W/m² de forma a retirar os períodos noturnos
e garantir a análise apenas para dados de incidência de radiação significativa. A figura 38 mostra
a relação entre a diferença de temperatura do módulo e ambiente (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) e a irradiância
incidente no plano do módulo (𝐼𝑐𝑜𝑙 ).
O coeficiente de Ross obtido para o período de medição, dado pela inclinação da linha
de tendência mostrada na figura 38, foi de 0,0218 K/W/m². Observa-se nesta figura uma grande
dispersão dos dados. Entretanto, o coeficiente de determinação da reta, no valor de 75,8% indica
alta correlação, da ordem de 87%.
Uma análise estatística foi realizada para os valores de k de Ross obtidos
experimentalmente, minuto a minuto, no período de análise. É importante salientar que as
medições abrangem tanto períodos de altos níveis de insolação (dezembro, janeiro, fevereiro,
março), quanto períodos de menores índices de insolação (abril, maio e início de junho). A
figura 39 mostra a distribuição de frequência das ocorrências desse parâmetro. Observa-se uma
81

distribuição deslocada para a esquerda (Obliquidade > 0), com média igual a 0,0234 (linha
vermelha) e mediana de 0,0219 (linha laranja).

Figura 38 - Relação entre a diferença de temperatura (TFV-Tamb) e a irradiância incidente


no plano do módulo FV (Icol)

Fonte: Elaborada pelo autor


Figura 39 - Histograma de frequência do parâmetro k de Ross – período de 19/12/2018 a
17/06/2019

Fonte: Elaborada pelo autor


O gráfico de Box plot ou Box and whiskers é mostrado na figura 40. Nessa
representação, além do valor da média (marcada com x dentro da caixa), e do quartil Q2 que
indica a mediana, são apresentados os quartis Q1, ou percentil 25%, e Q3, ou percentil 75%
(limites inferior e superior da caixa respectivamente). Os whiskers (ou bigodes) mostram os
82

valores da menor observação estatisticamente válida (mínimo igual a 0,008) e da maior


observação (máximo igual a 0,037). Acima do whisker superior e abaixo do inferior é possível
visualizar pontos que representam observações consideradas fora do padrão, comumente
denominadas outliers.
Figura 40 - Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross

Fonte: Elaborada pelo autor


A escala do gráfico apresentado na figura 40 foi alterada para melhor visualização. Na
prática, os outliers abrangem uma faixa maior que a escala apresentada. A tabela 6, resume os
principais estatísticos obtidos para o parâmetro k de Ross.
Tabela 6 - Estatísticos dos valores de k Ross

Estatísticos Valores
Número de observações 115371
Média aritmética 0.0234
Intervalo de confiança inferior para média 0.0233
Intervalo de confiança superior para média 0.0234
Mediana 0.0219
Mínimo -0.0207
Máximo 0.1623
Desvio padrão (amostra) 0.0098
Intervalo de confiança inferior para desvio padrão 0.0097
Intervalo de confiança superior para desvio padrão 0.0098
Variância (amostra) 0.0001
Primeiro quartil (Q1) 0.0187
Terceiro quartil (Q3) 0.0260
Intervalo interquartílico 0.0073
Obliquidade 2.8188
83

5.3 ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO MÓDULO EM CONDIÇÃO DE


OPERAÇÃO (𝑃𝑒𝑙 ≠0)

Conforme descrito na metodologia, o primeiro passo para a estimativa da temperatura do


módulo FV em condições operacionais consiste em determinar o coeficiente global de perdas
h para o conjunto de dados medidos. O coeficiente global de perdas (h) foi obtido pela
inclinação da reta de regressão da figura 41, que mostra as perdas totais (𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠_𝑡𝑜𝑡 ) em função
de (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ).
Figura 41 - Perdas térmicas totais calculadas com base nos dados experimentais para o
módulo instalado no lago de Sobradinho

Fonte: Elaborada pelo autor


Verifica-se na figura 41 que as perdas totais podem ser bem representadas por uma
relação linear com a diferença de temperatura. A maior dispersão do gráfico encontra-se na
região de maiores valores de (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ). O valor de h obtido é da ordem de -67,86 W/K,
com um coeficiente de determinação de 93,4%, o que indica uma alta correlação, da ordem de
96,6%. Uma análise dos valores das parcelas de perdas por radiação e convecção pode ser
visualizada na figura 42.
84

Figura 42 - Perdas térmicas (a) radiativas e (b) convectivas, calculadas com base nos
dados experimentais para o módulo instalado no lago

(a) (b)
Na figura 42 verifica-se que as perdas convectivas são, em média, maiores que as perdas
radiativas. O coeficiente de perdas devido à irradiação de calor é da ordem de -25,3 W/K,
representando 37% das perdas totais, enquanto para a convecção, esse valor é da ordem de
- 42,6 W/K (63% das perdas totais). Ainda, é possível verificar na figura 42 (a) que as perdas
por radiação são bastante comportadas, apresentando baixa dispersão e alto coeficiente de
determinação (96,6%). Já as perdas por convecção na figura 42 (b) apresentam alta dispersão.
Esta última, explica também a alta dispersão das perdas totais apresentadas na figura 41.

5.3.1 Temperatura do módulo em geração e potência gerada

Conhecendo-se o coeficiente de perdas global h pode-se, agora, estimar a temperatura


do módulo FV em condições operacionais com (𝑷𝒆𝒍 ≠0) e assim determinar TFV conforme
mostrado na Eq. 11. A figura 44 mostra a relação entre a diferença de temperatura do módulo
e ambiente (𝑇𝐹𝑉 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) e a irradiância incidente no plano do módulo (𝐼𝑐𝑜𝑙 ), quando
considerada a geração do módulo seguindo a máxima potência de operação.
85

Figura 43 - Relação entre a diferença de temperatura do módulo e ambiente (T FV- Tamb) e


a irradiância solar incidente Icol. Temperatura TFV calculada considerando o módulo com
geração

Fonte: Elaborada pelo autor

O coeficiente de Ross de 0,0179 K/W/m² foi obtido para a temperatura (TFV) estimada,
considerando-se (𝑷𝒆𝒍 ≠0) (inclinação da linha de tendência da figura 43. Observa-se nesta
figura uma dispersão menor que aquela apresentada para os dados medidos, sem geração da
figura 38. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de que a temperatura do módulo FV foi
calculada, não apenas em função de Icol, mas envolvendo também as perdas térmicas do módulo.
O coeficiente de determinação da reta (linha de tendência) indica alta correlação, da ordem de
97%.
Uma análise estatística foi realizada para os valores de k de Ross calculados, minuto a
minuto, considerando-se a condição do módulo com geração. A figura 44 mostra a distribuição
de frequência das ocorrências desse parâmetro. Observa-se uma distribuição deslocada para a
direita (Obliquidade < 0), com média igual a 0,0169 e mediana de 0,0170 (linha vermelha).
O gráfico de Box plot é mostrado na figura 45. Nessa representação, além do valor da
média (marcada com x dentro da caixa), e do quartil Q2 que indica a mediana, são apresentados
os quartis Q1, ou percentil 25%, e Q3, ou percentil 75% (limites inferior e superior da caixa
respectivamente). Os whiskers (ou bigodes) mostram os valores da menor observação
estatisticamente válida (mínimo igual a 0,0107) e da maior observação (máximo igual a
0,0234). Acima do whisker superior e abaixo do inferior são valores fora do padrão (outliers).
86

Figura 44 - Histograma de frequência do parâmetro k de Ross calculado considerando–


se a condição de módulo com geração

Fonte: Elaborada pelo autor

Figura 45 - Representação gráfica de box & whiskers para o k de Ross com geração

Fonte: Elaborada pelo autor


87

Finalmente pode-se determinar a potência elétrica do módulo como apresentado na Eq


4, em função da irradiância Icol.(figura 46).

Figura 46 - Potência elétrica calculada em função da irradiância incidente medida

Fonte: Elaborada pelo autor

Na figura 46 a linha de tendência utilizada (reta) apresenta um coeficiente angular da


ordem de 0,2423. Esse valor pode ser utilizado para estimar a eficiência média de operação do
módulo no lago de Sobradinho, sujeito às condições ambientais locais (vento, irradiância e
temperatura ambiente), para o período estudado. Considerando-se a área do módulo igual a
1,608 m², a eficiência média estimada é da ordem de 15%. Esse valor pode ser considerado
razoável dado que a eficiência do módulo nas condições padrão (STC) é da ordem de 16,47%.
88

6 CONCLUSÃO

A geração fotovoltaica continuará crescendo a uma taxa superior às demais fontes


renováveis de energia nos próximos anos. Particularmente, as usinas fotovoltaicas flutuantes se
apresentam como uma alternativa promissora, principalmente considerando que essa aplicação
é ainda recente, estando no início da curva de aprendizado e, portanto, tem potencial de
barateamento de toda a cadeia de produção.
O estudo realizado sobre a tecnologia UFF mostra que a aplicação desses sistemas em
reservatórios de hidrelétrica incorpora inúmeras vantagens. Algumas delas merecem destaque:
a complementariedade operacional entre FV e hidráulica, o aumento da flexibilização na
operação, o compartilhamento das redes de escoamento da energia, vantagens econômicas de
custos evitados com a aquisição de terra, maior rapidez na instalação e na obtenção de licença
ambiental. Ressalta-se ainda que as UFF também poderiam reduzir a evaporação da água,
beneficiando a conservação da água, recurso, por si só, tão ou mais importante que a energia.
O estudo experimental apresentado neste trabalho, com base no monitoramento
realizado no ambiente do lago de Sobradinho, pretende contribuir com informações sobre as
condições ambientais específicas (radiação solar, temperatura e velocidade do vento), sob as
quais a usina UFF de Sobradinho estará submetida. Além dessas variáveis, a temperatura do
módulo, também monitorada, permite inferir sobre o desempenho dos módulos instalados no
lago.
Os resultados experimentais apresentados fornecem um panorama geral das condições
meteorológicas específicas do lago na localidade de instalação da usina. Uma conclusão sobre
o aumento da eficiência do sistema de lago, em relação à terra só poderá ser obtida após a
instalação e monitoramento de um sistema teste instalado em terra e a devida comparação.
Um modelo para determinação da temperatura do módulo FV flutuante, instalado no
lago de Sobradinho, em circuito aberto, possibilitou estimar, além da temperatura do módulo
em condições operacionais, sua geração no ponto de máxima potência e sua eficiência média.
Essas estimativas foram realizadas com base nos experimentos desenvolvidos (Pato II) em um
período bastante representativo, pois, além da alta frequência das medições (1 minuto), abarca
meses de alta radiação solar e temperatura ambiente e meses de baixa radiação e temperatura.
Ressalta-se que a temperatura de operação dos módulos e consequentemente, a potência
gerada, apresentam forte dependência com as condições climáticas locais, determinantes das
perdas térmicas do módulo. Para os sistemas flutuantes instalados em lagos, destaca-se o papel
89

das trocas de calor entre a parte posterior do módulo e os flutuadores. Particularmente, as perdas
térmicas por convecção, que representam o maior percentual entre as perdas totais (67%),
podem ser fortemente impactadas pela possibilidade ou não de aeração na região entre os
módulos e os flutuadores. A escolha do tipo de flutuador é, portanto, uma das etapas de grande
relevância no projeto de sistemas FV flutuantes (Seção 2.2.3).
O valor do parâmetro k de Ross obtido das especificações do fabricante (NOCT) é da
ordem de 0,031 K/W/m². Quando se considera o módulo em circuito aberto, nas condições
ambientais do lago de Sobradinho, os valores calculados para esse parâmetro são bem menores.
O valor obtido diretamente da reta de regressão entre (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) e (𝑰𝒄𝒐𝒍) foi de 0,022
K/W/m². Uma análise estatística dos dados de k de Ross calculados ponto a ponto (para cada
minuto), pela relação entre (𝑻𝑭𝑽 − 𝑻𝒂𝒎𝒃 ) e (𝑰𝒄𝒐𝒍) resultou em um valor médio de 0,023
K/W/m². Considerando-se o módulo operando em máxima potência, nas mesmas condições
ambientais do lago, o valor estimado com o modelo proposto, para o parâmetro k de Ross é
ainda menor, da ordem de 0,018 K/W/m².
Com base no modelo de balanço de energia foi estimada a potência máxima gerada pelo
módulo nas condições ambientais do lago. Verificou-se que a potência elétrica, em função da
irradiância incidente no plano do módulo FV, pode ser expressa por uma reta, com coeficiente
angular de 0,2423 e uma correlação superior a 99%. Essa representação permite estimar de
forma simples, e com boa acurácia, o valor da potência gerada para diferentes valores de
irradiância incidente, nas condições de temperatura e vento do lago. Ainda, dividindo-se o
coeficiente encontrado pela área do módulo, foi possível estimar a eficiência média de operação
do módulo no lago, da ordem de 15%.
Por fim, ressalta-se a necessidade de um acompanhamento de longo prazo para se
observar as tendências dos parâmetros encontrados, atentando ainda para a degradação dos
módulos fotovoltaicos.
90

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10627995.
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ANEXO A - MODELOS PARA ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DOS MÓDULOS


FOTOVOLTÁCOS

(Transcrição do Apêndice do artigo Comparison of solar photovoltaic module temperature


models (Jakhrani et al., 2011).

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