Biogás A Partir de Esgoto - USP

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO

USP

Programa Interunidades de Ps-Graduao em Energia
PIPGE









IMPLANTAO DE UMA UNIDADE DEMONSTRATIVA DE GERAO DE
ENERGIA ELTRICA A PARTIR DO BIOGS DE TRATAMENTO DO ESGOTO
RESIDENCIAL DA USP ESTUDO DE CASO







Vanessa Pecora




So Paulo
2006


VANESSA PECORA







IMPLANTAO DE UMA UNIDADE DEMONSTRATIVA DE GERAO DE
ENERGIA ELTRICA A PARTIR DO BIOGS DE TRATAMENTO DO ESGOTO
RESIDENCIAL DA USP ESTUDO DE CASO





Dissertao apresentada ao Programa
Interunidades de Ps-Graduao em Energia
da Universidade de So Paulo (Instituto de
Eletrotcnica e Energia / Escola Politcnica /
Instituto de Fsica / Faculdade de Economia e
Administrao) para obteno do ttulo de
Mestre em Energia.

Orientao: Prof. Dr. Jos Roberto Moreira







So Paulo
2006


AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE .

























FICHA CATALOGRFICA

















Pecora, Vanessa.
Implementao de uma Unidade Demonstrativa de
Gerao de Energia Eltrica a partir do Biogs de
Tratamento do Esgoto Residencial da USP : estudo
de caso /. Vanessa Pecora ; orientador Jos Roberto
Moreira. So Paulo, 2006.
152 p. : il.; 30cm.

Dissertao (Mestrado Programa Interunidades de
Ps-Graduao em Energia) EP / FEA / IEE / IF da
Universidade de So Paulo.

1. Digesto anaerbia 2.Biogs 3. fontes alternativas de
energia I.Ttulo.


DEDICATRIA


Dedico este trabalho aos meus pais, pela oportunidade que me deram para chegar at aqui.





























AGRADECIMENTOS




Ao meu orientador, Prof. Dr. Jos Roberto Moreira, pela dedicao.

A Profa. Dra. Suani Teixeira Coelho, pela oportunidade.

Aos colegas do CENBIO, pela colaborao.

Aos amigos, pelo incentivo.

A minha famlia, pelo companheirismo, pacincia e compreenso.












































Tenha equilbrio e alegria.
Saiba ser reconhecido.
Procure ser humilde.
Saiba agradecer.

Minutos de Sabedoria


RESUMO

PECORA, V. Implantao de uma Unidade Demonstrativa de Gerao de Energia Eltrica
a partir do Biogs de Tratamento do Esgoto Residencial da USP Estudo de Caso. 2006.
152 p. Dissertao de Mestrado Programa Interunidades de Ps-Graduao em Energia da
Universidade de So Paulo - PIPGE.

Alternativas energticas por meio de fontes renovveis de energia tm sido objeto de pesquisas
no mundo inteiro. Diminuir a dependncia dos combustveis fsseis, alm de encontrar solues
ambientalmente sustentveis para colaborar com a matriz energtica dos pases e reduzir os
impactos globais provocados pela queima dos mesmos, justificam o tema deste trabalho. Foram
desenvolvidas duas metas demonstrativas pertencentes ao projeto Programa de Uso Racional de
Energia e Fontes Alternativas (PUREFA), que tiveram como objetivo a captao do biogs
proveniente do tratamento do esgoto do Conjunto Residencial da Universidade de So Paulo
(CRUSP), sua purificao e armazenamento, para posterior gerao de energia eltrica, utilizando
como tecnologia de converso energtica um motor ciclo Otto. Esta experincia a base para o
desenvolvimento deste trabalho incluindo a implementao da unidade piloto instalada no Centro
Tecnolgico de Hidrulica (CTH) da USP e a anlise dos resultados.

Palavras-chaves: digesto anaerbia, biogs, energia renovvel.













ABSTRACT

PECORA, V. Implementation of a Demonstrative Unit for Power Generation Trough
Biogas Derived from Residential Sewage Treatment at University of So Paulo Case
Study. 2006. 152 p. Masters Dissertation Interunits Post Graduation Program on Energy of the
University of So Paulo - PIPGE.

Energy alternatives, by means of renewable sources of energy, has been the object of many
researches all over the world. To lessen the dependence on fossil fuels, besides finding
environmentally sustainable solutions to collaborate with the energy matrix of the countries and
to reduce the global impacts caused by the burning of fossil fuels justify the theme of this work.
This dissertation is based on 2 demonstrative goals belonging to the project Program for the
Rational Use of Energy and Alternative Sources (PUREFA), which aimed at the collection of
biogas deriving from the sewage treatment of the Residential Complex of Sao Paulo University -
USP (CRUSP), its purification and storage, for later power generation, making use of an Otto
cycle engine as energy conversion technology. This experience is the foundation for the
development of this work, including the implementation of the pilot unit installed in the
Hydraulics Technological Center (CTH) of USP and the results analysis.

Key-words: anaerobic digestion, biogas, renewable energy.













LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Produtos finais do processo de degradao anaerbia............................................ 25
Tabela 2. Concentraes e fator de inibio do processo de fermentao. ............................ 26
Tabela 3: Propriedades fsicas do metano, gs carbnico e gs sulfdrico............................. 28
Tabela 4. Equivalncia energtica de 1 Nm
3
de biogs ............................................................ 30
Tabela 5. Nmero de distritos com tratamento de esgoto sanitrio por tipo de sistema de
tratamento. ................................................................................................................................... 33
Tabela 6. Resultados preliminares do desempenho de biodigestores modelo indiano e
chins, com capacidade de 5,5 m
3
de biomassa, operados com esterco bovino...................... 39
Tabela 7. Relao entre a vazo de biogs consumido pela microturbina e a energia eltrica
gerada pela mesma. ..................................................................................................................... 56
Tabela 8. Relao entre a vazo de biogs consumida pela microturbina e a energia eltrica
lquida entregue rede [microturbina (compressor + secador a + secador b)].................. 57
Tabela 9. Custo dos equipamentos, materiais e acessrios para a gerao de energia
eltrica, a partir do biogs de tratamento de esgoto, utilizando uma microturbina de 30 kW.
....................................................................................................................................................... 58
Tabela 10. Relao entre a vazo de biogs consumido pelo grupo-gerador e a energia
eltrica gerada pelo mesmo......................................................................................................... 60
Tabela 11. Custo dos equipamentos, materiais e acessrios para a gerao de energia
eltrica, a partir do biogs de tratamento de esgoto, utilizando uma grupo gerador de 30
kW. ................................................................................................................................................ 61
Tabela 12. Manuteno preventiva da microturbina............................................................... 65
Tabela 13. Manuteno preventiva dos componentes do sistema de limpeza do biogs para a
microturbina. ............................................................................................................................... 66
Tabela 14. Manuteno preventiva do grupo-gerador............................................................. 68
Tabela 15. Comparao das emisses entre as tecnologias de converso............................... 86
Tabela 16. Nveis de carboxihemoglobina e efeitos relacionados sade. ............................. 88
Tabela 17. Resultado da primeira anlise fsico-qumica do biogs. ...................................... 97
Tabela 18. Resultado da segunda anlise fsico-qumica do biogs. ....................................... 98
Tabela 19. Resultado da anlise do efluente antes do seu tratamento no biodigestor. ......... 99


Tabela 20. Resultado da anlise do efluente aps seu tratamento no biodigestor............... 100
Tabela 21. Descrio dos equipamentos da instalao........................................................... 102
Tabela 22. Anlise fsico-qumica do biogs antes do sistema de purificao...................... 106
Tabela 23. Anlise fsico-qumica do biogs aps o sistema de purificao. ........................ 106
Tabela 24. Clculo terico do volume de biogs gerado. ....................................................... 109
Tabela 25. Valores utilizados para clculos. ........................................................................... 110
Tabela 26. Descrio dos equipamentos da instalao........................................................... 112
Tabela 27. Resultado das anlises dos gases de exausto do grupo motor-gerador. ........... 117
Tabela 28. Anlise dos gases de exausto do grupo motor-gerador do projeto ENERG-
BIOG, instalado na Sabesp de Barueri.................................................................................... 118
Tabela 29. Comparao dos resultados das anlises dos gases de exausto dos projetos
ENERG-BIOG e PUREFA. ...................................................................................................... 119
Tabela 30. Custo dos equipamentos......................................................................................... 120




















LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma do processo de decomposio anaerbia. ............................................ 23
Figura 2. Relao entre o poder calorfico do biogs e porcentagem em volume de metano.
....................................................................................................................................................... 28
Figura 3. Peso especfico do biogs (faixa de concentrao-40 a 100% de ch
4
). .................... 29
Figura 4. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo indiano. ......................................... 35
Figura 5. Vista tridimensional do biodigestor modelo indiano. .............................................. 35
Figura 6. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo chins............................................. 37
Figura 7. Vista tridimensional do biodigestor modelo chins. ................................................ 37
Figura 8. Biodigestor modelo rafa. ............................................................................................ 39
Figura 9. Turbina a gs............................................................................................................... 41
Figura 10. Esquemas de turbinas ciclo brayton. ...................................................................... 42
Figura 11. Diagrama simplificado do ciclo brayton. ................................................................ 42
Figura 12. Componentes do sistema da microturbina. ............................................................ 44
Figura 13. Representao esquemtica do funcionamento de um motor diesel. ................... 45
Figura 14. Desenho esquemtico do funcionamento de um motor otto.................................. 46
Figura 15. Instalao do projeto ENERG-BIOG. .................................................................... 54
Figura 16. Consumo especfico da microturbina. ..................................................................... 55
Figura 17. Aumento da temperatura global.............................................................................. 75
Figura 18. Aumento da concentrao de CO
2
, CH
4
e N
2
O. ..................................................... 76
Figura 19. Aumento no nvel do mar nos ltimos 300 anos. .................................................... 77
Figura 20. Principais fontes antropognicas de metano e suas contribuies. ...................... 83
Figura 21. Simulao anual global do aumento da temperatura. ........................................... 84
Figura 22. Biodigestor modelo uasb existente no CTH............................................................ 92
Figura 23. Sistema de pr-tratamento do esgoto. ..................................................................... 93
Figura 24. Caixa de areia. ........................................................................................................... 93
Figura 25. Calha parshall. .......................................................................................................... 94
Figura 26. Tanque de acumulao do esgoto. ........................................................................... 94
Figura 27. Bomba que leva o efluente para o biodigestor........................................................ 95
Figura 28. Fotos da coleta do biogs para anlises realizadas pela COMGAS. .................... 96
Figura 29. Alongamento da seco de captao do biogs. ..................................................... 97


Figura 30. Primeiro fluxograma da instalao dos equipamentos........................................ 102
Figura 31. Fotos da tubulao de biogs instalada................................................................. 103
Figura 32. Selo hidrulico. ........................................................................................................ 104
Figura 33. Fotos do sistema de purificao do biogs. ........................................................... 105
Figura 34. Fotos da instalao do abrigo para o medidor de vazo de biogs. ................... 107
Figura 35. Totalizador da vazo de biogs instalado no abrigo de madeira........................ 107
Figura 36. Hormetro. ............................................................................................................... 108
Figura 37. Fluxograma atual da instalao dos equipamentos. ............................................ 111
Figura 38. Fotos da construo em alvenaria para abrigo dos equipamentos..................... 113
Figura 39. Fotos do medidor de presso manmetro em U. ............................................... 113
Figura 40. Grupo motor-gerador. ............................................................................................ 115
Figura 41. Fotos do medidor e totalizador de vazo de biogs instalados no abrigo. ......... 115
Figura 42. Fotos do gasmetro: armazenador de biogs. ...................................................... 116
Figura 43. Grupo motor-gerador com painel de teste............................................................ 116
Figura 44. Painel de comando do grupo motor-gerador........................................................ 117


















SUMRIO

1. INTRODUO....................................................................................................................... 15
2. ESTADO DA ARTE DO BIOGS ........................................................................................ 18
2.1 HISTRICO DO BIOGS ......................................................................................................... 18
2.2 FORMAO DO BIOGS ........................................................................................................ 20
2.2.1 Aspectos Microbiolgicos............................................................................................. 20
2.2.1.1 Fatores que Influenciam a Gerao de Biogs ...................................................... 24
2.2.2 Aspectos Fsico-Qumicos ............................................................................................ 26
3. ASPECTOS TCNICOS........................................................................................................ 31
3.1 TECNOLOGIAS APLICADAS PRODUO DE BIOGS............................................................ 31
3.1.1 Fluxo de Tratamento .................................................................................................... 32
3.1.1.1 Biodigestor Modelo Indiano.................................................................................. 34
3.1.1.2 Biodigestor Modelo Chins................................................................................... 36
3.1.1.3 Biodigestor Modelo RAFA (Reator Anaerbio de Fluxo Ascendente) ................ 38
3.2 TECNOLOGIAS DISPONVEIS PARA CONVERSO EM ENERGIA ELTRICA .............................. 40
3.2.1 Turbinas a Gs ............................................................................................................. 41
3.2.2 Turbinas de Ciclo Brayton ........................................................................................... 41
3.2.3 Microturbinas a Gs..................................................................................................... 43
3.2.4 Motores de Combusto Interna.................................................................................... 44
3.3 COMPARAO ENTRE AS TECNOLOGIAS DE CONVERSO ..................................................... 46
3.3.1 Tecnologias Disponveis Comercialmente ................................................................... 46
4. ASPECTOS ECONMICOS................................................................................................. 48
4.1 ASPECTOS ECONMICOS DA PRODUO DE BIOGS E DA SUA UTILIZAO NA GERAO DE
ENERGIA ELTRICA.................................................................................................................... 48
4.2 COMPARAO ECONMICA ENTRE AS TECNOLOGIAS DE CONVERSO ENERGTICA DO
BIOGS....................................................................................................................................... 53
4.2.1 Gerao de 30 kW (ISO) com uma Microturbina ........................................................ 54
4.2.2 Gerao de 30 kW (ISO) com um Grupo Gerador....................................................... 59
4.2.3 Custo de Operao e Manuteno dos Sistemas.......................................................... 63
4.2.3.1 Custo de Operao e Manuteno da Microturbina .............................................. 63


4.2.3.2 Custo de Operao e Manuteno da Microturbina .............................................. 67
4.3 RELAO DE CUSTOS ENTRE AS TECNOLOGIAS.................................................................... 69
4.4 CUSTO MDIO DA ENERGIA ELTRICA CONSUMIDA PELA ETE DA SABESP EM BARUERI
SP............................................................................................................................................... 70
5. ASPECTOS SCIO-AMBIENTAIS..................................................................................... 72
5.1 O ESGOTO E SEUS IMPACTOS ................................................................................................ 72
5.2 ASPECTOS DA POLUIO ATMOSFRICA E SUAS INTERAES COM O MEIO AMBIENTE........ 73
5.2.1. Aquecimento Global e o Protocolo de Kyoto.............................................................. 77
5.2.1.1 Crditos de Carbono.............................................................................................. 79
5.2.1.1.1 Clculo dos Crditos de Carbono................................................................... 80
5.3 ASPECTOS AMBIENTAIS DA UTILIZAO DO BIOGS COMO FONTE DE ENERGIA.................. 81
5.4 ASPECTOS DA POLUIO ATMOSFRICA E SUAS INTERAES COM A SADE ....................... 85
5.4.1 Principais Fontes Poluidoras e seus Efeitos Sade .................................................. 87
5.5 ASPECTOS SOCIAIS DA UTILIZAO DO BIOGS COMO FONTE DE ENERGIA......................... 90
6. ESTUDO DE CASO: GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DO BIOGS
PROVENIENTE DO TRATAMENTO DE ESGOTO DO CONJUNTO RESIDENCIAL
DA USP PROJETO PUREFA................................................................................................. 91
6.1 OBJETIVOS DO PROJETO........................................................................................................ 91
6.2 SISTEMA DE TRATAMENTO DO ESGOTO DO CRUSP ............................................................. 91
6.3 METODOLOGIA ADOTADA PARA EXECUO DO PROJETO .................................................... 95
6.3.1 Primeiras Anlises Fsico-Qumicas do Biogs........................................................... 95
6.3.2 Anlise do Esgoto do CRUSP....................................................................................... 98
6.3.3 Dificuldades do Projeto.............................................................................................. 101
6.3.4 Instalao da Tubulao ............................................................................................ 103
6.3.5 Sistema de Purificao do Biogs.............................................................................. 104
6.3.5.1 Anlises Fsico-Qumicas do Biogs Antes e Aps o Sistema de Purificao.... 105
6.3.6 Pr-Instalao do Medidor de Vazo de Biogs........................................................ 106
6.3.7 Monitoramento do Esgoto .......................................................................................... 108
6.3.8 Alteraes no Projeto................................................................................................. 111
6.3.9 Construo do Abrigo para os Equipamentos ........................................................... 112
6.3.10 Monitoramento da Presso ...................................................................................... 113


6.3.11 Gasmetro: Armazenador de Biogs ....................................................................... 114
6.3.12 Grupo Motor-Gerador.............................................................................................. 114
6.3.13 Instalao Final dos Equipamentos ......................................................................... 115
6.3.14 Anlise dos Gases de Exausto do Grupo Motor-Gerador...................................... 117
6.4 COMPARAO ENTRE OS GRUPOS GERADORES DOS PROJETOS ENERG-BIOG E PUREFA118
6.5 ANLISE ECONMICA DO SISTEMA ................................................................................... 119
6.6 CLCULO DOS CRDITOS DE CARBONO.............................................................................. 127
6.7 ELABORAO DE CENRIOS PARA MAIOR EFICINCIA DO PROCESSO................................ 129
7. UTILIZAO DE BIOGS COMO FONTE DE ENERGIA ELTRICA ................... 130
7.1 VANTAGENS, DESVANTAGENS E BARREIRAS EXISTENTES.................................................. 130
7.2 POLTICAS PARA IMPLEMENTAO DE ENERGIA DESCENTRALIZADA................................. 134
7.2.1 Diretrizes Polticas..................................................................................................... 134
7.2.2 Diretrizes Legislativas, Administrativas e Institucionais........................................... 135
7.2.3 Diretrizes Tecnolgicas.............................................................................................. 136
7.2.4 Diretrizes Financeiras e Fiscais................................................................................. 137
8. CONCLUSES...................................................................................................................... 138
8.1 TRABALHOS FUTUROS ........................................................................................................ 140
8.1.1 Metodologia a ser Adotada ........................................................................................ 140
9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................ 142
ANEXO A - FLUXO DE CAIXA DO PROJETO ENERG-BIOG.......................................... 152



















1. INTRODUO

O uso da biomassa como fonte renovvel e sustentvel de energia, quer como resduos
slidos urbanos, efluentes industriais ou comerciais e resduos rurais, permite diversificar a
matriz energtica nacional, alm de reduzir a emisso de gases efeito estufa.
A gerao de resduos slidos e efluentes domsticos est diretamente relacionada com a
populao urbana, seu padro de vida e hbitos de consumo. A coleta, tratamento e disposio
adequada destes resduos se refletem na qualidade de vida da populao e das guas dos rios e
guas subterrneas, na atividade pesqueira e nos vetores patognicos.
O aterro sanitrio uma das formas de disposio de resduos slidos urbanos econmica
e ambientalmente segura.
Os mesmos problemas encontrados no manejo dos resduos slidos so verificados no
manejo dos resduos lquidos, que so coletados nas reas urbanas e, na maioria dos casos, no
recebem nenhum tipo de tratamento antes de serem despejados nos cursos de gua.
Com a crise do petrleo na dcada de 70 foi trazida para o Brasil a tecnologia da digesto
anaerbia. Na regio nordeste foram implantados vrios programas de difuso dos biodigestores e
a expectativa era grande, porm os benefcios obtidos a partir do biogs e do biofertilizante no
foram suficientes para dar continuidade aos programas e os resultados no foram muito
satisfatrios (BOLETIM ENFOQUE, 1999).
O grande volume de resduos, a partir dos quais possvel obter biogs, provenientes das
exploraes agrcolas e pecurias, assim como aqueles produzidos por matadouros, destilarias,
fbricas de lacticnios, esgotos domsticos e estaes de tratamento de lixos urbanos apresentam
uma carga poluente elevada que impem a criao de solues que permitam diminuir os danos
provocados por essa poluio, gastando o mnimo de energia possvel em todo o processo
(CENBIO, 2000a).
Assim, o tratamento desses efluentes pode processar-se por intermdio da fermentao
anaerbica que, alm da capacidade de despoluir, permite valorizar um produto energtico, o
biogs, e ainda obter um fertilizante, cuja disponibilidade contribui para uma rpida amortizao
dos custos da tecnologia instalada.
Existem duas situaes possveis para o aproveitamento do biogs. A primeira consiste na
queima direta (aquecedores, esquentadores, foges, caldeiras). A segunda diz respeito


converso de biogs em eletricidade. Isto significa que o biogs permite a produo de energia
eltrica e trmica.
Um dos sistemas de obteno do biogs mais conhecidos o biodigestor para aplicao
rural, existindo grande nmero de unidades instaladas, principalmente nos pases originrios dos
modelos mais difundidos, ndia (com aproximadamente 300 mil) e a China (com mais de 8
milhes). Recentemente vrios outros pases do continente europeu tm realizado programas de
disseminao e uso de biodigestores (BOLETIM ENFOQUE, 1999)
Um sistema de gerao de energia a partir do biogs possui 3 componentes bsicos: a
captao do gs, o processamento e converso do gs, que promove a limpeza (remoo de
partculas em suspenso e outros contaminantes) do gs e o converte em eletricidade e o
equipamento de interconexo que entrega a eletricidade, a partir da gerao, ao usurio final.
(COSTA et al., 2001).
Mesmo se tratando de plantas maiores de tratamento anaerbio de efluentes, esse sistema
de gerao utilizado, pois o biogs necessita ser coletado e tratado, por medida de segurana e
de combate poluio, devido as emisses de gases efeito estufa.
Uma alternativa para a diminuio dos impactos ambientais provocados pela emisso
destes gases, empregada com maior freqncia, consiste em queim-los em flare, convertendo o
metano em dixido de carbono, que mesmo sendo prejudicial, quantitativamente cerca de vinte
e uma vezes menos nocivo ao meio ambiente, quando comparado ao metano (CENBIO, 2000a).
Objetivando verificar o desempenho de biodigestores modelo Reator Anaerbico de Fluxo
Ascendente (RAFA) ou Up-flow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), o Centro Nacional de
Referncia em Biomassa (CENBIO) comprometeu-se com a execuo de duas metas referentes
ao projeto Programa de Uso Racional de Energia e Fontes Alternativas (PUREFA), que visa a
reduo do consumo de energia da Universidade de So Paulo, utilizando fontes renovveis de
energia. Estas metas envolvem a captao, purificao e armazenamento do biogs gerado num
biodigestor localizado no Centro Tcnico Hidrulico (CTH), da Escola Politcnica da
Universidade de So Paulo e sua utilizao para gerao de energia eltrica. Tal projeto foi
financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) em edital voltado infra-estrutura
(CT-INFRA).


Esta dissertao visa avaliar o potencial de gerao de energia eltrica a partir do biogs
proveniente do tratamento do esgoto do Conjunto Residencial da USP (CRUSP), abordando os
aspectos tcnicos, ambientais e econmicos do projeto.












































2. ESTADO DA ARTE DO BIOGS

2.1 Histrico do Biogs

A data de descoberta do biogs, ou "gs dos pntanos" do ano de 1667 (CLASSEN;
LIER; STAMRS, 1999) e s um sculo mais tarde que se volta a reconhecer a presena de
metano no gs dos pntanos, atribudo a Alessandro Volta, em 1776. J no sculo XIX, Ulysse
Grayon, aluno de Louis Pasteur, realizou a fermentao anaerbia
1
de uma mistura de estrume e
gua, a 35 C, conseguindo obter 100 litros de gs por m
3
de matria (NOGUEIRA, 1986). Em
1884, Louis Pasteur, ao apresentar os trabalhos do seu aluno Academia das Cincias,
considerou que esta fermentao podia constituir uma fonte de aquecimento e iluminao.
Os primeiros pases a utilizarem o processo de biodigesto, de forma mais intensa e com
finalidade energtica foram a ndia e a China (dcadas de 50 e 60), sendo que esses pases e
outros, geralmente do terceiro mundo, desenvolveram seus prprios modelos de biodigestores
(NOGUEIRA, 1986).
Com a crise do petrleo na dcada de 70 foi trazida para o Brasil a tecnologia da digesto
anaerbia. Na regio nordeste foram implantados vrios programas de difuso dos biodigestores e
a expectativa era grande, porm os benefcios obtidos a partir do biogs e do biofertilizante, no
foram suficientes para dar continuidade aos programas e os resultados no foram muito
satisfatrios (BOLETIM ENFOQUE, 1999).
Atualmente, esse processo vem se difundindo por vrios pases. A recuperao de energia
gerada pelos processos de tratamento anaerbio teve grande impulso com a crise do petrleo,
quando diversos pases buscaram alternativas para a sua substituio. Entretanto, como descreve
Nogueira (1986), as solues para os problemas de desenvolvimento devem ser apropriadas s
necessidades, s capacidades e recursos humanos, aos recursos financeiros e cultura. Assim, o
impulso recebido no perodo de crise no chegou a constituir um slido movimento de
substituio dos recursos no renovveis por outras fontes renovveis.
At pouco tempo, o biogs era simplesmente conhecido como um sub-produto obtido a
partir da decomposio anaerbia de lixo urbano, resduos animais e de estaes de tratamento de
efluentes domsticos. No entanto, o acelerado desenvolvimento econmico dos ltimos anos e a

1
Decomposio Anaerbia: decomposio sem presena de oxignio.


alta acentuada do preo dos combustveis convencionais tm encorajado as investigaes na
produo de energia a partir de novas fontes renovveis e economicamente atrativas, tentando
sempre que possvel, criar novas formas de produo energtica que possibilitem a poupana dos
recursos naturais esgotveis.
O primeiro documento relatando a coleta de biogs de um processo de digesto anaerbia
ocorreu em uma estao de tratamento de efluentes municipal da Inglaterra, em 1895, sendo que
o primeiro estudo de aproveitamento em uma pequena planta, com uso de estrume e outros
materiais, remontam de 1941, na ndia. Desde ento, o processo anaerbio tem evoludo e se
expandido ao tratamento de resduos industriais, agrcolas e municipais (ROSS; DRAKE, 1996).
Villen et al. (2001) discorre sobre digesto anaerbia, salientando que na natureza existem
vrios ambientes favorveis ao desenvolvimento desse processo, sendo representados pelos
pntanos, esturios, mares e lagos, usinas de carvo e jazidas petrolferas.
Esses sistemas anaerbios possuem concentraes baixas de oxignio, facilitando a
ocorrncia da gerao do biogs. Da observao casual da combusto natural desse gs na
superfcie de regies pantanosas, o ser humano tomou cincia da possibilidade de produzir gs
combustvel, partindo de resduos orgnicos.
Posteriormente, passou-se a desenvolver e utilizar esse processo fermentativo para o
tratamento de esgoto domstico, objetivando, principalmente, a destruio da matria orgnica.
Isso ocorreu na metade do sculo XIX e o gs produzido era destinado iluminao.
No comeo do sculo XX, ocorreu na ndia e na China, o incio do desenvolvimento de
biodigestores para a produo de gs metano a partir de esterco de animais, principalmente
bovinos.
Somente a partir de 1960, a digesto anaerbia passou a ser pesquisada com carter mais
cientfico, havendo ento, grandes progressos quanto compreenso dos fundamentos do
processo e tambm de projetos de biodigestores e equipamentos auxiliares.
Segundo Chambers e Potter (2002), a aplicao da digesto anaerbia na Amrica do
Norte encontra-se, predominantemente, na estabilizao do lodo do esgoto urbano e no
tratamento anaerbio de efluentes industriais e agropecurios.




2.2 Formao do Biogs

O biogs uma mistura gasosa combustvel, produzida atravs da digesto anaerbia,
processo fermentativo que tem como finalidade a remoo de matria orgnica, a formao de
biogs e a produo de biofertilizantes ricos em nutrientes.
A produo de biogs tambm possvel a partir de diversos resduos orgnicos, como
estercos de animais, lodo de esgoto, lixo domstico, resduos agrcolas, efluentes industriais e
plantas aquticas. Nesse caso, quando a digesto anaerbia realizada em biodigestores
especialmente planejados, a mistura gasosa produzida pode ser usada como combustvel, o qual,
alm de seu alto poder calorfico, de no produzir gases txicos durante a queima e de ser uma
tima alternativa para o aproveitamento do lixo orgnico, ainda deixa como resduo um lodo que
um excelente biofertilizante.
A composio tpica do biogs cerca de 60% de metano, 35% de dixido de carbono e
5% de uma mistura de hidrognio, nitrognio, amnia, cido sulfdrico, monxido de carbono,
aminas volteis e oxignio (WEREKO-BROBBY; HAGEN, 2000). Dependendo da eficincia do
processo, influenciado por fatores como presso e temperatura durante a fermentao, o biogs
pode conter entre 40% e 80% de metano.

2.2.1 Aspectos Microbiolgicos

No tratamento anaerbio de efluentes, aps a diminuio da quantidade de oxignio,
comeam a predominar microrganismos anaerbios facultativos, ou seja, aqueles que
preferencialmente no usam oxignio na decomposio da matria orgnica, podendo, porm,
utiliz-lo. Segundo Foresti, 1999, estas bactrias, primeiramente, convertem o material orgnico
particulado em compostos dissolvidos, num processo, denominado hidrlise ou liquefao
(primeira fase). Os polmeros orgnicos (glucdios, lipdeos, protdeos,...) de tamanho
consideravelmente grande para penetrarem no interior das clulas bacterianas, podem somente
ser degradados sob a ao de enzimas hidrolticas extracelulares (celulases, hemicelulases, ...).
Os oligmeros e os monmeros assim formados, de tamanho suficientemente pequeno
para penetrar no interior das clulas, so ento metabolizados. A passagem da membrana


citoplasmtica
2
se faz por duas vias: difuso passiva segundo o gradiente de concentrao ou por
transporte ativo das protenas membranceas
3
. No interior das clulas, estes substratos so
metabolizados em funo do equipamento enzimtico da clula, em cidos orgnicos, cetonas,
lcoois, NH
3
, H
2
e CO
2
. a fase de acidificao (segunda fase). De um ponto de vista
bioqumico, percebe-se que a hidrlise e a fase cida constituem duas etapas distintas.
Por outro lado, microbiologicamente, verifica-se que as bactrias no podem sobreviver
somente da fase de hidrlise, visto que tudo acontece no exterior da clula. So, portanto, as
mesmas bactrias que realizam as duas fases, agrupadas por esta razo em uma s fase. Estas
bactrias so anaerbias estritas ou facultativas, porm na sua maioria so anaerbias estritas.
Esta segunda fase se caracteriza, portanto, por ser um processo bioqumico pelo qual as bactrias
obtm energia pela transformao da matria orgnica hidrolisada.
Durante esta fase so produzidas quantidades considerveis de compostos orgnicos
simples e de alta solubilidade, principalmente cidos graxos volteis. Os metablitos
4
finais das
bactrias hidrolticas acidognicas
5
so excretas das clulas e entram em soluo no meio. Eles
passam, ento, a ser substratos das bactrias acetognicas
6
. As bactrias acetognicas produzem o
hidrognio como metablito obrigatrio (em ingls, denominados OHPA Obligate Hydrogen
Producing Acetogenic). A existncia destas bactrias foi mostrada por CUNHA, em 1967.
Na terceira fase (acetognese), As bactrias acetognicas desempenham um importante
papel entre a acidognese e a metanognese. Bactrias acetognicas, produtoras de hidrognio
so capazes de converter cidos graxos com mais de 2 carbonos a cidos acticos, CO
2
, H
2
que
so os substratos para as bactrias metanognicas. Nesta fase, o efluente possui alta Demanda
Bioqumica de Oxignio (DBO), valor usado para indicar a concentrao de matria orgnica em

2
A membrana citoplasmtica responsvel pela integridade da clula, bem como pela regulao da passagem de
molculas para o interior e/ou para o exterior. A membrana envolve todo o compartimento celular e nela so
encontradas protenas e outras molculas (colesterol, por exemplo, em clulas animais). O citoplasma das clulas
est frequentemente em movimento, arrastando de modo ordenado os organitos e os materiais em suspenso. Estes
movimentos, conhecidos como correntes citoplasmticas, devem favorecer as trocas entre os diversos componentes
celulares mas no certo que seja essa a sua funo principal. Fonte: http://curlygirl3.no.sapo.pt/index.htm
3
Protenas membranceas: protenas das membranas celulares.
4
Metablicos: produtos do metabolismo.
5
Bactrias acidognicas: bactrias responsveis pela formao de cidos graxos volteis durante a decomposio
anaerbia da matria orgnica.
6
Bactrias acetognicas: bactrias responsveis pela formao de acetatos, como cido actico (CH
3
COOH), durante
a decomposio da matria orgnica.



um dado volume lquido. Os valores de DBO so superiores a 10 g/l. Um outro indicador da
quantidade de compostos orgnicos em um lquido a Demanda Qumica de Oxignio (DQO).
Na quarta e ltima fase, os compostos orgnicos simples formados na fase acetognica,
so consumidos por bactrias estritamente anaerbias, denominadas bactrias metanognicas, que
do origem ao metano (CH
4
) e ao gs carbnico (CO
2
). Estas bactrias metanognicas
desenvolvem-se preferencialmente em valores de pH prximos do neutro (pH = 7,0), entre 6,8 e
7,3. O fluxograma geral do processo de decomposio anaerbio mostrado na Figura 1.
Uma vez estabelecido este equilbrio no pH, qualquer acmulo de cidos pode provocar
uma queda na quantidade de bactrias metanognicas, prejudicando o processo de decomposio
dessa fase. Estando o pH prximo do neutro, reduz-se a solubilizao de compostos inorgnicos
(IPT/CEMPRE, 2000). Enquanto o consumo dos cidos volteis simples faz o pH subir, a DBO,
por sua vez, comea a baixar.
















































Figura 1. Fluxograma do processo de decomposio anaerbia.
Fonte: JUNIOR, 2000.


Matria Orgnica Slida
Matria Orgnica Solvel
(muito diversificada)
cidos Graxos Volteis
cido Actico CH
3
COOH
Fase 1
Hidrlise
Fase 2
Acidognese
Fase 3
Acetognese
Fase 4
Metanognese
Produtos Finais
H
2
O, CO
2
, CH
4
, NH
4
, H
2
S....



2.2.1.1 Fatores que Influenciam a Gerao de Biogs

Os produtos intermedirios da degradao anaerbia so os cidos graxos volteis
(AGVs) e seus principais efeitos so o impacto sobre o pH quando existe acmulo dos cidos
graxos volteis, gerao de poluio global da fase aquosa pelas matrias orgnicas e ao
complexante de certos metablitos. Quanto aos metablitos finais da degradao anaerbia, pode-
se verificar os principais na Tabela 1.

Tabela 1. Produtos finais do processo de degradao anaerbia.
Elementos Constituintes da Matria
Orgnica
Produtos Finais da Biodegradao Anaerbia
H H
2
O, H
2
S, CH
4

C CO
2
, CH
4

N NH
4

O CO
2

S S--, H
2
S
Metais Seus sulfetos
Fonte: JUNIOR, 2000.

Os principais efeitos so: a influncia do CO
2
, dos bicarbonatos e carbonatos sobre o pH
do meio aquoso e sua capacidade cido-bsica, a possvel insolubilizao dos metais sob a forma
de sulfetos muito pouco solveis, a complexao
7
do cobre pelos ons NH
4
+ e a emisso eventual
de maus odores.
Resumem-se abaixo os principais parmetros da digesto anaerbia relacionados
gerao de biogs:

a) Impermeabilidade ao ar
As bactrias metanognicas so essencialmente anaerbias. A decomposio de matria orgnica
na presena de ar (oxignio) ir produzir apenas dixido de carbono (CO
2
).

7
Complexao: atrao eletrosttica entre um on e um agente quelante, como a gua por exemplo, de modo que no
h transferncia de eltrons entre estes. Fonte: http://www.ufpa.br/quimicanalitica/triticomplexacao.htm



b) Natureza do substrato
Os substratos nutritivos devem prover as fontes de alimento aos microrganismos
(elementos qumicos constituindo o material celular e os necessrios s atividades enzimticas),
particularmente os oligo-elementos
8
, como o clcio, magnsio, potssio, sdio, zinco, ferro,
cobalto, cobre, molibdnio e mangans. Em fortes concentraes, estes elementos tm um efeito
inibidor sobre o processo de fermentao. Por outro lado, os elementos majoritrios (carbono,
nitrognio, oxignio, fsforo e enxofre) tm uma importncia fundamental no rendimento dos
gases de fermentao. A Tabela 2 mostra as concentraes de inibio do processo de
fermentao.

Tabela 2. Concentraes e fator de inibio do processo de fermentao.
ons Concentrao (mg/L)
Estimulante Inibidora
Fraco Forte
Sdio Na+ 100 a 200 3.500 a 5.500 8.000
Potssio K+ 200 a 400 2.500 a 4.500 12.000
Clcio Ca+ 100 a 200 2.500 a 4.500 8.000
Magnsio Mg++ 75 a 150 1.000 a 1.500 3.000
Nitrognio NH4+ 5 a 200 1.500 a 3.000 3.000
Sulfetos S- - menos de 200 200
Ni++, Cr6+, Zn++,
Pb++
- - 100
Fonte: JUNIOR, 2000.

c) Composio dos resduos
Quanto maior a porcentagem de material orgnico no resduo, maior o potencial de
gerao de metano e vazo de biogs. Os principais nutrientes (substrato) dos microorganismos
so carbono, nitrognio e sais orgnicos. Uma relao especfica de carbono para nitrognio deve
ser mantida entre 20:1 e 30:1. A principal fonte de nitrognio est nas dejees humanas e de

8
Oligo-elementos: elementos minerais que em fracas doses so indispensveis s reaes enzimticas.


animais, enquanto os polmeros presentes nos restos de culturas representam o principal
fornecedor de carbono. A produo de biogs no bem sucedida, se apenas uma fonte de
material for utilizada.

d) Teor de gua
O teor de gua dentro do biodigestor deve variar de 60 a 90% do peso do contedo total.

e) Temperatura
A atividade enzimtica das bactrias depende estritamente da temperatura, visto que
conhecido que alteraes bruscas de temperatura causam desequilbrio nas culturas envolvidas,
principalmente nas bactrias formadoras de metano. Em torno de 10 C esta atividade muito
reduzida e acima de 65 C as enzimas so destrudas pelo calor. Portanto, a faixa ideal para a
produo de biogs de 32C a 37C (bactrias mesoflicas) e de 50C a 60C (bactrias
termoflicas).

f) pH
A concentrao em ons OH- no meio exterior tem uma grande influncia sobre o
crescimento dos microrganismos. Na digesto anaerbia, observam-se duas fases sucessivas: a
primeira se caracteriza por uma diminuio do pH em patamares prximos de 5,0 e a segunda por
um aumento do pH e sua estabilizao em valores prximos da neutralidade. A reduo do pH
devida ao das bactrias acidognicas, as quais liberam rapidamente cidos graxos volteis. As
bactrias metanognicas (que tm taxas de crescimento mais fracas que as primeiras) se instalam
progressivamente e induzem a elevao do pH atravs da catlise do cido actico. No caso de
tratamento anaerbio em biodigestores (processos contnuos), o pH permanece neutro (pH ~ 7).

2.2.2 Aspectos Fsico-Qumicos

Pode-se assumir que, sendo o biogs, basicamente metano e gs carbnico, as discusses
se restringem s propriedades fsico-qumicas dos dois, uma vez que os outros gases apresentam-
se em quantidades muito pequenas, alm de dependerem da composio do material digerido.
Apesar disso, esses gases presentes em menores quantidades influenciam na escolha da


tecnologia de operao, limpeza e combusto. A Tabela 3 mostra algumas das propriedades
fsicas do metano, gs carbnico e gs sulfdrico.

Tabela 3: Propriedades fsicas do metano, gs carbnico e gs sulfdrico.
Propriedade Metano (CH
4
) Dixido de Carbono
(CO
2
)
Gs sulfdrico
(H
2
S)
Peso Molecular 16.04 44.01 34.08
Peso Especfico Ar=1 0,555 1,52 1,189
b

Volume Especfico 1473,3 cm3/g
a
543,1 cm3/g
b
699,2 cm3/g
b

Capacidade Calorfica,
Cp, a 1 atmosfera
0,775 kcal/kgC
a
0,298 kcal/kgC
c
0,372 kcal/kgC
b

Relao, CP/CV 1,307 1,303 1,320
Poder Calorfico 13,268 kcal/kg 0 kcal/kg 4,633 kcal/kg
Limite de
Inflamabilidade
5-15% por volume Nenhum 4-46% por volume
Obs: a - 60
o
C, 1 atm ; b - 70
o
C, 1 atm ; c - 77
o
C, 1 atm
Fonte: ROSS et al, 1996.

O principal componente do biogs, quando se pensa em utiliz-lo como combustvel, o
metano. Segundo Alves (2000), a presena de substncias no combustveis no biogs, como
gua e dixido de carbono, prejudica o processo de queima tornando-o menos eficiente uma vez
que, presentes na combusto absorvem parte da energia gerada. A medida em que se eleva a
concentrao de impurezas, o poder calorfico do biogs torna-se menor. A Figura 2 mostra a
relao entre o poder calorfico do biogs e a porcentagem em volume de metano presente nele.



0
2000
4000
6000
8000
0 0,2 0,4 0,6 0,8
% metano (v/v)
P
o
d
e
r

c
a
l
o
r

f
i
c
o

(
k
c
a
l
/
m
3
)

Figura 2. Relao entre o poder calorfico do biogs e porcentagem em volume de
metano.
Fonte: Alves, 2000.

Assim como os gases puros, as caractersticas do biogs dependem da temperatura e da
presso, variando com elas e com o teor de umidade. O fundamental, quando se trata de gases
para fins de gerao de energia conhecer seu volume, seu poder calorfico e a prpria umidade.
O poder calorfico do biogs bruto de cerca de 6kWh/m
3
- aproximadamente meio litro de leo
diesel, e o do gs purificado 9,5kWh/m
3
. O poder calorfico lquido, entretanto, depende da
eficincia dos equipamentos empregados no uso energtico do gs (COELHO et al, 2001).
Outro aspecto importante a ser considerado a umidade presente no biogs, uma vez que
tem influncia direta no processo de combusto, afetando a temperatura de chama, limites de
inflamabilidade, diminuio do poder calorfico e taxa ar-combustvel do biogs.
Alm da umidade, o volume de biogs, representado pelo peso especfico (relao entre a
sua densidade e a densidade do ar) outro parmetro importante quando se deseja manipular o
gs para armazenamento. A Figura 3 mostra o peso especfico do biogs numa faixa de
concentrao de 40 a 100% de metano que o constitui.



0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
1,1
1,2
40 100
Concentrao de Metano, em %
P
e
s
o

E
s
p
e
c

f
i
c
o

Figura 3. Peso especfico do biogs (Faixa de concentrao-40 A 100% de CH
4
).
Fonte: ROSS et al, 1996.

Um estudo feito por da SILVA (1983) mostrou que de acordo com a quantidade de
metano no biogs o seu poder calorfico aumenta, pois o CO
2
, o outro produto da digesto
anaerbia, a forma mais oxidada do carbono, no podendo ser mais queimado. A Tabela 4
mostra que 1 m
3
de biogs (cujo poder calorfico em mdia 5.500 kcal) equivale a:

Tabela 4. Equivalncia energtica de 1 Nm
3
de biogs
Combustvel Quantidade equivalente a 1 Nm
3
de
biogs
Carvo Vegetal 0,8 kg
Lenha 1,5 kg
leo Diesel 0,55 L
Querosene 0,58 L
Gasolina Amarela 0,61 L
GLP (Gs Liquefeito de Petrleo) 0,45 L
kWh 1,43
lcool Carburante 0,80 L
Carvo Mineral 0,74 kg
Fonte: CARDOSO FILHO, 2001.



O gs metano queima com uma chama luminosa; quando puro, para o biogs a chama no
to luminosa. O biogs no txico, mas atua sobre o organismo humano, diluindo o oxignio
e, como conseqncia, pode provocar a morte por asfixia. Muito estvel, no solvel em gua.
A combusto do metano no libera resduos. Sob uma presso de 140 atm, o metano se liquefaz a
0 C, enquanto que outros hidrocarbonetos mais pesados (como os gases componentes do GLP
propano, isobutano e butano) se liquefazem a baixas presses (o propano se liquefaz a 8,7 atm; o
isobutano a 3,2 atm e o butano a 2,2 atm). De acordo com da SILVA (1983), o biogs mais
denso que o ar (a densidade do biogs em relao ao ar de 0,55).






















3. Aspectos Tcnicos

3.1 Tecnologias Aplicadas Produo de Biogs

O aumento desordenado da populao e o desenvolvimento de grandes ncleos urbanos
sem planejamento, sobretudo nos pases em desenvolvimento, dificultam as aes de manejo de
resduos. A necessidade de disposio e tratamento reconhecida, mas, por falta de recursos,
essas aes costumam ser postergadas, provocando problemas de sade nas populaes e
degradao do meio ambiente.
No Brasil, uma grande variedade de sistemas utilizada para o tratamento de efluente
lquido. Apesar disso, uma grande parcela dos efluentes gerados lanada diretamente nos corpos
dgua sem tratamento.
Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico PNSB de 2000 do
IBGE, dos 9.848 distritos do pas, apenas 2.079 possuam algum tipo de tratamento coletivo. A
Tabela 5, a seguir, apresenta esses dados.
Para o tratamento de efluentes lquidos, a digesto anaerbia representa importante papel,
pois alm de permitir a reduo significativa do potencial poluidor, permite a recuperao da
energia na forma de biogs (FISHER et al., 1979; LUCAS JNIOR, 1998).
Os digestores anaerbios, ou biodigestores, so equipamentos utilizados para digesto de
matrias orgnicas. Constituem-se de uma cmara fechada, onde colocado o material orgnico,
em soluo aquosa e, por meio da decomposio anaerbia, h diminuio do volume de slidos
e estabilizao do lodo
9
bruto (BRAILE, 1983). Em alguns casos, os biodigestores possuem uma
parte inferior cnica para deposio do lodo, enquanto a parte superior permite a captao do
biogs (LEMAIRE & LEMAIRE, 1975).






9
Estabilizao do lodo: reduzir seu contedo em microorganismos patognicos e inibi-los, reduzir ou eliminar o
potencial de putrefao do lodo e, consequentemente, seu potencial de produo de odores. Fonte:
http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_chap&id=00007105&lng=pt&nrm=iso


Tabela 5. Nmero de distritos com tratamento de esgoto sanitrio por tipo de sistema de
tratamento.
Regio Distritos
Distritos com tratamento de esgotos de acordo com o tipo de
sistema de tratamento
Total
Com
Tratamento
Filtro
biolgico
Lodo
ativado
Reator
anaerbico
Valo de
oxidao
Lagoas
(anaerbia,
aerbia,
aerada,
facultativa,
mista e de
maturao)
Fossa
sptica de
sistema
condominial
Outro
Norte 607 34 2 2 9 - 19 2 -
Nordeste 3084 407 91 21 43 4 184 59 5
Sudeste 3115 1098 173 178 79 13 573 72 10
Sul 2342 430 57 21 147 9 157 35 4
Centro-
Oeste
700 110 8 5 19 2 72 3 1
Brasil 9848 2079 331 227 297 28 1005 171 20
Fonte: PNSB, IBGE, 2000.

3.1.1 Fluxo de Tratamento

A quantidade total de esgoto a ser tratado em um sistema funo da populao e da
indstria local a serem atendidas. Ademais, devem ser consideradas as infiltraes de gua de
chuva e do lenol fretico. O volume de esgoto produzido por ano pode ser controlado pelas
vazes obtidas nos medidores instalados em pontos determinados do sistema, especialmente na
entrada das estaes de tratamento.
O processo de tratamento do esgoto pode adotar diferentes tecnologias para depurao do
efluente, mas, de modo geral, segue um fluxo que compreende as seguintes etapas (INFORME
INFRA-ESTRUTURA, 1997):

Preliminar remoo de slidos grandes e areia para proteger as demais unidades de
tratamento, os dispositivos de transporte (bombas e tubulaes) e os corpos receptores. A
remoo da areia previne, ainda, a ocorrncia de abraso nos equipamentos e tubulaes e facilita
o transporte dos lquidos. As caixas de areia so feitas com o uso de grades que impedem a


passagem de trapos, papis, pedaos de madeira, etc.; e os tanques de areia servem para retirada
de leos e graxas em casos de esgoto industrial com alto teor destas substncias.
Primrio os esgotos ainda contm slidos em suspenso de porte pequeno cuja
remoo pode ser feita em unidades de sedimentao, reduzindo a quantidade de matria
orgnica contida no efluente. Os slidos sedimentveis e flutuantes so retirados por meio de
mecanismos fsicos, via decantadores. Os esgotos fluem vagarosamente pelos decantadores,
permitindo que os slidos em suspenso de maior densidade sedimentem gradualmente no fundo,
formando o lodo primrio bruto. Os materiais flutuantes como graxas e leos, de menor
densidade, so removidos na superfcie. A eliminao mdia da DBO, nesta fase, de 30%.
Secundrio ocorre, principalmente, a remoo de slidos e de matria orgnica no
sedimentvel e, eventualmente, nutrientes como nitrognio e fsforo. Aps as fases primaria e
secundaria, a reduo da DBO deve alcanar 90%. a etapa da remoo biolgica dos poluentes
e sua eficincia permite produzir um efluente em conformidade com o padro de lanamento
previsto na legislao ambiental. Basicamente, so reproduzidos os fenmenos naturais de
estabilizao da matria orgnica que ocorrem no corpo receptor, sendo que a diferena est na
maior velocidade do processo, na necessidade de utilizao de uma rea menor e na evoluo do
tratamento em condies controladas.
Tercirio remoo de poluentes txicos ou no biodegradveis ou eliminao
adicional de poluentes no degradados na fase secundaria.

As tecnologias de tratamento de efluentes nada mais so que o aperfeioamento do
processo de depurao da natureza, buscando reduzir seu tempo de durao e aumentar sua
capacidade de absoro, com consumo mnimo de recursos em instalaes e operao e o melhor
resultado em termos de qualidade do efluente lanado, sem deixar de considerar a dimenso da
populao a ser atendida.
Quanto escolha do modelo e do tamanho ideal de biodigestor, levado em considerao,
entre outras variveis, o tipo da matria orgnica de entrada, caractersticas como a DBO e DQO,
as condies locais do solo, capital e custo de manuteno, alta eficincia compatibilizada com
custos e operacionalidade, necessidade energtica da propriedade e disponibilidade de matria-
prima
10
. A seguir so apresentados alguns tipos de biodigestores mais utilizados.

10
Professor Doutor Elso Vitoratto, informao verbal.


3.1.1.1 Biodigestor Modelo Indiano

Este modelo de biodigestor caracteriza-se por possuir uma campnula como gasmetro, a
qual pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentao ou em um selo dgua externo, e
uma parede central que divide o tanque de fermentao em duas cmaras. A funo da parede
divisria faz com que o material circule por todo o interior da cmara de fermentao.
O modelo Indiano possui presso de operao constante, ou seja, medida que o volume
de gs produzido no consumido de imediato, o gasmetro tende a deslocar-se verticalmente,
aumentando o volume deste, portanto, mantm a presso em seu interior constante
(DEGANUTTI et. al., 2002).
O fato do gasmetro estar disposto ou sobre o substrato ou sobre o selo dgua, reduz as
perdas durante o processo de produo de gs.
O resduo utilizado para alimentar o biodigestor Indiano, deve apresentar uma
concentrao de ST (slidos totais) no superior a 8%, para facilitar a circulao do resduo pelo
interior da cmara de fermentao e evitar entupimentos dos canos de entrada e sada do material
(DEGANUTTI et. al, 2002). O abastecimento deve ser contnuo, ou seja, geralmente
alimentado por dejetos bovinos e/ou sunos, que apresentam uma certa regularidade no seu
fornecimento.
Do ponto de vista construtivo, apresenta-se de fcil construo, contudo o gasmetro de
metal pode encarecer o custo final, e tambm a distncia da propriedade onde o resduo se forma
pode dificultar e encarecer o transporte ao biodigestor, inviabilizando a implantao deste modelo
de biodigestor.
A Figura 4 mostra a vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Indiano. A figura 5
representa o biodigestor tridimensionalmente, em corte, mostrando todo seu interior.







Figura 4. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Indiano.
Fonte: BENINCASA et al., 1990.


Figura 5. Vista tridimensional do biodigestor modelo Indiano.
Fonte: DEGANUTTI et. al, 2002.





3.1.1.2 Biodigestor Modelo Chins

O biodigestor modelo chins formado por uma cmara cilndrica em alvenaria para
fermentao, com teto impermevel, destinado ao armazenamento do biogs. Este biodigestor
funciona com base no princpio de prensa hidrulica, de modo que aumentos de presso em seu
interior, devido ao acmulo de biogs, resultaro em deslocamentos do efluente da cmara de
fermentao para a caixa de sada, e em sentido contrario quando ocorre descompresso
(BENINCASA et al., 1990).
O modelo Chins constitudo quase que totalmente em alvenaria, dispensando o uso de
gasmetro em chapa de ao, reduzindo os custos, contudo pode ocorrer problemas com
vazamento de biogs, caso a estrutura no seja bem vedada e impermeabilizada.
Neste tipo de biodigestor, uma parcela de gs formado na caixa de sada libertada para a
atmosfera, reduzindo parcialmente a presso interna do gs. Por este motivo as construes de
biodigestores modelo Chins no so utilizadas para instalaes de grande porte (DEGANUTTI
et. al, 2002).
Semelhante ao modelo Indiano, o substrato deve ser fornecido continuamente, com a
concentrao de ST em torno de 8%, para evitar entupimentos do sistema de entrada e facilitar a
circulao do material (DEGANUTTI et. al, 2002).
A Figura 6 mostra a vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chins. Na figura 7, a
representao tridimensional mostra todo o interior do biodigestor.





Figura 6. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chins.
Fonte: BENINCASA et al., 1990.

Figura 7. Vista tridimensional do biodigestor modelo Chins.
Fonte: DEGANUTTI et. al, 2002.

Em termos comparativos, os modelos Indiano e Chins, apresentam desempenho
semelhante, apesar do modelo Indiano ter apresentado, em determinados experimentos, maior
eficincia quanto a produo de biogs e reduo de slidos no substrato, conforme mostra a
Tabela 6.



Tabela 6. Resultados preliminares do desempenho de biodigestores modelo Indiano e Chins,
com capacidade de 5,5 m
3
de biomassa, operados com esterco bovino.
Biodigestor

Chins Indiano
Reduo de Slidos (%) 37 38
Produo Mdia de Biogs
(m
3
/dia)
2,7 3,0
Produo Mdia de
Substrato (1m
-3
)
489 538
Fonte: JNIOR, 1987.

3.1.1.3 Biodigestor Modelo RAFA (Reator Anaerbio de Fluxo Ascendente)

O biodigestor modelo RAFA (Figura 8), cuja sigla original UASB (Up-flow Anaerobic
Sludge Blanket) foi desenvolvido por Lettinga. um biodigestor com reteno interna de lodo,
com a incorporao de um separador diferente para os slidos suspensos e para o gs
(LETTINGA et al., 1980).































Figura 8. Biodigestor modelo RAFA.
Fonte: Adaptao de VITORATTO, 2004.

Esse biodigestor, de certa forma, revolucionou a rea de tratamento de efluentes, pois
passou a oferecer muitas vantagens que at ento no se tinha, como baixo custo operacional,
baixo consumo de energia, maior estabilidade do processo, entre outras (HIRATA et al., 1986).
Este tipo de biodigestor vem sendo empregado para o tratamento de esgoto domstico.
Sua eficincia tem sido demonstrada para esgoto bruto, tanto temperatura controlada (VIEIRA
et al., 1987) quanto sem controle de temperatura (BARBOSA, 1988).
O princpio do biodigestor RAFA baseia-se no fluxo ascendente do efluente a ser tratado,
o qual alimentado pelo fundo do reator e atravessa um leito de biomassa ativa, sendo descartado
aps passar por um sistema de placas defletoras colocadas no topo do biodigestor, separando as
fases lquida, slida e gasosa.
O decantador interno permite que as partculas de lodo retornem zona de digesto,
assegurando o tempo de reteno adequada de slidos e a obteno de altas concentraes de
lodo anaerbio no biodigestor.
Decantador
Afluente
Efluente
Gs
Manta de Lodo
Leito de Lodo


O biodigestor RAFA, dotado de um sistema apropriado de distribuio da vazo de
alimentao, dispensa a recirculao do efluente para fins de fluidificao, pois o contato
necessrio entre a gua residual e o lodo eficiente, uma vez que o prprio gs gerado no seio da
manta de lodo suficiente para manter o lodo fluidizado e garantir um bom nvel de mistura.
O volume deste tipo de biodigestor, em relao a outros, sensivelmente menor, o que o
torna extremamente eficiente, em virtude da reteno do lodo por perodos longos (semanas,
meses ou at mesmo anos), enquanto que o tempo de reteno da parte lquida pode ser baixo
(horas).
Para o dimensionamento de um biodigestor modelo RAFA, emprega-se os seguintes
parmetros (VITORATTO, 2004):

Carga Orgnica Aplicada:
Para despejos concentrados valor mximo de 6 a 8 kg DQO/m
3
dia
Para despejos com baixa concentrao, em torno de 1,5 kg DQO/m
3
dia
Altura do Biodigestor:
Para despejos concentrados mxima altura de 5 a 6 m
Para despejos com baixa concentrao de 3 a 4 m
A distribuio de fundo do biodigestor deve ser a mais uniforme:
Para despejos com alta concentrao 7 a 10 m
2

Para despejos com baixa concentrao 1 a 3 m
2

Sada do Lquido:
A sada do lquido ocorre pela parte superior, fluxo ascendente e deve ser a mais uniforme
possvel. Recomenda-se vertedores regulveis para o ajuste do fluxo do lquido.

3.2 Tecnologias Disponveis para Converso em Energia Eltrica

Existem diversas tecnologias para efetuar a converso energtica do biogs. Entende-se
por converso energtica o processo que transforma um tipo de energia em outro. No caso do
biogs a energia qumica contida em suas molculas convertida em energia mecnica por um
processo de combusto controlada. Essa energia mecnica ativa um gerador que a converte em
energia eltrica.


O biogs poder ser utilizado, tambm, na queima direta em caldeiras para cogerao.
Pode-se mencionar o surgimento de tecnologias promissoras, porm, no comerciais atualmente,
como o da clula combustvel, enquanto que as turbinas a gs e os motores de combusto interna
do tipo ciclo Otto, so as tecnologias mais utilizadas para esse tipo de converso energtica.

3.2.1 Turbinas a Gs

Turbinas a gs (Figura 9) para gerao estacionria foram desenvolvidas a partir das
turbinas usadas em aviao, onde o fludo o gs da cmara de combusto. So compostas de um
compressor de ar, cmara de combusto e turbina. O compressor acionado pela prpria turbina.
Na turbina a gs estacionria, o dimensionamento feito para que os gases de exausto da turbina
saiam em velocidade baixa, aumentando a gerao de energia da turbina e, portanto, gerando um
excedente de energia para o gerador. H modelos adaptados para a gerao com biogs como os
da Solar Turbines e do Grupo Caterpillar (WYLEN, 1995).


Figura 9. Turbina a gs.
Fonte: SOLAR TURBINES, 2005.


3.2.2 Turbinas de Ciclo Brayton

O ciclo Brayton (Figura 10), de turbina a gs, vem se tornando um mtodo cada vez mais
utilizado para gerao de energia. Neste tipo de mquina, o ar atmosfrico continuamente
succionado pelo compressor, onde comprimido para alta presso. O ar comprimido entra na
cmara de combusto (ou combustor), misturado ao combustvel e ocorre a combusto,
resultando em gases com alta temperatura. Os gases provenientes da combusto se expandem


atravs da turbina e se descarregam na atmosfera. Parte do trabalho desenvolvido na turbina
usado para acionar o compressor, o restante utilizado para acionar um gerador eltrico ou um
dispositivo mecnico. Os dois esquemas de turbinas ciclo Brayton so apresentados na Figura 10.
A Figura 11 mostra o diagrama simplificado do Ciclo Brayton.

Ciclo Brayton aberto e simples Ciclo Brayton com cogerao


Figura 10. Esquemas de turbinas Ciclo Brayton.
Fonte: SERVICE ENERGY, 2005.



Figura 11. Diagrama simplificado do Ciclo Brayton.
Fonte: SCHECHTMAN e CECCHI, 1994.

2
1
3
4
2
P1
P2
4
T
S
4
Cmara de
Combusto
Combustvel
Atmosfera
Compressor
Turbina
Gerador
Ar
1
2
3
Gerador
Eltrico


Este tipo de ciclo chamado de ciclo Brayton simples e aberto, existindo variaes que
so mostradas adiante. O rendimento trmico do ciclo Brayton de aproximadamente 35%, mas,
atualmente, existem turbinas que atingem um rendimento de 41,9%. A cogerao neste ciclo
obtida atravs da adio ao ciclo de uma caldeira de recuperao de calor. Neste caso, os gases de
exausto da turbina so direcionados para a caldeira, de modo a gerar vapor. Este vapor ento
utilizado no processo industrial.

3.2.3 Microturbinas a Gs

As microturbinas so pequenas turbinas de combusto que operam na faixa de 20 a 250
kW, com elevadas velocidades de rotao e com diversos tipos de combustvel, como gs natural,
biogs, GLP (gs liquefeito de petrleo), gs de poos de petrleo e plataformas offshore,
diesel/gas oil e querosene.
Nas microturbinas o ar aspirado e forado para o interior da turbina a alta velocidade e
alta presso. O ar misturado ao combustvel e queimado na cmara de combusto, onde o
processo de queima controlado para se obter a mxima eficincia e baixos nveis de emisso.
Os gases produzidos na queima sofrem expanso nas palhetas da turbina, produzindo trabalho. Os
gases no aproveitados so exauridos para a atmosfera. A Figura 12 mostra os componentes do
sistema de uma microturbina.




Figura 12. Componentes do sistema da microturbina.
Fonte: MONTEIRO, 2004.

3.2.4 Motores de Combusto Interna

Em 1867, Nikolaus August Otto, um engenheiro alemo, desenvolveu o ciclo Otto de
quatro tempos, que largamente utilizado em transportes at nos dias de hoje.
O motor a diesel surgiu em 1892 com outro engenheiro alemo, Rudolph Diesel. O motor
a diesel projetado para ser mais pesado e mais potente do que os motores a gasolina e utiliza
leo como combustvel. Eles so usados em mquinas pesadas, locomotivas, navios e em alguns
automveis. A Figura 13 representa esquematicamente o funcionamento de um motor diesel.

Controlador de
potncia
Microturbina
Entrada de ar
Exausto
Painel de
controle
0-30; 0-60 kW
400-480 VAC/DC
Entrada de
combustvel






Figura 13. Representao esquemtica do funcionamento de um motor diesel.
Fonte: DANTE, 2003.

So motores que se aproximam do ciclo de combusto interna da ignio por centelha.
Seu rendimento funo apenas da relao de compresso (WYLEN, 1995). Aplicam-se tanto
para gerao de energia eltrica, pelo acoplamento de um gerador ao motor, quanto gerao de
energia mecnica, que pode ser empregada no acionamento de bomba hidrulica, compressor ou
veculo.
A diferena bsica entre o ciclo Otto e o Diesel est na forma em que ocorre a combusto.
No ciclo Diesel, a combusto ocorre pela compresso do combustvel na cmara de combusto,
enquanto no ciclo Otto, a combusto ocorre pela exploso do combustvel atravs de uma fagulha
na cmara de combusto. O ciclo Otto consiste em expanso/resfriamento adiabtico, seguido de
resfriamento a volume constante, aquecimento/compresso adiabtico e aquecimento a volume
constante. A vlvula de entrada de ar abre no tempo preciso para permitir a entrada de ar
(misturado ao combustvel) no cilindro. A vela d ignio na mistura no cilindro, o que cria a
exploso. A fora da exploso transferida ao pisto. O pisto desce e sobe em um movimento
peridico. A fora do pisto transferida atravs da manivela para o eixo de transmisso. A
Figura 14 mostra o funcionamento de um motor ciclo Otto.




Figura 14. Desenho esquemtico do funcionamento de um motor Otto.
Fonte: BERTULANI, 2002.

3.3 Comparao entre as Tecnologias de Converso

3.3.1 Tecnologias Disponveis Comercialmente

a) Motores a Gs
Potncia de 30 kW 20 MW
Rendimento com biogs em torno de 30 a 34%
Emisses de NOx:
Menores que 3.000 ppm (EPA, 1994)
Motores com baixa emisso: menores que 250 ppm

b) Motores Diesel: Biogs + Diesel
Rendimento de converso eltrica em torno de 30 a 35%
Necessidade de diesel com baixo teor de enxofre
Emisso de NOx:
Mdia em torno de 27 ppm




c) Turbinas a Gs para Biogs de Pequeno Mdio Porte
Potncia de 500 kW 150 MW
Rendimento em torno de 20 a 30%
Emisses de NOx:
Mdia em torno de 35 a 50 ppm

d) Microturbinas (CAPSTONES)
Potncia de 30 kW 100 kW
Rendimento em torno de 24 a 28%
Emisses de NOx:
Menores que 9 ppm

Para a converso energtica do biogs, os motores possuem maior eficincia. J as
turbinas a gs possuem maior eficincia global de converso, quando operadas em cogerao
(calor e eletricidade).














4. ASPECTOS ECONMICOS

4.1 Aspectos Econmicos da Produo de Biogs e da sua Utilizao na Gerao de Energia
Eltrica

Segundo Lima (2005) o consumo de energia em um sistema de tratamento de efluente
lquido ocorre na construo e na operao do sistema. Durante a construo, gasta-se energia nas
diversas etapas da execuo da obra: terraplanagem, concretagem, transporte de material. Na
operao do sistema utiliza-se energia nos equipamentos eltricos, para o bombeamento, aerao
e no transporte de lodo para recirculao.
O processo anaerbio pode funcionar sem a necessidade de equipamentos que produzem
agitao no biodigestor. Sendo assim, o efluente forado a atravessar o lodo, apenas por um
sistema de bombeamento.
As tecnologias utilizadas no processo de tratamento de efluentes lquidos devem ser
analisadas tomando-se como base determinados parmetros definidos pelos princpios de
sustentabilidade sob o ponto de vista econmico, social e ambiental. Como cada indicador de
sustentabilidade depende de uma srie de fatores particulares, optou-se por analis-los
separadamente. A relao apresentada a seguir defini os parmetros selecionados para avaliao e
comparao das tecnologias (ENGENHARIA & PROJETOS, 2001):

rea ocupada pela ETE (Estao de Tratamento de Efluente) este parmetro
depende da vazo nominal a ser tratada e da tecnologia empregada para o tratamento. Para
comparao das tecnologias quanto rea ocupada pela ETE conveniente analisar a relao
entre a rea necessria e o nmero de habitantes atendidos. Desta forma, ao se comparar dois ou
mais processos de tratamento, ser mais vivel aquele que apresentar o menor valor para essa
relao ocupada pela ETE;
Custo de implantao deve-se considerar que, na maioria das vezes, os recursos
financeiros disponveis so limitados, principalmente em algumas regies brasileiras. Assim,
quanto mais baixo o custo, maior ser a oportunidade de implantao. O custo varia de acordo
com a tecnologia escolhida, o grau de automao desejado, a vazo tratada e a eficincia desejada


para o tratamento. Para quantificar esse parmetro deve-se estabelecer a relao entre o custo e o
numero de habitantes atendidos;
Potncia instalada a potncia instalada de um sistema de tratamento de efluente
lquido funo do tipo de tecnologia escolhida, da carga orgnica dos esgotos a serem tratados e
da vazo nominal do sistema. Outros fatores como a produo e tipo de tratamento dos lodos
gerados pelo sistema so importantes. Para avaliao numrica deste parmetro deve-se
estabelecer a relao entre a potncia dos equipamentos mecnicos instalados e o numero de
habitantes atendidos;
Consumo de energia o consumo de energia eltrica fator de grande importncia no
custo operacional do sistema. Depende da potncia instalada e do perodo de funcionamento dos
equipamentos. A avaliao deste parmetro deve ser feita pela relao entre o consumo anual de
energia eltrica e o numero de habitantes atendidos;
Produo de lodo constitui-se num dos fatores de maior importncia nos custos de
operao do sistema. Depende fundamentalmente do tipo de tecnologia empregada, da carga
orgnica, grau de eficincia desejado e vazo tratada. Deve ser avaliado pela relao entre a
massa de slidos produzida e o numero de habitantes atendidos;
Remoo de nutrientes a presena de nutrientes como nitrognio e fsforo nos
esgotos tratados pode constituir-se em fator de grande importncia na eutrofizao
11
dos corpos
dgua receptores. Sua remoo geralmente feita em unidades de tratamento complementares
do processo ou atravs de estratgias operacionais especficas para essa finalidade e, assim,
constitu-se um fator interferente nos custos de implantao e operao do sistema. Deve ser
avaliado individualmente para cada parmetro, classificando-se como alta, remoes superiores a
80%; mdia, entre 50 e 80% e baixa, para valores inferiores a 50%;
Simplicidade operacional fundamental para o bom funcionamento da ETE que o
sistema seja de fcil operao, manuteno e controle. A simplicidade operacional depende da
tecnologia empregada no tratamento e dos equipamentos incorporados no sistema. Em geral,
quanto maior a automao na operao do sistema, menor o risco. Deve-se ressaltar que o grau de

11
Processo que favorece o crescimento de determinadas espcies vegetais, incluindo algas e infestantes, pelo
enriquecimento da gua em nutrientes, especialmente azoto e fsforo, resultante da contaminao de origem
industrial e agrcola, com efeitos negativos sobre o equilbrio dos ecossistemas (diminuio dos nveis de oxignio e
do pH das guas; em situaes extremas, pode haver perda da fauna, flora e da qualidade da gua para consumo
humano). Fonte: http://www.confagri.pt/Ambiente/Glossario/


automao de ETE est diretamente relacionado aos recursos financeiros disponveis para a sua
construo;
Vida til a vida til de uma ETE depende da manuteno, da fiscalizao do
processo construtivo e da variao das condies ambientais interferentes. Este parmetro
avaliado pelo nmero de anos em que a estao de tratamento cumpre com a eficincia necessria
vazo de efluente lquido gerado pela populao atendida.

Segundo Johansson et al. (1993), os custos operacionais para produo de biogs numa
planta UASB, de mdio porte, situam-se entre US$ 0,03 e US$ 0,05 Nm
3
para plantas de grande
porte esses custos podem baixar para cerca de US$ 0,02/m
3
.
Para a gerao de energia eltrica a partir de biogs, o primeiro fator econmico a ser
analisado o da utilizao de um gs combustvel de baixo custo, uma vez que o biogs um
subproduto de um processo de digesto anaerbia e que normalmente desprezado, ora emitido
diretamente na atmosfera agravando o impacto ambiental por meio da emisso de gases efeito
estufa, ora pela queima em flares para minimizar o impacto ambiental.
O biogs pode ser utilizado como combustvel tanto em unidades de tratamento anaerbio
de efluentes, como em aterros sanitrios, apresentando diferentes perspectivas para cada um
desses segmentos. No primeiro caso, este insumo pode contribuir sensivelmente para a
diminuio do consumo de eletricidade em ETEs, otimizando o uso dos recursos naturais, dada a
estreita relao existente entre a gerao de eletricidade e os recursos hdricos nacionais. Vale
ressaltar, porm, que o volume de biogs gerado no tratamento anaerbio no permite a auto-
suficincia da operao da ETE (COELHO et. al., 2003b).
No segundo caso, o volume de biogs gerado pode permitir, alm da auto-suficincia
energtica, a gerao de excedentes que podem ser comercializados, proporcionando uma receita
adicional. Porm, para isso, necessrio que os aterros tenham uma estrutura adequada e
condies para a comercializao dos excedentes gerados, permitindo atrativas taxas de retorno
frente aos investimentos (COELHO et. al., 2004c).
O custo de produo da eletricidade com aproveitamento do biogs composto do capital
investido na construo e manuteno do biodigestor e do sistema de converso energtica.
A quantidade de biogs gerado depende de determinados fatores, dentre eles, o tempo de
funcionamento do biodigestor, sob condies adequadas de operao e manuteno. O biogs


produzido pode ser utilizado diretamente no sistema de converso energtica, ou ento, ser
armazenado em um gasmetro antes de alimentar o sistema. Vale ressaltar que h necessidade de
purific-lo antes de converte-lo em energia eltrica. Quanto menor for o tempo anual de operao
do biodigestor, maior ser o custo de gerao de energia eltrica, aumentando, com isso, o tempo
de retorno do investimento.
Para os clculos abaixo, pode-se utilizar uma taxa de desconto de 16,22%
12
, a qual seria a
taxa usual de financiamento do governo federal para o setor eltrico. Os gastos com O&M
(Operao e Manuteno) durante o ano representam cerca de 4% do investimento total (SOUZA
et. al., 2004). Por meio da tarifa de energia paga pela ETE, possvel obter o tempo de retorno do
investimento. O custo de produo de energia eltrica via biogs dado por:


PE
CAB CAG
Ce
+
= (1)

Em que
Ce custo de energia eltrica produzida via biogs (R$/kWh)
CAB gasto anual com biogs (R$/ano)
CAG custo anualizado do investimento no sistema de converso energtica (R$/ano)
PE produo de eletricidade pela planta de biogs (kWh/ano)

Onde,

OM CIG FRC CIG CAG + = (2)

CNB CB CAB = (3)

Em que
CIG custo do investimento do sistema de converso energtica (R$)

12
Utiliza-se como base para essa taxa de desconto a remunerao de um ttulo pblico brasileiro (15,75% lastreado
pela SELIC) + um spread de 3% pelos riscos inerentes a esse tipo de projeto. Normalmente, no segmento energtico,
essa a taxa requerida de retorno para a inverso de capital em projetos de escala pequena.



OM porcentagem de custo de operao e manuteno em relao ao investimento total
(%/ano)
CB custo do biogs (R$/m
3
)
CNB consumo de biogs pelo sistema de converso energtica (m
3
/ano)

A PE ( capacidade de produo de eletricidade) dada por:

F Pot PE = (4)

Onde,
Pot potncia nominal da planta (kW)
F fator de capacidade, considerando a quantidade mdia de eletricidade que pode ser
gerada em um ano, dividido pela eletricidade gerada se a planta operasse o ano todo a
plena capacidade
O fator de recuperao de capital dado por:


( )
( ) 1 1
1
1
+
+
=
n
n
J
J J
FRC (5)

Onde,
FRC fator de recuperao de capital
J taxa de desconto (% ano)
n = tempo de vida til da planta

O custo do biogs dado por:


PAB
CAI
CB = (6)

Onde,
CAI custo anualizado do investimento no biodigestor (R$/ano)


PAB produo anual de biogs (m
3
/ano)

OM CIB FRC CIB CAI + = (7)

Onde,
CIB custo de investimento no biodigestor (R$)

Para se verificar a viabilidade de gerao de energia eltrica, determina-se o tempo de
retorno simples do investimento (TRI):


EEE
CIG
TRI = (8)

Em que:
CIG custo do investimento do sistema de converso energtica (R$)
EEE economia de energia eltrica na ETE (R$/ano)
TRI tempo de retorno de investimento (ms)


CEE
PE GEE
EEE

= (9)
Onde:
GEE gastos com energia eltrica na ETE (R$/ms)
PE produo de eletricidade pela planta de biogs (kWh/ano)
CEE consumo de energia eltrica na ETE (kWh/ms)

4.2 Comparao Econmica entre as Tecnologias de Converso Energtica do Biogs

Para comparao entre as tecnologias pode-se citar o projeto ENERG-BIOG Instalao
e Testes de uma Unidade de Demonstrao de Gerao de Energia Eltrica a partir de Biogs de
Tratamento de Esgoto, desenvolvido pelo CENBIO, financiado pela FINEP (Financiadora de
Estudos e Projetos) / CT ENERG, mediante convnio n 23.01.0653.00, e pela SABESP
(Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo).


O referido projeto (Figura 15), pioneiro na Amrica Latina, visou analisar a performance
de microturbinas e motores ciclo Otto para gerao de energia eltrica com biogs e a
possibilidade de utilizao destas tecnologias em outras ETEs do Estado de So Paulo. Para isso,
cerca de 20 m
3
/h do biogs produzido na ETE da SABESP, em Barueri SP, alimenta uma
microturbina e um grupo gerador (ciclo Otto), em paralelo, ambos de 30 kW.


Figura 15. Instalao do projeto ENERG-BIOG.
Fonte: CENBIO, 2004e.

Os grupos geradores possuem custos de implementao, operao e manuteno
inferiores aos das turbinas e microturbinas, de 350,00 a 1.500,00 US$/kW instalado e de 3.000,00
a 4.000,00 US$/kW instalado (CENBIO, 2004e), respectivamente. Isso se deve s diferenas
entre cada tipo de tecnologia (componentes internos, tipo de material, princpio de
funcionamento, etc.), bem como suas especificaes de operao (presso, temperatura,
composio especfica do gs, etc.) e manuteno (peridica, preventiva, corretiva e vida til do
equipamento).

4.2.1 Gerao de 30 kW (ISO) com uma Microturbina

Consumo especfico do biogs
Durante os testes de desempenho da microturbina, verificou-se que o consumo especfico
de biogs variava em funo da potncia exigida pelo equipamento. A Figura 16 mostra os dados
coletados.



Consumo Especfico da Microturbina
y = 1,5653x - 4,3098
0
5
10
15
20
25
30
0 5 10 15 20 25
Vazo (m3/h)
E
n
e
r
g
i
a

E
l

t
r
i
c
a

G
e
r
a
d
a

(
k
W
h
)

Figura 16. Consumo especfico da microturbina.
Fonte: CENBIO, 2006i.

Sendo assim, torna-se possvel verificar o padro de consumo especifico mdio da
microturbina, que se encontra na Tabela 7, bem como a relao entre a vazo de biogs
consumido pela microturbina e a energia eltrica lquida entregue rede (Tabela 8).

Tabela 7. Relao entre a vazo de biogs consumido pela microturbina e a energia eltrica
gerada pela mesma.
R
1
= m
3
/kW
Mnima 0,7985
Mxima 1,6641
Mdia 0,9871
Fonte: CENBIO, 2006i.





Onde,
R
1
= relao emprica entre a vazo de biogs consumido pela microturbina (m
3
/h) e a
energia eltrica gerada pela mesma (kWh).

Tabela 8. Relao entre a vazo de biogs consumida pela microturbina e a energia eltrica
lquida entregue rede [Microturbina (Compressor + Secador A + Secador B)].
R
1
= m
3
/kW
Mnima 1,2181
Mxima 1,7367
Mdia 1,5525
Fonte: CENBIO, 2006i

Onde,
R
1
= relao emprica entre a vazo de biogs consumido pela microturbina (m
3
/h) e a
energia eltrica lquida entregue rede (kWh), ou seja, a energia gerada pela microturbina,
descontando-se a energia consumida pelo sistema de compresso e purificao do biogs,
compostos pelos dois secadores por refrigerao e o compressor.

Energia eltrica lquida
A energia eltrica lquida entregue pelo sistema deve levar em conta a energia gerada pela
microturbina, descontando-se a energia eltrica consumida pelo compressor e pelos dois
secadores do biogs por refrigerao. Dessa forma, tem-se que:
M
eem
Mdia da energia eltrica gerada pela microturbina por hora = 25,0 kWh;
M
eecc
Mdia da energia eltrica consumida pelo compressor por hora = 4,45
kWh;
M
eecsA
Mdia da energia eltrica consumida pelo secador A por hora = 0,65
kWh;
M
eecsB
Mdia da energia eltrica consumida pelo secador B por hora = 0,40
kWh.



Assim sendo, torna-se possvel calcular a energia eltrica lquida entregue rede pelo
sistema:

Energia eltrica lquida entregue rede (kWh) = ( ) MeecsB MeecsA Meecc Meem + + (10)
Energia eltrica lquida entregue rede (kWh) = 25 (4,45 + 0,65 + 0,40)
Energia eltrica lquida entregue rede (kWh) = 19,5 kWh

Anlise econmica
Para o incio da avaliao dos dados obtidos durante o projeto, consideramos a vida til
da microturbina em 40.000 horas, de acordo com seu fabricante. A Tabela 9 mostra os custos
com os equipamentos, materiais e acessrios realmente necessrios para a gerao de energia
eltrica a partir do biogs de tratamento de esgoto, utilizando uma microturbina de 30 kW de
potncia nominal. No foram considerados os custos com automao e monitoramento.

Tabela 9. Custo dos equipamentos, materiais e acessrios para a gerao de energia eltrica, a
partir do biogs de tratamento de esgoto, utilizando uma microturbina de 30 kW.
Equipamentos Modelo Quant. Custo (R$)*
Microturbina de 30 kW a Biogs C330 1 109.756,10
Compressor de Palhetas V04G 1 24.630,30
Secador por Refrigerao CRD0230 1 3.800,00
Secador por Refrigerao CRD0055 1 1.600,00
Filtro Coalescente CF0036 3 2.400,00
Filtro de Carvo Ativado CF0036 1 800,00
Tubulao Ao inox 20 m 1.800,00
Vlvulas esfera Ao inox 6 720,00
Conexes Ao inox 7 140,00
Tubulao de exausto com isolamento trmico Ao carb. 4 m 2.400
Obra civil Concreto 18 m
2
3.000,00
Investimento total em equipamentos 151.046,40
(*) Os preos acima descritos foram baseados no Dlar comercial de venda do dia 01/04/2002 (1 US$ = 2,2935 R$) e
no incluem IPI.
Fonte: CENBIO, 2006i.


De posse do custo total de investimento em equipamentos, pode-se calcular a relao de
custo por kW instalado.
( )
Instalada Potncia
os equipament em total to Investimen
kW R R


= / $
2
(11)

( )
30
40 , 046 . 151
/ $
2
= kW R R

88 , 034 . 5
2
= R R$/kW

Foi considerado que a microturbina tem potncia de 30 kW nas condies ISO, ou seja,
presso de 1 atmosfera (nvel do mar) e temperatura de 15 C. No caso da microturbina instalada
na ETE da SABESP, em Barueri, deve-se considerar as variaes de presso e temperatura,
fatores que causam perda no rendimento do equipamento, reduzindo a potncia mxima a 28 kW.
A energia eltrica mdia gerada pela microturbina foi considerada sendo 25 kWh por hora, pois
90% de carga a faixa de melhor rendimento do equipamento. Para isso estamos admitindo que a
turbina opera sem paradas durante o ano todo (o que pode ser uma hiptese otimista) Porm,
tambm deve ser levado em conta que, para a operao adequada da microturbina, torna-se
necessria a utilizao do sistema de purificao e compresso do biogs, que incluem
equipamentos como os secadores por refrigerao e o compressor, que consomem energia eltrica
em mdia 5,5 kWh por hora. Sendo assim, a energia eltrica lquida entregue rede de 19,5
kWh por hora.
Portanto, a partir da anlise tcnica e admitindo-se trs cenrios, tem-se que:

Energia eltrica horria gerada pela microturbina (Eg):
Mnima: 23 kWh
Mxima: 28 kWh
Mdia: 25 kWh
Energia eltrica horria consumida pelos dois secadores e pelo compressor (Ec):
Mnima: 4,5 kWh
Mxima: 6,5 kWh


Mdia: 5,5 kWh

Com base nesses dados foi possvel calcular a energia eltrica lquida horria (E.E.L.)
entregue rede:
Ec Eg L E E = . . . (12)
5 , 5 25 . . . = L E E
5 , 19 . . . = L E E kWh

Com base nesses clculos, surge uma nova relao de custo pelo kW instalado:

( )
Instalada Potncia
os equipament em total to Investimen
kW R R


= / $
'
2
(13)

( )
5 , 19
40 , 046 . 151
/ $
'
2
= kW R R

97 , 745 . 7
'
2
= R R$/kW

4.2.2 Gerao de 30 kW (ISO) com um Grupo Gerador

Consumo especfico do biogs
A Tabela 10 apresenta a vazo de biogs consumido pelo grupo gerador e a energia
eltrica gerada pelo mesmo.

Tabela 10. Relao entre a vazo de biogs consumido pelo grupo-gerador e a energia eltrica
gerada pelo mesmo.
R
1
= m
3
/kW
Mnima 0,3
Mxima 0,5
Mdia 0,4
Fonte: CENBIO, 2006i.


Onde,
R
1
= relao emprica, de acordo com o fabricante do equipamento, entre a vazo de
biogs consumido pelo grupo gerador (m
3
/h) e a energia eltrica gerada pelo mesmo (kWh).

Energia eltrica lquida
A energia eltrica lquida entregue pelo sistema levou em conta a energia gerada pelo
grupo gerador, descontando-se somente a perda na eficincia do equipamento devido variao
de presso e temperatura, fatores estes que acabam reduzindo a capacidade horria de gerao de
energia mxima para um valor entre 25 e 28 kWh.

Anlise econmica
Para a avaliao do custo de gerao com um grupo gerador foi considerada a vida til do
equipamento de 5.000 horas, de acordo com seu fabricante. Os custos totais com equipamentos,
materiais e acessrios foram de R$ 24.680,00 (Tabela 11). No foram considerados os custos
com automao e monitoramento.

Tabela 11. Custo dos equipamentos, materiais e acessrios para a gerao de energia eltrica, a
partir do biogs de tratamento de esgoto, utilizando uma grupo gerador de 30 kW.
Equipamentos Modelo Quant. Custo (R$)*
Grupo gerador de 30 kW a Biogs Triernet 1 21.200,00
Tubulao Ao inox 4 m 360,00
Vlvulas esfera Ao inox 2 240,00
Conexes Ao inox 4 80,00
Tubulao de exausto com isolamento trmico Ao carb. 3 m 1.800,00
Obra civil Concreto 6 m
2
1.000,00
Investimento total em equipamentos 24.680,00
(*) Os preos acima descritos foram baseados no Dlar comercial de venda do dia 01/04/2002 (1 US$ = 2,2935 R$) e
no incluem IPI.
Fonte: CENBIO, 2006i.

De posse do custo total de investimento em equipamentos, pde-se calcular a relao de
custo pelo kW instalado:



( )
Instalada Potncia
os equipament em total to Investimen
kW R R


= / $
3
(14)

( )
30
00 , 680 . 24
/ $
3
= kW R R

67 , 822
3
= R R$/kW

Outro fator considerado que o grupo gerador tem potncia de 30 kW nas condies
estabelecidas pelo seu fabricante, ou seja, presso de 1 atmosfera (nvel do mar) e temperatura de
20 C. No caso do grupo gerador instalado na ETE da SABESP, em Barueri, tambm se
considerou uma variao de presso e temperatura, fatores estes que causam uma perda no
rendimento do equipamento, reduzindo a potncia lquida a valores entre 25 e 28 kW.
Com base nessa afirmao, surgiu uma nova relao de custo pelo kW instalado:

( )
Gerada Potncia
os equipament em total to Investimen
kW R R


= / $
'
3
(15)

( )
25
00 , 680 . 24
/ $
'
3
= kW R R

20 , 987
'
3
= R R$/kW

O tempo de vida til do grupo gerador equivale a 1/8 do da vida til da microturbina. Isso
implica, por uma questo de equivalncia, a correo das relaes de custo pelo kW instalado de
8 vezes. Contudo, o recondicionamento do grupo gerador equivale a 1/3 do custo inicial,
enquanto que no caso da microturbina, a troca do corpo da turbina representa um valor
semelhante ao do investimento inicial. Para um regime de 40.000 horas de operao, no caso do
motor, foi considerado um investimento inicial de R$ 24.680,00 (TE) mais 7 vezes o valor do
recondicionamento do motor (RE). O Valor Presente desses gastos obtido considerando que


cada recondicionamento feito aps 4.000 horas (meio ano) e, portanto o custo de cada
recondicionamento trazido ao ano inicial considerando a taxa de juros suposta (16,22% a.a.)
aplicada a cada investimento em valor que represente o nmero de anos aps o qual feito (para
meio ano assumimos taxa de 7,80% (JS):

( )
Instalada Potncia
JS
RE
JS
RE
JS
RE
JS
RE
TE
kW R R

+
+ +

+
+

+
+

+
+
=
7 3 2
4
100
1
100
1
100
1
100
1
/ $

(16)

( )
30
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
00 , 680 . 24
/ $
7 3 2
4

+
+ +

+
+

+
+

+
+
=

kW R R

( )
30
63 , 125 . 43 00 , 680 . 24
/ $
4
+
= kW R R

19 , 260 . 2
4
= R R$/kW


( )
Gerada Potncia
JS
RE
JS
RE
JS
RE
JS
RE
TE
kW R R

+
+ +

+
+

+
+

+
+
=
7 3 2
'
4
100
1
100
1
100
1
100
1
/ $

(17)

( )
25
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
100
80 , 7
1
67 , 226 . 8
00 , 680 . 24
/ $
7 3 2
4

+
+ +

+
+

+
+

+
+
=

kW R R

( )
25
63 , 125 . 43 00 , 680 . 24
/ $
'
4
+
= kW R R



23 , 712 . 2
'
4
= R R$/kW

4.2.3 Custo de Operao e Manuteno dos Sistemas

Para o levantamento dos custos de operao e manuteno foi necessrio computar os
custos de operao, referentes aos gastos com a mo de obra para operar o sistema e o custo do
combustvel necessrio. Os custos de manuteno so referentes aos gastos com substituio de
filtros, injetores e qualquer outro tipo de componente.
Em ambos os casos analisados, os custos de mo-de-obra e combustvel foram
considerados nulos. No se atribuiu valores mo-de-obra para operao, uma vez que essa
atividade foi incorporada rotina de trabalho j existente na planta, no sendo necessria a
contratao de novos funcionrios. O custo do combustvel foi considerado nulo em funo da
disponibilidade de biogs na ETE da SABESP, em Barueri, tendo em vista que o gs gerado um
subproduto do processo anaerbio de tratamento de esgoto na estao.

4.2.3.1 Custo de Operao e Manuteno da Microturbina

Para o levantamento dos custos de manuteno da microturbina, foram considerados os
padres indicados no Manual de Servios, fornecido pelo fabricante, e seus respectivos
indicadores de inspeo, intervalos de manuteno e troca de componentes. Os custos
relacionados aos itens listados na Tabela 12, fornecidos pela ENEDIS, representante de
microturbinas na Amrica Latina, consideram os custos individuais dos componentes, impostos
com importao, despesas alfandegrias e impostos locais.








Tabela 12. Manuteno preventiva da microturbina.
MICROTURBINA
Componente
Inspeo e
intervalo
Manuteno e
intervalo
Custo
O&M*
Custo O&M*
(vida til do
equipamento)**
Filtro de ar da
Turbina
Limpeza a cada 6
meses ou 4.000
horas
Troca a cada
8.000 horas
R$ 317,88 R$ 1.035,51
Filtro de admisso
de combustvel
(sistema interno de
gs)
Limpeza a cada 6
meses ou 4.000
horas
Inspecionar a
cada 20.000
horas
R$ 3.027,88 R$ 3.672,65
Filtro de admisso
de combustvel
(externo)
Limpeza a cada 6
meses ou 4.000
horas
Troca a cada
8.000 horas
R$ 3.085,67 R$ 10.051,76
Ignitor
(sistema de gs)
.....
Troca a cada
20.000 horas
R$ 979,32 R$ 1.187,86
Conjunto dos
injetores (sistema de
gs)
.....
Troca a cada
20.000 horas
R$ 3.018,25 R$ 3.661,00
TET Termopar
(sistema de gs)
.....
Troca a cada
20.000 horas
R$ 738,51 R$ 895,77
(*) Os preos acima descritos foram baseados no Dlar comercial de venda do dia 01/04/2002 (1 US$ =
2,2935 R$).
(**) O Custo O&M (vida til do equipamento) uma projeo do Custo O&M, ou seja, leva em
considerao os tempos de intervalos de manuteno de cada componente em funo do tempo de vida til da
microturbina, estimado em 40.000 horas, de acordo com o fabricante do equipamento, a valor presente.
Todos os valores foram calculados a partir da taxa de juros considerada 16,22% a.a., sendo que 8.000 horas
foi aproximado para 1 ano.
Fonte: CENBIO, 2006i.

Com base nestas informaes, foi calculado o custo total de operao e manuteno da
microturbina, no valor de R$ 20.504,55, para um regime de operao de 40.000 horas.
Para o levantamento dos custos de manuteno do sistema de purificao e compresso do
biogs, foram considerados os itens listados nos Manuais dos Equipamentos, fornecidos pelos
fabricantes, e seus respectivos indicadores de inspees, intervalos de manuteno e troca de
componentes. Foram considerados, tambm, custos individuais dos componentes, impostos com
importao, despesas alfandegrias e impostos locais (Tabela 13). Estes custos totalizaram R$
76.301,41, para um regime de 40.000 horas.



Tabela 13. Manuteno preventiva dos componentes do sistema de limpeza do biogs para a
microturbina.
SISTEMA DE PURIFICAO DO BIOGS PARA A MICROTURBINA
Componente
Inspeo e
intervalo
Manuteno e intervalo Custo O&M*
Custo O&M*
(vida til do
equipamento)**
Filtro Coalescente
1 (Bancada 1)
.....
Troca do elemento filtrante a cada
10.000 horas
R$ 802,73 R$ 2.129,51
Filtro de Carvo
Ativado (Bancada
1)
.....
Troca do carvo ativado a cada
10.000 horas
R$ 802,73 R$ 2.129,51
Secador por
Refrigerao 1
Verificar a tenso
a cada 2.000
horas
Limpeza interna e troca de peas
internas avariadas a cada 8.000 horas
R$ 3.807,21 R$ 12.402,22
Compressor de
Palhetas
Verificar a tenso
e trocar o leo a
cada 1.000 horas
Limpeza interna das vlvulas, do
elemento compressor e troca de peas
internas avariadas a cada 2.000 horas
R$ 3.296,10 R$ 46.845,50
Filtro Coalescente
2 (Bancada 2)
.....
Troca do elemento filtrante a cada
4.000 horas
R$ 802,73 R$ 5.435,31
Secador por
Refrigerao 2
Verificar a tenso
a cada 2.000
horas
Limpeza interna e troca de peas
internas avariadas a cada 8.000 horas
R$ 1.605,45 R$ 5.229,85
Filtro Coalescente
3 (Bancada 3)
.....
Troca do elemento filtrante a cada
10.000 horas
R$ 802,73 R$ 2.129,51
(*) Os preos acima descritos esto baseados no Dlar comercial de venda do dia 01/04/2002 (1 US$ =
2,2935 R$).
(**) O Custo O&M (vida til do equipamento) uma projeo do Custo O&M, ou seja, leva em
considerao os tempos de intervalos de manuteno de cada componente em funo do tempo de vida til da
microturbina, estimado em 40.000 horas, de acordo com o fabricante do equipamento, a valor presente.
Todos os valores foram calculados a partir da taxa de juros considerada 16,22% a.a., sendo que 8.000 horas
foi aproximado para 1 ano.

Fonte: CENBIO, 2006i.



De posse destes dados, pde-se calcular a relao de custo de operao e manuteno da
energia eltrica gerada. Para tanto, os seguintes dados foram considerados:
Custo total de operao e manuteno = 20.504,55 (R$) + 76.301,41 (R$) = R$
96.805,96
Mdia de energia eltrica lquida horria entregue rede pelo sistema = 19,5
kWh
Regime de operao = 24 horas
Vida til da microturbina = 40.000 horas


na microturbi da til Vida horria lquida eltrica energia de Mdia
M O de total Custo
R


=
&
5
(18)

( ) ( ) h kW
R
000 . 40 5 , 19
96 , 805 . 96
5

=

1241 , 0
5
= R R$/kWh

Custo de gerao da microturbina
O custo de gerao com a microturbina levou em conta o investimento total com
equipamentos da instalao, somando os custos de operao e manuteno, em funo da energia
eltrica disponibilizada pelo sistema, considerando seu regime de operao e o tempo de vida til
do equipamento gerador.


na microturbi da til Vida horria lquida eltrica energia de Mdia
M O de total Custo os equipament com total Custo
R

+
=
&
6
(19)

( ) ( ) h kW
R
000 . 40 5 , 19
96 , 805 . 96 40 , 046 . 151
6

+
=

3178 , 0
6
= R R$/kWh


4.2.3.2 Custo de Operao e Manuteno do Grupo Gerador

Para o levantamento dos custos de manuteno do grupo gerador, foram considerados os
itens listados no Manual do Equipamento, fornecido pelo fabricante, e seus respectivos
indicadores de inspeo, intervalos de manuteno e troca de componentes. Os custos
relacionados aos itens listados na Tabela 14, baseados em fornecedores de So Paulo, consideram
os custos individuais dos componentes e impostos locais.

Tabela 14. Manuteno preventiva do grupo-gerador.
GRUPO GERADOR
Componente
Inspeo e
intervalo
Manuteno e intervalo
Custo
O&M*
Custo O&M*
(vida til do
equipamento)**
leo
lubrificante
Troca do leo a
cada 200 horas
Troca do filtro a cada 400
horas
R$ 101,00 R$ 1.205,63
Filtro de ar
Limpeza a cada
1.000 horas
Troca do filtro a cada
2.000 horas
R$ 15,00 R$ 35,26
Sistema de
combustvel
Limpeza dos
filtros a cada 200
horas
Limpeza da vlvula de
gs a cada 2.000 horas
R$ 80,00 R$ 188,05
Sistema de
refrigerao
Verificar a tenso
da correia a cada
200 horas
Troca do lquido
refrigerante, da correia
dentada e do esticador da
correia a cada 1.000 horas
R$ 221,00 R$ 1.049,87
Alternador
Verificar
rolamentos a cada
400 horas
Troca da correia e do
jogo de velas a cada
1.000 horas e troca dos
rolamentos a cada 2.000
horas
R$ 298,00 R$ 700,50



Continuao Tabela 14. Manuteno preventiva do grupo-gerador.
GRUPO GERADOR
Rolamento do
gerador
Lubrificar a cada
1.000 horas
..... R$ 10,00 R$ 47,51
(*) Os preos acima descritos foram baseados no Dlar comercial de venda do dia 01/04/2002 (1 US$ =
2,2935 R$).
(**) O Custo O&M (vida til do equipamento) uma projeo do Custo O&M, ou seja, leva em
considerao os tempos de intervalos de manuteno de cada componente em funo do tempo de vida til do grupo
gerador, estimado em 5.000 horas, de acordo com o fabricante do equipamento, a valor presente.
Todos os valores foram calculados a partir da taxa de juros considerada 16,22% a.a., sendo que 8.000 horas
foi aproximado para 1 ano.
Fonte: CENBIO, 2006i.

Com base nestas informaes, obtm-se o custo total de operao e manuteno do
sistema do grupo gerador, ou seja, R$ 3.226,82 para um regime de operao de 5.000 horas.
De posse destes dados, pde-se calcular a relao de custo de operao e manuteno em
funo da energia eltrica gerada. Para tanto, os seguintes dados foram considerados:

Custo total de operao e manuteno = 3.400,00 (R$)
Mdia de energia eltrica lquida entregue rede pelo sistema = 25 kW
Regime de operao = 24 horas
Vida til do grupo gerador = 5.000 horas


gerador grupo do til Vida horria lquida eltrica energia de Mdia
M O de total Custo
R


=
&
7
(20)

( ) ( ) h kW
R
000 . 5 25
82 , 226 . 3
7

=

0258 , 0
7
= R R$/kWh

Custo de gerao do grupo gerador
O custo de gerao com o grupo gerador levou em conta o investimento total com
equipamentos da instalao, somando os custos de operao e manuteno, em funo da energia


eltrica disponibilizada pelo sistema, considerando seu regime de operao e o tempo de vida til
do equipamento gerador.
De posse dos dados, pde-se calcular a relao de custo total do sistema pelo kW gerado
pelo mesmo (R$/kWh).


gerador grupo do til Vida horria lquida eltrica energia de Mdia
M O de total Custo os equipament com total Custo
R

+
=
&
8
(21)

( ) ( ) h kW
R
000 . 5 25
82 , 226 . 3 00 , 680 . 24
8

+
=

2233 , 0
8
= R R$/kWh

4.3 Relao de Custos entre as Tecnologias

A partir dos dados apresentados, torna-se possvel calcular o fluxo de caixa para os dois
sistemas em questo. Entretanto, foram considerados os seguintes casos (COSTA, 2006):

Adotou-se o perodo de 3 meses para a construo das novas unidades;
Os valores referentes O&M da microturbina e do grupo gerador foram distribudos
durante os semestres dos projetos e considerados seus valores presentes;
O recondicionamento do grupo gerador feito em tempo desprezvel. A energia
gerada pelos equipamentos ser interligada rede, abatendo do consumo da estao.
Assim, a receita do projeto fica vinculada com a quantidade de energia deslocada da
rede, multiplicada pelo valor mdio da tarifa de energia cobrada pela concessionria s
ETEs de menor porte, adotado aqui como R$ 0,20 por kWh;
Energia eltrica horria lquida entregue rede pela microturbina: 19,5 kWh;
Energia eltrica horria lquida entregue rede pelo grupo gerador: 25 kWh;
A vida til da microturbina de 40.000 horas e do grupo gerador de 5.000 horas.
Para equalizar o perodo compreendido na anlise de investimento, o regime de 40.000
horas de operao ser adotado para ambos os casos;


Fator de capacidade de operao: 80% ou 0,8, considerando o tempo de 8.760 horas
por ano;
No haver financiamento;
Considera-se somente os custos de O&M e CAPEX
13

Taxa de juros adotada: 16,22%;
O modelo desconsidera a inflao durante o perodo analisado.

Diante do exposto, pode-se projetar o fluxo de caixa (Anexo A).
Por meio da anlise do Valor Presente Lquido (VPL) dos fluxos de caixa descontados,
prevalece a viabilidade do projeto que utiliza o grupo gerador em relao ao da microturbina,
pois apresenta um menor custo inicial atrelado aos menores custos de O&M. Assim, a vantagem
da utilizao da microturbina est relacionada diretamente questo ambiental, pois h menor
emisso de NOx.
Esta anlise permite concluir que o problema para ambas as tecnologias o preo elevado
dos equipamentos, em virtude da pequena escala de produo, necessitando maiores incentivos
para sua viabilizao em maiores quantidades.
Geralmente, a avaliao de equilbrio econmico leva em conta apenas os fatores que
compem o fluxo de caixa do empreendimento, que so o pagamento do financiamento somado
aos custos de manuteno mais as taxas, sendo compensados pela venda de eletricidade num
determinado perodo. A diferena dessa equao define o lucro que o investidor avalia ser ou no
compensador frente a outras opes de investimento (COSTA, 2006).
Atravs do fluxo de caixa, pode-se observar que essa prtica no economicamente
vivel.

4.4 Custo Mdio da Energia Eltrica Consumida pela ETE da SABESP em Barueri SP

O consumo de energia eltrica da ETE da SABESP, em Barueri, foi levantado por meio
de uma conta apresentada pela mesma, referente ao ms de fevereiro de 2003, poca em que o
projeto ENERG-BIOG encontrava-se em andamento. Observou-se que o tipo de tarifao da ETE
classifica-se como Azul Alta Tenso Servio Pblico Sub-grupo A2. Por meio deste tipo de

13
CAPEX: Capital Expenditures, isto , Investimento em Capital Fixo.


tarifao, a estao possui uma demanda contratada de potncia de 9.400 kW (ponta) a 10.500
kW (fora de ponta), pagando de 0,059 R$/kWh a 0,087 R$/kWh, o que resulta em um total de
aproximadamente R$ 780.000,00 mensais (incluindo os impostos) somente com custos de energia
eltrica. Estima-se, que usando todo o biogas produzido nessa ETE, atualmente poderia se ter
uma capacidade instalada de 2,6 MWe, o que corresponde a aproximadamente 25% do consumo
energtico da estao (COSTA, 2006).
Considerando que todo o biogs formado da ETE de Barueri fosse utilizado para gerao
de energia eltrica, a estao economizaria cerca de R$ 195.000,00 mensalmente. Para concluir a
viabilidade econmica do projeto, deve-se considerar os investimentos iniciais, alm da operao
e manuteno do sistema.
O preo da energia eltrica varia de acordo com o tipo de consumidor e a quantidade de
energia comprada. No caso de grandes consumidores, como por exemplo, a SABESP, a energia
pode ser comprada no mercado livre ou mesmo no mercado regulado, pagando mais barato o
kWh que os pequenos consumidores. Este fato acaba comprometendo a viabilidade econmica do
projeto em questo, uma vez que se torna mais vivel comprar eletricidade da rede do que gerar
energia com o prprio biogs da estao. J para pequenos consumidores, que o preo da
eletricidade maior, um projeto de recuperao energtica do biogs pode ser vivel.















5. ASPECTOS SCIO-AMBIENTAIS

5.1 O Esgoto e seus Impactos

O esgoto comumente referenciado a despejos em geral, sendo estes de origem
domstica, industrial, comercial, de reas agrcolas, entre outros.
O esgoto sanitrio predominantemente constitudo de despejos domsticos. Basicamente
composto por urina, fezes, restos de comida, papel, sabo, detergente, guas de banho e
lavagem em geral, entre outros. Seus diversos constituintes podem ser reunidos em 4 grupos:
slidos em suspenso, matria orgnica, nutrientes e organismos patognicos.
Os efeitos destes constituintes, quando lanados em excesso no meio ambiente, ou mais
especificamente nos corpos receptores, provocam conseqncias desastrosas, muitas vezes com
difcil recuperao. Este processo est vinculado principalmente ao acmulo de nitrognio e
fsforo no ambiente, assim como o aumento da DBO nos corpos dgua (CENBIO, 2004f).
O esgoto em geral tem uma formao complexa. Alm da matria orgnica, tambm
possui areia, sais, nutrientes e outros despejos das mais variadas origens. Nem sempre consegue-
se a retirada de todos os materiais numa nica unidade, por este motivo as ETEs so complexas,
tendo vrias unidades com objetivos diferentes.
O tratamento de esgoto pode ser separado em processo e operao. A operao consiste
na fase fsica do tratamento, como a decantao e sedimentao. Os processos so as fases
qumica e biolgica, como a desinfeco e a digesto. Podem tambm ser classificados como
tratamento preliminar, primrio, secundrio e tercirio.
Para o tratamento preliminar, onde remove-se apenas os slidos grosseiros, gorduras e
slidos sedimentveis (areia), os tipos de tratamento mais comuns so: sistema de gradeamento,
seguidos de caixa de areia e gordura, possibilidade do uso de flotadores (indicado no caso de alta
taxa de gordura).
O tratamento primrio consiste na remoo de slidos sedimentveis atravs de operaes
fsicas. A tendncia continua sendo os decantadores primrios e os floculadores. Esta fase de
fundamental importncia, pois, alm de apresentar baixo custo, reduz bastante as impurezas
contidas no esgoto.


O tratamento secundrio (biolgico), consiste na remoo da matria orgnica e
consequentemente na diminuio da DBO. Os tipos mais conhecidos so: lagoa facultativa, lagoa
aerada, lodos ativados, filtro biolgico aerbio, fossas spticas, digestores anaerbios, entre
outros.
O tratamento tercirio compreende atividades complementares ao tratamento secundrio,
como remoo de nutrientes, desinfeco e remoo de complexos orgnicos.
A finalidade do tratamento do esgoto reduzir o teor de agentes contaminantes a ponto
dos subprodutos finais poderem ser reutilizados ou devolvidos ao meio ambiente, sem que ocorra
impactos negativos, tais como: alteraes na qualidade dos corpos dgua.
O nmero de bactrias contidas no esgoto muito grande. As bactrias coliformes
tpicas do intestino de mamferos no constituem, sozinhas, um perigo, mas sendo ntero-
bactrias, so associadas a microorganismos patognicos, provenientes das necessidades
fisiolgicas humanas.
O esgoto pode conter bactrias agentes de clera, das febres tifides e paratifides,
salmonelas causadores de gastro-interites, leptospiras, bacilo de tuberculose, vrus causadores de
poliomelite e de hepatite, dentre outros.

5.2 Aspectos da Poluio Atmosfrica e suas Interaes com o Meio Ambiente

D-se o nome de poluio degradao da qualidade ambiental resultante das atividades
que direta ou indiretamente prejudiquem a sade, a segurana e o bem estar da populao; crie
condies adversas s atividades sociais e econmicas; afetem desfavoravelmente a fauna e a
flora; afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente; lancem matrias ou energia
em desacordo com os padres ambientais estabelecidos (Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981)
(LIMA-E-SILVA et al., 2002).
A poluio atmosfrica caracteriza-se basicamente pela insero de poluentes na
atmosfera. Os poluentes so substncias ou agentes fsicos que provocam, de forma direta ou
indireta, qualquer alterao ou efeito adverso no ambiente, seja nos ecossistemas ou na sade
humana. Na verdade, qualquer substncia artificial, mesmo que inicialmente no poluente, se
adicionada a um meio acima de sua capacidade assimilativa, pode se tornar, para este meio, um
poluente (LIMA-E-SILVA et al., 2002).


Os poluentes podem ser classificados como (LIMA-E-SILVA et al., 2002):
Poluente primrio: poluente que emitido diretamente para o ambiente sem sofrer
qualquer alterao da sua estrutura qumica ou interagir previamente com o meio no qual
est sendo lanado;
Poluente secundrio: poluente que derivado da mistura entre dois ou mais poluentes
primrios, ou entre um poluente primrio e substncias normalmente presentes no meio
em que foi lanado;
Poluente prioritrio: substncia considerada principal causadora de danos ao
ambiente.

Alm dos danos provocados nos ecossistemas e na sade humana, a poluio atmosfrica
acarreta outra importante conseqncia: o surgimento e a expanso de um buraco na camada de
oznio.
O oznio um gs que se encontra principalmente entre 20 e 50 km de altitude, formando
uma camada protetora em torno da Terra, contra as radiaes ultravioletas (UV) provenientes do
Sol (PRONACI, 2002). Esta camada danificada principalmente pela emisso de uma famlia de
qumicos denominados Cloro-Fluor-Carbono (CFCs), que ao atingirem estas altitudes se
combinam com o gs oznio atravs de reaes qumicas e provocam a diminuio da espessura
da camada de oznio, tornando o nosso planeta mais vulnervel aos efeitos do UV.
Uma parte da radiao solar que atinge a superfcie da Terra absorvida, mas a outra
refletida sob a forma de radiao infra-vermelha que absorvida por alguns gases que constituem
a atmosfera (dixido de carbono CO
2
, entre outros).
A estes gases damos o nome de gases efeito estufa (GEEs), e so eles que permitem que
a atmosfera funcione como uma estufa natural, deixando a radiao proveniente do sol entrar,
mas impedindo-a de sair, de maneira a permitir temperaturas constantes e ideais para o
desenvolvimento da vida na crosta terrestre.
A problemtica do Aquecimento Global que sofremos atualmente se d, pois estes gases
esto se acumulando em demasia na atmosfera, devido ao aumento das emisses de GEEs,
permitindo que apenas uma pequena quantidade de calor seja expelida para o espao.


Foi observado um aumento na temperatura mdia da superfcie do planeta nos ltimos
140 anos, conforme a Figura 17. Existem evidncias cientficas de que, pelo menos parcialmente,
este aumento seja devido s emisses de gases efeito estufa pelas atividades humanas.


Figura 17. Aumento da temperatura global.
Fonte: IPCC, 2001.

O dixido de carbono (CO
2
) o gs responsvel por mais da metade do aquecimento
global , no entanto, existem outros gases que provocam o mesmo efeito, como o metano (CH
4
) e
o xido nitroso (N
2
O). Os grficos abaixo mostram o aumento da concentrao de CO
2
, CH
4
e
N
2
O desde a revoluo industrial.












Figura 18. Aumento da concentrao de CO
2
, CH
4
e N
2
O.
Fonte: IPCC, 2001.

Alm disso, estudos relacionam o aquecimento global elevao do nvel do mar (Figura
19) devido ao degelo das calotas polares, alm de acarretar em diversas alteraes no sistema
climtico global, como no regime dos ventos, na pluviosidade e na circulao de oceanos.




Figura 19. Aumento no nvel do mar nos ltimos 300 anos.
Fonte: IPCC, 2001.

5.2.1. Aquecimento Global e o Protocolo de Kyoto

Particularmente em relao ao aquecimento global, em 1998, o Programa das Naes
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organizao Mundial de Meteorologia (OMM)
constituram o Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), para apoiar com trabalhos
cientficos as negociaes na Conveno-Quadro sobre o tema, no mbito da Conferncia das
Naes Unidas sobre o Meio Ambiente (ECO-92).


Assim, em junho de 1992, 175 pases e a Unio Europia negociaram e assinaram a
Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre a Mudana do Clima, na ECO-92, no Rio de
Janeiro. Ao tornarem-se Partes da Conveno, estes pases, desenvolvidos e em desenvolvimento,
se propuseram a elaborar uma estratgia global para proteger o sistema climtico para geraes
presentes e futuras.
O rgo supremo da Conveno a Conferncia das Partes (CoP). A CoP composta de
todos os pases que ratificam a Conveno e, portanto, segundo as normas internacionais,
comprometem-se legalmente com o seu cumprimento. Podem participar, como observadores,
representante de pases no signatrios, agncias da ONU e de organizaes governamentais e
no governamentais que estejam qualificadas com os assuntos cobertos pela Conveno
(FIESP/CIESP, 2001).
Em 1997, durante a Conferncia de Kyoto (CoP-3), no Japo, foi estabelecido um
Protocolo no qual parte dos pases membros da Conveno (39 pases industrializados, listados
no Anexo I do Protocolo) se comprometem a reduzir ou limitar as emisses futuras dos gases
efeito estufa.
Atravs do Protocolo de Kyoto, foram criados trs instrumentos econmicos de
flexibilidade para apoiar a reduo das emisses dos gases efeito estufa, que so:
1. Comrcio de Emisses (Emissions Trade), restrito a empresas de pases desenvolvidos
(Anexo I do Protocolo), no qual so permitidas a compra e a venda do direito de emisso
de gases efeito estufa;
2. Implementao Conjunta (Joint Implementation - JI), que estabelece que os pases
constatem no Anexo I do Protocolo conduzam, entre si, projetos para reduo da emisso;
3. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou Clean Development Mechannism
(CDM), que permite a pases no listados no Anexo I do Protocolo, que o caso do
Brasil, a comercializao de crditos relativos emisso de gases a pases emissores que
no atingirem as metas de reduo consentidas entre as partes.

O MDL tem o objetivo de buscar a reduo de emisses de gases efeito estufa em pases
em desenvolvimento, atravs de projetos de pases desenvolvidos em desenvolvimento, na forma
de sumidouros, investimentos em tecnologias mais limpas, eficincia energtica e fontes
alternativas de energia. Nesse mecanismo, so essenciais as redues certificadas de emisses


(CER) que confirmem a reduo das emisses e que representem adicionalidade que ocorreria
na ausncia da atividade certificada de projeto.
Com a ratificao do Protocolo, entre 2008 e 2012, os signatrios, listados no Anexo I do
Protocolo de Kyoto, comprometem-se em reduzir suas emisses em 5,2%, na mdia, em relao
aos nveis de 1990 (FIESP/CIESP, 2001).

5.2.1.1 Crditos de Carbono

Os combustveis fsseis, como por exemplo, o carvo mineral e os derivados de petrleo,
so resultado do acmulo de biomassa que em escalas geolgicas de tempo se depositaram no
subsolo. A extrao dessas reservas e sua utilizao como combustvel energtico atravs da
combusto, liberam carbono armazenado no subsolo para a atmosfera em um perodo de tempo
que milhes de vezes menor que o tempo que o carbono atmosfrico leva para se transformar
em petrleo ou carvo mineral. A diferena entre as escalas de tempo de uso e acmulo do
carbono um dos fatores que promove o desequilbrio do ciclo do carbono, provocando o
acmulo de carbono na atmosfera em estado gasoso.
Uma maneira de controlar as emisses de carbono utilizar a energia de maneira mais
eficiente, diminuindo assim a necessidade de aumento no consumo energtico. Outra maneira
substituir os recursos energticos derivados de combustveis fsseis por outros com menores
emisses de carbono por kWh consumido, como o caso das fontes renovveis (elica, solar,
biomassa, etc.).
Os projetos de mitigao do efeito estufa (principal impacto global causado pelo acmulo
de CO
2
e outros gases estufa na atmosfera), ao redor do mundo tm dado nfase s alternativas
citadas. Isso deve-se, principalmente, ao fato de que a matriz energtica dos pases
desenvolvidos, principalmente dos EUA, baseada em combustveis fsseis com a utilizao em
larga escala de carvo mineral. Isto implica na produo de grandes quantidades de CO
2
e outros
gases estufa.
No caso do Brasil, a gerao hidreltrica ocupa parte importante na produo de energia
eltrica, o que reduz o potencial de mitigao atravs da substituio de fontes fsseis por
renovveis. Em mdia, a emisso pelo sistema eltrico interligado de 0,02 tC/MWh, bastante
baixa quando comparada, por exemplo, com o carvo mineral 0,36 tC/MWh (CENBIO, 2000a).


Mesmo quando neste cenrio so introduzidas as futuras instalaes de termeltricas no pas, o
quadro pouco se altera em relao s emisses de CO
2
, j que o combustvel a ser utilizado, o gs
natural, apresenta baixas emisses de CO
2
, comparado ao carvo mineral, 0,11 tC/MWh quando
queimado.
Foi aprovado, pelo painel de metodologias, rgo do executive board do Protocolo de
Kyoto, a metodologia para gerao de energia eltrica a partir de bagao de cana e fornecimento
para a rede de distribuio de energia eltrica como um projeto de MDL. Neste projeto utilizado
o conceito de margem combinada para determinar a intensidade de carbono terica na expanso
do setor eltrico nacional. Utilizando este conceito, o valor de referncia para a intensidade de
carbono do setor eltrico ficou estabelecido em 0,140 tC/MWh, ou 0,5 tCO
2
eq/MWh. Este valor
contribui para melhorar a eficincia dos projetos de MDL baseados em emisses evitadas, pois
aumenta quantidade de carbono evitada por MWh gerado.
O Brasil deve se beneficiar deste cenrio como nao do Grupo dos No-Anexo I pois
pode se qualificar para vender crditos de carbono e tambm, como candidato a investimentos em
projetos engajados com a reduo da emisso de gases de efeito estufa. Segundo estimativas do
Banco Mundial, o pas poder ter uma participao de 10% no mercado de MDL, equivalente a
US$ 1,3 bilhes em 2007 (MDL e Biogs, 2006)

5.2.1.1.1 Clculo dos Crditos de Carbono

Para que sejam efetuados os clculos de crditos de carbono, pode-se considerar:

Potncia instalada de uma planta de gerao de energia a partir de biogs: 1.5 MW;
Tempo de operao da planta: 8760 horas/ano;
Energia total gerada:

planta da operao de tempo planta da instalada Potncia (22)
140 . 13 8760 5 . 1 = = gerada total Energia MWh/ano

Fator de intensidade de carbono: 0,5 tCO2 eq/MWh
Total de CO
2
eq. evitado:


carbono de ensidade de Fator gerada total Energia int (23)
570 . 6 5 , 0 140 . 13 .
2
= = evitado eq CO de Total tCO
2
eq./ano

Valor de Certificado de Emisses Evitadas (CEE): US$ 10,00/tCO
2
eq.;
Total de US$ em certificados:

CEE de Valor evitado eq CO de Total .
2
(24)
700 . 65 10 570 . 6 $ = = os certificad em US de Total US$/ano

Vida til da planta: 10 anos;
Total de US$ durante a vida til da planta:

planta da til Vida os certificad em US de Total $ (25)
00 , 000 . 657 10 700 . 65 $ = = planta da til vida a durante US de Total US$

Para que se possa viabilizar o projeto de emisses evitadas de carbono, necessria a
elaborao de um documento dentro dos padres exigidos pelo executive board do MDL. Este
documento chamado de PDD (Project Design Document). Alm do PDD, onde todo o processo
e o mtodo de monitoramento das emisses evitadas so descritos, outros custos esto envolvidos
no processo. Esses custos so chamados de custos transacionais.

5.3 Aspectos Ambientais da Utilizao do Biogs como Fonte de Energia

Ao queimar combustveis fsseis (carvo, petrleo e gs natural) nas centrais eltricas e
nos meios de transportes para produzir energia, so geradas grandes quantidades de gases como o
dixido de enxofre (SO
2
) e xidos de nitrognio (NO
2
), que associadas s gotculas de gua nas
nuvens, voltam Terra sob a forma de cido sulfrico (H
2
S) e cido ntrico (HNO
3
) chuvas
cidas. Estas afetam no s a natureza (fauna e flora) como tambm os edifcios e monumentos.


Nas zonas urbanas e industriais, a concentrao destes tipos de gases atinge,
freqentemente, valores muito elevados, sendo que o setor de produo de energia o maior
colaborador para o seu aumento (PRONACI, 2002).
Habitualmente considera-se que o controle da poluio atmosfrica implica na utilizao
de equipamentos de remoo de poluentes, no entanto, existe um conjunto de outras medidas,
como o pr-tratamento ou a substituio de matrias-primas e combustveis e a adoo de
tecnologias menos poluentes, com ganhos significativos para a qualidade do ar.
A produo de energia de maneira renovvel as fontes renovveis de energia
tambm uma medida interessante sob o ponto de vista ambiental no que se refere a poluio
global, uma vez que permitem a obteno de energia sem recorrer queima de combustveis
fsseis e a conseqente emisso de resduos poluentes na atmosfera.
Em termos ambientais a utilizao do biogs representa uma melhoria global no
rendimento do processo. Em geral, o biogs um resduo do processo de tratamento de efluentes.
Os benefcios atribudos ao uso do biogs esto vinculados ao tipo de aproveitamento a que ele
ser destinado. As duas principais alternativas para o aproveitamento energtico do biogs so:
converso em energia eltrica e o aproveitamento trmico.
A emisso de biogs para a atmosfera provoca impactos negativos ao meio ambiente e
para a sociedade, na medida em que contribui para o agravamento do efeito estufa atravs da
emisso de metano para a atmosfera. Alm disso, provoca odores desagradveis pela emisso de
gases ftidos e txicos, devido a concentrao de compostos de enxofre presentes no gs alm de
uma pequena, mas no desprezvel, presena de bactrias responsveis pela digesto anaerbia
dos resduos orgnicos.
O metano um gs combustvel produzido basicamente por fontes antropognicas e
naturais. Dentre as fontes antropognicas, as principais em quantidades de biogs emitido so as
plantaes de arroz, a fermentao entrica, a queima de biomassa, o manejo de resduos e o uso
de combustveis fsseis.
O manejo de resduos inclui como fontes principais de emisso de metano o tratamento de
efluentes e a disposio de resduos slidos em aterros sanitrios. Como fontes naturais pode-se
citar os pntanos, oceanos e guas doces. A Figura 20 apresenta as principais fontes
antropognicas de metano e suas contribuies.



7%
7%
8%
11%
28%
17%
22%
Dejetos de animais
Tratamento de esgotos
domsticos
Aterros sanitrios
Queima de biomassa
Carvo mineral, gs
natural e indstria
petroqumica
Arrozais
Fermentao entrica

Figura 20. Principais fontes antropognicas de metano e suas contribuies.
Fonte: ALVES & VIEIRA, 1998.

A Figura 21 mostra que a maior parte do aquecimento global foi decorrncia de emisses
antropognicas.















Figura 21. Simulao anual global do aumento da temperatura.
Fonte: IPCC, 2001.

A remoo de metano na troposfera, camada da atmosfera mais prxima da superfcie da
Terra ocorre por trs processos. O principal deles tem incio com a oxidao do metano por
radicais hidroxila (-OH), ocorrendo eventualmente transformao em monxido e dixido de
carbono. A concentrao de NOx influencia fortemente os passos da reao.
Outras formas de remoo do metano da troposfera ocorre por captura dos solos e das
guas (oxidao por microorganismos) e pelo transporte para a estratosfera, segunda camada da
atmosfera, onde este gs uma fonte importante de vapor dgua (LEXMOND & ZEEMAN,
1995).
A reduo do metano emitido para a atmosfera pode ser conseguida pela sua captura,
seguido da queima. Isto pode ser feito pela sua simples combusto com o objetivo de prevenir sua


emisso. Pode-se tambm recuperar o metano como fonte de energia evitando-se assim a queima
de quantidade equivalente de combustvel fssil. Em ambos os casos o dixido de carbono
formado.
Quando convertido em energia eltrica, as vantagens da utilizao do biogs esto
relacionadas s emisses evitadas pela gerao de energia eltrica utilizando uma fonte renovvel
e eficincia dos sistemas de converso. Assim, deve-se analisar as emisses das principais
tecnologias de converso energtica do biogs: motores ciclo Otto e turbinas a gs, conforme
Tabela 15.

Tabela 15. Comparao das emisses entre as tecnologias de converso.
Tecnologia de
Converso
Potncia Instalada Rendimento
Eltrico
Emisses de NOx
(ppm)*
Motores a Gs
(Ciclo Otto)
30 kW 20 MW 30% - 40% 250 3000
Turbinas a Gs
(Mdio Porte)
500 kW 150 MW 20% - 30% 35 50
Microturbinas
(Pequeno Porte)
30 kW 100 kW 24% - 28% < 9
*ppm: parte por milho.
Fonte: CENBIO, 2004f.

Observa-se na tabela acima que a principal diferena em termos de emisses atmosfricas
entre as duas tecnologias est relacionada ao NOx, cujo principal impacto a formao do oznio
troposfrico.

5.4 Aspectos da Poluio Atmosfrica e suas Interaes com a Sade

Apesar do potencial de energia melhorar a qualidade de vida humana ser inquestionvel, a
produo de energia convencional e o seu consumo esto intimamente relacionados com a
degradao do meio ambiente. Esta degradao ameaa a sade humana e a qualidade de vida,
alm de afetar o equilbrio ecolgico e a diversidade biolgica.


Nos ltimos 100 anos, em que a populao do mundo pelo menos triplicou, os danos
ambientais passaram de alteraes locais para alteraes globais. O aumento no uso de
combustveis fsseis resultou na emergncia da ao do homem como uma fora geoqumica e
ecolgica global; em outras palavras, o impacto acelerado da vida na Terra est afetando o
mundo como um todo (SIRKIS et. al., 2003).
Literaturas especializadas em efeitos relacionados sade indicam que os principais
efeitos da poluio atmosfrica local sade humana so: problemas oftlmicos, doenas
dermatolgicas, gastrointestinais, cardiovasculares e pulmonares, alm de alguns tipos de cncer.
Efeitos sobre o sistema nervoso tambm podem ocorrer aps exposio a altos nveis de
monxido de carbono no ar. A exposio humana pode se dar por inalao, ingesto ou contato
com a pele, mas a inalao pode ser considerada a via mais importante e mais vulnervel
(PHILIPPI, 2004).
A poluio do ar caracterizada pela OMS como um fator de risco para vrias doenas,
como infeces respiratrias agudas, doenas pulmonares obstrutivas crnicas, asma e infeces
respiratrias das vias areas superiores (garganta, nasofaringe, sinus, laringe, traquia e
brnquios) (PHILIPPI, 2004).
Estudos nacionais tm verificado associaes positivas entre poluio do ar e doenas
respiratrias e mesmo aumento da mortalidade. Os efeitos so sentidos principalmente por
crianas e idosos (PHILIPPI, 2004).
Um levantamento realizado em quatro municpios do interior paulista Atibaia,
Campinas, Ribeiro Preto e So Jos dos Campos mostrou que Ribeiro Preto apresentava
ndices menores de doenas respiratrias crnicas entre 1990 e 1992, de acordo com uma amostra
de 5% dos pronturios de pacientes de cinco postos de sade do municpio. A freqncia relativa
de doenas respiratrias crnicas no total dos postos pesquisados foi de 1,58% (Ribeiro Preto),
1,80% (Atibaia), 4,27% (So Jos dos Campos) e 6,31% (Campinas). Os municpios com perfil
mais industrial, como Campinas e So Jos dos Campos, apresentaram percentuais maiores.
Apresentou-se uma tendncia ao aumento de consultas em razo de doenas respiratrias nos
perodos mais frios do ano (PHILIPPI, 2004).




5.4.1 Principais Fontes Poluidoras e seus Efeitos Sade

Segundo Philippi et. al. (2004), as principais fontes poluidoras e seu efeitos sade so:

Monxido de Carbono (CO)
O monxido de carbono um gs incolor, inodoro e inspido. Provm da combusto
incompleta de qualquer combustvel de origem orgnica (biomassa, combustveis fsseis, etc.).
Sua primeira ao no organismo humano a reduo da habilidade do sistema circulatrio
transportar oxignio, por causa de sua maior afinidade com a hemoglobina do que com o
oxignio 200 a 250 vezes maior formando a carboxihemoglobina (COHb) em vez da
oxihemoglobina, que leva o oxignio para os tecidos. Altos nveis de monxido de carbono esto
associados a prejuzo nos reflexos, na capacidade de estimar intervalos de tempo, no aprendizado,
no trabalho e na capacidade visual.
A Tabela 16 mostra os nveis de carboxihemoglobina e os efeitos relacionados sade.

Tabela 16. Nveis de carboxihemoglobina e efeitos relacionados sade.
% de COHb
no sangue em
relao
quantidade
total de Hb
Efeitos associados a este nvel de COHb
80 Morte
60 Perda de conscincia; morte em caso de exposio contnua
40 Confuso; colapso em exerccios
30 Dor de cabea, cansao, julgamento prejudicado
7 20
Decrscimo significante do consumo mximo de oxignio durante exerccios
enrgicos em homens jovens
5 17
Diminuio significante da percepo visual, da destreza manual, da facilidade de
aprender e do rendimento em tarefas que exijam certas habilidades
5 5,5
Decrscimo significante do consumo mximo de oxignio e da durao de
exerccios enrgicos em homens jovens
Abaixo de 5 Decrscimo insignificante na capacidade de concentrao
2,9 4,5
Diminuio significante da capacidade de fazer exerccios em pessoas que j
tenham problemas no corao
Fonte: EPA, 1994.




Dixido de Carbono (CO
2
)
O dixido de carbono provm de metabolismo humano e combusto. Controla as taxas de
respirao em uma pessoa e, conforme seu nvel de concentrao aumenta, a pessoa sente como
se no houvesse ar suficiente no ambiente. A taxa respiratria aumenta no sentido de compensar
essa falta de ar.

Dixido de Nitrognio (NO
2
)
O dixido de nitrognio faz parte da famlia dos xidos de nitrognio presentes na
atmosfera (NO, NO
2
e N
2
O), da qual o xido ntrico (NO) o de maior emisso e em geral
transforma-se em dixido de nitrognio. um gs marrom-avermelhado e muito irritante. A
produo provem direta ou indiretamente da oxidao de xido ntrico na atmosfera, de processo
de combusto envolvendo veculos automotores, processos industriais, usinas trmicas que
utilizam carvo, leo, gs, biomassa e incinerao de resduos. Pode levar formao de cido
ntrico, nitratos, que contribuem para o aumento das partculas inalveis na atmosfera, e
compostos orgnicos txicos. Esse gs aumenta a sensibilidade dos indivduos que sofrem de
asma ou bronquite e diminui a resistncia s infeces respiratrias.
Os xidos de nitrognio podem tanto provocar efeitos diretos como serem precursores da
poluio fotoqumica (oznio). Alm disso, os xidos de nitrognio contribuem de forma
importante para a formao de chuvas cidas, assim como o dixido de enxofre. Estudos indicam
que asmticos e pessoas que sofrem de doenas pulmonares obstrutivas crnicas so muito
sensveis aos impactos dos xidos de nitrognio sobre a funo pulmonar.

Dixido de Enxofre (SO
2
)
O dixido de enxofre um gs incolor, com odor pungente, que na atmosfera pode ser
transformado em trixido de enxofre (SO
3
) e, na presena de vapor de gua, passa rapidamente a
cido sulfrico (composto H
2
SO
4
). Tem como principais fontes os processos de queima de
carvo mineral e de leo combustvel, refinarias de petrleo, escapamentos de veculos a diesel e
a gasolina e produo de celulose. um importante precursor dos sulfatos, um dos principais
componentes das partculas inalveis. Causam desconforto na respirao, doenas respiratrias e
agravamento de doenas respiratrias e cardiovasculares j existentes. Pessoas com asma ou
doenas crnicas de corao e pulmo so mais sensveis a esse poluente.



Oznio (O
3
)
Gs incolor e inodoro o principal componente da nvoa fotoqumica nas concentraes
ambientais. No emitido diretamente atmosfera. A radiao solar o produz por processo
fotoqumico sobre os xidos de nitrognio e compostos orgnicos volteis. Provoca irritao nos
olhos e vias respiratrias e diminuio da capacidade pulmonar. Exposio a altas concentraes
pode resultar em sensaes de aperto no peito, tosse e chiado na respirao.

Material Particulado
O material particulado compe-se de partculas slidas ou lquidas, que ficam suspensas
no ar, emitidas na forma de poeira, fumaa, fumo e nvoa. O material particulado em suspenso
caracterizado pelas partculas de dimetro aerodinmico menor que 100 m e as partculas
inalveis so aquelas cujo dimetro aerodinmico menor que 10 m; poeiras respirveis so
partculas com dimetro aerodinmico inferior a 2,5 m. As partculas de pequeno dimetro (<
2,5 m) so prejudiciais sade, pois podem atingir os alvolos pulmonares. Quanto menor o
tamanho da partcula, mais profundamente ele pode atingir e se depositar no aparelho
respiratrio. As principais fontes de material particulado so os processos industriais, a queima de
combustveis fsseis, especialmente em veculos automotores com motor diesel, poeira de rua e a
queima de biomassa e aerossol secundrio, ou seja, partculas formadas na atmosfera. As fontes
naturais so os polens, o aerossol marinho e a poeira do solo. Essas substncias causam efeitos
significativos em pessoas com doena pulmonar, como asma e bronquite. Os efeitos a longo
prazo tambm incluem aumento da mortalidade e da morbidade respiratria.

Hidrocarbonetos e outros Compostos Orgnicos
Os efeitos direto sade provocados pelos hidrocarbonetos gasosos (HC) tm de ser
considerados para cada tipo de hidrocarboneto ou composto orgnico, uma vez que se trata de um
conjunto muito amplo, com grande variao de toxicidade. De forma indireta, os reativos


fotoquimicamente so importantes em funo da participao do smog fotoqumico
14
, produzindo
outros compostos agressivos sade, como o oznio e os aldedos.
Os efeitos diretos de alguns hidrocarbonetos e outros compostos orgnicos volteis em
relao sade so preocupantes. O benzeno e os hidrocarbonetos aromticos, por exemplo,
provm principalmente da emisso dos veculos, de refinarias de petrleo, de algumas indstrias
qumicas, da produo de tintas e de carvo. Os efeitos sade esto relacionados ao sistema
formador do sangue, no caso do benzeno, e o surgimento de neoplasias.

5.5 Aspectos Sociais da Utilizao do Biogs como Fonte de Energia

O aproveitamento energtico do biogs gerado pela digesto anaerbia de resduos, alm
de contribuir para a preservao do meio ambiente, tambm traz benefcios para a sociedade, pois
promove a utilizao ou reaproveitamento de recursos descartveis e/ou de baixo custo;
colabora com a no dependncia da fonte de energia fssil, oferecendo maior variedade de
combustveis; possibilita a gerao descentralizada de energia; aumenta a oferta de energia;
possibilita a gerao local de empregos; reduz os odores e as toxinas do ar, diminui a emisso de
poluentes pela substituio de combustveis fsseis, colabora para a viabilidade econmica dos
aterros sanitrios e estaes de tratamento de efluentes, otimiza a utilizao local de recursos e
aumenta a viabilidade do saneamento bsico no pas, permitindo o desenvolvimento tecnolgico
de empresas de saneamento e energticas.





14
Smog fotoqumico um fenmeno que se processa na atmosfera mediante reaes entre os poluentes, sob a
influncia dos raios ultravioletas da luz solar, resultando na sntese de outros produtos que no foram lanados pelo
homem.
(Fonte:
http://72.14.207.104/search?q=cache:LW3PiSz_zFwJ:www.asmabronquica.com.br/medical/tipos_de_asma_asma_ur
bana.html+%22smog+fotoqu%C3%ADmico%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2&lr=lang_pt








6. ESTUDO DE CASO: GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DO BIOGS
PROVENIENTE DO TRATAMENTO DE ESGOTO DO CONJUNTO RESIDENCIAL
DA USP PROJETO PUREFA

6.1 Objetivos do Projeto

O projeto Programa de Uso Racional de Energia e Fontes Alternativas (PUREFA) um
projeto da Universidade de So Paulo (USP), coordenado pela Escola Politcnica, financiado pela
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), em um edital voltado infra-estrutura (CT-INFRA),
que teve trs objetivos principais: implantar medidas de gesto e de ao de eficincia energtica
visando reduzir o consumo na Universidade; ampliar a gerao distribuda na USP a partir de
recursos renovveis e no convencionais de energia e implantar polticas de incentivo permanente
ao uso eficiente e racional de energia.
O Instituto de Eletrotcnica e Energia (IEE) / Centro Nacional de Referncia em
Biomassa (CENBIO) desenvolveu duas metas deste projeto, relativas ao uso do biogs para
gerao de eletricidade.
A primeira, correspondente meta 11, teve por objetivo implementar um sistema de
captao, purificao e armazenamento do biogs, produzido por um reator UASB Upflow
Anaerobic Sludge Blanket, tambm conhecido como biodigestor RAFA Reator Anaerbio de
Fluxo Ascendente com manto de lodo, localizado no Centro Tecnolgico de Hidrulica (CTH) da
Universidade de So Paulo-USP. O esgoto tratado proveniente do Conjunto Residencial da USP
(CRUSP).
A segunda, correspondente meta 12, refere-se utilizao do biogs, armazenado na
meta anterior, como combustvel em um sistema de gerao de energia eltrica.

6.2 Sistema de Tratamento do Esgoto do CRUSP

Para a implantao do sistema demonstrativo de gerao de energia eltrica a partir do
biogs, foi utilizado, para o tratamento do esgoto, um reator UASB com 6 metros de altura, 2,3 m
de dimetro e volume til de 25 m
3
, j existente CTH, em pleno funcionamento e que
alimentado com esgoto sanitrio gerado no CRUSP.


Atualmente o reator UASB o sistema mais empregado para tratamento anaerbio de
esgoto. A principal caracterstica deste reator o decantador interno, dispositivo que divide o
reator em duas partes. Uma parte inferior ou zona de digesto, onde existe um manto de lodo e
uma parte superior ou zona de sedimentao, onde os flocos de lodo encontram uma zona
tranqila permitindo que estes depositem-se sobre a superfcie inclinada do decantador,
retornando zona de digesto.


Figura 22. Biodigestor modelo UASB existente no CTH
Fonte: CENBIO, 2003c.

Antes de ser tratado no biodigestor, o efluente passa por um sistema de pr-tratamento
(Figura 23), composto por: caixa de areia (Figura 24), calha Parshall (Figura 25), tanque de
acumulao (Figura 26) e bomba (Figura 27), que provoca seu deslocamento at o biodigestor.




Figura 23. Sistema de pr-tratamento do esgoto.
Fonte: CENBIO, 2003c.


Figura 24. Caixa de areia.
Fonte: CENBIO, 2003c.




Figura 25. Calha Parshall.
Fonte: CENBIO, 2003c.



Figura 26. Tanque de acumulao do esgoto.
Fonte: CENBIO, 2003c.



Figura 27. Bomba que leva o efluente para o biodigestor.
Fonte: CENBIO, 2003c.

6.3 Metodologia Adotada para Execuo do Projeto

Para melhor contextualizar o desenvolvimento das metas do projeto, primeiramente foi
elaborado um estudo sobre o estado da arte do biogs, que permitiu identificar perspectivas para
sua aplicao.

6.3.1 Primeiras Anlises Fsico-Qumicas do Biogs

Foram solicitadas Distribuidora de Gs Natural de So Paulo (COMGS) duas anlises
para determinar a composio qumica do biogs, parmetro essencial para estimativa do
potencial de gerao de eletricidade. O resultado da primeira anlise apresenta-se na Tabela 17.
A Figura 28 mostra o procedimento de coleta do biogs e o sistema de coleta composto por um
amostrador tipo saco plstico apropriado para este tipo de coleta de amostra.





Figura 28. Fotos da coleta do biogs para anlises realizadas pela COMGAS.
Fonte: CENBIO, 2004g.


Tabela 17. Resultado da primeira anlise fsico-qumica do biogs.
Compostos Qumicos
%Vol da 1 anlise do
biogs
%Vol do biogs em
geral
H
2
(Hidrognio) 0,000% 1 a 2%
O
2
(Oxignio) 0,00236% 0.1 a 1%
N
2
(Nitrognio) 15,08615% 0.5 a 2.5%
CO
2
(Dixido de Carbono) 6,12158% 25 a 40%
CH
4
(Metano) 78,77848% 50 a 80%
nC4 (n-butano) 0,00253% --------
iC5 (iso pentano) 0,00015% --------
nC5 (n-pentano) 0,00025% --------
C6+ (hexano e superiores) 0,00020% --------
H
2
S (Sulfeto de Hidrog.) 0,0083% 1 a 2%
Soma 100,000% 100%
Fonte: ALVIM, 2003.

Verificando o resultado da 1 anlise emitido pela COMGS e comparando-o com a
composio geral do biogs, observou-se que houve problemas na amostra coletada, pois alguns
valores encontram-se fora do padro, como o caso das concentraes de nitrognio (N
2
),
hidrognio (H
2
) e dixido de carbono (CO
2
). Alm disso, tambm foi detectada a presena de
hidrocarbonetos, que no fazem parte da composio do biogs, tais como n-butano, iso-pentano,
n-pentano, hexano e superiores. Por esta razo, uma nova anlise foi solicitada.
Porm, antes da realizao da segunda anlise, algumas modificaes foram efetuadas no
biodigestor. Visando garantir a desobstruo da passagem do biogs gerado, foi realizada uma
limpeza no equipamento. Os vazamentos detectados foram eliminados atravs da instalao de
uma pea, que alm da vedao tambm proporcionou um alongamento na seco de captao do


biogs gerado (Figura 29). Esta medida confere maior segurana a todos os equipamentos do
sistema de gerao de eletricidade instalados, pois evita que a escuma, resduo gerado no
processo de biodigesto, seja transportada pela tubulao de gs, impedindo possveis
entupimentos.


Figura 29. Alongamento da seco de captao do biogs.
Fonte: CENBIO, 2004g.

Aps a implementao destas medidas foi realizada a segunda anlise da composio do
biogs, cujos resultados so apresentados na Tabela 18.

Tabela 18. Resultado da segunda anlise fsico-qumica do biogs.
Compostos Qumicos
%Vol da 2 anlise do
biogs
%Vol do biogs em
geral
H
2
(Hidrognio) 0,000% 1 a 2%
O
2
(Oxignio) 0,068% 0.1 a 1%
N
2
(Nitrognio) 44,988% 0.5 a 2.5%
CO
2
(Dixido de Carbono) 3,308% 25 a 40%
CH
4
(Metano) 51,636% 50 a 80%
nC4 (n-butano) 0,000% --------
iC5 (iso pentano) 0,000% --------
nC5 (n-pentano) 0,000% --------
C6+ (hexano e superiores) 0,000% --------
H
2
S (Sulfeto de Hidrog.) 0,000% 1 a 2%
Soma 100,000% 100%
Fonte: ALVIM, 2003.



Comparando novamente o resultado da segunda anlise, emitido pela COMGS, com a
composio geral do biogs, observou-se que, ainda assim, com a nova estrutura instalada na
sada do biogs, houve problemas com a amostra coletada.
Por esta razo, o biodigestor passou por uma avaliao de operao, quando foi
identificada uma possvel razo da contaminao. Durante a passagem do efluente pelo segundo
medidor de vazo, o contato com o ar provocava o arraste de nitrognio, fazendo com que
aumentasse a participao deste componente no biogs, conforme se verifica nas Tabelas 17 e 18.
Para sanar este problema, tal medidor de vazo seria substitudo por um hidrmetro.

6.3.2 Anlise do Esgoto do CRUSP

Para se estimar a produo diria de biogs a partir dos valores da Demanda Bioqumica
de Oxignio (DBO), foi necessrio determinar os parmetros do efluente antes e aps seu
tratamento no biodigestor. Para tal, foram solicitadas Ambiental Laboratrio e Equipamentos
Ltda. anlises do efluente lquido, cujos resultados so apresentados nas Tabelas 19 e 20.

Tabela 19. Resultado da anlise do efluente antes do seu tratamento no biodigestor.
Parmetros Expresso Como Resultado
Alcalinidade Total (mg/L) CaCO
3
156
DBO (mg/L) O
2
329
DQO (mg/L) O
2
1,02 X 10
3

Gs Carbnico (mg/L) CO
2
> 100
pH a 25 C (-) - 6,15
Slidos Totais (mg/L) - 1,13 X 10
3

Slidos Totais Fixos (mg/L) - 460
Slidos Totais Volteis (mg/L) - 668
Slidos Dissolvidos Totais (mg/L) - 661
Slidos Dissolvidos Fixos (mg/L) - 400
Slidos Dissolvidos Volteis (mg/L) - 261
Sulfeto (mg/L) S 3,0
Fonte: ANGELO, 2003.



Tabela 20. Resultado da anlise do efluente aps seu tratamento no biodigestor.
Parmetros Expresso Como Resultado
Alcalinidade Total (mg/L) CaCO
3
264
DBO (mg/L) O
2
59
DQO (mg/L) O
2
148
Gs Carbnico (mg/L) CO
2
65
pH a 25 C (-) - 6,84
Slidos Totais (mg/L) - 454
Slidos Totais Fixos (mg/L) - 336
Slidos Totais Volteis (mg/L) - 118
Slidos Dissolvidos Totais (mg/L) - 254
Slidos Dissolvidos Fixos (mg/L) - 239
Slidos Dissolvidos Volteis (mg/L) - 15
Sulfeto (mg/L) S 7,0
Fonte: ANGELO, 2003.

A partir dos dados obtidos nas anlises, foi possvel estimar a vazo diria de biogs.
Como dados de entrada para esses clculo tem-se:

Volume do biodigestor: 25 m
3
;
Vazo diria de esgoto: 3 m
3
/hora = 72 m
3
/dia;
Tempo de Reteno Hidrulica: 8 horas;
DBO: 329 mgO
2
/l = 0,329 kgO
2
/m
3
;
Eficincia de remoo: 82%
Carga orgnica

DBO esgoto de diria Vazo (26)
688 , 23 329 , 0 72 arg = = orgnica a C kgDBO/dia

Gerao de carga orgnica por pessoa por dia: 0,054 kg/DBO;


Gerao de biogs por pessoa por dia: 12 l;
Populao equivalente do CRUSP:


dia por pessoa por orgnica a C
orgnica a C

arg
arg
(27)

439
054 , 0
688 , 23
= = CRUSP do e equivalent Populao pessoas

Vazo diria de biogs estimada:


remoo de eficincia pessoa dia biogs Gerao CRUSP e equivalent Populao / / (28)
00 , 268 . 5 12 439 = = estimada biogs de diria Vazo l/dia = 5,27 m
3
/dia

6.3.3 Dificuldades do Projeto

Houve grande dificuldade em encontrar equipamentos que atendessem s necessidades do
biodigestor para o esquema de instalao primeiramente previsto (instalao dos tubos, pontos de
coleta, vlvulas solenide de segurana, vlvulas esfera, sensor medidor de vazo, secador,
manmetro, medidor de vazo, termmetro e gasmetro Figura 30 e Tabela 21). Como a
presso de operao baixa os equipamentos ora no existiam, ora eram extremamente caros, por
serem importados e especficos.
























Figura 30. Primeiro fluxograma da instalao dos equipamentos.
Fonte: CENBIO, 2003c.

Tabela 21. Descrio dos equipamentos da instalao.
Equipamento Nmero Quantidade
Hidrmetro 1 1
Biodigestor 2 1
Tubulao 3 1
Vlvula de segurana 4 1
Ponto de coleta do biogs 5 2
Sensor de temperatura 6 1
Medidor de presso 7 1
Medidor de vazo 8 2
Purificador do biogs 9 1
Vlvula esfera 10 2
Gasmetro 11 1
Grupo motor-gerador 12 1
Fonte: CENBIO, 2003c.
5 8
10
4
5
6
7 8
10
3
11
12
2
9
1


Tais dificuldades podem ser percebidas pela presso requerida para operao de um
secador comum, correspondente a 71 m.c.a. e pelo filtro especial para biogs, correspondente a
30 cm.c.a., no atendendo presso que foi estipulada segura para o biodigestor (8 cm.c.a.). Vale
ressaltar que esses dados foram obtidos junto aos respectivos fabricantes.
Diante deste fato, a equipe executora do projeto desenvolveu um sistema de purificao
do biogs e um medidor de presso para controlar e monitorar a presso do biodigestor e do
gasmetro. Ambos os sistemas desenvolvidos esto descritos a seguir.

6.3.4 Instalao da Tubulao

Em relao tubulao, optou-se por tubos de (meia polegada) de PVC, pois so mais
fceis de manusear, no interferem no processo e so mais baratos (Figura 31).



Figura 31. Fotos da tubulao de biogs instalada.
Fonte: CENBIO, 2004g.

Em relao vlvula de alvio de presso, denominada vlvula de segurana, foi
substituda por um selo hidrulico (Figura 32), pois ele garante que a presso interna do sistema


no ultrapasse 8 cm.c.a. sem a necessidade de ser trocado ao entrar em operao e com um custo
muito inferior vlvula de alvio de presso, que possui uma membrana que se rompe cada vez
que a presso mxima ultrapassada.


Figura 32. Selo hidrulico.
Fonte: CENBIO, 2004g.

6.3.5 Sistema de Purificao do Biogs

Foi desenvolvido um sistema de purificao composto por dois compartimentos e o
mesmo instalado na linha de captao do gs. Antes do biogs ser alimentado neste sistema,
passa por um recipiente onde fica retida a gua condensada durante sua passagem pela tubulao.
O primeiro compartimento composto por dois tipos de peneira molecular, sendo que uma delas
visa retirada da umidade e a outra retirada do cido sulfdrico (H
2
S), e slica gel azul, utilizada
como indicador, pois quando saturada, possui colorao diferente. O segundo contm cavaco de
ferro, visando assegurar a retirada de H
2
S, que possivelmente no tenha reagido com o primeiro
elemento (Figura 33).









Figura 33. Fotos do sistema de purificao do biogs.
Fonte: CENBIO, 2004g.

Existem vlvulas instaladas antes e depois do sistema de purificao, facilitando sua
manuteno.

6.3.5.1 Anlises Fsico-Qumicas do Biogs Antes e Aps o Sistema de Purificao

As primeiras anlises fsico-qumicas do biogs foram realizadas pela COMGAS e os
resultados foram apresentados anteriormente. Levando-se em considerao que as anlises
realizadas pela COMGAS apresentaram resultados fora do padro esperado, foram contratados os
servios de anlises da White Martins, que apresentou confiabilidade em todos os resultados
obtidos no projeto FINEP/ENERG-BIOG, n 23.01.0653.00, tambm executado pelo CENBIO e
apresentado no Captulo 4.
As anlises foram realizadas antes e aps o sistema de purificao do gs e os resultados
apresentam-se nas Tabelas 22 e 23.








Tabela 22. Anlise fsico-qumica do biogs antes do sistema de purificao.
Compostos Qumicos %Vol ou ppm
O
2
(Oxignio) 1,23%
N
2
(Nitrognio) 15,5%
CO
2
(Dixido de Carbono) 4,75%
CH
4
(Metano) 75,8%
H
2
S (Sulfeto de Hidrognio) 649 ppm
H
2
O (gua) 2,62%
Fonte: YAMASHITA, 2004.

Tabela 23. Anlise fsico-qumica do biogs aps o sistema de purificao.
Compostos Qumicos %Vol ou ppm
O
2
(Oxignio) 0,89%
N
2
(Nitrognio) 13,2%
CO
2
(Dixido de Carbono) 4,07%
CH
4
(Metano) 80,8%
H
2
S (Sulfeto de Hidrognio) < 1,0 ppm
H
2
O (gua) 0,98%
Fonte: YAMASHITA, 2004.

Tendo em vista os novos resultados das anlises, no houve necessidade de substituio
do medidor de vazo do esgoto pelo hidrmetro, conforme previsto anteriormente.
O sistema de purificao est instalado na linha de captao do biogs e mostrou-se
eficiente quanto retirada de umidade e H
2
S.

6.3.6 Pr-Instalao do Medidor de Vazo de Biogs

No final da tubulao foi instalado um conjunto medidor-totalizador de vazo, com a
finalidade de registrar a vazo mdia de produo do biogs. Este conjunto foi dimensionado e


adquirido de acordo com os dados do projeto disponveis e, para que o conjunto em questo
ficasse protegido do tempo, foi construdo um abrigo de madeira compensada (Figura 34).


Figura 34. Fotos da instalao do abrigo para o medidor de vazo de biogs.
Fonte: CENBIO, 2004 g.

Para evitar danos ao equipamento, que delicado, foram colocados um estabilizador e um
fusvel, garantindo sua segurana.
O totalizador (Figura 35) estava previsto para ser instalado no abrigo em alvenaria,
porm, em um primeiro momento, foi instalado na linha de captao do biogs, na parte superior
do biodigestor.


Figura 35. Totalizador da vazo de biogs instalado no abrigo de madeira.
Fonte: CENBIO, 2004g.

O medidor de vazo volumtrico, do tipo turbina, instalado aps o sistema de purificao,
possui uma faixa de operao cujo valor mnimo de 2 L/min e mximo de 10 L/min.
Foi identificada uma grande variao da vazo de biogs. Algumas vezes, o totalizador
indicou vazo de 22 L/min (final da escala do hardware). Assim como indicou valores superiores
a 10 L/min, indicou valores inferiores a 2 L/min, muitas vezes chegando a zero. Essas vazes no


podem ser consideradas como verdadeiras, pois esto fora da faixa de operao do equipamento.
Segundo o fabricante, ao atingir esse valor, tanto o medidor quanto o totalizador de vazo no
sofrem alteraes, tais como funcionamento interrompido ou perda de calibrao. Portanto,
nessas condies, o totalizador continua operando normalmente, fazendo a somatria do volume
total do biogs gerado que passa pelo equipamento.
Desconsiderando-se a medio da vazo pontual e a partir de um monitoramento dirio,
obteve-se vazo mdia de 4 m
3
/dia.

6.3.7 Monitoramento do Esgoto

O hormetro (Figura 36), equipamento que contabiliza o nmero de horas que a bomba
operou, encontra-se instalado na bomba de alimentao do biodigestor. A partir da anlise da
DBO do esgoto na entrada e na sada do biodigestor e dos dados do hormetro possvel fazer o
clculo terico do volume de biogs gerado, cujos resultados apresentam-se na Tabela 24.


Figura 36. Hormetro.
Fonte: CENBIO, 2005h.





Tabela 24. Clculo terico do volume de biogs gerado.
Q=vazo

(Nm
3
/dia) Carga orgnica (kg DBO/dia)
Data: Q/dia Qmed/h Qmax/h entrada residual removida
Populao
equivalente(kg
DBO/0,054Kg
DBO.dia)
Produo
Diria de
Biogs
(Nm
3
/dia)
13/dez/04 70,40 2,93 5,28 23,2 4,2 19,0 430 5,14
14/dez/04 55,96 2,33 4,20 18,4 3,3 15,1 341 4,09
15/dez/04 47,01 1,96 3,53 15,5 2,8 12,7 286 3,44
16/dez/04 40,67 1,69 3,05 13,4 2,4 11,0 248 2,97
17/dez/04 41,49 1,73 3,11 13,7 2,4 11,2 253 3,03
20/dez/04 40,24 1,68 3,02 13,2 2,4 10,9 245 2,94
21/dez/04 36,82 1,53 2,76 12,1 2,2 9,9 224 2,69
22/dez/04 38,54 1,61 2,89 12,7 2,3 10,4 235 2,82
23/dez/04 40,49 1,69 3,04 13,3 2,4 10,9 247 2,96
4/jan/05 43,61 1,82 3,27 14,3 2,6 11,8 266 3,19
5/jan/05 42,55 1,77 3,19 14,0 2,5 11,5 259 3,11
6/jan/05 41,13 1,71 3,08 13,5 2,4 11,1 251 3,01
7/jan/05 42,10 1,75 3,16 13,9 2,5 11,4 257 3,08
10/jan/05 44,85 1,87 3,36 14,8 2,6 12,1 273 3,28
11/jan/05 45,67 1,90 3,43 15,0 2,7 12,3 278 3,34
12/jan/05 46,45 1,94 3,48 15,3 2,7 12,5 283 3,40
13/jan/05 47,17 1,97 3,54 15,5 2,8 12,7 287 3,45
14/jan/05 47,85 1,99 3,59 15,7 2,8 12,9 292 3,50
17/jan/05 45,73 1,91 3,43 15,0 2,7 12,3 279 3,34
18/jan/05 46,38 1,93 3,48 15,3 2,7 12,5 283 3,39
19/jan/05 47,01 1,96 3,53 15,5 2,8 12,7 286 3,44
20/jan/05 47,61 1,98 3,57 15,7 2,8 12,9 290 3,48
21/jan/05 48,12 2,01 3,61 15,8 2,8 13,0 293 3,52
26/jan/05 47,43 1,98 3,56 15,6 2,8 12,8 289 3,47
27/jan/05 47,66 1,99 3,57 15,7 2,8 12,9 290 3,48
28/jan/05 46,70 1,95 3,50 15,4 2,8 12,6 285 3,41
31/jan/05 44,89 1,87 3,37 14,8 2,6 12,1 274 3,28
1/fev/05 44,99 1,87 3,37 14,8 2,7 12,1 274 3,29
2/fev/05 45,13 1,88 3,38 14,8 2,7 12,2 275 3,30
3/fev/05 45,32 1,89 3,40 14,9 2,7 12,2 276 3,31
4/fev/05 45,22 1,88 3,39 14,9 2,7 12,2 275 3,31
10/fev/05 41,52 1,73 3,11 13,7 2,4 11,2 253 3,04
11/fev/05 41,65 1,74 3,12 13,7 2,5 11,2 254 3,05
14/fev/05 40,75 1,70 3,06 13,4 2,4 11,0 248 2,98
15/fev/05 40,65 1,69 3,05 13,4 2,4 11,0 248 2,97
16/fev/05 40,76 1,70 3,06 13,4 2,4 11,0 248 2,98
17/fev/05 41,20 1,72 3,09 13,6 2,4 11,1 251 3,01



Continuao da Tabela 24. Clculo terico do volume de biogs gerado.
Q=vazo (m
3
/dia) Carga orgnica (kg DBO/dia)
Data: Q/dia Qmed/h Qmax/h entrada residual removida
Populao
equivalente(kg
DBO/0,054Kg
DBO.dia)
Produo
Diria de
Biogs
(m
3
/dia)
18/fev/05 41,64 1,73 3,12 13,7 2,5 11,2 254 3,04
21/fev/05 40,79 1,70 3,06 13,4 2,4 11,0 249 2,98
22/fev/05 41,19 1,72 3,09 13,6 2,4 11,1 251 3,01
23/fev/05 41,45 1,73 3,11 13,6 2,4 11,2 253 3,03
24/fev/05 41,79 1,74 3,13 13,7 2,5 11,3 255 3,06
28/fev/05 41,28 1,72 3,10 13,6 2,4 11,1 252 3,02
2/mar/05 41,77 1,74 3,13 13,7 2,5 11,3 255 3,05
11/mar/05 43,28 1,80 3,25 14,2 2,6 11,7 264 3,16
14/mar/05 43,64 1,82 3,27 14,4 2,6 11,8 266 3,19
15/mar/05 43,29 1,80 3,25 14,2 2,6 11,7 264 3,17
22/mar/05 43,61 1,82 3,27 14,4 2,6 11,8 266 3,19
3/mai/05 39,98 1,67 3,00 13,2 2,4 10,8 244 2,92
Instalao do Gasmetro - Hora 17:00
24/mai/05 40,15 1,67 3,01 13,2 2,4 10,8 245 2,94
Bomba foi para Manuteno - Voltou a operar 24/jul
9/set/05 43,14 1,80 3,24 14,2 2,6 11,6 263 3,15
Fonte: CENBIO, 2005h.

Para a realizao dos clculos acima foram utilizados os valores apresentados na Tabela
25 a seguir.
Tabela 25. Valores utilizados para clculos.
DBO entrada 329 mgO
2
/L
DBO sada 59,0 mgO
2
/L
Eficincia desejada (Global) 82%
Gerao de biogs 12 L/0,054 kg DBO.dia
Fonte: CENBIO, 2005h.

Sabendo-se que foi trocado o eixo da bomba do tipo parafuso e, por conseguinte, a bomba
passa a ter menores nmeros de paradas para manuteno, pode-se supor que a mdia da vazo de
biogs sofrer um aumento e deve se estabilizar por volta de 4 m
3
/dia, sendo que o mximo valor
terico 5,27 m
3
/dia, calculado a partir das anlises do efluente.



6.3.8 Alteraes no Projeto

Em relao ao fluxograma inicialmente previsto, foram realizadas algumas modificaes
referentes aos equipamentos do sistema de aproveitamento do biogs para gerao de energia
eltrica. O fluxograma final apresentado na Figura 37 e a identificao dos componentes
encontra-se na Tabela 26.























Figura 37. Fluxograma atual da instalao dos equipamentos.
Fonte: CENBIO, 2004g.



9
INFLAMVE
L
10
11
Z
1
3





7




Tabela 26. Descrio dos equipamentos da instalao.
Equipamento Nmero Quantidade
Tubulao 1 1
Medidor de Vazo de Esgoto 2 1
Biodigestor 3 1
Acumulador de gua do Biogs 4 1
Vlvula de esfera 5 6
Primeiro Compartimento do Sistema de Purificao
do Biogs (Retirada de Umidade e H
2
S)
6 1
Segundo Compartimento do Sistema de Purificao
do Biogs (Retirada de H
2
S)
7 1
Medidor de Vazo de Biogs 8 1
Medidor de Presso (Manmetro em U) 9 1
Gasmetro 10 1
Motor-Gerador 11 1
Fonte: CENBIO, 2004g.

Como citado anteriormente, a obteno da vazo real do biogs possibilitou o
dimensionamento do gasmetro e, conseqentemente, o dimensionamento do grupo motor-
gerador.

6.3.9 Construo do Abrigo para os Equipamentos

Foi executada a construo em alvenaria para abrigo dos equipamentos (Figura 38),
executada pela Famosa Engenharia e Construes.




Figura 38. Fotos da construo em alvenaria para abrigo dos equipamentos.
Fonte: CENBIO, 2005h.

6.3.10 Monitoramento da Presso

Aps trmino da obra, foi desenvolvido e instalado, pela equipe do CENBIO, um medidor
de presso (manmetro em U Figura 39), que garante o monitoramento da presso do
biodigestor e do gasmetro.


Figura 39. Fotos do medidor de presso manmetro em U.
Fonte: CENBIO, 2005h.




6.3.11 Gasmetro: Armazenador de Biogs

Foi adquirido um gasmetro com a finalidade de armazenar biogs suficiente para que o
motor funcione cerca de duas horas, possibilitando um monitoramento das caractersticas do
motor. O gasmetro descarta a idia inicial de instalar um compressor, que exigiria uma outra
srie de equipamentos sofisticados, tais como secadores.
O gasmetro em questo feito de PVC e possui duas camadas. A interna preta e
resistente o suficiente para conter o biogs. A externa azul e protege a camada interior do meio
ambiente.
O gasmetro tem um volume til de 10 m
3
, cujas dimenses so:
Dimetro do corpo: 2000 mm;
Comprimento: 3200 mm.

6.3.12 Grupo Motor-Gerador

A empresa que ofereceu o grupo motor-gerador de baixa potncia, que melhor atendia s
necessidades do projeto foi a Comercial Diesel Parts, que possua um grupo motor-gerador de 18
kW, acompanhado de um quadro de comando e de um quadro de teste. Aps realizao de teste
no grupo motor-gerador utilizando Gs Liquefeito de Petrleo (GLP) como combustvel e
verificando o perfeito estado de funcionamento do equipamento, o mesmo foi adquirido. Apesar
de possuir uma potncia superior s das outras opes encontradas, foi a nica possibilidade que
se apresentou vivel (Figura 40).





Figura 40. Grupo motor-gerador.
Fonte: CENBIO, 2005h.

6.3.13 Instalao Final dos Equipamentos

O medidor-totalizador de vazo, que a princpio estava instalado aps o sistema de
purificao, foi transferido para o abrigo (Figura 41).


Figura 41. Fotos do medidor e totalizador de vazo de biogs instalados no abrigo.
Fonte: CENBIO, 2005h.

Em seguida, foram instalados os demais equipamentos: gasmetro (Figura 42), grupo
motor-gerador com painel de teste (Figura 43), painel de comando (Figura 44) e dado o start up
do sistema, permitindo a realizao dos testes de desempenho dos equipamentos, tempo de
operao, energia gerada e anlise dos gases de exausto do grupo gerador.




Figura 42. Fotos do gasmetro: armazenador de biogs.
Fonte: CENBIO, 2005h.

Na seco de entrada de biogs no gasmetro foi instalada uma vlvula, estilo diafragma,
para evitar que o biogs volte pela tubulao quando houver algum problema, como a parada de
funcionamento da bomba que leva o esgoto para o biodigestor e conseqente diminuio do nvel
de esgoto no biodigestor, permitindo a sada do biogs pelo selo hidrulico.



Figura 43. Grupo motor-gerador com painel de teste.
Fonte: CENBIO, 2005h.





Figura 44. Painel de comando do grupo motor-gerador.
Fonte: CENBIO, 2005h.

6.3.14 Anlise dos Gases de Exausto do Grupo Motor-Gerador

Os resultados das anlises dos gases de exausto esto descritos na Tabela 27.

Tabela 27. Resultado das anlises dos gases de exausto do grupo motor-gerador.
Anlises Componente
10:38 h 11:00 h 11:10 h 11:20 h
Hidrocarbonetos Totais como CH
4
3,1% 0,67% 2,7% 0,19%
Monxido de Carbono (CO) 641 ppm 929 ppm 787 ppm 922 ppm
Dixido de Carbono (CO
2
) 8,8% * 8,4% *
xidos de Nitrognio (NOx) 5 ppm 15 ppm 48 ppm 65 ppm
Oxignio (O
2
) 3,7% 5,4% 5,7% *
Dixido de Enxofre (SO
2
) < 1 ppm < 1 ppm < 1 ppm <1 ppm
Fonte: YAMASHITA, 2005.



Segundo o Instituto de Pesquisa Tecnolgica (IPT)
15
, as emisses esto diretamente
relacionadas carga. Durante a anlise, o grupo gerador em questo estava submetido a uma
carga de 2,4 kW (aproximadamente 17% de sua carga mxima) e, por ser uma carga
relativamente baixa, acarretou maior emisso de hidrocarbonetos totais. Como o ajuste da
admisso do ar ainda no est em seu ponto timo, a queima fica ainda mais incompleta e como
conseqncia mais hidrocarbonetos so emitidos. Pode-se observar uma melhora no decorrer do
tempo devido a ajustes feitos durante as anlises.

6.4 Comparao entre os Grupos Geradores dos Projetos ENERG-BIOG e PUREFA

Comparando os valores da anlise dos gases de exausto do grupo gerador utilizado no
PUREFA com os do ENERG-BIOG, e levando-se em considerao que esta anlise foi realizada
quando este grupo gerador estava submetido a 60% da carga mxima, observa-se que a emisso
de oxignio, assim como de dixido de carbono do projeto PUREFA, so menores. A emisso de
dixido de enxofre baixa, demonstrando mais uma vez a eficincia do sistema de purificao do
biogs. Os xidos de nitrognio foram gradualmente aumentando, o que esperado no decorrer
do aquecimento do motor. No se pode comparar a emisso destes xidos com as do grupo
gerador da SABESP de Barueri, pois segundo a White Martins
16
, provavelmente houve diluio
destes poluentes na gua presente no biogs da SABESP. Por ltimo, as emisses dos
hidrocarbonetos totais (THC) no PUREFA so maiores devido baixa carga que o motor
submetido (0,19% equivale a 1900 ppm Tabela 27).

Tabela 28. Anlise dos gases de exausto do grupo motor-gerador do projeto ENERG-BIOG,
instalado na SABESP de Barueri.
ANLISES
WHITE MARTINS O
2
CO
2
CO SO
2
NO NO
x
THC
Nmero Data % vol. % vol. ppm ppm ppm ppm % vol.
1 29/12/2004 9,5 14,7 - 0,65 0,001 0,001 0,16
Fonte: CENBIO, 2005h.

15
Engenheiro Silvio Figueiredo do agrupamento trmico
16
Sr. Engenheiro Qumico Toshiyuki Yamashita


A Tabela 29 compara os resultados das anlises dos gases de exausto dos grupos
geradores dos projetos ENERG-BIOG e PUREFA.

Tabela 29. Comparao dos resultados das anlises dos gases de exausto dos projetos ENERG-
BIOG e PUREFA.
O
2
CO
2
CO SO
2
NO
x
THC
Projeto Data
% vol. % vol. ppm ppm ppm % vol.
Energ-
Biog
29/12/2004 9,5 14,7 - 0,65 0,001 0,16
PUREFA
30/08/2005
(10:38 h)
3,7 8,8 641 < 1 5 3,1
PUREFA
30/08/2005
(11:00 h)
5,4 - 929 < 1 15 0,67
PUREFA
30/08/2005
(11:10 h)
5,7 8,4 787 < 1 48 2,7
PUREFA
30/08/2005
(11:20 h)
- - 922 < 1 65 0,19
Fonte: CENBIO, 2005h.

6.5 Anlise Econmica do Sistema

Foram escolhidos dois cenrios sendo o primeiro o mais compatvel com as instalaes
existentes. Porm, ele no permite um clculo econmico correto, j que o Projeto PUREFA no
tinha objetivos econmicos. Para ser mais realista, construmos outro cenrio supondo que o
mesmo estivesse atrelado a biodigestor com capacidade suficiente para permitir a operao do
sistema de gerao de acordo com a potncia instalada (Moto Gerador).

Gerao de energia eltrica a partir do biogs
Para anlise deste sistema, adotou-se dois casos:

1. Cenrio 1 - Gerao de 2,4 kW (situao real)


Como dados de entrada para esta anlise tem-se:

Tabela 30. Custo dos equipamentos
Equipamento Descrio Quantidade
R$
Unitrio
TOTAL
(R$)
Medidor de Vazo
Medidor de vazo mod. KFG-1009 + indicador
remoto de vazo mod. CVT-TEM
1 3.729,60 3.729,60
Hormetro Contador de Horas 220VCA Ref. 7 KT5 745-3 1 167,16 167,16
Peneira Molecular Peneira molecular esfrica - sistema de purificao 30 76,00 2.280,00
Alongamento da
sada do biogs
Pea que proporcionou o alongamento na seco
de captao do biogs gerado
1 460,00 460,00
Medidor de Presso Medidor da presso do biodigestor e do gasmetro 1 50,00 50,00
Gasmetro Armazenador de biogs 1 4.074,65 4.074,65
Grupo Gerador
Grupo motor-gerador com painel de testes e de
comando
1 15.000,00 15.000,00
Tubulao Tubos e conexes 1 145,27 145,27
TOTAL 25.906,68

Custo do combustvel (biogs): 0,00 R$/m
3
;
Consumo especfico do motor: 5 m
3
/h;
Potncia lquida gerada: 2.4 kW;
Fator de capacidade: 0,8 a plena carga;
Meses de operao: 12;
Horas de operao: 0,67 h/dia;
Depreciao do equipamento: 21 anos (considerando 0,67 horas/dia de
operao);
Dias: 30 dias/ms;
Salrio mnimo: 300,00 R$/ms;
Profissional autnomo (20% de encargos): 360,00 R$/ms;




Energia gerada:
A energia gerada dado por:

operao horas operao dias operao meses capacidade fator lquida Potncia (29)

10 , 463 67 , 0 30 12 8 , 0 4 , 2 = = gerada Energia kWh/ano = 0,4631 MWh/ano

Custo do combustvel:
Pelo fato do biogs ser considerado um subproduto da digesto anaerbia, seu custo
nulo.

Custo do operador - equivalente as horas de operao do sistema (20 h/ms)
Para o custo do operador, tem-se:


( )
s trabalhada ms por horas
os enc de atnomo al profission dias operao horas

arg % 20
(30)

160
00 , 360 30 67 , 0


23 , 45 = operador Custo R$/ms = 542,76 R$/ano

Dividindo o custo do operador pela energia gerada no ano, tem-se:


gerada Energia
operador Custo

(31)

17 , 1
10 , 463
76 , 542
= R$/kWh

Custo total de operao:


O custo total de operao dado por:

operador custo l combustve Custo + (32)

( ) ( ) 17 , 1 / $ 17 , 1 / $ 00 , 0 = + kWh R kWh R R$/kWh

Custo de manuteno (4% do valor do equipamento por ano):
O custo de manuteno dado por:


gerada Energia
os equipament Custo

04 , 0
(33)

24 , 2
1 , 463
04 , 0 68 , 906 . 25
=

R$/kWh

Depreciao:
O custo da depreciao dado por:


gerada Energia
os equipament o Deprecia
os equipament Custo

(34)

66 , 2
10 , 463
21
68 , 906 . 25
= R$/kWh

Custo de gerao:
O custo de gerao dado por:

o deprecia custo manuteno custo operao Custo + + (35)



07 , 6 66 , 2 24 , 2 17 , 1 = + + R$/kWh = 6.070 R$/MWh

Custo de O&M:
O custo de O&M dado por:

manuteno Custo operao total Custo + (36)

41 , 3 24 , 2 17 , 1 = + R$/kWh = 3.410 R$/MWh

A demanda de energia eltrica do CTH cerca de 100.000 kWh/ms, ou seja, 1.200.000
kWh/ano. Considerando que toda a energia gerada nesse caso fosse levada rede, o CTH teria
uma reduo de apenas 0,039% no consumo de energia eltrica comprada da concessionria.

Tempo de Retorno de Investimento

Demanda de energia eltrica no CTH: 100.000 kWh/ms;
Custo de energia eltrica comprada da rede: 0,299 R$/kWh (tarifa
comercial, segundo a AES Eletropaulo);
Gastos com energia eltrica no CTH: 100.000 * 0,299 = 29.900,00
R$/ms
Custo dos equipamentos: 25.906,68 R$
Gerao de energia eltrica atravs do grupo gerador a biogs: 38,59
kWh/ms;
Economia de energia eltrica (R$ por ms), sem contar o custo do
operador: R$ 11,54;
Tempo de retorno do investimento: 2.245 meses = 187 anos.

2. Cenrio 2 - Gerao de 14 kW (potncia mxima do grupo gerador e gerao
contnua)
Como dados de entrada para esta anlise tem-se:



Custo dos equipamentos: 25.906,68 R$
Custo do combustvel (biogs): 0,00 R$/m
3
;
Consumo especfico do motor: 9 m
3
/h;
Potncia lquida gerada: 14 kW;
Fator de capacidade: 0,8 a plena carga;
Meses de operao: 12;
Horas de operao: 24 h/dia;
Depreciao do equipamento: 0,6 anos (considerando 24 horas/dia de
operao);
Dias: 30 dias/ms;
Salrio mnimo: 300,00 R$/ms;
Profissional autnomo (20% de encargos): 360,00 R$/ms;

Energia gerada:
A energia gerada dada atravs da equao (29):

00 , 768 . 96 24 30 12 8 , 0 14 = = gerada Energia kWh ano

Custo do combustvel:
Pelo fato do biogs ser considerado um subproduto da digesto anaerbia, seu custo
nulo.

Custo do operador - equivalente s horas de operao do sistema (24 h/dia),
portanto, necessita-se de trs operadores, sendo um para cada turno
O custo do operador dado pela equao (30):

160
00 , 080 . 1 30 24


00 , 620 . 1 = operador Custo R$/ms = 19.440,00 R$/ano



Dividindo o custo do operador pela energia gerada no ano (equao 31), tem-se:

20 , 0
00 , 768 . 96
00 , 440 . 19
= R$/kWh

Custo total de operao:
O custo total de operao dado pela equao (32):

( ) ( ) 20 , 0 / $ 20 , 0 / $ 00 , 0 = + kWh R kWh R R$/kWh

Custo de manuteno (4% do valor do equipamento):
O custo de manuteno dado pela equao (33):

01 , 0
00 , 768 . 96
04 , 0 68 , 906 . 25
=

R$/kWh

Depreciao:
O custo da depreciao dado pela equao (34):

45 , 0
00 , 768 . 96
6 , 0
68 , 906 . 25
= R$/kWh

Custo de gerao:
O custo de gerao dado pela equao (35):

66 , 0 45 , 0 01 , 0 20 , 0 = + + R$/kWh = 660,00 R$/MWh

Custo de O&M:
O custo de O&M dado pela equao (36):



21 , 0 01 , 0 20 , 0 = + R$/kWh = 210,00 R$/MWh

Considerando que toda a energia gerada nesse caso fosse levada rede, o CTH teria uma
reduo de 8,1% no consumo de energia eltrica comprada da concessionria.
Para que esse caso ocorresse, seria necessrio uma produo de gs equivalente 216
m
3
/dia, conseqentemente, um biodigestor de maior porte para permitir operao contnua.
Em ambos os cenrios estudados, foram somente considerados os custos envolvidos com
o sistema de gerao de energia eltrica, desde a captao do biogs no biodigestor at sua
utilizao como combustvel. Vale ressaltar que no foram levados em considerao os custos
envolvidos com o sistema de pr-tratamento do efluente e com o biodigestor, pois os mesmos
foram implantados antes da execuo do projeto PUREFA.

Tempo de Retorno de Investimento

Demanda de energia eltrica no CTH: 100.000 kWh/ms;
Custo de energia eltrica comprada da rede: 0,299 R$/kWh (tarifa
comercial, segundo a AES Eletropaulo);
Gastos com energia eltrica no CTH: 100.000 * 0,299 = 29.900,00
R$/ms
Custo dos equipamentos: 25.906,68 R$
Gerao de energia eltrica atravs do grupo gerador a biogs: 8.064
kWh/ms;
Economia de energia eltrica (R$ por ms), sem contar o custo do
operador: R$ 2.411,14;
Tempo de retorno do investimento: 10,74 meses.

Neste caso, o sistema de gerao de energia eltrica seria vivel, tendo em vista o tempo
de retorno de investimento.




6.6 Clculo dos Crditos de Carbono

1. Cenrio 1 - Gerao de 2,4 kW (situao real)
Como dados de entrada para os clculos de crditos de carbono, tem-se:
Potncia da planta de gerao de energia a partir de biogs no CTH: 0,0024 MW;
Tempo de operao da planta: 244,55 horas/ano;
Energia total gerada:
A energia total gerada dada pela equao (22)

587 , 0 55 , 244 0024 , 0 = = gerada total Energia MWh/ano

Fator de intensidade de carbono: 0,5 tCO
2
eq/MWh;
Total de CO
2
eq. evitado:

O total de CO
2
eq. evitado dado pela equao (23)

29 , 0 5 , 0 587 , 0 .
2
= = evitado eq CO de Total tCO
2
eq./ano

Valor de Certificado de Emisses Evitadas (CEE): US$ 10,00/tCO
2
eq.;
Total de US$ em certificados:

O total de US$ em certificados dado pela equao (24)

9 , 2 10 29 , 0 $ = = os certificad em US de Total US$/ano

Vida til da planta: 21 anos;
Total de US$ durante a vida til da planta:

O total de US$ durante a vida til da planta dado pela equao (25)




21 9 , 2 $ = planta da til vida a durante US de Total = 60,9 US$

2. CENRIO 2 - Gerao de 14 kW (potncia mxima do grupo gerador e gerao
contnua)
Como dados de entrada para os clculos de crditos de carbono, tem-se:

Potncia da planta de gerao de energia a partir de biogs no CTH: 0,014 MW;
Tempo de operao da planta: 8.640 horas/ano;
Energia total gerada:
A energia total gerada dada pela equao (22)

96 , 120 640 . 8 014 , 0 = = gerada total Energia MWh/ano

Fator de intensidade de carbono: 0,5 tCO
2
eq/MWh;
Total de CO
2
eq. evitado:

O total de CO
2
eq. evitado dado pela equao (23)

48 , 60 5 , 0 96 , 120 .
2
= = evitado eq CO de Total tCO
2
eq./ano

Valor de Certificado de Emisses Evitadas (CEE): US$ 10,00/tCO
2
eq.;
Total de US$ em certificados:

O total de US$ em certificados dado pela equao (24)

80 , 604 10 48 , 60 $ = = os certificad em US de Total US$/ano

Vida til da planta: 0,6 anos;
Total de US$ durante a vida til da planta:



O total de US$ durante a vida til da planta dado pela equao (25)

88 , 362 6 , 0 80 , 604 $ = = planta da til vida a durante US de Total US$

6.7 Elaborao de Cenrios para Maior Eficincia do Processo

Para maior eficincia do processo, pode-se citar um sistema mais eficiente do que as
tecnologias atualmente empregadas. O tratamento do efluente segue o seguinte procedimento:
Mistura da biomassa;
Hidrlise da biomassa para a remoo de compostos que poderiam vir a gerar CO
2
e
H
2
S;
Etapa da biodigesto, que uma combinao da digesto mesoflica (38 C) com a
termoflica (55 C) em biodigestor com sistema de agitao por meio de pratos que se
movimentam com baixo consumo de energia.

Tal processo traz as vantagens de gerar biogs de qualidade, com menor teor de CO
2
e
H
2
S, em volumes cerca de duas vezes superior aos biodigestores convencionais que atuam ou na
fase mesoflica ou na termoflica, alm de poder utilizar vrios tipos de biomassa combinados
com concentraes de slidos de at 25% (BORELLI et al., 2005).
Esse tipo de tecnologia pode ter seus custos de instalao reduzidos quando adaptada s
condies brasileiras, pois outros materiais construtivos para os biodigestores devem ser
empregados, como por exemplo, a madeira.











7. UTILIZAO DE BIOGS COMO FONTE DE ENERGIA ELTRICA

7.1 Vantagens, Desvantagens e Barreiras Existentes

A recuperao do biogs um processo que envolve vrias etapas. O papel da agncia
ambiental promover este aproveitamento, criar um mercado fornecedor de tecnologias de
recuperao e estimular o mercado possuidor de aterros sanitrios e estaes de tratamento de
efluentes a praticar esta recuperao. A agncia ambiental deve tambm, observar o bom
emprego dos recursos financeiros de forma que esta prtica se reproduza em larga escala
(ALVES, 2000).
O proprietrio de um aterro sanitrio, normalmente uma prefeitura ou uma companhia
coletora de resduos slidos urbanos. J uma estao de tratamento de efluentes, geralmente a
indstria geradora de efluentes ou uma empresa terceirizada, uma vez que h uma crescente
tendncia de especializao por parte das organizaes, concentrando seu quadro de funcionrios
na atividade fim da indstria.
Para garantir um sistema de recuperao do biogs, tcnico e economicamente, deve
haver disponibilidade de biogs, operao satisfatria do sistema e garantia de compra do
excedente de energia gerado. Alm de incentivar a melhor prtica, a agncia ambiental deve
impor a correta queima do biogs em queimadores ou seu uso para fins energticos e/ou trmicos.
A relao entre os ganhos com a venda do excedente de energia gerado e os gastos de
implementao, operao e manuteno definem o produto final o lucro, que viabiliza um
empreendimento. Todavia os benefcios da recuperao do biogs no so contabilizados na
avaliao econmica do projeto.
Projetos de recuperao do biogs gerado na estao de tratamento de efluentes so
diferentes do biogs gerado em aterros sanitrios. No segundo caso, a quantidade de produo de
biogs maior, alm de ser mais rico em metano (ALVES, 2000).
Os digestores anaerbios so peas importantes na recuperao do biogs. Na maioria das
vezes, uma instalao no desenvolvida com o objetivo de gerar biogs e sim, tratar o efluente,
preservando a qualidade do ar e dos corpos dgua.
De um modo geral, a digesto anaerbia no tratamento de efluentes possui as seguintes
vantagens (adaptado de VON SPERLING, 1995):



Baixo custo de implantao;
Elevada sustentabilidade do sistema. Pouca dependncia de fornecimento de energia,
peas e equipamentos de reposio;
Simplicidade operacional, de manuteno e controle;
Baixos custos operacionais;
Adequada eficincia na remoo das diversas categorias de poluentes (matria
orgnica biodegradvel, slidos suspensos, nutrientes e patognicos);
Pouco ou nenhum problema com a disposio do lodo gerado no sistema;
Baixos requisitos de rea;
Possibilidade de aplicao em pequena escala (sistemas descentralizados) com pouca
dependncia da existncia de grandes interceptores;
Fluxograma simplificado de tratamento;
Elevada vida til;
Ausncia de problemas que causem transtorno populao vizinha;
Possibilidade de recuperao de subprodutos teis, como biofertilizante, visando sua
aplicao na fertilizao de culturas agrcolas; e o biogs, um gs combustvel de elevado
teor calorfico.

Por outro lado, h riscos de acidentes associados recuperao, armazenamento e uso do
biogs, tanto em estaes de tratamento de efluentes como em aterros sanitrios (VIEIRA et al.,
1998).
A anlise de impacto ambiental de uma instalao de recuperao energtica do biogs
pode apresentar impactos positivos e negativos:
Impactos positivos: o biogs contm compostos orgnicos volteis, que so os
principais contribuintes para o efeito estufa e que incluem em seu escopo poluentes
txicos. Quando pouco ou nada feito para control-los, estes compostos so lenta e
continuamente lanados atmosfera como produto da degradao da matria orgnica
contida no efluente. Quando o biogs coletado e queimado em um sistema de obteno
de energia, estes compostos so destrudos, evitando a conseqente perda ambiental;
Impactos negativos: anlise de risco de acidentes, visando evit-los.



A manuteno das condies originais de segurana um obstculo ao aproveitamento do
biogs gerado pelos sistemas anaerbios devido ao metano contido no biogs, podendo tornar-se
um problema de segurana para a empresa que o recupera. Para que sejam evitados tais
problemas o biogs usualmente queimado em flares.
Segundo Tommasi (1994), a avaliao de risco de uma instalao pode utilizar diversos
mtodos, entre eles:
rvore de falhas: identificao das combinaes entre falhas nos equipamentos e erros
humanos que culminem em um acidente;
Anlise do erro humano: identificao dos erros humanos e suas conseqncias;
Checklist: identificao dos perigos mais freqentes;
Inspeo de segurana: segurana das instalaes e dos procedimentos de operao e
manuteno sejam os propostos no projeto do sistema;
ndice de baixo risco: classificao das unidades do sistema com base no seu grau de
risco;
Anlise preliminar de risco: anlise dos materiais perigosos e dos principais elementos
da indstria antes da sua instalao, orientando projeto mais seguro;
Hazop: identificao dos perigos e da operacionalidade do processo.

Segundo a CETESB (1994) a anlise de risco a identificao metdica de elementos e
situaes em uma instalao que possam gerar uma condio de risco para quem nela trabalha e
para o pblico em geral.
Para a insero da prtica de energias renovveis na matriz energtica brasileira, enfrenta-
se trs tipos de barreiras: a econmica, a financeira e a poltica (ALTOMONTE et al., 2003 ):
Barreira econmica: dificuldade de concorrncia com as fontes fsseis dentro de um
mercado liberalizado;
Barreira financeira: falta de regulamentao clara para diminuir os riscos e incentivar
o investidor privado a financiar as fontes renovveis. A desestruturao do setor
energtico em vrios pases tem dificultado esta insero;


Barreira poltica: dificuldade de definir a extenso que o governo pode intervir no
setor, caso isto seja necessrio. Sendo necessrio, deve-se buscar apoio poltico formando
coalizes com todos os seguimentos engajados nos objetivos da proposta de interveno.

Para a recuperao de biogs para fins energticos, so identificadas poucas empresas
remanescentes com tecnologia apropriada para o desenvolvimento de projetos desse gnero.
Geralmente, o uso de equipamentos para operar com biogs depende de uma adaptao.
Em geral, uma adaptao de baixo custo no satisfatria, pois o rendimento energtico
inferior, os intervalos entre paradas para manuteno so menores e a confiabilidade do
equipamento reduz-se drasticamente (ALVES, 2000).
O aproveitamento do biogs para gerao de energia eltrica feito pela sua queima e esta
queima mais proveitosa em uma mquina de combusto interna, como motor ciclo Otto e
turbina a gs, que ainda dispe calor residual.
Para a instalao de um sistema de gerao de energia eltrica em uma empresa, deve-se
considerar, antes de tudo, a necessidade energtica da empresa interessada. Uma empresa que
necessite calor em seu processo pode substituir parte do seu combustvel principal pelo biogs.
Este uso pode ser feito pela mistura de combustveis ou pela introduo de um estgio
alternativo, onde o biogs forneceria parte da energia permitindo a reduo do consumo
energtico do estgio principal.
Entretanto, para a implantao de um sistema de aproveitamento energtico do biogs,
tanto em estaes de tratamento de efluentes como em aterros sanitrios, deve-se levar em
considerao que alguns equipamentos e produtos especficos no so nacionais (compressores,
medidores de vazo, filtros, entre outros), o que impacta nos custos de capital dos projetos
(impostos, estadias, transportes, taxas de cambio e pagamento de amortizao, entre outros), alm
do alto custo das tecnologias de gerao de energia eltrica.
A falta de leis que impulsionem o mercado nesse sentido tambm um fator que pesa
contra a utilizao desta fonte de energia, seja na adoo de polticas de incentivo (tarifrias e
subsdios), seja com instrumentos de regulao (tecnologias mais eficientes).





7.2 Polticas para Implementao de Energia Descentralizada

A produo de energia descentralizada a partir de fontes renovveis, aproveita recursos
energticos locais ou em regies de difcil atendimento pelos sistemas convencionais,
possibilitando solues mais adequadas e de menor custo global.
Alm das perspectivas de maior desenvolvimento desta tecnologia em todo o mundo, o
setor eltrico brasileiro vem utilizando mecanismos de incentivos ao uso da biomassa para
gerao de energia eltrica. Um destes mecanismos foi o Programa Nacional de Incentivo s
Fontes Alternativas de Energia Eltrica (PROINFA) de 2001, lei federal n 10.438, onde
estabeleceu que 3.300 MW de potncia instalada fossem adicionadas ao sistema eltrico
brasileiro a partir de fontes de energia renovveis, num total de 1.100 MW por fontes elica,
pequenas centrais hidreltricas e biomassa. Alm disso, o Programa estabelece que os produtores
desta energia tero a garantia de venda por um prazo de at 15 anos e o estabelecimento de um
valor de referncia compatvel com as caractersticas tcnico e econmicas de cada projeto.
Ao lado de todos os princpios para sistemas de energia descentralizada a partir de biogs,
alm do PROINFA e do MDL e Protocolo de Kyoto, citados em captulo anterior, destaca-se a
necessidade de desenvolvimento de instrumentos para implementar algumas diretrizes, entre elas:
polticas; legislativas; administrativas e institucionais; tecnolgicas e financeiras e fiscais
(Declarao de Braslia, 1995).

7.2.1 Diretrizes Polticas

Adequar as polticas governamentais de tarifas, de preos mnimos, de incentivos
fiscais, de tecnologia, de meio ambiente e de subsdios aos energticos de forma a
promover o desenvolvimento da energia a partir do biogs;
Garantir, dado o seu carter estratgico, a continuidade dos programas de energia a
partir de biomassa j implantados, otimizando fatores tecnolgicos e custos, visando
ganhos de competitividade;
Estimular a produo de energia a partir de biogs por meio de legislao especifica,
de facilidades de financiamento e da garantia de compra;


Incentivar a utilizao da energia trmica proveniente do biogs, a fim de reduzir a
instalao de aquecimento eltrico;
Definir programa interministerial para utilizao da energia a partir de biogs, com
coordenao centralizada ao nvel federal e gesto descentralizada ao nvel dos estados e
municpios, com recursos provenientes de fundos federais, para investimentos sustentados
no longo prazo e com base em transferncias intra-setoriais; de fundos estaduais e
municipais complementares; e de recursos com setor privado, como por exemplo da
iseno de impostos e taxas (IPI, Imposto de Renda e outros);
Propor programas especficos, de carter regional, atravs da realizao de projetos de
desenvolvimento social;
Definir sub-polticas especiais com a participao de representantes de segmentos
produtivos e sociais;
Incentivar a formao de cooperativas, visando promover, implementar e assegurar a
produo de biogs destinado gerao de energia;
Promover o uso da energia a partir de biogs, de maneira sustentvel, utilizando a
proteo do meio ambiente local, regional, nacional e global;
Compatibilizar a oferta de biogs com as polticas nacionais e regionais de meio
ambiente;
Destacar nas negociaes multilaterais os benefcios ambientais decorrentes da
utilizao do biogs para gerao de energia, visando obteno de recursos dos pases
com maiores nveis de emisso de poluentes.

7.2.2 Diretrizes Legislativas, Administrativas e Institucionais

Constituir Cmara Temtica que contemple a energia a partir de biogs, no mbito da
Comisso Nacional de Energia;
Promover a regulamentao da participao do capital privado, nacional e estrangeiro,
na produo de energia a partir de biogs;
Estabelecer regulamentao especfica para compra, venda e transporte de energia
eltrica, produzida a partir de biogs;


Flexibilizar a exigncia de reserva operativa para acesso ao Sistema Nacional de
Transmisso de Energia Eltrica, para geradores de energia eltrica a partir de biogs,
mantida a qualidade de fornecimento ao usurio;
Definir rgo de certificao e homologao da tecnologia, visando reconhecimento
internacional;
Determinar aos agentes financeiros oficiais a incluso, entre as linhas prioritrias de
crdito e financiamento, dos projetos destinados ao desenvolvimento do aproveitamento
da energia a partir do biogs, de forma similar do decreto 1040/94, destinado
conservao e uso racional da energia a ao aumento da eficincia energtica;
Viabilizar processos de incubao de empresas emergentes como ao do Estado para
apoiar as iniciativas industriais e rurais sobre a energia a partir do biogs.

7.2.3 Diretrizes Tecnolgicas

Inventariar, sob coordenao dos rgos municipais e estaduais, com o apoio de
rgos do governo federal, o potencial de energia a partir de biogs disponvel;
Estabelecer e divulgar um zoneamento dos potenciais de biogs existentes no
territrio nacional, considerando aspectos regionais e os impactos sobre o meio ambiente;
Identificar e apoiar Centros de Excelncia, Centros de Desenvolvimento Regional e
laboratrios especializados de energia proveniente de biomassa, fortalecendo estas
instituies e priorizando os recursos disponveis;
Estimular a nacionalizao das tecnologias de converso energtica do biogs;
Estimular a realizao de projetos visando a demonstrao da viabilidade tcnica,
econmica e scio-ambiental da utilizao do biogs, e a formao de recursos humanos;
Fomentar a pesquisa e o desenvolvimento cientfico e tecnolgico na rea de biogs;
Estimular as instituies de pesquisa e desenvolvimento a realizar programas
cooperativos, direcionando as atividades para tecnologias de produo e aproveitamento
de biogs economicamente vivel num mercado competitivo.




7.2.4 Diretrizes Financeiras e Fiscais

Implementar linhas de crdito para indstria, produtores e usurios da energia
proveniente do biogs, pessoas fsicas ou jurdicas, com prazos de carncia, taxas de
retorno e perodos de amortizao que viabilizem o desenvolvimento da energia a partir
do biogs;
Promover a criao de fundos rotativos para a energia a partir do biogs, geridos por
associaes, cooperativas ou ONGs;
Criar mecanismos compensatrios para os produtores de energia que utilizem biogs,
tais como a depreciao acelerada e crditos tarifrios por perodo definido, visando
cobrir diferenas de custos operacionais;
Revisar as alquotas de importao, reduzindo-as para componentes de alto contedo
tecnolgico e aumentando-as para produtores finais, artificialmente baratos,
especialmente aqueles com similar nacional;
Estabelecer mecanismos de incentivos fiscais, temporrios e decrescentes, para os
produtores e consumidores que utilizem energia a partir de biogs, sobretudo em projetos
de demonstrao;
Privilegiar o uso de energia a partir de biogs na implementao de programas de
desenvolvimento social;
Estender os incentivos de proteo ambiental para incluir aplicaes da energia a
partir do biogs produzido de maneira sustentvel.












8. CONCLUSES

As tecnologias de digesto anaerbia e de aproveitamento do biogs tm-se revelado
eficazes no tratamento e valorizao de resduos e na mitigao do efeito estufa, com baixos
custos de operao, possibilitando ainda a produo de energia eltrica, evitando custos
ambientais correspondentes s fontes convencionais.
O biogs possui diversas aplicaes de carter energtico. Embora sua principal aplicao
seja como combustvel em um motor de combusto interna a gs, que movimenta um gerador de
energia eltrica, ele pode ser direcionado para outros fins. Dentre suas aplicaes destacam-se o
uso do biogs em aquecedores a gs para produo de gua quente para condicionamento
ambiental ou para calor de processo, uso para secagem de gros em propriedades rurais, secagem
de lodo em ETEs, queima em caldeiras, no aquecimento de granjas e de porcos, uso veicular,
coco, iluminao a gs, entre outros.
Alm dessas aplicaes, o biogs pode ser queimado em flare, evitando assim a emisso
de metano para a atmosfera. Quando queimado em flare, representa uma quantidade de energia
que sai do sistema sem ter o seu potencial energtico aproveitado. J quando utilizado no
processo, colabora para reduzir o consumo especfico da planta.
A utilizao do biogs no pode ser feita de forma direta, uma vez que necessrio
remover algumas impurezas nele contidas. Este procedimento deve ser feito aps sua coleta e
antes da sua aplicao em algum processo. As necessidades de tratamento dependem da aplicao
do uso final. Na utilizao do biogs como combustvel em motores ciclo Otto, que o caso do
projeto PUREFA, ou em turbinas a gs, como no projeto ENERG-BIOG, o tratamento mnimo
requerido refere-se retirada de umidade e do cido sulfdrico (H
2
S) presentes no biogs,
evitando assim possveis danos aos equipamentos pertencentes ao processo de converso
energtica do mesmo.
As tecnologias disponveis de recuperao energtica do biogs no pas ainda apresentam
custos elevados. Os equipamentos so, em sua maioria, importados, o que ocorre no por
desconhecimento tecnolgico, mas porque a escala de produo atual no permite a viabilidade
econmica destes fabricantes no pas. Somente recentemente esto comeando a aparecer
fabricantes nacionais, mas ainda para sistemas de pequeno porte, destinados principalmente
zona rural.


De um modo geral, o processo de recuperao do biogs em aterros sanitrios,
incompleto, pois permite um aproveitamento de aproximadamente 40% do total de biogs
produzido. J em ETEs, o aproveitamento do biogs pode ser de 100%, porm, a implementao
de uma planta para qualquer dessas aplicaes, possui um custo elevado, proporcionando um
tempo longo de retorno de investimento.
Mesmo numa ETE, com grande aproveitamento do biogas no possvel torna-la auto-
suficiente em energia devido grande demanda de eletricidade requerida pelos equipamentos do
processo de tratamento de esgoto. Entretanto, as estaes podem apresentar uma reduo no
consumo de eletricidade proveniente da rede, permitindo assim, um ganho significativo em
termos de eficincia energtica.
O uso energtico do biogs de aterro pode influenciar positivamente a administrao dos
municpios, promovendo o bom gerenciamento dos resduos, gerando empregos, incentivando o
desenvolvimento tecnolgico e a abertura de novos mercados. Alm disso, promove a gerao de
energia eltrica prxima ao centro de consumo e colabora para o aumento da eficincia
energtica global do aterro, tornando-o auto-suficiente, para a viabilidade do saneamento bsico
no pas e para a comercializao da energia excedente gerada e dos crditos de carbono.
Em relao venda de energia, o contrato com as concessionrias torna-se difcil, no s
pelo fato de ser uma energia mais cara, mas tambm porque essas concessionrias querem uma
garantia de fornecimento contnuo e qualidade de energia.
No estudo de caso do projeto PUREFA, conclui-se que o sistema de digesto anaerbia
pode tratar o esgoto proveniente do CRUSP, evitando problemas ambientais, e pode tambm
produzir um volume de 4 m
3
/dia de biogs. Volume este insuficiente para que o grupo gerador de
18 kW funcione continuamente, sem paradas. Da a necessidade de armazenamento do biogs,
antes de ser queimado no motor.
Dois casos foram analisados. O primeiro, situao real, foi estudada a gerao de 2,4 kW
de energia eltrica, que simulada por uma carga composta por lmpadas e resistncias. Essa
energia gerada equivale a 0,039% da energia consumida pelo CTH. No segundo caso, foi
estudada a gerao de 14 kW de energia eltrica, equivalente potncia mxima do motor,
permitindo o funcionamento contnuo do sistema de gerao de energia eltrica. Essa energia
gerada equivaleria a 8,1% da energia consumida pelo CTH, situao esta que seria vivel, caso a
energia fosse utilizada pelo CTH.


Finalizando, o biodigestor implementado no CTH trata o esgoto proveniente do CRUSP.
A quantidade total de esgoto produzida pelo equivalente cerca de 439 pessoas, segundo
clculo demonstrado no captulo 5. Para esta pequena planta, o aproveitamento do biogs para
gerao de energia eltrica torna-se invivel economicamente, pois a quantidade de energia
gerada pelo sistema, conforme dados apresentados nos dois casos analisados, baixa em relao
demanda de energia do CTH. Como citado anteriormente, as metas desenvolvidas no estudo de
caso, tm como finalidade verificar a viabilidade do uso de biogs para gerao de energia
eltrica em motores ciclo Otto. Sendo assim, a inviabilidade econmica do sistema, no deve ser
levada em considerao, j que trata-se de projeto piloto.
Em termos de aproveitamento do biogs para gerao de energia, o tamanho da ETE de
fundamental importncia. Para que a produo de biogs seja regular ao longo de 24 horas, a
ETE dever atender, no mnimo, uma populao de 10.000 habitantes, com capacidade de
gerao de 5.544 kWh/ms.

8.1 Trabalhos Futuros

Pretende-se, atravs de financiamento, dar continuidade ao projeto PUREFA por meio da
implementao de um sistema de monitoramento da energia gerada, alm das anlises dos gases
de exausto emitidos para a atmosfera, disponibilizando o sistema aos professores e alunos para
aulas e estudos.
Os resultados deste projeto serviro de subsdios tcnicos e ambientais para replicar a
gerao de energia eltrica a partir de biogs de tratamento de esgoto em outras pequenas
unidades, incentivar a utilizao de fontes renovveis de energia eltrica, que pode ser utilizada
para acionar a prpria unidade, diminuindo os custos envolvidos no processo de tratamento de
esgoto, colaborando com o saneamento ambiental.

8.1.1 Metodologia a ser Adotada

Ser elaborado um anteprojeto da instalao de monitoramento do sistema de gerao de
energia eltrica a partir do biogs, que permitir determinar a obra de construo civil a ser
executada, bem como a necessidade de equipamentos de instrumentao e controle, tais como:



Medidor de temperatura do biogs: equipamento a ser utilizado para medir a
temperatura do biogs na entrada do gasmetro e do grupo gerador;
Medidor de vazo do biogs: equipamento a ser utilizado para medir a quantidade de
biogs consumido pelo motor;
Cromatgrafo gasoso: equipamento a ser utilizado para realizao das anlises fsico-
qumicas dos gases de exausto do grupo gerador;
Tubulao para a gua: tubulao a ser utilizada no ciclo fechado (cuba eletroltica
trocador de calor radiador ventilado cuba eletroltica);
Vlvulas: equipamentos a serem utilizados na tubulao do sistema;
Cuba eletroltica: equipamento a ser utilizado, a partir da energia gerada pelo grupo
gerador, para aquecimento da gua;
Bomba: equipamento a ser utilizado para bombear a gua da cuba eletroltica at o
trocador de calor;
Trocador de calor: equipamento a ser utilizado para esfriar a gua quente proveniente
da cuba eletroltica;
Radiador ventilado: equipamento a ser utilizado para assegurar o resfriamento da
gua;
Quadro de comando automtico: quadro de comando, com sensor e software, a ser
utilizado para monitoramento do sistema a longa distncia;
Datalogger: equipamento a ser utilizado para coletar informaes, armazen-las e
trabalha-las;
Transdutor: equipamento a ser utilizado para transformar os sinais medidos.

Aps a instalao do sistema e posterior posta em marcha, ser realizado o monitoramento
do sistema e estudada a influncia de parmetros operacionais, tais como presso e temperatura
do biogs, no tempo de operao do grupo gerador e no seu desempenho. Sero realizadas,
tambm, anlises peridicas da composio dos gases de exausto, para avaliar a queima do
biogs no grupo gerador a partir dos gases emitidos para a atmosfera.
Pretende-se, no decorrer do projeto, formar recursos humanos pela capacitao de pessoal,
na operao e manuteno da tecnologia a ser utilizada.



9. REFERNCIAS

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Ensaio - WHITE MARTINS. So Paulo, 2005.














ANEXO A

FLUXO DE CAIXA DO PROJETO ENERG-BIOG


















FLUXO DE CAIXA DO GRUPO GERADOR DE 30 kW

Semestre 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
ENTRADAS
Receitas com energia 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00 17,520.00

INVESTIMENTO INICIAL
(CAPEX)
Total investido (24,680.00) (8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

(8,226.67)

SADAS OPERACIONAIS
O&M (3,022.22) (3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

(3,022.22)

FLUXO DE CAIXA LIVRE (24,680.00) 14,497.78 6,271.11 6,271.11 6,271.11 6,271.11 6,271.11 6,271.11 6,271.11 6,271.11


FLUXO DE CAIXA DA MICROTURBINA DE 30 kW

Semestre 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
ENTRADAS
Receitas com energia 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60 13,665.60

INVESTIMENTO INICIAL
(CAPEX)
Total investido (151,046.40)

SADAS OPERACIONAIS
O&M (15,731.72) (15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

(15,731.72)

FLUXO DE CAIXA LIVRE (151,046.40) (2,066.12) (2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)

(2,066.12)





AVALIAO
PROJETO MICROTURBINA PROJETO GERADOR
VPL (R$ 166,930.39) VPL R$ 80,857.18

Taxa Benchmark
13.75% ao ano
3.27% ao semestre
Por que descontar 18,72% ?

Utiliza-se como base para essa taxa de desconto a remunerao de um
ttulo publico brasileiro (15,75% lastreado pela SELIC) + um spread de
3% pelos riscos inerentes a esse projeto. Normalmente, no segmento
energtico, essa a taxa requerida de retorno para a inverso de capital
em projetos com essas caractersticas (novo e de escala pequena).

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