Genealogia Do Conceito de Infodemia

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VOLUME Infodemia: gênese, contextualizações e

VII SÉRIE ENFERMAGEM E PANDEMIAS interfaces com a pandemia de covid-19.


Brasília, DF: Editora ABEn; 2022.
(Série Enfermagem e Pandemias, 7).

https://doi.org/10.51234/aben.22.e10.c04

GENEALOGIA DO CONCEITO INFODEMIA

Ricardo Bezerra CavalcanteI INTRODUÇÃO


ORCID: 0000-0001-5381-4815
Patrícia Rodrigues BrazI O fenômeno denominado “infodemia” tem se destacado
ORCID: 0000-0003-2102-635X frente ao contexto da crise sanitária desencadeada pela
Thaís Barreiros TavaresI pandemia de covid-19. Em 11 de março de 2020 a covid-19
ORCID: 0000-0001-5076-4736 foi caracterizada e definida como uma pandemia pela
Fabio da Costa CarbogimI Organização Mundial de Saúde (OMS) (1).
ORCID: 0000-0003-2065-5998 A expressão “Covid” significa Corona Vírus Disease e o
Luciane Ribeiro de FariaI número “19” se refere ao ano 2019, ano em que os primeiros
ORCID: 0000-0001-7856-5659 casos de “pneumonia grave” associada à doença surgiram
em Wuhan, na China e foram divulgados publicamente pelo
governo chinês no final de dezembro. A covid-19 é uma
I
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. doença infecciosa de rápido contágio, e tem como agente
etiológico um coronavírus recém descoberto denominado
SARS-CoV-2. O vírus é transmitido principalmente por meio
Autora Correspondente:
Ricardo Bezerra Cavalcante de gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse,
[email protected] espirra ou exala (1).
Pelo ineditismo do diagnóstico, rápida disseminação da
Como citar:
doença a nível mundial e pelo número de mortes, atingindo
Cavalcante RB, Braz PR, Tavares TB, Carbogim FC, 3.541.881 óbitos até a segunda quinzena de maio de 2021,
Faria LR. Genealogia do Conceito Infodemia In: a pandemia de covid-19 tem recebido ampla cobertura
Cavalcante RB, Castro EAB, (Orgs.). Infodemia: gênese,
contextualizações e interfaces com a pandemia de midiática (2). O excesso de informação relacionada à doença
covid-19. Brasilia, DF: Editora ABen; 2022. p. 32-44 ocasionou uma problemática secundária à pandemia, a
(Serie Enfermagem e Pandemias, 7)
https://doi.org/10.51234/aben.22.e10.c04 infodemia e todos os seus impactos na vida dos indivíduos.
Em sua etimologia, a palavra “infodemia” refere-se à
junção dos prefixos “info” - informação e grafia, “pan” - que
Revisor: Prof. Doutor Tarcísio Laerte Gontijo.
Universidade Federal de São João Del-Rei. significa “todo, por inteiro” e “demia” - do grego dêmos,
Divinópolis, Minas Gerais, Brasil. que representa o povo. O termo se refere ao aumento no
volume de informações associadas a um assunto específico,
que pode se multiplicar rapidamente em pouco tempo
(3)
. Nesse contexto, surge um espaço em potencial para
a desinformação e a manipulação das informações com
intenção duvidosa, de fontes inidôneas, além de informa-
ções inverídicas, as denominadas “fake news” ou notícias
falsas em português. Na era e sociedade da informação,
esse fenômeno é potencializado pelas redes sociais e se
expande globalmente.
Ressalta-se, ainda, que o conceito epistemológico
de “infodemia” surgiu após os estudos no campo da

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infodemiologia, que emergiram em 2002 (4). Ambos os termos foram referidos primeiramente por Gunther
Eysenbach, pesquisador canadense que estuda política de saúde e informática de saúde. Investigações
literárias e bibliográficas demonstram que termos como “dilúvio informacional”, “explosão de informação”
e “sobrecarga informativa” já eram empregados nas décadas de 40 e 60, respectivamente, para se referir ao
excesso de informações e mensagens emitidas, e que, possivelmente, foram expressões conceituais que
fomentaram os estudos de infodemiologia (5-7).
A infodemia pode agravar as consequências da pandemia por dificultar a obtenção de orientações con-
fiáveis, pois nem sempre as fontes trabalham com evidências científicas. Além disso, não há um controle de
qualidade do que é publicado devido à rápida difusão das informações. Soma-se ainda o protagonismo do
indivíduo nas redes, que além de receptor, transformou-se em emissor de dados. Dessa forma, os conteúdos
podem ser facilmente produzidos pelas pessoas e divulgados nos diversos meios e mídias (3).
O excesso de informações, muitas vezes, conflitantes, suscita o sentimento de dubiedade entre o que é
“certo” ou “errado”, ocasionando, assim, a desinformação. Com essa turbulência informacional as pessoas
tendem a se sentir ansiosas, deprimidas, sobrecarregadas, emocionalmente exaustas e com medo do des-
conhecido e incerto (3).
É válido ressaltar ainda, que esse fenômeno pode dificultar a tomada de decisão por gestores e profissionais
da saúde, principalmente quando não há tempo hábil para avaliar as evidências disponíveis e a veracidade
das informações (8).
Atualmente, a infodemia está em voga nos diversos estudos centrais sobre o contexto pandêmico de co-
vid-19, e tem impactado a produção científica em termos analíticos sobre os desdobramentos e consequên-
cias biopsicossociais. No entanto, o sentido atrelado a esse conceito data desde os primórdios da tipografia,
quando o modelo de difusão das informações se alterou. É preciso considerar o recorte histórico e evolutivo
acerca da compreensão do excesso informacional para entender e analisar a infodemia na atualidade. Dessa
forma, o presente capítulo tem como objetivo apresentar uma investigação teórica-reflexiva sobre o recorte
histórico e genealógico acerca do conceito de infodemia e seus impactos.

O EXCESSO DE INFORMAÇÕES: DIFUSÕES CONCEITUAIS AO LONGO DA HISTÓRIA

No século XV, na Europa, ocorreu uma das maiores transformações políticas-sócio-culturais na comunicação
e informação, a transição dos manuscritos para os impressos, experiência mediada pelo aprimoramento da tec-
nologia de prensa móvel por Johannes Gutenberg, discípulo do chinês Bi Sheng, que inventou o aparato no ano
de 1040. O primeiro experimento cunhado por Gutenberg foi a impressão da Bíblia, processo iniciado em 1450
e perdurado até o ano de 1455. Tal invenção e aprimoramento da técnica desencadeou mudanças significativas
na civilização do século XV, pois a invenção da tipografia alterou a velocidade e a quantidade de informações na
sociedade. Desse modo, tornou-se possível transmitir informações para milhares de pessoas, através da multipli-
cação de panfletos, noticiários grafados e livros, logo, o conhecimento, que era detido por uma minoria, passou a
abranger o meio social. Nesse período originou-se o termo “imprensa”, denominação advinda da prensa móvel (9).
O ensejo dessa revolução técnica desencadeou a “Revolução da Imprensa”, que alterou o modo de cir-
culação da informação, bem como ocasionou mudanças no pensamento coletivo, nas interações sociais e
contribuiu consideravelmente para a emergência da ciência, religião, cultura e política em espaços de debate.
O processo gráfico, posteriormente, foi otimizado para imprimir jornais em maior proporção. Em meados
do século XX, os dados informacionais e jornalísticos passaram a ser também radiodifundidos e teledifun-
didos. Esse invento foi fundamental para a eclosão da Revolução Tecnológica e disseminação em massa de
informações e aprendizagem (9).
No século XX, abrangendo o período após a Segunda Guerra Mundial na década de 40 até a década de
50, ocorreu a emersão da Terceira Revolução Industrial, chamada também de Revolução Técnico-Científica
e Informacional, que culminou em invenções revolucionarias, a saber, em 1945 a criação do computador,

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tecnologia advinda da Segunda Guerra Mundial, de uso militar nos Estados Unidos. Associado a essa invenção,
um novo modelo social se estabeleceu, alcunhado de “capital intelectual”, tal modelo divergia da produção
em larga escala e acumulativa, de cunho Fordista, e enfatizava a produção intelectual, o que ocasionou uma
mudança central, a qual foi o cerne da Revolução Informacional (10). Logo, a criação do computador culmi-
nou no Toyotismo como modelo de produção flexível e não acumulativo, que substituiu o Fordismo como
organização do trabalho e na logística (11).
A Revolução Técnico-Científica e Informacional prosperou importantes realinhamentos sociais, sendo um
deles, o modo como as informações passaram a ser acrescidas e propagadas. Tais mudanças impactaram o
entendimento sobre a difusão comunicacional. Segundo Barreto (6) a expressão “explosão de informação”,
eclodiu na década de 40, o que configurou o uso do termo foi o aumento incontrolado dos dados na era
informacional.
Após o findar da Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1948, as informações mantidas secretas pelo Es-
tado, seriam difundidas mundialmente. Vannevar Bush, engenheiro, líder no desenvolvimento do complexo
militar-industrial e responsável pelo Escritório de Pesquisa Científica e Desenvolvimento dos Estados Unidos
na época, identificou o problema da “explosão informacional” devido ao crescimento exponencial da infor-
mação, e suscitou questionamentos e reflexões sobre a ordenação, organização e controle de “uma explosão
de informação” e os possíveis obstáculos que poderiam ser encontrados no repasse dessas informações
ao meio social. Bush escreveu o artigo “As we may think” e relatou os problemas decorrentes do volume de
informações liberadas após a Segunda Guerra Mundial e discorreu sobre como tornar acessível um acervo
tão copioso de conhecimentos (6).
Bush avultou três principais problemáticas, tais quais, a formação inadequada de recursos humanos para
lidar com o volume de informação, o instrumental aquém do necessário para armazenar e recuperar as in-
formações, visto que na época o computador ainda era uma tecnologia incipiente, e por último, os saberes
teóricos, que também eram insuficientes para explicar ou solucionar as práticas de informação (6). As reflexões
dispostas em seu artigo ecoaram nos meios da ciência informacional e na sociedade e principiaram um olhar
mais ampliado sobre a necessidade de uma organização das informações.
Os conceitos que permeavam a massividade de informações começaram a ser difundidos amplamente
por estudiosos e pesquisadores, em diferentes contextos. Na década de 50, por exemplo, Albert Einstein
declarava que três grandes “bombas” haviam explodido no contexto social durante o século XX, as quais
denominou, “bomba demográfica”, “bomba atômica” e a “bomba das telecomunicações”, que se referia ao
excesso informacional (5).
Durante a Revolução Técnico-Científica e Informacional foi introduzido nos estudos informacionais, o
termo “infonomia”, que compreende a necessidade social de ter acesso à mais informações (12). Dessa forma,
principiou-se a “sociedade da informação”, como consequência do aumento informacional, caracterizado
pela rápida produção e disseminação da informação e do conhecimento. Esta sociedade caracterizou-se
por um elevado índice de atividades produtivistas que eram interdependentes dos fluxos informacionais (13).
Nessa conjuntura, surgiram os estudos epistemológicos sobre o “processamento das informações”,
com a finalidade de compreender a atividade cognitiva humana e como as pessoas interpretavam e
memorizavam as informações. O Psicólogo George Armitage Miller foi um dos teóricos que elaborou
estudos fundamentais para a psicologia cognitiva e para a estrutura do processamento de informação. A
primeira teoria de processamento da informação de Miller apresentou um conceito teórico fundamental,
o entendimento dos “blocos” e sua relação com a memória de curto prazo. Os “blocos” se referiam à uma
unidade significante, qual seja, uma palavra, um conjunto subsequente de números, bem como alguma
informação. O conceito dos “blocos” e sua interrelação com a memorização culminou em um elemento
basilar para a continuidade dos estudos e surgimento de outras teorias subsequentes de processamento
de informações e memorizações (14).

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Miller propôs um teste, no qual uma pessoa era apresentada a uma série de estímulos (unidade significante)
que variavam em uma dimensão, e posteriormente, a resposta emitida pela pessoa a cada estímulo era analisada.
Miller inferiu que a resposta concatenava com alguma memória já aprendida anteriormente. O desempenho das
pessoas em teste, no que diz respeito às respostas, foi classificado em “quase perfeito” até cinco ou seis estímulos
diferentes, porém esse desempenho diminuiu à medida que o número de estímulos diferentes aumentou (15).
O estudo resultou em uma compreensão sobre o desempenho máximo das pessoas no julgamento
absoluto unidimensional. Foi possível perceber que cada “canal de informação” armazenava no máximo de
dois a três blocos (unidade significante), o que correspondia à capacidade de distinguir entre quatro e oito
alternativas de respostas. Miller observou que a extensão da memória de adultos jovens é de aproximada-
mente sete itens e ressaltou também que era necessário considerar o conhecimento da pessoa que estava
sendo testada sobre a composição do bloco (15-16) por exemplo, um recorte informativo de um noticiário em
tailandês para uma pessoa nativa da Tailândia é um único bloco, porém para uma pessoa nativa do Brasil,
que não tem o conhecimento prévio e basilar exigido para a leitura do idioma, é uma coleção de segmentos
fonéticos, ou seja, uma série de blocos.
Desse modo, Miller demonstrou em seus estudos que a capacidade de armazenamento imediato de in-
formação é limitada a um número de sete. Seu experimento foi cited em vários artigos e publicações como
“número mágico de 7” e posteriormente o estudo foi reconhecido como “Lei de Miller” (15).
Em meados da década de 60 apareceram os termos “sobrecarga de informação” e “sobrecarga informativa”,
no contexto da comunicação social(17). No século XX as reflexões e estudos sobre a sobrecarga de informa-
ção começaram a ser mais difundidos. Segundo os autores Bawden, Holtham e Courtney(18) a sobrecarga de
informação começou a ser compreendida como um problema político e social complexo a partir do início
da década de 60, devido ao acelerado crescimento da ciência e tecnologia, da computadorização dos meios
informacionais e estudos da psicologia cognitiva sobre o processamento das informações.
Tal período histórico é marcado, também, pelo surgimento da Ciência da Informação (CI), na metade do século
XX, na década de 60, como uma área de pesquisa inovadora, embasada na biblioteconomia clássica e na com-
putação digital(19). A biblioteconomia se constituiu como disciplina científica, no final do século XIX, e ampliou
seu escopo de estudos e problematizações relacionadas à transmissão de mensagens, nos aspectos sociais e
culturais das humanidades. Já a computação digital, se referia ao impacto da computação na informação(20).
A CI foi definida por Griffith(21) como uma ciência que objetivou a produção, seleção, organização, inter-
pretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e o uso da informação. A CI pode
ser compreendida como uma disciplina que estuda as dimensões contextuais nas quais o conhecimento é
compartilhado positivamente como informação e negativamente como desinformação, através das tecno-
logias de comunicação(22).
Segundo Capurro (23), há três paradigmas que perpassam pela história da CI, a saber, o paradigma físico,
que compreende a eficiência e medida da transmissão dos dados que pressupõem uma carga informativa
maior ou menor. O paradigma cognitivo, em que a informação é entendida como um processo que altera o
estado de conhecimento do indivíduo e a necessidade de informação como resultado de questões e saberes
lacunares nesse estado de conhecimento. E em terceiro, o paradigma social, refere-se à informação polissêmica
e ao pluralismo de ideias, sendo necessário considerar a diversidade de contextos sociais.
Na história da CI o fenômeno da sobrecarga informacional foi assimilado a outros termos como “caos
documentário” e “infopoluição”. O estudo da sobrecarga de informação advém de uma situação de crise nos
processos informacionais, principalmente no que diz respeito ao fator quantitativo (24).
De acordo com Capurro (14), há de se observar o sentido paradoxal da sobrecarga de informação na sociedade
informacional. Nesse sentido, o autor corrobora que a informação é sempre o produto de um processo de
seleção diante do que se acredita precisar, em termos de análise subjetiva e na aquisição de conhecimentos
e saberes. O paradoxo existe, pois, a quantidade de informação, traz, consequentemente, o aumento de

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seleções possíveis. Desse modo, surgem os problemas relacionados aos critérios de escolha, veracidade, re-
levância e idoneidade. Já os autores Jackson e Farnazeh (25) fomentam que não é a disponibilidade, em termos
de quantidade, que implicam na sobrecarga, e sim o contexto da correlação “informação, cenário e sujeito”.
Logo, é preciso avaliar o que essas informações representam ao meio social, como esse meio lida com elas,
como a interpretam e que recursos possuem para “tratá-las”, no sentido de selecioná-las e compreendê-las.
Os autores Tushman e Nadler (26) aduziram que outra dimensão conceitual envolvida na sobrecarga informa-
tiva era o tempo, e consideraram o fator comparativo entre a quantidade de informação e o tempo necessário
ao processo de interpretação, síntese e decisão organizacional em um determinado período. Possivelmente
o período de análise não é suficiente, se comparado a quantidade de dados emitidos e a velocidade em que
se espalham. Outros estudos demonstraram, ainda, uma dimensão qualitativa de análise, que considera as
caraterísticas da informação, quais sejam, a ambiguidade, complexidade e legibilidade, condicionantes que
podem contribuir para o aumento ou diminuição da sobrecarga de informação (27-28).
A ideia sobre a sobrecarga de informação foi amplamente utilizada e socializada por Alvin Toffler em
seus estudos na década de 70, concernentes à sociedade da informação (17). Na obra de sua autoria “Future
Shock” (1973), o excesso informacional está associado a uma compreensão mais ampla sobre a mudança
social, em que o autor refere como uma nova Era pós-industrial, que posteriormente, difundiu-se como Era
da informação. Segundo o autor, o desenvolvimento da sociedade pós-industrial ocasionou transformações
vertiginosas nas relações sociais, na definição de valores, na produção de bens e, principalmente, na ciência
e na tecnologia. Toffler (29) afirmou que os avanços tecnológicos que levaram à transformação da sociedade
industrial impactaram a vida pessoal cotidiana da sociedade. O escritor faz referência aos processos percep-
tivos e cognitivos que se sobrecarregaram pelos avanços tecnológicos.
Posteriormente, o autor substituiu o termo sociedade pós-industrial pelo termo “sociedade superindustrial”,
referindo-se a uma sociedade em que a tecnologia é extremamente avançada e central na vida humana (30).
Na década de 80 iniciam-se os estudos sobre o processo de gestão da informação e gerência das tec-
nologias(23,30). Tal processo compreende a gestão da informação em ambientes organizacionais através de
atividades que objetivam obter diagnósticos das necessidades informacionais, mapear os fluxos de informa-
ção, coletar, filtrar, monitorar, disseminar informações de diferentes naturezas, assim como elaborar serviços
informacionais, a fim de apoiar o desenvolvimento de atividades e o processo decisório nesses ambientes (10).
Na mesma década, através dos estudos sobre a gestão da informação, emergiu-se o conceito sobre “eco-
logia da informação”. De maneira sucinta a ecologia informacional diz respeito ao ambiente informacional
e suas relações, considerando os valores culturais e crenças sobre a informação, o modo como as pessoas
usam a informação e o que fazem com ela (20). Em suma, a ecologia da informação refere-se a uma resposta
à demanda e necessidade de integrar equilibradamente as informações, tecnologias e mensagens à vivên-
cia cotidiana. A ecologia informacional enfatiza, também, que a informação eficiente e de qualidade pode
substituir o aglomerado de mensagens e informações difusas (10).
A gestão da informação seguiu alinhada à ampliação do acesso à internet. A internet foi criada em 1969,
pela Advanced Research Projects Agency Network (Agência de Projetos de Pesquisa Avançados) (ARPA) do De-
partamento de Defesa dos Estados Unidos, e inicialmente foi denominada “ARPAnet”. A invenção foi elaborada
como resposta à necessidade de compartilhar informações entre diferentes lugares do país. O acesso à rede
manteve-se restrito ao meio acadêmico até o final da década de 80. Mas, foi apenas no início da década de 90,
que o físico Tim Berners-Lee desenvolveu o primeiro navegador World Wide Web (WWW) e a internet passou
a ser comercializada, tornando-se objeto central do cenário econômico na época. Com o advento da Web, a
disponibilização de informações no espaço virtual passou a ser possível(31).
Em 1982, Alan Baddeley, instigado sobre o processamento informacional com o advento da Web, utilizou
a referência dos estudos teóricos de Miller e propôs uma complementaridade do saber sobre a estruturação
da “memória de curto prazo”, ao sugerir o termo “memória de trabalho” (32).

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Baddeley relatou que a memória de trabalho tinha baixa capacidade de retenção da informação e era
acionada quando era preciso reter alguma informação por um determinado período de tempo e depois esta
poderia ser descartada. Em síntese, a memória de trabalho é responsável por manter transitoriamente as
representações informacionais na mente por um período curto de tempo e processar a informação necessária
para realizar uma grande variedade de tarefas cognitivas, como compreensão da linguagem e raciocínios (33).
Os autores Karwoski e Carr ressaltaram que a memória de trabalho torna possível a transferência de infor-
mações para a memória de longo prazo, contribuindo assim para a criação de novos saberes e conhecimen-
tos que passam a fazer parte do constructo do ser. Todavia, a transferência de informações da memória de
trabalho, que tem capacidade de processar apenas pequena quantidade de informação, para a memória de
longo prazo, que tem vasta capacidade de processar informações, é um mecanismo que exige concentração
e atenção frente à exposição ao conteúdo informacional (34-35).
Este fato auxilia a compreensão de que é necessário limitar à carga cognitiva, para que a informação possa
ser transferida para a memória de trabalho e, consequentemente, ser retida para que a mente consiga fazer
as conexões com o que já se conhece, o que já está presente na memória de longo prazo. O excesso infor-
macional, muitas vezes conduz a pessoa a extrapolar esse limite. Uma grande quantidade de informações
difusas na área de trabalho, torna as informações recebidas superficiais e rasas, aumenta a desatenção e
confunde o julgamento do que é útil ou não (35).
De acordo com os autores, uma mente sobrecarregada não trabalha a compreensão, o delineamento
de conceitos e conexões que são importantes para o aprendizado e saber, ela apenas trabalha com fluxos
sem atribuições de sentido (34). Logo, ambos os estudos cunhados por Baddeley (1982) e Karwoski e Carr
(2011), fomentam a necessidade de filtros e seleções dos conteúdos informacionais, para que possam ser
processados com a profundidade adequada, e que, de fato, os dados possam ser modificados em saberes
contextualizados e coerentes.
Em consequência da avalanche de informação no meio social foram observadas reações psíquicas relacio-
nadas a esse fenômeno, o que os psicólogos Roberto Crema, Jean-Ives Leloup e Pierre Weil denominaram na
década de 90 de “informatose”, termo advindo da “normose da informática”. Ressalta-se que a compreensão do
termo filosófico “normose” se refere a normas, crenças e valores sociais que causam sofrimento mental. Sobre a
informatose os autores alegam que o fenômeno é causado pelo excesso de fluxo de mensagens informacionais
em relação a apenas um receptor, além das manifestações emocionais os autores citaram os sintomas motores
provocados pela constante digitação e postura. Além disso, enfatizaram que a informatose poderia afastar as
pessoas do convívio familiar, pelo isolamento frente às tecnologias (36).
Wurmam, arquiteto e design gráfico, em 1991 iniciou os estudos sobre o que conceituava ser parte da sua
pesquisa sobre “arquitetura da informação”, a “ansiedade de informação”, sentimento causado pelo distanciamento
cada vez maior sobre “o que se compreende” e o que se “acha que deveria ser compreendido”. Com a demasia de
conhecimentos a serem averiguados cotidianamente, há maior dificuldade em filtrar o que, na verdade, se deseja
e interessa saber. Essa ansiedade está ligada a necessidade de procurar, na maior parte do tempo, informações e
de estar atualizado “em tempo real” sobre as diversas questões (37). Os sentimentos referentes à frustração e angús-
tia surgem diante da consciência de que há informações que poderiam ter sido adquiridas e não foram. O autor
aduziu, ainda, que esse comportamento de busca e exposição constante às informações afetava o tempo que as
pessoas tinham para refletir e pensar sobre os dados que eram pesquisados, lidos e encontrados (38).
Ainda sobre os impactos na saúde mental, o físico, professor e pesquisador espanhol Alfons Cornella pro-
pôs o termo neológico “infoxicação” que uniu as palavras “informação” e “intoxicação”, relativo à intoxicação
informacional. Para Cornella (39), o significado do termo faz relação à dificuldade em absorver o excesso de
informação oferecida no meio digital e em distinguir a qualidade, veracidade e relevância desta informação.
Visto que o processo de análise e compreensão dos dados muitas vezes não é possível, surgem as reações e
sofrimento mental como dispersão, estresse e ansiedade.

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Na década de 90 os termos “dilúvio” e “inundação” de informações, também foram popularizados (5). O


filósofo francês Pierre Lévy em seu livro Cibercultura (1999), utilizou a metáfora “o segundo dilúvio”, e dispôs
que as telecomunicações geravam esse fenômeno devido à natureza “exponencial, explosiva e caótica” de
disseminação e crescimento de dados e hipertextos. Levy afirmava não existir a finitude do dilúvio informa-
cional, e que, portanto, seria preciso ensinar as novas gerações a “navegar e flutuar” sobre (5,7).
Levy também trabalhou com os termos “transbordamento caótico das informações”, “inundação de dados”
e “inundação de informação contemporânea”, quando se referiu ao surgimento da Web e a nova dinamici-
dade que permitia emissores e receptores “colaborarem com a enchente”, ou seja, produzirem, divulgarem e
manipularem os dados (7). O autor fez uma crítica contundente ao descontrole informacional ensejado pelo
crescimento global acelerado, para além do que a vida humana podia acompanhar (5).
Ante o exposto, pode-se perceber que tecnologia eletrônica oportunizou a modernização da indústria e
contribuiu para importantes modificações sociais, inclusive na comunicação e no meio informacional. Nesse
contexto, os finais do século XX e o início do século XXI ficaram decisivamente marcados pela evolução tecno-
lógica, que proporcionou a massificação dos produtos, sobretudo na área da tecnologia, com a globalização
e o novo paradigma da tecnologia digital, além da ênfase do modelo capitalista informacional, em que a
indústria da informação definiu o modo de produção, o que resvalou em impactos sociais significativos (12).
No começo do século XXI, diante do surgimento de novas interações digitais e rápida difusão tecnológica,
o desequilíbrio informacional se manifestou a nível global, principalmente, pelo excesso de informação que
passa a superar a capacidade do indivíduo de processá-la. Tais mensagens são esvaziadas de significados
relevantes para o indivíduo no contexto de suas necessidades, o que justifica a recepção dessas informações
como “sujeira, poluição e ruído”, no sentido da invalidade como ajuda para tomada de decisões ou a com-
preender as situações mundanas e suas circunstâncias (8). No decorrer dos anos esse processo se intensificou
e passou a interferir na dinamicidade da vida cotidiana, bem como nos sentimentos e afetividades sociais.

EPISTEMOLOGIA DA INFODEMIOLOGIA E O SURGIMENTO DO CONCEITO “INFODÊMICO”

Em 2002, influenciado pelos estudos históricos da sobrecarga informativa, Gunther Eysenbach iniciou
investigações sobre a abordagem epidemiológica da informação e reconheceu que muitas das informações
sobre saúde na internet eram discordantes das fontes baseadas em evidências. Assim, instigado por aprofundar
o conhecimento sobre tal fenômeno, desenvolveu um estudo especializado, o qual conceituou como “disci-
plina e metodologia de pesquisa”, que abarcava o estudo dos determinantes e distribuição de informações
e desinformações em saúde. Posteriormente, denominou tal estudo como infodemiologia, termo oriundo
da junção das palavras “epidemiologia” e “informação” (4).
Eysenbach pronunciou que o campo da infodemiologia poderia identificar áreas lacunares de tradução
do conhecimento entre as melhores evidências científicas e a prática, que envolve o comportamento e cren-
ças das pessoas. A tradução do conhecimento pode ser compreendida como uma metodologia de síntese,
intercâmbio e aplicação de saberes evidenciados e conceitos teóricos em pesquisas ao mundo da prática (4).
Embora a infodemiologia tenha sido consolida através dos estudos e pesquisas do Center for Global Health
Innovation, em que diversas pessoas da área da ciência da computação atuavam, alguns estudos anteriores
já trabalhavam com avaliações informativas. O primeiro estudo infodemiológico foi publicado em 1996 por
Davison, apesar de não utilizar essa denominação em específico. O estudo desenvolvido no Canadá teve como
objetivo avaliar a precisão de informações nutricionais na Internet, através de sites que forneciam recomen-
dações dietéticas. Os resultados eminentes das buscas foram confrontados com as informações dispostas
nas Diretrizes Canadenses para Alimentação Saudável e Recomendações Nutricionais. Dos 365 documentos
acessados, 76 deles forneceram informações que não eram consistentes com as diretrizes dietéticas (40).
Em uma publicação subsequente, o estudo de Impicciatore e colaboradores (41), avaliou a confiabilidade
das informações sobre saúde na rede mundial de computadores e como elas poderiam ajudar pessoas leigas

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a lidar com problemas comuns de saúde. A confiabilidade das informações nos sites foi verificada por compa-
ração com diversas diretrizes de saúde já publicadas. De 41 páginas de sites analisados, apenas quatro páginas
seguiram as principais recomendações das diretrizes selecionadas para o estudo (41). Esse estudo desenca-
deou uma série de publicações que descreveram e analisaram a qualidade das informações médicas sobre
diferentes tópicos na internet, sendo cited muitas vezes por diversos pesquisadores, inclusive por Eysenbach.
Eysenbach inicialmente usou o termo “infodemiologia” em seus estudos no contexto de medir e prever
a qualidade das informações em saúde na internet, analisando as ofertas dessas informações e rastreando a
demanda. Grande parte dos seus primeiros estudos foram descritivos, relatando a porcentagem de sites que
tinham informações de saúde imprecisas (4).
O infodemiologista, como o próprio se intitulou, também em 2002 estruturou um esquema mnemônico
verbal “credible”, que dispõe sobre: Current and frequently updated; References cited; Explicit purpose and in-
tentions of the site; Disclosure of developers and sponsors; Interests disclosed and not influencing objectivity (e.g.,
financial interests);Balanced content, lists advantages and disadvantages; Labeled with metadata; Evidence-level
indicated, traduzido como, atualização das informações, referenciais citados, intenções do site (propósito),
divulgação (desenvolvedores e patrocinadores), interesses divulgados; conteúdo balanceado (demonstrando
vantagens e desvantagens), presença de metadados e nível de evidência indicado. O termo foi instituído no
intuito de apresentar critérios basilares que podiam auxiliar as pessoas a localizar e avaliar informações sobre
saúde na internet de maneira mais precisa (4).
Em 2006, Eysenbach demonstrou que uma das maneiras de melhorar a detecção precoce de um possível
cenário de epidemia era monitorar o comportamento de busca por saúde nos mecanismos de pesquisas na
internet cotidianamente. Devido ao grande número de acesso, as consultas de pesquisa na web poderiam
ser uma imperiosa fonte de informações sobre tendências e comportamentos de saúde. O estudo em ques-
tão apresentou como resultados que, de fato, havia uma correlação entre o número de acessos em um link
acionado por palavra-chave na plataforma Google com dados epidemiológicos da temporada de influenza
sazonal em 2004 e 2005 no Canadá(42).
Já em 2009, Eysenbach constitui a gênese do que viria a denominar como infovigilância. Ele utilizou os
exemplos dos aplicativos de infodemiologia, que incluem a análise de consultas em mecanismos de pes-
quisa da internet para prever surtos de doenças, assim como o monitoramento de atualizações de status das
pessoas em redes sociais para a vigilância sindrômica, a detecção de disparidades na disponibilidade de
informações de saúde, a quantidade, identificação e monitoramento de publicações relevantes para a saúde
pública na internet, e ainda, a tradução de conhecimento e monitoramento da eficácia das campanhas de
marketing de saúde (43).
Verifica-se que o infodemiologista enfatizou que era preciso analisar como as pessoas acessavam a inter-
net em busca de informações relacionadas à saúde e como estas se comunicavam e compartilhavam essas
informações, pois tais fatores poderiam fornecer importantes dados sobre o comportamento das pessoas em
relação à saúde. Para tal, ele propôs a infovigilância preceituada por alguns itens, quais sejam, a prevalência
de informações, taxas de ocorrência de conceitos e incidência de informações (43).
Em maio de 2009, Eysenbach realizou uma pesquisa, arquivando mais de 2 milhões de postagens no Twit-
ter contendo as palavras-chave “gripe suína”, “gripe suína” e / ou “H1N1”, utilizando um sistema de vigilância
denominado “Infovigil”. A análise do banco de dados construído com o conteúdo das postagens, indicou que
4,5% dos casos foram identificados como informações incorretas. Os sites de notícias foram as fontes mais po-
pulares (23,2%), enquanto o governo e as agências de saúde foram vinculados apenas 1,5% das postagens (43).
Segundo Eysenbach, do termo infodemiologia originou-se a “infodemia” (4). O termo refere-se ao aumento
no volume de informações associadas a um assunto específico, que pode se multiplicar rapidamente(3). Nesse
sentido, emergem a desinformação e manipulação de informações com intenção duvidosa, relacionando-se
também às fontes não idôneas, além de informações inverídicas, as denominadas “fake news”(49).

INFODEMIA: GÊNESE, CONTEXTUALIZAÇÕES E INTERFACES COM A PANDEMIA DE COVID-19 39 SUMÁRIO


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Analisando o referido estudo de Eysenbach sobre infovigilância, depreende-se que a infodemia, ou seja,
o excesso de informações em períodos de doenças epidêmicas e pandêmicas ocorreu em outros recortes
históricos, a saber em 2009 com o advento da H1N1, um subtipo, na época inédito, de vírus influenza, que
a princípio foi identificado no México e nos Estados Unidos e se disseminou para mais de 120 países. E em
2013, com o surto epidêmico do vírus Ebola da África Ocidental (44).
A grande diferença do impacto da infodemia nesses momentos históricos, é que os acontecimentos da
contemporaneidade, diante das tecnologias comunicacionais, se desdobram na era da pós-verdade. Na pós-
-verdade há um relativismo epistêmico, no qual a compreensão da “verdade” pode ser diferente dependendo
do contexto analisado, ou seja, evidências têm menor influência do que os apelos emocionais e crenças
pessoais, fatos objetivos podem ser refutados ou ignorados por convicções individuais (45).
Nesse sentido, Wardle e Derakshan, em 2017 descreveram diferentes termos referentes à divulgação de infor-
mações, que compunham o que os autores denominaram de “um ecossistema de informações” no que se refere
a conteúdos dubitáveis que ocasionam a “desordem informativa”. Dentre os termos dissensos há “misinforma-
tion” (informações erradas), “desinformation” (desinformação) e “mal-information” (informações maliciosas) (46).
As “informações erradas” ou “más informações” são informações falsas, mas que não foram veiculadas e
elaboradas com a intencionalidade de causar prejuízos. Já na desinformação ocorre a criação de conteúdos
informacionais falsos, com intuito de causar algum prejuízo a algum grupo social, organização ou pessoa. A
palavra desinformação está historicamente associada ao uso ultrajante nas propagandas políticas, a partir
de meios de manipulação da opinião pública (46).
Os autores citaram sete tipos de “misinformation” e “desinformation”, tais quais, “sátira ou paródia”, “conteúdos
enganosos”, “conteúdos impostores”, “conteúdos fabricados”, “falsas conexões”, “falso contexto” e “conteúdo
manipulado”. A informação maliciosa é baseada em conteúdos reais, que é utilizada para causar prejuízos,
nesse sentido, ocorre delineamentos fracionários da verdade, recortes manipulados para se alcançar o ob-
jetivo que culminará em algum dano (46).
Em 2019, a infodemiologia foi reconhecida por organizações de saúde públicas e pela OMS como um im-
portante campo científico emergente e área crítica de prática e investigação. Com a divulgação de pesquisas,
o conhecimento sobre a infodemiologia se expandiu para além dos nichos intelectuais e de estudos sobre
informação e saúde, e passou a ocupar os espaços públicos, sendo publicizado em debates e no meio social.
A pandemia de covid-19 democratiza esse conhecimento, e o torna midiático em todo mundo.
O Diretor geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus, mencionou na Conferência de Segurança de
Munique, que ocorreu no dia 15 de fevereiro de 2020, que a luta no cenário de enfrentamento da covid-19
não era apenas contra uma epidemia, mas também contra um infodêmico. Após a covid-19 ser declarada
uma emergência de Saúde Pública Mundial, foi estruturada a plataforma Rede de Informação da OMS para
Epidemias (EPI -VENCER), para compartilhar informações congruentes e baseadas em evidências (47-48).
Em julho de 2020, a OMS, passou a reconhecer a infodemia como um problema de saúde pública e pro-
moveu, assim, a primeira Conferência de Infodemiologia Internacional. O evento reuniu cerca de 110 espe-
cialistas que debateram sobre o tema e concluíram que o crescente cenário de epidemia de desinformação
requeria uma resposta coordenada e multidisciplinar, principalmente, através de ferramentas e intervenções
baseadas em evidências científicas para o enfrentamento do fenômeno (48).
Em agosto de 2020 a OMS divulgou em sua página de internet uma matéria intitulada “Imunizando o
público contra a desinformação”, explicitando as estratégias utilizadas pela organização para o controle do
excesso informacional, em que mencionou associações com empresas que realizam análises e fazem moni-
torações de mídias sociais, objetivando controlar as notícias divulgadas sobre a pandemia do coronavírus (49).
Nesse cenário, através dos estudos infodemiológicos, foram definidos quatro pilares para a gestão das
infodemias. O primeiro pilar remete-se a “facilitar a tradução do conhecimento”, sendo a fonte primordial de
informações pesquisas científicas e políticas públicas de saúde, a tradução extraída dessas fontes deve ser

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realizada de maneira confiável até chegar nas mídias por exemplo. Destaca-se que é justamente durante o
processo de tradução do conhecimento que ocorre a desinformação, pois influências políticas, econômicas,
entre outras, podem distorcer a mensagem científica. Logo, a gestão infodêmica deve apoiar, facilitar e for-
talecer a tradução precisa do conhecimento (50).
O segundo pilar refere-se ao “refinamento de conhecimento, filtragem e verificação de fatos”, na gestão
infodêmica. Trata-se dos processos de filtragem e seleções de fontes, a fim de saber a procedência das in-
formações, visando qualificá-las (50).
O terceiro pilar “literacia em saúde”, é definido como a capacidade de rastrear, obter, compreender e avaliar
informações sobre saúde e aplicar o conhecimento adquirido. Na era da informação e no contexto do fenô-
meno da infodemia o indivíduo torna-se responsável por selecionar e filtrar as informações confiáveis que
julgue serem necessárias e além de selecioná-las ele deve interpretá-las e contextualizá-las. Para que esse
processo ocorra a literacia em saúde, que inclui a alfabetização científica, é um fator condicionante. Nesse
sentido, o terceiro pilar da gestão infodêmica é aumentar a capacidade de literacia em saúde populacional (50).
O quarto e último pilar “monitoramento, infodemiologia, vigilância” concerne ao manejo infodêmico, o
monitoramento e análise dos mecanismos de busca e trocas de informações na internet, na pretensão de
detectar surtos de desinformação e fake news, para em contrapartida combater esse cenário com fontes
idôneas e intervenções embasadas cientificamente (50).
Os quatro pilares orientam a gestão infodêmica em conformidade com critérios de qualidade éticos, que
contemplam os conceitos de exatidão, fatos e veracidade, considerando informações advindas de diretrizes
e políticas públicas, baseadas em evidências ou em revisões sistemáticas para determinar a legitimidade
e confiabilidade dos fatos. Se a gestão infodêmica não for bem operacionalizada, consequências como a
disseminação de fake news, a cultura do negacionismo científico, e os interesses econômicos e políticos
ideológicos, podem manipular esses meios, causando o empobrecimento noticiário, a parcialidade do que
se deve ou não informar e a desorganização e confusão social sobre o que é “certo” e “errado” (47- 49).
Ferreira, Lima, Souza (51) discorrem sobre os impactos das fake news, que no âmbito social, promovem ce-
ticismo, desconfiança, pessimismo e desordem entre as pessoas, reações que se traduzem em desconforto,
falta de esperança e insegurança. No que diz respeito à esfera política, esta pode aluir relações entre nações,
instituições e pessoas. No cenário da saúde pública, esse tipo de notícia suscita dúvidas no coletivo imaginário
do senso comum a respeito de conhecimentos científicos e práticas profissionais já estabelecidos, dedicados
à proteção e à promoção da saúde.
No contexto da infodemia, cabe ainda destacar os impactos sociais que abarcam questões políticas e de
saúde pública (49). Considerando o processo contemporâneo de mudanças significativas nas tendências sociais,
é preciso compreender que a relação humana com a mídia e com as redes sociais no cotidiano, se ressignificou,
pois esses meios têm se constituído em ferramentas que intermediam a sociabilidade e as buscas identitárias.
Durante a fase de crise sanitária e humanitária, essa relação se estreita ainda mais. Logo, é necessária maior
atenção a forma como as notícias são veiculadas na mídia, quais são seus impactos, bem como a frequência
de exposição às notícias, a fim de evitar que as pessoas sejam afetadas negativamente por elas (52).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No âmbito da epistemologia genealógica da infodemia, presume-se que a relação do fenômeno infode-


mico com o comportamento informacional social data de anos. Os fatos históricos demonstram que além
de difundir uma informação consciente, é preciso reforçar a conscientização da informação, considerando a
carga cognitiva, o processo interpretativo e os filtros seletivos sobre os saberes.
O gerenciamento do excesso informacional é uma problemática ainda em debate, visto que o fenômeno
infodemico tem sua complexidade por estar centralizado em um contexto multifatorial, que envolve crenças,
valores culturais, modelos sociais, interesses políticos e econômicos, dentre outras questões socioculturais

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influentes. É preciso mitigar a infodemia e seus impactos biopsicossociais, considerando o contexto socio-
político e o modelo produtivista hegemônico alicerçado mundialmente.
É plausível compreender que há importantes correlações entre os cenários endêmicos e pandêmicos e o
referido fenômeno, tal entendimento pode ser exemplificado através da pandemia de covid-19 e o crescimento
exponencial de informações. Desta forma a OMS reconhece a infodemia como um problema de saúde pública
e fomenta a necessidade de ações de regulação da difusão informacional.
Destarte, enfatiza-se a importância de políticas públicas de saúde que implementem metodologias acessí-
veis ao meio social sobre o gerenciamento das informações, com o objetivo de democratizar o conhecimento
fundamentado em evidências, fomentando a educação social sobre como buscar e interpretar informações.
A difusão por canais populares e de maior acesso pode ser uma conduta assertiva, frente ao contexto da
sociedade da informação tecnológica e globalizada.

AGRADECIMENTOS:

Universidade Federal de Juiz de Fora.

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INFODEMIA: GÊNESE, CONTEXTUALIZAÇÕES E INTERFACES COM A PANDEMIA DE COVID-19 44 SUMÁRIO

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