Penas Privativas de Liberdade

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Pena Privativa de Liberdade

Wagner Arandas
[email protected]
Noções Fundamentais
“A pena privativa de liberdade atinge,
como dito, a liberdade de locomoção,
retirando, do sujeito que a sofre, o
direito de dominar seus movimentos,
segundo a sua vontade. Isso significa,
como dito acima, que as penas
privativas de liberdade atingem
diretamente o tempo da pessoa que
a cumpre.” (2010:322)
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito
Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
Prevenção

O controle penal busca a


manutenção da paz social, por vezes
recorrendo à prisão como meio de
punição ou prevenção.
Contudo a prisão deve ser vista
como último recurso, priorizando-se
as medidas cautelares diversas da
prisão dos arts. 319 e 320 do CPP
(Lei N. 12.403/11).
Ultima ration

Conforme dito por Bonneville de


Marsangy: “a pena privativa de
liberdade jamais deverá ser aplicada
quando a pena pecuniária for
suficiente à repressão”
(MARSANGY apud
BITENCOURT, 2017, p. 621).
Modalidades

Podemos dividir a prisão em duas


modalidades: (1) prisões decorrentes
de sanção judicial de condenação
transitado em julgado; e (2) prisão
processual, com caráter preventivo
decretada antes da sentença
condenatória.
Garantias Constitucionais

Art. 5º, LXI, CF - ninguém será


preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei.
Requisitos da prisão processual

• fumus comissi deliciti – provável


materialidade do delito e forte
indicio de autoria;
• periculum libertates – presença
real de risco a integridade
social/vítima e regular tramite do
processo.
Prisão em Flagrante

Sua concepção originária remete a


ideia de uma chama que ainda
encontra-se acesa, em latim:
flagrare.
Desta forma, o flagrante delito,
delimita a circunstância irrecusável
ou evidente do crime.
Espécies de Penas Privativas de
Liberdade
O Ordenamento Penal adota as
Penas Privativas de Liberdade como
GÊNERO, classificando a reclusão,
detenção e prisão simples como
ESPÉCIES.
Compreendendo a Privação à
Liberdade como a “coluna vertebral
do sistema penal”, pois para Hans
Jescheck é a única resposta cabível
para os crimes mais graves.
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser
cumprida em regime fechado, semi-aberto
ou aberto. A de detenção, em regime
semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade
de transferência a regime fechado.
[...]
§ 2º - As penas privativas de liberdade
deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes
critérios e ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito)
anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado;
b) b) o condenado não reincidente, cuja
pena seja superior a 4 (quatro) anos e
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o
princípio, cumpri-la em regime
semi-aberto;
c) c) o condenado não reincidente, cuja
pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la
em regime aberto.
Prisão Simples
“A pena de prisão simples é a
destinada às contravenções penais
(Decreto-Lei N. 3.688/41),
significando que não pode ser
cumprida em regime fechado,
comportando apenas os regimes
semiabertos e abertos. Além disso,
não se pode inserir o contraventor
condenado no mesmo lugar onde se
encontrem os criminosos” (NUCCI,
2012:405).
Decreto-Lei Nº 3.688/41
Art. 6º A pena de prisão simples deve ser
cumprida, sem rigor penitenciário, em
estabelecimento especial ou seção
especial de prisão comum, em regime
semi-aberto ou aberto.
§ 1º O condenado a pena de prisão
simples fica sempre separado dos
condenados a pena de reclusão ou de
detenção.
§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena
aplicada, não excede a quinze dias.
Detenção

Representa o controle relativo sobre


a liberdade dos indivíduos, não
impondo a estes a restrição absoluta
de sua liberdade.
Tem como princípio maior a
regeneração do agressor, atuando
prioritariamente de forma
terapêutica.
Reclusão
Observação mais rigorosa do
Estado, na qual a liberdade do
agente é restringida para afastá-lo
da sociedade.
Tem como princípio maior a
prevenção social, atuando
prioritariamente na periculosidade
do agente.
Antigas Distinções
“Eliminaram-se, é verdade, algumas
diferenças formais, que dificilmente
ganhavam aplicação, tais como
isolamento inicial na reclusão;
direito de escolher o trabalho
obrigatório, na detenção; separação
física entre reclusos e detentos;
impossibilidade de sursis em crimes
punidos com reclusão etc.”
(Bitencourt, 2014).
Limitação na concessão de
fiança
“A autoridade policial somente
poderá conceder fiança nas infrações
punidas com detenção ou prisão
simples (art. 322 do CPP), nunca nos
crimes punidos com reclusão, em
que, quando for o caso, a fiança
deverá ser requerida ao juiz.”
(BITENCOURT, 2014).
Espécies de medidas de
segurança
“Para infração penal punida com
reclusão a medida de segurança será
sempre detentiva; já para autor de
crime punido com detenção, a
medida de segurança poderá ser
convertida em tratamento
ambulatorial (art. 97 do CP).”
(BITENCOURT, 2014).
Consequências Materiais
i.a. na aplicação das Medidas de
Segurança, quando o tipo penal
previr a reclusão será observada
a internação em hospital de
custódia;
i.b. quando a detenção tipica
prevista for de detenção a
medida poderá ser a de
tratamento ambulatorial.
Incapacidade para o exercício do
poder familiar, tutela ou curatela
“Somente os crimes punidos com
reclusão, praticados pelos pais,
tutores ou curadores contra os
respectivos filhos, tutelados ou
curatelados, geram essa
incapacidade. Na hipótese de prática
de crimes punidos com detenção, nas
mesmas circunstâncias, não gerarão
os mesmos efeitos.”
(BITENCOURT, 2014).
Influência decisiva nos pressupostos da
prisão preventiva

“Como se vê, a manutenção


dicotômica da pena privativa de
liberdade obedece a toda uma
estrutura do nosso ordenamento
jurídico-penal, que não se resume a
uma simples divisão terminológica.”
(BITENCOURT, 2014).
Outras Distinções

“Executa-se primeiro a reclusão e


depois a detenção ou prisão
simples.” (BITENCOURT, 2014).
Na reclusão o regime inicial poderá
ser fechado;
O juiz só poderá autorizar
interceptações telefônicas quando o
fato típico for punido com reclusão.
Regime de Cumprimento

i. Regime Fechado → cumprido em


estabelecimentos de segurança máxima ou
média, em “celas individuais”;
ii. Regime Semi-aberto → cumprido em
penitenciárias agrícolas ou industriais (ou
estabelecimentos similares), sendo previsto o
monitoramento eletrônico quando autorizada
a saída temporária (Lei N. 12.258/2010).
Regime Fechado

Art. 34 - O condenado será


submetido, no início do
cumprimento da pena, a exame
criminológico de classificação para
individualização da execução.
§ 1º - O condenado fica sujeito a
trabalho no período diurno e a
isolamento durante o repouso
noturno.
Regime Fechado

Art. 34, § 2º - O trabalho será em


comum dentro do estabelecimento,
na conformidade das aptidões ou
ocupações anteriores do condenado,
desde que compatíveis com a
execução da pena
Regime Fechado

Art. 34, § 3º - O trabalho externo é


admissível, no regime fechado, em
serviços ou obras públicas.
Semi-aberto

Art. 35 - Aplica-se a norma do art.


34 deste Código, caput, ao
condenado que inicie o cumprimento
da pena em regime semi-aberto.
§ 1º - O condenado fica sujeito a
trabalho em comum durante o
período diurno, em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento
similar.
Semi-aberto

Art. 35, § 2º - O trabalho externo é


admissível, bem como a frequência a
cursos supletivos profissionalizantes,
de instrução de segundo grau ou
superior.
Regime de Cumprimento
iii. Regime Aberto → “baseia-se no senso de
autodisciplina e auto responsabilidade do
apenado. Não é cumprido em penitenciária,
mas em casa de albergado, que não possui
obstáculos exteriores à fuga. No regime
aberto, o apenado deverá, sem vigilância,
trabalhar, estudar ou desenvolver alguma
atividade autorizada no período diurno,
somente se recolhendo no período de
repouso noturno” (BRANDÃO, 2010: 236).
Regime Aberto

Art. 36 - O regime aberto baseia-se


na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado.
§ 1º - O condenado deverá, fora do
estabelecimento e sem vigilância,
trabalhar, frequentar curso ou
exercer outra atividade autorizada,
permanecendo recolhido durante o
período noturno e nos dias de folga.
Progressão de Regime
“O Supremo Tribunal Federal, em sua
constituição plenária, através do Habeas Corpus
82.959, declarou a inconstitucionalidade do § 1º
do art. 2º da Lei Nº 8.072/90 (Lei dos crimes
hediondos), que previa o cumprimento da pena
em regime integralmente fechado nos crimes
hediondos e assemelhados” (BITENCOURT,
2014, p. 295).
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será
cumprida integralmente em regime fechado.
Regime Progressivo
“A característica principal dos
sistemas progressivos é o
estabelecimento de distintos
períodos dentro do cumprimento da
pena, através dos quais a dureza do
regime se mitiga progressivamente
desde o isolamento até alcançar o
último período, que se cumpre em
liberdade condicional” (CONDE,
1998, p. 608).
Progressão de Regime
Sem violência ou Primário 16% - Artigo 1/6 - Artigo 112
grave ameaça 112, inciso I, da da LEP
LEP Lei Nº 7210/84
Pacote Anticrime
Lei Nº 13.964/19

Reincidente 20% - Artigo


112, inciso II, da
LEP
Progressão de Regime
Com violência Primário 25% - Artigo 1/6 - Artigo 112
ou grave 112, inciso III, da LEP
ameaça da LEP

Reincidente 30% Artigo


112, inciso IV,
da LEP
Progressão de Regime
Crime hediondo Primário 40% Artigo 112, 2/5 - Art. 2º, §
ou equiparado inciso V, da LEP 2º, da Lei
8.072/90

Se houver morte:
50%, vedado o
livramento
condicional -
Artigo 112,
inciso VI, alínea
"a", da LEP
Progressão de Regime
Crime hediondo Reincidente 60% - Artigo 3/5 - Art. 2º, §
ou equiparado 112, inciso VII, 2º, da Lei
da LEP 8.072/90

Se houver morte:
70%, vedado o
livramento
condicional -
Artigo 112,
inciso VIII, da
LEP
Progressão de Regime
Comando, individual ou coletivo, de 50% - Artigo 1/6 - Artigo 112
organização criminosa estruturada 112, inciso VI, da LEP
para a prática de crime hediondo ou alínea "b", da
equiparado (art. 288, CP) LEP

Milícia privada (art. 288-A, CP) 50% - Artigo


112, inciso VI,
alínea "c", da
LEP
Art. 114. Somente poderá ingressar no
regime aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a
possibilidade de fazê-lo imediatamente;
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou
pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá
ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas
do trabalho as pessoas referidas no artigo
117 desta Lei.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições
especiais para a concessão de regime aberto,
sem prejuízo das seguintes condições gerais e
obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado,
durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários
fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem
autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e
justificar as suas atividades, quando for
determinado.
Trabalho do Preso

Art. 39 - O trabalho do preso será


sempre remunerado, sendo-lhe
garantidos os benefícios da
Previdência Social.
Regime de Cumprimento
Reclusão: a. Regime Fechado → penas maiores
de 8 anos; b. Regime Semiaberto → penas
maiores de 4 e menores que 8 anos; c. Regime
aberto → penas iguais ou menores que 4
anos.

Detenção: Regime Semiaberto → penas maiores


que 4 anos; Regime Aberto → penas menores
ou iguais a 4 anos.
Regressão de Regime

A regressão do regime dá-se pela


prática de fato definido como crime
doloso ou falta grave; ou quando o
réu sofrer condenação, por crime
anterior, cuja pena, somada ao
restante da pena em execução, torne
incabível o regime. (DireitoNet,
2015)
Regressão de Regime

Além disso, a regressão ainda pode


acontecer quando o condenado
frustrar os fins da execução ou não
pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta, caso em
que será previamente ouvido.
(DireitoNet, 2015)
Critérios Objetivos

Art. 118. A execução da pena privativa de


liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com
a transferência para qualquer dos regimes mais
rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou
falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja
pena, somada ao restante da pena em execução,
torne incabível o regime (artigo 111).
Critérios Objetivos

Art. 118. § 1° O condenado será


transferido do regime aberto se, além
das hipóteses referidas nos incisos
anteriores, frustrar os fins da execução
ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do
parágrafo anterior, deverá ser ouvido
previamente o condenado.
Critérios Objetivos

Art. 119. A legislação local poderá


estabelecer normas complementares
para o cumprimento da pena
privativa de liberdade em regime
aberto (artigo 36, § 1º, do Código
Penal).
Falta Grave

Art. 50. Comete falta grave o


condenado à pena privativa de
liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento
para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente,
instrumento capaz de ofender a
integridade física de outrem;
Falta Grave

Art. 50. IV - provocar acidente de trabalho;


V - descumprir, no regime aberto, as
condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos
incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
VII - tiver em sua posse, utilizar ou fornecer
aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.
Saída Temporária

As saídas temporárias, como


conhecidos popularmente, estão
fundamentados na LEP (Lei N°
7.210/84). Nos dias que antecedem
tais datas, o Juiz da Vara de
Execuções Penais edita uma portaria
que disciplina os critérios para
concessão do benefício da saída
temporária e as condições impostas
aos apenados (TJDF).
Regime Especial

Art. 37 - As mulheres cumprem pena


em estabelecimento próprio,
observando-se os deveres e direitos
inerentes à sua condição pessoal,
bem como, no que couber, o disposto
neste Capítulo.
Prisão Domiciliar - CPP
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão
preventiva pela domiciliar quando o agente for:
I - maior de 80 (oitenta) anos;
II - extremamente debilitado por motivo de
doença grave;
III - imprescindível aos cuidados especiais de
pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com
deficiência;
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de
gravidez ou sendo esta de alto risco.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz
exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.
Direitos do Preso - CP

Art. 38 - O preso conserva todos os


direitos não atingidos pela perda da
liberdade, impondo-se a todas as
autoridades o respeito à sua
integridade física e moral.
Superveniência de doença
mental
Art. 41 - O condenado a quem
sobrevém doença mental deve ser
recolhido a hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou, à falta, a
outro estabelecimento adequado.
Detração

Art. 42 - Computam-se, na pena


privativa de liberdade e na medida
de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no
estrangeiro, o de prisão
administrativa e o de internação em
qualquer dos estabelecimentos
referidos no artigo anterior.

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