Avaliao Penal II

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE DIREITO - SEMESTRE 2021.2 – DIREITO PENAL II - NOTURNO
PROFESSOR MS. ANDREO ALEKSANDRO NOBRE MARQUES

Discente: Gabriela Reis Coelho

Primeira avaliação – (15/12/2021)

Instruções:

a) a prova contém 3 (três) questões discursivas, conforme pontuação indicada em cada uma delas;
b) o(a) aluno(a) deverá respondê-las apoiando-se nos fundamentos legais, assim como na
interpretação doutrinária e jurisprudencial existente acerca de cada um dos pontos indagados;
c) as respostas deverão ser enviadas pelo SIGAA, até as 22h e 15min de hoje.

1) Discorra sobre os pressupostos de aplicação das medidas de segurança, seus fins, suas espécies,
prazo de duração, princípios a elas relacionados e hipóteses de substituição de pena de prisão por
medida de segurança. (1,5)
A priori, é necessário compreender que a finalidade das medidas de segurança é
a adequada reintegração social de um indivíduo considerado perigoso para a própria
sociedade, elas são uma especie de sanção penal imposta pelo Estado fundamentando-
se na periculosidade e com natureza eminentemente preventiva. Incialmente, consoante
ao doutrinador Cezar Roberto Bittencourt observa-se três pressupostos ou requisitos
para a aplicação da medida de segurança. O primeiro deles é a prática de fato típico
punível: é indispensável que o sujeito tenha realizado um ilícito típico. Logo, não existirá
esse primeiro requisito se houver, por exemplo, excludentes de criminalidade, de
culpabilidade (como erro de proibição invencível, coação irresistível e obediência
hierárquica, embriaguez completa fortuita ou por força maior) - com exceção da
inimputabilidade -, ou ainda se não houver prova do crime ou da auditoria etc. Em suma,
a presença de excludentes de criminalidade ou de culpabilidade e a ausência de prova
impedem a aplicação de medida de segurança.
O segundo pressuposto a ser analisado é periculosidade do agente, considera-se
indispensável que o sujeito que praticou o ilícito penal típico seja dotado de
periculosidade. A periculosidade será definida como um estado subjetivo mais ou menos
duradouro e antissociabilidade. É um juízo de probabilidade - tendi por base a conduta
antissocial e a anomalia psíquica do agente - de que voltará a delinquir. o Código penal
prevê dois tipos de periculosidade: 1. periculosidade presumida curativo (quando o
sujeito for inimputável, art 26 caput; 2); 2. periculosidade real (agente semi-imputável e o
juiz constar que necessidade de “especial tratamento”. O último pressuposto é a
ausência de imputabilidade plena. O agente imputável não pode sofrer medida de
segurança, somente pena. E o semi-imputável só excepcionalmente estará sujeito à
medida de segurança, isto é, se necessitar de especial tratamento curativo, caso
contrário, também ficará sujeito somente à pena: ou pena ou medida de segurança,
nunca as duas. Assim, a partir da proibição de aplicação de medida de segurança ao
agente imputável, a ausência de imputabilidade plena passou a ser pressuposto ou
requisito para a aplicação de dita medida.
Outro ponto a ser analisado, é a substituição da pena por medida de segurança,
existem duas hipóteses em que a pena pode ser substituída por medida de segurança
(semi-imputabilidade ou superveniência de doença mental).
Essa operação será possível quando se tratar de condenado semi-imputável, que
necessitar de especial tratamento curativo, jamais quando se tratar de um imputável.
Tratando-se do semi-imputável, comprovando-se a culpabilidade, sempre sofre uma
condenação. Com base nos elementos do art. 59, o juiz fixa a pena, com redução
obrigatória, justa para o caso, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime. Essa é a regra. A substituição é a exceção, que poderá ocorrer se o
condenado necessidade de especial tratamento curativo (art. 98).
E através da força da Lei de Execução Penal (LEP) – art. 183: Quando, no curso
da execução da pena privativa de liberdade, sobreviver doença mental ou perturbação
da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria
Pública ou da autoridade administrativa poderá determinar a substituição da pena por
medida de segurança. Além disso, obtém-se a superveniência de doença mental do
condenado, que ocorre quando o condenado deve ser recolhido a hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou, em não havendo a outro estabelecimento adequado.
Com relação ao princípios, os informadores das penas também se aplicam às
medicações de segurança, mas dois necessitam de destaque de acordo com Sanches:
1. princípio da legalidade; 2. princípio da proporcionalidade.
Ainda seguindo a visão do doutrinador Sanches, as espécies de medida de
segurança pode ser de duas espécies: detentiva ou restritiva. A medida de segurança
detentiva (art. 96, I, CP) representa a internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico. Por força do dispositivo no art. 97, caput, do Código Penal, aplica-se a
medida detentiva aos crimes punidos com pena de reclusão. Já com relação à medida
de segurança restritiva (art. 96, II, CP) corresponde ao tratamento ambulatorial. Entrará,
em regra, na hipótese do crime punido com detenção, salvo se o grau de periculosidade
do agente indicar necessidade da internação.
Além disso, consoante a Sanches, a internação ou tratamento ambulatorial será
por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 a 3 anos,
diretamente proporcional à gravidade da anomalia mental do sentenciado (art. 97, CP).
No entanto, o STF entende que o prazo máximo deve coincidir com o prazo máximo de
cumprimento de pena privativa de liberdade no Brasil (40 anos). E o STJ entende que o
prazo máximo configura-se com a pena máxima prevista no preceito secundário (pena
prevista) - súmula 527 STJ.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2021.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte geral (arts. 1º ao 120) /
Rogério Sanches Cunha – 6ª ed. rev, ampl.
2) Disserte sobre a atual configuração do instituto da progressão de regime no ordenamento
jurídico brasileiro, explicando seus requisitos objetivos e subjetivos, comparando com a
sistemática anteriormente vigente, inclusive no que diz respeito aos condenados pelo cometimento
de crimes hediondos e equiparados. (2,0)

Inicialmente, através do século XIX foi fixada a pena privativa de liberdade, a


imposição deste tipo de cumprimento de reprimenda deu-se com o abandono da pena de
morte, consistindo no tipo predominante até os dias atuais (BITENCOURT, 2013, p. 169).
Por meio de uma abdicação dos sistemas pensilvânico e Auburniano, surge então
o sistema progressivo. De maneira diferente do rigorismo utilizado nos sistemas
anteriores, este representa respeito ao condenado. Ele foi aperfeiçoado na Irlanda, onde
colocavam o preso para trabalhar ao ar livre sem o rigorismo da prisão fechada. É
possível ainda observar que a disciplina é mantida, mas não de forma repressiva, é uma
forma de disciplina como medida de construção do indivíduo, melhorando suas
condições.
É importante frisar que para que se tenha direito à progressão de regime no
ordenamento brasileiro é necessário que o condenado cumpra dois requisitos: o objetivo
que refere-se ao tempo de pena e o subjetivo, que é a avaliação social.
Por meio desse sistema os reclusos são beneficiados de acordo com suas
condutas dentro do cárcere. “O cumprimento de pena se dá em períodos, onde em cada
período são desfrutados benefícios diferentes de acordo com seus comportamentos,
demonstrando, desta forma, um melhor aproveitamento do sistema” (BITENCOURT,
1993, p. 81).
Para dispor a progressão de regime deve ser observado os requisitos do artigo
112 da LEP, na qual deve ser cumprido no mínimo de 1/6 (um sexto) da pena em casos
de cometimento de crime comum, exceto no cometimento de crimes hediondos
tipificados pela Lei 8.072/90.
Através da evolução histórica encontra-se um sistema onde se estimula a
liberdade do condenado, não observando somente uma ideia de disciplinar as prisões,
mas olhando para a figura do próprio apenado e sua correção.
Ao realizar a comparação com os sistemas antes vigentes o sistema Progressivo
adota algumas peculiaridades de cada um deles, como a guarda dos presos nas celas
durante a noite e a adoção do trabalho como uma das fontes de ressocialização do
indivíduo, tudo isto de forma legalizada, abolindo toda conduta autoritária ou ideológica.
Lei n. 8.072/90
Em sua redação original, a Lei n. 8.072/90 proibia a progressão de regimes nos
crimes hediondos. Aquela previsão violava o princípio da individualização da pena e o
sistema progressivo adotados por nosso ordenamento jurídico. é função da lei ordinária
fixar os parâmetros dentro dos quais o julgador deverá efetivar a individualização da
pena, observando, evidentemente, o comando da Constituição Federal. Por essa razão,
o legislador ordinário pode dispor, nos limites das prerrogativas que lhe foram conferidas
pela norma constitucional, que, nos crimes hediondos, o tempo de cumprimento da pena
no regime fechado possa ser maior (um quarto ou um terço, por exemplo) que aquele
previsto para as demais infrações penais. Não significa, contudo, que possa impedir a
progressão de regime ou violar a individualização da pena.
Lei n. 9.455/97
A Constituição fixou um regime comum para os crimes de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, terrorismo e os definidos como crimes hediondos (art. 5º,
XLIII, da CF), equiparando-os quanto a sua danosidade social. Com o novo tratamento
que a Lei n. 9.455/97 estabeleceu para o cumprimento da pena decorrente de
condenação pelo crime de tortura — inegavelmente mais benéfico —, reconhecendo o
direito à progressão, estava autorizada a interpretação extensiva da nova dicção legal,
para estendê-la às demais infrações definidas como crimes hediondos, inclusive
retroativamente.
Não se podia ignorar, por outro lado, que a disciplina do cumprimento de pena
constante dos dois diplomas legais era conflitante, ou, na linguagem que estamos
utilizando, era desuniforme: de um lado, proibia a progressão de regime para os crimes
hediondos, terrorismo e tráfico de entorpecentes (Lei n. 8.072/90); de outro lado, admitia
o regime progressivo para o crime de tortura (Lei n. 9.455/97). Contudo, como o
ordenamento jurídico é composto por um sistema harmônico e racional de normas,
eventuais e aparentes contradições devem encontrar solução adequada no próprio
sistema, através das regras de hermenêutica e dos princípios gerais de Direito.

Como mostra a Lei n. 11.464, de 27 de março de 2007, seguindo a orientação


consagrada pelo Supremo Tribunal Federal naquele julgamento do HC 82.959, minimiza
os equivocados excessos da Lei n. 8.072/90, alterando os parágrafos do seu art. 2º, com
as seguintes inovações: a) o cumprimento da pena iniciará em regime fechado; b) a
progressão nos crimes hediondos ocorrerá após o cumprimento de dois quintos (2/5),
sendo o apenado primário, e de três quintos (3/5), se reincidente; c) em caso de
sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade. Mas, em nenhuma hipótese vedou o livramento condicional, ao contrário do
que faz a ora questionada Lei n. 13.964/2019.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2021.

SANTOS, Isabela Mendonça e PRADO, Florestan Rodrigo do. Sistemas


Penitenciários. Toledo Prudente Centro Universitário. ETIC 2016- Encontro de Iniciação
Científica ISSN 21-76-8498. Disponível:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/5715/5434.
Acesso em: 15 Dez. 2021.

3) Discorra sobre os requisitos objetivos e subjetivos necessários à concessão do livramento


condicional, as hipóteses em que é incabível sua concessão, esclarecendo, ainda: a) se é possível
que haja prorrogação do período de prova do livramento condicional em caso de crime cometido
durante a vigência do benefício, as cautelas que o juiz da execução penal deve adotar nesse caso,
assim como as consequências que deverão advir da revogação do livramento condicional, de
acordo com o entendimento da doutrina e das decisões do Superior Tribunal de Justiça; b) se é
possível a prorrogação do livramento condicional em caso de o período de prova se extinguir antes
de iniciada a ação penal por crime cometido durante a vigência do benefício. (1,5)
A priori, faz-se necessário conceituar o livramento condicional. Ele é a
antecipação da liberdade do condenado, não sendo ela plena, em razão de alguns
requisitos subjetivos e objetivos. Consoante ao doutrinador Rogério Sanches Cunhas,
os requisitos objetivos são: A pena imposta deve ser privativa de liberdade; a quantidade
de pena aplicada tem que ser igual ou superior a 2 anos; necessidade de o agente ter
cumprido uma parte da pena imposta, no caso, condenado não reincidente em crime
doloso e que possua bons antecedentes criminais: Cumprimento de mais de 1/3 da
pena, condenado reincidente em crime doloso: Cumprimento de mais da metade,
Condenado por crime hediondo ou equiparado (sem resultado morte), desde que não
seja reincidente em crime hediondo: Cumprimento de mais de 2/3 da pena; reparação do
dano: requisito dispensado no caso de impossibilidade de reparação e no caso de a
vítima não ser encontrada para ser indenizada, ou ainda, demonstrar desinteresse na
reparação; e, por fim, não cometimento de falta grave nos últimos doze meses (este
requisito objetivo foi introduzido pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime). Já os requisitos
subjetivos são: Bom comportamento durante a execução da pena; bom desempenho no
trabalho que lhe foi atribuído; aptidão para prover a própria subsistência mediante
trabalho honesto; e no caso de crime doloso praticado com violência ou grave ameaça à
pessoa, é imprescindível a constatação de condições pessoais que façam presumir que
o liberado não voltará a delinquir.
A) O art. 86, CP, versa sobre as causas de revogação obrigatória do
livramento condicional. A primeira delas diz respeito ao cometimento de delito
durante o período de prova do livramento. O cometimento de crime durante a
vigência do livramento revela que o condenado ainda não está preparado para
retornar ao convívio social, e, assim, não merece usufruir do benefício, em
prejuízo da sociedade. A revogação dependerá, todavia, do trânsito em julgado de
sentença condenatória (sentença irrecorrível) acerca do delito cometido na
vigência do benefício, e desde que a condenação seja a pena privativa de
liberdade. Embora seja necessário aguardar o trânsito em julgado da condenação,
o art. 145, da LEP, permite a suspensão do benefício, decisão de caráter
provisório, ao contrário da revogação, que é definitiva. As consequências da
revogação do livramento são respaldadas pelos
Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e,
salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior
àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o
condenado.
Art. 141, da LEP. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à
vigência do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da
pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo
livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142, da LEP. No caso de revogação por outro motivo, não se
computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se
concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.
Portanto, como regra não é abatido da pena o tempo em que o condenado
esteve no livramento condicional, a menos que se trate de crime anterior ao
benefício (isso quando o livramento condicional for revogado);
B) se é possível a prorrogação do livramento condicional em caso de o período
de prova se extinguir antes de iniciada a ação penal por crime cometido durante a vigência
do benefício.
Nota-se por meio de tais súmulas que não há a possibilidade de prorrogação do
livramento condicional em caso de o período de prova se extinguir antes de iniciada
a ação penal por crime cometido durante a vigência do benefício.

Súmula 617 do STJ: “A ausência de suspensão ou revogação do


livramento condicional antes do término do período de prova enseja a
extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.”

Súmula Vinculante 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem
prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte geral (arts. 1º ao 120) /
Rogério Sanches Cunha – 6ª ed. rev, ampl.

Boa sorte!

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