Estado Do Ceará Poder Judiciário Tribunal de Justiça Gabinete Exmo. Sr. Inacio de Alencar Cortez Neto
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO
9. A Lei 14.454/22, que alterou a Lei 9656/98, passou a prever que o rol da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) constitui referência básica de cobertura
obrigatória pelos planos de saúde, de modo que, uma vez fora deste rol e
demonstrada a comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em
evidências científicas ou recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação
de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), mediante indicação médica
fundamentada acerca da necessidade de uso, a operadora não está isenta da
obrigação de custeá-lo.
10. Ressalta-se ainda que, no que diz respeito às diretrizes e ao rol estabelecido
pela ANS, estes apontam apenas coberturas mínimas que devem ser consideradas
como orientação a serem observadas pelos planos de saúde, não impedindo
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RELATÓRIO
VOTO
os planos de saúde.
Inicialmente, destaco que o usuário contratante dos
serviços de saúde suplementar deve ser tratado como consumidor, relativizando-se
o princípio da força obrigatória do contrato, com a atuação do judiciário para coibir
práticas comerciais abusivas, utilizando-se, para tanto, a disciplina consumerista,
que prevê um sistema de proteção contratual, considerando-se nulas de pleno
direito cláusulas que estabeleçam obrigações que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
Incide, portanto, no presente caso, o Código de Defesa
do Consumidor, a teor do enunciado de Súmula nº 608 do Superior Tribunal de
Justiça: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de
saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.”
Conforme se verifica dos autos, a médica que assiste a
agravada prescreveu o Freestyle Libre, por ser um equipamento que oferece a
precisão necessária à paciente, sendo fundamental para evitar complicações da
doença e até morte, vide fls. 26.
Cabe mencionar que pessoas com diabetes tipo um ou
dois precisam acompanhar, com frequência, como está o seu nível de glicose, para
evitar que eventual pico ou queda (hipo e hiperglicemia) desse índice possa lhes
afetar a saúde. Ademais, o Freesyle Libre é uma ferramenta importante para
verificar a eficácia do tratamento contra a diabetes, pois a falta de controle pode
representar complicações severas como cegueira, distúrbios neurológicos e
problemas renais crônicos.
Portanto, o monitoramento dos níveis de glicose está
diretamente relacionado ao controle da diabetes, de modo que o Freesyle Libre é
uma ferramenta que facilita e incentiva a verificação da glicemia, possibilitando a
geração automática de relatórios concisos, que contém uma análise clara e
transparente dos dados coletados de glicose daquele paciente, facilitando o
acompanhamento da doença.
De acordo com a Lei nº 9.656/98, os planos de saúde
devem sempre garantir a cobertura de todas as doenças listadas no CID-10, que é a
Classificação Internacional de Doenças, que inclui a diabetes, de forma que ela
deve ser coberta integralmente, incluindo-se os tratamentos e medicamentos que
vierem a ser relacionados pelo médico. Assim, não cabe à operadora do plano de
saúde questionar o tratamento indicado pelo médico ao seu paciente.
Logo, a operadora não pode se recusar a cobrir o
tratamento indicado pelo médico sob o argumento de ser um tratamento
experimental, ou por supostamente não estar previsto no rol de procedimentos da
ANS.
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