Estado Do Ceará Poder Judiciário Tribunal de Justiça Gabinete Exmo. Sr. Inacio de Alencar Cortez Neto

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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO

Processo: 0640709-20.2022.8.06.0000 - Agravo de Instrumento


Agravante: Unimed Fortaleza - Sociedade Cooperativa Médica Ltda.. Agravado:
Solanne Reis da Silva. Custos Legis: Ministério Público Estadual

EMENTA: DIREITO CIVIL. CONSUMIDOR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PACIENTE PORTADORA DE DIABETES MELLITUS
TIPO 1. NECESSIDADE DE MONITORAÇÃO CONTÍNUA E PRECISA DA
GLICEMIA. PRESCRIÇÃO MÉDICA DO EQUIPAMENTO FREESTYLE LIBRE E
SEUS SENSORES. CUSTEIO PELO PLANO DE SAÚDE. EXCEÇÃO À
TAXATIVIDADE DO ROL DE TRATAMENTOS DA ANS. DOENÇA COBERTA
PELA OPERADORA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO
MANTIDA.

1. Cuida-se de Recurso de Agravo de Instrumento interposto pela Unimed Fortaleza


Sociedade Cooperativa Médica LTDA, objetivando a revogação da decisão
interlocutória proferida pelo juízo da 25ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, que
deferiu a tutela antecipada de urgência requerida por Solanne Reis da Silva em
Ação de Obrigação de Fazer por ela ajuizada.

2. A controvérsia recursal consiste em verificar se a decisão interlocutória prolatada


pelo juízo de primeiro grau foi acertada ao determinar que o plano de saúde deve
fornecer tratamento para Diabetes Mellitus tipo 1, com o custeio do aparelho para
monitoração contínua da glicemia Freestyle Libre e seus insumos (sensores), como
prescrito pela médica assistente, de forma continuada, enquanto houver resposta ao
tratamento, em favor da beneficiária.

3. A agravante alega a ausência dos requisitos para a concessão da tutela de


urgência. Além disso, a recorrente aponta a necessidade de observância das
disposições do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde elaborado pela ANS –
Agência Nacional de Saúde Suplementar, que não prevê o tratamento pretendido.
Assim, a Unimed Fortaleza afirma, em síntese, que não praticou conduta indevida,
sendo plenamente a sua recusa justificável, com base nos limites previstos no
contrato e nas normas que regem os planos de saúde.

4. Inicialmente, destaco que o usuário contratante dos serviços de saúde


suplementar deve ser tratado como o consumidor, relativizando-se o princípio da
força obrigatória do contrato, com a atuação do judiciário para coibir práticas
comerciais abusivas, utilizando-se, para tanto, a disciplina consumerista que prevê
um sistema de proteção contratual, considerando-se nulas de pleno direito cláusulas
que estabeleçam obrigações que coloquem o consumidor em desvantagem
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exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. Incide, portanto, o


Código de Defesa do Consumidor, a teor do enunciado de Súmula nº 608 do
Superior Tribunal de Justiça: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos
contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.”

5. Conforme se verifica dos autos, a médica que assiste a agravada prescreveu o


Freestyle Libre, por ser um equipamento que oferece a precisão necessária à
paciente, sendo fundamental para evitar complicações da doença e até morte, vide
fls. 26.

6. De acordo com a Lei nº 9.656/98, os planos de saúde devem sempre garantir a


cobertura de todas as doenças listadas no CID-10, que é a Classificação
Internacional de Doenças, que inclui a diabetes, de forma que ela deve ser coberta
integralmente, incluindo-se os tratamentos e medicamentos que vierem a ser
relacionados pelo médico assistente. Assim, não cabe à operadora do plano de
saúde questionar o tratamento indicado pelo médico ao seu paciente. Logo, a
operadora não pode se recusar a cobrir o tratamento indicado sob o argumento de
ser um tratamento experimental, ou por supostamente não estar previsto no rol de
procedimentos da ANS. Precedentes do STJ e do TJCE.

7. O direito à saúde se reveste na garantia de um tratamento que melhor satisfaça


às necessidades do indivíduo, com observância de todos os meios necessários à
minimização do seu sofrimento e ao respeito à sua dignidade. Assim, verifica-se que
o autor realmente necessita dos equipamentos pleiteados, de modo que lhe negar o
fornecimento o coloca em situação de manifesta desvantagem.

8. Ressalta-se que, no dia 08/06/2022, a Segunda Seção do STJ, julgou os


embargos de divergência nos EResp 1.886.929/SP e EResp 1.889.704/SP,
decidindo que o rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar é, em regra,
taxativo, admitindo exceções.

9. A Lei 14.454/22, que alterou a Lei 9656/98, passou a prever que o rol da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) constitui referência básica de cobertura
obrigatória pelos planos de saúde, de modo que, uma vez fora deste rol e
demonstrada a comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em
evidências científicas ou recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação
de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), mediante indicação médica
fundamentada acerca da necessidade de uso, a operadora não está isenta da
obrigação de custeá-lo.

10. Ressalta-se ainda que, no que diz respeito às diretrizes e ao rol estabelecido
pela ANS, estes apontam apenas coberturas mínimas que devem ser consideradas
como orientação a serem observadas pelos planos de saúde, não impedindo
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ampliação para que se possa oferecer tratamento adequado. Frise-se, entendimento


contrário viola o princípio da boa-fé objetiva (art. 421 do CC) e coloca o paciente em
condição de desvantagem.

11. Recurso conhecido e improvido. Decisão interlocutória mantida.

ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito


Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer
do recurso de agravo de instrumento, mas para lhe negar provimento, nos termos do
voto do Relator.

INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO


Presidente do Órgão Julgador

Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de Recurso de Agravo de Instrumento interposto


pela Unimed Fortaleza Sociedade Cooperativa Médica LTDA, objetivando a
revogação da decisão interlocutória proferida pelo juízo da 25ª Vara Cível da
Comarca de Fortaleza, que deferiu a tutela antecipada de urgência requerida por
Solanne Reis da Silva em Ação de Obrigação de Fazer por ela ajuizada.
Na origem, a demandante, Solanne Reis da Silva, ajuizou
ação de obrigação de fazer, na qual relata que foi diagnosticada com Diabetes
melitus tipo I há muitos anos, o que comprometeu significativamente parte de sua
qualidade de vida. Segundo a autora, o número elevado de testes invasivos,
colhendo o próprio sangue e testando em leitores analógicos se tornaram inviáveis,
além de informarem resultados imprecisos, de modo que o método foi considerado
ineficaz para seu tratamento conforme atestado pela médica que a acompanha. Em
razão disso, a promovente passou a ter quadros convulsivos de hipoglicemia,
levando-a a ter perda da consciência por períodos prolongados e, por muitas vezes,
ao risco de óbito. Assim, a médica endocrinologista que assiste a recorrida, a fim de
promover o controle satisfatório da doença, prescreveu o leitor de glicemia e os
sensores subcutâneos necessários para tal fim, sendo os equipamentos de controle
mais frequentes encontrados no mercado os do fabricante Abbott de nome
comercial Libre Style.
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A promovente, ora recorrida, buscou o plano de saúde do


qual é beneficiária, Unimed Fortaleza, para que lhe fornecesse o aparelho prescrito
com os seus respectivos insumos, mas a operadora apresentou resposta negativa
sob a alegação de que o material demandado não integra o rol taxativo da ANS.
Diante disso, a parte autora requereu a concessão de
tutela antecipada de urgência para que a Unimed Fortaleza lhe fornecesse 01 (um)
leitor de glicemia Liber Style a cada seis meses e 03 (três) sensores subcutâneos
por mês do mesmo modelo e fabricante, de modo vitalício ou até que sobrevenha
terapia substitutiva mais eficiente.
O juízo da 25ª Vara Cível de Fortaleza, então, antes da
citação da parte promovida, proferiu decisão interlocutória, concedendo a tutela
antecipada de urgência, nos termos requeridos pela autora (fls. 31/32).
Inconformada com a referida decisão, a Unimed Fortaleza
interpôs o presente recurso de agravo de instrumento com pedido de efeito
suspensivo, no qual requer a revogação de sua obrigação de patrocinar o Sensor
Freestyle Libre em favor da beneficiária, ora agravada (fls. 1/20).
Despacho proferido neste grau recursal (fls. 133),
deixando para apreciar o pedido de efeito suspensivo após a formação do
contraditório.
A parte agravada, apesar de devidamente intimada, não
apresentou contrarrazões no prazo legal, conforme certidão de fls. 135.
Parecer da Procuradoria Geral de Justiça às fls. 140/146,
no qual opina pelo conhecimento e improvimento do presente recurso.
É o relatório.

VOTO

Presente os pressupostos de admissibilidade recursal,


conheço do Agravo de Instrumento e passo à sua análise.
Inicialmente, dada a natureza do provimento jurisdicional
que se busca com o presente recurso de Agravo de Instrumento, cabe ressaltar que
qualquer discussão acerca do mérito da causa, neste momento, é inviável, de modo
que a análise recursal está limitada à manutenção ou não, da decisão atacada.
O recurso de agravo de instrumento interposto contra
decisões que versem sobre tutelas provisórias (art. 1.015, inc. I do CPC) está
atrelado a um juízo de cognição sumária, de modo que o tribunal, ao apreciar esta
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espécie recursal, deve se ater unicamente a analisar se a interlocutória agravada,


ao conceder ou negar o pedido de tutela provisória formulado na exordial, obedeceu
criteriosamente aos requisitos estabelecidos na legislação processual.
Nesse sentido, conforme prevê o art. 300 do CPC, para a
concessão de tutela de urgência, é necessário que sejam demonstrados,
cumulativamente, a probabilidade do direito alegado e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo.
Desse modo, a controvérsia recursal consiste em verificar
se a decisão interlocutória prolatada pelo juízo de primeiro grau foi acertada ao
determinar que o plano de saúde deve fornecer tratamento para Diabetes Mellitus
tipo 1, com o custeio do aparelho para monitoração contínua da glicemia Freestyle
Libre e seus insumos (sensores), como prescrito pela médica assistente, de forma
continuada, enquanto houver resposta ao tratamento, em favor da beneficiária.
Compulsando os autos, entendo, em total concordância
com a decisão exarada em primeiro grau, sendo prudente a sua manutenção, pelas
razões que passo a expor.
A agravante alega a ausência dos requisitos da tutela de
urgência. Além disso, sustenta a recorrente que o material pleiteado pela recorrida é
descartável e de uso domiciliar, cujo fornecimento não é coberto pelo plano de
saúde, nos termos do contrato e da legislação pátria. Ademais, o Fresstyle Libre
trata-se de OPME (órtese, prótese e/ou material especial) não ligada a ato cirúrgico
e possui expressa exclusão contratual.
Ademais, a recorrente afirma que as considerações
constantes no laudo médico não trouxeram nenhuma indicação comprovada de
urgência ou de imprescindibilidade do uso do aparelho da marca Freestyle Libre se
comparado com os outros, pois a necessidade da parte autora se faz na medição do
seu índice glicêmico, e não em uma marca específica.
Outrossim, sustenta a agravante que além de existirem
outros sensores com a mesma funcionalidade e de outras marcas mais baratas; o
SUS – Sistema único de Saúde, também fornece medicamentos e materiais para o
controle de glicemia, segundo Lei Federal n.º 11.347/2006 que podem assegurar o
tratamento pretendido.
A recorrente aponta ainda a necessidade de observância
das disposições do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde elaborado pela ANS
– Agência Nacional de Saúde Suplementar, que não prevê o tratamento pretendido.
Assim, afirma a agravante que não houve conduta
indevida pela Unimed Fortaleza, sendo plenamente justificável a negativa de
fornecimento, com base nos limites previstos no contrato e nas normas que regem
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os planos de saúde.
Inicialmente, destaco que o usuário contratante dos
serviços de saúde suplementar deve ser tratado como consumidor, relativizando-se
o princípio da força obrigatória do contrato, com a atuação do judiciário para coibir
práticas comerciais abusivas, utilizando-se, para tanto, a disciplina consumerista,
que prevê um sistema de proteção contratual, considerando-se nulas de pleno
direito cláusulas que estabeleçam obrigações que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.
Incide, portanto, no presente caso, o Código de Defesa
do Consumidor, a teor do enunciado de Súmula nº 608 do Superior Tribunal de
Justiça: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de
saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.”
Conforme se verifica dos autos, a médica que assiste a
agravada prescreveu o Freestyle Libre, por ser um equipamento que oferece a
precisão necessária à paciente, sendo fundamental para evitar complicações da
doença e até morte, vide fls. 26.
Cabe mencionar que pessoas com diabetes tipo um ou
dois precisam acompanhar, com frequência, como está o seu nível de glicose, para
evitar que eventual pico ou queda (hipo e hiperglicemia) desse índice possa lhes
afetar a saúde. Ademais, o Freesyle Libre é uma ferramenta importante para
verificar a eficácia do tratamento contra a diabetes, pois a falta de controle pode
representar complicações severas como cegueira, distúrbios neurológicos e
problemas renais crônicos.
Portanto, o monitoramento dos níveis de glicose está
diretamente relacionado ao controle da diabetes, de modo que o Freesyle Libre é
uma ferramenta que facilita e incentiva a verificação da glicemia, possibilitando a
geração automática de relatórios concisos, que contém uma análise clara e
transparente dos dados coletados de glicose daquele paciente, facilitando o
acompanhamento da doença.
De acordo com a Lei nº 9.656/98, os planos de saúde
devem sempre garantir a cobertura de todas as doenças listadas no CID-10, que é a
Classificação Internacional de Doenças, que inclui a diabetes, de forma que ela
deve ser coberta integralmente, incluindo-se os tratamentos e medicamentos que
vierem a ser relacionados pelo médico. Assim, não cabe à operadora do plano de
saúde questionar o tratamento indicado pelo médico ao seu paciente.
Logo, a operadora não pode se recusar a cobrir o
tratamento indicado pelo médico sob o argumento de ser um tratamento
experimental, ou por supostamente não estar previsto no rol de procedimentos da
ANS.
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Nesse sentido, o enunciado da Súmula 102 do TJSP,


prevê (grifei):
Súmula 102 do TJSP: Havendo expressa indicação médica, é
abusiva a negativa de cobertura de custeio de tratamento sob o
argumento da sua natureza experimental ou por não estar previsto
no rol de procedimentos da ANS.

Acrescenta-se, ainda, outros entendimentos que


confirmam o dever da operadora de fornecer o tratamento indicado para as doenças
cobertas pelo plano (grifei):
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE TRATAMENTO DOMICILIAR.
RECUSA INDEVIDA. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior entende que nos
casos em que há previsão de cobertura para a doença do
consumidor, consequentemente haverá cobertura para
procedimento ou medicamento necessário para assegurar o
tratamento de doenças previstas no referido plano, inclusive
quando se tratar de medicamento domiciliar. 2. Agravo interno não
provido. (AgInt no AREsp 1609538/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 22/06/2020, DJe
30/06/2020)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.
PLANO DE SAÚDE. SENSOR DE MONITORIZAÇÃO DE GLICOSE
FREESTYLE LIBRE. INSUMO. RECUSA INDEVIDA DE
COBERTURA. 1. Havendo previsão de cobertura contratual para a
enfermidade crônica que acomete o paciente (diabetes), é
indevida a recusa do plano de saúde em fornecer insumo a ser
ministrado em ambiente domiciliar (no caso, o Sensor de
Monitorização de Glicose Freestyle Libre), por se tratar de
continuidade ao tratamento prescrito pelo médico assistente,
sob pena de desnaturar o próprio contrato de assistência à
saúde. 2. Negou-se provimento ao agravo de instrumento. (TJ-DF
07214999520218070000 DF 0721499-95.2021.8.07.0000, 4ª Turma
Cível, Rel. Des. Sérgio Rocha, DJ 30/09/2021)

Outrossim, cabe ressaltar que o direito à saúde se


reveste na garantia de um tratamento que melhor satisfaça às necessidades do
indivíduo, com observância de todos os meios necessários à minimização do seu
sofrimento e ao respeito à sua dignidade.
Desse modo, verifica-se que a autora realmente necessita
dos equipamentos pleiteados, de modo que lhe negar a coloca em situação de
manifesta desvantagem.
É cediço, em conformidade da regra insculpida no art.
196 da CF, que deve ser assegurado ao paciente, com absoluta prioridade, o direito
à vida e à saúde, com a devida assistência integral. Nesse sentido, o Julgador a quo
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agiu com acerto ao determinar que a Agravante custeie o tratamento prescrito.


Ressalta-se que, no dia 08/06/2022, a Segunda Seção do
STJ, julgou os embargos de divergência nos EResp 1.886.929/SP e EResp
1.889.704/SP, decidindo que o rol de procedimentos e eventos em saúde
suplementar é, em regra, taxativo, admitindo exceções, vejamos (grifei):
1. O rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar é, em
regra, taxativo;
2. A operadora de plano ou seguro de saúde não é obrigada a arcar
com tratamento não constante do rol da ANS se existe, para a cura do
paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado
ao rol;
3. É possível a contratação de cobertura ampliada ou a negociação de
aditivo contratual para a cobertura de procedimento extra rol;
4. Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os
procedimentos do rol da ANS, pode haver, a título excepcional, a
cobertura do tratamento indicado pelo médico ou odontólogo
assistente, desde que (i) não tenha sido indeferido expressamente,
pela ANS, a incorporação do procedimento ao rol da saúde
suplementar; (ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz
da medicina baseada em evidências; (iii) haja recomendações de
órgãos técnicos de renome nacionais (como Conitec e Natjus) e
estrangeiros; e (iv) seja realizado, quando possível, o diálogo
interinstitucional do magistrado com entes ou pessoas com expertise
técnica na área da saúde, incluída a Comissão de Atualização do Rol
de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar, sem
deslocamento da competência do julgamento do feito para a Justiça
Federal, ante a ilegitimidade passiva ad causam da ANS. (Relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/6/2022,
DJe de 3/8/2022.)

Quanto à natureza exemplificativa do rol ANS, também


decidiu o STJ (grifei):
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO
EMRECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
COMPENSAÇÃOPOR DANOS MORAIS E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS. DIABETES. BOMBA DE INFUSÃO. ROL DE
PROCEDIMENTOS E EVENTOS EM SAÚDE DA ANS. NATUREZA
EXEMPLIFICATIVA. LIMITAÇÃO DE COBERTURA INDEVIDA. 1.
Ação de obrigação de fazer c/c compensação por danos morais e
indenização por danos materiais visando a cobertura de bomba
de infusão de insulina para tratamento de diabetes de difícil
controle. 2. A natureza do rol da ANS é meramente
exemplificativa, reputando, no particular, abusiva a recusa de
cobertura de tratamento prescrito para doença coberta pelo
plano de saúde. 3. Agravo interno não provido. (STJ, AgInt no AgInt
no AREsp 1951863 / RJ, Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento: 21/02/2022, Data da
publicação: DJe 24/02/2022)
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Seguro saúde. Negativa de fornecimento de bomba de insulina e dos


insumos necessários ao seu efetivo funcionamento, indicados para o
tratamento de Diabetes Mellitus Tipo 1. (1) DA OBRIGAÇÃO DE
FAZER: Abusividade da negativa de cobertura. Situação grave
atestada em laudo médico, funcionando o tratamento como
último recurso para a preservação da integridade física da
paciente. Incidência do CDC (Súmula 608, STJ). Abusividade da
cláusula restritiva capaz de colocar em risco o objeto do contrato
(art. 51, IV, CDC). Irrelevância de não estarem os procedimentos
previstos no contrato ou no rol da ANS (Súmulas 96 e 102, TJSP).
Fornecimento devido. Atenuação do 'pacta sunt servanda' em prol
de valores que permeiam a dignidade da pessoa humana. Cobertura
devida. (2) DO DANO MORAL: Caracterizado. Dissabores que
ultrapassam os lindes do simples desgosto. Valor arbitrado pelo juízo
'a quo' adequado (R$ 10.000,00), com correção monetária, pela
Tabela Prática desta Corte, a partir do arbitramento (publicação da r.
sentença). No atinente aos juros de mora, no piso legal, seu prazo
inicial de fluência será a data da citação, não o dia do arbitramento,
como constou da r. sentença. (3) ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA:
Integralmente com a ré (art. 85, 'caput', CPC), com aumento da verba
honorária para 12% do valor atualizado da condenação (art. 85, § 11,
CPC). Sentença correta e, assim, mantida. Doutrina e jurisprudência.
RECURSO DESPROVIDO, com majoração da verba honorária e
observação quanto ao prazo inicial de fluência dos juros moratórios.
(REsp nº 1962578/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Decisão
Monocrática, julgado em 10/10/2022, DJe de 11/10/2022)

No mesmo sentido tem sido o entendimento do Tribunal


de Justiça do Ceará (grifei):
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. PACIENTE
DIAGNOSTICADA COM DIABETES MELLITUS TIPO 1. E DEMAIS
COMPLICAÇÕES. PRESCRIÇÃO MÉDICA PARA REALIZAÇÃO DE
TRATAMENTO COM BOMBA DE INSULINA. AGRAVADA QUE
DEMONSTROU INDISPENSABILIDADE DO TRATAMENTO.
NEGATIVA DE COBERTURA DE PROCEDIMENTO. RECUSA
INDEVIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Não se
vislumbra plausibilidade jurídica a ensejar o acolhimento das razões
recursais em sede de cognição sumária, vez que não me parecem
razoáveis e relevantes as alegações da parte agravante. 2. Isso
porque, a vida configura direito essencial, assegurado pela Carta
Magna em seu artigo 5º, caput. Estando em risco de perecimento,
como no caso em tela, sobretudo porque a prescrição médica indica
que a paciente diagnosticada com Diabetes Melitos Tipo 1, foi
submetida aos tratamentos com injeções intravítreas de
medicação antiangiogênica e sessões de fotocoagulação com
laser decorrentes de complicações do diabetes, sendo a bomba
de insulina a maneira mais eficaz de controle glicêmico para que
a mesma mantenha-se sem as complicações secundárias. Assim,
nada mais apropriado do que uma medida que a salvaguarde,
mesmo que não seja possível o afastamento das vicissitudes
típicas da natureza humana. 3. No presente caso, deve ser
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assegurado ao paciente, com absoluta prioridade, o direito à vida


e à saúde, com a devida assistência integral, em conformidade
ao preceito constitucional insculpido no art. 196 da Magna Carta.
4. Em que pese a agravante insistir na tese de que é válida cláusula
limitativa, viu-se que é pacífico o entendimento jurisprudencial de que
não cabe ao plano de saúde limitar o tratamento em face da
prescrição médica, mas sim quais doenças poderá dar cobertura. 5. O
laudo médico acostado à fl. 54 dos autos principais prescrito
pelo Oftalmologista, Dr Túlio Luna de Sampaio ¿ CRM 8587CE,
demonstra de forma clara a necessidade do tratamento
requerido, bem como não há dúvida de que a doença (Diabetes
Mellitus Tipo 1) é coberta pelo contrato pactuado com a
operadora de saúde, não podendo esta alegar a existência de
cláusula limitativa para negar o melhor tratamento a paciente. 6.
Dessa forma, verifica-se que o periculum in mora, quer dizer, um dano
em potencial, está demonstrado, entretanto, não em benefício da
parte agravante, mas sim em benefício da parte agravada (paciente)
que, precisa de tratamento urgente, situação que se não atendida,
poderá causar dano irreparável a sua saúde, quiçá o seu óbito.
Configura-se, portanto, o periculum in mora inverso. 7. Agravo de
instrumento improvido. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos os
presentes autos de agravo de instrumento nº
0631292-43.2022.8.06.0000, em que figuram as partes acima
indicadas, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara
de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por
votação unânime, em conhecer do recurso interposto, mas para negar-
lhe provimento, em conformidade com o voto do eminente relator.
Fortaleza, 19 de abril de 2023 INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO
Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR CARLOS
ALBERTO MENDES FORTE Relator (TJ-CE - APL:
0631292-43.2022.8.06.0000, Relator: Des. CARLOS ALBERTO
MENDES FORTE, Data de Julgamento: 19/04/2023, 2ª Câmara
Direito Privado, Data de Publicação: 19/04/2023)
PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO E
AGRAVO DE INSTRUMENTO. JULGAMENTO CONJUNTO NA
MESMA SESSÃO. PERDA DO OBJETO DO AGRAVO INTERNO.
RECURSO PREJUDICADO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. TUTELA DEFERIDA
PELO JUÍZO A QUO. DIABETES MELLITUS TIPO 1 E DEMAIS
COMPLICAÇÕES. PRESCRIÇÃO DE BOMBA DE INFUSÃO DE
INSULINA, INSUMOS E MATERIAIS NECESSÁRIOS. AUTORA
QUE DEMONSTROU INDISPENSABILIDADE DO TRATAMENTO.
EXISTÊNCIA DE RECOMENDAÇÃO MÉDICA. COMPETÊNCIA DO
MÉDICO PARA INDICAR O TRATAMENTO NECESSÁRIO AO
RESTABELECIMENTO DA SAÚDE DA PACIENTE. ROL DA ANS
MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. NEGATIVA DE CUSTEIO DE
TRATAMENTO INDEVIDA. DEVER DE COBERTURA.
PRECEDENTES STJ E TJCE. CARACTERIZAÇÃO DOS
REQUISITOS AUTORIZADORES PREVISTOS NO ART 300 DO
CPC. DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA E À SAÚDE.
MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRADAVA. AGRAVO DE
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GABINETE Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO

INSTRUMENTO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. De início,


considerando que no presente caso realizar-se-á o julgamento
conjunto do Agravo de Instrumento nº 0629232-97.2022.8.06.0000 e
do Agravo Interno nº 0629232-97.2022.8.06.0000/50000, passo a
decidir acerca do Agravo Interno antes de enfrentar as
argumentações atinentes ao Agravo de Instrumento. 2. DO AGRAVO
INTERNO: Considerando que o acórdão que julga o agravo de
instrumento tem uma cognição mais ampla do que o simples exame
do pedido liminar para atribuição do efeito suspensivo ao recurso, a
apreciação do agravo interno resta prejudicado, uma vez que o
agravo de instrumento encontra-se apto para julgamento. Assim, ao
julgar na mesma sessão o agravo de instrumento que deu origem ao
agravo interno, resta configurada a perda do objeto do último recurso.
Isso posto, pelas razões expostas, julgo prejudicado o Agravo Interno.
3. DO AGRAVO INSTRUMENTO: Inicialmente, cumpre esclarecer
que a relação jurídica travada entre as partes configura relação de
consumo. Assim sendo, aplicável, ao caso, as normas do Código de
Defesa do Consumidor, principalmente aquelas voltadas a impedir a
abusividade de cláusulas contratuais que geram limitação de direitos,
inexecução do contrato em si e as que ensejem desrespeito à
dignidade da pessoa humana e à saúde. 4. O Superior Tribunal de
Justiça já pacificou o entendimento de aplicabilidade do Código
Consumerista às relações contratuais através do enunciado da
Súmula nº 608, in verbis: “Aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados
por entidades de autogestão”. 5. Dessa forma, em estando os
serviços atinentes às seguradoras ou planos de saúde
submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor,
enquanto relação de consumo, as cláusulas do contrato firmado
pelas partes, devem ser interpretadas de modo mais favorável ao
consumidor, e são reputadas nulas aquelas que limitam ou
restringem procedimentos médicos, especialmente as que
inviabilizam a realização da legítima expectativa do consumidor,
contrariando prescrição médica. 6. Acrescente-se que o contrato
objeto da presente demanda submete-se também ao regramento
previsto na Lei nº 9.656/98, que dispõe sobre planos e seguros
privados de assistência à saúde, em verdadeiro diálogo das fontes. 7.
In casu, a questão posta em análise cinge-se em verificar se estão
demonstrados os requisitos legais do art. 300 do CPC para a
concessão da tutela de urgência no sentido de determinar que o plano
de saúde forneça o medicamento prescrito à autora/agravada e por
ela vindicado. Compulsando os autos, entendo, em total concordância
com o decisum exarado em primeiro grau, que os elementos trazidos
aos autos não são suficientes para corroborar as alegações da parte
Agravante, que pleiteia a revogação da tutela concedida, sendo
prudente a manutenção da decisão subjugada, pelas razões que
passo a expor. 8. Na origem, narra a autora/agravada que foi
diagnosticada com Diabete Mellitus tipo 1, sofrendo, em razão de sua
patologia, de descompensação crônica dos níveis glicêmicos, com a
constante sujeição ao risco de complicações. Assevera que foi
tentado o tratamento de insunilização, sem que houvesse resultados
adequados, ressaltando que apresenta hipoglicemias e hiperglicemias
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severas e assintomáticas, conforme relatório médico acostado às fls.


21/26 dos autos de origem. O referido laudo prescrito pelo médico que
acompanha a Recorrida demonstra, de forma clara, a necessidade do
medicamento requerido para assegurar o melhor prognóstico
funcional à paciente, a fim de assegurar tratamento à saúde e à
qualidade de vida da segurada. 9. Na presente hipótese, a Agravante
sustenta que não pode ser compelida a custear ou a fornecer Bomba
de Insulina e demais insumos necessários para a efetivação do
tratamento indicado à segurada, visto que o mesmo não consta no rol
da ANS, que é taxativo, bem como não haver previsão contratual para
o seu fornecimento. Contudo, tal alegação não merece prosperar.
Com relação à alegativa do rol da ANS ser taxativo e não
exemplificativo, ressalto que sempre coadunei com o posicionamento
jurisprudencial de que o rol da ANS é exemplificativo e com o advento
da Lei 14.307/22, que alterou a Lei 9.656/98, estabelecendo em seu
art. 10, a necessidade de cobertura pelo plano de saúde de
tratamento ou procedimento que não estejam previstos no rol,
reafirmo meu entendimento. 10. Tem-se como regra geral que o plano
de saúde pode estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas
não que tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura.
Ressalta-se ainda que, no que diz respeito às diretrizes e o rol
estabelecido pela ANS, estes apontam apenas coberturas mínimas
que devem ser consideradas como orientação a serem observadas
pelos planos de saúde, não impedindo ampliação para que se possa
oferecer tratamento adequado. Frise-se, entendimento contrário viola
o princípio da boa-fé objetiva e coloca o paciente em condição de
desvantagem. 11. Portanto, não assiste razão à Agravante na
medida em que uma vez estando prescrito pelo médico
assistente o procedimento indicado na busca da melhoria das
condições de saúde em razão de doença ou patologia cujo
contrato celebrado com o plano de saúde demandado prevê
cobertura, é seu dever ofertar tal tratamento. Nesse sentido, o
médico ou o profissional habilitado - e não o plano de saúde - é
quem deve estabelecer a orientação terapêutica a ser dada ao
usuário acometido de enfermidade ou condição patológica,
tendo em vista o atendimento à finalidade que deu origem ao
vínculo contratual e ao próprio princípio geral da boa-fé que rege
as relações no direito privado. 12. In casu, ao contrário do que
pretende a Recorrente, se encontra presente a probabilidade do
direito e fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação em favor da parte Agravada, pois se percebe que a
recusa da Agravante ao pedido do custeio do tratamento
formulado pela médica assistente pode vir a causar danos à
saúde da paciente. Precedentes STJ e TJCE. 13. Logo, a
verossimilhança do alegado pela segurada e o fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação se me afigura evidenciado
pelo teor da documentação acostada aos autos originários,
especialmente pelo quadro clínico apresentado, revela-se a imperiosa
necessidade de fornecimento do fármaco que deve ser custeado pelo
plano de saúde. 14. Balizados esses parâmetros, entendo que o
direito à saúde, elevado à categoria dos direitos fundamentais, por
estar interligado ao direito à vida e à existência digna, representa um
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dos fundamentos da República Federativa do Brasil, sendo


considerado pela doutrina e legislação pátria uma obrigação do
Estado, dos planos de saúde e uma garantia de todo o cidadão. 15.
Agravo Interno PREJUDICADO. Agravo de Instrumento CONHECIDO
e NÃO PROVIDO. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes
autos, acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, em declarar PREJUDICADO o AGRAVO INTERNO
e, quanto ao AGRAVO DE INSTRUMENTO, CONHECER do recurso
e NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto proferido pela
Relatora. Fortaleza, 15 de Fevereiro de 2023. INACIO DE ALENCAR
CORTEZ NETO Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADORA
MARIA DAS GRAÇAS ALMEIDA DE QUENTAL Relatora (TJ-CE -
APL: 0629232-97.2022.8.06.0000, Relatora: Desa. MARIA DAS
GRAÇAS ALMEIDA DE QUENTAL, Data de Julgamento: 15/02/2023,
2ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 15/02/2023)

A Lei 14.454/22, que alterou a Lei 9656/98, passou a


prever que o rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) constitui
referência básica de cobertura obrigatória pelos planos de saúde, de modo que,
uma vez fora deste rol e demonstrada a comprovação da eficácia, à luz das ciências
da saúde, baseada em evidências científicas ou recomendações pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec),
mediante indicação médica fundamentada acerca da necessidade de uso, a
operadora não está isenta da obrigação de custeá-lo.
Ressalta-se ainda que, no que diz respeito às diretrizes e
o rol estabelecido pela ANS, estes apontam apenas coberturas mínimas que devem
ser consideradas como orientação a serem observadas pelos planos de saúde, não
impedindo ampliação para que se possa oferecer tratamento adequado. Frise-se,
entendimento contrário viola o princípio da boa-fé objetiva (art. 421 do CC) e coloca
o paciente em condição de desvantagem.
Assim, recebendo indicação médica para uso de sensor
de monitoramento de glicose (Sensor FreeStyle Libre), este deve ser custeado pelo
plano de saúde, junto com os respectivos insumos.
Ademais, ao contrário do que pretende a Recorrente,
verifico demonstrada a probabilidade do direito e o fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação em favor da Agravada, pois se percebe que a
recusa da Recorrente ao pedido do custeio do tratamento formulado pela médica
assistente pode vir a causar danos irreversíveis à saúde da paciente.
Logo, a verossimilhança do alegado pela promovente,
bem como o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação estão
evidenciados, revelando-se necessário o custeio do tratamento pelo plano de saúde.
Desse modo, resta-se demonstrado que o pleito da
recorrida encontra ampla guarida na jurisprudência pátria, devendo a decisão
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interlocutória ser mantida, pois o risco de dano irreparável ou de difícil reparação à


paciente mostra-se evidente, uma vez que o tratamento é indispensável para a
manutenção da saúde e à garantia de qualidade de vida da beneficiário.
Por fim, ressalto que o direito à saúde, elevado à
categoria dos direitos fundamentais, por estar interligado ao direito à vida e à
existência digna, representa um dos fundamentos da República Federativa do
Brasil, sendo considerado pela doutrina e legislação pátria uma obrigação do
Estado, dos planos de saúde e uma garantia de todo cidadão.
Destarte, estando a decisão vergastada em conformidade
coma legislação e com a jurisprudência pacificada, não havendo fundamentação
apta a ensejar a sua modificação, o improvimento do presente recurso é medida que
se impõe.
Diante do exposto, conheço do presente recurso de
Agravo de Instrumento, para lhe negar provimento, mantendo inalterada a decisão
impugnada.
É como voto.

Fortaleza, data e hora informados no sistema.

DESEMBARGADOR INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO


Relator

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