1º Estudo de Caso - Civil e Processo Civil

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Primeiro Estudo de caso

“A” e “B” são casados no regime da comunhão de bens adquiridos e residem


em Coimbra. Em começo de vida, “A” e “B” celebraram com a empreiteira “C,
Lda”, com sede em Pombal, o contrato promessa de compra e venda sobre a
fração autónoma designado pela letra “D”, correspondente ao 1.º Esq, do
prédio constituído em regime de propriedade horizontal sito na R. Miguel Torga,
110 – 1.º Esq., em Coimbra. Do contrato promessa de compra e venda consta
que o preço do negócio definitivo é de 150.000 euros e que os promitentes
compradores entregaram à “C, Lda” a quantia de 15.000 euros a título de sinal
e princípio de pagamento. Com a assinatura do contrato, a “C, Lda” entregou
ao casal a chave do apartamento autorizando-os a nele residirem até a
celebração do negócio definitivo. A fração objeto do contrato promessa tem o
valor patrimonial tributário de 140.000 euros. Quanto o contrato promessa foi
assinado, a fração estava hipotecada ao “Banco D”, com sede em Lisboa, para
garantia do mútuo com o capital de 1.000.000 euros. O contrato de mútuo foi
celebrado por documento particular autenticado. Entretanto, “C, Lda” entra em
incumprimento definitivo com “A” e “B” e também com o “Banco D”.

Quanto à posição do “Banco D”

1. Perante o incumprimento de “C, Lda”, como poderá o “Banco D” reagir?

As ações podem ser de dos tipos: ações declarativas e ações executivas, como
decorre do art.10º/1 do CPC. As ações executivas possibilitam o credor de
exigir o cumprimento coercivo de uma dívida vencida (ou não). Mas, para poder
propor uma ação executiva, o credor tem de estar munido, obrigatoriamente de
um título executivo como refere o art. 10º/5.

Os títulos executivos podem ser de variados tipos, estão taxativamente


elencados no artigo 703º do CPC. Na presente situação encontramo- nos
perante um DPA, o “Banco D” tem ao seu dispor, para cumprimento do mutuo
um DPA, que se encontra elencado na alínea b) do nº1 do art.703º.

Quanto ao fim, as ações executivas podem ser de três tipos: para pagamento
de quantia certa, para prestação de facto, ou ainda para entrega de coisa certa
– art.10º/6 CPC. No caso em apreço estamos perante uma ação executiva para
pagamento de quantia certa, uma vez que o Banco D pretende cobrar o valor
do mutuado em falta.
Quanto à forma, estamos perante processo comum na medida em que a nossa
situação não se enquadra nos casos expressamente previstos na lei que
revestem a forma do processo especial- art.546 CPC-. Visto que estamos
perante forma comum para o pagamento de quantia certa, é nos exigível saber
também se o processo segue a forma sumária ou ordinária- art.550º CPC- À
luz do enunciado, entendemos que o Banco D exige o cumprimento baseado
em DPA ( título extrajudicial) de uma obrigação pecuniária vencida, e a sua
posição encontra-se garantida através de hipoteca, assim sendo não restam
dúvidas, a nossa situação enquadra-se na alínea c), do nº2, do art. 550º CPC,
estamos assim perante a forma de processo Sumária.

Desta forma, o banco poderia intentar uma ação executiva, para pagamento de
quantia certa, forma processo comum, sumária.

2. Indique qual o tribunal competente para o efeito?

Os tribunais são órgão de soberania e segundo a CRP estes exercem uma


função jurisdicional.

Quanto à competência internacional, à luz do preceituado nos arts. 37º/2, 59º e


62º do CPC, entendemos que são competentes os tribunais portugueses na
medida em que a ação foi praticada em território português.

Relativamente à competência interna, teremos de a avaliar segundo o ponto de


vista de quatro temáticas: hierarquia, da matéria, do território e do valor.

.Quanto à hierarquia, as ações executivas deverão ser sempre propostas nos


Tribunais de 1º Instância- art.67º CPC, 29º e 33ºLOSJ-.

.Relativamente à matéria, a ação deveria ser proposta num Juízo de


Execução, caso este existisse na Comarca materialmente competente- art.
129º LOSJ-, Caso o mesmo não existisse, a ação deveria ser proposta ou num
Juízo Local Cível >50.000 eur , ou num Juízo Central Cível <50.00 eur,
dependendo do valor em questão- 117º/1/b) e 130º/1 LOSJ-
. Quanto ao território seria competente o Tribunal Judicial da Comarca de
Coimbra, à luz do art. 89º/2 CPC.

3. Pronuncie-se ainda quanto ao pressuposto processual do patrocínio


judiciário.

Relativamente ao patrocínio judiciário, consta do art. 58º CPC que o mesmo é


obrigatório. Na questão em apreço, as partes têm obrigatoriamente de se fazer
representar por advogado na medida em que o valor da execução é superior a
30.000 eur.

Se o valor da execução fosse inferior a 5000 eur não seria obrigatória


representação- 58º/2- ; se o valor fosse superior a 5.000 eur mais inferior a
30.000 seria obrigatória representação por mandatário( advogado, solicitador
ou advogado estagiário)- 58º/3 CPC-.

Quanto à posição de “A” e “B”

4. Caso a fração objeto do contrato promessa seja penhorada na execução


movida pelo “Banco D”, quem deverá ser designado para o exercício de
funções de fiel depositário?
A e B são promitentes compradores, o que face à situação de
incumprimento de C, que é o promitente vendedor, os coloca na posição de
credores. Credores esses que beneficiam da faculdade de exigir o sinal em
dobro-art 442º/2 CPC- Esse crédito irá beneficiar o direito de retenção como
disposto no art. 755º/1/f), que é uma garantia real e especial.

Desta forma, havendo retenção, e nos termos do art.756º71/c) CPC,


deverão ser fiéis depositários os retentores, contando que exista
reconhecimento judicial do incumprimento que está na base da constituição
do direito de retenção. Assim sendo, A e B serão os fiés depositários do
bem, tendo de o administrar com diligência e zelo de um bom pai de família,
como consta do art. 760º CPC.

5. Assumindo que “A” e “B” não têm o seu direito registado, nem têm ainda
qualquer ação judicial pendente contra a “C, Lda”, como poderia o
agente de execução identificar a existência desses credores e como
deveria reagir quando se apercebesse da posição de “A” e “B”?
A penhora de bens imóveis consiste na comunicação eletrónica efetuada pelo
AE ao serviço da conservatória. Uma vez registada a penhora, a conservatória
deve remeter ao AE a certidão de ónus e encargos, o que permitirá a este
detetar a existência de eventuais direitos reais que tenham o bem penhorado,
designadamente para efeitos dos credores para reclamação dos respetivos
créditos. (755/1 e 2 e 786/1/b) CPC).

Se o direito de retenção não estiver registado., o AE não se apercebe da sua


existência. Contudo, a penhora implica também uma apreensão material do
bem, o que significa que o AE, pelo menos nesta fase, aperceber-se-ia da
existência/posição jurídica de A e B. Nesse momento, competiria ao AE citar A
e B para reclamarem o respetivo crédito, correspondente ao valor do sinal em
dobro, art 747/1/2 e 786º/1/b CPC, que no caso o valor do crédito de A e B
seria de 30.000 eur.
6. O que recomenda que “A” e “B” façam para garantir o direito à
devolução pela “C, Lda” do sinal em dobro?
A e B deverão apresentar reclamação de créditos (permite a um credor
participar na ação executiva) no prazo de 15 dias a contar da citação para o
efeito, art 788º/2 CPC.

A reclamação de créditos pressupõe a titularidade pelo credor de uma garantia


real e a posse de título executivo, art 788º/1/2 CPC 8. A e B poderão ter
garantia real que é o direito de retenção. Contudo, assumindo que não está
pendente nenhuma ação judicial poderão não ter título executivo e nessa
hipótese, isto é, se A e B não tiverem título executivo, devem apresentar
requerimento para que a graduação de crédito aguarde a obtenção do título em
falta, requerimento que deve ser apresentado no prazo de que dispõem para a
reclamação de créditos. O requerimento de A e B é notificado ao executado.

Se o executado aceitar, expressa ou tacitamente (art.792/3 in fine CPC) ,a


existência da garantia real, o crédito considera-se reclamado para todos os
efeitos. Pelo contrário, se o executado recusar a existência do crédito ou da
garantia real, A e B deverão propor ação declarativa contra a executada C e
contra o exequente D, art 792º/1 a 4 CPC.

Em suma, A e B devem reclamar o respetivo crédito. Caso não disponham de


título executivo, devem no prazo de reclamação apresentar requerimento para
que a graduação de crédito aguarde a obtenção do título.

7. Imagine que o “Banco D” entende que há um conluio entre “C, Lda”, por
um lado, e “A” e “B”, por outro, no sentido de prejudicarem a posição do
banco. Como poderá banco fazer valer esse ponto de vista?

A reação do banco D ao crédito reclamado por A e B ocorreria no âmbito da


ação especial de verificação e graduação de crédito que ocorre por apenso à
ação executiva. O banco D, que é exequente, vai ser notificado da reclamação
de créditos apresentada por A e B, dispondo do prazo de 15 dias para
impugnar esse crédito, arts 788º/8 e 789º/1/2 CPC.

Na hipótese de ter havido ação declarativa nos termos do art 792º/4


CPC (ação declarativa que se destinou a suprir a falta de título executivo por
parte dos retentores), a posição do banco deve ser feita no âmbito dessa
mesma ação declarativa, uma vez que o banco, enquanto exequente, dispõe
de legitimidade passiva, nos termos do artigo 792º/5 CPC.

8. “A” e “B” podem pretender adquirir a fração? De que modo poderão fazê
lo?
Assumindo que A e B conseguiram reclamar validamente o respetivo crédito,
podem pretender adquirir a fração formulando pedido de adjudicação nos
termos dos arts 799º ss CPC. O credor requerente da adjudicação deve indicar
o preço que oferece, o qual não pode ser inferior ao que seria o valor a
anunciar9 do art. 816º/2 CPC.

O pedido dos credores reclamantes é objeto de publicação e implica a


designação de data para abertura de outras propostas que possam vir a ser
apresentadas, art 799º(1 a 3 e 800º/1/2 CPC.
9. Caso adquiram a fração pelo valor mínimo possível e assumindo que
estão graduados em primeiro lugar, qual o valor do preço que “A” e “B”
terão de pagar?
140.000 (sobre o VPT) x 0,85 = 119.000

O crédito de A e B a avaliar pelo enunciado será de 30.000 euros, ou seja,


correspondente ao sinal de 15.000 euros em dobro.

O valor base, em matéria de bens imóveis, tende a coincidir com o VPT, se


tiver havido avaliação há menos de 3 anos e se não houver discrepância com o
valor de mercado (art.812/2/a) CPC).

Assim sendo, o valor base seria de 140.000 euros, o que significa que o valor a
anunciar seria de 119.000 euros (art.816º/2 CPC).

Daqui decorre que A e B adquiriram o imóvel pelo valor de 119.000 euros. Se a


aquisição for feita pelo exequente ou por credores reclamantes (como aqui é o
caso), há dispensa de depósito do preço na parte do preço que sempre
reverteria a favor dos adquirentes. Ou seja, assumindo que A e B ficaram
graduados em 1º lugar (como decorre da questão colocada), os mesmos teriam
de pagar 119.000€ (menos) 30.000€ = 89.000€ (art.815º CPC).

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