Resolução Exames Direito Processual Civil III
Resolução Exames Direito Processual Civil III
Resolução Exames Direito Processual Civil III
01/06/2020
Sucede que, perante a falta de pagamento de várias prestações por conta do mútuo
(referentes ao capital e aos juros), a Caixa Geral de Depósitos resolveu o referido
contrato e exigiu a António o pagamento da totalidade da quantia ainda em dívida, ou
seja, 45.000,00 euros, o qual não pagou voluntariamente.
Perante isto, há 6 meses, o dito banco instaurou ação executiva contra António, Berto
e Carla no juízo de execução da comarca de Coimbra1. O requerimento executivo foi
subscrito por um solicitador, tendo sido penhorado o referido apartamento.
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Inês De Oliveira Soares
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execução. Logo, não sendo proprietários do bem dado em garantia, nem constando do
título executivo com a qualidade de devedores, Berto e Carla não desfrutam da
legitimidade passiva para serem executados. Repare-se ainda que tendo sido vendido o
bem dado em garantia, este bem foi vendido onerado. Com efeito, Daniel é titular do bem
onerado com a hipótese. Na verdade, uma vez que se transmitiu o imóvel onerado a Daniel
então, o Banco exequente pode fazer valer o direito real de garantia contra Daniel (arts.
54º/2 e 735º/2).
Nos termos do artigo 550º/2/c estamos perante uma ação executiva para pagamento de
quantia certa (artigo 10º/6) que deve seguir o processo sumário. Assim, devemos atender
ao artigo 855º/1 CPC que é um preceito relativa à tramitação do processo comum na
forma sumária e nos termos do qual o requerimento executivo – que tem que obedecer
aos requisitos do artigo 724º/1 – e os documentos que o acompanham são dirigidos à
secretaria do tribunal competente e esta envia-os imediatamente por via eletrónica, sem
precedência de despacho judicial, ao agente de execução. Porém, nos termos do artigo
855º/2/b o agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz, remetendo-lhe o
requerimento executivo e os documentos que o acompanhem se afigurar provável a
ocorrência de algumas das situações previstas no artigo 726º. Então, o agente de execução
deve suscitar a ilegitimidade passiva ao juiz, devendo este proferir, por esse motivo, um
despacho de indeferimento liminar parcial. Neste sentido, veja-se o artigo 726º/3,
segundo o qual se admite o indeferimento parcial. Tal significa que há uma admissão
parcial e uma rejeição parcial. Na verdade, estando apenas o nome de António
mencionado no título executivo, o juiz determina que a ação executiva prossiga contra
António. Porém, a ação executiva não pode prosseguir contra Berto e Carla pois estes não
têm legitimidade processual passiva. O juiz, tendo António legitimidade passiva, não
indefere totalmente pois tal seria contra as regras da economia processual e, deste modo,
consegue-se o aproveitamento de atos processuais. Então, precisamente porque nem todos
os sujeitos carecem de legitimidade, a solução adequada é o juiz indeferir parcialmente.
Então, a ação executiva prossegue conte António. Caso a falta deste pressuposto não seja
suscitada pelo agente de execução ou conhecida pelo juiz, B e C podem deduzir embargos
de executado e aí alegar a falta de legitimidade processual (artigo 729º/c). Além disso,
até ao início das diligências para a transmissão dos bens, esta questão pode ser conhecida
oficiosamente pelo juiz (artigo 734º/1). A falta de legitimidade é uma exceção dilatória
de conhecimento oficioso (artigo 577º/e). Repare-se que o Banco pode requerer a
intervenção principal de Daniel na execução, a fim de poder penhorar licitamente o bem
penhorado cuja propriedade fora transmitida para este.
Vejamos agora o pressuposto processual relativo à competência interna. Tal como na ação
declarativa, a competência material dos tribunais judicias para a ação executiva
determina-se por um duplo critério: um critério de atribuição positiva e um critério de
competência residual. Segundo o critério de atribuição positiva, cabem na competência
dos tribunais judicias todas as ações executivas baseadas na não realização de uma
prestação devida segundo as normas do direito privado. Como tal, uma vez que no nosso
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Foi também penhorado uma parte do salário de António. Ele aufere 900,00 euros
líquidos mensais, tendo a entidade patronal sido notificada para transferir a quantia
de 300,00 euros para o agente de execução, todos os meses. A entidade patronal do
executado, que reconheceu a existência do crédito, não fez, até ao momento, qualquer
transferência. Quid iuris? Justifique (4 Val.).
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Inês De Oliveira Soares
O nosso sistema jurídico concede quatro meios de reação contra uma penhora ilegal:
oposição por simples requerimento; incidente de oposição à penhora; embargos de
terceiro e ação de reivindicação. No nosso caso, Berto e Carla, embora não tenham
legitimidade passiva, eles são partes passivas da execução e até se aferir da sua falta de
legitimidade, são executados. Então, podem deduzir o incidente de oposição à penhora.
O incidente de oposição à penhora é um meio de oposição privativo do executado. O
tramite deste incidente segue o artigo 785º e os os fundamentos para o incidente de
oposição à penhora estão previstos no artigo 784º. Assim, não sendo Berto e Carla
devedores e não tenso sido o automóvel dado em garantia ao exequente para cumprimento
da obrigação exequenda, Berto e Carla devem fundamentar a oposição à penhora com a
alínea c) do artigo 784º, segundo o qual a penhora incide sobre bens que não respondendo,
nos termos do direito substantivo, pela dívida exequenda, não deviam ter sido atingidos
pela diligência. Dado que estamos no domínio do processo executivo sumário para
pagamento de quantia certa, esta oposição à penhora deve ser cumulada com a oposição
à execução por meio de embargos do executado (artigo 856º/3). Mediante os embargos
do executado, Berto e Carla devem alegar que são partes ilegítimas. Ora, se os embargos
de executado forem julgados procedentes por falta de legitimidade processual, então a
oposição à penhora é obviamente julgada procedente e a penhora do automóvel será
levantada, bem como cancelado o respetivo registo da penhora. De acordo com o artigo
785º/1 do CPC, a oposição – que é um incidente de natureza declarativa que tramita por
apenso à ação executiva – é apresentada pelo executado no prazo de 10 dias a contar da
notificação do ato da penhora.
António entende que o contrato de mútuo é anulável por causa de erro sobre os motivos
(art. 252.º/1 CC), pois ele e o banco terão reconhecido que a quantia mutuada seria
para a instalação de um café junto a um monumento dependente de aprovação do
Ministério da Cultura, o que não veio a suceder. Pode ele suscitar esta questão, a fim
de extinguir a execução? Justifique (5 Val.)
Os embargos de executado (artigo 728º e ss.) consistem numa ação declarativa tramitada
por apenso à ação executiva (seja em processo ordinário seja em processo sumário para
pagamento de quantia certa). Os embargos de executado visam destruir a próprio
execução. Tal significa que este mecanismo processual não tem que ver com a
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Inês De Oliveira Soares
(i)legalidade das penhoras, tendo apenas em vista a extinção da própria execução, sendo
então um objetivo mais profundo. Esta oposição visa assim destruir o acertamento
negativo da própria execução. Então, o pedido (efeito jurídico pretendido) é que a
execução seja extinta. O artigo 729º prevê quais os fundamentos em que se pode basear
a oposição à execução, no caso do título executivo ser uma sentença. No nosso caso o
título executivo não se baseia numa sentença condenatório, sendo o título executivo
extrajudicial. Quando assim é, além dos fundamentos de oposição especificados no
artigo 729º, podem ser alegados quaisquer outros que possam ser invocadas como
defesa no processo de declaração. Tal significa que os embargos à execução baseada
num título extrajudicial podem fundar-se em qualquer causa que fosse lícito deduzir como
defesa no processo de declaração. Compreende-se facilmente o porquê desta solução. Na
verdade, o executado não teve oportunidade nem ocasião de, em ação declarativa prévia,
se defender amplamente da pretensão do exequente. Como tal, o executado poderá agora
exercer o contraditório amplamente. A questão do erro sobre os motivos que o executado
pretende alegar pode ser suscitada por este na ação declarativa de oposição à penhora por
meio de embargos de executado, já que um dos fundamentos é precisamente o da alínea
g) do art. 729.º do CPC, aplicável aos embargos de executado fundados em título
extrajudicial (art. 731.º CPC). Embora a anulabilidade (fundada em erro) seja um facto
impeditivo da obrigação exequenda, deve entender-se sujeito ao mesmo regime aqueles
factos que integrem exceções em sentido próprio.
Relativamente à tramitação, nos termos do artigo 732º, concluímos que fase inicial dos
embargos de executado e o seu tramite é diferente do das ações declarativas com processo
comum. À luz do respetivo preceito, há desde logo lugar a despacho liminar do juiz.
Então, o juiz toma logo contacto com a petição inicial para verificar se esta foi deduzida
dentro do prazo de 20 dias (artigo 728º/1) a contar da citação no caso de processo
ordinário ou a contar do ato de penhora no caso de estarmos perante um processo sumário.
Assim sendo, o juiz irá analisar se o fundamento se ajusta aos fundamentos dos artigos
729º, 730º e 731º ou se o fundamento é manifestamente improcedente. No caso de o
fundamento ser manifestamente improcedente, não se avançará para a contestação. Como
sabemos em regra, numa ação declarativa comum, o juiz não atenta nesta fase à petição
inicial e a não ser que o legislador o imponho, o juiz só irá atender à petição inicial depois
da fase dos articulados. Caso o juiz verifique que a petição inicial foi deduzida no prazo
imposta por lei e que o seu fundamento respeita os fundamentos taxativamente previstos
na lei, então a fase seguinte é a fase da contestação e o exequente é notificado para
contestar. Nesta ação declarativa que tramita por apenso, o réu é o exequente e é este
quem possuiu legitimidade processual passiva para contestar no prazo de 20 dias. Note-
se que não há aqui lugar a réplica, mas a ação segue nos termos do processo comum
declarativo. Por fim, acrescente-se que se o exequente não contestar, nos termos do artigo
732º/3 é aplicável o disposto no nº1 do artigo 567º, ou seja, efeitos da revelia. Porém,
apesar de a regra ser a de que em caso de revelia operante os factos se consideram
confessados, se no requerimento executivo houver factos alegados pelo exequente que
estão em oposição com os factos alegados nesta ação declarativa, não se têm estes factos
como confessados. Compreende-se esta solução pois se o exequente já alegou factos que
estão em contradição com os factos agora alegados pelo executado, não faria sentido que
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Inês De Oliveira Soares
15/06/2020
Perante a falta de pagamento voluntário por parte de João, que não interpôs recurso
de apelação da sentença condenatória, a COSMÉTICA DO NORTE instaurou ação
executiva, há seis meses, no 1.º Juízo de Execução da Comarca do Porto1. A execução
foi proposta contra João, tendo o requerimento executivo sido subscrito por um
solicitador.
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os cônjuges pelo direito subjetivo, mas apenas houver título executivo contra um dos
cônjuges, este incidente permite alegar que a dívida é comum e, deste modo, que se
alargue a execução ao cônjuge do devedor. No entanto, para que o incidente de
comunicabilidade da dívida ser procedente, preciso é que o título executivo contra apenas
um dos cônjuges seja um título executivo extrajudicial. Então. no caso sub judice o
incidente de comunicabilidade da dívida exequenda ao cônjuge do executado é inviável
e processualmente inadmissível, pois o título executivo é uma sentença condenatória.
João deveria na ação declarativo ter suscitado a intervenção principal provocado do seu
cônjuge (artigo 311º) a fim de, caso a ação declarativa fosse julgada procedente, o alcance
subjetivo do caso julgado decorrente da sentença condenatória também abrangesse Maria.
Na verdade, o chamamento à intervenção principal do cônjuge não demandado constitui
um verdadeiro ónus do cônjuge demandado na ação declarativa, cuja inobservância
preclude a invocação da comunicabilidade da dívida. Assim sendo, uma vez que João
está impedido de invocar a comunicabilidade da dívida na ação executiva (princípio da
eventualidade ou preclusão) a dívida é considerada da sua exclusiva responsabilidade,
sem prejuízo do apuramento ulterior entre os cônjuges (artigo 1697º/1 CC) e da
possibilidade de o credor propor nova ação declarativo contra o cônjuge do condenado.
Com efeito, pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem
os bens próprios do devedor e só na sua falta ou insuficiência é que responde a sua meação
dos bens comuns (artigo 1696º CC).
Sabemos que à penhora só estão sujeitos bens do executado, seja este o próprio devedor
ou seja um terceiro nos casos excecionais em que a lei substantiva admite a penhora de
bens de pessoa diversa do devedor. No nosso caso João e o seu irmão Carlos são
comproprietários de um imóvel e, como tal, João não é proprietário singular. Com efeito,
não se pode penhorar o bem em compropriedade, sendo o objeto da penhora apenas a
quota do comproprietário executado – João. Neste sentido, veja-se o artigo 743º, segundo
o qual não pode ser penhorado o bem compreendido no património comum. Como já foi
supramencionado, o objeto da penhora pode ser apenas a quota do sócio no bem indiviso.
Ora, esta quota é objeto de venda executiva, tendo Carlos direito preferência (artigo 1409º
CC). Logo, uma vez que o objeto da penhora incidiu sobre o bem em compropriedade,
essa penhora é ilegal e Carlos pode deduzir com êxito embargos de terceiro (artigo 342º/1
CPC). Vejamos: nos termos do artigo 342º no caso de a penhora atingir direitos ou a posse
de terceiro que não devia atingir, este terceiro – que não é parte na causa – pode deduzir
embargos de terceiro. Com efeito, tem legitimidade ativa o terceiro que viu os seus
direitos atingidos pela penhora e que não é parte da ação executiva e tem legitimidade
passiva o executado e o exequente (parte primitivas da ação executiva artigo 348º/1).
Quanto ao pedido – efeito jurídico que autor desta ação pretende obter através
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Inês De Oliveira Soares
dela/pretensão processual – é que a penhora seja levantada e que o registo da penhora seja
cancelado se o bem penhorado estiver sujeito a registo – é o caso uma vez que os bens
imóveis estão sujeitos a registo. No nosso caso o objeto da penhora ofende o direito real
de gozo de Carlos enquanto comproprietário da coisa e é nesta circunstância que se
fundamenta a causa de pedir – ocorrências da vida real, à luz de determinada norma, que
alicerçam o efeito jurídico pretendido (levantamento da penhora e o cancelamento do
registo da penhora pelo serviço de registo competente). Os embargos de terceiro são ações
declarativas autónomas, embora estejam funcionalmente dependentes da ação executiva.
O terceiro tem a possibilidade de deduzir embargos de terceiro com eficácia repressiva
nos 30 dias subsequentes à penhora ou à data que o terceiro teve conhecimento da
penhora. Acrescente-se que na iminência da apreensão, o terceiro, sabendo que a penhora
está iminente pode evitá-la mediante embargos de terceiro com efeito preventivo (artigo
350º) solicitando ao juiz que este determine que o agente de execução não pode realizar
a penhora. Caso a penhora fosse legal, isto é, se tivesse incidido apenas sobre o quinhão
ou quota na coisa comum, Carlos deveria ser notificado pelo agente de execução para
contestar a existência do direito penhorado ou fazer dele outras declarações pertinentes
(artigo 781º/2/5), podendo neste caso declarar que pretendia que a venda executiva
incidisse sobre o bem em compropriedade e depois que lhe fosse entregue metade do
preço dessa venda.
Na fase introdutória dos embargos, há lugar a despacho liminar por parte do juiz, onde
este vai apreciar a petição inicial de modo a verificar se os embargos forem deduzidos
dentro do prazo e se o motivo dos embargos é procedente ou improcedente. Ora, numa
ação com processo comum, na sequência da entrada em secretaria da petição inicial e
distribuição, há citação do réu e a sua contestação, podendo ainda haver réplica. Já no
âmbito da tramitação dos embargos de terceiro, nos termos do artigo 348º, a expressão
“recebidos os encargos” significa que há desde logo o despacho liminar, devendo o juiz
analisar a petição de embargos – diferente do que sucede no âmbito do artigo 590º. Então,
o juiz desde logo irá analisar a petição dos embargos, para deste modo apurar se este foi
deduzido a tempo e para precisar liminarmente se os factos narrados levam à
improcedência imediata ou se o motivo dos embargos é procedente. Se juiz admitir
liminarmente os embargos, isto é, se considerar que os fundamentos quanto ao seu mérito
podem ser objeto de apreciação e julgamento e que foram deduzidos a tempo, as partes
primitivas são chamadas para contestar e a partir daí o processo segue-se nos termos do
processo comum.
4) Suponha, agora, que o dito apartamento penhorado foi objeto de venda por meio
de propostas em carta fechada. O comprador foi Paulo. Todavia, este prédio
encontra-se validamente arrendado a Rui, desde junho de 2016, pelo prazo de 5
anos renovável. O referido arrendatário, Rui, pretende saber se, na decorrência
desta venda executiva, a sua posição jurídica no contrato de arrendamento
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Inês De Oliveira Soares
Como sabemos, o direito de arrendamento é para alguns autores um direito real, para
outros autores um direito meramente obrigacional e para outros um direito pessoal de
gozo com um estatuto misto, gozando de características quer de direitos reais quer de
direito de crédito. De todo modo, quando estamos perante direitos pessoais de gozo, o
terceiro não pode invocar que tem um destes direitos sobre um bem penhorado pois os
direitos pessoais de gozo não têm em regra oponibilidade em relação a terceiros, não
tendo características de sequela e da inerência. Então verdadeiramente, a posição do
comodatário, do depositário ou do parceiro pensador, decai perante a ação executiva, isto
é, caduca com a venda executiva. É fácil compreender esta solução uma vez que estes
direitos não gozam de eficácia erga omnes, não podendo como tal ser oponíveis a
terceiros. Porém, o contrato de arrendamento (direito pessoal de gozo) não caduca com a
venda executiva do prédio penhorado, uma vez que foi celebrado antes do registo da
penhora. Resulta da aplicação do artigo 824º/2 CC que o direito do arrendatário emergente
da sua posição jurídica no contrato de arrendamento produz efeitos em relação a terceiros
independentemente de registo. Dito isto, se o contrato de arrendamento for anterior ao
registo da penhora, o contrato não caduca automaticamente com a venda executiva. Por
conseguinte, o adquirente do imóvel, isto é, aquele que comprar ao agente de execução o
prédio em causa, irá suceder na posição contratual do senhorio, que era o executado. Deste
modo protege-se o inquilino e este não fica prejudicado com a penhora do bem sobre o
qual ele exerce o direito de gozo, não sendo assim obrigado a desocupar o prédio. O
inquilino pagará as rendas nas mesmas condições, mas o senhorio será outro. Nesta linha,
veja-se o artigo 1057º CC, nos termos do qual se estabelece a regra da transmissão da
posição de locador ao adquirente do prédio (emptio non tollit locatum). Esta regra aplica-
se assim à alienação por meio de venda executiva (ou adjudicação). Dito isto, apenas a
relação locatícia constituída após o registo de arresto ou de penhora (para alguns autores
também após o registo de hipoteca cujo credor tenha reclamado créditos) é que é
inoponível ao comprador do imóvel em sede de venda executiva, na medida em que após
a concretização desta venda a relação locatícia caduca automaticamente. Por fim, no caso
em apreço, uma vez que o contrato de arrendamento foi celebrado antes do registo da
penhora do imóvel Rui não tem que se preocupar e sua posição jurídica no contrato de
arrendamento não caduca, não tendo como tal que desocupar o prédio. O contrato de
arrendamento perdurará pelo menos até 2021 e o adquirente do prédio penhorado não
pode pôr termo ao contrato antes de acabar o seu prazo.
6/07/2020
António era casado com Berta no regime de comunhão de adquiridos e ambos são
agora residentes em Coimbra. Divorciaram-se sem consentimento, há um ano e meio,
por meio de sentença proferida pelo 1.º Juízo de Família e Menores da Comarca de
Coimbra.
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Inês De Oliveira Soares
Sucede que António, nessa mesma ação de divórcio, foi condenado a pagar a Berta
uma pensão de alimentos na quantia mensal 350 euros, por esse 1.º Juízo de Família e
Menores da Comarca de Coimbra. António casou, entretanto, com Carla.
1) António entende que o tribunal onde a execução foi instaurada, para nele tramitar,
é incompetente; que Carla não tem legitimidade processual para ser executada
nesta execução; e que o requerimento executivo não podia ter sido subscrito por
um solicitador. Quid Iuris? Justifique (6 Val.).
Relativamente à competência interna note-se, antes de mais, que tal como na ação
declarativa a competência material dos tribunais judiciais determina-se por um duplo
critério: atribuição positiva e competência residual. Ora, segundo o critério da
competência positiva, cabem na competência dos tribunais judicias todas as ações
executivas baseadas na não realização de uma prestação devida segundo as normas do
direito privado. No caso sub judice, uma vez que está em causa uma ação executiva que
se baseia no não pagamento da pensão de alimentos, pelo critério da atribuição positiva,
são competentes os tribunais judicias. Berta instaurou a ação no juízo de execução da
comarca de Coimbra, cumprindo-nos agora saber se esse é efetivamente o juízo
competente. O tribunal em que a execução foi proposta tem que ser competente à luz de
quatro critérios: competente em razão de matéria, de território, hierarquia e valor.
Nos termos da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos que podem ser de
competência especializada, de competência genérica ou de proximidade. Entre os juízos
de competência especializada, temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j). Nos termos
do artigo 129º LOSJ, quando haja juízos de execução, estes têm competência exclusiva.
Porém, importa atender ao nº2 do mesmo preceito. Retiramos do respetivo número que
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Inês De Oliveira Soares
nem sempre as ações executivas vão ser tramitadas num juízo de execução, mesmo que
esteja na comarca competente instalada um juízo de execução. Tal significa que há várias
ações que não tramitam nos juízos de execução. Da leitura do nº2 concluímos então que
uma sentença condenatória proferida pelo juízo de família e menores – como no caso em
apreço – se não for cumprida voluntariamente será executada também no juízo de família
e menores. Em suma, o artigo 129º/2 excluiu da competência dos juízos de execução a
execução de sentenças proferidas pelos juízos de família e menores. Uma vez que a
competência é então do juízo que proferiu a sentença condenatória e a ação foi instaura
no juízo de execução da comarca de Coimbra ocorre uma incompetência absoluta (artigo
96º CPC). Ora, quando a obrigação exequenda se traduz no pagamento de uma quantia
certa, o processo executivo pode tramitar sob forma de processo especial ou sob forma de
processo comum. No caso em apreço estamos perante uma ação executiva que trama sob
processo especial (artigo 933º CPC). Nos termos do artigo 933º/5 o executado é sempre
citado depois de efetuada a penhora, havendo dispensa de despacho liminar – o que
aproxima esta tramitação especial da tramitação das execuções com processo sumário
para pagamento de quantia certa. Ainda assim, nos termos do artigo 551º/4, às execuções
especiais aplicam-se subsidiariamente as disposições do processo ordinário. Ora, uma vez
que no processo especial de execução por alimentos a penhora ocorre antes do executado
ser citado, então, não haveria despacho liminar no qual o juiz pudesse conhecer desta
exceção dilatória (artigo 726º/2/b). Assim sendo o agente de execução deve, tal como nas
execuções sumárias com processo comum para pagamento de quantia certa, suscitar a
intervenção do juiz. Se o juiz não se apercebesse desta exceção dilatória, ela poderia ser
arguida pelo executado em sede de oposição à execução por meio de embargos de
executado (artigo 729º/c), sendo ainda fundamento de rejeição oficiosa da execução
(artigo 734º/1). Então, o juiz poderia, até ao ato de transmissão dos bens penhorados,
conhecer oficiosamente esta exceção dilatória.
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Inês De Oliveira Soares
2) Suponha que o António tem um salário mensal líquido de 1000 euros e que o agente
de execução ordenou a penhora de parte do salário de António, no montante de 650
euros por mês, notificando esta penhora à entidade patronal de António. Pode ser
penhorada uma parte tão considerável do salário de António nesta execução
especial por alimentos? Quid iuris se a entidade patronal não transferir os
montantes penhorados para a conta bancária aberta pelo agente de execução?
Justifique (5 Val.).
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Inês De Oliveira Soares
situações de impenhorabilidade absoluta e total (os bens não podem na sua totalidade ser
penhorados, seja qual for a dívida exequenda); situações de impenhorabilidade relativa
(os bens podem ser penhorados apenas em certas circunstâncias ou para pagamento de
certas dívidas) e casos de impenhorabilidade parcial (os bens só podem ser penhorados
em certa parte). A penhora do salário enquanto penhora de créditos tem que respeitar a
imposição do artigo 738º, sendo um caso de impenhorabilidade parcial. O salário não é
um bem totalmente penhorável e tal compreende-se mediante uma ponderação entre os
interesses do credor e os interesses vitais do executado, nomeadamente a garantia
indispensável ao seu sustento e subsistência. Nos termos do artigo 738º, 2/3 do salário
líquido são impenhoráveis o que significa a contrario que é penhorável 1/3 do salário.
Esta é a regra geral, porém temos que atender ao nº3 do mesmo artigo. O nº3 estabelece
um limite mínimo de impenhorabilidade. O executado tem sempre que ficar com um
montante disponível equivalente ao montante líquido do salário mínimo nacional. No
fundo, se retirando 1/3 do salário do executado o remanescente for inferior ao salário
mínimo nacional, então não se pode penhorar 1/3 e tem que se penhorar menos que isso.
Ou seja, há situações nas quais, não obstante a regra ser a de que se penhora 1/3 do salário,
se deve penhorar menos do que esse 1/3 pois se assim não fosse o executado receberia
menos do que um salário mínimo nacional. Então, à primeira vista podemos ser levados
a crer que a penhora no caso em apreço é ilegal. Todavia, no nosso caso está em causa
um processo executivo especial sobre obrigação de alimentos. Ora, nos termos do artigo
738º/4/5 não se aplica o limite mínimo de impenhorabilidade do nº3, ou seja, nas
execuções por alimentos não a vale a regra segundo a qual ao executado não pode ser
penhorado valor global correspondente ao salário mínimo nacional. Nestas hipóteses, o
executado pode receber um valor inferior ao salário mínimo nacional. Compreende-se
esta solução pois há interesses fundamentais que baseiam a obrigação alimentícia, ou seja,
está em causa a vida e a integridade psicofísica do credor da pensão de alimentos. O nº4
estabelece que nestes casos é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão
de alimentos social do regime não contributivo (211,79 euros). A pensão social do regime
não contributivo é a pensão que recebe alguém que nunca descontou para a segurança
social. Então, António não pode com sucesso deduzir o incidente de oposição à penhora.
Ora, quando há penhora de salários tal implica que o devedor do executado, ou seja, a
entidade patronal, também seja atingido pela execução. Na verdade, impõe-se à entidade
patronal obrigações de informação e colaboração com o agente de execução. Além destas
obrigações declarativas, surge também uma obrigação de prestação de facto pois a
devedor do executado é obrigado a reter na fonte as quantias penhoradas e a transferi-las
para uma conta aberto pelo agente de execução à ordem do processo. Então, o exequente
pode exigir nos próprios autos desta execução (e não numa execução autónoma) a
execução forçada das quantias em falta no património da entidade patronal, tornando-a
executada e, se for caso disso, penhorando alguns bens da entidade patronal. Assim, nos
termos do artigo 777º/3 esta outa execução, que é realizada nos próprios autos da ação
primitiva, pode assim ser igualmente instaurada contra a entidade patronal que deste
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Inês De Oliveira Soares
modo se torna co executada. Tal significa que estamos perante um título executivo que
forma no próprio processo. É, no fundo, um título contra o devedor do executado e que
não existia no início da ação executiva. O artigo 773º relativo à penhora de créditos prevê
que deve notificar-se o devedor no sentido de que o crédito fica à ordem do agente de
execução e de que cumpre ao devedor declarar se o crédito existe.
Este é um exemplo de um título executivo previsto por força de lei especial (artigo
703º/1/d).
Os embargos de executado (artigo 728º e ss.) consistem numa ação declarativa tramitada
por apenso à ação executiva. Os embargos de executado visam destruir a própria
execução. Tal significa que este mecanismo processual não tem que ver com a legalidade
ou ilegalidade das penhoras, tendo apenas em vista a extinção da própria execução. Este
é um objeto mais profundo do que a oposição à penhora. O pedido (efeito jurídico
pretendido) é que a execução seja extinta. O artigo 729º prevê taxativamente quais os
fundamentos em que se pode basear a oposição à execução no caso do título executivo
ser uma sentença. António tem um contracrédito contra Berta e pretende invocá-lo. Ora,
a alínea h) do respetivo preceito prevê precisamente a invocação do contracrédito como
fundamento de oposição à execução por meio de embargos de executado. Repare-se que
para certa doutrina (TEIXEIRA DE SOUSA) a compensação somente pode ser deduzida
por meio de reconvenção e nos embargos de executado não é permitida a dedução de
reconvenção. Hoje não restam dúvidas e o legislador prevê de forma autónoma a
possibilidade de invocação da compensação por parte do embargante na ação declarativa
de embargos de executado. Foi a nova qualificação processual que se pretendeu dar à
compensação no artigo 266/2/c que levou à sua autonomização como fundamento de
embargos de executado. Para o Dr. JOSÉ LEBRE DE FREITAS, a compensação continua
a constituir uma exceção perentória e a nova lei estabelece, quando muito, um ónus de
reconvir na ação declarativa cuja observação é suporte necessário da invocação exceção.
A nova norma tem utilidade de deixar claro que, seja como for, a compensação até ao
montante da obrigação exequenda pode constituir fundamento de embargos de executado.
Ao alegar a compensação o executado pretende apenas fazer valer um facto extintivo do
direito exequendo na ação declarativa de embargos de executado, não está em causa
executar aí o contracrédito. Ora, a consideração do fundamento da compensação em
alínea diversa da dos restantes factos extintivos da obrigação exequenda liberta o
executado do ónus de provar através de documentos, quer o facto constitutivo do
contracrédito quer a declaração de querer compensar (artigo 847º/ 848º). Discute-se se o
contracrédito deveria ter sido invocado na ação declarativa de divórcio e, como tal,
precludia-se o direito do executado o poder invocar na execução, em sede de embargos
de executado (tal como na alínea g) do artigo 729º). Ora, uma vez entendido que o titular
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Inês De Oliveira Soares
Relativamente à tramitação, nos termos do artigo 732º, concluímos que fase inicial dos
embargos de executado e o seu tramite é diferente do das ações declarativas com processo
comum. À luz do respetivo preceito, há desde logo lugar a despacho liminar do juiz.
Então, o juiz toma logo contacto com a petição inicial para verificar se esta foi deduzida
dentro do prazo de 20 dias (artigo 728º/1) a contar da citação no caso de processo
ordinário ou a contar do ato de penhora no caso de estarmos perante um processo sumário.
Assim sendo, o juiz irá analisar se o fundamento se ajusta aos fundamentos dos artigos
729º, 730º e 731º ou se o fundamento é manifestamente improcedente. No caso de o
fundamento ser manifestamente improcedente, não se avançará para a contestação. Como
sabemos em regra, numa ação declarativa comum, o juiz não atenta nesta fase à petição
inicial e a não ser que o legislador o imponho, o juiz só irá atender à petição inicial depois
da fase dos articulados. Caso o juiz verifique que a petição inicial foi deduzida no prazo
imposta por lei e que o seu fundamento respeita os fundamentos taxativamente previstos
na lei, então a fase seguinte é a fase da contestação e o exequente é notificado para
contestar. Nesta ação declarativa que tramita por apenso, o réu é o exequente e é este
quem possuiu legitimidade processual passiva para contestar no prazo de 20 dias. Note-
se que não há aqui lugar a réplica, mas a ação segue nos termos do processo comum
declarativo. Por fim, acrescente-se que se o exequente não contestar, nos termos do artigo
732º/3 é aplicável o disposto no nº1 do artigo 567º, ou seja, efeitos da revelia. Porém,
apesar de a regra ser a de que em caso de revelia operante os factos se consideram
confessados, se no requerimento executivo houver factos alegados pelo exequente que
estão em oposição com os factos alegados nesta ação declarativa, não se têm estes factos
como confessados. Compreende-se esta solução pois se o exequente já alegou factos que
estão em contradição com os factos agora alegados pelo executado, não faria sentido que
estes se considerassem confessados. Relativamente à força de caso julgado , estabelece o
artigo 732º/6 que se houver uma decisão de mérito relativa à existência, validade e
exigibilidade da obrigação exequenda, então forma-se caso julgado e não pode haver uma
outra ação declarativa entre as duas partes em que se discutam de novo questões sobre a
validade e existência da obrigação. Quanto à exigibilidade a situação pode ser diferente,
isto é, a sentença declarativa forma caso julgado material quanto à exigibilidade, mas a
alteração de circunstâncias pode determinar a caducidade desse caso julgado.
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O registo da penhora tem essa mesma data (15.02.2020), mas sobre esse prédio incide
uma hipoteca constituída e registada a favor do Banco Santader, S.A., em 24/05/2014,
e um direito de superfície, constituído e registado em 2/03/2011, a favor de Daniel,
irmão de António.
Após a venda executiva deste prédio rústico, que direitos se mantêm (sobre o dito
prédio) e que direitos caducam? Justifique (6 Val.).
Para responder à questão importa desde logo atender ao artigo 824º do CC. Nos termos
do respetivo preceito “os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os
oneram, bem como os demais direitos que não tenham registado anterior ou de qualquer
arresto, penhora ou garantia, com exceção dos que que, constituídos em data anterior,
produzem efeitos em relação a terceiros independentemente de registo”. Da letra da lei
resulta que os direitos reais de garantia caducam e a coisa em venda executiva é vendida
sempre livre dos direitos reais de garantia, mesmo que o titular não tenha vindo à ação
executiva exercer as suas prerrogativas. É fácil entender a ratio desta solução. Ora, o
titular do direito real de garantia sobre um bem penhorado não é titular de nenhum direito
incompatível com a penhora, na medida em que a própria ação executiva lhe permite
exercer o seu direito real de garantia, reclamando o seu crédito. Por essa mesma razão o
titular do direito real de garantia tem satisfação no sistema da ação executiva, não fazendo
sentido considerar esse direito incompatível com a penhora. Em bom rigor, os direitos
reais de garantia são os mais compatíveis que existem com a penhora e os terceiros irão
reclamar os seus créditos para serem pagos com o valor resultante da vens dos bens sobre
os quais têm esse direito real de garantia. Como tal, a hipoteca voluntária constituída a
favor do Banco Santander caduca. O valor da hipoteca (o crédito hipotecário) transfere-
se para o produto da venda e o credor hipotecário será paga em primeiro lugar já que a
penhora obtida pelo exequente tem data posterior.
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Inês De Oliveira Soares
Ora, uma vez que o direito de superfície não caduca a penhora não abrange a propriedade
plena. Porém, nos termos da lei o bem transmite-se livre do direito real. Temos aqui um
verdadeiro desfasamento entre o objeto da penhora e o objeto da venda. Como tal, a
doutrina propõe uma interpretação restritiva a neste caso o direito de superfície não
caduca porque não é abrangido pela penhora. Porém, isto pode trazer prejuízos para o
credor reclamante – Banco porque a sua hipoteca recai sobre a propriedade plena, mas a
venda judicial não a abrange. Então, deve o banco intentar uma nova ação executiva sobre
o titular do direito de superfície para pagar o remanescente do seu crédito – a soma dos
direitos parcelares é normalmente inferior à venda da propriedade plena. Assim, quando
citado o credor para reclamar os seu crédito, deverá requerer a extensão da penhora ao
objeto da sua garantia, abrangendo a propriedade plena.
22/06/2020
Perante a falta de pagamento da referida quantia, Pepe instaurou uma ação executiva
no Juízo Cível Central da Comarca de Coimbra. A execução foi instaurada apenas
contra António e o requerimento executivo foi subscrito por um advogado estagiário.
António entende que os tribunais portugueses são incompetentes para esta execução e
que a execução deveria ter sido também instaurada contra Maria.
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atos processuais não é obrigado a cumprir e tem discricionariedade judicial para, à luz
das regras processuais pré-existentes nesse outro Estado, não cumprir.
Concluindo que os tribunais portugueses têm competência internacional, cumpre-nos
agora analisar a competência interna. Desde logo note-se que nas ações executivas, tal
como nas ações declarativas, a competência material dos tribunais judiciais se determina
por um duplo critério: critério da atribuição positiva e critério da competência residual.
Segundo o critério da atribuição competência, cabem na competência material dos
tribunais judicias todas as ações executivas baseadas na não realização de uma prestação
devida segundo as normas do direito privado. No nosso caso, uma vez que está em causa
a falta de pagamento, pelo critério da atribuição positiva são competentes os tribunais
judiciais. Relativamente à concreta competência interna dos tribunais judicias, o tribunal
competente tem que ser competente à luz de quatro critérios cumulativos: matéria,
território, hierarquia e valor. Nos termos da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se
em juízos de competência especializada, de competência genérica e de proximidade. De
entre os juízos de competência especializada, temos os juízos de execução (artigo 81º/3/j
LOSJ). Ora, quando haja juízos de execução estes têm competência exclusiva (artigo 129º
LOSJ), salvo se esta for excluída pelo nº2 do mesmo preceito. Então, uma vez que a
execução foi instaurada no juízo cível central ao invés de ser instaurada no juízo de
execução da Comarca de Coimbra, deteta-se aqui uma incompetência em razão da
matéria. Ora a incompetência em razão de matéria é uma incompetência absoluta (artigo
96º/a). Estando nós perante um processo executivo que tramita sob a forma sumária, o
agente de execução deve suscitar a questão ao juiz a fim deste apreciar a falta deste
pressuposto processual (artigo 855/2/b). O juiz, sendo este um caso de incompetência
absoluta, deve indeferir liminarmente o requerimento executivo (artigo 99º/1) ou se o
exequente requerer, enviar o processo para o tribunal competente, desde que não haja
oposição justificada do executado a esta remessa. Os restantes critérios aferidos de
competência interna estão verificados, sendo o critério do valor para o caso irrelevante e
relativamente à hierarquia, apenas os tribunais de 1º instância tem competência executiva.
Ora, não obstante estarmos perante uma sentença – ainda que estrangeira – e a fase
introdutório do processo como tal seguir a forma de processo sumária, se se concluir que
é necessária notificação à pessoa contra a qual a execução é requerida nos termos do
artigo nº1 do artigo 43º, então a forma aproxima-se da forma de processo ordinário na sua
fase introdutória. Como tal, se se aferir pela necessidade de notificação e esta não for
realizada, esta falta procedimentos é constitui fundamento para que o executado possa
deduzir embargos de executado com sucesso. Então, este vício constitui uma exceção
dilatória consubstanciadora da falta de um pressuposto processual suscetível de ser
invocada em sede de embargos de terceiro pelo artigo 729º/c. Relativamente à
competência em razão de território, a execução deve ser instaurada nos termos do artigo
89º/2 na comarca de Coimbra. Relativamente à hierarquia, apenas os tribunais de 1º
instância têm competência e verifica-se a competência do juízo de execução da comarca
de Coimbra. No caso, o critério do valor é irrelevante.
Relativamente à legitimidade processual esta determina-se de modo mais simples no
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âmbito da ação executiva face à ação declarativa. Na ação declarativa o autor é parte
legítima quando tem interesse direto em demandar e o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer (artigo 30º CPC). Este interesse direto em demandar e em
contradizer apura-se pela vantagem económica que um e outro, do ponto de vista
económica, possam vir a ter no final da ação declarativa. Subsidiariamente, têm interesse
direito em demandar e em contradizer os sujeitos na ação material controvertida. No
fundo, a legitimidade processual numa ação declarativa exprime a posição da parte
perante o objeto do litigio, o pedido e a causa de pedir, em termos de se poder concluir
que o autor e o réu tem perante o pedido e a causa de pedir uma relação jurídica próxima.
Já no âmbito da ação execução a indagação a fazer resolve-se pelo confronto entre as
partes e o título executivo. Assim, tem legitimidade como exequente quem no título
executivo figura como credor e tem legitimidade como executado quem no título
executivo figura como devedor (artigo 53º/1). Tal significa que na ação executiva a
legitimidade processual exprime uma posição puramente formal, na medida em que tem
legitimidade ativa (exequente) a pessoa cujo nome figura no título executivo como credor
e legitimidade passiva (executado) a pessoa mencionada no título executivo na qualidade
de devedor. No nosso caso é então claro que Pepe tem legitimidade processual ativa.
Relativamente à legitimidade processual passiva, uma vez que na sentença homolgatória
– que é o nosso título executivo – surgem como credores tanto António como Maria,
ambos têm legitimidade processual passiva. No entanto, apesar dos dois cônjuges
constarem no título executivo na qualidade de devedores, o credor exequente está livre
de apenas instaurar execução contra um deles, renunciando, nesta parte, à
responsabilidade patrimonial imputável ao outro cônjuge. Na perspetiva do curso, em
regra, não há litisconsórcio necessário nas ações executivas. Como tal, para o Dr.
REMÉDIO MARQUES e o Dr. LEBRE DE FREITAS, não estamos perante uma situação
que exija a verificação de litisconsórcio necessário nos termos do artigo 34º/3/2º parte.
Seja como for, a ação é movida contra pessoa que figura no título executivo na qualidade
de devedor – António.
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740º - só um dos cônjuges é executado e o agente de execução penhora também bens comuns, citando
imediatamente o cônjuge do executado para requerer a partilha dos bens comuns, sob pena da penhora
prosseguir sobre todos os bens comuns
343º - embargos de terceiros do cônjuges; quando há ilicitude numa penhora quando só há titulo contra
um e não houve incidente da comunicabilidade da dívida e se penhoram bens comuns e não se cita o
cônjuge do executado para salvar a sua metade nos bens comuns ou quando se penhoram bens próprios.
Este artigo permite que o cônjuge do executado se defenda de penhoras ilegais contra bens dele.
824º - os direitos reais de gozo que têm registo sobre o mesmo bem anterior de qualquer penhora, arresto
ou garantia não caducam com a venda executiva. Se tiveram registo posterior então caducam.
Se a hipoteca tiver registo anterior, então o direito real de gozo caduca. Veja-se:
Na venda executiva, se o prédio for vendido livre de quaisquer ónus vai valer mais. Há uma hipoteca
anterior ao arrendamento e essa hipoteca tem um credor, esse credor tem o ónus de reclamar créditos.
Os direitos reais de garantia, todos eles caducam. Todas as garantias reais que incidem sobre o bem
penhorado, caducam.
Direitos reais de aquisição – contrato promessa com eficácia real e pacto de preferência com eficácia real,
o titular desses direitos pode ficar com esses bens então em princípio não são incompatíveis. Então, se o
promitente-comprador não quiser comprar o bem
O preferente – ele pode exercer o direito de preferência e ficar com o bem. Então se não exercer esta
preferência perde o direito que tem. A podia comprar, se não quis então o seu direito nasce quando há
intenção de venda e quando há clausulas do contrato venda estabelecidas
Há direito de preferência quando o obrigado à preferência quer vender o prédio, no momento da venda
executiva nasce e realiza-se a obrigação de preferência. O beneficiário da preferência tem o direito
potestativo de adquirir.
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