Neurónio: Revista de Ciência Elementar

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REVISTA DE CIÊNCIA ELEMENTAR

Neurónio
Catarina Moreira
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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CITAÇÃO
Moreira, C. (2013) É uma célula nervosa, estrutura básica do sistema nervoso, comum à maioria dos ver-

Neurónio, tebrados. Os neurónios são células altamente estimuláveis, que processam e trans-
Rev. Ciência Elem., V1(01):008. mitem informação através de sinais eletro-químicos. Uma das suas caraterísticas é a
doi.org/10.24927/rce2013.008 capacidade das suas membranas plasmáticas gerarem impulsos nervosos.

EDITOR A maioria dos neurónios, tipicamente, possui o corpo celular e dois tipos de prolongamen-
José Ferreira Gomes, tos citoplasmáticos, as dendrites e os axónios.
Universidade do Porto
• corpo celular: contém o núcleo e a maior parte dos organelos. É nesta parte onde ocorre
COPYRIGHT a síntese proteica.
© Casa das Ciências 2019. • dendrites: são prolongamentos finos, geralmente ramificados, que recebem e conduzem
Este artigo é de acesso livre, os estímulos provenientes de outros neurónios ou de células sensoriais.
distribuído sob licença Creative
• axónio: é o prolongamento, geralmente, mais longo que transmite os impulsos nervosos
Commons com a designação
provenientes do corpo celular. O comprimento do axónio varia muito entre os diferentes
CC-BY-NC-SA 4.0, que permite
tipos de neurónios. Nos vertebrados e em alguns invertebrados os axónios são cobertos
a utilização e a partilha para fins
por uma bainha isolante de mielina, tomando a designação de fibra nervosa.
não comerciais, desde que citado
• terminações do axónio: contêm sinapses, estruturas especializadas onde são libertadas
o autor e a fonte original do artigo.
susbtâncias químicas, neurotransmissores, que estabelecem a comunição com as dendri-

rce.casadasciencias.org tes ou corpo celular de outros neurónios.

FIGURA 1. Esquema representativo de um neurónio típico.


a. Dendrite b. Soma c. Núcleo d. Axónio e. Bainha de mielina f. Célula de Schwann g. Nódulo de Ranvier
h. Axónio terminal

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Quando a terminação do axónio de um neurónio estabelece ligações com as dendrites


ou corpo celular de um outro neurónio, as membranas modificam-se e formam uma si-
napse, que permite que o impulso nervoso seja conduzido de um neurónio para o seguinte.
Quando o impulso nervoso chega à terminação do axónio que forma uma sinapse liber-
tam-se neurotransmissores a partir da membrana pré-sináptica que atravessam a fenda
sináptica e se ligam aos recetores da membrana pos-sináptica do neurónio seguinte. Os
neurónios no entanto não são as únicas células do sistema nervoso, as células de glia
funcionam como suporte físico dos neurónios e auxiliam as ligações durante o desenvol-
vimento embrionário. Existem vários tipos de células de glia: as células de Schwann no
sistema nervoso periférico, os oligodendrócitos no sistema nervoso central. Muitas células
gliais fornecem nutrientes aos neurónios enquanto outras consomem partículas estranhas
e resíduos celulares. Outra das suas funções é a manutenção dos níveis iónicos à volta dos
neurónios. Embora não tenham axónios e não transmitam por isso impulsos nervosos, as
células gliais comunicam entre si eletricamente através das “gap junction”, que permitem
o fluxo iónico entre células.
Como em todas as células, o citoplasma do neurónio tem um excesso de carga negativa.
A voltagem no interior do neurónio é geralmente 60-70 milivolts (mV) mais negativa que o
exterior da célula. Esta diferença de carga entre o meio extracelular e o meio intracelular
gera uma diferença de potencial elétrico entre as duas faces da membrana – potencial
de membrana, que quando a célula não está a transmitir impulsos nervosos é da ordem
dos -70 mV – potencial de repouso. O sinal negativo indica como referido anteriormente
que o interior da células tem maior carga negativa do que o exterior. O neurónio é sensível
a qualquer fator químico ou físico que provoque uma alteração no potencial de repouso
da membrana. A alteração mais extrema que pode ocorrer no potencial de membrana é o
impulso nervoso (ou potencial de ação), que é uma rápida alteração do potencial elé-
trico, em que por breves instantes (1 ou 2 milisegundos) o interior da célula torna-se mais
positivo que o exterior.
As membranas plasmáticas dos neurónios são constituídas por uma bicamada fosfoli-
pídica impermeável aos iões, como nas outras células, mas possuem proteínas que fun-
cionam como canais ou bombas iónicas. O potencial de repouso deve-se sobretudo à dife-
rença de concentração dos iões sódio Na+ e potássio K+ dentro e fora da célula. Diferença
essa que é mantida pelo funcionamento dos canais e das bombas de sódio e potássio, que
bombeiam sódio para o meio externo e potássio para o meio interno, com consumo de ATP,
contrariando a difusão passiva destes iões.
A bomba de sódio e potássio transporta 3 Na+ por cada 2 K+ , a quantidade de iões K+
que sai da célula (por transporte passivo) é superior à quantidade de iões Na+ que entra na
célula, criando-se um défice de cargas positivas na célula relativamente ao exterior.
Os canais que existem na membrana celular permitem a passagem de K+ e Na+ de forma
passiva. Quando o neurónio está em repouso, os canais estão fechados e abrem quando a
célula é estimulada, permitindo uma rápida entrada de Na+, e uma alteração do potencial
de membrana de -70 mV para + 35 mV, chamando-se a esta diferença, potencial de despo-
larização. A rápida alteração do potencial elétrico que ocorre durante a despolarização
designa-se por potencial de ação e é da ordem dos 105 mV. Quando o potencial de ação
atinge o seu máximo durante a despolarização, aumenta a permeabilidade da membrana
ao K+, e a permeabilidade dos canais ao Na+ volta ao normal. Dá-se uma quebra no po-

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tencial de membrana até atingir o seu valor de repouso, chamando-se a esta diferença
potencial, repolarização.
A transmissão de um impulso nervoso é um exemplo de uma resposta do tipo “tudo-ou-
-nada”, isto é, o estímulo tem de ter uma determinada intensidade para gerar um poten-
cial de ação. O estímulo mínimo necessário para desencadear um potencial de ação é o
estímulo limiar, e uma vez atingido este limiar, o aumento de intensidade não produz um
potencial de ação mais forte mas sim um maior número de impulsos por segundo. O poten-
cial de ação gerado na membrana estimulada propaga-se à área vizinha, conduzindo à sua
despolarização e assim por diante. Estas sucessivas despolarizações e repolarizações ao
longo da membrana do neurónio constituem o impulso nervoso, cuja propagação se faz
num único sentido, das dendrites para o axónio.
A velocidade de transmissão do impulso nervoso varia muito entre neurónios e espécies
diferentes. Por exemplo, nas anémonas em geral a velocidade é da ordem dos 0.1 m/s,
enquanto que nos neurónios motores de alguns mamíferos é da ordem dos 120m/s. estas
diferenças na velocidade de transmissão estão relacionadas com a estrutura do axónio:

• diâmetro: pequenos diâmetros apresentam maior resistência logo o impulso é transmitido


mais lentamente.
• bainha de mielina: nos vertebrados embora os axónios tenham diâmetros inferiores aos
dos invertebrados, a elevada velocidade de propragação do impulso é garantida pela pre-
sença da bainha de mielina, formada por células de Schwann que envolvem o axónio. As
interrupções entre células de Schwann na bainha de mielina, são designadas por nódulos
de Ranvier.

Em axónios mielinizados, o potencial de ação apenas despolariza a membrana na região


dos nódulos de Ranvier, uma vez que a bainha atua como um isolante impedindo a despo-
larização nas restantes zonas. A rápida propagação é atingida pois o impulso salta de um
nódulo para o outro.
A passagem do impulso nervoso de uma célula para a outra faz-se através das sinapses.

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