Ersar Guia 13 Tratamento de Agua
Ersar Guia 13 Tratamento de Agua
Ersar Guia 13 Tratamento de Agua
O tratamento
de água para consumo
humano face à qualidade
da água de origem
Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia
Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia
FICHA TÉCNICA
Título:
O tratamento de água para consumo humano face à qualidade da
água de origem
Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia
Colaboração:
Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR): financiou a edição e
participou na estruturação do manual e na revisão do seu conteúdo.
Edição:
Instituto Regulador de Águas e Resíduos
Laboratório Nacional de Engenharia Civil
IMPRESSÃO:
Europress, Lda.
Data:
Setembro de 2009
ISBN:
978‑989‑95392‑7‑3
Depósito Legal:
267953/07
PREFÁCIO DO IRAR
O sector de abastecimento público de água para consumo humano em
Portugal tem revelado uma evolução assinalável, sustentada no facto de
que em 1993 apenas cerca de 50% da água era controlada e tinha boa
qualidade e em 2008 este indicador é de quase 97%.
Apesar de os números falarem por si, é de salientar que esta evolução
tem sido conseguida num quadro crescente de rigor, quer no que diz
respeito ao cumprimento dos normativos legais nacional e comunitário,
quer no que se refere à fiabilidade analítica dos resultados, não sendo
despiciente referir também que estes resultados são obtidos por um
sector caracterizado por um elevado número de entidades gestoras (su‑
perior a 400), que apresentam estádios de desenvolvimento tecnológico
muito distintos.
Assim, apesar de globalmente o País já apresentar água de boa quali‑
dade, ainda existem lacunas, nomeadamente ao nível da operação téc‑
nica que importa suprir.
Neste sentido, o IRAR tem procurado dotar o sector com as ferramentas
necessárias para as entidades gestoras servirem a população com um
elevado nível de serviço e a custos sustentáveis, quer para a entidade
gestora, quer para os cidadãos.
Nesta filosofia, insere‑se a série de Guias Técnicos do IRAR, da qual
este documento faz parte.
Com este guia pretende‑se que, de uma forma tão simples quanto pos‑
sível, mas sem descurar o rigor técnico e científico, disponibilizar aos
técnicos das entidades gestoras dos sistemas públicos de abastecimen‑
to de água, que diariamente operam as estações de tratamento, um
documento de fácil consulta que reúna a forma de tratar/eliminar os
contaminantes da água.
Consideramos ainda que o facto deste guia ter sido elaborado no con‑
texto da realidade portuguesa, confere‑lhe um valor acrescentado face à
quantidade imensa de bibliografia internacional existente sobre tratamen‑
to de águas.
Estamos convictos que o esforço desenvolvido pelos autores, com a
colaboração de alguns elementos do IRAR, terá o devido reconhecimen‑
to se constatarmos que o presente guia constitui um documento de tra‑
balho diário de todos aqueles que têm a nobre missão de produzir uma
água com qualidade para consumo humano, na salvaguarda da susten‑
tabilidade ambiental e da protecção da saúde humana.
Jaime Melo Baptista (Presidente do Conselho Directivo do IRAR)
Dulce Álvaro Pássaro (Vogal do Conselho Directivo do IRAR)
João Simão Pires (Vogal do Conselho Directivo do IRAR)
i
ii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
PREFÁCIO DO LNEC
Há cerca de uma década que, no âmbito dos seus Programas Quadrie‑
nais de Investigação Programada (PIP), o LNEC tem vindo a desenvol‑
ver actividade estratégica de I&D sobre os processos que controlam a
qualidade e a segurança da água, da captação à torneira do consumidor,
contribuindo para o avanço científico e tecnológico da indústria da água
em Portugal.
Esta actividade de I&D, desenvolvida essencialmente no seio do Laboratório
de Engenharia Sanitária (LABES) do Núcleo de Engenharia Sanitária do
Departamento de Hidráulica e Ambiente, à escala laboratorial e piloto, e
concretizada, na sua maior parte, conjuntamente com entidades gestoras
no quadro de projectos nacionais e internacionais, tem permitido actua
lizar conhecimento científico e desenvolver e consolidar competências
específicas.
O presente guia, que se pretendeu de índole eminentemente prática e de
utilização alargada, constitui um repositório das capacidades típicas das ETA
portuguesas, bem como das tecnologias convencionais e emergentes que
permitem solucionar as principais limitações no respeitante à eliminação
de contaminantes biológicos e químicos, legislados e emergentes.
Por opção deliberada, este documento não aborda de forma exaustiva e
aprofundada a fundamentação científica da eliminação destes contaminan‑
tes e da formação de subprodutos indesejáveis do tratamento, uma vez
que tal se viria a traduzir numa obra extensa e de consulta complexa.
Num ambiente de excelente colaboração e sinergia com a equipe do
IRAR foi possível convergir para um documento que se afigura poder
constituir uma ferramenta de trabalho, destinada essencialmente a
propiciar orientação prática no dia a dia da operação e da avaliação da
segurança oferecida por uma ETA, e na adequação da resposta a novas
situações.
Carlos Matias Ramos (Presidente do LNEC)
Rafaela de Saldanha Matos (Directora do Departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC)
iii
iv O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICE GERAL
pág.
1 NOTA INTRODUTÓRIA.................................................................. 1
2 CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS.......................... 3
3 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO
DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE
CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA.......... 9
4 CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA
CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES..... 31
5 TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO................. 45
6 CONTINGÊNCIAS.......................................................................... 53
7 NOTAS FINAIS.............................................................................. 59
BIBLIOGRAFIA................................................................................... 61
ÍNDICE v
vi O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICES DETALHADOS
ÍNDICE vii
ÍNDICE DE FIGURAS pág.
Figura 1 – E
squema‑tipo de tratamento de água de origem
superficial em Portugal (a cinzento mais escuro
representam‑se as UOP mais frequentes)....................... 3
Figura 2 – E
squema‑tipo de tratamento de água de origem
subterrânea em Portugal (a cinzento mais escuro
representam‑se as UOP mais frequentes)....................... 3
viii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICE DE quadros pág.
Quadro 1 – T
ipos de reagentes e de órgãos usados nas ETA
portuguesas.................................................................. 5
Quadro 2 – Classes de ETA para águas superficiais...................... 7
Quadro 3 – Classes de ETA para águas subterrâneas................... 7
Quadro 4 – Contaminantes biológicos............................................. 11
Quadro 5 – Matéria orgânica natural da água................................ 17
Quadro 6 – Microcontaminantes orgânicos solúveis em água........ 19
Quadro 7 – Contaminantes inorgânicos.......................................... 26
Quadro 8 – C
apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção/inactivação de contaminantes biológicos...... 33
Quadro 9 – C
apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de matéria orgânica natural........................... 35
Quadro 10 – E
ficiências mínimas de remoção de COT em ETA
convencionais que tratam água de origem
superficial (USEPA, 1999a).......................................... 35
Quadro 11 – C
apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de microcontaminantes orgânicos
solúveis em água.......................................................... 37
Quadro 12 – C
apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de contaminantes inorgânicos....................... 41
Quadro 13 – C
apacidade nominal de tratamentos complementares
ou alternativos para controlo de contaminantes
biológicos...................................................................... 46
Quadro 14 – C
apacidade nominal de tratamentos complementares
ou alternativos para controlo de contaminantes
orgânicos (NOM e microcontaminantes orgânicos
solúveis em água)........................................................ 48
Quadro 15 – T
ratamento complementar ou alternativo para
controlo de contaminantes inorgânicos........................ 50
Quadro 16 – D
oses mínimas de oxidante necessárias para
controlo de ferro e manganês (AWWA, 1999)............. 54
Quadro 17 – N
íveis de alerta propostos pela OMS
(Chorus e Bartram, 1999)............................................. 56
ÍNDICE ix
x O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ABREVIATURAS
Utilizaram‑se as abreviaturas em Português adoptadas pela legislação
nacional ou utilizadas sistematicamente em outros documentos oficiais,
e sempre que se considerou tratar‑se de abreviaturas de uso genera‑
lizado (e.g., OMS para Organização Mundial de Saúde). Nos restantes
casos (e.g., abreviaturas de tecnologias de tratamento e de contami‑
nantes), adoptaram‑se as abreviaturas anglo‑saxónicas, de utilização
generalizada na literatura de referência e no léxico técnico‑científico
nacional.
abreviaturas xi
NF Nanofiltration (nanofiltração)
NOM Natural organic matter (matéria orgânica natural)
OBP Oxidation by‑products (subprodutos da oxidação)
OMS Organização Mundial de Saúde
PAC Powdered activated carbon (carvão activado em pó)
PM Peso molecular
pos Positiva
RO Reverse osmosis (osmose inversa)
SF Slow filtration (filtração lenta)
SUVA Specific UV254nm absorbance (absorvência específica a 254 nm,
indicador da natureza da NOM, calculado através da razão
UV254nm/COD) (L/(mgC.m))
THM Trihalometanos
UF Ultrafiltration (ultrafiltração)
UOP Unit operation/process (operação/processo unitário de trata‑
mento de água)
USEPA US Environmental Protection Agency (Agência Americana de
Protecção do Ambiente)
UV UV radiation (radiação ultravioleta)
UV254nm UV254nm absorbance (absorvência no ultravioleta a 254 nm,
indicador do teor em matéria húmica)
VOC Volatile organic compounds (compostos orgânicos voláteis)
xii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
1 NOTA INTRODUTÓRIA
O presente Guia tem como objectivo sistematizar as capacidades
e limitações das estações de tratamento de água (ETA) existen‑
tes em Portugal no controlo de contaminantes que possam
ocorrer nas origens de água destinadas à produção de água
para consumo humano.
Em primeiro lugar, são identificados os esquemas de tratamento
existentes nas ETA portuguesas em função do tipo de origem
(subterrânea ou superficial) (capítulo 2) e os contaminantes são
classificados em função das características físico‑químicas que
controlam a sua remoção/eliminação nas diferentes operações
e processos unitários (UOP) que constituem as ETA (capítulo 3).
A seguir (capítulo 4), analisam‑se as capacidades e limitações
dos vários esquemas‑tipo de ETA para controlo das várias clas‑
ses de contaminantes e apresentam‑se as possibilidades de
optimização das condições de operação das UOP. O capítulo 5
é dedicado a processos complementares necessários ao contro‑
lo de contaminantes em ETA convencionais. Finalmente, no
capítulo 6 ressalvam‑se contingências a esta abordagem, desig‑
nadamente as associadas a alterações muito rápidas de quali‑
dade da água e respectiva monitorização.
nota introdutória 1
2 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
2 CARACTERIZAÇÃO DAS ETA
PORTUGUESAS
A caracterização da situação nacional das ETA feita por Vieira et
al. (2007) (baseada no Inventário Nacional de Sistemas de Abas‑
tecimento de Água e de Águas Residuais (INSAAR) e em infor‑
mação cedida pelo Instituto Regulador de Águas e Resíduos e
pela Águas de Portugal, S.G.P.S., S.A.) permitiu identificar as
sequências de tratamento existentes em função da origem da
água, superficial ou subterrânea.
Os múltiplos esquemas de tratamento identificados podem ser
interpretados como variantes das sequências ditas convencionais.
Assim, foram identificados os esquemas‑tipo do tratamento das
fases líquidas das ETA que processam água de origem superficial
e água de origem subterrânea (Figura 1 e Figura 2, respectiva‑
mente).
CORRECÇÃO DE
Desinfecção Coagulação
pH/AGRESSIVIDADE
Oxidação de Correcção de pH/
matéria orgânica agressividade
Remoção Fe/Mn Adição de PAC
Remoção de
compostos de
cor, sabor e
cheiro
Fonte: Extraída de Vieira et al. (2007).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 9
A turvação da água é conferida por material em suspensão ou coloi‑
dal (i.e., de pequena dimensão e com carga superficial – normalmen‑
te negativa – e, portanto, não sedimentável), de natureza biológica
(e.g., microalgas, bactérias, cianobactérias), química orgânica (maté‑
ria orgânica natural) ou inorgânica (e.g., argilas).
A salinidade, condutividade e alcalinidade da água são parâmetros
que quantificam uma multiplicidade de substâncias (predominante‑
mente inorgânicas) solúveis em água e com carga positiva ou
negativa.
Por esse motivo, a turvação, salinidade, condutividade e alcalinidade
não são tratadas neste capítulo, mas antes as substâncias que as
conferem. Estes parâmetros globais são tratados no capítulo 6. Nes‑
te capítulo aborda‑se ainda a problemática associada aos parâmetros
de qualidade da água susceptíveis de grandes variações em períodos
de tempo muito curtos, decorrentes de eventos climáticos, como
chuvas intensas, estratificação das massas de água, forte e longa
insolação (e.g., turvação, ferro, manganês, florescências de ciano‑
bactérias). As questões associadas a alterações significativas da
qualidade da água devidas a uma sobreexploração do recurso (e.g.,
condutividade, salinidade) serão também analisadas no capítulo 6.
Nas secções 3.2 a 3.4, os contaminantes são classificados em termos
das características físico‑químicas determinantes da sua remoção/
eliminação/degradação e/ou transformação (e.g., em subprodutos in‑
desejáveis da oxidação/desinfecção química) nas ETA. O preenchi‑
mento dos quadros foi feito de forma a salientar as características
mais relevantes para o tratamento, não pretendendendo ser exaustivo.
Comportamento
tos dissolvidos?
Sedimentável?
Tamanho (µm)
coloidal? (i)
Flutuável?
química?
Cryptosporidium parvum ++
(ii) (ii) + 4‑6 + ‑
(oocistos) (iii)
Giardia lamblia (cistos) (ii) (ii) + 8‑13 + + (iii) ‑
Clostridium perfringens ++
(ii) (ii) + 0.25 + ‑ (iv)
(endosporos) (iii)
12‑90 diâmetro ++
Ovos de helmintas ++ ‑
25‑150 comprim. (iii)
Células de heterotróficos
(ii) (ii) + 0.2‑30 + ‑ ‑
(colónias a 22ºC e 37ºC)
Bactérias coliformes, E. coli (ii) (ii) + 0.5‑2 + ‑ ‑
Enterococos (ii) (ii) + 0.8‑1.2 + ‑ ‑
Pseudomonas aeruginosa (ii) (ii) + 0.5‑3 + ‑ ‑
Salmonellas (ii) (ii) + 0.2‑2 + ‑ ‑
Cianobactérias (exemplos de
(v) (vi) (vii)
géneros mais frequentes)
Anabaena (v) ++ Filamentos + (viii) +
Anabaenopsis (v) ++ Filamentos + (viii) +
Aphanizomenon (v) ++ Filamentos + (viii) +
Cylindrospermopsis (v) ++ Filamentos + (viii) +
Cél. (3‑10 µm)
Microcystis (v) ++ + (viii) +
ou colónias
Nodularia (v) ++ Filamentos + (viii) +
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 11
Características que condicionam a sua
remoção no tratamento
Em suspensão?
Partículas finas?
Comportamento
tos dissolvidos?
Sedimentável?
Tamanho (µm)
coloidal? (i)
Flutuável?
química?
Cianobactérias (exemplos)
(cont.)
Nostoc (v) ++ Filamentos + (viii) +
Oscillatoria (v) ++ Filamentos + (viii) +
Planktothrix (v) ++ Filamentos + (viii) +
Dimensão
Enterovírus + (ix) ‑
macromolecular
Fontes: WHO (2004), Base de dados Cyanosite (acedida em Julho de 2007).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 13
cistos de C. parvum, doses elevadas de ozono podem
ser eficientes) e as etapas de coagulação, floculação,
sedimentação (opcional) e filtração (conforme analisado
no capítulo 4); no entanto, a flotação é mais eficiente do
que a sedimentação na remoção destas formas biológi‑
cas (mantendo o pré‑tratamento por coagulação/flocula‑
ção e a afinação por filtração, mas com vantagens para
a C/F e a filtração, capítulo 5); a tecnologia de membra‑
nas (desde a microfiltração à osmose inversa) ou a
oxidação com radiação ultravioleta (nas condições ade‑
quadas) são as barreiras mais seguras (aspectos anali‑
sados no capítulo 5);
ii) os ovos de helmintas devem ser controlados por sedi‑
mentação e afinados por filtração;
iii) os microrganismos não resistentes à oxidação química
são controlados preferencialmente por desinfecção quí‑
mica (pré‑oxidação e/ou desinfecção final), embora a
clarificação (coagulação/floculação/sedimentação e filtra‑
ção) também apresente alguma eficiência de remoção;
iv) as cianobactérias devem ser controladas em ETA con‑
vencionais usando dosagens baixas de pré‑oxidante
(que evitam a lise celular e facilitam a coagulação/flo‑
culação), uma etapa eficiente de coagulação/floculação/
sedimentação e uma gestão cuidada dos ciclos de fil‑
tração, das lamas e da recirculação (para a linha de
tratamento de água) de águas residuais do tratamento
de lamas (conforme analisado no capítulo 4); no entan‑
to, a flotação é mais eficiente do que a sedimentação
na remoção de cianobactérias (mantendo o pré
‑tratamento por coagulação/floculação e a afinação por
filtração, mas com vantagens para a C/F e a filtração,
capítulo 5) e a tecnologia de membranas (desde a MF
à RO) constitui a barreira mais segura (aspectos ana‑
lisados no capítulo 5);
v) os vírus só podem ser controlados em ETA convencionais
optimizando as etapas de pré‑oxidação com ozono ou
dióxido de cloro (conforme analisado no capítulo 4); no
entanto, a sua remoção/inactivação é mais segura usan‑
do a tecnologia de membranas (desde a ultrafiltração
(UF) à RO) ou a oxidação com radiação UV (nas condi‑
ções adequadas) (capítulo 5).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 15
A importância da NOM para a qualidade da água para consumo
humano decorre, sobretudo, do facto de esta incluir na sua com‑
posição os precursores de OBP indesejáveis. Os OBP compreen‑
dem centenas de compostos orgânicos halogenados (e.g., triha‑
lometanos e ácidos haloacéticos) ou não (e.g., benzeno) de ele‑
vada toxicidade para o Homem.
A NOM não é totalmente removida nas ETA. Além disso, no tra‑
tamento e durante a adução e distribuição, da acção dos oxidan‑
tes químicos resulta a transformação de moléculas da NOM em
compostos de menor peso molecular (e.g., ácidos carboxílicos,
aldeídos) quantificáveis como carbono orgânico assimilável (AOC),
e que sustentam a proliferação microbiana nas redes de distribui‑
ção, sobretudo na forma de biofilmes.
Assim, em termos da qualidade da água, o interesse em carac‑
terizar o teor em NOM encontra‑se fundamentalmente associado
a dois aspectos – ao potencial da água para formar OBP e à
estabilidade microbiológica da água (expressa pela concentração
de AOC). Todavia, no essencial, estes aspectos não dependem
tanto da concentração total da NOM (COT, carbono orgânico total),
mas mais da concentração da fracção solúvel (COD, carbono
orgânico dissolvido) e da sua natureza (SUVA).
Assim, no Quadro 5, a NOM é caracterizada em termos dos pa‑
râmetros COT, COD, UV254nm (absorvência no ultravioleta, a 254 nm,
de amostras filtradas através de filtro 0,45 µm; indicador da NOM
mais aromática, hidrófoba e de maior peso molecular) e SUVA
(absorvência específica no ultravioleta, a 254 nm, da fracção
dissolvida da NOM; SUVA = UV254/COD).
Estes parâmetros são classificados no Quadro 5 segundo as
características que condicionam:
i) a sua remoção por operações físicas – se os seus cons‑
tituintes são partículas e, nesse caso, se são sedimen‑
táveis ou flutuáveis, se têm pequenas dimensões (mas
que podem ser retidas em filtros);
ii) a sua remoção por UOP físico‑químicas – o seu com‑
portamento coloidal; a relevância da fracção dissolvida;
o carácter hidrófobo ou hidrófilo; a carga média na gama
de pH típica da água (6‑9), se são de elevado ou baixo
peso molecular;
iii) a sua eliminação/transformação por processos químicos
– resistência à oxidação química e potencial de formação
de subprodutos da oxidação/desinfecção química.
suspensão?
Hidrófobo ou hidrófilo?
Resistente à oxidação
Precursor de OBP?
Contaminante
Partículas finas?
Carga a pH 6‑9
Sedimentável?
Dissolvido?
Flutuável?
química?
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 17
(i) COT e COD são parâmetros resistentes à oxidação química, na medida em
que os compostos que os constituem sofrem transformações, mas a sua
oxidação completa (i.e., a mineralização de carbono orgânico a CO2) não é,
habitualmente, significativa.
(ii) A USEPA (1999a) utiliza o valor‑guia de 2 mgC/L para COT na água bruta,
sendo o potencial de formação de OBP na cloragem baixo se os valores
forem inferiores.
(iii) Por analogia com (ii), uma vez que COD ≤ COT.
(iv) A absorvência no ultravioleta, a 254 nm, de amostras filtradas (através de filtro
0,45 µm) (UV254nm) indica a concentração da NOM mais aromática, hidrófoba
e de maior peso molecular a que, habitualmente, corresponde um maior
potencial de formação de OBP indesejáveis.
(v) Edzwald e Van Benschoten (1990) propuseram uma classificação da natureza
da NOM dissolvida na água baseada no parâmetro SUVA: i) para valores de
SUVA de 4‑5 L/(m.mgC), o COD da água é composto maioritariamente por
substâncias húmicas, é relativamente hidrófobo, aromático e de peso molecular
elevado; ii) para valores de SUVA inferiores a 3 L/(m.mgC), o COD da água
é composto maioritariamente por material não húmico, relativamente hidrófilo,
menos aromático e de menor peso molecular.
(vi) A USEPA (1999a) utiliza o valor‑guia de 2 L/(m.mgC) para SUVA na água
bruta, sendo o potencial de formação de OBP na cloragem baixo se os valores
forem inferiores.
Carga a pH 6‑9
Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)
Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo
(iv)
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 19
Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)
oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)
Carga a pH 6‑9
Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)
Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo
(iv)
Compostos de sabor e cheiro (ix)
Geosmina HB 182 ‑
MIB (2‑metilisoborneol) HB 168 ‑
Compostos orgânicos voláteis
1,1‑Dicloroetano ++ HB,HL 99
1,2‑Dicloroetano ++ HB,HL 99
1,1‑Dicloroeteno ++ HB,HL 97
Cloreto de vinilo ++ HB,HL 63
BTEX
Benzeno ++ HB 78 ‑
Tolueno ++ HB 92
Etilbenzeno ++ HB 106
m‑xileno ++ HB 106
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal (ex.)
Carbamazepina HB 236 ‑
Bisfenol A HB 228 ‑
E2: 17b‑estradiol HB 272 ‑
E1: estrona HB 270 ‑
Progesterona HB 314 +
Testosterona HB 288 +
EE2: 17b‑etinilestradiol HB 296 ‑
Cis‑androesterona HB 290
HHCB HB 258 ‑
AHTN HB 258
Benzofenona HB 182
Epicloridrina + HB,HL 93
Fenol e clorofenóis (exemplos)
Fenol HB,HL neu 94 ‑
Clorofenóis HB,HL 129
oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)
Carga a pH 6‑9
Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)
Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo
(iv)
Diclorofenóis HB neu‑neg 163
Triclorofenóis HB neu‑neg 197
Tetraclorofenóis HB 232
Pentaclorofenol HB neg 266
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (exemplos)
Benzo[b]fluoranteno HB 252 ‑
Benzo[k]fluoranteno HB 252 ‑
Benzo(a)pireno HB 252
Benzo[g,h,i]perileno HB 276 +
Indeno[1,2,3‑cd]pireno HB 276
Pesticidas (exemplos) (x)
2,4‑D HB neg 221
Alacloro HB 270 +
Aldrina HB 365 +
Amitrol HL neu 84
Atrazina HB neu 216 +
Bentazona HB neu 240
Carbofurão HB 221 +
Captana HB 301
Cimoxanil HB,HL pos 198
Clordano HB 410 +
Clorotolurão HB 213
Diazinão HB neu 304
Dialdrina + HB 381 +
Desetilatrazina HB,HL neu 188
Desetilsimazina HB,HL neu 174
Dimetoato HB,HL 229
Diurão HB 233
EPTC + HB 189
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 21
Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)
oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)
Carga a pH 6‑9
Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)
Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo
(iv)
Glufosinato de amónio HL 198
Heptacloro + HB 373 +
Heptacloro epóxido HB 389 +
Linurão HB 249 +
Mancozebe HB,HL 266
MCPA HB neg 201
Metalaxil HB,HL 279
Metolacloro HB 284
Metidatião HB 302
Pesticidas (exemplos) (cont.)
Metribuzina HB,HL neu 214 ‑
Molinato HB 187
Paraquato HL 257
Pendimetalina HB 281
Pirimetanil HB neu 199
Propanil HB 218
Propinebe HB,HL 357
Simazina HB,HL neu 202 +
Tebuconazol HB 308
Terbutilazina HB neu 230
Tirame HB,HL 240
Subprodutos da oxidação (exemplos)
Trihalometanos
Bromofórmio + HB 253
Clorofórmio + HB,HL 119
Dibromoclorometano + HB,HL 244
Bromodiclorometano + HB,HL 164
Ácidos haloacéticos
Ácido cloroacético HB,HL neg 95
Ácido dicloroacético HB,HL neg 129
oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)
Carga a pH 6‑9
Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)
Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo
(iv)
Ácido tricloroacético HB,HL neg 163
Ácido bromocloroacético HB,HL neg 179
Ácido bromoacético HB,HL neg 139
Ácido dibromoacético HB,HL neg 218
Haloacetonitrilos
Bromocloroacetonitrilo 154
Bromodicloroacetonitrilo 190
Dibromoacetonitrilo HB,HL 199
Dicloroacetonitrilo HB,HL 110
Tricloroacetonitrilo HB,HL 144
Fontes: Bases de dados Cyanosite, PHYSPROP, FOOTPRINT, TOXNET e ChemIDplus
(acedidas em Julho de 2007); Thomas (1990), Carmichael (1997), USEPA (1999b), Carson e
Masten (2000), Newcombe e Nicholson (2002), Newcombe e Nicholson (2004), Westerhoff et
al. (2005), Rodriguez et al. (2007).
HB: hidrófobo; HL: hidrófilo; neg: negativa; pos: positiva; neu: neutra;
HHCB:1,3,4,6,7,8‑hexahidro‑4,6,6,7,8,8‑hexametilciclopenta‑γ‑2‑benzopirano; AHTN:
6‑acetil‑1,1,2,4,4,7‑hexametiltetralina; 2,4‑D: ácido diclorofenoxiacético; EPTC:
etilpropiltiocarbamato; MCPA: ácido 4‑cloro‑2‑metilfenoxiacético.
(i) A capacidade de formação de OBP não é contemplada porque é partilhada
por todos os microcontaminantes orgânicos (a oxidação química não é, em
regra, completa, a CO2); a importância da formação de OBP depende da
toxicidade dos subprodutos formados, que é função do composto de partida
e das condições de oxidação.
(ii) Utilizou‑se o critério proposto por Thomas (1990) de que a transferência para
a atmosfera por volatilização de compostos dissolvidos na água é significativa
quando estes têm uma constante de Henry igual ou maior que 10‑5 atm.m3.mol‑1
(a 25ºC e 1 atm.)
(iii) Foram considerados hidrófobos os compostos com log kow acima de 2 e
hidrófilos com log kow abaixo de 1 (kow = coeficiente de partição octanol/água
a 25ºC).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 23
(iv) Carga superficial global estimada com base nos valores de pKa.
(v) O AOC é uma mistura de compostos orgânicos de baixo peso molecular e
facilmente biodegradáveis (e.g., ácidos carboxílicos, aldeídos, álcoois) em
proporção variável; são eles próprios subprodutos da oxidação química.
(vi) A análise apresentada diz respeito às toxinas dissolvidas na água; contudo,
a oxidação das cianobactérias promove a libertação das endotoxinas para a
água a tratar, as quais poderão ou não ser eficientemente oxidadas. Em geral,
as cianotoxinas são oxidáveis (restantes microcistinas > microcistina‑LA >
cilindrospermopsina > saxitoxinas e anatoxina‑a) pelos oxidantes habitualmente
usados nas ETA (em regra, ozono > cloro > permanganato; dióxido de cloro
e monocloramina não são eficazes), embora requeiram doses e valores de
pH ajustados para o efeito; a composição da água (e.g., NOM, alcalinidade,
pH) também afecta o desempenho da oxidação.
(vii) A carga global das microcistinas e nodularina varia com o pH (é positiva a pH
muito ácido, e passa a neutra e depois a negativa com o aumento de pH),
e depende da variante de microcistina: a maioria das variantes tem carga
negativa a pH 6‑9, a microcistina‑RR tem carga neutra a negativa.
(viii) A variante de microcistina‑LA é a mais difícil de oxidar.
(ix) São oxidáveis pelos oxidantes habitualmente usados nas ETA (o mais eficiente
é o ozono), embora requeiram doses ajustadas para o efeito, em função do
oxidante e da composição da água.
(x) Foram seleccionados por estarem legislados, integrarem as listas do IRAR
e/ou representarem gamas extremas de características (e.g., PM).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 25
Quadro 7 – Contaminantes inorgânicos.
Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação
(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante
predominantes
mínima)
(i) (ii)
Alumínio Iões
Al3+ (pH baixo) +3 S Al(OH)3 (~ 6.3)
Al(OH)2+, … (a pH elevado,
Al13O4(OH)247+ (iii) ressolubiliza‑se como
Al(OH)4‑ (pH Al(OH)4–)
elevado)
Amónio/ NH4+ (pH≤7) ‑3 N (iv) n.a.
amoníaco NH4+>NH3 (7<pH≤9)
NH4+<NH3
(9<pH<12) NH3
(pH≥12)
Antimónio (v) (v) (v) (v)
Arsénio (+3) AsO33‑, AsO2‑ +3 (vi) n.a.
Arsénio (+5) AsO4 3‑
+5 S As2S5 (6‑7)
FeAsO4 < Mg3(AsO4)2 <
Ca3(AsO4)2 (vii)
Bário Ba2+ +2 S BaSO4 < BaCO3 (vii)
Bromato (viii) BrO3 ‑
+5 N n.a.
Brometo (ix) Br ‑
‑1 S CuBr < PbBr2
Cádmio Cd2+ +2 S Cd(OH)2 (10‑11) (vii)
Cálcio Ca2+ +2 S CaCO3 (9‑10)
Chumbo (v) Pb 2+
+2 S PbS (7,5‑8,5) < PbCO3
(9‑
‑9,5) < Pb(OH)2 (9,5)
(vii)
Cianeto CN‑ ‑1 (iv) n.a.
Clorato (x) ClO3 ‑
+5 N n.a.
Cloreto Cl ‑
‑1 (xi) n.a.
Clorito (x) ClO2‑ +3 N n.a.
Cobalto (+2) Co 2+
+2 S Co(OH)2
Cobalto (+3) Co 3+
+3 S Co(OH)3
Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação
(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante
predominantes
mínima)
(i) (ii)
Iões
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 27
Características que condicionam a sua remoção
no tratamento
Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação
(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante
predominantes
mínima)
(i) (ii)
Iões
Selénio (+6) Se+6 +6 N n.a.
Sódio Na +
+1 N n.a.
Sulfato SO42‑ +6 S BaSO4 < PbSO4
Sulfito SO32‑ +4 N n.a.
Sulfureto S 2‑
‑2 S CaS (xiii)
Urânio n.a. n.a. N n.a.
Zinco Zn2+ +2 S Zn(OH)2 (9) (vii)
Fontes: Lide (1990), AWWA (1999), Eckenfelder (2000); WHO (2006).
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 29
30 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
4 CAPACIDADE E LIMITAÇÕES
DAS ETA NACIONAIS PARA
CONTROLO DAS VÁRIAS
CLASSES DE CONTAMINANTES
4.1 E
ficiência nominal de tratamento versus
eficiência real
O Quadro 8, o Quadro 9, o Quadro 11 e o Quadro 12 sistematizam
as capacidades e limitações dos diferentes esquemas‑tipo de ETA
(identificados na capítulo 2), para controlo dos contaminantes
biológicos, orgânicos e inorgânicos, tal como são caracterizados
na capítulo 3. Esta sistematização foi feita com base na eficiência
nominal dos diferentes reagentes e/ou equipamentos disponíveis
em cada esquema‑tipo para remover ou inactivar os contaminan‑
tes em jogo, de acordo com valores publicados relativos a estudos
à escala laboratorial, piloto ou real. Portanto, e embora a gene‑
ralidade dos valores adoptados sejam usados como referência
pela OMS e/ou pela USEPA, os Quadros expressam o que pode
ser na teoria esperado e não obrigatoriamente o que, na prática,
é a eficiência real de cada esquema de tratamento. Assim, a in‑
terpretação dos referidos quadros é meramente indicativa e serve,
sobretudo, como base comparativa para avaliação do desempenho
relativo atribuível a cada esquema‑tipo.
Como antes se referiu, são múltiplos e inconstantes os factores
que podem afectar as eficiências dos tratamentos físico‑químicos
e/ou biológicos. Destes factores, pela sua importância, salien‑
tam‑se:
i) a matriz orgânica da água – a concentração (COT, COD)
e natureza (SUVA) da matéria orgânica natural afecta a
remoção de outros contaminantes, e.g., consome oxi‑
dante, compete pelo adsorvente, colmata membranas;
ii) a matriz inorgânica da água – o pH condiciona as reac‑
ções de oxidação, de precipitação, as interacções
adsorbato‑adsorvente e o desempenho das tecnologias
de membranas; a alcalinidade confere capacidade de
resistência à variação do pH da água e, portanto, afecta
as reacções anteriores bem como a coagulação; a força
iónica da água enfraquece as interacções electrostáticas
(sejam atractivas ou repulsivas), e.g., entre adsorbato
‑adsorvente, entre soluto‑membrana;
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 31
iii) as condições de operação das várias UOP (e.g., tipo e
concentração de agente oxidante, precipitante, coagu‑
lante, redutor, floculante e adsorvente; tempo de contac‑
to entre o reagente/adsorvente e o contaminante‑alvo;
intensidade da mistura; temperatura);
iv) a própria concentração do contaminante a remover (nor‑
malmente, a eficiência de remoção aumenta com a
concentração afluente à UOP, até se atingir um patamar)
(Campinas et al., 2003a).
A eficiência real de cada esquema de tratamento para remoção/
inactivação dos diferentes contaminantes num determinado perí‑
odo de tempo só pode ser avaliada, portanto, com base na mo‑
nitorização adequada de cada contaminante antes e após trata‑
mento.
A desinfecção final não pode ser considerada uma barreira eficaz
para todos os microcontaminantes, particularmente quando é
feita com cloro, como acontece na generalidade das ETA nacionais.
O cloro é usado na desinfecção final nas doses necessárias para
desinfectar a água e estas doses são geralmente minimizadas
de modo a prevenir uma produção excessiva de subprodutos in‑
desejáveis. Portanto, considerou‑se no Quadro 11 que a oxidação
da generalidade dos microcontaminantes orgânicos na desinfecção
final não é significativa.
A existência de UV na desinfecção final, bem como de filtros GAC
na filtração, não foi considerada neste capítulo, mas antes no
capítulo 5 (tratamento complementar ou alternativo), uma vez que
(conforme mostra o Quadro 1) são tecnologias pouco usadas em
Portugal.
Também as potencialidades da filtração lenta (SF) são analisadas
individualmente no capítulo 5, pela sua elevada especificidade
face à filtração rápida, considerada nos esquemas‑tipo das ETA
convencionais.
Salienta‑se, por último, que a informação resumida no Quadro 8,
no Quadro 9, no Quadro 11 e no Quadro 12 reflecte a importân‑
cia capital da existência de barreiras múltiplas para cada conta‑
minante, sendo esta a estratégia determinante de uma maior
segurança no seu controlo.
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
Cryptosporidium parvum I_sub
‑/+ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
(oocistos) (i)
Giardia lamblia (cistos) + ‑ ‑ + ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Ovos de helmintas (ii) +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ ‑/+ ‑
Células de heterotróficos
++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
(colónias a 22ºC e 37ºC)
Coliformes ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Enterococos ++ + + ++ + + + + +
Pseudomonas aeruginosa ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Salmonellas ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Cianobactérias (iii) + + + +/‑ +/‑ +/‑ + (iv) ‑/+ (iv) ‑ (iv)
Enterovírus (v) + ‑/+ ‑ + ‑/+ ‑ ‑/+ ‑/+ ‑
Fontes: Burg e Borgsteede (1987), AWWA (1999), USEPA (1999b), Velásquez et al. (2004),
Campinas et al. (2003b), WHO (2004), Hall et al (2005), WHO (2006), Rosa et al. (2007).
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 33
tadas (CT ≥ 10 mg/L.min; este é um valor apenas indicativo, pois, devido
à discrepância dos resultados publicados, não há consenso quanto à dose
necessária).
(ii) Devido à sua notável resistência aos oxidantes químicos, a eliminação dos
ovos de helmintas dá‑se sobretudo na coagulação/floculação/decantação e
filtração.
(iii) Como referido em 3.2, as cianobactérias devem ser controladas em ETA
convencionais usando doses baixas de pré‑oxidante (que evitam a lise celular
mas facilitam a coagulação/floculação), uma etapa eficiente de coagulação/
floculação/decantação e uma gestão cuidada dos ciclos de filtração, das lamas
e da recirculação para a linha de tratamento de água de águas residuais do
tratamento de lamas, especialmente da desidratação (Campinas et al., 2003b;
Hall et al., 2005; Rosa et al., 2007). Células isoladas ou pares de células de
M. aeruginosa são mais difíceis de remover do que cianobactérias coloniais
ou filamentosas (Ribau Teixeira e Rosa, 2006d; Ribau Teixeira e Rosa, 2007).
As cianotoxinas extracelulares são contempladas no Quadro 11.
(iv) As cianobactérias não existem naturalmente em águas subterrâneas, apenas
se estas forem influenciadas por águas superficiais.
(v) Agentes biológicos resistentes ao cloro, pelo que, para a sua eliminação, é
necessária pré‑oxidação com ozono ou dióxido de cloro a doses adequa‑
das.
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
I_sub
COT (i)
< 2 mgC/L ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ (ii) (ii) (ii)
≥ 2 mgC/L +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑
COD (i)
< 2 mgC/L ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ (ii) (ii) (ii)
≥ 2 mgC/L ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑/+
UV254nm (i) + + +/‑ + + +/‑ + (ii) + (ii) + (ii)
SUVA (i) (iii)
≤ 2 L/(m.mgC) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
(ii) (ii) (ii)
]2‑3[ L/(m.mgC) ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+ ‑ /+
≥ 4 L/(m.mgC) +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑ +/‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999a), USEPA (1999b), WHO (2006), Rosa et al. (2007).
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 35
No caso das sequências de tratamento que possuem pré‑
‑oxidação, é possível converter os constituintes da NOM que
absorvem no UV254nm em compostos mais simples. No entanto, a
sequência I.2_sup com cloro ou hipoclorito como pré‑oxidante
deve ser evitada em águas com COT superior a 2 mgC/L (para
evitar a formação de OBP indesejáveis), sendo a sequência I.1_sup
(se o brometo for inferior a 0,1 mg/L) ou a I.2_sup com dióxido
de cloro mais adequadas.
Como já referido, a fracção mais hidrófila, de menor UV254nm e
menor SUVA tem, na generalidade, menor potencial de formação
de OBP indesejáveis, designadamente trihalometanos (THM), mas
está associada a menor estabilidade da água e é mais difícil de
coagular, sendo, assim, importante controlar a extensão da oxi‑
dação, em função da qualidade da água de origem. Por exemplo,
o ozono tem vantagens na coagulação/floculação para águas de
maior turvação e menor teor de NOM húmica, sendo desvantajo‑
so em águas muito ricas em NOM húmica e com baixo teor de
partículas coloidais.
Uma vez que as ETA que possuem as sequências I.1_sup e
I.2_sup podem utilizar PAC, têm a possibilidade adicional (princí‑
pio das barreiras múltiplas) de controlar a NOM (sobretudo a
fracção mais hidrófoba e de maior peso molecular) por adsorção,
se adicionarem doses elevadas daquele reagente.
As águas subterrâneas apresentam teores muito baixos de NOM,
pelo que, nesta discussão, se salientaram as sequências de tra‑
tamento aplicadas a águas superficiais.
No caso dos microcontaminantes orgânicos solúveis em água
(Quadro 11), decorre de 3.3 que as ETA convencionais têm ca‑
pacidade para remover este tipo de contaminantes somente se a
pré‑oxidação química estiver optimizada e/ou se for adicionado
PAC (I_sup, II_sup e I_sub). Se os compostos forem voláteis, a
sua remoção pode ser satisfatoriamente conseguida através de
arejamento e/ou da adsorção em carvão activado. Compostos
orgânicos resistentes à oxidação química e/ou mais hidrófilos e
de menor peso molecular já não são removidos eficazmente nos
processos convencionais mesmo optimizados e há que recorrer
a tecnologias não convencionais (capítulo 5).
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
I_sub
AOC ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Acrilamida (i) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ n.a. n.a. n.a.
Cianotoxinas (ii)
Microcistinas, nodularina,
+/‑ ‑/+ ‑/+ +/‑ ‑/+ ‑ ‑/+ (iii) ‑/+ (iii) ‑ (iii)
cilindrospermopsina
Saxitoxinas, anatoxina‑a ‑/+ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑ ‑ (iii) ‑ (iii) ‑ (iii)
Compostos de sabor e cheiro
+ +/‑ ‑/+ +/‑ ‑/+ ‑ +/‑ (iii) ‑/+ (iii) ‑ (iii)
(geosmina, MIB)
Compostos orgânicos voláteis (iv)
BTEX ++ ++ + + + +/‑ ++ ‑/+ ‑
Restantes VOC (Quadro 6) + + + +/‑ +/‑ +/‑ + ‑ ‑
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal
Compostos HB, não resistentes à
+/‑ +/‑ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ +/‑ ‑/+ ‑
oxidação química (Quadro 6) (v)
Compostos HB, resistentes à
‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
oxidação química (Quadro 6) (vi)
Epicloridrina (i) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ n.a. n.a. n.a.
Fenol e clorofenóis
Fenol (v) +/‑ +/‑ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ +/‑ ‑/+ ‑
Fenóis clorados (Quadro 6) (vi) ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
Hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos
Benzofluorantenos [b] e [k] (v) +/‑ +/‑ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ +/‑ ‑/+ ‑
Benzo[g,h,i]perileno,
‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
Indeno[1,2,3‑cd]pireno (vi)
Pesticidas
Pesticidas não resistentes à
oxidação química; HB; neu‑neg +/‑ +/‑ ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ +/‑ ‑/+ ‑
(Quadro 6) (v)
Pesticidas resistentes à
oxidação química; HB; neu‑neg ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
(Quadro 6) (vi)
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 37
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
I_sub
Pesticidas resistentes à
oxidação química; HB,HL ou HL; ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
neu (Quadro 6) (vii)
Subprodutos da oxidação
(pré‑oxidação e desinfecção
final) (viii)
THM, HAA, HAN (Quadro 6) (vi) ‑/+ ‑/+ ‑/+ ‑ ‑ ‑ ‑/+ ‑ ‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999b), Newcombe e Nicholson (2002), Campinas et al.
(2003b); Newcombe e Nicholson (2004), Hall et al. (2005), Westerhoff et al. (2005), WHO
(2006), Rodriguez et al. (2007), Rosa et al. (2007).
HB: hidrófobos; HL: hidrófilos; neg: negativos; neu: neutros; MIB: 2‑metilisoborneol;
VOC: compostos orgânicos voláteis; THM: trihalometanos; HAA: ácidos haloacéti‑
cos; HAN: haloacetonitrilos; n.a.: não aplicável.
(i) Impureza dos floculantes adicionados; a sua concentração é controlada pela
pureza do reagente comercial.
(ii) A análise apresentada diz respeito às toxinas dissolvidas na água. Contudo,
a oxidação das cianobactérias promove a libertação das endotoxinas para a
água a tratar, as quais poderão ou não ser eficientemente oxidadas. Em geral,
as cianotoxinas são oxidáveis (restantes microcistinas > microcistina‑LA > ci‑
lindrospermopsina > saxitoxinas e anatoxina‑a) pelos oxidantes habitualmente
usados nas ETA (em regra, ozono > cloro > permanganato; dióxido de cloro
e monocloramina não são eficazes). No entanto, e além do desempenho da
oxidação ser afectado pelo pH, alcalinidade e NOM da água, as doses (con‑
centração x tempo) necessárias de oxidante são muito superiores às usuais e
daí considerar‑se que a desinfecção final não controla eficazmente as toxinas.
O mesmo se passa com o PAC – as doses necessárias seriam demasiado
elevadas (e.g., > 20 mg/L para microcistinas). Os carvões comerciais têm,
na generalidade, capacidades de adsorção muito limitadas de cianotoxinas
hidrófilas e com carga positiva (e.g., saxitoxinas e anatoxina‑a).
(iii) As cianotoxinas, a geosmina e o MIB não existem naturalmente em águas
subterrâneas, apenas são detectados se forem influenciadas por águas
superficiais.
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 39
Para se obterem residuais mais baixos, pode ser efectuada a
co‑precipitação com sais de Al3+ ou Fe3+ (os metais adsorvem aos
flocos de Al(OH)3 ou Fe(OH)3) e subsequente filtração.
Também para se obterem residuais baixos, usam‑se os sais de
carbamato para enhanced precipitation mas, uma vez que são
dispendiosos, o seu uso restringe‑se a situações em que é ne‑
cessário um polimento posterior à precipitação convencional.
Em ETA que só possuem decantação após a precipitação quími‑
ca obtêm‑se, em geral, residuais de 1‑2 mg/L, mas, se existir
também uma filtração, conseguem‑se valores inferiores a 0,5 mg/L
(Eckenfelder, 2000).
As estações que fazem filtração directa também têm capacidade
para retenção de precipitados, mas há que ter em atenção a
eventual ocorrência da sobrecarga de sólidos nos filtros e o risco
acrescido de “breakthrough” (libertação brusca de elevada quan‑
tidade de material retido no filtro).
Uma alternativa para controlo do manganês que pode existir numa
ETA convencional é a filtração sobre óxido de manganês, i.e.,
manganese greensand filtration – a camada de MnO2 dos filtros
catalisa a oxidação de Mn (II) a Mn (IV) e adsorve o MnO2 for‑
mado (Rosa et al., 2007).
Em qualquer tipo de precipitação, deve ser tida em consideração
a competição dos catiões da água (Ca2+, Mg2+, Na+) pelo agente
precipitante.
Alguns contaminantes inorgânicos podem ser controlados por
redução química (e.g., clorito a cloreto, bromato a brometo)
utilizando sais ferrosos ou carvão activado, enquanto outros
(e.g., azoto amoniacal e nitrito) são controláveis por oxidação
química.
Considerou‑se no Quadro 12 que o esquema‑tipo II_sub não
permite a adição de agente precipitante. Esta limitação pode,
eventualmente, ultrapassar‑se se essa adição puder ser feita na
câmara de pré‑oxidação e se não houver necessidade de oxidação
ou redução do metal previamente à sua precipitação.
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
I_sub
Alumínio (i) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Amónio/amoníaco (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii)
Antimónio (iii) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Arsénio (+3) ++ ++ ‑ + + ‑ ++ ‑ ‑
Arsénio (+5) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Bário ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Boro (iv) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Bromato (v) n.a. n.a. (v) n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.
Brometo ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Cádmio ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Cálcio ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Chumbo (vi) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Cianeto (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii)
Clorato (viii) n.a. ‑ n.a. n.a. ‑ n.a. ‑ ‑ n.a.
Cloreto ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Clorito (ix) n.a. + n.a. n.a. +/‑ n.a. + ‑ n.a.
Cobalto (+2) (x) ++ ++ + + + +/‑ ++ ‑ ‑
Cobalto (+3) (x) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Cobre (+1) (xi) ++ ++ + + + +/‑ ++ ‑ ‑
Cobre (+2) (xi) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Crómio (+3) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Crómio (+6) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Ferro (+2) (xii) ++ ++ + + + +/‑ ++ + ‑
Ferro (+3) (xii) ++ ++ ++ + + + ++ + ‑
Fluoreto (xiii) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Fosfato ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Magnésio ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Manganês (+2) (xiv) ++ (xv) ++ ‑/+ + (xv) + ‑/+ ++ + ‑
Manganês (+4) (xiv) ++ (xv) ++ ++ + (xv) + + ++ + ‑
Manganês (+7) (xv) n.a. n.a. (xv) n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.
Mercúrio (+1) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 41
Sequência de tratamento
Contaminante
III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup
IV_sup
III_sub
II_sup
II_sub
I_sub
Mercúrio (+2) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Níquel (xvi) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Nitrato ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Nitrito + + + + + + + + +
Potássio ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Prata ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Rádio (226, 228) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Selénio (+4) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Selénio (+6) ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Sódio ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Sulfato ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Sulfito ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Sulfureto ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Urânio ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑
Zinco (xvii) ++ ++ ++ + + + ++ ‑ ‑
Fontes: AWWA (1999), Eckenfelder (2000), WHO (2006)
n.a: não aplicável (e.g., quando o contaminante não ocorre em águas de origem,
não é formado na ETA, ou é formado na desinfecção final).
(i) A valores de pH elevados, os residuais podem ser maiores uma vez que se
formam espécies solúveis (no caso do alumínio, Al(OH)4‑; no caso do ferro,
Fe(OH)4‑).
(ii) Agente complexante; a cloragem ao ponto crítico (AWWA, 1999) é uma
forma usual de o remover.
(iii) Os processos convencionais de tratamento não removem antimónio. Contudo,
este contaminante não está presente, usualmente, nas origens de água em
concentrações significativas, sendo proveniente dos materiais metálicos da
rede de distribuição. Assim, não é, em geral, controlado pelo tratamento,
mas na rede.
CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 43
(xiv) Não requer adição de agente precipitante, apenas de oxidante. A oxidação
de Mn(II) a Mn(IV) é relativamente lenta a pH < 9, o que justifica a neces‑
sidade de serem usados oxidantes mais fortes (MnO4‑ ou ozono), ou de se
proceder à adição de uma base antes da filtração. Se se permitir que os filtros
sejam cobertos por MnO2, o Mn(II) adsorve à camada de MnO2, podendo
ser oxidado no filtro com cloro ou permanganato (manganese greensand
filtration).
(xv) A sobredosagem de ozono (> 0,88 mg O3/mg Mn, pH ~ 8) produz água de
cor rosa devido ao MnO4‑; este contaminante deve ser controlado através
da minimização da sua formação durante a ozonização.
(xvi) Removido por precipitação de Ni(OH)2 (com cal, hidróxido de sódio ou
hidróxidos da água), ou por precipitação com carbonatos (NiCO 3) ou com
fosfatos [Ni3(PO4)2].
(xvii) Removido por precipitação de Zn(OH)2 (com cal, hidróxido de sódio ou
hidróxidos da água); caso se use a cal em águas com elevados teores em
sulfato, precipita também CaSO4.
Tipo de tratamento
Contaminante
C/F+DAF GAC/BAC MF UF,NF,RO UV SF
Protozoários
+/‑ +/‑ + + + +
(cistos, oocistos)
Bactérias
‑ ‑ + + + +
(forma vegetativa)
Bactérias (endosporos) ‑ ‑ + + + +
Ovos de helmintas +/‑ +/‑ + + ‑ +
Cianobactérias + +/‑ + + (i) +
Enterovírus ‑ +/‑ +/‑ + + +/‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999b), WHO (2004), Hall et al. (2005), Ribau Teixeira e Rosa
(2006c), Rosa et al. (2007).
Tipo de tratamento
Contaminante C/F+ GAC/ MF UF NF RO PAC/ UV SF
DAF BAC (i) UF
NOM +/‑ + +/‑ +/‑ + + + +/‑ +/‑
AOC ‑ + ‑ ‑ +/‑ + ‑/+ +/‑ +
Acrilamida ‑ ‑ ‑ ‑ ‑/+ + ‑ ‑
Cianotoxinas
Microcistinas, nodularina, + (ii) + ‑ ‑ + + + +/‑
cilindrospermopsina
Saxitoxinas, anatoxina‑a + (ii) +/‑ ‑ ‑ + + +/‑ +/‑
Compostos de sabor e cheiro ‑/+ + ‑ ‑ + + +
(geosmina, MIB)
Compostos orgânicos voláteis
BTEX + (iii) + ‑ ‑ ‑/+ + +/‑ +/‑
Restantes VOC (Quadro 6) + (iii) + ‑ ‑ ‑/+ + +/‑ ‑
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal
Compostos HB, não ‑/+ +/‑ ‑ ‑ + + + +/‑
resistentes à oxidação
química (Quadro 6)
Compostos HB, resistentes ‑/+ + ‑ ‑ + + + ‑
à oxidação química
(Quadro 6)
Epicloridrina ‑/+ ‑ ‑ ‑/+ + ‑ ‑
Fenol e clorofenóis
Fenol ‑ + ‑ ‑ +/‑ + +/‑ + +/‑
Fenóis clorados (Quadro 6) ‑/+ + ‑ ‑ + + + + ‑
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
Benzofluorantenos [b] e [k] ‑/+ + ‑ ‑ + + + ‑
Benzo[g,h,i]perileno, ‑/+ + ‑ ‑ + + + ‑
Indeno[1,2,3‑cd]pireno
Tipo de tratamento
Contaminante Adsorção a
NF RO ED IX GAC/BAC
alumina activada
Alumínio + + + + +/‑
Amónio/amoníaco + (i) (ii) +
Antimónio + +
Arsénio (+3) + + + + +/‑ +
Arsénio (+5) + + + + +/‑ +
Bário + + + +
Bromato + + + +/‑
Brometo +/‑ + + +
Cádmio + + + + +/‑ +/‑
Cálcio + + + +
Cianeto +/‑ + +
Chumbo + + + +/‑
CONTINGÊNCIAS 53
decantação/filtração podem controlar eficazmente eventos de
aumento brusco de turvação da água bruta. Porém, ETA que
possuem filtração não precedida de sedimentação têm grandes
limitações neste tipo de controlo, respondendo apenas eficazmen‑
te a baixas turvações afluentes.
Após chuvas intensas ou nas épocas do ano em que há destra‑
tificação das massas de água, deve ser efectuada uma monitori‑
zação mais frequente dos parâmetros ferro e manganês para
detecção de aumentos significativos das suas concentrações.
Também neste caso é necessária uma rápida resposta das ETA,
verificando‑se que as estações que possuem pré‑oxidação se‑
guida de coagulação/floculação/decantação e filtração têm,
geralmente, capacidade para controlar eficazmente eventos de
aumento brusco daqueles contaminantes.
No caso do ferro, pode ser utilizado qualquer oxidante químico
para este controlo, desde que sejam adicionadas as doses mí‑
nimas necessárias para oxidar estequiometricamente o metal
(Quadro 16).
No caso do manganês, a reacção de oxidação é mais lenta, sen‑
do necessário proporcionar na ETA um tempo de reacção ade‑
quado antes da remoção do precipitado de MnO2. Devem ser
utilizados oxidantes mais fortes (e.g., ozono, permanganato). As
doses a aplicar são indicadas no Quadro 16. É preciso evitar
sobredosagens, especialmente de ozono, porque seriam respon‑
sáveis pela oxidação do manganês a permanganato, que confere
cor rosa à água. Conforme referido anteriormente, a filtração
sobre óxido de manganês (manganese greensand filtration) é
também eficaz para o controlo do manganês.
Dose mínima de
Dióxido Permanganato
oxidante para Cloro Ozono Oxigénio
de cloro de potássio
controlo de Fe e Mn
Fe (II) (mg/mgFe) 0,62 1,21 0,43 0,14 0,94
Mn (II) (mg/mgMn) 0,77 2,45 0,88 0,29 1,92
CONTINGÊNCIAS 55
Quadro 17 – Níveis de alerta propostos pela OMS
(Chorus e Bartram, 1999).
CONTINGÊNCIAS 57
58 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
7 NOTAS FINAIS
O presente Guia Técnico constitui uma sistematização geral dos
principais aspectos relacionados com as capacidades e limitações
das ETA portuguesas no controlo de contaminantes que possam
ocorrer nas origens de água destinadas à produção de água para
consumo humano. Mesmo assim, ficaram evidenciadas a multipli‑
cidade, complexidade e variabilidade dos problemas associados
ao tratamento de água para consumo humano, cuja solução se
encontra, em muitos casos, ainda condicionada por limitações do
actual estado do conhecimento sobre as características e os
comportamentos de muitos contaminantes.
As limitações das diferentes tecnologias para responder a cada
um e à globalidade destes problemas tornam imperativa a exis‑
tência de barreiras múltiplas à passagem de contaminantes para
a rede pública, particularmente dos que podem pôr em perigo a
vida ou a saúde do consumidor. A implementação de planos de
segurança da água, tal como é proposto pela OMS (WHO, 2006),
responde a este imperativo e constitui uma metodologia cuja
aplicação adequada garante o efectivo controlo da qualidade da
água, da captação à torneira do consumidor.
NOTAS FINAIS 59
60 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
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BIBLIOGRAFIA 65
O tratamento de água para
consumo humano face à qualidade
da água de origem
O conhecimento das capacidades e limitações das
estações de tratamento de água (ETA) é fundamental
para garantir a boa qualidade da água para consumo
humano e a protecção da saúde pública.
Neste sentido, o IRAR e o LNEC resolveram publicar
o presente Guia Técnico sobre o tratamento da água
para consumo humano face á qualidade da água de
origem, que tem como objectivo sistematizar as capa-
cidades e limitações das ETA existentes em Portugal
no controlo de contaminantes que possam ocorrer nas
origens de água destinadas à produção de água para
consumo humano.