Ersar Guia 13 Tratamento de Agua

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Série GUIAS TÉCNICOS 13

O tratamento
de água para consumo
humano face à qualidade
da água de origem

Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia

Centro Empresarial Torres de Lisboa


O tratamento
de água para consumo
humano face à qualidade
da água de origem

Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia
FICHA TÉCNICA

Título:
O tratamento de água para consumo humano face à qualidade da
água de origem

Autoria:
Maria João Rosa
Paula Vieira
José Menaia

Colaboração:
Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR): financiou a edição e
participou na estruturação do manual e na revisão do seu conteúdo.

Comissão de apreciação do IRAR:


Jaime Melo Baptista, João Almeida, Edgar Carvalho, Luís Simas, Sílvia
Guerreiro, Maria João Moinante, Maria José Franco.

Edição:
Instituto Regulador de Águas e Resíduos
Laboratório Nacional de Engenharia Civil

IMPRESSÃO:
Europress, Lda.

Data:
Setembro de 2009

ISBN:
978­‑989­‑95392­‑7­‑3

Depósito Legal:
267953/07
PREFÁCIO DO IRAR
O sector de abastecimento público de água para consumo humano em
Portugal tem revelado uma evolução assinalável, sustentada no facto de
que em 1993 apenas cerca de 50% da água era controlada e tinha boa
qualidade e em 2008 este indicador é de quase 97%.
Apesar de os números falarem por si, é de salientar que esta evolução
tem sido conseguida num quadro crescente de rigor, quer no que diz
respeito ao cumprimento dos normativos legais nacional e comunitário,
quer no que se refere à fiabilidade analítica dos resultados, não sendo
despiciente referir também que estes resultados são obtidos por um
sector caracterizado por um elevado número de entidades gestoras (su‑
perior a 400), que apresentam estádios de desenvolvimento tecnológico
muito distintos.
Assim, apesar de globalmente o País já apresentar água de boa quali‑
dade, ainda existem lacunas, nomeadamente ao nível da operação téc‑
nica que importa suprir.
Neste sentido, o IRAR tem procurado dotar o sector com as ferramentas
necessárias para as entidades gestoras servirem a população com um
elevado nível de serviço e a custos sustentáveis, quer para a entidade
gestora, quer para os cidadãos.
Nesta filosofia, insere­‑se a série de Guias Técnicos do IRAR, da qual
este documento faz parte.
Com este guia pretende­‑se que, de uma forma tão simples quanto pos‑
sível, mas sem descurar o rigor técnico e científico, disponibilizar aos
técnicos das entidades gestoras dos sistemas públicos de abastecimen‑
to de água, que diariamente operam as estações de tratamento, um
documento de fácil consulta que reúna a forma de tratar/eliminar os
contaminantes da água.
Consideramos ainda que o facto deste guia ter sido elaborado no con‑
texto da realidade portuguesa, confere­‑lhe um valor acrescentado face à
quantidade imensa de bibliografia internacional existente sobre tratamen‑
to de águas.
Estamos convictos que o esforço desenvolvido pelos autores, com a
colaboração de alguns elementos do IRAR, terá o devido reconhecimen‑
to se constatarmos que o presente guia constitui um documento de tra‑
balho diário de todos aqueles que têm a nobre missão de produzir uma
água com qualidade para consumo humano, na salvaguarda da susten‑
tabilidade ambiental e da protecção da saúde humana.
Jaime Melo Baptista (Presidente do Conselho Directivo do IRAR)
Dulce Álvaro Pássaro (Vogal do Conselho Directivo do IRAR)
João Simão Pires (Vogal do Conselho Directivo do IRAR)

i
ii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
PREFÁCIO DO LNEC
Há cerca de uma década que, no âmbito dos seus Programas Quadrie‑
nais de Investigação Programada (PIP), o LNEC tem vindo a desenvol‑
ver actividade estratégica de I&D sobre os processos que controlam a
qualidade e a segurança da água, da captação à torneira do consumidor,
contribuindo para o avanço científico e tecnológico da indústria da água
em Portugal.
Esta actividade de I&D, desenvolvida essencialmente no seio do Laboratório
de Engenharia Sanitária (LABES) do Núcleo de Engenharia Sanitária do
Departamento de Hidráulica e Ambiente, à escala laboratorial e piloto, e
concretizada, na sua maior parte, conjuntamente com entidades gestoras
no quadro de projectos nacionais e internacionais, tem permitido actua­
lizar conhecimento científico e desenvolver e consolidar competências
específicas.
O presente guia, que se pretendeu de índole eminentemente prática e de
utilização alargada, constitui um repositório das capacidades típicas das ETA
portuguesas, bem como das tecnologias convencionais e emergentes que
permitem solucionar as principais limitações no respeitante à eliminação
de contaminantes biológicos e químicos, legislados e emergentes.
Por opção deliberada, este documento não aborda de forma exaustiva e
aprofundada a fundamentação científica da eliminação destes contaminan‑
tes e da formação de subprodutos indesejáveis do tratamento, uma vez
que tal se viria a traduzir numa obra extensa e de consulta complexa.
Num ambiente de excelente colaboração e sinergia com a equipe do
IRAR foi possível convergir para um documento que se afigura poder
constituir uma ferramenta de trabalho, destinada essencialmente a
propiciar orientação prática no dia a dia da operação e da avaliação da
segurança oferecida por uma ETA, e na adequação da resposta a novas
situações.
Carlos Matias Ramos (Presidente do LNEC)
Rafaela de Saldanha Matos (Directora do Departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC)

iii
iv O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICE GERAL

pág.
1 NOTA INTRODUTÓRIA.................................................................. 1
2 CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS.......................... 3
3 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO
DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE
CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA.......... 9
4 CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA
CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES..... 31
5 TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO................. 45
6 CONTINGÊNCIAS.......................................................................... 53
7 NOTAS FINAIS.............................................................................. 59
BIBLIOGRAFIA................................................................................... 61

ÍNDICE v
vi O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICES DETALHADOS

ÍNDICE DE TEXTO pág.


1 NOTA INTRODUTÓRIA.................................................................. 1
2 CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS.......................... 3
3 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO
DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE
CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA.......... 9
3.1 Introdução.............................................................................. 9
3.2 Contaminantes biológicos...................................................... 10
3.3 Contaminantes orgânicos...................................................... 15
3.4 Contaminantes inorgânicos................................................... 25
4 CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA
CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES..... 31
4.1 Eficiência nominal de tratamento versus eficiência real....... 31
4.2 Controlo de contaminantes biológicos................................... 33
4.3 Remoção de contaminantes orgânicos: NOM e
microcontaminantes............................................................... 34
4.4 Remoção de contaminantes inorgânicos............................... 39
5. TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO................. 45
5.1 Controlo de contaminantes biológicos................................... 46
5.2 Controlo de NOM e microcontaminantes orgânicos.............. 47
5.3 Controlo de contaminantes inorgânicos................................ 50
6 CONTINGÊNCIAS.......................................................................... 53
7 NOTAS FINAIS.............................................................................. 59
BIBLIOGRAFIA................................................................................... 61

ÍNDICE vii
ÍNDICE DE FIGURAS pág.
Figura 1 – E
 squema­‑tipo de tratamento de água de origem
superficial em Portugal (a cinzento mais escuro
representam­‑se as UOP mais frequentes)....................... 3
Figura 2 – E
 squema­‑tipo de tratamento de água de origem
subterrânea em Portugal (a cinzento mais escuro
representam­‑se as UOP mais frequentes)....................... 3

viii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ÍNDICE DE quadros pág.
Quadro 1   – T
 ipos de reagentes e de órgãos usados nas ETA
portuguesas.................................................................. 5
Quadro 2   – Classes de ETA para águas superficiais...................... 7
Quadro 3   – Classes de ETA para águas subterrâneas................... 7
Quadro 4   – Contaminantes biológicos............................................. 11
Quadro 5   – Matéria orgânica natural da água................................ 17
Quadro 6   – Microcontaminantes orgânicos solúveis em água........ 19
Quadro 7   – Contaminantes inorgânicos.......................................... 26
Quadro 8   – C
 apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção/inactivação de contaminantes biológicos...... 33
Quadro 9   – C
 apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de matéria orgânica natural........................... 35
Quadro 10 – E
 ficiências mínimas de remoção de COT em ETA
convencionais que tratam água de origem
superficial (USEPA, 1999a).......................................... 35
Quadro 11 – C
 apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de microcontaminantes orgânicos
solúveis em água.......................................................... 37
Quadro 12 – C
 apacidade nominal das ETA nacionais para
remoção de contaminantes inorgânicos....................... 41
Quadro 13 – C
 apacidade nominal de tratamentos complementares
ou alternativos para controlo de contaminantes
biológicos...................................................................... 46
Quadro 14 – C
 apacidade nominal de tratamentos complementares
ou alternativos para controlo de contaminantes
orgânicos (NOM e microcontaminantes orgânicos
solúveis em água)........................................................ 48
Quadro 15 – T
 ratamento complementar ou alternativo para
controlo de contaminantes inorgânicos........................ 50
Quadro 16 – D
 oses mínimas de oxidante necessárias para
controlo de ferro e manganês (AWWA, 1999)............. 54
Quadro 17 – N
 íveis de alerta propostos pela OMS
(Chorus e Bartram, 1999)............................................. 56

ÍNDICE ix
x O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
ABREVIATURAS
Utilizaram­‑se as abreviaturas em Português adoptadas pela legislação
nacional ou utilizadas sistematicamente em outros documentos oficiais,
e sempre que se considerou tratar­‑se de abreviaturas de uso genera‑
lizado (e.g., OMS para Organização Mundial de Saúde). Nos restantes
casos (e.g., abreviaturas de tecnologias de tratamento e de contami‑
nantes), adoptaram­‑se as abreviaturas anglo­‑saxónicas, de utilização
generalizada na literatura de referência e no léxico técnico­‑científico
nacional.

AOC Assimilable organic carbon (carbono orgânico assimilável,


medida do potencial de uma água para sustentar o crescimen‑
to microbiano) (µgC/L em equivalentes de acetato)

BAC Biologically active carbon (carvão activado granulado com


actividade biológica)
BTEX Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e m­‑Xileno
C/F Coagulation/flocculation (coagulação/floculação)
COD Carbono orgânico dissolvido (mgC/L)
COT Carbono orgânico total (mgC/L)
CT Dose de oxidante (concentração x tempo de contacto) (mg/L.
min)
DAF Dissolved air flotation (flutuação, vulgo flotação, por ar dissol‑
vido)
ED Electrodialysis (electrodiálise)
ETA Estação de tratamento de água para consumo humano
GAC Granular activated carbon (carvão activado granulado)
HAA Haloacetic acids (ácidos haloacéticos)
HAN Haloacetonitriles (haloacetonitrilos)
HB Hidrófobo
HL Hidrófilo
INSAAR Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água e
de Águas Residuais
IX Ion exchange (permuta iónica)
MC­‑LR Microcistina­‑LR
MF Microfiltration (microfiltração)
MIB 2­‑methylisoborneol (2­‑metilisoborneol)
neg Negativo
neu Neutro

abreviaturas xi
NF Nanofiltration (nanofiltração)
NOM Natural organic matter (matéria orgânica natural)
OBP Oxidation by­‑products (subprodutos da oxidação)
OMS Organização Mundial de Saúde
PAC Powdered activated carbon (carvão activado em pó)
PM Peso molecular
pos Positiva
RO Reverse osmosis (osmose inversa)
SF Slow filtration (filtração lenta)
SUVA Specific UV254nm absorbance (absorvência específica a 254 nm,
indicador da natureza da NOM, calculado através da razão
UV254nm/COD) (L/(mgC.m))
THM Trihalometanos
UF Ultrafiltration (ultrafiltração)
UOP Unit operation/process (operação/processo unitário de trata‑
mento de água)
USEPA US Environmental Protection Agency (Agência Americana de
Protecção do Ambiente)
UV UV radiation (radiação ultravioleta)
UV254nm UV254nm absorbance (absorvência no ultravioleta a 254 nm,
indicador do teor em matéria húmica)
VOC Volatile organic compounds (compostos orgânicos voláteis)

xii O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
1 NOTA INTRODUTÓRIA
O presente Guia tem como objectivo sistematizar as capacidades
e limitações das estações de tratamento de água (ETA) existen‑
tes em Portugal no controlo de contaminantes que possam
ocorrer nas origens de água destinadas à produção de água
para consumo humano.
Em primeiro lugar, são identificados os esquemas de tratamento
existentes nas ETA portuguesas em função do tipo de origem
(subterrânea ou superficial) (capítulo 2) e os contaminantes são
classificados em função das características físico­‑químicas que
controlam a sua remoção/eliminação nas diferentes operações
e processos unitários (UOP) que constituem as ETA (capítulo 3).
A seguir (capítulo 4), analisam­‑se as capacidades e limitações
dos vários esquemas­‑tipo de ETA para controlo das várias clas‑
ses de contaminantes e apresentam­‑se as possibilidades de
optimização das condições de operação das UOP. O capítulo 5
é dedicado a processos complementares necessários ao contro‑
lo de contaminantes em ETA convencionais. Finalmente, no
capítulo 6 ressalvam­‑se contingências a esta abordagem, desig‑
nadamente as associadas a alterações muito rápidas de quali‑
dade da água e respectiva monitorização.

nota introdutória 1
2 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
2 CARACTERIZAÇÃO DAS ETA
PORTUGUESAS
A caracterização da situação nacional das ETA feita por Vieira et
al. (2007) (baseada no Inventário Nacional de Sistemas de Abas‑
tecimento de Água e de Águas Residuais (INSAAR) e em infor‑
mação cedida pelo Instituto Regulador de Águas e Resíduos e
pela Águas de Portugal, S.G.P.S., S.A.) permitiu identificar as
sequências de tratamento existentes em função da origem da
água, superficial ou subterrânea.
Os múltiplos esquemas de tratamento identificados podem ser
interpretados como variantes das sequências ditas convencionais.
Assim, foram identificados os esquemas­‑tipo do tratamento das
fases líquidas das ETA que processam água de origem superficial
e água de origem subterrânea (Figura 1 e Figura 2, respectiva‑
mente).

PRÉ- MISTURA FLOCULAÇÃO DECANTAÇÃO FILTRAÇÃO DESINFECÇÃO


OXIDAÇÃO RÁPIDA

CORRECÇÃO DE
Desinfecção Coagulação
pH/AGRESSIVIDADE
Oxidação de Correcção de pH/
matéria orgânica agressividade
Remoção Fe/Mn Adição de PAC
Remoção de
compostos de
cor, sabor e
cheiro
Fonte: Extraída de Vieira et al. (2007).

Figura 1 – Esquema­‑tipo de tratamento de água de origem superficial em


Portugal (a cinzento mais escuro representam­‑se as UOP mais frequentes).

PRÉ- FILTRAÇÃO DESINFECÇÃO


OXIDAÇÃO

Remoção Fe/Mn CORRECÇÃO DA CORRECÇÃO DE


Oxidação de DUREZA pH/AGRESSIVIDADE
contaminantes
orgânicos
Arejamento para
libertação de
excesso CO2

Fonte: Extraída de Vieira et al. (2007).

Figura 2 – Esquema­‑tipo de tratamento de água de origem subterrânea em


Portugal (a cinzento mais escuro representam­‑se as UOP mais frequentes).

Cada esquema­‑tipo apresenta algumas variantes, uma vez que


as ETA podem não ter instaladas todas as UOP indicadas.

CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS 3


No caso das águas superficiais, a pré­‑oxidação pode destinar­‑se
à desinfecção primária da água, à oxidação de matéria orgânica,
à remoção de ferro e manganês ou de compostos de cor, sabor
e cheiro e pode, também, não existir. Na mistura rápida, além da
coagulação, pode, eventualmente, ser feita uma correcção de pH
e/ou agressividade, normalmente aqui contemplada para aumen‑
tar a eficiência de remoção de turvação. A mistura rápida pode
também ser usada para adição de carvão activado em pó (PAC)
para adsorção de NOM e microcontaminantes orgânicos. A própria
pré­‑oxidação pode ter lugar na mistura rápida, se não forem ne‑
cessários reactores fechados. A decantação pode não existir
nalguns casos de captação de água com baixo teor em sólidos
suspensos e matéria coloidal (e.g., água captada em rios), ou
seja, quando existe filtração directa. A floculação e a decantação
podem não existir como duas UOP individuais e sequenciais, uma
vez que podem ocorrer no mesmo órgão (e.g., decantadores de
manto de lamas). A existência de uma correcção de pH e/ou
agressividade antes da desinfecção final é também uma variante
opcional em função da qualidade da água.
No que respeita às ETA que tratam águas subterrâneas, apenas
em algumas existe a necessidade de uma oxidação inicial para
remoção de ferro e manganês ou de contaminantes orgânicos
(e.g., pesticidas). Esta pré­‑oxidação pode também ter como um
objectivo o arejamento para libertação do CO2 em excesso. Tam‑
bém a filtração, a correcção da dureza e a correcção de pH/
agressividade (através da percolação em leitos de brita calcária
ou pela adição de cal ou cal/CO2) são variantes que podem estar
ausentes neste tipo de ETA. Quando existe, a correcção da du‑
reza (amaciamento) da água é habitualmente feita pelo processo
convencional de precipitação química, floculação e decantação.
O Quadro 1 sistematiza a informação relativa aos tipos de rea‑
gentes e de órgãos utilizados nas UOP que constituem as se‑
quências de tratamento atrás referidas, relevante para controlo
dos contaminantes eventualmente presentes nas origens de
água.
Em termos de tratamento da fase sólida, a informação disponível
é mais escassa, ainda assim, identificaram­‑se as UOP expectáveis,
predominando o espessamento e a desidratação das lamas. O
tratamento de lamas e a gestão de sobrenadantes e escorrências
a este associada é relevante para o controlo de contaminantes,
uma vez que estes podem ser concentrados nas lamas, mas,
principalmente, porque podem ser recirculados para a linha de

4 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


tratamento de água (fase líquida) através dos sobrenadantes e
escorrências.

Quadro 1 – Tipos de reagentes e de órgãos usados


nas ETA portuguesas.

Tipo de Tipo de origem


Reagente/órgão
tratamento Subterrânea Superficial Mistura
Pré­‑oxidação cloro gasoso  
dióxido de cloro 
hipoclorito de sódio   
ozono 
permanganato

de potássio
Coagulação/ carvão activado (i)  
floculação sais de ferro  
hidróxido de cálcio  
polielectrólito   
sais de alumínio   
Correcção ácido sulfúrico
da dureza carbonato de sódio 
dióxido de carbono
hidróxido de cálcio  
hidróxido de sódio
Correcção da ácido sulfúrico
agressividade carbonato de sódio  
dióxido de carbono 
hidróxido de cálcio   
hidróxido de sódio 
Correcção do pH ácido sulfúrico 
carbonato de sódio  
dióxido de carbono  
hidróxido de cálcio   
hidróxido de sódio  
Remoção de arejamento   
ferro e manganês oxidação química  
Decantação decantador
  
convencional
decantador de manto

de lamas
decantador lamelar 

(i) Em ETA convencionais o carvão activado em pó (PAC) pode ser adicionado


na mistura rápida para adsorção de contaminantes.

CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS 5


Tipo de Tipo de origem
Reagente/órgão
tratamento Subterrânea Superficial Mistura
Filtração filtro rápido de areia   
filtro lento de areia  
filtro rápido de dupla
camada  
(areia+antracite)
filtro lento de dupla
camada 
(areia+antracite)
filtro rápido
de dupla camada
 
(areia+carvão
activado)
filtro rápido

de carvão activado
Desinfecção cloro gasoso  
dióxido de cloro  
hipoclorito de sódio   
ozono 
radiação UV  
Fonte: Adaptado de Vieira et al. (2007).

Para a análise das capacidades e limitações das ETA no contro‑


lo de contaminantes eventualmente presentes na água bruta,
definem‑se, no âmbito do presente documento, nove classes de
ETA, sendo seis destas associadas a origens de água superficial
(Quadro 2) e três associadas a origens de águas subterrâneas
(Quadro 3).
A classe I_sup corresponde à sequência convencional de trata‑
mento e é composta por pré­‑oxidação, coagulação, floculação,
decantação, filtração, ajuste de pH/agressividade e desinfecção
final, por esta ordem.
A subclasse I.1_sup é um caso particular da I_sup, referindo­‑se
aos casos em que na pré­‑oxidação é utilizado ozono. A subclas‑
se I.2_sup refere­‑se aos restantes casos em que na pré­‑oxidação
são utilizados todos os outros oxidantes atrás identificados (hipo‑
clorito de sódio, cloro gasoso e dióxido de cloro).

6 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Quadro 2 – Classes de ETA para águas superficiais.

Classe Sequência de tratamento

I.1_sup Pré­‑oxidação (ozono)  Coagulação  Floculação  Decantação


 Filtração  Ajuste pH (i)  Desinfecção

I.2_sup Pré­‑oxidação (outros oxidantes)  Coagulação  Floculação 


Decantação  Filtração  Ajuste pH (i)  Desinfecção

II_sup Coagulação  Floculação  Decantação  Filtração  Desin‑


fecção

III.1_sup Pré­‑oxidação (ozono)  Coagulação  Floculação  Filtração 


Desinfecção

III.2_sup Pré­‑oxidação (outros oxidantes)  Coagulação  Floculação 


Filtração  Desinfecção

IV_sup Coagulação  Floculação  Filtração  Desinfecção

(i) Ajuste de pH ou de agressividade.

Quadro 3 – Classes de ETA para águas subterrâneas.

Classe Sequência de tratamento

I_sub Pré­‑oxidação  Amaciamento  Filtração  Ajuste pH* 


Desinfecção

II_sub Pré­‑oxidação  Filtração  Ajuste pH*  Desinfecção

III_sub Desinfecção (ii)

(i) Ajuste de pH ou de agressividade.


(ii) Poderá ser precedida por um ajuste de pH ou de agressividade.

A classe II_sup corresponde à sequência de tratamento conven‑


cional sem pré­‑oxidação, i.e., composta por coagulação, floculação,
decantação, filtração e desinfecção final, por esta ordem.
A classe III_sup corresponde à sequência de pré­‑oxidação e fil‑
tração directa, i.e., inclui pré­‑oxidação, coagulação, floculação,
filtração e desinfecção final, nesta ordem. Também neste caso,
há que distinguir as ETA que usam ozono das que utilizam os
outros oxidantes – definem­‑se, portanto as subclasses III.1_sup
(com ozono) e III.2_sup (com outros oxidantes).
A classe IV_sup consiste na sequência de tratamento convencio‑
nal com filtração directa e sem pré­‑oxidação, i.e., inclui coagulação,
floculação, filtração e desinfecção final, por esta ordem.

CARACTERIZAÇÃO DAS ETA PORTUGUESAS 7


A classe I_sub corresponde à sequência completa para águas de
origem subterrânea (Figura 2) – pré­‑oxidação; remoção de dure‑
za (amaciamento) por precipitação química, floculação, decantação;
filtração; ajuste de pH e desinfecção.
A classe II_sub é uma simplificação da anterior sem a remoção
de dureza.
A classe III_sub consiste na desinfecção, que pode ser precedida
por um ajuste de pH ou de agressividade.
As classes I_sup, II_sup e I_sub podem contemplar a adição de
PAC na mistura rápida.

8 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


3 CLASSIFICAÇÃO DOS
CONTAMINANTES EM FUNÇÃO
DAS CARACTERÍSTICAS
FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE
CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/
ELIMINAÇÃO NAS ETA
3.1 Introdução
Identificam­‑se neste capítulo os contaminantes que podem ser
causa de preocupação em ETA convencionais. Neste âmbito, o
termo contaminantes engloba:
• contaminantes contemplados na legislação portuguesa;
• contaminantes ambientais que só recentemente começa‑
ram a ser alvo de estudos científicos intensivos em termos
de ocorrência nas origens de água para consumo huma‑
no, efeitos na saúde e remoção nas ETA, e que ainda
não se encontram legislados apesar de, para alguns, já
existirem valores­‑guia, por exemplo, da Organização
Mundial de Saúde (OMS) ou da Agência Americana de
Protecção Ambiental (USEPA). Muitos destes contami‑
nantes só começaram agora a ser estudados, pelo facto
de apenas recentemente terem sido produzidos e intro‑
duzidos no ambiente, ou de as técnicas analíticas ante‑
riormente utilizadas não estarem suficientemente desen‑
volvidas para os detectarem.
Não são aqui considerados os contaminantes emergentes para
os quais não existem ainda dados de toxicologia nem de compor‑
tamento nos sistemas de tratamento de água, e que não estão
incluídos em programas de monitorização nem são regulados.
Dos contaminantes listados, os mais críticos para esta análise são
os contaminantes ambientais que, estando ou não legislados, não
são satisfatoriamente removidos por processos convencionais de
tratamento de água. Os contaminantes mais críticos podem ser
biológicos (e.g., Cryptosporidium parvum, Giardia lamblia, ciano‑
bactérias, vírus) (secção 3.2), químicos orgânicos (e.g., matéria
orgânica natural, trihalometanos, ácidos haloacéticos, cianotoxinas,
pesticidas, desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e
de higiene pessoal) (secção 3.3), ou inorgânicos (e.g., nitrato,
brometo/bromato, arsénio e outros metais) (secção 3.4).

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 9
A turvação da água é conferida por material em suspensão ou coloi‑
dal (i.e., de pequena dimensão e com carga superficial – normalmen‑
te negativa – e, portanto, não sedimentável), de natureza biológica
(e.g., microalgas, bactérias, cianobactérias), química orgânica (maté‑
ria orgânica natural) ou inorgânica (e.g., argilas).
A salinidade, condutividade e alcalinidade da água são parâmetros
que quantificam uma multiplicidade de substâncias (predominante‑
mente inorgânicas) solúveis em água e com carga positiva ou
negativa.
Por esse motivo, a turvação, salinidade, condutividade e alcalinidade
não são tratadas neste capítulo, mas antes as substâncias que as
conferem. Estes parâmetros globais são tratados no capítulo 6. Nes‑
te capítulo aborda­‑se ainda a problemática associada aos parâmetros
de qualidade da água susceptíveis de grandes variações em períodos
de tempo muito curtos, decorrentes de eventos climáticos, como
chuvas intensas, estratificação das massas de água, forte e longa
insolação (e.g., turvação, ferro, manganês, florescências de ciano‑
bactérias). As questões associadas a alterações significativas da
qualidade da água devidas a uma sobreexploração do recurso (e.g.,
condutividade, salinidade) serão também analisadas no capítulo 6.
Nas secções 3.2 a 3.4, os contaminantes são classificados em termos
das características físico­‑químicas determinantes da sua remoção/
eliminação/degradação e/ou transformação (e.g., em subprodutos in‑
desejáveis da oxidação/desinfecção química) nas ETA. O preenchi‑
mento dos quadros foi feito de forma a salientar as características
mais relevantes para o tratamento, não pretendendendo ser exaustivo.

3.2 Contaminantes biológicos


Como contaminantes biológicos foram considerados protozoários
(oocistos e cistos), bactérias (formas vegetativas, endosporos e cia‑
nobactérias), helmintas (ovos) e vírus (viriões). Estes são classificados
no Quadro 4 de acordo com as características que condicionam:
i) a sua remoção por UOP físico­‑químicas – se são sedi‑
mentáveis, flutuáveis, partículas finas (de pequenas di‑
mensões, mas que se podem reter em filtros), o seu
tamanho e se têm comportamento coloidal;
ii) a sua eliminação/inactivação por oxidação – se são re‑
sistentes à oxidação química;
iii) a sua capacidade de produção e libertação para a água de
outros contaminantes (metabolitos dissolvidos) que podem
ter (e.g., toxinas) ou não efeitos negativos na saúde.

10 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Como se observa no Quadro 4, os contaminantes biológicos têm
muitas características comuns, mas de importância diferente. Na
generalidade, os contaminantes biológicos apresentam comporta‑
mento coloidal (que advém da carga superficial negativa). Os
protozoários e bactérias são partículas finas, de baixa massa
específica, enquanto os vírus têm dimensões macromoleculares.

Quadro 4 – Contaminantes biológicos.

Características que condicionam a sua


remoção no tratamento
Em suspensão?

Pode produzir metaboli‑


Resistente à oxidação
Contaminante Partículas finas?

Comportamento

tos dissolvidos?
Sedimentável?

Tamanho (µm)

coloidal? (i)
Flutuável?

química?
Cryptosporidium parvum ++
(ii) (ii) + 4­‑6 + ­‑
(oocistos) (iii)
Giardia lamblia (cistos) (ii) (ii) + 8­‑13 + + (iii) ­‑
Clostridium perfringens ++
(ii) (ii) + 0.25 + ­‑ (iv)
(endosporos) (iii)
12­‑90 diâmetro ++
Ovos de helmintas ++ ­‑
25­‑150 comprim. (iii)
Células de heterotróficos
(ii) (ii) + 0.2­‑30 + ­‑ ­‑
(colónias a 22ºC e 37ºC)
Bactérias coliformes, E. coli (ii) (ii) + 0.5­‑2 + ­‑ ­‑
Enterococos (ii) (ii) + 0.8­‑1.2 + ­‑ ­‑
Pseudomonas aeruginosa (ii) (ii) + 0.5­‑3 + ­‑ ­‑
Salmonellas (ii) (ii) + 0.2­‑2 + ­‑ ­‑
Cianobactérias (exemplos de
(v) (vi) (vii)
géneros mais frequentes)
Anabaena (v) ++ Filamentos + (viii) +
Anabaenopsis (v) ++ Filamentos + (viii) +
Aphanizomenon (v) ++ Filamentos + (viii) +
Cylindrospermopsis (v) ++ Filamentos + (viii) +
Cél. (3­‑10 µm)
Microcystis (v) ++ + (viii) +
ou colónias
Nodularia (v) ++ Filamentos + (viii) +

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 11
Características que condicionam a sua
remoção no tratamento
Em suspensão?

Pode produzir metaboli‑


Resistente à oxidação
Contaminante

Partículas finas?

Comportamento

tos dissolvidos?
Sedimentável?

Tamanho (µm)

coloidal? (i)
Flutuável?

química?
Cianobactérias (exemplos)
(cont.)
Nostoc (v) ++ Filamentos + (viii) +
Oscillatoria (v) ++ Filamentos + (viii) +
Planktothrix (v) ++ Filamentos + (viii) +
Dimensão
Enterovírus + (ix) ­‑
macromolecular
Fontes: WHO (2004), Base de dados Cyanosite (acedida em Julho de 2007).

+ O contaminante possui essa característica.


++ Essa característica é muito importante para a remoção desse contaminante.
­‑ O contaminante não possui essa característica.
A característica não é relevante em termos de tratamento.

(i) O comportamento coloidal é comum à generalidade dos contaminantes


biológicos e advém, sobretudo, da carga superficial negativa que os micror‑
ganismos possuem. Em termos de tratamento de água, é mais relevante
para microrganismos isolados e pequenos agregados celulares do que para
grandes agregados coloniais ou filamentosos.
(ii) Pela sua baixa massa específica, microrganismos isolados, de pequenas di‑
mensões e comportamento coloidal, após coagulação/floculação, apresentam
maior capacidade de flutuação do que de sedimentação.
(iii) Dada a sua grande resistência à oxidação química, a eficiência de inactivação
de ovos de helmintas, endosporos de C. perfringens e oocistos de C. parvum,
é regra geral insatisfatória nas condições habitualmente usadas em ETA. Os
cistos de G. lamblia podem ser inactivados por ozono ou dióxido de cloro
com uma eficiência aceitável. No entanto, tal depende das condições a que
ocorre a desinfecção, nomedamente da concentração e tempo de contacto
do oxidante, e de características da matriz da água (e.g., turvação).
(iv) As formas vegetativas de C. perfringens produzem toxinas.
(v) Em regra, as cianobactérias apresentam maior capacidade de flutuação
do que de sedimentação, associada à sua morfologia (e.g., filamentos) e
à presença de vacúolos gasosos. No entanto, esta característica depende
do género, da espécie, da idade celular e das condições a que as culturas
estão expostas.

12 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


(vi) As cianobactérias podem apresentar­‑se nas seguintes morfologias: células
individuais ou pares de células (mais abundantes em culturas laboratoriais,
e.g., de Microcystis aeruginosa, células individuais têm 3­‑10 µm), ou em
agregados celulares (mais abundantes em culturas ambientais) – coloniais
ou filamentosos – e possuem tamanho muito variável, em função do género,
espécie, idade celular e condições ambientais.
(vii) As cianobactérias produzem metabolitos que conferem cor, sabor e cheiro à
água e, nalguns casos, dependendo do género e das condições ambientais,
podem também produzir cianotoxinas. Para a maioria das cianobactérias e
cianotoxinas, células intactas contêm endotoxinas, que são libertadas para
a água quando ocorre lise celular por envelhecimento ou stress mecânico
e/ou químico.
(viii) Não são resistentes à oxidação; contudo, a oxidação das cianobactérias
promove a libertação das endotoxinas para a água a tratar, as quais poderão
ou não ser eficientemente oxidadas.
(ix) Resistentes ao cloro, não ao ozono e dióxido de cloro em doses adequadas.

Em relação às bactérias (incluindo as cianobactérias), o facto de


se apresentarem como células isoladas, na forma de agregados
celulares ou de filamentos, e o possuirem ou não vacúolos gaso‑
sos, são factores determinantes da importância relativa do seu
comportamento coloidal e da capacidade de sedimentação ou de
flutuação no tratamento. As bactérias que se apresentam na for‑
ma de endosporos (e.g., C. perfringens) são relativamente resis‑
tentes à oxidação química.
Conforme se discute no capítulo 4, em termos de tratamento con‑
vencional da água, o comportamento coloidal de um contaminan‑
te assume maior importância para menores estruturas celulares
do que para agregados celulares de maiores dimensões. Ou seja,
a remoção de pequenas partículas de comportamento coloidal por
uma operação de separação sólido‑líquido (sedimentação, flutua‑
ção – vulgarmente designada flotação, no léxico técnico­‑científico
nacional – ou filtração) só é eficiente se for precedida de uma
coagulação (que promove a destabilização das partículas) e flocu‑
lação (que promove o crescimento dos flocos e aumenta o seu
tamanho e/ou densidade). No caso de grandes agregados celula‑
res, a coagulação/floculação aumenta normalmente a eficiência da
sedimentação ou flutuação, mas pode não ser imprescindível para
o controlo da concentração deste contaminante na água.
Do Quadro 4 depreende­‑se que:
i) os microrganismos resistentes à oxidação química só
podem ser controlados em ETA convencionais optimi‑
zando a pré‑oxidação com ozono (à excepção dos oo‑

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 13
cistos de C. parvum, doses elevadas de ozono podem
ser eficientes) e as etapas de coagulação, floculação,
sedimentação (opcional) e filtração (conforme analisado
no capítulo 4); no entanto, a flotação é mais eficiente do
que a sedimentação na remoção destas formas biológi‑
cas (mantendo o pré­‑tratamento por coagulação/flocula‑
ção e a afinação por filtração, mas com vantagens para
a C/F e a filtração, capítulo 5); a tecnologia de membra‑
nas (desde a microfiltração à osmose inversa) ou a
oxidação com radiação ultravioleta (nas condições ade‑
quadas) são as barreiras mais seguras (aspectos anali‑
sados no capítulo 5);
ii) os ovos de helmintas devem ser controlados por sedi‑
mentação e afinados por filtração;
iii) os microrganismos não resistentes à oxidação química
são controlados preferencialmente por desinfecção quí‑
mica (pré‑oxidação e/ou desinfecção final), embora a
clarificação (coagulação/floculação/sedimentação e filtra‑
ção) também apresente alguma eficiência de remoção;
iv) as cianobactérias devem ser controladas em ETA con‑
vencionais usando dosagens baixas de pré­‑oxidante
(que evitam a lise celular e facilitam a coagulação/flo‑
culação), uma etapa eficiente de coagulação/floculação/
sedimentação e uma gestão cuidada dos ciclos de fil‑
tração, das lamas e da recirculação (para a linha de
tratamento de água) de águas residuais do tratamento
de lamas (conforme analisado no capítulo 4); no entan‑
to, a flotação é mais eficiente do que a sedimentação
na remoção de cianobactérias (mantendo o pré­
‑tratamento por coagulação/floculação e a afinação por
filtração, mas com vantagens para a C/F e a filtração,
capítulo 5) e a tecnologia de membranas (desde a MF
à RO) constitui a barreira mais segura (aspectos ana‑
lisados no capítulo 5);
v) os vírus só podem ser controlados em ETA convencionais
optimizando as etapas de pré‑oxidação com ozono ou
dióxido de cloro (conforme analisado no capítulo 4); no
entanto, a sua remoção/inactivação é mais segura usan‑
do a tecnologia de membranas (desde a ultrafiltração
(UF) à RO) ou a oxidação com radiação UV (nas condi‑
ções adequadas) (capítulo 5).

14 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


3.3 Contaminantes orgânicos
Pela sua diferente especificidade, são tratados separadamente
dois conjuntos de contaminantes orgânicos – matéria orgânica
natural (NOM) (Quadro 5) e microcontaminantes orgânicos solúveis
em água (Quadro 6).
Os últimos são classificados no Quadro 6 segundo as caracterís‑
ticas que condicionam:
i) a sua remoção por UOP físico­‑químicas – se se volati‑
lizam a partir da água, se são hidrófobos ou hidrófilos;
a sua carga na gama de pH típica da água (6‑9) e o seu
peso molecular;
ii) a sua eliminação/transformação por processos químicos
– resistência à oxidação química.
Neste caso, não se inclui no quadro a capacidade de formação
de subprodutos da oxidação química, uma vez que, em regra,
todos os microcontaminantes orgânicos são precursores de sub‑
produtos da oxidação química (OBP), porque quando expostos a
oxidação química não são mineralizados a CO2. A importância da
formação de OBP depende da toxicidade dos subprodutos forma‑
dos, que é função do composto de partida e das condições de
oxidação.
A matéria orgânica natural requer uma abordagem diferente, uma
vez que é uma mistura complexa de substâncias de característi‑
cas muito diversas, desde partículas a compostos solúveis em
água.
Além disso, ao contrário dos microcontaminantes solúveis em
água, a NOM existe sempre na água (embora em maior ou me‑
nor concentração e com natureza diferente) e apresenta­‑se numa
gama de concentrações (mg/L) muito superior à dos microconta‑
minantes (pelo menos, uma ordem de grandeza acima dos sub‑
produtos de que é precursora e, habitualmente, para os conta‑
minantes naturais ou sintéticos, mais do que três ordens de
grandeza (< µg/L)).
A NOM da água de origem é principalmente constituída por com‑
postos que, por serem pouco biodegradáveis (e.g., ácidos húmicos),
persistem na água das albufeiras e rios, onde a sua concentração
varia em função do tipo de meio envolvente que lhe dá origem
(e.g., coberto vegetal) e das condições existentes para o seu
transporte (e.g., lixiviação por água das chuvas).

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 15
A importância da NOM para a qualidade da água para consumo
humano decorre, sobretudo, do facto de esta incluir na sua com‑
posição os precursores de OBP indesejáveis. Os OBP compreen‑
dem centenas de compostos orgânicos halogenados (e.g., triha‑
lometanos e ácidos haloacéticos) ou não (e.g., benzeno) de ele‑
vada toxicidade para o Homem.
A NOM não é totalmente removida nas ETA. Além disso, no tra‑
tamento e durante a adução e distribuição, da acção dos oxidan‑
tes químicos resulta a transformação de moléculas da NOM em
compostos de menor peso molecular (e.g., ácidos carboxílicos,
aldeídos) quantificáveis como carbono orgânico assimilável (AOC),
e que sustentam a proliferação microbiana nas redes de distribui‑
ção, sobretudo na forma de biofilmes.
Assim, em termos da qualidade da água, o interesse em carac‑
terizar o teor em NOM encontra­‑se fundamentalmente associado
a dois aspectos – ao potencial da água para formar OBP e à
estabilidade microbiológica da água (expressa pela concentração
de AOC). Todavia, no essencial, estes aspectos não dependem
tanto da concentração total da NOM (COT, carbono orgânico total),
mas mais da concentração da fracção solúvel (COD, carbono
orgânico dissolvido) e da sua natureza (SUVA).
Assim, no Quadro 5, a NOM é caracterizada em termos dos pa‑
râmetros COT, COD, UV254nm (absorvência no ultravioleta, a 254 nm,
de amostras filtradas através de filtro 0,45 µm; indicador da NOM
mais aromática, hidrófoba e de maior peso molecular) e SUVA
(absorvência específica no ultravioleta, a 254 nm, da fracção
dissolvida da NOM; SUVA = UV254/COD).
Estes parâmetros são classificados no Quadro 5 segundo as
características que condicionam:
i) a sua remoção por operações físicas – se os seus cons‑
tituintes são partículas e, nesse caso, se são sedimen‑
táveis ou flutuáveis, se têm pequenas dimensões (mas
que podem ser retidas em filtros);
ii) a sua remoção por UOP físico­‑químicas – o seu com‑
portamento coloidal; a relevância da fracção dissolvida;
o carácter hidrófobo ou hidrófilo; a carga média na gama
de pH típica da água (6‑9), se são de elevado ou baixo
peso molecular;
iii) a sua eliminação/transformação por processos químicos
– resistência à oxidação química e potencial de formação
de subprodutos da oxidação/desinfecção química.

16 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Os óleos e as gorduras têm um tratamento individualizado porque
não se encontram dissolvidos (estão emulsionados), além de,
usualmente, não serem microcontaminantes (i.e., estão na gama
mg/L). As principais características que condicionam a sua remo‑
ção/eliminação em ETA são a sua flutuabilidade (e não sedimen‑
tabilidade) e se se apresentam em gotas de grandes dimensões
ou em microgotas, i.e., se estão pouco ou muito emulsionados.
Conforme se discute na secção 5.2, quanto mais emulsionados
se encontrarem, mais difícil é a sua separação da água, sendo
removidos mais eficazmente por flotação.

Quadro 5 – Matéria orgânica natural da água.

Características que condicionam a sua remoção


no tratamento
Em
Comportamento coloidal?

suspensão?
Hidrófobo ou hidrófilo?

Resistente à oxidação

Precursor de OBP?
Contaminante
Partículas finas?

Carga a pH 6­‑9
Sedimentável?

Dissolvido?
Flutuável?

química?

COT + + + HB,HL neg + (i) (ii)


< 2 mgC/L ­‑
≥ 2 mgC/L +
COD ­‑ ­‑ ­‑ + + HB,HL neg + (i) (iii)
< 2 mgC/L ­‑
≥ 2 mgC/L +
UV254nm (iv) ­‑ ­‑ ­‑ + + (iv) HB (iv) neg ­‑ ++
SUVA (v) ­‑ ­‑ ­‑ + + (v) (v) neg ­‑ (vi)
≤ 2 L/(m.mgC) <PM HL ­‑
]2‑3[ L/(m.mgC) HL +
[4‑5] L/(m.mgC) HB ++
> 5 L/(m.mgC) >PM HB ++
Fontes: Edzwald e Van Benschoten (1990), USEPA (1999a).

+ O contaminante possui essa característica.


++ Essa característica é muito importante para a remoção desse contaminante.
­‑ O contaminante não possui essa característica.
A característica não é relevante em termos de tratamento.

OBP: Subprodutos da oxidação (nesta secção só se analisam os OBP orgânicos,


os inorgânicos (e.g., bromato, clorito e clorato) são analisados em 3.4); neg: ne‑
gativa; HB: hidrófobo; HL: hidrófilo; PM: peso molecular.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 17
(i) COT e COD são parâmetros resistentes à oxidação química, na medida em
que os compostos que os constituem sofrem transformações, mas a sua
oxidação completa (i.e., a mineralização de carbono orgânico a CO2) não é,
habitualmente, significativa.
(ii) A USEPA (1999a) utiliza o valor­‑guia de 2 mgC/L para COT na água bruta,
sendo o potencial de formação de OBP na cloragem baixo se os valores
forem inferiores.
(iii) Por analogia com (ii), uma vez que COD ≤ COT.
(iv) A absorvência no ultravioleta, a 254 nm, de amostras filtradas (através de filtro
0,45 µm) (UV254nm) indica a concentração da NOM mais aromática, hidrófoba
e de maior peso molecular a que, habitualmente, corresponde um maior
potencial de formação de OBP indesejáveis.
(v) Edzwald e Van Benschoten (1990) propuseram uma classificação da natureza
da NOM dissolvida na água baseada no parâmetro SUVA: i) para valores de
SUVA de 4‑5 L/(m.mgC), o COD da água é composto maioritariamente por
substâncias húmicas, é relativamente hidrófobo, aromático e de peso molecular
elevado; ii) para valores de SUVA inferiores a 3 L/(m.mgC), o COD da água
é composto maioritariamente por material não húmico, relativamente hidrófilo,
menos aromático e de menor peso molecular.
(vi) A USEPA (1999a) utiliza o valor­‑guia de 2 L/(m.mgC) para SUVA na água
bruta, sendo o potencial de formação de OBP na cloragem baixo se os valores
forem inferiores.

Do Quadro 5 infere­‑se que:


i) a NOM pode ser parcialmente removida em ETA con‑
vencional por coagulação com sobredosagem de coagu‑
lante, a pH 5­‑6 (enhanced coagulation), em particular a
fracção particulada e a fracção solúvel mais hidrófoba,
de maior peso molecular (de maior UV254nm) (conforme
se discute no capítulo 4);
ii) os constituintes da NOM que absorvem no UV254nm podem
ainda ser convertidos, por oxidação química, em com‑
postos mais simples, hidrófilos, biodegradáveis (consti‑
tuintes do AOC); deve­‑se evitar a aplicação de cloro e
hipoclorito a águas com COT superior a 2 mgC/L, para
evitar a formação de OBP indesejáveis (trihalometanos e
ácidos haloacéticos) – nestas águas, o ozono (se o
brometo não exceder 0,1 mg/L) e o dióxido de cloro são
alternativas mais adequadas;
iii) a fracção mais hidrófila de menor UV254nm e menor SUVA
tem, na generalidade, menor potencial de formação de
OBP indesejáveis, designadamente de trihalometanos
(USEPA, 1999a; Galapate et al., 2001; Liang e Singer,

18 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


2003), mas está associada a menor estabilidade da água
na rede de distribuição e é mais difícil de coagular – é,
assim, importante controlar a extensão da oxidação, em
função da qualidade da água de origem; por exemplo,
o ozono tem vantagens na coagulação/floculação para
águas de baixo teor em COD, i.e., em que a carência
de coagulante é estabelecida pelas partículas inorgânicas
e a NOM a elas associada, sendo desvantajoso em águas
com teor em COD moderado a elevado (Becker e O’Melia,
2000) [em qualquer caso, não se deve exceder 0,7 mgO3/
mg COT (Edwards et al., 1993)];
iv) a NOM é eficientemente controlada por sistemas de car‑
vão activado – preferencialmente por adsorção da fracção
mais hidrófoba, de maior peso molecular (sistemas PAC
em dosagens elevadas (capítulo 4) ou sistemas de carvão
activado granulado (GAC) (capítulo 5), ou por biodegra‑
dação dos constituintes do AOC (sistemas BAC, i.e., sis­
temas GAC com actividade biológica, capítulo 5) –, por
sistemas de membranas (nanofiltração (NF) ou RO) ou
por sistemas híbridos [carvão activado/ultrafiltração (PAC/
UF)] (capítulo 5).

Quadro 6 – Microcontaminantes orgânicos solúveis em água.

Características que condicionam


a sua remoção no tratamento (i)
oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)

Carga a pH 6­‑9

Contaminante
Volátil a partir
da água? (ii)

Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo

(iv)

AOC (v) +/­‑ HL,HB pos,neg,neu < 250 (v)


Acrilamida HL 71
Cianotoxinas (vi)
Microcistinas HB neu­‑neg (vii) 900­ ­‑ (viii)
‑1100
Nodularina HB neu­‑neg (vii) 824 ­‑
Cilindrospermopsina HL neu 415 ­‑
Saxitoxinas HL neu­‑pos 256­‑491 +/­‑
Anatoxina­‑a HL pos 165 +/­‑

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 19
Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)

oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)

Carga a pH 6­‑9
Contaminante

Volátil a partir
da água? (ii)

Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo

(iv)
Compostos de sabor e cheiro (ix)
Geosmina HB 182 ­‑
MIB (2­‑metilisoborneol) HB 168 ­‑
Compostos orgânicos voláteis
1,1­‑Dicloroetano ++ HB,HL 99
1,2­‑Dicloroetano ++ HB,HL 99
1,1­‑Dicloroeteno ++ HB,HL 97
Cloreto de vinilo ++ HB,HL 63
BTEX
Benzeno ++ HB 78 ­‑
Tolueno ++ HB 92
Etilbenzeno ++ HB 106
m­‑xileno ++ HB 106
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal (ex.)
Carbamazepina HB 236 ­‑
Bisfenol A HB 228 ­‑
E2: 17b­‑estradiol HB 272 ­‑
E1: estrona HB 270 ­‑
Progesterona HB 314 +
Testosterona HB 288 +
EE2: 17b­‑etinilestradiol HB 296 ­‑
Cis­‑androesterona HB 290
HHCB HB 258 ­‑
AHTN HB 258
Benzofenona HB 182
Epicloridrina + HB,HL 93
Fenol e clorofenóis (exemplos)
Fenol HB,HL neu 94 ­‑
Clorofenóis HB,HL 129

20 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)

oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)

Carga a pH 6­‑9
Contaminante

Volátil a partir
da água? (ii)

Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo

(iv)
Diclorofenóis HB neu­‑neg 163
Triclorofenóis HB neu­‑neg 197
Tetraclorofenóis HB 232
Pentaclorofenol HB neg 266
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (exemplos)
Benzo[b]fluoranteno HB 252 ­‑
Benzo[k]fluoranteno HB 252 ­‑
Benzo(a)pireno HB 252
Benzo[g,h,i]perileno HB 276 +
Indeno[1,2,3­‑cd]pireno HB 276
Pesticidas (exemplos) (x)
2,4­‑D HB neg 221
Alacloro HB 270 +
Aldrina HB 365 +
Amitrol HL neu 84
Atrazina HB neu 216 +
Bentazona HB neu 240
Carbofurão HB 221 +
Captana HB 301
Cimoxanil HB,HL pos 198
Clordano HB 410 +
Clorotolurão HB 213
Diazinão HB neu 304
Dialdrina + HB 381 +
Desetilatrazina HB,HL neu 188
Desetilsimazina HB,HL neu 174
Dimetoato HB,HL 229
Diurão HB 233
EPTC + HB 189

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 21
Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)

oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)

Carga a pH 6­‑9
Contaminante

Volátil a partir
da água? (ii)

Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo

(iv)
Glufosinato de amónio HL 198
Heptacloro + HB 373 +
Heptacloro epóxido HB 389 +
Linurão HB 249 +
Mancozebe HB,HL 266
MCPA HB neg 201
Metalaxil HB,HL 279
Metolacloro HB 284
Metidatião HB 302
Pesticidas (exemplos) (cont.)
Metribuzina HB,HL neu 214 ­‑
Molinato HB 187
Paraquato HL 257
Pendimetalina HB 281
Pirimetanil HB neu 199
Propanil HB 218
Propinebe HB,HL 357
Simazina HB,HL neu 202 +
Tebuconazol HB 308
Terbutilazina HB neu 230
Tirame HB,HL 240
Subprodutos da oxidação (exemplos)
Trihalometanos
Bromofórmio + HB 253
Clorofórmio + HB,HL 119
Dibromoclorometano + HB,HL 244
Bromodiclorometano + HB,HL 164
Ácidos haloacéticos
Ácido cloroacético HB,HL neg 95
Ácido dicloroacético HB,HL neg 129

22 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Características que condicionam
a sua remoção no tratamento (i)

oxidação química?
ou hidrófilo? (iii)

Carga a pH 6­‑9
Contaminante

Volátil a partir
da água? (ii)

Resistente à
PM (g/mol)
Hidrófobo

(iv)
Ácido tricloroacético HB,HL neg 163
Ácido bromocloroacético HB,HL neg 179
Ácido bromoacético HB,HL neg 139
Ácido dibromoacético HB,HL neg 218
Haloacetonitrilos
Bromocloroacetonitrilo 154
Bromodicloroacetonitrilo 190
Dibromoacetonitrilo HB,HL 199
Dicloroacetonitrilo HB,HL 110
Tricloroacetonitrilo HB,HL 144
Fontes: Bases de dados Cyanosite, PHYSPROP, FOOTPRINT, TOXNET e ChemIDplus
(acedidas em Julho de 2007); Thomas (1990), Carmichael (1997), USEPA (1999b), Carson e
Masten (2000), Newcombe e Nicholson (2002), Newcombe e Nicholson (2004), Westerhoff et
al. (2005), Rodriguez et al. (2007).

+ O contaminante possui essa característica.


++ Essa característica é muito importante para a remoção desse contaminante.
­‑ O contaminante não possui essa característica.
Não há informação disponível.

HB: hidrófobo; HL: hidrófilo; neg: negativa; pos: positiva; neu: neutra;
HHCB:1,3,4,6,7,8­‑hexahidro­‑4,6,6,7,8,8­‑hexametilciclopenta­‑γ­‑2­‑benzopirano; AHTN:
6­‑acetil­‑1,1,2,4,4,7­‑hexametiltetralina; 2,4­‑D: ácido diclorofenoxiacético; EPTC:
etilpropiltiocarbamato; MCPA: ácido 4­‑cloro­‑2­‑metilfenoxiacético.
(i) A capacidade de formação de OBP não é contemplada porque é partilhada
por todos os microcontaminantes orgânicos (a oxidação química não é, em
regra, completa, a CO2); a importância da formação de OBP depende da
toxicidade dos subprodutos formados, que é função do composto de partida
e das condições de oxidação.
(ii) Utilizou­‑se o critério proposto por Thomas (1990) de que a transferência para
a atmosfera por volatilização de compostos dissolvidos na água é significativa
quando estes têm uma constante de Henry igual ou maior que 10­‑5 atm.m3.mol­‑1
(a 25ºC e 1 atm.)
(iii) Foram considerados hidrófobos os compostos com log kow acima de 2 e
hidrófilos com log kow abaixo de 1 (kow = coeficiente de partição octanol/água
a 25ºC).

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 23
(iv) Carga superficial global estimada com base nos valores de pKa.
(v) O AOC é uma mistura de compostos orgânicos de baixo peso molecular e
facilmente biodegradáveis (e.g., ácidos carboxílicos, aldeídos, álcoois) em
proporção variável; são eles próprios subprodutos da oxidação química.
(vi) A análise apresentada diz respeito às toxinas dissolvidas na água; contudo,
a oxidação das cianobactérias promove a libertação das endotoxinas para a
água a tratar, as quais poderão ou não ser eficientemente oxidadas. Em geral,
as cianotoxinas são oxidáveis (restantes microcistinas > microcistina­‑LA >
cilindrospermopsina > saxitoxinas e anatoxina­‑a) pelos oxidantes habitualmente
usados nas ETA (em regra, ozono > cloro > permanganato; dióxido de cloro
e monocloramina não são eficazes), embora requeiram doses e valores de
pH ajustados para o efeito; a composição da água (e.g., NOM, alcalinidade,
pH) também afecta o desempenho da oxidação.
(vii) A carga global das microcistinas e nodularina varia com o pH (é positiva a pH
muito ácido, e passa a neutra e depois a negativa com o aumento de pH),
e depende da variante de microcistina: a maioria das variantes tem carga
negativa a pH 6­‑9, a microcistina­‑RR tem carga neutra a negativa.
(viii) A variante de microcistina­‑LA é a mais difícil de oxidar.
(ix) São oxidáveis pelos oxidantes habitualmente usados nas ETA (o mais eficiente
é o ozono), embora requeiram doses ajustadas para o efeito, em função do
oxidante e da composição da água.
(x) Foram seleccionados por estarem legislados, integrarem as listas do IRAR
e/ou representarem gamas extremas de características (e.g., PM).

Do Quadro 6 depreende­‑se que a estratégia de controlo dos mi‑


crocontaminantes orgânicos solúveis em água envolve:
i) em ETA convencionais, a optimização da oxidação quí‑
mica e/ou a adição de PAC (capítulo 4), devendo ter­‑se
em atenção que as matrizes orgânica e inorgânica da
água afectam muito o desempenho destes processos;
ii) no caso de microcontaminantes voláteis, a remoção por
arejamento e/ou adsorção em carvão activado;
iii) em muitas situações, especialmente para microcontami‑
nantes orgânicos resistentes à oxidação química e/ou
mais hidrófilos e de menor peso molecular, é necessário
recorrer a tecnologias não convencionais, como sistemas
GAC/BAC, tecnologias de membranas (NF, RO) ou sis‑
temas híbridos (PAC/UF) (capítulo 5); neste caso, o peso
molecular (i.e., o tamanho) e a carga são factores de‑
terminantes na selecção do adsorvente e da membrana
mais adequados.

24 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


3.4 Contaminantes inorgânicos
No Quadro 7 caracterizam­‑se os contaminantes inorgânicos em
termos das propriedades que condicionam a sua remoção por
UOP físico­‑químicas – a carga do ião, o estado de oxidação do
elemento, se formam precipitados e, em caso afirmativo, quais os
seus compostos mais insolúveis e respectivo valor de pH de so‑
lubilidade mínima (a 25ºC). Discriminam­‑se as propriedades das
espécies com diferentes estados de oxidação e identificam­‑se os
OBP indesejáveis e os seus precursores.
Do Quadro 7 decorre que a estratégia de controlo de metais e
outros contaminantes inorgânicos, em geral, envolve:
i) em ETA convencionais, a sua remoção por precipitação
química, floculação (para os precipitados adquirirem
sedimentabilidade) e decantação, podendo eventualmen‑
te ser necessário ajustar o estado de oxidação (optimi‑
zação da pré­‑oxidação e/ou redução química por adição
de um agente redutor na mistura rápida) e/ou o pH (ao
valor de solubilidade mínima); podem também ser efec‑
tuados polimentos por co­‑precipitação com sais de alu‑
mínio ou ferro e/ou por filtração (capítulo 4);
ii) em alternativa, a sua remoção por permuta iónica (IX)
ou tecnologias de membranas [electrodiálise (ED) ou
RO] (capítulo 5).

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 25
Quadro 7 – Contaminantes inorgânicos.

Características que condicionam a sua remoção


no tratamento

Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação

(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante

predominantes

mínima)
(i) (ii)
Alumínio Iões
Al3+ (pH baixo) +3 S Al(OH)3 (~ 6.3)
Al(OH)2+, … (a pH elevado,
Al13O4(OH)247+ (iii) ressolubiliza­‑se como
Al(OH)4­‑ (pH Al(OH)4–)
elevado)
Amónio/ NH4+ (pH≤7) ­‑3 N (iv) n.a.
amoníaco NH4+>NH3 (7<pH≤9)
NH4+<NH3
(9<pH<12) NH3
(pH≥12)
Antimónio (v) (v) (v) (v)
Arsénio (+3) AsO33­‑, AsO2­‑ +3 (vi) n.a.
Arsénio (+5) AsO4 3­‑
+5 S As2S5 (6­‑7)
FeAsO4 < Mg3(AsO4)2 <
Ca3(AsO4)2 (vii)
Bário Ba2+ +2 S BaSO4 < BaCO3 (vii)
Bromato (viii) BrO3 ­‑
+5 N n.a.
Brometo (ix) Br ­‑
­‑1 S CuBr < PbBr2
Cádmio Cd2+ +2 S Cd(OH)2 (10­‑11) (vii)
Cálcio Ca2+ +2 S CaCO3 (9­‑10)
Chumbo (v) Pb 2+
+2 S PbS (7,5­‑8,5) < PbCO3
(9­‑
­‑9,5) < Pb(OH)2 (9,5)
(vii)
Cianeto CN­‑ ­‑1 (iv) n.a.
Clorato (x) ClO3 ­‑
+5 N n.a.
Cloreto Cl ­‑
­‑1 (xi) n.a.
Clorito (x) ClO2­‑ +3 N n.a.
Cobalto (+2) Co 2+
+2 S Co(OH)2
Cobalto (+3) Co 3+
+3 S Co(OH)3

26 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Características que condicionam a sua remoção
no tratamento

Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação

(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante

predominantes

mínima)
(i) (ii)
Iões

Cobre (+1) Cu+ +1 S Cu2S (8,5) < CuI < CuBr


Cobre (+2) Cu 2+
+2 S CuS < CuO (9­‑10) (vii)
Crómio (+3) (xii) Cr3+ +3 S Cr(OH)3 (8­‑10)
Crómio (+6) (xii) CrO42­‑ +6 N n.a.
Ferro (+2) Fe 2+
+2 S (vi) Fe(OH)2
Ferro (+3) Fe (pH baixo)
3+
+3 S Fe(OH)3 (7­‑8)
Fe(OH)2+, … (iii) (a pH elevado,
Fe(OH)4­‑ (pH ressolubiliza­‑se como
elevado) Fe(OH)4–)
Fluoreto F­‑ ­‑1 S CaF2 < MgF2
Fosfato PO4 3­‑
+5 S Ca10(PO4)6(OH)2 (10)
FePO4 (5) < AlPO4 (6)
Magnésio Mg2+ +2 S Mg(OH)2 (10­‑11)
Manganês (+2) Mn 2+
+2 (vi) MnS < Mn(OH)2 <
MnCO3 (> 9,4)
Manganês (+4) Mn4+ +4 S (vi) MnO2
Manganês (+7) MnO4 ­‑
+7 N n.a.
Mercúrio (+1) Hg +
+1 S Hg2Br2 < Hg2Cl2
Mercúrio (+2) Hg 2+
+2 S HgS
Níquel Ni2+ +2 S Ni3(PO4)2 < NiS <
Ni(OH)2 (10­‑11) < NiCO3
(vii)
Nitrato NO3­‑ +5 N n.a.
Nitrito NO2 ­‑
+3 N n.a.
Potássio K +
+1 N n.a.
Prata Ag+ +1 S Ag2S < Ag3PO4 < AgBr <
Ag2CO3 < AgCl (vii)
Rádio (226, 228) n.a. n.a. N n.a.
Selénio (+4) Se4+ +4 S SeS2 (6­‑7)

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 27
Características que condicionam a sua remoção
no tratamento

Compostos de menor
solubilidade em água
Estado de oxidação

(pH de solubilidade
Forma precipitado?
Contaminante

predominantes

mínima)
(i) (ii)
Iões
Selénio (+6) Se+6 +6 N n.a.
Sódio Na +
+1 N n.a.
Sulfato SO42­‑ +6 S BaSO4 < PbSO4
Sulfito SO32­‑ +4 N n.a.
Sulfureto S 2­‑
­‑2 S CaS (xiii)
Urânio n.a. n.a. N n.a.
Zinco Zn2+ +2 S Zn(OH)2 (9) (vii)
Fontes: Lide (1990), AWWA (1999), Eckenfelder (2000); WHO (2006).

S O contaminante possui essa característica.


N O contaminante não possui essa característica.
n.a. Não aplicável.

(i) Entre parêntesis, indica­‑se o pH de solubilidade mínima do composto apre‑


sentado; usualmente, as solubilidades são menores a pH elevado.
(ii) Usualmente, a co­‑precipitação com ferro e alumínio reduz de forma signifi‑
cativa os residuais, em especial se for seguida de filtração.
(iii) Espécies coagulantes, mononucleares e polinucleares.
(iv) Agente complexante.
(v) Contaminante, em geral, proveniente de corrosão das redes, i.e., não está
presente nas origens em concentrações significativas; não é, portanto, em
regra, controlado no tratamento, mas na rede de distribuição.
(vi) O contaminante é previamente oxidado (e.g., As3+ é oxidado a As5+, Fe2+ a
Fe3+, Mn2+ a Mn4+) antes da precipitação.
(vii) Os arsenatos metálicos (e.g., de cobre, bário, cádmio, chumbo, cobre, zinco,
níquel, prata) são, ainda, menos solúveis em água do que os apresentados
no quadro; no entanto, os catiões não existem em quantidade suficiente
na água de origem, nem são habitualmente adicionados no tratamento da
água.
(viii) OBP da ozonização a pH ≥ 8,7 de águas com concentrações em brometo
superiores a 0,1 mg/L.
(ix) Precursor da formação do OBP bromato (nota h).

28 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


(x) OBP da oxidação com dióxido de cloro; a pH excessivamente ácido predo‑
mina o clorato, a pH elevado e temperatura elevada co­‑existem o clorito e
o clorato. Também podem ocorrer durante a produção e armazenamento de
soluções de hipoclorito.
(xi) Apenas os cloretos de mercúrio e de prata são muito insolúveis, mas, por
razões óbvias, não são precipitados utilizáveis no tratamento de água.
(xii) O contaminante é previamente reduzido (em meio muito ácido) de Cr6+ a Cr3+
antes da precipitação (em meio alcalino).
(xiii) Todos os sulfuretos são muito insolúveis; indicam­‑se, apenas, os sulfuretos
dos catiões mais habitualmente adicionados no tratamento.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTAMINANTES EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO­‑QUÍMICAS QUE CONTROLAM A SUA REMOÇÃO/ELIMINAÇÃO NAS ETA 29
30 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
4 CAPACIDADE E LIMITAÇÕES
DAS ETA NACIONAIS PARA
CONTROLO DAS VÁRIAS
CLASSES DE CONTAMINANTES
4.1 E
 ficiência nominal de tratamento versus
eficiência real
O Quadro 8, o Quadro 9, o Quadro 11 e o Quadro 12 sistematizam
as capacidades e limitações dos diferentes esquemas­‑tipo de ETA
(identificados na capítulo 2), para controlo dos contaminantes
biológicos, orgânicos e inorgânicos, tal como são caracterizados
na capítulo 3. Esta sistematização foi feita com base na eficiência
nominal dos diferentes reagentes e/ou equipamentos disponíveis
em cada esquema‑tipo para remover ou inactivar os contaminan‑
tes em jogo, de acordo com valores publicados relativos a estudos
à escala laboratorial, piloto ou real. Portanto, e embora a gene‑
ralidade dos valores adoptados sejam usados como referência
pela OMS e/ou pela USEPA, os Quadros expressam o que pode
ser na teoria esperado e não obrigatoriamente o que, na prática,
é a eficiência real de cada esquema de tratamento. Assim, a in‑
terpretação dos referidos quadros é meramente indicativa e serve,
sobretudo, como base comparativa para avaliação do desempenho
relativo atribuível a cada esquema­‑tipo.
Como antes se referiu, são múltiplos e inconstantes os factores
que podem afectar as eficiências dos tratamentos físico­‑químicos
e/ou biológicos. Destes factores, pela sua importância, salien‑
tam‑se:
i) a matriz orgânica da água – a concentração (COT, COD)
e natureza (SUVA) da matéria orgânica natural afecta a
remoção de outros contaminantes, e.g., consome oxi‑
dante, compete pelo adsorvente, colmata membranas;
ii) a matriz inorgânica da água – o pH condiciona as reac‑
ções de oxidação, de precipitação, as interacções
adsorbato­‑adsorvente e o desempenho das tecnologias
de membranas; a alcalinidade confere capacidade de
resistência à variação do pH da água e, portanto, afecta
as reacções anteriores bem como a coagulação; a força
iónica da água enfraquece as interacções electrostáticas
(sejam atractivas ou repulsivas), e.g., entre adsorbato­
‑adsorvente, entre soluto­‑membrana;

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 31
iii) as condições de operação das várias UOP (e.g., tipo e
concentração de agente oxidante, precipitante, coagu‑
lante, redutor, floculante e adsorvente; tempo de contac‑
to entre o reagente/adsorvente e o contaminante­‑alvo;
intensidade da mistura; temperatura);
iv) a própria concentração do contaminante a remover (nor‑
malmente, a eficiência de remoção aumenta com a
concentração afluente à UOP, até se atingir um patamar)
(Campinas et al., 2003a).
A eficiência real de cada esquema de tratamento para remoção/
inactivação dos diferentes contaminantes num determinado perí‑
odo de tempo só pode ser avaliada, portanto, com base na mo‑
nitorização adequada de cada contaminante antes e após trata‑
mento.
A desinfecção final não pode ser considerada uma barreira eficaz
para todos os microcontaminantes, particularmente quando é
feita com cloro, como acontece na generalidade das ETA nacionais.
O cloro é usado na desinfecção final nas doses necessárias para
desinfectar a água e estas doses são geralmente minimizadas
de modo a prevenir uma produção excessiva de subprodutos in‑
desejáveis. Portanto, considerou­‑se no Quadro 11 que a oxidação
da generalidade dos microcontaminantes orgânicos na desinfecção
final não é significativa.
A existência de UV na desinfecção final, bem como de filtros GAC
na filtração, não foi considerada neste capítulo, mas antes no
capítulo 5 (tratamento complementar ou alternativo), uma vez que
(conforme mostra o Quadro 1) são tecnologias pouco usadas em
Portugal.
Também as potencialidades da filtração lenta (SF) são analisadas
individualmente no capítulo 5, pela sua elevada especificidade
face à filtração rápida, considerada nos esquemas­‑tipo das ETA
convencionais.
Salienta­‑se, por último, que a informação resumida no Quadro 8,
no Quadro 9, no Quadro 11 e no Quadro 12 reflecte a importân‑
cia capital da existência de barreiras múltiplas para cada conta‑
minante, sendo esta a estratégia determinante de uma maior
segurança no seu controlo.

32 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


4.2 Controlo de contaminantes biológicos
No Quadro 8 apresentam­‑se as capacidades nominais de remoção/
inactivação de contaminantes biológicos esperadas para os es‑
quemas de tratamento identificados no capítulo 2, em função das
características destes contaminantes, que foram apresentadas e
discutidas em 3.2. Note­‑se que estas capacidades podem ser
optimizadas recorrendo à enhanced coagulation. Esta pode per‑
mitir uma eficiência de remoção da generalidade dos agentes
biológicos até 2 log (99%).

Quadro 8 – Capacidade nominal das ETA nacionais para remoção/


inactivação de contaminantes biológicos.

Sequência de tratamento

Contaminante
III.1_sup

III.2_sup
I.1_sup

I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
Cryptosporidium parvum I_sub
­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
(oocistos) (i)
Giardia lamblia (cistos) + ­‑ ­‑ + ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Ovos de helmintas (ii) +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑
Células de heterotróficos
++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
(colónias a 22ºC e 37ºC)
Coliformes ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Enterococos ++ + + ++ + + + + +
Pseudomonas aeruginosa ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Salmonellas ++ ++ + ++ ++ + ++ ++ +
Cianobactérias (iii) + + + +/­‑ +/­‑ +/­‑ + (iv) ­‑/+ (iv) ­‑ (iv)
Enterovírus (v) + ­‑/+ ­‑ + ­‑/+ ­‑ ­‑/+ ­‑/+ ­‑
Fontes: Burg e Borgsteede (1987), AWWA (1999), USEPA (1999b), Velásquez et al. (2004),
Campinas et al. (2003b), WHO (2004), Hall et al (2005), WHO (2006), Rosa et al. (2007).

­‑ O esquema de tratamento não permite controlar o contaminante.


­‑/+ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades (que dependem da existência
de condições específicas para controlo do contaminante), mas muitas limitações.
+/­‑ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades, mas também algumas limitações
no controlo do contaminante.
+ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação).
++ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação) melhor do que o esquema classificado com “+”
(barreiras múltiplas ou UOP mais eficientes).

(i) Os oocistos de C. parvum podem ser satisfatoriamente removidos/inacti‑


vados apenas quando a coagulação/floculação/decantação estão para tal
optimizadas e quando as doses de ozono se encontram devidamente ajus‑

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 33
tadas (CT ≥ 10 mg/L.min; este é um valor apenas indicativo, pois, devido
à discrepância dos resultados publicados, não há consenso quanto à dose
necessária).
(ii) Devido à sua notável resistência aos oxidantes químicos, a eliminação dos
ovos de helmintas dá­‑se sobretudo na coagulação/floculação/decantação e
filtração.
(iii) Como referido em 3.2, as cianobactérias devem ser controladas em ETA
convencionais usando doses baixas de pré­‑oxidante (que evitam a lise celular
mas facilitam a coagulação/floculação), uma etapa eficiente de coagulação/
floculação/decantação e uma gestão cuidada dos ciclos de filtração, das lamas
e da recirculação para a linha de tratamento de água de águas residuais do
tratamento de lamas, especialmente da desidratação (Campinas et al., 2003b;
Hall et al., 2005; Rosa et al., 2007). Células isoladas ou pares de células de
M. aeruginosa são mais difíceis de remover do que cianobactérias coloniais
ou filamentosas (Ribau Teixeira e Rosa, 2006d; Ribau Teixeira e Rosa, 2007).
As cianotoxinas extracelulares são contempladas no Quadro 11.
(iv) As cianobactérias não existem naturalmente em águas subterrâneas, apenas
se estas forem influenciadas por águas superficiais.
(v) Agentes biológicos resistentes ao cloro, pelo que, para a sua eliminação, é
necessária pré­‑oxidação com ozono ou dióxido de cloro a doses adequa‑
das.

4.3 Remoção de contaminantes orgânicos: NOM


e microcontaminantes
Quanto à remoção de matéria orgânica (Quadro 9), decorre de
3.3 que as ETA convencionais têm capacidade para remover
parcialmente a NOM por enhanced coagulation, sendo maior a
remoção da fracção particulada, dos constituintes hidrófobos e de
maior peso molecular da fracção solúvel. O Quadro 10, que apre‑
senta as eficiências mínimas de remoção de COT em ETA con‑
vencionais que tratam água de origem superficial, mostra preci‑
samente que essa remoção é apenas parcial e que diminui com
a alcalinidade da água bruta e aumenta com a própria concentra‑
ção afluente de COT.

34 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Quadro 9 – Capacidade nominal das ETA nacionais para remoção
de matéria orgânica natural.

Sequência de tratamento

Contaminante

III.1_sup

III.2_sup
I.1_sup

I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
I_sub
COT (i)
< 2 mgC/L ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ (ii) (ii) (ii)
≥ 2 mgC/L +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑
COD (i)
< 2 mgC/L ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ (ii) (ii) (ii)
≥ 2 mgC/L ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+
UV254nm (i) + + +/­‑ + + +/­‑ + (ii) + (ii) + (ii)
SUVA (i) (iii)
≤ 2 L/(m.mgC) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
(ii) (ii) (ii)
]2‑3[ L/(m.mgC) ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+ ‑­ /+
≥ 4 L/(m.mgC) +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑ +/­‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999a), USEPA (1999b), WHO (2006), Rosa et al. (2007).

­‑ O esquema de tratamento não permite controlar o contaminante.


­‑/+ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades (que dependem da existência
de condições específicas para controlo do contaminante), mas muitas limitações.
+/­‑ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades, mas também, algumas limitações
no controlo do contaminante.
+ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação).
++ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação) melhor do que o esquema classificado com “+”
(barreiras múltiplas ou UOP mais eficientes).

(i) A enhanced coagulation é muito mais eficiente na remoção de NOM do que


a coagulação habitual (i.e., optimizada para controlo de turvação).
(ii) As águas subterrâneas têm teores muito baixos de NOM (baixos COT, COD,
UV254nm e SUVA).
(iii) Usualmente, a eficiência de remoção de SUVA é intermédia entre a eficiência
de remoção de UV254nm e a de COD.

Quadro 10 – Eficiências mínimas de remoção de COT em ETA


convencionais que tratam água de origem superficial (USEPA, 1999a).

COT da água bruta Alcalinidade da água bruta (mg/L CaCO3)


(mg C/L) 0 a 60 60 a 120 > 120
2,0­‑4,0 35% 25% 15%
4,0­‑8,0 45% 35% 25%
> 8,0 50% 40% 30%

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 35
No caso das sequências de tratamento que possuem pré­‑
­‑oxidação, é possível converter os constituintes da NOM que
absorvem no UV254nm em compostos mais simples. No entanto, a
sequência I.2_sup com cloro ou hipoclorito como pré­‑oxidante
deve ser evitada em águas com COT superior a 2 mgC/L (para
evitar a formação de OBP indesejáveis), sendo a sequência I.1_sup
(se o brometo for inferior a 0,1 mg/L) ou a I.2_sup com dióxido
de cloro mais adequadas.
Como já referido, a fracção mais hidrófila, de menor UV254nm e
menor SUVA tem, na generalidade, menor potencial de formação
de OBP indesejáveis, designadamente trihalometanos (THM), mas
está associada a menor estabilidade da água e é mais difícil de
coagular, sendo, assim, importante controlar a extensão da oxi‑
dação, em função da qualidade da água de origem. Por exemplo,
o ozono tem vantagens na coagulação/floculação para águas de
maior turvação e menor teor de NOM húmica, sendo desvantajo‑
so em águas muito ricas em NOM húmica e com baixo teor de
partículas coloidais.
Uma vez que as ETA que possuem as sequências I.1_sup e
I.2_sup podem utilizar PAC, têm a possibilidade adicional (princí‑
pio das barreiras múltiplas) de controlar a NOM (sobretudo a
fracção mais hidrófoba e de maior peso molecular) por adsorção,
se adicionarem doses elevadas daquele reagente.
As águas subterrâneas apresentam teores muito baixos de NOM,
pelo que, nesta discussão, se salientaram as sequências de tra‑
tamento aplicadas a águas superficiais.
No caso dos microcontaminantes orgânicos solúveis em água
(Quadro 11), decorre de 3.3 que as ETA convencionais têm ca‑
pacidade para remover este tipo de contaminantes somente se a
pré­‑oxidação química estiver optimizada e/ou se for adicionado
PAC (I_sup, II_sup e I_sub). Se os compostos forem voláteis, a
sua remoção pode ser satisfatoriamente conseguida através de
arejamento e/ou da adsorção em carvão activado. Compostos
orgânicos resistentes à oxidação química e/ou mais hidrófilos e
de menor peso molecular já não são removidos eficazmente nos
processos convencionais mesmo optimizados e há que recorrer
a tecnologias não convencionais (capítulo 5).

36 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Quadro 11 – Capacidade nominal das ETA nacionais para remoção
de microcontaminantes orgânicos solúveis em água.

Sequência de tratamento

Contaminante

III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
I_sub
AOC ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Acrilamida (i) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ n.a. n.a. n.a.
Cianotoxinas (ii)
Microcistinas, nodularina,
+/­‑ ­‑/+ ­‑/+ +/­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑/+ (iii) ­‑/+ (iii) ­‑ (iii)
cilindrospermopsina
Saxitoxinas, anatoxina­‑a ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ (iii) ­‑ (iii) ­‑ (iii)
Compostos de sabor e cheiro
+ +/­‑ ­‑/+ +/­‑ ­‑/+ ­‑ +/­‑ (iii) ­‑/+ (iii) ­‑ (iii)
(geosmina, MIB)
Compostos orgânicos voláteis (iv)
BTEX ++ ++ + + + +/­‑ ++ ­‑/+ ­‑
Restantes VOC (Quadro 6) + + + +/­‑ +/­‑ +/­‑ + ­‑ ­‑
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal
Compostos HB, não resistentes à
+/­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑
oxidação química (Quadro 6) (v)
Compostos HB, resistentes à
­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
oxidação química (Quadro 6) (vi)
Epicloridrina (i) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ n.a. n.a. n.a.
Fenol e clorofenóis
Fenol (v) +/­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑
Fenóis clorados (Quadro 6) (vi) ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
Hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos
Benzofluorantenos [b] e [k] (v) +/­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑
Benzo[g,h,i]perileno,
­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
Indeno[1,2,3­‑cd]pireno (vi)
Pesticidas
Pesticidas não resistentes à
oxidação química; HB; neu­‑neg +/­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ +/­‑ ­‑/+ ­‑
(Quadro 6) (v)
Pesticidas resistentes à
oxidação química; HB; neu­‑neg ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
(Quadro 6) (vi)

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 37
Sequência de tratamento

Contaminante

III.1_sup
III.2_sup
I.1_sup
I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
I_sub
Pesticidas resistentes à
oxidação química; HB,HL ou HL; ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
neu (Quadro 6) (vii)
Subprodutos da oxidação
(pré­‑oxidação e desinfecção
final) (viii)
THM, HAA, HAN (Quadro 6) (vi) ­‑/+ ­‑/+ ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ ­‑ ­‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999b), Newcombe e Nicholson (2002), Campinas et al.
(2003b); Newcombe e Nicholson (2004), Hall et al. (2005), Westerhoff et al. (2005), WHO
(2006), Rodriguez et al. (2007), Rosa et al. (2007).

­‑ O esquema de tratamento não permite controlar o contaminante ou não há caracterização


disponível (Quadro 6) do contaminante que permita avaliar a sua remoção.
­‑/+ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades (que dependem da existência
de condições específicas para controlo do contaminante), mas muitas limitações.
+/­‑ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades, mas também algumas limitações
no controlo do contaminante.
+ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação).
++ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação) melhor do que o esquema classificado com “+”
(barreiras múltiplas ou UOP mais eficientes).

HB: hidrófobos; HL: hidrófilos; neg: negativos; neu: neutros; MIB: 2­‑metilisoborneol;
VOC: compostos orgânicos voláteis; THM: trihalometanos; HAA: ácidos haloacéti‑
cos; HAN: haloacetonitrilos; n.a.: não aplicável.
(i) Impureza dos floculantes adicionados; a sua concentração é controlada pela
pureza do reagente comercial.
(ii) A análise apresentada diz respeito às toxinas dissolvidas na água. Contudo,
a oxidação das cianobactérias promove a libertação das endotoxinas para a
água a tratar, as quais poderão ou não ser eficientemente oxidadas. Em geral,
as cianotoxinas são oxidáveis (restantes microcistinas > microcistina­‑LA > ci‑
lindrospermopsina > saxitoxinas e anatoxina­‑a) pelos oxidantes habitualmente
usados nas ETA (em regra, ozono > cloro > permanganato; dióxido de cloro
e monocloramina não são eficazes). No entanto, e além do desempenho da
oxidação ser afectado pelo pH, alcalinidade e NOM da água, as doses (con‑
centração x tempo) necessárias de oxidante são muito superiores às usuais e
daí considerar­‑se que a desinfecção final não controla eficazmente as toxinas.
O mesmo se passa com o PAC – as doses necessárias seriam demasiado
elevadas (e.g., > 20 mg/L para microcistinas). Os carvões comerciais têm,
na generalidade, capacidades de adsorção muito limitadas de cianotoxinas
hidrófilas e com carga positiva (e.g., saxitoxinas e anatoxina­‑a).
(iii) As cianotoxinas, a geosmina e o MIB não existem naturalmente em águas
subterrâneas, apenas são detectados se forem influenciadas por águas
superficiais.

38 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


(iv) Estes compostos são controláveis por arejamento ou desorção gasosa, por
adsorção em PAC ou, no caso do benzeno, por oxidação química. No quadro,
considerou­‑se que na mistura rápida podem existir condições para volatili‑
zação – o que não é necessariamente válido para todas as ETA (depende
do nível de agitação e da transferência água/ar).
(v) Contaminantes controláveis por pré­‑oxidação e/ou por adição de PAC (fenol
menos que os restantes pelo seu carácter HB/HL e menor peso molecular),
desde que as condições de operação estejam optimizadas para este objectivo.
Para ambos os processos, há forte competição com NOM e efeito do pH e
alcalinidade da água.
(vi) Contaminantes controláveis por adição de PAC (THM, HAA e HAN menos
que os restantes pelo seu carácter HB/HL e, em geral, menor peso mole‑
cular), desde que as condições de operação estejam optimizadas para este
objectivo.
(vii) Dos tratamentos previstos no quadro, apenas a adição de PAC pode ter alguma
eficiência que, mesmo assim, é normalmente baixa, dada a hidrofilia, baixo peso
molecular e/ou carga positiva (igual à carga habitual do carvão) do contaminante­‑
­‑alvo.
(viii) Os OBP formam­‑se inevitavelmente na oxidação com cloro (mais na pré­‑
­‑cloragem do que na cloragem para desinfecção final se a NOM houver
sido, parcialmente, removida na ETA), menos na oxidação com ozono (não
significativo em águas com baixo teor de brometo) e não são formados
quando se aplica dióxido de cloro ou permanganato de potássio. Em águas
subterrâneas, uma vez que as concentrações de NOM são inferiores às
de águas superficiais, também são inferiores as concentrações de OBP
formados. Quando formados na desinfecção final, não se aplica a análise
de remoção no tratamento.

4.4 Remoção de contaminantes inorgânicos


No caso dos contaminantes inorgânicos (Quadro 12), decorre de
3.4 que o método convencional de remoção de compostos inor‑
gânicos é a precipitação química, floculação e decantação, po‑
dendo eventualmente ser necessário ajustar o estado de oxidação
(optimização da pré­‑oxidação e/ou redução química por adição
de um agente redutor na mistura rápida) e/ou o pH (ao valor de
solubilidade mínima). Para tal, deve identificar­‑se o composto de
menor solubilidade do elemento, respectivo estado de oxidação
do elemento e pH de solubilidade mínima do composto. A preci‑
pitação é, assim, conseguida por adição do sal com contra‑ião
necessário, não podendo existir complexantes na água (e.g.,
CN­‑ e NH3+) que, caso existam, devem ser removidos previamen‑
te à precipitação química. Por norma, para os metais, a escala
de insolubilidade é a seguinte: sulfuretos > hidróxidos > carbo‑
natos. Usualmente, as solubilidades são inferiores a pH mais
elevado.

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 39
Para se obterem residuais mais baixos, pode ser efectuada a
co‑precipitação com sais de Al3+ ou Fe3+ (os metais adsorvem aos
flocos de Al(OH)3 ou Fe(OH)3) e subsequente filtração.
Também para se obterem residuais baixos, usam­‑se os sais de
carbamato para enhanced precipitation mas, uma vez que são
dispendiosos, o seu uso restringe­‑se a situações em que é ne‑
cessário um polimento posterior à precipitação convencional.
Em ETA que só possuem decantação após a precipitação quími‑
ca obtêm­‑se, em geral, residuais de 1­‑2 mg/L, mas, se existir
também uma filtração, conseguem­‑se valores inferiores a 0,5 mg/L
(Eckenfelder, 2000).
As estações que fazem filtração directa também têm capacidade
para retenção de precipitados, mas há que ter em atenção a
eventual ocorrência da sobrecarga de sólidos nos filtros e o risco
acrescido de “breakthrough” (libertação brusca de elevada quan‑
tidade de material retido no filtro).
Uma alternativa para controlo do manganês que pode existir numa
ETA convencional é a filtração sobre óxido de manganês, i.e.,
manganese greensand filtration – a camada de MnO2 dos filtros
catalisa a oxidação de Mn (II) a Mn (IV) e adsorve o MnO2 for‑
mado (Rosa et al., 2007).
Em qualquer tipo de precipitação, deve ser tida em consideração
a competição dos catiões da água (Ca2+, Mg2+, Na+) pelo agente
precipitante.
Alguns contaminantes inorgânicos podem ser controlados por
redução química (e.g., clorito a cloreto, bromato a brometo)
utilizando sais ferrosos ou carvão activado, enquanto outros
(e.g., azoto amoniacal e nitrito) são controláveis por oxidação
química.
Considerou­‑se no Quadro 12 que o esquema­‑tipo II_sub não
permite a adição de agente precipitante. Esta limitação pode,
eventualmente, ultrapassar­‑se se essa adição puder ser feita na
câmara de pré­‑oxidação e se não houver necessidade de oxidação
ou redução do metal previamente à sua precipitação.

40 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Quadro 12 – Capacidade nominal das ETA nacionais para remoção
de contaminantes inorgânicos.

Sequência de tratamento

Contaminante

III.1_sup

III.2_sup
I.1_sup

I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
I_sub
Alumínio (i) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Amónio/amoníaco (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii) (ii)
Antimónio (iii) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Arsénio (+3) ++ ++ ­‑ + + ­‑ ++ ­‑ ­‑
Arsénio (+5) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Bário ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Boro (iv) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Bromato (v) n.a. n.a. (v) n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.
Brometo ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Cádmio ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Cálcio ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Chumbo (vi) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Cianeto (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii) (vii)
Clorato (viii) n.a. ­‑ n.a. n.a. ­‑ n.a. ­‑ ­‑ n.a.
Cloreto ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Clorito (ix) n.a. + n.a. n.a. +/­‑ n.a. + ­‑ n.a.
Cobalto (+2) (x) ++ ++ + + + +/­‑ ++ ­‑ ­‑
Cobalto (+3) (x) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Cobre (+1) (xi) ++ ++ + + + +/­‑ ++ ­‑ ­‑
Cobre (+2) (xi) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Crómio (+3) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Crómio (+6) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Ferro (+2) (xii) ++ ++ + + + +/­‑ ++ + ­‑
Ferro (+3) (xii) ++ ++ ++ + + + ++ + ­‑
Fluoreto (xiii) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Fosfato ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Magnésio ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Manganês (+2) (xiv) ++ (xv) ++ ­‑/+ + (xv) + ­‑/+ ++ + ­‑
Manganês (+4) (xiv) ++ (xv) ++ ++ + (xv) + + ++ + ­‑
Manganês (+7) (xv) n.a. n.a. (xv) n.a. n.a. n.a. n.a. n.a.
Mercúrio (+1) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 41
Sequência de tratamento

Contaminante

III.1_sup

III.2_sup
I.1_sup

I.2_sup

IV_sup

III_sub
II_sup

II_sub
I_sub
Mercúrio (+2) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Níquel (xvi) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Nitrato ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Nitrito + + + + + + + + +
Potássio ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Prata ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Rádio (226, 228) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Selénio (+4) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Selénio (+6) ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Sódio ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Sulfato ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Sulfito ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Sulfureto ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Urânio ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑
Zinco (xvii) ++ ++ ++ + + + ++ ­‑ ­‑
Fontes: AWWA (1999), Eckenfelder (2000), WHO (2006)

­‑ O esquema de tratamento não permite controlar o contaminante.


­‑/+ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades, mas estas dependem da
existência de condições específicas para controlo do contaminante.
+/­‑ O esquema de tratamento tem algumas potencialidades, mas também, algumas limitações
no controlo do contaminante.
+ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação).
++ O esquema de tratamento permite controlar o contaminante (desde que asseguradas
as devidas condições de operação) melhor do que o esquema classificado com “+”
(barreiras múltiplas ou UOP mais eficientes).

n.a: não aplicável (e.g., quando o contaminante não ocorre em águas de origem,
não é formado na ETA, ou é formado na desinfecção final).
(i) A valores de pH elevados, os residuais podem ser maiores uma vez que se
formam espécies solúveis (no caso do alumínio, Al(OH)4­‑; no caso do ferro,
Fe(OH)4­‑).
(ii) Agente complexante; a cloragem ao ponto crítico (AWWA, 1999) é uma
forma usual de o remover.
(iii) Os processos convencionais de tratamento não removem antimónio. Contudo,
este contaminante não está presente, usualmente, nas origens de água em
concentrações significativas, sendo proveniente dos materiais metálicos da
rede de distribuição. Assim, não é, em geral, controlado pelo tratamento,
mas na rede.

42 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


(iv) Os processos convencionais de tratamento não removem boro. As tecnologias
de permuta iónica e osmose inversa permitem obter remoções significativas
(capítulo 5) mas podem revelar­‑se dispendiosas, pelo que a mistura com
águas de baixas concentrações de boro pode ser a única solução econo‑
micamente viável.
(v) A formação de bromato é, por norma, significativa quando se aplica ozono
a águas com teores em brometo superiores a 0,1 mg/L. A minimização da
concentração de bromato na água tratada é conseguida pela minimização
da sua formação durante o tratamento através da diminuição da dose de
ozono (reduzindo a carência de ozono por remoção de NOM), da realização
da ozonização a pH<8,7 (neste caso, a qualidade da água pode ser compro‑
metida devido à formação de compostos organobromados), da utilização de
outro oxidante (e.g., cloro para águas com baixo teor em NOM ou dióxido
de cloro em caso contrário), ou da adição de amónio (IRAR, 2005).
(vi) Embora tenha origem principalmente na rede de distribuição, quando existe
na água de origem, pode ser removido por precipitação química com sulfureto
de sódio, carbonato de cálcio ou cal.
(vii) Agente complexante; o esquema de tratamento remove­‑o somente se for
feita uma cloragem alcalina (pH 8,4) com doses elevadas do oxidante.
(viii) Uma vez que não existe nenhum processo viável de remoção do clorato da
água, o controlo deste contaminante é feito através da minimização da sua
formação durante a pré­‑oxidação ou desinfecção final com dióxido de cloro,
ou durante a produção e armazenamento de soluções de hipoclorito.
(ix) Caso o clorito resulte da desinfecção final com dióxido de cloro, o controlo
da sua concentração é feito através da minimização da sua formação du‑
rante essa desinfecção. Caso seja formado na oxidação inicial com dióxido
de cloro (ou adicionado como impureza do hipoclorito), pode ser removido
através da redução a cloreto com sais ferrosos (a pH 5­‑7, adicionados na
mistura rápida, ou com PAC (doses elevadas, pH 5,5­‑6,5, por redução e
adsorção).
(x) Removido por precipitação química com cal ou soda cáustica, precipitando
o hidróxido; o hidróxido de Co(III) é mais insolúvel do que o de Co(II), pelo
que a existência de uma oxidação prévia à precipitação origina menores
residuais.
(xi) Quando removido por precipitação química com sulfuretos, a existência de
oxidação prévia à precipitação origina menores residuais, uma vez que o
sulfureto de Cu(II) é mais insolúvel que o de Cu(I).
(xii) Removido por precipitação química com cal ou soda cáustica ou por reacção
com hidróxidos da água, precipitando o hidróxido; o hidróxido de Fe(III) é
mais insolúvel do que o de Fe(II), pelo que a existência de oxidação prévia
origina menor residual; o Fe(II) é muito facilmente oxidado a Fe(III) (e.g., por
arejamento a pH 7,5), desde que não complexado com NOM (fácil oxidação
em águas subterrâneas, necessidade de maior tempo de reacção e/ou de
oxidantes mais fortes em águas superficiais).
(xiii) A precipitação de fluoreto de cálcio na presença de magnésio origina menores
residuais [por adsorção aos flocos de Mg(OH)2].

CAPACIDADE E LIMITAÇÕES DAS ETA NACIONAIS PARA CONTROLO DAS VÁRIAS CLASSES DE CONTAMINANTES 43
(xiv) Não requer adição de agente precipitante, apenas de oxidante. A oxidação
de Mn(II) a Mn(IV) é relativamente lenta a pH < 9, o que justifica a neces‑
sidade de serem usados oxidantes mais fortes (MnO4­‑ ou ozono), ou de se
proceder à adição de uma base antes da filtração. Se se permitir que os filtros
sejam cobertos por MnO2, o Mn(II) adsorve à camada de MnO2, podendo
ser oxidado no filtro com cloro ou permanganato (manganese greensand
filtration).
(xv) A sobredosagem de ozono (> 0,88 mg O3/mg Mn, pH ~ 8) produz água de
cor rosa devido ao MnO4­‑; este contaminante deve ser controlado através
da minimização da sua formação durante a ozonização.
(xvi) Removido por precipitação de Ni(OH)2 (com cal, hidróxido de sódio ou
hidróxidos da água), ou por precipitação com carbonatos (NiCO 3) ou com
fosfatos [Ni3(PO4)2].
(xvii) Removido por precipitação de Zn(OH)2 (com cal, hidróxido de sódio ou
hidróxidos da água); caso se use a cal em águas com elevados teores em
sulfato, precipita também CaSO4.

44 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


5 TRATAMENTO COMPLEMENTAR
OU ALTERNATIVO
Neste capítulo apresentam­‑se as potencialidades de operações e
processos unitários complementares ou alternativos para controlo
dos contaminantes biológicos, orgânicos e inorgânicos analisados
no capítulo 3 (Quadro 13, Quadro 14 e Quadro 15, respectiva‑
mente).
No presente contexto, esta informação é especialmente relevante
para os contaminantes para os quais os esquemas de tratamen‑
to do capítulo 4 não dão resposta satisfatória (e.g., microrganismos
resistentes à oxidação química, NOM e muitos microcontaminan‑
tes solúveis em água) (Quadro 13, Quadro 14 e Quadro 15).
As ressalvas entre eficiência nominal e eficiência real apresenta‑
das em 4.1 (tratamento convencional) aplicam­‑se também ao
tratamento complementar ou alternativo.
Informação detalhada sobre as operações e os processos unitários
analisados pode ser obtida a partir de literatura da especialidade
(e.g., AWWA,1999; Eckenfelder, 2000; Ribau Teixeira e Rosa,
2003; Rosa et al., 2007).
Nos quadros deste capítulo, os filtros GAC e BAC são tratados
em conjunto, uma vez que os filtros GAC são, na prática, BAC,
i.e., possuem actividade biológica, embora não tenham sido pro‑
jectados ou sejam operados como tal. A colonização é especial‑
mente importante quando a água a tratar contém AOC, i.e.,
quando o GAC é precedido de uma ozonização primária ou, mais
eficientemente, de uma ozonização secundária (i.e., após a clari‑
ficação), porque neste caso é possível dosear ozono a água já
clarificada e com menor carência de oxidante.
À semelhança do verificado nas ETA convencionais, qualquer que
seja a tecnologia complementar e/ou alternativa usada (com ex‑
cepção da que envolve a destruição dos contaminantes por oxi‑
dação ou biodegradação), são sempre produzidos resíduos (sóli‑
dos, como carvão e resinas não regeneráveis; líquidos como os
concentrados de flotação e dos sistemas de membranas) ricos
nos contaminantes removidos aos quais deve, portanto, ser dado
o devido tratamento e destino final.

TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO 45


5.1 Controlo de contaminantes biológicos
O controlo de cistos e oocistos de protozoários, ovos de helmintas
e cianobactérias é muito mais eficiente por flotação por ar dissol‑
vido (DAF) do que por sedimentação (mantendo o pré‑tratamento
por coagulação/floculação e a afinação por filtração, mas com
vantagens para ambos) (WHO, 2004; Ribau Teixeira e Rosa,
2006d; Ribau Teixeira e Rosa, 2007). Contudo, a tecnologia de
membranas (desde a microfiltração à osmose inversa) constitui a
barreira mais segura para a remoção deste tipo de contaminantes
e vírus (AWWA, 1999; Ribau Teixeira e Rosa, 2003; WHO,
2004).
Também a utilização da radiação ultravioleta nas condições (e.g.,
baixa turvação) e doses adequadas pode constituir uma barreira
eficaz para agentes biológicos resistentes à oxidação genérica,
com excepção dos ovos de helmintas e adenovírus (WHO,
2004a).
Embora com desempenhos variáveis em função do seu projecto,
operação e características da água, a filtração lenta em areia pode
constituir uma boa barreira contra a generalidade dos contami‑
nantes biológicos, com excepção de vírus (para os quais apre‑
senta eficiências insatisfatórias) (WHO, 2004a).

Quadro 13 – Capacidade nominal de tratamentos complementares


ou alternativos para controlo de contaminantes biológicos.

Tipo de tratamento
Contaminante
C/F+DAF GAC/BAC MF UF,NF,RO UV SF
Protozoários
+/­‑ +/­‑ + + + +
(cistos, oocistos)
Bactérias
­‑ ­‑ + + + +
(forma vegetativa)
Bactérias (endosporos) ­‑ ­‑ + + + +
Ovos de helmintas +/­‑ +/­‑ + + ­‑ +
Cianobactérias + +/­‑ + + (i) +
Enterovírus ­‑ +/­‑ +/­‑ + + +/­‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999b), WHO (2004), Hall et al. (2005), Ribau Teixeira e Rosa
(2006c), Rosa et al. (2007).

­‑ A UOP não permite controlar o contaminante.


+/­‑ A UOP tem potencialidades, mas também algumas limitações no controlo do
contaminante.
+ A UOP permite controlar o contaminante (desde que asseguradas as devidas condições
de operação).

46 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


C/F+DAF: Flotação por ar dissolvido, precedida de coagulação/floculação; GAC:
carvão activado granulado; BAC: carvão activado granulado com actividade biológica;
MF: microfiltração; NF: nanofiltração; RO: osmose inversa; SF: filtração lenta.
(i) A radiação UV não se deve usar no controlo de cianobactérias, porque se pre‑
tende remover e não inactivar células, evitando a rotura destas e a consequente
libertação de cianotoxinas para a água.

5.2 Controlo de NOM e microcontaminantes


orgânicos
Uma vez que, como já referido, a NOM é controlável por sistemas
de carvão activado, um tratamento complementar usado nas ETA
são os sistemas GAC (e.g., por adaptação de filtros de areia já
existentes ou por instalação de novos filtros GAC ou de dupla
camada, uma das quais é GAC), nos quais a NOM é adsorvida
(sobretudo a fracção mais hidrófoba). Estes sistemas GAC são
inevitavelmente colonizados e, ao fim de algum tempo em ope‑
ração, transformam­‑se em sistemas BAC que também remove
NOM por biodegradação dos constituintes do AOC. Os sistemas
GAC/BAC são, portanto, na generalidade, mais eficientes do que
PAC e sem a desvantagem da elevada produção de lamas. Os
sistemas de membranas (NF ou RO) ou os sistemas híbridos
(PAC/UF) são tecnologias alternativas para controlo eficaz de
NOM (Quadro 14).
À semelhança da enhanced coagulation/floculação/decantação,
também a DAF precedida de enhanced coagulation/floculação
permite controlar parcialmente a NOM, sobretudo a fracção par‑
ticulada e os constituintes mais hidrófobos e de maior peso
molecular.
Em relação aos microcontaminantes orgânicos solúveis em água,
nos casos em que os processos de tratamento convencionais
não são capazes de os controlar, em especial os resistentes à
oxidação química e/ou mais hidrófilos e de menor peso molecu‑
lar, é necessário recorrer a tecnologias não convencionais, como
sistemas GAC/BAC, tecnologias de membranas (NF, RO), ou
sistemas híbridos (PAC/UF) (Quadro 14). Neste caso, o peso
molecular (i.e., o tamanho) e a carga são factores determinantes
na selecção do adsorvente e da membrana mais adequados.
A radiação UV e a filtração lenta (que pode ser operada como
biofiltração) também permitem controlar NOM e microcontami‑
nantes orgânicos solúveis em água.

TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO 47


A remoção de óleos e gorduras é preferencialmente realizada com
recurso à flotação. As macrogotas de óleo são separáveis da água
por flotação natural ou flotação por dispersão de ar. As microemul‑
sões de óleo (que, regra geral, contêm também pequenas partí‑
culas) requerem, habitualmente, flotação por ar dissolvido, prece‑
dida por coagulação/floculação, ou por micro ou ultrafiltração.

Quadro 14 – Capacidade nominal de tratamentos complementares


ou alternativos para controlo de contaminantes orgânicos (NOM
e microcontaminantes orgânicos solúveis em água).

Tipo de tratamento
Contaminante C/F+ GAC/ MF UF NF RO PAC/ UV SF
DAF BAC (i) UF
NOM +/­‑ + +/­‑ +/­‑ + + + +/­‑ +/­‑
AOC ­‑ + ­‑ ­‑ +/­‑ + ­‑/+ +/­‑ +
Acrilamida ­‑ ­‑ ­‑ ­‑ ­‑/+ + ­‑ ­‑
Cianotoxinas
Microcistinas, nodularina, + (ii) + ­‑ ­‑ + + + +/­‑
cilindrospermopsina
Saxitoxinas, anatoxina­‑a + (ii) +/­‑ ­‑ ­‑ + + +/­‑ +/­‑
Compostos de sabor e cheiro ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + +
(geosmina, MIB)
Compostos orgânicos voláteis
BTEX + (iii) + ­‑ ­‑ ­‑/+ + +/­‑ +/­‑
Restantes VOC (Quadro 6) + (iii) + ­‑ ­‑ ­‑/+ + +/­‑ ­‑
Desreguladores endócrinos, produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal
Compostos HB, não ­‑/+ +/­‑ ­‑ ­‑ + + + +/­‑
resistentes à oxidação
química (Quadro 6)
Compostos HB, resistentes ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + ­‑
à oxidação química
(Quadro 6)
Epicloridrina ­‑/+ ­‑ ­‑ ­‑/+ + ­‑ ­‑
Fenol e clorofenóis
Fenol ­‑ + ­‑ ­‑ +/­‑ + +/­‑ + +/­‑
Fenóis clorados (Quadro 6) ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + + ­‑
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
Benzofluorantenos [b] e [k] ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + ­‑
Benzo[g,h,i]perileno, ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + ­‑
Indeno[1,2,3­‑cd]pireno

48 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Tipo de tratamento
Contaminante C/F+ GAC/ MF UF NF RO PAC/ UV SF
DAF BAC (i) UF
Pesticidas
Pesticidas não resistentes à ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + ­‑
oxidação química; HB;
neu­‑neg (Quadro 6)
Pesticidas resistentes ­‑/+ + ­‑ ­‑ + + + ­‑
à oxidação química; HB;
neu­‑neg (Quadro 6)
Pesticidas resistentes ­‑ +/­‑ ­‑ ­‑ + + + ­‑
à oxidação química; HB,HL
ou HL; neu (Quadro 6)
Subprodutos da oxidação
THM ­‑/+ + ­‑ ­‑ +/­‑ + + ­‑
HAA e HAN ­‑ + ­‑ ­‑ +/­‑ + + ­‑
Fontes: AWWA (1999), USEPA (1999a), Newcombe e Nicholson (2002), Newcombe e Nicholson
(2004), Hall et al. (2005), WHO (2006), Rosa et al. (2007), Ribau Teixeira e Rosa (2006a, b,
c, d, 2007).

­‑ A UOP não permite controlar o contaminante.


­‑/+ A UOP tem poucas potencialidades e muitas limitações no controlo do contaminante.
+/­‑ A UOP tem potencialidades, mas também algumas limitações no controlo do
contaminante.
+ A UOP permite controlar o contaminante (desde que asseguradas as devidas condições
de operação).
Não há informação disponível.

C/F+DAF: Flotação por ar dissolvido precedida de (enhanced) coagulação/flo‑


culação; GAC: carvão activado granulado; BAC: carvão activado granulado com
actividade biológica; MF: microfiltração; UF: ultrafiltração; NF: nanofiltração; RO:
osmose inversa; SF: filtração lenta; PAC/UF: processo híbrido de ultrafiltração com
adição de carvão activado em pó; THM: trihalometanos; HAA: ácidos haloacéticos;
HAN: haloacetonitrilos.
(i) Neste trabalho, para efeitos de distinção dos desempenhos da nanofiltração
e da osmose inversa, considerou­‑se que o limite de exclusão molecular das
membranas de NF é de ca. 200 g/mol (embora existam membranas comerciais
de NF mais apertadas, e.g., 150 g/mol).
(ii) Se forem removidas como endotoxinas, i.e., enquanto estão no interior das
células das cianobactérias. As toxinas extracelulares não são removidas
apreciavelmente (­‑/+).
(iii) Existem condições para volatilização na C/F+DAF.

TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO 49


5.3 Controlo de contaminantes inorgânicos
O tratamento complementar para contaminantes inorgânicos (Qua‑
dro 15) consiste na sua remoção por tecnologias de membranas
(NF, RO ou ED), permuta iónica, sistemas GAC/BAC ou usando
outros adsorventes, e.g., alumina activada. A nanofiltração con‑
trola de forma eficaz iões multivalentes, radionuclídeos e parcial‑
mente os iões monovalentes. Os sistemas de membranas não
apresentam os efeitos negativos de competição entre contami‑
nantes a remover encontrados noutras tecnologias. No entanto,
têm em comum com os sistemas de permuta iónica a desvantagem
de aumentarem a agressividade da água, tanto mais quanto me‑
nor for a dureza final da água (membranas e IX), ou maior for o
teor em cloreto (IX aniónica). Os filtros de carvão activado (GAC/
BAC) apresentam potencialidades para metais e radionuclídeos
(desempenho muito dependente do volume de água tratada e da
composição da água – pH, matéria orgânica e outros iões incluin‑
do os da dureza, além do tipo e granulometria do carvão usado).
Os filtros GAC/BAC podem ainda controlar outros contaminantes
inorgânicos por adsorção (e.g., amoníaco) e/ou por redução quí‑
mica (e.g., clorito a cloreto, bromato a brometo). A adsorção a
alumina activada é também usualmente eficaz na remoção de
selénio, fluoreto e arsénio, apresentando também capacidades
para outros metais.

Quadro 15 – Tratamento complementar ou alternativo para controlo


de contaminantes inorgânicos.

Tipo de tratamento
Contaminante Adsorção a
NF RO ED IX GAC/BAC
alumina activada
Alumínio + + + + +/­‑
Amónio/amoníaco + (i) (ii) +
Antimónio + +
Arsénio (+3) + + + + +/­‑ +
Arsénio (+5) + + + + +/­‑ +
Bário + + + +
Bromato + + + +/­‑
Brometo +/­‑ + + +
Cádmio + + + + +/­‑ +/­‑
Cálcio + + + +
Cianeto +/­‑ + +
Chumbo + + + +/­‑

50 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


Tipo de tratamento
Contaminante Adsorção a
NF RO ED IX GAC/BAC
alumina activada
Clorato + + +
Cloreto +/­‑ + +
Clorito + + + + (iii)
Cobalto + + + +
Cobre (+1) +/­‑ + + + +/­‑ +/­‑
Cobre (+2) + + + + +/­‑ +/­‑
Crómio (+3) + + + + +/­‑
Crómio (+6) + + + + +/­‑ +/­‑
Ferro (+2) + + + + +/­‑
Ferro (+3) + + + + +/­‑
Fluoreto +/­‑ + + + +/­‑ +
Fosfato + + + +
Magnésio + + + +
Manganês + + + +
Mercúrio +/­‑ + + +/­‑ +/­‑
Níquel (+1) + + + +/­‑ +/­‑ +/­‑
Níquel (+2) + + + + +/­‑
Nitrato + + + +
Nitrito + + + +
Potássio +/­‑ + + +
Prata +/­‑ + + + +/­‑
Rádio + + + + +
Selénio (+4) + + + + +
Selénio (+6) + + + + +
Sódio +/­‑ + + +
Sulfato + + + +
Sulfito + + + +
Sulfureto + + + +
Urânio + + + + +
Zinco + + + + +/­‑ +/­‑
Fontes: AWWA (1990), AWWA (1999), Eckenfelder (2000), Marhaba (2000), STUK (2000),
Dianati­‑Tilaki e Ramazan Ali (2003), Huang et al. (2004), Kanokkantapong e Jiradecha (2005),
WHO (2006), Genç­‑Fuhrman et al. (2007), Rosa et al. (2007).

+/­‑ A UOP permite controlar parcialmente o contaminante (desde que asseguradas as


devidas condições de operação).
+ A UOP permite controlar o contaminante (desde que asseguradas as devidas condições
de operação).
Não há informação disponível.

TRATAMENTO COMPLEMENTAR OU ALTERNATIVO 51


DAF: Flotação por ar dissolvido; GAC: carvão activado granulado; BAC: carvão
activado granulado com actividade biológica; NF: nanofiltração; RO: osmose inversa;
ED: electrodiálise; IX: permuta iónica.
(i) Quando na forma protonada (NH4+).
(ii) O ião amónio, NH4+, é removido por IX com clinoptilolite; regeneração com
cal (pH 12), sendo o NH3 formado removido por desorção gasosa.
(iii) Se o afluente tiver cloro livre, em contacto com carvão activado forma­‑se
clorato, pelo que se devem usar tempos de contacto curtos e evitar usar água
afluente clorada.

52 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


6 CONTINGÊNCIAS
Mesmo na ausência de eventos agudos de poluição, alguns pa‑
râmetros podem variar rápida e, por vezes, imprevisivelmente,
tendo as ETA que apresentar capacidade de resposta para con‑
seguirem controlar os contaminantes nessas condições.
Os eventos climáticos como chuvas intensas, destratificação das
massas de água, forte e longa insolação são causadores de
grandes variações de concentração dos parâmetros turvação,
ferro, manganês e cianobactérias. A sobreexploração dos aquífe‑
ros costeiros pode igualmente originar alterações significativas da
qualidade da água (e.g., condutividade, salinidade) que, neste
caso, já não ocorrem em períodos de tempo tão curtos, fazendo­
‑se sentir os seus efeitos durante mais tempo.
Para a detecção atempada de variações bruscas de turvação é
essencial a existência de monitorização contínua deste parâmetro
(com equipamento instalado em linha na água bruta).
Na ocorrência de variações significativas de turvação afluente à
ETA, é necessário proceder à realização de testes laboratoriais
de coagulação/floculação/decantação (testes “jar”) para ajuste e
optimização das doses de coagulantes e floculantes às novas
características da água a tratar. Os coagulantes polinucleares
(policloretos de alumínio e/ou ferro) apresentam maior facilidade
de adaptação a variações de turvação, além de serem menos
sensíveis a variações de temperatura e não baixarem o pH da
água (o que evita eventuais necessidades de remineralização da
água para a tornar não agressiva).
Usualmente, se a turvação afluente aumenta, também aumenta a
eficiência da sua remoção no tratamento, mas há que ter em
atenção que o residual pode, também, sofrer um aumento (Cam‑
pinas et al., 2003a).
A alcalinidade da água é um factor que determina a facilidade de
remoção da turvação. Em águas com elevada turvação e baixa
alcalinidade, é mais fácil remover turvação (mecanismos de ad‑
sorção/neutralização) do que em águas com baixa turvação e
elevada alcalinidade (mecanismos de sweep coagulation), ou com
elevada turvação e elevada alcalinidade. A situação na qual as
eficiências de remoção são menores corresponde a águas com
turvação e alcalinidade baixas (AWWA, 1999).
Desde que as condições de operação sejam optimizadas, todas
as ETA com tratamento convencional por coagulação/floculação/

CONTINGÊNCIAS 53
decantação/filtração podem controlar eficazmente eventos de
aumento brusco de turvação da água bruta. Porém, ETA que
possuem filtração não precedida de sedimentação têm grandes
limitações neste tipo de controlo, respondendo apenas eficazmen‑
te a baixas turvações afluentes.
Após chuvas intensas ou nas épocas do ano em que há destra‑
tificação das massas de água, deve ser efectuada uma monitori‑
zação mais frequente dos parâmetros ferro e manganês para
detecção de aumentos significativos das suas concentrações.
Também neste caso é necessária uma rápida resposta das ETA,
verificando­‑se que as estações que possuem pré­‑oxidação se‑
guida de coagulação/floculação/decantação e filtração têm,
geralmente, capacidade para controlar eficazmente eventos de
aumento brusco daqueles contaminantes.
No caso do ferro, pode ser utilizado qualquer oxidante químico
para este controlo, desde que sejam adicionadas as doses mí‑
nimas necessárias para oxidar estequiometricamente o metal
(Quadro 16).
No caso do manganês, a reacção de oxidação é mais lenta, sen‑
do necessário proporcionar na ETA um tempo de reacção ade‑
quado antes da remoção do precipitado de MnO2. Devem ser
utilizados oxidantes mais fortes (e.g., ozono, permanganato). As
doses a aplicar são indicadas no Quadro 16. É preciso evitar
sobredosagens, especialmente de ozono, porque seriam respon‑
sáveis pela oxidação do manganês a permanganato, que confere
cor rosa à água. Conforme referido anteriormente, a filtração
sobre óxido de manganês (manganese greensand filtration) é
também eficaz para o controlo do manganês.

Quadro 16 – Doses mínimas de oxidante necessárias para controlo


de ferro e manganês (AWWA, 1999).

Dose mínima de
Dióxido Permanganato
oxidante para Cloro Ozono Oxigénio
de cloro de potássio
controlo de Fe e Mn
Fe (II) (mg/mgFe) 0,62 1,21 0,43 0,14 0,94
Mn (II) (mg/mgMn) 0,77 2,45 0,88 0,29 1,92

A condutividade e a salinidade não são controladas em ETA con‑


vencionais, principalmente porque estes parâmetros estão asso‑
ciados a iões monovalentes (e.g., Na+, K+, Cl­‑), cujos sais são, em
geral, muito solúveis e difíceis de precipitar. Como tal, quando os

54 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


teores destes contaminantes se tornam elevados nas origens de
água (devido, por exemplo, à sobreexploração de aquíferos cos‑
teiros), é necessário recorrer a tecnologias de permuta iónica (com
ciclo H+) ou a tecnologias de membrana (electrodiálise, osmose
inversa, ou nanofiltração quando as remoções parciais são sufi‑
cientes – capítulo 5). Finalmente, é de referir os problemas de
formação de bromato que podem surgir em ETA com ozonização,
uma vez que a intrusão salina (responsável por valores elevados
de condutividade/salinidade) está, regra geral, associada a eleva‑
das concentrações de brometo.
A possibilidade da ocorrência de cianotoxinas na água bruta –
como consequência do crescimento exacerbado (florescência) de
cianobactérias (vulgarmente designadas por microalgas azuis­‑
­‑verdes) em corpos de água superficiais utilizados para captação
de água para consumo humano –, é um sério problema com que
muitas ETA se defrontam. O problema associado à eventual liber‑
tação para a água das cianotoxinas intracelulares é agravado
pelas limitações dos processos convencionais na remoção eficaz
das cianotoxinas dissolvidas na água.
Além da necessidade de eliminar as cianotoxinas da água, há que
ter em conta que a presença de cianobactérias na água bruta
pode influenciar o desempenho da ETA, onde podem ocorrer:
– Perturbações na coagulação e decantação, provocadas
por alterações do pH da água, devido à actividade me‑
tabólica, e à capacidade de flutuação de muitas ciano‑
bactérias;
– Colmatação acelerada dos filtros;
– Perturbação das condições de oxidação/desinfecção;
– Incremento da formação de subprodutos da oxidação;
– Aumento dos teores de NOM e AOC na água tratada.
Assim, e dada a rapidez com que frequentemente as florescências
se desenvolvem, é imperativo que as ETA em questão disponham
de sistemas de alerta e de barreiras à passagem das cianotoxinas
para os sistemas de distribuição.
A OMS (Chorus e Bartram, 1999) sugere a implementação de um
Programa de Vigilância com três níveis de alerta (Quadro 17),
baseados nos resultados da monitorização do número de células
e da concentração de microcistina­‑LR (MC­‑LR) na água bruta, a
que devem corresponder outros tantos níveis de resposta definidos
em função da capacidade das ETA para eliminar cianotoxinas.

CONTINGÊNCIAS 55
Quadro 17 – Níveis de alerta propostos pela OMS
(Chorus e Bartram, 1999).

Cianobactérias Clorofila­‑a MC­‑LR


Alerta Monitorização
(cel./mL) (mg/L) (mg/L)
Vigilância semanal 1 a 2.000 <1 ­‑
Nível 1 > semanal < 100.000 < 50 <1
2 frequente > 100.000 > 50 >1

A detecção de um número relativamente baixo de células na água


bruta (nível de vigilância) indicia a possibilidade de se estar no
início do desenvolvimento de florescências. Se o número de cé‑
lulas encontrado corresponde ao nível 1, a frequência de monito‑
rização deve ser aumentada, de modo a que se possam detectar
mudanças rápidas na massa de cianobactérias. A entrada no
nível 2 requer uma resposta adequada da ETA que garanta a
remoção eficaz das cianotoxinas da água (e.g., tratamento com
carvão activado). Na ausência desta capacidade, há que imple‑
mentar um plano de contingência, que poderá passar pela mu‑
dança da captação ou, na ausência desta possibilidade, deverá
ser avaliada a necessidade da implementação de um plano de
emergência, que, em última instância, poderá implicar a interrup‑
ção do fornecimento de água.
Nas ETA, a eliminação das células de cianobactérias ocorre, so‑
bretudo, na coagulação/floculação/decantação. Contudo, tanto
nesta etapa, como nas restantes operações/processos utilizadas
para remover material em suspensão (e.g., filtração ou flotação
por ar dissolvido em alternativa à decantação), a eficiência de
remoção de células é variável devido a grandes diferenças de
tamanho, forma e composição das diferentes espécies, bem como
das condições de operação dos sistemas de tratamento e das
características físico­‑químicas da água – em particular, tempera‑
tura, pH, força iónica e teor em NOM –, que afectam a eficiência
da coagulação, i.e., da destabilização das cianobactérias.
A pré­‑oxidação, geralmente utilizada de forma a facilitar a coagu‑
lação da NOM, pode também incrementar a remoção de células
cianobacterianas presentes. Não devem ser utilizadas sobredo‑
sagens de oxidante de forma a evitar a libertação das cianotoxinas
para a água em tratamento. Embora o ozono ou o cloro possam
degradar algumas cianotoxinas (e.g., microcistinas), tal não ocor‑
re de modo a garantir uma eliminação satisfatória das cianotoxinas
nas doses mais elevadas normalmente utilizadas. Por esta razão,
sempre que existam cianobactérias na água bruta, devem ser

56 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM


usadas baixas concentrações ou um oxidante mais fraco, e é
desaconselhada a pré‑oxidação com doses elevadas de oxidante,
excepto se a jusante existir uma barreira para a remoção eficaz
de cianotoxinas (e.g., carvão activado).
Mesmo quando as ETA são eficazes na remoção de células de
cianobactérias, deve garantir­‑se a eliminação de toxinas extrace‑
lulares, presentes na água bruta ou libertadas pelas células para
a água durante o tratamento.
Dos processos disponíveis, a adsorção em carvão activado, a
nanofiltração e o processo PAC/UF são os processos mais efica‑
zes para a remoção de cianotoxinas da água.
O carvão activado pode ser utilizado na forma de pó (PAC) ou
granulado (filtração em GAC/BAC). Em qualquer dos casos, e
para além das condições de operação (e.g., tipo e dose de PAC,
taxa de filtração em GAC/BAC), a eficácia de remoção é influen‑
ciada pela concentração e tipo de cianotoxina (e.g., regra geral a
eficiência de remoção da anatoxina­‑a é menor que a das micro‑
cistinas), das propriedades do carvão (e.g., granulometria, poro‑
sidade, carga superficial) e da composição da água (e.g., teor em
NOM, pH, dureza).
Como se depreende do Quadro 15, a nanofiltração é a barreira
mais segura à passagem de cianotoxinas, uma vez que, quando
adequadamente operada, não é influenciada pelas características
da água.

CONTINGÊNCIAS 57
58 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
7 NOTAS FINAIS
O presente Guia Técnico constitui uma sistematização geral dos
principais aspectos relacionados com as capacidades e limitações
das ETA portuguesas no controlo de contaminantes que possam
ocorrer nas origens de água destinadas à produção de água para
consumo humano. Mesmo assim, ficaram evidenciadas a multipli‑
cidade, complexidade e variabilidade dos problemas associados
ao tratamento de água para consumo humano, cuja solução se
encontra, em muitos casos, ainda condicionada por limitações do
actual estado do conhecimento sobre as características e os
comportamentos de muitos contaminantes.
As limitações das diferentes tecnologias para responder a cada
um e à globalidade destes problemas tornam imperativa a exis‑
tência de barreiras múltiplas à passagem de contaminantes para
a rede pública, particularmente dos que podem pôr em perigo a
vida ou a saúde do consumidor. A implementação de planos de
segurança da água, tal como é proposto pela OMS (WHO, 2006),
responde a este imperativo e constitui uma metodologia cuja
aplicação adequada garante o efectivo controlo da qualidade da
água, da captação à torneira do consumidor.

NOTAS FINAIS 59
60 O TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO FACE À QUALIDADE DA ÁGUA DE ORIGEM
BIBLIOGRAFIA
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Treatment – A handbook of community water supplies. 4.ª ed.
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BIBLIOGRAFIA 65
O tratamento de água para
consumo humano face à qualidade
da água de origem
O conhecimento das capacidades e limitações das
estações de tratamento de água (ETA) é fundamental
para garantir a boa qualidade da água para consumo
humano e a protecção da saúde pública.
Neste sentido, o IRAR e o LNEC resolveram publicar
o presente Guia Técnico sobre o tratamento da água
para consumo humano face á qualidade da água de
origem, que tem como objectivo sistematizar as capa-
cidades e limitações das ETA existentes em Portugal
no controlo de contaminantes que possam ocorrer nas
origens de água destinadas à produção de água para
consumo humano.

Centro Empresarial Torres de Lisboa


Rua Tomás da Fonseca, Torre G, 8.º andar - 1600-209 LISBOA

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