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LÍNGUA PORTUGUESA

FONOLOGIA
• Trissílaba: 3 sílabas.
1 FONOLOGIA Por exemplo: palhaço (pa-lha-ço).
Para escrever corretamente, dentro das normas aplicadas pela gra- • Polissílaba: 4 ou mais sílabas.
mática, é preciso estudar o menor elemento sonoro de uma palavra: o Por exemplo: dignidade (dig-ni-da-de,), particularmente
fonema. A fonologia, então, é o estudo feito dos fonemas. (par-ti-cu-lar-men-te).
Os fonemas podem ser classificados em vogais, semivogais e Pela tonicidade, ou seja, pela força com que a sílaba é falada e sua
consoantes. Esta qualificação ocorre de acordo com a forma como posição na palavra:
o ar passa pela boca e/ou nariz e como as cordas vocais vibram para • Oxítona: a última sílaba é a tônica.
produzir o som deles. • Paroxítona: a penúltima sílaba é a tônica.
Cuidado para não confundir fonema com letra! A letra é a repre- • Proparoxítona: a antepenúltima sílaba é a tônica.
sentação gráfica do fonema. Uma palavra pode ter quantidades dife-
A identificação da posição da sílaba tônica de uma palavra é feita
rentes de letras e fonemas.
de trás para frente. Desta forma, uma palavra oxítona possui como
Por exemplo: sílaba tônica a sílaba final da palavra.
Manhã: 5 letras Para realizar uma correta divisão silábica, é preciso ficar atento
m/ /a/ /nh/ /ã/: 4 fonemas às regras.
• Vogais: existem vogais nasais, quando ocorre o movimento do • Não separe ditongos e tritongos.
ar saindo pela boca e pelo nariz. Tais vogais acompanham as Por exemplo: sau-da-de, sa-guão.
letras m e n, ou também podem estar marcadas pelo til (~). No • Não separe os dígrafos CH, LH, NH, GU, QU.
caso das vogais orais, o som passa apenas pela boca.
Por exemplo: ca-cho, a-be-lha, ga-li-nha, Gui-lher-me,
Por exemplo: que-ri-do.
Mãe, lindo, tromba → vogais nasais • Não separe encontros consonantais que iniciam sílaba.
Flor, calor, festa → vogais orais Por exemplo: psi-có-lo-go, a-glu-ti-nar.
• Semivogais: os fonemas /i/ e /u/ acompanhados por uma vogal • Separe as vogais que formam um hiato.
na mesma sílaba da palavra constituem as semivogais. O som Por exemplo: pa-ra-í-so, sa-ú-de.
das semivogais é mais fraco do que o das vogais. • Separe os dígrafos RR, SS, SC, SÇ, XC.
Por exemplo: automóvel, história. Por exemplo: bar-ri-ga, as-sa-do, pis-ci-na, cres-ço,
• Consoantes: quando o ar que sai pela boca sofre uma quebra ex-ce-der.
formada por uma barreira como a língua, os lábios ou os dentes. • Separe as consoantes que estejam em sílabas diferentes.
São elas: b, c, d, f, g, j, k, l, lh, m, n, nh, p, rr, r, s, t, v, ch, z. Por exemplo: ad-jun-to, subs-tan-ti-vo, prag-má-ti-co.
Lembre-se de que estamos tratando de fonemas, e não de letras.
Por isso, os dígrafos também são citados como consoantes: os dígrafos
são os encontros de duas consoantes, também chamados de encontros
consonantais.
O encontro de dois sons vocálicos, ou seja, vogais ou semivogais,
chama-se encontro vocálico. Eles são divididos em: ditongo, tritongo
e hiato.
• Ditongo: na mesma sílaba, estão uma vogal e uma semivogal.
Por exemplo: pai (A → vogal, I → semivogal).
• Tritongo: na mesma sílaba, estão juntas uma semivogal, uma
vogal e outra semivogal.
Por exemplo: Uruguai (U → semivogal, A → vogal, I
→ semivogal).
• Hiato: são duas vogais juntas na mesma palavra, mas em sílabas
diferentes.
Por exemplo: juíza (ju-í-za).

1.1 Partição silábica


Quando um fonema é falado em uma só expiração, ou seja, em
uma única saída de ar, ele recebe o nome de sílaba. As palavras podem
ser classificadas de diferentes formas, de acordo com a quantidade de
sílabas ou quanto à sílaba tônica.
Pela quantidade de sílabas, as palavras podem ser:
• Monossílaba: 1 sílaba.
Por exemplo: céu (monossílaba).
• Dissílaba: 2 sílabas.
Por exemplo: jovem (jo-vem).

30
L
P
O
LÍNGUA PORTUGUESA R

2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA 2.3.5 Acentuação dos hiatos


Acentuam-se os hiatos quando forem formados pelas letras I ou
Antes de começar o estudo, é importante que você entenda quais
U, sozinhas ou seguidas de S:
são os padrões de tonicidade da Língua Portuguesa e quais são os
encontros vocálicos presentes na Língua. Assim, fica mais fácil enten- • Por exemplo: saúva, baú, balaústre, país.
der quais são as regras e como elas surgem. Exceções:
• Seguidas de NH: tainha.
2.1 Padrões de tonicidade • Paroxítonas antecedidas de ditongo: feiura.
• Palavras oxítonas: última sílaba tônica (so-fá, ca-fé, ji-ló). • Com o I duplicado: xiita.
• Palavras paroxítonas: penúltima sílaba tônica (fer-ru-gem,
a-du-bo, sa-ú-de). 2.3.6 Ditongos abertos
• Palavras proparoxítonas: antepenúltima sílaba tônica (â-ni-mo, Serão acentuados os ditongos abertos ÉU, ÉI e ÓI, com ou sem
ví-ti-ma, ó-ti-mo). S, quando forem oxítonos ou monossílabos.
• Por exemplo: chapéu, réu, tonéis, herói, pastéis, hotéis, lençóis
2.2 Encontros vocálicos etc.
• Hiato: encontro vocálico que se separa (pi-a-no, sa-ú-de). Com a reforma ortográfica, caiu o acento do ditongo aberto em
• Ditongo: encontro vocálico que permanece unido na sílaba posição de paroxítona.
(cha-péu, to-néis). • Por exemplo: ideia, onomatopeia, jiboia, paranoia, heroico etc.
• Tritongo: encontro vocálico que permanece unido na sílaba
(sa-guão, U-ru-guai). 2.3.7 Formas verbais com hífen
Para saber se há acento em uma forma verbal com hífen, deve-se
2.3 Regras gerais analisar o padrão de tonicidade de cada bloco da palavra:
• Ajudá-lo (oxítona terminada em “a” → monossílabo átono).
2.3.1 Quanto às proparoxítonas
• Contar-lhe (oxítona terminada em “r” → monossílabo átono).
Acentuam-se todas as palavras proparoxítonas:
• Convidá-la-íamos (oxítona terminada em “a” → proparoxítona).
• Por exemplo: ví-ti-ma, â-ni-mo, hi-per-bó-li-co.

2.3.2 Quanto às paroxítonas 2.3.8 Verbos “ter” e “vir”


Quando escritos na 3ª pessoa do singular, não serão acentuados:
Não se acentuam as paroxítonas terminadas em A, E, O (seguidas
ou não de S) M e ENS. • Ele tem/vem.
• Por exemplo: castelo, granada, panela, pepino, pajem, imagens Quando escritos na 3ª pessoa do plural, receberão o acento
etc. circunflexo:
Acentuam-se as terminadas em R, N, L, X, I ou IS, US, UM, • Eles têm/vêm.
UNS, PS, Ã ou ÃS e ditongos. Nos verbos derivados das formas apresentadas anteriormente:
Por exemplo: sustentável, tórax, hífen, táxi, álbum, bíceps, prin- • Acento agudo para singular: contém, convém.
cípio etc. • Acento circunflexo para o plural: contêm, convêm.
Fique de olho em alguns casos particulares, como as palavras ter-
minadas em OM, ON, ONS. 2.3.9 Acentos diferenciais
• Por exemplo: iândom; próton, nêutrons etc. Alguns permanecem:
Com a reforma ortográfica, deixam de se acentuar as paroxítonas • Pôde/pode (pretérito perfeito/presente simples).
com OO e EE: • Pôr/por (verbo/preposição).
• Por exemplo: voo, enjoo, perdoo, magoo, leem, veem, deem, • Fôrma/forma (substantivo/verbo ou ainda substantivo).
creem etc. Caiu o acento diferencial de:
• Para/pára (preposição/verbo).
2.3.3 Quanto às oxítonas
• Pelo/pêlo (preposição + artigo/substantivo).
São acentuadas as terminadas em:
• Polo/pólo (preposição + artigo/substantivo).
• A ou AS: sofá, Pará.
• Pera/pêra (preposição + artigo/substantivo).
• E ou ES: rapé, café.
• O ou OS: avô, cipó.
• EM ou ENS: também, parabéns.

2.3.4 Acentuação de monossílabos


Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em A, E O,
seguidos ou não de S.
• Por exemplo: pá, pó, pé, já, lá, fé, só.

31
REDAÇÃO
REDAÇÃO

1 REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS R


E
D
A questão discursiva (redação) assusta muitos candidatos. Afinal, escrever de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, respeitando A
as inúmeras regras gramaticais, é tarefa que exige muita atenção. Além disso, é necessário que o candidato apresente bons argumentos dentro
de uma estrutura na qual as ideias tenham coesão e façam sentido (coerência). Por isso, é importante que a redação seja estudada e treinada ao
longo da preparação para o concurso almejado.

1.1 Por que tenho que me preparar com antecedência para a redação?
Quando a redação (questão discursiva) é solicitada, em geral, é uma etapa eliminatória (se o candidato não alcançar a nota mínima, é
eliminado do concurso). Então, por ter peso significativo, podendo colocá-lo na lista de classificação ou tirá-lo dela, merece atenção especial.
Entretanto, não se pode dar início ao estudo para concurso pela redação. É necessário que o aluno tenha conhecimento das regras gramaticais,
da estrutura sintática das orações e dos períodos, dos elementos de coesão textual, ou seja, é essencial uma maturidade para, então, produzir
um texto. Além do domínio da norma culta, deve-se dedicar à disciplina de Atualidades, que, muitas vezes, já vem prevista no edital. Quem
tem conhecimento do assunto se sente mais confortável para escrever.

1.2 Os primeiros passos


Antes de começar a praticar a produção de textos, é importante ler o edital de abertura do concurso (quando já tiver sido publicado; quando
não, leia o último) para entender os critérios de avaliação da sua prova discursiva e sobre qual assunto o tema versará.
Veja aguns exemplos:
CONCURSO EDITAL – PROVA DISCURSIVA ASSUNTO COBRADO - TEMA A PROPOSTA

SEGURANÇA PÚBLICA:
Os assuntos que o tema pode POLÍCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
A prova discursiva valerá 20,00 pontos abordar foram disponibilizados Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.
DEPEN - 2015

e consistirá da redação de texto no edital. Atualidades: 1 Sistema > Disserte a respeito da segurança como condição
dissertativo, de até 30 linhas, acerca de justiça criminal. 2 Sistema para o exercício da cidadania. [valor: 25,50 pontos]
de tema de atualidades, constantes do prisional brasileiro. 3 Políticas > Dê exemplos de ação do Estado na luta pela
subitem 22.2 deste edital. públicas de segurança pública e segurança pública. [valor: 25,50 pontos]
cidadania. > Discorra acerca da ausência do poder público e a
presença do crime organizado. [valor: 25,00 pontos]

Com base na coletânea e nos conhecimentos sobre


PC-PR - 2018

o tema, redija um texto dissertativo-argumentativo


A Redação, com no mínimo 15 e no Tema da atualidade, ou seja,
que coloque em discussão a importância da correta
máximo 25 linhas, versará sobre um pode ser cobrado qualquer
emissão e decodificação da mensagem, bem como
tema da atualidade assunto.
o repasse dessa mensagem ao interlocutor, seja na
modalidade escrita ou oral.

Para o cargo de Perito Criminal Considerando que o texto precedente tem caráter
Federal, a prova discursiva, de caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
PF-2018 PERITO

eliminatório e classificatório, valerá O tema tratará das matérias de acerca do impacto da LRF na gestão pública,
CRIMINAL

13,00 pontos e consistirá da redação conhecimentos específicos do abordando, necessariamente, os seguintes


de texto dissertativo, de até 30 linhas, cargo, ou seja, será um assunto aspectos:
a respeito de temas relacionados aos do conteúdo programático. 1. o processo de planejamento; [valor: 4,10 pontos]
conhecimentos específicos para cada 2. as receitas e a renúncia fiscal; [valor: 4,10 pontos]
cargo/área. 3. as despesas com pessoal. [valor: 4,20 pontos]

O COMBATE ÀS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO NAS


RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS
A prova discursiva valerá 20,00 Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
PRF - 2018

pontos e consistirá da redação de O tema tratará de algum 1. medidas adotadas pela PRF no combate às
texto dissertativo, de até 30 linhas, a assunto relacionado ao infrações; [valor: 7,00 pontos]
respeito de temas relacionados aos conteúdo programático. 2. ações da sociedade que auxiliem no combate às
objetos de avaliação. infrações; [valor: 6,00 pontos]
3. atitudes individuais para a diminuição das
infrações. [valor: 6,00 pontos]

Prova Dissertativa (Parte II), de


caráter eliminatório e classificatório,
PM-SP – 2019 -

visa avaliar a capacidade do


SOLDADO

candidato de produzir uma redação Não foi informado o tema nem


A popularização da internet ameaça o poder de
que atenda ao tema e ao gênero/ o tipo de texto (dissertativo,
influência da televisão?
tipo de texto propostos, além de seu narrativo, descritivo).
domínio da norma culta da língua
portuguesa e dos mecanismos de
coesão e coerência textual;
A partir disso, o aluno deve direcionar a sua leitura para temas da atualidade, para matéria do conteúdo programático (conhecimentos
específicos) ou para assunto relacionado ao cargo ou à instituição a que está concorrendo. É crucial que conheça a banca examinadora e que

109
REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
tenha contato com as provas anteriores a fim de observar o perfil das Desde os primórdios da humanidade; fechar com chave de ouro.
propostas de redação. a) Evite a construção de períodos longos: pode prejudicar a
Em geral, as bancas de concursos públicos exigem textos disserta- clareza textual. Além disso, procure escrever na ordem direta.
tivos e apontam qual assunto o tema abordará (atualidades ou conteúdo b) Respeite as margens da folha de redação: não ultrapasse o
programático). Quando isso não ocorrer, deve-se levar em consideração limite estipulado na folha do texto definitivo.
o perfil da banca e as provas anteriores para o mesmo cargo.
c) Não use corretivo: se errar alguma palavra, risque (com um
1.3 Orientações para o texto definitivo traço penas) e prossiga. Não use parênteses nem a palavra
“digo”.
a) Não use a 1ª pessoa do singular: os textos formais exigem a
A sociadade sociedade deve se conscientizar do seu papel.
impessoalização da linguagem. Isso significa que, às vezes, é
necessário omitir os agentes do discurso e as diversas vozes a) Evite algarismos, a não ser que se trate de anos, décadas,
que compõem um texto. Então, empregue a terceira pessoa séculos ou referências a textos legais (artigos, decretos, etc.).
do singular ou do plural. b) A letra deve ser legível: pode ser letra cursiva ou de imprensa.
Ex.: Eu acredito que a pena de morte deve ser aplicada em casos Não se esqueça de fazer a distinção entre maiúscula e
de crimes hediondos. (Incorreto) minúscula.
Acredita-se que a pena de morte deve ser aplicada em casos de c) Cuidado com a separação silábica.
crimes hediondos. (Correto) Translineação: é a divisão das palavras no fim da linha. Eva em
Devemos analisar alguns fatores que contribuem para esse pro- conta não apenas critérios de correção gramatical, mas também reco-
blema. (incorreto) mendações estilísticas (estética textual).
Alguns fatores que contribuem para esse problema devem ser 1) Não se isola sílaba forma apenas por uma vogal;
analisados. (Correto) 2) Não se isola elemento cacofônico;
3) Na partição de palavras hifenizadas, recomenda-se repetir o
Atenção! hífen na linha seguinte.

A primeira pessoa do plural deve ser um sujeito socialmente


considerado, como em “Nós (brasileiros) devemos entender Maria foi secretária, ministra e era muito a-
que o voto é uma importante ferramenta para se alcançar uma miga do antigo presidente. Quando entrou na dis-
mudança.” Não empregue de forma indiscriminada. puta eleitoral, todos nós esperávamos que, lançando-
se candidata, facilmente ganharia as eleições.
INADEQUADO
Como impessoalizar a linguagem do texto
dissertativo-argumentativo?
▷ Oculte o agente: Maria foi secretária, ministra e era muito
amiga do antigo presidente. Quando entrou na disputa
Para deixar o discurso mais objetivo, prefira por ocultar o agente
eleitoral, todos nós esperávamos que, lançando-
sempre que possível. Isso pode ser feito por meio de expressões como: é
-se candidata, facilmente ganharia as eleições.
importante, é preciso, é indispensável, é urgente, é crucial, é necessário,
ADEQUADO
já que elas não revelam o agente da ação:
Ex.: É necessário discutir alguns aspectos relacionados a essa
temática. a) Não use as palavras generalizadoras, afinal sempre há uma
exceção, um exemplo contrário ou algo assim.
É essencial investir em educação para minimizar tais problemas.
“Todos jogam lixo no chão” ou “Ninguém faria isso” ou “Isso
▷ Indetermine o sujeito:
jamais vai acontecer, é impossível.”
Indeterminar o sujeito também é uma estratégia de ocultar o agente
a) Não invente dados estatísticos, pesquisas, mentiras
da ação verbal. A melhor forma de empregar essa técnica é por meio
convincentes.
do pronome indeterminador do sujeito (se).
b) Não use a ironia. A ironia é uma figura de linguagem que não
Muito se tem discutido sobre a redução da maioridade penal.
deve ser utilizada no texto dissertativo argumentativo. Nele
Acredita-se que a desigualdade social contribui para o aumento nada deve ficar subentendido. A escrita deve ser sempre clara,
da violência. sem nada oculto, sem gracinha e de forma argumentativa.
▷ Empregue a voz passiva:
c) Não é uma boa ideia usar palavras rebuscadas. Seu texto pode
Na voz passiva, o sujeito da oração torna-se paciente, isto é, ele ficar sem fluência e clareza, dificultando a compreensão do
sofre a ação expressa pelo fato verbal. Empregá-la é um recurso que corretor. Lembre-se: linguagem formal não é sinônimo de
também oculta o agente da ação. linguagem complicada.
Ex.: Devem ser analisados alguns fatores que contribuem para o Hodiernamente, mister, mormente, dessarte, etc.
aumento da violência.
a) Evite estrangeirismo: empregar palavras estrangeiras em meio
Medidas devem ser tomadas para a pacificação da sociedade. à nossa língua de forma desnecessária. Não é necessário fazer
a) Jamais se dirija ao leitor: o leitor é o examinador e o candidato isso se há no português uma palavra correspondente que pode
não deve estabelecer um diálogo com ele. ser usada.
b) Não use gírias; clichês, provérbios e citações sem critério. Ex.: Stress em vez de estresse
você pode acabar errando o autor da expressão (o que pega b) Não se utilize de pergunta retórica.
muito mal), ou até mesmo usá-la fora de contexto, o que pode
Pergunta retórica: é uma interrogação que não tem como objetivo
direcionar a sua redação para um lado que você não quer. Os
obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão do indivíduo sobre
ditados populares empobrecem o texto. Os examinadores não
determinado assunto.
gostam de ver o senso comum se repetindo.

110
REDAÇÃO
tais textos também provocam a reflexão sobre outros aspectos do pro-
1.4 Temas e textos motivadores blema e jamais devem ser ignorados.
R
E
Os textos motivadores - um grupo de textos apresentados junto à D
A
proposta de redação - têm a função de situar o candidato acerca do tema 1.5 Título
proposto, fornecendo elementos que possam ajudá-lo a refletir sobre
O título só é obrigatório se for solicitado nas instruções da prova
o assunto abordado. Tais textos servem para estimular ideias para o
de redação.
desenvolvimento do tema e são úteis por ajudar a manter o foco temático.
Pode ser que a Banca examinadora deixe o espaço para o título,
O papel dos textos motivadores da prova de redação é o de motivar,
nesse caso, ele também é obrigatório.
inspirar e contextualizar o candidato em relação ao tema proposta.
Se puser o título e não for obrigatório (não for exigido), não rece-
Esses textos não estão ali por acaso, então devem ser utilizados, e
berá mais pontos por isso e só terá pontos descontados se contiver
podem evitar que o candidato escreva uma redação genérica. Contudo,
algum erro nele.
não podem ser copiados, pois as provas que contêm cópias terão as
linhas desconsideradas e podem, quando em excesso, levar à nota zero. Caso se esqueça de colocar título quando for obrigatório, a redação
não será anulada, mas poderá ter pontos (poucos) descontados.
Então, a intenção não é que o aluno reproduza as informações
contidas nos textos motivadores. O que se deseja é que o candidato leia Dicas:
os textos, interprete-os e reelabore-os, interligando-os à sua discussão. ▪ Nunca utilize tema como título;
Assim sendo, o ideal é retirar de cada texto motivador as ideias prin- ▪ Não coloque ponto final;
cipais e que podem ser utilizadas na sua produção escrita. ▪ Não escreva todas as palavras com letra maiúscula;
Leia todos com atenção e não se esqueça de procurar estabelecer uma ▪ Não pule linha depois do título;
relação entre eles, ou seja, busque os pontos em comum, e os conecte ▪ Construa-o quando terminar o texto.
de uma maneira que defina argumentos consistentes para sua redação.
Escreva as principais ideias em forma de tópicos e com as suas palavras. 1.6 O texto dissertativo
1.4.1 Tipos de textos motivadores Dissertar significa expor algum assunto. Dependendo da maneira
como o esse assunto seja abordado, a dissertação poder ser expositiva
Os textos motivadores podem ser de vários tipos
ou argumentativa.
▷ Matérias jornalísticas/ Reportagens
▷ Dissertação expositiva: apresenta informações sobre assuntos,
Um dos tipos mais comuns de textos motivadores são as matérias expõe, explica, reflete ideias de modo objetivo, imparcial. O autor
jornalísticas. Para que haja maior entendimento sobre elas, análise: é o porta-voz de uma opinião, ou seja, a intenção é expor fatos,
O que acontece? dados estatísticos, informações científicas, argumentos de auto-
Com quem acontece? ridades etc. Este tipo de texto pode ter duas abordagens: Estudo
Em que lugar acontece? de Caso (em que é apresentada uma solução para a situação hipo-
Quando acontece? tética apresentada) e Questão Teórica (em que é preciso apresentar
conceitos, normas, regras, diretrizes de um determinado conteúdo).
De que modo acontece?
Vejamos um exemplo do tipo expositivo.
Por que acontece?
A forma temporária como tratam os vídeos criados reflete outro
Para que acontece?
aspecto característico desses apps. Em oposição à noção de que tudo
▷ Charges/Tirinhas o que é postado na internet fica registrado para a eternidade (e tem
As charges ou as tirinhas são uma forma curta e, muitas vezes, potencial de se transformar em viral), os aplicativos querem passar a
descontraída de apresentar informações relevantes para a produção sensação de efêmero. Quem não viu a transmissão ao vivo dificilmente
do texto. Repare nelas: terá nova chance. Nisso, eles se assemelham a outro app de sucesso,
Os personagens; o Snapchat, serviço de troca de mensagens pelo qual o conteúdo é
O ambiente; destruído segundos após ser recebido pelo destinatário.
(VE JA, 2015, p. 98)
O assunto principal;
A linguagem utilizada (formal, informal, com figuras de lingua- ▷ Dissertação argumentativa: defende uma tese (ideia, ponto de vista)
gem ou não, com marcas de regionalismo ou não etc.). por meio de estratégias argumentativas. Tem a intenção de persuadir
(convencer) o interlocutor. Em geral, há o predomínio da linguagem
▷ Gráficos
denotativa, de conectores de causa-efeito, de verbos no presente.
Os gráficos possibilitam uma leitura mais ágil das informações.
Vejamos agora um exemplo do tipo argumentativo.
Ao se deparar com eles, observe o seguinte:
Fazer pesquisa crítica envolve difíceis decisões de cunho ético e
O título;
político a fim de que, não importa quais sejam os resultados de nossos
As informações na horizontal e na vertical; estudos, nosso compromisso com os sujeitos pesquisados seja mantido.
A forma como os índices foram representados (colunas, fatias etc.); A questão é complexa por causa das múltiplas realidades dos múltiplos
O uso de cores diferentes (caso haja); participantes envolvidos na pesquisa naturalística da visa social. Por
A fonte da qual as informações foram coletadas. exemplo, no projeto de pesquisa de referência neste artigo, havia um
componente que envolvia a observação participante da sala de aula,
▷ Imagens
isto é, a observação à procura das unidades e elementos significativos
Muitas vezes as imagens podem vir sem nenhuma palavra. Se para os próprios participantes da situação.
isso ocorrer, note: (KLEIMAN, 2001, p. 49)
O que é a imagem (foto, quadro etc.)?
Quando o texto dissertativo se dedica mais a expor ideias, a fazer
Quem é o autor dela? que o leitor/ouvinte tome conhecimento de informações ou interpre-
Qual é o assunto principal? tações dos fatos, tem caráter expositivo e podemos classificá-lo como
O que está sendo retratado? expositivo. Quando as interpretações expostas pelo texto dissertativo
Há marcas temporais ou regionais na imagem? vão mais além nas intenções e buscam explicitamente convencer o
Se o aluno não souber nada sobre a temática apresentada, os textos leitor/ouvinte sobre a validade dessas explicações, classifica-se o texto
motivadores podem ser um ótimo suporte. Além dos dados expostos, como argumentativo (COROA , 2008b, p. 121).

111
REDAÇÃO PARA CONCURSOS PÚBLICOS
Vale mencionar que, muitas, vezes, nos editais, não fica claro se o ▷ Desenvolvimento: é a parte da redação em que há o desenvolvi-
texto será expositivo ou argumentativo. Quando isso ocorrer, o can- mento da ideia apresentada no primeiro parágrafo. Vai ocorrer a
didato deve analisar as provas anteriores para traçar o perfil da banca comprovação da tese por meio de argumentos – texto argumentativo
examinadora. Mas não se preocupe, pois a estrutura de ambos é igual, – ou a exposição de informações a fim de esclarecer um assunto –
ou seja, os dois tipos de texto devem conter introdução, desenvolvi- texto expositivo.
mento e conclusão. Além disso, no primeiro parágrafo, deve haver a Estrutura dos parágrafos de desenvolvimento:
apresentação da ideia central que será desenvolvida. Tópico frasa l: apresentação da ideia-núcleo que será
Veja as propostas a seguir: desenvolvida(introdução);
Foi recentemente publicado no Americam Journal of Preventive Comprovação da ideia-núcleo (desenvolvimento);
Medicine um estudo com adultos jovens, de 19 a 32 anos de idade, Fechamento do parágrafo (conclusão).
apontando que quanto maior o tempo dispendido em mídias sociais de
Jamais construa parágrafos com apenas um período. Os parágrafos
relacionamento, maior a sensação de solidão das pessoas. Além disso,
de desenvolvimento devem ter, no mínimo, três períodos.
esse estudo demonstrou também que quanto maior a frequência de
uso, maior a sensação de isolamento social. ▷ Conclusão: consiste no fechamento das ideias apresentadas. Não
(Adaptado de: ESCOBAR, Ana. Disponível em: http://g1.globo.com) podem ser expostos argumentos novos nesse parágrafo. O que ocorre
é a retomada da ideia central (tese ou tema) e a apresentação das
Com base nas ideias do texto acima, redija uma dissertação sobre
considerações finais.
o tema:
Isolamento social na era da comunicação virtual
A partir da proposta apresentada, pode-se inferir que o examina-
dor quer saber o ponto de vista (opinião) do candidato em relação ao
assunto. A intenção é que seja apontado o que ele pensa a respeito do
tema, e não que ele apresente de forma objetiva informações a fim de
esclarecer determinado assunto. Então, resta claro que a dissertação
terá caráter argumentativo.
Agora veja a proposta seguinte:
A segurança jurídica tem muita relação com a ideia de respeito à
boa-fé. Se a administração adotou determinada interpretação como a
correta e a aplicou a casos concretos, não pode depois vir a anular atos
anteriores, sob o pretexto de que os mesmos foram praticados com base
em errônea interpretação. Se o administrado teve reconhecido determi-
nado direito com base em interpretação adotada em caráter uniforme
para toda a administração, é evidente que a sua boa-fé deve ser respei-
tada. Se a lei deve respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada, por respeito ao princípio da segurança jurídica, não é
admissível que os direitos do administrado fiquem flutuando ao sabor
de interpretações jurídicas variáveis no tempo.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Direito administrativo. p. 85 (com adaptações).
Considerando que o texto apresentado tem caráter estritamente
motivador, elabore uma dissertação a respeito dos atos administrativos
e da segurança jurídica no direito administrativo brasileiro, abordando,
necessariamente, os seguintes aspectos:
1. os elementos de validade do ato administrativo e os critérios
para sua convalidação; [valor: 14,00 pontos]
2. distinção entre ato administrativo nulo, anulável e inexistente;
[valor: 10,00 pontos]
3. o controle exercido de ofício pela administração pública sobre
os seus atos e o dever de agir e de prestar contas. [valor: 14,00 pontos]
Considerando o tema proposto e os tópicos apresentados, pode-se
perceber que o candidato deve, necessariamente, produzir um texto
expositivo, já que o examinador avaliará o conhecimento técnico dele
sobre o assunto, e não o seu ponto de vista, a sua opinião. Para isso,
deverá fundamentar suas ideias por meio de leis, doutrina, jurispru-
dência, citação de uma autoridade no assunto.

1.7 Estrutura do texto dissertativo


Não há dúvida de que todo texto dissertativo (expositivo ou argu-
mentativo) deve ter início, meio e fim, ou seja, introdução, desenvol-
vimento e conclusão.
▷ Introdução: a importância da introdução é evidente, pois é ela que
determina o tom do texto, o encaminhamento do desenvolvimento
e sua estrutura. Então, ela deve ser vista como um compromisso que
o autor assume com o restante do desenvolvimento. Nela haverá a
contextualização do assunto que será desenvolvido ao longo do texto,
ou seja, apresentação da ideia que será defendida (argumentação)
ou esclarecida (exposição).

112
RACIOCÍNIO LÓGICO-
MATEMÁTICO
ANÁLISE COMBINATÓRIA
Portanto:
1 ANÁLISE COMBINATÓRIA O valor numérico de n, para que a equação seja verdadeira, é
As primeiras atividades matemáticas estavam ligadas à contagem igual a 3.
de objetos de um conjunto, enumerando seus elementos.
Vamos estudar algumas técnicas para a descrição e contagem de 1.3 Princípio fundamental
casos possíveis de um acontecimento. da contagem (PFC)
O PFC é utilizado nas questões em que os elementos podem ser
1.1 Definição repetidos ou quando a ordem dos elementos fizer diferença no resultado.
A análise combinatória é utilizada para descobrir o número de É uma das técnicas mais importantes e uma das mais utilizadas
maneiras possíveis para realizar determinado evento, sem que seja nas questões de análise combinatória.
necessário demonstrar essas maneiras.
Quantos são os pares formados pelo lançamento de dois dados Fique ligado
simultaneamente?
Esses elementos são os dados das questões, os valores
No primeiro dado, temos 6 possibilidades – do 1 ao 6 – e, no envolvidos.
segundo dado, também temos 6 possibilidades – do 1 ao 6.
Juntando todos os pares formados, temos 36 pares (6 ⋅ 6 = 36).
Consiste de dois princípios: o multiplicativo e o aditivo. A diferença
(1,1), (1,2), (1,3), (1,4), (1,5), (1,6), dos dois consiste nos termos utilizados durante a resolução das questões.
(2,1), (2,2), (2,3), (2,4), (2,5), (2,6), Multiplicativo: usado sempre que na resolução das questões utili-
(3,1), (3,2), (3,3), (3,4), (3,5), (3,6), zarmos o termo e. Como o próprio nome já diz, faremos multiplicações.
(4,1), (4,2), (4,3), (4,4), (4,5), (4,6), Aditivo: usado quando utilizarmos o termo ou. Aqui realizaremos
(5,1), (5,2), (5,3), (5,4), (5,5), (5,6), somas.
(6,1), (6,2), (6,3), (6,4), (6,5), (6,6). Quantas senhas de 3 algarismos são possíveis com os algarismos
Logo, temos 36 pares. 1, 3, 5 e 7?
Não há necessidade de expor todos os pares formados, basta que Como nas senhas os algarismos podem ser repetidos, para formar
saibamos quantos pares existem. senhas de 3 algarismos temos a seguinte possibilidade:
Imagine se fossem 4 dados e quiséssemos saber todas as quadras SENHA = Algarismo E Algarismo E Algarismo
possíveis, o resultado seria 1.296 quadras. Um número inviável de ser Nº de SENHAS = 4 ⋅ 4 ⋅ 4 (já que são 4 os algarismos que temos
representado. Por isso utilizamos a análise combinatória. na questão, e observe o princípio multiplicativo no uso do e). Nº
Para resolver as questões de análise combinatória, utilizamos algu- de SENHAS = 64.
mas técnicas, que veremos a seguir.
Quantos são os números naturais de dois algarismos que são
1.2 Fatorial múltiplos de 5?
É comum, nos problemas de contagem, calcularmos o produto de Como o zero à esquerda de um número não é significativo,
uma multiplicação cujos fatores são números naturais consecutivos. para que tenhamos um número natural com dois algarismos,
Fatorial de um número (natural) é a multiplicação deste número por ele deve começar com um dígito de 1 a 9. Temos, portanto, 9
todos os seus antecessores, em ordem, até o número 1 ⋅ possibilidades.
Para que o número seja um múltiplo de 5, ele deve terminar em 0
n! = n (n-1)(n-2)…3.2.1, sendo n ∈ N e n > 1. ou 5, portanto, temos apenas 2 possibilidades. A multiplicação de
9 por 2 nos dará o resultado desejado. Logo: são 18 os números
naturais de dois algarismos e múltiplos de 5.
Por definição, temos:
▪ 0! = 1 1.4 Arranjo e combinação
▪ 1! =1
Duas outras técnicas usadas para resolução de problemas de análise
▪ 4! = 4 ⋅ 3 ⋅ 2 ⋅ 1 = 24 combinatória, sendo importante saber quando usa cada uma delas.
▪ 6! = 6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2 ⋅ 1 = 720 Arranjo: usado quando os elementos (envolvidos no cálculo) não podem
▪ 8! = 8 ⋅ 7 ⋅ 6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2 ⋅ 1 = 40.320 ser repetidos E quando a ordem dos elementos faz diferença no resultado.
Observe que: A fórmula do arranjo é:
▪ 6! = 6 ⋅ 5 ⋅ 4!
▪ 8! = 8 ⋅ 7 ⋅ 6! n!
An,p =
Para n = 0, teremos: 0! = 1. (n ⋅ p)!
Para n = 1, teremos: 1! = 1.
Qual deve ser o valor numérico de n para que a equação Sendo:
(n + 2)! = 20 ⋅ n! seja verdadeira? ▪ n = todos os elementos do conjunto.
O primeiro passo na resolução deste problema consiste em escre- ▪ p = os elementos utilizados.
vermos (n + 2)! em função de n!, em busca de uma equação que
pódio de competição
não mais contenha fatoriais:
Combinação: usado quando os elementos (envolvidos no cálculo)
(n+2) (n+1) n! = 20n!, dividindo por n!, tem os:
não podem ser repetidos E quando a ordem dos elementos não faz
(n+2) (n+1) = 20, fazendo a distributiva. diferença no resultado.
n² + 3n + 2 = 20 ⇒ n² + 3n - 18 = 0 A fórmula da combinação é:
Conclui-se que as raízes procuradas são -6 e 3, mas como não
existe fatorial de números negativos, já que eles não pertencem ao n!
conjunto dos números naturais, ficamos apenas com a raiz igual a 3. Cn,p =
p! ⋅ (n – p)!

120
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Sendo: Resumo:
n = a todos os elementos do conjunto.
p = os elementos utilizados. ANÁLISE
COMBINATÓRIA
salada de fruta.
R
1.5 Permutação Os elementos L
podem ser M
1.5.1 Permutação simples repetidos?

Seja E um conjunto com n elementos. Chama-se permutação sim- NÃO SIM


ples dos n elementos, qualquer agrupamento (sequência) de n elementos
distintos de E em outras palavras. Permutação é a organização de A ordem dos Princípio
elementos faz a Fundamental da
todos os elementos
diferença? Contagem (PFC)
Podemos, também, interpretar cada permutação de n elementos
NÃO SIM
como um arranjo simples de n elementos tomados n a n, ou seja, p = n.
e = multiplicação
Nada mais é do que um caso particular de arranjo cujo p = n. Combinação Arranjo ou = adição
Logo: SIM
Assim, a fórmula da permutação é:
PERMUTAÇÃO
n! São utilizados
n!
An,p = An,p = todos os
p! ⋅ (n – p)! (n – p)!
Pn = n! elementos?
P n = n!

Para saber qual das técnicas utilizar, faça duas, no máximo, três
Quantos anagramas tem a palavra prova? perguntas para a questão, como segue:
A palavra prova tem 5 letras, e nenhuma repetida, sendo assim Os elementos podem ser repetidos?
n = 5, é:
Se a resposta for sim, deve-se trabalhar com o PFC; se a resposta
P5 = 5! for não, passe para a próxima pergunta.
P5 = 5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2 ⋅ 1 A ordem dos elementos faz diferença no resultado da questão?
P5 = 120 anagramas
Se a resposta for sim, trabalha-se com arranjo; se a resposta for
não, trabalha-se com as combinações (todas as questões de arranjo
Fique ligado podem ser feitas por PFC).
Vou utilizar todos os elementos para resolver a questão?
As permutações são muito usadas nas questões de anagramas.
Anagramas são palavras formadas com todas as letras de uma
(opcional)
palavra, desde que essas novas palavras tenham sentido ou não Para fazer a 3ª pergunta, dependerá se a resposta da 1ª for não e a
na linguagem comum. 2ª for sim; se a resposta da 3ª for sim, trabalha-se com as permutações.

1.5.3 Permutações circulares e


1.5.2 Permutação com elementos repetidos combinações com repetição
Na permutação com elementos repetidos, usa-se a seguinte
fórmula: Casos especiais dentro da análise combinatória
Permutação circular: usada quando houver giro horário ou anti-
-horário. Na permutação circular o que importa são as posições, não
n! os lugares.
k,y...,w
Pn =
k! ⋅ y! ⋅ ... ⋅ w!

PCn = (n - 1)!
Sendo:
n = o número total de elementos do conjunto.
Sendo:
k, y, w = as quantidades de elementos repetidos.
n = o número total de elementos do conjunto.
Quantos anagramas tem a palavra concurso? Pc = permutação circular.
Observe que na palavra concurso existem duas letras repetidas, Combinação com repetição: usada quando p > n ou quando a
C e O, e cada uma duas vezes, portanto, n = 8, k = 2 e y = 2, sendo: questão deixar subentendido que pode haver repetição.
8!
P8 =
2,2
(n + p – 1)!
2! ⋅ 2! An,p = C(n + p – 1,p) =
p! ⋅ (n – 1)!
8 ⋅ 7 ⋅ 6 ⋅ 5 ⋅ 4 ⋅ 3 ⋅ 2!
P8 =
2,2
(Simplificando o 2!) Sendo:
2 ⋅ 1 ⋅ 2!
n = o número total de elementos do conjunto.
20.160 p = o número de elementos utilizados.
P8 =
2,2

2 Cr = combinação com repetição.


P8 = 10.080 anagramas
2,2

121
CONJUNTOS
Conjunto vazio: simbolizado por Ø ou {}, é o conjunto que não
2 CONJUNTOS possui elemento.
Conjunto dos estados brasileiros que fazem fronteira com o Chile:
2.1 Definição M = Ø.
Os conjuntos numéricos são advindos da necessidade de contar ou Conjunto universo: em inúmeras situações é importante estabele-
quantificar as coisas ou os objetos, adquirindo características próprias cer o conjunto U ao qual pertencem os elementos de todos os conjuntos
que os diferem. Os componentes de um conjunto são chamados de ele- considerados. Esse conjunto é chamado de conjunto universo. Assim:
mentos. Costuma-se representar um conjunto nomeando os elementos ▪ Quando se estuda as letras, o conjunto universo das letras é o
um a um, colocando-os entre chaves e separando-os por vírgula,o que alfabeto.
chamamos de representação por extensão. Para nomear um conjunto, ▪ Quando se estuda a população humana, o conjunto universo é
usa-se geralmente uma letra maiúscula. constituído de todos os seres humanos.
A = {1,2,3,4,5} → conjunto finito Para descrever um conjunto A por meio de uma propriedade carac-
terística p de seus elementos, deve-se mencionar, de modo explícito ou
B = {1,2,3,4,5,…} → conjunto infinito não, o conjunto universo U no qual se está trabalhando.
Ao montar o conjunto das vogais do alfabeto, os elementos serão A = {x ∈ R | x>2}, onde U = R → forma explícita.
a, e, i, o, u. A = {x | x > 2} → forma implícita.
A nomenclatura dos conjuntos é formada pelas letras maiúsculas
do alfabeto. 2.2 Subconjuntos
Conjunto dos estados da região Sul do Brasil: Diz-se que B é um subconjunto de A se todos os elementos de B
A = {Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul}. pertencem a A.

2.1.1 Representação dos conjuntos A


.8
Os conjuntos podem ser representados em chaves ou em
diagramas. .4
.1
B
Fique ligado -.1

Quando é dada uma característica dos elementos de um .8


conjunto, diz-se que ele está representado por compreensão.
A = {x | x é um múltiplo de dois maior que zero}
Deve-se notar que A = {-1, 0, 1, 4, 8} e B = {-1, 8}, ou seja, todos
▷ Representação em chaves os elementos de B também são elementos do conjunto A.
Conjunto dos estados brasileiros que fazem fronteira com o ▪ Os símbolos ⊂ (contido), ⊃ (contém), ⊄ (não está contido) e ⊅
Paraguai: (não contém) são utilizados para relacionar conjuntos.
B = {Paraná, Mato Grosso do Sul}. Nesse caso, diz-se que B está contido em A ou B é subconjunto
▷ Representação em diagramas de A (B ⊂ A). Pode-se dizer também que A contém B (A ⊃ B).
Conjunto das cores da bandeira do Brasil: Observações:
D ▪ Se A ⊂ B e B ⊂ A , então A = B.
Verde ▪ Para todo conjunto A, tem-se A ⊂ A.
Amarelo ▪ Para todo conjunto A, tem-se ∅ ⊂ A, onde ∅ representa o con-
junto vazio.
Azul Branco
▪ Todo conjunto é subconjunto de si próprio (D ⊂ D).
▪ O conjunto vazio é subconjunto de qualquer conjunto (Ø ⊂ D).
▪ Se um conjunto A possui p elementos, então ele possui 2p
2.1.2 Elementos e relação de pertinência subconjuntos.
▪ O conjunto formado por todos os subconjuntos de um conjunto
Quando um elemento está em um conjunto, dizemos que ele per-
A, é denominado conjunto das partes de A. Assim, se A = {4, 7},
tence a esse conjunto. A relação de pertinência é representada pelo
o conjunto das partes de A, é dado por {Ø, {4}, {7}, {4, 7}}.
símbolo ∈ (pertence).
Conjunto dos algarismos pares: G = {2, 4, 6, 8, 0}. 2.3 Operações com conjuntos
Observe que:
União de conjuntos: a união de dois conjuntos quaisquer será
4∈G
representada por A ∪ B e terá os elementos que pertencem a A ou a B,
7∉G
ou seja, todos os elementos.
2.1.3 Conjuntos unitário, vazio e universo
Conjunto unitário: possui um só elemento.
Conjunto da capital do Brasil: K = {Brasília}

A U B

122
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Interseção de conjuntos: a interseção de dois conjuntos quaisquer
será representada por A ∩ B. Os elementos que fazem parte do con-
junto interseção são os elementos comuns aos dois conjuntos.

R
L
M

A ∩ B

Conjuntos disjuntos: se dois conjuntos não possuem elementos


em comum, diz-se que eles são disjuntos. Simbolicamente, escreve-se
A ∩ B = ∅. Nesse caso, a união dos conjuntos A e B é denominada
união disjunta. O número de elementos A ∩ B nesse caso é igual a zero.

n (A ∩ B) = 0

Seja A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = {1, 5, 6, 3}, C = {2, 4, 7, 8, 9} e


D = {10, 20}. Tem-se:
A ∪ B = {1, 2, 3, 4, 5, 6}
B ∪ A = {1, 2, 3, 4, 5, 6}
A ∩ B = {1, 3, 5}
B ∩ A = {1, 3, 5}
A ∪ B ∪ C = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} e
A∩D=∅
É possível notar que A, B e C são todos disjuntos com D, mas A,
B e C não são dois a dois disjuntos.

Diferença de conjuntos: a diferença de dois conjuntos quaisquer


será representada por A – B e terá os elementos que pertencem somente
a A, mas não pertencem a B, ou seja, que são exclusivos de A.

A - B

Complementar de um conjunto: se A está contido no conjunto


universo U, o complementar de A é a diferença entre o conjunto uni-
verso e o conjunto A, será representado por CU(A) = U - A e terá
todos os elementos que pertencem ao conjunto universo, menos os
que pertencem ao conjunto A.

Cp(A)

123
INFORMÁTICA
INFORMÁTICA

1 SOFTWARE
O software é a parte abstrata de um computador, também conhecido como a parte lógica. É um conjunto de instruções que devem ser
seguidas e executadas por um mecanismo, seja ele um computador ou um aparato eletromecânico. É o termo usado para descrever programas,
apps, scripts, macros e instruções de código embarcado diretamente (firmware), de modo a ditar o que uma máquina deve fazer.
Já os programas são a aplicação de regras de maneira digital, para que, dada uma situação, ocorra uma reação pré-programada. Assim, temos
que um programa é uma representação de tarefas manuais, em que podemos automatizar processos, o que torna as tarefas mais dinâmicas.

1.1 Licenças de software


I
Uma licença de software define o que um usuário pode ou não fazer com ele e baseia-se essencialmente no direito autora l. Existem vários N
tipos de licenças de software, mas, no que tange ao concurso público, apenas duas são de valor significativo: a licença de software livre e a F
licença de software proprietário. O

1.1.1 Software proprietário


A licença de software proprietário procura reservar o direito do desenvolvedor. Um software proprietário é também conhecido como software
não livre, pois uma de suas principais características é manter o código-fonte1 fechado.
Há vários softwares proprietários gratuitos e, também, aqueles que, para o usuário adquirir o direito de uso, exigem a compra de uma licença,
a qual não lhe dá direito de propriedade sobre o programa, apenas concede o direito de utilizá-lo, além de impor algumas regras de utilização.
Windows, Microsoft Office, Mac OS, aplicativos da Adobe, Corel Draw, WinRAR, WinZip, MSN, entre outros.

1.1.2 Software livre


Em contrapartida ao software proprietário, um grupo criou o software livre. Tem, como um de seus princípios, as leis que regem a defi-
nição de liberdades como forma de protesto em relação ao software proprietário. A principal organização que mantém e promove esse tipo de
software é a Free Software Foundation (FSF).
A característica mais importante para que seja considerado “livre” é que tenha o código-fonte aberto e deve obedecer a quatro liberdades de
software do projeto GNU/GPL (General Public License/Licença Pública Geral), idealizado por Richard Matthew Stallman, ativista e fundador
do movimento software livre. São elas:
▷ Liberdade 0: liberdade para executar o programa, para qualquer propósito.
▷ Liberdade 1: liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo às suas necessidades.
▷ Liberdade 2: liberdade de redistribuir cópias do programa de modo que você possa ajudar ao seu próximo.
▷ Liberdade 3: liberdade de modificar o programa e distribuir essas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie.
A GPL é um reforço a essas quatro liberdades, garantindo que o código-fonte de um software livre não possa ser apropriado por outra
pessoa ou empresa, principalmente para que não seja transformado em software proprietário. Tem característica Copyleft, que qualquer um que
distribui o software, com ou sem modificações, deve passar adiante a liberdade de copiar e modificar novamente o programa.
O Linux é um dos principais projetos desenvolvidos sob a licença de software livre, assim como o BrOffice, mas o principal responsá-
vel por alavancar o software livre, assim como o próprio Linux, foi o projeto Apache, 2 que no início só rodava em servidores Linux e hoje é
multiplataforma.
Apache, Linux, BrOffice, LibreOffice, Mozilla Firefox, Mozilla Thunderbird.

1.1.3 Shareware
A licença do tipo shareware é comumente usada quando se deseja permitir ao usuário uma degustação do programa, oferecendo funcio-
nalidades reduzidas ou mesmo total, porém com prazo determinado, que, depois de encerrado, o programa limita as funcionalidades ou pode
deixar de funcionar.
O shareware permite a cópia e redistribuição do software, porém não permite a alteração, pois o código-fonte não é aberto.
Um exemplo de software popular que utiliza essa licença é o WinRAR que, após 40 dias, começa a exibir uma mensagem toda vez que é
aberto, contudo, continua funcionando mesmo que o usuário não adquira a licença.

1.1.4 BIOS (basic input/output system)


O BIOS (sistema básico de entrada e saída, em português) é um software embarcado em uma memória do tipo ROM3; nos computadores
atuais é mais comum em memórias do tipo Flash ROM4.
É o primeiro programa que roda quando ligamos o computador. Ele é composto pelo setup, que são suas configurações, e pelo post, res-
ponsável por realizar os testes de hardware.
Durante o processo de boot 5, o BIOS aciona a memória CMOS6, onde ficam armazenadas as últimas informações sobre o hardware do
computador e sobre a posição de início do sistema operacional no disco. Em posse dessas informações, consegue executar o post, verificando
se todos os dispositivos necessários estão conectados e operantes.
Após as verificações de compatibilidade, o BIOS inicia o processo de leitura do disco indicado como primário a partir do ponto onde se
encontra o sistema operacional, que é carregado para a memória principal do computador.

1 Código-fonte: conjunto de instruções feitas em uma linguagem de programação, que definem o funcionamento e o comportamento do programa.
2 Apache: servidor responsável pelo processamento da maior parte das páginas disponibilizadas atualmente na internet, cerca de 51%.
3 Memórias ROM (Read-Only Memory – Memória Somente de Leitura) recebem esse nome porque os dados são gravados nelas apenas uma vez.
4 Memórias Flash ROM: são mais duráveis e podem guardar um volume elevado de dados.
5 Boot: processo de inicialização do sistema operacional.
6 CMOS: é uma pequena área de memória volátil, alimentada por uma bateria, que é usada para gravar as configurações do setup da placa mãe.

183
SOFTWARE
Em um mesmo computador podem ser instalados dois ou mais sistemas operacionais diferentes, ou mesmo versões diferentes do mesmo
sistema. Quando há apenas um sistema operacional instalado no computador, este é iniciado diretamente pelo BIOS, porém, se houver dois ou
mais, é necessário optar por qual dos sistemas se deseja utilizar.
Em uma situação em que existem dois sistemas operacionais atribui-se a caracterização de dual boot. Um computador que possua uma
distribuição Linux instalada e uma versão Windows, por exemplo, ao ser concluído o processo do BIOS, inicia um gerenciador de boot. Em
geral é citado nas provas ou o GRUB7 ou o LILO,8 que são associados ao Linux.

1.2 Tipos de software


Existem diversos tipos de software, mas somente alguns nos interessam durante a prova. Dessa forma, focaremos o estudo no que nos é
pertinente.
Podemos classificar os softwares em: firmwares, sistemas operacionais, escritório, utilitários, entretenimento e malwares.

1.2.1 Firmwares
Um firmware é normalmente um software embarcado, ou seja, ele é um software desenvolvido para operar sobre um hardware específico.
De forma geral, um firmware é incorporado ao hardware já no momento de sua fabricação, mas, dependendo do tipo de memória em que é
armazenado, ele pode ser atualizado ou não. O software do tipo firmware que interessa ao nosso estudo é o BIOS.

1.2.2 Sistemas operacionais (SO)


O sistema operacional é o principal programa do computador. Ele é o responsável por facilitar a interação do usuário com a máquina,
além de ter sido criado para realizar as tarefas de controle do hardware, livrando assim os aplicativos de conhecer o funcionamento de cada
peça existente para funcionar.
As tarefas de responsabilidade do SO são, principalmente, de níveis gerenciais e é o tem que administrar a entrada e a saída de dados, de
forma que quando um usuário seleciona uma janela, ele está trazendo-a para o primeiro plano de execução. Por exemplo: sempre que o usuário
digita um texto, o SO tem de gerenciar qual janela, ou seja, qual aplicativo receberá as informações entradas pelo teclado, mas, ao mesmo tempo,
o SO receberá uma solicitação do aplicativo para que exiba na tela as informações recebidas.
Também é responsabilidade do SO gerenciar o uso da memória RAM e do processador. Ele dita que programa será executado naquele
instante e quais espaços de memória estão sendo usados por ele e pelos demais aplicativos em execução.
Para que o sistema operacional consiga se comunicar com cada dispositivo, precisa saber antes como estes funcionam e, para tanto, é neces-
sário instalar o driver9 do dispositivo. Atualmente, a maioria dos drivers é identificada automaticamente pelo SO, mas o sistema nem sempre
possui as informações sobre hardwares recém-lançados. Nesse caso, ao não conseguir o driver específico, o SO solicita ao usuário que informe
o local onde ele possa encontrar o driver necessário.
Dentre os sistemas operacionais modernos, o Windows é o que mais se destaca em termos de número de usuários de computadores pessoais
(PC). Por outro lado, quando se questiona em relação ao universo de servidores na internet, deparamo-nos com o Linux como mais utilizado
e o principal motivo para isso relaciona-se à segurança mais robusta oferecida pelo ele.
Exemplos de SO para computadores pessoais: Windows, Linux, Mac OS e Chrome OS.
Vale a observação que esses sistemas derivaram de duas vertentes principais o DOS e o UNIX. É de interesse da prova saber que o DOS
foi o precursor do Windows e que a plataforma UNIX foi a base do Linux e do Mac OS.
Contudo, não encontramos SO apenas em PCs. Os celulares, smartphones e tablets também utilizam sistemas operacionais. Atualmente,
fala-se muito no sistema do Google para esses tipos dispositivos, o Google Android.
Os sistemas operacionais podem ser divididos em duas partes principais: núcleo e interface. O núcleo é chamado kernel. Ele é a parte res-
ponsável pelo gerenciamento do hardware, como já explanado, enquanto a interface é parte de interação com o usuário, seja ela apenas textual
ou com recursos gráficos.

Sistema operacional Kernel


Windows XP NT 5.2

Windows Vista NT 6.0

Windows 7 NT 6.1

Windows 8 NT 6.2

Linux Linux 3.10


A interface com recursos gráficos é comumente chamada GUI (Graphic User Interface/Interface Gráfica do Usuário), também citada
como gerenciador de interface gráfica. O nome Windows foi baseado, justamente, nessa característica de trabalhar com janelas gráficas como
forma de comunicação com o usuário.

7 GRUB (Grand Unifield Bootloader): gerenciador de boot disponibilizado como software GNU. Entre seus principais recursos está a capacidade de trabalhar com diversos
sistemas operacionais, como o Linux, o Windows e as versões BSD.
8 LILO (LInux Loader): programa que permite o uso de dois ou mais sistemas operacionais no mesmo computador. A ferramenta possui uma série de instruções para gerenciar
o setor de boot (inicialização) do HD, permitindo que se inicialize o computador a partir de uma partição que não seja a primeira do disco.
9 Driver: conjunto de informações sobre como funciona um dispositivo de hardware.

184
INFORMÁTICA
Em relação às GUIs, cada versão do Windows utiliza e trabalha com apenas uma interface gráfica, que só passou a ter um nome específico
a partir do Windows Vista, conforme indicado na tabela a seguir:

Windows GUI
XP Sem nomenclatura

Vista Aero

7 Aero

8 Metro I
N
Por outro lado, existem diversas GUIs para o Linux, algumas distribuições Linux10 trabalham com apenas um gerenciador de interface F
gráfica, enquanto outras trabalham com múltiplas. Ao contrário do Windows, o Linux tem suporte a várias Interfaces gráficas e as principais O
GUIs do Linux são: Gnome, FluxBox, KDE, BlackBox, Unity, Mate, XFCE e Cinnamon.

Características de um sistema operacional


Os sistemas operacionais podem ser classificados de acordo com suas características comportamentais: multitarefa, monotarefa, multiu-
suário e monousuário.
▷ Multitarefa: é o sistema que consegue executar mais de uma tarefa simultânea, como tocar uma música enquanto o usuário navega na internet
e escreve um texto no Word.
Windows, Linux e Mac OS.
▷ Monotarefa: é o sistema que, para executar uma tarefa, deve aguardar a que está em execução terminar ou mesmo forçar o seu término para
que possa executar o que precisa. Trabalha com um item de cada vez.
DOS e algumas versões UNIX.
▷ Multiusuário: é quando o SO permite mais de uma sessão de usuário ativa simultaneamente. Se dois ou mais usuários estiverem com sessões
iniciadas, elas são, de certa maneira, tratadas independentemente, ou seja, um usuário não vê o que o outro estava fazendo, como também, em
uso normal, não interfere nas atividades que estavam sendo executadas por outro usuário. O sistema multiusuário geralmente possui a opção
trocar de usuário, que permite bloquear a sessão ativa e iniciar outra sessão simultânea.
Unix, VMS e sistemas operacionais mainframe, como o MVS.
▷ Monousuário: em um sistema monousuário, para que outro usuário inicie sessão, é necessário finalizar a do usuário ativo, também conhecido
como efetuar logoff.
Palm OS.

1.2.3 Softwares de escritório


São aplicativos com utilização mais genérica, os quais possibilitam diversas demandas de um escritório, suprindo, também, muitas neces-
sidades acadêmicas em relação à criação de trabalhos.
A seguir, apresentamos um comparativo entre as suítes de escritório11 que são cobradas na prova.
Editor Microsoft Office BrOffice
Texto Word Writer

Planilha Excel Calc

Apresentação de slides PowerPoint Impress

Desenho Publisher Draw

Banco de dados Access Base

Fórmula Equation Math

Fique ligado
Editores de texto, planilha e apresentação são os itens mais cobrados em provas de concursos. Sobre esses programas, podem aparecer
perguntas a respeito do seu funcionamento, ainda que sobre editores de apresentação sejam bem menos frequentes.

Outro ponto importante a ser ressaltado é que o Microsoft Outlook é componente da suíte de aplicativos Microsoft Office e que não foi
destacado na tabela comparativa por não existir programa equivalente no BrOffice.
Por vezes o concursando pode se deparar na prova com o nome LibreOffice, o que está correto, pois o BrOffice é utilizado no Brasil ape-
nas, mas ele é baseado no Libre Office. Até a versão 3.2, o BrOffice era fundamentado no OpenOffice e, após a compra da Sun pela Oracle a
comunidade decidiu mudar para o Libre por questões burocráticas.

10 Distribuição Linux: uma cópia do Linux desenvolvida, geralmente, com base em outra cópia, mas com algumas adaptações.
11 Suíte de escritório: expressão que remete ao conjunto integrado de aplicativos voltados para as tarefas de escritório, como editores de texto, editores de planilhas, editores
de apresentação, aplicativos, agendas e outros.

185
SOFTWARE

1.2.4 Softwares utilitários


Alguns programas ganharam tamanho espaço no dia a dia do usuário que, sem eles, podemos ficar sem acesso às informações contidas em
arquivo, por exemplo.
São classificados como utilitários os programas compactadores de arquivos, como o ZIP, e leitores de PDF, como o Adobe Reader. Esses
programas assumiram tal patamar por consolidarem seus formatos de arquivos.
Entre os compactadores temos os responsáveis pelo formato de arquivos ZIP, apesar de que, desde a versão XP, o Windows já dispunha de
recurso nativo para compactar e descompactar arquivos nesse formato, muitos aplicativos se destacavam por oferecer o serviço de forma mais
eficiente ou prática. Os compactadores mais conhecidos são: WinZip, BraZip e 7-Zip. Outro compactador que ganhou espaço no mercado foi
o WinRar com o formato .RAR, que permite maior compactação quando comparado ao ZIP.

1.2.5 Softwares de entretenimento


Aqui entram os aplicativos multimídias como players de áudio e vídeo, assim como Windows Media Player, Winamp, iTunes, VLC player
e BS player, dentre outros, e os players de jogos como Campo Minado, Paciência, Pinball e outros tantos de mais alto nível.

1.2.6 Malwares
Os malwares são programas que têm finalidade mal-intencionada e, na maioria das vezes, ilícita. Grande parte das bancas cita-os como
pragas cibernéticas que infectam o computador do usuário e trazem algum prejuízo; por outro lado, há bancas que especulam sobre os diferentes
tipos de malwares. A seguir são destacados os principais tipos de malwares.

Fique ligado
Para ser um malware tem que ser um software; do contrário, pode ser uma prática maliciosa, mas não um malware.

Vírus
O vírus é apenas um dos tipos de malware, ou seja, nem tudo que ataca o computador é um vírus. Para ser classificado como vírus, tem
que ter as seguintes características:
▷ Infectar os arquivos do computador do usuário, principalmente arquivos do sistema.
▷ Depender de ação do usuário, como executar o arquivo ou programa que está contaminado com o vírus.
▷ Ter finalidades diversas, dentre as quais danificar tanto arquivos e o sistema operacional, como também as peças.

Vírus mutante
É um vírus mais evoluído, que tem a capacidade de alterar algumas de suas características a fim de burlar o antivírus.

Vírus de macro
O vírus de macro explora falhas de segurança das suítes de escritório, principalmente da Microsoft. Uma macro, ao ser criada, anexa ao
documento uma programação (comandos geralmente em Visual Basic12) e o vírus desse tipo pode inserir seu código dentro deste código em VB.
O vírus de macro geralmente danifica a suíte de escritório, inutilizando-a, além de poder apagar documentos do computador. Para que seja
executado, é necessário que o usuário execute o arquivo contaminado.

Worm
Ao contrário do vírus, o worm não depende de ação do usuário para executar; ele executa automaticamente: quando um pendrive é conectado
a um computador, ele é contaminado ou contamina o sistema.
Ele tem como finalidade se replicar, porém, não infecta outros arquivos, apenas cria cópias de si em vários locais, o que pode encher o
HD do usuário. Outra forma utilizada de se replicar é por meio da exploração de falhas dos programas, principalmente o e-mail, enviando por
correio eletrônico cópias de si para os contatos do usuário.
Um worm, muitas vezes, instala no computador do usuário um bot, transformando o computador em um verdadeiro robô controlado à
distância. Os indivíduos que criam um worm o fazem com a finalidade de infectar o maior número possível de computadores, para que possam
utilizá-los em um ataque de DDoS13, ou como forma de elevar a estatística de acessos a determinados sites. Também pode ser utilizado para
realizar um ataque a algum computador ou servidor na internet a partir do computador infectado.

Trojan Horse (Cavalo de Troia)


O Trojan Horse (Cavalo de Troia) foi batizado com esse nome devido as suas características se assemelharem muito às da guerra da Grécia com
Troia. Na História, os gregos deram aos troianos um grande cavalo feito de madeira e coberto de palha para disfarçar que era oco. Porém, dentro
do cavalo estavam vários soldados gregos escondidos, que deveriam atacar quando fossem abertos os gigantes e fortes portões da cidade de Troia
e, assim, o exército grego poderia invadir a fortaleza.
Um Cavalo de Troia é recebido pelo usuário como um “presente de grego”, de modo a levar o usuário a abri-lo, ou seja, ele depende de ação do
usuário. Esses presentes, geralmente, parecem um cartão virtual, uma mensagem, um álbum de fotos, uma indicação de prêmio, falsas respostas
de orçamentos, folhas de pagamento ou qualquer coisa que, de alguma forma, chame a atenção do usuário para que ele abra para ser infectado.
Podemos tratá-lo em essência como um meio para que outro malware seja instalado no computador. Da mesma forma como o cavalo da
história serviu como meio para infiltrar soldados e abrir os portões da cidade, o malware também pode abrir as portas do computador para que
outros malwares o infectem, o que acontece na maioria dos casos, portanto, pode trazer em seu interior qualquer tipo de malware.

12 Visual Basic (VB): é uma linguagem de programação criada pela Microsoft.


13 DDoS: ataque de negação de serviço distribuído.

186
INFORMÁTICA
Esse malware executa as ações como exibir uma mensagem, ou crackear14 um programa. Essa tarefa é realizada com o intuito de distrair o
usuário enquanto os malwares são instalados.

Spyware
Também conhecido como software espião, o spyware tem a finalidade de capturar dados do usuário e enviá-los para terceiros. São de
interesse, principalmente os números de cartões de crédito, CPF, RG, nomes, data de nascimento e tudo mais que for pertinente para que
transações eletrônicas possam ser realizadas a partir dos dados capturados.
Existem dois tipos de spywares: os KeyLoggers e os ScreenLoggers.

KeyLogger I
N
O termo key significa chave e log significa registro de ações. F
O KeyLogger é um spyware cuja característica é capturar os dados digitados pelo usuário. Na maioria das situações o KeyLogger não captura O
o que é digitado a todo instante, mas o que é teclado após alguma ação prévia do usuário, como abrir uma página de um banco ou de uma mídia
social. Há ainda alguns KeyLoggers são desenvolvidos para capturar conversas em programas de mensagens instantâneas.

ScreenLogger
Screen significa tela e, como mencionado anteriormente, log significa registro de ações.
O ScreenLogger é uma evolução do KeyLogger na tentativa de capturar, principalmente, as senhas de bancos, pois essa modalidade cap-
tura fotos avançadas da tela do computador a cada clique do mouse. Essa foto avançada, na verdade, é uma imagem de uma pequena área que
circunda o cursor na tela, mas grande o suficiente para que seja possível ver em que número o usuário clicou.
Muitos serviços de internet Banking15 utilizam um teclado virtual, no qual o usuário clica nos dígitos de sua senha ao invés de digitar.
Assim, ao forçar que o usuário não utilize o teclado, essa ferramenta de segurança ajuda a evitar roubos de senhas por KeyLoggers. Por outro
lado, foi criado o ScreenLogger, que captura imagens e, para combater essa modalidade, como forma de oferecer maior segurança, alguns bancos
utilizam um dispositivo chamado Token, que é um dispositivo que gera uma chave de segurança aleatória e temporária, a qual uma vez utilizada
para acessar a conta, torna-se inválida para novos acessos. Assim, mesmo sendo capturada, ela se torna inútil ao invasor.

Fique ligado
Cuidado para não confundir: teclado virtual em uma página de internet Banking é um recurso de segurança, enquanto o teclado virtual que
faz parte do Windows é um recurso de acessibilidade.

Hijacker
O Hijacker é um malware que tem por finalidade capturar o navegador do usuário, principalmente o internet Explorer. Esse programa fixa
uma página inicial no navegador, que pode ser uma página de propaganda ou um site de venda de produtos, ou mesmo um site de pornografia,
ou páginas falsas de bancos.
As alterações realizadas por ele no navegador dificilmente são reversíveis. Na maioria dos casos, é necessário reinstalar o navegador várias
vezes ou até formatar o computador. Existem, no mercado, alguns programas que tentam restaurar as configurações padrões dos navegadores,
são conhecidos por HijackerThis, porém, não são ferramentas de segurança, mas apenas uma tentativa de consertar o estrago feito.

Adware
Adware (advertising software) é um software especializado em apresentar propagandas. Ele é tratado como malware, quando apresenta
algumas características de spywares, além de, na maioria dos casos, se instalar no computador explorando falhas do usuário, por exemplo, durante
a instalação de um programa em que o indivíduo não nota que em uma das etapas estava instalando outro programa diferente do desejado.
Muitos adwares monitoram o comportamento do usuário durante a navegação na internet e vendem essas informações para as empresas
interessadas.

Backdoors
Backdoor é uma porta dos fundos para um ataque futuro ao computador do usuário. Ele pode ser inserido no computador por meio de
Trojan Horse – que engana com falsos links –, como também pode ser um programa adulterado recebido de fonte pouco confiável. Por exemplo,
um usuário baixa um programa em um site qualquer, diferente do oficial, e, por isso, nada impede que tenha sido ligeiramente alterado com
a inserção de brechas para ataques futuros.

RootKits
Root significa raiz, que, nesse caso, é o administrador do ambiente Linux. Kit, por sua vez, é o conjunto de ferramentas e ações.
Um RootKit altera aplicativos do sistema, como os gerenciadores de arquivos, com o intuito de esconder arquivos maliciosos que estejam
presentes no computador. Por meio dele, o invasor também pode criar backdoors no computador, para que possa voltar a atacar o equipamento
sem se preocupar em ter de contaminá-lo novamente para fazer qualquer processo.

14 Crackear: é uma quebra de licença de um software para que não seja necessário adquirir a licença de uso, caracterizando pirataria.
15 Internet Banking: acesso à conta bancária pela internet, para realizar algumas movimentações e consultas.

187
ÉTICA E CIDADANIA
ÉTICA E CIDADANIA
princípio da autonomia da vontade. Essa regra não deve ser aplicada
1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA à Administração Pública.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Em segundo plano, o art. 37, caput do texto Constitucional, deter-
mina que a Administração Pública somente pode fazer aquilo que a lei
Neste momento, o objetivo é conhecer o rol de princípios funda-
determina ou autoriza. Assim, em caso de omissão legislativa (falta de
mentais que norteiam e orientam toda a atividade administrativa do
lei), a Administração Pública está proibida de agir.
Estado, bem como toda a atuação da Administração Pública Direta
e indireta. Nesse segundo caso, a lei deve ser entendida em sentido amplo, o
que significa que a Administração Pública deve obedecer aos manda-
Tais princípios são de observância obrigatória para toda a Admi-
mentos constitucionais, às leis formais e materiais (leis complemen-
nistração Pública, quer da União, dos estados, do Distrito Federal,
tares, leis delegadas, leis ordinárias, medidas provisórias) e também
quer dos municípios. São considerados expressos, pois estão descritos
às normas infralegais (decretos, resoluções, portarias, entre outros), e
expressamente no caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988.
não somente a lei em sentido estrito.
Art. 37 A Administração Pública Direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, Princípio Para Todos os E
Art. 5º T
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte. (Ver CF/1988) Particulares I
C
1.1 Classificação
Os princípios da Administração Pública são classificados como Legalidade
princípios explícitos (expressos) e implícitos.
É importante apontar que não existe relação de subordinação e de
hierarquia entre os princípios expressos e os implícitos; na verdade, Art. 37,
Princípio Para Toda
essa relação não existe entre nenhum princípio. caput
Administração Pública
Isso quer dizer que, em um aparente conflito entre os princípios,
um não exclui o outro, pois deve o administrador público observar
ambos ao mesmo tempo, devendo nortear sua decisão na obediência 1.2.2 Princípio da impessoalidade
de todos os princípios fundamentais pertinentes ao caso em concreto. O princípio da impessoalidade determina que todas as ações da
Como exemplo, não pode o administrador público deixar de obser- Administração Pública devem ser revestidas de finalidade pública.
var o princípio da legalidade para buscar uma atuação mais eficiente Além disso, como segunda vertente, proíbe a promoção pessoal do
(de acordo com o princípio da eficiência), devendo ele, na colisão entre agente público, como determina o art. 37, § 1º da Constituição Federal
os dois princípios, observar a lei e ainda buscar a eficiência conforme de 1988:
os meios que lhes seja possível. Art. 37, § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam-
Os princípios explícitos ou expressos são aqueles que estão des- panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo
critos no caput do art. 37 da CF/1988. São eles: ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
• Legalidade; imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou ser-
vidores públicos.
• Impessoalidade;
O princípio da impessoalidade é tratado sob dois prismas, a saber:
• Moralidade;
• Como determinante da finalidade de toda atuação adminis-
• Publicidade;
trativa (também chamado de princípio da finalidade, consi-
• Eficiência. derado constitucional implícito, inserido no princípio expresso
Os princípios implícitos são aqueles que não estão descritos no da impessoalidade).
caput do art. 37 da Constituição Federal. São eles: • Como vedação a que o agente público se promova à custa das
• Supremacia do interesse público; realizações da Administração Pública (vedação à promoção
• Indisponibilidade do interesse público; pessoal do administrador público pelos serviços, obras e outras
• Motivação; realizações efetuadas pela Administração Pública).
• Razoabilidade; É pelo princípio da impessoalidade que dizemos que o agente
• Proporcionalidade; público age em imputação à pessoa jurídica a que está ligado, ou seja,
pelo princípio da impessoalidade as ações do agente público são deter-
• Autotutela;
minadas como se o próprio Estado estivesse agindo.
• Continuidade dos serviços públicos;
• Segurança jurídica, entre outros.
FINS PÚBLICOS
A seguir, analisaremos as características dos princípios funda-
mentais da Administração Pública que mais aparecem nas provas de
concurso público.
IMPESSOALIDADE
1.2 Princípios explícitos da
Administração Pública PROIBIÇÃO DE PROMOÇÃO
PESSOAL § 1º, ART. 37
1.2.1 Princípio da legalidade
O princípio da legalidade está previsto em dois lugares distintos
na Constituição Federal. Em primeiro plano, no art. 5º, inciso II: 1.2.3 Princípio da moralidade
ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em O princípio da moralidade é um complemento ao da legalidade,
virtude de lei. O princípio da legalidade regula a vida dos particulares e, pois nem tudo que é legal é moral. Dessa forma, o Estado impõe a
ao particular, é facultado fazer tudo que a lei não proíbe; é o chamado sua administração a atuação segundo a lei e também segundo a moral
administrativa. Tal princípio traz para o agente público o dever de

217
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
probidade. Esse dever é sinônimo de atuação com ética, decoro, hones- em conformidade com os princípios básicos da Administração Pública
tidade e boa-fé. e com as seguintes diretrizes:
O princípio da moralidade determina que o agente deva sempre I - Observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como
trabalhar com ética e em respeito aos princípios morais da Admi- exceção;
nistração Pública. O princípio está intimamente ligado ao dever de II - Divulgação de informações de interesse público, independente-
probidade (honestidade) e sua não observação acarreta a aplicação do mente de solicitações;
art. 37, § 4º da Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 8.429/1992 III - Utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia
(Lei de Improbidade Administrativa). da informação;
Art. 37, § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a IV - Fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo- Administração Pública;
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação V - Desenvolvimento do controle social da Administração Pública.
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
O desrespeito ao princípio da moralidade afeta a própria legali-
dade do ato administrativo, ou seja, leva a anulação do ato, e ainda PUBLICAR
pode acarretar a responsabilização dos agentes por improbidade
administrativa.
O princípio da moralidade não se refere ao senso comum de moral, PUBLICIDADE
que é formado por meio das instituições que passam pela vida da pes-
soa, como família, escola, igreja, entre outras. Para a Administração
Pública, esse princípio refere-se à moralidade administrativa, que está TORNAR TRANSPARÊNCIA
inserida no corpo das normas de Direito Administrativo. PÚBLICO DO ATO

1.2.4 Princípio da publicidade


Esse princípio deve ser entendido como aquele que determina que
os atos da Administração sejam claros quanto à sua procedência. Por 1.2.5 Princípio da eficiência
esse motivo, em regra, os atos devem ser publicados em diário oficial
O princípio da eficiência foi o último a ser inserido no bojo do
e, além disso, a Administração deve tornar o fato acessível (público).
texto constitucional. Esse princípio foi incluído com a Emenda Cons-
Tornar público é, além de publicar em diário oficial, apresentar os atos
titucional nº 19/1998), e apresenta dois aspectos principais:
na internet, pois esse meio, hoje, é o que deixa todas as informações
acessíveis. • Relativamente à forma de atuação do agente público, espera-se o
melhor desempenho possível de suas atribuições, a fim de obter
O princípio da publicidade apresenta dupla acepção em face do
os melhores resultados.
sistema constitucional vigente:
• Quanto ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Admi-
• Exigência de publicação em órgão oficial como requisito de
nistração Pública, exigiu-se que esse seja o mais racional pos-
eficácia dos atos administrativos que devam produzir efeitos
sível, no intuito de alcançar melhores resultados na prestação
externos e dos atos que impliquem ônus para o patrimônio
dos serviços públicos.
público.
Art. 37, § 8º, CF/1988 A autonomia gerencial, orçamentária e finan-
Essa regra não é absoluta, pois, em defesa da intimidade e também
ceira dos órgãos e entidades da Administração Direta e indireta poderá
do Estado, alguns atos públicos não precisam ser publicados: ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus adminis-
Art. 5º, X, CF/1988 São invioláveis a intimidade, a vida privada, tradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre.
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. O princípio da eficiência orienta a atuação da Administração
Art. 5º, XXXIII, CF/1988 Todos têm direito a receber dos órgãos Pública de forma que essa busque o melhor custo-benefício no exercício
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo de suas atividades, ou seja, os serviços públicos devem ser prestados
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabi- com adequação às necessidades da sociedade que o custeia.
lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado. A atuação da Administração Pública tem que ser eficiente, o que
acarreta ao agente público o dever de agir com presteza, esforço, rapi-
Assim, o ato que tiver em seu conteúdo uma informação sigilosa ou
dez e rendimento funcional. Seu descumprimento poderá acarretar a
relativa à intimidade da pessoa tem de ser resguardado no devido sigilo.
perda do seu cargo por baixa produtividade apurada em procedimento
• Exigência de transparência da atuação administrativa: da avaliação periódica de desempenho, tanto antes da aquisição da
Art. 5º, XXXIII, CF/1988 Todos têm direito a receber dos órgãos estabilidade, como também após.
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabi-
lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
1.3 Princípios implícitos da
da sociedade e do Estado. Administração Pública
O princípio da publicidade orientou o poder legislativo nacional
a editar a Lei nº 12.527/2011, que regulamenta o dispositivo do art. 1.3.1 Princípio da supremacia do
5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal de 1988. Dispõe sobre o interesse público sobre o privado
acesso à informação pública, sobre a informação sigilosa, sua classi- Esse princípio é também considerado o norteador do Direito
ficação, bem como a informação pessoal, entre outras providências. Administrativo. Ele determina que o Estado, quando trabalhando
Tal dispositivo merece ser lido, pois essa lei transpassa toda a essência com o interesse público, se sobrepõe ao particular. Devemos lembrar
do princípio da publicidade. que esse princípio deve ser utilizado pelo administrador público de
Podemos inclusive afirmar que esse princípio foi materializado forma razoável e proporcional para que o ato não se transforme em
em lei após a edição da Lei nº 12.527/2011. Veja a seguir a redação arbitrário e, consequentemente, ilegal.
do art. 3º dessa lei: É o fundamento das prerrogativas do Estado, ou seja, da relação
Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar jurídica desigual ou vertical entre o Estado e o particular. A exemplo,
o direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados

218
ÉTICA E CIDADANIA
temos o poder de império do Estado (também chamado de poder Na aplicação da penalidade, deve ser respeitada tanto a razoabili-
extroverso), que se manifesta por meio da imposição da lei ao adminis- dade quanto a proporcionalidade, ou seja, aplica-se, no primeiro, uma
trado, admitindo até o uso da força coercitiva para o cumprimento da penalidade pequena, uma multa, por exemplo, e, no segundo, uma
norma. Assim sendo, a Administração Pública pode criar obrigações, penalidade grande, suspensão de 90 dias.
restringir ou condicionar os direitos dos administrados. Veja que o administrador não pode fazer menos ou mais do que
Limitações: a lei determina, isso em obediência ao princípio da legalidade, senão
• Respeito aos demais princípios. cometerá abuso de poder.
• Não está presente diretamente nos atos de gestão (atos de gestão
são praticados pela administração na qualidade de gestora de 1.3.4 Princípio da autotutela
seus bens e serviços, sem exercício de supremacia sobre os par- O princípio da autotutela propicia o controle da Administração
ticulares, assemelhando-se aos atos praticados pelas pessoas pri- Pública sob seus próprios atos em dois pontos específicos:
vadas. São exemplos de atos de gestão a alienação ou a aquisição • De legalidade: em que a Administração Pública pode controlar
de bens pela Administração Pública, o aluguel a um particular seus próprios atos quando eivados de vício de ilegalidade, sendo
de um imóvel de propriedade de uma autarquia, entre outros). provocado ou de ofício. E
Exemplos de incidência: • De mérito: em que a Administração Pública pode revogar seus T
I
• Intervenção na propriedade privada. atos por conveniência e oportunidade. C
• Exercício do poder de polícia, limitando ou condicionando o Súmula nº 473 – STF A Administração pode anular seus próprios
exercício de direito em prol do interesse público. atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
• Presunção de legitimidade dos atos administrativos.
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.
1.3.2 Princípio da indisponibilidade
O princípio da autotutela não exclui a possibilidade de controle
do interesse público jurisdicional do ato administrativo previsto no art. 5º, inciso XXXV,
Conforme dito anteriormente, o princípio da indisponibilidade do da Constituição Federal de 1988: a lei não excluirá da apreciação do
interesse público juntamente com o da supremacia do interesse público, Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
formam os pilares do regime jurídico administrativo.
Esse princípio é o fundamento das restrições do Estado. Assim Poder
sendo, apesar de o princípio da supremacia do interesse público prever Judiciário
prerrogativas especiais para a Administração Pública em determinadas
relações jurídicas com o administrado, tais poderes são ferramentas
ANULAÇÃO Ex tunc (critério de
que a ordem jurídica confere aos agentes públicos para alcançar os
Ato Ilegal Retroativos legalidade)
objetivos do Estado. E o uso desses poderes, então, deve ser balizado
pelo interesse público, o que impõe restrições legais a sua atuação,
garantindo que a utilização do poder tenha por finalidade o interesse Própria
público e não o do administrador. Administração
Assim, é vedada a renúncia do exercício de competência pelo
agente público, pois a atuação desse não é balizada por sua vontade
pessoal, mas, sim, pelo interesse público, também chamado de interesse Poder Judiciário não revoga
Poder
da lei. Os poderes conferidos aos agentes públicos têm a finalidade de ato de outro poder
Judiciário
auxiliá-los a atingir tal interesse. Com base nessa regra, concluímos
que esses agentes não podem dispor do interesse público, por não ser
o seu proprietário, e sim o povo. Ao agente público cabe a gestão da REVOGAÇÃO Ex nunc (critério
Administração Pública em prol da coletividade. Ato Legal Prospectivos de mérito)

1.3.3 Princípios da razoabilidade


Própria
e proporcionalidade
Administração
Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade não se encon-
tram expressos no texto constitucional. Esses são classificados como prin-
cípios gerais do Direito e são aplicáveis a vários ramos da ciência jurídica. 1.3.5 Princípio da ampla defesa
São chamados de princípios da proibição de excesso do agente público.
A ampla defesa determina que todos que sofrerem medidas de
A razoabilidade diz que toda atuação da Administração tem que caráter de pena terão direito a se defender de todos os meios dispo-
seguir a teoria do homem médio, ou seja, as decisões devem ser tomadas níveis legais em direito. Está previsto nos processos administrativos
segundo o critério da maioria das pessoas “racionais”, sem exageros disciplinares:
ou deturpações.
Art. 5ª, LV, CF/1988 Aos litigantes, em processo judicial ou admi-
• Razoabilidade: adequação entre meios e fins. O princípio da nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
proporcionalidade diz que o agente público deve ser propor- ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
cional no uso da força para o cumprimento do bem público, ou
seja, nas aplicações de penalidades pela Administração deve ser 1.3.6 Princípio da continuidade
levada em conta sempre a gravidade da falta cometida. do serviço público
• Proporcionalidade: vedação de imposição de obrigações, O princípio da continuidade do serviço público tem como escopo
restrições e sanções em medida superior àquela estritamente (objetivo) não prejudicar o atendimento dos serviços essenciais à popu-
necessária ao interesse público. lação. Assim, evitam que esses sejam interrompidos.
Podemos dar como exemplo a atuação de um fiscal sanitário, que Regra
esteja vistoriando dois estabelecimentos e, em um deles, encontre um
• Os serviços públicos devem ser adequados e ininterruptos.
quilo de carne estragada e, no outro, encontre uma tonelada.

219
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Exceção
1.3.7 Princípio da segurança jurídica
• Aviso prévio;
Esse princípio veda a aplicação retroativa da nova interpretação
• Situações de emergência. da norma.
Alcance Caso uma regra tenha a sua redação ou interpretação revogada ou
• Todos os prestadores de serviços públicos; alterada, os atos praticados durante a vigência da norma antiga conti-
• Administração Direta; nuam valendo, pois tal princípio visa resguardar o direito adquirido,
• Administração Indireta; o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
• Concessionárias, autorizatárias e permissionárias de serviços Assim, temos que a nova interpretação da norma, via de regra,
públicos. somente terá efeitos prospectivos, ou seja, da data em que for revogada
Efeitos para frente, não atingindo os atos praticados na vigência da norma
antiga.
• Restrição de direitos das prestadoras de serviços públicos, bem
como dos agentes envolvidos na prestação desses serviços, a
exemplo do direito de greve.
Dessa forma, quem realiza o serviço público se submete a algumas
restrições:
• Restrição ao direito de greve, art. 37, inciso VII, da Constituição
Federal de 1988;
• Suplência, delegação e substituição – casos de funções vagas
temporariamente;
• Impossibilidade de alegar a exceção do contrato não cumprido,
somente em casos em que se configure uma impossibilidade de
realização das atividades;
• Possibilidade da encampação da concessão do serviço, retomada
da administração do serviço público concedido no prazo na
concessão, quando o serviço não é prestado de forma adequada.
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 22, assegura
ao consumidor que os serviços essenciais devem ser contínuos, caso
contrário, aos responsáveis, caberá indenização. O referido código
não diz quais seriam esses serviços essenciais. Podemos usar, como
analogia, o art. 10 da Lei nº 7.783/1989, que enumera os que seriam
considerados fundamentais:
Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
I - Tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de
energia elétrica, gás e combustíveis;
II - Assistência médica e hospitalar;
III - Distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV - Funerários;
V - Transporte coletivo;
VI - Captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII - Telecomunicações;
VIII - Guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos
e materiais nucleares;
IX - Processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo e navegação aérea;
XI - Compensação bancária.

220
GEOPOLÍTICA
GEOPOLÍTICA
[...] A União das duas coroas foi realizada em 1580. A Espanha não tem
1 BRASIL POLÍTICO: NAÇÃO inveja da presença portuguesa no Brasil e tolera bem o contrabando que se exerce
E TERRITÓRIO pela Prata em benefício dos portugueses. A ocupação do Recife pelos holandeses
desagrada Madrid, mas não ameaça os eixos vitais da construção imperial -
Em conjunto, o Brasil se apresenta em compacta massa territorial, limi-
lembra apenas que seria loucura abrir ainda mais o continente para o Sul, por
tada a leste por uma linha costeira extremamente regular, sem sinuosidades
Buenos Aires. Em 1625, os espanhóis enviam uma frota para libertar Salvador,
acentuadas nem endentações e, por isso, em geral, desfavorável à aproximação
depois deixam os portugueses praticamente sós face à empresa holandesa.
humana e à utilização nas comunicações marítimas; e a oeste, por territórios
CLAVAL, Paul. A Construção do Brasil: uma grande potência em emergência.
agrestes, de penetração e ocupação difíceis (e por isso, até hoje ainda, muito Lisboa: Piaget, 2010 .
pouco habitado), estendidos ao longo das fraldas da Cordilheira dos Andes, A fundação da Vila de São Vicente no litoral Paulista, em 1532,
e barrando assim as ligações com o litoral Pacífico do continente. O Brasil, assinalou o início da colonização dos domínios portugueses na Amé-
embora ocupe longitudinalmente a maior parte do território sul-americano, rica, com a distribuição das primeiras sesmarias, inspiradas na legis-
volta-se inteiramente para o Atlântico. lação fundiária portuguesa do século XIV.
Caio Prado Júnior. História Econômica do Brasil. Ed. Brasiliense, 2008.
No território colonial, os sesmeiros eram homens da pequena
O processo de formação do território brasileiro, lento e irregular, nobreza, militares ou navegantes, que recebiam as suas glebas como
é fruto de uma longa história de encontros de povos que aqui viviam e recompensa por serviços prestados à Coroa. Ao tomarem posse das
de outros que vieram a ocupá-lo ao longo dos anos. O Brasil foi assim terras, ficavam obrigados apenas a fazê-las produzir em alguns anos G
uma construção, na qual os colonizadores portugueses se apropria- (em geral cinco) e pagar o dízimo à Ordem de Cristo. E
ram de certas áreas, geralmente expulsando, às vezes escravizando, ou O
A extensão das sesmarias brasileiras girava em torno de 10 mil P
exterminando os índios que as ocupavam, e com o tempo expandiram
a 13 mil hectares. Assim, as sesmarias foram o embrião do modelo
o seu território e criaram neste novo mundo uma sociedade diferente,
concentrador que ainda hoje permanece na estrutura agrária brasileira.
que um dia se tornou um Estado-Nação “independente”.
Entre 1534-1536, a Coroa Portuguesa implantou o sistema políti-
A gênese do Estado brasileiro encontra-se na colonização por-
co-administrativo das capitanias hereditárias. O território foi dividido
tuguesa da América. A expansão oficial, realizada por expedições
em capitanias, lotes doados a quem tivesse capital para colonizá-los.
militares a serviço de Portugal (desde o final do século XVI e, prin-
Os detentores desses lotes, transmitidos de pai para filho, eram os
cipalmente, no século XVII), foi responsável pela conquista de uma
capitães-donatários. Esse regime fragmentou a América Portuguesa
vasta porção do atual território brasileiro. Entretanto, o território não
em unidades autônomas e desarticuladas entre si.
é apenas uma continuação da América Portuguesa: a delimitação das
fronteiras atuais, concluída apenas no início do século XX, envolveu ANTIGO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
diversos conflitos, negociações econômicas e acordos diplomáticos.
Nos primeiros séculos de colonização, a ocupação portuguesa limi-
tou-se ao litoral. A economia voltava-se para o mercado externo, com
a produção de açúcar nas áreas próximas ao litoral. No interior, a
presença europeia praticamente limitava-se à vila de São Paulo e a um
punhado de núcleos vizinhos. Inicialmente, os portugueses ampliaram
suas terras incorporando áreas de domínio espanhol, ainda no período
colonial. Diversos fatores contribuíram para o processo expansionista,
que acabou por ultrapassar a linha de Tordesilhas.

1.1 Estrutura Política e Administrativa


Nos séculos XVII e XVIII, expedições militares portuguesas
avançaram ainda mais, instalando fortificações no alto curso do rio
Amazonas e de seus afluentes, ao longo do Rio Guaporé e na margem
esquerda do estuário platino.
As iniciativas da Coroa Portuguesa obedeciam a interesses estra-
tégicos, na medida em que procuravam estabelecer limites à expansão
espanhola na América.

O PAPEL DA ESPANHA
A história do Brasil está ligada de duas maneiras à do Império Espanhol
na América: 1. Madrid exerce, apoiada no direito, a sua soberania sobre tudo
o que se encontra a Oeste do meridiano de Tordesilhas; 2. A união das duas
coroas, que resulta da extinção da dinastia de Avis, reduz, consideravelmente,
a liberdade de manobra de Portugal entre 1580 e 1640.
A penetração espanhola na América do Sul faz-se por Este: O império Em 2014, Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico de São
Inca, que se estendia do Equador ao Chile, passando pelo Peru, pela Bolívia Paulo, divulgou um novo mapa das capitanias hereditárias, basean-
e noroeste da Argentina, foi conquistado entre 1531 e 1544. É preciso esperar do-se em novas pesquisas que mostraram que os mapas anteriores
por 1580 para que uma rota permanente seja aberta entre Potosí e o Rio da das capitanias foram elaborados com base nos paralelos e não nos
Prata, e que Buenos Aires seja definitivamente fundada. [...] meridianos, o que muda a disposição das capitanias do extremo-norte
da América Portuguesa.

233
BRASIL POLÍTICO: NAÇÃO E TERRITÓRIO
NOVO MAPA DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS ÁREA INCORPORADA PELO TRATADO DE MADRI

O território passou a ter aproximadamente 6.900.000 km².


Em 1759, foram organizadas as Capitanias da Coroa, governadas
por funcionários nomeados pelo rei. Com a independência do Brasil,
essas áreas transformaram-se em províncias de um Império Unitário.
Em 1549, em uma tentativa de reforçar sua presença e coordenar Após a independência, ocorrida em 1822, outras áreas se incor-
os esforços dos capitães-donatários, a Coroa instalou um Governo poraram ao território do Brasil. Essas áreas foram anexadas de países
Geral na recém-fundada cidade de Salvador. Mas, na verdade, Portugal fronteiriços (como Bolívia, Paraguai e Peru), por meio de tratados
sempre temeu a formação de um centro de poder unificado em suas bilaterais ou por arbitramento internacional1.
colônias do Novo Mundo. O Império foi responsável pela fixação de mais da metade da for-
Em 1621, a América Portuguesa foi dividida em Estado do Brasil mação das fronteiras terrestres brasileiras. Os limites com o Uruguai,
e Estado do Maranhão. Este segundo, subordinado apenas à Coroa, anexados por D. João VI em 1821, foram frutos de acordos de 1828,
destinava-se a garantir a defesa do litoral setentrional sujeito a ataques que reconheceram a independência do país.
de franceses corsários. Em 1737, afastadas as ameaças francesas, a aten-
ção da Coroa concentrou-se na consolidação da soberania sobre a bacia 1.2 Formação das Fronteiras
amazônica, alterando-se o nome da entidade para Estado do Grão-Pará ao Longo da História
e Maranhão e transferindo-se a sede de São Luiz para Belém.
As fortificações erguidas pela Coroa confirmaram seu valor estra-
tégico durante as negociações entre Portugal e a Espanha que levaram
à assinatura do Tratado de Madri. Após muitas disputas entre Portu-
gal e Espanha, os governantes decidiram aceitar o uti possidetis, um
princípio do Direito Romano pelo qual é considerado dono da terra
aquele que realmente a ocupa.
Fortificações na região amazônica.
Em 1750 foi assinado o Tratado de Madri, pelo qual foi reconhe-
cida a posse portuguesa da Amazônia e de outras regiões situadas além
dos limites de Tordesilhas.

1 Arbitramento Internacional: situação em que outros países são escolhidos para


resolver as questões de fronteira.

234
GEOPOLÍTICA
As fronteiras com o Paraguai formaram-se a partir do conf lito Ao mesmo tempo, expedições científicas e artísticas percorreriam
entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, no fim da Guerra do Paraguai o país produzindo um paisagismo brasileiro. Os viajantes descreviam,
em 1870. desenhavam, gravavam e pintavam a paisagem tropical, os animais e
as plantas, assim como os índios.

1.4 O Período Republicano


Desde a proclamação da República, em 1889, as províncias foram
transformadas em estados. A Constituição Republicana de 1891 orga-
nizou o país como Estado federal. Com isso, os estados, unidades da
Federação, ganharam autonomia.
Ao longo da República, as mudanças nos limites político-adminis-
trativos das unidades da federação decorreram dos processos de criação
de territórios federais e de desmembramentos de estados.
O Acre foi o primeiro território federal, criado em 1903. A polí-
tica externa do início do período republicano foi marcada pela figura
do Barão do Rio Branco, responsável pela delimitação de quase um
terço da extensão das fronteiras terrestres. O principal feito do Barão G
E
Duque de Caxias e o ditador paraguaio Francisco Solano Lopes do Rio Branco foi a solução para a Questão do Acre. Após inúmeras O
A geração daqueles que lutaram na guerra, quer nos países aliados, quer no revoltas de seringueiros contra a empresa Bolivian Syndicate, um cartel P
Paraguai, não registrava de forma positiva o papel histórico de Solano López. estadunidense, Rio Branco iniciou negociações que culminaram na
Havia certeza da sua responsabilidade, quer no desencadear da guerra, ao assinatura do Tratado de Petrópolis no ano de 1903.
invadir o Mato Grosso, quer na destruição de seu país, pelos erros na condução
das operações militares e na decisão de sacrificar os paraguaios, mesmo quando
caracterizada a derrota, em lugar de pôr fim ao conflito. Dessa geração nasceu
a historiografia tradicional sobre a guerra, que simplificou a explicação do
conflito ao ater-se às características pessoais de Solano López, classificado como
ambicioso, tirânico e, mesmo, quase desequilibrado.
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: Nova História Da Guerra Do Paraguai.

1.3 A independência e a
identidade nacional
Com a Independência, nasceu um imenso império nos trópicos,
comandado por D. Pedro I. A Constituição de 1824, imposta pelo
imperador, consolidou o caráter hereditário e escravista desse império
cuja capital era o Rio de Janeiro.

Aos poucos, os territórios federais foram elevados a estados, outros


foram extintos com a promulgação da Constituição de 1946, como é o
caso de Ponta Porã, incorporado ao Mato Grosso (hoje Mato Grosso
do Sul). Outros permaneceram até a Constituição de 1988, quando
foram extintos e se transformaram em estados.
As sucessivas expansões territoriais fizeram do Brasil o maior país
da América Latina, seguido pela Argentina (2.776.889 km²), o Peru
(1.285.216 km²), a Colômbia (1.138.9145 km²) e a Bolívia (1.098.518
km²).

1.5 Extensão, Localização e Limites


Proclamação da República, Pedro Américo. Com 8.514.876,5 Km² de superfície, o Brasil é o quinto país do
mundo em extensão territorial, sendo superado pela Rússia, Canadá,
Desde o início, a elite imperial dedicou-se à obra de produção e de
China e Estados Unidos. O território brasileiro corresponde a 1,6% de
uma identidade nacional. O IHGB (Instituto Histórico e Geográfico
toda a superfície terrestre, 5,7% das terras emersas, 20,8% da América
Brasileiro), organizado em 1838 e presidido a partir de 1849 por D.
e 47,3% da América do Sul. O território brasileiro atual tem 7.367 km
Pedro II, reuniu arquitetos dessa obra. Escritores como Gonçalves
de contorno marítimo e 15.719 km de fronteiras terrestres limitando-se
Dias e José de Alencar elaboraram a mitologia romântica do índio.
com 10 países sul-americanos com exceção de Chile e Equador. A
Naturalistas como o alemão Carl Von Martius dedicaram-se a des-
maior fronteira é com a Bolívia (3.126 km) e a menor com o Suri-
crever a flora brasileira. Intelectuais como Francisco de Varnhagen
name (593 km). As últimas mudanças com relação às fronteiras do país
e Capistrano de Abreu começaram a gerar uma narrativa da história
aconteceram no fim do século XIX e no início do século XX, como as
colonial, na qual a natureza ocupava lugar privilegiado.
questões que envolviam os territórios do Acre, Palmas, Amapá e Pirara.

235
BRASIL POLÍTICO: NAÇÃO E TERRITÓRIO
FRONTEIRAS ATUAIS
1.7 Equidistância
O Brasil é considerado um país equidistante, pois as distâncias
entre o norte/sul (4.394,7km) e leste/oeste (4.319,4km) são pratica-
mente as mesmas.

Fonte: IBGE. Disponível em http://www.ibge.com.br; THÉRY, Hervé.


Esse processo de sucessivas expansões territoriais transformou o Fonte: IBGE
Brasil no maior país da América do Sul. Sua posição astronômica é
determinada pela passagem de dois dos principais paralelos: a linha
do Equador (0°) e o Trópico de Capricórnio (23°27´S).
A linha do Equador deixa 7% das terras brasileiras no hemisfério
norte e o restante no hemisfério sul, cortando os estados do Pará,
Amazonas, Amapá e Roraima; o Trópico de Capricórnio coloca 8%
da superfície do país na zona subtropical e 92% das terras na zona
intertropical, cortando os estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo
e Paraná. Sua posição geográfica é amplamente favorável impedindo
que haja áreas anecumênicas como altas montanhas, desertos e áreas
predominantemente geladas.

Invasões Holandesas - Batalha dos Guararapes. Vitor Meirelles de Lima.

1.6 Pontos Extremos - o Brasil


vai do Oiapoque ao Chuí?
A extensão latitudinal considerável tem como consequência prin-
cipal a grande diversidade climato-botânica e a possibilidade de grande
diversidade agrícola em nosso país.
Por muito tempo acreditou-se que o ponto mais extremo ao norte
do nosso território era o Oiapoque, no Amapá. Na realidade, o Monte
Caburaí é a borda de um imenso planalto, com mais de 2000 m de
altitude, que se estende ao longo da fronteira, com 5º 16’ 20” norte,
sendo o ponto mais setentrional do Brasil (Norte). Então o ditado
correto seria: "O Brasil vai do Caburaí ao Chuí"
O Monte Caburaí localiza-se 84,5 km mais ao norte que o
Oiapoque.

236
LÍNGUA INGLESA
NUMBERS, PRONOUNS AND DEFINITE AND INDEFINITE ARTICLES
Where do you live?
1 NUMBERS, PRONOUNS AND I live in that building, apartment 214.
DEFINITE AND INDEFINITE
1.2 Ordinal numbers
ARTICLES Os números ordinais são utilizados para indicar ordem ou hierar-
quia relativa a uma sequência.
1.1 Cardinal numbers
Na Língua Inglesa, a formação dos números ordinais é diferente
Os numerais cardinais são usados no nosso dia a dia para expressar da formação dos ordinais em Português: apenas o último número é
diversas funções, dentre elas: informar o número de telefone, expressar escrito sob a forma ordinal.
endereços e falar sobre preços. Segue abaixo uma lista dos principais
Todos os outros números são utilizados sob a forma de números
numerais cardinais:
cardinais em Inglês.
0 zero 1st – First
1 one 2nd – Second
2 two 3rd – Third
3 4th- Fourth
three
23rd - twenty-third
4 four
135th - a/one hundred thirty-fifth
5 five 1.234th - a/one thousand two hundred thirty-four
6 six
7 seven 1.3 Articles
8 eight Artigo é a classe de palavras que se antepõe ao substantivo para
definir, limitar ou modificar seu uso. Os artigos dividem-se em defi-
9 nine
nidos e indefinidos.
10 ten
A seguir, estudaremos cada um deles.
11 eleven
12 twelve 1.3.1 Definite article
13 thirteen “The” é o artigo definido na Língua Inglesa, e significa o, a, os,
as e pode ser usado com substantivos contáveis no singular ou plural e
14 fourteen
com substantivos incontáveis. É utilizado quando queremos sinalizar
15 fifteen especificamente a que elemento(s) estamos nos referindo especifi-
16 sixteen camente, ou seja, que se trata de um elemento único. A seguir serão
17 seventeen apresentadas situações típicas de seu uso:
18 eighteen ▷ Antes de substantivos com sentido específico:
19 nineteen The water in the world.
20 twenty ▷ Antes de numerais ordinais:
The 4th of July.
30 thirty
▷ Antes de nomes de países no plural ou de países que são união
40 forty
de estados, ilhas etc.:
50 fifty
The United States of America
60 sixty The Falklands
70 seventy ▷ Antes de adjetivos e advérbios no grau superlativo:
80 eighty Mary is the most intelligent person of this class.
90 ninety ▷ Antes de nomes de ilhas, desertos, montanhas, rios, mares etc.:
99 ninety nine The Pacific Ocean
100 one hundred/a hundred
The Saara Desert

200 ▷ Antes de nomes de navios, modelos de carros e aviões:


two hundred
The Titanic was enourmous.
300 three hundred
▷ Antes de nomes de famílias no plural:
400 four hundred
The Smiths
500 fifty hundred
▷ Antes de nomes de instrumentos musicais:
600 six hundred
He plays the guitar very well.
700 seven hundred
Quando NÃO USAR o artigo definido?
800 eight hundred
900 ▷ Antes de substantivos tomados em sentido genérico:
nine hundred
Grape juice is good for you.
1000 one thousand /a thousand
▷ Antes de nomes próprios no singular (pessoas, cidades etc.):
100000 one hundred thousand
São Paulo is a big city.
1000000000 one million
Mike loves coffee.

284
LÍNGUA INGLESA
▷ Antes de possessive adjectives: ▪ A 2ª pessoa, tanto do singular quanto do plural, possui a mesma
His car is over there. forma. Sendo assim, dependemos do contexto para identificá-la.
▷ Antes de nomes de profissões (se o nome do profissional for citado): ▪ A 3ª pessoa do plural é a mesma para o gênero masculino, feminino
Judge Louis will talk to you later. ou ainda para os elementos neutros.
▷ Antes de palavras que se referem a idiomas, desde que não sejam Agora veremos o uso dos pronomes pessoais em frases. Os verbos
seguidas do termo “language”: (ações) estão sublinhados para que ajudem a identificar a posição do
Portuguese is interesting. pronome, seja antes (subject pronouns) ou depois (object pronouns).
I live in New York.
1.4 Indefinite articles He bought a gift for you.
Os artigos indefinidos em Língua Inglesa na forma do singular são They didn’t like it.
dois: a e an. Ambos só podem ser empregados com substantivos contáveis. He saw her yesterday.
A é usado antes de palavras que iniciam com som de consoante e Boys, you don’t have to wake up early tomorrow.
AN antes das que iniciam com som de vogal.
1.5.2 Pronomes Pessoais (Reto e Oblíquo)
She has a doll.
Os pronomes podem também ser utilizados para criar uma refe-
Look! That’s an apple tree!
rência a um determinado ser ou objeto, relacionando-o assim com
Existem casos em que a pronúncia determina o uso de artigos outras pessoas ou objetos no discurso.
indefinidos. Observe as seguintes regras:
Desta maneira, discutiremos a partir de agora estas categorias,
1.4.1 Usa “A” tentando entendê-las de maneira mais apropriada como elas funcionam
e o que podemos usar para fazermos uma boa interpretação textual
▷ Antes de palavras que iniciam com H aspirado: L
considerando o seu domínio. I
a house, a horse, a homerun
N
▷ Antes de palavras que começam com os sons de eu, ew e u: VERBS G
a European trip, a unicorn, a useful skill. Subject pronoun Object Pronoun

1.4.2 Usa “AN” I (Eu) Me (me, mim)


▷ Antes de palavras que iniciam com H não pronunciado (mudo): You (-lhe, -o, -a, -lo, -la, -no,
You ( você, tu)
an hour, an heir, an honest man. -na, ti a você)

1.5 Pronouns He ( Ele) Him (-lhe, -a, -lo, -no, a ele)

São palavras que acompanham os substantivos, podendo substi-


She (Ela) Her (-lhe, -a, -la,-na, a ela)
tuí-los (direta ou indiretamente), retomá-los ou se referir a eles. Os
pronomes são divididos em várias categorias. Neste módulo falaremos It (-lhe, -o, -a , -lo, -no, -la, -na a
It (ele, ela, isto)
dos pronomes pessoais: ele, a ela.)

We (Nós) Us (-nos, nós)


1.5.1 Personal pronouns
You(-lhes, -os, -as, -los, -las,
Os pronomes são termos utilizados para substituir nomes com- You (vocês)
-nos, -nas, a vocês)
pletos ou substantivos em frases. Eles são divididos de acordo com
quatro classificações: Them (-lhes, -os, -as , -los, -nos,
They (eles, elas)
-las, -nas a eles, a elas.)
▪ Quanto ao número: singular ou plural;
▪ Quanto à pessoa: primeira, segunda ou terceira; O pronome it é específico para animais e seres inanimados. É um
▪ Quanto ao gênero: masculino, feminino ou neutro; pronome neutro, equivale a ele/ela.
▪ Quanto à função que cumprem nas sentenças: sujeito ou objeto. Os pronomes he, she e it, ou seja, os pronomes da terceira pessoa,
Vejamos quais são os pronomes pessoais de acordo com as clas- são que falam sujeitos que não estão presentes no momento da fala.
sificações a seguir: Note que normalmente o “subject pronoun” antecede o verbo,
portanto, na maioria dos casos, ele é um sujeito, enquanto o “object
Subjet Object
Pronomes pessoais pronoun” é um complemento e surge após ao verbo.
pronouns pronouns
I love that big house.
1 ª Pessoa do singular Eu I Me
(Note como “big house” equivale, em termos de pronome, a “it”.)
2 ª Pessoa do singular Tu/Você You You I love her.
Ele He Him (Perceba que neste exemplo simples nós temos dois sujeitos com-
3 ª Pessoa do singular Ela She Her pletamente diferentes, EU e a seguir ELA.)
Ele/Ela (Neutro) It It
Fique ligado
1 ª Pessoa do plural Nós We Us
O “you” é o pronome equivalente tanto para “você” como para “vocês”.
2ª Pessoa do plural Vós/Vocês You You
O verbo e o contexto é que determinarão se é singular ou plural.
3ª Pessoa do plural Eles/Elas They Them
▪ O elemento neutro representa vocábulos sem gênero na Língua
Inglesa, tais como: objetos, animais, fenômenos da natureza.

285
NUMBERS, PRONOUNS AND DEFINITE AND INDEFINITE ARTICLES
em que a segunda pessoa do singular e a segunda pessoa do plural
1.5.3 Possessivos (pronomes e adjetivos)
possuem uma diferença clara.
SUBSTANTIVO Yourself – singular
Adjetivo possessivo Pronome possessivo Yourselves - plural
(Adjective possessive, (possessive pronouns, I hurt myself preparing the food. (Eu machuquei a mim mesmo
pedem substantivo) seguem a um substantivo) preparando a comida.)
My (meu(s), minha(s)) Mine (meu(s), minha(s)) They saw themselves on the mirror and didn’t like it. (Eles viram
Your (seu, sua, teu, tua) YourS (seu, sua, teu, tua) eles mesmos no espelho e não gostaram disso.)
O pronome reflexivo em ambos os casos mostra sujeitos os quais
His (seu, dele) His (seu, dele)
sofrem suas próprias ações, neste caso “Hurt” e “Saw”.
Her (sua, dela) HerS (sua, dela)
Fique ligado
Its (seu, sua, disto, deste, itS (seu, sua, disto, deste,
desta) desta) Sempre faça a pergunta: quem é? para o substantivo para
conhecer o pronome utilizado. Billy loves old cars. Quem é Billy?
Our (nosso(s), nossa(s)) OurS(nosso(s), nossa(s)) ELE. A sua resposta indica o pronome buscado.
Your (seus, suas) YourS (seus, suas)
1.5.5 Pronomes Interrogativos, pronomes
Their (seus, suas, deles, delas) TheirS (seus, suas, deles, delas)
relativos e relações pronominais
Anteriormente, falamos sobre os pronomes, sua natureza, quais
O adjetivo possessivo antecede um substantivo, de maneira que
suas funções em relação ao sujeito ou verbo. Agora, vamos estudar
este serve de complemento. Já o pronome possessivo não exige comple-
uma classe de pronomes que além de exercer o papel de pronomes
mento, mas irá se referir a um substantivo já mencionado e, portanto,
interrogativos, desempenham variadas funções no uso da língua. Eles
promove uma ligação entre os elementos da sentença analisada, esta
se encontram na tabela a seguir:
ligação será conhecida como relação pronominal.
Perceba que traço distintivo dos pronomes possessivos, que por WHAT O quê / Qual? (De forma abrangente)
acaso é um “S”, o que sob aspecto algum é um traço de pluralidade, WHICH O quê / Qual? (De forma específica)
mas sim um indicativo de que o pronome segue ao substantivo. Desta
forma, temos uma maneira de distinguir ambos os casos, o que para WHERE Onde?
todos os efeitos, são os mesmos. WHEN Quando
My house is very big!_How about YourS? (Minha casa é muito
grande! E a sua?) WHY Porque? Por que?

Note que, no primeiro caso, My refere-se a casa, que ainda não foi WHO Quem?
apresentada, e, no segundo, yours, refere-se ao mesmo objeto, casa, WHOSE De quem?
mas nesse caso, ela, a casa, já foi apresentada. WHOM A quem?

My: adjetivo possessivo referente a minha casa. HOW Quanto / Como?


Yours: pronome possessivo referente à casa de quem o sujeito está
Cada pronome interrogativo gera um sentido distintivo dentro da
perguntando. (sua)
sentença analisada, possibilitando um determinado raciocínio para a
1.5.4 Pronomes reflexivos mesma. Eles são mais fortes que os auxiliares, por exemplo, e devem,
quando necessário, iniciar a sentença.
Myself I Me My Mine
Do you like to study? (Você gosta de estudar?)
Yourself You You Your Yours Perceba que a pregunta é direta e temos duas respostas possíveis:
Himself He Him His His “Sim” ou “Não”.
Agora vejamos o próximo exemplo:
Herself She Her Her Hers
When do you like to study? (Quando você gosta de estudar?)
Itself It It Its Its
Repare que, neste caso, temos uma referência temporal inserida na
Ourselves We Us Our Ours sentença, o “quando” muda o valor da questão e propõe um raciocínio
Yourselves You You Your Yours que agora já não permite mais um “Sim” ou “Não” como respostas,
mas uma construção que guarde relação de tempo.
Themselves They Them Their Theirs
Which e What são pronomes muito semelhantes em sentido,
Os pronomes reflexivos são responsáveis por apresentarem sujei- porém são usados em casos diferentes.
tos os quais são objetos de suas próprias ações, ou seja, enquanto os Which is you favorite color? Blue or Yellow?
pronomes reto e objeto mostram dois sujeitos completamente diferen- Nesse caso, “Which” foi utilizado para delimitar um número
tes, os pronomes reflexivos mostram o mesmo sujeito sofrendo uma possível de cores.
determinada ação realizada por si mesmo. What is your favorite color? Já neste exemplo, o universo de cores
Os sufixos que formam os pronomes reflexivos podem ser –self possíveis não foi delimitado, o que torna possível o uso de “WHAT”.
ou –selves, sendo que –self é um sufixo que indica singularidade e –
selves é um sufixo que indica pluralidade, uma das poucas ocasiões

286
LÍNGUA INGLESA
Entretanto, tais pronomes podem não ser usados apenas para cons-
truir perguntas, mas para propor conexões em sentenças e/ou construir
relações com elementos já apresentados no texto.
A essas conexões damos o nome de relações pronominais e elas
podem se construir sob diversas formas:
I have recently bought a new house. It is big, comfortable and safe.
O pronome “it” negritado após o ponto se refere a quem? Caso
você tenha respondido casa, resposta certa. De fato, o pronome “it” foi
usado para resgatar a palavra “house” já mencionada anteriormente.
Portanto este pronome promove coesão para a sentença. Isso já foi visto
anteriormente, e quanto aos outros pronomes? Bem, aqui encontramos
os pronomes relativos.
Eles são os mesmos pronomes interrogativos e são usados de forma
a conectar também frases de sentidos distintos.
Shirley has a new boyfriend. He is a handsome doctor.
No exemplo acima, já existe uma relação pronominal, sendo que
“He” resgata a palavra boyfriend, mas ainda podemos construir essa
sentença de uma outra forma eliminando o ponto final da frase.
Shirley has a boyfriend WHO is a handsome doctor.
Nesse caso, o ponto deixou a sentença dando lugar ao “who”, o L
qual conecta a duas frases, promovendo um novo tipo de conexão. I
N
Agora o pronome “who” é o elo que conecta ambas as frases e também G
serve para referência de um elemento mencionado. Assim, Shirley’s
boyfriend, ou seja ainda, “he”.
Normalmente, os pronomes “Who” e “which” são mais utilizados
para construir tais relações, e correspondem geralmente a “O qual”
“A qual” ou mesmo “cujo”, sendo que nesses casos podemos também
utilizar o pronome “that” que é um substituto válido para ambos.
WHAT This is WHAT we saw in the fridge.

WHICH This is the restaurant WHICH I mentioned.

WHERE This is WHERE I live.

WHEN Yesterday was WHEN I saw her at the bank.

WHY This is WHY I love English.

WHO This is the person WHO I love ou This is the person


WHOSE THAT I love.
WHOM This is the man WHOSE car was stolen.
This is the girl to WHOM I was talking yesterday.

HOW If you knew HOW far I went.

Portanto, percebemos que estes pronomes “amarram” ou mesmo


“atam” as orações possibilitando referências, e criando sentidos mais
amplos e, por fim, evitando redundância.
“Who” e “which” são equivalentes a “that” e muitas vezes, este
pode substituí-los.
Este conteúdo é bastante importante para provas de concurso e
afins, pois são essenciais à interpretação textual.

287
LÍNGUA ESPANHOLA
LÍNGUA ESPANHOLA
complementares. Entre os que costumam aparecer com mais fre-
1 APRESENTAÇÃO quência, podemos citar: decir, manisfestar, expresar, señalar, añadir,
mantener, subrayar, enfatizar, sostener, declarar;
1.1 Interpretação de Textos ▪ Quanto aos textos jornalísticos, eles costumam usar metáforas,
Interpretar é o ato de fazer a interpretação de algo (texto) com o metonímias, frases irônicas e com duplo sentido;
intuito de buscar o sentido/a ideia defendida, explicada e/ou apresen- ▪ Atenção quanto ao comando dado no enunciado das questões:
tada pelo autor. • según el texto = segundo o texto
Em se tratando de uma prova interpretativa de concurso público, • en el texto se dice que = no texto diz que
é necessário entender que as questões não esperam que o candidato
mostre o que ele entendeu sobre um texto a partir de suas experiências, • de acuerdo con el texto = de acordo com o texto
mas o que realmente o texto afirma, considerando que pode haver • la expresión______tiene el sentido de
afirmações tanto do autor do texto quanto de outras pessoas sobre o • la expresión______significa
assunto, em forma de citações.
• la expresión______se refiere a
Independente de qual idioma o texto esteja escrito, há alguns ele-
• en el texto la palabra_____se puede sustituir (substituir) por
mentos que contribuem para a escrita e para a compreensão de uma
produção escrita. • en el texto la locución_____tiene valor de
E, devido à proximidade existente entre o português e o espanhol, • en el contexto del texto la palabra_____tiene el sentido de
é fundamental conhecer alguns aspectos que interferem no processo • equivalencia semántica entre la expresión _____e_____
de interpretação textual.
• según el texto es correcto afirmar que
• tras leer las afirmaciones del texto uno concluye que = depois de
Fique ligado
ler as afirmações do texto se conclui que
Os textos de espanhol escolhidos pela ESAF coincidem, quase • la idea central de los dos primeros párrafos del texto es = a ideia
sempre, com as notícias e temas que foram destaque nos últimos central dos dois primeiros parágrafos do texto é
3 meses antes da prova; por isso, é preciso começar a ler os
jornais online antes, para treinar a capacidade interpretativa.
Os preferidos são El País e La Nación, os quais podem ser
L
visualizados por meio do site www.prensaescrita.com, o qual E
possui links de vários jornais. S
P
Dentre eles, destacam-se: a) classes gramaticais: artigos, substan-
tivos, pronomes, preposições, conjunções advérbios e verbos; b) coesão:
elementos conectivos que unem palavras, frases, orações e períodos
(desses elementos, os mais comuns são os que têm valor de pronome,
preposição e conjunção).
Desse modo, serão apresentados os elementos mais importantes
no processo de interpretação de textos.

1.2 Interpretação de Textos em Espanhol


Quando o texto é em uma língua diferente da nossa língua
materna, é preciso ter muita atenção ao lê-lo e ao interpretá-lo, prin-
cipalmente por causa dos falsos amigos (palavras que são semelhantes
ao português na grafia, mas são diferentes quanto ao sentido).
▷ No momento da leitura de um texto, é conveniente que algumas
atitudes sejam tomadas:
▪ Grifar as palavras desconhecidas, pois elas podem ser a chave para
solução de alguma questão;
▪ Tentar entender a ideia principal de cada parágrafo;
▪ Sempre voltar ao texto para comparar a alternativa com as frases
a que ela se refere;
▪ Lembrar que o texto possui a opinião do autor e não a sua;
▪ Dar atenção especial ao enunciado da questão, principalmente a
algumas palavras, como: subrayada (sublinhada), hueco (espaço),
con excepción de (com exceção de), en negrita (em negrito),
señalado (assinalado), palabra destacada del texto, correcta/
incorrecta;
▪ Ficar atento às palavras em espanhol que são parecidas com o
português, pois nem tudo o que parece em espanhol é igual em
português e vice-versa;
▪ Dar uma atenção aos advérbios, conjunções, preposições e famo-
sas expressões idiomáticas - fazem toda a diferença no contexto
textual;
▪ Em relação aos verbos, eles desempenham papel importante den-
tro do texto, porque diferenciam as afirmações, dizendo se são
informativas, argumentativas, enfáticas, repetitivas, adicionais ou

319
DIREITO
ADMINISTRATIVO
DIREITO ADMINISTRATIVO
sejam elas de natureza interna entre as entidades que a compõem,
1 INTRODUÇÃO AO DIREITO seus órgãos e agentes, ou de natureza externa entre a administração
ADMINISTRATIVO e os administrados.
Além de ter por objeto a atuação da Administração Pública, tam-
Na introdução ao Direito Administrativo, conheceremos algumas
bém é foco do Direito Administrativo o desempenho das atividades
características do Direito Administrativo, seu conceito, sua finalidade
públicas quando exercidas por algum particular, como no caso das
e seu regime jurídico peculiar que orienta toda a sua atividade admi-
concessões, permissões e autorizações de serviços públicos.
nistrativa, seja ela exercida pelo próprio Estado-administrador, ou por
particular. Para entendermos melhor tudo isso, é preciso iniciar os Resumidamente, podemos dizer que o Direito Administrativo tem
estudos pela compreensão adequada do papel do Direito na vida social. por objeto a Administração Pública e as atividades administrativas,
independentemente de quem as exerçam.
O Direito é um conjunto de normas (regras e princípios) impostas
coativamente pelo Estado que regulam a vida em sociedade, possibi-
litando a coexistência pacífica das pessoas.
1.4 Fontes do Direito Administrativo
É o lugar de onde provém algo, no nosso caso, no qual emanam
1.1 Ramos do Direito as regras do Direito Administrativo. Esse não está codificado em um
único livro. Dessa forma, para o estudarmos de maneira completa,
O Direito é historicamente dividido em dois grandes ramos: o
temos que recorrer às fontes, ou seja, a institutos esparsos. Por esse
direito público e o direito privado.
motivo, dizemos que o Direito Administrativo está tipificado (escrito),
Em relação ao direito privado, vale o princípio da igualdade (iso- mas não está codificado em um único instituto.
nomia) entre as partes; aqui não há que se falar em superioridade
• Lei: fonte principal do Direito Administrativo. A lei deve ser
de uma parte sobre a outra. Por esse motivo, dizemos que estamos
compreendida em seu sentido amplo, o que inclui a Constituição
em uma relação jurídica horizontal ou em uma horizontalidade nas
Federal, as normas supralegais, as leis e também os atos normati-
relações jurídicas.
vos da própria Administração Pública. Temos como exemplo os
O direito privado é regulado pelo princípio da autonomia da von- arts. 37 ao 41 da Constituição Federal, as Leis nºs 8.666/1993,
tade, o que traduz a regra que diz que o particular pode fazer tudo 14.133/2021, 8.112/1990, 8.429/1992 (Lei de Improbidade
aquilo que não é proibido (art. 5º, inciso II, da Constituição Federal Administrativa), 14.230/2021, 9.784/1999 (Processo Admi-
de 1988). nistrativo Federal) etc.
No direito público, temos uma relação jurídica vertical, com o • Súmulas Vinculantes: são instruções jurídicas que norteiam a
Estado em um dos polos, representando os interesses da coletividade, interpretação e aplicação das normas constitucionais. Ou seja,
e um particular no outro, desempenhando seus próprios interesses. O as decisões trazidas pelo STF nas súmulas devem ser seguidas
Estado é tratado com superioridade ante ao particular, pois o Estado pelo Poder Judiciário e pela Administração Pública.
é o procurador da vontade da coletividade, que, representada pelo
• Jurisprudência: são decisões que são editadas pelos tribunais
próprio Estado, deve ser tratada de forma prevalente ante a vontade D
e não possuem efeito vinculante; são resumos numerados que A
do particular.
servem de fonte de pesquisa do direito materializados em livros, D
O fundamento dessa relação jurídica vertical é encontrado no prin- artigos e pareceres. M
cípio da supremacia do interesse público, que estudaremos com mais
• Doutrina: tem a finalidade de tentar sistematizar e melhor
detalhes no tópico referente aos princípios. Já podemos, no entanto,
explicar o conteúdo das normas de Direito Administrativo. A
adiantar que, o interesse público é supremo. Desse modo, são disponi-
doutrina pode ser utilizada como critério de interpretação de
bilizadas ao Estado prerrogativas especiais para que este possa atingir
normas, bem como para auxiliar a produção normativa.
os seus objetivos. Essas prerrogativas são os poderes da Administração
Pública. • Costumes: conjunto de regras não escritas, porém, observadas
de maneira uniforme, as quais suprem a omissão legislativa
Os dois princípios norteadores do Direito Administrativo são:
acerca de regras internas da Administração Pública.
Supremacia do Interesse Público (gera os poderes) e Indisponibilidade
do Interesse Público (gera os deveres da administração). Segundo o doutrinador do Direito Administrativo, Hely Lopes
Meirelles, em razão da deficiência da legislação, a prática administra-
1.2 Conceito de Direito Administrativo tiva vem suprindo o texto escrito e, sedimentada na consciência dos
administradores e administrados, a praxe burocrática passa a saciar a
Na doutrina, podem ser encontrados vários conceitos para o lei e atuar como elemento informativo da doutrina.
Direito Administrativo. A seguir, descreveremos dois deles, trazidos
Leis e súmulas vinculantes são consideradas fontes principais do
pela doutrina contemporânea:
Direito Administrativo. Jurisprudência, súmulas, doutrinas e costumes
• O Direito Administrativo é o ramo do direito público que tem são considerados fontes secundárias.
por objeto órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas
que integram a Administração Pública. A atividade jurídica não
Principais
contenciosa que exerce e os bens que se utiliza para a consecução
Fontes
de seus fins são de natureza pública.
• O Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princí-
pios jurídicos que regem órgãos, agentes e atividades públicas
que tendem a realizar concreta, direta e imediatamente os fins Súmulas
Lei
desejados pelo Estado. Vinculantes
Os conceitos de Direito Administrativo foram desenvolvidos de
forma que se desdobram em uma sequência natural de tópicos que
devem ser estudados ponto a ponto para que a matéria seja correta- Art. 37 ao 41 CF/1988
mente entendida. Lei nº 8.666/1993
Lei nº 8.112/1990
1.3 Objeto do Direito Administrativo Lei nº 8.429/1992
Lei nº 9.784/1999
Por meio desses conceitos, podemos constatar que o objeto do Lei nº 14.133/2021
Direito Administrativo são as relações da Administração Pública, Lei nº 14.230/2021

339
INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO
O princípio da supremacia do interesse público é o fundamento
Fontes dos poderes da Administração Pública, afinal de contas, qualquer
Secundárias pessoa que tenha como fim máximo da sua atuação o interesse da
coletividade, somente conseguirá atingir esses objetivos se dotadas
de poderes especiais.
O princípio da indisponibilidade do interesse público é o funda-
Jurisprudência Doutrina Súmulas
mento dos deveres da Administração Pública, pois essa tem o dever
de nunca abandonar o interesse público e de usar os seus poderes com
1.5 Sistemas Administrativos a finalidade de satisfazê-lo.
É o regime que o Estado adota para o controle dos atos adminis- Desses dois princípios, decorrem todos os outros princípios e regras
trativos ilegais praticados pelo poder público nas diversas esferas e em que se desdobram no regime jurídico administrativo.
todos os poderes. Existem dois sistemas que são globalmente utilizados:
• O sistema francês (do contencioso administrativo), não utili- 1.7 Noções de Estado
zado no Brasil, determina que as lides administrativas podem
transitar em julgado, ou seja, as decisões administrativas têm 1.7.1 Conceito de Estado
força de definibilidade. Nesse sentido, falamos em dualidade de • Estado: é a pessoa jurídica territorial soberana.
jurisdição, já que existem tribunais administrativos e judiciais, • Pessoa: capacidade para contrair direitos e obrigações.
cada qual com suas competências.
• Jurídica: é constituída por meio de uma formalidade documen-
• O sistema inglês (do não contencioso administrativo), também tal e não por uma mulher, tal como a pessoa física.
chamado de jurisdicional único ou unicidade da jurisdição, é o
• Territorial soberana: quer dizer que, dentro do território do
sistema que atribui somente ao Poder Judiciário a capacidade
Estado, esse detém a soberania, ou seja, sua vontade preva-
de tomar decisões sobre a legalidade administrativa com caráter
lece ante a das demais pessoas (sejam elas físicas ou jurídicas).
de coisa julgada ou definitividade.
Podemos definir soberania da seguinte forma: soberania é a
Atenção! independência na ordem internacional (lá fora ninguém manda
no Estado) e supremacia na ordem interna (aqui dentro quem
A Constituição Federal de 1988 adotou o Sistema Inglês, do não manda é o Estado).
contencioso administrativo.
1.7.2 Elementos do Estado
O Direito Administrativo, no nosso sistema, não pode fazer coisa
• Território: é a base fixa do Estado (solo, subsolo, mar, espaço
julgada e todas as decisões administrativas podem ser revistas pelo
aéreo).
Poder Judiciário, pois somente ele pode dar resolução em caráter defi-
nitivo. Ou seja, não cabem mais recursos, por isso, falamos em trânsito • Povo: é o componente humano do Estado.
em julgado das decisões judiciais e nunca das decisões administrativas. • Governo soberano: é o responsável pela condução do Estado.
Por ser tal governo soberano, ele não se submete a nenhuma
1.5.1 Via administrativa de curso forçado vontade externa, apenas aos desígnios do povo.
São situações em que o particular é obrigado a seguir todas as vias
administrativas até o fim, antes de recorrer ao Poder Judiciário. Isso
1.7.3 Formas de Estado
é exceção, pois a regra é que, ao particular, é facultado recorrer-se ao • Estado unitário: é caracterizado pela centralização política; não
Poder Judiciário, por força do art. 5º, inciso XXXV, da Constituição existe divisão em Estados-membros ou municípios, há somente
Federal de 1988. uma esfera política central que emana sua vontade para todo o
Aqui, o indivíduo deve esgotar as esferas administrativas obriga- país. É o caso do Uruguai.
toriamente antes de ingressar com ação no Poder Judiciário. • Estado federado: caracteriza-se pela descentralização política.
XXXV - A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão Existem diferentes entidades políticas autônomas que são distri-
ou ameaça a direito. buídas regionalmente e cada uma exerce o poder político dentro
Exemplos: de sua área de competência. É o caso do Brasil.
• Justiça Desportiva: só são admitidas pelo Poder Judiciário 1.7.4 Poderes do Estado
ações relativas à disciplina e às competições desportivas depois
de esgotadas as instâncias da Justiça Desportiva. Art. 217, § Os poderes do Estado estão previstos no texto Constitucional.
1º, CF/1988. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si,
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
• Ato administrativo ou omissão da Administração Pública
que contrarie súmula vinculante: só pode ser alvo de recla- Os poderes podem exercer as funções para que foram investidos
mação ao STF depois de esgotadas as vias administrativas. Lei pela Constituição Federal (funções típicas) ou executar cargos diver-
nº 11.417/2006, art. 7º, § 1º. sos das suas competências constitucionais (funções atípicas). Por esse
• Habeas data: é indispensável para caracterizar o interesse de motivo, não há uma divisão absoluta entre os poderes, e sim relativa,
agir no habeas data a prova anterior do indeferimento do pedido pois o Poder Executivo pode executar suas funções típicas (administrar)
de informação de dados pessoais ou da omissão em atendê-lo e pode também iniciar o processo legislativo em alguns casos (pedido
sem que se confirme situação prévia de pretensão. (STF, HD, de vagas para novos cargos). Além disso, é possível até mesmo legislar
22-DF Min. Celso de Mello).
no caso de medidas provisórias com força de lei.
1.6 Regime jurídico administrativo
É o conjunto de normas e princípios de direito público que regulam
a atuação da Administração Pública. Tais regras se fundamentam nos
princípios da Supremacia e da Indisponibilidade do Interesse Público,
conforme estudaremos adiante.

340
DIREITO ADMINISTRATIVO
A chefia do Estado e a do Governo são representadas pela mesma
Poderes Funções típicas Funções atípicas
pessoa.
Criar leis O Brasil adota o presidencialismo como sistema de governo.
Administrar
Legislativo Fiscalizar (Tribunal de
Julgar conflitos
Contas) 1.8.3 Formas de governo
Criar leis A forma de governo refere-se à relação entre governantes e
Executivo Administrar governados.
Julgar conflitos
• Monarquia
Administrar
Judiciário Julgar conflitos Hereditariedade: o poder é passado de pai para filho.
Criar leis
Vitaliciedade: o detentor do poder fica no cargo até a morte e não
É importante notar que a atividade administrativa está presente nos necessita prestar contas.
três poderes. Por isso, o Direito Administrativo, por ser um dos ramos • República
do Direito Público, disciplina não somente a atividade administrativa do
Eletividade: o governante precisa ser eleito para chegar ao poder.
Poder Executivo, mas também as do Poder Legislativo e do Judiciário.
Temporalidade: ao chegar ao poder, o governante ficará no cargo
1.8 Noções de governo por tempo determinado e deve prestar contas.
O Brasil adota a república como forma de governo.
Governar é atividade política e discricionária, tendo conduta inde-
pendente. O ato de governar está relacionado com as funções políticas
do Estado: de comandar, coordenar, direcionar e fixar planos e dire-
trizes de atuação do Estado.
O governo é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais res-
ponsáveis pela função política do Estado. Ele está diretamente ligado
às decisões tomadas pelo Estado, exercendo direção suprema e geral. Ao
fazer uma analogia, podemos dizer que o governo é o cérebro do Estado.

1.8.1 Função de governo e


função administrativa
É comum aparecer em provas de concursos públicos questões que
confundem as ideias de governo e de Administração Pública. Para
evitar esse erro, analisaremos as diferenças entre as expressões.
O governo é uma atividade política e discricionária e que pos- D
sui conduta independente. Para ele, a administração é uma atividade A
D
neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma técnica, e exercida M
mediante conduta hierarquizada.
Não podemos confundir governo com Administração Pública, pois
o governo se encarrega de definir os objetivos do Estado e as políticas
para o alcance desses objetivos. A Administração Pública, por sua vez,
se encarrega de atingir os objetivos traçados pelo governo.
O governo atua mediante atos de soberania ou, ao menos, de
autonomia política na condução dos negócios públicos. A adminis-
tração é atividade neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma
técnica. Governo é conduta independente, enquanto a administração
é hierarquizada.
O governo deve comandar com responsabilidade constitucional
e política, mas sem responsabilidade técnica e legal pela execução. A
administração age sem responsabilidade política, mas com responsa-
bilidade técnica e legal pela execução dos serviços públicos.

1.8.2 Sistemas de governo


Sistema de governo refere-se ao grau de dependência entre o Poder
Legislativo e Executivo.
• Parlamentarismo
É caracterizado por uma grande relação de dependência entre o
Poder Legislativo e o Executivo.
A chefia do Estado e a do Governo são desempenhadas por pes-
soas distintas.
Chefe de Estado: responsável pelas relações internacionais.
Chefe de governo: responsável pelas relações internas, o chefe de
governo é o da Administração Pública.
• Presidencialismo
É caracterizado por não existir dependência, ou quase nenhuma,
entre os Poderes Legislativo e Executivo.

341
DIREITO
CONSTITUCIONAL
INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL
importância dessa matéria, é possível que alguma jurisprudência do
1 INTRODUÇÃO AO DIREITO STF seja contrária ao próprio texto constitucional. Dessa forma, o
CONSTITUCIONAL aluno precisa ter uma dupla percepção: conhecer o texto da Consti-
tuição e conhecer a jurisprudência do STF.
1.1 Noções gerais Contudo, ainda existe outra fonte de conhecimento essencial para
Para iniciarmos o estudo do Direito Constitucional, alguns con- o aprendizado em Direito Constitucional: a doutrina. A doutrina é
ceitos precisam ser esclarecidos. o pensamento produzido pelos estudiosos do Direito Constitucional.
Primeiramente, faz-se necessário conhecer qual será o objeto de Conhecer a doutrina também faz parte de sua preparação.
estudo desta disciplina jurídica: Constituição Federal. Em suma, para estudar Direito Constitucional é necessário estudar:
A Constituição Federal é a norma mais importante de todo o • A Constituição Federal;
ordenamento jurídico brasileiro. Ela é a norma principal, a norma • A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal;
fundamental. • A doutrina do Direito Constitucional.
Se pudéssemos posicionar as espécies normativas na forma de uma Neste estudo, apresentaremos o conteúdo de Direito Constitu-
pirâmide hierárquica, a Constituição Federal apareceria no topo desta cional atualizado, objetivo e necessário para prova, de forma que se
pirâmide, ao passo que as outras espécies normativas estariam todas tenha à mão um material suficiente ao estudo para concurso público.
abaixo dela, como na ilustração:
Atenção
CF/1988 Metodologia de Estudo
A preparação em Direito Constitucional precisa observar três passos:
LEI, MP 1. Leitura da Constituição Federal;
DECRETO
2. Leitura de material teórico;
PRESIDENCIAL 3. Resolução de exercícios.
O aluno que seguir esses passos certamente chegará à aprovação
PORTARIA em concurso público. Essa é a melhor orientação para quem está
iniciando os estudos.
Para que sua preparação seja adequada, é necessário ter em vista uma
Constituição atualizada. Isso por conta de que a Constituição Federal 1.1.1 Classificações
atual foi promulgada em 1988, mas já sofreu diversas alterações. Significa A partir de algumas características que possuem as constituições, é
dizer, numa linguagem mais jurídica, que ela foi emendada. possível classificá-las, agrupá-las. As classificações a seguir não são as
As emendas constitucionais são a única forma de alteração do texto únicas possíveis, realçando apenas aqueles elementos mais comumente
constitucional. Portanto, uma lei ou outra espécie normativa hierar- cobrados nos concursos públicos.
quicamente inferior à Constituição jamais poderá alterar o seu texto. • Quanto à origem: a Constituição Federal pode ser promulgada
Neste ponto, caberia a seguinte pergunta: o que torna a Cons- ou outorgada. A promulgada é aquela decorrente de um ver-
tituição Federal a norma mais importante do direito brasileiro? A dadeiro processo democrático para a sua elaboração, fruto de
resposta é muito simples: a Constituição possui alguns elementos que uma Assembleia Nacional Constituinte. A outorgada é aquela
a distinguem das outras espécies normativas, por exemplo: imposta, unilateralmente, por um governante ou por um grupo
• Princípios constitucionais; de pessoas, ao povo.
• Direitos fundamentais; • Quanto à possibilidade de alteração, mutação: podem ser fle-
xíveis, rígidas ou semirrígidas. As flexíveis não exigem, para a
• Organização do Estado;
sua alteração, qualquer processo legislativo especial. As rígidas,
• Organização dos Poderes. contudo, dependem de um processo legislativo de alteração mais
De nada adiantaria possuir uma Constituição Federal com tantos difícil do que aquele utilizado para as normas ordinárias. Já as
elementos essenciais ao Estado se não existisse alguém para protegê-la. constituições semirrígidas são aquelas cuja parte de seu texto
O próprio texto constitucional previu um Guardião para a Constitui- só pode ser alterada por um processo mais difícil, sendo que
ção: o Supremo Tribunal Federal (STF). outra parte pode ser mudada sem qualquer processo especial.
O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário e possui como • Quanto à forma adotada: podem ser escritas/dogmáticas e
atribuição principal a guarda da Constituição. Ele é tão poderoso que, costumeiras. As dogmáticas são aquelas que apresentam um
se alguém editar uma norma que contrarie o disposto no texto cons- único texto, no qual encontramos sistematizadas e organizadas
titucional, o STF a declarará inconstitucional. Uma norma declarada todas as disposições essenciais do Estado. As costumeiras são
inconstitucional pelo STF não produzirá efeitos na sociedade. aquelas formadas pela reunião de diversos textos esparsos, reco-
nhecidos pelo povo como fundamentais, essenciais.
Além de guardião da Constituição Federal, o STF possui outra
atribuição: a de intérprete do texto fundamental. É o STF quem define • Quanto à extensão: podem ser sintéticas ou analíticas. As
a melhor interpretação para esta ou aquela norma constitucional. sintéticas são aquelas concisas, enxutas e que só trazem as dis-
posições políticas essenciais a respeito da forma, organização,
Quando um Tribunal manifesta sua interpretação, dizemos que ele
fundamentos e objetivos do Estado. As analíticas são aquelas que
revelou sua jurisprudência (o pensamento dos tribunais), sendo a do
abordam diversos assuntos, não necessariamente relacionados
STF a que mais interessa para o estudo do Direito Constitucional.
com a organização do Estado e dos poderes.
É exatamente neste ponto que se encontra a maior importância
A partir das classificações apresentadas acima, temos que a Cons-
do STF para o objetivo que se tem em vista: é essencial conhecer
tituição Federal de 1988 pode ser considerada por promulgada, rígida,
sua jurisprudência, pois costuma cair em prova. Para se ter ideia da
escrita e analítica.

366
DIREITO PENAL
DIREITO PENAL
vigora no Direito Penal brasileiro, classificada como Teoria Finalista
1 TEORIA DA LEI PENAL Tripartida ou Tripartite.
▷ Crime delito:
1.1 Introdução ao estudo do Direito Penal
A infração penal é um gênero que se divide em duas espécies: Fato típico (está escrito, definido como crime)
crimes (conduta mais gravosa) e contravenções penais (conduta de
+
menor gravidade). Essa divisão é chamada de dicotômica. A diferença
básica incide sobre as penas aplicáveis aos infratores: enquanto o crime Ilícito (antijurídico, contrário à lei)
é punível com pena de reclusão e detenção, as contravenções penais +
implicam em prisão simples e multa, que pode ser aplicada de forma
Culpável (culpabilidade)
cumulativa ou não.
Para que a conduta seja definida como crime, tem de estar tipifi-
1.2.1 Conceito de crime no
cada (escrita) em alguma norma penal. Não somente o próprio Código
Penal as descreve, mas também as leis complementares penais ou leis
Direito Penal brasileiro
especiais, ex.: Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), ▷ Fato típico: para ser considerado fato típico, é fundamental que a
Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura), entre outras. Por conseguinte, conduta esteja tipificada, ou seja, escrita em alguma norma penal.
o Decreto-lei nº 3.688/1941 prevê as contravenções penais, que tam- Não obstante, é necessário que exista:
bém são conhecidas como crime anão ou delito liliputiano, visto seu ▪ Conduta: é a ação do agente, seja ela culposa (descuidada) ou
reduzido potencial ofensivo. Como essa espécie de infração não é o dolosa, intencional; comissiva (ação) ou omissiva (deixar de fazer).
objetivo do estudo, não convém aprofundar o assunto, basta apenas ▪ Resultado: naturalístico (modificação provocada no mundo
ressaltar que contravenção penal não admite tentativa. No entanto, exterior pela conduta) ou jurídico (quando não houver resultado
no crime, a modalidade tentada é punível, desde que exista previsão jurídico, não há crime).
legal (Código Penal). ▪ Nexo causal: é o elo entre a ação e o resultado, ou seja, se o resul-
▷ Para configurar infração penal, são necessários alguns pressupostos: tado foi provocado diretamente pela ação do agente, há nexo causal.
▪ Deve ser uma conduta humana, ou seja, o simples ataque de um ▪ Tipicidade: a conduta tem de ser considerada crime e deve estar
animal não configura crime, porém, caso ele seja instigado por uma tipificada, ou seja, escrita na norma penal.
pessoa, o animal passa a ser um mero objeto utilizado na prática ▷ Ilícito (antijurídico): a ação do agente tem de ser ilícita, pois nosso
da conduta do agressor. ordenamento jurídico prevê legalidade em determinadas situações
▪ Deve ser uma ação consciente, possível de ser prevista pelo agente. que, mesmo sendo antijurídicas, serão permissivas. São as chamadas
Quando a conduta do agente se der com imprudência, negligência excludentes de ilicitude ou de antijuridicidade, sendo elas: legítima
ou imperícia, responderá de forma culposa. Entretanto, se real- defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal
mente houver intenção, ou seja, se a conduta do indivíduo for moti- ou exercício regular de um direito.
vada por desejo ou propósito específico, tem-se a conduta dolosa.
▪ Necessita ser voluntária. Caso o agente, por exemplo, venha a Fique ligado
agredir alguém por conta de um espasmo muscular, essa conduta Caso não existam alguns desses elementos na conduta, pode-se
é tida como involuntária. dizer que o fato é atípico.
▷ A infração penal sempre gera um resultado que pode ser: D
▷ Culpável (culpabilidade): é o juízo de reprovação que recai na con- P
▪ Naturalístico: quando ocorre efetivamente a lesão de um bem duta típica e ilícita. Em alguns casos, mesmo o agente cometendo um E
N
jurídico tutelado. Por exemplo, no crime de homicídio, o resultado fato típico e ilícito, ele não poderá ser culpável, ou seja, não poderá
naturalístico ocorre com a interrupção da vida da vítima, pois a receber uma sanção penal, pois incidirá nas excludentes de culpa-
conduta modificou o mundo exterior, tanto do de cujus (falecido) bilidade. A mais conhecida é a inimputabilidade em razão da idade,
como de seus familiares. ou seja, é o agente menor de 18 anos em conflito com a lei, o qual
▪ Jurídico: ocorre quando a lesão não se consuma. Utilizando o não comete crime, mas ato infracional análogo aos delitos previstos
mesmo exemplo apresentado anteriormente, ocorreria caso o no Código Penal. É quando, no momento da ação ou da omissão, o
agressor não tivesse êxito na sua conduta. Ele responderia pela agente é totalmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
tentativa de homicídio, desde que não tivesse causado lesão cor- de determinar-se de acordo com esse entendimento. Ainda dentro
poral. Convém ressaltar que, embora o agente não obtenha êxito dessa espécie, haverá três desdobramentos: imputabilidade, potencial
no resultado pretendido, o Código Penal sempre punirá por aquilo consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
que o agente queria fazer (elemento subjetivo), contudo, nesse caso, Para que o crime ocorra, é necessário preencher todos os requisitos
gerou apenas um resultado jurídico. anteriores. Caso haja exclusão de alguns dos elementos do fato típico
ou se não for ilícito/antijurídico, tem-se a exclusão do crime. Caso não
Fique ligado possa ser culpável, o agente será isento de pena.
Todo crime gera um resultado, porém nem todo crime gera um Pode ocorrer de o agente cometer um fato descrito como crime –
resultado naturalístico (lesão). matar alguém – e esse fato não ser considerado crime. Ex.: quem mata
em legítima defesa comete um fato típico, ou seja, escrito e definido
1.2 Teoria do crime como crime. Contudo, esse fato não é ilícito, pois a própria lei autoriza
Sendo o crime (delito) espécie da infração penal, possui uma o sujeito a matar em certos casos pré-definidos.
nova divisão. Nesse caso, existem diversas correntes doutrinárias que Pode ocorrer também de o agente cometer um fato definido como
definem esse conceito, entretanto, adotaremos a majoritária, a qual crime, ou seja, fato típico – escrito e definido no Código Penal – e

417
TEORIA DA LEI PENAL
ilícito, o ordenamento jurídico não autorizar aquela conduta, e mesmo Art. 121, CP Matar alguém:
assim ficar isento de pena. Assim, pode o sujeito cometer um crime e Pena – Reclusão, de seis a vinte anos. [...]
não ter pena. Ex.: quem é obrigado a cometer um crime, uma pessoa § 2º Se o homicídio é cometido: [...]
encosta a arma carregada na cabeça de outra e diz que, se ela não III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
cometer tal crime, morrerá. meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; [...]
Pena – Reclusão, de doze a trinta anos.
1.2.2 Princípio da legalidade Nessa situação, caso o agente tenha cometido o homicídio utili-
(anterioridade − reserva legal) zando de alguma das formas expostas no inciso III, ocorrerá a aplicação
Art. 1º, CP Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena de uma pena mais gravosa, visto que a conduta qualifica o crime.
sem prévia cominação legal.
Somente haverá crime quando existir perfeita correspondência 1.3 Interpretação da lei penal
entre a conduta praticada e a previsão legal (Reserva Legal), que não A matéria interpretação da lei penal passou a ser abordada com
pode ser vaga, ou seja, deve ser específica. Exige-se que a lei esteja mais frequência pelos editais de concursos públicos. No entanto,
em vigor no momento da prática da infração penal (Anterioridade). O quando cobrada, não costuma gerar muita dificuldade. Isso porque,
fundamento constitucional é o art. 5º, inciso XXXIX. geralmente, a banca examinadora aborda uma espécie de interpretação
Art. 5º, XXXIX, CF/1988 não há crime sem lei anterior que o defina, e questiona o seu significado na questão.
nem pena sem prévia cominação legal; A interpretação da lei penal consiste em buscar o significado e a
▷ Princípio: nullum crimen, nulla poena sine praevia lege (não há crime extensão da letra da lei em relação à realidade e à vontade do legislador.
nem pena sem lei prévia). Assim, a interpretação da lei penal se divide em relação ao sujeito, ao
As normas penais incriminadoras não são proibitivas, mas descri- modo e ao resultado.
tivas. Ex.: o art. 121 dispõe que matar alguém, no Código Penal, não é
proibitivo, ou seja, não descreve “não matar”. O tipo penal prevê uma 1.3.1 Quanto ao sujeito
conduta, que, se cometida, possuirá uma sanção (punição). Autêntica ou legislativa
A analogia no Direito Penal só é aceita para beneficiar o agente.
É aquela realizada pelo mesmo órgão da qual emana, podendo
Ex.: no antigo ordenamento jurídico, só era permitido realizar o aborto
vir no próprio texto legislativo ou em lei posterior. Ex.: conceito de
em decorrência do estupro, entretanto, a norma penal não abrangia o
funcionário público previsto no art. 327 do CP.
caso de atentado violento ao pudor (qualquer outro contato íntimo que
Art. 327, CP Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
não seja relação sexual vaginal). Caso a mulher viesse a engravidar em
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
decorrência disso, realizava-se a analogia in bonam partem, permitindo emprego ou função pública.
também, nesse caso, o aborto. Contudo, cabe destacar que, atualmente,
não há mais previsão do crime de atentado violento ao pudor no Código Doutrina
Penal, visto que hoje a conduta é tipificada no delito de estupro. É aquela realizada pelos doutrinadores – estudiosos do Direito
Penal – normalmente encontrada em livros, artigos e documentos.
Fique ligado Ex.: Código Penal comentado.
Medida provisória não pode dispor sobre matéria penal, criar Jurisprudencial ou judicial
crimes e cominar penas, art. 62, § 1º, I, “b”, da Constituição
Federal de 1988, somente lei ordinária. É aquela realizada pelo Poder Judiciário na aplicação do caso con-
creto, na busca pela vontade da lei. É a análise das decisões reiteradas
▷ Analogia no Direito Penal:
sobre determinado assunto legal. Ex.: súmulas do Tribunais Superiores
▪ In malan partem (prejudicar): não é aceita. e súmulas vinculantes.
▪ In bonam partem (beneficiar): aceita.
Normas penais em branco são aquelas que precisam ser com- 1.3.2 Quanto ao modo
plementadas para que analisemos o caso concreto. Ex.: a vigente Literal ou gramatical
Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) dispõe sobre diversas condutas
É aquela que busca o sentido literal das palavras.
ilícitas, entretanto, o que é droga? Para constatar se determinada subs-
tância é droga ou não, o tipo penal deve ser complementado pela Teleológica
Portaria nº 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
É aquela que busca compreender a intenção ou a vontade da lei.
(Anvisa), em que todas as substâncias que estiverem descritas serão
consideradas como droga. Histórica
É aquela que busca compreender o sentido da lei por meio da
Fique ligado análise de momento e contexto histórico em que foi editada.
O princípio da reserva legal admite o uso de normas penais em
Sistemática
branco.
É aquela que analisa o sentido da lei em conjunto com todo o
A analogia penal é diferente de interpretação analógica. Nessa
ordenamento jurídico (as legislações em vigor, os princípios gerais de
situação, a conduta do agente é analisada dentro da própria norma
Direito, a doutrina e a jurisprudencial).
penal, ou seja, é observado a forma como a conduta foi praticada,
quais os meios utilizados. Assim, a interpretação analógica sempre Progressiva
será possível, ainda que mais gravosa para o agente.
É aquela que busca adaptar a lei aos progressos obtidos pela
sociedade.

418
DIREITO PENAL
de detenção, de 1 a 3 anos, se o fato não constituir elemento de crime
1.3.3 Quanto ao resultado
mais grave. Assim, caso não tenha ocorrido crime mais grave, será
Declarativa aplicada a pena expressa em lei. Porém, se ocorrer crime mais grave,
É aquela em que se encontra a perfeita correspondência entre a deve ser aplicado somente esse, ficando atípico o fato menos grave.
letra da lei e a intenção do legislador. A subsidiariedade tácita ocorre quando não há expressa referência
na lei, mas se um fato mais grave ocorrer, a norma subsidiária ficará
Restritiva afastada. Isso ocorre, por exemplo, no crime do art. 311 do Código de
É aquela em que se restringe o alcance da letra da lei para que Trânsito Brasileiro (CTB). O artigo expressa a proibição da conduta de
corresponda à real intenção do legislador. A lei diz mais do que deveria trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades
dizer. de escolas, hospitais, estações de embarques e desembarques de pas-
sageiros, logradouros estreitos ou onde houver grande movimentação
Extensiva ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano.
É aquela em que se amplia o alcance da letra da lei para que cor- Contudo, se o agente estiver conduzindo nessas condições e aca-
responda à real intenção do legislador. A lei diz menos do que deveria bar por atropelar e matar alguém, responderá pelo crime do art. 302
dizer. do CTB, que descreve a figura do homicídio culposo na direção de
veículo automotor. Assim, esse crime – mais grave – afastará aquele
Analógica
crime de perigo.
É aquela em que a lei penal permite a ampliação de seu conteúdo
por meio da utilização de uma expressão genérica ou aberta pelo legis- 1.4.3 Princípio da consunção
lador. Ex.: Esse princípio pode ocorrer quando um crime “meio” é necessário
Art. 121, § 2º, III, CP Homicídio qualificado por emprego de veneno, ou durante a fase normal de preparação para outro crime. Ex.: o crime
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de de lesão corporal fica absorvido pelo crime de homicídio, ou mesmo o
que possa resultar perigo comum.
crime de invasão de domicílio que fica absorvido pelo crime de furto.
1.4 Conflito aparente de normas penais Não estamos falando em norma especial ou geral, mas no crime
mais grave que absorveu o crime menos grave, que simplesmente foi
Fala-se em conflito aparente de normas penais quando duas ou
um meio necessário para a execução da conduta mais gravosa.
mais normas aparentemente parecem reger o mesmo tema. Na prática,
uma conduta pode se enquadrar em mais de um tipo penal, mas isso Ocorre também o princípio da consunção quando, por exemplo,
é tão somente aparente, pois os princípios do Direito Penal resolvem o agente falsifica um documento com o intuito de cometer o crime de
esse fato. São eles: estelionato. Como o crime de falsificação é o meio necessário para o
crime de estelionato, funcionando como a elementar fraude, fica por
▷ Princípio da especialidade;
esse absorvido.
▷ Princípio da subsidiariedade;
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a
▷ Princípio da consunção; Súmula nº 17, que diz o seguinte:
▷ Princípio da alternatividade. Súmula nº 17 – STJ Quando o falso se exaure no estelionato, sem
mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
1.4.1 Princípio da especialidade Outro ponto importante é quando se trata do assunto de crime
D
A regra, nesse caso, é que a norma especial prevalecerá sobre a progressivo e progressão criminosa. No crime progressivo, o agente P
norma geral. Dessa forma, a norma no tipo penal incriminador é mais tem um fim específico mais grave, contudo, necessariamente deve E
N
completa que a prevista na norma geral. passar por fases anteriores menos graves. No final das contas, o crime
Isso ocorre, por exemplo, no crime de homicídio e infanticídio. O progressivo é um meio para um fim. Isso ocorre no caso do dolo de
crime de infanticídio possui, em sua elementar, dados complementares matar, em que o agente obrigatoriamente tem de ferir a vítima antes,
que o tornam mais especial – completo – que a norma geral. Repare causando lesões corporais.
nas elementares do art. 123 do CP: Aqui, tem-se a aplicação do princípio da consunção. Por outro lado,
▷ Matar o próprio filho; a progressão criminosa ocorre quando o dolo inicial é menos grave e,
▷ Logo após o parto; no decorrer da conduta, o agente muda sua intenção para uma conduta
mais grave (repare que há dois dolos). Tem-se como exemplo do agente
▷ Sob o estado puerperal.
que inicia a conduta com o dolo de lesionar e desfere socos na vítima;
Esses são dados que, se presentes, tornam a conduta de matar
contudo, no decorrer da ação, muda de intenção lhe desfere golpes de
alguém um crime específico, diferente do homicídio. Logo, o art. 123
faca, causando o resultado morte. Veja que há duas intenções, contudo,
(infanticídio) é considerado especial em relação ao art. 121 (homicí-
o Código Penal punirá o agente somente pelo crime mais grave. Assim,
dio), que pode ser entendido, nesse caso, como uma conduta genérica.
no caso exemplificado, também se aplica o princípio da consunção.
1.4.2 Princípio da subsidiariedade No entanto, pode ocorrer progressão criminosa com a incidência do
Esse princípio é utilizado sempre que a norma principal mais grave concurso material, ou seja, aplicação de mais de um crime. Isso ocorre,
não puder ser utilizada. Nesse caso, usamos a norma subsidiária menos por exemplo, no crime de roubo em que o agente, no meio da conduta,
gravosa. resolve estuprar a vítima, ou seja, tem-se a progressão criminosa com
dois dolos, em que o agente responderá por dois crimes diversos.
A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Será expressa sempre
que o próprio artigo de lei assim determinar. Um bom exemplo é o art.
239, que trata da simulação de casamento. O tipo penal prevê pena

419
TEORIA DA LEI PENAL

1.4.4 Princípio da alternatividade 1.5.3 Ultratividade da lei


Esse princípio é aplicado nos chamados crimes de ação múl-
2014 2019 2022
tipla ou de conteúdo variado. Tem-se como exemplo o art. 33 da
Lei nº 11.343/2006:
Art. 33, Lei nº 11.343/2006 Importar, exportar, remeter, preparar,
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em Lei “A” (mais benéfica) Lei “B” (mais gravosa) Aplica-se a Lei “A”
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, Pena 4 a 8 anos Pena 6 a 10 anos (mesmo revogada)
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem Lei revogada
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
▷ Lei “A” (mais benéfica). Pena de 4 a 8 anos. Lei revogada.
Pena – Reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. ▷ Lei “B” (mais gravosa). Pena de 6 a 10 anos.
Assim, pode-se afirmar que, se o agente tiver um depósito e vender ▷ Aplica-se a Lei “A” (mesmo revogada).
a droga, não responderá por dois crimes, mas somente por crime único. Não obstante a regra da irretroatividade, pode ocorrer a chamada
Isso ocorre porque qualquer ação nuclear do tipo representa o mesmo ultratividade de lei mais benéfica. Seria o caso que, no momento da
crime. Na prática, não há concurso material, respondendo o agente ação, vigorava a lei “A”, entretanto, no decorrer do processo, entrou
por uma pena somente. em vigência nova lei “B”, revogando a Lei “A”, tornando mais gravosa
a conduta anteriormente praticada pelo agente.
Fique ligado Assim, no momento do julgamento, ocorrerá a ultratividade da
Costume não revoga nem altera lei. lei, ou seja, a lei “A”, mesmo não estando mais em vigor, ultra-agirá ao
momento do julgamento para beneficiar o réu, por ser menos gravosa
Pode-se dizer que há três princípios intrínsecos no art. 1º do
a punição que o agente receberá.
Código Penal: da legalidade, da anterioridade e da reserva legal. É
importante ressaltar que apenas a lei ordinária pode versar sobre maté- 1.5.4 Abolitio criminis (abolição do crime)
ria penal, tanto para criá-las quanto para extingui-las.
Não obstante, convém ressaltar os preceitos existentes nos tipos Retroage
penais. Ex.: art. 121, do Código Penal − matar alguém −, cuja pena é 2020 2022
de 6 a 20 anos. O preceito primário seria a conduta do agente − matar Lei “B” deixa de
alguém − e o preceito secundário seria a cominação da pena de 6 a Lei “A”
considerar como crime o
Pena: 6 a 20 anos
20 anos. Para ser considerado crime, é fundamental que existam os fato descrito na Lei “A”
dois preceitos. ▷ Lei “A”. Pena de 6 a 20 anos.
▷ Lei “B” deixa de considerar como crime o fato descrito na Lei “A”.
1.5 Lei penal no tempo Consequências:
Art. 2º, CP Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessado em virtude dela a execução e os efeitos ▷ Tranca e extingue o inquérito policial e a ação penal;
penais da sentença condenatória. ▷ Cassa imediatamente a execução de todos os efeitos penais;
Parágrafo único. A Lei posterior, que de qualquer forma modo favo- ▷ Não alcança os efeitos civis da condenação.
recer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença transitada em julgado. Em relação à abolitio criminis, ocorre o seguinte fato: quando uma
conduta que antes era tipificada como crime pelo Código Penal deixa
1.5.1 Conflito temporal de existir, ou seja, passa a não ser mais considerada crime, dizemos
Regra: irretroatividade da lei. que ocorreu a abolição do crime. Diante disso, cessam imediatamente
Exceção: retroatividade para beneficiar o réu. todos os efeitos penais que incidiam sobre o agente: tranca e extingue o
inquérito policial. Caso o acusado esteja preso, deve ser posto em liber-
1.5.2 Retroatividade da lei dade. Entretanto, não extingue os efeitos civis, ou seja, caso o agente
tenha sido impelido em ressarcir a vítima da sua conduta mediante o
2014 2019 2022
pagamento de multa, essa ainda assim deverá ser paga.
Julgado É importante ressaltar que a lei que beneficia o réu não se trata
Lei retroage de uma faculdade do juiz, mas de um dever que deve ser adotado em
Lei “A” (mais gravosa) Lei “B” (mais benéfica) Pena 4 a 8 anos benefício do acusado.
Pena 6 a 10 anos
(revogada pela Lei “B”) Aplica-se a Lei “B”
(mais favorável ao réu)
1.6 Crimes permanentes ou continuados
Nos crimes permanentes, ou seja, naqueles em que a consumação
Em regra, o Código Penal sempre adota a lei vigente (“A”) no
se prolonga no tempo, aplica-se ao fato a lei que estiver em vigência
momento da ação ou omissão do agente. Assim, se um crime for come-
quando cessada a atividade, mesmo que mais grave (severa) que a lei em
tido nessa época, o agente responderá pelo fato descrito no tipo penal.
vigência quando da prática do primeiro ato executório. O crime se per-
Contudo, por vezes, o processo estende-se no tempo, e o julgamento
petua no tempo, enquanto não cessada a permanência. É o que ocorre,
do agente demora a acontecer. Nesse lapso temporal, caso sobrevenha
por exemplo, com o crime de sequestro e cárcere privado. Assim, será
uma nova lei (“B”), que torne mais branda a sanção aplicada, esta
aplicada a lei que estiver em vigência quando da libertação da vítima.
retroagirá ao tempo do fato, beneficiando o réu.
Observa-se, então, o momento em que cessa a permanência, para daí se

420
DIREITO PENAL
determinar qual é a norma a ser aplicada. É o que estabelece a Súmula
Fique ligado
nº 711 do Supremo Tribunal Federal (STF).
Súmula nº 711 – STF A lei penal mais grave aplica-se ao crime A imputabilidade do agente deve ser aferida quando o crime é
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à praticado.
cessação da continuidade ou da permanência.
3 meses depois
Data do sequestro Data da prisão “B” morre
“A” com 17 anos e 11 meses
Janeiro Dezembro
Atira em “B” “A” com + de
Protrai no tempo 18 anos

Esse princípio traz o momento da ação do crime, ou seja, inde-


pendentemente do resultado, para aplicação da lei penal, é considerado
Lei “B” Lei “C”
Lei “A” Qual lei utilizar? o momento exato da prática delituosa, seja ela comissiva (ação) ou
6 a 8 anos 10 a 12
4 a 6 anos Lei “C”
anos omissiva (omissão). Ex.: o menor “A” comete disparos de arma de fogo
contra “B”, vindo a feri-lo. Entretanto, devido às lesões causadas pelos
O sequestro é um crime que se protrai no tempo, ou seja, a todo
disparos, três meses depois do fato, “B” vem a falecer. Nessa época,
instante ele está se consumando; qualquer que seja o momento da
mesmo “A” tendo completado sua maioridade penal (18 anos), ainda
prisão, o agente estará em flagrante. Assim, nos casos de crimes per-
assim não poderá ser punido, pois, quando praticou a conduta (disparos
manentes ou continuados, aplica-se a pena quando cessar a conduta
contra “B”) era inimputável.
do agente, ainda que mais grave ou mais branda. Independe, nessa
circunstância, a quantificação da pena, isto é, a lei vigente será consi- Devemos, contudo, ficar atentos aos crimes permanentes e conti-
derada no momento que cessou a conduta do agente ou a privação de nuados. É o caso do sequestro, por exemplo, em que o crime se con-
liberdade da vítima, com a prisão dos acusados. suma a todo instante em que houver a privação de liberdade da vítima.

1.7 Lei excepcional ou temporária “A” com 17 anos e 11 meses 3 meses depois
Sequestra “B” Preso com 18
Art. 3º, CP A Lei excepcional ou temporária, embora decorrido o anos
período de sua duração ou cessada as circunstâncias que a determina-
ram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Crime de
sequestro
▷ Lei excepcional: utilizada em períodos de anormalidade social.
Guerra, calamidades públicas, enchentes, grandes eventos etc. No exemplo em questão, “A” não será mais inimputável, pois, no
momento de sua prisão, já completou 18 anos, não sendo considerado
▷ Lei temporária: período previamente fixado pelo legislador.
o momento em que se iniciou a ação, mas, sim, quando cessou.
Lei que configura o crime de pescar em certa época do ano (Pira-
cema). Após lapso de tempo previamente determinado, a lei deixa 1.9 Lugar do crime
de considerar tal conduta como crime.
Art. 6º, CP Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
De 2005 a 2006, o fato “A” era considerado crime. Aqueles que a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu
infringiram a lei responderam posteriormente, mesmo o fato não ou deveria produzir-se o resultado.
sendo considerado mais crime.
▷ Teoria da ubiquidade: utilizada no caso de um crime ser praticado
Só ocorre retroatividade se a lei posterior expressamente em território nacional e o resultado ser produzido no estrangeiro.
determinar. O foro competente será tanto o lugar da ação ou omissão quanto o D
P
É importante ressaltar que são leis excepcionais e temporárias, ou local em que produziu ou deveria produzir-se o resultado. E
seja, a lei vigorará por determinado tempo. Após o prazo determinado, N
Ambos os lugares são competentes para jugar o processo
tal conduta não será mais considerada crime. Entretanto, durante a
sua vigência, todos aqueles que cometerem o fato tipificado em tais
normas, mesmo encerrada sua vigência, serão punidos.
“A”, manda uma A carta explode
Retroage carta bomba pelo efetivamente
correio do Brasil para em LONDRES.
LONDRES.
2021 2022 Local que produziu
Local da ação ou deveria produzir
ou omissão o resultado
Período de surto Ultra-atividade da lei
endêmico
“A”, residente no Brasil, enviou uma carta-bomba pelo correio
Fato “A” é crime Fato “A” não é mais para Londres, na Inglaterra. Assim, a carta efetivamente explode
(notificação de epidemia) crime naquele país. Desse modo, tanto o Brasil quanto a Inglaterra serão
competentes para julgar “A”. Não se aplica a teoria do “resultado”.
Fique ligado

Não existe abolitio criminis de lei temporária ou excepcional. Fique ligado

Não confundir os artigos:


1.8 Tempo do crime - Lugar/ubiquidade: art. 6º;
Art. 4º, CP Considera-se praticado o crime no momento da ação ou - Tempo/atividade: art. 4º.
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
▷ Teoria da atividade: o crime reputa-se praticado no momento da
conduta (momento da execução).

421
TEORIA DA LEI PENAL
Art. 5º, CP [...]
1.10 Lei penal no espaço § 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
▷ Código Penal (CP): nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
▪ Territorialidade (art. 5º); a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como
as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de natureza
▪ Extraterritorialidade (art. 7º).
privada, que se achem, respectivamente no espaço aéreo correspondente
▷ Código Processual Penal (CPP): regras específicas. ou em alto mar.
A territorialidade refere-se à aplicação da lei penal dentro do pró- § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
prio Estado que a editou. Dessa forma, quando se aplica a lei brasileira de aeronaves ou embarcações estrangeiras, de propriedade privada,
em território nacional, utiliza-se o conceito de territorialidade. achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
A territorialidade é tratada no art. 5º do CP: Brasil.
Art. 5º, CP Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
A lei penal aplica-se em todo o território nacional próprio ou por
tratados e regras de Direito Internacional, ao crime cometido no ter-
assimilação. Por esse princípio, aplica-se aos nacionais ou estrangeiros
ritório nacional.
(mesmo que irregulares) a lei penal brasileira. Contudo, em alguns
1.10.1 Territorialidade casos, mesmo o fato sendo praticado no Brasil, não se aplica a lei
Antes de iniciar o estudo deste tópico, tenha em mente que estuda- penal. Isso se dá em razão de convenções, tratados e regras de Direito
remos a Lei Penal e não a Lei Processual Penal, que segue outra regra Internacional em que o Brasil desiste de punir a conduta, ou seja, nesses
específica. Aqui, trataremos de como se comporta a lei penal brasileira casos não se aplicará a lei brasileira.
quando ocorrerem crimes no exterior, ou seja, a extraterritorialidade da Dessa forma, o princípio da territorialidade da lei penal é mitigado,
lei penal. Portanto, a extraterritorialidade abrange apenas a lei penal, isto é, não é adotado de forma absoluta e, sim, temperada. Por esse
excluindo-se a lei processual pena motivo denomina-se princípio da territorialidade temperada.
Pode-se citar como exemplo as imunidades diplomáticas e con-
1.10.2 Território nacional próprio sulares concedidas aos diplomatas e aos cônsules que exercem suas
▷ Lei brasileira: atividades no Brasil, por meio de adesão do Brasil às convenções de
▪ Sem prejuízo; Viena (1961 e 1963).
▪ Convenções, tratados e regras internacionais; Quando se fala em território nacional, obrigatoriamente devem ser
analisadas algumas regras: todas as embarcações ou aeronaves brasilei-
▪ Imunidades.
ras de natureza pública, onde quer que se encontrem, são consideradas
Art. 5º, § 1º, CP Para os efeitos penais, consideram-se como exten-
são do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
extensão do território nacional.
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que Embarcações e aeronaves de natureza privada serão considera-
se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, das extensão do território nacional quando estiverem, respectiva-
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, mente, em alto mar, no mar territorial brasileiro ou no espaço aéreo
no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. correspondente.
Considera-se como território nacional:
▪ Embarcação ou aeronave brasileira pública (em qualquer lugar); Fique ligado

▪ Embarcação ou aeronave brasileira privada a serviço do Estado As embarcações e aeronaves de natureza privada que não estiverem a
brasileiro (em qualquer lugar); serviço do Brasil somente responderão pela lei brasileira se estiverem em
território nacional.
▪ Embarcação ou aeronave brasileira mercante ou privada, desde
que não esteja em território alheio. Um navio brasileiro privado que se encontre no mar territorial
da Argentina se submeterá às leis penais argentinas, ou seja, caso
A extraterritorialidade é tratada no art. 7º, CP. um brasileiro mate alguém naquele local, a lei a ser aplicada é a
lei penal argentina, pois o navio não está a serviço do Brasil. Por
1.10.3 Território nacional outro lado, se o navio estiver em alto mar (“terra de ninguém”;
Território nacional é o espaço onde determinado Estado possui aplica-se o princípio do pavilhão ou da bandeira) e ostentar a
sua soberania. bandeira brasileira e lá um tripulante matar o outro, a competência
Os elementos que constituem um Estado soberano são: é da lei brasileira.

▷ Território; A mesma regra aplica-se às aeronaves. Outra questão interessante


é o caso de uma aeronave a serviço do Brasil (Força Aérea Brasileira)
▷ Povo;
pousar em um país distinto e o piloto cometer um crime. Nesse caso,
▷ Soberania – governo autônomo e independente. aplica-se a lei brasileira. Caso a aeronave seja particular, aplica-se a lei
Considera-se como território nacional as limitações geográficas do país onde a aeronave tiver pousado.
do país, incluindo o mar territorial, que representa a extensão de 12 Outra questão interessante é se o piloto sair do aeroporto e come-
milhas do mar a contar da costa, sempre na maré baixa. O Código ter um crime do lado de fora. Nesse caso, deve ser questionado se o
Penal considera também como território nacional o espaço aéreo res- piloto estava em serviço oficial ou não, pois, caso esteja, aplica-se a
pectivo e o espaço aéreo correspondente ao território nacional. Esse lei penal brasileira; em caso contrário, aplica-se a lei do país onde o
sempre deve ser considerado como território próprio. crime foi cometido.
É preciso considerar também como território nacional o chamado
território por extensão, assimilação ou impróprio, que é descrito no Resumo dos conceitos
§ 1º do art. 5º do Código Penal. ▷ Território nacional: é o espaço onde determinado Estado exerce
com exclusividade sua soberania.

422
DIREITO PENAL
▷ Território próprio: toda a extensão territorial geográfica (o mapa),
Fique ligado
acrescida do mar territorial, que possui a extensão de 12 milhas mar
adentro, a contar da baixa maré (litoral). O Código Penal brasileiro adota o princípio da territorialidade como
regra e os outros como exceção. Assim, os outros princípios visam
▷ Território por extensão: embarcações e aeronaves brasileiras – pú-
disciplinar a aplicação extraterritorial da lei penal brasileira.
blicas ou a serviço do Estado (qualquer lugar do mundo) e privadas
em águas ou terras de ninguém.
1.10.5 Extraterritorialidade
▷ Territorialidade: aplicação da lei penal no território nacional. Art. 7º, CP Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
▷ Territorialidade absoluta: impossibilidade para aplicação de con- estrangeiro:
venções, tratados e regras de Direito Internacional ao crime come- I – Os crimes:
tido no território nacional. a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
▷ Territorialidade temperada: adota como regra a aplicação da lei b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
penal brasileira no território nacional. Entretanto, com determina- de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
das hipóteses, permite a aplicação de lei penal estrangeira a fatos economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
cometidos no Brasil (art. 5º, CP). c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no
▷ Imunidade: exclusão da aplicação da lei penal.
Brasil;
▷ Imunidade diplomática e consular: são imunidades previstas em II – Os crimes:
convenções internacionais chanceladas pelo Brasil. a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
▷ Imunidade parlamentar: previstas na Constituição Federal aos b) praticados por brasileiro;
membros do Poder Legislativo. c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou
de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não
1.10.4 Princípios da aplicação sejam julgados.
da lei penal no espaço § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,
ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
Princípio da territorialidade § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do
A lei penal de um país será aplicada aos crimes cometidos dentro concurso das seguintes condições:
de seu território. O Estado soberano tem o dever de exercer jurisdição a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
sobre as pessoas que estejam sem seu território.
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira auto-
Princípio da nacionalidade riza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cum-
É classificado também como princípio da personalidade. Os cida-
prido a pena;
dãos de determinado país devem obediência às suas leis, onde quer que
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo,
se encontrem. Esse princípio pode ser dividido em: não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
▷ Princípio da nacionalidade ativa: aplica-se a lei nacional ao cidadão § 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estran-
que comete crime no estrangeiro, independentemente da naciona- geiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas
lidade do sujeito passivo ou do bem jurídico lesado. no parágrafo anterior:
▷ Princípio da nacionalidade passiva: o fato praticado pelo cidadão a) não foi pedida ou foi negada a extradição; D
nacional deve atingir um bem jurídico de seu próprio estado ou de b) houve requisição do Ministro da Justiça. P
E
um concidadão. A regra é que a lei penal brasileira aplica-se apenas aos crimes N
praticados no Brasil (conforme estudado no art. 5º do Código Penal).
Princípio da defesa, real ou de proteção No entanto, há situações em que, por força do art. 7º, o Estado pode
Considera-se a nacionalidade do bem jurídico lesado (sujeito pas- aplicar sua legislação penal no estrangeiro. Nessa norma, encontram-se
sivo), independentemente da nacionalidade do sujeito ativo ou do local diversos princípios. São eles:
da prática do crime. ▷ Princípio da defesa ou real: amplia a aplicação da lei penal em
decorrência da gravidade da lesão. É o aplicável no art. 7º, nas alí-
Princípio da justiça penal universal ou da universalidade
neas do inciso I:
Todo Estado tem o direito de punir todo e qualquer crime, indepen- a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República.
dentemente da nacionalidade do criminoso, do bem jurídico lesado ou do Caso seja a prática de latrocínio, não há a extensão da lei brasileira,
local em que o crime foi praticado, bastando que o criminoso encontre-se visto que o latrocínio é considerado crime contra o patrimônio.
dentro de seu território. Assim, qualquer pessoa que cometa crime dentro
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
do território nacional será processada e julgada aqui. de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
Princípio da representação
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
A lei penal brasileira também será aplicada aos delitos cometidos d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no
em aeronaves e embarcações privadas brasileiras quando se encontra- Brasil.
rem no estrangeiro e não venham a ser julgadas. Há discussão sobre qual é o princípio aplicável nesse caso, havendo
quem sustente ser o princípio da defesa, o da nacionalidade ativa ou o
da justiça penal universal.

423
TEORIA DA LEI PENAL
Princípio da justiça penal universal (também chamada de justiça Se as penas são diversas, ou seja, de natureza diferente, deverá
cosmopolita): amplia a aplicação da legislação penal brasileira em haver uma atenuação. Ex.: no exterior, o agente cumpriu pena restritiva
decorrência da de tratado ou convenção que o Brasil é signatário. Vem de liberdade e, no Brasil, foi condenado e teve sua pena substituída pela
normatizada pelo art. 7º, II, “a”: prestação de serviços comunitários. Nesse caso, deverá ser atenuada
a) Que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. a pena no Brasil.
Princípio da nacionalidade ativa: amplia a aplicação da legislação
penal brasileiro ao exterior caso o crime seja praticado por brasileiro. 1.12 Eficácia de sentença estrangeira
Está prevista no art. 7º, II, “b”: Art. 9º, CP A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasi-
leira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada
b) Praticados por brasileiro.
no Brasil para:
Princípio da representação (também chamado de pavilhão ou da
I – Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros
bandeira ou da substituição): amplia a aplicação da legislação penal efeitos civis;
brasileira em decorrência do local em que o crime é praticado. Vem II – Sujeitá-lo a medida de segurança.
normatizada pelo art. 7º, II, “c”: Parágrafo único. A homologação depende:
c) Praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o
sejam julgados. país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de
Princípio da nacionalidade passiva: amplia a aplicação da legis- tratado, de requisição do Ministro da Justiça.
lação penal brasileira em decorrência da nacionalidade da vítima do A regra geral é de que a sentença penal estrangeira não precisa ser
crime. Vem normatizada pelo art. 7º, § 3º: homologada para produzir efeitos no Brasil. No entanto, o art. 9º traz
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estran- duas situações que necessitam da homologação para que a sentença
geiro contra brasileiro fora do Brasil. produza efeitos no Brasil. São elas:
A regra de que a legislação penal brasileira será aplicada no exte- ▷ Para a produção de efeitos civis (por exemplo, reparação de danos, resti-
rior vale apenas para os crimes e nunca para as contravenções penais. tuições, entre outros): nesse caso, depende do pedido da parte interessada.
Apesar de a lei prever, no art. 7º, que a lei brasileira também será apli-
▷ Para a aplicação de medida de segurança ao agente da infração
cada no exterior, há determinadas regras para essa aplicação, também
penal: caso exista tratado de extradição, necessita de requisição do
normatizadas pelos parágrafos do artigo em questão.
procurador-geral da República. Caso inexista tratado de extradição,
▷ Extraterritorialidade incondicionada: é a prevista para os casos necessita de requisição do ministro da Justiça.
normatizados no art. 7º, I, “a” a “d”. Segundo o Código Penal, o
agente será processado de acordo com a lei brasileira, mesmo se for 1.13 Contagem de prazo
absolvido ou condenado no exterior (conforme normatizado pelo Art. 10, CP O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-
§ 1º do art. 7º). Não exige qualquer condição. -se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
▷ Extraterritorialidade condicionada: é a prevista para os casos A regra aqui é diferente da processual, visto que o dia em que se
normatizados no art. 7º, § 2º, alíneas “a” até “e”. São as condições: começa a contar o prazo penal é incluído no cômputo do prazo. Ex.:
a) Entrar o agente no território nacional. imagine que determinado agente tenha praticado uma infração penal
b) Ser o fato punível também no país em que foi praticado. em 10 de agosto de 2014. Supondo que essa infração penal possui um
c) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira prazo prescricional de 8 anos, a pretensão punitiva prescreverá em 9
autoriza a extradição. de agosto de 2022.
d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou cumprido a pena.
e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro. 1.14 Frações não computáveis da pena
Não estará extinta a punibilidade do agente, seja pela brasileira Art. 11, CP Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas
ou pela lei estrangeira. restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações
de cruzeiro.
▷ Extraterritorialidade hipercondicionada: é prevista para os casos
normatizados no art. 7º, § 3º. É chamado pela doutrina de hipercon- Caso após o cálculo da pena, remanesçam frações de dia. Ex.: o
dicionada porque exige, além das condições da extraterritorialidade agente é condenado à pena de 15 dias de detenção, com uma causa de
condicionada, outras duas. São condições: aumento de 1/2, sendo a pena final de 22,5 dias. Com a aplicação do
▪ Não ser pedida ou, se pleiteada, negada a extradição; art. 11, despreza-se a fração de metade e a pena final é de 22 dias. Do
mesmo modo, aplica-se a regra à pena de multa, não sendo condenado
▪ Requisição do ministro da justiça.
o agente a pagar os centavos do valor aplicado.
1.11 Pena cumprida no estrangeiro
1.15 Legislação especial
Art. 8º, CP A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta
no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, Art. 12, CP As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incri-
quando idênticas. minados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.
Caso o agente seja processado, condenado e tenha cumprido pena As infrações penais não estão descritas apenas no Código Penal,
no exterior, estipula-se no art. 7º que, caso venha a ser condenado pelo mas também em outras leis, chamadas de leis especiais. Nesses casos,
mesmo fato no Brasil (no caso da extraterritorialidade incondicionada), são aplicadas as regras gerais do Código Penal, desde que a legislação
deverá se verificar. especial não disponha de modo diverso.
Se as penas são idênticas, ou seja, da mesma natureza, deverá ser
computada como cumprida no Brasil. Ex.: as duas são privativas de
liberdade.

424
DIREITO PROCESSUAL
PENAL
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos
1 INTRODUÇÃO AO DIREITO referidos nºs IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dis-
PROCESSUAL PENAL puserem de modo diverso.
Ao falar sobre território, faz-se necessário buscar seu conceito na
Toda vez que ocorre a prática de um delito, nasce para o Estado o própria lei, ou seja, no Código Penal Brasileiro, conforme esculpido
jus puniendi, ou seja, o direito de punir do Estado, sempre pautado no definição presente no em seu art. 5º:
devido processo legal. Tal mandamento deriva do Estado Democrático
Art. 5º, CP Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
de Direito. Cumpre frisar que o Estado não pode simplesmente aplicar
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter-
qualquer pena, mas, sim, seguir o mandamento constitucional previsto ritório nacional.
no art. 5º, XLVII:
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
Art. 5º, CF/1988 [...] nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
XLVII – não haverá penas: a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
84, XIX; privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
b) de caráter perpétuo; ou em alto-mar.
c) de trabalhos forçados; § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
d) de banimento; de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
e) cruéis.
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Assim, visa-se respeitar a dignidade da pessoa humana, harmoni- Brasil.
zando-a com as medidas legais pertinentes à elucidação de um delito,
bem como a consequente aplicação posterior da pena. 1.2 Lei Processual Penal no tempo
Desse modo, definimos o processo penal como um conjunto de Art. 2º, CPP A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem pre-
normas jurídicas tendentes a direcionar a atuação da polícia judiciária, juízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
assim como de todo o Poder Judiciário criminal, objetivando uma
Este artigo contempla o princípio da aplicação imediata (tempus
investigação, um processo e uma sentença justa, que se fundamentem
regit actum). Deste princípio derivam duas regras fundamentais:
na verdade dos fatos, a fim de respeitar todos os direitos constitucionais
do homem, a ampla defesa, a presunção de inocência, dentre outros. ▷ A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;
Nesse sentido, verificamos nos comandos a seguir relacionados, pre- ▷ A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores
vistos no art. 5º da CF/1988: já praticados.
Art. 5º, CF/1988 [...]
III – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade 1.3 Interpretação da Lei Processual Penal
competente; Art. 3º, CPP A lei processual penal admitirá interpretação extensiva
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais
processo legal; de direito.
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos A aplicação da Lei Processual Penal segue as mesmas regras de
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com hermenêutica que disciplinam a interpretação da legislação em geral.
os meios e recursos a ela inerentes; Interpretar significa definir o sentido e o alcance de determinado
LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; conceito.
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado Em função da impossibilidade de se poder escrever na lei todo
de sentença penal condenatória. seu significado ou, ainda, de se prever todas as situações possíveis de
Por fim, cabe ressaltar que a prisão ocorre no Brasil conforme ocorrer efetivamente, o art. 3º do Código de Processo Penal prevê que
mandamento também presente no inciso LXI do art. 5º da CF/1988: a Lei Processual Penal admitirá:
Art. 5º, LXI, CF/1988 Ninguém será preso senão em flagrante delito ▷ Interpretação extensiva;
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária compe-
▷ Aplicação analógica; P
tente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei. ▷ Suplemento dos princípios gerais de Direito. P
E
N
1.1 Lei Processual Penal no espaço
O Código de Processo Penal, em seu art. 1º, estabelece o princípio
da territorialidade da Lei Processual Penal (Locus Regit Actum ou Lex
Fori), de modo que se aplicam em território brasileiro as normas de
cunho processual penal a todas as infrações penais relacionadas com
o Estado brasileiro, de maneira a não haver hipóteses de extraterrito-
rialidade de Lei Processual Penal.
Art. 1º, CPP O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi-
leiro, por este Código, ressalvados:
I – os tratados, as convenções e regras de Direito Internacional;
II – as prerrogativas constitucionais do presidente da República,
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do presidente da
República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes
de responsabilidade;
III – os processos da competência da Justiça Militar;
IV – os processos da competência do tribunal especial;
V – os processos por crimes de imprensa.

527
LEGISLAÇÃO
ESPECIAL
LEI Nº 10.741/2003 - Estatuto da pessoa idosa

1 LEI Nº 10.741/2003 - 1.1 Crimes


ESTATUTO DA PESSOA IDOSA Subsidiariedade: aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.
É instituído o Estatuto da Pessoa Idosa, destinado a regular os Crimes: previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liber-
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. dade não ultrapasse 4 anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei nº
Pessoa idosa: goza de todos os direitos fundamentais inerentes à 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber,
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunida-
des e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu 1.1.1 Crimes em espécie
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições Ação penal pública incondicionada: os crimes definidos nesta Lei
de liberdade e dignidade. são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts.
Obrigações: é obrigação da família, da comunidade, da sociedade 181 e 182, do Código Penal.
e do Poder Público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, Discriminar pessoa idosa: impedindo ou dificultando seu acesso
a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da
dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. cidadania, por motivo de idade. Pena – reclusão de 6 meses a 1 ano e
Garantia de prioridade compreende: multa. Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menos-
Art. 3º [...] prezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo. A pena será
I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos aumentada de 1/3 se a vítima se encontrar sob os cuidados ou respon-
órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; sabilidade do agente.
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públi- Não constitui crime: a negativa de crédito motivada por superen-
cas específicas; dividamento da pessoa idosa.
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas rela-
Deixar de prestar assistência a pessoa idosa: quando possível fazê-
cionadas com a proteção à pessoa idosa; (Redação dada pela Lei nº
14.423/2022) -lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar,
IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não
convívio da pessoa idosa com as demais gerações; (Redação dada pela pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública. Pena – detenção
Lei nº 14.423/2022) de 6 meses a 1 ano e multa.
V – priorização do atendimento da pessoa idosa por sua própria famí- Pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal
lia, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;
Abandonar a pessoa idosa: em hospitais, casas de saúde, entidades
(Redação dada pela Lei nº 14.423/2022)
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de
de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades
geriatria e gerontologia e na prestação de serviços às pessoas idosas; básicas, quando obrigado por lei ou mandado. Pena – detenção de 6
(Redação dada pela Lei nº 14.423/2022) meses a 3 anos e multa.
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de Exposição: expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psí-
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de quica, da pessoa idosa, submetendo-o a condições desumanas ou degra-
envelhecimento; dantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado.
social locais;
Pena – detenção de 2 meses a 1 ano e multa. Se do fato resulta lesão
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.
corporal de natureza grave. Pena – reclusão de 1 a 4 anos. Se resulta
Prioridades: dentre as pessoas idosas, é assegurada prioridade espe-
a morte. Pena – reclusão de 4 a 12 anos.
cial aos maiores de 80 anos, atendendo-se suas necessidades sempre
Crime punível com reclusão: constitui crime punível com reclusão
preferencialmente em relação aos demais pessoas idosas.
de 6 meses a 1 ano e multa:
Art. 100 [...]
Fique ligado!
I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo
Nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de de idade;
negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar
punido na forma da lei. assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
Dever de todos: prevenir a ameaça ou violação aos direitos da IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a
pessoa idosa. execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à pro-
Obrigações: não excluem da prevenção outras decorrentes dos
positura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo
princípios por ela adotados. Ministério Público.
Inobservância das normas de prevenção: importará em responsa- Ordem judicial expedida: deixar de cumprir, retardar ou frustrar,
bilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei. sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações
Dever de comunicar: todo cidadão tem o dever de comunicar à em que for parte ou interveniente a pessoa idosa. Pena – detenção de
autoridade competente qualquer forma de violação a esta Lei que tenha 6 meses a 1 ano e multa.
testemunhado ou de que tenha conhecimento.

546
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Apropriar-se de ou desviar bens: proventos, pensão ou qualquer
outro rendimento da pessoa idosa, dando-lhes aplicação diversa da de
sua finalidade. Pena – reclusão de 1 a 4 anos e multa.
Negar o acolhimento ou a permanência da pessoa idosa: como
abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de aten-
dimento. Pena – detenção de 6 meses a 1 ano e multa.
Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios:
proventos ou pensão da pessoa idosa, bem como qualquer outro docu-
mento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de
dívida. Pena – detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações
ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa idosa: Pena – detenção
de 1 a 3 anos e multa.
Induzir pessoa idosa sem discernimento: de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livre-
mente: Pena – reclusão de 2 a 4 anos.
Coagir, de qualquer modo, a pessoa idosa a doar, contratar, testar
ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 a 5 anos.
Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento
de seus atos, sem a devida representação legal: Pena – reclusão de 2
a 4 anos.

L
E
I
S

547
DIREITOS HUMANOS
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
Apesar do movimento mundial pós-guerra, de todo empenho
1 CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E entre as nações para consolidar acordos e tratados que mantivessem o
TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS respeito à dignidade humana e aos Direitos Humanos e prevenissem
outra “catástrofe bélica” como havia sido a Segunda Guerra Mundial,
1.1 Contexto histórico o Brasil só começou a participar intensamente do corpo internacional
dos Direitos Humanos a partir de 1985, quando o país voltou a dar
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apre-
passos no retorno à Democracia.
senta em seu corpo, principalmente no Título I (Dos Princípios Fun-
damentais) e no Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), os Vários Tratados, Pactos e Convenções foram ratificados pelo
conceitos de Direitos Humanos que foram historicamente construídos. Brasil. As propostas trazidas pela Carta Constitucional de 1988, evi-
denciando os Direitos Humanos como norteadores das relações inter-
Para isso, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos foram
nacionais, exibiram uma nova forma de compreensão a respeito desses
fundamentais na formação ideológica e sociocultural no contexto da
direitos. Temos, então, uma clara relação entre Direitos Humanos e
Assembleia Nacional Constituinte de 1987, momento da gênese de
Processo de Democratização do Estado brasileiro.
nossa Carta Magna.
Antes de abordarmos os Tratados Internacionais de Direitos 1.2 Redemocratização e tratados
Humanos e sua relação com a Legislação brasileira e a Constituição,
é necessário entendermos o que são Tratados Internacionais.
internacionais de Direitos Humanos
Juntamente com a necessidade de afirmação democrática, em 1985,
tem início no Brasil o processo de ratificação de diversos Tratados
Fique ligado
Internacionais de Direitos Humanos. Seu ponto inicial foi a ratificação
Tratados Internacionais: segundo a Convenção de Viena (1969), em 1989 da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos cruéis,
configura um Tratado Internacional um acordo entre duas partes ou Desumanos ou Degradantes.
mais em âmbito internacional concretizado e formalizado por meio
Art. 5º, § 3º, CF/1988 Os tratados e as convenções internacionais
de texto escrito, com ciência de função de efeitos jurídicos no plano
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Con-
internacional. É o mecanismo pelo qual os Estados estabelecem
gresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respec-
obrigações para si em âmbito internacional e coparticipativo.
tivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
▷ Problema: os Tratados Internacionais anteriores à Emenda Consti-
Na conjuntura histórica dos ataques à vida humana, das diversas tucional nº 45/2004 teriam força de Emenda Constitucional com
atrocidades e atentados cometidos contra os seres humanos durante a sistema de votação de maioria simples. Isto significa que haveria um
Segunda Guerra Mundial e logo após seu fim, em guerras pontuais, ferimento no processo legislativo ao utilizar processo de votação para
a comunidade internacional passou a: leis ordinárias elegendo Emendas Constitucionais.
▷ Estabelecer ações que visavam punir os próprios Estados em casos ▷ Solução: os tratados e as convenções internacionais sobre direit-
de violação dos Direitos Humanos; os humanos incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro pela
▷ Relativizar a Soberania dos Estados envolvidos que, a partir dos forma comum, ou seja, sem observar o disposto no art. 5º, § 3º, da
Tratados, colocavam seus acordos internacionais acima de suas von- Constituição Federal, possuem, segundo a posição que prevaleceu no
tades particulares. Supremo Tribunal Federal, status supralegal, mas infraconstitucional.
Dentre as atrocidades ocorridas durante a Segunda Guerra Mun- Norma supralegal: está acima das leis, mas abaixo da Constituição
dial estão: Federal.
▷ Genocídio: aproximadamente seis milhões de judeus mortos em Rito ordinário: maioria simples (todos os tratados anteriores à EC
campos de concentração. nº 45/2004).
▷ Tortura e crueldade: a polícia militar japonesa (Kempeitai) a serviço
Rito de emenda: maioria qualificada (3/5, 2 turnos, 2 casas do
do Império, aplicava técnicas de tortura em prisioneiros como las- Congresso Nacional).
cas de metal marteladas embaixo das unhas e ferro em brasa nas
O Direito Constitucional, depois de 1988, passou a contar com
genitálias.
relações diferenciadas frente ao Direito Internacional dos Direitos
▷ Crimes de guerra: prisioneiros alemães na Noruega foram obrigados Humanos. A visão da supralegalidade deste último encontra amparo
a limpar campos minados. O saldo foi de 392 feridos e 275 mortos.
em vários dispositivos constitucionais (art. 4º, art. 5º, §§ 2º ao 4º,
▷ Estupros: o Exército Vermelho estuprou milhares de alemãs; os CF/1988).
militares japoneses usavam mulheres capturadas em guerra como
escravas sexuais. 1.3 Localização dos Tratados
O breve século XX fez emergir, então, o Direito Internacional dos Internacionais dos Direitos Humanos
Direitos Humanos. Era a resposta que a comunidade internacional
na Pirâmide de Hans Kelsen
daria:
A pirâmide de Hans Kelsen é uma teoria que caminha entre a
▷ Aos Estados devastados pela guerra e que almejavam um futuro
Filosofia e o Direito e que se baseia na criação de uma hierarquia
de paz;
entre as leis. Dessa forma, quando houver um possível conflito legal,
▷ Às violações aos Direitos Humanos ocorridos em alta escala durante a pirâmide de Hans Kelsen pode ser utilizada para verificar o grau de
a guerra; prioridade das leis em discussão.
▷ Aos países como mecanismo de prevenção contra tentativas de uma Dessa forma, os Tratados Internacionais dos Direitos Humanos,
nova guerra. dentro de um contexto legal, também integram o corpus legislativo. Daí

632
DIREITOS HUMANOS
a importância de se entender como localizar e priorizar as diferentes ▷ Terceira fase (ratificação pelo presidente): com o objetivo de in-
leis sobre um determinado assunto. corporar o tratado e, a partir daí, passar a ter efeitos no ordenamento
A Constituição Federal de 1988 é um marco de ruptura com o jurídico interno, é a fase em que o Presidente da República, mediante
processo jurídico ditatorial dos anos que a precederam. Neste sentido, decreto, promulga o texto, publicando-o em português, em órgão da
os diversos vínculos nela existentes com os Direitos Humanos podem imprensa oficial, dando-se, pois, ciência e publicidade da ratificação
ser evidenciados em toda redação jurídica constitucional: da assinatura já lançada. Com a promulgação do tratado, esse ato
normativo passa a ser aplicado de forma geral e obrigatória.
▷ Dignidade da pessoa humana: art. 1º, III.
A doutrina mais moderna de direito internacional defende uma
▷ Interação entre o direito brasileiro e os Tratados Internacionais
força mais expressiva dos tratados e convenções sobre a legislação
de Direitos Humanos: art. 5º, § 2º.
infraconstitucional. Defende-se, inclusive, uma equivalência entre
▷ Sobre julgamento de causas relativas aos Direitos Humanos: art. normas constitucionais e tratados, especialmente aqueles que ver-
109, V. sarem sobre direitos humanos, de maneira que, afora o controle de
Ao considerarmos os Tratados Internacionais e seu encontro com a constitucionalidade, o intérprete deve ainda verificar se o caso sob
legislação constitucional brasileira, podemos extrair como conclusão de análise está de acordo com a “legislação” internacional (controle de
que a natureza do Direito encontrado no Tratado Internacional poderá convencionalidade).
gerar conflitos entre um TIDH e o Direito interno. Se, na existência
de conflito entre um Direito interno e os Direitos Internacionais dos 1.5 Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a conclusão a que chegamos é a de que sempre Direitos Humanos (DUDH)
prevalece a norma que melhor beneficia os direitos da pessoa humana.
O período que sucedeu a Segunda Guerra Mundial carregou con-
1.3.1 Art. 5º, LXVII, CF/1988 sigo a memória viva das grandes atrocidades experimentadas em um
conflito sangrento e de proporções alarmantes. A barbárie imposta
Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
pelos nazistas, consolidada sobre a lógica da “supremacia racial”, fez
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e
com que o mundo se colocasse diante de situações de absoluta desuma-
a do depositário infiel.
nidade em que os direitos mais básicos do ser humano eram negados,
▷ Pacto de San José de Costa Rica (art. 7, VII): ninguém deve ser restando-lhe a fome, a falta de liberdade, o trabalho forçado, o sofri-
detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de auto- mento e a morte. Contudo, a consolidação das potências bélicas, vito-
ridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimple-
riosas da grande guerra, resultou no encabeçamento de um movimento
mento de obrigação alimentar.
que traria respeito e segurança aos direitos humanos, garantindo-lhes
▷ Identificar-se com um direito já presente na Constituição. Exem- proteção em qualquer tempo e lugar.
plo: CF/1988 (art. 5º, III): ninguém será submetido à tortura ou a
A Organização das Nações Unidas (ONU), constituída por 58
tratamento desumano ou degradante.
Estados-membros em sua origem, entre eles o Brasil, em 10 de dezem-
▷ Documentos Internacionais: bro de 1948 instituiu, por meio da Resolução 217-A (III), a Declaração
Art. 5º Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Quando foi editada, era
Art. 7º Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966). apenas uma recomendação, não possuía força vinculante. Este posi-
Art. 5º Convenção Americana de Direitos Humanos (1969). cionamento, no entanto, não é mais adequado porque décadas após a
Resolução que criou a DUDH, os Tribunais Internacionais consideram
1.4 Fases de incorporação que essa Resolução pode ser vista como espelho do costume interna-
▷ Primeira fase (celebração)::é o ato de celebração do tratado, con- cional de proteção dos Direitos Humanos.
venção ou ato internacional, para posteriormente e internamente o
Constituído por 30 artigos, o documento traz a defesa dos direitos
parlamento decidir sobre sua viabilidade, conveniência e oportunidade.
básicos para a promoção da dignidade humana. Sem distinção de cor,
Essa etapa compete privativamente ao Presidente da República, pois
nacionalidade, orientação sexual, política ou religiosa, a Resolução visa
a este cabe celebrar todos os tratados e atos internacionais (art. 84,
impedir as arbitrariedades dos indivíduos e dos Estados que firam os
VIII, CF/1988). No Brasil, concedem-se poderes de negociação de
convenções internacionais a pessoas específicas, ou seja, aqueles con- Direitos Humanos:
siderados aptos para negociar em nome do Presidente da República::os Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
Chefes de Missões Diplomáticas, sob a responsabilidade do Ministério membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. [...]
das Relações Exteriores. Com isso, exime-se o Chefe de Estado de
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
negociação corriqueira no âmbito das relações internacionais.
resultam em atos bárbaros que ultrajam a consciência da humanidade
▷ Segunda fase (aprovação parlamentar): é de competência exclusiva e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade D
do Congresso Nacional, pois cabe a este resolver definitivamente de palavra, descrença e da liberdade de viverem a salvo do temor e H
U
sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretam encar- da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem M
gos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional (art. 49, I, comum, [...]
CF/1988). Se o Congresso Nacional concordar com a celebração do Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta,
ato internacional, elabora-se um decreto legislativo, de acordo com o sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da
art. 59, VI da Constituição Federal, que é o instrumento adequado pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres,
para referendar e aprovar a decisão do Chefe do Executivo, dando-se e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de
vida em uma liberdade mais ampla, [...]
a este uma carta branca para ratificar ou aderir ao tratado.
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liber-
dades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso.
Trechos retirados do Preâmbulo da DUDH, 1948.

633
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
Outros trechos da DUDH: Artigo 13
A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o obje- dentro das fronteiras de cada Estado.
tivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive
em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, o próprio, e a este regressar.
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de Artigo 14
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar
o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto e de gozar asilo em outros países.
entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legiti-
dos territórios sob sua jurisdição.
mamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários
▷ Medidas progressivas: não é intenção da Declaração Universal dos aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Direitos Humanos que suas medidas sejam compreendidas e esta- Artigo 15
belecidas de maneira absoluta. 1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
▷ Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem
Artigo 1 do direito de mudar de nacionalidade.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Artigo 16
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de
outros com espírito de fraternidade. raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimô-
Nenhum pré-requisito é motivo de distinção entre cidadãos em nio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao
casamento, sua duração e sua dissolução.
relação ao direito.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consenti-
Artigo 2
mento dos nubentes.
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liber-
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem
dades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie,
direito à proteção da sociedade e do Estado.
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
Artigo 17
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição. 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade
com outros.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição
política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem Artigo 20
governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação
▷ Vedação à escravidão::para alguns autores, temos um direito que pacíf ica.
se reveste de caráter absoluto. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 4 Artigo 21
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o 1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de
tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente
escolhidos.
▷ Base para os remédios constitucionais.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público
Artigo 8 do seu país.
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais compe- 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta
tentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio
que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a
▷ Presunção de inocência e reserva legal. liberdade de voto.
Artigo 11 Artigo 26
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita,
presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução ele-
de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido mentar será obrigatória. A instrução técnico-prof issional será aces-
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. sível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento
momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou inter- da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos
nacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução
que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
Em alguns artigos da DUDH, é possível verificar os principais nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das
Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
direitos tutelados (grifos nossos):
Artigo 5 1.5.1 Considerações sobre a Declaração
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo Universal dos Direitos Humanos
cruel, desumano ou degradante.
Artigo 6
Quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos começou
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido
a ser pensada, o mundo ainda sentia os efeitos da Segunda Guerra
como pessoa perante a lei. Mundial, encerrada em 1945.
Artigo 7 Outros documentos já haviam sido redigidos em reação a trata-
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, mentos desumanos e injustiças, como a Declaração de Direitos Inglesa
a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra (elaborada em 1689, após as Guerras Civis Inglesas, para pregar a
qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra democracia) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
qualquer incitamento a tal discriminação.

634
DIREITOS HUMANOS
(redigida em 1789, após a Revolução Francesa, a fim de proclamar a
1.6 Convenção Americana de Direitos
igualdade para todos).
Depois da Segunda Guerra e da criação da Organização das
Humanos (Pacto de São José)
Nações Unidas (também em 1945), líderes mundiais decidiram com- É um Tratado Internacional entre os países membros da Organi-
plementar a promessa da comunidade internacional de nunca mais zação dos Estados Americanos (OEA) firmado durante a Conferência
permitir atrocidades como as que haviam sido vistas na guerra. Assim, Interamericana Especializada de Direitos Humanos em 22 de novem-
elaboraram um guia para garantir os direitos de todas as pessoas e em bro de 1969 na cidade de San José da Costa Rica (país).
todos os lugares do globo. Possui 82 artigos, incluindo as disposições transitórias, que esta-
O documento foi apresentado na primeira Assembleia Geral da belecem os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito
ONU em 1946 e repassado à Comissão de Direitos Humanos para à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à edu-
que fosse usado na preparação de uma declaração internacional de cação, entre outros.
direitos. Na primeira sessão da comissão em 1947, seus membros foram Tem como objetivo promover a garantia dos direitos fundamentais
autorizados a elaborar o que foi chamado de “esboço preliminar da da pessoa humana: direito à liberdade, à vida, à dignidade, à inte-
Declaração Internacional dos Direitos Humanos”. gridade pessoal, proibir a escravidão e a servidão humana, afirmar a
Um comitê formado por membros de oito países recebeu a declara- liberdade de consciência e liberdade de orientação religiosa, além de
ção e se reuniu pela primeira vez em 1947. Ele foi presidido por Eleanor garantir os direitos e proteção da família.
Roosevelt, viúva do presidente americano Franklin D. Roosevelt. O Este Tratado busca afirmar que os direitos essenciais da dignidade
responsável pelo primeiro esboço da declaração, o francês René Cassin, humana resultam da condição humana e não de sua nacionalidade.
também participou. Ou seja, em qualquer lugar, o ser humano possui os mesmos direitos
O primeiro rascunho da Declaração Universal dos Direitos Huma- essenciais, sem qualquer tipo de discriminação.
nos, que contou com a participação de mais de 50 países na redação, O governo brasileiro depositou a carta de adesão a essa conven-
foi apresentado em setembro de 1948 e teve seu texto final redigido ção em 25 de setembro de 1992. Portanto, a Convenção Americana
em menos de dois anos. sobre Direitos Humanos (Pacto de São José) entrou em vigor, para o
Brasil, em 25 de setembro de 1992, conforme o disposto no segundo
1.5.2 Declaração Universal dos Direitos parágrafo de seu art. 74. A promulgação veio com o Decreto nº 678,
Humanos e a legislação brasileira de 6 de novembro de 1992.
Podemos afirmar que houve uma clara violação dos Direitos Artigo 74, 2 A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efe-
Humanos durante 21 anos (1964 a 1985). tuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou de
adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.
Temos uma violação desigual que atinge a sociedade em diferentes
Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem
níveis. depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão.
A Emenda Constitucional nº 01/1969 alterou o Texto Consti- Com referência a qualquer outro Estado que a ratif icar ou que a
tucional, formando, na prática, uma nova Constituição (referente a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do
Constituição de 1967). depósito do seu instrumento de ratif icação ou de adesão. (grifo nosso).

Em 1984, como resposta à repressão imposta pela Constituição de


1967 aos Direitos Políticos, surgiu o movimento “Diretas Já”, que rei- Fique ligado
vindicava a volta das eleições diretas no Brasil para eleger o Presidente Segundo a Emenda Constitucional nº 45/2004, sobre a reforma
da República. No primeiro momento, o movimento não logrou êxito no Poder Judiciário, os tratados referentes aos direitos humanos
plenamente, pois a primeira eleição após o regime militar foi indireta, passam a vigorar imediatamente e tornam-se equiparados às
realizada pelo Congresso. Entretanto, obteve bom resultado quando, normas constitucionais.
nestas eleições, devolveu o governo à sociedade civil.
A Constituição de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, é Modo de aprovação: três quintos dos votos na Câmara dos Depu-
a que melhor representa a harmonia do Brasil com os Direitos Huma- tados e no Senado, em dois turnos em cada casa. Vale lembrar que o
nos atualmente. Pela própria estrutura da Constituição, a forma pela Pacto de São José é anterior à referida emenda.
qual é escrita e a organização dos artigos, percebemos maior destaque PARTE I – DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS
aos Direitos Humanos: eles aparecem logo nas primeiras linhas do PROTEGIDOS
texto constitucional, a demonstrar que o constituinte quis garanti- Capítulo I: Enumeração de Deveres
-los e fazer deles a base para a sociedade que nascia a partir daquele Art. 1º Obrigação de respeitar os direitos.
momento. Art. 2º Dever de adotar disposições de direito interno. D
Capítulo II: Direitos Civis e Políticos H
Logo no primeiro artigo, encontramos como fundamento da Repú- U
Art. 3º Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica. M
blica Federativa do Brasil a “dignidade da pessoa humana”, os “valores
Art. 4º Direito à vida.
sociais do trabalho e da livre iniciativa” e o “pluralismo político”. Isto
Art. 5º Direito à integridade pessoal.
prova que a nova ordem social, acolhida e inaugurada pela Constitui-
Art. 6º Proibição da escravidão e da servidão.
ção, rompia com aquela criada em 1967, e valorizava os direitos sociais,
Art. 7º Direito à liberdade pessoal.
trabalhistas e políticos. É, porém, no art. 5º da Carta de 1988, que
Art. 8º Garantias judiciais.
encontramos o maior leque de direitos garantidos; são direitos indi-
Art. 9º Princípios da legalidade e da retroatividade.
viduais e coletivos, direitos civis e instrumentos de controle judiciário
Art. 10 Direito à indenização.
da vida social e de limitações ao direito estatal de punir. É um grande
Art. 11 Proteção da honra e dignidade.
avanço comparado à Constituição anterior.
Art. 12 Liberdade de consciência e religião.

635
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
Art. 13 Liberdade de pensamento e de expressão. Art. 54 Do tempo de mandato dos juízes da corte.
Art. 14 Direito da retificação ou resposta. Art. 55 Da Nacionalidade dos Juízes.
Art. 15 Direito à reunião. Art. 56 Da formação de quórum pelos juízes.
Art. 16 Liberdade de associação. Art. 57 Da Comissão e da Corte.
Art. 17 Proteção da família. Art. 58 Da Sede da Corte.
Art. 18 Direito ao nome. Art. 59 Da Secretaria da Corte.
Art. 19 Direitos da criança. Art. 60 Da elaboração do Estatuto pela Corte.
Art. 20 Direito à nacionalidade. Art. 61 Do direito de submeter decisões à Corte.
Art. 21 Direito à propriedade privada. Art. 62 Do reconhecimento da competência da Corte pelos
Art. 22 Direito de circulação e de residência. Estados-Partes.
Art. 23 Direitos políticos. Art. 63 Das Garantias da Corte aos Estados-Partes.
Art. 24 Igualdade perante a lei. Art. 64 Da relação entre Estados-Partes e a Corte.
Art. 25 Proteção judicial. Art. 65 Do relatório sobre as atividades da Corte.
Capítulo III: Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Art. 66 Dos fundamentos de um processo na Corte.
Art. 26 Desenvolvimento progressivo. Art. 67 Da Sentença da Corte.
Capítulo IV: Suspensão de Garantias, Garantias e Aplicação Art. 68 Do Comprometimento com a Corte por parte dos
Art. 27 Suspensão de garantias. Estados-Partes.
Art. 28 Cláusula federal. Art. 69 Das Sentenças da Corte.
Art. 29 Normas de interpretação. Capítulo IX: Disposições Comuns
Art. 30 Alcance das restrições. Art. 70 Das Condições de Juízes e da Corte.
Art. 31 Reconhecimento de outros direitos. Art. 71 Da incompatibilidade das atividades dos juízes com outras
atividades.
Capítulo V: Deveres das Pessoas
Art. 72 Dos Gastos com Juízes e membros da Corte.
Art. 32 Correlação entre deveres e direitos.
Art. 73 Das Sanções à Corte ou aos Juízes.
PARTE II – MEIOS DA PROTEÇÃO
PARTE III – DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Capítulo VI: Órgãos Competentes
Capítulo X: Assinatura, Ratif icação, Reserva, Emenda, Protocolo
Art. 33 São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o
e Denúncia
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-Partes dessa
convenção: Art. 74 Da adesão e da Ratificação à Convenção.
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante Art. 75 Da Condição de objeto de reserva.
denominada a Comissão; e Art. 76 Das propostas de emenda à Convenção.
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante deno- Art. 77 Dos projetos de protocolo por parte dos Estados- Partes.
minada a Corte. Art. 78 Da Denúncia pelos Estados-Partes.
Capítulo VII: Comissão Interamericana de Direitos Humanos Capítulo XI: Disposições Transitórias
(CIDH) Art. 79 da apresentação dos membros dos Estados-Partes à convenção
Art. 34 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor- Art. 80 Da eleição dos membros da comissão.
-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral Art. 81 Da apresentação dos Estados-Partes.
e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.
Art. 82 Das eleições dos juízes da corte.
Art. 35 A Comissão representa todos os membros da Organização dos
Os Estados signatários da Convenção de São José se comprome-
Estados Americanos.
tem a respeitar os direitos e liberdades reconhecidas pela Convenção,
Art. 36 Dos membros da comissão.
algo essencial para o Direito Internacional e as relações diplomáticas
Art. 37 Da Eleição dos membros da comissão e do tempo de mandato.
entre os países.
Art. 38 Das Vagas.
Art. 39 Do Estatuto da Comissão. Da mesma forma, os Estados Membros estão dispostos a tomar
Art. 40 Dos servidores de secretaria da Comissão. atitudes legais para que direitos acordados no Tratado sejam respeitados
Art. 41 Da principal função da Comissão. por todos os componentes.
Art. 42 Dos relatórios dos Estados-Partes. A Convenção ainda estabelece um desenvolvimento progressivo
Art. 43 Das informações dos Estados-Partes. dos direitos econômicos, sociais e culturais, de acordo com os recursos
Art. 44 Dos órgãos não governamentais. disponíveis. Esse é um meio encontrado para que as nações se tornem
Art. 45 Do reconhecimento da Comissão como representante dos cada vez menos desiguais em um mundo cada vez mais globalizado.
Estados-Partes. O cumprimento e a proteção dos direitos humanos ficam sob a
Art. 46 Dos requisitos para apresentação de petição à Comissão. tutela de dois órgãos criados pela convenção: Comissão Interameri-
Art. 47 Da inadmissibilidade das petições apresentadas à Comissão. cana dos Direitos Humanos e a Corte Interamericana dos Direitos
Art. 48 Dos procedimentos após aceitação de petição pela Comissão. Humanos.
Art. 49 Do procedimento (fim amistoso) pós-resolução de problemas
pela Comissão. 1.7 Comissão Interamericana de
Art. 50 Do procedimento (fim não amistoso) pós-resolução de pro-
blemas pela Comissão.
Direitos Humanos (arts. 34 a 51)
Art. 51 Dos procedimentos e limites temporais estabelecidos aos Estados A Comissão é o órgão principal da OEA, cuja função primordial é
pela Comissão. promover a observância e a defesa dos direitos humanos, além de servir
Capítulo VIII: Corte Interamericana de Direitos Humanos. como órgão consultivo nessa matéria, incorporando a sua estrutura
Art. 52 Da composição da Corte. básica por meio da sua inclusão na Carta da Organização. Compõe-se
Art. 53 Da eleição para juízes da Corte. de sete membros que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e

636
DIREITOS HUMANOS
de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. Os membros nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. Não deve
da Comissão são eleitos a título pessoal, pela Assembleia Geral da haver dois juízes da mesma nacionalidade.
Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Os juízes da Corte são eleitos, em votação secreta e pelo voto da
Estados membros. Cada um dos referidos governos pode propor até três maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos
Estado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando mesmos Estados. Cada um dos Estados Partes pode propor até três
proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro
nacional de Estado diferente do proponente. Estado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando
Os membros da Comissão são eleitos por quatro anos e só pode- se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá
rão ser reeleitos uma vez. Não pode integrar a Comissão mais de um ser nacional de Estado diferente do proponente. Os juízes da Corte
nacional de um mesmo Estado. A Comissão tem a função principal de serão eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos uma
promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício vez. Somente os Estados Partes e a Comissão têm direito de submeter
do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: caso à decisão da Corte.
Estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo
América. à interpretação e aplicação das disposições da Convenção Americana
Formular recomendações aos governos dos Estados membros, de Direitos Humanos que lhe seja submetido, desde que os Estados
quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida compe-
progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis inter- tência. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade
nas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao
para promover o devido respeito a esses direitos. prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará,
Preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências
o desempenho de suas funções. da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos,
além do pagamento de indenização justa à parte lesada.
Solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem
informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer
humanos. necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos
de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias con-
Atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Orga-
sideradas pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem
nização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados membros
submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.
sobre questões relacionadas aos direitos humanos e, dentro de suas
possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem.
Atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício
de sua autoridade, conforme o disposto nos arts. 44 a 51 da Convenção
Americana de Direitos Humanos.
Apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização
dos Estados Americanos.
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governa-
mental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da
Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham
denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado
Parte.

1.8 Corte Interamericana de Direitos


Humanos (arts. 52 a 73)
A Corte é um órgão de caráter jurisdicional criado pela Convenção
com o objetivo de supervisionar o seu cumprimento, com uma função
complementar àquela conferida pela mesma Convenção à Comissão.
Com sede em San José, capital da Costa Rica, integra o Sistema Inte-
ramericano de Direitos Humanos. É um dos três Tribunais regionais
D
de proteção dos Direitos Humanos, ao lado do Tribunal Europeu H
de Direitos Humanos e a Corte Africana de Direitos Humanos e U
M
dos Povos. Sua primeira reunião foi realizada em 1979, na sede da
Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, nos
Estados Unidos.
A Corte é composta de sete juízes, nacionais dos Estados membros
da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta
autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos
humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais
elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam

637
LEGISLAÇÃO DE
TRÂNSITO
LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO
III – Média – quatro pontos;
1 LEI Nº 9.503/1997 – CÓDIGO IV – Leve – três pontos.
DE TRÂNSITO BRASILEIRO A segunda parte é penal/criminal (arts. 291 a 312), ou seja,
algumas ações, devido à sua gravidade, são tratadas como crimes e,
1.1 Introdução do Código para tanto, são aplicadas as previsões legais do Código Penal (CP),
Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, e de outros diplomas
de Trânsito Brasileiro
legais, com o ônus da prova cabendo a quem alegar. Logo, o agente da
A Lei nº 9.503 foi publicada no Diário Oficial da União em 23
autoridade de trânsito deve produzir provas da existência do crime de
de setembro de 1997, e entrou em vigor em 22 de janeiro de 1998 –
trânsito. Veja a tipificação do art. 291:
portanto, com 120 dias de vacatio legis, que é o período compreendido
Art. 291, CTB Aos crimes cometidos na direção de veículos automo-
entre a publicação e a entrada em vigor de uma lei. tores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código
O conceito de legislação de trânsito engloba as atribuições das Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de
diversas autoridades e dos órgãos ligados ao trânsito, fornecendo modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
diretrizes para a Engenharia de Tráfego e estabelecendo normas de no que couber.
conduta, infrações e penalidades para os diversos usuários desse com- Portanto, conforme preceitua o art. 291 do CTB, são aplicáveis as
plexo sistema. normas constantes do Código Penal, do Código de Processo Penal e
É importante observar, desde já, o previsto na Constituição Federal das medidas despenalizadoras da Lei nº 9.099/1995 (Lei dos Juizados
de 1988 (CF/1988), em seu art. 22: Especiais) aos crimes cometidos na direção de veículos automotores.
Art. 22, CTB Compete privativamente à União legislar sobre: [...]
1.2 Conceituação
XI – trânsito e transporte;
Ao conceituar o CTB, deve ser observado o previsto no art. 1º,
Conforme se extrai da previsão constitucional, é competência
que afirma que o trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do
privativa da União legislar sobre trânsito e transporte, não cabendo a
território nacional, abertas à circulação, rege-se pelo referido Código.
nenhum outro ente federado tratar sobre a matéria.
Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do terri-
Outro dispositivo constitucional relativo ao trânsito está no art.
tório nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código.
23, sendo este de competência comum dos entes federados. § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos
Art. 23, CTB É competência comum da União, dos Estados, do Dis- e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de
trito Federal e dos Municípios: [...] circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.
XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança § 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever
do trânsito. dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito,
O art. 23, da CF/1988, atribui a todos os entes federados (União, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as
estados, Distrito Federal e municípios, de forma comum, a competência medidas destinadas a assegurar esse direito.
concorrente para estabelecer e implantar política de educação para a § 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trân-
segurança do trânsito. sito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente,
por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na
Cabe salientar que não há necessidade de ser bacharel em Direito execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam
para interpretar corretamente o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). o exercício do direito do trânsito seguro.
A sistematização das leis mais complexas observa, entre nós, o seguinte § 4º (Vetado)
esquema básico: Livros, Títulos, Capítulos, Seções, Subseções e Artigos. § 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacio-
(Manual de Redação Oficial da Presidência da República – MRPR) nal de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela
É importante entender que os 341 artigos do CTB estão dispostos, incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente.
doutrinariamente, em duas partes. A primeira parte é administrativa/ Conforme estabelece o § 1º, do CTB, o conceito de trânsito com-
educativa (arts. 1º a 290 e 313 a 341), caracterizando uma atividade de preende a utilização das vias por pessoas, veículo e animais, estejam
Administração Pública, pautada em princípios basilares da adminis- isolados ou em grupos, bem como sejam conduzidos para fins circu-
tração, como: a supremacia do interesse público sobre o particular lação, parada, estacionamento ou para carga e descarga.
e a indisponibilidade do interesse público. Vale ressaltar que o ônus Vale frisar, ainda que, o trânsito em condições seguras constitui um
da prova é do condutor/infrator, ou seja, basta o agente de trânsito direito de todos. Trata-se do princípio da universalidade do direito ao
verificar a infração e relatá-la à autoridade com circunscrição sobre trânsito seguro, ou seja, toda pessoa, sem distinções, que participa do
a via, em documento próprio, para que seja iniciado o processo de trânsito, tem direito às condições seguras. Ademais, cabe aos órgãos
penalização. Portanto, o agente da autoridade não precisa produzir e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito (SNT),
provas do fato imputado, sendo assegurado o Direito Constitucional no âmbito de suas competências, adotar os instrumentos e medidas
da ampla defesa e do contraditório (art. 5º, inc. LV, CF/1988). A isto destinadas a assegurar esse direito.
as doutrinas denominam inversão do ônus da prova.
No que tange à responsabilidade dos órgãos e entidades compo-
A principal característica educativa é a penalidade de multa: além nentes do SNT, estes respondem objetivamente pelos danos causados
de um valor pecuniário que, a depender da gravidade, pode ser multi- L
aos cidadãos, quando não assegurado o exercício do trânsito seguro, T
plicado em até 10 vezes, o condutor infrator é submetido a outras regras em razão de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de pro- R
criadas no CTB. Por exemplo, pontuação no prontuário. A
gramas, projetos e serviços que garantam tal direito.
Art. 259, CTB A cada infração cometida são computados os seguintes Por fim, as ações praticadas pelos órgãos e entidades de trânsito,
números de pontos:
devem priorizar, sempre, a defesa da vida e a preservação da saúde e
I – Gravíssima – sete pontos;
do meio-ambiente.
II – Grave – cinco pontos;

639
LEI Nº 9.503/1997 – CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
que tem por finalidade o exercício das atividades de planejamento,
Fique Ligado! administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento de
No final deste livro, no Anexo, o leitor encontra uma lista com os veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores, educação,
principais termos utilizados na disciplina Legislação de Trânsito, engenharia, operação do sistema viário, policiamento, fiscalização,
que o ajudarão a compreender mais facilmente o conteúdo julgamento de infrações e de recursos e aplicação de penalidades.1
estudado. Qual seria a diferença entre operação e fiscalização de trânsito?
Na operação, há atividades ligadas à fluidez do trânsito. Aquele que a
1.3 Territorialidade faz não necessariamente deve ser um servidor, por isso, pode não ter
Com a previsão do CP, destacada em seu art. 5º, infere-se que o poder de polícia.
nos crimes de trânsito as partes envolvidas respondem pelo CTB, Já na fiscalização, o agente deve ter o chamado poder de polícia
quer seja em via pública, quer seja em via particular – a menos que a administrativa, como é o caso de Polícia Rodoviária Federal (PRF),
questão deixe explícito o termo “via pública”, restringindo o tipo penal Polícia Militar (PM) e entidades executivas estaduais, do Distrito
(princípio da especificidade da lei). Federal (DF) e municipais. Tem a ver com a segurança no trânsito
Art. 5º, CP Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, urbano ou rodoviário.
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter- Art. 6º, CTB São objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito:
ritório nacional.
I – Estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento;
a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
II – Fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de
as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
atividades de trânsito;
ou em alto-mar.
III – Estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informações
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
decisório e a integração do Sistema.2
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do O art. 7º indica que o Sistema Nacional de Trânsito é composto
Brasil. dos seguintes órgãos e entidades:
Nesse sentido, no art. 2º do CTB, o legislador teve o cuidado de Art. 7º, CTB [...]
conceituar o que é via terrestre. I – O Conselho Nacional de Trânsito. Contran, coordenador do Sis-
Art. 2º, CTB São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, tema e órgão máximo normativo e consultivo;
os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que II – Os Conselhos Estaduais de Trânsito – Cetran e o Conselho de
terão seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição Trânsito do Distrito Federal – Contrandife, órgãos normativos, con-
sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias sultivos e coordenadores;3
especiais. III – Os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Esta-
Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas vias dos, do Distrito Federal e dos Municípios;
terrestres as praias abertas à circulação pública, as vias internas per- IV – Os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Esta-
tencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas e as dos, do Distrito Federal e dos Municípios.4
vias e áreas de estacionamento de estabelecimentos privados de uso O art. 178 da CF/1988 afirma que a lei disporá sobre “a ordenação
coletivo. dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à orde-
De acordo com a previsão do art. 2º, as vias são divididas em nação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela
urbanas rurais. As vias urbanas compreendem ruas, avenidas, vielas União, atendido o princípio da reciprocidade”.
ou caminhos e similares abertos à circulação pública, situados na área Art. 7º, CTB [...]
urbana, caracterizados principalmente por possuírem imóveis edifica- Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabele-
dos ao longo de sua extensão. Já as vias rurais são residuais, abarcam as cerá as condições em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a
estradas e rodovias. É importante destacar que “via” é a superfície por navegação interior poderão ser feitos por embarcações estrangeiras. [...]
onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a V – A Polícia Rodoviária Federal;
calçada, o acostamento, ilha e canteiro central.
1 Resolução Contran nº 576/2016: dispõe sobre o intercâmbio de informações, entre
Por fim, conforme disposto no art. 3º, “as disposições deste Código órgãos e entidades executivos de trânsito dos estados e do Distrito Federal e os demais
são aplicáveis a qualquer veículo, bem como aos proprietários, condu- órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos rodoviários da União, dos esta-
dos, Distrito Federal e dos municípios que compõem o Sistema Nacional de Trânsito
tores dos veículos nacionais ou estrangeiros e às pessoas nele expres- e dá outras providências. | Resolução Contran nº 351/2010: estabelece procedimentos
samente mencionadas”. O art. 4º, por sua vez, destaca que os conceitos para veiculação de mensagens educativas de trânsito em toda peça publicitária destina-
e as definições estabelecidos para os efeitos do referido Código são da à divulgação ou promoção, nos meios de comunicação social, de produtos oriundos
da indústria automobilística ou afins. | Resolução Contran nº 360/2010: dispõe sobre
apresentadas no Anexo I do documento. a habilitação do candidato ou condutor estrangeiro para direção de veículos em ter-
ritório nacional.
1.4 Sistema Nacional de Trânsito (SNT) 2 Resolução Contran nº 142/2003: dispõe sobre o funcionamento do Sistema Nacio-
nal de Trânsito (SNT), a participação dos órgãos e entidades de trânsito nas reuniões
Após conhecer a territorialidade do CTB, passa-se a conhecer do sistema e as suas modalidades.
os agentes que formam esse sistema. Ressaltaremos que os órgãos de 3 Resolução nº 688 substituída pela Resolução nº 779/2019: altera o item 8 do Anexo
da Resolução Contran nº 688, de 15 de agosto de 2017, que estabelece diretrizes
trânsito – sejam eles executivos, normativos ou julgadores – fazem para a elaboração do Regimento Interno, gestão e operacionalização das atividades
parte do Poder Executivo, da União, dos estados, do Distrito Federal dos Conselhos Estaduais de Trânsito (Cetran) e do Conselho de Trânsito do Distrito
e dos municípios. Federal (Contrandife).
4 Lei nº 10.233/2001: dispõe sobre a reestruturação dos transportes aquaviário e ter-
Art. 5º, CTB O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de órgãos e restre, cria o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte, a Agência
entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e
o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e dá outras providências.

640
LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO
VI – As Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
VII – As Juntas Administrativas de Recursos de Infrações – Jari.
Art. 7º-A, CTB A autoridade portuária ou a entidade concessionária
de porto organizado poderá celebrar convênios com os órgãos previstos
no art. 7º, com a interveniência dos Municípios e Estados, juridica-
mente interessados, para o fim específico de facilitar a autuação por
descumprimento da legislação de trânsito.
§ 1º O convênio valerá para toda a área física do porto organizado,
inclusive, nas áreas dos terminais alfandegados, nas estações de trans-
bordo, nas instalações portuárias públicas de pequeno porte e nos res-
pectivos estacionamentos ou vias de trânsito internas.
É importante destacar que os estados, o Distrito Federal e os
municípios organizarão os respectivos órgãos e entidades executivos
de trânsito e executivos rodoviários, estabelecendo os limites circuns-
cricionais de suas atuações.

L
T
R
A

641
FÍSICA
FÍSICA

1 INTRODUÇÃO À FÍSICA hecto h 102 = 100

A Física (a palavra "física", do grego physis, significa natureza) é a deca da 10


ciência que se preocupa em descrever e explicar os fenômenos naturais. deci d 10 = 0,1
-1

Para isso, cria modelos idealizados das situações reais, em que apenas os
centi c 10-2 = 0,01
fatores que interessam são considerados. A partir de conclusões sobre
o comportamento de um modelo, generaliza o resultado de forma a mili m 10-3 = 0,001
explicar a situação real, e é capaz de prever circunstâncias futuras para micro µ 10-6 = 0,000,001
o mesmo fenômeno.
nano n 10-9 = 0,000,000,001
1.1 Sistemas de unidades pico p 10-12 = 0,000,000,000,001
Para medir uma grandeza, devemos compará-la com um padrão femto f 10-15 = 0,000,000,000,000,001
arbitrariamente escolhido, o qual denominamos unidade. O número
resultante dessa comparação é chamado de valor numérico. atto a 10-18 = 0,000,000,000,000,000,001

Podemos escrever 12 Newtons ou, usando o símbolo N, 12 N.


Nesse caso, 12 é o valor numérico da força, e Newton é a unidade.
1.2 Grandezas escalares e vetoriais
1.1.1 Sistema Internacional de unidades (SI) ▷ Escalares: ficam totalmente definidas por um número, que fornece
a medida, e por uma unidade.
Sete unidades básicas
Massa, tempo e energia.
▷ Vetoriais: necessitam, além de medida e unidade, de uma orientação
Unidade Símbolo Grandeza
para ficarem totalmente definidas. A orientação é estabelecida por
metro m comprimento uma direção e um sentido.
quilograma kg massa Velocidade, força e campo elétrico.

segundo s tempo
1.3 Notação científica
ampère A corrente elétrica Uma maneira prática de manipular números com grande quanti-
temperatura dade de zeros é a notação científica, na qual se utiliza a potência de 10.
kelvin K
termodinâmica Qualquer número real K pode ser escrito como o produto de um
mol mol quantidade metéria número a, cujo módulo está entre 1 e 10 (incluindo o 1), por outro,
que é uma potência de 10 com expoente inteiro (10n):
candela cd intensidade luminosa

K = a ⋅ 10n, sendo 1 ≤ | a | < 10


Algumas unidades derivadas
Colocar 2.000 na notação científica é escrevê-lo como 2 · 103
Unidade Símbolo Grandeza Colocar 0,0052 na notação científica é escrevê-lo como 5,2 · 10-3
metro por segundo m/s velocidade
1.4 Ordem de grandeza
newton N força
Determinar a ordem de grandeza de uma medida consiste em
joule J trabalho fornecer, como resultado, a potência de 10 mais próxima do valor
ohm Ω resistência elétrica encontrado para a grandeza.
Como obter a ordem de grandeza (OG)?
lúmen lm fluxo luminoso
Regra prática:
pascal Pa pressão
a ≥ √10 (≈ 3,162) → ordem de grandeza: 10n+1
a < √10 (≈ 3,162) → ordem de grandeza: 10n
Múltiplos e submúltiplos decimais das unidades A ordem de grandeza do raio da Terra (6,37 ⋅ 106m).
6,37 > √10, a ordem de grandeza do raio da Terra é dada por:
Nome Símbolo Fator 106+1m = 107
exa E 1018 = 1.000.000.000.000.000.000 A ordem de grandeza da distância da Terra ao Sol (1,49 · 1011m)
peta P 1015 = 1.000.000.000.000.000 1,49 < √10, a ordem de grandeza da distância da Terra ao Sol é
dada por: 1011m
tera T 1012 = 1.000.000.000.000

giga G 109 = 1.000.000.000 1.5 Algarismos significativos


mega M 106 = 1.000.000
Imagine que você esteja realizando uma medida qualquer, por F
exemplo a medida do comprimento de uma barra (ver figura). Observe Í
quilo k 103 = 1.000 (letra k minúscula) S
que a menor divisão da régua utilizada é de 1 mm. Ao tentar expressar I
o resultado dessa medida, você percebe que ela está compreendida entre

701
INTRODUÇÃO À FÍSICA
14,3 cm e 14,4 cm. A fração de milímetro que deverá ser acrescentada
a 14,3 cm terá de ser avaliada, pois a régua não apresenta divisões
inferiores a 1 mm.
Para fazer essa avaliação, você deverá imaginar o intervalo entre
14,3 cm e 14,4 cm, subdividido em 10 partes iguais, e com isso, a
fração de milímetros, que deverá ser acrescentada a 14,3 cm, poderá
ser obtida com razoável aproximação. Na figura podemos estimar a
fração mencionada como sendo 5 décimos de milímetro, e o resultado
da medida poderá ser expresso como 14,35 cm.
15

14

13

12
Observe que estamos seguros em relação aos algarismos 1, 4 e 3,
pois eles foram obtidos por meio das divisões inteiras da régua, ou seja,
eles são algarismos corretos. Entretanto, o algarismo 5 foi avaliado, isto
é, você não tem muita certeza sobre seu valor e outra pessoa poderia
avaliá-lo como sendo 4 ou 6, por exemplo. Por isso, esse algarismo
avaliado é denominado de duvidoso ou algarismo incorreto.
Algarismos significativos de uma medida são os algarismos cor-
retos e o primeiro algarismo duvidoso.

1.5.1 Operações com algarismos significativos


Na adição e na subtração, o resultado deve conter um número de
casas decimais igual ao da parcela com menos casas decimais.
3,32 + 3,1 = 6,42 → apresentamos o resultado com apenas uma
casa decimal: 6,4.
3,37 + 3,1 = 6,47 → apresentamos o resultado com uma casa deci-
mal e, levando em conta a regra do arredondamento, obtemos: 6,5.
Na multiplicação ou na divisão, devemos apresentar o resultado
com o número de algarismos significativos igual ao do fator que possui
o menor número de algarismos significativos.
2,31 ⋅ 1,4 = 3,234 → apresentamos o resultado com dois algaris-
mos significativos: 3,2.
Como se faz o arredondamento?
Sendo o primeiro algarismo abandonado menor que 5, mantemos
o valor do último algarismo significativo; caso o primeiro algarismo
a ser abandonado seja maior ou igual a 5, acrescentamos uma unidade
ao último algarismo significativo.

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