Fabre JS TM 19
Fabre JS TM 19
Fabre JS TM 19
FERRO
Rio de Janeiro
Junho de 2019
ENSAIOS TRIAXIAIS DE EXTENSÃO EM UM REJEITO DE MINÉRIO DE
FERRO
Examinada por:
_________________________________________
Profª. Maria Claudia Barbosa, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Leonardo De Bona Becker, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida, Ph.D
_________________________________________
Prof. Vitor Nascimento Aguiar, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Fernando Schnaid, Ph.D.
iii
À minha família.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, José e Maria, e à minha irmã Camila. Por serem meus melhores amigos
e o meu maior motivo e incentivo para alcançar meus objetivos. Amo vocês.
À minha família como um todo. Por me compreenderem quando eu não estive presente e
por todas as palavras de encorajamento e orgulho.
Ao meu companheiro e grande amigo, Denis. Por sempre me acalmar, com seu jeito
calmo e racional, e me mostrar que todas as dificuldades tem um lado positivo. Por todos
os momentos alegres que me ajudaram a recarregar minhas energias durante esses dois
anos. Serei para sempre grata.
Aos meus amigos, da época de CTU e da época de graduação. Por compartilhar comigo
felicidade e preocupações, muitas vezes distantes. Tenho certeza que toda a energia
positiva que me enviaram me ajudaram conquistar esta etapa.
Aos novos amigos que fiz no mestrado. Por proporcionarem momentos de descontração
quando toda a pressão de provas e trabalhos nos sufocavam. Meu muito obrigada e muito
orgulho de ter vocês como colegas de profissão.
À minha orientadora Maria Cláudia Barbosa. Por todo apoio e atenção quando precisei
e principalmente pela oportunidade de ser sua orientanda.
Por fim, ao meu orientador Leonardo Becker. Por todas as reuniões e conversas
compartilhando conhecimento, por todas as oportunidades que me concedeu e
principalmente por toda confiança depositada em mim. Um imenso e eterno obrigada.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Junho/2019
June/2019
In this study, iron tailings from the Fundão Dam were studied by means of drained
triaxial extension tests. Several authors concluded that triaxial extension in soils is more
likely to exhibit strain localization (ROSCOE et al., 1963; YAMAMURO and LADE,
1995; LADE et al., 1996; WU and KOLYMBAS, 1991), which amplifies the radial
strains in the sample, resulting in incorrect calculation of the stress level. In order to
overcome this problem, YAMAMURO and LADE (1995) proposed an apparatus that
enforces uniform strains in the sample, while WU and KOLYMBAS (1991) used strain
collars to measure the change in the sample radius. The solution adopted in this research
was to use digital photographs and CAD software to measure the actual diameter during
the shear stage. This actual diameter was used to determine the cross-sectional area and
the vertical stress. The effects of edge distortion on photographs and parallax were
considered, as well as corrections for the phenomenon of optical refraction. This method
is an accessible alternative to be applied in extension tests carried out in conventional
equipment. The shear strength and the critical state line determinations were satisfactory
and compared well to other results of the same material.
vii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1
viii
3.3.1. Resultados relacionados com a determinação de ϕ’ .................................... 42
5. METODOLOGIA ................................................................................................. 60
ix
5.4.1. Efeito de paralaxe em fotografia.................................................................. 87
x
LISTA DE FIGURAS
xi
Figura 3.5. Efeito do peso próprio do CP no ângulo de atrito medido (WU e
KOLYMBAS, 1991) ...................................................................................................... 30
Figura 3.6. Deslocamento radial em ensaios triaxiais em areia (D0 = 100mm) a) compacta
b) fofa (WU e KOLYMBAS, 1991) ............................................................................... 32
Figura 3.7. Imagem dos CPs ao final do ensaio a) areia compacta b) areia fofa (WU e
KOLYMBAS, 1991) ...................................................................................................... 32
Figura 3.8. Acessório que condiciona deformações uniformes (YAMAMURO e LADE,
1995) ............................................................................................................................... 33
Figura 3.9. Comparação entre os resultados do ensaio convencional e o ensaio com
deformações uniformes a) σd versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)
........................................................................................................................................ 34
Figura 3.10. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais dilatantes a) σ1/ σ3
versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995) .............................................. 35
Figura 3.11. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais contráteis a) σ1/ σ3
versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995) ............................................... 36
Figura 3.12. Razão entre as áreas versus deformações axiais (YAMAMURO e LADE,
1995) ............................................................................................................................... 37
Figura 3.13. Ângulo de atrito secante versus tensão efetiva na ruptura para os ensaios de
extensão convencionais e com deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)
........................................................................................................................................ 37
Figura 3.14. Resultados de ensaios de extensão para a) Dr = 90% e b) Dr = 50% (LADE
e WANG, 2012). ............................................................................................................. 39
Figura 3.15. Metodologia utilizada por ZHANG et al. (2014) a) Posições da câmera
fotográfica b) Alvos fixados ........................................................................................... 41
Figura 3.16. Reconstrução virtual do CP para 8 etapas do cisalhamento (ZHANG et al.,
2014). .............................................................................................................................. 42
Figura 3.17. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em ensaios
triaxiais em areia compacta (CORFDIR e SULEM, 2008) ............................................ 43
Figura 3.18. Comparação do ângulo de atrito secante sob extensão e sob compressão para
Dr=60% (LADE e BOPP, 2005) .................................................................................... 44
Figura 3.19. Comparação do ângulo de atrito secante sob compressão e sob extensão para
Dr=30% (LADE e BOPP, 2005) ..................................................................................... 45
Figura 3.20. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em areia fofa
(CORFDIR e SULEM, 2008) ......................................................................................... 45
Figura 3.21. Linha dos Estados Críticos para ensaios triaxiais de extensão e compressão
(BEEN et al., 1991) ........................................................................................................ 46
Figura 3.22. Linha dos Estados Críticos para extensão e compressão (SALVATORE et
al., 2017). ........................................................................................................................ 48
xii
Figura 3.23. Linha do Estado Crítico para a areia de Hostun (AZEITEIRO, 2017) ...... 49
Figura 3.24. Linha dos Estados Críticos do rejeito de minério de ouro (SCHNAID et al.,
2013) ............................................................................................................................... 50
Figura 4.1. Complexo de Mineração de Germano em maio de 2013 (GOOGLE EARTH,
2013) ............................................................................................................................... 52
Figura 4.2. Complexo de Mineração de Germano em novembro de 2015 (GOOGLE
EARTH, 2015) ............................................................................................................... 52
Figura 4.3 - Barragem do Fundão e seus Diques em 2013 (GOOGLE EARTH, 2013) 53
Figura 4.4. Locais de retirada das amostras na barragem (FLÓREZ, 2015) .................. 54
Figura 4.5. Rejeitos arenosos oriundos do (a) Concentrador I e (b) Concentrador II
(FLÓREZ, 2015) ............................................................................................................ 55
Figura 4.6. Fotografias do rejeito inalterado, obtidas pela MEV (FLÓREZ, 2015) ...... 56
Figura 4.7. Caracterização mineralógica - DRX (FLÓREZ, 2015)................................ 56
Figura 4.8. Curvas de adensamento unidimensional do rejeito estudado (SILVA, 2017)
........................................................................................................................................ 57
Figura 4.9. Curva de adensamento unidimensional do rejeito estudado e0=0,92(PÖLZL,
2018) ............................................................................................................................... 58
Figura 4.10. Gráfico q x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)
........................................................................................................................................ 59
Figura 4.11. Gráficos εv x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES,
2017) ............................................................................................................................... 59
Figura 5.1. Peças necessárias para realizar o ensaio de extensão a) separadas b) acopladas
no equipamento de ensaio............................................................................................... 62
Figura 5.2. Acessórios para a compactação estática ....................................................... 63
Figura 5.3. Etapas da compactação estática a) Sequência de montagem dos acessórios b)
Volume ocupado pelo material antes (TELLES, 2017) c) Volume ocupado pelo material
depois (TELLES, 2017). ................................................................................................. 64
Figura 5.4. a) Extração do corpo de prova por um extrator de amostras hidráulico b) Isopor
e berço utilizados no transporte do corpo de prova ........................................................ 64
Figura 5.5. Conjunto montado no equipamento do ensaio triaxial ................................. 66
Figura 5.6. Pistão e topcap a) Separados e b) Enroscados ............................................. 68
Figura 5.7. Forças atuantes no topcap e pistão ............................................................... 69
Figura 5.8. Calibração do atrito estático ......................................................................... 72
Figura 5.9. Determinação da área efetiva do pistão ....................................................... 74
Figura 5.10. Detalhe dos parafusos da tampa que influenciam no atrito estático no pistão
........................................................................................................................................ 75
xiii
Figura 5.11. Gráficos Força x Deslocamento para o atrito cinemático de diversos valores
de tensão confinante ....................................................................................................... 77
Figura 5.12. Força de atrito, estático e cinemático, numa superfície perfeitamente lisa
(LAMBE & WHITMAN,1969) ...................................................................................... 77
Figura 5.13. Fenômeno do stick-slip (LAMBE & WHITMAN,1969) ........................... 78
Figura 5.14. Fenômeno stick-slip numa superfície irregular (CBPF, 2005) .................. 78
Figura 5.15. Ranhuras no pistão a partir de um microscópio aumentado 40x ............... 79
Figura 5.16. Força de atrito cinemático x tensão confinante .......................................... 80
Figura 5.17. Determinação do módulo de elasticidade de uma membrana de látex nova
........................................................................................................................................ 82
Figura 5.18. Efeito da paralaxe em câmeras compactas (MARINHO, 2009) ................ 87
Figura 5.19. Tipos de distorção radial em fotografias (NEON, 2014) ........................... 88
Figura 5.20. Exemplo de imagem e a ausência de distorções ........................................ 89
Figura 5.21. Efeito da refração num objeto imerso em água (LOPES, 2014) ................ 90
Figura 5.22. Refração em superfície cilíndrica............................................................... 91
Figura 5.23. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo obtida por
meio de dedução de equações matemáticas de refração e relações trigonométricas ...... 92
Figura 5.24. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo método
gráfico. ............................................................................................................................ 92
Figura 5.25. Relação entre a altura virtual e a altura real do corpo de prova. ................ 93
Figura 5.26. Determinação da posição relativa da área real cisalhada a) no final do ensaio
b) em estágios intermediários ......................................................................................... 95
Figura 5.27. Medidas entre as marcas na membrana no ED400 a) εa = 0% b) εa = 15% 97
Figura 5.28. Ensaio ED200 com 15% de deformação axial a) Região de análise real b)
Região de análise adotada............................................................................................... 98
Figura 5.29. Análise da deformação da membrana ao final do ensaio - ED200 .......... 100
Figura 6.1. Curva granulométrica do material estudado .............................................. 103
Figura 6.2. Imagens do rejeito de minério de ferro obtidas por microscópio: a) com
aumento de 40x e b) com aumento de 92x ................................................................... 105
Figura 6.3. Linha de Adensamento Isotrópico (ICL) para os ensaios de compressão . 106
Figura 6.4. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de compressão ................................ 107
Figura 6.5. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de compressão ................................ 107
Figura 6.6. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de compressão........................ 108
Figura 6.7. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão .................. 109
Figura 6.8. ICL para todos os ensaios de extensão ....................................................... 110
xiv
Figura 6.9. ICL para os ensaios de extensão com em semelhantes ............................... 110
Figura 6.10. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de extensão ................................... 112
Figura 6.11. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de extensão ................................. 112
Figura 6.12. Gráfico q/σ’1:εa para os ensaios triaxiais de extensão ............................. 113
Figura 6.13. Aparecimento do plano de ruptura do ensaio ED500 com εa = 8% - resultado
típico ............................................................................................................................. 113
Figura 6.14. Deformações localizadas e surgimento do necking no ensaio ED500 com εa
= 12%- resultado típico ................................................................................................ 114
Figura 6.15. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão..................... 115
Figura 6.16. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão .......................... 115
Figura 6.17. Determinação de 'a' e altura do necking no ensaio ED100 com εa = 14% –
resultado típico ............................................................................................................. 117
Figura 6.18. Relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria118
Figura 6.19. Curvas q:εa corrigida pelas áreas determinadas na fotografia ................. 120
Figura 6.20. Gráfico q/ σ’1:εa a partir da correção da área pelas fotos ........................ 120
Figura 6.21. Gráfico Volume de água x deformação axial ........................................... 121
Figura 6.22. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão considerando as
fotografias para correção da tensão desviadora e do índice de vazios do necking. ...... 122
Figura 6.23. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão considerando as
fotografias ..................................................................................................................... 123
Figura 6.24. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão e extensão
considerando as fotografias .......................................................................................... 124
Figura A.1. a) Pendural b) Cargas aplicadas ................................................................ 134
Figura A.2. Resultado da calibração ciclo 1 ................................................................. 135
Figura A.3. Calibração deslocamento axial - 1ª tentativa............................................. 136
Figura A.4. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTrac II de Poro-Pressão ........ 137
Figura A.5. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTracII de Pressão Confinante 137
Figura A.6. Resultado para a 1ª calibração da membrana de látex – máquina e visual 139
Figura A.7. Ensaio de tração na membrana de látex .................................................... 140
Figura B.1. Representação da primeira refração em superfície cilíndrica entre o meios
ar/acrílico ...................................................................................................................... 141
Figura B.2. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado graficamente ......... 144
Figura B.3. Modelo utilizado para o processo gráfico ................................................. 145
Figura B.4. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado matematicamente . 148
xv
Figura B.5. Refração no plano horizontal .................................................................... 149
Figura B.6. Zoom da refração na parede cilíndrica do acrílico .................................... 150
Figura B.7. Relação entre altura virtual e altura real do CP ......................................... 152
Figura B.8. Refração no plano vertical ......................................................................... 153
xvi
LISTA DE TABELAS
xvii
Tabela 6.13. Comparação dos parâmetros do estado de regime permanente entre os
ensaios de compressão e extensão ................................................................................ 123
Tabela A.1. Cálculo da constante de calibração da célula de carga ............................. 134
Tabela A.2. Cálculo da constante de calibração do transdutor de deformação axial ... 135
Tabela A.3. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Poro-pressão .. 137
Tabela A.4. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Pressão Confinante
...................................................................................................................................... 137
Tabela A.5. Resumo dos resultados da calibração da membrana ................................. 139
Tabela B.1. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano horizontal ............ 143
Tabela B. 2. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano vertical ................ 151
xviii
LISTA DE SÍMBOLOS
CC – Coeficiente de curvatura
Cc – Índice de compressão
CID – Ensaio triaxial com consolidação isotrópica e fase de cisalhamento drenada
CIU – Ensaio triaxial com consolidação isotrópica e fase de cisalhamento não drenada
CNU – Coeficiente de não uniformidade
CP – Corpo de prova
Dr – Densidade relativa
e – Índice de vazios
E – Módulo de Young
ea – Índice de vazios no final da fase de adensamento
em – Índice de vazios após moldagem
ess – Índice de vazios no estado de regime permanente
FC – Teor de finos (Fines Content) – passante na P#200
IBu – Índice de fragilidade não drenada
ICL – Linha de adensamento isotrópico (Isotropic Consolidation Line)
M – Inclinação da linha de regime permanente no plano p’-q
p’ – tensão efetiva octaédrica (p’=(’1 + 2’3)/3)
p’0 – Tensão efetiva no final da consolidação
q – Tensão desviadora (q=’a – ’r)
SSL – Linha de regime permanente (Steady State Line)
− Altura da linha de regime permanente, definida para p’=1kPa
a− Deformação axial
v− Deformação volumétrica
− Peso específico
' − Ângulo de atrito
ICL− Inclinação da linha de adensamento isotrópico no plano logp’-e,
SSL − Inclinação da linha de regime permanente no plano logp’-e
xix
1. INTRODUÇÃO
Apesar da grave crise econômica e política que o país passou nos últimos anos, o
setor de mineração se apresentou estável quanto aos níveis de produção e exportação,
contribuindo para gerar superávits à balança comercial brasileira. Segundo o Instituto
Brasileiro de Mineração – IBRAM (2018), a indústria extrativa representou cerca de 1,4%
de todo PIB nacional no ano de 2017, exportando cerca de 403 milhões de toneladas de
bens minerais. A Figura 1.1 apresenta os produtos exportados e suas importâncias no
mesmo ano, tendo como principal produto o minério de ferro (62%) com cerca de 240
milhões de toneladas exportadas (IBRAM, 2018).
1
deposição, cavas, pilhas, minas subterrâneas e, a forma mais comum no país, barragens
de rejeito (IBRAM, 2016b).
Foi realizado por ICOLD (2001) uma análise de 221 incidentes noticiados com
barragens de rejeito até o ano de 2001, verificando o método construtivo e as causas de
ruptura. Os resultados, juntamente com o número de ocorrências de cada tipo, estão
apresentados na Figura 1.2. Os acidentes mais recentes com barragens construídas a
montante, infelizmente, ocorreram no Brasil em Mariana-MG em 2015 e em
Brumadinho-MG em 2019, gerando grande número de vítimas e imensos prejuízos
materiais e ambientais.
A partir da Figura 1.2, pode-se perceber que diversas são as causas de ruptura,
tendo como principais: galgamento, instabilidade de taludes e terremotos. Ainda na
2
figura, observa-se que o número de ocorrências destas principais causas é maior para as
barragens construídas à montante.
Figura 1.2. Causas de ruptura x número de incidentes de barragens de rejeito (ICOLD, 2001)
3
1.1. Motivação da pesquisa
Em grandes obras geotécnicas, como barragens de rejeito, a segurança contra a
ruptura é um fator de suma importância e, a investigação do comportamento dos rejeitos
sob diferentes solicitações deve ser realizada de forma prioritária.
4
Figura 1.3. Indicação da superfície de ruptura na barragem de Kingston (EACOM, 2008)
Figura 1.4: Diferentes solicitações numa possível superfície de ruptura (BJERRUM, 1973)
5
Diversos autores (ROSCOE et al., 1963; YAMAMURO e LADE, 1995; LADE
et al., 1996) ressaltam que em ensaios triaxiais de extensão convencionais em areias
ocorrem deformações radiais não uniformes e surgimento de um estreitamento no corpo
de prova (denominado “neck”), que tornam os cálculos teóricos de tensões inapropriados.
6
No capítulo 2 é apresentada uma breve revisão bibliográfica sobre a resistência ao
cisalhamento e estados de regime permanente de solos arenosos, visto que o rejeito de
minério estudado tem curva granulométrica correspondente à areia fina.
O capítulo 4 apresenta a área de estudo e o material que foi coletado, bem como
resultados de alguns ensaios obtidos em pesquisas anteriores para este mesmo material.
7
2. RESISTÊNCIA DE SOLOS ARENOSOS
Onde:
O valor do ângulo de atrito efetivo do solo (ϕ') pode ser considerado como a soma
de dois fatores: o ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e uma parcela referente ao
fenômeno de dilatância (ψ).
O ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) está relacionado com o atrito que se
dá no contato entre partículas do solo. Este atrito será influenciado pelo atrito entre os
minerais que as compõem, representado como tanϕμ, e também pelo formato e superfície
dessas partículas do solo. Esses fatores serão melhor explicados adiante.
8
Para qualquer um dos dois blocos, o deslizamento só irá ocorrer quando as
resultantes das forças na superfície de contato fizer um ângulo com a normal igual a um
ângulo de atrito especifico de cada caso. No primeiro caso, como não é necessário
deslocamentos verticais, o ângulo de atrito será correspondente ao ângulo de atrito de
volume constante (ϕcv). Porém, no segundo caso, devido a inclinação dos dentes, o ângulo
de atrito total, será a soma da parcela do ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e o
ângulo dos dentes (ψ) (FERNANDES, 2016).
Figura 2.1. Analogia do dente de Serra a) superfície lisa e b) superfície dentada (imagem retirada de
FERNANDES, 2016)
Considerando então que a Figura 2.1a) representa uma areia fofa e a Figura 2.2b)
uma areia compacta, o valor de 𝜓 estará associado à variação de volume do solo. No caso
de uma areia fofa, com aproximadamente 𝜓 = 0, o solo não apresentaria variação de
volume e, seu ângulo de atrito efetivo máximo seria o próprio ângulo de atrito a volume
constante (ϕcv). Já para uma areia compacta, com 𝜓 > 0, o solo aumentaria seu volume e
seu ângulo de atrito efetivo máximo, que é comumente denominado de ângulo de atrito de
pico (𝜙′𝑝𝑖𝑐𝑜 ), seria a soma das duas parcelas e pode ser representado pela Equação 2.2.
9
2.2. Fatores que influenciam o ângulo de atrito de solos
arenosos
2.2.1. Características do solo
Para um mesmo índice de vazios do solo, sob a mesma tensão efetiva, os fatores
que podem influenciar no valor do ângulo de atrito são: forma das partículas; distribuição
granulométrica, mineralogia e tamanho médio das partículas (LAMBE &
WHITMAN,1969).
O efeito da forma das partículas é evidente, pois grãos de formato mais irregular
tendem a ter grau de interlocking maior do que grãos arredondados e lisos, e
consequentemente, maior ângulo de atrito. A Figura 2.2 mostra as possíveis formas de
grãos de areias.
10
dimensões, possibilitando um arranjo das partículas com os grãos menores preenchendo
os espaços dos grãos maiores. Dessa forma, o ângulo de atrito deste material será maior.
Tabela 2.1. Efeitos da forma, compacidade e distribuição granulométrica no ângulo de atrito de pico
(Sowers and Sowers, 1951 apud LAMBE & WHITMAN, 1969)
Por fim, tem-se a mineralogia do material, que irá influenciar diretamente no valor
de tanϕμ. A maioria das areias é composta por quartzo e feldspato, que possuem valores
semelhantes de tanϕμ. Logo essa é uma característica que pouco varia entre muitos solos
arenosos. Cabe ressaltar, entretanto, que o ângulo de atrito pode ser significativamente
afetado em solos com altos teores de partículas micáceas, pois a mica possui um baixo
valor de tanϕμ.
11
Figura 2.3. Comportamento em ensaio triaxial em função do índice de vazios inicial (TAYLOR (1948),
apud LAMBE & WHITMAN,1969)
Na Figura 2.4 tem-se a relação entre o valor do ângulo de atrito efetivo (ϕ’) e o
índice de vazios inicial para uma areia de granulometria média. Neste gráfico pode-se
observar as parcelas do ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e da dilatância (𝜓 ) que
constituem o valor ϕ’, e ainda o ângulo de atrito dos minerais (ϕµ).
12
Figura 2.4. Ângulo de atrito x Índice de vazios inicial (ROWE, 1962 apud LAMBE & WHITMAN,1969)
Da mesma forma, na Figura 2.6 tem-se os resultados para a areia fofa (Dr~25%).
Neste caso, as tensões confinantes foram de 100 kPa, 200 kPa, 450 kPa, 1.270 kPa, 2.000
kPa, 4.000 kPa e 12.000 kPa, para os ensaios de (1) a (7).
13
DEFORMAÇÃO AXIAL (%)
Figura 2.5. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento da areia compacta (LEE e
SEED, 1967)
14
DEFORMAÇÃO AXIAL (%)
Figura 2.6. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento na areia fofa (LEE e SEED,
1967)
15
pode ocorrer quebra de grãos, e consequentemente, um rearranjo das partículas, tendendo
a uma matriz mais compacta e assim mais resistente.
Este índice de vazios foi definido por CASAGRANDE (1936) como índice de
vazios crítico (ecr) e o ângulo de atrito correspondente a estes valores finais de tensões
desviadoras foi definido como ângulo de atrito crítico (ϕ’cr). Estas definições foram a base
para o desenvolvimento da Teoria dos Estados Críticos, que será apresentada adiante.
Figura 2.7. Relação de ϕ’ com o parâmetro b em areias (resultados reunidos por SAYÃO, 1989)
17
A diferença dos resultados é maior para as amostras mais compactas e torna-se menor
para as amostras mais fofas.
Figura 2.8. Comparação entre ensaio triaxial convencional e ensaio de deformação plana (CORNFORTH,
1964, apud LAMBE e WHITIMAN, 1969).
18
O tipo de carregamento está ligado à maneira como se desenvolvem as tensões no
solo até a ruptura, avaliado a partir de caminhos de tensões efetivas. A Figura 2.9
apresenta caminhos de tensões efetivas típicos para quatro modalidades de ensaios
triaxiais drenados e exemplos de problemas geotécnicos relacionados.
Neste ponto pode-se observar que a influência de 𝜎2 está ligada ao tipo de caminho
de tensões escolhida para o ensaio, assim como ao parâmetro b. Como apresentado no
item 2.2.5, há resultados que indicam o ângulo de atrito obtido pelos ensaios de
compressão igual ao obtido pelos ensaios de extensão, enquanto outros que indicam uma
diferença significativa. Resultados de ensaios de extensão em areias serão apresentados e
discutidos no capítulo 3.
19
2.3. Envoltória de resistência de areias
Conhecendo o mecanismo de resistência dos solos arenosos e os fatores que o
influenciam, pode-se definir a envoltória de resistência, em geral representada pelo
modelo de Mohr-Coulomb.
A Figura 2.10 ilustra essa explicação. Na Figura 2.10a) tem-se dois círculos de
Mohr obtidos por ensaios com níveis de tensões diferentes e seus ângulos de atrito
correspondentes (chamados de ângulos de atrito secantes) e, na Figura 2.10b) tem-se a
envoltória real e uma possível aproximação linear para aplicação prática em engenharia
geotécnica.
20
Figura 2.10. Envoltória de resistência de areias a) ângulo de atrito tangente à dois níveis de tensões
distintos. b) Envoltória real x aproximação linear (FERNANDES, 2016).
21
POULOS (1981) definiu os Estados de Regime Permanente (SS - Steady State)
como os estados em que a massa de solo se deforma com volume, tensões efetivas
(normais e cisalhantes) e velocidade constantes. Este estado é alcançado após ocorrer toda
orientação das partículas (em solos argilosos) e após toda quebra de grãos, caso haja, para
aquele nível de tensões.
22
𝑒𝑠𝑠 = 𝛤 − 𝜆𝑆𝑆𝐿 × ln(𝑝′ 𝑠𝑠 ) 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑞 < 0 𝑜𝑢 𝑞 > 0 [Equação 2.5]
Onde:
Figura 2.11. Linha de regime permanente no espaço q:p’:e (ATKINSON & BRANSBY, 1978)
Onde:
23
No plano q:p’a SSL é uma reta que passa pela origem e é representada pela
Equação 2.7.
6 sin 𝜙′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐
𝑀𝑡𝑐 = [Equação 2.10]
3− sin 𝜙′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐
6 sin 𝜙′𝑠𝑠,𝑡𝑒
𝑀𝑡𝑒 = [Equação 2.11]
3+sin 𝜙′𝑠𝑠,𝑡𝑒
Outros autores, como BOLTON (1986) e GREEN (1971) relataram não encontrar
diferenças significativas entre os ângulos de atrito nas condições de compressão e
extensão (diferenças menores que 2°).
BEEN & JEFFERIES (2016) observam que, como há uma ausência geral de
informações sobre o ângulo de atrito no estado de regime permanente ( 𝜙 ′ 𝑠𝑠 ), tanto para
24
as condições de extensão triaxial quanto para deformação plana, e devido à variação
encontrada nos poucos dados disponíveis, é comum utilizar a compressão triaxial como
condição de referência para determinar o parâmetro M.
Essa variação dos valores encontrados para ângulo de atrito a partir de ensaios
triaxiais de compressão ou de extensão também foi apresentada no capítulo 2 quando foi
discutida a influência da tensão principal intermediária no ângulo de atrito efetivo do solo,
bem resumido por SAYÃO (1989) na Figura 2.7.
BEEN & JEFFERIES (2016) ainda ressaltam que alguns autores consideram a
unicidade como a condição de relação única apenas para o índice de vazios crítico (ess) e
a tensão octaédrica (p’ss), isto é, os parâmetros e 𝜆𝑆𝑆𝐿 não são afetados pelo caminho de
tensões e processo de moldagem do CP. Por outro lado, há autores que só consideram
unicidade quando, além de 𝜆𝑆𝑆𝐿 , o parâmetro M também não é afetado, considerando
então que para cada valor de p’ss, existe apenas um valor de qss correspondente,
independentemente do caminho de tensões.
25
3. ENSAIO TRIAXIAL DE EXTENSÃO
A fase de adensamento pode ser realizada com tensões hidrostáticas (σ1 = σ2 = σ3),
caracterizando o adensamento isotrópico (ou hidrostático), ou com tensões diferentes
(geralmente σ1 > σ2 = σ3), caracterizando o adensamento anisotrópico. Somente na última
etapa, a de cisalhamento, que os ensaios de compressão e extensão diferem, e essa
diferença aparece nos caminhos de tensões, como apresentados no item 2.2.5. Num ensaio
de extensão, pode-se aumentar a tensão radial mantendo-se a vertical constante, ou pode-
26
se diminuir a tensão axial no topo do corpo de prova, aplicando para isso uma força de
tração no pistão (extensão por descarregamento axial), mantendo a tensão radial
constante.
Figura 3.1. Esquema do triaxial de extensão por descarregamento axial (SOUZA PINTO, 2006).
Figura 3.2. Variação das tensões principais num ensaio de extensão (HEAD, 1986)
27
Como as primeiras câmaras triaxiais foram elaboradas para ensaios de
compressão, HEAD (1986) também explica as etapas e modificações necessárias a serem
realizadas no equipamento convencional para que seja viável a realização de um ensaio
de extensão, que são as seguintes: a) topcap e pistão interligados ou fixos, possibilitando
a aplicação e medição de uma força ascendente; b) sistema de fixação da célula triaxial
no prato da prensa (parafusos ou braçadeiras), para garantir que o movimento do prato
seja transferido apenas para o deslizamento relativo entre a câmara e o pistão; c) medição
direta do carregamento axial, sugerindo na época, anéis dinamométricos de tração ou o
uso de dois anéis de compressão; além de alguns cuidados especiais.
Figura 3.3. Efeito da membrana no resultado de ensaio triaxial de extensão (WU e KOLYMBAS, 1991)
Figura 3.4. Efeito da membrana no ângulo de atrito medido (WU e KOLYMBAS, 1991)
29
3.2.2. Peso próprio do corpo de prova
WU e KOLYMBAS (1991) salientam que, em alguns casos, o efeito do peso
próprio do corpo de prova não pode ser desprezado. A tensão axial no topo do corpo de
prova é ligeiramente menor que na base pois nesta, ainda há o acréscimo de seu peso
submerso. Na maioria dos ensaios, a magnitude do peso próprio é desprezível perto do
nível de tensões envolvidas, porém, em ensaios com baixo nível de tensões isso pode ser
diferente. WU e KOLYMBAS (1991) exemplificam com um ensaio em uma areia média,
compacta, com e=0,53 e Gs=2,65, tensão confinante de 50 kPa que teve uma força axial
medida na ruptura de 20 N (correspondente à força no topo do corpo de prova). A força
resultante do peso do corpo de prova, na base do corpo de prova, é de 6,7 N, ou seja, cerca
de 30% do valor da força axial medida.
Esse fator pode ser responsável pelas deformações não uniformes nos ensaios de
extensão, já que o estado de tensões varia ao longo da altura do corpo de prova (WU e
KOLYMBAS, 1991). A Figura 3.5 mostra a influência da correção do peso próprio no
ângulo de atrito do material. Percebe-se que a diferença é maior para areias compactas,
pois o peso específico do material é maior.
Figura 3.5. Efeito do peso próprio do CP no ângulo de atrito medido (WU e KOLYMBAS, 1991)
30
3.2.3. Deformações localizadas
Uma das premissas de ensaios triaxiais em corpos de prova cilíndricos é que, com
o avanço do ensaio, o corpo de prova se deforma como um cilindro reto, indicando que
todas as partes da amostra participam igualmente no processo de deformação e
resistência.
31
Figura 3.6. Deslocamento radial em ensaios triaxiais em areia (D0 = 100mm) a) compacta b) fofa (WU e
KOLYMBAS, 1991)
Figura 3.7. Imagem dos CPs ao final do ensaio a) areia compacta b) areia fofa (WU e KOLYMBAS,
1991)
32
resultados. Os autores utilizaram um acessório que condicionava deformações uniformes
no CP, considerados por eles como ensaios ideais. O acessório proposto por
YAMAMURO (1993) consiste em um conjunto de membranas lubrificadas e pequenas
placas metálicas curvas, fornecendo planos semirrígidos para atuação da tensão
confinante, condição que favorece a ocorrência de deformações uniformes ao longo do
CP. A Figura 3.8 apresenta este acessório e detalhes estão descritos em YAMAMURO
(1993).
Figura 3.8. Acessório que condiciona deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)
Figura 3.9. Comparação entre os resultados do ensaio convencional e o ensaio com deformações
uniformes a) σd versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)
34
Figura 3.10. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais dilatantes a) σ1/ σ3 versus εa b) εv
versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)
Para os ensaios de extensão convencionais com tensões acima de 17,5 MPa, nos
quais predomina o comportamento contrátil do solo, a influência da tensão confinante na
razão de resistência de pico e nas deformações volumétricas é muito menor, como pode
ser visto na Figura 3.11.
35
Figura 3.11. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais contráteis a) σ1/ σ3 versus εa b) εv
versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)
Figura 3.12. Razão entre as áreas versus deformações axiais (YAMAMURO e LADE, 1995)
A Figura 3.13 compara o ângulo de atrito secante versus a tensão normal efetiva
média na ruptura dos ensaios de extensão convencionais e os ensaios de extensão com
deformações uniformes. Como previsto por YAMAMURO e LADE (1995), existe uma
maior variabilidade de resultados para os ensaios convencionais, por consequência das
deformações localizadas, mas em geral, os valores de ângulo de atrito obtidos a partir dos
ensaios convencionais são menores do que os obtidos pelos ensaios de deformação
uniforme (a favor da segurança).
Figura 3.13. Ângulo de atrito secante versus tensão efetiva na ruptura para os ensaios de extensão
convencionais e com deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)
37
Mais tarde, LADE e WANG (2012) adaptaram o aparato utilizado por
YAMAMURO e LADE (1995) para realizarem ensaios de extensão drenados com
tensões confinantes efetivas de 49, 98 e 196 kPa, mais usuais na geotecnia.
As curvas sem símbolos, indicadas com as setas inclinadas, foram obtidas a partir
da medição direta da área da região cisalhada de cada ensaio. Os valores de variação de
diâmetro do CP no final do ensaio, medidos diretamente, estão indicados ao lado de cada
curva. O diâmetro inicial para todos os corpos de prova era de 9,65cm.
38
Figura 3.14. Resultados de ensaios de extensão para a) Dr = 90% e b) Dr = 50% (LADE e WANG, 2012).
Segundos os autores, este ponto fraco na massa do corpo de prova pode ser
consequência de variações da densidade e da geometria, durante a moldagem. Esse efeito
39
também é marcante em corpos de prova de materiais naturais, pela característica de
heterogeneidade dos solos.
40
determinar a real variação volumétrica do CP a partir da deformação axial e das
deformações radiais, MACARI et al. (1997) também utilizaram métodos fotográficos.
Neste trabalho, os autores geraram um vídeo de toda a etapa de cisalhamento e,
selecionaram imagens específicas para definir o contorno do corpo de prova com auxílio
de um software de computador. Como a obtenção das imagens era externa ao acrílico do
ensaio triaxial, foi necessário realizar correções em razão dos efeitos de refração na
magnitude do CP, melhor explicadas em MACARI et al. (1997).
Figura 3.15. Metodologia utilizada por ZHANG et al. (2014) a) Posições da câmera fotográfica b) Alvos
fixados
41
Figura 3.16. Reconstrução virtual do CP para 8 etapas do cisalhamento (ZHANG et al., 2014).
42
Tabela 3.1. Ângulos de atrito de pico para ensaios de compressão e extensão (LAMBE & WHITMAN,
1969)
Figura 3.17. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em ensaios triaxiais em areia
compacta (CORFDIR e SULEM, 2008)
43
se na Figura 3.18. Estão representados então os valores de ângulo de atrito de pico para
cada ensaio (ϕ’pico).
Figura 3.18. Comparação do ângulo de atrito secante sob extensão e sob compressão para Dr=60%
(LADE e BOPP, 2005)
44
efetivas maior e a menor (s= (σ’r + σ’a)/2), apresentado na Figura 3.20. Os autores
verificaram que, ao contrário das areias compactas, não existia uma relação única para os
dois tipos de ensaios triaxiais para areias fofas, isto é, o ângulo de atrito em relação à ‘s’
pode ser diferente para um dado nível de tensões dependendo do caminho de tensões. Por
exemplo, para um valor de s' = 500 kPa, o ângulo de atrito para compressão é
aproximadamente 34,5º e o para extensão é 37,5°.
Figura 3.19. Comparação do ângulo de atrito secante sob compressão e sob extensão para Dr=30%
(LADE e BOPP, 2005)
Figura 3.20. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em areia fofa (CORFDIR e
SULEM, 2008)
45
3.3.2. Resultados relacionados com o estado de regime permanente ou
estado crítico
BEEN et al. (1991) realizaram um conjunto de ensaios de compressão (drenada e
não drenada) e extensão (não drenada) na areia de Erksak, uma areia média com
graduação uniforme, com o objetivo de estudar o estado crítico a partir dos caminhos de
tensões. Realizaram ensaios utilizando tensão controlada e deformação controlada para
aplicação da tensão desviadora.
Nesta pesquisa, os autores concluíram que a linha dos estados críticos (CSL) no
plano e:p’ é independente do caminho de tensões, considerando uma precisão de ±0,01
no índice de vazios, precisão esta considerada desprezível em termos práticos. Além disto,
a CSL determinada foi bi linear, apresentando maior inclinação para valores de p’>1000
kPa. A Figura 3.21 mostra a CSL encontrada por BEEN et al. (1991). Estes mesmos
resultados foram posteriormente apresentados também por BEEN & JEFFERIES (2016).
Figura 3.21. Linha dos Estados Críticos para ensaios triaxiais de extensão e compressão (BEEN et al.,
1991)
46
um de extensão, ambos realizados por controle de deformação e com o mesmo método
de moldagem de CP. Observa-se que o ângulo de atrito encontrado variou apenas 1,5°.
Cabe ressaltar que nesta pesquisa os autores não comentam sobre os erros que as
deformações localizadas em CPs arenosos podem gerar nos valores de ângulo de atrito.
Tabela 3.2. Comparação entre os ensaios de compressão e extensão (BEEN et al., 1991)
A Figura 3.22 apresenta o resultado final obtido por SALVATORE et al. (2017).
Os autores concluíram que, utilizando os índices de vazios globais, a unicidade da CSL
não é confirmada, e o caminho de tensões de extensão produzem corpos de prova mais
compactos ao final do cisalhamento. Entretanto, quando utilizaram os índices de vazios
locais, apesar de um número pequeno de ensaios de extensão, os autores consideraram
que os resultados dos ensaios de compressão e extensão mostraram uma tendência única
na relação entre ess e p’ss.
47
Figura 3.22. Linha dos Estados Críticos para extensão e compressão (SALVATORE et al., 2017).
48
Figura 3.23. Linha do Estado Crítico para a areia de Hostun (AZEITEIRO, 2017)
Pode-se verificar então, como já observado por BEEN & JEFFERIES (2016), que
ainda não há um consenso na literatura sobre a relação entre os ângulos de atrito de regime
permanente obtidos por ensaios triaxiais de extensão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 ) e por ensaios triaxiais de
compressão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 ).
49
apresenta a CSL no plano e:p’, única, independentemente do caminho de tensões
(SCHNAID et al., 2013). Os símbolos mais à direita referem-se aos índices de vazios no
final da fase de adensamento.
Figura 3.24. Linha dos Estados Críticos do rejeito de minério de ouro (SCHNAID et al., 2013)
Os valores dos parâmetros dos estados críticos dos resultados apresentados por
SCHNAID et al. (2013) foram consultados em BEDIN (2010) e estão indicados na Tabela
3.3. A autora não apresentou o valor da inclinação da linha dos estados críticos no plano
q:p’(Mc e Me), mas apresentou os valores dos ângulos de atrito efetivo no estado crítico,
que foram diferentes.
Tabela 3.3. Parâmetros dos Estados Críticos de um rejeito de minério de ouro (BEDIN, 2010)
50
4. ÁREA E MATERIAL DE ESTUDO
A Figura 4.1 apresenta uma imagem de satélite do Google Earth, do dia 7 de maio
de 2013 da Unidade Industrial de Germano. Nela podem ser observadas as três barragens
citadas, Santarém, Germano e Fundão, além de uma mina explorada, a Mina Germano.
51
Na Figura 4.2 tem-se outra imagem de satélite da mesma área, porém referente ao
dia 9 de novembro de 2015, logo após a ruptura da Barragem do Fundão, que se deu no
dia 05 do mesmo mês. Essa imagem permite observar a área ocupada pelo rejeito após a
ruptura, inclusive o distrito Bento Rodrigues, da cidade de Mariana-MG, o qual foi
totalmente recoberto.
Figura 4.1. Complexo de Mineração de Germano em maio de 2013 (GOOGLE EARTH, 2013)
Figura 4.2. Complexo de Mineração de Germano em novembro de 2015 (GOOGLE EARTH, 2015)
52
4.1.1. Barragem do Fundão
O rejeito estudado nesta pesquisa é o rejeito arenoso proveniente da Barragem do
Fundão. Os rejeitos, tanto do Concentrador I quanto do Concentrador II, eram
descarregados nesta barragem. Os rejeitos finos e arenosos eram dispostos em
reservatórios específicos e separados. A Figura 4.3 é uma imagem de satélite da Barragem
do Fundão do ano de 2013, com a indicação de dois diques diferentes. O Dique 1 era
responsável por armazenar o rejeito arenoso e o Dique 2, o rejeito fino. O rejeito estudado
foi coletado do Dique 1 (FLORÉZ, 2015).
Para a construção dos próximos 100 metros de altura do aterro, foram executados
alteamentos pelo método à montante, utilizando o próprio rejeito arenoso como material
de construção. O rejeito era lançado hidraulicamente por canhões localizados na crista da
barragem e compactados na direção a montante (PAC, 2012 apud REZENDE, 2013).
Cada alteamento tinha de 5 a 6 metros de altura, com inclinação da face do talude de
jusante de 1:3 (V:H) e largura de crista de 5,0 metros.
Figura 4.3 - Barragem do Fundão e seus Diques em 2013 (GOOGLE EARTH, 2013)
53
4.2. Apresentação do material de estudo
4.2.1. Amostragem
O rejeito utilizado nesta pesquisa foi primeiramente estudado por FLORÉZ
(2015), cuja amostragem foi encomendada pela mesma autora e realizada pela
mineradora. A Figura 4.4 indica os locais da praia da barragem do Dique 1, onde foram
retiradas as amostras. Na data da amostragem a barragem possuía cerca de 68 metros de
altura.
54
Figura 4.5. Rejeitos arenosos oriundos do (a) Concentrador I e (b) Concentrador II (FLÓREZ, 2015)
Física
SiO2 88,30%
Al2O3 0,10%
55
Em relação à caracterização mineralógica, foram realizadas análises por
microscopia eletrônica de varredura (MEV), onde se observou presença de sílica e óxidos
de ferro (Figura 4.6) e também, análises por difração de raio-X DRX (Figura 4.7),
identificando o mineral quartzo e óxidos de ferro, como hematita e goethita.
Figura 4.6. Fotografias do rejeito inalterado, obtidas pela MEV (FLÓREZ, 2015)
56
4.2.3. Índices de Vazios Máximo e Mínimo
SILVA (2015) utilizou a metodologia proposta pela norma ASTM-D4253 (ASTM
2000a) para determinar o índice de vazios mínimo (emín) e obteve o valor de 0,59. Já para
determinar o índice de vazios máximo (emáx) a autora citada utilizou uma metodologia
simples desenvolvida pela mesma e descrita em seu trabalho, pela qual obteve o valor de
0,97, superior ao valor encontrado quando realizou o procedimento da norma ASTM-
D4254 (ASTM 200b).
57
PÖLZL (2017) realizou ensaios de adensamento unidimensional chegando ao
valor de tensão vertical de 1600 kPa, com índice de vazios inicial de 0,92. A curva de
adensamento obtida bem como os diferentes valores de Cc estão na Figura 4.9.
58
Tabela 4.3. Propriedades do rejeito no estado de regime permanente (TELLES, 2017)
λSSL Γ Mc ϕ'ss
0,048 1,017 1,36 34°
Figura 4.10. Gráfico q x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)
Figura 4.11. Gráficos εv x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)
59
5. METODOLOGIA
60
5.2. Ensaios triaxiais de extensão
O processo de preparação e execução dos ensaios triaxiais desta pesquisa foi
realizado em dois laboratórios. Nos setores de caracterização e pavimentação do
Laboratório de Geotecnia Professor Jacques de Medina da COPPE/UFRJ foram
executadas as etapas de preparação do material e moldagem do corpo de prova. As etapas
de saturação, adensamento e cisalhamento foram realizadas no Laboratório de Mecânica
dos Solos Fernando Emmanuel Barata, da Poli/UFRJ, nos equipamentos LoadTracII e
FlowTracII fabricados pela empresa Geocomp.
Cada sensor dos componentes gera um número de contagens (cnts) que deve ser
calibrado com constantes em unidades específicas. Todos os procedimentos de calibração
estão descritos no Anexo A.
61
por (TELES, 2013). Sabe-se que pequenas variações, da ordem de 0,5-1,0 kPa podem
existir, porém estas foram desconsideradas, pois a menor tensão confinante efetiva
utilizada nos ensaios é de 100 kPa, o que representaria no máximo 1% de erro.
Figura 5.1. Peças necessárias para realizar o ensaio de extensão a) separadas b) acopladas no equipamento
de ensaio
63
) ) )
Figura 5.3. Etapas da compactação estática a) Sequência de montagem dos acessórios b) Volume ocupado
pelo material antes (TELLES, 2017) c) Volume ocupado pelo material depois (TELLES, 2017).
Figura 5.4. a) Extração do corpo de prova por um extrator de amostras hidráulico b) Isopor e berço
utilizados no transporte do corpo de prova
64
Afim de verificar se os processos de homogeneização, dupla compactação estática
e extração resultavam em corpos de prova com teor umidade uniforme, foram moldados
3 corpos de prova extras e determinadas as umidades de 3 regiões diferentes (topo, meio
e base). Para os três CPs, a região com menor teor de umidade era o topo, o que pode ser
explicado pelo processo de extração no qual esta região fica mais tempo exposta ao
ambiente externo. Entretanto, como essas diferenças eram da ordem de 0,3%, foram
desprezadas.
65
Figura 5.5. Conjunto montado no equipamento do ensaio triaxial
Ensaio u0 B
ED100 465 kPa 0,975
ED200 415 kPa 0,981
ED300 465 kPa 0,979
ED400 415 kPa 0,983
ED500 365 kPa 0,985
67
• Consideração sobre o contato entre o pistão e o topcap
A Figura 5.7, representa um esquema deste arranjo, onde pode-se observar que as
duas peças (pistão e topcap) foram consideradas uma peça única. A Equação 5.1
representa o novo cálculo de tensão vertical (𝜎𝑣 ) considerando este arranjo e a Equação
5.2 representa o valor da força de compressão (N) necessária para atingir a condição
hidrostática.
68
Figura 5.7. Forças atuantes no topcap e pistão
Onde:
𝑁+ 𝜎𝑐 . (𝐴𝑡𝑜𝑝𝑐𝑎𝑝− 𝐴𝑝𝑖𝑠𝑡 )
𝜎𝑣 = [Equação 5.1]
𝐴𝑡𝑜𝑝𝑐𝑎𝑝
Este arranjo se mostra diferente do que ocorre nos ensaios triaxiais de compressão
convencionais, nos quais durante as fases de saturação e adensamento isotrópico, toda a
área do topcap está em contato com a água de preenchimento e, consequentemente, com
a tensão confinante. E na fase de cisalhamento, a área de contato entre o pistão e o topcap
pode ser desconsiderada, por ser apenas um ponto, devido ao formato boleado da ponta
do pistão.
69
cisalhamento. O trecho a seguir, retirado do manual do equipamento, explica quais fatores
são levados em conta no cálculo da tensão vertical.
“The program determines the stress by combining the output of the load cell
with three other factors that come from information on the Piston Settings
window (opened by selecting Piston on the Options menu). These other
factors are the area of the piston, the weight of the piston, the friction on the
piston and the uplift (buoyancy) force on the piston due to the cell pressure.”
Em razão do exposto acima, tanto o peso do pistão e o empuxo que atua sobre o
mesmo, bem como o atrito entre o pistão e a tampa da célula triaxial, são fatores
importantes para a determinação correta da tensão vertical no topo do CP, pois
influenciarão diretamente no valor da força de compressão N, registrada pela célula de
carga. No próximo item serão apresentadas as maneiras como cada fator foi considerado
nos ensaios desta pesquisa.
O peso do pistão é 2,68 N, que geraria uma tensão vertical de apenas 1,32 kPa
sobre o topcap de diâmetro de 50,8 mm. Porém, nos ensaios de extensão, o pistão é
parafusado na célula de carga, que é ‘zerada’ após este procedimento. Assim, o peso do
pistão também não precisa ser considerado nos cálculos de tensão vertical.
70
• Atrito entre o pistão e a tampa da célula triaxial
O mais indicado em ensaios triaxiais seria medir a força axial do pistão com uma
célula de carga colocada dentro da câmara triaxial, para que não fosse preciso descontar
os efeitos de atrito estático e cinemático que podem surgir entre o pistão e a tampa da
célula triaxial. Entretanto, no equipamento utilizado nesta campanha, a leitura da força
axial é realizada por uma célula de carga externa à câmara, não sendo possível
desconsiderar o atrito.
O atrito estático entre o pistão e a tampa será importante para o cálculo da tensão
vertical durante as etapas de saturação e adensamento isotrópico, pois, como explicado
no item anterior, a união entre o pistão e o topcap exige que se aplique uma força vertical
de compressão pelo pistão. Considerando que os deslocamentos relativos entre pistão e
tampa sejam muito pequenos durante estas etapas, foi admitido que o atrito estático
influencia o valor necessário da força de compressão (N).
• Atrito estático
A metodologia utilizada para determinar o atrito estático que existe entre o pistão
e a tampa foi aplicar diferentes tensões confinantes e ler a força na célula de carga. O
pistão ficava acoplado na célula de carga e a célula triaxial era preenchida com água. As
pressões aplicadas na água provocavam uma força de levantamento no pistão. A Figura
5.8 mostra este procedimento e as forças envolvidas, que neste caso serão apenas o atrito
estático (At,e), a força de contato na área do pistão gerada pela pressão confinante (F),
indicada pela Equação 5.3, e a força lida pela célula de carga (R), indicada pela Equação
5.4. Como a célula de carga foi zerada após a montagem do conjunto, a fixação do pistão
e a abertura da borboleta de travamento do pistão (indicada pelo círculo vermelho), o
valor do peso do pistão é desconsiderado.
A Equação 5.5 indica que a força de atrito deveria ser o coeficiente linear da reta
obtida com os pares força x tensão após diversas aplicações da tensão confinante e, o
coeficiente angular deveria ser a área transversal do pistão. Isso significaria que o atrito
71
estático é constante para qualquer valor de tensão confinante aplicada. E, se não houvesse
atrito (At,e=0), a força lida, R, seria exatamente igual à força F.
72
Putting this effective area in the Area dialog box on the Piston Setting
window and then leaving the Weight and Friction dialog boxes with zero
is equivalent to using the actual area, weight and friction values.”
E as instruções sugeridas pelo manual para determinar esta área efetiva estão
indicadas no trecho abaixo.
“Go through the procedure of getting load cell readings while you
increase the pressure in the cell. Then plot the result and determine the
slope of the line (Excel works well for this). […] Use the value of the slope
for the effective area. We determined the effective area of the piston for
our standard triaxial system with the 3400 model triaxial cell. We did this
by increasing the cell pressure (while the cell was in contact with the load
cell button and the platen was fixed in position) and recording the
corresponding load cell reading. The effective area turned out to be
between 130 mm² (0.2 in2) and 226 mm² (0.35 in2) instead of the actual
area of 587 mm2 (0.197 in2)”
73
O manual não traz informações específicas sobre o atrito cinemático. Acredita-
se que o fabricante considera suficiente esta correção do atrito.
O procedimento foi realizado três vezes, com tensões confinantes entre 100 e 700
kPa (faixa de tensões utilizadas durante os ensaios de extensão), na semana anterior ao
início da campanha de ensaios.
A Figura 5.9 apresenta o gráfico Força x Pressão com o resultado das três
calibrações e a Tabela 5.1 apresenta um resumo com a área efetiva de cada calibração e a
média encontrada.
Área Efetiva
Calibração Média
(mm²)
1 75,4
2 75,2 76,06
3 77,6
74
A área real do pistão (Apistao) é 125,4 mm² e a área efetiva média determinada foi
menor, seguindo o que foi indicado pelo manual do equipamento. Este valor de área
efetiva é registrado no software do programa, que então realiza as etapas do ensaio
considerando este valor como área do pistão. Isso implica que o atrito estático já está
sendo considerado nos dados fornecidos pelo equipamento, não sendo necessária
nenhuma correção posterior da tensão vertical.
Acredita-se que esta variação da área efetiva, que reflete o valor do atrito estático
entre o pistão e a tampa, está diretamente relacionada com o aperto dos dois parafusos da
peça que envolve o pistão (Figura 5.10). Estes parafusos são responsáveis por vedar o
orifício no qual o pistão se movimenta, evitando qualquer vazamento da água de
preenchimento. Deve existir um “ponto ótimo” de aperto dos parafusos, que não permita
o vazamento de água (mesmo com altas pressões confinantes) ao mesmo tempo que gere
o menor valor de atrito estático possível.
Figura 5.10. Detalhe dos parafusos da tampa que influenciam no atrito estático no pistão
Para tentar determinar o atrito cinemático que ocorre entre o pistão e a tampa,
optou-se por manter a mesma configuração do atrito estático (apenas o pistão acoplado
na célula triaxial dentro da câmera triaxial) e, mantendo constante uma determinada
tensão confinante, promover o deslocamento descendente do prato, simulando o que
ocorre no ensaio de extensão. Desta forma, as forças atuantes no sistema seriam as
mesmas indicadas anteriormente na Figura 5.8. Considerando que o movimento
descendente do prato gera um deslocamento relativo do pistão para fora da câmara, o
sentido da força de atrito cinemático (At,c) que surge no pistão será o mesmo que o sentido
do atrito estático.
Os gráficos obtidos em cada teste estão apresentados na Figura 5.11 e para todos
os valores de tensão confinante, observa-se que a célula de carga indicou uma oscilação
da força, mesmo sem nenhuma variação no sentido de movimento do prato. Este
comportamento oscilatório do atrito cinemático também foi identificado por TELES
(2019) em testes similares realizados num equipamento do mesmo modelo.
76
Figura 5.11. Gráficos Força x Deslocamento para o atrito cinemático de diversos valores de tensão
confinante
Sabe-se que o coeficiente de atrito estático entre duas superfícies é maior que o
coeficiente de atrito cinemático. Por isto, a força necessária para iniciar o movimento (sair
da inércia) é maior que a força necessária para manter o movimento. A Figura 5.12
representa a força de atrito x tempo (ou deslocamento). A seta para baixo indica apenas
que a força de atrito tem sentido contrário ao sentido positivo do movimento.
Figura 5.12. Força de atrito, estático e cinemático, numa superfície perfeitamente lisa (LAMBE &
WHITMAN,1969)
Quando existe uma diferença entre os atritos estático e cinemático pode ocorrer o
fenômeno conhecido como stick-slip (agarra-escorrega). A força cisalhante aumenta até
atingir o valor do atrito estático, quando o deslizamento começa. Neste momento, parte
da energia elástica que estava armazenada no mecanismo de carregamento é liberada,
acelerando o corpo deslizante e fazendo com que a força cisalhante medida caia abaixo
do mínimo necessário para manter o movimento, fazendo o deslizamento parar. O
77
movimento só recomeçará quando a força cisalhante aumentar até o valor necessário para
vencer o atrito estático e o ciclo se repete. Sob tais condições não se pode determinar
exatamente qual o valor do coeficiente de atrito cinemático e por isso, utiliza-se uma
média entre o atrito estático e a força que fez o fim do movimento. A Figura 5.13
representa este fenômeno.
78
Em relação ao problema de atrito cinemático entre o pistão e a tampa da célula
triaxial, acredita-se estar mais relacionado à primeira forma de stick-slip, quando alguma
parcela de energia elástica do material do pistão pode ser liberada e causar o fenômeno.
Utilizou-se um microscópio e verificou-se que o pistão apresentava ranhuras com
espaçamentos iguais, mas da ordem de apenas 0,1 mm (Figura 5.15), ao contrário dos
picos observados na Figura 5.11, que são espaçados em aproximadamente 5mm. Por isto,
as ranhuras do pistão não podem explicar a variação do atrito cinemático.
1 𝐹𝑎,𝑐
𝜎𝑎,𝑐 = . [Equação 5.7]
1000 𝐴𝑐𝑝
79
Onde,
• Membrana de látex
80
Os autores sugerem que a parcela da força de tração gerada pela membrana pode
ser estimada pela Equação 5.8.
𝐹𝑚 = 𝜋. 𝐷. 𝑡. 𝐸𝑚 . 𝜀𝑎 [Equação 5.8]
Onde,
Onde,
81
𝐹𝑚 é a força gerada pela membrana, em N, calculada pela Equação 5.8
82
• Peso próprio
O peso específico úmido médio dos corpos de prova foi de 17,7 kN/m³ e a altura
média de 9,9cm. Isso corresponde a uma tensão na base no CP devido ao peso próprio de
aproximadamente 1,75 kPa.
Como foram realizados ensaios com tensões confinantes acima de 100 kPa, a
parcela do peso próprio foi desconsiderada, pois é menor que 1,75%. No ensaio de 500
kPa essa influência é ainda menor, de apenas 0,35%. Assim, considerou-se uma
distribuição uniforme de tensões no CP ao longo de sua altura.
Como o material apresenta alta permeabilidade, optou-se por não utilizar papel
filtro lateral. Logo não foram necessárias correções na tensão desviadora relacionadas à
parcela de tração que poderia estar sendo resistida por ele.
83
digitais para a determinação da área real transversal do neck, com as devidas correções
explicadas posteriormente. Este resultado foi comparado com o obtido por meio do
cálculo convencional da área transversal, baseado em deformações uniformes.
1−𝜀
𝐴𝑐𝑜𝑟 = 𝐴𝑎 ( 𝑣𝑜𝑙) [Equação 5.10]
1− 𝜀 𝑎
Onde:
84
𝜀𝑎 é a deformação axial em cada instante do ensaio, que no caso de ensaios de
extensão, é negativa
𝑁− 𝜎𝑐 × 𝐴𝑒𝑓
𝜎𝑑 = − 𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 − 𝜎𝑎,𝑐 [Equação 5.11]
𝐴𝑐𝑜𝑟
Gs∙γw Gs∙γw ∙ 𝑉𝑖
em = −1= −1 [Equação 5.12]
γd 𝑃𝑠
Onde:
𝑃𝑡
𝑃𝑠 = peso seco, correspondente à ⁄(1 + 𝑤), com w sendo a umidade de
moldagem e 𝑃𝑡 o peso total úmido do CP, ambos determinados por uma balança com
resolução de 0,01g e considerando g=9,81m/s².
85
Para o cálculo do índice de vazios no final da etapa de adensamento (ea), que é
igual ao índice de vazios no início do cisalhamento (e0), considerou-se que todo volume
de água que saiu do corpo de prova (∆𝑉𝑎 ) durante a etapa corresponde à redução de seu
volume de vazios, assim, o volume do CP no final do adensamento (𝑉𝑎 ) será:
Por último, nos ensaios drenados, foi considerado novamente que qualquer
variação no volume de vazios corresponde ao volume de água que entrou ou saiu do corpo
de prova durante o cisalhamento (∆𝑉𝑐𝑖 ), logo, o volume do CP no final do cisalhamento
(𝑉𝑠𝑠 ) será:
Gs∙γw ∙ 𝑉𝑠𝑠
ess = −1 [Equação 5.16]
𝑃𝑠
Enfatiza-se que, como os índices de vazios foram calculados utilizando o volume total
do corpo de prova, são considerados como índice de vazios globais.
Para determinar os valores das dimensões dos CPs através de imagens, foram
utilizados: uma câmera fotográfica da marca Apple, resolução de 12MP, com
comprimento focal de 28mm, abertura de objetiva f/1.8; e um tripé com níveis de bolha
horizontal e vertical, a fim de garantir o paralelismo entre o plano da lente da câmera
fotográfica e o equipamento de ensaio. Todas as fotos, de todos os ensaios, foram
realizadas na mesma posição. Depois, as medidas eram realizadas no software AutoCAD
e corrigidas quanto ao efeito de refração óptica.
86
A seguir, serão explicados como foram considerados o efeito de paralaxe, a
distorção radial presente em fotografias e o fenômeno de refração óptica.
87
resolução da câmera irá influenciar na nitidez da imagem obtida. Além disto, já existem
softwares que corrigem automaticamente as distorções das bordas (HAGE, 2016).
Neste trabalho, foi utilizado um tripé fixo na mesma posição em todos os ensaios
e a câmera fotográfica foi posicionada a uma distância horizontal de, aproximadamente
1,0m. Esta distância foi definida de tal forma que as distorções de borda não afetassem a
imagem do corpo de prova e a nitidez ainda fosse suficiente para realizar as medições.
Optou-se por centralizar o foco da câmera no eixo de simetria vertical do CP, de forma
que, se ocorressem pequenas distorções, estas seriam simétricas.
A Figura 5.20 é um exemplo das imagens utilizadas nas medições, na qual pode-
se perceber que o corpo de prova está aproximadamente no eixo vertical de simetria da
imagem. Além disso, a partir das linhas de grade na fotografia, pode-se confirmar a
verticalidade do pórtico do equipamento de ensaio, nas regiões próximas à célula triaxial.
88
Figura 5.20. Exemplo de imagem e a ausência de distorções
Quando um raio de luz atinge uma superfície entre dois meios, 1 e 2, com um
ângulo 𝜃1 medido com a reta normal ao ponto de contato, o ângulo do feixe de luz no
meio 2, 𝜃2 , é calculado de acordo com a Lei de Snell:
sen 𝜃1 . 𝑛1 = sen 𝜃2 . 𝑛2
89
água) que produz um aumento aparente no diâmetro do corpo de prova. LOPES (2014)
explica minunciosamente este fenômeno, o qual o autor denominou de “efeito coca cola”.
A Figura 5.21, representa o fenômeno, podendo identificar o raio real do objeto (r) e o
raio aparente (rap).
Figura 5.21. Efeito da refração num objeto imerso em água (LOPES, 2014)
90
Figura 5.22. Refração em superfície cilíndrica
A Figura 5.22 ilustra apenas a mudança de direção do raio de luz sofrida ao mudar
do meio ar para o meio acrílico. Deve ser considerada também, a mudança que ocorre na
direção do raio de luz, ao passar do acrílico para água.
91
Para o procedimento matemático, gerou-se um gráfico com aproximadamente 25
pontos, com valores de raio real entre 19 e 27mm (Figura 5.23). Para o procedimento
gráfico, gerou-se uma relação com 7 pontos, para valores de raio real variando entre
20mm e 35mm (Figura 5.24). Acredita-se que a pequena diferença entre os dois
procedimentos se deve ao fato que, para a determinação das equações, foi necessário
realizar aproximações relacionadas a pequenos ângulos.
Figura 5.23. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo obtida por meio de dedução
de equações matemáticas de refração e relações trigonométricas
Figura 5.24. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo método gráfico.
92
ANEXO B. Foi gerado um gráfico, apresentado na Figura 5.25, que relaciona a altura
virtual (Hvirtual) com a altura real (Hreal). A faixa de altura real foi de 5 cm a 16cm.
Para os dois cálculos, tanto no plano horizontal quanto no vertical, os valores dos
coeficientes de ajuste linear foram altos. Isso se justifica pelo fato de que o eixo da câmera
fotográfica (ponto do observador) foi posicionado a uma distância do plano de formação
das imagens virtuais (dentro da câmara de acrílico) de 97cm, valor suficientemente
elevado considerando as dimensões do CP. Assim, os ângulos de incidência dos raios na
superfície de separação dos meios variavam pouco, e as distorções tornaram-se quase
proporcionais à dimensão real, dentro da faixa de dimensões consideradas.
Além disto, o valor da razão entre o raio virtual e o raio real para os dois
procedimentos ficou muito próximo ao valor do índice de refração da água, 1,3321. Isto
se deve ao fato de que, considerando a distância do observador (97cm), a espessura do
acrílico corresponde a apenas 1% (0,96cm), que então poderia ser considerada
desprezível.
Nos cálculos desta pesquisa foi utilizada, então, a razão entre o raio virtual e o
raio real de 1,3306 e a razão entre a altura virtual e a altura real de 1,0118.
Figura 5.25. Relação entre a altura virtual e a altura real do corpo de prova.
93
de prova na imagem. A próxima fotografia retratava a fase final do adensamento. Na fase
de cisalhamento, as fotografias foram feitas a cada 0,5% de deformação axial no
cisalhamento.
94
valor de Dreal. de maior interesse era o da região em que estavam ocorrendo as
deformações localizadas (formando o neck), isto é, o diâmetro da área transversal real
(Areal) da região onde realmente se concentrava o cisalhamento e que deve ser utilizada
para o cálculo da tensão axial.
Como visto no capítulo 3, a posição do necking pode ser variável, podendo ocorrer
na região central ou deslocada para o topo do CP. Devido a isto, era importante fazer as
medições de Dreal sempre na mesma posição relativa, independente do estágio do ensaio.
Para determinar a posição relativa do Dreal ao longo do ensaio, optou-se por definir
a relação entre sua posição com a base do CP a partir da última fotografia. Assim, definiu-
se o fator de proporcionalidade ‘a’, indicado na Figura 5.26a), para o instante final da
fase de cisalhamento. Este fator foi aplicado para localizar a altura do centro do neck (hi)
nas fotografias dos estágios intermediários da fase de cisalhamento em cada ensaio, como
indicado na Figura 5.26b). Os valores de Hf,foto e Hi,foto eram a altura do CP no fim do
cisalhamento e num estágio intermediário ‘i’, respectivamente. Ambos eram medidos na
fotografia.
Figura 5.26. Determinação da posição relativa da área real cisalhada a) no final do ensaio b) em estágios
intermediários
95
5.4.5. Cálculo da deformação axial próximo ao neck
Com o intuito de verificar se as deformações axiais também eram localizadas ou
se ocorriam de forma uniforme na altura do CP, foram marcados na membrana, com tinta
preta, aproximadamente dez pontos espaçados de 1,0 cm, ao longo de uma linha vertical.
96
Figura 5.27. Medidas entre as marcas na membrana no ED400 a) εa = 0% b) εa = 15%
A Figura 5.28b) mostra a definição desta nova região de análise, que foi utilizada
nesta pesquisa para estimar a deformação axial local, tanto da membrana quanto do CP,
97
e também para estimar a variação de volume localizada, que será explicada
posteriormente.
Figura 5.28. Ensaio ED200 com 15% de deformação axial a) Região de análise real b) Região de análise
adotada
ℎ𝑖,𝑛𝑒𝑐,𝑟𝑒𝑎𝑙
𝜀𝑛𝑒𝑐 = 1 − [Equação 5.17]
ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑟𝑒𝑎𝑙
Com esse valor de εnec, calculou-se a força de tração da membrana (𝐹𝑚 ) de acordo
com a equação 5.9 e a parcela de tensão desviadora na membrana de acordo com a
Equação 5.18, na qual, utilizou-se a área transversal real do CP.
𝐹𝑚
𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 = [Equação 5.18]
𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙
98
de deformação axial global. A partir daí, as fotografias comprovam que as deformações
axiais nas ‘zonas mortas’ se mantiveram constantes. Isto implica que, nas ‘zonas mortas’,
a membrana estaria com uma força de tração correspondente à 5% de deformação (𝐹𝑚,5 ).
99
membrana com melhor acurácia. Entretanto, tendo em vista as grandes alturas de muitas
barragens de rejeitos, as tensões envolvidas nestas obras tendem a ser elevadas.
𝑁− 𝜎𝑐 × 𝐴𝑒𝑓
𝜎𝑑 = − 𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 − 𝜎𝑎,𝑐 [Equação 5.18]
𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙
A parcela 𝜎𝑎,𝑐 , devido ao atrito cinemático, foi explicada no item 5.2.4 e a parcela
𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 , devido à membrana, foi explicada no item anterior.
100
Como já explicado no item anterior, definir os limites desta região de deformação
do necking não é trivial e, por isso, optou-se por delimitar a região de forma aproximada
fazendo o uso das próprias marcas na membrana.
Gs∙γ𝑤 ∙ 𝑉𝑢𝑛
eun = −1 [Equação 5.20]
𝑃𝑠
Neste caso, os valores de volume após o adensamento (𝑉𝑎 ) e peso seco total (𝑃𝑠 )
são os mesmos que os utilizados nos cálculos convencionais.
ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑓𝑜𝑡𝑜
𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 = . 𝑉𝑢𝑛 [Equação 5.19]
𝐻𝐶𝑃,𝑎𝑑𝑒𝑛
ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑓𝑜𝑡𝑜
𝑃𝑠,𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 = . 𝑃𝑠 [Equação 5.20]
𝐻𝐶𝑃,𝑎𝑑𝑒𝑛
A partir disto, foi considerado que qualquer volume de água que entrou ou saiu do
CP foi proveniente da região do necking, onde as deformações axiais e radiais se
concentraram e o fenômeno de cisalhamento efetivamente ocorreu.
Assim, o volume final da região do necking (𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑓 ) era o volume do necking até
o instante de εun (𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 ) menos o volume de água que saiu até o final do ensaio
(∆𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘 ).
101
O índice de vazios final do necking (e𝑛𝑒𝑐 ) será:
Gs∙γ𝑤 ∙ 𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑓
e𝑛𝑒𝑐 = −1 [Equação 5.22]
𝑃𝑠,𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛
Para o cálculo do índice de vazios local, considerou-se que não houve variação da
massa seca de solo no interior da região do necking, logo qualquer variação no índice de
vazios seria exclusivamente pela variação de volume da região.
102
6. RESULTADOS E ANÁLISES
103
A partir da curva obtida pelo no ensaio com defloculante, determinaram-se os
valores de D10 (0,04mm), D30 (0,07mm), D50 (0,095mm), D60 (0,11mm), que permitiram
calcular o coeficiente de não uniformidade (CNU=2,75) e o coeficiente de curvatura
(CC=1,11). Além disso, a parcela de material passante na peneira #200, definida como
teor de finos (FC) é de 34 %.
Esses resultados foram um pouco diferentes dos obtidos por TELLES (2017),
(Tabela 6.2) que em teoria, utilizou o mesmo material que o utilizado nesta pesquisa.
Porém, como explicado no capítulo 4, este material foi preparado por FLÓREZ (2015)
com uma metodologia determinada pela mesma. Essas diferenças podem ser justificadas
devido ao grande volume de material misturado, que foi armazenado em diferentes
embalagens.
104
6.1.4. Imagens do microscópio
A Figura 6.2 apresenta duas fotografias das partículas do rejeito obtidas através
de microscópio ótico. De acordo com o formato, pode-se classificar visualmente as
partículas arenosas do rejeito de minério como sub angulares com esfericidade média.
a)
b)
Figura 6.2. Imagens do rejeito de minério de ferro obtidas por microscópio: a) com aumento de 40x e b)
com aumento de 92x
105
6.1.5. Resumo da caracterização física
A Tabela 6.2 traz um resumo da caracterização física do rejeito obtida neste
trabalho em comparação com a caracterização obtida por TELLES (2017).
Tabela 6.2. Comparação dos resultados de caracterização TELLES (2017) com o presente trabalho
Tabela 6.3. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico para os ensaios de
compressão
Ensaio p'0 em Dr ea
CD50 50 kPa 0,850 33,3% 0,839
106
Como os ensaios com tensões confinantes efetivas de 100 kPa e 150 kPa
realizados por TELLES (2017) e apresentados no item 4.2.5, alcançaram a condição de
volume constante próximo a 10% de deformação axial, optou-se por realizar os ensaios
deste trabalho até deformações axiais entre 14% e 15%. Os gráficos de q:εa e εv:εa estão
apresentados nas Figura 6.4 e Figura 6.5, respectivamente. Todos ensaios tiveram
comportamento semelhante aos ensaios realizados por TELLES (2017), apresentando
comportamento contrátil.
A Tabela 6.4 apresenta os valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio, tomando-se os
valores no final dos ensaios. O valor da inclinação da SSL (Mc) no plano q:p’encontrado,
como mostrado na Figura 6.6, foi de 1,388, correspondendo a um ângulo de atrito (ϕ’ss)
107
de 34,3º. No espaço e:logp’, como mostrado na Figura 6.7, o valor da inclinação (SSL)
encontrado foi de 0,047 e o valor do parâmetro Γ foi de 1,043. A Tabela 6.4 apresenta um
resumo dos parâmetros do Estado de Regime Permanente obtidos a partir dos ensaios de
compressão, em comparação com os obtidos por TELLES (2017). Estes resultados se
aproximaram dos resultados obtidos por TELLES (2017) neste mesmo material,
possibilitando a comparação com os resultados de extensão apresentados adiante.
Tabela 6.4. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de compressão
Tabela 6.5. Resumo dos parâmetros do estado de regime permanente obtidos pelos ensaios de compressão
108
Figura 6.7. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão
Tabela 6.6. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico dos ensaios de extensão
Ensaio p'0 em Dr ea
ED100 100 kPa 0,853 32,7% 0,826
ED200 200 kPa 0,842 35,1% 0,801
ED300 300 kPa 0,838 36% 0,796
ED400 400 kPa 0,834 36,8% 0,786
ED500 500 kPa 0,830 37,8% 0,776
109
um mesmo índice de vazios inicial e por ter inclinação semelhante à encontrada por
TELLES (2017) e pelos ensaios de compressão.
Nestas três figuras há uma contradição que chama a atenção: o índice de vazios
torna-se constante no final dos ensaios (Figura 6.11) mas não há uma estabilização da
tensão desviadora (Figura 6.10 e Figura 6.12), como era esperado. Acredita-se que a taxa
110
de redução observada no módulo da tensão desviadora se deve à formação do necking,
que provoca uma redução da área transversal além da prevista pela teoria.
Também chamou atenção que as curvas q:εa são notavelmente suaves (smooth),
até os pontos indicados pelas setas vermelhas, quando surgem perturbações. Percebeu-se
que estes pontos coincidem com o aparecimento dos planos de ruptura próximos do centro
do CP (Figura 6.13). E logo após, ocorre a concentração das deformações, surgindo os
neckings (Figura 6.14).
Para os ensaios acima de 300 kPa o aparecimento do plano de ruptura foi tanto
mais precoce quanto maior a tensão efetiva confinante. Para o ensaio de 100 kPa, não
ocorreu aparecimento de plano de ruptura. No ensaio de 200 kPa, o plano de ruptura
surgiu com apenas 6% de deformação axial. No gráfico q:εa isso não é visível devido às
escalas utilizadas, porém no gráfico q/ σ’1:εa isso é exposto. Por esse mesmo gráfico
percebe-se que este ensaio obteve comportamento diferente dos outros. Alguma
desconformidade durante o ensaio pode ter ocorrido.
111
Figura 6.10. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de extensão
112
Figura 6.12. Gráfico q/σ’1:εa para os ensaios triaxiais de extensão
Figura 6.13. Aparecimento do plano de ruptura do ensaio ED500 com εa = 8% - resultado típico
113
Figura 6.14. Deformações localizadas e surgimento do necking no ensaio ED500 com εa = 12%-
resultado típico
A Tabela 6.7 apresenta valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio, tomando-se os
valores no instante anterior ao início das perturbações, que correspondem aos valores de
maior módulo de q. Apesar das curvas tensão-deformação não terem apresentado
estabilização, determinou-se a Linha do Regime de Estado Permanente (SSL), para o
momento anterior ao inicio das deformações não uniformes, assim como adotado por
AZEITEIRO et al. (2015.
Tabela 6.7.Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando os cálculos teóricos
114
Apesar de não ter sido feita a correção da área real no neck, o coeficiente de
correlação obtido na Figura 6.16, foi muito elevado, demonstrando que o efeito do
necking foi similar em todos os ensaios. Isto pode indicar que o processo de moldagem
empregado foi sistemático e cuidadoso, tendo em vista que, quanto mais heterogêneos os
corpos de prova, maior seria a variabilidade dos resultados devido às deformações
localizadas ou necking (YAMAMURO e LADE, 1995).
115
6.4. Ensaios de extensão baseados nas fotografias
Utilizando a ferramenta fotográfica, foi possível observar algumas diferenças
entre as dimensões do CP previstas pelas equações do item 5.3 e medidas pelas fotografias
em outras fases do ensaio. A Tabela 6.8 apresenta os valores de área transversal e altura
do CP após a moldagem, medidos com o paquímetro e após o adensamento, tanto pelo
cálculo teórico (considerando que a deformação axial durante ao adensamento, ε1,
corresponde à 1/3 da deformação volumétrica, εv) quanto pelas fotografias. Além disso,
apresenta a variação de altura do CP durante o adensamento determinada pelo
extensômetro vertical (valores fornecidos pela máquina).
116
de adensamento isotrópico. Cabe ressaltar, entretanto, que as diferenças são muito
pequenas, não excedendo 0,07cm² para área e 0,03 cm para a altura. Como estes valores
representam apenas 0,4% da área e 0,3% da altura, pode-se desprezar tais variações.
A Figura 6.17 ainda mostra o valor da altura apenas da região necking na última
fotografia (hneck,foto = 0,3509) que depois será utilizado no cálculo da deformação axial
local da membrana.
Figura 6.17. Determinação de 'a' e altura do necking no ensaio ED100 com εa = 14% – resultado típico
Ensaio a
ED100 0,525
ED200 0,686
ED300 0,584
ED400 0,723
ED500 0,595
117
A relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria, ao
longo da deformação axial de cada ensaio, está representada na Figura 6.18. Percebe-se
que, exceto para o ED200, uma mudança na declividade ocorre entre 6-8% de deformação
axial, e a partir daí a relação entre as áreas diminui rapidamente. Esse instante pode ser
interpretado como o momento que começam a ocorrer a concentração de deformações
nos CPs.
Figura 6.18. Relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria
118
Tabela 6.10. Nível de deformações no qual a deformação axial se mantinha constante no CP
119
Figura 6.19. Curvas q:εa corrigida pelas áreas determinadas na fotografia
A Figura 6.21 apresenta o volume de água global que entrou ou saiu ao longo dos
ensaios. As setas vermelhas indicam o nível de deformação axial global, a partir do qual
as deformações não foram mais uniformes, correspondendo aos valores apresentados
Tabela 6.10. Considerou-se então, que a partir destes pontos qualquer variação de água
120
do CP ocorreu na região do necking delimitada pelas marcas na membrana. Cabe ressaltar
que, próximo ao final do ensaio, a variação de volume é desprezível (menos de 0,2cm³).
A Tabela 6.12 apresenta os valores de qss, p'ss e ess obtidos com o auxílio das
fotografias.
121
Tabela 6.12. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando as fotografias
Figura 6.22. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão considerando as fotografias para
correção da tensão desviadora e do índice de vazios do necking.
122
Figura 6.23. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão considerando as fotografias
Tabela 6.13. Comparação dos parâmetros do estado de regime permanente entre os ensaios de
compressão e extensão
123
SCHNAID et al. (2013), para rejeitos de minério de ouro, encontraram a unicidade
inclusive avaliando diferentes faixas de tensões.
Figura 6.24. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão e extensão considerando as
fotografias
Isso posto, considera-se que, no plano e:logp’, a SSL determinada para o rejeito
de minério de ferro da Barragem do Fundão é única, independente do caminho de tensões.
compressão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 ) para areias ainda existe muita divergência entre os pesquisadores.
7.1. Conclusões
O material de estudo desta pesquisa foi o rejeito de minério de ferro da antiga
Barragem do Fundão, em Mariana-MG, que se rompeu em novembro de 2015. Os ensaios
de caracterização indicaram que o rejeito tem composição granulométrica correspondente
a uma areia siltosa, com 85% de areia e D50=0,095mm. A densidade relativa dos sólidos
encontrada foi de 2,820. Esses resultados condizem com os encontrados por FLORÈZ
(2015) e TELLES (2017) que estudaram o mesmo material.
126
Uma solução para diminuir a influência destas parcelas nos cálculos de tensões
desviadoras e na determinação dos parâmetros de resistência do material é utilizar,
quando possível, corpos de prova com dimensões maiores, por exemplo, com diâmetro
maior que 50 mm.
Por fim, sugere-se que uma campanha de ensaios triaxiais de extensão não drenada
seja realizada com o rejeito, de forma a verificar o desenvolvimento das deformações
localizadas, caso existam, e estudar a geração de poro pressões no material sob esta
condição de carregamento possibilitando, inclusive, o estudo do potencial de liquefação.
127
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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of Soils Using a Vibratory Table, 2000a.
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celular/. Acessado em 11/02/2019 – as 11:40
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Textos. São Paulo: 2006.
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1948.
132
TELES, G. L. V. Ensaios Triaxiais Em Materiais Muito Moles A Baixas Tensões De
Adensamento. 2019. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
133
ANEXO A – CALIBRAÇÕES
A calibração da célula de carga utilizada nos ensaios desta pesquisa foi realizada
no próprio pórtico do aparelho triaxial. Como a tensão desviadora no ensaio seria de
tração, calibrou-se a célula de carga para esta solicitação.
134
Figura A.2. Resultado da calibração ciclo 1
135
Figura A.3. Calibração deslocamento axial - 1ª tentativa
Para calibração dos medidores de volume dos módulos FlowTracII foi necessário
apenas uma proveta graduada e água destilada.
136
Figura A.4. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTrac II de Poro-Pressão
137
IV) CALIBRAÇÃO DA CONSTANTE DA MEMBRANA
Antes do início dos ensaios foram compradas seis membranas de látex com
diâmetro interno de 2”. Foram escolhidas duas membranas entre as seis para serem
calibradas.
O ensaio foi executado com a mesma velocidade de ensaio que foi realizada no
rejeito (~0,05mm/min). Com auxílio de elásticos de látex, a membrana foi fixada na base
e topcap utilizados nos ensaios com o solo. Além disso, foi utilizado a mesma célula de
carga com o acoplador para o pistão, com ele preso e rosqueado no cap. Dessa forma,
determinou-se o comportamento de tração na membrana com as mesmas condições do
ensaio, exceto a pressão confinante da água.
𝐹𝑚
𝜎𝑚 =
𝜋. 𝐷. 𝑡
Onde,
138
O cálculo da deformação axial foi:
(𝐷𝑒𝑠𝑙1 − 𝐷𝑒𝑠𝑙2)
𝜀𝑎 =
𝐿0
Onde,
Módulo de Elasticidade R²
Calibração Média
(MPa)
1 1,681 0,9921
1,668
2 1,671 0,9850
MPa
3 (usada) 1,651 0,9903
139
A Figura A.7 mostra a primeira membrana sendo ensaiada. Nesta imagem pode-
se observar o conjunto montado para o ensaio (elásticos, pistão e célula de carga), além
das marcações na membrana, régua para leitura visual e cronômetro.
140
ANEXO B – CORREÇÃO DO EFEITO DA REFRAÇÃO
ÓPTICA
Como o ensaio é realizado dentro de uma câmara de acrílico preenchida com água,
a imagem registrada pela câmera fotográfica (e também observada pelo olho humano)
está distorcida devido à refração. Quando um raio de luz muda de meio de propagação,
há variação da velocidade de propagação e pode ocorrer mudança de direção que, segundo
a física ótica, é o fenômeno de refração.
Quando um raio de luz atinge uma superfície entre dois meios, 1 e 2, com um
ângulo 𝜃1 medido com a reta normal ao ponto de contato, o ângulo do feixe de luz no
meio 2, 𝜃2 , é calculado de acordo com a Lei de Snell:
sen 𝜃1 . 𝑛1 = sen 𝜃2 . 𝑛2
Figura B.1. Representação da primeira refração em superfície cilíndrica entre o meios ar/acrílico
141
A seguir, estão explicados os cálculos realizados tanto para as distorções no plano
horizontal, quanto as distorções no plano vertical.
Como o observador considera o raio de luz linear e num único sentido, tem-se um
raio de luz ligando o observador à um ponto tangente à imagem virtual do corpo de prova,
fazendo um ângulo 𝜃0 com o eixo de simetria do conjunto.
142
Tabela B.1. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano horizontal
Re 66,88 mm
Ri 57,23 mm
Lc 970 mm
ηagua 1,3321
ηar 1,0003
ηacrilico 1,4900
Procedimento gráfico:
Este procedimento foi realizado para valores de Rvirtual de: 20,0mm, 22,5mm,
25,0mm, 27,5mm, 30,0mm, 32,5mm e 35,0mm.
Figura B.2. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado graficamente
144
Figura B.3. Modelo utilizado para o processo gráfico
145
Procedimento matemático:
1) Calcular 𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 :
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐿𝑐 + 𝑅𝑒
𝑅𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙
𝜃0 = sin−1 ( )
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
3) Calcular X:
𝑋 = tan 𝜃0 . 𝐿𝑐
𝑦2 = √𝐿2𝑐 + 𝑋²
𝑦1 = 𝑦𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑦2
𝑋
𝜃7 = tan−1 ( )
𝑅𝑒
𝜃1 = 𝜃0 + 𝜃7
146
sin 𝜃1 . 𝑛𝑎𝑟 = sin 𝜃2 . 𝑛𝑎𝑐𝑟𝑖𝑙𝑖𝑐𝑜
𝜃′2 = 𝜃1 − 𝜃2
(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖)
𝑦′′1 =
cos(𝜃 ′ 2 − 𝜃0 )
𝑐 = 𝑦′′1 . sin 𝜃2
𝑐
𝜃6 = 2 . sin−1( 𝑅𝑒+𝑅𝑖
)
( )
2
ii) c é a corda referente ao arco de círculo formado pelas duas retas normais;
iii) o valor do raio deste arco é variável para cada valor de Rvirtual, mas optou-
𝑅𝑒+𝑅𝑖
se por considerar a média . Foi verificado que quanto maior o Rvirtual, maior é o raio
2
𝜃3 = 𝜃6 + 𝜃2
(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖)
𝑦′1 =
cos( 𝜃0 )
𝑦′1 . sin 𝜃 ′ 2
∆𝑅1 =
sin(90 − 𝜃 ′ 2 + 𝜃0 )
13) Calcular 𝜃𝐹 (ângulo do raio quando sai do acrílico com a direção do raio
inicial)
𝜃𝐹 = 𝜃′2 − (𝜃4 − 𝜃3 )
147
14) Calcular ∆𝑅2 (parcela referente ao desvio do raio sofrido depois de passar pelo
acrílico):
Com essa sequência de cálculos pode-se determinar para diferentes valores de raio
real de corpo de prova, 𝑅𝑐𝑝 , qual será o raio da imagem devido o fenômeno de refração.
Figura B.4. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado matematicamente
148
Figura B.5. Refração no plano horizontal
149
Figura B.6. Zoom da refração na parede cilíndrica do acrílico
150
• Cálculo da refração no plano vertical
• O ângulo que o raio de luz faz com a horizontal é 𝜃0 e será o mesmo com
a normal da superfície do acrílico (𝜃1 ).
• A primeira refração ocorre ao entrar na parede de acrílico, com o ângulo
refratado de 𝜃2 .
• Ao sair da parede de acrílico o raio sofre a segunda refração, com o ângulo
de refração agora de 𝜃3 .
• O raio de luz segue com inclinação 𝜃3 até encontrar o ponto superior da
altura do corpo de prova.
Re 66,88 mm
Ri 57,23 mm
Lc 970 mm
𝑹𝒄𝒑 25,00 mm
nagua 1,3321
nar 1,0003
nacrilico 1,4900
1) Cálculo do 𝜃0 = 𝜃1
151
𝐻𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙 /2
𝜃0 = tan−1 ( )
𝐿𝐶 + 𝑅𝑒 − 𝑅𝑟𝑒𝑎𝑙
2) Cálculo de 𝜃2
3) Cálculo de 𝜃3
4) Cálculo de ∆ℎ′𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
6) Cálculo de ∆𝐻
7) Cálculo de 𝐻𝑐𝑝
152
Figura B.8. Refração no plano vertical
153