Fabre JS TM 19

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 172

ENSAIOS TRIAXIAIS DE EXTENSÃO EM UM REJEITO DE MINÉRIO DE

FERRO

Juliana Santos Fabre

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Engenharia Civil.

Orientadores: Maria Claudia Barbosa


Leonardo De Bona Becker

Rio de Janeiro

Junho de 2019
ENSAIOS TRIAXIAIS DE EXTENSÃO EM UM REJEITO DE MINÉRIO DE
FERRO

Juliana Santos Fabre

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL

Examinada por:
_________________________________________
Profª. Maria Claudia Barbosa, D.Sc.

_________________________________________
Prof. Leonardo De Bona Becker, D.Sc.

_________________________________________
Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida, Ph.D

_________________________________________
Prof. Vitor Nascimento Aguiar, D.Sc.

_________________________________________
Prof. Fernando Schnaid, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


JUNHO DE 2019
Fabre, Juliana Santos
Ensaios Triaxiais De Extensão Em Um Rejeito De
Minério De Ferro/ Juliana Santos Fabre. – Rio de Janeiro:
UFRJ/ COPPE, 2019.
XIX, 153 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Maria Claudia Barbosa
Leonardo De Bona Becker
Dissertação (mestrado) – UFRJ/COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2019.
Referências Bibliográficas: p.128-133.
1. Rejeito de minério. 2. Triaxial de extensão 3.
Regime permanente. I. Barbosa, Maria Claudia et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título.

iii
À minha família.

iv
AGRADECIMENTOS

À Deus. Por guiar a minha vida.

Aos meus pais, José e Maria, e à minha irmã Camila. Por serem meus melhores amigos
e o meu maior motivo e incentivo para alcançar meus objetivos. Amo vocês.

À minha família como um todo. Por me compreenderem quando eu não estive presente e
por todas as palavras de encorajamento e orgulho.

Ao meu companheiro e grande amigo, Denis. Por sempre me acalmar, com seu jeito
calmo e racional, e me mostrar que todas as dificuldades tem um lado positivo. Por todos
os momentos alegres que me ajudaram a recarregar minhas energias durante esses dois
anos. Serei para sempre grata.

Aos meus amigos, da época de CTU e da época de graduação. Por compartilhar comigo
felicidade e preocupações, muitas vezes distantes. Tenho certeza que toda a energia
positiva que me enviaram me ajudaram conquistar esta etapa.

Aos novos amigos que fiz no mestrado. Por proporcionarem momentos de descontração
quando toda a pressão de provas e trabalhos nos sufocavam. Meu muito obrigada e muito
orgulho de ter vocês como colegas de profissão.

Às minhas colegas de trabalho e amigas de laboratório, Thainá, Isabelle e Camila. Por


todo suporte e auxílio na execução dos ensaios e claro, pelos momentos compartilhados
e conversas animadas durante essa etapa.

Aos técnicos de laboratório da COPPE, em especial ao Sérgio. Por toda paciência e


solicitude para me transmitir todos seus conhecimentos de laboratório. Sem dúvidas,
grande parte dos meus conhecimentos adquiridos durante este mestrado são de sua
responsabilidade.

A todos os professores do PEC. Por todo conhecimento e experiências compartilhadas.

À minha orientadora Maria Cláudia Barbosa. Por todo apoio e atenção quando precisei
e principalmente pela oportunidade de ser sua orientanda.

Por fim, ao meu orientador Leonardo Becker. Por todas as reuniões e conversas
compartilhando conhecimento, por todas as oportunidades que me concedeu e
principalmente por toda confiança depositada em mim. Um imenso e eterno obrigada.

v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ENSAIOS TRIAXIAIS DE EXTENSÃO EM UM REJEITO DE MINÉRIO DE


FERRO

Juliana Santos Fabre

Junho/2019

Orientadores: Maria Claudia Barbosa

Leonardo De Bona Becker

Programa: Engenharia Civil

Foram realizados, neste trabalho, ensaios triaxiais de extensão drenado em um


rejeito de minério de ferro proveniente da Barragem do Fundão. Foi observado por
diversos autores (ROSCOE et al., 1963; YAMAMURO e LADE, 1995; LADE et al.,
1996; WU e KOLYMBAS; 1991) que ensaios de extensão em solos arenosos são mais
propícios à ocorrência de deformações localizadas, que amplificam a magnitude das
deformações radiais nos corpos de prova, implicando na determinação incorreta do nível
de tensões. Para contornar este problema, YAMAMURO e LADE (1995) propuseram um
aparato que condiciona deformações uniformes no CP, enquanto WU e KOLYMBAS
(1991) utilizaram medidores de deformações radiais. A solução adotada nesta pesquisa
foi utilizar fotografias digitais e um software CAD para medir o valor do diâmetro real
do corpo de prova no decorrer da etapa de cisalhamento, determinando a área transversal
real e o valor correto da tensão vertical na amostra. Os efeitos de distorção de bordas em
fotografias e paralaxe foram considerados, bem como correções quanto ao fenômeno de
refração óptica. A metodologia se apresentou como uma alternativa acessível a ser
aplicada nestes ensaios quando realizados em equipamentos convencionais e, os
resultados obtidos se mostraram satisfatórios para determinar os parâmetros de resistência
deste rejeito sob a condição de extensão.
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

TRIAXIAL EXTENSION TESTS IN AN IRON TAILING

Juliana Santos Fabre

June/2019

Advisors: Leonardo De Bona Becker

Maria Claudia Barbosa

Department: Civil Engineering

In this study, iron tailings from the Fundão Dam were studied by means of drained
triaxial extension tests. Several authors concluded that triaxial extension in soils is more
likely to exhibit strain localization (ROSCOE et al., 1963; YAMAMURO and LADE,
1995; LADE et al., 1996; WU and KOLYMBAS, 1991), which amplifies the radial
strains in the sample, resulting in incorrect calculation of the stress level. In order to
overcome this problem, YAMAMURO and LADE (1995) proposed an apparatus that
enforces uniform strains in the sample, while WU and KOLYMBAS (1991) used strain
collars to measure the change in the sample radius. The solution adopted in this research
was to use digital photographs and CAD software to measure the actual diameter during
the shear stage. This actual diameter was used to determine the cross-sectional area and
the vertical stress. The effects of edge distortion on photographs and parallax were
considered, as well as corrections for the phenomenon of optical refraction. This method
is an accessible alternative to be applied in extension tests carried out in conventional
equipment. The shear strength and the critical state line determinations were satisfactory
and compared well to other results of the same material.

vii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1. Motivação da pesquisa ....................................................................................... 4

1.2. Objetivos da pesquisa ......................................................................................... 5

1.3. Organização da dissertação ................................................................................ 6

2. RESISTÊNCIA DE SOLOS ARENOSOS ............................................................ 8

2.1. Resistência ao cisalhamento de solos arenosos .................................................. 8

2.2. Fatores que influenciam o ângulo de atrito de solos arenosos ......................... 10

2.2.1. Características do solo ................................................................................. 10

2.2.2. Índice de vazios inicial ................................................................................ 11

2.2.3. Tensão confinante ........................................................................................ 13

2.2.4. Tensão principal intermediária (𝝈𝟐)............................................................ 16

2.2.5. Condições do carregamento......................................................................... 18

2.3. Envoltória de resistência de areias ................................................................... 20

2.4. Estados de Regime Permanente em Solos Arenosos........................................ 21

2.4.1. Estado de Regime Permanente x Estado Crítico ......................................... 21

2.4.2. Linha de Regime Permanente ...................................................................... 22

2.4.3. Unicidade da SSL ........................................................................................ 25

3. ENSAIO TRIAXIAL DE EXTENSÃO ............................................................... 26

3.1. O ensaio triaxial de extensão ............................................................................ 26

3.2. Problemas e cuidados no ensaio triaxial de extensão ....................................... 28

3.2.1. Influência da Membrana de Látex ............................................................... 28

3.2.2. Peso próprio do corpo de prova ................................................................... 30

3.2.3. Deformações localizadas ............................................................................. 31

3.2.4. Soluções para determinação das deformações localizadas .......................... 40

3.3. Resultados de ensaios triaxiais de extensão em areias ..................................... 42

viii
3.3.1. Resultados relacionados com a determinação de ϕ’ .................................... 42

3.3.2. Resultados relacionados com o estado de regime permanente ou estado crítico


46

3.4. Ensaios triaxiais de extensão em rejeitos de mineração ................................... 49

4. ÁREA E MATERIAL DE ESTUDO ................................................................... 51

4.1. Área de coleta ................................................................................................... 51

4.1.1. Produção de minério de ferro ...................................................................... 51

4.1.1. Barragem do Fundão.................................................................................... 53

4.2. Apresentação do material de estudo ................................................................. 54

4.2.1. Amostragem ................................................................................................. 54

4.2.2. Caracterização física, química e mineralógica ............................................ 55

4.2.3. Índices de Vazios Máximo e Mínimo .......................................................... 57

4.2.4. Ensaios de compressão unidimensional ...................................................... 57

4.2.5. Ensaios triaxiais de compressão .................................................................. 58

5. METODOLOGIA ................................................................................................. 60

5.1. Ensaios de caracterização ................................................................................. 60

5.2. Ensaios triaxiais de extensão ............................................................................ 61

5.2.1. Descrição e Calibração do equipamento...................................................... 61

5.2.2. Moldagem dos corpos de prova ................................................................... 62

5.2.3. Saturação, adensamento isotrópico e cisalhamento ..................................... 66

5.2.4. Correções aplicadas ..................................................................................... 70

5.2.5. Solução para as deformações localizadas .................................................... 83

5.3. Cálculos baseados na hipótese de deformação uniforme ................................. 84

5.3.1. Cálculo convencional da área da seção transversal do CP .......................... 84

5.3.2. Cálculo convencional da tensão desviadora ................................................ 85

5.3.3. Cálculo convencional dos índices de vazios ................................................ 85

5.4. Cálculos baseados nas fotografias .................................................................... 86

ix
5.4.1. Efeito de paralaxe em fotografia.................................................................. 87

5.4.2. Distorção radial de fotografias..................................................................... 87

5.4.3. Refração óptica ............................................................................................ 89

5.4.4. Cálculo da área transversal real no neck ...................................................... 93

5.4.5. Cálculo da deformação axial próximo ao neck ............................................ 96

5.4.6. Cálculo da tensão desviadora..................................................................... 100

5.4.7. Estimativa do índice de vazios local .......................................................... 100

5.5. Ensaios triaxiais de compressão ..................................................................... 102

6. RESULTADOS E ANÁLISES ........................................................................... 103

6.1. Ensaios de caracterização ............................................................................... 103

6.1.1. Análise granulométrica .............................................................................. 103

6.1.2. Densidade relativa dos sólidos .................................................................. 104

6.1.3. Índices de vazios máximo e mínimo ......................................................... 104

6.1.4. Imagens do microscópio ............................................................................ 105

6.1.5. Resumo da caracterização física ................................................................ 106

6.2. Ensaios Triaxiais de compressão .................................................................... 106

6.3. Ensaios de extensão baseados nos cálculos convencionais ............................ 109

6.4. Ensaios de extensão baseados nas fotografias ................................................ 116

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 125

7.1. Conclusões...................................................................................................... 125

7.2. Recomendações e sugestões ........................................................................... 126

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 128

ANEXO A – CALIBRAÇÕES .................................................................................. 134

ANEXO B – CORREÇÃO DO EFEITO DA REFRAÇÃO ÓPTICA ................... 141

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1. Minérios exportados em 2017 (IBRAM, 2018). ............................................ 1


Figura 1.2. Causas de ruptura x número de incidentes de barragens de rejeito (ICOLD,
2001) ................................................................................................................................. 3
Figura 1.3. Indicação da superfície de ruptura na barragem de Kingston (EACOM, 2008)
.......................................................................................................................................... 5
Figura 1.4: Diferentes solicitações numa possível superfície de ruptura (BJERRUM,
1973) ................................................................................................................................. 5
Figura 2.1. Analogia do dente de Serra a) superfície lisa e b) superfície dentada (imagem
retirada de FERNANDES, 2016) ..................................................................................... 9
Figura 2.2. Exemplos de formas de partículas (MITCHELL e SOGA, 2005) .............. 10
Figura 2.3. Comportamento em ensaio triaxial em função do índice de vazios inicial
(TAYLOR (1948), apud LAMBE & WHITMAN,1969) ............................................... 12
Figura 2.4. Ângulo de atrito x Índice de vazios inicial (ROWE, 1962 apud LAMBE &
WHITMAN,1969) .......................................................................................................... 13
Figura 2.5. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento da areia
compacta (LEE e SEED, 1967) ...................................................................................... 14
Figura 2.6. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento na areia fofa
(LEE e SEED, 1967) ...................................................................................................... 15
Figura 2.7. Relação de ϕ’ com o parâmetro b em areias (resultados reunidos por SAYÃO,
1989) ............................................................................................................................... 17
Figura 2.8. Comparação entre ensaio triaxial convencional e ensaio de deformação plana
(CORNFORTH, 1964, apud LAMBE e WHITIMAN, 1969). ....................................... 18
Figura 2.9. Exemplos de caminhos de tensões efetivas e problemas de campo asscociados
(FERNANDES, 2016). ................................................................................................... 19
Figura 2.10. Envoltória de resistência de areias a) ângulo de atrito tangente à dois níveis
de tensões distintos. b) Envoltória real x aproximação linear (FERNANDES, 2016). .. 21
Figura 2.11. Linha de regime permanente no espaço q:p’:e (ATKINSON & BRANSBY,
1978) ............................................................................................................................... 23
Figura 3.1. Esquema do triaxial de extensão por descarregamento axial (SOUZA PINTO,
2006). .............................................................................................................................. 27
Figura 3.2. Variação das tensões principais num ensaio de extensão (HEAD, 1986).... 27
Figura 3.3. Efeito da membrana no resultado de ensaio triaxial de extensão (WU e
KOLYMBAS, 1991) ...................................................................................................... 29
Figura 3.4. Efeito da membrana no ângulo de atrito medido (WU e KOLYMBAS, 1991)
........................................................................................................................................ 29

xi
Figura 3.5. Efeito do peso próprio do CP no ângulo de atrito medido (WU e
KOLYMBAS, 1991) ...................................................................................................... 30
Figura 3.6. Deslocamento radial em ensaios triaxiais em areia (D0 = 100mm) a) compacta
b) fofa (WU e KOLYMBAS, 1991) ............................................................................... 32
Figura 3.7. Imagem dos CPs ao final do ensaio a) areia compacta b) areia fofa (WU e
KOLYMBAS, 1991) ...................................................................................................... 32
Figura 3.8. Acessório que condiciona deformações uniformes (YAMAMURO e LADE,
1995) ............................................................................................................................... 33
Figura 3.9. Comparação entre os resultados do ensaio convencional e o ensaio com
deformações uniformes a) σd versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)
........................................................................................................................................ 34
Figura 3.10. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais dilatantes a) σ1/ σ3
versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995) .............................................. 35
Figura 3.11. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais contráteis a) σ1/ σ3
versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995) ............................................... 36
Figura 3.12. Razão entre as áreas versus deformações axiais (YAMAMURO e LADE,
1995) ............................................................................................................................... 37
Figura 3.13. Ângulo de atrito secante versus tensão efetiva na ruptura para os ensaios de
extensão convencionais e com deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)
........................................................................................................................................ 37
Figura 3.14. Resultados de ensaios de extensão para a) Dr = 90% e b) Dr = 50% (LADE
e WANG, 2012). ............................................................................................................. 39
Figura 3.15. Metodologia utilizada por ZHANG et al. (2014) a) Posições da câmera
fotográfica b) Alvos fixados ........................................................................................... 41
Figura 3.16. Reconstrução virtual do CP para 8 etapas do cisalhamento (ZHANG et al.,
2014). .............................................................................................................................. 42
Figura 3.17. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em ensaios
triaxiais em areia compacta (CORFDIR e SULEM, 2008) ............................................ 43
Figura 3.18. Comparação do ângulo de atrito secante sob extensão e sob compressão para
Dr=60% (LADE e BOPP, 2005) .................................................................................... 44
Figura 3.19. Comparação do ângulo de atrito secante sob compressão e sob extensão para
Dr=30% (LADE e BOPP, 2005) ..................................................................................... 45
Figura 3.20. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em areia fofa
(CORFDIR e SULEM, 2008) ......................................................................................... 45
Figura 3.21. Linha dos Estados Críticos para ensaios triaxiais de extensão e compressão
(BEEN et al., 1991) ........................................................................................................ 46
Figura 3.22. Linha dos Estados Críticos para extensão e compressão (SALVATORE et
al., 2017). ........................................................................................................................ 48

xii
Figura 3.23. Linha do Estado Crítico para a areia de Hostun (AZEITEIRO, 2017) ...... 49
Figura 3.24. Linha dos Estados Críticos do rejeito de minério de ouro (SCHNAID et al.,
2013) ............................................................................................................................... 50
Figura 4.1. Complexo de Mineração de Germano em maio de 2013 (GOOGLE EARTH,
2013) ............................................................................................................................... 52
Figura 4.2. Complexo de Mineração de Germano em novembro de 2015 (GOOGLE
EARTH, 2015) ............................................................................................................... 52
Figura 4.3 - Barragem do Fundão e seus Diques em 2013 (GOOGLE EARTH, 2013) 53
Figura 4.4. Locais de retirada das amostras na barragem (FLÓREZ, 2015) .................. 54
Figura 4.5. Rejeitos arenosos oriundos do (a) Concentrador I e (b) Concentrador II
(FLÓREZ, 2015) ............................................................................................................ 55
Figura 4.6. Fotografias do rejeito inalterado, obtidas pela MEV (FLÓREZ, 2015) ...... 56
Figura 4.7. Caracterização mineralógica - DRX (FLÓREZ, 2015)................................ 56
Figura 4.8. Curvas de adensamento unidimensional do rejeito estudado (SILVA, 2017)
........................................................................................................................................ 57
Figura 4.9. Curva de adensamento unidimensional do rejeito estudado e0=0,92(PÖLZL,
2018) ............................................................................................................................... 58
Figura 4.10. Gráfico q x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)
........................................................................................................................................ 59
Figura 4.11. Gráficos εv x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES,
2017) ............................................................................................................................... 59
Figura 5.1. Peças necessárias para realizar o ensaio de extensão a) separadas b) acopladas
no equipamento de ensaio............................................................................................... 62
Figura 5.2. Acessórios para a compactação estática ....................................................... 63
Figura 5.3. Etapas da compactação estática a) Sequência de montagem dos acessórios b)
Volume ocupado pelo material antes (TELLES, 2017) c) Volume ocupado pelo material
depois (TELLES, 2017). ................................................................................................. 64
Figura 5.4. a) Extração do corpo de prova por um extrator de amostras hidráulico b) Isopor
e berço utilizados no transporte do corpo de prova ........................................................ 64
Figura 5.5. Conjunto montado no equipamento do ensaio triaxial ................................. 66
Figura 5.6. Pistão e topcap a) Separados e b) Enroscados ............................................. 68
Figura 5.7. Forças atuantes no topcap e pistão ............................................................... 69
Figura 5.8. Calibração do atrito estático ......................................................................... 72
Figura 5.9. Determinação da área efetiva do pistão ....................................................... 74
Figura 5.10. Detalhe dos parafusos da tampa que influenciam no atrito estático no pistão
........................................................................................................................................ 75

xiii
Figura 5.11. Gráficos Força x Deslocamento para o atrito cinemático de diversos valores
de tensão confinante ....................................................................................................... 77
Figura 5.12. Força de atrito, estático e cinemático, numa superfície perfeitamente lisa
(LAMBE & WHITMAN,1969) ...................................................................................... 77
Figura 5.13. Fenômeno do stick-slip (LAMBE & WHITMAN,1969) ........................... 78
Figura 5.14. Fenômeno stick-slip numa superfície irregular (CBPF, 2005) .................. 78
Figura 5.15. Ranhuras no pistão a partir de um microscópio aumentado 40x ............... 79
Figura 5.16. Força de atrito cinemático x tensão confinante .......................................... 80
Figura 5.17. Determinação do módulo de elasticidade de uma membrana de látex nova
........................................................................................................................................ 82
Figura 5.18. Efeito da paralaxe em câmeras compactas (MARINHO, 2009) ................ 87
Figura 5.19. Tipos de distorção radial em fotografias (NEON, 2014) ........................... 88
Figura 5.20. Exemplo de imagem e a ausência de distorções ........................................ 89
Figura 5.21. Efeito da refração num objeto imerso em água (LOPES, 2014) ................ 90
Figura 5.22. Refração em superfície cilíndrica............................................................... 91
Figura 5.23. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo obtida por
meio de dedução de equações matemáticas de refração e relações trigonométricas ...... 92
Figura 5.24. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo método
gráfico. ............................................................................................................................ 92
Figura 5.25. Relação entre a altura virtual e a altura real do corpo de prova. ................ 93
Figura 5.26. Determinação da posição relativa da área real cisalhada a) no final do ensaio
b) em estágios intermediários ......................................................................................... 95
Figura 5.27. Medidas entre as marcas na membrana no ED400 a) εa = 0% b) εa = 15% 97
Figura 5.28. Ensaio ED200 com 15% de deformação axial a) Região de análise real b)
Região de análise adotada............................................................................................... 98
Figura 5.29. Análise da deformação da membrana ao final do ensaio - ED200 .......... 100
Figura 6.1. Curva granulométrica do material estudado .............................................. 103
Figura 6.2. Imagens do rejeito de minério de ferro obtidas por microscópio: a) com
aumento de 40x e b) com aumento de 92x ................................................................... 105
Figura 6.3. Linha de Adensamento Isotrópico (ICL) para os ensaios de compressão . 106
Figura 6.4. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de compressão ................................ 107
Figura 6.5. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de compressão ................................ 107
Figura 6.6. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de compressão........................ 108
Figura 6.7. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão .................. 109
Figura 6.8. ICL para todos os ensaios de extensão ....................................................... 110
xiv
Figura 6.9. ICL para os ensaios de extensão com em semelhantes ............................... 110
Figura 6.10. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de extensão ................................... 112
Figura 6.11. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de extensão ................................. 112
Figura 6.12. Gráfico q/σ’1:εa para os ensaios triaxiais de extensão ............................. 113
Figura 6.13. Aparecimento do plano de ruptura do ensaio ED500 com εa = 8% - resultado
típico ............................................................................................................................. 113
Figura 6.14. Deformações localizadas e surgimento do necking no ensaio ED500 com εa
= 12%- resultado típico ................................................................................................ 114
Figura 6.15. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão..................... 115
Figura 6.16. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão .......................... 115
Figura 6.17. Determinação de 'a' e altura do necking no ensaio ED100 com εa = 14% –
resultado típico ............................................................................................................. 117
Figura 6.18. Relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria118
Figura 6.19. Curvas q:εa corrigida pelas áreas determinadas na fotografia ................. 120
Figura 6.20. Gráfico q/ σ’1:εa a partir da correção da área pelas fotos ........................ 120
Figura 6.21. Gráfico Volume de água x deformação axial ........................................... 121
Figura 6.22. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão considerando as
fotografias para correção da tensão desviadora e do índice de vazios do necking. ...... 122
Figura 6.23. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão considerando as
fotografias ..................................................................................................................... 123
Figura 6.24. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão e extensão
considerando as fotografias .......................................................................................... 124
Figura A.1. a) Pendural b) Cargas aplicadas ................................................................ 134
Figura A.2. Resultado da calibração ciclo 1 ................................................................. 135
Figura A.3. Calibração deslocamento axial - 1ª tentativa............................................. 136
Figura A.4. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTrac II de Poro-Pressão ........ 137
Figura A.5. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTracII de Pressão Confinante 137
Figura A.6. Resultado para a 1ª calibração da membrana de látex – máquina e visual 139
Figura A.7. Ensaio de tração na membrana de látex .................................................... 140
Figura B.1. Representação da primeira refração em superfície cilíndrica entre o meios
ar/acrílico ...................................................................................................................... 141
Figura B.2. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado graficamente ......... 144
Figura B.3. Modelo utilizado para o processo gráfico ................................................. 145
Figura B.4. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado matematicamente . 148

xv
Figura B.5. Refração no plano horizontal .................................................................... 149
Figura B.6. Zoom da refração na parede cilíndrica do acrílico .................................... 150
Figura B.7. Relação entre altura virtual e altura real do CP ......................................... 152
Figura B.8. Refração no plano vertical ......................................................................... 153

xvi
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Efeitos da forma, compacidade e distribuição granulométrica no ângulo de


atrito de pico (Sowers and Sowers, 1951 apud LAMBE & WHITMAN, 1969) ........... 11
Tabela 3.1. Ângulos de atrito de pico para ensaios de compressão e extensão (LAMBE &
WHITMAN, 1969) ......................................................................................................... 43
Tabela 3.2. Comparação entre os ensaios de compressão e extensão (BEEN et al., 1991)
........................................................................................................................................ 47
Tabela 3.3. Parâmetros dos Estados Críticos de um rejeito de minério de ouro (BEDIN,
2010) ............................................................................................................................... 50
Tabela 4.1. Resumo da caracterização física e química do rejeito inalterado (FLÓREZ,
2015) ............................................................................................................................... 55
Tabela 4.2. Distribuição dos ensaios triaxiais de compressão realizados (TELLES, 2017).
........................................................................................................................................ 58
Tabela 4.3. Propriedades do rejeito no estado de regime permanente (TELLES, 2017) 59
Tabela 5.1. Resumo da calibração do atrito no pistão .................................................... 74
Tabela 5.2. Dados utilizados para cálculos de refração .................................................. 91
Tabela 6.1. Resumo da granulometria do rejeito desta pesquisa .................................. 103
Tabela 6.2. Comparação dos resultados de caracterização TELLES (2017) com o presente
trabalho ......................................................................................................................... 106
Tabela 6.3. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico para os
ensaios de compressão .................................................................................................. 106
Tabela 6.4. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de compressão .......................... 108
Tabela 6.5. Resumo dos parâmetros do estado de regime permanente obtidos pelos
ensaios de compressão .................................................................................................. 108
Tabela 6.6. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico dos ensaios
de extensão ................................................................................................................... 109
Tabela 6.7.Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando os cálculos
teóricos ......................................................................................................................... 114
Tabela 6.8. Valores de altura e área transversal pós adensamento ............................... 116
Tabela 6.9. Parâmetro 'a' para os CPs dos ensaios ....................................................... 117
Tabela 6.10. Nível de deformações no qual a deformação axial se mantinha constante no
CP ................................................................................................................................. 119
Tabela 6.11. Valores de referência do necking para o cálculo do índice de vazios ..... 121
Tabela 6.12. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando as
fotografias ..................................................................................................................... 122

xvii
Tabela 6.13. Comparação dos parâmetros do estado de regime permanente entre os
ensaios de compressão e extensão ................................................................................ 123
Tabela A.1. Cálculo da constante de calibração da célula de carga ............................. 134
Tabela A.2. Cálculo da constante de calibração do transdutor de deformação axial ... 135
Tabela A.3. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Poro-pressão .. 137
Tabela A.4. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Pressão Confinante
...................................................................................................................................... 137
Tabela A.5. Resumo dos resultados da calibração da membrana ................................. 139
Tabela B.1. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano horizontal ............ 143
Tabela B. 2. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano vertical ................ 151

xviii
LISTA DE SÍMBOLOS

CC – Coeficiente de curvatura
Cc – Índice de compressão
CID – Ensaio triaxial com consolidação isotrópica e fase de cisalhamento drenada
CIU – Ensaio triaxial com consolidação isotrópica e fase de cisalhamento não drenada
CNU – Coeficiente de não uniformidade
CP – Corpo de prova
Dr – Densidade relativa
e – Índice de vazios
E – Módulo de Young
ea – Índice de vazios no final da fase de adensamento
em – Índice de vazios após moldagem
ess – Índice de vazios no estado de regime permanente
FC – Teor de finos (Fines Content) – passante na P#200
IBu – Índice de fragilidade não drenada
ICL – Linha de adensamento isotrópico (Isotropic Consolidation Line)
M – Inclinação da linha de regime permanente no plano p’-q
p’ – tensão efetiva octaédrica (p’=(’1 + 2’3)/3)
p’0 – Tensão efetiva no final da consolidação
q – Tensão desviadora (q=’a – ’r)
SSL – Linha de regime permanente (Steady State Line)
 − Altura da linha de regime permanente, definida para p’=1kPa
a− Deformação axial
v− Deformação volumétrica
 − Peso específico
' − Ângulo de atrito
ICL− Inclinação da linha de adensamento isotrópico no plano logp’-e,
SSL − Inclinação da linha de regime permanente no plano logp’-e

xix
1. INTRODUÇÃO

Apesar da grave crise econômica e política que o país passou nos últimos anos, o
setor de mineração se apresentou estável quanto aos níveis de produção e exportação,
contribuindo para gerar superávits à balança comercial brasileira. Segundo o Instituto
Brasileiro de Mineração – IBRAM (2018), a indústria extrativa representou cerca de 1,4%
de todo PIB nacional no ano de 2017, exportando cerca de 403 milhões de toneladas de
bens minerais. A Figura 1.1 apresenta os produtos exportados e suas importâncias no
mesmo ano, tendo como principal produto o minério de ferro (62%) com cerca de 240
milhões de toneladas exportadas (IBRAM, 2018).

Figura 1.1. Minérios exportados em 2017 (IBRAM, 2018).

Como toda atividade industrial, o setor de mineração gera resíduos, destacando-


se os resíduos sólidos de extração (estéril) e os resíduos de tratamento/beneficiamento
(rejeitos). Estima-se que para cada tonelada de minério de ferro processado na usina de
beneficiamento, 0,4 toneladas de rejeitos são gerados (IBRAM, 2016a). Além disso, há
uma previsão que, para o período de 2010-2030 o beneficiamento do minério de ferro irá
contribuir com cerca de 40% de todo o volume de rejeitos gerados pelas mineradoras no
país.

Nos últimos anos, devido ao aumento do volume de rejeito produzido e do


destaque nas questões socioambientais, houve muito investimento em pesquisas que
visam reutilizar e recuperar os rejeitos, de forma a não os depositar no meio ambiente,
como por exemplo o programa Inova Mineral financiado pelo BNDES e Finep (IBRAM,
2016a). Entretanto, os rejeitos ainda são descartados, sendo utilizadas como formas de

1
deposição, cavas, pilhas, minas subterrâneas e, a forma mais comum no país, barragens
de rejeito (IBRAM, 2016b).

As barragens de rejeito servem para armazenar tanto os rejeitos gerados no


beneficiamento quanto a água utilizada neste processo. Em geral, os rejeitos são dispostos
em forma de polpa (mistura de água e material sólido) em lagos contidos por essas
barragens, que são construídas com solo, estéreis ou mesmo com o próprio rejeito
(GOMES et al.., 2002). A construção da barragem pode se dar ao longo do tempo, com
alteamentos sucessivos de acordo com a produtividade da usina, e pode ser executada por
três métodos construtivos: jusante, linha de centro ou montante.

Nos três métodos há a construção de um dique de partida, normalmente de solo


ou enrocamento compactados, com a função de reter o volume inicial de rejeitos gerados.
Comumente, com o avanço nos trabalhos de mineração, os alteamentos seguintes são
construídos com o próprio rejeito. A diferença entre os métodos está na forma com que
esses alteamentos são construídos, que apresentam vantagens e desvantagens distintas.

No método de jusante, os alteamentos seguintes são construídos, como o próprio


nome diz, à jusante do dique de partida, possibilitando um controle de lançamento e
compactação do aterro. No método de linha de centro, o alteamento da crista é realizado
de forma vertical coincidindo com o eixo do dique de partida.

Por fim, no método de montante, os alteamentos são executados à montante do


dique de partida, apoiados sobre a praia de rejeitos formada anteriormente. Por isso, este
método frequentemente apresenta dificuldades de implantação do sistema de drenagem.
Devido às deficiências e dificuldades no controle executivo, este método é considerado o
mais crítico em relação à segurança estrutural da barragem (ARAUJO, 2006).

Foi realizado por ICOLD (2001) uma análise de 221 incidentes noticiados com
barragens de rejeito até o ano de 2001, verificando o método construtivo e as causas de
ruptura. Os resultados, juntamente com o número de ocorrências de cada tipo, estão
apresentados na Figura 1.2. Os acidentes mais recentes com barragens construídas a
montante, infelizmente, ocorreram no Brasil em Mariana-MG em 2015 e em
Brumadinho-MG em 2019, gerando grande número de vítimas e imensos prejuízos
materiais e ambientais.

A partir da Figura 1.2, pode-se perceber que diversas são as causas de ruptura,
tendo como principais: galgamento, instabilidade de taludes e terremotos. Ainda na

2
figura, observa-se que o número de ocorrências destas principais causas é maior para as
barragens construídas à montante.

Figura 1.2. Causas de ruptura x número de incidentes de barragens de rejeito (ICOLD, 2001)

Para qualquer caso, as propriedades de resistência mecânica dos rejeitos


desempenham papel fundamental, o que demonstra a necessidade premente de
compreender o comportamento dos rejeitos, especialmente em relação às suas
características de resistência ao cisalhamento, sob múltiplas condições.

Em razão disto, a engenharia geotécnica aplicada à mineração, no Brasil, vem


sendo cada vez mais aprimorada (REZENDE, 2013). Ao longo dos últimos anos, a
responsabilidade de projetar e acompanhar a operação das barragens de rejeito, no Brasil,
tem recaído, cada vez mais, sobre os profissionais geotécnicos. Para dar conta deste
desafio, tem-se buscado investigar o comportamento do rejeito, em laboratório e em
campo, a curto e a longo prazo, à luz dos conceitos da mecânica dos solos.

Com o intuito de aperfeiçoar as análises de comportamento de rejeitos de


mineração, tem-se adotado a Teoria do Estado de Regime Permanente (Steady State)
definido por POULOS (1981). Ao determinar as propriedades no estado de regime
permanente, pode-se compreender o comportamento do rejeito para diferentes estados de
tensões e índices de vazios de campo.

3
1.1. Motivação da pesquisa
Em grandes obras geotécnicas, como barragens de rejeito, a segurança contra a
ruptura é um fator de suma importância e, a investigação do comportamento dos rejeitos
sob diferentes solicitações deve ser realizada de forma prioritária.

Apesar do vasto conhecimento no que se refere aos diferentes tipos de solicitações


que o rejeito em uma barragem pode ser submetido, ainda é muito frequente a adoção de
campanhas de ensaios laboratoriais apenas tradicionais, buscando agilidade e economia,
para determinar os parâmetros de tensão-deformação do material. Como por exemplo, os
ensaios de compressão unidimensional, cisalhamento direto e os triaxiais de compressão.

Entretanto, em algumas situações, os ensaios de compressão não representam


adequadamente a situação de campo. Segundo o ‘Executive Summary for Root Cause
Analysis of Kingston Dredge Cell Failure’ elaborado por EACOM (2008), a ruptura
daquela barragem de rejeitos desceu pela massa de rejeitos a partir da crista, correu dentro
de uma camada de lama que havia na base e depois atravessou novamente os rejeitos, em
trajetória ascendente, como indicado pela Figura 1.3. Nesta figura, pode-se perceber que
a superfície de ruptura nos trechos ascendente e horizontal submeteu os rejeitos a
solicitações de extensão e cisalhamento simples, respectivamente. A Figura 1.4 ilustra
essas condições a partir de uma possível superfície de ruptura típica e as correlaciona com
ensaios de laboratório.

Desta forma, ensaios de cisalhamento simples e ensaios triaxiais de extensão, por


descarregamento vertical ou por carregamento horizontal, poderiam ser realizados nos
rejeitos para determinar seu comportamento quando submetido a esses esforços.

4
Figura 1.3. Indicação da superfície de ruptura na barragem de Kingston (EACOM, 2008)

Figura 1.4: Diferentes solicitações numa possível superfície de ruptura (BJERRUM, 1973)

1.2. Objetivos da pesquisa


O objetivo principal deste trabalho foi realizar ensaios triaxiais de extensão por
descarregamento vertical em um rejeito de minério de ferro, a fim de determinar o ângulo
de atrito do material para esta solicitação e determinar os parâmetros no estado de regime
permanente para a condição de extensão.

Esses resultados foram comparados com os obtidos por meio de ensaios de


compressão no mesmo material.

5
Diversos autores (ROSCOE et al., 1963; YAMAMURO e LADE, 1995; LADE
et al., 1996) ressaltam que em ensaios triaxiais de extensão convencionais em areias
ocorrem deformações radiais não uniformes e surgimento de um estreitamento no corpo
de prova (denominado “neck”), que tornam os cálculos teóricos de tensões inapropriados.

YAMAMURO e LADE (1995) e LADE e WANG (2012) propõem um aparato


que condiciona deformações uniformes durante ensaios de extensão que, segundo os
autores, seria a maneira mais correta de determinar o comportamento de areias sob essa
solicitação. Todavia, esta solução depende da fabricação deste aparato e de sua adaptação
nos equipamentos convencionais, e, além disso, não permite um acompanhamento das
deformações radiais no decorrer do ensaio.

Outros autores já consideram que a determinação da deformação radial


verdadeira, no local do surgimento do “neck”, poderia se mostrar uma solução confiável.
Por exemplo, WU e KOLYMBAS (1991) utilizaram medidores de deformações radiais e
LAM e TATSUOKA (1988) mediram a área cisalhada a partir de fotografias impressas,
entretanto, ambas as soluções também apresentam desvantagens. Na primeira, fixar os
medidores de deformação no CP não é trivial e, a posição de fixação pode não coincidir
com a região de formação do neck. Na segunda, erros de medição, relacionados à
ferramenta de medida e também à interpretação do operador, pode afetar os resultados.

Assim, como objetivo secundário, este trabalho buscou desenvolver um


procedimento simples e acessível, que permita a determinação das deformações radiais e
das variações de volume na região do “neck” empregando uma câmera fotográfica digital
combinada com um software CAD. Desta forma seria possível verificar se deformações
radiais calculadas desta maneira, ao longo do ensaio, permitiriam obter os verdadeiros
níveis de tensão envolvidos no ensaio de extensão.

1.3. Organização da dissertação


Este trabalho foi organizado em 7 capítulos, além do capítulo de referências
bibliográficas.

Este primeiro capítulo é uma introdução sucinta ao assunto de mineração no país


e às formas de descarte dos resíduos gerados pela atividade. Além disso, traz a motivação
da pesquisa e seus objetivos principais.

6
No capítulo 2 é apresentada uma breve revisão bibliográfica sobre a resistência ao
cisalhamento e estados de regime permanente de solos arenosos, visto que o rejeito de
minério estudado tem curva granulométrica correspondente à areia fina.

Como os ensaios triaxiais de extensão ainda são relativamente raros no Brasil, o


capítulo 3 traz uma explicação sobre o procedimento do ensaio, bem como alguns
cuidados e problemas identificados por diversos autores. Ainda são apresentados
resultados de ensaios triaxiais de extensão realizados em solos arenosos por diversos
pesquisadores.

O capítulo 4 apresenta a área de estudo e o material que foi coletado, bem como
resultados de alguns ensaios obtidos em pesquisas anteriores para este mesmo material.

No capítulo 5 está descrita a metodologia utilizada nesta pesquisa, bem como as


correções adotadas nos cálculos e uma explicação minuciosa sobre a utilização de
imagens fotográficas.

Os resultados obtidos e as análises estão apresentados e discutidos no capítulo 6.

Por fim, no capítulo 7, estão reunidas todas as conclusões deste trabalho.

7
2. RESISTÊNCIA DE SOLOS ARENOSOS

Neste capítulo são apresentados conceitos relacionados à resistência de solos


arenosos, bem como os fatores de influência. A composição do rejeito de minério
utilizado nesta pesquisa justifica a opção por focar no comportamento mecânico deste
tipo de solo, pois o rejeito é um material com granulometria de areia, com pequena
porcentagem de finos.

Ao fim do capítulo, é abordada a Teoria dos Estados de Regime Permanente,


ambas utilizadas na previsão de comportamento tensão-deformação de solos e atualmente
aplicadas ao comportamento mecânico de rejeitos de mineração.

2.1. Resistência ao cisalhamento de solos arenosos


A resistência ao cisalhamento de solos arenosos pode ser expressa pela equação
2.1.

𝜏𝑓𝑓 = 𝜎′𝑓𝑓 tan 𝜙 ′ [Equação 2.1]

Onde:

𝜏𝑓𝑓 , é a tensão cisalhante no plano de ruptura, no momento da ruptura

𝜎′𝑓𝑓 é a tensão normal efetiva no plano de ruptura, no momento da ruptura

ϕ' é o ângulo de atrito efetivo do solo

O valor do ângulo de atrito efetivo do solo (ϕ') pode ser considerado como a soma
de dois fatores: o ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e uma parcela referente ao
fenômeno de dilatância (ψ).

O ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) está relacionado com o atrito que se
dá no contato entre partículas do solo. Este atrito será influenciado pelo atrito entre os
minerais que as compõem, representado como tanϕμ, e também pelo formato e superfície
dessas partículas do solo. Esses fatores serão melhor explicados adiante.

O fenômeno de dilatância pode ser a partir da analogia do dente de serra (ROWE,


1963; BOLTON, 1986). Considere-se os blocos bipartidos da Figura 2.1a) e Figura 2.1b),
um com superfície de contato lisa e outro denteada.

8
Para qualquer um dos dois blocos, o deslizamento só irá ocorrer quando as
resultantes das forças na superfície de contato fizer um ângulo com a normal igual a um
ângulo de atrito especifico de cada caso. No primeiro caso, como não é necessário
deslocamentos verticais, o ângulo de atrito será correspondente ao ângulo de atrito de
volume constante (ϕcv). Porém, no segundo caso, devido a inclinação dos dentes, o ângulo
de atrito total, será a soma da parcela do ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e o
ângulo dos dentes (ψ) (FERNANDES, 2016).

Figura 2.1. Analogia do dente de Serra a) superfície lisa e b) superfície dentada (imagem retirada de
FERNANDES, 2016)

Considerando então que a Figura 2.1a) representa uma areia fofa e a Figura 2.2b)
uma areia compacta, o valor de 𝜓 estará associado à variação de volume do solo. No caso
de uma areia fofa, com aproximadamente 𝜓 = 0, o solo não apresentaria variação de
volume e, seu ângulo de atrito efetivo máximo seria o próprio ângulo de atrito a volume
constante (ϕcv). Já para uma areia compacta, com 𝜓 > 0, o solo aumentaria seu volume e
seu ângulo de atrito efetivo máximo, que é comumente denominado de ângulo de atrito de
pico (𝜙′𝑝𝑖𝑐𝑜 ), seria a soma das duas parcelas e pode ser representado pela Equação 2.2.

𝜙′𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝜙𝑐𝑣 + 𝜓 [Equação 2.2]

BOLTON (1986), a partir de dados experimentais, mostrou que a Equação 2.3


melhor descreve o ângulos de atrito de pico de areias

𝜙′𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝜙𝑐𝑣 + 0,8𝜓 [Equação 2.3]

O valor de 𝜓, denominado ângulo de dilatância, é melhor interpretado e calculado


a partir de ensaios de cisalhamento direto e pode ser definido como o declive pontual da
curva de deformações volumétricas versus distorções (FERNANDES, 2016).

9
2.2. Fatores que influenciam o ângulo de atrito de solos
arenosos
2.2.1. Características do solo
Para um mesmo índice de vazios do solo, sob a mesma tensão efetiva, os fatores
que podem influenciar no valor do ângulo de atrito são: forma das partículas; distribuição
granulométrica, mineralogia e tamanho médio das partículas (LAMBE &
WHITMAN,1969).

Em relação ao tamanho médio das partículas, LAMBE & WHITMAN (1969)


afirmam que areias com grãos maiores possuiriam maior grau de interlocking
(imbricamento), porém esse efeito poderia ser compensado pelo grau de fraturamento e
quebra das partículas devido à concentração de tensões nos contatos. Quanto maior o
tamanho da partícula, menor o número de pontos de contato e a área de contato, o que
gera maior concentração de tensões nos contatos. Logo, neste caso, o efeito do tamanho
das partículas final no ângulo de atrito poderia ser desprezado.

O efeito da forma das partículas é evidente, pois grãos de formato mais irregular
tendem a ter grau de interlocking maior do que grãos arredondados e lisos, e
consequentemente, maior ângulo de atrito. A Figura 2.2 mostra as possíveis formas de
grãos de areias.

Figura 2.2. Exemplos de formas de partículas (MITCHELL e SOGA, 2005)

Quando se analisa a distribuição granulométrica, sabe-se que areias bem


graduadas possuem maior grau de “interlocking” do que areias mal graduadas (ou
uniformes). Isso ocorre porque areias bem graduadas possuem grãos com diversas

10
dimensões, possibilitando um arranjo das partículas com os grãos menores preenchendo
os espaços dos grãos maiores. Dessa forma, o ângulo de atrito deste material será maior.

A Tabela 2.1 relaciona os efeitos da distribuição granulométrica, compacidade e


forma das partículas com o valor do ângulo de atrito de pico de uma areia.

Tabela 2.1. Efeitos da forma, compacidade e distribuição granulométrica no ângulo de atrito de pico
(Sowers and Sowers, 1951 apud LAMBE & WHITMAN, 1969)

Forma da partícula e Graduação Areia Fofa Areia Densa


Arredondada e Uniforme 30° 37°
Arredondada e bem graduada 34° 40°
Angular e uniforme 35° 43°
Angular e bem graduada 39° 45°

Por fim, tem-se a mineralogia do material, que irá influenciar diretamente no valor
de tanϕμ. A maioria das areias é composta por quartzo e feldspato, que possuem valores
semelhantes de tanϕμ. Logo essa é uma característica que pouco varia entre muitos solos
arenosos. Cabe ressaltar, entretanto, que o ângulo de atrito pode ser significativamente
afetado em solos com altos teores de partículas micáceas, pois a mica possui um baixo
valor de tanϕμ.

2.2.2. Índice de vazios inicial


Devido ao fenômeno de dilatância, o índice de vazios no início do cisalhamento
influencia na resistência do solo. A partir de ensaios triaxiais de compressão TAYLOR
(1948) avaliou o comportamento de dois corpos de prova, com a mesma tensão confinante
(σ3=30 psi ≅ 207 kPa), mas com índices de vazios iniciais diferentes. Os resultados, que
foram apresentados por LAMBE & WHITMAN (1969), encontram-se na Figura 2.3.

TAYLOR (1948) extrapolou as curvas de tensão desviadora e variação


volumétrica a fim de entender o comportamento dos materiais em grandes deformações.
O corpo de prova no estado compacto (e = 0,605) apresentou um pico na curva de tensão
desviadora x deformação axial, seguido por uma queda. Já o corpo de prova fofo (e =
0,834) apresentou um crescimento da tensão desviadora com o aumento da deformação
até um patamar e continuou aproximadamente constante.

11
Figura 2.3. Comportamento em ensaio triaxial em função do índice de vazios inicial (TAYLOR (1948),
apud LAMBE & WHITMAN,1969)

Esse comportamento é explicado pela curva de deformação volumétrica x


deformação axial, onde pode-se observar o fenômeno de dilatância no corpo de prova
compacto que teve um aumento de aproximadamente 15% em seu volume, enquanto o
fofo manteve-se aproximadamente constante. Logo, a dilatância proporcionou um
incremento na tensão desviadora e, consequentemente, no ângulo de atrito do material,
chamado neste caso de ângulo de atrito de pico (ϕ’pico).

Na Figura 2.4 tem-se a relação entre o valor do ângulo de atrito efetivo (ϕ’) e o
índice de vazios inicial para uma areia de granulometria média. Neste gráfico pode-se
observar as parcelas do ângulo de atrito a volume constante (ϕcv) e da dilatância (𝜓 ) que
constituem o valor ϕ’, e ainda o ângulo de atrito dos minerais (ϕµ).

12
Figura 2.4. Ângulo de atrito x Índice de vazios inicial (ROWE, 1962 apud LAMBE & WHITMAN,1969)

2.2.3. Tensão confinante


Com intuito de verificar a influência da tensão confinante no solo, LEE E SEED
(1967) compararam resultados de ensaios de compressão triaxial drenados em corpos de
prova com índices de vazios semelhantes, mas com diferentes valores de tensão
confinante, na areia do Rio Sacramento.

Os resultados são apresentados em função da razão entre as tensões principais


(σ1/σ3). Na Figura 2.5 tem-se os resultados para a areia compacta (Dr~100%). Os valores
de tensão confinante para os ensaios numerados de (1) a (6) foram, respectivamente, 100
kPa, 300 kPa, 1.050 kPa, 2.000 kPa, 3.000 kPa, 4.000 kPa e 12.000 kPa.

Da mesma forma, na Figura 2.6 tem-se os resultados para a areia fofa (Dr~25%).
Neste caso, as tensões confinantes foram de 100 kPa, 200 kPa, 450 kPa, 1.270 kPa, 2.000
kPa, 4.000 kPa e 12.000 kPa, para os ensaios de (1) a (7).

13
DEFORMAÇÃO AXIAL (%)

Figura 2.5. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento da areia compacta (LEE e
SEED, 1967)

14
DEFORMAÇÃO AXIAL (%)

Figura 2.6. Influência da tensão confinante na resistência ao cisalhamento na areia fofa (LEE e SEED,
1967)

Estes resultados permitem observar que, com o aumento da tensão confinante, a


deformação axial na ruptura aumenta e a razão máxima entre as tensões principais
diminui. Ou seja, há uma diminuição da resistência do material com o crescimento da
tensão confinante e, consequentemente, diminuição do ângulo de atrito de pico (ϕ’pico).

Além disso, com o aumento da tensão confinante, menor é a tendência de


expansão do material, de forma que as amostras que inicialmente dilatavam, passam a
contrair e comportam-se como areias fofas, como pode-se ver nos ensaios de números (5)
e (6) na Figura 2.5.

Gerando envoltórias de resistência a partir destes ensaios triaxiais de compressão,


LEE E SEED (1967) perceberam que a envoltória de pico para areias é curva e não-linear.
Sob baixas tensões confinantes, a componente de dilatância eleva o valor do ângulo de
atrito, especialmente nas areias mais compactas. Na faixa de tensões confinantes média a
elevadas, o fenômeno de dilatância é impedido. E na faixa de tensões muito elevadas,

15
pode ocorrer quebra de grãos, e consequentemente, um rearranjo das partículas, tendendo
a uma matriz mais compacta e assim mais resistente.

Por fim, os resultados de LEE E SEED (1967) indicaram que, independentemente


do valor de tensão confinante, as razões entre as tensões principais dos diversos ensaios
tenderam a um mesmo valor em grandes deformações.

Comportamento semelhante foi identificado nos ensaios de TAYLOR (1948),


apresentados anteriormente na Figura 2.3. Após deformações axiais da ordem de 20%, os
corpos de prova tenderam alcançar o mesmo valor de tensão desviadora, e mais que isto,
os valores de deformações volumétricas levaram os corpos de prova para o mesmo índice
de vazios final.

Este índice de vazios foi definido por CASAGRANDE (1936) como índice de
vazios crítico (ecr) e o ângulo de atrito correspondente a estes valores finais de tensões
desviadoras foi definido como ângulo de atrito crítico (ϕ’cr). Estas definições foram a base
para o desenvolvimento da Teoria dos Estados Críticos, que será apresentada adiante.

2.2.4. Tensão principal intermediária (𝝈𝟐 )


Frequentemente a influência de 𝜎2 é desprezada, visto que o critério de ruptura de
Mohr-Coulomb mais utilizado em análises geotécnicas é formulado em termos de 𝜎′1 e
𝜎′3 e os ensaios de laboratório mais comuns não permitem o controle independente de
𝜎′2 (SAYÃO, 1989).

BISHOP (1966) propôs o parâmetro b para avaliar a influência de 𝜎2 , onde b =


(𝜎2 − 𝜎3 ) / (𝜎1 − 𝜎3 ). Ele representa a magnitude relativa de 𝜎2 em relação às outras
tensões principais e varia de 0 a 1, sendo 0 nos ensaios triaxiais de compressão e 1 nos
triaxiais de extensão.

A Figura 2.7 mostra diversas relações do parâmetro b com o ângulo de atrito


efetivo (ϕ’) obtidas por diversos autores e apresentadas por SAYÃO (1989). Na maioria
dos resultados, o valor mínimo de ϕ’ ocorre quando b=0, condição de compressão triaxial
e, à medida que b aproxima-se de 0,25-0,50, próximo ao estado de deformação plana,
tem-se o valor máximo de ϕ’. Já para valores maiores que 0,5, aproximando-se da
condição de extensão, os resultados mostram-se contraditórios.

Segundo SAYÃO (1989) as diferenças entre os resultados encontrados para b


maior que 0,5 podem ser explicadas pelos seguintes fatores: a) anisotropia da estrutura
16
do solo; b) direção do carregamento; c) variação da tensão média (𝜎𝑚 = ( 𝜎1 + 𝜎2 +
𝜎3 )/3); d) técnica de ensaio (carregamento ou descarregamento); e) erros experimentais.

Figura 2.7. Relação de ϕ’ com o parâmetro b em areias (resultados reunidos por SAYÃO, 1989)

A Figura 2.8 apresenta a relação entre a porosidade inicial do material e o ângulo


de atrito efetivo, obtida de resultados de ensaios triaxiais de compressão e ensaios de
deformação plana realizados por CORNFORTH (1964). Pode-se observar que os valores
de ângulo de atrito obtidos nos ensaios de deformação plana são maiores do que em
compressão. Isso pode ser explicado pela diferença na liberdade de deformação entre um
ensaio e outro. No ensaio de compressão triaxial as partículas de solo podem se
movimentar mais do que no ensaio de deformação plana (LAMBE & WHITMAN, 1969).

17
A diferença dos resultados é maior para as amostras mais compactas e torna-se menor
para as amostras mais fofas.

Figura 2.8. Comparação entre ensaio triaxial convencional e ensaio de deformação plana (CORNFORTH,
1964, apud LAMBE e WHITIMAN, 1969).

2.2.5. Condições do carregamento


As condições de carregamento podem ser avaliadas sob três aspectos: condições
de drenagem, velocidade do carregamento e tipo de carregamento.

As condições de drenagem estão diretamente ligadas à velocidade de


carregamento. Como materiais arenosos são muito permeáveis e pouco compressíveis
(alto coeficiente de adensamento), em geral, o carregamento se dá de forma drenada. Para
as velocidades comuns de carregamento, os excessos de poropressão são dissipados
instantaneamente.

Entretanto, em certos casos, como por exemplo em carregamentos cíclicos


(produzidos por abalos sísmicos) ou carregamentos estáticos extremamente rápidos,
como os que ocorrem durante um escorregamento, pode ocorrer uma elevação súbita da
poropressão, reduzindo a tensão efetiva. Dependendo do índice de vazios e do estado de
tensões inicial, esta elevação da poropressão pode ser tão grande a ponto do solo perder
grande parte ou toda a sua resistência. Este fenômeno é conhecido como liquefação
(BEEN & JEFFERIES, 2016), estudado melhor a partir da Teoria dos Estados Críticos.

18
O tipo de carregamento está ligado à maneira como se desenvolvem as tensões no
solo até a ruptura, avaliado a partir de caminhos de tensões efetivas. A Figura 2.9
apresenta caminhos de tensões efetivas típicos para quatro modalidades de ensaios
triaxiais drenados e exemplos de problemas geotécnicos relacionados.

Figura 2.9. Exemplos de caminhos de tensões efetivas e problemas de campo asscociados


(FERNANDES, 2016).

Os caminhos 1 e 2 representam ensaios de compressão triaxial. No caminho 1,


mantém-se a tensão vertical constante enquanto diminui a tensão confinante. No caminho
2, mantém-se constante a tensão na câmara e aumenta-se a tensão vertical. Este último é
o caminho mais utilizado na prática, sendo o ensaio de compressão triaxial convencional.

Os caminhos 3 e 4 representam os ensaios de extensão triaxial. No caminho 3, a


tensão vertical é reduzida mantendo-se constante a tensão na câmara. No caminho 4, a
tensão vertical é mantida constante enquanto a tensão da câmara é aumentada.

Neste ponto pode-se observar que a influência de 𝜎2 está ligada ao tipo de caminho
de tensões escolhida para o ensaio, assim como ao parâmetro b. Como apresentado no
item 2.2.5, há resultados que indicam o ângulo de atrito obtido pelos ensaios de
compressão igual ao obtido pelos ensaios de extensão, enquanto outros que indicam uma
diferença significativa. Resultados de ensaios de extensão em areias serão apresentados e
discutidos no capítulo 3.

19
2.3. Envoltória de resistência de areias
Conhecendo o mecanismo de resistência dos solos arenosos e os fatores que o
influenciam, pode-se definir a envoltória de resistência, em geral representada pelo
modelo de Mohr-Coulomb.

Devido à influência da dilatância e dos níveis de tensões atuantes, conclui-se que


o fenômeno de resistência não depende apenas do atrito entre as partículas e, por isso, a
envoltória de resistência real é curva e não linear. Além disto, a envoltória de resistência
representará o comportamento de uma dada areia com um dado índice de vazios inicial
(e0) (FERNANDES, 2016).

Para baixos valores de tensões normais, a influência da parcela inerente ao grau


de interlocking será maior, o que conduzirá a valores maiores de ângulo de atrito. Com o
aumento das tensões normais, essa parcela torna-se desprezível comparada com a parcela
da resistência por atrito e a envoltória aproxima-se de uma reta que passa pela origem.

A Figura 2.10 ilustra essa explicação. Na Figura 2.10a) tem-se dois círculos de
Mohr obtidos por ensaios com níveis de tensões diferentes e seus ângulos de atrito
correspondentes (chamados de ângulos de atrito secantes) e, na Figura 2.10b) tem-se a
envoltória real e uma possível aproximação linear para aplicação prática em engenharia
geotécnica.

Conhecida a possível faixa de tensões atuante no problema de campo, determina-


se uma envoltória agora linear, definida pela Equação 2.4.

𝜏 = 𝑐 ′ + 𝜎 ′ tan 𝜙 ′ [Equação 2.4]

Sendo, no caso de areias, c’ o intercepto coesivo, com significado apenas


matemático.

Importante observar que a envoltória de resistência só prevê os possíveis estados


de tensões na ruptura do material. Com o aumento da necessidade de se prever também
os níveis de deformações, a Teoria dos Estados Críticos e a Teoria dos Estados de Regime
Permanente foram desenvolvidas. Com elas, pode-se compreender a interação entre as
tensões normais, as tensões cisalhantes, e as deformações durante o processo de
cisalhamento, fornecendo então uma previsão completa do comportamento mecânico de
um solo.

20
Figura 2.10. Envoltória de resistência de areias a) ângulo de atrito tangente à dois níveis de tensões
distintos. b) Envoltória real x aproximação linear (FERNANDES, 2016).

2.4. Estados de Regime Permanente em Solos Arenosos


Segundo BEEN & JEFFERIES (2016), a primeira teoria que relacionava as três
variáveis de estado de um solo (tensões normais, cisalhantes e compacidade) foi
desenvolvida por SCHOFIELD e WROTH (1968), e ficou conhecida como Mecânica dos
Solos dos Estados Críticos, nomenclatura derivada da teoria do Índice de Vazios Crítico
definida por CASAGRANDE (1936).

Após o desenvolvimento da Teoria dos Estados Críticos, surgiu a definição do


Estado de Regime Permanente (POULOS, 1981).

2.4.1. Estado de Regime Permanente x Estado Crítico


Os estados críticos, definido por ROSCOE et al. (1958), são os estados no qual o
solo continua deformando-se sob tensões efetivas e índice de vazios constantes.

21
POULOS (1981) definiu os Estados de Regime Permanente (SS - Steady State)
como os estados em que a massa de solo se deforma com volume, tensões efetivas
(normais e cisalhantes) e velocidade constantes. Este estado é alcançado após ocorrer toda
orientação das partículas (em solos argilosos) e após toda quebra de grãos, caso haja, para
aquele nível de tensões.

Segundo BEEN & JEFFERIES (2016), pesquisadores dos Estados Críticos de


solos arenosos nas décadas de 1970 e 1980, baseavam-se em ensaios drenados em
amostras dilatantes, com deformação controlada. Enquanto outros utilizavam ensaios não
drenados com tensão controlada em amostras contrativas para determinar o estado de
regime permanente. Contudo, BEEN & JEFFERIES (2016) concluíram que boa parte das
diferenças percebidas entre os dois estados para solos arenosos devia-se a problemas de
interpretação dos ensaios.

A principal diferença entre as duas definições está no fato de que a velocidade de


deformação constante é também uma condição para alcançar os estados de regime
permanente (SLADEN et al., 1985). Dessa forma, as diferenças poderiam ser
significativas para comportamento de argilas, mas desprezíveis quando se estuda o
comportamento de areia. Portanto, neste trabalho será aceito que, para areias, os estados
críticos e os estados de regime permanente são os mesmos, e as nomenclaturas utilizadas
aqui serão as seguidas por TELLES (2017), considerando os Estados de Regime
Permanente.

2.4.2. Linha de Regime Permanente


De forma a facilitar a aplicação dos conceitos dos estados de regime permanente
nos problemas práticos, CASTRO et al. (1982) consideraram útil a descrição de três
elementos do solo: a tensão normal efetiva octaédrica (p’), a diferença entre as tensões
principais maior e menor (q) e o índice de vazios (e). Unindo todos os pontos referentes
à condição nos estados de regime permanente, onde as tensões efetivas apresentassem
uma relação única com o índice de vazios, determinar-se-ia a Linha de Regime
Permanente (SSL – Steady State Line) (SLADEN et al., 1985). A SSL no espaço 3D é
curva e está representada na Figura 2.11.

No plano e:p’ a SSL é uma curva, porém pode apresentar um comportamento


linear quando representada num plano e:ln p’, representada pela Equação 2.5.

22
𝑒𝑠𝑠 = 𝛤 − 𝜆𝑆𝑆𝐿 × ln(𝑝′ 𝑠𝑠 ) 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑞 < 0 𝑜𝑢 𝑞 > 0 [Equação 2.5]

Onde:

𝜆𝑆𝑆𝐿 é a inclinação da SSL no espaço e:ln p’

𝛤 é o valor do índice de vazios para 𝑝′𝑠𝑠 unitário

Figura 2.11. Linha de regime permanente no espaço q:p’:e (ATKINSON & BRANSBY, 1978)

A teoria ainda prevê que a SSL e a Linha de Adensamento Isotrópico (ICL,


Isotropic Consolidation Line) são paralelas (ATKINSON & BRANSBY, 1978). A
Equação 2.6 define a ICL:

𝑒 = 𝑁 − 𝜆𝐼𝐶𝐿 × ln(𝑝′ 0 ) [Equação 2.6]

Onde:

𝜆𝐼𝐶𝐿 é a inclinação da ICL (igual a 𝜆𝑆𝑆𝐿 ) no espaço e:ln p’

𝑁 é o valor do índice de vazios para 𝑝′0 unitário

𝑝′0 é o valor da tensão efetiva de adensamento isotrópico

BEEN & JEFFERIES (2016) ressaltam que  𝜆𝑆𝑆𝐿 e 𝑁 são propriedades


intrínsecas do solo, ou seja, não são afetadas pela estrutura, histórico de tensões, índice
de vazios, etc.

23
No plano q:p’a SSL é uma reta que passa pela origem e é representada pela
Equação 2.7.

𝑞𝑠𝑠 = 𝑀 × 𝑝′ 𝑠𝑠 [Equação 2.7]

Os valores de 𝑝′ 𝑠𝑠 e 𝑞𝑠𝑠 , considerando os valores de tensão axial efetiva (𝜎 ′ 𝑎 ) e


tensão radial efetiva (𝜎′𝑟 ), nos estados de regime permanente, são definidos pelas
Equações 2.8 e 2.9, respectivamente.

𝜎′𝑎 +𝜎′𝑟 +𝜎′𝑟


𝑝′𝑠𝑠 = [Equação 2.8]
3

𝑞𝑠𝑠 = 𝜎 ′ a − 𝜎 ′ r [Equação 2.9]

O valor de M irá depender da magnitude da tensão principal intermediária (𝜎′2)


em relação às outras tensões principais (BEEN & JEFFERIES, 2016). Dessa forma, o
valor de M para a condição de compressão triaxial (𝑀𝑡𝑐 ) é definido pela Equação 2.10.

6 sin 𝜙′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐
𝑀𝑡𝑐 = [Equação 2.10]
3− sin 𝜙′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐

Onde 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 é o ângulo de atrito no estado de regime permanente determinado por


ensaios triaxiais de compressão.

Para a condição de extensão triaxial, o valor de 𝑀𝑡𝑒 , facilmente demonstrado, se


relaciona com o ângulo de atrito no estado de regime permanente obtidos em ensaios
triaxiais de extensão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 ) de acordo com a Equação 2.11.

6 sin 𝜙′𝑠𝑠,𝑡𝑒
𝑀𝑡𝑒 = [Equação 2.11]
3+sin 𝜙′𝑠𝑠,𝑡𝑒

BEEN & JEFFERIES (2016), utilizando os dados de ensaios de CORNFORTH


(1961, 1964), na areia de Brasted, apresentam o valor de 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 de 27,9°, que corresponde
a 𝑀𝑡𝑒 = 0,8. Os valores encontrados de 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 e 𝑀𝑡𝑐 , a partir de ensaios triaxiais de
compressão foram de 31,6º e 1,27., respectivamente.

Outros autores, como BOLTON (1986) e GREEN (1971) relataram não encontrar
diferenças significativas entre os ângulos de atrito nas condições de compressão e
extensão (diferenças menores que 2°).

BEEN & JEFFERIES (2016) observam que, como há uma ausência geral de
informações sobre o ângulo de atrito no estado de regime permanente ( 𝜙 ′ 𝑠𝑠 ), tanto para

24
as condições de extensão triaxial quanto para deformação plana, e devido à variação
encontrada nos poucos dados disponíveis, é comum utilizar a compressão triaxial como
condição de referência para determinar o parâmetro M.

Essa variação dos valores encontrados para ângulo de atrito a partir de ensaios
triaxiais de compressão ou de extensão também foi apresentada no capítulo 2 quando foi
discutida a influência da tensão principal intermediária no ângulo de atrito efetivo do solo,
bem resumido por SAYÃO (1989) na Figura 2.7.

Outros resultados relacionados com a determinação dos parâmetros do estado de


regime permanente utilizando o ensaio triaxial de extensão serão apresentados no
Capítulo 3.

2.4.3. Unicidade da SSL


Segundo BEEN & JEFFERIES (2016) a aplicação da Teoria dos Estados Críticos
em análises mais complexas, como na avaliação do potencial de liquefação de solos
arenoso, requer a condição de SSL única, independente dos caminhos de tensões e das
condições de ensaio. Se a unicidade da SSL for garantida, sempre será possível conhecer
o comportamento quanto a deformação durante o cisalhamento do solo.

BEEN & JEFFERIES (2016) ainda ressaltam que alguns autores consideram a
unicidade como a condição de relação única apenas para o índice de vazios crítico (ess) e
a tensão octaédrica (p’ss), isto é, os parâmetros  e 𝜆𝑆𝑆𝐿 não são afetados pelo caminho de
tensões e processo de moldagem do CP. Por outro lado, há autores que só consideram
unicidade quando, além de   𝜆𝑆𝑆𝐿 , o parâmetro M também não é afetado, considerando
então que para cada valor de p’ss, existe apenas um valor de qss correspondente,
independentemente do caminho de tensões.

25
3. ENSAIO TRIAXIAL DE EXTENSÃO

Neste capítulo serão apresentados conceitos relacionados ao ensaio triaxial de


extensão, pois não é um ensaio de laboratório tradicional. Serão comentados problemas
recorrentes e suas possíveis soluções, além de resultados de ensaios de extensão
realizados em areias por diversos pesquisadores. Ao final, serão apresentados também
resultados relacionados com a determinação dos parâmetros dos Estados de Regime
Permanente a partir dos ensaios de extensão.

3.1. O ensaio triaxial de extensão


O ensaio triaxial é um dos ensaios mais utilizados e versáteis para investigação do
comportamento do solo. O ensaio permite reproduzir em laboratório diferentes condições
de tensões e deformações, fornecendo parâmetros de resistência e de deformabilidade.

Num ensaio triaxial, tanto de compressão quanto de extensão, um corpo de prova


cilíndrico é submetido a uma tensão radial (σr) e a uma tensão axial (σa). Supondo que
não existam tensões cisalhantes nas bases nem nas geratrizes do corpo de prova, o plano
horizontal e os planos verticais seriam os planos principais de tensões.

No ensaio de extensão, σr é a tensão principal maior (σ1) e também a tensão


principal intermediária (σ2), enquanto σa é a tensão principal menor (σ3), ao contrário do
ensaio de compressão (σa= σ1 e σr = σ2 = σ3). A tensão desviadora (σd) é a diferença entre
σa e σr em ambos ensaios (𝜎𝑑 = 𝜎𝑎 − 𝜎𝑟 ).

Os ensaios de compressão e extensão ainda podem ser de três categorias: adensado


drenado (CD), adensado não-drenado (CU) e o ensaio não adensado e não drenado (UU)
ou ensaio rápido. Os ensaios CD e CU possuem três etapas: saturação, adensamento e
cisalhamento. Enquanto o ensaio UU possui apenas duas etapas: confinamento sem
drenagem e cisalhamento.

A fase de adensamento pode ser realizada com tensões hidrostáticas (σ1 = σ2 = σ3),
caracterizando o adensamento isotrópico (ou hidrostático), ou com tensões diferentes
(geralmente σ1 > σ2 = σ3), caracterizando o adensamento anisotrópico. Somente na última
etapa, a de cisalhamento, que os ensaios de compressão e extensão diferem, e essa
diferença aparece nos caminhos de tensões, como apresentados no item 2.2.5. Num ensaio
de extensão, pode-se aumentar a tensão radial mantendo-se a vertical constante, ou pode-
26
se diminuir a tensão axial no topo do corpo de prova, aplicando para isso uma força de
tração no pistão (extensão por descarregamento axial), mantendo a tensão radial
constante.

A Figura 3.1 ilustra um típico equipamento de ensaio triaxial e as tensões atuantes


num ensaio de extensão por descarregamento axial: a tensão confinante (σ’c) que é σ’r e
Δσd de tração que é igual à variação da tensão principal menor.

Figura 3.1. Esquema do triaxial de extensão por descarregamento axial (SOUZA PINTO, 2006).

HEAD (1986) explicou a variação de tensões principais num ensaio de extensão


pela Figura 3.2, indicando que σ’c (igual a σ’r) é aplicada no topo do corpo de prova no
início da fase de cisalhamento e irá decrescer até um valor limite que será o valor de σ’a
na ruptura (σ’af), sempre positiva (compressão).

Figura 3.2. Variação das tensões principais num ensaio de extensão (HEAD, 1986)

27
Como as primeiras câmaras triaxiais foram elaboradas para ensaios de
compressão, HEAD (1986) também explica as etapas e modificações necessárias a serem
realizadas no equipamento convencional para que seja viável a realização de um ensaio
de extensão, que são as seguintes: a) topcap e pistão interligados ou fixos, possibilitando
a aplicação e medição de uma força ascendente; b) sistema de fixação da célula triaxial
no prato da prensa (parafusos ou braçadeiras), para garantir que o movimento do prato
seja transferido apenas para o deslizamento relativo entre a câmara e o pistão; c) medição
direta do carregamento axial, sugerindo na época, anéis dinamométricos de tração ou o
uso de dois anéis de compressão; além de alguns cuidados especiais.

Atualmente existem equipamentos modernos e automatizados que garantem


executar todos os caminhos de tensões possíveis num ensaio triaxial, tanto por controle
de deformação quanto por controle de tensão. Entretanto, os ensaios de extensão são mais
propícios a erros que os de compressão e, por isso alguns cuidados devem ser tomados
mesmos nos equipamentos mais modernos. Alguns deles serão descritos a seguir.

3.2. Problemas e cuidados no ensaio triaxial de extensão


Nos ensaios triaxiais de extensão algumas correções no cálculo da tensão
desviadora devem ser realizadas e alguns cuidados devem ser tomados referentes à
execução do ensaio.

3.2.1. Influência da Membrana de Látex


DUNCAN e SEED (1967) estudaram a influência da membrana em ensaios de
compressão e concluíram que a correção é tão mais importante quanto menor o nível de
tensões do ensaio ou quanto menor a resistência do material (por exemplo argilas moles).
Por outro lado, num ensaio de extensão, a membrana de látex é submetida a um
alongamento gerando uma força de tração na célula de carga.

WU e KOLYMBAS (1991) realizaram ensaios de extensão com intuito de


verificar a parcela na tensão desviadora causada pela resistência da membrana. Utilizaram
as seguintes hipóteses: I) não há deslizamento na interface membrana/corpo de prova; II)
a membrana mantém um formato constante durante o cisalhamento, ou seja, um cilindro
de parede fina; III) as deformações axiais do corpo de prova e da membrana são iguais e
são medidas nos ensaios. IV) a espessura da membrana se mantém constante.
28
A Figura 3.3 mostra a aplicação da correção da membrana em um resultado de
ensaio com tensão confinante de 50 kPa para uma areia compacta. Observa-se que a
diferença entre as curvas se torna mais evidente após cerca de 3% de deformação,
reduzindo o valor da ordenada no gráfico, (𝜎1 − 𝜎3 )/(𝜎1 + 𝜎3 ), que é o valor de sin 𝜙′.
WU e KOLYMBAS (1991) também concluíram que, para ensaios de extensão, a
influência da membrana no ângulo de atrito é mais significativa para baixos níveis de
tensão, como pode ser visto na Figura 3.4 (onde TC é ensaio de compressão e TE ensaio
de extensão).

Figura 3.3. Efeito da membrana no resultado de ensaio triaxial de extensão (WU e KOLYMBAS, 1991)

Figura 3.4. Efeito da membrana no ângulo de atrito medido (WU e KOLYMBAS, 1991)

29
3.2.2. Peso próprio do corpo de prova
WU e KOLYMBAS (1991) salientam que, em alguns casos, o efeito do peso
próprio do corpo de prova não pode ser desprezado. A tensão axial no topo do corpo de
prova é ligeiramente menor que na base pois nesta, ainda há o acréscimo de seu peso
submerso. Na maioria dos ensaios, a magnitude do peso próprio é desprezível perto do
nível de tensões envolvidas, porém, em ensaios com baixo nível de tensões isso pode ser
diferente. WU e KOLYMBAS (1991) exemplificam com um ensaio em uma areia média,
compacta, com e=0,53 e Gs=2,65, tensão confinante de 50 kPa que teve uma força axial
medida na ruptura de 20 N (correspondente à força no topo do corpo de prova). A força
resultante do peso do corpo de prova, na base do corpo de prova, é de 6,7 N, ou seja, cerca
de 30% do valor da força axial medida.

Esse fator pode ser responsável pelas deformações não uniformes nos ensaios de
extensão, já que o estado de tensões varia ao longo da altura do corpo de prova (WU e
KOLYMBAS, 1991). A Figura 3.5 mostra a influência da correção do peso próprio no
ângulo de atrito do material. Percebe-se que a diferença é maior para areias compactas,
pois o peso específico do material é maior.

Figura 3.5. Efeito do peso próprio do CP no ângulo de atrito medido (WU e KOLYMBAS, 1991)

30
3.2.3. Deformações localizadas
Uma das premissas de ensaios triaxiais em corpos de prova cilíndricos é que, com
o avanço do ensaio, o corpo de prova se deforma como um cilindro reto, indicando que
todas as partes da amostra participam igualmente no processo de deformação e
resistência.

Entretanto, o que se vê na prática são deformações localizadas, que ocorrem


devido a uma concentração de deformações numa pequena região do corpo de prova.
Quando não consideradas, estas deformações localizadas causam erros nos cálculos de
tensão desviadora do ensaio.

ROSCOE et al. (1963) realizaram ensaios drenados de extensão em areias


saturadas e verificaram a ocorrência de deformações localizadas, na região central do
corpo de prova, um estrangulamento da área transversal (neck). Chamaram este fenômeno
de “necking”. Além disso, verificaram a presença de planos de cisalhamento igualmente
espaçados nesta região.

HEAD (1986) cita a ocorrência de necking nos ensaios de extensão devido ao


efeito de atrito nas extremidades do corpo de prova (base e topcap) e sugere a utilização
de base e topo lubrificado (“free ends” afim de obter melhor correlação com ensaios de
compressão. HEAD (1986) enfatiza que o problema de atrito nas extremidades também
ocorre nos ensaios de compressão, porém sua influência é menor nos resultados.

WU e KOLYMBAS (1991) investigaram a influência da compacidade relativa


inicial no desenvolvimento das deformações localizadas nos ensaios de extensão em uma
areia média com grãos subarredondados. Nos ensaios foram utilizados “free ends’ e
medidores de deslocamentos radiais em 3 alturas diferentes dos corpos de prova, afim de
acompanhar a deformação dos corpos de prova, com diâmetro inicial de 100mm. A Figura
3.6a) apresenta o resultado para a areia compacta e a Figura 3.6b) para areia fofa.

Para areias compactas, os autores verificaram o surgimento do neck no topo do


corpo de prova, próximo ao topcap, e planos de cisalhamento marcantes foram
observados no final do ensaio. Já para areias fofas, nem todas as amostras apresentaram
planos de cisalhamento e as deformações localizadas se concentraram no centro do corpo
de prova, com certa simetria em relação ao centro. WU e KOLYMBAS (1991)
verificaram então que a utilização de topo e base lubrificados não evitava as deformações
localizadas.

31
Figura 3.6. Deslocamento radial em ensaios triaxiais em areia (D0 = 100mm) a) compacta b) fofa (WU e
KOLYMBAS, 1991)

A Figura 3.7a) e a Figura 3.7b) apresentam os corpos de provas no final do ensaio


para a areia compacta e areia fofa, respectivamente. Os corpos de prova alcançaram
aproximadamente 14% de deformação axial e pode-se verificar o neck, mais pronunciado
e próximo do topo, para a areia compacta.

Figura 3.7. Imagem dos CPs ao final do ensaio a) areia compacta b) areia fofa (WU e KOLYMBAS,
1991)

YAMAMURO e LADE (1995) realizaram uma gama de ensaios de extensão


também com o objetivo de estudar a influência das deformações localizadas nos

32
resultados. Os autores utilizaram um acessório que condicionava deformações uniformes
no CP, considerados por eles como ensaios ideais. O acessório proposto por
YAMAMURO (1993) consiste em um conjunto de membranas lubrificadas e pequenas
placas metálicas curvas, fornecendo planos semirrígidos para atuação da tensão
confinante, condição que favorece a ocorrência de deformações uniformes ao longo do
CP. A Figura 3.8 apresenta este acessório e detalhes estão descritos em YAMAMURO
(1993).

Figura 3.8. Acessório que condiciona deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)

Os autores realizaram ensaios de extensão utilizando este acessório e


compararam com os resultados obtidos nos ensaios de extensão com a ocorrência de
necking, utilizando topo e base lubrificados e alargados (os quais eles chamam de ensaios
convencionais). Os ensaios foram drenados em CPs arenosos moldados com densidade
relativa (Dr) de 90%, e tensões confinantes variando entre 0,25 MPa e 68 MPa (tensões
superiores às usuais em engenharia geotécnica).

A Figura 3.9 apresenta a comparação dos resultados entre o ensaio de extensão


convencional (conventional) e o de extensão com deformações uniformes (uniform
strain), para o ensaio de 26 MPa, com comportamento contrátil. YAMAMURO e LADE
(1995) concluem que a ocorrência de necking não afeta as deformações volumétricas em
materiais contráteis, entretanto diminui a tensão desviadora, e consequentemente o ângulo
de atrito do material. Os autores ainda apresentam na mesma figura um terceiro ensaio
33
(uniform strain with plate friction) que são ensaios nos quais eles não consideraram a
parcela de atrito que as pequenas placas metálicas geram ao redor dos CPs.

Figura 3.9. Comparação entre os resultados do ensaio convencional e o ensaio com deformações
uniformes a) σd versus εa b) εv versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)

Os resultados dos ensaios de extensão drenados convencionais, com tensões


confinantes de até 8MPa, estão na Figura 3.10, em função da razão entre as tensões
principais (σ1/σ3). A tensão desviadora foi calculada a partir da proposta teórica de que o
CP se mantém um cilindro reto durante todo o processo. Como esperado, observou-se
que, à medida que cresce a tensão confinante, a razão de resistência de pico diminui
significativamente e a dilatância é inibida.

34
Figura 3.10. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais dilatantes a) σ1/ σ3 versus εa b) εv
versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)

Para os ensaios de extensão convencionais com tensões acima de 17,5 MPa, nos
quais predomina o comportamento contrátil do solo, a influência da tensão confinante na
razão de resistência de pico e nas deformações volumétricas é muito menor, como pode
ser visto na Figura 3.11.

35
Figura 3.11. Resultados dos ensaios triaxiais drenados em materiais contráteis a) σ1/ σ3 versus εa b) εv
versus εa (YAMAMURO e LADE, 1995)

YAMAMURO e LADE (1995) definiram uma maneira de avaliar a ocorrência


das deformações localizadas, calculando a razão entre a área real do CP no neck e a área
média teórica durante o cisalhamento. Se fossem deformações uniformes, a razão seria
sempre unitária. Entretanto, como ocorrem diferenças entre a área das extremidades com
a do meio do corpo de prova, esse valor se apresenta menor que 1.

A Figura 3.12 apresenta a redução da razão entre as áreas em função da


deformação axial para o ensaio de 17,5 MPa, que apresentou comportamento contrátil.
Para este ensaio a razão das áreas é próxima de 0,97~0,98 até cerca de 12% de deformação
axial e, a partir deste momento, cai para um valor próximo de 0,75. A tensão máxima
ocorreu com cerca de 7% de deformação axial, indicando que o cálculo da tensão
desviadora teórica até este instante, apresenta menos erros do que após o mesmo.

Para determinar a área real do necking, os autores realizaram diferentes ensaios


sob as mesmas condições de moldagem e tensões de adensamento (cada ensaio está
representado por cada ponto preto no gráfico). Os autores então, paralisavam cada ensaio
num nível de deformação diferente, aplicavam vácuo no conjunto, e mediam a área real
36
do neck diretamente no corpo de prova. Este procedimento certamente gera alguns erros
experimentais, porém os autores consideraram desprezíveis.

Figura 3.12. Razão entre as áreas versus deformações axiais (YAMAMURO e LADE, 1995)

A Figura 3.13 compara o ângulo de atrito secante versus a tensão normal efetiva
média na ruptura dos ensaios de extensão convencionais e os ensaios de extensão com
deformações uniformes. Como previsto por YAMAMURO e LADE (1995), existe uma
maior variabilidade de resultados para os ensaios convencionais, por consequência das
deformações localizadas, mas em geral, os valores de ângulo de atrito obtidos a partir dos
ensaios convencionais são menores do que os obtidos pelos ensaios de deformação
uniforme (a favor da segurança).

Figura 3.13. Ângulo de atrito secante versus tensão efetiva na ruptura para os ensaios de extensão
convencionais e com deformações uniformes (YAMAMURO e LADE, 1995)

37
Mais tarde, LADE e WANG (2012) adaptaram o aparato utilizado por
YAMAMURO e LADE (1995) para realizarem ensaios de extensão drenados com
tensões confinantes efetivas de 49, 98 e 196 kPa, mais usuais na geotecnia.

Para diferentes valores de compacidade, os autores realizaram três tipos de ensaio:


um ensaio de extensão convencional; um ensaio com deformação uniforme com o aparato
com placas metálicas longas, e; outro ensaio com deformação uniforme com o aparato
com placas metálicas curtas. A utilização de duas placas diferentes buscava determinar a
melhor maneira de criar planos semirrígidos para atuação da tensão confinante.

Nos três ensaios, os autores calcularam a área cisalhada de maneira teórica,


considerando que o CP permanecesse um cilindro reto por todo o ensaio e também
determinaram a área real da região de cisalhamento, aplicando vácuo no CP para medição
do diâmetro, ao final do ensaio. Os resultados obtidos para os ensaios com densidade
relativa de 90% e de 50%, encontram-se nas Figura 3.14a) e Figura 3.14b). Ambos para
tensão confinante efetiva de 98kPa.

As curvas sem símbolos, indicadas com as setas inclinadas, foram obtidas a partir
da medição direta da área da região cisalhada de cada ensaio. Os valores de variação de
diâmetro do CP no final do ensaio, medidos diretamente, estão indicados ao lado de cada
curva. O diâmetro inicial para todos os corpos de prova era de 9,65cm.

Como verificado nos ensaios em altas tensões de YAMAMURO e LADE (1995),


os ensaios convencionais com o cálculo de área teórico apresentaram menores valores de
tensão desviadora, pois, a área utilizada nos cálculos é maior que a área real do neck.

Mesmo os ensaios considerados pelos autores como ideais, apresentaram


diferença entre a curva obtida pela área teórica e a área real do CP. Para o CP de Dr =
90%, as curvas obtidas pela área medida foram levemente superiores em cada tipo de
ensaio. Enquanto que para o CP de Dr = 50%, não existiu um padrão nos resultados. As
curvas obtidas pela área medida alcançaram patamares próximos para os três tipos. Para
essa compacidade, a curva do ensaio convencional utilizando a área medida alcançou o
maior valor, superando a curva do ensaio “ideal”. Além disso, maior variação de diâmetro
da região de cisalhamento ocorreu no ensaio convencional desta densidade. LADE e
WANG (2012) não explicam estas diferenças, apenas comentam que nas tensões
utilizadas, amostras ‘mais fofas’ podem estar mais sujeitas a deformações localizadas.

38
Figura 3.14. Resultados de ensaios de extensão para a) Dr = 90% e b) Dr = 50% (LADE e WANG, 2012).

YAMAMURO e LADE (1995) e LADE e WANG (2012) comparam as


deformações localizadas num ensaio de extensão convencional com uma corrente
formada por elos, em que um CP num ensaio de extensão romperia no seu ‘elo’ mais
fraco, ou seja, na região de menor resistência, ocorrendo a concentração de deformações.
Em um ensaio com deformações uniformes ou em um ensaio de compressão o
rompimento ocorreria quando a resistência média ao longo de todos os pontos fosse
superada.

Segundos os autores, este ponto fraco na massa do corpo de prova pode ser
consequência de variações da densidade e da geometria, durante a moldagem. Esse efeito
39
também é marcante em corpos de prova de materiais naturais, pela característica de
heterogeneidade dos solos.

Em suma, ensaios de extensão são mais susceptíveis a efeitos de deformações


localizadas, que impedem o cálculo das tensões principais envolvidas pela teoria que
prevê deformações uniformes. Uma maneira de determinar o nível de tensões nos ensaios
de extensão, seria então, ao invés de calcular a área da região de cisalhamento, determiná-
la diretamente.

3.2.4. Soluções para determinação das deformações localizadas


Para tentar solucionar o problema de deformações localizadas, YAMAMURO e
LADE (1995) e LADE e WANG (2012) utilizaram o apartado de deformações uniformes
e mediram o valor da área transversal diretamente, aplicando vácuo no CP ao final do
ensaio. Esse procedimento gerou algumas incertezas, principalmente relacionadas às
deformações pós-ensaio que podem ocorrer no CP nesse processo de aplicação de vácuo
e desmontagem dos equipamentos. Além disto, este procedimento não permite conhecer
a área da seção transversal nos estágios intermediários do ensaio.

WU e KOLYMBAS (1991) utilizaram medidores de deformações radiais, em três


regiões diferentes, de forma a calcular o valor da área a partir das deformações radiais.
Esse procedimento se apresenta eficaz, porém, além das dificuldades associadas à
instalação dos medidores, a formação do neck pode não coincidir com o local exato de
posicionamento dos medidores de deformações.

Durante um estudo sobre a influência da anisotropia e da ‘esbelteza’ (H/D) dos


CPs, no comportamento de resistência, LAM e TATSUOKA (1988), mesmo com topo e
base alargados e lubrificados, identificaram a formação de necking, que segundo eles,
também ocorre devido à condição de que os planos de atuação de 𝝈𝟏 e 𝝈𝟐 são flexíveis
(membrana de látex). Os autores optaram por corrigir o valor da área transversal dos
ensaios de extensão fotografando diversas fases do ensaio e medindo o diâmetro
diretamente nas fotos. Os autores observaram que erros de precisão no processo de
medição podem ter sido responsáveis pelas variações dos valores de ângulos de atrito
secante dos ensaios.

Ensaios triaxiais de compressão também podem apresentar deformações radiais


não uniformes, gerando no corpo de prova o formato “barril”. Diante disto, afim de

40
determinar a real variação volumétrica do CP a partir da deformação axial e das
deformações radiais, MACARI et al. (1997) também utilizaram métodos fotográficos.
Neste trabalho, os autores geraram um vídeo de toda a etapa de cisalhamento e,
selecionaram imagens específicas para definir o contorno do corpo de prova com auxílio
de um software de computador. Como a obtenção das imagens era externa ao acrílico do
ensaio triaxial, foi necessário realizar correções em razão dos efeitos de refração na
magnitude do CP, melhor explicadas em MACARI et al. (1997).

ZHANG et al. (2014) utilizaram métodos fotogramétricos para determinar as


deformações volumétricas em ensaios triaxiais de compressão em solos não saturados.
Nos equipamentos convencionais, a determinação da variação de volume durante o
cisalhamento é relacionada com o volume de água que entra ou sai do corpo de prova.
Qualquer variação devido à compressão das bolhas de ar num solo não saturado não seria
identificada na medição convencional.

O método de ZHANG et al. (2014) consistia em reconstruir um modelo 3D do CP


no decorrer do ensaio, permitindo a avaliação da variação de volume. Para isso, era
utilizada uma câmera fotográfica comum que seria posicionada em doze posições
diferentes em torno da célula triaxial, como ilustrado na Figura 3.15, com alvos fixados
na membrana de látex, e um software computacional que iria rastrear o contorno do CP
para cada instante do ensaio. Esse rastreamento permitia a construção virtual em 3D do
CP para diversas etapas do ensaio, como mostrado na Figura 3.16.

Figura 3.15. Metodologia utilizada por ZHANG et al. (2014) a) Posições da câmera fotográfica b) Alvos
fixados

41
Figura 3.16. Reconstrução virtual do CP para 8 etapas do cisalhamento (ZHANG et al., 2014).

3.3. Resultados de ensaios triaxiais de extensão em areias


Neste item serão apresentados alguns resultados relacionados a ensaios de
extensão realizados em areias comparados aos resultados de ensaios de compressão
triaxial. Primeiro serão apresentados resultados de ensaios que tinham como objetivo
estudar apenas a resistência máxima de areias, ou seja, determinar o ângulo de atrito de
pico (ϕ’pico). Depois, serão apresentados resultados de ensaios de extensão realizados
como intuito de determinar os parâmetros dos estados de regime permanente (SSL) para
essa condição de carregamento.

3.3.1. Resultados relacionados com a determinação de ϕ’


LAMBE & WHITMAN (1969) apresentaram um conjunto de dados de ensaios de
compressão e extensão triaxial para uma areia compacta e um resumo desses resultados
encontra-se na Tabela 3.1. Pode-se perceber uma tendência de aumento do ângulo de
atrito de pico no ensaio de extensão, apesar da diferença na fase de adensamento para os
ensaios de compressão (isotrópico) e extensão (anisotrópico).

42
Tabela 3.1. Ângulos de atrito de pico para ensaios de compressão e extensão (LAMBE & WHITMAN,
1969)

Tipo de ensaio σa0 *(kgf/cm²) σr0 **(kgf/cm²) e0 ϕ'pico


Compressão por carregamento 1,00 1,00 0,53 41°
Compressão por carregamento 3,00 3,00 0,54 40°
Extensão por carregamento 1,00 0,34 0,57 45°
Extensão por carregamento 0,34 1,00 0,55 49°

*σa0 - tensão axial de adensamento **σh0 - tensão radial de adensamento

Com resultados dos ensaios drenados de WU e KOLYMBAS (1990), realizado


em areias compactas, moldadas com pluviação seca, CORFDIR e SULEM (2008)
plotaram o ângulo de atrito de pico de cada ensaio em função da tensão efetiva na câmara
(σ’r); em função da tensão efetiva octaédrica (p’ = 2σ’r + σ’a)/3); e em função da média
entre as tensões efetivas maior e menor (s = (σ’r + σ’a)/2). Os resultados encontram-se na
Figura 3.17 onde pode-se perceber que em função de ‘s’, o ângulo de atrito secante segue
uma tendência exponencial única para ambos ensaios.

Figura 3.17. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em ensaios triaxiais em areia
compacta (CORFDIR e SULEM, 2008)

LADE e BOPP (2005) realizaram ensaios triaxiais de compressão e extensão


numa areia fina, com densidades relativas de 30%, 60% e 90%, configurando-se como
areias fofa, medianamente compacta e compacta. Foram realizados ensaios drenados com
tensões confinantes variando de 0,25 a 60 MPa.

Os valores de ângulo de atrito secante em função da tensão normal efetiva média


na ruptura para os ensaios de compressão e de extensão na areia com Dr=60%, encontram-

43
se na Figura 3.18. Estão representados então os valores de ângulo de atrito de pico para
cada ensaio (ϕ’pico).

Figura 3.18. Comparação do ângulo de atrito secante sob extensão e sob compressão para Dr=60%
(LADE e BOPP, 2005)

Os autores concluíram que os maiores valores de ângulo de atrito secante são em


baixas tensões confinantes, por ser influenciado pelo comportamento dilatante. Além
disso, o ângulo de atrito foi maior para os ensaios de extensão do que de compressão até
tensão normal na ruptura de aproximadamente 7 MPa. Após este valor o ângulo de atrito
para compressão passa a ser maior que o de extensão. Segundo LADE e BOPP (2005),
isso ocorre porque nos ensaios de compressão há mais quebra de grãos que nos de
extensão. Ocorrendo quebra de grãos durante o cisalhamento, há uma reorganização dos
grãos para uma estrutura mais compacta, o que aumenta o ângulo de atrito.

Para as três densidades relativas ensaiadas, principalmente para tensões normais


até 1 MPa, foi observado este comportamento do ângulo de atrito secante ser maior em
ensaio de extensão. A Figura 3.19 é uma adaptação dos resultados de LADE e BOPP
(2005) para ilustrar a diferença para a areia fofa (Dr=30%). Segundo os autores, foram
plotados os ângulos de atrito referentes às tensões desviadoras máximas de cada ensaio.
Sabe-se que areias fofas não apresentam pico na curva tensão-deformação, logo esses
valores de ângulo de atrito se aproximam do ângulo de atrito a volume constante (ϕcv).

CORFDIR e SULEM (2008), com os resultados de LADE e BOPP (2005) da areia


fofa (Dr=30%), plotaram o ângulo de atrito secante em função da média entre as tensões

44
efetivas maior e a menor (s= (σ’r + σ’a)/2), apresentado na Figura 3.20. Os autores
verificaram que, ao contrário das areias compactas, não existia uma relação única para os
dois tipos de ensaios triaxiais para areias fofas, isto é, o ângulo de atrito em relação à ‘s’
pode ser diferente para um dado nível de tensões dependendo do caminho de tensões. Por
exemplo, para um valor de s' = 500 kPa, o ângulo de atrito para compressão é
aproximadamente 34,5º e o para extensão é 37,5°.

Figura 3.19. Comparação do ângulo de atrito secante sob compressão e sob extensão para Dr=30%
(LADE e BOPP, 2005)

Figura 3.20. Relação entre o ângulo de atrito de pico e o nível de tensões em areia fofa (CORFDIR e
SULEM, 2008)

45
3.3.2. Resultados relacionados com o estado de regime permanente ou
estado crítico
BEEN et al. (1991) realizaram um conjunto de ensaios de compressão (drenada e
não drenada) e extensão (não drenada) na areia de Erksak, uma areia média com
graduação uniforme, com o objetivo de estudar o estado crítico a partir dos caminhos de
tensões. Realizaram ensaios utilizando tensão controlada e deformação controlada para
aplicação da tensão desviadora.

Nesta pesquisa, os autores concluíram que a linha dos estados críticos (CSL) no
plano e:p’ é independente do caminho de tensões, considerando uma precisão de ±0,01
no índice de vazios, precisão esta considerada desprezível em termos práticos. Além disto,
a CSL determinada foi bi linear, apresentando maior inclinação para valores de p’>1000
kPa. A Figura 3.21 mostra a CSL encontrada por BEEN et al. (1991). Estes mesmos
resultados foram posteriormente apresentados também por BEEN & JEFFERIES (2016).

Figura 3.21. Linha dos Estados Críticos para ensaios triaxiais de extensão e compressão (BEEN et al.,
1991)

BEEN et al. (1991) não explicitaram os valores do parâmetro M encontrados para


cada ensaio, apenas apresentaram uma lista de aproximadamente 50 ensaios realizados
com suas características de moldagem, tensão de adensamento isotrópico e ângulo de
atrito secante. A Tabela 3.2 apresenta o resultado de dois ensaios, um de compressão e

46
um de extensão, ambos realizados por controle de deformação e com o mesmo método
de moldagem de CP. Observa-se que o ângulo de atrito encontrado variou apenas 1,5°.
Cabe ressaltar que nesta pesquisa os autores não comentam sobre os erros que as
deformações localizadas em CPs arenosos podem gerar nos valores de ângulo de atrito.

Tabela 3.2. Comparação entre os ensaios de compressão e extensão (BEEN et al., 1991)

Tipo de ensaio p'0 (kPa) e0 ϕ' (°)


Compressão 500 0,776 28,9
Extensão 500 0,776 27,4

SALVATORE et al. (2017) também realizaram ensaios triaxiais de compressão e


extensão em uma areia uniformemente graduada afim de investigar a unicidade na CSL.
Os autores identificaram que ocorriam deformações localizadas nos dois ensaios e
decidiram calcular o índice de vazios da amostra no final do ensaio (ess), considerando a
variação de volume global do corpo de prova (ess,global) e considerando a variação do
volume local do corpo de prova (ess,local), ocorrida na região das deformações localizadas.
Para isto, utilizaram técnicas de tomografia computadorizada na realização dos ensaios,
e o método de Correlação Digital de Imagens (DIC – Digital Image Correlation), melhor
descritos na referência citada.

A Figura 3.22 apresenta o resultado final obtido por SALVATORE et al. (2017).
Os autores concluíram que, utilizando os índices de vazios globais, a unicidade da CSL
não é confirmada, e o caminho de tensões de extensão produzem corpos de prova mais
compactos ao final do cisalhamento. Entretanto, quando utilizaram os índices de vazios
locais, apesar de um número pequeno de ensaios de extensão, os autores consideraram
que os resultados dos ensaios de compressão e extensão mostraram uma tendência única
na relação entre ess e p’ss.

47
Figura 3.22. Linha dos Estados Críticos para extensão e compressão (SALVATORE et al., 2017).

AZEITEIRO et al. (2017) realizaram ensaios triaxiais de compressão e extensão


na areia de Hostun, uma areia fina com graduação uniforme, com o objetivo de determinar
os parâmetros do estado crítico. Os autores utilizaram medidores de deformação radial
para determinar a área transversal real cisalhada, porém relataram que, como a ocorrência
de deformação localizada (necking) variava de posição, o cálculo da área transversal
continuava impreciso. Os autores optaram por desconsiderar os resultados para
deformações axiais acima de 10%, pois a partir deste valor os efeitos do necking tornava
os dados não confiáveis.

Com os resultados dos ensaios triaxiais de compressão, os autores chegaram a um


valor de Mc = 1,265, que corresponde a um ϕ’cs= 31,5° (de acordo com a equação 2.10),
como indicado na Figura 3.23. A partir deste valor de ϕ’cs eles calcularam o valor de Me
= 0,900, também indicado na Figura 3.23. Os autores plotaram no mesmo gráfico os
valores de q e p’ no momento imediatamente antes da formação do necking nos ensaios
de extensão. Esses pontos ficaram próximos à linha definida por Me, mas estão claramente
um pouco à esquerda da linha, indicando que o Me real seria um pouco maior que 0,900.
Este valor corresponderia a um valor de ϕ’cs para extensão um pouco superior ao
encontrado em compressão.

48
Figura 3.23. Linha do Estado Crítico para a areia de Hostun (AZEITEIRO, 2017)

Pode-se verificar então, como já observado por BEEN & JEFFERIES (2016), que
ainda não há um consenso na literatura sobre a relação entre os ângulos de atrito de regime
permanente obtidos por ensaios triaxiais de extensão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 ) e por ensaios triaxiais de

compressão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 ).

3.4. Ensaios triaxiais de extensão em rejeitos de mineração


SCHNAID et al. (2013) apresentaram uma série de resultados de ensaios triaxiais
de compressão e extensão, drenados e não drenados, na condição de adensamento
anisotrópico, num rejeito de minério de ouro. A granulometria deste rejeito é silte
arenoso. Os resultados obtidos nos ensaios não-drenados mostraram geração de
poropressão positiva e os ensaios drenados mostraram compressão das amostras.

Os autores comentam que as deformações localizadas nos corpos de prova durante


os ensaios de extensão podem gerar dificuldades para os CPs alcançarem os estados
críticos. No entanto, consideraram os valores de tensão-deformação até cerca de 10-15%
de deformação axial, como suficientes para determinação dos parâmetros. A Figura 3.24

49
apresenta a CSL no plano e:p’, única, independentemente do caminho de tensões
(SCHNAID et al., 2013). Os símbolos mais à direita referem-se aos índices de vazios no
final da fase de adensamento.

Figura 3.24. Linha dos Estados Críticos do rejeito de minério de ouro (SCHNAID et al., 2013)

Os valores dos parâmetros dos estados críticos dos resultados apresentados por
SCHNAID et al. (2013) foram consultados em BEDIN (2010) e estão indicados na Tabela
3.3. A autora não apresentou o valor da inclinação da linha dos estados críticos no plano
q:p’(Mc e Me), mas apresentou os valores dos ângulos de atrito efetivo no estado crítico,
que foram diferentes.

Tabela 3.3. Parâmetros dos Estados Críticos de um rejeito de minério de ouro (BEDIN, 2010)

Ensaio k* N CSL  ϕcs'


Compressão 0,048 2,39 0,048 2,34 33°
Extensão 0,045 2,49 0,045 2,40 26º
*k – inclinação da reta de adensamento anisotrópico

50
4. ÁREA E MATERIAL DE ESTUDO

4.1. Área de coleta


A área onde foi coletado o rejeito estudado nesta pesquisa faz parte da unidade
industrial de Germano, de propriedade da Samarco Mineração S.A., localizada no
município de Mariana, Minas Gerais. Neste local eram realizadas a lavra e
beneficiamento de material bruto de minério de ferro, provenientes das Minas de
Germano e Alegria.

4.1.1. Produção de minério de ferro


O minério bruto era composto majoritariamente por quartzo e hematita (LACTEC,
2017). Após a lavra em céu aberto ou extração, o minério era transferido através de
correias para a estação de peneiramento e britagem, onde era reduzido a fragmentos de
até 12mm.

Três usinas, também chamadas de concentradores I, II e III, eram responsáveis


por beneficiar o minério e concentrar seu teor de ferro, eliminando as impurezas do
material. Nessas usinas ocorriam os processos de moagem, deslamagem e flotação.

O produto final, polpa de minério de ferro, era então transportado por um


mineroduto, com cerca de 400 quilômetros de extensão, até a usina de Ponta de Ubu, em
Anchieta, Espírito Santo (REZENDE, 2013).

Os resíduos resultantes dos processos de deslamagem e flotação, denominados


rejeitos, eram encaminhados para disposição em barragens. Os dois principais tipos
gerados eram: o rejeito fino, conhecido como lama, e o rejeito arenoso.

A unidade de Germano possuía três barragens. A Barragem de Germano era


responsável por armazenar parte da lama e do rejeito arenoso; a Barragem de Santarém
era responsável por armazenar a água utilizada no beneficiamento, e a Barragem do
Fundão, que teve sua ruptura em 2015, era responsável por armazenar lama e rejeito
arenoso, assim como a de Germano (TELLES, 2017; FLORÉZ, 2015).

A Figura 4.1 apresenta uma imagem de satélite do Google Earth, do dia 7 de maio
de 2013 da Unidade Industrial de Germano. Nela podem ser observadas as três barragens
citadas, Santarém, Germano e Fundão, além de uma mina explorada, a Mina Germano.

51
Na Figura 4.2 tem-se outra imagem de satélite da mesma área, porém referente ao
dia 9 de novembro de 2015, logo após a ruptura da Barragem do Fundão, que se deu no
dia 05 do mesmo mês. Essa imagem permite observar a área ocupada pelo rejeito após a
ruptura, inclusive o distrito Bento Rodrigues, da cidade de Mariana-MG, o qual foi
totalmente recoberto.

Figura 4.1. Complexo de Mineração de Germano em maio de 2013 (GOOGLE EARTH, 2013)

Figura 4.2. Complexo de Mineração de Germano em novembro de 2015 (GOOGLE EARTH, 2015)

52
4.1.1. Barragem do Fundão
O rejeito estudado nesta pesquisa é o rejeito arenoso proveniente da Barragem do
Fundão. Os rejeitos, tanto do Concentrador I quanto do Concentrador II, eram
descarregados nesta barragem. Os rejeitos finos e arenosos eram dispostos em
reservatórios específicos e separados. A Figura 4.3 é uma imagem de satélite da Barragem
do Fundão do ano de 2013, com a indicação de dois diques diferentes. O Dique 1 era
responsável por armazenar o rejeito arenoso e o Dique 2, o rejeito fino. O rejeito estudado
foi coletado do Dique 1 (FLORÉZ, 2015).

O dique de partida do Dique 1 tinha 30 metros de altura e foi construído em aterro


homogêneo de solo saprolítico compactado. A altura total da barragem prevista em
projeto era de 130,0 metros (SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE MEIO
SUSTENTÁVEL, 2008).

Para a construção dos próximos 100 metros de altura do aterro, foram executados
alteamentos pelo método à montante, utilizando o próprio rejeito arenoso como material
de construção. O rejeito era lançado hidraulicamente por canhões localizados na crista da
barragem e compactados na direção a montante (PAC, 2012 apud REZENDE, 2013).
Cada alteamento tinha de 5 a 6 metros de altura, com inclinação da face do talude de
jusante de 1:3 (V:H) e largura de crista de 5,0 metros.

Figura 4.3 - Barragem do Fundão e seus Diques em 2013 (GOOGLE EARTH, 2013)

53
4.2. Apresentação do material de estudo
4.2.1. Amostragem
O rejeito utilizado nesta pesquisa foi primeiramente estudado por FLORÉZ
(2015), cuja amostragem foi encomendada pela mesma autora e realizada pela
mineradora. A Figura 4.4 indica os locais da praia da barragem do Dique 1, onde foram
retiradas as amostras. Na data da amostragem a barragem possuía cerca de 68 metros de
altura.

Figura 4.4. Locais de retirada das amostras na barragem (FLÓREZ, 2015)

Durante a amostragem também se coletou material próximo aos pontos de


descarga do Concentrador I e do Concentrador II. A Figura 4.5 apresenta os rejeitos
retirados de cada concentrador, sendo cinza o rejeito do concentrador I e avermelhado o
do concentrador II. Ressalta-se que ambos são rejeitos arenosos lançados no reservatório
do Dique 1. O material fino, contido pelo Dique 2, não foi utilizado nesta pesquisa.

Após a coleta, o material foi transportado até o laboratório de Geotecnia da


COPPE/UFRJ. O procedimento completo de coleta está descrito em FLÓREZ (2015).

O material utilizado nesta pesquisa foi o mesmo material preparado e utilizado


por FLÓREZ (2015). A fim de obter um material representativo do aterro da barragem, a
autora optou por misturar os rejeitos dos dois concentradores, já que durante a operação
de descarga, os canhões mudavam de posição, ocasionando uma mistura dos materiais.
Foram misturados 10 kg úmidos de cada um dos rejeitos, cinza e vermelho,
homogeneizados e armazenados em sacos de 20 kg. Com o andamento da pesquisa, cada
saco de 20 kg era separado em amostras de 5 kg, secadas ao ar e armazenadas no
Laboratório de Geotecnia Ambiental da COPPE/UFRJ.

54
Figura 4.5. Rejeitos arenosos oriundos do (a) Concentrador I e (b) Concentrador II (FLÓREZ, 2015)

Ensaios de caracterização física, química e mineralógica foram realizados por


FLÓREZ (2015), além de ensaios triaxiais de compressão não drenados. Os ensaios foram
realizados em amostras do rejeito inalterado e após a passagem de tempo no laboratório
(100, 200 e 600 dias). Posteriormente, outras pesquisas foram realizadas com o mesmo
material: TELLES (2017) realizou ensaios de compressão triaxiais não drenados e
drenados; SILVA (2017) realizou ensaios de compressão unidimensional; PÖLZL (2018)
realizou ensaios de compressão unidimensional com altas tensões. A seguir, de forma
resumida, estão apresentados alguns resultados obtidos pelos autores citados.

4.2.2. Caracterização física, química e mineralógica


Os resultados dos ensaios de caracterização física e química do material preparado
por FLÓREZ (2015) e que foi utilizado nesta pesquisa encontram-se na Tabela 4.1.
Tabela 4.1. Resumo da caracterização física e química do rejeito inalterado (FLÓREZ, 2015)

Ensaio Rejeito inalterado


Argila 1%
Silte 29%
Areia fina 60%
Caracterização

Física

Areia média 10%


Areia grossa 0%
Gs 2,826
Fe 7,69%
Química

SiO2 88,30%
Al2O3 0,10%

55
Em relação à caracterização mineralógica, foram realizadas análises por
microscopia eletrônica de varredura (MEV), onde se observou presença de sílica e óxidos
de ferro (Figura 4.6) e também, análises por difração de raio-X DRX (Figura 4.7),
identificando o mineral quartzo e óxidos de ferro, como hematita e goethita.

Figura 4.6. Fotografias do rejeito inalterado, obtidas pela MEV (FLÓREZ, 2015)

Figura 4.7. Caracterização mineralógica - DRX (FLÓREZ, 2015)

A partir da Figura 4.6 também é possível observar o tamanho e o formato das


partículas. O tamanho das partículas é determinado pela curva granulométrica. Em
relação ao formato das partículas, podem ser classificadas como sub arredondadas ou sub
angular com baixa esfericidade. Ambas características podem estar relacionadas ao
processo de moagem durante o beneficiamento do minério de ferro.

56
4.2.3. Índices de Vazios Máximo e Mínimo
SILVA (2015) utilizou a metodologia proposta pela norma ASTM-D4253 (ASTM
2000a) para determinar o índice de vazios mínimo (emín) e obteve o valor de 0,59. Já para
determinar o índice de vazios máximo (emáx) a autora citada utilizou uma metodologia
simples desenvolvida pela mesma e descrita em seu trabalho, pela qual obteve o valor de
0,97, superior ao valor encontrado quando realizou o procedimento da norma ASTM-
D4254 (ASTM 200b).

PÖLZL (2018) também desenvolveu uma metodologia simples para determinar o


índice de vazios máximo e obteve para o rejeito o valor de 1,00.

4.2.4. Ensaios de compressão unidimensional


Ensaios de adensamento unidimensional foram realizados por SILVA (2017) e a
metodologia completa utilizada encontra-se no mesmo trabalho. Foram realizados ensaios
com tensão efetiva vertical de 800 kPa no estágio final de carregamento, com dois índices
de vazios iniciais distintos (0,70 e 0,80), de forma a avaliar o comportamento para
diferentes compacidades iniciais. A Figura 4.8 apresenta o resultado obtido pela autora
onde se pode observar que o material mais compacto apresentou o menor valor de índice
de compressão (Cc).

Figura 4.8. Curvas de adensamento unidimensional do rejeito estudado (SILVA, 2017)

57
PÖLZL (2017) realizou ensaios de adensamento unidimensional chegando ao
valor de tensão vertical de 1600 kPa, com índice de vazios inicial de 0,92. A curva de
adensamento obtida bem como os diferentes valores de Cc estão na Figura 4.9.

Figura 4.9. Curva de adensamento unidimensional do rejeito estudado e0=0,92(PÖLZL, 2018)

4.2.5. Ensaios triaxiais de compressão


FLÓREZ (2015) e TELLES (2017) realizaram ensaios triaxiais de compressão
com o rejeito estudado. Foram realizados um total de 4 ensaios drenados e 27 ensaios não
drenados. A Tabela 4.2 mostra a distribuição destes ensaios.
Tabela 4.2. Distribuição dos ensaios triaxiais de compressão realizados (TELLES, 2017).

Tensão efetiva após o adensamento - p'0 (kPa)


Tipo de Ensaio Total
50 100 150 300 400 500
CID - 1 1 1 - 1 4
CIU 5 - 6 7 1 8 27
Total 5 1 7 8 1 9 31

A partir dos resultados destes ensaios triaxiais de compressão, TELLES (2017)


determinou as propriedades do rejeito no estado do regime permanente, como pode ser
visto na Tabela 4.3, onde Γ e λSSL são, respectivamente os coeficientes linear e angular da
linha do estado de regime permanente (SSL). Mc é da inclinação linha de regime
permanente (Steady State Line – SSL) no plano p’-q, a partir de ensaios de compressão
(q positivo), que corresponde a um valor de ângulo de atrito de regime permanente de
(ϕ'ss) de 34°.

58
Tabela 4.3. Propriedades do rejeito no estado de regime permanente (TELLES, 2017)

λSSL Γ Mc ϕ'ss
0,048 1,017 1,36 34°

Serão considerados aqui, para efeito de comparação, os ensaios drenados


realizados por TELLES (2017). Sendo assim, tem-se na Figura 4.10 os gráficos q x εa e
na Figura 4.11, os gráficos εv x εa referentes a estes ensaios, nos quais podem ser
observados o comportamento contrátil de todas as amostras.

Figura 4.10. Gráfico q x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)

Figura 4.11. Gráficos εv x εa dos ensaios triaxiais de compressão drenada (TELLES, 2017)

59
5. METODOLOGIA

5.1. Ensaios de caracterização


Para a caracterização do material de estudo foram realizados ensaios de
peneiramento e sedimentação, determinação da massa específica dos sólidos e
determinação dos índices de vazios máximo e mínimo. Esses resultados foram
comparados com os obtidos por TELLES (2017).

O ensaio de peneiramento e sedimentação seguiu a NBR 7181:2016 (ABNT,


2016a). Foram obtidas duas curvas granulométricas, por meio da mesma metodologia,
exceto na fase de sedimentação, em que em uma foi adicionado o defloculante e na outra
não. O objetivo era verificar se haveria alguma diferença entre as granulometrias obtidas
pelos procedimentos com e sem defloculante, que pudesse indicar a formação de grumos
no rejeito, por exemplo.

Para determinação da densidade relativa dos sólidos (Gs) utilizou-se a NBR


6458:2016 (ABNT, 2016b).

Para a determinação dos índices de vazios mínimo e máximo foram utilizadas as


metodologias propostas pelas normas da ASTM (American Society for Testing and
Materials). As normas utilizadas são indicadas para solos não coesivos que tenham no
máximo 15% de material passante na peneira #200, condição que impediria o ensaio no
rejeito estudado, que possui porcentagem maior que o valor máximo prescrito pela norma.
Entretanto, como material passante na peneira #200 é composto basicamente por óxidos
de ferro e sílica, partículas isentas de coesão, manteve-se a utilização destas metodologias.

Para o índice de vazios mínimo (emin) foi utilizado o método 1A da ASTM-


D4253-00 (ASTM, 2000b), e para o índice de vazios máximo (emax) foram utilizados tanto
o Método A quanto o Método B da norma ASTM-D4254 (ASTM, 2000a), com intuito de
verificar qual método fornece um maior valor de emax.

O rejeito também foi fotografado em microscópio óptico a fim de identificar o


formato das partículas de quartzo e de óxidos de ferro.

60
5.2. Ensaios triaxiais de extensão
O processo de preparação e execução dos ensaios triaxiais desta pesquisa foi
realizado em dois laboratórios. Nos setores de caracterização e pavimentação do
Laboratório de Geotecnia Professor Jacques de Medina da COPPE/UFRJ foram
executadas as etapas de preparação do material e moldagem do corpo de prova. As etapas
de saturação, adensamento e cisalhamento foram realizadas no Laboratório de Mecânica
dos Solos Fernando Emmanuel Barata, da Poli/UFRJ, nos equipamentos LoadTracII e
FlowTracII fabricados pela empresa Geocomp.

5.2.1. Descrição e Calibração do equipamento


O equipamento para realização de ensaios triaxiais é composto por três módulos:
uma prensa com célula de carga para medir força axial e um LVDT para medir o
encurtamento ou alongamento do CP na direção vertical (LoadTracII) e dois módulos
responsáveis pela pressão confinante e pela poropressão, que possuem transdutores
internos de pressão e medidores de volume (FlowTracII). Além disto, há um computador
para executar o software responsável pela aquisição de dados e controle das máquinas.

Cada sensor dos componentes gera um número de contagens (cnts) que deve ser
calibrado com constantes em unidades específicas. Todos os procedimentos de calibração
estão descritos no Anexo A.

O procedimento de calibração da célula de carga, responsável pela determinação


da força axial no pistão, está descrito no item I do anexo. O valor da constante utilizada
no programa foi de 0,1353 N/cnts.

O medidor de deformação axial foi calibrado de acordo com o procedimento


descrito no item II e a constante utilizada foi de 0,00121533 mm/cnts.

O procedimento da calibração dos medidores de volume dos módulos FlowTracII,


encontra-se no item III. O valor da constante para a FlowTracII da poropressão foi de
0,00053566 cm³/cnts. Já para o módulo da pressão confinante foi de 0,0005375 cm³/cnts.

Os transdutores de pressão foram apenas verificados, com a utilização de uma


bomba de pressão, modelo 089-CAL/FANEM e também com aplicação de colunas
d’água, verificando o valor da pressão lido pelo software e pela FlowTracII. Como os
valores corresponderam, considerou-se as últimas constantes de calibração determinadas

61
por (TELES, 2013). Sabe-se que pequenas variações, da ordem de 0,5-1,0 kPa podem
existir, porém estas foram desconsideradas, pois a menor tensão confinante efetiva
utilizada nos ensaios é de 100 kPa, o que representaria no máximo 1% de erro.

Para realização de ensaios triaxiais de extensão foram necessárias três


modificações na prensa tradicional, previstas pelo fabricante e adquiridas pela Poli/UFRJ.
As modificações necessárias foram: I) acoplar um adaptador na célula de carga da prensa
capaz de prender o pistão e medir esforços de tração; II) acoplar a ponta do pistão
rosqueável no topcap do corpo de prova de forma a permitir a atuação de forças de tração
que reduzam a tensão vertical e III) fixar a base da célula triaxial de ensaio no prato da
prensa com dois parafusos. Essas três peças estão mostradas separadamente na Figura
5.1a) e fixadas no equipamento de ensaio na Figura 5.1b).

Figura 5.1. Peças necessárias para realizar o ensaio de extensão a) separadas b) acopladas no equipamento
de ensaio

5.2.2. Moldagem dos corpos de prova


A moldagem dos corpos de prova seguiu as etapas propostas por FLÓREZ (2015),
exceto que foi utilizada água destilada ao invés de fluido do rejeito, modificação também
adotada por TELLES (2017). FLÓREZ (2015) determinou qual seria o valor da massa
seca de rejeito e do teor de umidade que seriam necessários para moldar um corpo de
prova com o índice de vazios máximo neste método de moldagem, já que os índices de
62
vazios determinados em campo eram muito altos (aproximadamente 0,95-1,00). Pelo
presente método de moldagem não foi possível alcançar estes valores, mas os índices de
vazios de moldagem máximos foram de 0,85-0,90. Serão descritas aqui, todas as etapas
deste método de moldagem.

A primeira etapa da moldagem consistia então na homogeneização do rejeito seco


em estufa com água destilada. Essa etapa era necessária para fornecer ao corpo de prova
uma coesão aparente suficiente para sustentação própria. FLÓREZ (2015) determinou
que aproximadamente 292 gramas de rejeito seco e um teor de umidade de 16% seriam
suficientes. Ensaios para confirmar o teor de umidade da homogeneização foram
realizados, pelo método da estufa.

A próxima etapa consistia em realizar a dupla compactação estática. Para isso,


eram utilizados os seguintes materiais: um molde cilíndrico, de diâmetro interno igual a
5,0 cm e altura interna final de 10cm; dois colares com encaixes para o molde; dois
êmbolos, e um anel de PVC bipartido, como pode ser visto na Figura 5.2.

Figura 5.2. Acessórios para a compactação estática

Com o conjunto montado, conforme a sequência indicada na Figura 5.3a), o rejeito


era depositado dentro do cilindro com uma colher, de forma a ocupar também, parte do
volume dos anéis. Assim, o volume inicial era superior ao volume obtido após a
compactação. Com o auxílio de uma prensa hidráulica, empurrava-se os êmbolos,
superior e inferior, reduzindo o volume do material e assim compactando o corpo de
prova. As Figuras Figura 5.3b) e Figura 5.3c) mostram o antes e depois da compactação
do conjunto onde se pode observar a redução do volume ocupado pelo material.

63
) ) )
Figura 5.3. Etapas da compactação estática a) Sequência de montagem dos acessórios b) Volume ocupado
pelo material antes (TELLES, 2017) c) Volume ocupado pelo material depois (TELLES, 2017).

A seguir, realizava-se a extração do corpo de prova do interior do cilindro de baixo


para cima, utilizando extrator de amostras hidráulico. Colocava-se um disco de acrílico
na base do cilindro para auxiliar na extração, e na interface entre o disco e o corpo de
prova, colocava-se um plástico de forma a evitar perda de material.

Após a extração, determinava-se a altura do corpo de prova, três diâmetros com o


auxílio de um paquímetro e também a massa úmida do corpo de prova. Em seguida, o
corpo de prova era colocado em um berço metálico, dentro de um saco plástico e uma
caixa de isopor, com fundo umedecido, para o transporte entre os laboratórios. A Figura
5.4a) mostra o processo de extração e a Figura 5.4b) o berço e o isopor para transporte.

Figura 5.4. a) Extração do corpo de prova por um extrator de amostras hidráulico b) Isopor e berço
utilizados no transporte do corpo de prova

64
Afim de verificar se os processos de homogeneização, dupla compactação estática
e extração resultavam em corpos de prova com teor umidade uniforme, foram moldados
3 corpos de prova extras e determinadas as umidades de 3 regiões diferentes (topo, meio
e base). Para os três CPs, a região com menor teor de umidade era o topo, o que pode ser
explicado pelo processo de extração no qual esta região fica mais tempo exposta ao
ambiente externo. Entretanto, como essas diferenças eram da ordem de 0,3%, foram
desprezadas.

A última etapa consistia em montar o corpo de prova na célula do equipamento


triaxial. Tentou-se utilizar a metodologia de topo e base lubrificadas e alargados. Como
o diâmetro do topcap e da base é de 2” (50,8mm), o diâmetro inicial do CP era em média,
49,3mm e, como no ensaio de extensão o diâmetro diminui na etapa de cisalhamento,
considerou-se que a base e o topcap já eram alargados. Para a lubrificação, utilizou-se
duas membranas de látex em disco com uma camada de silicone ao meio, em ambas
extremidades. Apesar disto, o neck ocorreu, assim como verificado por LAM e
TATSUOKA (1988), WU e KOLYMBAS (1991) e YAMAMURO e LADE, (1995), que
também utilizaram topo e base alargados e lubrificados, fato que não eliminava a
tendência da formação do necking, apenas diminuía.

Isto posto, e considerando as dificuldades em posicionar o CP e montar o conjunto


com topo e base lubrificadas, optou-se por adotar a montagem comumente utilizada no
laboratório e adotada por TELLES (2017), que seguia a seguinte ordem: no pedestal da
câmara era colocada uma pedra porosa com papel filtro e apoiava-se o corpo de prova.
Em seguida, no topo do corpo de prova era colocado outro papel filtro, pedra porosa e o
topcap da célula. Por fim, uma membrana de látex era colocada e elásticos de látex eram
utilizados para vedar o conjunto. Como o rejeito apresentava alta permeabilidade, papel
filtro lateral não foi utilizado. A Figura 5.5 mostra o corpo de prova montado dentro da
célula triaxial já fechada e posicionada na prensa.

65
Figura 5.5. Conjunto montado no equipamento do ensaio triaxial

Foram realizados cerca de doze ensaios até que se descobrisse e determinasse os


procedimentos mais adequados. Os cinco ensaios da campanha final para esta pesquisa
foram identificados como ED100, ED200, ED300, ED400 e ED500. ‘ED’ referente a
Ensaios Drenados, e os números são referentes às tensões de adensamento isotrópico
utilizadas.

5.2.3. Saturação, adensamento isotrópico e cisalhamento


A etapa de saturação do corpo de prova era feita primeiramente com percolação.
Aplicava-se uma pressão confinante de 16 kPa e uma poropressão de 15 kPa na base do
CP. Abria-se a válvula para a pressão atmosférica no topo do corpo de prova, o que gerava
uma percolação ascendente de água deaerada, e após a percolação de cerca de 15cm³
fechava-se a válvula para equalizar a pressão interna. Esse procedimento era repetido por
3 a 4 vezes até que um volume total de 70 cm³ (aproximadamente 40% do volume do CP)
tivesse percolado a amostra.
66
Em seguida utilizava-se o método de saturação por contra-pressão com acréscimos
de pressão confinante de 50 kPa., controlando o grau de saturação pelo parâmetro “B de
Skempton”, considerando o mínimo aceitável de 0,95. A Tabela abaixo indica, para cada
ensaio, o valor de contra-pressão e o parâmetro B alcançado. A variação do valor de
contra-pressão necessário em cada ensaio é em razão da “eficiência” da etapa de
percolação.

Ensaio u0 B
ED100 465 kPa 0,975
ED200 415 kPa 0,981
ED300 465 kPa 0,979
ED400 415 kPa 0,983
ED500 365 kPa 0,985

A próxima etapa era de adensamento isotrópico, na qual se controlava a variação


do volume do corpo de prova a partir do volume de água que saia do mesmo. O próprio
equipamento fornecia a variação volumétrica, com precisão de 0,001cm³ e a etapa era
finalizada quando a curva de variação volumétrica x tempo indicasse que o CP entrou
numa condição de adensamento secundário. Como o material é arenoso, a etapa de
adensamento era rápida, com duração aproximada de 30-60 min, dependendo do ensaio.

A última fase, a de cisalhamento, iniciava-se logo após o adensamento. Todos os


ensaios foram de extensão por descarregamento axial, realizados com deformação
controlada a uma taxa de -0,05%/min. Como os ensaios de compressão drenada realizados
por TELLES (2017) indicavam que a variação volumétrica dos corpos de prova contráteis
estabilizava entre 10 – 15% de deformação axial, os ensaios foram levados até este nível
de deformações (14 - 15%), contribuindo para que não ocorressem deformações
permanentes nas membranas de látex devido aos esforços de tração. A etapa de
cisalhamento durou cerca de 5 horas.

67
• Consideração sobre o contato entre o pistão e o topcap

Nos ensaios de extensão, o pistão é inserido dentro de uma cavidade na região


superior do topcap e os dois são enroscados (Figura 5.6.a), permitindo a aplicação de uma
força de tração (Figura 5.6b). Nesta pesquisa, foi considerado que o contato entre o pistão
e o topcap é tal que não permita entrada de água nesta região, logo, parte da área do
topcap não tem contato com a água de preenchimento da câmara triaxial.

Figura 5.6. Pistão e topcap a) Separados e b) Enroscados

Este arranjo influenciará nas fases de saturação e adensamento isotrópico, quando


uma condição hidrostática deve ser aplicada ao CP. Como a pressão confinante não estará
atuando em toda área do topcap (e consequentemente no topo do CP), torna-se necessário
que o pistão aplique uma força de compressão, no topcap para “compensar” a área
ocupada por ele.

A Figura 5.7, representa um esquema deste arranjo, onde pode-se observar que as
duas peças (pistão e topcap) foram consideradas uma peça única. A Equação 5.1
representa o novo cálculo de tensão vertical (𝜎𝑣 ) considerando este arranjo e a Equação
5.2 representa o valor da força de compressão (N) necessária para atingir a condição
hidrostática.

68
Figura 5.7. Forças atuantes no topcap e pistão

Onde:

N é a força normal aplicada pelo pistão

Apist é a área real do pistão

Atopcap é a área do topcap, igual a área inicial do CP

σc é a tensão confinante produzida pela água

𝑁+ 𝜎𝑐 . (𝐴𝑡𝑜𝑝𝑐𝑎𝑝− 𝐴𝑝𝑖𝑠𝑡 )
𝜎𝑣 = [Equação 5.1]
𝐴𝑡𝑜𝑝𝑐𝑎𝑝

𝑁 = 𝐴𝑝𝑖𝑠𝑡 . 𝜎𝑐 [Equação 5.2]

Este arranjo se mostra diferente do que ocorre nos ensaios triaxiais de compressão
convencionais, nos quais durante as fases de saturação e adensamento isotrópico, toda a
área do topcap está em contato com a água de preenchimento e, consequentemente, com
a tensão confinante. E na fase de cisalhamento, a área de contato entre o pistão e o topcap
pode ser desconsiderada, por ser apenas um ponto, devido ao formato boleado da ponta
do pistão.

Durante a execução do ensaio pode-se perceber que, nas fases de saturação e


adensamento, a máquina posiciona o prato da prensa de forma a produzir uma força de
compressão que é registrada na célula de carga, confirmando que o software considera
que área do pistão ocupa parte da área do topcap, sendo necessário então, esta força de
compressão. Caso contrário, não seria necessária nenhuma força de compressão no pistão
durante estas fases, e qualquer movimento do prato ocorreria apenas a fase de

69
cisalhamento. O trecho a seguir, retirado do manual do equipamento, explica quais fatores
são levados em conta no cálculo da tensão vertical.

“The program determines the stress by combining the output of the load cell
with three other factors that come from information on the Piston Settings
window (opened by selecting Piston on the Options menu). These other
factors are the area of the piston, the weight of the piston, the friction on the
piston and the uplift (buoyancy) force on the piston due to the cell pressure.”

“The Initial Diameter is used by TRIAXIAL to determine the applied stress


during each test phases and so needs to be an accurate value

Em razão do exposto acima, tanto o peso do pistão e o empuxo que atua sobre o
mesmo, bem como o atrito entre o pistão e a tampa da célula triaxial, são fatores
importantes para a determinação correta da tensão vertical no topo do CP, pois
influenciarão diretamente no valor da força de compressão N, registrada pela célula de
carga. No próximo item serão apresentadas as maneiras como cada fator foi considerado
nos ensaios desta pesquisa.

5.2.4. Correções aplicadas


• Peso próprio do pistão e empuxo

Como explicado no item anterior, o pistão e o topcap estão engastados e foi


considerado que não ocorre entrada de água nesta região. Considerando isto, não existe
esforço de empuxo sobre o pistão durante o ensaio de extensão.

O peso do pistão é 2,68 N, que geraria uma tensão vertical de apenas 1,32 kPa
sobre o topcap de diâmetro de 50,8 mm. Porém, nos ensaios de extensão, o pistão é
parafusado na célula de carga, que é ‘zerada’ após este procedimento. Assim, o peso do
pistão também não precisa ser considerado nos cálculos de tensão vertical.

Os três ensaios triaxiais de compressão realizados nesta pesquisa seguiram as


mesmas configurações dos ensaios de extensão, ou seja, o pistão e o topcap estão
enroscados e ambos presos na célula de carga, zerada após este procedimento,
dispensando também a consideração de peso e empuxo.

70
• Atrito entre o pistão e a tampa da célula triaxial

O mais indicado em ensaios triaxiais seria medir a força axial do pistão com uma
célula de carga colocada dentro da câmara triaxial, para que não fosse preciso descontar
os efeitos de atrito estático e cinemático que podem surgir entre o pistão e a tampa da
célula triaxial. Entretanto, no equipamento utilizado nesta campanha, a leitura da força
axial é realizada por uma célula de carga externa à câmara, não sendo possível
desconsiderar o atrito.

O atrito estático entre o pistão e a tampa será importante para o cálculo da tensão
vertical durante as etapas de saturação e adensamento isotrópico, pois, como explicado
no item anterior, a união entre o pistão e o topcap exige que se aplique uma força vertical
de compressão pelo pistão. Considerando que os deslocamentos relativos entre pistão e
tampa sejam muito pequenos durante estas etapas, foi admitido que o atrito estático
influencia o valor necessário da força de compressão (N).

Durante a etapa de cisalhamento, quando é aplicada uma velocidade constante de


deslocamento descendente do prato da célula triaxial nos ensaios de extensão, ou
ascendente nos ensaios de compressão, o atrito cinemático passa a agir entre a tampa e o
pistão.

• Atrito estático

A metodologia utilizada para determinar o atrito estático que existe entre o pistão
e a tampa foi aplicar diferentes tensões confinantes e ler a força na célula de carga. O
pistão ficava acoplado na célula de carga e a célula triaxial era preenchida com água. As
pressões aplicadas na água provocavam uma força de levantamento no pistão. A Figura
5.8 mostra este procedimento e as forças envolvidas, que neste caso serão apenas o atrito
estático (At,e), a força de contato na área do pistão gerada pela pressão confinante (F),
indicada pela Equação 5.3, e a força lida pela célula de carga (R), indicada pela Equação
5.4. Como a célula de carga foi zerada após a montagem do conjunto, a fixação do pistão
e a abertura da borboleta de travamento do pistão (indicada pelo círculo vermelho), o
valor do peso do pistão é desconsiderado.

A Equação 5.5 indica que a força de atrito deveria ser o coeficiente linear da reta
obtida com os pares força x tensão após diversas aplicações da tensão confinante e, o
coeficiente angular deveria ser a área transversal do pistão. Isso significaria que o atrito

71
estático é constante para qualquer valor de tensão confinante aplicada. E, se não houvesse
atrito (At,e=0), a força lida, R, seria exatamente igual à força F.

Figura 5.8. Calibração do atrito estático

𝐹 = 𝐴𝑝𝑖𝑠𝑡 . 𝜎𝑐 [Equação 5.3]

𝑅 = 𝐹 − 𝐴𝑡,𝑒 [Equação 5.4]

𝑅 = 𝐴𝑝𝑖𝑠𝑡 . 𝜎𝑐 − 𝐴𝑡,𝑒 [Equação 5.5]

Quando se consultou o manual do próprio equipamento, percebeu-se que este


sugere considerar o atrito no pistão, utilizando o artifício de área efetiva. A metodologia
proposta no manual é a mesma citada anteriormente: aplicar diferentes tensões
confinantes e ler a força da célula de carga. O trecho a seguir foi retirado do manual do
equipamento, mostrando que o próprio fabricante reconhece a dificuldade de determinar
a parcela de atrito entre o pistão e a câmera triaxial.

“Unfortunately, it is very difficult to determine the actual frictional force


on the piston. However, there is a way of getting around this, a way that
also eliminates the need for the piston weight. The combination of weight,
friction and buoyancy force can be replaced by an effective buoyancy force
that is equal to the product of the cell pressure and an effective area.

72
Putting this effective area in the Area dialog box on the Piston Setting
window and then leaving the Weight and Friction dialog boxes with zero
is equivalent to using the actual area, weight and friction values.”

E as instruções sugeridas pelo manual para determinar esta área efetiva estão
indicadas no trecho abaixo.

“Go through the procedure of getting load cell readings while you
increase the pressure in the cell. Then plot the result and determine the
slope of the line (Excel works well for this). […] Use the value of the slope
for the effective area. We determined the effective area of the piston for
our standard triaxial system with the 3400 model triaxial cell. We did this
by increasing the cell pressure (while the cell was in contact with the load
cell button and the platen was fixed in position) and recording the
corresponding load cell reading. The effective area turned out to be
between 130 mm² (0.2 in2) and 226 mm² (0.35 in2) instead of the actual
area of 587 mm2 (0.197 in2)”

A partir da sugestão do manual é necessário assinalar que:

i) A área efetiva é o valor da inclinação da reta obtida no gráfico de força versus


tensão confinante, sendo diferente da área real do pistão, indicando então que o
atrito varia com a tensão confinante, pois caso contrário, a inclinação seria
exatamente a área real do pistão e o atrito seria o coeficiente linear da reta, como
discutido anteriormente.
ii) O coeficiente linear da reta ajustada passa a ser apenas um valor de ajuste
matemático, não tendo significado físico.
iii) Os valores de área efetiva encontrados pelo fabricante foram menores que a área
real do pistão, indicando que o atrito contribui reduzindo uma parcela da força
F. Este fato está de acordo com o sentido da força de atrito indicado
anteriormente na Figura 5.8.
iv) O manual indica que o valor desta área efetiva estava entre 130 mm² e 226 mm²
(para uma área real de 587mm²), o que indica um grau de variação nos resultados
e dificuldade em considerar essa parcela do atrito.
v) Como o procedimento indicado pelo manual não sugere aplicação de
deslocamentos relativos entre pistão e tampa, o atrito estimado é o atrito estático.

73
O manual não traz informações específicas sobre o atrito cinemático. Acredita-
se que o fabricante considera suficiente esta correção do atrito.

Optou-se então por seguir as instruções do manual para considerar implicitamente


o atrito estático entre o pistão e a célula de carga durante a etapa de saturação e
adensamento isotrópico. Este procedimento de determinar a área efetiva foi realizado
imediatamente antes do início da campanha de ensaios apresentada nos resultados.

O procedimento foi realizado três vezes, com tensões confinantes entre 100 e 700
kPa (faixa de tensões utilizadas durante os ensaios de extensão), na semana anterior ao
início da campanha de ensaios.

A Figura 5.9 apresenta o gráfico Força x Pressão com o resultado das três
calibrações e a Tabela 5.1 apresenta um resumo com a área efetiva de cada calibração e a
média encontrada.

Tabela 5.1. Resumo da calibração do atrito no pistão

Área Efetiva
Calibração Média
(mm²)
1 75,4
2 75,2 76,06
3 77,6

Figura 5.9. Determinação da área efetiva do pistão

74
A área real do pistão (Apistao) é 125,4 mm² e a área efetiva média determinada foi
menor, seguindo o que foi indicado pelo manual do equipamento. Este valor de área
efetiva é registrado no software do programa, que então realiza as etapas do ensaio
considerando este valor como área do pistão. Isso implica que o atrito estático já está
sendo considerado nos dados fornecidos pelo equipamento, não sendo necessária
nenhuma correção posterior da tensão vertical.

Ressalta-se neste momento que alguns meses antes da realização da campanha de


ensaios final, uma calibração tinha sido realizada e nesta, a área efetiva determinada foi
de 110 mm². A fim de confirmar esta variação, realizou-se uma última calibração um mês
após a campanha de ensaios, e o valor obtido desta vez foi de 98 mm².

Acredita-se que esta variação da área efetiva, que reflete o valor do atrito estático
entre o pistão e a tampa, está diretamente relacionada com o aperto dos dois parafusos da
peça que envolve o pistão (Figura 5.10). Estes parafusos são responsáveis por vedar o
orifício no qual o pistão se movimenta, evitando qualquer vazamento da água de
preenchimento. Deve existir um “ponto ótimo” de aperto dos parafusos, que não permita
o vazamento de água (mesmo com altas pressões confinantes) ao mesmo tempo que gere
o menor valor de atrito estático possível.

Figura 5.10. Detalhe dos parafusos da tampa que influenciam no atrito estático no pistão

Nos procedimentos esporádicos de limpeza do equipamento é necessário


desmontar as peças e reaplicar o aperto cuja magnitude depende do operador e pode
variar. Portanto, sugere-se fortemente que o valor da área efetiva seja determinado
imediatamente antes do início de cada nova campanha de ensaios, caso seja utilizado este
artifício.

Neste trabalho foi utilizado o valor de 76,06 mm² determinado imediatamente


antes da campanha final.
75
• Atrito cinemático

O procedimento sugerido pelo manual faz referência apenas ao atrito estático. No


instante imediatamente anterior ao início do cisalhamento, o CP encontra-se num estado
de tensões hidrostático e a tensão desviadora é nula.

A partir deste instante, quando começa o cisalhamento, qualquer variação na força


lida pelo pistão indica a existência de uma tensão desviadora. A prensa movimenta a
câmara com velocidade constante enquanto o pistão fica preso à célula de carga. A partir
de então, se faz necessário descontar a parcela de atrito cinemático. Como nenhuma
informação sobre o atrito cinemático é fornecida ao software, optou-se por descontá-lo
posteriormente.

Para tentar determinar o atrito cinemático que ocorre entre o pistão e a tampa,
optou-se por manter a mesma configuração do atrito estático (apenas o pistão acoplado
na célula triaxial dentro da câmera triaxial) e, mantendo constante uma determinada
tensão confinante, promover o deslocamento descendente do prato, simulando o que
ocorre no ensaio de extensão. Desta forma, as forças atuantes no sistema seriam as
mesmas indicadas anteriormente na Figura 5.8. Considerando que o movimento
descendente do prato gera um deslocamento relativo do pistão para fora da câmara, o
sentido da força de atrito cinemático (At,c) que surge no pistão será o mesmo que o sentido
do atrito estático.

Para cada valor de tensão confinante, aplicou-se um deslocamento descendente do


prato de aproximadamente 15mm (que corresponde a 15% de deformação axial de um
CP com 10 cm de altura) numa taxa de 0,05 mm/min, mesma velocidade utilizada nos
ensaios de extensão desta pesquisa. Assim como nos ensaios, os testes foram realizados
passando vaselina no pistão e no orifício por onde ocorre o deslizamento.

Os gráficos obtidos em cada teste estão apresentados na Figura 5.11 e para todos
os valores de tensão confinante, observa-se que a célula de carga indicou uma oscilação
da força, mesmo sem nenhuma variação no sentido de movimento do prato. Este
comportamento oscilatório do atrito cinemático também foi identificado por TELES
(2019) em testes similares realizados num equipamento do mesmo modelo.

76
Figura 5.11. Gráficos Força x Deslocamento para o atrito cinemático de diversos valores de tensão
confinante

Acredita-se que este comportamento está relacionado com o fenômeno conhecido


como stick-slip (LAMBE & WHITMAN,1969).

Sabe-se que o coeficiente de atrito estático entre duas superfícies é maior que o
coeficiente de atrito cinemático. Por isto, a força necessária para iniciar o movimento (sair
da inércia) é maior que a força necessária para manter o movimento. A Figura 5.12
representa a força de atrito x tempo (ou deslocamento). A seta para baixo indica apenas
que a força de atrito tem sentido contrário ao sentido positivo do movimento.

Figura 5.12. Força de atrito, estático e cinemático, numa superfície perfeitamente lisa (LAMBE &
WHITMAN,1969)

Quando existe uma diferença entre os atritos estático e cinemático pode ocorrer o
fenômeno conhecido como stick-slip (agarra-escorrega). A força cisalhante aumenta até
atingir o valor do atrito estático, quando o deslizamento começa. Neste momento, parte
da energia elástica que estava armazenada no mecanismo de carregamento é liberada,
acelerando o corpo deslizante e fazendo com que a força cisalhante medida caia abaixo
do mínimo necessário para manter o movimento, fazendo o deslizamento parar. O

77
movimento só recomeçará quando a força cisalhante aumentar até o valor necessário para
vencer o atrito estático e o ciclo se repete. Sob tais condições não se pode determinar
exatamente qual o valor do coeficiente de atrito cinemático e por isso, utiliza-se uma
média entre o atrito estático e a força que fez o fim do movimento. A Figura 5.13
representa este fenômeno.

Figura 5.13. Fenômeno do stick-slip (LAMBE & WHITMAN,1969)

O fato de nenhuma superfície ser perfeitamente lisa e sempre apresentar micro


irregularidades, também pode acarretar no fenômeno de stick-slip, podendo ser mais
facilmente compreendido. A Figura 5.14 apresenta este fenômeno. As asperezas entre as
superfícies podem causar variação nos deslocamentos e, deslizamentos rápidos podem
acontecer sempre que uma aspereza passa do topo de outra aspereza. Isso vai acarretar
em picos na força de atrito cinemático.

Figura 5.14. Fenômeno stick-slip numa superfície irregular (CBPF, 2005)

Dependendo da escala do problema essas irregularidades podem ser


desconsideradas, pois as variações são pequenas se comparadas com a magnitude do atrito
cinemático médio.

78
Em relação ao problema de atrito cinemático entre o pistão e a tampa da célula
triaxial, acredita-se estar mais relacionado à primeira forma de stick-slip, quando alguma
parcela de energia elástica do material do pistão pode ser liberada e causar o fenômeno.
Utilizou-se um microscópio e verificou-se que o pistão apresentava ranhuras com
espaçamentos iguais, mas da ordem de apenas 0,1 mm (Figura 5.15), ao contrário dos
picos observados na Figura 5.11, que são espaçados em aproximadamente 5mm. Por isto,
as ranhuras do pistão não podem explicar a variação do atrito cinemático.

Figura 5.15. Ranhuras no pistão a partir de um microscópio aumentado 40x

Considerado o exposto acima, optou-se por lançar os valores máximo e mínimo


do atrito cinemático (pico e vale) para cada tensão confinante em um gráfico Força x
Tensão confinante. A linha e marcadores pretos indicam os valores médios que foram
utilizados na correção da tensão desviadora (Figura 5.16). Como pode ser visto, houve
uma leve tendência de aumento do atrito cinemático com a tensão confinante.

A partir da tensão confinante total de cada ensaio, determinou-se o valor da força


de atrito cinemático (𝐹𝑎,𝑐 ) pela equação de ajuste linear para a média (Equação 5.6) e, a
partir daí, calculou-se parcela de tensão desviadora que deve ser descontada durante a
etapa de cisalhamento, a partir da Equação 5.7.

𝐹𝑎,𝑐 = 0,0005 . 𝜎𝑐 + 6,96 [Equação 5.6]

1 𝐹𝑎,𝑐
𝜎𝑎,𝑐 = . [Equação 5.7]
1000 𝐴𝑐𝑝

79
Onde,

𝜎𝑐 é a tensão confinante total no ensaio [kPa]

𝜎𝑎,𝑐 é a parcela referente ao atrito cinemático [kPa]

𝐹𝑎,𝑐 é a força de atrito cinemático [N]

𝐴𝑐𝑝 é a área do CP em cada instante do cisalhamento [m²]

Figura 5.16. Força de atrito cinemático x tensão confinante

Uma maneira diferente de considerar o atrito, mas que corresponde


matematicamente à maneira utilizada aqui, seria descontar da força de atrito cinemático
a força lida pela célula de carga durante a fase cisalhamento.

Considerando 100 kPa de tensão confinante e um CP com diâmetro de 5 cm


(0,001963 m²), a força de atrito cinemático seria de 7,02 N  1,74 N. Isso representa uma
parcela de tensão desviadora de 3,6 kPa  0,9 kPa.

• Membrana de látex

Como discutido no capitulo 3, a membrana de látex, durante o ensaio de extensão,


opõe-se à deformação axial e, assim produz uma tensão de tração que deve ser descontada
da tensão desviadora referente somente ao solo. Para o cálculo da tensão desviadora
referente à membrana, foi utilizada a mesma metodologia proposta por WU e
KOLYMBAS (1991).

80
Os autores sugerem que a parcela da força de tração gerada pela membrana pode
ser estimada pela Equação 5.8.

𝐹𝑚 = 𝜋. 𝐷. 𝑡. 𝐸𝑚 . 𝜀𝑎 [Equação 5.8]

Onde,

𝐹𝑚 é a força de tração, em N, devido à deformação da membrana, e que será


registrada pela célula de carga.

𝐷 é o diâmetro inicial da membrana, que vale 2” (50,8 mm)

𝑡 é a espessura da membrana, que vale 0,012” (0,3048 mm, é ser considerada


constante durante o ensaio.

𝐸𝑚 é o módulo de elasticidade da membrana, que vale 1,668 MPa

𝜀𝑎 é a deformação axial, que será igual à deformação axial do CP, considerando


não ocorrer deslizamento entre a membrana e o solo.

Para determinar o valor da constante 𝐸𝑚 , foi realizado ensaio de tração simples na


membrana, no próprio equipamento de ensaio. Como durante o ensaio de extensão as
membranas poderiam ter deformações plásticas e algumas seriam utilizadas, também foi
determinado o valor de 𝐸𝑚 de uma membrana já utilizada. Como uma pequena diferença
foi encontrada, foi sempre considerada a constante referente a uma membrana nova para
os cálculos de tensão desviadora. Detalhes do procedimento realizado encontram-se no
item V do Anexo A e o gráfico obtido em tensão (MPa) x deformação (%) para a primeira
calibração, com uma membrana nova, está apresentado na Figura 5.17. Nesta primeira
calibração também foram medidos os deslocamentos visualmente, com o objetivo de
comparar com os resultados da máquina. O valor médio determinado pelos três ensaios
foi de 1,668 MPa.

A partir do valor de força de tração gerada pela membrana em cada instante do


ensaio, pode-se descontá-la diretamente da força lida pela célula de carga ou, pode-se
calcular a parcela da tensão desviadora no topo do CP que deve ser descontada. Optou-se
por calcular a parcela da tensão produzida pela membrana.
1 𝐹𝑚
𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 = . [Equação 5.9]
1000 𝐴𝑐𝑝

Onde,

𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 é a parcela referente à membrana em kPa

81
𝐹𝑚 é a força gerada pela membrana, em N, calculada pela Equação 5.8

𝐴𝑐𝑝 é a área do CP em cada instante do cisalhamento em m²

Figura 5.17. Determinação do módulo de elasticidade de uma membrana de látex nova

Sabe-se que, junto com a deformação axial da membrana (aumentando seu


comprimento), ocorre também uma deformação radial, que diminui seu diâmetro e que
pode gerar um acréscimo de tensão confinante. Para ensaios com baixas tensões
confinantes isso se mostra importante, como discutido em TELES (2019). Nesta pesquisa,
optou-se por desprezar esta parcela pelos seguintes motivos: a) na etapa de moldagem, o
diâmetro da membrana é levemente maior que o diâmetro do CP (50,8mm da membrana
contra 49,5mm do CP), logo, por estar “frouxa”, qualquer efeito de confinamento nesta
etapa não ocorre e; b) como o diâmetro no CP vai diminuindo no decorrer do ensaio de
extensão, considerou-se que a membrana não comprimia radialmente o CP.

Será mostrado posteriormente que as deformações axiais no corpo de prova se


mantinham uniformes até, aproximadamente, um nível de deformação de 5% a 7%, e após
este estágio, as deformações axiais ficavam concentradas na região do necking. Este fato
irá influenciar no cálculo da parcela de tensão causada pela membrana, pois a deformação
axial da membrana não será mais a calculada pela deformação axial global do CP
(calculada com base nas leituras do extensômetro vertical), mas sim pela deformação
axial na região do necking, denominada deformação axial local, estimada por fotografia.

82
• Peso próprio

O peso específico úmido médio dos corpos de prova foi de 17,7 kN/m³ e a altura
média de 9,9cm. Isso corresponde a uma tensão na base no CP devido ao peso próprio de
aproximadamente 1,75 kPa.

Como foram realizados ensaios com tensões confinantes acima de 100 kPa, a
parcela do peso próprio foi desconsiderada, pois é menor que 1,75%. No ensaio de 500
kPa essa influência é ainda menor, de apenas 0,35%. Assim, considerou-se uma
distribuição uniforme de tensões no CP ao longo de sua altura.

• Papel filtro lateral

Como o material apresenta alta permeabilidade, optou-se por não utilizar papel
filtro lateral. Logo não foram necessárias correções na tensão desviadora relacionadas à
parcela de tração que poderia estar sendo resistida por ele.

5.2.5. Solução para as deformações localizadas


Como já explicado, LAM e TATSUOKA (1988), WU e KOLYMBAS (1991) e
YAMAMURO e LADE, (1995) verificaram que, mesmo com a utilização de topo e base
alargados e lubrificados, ocorria a formação de necking. Como discutido no capítulo 3,
as deformações localizadas são inevitáveis nos ensaios triaxiais de extensão que utilizam
membrana de látex para isolar o CP, pois o ensaio terá uma condição de planos flexíveis
de atuação de 𝝈𝟏 e 𝝈𝟐 .

Para contornar este problema, ao invés de tentarem executar um ensaio com


deformações uniformes, WU e KOLYMBAS (1991) e LAM e TATSUOKA (1988)
optaram por determinar a área real transversal a atuação de 𝝈𝟑 . WU e KOLYMBAS
(1991) utilizaram medidores de deformações radiais em três locais diferentes do CP, que
apresentava como desvantagem a possibilidade de nenhum dos três medidores estarem
exatamente no centro do neck. E, LAM e TATSUOKA (1988) mediram o valor da área
transversal diretamente por fotografias imprensas que, segundo os próprios autores,
podem ter gerado erros devido à imprecisão das medidas.

Isto posto, e, considerando as limitações do equipamento de ensaio disponível


para esta pesquisa, para o cálculo correto da tensão desviadora, foram tiradas fotografias

83
digitais para a determinação da área real transversal do neck, com as devidas correções
explicadas posteriormente. Este resultado foi comparado com o obtido por meio do
cálculo convencional da área transversal, baseado em deformações uniformes.

Além disto, aproveitando que YAMAMURO e LADE (1995) identificaram que


corpos de prova contráteis apresentam menor dispersão nos resultados, os CPs utilizados
neste trabalho foram moldados com altos valores de índice de vazios, como explicado na
etapa de moldagem.

5.3. Cálculos baseados na hipótese de deformação uniforme


Serão explicados aqui os cálculos convencionais baseados na hipótese de que o
CP não perde sua forma cilíndrica durante o ensaio, ou seja, desprezando-se a formação
de necking. Esta maneira de obter a área da seção transversal do CP, a tensão desviadora,
e o índice de vazios durante o cisalhamento será denominada “convencional”.

5.3.1. Cálculo convencional da área da seção transversal do CP


Durante a etapa de cisalhamento, a área da seção transversal do corpo de prova
varia, e essa variação é em função das deformações ocorridas. De acordo com HEAD
(1986) a correção da área deve levar em conta a forma de ruptura durante o ensaio, ou
seja, se o corpo de prova irá romper num formato barril ou num formato de cilindro
uniforme.

Foi considerado que o corpo de prova se deforma em formato de cilindro, o que é


próximo da realidade observada para valores de deformação axial de até, em média, 7%,
e utilizou-se a seguinte equação para correção da área transversal do corpo de prova:

1−𝜀
𝐴𝑐𝑜𝑟 = 𝐴𝑎 ( 𝑣𝑜𝑙) [Equação 5.10]
1− 𝜀 𝑎

Onde:

𝐴𝑐𝑜𝑟 é a área da seção transversal corrigida para cada instante do ensaio

𝐴𝑎 é a área ao fim da fase de adensamento

𝜀𝑣𝑜𝑙 é a deformação volumétrica em cada instante do ensaio

84
𝜀𝑎 é a deformação axial em cada instante do ensaio, que no caso de ensaios de
extensão, é negativa

5.3.2. Cálculo convencional da tensão desviadora


O software do equipamento GeoComp fornece planilhas com dados de
deslocamento vertical (mm) e força vertical medida na célula de carga (N). A partir do
cálculo da área cisalhada durante o ensaio, a tensão desviadora de ensaio (𝜎𝑑 ) foi
calculada da seguinte maneira:

𝑁− 𝜎𝑐 × 𝐴𝑒𝑓
𝜎𝑑 = − 𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 − 𝜎𝑎,𝑐 [Equação 5.11]
𝐴𝑐𝑜𝑟

As parcelas 𝜎𝑎,𝑐 e 𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 foram explicadas anteriormente, no item 5.2.4. Neste


caso, as deformações axiais da membrana foram consideradas iguais às deformações
axiais globais do corpo de prova.

5.3.3. Cálculo convencional dos índices de vazios


Foi necessário calcular o índice de vazios do corpo de prova em três momentos
distintos: logo após a moldagem (𝑒𝑚 ), após o adensamento isotrópico (ea ), e ao final do
cisalhamento (ess ).

O índice de vazios da moldagem (em) era calculado a partir da equação a seguir:

Gs∙γw Gs∙γw ∙ 𝑉𝑖
em = −1= −1 [Equação 5.12]
γd 𝑃𝑠

Onde:

𝑒m = índice de vazios de moldagem

𝐺𝑠 = Densidade relativa dos grãos

𝛾𝑤 = peso específico da água

𝑃𝑡
𝑃𝑠 = peso seco, correspondente à ⁄(1 + 𝑤), com w sendo a umidade de

moldagem e 𝑃𝑡 o peso total úmido do CP, ambos determinados por uma balança com
resolução de 0,01g e considerando g=9,81m/s².

𝑉𝑖 = volume inicial da amostra, medido por paquímetro, com resolução de


0,05mm.

85
Para o cálculo do índice de vazios no final da etapa de adensamento (ea), que é
igual ao índice de vazios no início do cisalhamento (e0), considerou-se que todo volume
de água que saiu do corpo de prova (∆𝑉𝑎 ) durante a etapa corresponde à redução de seu
volume de vazios, assim, o volume do CP no final do adensamento (𝑉𝑎 ) será:

𝑉𝑎 = 𝑉𝑖 − ∆𝑉𝑎 [Equação 5.13]

E, como o peso seco de material é constante:


Gs∙γw ∙ 𝑉𝑎
𝑒𝑎 = −1 [Equação 5.14]
𝑃𝑠

Por último, nos ensaios drenados, foi considerado novamente que qualquer
variação no volume de vazios corresponde ao volume de água que entrou ou saiu do corpo
de prova durante o cisalhamento (∆𝑉𝑐𝑖 ), logo, o volume do CP no final do cisalhamento
(𝑉𝑠𝑠 ) será:

𝑉𝑠𝑠 = 𝑉𝑎 − ∆𝑉𝑐𝑖 [Equação 5.15]

Gs∙γw ∙ 𝑉𝑠𝑠
ess = −1 [Equação 5.16]
𝑃𝑠

Enfatiza-se que, como os índices de vazios foram calculados utilizando o volume total
do corpo de prova, são considerados como índice de vazios globais.

5.4. Cálculos baseados nas fotografias


Serão explicados aqui os procedimentos realizados para determinar o valor da
tensão desviadora que efetivamente está agindo no corpo de prova, na região das
deformações localizadas (neck). A partir de valores de deformação axial da ordem de 5%
a 7%, a área transversal estreitada torna-se muito diferente da área calculada pela teoria.
Por isto, propõe-se neste trabalho a determinação da área real estreitada a partir de
fotografias, para assim calcular com melhor acurácia a tensão desviadora.

Para determinar os valores das dimensões dos CPs através de imagens, foram
utilizados: uma câmera fotográfica da marca Apple, resolução de 12MP, com
comprimento focal de 28mm, abertura de objetiva f/1.8; e um tripé com níveis de bolha
horizontal e vertical, a fim de garantir o paralelismo entre o plano da lente da câmera
fotográfica e o equipamento de ensaio. Todas as fotos, de todos os ensaios, foram
realizadas na mesma posição. Depois, as medidas eram realizadas no software AutoCAD
e corrigidas quanto ao efeito de refração óptica.
86
A seguir, serão explicados como foram considerados o efeito de paralaxe, a
distorção radial presente em fotografias e o fenômeno de refração óptica.

5.4.1. Efeito de paralaxe em fotografia


O efeito de paralaxe consiste em um aparente deslocamento de um objeto
observado, causado por uma mudança no posicionamento do observador. Na fotografia,
a paralaxe ocorre em câmeras antigas compactas, nas quais a imagem que o visor capta
não é a mesma que a captada pela objetiva da câmera, como ilustrado Figura 5.18. Como
existem dois ângulos diferentes de visão, é comum haver um desvio no enquadramento
(DEIRÓ, 2016). As atuais câmeras e smartphones possuem visor digital que permitem
posicionar a imagem da maneira correta, eliminando este erro.

Figura 5.18. Efeito da paralaxe em câmeras compactas (MARINHO, 2009)

5.4.2. Distorção radial de fotografias


A maioria das câmeras fotográficas é formada por lentes esféricas que causam
distorções radiais. Essas distorções podem ser entendidas como um esticamento não
uniforme da fotografia, em que o centro e as bordas estão magnificados de formas
diferentes (NEON, 2014). Essas distorções radiais podem ser classificadas em três tipos:
barril, almofada e complexa, como ilustrado na Figura 5.19. Devido à construção da lente,
os cantos da fotografia são mais distorcidos. A câmera utilizada nesta pesquisa gera uma
distorção do tipo barril.

Pode-se perceber que, na região central da fotografia, as distorções são muito


pequenas e de acordo com as características da câmera fotográfica, podem ser
desprezíveis. Estas características são: o comprimento focal e abertura da objetiva. A

87
resolução da câmera irá influenciar na nitidez da imagem obtida. Além disto, já existem
softwares que corrigem automaticamente as distorções das bordas (HAGE, 2016).

Neste trabalho, foi utilizado um tripé fixo na mesma posição em todos os ensaios
e a câmera fotográfica foi posicionada a uma distância horizontal de, aproximadamente
1,0m. Esta distância foi definida de tal forma que as distorções de borda não afetassem a
imagem do corpo de prova e a nitidez ainda fosse suficiente para realizar as medições.
Optou-se por centralizar o foco da câmera no eixo de simetria vertical do CP, de forma
que, se ocorressem pequenas distorções, estas seriam simétricas.

Para confirmar se as distorções de bordas seriam desprezíveis foi utilizado o


software PhotoShop CS6 para realizar a correção de bordas, sendo verificado que ela não
seria necessária, pois na região central da fotografia, na qual estava sendo registrado o
CP, o efeito da distorção de fotografia realmente não ocorria.

A Figura 5.20 é um exemplo das imagens utilizadas nas medições, na qual pode-
se perceber que o corpo de prova está aproximadamente no eixo vertical de simetria da
imagem. Além disso, a partir das linhas de grade na fotografia, pode-se confirmar a
verticalidade do pórtico do equipamento de ensaio, nas regiões próximas à célula triaxial.

Figura 5.19. Tipos de distorção radial em fotografias (NEON, 2014)

88
Figura 5.20. Exemplo de imagem e a ausência de distorções

5.4.3. Refração óptica


Como o ensaio é realizado dentro de uma câmara de acrílico preenchida com água,
a imagem registrada pela câmera fotográfica (e também observada pelo olho humano)
está distorcida devido à refração.

Quando um raio de luz muda de meio de propagação, há variação da velocidade


de propagação e pode ocorrer mudança de direção que, segundo a ótica, é o fenômeno de
refração.

Quando um raio de luz atinge uma superfície entre dois meios, 1 e 2, com um
ângulo 𝜃1 medido com a reta normal ao ponto de contato, o ângulo do feixe de luz no
meio 2, 𝜃2 , é calculado de acordo com a Lei de Snell:

sen 𝜃1 . 𝑛1 = sen 𝜃2 . 𝑛2

O modelo físico envolvido nos ensaios triaxiais consiste em um objeto cilíndrico


(corpo de prova) imerso num meio também cilíndrico (câmara triaxial preenchida com

89
água) que produz um aumento aparente no diâmetro do corpo de prova. LOPES (2014)
explica minunciosamente este fenômeno, o qual o autor denominou de “efeito coca cola”.
A Figura 5.21, representa o fenômeno, podendo identificar o raio real do objeto (r) e o
raio aparente (rap).

Figura 5.21. Efeito da refração num objeto imerso em água (LOPES, 2014)

LOPES (2014) demonstra que, se a espessura da superfície de separação for


suficientemente pequena, e então desprezível, a proporção entre o raio aparente e o raio
real será exatamente igual ao valor do índice de refração do meio 2 relativo ao meio 1
(𝑛2 /𝑛1 ). No caso apresentado por LOPES (2014) o meio 1 é o ar e o meio 2 água, e
considerando desprezível a espessura do vidro que separa os dois meios, o raio aparente
seria 1,3321/1,0003 (índice de refração da água/índice de refração do ar) vezes maior que
o raio real.

Nesta pesquisa, optou-se por realizar as correções de refração não considerando


desprezível a espessura da câmara de acrílico (9,65mm). Conhecendo os valores dos
índices de refração da água, ar e acrílico, os valores de diâmetros interno e externo da
câmara de acrílico e a distância da câmera fotográfica até a superfície externa da câmara
de acrílico, pode-se relacionar a dimensão da imagem virtual (gerada pela refração) com
a dimensão da imagem real do corpo de prova.

Foi adotada uma pequena modificação em relação ao modelo apresentado na


Figura 5.21. Segundo EMBACHER (2014) mesmo quando a superfície de separação
entre os dois meios é curvilínea (câmara de acrílico) a superfície verdadeira de refração é
retilínea. Isso está ilustrado na Figura 5.22: a refração na interface cilíndrica acontece
não no ponto real de contato com a superfície, mas no plano tangente ao vértice (V) da
superfície cilíndrica, perpendicular ao eixo óptico. E a direção normal (N) à superfície
neste ponto é definida pela linha formada entre o ponto de contato (P) entre esta
superfície, o raio de luz incidente e o centro de curvatura da superfície (C).

90
Figura 5.22. Refração em superfície cilíndrica

A Figura 5.22 ilustra apenas a mudança de direção do raio de luz sofrida ao mudar
do meio ar para o meio acrílico. Deve ser considerada também, a mudança que ocorre na
direção do raio de luz, ao passar do acrílico para água.

A partir do novo modelo apresentado na Figura 5.22 realizou-se dois


procedimentos distintos para calcular qual seria a razão entre o raio virtual do CP (Rvirtual)
e raio real do CP (Rreal): I) foram determinadas as equações matemáticas necessárias para
determinar esta relação e variando os valores de R virtual encontrava-se o Rreal. Estes pares
ordenados forneceram um gráfico de correlação; II) com o auxílio do software AutoCAD,
o problema foi modelado em escala e, para várias posições de Rvirtual desenhado, era
determinada graficamente a posição do Rreal. Novamente, obteve-se um gráfico com os
pares ordenados (Rvirtual, Rreal), mas agora obtidos graficamente.

Os dados de entrada utilizados estão indicados na Tabela 5.2 e os dois


procedimentos completos estão no ANEXO B.

Tabela 5.2. Dados utilizados para cálculos de refração

Dados de entrada Valor utilizado


Raio externo do acrílico 66,88 mm
Raio interno do acrílico 57,23 mm
Distância entre o acrílico e o observador 970 mm
Índice de refração da água – n água 1,3321
Índice de refração do ar – n ar 1,0003
Índice de refração do acrílico – n acrílico 1,4900

91
Para o procedimento matemático, gerou-se um gráfico com aproximadamente 25
pontos, com valores de raio real entre 19 e 27mm (Figura 5.23). Para o procedimento
gráfico, gerou-se uma relação com 7 pontos, para valores de raio real variando entre
20mm e 35mm (Figura 5.24). Acredita-se que a pequena diferença entre os dois
procedimentos se deve ao fato que, para a determinação das equações, foi necessário
realizar aproximações relacionadas a pequenos ângulos.

Figura 5.23. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo obtida por meio de dedução
de equações matemáticas de refração e relações trigonométricas

Figura 5.24. Relação entre o raio virtual e o raio real do corpo de prova pelo método gráfico.

Além disto, também foi realizada a correção da refração no plano vertical do


ensaio, pois um leve aumento na magnitude da altura do corpo de prova ocorria.
Considerou-se que o plano vertical de interesse seria o que interceptava o centro do CP,
paralelo ao plano de formação da imagem na câmera fotográfica. O procedimento de
cálculo, dessa vez realizado apenas matematicamente, está apresentado também no

92
ANEXO B. Foi gerado um gráfico, apresentado na Figura 5.25, que relaciona a altura
virtual (Hvirtual) com a altura real (Hreal). A faixa de altura real foi de 5 cm a 16cm.

Para os dois cálculos, tanto no plano horizontal quanto no vertical, os valores dos
coeficientes de ajuste linear foram altos. Isso se justifica pelo fato de que o eixo da câmera
fotográfica (ponto do observador) foi posicionado a uma distância do plano de formação
das imagens virtuais (dentro da câmara de acrílico) de 97cm, valor suficientemente
elevado considerando as dimensões do CP. Assim, os ângulos de incidência dos raios na
superfície de separação dos meios variavam pouco, e as distorções tornaram-se quase
proporcionais à dimensão real, dentro da faixa de dimensões consideradas.

Além disto, o valor da razão entre o raio virtual e o raio real para os dois
procedimentos ficou muito próximo ao valor do índice de refração da água, 1,3321. Isto
se deve ao fato de que, considerando a distância do observador (97cm), a espessura do
acrílico corresponde a apenas 1% (0,96cm), que então poderia ser considerada
desprezível.

Nos cálculos desta pesquisa foi utilizada, então, a razão entre o raio virtual e o
raio real de 1,3306 e a razão entre a altura virtual e a altura real de 1,0118.

Figura 5.25. Relação entre a altura virtual e a altura real do corpo de prova.

5.4.4. Cálculo da área transversal real no neck


Após a montagem do CP na célula triaxial, enchimento da mesma com água e o
posicionamento na prensa, realizava-se a primeira fotografia (antes da fase de
percolação), com o objetivo de definir os valores iniciais de diâmetro e altura do corpo

93
de prova na imagem. A próxima fotografia retratava a fase final do adensamento. Na fase
de cisalhamento, as fotografias foram feitas a cada 0,5% de deformação axial no
cisalhamento.

Neste ponto é importante definir três nomenclaturas utilizadas:

- Diâmetro real (Dreal) altura real (Hreal): são as dimensões exatas


do CP, que no início do ensaio são obtidas pelo paquímetro. Com o
decorrer das etapas de ensaio estes valores se alteram. Não é possível
medir diretamente o Dreal, mas o Hreal pode ser medido diretamente
através dos deslocamentos verticais do pistão (extensômetro).

- Diâmetro virtual (Dvirtual) altura virtual (Hvirtual): são as dimensões


do CP distorcidas (ampliadas) pelo fenômeno de refração óptica,
devido ao acrílico da célula triaxial e à água de preenchimento. O
Dreal pode ser determinado a partir do Dvirtual (bem como Hreal pelo
Hvirtual) utilizando correções matemáticas para a refração.

- Diâmetro da foto (Dfoto) altura da foto (Hfoto): são as dimensões do


CP medidas diretamente na fotografia. Elas dependem do zoom e
escalas aplicados no AutoCAD. Eles permitem obter os valores de
Dvirtual e Hvirtual, pois são estes os registrados na foto (e vistos pelo
olho humano).

Os valores de Dreal e Hreal no início do ensaio estão disponíveis e, a partir dos


cálculos de refração pode-se determinar os valores de Dvirtual e Hvirtual para o instante
‘zero’. Com esses valores pode-se, então, criar uma ‘escala’ para a fotografia. Os valores
de Dfoto e Hfoto da fotografia no início do ensaio correspondem aos valores de Dvirtual e
Hvirtual do mesmo instante. As dimensões das próximas etapas eram determinadas pela
seguinte sequência:

Dfoto → aplica a escala da fotografia → Dvirtual → aplica as correções de refração → Dreal.

Hfoto → aplica a escala da fotografia → Hvirtual → aplica as correções de refração → Hreal.

Os valores de Hfoto, para os diversos estágios, foram determinados apenas para


conferência com os valores fornecidos pelo extensômetro vertical do equipamento. O

94
valor de Dreal. de maior interesse era o da região em que estavam ocorrendo as
deformações localizadas (formando o neck), isto é, o diâmetro da área transversal real
(Areal) da região onde realmente se concentrava o cisalhamento e que deve ser utilizada
para o cálculo da tensão axial.

Como visto no capítulo 3, a posição do necking pode ser variável, podendo ocorrer
na região central ou deslocada para o topo do CP. Devido a isto, era importante fazer as
medições de Dreal sempre na mesma posição relativa, independente do estágio do ensaio.

Para determinar a posição relativa do Dreal ao longo do ensaio, optou-se por definir
a relação entre sua posição com a base do CP a partir da última fotografia. Assim, definiu-
se o fator de proporcionalidade ‘a’, indicado na Figura 5.26a), para o instante final da
fase de cisalhamento. Este fator foi aplicado para localizar a altura do centro do neck (hi)
nas fotografias dos estágios intermediários da fase de cisalhamento em cada ensaio, como
indicado na Figura 5.26b). Os valores de Hf,foto e Hi,foto eram a altura do CP no fim do
cisalhamento e num estágio intermediário ‘i’, respectivamente. Ambos eram medidos na
fotografia.

Dessa forma, foi possível obter o valor da área transversal do CP no neck, no


decorrer do ensaio, onde efetivamente estava ocorrendo o cisalhamento e, com os valores
de força fornecidos pelo equipamento, calculou-se o valor da tensão vertical
corretamente, através da razão entre força e área real.

Figura 5.26. Determinação da posição relativa da área real cisalhada a) no final do ensaio b) em estágios
intermediários

95
5.4.5. Cálculo da deformação axial próximo ao neck
Com o intuito de verificar se as deformações axiais também eram localizadas ou
se ocorriam de forma uniforme na altura do CP, foram marcados na membrana, com tinta
preta, aproximadamente dez pontos espaçados de 1,0 cm, ao longo de uma linha vertical.

Verificou-se que as deformações axiais se mantinham uniformes até


aproximadamente 5% a 7% de deformação axial global do CP. Após este estágio
observou-se a ocorrência de deformações axiais localizadas próximas à região do necking,
enquanto que, nas demais partes do CP, as deformações cessaram.

Assim, tanto as deformações axiais quanto as radiais, após um determinado nível


de deformação axial global (que foi diferente para cada CP), se mostraram localizadas
apenas numa região próxima ao neck. As demais regiões, nas extremidades do CP,
comportaram-se como ‘zonas mortas’.

A Figura 5.27a) apresenta o CP no início do cisalhamento (0% de deformação


axial) e a medida das distâncias entre as marcações em preto na membrana (pequenas
diferenças podem estar ligadas a erros de medidas ou a deformações não uniformes na
etapa de adensamento). A Figura 5.27b) apresenta o estágio final do ensaio (15% de
deformação axial), mostrando claramente a diferença das distâncias entre as marcações
da membrana.

Este comportamento irá influenciar no cálculo da parcela da tensão desviadora


referente à membrana pois, como explicado no item 5.2.4, a força de tração gerada pela
membrana irá depender de sua deformação axial (εa) e, a partir de um certo nível de
deformação axial global do CP, a deformação axial da membrana deve ser considerada a
deformação axial local, referente à região de ocorrência do necking.

Calcular com precisão a deformação axial da membrana na região do necking não


é simples, por isso foi feito um cálculo aproximado, que será explicado a seguir.

96
Figura 5.27. Medidas entre as marcas na membrana no ED400 a) εa = 0% b) εa = 15%

A partir da Figura 5.27b), apresentada anteriormente, pode-se observar que a


membrana, ao final do ensaio, obtém uma deformação não mais uniforme, o que dificulta
determinar a parcela de força gerada por ela e também dificulta limitar precisamente a
região de formação do necking.

Como realizou-se uma análise local com o auxílio da fotografia, a região de


interesse seria a imediatamente ao redor do eixo do neck, utilizado para medir o menor
diâmetro do CP e assim calcular a área transversal real (como explicado anteriormente).
A Figura 5.28a) mostra, no final do ensaio ED200, o eixo do neck onde foi medido o
diâmetro real (linha vermelha tracejada) e a pequena região de interesse (sombreada).

Visto a dificuldade de determinar esta pequena região ao redor do menor valor de


diâmetro do CP, optou-se por definir uma região um pouco maior, que englobasse toda a
região de formação do necking, inclusive as regiões em que a membrana não se
apresentava na vertical devido à formação de planos de cisalhamento marcantes. Optou-
se por utilizar as próprias marcas da membrana como referência: a partir da última
fotografia, definiu-se quais seriam as marcas que melhor limitassem esta região e, para
estágios anteriores, sabendo quais eram as marcas escolhidas, pode-se definir a mesma
região.

A Figura 5.28b) mostra a definição desta nova região de análise, que foi utilizada
nesta pesquisa para estimar a deformação axial local, tanto da membrana quanto do CP,

97
e também para estimar a variação de volume localizada, que será explicada
posteriormente.

Figura 5.28. Ensaio ED200 com 15% de deformação axial a) Região de análise real b) Região de análise
adotada

A partir disto, pode-se determinar a altura apenas da região necking na última


fotografia (Hnec,foto), que será a distância entre as duas marcas de referência na membrana.
Para cada estágio de deformação, pode-se determinar a altura entre as marcas (hi,nec,foto),
inclusive a altura entre as marcas para 0% de deformação axial (h0,nec,foto). Aplicando as
correções de escala da foto e de refração, pode-se calcular a deformação axial real da
membrana na região do necking (εnec) pela Equação 5.17.

ℎ𝑖,𝑛𝑒𝑐,𝑟𝑒𝑎𝑙
𝜀𝑛𝑒𝑐 = 1 − [Equação 5.17]
ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑟𝑒𝑎𝑙

Com esse valor de εnec, calculou-se a força de tração da membrana (𝐹𝑚 ) de acordo
com a equação 5.9 e a parcela de tensão desviadora na membrana de acordo com a
Equação 5.18, na qual, utilizou-se a área transversal real do CP.
𝐹𝑚
𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 = [Equação 5.18]
𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙

Sabe-se que a deformação axial da membrana calculada é uma aproximação, pois


a deformação real da membrana é mais complexa. A Figura 5.29a), apresenta um modelo
de deformada da membrana ao final do ensaio ED200 que será utilizado como exemplo.
Neste ensaio, as deformações axiais se mantiveram uniformes até aproximadamente 5%

98
de deformação axial global. A partir daí, as fotografias comprovam que as deformações
axiais nas ‘zonas mortas’ se mantiveram constantes. Isto implica que, nas ‘zonas mortas’,
a membrana estaria com uma força de tração correspondente à 5% de deformação (𝐹𝑚,5 ).

A partir deste ponto, os deslocamentos medidos no prato da prensa ficaram


concentrados próximos da região do necking, sendo que uma parcela maior ficou
concentrada naquela pequena região difícil de determinar, representada na Figura 5.28a).
Pelas fotos, pôde-se verificar que essa deformação da membrana pode chegar a 50%
(𝐹𝑚,50 ).

Na região de transição entre a zona morta e a pequena região de influência do


necking, que apresenta uma forma curva, ocorre uma queda desta força de tração da
membrana. Acredita-se que nesta região, ocorra um atrito entre solo e membrana, e isto
gere uma força de cisalhamento na membrana, atendendo o equilíbrio de forças. Por isto,
na região de transição, a superfície de contato CP/membrana deixa de ser um plano
principal.

Na Figura 5.29b) tem-se um gráfico de força de tração ao longo da membrana


que segue a forma do gráfico da deformada. Na região de transição, acredita-se que a
força da membrana apresenta o comportamento próximo ao indicado.

Visto a dificuldade de determinar com precisão a deformação axial da região ao


redor do eixo do neck, optou-se por escolher, com o auxílio das marcas na membrana,
uma região que englobasse essa área de transição, como explicado anteriormente. O valor
da deformação axial desta região é uma média, porém está mais próximo do valor real do
que se fossem utilizados os valores de deformação axial global determinados através das
medições de deslocamento do pistão.

Ressalta-se que, em todos os cálculos desta pesquisa, considerou-se não haver


deslizamento entre a membrana e o solo, logo toda deformação axial observada na
membrana representa também a deformação do solo, tanto na análise global quanto a
local. Ressalta-se também que, devido ao nível de tensões envolvido nos ensaios
realizados nesta pesquisa, a parcela de tensão desviadora correspondente à membrana
será no máximo 10% da tensão desviado para o ensaio ED100, caindo para 2% no ensaio
ED500 como será apresentado nos resultados. Por isto adotou-se a aproximação citada na
determinação da deformação axial da membrana na região do necking. Em ensaios com
nível de tensões mais baixas, seria necessário determinar a deformação axial real da

99
membrana com melhor acurácia. Entretanto, tendo em vista as grandes alturas de muitas
barragens de rejeitos, as tensões envolvidas nestas obras tendem a ser elevadas.

Figura 5.29. Análise da deformação da membrana ao final do ensaio - ED200

5.4.6. Cálculo da tensão desviadora


Na abordagem convencional utilizou-se a área corrigida (𝐴𝑐𝑜𝑟 ) a partir de
fórmulas teóricas, e agora utiliza-se a área transversal real na região do neck (𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙 ).

𝑁− 𝜎𝑐 × 𝐴𝑒𝑓
𝜎𝑑 = − 𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 − 𝜎𝑎,𝑐 [Equação 5.18]
𝐴𝑟𝑒𝑎𝑙

A parcela 𝜎𝑎,𝑐 , devido ao atrito cinemático, foi explicada no item 5.2.4 e a parcela
𝜎𝑚𝑒𝑚𝑏 , devido à membrana, foi explicada no item anterior.

5.4.7. Estimativa do índice de vazios local


Como explicado no item anterior, os CP apresentaram deformações axiais e
radiais uniformes até um certo nível de deformação axial que variou entre 5% e 7% (εun).
Após este momento, as deformações radiais e axiais se tornaram localizadas e o resto do
CP passou a se comportar como ‘zonas mortas’. Por isso, considerou-se que o volume de
água que entrava ou saía do CP, após o nível de deformação uniforme, refletia a variação
de volume da região próxima ao neck.

100
Como já explicado no item anterior, definir os limites desta região de deformação
do necking não é trivial e, por isso, optou-se por delimitar a região de forma aproximada
fazendo o uso das próprias marcas na membrana.

Assim, serão utilizadas as mesmas regiões definidas para o cálculo da tensão na


membrana de látex, para estimar o índice de vazios final na região do necking que é a
região onde efetivamente ocorreu o cisalhamento nos estágios finais de cada ensaio.

Com os dados de variação do volume de água fornecidos pelo equipamento,


podemos identificar o volume exato de água que movimentou até o valor de εun,
denominado de ∆𝑉𝑢𝑛 . Com este valor pode-se calcular o índice de vazios global do CP
até este instante (eun ), considerando que a variação é uniforme ao longo do CP.

𝑉𝑢𝑛 = 𝑉𝑎 − ∆𝑉𝑢𝑛 [Equação 5.19]

Gs∙γ𝑤 ∙ 𝑉𝑢𝑛
eun = −1 [Equação 5.20]
𝑃𝑠

Neste caso, os valores de volume após o adensamento (𝑉𝑎 ) e peso seco total (𝑃𝑠 )
são os mesmos que os utilizados nos cálculos convencionais.

Sabendo a distância entre as marcas de referência no início do cisalhamento (0%


de deformação axial - h0,nec,real) e a altura total do CP ao final do adensamento (HCP,a),
determinou-se o volume apenas do necking, até o instante que as deformações eram
uniformes (𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 ) e também o peso seco de material naquela região (𝑃𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 ). Para o
cálculo, considerou-se uma distribuição uniforme e homogênea de grãos e índice de
vazios ao longo da altura.

ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑓𝑜𝑡𝑜
𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 = . 𝑉𝑢𝑛 [Equação 5.19]
𝐻𝐶𝑃,𝑎𝑑𝑒𝑛

ℎ0,𝑛𝑒𝑐,𝑓𝑜𝑡𝑜
𝑃𝑠,𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 = . 𝑃𝑠 [Equação 5.20]
𝐻𝐶𝑃,𝑎𝑑𝑒𝑛

A partir disto, foi considerado que qualquer volume de água que entrou ou saiu do
CP foi proveniente da região do necking, onde as deformações axiais e radiais se
concentraram e o fenômeno de cisalhamento efetivamente ocorreu.

Assim, o volume final da região do necking (𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑓 ) era o volume do necking até
o instante de εun (𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 ) menos o volume de água que saiu até o final do ensaio
(∆𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘 ).

𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑓 = 𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛 − ∆𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘 [Equação 5.21]

101
O índice de vazios final do necking (e𝑛𝑒𝑐 ) será:

Gs∙γ𝑤 ∙ 𝑉𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑓
e𝑛𝑒𝑐 = −1 [Equação 5.22]
𝑃𝑠,𝑛𝑒𝑐𝑘,𝑢𝑛

Para o cálculo do índice de vazios local, considerou-se que não houve variação da
massa seca de solo no interior da região do necking, logo qualquer variação no índice de
vazios seria exclusivamente pela variação de volume da região.

5.5. Ensaios triaxiais de compressão


Foram realizados três ensaios triaxiais de compressão drenados no laboratório da
Poli/UFRJ, a fim de comparar o comportamento e o resultado com os de compressão
realizados por TELLES (2017) e posteriormente, comparar com os ensaios de extensão.

A moldagem dos corpos de prova e as etapas de saturação e adensamento foram


realizadas da mesma maneira que os ensaios de extensão e explicadas no item 5.2.3.
TELLES (2017) alcançou o estado de regime permanente sem precisar recorrer a topo e
base alargados e lubrificados, logo os ensaios de compressão desta pesquisa também não
utilizaram. Além disso, os gráficos de deformação volumétrica x deformação axial
obtidos por TELLES (2017) em ensaios triaxiais drenados, apresentados no item 4.2.5,
indicaram estabilização próximo à 10% de deformação axial ,optou-se por realizar os
ensaios de compressão até no mínimo, este nível de deformações.

A etapa de cisalhamento foi realizada com uma velocidade de deformação axial


de 0,05%/min e as tensões de adensamento isotrópico foram de 50 kPa, 75 kPa e 100 kPa.
Para o cálculo do índice de vazios e da tensão desviadora foram utilizadas as
metodologias descritas no item 5.3, ou seja, os cálculos tradicionais que consideram
deformações uniformes.

102
6. RESULTADOS E ANÁLISES

6.1. Ensaios de caracterização


6.1.1. Análise granulométrica
Foram determinadas duas curvas granulométricas, com e sem o uso de
defloculante na etapa de sedimentação, para verificar sua influência. Estas curvas estão
apresentadas na Figura 6.1. A Tabela 6.1 apresenta um resumo da composição
granulométrica para ambos ensaios.

Figura 6.1. Curva granulométrica do material estudado

Tabela 6.1. Resumo da granulometria do rejeito desta pesquisa

Composição Granulométrica (%) - (Escala ABNT)


Areia
Ensaio Argila Silte Pedregulho
Fina Média Grossa
Com Defloculante. 0 21 69 10 0 0
Sem Defloculante. 0 15 75 10 0 0

Com base em ambos os resultados, a classificação do material segundo o SUCS é


Areia Siltosa. Observa-se, entretanto, que, sem o uso de defloculante, o material apresenta
15% de silte, enquanto com defloculante 21%. Esse resultado indica que as partículas
deste rejeito não se apresentam aglomeradas.

103
A partir da curva obtida pelo no ensaio com defloculante, determinaram-se os
valores de D10 (0,04mm), D30 (0,07mm), D50 (0,095mm), D60 (0,11mm), que permitiram
calcular o coeficiente de não uniformidade (CNU=2,75) e o coeficiente de curvatura
(CC=1,11). Além disso, a parcela de material passante na peneira #200, definida como
teor de finos (FC) é de 34 %.

Esses resultados foram um pouco diferentes dos obtidos por TELLES (2017),
(Tabela 6.2) que em teoria, utilizou o mesmo material que o utilizado nesta pesquisa.
Porém, como explicado no capítulo 4, este material foi preparado por FLÓREZ (2015)
com uma metodologia determinada pela mesma. Essas diferenças podem ser justificadas
devido ao grande volume de material misturado, que foi armazenado em diferentes
embalagens.

6.1.2. Densidade relativa dos sólidos


O valor da densidade relativa dos sólidos (Gs) determinado para o rejeito foi de
2,820 ± 0,002. O valor está dentro da faixa determinada por FLÓREZ (2015). Devido à
presença de ferro (cerca de 9,66%), o valor de Gs é um pouco superior aos valores
comumente apresentados para solos de quartzo.

6.1.3. Índices de vazios máximo e mínimo


O índice de vazios mínimo determinado foi de 0,55. Valor um pouco abaixo do
encontrado por TELLES (2017), que foi de 0,59.

Os índices de vazios máximos determinados pelos Métodos A e B da norma


ASTM-D4254 (ASTM, 2000b), foram respectivamente 0,86 e 0,85. Como já observado
por TELLES (2017), SILVA (2018) e PÖLZL (2018), o valor do índice de vazios máximo
obtido por norma é inferior ao índice de vazios determinado em campo, justificando a
utilização de metodologias próprias para determinar o índice de vazios máximo. PÖLZL
(2018) obteve o valor de 1,00.

104
6.1.4. Imagens do microscópio
A Figura 6.2 apresenta duas fotografias das partículas do rejeito obtidas através
de microscópio ótico. De acordo com o formato, pode-se classificar visualmente as
partículas arenosas do rejeito de minério como sub angulares com esfericidade média.

a)

b)

Figura 6.2. Imagens do rejeito de minério de ferro obtidas por microscópio: a) com aumento de 40x e b)
com aumento de 92x

105
6.1.5. Resumo da caracterização física
A Tabela 6.2 traz um resumo da caracterização física do rejeito obtida neste
trabalho em comparação com a caracterização obtida por TELLES (2017).

Tabela 6.2. Comparação dos resultados de caracterização TELLES (2017) com o presente trabalho

Rejeito Areia Silte FC


D50 CNU CC Gs emin emáx
Fundão (%) (%) (%)
TELLES (2017) 69 31 38 0,090 3,45 1,12 2,795 0,59 0,97
Este trabalho 79 21 34 0,095 2,75 1,11 2,820 0,55 1,00

6.2. Ensaios Triaxiais de compressão


Os índices de vazios de moldagem (em), a densidade relativa (Dr) considerando os
índices de vazios máximo e mínimo de 0,55 e 1,00 respectivamente e o índice de vazios
após o adensamento isotrópico (ea) para os ensaios triaxiais de compressão estão
apresentados na Tabela 6.3 e a Figura 6.3 representa a ICL. O valor da inclinação ICL
encontrado foi de 0,041 e do parâmetro N foi de 0,998, no espaço e:logp’.

Tabela 6.3. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico para os ensaios de
compressão

Ensaio p'0 em Dr ea
CD50 50 kPa 0,850 33,3% 0,839

CD75 75 kPa 0,847 34,0% 0,819

CD100 100 kPa 0,843 34,9% 0,811

Figura 6.3. Linha de Adensamento Isotrópico (ICL) para os ensaios de compressão

106
Como os ensaios com tensões confinantes efetivas de 100 kPa e 150 kPa
realizados por TELLES (2017) e apresentados no item 4.2.5, alcançaram a condição de
volume constante próximo a 10% de deformação axial, optou-se por realizar os ensaios
deste trabalho até deformações axiais entre 14% e 15%. Os gráficos de q:εa e εv:εa estão
apresentados nas Figura 6.4 e Figura 6.5, respectivamente. Todos ensaios tiveram
comportamento semelhante aos ensaios realizados por TELLES (2017), apresentando
comportamento contrátil.

Figura 6.4. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de compressão

Figura 6.5. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de compressão

A Tabela 6.4 apresenta os valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio, tomando-se os
valores no final dos ensaios. O valor da inclinação da SSL (Mc) no plano q:p’encontrado,
como mostrado na Figura 6.6, foi de 1,388, correspondendo a um ângulo de atrito (ϕ’ss)

107
de 34,3º. No espaço e:logp’, como mostrado na Figura 6.7, o valor da inclinação (SSL)
encontrado foi de 0,047 e o valor do parâmetro Γ foi de 1,043. A Tabela 6.4 apresenta um
resumo dos parâmetros do Estado de Regime Permanente obtidos a partir dos ensaios de
compressão, em comparação com os obtidos por TELLES (2017). Estes resultados se
aproximaram dos resultados obtidos por TELLES (2017) neste mesmo material,
possibilitando a comparação com os resultados de extensão apresentados adiante.

Tabela 6.4. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de compressão

Ensaio qss p'ss ess


50 139,09 96,51 0,828
75 183,31 136,07 0,812
100 260,28 186,63 0,797

Tabela 6.5. Resumo dos parâmetros do estado de regime permanente obtidos pelos ensaios de compressão

Rejeito Fundão ICL N SSL  c ϕ’ss


TELLES (2017) 0,041 0,974 0,048 1,017 1,36 34,0°

Este trabalho 0,041 0,998 0,047 1,043 1,38 34,3°

Figura 6.6. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de compressão

108
Figura 6.7. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão

6.3. Ensaios de extensão baseados nos cálculos


convencionais
Os índices de vazios de moldagem (em), a densidade relativa (Dr) considerando os
índices de vazios máximo e mínimo de 0,55 e 1,00 respectivamente e o índice de vazios
após o adensamento isotrópico (ea) para cada ensaio de extensão estão apresentados na
Tabela 6.6.

Tabela 6.6. Índice de vazios de moldagem e após o adensamento isotrópico dos ensaios de extensão

Ensaio p'0 em Dr ea
ED100 100 kPa 0,853 32,7% 0,826
ED200 200 kPa 0,842 35,1% 0,801
ED300 300 kPa 0,838 36% 0,796
ED400 400 kPa 0,834 36,8% 0,786
ED500 500 kPa 0,830 37,8% 0,776

Considerando todos os corpos de prova, o valor de ICL no espaço


e:logp’encontrado foi de 0,031 e o valor de Ν foi de 0,967 (Figura 6.8). Utilizando apenas
os resultados para os ensaios de 300 kPa, 400 kPa e 500 kPa, os quais obtiveram valores
mais próximos de em (0,83) o valor de ICL encontrado foi de 0,039 e Ν foi de 1,019
(Figura 6.9). Considera-se este último o mais correto, por ter sido determinado a partir de

109
um mesmo índice de vazios inicial e por ter inclinação semelhante à encontrada por
TELLES (2017) e pelos ensaios de compressão.

Figura 6.8. ICL para todos os ensaios de extensão

Figura 6.9. ICL para os ensaios de extensão com em semelhantes

Os gráficos de q:εa e εv:εa considerando o cálculo teórico da área transversal à


direção da tensão vertical σ’3 estão apresentados nas Figura 6.10 e Figura 6.11. Nestes
gráficos, o efeito do necking nas tensões desviadoras é desprezado. Foram ainda gerados
os gráficos de tensão desviadora normalizada pela tensão normal efetiva q/ σ’1:εa (Figura
6.12) a fim de comparar os ensaios.

Nestas três figuras há uma contradição que chama a atenção: o índice de vazios
torna-se constante no final dos ensaios (Figura 6.11) mas não há uma estabilização da
tensão desviadora (Figura 6.10 e Figura 6.12), como era esperado. Acredita-se que a taxa

110
de redução observada no módulo da tensão desviadora se deve à formação do necking,
que provoca uma redução da área transversal além da prevista pela teoria.

Também chamou atenção que as curvas q:εa são notavelmente suaves (smooth),
até os pontos indicados pelas setas vermelhas, quando surgem perturbações. Percebeu-se
que estes pontos coincidem com o aparecimento dos planos de ruptura próximos do centro
do CP (Figura 6.13). E logo após, ocorre a concentração das deformações, surgindo os
neckings (Figura 6.14).

Para os ensaios acima de 300 kPa o aparecimento do plano de ruptura foi tanto
mais precoce quanto maior a tensão efetiva confinante. Para o ensaio de 100 kPa, não
ocorreu aparecimento de plano de ruptura. No ensaio de 200 kPa, o plano de ruptura
surgiu com apenas 6% de deformação axial. No gráfico q:εa isso não é visível devido às
escalas utilizadas, porém no gráfico q/ σ’1:εa isso é exposto. Por esse mesmo gráfico
percebe-se que este ensaio obteve comportamento diferente dos outros. Alguma
desconformidade durante o ensaio pode ter ocorrido.

Todos os gráficos de deformação volumétrica (Figura 6.11) exibem contração


inicial seguida de discreta expansão e, somente os CPs de 100 e 200kPa chegaram a
atingir volume superior ao inicial. Há uma tendência de que as amostras submetidas a
maiores tensões confinantes exibam mais contração. Em deformações axiais superiores a
aproximadamente 10%, todas as curvas exibiram uma tendência de constância no volume,
contrariando o comportamento das curvas tensão-deformação. Esse fato será discutido
mais adiante, quando forem apresentadas as curvas com correção de área pelas fotos.

111
Figura 6.10. Gráfico q:εa para os ensaios triaxiais de extensão

Figura 6.11. Gráfico εv:εa para os ensaios triaxiais de extensão

112
Figura 6.12. Gráfico q/σ’1:εa para os ensaios triaxiais de extensão

Figura 6.13. Aparecimento do plano de ruptura do ensaio ED500 com εa = 8% - resultado típico

113
Figura 6.14. Deformações localizadas e surgimento do necking no ensaio ED500 com εa = 12%-
resultado típico

A Tabela 6.7 apresenta valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio, tomando-se os
valores no instante anterior ao início das perturbações, que correspondem aos valores de
maior módulo de q. Apesar das curvas tensão-deformação não terem apresentado
estabilização, determinou-se a Linha do Regime de Estado Permanente (SSL), para o
momento anterior ao inicio das deformações não uniformes, assim como adotado por
AZEITEIRO et al. (2015.

Tabela 6.7.Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando os cálculos teóricos

Ensaio qss p'ss ess


100 -63,67 78,76 0,831
200 -129,20 156,97 0,804
300 -207,51 230,85 0,783
400 -273,30 308,69 0,768
500 -350,72 383,06 0,770

No espaço e:logp’ o valor da inclinação da SSL, SSL, encontrada foi de 0,042,


como apresentado na Figura 6.15, e valor do parâmetro  encontrado foi de 1,013. No
espaço q:p’, como mostrado na Figura 6.16, a inclinação da SSL, Me = -0,895,
corresponde a um ângulo de atrito (ϕ’ss) de 31,7º.

114
Apesar de não ter sido feita a correção da área real no neck, o coeficiente de
correlação obtido na Figura 6.16, foi muito elevado, demonstrando que o efeito do
necking foi similar em todos os ensaios. Isto pode indicar que o processo de moldagem
empregado foi sistemático e cuidadoso, tendo em vista que, quanto mais heterogêneos os
corpos de prova, maior seria a variabilidade dos resultados devido às deformações
localizadas ou necking (YAMAMURO e LADE, 1995).

Figura 6.15. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão

Figura 6.16. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão

115
6.4. Ensaios de extensão baseados nas fotografias
Utilizando a ferramenta fotográfica, foi possível observar algumas diferenças
entre as dimensões do CP previstas pelas equações do item 5.3 e medidas pelas fotografias
em outras fases do ensaio. A Tabela 6.8 apresenta os valores de área transversal e altura
do CP após a moldagem, medidos com o paquímetro e após o adensamento, tanto pelo
cálculo teórico (considerando que a deformação axial durante ao adensamento, ε1,
corresponde à 1/3 da deformação volumétrica, εv) quanto pelas fotografias. Além disso,
apresenta a variação de altura do CP durante o adensamento determinada pelo
extensômetro vertical (valores fornecidos pela máquina).

Tabela 6.8. Valores de altura e área transversal pós adensamento

Após adensamento Após adensamento LVDT vertical


Moldagem
(teoria) (foto) adensamento
Ensaio Área Área Área
Altura Altura Altura ΔH Altura
trans. trans. trans.
(cm) (cm) (cm) (cm) (cm)
(cm²) (cm²) (cm²)
ED100 18,934 9,900 18,754 9,856 18,696 9,873 0,024 9,876
ED200 18,934 9,890 18,654 9,817 18,584 9,822 0,062 9,828
ED300 18,973 9,900 18,682 9,825 18,637 9,859 0,036 9,864
ED400 18,896 9,890 18,564 9,804 18,498 9,832 0,052 9,838
ED500 18,934 9,890 18,553 9,791 18,487 9,820 0,066 9,824

É possível perceber que os valores de altura obtidos pelas fotografias se


aproximam melhor dos valores determinados pelo extensômetro vertical, que se supõe ser
o mais correto (qualquer movimento do pistão corresponde apenas à variação de altura
do CP, pois as parcelas de encurtamento ou alongamento das peças metálicas são
desprezíveis). As pequenas diferenças entre os dois podem ser justificadas pela acurácia
das medições no AutoCAD.

A diferença entre os valores obtidos pelos cálculos teóricos e pelas fotografias,


tanto para altura quanto para área transversal ao final do adensamento, pode ser
consequência da incerteza quanto à condição de adensamento isotrópico. Como
mencionado no item 5.2.4, no ensaio de extensão o pistão está acoplado ao topcap desde
o início do ensaio e há uma incerteza quanto à consideração do atrito entre o pistão e a
tampa da célula triaxial. Utilizou-se o artificio de determinar uma Área fictícia para o
pistão, entretanto não se sabe o quão preciso é esta metodologia. Esse fator é determinante
para que a máquina aplique uma tensão vertical igual à tensão horizontal durante a fase

116
de adensamento isotrópico. Cabe ressaltar, entretanto, que as diferenças são muito
pequenas, não excedendo 0,07cm² para área e 0,03 cm para a altura. Como estes valores
representam apenas 0,4% da área e 0,3% da altura, pode-se desprezar tais variações.

A Figura 6.17 apresenta um exemplo da determinação do parâmetro ‘a’ definido


no item 5.3.5 a partir da última fotografia do ensaio de 100 kPa (14% de deformação
axial) e os resultados de todos ensaios estão apresentados na Tabela 6.9. O valor de ‘a’
foi exatamente a posição relativa do eixo do neck em relação à base do CP. A partir dos
valores apresentados, pode-se perceber que a posição do neck é variável, mas sempre
ocorre na parte superior do CP, como previsto por LADE e WANG (2012).

A Figura 6.17 ainda mostra o valor da altura apenas da região necking na última
fotografia (hneck,foto = 0,3509) que depois será utilizado no cálculo da deformação axial
local da membrana.

Figura 6.17. Determinação de 'a' e altura do necking no ensaio ED100 com εa = 14% – resultado típico

Tabela 6.9. Parâmetro 'a' para os CPs dos ensaios

Ensaio a
ED100 0,525
ED200 0,686
ED300 0,584
ED400 0,723
ED500 0,595

117
A relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria, ao
longo da deformação axial de cada ensaio, está representada na Figura 6.18. Percebe-se
que, exceto para o ED200, uma mudança na declividade ocorre entre 6-8% de deformação
axial, e a partir daí a relação entre as áreas diminui rapidamente. Esse instante pode ser
interpretado como o momento que começam a ocorrer a concentração de deformações
nos CPs.

Observa-se que a curva do ED200 teve um comportamento diferente dos outros


ensaios, apresentando uma mudança de declividade proxima a 5% de deformação axial.
Observa-se também que este nível de deformação foi o mesmo em que houve diferença
de comportamento entre este ensaio e os demais no gráfico q/σ’1:εa, apresentado
anteriormente na Figura 6.12.

Figura 6.18. Relação entre a área determinada pela foto e a área calculada pela teoria

Como explicado na metodologia, foi observado que a deformação axial se


mantinha uniforme até um certo nível de deformação global e, após este nível, ela se
concentrava em regiões de ocorrência do necking. A Tabela 6.10 apresenta o nível de
deformação global (εun), para cada ensaio, a partir do qual as deformações passaram a ser
localizadas. Parece haver uma tendência de antecipação do início das deformações
localizadas com o aumento de tensões, com o ensaio ED200 representando novamente
uma exceção. Acredita-se que este fato pode estar ligado a heterogeneidades produzidas
durante o processo de moldagem do CP.

118
Tabela 6.10. Nível de deformações no qual a deformação axial se mantinha constante no CP

Ensaio εun (%)


ED100 8,0
ED200 5,0
ED300 6,5
ED400 6,0
ED500 5,0
Ressalta-se que estes valores foram estimados pelas fotografias que foram tiradas
com intervalos de 0,5% de deformação axial, podendo o instante correto ter acontecido
no intervalo entre duas fotografias. Além disso, cabe ressaltar também, que esse nível de
deformação axial global representa o momento em que as deformações deixaram de ser
uniformes ao longo da altura do CP. Não significa que todo o valor de deslocamento ficou
concentrado na região do necking, mas sim que o deslocamento foi distribuído de forma
não uniforme ao longo da altura, com grande parcela localizada na região necking.

O gráfico q:εa, considerando agora o cálculo da área transversal à aplicação de σ3


a partir das fotografias, está apresentado na Figura 6.19. Pode-se perceber que com essa
metodologia de cálculo, as curvas tenderam a estabilizar. Pequenas variações podem estar
relacionadas a precisão das medidas no AutoCAD. O gráfico q/ σ’1:εa está apresentado na
Figura 6.20, que confirma a tendência de estabilização dos resultados.

Além disso, como explicado na metodologia, a deformação axial localizada na


região do necking, onde efetivamente está ocorrendo o fenômeno de cisalhamento, é
maior que a deformação axial global, calculada considerando a altura total do CP. Nos
gráficos apresentados, utilizou-se a deformação axial global (εa) para fins de comparação
do valor da tensão desviadora (q) calculada anteriormente. Porém, sabe-se que, a partir
do início do necking, as deformações axiais localizadas, tornam-se maiores que as globais.
A região onde isto ocorre está representada na Figura 6.20. Cabe ressaltar que a utilização
das deformações localizadas estenderia o final da curva, aumentando a aparência de
constância das tensões desviadoras.

119
Figura 6.19. Curvas q:εa corrigida pelas áreas determinadas na fotografia

Figura 6.20. Gráfico q/ σ’1:εa a partir da correção da área pelas fotos

A Figura 6.21 apresenta o volume de água global que entrou ou saiu ao longo dos
ensaios. As setas vermelhas indicam o nível de deformação axial global, a partir do qual
as deformações não foram mais uniformes, correspondendo aos valores apresentados
Tabela 6.10. Considerou-se então, que a partir destes pontos qualquer variação de água

120
do CP ocorreu na região do necking delimitada pelas marcas na membrana. Cabe ressaltar
que, próximo ao final do ensaio, a variação de volume é desprezível (menos de 0,2cm³).

Figura 6.21. Gráfico Volume de água x deformação axial

Seguindo os passos explicados na metodologia, estimou-se o índice de vazios na


região do necking, local onde efetivamente estava ocorrendo o cisalhamento. A Tabela
6.11 apresenta os valores de referência para o cálculo do índice de vazios na região: altura
da região do necking no início do cisalhamento (h0,nec,real); o volume da região do necking
até o instante que as deformações uniformes ocorreram (Vnec,um) e o volume de água que
entrou ou saiu após este nível de deformação (ΔVnec).

Tabela 6.11. Valores de referência do necking para o cálculo do índice de vazios

h0,neck,real 𝑴𝒏𝒆𝒄𝒌,𝒖𝒏 Vneck,un ΔVnec


Ensaio
cm g cm³ cm³
ED100 3,107 89,941 58,291 0,342
ED200 2,992 87,367 55,773 0,388
ED300 4,086 119,851 75,853 0,477
ED400 3,120 91,448 57,350 0,181
ED500 4,017 118,360 74,256 0,037

A Tabela 6.12 apresenta os valores de qss, p'ss e ess obtidos com o auxílio das
fotografias.

121
Tabela 6.12. Valores de qss, p'ss e ess para cada ensaio de extensão considerando as fotografias

Ensaio qss p'ss ess


100 -66,07 77,98 0,838
200 -142,75 152,42 0,813
300 -224,81 225,06 0,796
400 -297,22 300,93 0,774
500 -356,82 381,06 0,770
Considera-se estes valores os mais representativos do rejeito, visto que todas as
correções possíveis foram realizadas (atrito, tensão na membrana real e área transversal
real).

No espaço e:logp’ o valor da inclinação da SSL, SSL, encontrada foi de 0,045,


como apresentado na Figura 6.22, e valor do parâmetro  encontrado foi de 1,035. Estes
valores tinhas sido de 0,042 e 1,013, respectivamente, sem considerar a correção de área
na tensão desviadora e do índice de vazios por fotografias. No espaço q:p’, mostrado na
Figura 6.23, a inclinação da SSL é Me = 0,959, que corresponde a um ângulo de atrito
(ϕ’ss) de 34,8º.

Figura 6.22. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de extensão considerando as fotografias para
correção da tensão desviadora e do índice de vazios do necking.

122
Figura 6.23. SSL no plano q:p’para os ensaios triaxiais de extensão considerando as fotografias

A Tabela 6.13 apresenta um resumo dos parâmetros do estado de regime


permanente obtidos neste trabalho para ambos os ensaios.

Tabela 6.13. Comparação dos parâmetros do estado de regime permanente entre os ensaios de
compressão e extensão

Rejeito Fundão SSL  M ϕ'ss


Compressão 0,047 1,043 1,38 34,3°
Extensão (Fotos) 0,045 1,035 0,96 34,8°
Extensão 0,89 31,7°
0,042 1,013
(convencional)

A Figura 6.24 apresenta a SSL no espaço e:logp’ considerando os ensaios de


extensão e compressão realizados neste trabalho, e para os ensaios de extensão, os valores
de p’ss obtidos a partir das fotografias. O valor da inclinação da SSL, SSL, encontrado neste
caso foi de 0,044 e o valor de  foi de 1,029.

A unicidade da SSL (ou CSL) no plano e:logp’, independente do caminho de


tensões, foi demonstrada por diversos autores: BEEN et al. (1991) consideram na prática
a SSL única para areias, considerando variações até ±0,01 no índice de vazios;
SALVATORE et al. (2017) também encontraram unicidade no plano e:logp’ quando
realizaram uma análise local das variações volumétricas de amostras arenosas;

123
SCHNAID et al. (2013), para rejeitos de minério de ouro, encontraram a unicidade
inclusive avaliando diferentes faixas de tensões.

Figura 6.24. SSL no plano e:logp’ para os ensaios triaxiais de compressão e extensão considerando as
fotografias

Isso posto, considera-se que, no plano e:logp’, a SSL determinada para o rejeito
de minério de ferro da Barragem do Fundão é única, independente do caminho de tensões.

Em relação ao ângulo de atrito de regime permanente em extensão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 ) e

compressão (𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 ) para areias ainda existe muita divergência entre os pesquisadores.

CORNFORTH (1961, 1964) encontrou 27,9°e 31,6° para 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 e 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐


respectivamente; BOLTON (1986) e GREEN (1971) relataram encontrar diferenças
menores que 2°; AZEITEIRO et al. (2017), utilizando valores de tensões até o instante
imediatamente anterior ao início das deformações localizadas, encontrarem valores
próximos de para 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 e 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 .

Para o rejeito de minério de ferro da Barragem do fundão, foram encontrados 34,8º


e 34,3° para 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑒 e 𝜙 ′ 𝑠𝑠,𝑡𝑐 , respectivamente. Essa pequena diferença está de acordo com
os resultados de LAMBE & WHITMAN (1969) e LADE e BOPP (2005), apresentadas
no capítulo 3, nos quais, para areias, o ângulo de atrito em extensão foi superior ao de
compressão. Entretanto, como nesta pesquisa a diferença foi de apenas 0,5°, para termos
práticos pode-se considerar que o 𝜙 ′ 𝑠𝑠 é único, independentemente do caminho de
tensões.
124
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1. Conclusões
O material de estudo desta pesquisa foi o rejeito de minério de ferro da antiga
Barragem do Fundão, em Mariana-MG, que se rompeu em novembro de 2015. Os ensaios
de caracterização indicaram que o rejeito tem composição granulométrica correspondente
a uma areia siltosa, com 85% de areia e D50=0,095mm. A densidade relativa dos sólidos
encontrada foi de 2,820. Esses resultados condizem com os encontrados por FLORÈZ
(2015) e TELLES (2017) que estudaram o mesmo material.

O índice de vazios mínimo determinado a partir do método 1A da ASTM-D4253-


00 (ASTM, 2000a) foi de 0,55 e o índice de vazios máximo determinado pelo Método B
da norma ASTM-D4254 (ASTM, 2000b), foi de 0,85.

O principal objetivo deste trabalho foi realizar ensaios de compressão e extensão


neste rejeito de minério de ferro e determinar seus parâmetros de regime permanente
(Steady State) sob as duas condições de carregamento. Dessa forma, seria possível
verificar se a linha de regime permanente (SSL) é independente do caminho de tensões,
tanto no plano e:p’, como considerado por diversos autores, quanto no plano q:p’,
condição que ainda não é consensual na literatura.

TELLES (2017) já havia determinado os parâmetros do regime permanente para


a condição de compressão triaxial neste rejeito. Por isto, os ensaios triaxiais de
compressão realizados nesta pesquisa tiveram também o objetivo de verificar se o
comportamento era igual ao do material estudado por TELLES (2017).

Considerando os ensaios de compressão triaxial desta pesquisa, o valor da


inclinação da SSL (Mc) no plano q:p’ encontrado foi de 1,388, que corresponde a um
ângulo de atrito no regime permanente (ϕ’ss) de 34,3º. No plano e:logp’, o valor da
inclinação da SSL (λSSL) encontrado foi de 0,047 e o valor do parâmetro Γ foi de 1,043.
Os parâmetros encontrados por TELLES (2017) foram muito similares: Mc = 1,36; ϕ’ss =
34,0°; λSSL = 0,048 e Γ =1,017.

Os ensaios triaxiais de extensão realizados nesta pesquisa foram por


descarregamento vertical.

Tendo em vista que as deformações localizadas eram previsíveis, optou-se por


determinar a área real transversal do corpo de prova a partir de fotografias digitais, com
125
intuito de calcular o valor correto da tensão vertical atuante durante o cisalhamento.
Foram considerados os efeitos de paralaxe, deformação de bordas de fotografias e o
fenômeno de refração entre os meios ar/acrílico e acrílico/água. Também foram realizadas
correções relacionadas ao efeito de atrito, estático e cinemático, entre o pistão e a tampa
da célula triaxial e à tensão de tração decorrente da deformação da membrana de látex.

Essas correções possibilitaram obter tensão desviadora e volume estabilizados no


final dos ensaios, indicando que os corpos de prova alcançaram o estado de regime
permanente.

Com o auxílio das fotografias, pôde-se observar também que as deformações


axiais do corpo de prova concentravam-se na região do necking após um determinado
nível de deformações (5% a 9% dependendo do ensaio) e que regiões extremas se
tornaram ‘zonas mortas’. A partir do volume de água que entrou ou saiu após este
determinado nível de deformação, pode-se estimar o índice de vazios local, referente a
região do necking.

Considerando as correções no ensaio de extensão mencionadas anteriormente, o


valor de λSSL encontrado foi de 0,045, o valor de Γ foi 1,035 e o valor de Me foi de 0,956
(ϕ’ss=34,8°). Sem considerar a correção da área transversal, os valores foram de 0,042,
1,013 e 0,895 (ϕ’ss=31,7°), respectivamente.

Analisando em conjunto os resultados dos ensaios de extensão e de compressão


realizados neste trabalho, pôde-se considerar a SSL deste rejeito de minério de ferro,
única e independente do caminho de tensões. O valor de λSSL encontrado foi de 0,044 e o
valor de Γ foi de 1,029, com um coeficiente de ajuste linear alto de 0,98. Além disto, uma
pequena diferença foi encontrada entre o ângulo de atrito de regime permanente
determinado pelo ensaio de compressão (34,3°) e o ensaio de extensão (34,8°).

7.2. Recomendações e sugestões


Quando a campanha de ensaios prevista for com nível baixo de tensões (tensões
confinantes menores que 100 kPa por exemplo), recomenda-se fortemente realizar
verificações e correções relacionadas ao atrito (estático e/ou cinemático) e à tração da
membrana de látex, principalmente em ensaios em que ocorrem uma diminuição do nível
de tensão, pois estas parcelas irão influenciar na determinação correta da tensão vertical.

126
Uma solução para diminuir a influência destas parcelas nos cálculos de tensões
desviadoras e na determinação dos parâmetros de resistência do material é utilizar,
quando possível, corpos de prova com dimensões maiores, por exemplo, com diâmetro
maior que 50 mm.

Sugere-se que, quando possível, os ensaios de extensão sejam executados


utilizando célula de carga interna, para evitar erros relacionadas com o atrito entre o pistão
e tampa da célula triaxial.

Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas relacionadas ao fenômeno de


atrito cinemático entre o pistão e a tampa da célula triaxial, que apresentou um
comportamento oscilatório. Observou-se que para o nível de tensões utilizado nesta
pesquisa, a parcela de atrito representou menos de 5% da tensão desviadora nos ensaios.
Porém, para ensaios com baixo nível de tensões isso pode ser determinante no cálculo
dos parâmetros de resistência do material.

Por fim, sugere-se que uma campanha de ensaios triaxiais de extensão não drenada
seja realizada com o rejeito, de forma a verificar o desenvolvimento das deformações
localizadas, caso existam, e estudar a geração de poro pressões no material sob esta
condição de carregamento possibilitando, inclusive, o estudo do potencial de liquefação.

127
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, C.B. de. Contribuição Ao Estudo Do Comportamento De Barragens De


Rejeito De Mineração De Ferro. 2006. Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6458:2016–


Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação
da massa específica, da massa específica aparente e da absorção de água. Rio
de Janeiro, 2016b.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 7181:2016 –


Solo – Análise Granulométrica. Rio de Janeiro, 2016a.

ASTM. D4254-00 - Standard Test Methods for Minimum Index Density and Unit Weight
of Soils Using a Vibratory Table, 2000a.

ASTM. D4253-00 - Standard Test Methods for Maximum Index Density and Unit Weight
of Soils Using a Vibratory Table, 2000b.

ATKINSON, J. L., BRANSBY, P. L. The Mechanics of Soils: An Introdution to Critical


State Soil Mechanics. 2 ed. London, McGraw-Hill, 1978.

AZEITEIRO, R. J. N.; COELHO, P. A. L.; TABORDA, D. M. G.; GRAZINA, J. C. D.


Critical State–Based Interpretation of the Monotonic Behavior of Hostun Sand. J.
Geotech. Geoenviron. Eng., 143(5), 2017.

BEDIN, J. Estudo do comportamento geomecânico de resíduos de mineração. 2010.


Tese de D.Sc., UFGRS, Porto Alegre, RS, Brasil.

BEEN, K., JEFFERIES, M. G. Soil Liquefaction: A Critical State Approach. 2 ed.


London and New York, Taylor & Francis, 2016.

BEEN, K., JEFFERIES, M. G., and HACHEY, J. The critical state of sands.
Géotechnique, 41(3), 365–381, 1991.

BJERRUM, L. Problems of soil mechanics and construction on soft clays. State of the-
Art Report to Session IV. In: Proceedings of the. VIII International Conference
on Soil Mechanics and Foundation Engineering, v. 3, pp. 111-159, Moscow,
Rússia, 1973.

BISHOP, A.W. Strength of soils as engineering materials. Sixth Rankine Lecture.


Géotechnique, 16, 89–130, 1966.

BOLTON, M.D. Strength and dilatancy of sands. Géotechnique, 36(1), 65–78, 1986.

128
CASAGRANDE, A. Characteristics of cohesionless soils affecting the stability of earth
fills. Journal of Boston Society of Civil Engineers, 23, 257–276, 1936.

CBPF. Apostila 15 - Stick-slip. 2005. Disponível em:


http://www.cbpf.br/~nanos/Apostila/15.html. Acessado em 01/05/2019.

CORFDIR, A. SULEM, E. J.. Comparison of extension and compression triaxial tests for
dense sand and sandstone. Acta Geotechnica. 3:241–246, 2008.

CORNFORTH, D. H. Some Experiments on the Influence of Strain Conditions on the


Strength of Sand. Geotechnique, Vol 16, p. 193, 1964.

DEIRÓ, B.C. Erro de Paralaxe. 2016. Disponível em:


http://www.cameraversuscamera.com.br/dic/paralaxe.htm. 2016. Acessado em -
13/02/2019 às 14:30.

DUNCAN, J. M. and SEED, H. B. Corrections for Strength Test Data. Journal of the
Soil Mechanics and Foundation Division, ASCE, Vol. 93, No. SM5, pp. 121-
137, 1967.

EACOM. Executive Summary for Root Cause Analysis of Kingston Dredge Cell
Failure. 2008. Disponível em:
https://www.sec.gov/Archives/edgar/data/1376986/000137698609000063/exhibi
t.htm. Acessado em 10 de março de 2019.

EMBACHER, A. Óptica Geométrica: Formação de Imagens. 2014. Programa Educar


USP/SC. Disponível em:
http://www.miniweb.com.br/Ciencias/Artigos/geometrica.pdf. Acessado em 20
de dezembro de 2018.

FERNANDES, Manuel de Matos. Mecânica dos Solos – conceitos e princípios


fundamentais. Oficina de textos. Vol 1. São Paulo, 2016.

FLÓREZ, C. T. Estudo da alteração em laboratório de rejeitos de mineração de ferro para


análise em longo prazo. 2015. Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.

GOMES, R.C; RIBEIRO, L.F.M; BOTELHO, A.P.D, Pereira, E.L. Caracterização


Tecnológica de Rejeitos de Mineração em Sistemas de Disposição. 10º Congresso
Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental, Ouro Preto, MG. 2002.

GREEN, G.E. Strength and deformation of sand measured in an independent stress


control cell. In Stress–Strain Behaviour of Soils: Proceedings of the Roscoe
Memorial Symposium, Cambridge, 1971.29–31 (ed. R.H.G. Parry), pp. 285–
323. London, U.K.

129
HAGE, R. Câmera de celular. 2016. Disponível em
https://ricardohage.com.br/2016/11/11/entenda-melhor-a-camera-do-seu-
celular/. Acessado em 11/02/2019 – as 11:40

HEAD, K. H. Manual of Soil Laboratory Testing. Pentech Press, Vol. 3. 1986.

ICOLD. Tailings Dams, Risk of Dangerous Occurrences, Lessons Learnt from Practical
Experiences. Bulletin 121, International Commission on Large Dams, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Gestão e Manejo de


Rejeitos de Mineração. Brasília, 2016b. Disponível em: <
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006222.pdf>. Acesso em: 17 abril.
2018, 10:30:00

INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Rejeitos de mineração


podem se tornar minas produtivas. Brasília, 2016a. Disponível em: <
http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=262127>. Acesso
em: 17 abril. 2018, 10:00:00

INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Relatório anual de


Atividades IBRAM Julho 2017 – Maio 2018. Brasília, 2018, 36 p. Disponível
em< http://portaldamineracao.com.br/ibram/wp-
content/uploads/2017/08/WEB_REL_IBRAM_2017.pdf >. Acesso em: 17
abril. 2018, 09:00:00

LACTEC. Diagnóstico socioambiental dos danos decorrentes do rompimento da


barragem de Fundao na Bacia do Rio Doce. Relatório de Linha de base.
Curitiba, Paraná, Brasil. Volume 1. 2017.

KOLYMBAS D, Wu W. Recent results of triaxial tests with


granular materials. Powder Technol 60:99–119, 1990.

LADE P. V., BOPP PA. Relative density effects on drained


sand behavior at high pressures. Soils Found 45:1–13, 2005.

LADE, P. V. and YARNAMURO, J.A. and BOPP, P. A. (1996): Significance of particle


crushing in granular materials, J.Geotech. Engrg., ASCE, 122(4),309-316.

LADE, P. V.; WANG, Q. Method for Uniform Strain Extension Tests on Sand.
Geotechnical Testing Journal, Vol. 35, No. 4. 2012

LAM, W. K. and TATSUOKA, F. Triaxial Compressive and


Extension Strength of Sand Affected by Strength Anisotropy
and Sample Slenderness. Advanced Triaxial Testing of Soil
and Rock, ASTM STP., 977, ASTM International, West Conshohocken, PA, pp.
655–666, 1988.

130
LAMBE, T. W. & WHITMAN, R. V. Soil Mechanics. Wiley & Sons” Inc. N.Y. 1969.

LEE, K.L., SEED, H.B. Drained Strength Characteristics of Sands. J. of the Soil
Mechanics and Foundation Division, ASCE, Vol. 93, nº SM6, pp. 117-141,
1967.

LOPES, Eric Barros. Refração e o Ensino de Óptica. 2014. Dissertação de mestrado


Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.

MACARI, E. J.; PARKER, J. K.; e COSTES, N. C. Measurement of Volume Changes in


Triaxial Tests Using Digital Imaging Techniques. Geotechnical Testing Journal,
GTJODJ, Vol. 20, No. 1, pp. 103-109, 1997.

MARINHO, V. Escrevendo com a luz. 2009. Disponível em


https://pt.slideshare.net/hiperbalad/aula2-1304984. Acessado dia 25 de abril de
2019.

MITCHELL, J.K. and SOGA, K. Fundamentals of Soil Behavior. 3rd Edition, John
Wiley & Sons, Hoboken, 2005.

MORGENSTERN, N. R.; VICK, S. G.; VIOTTI, C. B.; WATTS, B. D. The Fundão


tailings dam review panel: report on the immediate causes of the failure of the
Fundão Dam, 2016.

NEON, C. Distorção Radial em fotografias. 2014 Disponível em:


http://cameraneon.com/tecnicas/distorcao-radial-em-fotografias/. Acessado em
11/02/2019 – as 10:20

OLIVEIRA, M. L. M.; AQUINO, J. A. Amostragem – Tratamento de minérios:


Práticas laboratoriais. Rio de Janeiro, 2007. 34 p. Disponível em:
<http://www.cetem.gov.br/publicacao/CTs/CT2007-051-00.pdf>.

PÖLZL. Thainá; TELLES, A.C.M.; FABRE, J. S.; BECKER, L. De Bona; BARBOSA,


M.C. Análise de Quebra de Grãos em Rejeito Areno-Siltoso Submetido à Ensaio
de Adensamento. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. Salvador, Bahia, Brasil. 2018.

POULOS, S.J. The steady state of deformation. Journal of the Geotechnical


Engineering Division, ASCE, 107(5), 553–562, 1981.

REZENDE, V. A. Estudo do comportamento de barragem de rejeito arenoso alteada


por montante. 2013. 153f. Dissertação de mestrado. (Mestrado em Geotecnia) –
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia do Núcleo de Geotecnia da Escola de
Minas da Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto.

131
ROSCOE, K. H., Schofield, A. N., and Thurairajah, A. An Evaluation of Test Data for
Selecting a Yield Criterion for Soils. Laboratory Shear Testing of Soils, ASTM
STP 361, pp. 111-128, 1963.

ROSCOE, K., Schofield, A.N. and Wroth, C.P. On the yielding of soils. Géotechnique,
8(1), 22–53, 1958.

ROWE, P. W. Stress-Dilatancy, Earth Pressures and Slopes. Am. Soc. Civil Engrs.,
Journal of the Soil Mechanics and Foundation Division, May, 1963.

SALVATORE, E.; MODONI, G.; ANDO, E.; ALBANO, M.; VIGGIANI, G.


Determination of the critical state of granular materials with triaxial tests. Soils
and Foundations, 57, 733-744, 2017.

SAYÃO, A.S.F.J. Behaviour of sand under general stress path in the hollow cylinder
torcional device. 1989. University of British Columbia. (Ph.D. Thesis).

SCHOFIELD, A. and WROTH, C.P. Critical State Soil Mechanics. London, U.K.:
McGraw-Hill, 1968.

SCHNAID, F.; BEDIN, J.; FONSECA, A. J. P. V.; FILHO, L. M. C. F. Stiffness and


Strength Governing the Static Liquefaction of Tailings. J. Geotech. Geoenviron.
Eng., 139(12), 2136-2144, 2013.

SILVA, C. G. C. Estudo da influência do teor de finos no comportamento de um


rejeito de minério de ferro a partir de ensaios edométricos. 2017. Trabalho de
conclusão de curso, POLI/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

SLADEN, J.A., D’HOLLANDER, R.D. and KRAHN, J. The liquefaction of sands, a


collapse surface approach. Canadian Geotechnical Journal, 22(4), 564–578,
1985.

SOUZA PINTO, Carlos de. Curso Básico de Mecânica dos solos. Editora Oficina de
Textos. São Paulo: 2006.

SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE MEIO SUSTENTÁVEL, AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO. Parecer Único SUPRAM –ZM. No:
00015/1984/066/2008. 2008. 18 p.

TAYLOR, D. W. Fundamentals of Soil Mechanics. John Wiley and Sons, New York,
1948.

TELES, G. L. V. Estudo sobre os Parâmetros de Resistência e Deformabilidade da


Areia de Hokksund. 2013. Trabalho de conclusão de curso, POLI/UFRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.

132
TELES, G. L. V. Ensaios Triaxiais Em Materiais Muito Moles A Baixas Tensões De
Adensamento. 2019. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.

TELLES, A. C. M. Análise do comportamento de um rejeito de minério de ferro no estado


de regime permanente. 2017. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.

WU, W. and KOLYMBAS, D. On SomeIssues in Triaxial Extension Tests. Geotechnical


Testing Journal, GTJODG, Vol. 14, No. 3, pp. 276-287 , 1991.

YAMAMURO, J. A. Instability and behavior of granular materials at high pressures.


1993. PhD dissertation, Univ. of California. Los Angeles. Calif.

YAMAMURO, J. A., e LADE, P. V. Strain Localization in Extension Tests on


Granular Materials. J. Eng. Mech., Vol. 121, No. 7, pp. 828–836, 1995.

ZHANG, Xiong; LI, Lin; CHEN, Gang e LYTTON, Robert. A photogrammetry-based


method to measure total and local volume changes of unsaturated soils during
triaxial testing. Acta Geotechnica, 10:55–82, 2015.

133
ANEXO A – CALIBRAÇÕES

I) CALIBRAÇÃO DA CÉLULA DE CARGA

A calibração da célula de carga utilizada nos ensaios desta pesquisa foi realizada
no próprio pórtico do aparelho triaxial. Como a tensão desviadora no ensaio seria de
tração, calibrou-se a célula de carga para esta solicitação.

Inicialmente foi enroscado um pendural na própria célula de carga (Figura A.1a)


para possibilitar a aplicação de cargas verticais. A célula de carga era então ‘zerada’ e
colocava-se anilhas metálicas previamente pesadas no pendural (Figura A.1b), anotando
o valor de contagem da máquina. Assim, tinha-se a relação de kgf x cnts.

Foram realizadas 3 calibrações com estágios de carregamento e descarregamentos.


Para calcular o valor das forças em N foi utilizado a gravidade como 9,81m/s². O gráfico
da primeira calibração encontra-se na Figura A.2 e o resultados das três calibrações na
Tabela A.1. Foi utilizado o valor médio.

Figura A.1. a) Pendural b) Cargas aplicadas

Tabela A.1. Cálculo da constante de calibração da célula de carga

Ciclo Constante R² Média Desvio


1 0,13531 1
2 0,13534 1 0,13532 0,00015
3 0,13532 1

134
Figura A.2. Resultado da calibração ciclo 1

II) CALIBRAÇÃO DO TRANSDUTOR DE DEFORMAÇÃO AXIAL

Para a calibração do transdutor de deformação axial, montou-se a câmara triaxial


completa, com água, acoplando o pistão e os parafusos, de maneira padrão aos ensaios
utilizados. O procedimento consistiu em aplicar 10 deslocamentos aleatórios no prato da
prensa, ora ascendente, ora descendente; medir a altura que o prato se encontrava da base
da prensa, com um paquímetro de precisão 0,05mm e anotar o número de contagem
fornecido pela máquina. Foi observado que a constante antiga fornecia valores de
deslocamentos verticais maiores que os reais, logo a nova constante deveria ser menor.

O procedimento foi realizado três vezes e o gráfico de Paquímetro x Contagem


para uma calibração encontra-se na Figura A.3. O coeficiente de correlação de ambos os
gráficos foi considerado satisfatório, por isso optou-se por utilizar a média aritmética para
determinar a constante a ser utilizada. A diferença entre as três tentativas pode ser
explicada pela resolução do paquímetro, que é de 0,05mm. A Tabela A.2 apresenta um
resumo dos resultados e o valor da constante média obtida.

Tabela A.2. Cálculo da constante de calibração do transdutor de deformação axial

Ciclo Constante R² Média Desvio padrão Diferença


1 0,001188 0,9999288 2,73E-05
2 0,001243 0,9996372 0,0012153 2,75022E-05 -2,77E-05
3 0,0012149 0,9991787 4E-07

135
Figura A.3. Calibração deslocamento axial - 1ª tentativa

III) CALIBRAÇÃO DOS MEDIDORES DE VOLUME

Para calibração dos medidores de volume dos módulos FlowTracII foi necessário
apenas uma proveta graduada e água destilada.

Iniciava-se o procedimento com um volume de água na proveta conhecido (por


exemplo, 50mL) e anotava-se o volume indicado no visor do aparelho e o número de
contagens. Aplicava-se um fluxo de saída no equipamento até preencher 5mL da proveta
e anotava-se o volume (que deveria ser 5cm³) e contagem correspondente no visor.
Aplicava-se em torno de 5 fluxos de saída e 5 fluxos de entrada, ou seja, cerca de 25 cm³
saiam do equipamento e depois 25 cm³ retornavam ao equipamento.

Para cada módulo FlowTracII (Poropressão e pressão confinante) foram


realizados 3 ciclos de enchimento e esvaziamento, e foi utilizada a constante média. Nas
Figuras A.4 e A.5 estão apresentados os gráficos resultantes do Ciclo 2 de cada módulo,
e nas Tabelas A.3 e A.4 o resultado de cada ciclo bem como o cálculo da constante de
cada módulo.

Observou-se ainda que a constante de calibração de fábrica, sugerida pela


GeoComp é de 0,0005366, valor igual à média entre as duas constantes obtidas. Porém,
optou-se por utilizar as constantes obtidas no procedimento descrito aqui.

136
Figura A.4. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTrac II de Poro-Pressão

Figura A.5. Ciclo 2 para calibração de volume da FlowTracII de Pressão Confinante

Tabela A.3. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Poro-pressão

Ciclo Constante R² Média Desvio


1 0,0005352 0,9998 0,00053566 2E-06
2 0,00053566 0,9998
3 0,0005391 1
Tabela A.4. Cálculo da constante de calibração para a FlowTracII de Pressão Confinante

Ciclo Constante R² Média Desvio


1 0,0005375 0,9998 0,0005375 5E-06
2 0,0005322 0,9999
3 0,0005418 0,9997

137
IV) CALIBRAÇÃO DA CONSTANTE DA MEMBRANA

Antes do início dos ensaios foram compradas seis membranas de látex com
diâmetro interno de 2”. Foram escolhidas duas membranas entre as seis para serem
calibradas.

O ensaio foi executado com a mesma velocidade de ensaio que foi realizada no
rejeito (~0,05mm/min). Com auxílio de elásticos de látex, a membrana foi fixada na base
e topcap utilizados nos ensaios com o solo. Além disso, foi utilizado a mesma célula de
carga com o acoplador para o pistão, com ele preso e rosqueado no cap. Dessa forma,
determinou-se o comportamento de tração na membrana com as mesmas condições do
ensaio, exceto a pressão confinante da água.

O ensaio foi realizado na LoadTrac o qual, por meio da aquisição eletrônica de


dados, gerou um gráfico de Força x Deslocamento. Afim de conferir os resultados do
equipamento, elaborou-se uma aquisição de dados manual: com uma caneta permanente
preta, fez-se marcações de comprimento inicial da membrana, e fixou-se ao lado desta
uma escala graduada. À medida que o ensaio ocorria, eram lidos visualmente a
deformação da membrana e o valor de carga no visor da máquina. Com o auxílio de um
cronômetro, pode-se saber o tempo exato de leitura para ser comparado depois com o
resultado automático da máquina.

Como algumas membranas de látex foram utilizadas para mais de um ensaio


triaxial de extensão desta pesquisa, optou-se por verificar se a constante do material era
modificada após sua utilização. Para isso, foi também ensaiada uma membrana que foi
utilizada em 3 ensaios diferentes.

A fórmula utilizada para o cálculo de tensão na membrana foi:

𝐹𝑚
𝜎𝑚 =
𝜋. 𝐷. 𝑡

Onde,

𝐹𝑚 é a força lida na célula de carga (N)

𝐷 é o diametro inicial da membrana, que vale 2” (50,8mm)

𝑡 é a espessura da membrana, que vale 0,012” (0,3048 mm)

𝜎𝑚 é a tensão axial na membrana

138
O cálculo da deformação axial foi:

(𝐷𝑒𝑠𝑙1 − 𝐷𝑒𝑠𝑙2)
𝜀𝑎 =
𝐿0

Onde,

𝜀𝑎 é a deformação axial da membrana

𝐷𝑒𝑠𝑙1 − 𝐷𝑒𝑠𝑙2 é o deslocamento aplicado pela máquina (ou medido visualmente


pela régua)

𝐿0 é o comprimento inicial da membrana (ou o valor marcado inicialmente com


caneta preta)

A Figura A.6 mostra o gráfico resultante da primeira calibração (máquina e


visual). As oscilações são devido à precisão de medida da célula de carga (0,1354N).
Percebe-se que houve pouca diferença entre os valores automáticos e os valores visuais,
por isso, os outros ensaios foram realizados apenas automaticamente. A Tabela A.5
apresenta o resultado dos três ensaios. Foi utilizada a média entre eles.

Figura A.6. Resultado para a 1ª calibração da membrana de látex – máquina e visual

Tabela A.5. Resumo dos resultados da calibração da membrana

Módulo de Elasticidade R²
Calibração Média
(MPa)
1 1,681 0,9921
1,668
2 1,671 0,9850
MPa
3 (usada) 1,651 0,9903

139
A Figura A.7 mostra a primeira membrana sendo ensaiada. Nesta imagem pode-
se observar o conjunto montado para o ensaio (elásticos, pistão e célula de carga), além
das marcações na membrana, régua para leitura visual e cronômetro.

Figura A.7. Ensaio de tração na membrana de látex

140
ANEXO B – CORREÇÃO DO EFEITO DA REFRAÇÃO
ÓPTICA

Como o ensaio é realizado dentro de uma câmara de acrílico preenchida com água,
a imagem registrada pela câmera fotográfica (e também observada pelo olho humano)
está distorcida devido à refração. Quando um raio de luz muda de meio de propagação,
há variação da velocidade de propagação e pode ocorrer mudança de direção que, segundo
a física ótica, é o fenômeno de refração.

Quando um raio de luz atinge uma superfície entre dois meios, 1 e 2, com um
ângulo 𝜃1 medido com a reta normal ao ponto de contato, o ângulo do feixe de luz no
meio 2, 𝜃2 , é calculado de acordo com a Lei de Snell:

sen 𝜃1 . 𝑛1 = sen 𝜃2 . 𝑛2

Mesmo a superfície de separação entre os dois meios sendo curvilínea (câmara de


acrílico) a superfície verdadeira de refração é retilínea. Como ilustrado na Figura B.1, a
refração na interface esférica acontece não no ponto real de contato com a superfície
cilíndrica, mas no plano tangente ao vértice (V) da superfície cilíndrica, perpendicular ao
eixo óptico. E a direção normal (N) à superfície neste ponto é definida pela linha formada
entre o ponto de contado (P) entre esta superfície, o raio de luz incidente e o centro de
curvatura da superfície (C).

Figura B.1. Representação da primeira refração em superfície cilíndrica entre o meios ar/acrílico

141
A seguir, estão explicados os cálculos realizados tanto para as distorções no plano
horizontal, quanto as distorções no plano vertical.

• Cálculo da refração no plano horizontal

Como o diâmetro do corpo de prova varia com o decorrer do ensaio, deve-se


calcular a deformação que ocorre para cada valor de diâmetro, já que o ângulo em relação
ao observador será diferente.

Sabe-se, verdadeiramente, que a imagem captada pelo observador é gerada pelo


raio de luz que vem do objeto, ou seja, um raio de luz que percorre o caminho inverso ao
explicado acima. Porém, como o sentido do raio de luz não importa para o observador, o
cálculo na direção observador => objeto é simplificado.

Os cálculos tiveram o objetivo de, a partir de um valor de raio determinado pela


imagem (Rvirtual), determinar o valor do raio real do corpo de prova (Rreal).

Como o observador considera o raio de luz linear e num único sentido, tem-se um
raio de luz ligando o observador à um ponto tangente à imagem virtual do corpo de prova,
fazendo um ângulo 𝜃0 com o eixo de simetria do conjunto.

Entre os meios ar/acrílico, o raio de luz incide na superfície externa do acrílico


com um ângulo 𝜃1 e refrata com um ângulo de 𝜃2 .

Entre os meios acrílico/água, o raio de luz incide na superfície interna do acrílico


com um ângulo 𝜃3 e refrata para a água com um ângulo de 𝜃4 .

O raio de luz permanece com 𝜃4 até encontrar o corpo de prova real.

Dentro da parede de acrílico, como esta é cilíndrica e com espessura considerável,


deve-se considerar dois planos de refração: um relacionado à primeira curvatura, mais
externa, e outro relacionado a segunda curvatura, mais interna.

A seguir tem-se a explicação para o procedimento gráfico e o procedimento


matemático/analítico utilizados para a determinação do raio real do corpo de prova (Rreal)
a partir do conhecimento do raio virtual do corpo de prova (Rvirtual) e geração dos gráficos,
sabendo-se a distância entre o foco da câmara e o acrílico (𝐿𝑐 ), o raio interno (𝑅𝑖 ) e o raio
externo (𝑅𝑒 ) da câmara de acrílico. É necessário conhecer também os índices de refração
dos meios físicos do problema, que no caso são os da água (nagua), ar (nar) e acrílico
(nacrilico). Um resumo dos dados de entrada do cálculo encontra-se na Tabela B.1.

142
Tabela B.1. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano horizontal

Re 66,88 mm
Ri 57,23 mm
Lc 970 mm
ηagua 1,3321
ηar 1,0003
ηacrilico 1,4900

Procedimento gráfico:

Este procedimento basicamente consistiu em modelar o problema em escala no


software AutoCAD. A distância horizontal entre o observador (câmera fotográfica) e a
superfície da câmara de acrílico (Lc) eram conhecidas e as dimensões da câmara de
acrílico também. O centro da câmara de acrílico coincide com o centro do corpo de prova,
e, consequentemente, com o centro da imagem virtual do corpo de prova.

A partir daí, os passos seguintes realizados diretamente no programa foram:

1) Desenhava-se um círculo concêntrico à câmara de acrílico com um valor de


raio virtual para o CP (Rvirtual);
2) Desenhava-se uma linha que iniciava no ponto do observador e tangenciava a
imagem virtual do CP;
3) Determinava-se o ponto de contato com a superfície de refração da parede
externa da câmara de acrílico (sobre a reta S1) e desenhava-se a reta normal a
este ponto, N1;
4) Media-se o ângulo incidente entre ar/acrílico 𝜃1 ;
5) Calculava-se o ângulo refratado, 𝜃2 : sen 𝜃1 . 𝑛𝑎𝑟 = sen 𝜃2 . 𝑛𝑎𝑐𝑟í𝑙𝑖𝑐𝑜 ;
6) Desenhava-se um raio de luz com o ângulo 𝜃2 em relação à reta N1 até
interceptar a superfície de refração da parede interna da câmara de acrílico
(reta S2) e desenhava-se a reta normal a este ponto, reta N2;
7) Media-se o ângulo incidente entre acrílico/água 𝜃3 ;
8) Calculava-se o ângulo refratado, 𝜃4 : sin 𝜃3 . 𝑛𝑎𝑐𝑟í𝑙𝑖𝑐𝑜 = sin 𝜃4 . 𝑛á𝑔𝑢𝑎 ;
9) Desenhava-se um raio de luz com o ângulo 𝜃4 em relação a N2, prolongado
até tangenciar um círculo concêntrico à câmera de acrílico e ao CP virtual
(Este círculo representa o CP real);
10) Media-se o valor do raio do CP real;
11) Determinava-se o par: (Rvirtual, Rreal);
143
12) Repetia-se este procedimento para um valor de Rvirtual diferente.

Este procedimento foi realizado para valores de Rvirtual de: 20,0mm, 22,5mm,
25,0mm, 27,5mm, 30,0mm, 32,5mm e 35,0mm.

A Figura B.2 apresenta o gráfico resultante deste procedimento. A razão entre o


Rvirtual e o Rreal encontrada foi de 1,3306.

A Figura B.3 apresenta o modelo utilizado (a distância entre o observador e a


câmara de acrílico foi reduzida na imagem para melhor apresentação) e as variáveis
envolvidas.

Figura B.2. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado graficamente

144
Figura B.3. Modelo utilizado para o processo gráfico

145
Procedimento matemático:

Neste procedimento, foi utilizado o mesmo modelo no AutoCAD utilizado


anteriormente mas, ao invés de medir diretamente o raio real, optou-se por utilizar
relações trigonométricas para determinar as equações e a sequência de cálculo que irá
fornecer o valor do raio real a partir de um raio virtual.

A Figura B.5 apresenta o mesmo modelo utilizado anteriormente, porém com as


novas variáveis utilizadas no cálculo. A Figura B.6 é apenas uma ampliação do que ocorre
dentro da parede de acrílico. A sequência de cálculo utilizada e implementada numa
planilha foi:

1) Calcular 𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 :

𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐿𝑐 + 𝑅𝑒

2) Calcular o 𝜃0 (ângulo entre o eixo de simetria do conjunto e o raio de luz que


sai do observador):

𝑅𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙
𝜃0 = sin−1 ( )
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

3) Calcular X:

𝑋 = tan 𝜃0 . 𝐿𝑐

4) Calcular os valores auxiliares de 𝑦𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 , 𝑦1 e 𝑦2 :

𝑦𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = √𝐿2𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑅𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙


2

𝑦2 = √𝐿2𝑐 + 𝑋²

𝑦1 = 𝑦𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑦2

5) Calcular 𝜃7 (ângulo auxiliar):

𝑋
𝜃7 = tan−1 ( )
𝑅𝑒

6) Calcular 𝜃1 (ângulo incidente entre ar/acrílico):

𝜃1 = 𝜃0 + 𝜃7

7) Calcular 𝜃2 (ângulo refratado entre ar/acrílico):

146
sin 𝜃1 . 𝑛𝑎𝑟 = sin 𝜃2 . 𝑛𝑎𝑐𝑟𝑖𝑙𝑖𝑐𝑜

8) Calcular 𝜃′2 (ângulo auxiliar):

𝜃′2 = 𝜃1 − 𝜃2

9) Calcular 𝜃6 (ângulo entre as duas normais N1 e N2):

(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖)
𝑦′′1 =
cos(𝜃 ′ 2 − 𝜃0 )

𝑐 = 𝑦′′1 . sin 𝜃2
𝑐
𝜃6 = 2 . sin−1( 𝑅𝑒+𝑅𝑖
)
( )
2

Obs: i) 𝑦′′1 é o comprimento do raio de luz dentro da parede de acrílico;

ii) c é a corda referente ao arco de círculo formado pelas duas retas normais;

iii) o valor do raio deste arco é variável para cada valor de Rvirtual, mas optou-
𝑅𝑒+𝑅𝑖
se por considerar a média . Foi verificado que quanto maior o Rvirtual, maior é o raio
2

do arco formado pelas duas retas normais.

10) Calcular 𝜃3 (ângulo incidente acrílico/água):

𝜃3 = 𝜃6 + 𝜃2

11) Calcular 𝜃4 (ângulo refratado acrílico/água):

sin 𝜃3 . 𝑛𝑎𝑐𝑟𝑖𝑙𝑖𝑐𝑜 = sin 𝜃4 . 𝑛𝑎𝑔𝑢𝑎

12) Calcular ∆𝑅1(parcela referente ao desvio do raio sofrido dentro do acrílico):

(𝑅𝑒 − 𝑅𝑖)
𝑦′1 =
cos( 𝜃0 )

𝑦′1 . sin 𝜃 ′ 2
∆𝑅1 =
sin(90 − 𝜃 ′ 2 + 𝜃0 )

13) Calcular 𝜃𝐹 (ângulo do raio quando sai do acrílico com a direção do raio
inicial)
𝜃𝐹 = 𝜃′2 − (𝜃4 − 𝜃3 )

147
14) Calcular ∆𝑅2 (parcela referente ao desvio do raio sofrido depois de passar pelo
acrílico):

∆𝑅2 = (𝑦1 − 𝑦 ′1 ) . tan 𝜃𝐹

15) Calcular 𝑅𝑟𝑒𝑎𝑙 :

𝑅𝑟𝑒𝑎𝑙 = 𝑅𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙 − ∆𝑅1 − ∆𝑅2

Com essa sequência de cálculos pode-se determinar para diferentes valores de raio
real de corpo de prova, 𝑅𝑐𝑝 , qual será o raio da imagem devido o fenômeno de refração.

A Figura B.4 apresenta o gráfico resultante deste procedimento. A razão entre o


Rvirtual e o Rreal encontrada foi de 1,3301.

Figura B.4. Relação entre o raio virtual e o raio real determinado matematicamente

148
Figura B.5. Refração no plano horizontal

149
Figura B.6. Zoom da refração na parede cilíndrica do acrílico

150
• Cálculo da refração no plano vertical

A Figura B.8 apresenta um esquema que relaciona à posição entre câmera


fotográfica e célula triaxial no plano vertical, que passa pelo centro do CP. Neste caso a
parede de acrílico é considerada como uma superfície plana, ao invés de esférica como
no caso anterior. Como a câmera fotográfica (o observador), está posicionada no centro
vertical do corpo de prova, o raio de luz que une o observador à extremidade superior da
imagem do corpo de prova não é perpendicular à superfície de interface entre
ar/acrílico/água. Portanto, haverá também um efeito de refração.

• O ângulo que o raio de luz faz com a horizontal é 𝜃0 e será o mesmo com
a normal da superfície do acrílico (𝜃1 ).
• A primeira refração ocorre ao entrar na parede de acrílico, com o ângulo
refratado de 𝜃2 .
• Ao sair da parede de acrílico o raio sofre a segunda refração, com o ângulo
de refração agora de 𝜃3 .
• O raio de luz segue com inclinação 𝜃3 até encontrar o ponto superior da
altura do corpo de prova.

A seguir, tem-se as equações e a sequência de cálculos utilizada neste caso. O


objetivo é, a partir de um valor de altura de imagem do corpo de prova (Hvirtual),
determinar a altura real do corpo de prova (Hreal). Para isso, deve-se determinar a variação
de altura virtual (∆𝐻) que a refração causa ao corpo de prova.

Os dados de entrada do problema, resumidos na Tabela B.2 e são: a distância entre


o foco da câmara e o acrílico (𝐿𝑐 ); o raio interno (𝑅𝑖 ) e o raio externo (𝑅𝑒 ) da câmara de
acrílico; os índices de refração dos meios físicos do problema, (nágua , nar, ,nacrílico) e, neste
caso específico, o raio inicial do CP (𝑅𝑐𝑝 ).

Tabela B. 2. Dados de entrada para o cálculo de refração no plano vertical

Re 66,88 mm
Ri 57,23 mm
Lc 970 mm
𝑹𝒄𝒑 25,00 mm
nagua 1,3321
nar 1,0003
nacrilico 1,4900

1) Cálculo do 𝜃0 = 𝜃1
151
𝐻𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙 /2
𝜃0 = tan−1 ( )
𝐿𝐶 + 𝑅𝑒 − 𝑅𝑟𝑒𝑎𝑙

2) Cálculo de 𝜃2

sin 𝜃1 . 𝑛𝑎𝑟 = sin 𝜃2 . 𝑛𝑎𝑐𝑟𝑖𝑙𝑖𝑐𝑜

3) Cálculo de 𝜃3

sin 𝜃2 . 𝑛𝑎𝑐𝑟𝑖𝑙𝑖𝑐𝑜 = sin 𝜃3 . 𝑛𝑎𝑔𝑢𝑎

4) Cálculo de ∆ℎ′𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

∆ℎ′𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (𝑅𝑒 − 𝑅𝑐𝑝 ) . tan 𝜃0

5) Cálculo de ∆ℎ1 e ∆ℎ2

∆ℎ1 = (𝑅𝑒 − 𝑅𝑖 ) . tan 𝜃2

∆ℎ2 = (𝑅𝑖 − 𝑅𝑐𝑝 ) . tan 𝜃3

6) Cálculo de ∆𝐻

∆𝐻 = ∆ℎ′𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − (∆ℎ1 + ∆ℎ2 )

7) Cálculo de 𝐻𝑐𝑝

𝐻𝑟𝑒𝑎𝑙 = 𝐻𝑣𝑖𝑟𝑡𝑢𝑎𝑙 − 2∆𝐻

A Figura B.7 apresenta o gráfico resultante deste procedimento. A razão entre o


Hvirtual e o Hreal encontrada foi de 1,0118.

Figura B.7. Relação entre altura virtual e altura real do CP

152
Figura B.8. Refração no plano vertical

153

Você também pode gostar