Valor Especial Servicos Digitais 31jan2020
Valor Especial Servicos Digitais 31jan2020
Valor Especial Servicos Digitais 31jan2020
31/01/2020
Sumário
Relações voláteis ....................................................................................................................... 1
Bancos digitais apostam em novas ferramentas ................................................................ 4
Instituições tradicionais realizam parcerias para enfrentar concorrência .................... 6
Plataformas de investimento ganham mercado ................................................................. 8
Fintechs atraem quase US$ 1bi em 2019......................................................................... 10
Investidor diversifica o portfólio ......................................................................................... 12
Varejistas reforçam investimentos em serviços financeiros.......................................... 12
Custo e insegurança retardam avanço dos sistemas de autoatendimento............... 14
Operadoras criam soluções específicas para as PMEs .................................................. 15
Brasil é o terceiro do mundo em download de aplicativos .......................................... 16
Impacto no trabalho autônomo é expressivo.................................................................. 18
Empresas facilitam compra e venda de imóveis ............................................................. 19
Compras por comando de voz devem ter crescimento rápido .................................. 20
Consumidor personaliza o próprio produto .................................................................... 22
Produção de dados de usuários impulsiona o marketing digital ................................. 23
Mais recursos para enfrentar questões de segurança.................................................... 25
Diagnósticos ganham mais precisão.................................................................................. 26
Integração de equipamentos traz eficiência ao tratamento de câncer ..................... 28
“Healthtechs” atraem US$ 8,9 bi com novos modelos de negócios ......................... 29
Relações voláteis
Demandas do consumidor hiperconectado desafiam empresas
Por Ana Lúcia Moura Fé — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h00 · Atualizado há 4 horas
Serviços digitais proliferam em todos os setores, trazendo conveniência e economia para
os consumidores. Contratação de crédito, compras on-line, pagamentos de boletos,
aluguel de carro, acesso a música e filmes, tudo pode ser feito a qualquer tempo e lugar,
sem necessidade de deslocamentos e mediante alguns cliques na tela do PC ou do
celular.
Basta uma experiência negativa para que seis em cada dez pessoas deixem de comprar
em uma loja virtual ou cancelem um serviço digital, revela pesquisa da Forrester em 15
países, inclusive Brasil.
Com 230 milhões de smartphones em uso, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV),
o Brasil se destaca em algumas frentes dessa revolução. Por exemplo: o país só perde
para Malásia e Índia no quesito popularidade de serviços digitais sob demanda, segundo
a Forrester, que inclui nessa categoria desde entrega de restaurantes até
compartilhamento de caronas.
O atendimento por voz é a “bola da vez” no setor, diz Fosse. Uma pioneira é a
inteligência artificial do Bradesco, BIA, que interage por texto ou voz via apps do grupo
e canais de terceiros, como Google Assistente e Alexa, a assistente pessoal da Amazon.
Segundo o Bradesco, a BIA já realizou mais de 280 milhões de interações desde que foi
criada, em 2016.
Isso requer um novo jeito de trabalhar e uma nova cultura nas empresas, diz o diretor,
acrescentando que as teles ainda têm muito a avançar no uso de dados de contexto para
personalizar serviços, respeitada a privacidade do cliente.
O grupo Claro (que engloba tele homônima, Net e Embratel) busca explorar o potencial
da IA para além dos robôs de bate papo. “Estamos criando algoritmos para análises
preditivas que nos ajudarão a prever, por exemplo, quando um cliente tende a cancelar
um serviço, para nos anteciparmos com ações ou soluções”, diz Duclos.
A Claro registra adesão expressiva dos clientes a suas ofertas digitais. O atendimento e
as vendas on-line cresceram 1.340% e 770%, respectivamente, entre 2015 e 2019. Uma
estrela no portfólio da operadora móvel é o Claro Flex, um plano contratado e
gerenciado totalmente por aplicativo.
Ricardo Drumond Andrade, diretor de serviços a clientes da Oi, diz que 60% das
solicitações de clientes da tele para resolução de problemas são resolvidas em canais
digitais. A estratégia da Oi, entretanto, é oferecer ao cliente todos os canais possíveis,
com autoatendimento para coisas simples, como mudar a senha do wi-fi e agendar
serviços, e atendentes humanos qualificados para solucionar questões mais complexas.
“Não queremos nunca deixar de falar com nosso cliente.”
Uma novidade da Oi é a inteligência artificial Joice, que atende clientes por meio de
canais diversos, incluindo Messenger e WhatsApp. Lançada há menos de um ano, a
Joice realiza três milhões de atendimento por mês e reduziu em 180 mil as chamadas
para o call center tradicional. “Antes, nossos técnicos encontravam a casa do cliente
fechada em cerca de 10% das visitas. Esse número caiu pela metade porque a Joice o
alerta sobre o compromisso.”
Na TIM Brasil, Alberto Griselli, diretor de receitas, diz que a chegada iminente da
quinta geração de celulares (5G) acelerará ainda mais a digitalização da sociedade.
Luiz Medici, vice-presidente de dados e IA da Vivo, diz que a tele atua hoje como um
grande hub de parcerias digitais que incluem nomes como NBA, Amazon Prime Video
e Netflix, entre outros. “Estamos facilitando o acesso a milhares de conteúdos, com
pagamento direto na conta do celular ou com créditos pré-pagos.”
Hoje, mais de 65% das interações dos clientes com a Vivo ocorrem no meio de digital.
Só a inteligência artificial Aura, acionada por texto ou voz, faz mais de vinte milhões de
transações por mês em canais da Vivo e de parceiros, como Google Assistente e
WhatsApp.
Ainda distante dos números das grandes instituições financeiras, a fintech - que se
popularizou pelo cartão roxo sem anuidade - pavimentou o caminho para o avanço dos
bancos digitais. Prova disso é que, entre 2017 e 2018, mais do que dobrou o número de
bancos digitais no país, segundo estudo recente do boostLAB, do BTG Pactual, em
parceria com a empresa de inovação ACE.
Com o chamariz de uma conta digital gratuita, o Banco Inter ultrapassou 4 milhões de
clientes no fim de 2019, em comparação a 1,45 milhão no último trimestre de 2018.
Neste ano, a expectativa é pelo menos dobrar a quantidade de clientes, para 8 milhões,
prevê Priscila Salles, diretora de marketing e CRM do banco. Segundo ela, o alto nível
de desbancarização no país é uma oportunidade para fisgar novos clientes. Correntistas
insatisfeitos com os serviços de grandes bancos também estão na mira. “Os bancos
digitais ficaram mais conhecidos em 2019, mas agora o maior desafio é como se
diferenciar”, observa.
Uma das estratégias da instituição mineira é o chamado “super app”, plataforma lançada
em novembro de 2019 e que reúne produtos e serviços de mais de cem lojistas, entre
aluguel de carro, eletrodomésticos e passagens aéreas. “Hoje, o aplicativo é a vida das
pessoas e oferece cada vez mais conveniência”, aponta. Para 2020, uma das metas é o
lançar uma solução de pagamento instantâneo, diz.
O Banco Original passou de 700 mil clientes em 2018 para 3 milhões no fim do ano
passado. Os novos correntistas têm vindo, principalmente, dos bancos tradicionais,
explica Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia da informação, produtos e
operações do banco. Para Moreira, o ambiente regulatório favorável, a evolução
tecnológica e as mudanças no comportamento do consumidor são os fatores que
explicam o crescimento dos bancos digitais no Brasil. “Para que possa efetivamente ser
o principal banco do cliente, é preciso ter uma solução completa.”
Com foco nas classes C e D, o Agibank tem investido na combinação entre canais
digitais e a presença física. Na contramão das maiores instituições financeiras, o plano
do banco gaúcho é passar dos cerca de 600 pontos de atendimento para mais de 1.400,
voltados principalmente para clientes que não têm familiaridade com tecnologia, conta
Fernando Castro, diretor de tecnologia, produto e marketing do Agibank, que tem 1,2
milhão de clientes. Até o fim do primeiro semestre, o banco prevê lançar uma nova
versão do aplicativo.
Em setembro do ano passado, o BS2 lançou uma solução para empresas, com conta
digital, plataforma de cobrança e maquininha oferecida pela Adiq, credenciadora do
grupo. A ideia é montar um marketplace com produtos e serviços não apenas
financeiros, por meio de parceiros. “Criamos a base para isso porque a plataforma
tecnológica é composta por diversas APIs [interface de programação de aplicações]”,
conta Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva do banco.
Com 400 mil clientes, o BS2 criou uma conta digital internacional em dólar e ampliou a
plataforma aberta de investimentos, que hoje reúne mais de cem produtos. Com isso,
entrou na briga por um mercado cada vez mais concorrido, que inclui XP, Órama,
Guide e BTG Pactual digital.
“Temos estrutura de custos baixa e adequada ao cenário atual, de juro baixo”, diz
Marcelo Flora, head do BTG Pactual digital. Em sua prateleira, a plataforma soma cerca
de 400 fundos de 150 gestores, além de uma oferta de mais de 30 fundos de previdência.
No ano passado, o banco lançou um simulador de previdência e planeja incluir novas
funcionalidades no aplicativo, numa estratégia conhecida como “mobile first” -
desenvolvimento de soluções inicialmente para dispositivos móveis.
O avanço dos bancos digitais acendeu um alerta nas grandes instituições financeiras do
país. Em meio à concorrência mais acirrada com os novos entrantes, os gigantes optam
por firmar parcerias com startups, mas também aceleram a criação das próprias
iniciativas digitais. A pressão por criar bancos digitais vem do consumidor, que quer
dos bancos a mesma experiência que tem em outras áreas, analisa Guilherme Horn,
diretor de estratégia digital e inovação do banco BV (antigo Banco Votorantim).
Jeferson Honorato, diretor do Next: plataforma vem conquistando correntistas e pessoas desbancarizadas — Foto: Léo
Pinheiro/Valor
Mesmo com a crescente adoção, os bancos digitais têm dois grandes desafios, segundo
ele: ser o principal banco do usuário e gerar retorno para os acionistas. Já as instituições
tradicionais, apesar da capilaridade, precisam passar por uma transformação cultural,
avalia Horn.
É o que tem feito o banco BV, que mudou de nome em dezembro. No ano passado, a
instituição trouxe Horn, egresso do Banco do Brasil, para liderar uma unidade de
negócios de inovação. Outro movimento recente do BV foi a compra do Just,
plataforma on-line de empréstimo pessoal. Neste mês, o banco também liderou uma
rodada de investimento de R$ 25 milhões na fintech Olivia, com participação do fundo
BR Startups, que tem como cotistas a Microsoft e o próprio BV.
Criado em 2017, o banco digital Next, do Bradesco, atingiu 2 milhões de clientes no fim
do ano passado e a expectativa é pelo menos dobrar esse número em 2020, conta
Jeferson Honorato, diretor do Next. A plataforma vem conquistando correntistas de
outros bancos e pessoas desbancarizadas. Segundo o executivo, 80% dos clientes do
Next, por exemplo, não eram clientes do Bradesco. A solução tem sido adotada por
usuários entre 18 e 35 anos, que representam 85% da base total de clientes.
“Temos um time de antropólogos que vivem nas comunidades estudando os desejos das
pessoas”, explica Honorato. Neste mês, o banco digital lançou um plano odontológico,
com acesso a uma rede de mais de 31 mil dentistas no Brasil. No primeiro trimestre, o
Next passará a oferecer a prateleira de investimentos disponível na Ágora, corretora do
Bradesco.
No Santander, uma das principais estratégias tem sido montar novas empresas para
complementar a oferta digital. No ano passado, o banco espanhol lançou a Pi,
plataforma aberta de investimentos, e a EmDia, de renegociação de dívidas. Outro
movimento foi a criação da Sim, plataforma on-line de crédito, com atuação principal
em empréstimo com garantia de veículos e imóveis. A expectativa é atingir uma carteira
de R$ 1 bilhão em 2020, diz Geraldo Rodrigues, superintendente executivo de negócios
digitais do Santander.
Em dezembro, o Banco do Brasil (BB) firmou uma parceria com a fintech Bom Pra
Crédito para oferta de crédito pessoal e consignado na plataforma on-line. O cliente
também tem preferido canais digitais para contratar financiamentos, observa Daniel
Régis Filho, gerente executivo de negócios digitais do BB. Atualmente, mais de 60% do
crédito de veículo é contratado pelo app - em 2019, o volume contratado dessa linha via
mobile foi de R$ 1,5 bilhão. Já a conta digital, chamada de Conta Fácil, ganhou 1
milhão de novos clientes no ano passado.
O setor de serviços financeiros está sendo afetado pela revolução tecnológica que vem
remodelando o mundo. E a gestão de patrimônio e ativos está imersa na transformação.
Essa indústria sofreu grandes mudanças desde que a crise econômica atingiu os
mercados no fim da década de 2000. Com muita tecnologia, custos mais baixos, redução
das taxas de administração e foco na experiência e nas expectativas dos clientes, os
novos titulares das plataformas digitais desafiaram as grandes instituições financeiras.
B3, Banco Central (BC), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro
e de Capitais (Anbima) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda não dispõem
de um balanço específico do desempenho das plataformas digitais de investimentos.
Porém, estimativas de mercado apontam que a participação do segmento está entre 7% e
10%, com mais de 20 plataformas independentes.
“O Itaú sinalizou que é possível ganhar muito dinheiro com investimentos. O mercado
acordou, abriram-se as porteiras, e as plataformas passaram a investir fortemente”,
analisa Pascowitch. A XP também quebrou paradigmas após a oferta inicial de ações
(IPO) de US$ 2,25 bilhões - apontada como a nona maior do mundo em 2019 - em
dezembro, na Nasdaq, onde estreou com valor de mercado de US$ 19 bilhões.
Com o despertar do interesse de outras corretoras, estas acabaram atraindo a atenção dos
grandes investidores globais. Em 2018, a Easynvest recebeu aporte da Advent; e a
Guide foi adquirida pelos chineses da Fosun.
Fundada em 1968 como uma corretora de valores, a Easynvest migrou, em 2014, para o
modelo de plataforma de investimentos 100% digital. Fernando Miranda, presidente da
corretora, diz que 65% dos 400 colaboradores são das áreas de tecnologia e design, e a
empresa atua no modelo de autosserviço e não baseada em agentes autônomos.
“Educação financeira e tecnologia são nossos dois pilares. Tecnologias como machine
learning ajudam o investidor a simular e selecionar seus investimentos”, diz Miranda.
Habib Nascif, CEO da Órama, observa que por serem pioneiras, as plataformas tiveram
de quebrar barreiras e criar cultura, explicando o conceito de gestor independente.
“Levar um produto para o varejo era quase impossível. Os gestores também não sabiam
como funcionava o varejo e tinham receio. Depois viram o potencial e passaram a
reduzir os valores mínimos de aporte.”
Felipe Sotto-Maior, CEO da Vérios, diz que o modelo de corretoras com plataformas
digitais prosperou muito em função da abertura de capital da Bovespa, que lhes permitiu
arrecadar mais recursos. A Vérios opera com robô advisor e gestão de patrimônio. Em
2019, suas carteiras tiveram rendimentos médios de 130% a 275% do CDI.
Entre os fundadores da Warren está Tito Gusmão, que antes comandou a operação da
XP em Nova York. O mercado brasileiro conta com R$ 4 trilhões investidos em
poupança, previdência e fundos, que dão 30% do que o investidor deveria ganhar.
“Existe um desalinhamento entre o investidor e o corretor que recebe comissão do
produto. A Warren elimina o conflito de interesse, pois somos remunerados em 0,5% ao
ano pela gestão do patrimônio”, diz.
Quem mais atraiu a atenção dos investidores, em número de aportes, foram as fintechs,
com 62 rodadas de investimento (US$ 935 milhões), antes do varejo, com 31
negociações (US$ 210 milhões), e companhias ligadas à saúde, com 24 captações (US$
43 milhões). O valor médio das injeções de capital ficou em US$ 19,5 milhões, 200%
acima do tíquete médio de 2018.
O setor de fintechs continuará na agenda dos fundos em 2020, segundo Gustavo Gierun,
co-fundador da Distrito. “O mercado financeiro ainda é muito concentrado, o que gera
oportunidades para todos”, avalia. A evolução do segmento, considerando iniciativas
como o novo Cadastro Positivo, o crescimento dos pagamentos instantâneos e a
tendência do open banking (conjunto de regras para organizar o sistema financeiro por
meio da abertura e integração de informações), deve ampliar a competição entre bancos,
financeiras e startups, diz ele.
Além do nicho de finanças, Gierun aposta que mais recursos irão para startups do
comércio e da área de mobilidade, em 2020. Para o especialista, o cenário de inflação
controlada, indícios de avanço do PIB e a trajetória de queda da taxa básica de juros
(Selic) devem incentivar os investidores a assumir mais riscos. A chegada de novos
fundos interessados em companhias digitais também alimenta o fluxo de dinheiro. Pelo
menos duas iniciativas, com recursos de até R$ 260 milhões, apareceram no final de
2019.
De acordo com o relatório Inside Venture Capital Brasil, da Distrito, 62% dos acertos
realizados entre investidores e empresários, em 2019, foram para apoiar trabalhos de
pesquisa, validar mercados ou descobrir o melhor formato de novos produtos e serviços.
Cada vez mais varejistas e fornecedores de diversas áreas apostam na oferta de serviços
financeiros com o objetivo de se transformar em “minibancos”. Nas entrelinhas, todos
buscam capturar o maior número de dados de comportamento de consumo, a fim de
garantir fidelidade em tempos de concorrência acirrada.
Há quem prefira criar a própria carteira digital, a exemplo da B2W - responsável pela
Americanas.com, Submarino e Shoptime -, por meio da qual consegue otimizar
descontos para os clientes via cashback (devolução de parte do dinheiro), gerando maior
recorrência de compra. Ou, trazer a fintech para dentro de casa, como a Via Varejo, à
frente das Casas Bahia e Ponto Frio. Em parceria com a americana Airfox, startup de
soluções de pagamentos móveis e digitais, o grupo lançou o banQi, plataforma de
soluções financeiras, que já nasceu com uma base de 80 milhões de clientes.
“O banQi conta com a rede de lojas das Casas Bahia como pontos físicos para
transações como saques, depósitos, recargas de celular, de bilhete único e pagamento de
carnês sem encargos”, diz o CEO Victor Santos. “Este ano serão lançadas novas
funcionalidades que permitirão oferecer aos usuários produtos mais personalizados e
garantir maior assertividade na concessão de crédito.”
Boa parte desse tráfego migrou para o Mercado Pago, o sistema de pagamento do site de
compras Mercado Livre. Em 2019, a plataforma somou 31 milhões de máquinas ativas e
16 milhões de usuários. “Oferecemos um ecossistema completo de pagamento, capaz de
atender pequenas e grandes empresas”, diz Rodrigo Furiato, diretor de wallet do
Mercado Pago.
“Para nós, não existe uma única solução, por isso apostamos, também, no QRCode, seja
em parceria com as redes de varejo, seja direto no nosso super app.” Segundo o
executivo, um dos diferenciais da plataforma é a possibilidade de ofertar descontos,
ferramenta habilitada em mais de 170 mil parceiros do Mercado Pago. Ao todo, cerca de
1,5 milhão de comércios aceitam QRCode no Brasil, incluindo pagamento em
maquininhas.
Segundo ele, para dar fluidez ao processo e garantir uma boa experiência para o
consumidor, o sistema tem de operar sem falhas. “O varejo alimentar é nervoso, opera
com muitos itens, o que torna a operação mais complexa do que na área de fast food,
por exemplo, que trabalha com menos itens e mais padronizados”, afirma.
O preço, porém, começa a cair. Hoje, uma central de autoatendimento custa 40% menos
do que há dois anos, algo em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Ainda alto, se comparado
ao checkout tradicional, com custo próximo a R$ 2 mil. Um dos principais benefícios,
dizem os especialistas, está na economia de tempo. Estima-se que a instalação de self
checkout reduza o tempo de espera para fechar a compra em até 30%. Livrar-se das filas
é o que o consumidor mais deseja.
Em 2017, o Carrefour inaugurou uma loja conceito no bairro dos Jardins, em São Paulo,
com seis caixas que permitem ao cliente passar e pagar os próprios produtos. O grupo
GPA intensificou as instalações em 2019 e já conta com 117 self checkouts operando
em 23 lojas das bandeiras Extra e Pão de Açúcar.
As redes médias também apostam na tecnologia. É o caso da cooperativa de consumo
Coop, pioneira no uso do equipamento no ABC paulista, Sorocaba, Piracicaba e São
José dos Campos. Das 32 lojas da rede, 29 já contam com self checkout, num total de
140 posições. “O retorno compensa, seja pela maior agilidade nas operações, seja para
eliminar as filas”, afirma Marcio Valle, presidente executivo da Coop.
Mario Rachid, da Embratel: loja on-line dá exibilidade para os pequenos — Foto: Divulgação
Por enquanto, a única operadora a oferecer esse tipo de solução para PMEs no mercado
nacional é a Algar Telecom. Os serviços de gestão financeira e fiscal lançados no ano
passado são fruto de novos negócios criados dentro do Brain, centro de inovação da
companhia mineira fundado em 2017, que opera na gestão de soluções de internet das
coisas, cloud e digital.
Para o diretor de marketing da TIM Brasil, Rafael Marquez, as pequenas empresas são
um segmento importante não apenas para as operadoras, como também têm atuado
diretamente na recuperação econômica do país. A aposta da operadora para esse nicho é
o plano recém-lançado chamado TIM Black Empresa +.
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas PMEs para inovar suas operações é o
custo, por isso a maioria busca por serviços baratos e flexíveis. Foi justamente para
atender essa demanda que a Claro e a Embratel, cujas operações de serviços foram
integradas, criaram um amplo portfólio de serviços em conjunto.
Os carros-chefes da operadora para o segmento de PMEs são o site pronto e o loja on-
line, serviços baseados na nuvem. “Com eles, o cliente passa a ter presença no mundo
digital para alavancar as vendas de produtos, até porque eles são integrados a meios de
pagamento e aos Correios ”, diz Roberta Godoi, diretora executiva da Claro empresas e
canais digitais.
O objetivo com a loja on-line e o site pronto é oferecer maior comodidade, flexibilidade
e preço para o pequeno empresário que quer iniciar o seu negócio, enfatiza Mario
Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel. Com a loja on-line, ele diz
que o empreendedor passa a ter um e-commerce básico no início, para que comece a
testar esse novo canal de venda, mas que pode ir expandindo aos poucos.
No caso da Vivo, as principais ofertas para o segmento de PMEs são o Vivo Marketing
Dinâmico, solução voltada para melhorar o atendimento ao cliente, e o Vivo Gestão de
Equipe, para que gestores acompanhem suas equipes externas, como vendedores,
instaladores, entregadores e outros. O head de IoT, inovação e big data B2B da Vivo,
Diego Aguiar, explica que o Marketing Dinâmico é comercializado por uma equipe de
especialistas em produtos digitais.
A pesquisa TIC Domicílios 2018, do Cetic.br, mostra que 48% dos usuários da internet
já pagaram por algum serviço. Principalmente transporte por aplicativo, empregado por
40,8 milhões de pessoas, seguido de streaming de vídeo e entrega de comida, utilizada
por 12% dos internautas.
A pioneira Uber nasceu em 2009 para conectar motoristas e usuários e chegou aqui há
cinco anos, onde contabilizou US$ 1 bilhão de faturamento em 2018. Tem 22 milhões
de usuários e 600 mil motoristas cadastrados. Oferece serviços como Juntos
(compartilhamento de viagens), Eats (entrega de comida) e Transit (integração com
transporte público, disponível em São Paulo com informações, informa a diretora de
marketing, Luciana Ceccato.
A 99 é outra líder em transporte urbano. Criada no Brasil em 2012 para conectar taxistas
a passageiros, foi comprada pela chinesa DiDi Chuxing em 2018. Com 600 mil
motoristas e 18 milhões de passageiros em 1,6 mil cidades brasileiras, oferece serviços
como Pop (carros particulares), Empresas (uso corporativo), Compartilha (corridas
compartilhadas) e lançou no fim do ano passado em Belo Horizonte (MG) serviço de
entrega de comida o 99Food.
Serviços de entregas vão no mesmo sentido. A colombiana Rappi nasceu em 2015 para
atender pedidos de alimentos a farmácia e supermercados. Chegou aqui em 2017 e
agora soma mais de 200 mil entregadores cadastrados e 100 mil parceiros comerciais
em uma centena de cidades de nove países, 60 delas no Brasil. Aqui, o crescimento
médio é de 20% mensal e há parcerias para atender desde serviços domésticos, com a
Parafuso, até manicures, com Singu, ou táxis, com a Wappa. “Agora o foco será e-
commerce”, adianta o diretor de expansão, Ricardo Bechara. Parceria com a Linx,
especialista em tecnologia para o varejo, permitirá às empresas da plataforma
omnichannel usar a Rappi para vender produtos de lojas físicas.
Luciana Ceccato, da Uber: trabalho para mais de 600 mil pessoas no Brasil — Foto: Dani Toviansky/Divulgação
O Mercado Livre estima que 600 mil famílias vivam de comprar e vender produtos na
plataforma em toda a América Latina, 296 mil delas no Brasil, enquanto a OLX
estimula a venda de produtos usados para renda adicional.
Segundo pesquisa de 2018, 69% dos anfitriões brasileiros usam a renda extra para
manter seus imóveis e 55%, para deixar as contas em dia. Em média, a atividade
contribui com 23% da renda familiar. Além disso, a opção pela hospedagem ajuda a
democratizar a verba do turismo com maior distribuição, por exemplo, entre
comerciantes de novos bairros, diz a gerente de relações institucionais e governamentais
da Airbnb no Brasil, Flavia Matos.
Dos classificados aos portais com anúncios de imóveis, o mercado imobiliário agora vê
a chegada de plataformas digitais que mudam a experiência de compra, venda e aluguel
de apartamentos e casas. No mundo, as construtechs - como são chamadas as startups
com soluções tecnológicas para o setor -captaram US$ 4,4 bilhões em investimentos
desde 2010, conforme dados da empresa de pesquisas Pitchbook. No Brasil, existem
562 negócios na área, segundo o levantamento mais recente da Construtech Ventures.
Com presença em seis bairros paulistanos, a meta é ampliar a atuação para pelo menos
três cidades neste ano. O foco tem sido apartamentos de classe média que podem ser
financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). “É o segmento que mais sofre
com liquidez e dificuldade para conseguir crédito”, aponta Vargas.
Desde abril de 2009, os clientes do Walmart nos Estados Unidos podem fazer suas
compras por comando de voz. A rede firmou uma parceria com o Google para que os
consumidores possam utilizar o Google Assistente para adicionar produtos em suas
listas de compras. Basta dizer “Ok, Google, fale com o Walmart” - para acordar a
assistente virtual - e listar em voz alta o que deseja. Na sequência, optar pela compra on-
line ou pela retirada na loja física.
Um em cada dez consumidores americanos já usa dispositivos ativados por voz para
fazer compras, segundo o estudo Pymnts-How we will pay, realizado em colaboração
com a Visa. O volume de compras deverá alcançar US$ 40 bilhões em 2022, se
somadas apenas as transações feitas nos EUA e no Reino Unido - 20 vezes maior do que
o registrado em 2017, conforme destacou a consultoria OC&C Strategy Consultants em
2018.
A expectativa é que até 2025 quase 300 milhões de pessoas ao redor do mundo usem
assistente de voz. No Brasil, o processo ainda é muito novo, embora as expectativas
sejam de crescimento rápido. Não foi à toa que a Amazon iniciou em outubro de 2019
as vendas da linha de autofalantes Echo, com a assistente de voz Alexa falando em
português. A novidade pode mudar hábitos de compras on-line, a forma como pedimos
refeições, ouvimos música ou atualizamos as notícias, entre outros.
Ingrid Imanishi, da Nice: mercado impulsionado pelas tecnologias de inteligência articial e de customer analytics — Foto:
Divulgação
Os assistentes virtuais são apontados como grande tendência do varejo global ao criar a
oportunidade de coletar mais dados sobre o cliente, não apenas no momento da compra.
“Justamente por estar dentro da casa do consumidor, ele é capaz de capturar
informações o tempo todo, o que permitirá a adoção de ações mais personalizadas e
assertivas”, diz Alex Winetzki, diretor de P&D da Stefanini, multinacional brasileira de
soluções tecnológicas. De acordo com o executivo, num primeiro momento não é
possível aferir o impacto nas vendas do varejo, mas num futuro próximo, com certeza
sim, pela facilidade de interação.
Na visão de Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, as compras feitas por meio
de assistentes de voz podem tornar a experiência mais acessível para aqueles que têm
pouca familiaridade com a tecnologia. “Com a combinação do uso de machine learning
e inteligência artificial, os assistentes pessoais ficaram mais inteligentes, mais
poderosos, passaram a reconhecer intenções e não apenas o que se fala, isso torna o grau
de personalização mais forte.”
Quanto mais o consumidor achar que o produto foi feito sob medida para atender seus
desejos e demandas, maiores serão as chances de compra. Essa regra o varejo já
entendeu e a indústria segue na mesma direção. Para tanto, busca parcerias com as
empresas de tecnologia a fim de praticar a chamada “personalização em massa”.
Os clientes podiam personalizar as caixas de bombons das marcas Nestlé e Garoto com
chocolates de sua preferência. Os clientes realizavam sozinhos todas as etapas da
compra - escolha dos bombons, pagamento, personalização da embalagem com uma
mensagem de até 35 caracteres e recebimento do produto, com a entrega feita na hora
por um robô colaborativo. Tudo pelo preço único de R$ 13,99.
A Nestlé não revela o volume de vendas, mas a ação funcionou, tanto que foi replicada
para as mesmas marcas de bombons em Vitória, no mês de dezembro, e para a venda de
cápsulas de café Dolce Gusto pela internet. Foi o primeiro modelo de personalização
das cápsulas do café no mundo, feito com tecnologia 100% brasileira.
“Cada vez mais, as marcas querem entender seus consumidores e as startups que
oferecem soluções nessa área vão ganhar importância”, avalia Thomas Aoki, analista de
mercado da Liga Insights, braço de estudos sobre inovação da aceleradora de negócios
Liga Ventures.
Estudo da Liga Insights revela que o total de martechs no Brasil cresceu 37% entre 2018
e 2019, para 266 empresas. A pesquisa mapeou 12 categorias, sendo a de soluções de
análise de dados a mais representativa, com 17% do total de empreendimentos.
Na opinião de Aoki, uma das principais mudanças percebidas no setor, no último ano,
foi o fortalecimento do conceito de customer experience (experiência do consumidor)
na área do marketing digital. Empresas brasileiras de sucesso, como Nubank e
QuintoAndar, sempre colocam o consumidor no centro dos seus projetos, ao oferecer
novos produtos e serviços, diz. Nessa linha, as martechs podem entregar mais valor às
corporações, com a geração de dados sobre usuários e ajudando na melhor tomada de
decisões. “Isso possibilita que as marcas atinjam os consumidores com uma abordagem
correta, no momento certo e com ofertas coerentes.”
É o caso da VidMob, que criou em 2019 uma plataforma que utiliza inteligência
artificial para cruzar dados de elementos que compõem vídeos publicitários, como
pessoas ou logomarcas, com a audiência dos anúncios em redes sociais, como YouTube
e Facebook. “A ideia é que os profissionais de marketing avaliem e otimizem as peças
publicitárias, em tempo real, para melhorar os resultados das campanhas”, explicam
Miguel Caeiro, head de operações e Camilo Barros, head de parcerias latino-americanas
da VidMob.
A empresa já recebeu aportes “acima de R$ 500 mil”, entre 2016 e 2018, da aceleradora
WoW, da Bossa Nova Investimentos e GVAngels. “Estamos conversando agora com
alguns fundos que possam nos apoiar na geração de mais negócios no Brasil e na
abertura do mercado latino-americano.”
Para Deborah Folloni, CEO e fundadora da Chiligum Creatives, a força das imagens
pode definir o retorno das campanhas de marketing. A empresa desenvolveu uma
solução de produção de vídeos baseada em modelos pré-fabricados, que podem criar
filmes de forma automática.
O ritmo alarmante de crescimento dos crimes cibernéticos nos dois últimos anos fez
acender o sinal de alerta também na indústria de segurança. Pressionados pelas
empresas, que cada vez mais dão prioridade a ferramentas capazes de fazer frente às
novas técnicas de ataques, os fornecedores de software de segurança investem agora em
tecnologias de última geração. Inteligência artificial e machine learning, security
analytics e sistemas de orquestração e automação e resposta de segurança (SOAR) são
alguns dos recursos que vêm sendo integrados às soluções de mercado.
Os ataques estão mais sofisticados, caros e levam mais tempo para ser solucionados. O
custo médio global para recuperar uma violação de dados, por exemplo, aumentou US$
1,4 milhão, chegando a US$ 13 milhões em 2019, de acordo com o último relatório
“Custo do Crime Cibernético”, publicado pela Accenture e o Ponemon Institute. No
Brasil, o estudo calcula que o custo médio por empresa é de US$ 7,2 milhões.
Entre as tendências para este ano, ele cita o modelo Zero Trust, uma abordagem de
segurança na qual não se pode confiar em nada, esteja dentro ou fora da rede
corporativa. “Esse conceito vem ganhando força como uma forma de evolução no
mercado de VPN. Com o private access, um componente da nossa plataforma security
cloud, superamos o desafio de fornecer acesso seguro a aplicações e dados privados, em
qualquer lugar, a partir de qualquer dispositivo”, afirma.
Muitas das novas tecnologias têm como propósito fornecer inteligência adicional às
equipes internas de segurança para enfrentarem as técnicas mais sofisticadas de ataque.
É o caso do MTR (managed threat response), que combina aprendizado de máquina
com análise humana para uma proteção proativa de segurança. “O MTR aprimora a
expertise dos especialistas para melhorar a detecção de ameaças”, afirma André
Carneiro, diretor geral da Sophos no Brasil.
A tecnologia foi incorporada às soluções cloud optix, que usa inteligência artificial para
automatizar a detecção e resposta a vulnerabilidades de segurança na nuvem, e
sophoslabs intelix, plataforma em nuvem de inteligência de ameaças e de análise para
criação de aplicações seguras.
Atul Gupta, diretor médico da Philips: paciente se recupera mais rápido e os custos com o tratamento diminuem — Foto:
Divulgação
O médico fez uma demonstração da solução que está sendo desenvolvida pela empresa
durante a RSNA 2019, feira internacional de radiologia realizada na cidade de Chicago,
em dezembro. Ele estendeu à repórter um par de óculos de realidade virtual - como os
utilizados em jogos eletrônicos. A única diferença está nas lentes, que são transparentes
e permitem o contato visual entre médicos e pacientes.
Basta ajustar o equipamento ao rosto para ter acesso ao menu do sistema. As lentes se
transformam em tela que projeta uma espécie de holograma, sensível ao toque dos
dedos. Para quem vê de fora, o usuário está apenas tocando o ar. Por dentro dos óculos,
os ícones aparecem no campo de visão, em uma realidade virtual que confunde os
sentidos. Os dedos correm pela tela invisível, dando acesso aos dados extraídos dos
exames e do prontuário eletrônico do paciente. Em um dos recursos, saltam as imagens
dos órgãos e do sistema vascular.
Frans van Houten, CEO da Philips, explica que essa revolução afeta, de maneira
significativa, a cadeia de valor da saúde, levando empresas tradicionais do ramo a
investirem pesado em softwares, para utilizar toda a capacidade dos equipamentos. “Os
avanços em hardware chegaram a um limite. A inovação, nos próximos anos, se dará no
uso inteligente dessas máquinas”, comenta van Houten.
Nesse contexto, é natural, destaca o CEO, que só se fale em inteligência artificial (IA).
“Estão todos obcecados com o tema”. De fato, a IA tomou conta da maior parte das
apresentações e discussões da última edição da RSNA, ocupando a agenda de
executivos de especialista da Philips, Siemens e GE, além de atrair para a arena gigantes
da tecnologia como IBM e Google.
A nova fronteira, diz o executivo, está na utilização correta dos dados. “Nossos esforços
em pesquisa e desenvolvimento (P&D) estão centrados em ajudar profissionais e
instituições a cuidar melhor dos pacientes, com o suporte dos dados”, comenta.
Para David Gruen, diretor médico de imagem do IBM Watson, a inteligência artificial
aumenta a produtividade e auxilia os médicos. Na área de diagnósticos por imagem, a
IBM tem treinado o Watson - plataforma de serviços cognitivos - para analisar imagens
e identificar tumores.
O objetivo é que o sistema encontre padrões difíceis de serem percebidos pelos olhos
humanos, ampliando a capacidade de diagnóstico precoce.
“Durante a análise de uma imagem, o radiologista pode ser interrompido ou estar tão
cansado que não nota uma anormalidade. O sistema vai passar o pente fino”, explica
Gruen.
Segundo o executivo, só nos Estados Unidos são realizados 800 milhões de exames de
imagem anualmente, gerando 94 bilhões de imagens. O país possui 31 mil radiologistas,
o que contabiliza três milhões de imagens por ano para cada um deles. “É uma escala
impossível para um ser humano”, reforça o diretor médico da IBM.
Sara Yusuf, diretora da área de diagnóstico por imagens dos hospitais ingleses Sandwell
e West Birmingham, está animada com os avanços da inteligência artificial na
radiologia. “É um apoio importante. Os softwares vão trazer mais elementos para o
diagnóstico”, diz. Ela destaca, no entanto, o maior desafio: a falta de informações sobre
o histórico do paciente. “Os projetos de prontuário eletrônico precisam decolar”,
conclui.
Para Callstrom, a integração dos equipamentos também está no cerne da adoção das
tecnologias de internet das coisas (IoT) e de inteligência artificial (IA) nas instituições
de saúde. “Além de combinar recursos para o tratamento, é preciso capturar, armazenar
e organizar os dados gerados pelas máquinas”, diz.
As empresas voltadas para a prática de assistência médica (B2B) levantaram US$ 3,6
bilhões em 261 negócios (40%), e as que têm foco no paciente (B2C) captaram US$ 5,3
bilhões, em 354 transações (60%). O relatório revela que o valor médio das negociações
de financiamento em 2019, em 30 países, foi de US$ 14,4 milhões, ante US$ 13,6
milhões em 2018.
O Hospital Israelita Albert Einstein é dos mais ativos e já soma oito anos com seu
programa de telemedicina para oferta de serviços especializados a outros hospitais do
país e a plataformas da Petrobras. Foram 178 mil atendimentos, e, em algumas UTIs,
houve queda de mortalidade superior a 50%.
“Hoje temos 181 leitos, divididos em oito UTIs, visitados remotamente por nossos
médicos, mais do que os leitos físicos do Einstein. No programa de teledermatologia,
zeramos em seis meses uma fila de 70 mil pessoas”, enumera dr. Sidney Klajner,
presidente do Einstein.
“É uma ferramenta de apoio cognitivo que, por meio de inteligência artificial, identifica
padrões e prevê eventos adversos, melhorando a tomada de decisões imediatas durante
as cirurgias”, diz Diógenes Silva, CEO da Anestech.
A EPHealth é uma ferramenta de saúde preventiva voltada para atenção primária, com
aplicativo para agentes de saúde em campo e software na nuvem para monitoramento e
controle da população. “Um total de 36 prefeituras adotou a versão paga e 3,5 mil a
gratuita. Em todas, as campanhas de saúde ficaram mais assertivas”, ressalta Pedro
Marton, CEO da empresa.
Jeff Plentz, presidente da Techtools, diz que o foco inicial do boom de health techs foi
em soluções para a gestão, mas ele destaca o surgimento de inovações científicas, como
a desenvolvida pela startup brasileira Brain4care. Trata-se de um método não invasivo e
pioneiro no mundo, capaz de monitorar pressão intracraniana (PIC) e sua tendência ao
longo do tempo.
A solução envolve um sensor IoT externo encostado na cabeça do paciente, que capta
alterações e condições que antes somente poderiam ser coletadas por meios invasivos,
como um cateter inserido cirurgicamente no cérebro. Assim, é possível acompanhar a
evolução clínica de pacientes neurocríticos.