Valor Especial Servicos Digitais 31jan2020

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Valor Especial: Serviços Digitais

31/01/2020

Sumário
Relações voláteis ....................................................................................................................... 1
Bancos digitais apostam em novas ferramentas ................................................................ 4
Instituições tradicionais realizam parcerias para enfrentar concorrência .................... 6
Plataformas de investimento ganham mercado ................................................................. 8
Fintechs atraem quase US$ 1bi em 2019......................................................................... 10
Investidor diversifica o portfólio ......................................................................................... 12
Varejistas reforçam investimentos em serviços financeiros.......................................... 12
Custo e insegurança retardam avanço dos sistemas de autoatendimento............... 14
Operadoras criam soluções específicas para as PMEs .................................................. 15
Brasil é o terceiro do mundo em download de aplicativos .......................................... 16
Impacto no trabalho autônomo é expressivo.................................................................. 18
Empresas facilitam compra e venda de imóveis ............................................................. 19
Compras por comando de voz devem ter crescimento rápido .................................. 20
Consumidor personaliza o próprio produto .................................................................... 22
Produção de dados de usuários impulsiona o marketing digital ................................. 23
Mais recursos para enfrentar questões de segurança.................................................... 25
Diagnósticos ganham mais precisão.................................................................................. 26
Integração de equipamentos traz eficiência ao tratamento de câncer ..................... 28
“Healthtechs” atraem US$ 8,9 bi com novos modelos de negócios ......................... 29

Relações voláteis
Demandas do consumidor hiperconectado desafiam empresas
Por Ana Lúcia Moura Fé — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h00 · Atualizado há 4 horas
Serviços digitais proliferam em todos os setores, trazendo conveniência e economia para
os consumidores. Contratação de crédito, compras on-line, pagamentos de boletos,
aluguel de carro, acesso a música e filmes, tudo pode ser feito a qualquer tempo e lugar,
sem necessidade de deslocamentos e mediante alguns cliques na tela do PC ou do
celular.

Hiperconectado, o novo consumidor habitua-se rapidamente às novidades. Por outro


lado, está mais propenso a abandonar fornecedores que o desapontam.

Basta uma experiência negativa para que seis em cada dez pessoas deixem de comprar
em uma loja virtual ou cancelem um serviço digital, revela pesquisa da Forrester em 15
países, inclusive Brasil.

Demandas do consumidor hiperconectado desafiam Empresas

“O cliente informado e empoderado é um fenômeno global”, diz Rafael Russo, líder de


performance e dados do Google Brasil. Para atender às suas expectativas, os negócios
têm lançado mão de um rol amplo de tecnologias sofisticadas entre as quais Russo
destaca, como peça-chave, a inteligência artificial (IA). “O machine learning,
subdisciplina de IA que está no centro de tudo o que o Google faz, é a maior revolução
que tivemos nos últimos anos, porque traz o que é de fato relevante para empresas e
clientes”, afirma.

Segundo Russo, junto com a democratização do acesso via smartphone e do boom de


aplicativos, o processamento de dados com aprendizado de máquina vem transformando
profundamente a relação entre empresas e clientes. “Hoje, isso transcende todas as
indústrias.”

Com 230 milhões de smartphones em uso, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV),
o Brasil se destaca em algumas frentes dessa revolução. Por exemplo: o país só perde
para Malásia e Índia no quesito popularidade de serviços digitais sob demanda, segundo
a Forrester, que inclui nessa categoria desde entrega de restaurantes até
compartilhamento de caronas.

O setor financeiro, campeão em investimentos tecnológicos, é outro que empurra o país


para o front da digitalização. “Os apps já são o canal preferido dos brasileiros para pagar
contas, transferir dinheiro e outras transações”, diz Gustavo Fosse, diretor setorial de
tecnologia da Febraban. “A IA, junto com analytics e big data, está ajudando os bancos
a entender o momento de vida do cliente e oferecer serviços sob medida.”

Números de grandes bancos refletem a adesão massiva do brasileiro ao digital. Em


setembro de 2019, mais de 80% das transações no Banco do Brasil eram feitas via
internet ou mobile. Cerca de 30% dos clientes do BB que regularizaram dívidas em
2019 utilizaram jornada estritamente digital. No Itaú, 12,2 milhões de correntistas
utilizavam os canais digitais em setembro de 2019.

O atendimento por voz é a “bola da vez” no setor, diz Fosse. Uma pioneira é a
inteligência artificial do Bradesco, BIA, que interage por texto ou voz via apps do grupo
e canais de terceiros, como Google Assistente e Alexa, a assistente pessoal da Amazon.
Segundo o Bradesco, a BIA já realizou mais de 280 milhões de interações desde que foi
criada, em 2016.

Nas telecomunicações, Rodrigo Duclos, diretor de transformação digital e inovação da


Claro, testemunha o impacto do comportamento de consumo mais volátil do brasileiro.
“Hoje, o consumidor em geral leva em conta experiência de compra, mais do que
confiança na marca, na hora de decidir se troca ou não de serviço ou fornecedor”,
afirma.

Isso requer um novo jeito de trabalhar e uma nova cultura nas empresas, diz o diretor,
acrescentando que as teles ainda têm muito a avançar no uso de dados de contexto para
personalizar serviços, respeitada a privacidade do cliente.

O grupo Claro (que engloba tele homônima, Net e Embratel) busca explorar o potencial
da IA para além dos robôs de bate papo. “Estamos criando algoritmos para análises
preditivas que nos ajudarão a prever, por exemplo, quando um cliente tende a cancelar
um serviço, para nos anteciparmos com ações ou soluções”, diz Duclos.

A Claro registra adesão expressiva dos clientes a suas ofertas digitais. O atendimento e
as vendas on-line cresceram 1.340% e 770%, respectivamente, entre 2015 e 2019. Uma
estrela no portfólio da operadora móvel é o Claro Flex, um plano contratado e
gerenciado totalmente por aplicativo.

Ricardo Drumond Andrade, diretor de serviços a clientes da Oi, diz que 60% das
solicitações de clientes da tele para resolução de problemas são resolvidas em canais
digitais. A estratégia da Oi, entretanto, é oferecer ao cliente todos os canais possíveis,
com autoatendimento para coisas simples, como mudar a senha do wi-fi e agendar
serviços, e atendentes humanos qualificados para solucionar questões mais complexas.
“Não queremos nunca deixar de falar com nosso cliente.”

Uma novidade da Oi é a inteligência artificial Joice, que atende clientes por meio de
canais diversos, incluindo Messenger e WhatsApp. Lançada há menos de um ano, a
Joice realiza três milhões de atendimento por mês e reduziu em 180 mil as chamadas
para o call center tradicional. “Antes, nossos técnicos encontravam a casa do cliente
fechada em cerca de 10% das visitas. Esse número caiu pela metade porque a Joice o
alerta sobre o compromisso.”

Na TIM Brasil, Alberto Griselli, diretor de receitas, diz que a chegada iminente da
quinta geração de celulares (5G) acelerará ainda mais a digitalização da sociedade.

“O Brasil já é o segundo do mundo em consumo de internet em geral e mídias sociais, e


o brasileiro é um front-runner, altamente conectado e aberto ao novo”, diz ele. Na
empresa, a digitalização da jornada do cliente engloba desde a venda até o faturamento
e pagamento. Um destaque no portfólio é o TIM Black Família, que combina serviços
digitais premium como Netflix, notícias e música, entre outros.

“Esse plano transforma o smartphone em hub de entretenimento, em linha com os


hábitos conectados do brasileiro.”

Luiz Medici, vice-presidente de dados e IA da Vivo, diz que a tele atua hoje como um
grande hub de parcerias digitais que incluem nomes como NBA, Amazon Prime Video
e Netflix, entre outros. “Estamos facilitando o acesso a milhares de conteúdos, com
pagamento direto na conta do celular ou com créditos pré-pagos.”

Hoje, mais de 65% das interações dos clientes com a Vivo ocorrem no meio de digital.
Só a inteligência artificial Aura, acionada por texto ou voz, faz mais de vinte milhões de
transações por mês em canais da Vivo e de parceiros, como Google Assistente e
WhatsApp.

No lado de fornecedores de soluções B2B, Mário Rachid, diretor executivo de soluções


digitais da Embratel, diz que o uso de nuvem habilitou empresas de todos os portes a
criar serviços digitais inovadores em alta velocidade, sem grandes investimentos.
“Realizamos em média sete lançamentos por mês, entre produtos e melhorias. Antes,
um único lançamento levava em média seis meses”, afirma.

Bancos digitais apostam em novas ferramentas


Mudanças culturais e na regulação favorecem o mercado
Por Danylo Martins — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado
Há alguns dias, o Nubank anunciou que atingiu a marca de 20 milhões de clientes.

Ainda distante dos números das grandes instituições financeiras, a fintech - que se
popularizou pelo cartão roxo sem anuidade - pavimentou o caminho para o avanço dos
bancos digitais. Prova disso é que, entre 2017 e 2018, mais do que dobrou o número de
bancos digitais no país, segundo estudo recente do boostLAB, do BTG Pactual, em
parceria com a empresa de inovação ACE.

Com o chamariz de uma conta digital gratuita, o Banco Inter ultrapassou 4 milhões de
clientes no fim de 2019, em comparação a 1,45 milhão no último trimestre de 2018.
Neste ano, a expectativa é pelo menos dobrar a quantidade de clientes, para 8 milhões,
prevê Priscila Salles, diretora de marketing e CRM do banco. Segundo ela, o alto nível
de desbancarização no país é uma oportunidade para fisgar novos clientes. Correntistas
insatisfeitos com os serviços de grandes bancos também estão na mira. “Os bancos
digitais ficaram mais conhecidos em 2019, mas agora o maior desafio é como se
diferenciar”, observa.

Uma das estratégias da instituição mineira é o chamado “super app”, plataforma lançada
em novembro de 2019 e que reúne produtos e serviços de mais de cem lojistas, entre
aluguel de carro, eletrodomésticos e passagens aéreas. “Hoje, o aplicativo é a vida das
pessoas e oferece cada vez mais conveniência”, aponta. Para 2020, uma das metas é o
lançar uma solução de pagamento instantâneo, diz.

O Banco Original passou de 700 mil clientes em 2018 para 3 milhões no fim do ano
passado. Os novos correntistas têm vindo, principalmente, dos bancos tradicionais,
explica Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia da informação, produtos e
operações do banco. Para Moreira, o ambiente regulatório favorável, a evolução
tecnológica e as mudanças no comportamento do consumidor são os fatores que
explicam o crescimento dos bancos digitais no Brasil. “Para que possa efetivamente ser
o principal banco do cliente, é preciso ter uma solução completa.”

A instituição também decidiu ingressar no segmento de pequenos negócios e lançou no


ano passado uma conta digital para microempreendedores - em menos de um ano,
atingiu 100 mil clientes. Segundo Moreira, o grande desafio dos bancos digitais é
conquistar a confiança, mas a tendência é que os brasileiros comparem cada vez mais as
opções. “Nos próximos cinco ou seis anos, pelo menos um banco digital estará entre os
cinco maiores”, diz.

Fundada em 2016, a Neon Pagamentos aposta em produtos e serviços para pessoas


físicas, microempreendedores e pequenas empresas - com até 50 funcionários. No ano
passado, a fintech comprou a MEI Fácil, empresa que ajuda no processo de abertura de
microempreendedor individual. “Nossa obrigação é fazer com que a pessoa tenha tempo
para fazer o que sabe fazer e não precise gastar tempo com complexidades financeiras”,
afirma Jean Sigrist, sócio da fintech, hoje com cerca de 2 milhões de clientes.

Com foco nas classes C e D, o Agibank tem investido na combinação entre canais
digitais e a presença física. Na contramão das maiores instituições financeiras, o plano
do banco gaúcho é passar dos cerca de 600 pontos de atendimento para mais de 1.400,
voltados principalmente para clientes que não têm familiaridade com tecnologia, conta
Fernando Castro, diretor de tecnologia, produto e marketing do Agibank, que tem 1,2
milhão de clientes. Até o fim do primeiro semestre, o banco prevê lançar uma nova
versão do aplicativo.

Em setembro do ano passado, o BS2 lançou uma solução para empresas, com conta
digital, plataforma de cobrança e maquininha oferecida pela Adiq, credenciadora do
grupo. A ideia é montar um marketplace com produtos e serviços não apenas
financeiros, por meio de parceiros. “Criamos a base para isso porque a plataforma
tecnológica é composta por diversas APIs [interface de programação de aplicações]”,
conta Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva do banco.

Com 400 mil clientes, o BS2 criou uma conta digital internacional em dólar e ampliou a
plataforma aberta de investimentos, que hoje reúne mais de cem produtos. Com isso,
entrou na briga por um mercado cada vez mais concorrido, que inclui XP, Órama,
Guide e BTG Pactual digital.

“Temos estrutura de custos baixa e adequada ao cenário atual, de juro baixo”, diz
Marcelo Flora, head do BTG Pactual digital. Em sua prateleira, a plataforma soma cerca
de 400 fundos de 150 gestores, além de uma oferta de mais de 30 fundos de previdência.
No ano passado, o banco lançou um simulador de previdência e planeja incluir novas
funcionalidades no aplicativo, numa estratégia conhecida como “mobile first” -
desenvolvimento de soluções inicialmente para dispositivos móveis.

Instituições tradicionais realizam parcerias para enfrentar


concorrência

Grandes bancos precisam passar por uma transformação cultural


Por Danylo Martins — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

O avanço dos bancos digitais acendeu um alerta nas grandes instituições financeiras do
país. Em meio à concorrência mais acirrada com os novos entrantes, os gigantes optam
por firmar parcerias com startups, mas também aceleram a criação das próprias
iniciativas digitais. A pressão por criar bancos digitais vem do consumidor, que quer
dos bancos a mesma experiência que tem em outras áreas, analisa Guilherme Horn,
diretor de estratégia digital e inovação do banco BV (antigo Banco Votorantim).
Jeferson Honorato, diretor do Next: plataforma vem conquistando correntistas e pessoas desbancarizadas — Foto: Léo
Pinheiro/Valor

Mesmo com a crescente adoção, os bancos digitais têm dois grandes desafios, segundo
ele: ser o principal banco do usuário e gerar retorno para os acionistas. Já as instituições
tradicionais, apesar da capilaridade, precisam passar por uma transformação cultural,
avalia Horn.

É o que tem feito o banco BV, que mudou de nome em dezembro. No ano passado, a
instituição trouxe Horn, egresso do Banco do Brasil, para liderar uma unidade de
negócios de inovação. Outro movimento recente do BV foi a compra do Just,
plataforma on-line de empréstimo pessoal. Neste mês, o banco também liderou uma
rodada de investimento de R$ 25 milhões na fintech Olivia, com participação do fundo
BR Startups, que tem como cotistas a Microsoft e o próprio BV.

Criado em 2017, o banco digital Next, do Bradesco, atingiu 2 milhões de clientes no fim
do ano passado e a expectativa é pelo menos dobrar esse número em 2020, conta
Jeferson Honorato, diretor do Next. A plataforma vem conquistando correntistas de
outros bancos e pessoas desbancarizadas. Segundo o executivo, 80% dos clientes do
Next, por exemplo, não eram clientes do Bradesco. A solução tem sido adotada por
usuários entre 18 e 35 anos, que representam 85% da base total de clientes.

“Temos um time de antropólogos que vivem nas comunidades estudando os desejos das
pessoas”, explica Honorato. Neste mês, o banco digital lançou um plano odontológico,
com acesso a uma rede de mais de 31 mil dentistas no Brasil. No primeiro trimestre, o
Next passará a oferecer a prateleira de investimentos disponível na Ágora, corretora do
Bradesco.

No Santander, uma das principais estratégias tem sido montar novas empresas para
complementar a oferta digital. No ano passado, o banco espanhol lançou a Pi,
plataforma aberta de investimentos, e a EmDia, de renegociação de dívidas. Outro
movimento foi a criação da Sim, plataforma on-line de crédito, com atuação principal
em empréstimo com garantia de veículos e imóveis. A expectativa é atingir uma carteira
de R$ 1 bilhão em 2020, diz Geraldo Rodrigues, superintendente executivo de negócios
digitais do Santander.

“A entrada de novos competidores obrigou os bancos tradicionais a se transformarem


em plataformas digitais”, aponta Rodrigues. Além de novos negócios, que formam um
“ecossistema”, o Santander vê uma adoção cada vez maior de celular e internet banking
pelos correntistas. Atualmente, mais de 90% das transações são feitas pelos canais
digitais.
Pioneiro ao criar em 2015 o Cubo, espaço de inovação e empreendedorismo, o Itaú
Unibanco também resolveu apostar em solução própria. Em outubro, lançou uma
plataforma de pagamentos instantâneos, a “iti”. O banco não divulga números da
operação por enquanto, mas diz que houve um aumento de 50% no volume de
transações para usuários PJ em dezembro de 2019.
O aplicativo ganhou funcionalidades, como contratação de câmbio (dólar e euro) e
oferta de seguro odontológico. “O principal desafio é continuar evoluindo nossos canais
digitais na velocidade e com a qualidade que os nossos clientes esperam”, aponta
Renato Mansur, diretor do Itaú Unibanco. Hoje, mais de 12 milhões de clientes usam os
canais digitais.

Em dezembro, o Banco do Brasil (BB) firmou uma parceria com a fintech Bom Pra
Crédito para oferta de crédito pessoal e consignado na plataforma on-line. O cliente
também tem preferido canais digitais para contratar financiamentos, observa Daniel
Régis Filho, gerente executivo de negócios digitais do BB. Atualmente, mais de 60% do
crédito de veículo é contratado pelo app - em 2019, o volume contratado dessa linha via
mobile foi de R$ 1,5 bilhão. Já a conta digital, chamada de Conta Fácil, ganhou 1
milhão de novos clientes no ano passado.

Plataformas de investimento ganham mercado


Com 20 empresas independentes, estimativas apontam que a participação do segmento
pode chegar a 10%
Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio
31/01/2020 05h01 · Atualizado

O setor de serviços financeiros está sendo afetado pela revolução tecnológica que vem
remodelando o mundo. E a gestão de patrimônio e ativos está imersa na transformação.
Essa indústria sofreu grandes mudanças desde que a crise econômica atingiu os
mercados no fim da década de 2000. Com muita tecnologia, custos mais baixos, redução
das taxas de administração e foco na experiência e nas expectativas dos clientes, os
novos titulares das plataformas digitais desafiaram as grandes instituições financeiras.

Nascif, CEO da Órama: plataformas tiveram de quebrar barreiras — Foto: Divulgação

B3, Banco Central (BC), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro
e de Capitais (Anbima) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda não dispõem
de um balanço específico do desempenho das plataformas digitais de investimentos.
Porém, estimativas de mercado apontam que a participação do segmento está entre 7% e
10%, com mais de 20 plataformas independentes.

Ágora, Órama e XP compõem o primeiro pelotão de desbravadores que, com suas


plataformas digitais, ajudaram a democratizar o acesso a aplicações mais rentáveis e a
fomentar a indústria.
“Em 2010, não havia opção de investimento em produtos diversificados, pois não
existia um ecossistema de fundos independentes que pudessem ser acessados
diretamente. O brasileiro só podia investir através de um banco e seus produtos. Só
tinha acesso a algum fundo mais diversificado quem detinha patrimônio elevado”,
recorda Karel Luketic, sócio e diretor-executivo de marketing e conteúdo digital da XP.

Para Luketic, a XP democratizou o acesso a melhores investimentos, eliminando a


barreira de entrada e permitindo aplicações de qualquer valor. “ A velocidade da
mudança tecnológica é exponencial, e, se não ficássemos antenados à mudança
marginal, não seríamos o que somos hoje”, afirma Luketic.

Bernardo Pascowitch, CEO da Yubb - buscador que aponta as melhores opções de


aplicações financeiras -, observa que o mercado financeiro sempre apostou mais em
crédito, câmbio, previdência e seguros. O grande marco foi a aquisição da participação
de 49,9% da XP pelo Itaú, em 2017.

“O Itaú sinalizou que é possível ganhar muito dinheiro com investimentos. O mercado
acordou, abriram-se as porteiras, e as plataformas passaram a investir fortemente”,
analisa Pascowitch. A XP também quebrou paradigmas após a oferta inicial de ações
(IPO) de US$ 2,25 bilhões - apontada como a nona maior do mundo em 2019 - em
dezembro, na Nasdaq, onde estreou com valor de mercado de US$ 19 bilhões.

Com o despertar do interesse de outras corretoras, estas acabaram atraindo a atenção dos
grandes investidores globais. Em 2018, a Easynvest recebeu aporte da Advent; e a
Guide foi adquirida pelos chineses da Fosun.

Fundada em 1968 como uma corretora de valores, a Easynvest migrou, em 2014, para o
modelo de plataforma de investimentos 100% digital. Fernando Miranda, presidente da
corretora, diz que 65% dos 400 colaboradores são das áreas de tecnologia e design, e a
empresa atua no modelo de autosserviço e não baseada em agentes autônomos.
“Educação financeira e tecnologia são nossos dois pilares. Tecnologias como machine
learning ajudam o investidor a simular e selecionar seus investimentos”, diz Miranda.

Habib Nascif, CEO da Órama, observa que por serem pioneiras, as plataformas tiveram
de quebrar barreiras e criar cultura, explicando o conceito de gestor independente.
“Levar um produto para o varejo era quase impossível. Os gestores também não sabiam
como funcionava o varejo e tinham receio. Depois viram o potencial e passaram a
reduzir os valores mínimos de aporte.”

Luciano Tavares, CEO da Magnetis, diz que as fintechs de investimentos procuraram


dar mais transparência, reduzir conflitos de interesse e ampliar o acesso aos
investimentos para além da poupança. “A Magnetis foi a primeira fintech a usar robô
advisor com um modelo mais completo de gestão de patrimônio para ajudar o investidor
a construir a sua carteira. Somos remunerados por 0,6% da carteira ao ano, sem
comissão de produtos”, afirma Tavares.

Felipe Sotto-Maior, CEO da Vérios, diz que o modelo de corretoras com plataformas
digitais prosperou muito em função da abertura de capital da Bovespa, que lhes permitiu
arrecadar mais recursos. A Vérios opera com robô advisor e gestão de patrimônio. Em
2019, suas carteiras tiveram rendimentos médios de 130% a 275% do CDI.
Entre os fundadores da Warren está Tito Gusmão, que antes comandou a operação da
XP em Nova York. O mercado brasileiro conta com R$ 4 trilhões investidos em
poupança, previdência e fundos, que dão 30% do que o investidor deveria ganhar.
“Existe um desalinhamento entre o investidor e o corretor que recebe comissão do
produto. A Warren elimina o conflito de interesse, pois somos remunerados em 0,5% ao
ano pela gestão do patrimônio”, diz.

Fintechs atraem quase US$ 1bi em 2019


Fundos devem investir 30% a mais este ano no ecossistema de startups, segundo a
Distrito
Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 4 horas

O ano de 2019 foi o período com a maior movimentação de aportes do mercado de


venture capital em negócios digitais, em toda a história do setor. Estudo lançado este
mês pela Distrito, empresa de inovação aberta ligada ao ecossistema brasileiro de
startups, enumera 260 investimentos, que somaram cerca de US$ 2,7 bilhões, volume
198% maior do que o registrado em 2017 e 80% superior ao alcançado em 2018. Em
2020, a expectativa é crescer 30%, ante 2019.

Quem mais atraiu a atenção dos investidores, em número de aportes, foram as fintechs,
com 62 rodadas de investimento (US$ 935 milhões), antes do varejo, com 31
negociações (US$ 210 milhões), e companhias ligadas à saúde, com 24 captações (US$
43 milhões). O valor médio das injeções de capital ficou em US$ 19,5 milhões, 200%
acima do tíquete médio de 2018.
O setor de fintechs continuará na agenda dos fundos em 2020, segundo Gustavo Gierun,
co-fundador da Distrito. “O mercado financeiro ainda é muito concentrado, o que gera
oportunidades para todos”, avalia. A evolução do segmento, considerando iniciativas
como o novo Cadastro Positivo, o crescimento dos pagamentos instantâneos e a
tendência do open banking (conjunto de regras para organizar o sistema financeiro por
meio da abertura e integração de informações), deve ampliar a competição entre bancos,
financeiras e startups, diz ele.

Além do nicho de finanças, Gierun aposta que mais recursos irão para startups do
comércio e da área de mobilidade, em 2020. Para o especialista, o cenário de inflação
controlada, indícios de avanço do PIB e a trajetória de queda da taxa básica de juros
(Selic) devem incentivar os investidores a assumir mais riscos. A chegada de novos
fundos interessados em companhias digitais também alimenta o fluxo de dinheiro. Pelo
menos duas iniciativas, com recursos de até R$ 260 milhões, apareceram no final de
2019.

Em novembro, a Microsoft Participações, holding de investimentos da marca de


software no Brasil; a Bertha Capital e a Belvedere Investimentos, em parceria com o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional),
lançaram a iniciativa Women Entrepreneurship (WE), de fomento ao
empreendedorismo feminino. A ação inclui um fundo dedicado a negócios digitais que
tenham, pelo menos, uma mulher entre os sócios. O objetivo é captar R$ 100 milhões e
investir em 25 startups, em cinco anos. “Ele já nasceu com R$ 30 milhões captados”,
diz Franklin M. Luzes Jr., vice-presidente de operações da Microsoft Participações.

Startups em fase de ideias de projetos ou em aceleração devem receber entre R$ 50 mil


a R$ 500 mil, enquanto negócios com soluções já desenvolvidas podem ser beneficiados
com cotas de R$ 500 mil a R$ 5 milhões. Pelo menos dez setores, como inteligência
artificial, internet das coisas (Iot) e indústria 4.0, serão priorizados.

Em dezembro, a Qualcomm Ventures, braço de investimentos da multinacional


americana do setor de tecnologia, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) anunciaram um fundo de investimentos em participações de R$ 160
milhões, direcionado a áreas como Iot, cidades inteligentes e saúde.

Alexandre Vilella, diretor executivo da Qualcomm Ventures para a América Latina,


prevê de três a quatro novos investimentos, este ano, na região. A empresa mantém 14
ativos no portfólio e aplicou em empreendimentos como a QuintoAndar e a Loggi -
ambas já alçadas à categoria de unicórnios (com valor de mercado acima de US$ 1
bilhão). Este ano, lançou um fundo global focado em redes 5G. “No momento
adequado, queremos investir nesse setor, aqui no Brasil.”

Na avaliação de Manoel Lemos, managing partner da Redpoint eventures, com mais de


40 empresas na carteira, critérios como atuação em grandes mercados e velocidade de
crescimento continuarão guiando a seleção das companhias, em 2020. A gestora, que já
aplicou em empreendimentos de áreas como finanças, educação, saúde, software B2B e
varejo, soma três unicórnios investidos: Gympass, Rappi e Creditas.

No ano passado, foram 15 investimentos em novos negócios, ante cinco em 2018.


Outras categorias de startups, como legaltechs e construtechs também foram incluídas.
Um dos movimentos mais recentes, em dezembro, mirou a Nobli, fintech que oferece
empréstimos garantidos por aplicações financeiras. O valor da negociação não foi
divulgado. “Os setores que já estavam ‘quentes’ continuarão com boas oportunidades
em 2020”, diz. “Estamos fechando alguns novos ‘deals’ neste semestre.”

Investidor diversifica o portfólio


Há maior concentração de aportes em negócios em estágio inicial de desenvolvimento
Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

Apesar de ficarem conhecidos pela preferência por determinadas categorias de


empresas, como fintechs ou agrotechs, os fundos de investimentos que aplicam em
startups têm optado por diversificar o portfólio nos últimos anos. Ao mesmo tempo, há
uma maior concentração de aportes em negócios em estágio inicial de desenvolvimento.

De acordo com o relatório Inside Venture Capital Brasil, da Distrito, 62% dos acertos
realizados entre investidores e empresários, em 2019, foram para apoiar trabalhos de
pesquisa, validar mercados ou descobrir o melhor formato de novos produtos e serviços.

Na Astella Investimentos, em operação desde 2008, o foco são empresas de tecnologia


em fase inicial, com rodadas conhecidas como investimento semente (seed) ou série A,
mais usada para deslanchar soluções inéditas ou ampliar a base de usuários das firmas
investidas.

O aporte médio por empresa é de R$ 6 milhões em rodadas seed e R$ 20 milhões em


série A, diz o sócio Daniel Chalfon.

A gestora já investiu em 28 companhias e 13 continuam no portfólio. Do total, 60%


atuam no ramo de software como serviço (SaaS, na sigla em inglês), 20% em
marketplaces e 20% mantêm negócios voltados ao consumidor final. há 4 horas
Suplementos O maior aporte foi de R$ 30 milhões, na Resultados Digitais (RD), de
Florianópolis (SC).

Varejistas reforçam investimentos em serviços financeiros


Soluções permitem acesso a dados de comportamento de consumo e fidelização
Por Katia Simões — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 4 horas
Marco Stefanini, CEO da Stefanini: movimento de transformação deve-se à democratização do uso da tecnologia — Foto: Claudio
Belli/Valor

Cada vez mais varejistas e fornecedores de diversas áreas apostam na oferta de serviços
financeiros com o objetivo de se transformar em “minibancos”. Nas entrelinhas, todos
buscam capturar o maior número de dados de comportamento de consumo, a fim de
garantir fidelidade em tempos de concorrência acirrada.

Trata-se de um mercado gigantesco. Em 2019, a indústria de meios de pagamentos


movimentou R$ 1,8 trilhão nas modalidades crédito, débito e pré-pago. Estudos da
Deloitte revelam que os pagamentos geram cerca de 30% da receita dos bancos ao redor
do mundo. Mas o cenário tende a mudar.

Boa parte desse movimento de transformação deve-se à democratização do uso da


tecnologia, avalia Marco Stefanini, CEO global e fundador da multinacional brasileira
Stefanini. “O mundo digital permite fazer coisas que há dez anos eram inviáveis
economicamente”, afirma. “Com isso o acesso torna-se viável não só para as grandes
corporações, mas, também para pequenas e médias empresas.”

Batizada de Banking in a Box, a solução desenvolvida pela Stefanini e adotada por


varejistas como a Riachuelo, é uma plataforma de serviços financeiros, que contempla o
processo de ponta a ponta: abertura de conta digital com segurança, atendimento e
cobrança, construção de canais digitais, processamento de contas, cartões private label e
de bandeiras.

Há quem prefira criar a própria carteira digital, a exemplo da B2W - responsável pela
Americanas.com, Submarino e Shoptime -, por meio da qual consegue otimizar
descontos para os clientes via cashback (devolução de parte do dinheiro), gerando maior
recorrência de compra. Ou, trazer a fintech para dentro de casa, como a Via Varejo, à
frente das Casas Bahia e Ponto Frio. Em parceria com a americana Airfox, startup de
soluções de pagamentos móveis e digitais, o grupo lançou o banQi, plataforma de
soluções financeiras, que já nasceu com uma base de 80 milhões de clientes.

“O banQi conta com a rede de lojas das Casas Bahia como pontos físicos para
transações como saques, depósitos, recargas de celular, de bilhete único e pagamento de
carnês sem encargos”, diz o CEO Victor Santos. “Este ano serão lançadas novas
funcionalidades que permitirão oferecer aos usuários produtos mais personalizados e
garantir maior assertividade na concessão de crédito.”

A pulverização no setor de meios de pagamento cresce de forma expressiva. Em 2010,


apenas 1% das compras com cartão de crédito não passavam pelas grandes Cielo e
Rede. Hoje, 28% dos pagamentos eletrônicos circulam fora dos sistemas das duas redes.

Boa parte desse tráfego migrou para o Mercado Pago, o sistema de pagamento do site de
compras Mercado Livre. Em 2019, a plataforma somou 31 milhões de máquinas ativas e
16 milhões de usuários. “Oferecemos um ecossistema completo de pagamento, capaz de
atender pequenas e grandes empresas”, diz Rodrigo Furiato, diretor de wallet do
Mercado Pago.

“Para nós, não existe uma única solução, por isso apostamos, também, no QRCode, seja
em parceria com as redes de varejo, seja direto no nosso super app.” Segundo o
executivo, um dos diferenciais da plataforma é a possibilidade de ofertar descontos,
ferramenta habilitada em mais de 170 mil parceiros do Mercado Pago. Ao todo, cerca de
1,5 milhão de comércios aceitam QRCode no Brasil, incluindo pagamento em
maquininhas.

Para Denis Piovezan, vice-presidente da Linx, especializada em soluções de pagamento,


o varejo atravessa um período de aprendizado. Em quatro meses, 3.000
estabelecimentos, a maioria fast foods e drogarias, adotaram a tecnologia da Linx. A
meta é fechar o ano com 15.000 pontos em todo o Brasil.

Custo e insegurança retardam avanço dos sistemas de


autoatendimento
Instalação de self checkout reduz o tempo de espera para fechar a compra em até 30%
Por Katia Simões — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

Adotado nos EUA há duas décadas, os sistemas de autoatendimento (self checkouts) no


varejo começam a ganhar espaço no Brasil, ainda que timidamente. A demora, diz
Roberto Matsubayashi, diretor técnico da GS1, esbarra em dois pontos críticos: preço da
instalação e insegurança quanto ao uso, seja por parte do consumidor, seja por parte do
varejo que ainda teme perdas. “Trata-se de uma operação mais complexa do que o
autoatendimento bancário, principalmente no setor de supermercados”, assinala.
“Produto não cadastrado, peso que não confere, código que não bate, são apenas alguns
dos percalços.”

Segundo ele, para dar fluidez ao processo e garantir uma boa experiência para o
consumidor, o sistema tem de operar sem falhas. “O varejo alimentar é nervoso, opera
com muitos itens, o que torna a operação mais complexa do que na área de fast food,
por exemplo, que trabalha com menos itens e mais padronizados”, afirma.

O preço, porém, começa a cair. Hoje, uma central de autoatendimento custa 40% menos
do que há dois anos, algo em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Ainda alto, se comparado
ao checkout tradicional, com custo próximo a R$ 2 mil. Um dos principais benefícios,
dizem os especialistas, está na economia de tempo. Estima-se que a instalação de self
checkout reduza o tempo de espera para fechar a compra em até 30%. Livrar-se das filas
é o que o consumidor mais deseja.

Segundo a Concinco, maior empresa de self checkout e software de frente de caixa no


país, mais de 600 equipamentos já estão em operação no Brasil. As grandes redes
começam a se movimentar nessa direção.

Em 2017, o Carrefour inaugurou uma loja conceito no bairro dos Jardins, em São Paulo,
com seis caixas que permitem ao cliente passar e pagar os próprios produtos. O grupo
GPA intensificou as instalações em 2019 e já conta com 117 self checkouts operando
em 23 lojas das bandeiras Extra e Pão de Açúcar.
As redes médias também apostam na tecnologia. É o caso da cooperativa de consumo
Coop, pioneira no uso do equipamento no ABC paulista, Sorocaba, Piracicaba e São
José dos Campos. Das 32 lojas da rede, 29 já contam com self checkout, num total de
140 posições. “O retorno compensa, seja pela maior agilidade nas operações, seja para
eliminar as filas”, afirma Marcio Valle, presidente executivo da Coop.

Operadoras criam soluções específicas para as PMEs


Queda receitas com telefonia estimula ofertas diferenciadas
Por Erivelto Tadeu — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 4 horas

Mario Rachid, da Embratel: loja on-line dá exibilidade para os pequenos — Foto: Divulgação

As operadoras de telecomunicações elegeram as pequenas e médias empresas (PMEs)


como alvo de suas estratégias para expandir a atuação em outras áreas. Às voltas com a
queda persistente de receitas com serviços tradicionais de comunicação de dados e
telefonia, resultado da migração do consumidor para serviços digitais, elas agora
investem na oferta de soluções específicas para PMEs.

O leque de serviços inclui desde backup e armazenamento de dados em nuvem,


desenvolvimento de websites e lojas on-line, segurança cibernética até gestão fiscal e
financeira. Essa última modalidade demonstra, aliás, a intenção das teles de atacar
também o mercado de serviços financeiros.

Por enquanto, a única operadora a oferecer esse tipo de solução para PMEs no mercado
nacional é a Algar Telecom. Os serviços de gestão financeira e fiscal lançados no ano
passado são fruto de novos negócios criados dentro do Brain, centro de inovação da
companhia mineira fundado em 2017, que opera na gestão de soluções de internet das
coisas, cloud e digital.

“Os empreendedores enfrentam várias dificuldades. Então, consideramos que facilitar a


gestão dos negócios, centralizando a gestão dos serviços, é algo muito valoroso para
esse empresário”, diz Iuri Mendonça, diretor de negócios MPE da Algar Telecom.

A estratégia, segundo o executivo, é oferecer um leque completo de serviços, desde os


mais simples, como planos de telefonia e internet, até soluções de tecnologia da
informação como banco de dados e hospedagem, backup na nuvem e gestão simultânea
de nuvens.

Analistas do setor de telecom observam que as PMEs formam um mercado nada


desprezível e um universo de empresas maior que o do segmento de grande porte, no
qual as teles já mantêm uma carteira de clientes expressiva. Para se ter uma ideia do seu
potencial, basta notar que as PMEs respondem hoje por cerca de 27% do Produto
Interno Bruto (PIB) do país, que em 2019 deve ultrapassar R$ 7,2 trilhões.

Para o diretor de marketing da TIM Brasil, Rafael Marquez, as pequenas empresas são
um segmento importante não apenas para as operadoras, como também têm atuado
diretamente na recuperação econômica do país. A aposta da operadora para esse nicho é
o plano recém-lançado chamado TIM Black Empresa +.

O diferencial do novo serviço, segundo o executivo, além da franquia de internet, é a


possibilidade de acumular a quantidade de dados não utilizada para o mês seguinte.

O empreendedor conta também com ferramentas já incluídas na oferta, tais como o


criador de sites, para que desenvolva sozinho a página do seu negócio na web, e o email
profissional, que permite a criação de contas de e-mail com domínio da empresa.

Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas PMEs para inovar suas operações é o
custo, por isso a maioria busca por serviços baratos e flexíveis. Foi justamente para
atender essa demanda que a Claro e a Embratel, cujas operações de serviços foram
integradas, criaram um amplo portfólio de serviços em conjunto.

Os carros-chefes da operadora para o segmento de PMEs são o site pronto e o loja on-
line, serviços baseados na nuvem. “Com eles, o cliente passa a ter presença no mundo
digital para alavancar as vendas de produtos, até porque eles são integrados a meios de
pagamento e aos Correios ”, diz Roberta Godoi, diretora executiva da Claro empresas e
canais digitais.

O objetivo com a loja on-line e o site pronto é oferecer maior comodidade, flexibilidade
e preço para o pequeno empresário que quer iniciar o seu negócio, enfatiza Mario
Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel. Com a loja on-line, ele diz
que o empreendedor passa a ter um e-commerce básico no início, para que comece a
testar esse novo canal de venda, mas que pode ir expandindo aos poucos.

“À medida que o negócio cresce e evolui a ponto de precisar de um software que dê


maior robustez, ele pode migrar para outro serviço, voltado para empresas maiores”,
explica. O loja on-line tem planos mensais e anuais a partir de R$ 50,00 por mês e o site
pronto, a partir de R$ 39,90 por mês.

No caso da Vivo, as principais ofertas para o segmento de PMEs são o Vivo Marketing
Dinâmico, solução voltada para melhorar o atendimento ao cliente, e o Vivo Gestão de
Equipe, para que gestores acompanhem suas equipes externas, como vendedores,
instaladores, entregadores e outros. O head de IoT, inovação e big data B2B da Vivo,
Diego Aguiar, explica que o Marketing Dinâmico é comercializado por uma equipe de
especialistas em produtos digitais.

Brasil é o terceiro do mundo em download de aplicativos


Ferramentas modificam hábitos de consumo, mercados e a vida nas cidades
Por Martha Funke — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

A expansão dos smartphones e do acesso móvel à internet, a busca de conveniência e a


crise econômica colaboraram para o crescimento dos aplicativos de serviços. Segundo a
Anatel, o país já conta com mais de 230 milhões de smartphones e 98,2% da população
acessam dados móveis. Com isso, o uso de aplicativos para deslocamentos, compras,
lazer, finanças e até mesmo trabalho e renda - escassos com o desemprego insistente -
fazem do Brasil o terceiro país (atrás de China e EUA) em download de apps no mundo,
perto de 2 bilhões em 2019, segundo a Sensor Tower.

A pesquisa TIC Domicílios 2018, do Cetic.br, mostra que 48% dos usuários da internet
já pagaram por algum serviço. Principalmente transporte por aplicativo, empregado por
40,8 milhões de pessoas, seguido de streaming de vídeo e entrega de comida, utilizada
por 12% dos internautas.

A pioneira Uber nasceu em 2009 para conectar motoristas e usuários e chegou aqui há
cinco anos, onde contabilizou US$ 1 bilhão de faturamento em 2018. Tem 22 milhões
de usuários e 600 mil motoristas cadastrados. Oferece serviços como Juntos
(compartilhamento de viagens), Eats (entrega de comida) e Transit (integração com
transporte público, disponível em São Paulo com informações, informa a diretora de
marketing, Luciana Ceccato.

A 99 é outra líder em transporte urbano. Criada no Brasil em 2012 para conectar taxistas
a passageiros, foi comprada pela chinesa DiDi Chuxing em 2018. Com 600 mil
motoristas e 18 milhões de passageiros em 1,6 mil cidades brasileiras, oferece serviços
como Pop (carros particulares), Empresas (uso corporativo), Compartilha (corridas
compartilhadas) e lançou no fim do ano passado em Belo Horizonte (MG) serviço de
entrega de comida o 99Food.

Hábitos de consumo, mercados e cidades registram o impacto dos apps. Pesquisa do


Observatório Nacional de Segurança Viária de 2019 apontou que 68% dos brasileiros
deixaram de beber e dirigir graças a eles. Segundo a Anfavea, alternativas de transporte,
como apps, desencorajam a compra de carros próprios quase como as restrições
financeiras. Ao mesmo tempo, deram impulso à locação de veículos por motoristas sem
carro e os emplacamentos de frotistas foram 46% do total de 2019, contra 25% em
2012.

Serviços de entregas vão no mesmo sentido. A colombiana Rappi nasceu em 2015 para
atender pedidos de alimentos a farmácia e supermercados. Chegou aqui em 2017 e
agora soma mais de 200 mil entregadores cadastrados e 100 mil parceiros comerciais
em uma centena de cidades de nove países, 60 delas no Brasil. Aqui, o crescimento
médio é de 20% mensal e há parcerias para atender desde serviços domésticos, com a
Parafuso, até manicures, com Singu, ou táxis, com a Wappa. “Agora o foco será e-
commerce”, adianta o diretor de expansão, Ricardo Bechara. Parceria com a Linx,
especialista em tecnologia para o varejo, permitirá às empresas da plataforma
omnichannel usar a Rappi para vender produtos de lojas físicas.

A OLX, criada em 2005, investiu no estímulo ao desapego de objetos usados. Chegou


ao Brasil em 2010, lançou seu app três anos depois e já registra 80% de acessos móveis.
Com 4 milhões de vendedores por mês, atraiu segmentos como automóveis e imóveis e,
segundo o vice-presidente Marcos Leite, responde por 21% das vendas de carros do
país.

Impacto no trabalho autônomo é expressivo


Aplicativos colaboram para amenizar os índices de desemprego
Por Martha Funke — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 4 horas

Luciana Ceccato, da Uber: trabalho para mais de 600 mil pessoas no Brasil — Foto: Dani Toviansky/Divulgação

A economia compartilhada está ajudando a reconfigurar o mundo do trabalho e da


geração de renda. A Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que o
número de trabalhadores autônomos atingiu em junho último 24 milhões de pessoas,
recorde da série histórica iniciada em 2012. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), os aplicativos estão por trás do movimento e colaboram para amenizar
os índices de desemprego, com destaque para transporte terrestre e entrega de
mercadorias.

Estudiosos consideram o modelo um reflexo do movimento empreendedor ligado à


economia digital, mas outros o relacionam a precarização e perda de direitos
trabalhistas. Enquanto ao redor do globo cresce o número acordos reconhecendo
vínculos entre empresas e trabalhadores cadastrados, no Brasil, os motoristas de
aplicativos ganharam o status de microempreendedores individuais em agosto, com 1,5
mil dos mais de 600 mil profissionais do setor aderindo à modalidade no primeiro mês.

Para o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcos


Nakagawa, embora exerçam a cultura ou competência empreendedora, é difícil encaixar
a atividade no perfil do empreendedor, uma vez que ela não permite a gestão do
“negócio” como um todo ou, na maior parte dos casos, visão de crescimento - o que só
ocorreria, por exemplo, quando um motorista passa a alugar carros para outros cobrando
uma taxa sobre o serviço.

Alguns definem este autônomo como empreendedor de sobrevivência. “O mundo digital


está ajudando a ressignificar conceitos”, diz. “Esses trabalhadores não têm seguridade,
mas se não fizerem isso não têm outro emprego.”

Apps de contratação de serviços, venda de produtos novos e usados e hospedagem estão


entre os que colaboram no composto de trabalho e renda. “A Uber se tornou
oportunidade econômica para mais de 600 mil pessoas no Brasil”, lembra a diretora de
marketing, Luciana Ceccato. Isso inclui quem tem carro, bicicleta ou mesmo está
disposto a andar para entregar comida. Na verdade, perto de dois terços dos motoristas
optam por alugar carros. A marca oferece parceria com locadoras e começou a testar
ferramenta para reter ganhos dos motoristas diretamente no app e reduzir a
inadimplência.

O Mercado Livre estima que 600 mil famílias vivam de comprar e vender produtos na
plataforma em toda a América Latina, 296 mil delas no Brasil, enquanto a OLX
estimula a venda de produtos usados para renda adicional.

Já a Airbnb diversificou sua atuação, com ofertas de aluguel de imóveis inteiros,


espaços para hóspedes corporativos e “experiências” para hóspedes aprofundarem a
vivência no local escolhido.

Segundo pesquisa de 2018, 69% dos anfitriões brasileiros usam a renda extra para
manter seus imóveis e 55%, para deixar as contas em dia. Em média, a atividade
contribui com 23% da renda familiar. Além disso, a opção pela hospedagem ajuda a
democratizar a verba do turismo com maior distribuição, por exemplo, entre
comerciantes de novos bairros, diz a gerente de relações institucionais e governamentais
da Airbnb no Brasil, Flavia Matos.

Empresas facilitam compra e venda de imóveis


No Brasil, há cerca de 560 startups com soluções para o mercado
Por Danylo Martins — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

Dos classificados aos portais com anúncios de imóveis, o mercado imobiliário agora vê
a chegada de plataformas digitais que mudam a experiência de compra, venda e aluguel
de apartamentos e casas. No mundo, as construtechs - como são chamadas as startups
com soluções tecnológicas para o setor -captaram US$ 4,4 bilhões em investimentos
desde 2010, conforme dados da empresa de pesquisas Pitchbook. No Brasil, existem
562 negócios na área, segundo o levantamento mais recente da Construtech Ventures.

Fundada em 2018, a Loft ingressou no início deste mês no clube de unicórnios


brasileiros (com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão) depois de receber um aporte
de US$ 175 milhões, em sua terceira rodada de investimentos. O modelo de negócio é
simples: a empresa compra apartamentos usados, faz reformas e revende os imóveis
pela plataforma. Para ampliar a operação, a startup adquiriu em novembro do ano
passado o controle da empresa de reformas Decorati. Além de recursos próprios, a
empresa utiliza o dinheiro captado por fundo imobiliário.

Atualmente, o negócio tem cerca de 300 apartamentos em reforma em 25 bairros da


cidade de São Paulo, com tamanhos que variam de 25 m2 a 350 m2 e custam de R$ 300
mil a R$ 5 milhões. “No fim do ano passado, começamos no Rio pelo Leblon, e estamos
expandindo para Lagoa e Ipanema”, conta Mate Pencz, cofundador e CEO da Loft. A
expectativa é expandir a atuação para outra capital brasileira e inaugurar a presença na
cidade do México neste ano.

No ano passado, a plataforma somou valor geral de vendas (VGV) de cerca de R$ 2


bilhões, de um volume de 1.000 transações. Para 2020, a startup pretende incrementar a
oferta de produtos e serviços, como seguro residencial, já em fase de testes. Hoje, a
plataforma também ajuda na contratação de financiamento imobiliário, em parceria com
grandes bancos.

No ano passado, o Grupo ZAP também anunciou a entrada no segmento de reforma e


revenda de imóveis, com o objetivo de melhorar a liquidez dos empreendimentos.
“Lançamos a operação com capital próprio, sem captação externa, inicialmente em um
bairro de São Paulo. Compramos 30 imóveis e, assim, vamos aprendendo e entendendo
a demanda”, diz Lucas Vargas, CEO do Grupo ZAP.

Com presença em seis bairros paulistanos, a meta é ampliar a atuação para pelo menos
três cidades neste ano. O foco tem sido apartamentos de classe média que podem ser
financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). “É o segmento que mais sofre
com liquidez e dificuldade para conseguir crédito”, aponta Vargas.

O arquiteto Maurício Carrer se uniu a dois colegas de faculdade para montar a


InstaCasa, em operação desde 2017. Com uso de realidade aumentada, a plataforma
apresenta ao potencial comprador diversas opções de projetos, como uma espécie de
“decorado” do lote. Com 35 empreendimentos em seis Estados, a startup recebeu no ano
passado R$ 700 mil do grupo de investidores-anjo Gávea Angels e da Construtech
Angels.

Compras por comando de voz devem ter crescimento rápido


Até 2025, expectativa é ter 300 milhões de pessoas no mundo usando sistemas
Por Katia Simões — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

Desde abril de 2009, os clientes do Walmart nos Estados Unidos podem fazer suas
compras por comando de voz. A rede firmou uma parceria com o Google para que os
consumidores possam utilizar o Google Assistente para adicionar produtos em suas
listas de compras. Basta dizer “Ok, Google, fale com o Walmart” - para acordar a
assistente virtual - e listar em voz alta o que deseja. Na sequência, optar pela compra on-
line ou pela retirada na loja física.

Um em cada dez consumidores americanos já usa dispositivos ativados por voz para
fazer compras, segundo o estudo Pymnts-How we will pay, realizado em colaboração
com a Visa. O volume de compras deverá alcançar US$ 40 bilhões em 2022, se
somadas apenas as transações feitas nos EUA e no Reino Unido - 20 vezes maior do que
o registrado em 2017, conforme destacou a consultoria OC&C Strategy Consultants em
2018.

A expectativa é que até 2025 quase 300 milhões de pessoas ao redor do mundo usem
assistente de voz. No Brasil, o processo ainda é muito novo, embora as expectativas
sejam de crescimento rápido. Não foi à toa que a Amazon iniciou em outubro de 2019
as vendas da linha de autofalantes Echo, com a assistente de voz Alexa falando em
português. A novidade pode mudar hábitos de compras on-line, a forma como pedimos
refeições, ouvimos música ou atualizamos as notícias, entre outros.

Ingrid Imanishi, da Nice: mercado impulsionado pelas tecnologias de inteligência articial e de customer analytics — Foto:
Divulgação

Atenta a esse movimento, a Intelbras lançou o Izy Speak, equipamento de comando de


voz que interage com a Alexa, o único de produção nacional. “A tecnologia veio para
ficar, porque torna a vida mais simples”, diz Tiago Ribeiro, gerente de negócios da
Intelbras. “A adoção no Brasil ainda é insipiente, está na fase de uso para execução de
tarefas e rapidamente evoluirá para compras.”

Os assistentes virtuais são apontados como grande tendência do varejo global ao criar a
oportunidade de coletar mais dados sobre o cliente, não apenas no momento da compra.
“Justamente por estar dentro da casa do consumidor, ele é capaz de capturar
informações o tempo todo, o que permitirá a adoção de ações mais personalizadas e
assertivas”, diz Alex Winetzki, diretor de P&D da Stefanini, multinacional brasileira de
soluções tecnológicas. De acordo com o executivo, num primeiro momento não é
possível aferir o impacto nas vendas do varejo, mas num futuro próximo, com certeza
sim, pela facilidade de interação.

Na visão de Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, as compras feitas por meio
de assistentes de voz podem tornar a experiência mais acessível para aqueles que têm
pouca familiaridade com a tecnologia. “Com a combinação do uso de machine learning
e inteligência artificial, os assistentes pessoais ficaram mais inteligentes, mais
poderosos, passaram a reconhecer intenções e não apenas o que se fala, isso torna o grau
de personalização mais forte.”

Para Ingrid Imanishi, gerente de soluções avançadas da Nice, a tecnologia amadureceu


muito no último ano. “O que vemos agora é um crescimento exponencial de alcance,
impulsionado pelas tecnologias de inteligência artificial e de customer analytics”, diz.
Em 2013, a taxa de erro das palavras em reconhecimento de voz era de 23%, hoje não
chega a 5%, dizem os especialistas.

Embora a tecnologia esteja mais acessível, o desafio está em proporcionar uma


experiência positiva, seja pelo entendimento do idioma ou pelo grau de latência. “A
comunicação entre o assistente e a empresa acionada deve ser em tempo real, de no
máximo dois segundos, uma velocidade que requer a adoção de edge computing”, diz
Rafael Umann, CEO da Azion.

Trata-se de uma plataforma aberta que promove o processamento descentralizado,


garantindo velocidade para a computação móvel e tecnologias de internet das coisas.
Outro desafio, na visão do executivo, é a segurança e a privacidade dos dados. “O
varejo terá de investir em protocolos de segurança e em certificação de autenticidade
dos pedidos.”

Consumidor personaliza o próprio produto


Tecnologia usada na fábrica da Nestlé é transportadas para quiosque em shopping
Por Katia Simões — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

Quanto mais o consumidor achar que o produto foi feito sob medida para atender seus
desejos e demandas, maiores serão as chances de compra. Essa regra o varejo já
entendeu e a indústria segue na mesma direção. Para tanto, busca parcerias com as
empresas de tecnologia a fim de praticar a chamada “personalização em massa”.

Com o objetivo de transformar o mercado de caixas de bombom, com oferta de serviço


totalmente personalizado ao consumidor, a Nestlé colocou em operação, em agosto de
2019, no Shopping Morumbi, em São Paulo, o primeiro quiosque Ícones by Chocobot.

Os clientes podiam personalizar as caixas de bombons das marcas Nestlé e Garoto com
chocolates de sua preferência. Os clientes realizavam sozinhos todas as etapas da
compra - escolha dos bombons, pagamento, personalização da embalagem com uma
mensagem de até 35 caracteres e recebimento do produto, com a entrega feita na hora
por um robô colaborativo. Tudo pelo preço único de R$ 13,99.

A Nestlé não revela o volume de vendas, mas a ação funcionou, tanto que foi replicada
para as mesmas marcas de bombons em Vitória, no mês de dezembro, e para a venda de
cápsulas de café Dolce Gusto pela internet. Foi o primeiro modelo de personalização
das cápsulas do café no mundo, feito com tecnologia 100% brasileira.

“O Chocobot é a consolidação da personalização em marca, uma tendência que tende a


crescer cada vez mais”, afirma Ricardo Gonçalves, diretor de negócios da Pollux,
multinacional brasileira de tecnologia industrial. “As mesmas tecnologias implantadas
na fábrica da Nestlé foram transportadas para o quiosque”, afirma.

Tanto o projeto do Chocobot quanto o da Dolce Gusto levam a indústria a se aproximar


do consumidor final mediante a oferta de uma experiência diferente, que atende às
novas demandas do consumidor, diz Gonçalves. Além de serem novas ferramentas de
venda, também são eficientes para a captura de dados. “É possível saber quais os
principais horários de compra, que tipo de produtos são mais procurados, frequência de
compra”, afirma o executivo. “Com o cruzamento das informações fica mais fácil
promover um produto com mais assertividade.”

Produção de dados de usuários impulsiona o marketing digital


Ferramentas geram relatórios sobre o comportamento do consumidor enquanto ele
navega pelos sites
Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 5 horas
Nem sempre no topo das listas de aportes, as ‘martechs’, startups que trabalham com
marketing digital, têm uma fase promissora em 2020. De acordo com a pesquisa Inside
Venture Capital Brasil, da Distrito, somente as ‘adtechs’, que desenvolvem ferramentas
voltadas ao universo dos anúncios on-line, receberam 17 rodadas de investimento em
2019, número acima de outras categorias mais conhecidas do mercado, como o
agronegócio (dez rodadas). Para comparar, o valor total de investimentos na categoria
no ano atingiu US$ 209 milhões, ante US$ 7 milhões das agrotechs.

“Cada vez mais, as marcas querem entender seus consumidores e as startups que
oferecem soluções nessa área vão ganhar importância”, avalia Thomas Aoki, analista de
mercado da Liga Insights, braço de estudos sobre inovação da aceleradora de negócios
Liga Ventures.

Estudo da Liga Insights revela que o total de martechs no Brasil cresceu 37% entre 2018
e 2019, para 266 empresas. A pesquisa mapeou 12 categorias, sendo a de soluções de
análise de dados a mais representativa, com 17% do total de empreendimentos.

Na opinião de Aoki, uma das principais mudanças percebidas no setor, no último ano,
foi o fortalecimento do conceito de customer experience (experiência do consumidor)
na área do marketing digital. Empresas brasileiras de sucesso, como Nubank e
QuintoAndar, sempre colocam o consumidor no centro dos seus projetos, ao oferecer
novos produtos e serviços, diz. Nessa linha, as martechs podem entregar mais valor às
corporações, com a geração de dados sobre usuários e ajudando na melhor tomada de
decisões. “Isso possibilita que as marcas atinjam os consumidores com uma abordagem
correta, no momento certo e com ofertas coerentes.”

É o caso da VidMob, que criou em 2019 uma plataforma que utiliza inteligência
artificial para cruzar dados de elementos que compõem vídeos publicitários, como
pessoas ou logomarcas, com a audiência dos anúncios em redes sociais, como YouTube
e Facebook. “A ideia é que os profissionais de marketing avaliem e otimizem as peças
publicitárias, em tempo real, para melhorar os resultados das campanhas”, explicam
Miguel Caeiro, head de operações e Camilo Barros, head de parcerias latino-americanas
da VidMob.

De acordo com os executivos, a ferramenta pode garantir um aumento de 150% nos


indicadores-chave (KPIs) das campanhas. A empresa já trabalhou com mais de 1,5 mil
marcas e atende clientes como Netshoes e Nestlé. A novidade chamou a atenção de
investidores, que aplicaram mais de R$ 180 milhões na companhia. Só em junho de
2019, recebeu cerca de R$ 100 milhões em rodada liderada pelo fundo americano
BuildGroup.

Na Standout, da CEO e cofundadora Andréa Miranda, o carro-chefe é uma solução


capaz de publicar conteúdos e medir o retorno de vitrines de produtos em varejistas on-
line, com o intuito de aumentar as vendas. Também gera relatórios sobre o
comportamento do usuário enquanto ele navega pelos sites. “Já estamos integrados a
mais de cem dos maiores e-commerces do país”, diz Andrea, que atua com marcas
como Unilever e Sanofi.

A empresa já recebeu aportes “acima de R$ 500 mil”, entre 2016 e 2018, da aceleradora
WoW, da Bossa Nova Investimentos e GVAngels. “Estamos conversando agora com
alguns fundos que possam nos apoiar na geração de mais negócios no Brasil e na
abertura do mercado latino-americano.”

Para Deborah Folloni, CEO e fundadora da Chiligum Creatives, a força das imagens
pode definir o retorno das campanhas de marketing. A empresa desenvolveu uma
solução de produção de vídeos baseada em modelos pré-fabricados, que podem criar
filmes de forma automática.

Mais recursos para enfrentar questões de segurança


Custo médio global para recuperar uma violação de dados é de US$ 13 milhões
Por Erivelto Tadeu — Para o Valor, de São Paulo
31/01/2020 05h01 · Atualizado

O ritmo alarmante de crescimento dos crimes cibernéticos nos dois últimos anos fez
acender o sinal de alerta também na indústria de segurança. Pressionados pelas
empresas, que cada vez mais dão prioridade a ferramentas capazes de fazer frente às
novas técnicas de ataques, os fornecedores de software de segurança investem agora em
tecnologias de última geração. Inteligência artificial e machine learning, security
analytics e sistemas de orquestração e automação e resposta de segurança (SOAR) são
alguns dos recursos que vêm sendo integrados às soluções de mercado.

Os ataques estão mais sofisticados, caros e levam mais tempo para ser solucionados. O
custo médio global para recuperar uma violação de dados, por exemplo, aumentou US$
1,4 milhão, chegando a US$ 13 milhões em 2019, de acordo com o último relatório
“Custo do Crime Cibernético”, publicado pela Accenture e o Ponemon Institute. No
Brasil, o estudo calcula que o custo médio por empresa é de US$ 7,2 milhões.

Para a indústria, trata-se de um mercado com grande potencial de crescimento nos


próximos anos, já que novas tecnologias de apoio à segurança foram implementadas por
apenas 28% das organizações globalmente.

Na avaliação do diretor regional de vendas para a América Latina da Netskope, Alain


Karioty, uma série de fatores ocorridos no ano passado, como o aumento de há 5 horas
Suplementos volume de dados, surgimento de novas ameaças e as novidades em
infraestrutura, direcionaram as empresas para a adoção de novas tecnologias e
prometem aquecer o mercado.

Entre as tendências para este ano, ele cita o modelo Zero Trust, uma abordagem de
segurança na qual não se pode confiar em nada, esteja dentro ou fora da rede
corporativa. “Esse conceito vem ganhando força como uma forma de evolução no
mercado de VPN. Com o private access, um componente da nossa plataforma security
cloud, superamos o desafio de fornecer acesso seguro a aplicações e dados privados, em
qualquer lugar, a partir de qualquer dispositivo”, afirma.

Muitas das novas tecnologias têm como propósito fornecer inteligência adicional às
equipes internas de segurança para enfrentarem as técnicas mais sofisticadas de ataque.
É o caso do MTR (managed threat response), que combina aprendizado de máquina
com análise humana para uma proteção proativa de segurança. “O MTR aprimora a
expertise dos especialistas para melhorar a detecção de ameaças”, afirma André
Carneiro, diretor geral da Sophos no Brasil.

A tecnologia foi incorporada às soluções cloud optix, que usa inteligência artificial para
automatizar a detecção e resposta a vulnerabilidades de segurança na nuvem, e
sophoslabs intelix, plataforma em nuvem de inteligência de ameaças e de análise para
criação de aplicações seguras.

A capacidade dos algoritmos de identificar e dar respostas a incidentes, ataques e


ameaças de forma automatizada é justamente o que torna a inteligência artificial e
machine learning recursos-chave do portfólio dos fornecedores de software. A Check
Point Software, por exemplo, integrou as tecnologias a todas as suas soluções de
prevenção, entre elas a recém-lançada suíte de proteção fast track network security. “

As técnicas de inteligência artificial e machine learning compõem todas as nossas


soluções, que, integradas e combinadas com o sistema de gerenciamento de ponto
único, protegem redes, operações em nuvem, IoT e dispositivos móveis contra ataques
cibernéticos de quinta geração”, explica Claudio Bannwart, diretor geral da Check Point
Brasil.

Diagnósticos ganham mais precisão


Avanços da inteligência artificial na radiologia permitem análises melhores e obtêm
resultados inéditos
Por Ediane Tiago — Para o Valor, de Chicago
31/01/2020 05h01 · Atualizado há 5 horas

Atul Gupta, diretor médico da Philips: paciente se recupera mais rápido e os custos com o tratamento diminuem — Foto:
Divulgação

Há 25 anos, Atul Gupta planejava ser um cirurgião cardiovascular. Recém-formado em


medicina, estudava incisões no tórax e técnicas para tratar o coração quando, em um dos
centros cirúrgicos da Universidade de Al bany - no Estado de Nova York (EUA) -, ele
teve seu primeiro contato com procedimentos pouco invasivos. Assistiu a médicos
operarem o fígado de um paciente com o apoio de fios, cânulas e equipamentos de
imagem. Sem grandes cortes e com pouco sangue derramado. Vislumbrou, ali, o futuro
da medicina. Após um ano de residência em cirurgia, foi cursar radiologia na
Universidade da Pensilvânia.

Hoje, a qualidade das imagens de diagnósticos e os avanços da computação mostram


que o médico fez a escolha certa. “A medicina minimamente invasiva é a melhor
solução. O paciente se recupera mais rápido e os custos com o tratamento diminuem”,
conta Gupta, que atualmente trabalha como diretor médico da área de terapia guiada por
imagens da Philips.

Durante seus 20 anos em consultórios e hospitais, ele aprendeu a incorporar a tecnologia


à prática médica. Agora lidera um time dedicado a combinar recursos de inteligência
artificial, imagens em três dimensões (3D) e realidade aumentada para ampliar a
capacidade de operar pacientes com o mínimo de incisões. “Se há um superpoder que
todo médico deseja, é a visão de raio X. Estamos em busca dele”, comenta Gupta.

O médico fez uma demonstração da solução que está sendo desenvolvida pela empresa
durante a RSNA 2019, feira internacional de radiologia realizada na cidade de Chicago,
em dezembro. Ele estendeu à repórter um par de óculos de realidade virtual - como os
utilizados em jogos eletrônicos. A única diferença está nas lentes, que são transparentes
e permitem o contato visual entre médicos e pacientes.

Basta ajustar o equipamento ao rosto para ter acesso ao menu do sistema. As lentes se
transformam em tela que projeta uma espécie de holograma, sensível ao toque dos
dedos. Para quem vê de fora, o usuário está apenas tocando o ar. Por dentro dos óculos,
os ícones aparecem no campo de visão, em uma realidade virtual que confunde os
sentidos. Os dedos correm pela tela invisível, dando acesso aos dados extraídos dos
exames e do prontuário eletrônico do paciente. Em um dos recursos, saltam as imagens
dos órgãos e do sistema vascular.

O gesto de pinçar os dedos amplia e reduz a imagem, permitindo vasculhar detalhes. É


possível “pegar” os órgãos e “manipulá-los”. Ao posicionar os óculos sobre o tronco do
paciente, a sensação é de poder enxergar sob a sua pele. Algo muito parecido com a
visão de raio X representada nos filmes de super-heróis.

A solução de realidade virtual é apenas um dos exemplos de como a digitalização está


transformando o cuidado com o paciente, os procedimentos, o trabalho dos médicos a
gestão nas instituições de saúde. Imagens de alta resolução combinadas com recursos
computacionais, como conectividade, sensores e inteligência artificial, prometem
ampliar a capacidade médica de diagnosticar, tratar e acompanhar pacientes, reduzindo
riscos, custos e facilitando ações de promoção e prevenção da saúde.

Frans van Houten, CEO da Philips, explica que essa revolução afeta, de maneira
significativa, a cadeia de valor da saúde, levando empresas tradicionais do ramo a
investirem pesado em softwares, para utilizar toda a capacidade dos equipamentos. “Os
avanços em hardware chegaram a um limite. A inovação, nos próximos anos, se dará no
uso inteligente dessas máquinas”, comenta van Houten.

Nesse contexto, é natural, destaca o CEO, que só se fale em inteligência artificial (IA).
“Estão todos obcecados com o tema”. De fato, a IA tomou conta da maior parte das
apresentações e discussões da última edição da RSNA, ocupando a agenda de
executivos de especialista da Philips, Siemens e GE, além de atrair para a arena gigantes
da tecnologia como IBM e Google.

Do lado de empresas tradicionais pesa, a favor, a experiência com médicos, hospitais e


o fato de elas fabricarem os equipamentos, ou o hardware médico. “Sabemos que
tecnologia não é tudo. Na área da saúde, é importante conhecer os procedimentos e a
jornada do paciente nos tratamentos”, destaca van Houten.

A nova fronteira, diz o executivo, está na utilização correta dos dados. “Nossos esforços
em pesquisa e desenvolvimento (P&D) estão centrados em ajudar profissionais e
instituições a cuidar melhor dos pacientes, com o suporte dos dados”, comenta.

Para David Gruen, diretor médico de imagem do IBM Watson, a inteligência artificial
aumenta a produtividade e auxilia os médicos. Na área de diagnósticos por imagem, a
IBM tem treinado o Watson - plataforma de serviços cognitivos - para analisar imagens
e identificar tumores.

O objetivo é que o sistema encontre padrões difíceis de serem percebidos pelos olhos
humanos, ampliando a capacidade de diagnóstico precoce.

“A combinação entre homens e máquinas vai revolucionar a medicina”, afirma Gruen.


A máquina dará ao homem o poder de processar um conjunto de imagens cada vez
maior e de “enxergar” o que está escondido nelas.

“Durante a análise de uma imagem, o radiologista pode ser interrompido ou estar tão
cansado que não nota uma anormalidade. O sistema vai passar o pente fino”, explica
Gruen.

Segundo o executivo, só nos Estados Unidos são realizados 800 milhões de exames de
imagem anualmente, gerando 94 bilhões de imagens. O país possui 31 mil radiologistas,
o que contabiliza três milhões de imagens por ano para cada um deles. “É uma escala
impossível para um ser humano”, reforça o diretor médico da IBM.

Sara Yusuf, diretora da área de diagnóstico por imagens dos hospitais ingleses Sandwell
e West Birmingham, está animada com os avanços da inteligência artificial na
radiologia. “É um apoio importante. Os softwares vão trazer mais elementos para o
diagnóstico”, diz. Ela destaca, no entanto, o maior desafio: a falta de informações sobre
o histórico do paciente. “Os projetos de prontuário eletrônico precisam decolar”,
conclui.

A jornalista viajou a convite da Philips.

Integração de equipamentos traz eficiência ao tratamento de


câncer
Na Mayo Clinic, terapias modernas reduzem riscos para o paciente e diminuem os
custos para as instituições
Por Ediane Tiago — Para o Valor, de Chicago
31/01/2020 05h01 · Atualizado

A transformação digital tem permitido a inovação na saúde e melhorado as chances de


cura. Recursos de imagens, combinados à computação e à experiência médica,
possibilitam criar procedimentos cada vez menos invasivos para tratar doenças
complexas como o câncer.

Em Rochester, cidade do Estado de Nova York (EUA), a Mayo Clinic - organização


sem fins lucrativos comprometida em inovar na prática clínica - aposta na integração de
equipamentos para oferecer terapias modernas, reduzir riscos para o paciente e, de
quebra, diminuir os custos para as instituições. “Não adianta ter os melhores
equipamentos do mercado se não desenvolvermos técnicas que explorem o potencial
deles”, explica Matthew Callstrom, médico e presidente do departamento de radiologia
da Mayo Clinic.

Entre as técnicas, Callstrom destaca o uso integrado de equipamentos de fluoroscopia


(que permitem exames de imagem em tempo real), tomografia computadorizada e
recursos de ressonância magnética em procedimentos como o de ablação tumoral, no
qual se utilizam agulhas para chegar até os nódulos e destruir tecidos cancerígenos -
com aplicação de agentes químicos, físicos ou térmicos. há 5 horas Suplementos A
técnica tem sido empregada para tratar órgãos como rins, fígado e pulmão. “Ao colocar
todos os equipamentos no mesmo espaço físico, aumentamos a eficiência no
procedimento e melhoramos a capacidade para medir os resultados”, afirma o médico.
Como a remoção do tumor é feita sem cirurgia, os custos para o sistema de saúde são
três vezes menores. “Se contabilizarmos a recuperação rápida e o conforto do paciente,
os ganhos se multiplicam”, diz.

Para Callstrom, a integração dos equipamentos também está no cerne da adoção das
tecnologias de internet das coisas (IoT) e de inteligência artificial (IA) nas instituições
de saúde. “Além de combinar recursos para o tratamento, é preciso capturar, armazenar
e organizar os dados gerados pelas máquinas”, diz.

A combinação entre IA e IoT, explica, permite melhorar o desempenho operacional -


utilizando ao máximo os sensores instalados nos equipamentos -, além de abastecer os
bancos de dados que vão alimentar os sistemas de IA. Os impactos serão sentidos na
gestão da instituição e na capacidade de inovação. “As informações serão a base para
encontrar a terapia ideal para cada paciente”, diz Callstrom.

“Healthtechs” atraem US$ 8,9 bi com novos modelos de negócios


Financiamento global de venture capital no segmento chegou a US$ 8,9 bilhões em
2019
Por Carmen Nery — Para o Valor, do Rio
31/01/2020 05h01 · Atualizado
As empresas voltadas para serviços digitais no setor de saúde, as chamadas healthtechs,
vêm chamando a atenção de investidores e usuários - sejam pacientes no modelo B2C,
ou hospitais, clínicas e laboratórios, no modelo B2B. Relatório do há 5 horas
Suplementos Mercom Capital Group aponta que, em 2019, o financiamento global de
venture capital para o setor de saúde digital chegou a US$ 8,9 bilhões, em 615 negócios.

As empresas voltadas para a prática de assistência médica (B2B) levantaram US$ 3,6
bilhões em 261 negócios (40%), e as que têm foco no paciente (B2C) captaram US$ 5,3
bilhões, em 354 transações (60%). O relatório revela que o valor médio das negociações
de financiamento em 2019, em 30 países, foi de US$ 14,4 milhões, ante US$ 13,6
milhões em 2018.

Outro relatório, o Distrito Healthtech Report, identificou a ocorrência de 36 empresas


consideradas unicórnios, com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. No Brasil, o
número de healthtechs passou de 160 em 2014, para 386 em 2019, um aumento de
141%. Dessas, 47,6% são B2B e 39,5% voltadas a usuários e pacientes. Entre as
empresas destacadas pelo relatório está a Memed, que, segundo o CEO Ricardo Moraes,
procura reduzir os riscos que envolvem a prescrição médica, por meio de ferramenta
digital de prescrição que evita erros de interpretação dos medicamentos.

Luiz Felipe de Oliveira, da Neoprospecta: início na indústria de alimentos — Foto: Divulgação

“Diferentemente do mercado financeiro, que foi surpreendido pelas fintechs, os grandes


players do setor de saúde estão se movimentando junto com as healthtechs. A corrida
está em novos modelos de negócio, como planos de saúde digitais que procuram
resolver todos os problemas do paciente antes que ele vá ao hospital, onde os custos são
elevados”, analisa Gustavo Araújo, CEO do hub de inovação Distrito.

O Hospital Israelita Albert Einstein é dos mais ativos e já soma oito anos com seu
programa de telemedicina para oferta de serviços especializados a outros hospitais do
país e a plataformas da Petrobras. Foram 178 mil atendimentos, e, em algumas UTIs,
houve queda de mortalidade superior a 50%.

“Hoje temos 181 leitos, divididos em oito UTIs, visitados remotamente por nossos
médicos, mais do que os leitos físicos do Einstein. No programa de teledermatologia,
zeramos em seis meses uma fila de 70 mil pessoas”, enumera dr. Sidney Klajner,
presidente do Einstein.

O hospital tem um programa de inovação e já recebeu mais de 1,2 mil startups.


Atualmente, a aceleradora apoia 41 empresas. Entre elas, a Anestech, que reduz a
criticidade nos centros cirúrgicos, oferecendo informação para anestesistas em
aplicações mobile e com análise de dados.

“É uma ferramenta de apoio cognitivo que, por meio de inteligência artificial, identifica
padrões e prevê eventos adversos, melhorando a tomada de decisões imediatas durante
as cirurgias”, diz Diógenes Silva, CEO da Anestech.

A Psicologia Viva oferece consultas on-line com psicólogos, por meio de


vídeochamada. Edinei Santos, CEO da empresa, explica que há requisitos de segurança,
como não permitir a gravação das sessões. “Entre os pacientes, 85% afirmam que a
consulta on-line é igual ou melhor do que a presencial, e 92% observaram melhora na
vida pessoal e na profissional”, diz.

A EPHealth é uma ferramenta de saúde preventiva voltada para atenção primária, com
aplicativo para agentes de saúde em campo e software na nuvem para monitoramento e
controle da população. “Um total de 36 prefeituras adotou a versão paga e 3,5 mil a
gratuita. Em todas, as campanhas de saúde ficaram mais assertivas”, ressalta Pedro
Marton, CEO da empresa.

A Neoprospecta atua em segurança do ambiente hospitalar, desenvolvendo e aplicando


tecnologia de microbioma, baseada em sequenciamento de DNA em larga escala,
genômica e bioinformática na detecção de micro-organismos para evitar infecções.
“Começamos na indústria alimentícia e criamos uma solução para a área de saúde”,
explica Luiz Felipe Valter de Oliveira, CEO da Neoprospecta.

Outra tendência são os hubs especializados, como a Techtools Ventures, agregadora de


inovação em saúde, com modelo de rede que integra 2 mil hospitais, 50 fundos
parceiros e 8 mil startups mapeadas em todo o mundo. A empresa tem investimentos
diretos e em parceria em 56 startups.

Jeff Plentz, presidente da Techtools, diz que o foco inicial do boom de health techs foi
em soluções para a gestão, mas ele destaca o surgimento de inovações científicas, como
a desenvolvida pela startup brasileira Brain4care. Trata-se de um método não invasivo e
pioneiro no mundo, capaz de monitorar pressão intracraniana (PIC) e sua tendência ao
longo do tempo.

A solução envolve um sensor IoT externo encostado na cabeça do paciente, que capta
alterações e condições que antes somente poderiam ser coletadas por meios invasivos,
como um cateter inserido cirurgicamente no cérebro. Assim, é possível acompanhar a
evolução clínica de pacientes neurocríticos.

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