TESEDHANYANECASTRO
TESEDHANYANECASTRO
TESEDHANYANECASTRO
SALVADOR/BA, 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – PPGCS
SALVADOR/BA, 2015
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CDD – 302.12
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DHANYANE ALVES CASTRO
Toda conquista é fruto não de alguns poucos anos ou meses. Ela reflete o nosso
crescimento como pessoa, aprendiz, filha, amiga, esposa, mãe... Dedico e agradeço este
momento à minha família, amig@s e mestres.
Agradeço ao meu mais novo amor, Bento! Tenha certeza de que você foi um
grande incentivador para que esta etapa de minha vida pudesse ser concluída.
Agradeço a todos os estagiários e amigos que enfrentaram sol e chuva, frio e calor
para que esta pesquisa pudesse ser concretizada: Lorena, Sabrina, Jonathan, Janaína, Iara,
Angélica, Adenilton, Elder, Ezequias, Rosilene e Patrícia. A todos vocês do
GPECS/UFRB, muito obrigada! Grata por todos os momentos que vivenciamos na Kombi
e nas ruas de Feira de Santana/BA.
This thesis examines Fear and Risk Perception of intentional violence and crime in the
urban area of Feira de Santana / BA. The contributions and explanatory limits of the
categories of the Collective Effectiveness of the Broken Windows and the Hierarchical
Citizenship theories are investigated. Data was collected in a survey with a representative
sample of the 16 year olds and over population, which investigates victimization and how
the feirenses (citizens of Feira de Santana) in their social heterogeneity, perceive and deal
with fear and risk perception. Both referenced criminological theories indicate possible
explanations, but leave out the contents of neighborhood effects that are generally not
included in their North American formulations: a strong personalism and hierarchy in
social relations in Brazil. Hence the interest in examining the extent to which categories of
the Hierarchical Citizenship contributes to explain the variations of Fear and Risk
Perception among feirenses. The results reveal that that city has a high level of Fear and
Risk Perception: over 70% of respondents say they feel unsafe to walk the streets of their
neighborhoods at night and over 60% said they know of people killed by fire arms in their
places of residence. They are also high percentages of people who were victims of crimes
against property and against the person. The survey methodology allows us to say that
34,505 people were robbed with use of violence, 45,025 were victims of theft and 12,203
were threatened with a knife or firearm within a period of 12 months. The social disorder, a
construct concerning the Broken Windows, proved to have a greater influence on risk
perception than other independent constructs. Paradoxically, under the Collective Efficacy,
"Social Cohesion" is associated with a higher average of Risk Perception and "Informal
Social Control" is not related to fear or to risk perception. The " Brazilian Jeitinho [Way]
and Personalism" construct of the Hierarchical Citizenship theory, has a significant effect,
both directly and indirectly on Risk Perception of intentional crime and violence. Finally,
the Broken Windows theory showed greater explanatory power over the dependent
variables, whereas the theory of Collective Efficacy gave more disparate results than
expected. The Hierarchical Citizenship theory extends the explanatory possibilities
regarding the Fear and Risk Perception of intentional crime and violence. The State or the
absence of it in the care of the social and physical neighborhoods is an important
explanatory factor, especially in Risk Perception. In the future, if the feirense citizens
visualize that they can count on and have access to protection and social security through
state services with citizenship, they can turn Social Cohesion and Trust into Informal
Control and, it will no longer be necessary to use the Brazilian Jeitinho and Personalism
and the Informal Hierarchical Control to live or survive on the streets and neighborhoods
of Feira de Santana.
Figura 02- Mapa da distribuição dos coeficientes de mortalidade por 100.000 habitantes
dos homicídios, segundo local de ocorrência da pessoa vitimada no perímetro urbano da
cidade de Feira de Santana-Ba 2000-2005. ......................................................................... 51
Figura 3- Distribuição dos crimes de estupro nos municípios baianos, segundo seu nível de
intensidade – 2009. .............................................................................................................. 58
Tabela 10- Média, mediana e moda da quantidade de vezes que os entrevistados foram
furtados e roubados .............................................................................................................. 63
Tabela 11- Média, mediana e moda da quantidade de vezes que os entrevistados foram
vítimas de ameaças e agressões ........................................................................................... 63
Tabela 12- Percentual válido de crimes contra o patrimônio (furto + roubo), por
sexo, raça/cor, faixa etária e escolaridade em Feira de Santana/BA ..................................65
Tabela 13- Percentual válido de crimes, ameaça e agressões contra a pessoa por
sexo, raça/cor, faixa etária e escolaridade em Feira de Santana/Ba ...................................67
Tabela 16- Percentual válido das variáveis dependentes utilizadas como indicadoras
do Medo segundo regiões em Feira de Santana/BA ........................................................... 85
Tabela 17- Percentual válido das variáveis dependentes utilizadas como indicadoras
da Percepção de Risco segundo regiões em Feira de Santana/BA ..................................... 87
Tabela 18- Características sociodemográficas dos entrevistados e Percepção
de Risco- com peso .............................................................................................................. 90
Tabela 19- Características sociodemográficas dos entrevistados e Medo- com peso ......... 91
Tabela 20- Relação das perguntas utilizadas para indicar Desordem Física e
Desordem Social ...............................................................................................................111
Tabela 21- Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Física.................................................................................................114
Tabela 22- Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Física..................................................................................................116
Tabela 23- Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Social ...............................................................................................118
Tabela 24- Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Social .............................................................................................. 118
Tabela 25- Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Social............................................................................................... 120
Tabela 33- Influências da teoria das Janelas Quebradas sobre o Medo e Percepção de Risco
(Equações estruturais)........................................................................................................185
Tabela 34- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Desordem Física segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais...........................................................................................................188
Tabela 35- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Desordem Social segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais............................................................................................................189
Tabela 36- Influências da teoria da Eficácia Coletiva sobre o Medo e Percepção de Risco
(Equações Estruturais).......................................................................................................193
Tabela 37- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Coesão Social segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais............................................................................................................195
Tabela 38- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Controle Informal segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais............................................................................................................196
Tabela 39- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Confiança segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de equações
estruturais..........................................................................................................................197
Tabela 41- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” segundo regiões em Feira de Santana/BA
no modelo de equações estruturais....................................................................................201
Tabela 42- Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como indicadoras
de Controle Informal Hierarquizado segundo regiões em Feira de Santana/BA no
modelo de equações estruturais..........................................................................................202
Tabela 44- Valores-p para a matriz de correlação entre os indicadores da tabela 4..........206
Tabela 45- Influências após a integração dos indicadores dos três arcabouços teóricos.
(Equações Estruturais -método Backward de seleção de variáveis).................................208
Quadro 1: Percentual das faixas de renda das pessoas com 10 anos ou mais do bairro
Tomba em relação a Feira de Santana .......................................................................................... 27
Gráfico 4: Representação dos resultados das hipóteses da teoria das Janelas Quebradas ............ 186
Gráfico 5: Representação dos resultados das hipóteses da teoria da Eficácia Coletiva ............... 193
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
CAPÍTULO 2
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS NA CONSTRUÇÃO DO CORPUS DA
PESQUISA .................................................................................................................................. 21
2.1 Amostra .................................................................................................................................. 25
2.2 Procedimentos de campo ........................................................................................................ 30
2.3 Adentrando em territórios desconhecidos .............................................................................. 32
2.4 Análise de dados ..................................................................................................................... 39
CAPITULO 3
VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE EM FEIRA DE SANTANA/BA .................................. 43
3.1. Entrevistando os feirenses sobre vitimização ........................................................................ 60
CAPÍTULO 4
MEDO E PERCEPÇÃO DE RISCO POR VIOLÊNCIAS INTENCIONAIS E
CRIMINALIDADE: CONCEITUAÇÃO E MENSURAÇÃO ............................................... 68
4.1 Medo e Percepção de Risco: conceituações e mensurações distintas? ................................... 70
4.2 Apontando o Medo e Percepção de Risco em Feira de Santana: frequências das
variáveis indicadoras e correlações com variáveis sociodemográficas dos entrevistados ........... 75
4.2.1. O constructo Medo .......................................................................................................... 76
4.2.2 O construto Percepção de Risco ....................................................................................... 80
4.2.3. Desagregando o território de Feira de Santana: Medo e Percepção de Risco ................. 82
4.2.4 Associando características sociodemográficas dos entrevistados à Percepção de
Risco e ao Medo .......................................................................................................................... 88
CAPÍTULO 5
BROKEN WINDOWS NA EXPLICAÇÃO DAS VIOLÊNCIAS INTENCIONAIS,
CRIMINALIDADE, MEDO E PERCEPÇÃO DE RISCO .................................................... 92
5.1 Broken Windows uma ramificação das teorias sobre incivilidade ........................................ 93
5.2 História das ideias e dos conceitos da Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows) .... 96
5.3 Críticas sobre a Broken Windows ........................................................................................... 106
5.4 Mensurando Desordem Social e Desordem Física em Feira de Santana/BA ......................... 110
CAPÍTULO 6
ANÁLISE DA CRIMINALIDADE, VIOLÊNCIA, MEDO E RISCO SEGUNDO A TEORIA
DA EFICÁCIA COLETIVA ......................................................................................................... 123
6.1 - Teoria da Desorganização Social: limites e possibilidades .................................................. 125
6.2 Eficácia Coletiva: revisando a teoria ...................................................................................... 128
6.3 Estudos sobre efeitos de vizinhança, criminalidade, violência, medo no Brasil .................... 132
6.4. Coesão Social, Confiança e Controle Social Informal em Feira de Santana ......................... 140
CAPÍTULO 7
CIDADANIA HIERARQUIZADA NA EXPLANAÇÃO DO MEDO E DA
PERCEPÇÃO DE RISCO...............................................................................................150
CAPÍTULO 8
ANÁLISE DAS EQUAÇÕES ESTRUTURAIS: INFLUÊNCIAS SOBRE O MEDO E
PERCEPÇÃO DE RISCO POR VIOLÊNICAS INTENCIONAIS E
CRIMINALIDADE......................................................................................................... 179
8.1 Medo e Percepção de Risco entendidos pela Desordem Física e Desordem Social
segundo a Broken Windows...............................................................................................180
8.2 Limites e ambiguidades da Eficácia Coletiva na explanação do Medo e da Percepção
de Risco..............................................................................................................................189
8.3 Cidadania Hierarquizada como outra possiblidade de entender Medo e Percepção de
Risco..................................................................................................................................197
8.4 Integrando os arcabouços teóricos: influências indiretas da Cidadania Hierarquizada
sobre Medo e Percepção de Risco.....................................................................................203
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................214
REFERÊNCIAS...............................................................................................................224
APÊNDICES.....................................................................................................................232
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
14
desrespeito à lei já não mais possa ser analisado em termos de simples
oposição entre norma e desvio. Muitas dessas categorias descritivas
remetem, mesmo metaforicamente, às lógicas do mercado e das novas
formas de trabalho (para compor renda) nele implicadas: “economia de
bazar”, “balcão de oportunidade”, “mercadorias políticas” (PERALVA,
2010, p.9).
Nas fronteiras entre o legal e o ilegal, Telles (2010) enfatiza também a contribuição
das lógicas do mercado e as novas formas de trabalho. Se há um contexto em que a
fronteira entre o legal e o ilegal se torna fluida, a ordem e a desordem também não podem
ser pensadas e observadas de forma estanque. A ordem que estaria, num ideal, associada à
legalidade pode também estar associada à ilegalidade num contexto em que as marcas não
apresentam clareza de que aqui começa uma e ali termina a outra. Acredita-se que
pesquisas que busquem investigar as relações entre ordem, desordem, crime, violência,
medo e percepção de risco podem levar em consideração que essa relação não é
necessariamente óbvia e nem é a mesma em todos os lugares.
A ordem e a desordem têm sido categorias chave para os estudos cujo arcabouço
teórico utilizado é a Eficácia Coletiva e a das Janelas Quebradas. Ressalta-se que na teoria
da Eficácia Coletiva, ao contrário da teoria das Janelas Quebradas, é possível encontrar
esforços de autores atuais que problematizam as obvias noções de ordem e desordem
(SAMPSON & RAUDENBUSH, 2004).
A Eficácia Coletiva e, em certa medida, a teoria das Janelas Quebradas também
leva em consideração as redes de relações sociais, de trocas, de favores e de amizade em
suas análises. O que este trabalho traz, então, de contribuição para os estudos de efeitos de
vizinhança sobre o medo, percepção de risco, violência e criminalidade numa cidade do
Brasil? Trabalhos sobre o Brasil têm apontado que a mensuração das variáveis geralmente
utilizadas para conhecer as relações de trocas, confiança e coesão de uma região têm
apresentado resultados díspares quando associadas a contextos considerados violentos e
inseguros. O que se propõe a investigar nesta discussão é que existem conteúdos e
dimensões nas relações sociais, de amizade, de troca e de favor no Brasil não levados em
consideração nos estudos ecológicos, tal como desenhados nos EUA. São esses conteúdos
que se colocam, também, em pauta para a análise da Percepção de Risco e do Medo em
Feira de Santana/BA.
Este estudo procura investigar em que medida elementos comunitários e físicos
concernentes à convivência nas vizinhanças na área urbana de Feira de Santana/BA,
15
influenciam no Medo e na Percepção de Risco entre os feirenses. Dessa maneira, essa
pesquisa contribui para a produção de conhecimento científico acerca das possíveis
associações dos efeitos de vizinhança sobre a Percepção de Risco e Medo.
A Escola de Chicago e as demais teorias ecológicas, como a teoria da Eficácia
Coletiva e das “Janelas Quebradas”, por exemplo, constituem-se como referência para se
discutir as vantagens e desvantagens sociais, físicas e geográficas de uma vizinhança,
bairro ou comunidade na prevenção e/ou controle das taxas de violência, crime e medo.
Contudo, acredita-se que além de absorver as potencialidades explicativas dessas teorias, é
possível encontrar limites no seu emprego para entender e analisar o medo e o risco nos
bairros e comunidades no Brasil. Algumas pesquisas no Brasil já vêm apontando
dificuldades e particularidades que essas teorias têm para entender como se dá os efeitos de
vizinhança sobre o contexto violento, criminal e inseguro no Brasil (VILLAREAL e
SILVA, 2006; OLIVEIRA e BEATO FILHO, 2013; ZALUAR e RIBEIRO, 2009; CRUZ,
2010).
Esta tese responde ao seguinte problema: em que medida a Teoria das Janelas
Quebradas, da Eficácia Coletiva e da Cidadania Hierarquizada podem ser utilizadas para o
entendimento do Medo e Percepção de Risco em Feira de Santana/Ba?
A hipótese geral é que as teorias da Eficácia Coletiva e das Janelas Quebradas
indicam caminhos de explicação do Medo e da Percepção de Risco em Feira de
Santana/BA, contudo, deixam escapar conteúdos relativos aos efeitos de vizinhança que
não estão geralmente contemplados em suas formulações norte americanas, como o
impacto da forte pessoalidade e hierarquização nas relações sociais no Brasil.
No que diz respeito à associação entre os constructos da Teoria das Janelas
Quebradas e Medo e Percepção de Risco elaborou-se a hipótese de que a Desordem Física
e Desordem Social não teriam relação significativas com o Medo e a Percepção de Risco.
Isto porque se partiu da ideia de que a “ordem” (física ou social) pretendida pela Teoria das
Janelas Quebradas partiria apenas de noções hegemônicas de ordem que levam à
estigmatização e exclusão de grupos sociais mais vulneráveis. Será discutido mais sobre
isso no capítulo 5. Contudo, esses construtos, Desordem Social e Desordem Física,
mostraram as mais fortes associações após o tratamento e análise de dados. Desta maneira,
ao olhar e interpretar os dados entendeu-se a necessidade de desconstruir a noção unilateral
de que a Teoria das Janelas Quebradas apenas traria as polêmicas consequências das
políticas de segurança públicas, denominadas como Tolerância Zero. Concluiu-se então,
16
que as desordens investigadas apontam o quanto a presença do Estado pode afetar o
sentimento de Medo e a Percepção de Risco dos feirenses.
Quanto à Eficácia Coletiva, a hipótese é de que Medo e Percepção de Risco
estariam associados negativamente com a Confiança, Coesão Social e Controle Social
Informal. Quanto maiores os indicadores de Eficácia Coletiva, menor seriam os de Medo e
de Percepção de Risco. Esta proposição se deu porque houve o entendimento que esses
constructos trariam elementos de convivência social com maior poder explicativo para o
Medo e Percepção de Risco, já que como exposto no capítulo 4, eles não estão associados
unicamente com taxas reais e oficiais de criminalidade. Contudo, em geral, a Eficácia
Coletiva não apresentou associações significativas com o Medo e a Percepção de Risco
conforme esperado. De acordo com discussões e interpretações dos dados no capítulo 8 e
considerações finais é possível indicar que num quadro com altos níveis de Desordem
Social e Física dos bairros (que demonstraram associação, especialmente, com a Percepção
de Risco), seria um ato heroico dos feirenses, transformar Eficácia Coletiva em menores
níveis de Medo e Percepção de Risco.
Outro eixo hipotético refere-se ao que se denominou aqui de Cidadania
Hierarquizada. A afirmação neste caso é que quanto maiores os índices de Jeitinho e
Pessoalidade Brasileiros e Controle Informal Hierarquizado maiores seriam os de Medo e
Percepção de Risco encontrados. Isto porque esses elementos indicariam fragilidades e
singularidades da cidadania que poderiam se associar a maiores níveis dessas variáveis
independentes. Por exemplo, quando há hierarquização de quem deve ser informalmente
controlado numa comunidade por meio das relações pessoais que se tem, pode existir uma
debilidade no controle social informal, aumentando a possibilidade de maiores níveis de
Medo e Percepção de Risco. Também pode ocorrer que ao se lançar mão de estratégias
personalistas e desiguais para se avaliar ou resolver conflitos, isso pode gerar uma
fragilização da cidadania, ocasionando fraturas na convivência social democrática e
pacífica. Esses aspectos serão retomados no capítulo 7 e 8. Percebeu-se com as análises
dos dados que os indicadores de Cidadania Hierarquizada, se associaram, em diferentes
graus, com os níveis de Medo e de Percepção de Risco entre os feirenses.
Entende-se que a maneira como os indivíduos percebem, experienciam e avaliam a
violência, a criminalidade, o medo e o risco difere a depender das tensões e articulações
existentes entre as relações pessoais e impessoais que circundam e perpassam o contato
entre os diversos atores envolvidos num ato violento e/ou criminoso. Nas relações pessoais
17
em que o “nós”, os “de dentro” e os “iguais” são referências é mais intenso o sentimento de
proximidade, de igualdade, de empatia e, consequentemente, há uma flexibilização do que
se entende e o que se classifica (não está em questão aqui o que é) como práticas violentas
e criminosas. Nesta direção, a percepção, a experiência e a avaliação da violência,
criminalidade e o medo seriam cotidianamente flexibilizados e amenizados, dependendo
do grau e da força que as redes de relações pessoais possuem num determinado território.
As redes de relações de parentesco, de amizade, de favores, de proximidade e de
hierarquia acionadas e imbricadas no cotidiano dos indivíduos podem ter efeito na
percepção, experiência e gerenciamento do medo, do risco, da violência e da
criminalidade. Acredita-se que essas redes de relações continuamente vividas e construídas
produzem e reproduzem características que lhe são peculiares. É investigado se quando há
mais presença de relações impessoais entre indivíduos envolvidos numa ação violenta e/ou
criminosa, as avaliações e percepções relativas ao crime e à violência tendem as ser mais
fechadas, incisivas e rigorosas. Desta maneira, a percepção, a experiência e o
gerenciamento da violência e do crime estariam mais direcionados ao que a lei afirma e
delimita. Os contornos legais e formais seriam mais facilmente observáveis.
Pelo exposto, situar e refletir como a cidadania vem sendo pensada e materializada
no Brasil é parte elementar na discussão proposta neste trabalho. Os objetivos e as questões
colocados aqui ganham contornos mais claros e maior solidez quando são inseridos num
contexto de cidadania hierarquizada (DA MATTA, 1979).
Defende-se neste trabalho que os impasses e peculiaridades da vivência da
democracia - fortemente baseados mais na pessoalidade do que na impessoalidade - no
cotidiano dos cidadãos podem influenciar como os mesmos interpretam, lidam com as
experiências e as percepções da violência, criminalidade, medo e risco num território. Esse
conteúdo, em geral, não é levado em consideração quando se busca investigar violência,
criminalidade, medo e risco por meio da teoria das Janelas Quebradas ou da Eficácia
Coletiva.
A forma e o conteúdo da sociabilidade eleita aqui para análise é guiado pelo dilema
pessoa versus indivíduo na sociedade brasileira (DA MATTA, 1997). São investigadas se
as percepções de risco, medo e as experiências com o crime e a violência variam em
função das relações nas redes familiar, de amizade e/ou favor. Redes essas orientadas pelas
relações que definem as noções de indivíduo e pessoa como “seres” tratados e vistos de
forma completamente diferente.
18
Os resultados concernentes a cada teoria contribuem em seu conjunto para se
afirmar que a presença do Estado é preponderante, especialmente na redução da Percepção
de Risco dos referidos munícipes. Poder-se-ia afirmar que com a presença do Estado mais
qualificada, por meio da não Desordem Física e Social (Janelas Quebradas), os cidadãos
feirenses poderiam transformar a Confiança, a Coesão Social e o Controle Social Informal
(Eficácia Coletiva) em possibilidades de menores índices de Medo e Percepção de Risco.
Com a presença qualificada do Estado, talvez o feirense não precisasse lançar mão de
relações sociais fortemente pessoalizadas e hierarquizadas (Cidadania Hierarquizadas) para
viver e conviver num contexto desordenado física e socialmente.
No decorrer da tese, especialmente no capítulo 5 e na conclusão, será possível
observar como é primordial (re)significar a teoria das Janelas Quebradas para entender
porque ela assume tamanha significância no entendimento do Medo e Percepção de Risco
em Feira de Santana/BA.
O objetivo deste trabalho visa contribuir para que as ciências sociais preocupadas
em entender o Medo e a Percepção de Risco possam se aperfeiçoar ao encontrar problemas
e soluções teóricos e metodológicos ao abordá-los sob a luz de teorias que são mais
fortemente empregadas para entender a violência e a criminalidade, como a teoria das
Janelas Quebradas e a Eficácia Coletiva. Esta pesquisa se deparou com os limites e as
potencialidades deste desafio. Em função disto, este trabalho busca também estabelecer
uma linha de interpretação que possibilite ao final da exposição, perceber como os
constructos elaborados como representantes de cada teoria discutida podem ser conectados,
dialogando entre eles, para o entendimento do Medo e Percepção de Risco em Feira de
Santana.
Aliás, esta pesquisa não alcança seu propósito sem um alinhamento e interconexão
teórica acerca dos resultados referentes à associação entre os constructos representantes
das três teorias em tela com as variáveis respostas, quais sejam, o Medo e a Percepção de
Risco.
De maneira geral, a metodologia é abordada no capítulo 2. O capítulo 3 disserta
sobre o contexto violento, criminoso e inseguro de Feira de Santana/BA. No capítulo 4
encontra-se a conceituação do que se denomina aqui por Medo e Percepção de Risco.
Ainda neste, são apresentadas informações sobre as frequências percentuais das questões
que indicam Medo e Percepção de Risco no referido município. Também no capítulo 4, há
a discussão sobre associações ou não entre caraterísticas sociodemográficas da população
19
feirense com os indicadores investigados. Nos capítulos 5, 6 e 7 são expostas e refletidas as
três teorias aqui examinadas, quais sejam, Teoria das Janelas Quebradas, Eficácia Coletiva
e Cidadania Hierarquizada respectivamente. No capítulo 8 são analisados os resultados
provenientes da modelagem estatística empregada para o apontamento ou não de
associações entre os constructos representantes das teorias investigadas e os constructos
Medo e Percepção de Risco.
20
CAPÍTULO 2
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS NA CONSTRUÇÃO DO CORPUS DA
PESQUISA
21
amostra foi extraída. Notoriamente que o survey é guiado pela lógica e pelos pressupostos
científicos, tanto metodológicos quanto interpretativos da pesquisa quantitativa.
Não é novidade utilizar surveys para levantar informações sobre criminalidade,
violência e segurança pública no Brasil. O primeiro survey com informações sobre
vitimização realizado no Brasil foi em 1988 pelo IBGE na Pesquisa Nacional por amostra
de Domicílios (PNAD) num dos módulos de seu questionário. Em 2009 o IBGE volta a
inserir em um dos seus módulos da PNAD perguntas sobre a caracterização da vitimização,
dispositivos de segurança e do acesso à justiça no Brasil.
De acordo com o conhecimento que se tem, no estado da Bahia, além dos módulos
da PNAD em 1988 e em 2009, podem ser registrados cinco surveys que trataram da
temática violência, criminalidade e segurança pública no estado da Bahia. Quatro deles em
Salvador e Região Metropolitana e um em Feira de Santana. Na capital, em 1996, foram
entrevistados 1384 pessoas no Projeto Activa. O projeto foi idealizado pela Organização
Pan Americana de Saúde com coordenação por pesquisadores locais da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) em Salvador. Este projeto, segundo Noronha et al (1999), teve o
objetivo de investigar a contribuição das desigualdades sociais, da heterogeneidade étnica,
dos fluxos de migração e circulação de pessoas em atos violentos. “Esses processos
conduziriam a mudanças nas formas de sociabilidade, tendo como consequência uma
diminuição dos laços de solidariedade e do sentimento de pertencer a grupos sociais”
(NORONHA et al., 1999, p.269). As normas e valores em relação à violência também
foram contemplados. Entre dezembro de 2002 e abril de 2003, o questionário utilizado no
Projeto Activa de 1996 sofreu algumas adaptações e foi aplicado num survey com amostra
de 703 entrevistados pertencentes às classes com renda baixa e média em 47 bairros de
Salvador.
O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, em 1999 e em
2010, realizou pesquisa nacional sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à
violação de direitos humanos e violência. A pesquisa foi realizada em 11 capitais,
incluindo Salvador com 301 pessoas entrevistadas em 2010. O objetivo desta pesquisa foi
investigar as percepções e as experiências com a violência, com as normas, com valores e
com os direitos humanos. Ao todo, nas 11 capitais, foram entrevistadas 4025 pessoas em
2010.
Em Feira de Santana, no ano de 2010, foi realizado um survey com uma amostra
de 3.597 pessoas. Foram coletadas informações sociodemográficas, características sobre o
22
trabalho, informações sobre saúde, hábitos de vida e vitimização física e psicológica nos
últimos 24 meses (ROCHA, 2011).
Correndo o risco de parecer simplista, pode-se dizer que os processos
interpretativos se tornam mais aparentes1 quando o que se afirma sobre os fenômenos
estudados não consegue mais ser explicados dentro e a partir das normas e técnicas
metodológicas. Ou seja, quando a interpretação dos sentidos dos fenômenos sociais não
cabe mais nas técnicas e métodos considerados tradicionais pelas ciências sociais lança-se
mão dos elementos interpretativos que são considerados aqui como parte inerente em
qualquer pesquisa social.
Qualquer pesquisa, na verdade, tende a ser mais quantitativa ou mais qualitativa
(CRESWELL, 2010). A pesquisa em tela é quantitativa dado que busca examinar teorias
por meio de relações entre variáveis que mensuram conceitos por intermédio de um
instrumento para coletar evidências e fazer considerações por meio de análises estatísticas.
A elaboração de um questionário é sempre uma atividade de constante mudança e
aperfeiçoamento até o momento em que se inicia de fato a realização das entrevistas. Há
que se lidar, normalmente, com o problema do tamanho do instrumento de pesquisa, da
ordem das questões e do tempo que se gasta para a realização da entrevista que nunca é
suficiente para as pretensões iniciais de um pesquisador. A elaboração do instrumento de
pesquisa do survey desta tese passou um período de cerca de seis meses de elaboração, de
acréscimos de questões, mudanças de ênfase e retiradas de perguntas que não cabiam no
tempo estimado de entrevista. A previsão é que a entrevista fosse realizada em 40 minutos
em média.
O questionário usado na realização do survey em tela é uma composição de
questões presentes em outras pesquisas e de elaboração própria de outras tantas para a
investigação de objetivos específicos desta tese. O primeiro questionário consultado foi o
da pesquisa de vitimização realizada pela SENASP (Secretaria Nacional de Segurança
Pública). O que se utilizou bastante deste questionário (SENASP,s.d.) foram as perguntas
sobre as características da vitimização por furto, roubo, ameaça e ofensa sexual, sobre a
identidade social do entrevistado, sobre a avaliação da segurança pública e sobre a última
experiência com a polícia. O segundo questionário consultado foi o da pesquisa “A cabeça
do brasileiro” que buscou levantar dados quantitativos sobre a ética do brasileiro,
1
Se se torna mais aparente é porque já está lá e ainda não tinha aparecido com intensidade suficiente para ser
visto.
23
especificamente, aquela que pode ser “resumida” na famosa e polêmica expressão “jeitinho
brasileiro” (ALMEIDA, 2007). As questões de autoria própria, elaboradas especificamente
para a pesquisa em tela, podem ser vistas no decorrer do questionário, contudo estão mais
condensadas nos eixos “Atitude” e “Bairro”. Quando utilizadas questões do instrumento de
pesquisa da SENASP e da “A cabeça dos brasileiros” foram realizadas mudanças em
termos, ordem ou formato de apresentação das mesmas.
Na montagem do instrumento que se utilizou para a realização das entrevistas
contou com questões divididas por afinidades nos sete eixos seguintes: Identidade Social,
Hábitos e Práticas, Bairro, Atitudes, Sentimento de Insegurança, Avaliação da Segurança
Pública e Experiência com a Polícia.
No eixo Identidade Social pergunta-se, por exemplo, sexo dos entrevistados, o
tempo de residência na cidade, idade, escolaridade, religião e renda. No eixo Hábitos e
Práticas, indaga-se sobre hábitos como o cotidiano de deslocamento das pessoas e
participação em atividades do bairro e com a vizinhança. Já o eixo Bairro tem ênfase em
questões sobre o tempo de moradia no bairro, qual é a definição de vizinhança para as
pessoas, quais as características das relações de vizinhança e o
conhecimento/aproximações dos moradores com pessoas que cometem crimes ou
ilegalidade nos bairros. Ainda neste eixo, pergunta-se a avaliação das pessoas sobre
serviços públicos como: coleta de lixo, saúde, educação e iluminação. Também é
perguntado às pessoas sobre a organização social e física dos bairros, se escutam barulhos
de tiros, se convivem com certos tipos de crime e violência e se têm limitações para ir e vir
nos seus respectivos bairros.
No eixo Atitudes as questões apontam como as pessoas lidam com o crime e a
violência a partir de suas relações de amizade, parentesco e de hierarquia construídas no
bairro, tanto com parentes, com amigos e com conhecidos. Nesta mesma direção, pergunta-
se também sobre a relação que as pessoas têm com os vizinhos envolvidos com o mercado
ou o uso de drogas ilícitas, isto por ser um assunto, algumas vezes recorrente nas relações
com a violência.2 Algumas ilegalidades observadas, praticadas e gerenciadas nos bairros
também foram contempladas nesse eixo. No eixo Sentimento de Insegurança indaga-se
sobre o horário e local que os feirenses se sentem mais inseguros, sobre o que contribui
para que eles se sintam mais seguros ou inseguros nos bairros, se mudam ou não sua rotina
2
Importa ressaltar que nem todo mercado e uso de drogas ilícitas se dão num contexto violento.
24
por causa da violência e crime no bairro e na cidade, e os bairros na cidade que o
entrevistado acha mais seguro ou inseguro.
Perguntam-se aos entrevistados no eixo Avaliação da Segurança Pública sobre
sua opinião em relação aos serviços prestados pela Polícia Militar e Polícia Civil: sua
conduta, sua relação com os cidadãos, a confiança nessas instituições e os tipos de serviços
prestados pelas polícias nos bairros. Por último, no eixo Experiência com a Polícia,
inquire-se acerca da última experiência ou contato que o entrevistado teve com a polícia.
2.1 Amostra
3
Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=291080
4
9 (nove) entrevistados se recusaram a responder o questionário. Dessa maneira há 606 questionários
respondidos.
25
domicílios, foi o Cadastro Nacional de Endereços para fins estatísticos do IBGE que pode
ser acessado pelo endereço http://www.censo2010.ibge.gov.br/cnefe/.
A definição do número de domicílios sorteados em cada bairro respeitou a mesma
proporção do total de população de cada bairro em relação ao total da população urbana de
Feira de Santana/BA. Exemplo, o Tomba possui 46.130 moradores com 16 anos ou mais,
representando 10,9% no total da população urbana com 16 ou mais da cidade, 420.502.
Desta forma, foi definido que no bairro Tomba seriam 66 entrevistas realizadas.
Ao todo foram 14 pessoas envolvidas no survey, compreendendo (duas pessoas)
coordenação, supervisão (uma pessoa) e pesquisadores (onze pessoas). Os pesquisadores
são acadêmicos de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia –UFRB que passaram por treinamento necessário para desenvolver as atividades
previstas na pesquisa. O survey é uma etapa de um projeto de pesquisa maior, Projeto Feira
Viva: Comunidade Segura, financiado pela FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado da Bahia) em parceria com a Secretária de Segurança Pública do Estado da Bahia
via edital lançado no estado da Bahia. A realização do Projeto Feira Viva: Comunidade
Segura está sob reponsabilidade do Grupo de Pesquisas em Conflitos e Segurança Social –
GPECS da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB.
Os entrevistadores foram para o campo já sabendo em quais endereços iriam se
reportar. Caso os entrevistadores não conseguissem aplicar o questionário na primeira
tentativa, voltavam ao mesmo endereço duas vezes, deixando um aviso de que os
pesquisadores estiveram lá e informando o próximo dia e horário de volta do entrevistador.
Caso não fosse possível realizar a entrevista no domicílio, após a terceira tentativa, por não
encontrar os moradores, houve a partir de sorteio, a definição da seguinte orientação:
procurar sempre o segundo domicílio à esquerda, caso os domicílios desse lado da rua
terminassem, seria usada a rua paralela, realizar a entrevista no domicílio que tivesse o
mesmo número da casa sorteada anteriormente. Se não houvesse o mesmo número da casa
na rua paralela, fazer uma lista com os números dos domicílios da nova rua e sortear.
Quando as ruas sorteadas a partir da lista de endereços para fins estatísticos do IBGE não
eram encontradas, eram sorteadas outras ruas e números dos domicílios no mesmo bairro.
Já a definição de quem seria o entrevistado no domicílio se deu por escolha
aleatória a partir do grau de parentesco com o responsável pelo domicílio. Apenas as
pessoas com 16 anos ou mais entraram na lista do sorteio dos entrevistados. Os
pesquisadores chegavam ao domicílio sorteado e faziam a listagem dos moradores com 16
26
anos ou mais e ordenavam de acordo com o grau de parentesco. A ordem de parentesco é a
seguinte: 1. Pessoa responsável;2. Cônjuge, companheiro(a); 3. Filho(a), enteado(a); 4. Pai,
mãe, sogro(a); 5. Neto(a), bisneto(a); 6. Irmão, irmã; 7. Nora, genro; 8. Outro parente; 9.
Agregado; 10. Pensionista; 11. Empregada doméstica; 12. Parente de empregada
doméstica; 13. Outros. Caso o pesquisador estivesse no domicílio sorteado pela terceira
vez e o sorteado não fosse encontrado para dar a entrevista, o segundo da listagem seria
solicitado a conceder a entrevista e, assim sucessivamente.
Desta listagem, a depender de quantas pessoas residiam na casa, era solicitado ao
sorteado que respondesse ao questionário. Os pesquisadores já foram ao campo com a
tabela contendo a ordem do sorteio a partir do número de pessoas residentes. O sorteio do
entrevistado pela ordem de parentesco está na tabela a seguir:
5
Conforme dito na metodologia, respeitou-se a aleatoriedade referente às pessoas que responderiam ao
questionário. Para verificar a aleatoriedade, foram retiradas subamostras da amostra para verificar se os
resultados repetiam a mesma tendência da amostra principal. Esta verificação no banco de dados mostrou que
é sensato afirmar que essa diferença se deu ao acaso. Sabe-se, contudo, que deve ser levado em consideração
o fato de a pesquisa ter sido realizada em horários em que há mais probabilidade de encontrar mulheres em
casa do que homens. Para efeito comparativo, a tabela 2 traz dados sobre a população de Feira de Santana
que auxiliam na validação e análise do perfil da amostra pesquisada. Devido aos dados agregados
disponibilizados pelo IBGE, algumas das informações não coincidem exatamente com as escalas trabalhadas
nesta tese. Exemplo: trabalha-se aqui nesta tese com o intervalo 34 a 42 anos, os dados coletados no IBGE,
informam 35 a 44 anos.
27
Destaca-se na tabela 1 que dos entrevistados, 74,7% afirmaram morar na cidade
há mais de cinco anos, indicando pouca mobilidade para a cidade dos entrevistados.
Conforme o IBGE há em Feira de Santana 78,9% de pessoas que se declararam pardas e
pretas. Nesta pesquisa, o percentual de entrevistados que afirmaram ser pardos ou pretos é
de 79,2%. Foram entrevistados 46,3% de jovens entre 16 a 33 anos. O percentual dessa
faixa etária na população segundo o IBGE é de 38,36%. Quanto à renda mensal, dos
entrevistados neste survey, o percentual de famílias que ganham até 2 salários mínimos é
de 57,3%. De acordo com o IBGE o percentual de domicílios com renda de até 2 salários
mínimos é de 54,88% em Feira de Santana. O diálogo de dados do perfil dos entrevistados
com o perfil da população em Feira de Santana, tanto no entendimento de muitos
resultados a serem apresentados ao longo desta tese quanto na validação da amostra
utilizada.
6
Os percentuais quanto ao sexo referem-se à área urbana
7
Os dados que não apresentam parâmetros (-) com dados do IBGE nesta tabela são devidos a não existência
das questões no Censo ou muita discrepância no conjunto das categorias de respostas.
8
Todos os percentuais estado civil no IBGE referem-se à área rural e urbana.
9
Todos os percentuais de cor/raça coletados no IBGE referem-se à área rural e urbana.
10
15-24 anos – Rural e urbano
28
25-33 128 21,3 19,5611
34-42 91 15,2 14,7112
43-51 81 13,5 5,7813
52-60 66 11,0 8,2714
61-69 44 7,3 4,8815
70-78 23 3,8 2,5716
79-96 17 2,8 1,2417
Sem instrução 23 3,8 -
Ensino -
200 33,3
fundamental(com/inc)
Escolaridade Ensino Médio(com/inc) 300 49,9 -
Superior(com/inc) 66 11,0 -
Pós-graduação 12 2,0 -
Trabalhador/a doméstico/a 35 5,9 -
Empregado/a ou -
106 18,0
funcionário/a pública
Empregador/a 9 1,5 -
Trabalhador/a por conta -
132 22,4
Em relação ao própria
trabalho que Estudante, aprendiz ou -
tinha na última estagiário/a com ou sem 57 9,7
semana remuneração
Ajudante de um membro do -
domicílio sem remuneração 4 ,7
Não possui trabalho -
(aposentado está inserido 246 41,8
aqui)
Até um salário Mínimo 165 29,0 27,818
Mais de 1 até 2 salários 27,08
161 28,3
mínimos
Renda mensal Mais de 2 até 5 salários 30,43
185 32,5
familiar mínimos
Mais de 5 até 10 salários 9,93
47 8,3
mínimos
Mais de 10 salários 4,76
11 1,9
mínimos
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012 ; IBGE; Atlas de Desenvolvimento Humano-2013
11
25-34 anos - Rural e urbano
12
35-44 anos - Rural e urbano
13
45-49 anos – Rural e Urbano
14
50-59 anos- Rural e urbano
15
60-69 anos- Rural e urbano
16
70-79 anos – Rural e urbano
17
80 ou mais anos – Rural e urbano
18
Percentual de renda por domicílio segundo IBGE. Inclui todas os domicílios em que as pessoas recebem
apenas benefícios na área urbana e rural.
29
2.2 Procedimentos de campo19
Sabe-se que muitas vezes as pessoas têm receio, por diversos motivos, de
receberem pesquisadores por serem pessoas que não conhecem. Assim foi necessário
lançar mão de estratégias de comunicação da pesquisa na cidade de Feira de Santana.
Diversos mídias da cidade de Feira de Santana foram utilizadas, como rádios, televisão e
mídia impressa para que entrevistas fossem concedidas para pedir à população que
recebesse os pesquisadores que estariam uniformizados com coletes e crachás e com um
documento explicativo com contato dos coordenadores. Não há dúvida de que esse meio de
abordagem facilitou bastante a realização de muitas entrevistas. Os entrevistados falavam
que tinham visto na televisão ou ouvido no rádio e que, portanto, dariam a entrevista. Outra
forma encontrada para divulgar e pedir a participação da população na pesquisa foi o
contato com igrejas de algumas regiões da cidade.
Dentro da área urbana há, conforme a lista de endereços pelo IBGE, 44 bairros.
Feira de Santana foi dividida, para facilitar o deslocamento e monitoramento da equipe de
pesquisa, em duas grandes partes compostas por diferentes bairros, lado 1 e lado 2. A
Avenida Mária Quitéria foi selecionada como divisora da cidade nas duas partes. O lado 1,
onde se concentrou a maior parte das entrevistas, é composto pelos seguintes bairros:
Centro, Queimadinha, Serraria Brasil, Olhos D’agua, Chácara São Cosme, Jardim Acácia,
Tomba, Mochila, Mochila II, Pedra de Descanso, Calumbi, Rua Nova, Jardim Cruzeiro,
Cruzeiro, Sobradinho, Baraúnas, Cidade Nova, Viveiros, Nova Esperança, Gabriela,
Pampalona, Campo limpo (George Américo), Campo Limpo, Asa Branca, Parque Ipê,
Nova Horizonte e Campo do Gado Novo. Já o Lado 2 é agrega os bairros a seguir: São
João, CASEB , Ponto Central, Lagoa Grande, Santa Mônica, Parque Getulio Vargas,
Capuchinhos, Brasília, Mangabeira, Conceição, Santo Antônio dos Prazeres, SIM, 35 BI ,
Papagaio, Aeroporto , Limoeiro e Aviário.
A fim de que a equipe pudesse se aproximar mais dos modos e linguagem dos
feirenses, criando-se um vínculo necessário com o clima, valores e receptividade da cidade
de Feira de Santana e os questionários pudessem estar de acordo com a linguagem dos
feirenses, sofrendo alterações necessárias para seu aperfeiçoamento, foram realizados três
movimentos. O primeiro foi o de observação e conversas informais durante seis meses em
feiras, shopping, lanchonetes, pontos de topic (como é conhecido na cidade), pontos de
19
As estratégias de campo durante a aplicação dos questionários foram definidas pela autora desta tese.
30
ônibus, lojas dentre outros. Esse momento foi fundamental para que fosse dado início à
problematização e discussão presente neste trabalho. Objetivos, problemas e hipóteses
norteadores foram sendo elaborados e amadurecidos a partir desta etapa. Questões do
instrumento de pesquisa presente nos eixos Bairro e Atitudes começaram a ser
rascunhadas.
O segundo movimento se deu num dia de pesquisa exploratória com toda a equipe
de pesquisadores. Os entrevistadores com um roteiro com temas gerais sobre violência e
criminalidade na cidade de Feira de Santana saíram pelas ruas da cidade conversando com
quem eles pensassem ser importante naquele momento. Isto possibilitou uma primeira
aproximação e como seriam os contatos entre pesquisadores e feirenses. Avalia-se que esse
momento funcionou tanto como treinamento para os pesquisadores, quanto para instigar
com mais intensidade o interesse, proximidade e envolvimento dos pesquisadores com a
pesquisa em tela. Cada pesquisador entregou um relatório das abordagens e conversas
mantidas durante o dia. Após esse primeiro momento, foram inseridas as seguintes
questões abertas no instrumento de pesquisa, quais sejam: “SI.7. O(a) Sr(a) pode dizer
duas coisas que contribuem para que as pessoas possam se sentir seguras aqui no
bairro?”, “SI.8. O(a) Sr(a) pode dizer duas coisas que contribuem para que as pessoas se
sintam inseguras aqui no bairro?”, “SI. 14. O (a) Sr.(a) poderia dizer o nome de dois
bairros aqui de Feira de Santana que acha mais inseguro ou perigoso ou esquisito?”e
“SI.15. Agora, o (a) Sr.(a) poderia dizer o nome de dois bairros aqui Feira de Santana que
acha mais seguro?” A questão "SI.13. Vou falar algumas situações e gostaria que o (a)
Sr.(a) me dissesse se sente muito medo, sente pouco medo ou nenhum medo que aconteça
quando o (a) Sr(a) anda nas ruas daqui de Feira de Santana”20 também foi elaborada após
essa atividade de pesquisa exploratória.
O terceiro movimento foi o pré-teste do questionário, já colocando em prática todo
o planejamento para a realização do survey. Os pesquisadores em campo aplicaram 30
questionários de acordo com todas as orientações definidas e explicadas acima. Neste
momento se lidou com problemas de campo que só são perceptíveis quando se está no
próprio campo. Problemas com relação à localização dos domicílios na lista dos endereços
sorteados a partir do arquivo do IBGE, negativa das pessoas em dar entrevistas, sensação
de insegurança e medo dos pesquisadores, localização e monitoramento por jovens nas
ruas do bairro das entrevistas realizadas pelos pesquisadores, dúvidas quanto às questões
20
Questão completa pode ser lida no apêndice
31
que deram margem para mais de uma interpretação, sensibilidade dos entrevistados quando
indagados sobre assuntos que os deixavam atordoados, dentre outros.
Com o pré-teste foi possível: a) aperfeiçoar a linguagem das questões, b)melhorar a
comunicação entre os pesquisadores, coordenação e supervisão, c) trabalhar a abordagem
dos entrevistadores junto aos entrevistados, d) elaborar normas e condutas que dessem
segurança tanto para os entrevistadores quanto para os entrevistados, e) critérios para
substituir domicílios ou entrevistados não fossem encontrados ou quando a pessoa sorteada
se negasse a conceder a entrevista.
Antes que a equipe fosse a campo, houve alguns momentos de treinamento e
alinhamento de condutas da equipe diante das pessoas entrevistadas. Isso ocorreu tanto via
realização de um minicurso com exposição de conteúdos sobre survey, pesquisa social e
atitudes do pesquisador como pela realização de entrevistas testes dos entrevistadores com
a coordenação e supervisão do projeto.
O minicurso especialmente realizado com a equipe de pesquisadores teve duração
de cinco dias com 20 horas. O conteúdo ministrado durante o curso teve ênfase na
introdução ao survey e às pesquisas de vitimização, noções básicas sobre amostragem
probabilística, elaboração de instrumentos de coleta de dados, planejamento e coleta de
dados. Erros cometidos por pesquisadores também foram trabalhados, tais como: ausência
de empatia entre entrevistador e entrevistado, forma de perguntar, forma de registrar a
resposta, desonestidade, aparência e comportamento dos pesquisadores, importância da
familiaridade com o questionário, estratégias de sondar respostas mais claras e objetivas.
21
Os pesquisadores são acadêmicos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB do Curso de
Ciências Sociais do Centro de Arte, Humanidades e Letras, Campus de Cachoeira.
32
aplicados. Na maior parte dos dias, por uma questão financeira, de tempo e de
disponibilidade de veículo para levar a equipe até Feira de Santana, o transporte foi
realizado por um automóvel utilitário (uma Kombi) alugado, exclusivamente, para a
realização do survey. O carro alugado foi conduzido todos os dias pelos coordenadores da
pesquisa que estavam à disposição da realização de entrevistas o dia inteiro. Esta
necessidade possibilitou que questões que geralmente só surgem no dia a dia da pesquisa
fossem resolvidas com maior celeridade e qualidade.
A coordenação e supervisão de campo definiam o itinerário das ruas e bairros a
serem percorridos - de acordo com o já referido lado 1 e lado 2 - para que os pesquisadores
fossem encaminhados para a região de trabalho de campo aquele dia. Após a distribuição
de todos os pesquisadores, a coordenação e supervisão de campo estavam disponíveis todo
o tempo por telefone, e quando possível pessoalmente, para que dúvidas fossem sanadas e
problemas fossem resolvidos. A supervisão de campo também se dedicou a voltar numa
amostra de domicílios para que fosse verificada a realização da entrevista. A necessidade
apresentada à coordenação da pesquisa de fazer ela própria a condução da equipe acabou
se tornando algo fundamental, tanto para a qualidade do acompanhamento do trabalho
realizado, como para a aproximação e intensificação da vivência de algumas das questões
inseridas no instrumento de pesquisa. Todos os dias, no caminho de volta ao município de
Cachoeira, havia o momento de compartilhamento de estórias e experiências tensas e
engraçadas que haviam ocorrido naquele dia de trabalho.
A coordenação e supervisão de campo eram constantemente acionadas por telefone.
Era muito difícil que o telefone ficasse mais de trinta minutos sem receber chamadas, seja
para orientações ou compartilhamento de experiências. O contato por telefone ocorria
sempre que algo agradável (ou não) acontecia com os entrevistadores. Também ligavam
para manter a coordenação e supervisão a par de sua localização na região. O toque do
telefone causava certa tensão, sobretudo, quando identificado que o número era de um
pesquisador que havia sido deixado em algum bairro “considerado perigoso” por diversas
pessoas e pelos meios de comunicação da cidade.
A preocupação com o bem-estar e segurança da equipe de pesquisadores, foi uma
constante por parte da coordenação e supervisão em campo. Isto porque cotidianamente
existiam pesquisadores que faziam entrevistas em áreas e bairros considerados
“perigosos”. Algumas vezes esses cuidados encontraram fatos objetivos que justificassem
a inquietação, outras tantas não estavam embasadas em fatos objetivos ocorridos com os
33
pesquisadores, mas em sensações acionadas a partir do ouvir falar. Desde o planejamento
da pesquisa até a execução da mesma, tinha-se a prévia noção de que problemas dessa
ordem para a realização de entrevistas seriam encontrados em cada bairro ou região a ser
estudada.
Houve domicílios em alguns bairros como o Santa Mônica, Jardim Acácia,
Capuchinhos, Serraria Brasil e Parque Getúlio Vargas em que as abordagens de
convencimento para que as entrevistas fossem concedidas precisaram ser “refinadas”.
Houve pesquisadores que se entristeciam quando eram escalados para fazer entrevistas em
bairros com muros altos, interfones ou porteiros como os principais meios de comunicação
entre a rua e a casa. Uma das pesquisadoras passou mais da metade dos dias de entrevistas
em bairros com esta característica. Foi peculiar ver a satisfação desta pesquisadora quando
a mesma foi encaminhada para um bairro em que a maioria dos domicílios era de pessoas
com pouca ou nenhuma renda. Houve um condomínio que esta pesquisadora não havia
conseguido entrar para fazer entrevista. O porteiro não permitia a entrada dela e não se
conseguia falar com o morador do apartamento sorteado, já que nem o nome do morador se
sabia. Já nos últimos dias de trabalho de campo foi pedido que outra pesquisadora tentasse
a entrada no condomínio. Por sorte, havia outro porteiro e informou que o morador estava
na área de lazer. A pesquisadora conseguiu falar com ele, sendo a entrevista realizada em
volta da piscina.
A coordenação chegava ao bairro conduzindo toda a equipe e deixava os
pesquisadores que ficariam na área. Em cada área ficavam dois pesquisadores. Assim eles
poderiam se encontrar nos intervalos ou no fim das entrevistas para aguardar o retorno para
Cachoeira. Excluindo duas pesquisadoras que moram em Feira de Santana, o restante era
apresentado ao bairro na hora de iniciar o trabalho. Mesmo tendo alguns momentos tensos,
a pesquisa em geral ocorreu de forma tranquila e segura, contudo a coordenação por não
ter um leque de apoio nos bairros se sentia constantemente pressionada pela possibilidade
de conflitos que pudessem ocorrer.
“George Américo” era uma das regiões que mais incitavam preocupação dos
pesquisadores. Procurou-se uma das instituições estatais que prestavam serviço no
território. Era preciso adentrar por algumas ruas (que não as principais) para realizar as
entrevistas. Essa instituição foi buscada com o intuito de que o pesquisador pudesse em
algum momento acompanhar o trabalho de algum profissional em serviços públicos que
fosse conhecido na região. Entretanto, a coordenação da pesquisa foi informada que a
34
equipe havia sido trocada há cinco meses e que não havia profissionais que ultrapassassem
as ruas principais. Mesmo com essa informação a coordenação optou pela entrada e
realização das entrevistas que eram necessárias. Isso não foi feito sem tensão. Pessoas
observavam o movimento da equipe, perguntavam o que estava sendo feito ali e por que
ali? Geralmente as perguntas eram as mesmas que foram feitas em outros bairros com as
mesmas características, motivadas em geral por medo de quem perguntava ou por pessoas
que falavam com tom e expressão de que aquele território era seu.
Uma característica que causou bastante surpresa e tensão durante a pesquisa é que
em muitos bairros de Feira de Santana existe uma coexistência muito próxima, mas nem
sempre visível imediatamente, de espaços com excelente infraestrutura, ruas largas, asfalto,
praças, esgoto, “belas” casas, com espaços com péssima infraestrutura, ruas estreitas,
esgoto a céu aberto, amontoados de lixo e barracos em péssimas condições de moradia.
Bastava virar uma esquina para estar diante de duas realidades sociais distintas e desiguais.
A desigualdade entre espaços tão próximos nos chocava todos os dias.
Na distribuição da equipe pelos bairros, deixou-se um pesquisador numa região até
então considerada tranquila a partir dos relatos que se ouvia e do aspecto físico que se
observava imediatamente, sendo assim não demandava atenção especial da coordenação.
Após algumas horas, a coordenação recebe a ligação da parceira do pesquisador dizendo
que ele estava sendo ameaçado por jovens armados. A coordenação liga imediatamente
para o pesquisador que não atende e só retorna quase uma hora depois relatando o que
havia ocorrido. O pesquisador ao procurar pelo endereço sorteado foi adentrando para uma
expansão do bairro Santa Mônica, onde se tem forte presença de conflitos violentos por
território pelo tráfico de drogas22. O pesquisador afirmou que havia garotos no bairro que
observavam seus movimentos há alguns minutos, localizou o endereço sorteado e, como
era comum, foi convidado para que entrasse na casa. Minutos depois jovens armados
gritam em frente a casa pedindo que ele saísse e explicasse o que estava fazendo ali. O
morador da casa saiu e mediou a situação. Os jovens pararam com as ameaças, contudo
ficaram atentos à saída do nosso pesquisador, o seguindo até a saída do território. Houve
outros momentos tensos, mas não há dúvida de que esse foi o mais inquietante para a
coordenação e toda a equipe.
22
Sabe-se que o emprego da noção de tráfico de drogas associado à contextos violentos deve ser algo
problematizado. Isto porque é notório que nem todo mercado de drogas se torna violento. Fazer esse tipo
de associação direta e não reflexiva seria leviano.
35
Os bairros e regiões que inicialmente mais causavam insegurança na equipe de
pesquisadores eram geralmente os mesmos que estão relacionados ao medo da população
em geral, quais sejam: o Queimadinha, o Rua Nova, o Aviário, o Limoeiro, o Nova
Esperança, o Viveiros, o Baraúnas, o Gabriela, o Campo Limpo, o Tomba e o Asa Branca.
Nas conversas sobre Feira de Santana, Queimadinha é o bairro mais famoso da lista. Os
pesquisadores que ficaram na região, inicialmente com bastante receio, relataram ao fim
das entrevistas no bairro que em momento algum passaram por uma situação objetiva que
os levasse a sentir medo de estar ali. Um deles chegou a afirmar que foi o melhor bairro
para se trabalhar. Rua Nova, Nova Esperança, Campo Limpo e Tomba também seguiram
esta mesma direção. No Limoeiro houve um tiroteio em que uma criança morreu com uma
bala perdida assim que a equipe saiu do campo, o que trouxe bastante medo aos
pesquisadores que voltaram ao bairro no outro dia. No Aviário, Viveiros, Baraúnas,
Gabriela e Asa Branca houve abordagens aos nossos pesquisadores por pessoas que
queriam saber o que estava ocorrendo ali, pedindo (exigindo) que se apresentassem. Os
pesquisadores foram seguidos e/ou vigiados de longe. Em um deles, um dos entrevistados
achou melhor acompanhar a pesquisadora até a rua principal para que pudesse ir embora.
Também num desses bairros da lista acima, o Viveiros, a coordenação e supervisão
viveram a angústia da falta de contato com os pesquisadores em campo. Quando possível,
no fim do dia de trabalho, às vezes já anoitecendo, a coordenação dava preferência para
buscar primeiro pesquisadores que estavam em áreas consideradas de “risco”. Assim por
volta das 16:30 se encaminhava para o Viveiros onde havia dois pesquisadores. Este foram
orientados a não atender telefonemas durante a entrevista, mas se a partir das 17h00min a
coordenação ligasse, poderiam pedir licença ao entrevistado e atender. Isso não ocorreu no
Viveiros em um dia de trabalho de campo. Por volta das 17h30min os pesquisadores não
chegaram na hora e local combinado no bairro e não atendiam ao telefone, começava a
tensão. O Viveiros é bastante afastado do centro da cidade e fica na margem do seu anel
viário. Tem apenas duas ruas principais que circulam o bairro. No meio do bairro só se
locomove a pé, bicicleta ou moto. Um carro grande como o que conduzia a equipe não
passava de forma alguma. A coordenação e a supervisão de campo (duas mulheres jovens)
estavam então diante de uma questão. Perguntar ou não para as pessoas do bairro se
haviam visto pesquisadores por lá? Não perguntar significa esperar e não fazer nada mais.
Sair perguntando, já anoitecendo, pode tornar mais vulnerável o que já está tenso.
Acreditando numa comunidade que, às vezes, é muito mais estigmatizada por imagens
36
relacionadas ao crime que do que na realidade se dá, resolve-se sair perguntando. Procura
inútil por cerca de 40 minutos. Por volta das 18:10 eis que surgem os dois pesquisadores,
um com um pano de prato que recebera de presente para sua mãe e com um largo sorriso e
o outro reclamando que naquele bairro não havia sido fácil encontrar lugar para almoçar.
Quanto aos celulares, um desligou o telefone para economizar bateria que estava em seu
fim e o outro se esqueceu do tempo e do celular durante a conversa que tinha com a
entrevistada.
Outro fato que merece destaque ocorreu quando a coordenação e a supervisão de
campo aguardavam a realização de uma entrevista que estava sendo feita por uma
pesquisadora. O endereço sorteado ficava numa transição entre o bairro Mangabeira e o
Santo Antônio dos Prazeres, num local ermo, numa “baixada” com no máximo vinte casas
localizadas em poucas ruas, sem asfalto ou qualquer presença de instituições estatais ou
comércios. Com o sol quente e calor insuportável era sempre bem-vinda qualquer sombra,
mesmo que fosse apenas de pequenos galhos como os que existiam ali. O carro então foi
estacionado debaixo dessa sombra numa estrada improvisada pelas pessoas que trafegam
por ali. De repente aparece um carro branco querendo passar pela mesma estrada.
Pergunta-se ao motorista se ele gostaria de mais espaço para passar, já que a estrada era
estreita e cheia de mato que a entrecortava. Com isso inicia-se uma conversa sobre a região
e o que se fazia ali. O motorista do gol branco era assistente social, assim a conversa se
alongou ainda mais.
Num determinado momento da conversa no meio da estrada, percebe-se que um
carro da Polícia Militar se aproximava, só assim percebeu-se que aquela era uma situação
em que se chamava bastante atenção: uma Kombi e um Gol branco estacionados em meio
aos matos, num lugar ermo e com pouca circulação de pessoas. O domicílio mais próximo
ficava a mais ou menos 50 metros de distância onde se estacionou. A viatura ficou poucos
minutos observando numa distância de mais ou menos 300 metros e foi se aproximando.
Pararam e desceram cinco policiais com as armas nas mãos. Os policiais perguntaram o
que estava acontecendo ali. Explicou-se que se tratava de uma pesquisa. Os policiais
caminharam na direção dos carros, colocaram as armas no coldre, mas ainda com as mãos
em cima das armas por mais tempo. A supervisora desceu da Kombi devidamente
uniformizada, após isso a coordenadora desceu do carro. Todos os movimentos foram
informados à polícia que seriam feitos. Revistaram os carros, conferiram documentos,
questionário e alimentos que estavam dentro da Kombi. A situação era tensa, já que não se
37
sabia o rumo daquela abordagem. Não se conhecia o rapaz e caso algo fosse encontrado no
carro dele, teria muito que se explicar e muita chateação. Em seguida, os policiais pediram
que o lugar fosse deixado, já que se tratava de um “lugar perigoso e muito próximo a uma
favela” (a de Santo Antônio dos Prazeres).
A equipe sempre tinha em mãos o que se chamou de “Kit Campo”: colete e crachá
de identificação, lanche e água para os intervalos entre o almoço, recurso financeiro para o
almoço, prancheta, questionário, folha de listagem, termo de consentimento, aviso que a
equipe de pesquisa esteve no domicílio e que voltaria, mapa dos bairros onde seriam feitas
as entrevistas, lista dos endereços onde seriam feitas as entrevistas e chocolates para
entregar aos entrevistados. Os chocolates eram oferecidos aos entrevistados mais ou menos
na metade da entrevista com o questionário (21 páginas. A intenção é que uma pausa fosse
dada para que o entrevistado que estivesse cansado e desatento pudesse ter novo ânimo
para responder às questões seguintes. A ideia é que desse “artifício” emanasse os
sentimentos coletivos envolvidos numa relação de dádiva, afinal, o kit chocolate poderia
ser interpretado como um presente.
Os pesquisadores foram orientados para que no pré-teste fosse avaliado se
realmente esse “artifício” pensado pela coordenação corresponderia às expectativas.
Resultou que os pesquisadores voltaram do campo animados com a recepção dos
chocolates. De fato, de acordo com a experiência e avaliação dos entrevistadores e da
coordenação, o kit chocolate aproximava entrevistadores e entrevistados e geravam um
momento de descontração. Havia então novo ânimo para a finalização da entrevista. A
maior parte dos entrevistadores afirmou que quando existiam crianças em casa, a recepção,
e por que não dizer felicidade, era ainda maior. Alguns entrevistadores optavam por
oferecer os chocolates antes para que as crianças pudessem se envolver com os chocolates
e não com a entrevista. Outros se esqueciam de oferecer o chocolate e se lembravam ao
final da entrevista ou nem mesmo se lembravam. A maior parte dos domicílios
entrevistados foi com pessoas que ganham até dois salários mínimos, geralmente, com
crianças (algumas vezes presentes na hora da entrevista). Essa característica talvez ajude a
entender o porquê dos chocolates terem tido papel central na finalização de muitas
entrevistas.
38
2.4. Análise dos dados
23
Medo e Percepção de Risco
24
Confiança, Controle Social Informal, Coesão Social, Desordem Social, Desordem Física, Desordem Social,
Jeitinho e Pessoalidade brasileiros e Controle Social Informal Hierarquizado
25
Em capítulos posteriores será explicado o que está se denominando cada indicador construído e como eles
foram operacionalizados.
26
Foi contratada empresa de consultoria para auxiliar na elaboração e análise estatística dos modelos
utilizados nesta publicação (ABG Consultoria Estatística, Conselho Regional de Estatística: 099,
www.abgconsultoria.com.br)
39
do Risco. Para verificar a necessidade de inserir constructos de segunda ordem foi
realizada uma análise de dimensionalidade a partir do critério da Análise Paralela
elaborado por Horn (1965), que retorna o número de fatores que devem ser retidos na
Análise Fatorial Exploratória, ou seja, a quantidade de dimensões do constructo. Após
definir a estrutura dos constructos as variáveis que apresentaram cargas fatoriais abaixo de
0,50(em módulo) foram eliminadas de seus respectivos constructos. Os constructos de
segunda ordem, ou seja, os que não são formados diretamente pelos itens (perguntas), mas
por outras variáveis latentes (indicadores), foram tratados utilizando a abordagem “Two-
Step” (SANCHEZ, 2013). Dessa forma, os constructos de segunda ordem, foram avaliados
depois de computados os escores das variáveis latentes de primeira ordem. Os escores das
variáveis latentes foram estimados utilizando a Análise Fatorial com o método de extração
das componentes principais sobre uma matriz de correlação Policórica. A matriz de
correlação Policórica foi utilizada nas análises fatoriais dos constructos de primeira ordem,
pois todas as variáveis eram binárias ou ordinais com poucas categorias. Nos constructos
de segunda ordem, como as variáveis eram contínuas, foi preferido utilizar a matriz de
Pearson.
A elaboração dos nove constructos27 aqui utilizados nos Modelos de Mensuração e
nos Modelos de Equações Estruturais a serem analisados foi verificada sob o ponto de vista
da qualidade e a validade dos constructos, examinando a dimensionalidade, confiabilidade
e validade convergente de cada constructo. Na análise do modelo de mensuração são
verificadas a validade convergente, a validade discriminante e a confiabilidade dos
construtos. A validade convergente garante que os indicadores de um construto estão
correlacionados o suficiente para medir o conceito latente. A validade discriminante
verifica se os construtos medem efetivamente diferentes aspectos do fenômeno de
interesse. A confiabilidade revela a consistência das medidas em mensurar o conceito que
pretendem medir. A validade convergente, discriminante e a confiabilidade dos constructos
podem ser observadas na tabela I em anexo.
Para exemplificar, ressalta-se neste momento apenas os valores do Alfa de
Cronbach (AC) e do Dillo-Goldstein (DG), indicadores de confiabilidade relativos aos
construtos do Medo e da Percepção de Risco no Modelo de Mensuração na validação dos
índices incialmente construídos. A diferença entre o AC e o DG é que o primeiro é
27
Desordem Social, Desordem Física, Coesão Social, Confiança, Controle Social, Jeitinho e Pessoalidade
Brasileiros, Controle Social Hierarquizado, Medo e Percepção de Risco
40
influenciado pelo número de questões/itens que compõem o constructo e o DG não.
Quanto mais itens um constructo tiver, maior o valor do AC. Essa quantidade não intervém
no indicador DG. O valor ideal para o AC e DG é que seja maior que 0,70 para seja
considerado confiável. Contudo, em estudos exploratórios, os valores acima de 0,60
também são aceitos (Tenenhaus, et al. 2005). Em resumo, tanto o AC quanto o DG, por
caminhos diferentes, avaliam a consistência das respostas nas diferentes questões que irão
compor o constructo. Ou seja, por pressuposto espera que se duas questões tem a pretensão
de mensurar a mesma coisa elas devem ter respostas que caminham na mesma direção. AC
e DG verificam se e quanto isso ocorre.
Os indicadores de confiabilidade no modelo de mensuração do constructo Medo
foram respectivamente 0,715 (bloco 1) e 0,472 (bloco 2)28 para o AC. Já para o indicador
de confiabilidade DG do Medo foi 0,796 (bloco 1) e 0.814 (bloco2). O indicador AC
apresentou um valor menor que 0,60, contudo considerou-se que não impossibilita a
confiabilidade já que o DG do mesmo bloco foi de 0,814, não influenciado pela quantidade
de questões do constructo. Contudo, como poderá ser visto no capítulo 7, o bloco 2 do
constructo Medo deixou de fazer parte dos modelos de equações estruturais por ficar com
carga fatorial menor do que 0,50.
No que se refere ao indicador de confiabilidade AC para a mensuração do
constructo Percepção de Risco, têm-se os valores 0,594 (bloco 1) e 0,678 (bloco 2).
Entretanto, o DG para este mesmo constructo é de 0,892 (bloco 1) e 0,757 (bloco 2). Ou
seja, maiores que 0,70, podendo ser o constructo Percepção de Risco considerado confiável
do ponto de vista de sua mensuração.
Os valores do AC e DG acima foram calculados para criar os indicadores dos
constructos a serem examinados29. Para cada modelo de equações estruturais os valores de
AC e DG foram novamente calculados, agora não para criar os indicadores em si mesmos,
mas numa relação com os outros indicadores.
O modelo de equações estruturais divide-se em duas partes: Modelo de Mensuração
e Modelo Estrutural30. Para verificar a validade do modelo de mensuração, ou seja, da
capacidade do conjunto de indicadores de cada constructo representar com precisão seu
28
O bloco 2 do constructo Medo perdeu dois itens (eram cinco questões inicialmente, ficaram três), SI9.7 e
SI10 no valor de corte da análise fatorial exploratória que deve ser maior que 0,5 para que as questões
permaneçam no constructo.
29
Medo, percepção de risco, desordem social, desordem física, coesão social, confiança, controle social,
jeitinho brasileiro e controle social hierarquizado.
30
Os modelos estruturais ajustados nesta tese são analisados no capítulo 8.
41
respectivo conceito, foram avaliadas as validades convergente e discriminante. O critério
da avaliação convergente avalia o grau em que duas medidas do mesmo conceito estão
correlacionadas, enquanto que a avaliação discriminante mede o grau em que um
constructo é verdadeiramente diferente dos demais (HAIR, 2009).
Para verificar a validade convergente e discriminante foi utilizado novamente o
critério proposto por (Fornell e Larcker 1981). Para mensurar a confiabilidade dos
constructos também foi utilizado o Alfa de Cronbach (AC) e a Dillon-Goldstein's (DG).
Após os testes de validade do modelo de mensuração, foi avaliado o modelo
estrutural, permitindo testar as hipóteses de interesse sobre a relação entre os constructos
explicativos, a “Desordem Física”, a “Desordem Social”, a “Coesão Social”, o “Controle
Social Informal”, a “Confiança”, o “Jeitinho e Pessoalidade brasileiros”, o “Controle
Informal Hierarquizado” e, os constructos respostas, o “Medo” e a “Percepção de Risco”.
Testou-se, por exemplo, a seguinte proposição: quanto maior o Controle Social Informal na
área urbana de Feira de Santana, menor seria o Medo e a Percepção de Risco encontrados.
O método Bootstrap foi utilizado para calcular os intervalos de confiança para os
pesos do modelo de mensuração e dos coeficientes do modelo estrutural, fornecendo
importantes informações sobre a variabilidade dos parâmetros estimados, provendo assim
uma importante validação dos resultados.
Para verificar a qualidade dos ajustes foram utilizados o R2 e o GoF (Amato,
Esposito Vinzi e Tenenhaus, 2004). O R2 representa em uma escala de 0% a 100% o
quanto os constructos independentes explicam os dependentes, sendo que quanto mais
próximo de 100% melhor. Já o GoF é uma média geométrica da média das AVEs dos
construtos e a média dos R² do modelo e também varia de 0% a 100%. Ainda não existe na
literatura valores de corte para considerar um ajuste como bom ou ruim, mas sabe-se que
quanto maior o valor melhor o ajuste.
42
CAPITULO 3
Este capítulo tem o intuito de trazer à baila alguns aspectos sobre criminalidade,
violência, medo, insegurança e risco em Feira de Santana/BA. Serão encontradas algumas
informações que comunicam sobre o perfil de Feira de Santana/BA na medida em que
forem destacados alguns dados sobre violência e criminalidade. Dados estes que colaboram
para a construção sociológica dos objetos aqui examinados, quais sejam: o Medo e a
Percepção de Risco dos moradores.
Os moradores de Feira de Santana vivenciam sérios problemas de infraestrutura,
saúde, educação, transporte, ordenamento urbano, segurança e outros mais que dificultam a
vida numa metrópole no Brasil. Feira de Santana é um município do estado da Bahia
localizado na Mesorregião Centro Norte Baiano e na Microrregião de Feira de Santana,
com uma área de 1.338,14 km². O referido município está numa transição entre zona da
mata e o sertão baiano, o agreste baiano. Essa localização o caracteriza como o principal
município que integra o Território de Identidade “Portal do Sertão”.
Pode-se observar o crescimento populacional no município: em 1991 possuía cerca
de 406.447 habitantes, em 2000, 480. 949 moradores31. Já em 2010, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), possuía 556.642 habitantes. A estimativa
da população em 2015 é de 617.000 habitantes. É verdade que o IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) do município de Feira de Santana tem melhorado no decorrer
das décadas: 1991 era 0,460; 2000 foi 0,585; e 2010 registrou o valor de 0,712.
Dado o destaque, importância e diversidade de suas atividades econômicas e centro
logístico, em 2011 foi aprovada a lei complementar estadual que criou a Região
Metropolitana de Feira de Santana com aproximadamente 680.000 pessoas. A cidade está
no principal entroncamento rodoviário do norte e do nordeste. Há o encontro das BRs 101,
116 e 324, além de outras rodovias estaduais (BAs) no entorno da cidade.
Conforme Freitas (1998) o incentivo à urbanização de Feira Santana (“Princesa do
Desenvolvimento”; “Princesa do Sertão”) se deu a partir da segunda metade do século XX
com a industrialização. Os benefícios que a industrialização deveria ter trazido para a
população de maneira geral, não alcançou êxito. Houve urbanização da cidade de forma
31
Conforme o perfil dos municípios gerado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano (2013).
43
não associada aos benefícios da industrialização. A industrialização se deu fortemente a
partir do final da década de 1960. No início da década de 1980 Feira de Santana viveu uma
crise em sua economia.
Na década de oitenta, Feira de Santana amargurou uma forte recessão, que
afetou os setores da economia responsáveis pelo seu desenvolvimento. A
pecuária e o comércio se ressentiram profundamente. A seca dizimou todo
o rebanho bovino do município, o que ocasionou desemprego no campo e
na cidade, um forte êxodo rural e, consequentemente, um inchaço da
cidade, principalmente nas vias periféricas. Ocorre, nesse período, uma
desindustrialização no município, pois muitas empresas industriais ai
instaladas fecham suas portas ou são transferidas para suas regiões de
origem (OLIVEIRA, 2010,p. 69).
44
o Medo e a Percepção de Risco do crime e das violências intencionais. Em cinco minutos
de conversa com alguns moradores de Feira de Santana, moradores de cidades vizinhas ou
até mesmo cidades distantes é possível ouvir que Feira de Santana é um lugar perigoso,
com pessoas violentas e uma localidade em que você tem grande chance de ser roubado ou
furtado. A autora deste trabalho já presenciou diversas vezes em rodas de conversas, piadas
e gozação com esse teor. Mesmo em conversas com pessoas de outros estados do Brasil é
fácil ouvir frases: “Passei por Feira de Santana com muito medo de ser assaltado” ou
“quando passei por lá disseram para eu ficar de olho nas rodas do carro, que eu poderia
ficar sem as mesmas sem nem perceber”. Certa vez ao marcar para buscar uma pessoa que
vinha de outro estado em Feira de Santana ouviu-se: “não é perigoso descer lá não? Você
estará lá quando eu chegar?”32.
Como acontece em outras cidades, a recém-chegada industrialização, no caso de
Feira de Santana dada com a instalação do Centro Industrial de Subaé (CIS), trouxe
migrantes que buscavam emprego na indústria. A população que não estava assistida pelos
programas habitacionais para os trabalhadores das fábricas foram se fixando de forma
desordenada. Oliveira (2010) afirma que em 2001 existiam 40 ocupações espontâneas e 60
loteamentos para moradores de baixa renda. Na maioria dos casos loteamentos irregulares.
32
Num canal de humor do Youtube (+1 filmes), podem ser assistidos dois vídeos que apontam brevemente
esse imaginário social sobre Feira de Santana, criminalidade, violência e medo: O Terror de Feira (+1 no
interior), <https://www.youtube.com/watch?v=ZhPKIHp90JU> ; Capitão Desgraça #2 - Feira de Santana
(Comédia da Bahia), <https://www.youtube.com/watch?v=NNNmnW4pADI>.
45
tijolos com o máximo de dois metros quadrados. Feira de Santana é uma cidade
majoritariamente plana, dessa maneira, os loteamentos subnormais não são vistos
imediatamente e facilmente quando se anda pela cidade. Você pode estar andando em um
bairro considerado “normal” e de repente se deparar ao virar uma rua com um loteamento
subnormal com pouco ou nenhuma presença do Estado. Isso acontece, por exemplo, no
centro da cidade com a chamada Favela do Horto, no bairro Calumbi na Expansão do Feira
IX e no bairro Lagoa Grande com as denominadas Rocinha e Irmã Dulce na região, que
são consideradas pelos feirenses como bairro “barra pesada”.
Elaborar conhecimento sociológico sobre quaisquer aspectos relacionados à
violência não é tarefa fácil. Definir o que é violência e o que a causa, são um dos primeiros
elementos que se colocam diante do pesquisador, por ele mesmo, por seus pares e pela
sociedade. Porto (2010), num capítulo em que discute não as manifestações tópicas da
violência, mas a percepção da mesma, enquanto realidade e suas representações sociais,
expõe o perigo de que o problema social da violência com seu clamor de urgência invada a
análise sociológica, impossibilitando a construção sociológica do objeto. Nessa direção, o
risco de que as representações sociais da violência sejam assumidas como sinônimo de
realidade é alto. Segundo a autora, não se pode, “sociologicamente falando, operar tal
simbiose entre a realidade da violência e suas representações, não se pode por outro lado,
ignorar estas últimas quando se busca conhecer e definir o fenômeno da violência”
(PORTO, 2010, p.13).
Porto (2010) defende também que a violência não é um fenômeno singular. O
contrário é verdade: existem violências várias cujas raízes são múltiplas com identificação
complexa. Esta tese não tem como objetivo dissertar sobre a definição da violência, ao
contrário pretende trazer para a discussão o que Porto (2010) chama de manifestações
tópicas da violência. Contudo, tem o dever de deixar claro que a visão apresentada neste
trabalho é uma representação dos fenômenos que circundam as violências e a
criminalidade e que se está de acordo que a ciência é uma representação, assim como
outras formas de conhecimento. O que a diferencia das outras formas de elaborar
conhecimento está no comprometimento com o rigor, com a clareza e com a sistematização
do método utilizado para abordar a realidade (PORTO, 2010,p.15). Este foi um parêntese
aberto para compartilhar um posicionamento sobre a produção sociológica do objeto
violência. A seguir, voltar-se-á à discussão sobre violência e criminalidade proposta nesta
seção.
46
Embora autores, como o Nobert Elias (1994), defendam que a humanidade ao longo
da história está se tornando mais pacífica e civilizada num longo processo civilizador em
que os indivíduos foram adquirindo autocontrole e disciplina por meio de mudanças nas
estruturas sociais, outros pesquisadores, mais ou menos nos últimos trinta anos, vêm
investigando e analisando o que ocorreu e o que ocorre no Brasil para que as taxas de
crime, especialmente os mais violentos, estejam, em média, crescendo. Borges (2011)
lembra que o processo civilizador para Elias (1994) não diz respeito a um estágio em que a
sociedade alcança a plena civilização e ausência de violência, mas é um processo em
constante transformação. Dessa maneira, há momentos e situações em que a “civilidade”
pode ser colocada em segundo plano, especialmente quando conflitos de natureza social e
pessoal ameacem a pacificação e os padrões de comportamento civilizados (BORGES,
2011,p. 29).
Zaluar (2012) caminha nessa direção ao analisar as particularidades e atual forma e
intensidade da criminalidade violenta no Brasil. A autora utiliza a sociologia figuracional
de Nobert Elias para concluir que no Brasil há retrocessos nos códigos de conduta e no
autocontrole. Não é possível afirmar que há apenas o medo disseminado pela mídia, há um
aumento da criminalidade violenta.
Os crimes violentos, em especial os homicídios entre os jovens, têm alcançado
níveis preocupantes no Brasil. Zaluar (2004) aponta que a combinação de pobreza e tráfico
de drogas tem sido uma das responsáveis pela alta taxa de mortes entre os jovens nas
periferias pobres do Rio de Janeiro. Fugindo de uma ligação simplória entre crime, pobreza
e desigualdade, a autora aponta que a força das organizações do tráfico de drogas -
especialmente o da cocaína - e o fácil acesso às armas são ingredientes importantes no
entendimento da criminalidade violenta entre os jovens do sexo masculino. As estatísticas
apontam que eles estão entre os que mais matam e os que mais morrem. Ela utiliza e
desenvolve o conceito do Etos da Hipermasculinidade em que o jovem do sexo masculino
se liga ao tráfico de drogas em busca não apenas de dinheiro ou sobrevivência, mas
também em busca de reconhecimento.
Sem diferir do quadro nacional, em Feira de Santana também são jovens do sexo
masculino que mais tem morrido. Pode-se observar nas tabelas 2 e 3 que do total de 2293
mortes violentas entre os anos 2000 e 2012, 2159 foram do sexo masculino. Já na tabela 4
apresenta-se a distribuição das mortes violentas por faixa etária. Os destaques estão na
faixa etária 15 a 19 anos com 417 mortes e 20 a 29 anos com 998 mortes. Segundo o
47
Mapa da Violência33, Jovens do Brasil 2014, a taxa de homicídio entre os jovens de 15 a
29 anos em Feira de Santana/BA é de 124,20 por 100.000 habitantes
(WAISELFISZ,2014).
De acordo com dados do SIM/Datasus34, a taxa de homicídios em 2012 em Feira de
Santana, com população estimada em 568.099 habitantes, foi de 61,43 por 100000
habitantes. Para se comparar, no Brasil a taxa em 2012 foi de 29,0 e na Bahia foi 41,9.
33
A fonte do Mapa da Violência também é o SIM/DATASUS
34
Há ciência de que o SIM/DataSus não utiliza em sua definição e contabilização o termo Homicídio, que é
um crime. Isto é um termo jurídico-criminal. O SIM/Data Sus não trata de crime. Possui em sua base de
dados, mortes por causa externa provenientes de agressão de outro. Contudo, dada a fragilidade nacional
de dados oficiais sobre homicídios, o Data Sus é comumente reportado como fonte para se calcular taxas de
homicídio.
48
Tabela 4- Homicídios por faixa etária em Feira de Santana – 2000-2012
Faixa Etária Número de homicídios
Menor 1 ano 1
1 a 4 anos 3
5 a 9 anos 5
10 a 14 anos 24
15 a 19 anos 417
20 a 29 anos 998
30 a 39 anos 470
40 a 49 anos 189
50 a 59 anos 74
60 a 69 anos 37
70 a 79 anos 19
80 anos e mais 9
Idade ignorada 47
Total 2293
Fonte: MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM
49
concentração das altas taxas de homicídio está nos bairros com condições socioeconômicas
vulneráveis (MOURA et al, 2011). Isto pode visto nas figuras 1 e 2.
Figura 01- Mapa da distribuição dos coeficientes de mortalidade por 100.000 habitantes dos
homicídios, segundo local de residência da pessoa vitimada no perímetro urbano da cidade de
Feira de Santana-Ba 2000-2005.
50
Figura 02: Mapa da distribuição dos coeficientes de mortalidade por 100.000 habitantes dos
homicídios, segundo local de ocorrência da pessoa vitimada no perímetro urbano da cidade de
Feira de Santana-Ba 2000-2005.
35
Conforme esclarece Waiselfiz (2014), o SIM/DATASUS inicia a divulgação de suas informações sobre
mortalidade em 1979, contudo só em 1996 começa a oferecer informações sobre raça/cor. Dessa maneira,
num aperfeiçoamento dessas informações, ainda há subregistros. Em 2012 os registros ignorados de raça/cor
foram em média 6,5% dos casos.
51
588% entre esses anos. A variação percentual da raça/cor parda é de 296% e a menor
variação, mesmo assim crescente, é a variação percentual da raça/cor branca com aumento
de 57%.
De acordo com o Mapa da Violência 2014, a taxa de homicídio por 100.000 entre
as pessoas da raça/cor branca em Feira de Santana/BA é de 11,4. Já para a raça/cor negra36
a taxa é de 74,5. Quanto ao perfil jovem, de 15 a 29 anos, a taxa de homicídio da raça/cor
branca é 22,8 enquanto a raça negra atinge 148,4.
A posição de Feira de Santana/BA no ranking do Índice de Vulnerabilidade Juvenil
à Violência (2014) elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública é mais um dado
que demonstra a necessária atenção ao município de Feira de Santana/Ba quanto às
questões envoltas à violência e à criminalidade. No ano de 2010, com base de dados de
2007, o município ficou em 34° lugar com o índice de 0,484. Em 2014, com base de dados
referente a 2012, Feira de Santana passou a ocupar o 23°, piorando seu índice, 0,521.
Quanto mais próximo a 1 pior é considerada a vulnerabilidade juvenil. Para a construção
desse índice as seguintes dimensões foram consideradas: violência entre os jovens
(homicídio e morte no trânsito), frequência à escola e situação de emprego, pobreza no
36
Na metodologia desse cálculo houve pelo Mapa da Violência a soma dos homicídios e população preta
mais parda, definindo como população negra.
52
município e desigualdade. Para qualificar a localização do índice de vulnerabilidade
juvenil à violência de Feira de Santana, destaca-se o maior e menor índice registrado em
outros municípios: 0,651 na cidade de Cabo de Santo Agostinho/PE e 0,174 em São
Caetano do Sul/SP.
Conforme Zaluar (2004), o tráfico de drogas é um importante elemento para a
análise e compreensão da criminalidade violenta. Baierl (2004, p.119) ao pesquisar o medo
social, enfatizando as idealizações e interpretações dos moradores da cidade de Santo
André/SP, encontrou em suas entrevistas qualitativas que a violência relacionada ao tráfico
de drogas, a violência policial e a violência doméstica foram as mais referenciadas como
componente com forte significação no cotidiano dos entrevistados.
O tráfico de drogas e as violências que se associam a ele não se materializam nas
relações com os consumidores. A violência se dá entre os agentes intervenientes que
entram no jogo com o intuito de ter lucros, pagando pelas “vistas grossas” ou por qualquer
outra forma de apoio, muitas vezes com profissionais do Estado, como os policiais. Esse
fluxo é essencial, via rede parasitária, para manter o dinheiro circulando (ESPINHEIRA,
2008, p.33).
Nesse sentido, esta tese traz o estudo de Lima (2014) sobre a associação entre o
tráfico de drogas37 e homicídios e o tráfico de drogas e a vulnerabilidade socioeconômica
nos bairros de Feira de Santana/Ba entre 2006 e 2011. O pesquisador utilizou
pincipalmente a Modelagem Cartográfica Espacial para realizar e apresentar as associações
entre as variáveis de interesse. As variáveis rendimento médio, taxa de alfabetização, taxa
de rede geral de distribuição de água, esgoto e taxa de domicílios com lixo coletado foram
utilizadas para construir o índice de vulnerabilidade socioeconômica dos 44 bairros da área
urbana da cidade.
Os dados sobre o tráfico de drogas foram coletados na Secretaria de Segurança
Pública da Bahia –SSP/BA na Superintendência de Inteligência –SI e no banco de dados da
Polícia Civil. As informações socioeconômicas da população dos bairros foram levantadas
no IBGE tendo como fonte o Censo Demográfico de 2010. Este foi o primeiro censo a
disponibilizar informações tendo o bairro como unidade de análise (LIMA, 2014).
37
Neste estudo o autor utiliza como fonte de dados, as organizações policiais para levantar informações
sobre a ocorrência de tráfico de drogas em Feira de Santana e, só assim associá-los ou não com a violência e
vulnerabilidade socioeconômica em Feira de Santana/BA. Desta maneira, tráfico de drogas aqui é o que se
define como tal no Código Penal Brasileiro.
53
É importante ressaltar que parece haver uma preocupação maior com a
sistematização e divulgação de dados, especialmente os crimes contra a vida (Crimes
Violentos Letais e Intencionais/CVLI), no estado da Bahia a partir de 2010/2011 com a
política de acompanhamento dos índices dos CVLIs do Programa Pacto pela Vida/BA.
Contudo, sabe-se, como ocorre em muitos outros estados do Brasil, que os registros e
sistematização dos dados ainda necessitam de aperfeiçoamento. Dessa maneira, é preciso
olhar com cuidado para os números de que dispõe o estado da Bahia sobre tráfico de
drogas, por exemplo. Especialmente, no interior do estado, já que a dedicação à política de
discussão e melhoria nos registros e coletas de dados do PPV-BA começou pela capital e
região metropolitana só recentemente, em 2011.
Lima (2014) apresenta a tabela abaixo em que demonstra a quantidade total de
registros de ocorrências de tráfico de drogas em Feira de Santana/BA.
É possível observar na tabela 6 que 28% do total das ocorrências não puderam ser
utilizadas por não existir informação da localização dentro da área urbana. É visível que no
decorrer dos anos as ocorrências de tráfico aumentaram, contudo não se pode afirmar o
quanto desse aumento ocorreu devido à melhoria dos registros, à mudança de interpretação
dos policiais quando se deparam com uma situação que possa ser interpretada como
tráfico, ênfase das instituições em realizar operação em busca de drogas em determinados
regiões da cidade ou ao aumento do crime de tráfico.
Conforme Lima (2014) as ocorrências de tráfico de drogas estão concentradas nos
bairros mais centrais da cidade, direcionados ao interior do anel rodoviário, como o
54
Baraúna, Rua Nova, Queimadinha e Centro. Fora do anel rodoviário, os bairros que se
destacam são Tomba, ao Sul, Campo Limpo ao Norte e os bairros considerados
estratégicos por estarem próximos às saídas das rodovias que passam por Feira de
Santana/Ba.
Quanto à correlação examinada pelo pesquisador entre tráfico de drogas e
homicídio, o cálculo do coeficiente e elaboração do mapa de distribuição se deu apenas no
ano de 2010. Neste ano Lima (2014) encontrou uma correlação moderada r = 0,65 entre as
ocorrências de tráfico de drogas e homicídio na zona urbana, com destaque para os bairros
Tomba, Campo Limpo, Brasília, Centro e Queimadinha.
No que diz respeito à relação entre tráfico de drogas e a vulnerabilidade
socioeconômica, verifica-se na tabela 7 como Lima (2014) classificou em diferentes
categorias essa associação entre tráfico e vulnerabilidade socioeconômica dos bairros. As
áreas mais vulneráveis socioeconomicamente nem sempre têm as mais altas taxas de
ocorrências de tráfico. Entretanto, não é plausível afirmar que não há relação, já que
também foram encontradas altas taxas de ocorrências de tráfico de drogas em área
classificadas como vulneráveis socioeconomicamente (LIMA, 2014).
Dos seis bairros com os maiores índices de ocorrência de tráfico de drogas na zona
urbana de Feira de Santana entre os anos de 2006 a 2011 (Rua Nova - 97, Baraúna
- 86, Tomba - 86, Centro- 77, Campo Limpo - 68, Queimadinha - 61), quatro
possuem baixos indicadores sociais, ou seja, são bairros de alta vulnerabilidade
socioeconômica. Porém é importante salientar que dois deles (Centro e Tomba) são
bairros que possuem baixa vulnerabilidade socioeconômica. Não obstante, dentre
os dezesseis bairros que foram classificados como sendo os de maiores
vulnerabilidades socioeconômicas da zona urbana de Feira de Santana, com
destaque para o bairro Aeroporto como sendo o menos assistido, dez deles estão
classificados como bairros de baixa ocorrência de tráfico de drogas, registrando
entre os anos de 2006 e 2011 um total de apenas 37 ocorrências (Aeroporto - 0,
Nova Esperança - 1, Campo do Gado Novo – 2, Papagaio - 3, Asa Branca - 3,
Pampalona – 4, Subaé – 4, Santo Antônio dos Prazeres – 6, Parque Getúlio Vargas
– 6, Cidade Nova - 8) (LIMA, 2014, p.72).
55
Tabela 7 – Classificação da associação entre ocorrência de tráfico de drogas e
vulnerabilidade socioeconômica por bairro
Classe N° de Bairros Nome dos Bairros
38
Crimes contra a pessoa: Homicídio culposo de trânsito, homicídio doloso, lesão corporal, lesão corporal
seguida de morte, outros crimes resultantes em morte e outros crimes letais. Crimes contra o patrimônio:
estelionato, extorsão mediante sequestro, furto a transeunte, furto de carga, furto de veículo, furto em
residência, outros furtos, outros roubos, roubos a instituição financeira, roubo a veículo de transporte de
valores, roubo a transeunte, roubo com restrição a liberdade da vítima, roubo de carga, roubo de veículo,
roubo em estabelecimento comercial ou de serviço, roubo em residência e roubo em transporte coletivo
56
inserida na categoria Capital Regional B39. Conforme o pesquisador a aglomeração urbana
ocasionou espaços urbanos inadequados, potencializando comportamentos criminais.
Os dados foram coletados na Secretaria Estadual de Segurança Pública – SSP/BA.
Sabe-se que poucos estados no Brasil possuem um sistema de informação que dê conta de
uma sistematização satisfatória em relação aos registros de todas as tipologias de crimes
ocorridos, tanto por uma questão de subnotificação quanto pela forma como os dados são
registrados. Isso não é uma questão a ser aperfeiçoada apenas no Brasil, contudo o desafio
ainda é enorme no país. Os dados no Brasil que mais se aproximam do que ocorre de fato,
são os crimes violentos com morte, já que se conta com a possibilidade de consultar os
registros do SIM/DATASUS que divulga seu sistema de registro de mortalidade desde
1979. As pesquisas de vitimização vêm também para contribuiu nesse cenário de alta
subnotificação criminal de diversos crimes. Dessa maneira, é importante, ao analisar os
números de registros oficiais ter em mente esse contexto desafiador. Contudo, até para que
sigamos no caminho do aperfeiçoamento, é fundamental que haja trabalhos que informem
o comportamento das taxas de criminalidade segundo dados oficiais.
Silva (2010) afirma que em Feira de Santana no ano de 2007 foram registrados 53
estupros40 totalizando um Índice de Estupro na População Urbana Feminina de 23,4. Já
Salvador/BA, registrou 278 estupros com Índice de Estupro na População Urbana
Feminina de 21,5. Abaixo segue figura 1 que possibilita num mapa observar a distribuição
dos índices de estupros no estado da Bahia. Verifica-se consoante com o índice descrito em
2007 que Feira de Santana estaria na categoria Alto Índice (14,1-26,8) no que se refere ao
crime de estupro.
39
Metrópole, Capital Regional B, Capital Regional C, Centro Sub-Regional A, Centro Sub-Regional B,
Centro de Zona A, Centro de Zona B e Centro Local. CAPITAL REGIONAL B: Feira de Santana, Ilhéus,
Itabuna e Vitória da Conquista (Silva, 2010)
40
Essa categoria para o autor no trabalho está incluso estupro, atentado violento ao pudor e tentativa de
estupro e atentado violento ao pudor conforme a lei 12.015/7 de agosto de 2009.
57
Figura 3 – Distribuição dos crimes de estupro nos municípios baianos, segundo
seu nível de intensidade – 2009.
58
Gráfico 1 – Índice de roubos a transeuntes nas cidades hierarquizadas do Estado da
Bahia, nos anos de 2004 – 2009.
59
3.1. Entrevistando os feirenses sobre vitimização
41
Homens: menos de 1 ano: 4255; 1 a 4 anos: 16459; 10 a 14 anos: 24696
Mulheres: menos de 1 ano: 4307; 1 a 4 anos: 15943; 10 a 14 anos: 24178
60
2007, 5% as pessoas que declararam terem sido roubadas. Quanto ao furto, 7,0%
afirmaram terem sido vítimas no Rio de Janeiro e o crime de ofensa sexual registrou
vítimas em 0,5% das declarações. (BORGES, 2011).
Numa pesquisa de vitimização na cidade de Aparecida de Goiânia, com 511.323
habitantes, pesquisadores encontraram que 18,9% das pessoas na cidade haviam sido
vitimadas. Desse percentual, 3,3% foram furtadas, 3,3 tiveram seus celulares roubados,
4,5% tiveram outros objetos roubados, 1,3 vivenciaram o roubo de veículos, 2% sofreram
agressão física e 3,5 tiveram suas residências roubadas (RABELO, SOUZA, 2007).
Em 2009, o IBGE via Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realiza a
segunda pesquisa em que levanta dados sobre a vitimização nacional. A primeira foi
realizada em 1988. Conhecer os dados de vitimização nacional e regional possibilita uma
breve comparação como pano de fundo com alguns resultados de Feira de Santana em
2012. Em 2009 o percentual de pessoas no Brasil que revelaram terem sido vítimas de
roubo e furto foi de 7,4%. Houve um aumento em relação aos dados de 1988 quando 5,4%
fizeram a mesma declaração. Segundo o IBGE, as regiões Norte e Centro Oeste Urbanas e
a região Nordeste foram as responsáveis pelos maiores aumentos no Brasil, quando
comparados 1988 e 2009. Em 1988 na região Nordeste, 4,3% da população afirmaram ter
sido roubadas e furtadas. Em 2009 o valor subiu para 7,5%. Já em Feira de Santana/Ba, o
percentual de vítimas de roubo e furto foi de 17,6%.
No que se refere à agressão física, o Brasil em 1988 registrou 1,0% de vítimas na
população. Em 2009 esse valor subiu para 1,6%. A região Nordeste foi a que mais
influenciou nesse aumento, saindo de 0,8% para 1,8% em 2009. Diferente de uma única
pergunta no questionário do IBGE sobre se foi vítima de agressão física, no questionário
aplicado em Feira de Santana/BA as agressões físicas foram divididas por tipologias, então
se destaca, de acordo com a tabela 9, que 3,1% foram vítimas de batida, empurrão ou
chute, 1,2% foi vítima de espancamento ou tentativa de estrangulamento e 2,9% de ameaça
com faca ou arma de fogo.
Outro cálculo que chama atenção refere-se à taxa por 100.000 habitantes para os
crimes contra o patrimônio e contra a pessoa. Foram encontrados ao todo 113 casos de
roubo mais furto, evidenciando uma taxa de 26,85 para cada 100.000. Já quanto aos casos
de crimes, ameaças e agressões contra a pessoa foram 206, resultando em uma taxa de
48,95 para cada 100.000 feirenses, entre junho de 2011 e junho de 2012.
61
Tabela 9- Percentual válido das frequências de vitimização em Feira de
Santana/BA (2012)
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
62
Tabela 10 – Média, mediana e moda da quantidade de vezes que os entrevistados
foram furtados e roubados
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de
Santana/Ba - GPECS/UFRB 2012
63
A tabela 12 e 13 apresentam os percentuais válidos dos crimes contra o patrimônio
e dos crimes, ameaças e agressões contra a pessoa em Feira de Santana/Ba por sexo,
raça/cor, escolaridade, faixa etária, renda e estado civil. Isso revela alguns aspectos da
distribuição desses crimes por características socioeconômicas e demográficas no
município.
Em torno de 17% de homens (18,1%) e mulheres (17,3%) foram vítimas de roubo e
furto ou de um desses dois crimes. Quanto à raça/cor, nesta categoria de vitimização, 9%
dos brancos, 18,8% dos negros (pretos e pardos), 15,4% dos amarelos e 33,3% dos
indígenas foram vitimados. Um dado que se destaca na variável faixa etária é o percentual
de jovens de 16 a 33 anos que afirmaram ter sido de vítima de crime contra o patrimônio
em detrimento dos que disseram não terem sido vítimas, 24,5%. O percentual de pessoas
com Ensino Médio e Pós-graduação que declararam ter sido vítimas de crimes contra
patrimônio gira em torno de 24%. Renda média e estado civil apresentam distribuição
muito parecida entre os percentual de pessoas que afirmaram ser e não ser vítimas de
crimes contra o patrimônio.
64
Tabela 12 – Percentual válido de crimes contra o patrimônio (furto + roubo), por
sexo, raça/cor, faixa etária e escolaridade em Feira de Santana/BA
65
crimes contra o patrimônio, a percentagem de pessoas com ensino médio e pós-graduação
que disseram ter sido vítimas de crimes, ameaças e agressões contra pessoa é muito
próxima. Concernente ao estado civil, o percentual de pessoas solteiras que se revelaram
vítimas ao invés de não vítimas chama atenção, 26,9%. Quanto à renda familiar, a
percentagem da resposta sim, foi vítima em até cinco tipologias, pelo grupo que ganha
mais de 10 salários mínimos é destaque, 36,4%. Na tabela 13, os percentuais das demais
categorias de renda e vitimização estão entre 19% (mais de 1 a 2 salários mínimos) a
24,5% (até um salário mínimo).
66
Tabela 13 – Percentual válido de crimes, ameaça e agressões contra a pessoa42 por
sexo, raça/cor, faixa etária e escolaridade em Feira de Santana/Ba
42
Ofensa sexual, amedrontamento ou perseguição, ameaça com faca ou arma de fogo; esfaqueamento ou tiro;
espancamento ou tentativa de estrangulamento; lesão provocada por algum objeto atirado; batida, empurrão
ou chute; ameaça de bater, empurrar ou chutar; e insulto, xingamento, humilhação.
67
CAPÍTULO 4
Este capítulo tem como objetivo expor e discutir como se apresentaram os dados
relativos, aqui neste estudo, às variáveis consideradas dependentes para efeito de análise
estatística. Ou seja, quais as frequências e percentuais das variáveis que mensuram o Medo
e a Percepção de Risco em relação às violências intencionais e à criminalidade no contexto
do estudo. Os resultados são provenientes do survey realizado em 2012. Além de recorrer
às estatísticas descritivas dessas variáveis, também serão abordados dados que informará a
relação percentual e associativa das variáveis dependentes com aquelas de natureza
socioeconômicas e demográficas, quais sejam: sexo, faixa etária, cor, renda e escolaridade.
A análise dos percentuais de respostas e de como se comportam as variações de
intensidade do sentimento de Medo e da Percepção de Risco em relação às variáveis sócio
demográficas dos moradores de Feira de Santana atende ao objetivo específico de
investigar o modo como os feirenses, em sua heterogeneidade social (renda, gênero,
escolaridade, cor, idade), percebem e lidam com o Medo, a Percepção de Risco, violência e
criminalidade.
Conforme Silva e Beato Filho (2013) os trabalhos que investigam o medo do crime
e da violência e a percepção de risco a partir, não de características individuais apenas, mas
que levam em consideração questões como desordem social, coesão, controle social e
confiança são muito incipientes no Brasil. Os pesquisadores também ressaltam que o
próprio exame, e por consequência uma melhor operacionalização dos conceitos em
investigação, o Medo e a Percepção de Risco, ainda precisam ser aperfeiçoados na
produção acadêmica brasileira.
Frattari (2013) também destaca que estudos sobre o medo do crime no Brasil
existem, mas ainda não se consolidaram como um campo de pesquisa sociológico, até pelo
fato de não serem muitos. A escassez e indefinição como campo de pesquisa podem ser
observadas em trabalhos que tiveram o objetivo de realizar um balanço do que foi
produzido sobre criminalidade e violência urbana no Brasil (KANT DE LIMA, MISSE e
MIRANDA, 2000; ADORNO e BARREIRA,2010).
68
Em geral, os estudos sobre medo no Brasil podem ser identificados por meio de
duas grandes vertentes. A primeira aborda o medo por meio de uma abordagem cultural:
como se dão os comportamentos das pessoas em detrimento do medo do crime. Frattari
(2013) cita, por exemplo, o trabalho Cidade dos muros: crime, segregação e cidadania em
são Paulo (CALDEIRA,2000). A segunda vertente lança mão de métodos quantitativos,
procurando mensurar elementos e contextos que podem interferir no medo. Nesta segunda
vertente há o exemplo do trabalho Social Cohesion, Criminal Victimization and Perceived
Risk of Crime in Brazilian Neighborhoods (Villareal e Silva,2006) (Frattari, 2013). Esta
tese se aproxima mais da segunda abordagem elencada por Frattari (2013).
O medo e a percepção de risco nos Estados Unidos são objetos de diversos
estudos, em que é possível refletir e criticar sobre a validade e confiabilidade das diferentes
medidas de medo, por exemplo. Nestes estudos também importa como o medo e a
percepção de risco afeta a vida das pessoas e que fatores os influenciam numa determinada
região. Conforme Frattari (2013), a partir da década de 1960, pesquisas de vitimização
começaram a ser realizadas com mais continuidade nos Estados Unidos e os temas como
medo, insegurança e risco tomaram espaço entre os especialistas que se dedicavam com
mais frequência ao exame das causas do crime até então. Contudo, até a atualidade, no que
se refere à definição, às causas e às formas de mensurar o medo, não há consensos e
caminhos fáceis e claros a seguir.
No Brasil é mais constante encontrar pesquisas que associam o medo às
características individuais, como ser mulher ou ser mais velho, por exemplo (SILVA e
BEATO FILHO, 2013). Também há trabalhos que examinam quais, como e as
consequências segregacionistas das pessoas tomarem medidas de segurança dada à
violência e à criminalidade (CALDEIRA, 2000).
Como é possível observar, Medo e Percepção de Risco são debatidos aqui como
constructos separados. A opção em diferenciar Medo da Percepção de Risco, além de ter
sido teórica também se mostrou sensata após a análise fatorial e extração dos componentes
principais para mensurar e validar os constructos com as variáveis selecionadas no banco
de dados proveniente do survey realizado.
Na próxima seção poderão ser encontradas discussões que refletem sobre os
conceitos, limites e possibilidades em se pesquisar sobre o Medo e a Percepção de Risco.
Na seção seguinte deste capítulo serão apresentados dados descritivos sobre a frequência
dos constructos relativos ao Medo e Percepção de Risco geral e por região. Também, serão
69
analisadas algumas associações entre estes indicadores em relação às variáveis
socioeconômicas e demográficas na cidade.
Nesta seção será explanado como os conceitos de Medo e Percepção de Risco são
entendidos e trabalhados nesta tese. O diálogo com outras pesquisas, tanto nacionais
quanto internacionais, foi essencial para o delineamento da mensuração e entendimento do
que está se elegendo como parte dos constructos Medo e Percepção de Risco.
No contexto de estudo não se pode afirmar que o Medo e a Percepção de Risco dos
feirenses sejam desprovidos de qualquer tipo de ligação entre as sensações e cognições
construídas também a partir da violência, criminalidade e suas representações. Medo,
perigo, risco fazem parte da estrutura emotiva, cognitiva e física dos cidadãos urbanos
atualmente. Eles podem ser traduzidos numa espiral de causas e efeitos como segregação
social e espacial, problemas de saúde, gestão e estratégias de segurança pública.
Estratégias essas, muitas vezes encrudescidas, com redução do uso ou abandono dos
espaços públicos das cidades.
Frattari (2013), num estudo sobre as configurações sociais do medo na cidade de
Goiânia afirma a relevância de não se atribuir exclusivamente às taxas de criminalidade e
violência o medo entre uma população. A vulnerabilidade socioeconômica, saber se há
vítimas na região em que reside, o isolamento social e a desconfiança nas instituições de
segurança pública, por exemplo, podem ser importantes fatores para se entender o
fenômeno do Medo. Haveria tanto reações diante de situações definidas como perigosas,
como também as representações do que seria uma ameaça (FRATTARI, 2013).
Quanto à distinção defendida aqui entre Medo e Percepção de Risco, Rountree e
Land (1996) encontraram evidências em suas pesquisas de que são dois fenômenos que se
diferenciam, embora, possam estar relacionados, principalmente com variáveis explicativas
comuns, como gênero e exposição num ambiente. Medo do crime refere-se às reações
emocionais negativas que os indivíduos têm em relação ao crime e à violência. Já a
Percepção de Risco está vinculada aos processos cognitivos, de conhecimento e de
percepção da possibilidade de se tornar vítima.
Ferraro e LaGrange (1987) afirmam que o medo do crime varia da percepção
cognitiva até às reações emocionais diante da possibilidade das pessoas se tornarem vítima
70
de crimes. Rountree e Land (1996) declaram que estudiosos que partem dessa definição
apresentada por Ferraro e LaGrange não atentaram ou não optaram por separar em suas
pesquisas, a dimensão da percepção cognitiva da reação emotiva negativa (medo).
Diante da variação referente ao que pode ser considerado como medo do crime, da
percepção cognitiva à reação emotiva, é sensato afirmar que haja diferentes causas para o
medo do crime. Poucos estudos têm atentado para o potencial de se trabalhar com a
distinção entre a percepção cognitiva e a reação emotiva. Em Ferraro e LaGrange (1987) é
levantado alguns estudos que não diferenciam essas duas categorias, mas outros que
começaram a diferenciar os aspectos cognitivos dos aspectos emotivos. O que Ferraro e
LaGrange declaram como definição de medo oferece espaço para se distinguir “medo
cognitivo” que seria a percepção de risco do “medo emotivo” baseado na emoção
(Rountree e Land,1996, p.1354 ). Rountree e Land (1996) chegaram à conclusão, na cidade
de Seatle, Washington, de que a distinção entre percepção de risco e medo apresentou
relações significativas tanto num nível individual quanto no nível contextual.
LaGrange, Ferraro e Supanic (1992) num artigo sobre percepção de risco e medo do
crime (em especial de roubo) em que examinam a influência do contexto sobre estas
variáveis encontraram que as incivilidades numa vizinhança foram mais fortemente
relacionadas com a percepção de risco do que com o medo. Além disso, constataram que a
percepção de risco é um importante elemento para predizer o medo. É mais um reforço à
necessidade de que se trabalhe com a distinção entre percepção de risco e medo. Nessa
mesma lógica, Rountree e Land (1996, p.1371) encontraram que quanto maior a integração
social, menor seria a percepção de risco e maior seria o medo em relação ao crime de
roubo.
Brissler (2013) também se interessou pela categoria medo como objeto de estudo
sociológico. A operacionalização do medo por essa pesquisadora leva em consideração a
dimensão da percepção de risco. A autora examinou principalmente quais seriam os
fatores, em nível individual, que contribuem para o aumento ou redução do medo em duas
vizinhanças na Carolina do Norte. Essas vizinhanças possuem semelhanças que as
colocariam em condições socioeconômicas similares. São analisadas como características
individuais se associam ao medo em dois contextos sociais semelhantes.
Segundo Brissler (2013) muitas são as teorias que podem dizer algo sobre as
causas do medo. Teorias da vitimização direta, teorias da vulnerabilidade física, teorias da
vulnerabilidade social, teorias das incivilidades, teoria das redes sociais são as que a autora
71
opta por desenvolver com mais destaque em seu trabalho. Brevemente, a teoria da
vitimização direta afirma que a pessoa que foi vítima de algum crime tende a ter mais
medo do que a pessoa que não foi vítima. Quanto à teoria da vulnerabilidade física, a
ênfase dada é que existem grupos de pessoas, como mulheres e idosos, que por entenderem
terem menor condição de se defenderem, sentem mais medo do que homens e pessoas mais
jovens, por exemplo. As teorias da vulnerabilidade social destacam que grupos
considerados minoritários, com baixa renda, com menor escolaridade possuem menores
condições de lidar com a vitimização e de se protegerem. Dessa maneira é mais provável
que possuam mais medo de serem vitimizados.
Nas teorias da incivilidade, como a Broken Windows, é defendido que condições
consideradas como fora da ordem pública, como pichação de muros e fachadas,
contribuem com o aumento do medo, já que há a ideia de que não há quem cuide do espaço
deteriorado ou desordenado. Dentre as teorias que relacionam redes sociais e medo do
crime, a Eficácia Coletiva, por exemplo, há o direcionamento de se avaliar o papel que a
coesão e integração social possuem nos níveis de medo da comunidade. Há alguns achados
que afirmam serem as comunidades mais coesas as que têm menos medo, porque haveria
um maior controle informal sobre os criminosos, reduzindo assim o medo entre os
moradores. Também foi encontrado que sociedades mais coesas podem ter maiores níveis
de medo, porque as pessoas tendem a saberem mais sobre crimes e violências que ocorrem
em sua região. Cada teoria lança mão de uma dimensão para entender o medo do crime.
Não há um caminho único e universal para o entendimento do medo do crime numa
localidade. Uma mesma teoria, como teorias das redes sociais, podem ser referência para
explicar mais medo numa região e menos medo em outra localidade (BRISSLER, 2013).
Embora a autora use as palavras medo e percepção de risco no decorrer do seu texto, não
há distinção no uso e na mensuração destas categorias.
Ferraro e LaGrange (1987), após mais de quinze anos de pesquisas sobre o medo do
crime nos Estados Unidos, elaboraram um artigo em que avaliaram o quão deficientes
eram os aspectos teóricos e metodológicos de medição do medo do crime das produções
científicas. Os pesquisadores elaboraram uma definição conceitual do medo de crime que
até a atualidade influencia, em sua totalidade ou em sua parcialidade, estudos nacionais e
internacionais. Para discutirem sobre a mensuração do medo do crime, os autores procuram
definir o que é medo e o que não é. Por exemplo, eles afirmam que medo do crime não
deve ser considerado o mesmo que risco ou vulnerabilidade ao crime.
72
Após o exame de trabalhos que se propuseram medir o medo do crime, Ferraro e
LaGrange (1987) chegaram à conclusão que havia uma séria confusão do que é mensurado
como medo em pesquisas nos Estados Unidos. Os autores, adaptando o trabalho de Dubow
et al (1979), classificaram questões apresentadas em diferentes trabalhos, como itens que
mediam medo dentro de um quadro que varia de aspectos mais cognitivos aos mais
afetivos (julgamentos, valores e emoções). Os pesquisadores sugeriram que ao se usar uma
questão pensando em operacionalizar o conceito de medo, seja observado com cuidado se a
questão não estaria medindo outros conceitos, como julgamentos ou valores em relação aos
crimes, e não o medo de crimes em si.
O quadro abaixo facilita o entendimento de como eles avaliaram e localizaram uma
diversidade de questões colocadas apenas como medo.
Quadro 2 – Classification of crime perceptions*
Type of Perception
Cognitive Affective
Level of reference Judgmentes Values Emotions
General A.Risk to B.Concern about C.Fear for others
others;crime or crime to others victimization
safety assessments
Personal D.Risk to E.Concern about F.Fear for self
self;safety of self crime to self; victimization
personal
intolerance
* Adapted from DuBow et al 1979
Fonte: Apud Ferraro e LaGrange, 1987, p.72
73
De uma maneira geral, o artigo “The measurement of crime” (1987) trata dos
problemas de medição relacionados às dimensões que o conceito de medo do crime
comporta. Uma das indicações dos autores é que se faça distinções quanto ao medo,
valores e avaliações de riscos de crimes ou de símbolos ligados a eles. A opção pela
distinção no trabalho em tela segue nesta direção ao tratar de forma distinta o Medo e a
Percepção de Risco. Trabalhos como o de Frattari (2013), Baierl (2004), Beato Filho e
Caminhas (2009) não deixam claro, dentro da perspectiva de Ferraro e LaGrange (1987),
as diferentes dimensões que podem dialogar com o medo. Na tese de Borges (2011) sobre
medo na cidade do Rio de Janeiro, pode-se encontrar uma separação, mas também
integração destas dimensões, ao se pesquisar o medo no município. Essa separação e
integração estão baseadas na discussão que o autor apresenta sobre o medo e as crenças de
perigo. Segundo Borges (2011), as crenças de perigo, construídas a partir de experiências
(conhecimento, informação, entendimento, percepção etc.) despertam sentimentos como
medo, felicidade, tristeza, amor dentre outros. Ainda no que diz respeito à distinção dentro
do que poderia ser tido apenas como medo, Silva e Fernandes (2007, p.5) enfatizam a
diferença entre risco objetivo e o medo percebido: “Enquanto o risco objetivo é definido,
em geral, como a probabilidade real de um indivíduo ser ou não vítima de um crime, o
medo percebido, matéria da nossa análise, é uma medida subjetiva. Trata-se da percepção
do indivíduo acerca do risco de vir a ser vitimado”.
Ferraro e Lagrange (1987) também criticam o fato de muitos trabalhos acadêmicos
avaliados no artigo não especificarem qual tipo de crime está se falando ao se indagar
sobre medo de crimes. Este problema também é encontrado em alguns poucos estudos
realizados no Brasil, incluindo este trabalho sobre Feira de Santana.
Silva e Beato Filho (2013), na construção do índice medo como variável
dependente leva em consideração questões que indagavam se o entrevistado se mudaria
algo em suas rotinas por causa do medo e da violência, quais sejam: evitam sair de casa à
noite; evitam conversar com ou atender pessoas estranhas; deixam de ir a locais da cidade
que gostaria ou precisaria ir; evitam usar algum transporte coletivo que gostaria ou
precisaria usar; mudam o caminho entre a casa e o trabalho e/ou a escola e o lazer; evitam
sair de casa portando muito dinheiro e objetos de valor ou outros pertences que atraiam a
atenção; evitam frequentar locais e eventos com grande concentração de pessoas; evitam
sair e voltar sozinho para casa; evitam conviver com vizinhos. Estas questões, como
74
poderão ser vistas a seguir, também constam do índice Medo desta tese. Esta opção se deu
também pela importância em dialogar com os resultados destes estudos no Brasil.
Warr e Stafford (1983), numa discussão sobre outra possibilidade de discutir as
causas do medo, sugeriram um caminho para além das taxas de crime e características
físicas, sociais, demográficas de uma vizinhança. Afirmaram que olhar para o que parece
mais óbvio e próximo pode não ter sido interessante para alguns pesquisadores. Não seria
importante investigar se o medo advém da avaliação do indivíduo em relação à
probabilidade que a vitimização irá ocorrer? Os autores se propuseram a examinar o medo
a partir de vários crimes e desenvolver e testar um modelo com causas próximas ao medo
de ser vitimizado. A hipótese trabalhada é que o risco percebido da vitimização e a
seriedade percebida da ofensa são ambos, condições necessárias para o medo. Neste
momento, importa no trabalho de Warr e Starfford (1983), observar que esses autores
também trabalham, embora com métodos de análise diferentes desta tese, com a separação
entre a percepção de risco e o medo.
Para finalizar essa seção, outra questão levantada por Ferraro e LaGrange (1987)
em sua análise de trabalhos científicos sobre a mensuração do medo do crime é que
praticamente não há entre os examinados a partir de 1980 (nove entre onze trabalhos
elaborados) valores ou algum método que possa falar algo sobre a confiabilidade do índice
de medo construído. Conforme exposto no capítulo sobre métodos e procedimentos, esta
tese atentou para que a confiabilidade nos índices aqui elaborados fossem verificadas e
apresentadas nesta pesquisa.
75
Percepção de Risco serão exibidas para cada uma das quatro regiões que agregam bairros,
de acordo com a renda média por domicílios segundo o IBGE.
Além das frequências percentuais que se mostram como relevantes por contribuir
na compreensão do quadro de medo, risco, criminalidade e violência no contexto de
estudo, também serão apresentadas correlações entre o Medo e a Percepção de Risco com
variáveis socioeconômicas e demográficas, demonstrando se e o quanto fatores individuais
podem influenciar no Medo e na Percepção de Risco entre os feirenses.
43
Exemplo: Deixa de ir a locais da cidade que gostaria ou precisaria ir; Evita usar algum transporte coletivo
que gostaria ou precisaria usar?.
76
Considerando a apresentação das respostas dadas às questões que apontam Medo
nesta tese, quando o assunto é andar nas ruas dos bairros ondem residem, 43,6% não se
sentem seguros durante o dia e 72,4% durante a noite. Já quanto ao sentimento de
insegurança dentro de casa durante o dia, 17% estão inseguros. Dos entrevistados que
falaram sobre o sentimento de segurança dentro de casa a noite, 28,8% declararam-se
inseguros. Conclui-se que o lugar no qual o Medo se reduz é dentro da residência, durante
o dia.
As questões 5, 6, 7, 8, e 9 da tabela 14, não usam em suas formulações as
expressões seguro e inseguro, o que evidencia a complexidade das dimensões envolvidas
na elaboração do constructo Medo. Essas questões foram incluídas nesse estudo no
constructo “Medo” porque se entende que quando alguém evitar fazer atividades por causa
da violência pode-se afirmar que a mesma tem Medo. Ao todo foram agregadas nove
variáveis com o objetivo de indicar o que se denomina aqui como “Medo”. Permaneceram
no constructo utilizado nos modelos de análise fatorial sete das nove perguntas utilizadas
no survey44. As que permaneceram podem ser vistas nas tabelas a seguir.
Em torno de 85% dos respondentes ao serem perguntados se evitam fazer algumas
atividades, eventos ou situações, disseram “evitar chegar muito tarde em casa ou mudar de
trajeto” (84,1%) e sair portando muito dinheiro ou objeto de valor (87,8%). Evitar receber
pessoas estranhas foi a resposta de 69,7% dos entrevistados. Quanto a realizar alguma
medida de segurança para as residências, 30,7% das pessoas declararam terem feito entre
junho de 2011 e junho de 2012.
Um dado que chama atenção é que 75,9% das pessoas não deixam de conversar
com seus vizinhos por causa do medo da violência. Ou seja, mesmo com medo ainda há
possibilidade de que relações sociais sejam mantidas. Contudo, é considerar que “vizinho”
para os entrevistados tem concepção restrita: 26,5% dizem que vizinhos são pessoas que
moram ao lado de sua casa, 46,5% que são pessoas que moram na sua rua e 27% que são
aqueles que moram no mesmo bairro.
Wirth (1987) assegura que as grandes cidades são marcas da modernidade em nossa
civilização. Diferente das sociedades primitivas em que havia pequenos grupos num vasto
território há agora nas cidades urbanas a concentração de muitas pessoas em agregados
gigantescos. O autor ainda destaca que não é apenas a proporção de pessoas na área urbana
44
Sairam na análise fatorial exploratória as questões SI9,7- Evita conviver com vizinhos e SI10 – Gostaria de
saber se, nos últimos 12 meses, tomou medidas de segurança para sua residência.
77
que caracteriza a urbanidade. Seria arbitrário definir uma comunidade como urbana apenas
levando em consideração seu tamanho físico. Há um modo de vida urbano, em que
indivíduos, comunidade ou vizinhança passam possuir características urbanas que vão se
mesclando às características do modo de vida rural. Estes irão desaparecendo ou mesmo
enfraquecendo-se.
Entendendo o urbanismo nas cidades modernas como uma entidade social e não
apenas física, Wirth (1987) assegura que uma comunidade quanto mais densamente
habitada e mais heterogênea, mais acentuadas são as características associadas ao
urbanismo. As variações encontradas na população da vida urbana dão origem à separação
dos indivíduos por cor, raça, status socioeconômico e preferências diversas.
78
respeito ao teor de pessoalidade e hierarquia que perpassa as relações sociais no Brasil (DA
MATTA, 1979; DA MATTA, 1991). O círculo que define quem são vizinhos ou não, além
das questões próprias ao modo de vida urbano, pode sofrer influências da lógica restrita
com quem é devido se relacionar e associar a depender do grau de relações pessoais e da
posição hierárquica dos indivíduos na sociedade brasileira. O capítulo 7 disserta com mais
profundidade acerca dessa sociabilidade brasileira.
79
4.2.2 O construto Percepção de Risco
80
para a percepção cognitiva que é diferente do que é o medo, sob o ponto de vista de defesa
desta tese. 45
Retornando às discussões dos dados, ao verificar a tabela 15, conclui-se que sobre
ouvir barulhos de tiros no bairro, 62,4% confirmaram existir tiroteios em seu espaço
residencial; 62,6% haver consumidores ou vendedores de drogas ilegais nas ruas do bairro.
Quanto ao fato de ver pessoas andando com arma de fogo, que não fossem policiais ou
seguranças, 46,8% afirmaram isso; 39,9% declararam haver em seus bairros pessoas se
agredindo fisicamente nas ruas; 29,8% sabiam da existência de mulheres sendo agredidas
por maridos ou por companheiros, assim como 13,7% disserem existir vítimas de violência
sexual em seus respectivos locais de moradia. Dois percentuais se destacaram pela alta
frequência. O primeiro, 70,6%, diz respeito à proporção de pessoas que manifestaram saber
de pessoas sendo assaltadas em seus bairros. O segundo, 63,0%, é concernente à existência
de pessoas sendo mortas por arma de fogo na área em que reside.
O quadro delineado no survey permite caracterizar a cidade de Feira de Santana
como local de alta concentração de crimes, contra a pessoa e o patrimônio, e uma
população intensamente exposta a riscos de vitimização. Isso, logicamente, está presente
na conformação de sentimentos de insegurança, bem como aguça a percepção dos riscos
presentes no contexto.
45
Lembrando que o objetivo da tese de Borges (2011) é avaliar o efeito que as Crenças de Perigo têm sobre o
medo. Os Sinais de Violência na vizinhança é um dos índices que se agregam para formar o que ele
denomina de Crenças de Perigo (Borges, 2011). Aqui está se chamando de Percepção de Risco.
81
Tabela 15 – Frequência e percentual válido das variáveis dependentes definidas como
indicadoras da Percepção de Risco em Feira de Santana/BA
82
que existia o maior percentual de pessoas ganhando mais de 5 salários mínimos; são eles:
Ponto Central, Parque Getúlio Vargas, Capucinhos, Santa Mônica, Pedra do Descanso e
SIM. Na Região 2, foram incluídos os bairros em que, em comparação às outras regiões,
um maior número de pessoas ganhavam “mais de 2 a 5 salários mínimos”: São João,
CASEB, Brasília, Serraria Brasil, Olhos D’água, Jardim Acácia, Muchila, Cruzeiro,
Sobradinho e Cidade Nova. A Região 3 é composta pelos bairros Queimadinha, Lagoa
Grande, Chácara São Cosme, Jardim Cruzeiro, Baraúnas, 35 BI, Gabriela, Pampalona,
Parque Ipê e Limoeiro. Nesta região o corte da renda foi de pessoas que ganham “mais
de1/2 até 2 salários mínimos”, respeitando a mesma lógica das duas regiões anteriores. Por
último, a Região 4 é representada pelos bairros Tomba, Calumbi, Rua Nova, Mangabeira,
Conceição, Santo Antônio dos Prazeres, CIS, Nova Esperança, Campo Limpo, Aviário,
Campo do Gado Novo, Asa Branca, Novo Horizonte, Papagaio, Subaé e Aeroporto. A
referência para a agregação da Região 4 foi baseada na renda mais baixa: “até ½ salário
mínimo”.
Resumidamente, na Região 1 estão concentrados os bairros considerados menos
vulneráveis socioeconomicamente e, em contrapartida, na Região 4 estão compreendidos
os bairros mais vulneráveis socioeconomicamente de acordo com a informação de renda da
população.
Para que se possa dialogar e comparar uma região com as outras nas questões sobre
o Medo e a Percepção de Risco em relação às violências e o crime foram elaboradas
escalas que vão do nível 1 ao nível 10. As escalas tem o objetivo de inserir valores
percentuais válidos da resposta “sim” aos seguintes intervalos: a) 1% a 10%, b) 11% a
20%, c) 21% a 30%, d) 31% a 40%, e) 41% a 50%, f) 51% a 60%, g) 61% a 70%, h) 71%
a 80%, i) 81% a 90%, j) 91% a 100%. Para cada intervalo desses percentuais foi atribuído
um Nível para que a interpretação dos resultados pudesse ser mais bem realizada.46
Exemplo, o percentual válido de pessoas que responderam que “evitam conversar com
vizinhos por causa do medo e violência” é de 14,0% na Região 1. Considera-se então, que
a variável indicadora de Medo nesse caso está no Nível 2.
46
Quando o percentual válido da resposta sim às questões for de 1% a 10% o medo e percepção de risco está
no Nível 1. Quando for de 11% a 20% é considerada Nível 2. De 21% a 30% é examinada como Nível 3.
Uma questão de medo e percepção de risco será categorizada como Nível 4 quando um percentual alcançar
entre 31% a 40% numa região; percentuais entre 41% a 50% para a resposta sim caracteriza Nível 5. O
nível 6 é definido quando encontrados valores entre 51% a 60%. Nível 7 é ajuizado entre os intervalos de
61% a 70%. Se o percentual for entre 71% e 80% está no Nível 8 de medo e percepção de risco. O Nível 9
registra valores entre 81% e 90%. Por fim, o nível 10 está comporta valores entre 91% e 100%.
83
Existem quatro questões na tabela 16 que como resposta não se tem as categorias
sim ou não, mas o seguinte gradiente: “muito seguro”, “seguro”, “inseguro” e “muito
inseguro”. Neste caso agrega-se “seguro e muito seguro” para transformá-la numa variável
representante do não. “Inseguro e muito inseguro” é somado para indicar o sim na
exposição do Medo ao crime e à violência nas regiões.
Ao se debruçar sobre a tabela 16, percebe-se que andar nas ruas do bairro de dia
é mais seguro na Região (Nível 1) do que nas Regiões 2, 3 e 4 (Nível 5), embora os
percentuais de insegurança se aproximem muito em todas as regiões. Andar nas ruas do
bairro onde reside durante a noite segue o mesmo padrão de pouca oscilação entre as
regiões. As Regiões 1 e 3 registraram Nível 7 e as Regiões 2 e 4 enunciaram Nível 8 de
Medo. Sendo a escala de 1 a 10, pode-se afirmar que é alto o nível de Medo das pessoas ao
andar nas ruas de seus bairros à noite. Dentro de casa durante o dia é a variável que
registra o menor nível encontrado de Medo em todas as regiões, o Nível 2. Dentro de casa
à noite, as regiões 1, 2 e 3 estão no Nível 3. Apenas a Região 4 está no Nível 4. Ou seja, a
Região 4 se diferenciou neste caso das três regiões anteriores. São elevados os níveis para a
variável evita sair a noite ou chegar muito tarde em casa ou muda de trajeto: as Regiões 3
e 4 estão no Nível 9 de Medo. Na mesma direção, as Regiões 1 e 2 indicaram Nível 8. O
Nível 9 é observado nas 4 regiões quando a variável em tela é evita sair de casa portando
muito dinheiro ou outros objetos de valor.
Quanto à questão evita conversar com vizinhos por causa do medo da violência, há
uma diferença entre as regiões: a Região 1 está no Nível 1, a Região 2 e 3 estão no Nível 2
e a Região 4, com mais pessoas que ganham até ½ salário mínimo está três níveis acima
que a Região 1, atingindo o Nível 4 de Medo. Ou seja, nos bairros da Região 4 as pessoas
evitam mais conversar com seus vizinhos devido ao medo do que na Região 1. As regiões
1, 2 e 4 na questão evita conversar e atender pessoas estranhas estão no Nível 7. Neste
caso, a Região 3 está no Nível 8.Na variável tomar medidas de segurança para a
residência, as Regiões 1 e 4 estão no Nível 4 e as Regiões 2 e 3 no Nível 3.
De uma maneira geral, entre as variáveis da tabela 16 com intuito de apontar o
Medo em Feira de Santana, parecem não haver muitas oscilações entre as quatro regiões no
que diz respeito às proporções das respostas, sendo grande parte das respostas classificadas
nos altos níveis da escala definida. Já na tabela 17, das questões do constructo Percepção
de Risco, observa-se que a variação entre as diferentes regiões é mais presente e evidente.
84
Tabela 16– Percentual válido das variáveis dependentes utilizadas como indicadoras do Medo
segundo regiões em Feira de Santana/BA
Na tabela 17, na variável no seu bairro existem barulhos de tiros, verifica-se que a
Região 1 é a que menos afirmou existir barulho de tiro, estando no Nível 4 (39%). A região
2 está no Nível 6 (59%) e as Regiões 3 e 4 no Nível 7 (64,8% e 69%). O percentual de
barulhos de tiros nos bairros de Feira de Santana é alto, contudo nas Regiões 3 e 4 de renda
85
mais baixa são ainda mais elevados segundo os entrevistados. As regiões 2, 3 e 4 estão no
Nível 7 (68,2%, 62,7%, 65,2%) quando a questão é pessoas consumindo ou vendendo
drogas ilegais na rua. Neste caso, a Região 1 está no Nível 1, com percentual de respostas
sim bem menores que das outras regiões. Em mais uma questão da tabela 17, existe no seu
bairro pessoas andando com arma de fogo na rua que não fossem policiais ou seguranças,
a Região 1 está inserida num menor nível de Percepção de Risco em relação às outras
regiões, Nível 3 (29,8%). As Regiões 2, 3 e 4, estão nos respectivos Níveis, 4, 6 e 6
(39,3%, 51,6%, 52,5%).
A Região 1, quanto a variável existe no seu bairro mulheres, que residem na sua
vizinhança, sendo agredidas por seus maridos ou companheiros ou por parentes tem
14,6% de respostas sim, o que a coloca no Nível 2 na escala de Medo. No que se refere à
Região 2, 30,4% dos entrevistados disseram ter visto ou tido informação, classificando esta
região no Nível 3. As Regiões 3 e 4, mais vulneráveis quanto à renda, estão no Nível 4,
registrando respectivamente 32% e 32,2%. Concernente à questão existe no seu bairro
pessoas sendo vítimas de violência sexual as quatro regiões são similares quanto à
classificação nos níveis de Medo apresentados. Entretanto a Região 1, novamente, registra
o menor percentual, 8,3% (Nível 1). No Nível 2, estão as regiões 2,3 e 4.
As Regiões 2 e 3 estão no mesmo nível, da escala de Medo, quando a questão em
referência é existe no seu bairro pessoas se agredindo fisicamente, Nível 5 (45,5% e
44,5). A Região 1, mantendo a tendência de mais baixa Percepção de Risco, está no Nível
3 (24,5%) e a Região 4 no Nível 4 (38,8%). Os respondentes ao serem perguntados se em
seus bairros existem pessoas sendo assaltadas colocam as regiões em que moram em
elevado nível na escala de Medo. A Região 1, 3 e 4 estão no Nível 7 (66%, 68,2% e
68,5%). Apenas a Região 2 difere, estando numa faixa acima na escala, Nível 8. Por
último, assim como a questão anterior, todas as regiões estão em níveis acima de 5 na
escala de Percepção de Risco quando a questão existe no seu bairro pessoas sendo mortas
por arma de fogo foi indagada. A Região 1 com 46% está no Nível 5. As Regiões 2 e 3,
com 59,8% e 60,5% estão no Nível 6 e a Região 4, com 69,2% das pessoas dizendo que no
bairro há pessoas mortas por arma de fogo, está no Nível 7.
Na tabela 17 é plausível se afirmar que, em relação à Tabela 16, há muita variação
entre as Regiões quanto às proporções das respostas que indicam Percepção de Risco.
Parece haver uma tendência de que a Região 1 apresente uma menor Percepção de Risco
de maneira geral em relação às outras Regiões, mas é fundamental dizer que todas as
86
regiões apresentaram altos percentuais nas questões que apontam a Percepção de Risco
com relação à violência e o crime na cidade.
Tabela 17– Percentual válido das variáveis dependentes utilizadas como indicadoras da
Percepção de Risco segundo regiões em Feira de Santana/BA
4- Viu ou teve informação de que existe Sim 14,6 30,4 32,0 32,2
no seu bairro mulheres, que residem na Não 85,4 69,6 68,0 67,8
sua vizinhança, sendo agredidas por seus
maridos ou companheiros ou por
parentes.
87
4.2.4 Associando características sociodemográficas dos entrevistados à Percepção de
Risco e ao Medo
1, se Percepção de Risco ≥ 0
I(Percepção de Risco) = {
0, se Percepção de Risco < 0
1, 𝑠𝑒 𝑀𝑒𝑑𝑜 ≥ 0
𝐼(𝑀𝑒𝑑𝑜) = {
0, 𝑀𝑒𝑑𝑜 < 0
Para seleção das variáveis, foi utilizado o método Backward, que é o procedimento
de retirar, por vez, a variável de maior valor-p, sendo esse procedimento repetido até que
restem no modelo somente variáveis significativas, considerando um nível de 5% de
significância.
Na tabela 18 tem-se a regressão logística ajustada para a Percepção de Risco antes e
após aplicar o método Backward. Dessa maneira, pode-se verificar que apenas as variáveis
renda e idade tiveram relações estatisticamente significativas a 5% (p-valor <0,05). No que
se refere à idade, a cada ano a mais na idade do indivíduo a chance de Percepção de Risco
diminui em 0,98 [0,97; 0,99] vezes. Ou seja, quanto mais “jovem” o indivíduo em Feira de
Santana, mais chances há de que aumente a sua Percepção de Risco. Em relação às pessoas
mais “velhas” ocorre o oposto.
47
Essas variáveis sociodemográficas também foram investigadas em relação ao medo, percepção de risco e
criminalidade em outros estudos internacionais e nacionais (Rountree e Land, 1996; Silva e Beato, 2013;
Beato, Peixoto e Andrade, 2004).
48
Se afirmou ser vítima direta de alguma das tipologias de crime examinados no survey realizado em Feira de
Santana em 2012.
88
Quanto à renda, a cada faixa de renda crescente, diminui a chance de Percepção de
Risco em 0,82 [0,71; 0,96] vezes. Esses valores colaboram na explicação da variação entre
as Regiões apresentadas na tabela 17. Nesta percebeu-se, visualmente, que a tendência era
que os níveis de Percepção de Risco mais altos estavam, em geral mais concentradas nas
regiões 3 e 4 de renda. As pessoas com maior renda têm menos chances de ter aumentada a
sua Percepção de Risco quando comparadas às pessoas com menor renda. Uma possível
interpretação é que pessoas com maior poder financeiro tem mais condições de se
protegerem mais em relação ao crime e à violência.
Ainda sobre a tabela 18, salienta-se que se for levado em consideração o nível de
significância 10% (p-valor 0,10), a variável ter sido “vítima direta” também influencia na
Percepção de Risco. Nesse sentido, as chances de ter maior Percepção de Risco é acrescida
entre as vítimas diretas de crime em relação às pessoas que não foram vítimas diretas de
algum crime.
89
Tabela 18 – Características sociodemográficas dos entrevistados e Percepção de Risco
– com ponderação pelo sexo49
Regressão Logística Regressão Logística Backward
Fonte
β E.P. Valor-p O.R. I.C.-95% β E.P. Valor-p O.R. I.C.-95%
Tempo 0,06 0,03 0,083 1,06 [0,99; 1,13]
Renda -0,26 0,10 0,008 0,77 [0,63; 0,93] -0,19 0,08 0,012 0,82 [0,71; 0,96]
Cor = Branca - - - 1 -
Cor = Outras 0,43 0,48 0,366 1,54 [0,60; 3,9]
Cor = Preta/Parda 0,27 0,23 0,235 1,31 [0,84; 2,06]
Idade -0,02 0,01 0,018 0,98 [0,97; 1,00] -0,02 0,01 0,000 0,98 [0,97; 0,99]
Escolaridade = S-PG - - - 1 -
Escolaridade = EF -0,50 0,31 0,112 0,61 [0,33; 1,12]
Escolaridade = EM -0,20 0,26 0,439 0,82 [0,49; 1,36]
Escolaridade = SI -0,64 0,57 0,267 0,53 [0,17; 1,63]
Sexo = Feminino - - - 1 -
Sexo = Masculino -0,09 0,18 0,616 0,91 [0,64; 1,3]
Estado Civil = Casado - - - 1 -
Estado Civil = Solteiro -0,21 0,19 0,267 0,81 [0,56; 1,18]
Estado Civil = Viúvo/Separado -0,39 0,32 0,212 0,67 [0,36; 1,25]
Vítima direta = Não - - - 1 -
Vítima direta = Sim 0,48 0,31 0,116 1,62 [0,89; 2,94]
R² = 5,03%; Valor-p = 0,672 (Hosmer-Lemeshow)
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
49
Essas regressões logísticas das tabelas 18 e 19 sofreram ponderações quanto ao sexo. Isto dada à
diferença entre os percentuais de homens e mulheres na população e os homens e mulheres entrevistados.
Ressalta-se, contudo, que as conclusões com e sem ponderação apenas apresentaram diferenças quanto ao
valor encontrado, não com relação à conclusão interpretada. Exemplo: Sem ponderação pelo sexo na tabela
18 apenas a renda e idade foram significativas ( renda: 0,83 [070;0,98] e idade 0,98 [0,97;0,99] ). Com a
ponderação pelo sexo também apenas a renda e a idade foram significativas ( renda: 0,82 [071;0,96] e
idade 0,98 [0,97;0,99] )
90
logística da tabela 19, a chance de Medo para os indivíduos que foram vítima direta de
algum crime foi 2,95 [1,65; 5,28] vezes a chance dos que não foram. Ou seja, ter sido
vítima direta de crime influencia no Medo sentido pelos feirenses. Este dado é consistente
com resultados encontrados na cidade de Belo Horizonte, quando ter sido vítima de crimes
nos cinco anteriores aumenta o medo (SILVA e BEATO,2013). Lembrando que na tabela
18, levando em consideração o nível de significância de 10%, a Percepção de Risco
também está relacionada com a vitimização real das pessoas na referida cidade.
91
CAPÍTULO 5
Neste capítulo será realizada uma breve revisão dos fundamentos teóricos da
teoria das Janelas Quebras e de algumas reflexões críticas apresentadas por pesquisadores
que encontraram problemas e/ou fizerem necessários aperfeiçoamentos, tanto à referida
teoria quanto à sua aplicabilidade nas pesquisas empíricas que investigam a relação entre a
desordem social e física com a criminalidade, a violência, percepção de risco, insegurança
e medo.
A teoria das Janelas Quebradas também se tornou forte referência no que diz
respeito à orientação de soluções para enfrentar altas taxas de violência e criminalidade em
grandes cidades norte-americanas. Aliás, pode-se afirmar que antes de se fortalecer como
centro de discussões e críticas no interior da academia, a teoria das Janelas Quebradas se
consolidou como conceito orientador de práticas de policiamento na área de políticas
públicas de segurança. Esta realidade foi e ainda é um instigante campo de estudo para os
pesquisadores da academia (SKOGAN, 2012; KELLING, 1997; TAYLOR, 2003;). Dessa
maneira, esta discussão também será encontrada neste capítulo.
A apresentação e discussão da estatística descritiva das variáveis utilizadas aqui
para mensurar Desordem Social e Física também serão abordadas neste capítulo. O intuito
é fazer com que o pesquisador, ao mesmo tempo, em que tenha acesso à revisão do
referencial teórico em tela, a vincule e contextualize as escolhas das variáveis pertinentes a
esse referencial compreendidas neste trabalho50.
Dessa maneira, este capítulo se dividirá em quatro partes. A primeira e a segunda se
concentram numa revisão de literatura mais descritiva, histórica e conceitual da Broken
Windows. A terceira tem por objetivo realizar uma leitura e reflexão das críticas sobre o
que tem sido produzido cientificamente e posto em prática por meio deste enfoque na área
da prevenção e repressão à violência e à criminalidade. Já a quarta, se detém sobre a
análise das frequências encontradas em Feira de Santana/BA para as dimensões da
Desordem Social e Física que compõem a teoria das Janelas Quebradas.
50
A análise avançada dos modelos estatísticos que visam investigar a influência dos aspectos defendidos pela
Broken Windows na percepção de risco e medo será versada em capítulo posterior.
92
5.1 Broken Windows na ramificação das teorias sobre as incivilidades
A teoria das Janelas Quebradas está inserida num amplo campo de pesquisa que
leva em consideração a tese da incivilidade para compreender uma série de fenômenos
sociais, especialmente, àqueles ligados à vida urbana nas grandes cidades e metrópoles
(Taylor, 2003). No caso da Teoria das Janelas Quebradas, o fenômeno em questão é a
criminalidade e violência, estendendo-se para seus correlatos, como o medo, a insegurança,
a percepção de risco dentre outros. É notório que não há consensos e sim pontos de partida
e chegadas diferentes quanto à relação teoria e prática face à hipótese de que a incivilidade
explicaria a criminalidade e a violência, bem como suas extensões. Essa assertiva é
fundamental para que não se caia na tentadora, e mais fácil, simplificação das implicações
teóricas e práticas da teoria das Janelas Quebradas, seja em relação às suas premissas ou às
conclusões.
Taylor (2003) afirma que a partir da década de 1970 surgiram cinco diferentes
vertentes teóricas que contribuíram para a consolidação da força explicativa das
incivilidades no campo de investigação da violência e criminalidade. Perguntas chaves a
serem respondidas giraram e giram em torno de: a desordem pública pode contribuir para o
aumento da criminalidade, da percepção de risco e da insegurança?; a polícia ou alguma
forma de policiamento teria algum impacto sobre a manutenção da ordem pública e sobre a
redução das taxas de criminalidade e medo?; Incivilidade ou desordens públicas devem ser
consideradas como conceitos e dimensões práticas diferentes do que são os crimes ou os
dois seriam a mesma coisa situados em escalas diferentes de severidade? Essa discussão
sobre tais indagações ainda não se encerrou.
Wilson (1975) e Garofalo e Lauber (1978) investigaram as razões pelas quais
pessoas que residiam nas áreas urbanas sentiam medo. Eles chegaram à conclusão de que
não eram apenas a ocorrência ou a possibilidade de ocorrência de crimes que acometiam as
pessoas, mas situações e condições urbanas consideradas “desordenadas”, como: a
presença de mendigos, adolescentes barulhentos, lixo acumulado nas ruas, pichação e
residências abandonadas ou mal cuidadas. Wilson (1975) chegou a falar que haveria um
mal estar urbano. Ou seja, as condições urbanas degradadas e não o crime em si seriam
fonte do medo nas metrópoles norte-americanas. A preocupação em diferenciar o medo do
crime da ocorrência do crime ganhou contornos empíricos a partir da primeira Pesquisa
93
Nacional de Vitimização, realizada nos Estados Unidos, que apontava nessa direção
(Taylor, 2003). Conforme afirma Taylor (2003), aqui já não se encontra uma tentativa clara
e explícita de se separar e discutir as causas da incivilidade e do crime e suas respectivas
ligações com as taxas de crime e de medo. O que há é uma verificação de que as taxas do
medo são maiores do que as observadas nas ocorrências de crime e que, portanto deve
haver alguma separação entre esses fenômenos. Interessa ressaltar que Wilson (1975) e
Garofalo e Lauber (1978) colocaram foco maior sobre as condições psicológicas da
produção do medo do que nas dinâmicas da comunidade que levavam à constituição do
medo.
Já Hunter (1978) atentou mais no que ocorria na dinâmica comunitária para
entender como a incivilidade e a desordem influenciavam a dimensão do medo entre os
moradores. Os processos psicológicos são necessariamente levados em consideração,
contudo, há um modelo elaborado que indica o impacto mútuo entre as taxas de
criminalidade e a incivilidade/desordem. Ou seja, comunidades com altas taxas de crimes
possuem altas frequências de incivilidade e desordem. Comunidades com alta frequência
de sinais de incivilidade possuem, concomitantemente, altas taxas de criminalidade. Na
hipótese de incivilidade de Hunter (1978), a desordem influenciaria os sinais de
incivilidades e os crimes (que mutuamente se influenciam), que, por sua vez, atuariam
sobre o medo sentido pelos moradores.
Wilson e Kelling (1982) tornaram-se referência quando o tema abrange
criminalidade, medo do crime e análises sobre formas de policiamento, especialmente, do
tipo comunitário. Os autores fortalecem uma perspectiva temporal do que aconteceria na
dinâmica do bairro dados os altos níveis de incivilidades físicas e sociais. As janelas
quebradas em si não seria o problema, mas o tempo em que a janela permanece quebrada,
seria indicador de que o controle social informal do bairro está baixo. Dessa maneira, gera
o entendimento, entre os que promovem a desordem e o crime, que não há quem cuide e
zele pelo espaço. Pessoas que cometem crimes entendem que a comunidade não é
organizada socialmente. Os moradores tenderão a usar cada vez menos o espaço público ou
intervir em situações desordenadas. A população se sentirá cada vez mais insegura quanto
à vizinhança. Para os infratores “leves” do local, como adolescentes que picham muros e
provocam transeuntes, as incivilidades ao longo do tempo potencializam as chances da
delinquência. Os pesquisadores declararam que infratores que cometem crimes mais graves
se fixarão nessa vizinhança, em que há algum tempo, devido às incivilidades físicas e
94
sociais, o controle social informal é baixo, possibilitando o aumento da ocorrência de
crimes leves e pesados. Nestas circunstancias, as taxas de criminalidade e o sentimento de
medo se tornam muito altos (TAYLOR, 2003).
Destaca-se que manter a ordem pública, para os autores da Teoria das Janelas
Quebradas significa fazer com que as incivilidades sociais e físicas estejam sob controle
contínuo da sociedade e das instituições policiais. Entre as diferentes teorias, citadas por
Taylor (2003), que enfatizam o efeito das incivilidades na criminalidade e insegurança,
optou-se nesta tese, por trabalhar com mais acuidade com a Broken Windows para analisar
a percepção de risco e insegurança em Feira de Santana/BA. Decisão esta pautada no
alcance e na polêmica da teoria das Janelas Quebradas. Além disso, esse enfoque teórico
precisa ser desenvolvido, criticado e aperfeiçoado entre as pesquisas relativos aos efeitos
de vizinhança sobre a criminalidade, a violência e a insegurança no Brasil. Segundo Taylor
(2003), a teoria das Janelas Quebradas dá um passo importante na análise da violência e do
crime fortalecendo o peso explicativo das dinâmicas encontradas nos bairros e ruas. Lewis
e Salem, de acordo com a linha traçada por Taylor (2003), oferecem contornos ainda mais
claros a essa direção, oposta aos aspectos psicológicos.
Lewis e Salen (1986) argumentam que ambos, os sinais de incivilidade e os crimes
contribuem conjuntamente para o medo. Se o crime e os sinais de incivilidade são
elevados, os moradores da vizinhança também terão altos níveis de medo. Se as taxas de
crime são altas, mas os sinais de incivilidade são baixos, ou vice e versa, os níveis de medo
serão mais baixos do que quando os dois são altos. Lewis e Salen também tendem a
defender que as causas dos sinais de incivilidades e dos crimes têm origens diferentes, já
que um pode ser baixo e o outro pode ser alto (TAYLOR, 2003).
Skogan (1990) investiga como a incivilidade influencia o crime e o medo nas
vizinhanças. Esse pesquisador é apresentado por Taylor (2003), entre os supracitados,
como aquele que mais enfatiza a dinâmica comunitária para o entendimento das
incivilidades e crimes. Skogan (1990, p.70) argumenta que a desordem é um importante
fator no declínio urbano dos bairros. Desordem para ele “reflects the inability of
communities to mobilize resources to deal with urban woes. The distribution of disorder
thus mirrors the larger pattern of structured inequality that makes innercity neighborhoods
vulnerable to all manner of threats to the health and safety of their residents”. A desordem
teria duas causas, a desorganização social e a desigualdade entre os bairros no tecido
urbano. As consequências das incivilidades físicas e sociais levaram ao declínio dos
95
bairros. Os bairros declinam dadas as incivilidades físicas e sociais que minam o controle
social informal, instigam a preocupação com a segurança da vizinhança e solapam a
estabilidade dos preços do mercado imobiliário. Skogan (1990), em seus estudos, também
leva em consideração a pobreza, a instabilidade e a composição racial dos bairros na
variação dos sinais de incivilidade e do crime (especialmente o roubo). É o primeiro
modelo que aprecia os nexos entre a estrutura da comunidade e as incivilidades. Pobreza,
instabilidade e composição racial influenciariam as incivilidades que, por sua vez,
gerariam vitimização, insatisfação com o bairro, mudança das pessoas e na estrutura do
bairro. Nesse sentido, seria possível presenciar a decadência do local (TAYLOR, 2003).
A linha traçada por Taylor (2003) descreve, via diferentes pesquisadores, como a
produção de conhecimento envolvendo incivilidades passa pela atenção dada ao medo, sob
a ênfase de aspectos psicológicos, depois pelas dinâmicas sociais e físicas das ruas e, em
sequencia, pelo declínio físico de uma vizinhança urbana.
5.2 História das ideias e os conceitos da Teoria das Janelas Quebradas (Broken
Windows)
Conforme dito anteriormente, Broken Windows é uma das três teorias que esta
tese abarca para analisar a Percepção de Risco e o Medo em Feira de Santana/Ba. Assim,
este capítulo trará mais detalhes sobre esta teoria defendida, especialmente pelos seus
formatadores, Wilson e Kelling (1982).
Segundo Wilson e Kelling (1982) na década de 1970, o estado de New Jersey
consolidava um programa que visava tornar os bairros mais seguros. Um dos focos era que
a polícia se aproximasse dos cidadãos, deixassem suas viaturas e patrulhassem os bairros a
pé. Houve muitas resistências entre os policiais, sendo a atividade vista como punição a
alguns policiais ou inútil à redução dos índices de violência e criminalidade, já que havia a
afirmação de que a mobilidade e o tempo de resposta das polícias aos crimes seriam
reduzidos. Como existia financiamento do Estado às polícias, por que não colocar o projeto
em prática?
Após cinco anos em que o programa havia sido implantado, a avaliação concluiu
que os índices de criminalidade não tinham sido reduzidos, mas as pessoas estavam se
sentindo menos inseguras, tomando menos medidas de proteção às suas residências, por
exemplo. Outro elemento positivo foi que os cidadãos da região do programa melhoraram
a avaliação da polícia em relação a outras regiões em que o programa não foi implantado.
96
As pessoas passaram a ter uma opinião mais favorável à polícia e suas atividades. Também
foi observado que o moral dos policiais da área estava mais alto e eles estavam mais
satisfeitos com o trabalho realizado. Os pesquisadores se perguntaram como um bairro ou
vizinhança pode se tornar mais seguro, sob a ótica dos moradores, sem redução das taxas
de criminalidade?
Wilson e Kelling (1982) chegaram à conclusão que a resposta a essa pergunta
passava pela manutenção da ordem pública que havia sido priorizada no programa de
bairros seguros. As pessoas não teriam medo do ataque apenas de pessoas violentas e
estranhas, mas também havia o medo de pessoas com comportamentos considerados
inapropriados, como pessoas com má reputação ou imprevisíveis: mendigos, bêbados,
adolescentes barulhentos, prostitutas, vagabundos dentre outros.
Os policiais a pé, atuavam nas vizinhanças com o intuito de manter as desordens
e/ou pessoas ‘desordenadas’ sob controle. Os policiais eram responsáveis por trabalhar
com foco no aumento do nível da ordem pública. Uma das críticas a ser ponderada na
próxima seção deste capítulo é como os policiais definiam e faziam a ordem pública.
Conforme os autores, pesquisas foram feitas para acompanhar como se dava essa definição
e atuação da polícia sobre a desordem pública. Foi observado que os policiais
classificavam as pessoas em estranhas e regulares ao local. As pessoas que agiam
conforme o que a “ordem” estabelecia ou mesmo os bêbados ou mendigos que sabiam
respeitar as regras informais de convivência eram consideradas pessoas conhecidas e com
comportamentos regulares à vizinhança. O trabalho dos policiais era então manter seus
olhares sobre os estranhos e pessoas “fora da ordem” que quebravam acordos sociais
informais na área da vizinhança. Por exemplo, as bebidas nas ruas deveriam ser portadas
em sacos de papel, mendigos ou adolescentes não poderiam incomodar pessoas em pontos
de ônibus. A polícia poderia prender as pessoas que não se enquadrassem nessas situações,
por exemplo (WILSON e KELLING,1982).
Segundo os pesquisadores, as regras eram definidas com as pessoas consideradas
conhecidas e regulares da região. Dessa forma, uma regra que houvesse sido construída
numa vizinhança poderia não ser interessante para outra região. Isso porque algumas
situações como o vandalismo, por exemplo, pode ser um grande problema numa região e
noutra pode ser mais tolerado.
Os policiais não necessariamente atuavam para cumprir as leis, mas para manter a
vizinhança sob ordem, o que tinha sido acordado como regra informal na região. Os
97
defensores da teoria das Janelas Quebradas sustentam que se o medo estiver ligado à
ocorrência de crimes, também está vinculado à ordem pública. Pesquisas mostraram que as
pessoas atribuem muito valor à ordem pública e ficam satisfeitas quando a polícia contribui
para a manutenção dessa ordem no seu local de residência. Além disso, desordem pública e
crime estão intimamente ligados numa sequencia de desenvolvimento.
Se não há reparação dos sinais de incivilidades em uma vizinhança, os moradores
tendem a se retirar do espaço público e tornam-se mais temerosos. Logo, infratores da
localidade se encorajam para cometer delitos leves, gerando mais incivilidade, ainda
menos pessoas nas ruas e com mais medo. Então, infratores que cometem crimes mais
graves se direcionam a vizinhança (TAYLOR, 2003).
Uma pesquisa em Harvard, com o intuito de verificar a relação entre desordem e
medo, observou que adultos ao andar nas ruas, atravessavam as mesmas quando percebia
grupos de adolescentes barulhentos, bêbados ou mendigos na calçada. Além do mais, foi
verificado que pessoas que habitavam em prédios com mais desordem ou incivilidades
apresentavam mais medo do que pessoas em prédios, onde ocorriam mais crimes.
Para Wilson E Kelling (1982) a polícia possui importante papel na promoção da
segurança entre as pessoas numa vizinhança. Contudo, eles criticam a forma como a
polícia deixou suas atividades de manutenção da ordem pública para se concentrar em
atividades de combate ao crime. Até o século XX esta mudança no padrão de policiamento
ainda não havia se dado de forma completa. Aos poucos, meados das décadas de
1960/1970, estudos deixaram de se preocupar com a função e aperfeiçoamento da
manutenção da ordem pela polícia para discutir e construir estratégias relativas ao modo
como a polícia poderia ser mais eficaz e eficiente no combate ao crime, em fazer mais
prisões, em reunir provas contra delinquentes. Daí, então, segundo os pesquisadores, as
ligações entre ordem pública e prevenção aos crimes foram esquecidas, deixadas de lado.
Talvez seja interessante pesquisar entre as polícias no Brasil, especialmente a
Militar e a Civil, qual é a relação existente entre a manutenção da ordem pública e o
combate ao crime. Uma premissa plausível é a de que o combate ao crime por si só já
resulta em manutenção da ordem pública. Essa simbiose entre ordem pública e combate à
criminalidade parece não ser defendida pelas assertivas originais da Broken Windows, que
entende a ordem pública como muito mais do que o cumprimento das leis. Ou seja,
combater o crime é algo estritamente relacionado com a lei, já a ordem pública não se
98
restringe a ela, pelo contrário, passa pelas construções das situações e eventos que fazem
parte da ordem pública numa vizinhança ou bairro.
A essência do papel da polícia na manutenção da ordem, afirmaram Wilson e
Kelling (1982), seria reforçar os mecanismos de controles informais da própria
comunidade. Ou seja, na Broken Windows, a instituição policial é elemento base para a
manutenção da ordem, mas não porque seja ela quem garante a ordem mediante o
cumprimento da lei, mas porque possibilita o reforço de controles sociais compartilhados a
partir da própria comunidade. Os pesquisadores entendem que se uma vizinhança não
mantém um bêbado sob controle, sem que o mesmo incomode as pessoas, também não
chamará a polícia, caso exista um suspeito assaltante na vizinhança, por exemplo. Ordem
pública é uma expressão inerentemente ambígua, mas os autores afirmam ser ela uma
condição que as pessoas reconhecem quando veem.
Uma indagação que ilustra bem a definição de ordem pública defendida pela
Broken Windows é: os elementos importantes da ordem a ser mantida numa comunidade
devem ser dados por padrões do bairro ou, exclusivamente, via regras do Estado? Segundo
Wilson e Kellign (1982), especialmente, a partir da década de 1960 os padrões via regras
do Estado têm se fortalecido cada vez mais.
Como pode a polícia fortalecer o controle social informal a fim de minimizar o
medo em espaços públicos? Mesmo tendo a polícia como recurso primordial na
manutenção da ordem pública, quando se fala em manter a ordem, a prisão deve ser um
meio e não um fim. Isto porque, conforme já foi dito, a confiança e a credibilidade na
polícia numa vizinhança se expressam em atividades que, não necessariamente, estão
vinculadas diretamente ao cumprimento das leis. Por exemplo, uma gangue de jovens não
pode ser presa por estar se reunindo nas ruas, isso não é crime. Mas por outro, será que a
polícia não pode atuar de alguma maneira para que essa reunião, mantendo os acordos
informais do bairro, não se torne um evento desordenador? Se a prisão for o único recurso
disponível para a polícia, a mesma se sentirá impotente e a população insatisfeita.
Diante do exposto até aqui, pode-se concluir que o controle social informal possui
relevância na composição da teoria das Janelas Quebradas, especialmente, no que diz
respeito à prevenção dos índices de criminalidade e à redução da insegurança e da
percepção de riscos relacionados ao crime. Contudo, até onde se tem conhecimento, tal
conceito não vem sendo utilizado na mensuração das variáveis de estudos que visam testar
o seu poder explicativo. Ou seja, o controle social informal é parte do todo e importa para
99
se compreender como a desordem/incivilidade corrói a estabilidade de um bairro ou
vizinhança, levando ao aumento de delitos leves e graves, além do acréscimo aos
sentimentos de medo, mas não se torna parte da operacionalização dos conceitos a serem
investigados.51
Embora a população possa fazer muita coisa, a polícia é a chave na manutenção da
ordem. Quando perguntados sobre como garantir que a polícia não se torne fanática e tenha
ações abusivas e autoritárias. A resposta é direcionada à esperança de que a seleção, o
treinamento e a supervisão tenham incursão e limite o poder discricionário dos policiais.
Por exemplo, a polícia deveria ajudar a regular comportamentos e não defender ‘limpezas
sociais’ de conotação racial e étnica. Essa é uma das fortes críticas às soluções diante de
alguns resultados apresentados pelos teóricos da Broken Windows. Esse tema será
abordado novamente na próxima seção.
A relevância do papel da polícia no controle do crime e na promoção da segurança
pode ser encontrada mesmo em linhas teóricas da criminologia que destacam mais os
vínculos entre os grupos sociais e os laços comunitários como essenciais para o controle do
crime e a redução da insegurança em suas vizinhanças (SAMPSON, 2002; HUNTER,
1985). A teoria da Eficácia Coletiva, que será trabalhada no capítulo seguinte, também
ressalta o papel da polícia, embora nesta teoria, essa posição venha acompanhada com
menos polêmica e críticas. Silva (2012), em pesquisa realizada no Brasil, sobre a
ocorrência de homicídios em Belo Horizonte, demonstrou que os componentes da eficácia
coletiva estão associados a menores índices desse crime, quando há elementos de
vigilância. Esta investigada por meio da percepção de confiança e efetividade nas polícias.
De acordo com Skogan (2012), a teoria das Janelas Quebradas ganhou
notoriedade a partir de estudos e pesquisas (WILSON e KELLING, 1982) com o objetivo
de avaliar o mérito do policiamento a pé na manutenção da ordem. Houve descrições de
situações, eventos e estruturas nos quais os policiais se deparavam e se envolviam na
realização de seu trabalho diário em New Jersey. Os pesquisadores avaliaram que grande
parte do trabalho realizado lidava com: jogos de azar nas ruas, venda de drogas, consumo
de bebidas alcoólicas em espaços públicos, homens ociosos e adolescentes barulhentos
51
Como poderá ser visto no capítulo seguinte, ocorre diferente quando a teoria em tela é a Eficácia
Coletiva, que aderiu à operacionalização de variáveis que indiquem controle social informal para investigar o
efeito do mesmo sobre a ocorrência de crimes.
100
reunidos nas ruas, prostituição, lixo nas ruas e calçadas, carros abandonados, ruídos altos
dentre outros quadros considerados como desordem.
Normalmente, os pesquisadores dividem a lista de situações e eventos
classificados como desordem pública em desordem social e desordem física. Desordem
social inclui comportamentos públicos considerados ameaçadores, inquietantes e, em
algumas situações ilegais. Exemplos de desordem social seria a presença de moradores de
rua ou mendigos que incomodassem as pessoas, indivíduos fazendo uso de bebida
alcoólica ou outras drogas nas ruas, prostituição dentre outros. Em geral esses
comportamentos envolvem pessoas com “má reputação”, imprevisíveis ou barulhentas
(SKOGAN, 2012).
Já a desordem física, refere-se aos sinais evidentes de decadência e negligência com
o espaço público, podendo estes terem sido consequências de má conduta de indivíduos ou
de grupos. Edifícios e carros abandonados, terrenos baldios, lixos nas ruas e calçadas,
recipientes de bebidas alcoólicas jogados nas ruas, postes de iluminação quebrados dentre
outros, estão na longa possibilidade de se observar e verificar o desordenamento física de
uma vizinhança (SKOGAN, 2012).
A distinção entre desordem física e desordem social, tanto teórica quanto
empiricamente, dentro da Teoria das Janelas Quebradas não é uma regra, embora a opção
pela distinção seja muito mais comum. Nesta pesquisa optou-se por seguir a direção da
distinção entre as duas categorias de desordem pública.52
A seguir, na próxima seção, poderá ser entendido como se deu a mensuração das
variáveis que indicam desordem e sua relação com a redução do crime e afins. A
construção dos indicadores empíricos não é isenta de críticas e polêmicas. Ao contrário, é
necessário lidar com argumentações, muitas vezes plausíveis, sobre incoerências e
inconsistência no arcabouço teórico e empírico das pesquisas de campo.
Caminhando para o fim dessa seção, Ranasinghe (2011) contextualiza
historicamente a teoria das Janelas Quebradas numa preocupação com a desordem pública
surgida a partir da década de 1960 nos Estados Unidos. Esse conteúdo não surgiu com a
criminologia, pois é possível encontrar indícios que a desordem pública e a criminalidade
teriam nexos estreitos entre si na obra de Jacobs (1961). Esta pesquisadora já indicava em
52
A opção que inicialmente foi baseada nas leituras e estudos diversos mostrou-se sensata quando avaliou-se
a correlação estatística interna e externa entre as variáveis escolhidas para mensurar a desordem social e
física em Feira de Santana/BA.
101
“Morte e vida nas grandes cidades” que a desordem poderia impactar na violência,
criminalidade, risco e insegurança.
De acordo com Jacobs (1961), tendendo a ceder espaço às utopias, era preciso
atacar o planejamento urbano ortodoxo e distante da realidade das pessoas ( Cidade Jardim
de Ebenezer Howard, VilleRadieuse de Le Corbusier e City Beautiful deDaniel Burnham).
A autora apresentou uma proposta que se preocupava menos com a aparência das coisas e
mais com o funcionamento real das coisas, no caso da cidade.
102
ortodoxo: muitas atividades comerciais, uma diversidade de atividades para o trabalho,
crianças brincando nas ruas, prédios antigos, poucas áreas verdes, ruas maltraçadas e alta
densidade habitacional por exemplo. Contudo, a impressão que a autora e seus colegas
tinham e as estatísticas sociais também reafirmavam isso, era que aquela região era um
ótimo lugar para morar. Houve sim revitalização naquela região, mas não foi financiada
em sua maior parte por bancos ou pelo Estado, mas pelos próprios moradores, com rendas
que circulavam ali no mesmo espaço. O risco do empréstimo para pessoas que moravam
em North End era muito alto, dadas as condições socioeconômicas de quem morava lá.
Poucos moradores conseguiram empréstimos para reformarem suas casas, fachadas e
comércio. Os mais altos empréstimos realizados por alguns poucos moradores, dos cerca
de 15000, foram de três mil dólares.
Já Morningside Heights, em Manhattan, que tinha tudo para ser um ótimo lugar
para morar dentro dos padrões do planejamento ortodoxo, lidava por volta da década de
1950 e 1960 com altas taxas de criminalidade e violência, tendo se transformado numa
zona com muitos cortiços. Em geral para os planejadores da linha ortodoxa, a rua é um
lugar ruim para as pessoas, as casas não podem ser voltadas para as ruas, devem se abrir
para uma área verde cercada. Não devem existir muitas ruas, muito menos mal traçadas.
As quadras e não as ruas devem ser a unidade básica do traçado urbano (JACOBS, 1961).
Jacobs (1961) apontou quatro condições primordiais no planejamento urbano a fim
de gerar diversidade e estimular a vitalidade urbana. A primeira era levar em consideração
o dinamismo do comportamento social. A segunda se detinha em avaliar o desempenho
econômico das cidades. A terceira condição estava relacionada aos aspectos da decadência
e revitalização. Por último, as mudanças nas práticas de habitação, trânsito, projeto,
planejamento e administração. Ou seja, “o tipo de problema que as cidades apresentam o
problema de manejar a complexidade ordenada” (JACOBS, 1961, p.13). Ademais, a
autora fez uso da fala de uma de suas entrevistadas para expor o que pensava sobre o
planejamento e ordem: “há um aspecto ainda mais vil que a feiúra ou a desordem patentes,
que é a máscara ignóbil da pretensa ordem, estabelecida por meio do menosprezo ou da
supressão da ordem verdadeira que luta para existir e ser atendida” (JABOBS, 1961, p.
14).
Não é difícil encontrar interpretações que afirmam que Jacobs, por defender a
diversidade e suas ramificações dentro do planejamento e revitalização urbana, excluiria a
questão da ordem na vida urbana. Pensa-se, ao ler sua obra que a pesquisadora não retira a
103
importância da ordem e da revitalização de regiões que se encontram em decadência. A
crítica não é a noção de ordem em si, mas de imposições de uma ordem estabelecida e fixa
sem levar em consideração o complexo ordenamento dado entre as pessoas e suas
dinâmicas. Por exemplo, fazer com que as pessoas estejam nas ruas não é parte do
planejamento ortodoxo para a vida urbana, no planejamento defendido por Jacobs, as
pessoas nas ruas são fundamentais para o controle social informal, e consequentemente, a
vida saudável, pacífica e segura em comunidade.
A ordem não seria um conceito estático, mas em construção com as pessoas que
estejam habitando numa região, vizinhança ou bairro. Ao rever a origem do uso e da noção
de ordem na teoria das Janelas Quebradas, também se percebe que a orientação era que
uma ordem construída numa vizinhança fosse levada em consideração na manutenção da
ordem pública, atuando sobre as desordens expostas ao longo do tempo. A maneira que se
fez uso da noção de ordem na política de Tolerância Zero e suas terríveis consequências
deve ser parte de outra discussão.
A recuperação da civilidade e a preocupação com a deterioração urbana e seus
resultados para uma vida urbana saudável são pontos em comum entre Jacobs, de um lado,
e Wilson e Kelling, de outro. Civilidade para Jacobs é um meio informal de controle
social. Quanto às diferenças chaves, são ao menos duas entre o que é defendido por Jacob
se a Broken Windows. A primeira diferença é que pessoas estranhas numa região são
consideradas como possibilidade de risco para a segurança das pessoas conhecidas e
previsíveis na Broken Windows. Já para Jacobs, pessoas estranhas fazem parte da dinâmica
social, sendo essencial para a convivência saudável (RANASINGHE, 2011).
Em consequência também das diferentes posições acerca dos estranhos, Jacobs e
Wilson e Kelling, formatam diferentes soluções para a transformação das incivilidades e
recuperação da civilidade. Os últimos depositam a esperança, primeiramente, no
policiamento institucionalizado transformado e a autora no policiamento natural ou
informal da sociedade. Jacobs é muita clara ao afirmar que nenhuma quantidade de polícia
ou estratégias policiais serão capazes de impor civilização onde o controle informal,
normal foi enfraquecido (JACOBS, 1961,p.32).
Wilson e Kelling não vêem o policiamento formal como um problema em si. É sim
um problema a forma como a polícia foi se transformando e lidando com a ordem pública,
fazendo da ordem pública, sinônimo apenas de combate ao crime e prisão de suspeitos,
esquecendo, por exemplo, do fortalecimento do controle informal. Diante disso, a polícia
104
não só tem muita dificuldade de manter a ordem como perdeu o contato com os cidadãos
(RANASINGHE, 2011). A crença de Wilson (1975) está depositada nos resultados que a
polícia pode alcançar no controle da criminalidade, já Kelling (1997), acredita muito mais
nos efeitos do policiamento sobre o medo das pessoas.
No capítulo “O uso das calçadas: segurança”, do livro “A morte e vida de grandes
cidades” fica mais evidente como a ordem e a civilidade , atribuídas e baseadas na
dinâmica da vida em comunidade pode influenciar na segurança. Segundo Jacobs (1961), o
que as pessoas afirmam quando dizem que uma cidade é perigosa é que suas calçadas e
ruas não são seguras.
A barbárie teria tomado conta das ruas ou as pessoas sentem como se fora assim,
o que dá no mesmo. Na medida em que as pessoas temem as ruas, elas as usam menos
ainda, o que torna as ruas mais inseguras. Ordem pública para Jacobs significa a paz nas
calçadas e nas ruas.
A primeira coisa que deve ficar clara é que a ordem pública – a paz nas calçadas e
nas ruas – não é mantida basicamente pela polícia, sem com isso negar sua
necessidade. É mantida fundamentalmente pela rede intricada, quase inconsciente,
de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao
próprio povo e por ele aplicados (JACOBS, 1961,p.32).
105
informal. A desordem corrói a confiança entre as pessoas, o que enfraquece a participação
social da vida em comunidade. Isto retira investimentos econômicos e estruturais no local e
aumenta o medo e o risco. Pesquisadores, ao constatarem a importância da desordem na
explicação dos crimes e seus correlatos em territórios urbanos, foram levados a ampliar
este conceito e incluir cada vez mais itens que não levem em consideração apenas os
limites da lei criminal (SKOGAN, 2012).
106
c) a desordem leve gera crimes graves em vizinhanças ou bairros; d) crime e desordem
podem mensurar a mesma coisa em escalas de gravidade diferentes.
Outro diagnóstico comum é que a desordem está concentrada em comunidades
vulneráveis socioeconomicamente. Os críticos desta afirmação dizem que a desordem
observada nas comunidades vulneráveis socioeconomicamente são apenas reflexo de
situações, eventos e atividades apontados via o convencionalismo da classe média. A este
respeito, conforme afirmou Kubrin (2008), Harcout (2001) possui uma das críticas mais
contundentes à teoria das Janelas Quebradas, afirmando que o conceito de desordem é
frágil, socialmente construído e tende a ser contra grupos minoritários e menos
favorecidos. Contudo, pesquisas mostram, mesmo com diferentes métodos, seja via
observação de profissionais treinados (equipados com filmadora), survey junto aos
moradores ou via registros das chamadas policiais, que é mais provável que a desordem
esteja realmente concentrada em comunidades vulneráveis (SKOGAN, 2012). A discussão
se esta visão gera um olhar e atitude de cuidado e respeito com esses grupos ou olhares e
atitudes de repressão ou limpeza social merece, em outro momento, ser bem ponderada no
campo de avaliação das políticas públicas.
Sampson e Raudenbush (1999) reconhecem que a teoria das Janelas Quebradas
contribui para a compreensão da criminalidade, do medo, da desordem pública e da
deterioração de bairros urbanos, embora sua contribuição quanto à explicação do crime
seja muito menor do que seus defensores afirmam. Em outro trabalho, Sampson e
Raudenbush (2004) criticam a visão que a teoria referida não leva em consideração o
contexto socioeconômico e racial para entender como as pessoas percebem ou não a
desordem. E mais, em qual contexto, as pessoas percebem a desordem de forma diferente
do que percebem o crime. Os autores investigam quais são os motivos que levam as
pessoas a formarem suas percepções sobre a desordem. “Is “seeing” disorder only a
matter of the objective level of cues in the environment? Or is disorder filtered through a
reasoning based on stigmatized groups and disreputable areas? Simply put, what makes
disorder a problem?” (RAUDENBUSH, 2004, p.319). Os pesquisadores chegaram à
conclusão que a percepção de desordem está atrelada a significados sociais mediados pela
raça e condição socioeconômica. Deste modo, numa mesma área, os negros apresentariam
a tendência de perceber menos a desordem pública do que as pessoas brancas.
A afirmação de que desordem gera crimes, faz emergir críticas à separação de fato
desses dois conceitos. Em que medida pode-se afirmar que desordem é diferente de crime?
107
Esses dois conceitos não estariam sobrepostos? Ou ao menos, não poderiam estar
sobrepostos em alguns contextos específicos?
Gau e Pratt (2008, 2010) são autores que têm se dedicado a indagar sobre a certeza
da separação entre desordem e crime sustentada pela Broken Windows. Gau e Pratt (2010),
baseados em suas pesquisas, afirmaram que a condição socioeconômica dos bairros é
fundamental para se entender como se dá a separação entre crime e desordem. Os autores
declararam que os bairros que possuem renda média inferior separam com mais facilidade
e clareza a diferença entre uma situação definível como crime e uma situação de desordem.
Por exemplo, os moradores de áreas mais pobres, em geral, conseguem avaliar a diferença
entre a possibilidade de ser assaltado na esquina por uma pessoa ou, simplesmente, avaliar
que ali apenas se encontra um bêbado incomodando os transeuntes. Os autores sustentam
que essa avaliação que diferencia “desordem” de “crime” não ocorre em média em bairros
que apresentaram renda mais alta. Neste caso, bêbados na esquina podem ser sinônimos de
assalto na região. Em outro trabalho, os autores demonstraram que existe correlação entre
desordem percebida pela população e a ocorrência de crimes nas regiões. Sugerem então
que os dois conceitos não sejam trabalhados de forma separada (GAU e PRATT, 2008).
De acordo com Skogan (2012) a afirmação teórica de Wilson e Kelling (1982) que
a desordem por longo tempo atrairia criminosos de fora do bairro não foi cuidadosamente
verificada. Por exemplo, não se controlou a origem dos infratores do bairro. Importa dizer
que no texto de Wilson e Kelling (1982) a afirmação é de que as taxas de crime não foram
reduzidas significativamente com o programa de bairros seguros, e sim que o medo do
crime foi reduzido e houve uma melhor avaliação das instituições policiais por parte dos
moradores. Em outras obras, contudo, a defesa da relação entre redução da desordem e
redução da criminalidade e medo é mais clara (KELLING e COLES, 1996; KELLING e
SOUZA, 2001).
Harcout e Ludwing (2006) são autores que criticam energicamente que New York
tenha tido seus índices de criminalidade reduzidos via política pública e policiamento
subsidiados pela Broken Windows. O toque dado à política pública refere-se à Tolerância
Zero, que levou à repressão policial, especialmente com foco em minorias e nos mais
pobres. New York é a cidade mais conhecida pelas táticas agressivas para se controlar as
incivilidades públicas (KELLING e COLES, 1996).
Harcout (2012) explica que New York teve na década de 1990 quedas de taxas de
criminalidade inferiores ou iguais a outras grandes cidades norte americanas e que,
108
portanto, fica difícil atribuir somente à política da Tolerância Zero as quedas da
criminalidade. Além disso, as regiões onde mais houve redução das taxas de criminalidade
em New York coincidem exatamente com os espaços que mais sofreram com as
consequências do crack. Para o autor se uma área está com altíssimos índices criminais, a
tendência é que esses índices irão cair. Ele ressalta que pouco antes da década de 1990 já
existiam em algumas grandes cidades norte americanas, iniciativas e estudos que
procuravam aperfeiçoar as políticas públicas, muitas delas bem diferentes das práticas e
lógicas da Tolerância Zero.
Sampson e Raudenbusha (1999), em um dos estudos mais completos sobre o efeito
da desordem na criminalidade, afirmou que a relação entre desordem, na Broken Windows,
e criminalidade é espúria, exceto, talvez em relação ao roubo. Os autores afirmam que a
eficácia coletiva (nesta tese a ser trabalhada no capítulo seguinte) possui um poder
explicativo muito maior e consistente. Esses pesquisadores não encontraram evidências de
que desordem leve causa diretamente crimes mais graves. Neste artigo, os pesquisadores
lançaram mão do que eles chamam de observação social sistemática. Eles trabalharam com
equipamentos como filmadoras e observadores treinados para observarem e registrarem
situação e atividades de desordem. Utilizaram banco de dados com estatísticas sociais,
econômicas e criminais e fizeram levantamento (survey) junto aos moradores sobre as
percepções de desordem e medo. Além disso, eles observaram que a eficácia coletiva
influencia significativamente a desordem e o crime.
Gau e Pratt (2008) também chegaram à mesma conclusão de Sampson e
Raudenbusha (1999). A validade discriminante encontrada por Gau e Pratt (2008) entre
desordem e crime não os diferenciam. Conforme os pesquisadores, alguns estudos
(SKOGAN, 1990; XU,FIELDER e FLAMING, 2005; ver também SAMPSON e COHEN,
1988) encontraram e assumiram que os dois, a desordem e o crime, de fato são coisas e
construções diferentes.
Muito da variação dos resultados destes artigos pode ser atribuída à inconsistência
metodológica entre eles: a mistura entre métodos mais objetivos, como observacional e
registros oficiais, com métodos baseados na percepção para mensurar desordem e crime.
Dessa maneira, a abordagem metodológica mais apropriada para avaliar a validade
discriminante entre as medidas de desordem e crime dentro da perspectiva da Broken
Windows é trabalhar com medidas perceptuais tanto para mensurar desordem como crime.
Mesmo utilizando apenas mensurações realizadas a partir da percepção de desordem e
109
crime dos moradores, a validade discriminante não foi suficiente para trata-los como coisas
diferentes (GAU e PRATT, 2008).
Algumas das ponderações realizadas nesta seção serão novamente discutidas no
capítulo que irá analisar os modelos de equações estruturais que avalia a influência da
Desordem Física e Desordem Social no Medo e Percepção de Risco nos bairros de Feira de
Santana/BA.
53
Como poderá ser examinado em capítulo posterior, nem todas as variáveis a serem discutidas nesta seção
ficaram no modelo estatístico final. Isto devido a perda de dados, após a apreciação dos percentuais de
respostas e mensuração das cargas fatoriais dos constructos. Se variáveis e casos não fossem retirados, a
qualidade do modelo seria prejudicada no desenho e na análise da modelagem multivariada.
110
Tabela 20 - Relação das perguntas utilizadas para indicar Desordem Física e
Desordem Social
Contructos/Itens Perguntas/Variáveis
V10.1 Avaliação da iluminação das ruas.
V10.2 Avaliação da pavimentação e manutenção das ruas e calçadas.
V10.3 Avaliação dos locais de esporte, cultura e lazer.
V10.4 Avaliação da oferta de equipamentos coletivos como orelhões, lixeiras.
V10.5 Avaliação da oferta de transportes públicos como ônibus
Desordem V10.8 Avaliação da coleta de lixo e entulho nas ruas.
Física V10.9 Avaliação da organização do trânsito como placas, sinais de trânsito, passarelas.
V12.1 Há prédios, casas, terrenos, lotes ou galpões abandonados (cercados ou não)?
V12.2 Há carros abandonados, arrebentados ou desmontados nas ruas?
V12.4 Há cheiros desagradáveis.
No bairro existe alguma rua ou espaço, em algum horário, que não se pode passar ou
V16 frequentar.
V10.6 Avaliação do policiamento a pé, em viatura ou moto.
V10.7 Avaliação da oferta de serviços públicos de saúde.
V10.10 Avaliação da oferta de escolas públicas.
AV4 De uma maneira geral, em se tratando da POLÍCIA MILITAR.
AV9 De uma maneira geral, em se tratando da POLÍCIA CIVIL.
V12.5 Há no bairro existem ruídos, música alta e gritaria.
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de vendedores ambulantes,
V13.1 camelos na rua.
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de flenelinha ou guardadores
V13.2 de carros.
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de pessoas vivendo ou
V13.3 dormindo na rua.
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de crianças ou adolescentes
V13.4 se prostituindo.
Desordem Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de adultos se prostituindo
Social V13.5 nas ruas.
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de pessoas jogando ou
V13.6 apostando dinheiro...
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de pessoas pedindo esmolas
V13.7
ou outro...
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de pessoas fazendo xixi ,
V13.8
cocô, praticando...
Nos últimos 12 meses viu ou teve informação no seu bairro de pessoas quebrando
V13.9
janelas, pichando ...
AV5
Vê policiais militares na sua vizinhança ou proximidades.
A9.7
Alguém que quando bebe arruma problemas com outras pessoas na rua do bairro.
O (a) Sr. (a)Tem conhecimento de algum grupo ou mais de um grupo que brigam por
A13
causa do controle ...
Alguém que vende produtos proibidos como drogas, produtos pirata, remédio
A9.10
controlado....
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
111
Apresentar e analisar a estatística descritiva das variáveis independentes que
indicam Desordem Social e Física mostrou-se necessário para que se conheça e
contextualize Feira de Santana/Ba a partir do que foi levantado de informações sobre
características sociais, sobre serviços públicos e sobre a estrutura dos bairros do referido
município.
Feira de Santana/Ba, a segunda maior cidade do estado da Bahia, teve seu
primeiro plano diretor (Plano de Desenvolvimento Local Integrado - PDLI) em 1968.
Registros afirmam que a cidade se originou por volta do século XVIII, sendo, portanto, que
sua expansão urbana até 1968 se deu sem um mínimo planejamento urbano. A prestação de
serviços e estrutura urbana necessária à população não acompanharam e ainda não
acompanham as demandas dos cidadãos (SANTO,2003). Por meio das tabelas 21 e 22,
com a distribuição dos percentuais das respostas as variáveis incluídas no constructo
Desordem Física, percebem-se que os serviços e estrutura urbana oferecidos nos bairros de
Feira de Santana ainda estão bem distantes do desejável.
Os entrevistados no survey foram solicitados a avaliar alguns serviços que
indicam a negligência com o espaço público por parte das autoridades constituídas e
cenários de abandono de ruas, calçadas e prédios. Além disso, foi incluída uma pergunta
que não se encontra entre as usualmente utilizadas para a investigação de desordem física.
Entendeu-se necessária a inserção da pergunta se no bairro existia alguma rua ou espaço,
em algum horário que não podia passar ou frequentar54.
No que diz respeito à Desordem Física, a tabela 21 apresenta o percentual de
respostas das perguntas que descrevem a avaliação que os feirenses fazem da oferta de
alguns serviços que, se não forem negligenciados, farão dos bairros, vizinhanças ordenadas
(KELLING,1997).
Os entrevistados, quando o quesito é a iluminação das ruas, afirmaram em sua
maioria (58,7%) que a mesma é regular, ruim e ou que o bairro está às escuras. Apenas 8%
declararam que a iluminação das ruas é ótima.
Na tabela 21, é possível observar que somam 62,8% a proporção dos entrevistados
que afirmou ser a pavimentação e manutenção das ruas e calçadas “regular” e “ruim”.
Além disso, situação mais crítica foi apontada por 9,4% que responderam não ter
pavimentação ou calçadas em suas áreas residenciais. Também chama atenção o fato de
54
Isso porque, para a realidade de Feira de Santana, quando da construção do questionário e pré-teste esta
questão, entre outras, se mostrou como indicativa de desordem no perímetro urbano.
112
50,7% das pessoas afirmarem não ter locais de esporte, cultura e lazer. Dos que afirmam
ter esses espaços, 34,3% avaliam como sendo “regulares” ou “ruins”. Quanto à oferta de
equipamentos coletivos, como orelhões e lixeiras, 48,7% declararam não ter e 45% dispor
de equipamentos “regulares” ou “ruins”. Dentre os respondentes 37,1% atestaram não ter
organização do trânsito do tipo: placas, sinais de trânsito, passarelas. Ainda neste quesito,
43,2% constataram ser “regular” ou “ruim” esse serviço. Entre as avaliações positivas
(“ótimo” e “bom”), o item melhor situado foi “pavimentação e manutenção das ruas e
calçadas” com 27,9% das respostas e a “organização do trânsito” com 19,7% vista como
“ótimo” e “bom” (tabela 21) .
Ainda com ênfase na Desordem Física, 7,9 % dos respondentes afirmaram que não
há oferta de transporte público e 58,9% dos entrevistados avaliaram como “regular” e
“ruim” este indicador. Entre as perguntas indicadoras de desordem física da tabela 21, a
coleta de lixo foi a que recebeu melhor avaliação entre os entrevistados, com 58,3%
afirmando que a coleta do lixo é “ótima” e “boa”. Além de ter o melhor percentual na
resposta “bom” (48,8%) , coleta de lixo também tem o menor percentual no item na
resposta “ruim”, 11,7%.
Ao comparar as taxas de domicílios que possuem a oferta de serviços básicos como
abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo, Lima (2014) concluiu que este
último é o serviço que possui a melhor distribuição na malha urbana de Feira de
Santana/Ba segundo o IBGE. Isso pode ser visto na figura 4.
113
Tabela 21 – Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Física
114
Figura 4 – Condição da população segundo abastecimento de água, rede de esgoto e
coleta de lixo na zona urbana de FSA.
115
As últimas quatro perguntas que indicam Desordem Física estão dispostas na
tabela 22. Quanto maior o percentual de respostas sim aos itens abaixo, maior pode ser o
nível de desordem física observada em uma região. Os entrevistados foram perguntados se
em seus respectivos bairros, havia ou não prédios, casas, terrenos, lotes ou galpões
abandonados. Dentre os que responderam, 58,4%disseram sim. Quanto a carros
abandonados, arrebentados ou desmontados nas ruas, a maior parte disse não existir em
seus bairros, 86,5%. Já a pergunta sobre cheiros desagradáveis, o percentual das respostas
sim volta a subir, para 57%. Também é alto, 44,3%, o número de pessoas que afirmaram
existir em seus bairros, alguma rua ou espaço, em algum horário, que não se pode passar
ou frequentar.
116
moto em seus bairros. Apenas 3,7% dos entrevistados afirmaram ser esse quesito “ótimo”,
enquanto 18% disseram não ter policiamento em seus bairros e 57,4% avaliaram tal serviço
como regular ou ruim.
Na tabela 24 também estão expostas respostas referentes à avaliação das
instituições policiais, mais especificamente sobre a confiança que as pessoas dos bairros
têm nas polícias Civil e Militar. As opções “confia muito” e “confia” foram responsáveis
por 66,8% das respostas em relação Polícia Civil. Já com relação à confiança na Polícia
Militar, o percentual foi menor das pessoas que “confiam muito” e “confia”, 31,9%. Dos
entrevistados, 68,4% “confiam pouco” ou “não confiam” na Polícia Militar. Na tabela 24
há outra pergunta que faz referência às instituições policiais: o sr(a) vê policiais militares
na sua vizinhança ou proximidades? Dentre os respondentes, 29,4% afirmaram não ver
policiais militares.
Estudos no Brasil vêm demonstrando que a baixa confiança e a avaliação negativa
das instituições policiais podem interferir no fortalecimento do controle social informal de
uma comunidade (SILVA, 2012; OLIVEIRA e BEATO FILHO (2013)). Hunter (1985)
também observou os mesmos resultados em seus estudos. Wilson e Kelling (1982), na
teoria Broken Windows, defendem que a relação mantida pelos policiais com a
comunidade na construção e definição do que seja considerado ‘ordem’ ou ‘desordem’ é
elemento primordial no fortalecimento do controle informal e, consequentemente, na
estabilidade do bairro.
A avaliação de outras instituições do Estado que estão presentes nos bairros, como
as de saúde e de educação, também têm algo a dizer com relação à ordem social de uma
vizinhança. Isto ocorre especialmente no Brasil, pesquisadores discutem com frequência o
abandono de certas regiões vulneráveis socioeconomicamente por parte do Estado. Neste
sentido, é preocupante que 69,5% dos entrevistados tenham dito que a oferta de serviços
públicos de saúde é “regular”, “ruim” ou “inexistente”, e que 64,4% digam o mesmo sobre
a oferta de escolas públicas. Essas duas últimas perguntas, por ser outra contexto, no
estado da Bahia, não são usuais nos Estados Unidos, onde se originou e difundiu,
inicialmente, a Broken Windows.
117
Tabela 23 – Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Social
118
e outras drogas, a Broken Windows, como foi orginalmente pensada, possui olhar muito
atento às suas consequências. Por exemplo, se há bêbados na vizinhança consumindo
álcool nas ruas, que elas estejam embaladas em sacos de papel55, que eles não incomodem
as pessoas e estejam localizados em ruas onde previamente foi permitida, informalmente,
sua permanência, se assim a comunidade em geral aceitar. Dos entrevistados em Feira de
Santana, 61,6% manifestaram que em seus bairros há bêbados que quando bebem arrumam
problema com outras pessoas nas ruas. Já 59,4% dos respondentes indicaram que há
pessoas que vendem produtos proibidos como drogas, produtos piratas, remédio controlado
dentre outros em seus bairros.
De acordo com a tabela 25, nos últimos 12 meses: 32,2% das pessoas disseram ter
visto ou tido informação de pessoas vivendo ou dormindo na rua em seus bairros; 31,9%
viram ou tiveram informação de crianças ou adolescentes se prostituindo e 29,2% de
adultos na mesma situação. Entrevistados que disseram “sim” às perguntas sobre ter
conhecimento de pessoas jogando ou apostando dinheiro em jogos do bicho, briga de galo,
carteado foi de 49,9%. Contudo, os sinais de desordem ou incivilidades não param aí, pois
34,6% afirmaram haver pessoas fazendo xixi, cocô, praticando atos obscenos ou indecentes
nas ruas do bairro.
Quanto à participação de pessoas em seus bairros quebrando janelas, pichando
muros, fazendo arruaça ou destruindo equipamentos coletivos como orelhões, placas de
rua, postes de luz, lixeiras foram registradas 23,7% de respostas afirmativas. Por último,
mas não menos importante para configurar o quadro de desordens na esfera pública, 15,1%
dos entrevistados viram ou tiveram informação de grupos ou pessoas em seus bairros que
brigam pelo controle de ruas ou espaços no bairro para práticas comerciais ilegais.
55
Importa lembrar que as regras de venda e de consumo de bebidas alcoólicas, em ambientes públicos e
privados, possuem características muito diferentes das brasileiras. Por exemplo, em algumas cidades norte-
americanas é proibido beber em público ou em eventos públicos. No Texas aos domingos não se compra
bebidas alcoólicas mesmo para levar para casa e consumir na esfera privada. Isso porque o domingo é dia
religioso.
119
Tabela 25 – Percentual válido das frequências de respostas dos feirenses para as
variáveis Desordem Social 3
Nesta seção foram expostas todas as perguntas com suas respectivas estatísticas
descritivas que apresentaram possibilidade e aderência teórica para comporem, por
princípio, os constructos Desordem Física e Desordem Social, conceitos importantes na
teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows) .Conforme, será visto no capítulo sobre a
análise estatística dos modelos de equações estruturais, a teoria das Janelas Quebradas
oferece algumas pistas de explicação da Percepção de Risco e do Medo no contexto
estudado.
Mesmo diante de todas as críticas e ponderações, acerca da Broken Windows,
também percorridas nesta seção, é notória a relevância que ela adquiriu no campo de
pesquisas sobre criminalidade, violência, medo e risco. Ressalta-se aqui, contudo, uma
importante separação a ser realizada quando se reflete sobre a teoria das Janelas
Quebradas: há uma falácia e metaforização rasa, geralmente apontada como milagrosa,
sobre sua contribuição e efeito quando utilizadas suas diretrizes na orientação de práticas
120
de policiamento e definição de políticas públicas de segurança na busca de soluções para a
prevenção e combate ao crime.
A mais famosa consequência prática da interpretação e uso de maneira rasa e sem
críticas é o que se popularizou como Tolerância Zero. Neste quadro do que a Tolerância
Zero se tornou onde muitos clamam que é guiada pela teoria das Janelas Quebradas, onde
estaria a relação da polícia com a comunidade, a preocupação com o controle social
informal de uma vizinhança, o contato entre a polícia e comunidade para se construir uma
noção do que é ordem ou desordem, a polícia ocupada mais com a ordem pública do que
com o combate ao crime e prisões, a preocupação com o cuidado e respeito ao espaço
público. Em suma, a Tolerância Zero abarcaria aspectos que promovam o bem estar e a
qualidade de vida numa vizinhança ou em um bairro.
A conclusão de que num bairro a presença de moradores de rua influencia no medo
de crimes e de violências, não deve ser entendida como sinônimo de que os moradores de
rua devam ser tratados de forma desumana, repressiva e higienista. A mesma conclusão de
que moradores de rua colaboram para um contexto de insegurança e crimes, pode alimentar
ações que melhorem a qualidade de vida dos mesmos. Ao invés de expulsarem, prenderem
ou baterem cotidianamente, os moradores de rua podem ser inseridos em serviços públicos
de saúde e de assistência social, como núcleos de serviços e convivência que oferecem
alimentação, banho e atividades laborativas e lúdicas. Afirmar simplesmente que as
indicações teóricas da Janelas Quebradas são em si mesmas excludentes e repressivas é
desconsiderar que uma mesma conclusão teórica pode levar a ações diferenciadas.
Após ser explanado aqui sobre a teoria da Broken Windows, será abordada no
próximo capítulo a teoria da Eficácia Coletiva. Se na teoria das Janelas Quebradas a
Desordem Social e a Desordem Física ganharam relevância nas análises realizadas neste
trabalho sobre Medo e Percepção de Risco, na reflexão acerca da Eficácia Coletiva
destacam-se, particularidades da convivência social como a Confiança, Coesão Social e
Controle Social Informal.
Ao final desta tese será possível responder a seguinte indagação: a Confiança, a
Coesão Social e o Controle Social Informal podem atuar em prol de menores níveis do
Medo e da Percepção de Risco mesmo sob um ambiente com alto nível de Desordem
Social e Física como foi possível observar nas frequências apresentadas aqui neste
capítulo 5? É possível observar no capítulo seguinte que questões empregadas para indicar
Confiança, Coesão Social e Controle Social Informal exibem frequências percentuais que
121
já podem apontar quão frágil se mostraram esses constructos como e quanto o que se
esperava como hipótese.
122
CAPÍTULO 6
123
análise para explicação de questões correlatas a esses campos. Tomar o indivíduo e a
escolha deste como unidade de análise afirmaria que as escolhas individuais definem os
contextos dos bairros e questões referentes a eles. Também não é interessante que as
estruturas sociais em grande escala como a globalização, macroeconomia e a revolução no
mundo tecnológico em si expliquem a violência e a criminalidade num território. Numa
perspectiva a comunidade, vizinhança é colocada em escanteio dada a importância da
escolha individual, na outra perspectiva, o lugar do bairro é encoberto pelos processos
sociais mais amplos da sociedade. Por que não unificar essas duas perspectivas, tendo
como unidade de análise a vizinhança, o bairro? Este é o caminho apresentado por
Sampson para compreender os efeitos de vizinhança sobre os mais diversos fenômenos
sociais (SAMPSON, 2012).
Bairros seriam caracterizados, além do fator espacial, por um conjunto de
particularidades sociais, demográficas, institucionais, culturais e políticas. Contudo, não é
coerente pensar em comunidade apenas quando se falam de valores comuns, confiança,
identidade, controle social informal e relações densas ou conflituosas?. Esses elementos
são contingentes, variáveis. A raiz dos efeitos de vizinhança está na interseção de práticas e
percepções em um contexto espacial. Dessa maneira, fatores sociais como laços sociais,
percepção compartilhada de desordem, densidade organizacional, identidade ou capacidade
cívica para ações coletivas são variáveis e analiticamente separáveis não apenas a partir de
potenciais antecedentes estruturais, como o status socioeconômico, segregação e
estabilidade residencial, mas da escolha de uma unidade de análise. O contexto social de
uma vizinhança pode ser tratado em si como unidade de análise, mesmo sabendo que
indivíduos e estruturas sociais amplas dialogam com essa instância (SAMPSON, 2012).
Compartilhando da mesma posição de Sampson (2012), defende-se que o bairro
não pode ser entendido como uma ilha em si mesma. O bairro deve estar ligado à ordem
social mais ampla da cidade. O autor afirma que na clássica obra The City de Park, Burgees
e Mckenzie (1984) que a metodologia utilizada fez com que os bairros estivessem
dispostos apenas como mosaicos na cidade. Sampson (2012) reafirma que os bairros sejam
a unidade de análise, mas sem deixá-los isolados da ordem social da cidade.
124
6.1 - Teoria da Desorganização Social: limites e possibilidades
A teoria ecológica do crime é hoje uma abordagem que vem se consolidando para
discutir, refletir, e pensar sobre a incidência de crimes, a percepção de risco, medo, a
percepção de ordem e desordem, o controle social dos bairros e as experiências com
ambientes violentos. Segundo Silva (2012) estudos com essa perspectiva puderam ser
identificados no século XIX, mas foi com os pesquisadores da Escola de Chicago, no início
do século XX, que espaço urbano e criminalidade se consolidaram num programa de
pesquisa com foco nas características ecológicas das áreas urbanas. Park e Burgess (1925)
teriam sido pioneiros no uso de conceitos da Biologia para entender questões sociais
urbanas. Assim a ecologia do crime iniciava o longo caminho que percorre até hoje nos
programas de pesquisa. É um caminho com críticas e difusão por muitos pesquisadores que
queiram pensar a vida da e na cidade.
A partir daí os estudos criminológicos inauguraram uma nova forma de investigar
violência e criminalidade, enfatizando a possibilidade de intervenção e redução dos
problemas. Interligando em suas análises certas características das comunidades aos crimes
ocorridos e ao sentimento de insegurança.
Dentre as teorias ecológicas, a teoria da desorganização social é destacada. Ela tem
sua consolidação com Shaw e Mckay (1942), e é considerada um marco para a discussão
sobre a relação entre organização social local e crime e violência num território. Segundo
Shaw e Mackay (1942), a baixa condição econômica, a heterogeneidade social e a
mobilidade residencial suspenderiam a organização social local, fazendo com que as redes
sociais fracas fossem incapazes de manter a ordem em uma região. Investigando as altas
taxas de delinqüência, por longos períodos em certos bairros de Chicago, Shaw e Mckay
(1942) chegaram à conclusão de que alguns bairros possuíam condições ecológicas que
estavam além das mudanças referentes aos indivíduos.
A teoria da desorganização social centra suas análises sobre condições físicas e
sociais favoráveis e desfavoráveis na explicação do crime e violência nos bairros. Essa
abordagem veio se diferenciar das análises sobre a violência e crime centradas nas pessoas
e suas características. Esta, sem dúvida, é uma das mais importantes contribuições da teoria
da desorganização social para as pesquisas sobre crime e violências nas áreas urbanas.
Notoriamente, pensar as questões sobre crime e violência a partir de dimensões do coletivo
é relevante para este trabalho.
125
Correndo o risco de parecer simplório, o objetivo central da teoria da
desorganização social é investigar quais e como os mecanismos dos bairros e de áreas
vizinhas podem reduzir ou produzir o crime e a violência. Dependendo da estrutura de uma
comunidade (pobreza, heterogeneidade social e instabilidade residencial) haveria
desorganização social, o que levaria à ocorrência de crimes. Desorganização Social, para
os pioneiros da teoria, seria a incapacidade dos moradores compartilharem valores comuns
e solucionar problemas locais.
Uma das críticas em relação à teoria de Shaw e Mckay é que eles não puderam
demonstrar de fato uma ligação causal direta entre pobreza e altos índices de criminalidade
(CAHIL, 2004 apud SILVA,2012) Nesse sentido, a desorganização social adquire
centralidade em ligar privação econômica e crime. Contudo, o próprio conceito de
desorganização sofre várias críticas. Uma delas aponta para o fato de que o que se deseja
explicar, o crime e a delinquência, essa definição é dada em termos dos seus resultados
(SILVA, 2012). Ou seja, explico a ocorrência de crime e delinquência a partir de uma
determinada estrutura da comunidade por meio da desorganização social, só que observo e
identifico desorganização social usando o próprio crime e delinquência.
Tem-se aqui uma ideia concebida e fixa de ordem e desordem. O termo
desorganização social pressupõe o seu contrário, organização social. Organização social
pressupõe de que as “coisas” sociais possuem funções e papéis integrados e definidos na
sociedade. É, portanto, necessária a ideia de que a sociedade possui uma ordem própria e
necessária ao seu funcionamento. É um pressuposto durkheimiano, sistêmico. Explica-se a
desordem pela própria falta de ordem num sistema que tem uma ordem definida. Eis aqui
um dos fortes limites que se deve ter clareza na realização deste trabalho em construção, já
que se pensa na existência de distintas maneiras para o entendimento, classificação e
sentimento com relação à ordem e à desordem.
Feltran em seu estudo na periferia de São Paulo desmistifica a ideia de que existe
desorganização nessas comunidades. Ele afirma que o modo como os sujeitos vivem não
tem nada de aleatório ou desorganizado. Assim: “[...] as práticas que se rotinizam nas
126
periferias das cidades estruturam-se cotidianamente e tornam-se, ao mesmo tempo, objeto
de discurso que as significa, o que permite a elaboração da reflexividade dos próprios
sujeitos e, ao longo do tempo, sua constante transformação”. (FELTRAN, 2011, p.4).
Segundo Silva (2012), a teoria da desorganização social de Shaw e Mckay, tinha
como pilares a pobreza, a mobilidade residencial e a heterogeneidade racial atuando sobre
o controle informal e só assim favorecendo um contexto propício ao crime. A figura abaixo
auxilia na compreensão.
Fonte: Modelo da desorganização social desenvolvido por Shaw e Mckay (1942) apud Silva (2012, p. 34)
127
6.2 Eficácia Coletiva: revisando a teoria
128
Destarte, Sampson (2012) desconstrói e critica a ideia de que em Chicago a
tecnologia, a globalização e a moderna vida urbana tenham “matado” a noção de
comunidade, de identidade comunitária e de laços pessoais com e numa localidade.
Somente com esta crítica, Sampson (2012) pode defender que os laços sociais e a
utilização destes na melhoria de vida de um bairro, na identificação de problemas e
mediação de conflitos interpessoais sejam importantes. Se há a investigação e afirmação
de que há efeitos de vizinhança sobre o crime, violência, insegurança e percepção de
desordem em Chicago, deve sim haver identidade comunitária, lugares e laços sociais
definidos via pertencimento a um lugar ou a uma comunidade. Se não há efeito espacial e
comunitário nos laços e identidades em Chicago, pode-se afirmar que esses se dão de
forma aleatória em toda a cidade. Um indivíduo poderia estar num lugar ou noutro que as
desigualdades e diferenças estariam suspensas. Isso não é verdade, ele conclui. Os bairros,
vizinhanças e comunidades têm mecanismos sociais e culturais de reprodução ao longo do
tempo. Desconsiderar esse fato reduz a possibilidade de um entendimento mais profundo
de tantos outros fenômenos sociais, que incluem o crime e violência intencional, mas
também o superam (SAMPSON, 2012).
Sampson (2009) enfatiza também outras dimensões, como sinais e percepções de
desordem e a capacidade que os indivíduos têm em transformar laços sociais e valores
comuns em melhorias na comunidade. No entanto, os laços sociais e valores comuns nem
sempre são capazes de se transformar em ações que visem a melhoria dos bens comuns.
Inicialmente, ter laços e valores comuns era suficiente para promover melhorias locais. A
habilidade em usar os valores compartilhados em ações em prol do bem comum foi
chamada de eficácia coletiva (SAMPSON; RAUDENBUSH; EARLS, 1997).
Fato é que hoje, geralmente, ao se discutir controle informal, laços sociais, eficácia
coletiva e capital social relacionados às questões sobre criminalidade, violência e
insegurança torna-se necessário enfatizar essa escola da sociologia do crime e da violência.
Outro corolário da teoria em foco é o Controle Informal. Este poderia ser entendido
como produto das normas dos laços sociais e que fosse capaz de exercer alguma forma de
controle social sobre os comportamentos nos bairros. Laços sociais podem ser
compreendidos como redes de amizade, atividades recreativas entre vizinhos e reuniões de
discussão sobre os problemas locais. Controle informal e laços sociais são considerados
mediadores dos efeitos que a pobreza, heterogeneidade social e intensa mobilidade
129
residencial podem ter para os comportamentos desviantes. Capital social e eficácia coletiva
estão fortemente vinculados.56
Importam, nesse sentido, que as redes de amizade e associação sejam mediadoras
da relação entre estrutura urbana e crime. Robert Sampson é um dos autores que trabalham
com essa perspectiva contemporânea. Segue figura, elaborada por Silva (2012) que
representa a lógica da teoria da desorganização social contemporânea:
Fonte: Modelo sistêmico de desorganização social desenvolvido por Silva (2012, p.39)
Enfatizam-se aqui dois aspectos teóricos encontrados nas pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas por Robert Sampson e que auxilia nas reflexões que esta tese se propôs. O
primeiro é o entendimento de Sampson que existem diferentes percepções sobre o que se
considera ordem e desordem. Acredita-se que isso é um avanço dentro das perspectivas da
teoria da desorganização social. Sampson (2004) analisou os motivos que levam sujeitos a
formarem percepções de desordem. O autor levou em consideração contextos raciais e
econômicos para investigar a desordem percebida. Ele afirma que a desordem observada é
importante na definição da desordem percebida, mais o componente racial e econômico
importa mais. “Observed disorder predicts perceived disorder, but racial and economic
context matter more”. A desordem, em si já é observada, por muitos pesquisadores como
algo negativo, mas importa a pergunta se a desordem é sempre um problema: será que a
desordem é percebida como um problema (SAMPSON, 2004, p.1)?
Ao se referir à teoria das “janelas quebradas” como teoria essencialista, Sampson
defende que a desordem percebida está mais imbuída de significados sociais do que de
sinais objetivos, como lixo nas ruas, paredes pichadas, prostituição, terrenos abandonados
por exemplo. A teoria “broken windows” defende que os menores sinais de desordem
pública podem levar à ocorrência de crimes graves, já que os sujeitos poderiam entender
que ali não há quem cuide, sendo, portanto, uma “terra de ninguém”. Acredita-se que
56
Capital social, segundo a definição de Coleman (1988), compreende recursos produzidos por meio das
relações de confiança e reciprocidade entre pessoas que facilitam as ações em prol do bem comum. Eficácia
coletiva seria a capacidade de ação, o agir em prol desse bem comum (KUBRIN e WEITZER,2003). O
capital social seria o recurso e a eficácia coletiva seria a ação necessária para se concretizar o recurso.
130
Sampson ao fazer tal crítica à broken windows contribui criticamente para a própria teoria
da desorganização social, quando transforma um conceito rígido do que seja um ambiente
ordenado e capaz de ter controle social sobre os comportamentos desviantes em uma ideia
e conceito de ordenamento que leve não apenas uma única e onipotente visão do que seja
ordem ou não. Sampson (2004) abre caminho para que além dos componentes raciais e
econômicos possam ser pensados diferentes contextos sociais e morais que influenciem na
percepção de desordem.
O segundo aspecto, que pode ser identificado na figura 6, refere-se à atenção dada
às redes de amizade, associações e vínculos comunitários entre os sujeitos no controle do
crime e da desordem. Eficácia coletiva não é apenas identificar se a comunidade possui
valores comuns, importa entender se ela tem disposição, habilidade e competência para
transformar os valores comuns em melhorias para todos, tendo assim fortalecido os laços
sociais que controlam os comportamentos desviantes.
Se a teoria de Shaw e Mckay (1942) foi importante, para este trabalho, por deslocar
as investigações sobre crime do indivíduo para o coletivo, Sampson, Raudenbush e Earls
(1997) contribuem ao fortalecer o papel que os laços sociais e as redes de amizade têm
sobre a criminalidade e a violência. Em Shaw e Mckay a desorganização social,
representada pela heterogeneidade racial (diferentes etnias num bairro) e mobilidade
residencial (tempo de residência no bairro), era mediadora para aferir indiretamente se
privação econômica tem incidência sobre as taxas de crimes. Identifica-se que com
Sampson (1997; 2004; 2009) há abertura maior para se pensar sobre o papel dos laços
sociais e interação. Conforme foi visto no capítulo sobre a Broken Windows, o controle
social informal é mencionado como fator relevante na redução da criminalidade e
violência, mas não houve uma sistematização quanto à sua verificação e entendimento no
lastro da Broken Windows.
Embora se reconheça uma maior abertura na teoria da eficácia coletiva, esta em
grande medida, ainda encontra limites para que a teoria da desorganização social subsidie o
entendimento das particularidades de como se dá, se percebe e se avalia a violência, crime,
medo e percepção de risco em alguns territórios no Brasil.
131
6.3 Estudos sobre efeitos de vizinhança, criminalidade, violência e medo no Brasil
132
No final da década de 1980 e início da década de 1990, Félix (1989;1996) também
lançou atenção sobre as relações entre o ambiente físico, geográfico, social e a dinâmica da
criminalidade, violência e segurança, tendo como campo de pesquisa o município de
Marília. Félix (2002), discutindo sobre a dimensão espacial do crime apresenta um
diagrama elaborado por Antônio Luiz Paixão em que foram expostas ligações entre as
possíveis relações que esse autor entendia ter entre a industrialização e o desvio social,
criminalidade e violência. Isso porque a industrialização e a urbanização foram os berços
onde começaram a serem pensados os efeitos de vizinhança sobre o crime, violência e
insegurança. Para Paixão (1983) esse diagrama demonstrava sua defesa de que não é
possível radicalizar “o processo de desvio social, violência e criminalidade ao estado de
pobreza e não transmitir a famosa relação única e inequívoca entre sintomas de
desorganização social e situação de miséria. A relação existe, mas não é absoluta” (FELIX,
2002, p. 63).
Ressalta-se neste diálogo sobre urbanização e criminalidade, o clássico artigo
Social Structure and Anomia de Merton (1938). Conforme o autor é importante que haja
equilíbrio na estrutura social. Isto porque a estrutura social pode catalisar comportamentos
desviantes por possibilitar a não conformidade de indivíduos que possuem os mesmos
objetivos culturais dentro de uma sociedade industrial, contudo não possuem meios para
alcançá-los. O trabalho de Merton (1938), ao relacionar cultura e estrutura social, contribui
para que relações simplórias e diretas entre pobreza, criminalidade e violência sejam
repensadas e colocadas em xeque. Logo abaixo é possível verificar congruências entre a
tese demonstrada na figura 7 e a tese do desvio e anomia defendida por Merton (1938).
133
Figura 7 - Relação entre urbanização e criminalidade
Desde o final da década de 1990 e início dos anos 2000, o CRISP (Centro de
Estudos e Criminalidade e Segurança Pública) e em alguma medida a área de ciências
sociais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) têm realizado pesquisas com
foco na investigação dos efeitos de vizinhança de determinados espaços sobre o crime,
violência, insegurança, medo e percepção de risco, tendo como diálogo constante, as
teorias ecológicas do crime. Capital social, coesão social, redes sociais, laços sociais,
confiança, desorganização social, desordem social, desordem física, atividades rotineiras,
condição socioeconômica, eficácia coletiva, dentre outras, são as categorias comumente
trabalhadas para entender os ambientes violentos, criminais e inseguros (SILVA, 2004;
FERNANDES, 2006; RODRIGUES, PEIXOTO E BEATO FILHO, 2007; OLIVEIRA,
2009; RIBEIRO, 2010; SILVA, 2012; ZILLI E BEATO FILHO, 2012; BEATO FILHO E
SILVA, 2013). Outros centros de pesquisas e outros pesquisadores também se dedicaram
a entender os efeitos de vizinhança no Brasil.
Zaluar e Ribeiro (2009), por exemplo, têm realizado algumas ponderações sobre
os limites de se trazer a teoria da eficácia coletiva para analisar o seu papel na explicação
134
dos níveis de violência no Brasil. A pesquisadora encontrou no Rio de Janeiro territórios
no subúrbio com altas taxas de crimes violentos e baixos níveis de desconfiança ou
desconhecimento entre os vizinhos, bem como indícios de muito boa convivência entre os
mesmos. Dessa maneira, ela busca entender o paradoxo da cidade do Rio de Janeiro que
nega teorias recentes que tentam explicar maior ou menor criminalidade por indicadores,
como o da eficácia coletiva, baseados numa maior sociabilidade e confiança entre os
sujeitos.
No artigo Teoria da eficácia coletiva e violência, Zaluar e Ribeiro (2009) indagam
sobre questões relacionadas tanto ao conceito quanto aos seus indicadores para se verificar
a disposição, habilidade e competência de uma comunidade para intervir na desordem e na
redução dos crimes. Outra indagação é que para a pesquisadora não fica claro o que se
chama, substancialmente, de manifestações de desordem. O que é necessário violar em
termos de valores morais e expectativas de vizinhos? Há que se levar em conta, por
exemplo, como é diversa a tolerância e múltiplos os valores. Essa não seria uma questão
pequena, dada a multiplicidade cultural nos grandes centros. Por exemplo, são raras as
vizinhanças nas periferias do Brasil tão homogêneas e tranquilas como normalmente se
encontra no subúrbio estadunidense. Outra questão é que a mistura de raças ou de etnias no
Brasil é parte do padrão cultural, o oposto do padrão segregacionista que ocorre nos
Estados Unidos (ZALUAR; RIBEIRO, 2009).
Embora a teoria da desorganização social e, especificamente, da eficácia coletiva
tenha em seu arcabouço conceitual uma maior preocupação direta em debitar na conta da
desorganização social a ocorrência de crimes, Zaluar e Ribeiro (2009) colaboram, com
suas críticas para analisar o que se entende, avalia e percebe como desordem e crime é
fundamental para alterar os rumos dos resultados da coleta e análise de dados para
relacionar confiança, laços sociais, sociabilidade e reciprocidade com crime e violência.
Afirma-se nesta tese que as relações pessoais, de amizade, de parentesco com seus
valores culturais e morais, comuns e diversos, podem ser levadas em consideração ao se
pensar sobre o efeito da Coesão Social, Controle Social e Confiança sobre o crime,
violência, Medo e Percepção de Risco.
Os laços sociais não necessariamente produzem efeito de controle social informal.
Sampson (2004) cita pelo menos três situações em que isso pode acontecer. A primeira é
quando as redes são personalistas e de natureza paroquial. Já a segunda, acontece quando
a coesão social dada em uma região é caracterizada pelos valores de organizações
135
criminosas. Por último, a terceira ocorre quando uma rede fraca é responsável pelas
conexões estratégicas e expectativas do controle social.
As noções de ordem e desordem, e mais, se as desordens são percebidas como
problemas (SAMPSON, 2004) não precisam ser rígidas ao ponto de não se alcançar
valores culturais e morais específicos de um grupo social ou vizinhança. Segundo Sampson
(2012, p.9), vizinhança não é só um lugar geográfico, ela é, além disso, um lugar carregado
de significados sociais. O autor ainda afirma que qualquer definição teórica de vizinhança
trará erros e limites, mas ela é mais ou menos útil para produzir conhecimento sobre o
mundo.
Conforme dito anteriormente, Sampson (2004) apresenta algumas discussões,
afirmando que na percepção de desordem, importa a composição racial, étnica e de classe,
em detrimento da desordem real da teoria das janelas quebradas.
136
referem-se aos constructos pesquisados nesta tese, Confiança, Coesão Social e Controle
Social Informal.
Segundo Carr (2003), ao discutir e propor um “novo paroquialismo”, pode-se
afirmar que a coesão social é incapaz sozinha de reduzir a criminalidade, o medo, a
percepção de risco. Essa incapacidade foi verificada no Brasil, para se ter mais exatidão,
foi mais observada na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, onde se concentram a
maior parte dos estudos de efeitos de vizinhança sobre a criminalidade, medo, insegurança
e percepção de risco. Neste caso, em que há áreas de alta coesão social entre vizinhos
convivendo com altas taxas de criminalidade, faz-se necessário, conforme Carr (2003) em
Chicago e Rodrigues e Oliveira (2012) em investigações em Belo Horizonte, esse
“paradoxo” apresenta a necessidade de acrescentar outros níveis de controle social. Nesse
sentido, seria investigada a interação entre três níveis, o nível privado, nível paroquial e o
nível público. Sampson, na teoria da eficácia coletiva, também afirma não ser a coesão
social sozinha capaz de transformar uma realidade objetiva e subjetiva ligada à
criminalidade, sendo necessária a conjunção entre ela, a confiança e o controle social
informal.
Rodrigues e Oliveira (2012) concluem que a integração social, mensurada pelas
autoras por meio dos índices de coesão social e satisfação com a vizinhança, influenciam
no medo e na percepção de risco objetivo em ser vítima de roubo e de agressão em Belo
Horizonte. A elevação de um ponto no índice de coesão social reduz as chances de um
belo-horizontino se sinta inseguro ao andar nas ruas do bairro a noite. Para estas autoras,
coesão social já inclui as variáveis que apontam a confiança entre os moradores. Rodrigues
e Oliveira (2012), além de investigar a integração social, elaboraram um modelo de
investigação em que incluem questões sociodemográficas, estruturais, de vitimização
anterior, e de percepção de desordem. O medo como variável dependente foi investigada
por meio da questão “se se sente inseguro ao andar nas ruas do bairro a noite” e a
percepção de risco foi observada por meio de duas questões: uma que indagava sobre a
intensidade do risco de ser roubado e a outra sobre o risco de ser agredido.
Cruz (2010), ao investigar a criminalidade do Aglomerado da Serra 57 em Belo
Horizonte, também identificou uma alta coesão social com altas taxas de criminalidade. O
pesquisador trabalhou com a proposição de que a coesão social está presente nas interações
entre os moradores, mas que não se transforma em eficácia coletiva. A razão da não
57
Conjunto de vilas em Belo Horizonte/MG: .
137
transformação se daria aos “emaranhados” de relações de parentesco e amizade existente
entre a comunidade e os membros das gangues.
Borges (2011, p.193), ao investigar e dissertar sobre o medo do crime na cidade do
Rio de Janeiro, também utilizou o índice de integração social na vizinhança, composto por
variáveis que no Brasil são comumente utilizadas para indicar coesão social ou confiança e
controle social informal. As variáveis serviram para investigar se o entrevistado interage
ou não com a vizinhança. “o que pode ser um indicador de maior controle social
informal” O autor explica que a vizinhança tem um papel fundamental no processo de
socialização, já que simboliza a extensão das residências e das relações sociais entre os
vizinhos.
Na análise sob a perspectiva das Crenças de Perigo, Borges (2011, p. 209), examina
o medo por meio de oito índices, incluindo o de integração social. O pesquisador examina,
por meio de regressão logística ordinal, a probabilidade de cada índice interferir no medo
ao andar nas ruas do bairro à noite e de dia. A relação do índice de integração social com a
probabilidade de se sentir inseguro durante o dia e a noite é negativa, ou seja, quando a
probabilidade cresce o índice diminui. Quanto maior a probabilidade de se sentir inseguro
ao andar nas ruas do bairro de dia e de noite, menor o índice de integração social. Essa
relação se torna mais intensa quando a variável dependente é se sentir inseguro nas ruas do
bairro a noite.
Oliveira e Beato Filho (2013) examinaram a relação entre Eficácia Coletiva e
vitimização criminal (crimes contra o patrimônio e crimes contra pessoa) a partir de dados
com representatividade nacional (pesquisa nacional de vitimização) 58. Além de investigar
neste artigo o papel da eficácia coletiva (coesão social, confiança e controle social
informal) no aumento ou redução de crimes contra pessoa ou patrimônio, também foram
examinadas variáveis controle como localização do setor (capital e região);nível
socioeconômico; tempo de residência no bairro; percentual de jovens; somatório dos itens
de segurança no domicílio; vitimização pela PM; indicador de avaliação do trabalho da P;
indicador de avaliação dos Serviços; Desorganização Social; Vulnerabilidade Social e
Desorganização Física.
Os pesquisadores, numa discussão sobre possíveis causas como as citadas no
parágrafo anterior, estudaram se os laços sociais e organizações locais, temas que dialogam
com Eficácia Coletiva, podem explicar o crime contra a pessoa e o crime contra o
58
Pesquisa Nacional de Vitimização (PNV 2010-2012) – SENASP-MJ/DATAFOLHA/CRISP-UFMG
138
patrimônio no Brasil. Oliveira e Beato Filho (2013) concluíram que mesmo em junção com
outras variáveis de controle é possível observar efeitos num mesmo modelo das variáveis
coesão social, confiança e controle social conjuntamente. Quanto maior a coesão social e a
confiança entre vizinhos, menor é a vitimização por crime contra a pessoa e contra o
patrimônio no Brasil. Já o controle social se relaciona com a vitimização de forma positiva.
Ou seja, quanto maior o controle social, maior é a vitimização criminal investigada.
“Coesão Social e Confiança apresentaram associação negativa com a vitimização
confirmando as hipóteses tradicionais da literatura da Desorganização Social. A
surpresa ficou por conta da associação positiva entre a medida de controle social
informal e o percentual de vitimização tanto por crimes contra a pessoa quanto por
crime contra o patrimônio (OLIVEIRA; BEATO FILHO, 2013, p. 23).
Importa ressaltar que neste mesmo trabalho dos pesquisadores, quando o controle
social é observado em modelos sem a presença das variáveis coesão social e confiança nos
modelos regressão, controle social apresenta relação negativa com a vitimização criminal.
Quando é alto o controle social informal, menores são as taxas de vitimização criminal
(contra pessoa e contra o patrimônio). Dessa maneira, os pesquisadores concluem a
eficácia coletiva tem efeitos sobre a vitimização criminal no Brasil contra a pessoa e contra
o patrimônio. Contudo, a associação da coesão social e da confiança não ocorre da mesma
forma e pelos mesmos mecanismos assinalados na associação entre controle social
informal e vitimização criminal.
Por último, nessa reflexão sobre o que foi e o que vem sendo produzido no Brasil
sobre temas que comungam de preocupações levantadas pela teoria da eficácia coletiva,
destaca-se o estudo de Peixoto, de Souza e de Lima (2012) sobre os determinantes da
vitimização em São Paulo, sob a perspectiva sistêmica da dinâmica criminal. Os
pesquisadores puderam observar mudanças no padrão de vitimização, já que trabalharam
com dados de pesquisas de vitimização em São Paulo dos anos 2003 e 2008.
Foram definidos oito grupos analíticos para se realizar o estudo em São Paulo:
atributos individuais, fatores protetivos, atividades rotineiras, envolvimento comunitário,
confiança interpessoal, política de segurança pública, política pública distrito e política
pública região homogênea. Importa ressaltar os resultados dentre esses grupos analíticos
elaborados por Peixoto, de Souza e de Lima (2012) para esta tese em tela: o grupo
envolvimento comunitário e confiança interpessoal. Uma das conclusões do artigo em
ponderação, Peixoto, de Souza e de Lima (2012), é que entre os fatores que afetam
significativamente a vitimização por furto ou roubo a residência foram a interação com os
139
vizinhos, a participação de atividades comunitárias e a maior confiança interpessoal. Como
os pesquisadores já esperavam, diferentemente de pesquisas nos países anglo-saxões, em
que a coesão social e controle social (eficácia coletiva) limitem a ocorrência de fenômenos
criminais em uma região, esses fatores em São Paulo não reduzem a possibilidade de ser
vítima de roubo ou furto a residência. Os crimes estudados pelos autores foram roubo/furto
a residências, roubo/furto de veículos, roubo contra pessoa, furto contra pessoa e agressão
física.
Além de, em geral, a alta coesão social no Brasil estar mais relacionada às classes
populares, nas quais os índices de criminalidade violenta são mais altos, outra importante
reflexão é trazida por Hope (2001) quando o autor afirma que a participação comunitária
só funciona efetivamente como fator de proteção da comunidade, em episódios violentos
ou criminosos, quando há uma infraestrutura mínima (PEIXOTO, de SOUZA; de LIMA,
2012).
Após a exposição de uma introdução geral sobre a teoria da Eficácia Coletiva e,
principalmente, sobre como são pensadas e teorizadas as categorias Coesão Social,
Confiança e Controle Social Informal, segue na próxima seção, a apresentação das
frequências e percentuais das variáveis que compuseram e se agregaram inicialmente para
formar os citados constructos da Eficácia Coletiva nesta tese.
140
têm mostrado que cada uma dessas dimensões se relacionam de forma peculiar com as
variáveis dependentes, seja a criminalidade, o medo ou a percepção de risco.
Admite-se que os conceitos de Coesão Social, Confiança e Controle Social
Informal da teoria da Eficácia Coletiva podem contribuir para que este estudo aponte
aspectos que influenciam no “Medo” e na “Percepção de Risco” entre os feirenses. Dessa
forma, nesta seção, serão descritas as frequências e os percentuais das variáveis utilizadas
para compor os constructos da Eficácia Coletiva. Ao iniciar o processo de mensuração da
Eficácia Coletiva, foram selecionadas 24 questões que fazem parte do questionário
aplicado. Após avaliação de dados perdidos e análise fatorial exploratória, ficaram no
estudo 17 variáveis59, sendo: nove relativas ao constructo “Coesão Social”; três variáveis
formam o constructo “Controle Social Informal” e, por último, cinco conformam o
constructo “Confiança”.
Na tabela 26, concernente ao constructo “Coesão Social”, 37,7% dos entrevistados
afirmaram que costumam participar de festas de rua ou eventos organizados por vizinhos
como churrascos, festas juninas, assistir jogos com a vizinhança. Já 38,6% declaram o
mesmo sobre encontros e reuniões com amigos em bares, clubes, lanchonetes, campos de
futebol. A maior proporção (77.6%) está entre os entrevistados que participam de
conversas na rua com vizinhos e conhecidos. Com relação à participação de atividades
como reuniões, conversas ou encontros na casa de vizinhos, 45,3% afirmaram participar.
Quando investigados se participavam de atividades ligadas a alguma religião, como
reunião de jovens, eventos beneficentes, atividades voluntárias ou filantrópicas, 36,3%
disseram sim. Apenas 15,6% declararam participar de reuniões em associações, partido
político, sindicato. Já 15,1% mencionam ter participado de mutirão para construção de
casas ou limpeza de ruas e valões, mudanças de casa, decoração de rua.
59
Como poderá ser visto no capítulo 8 que analisa os modelos de equações estruturais, foram retiradas, após
avaliação de perdas de dados e análise fatorial, 4 variáveis do constructo coesão social (Conversas na rua
com vizinhos e conhecidos; Reuniões em associações, partido político, sindicato; Mutirão para construção
de casas ou limpeza de ruas e valões, mudanças de casa, decoração de rua; Atividades ligadas a alguma
religião), 1 variável do constructo Confiança ( frequência algum vizinho costuma pedir ajuda ou favores
ao(a) Sr(a) como pedir dinheiro emprestado ou fazer comprar a prazo ou fiado ) e 2 variáveis do Controle
Social (frequência algum vizinho costuma pedir ajuda ou favores ao(a) Sr(a) como resolver conflitos ou
brigas na vizinhança; visse acontecer um crime no seu bairro você chamaria a polícia ).
141
TABELA 26 - Frequências e percentuais de respostas aos itens do constructo Coesão Social
142
Ainda sobre variáveis que compõem a Coesão Social, como pode ser visto na tabela
27, foi indagado aos respondentes em que situações poderiam contar com os vizinhos se
precisasse: 83,7% sinalizaram em “caso de doença ou problema de saúde”; 60,6% podem
pedir alimento ou objetos emprestados aos seus vizinhos e 60,1% contam que alguém
possa cuidar de criança, idoso, doente, pessoa com necessidades especiais etc.
Além de conhecer em que situações o entrevistado pode contar com os vizinhos, foi
solicitada informação inversa, frequência em que vizinhos solicitam ajuda do entrevistado:
para 86,1%, raramente ou nunca, um vizinho lhe pediu ajuda em caso de doença ou
problema de saúde; Já quanto a pedir alimento ou objetos emprestados, 82,3% afirmaram
que raramente ou nunca pediram isso aos entrevistados e 61,6% nunca pediram ajuda ao
respondente para cuidar de alguém.
Importa lembrar que segundo Sampson, Raudenbush e Earls (1997), a relevância da
coesão social está na contribuição em tolher atos de violência e criminalidade quando
transformada em disposição para atuar coletivamente sobre o problema. Assim os
moradores podem se sentir mais seguros ao usar os espaços públicos.
Para Carr (2003) é preciso indagar se a coesão social pode de fato interferir na
atuação comunitária para a resolução de problemas comuns. Para o autor, pode ser mais
importante as relações eficientes que a comunidade tem com o poder público do que a
coesão social. Seriam as relações mantidas entre o nível paroquial e, o nível público para a
solução de problemas da comunidade.
143
TABELA 27- Frequências e percentuais de respostas aos itens do constructo Coesão Social
144
perguntados sobre o quanto confiavam em seus vizinhos e 83,5% disseram “confiar pouco”
(59,4%) ou “não confiar” (24,2%) nos mesmos. Ao serem indagados se confiam na maioria
dos vizinhos, 27,0% confia na maioria deles, enquanto 50,3% confia em alguns deles e
22,6% não confia em nenhum deles.
Percebe-se, ainda na tabela 28, certa diferença entre os percentuais relativos a
situações sociais em que se pode contar com vizinhos e dos percentuais em que um vizinho
procurou por auxílio nas mesmas circunstâncias. Neste sentido, as diferenças que mais
chamam atenção referem-se às solicitações de “dinheiro emprestado” e de “tomar conta da
casa” ou vigiar a casa. No primeiro caso, em que os declarantes podem contar com
vizinhos para pedir dinheiro emprestado a proporção foi de 40,2%, enquanto se eles foram
procurados por vizinhos para atender a este tipo de troca não chega a 10% das respostas
(8,9%). No segundo caso, supõe ou imaginava ter apoio do vizinho, frequentemente, para
“tomar conta de casa” enquanto está ausente chega à proporção de 57,2%. Contudo, só
9,3% frequentemente pedem para o respondente o mesmo favor.
Algumas das questões que este trabalho usa para indicar Confiança são usadas em
outros estudos para mensurar coesão social (Rodrigues e Oliveira, 2012; Fernandes e Silva,
2007; Oliveira e Beato Filho, 2013) ou integração social (Borges, 2011). Por exemplo, se
as pessoas podem pedir ou emprestar dinheiro a vizinhos. Pensa-se que variáveis
envolvendo elementos financeiros, como emprestar dinheiro e vigiar casa pode dizer muito
mais sobre a Confiança entre as pessoas do que apenas sobre a coesão social no local. Por
exemplo, as pessoas podem se somar para resolver problemas locais, mas não
necessariamente mantém entre si uma relação de Confiança, que envolva questões
financeiras em seus contatos.
145
TABELA 28 -Frequências e percentuais de respostas aos itens do constructo Confiança
Frequência Porcentagem
válida
Gostaria que o(a) Sr(a) dissesse se Confia muito 96 16,5
confia muito // confia // confia Confia pouco 346 59,3
pouco // ou não confia nos seus
vizinhos. Não confia 141 24,2
Total 583 100,0
Sem resposta 32
Total 615
O(a) Sr(a) acha que poderia contar Poderia contar 237 40,2
com seus vizinhos se precisasse para Não poderia contar 352 59,8
pedir dinheiro emprestado ou fazer
comprar a prazo ou fiado Total 589 100,0
Sem resposta 26
Total 615
O(a) Sr(a) acha que poderia contar Poderia contar 335 57,2
com seus vizinhos se precisasse para Não poderia contar 251 42,8
tomar conta da casa enquanto não
está. Total 586 100,0
Sem resposta 29
Total 615
Com que frequência algum vizinho Frequentemente 53 8,9
costuma pedir ajuda ou favores Raramente 206 34,6
ao(a) Sr(a) como pedir dinheiro
emprestado ou fazer comprar a Vizinho nunca pediu 337 56,5
prazo ou fiado. ajuda
Total 596 100,0
Sem resposta 19
Total 615
Com que frequência algum vizinho Frequentemente 55 9,3
costuma pedir ajuda ou favores Raramente 169 28,5
ao(a) Sr(a) como tomar conta da
casa enquanto não está. Vizinho nunca pediu 370 62,3
ajuda
Total 594 100,0
Sem resposta 21
Total 615
Com relação aos seus vizinhos, o(a) Confia na maioria deles 160 27,0
Sr(a) diria que
Confia em alguns deles 298 50,3
146
violentos e criminosos, sendo estes praticados por moradores ou não. Os pesquisadores, em
geral, utilizam questões que visam mensurar a capacidade de intervenção das pessoas ou
do coletivo quando se defrontam com eventos problemas.
As variáveis utilizadas como forma de mensuração do terceiro constructo da
Eficácia Coletiva, o “Controle Social Informal”, têm frequência e percentuais apresentados
na tabela 29. Foram cinco variáveis ao todo. A primeira, é se quando o entrevistado vê uma
criança do bairro desrespeitando outra pessoa, se interferiria ou não. Observou-se que
62,9% dos respondentes afirmaram intervir ou aconselhar. Os percentuais praticamente
têm seus valores alternados quando a pergunta refere-se à intervenção ou aconselhamento
de um jovem ou adulto desrespeitando alguém na rua. Neste caso, 59,5% das pessoas
afirmaram não intervir ou aconselhar. A terceira variável, indaga se o respondente pode
contar com vizinhos para resolver conflitos ou brigas na vizinhança, 57,1% declararam não
ser isso possível. Já, quando investigados se vizinhos costumam pedir ajuda ou favores
como resolver conflitos ou brigas de vizinhança, 4,6% disseram frequentemente ocorrer
esse evento e 77,5% que o vizinho nunca solicitou o mesmo. Por último, a quinta variável
indicadora de Controle Social perguntou ao entrevistado se ele visse acontecer um crime se
ele chamaria a polícia, 79,3% afirmaram que sim.
147
TABELA 29 -Frequências e percentuais de respostas aos itens do constructo Controle Social
Informal
Enfim, pensa-se que a junção entre as três dimensões aqui pesquisadas, assim
como Sampson o fez, pode contribuir para a resolução de problemas ligados ao medo e ao
risco. Contudo, há que se ressaltar que trazer essa discussão para a realidade brasileira deve
vir com bastante parcimônia e conclusões pouco simplistas. Isto porque a organização
social brasileira dificilmente se enquadra nos padrões mencionados onde é produzido
grande parte dos trabalhos envolvendo a teoria da Eficácia Coletiva (VILLARREAL E
SILVA 2006, RODRIGUES E OLIVEIRA, 2012).
148
Desta maneira, para tornar análises mais próximas à organização social brasileira,
segue no próximo capítulo reflexões sobre a cidadania brasileira e aspectos de convivência
social que se ancoram na forma como a democracia se fez e se faz presente nas relações
sociais cotidianas no Brasil. Pode-se afirmar que a Eficácia Coletiva direciona-se a refletir
sobre dimensões de convivência social, quais seja, Confiança, Coesão Social e Controle
Social Informal. Contudo, estas dimensões podem não indicar fortes aspectos de
pessoalidade, desigualdade e hierarquia presentes no relacionamento social.
Por que lançar mão de discussões sobre cidadania brasileira para entender o Medo
e a Percepção de Risco em Feira de Santana/BA? Porque, de acordo com autores a serem
debatidos no próximo capítulo, aspectos de pessoalidade, desigualdade e hierarquia fazem
parte cotidiano social e podem ser empreendidos como elementos para entender outros
fenômenos sociais.
Conforme exibido neste capítulo 6, Sampson afirma que aspectos da convivência
social importam para debater e entender crime, medo, violência e risco. O que também se
investiga aqui é se aspectos da convivência social direcionando-os à particularidades da
cidadania brasileira podem estar associados ao Medo e à Percepção de Risco.
O que diferencia a proposta de análise de Sampson aqui exposta da discussão a ser
exibida no próximo capítulo? Os constructos da Cidadania Hierarquizada se fundamentam
em práticas personalistas, desiguais e hierarquizantes. Além disso, é plausível afirmar,
como poderá ser observado ao final deste trabalho, que o Jeitinho e Pessoalidade
Brasileiros e Controle Informal Hierarquizado são modos de navegação social na
democracia de Feira de Santana. Essas formas de navegação social podem ser
compreendidas como fulcrais no enfraquecimento e permanência de instituições e serviços
estatais frágeis. Isto porque Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros e Controle Informal
Hierarquizado atuam na direção contrária ao incentivo de instituições democráticas fortes e
inclusivas.
149
CAPÍTULO 7
150
efeitos de vizinhança que não estão geralmente contemplados em suas formulações norte
americanas, como o impacto da forte pessoalidade nas relações sociais no Brasil para se
entender Medo e a Percepção de Risco face ao crime e aos atos violentos intencionais.
Ressalta-se que esta investigação a partir da Cidadania Hierarquizada, assim como
na teoria da Eficácia Coletiva, emprega as relações, redes e laços sociais para entender
como se configuram o Medo e a Percepção de Risco em Feira de Santana/Ba. O que está se
propondo é que se investigue em que medida essas relações, redes e laços com forte traço
de pessoalidade e hierarquia no Brasil, características estas elencadas por cientistas sociais
brasileiros (DA MATTA, 1979; BARBOSA, 1992; HOLSTON, 2013).
No que se refere à discussão sobre redes familiares, de amizade e de favores será
apresentada uma reflexão dessas redes inseridas num contexto democrático e de cidadania
no Brasil. Acredita-se que o referido contexto traz em si e consigo informações que
possam auxiliar na compreensão da variabilidade do Medo e da Percepção de Risco.
Admite-se que a maneira como se estiver inserido ou não em redes familiares, de amizade
e de favor pode influenciar as percepções, experiências e avaliações morais da violência,
criminalidade e seus corolários. Ou seja, a forma e o conteúdo de como a cidadania foi e é
pensada, vivenciada e (re)construída no país pode interferir na maneira como as pessoas se
relacionam umas com as outras. Aqui se enfatizam as relações permeadas pela forma e
conteúdo do que se denomina Jeitinho e Pessoalidade brasileiros e o que está se chamando
de Controle Informal Hierarquizado. Como poderão ser vistas, categorias estas que se
pressupõem estarem imbricadas no desenvolvimento e discussões sobre democracia e
cidadania no Brasil.
Na próxima seção será dada atenção à formação social e cidadania no Brasil. Isto
porque, conforme vem sendo dito, muito se pode entender das relações pessoais e sociais
entre brasileiros a partir da interpretação que estudiosos fizeram e ainda fazem sobre as
particularidades da sociabilidade brasileira.
151
atualmente, a maior parte tenta gerir as diferenças sociais por meio das formulações de
igualdade e de desigualdade que explicam suas cidadanias. Um dos objetivos da
democracia é a promessa de cidadanias mais igualitárias, assim havendo mais justiça e
dignidade na organização das distinções sociais. Na prática, as vivências não se dão assim,
havendo uma infinidade de conflitos entre seus cidadãos. Há um paradoxo: historicamente
os conflitos aumentaram significativamente com a democratização e urbanização do século
XX. As cidades têm “cidadãos marginalizados” e “não cidadãos” que, de alguma forma,
contestam sua exclusão. Neste contexto a cidadania é então desordenada e desordenadora
(HOLSTON, 2013).
Holston (2013) ao dissertar sobre a primeira vez que esteve no Brasil na década de
1980 afirma que raramente ouvia a palavra cidadania ou cidadão em diálogos do dia a dia.
Havia conversas sobre direitos específicos, mas parecia que estes estavam separados da
ideia de cidadania, como se os direitos existissem à parte, sendo outorgados por outros
estatutos, como o de trabalhador, por exemplo. A palavra cidadão quando pronunciada
tinha um sentido diferente para brasileiros de distintas classes. Em geral, referir-se a
alguém como cidadão era demonstração de uma não relação significativa com alguém. “
“Cidadão” indicava distância, anonimato e nada em comum” (HOLSTON, 2013,p.23).
Holston (2013), acerca do Brasil, formulou o que chamou de cidadania
diferenciada.
152
Assim como Carvalho (2004), entende-se aqui que a cidadania é um fenômeno
complexo e historicamente definido. O caminhar dos processos históricos e dos direitos
adquiridos pelo cidadão que Marshall analisou deve ter a finalidade de algo no horizonte
para onde se possa olhar com o objetivo de contribuir no entendimento sobre o próprio
desenvolvimento da cidadania num contexto histórico específico. A noção de cidadania
plena contribui com as reflexões sobre as especificidades da cidadania vivenciada. O
cidadão pleno seria detentor de direitos civis, políticos e sociais respectivamente e os
caminhos para a conquista desses direitos não são iguais e nem lineares para todos os
países. Nas palavras do autor:
153
institucional do Estado numa democracia em atuar sobre problemas sociais. O favor, as
trocas pessoais e o clientelismo ainda guiam fortemente a relações do Estado com os
cidadãos brasileiros. Esses elementos retroalimenta o Estado com características
patrimonialista, herança inicial da coroa portuguesa e que deixou terreno fértil para que a
cultura política estatista pudesse ser consolidada no Estado-Novo. Um dos nomes dados a
esse processo atualmente é “estadania” ao invés de cidadania (CARVALHO, 2004). Na
origem dos processos que esse nome guarda, tem-se:
154
Outra dimensão além desta, é que o Estado clientelista e corporativo dificulta a
organização da sociedade que se vê incapaz de gerenciar por meios legais e estáveis formas
de lidar com a violência e a criminalidade. A sociedade muitas vezes acaba procurando no
próprio mundo da ilegalidade e do crime, a rede de favores e de amizade baseadas em
relações mais pessoalizadas do que institucionalizadas, que pode dar suporte para resolver
problemas que esse mesmo mundo gera para a vivência das pessoas. Isto acontece com
mais visibilidade nas comunidades com baixa renda e com a não presença do Estado.
Críticas colocam em xeque um dos elementos fundamentais quando se pensa em
cidadania, a igualdade. Isso porque alguns pesquisadores afirmam que a igualdade que
compõe a cidadania é incompatível com as desigualdades de classe e, portanto, ela não
pode de fato existir, sendo uma panaceia. Marshall (1967), segundo Sarmento (2011),
afirma ser compatível nas sociedades modernas a igualdade de participação na sociedade
(igualdade de cidadania) e as desigualdades provenientes da estrutura de classes sociais.
Aliás, um dos focos das pesquisas de Marshall era a relação entre a igualdade de cidadania
e as desigualdades de classes.
Segundo Sarmento (2011), o termo cidadania, dada sua utilização de maneira
universal e sua propagação, torna-o um termo de difícil compreensão na atualidade.
Fazendo analogia com a discussão do termo multiculturalismo de Stuart Hall (2003),
Sarmento (2011) afirma que cidadania está tão discursivamente embaraçado que muitas
vezes parece ser mais sensato usá-lo apenas “sob rasura”. Fazer uso do termo cidadania se
tornou fundamental para se analisar a democracia, os direitos humanos, a política, o direito
dentre outros fenômenos sociais que podem estar sob o olhar científico das ciências
sociais. Para isto, conforme o autor, faz-se necessário “um esforço teórico que objetive
situá-lo dentro de sua dimensão própria” (SARMENTO,2011,p.3).
Conforme Sarmento (2011), a cidadania é um dos discursos que compõem a
modernidade em detrimento das visões tradicionais de mundo, este com antigas e
medievais formas de pensar. O discurso liberal foi, dentre os discursos racionais e
políticos, o que mais se destacou, tornando-se a base ideológica do capitalismo, sistema
econômico da modernidade.
Na contemporaneidade, a concepção de cidadania tem se dado em dois sentidos.
O primeiro se firma sobre a ideia de uma suposta neutralidade e inclusão apenas de direitos
individuais e universais. Já o segundo, elenca a cultura e a comunidade como essenciais à
caracterização do cidadão contemporâneo (SARMENTO, 2011).
155
Cidadania, considerada como elemento relevante e fundamental, compõe a
modernidade e a democracia, especialmente nas sociedades ocidentais. Já a liberdade,
participação e a igualdade conforma o que se denomina como Cidadania. Sabe-se que não
há consensos acerca de como a modernidade, democracia e a cidadania vem se
consolidando no Brasil, mas é possível partir de alguns pontos de vistas, entender sob que
bases podem estar estabelecidas as relações e redes sociais, a coesão social, a confiança e o
controle social entre os brasileiros.
O lugar da ciência social brasileira que produziu e ainda produz sobre a formação
social do Brasil de onde se fala aqui, se for necessária uma classificação, é o que examina a
herança ibérica e personalista e suas nuances e transformações na sociedade brasileira.
Na verdade, muitos são os pesquisadores brasileiros que se encontram, num maior
ou menor grau, nesta classificação: Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre,
Raymundo Faoro, Roberto Da Matta e Florestan Fernandes, por exemplo. Atualmente, em
direção contrária, Jessé de Souza vem elaborando e traçando alternativas para analisar a
modernidade, democracia e cidadania no Brasil sem dar forte ênfase às características
herdadas da região ibérica. O autor fala, por exemplo, em construção social da
subcidadania e na ralé brasileira (SARMENTO, 2011).
Sérgio Buarque de Holanda (1991) enfatizou o “culto à personalidade” herdada dos
povos ibéricos via colonização. Esta caraterística traria como consequência um
enfraquecimento na organização, associação e racionalização da vida social, já que
interesses individuais tenderiam a prevalecer. Dessa maneira, aumenta-se a possibilidade
de uma estrutura social frouxa, em que para haver um mínimo de integração e coesão
social, faz-se necessário uma força exterior. Outra característica importante apresentada
por Sérgio Buarque é a valorização do círculo familiar e patrimonial que se prolongam
para o espaço público, contribuindo para a formação do indivíduo. Isto ocasiona
dificuldades em desvincular os laços familiares da formação do cidadão, enfraquecendo
elementos de impessoalidade necessários para a consolidação de uma sociedade civil que
se some a outras coisas para a existência de um Estado impessoal (SARMENTO, 2011, p.
202).
Conforme Sarmento (2011) Gilberto Freyre não problematiza como Sérgio Buarque
de Holanda a reprodução da esfera privada na esfera pública, talvez porque para Freyre a
esfera pública seja apenas um alongamento da esfera privada. O núcleo básico da
156
sociedade brasileira para o autor é a família patriarcal atrelada ao latifúndio monocultor e
ao sistema escravista.
Raymundo Faoro, embora com concepção metodológica e teórica atreladas ao
marxismo, diferente dos autores citados anteriormente, também trata dos percalços e das
desigualdades na formação social brasileira a partir das relações entre o público e o
privado, enfatizando o patrimonialismo, herança colonial que abarca as dimensões da
cultura política, como o fracasso das revoluções e a destruição de demandas populares
(SARMENTO, 2011).
É, a partir da elaboração conceitual destas duas categorias, indivíduo e pessoa, que
os constructos Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros e Controle Informal Hierarquizado aqui
examinados adquiriram corpo no decorrer desta pesquisa como elementos que poderiam
indicar singularidades sociais brasileiras presentes nas relações sociais. Claro, que de
forma geral, os autores que enfatizaram conteúdos como o personalismo, o prolongamento
da esfera privada sobre a esfera pública, o clientelismo e o patrimonialismo na formação
social brasileira também contribuíram para que esses constructos fossem elaborados e
selecionados por representar constructos capazes de indicar algo da sociabilidade
brasileira. Na próxima seção, as categorias Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros e Controle
Informal Hierarquizado serão tratados com mais atenção.
60
A elaboração do constructo Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros foi inspirado na discussão teórica de
Roberto Da Matta. Já a estruturação do constructo Controle Social Informal Hierarquizado foi influenciado
157
por entender que o mesmo pode ser influenciado também por características de uma
sociedade democrática que hierarquiza indivíduo e pessoa. O Controle Social informal
pode ser identificado e visto de uma determinada forma e grau quando o ser humano objeto
do controle esteja incluído na categoria indivíduo ou pessoa. Sabe-se que a hierarquia tão
relevante na sociedade brasileira, examinada por Da Matta, não se baseia somente no
dilema entre indivíduo e pessoa a depender do grau de familiaridade, amizade ou de
favores, ela também pode ser proveniente das relações de classe social, status ou da raça
por exemplo. O fato é que se convive ainda, segundo o autor, com a fluidez da lei e dos
direitos nas relações cotidianas, não como uma herança maldita, mas como singularidade e
estratégias de vivência e sobrevivência.
Ao se falar do papel e das influências que as redes familiares, de favores e de
amizade com algum grau de pessoalidade têm na sociedade, na política, nas relações, nas
instituições é importante citar Roberto da Matta. Este autor, como outros, apesar de muitas
críticas, se tornou fundamental para entender a formação social do Brasil, especialmente
quando se reflete sobre as especificidades da formação cidadã brasileira. Jessé Souza
(2001) apresenta questões que são centrais na teoria de Da Matta: o que é indivíduo?, o que
é democracia?, o que são e como são as relações sociais? e, como se percebe diferenças
históricas e culturais que conferem especificidade a cada sociedade singular?. Em uma de
suas obras principais, Carnavais, malandros e heróis, Da Matta (1979) buscou investigar
questões fundamentais da cultura e sociedade brasileira por meio do cotidiano das pessoas
e, principalmente, por meio de festas e de personagens que poderiam traduzir muito da
forma de se viver e se relacionar no Brasil.
A discussão central de Da Matta (1979) é o dilema brasileiro. Este dilema, como
afirma o próprio autor não é pensado por meio de uma interpretação linear, com um
princípio, um meio e um fim e, nem é pensada a partir de personagens que têm papeis fixos
de mocinhos ou de bandidos. Da Matta afirma que o Brasil, que a totalidade do Brasil deve
ser vista como um drama, em que o
pelas discussões sobre a importância do controle social informal na criminalidade, medo, percepção de risco,
violência relacionadas à teoria da Eficácia Coletiva e à Teoria das Janelas Quebradas.
158
Roberto da Matta (1979), numa perspectiva comparativa e relativizadora, discorre
sobre a impossibilidade de que a noção de indivíduo seja universal. Noção esta básica para
a sociedade ocidental e democrática. O indivíduo no Brasil, não seria parte dessa categoria
universal como nos Estados Unidos, nem seria algo renunciante como na Índia. O
indivíduo no Brasil foi e vem sendo constituído a partir das singularidades e história de
formação social do Brasil. O indivíduo aqui seria um “joão ninguém das massas”, já que
não estaria ligado a algum poderoso sistema de relações pessoais (SOUZA, 2001).
Este ponto é essencial para a compreensão da democracia relacional que Roberto
da Matta apresenta aos seus leitores. Existem duas categorias que se relacionam e se
retroalimentam num contexto de cidadania hierarquizada, o indivíduo e a pessoa. O
cidadão pode ser num espaço ou num momento indivíduo; noutro espaço ou noutro
momento pessoa. Isto depende das relações pessoais ou impessoais que esse cidadão tem
com círculo que está inserido. O indivíduo é entendido no Brasil como o contrário do que
entende por pessoa. O cidadão ainda pode solicitar que quando tratado como indivíduo,
seja corretamente tratado como pessoa por meio do “você sabe com quem está falando?”.
Isso segundo Da Matta é lançar mão do autoritarismo, hierarquização e da violência para
ser inserido no lugar que ele acredita que deveria estar.
O “você sabe com quem está falando” é considerado pelo autor em tela como um
rito, assim como as festas que ele analisa. Contudo, ao contrário das festas, o “você sabe
com quem está falando” não tem uma data, não é algo que dê orgulho ou que se ensina às
crianças. É um rito que fica escondido, seu uso é latente, mas está fortemente presente.
Afirmar e refletir sobre a existência do “você sabe com quem está falando” é desnudar que
há conflitos na sociedade brasileira e o Brasil tem aversão por conflitos manifestos. O
conflito e a crise não são vistos como algo a se corrigir, são tidos como presságios do fim
do mundo ou como fraquezas (DA MATTA, 1997, p.183).
No sistema social brasileiro, a lei universalizante e igualitária é utilizada
frequentemente como elemento de diferenciação política e social entre a pessoa e o
159
indivíduo. “Poder personalizar a lei é sinal de que se é uma pessoa” (DA MATTA, 1997,
p. 237). Numa sociedade em que as relações pessoais assumem centralidade diante do
indivíduo, da igualdade e da liberdade, a lei que serviria para que os conflitos e interesses
de diversos grupos pudessem surgir claramente, serve não para corrigir as desigualdades,
mas para legitimá-las. Eis o dilema brasileiro: “as leis tornam o sistema de relações
pessoais mais solidário, mais operativo e mais preparado para superar as dificuldades
colocadas pela autoridade impessoal da regra” (DA MATTA, 1997, p. 237).
O “jeitinho brasileiro”, talvez a expressão mais comum e clássica para se definir
uma atitude tipicamente brasileira, é segundo Da Matta (1997) uma variante cordial do
“você sabe com quem está falando”, além de ser entendido como um modo de navegação
social. “Por termos leis geralmente drásticas e impossíveis de serem rigorosamente
acatadas, acabamos por não cumprir a lei. Assim, utilizamos o clássico “jeitinho” que
nada mais é que uma variante cordial do “sabe com quem está falando?” (DA MATTA,
1979,p.238). Utilizar o jeitinho como forma de navegação social é transformar o que seria
negativo e autoritário, em um discurso positivo com grande chance de ser aprovado.
Valoriza a cordialidade, alegria, esperteza, simpatia, amizade e humanização das relações
impessoais que são muito frias e rígidas. O jeitinho, a malandragem e o “você sabe com
quem está falando” são modos de enfrentar as contradições e paradoxos de um sistema
social que é guiado, ao mesmo tempo, por leis universais e relações pessoais. É notório que
esses três modos também têm o papel de retroalimentar esse sistema.
O jeitinho compreendido pelo discurso positivo funcionaria como um tipo de
cidadania invertida, baseada não em direitos e deveres, mas na necessidade de quem
precisa e na compreensão de quem está acionando a situação naquele momento
(BARBOSA, 1992). O jeitinho encontra discursos e formas práticas que o colocam tanto
em uma posição negativa quanto em uma positiva.
Segundo Barbosa (1992) o jeitinho não está ligado a estruturas arcaicas, pré-
industriais ou qualquer coisa que se aproxima destas suposições. Ele está habituado à
urbanidade, à impessoalidade, à racionalidade e à igualdade. O jeitinho nasce e se fortalece
do encontro da regra impessoal com a pessoalidade no sistema de relações intersubjetivas.
Dentro da complexa relação entre duas dimensões, indivíduo e pessoa, procura-se
investigar aqui como o Medo e a Percepção de Risco são sentidos e avaliados quando o
cidadão está mais próximo de uma ou de outra posição: indivíduo e pessoa. É importante
lembrar que Da Matta (1997) pondera que não se pode reduzir a sociedade brasileira a
160
apenas dois universos (o das pessoas e o dos indivíduos). Existem zonas de conflitos e
zonas de passagens.
Da Matta (1991) entende a cidadania como um papel social, já que ela possui uma
história. Ser cidadão é algo que se aprende num campo demarcado por expectativas de
comportamento singular. Dessa forma, para o autor a cidadania deve também ser discutida
a partir de dimensões sociológicas e culturais e não apenas, como já é forte, de dimensões
com caráter jurídico-político-moral. O autor afirma que essas dimensões da dualidade
constitutiva da sociedade brasileira, a institucionalista e a culturalista, devem deixar de
serem vistas com um olhar unilateral e passarem a ser enxergadas num dualismo
articulado. Souza (2002) pode ajudar no entendimento dessa passagem entre ambas:
161
análise para a sociedade brasileira. Uma comparação, quanto à concepção de
desenvolvimento da cidadania, feita pelo autor ganha centralidade neste trabalho: “a
comunidade norte-americana seria homogênea, igualitária, individualista e exclusiva; no
Brasil ela seria heterogênea, desigual, relacional e inclusiva” (DA MATTA, 1991, p.78).
De um lado, nos Estados Unidos, o que vale é o indivíduo e o cidadão, no Brasil, é a
relação que tem muita força. “É a relação que explica a perversão e a variação da
cidadania (...)”. Guardados os limites dessa comparação, está de acordo com Da Matta que
a relação no Brasil tem centralidade na formação social do que se entende por cidadania.
No que diz respeito às mudanças que vêm ocorrendo no Brasil quanto aos
privilégios, desigualdade de tratamento dado classe, status, relações pessoais, raça dentre
outros, está em acordo com Holston (2013) que afirma perceber e constatar que desde a
década de 1990 práticas e discursos sobre direitos e cidadania se transformaram, contudo,
“tais mudanças não são de modo algum menos indicativas da qualidade da cidadania e da
persistência da desigualdade organizada no Brasil contemporâneo” (HOLSTON, 2013,
p.39).
A próxima seção tem o intuito de localizar, registrar e expor como é possível
encontrar pesquisas no Brasil, baseadas em outras metodologias e abordagens teóricas, que
trabalhem com a perspectiva de se pensar sobre o papel que as diferentes formas de
interação social têm no entendimento do que esteja ordenado, tranquilo, violento, ilegal,
inseguro ou arriscado.
Ao se cogitar nesta tese que a lógica da sociedade relacional, com a presença dos
dilemas “indivíduo versus pessoa” e “igualdade versus hierarquia” pode interferir em
alguma medida no Medo e na Percepção de Risco, afirma-se também que as noções do que
é visto e entendido como ordeiro e seguro também podem ser baseadas no tipo de relações
que se tem num área.
Apresentam-se aqui algumas discussões que convergem, problematizam e
refletem sobre a necessidade de se entender o desvio, sua percepção e vivência não apenas
a partir do seu contrário, o normal. Entre o desvio e a normalidade, entre a ordem e a
desordem existem variações. Entende-se que essas variações se movimentam numa ou
162
noutra direção a depender das relações sociais existentes dentro de um grupo ou de um
espaço.
Ressalta-se que esta tese não tem o objetivo de investigar as causas da violência
ou criminalidade, embora reconheça a importância desse tipo de empreendimento
científico. A intenção aqui é entender o Medo e a Percepção de Risco que as pessoas têm
ao conviver com a criminalidade e violência e a influência que as redes pessoais familiares,
de amizade, de favor e de hierarquia têm sobre eles.
Separar e rotular os cidadãos e os territórios onde residem a partir de uma lógica
do desvio ou do normal dificulta o entendimento do que está entranhado e relacionado aos
dois polos construídos mais por discursos do que pelos fatos. Feltran (2011), ao discutir
política e violência nas periferias urbanas de São Paulo, problematiza o fato de periferias,
dada a preocupação com a violência urbana, serem visualizadas como espaços apartados
do funcionamento “normal” da sociedade. A periferia e os problemas com o crime e com a
violência que ela convive não devem ser entendidos como submundos homogêneos e
apartados das esferas sociais legítimas.
Feltran (2011, p.2) em “Fronteiras de Tensão” suspendeu a bipolaridade de
nomeações para analisar e “descrever as relações que se constroem nas dinâmicas sociais
e políticas ensejadas pelas periferias da cidade contemporânea”. Investiga-se nessa tese
se em Feira de Santana essas relações que se constroem nas dinâmicas sociais e políticas se
materializam de uma forma ou de outra, a depender das relações pessoais ou impessoais
que estão em jogo e, se a pessoalidade ou impessoalidade dessas relações influenciam na
maneira como se percebe e se avalia o Medo e o Risco.
A migração, o trabalho fabril, a família operária, a teologia católica e a
expectativa de mobilidade ascendente nas periferias de São Paulo são consideradas como
pilares da dinâmica social de ocupação das periferias e que se deslocaram, mudaram
radicalmente desde os anos 1970. Hoje os cidadãos vivenciam suas trajetórias num pano de
fundo marcado por paradoxos constitutivos (FELTRAN, 2011,p.2). Seguem os paradoxos:
(...) a consolidação da democracia formal foi coetânea à reestruturação
produtiva; a ampliação do acesso ao crédito popular foi simultânea à
limitação da contrapartida social do assalariamento; o declínio da
representatividade dos movimentos populares ocorreu enquanto crescia o
acesso às politicas sociais; o trânsito religioso rumo ao pentecostalismo
ocorreu junto à consolidação da infraestrutura urbana dos territórios e,
finalmente a emergência do mundo do crime – e do Primeiro Comando da
Capital (PCC) – ocorreu ao mesmo tempo em que se sofisticavam as
políticas de segurança em todo País, e se ampliava o encarceramento em
São Paulo (FELTRAN, 2011,p.2).
163
Os cidadãos vivenciam e navegam cotidianamente num espaço social embebido
de contradições. Atrelado a estes citados pelo Feltran (2011), acrescenta-se ao pano de
fundo das relações numa dinâmica social aparentemente contraditória, o paradoxo que se
enfatiza nesta tese, a Cidadania Hierarquizada, ou seja, a difícil, junção da igualdade e
hierarquia. A utilização das formas de navegação social, o “jeitinho” e “o você sabe com
quem está falando”, adquirem importância prática para viver e “se virar” num contexto
democrático recheado de ambiguidades e, muitas vezes violento e criminoso.
Da Matta (1982, p. 82) chamaria esse contexto democrático entremeado de
paradoxos de “configuração institucional da nossa sociedade”. Ao dissertar sobre as
raízes da violência no Brasil, o autor defende uma postura relacional e dialética em
detrimento de uma postura funcionalista e linear. Dessa maneira, ele afirma se importar
como a violência é percebida no Brasil, seja pelo pensamento popular ou erudito
(sociológico ou político). De acordo com sua pesquisa, no discurso erudito a violência
surge como um estado da sociedade, ligada a processos históricos, sociais e econômicos, já
no discurso popular surge como um mecanismo. “O discurso do senso comum sobre a
violência tem outras caraterísticas. Primeiramente, ele é um falar que se trava na
experiência diária das pessoas” (DA MATTA, 1982, p.23). A violência seria um meio
pelo qual se pode fazer aquilo que se deseja, mesmo tendo a possibilidade de ser atrelada à
maldade humana. Os dois discursos, seja como processo ou como mecanismo social, não
se excluem, apenas exprimem a percepção diferenciada construída a partir do universo da
rua, impessoal e do universo privado, pessoal.
O discurso do universo da rua, do individuo é legalizante e formalista. Nesse
discurso, os conceitos e mecanismos valem mais que o viver. O discurso do universo da
casa, da pessoa, é aberto ao contraditório das coisas que o jurista não pode e nem deve
saber. O legal é tudo que é bom, correto e interessante. Em oposição ao legal, o discurso
do senso comum é, antes de qualquer coisa, pessoal e relacional. “Nele o violento aparece
como um mecanismo destinado a promover a justiça quando a lei falha, tarda ou é
simplesmente inexistente. Ou, ainda, para estabelecer a ordem onde inexiste a
possibilidade de realizar uma gradação e estabelecer uma hierarquia” (DA
MATTA,1982, p. 28).
Em seu estudo sobre as periferias de São Paulo e política na atualidade, Feltran
(2011) afirma a necessidade de se discutir as relações entre política e violência. Política “ é
164
o jogo de conflitos desencadeados na conformação da cena pública, sua manutenção e
transformação” (FELTRAN, 2011, p.12). Assim como Da Matta, Feltran tem como pano
de fundo o Brasil como uma sociedade fortemente hierárquica e desigual. Os conflitos
postos na cena pública embasam, permeiam e criam fronteiras, que ao mesmo tempo em
que separam conectam o que é dividido. Para Feltran (2011) a fronteira e o conflito cedem
lugar à violência, sobretudo em sociedades hierárquicas e desiguais. “Onde há fronteira, há
conflito. Ainda que latente. Se a fronteira pode ser disputada é comum, sobretudo em
sociedades muito hierárquicas e desiguais, que a latência ceda lugar à violência”
(FELTRAN,2011,p.15).
Zaluar (2012) ao refletir sobre o aumento da violência e criminalidade entre os
jovens, afirma que é relevante avaliar se o capital de personalidade entre os jovens está
comprometido pelo não completo processo de igualitarismo social.
A permanência do autoritarismo social, ou da hierarquia social no Brasil,
sobretudo as formas de poder despótico surgidas a partir dos anos 1970 nas
áreas urbanas mais desfavorecidas, teria abortado o processo de
informalização ou de mais diálogo com as figuras de autoridade, inclusive
para discutir as regras do jogo, especialmente nas camadas menos
escolarizadas e mais subalternas. (ZALUAR, 2012, p.337)
“Casa, rua e outro mundo, portanto, provêm a lógica e os eixos pelos quais
se jogam no Brasil os jogos de poder e da exploração. Seria também por
meio destas esferas que se poderia falar das raízes da violência no sistema
social brasileiro, sem cair na linguagem erudita e formalizante ou linguajar
concreto, mais pessoal do senso comum (DA MATTA, 2011, p.35).
165
Misse (2007) tem contribuído e instigado reflexões sobre mercados ilegais e sua
diversidade de entendimento em serem considerados crimes ou não. Segundo o autor, a
criminalização conceitual deve ser diferenciada das incriminações reais, tanto nos códigos
quanto nas representações. Ele afirma que existem várias situações que podem ou não ser
objeto de incriminação. O universo do mercado informal é uma dessas situações. “ O que
distingue, em geral, uma atividade econômica “formal” de outra “informal” é a sua
maior ou menor subordinação à regulamentação estatal”(MISSE, 2007,p.140).
Na direção do que vem se discutindo nesse texto, acrescenta-se que a maior ou
menor subordinação à regulamentação estatal tem a ver com o alcance das redes pessoais e
de poder que uma atividade possa se escorar. O artigo do Misse (2007) “Mercados ilegais,
redes de proteção e organização local do crime no Rio de Janeiro” inicia com uma
fotografia61 do patrono da Mocidade de Padre Miguel, banqueiro do jogo do bicho, Castor
de Andrade comemorando. Essa imagem, de uma pessoa, trás com ela a necessidade de
entender a relevância das redes pessoais como pano de fundo que contribui para a
mesclagem do mundo legal e ilegal, do crime e do não crime.
A lei, portanto, é aplicada quando interessa punir. Na maioria das vezes, quando a
falta é praticada pelos que fazem parte dos círculos dos que detêm poder e status ela é
“esquecida”: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. As tecnologias sociais do “jeitinho
brasileiro” e do “você sabe com quem está falando” reforçam esta inversão estrutural que
bloqueiam as normas e procedimentos igualitários (PAES-MACHADO, 2006, p. 165).
Adiciona-se a essas linhas, o entendimento de que a falta “esquecida” de pessoa para
pessoa (no sentido mais processual do significado) fortalece o ciclo de favores que tem
como centro, a importante lealdade e gratidão. Claro, neste contexto, lealdade e gratidão há
entre pessoas e não entre indivíduos, cujas relações que devem ser mediados pela lei.
Noronha et al (2005) ao investigar sobre disposições individuais e coletivas na
cidade de Salvador em referência à violência e criminalidade, concluiu que a insegurança
se expressava de forma desigual dependendo do espaço social analisado. Os autores
afirmaram que os lugares do medo em Salvador eram os espaços públicos, principalmente
os meios de transporte coletivo, ruas e praças. Os lugares que os entrevistados declararam
se sentir mais protegidos foram as residências, os shopping center e local de trabalho.
Entre os soteropolitanos com renda familiar baixa e renda familiar média foi possível
61
Em anexo
166
observar que os com renda baixa se sentia mais inseguros (58,4%) nos shopping centers e
nos locais de trabalho do que os de renda média (34,2%). A autora aponta nesse caso, que
shopping centers seriam espaços onde sujeitos pertencentes ás famílias com renda baixa
sofrem com efeitos práticos da estigmatização e que esse mesmo público tem maiores
chances de ter vias públicas (ruas, praças, passarelas) como o local de trabalho.
Ainda no trabalho de Noronha et al (2005) é enfatizado o papel da emoção (que
pode se aproximar dos valores relativos à casa e à pessoa que foi tratado anteriormente) na
agressividade de cada um. Foi perguntado aos soteropolitanos se eles matariam para
defender a família e para defender a casa. As respostas foram 56,2% e 31,2%,
respectivamente. Já na pergunta se “aprovariam”, “não aprovariam, mas entenderiam” e
“não aprovariam e não entenderiam” “Matar o violador da filha”, “Matar quem mantém a
comunidade sob tensão” e “Fazer “limpezas sociais”” houve as seguintes respostas como
mostra o gráfico 3.
Pensando numa escala, pode-se afirmar que “Matar o violador da filha” estaria
numa posição de forte teor de pessoalidade na relação, “Matar quem mantém a
comunidade sob tensão” estaria numa posição intermediária de pessoalidade na relação e,
por último, “Fazer limpeza social” estaria numa posição de forte impessoalidade na
relação. Constatou-se que 63% aprovaria matar o violador da filha, 57,3% aprovaria matar
quem mantém a comunidade sob tensão e 27,7% aprovaria “Fazer limpezas sociais”.
Numa aproximação com a hipótese aqui investigada, se aprovaria retirar/matar do “meu
caminho as pessoas que estão infligindo a minha ordem”.
167
De acordo com Noronha et al (2005) os atos violentos teriam múltiplas
determinações, sendo continuamente formatado por normas culturais, atitudes e discursos
dos sujeitos inseridos numa série de situação de conflito. Acrescenta-se a isto que não só
os atos violentos têm várias determinações. A maneira como se percebe, se avalia e se lida
também tem. As normas culturais, atitudes e discursos influenciam com eles nas
percepções, experiência e avaliação moral. É nesse sentido que se ressalta mais uma vez a
intenção deste trabalho, que é de investigar como as relações sociais permeadas por
favores, clientelismo, personalismo atuam sobre aquelas.
No estudo de Cruz (2010) no Aglomerado da Serra, a coesão social não seria
canalizada para uma eficácia coletiva. A hipótese do autor é que dada as especificidades
das redes pessoais existentes nestas comunidades, a coesão social não se transforma em
eficácia coletiva. No Aglomerado da Serra é possível relacionar-se bem, com o que pode
ser considerado fora da legalidade. Aliás, entrevistas mostraram que ser capaz de se
relacionar bem os vizinhos e com “os meninos do movimento” é fundamental para a
convivência pacífica na região: “respeitá-los e ser respeitado por eles” (CRUZ,
2010,p.168).
De acordo com Cruz (2011), os laços de parentescos e as relações fraternais entre
moradores e membros das gangues parecem contribuir para a redução da eficácia coletiva
no Aglomerado da Serra. Na figura 8 pode ser conferido como o autor entende ser a
configuração das relações entre os moradores e os traficantes.
168
Figura 8 – Rede de relacionamento entre Traficantes e Moradores
62
Sairam da Cidadania Hierarquizada: “V5- Quando falei em vizinhos, você pensou mais em pessoas que” ,
“A16 - Imagine que o(a)Sr(a) seja um guarda de trânsito e que ao fazer seu trabalho você multa um carro
estacionado em local proibido. Alguns minutos se passam e a pessoa que estacionou chega. Essa pessoa é
seu amiga e pede para aliviar a multa, você:” , “A8- Dona Elara mora no bairro Ondina. Dona Elara sabe
que tem um pessoal envolvido com coisas erradas, como drogas. Esse pessoal fica tranquilo, na deles e não
mexe com ninguém do bairro. Assim, ninguém do bairro mexe com esse pessoal. Esse pessoal, até certo
ponto, protege as pessoas que moram no bairro. O (a) Sr. (a) acha que essa situação” ; “A2 -Existe alguma
pessoa aqui no bairro que é conhecida como aquela pessoa que resolve problemas, como brigas entre os
vizinhos, entre jovens ou entre marido e mulher?”; “A7 - Dona Elara tem uma comadre chamada Dona
169
7.4 Mensurando “Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros” e “Controle Informal
Hierarquizado” em Feira de Santana- Ba
Maia. Dona Maia sempre morou próximo a Dona Elara. Os filhos delas cresceram juntos brincando na rua
e um na casa do outro. São como irmãos. Dona Maia e Dona Elara criaram os filhos com muita dificuldade
e sempre estavam ajudando uma a outra. José, filho de Dona Maia, está com 17 anos e está andando no
caminho errado. Dona Elara não se mete nos problemas do José. Se Dona Elara denunciá-lo á polícia ele
será preso e condenado. Dona Elara sabe que ele está errado, mas prefere ficar na dela. Então, o(a) Sr(a)
com relação a decisão de Dona Elara:”; “ A6 -Dona Maia está numa fila para ser atendida no hospital. O
atendimento está demorando. Alguém se aproxima do balcão e diz ser parente de um vereador e que não vai
mais aguardar. A pessoa então é chamada para entrar numa sala, após um tempo sai e vai embora. Dona
Maia sabe que ele foi atendido, mas não diz nada.” Com relação a atitude de Dona Maia o(a) Sr(a)”.
63
Almeida (2007), na Pesquisa Social Brasileira (PESB), que teve o objetivo de investigar, quantitativamente
temas, muitas vezes vistos como politicamente incorretos, como ética, preconceito, hierarquia, jeitinho,
corrupção, sexualidade, política dentre outros, teve como um dos principais inspiradores Roberto Da Matta.
Conforme Almeida (2007), Da Matta examina a formação social e a sociabilidade brasileira sempre com
insights, engenhosas e criativas elaborações conceituais, mas não trabalha com dados estatísticos. Almeida
(2007) na PESB buscou realizar esta tarefa.
64
Nesta tese tem se ressaltado o conceito de “jeitinho" para entender as relações e redes sociais no Brasil,
contudo, sabe-se que ele não é algo único e estanque. Dessa maneira, é prudente, por exemplo, trazer ao
170
importantes para desenhar e entender o que se chamou de cidadania hierarquizada.
Informações como se dão e qual o teor de pessoalidade das redes e relações sociais na
vizinhança, por exemplo, se tornaram fundamentais.
De acordo com a tabela 30, no momento em que foram questionados se
concordavam com a frase “viver nesse bairro é como se estivesse entre familiares”, 32,3%
declararam discordar e 64,2% enunciaram concordar com a frase; 58,9% disseram que as
pessoas que consideravam seus vizinhos são seus amigos ou são seus parentes. Ao serem
perguntados diretamente, se o entrevistado teria familiares que morassem no mesmo
bairro, 57,3% alegaram que sim. Para 73% dos entrevistados, vizinhos são as pessoas que
moram ao lado de sua casa ou na sua rua. Observa-se que os percentuais são bem próximos
entre as respostas das perguntas “se seus vizinhos são seus amigos próximos ou parentes”
(58,9%) e “se tem familiares que moram neste bairro” (57,3%). Numa mesma direção, no
estudo de Cruz (2010), vizinhança foi considerada pelos entrevistados como pessoas que
residem muito próximas, no máximo três quadras de distância, sendo às vezes, apenas o
mesmo beco considerado como vizinhança.
Ainda na tabela 30 , 29,2% dos entrevistados já deram um “jeitinho brasileiro para
alguém que more no bairro”; 22,2% já deram um “jeitinho brasileiro para alguém que não
conhecia”; 21,4% já pediram para alguém do bairro para dar um “jeitinho brasileiro para
ele” e 15,4% já pediram alguém que não conhecia para dar um “jeitinho brasileiro para
ele”.
Ao serem apresentadas situações que podem ser consideradas como jeitinho
brasileiro, perguntou-se ao entrevistado se acontecia ou não no bairro, quais sejam: 1)
48,5% declararam haver pessoas que fazem um gato/uma gambiarra de energia elétrica,
puxando um fio direto da rede elétrica para casa; 2) 66,8% afirmaram ter pessoas que pede
a um amigo que trabalha no serviço público para ajudar a tirar documento mais rápido do
que o normal; e 3) 47,2% declararam existir alguém que não seja policial, que faz a
segurança do bairro.
leitor, que de acordo com dados da PESB, jeitinho pode variar para a população brasileira entre as ideias de
favor, jeitinho e corrupção. Ora o que é o jeitinho assume uma ou outra dessas três ideias.
171
TABELA 30- Frequências e percentuais de respostas válidos aos itens do constructo Jeitinho
e Pessoalidade Brasileiros
Percentual
Frequência válido
Opinião sobre a frase: Viver neste bairro é como se Concorda 383 64,2
estivesse entre familiares. Nem concorda nem
discorda 21 3,5
Discorda 193 32,3
Total 597 100,0
Sem resposta 18
Total 615
Quando falei em vizinhos, pensou mais em pessoas Moram ao lado de sua
que casa 158 26,5
Moram na sua rua 277 46,5
Moram no seu bairro 161 27,0
Total 596 100,0
Sem resposta 19
Total 615
Essas pessoas que são SEUS VIZINHOS seus amigos Sim 351 58,9
próximos ou parentes? Não 245 41,1
Total 596 100,0
Sem resposta 19
Total 615
Tem familiares que moram neste mesmo bairro? Sim 339 57,3
Não 253 42,7
Total 592 100,0
Sem resposta 23
Total 615
Já deu jeitinho brasileiro para alguém que more aqui Sim 166 29,2
no bairro ou região próxima? Não 402 70,8
Total 568 100,0
Sem resposta 47
Total 615
Já deu jeitinho brasileiro para alguém que não Sim 126 22,2
conhecia? Não 441 77,8
Total 567 100,0
Sem resposta 48
Total 615
Já pediu para alguém aqui do bairro ou região Sim 122 21,4
próxima para dar um jeitinho brasileiro para você? Não 447 78,6
Total 569 100,0
Sem resposta 46
Total 615
Já pediu para alguém que não conhecia para dar um Sim 88 15,4
jeitinho brasileiro para você? Não 482 84,6
172
Total 570 100,0
Sem resposta 45
Total 615
No bairro há alguém que faz um gato/uma gambiarra Sim 277 48,5
de energia elétrica puxando um fio direto da rede Não 294 51,5
elétrica para a casa.
Total 571 100,0
Sem resposta 44
Total 615
No bairro há uma pessoa que pede a um amigo que Sim 379 66,8
trabalha no serviço público para ajudar a tirar um Não 188 33,2
documento mais rápido do que o normal.
Total 567 100,0
Sem resposta 48
Total 615
No bairro há alguém, que não seja policial, que faz a Sim 269 47,2
segurança do bairro. Não 301 52,8
Total 570 100,0
Sem resposta 45
Total 615
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
Foi dito na seção anterior, que Da Matta afirma ser a expressão e prática do
Jeitinho uma variável cordial e menos violenta do que o intimidador “você sabe com quem
está falando?”. Almeida (2007) também avaliou o quanto os brasileiros pensam como as
pessoas podem ser mais hierárquicas ou mais igualitárias por meio de indicadores do “você
sabe com quem está falando?”. Conforme o autor, “você sabe com quem está falando ?” é
uma forma de resolver conflitos, principalmente, entre pessoas que compartilham uma
visão de mundo hierárquica, sendo que a pessoa considerada superior será favorecida em
detrimento do indivíduo inferior na escala socioeconomica. “Você sabe com quem está
falando?” foi mensurado por Almeida (2007) por meio de questões que apontassem a
mentalidade hierárquica. A PESB foi a primeira vez que o conceito de hierarquia
encontrado na obra de Da Matta foi mensurado quantitativamente.
O constructo “Controle Social Hierarquizado” é uma releitura da categoria
“Controle Social Informal” presente na teoria da Eficácia Coletiva. Entende-se que a forma
como Controle Social Informal é trabalhado na Eficácia Coletiva, exclui as avaliações
pessoais e hierárquicas se uma pessoa ou grupo deve ser alvo do controle de uma
comunidade. Isso porque, de acordo com o que se quer investigar aqui, o direcionamento
173
do controle social informal no Brasil pode levar em consideração: quem é quem? de onde
vem? qual é a rede de relações que uma pessoa ou grupo está inserido?
Na tabela 31 estão registradas as frequências de questões que apontam a
necessidade de Controle Social Informal, mas que a depender de uma relação pessoal ou
mesmo relação hierárquica as respostas de controle ou não podem variar. A estratégia foi
apresentar situações aos entrevistados que disseram o quanto concordavam com as
afirmações. Quando perguntados se os entrevistados concordavam ou não se uma senhora,
Dona Elara, não denunciassem o filho de uma vizinha muito próxima, 60,3% afirmaram
que concordavam com a atitude dela. Na descrição da pergunta, como pode ser vista
abaixo, foram bastante enfatizadas as relações e palavras como amigos e irmãos. Já quando
a situação apresentada refere-se a um atendimento numa fila de hospital, 85,2% declararam
discordar quando Dona Maia não diz nada quando sabe que uma pessoa parente de um
vereador foi atendida na frente de outras pessoas.
Ainda na tabela 31 , 85,6% das pessoas afirmaram que acontece e acontece muito
que o pessoal que mexe com coisas erradas, como drogas, ficam tranquilos na deles e até
certo ponto protegem as pessoas que moram no bairro. No que se refere à retirada de multa
de trânsito se o dono do carro for amigo (a) , 30,4% afirmaram que retirariam a multa se
for pedido.
174
TABELA 31- Frequências e percentuais de respostas válidos aos itens do constructo Controle
Informal Hierarquizado
Frequência Percentual
válido
Vou falar de uma situação e gostaria que o(a) Sr(a) dissesse se Concordo 187 31,4
concorda, concorda em parte ou discorda. “Dona Elara tem uma
Concordo em parte 172 28,9
comadre chamada Dona Maia. Dona Maia sempre morou
próximo a Dona Elara. Os filhos delas cresceram juntos Nem concordo nem 7 1,2
brincando na rua e um na casa do outro. São como irmãos. Dona discordo
Maia e Dona Elara criaram os filhos com muita dificuldade e Discordo 229 38,5
sempre estavam ajudando uma a outra. José, filho de Dona Maia,
está com 17 anos e está andando no caminho errado. Dona Elara Total 595 100,0
não se mete nos problemas do José. Se Dona Elara denunciá-lo á
polícia ele será preso e condenado. Dona Elara sabe que ele está
errado, mas prefere ficar na dela.” Então, o(a) Sr(a) com relação
a decisão de Dona Elara:
Sem resposta 20
Total 615
Vou falar mais uma situação e gostaria que o(a) Sr(a) dissesse se Concordo 55 9,1
concorda, concorda em parte ou discorda. “Dona Maia está numa
Concordo em parte 32 5,3
fila para ser atendida no hospital. O atendimento está
demorando. Alguém se aproxima do balcão e diz ser parente de Nem concordo nem 2 ,3
um vereador e que não vai mais aguardar. A pessoa então é discordo
chamada para entrar numa sala, após um tempo sai e vai embora. Discordo 513 85,2
Dona Maia sabe que ele foi atendido, mas não diz nada.” Com
relação a atitude de Dona Maia o(a) Sr(a) Total 602 100,0
Sem resposta 13
Total 615
Vou apresentar mais uma situação e gostaria que o (a) Sr.(a) Acontece muito 305 51,9
dissesse se acha que essa situação acontece muito, acontece,
Acontece 198 33,7
acontece pouco ou não acontece. Dona Elara mora no bairro
Ondina. Dona Elara sabe que tem um pessoal envolvido com Acontece pouco 60 10,2
coisas erradas, como drogas. Esse pessoal fica tranquilo, na deles
e não mexe com ninguém do bairro. Assim, ninguém do bairro Não Acontece 25 4,3
mexe com esse pessoal. Esse pessoal, até certo ponto, protege as
pessoas que moram no bairro. O (a) Sr. (a) acha que essa Total 588 100,0
situação Sem resposta 27
Total 615
Imagine que o(a)Sr(a) seja um guarda de trânsito e que ao fazer Retira a multa 177 30,4
seu trabalho o(a)Sr(a) multa um carro estacionado em local
Não retira a multa 405 69,6
proibido. Alguns minutos se passam e a pessoa que estacionou
chega. Essa pessoa é seu amiga e pede para aliviar a multa.
O(a)Sr(a): Total 582 100,0
Sem resposta 33
Total 615
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
175
com certeza não denunciariam um parente ou amigo que tivesse sido o responsável e 37%
afirmaram que talvez denunciassem e com certeza não denunciariam um parente ou
amigo que arrombasse e roubasse uma casa quando os moradores estivessem viajando.
Em relação a um parente ou amigo ter estuprado alguém, 10,9% não denunciariam
e 7,8% talvez não denunciassem. Se o crime tiver sido um assassinato, 30,7% talvez não
denunciassem ou não denunciariam; 22,4% afirmaram não denunciar e 24,6% talvez não
denunciassem se um parente ou amigo batesse em sua namorada ou esposa. Quanto à
venda de produtos proibidos, 60 % ficam dentro do talvez denunciassem (29,6%) ou não
denunciariam (30,4%) um amigo ou parente que pratica o ato. Por último, 64% não
denunciariam (36,9%) ou talvez não (27,1%) denunciassem um parente ou amigo que
compre coisas roubadas, isso é considerado um desvio às leis de menor gravidade.
176
TABELA 32- Frequências e percentuais de respostas válidos aos itens do constructo Controle
Informal Hierarquizado
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 158 27,9
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que roubou comida de um Talvez denunciasse 209 36,9
supermercado.
Com certeza não 199 35,2
denunciaria
Total 566 100,0
Sem resposta 49
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 184 32,3
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que roubou remédio de uma Talvez denunciasse 187 32,8
farmácia
Com certeza não 199 34,9
denunciaria
Total 570 100,0
Sem resposta 45
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 277 48,6
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que atropelou uma pessoa Talvez denunciasse 176 30,9
que, depois, ficou internada no hospital.
Com certeza não 117 20,5
denunciaria
Total 570 100,0
Sem resposta 45
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 358 63,0
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que arrombou e roubou uma Talvez denunciasse 101 17,8
casa quando seus moradores estavam viajando.
Com certeza não 109 19,2
denunciaria
Total 568 100,0
Sem resposta 47
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 468 81,3
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que estuprou alguém. Talvez denunciasse 45 7,8
Com certeza não 63 10,9
denunciaria
Total 576 100,0
Sem resposta 39
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 398 69,2
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que assassinou uma pessoa. Talvez denunciasse 79 13,7
Com certeza não 98 17,0
denunciaria
Total 575 100,0
Sem resposta 40
Total 615
177
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 308 53,0
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que bate na esposa, Talvez denunciasse 143 24,6
namorada. Com certeza não 130 22,4
denunciaria
Total 581 100,0
Sem resposta 34
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 231 40,0
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que vende produtos proibidos. Talvez denunciasse 171 29,6
Com certeza não 176 30,4
denunciaria
Total 578 100,0
Sem resposta 37
Total 615
Vou mencionar várias situações em que um parente ou um amigo Com certeza 207 36,0
fez alguma coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e denunciaria
condenado: Um parente ou amigo que comprasse alguma coisa
Talvez denunciasse 156 27,1
roubada.
Com certeza não 212 36,9
denunciaria
Total 575 100,0
Sem resposta 40
Total 615
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
178
CAPÍTULO 8
179
A segunda seção tem o mesmo intuito que a primeira, contudo a teoria a ser
investigada é a Eficácia Coletiva. Dessa maneira, a hipótese secundária que será observada
neste momento é que quanto maiores os níveis de Coesão Social, Confiança e Controle
Social menores seriam os níveis de Medo e Percepção de Risco em Feira de Santana.
A terceira seção se dedicará a examinar se há relações explicativas entre os
constructos “Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros” e o “Controle Informal Hierarquizado”
com o Medo e a Percepção de Risco. A hipótese investigada é que quanto maior a presença
do “Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros” e “Controle Informal Hierarquizado” mais altos
seriam os níveis de Medo e Percepção de Risco.
Por último, a quarta seção tem como objetivo observar os efeitos indiretos que
existem sobre o Medo e a Percepção de Risco quando se relacionam todos os constructos
num único modelo de equação estrutural. Isto para que se possa investigar o quanto os
indicadores da Cidadania Hierarquizada influenciam o Medo e a Percepção de Risco. Será
possível notar, por exemplo, qual a força explicativa da Desordem Social quando
acompanhada do Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros.
Nas seções 1, 2 e 3, pondera-se sobre os efeitos diretos que os constructos
considerados independentes têm sobre o Medo e Percepção de Risco. A seção 4, embora
também se tenha o registro de efeitos diretos, a atenção será voltada aos efeitos indiretos.
Alguns estudos (SAMPSON, 1999; ABDULLAH ET AL., 2015; JEAN, 2007) se
dedicaram à integração teórica entre a Broken Windows e a Eficácia Coletiva para a
realização de seus estudos sobre o crime, a violência, o medo, risco e insegurança. Esses
estudos são fundamentais para se realizar as ponderações encontradas na seção 4 deste
capítulo.
180
próprios moradores, de observações de pesquisadores e pela mídia local. Segundo os
autores, pesquisas realizadas há décadas afirmam que a desordem influencia fortemente as
preocupações de moradores com sua segurança. Na pesquisa desenvolvida por Perkins e
Taylor (1996) eles puderam avaliar se a força da relação entre desordem e medo depende
da fonte de dados. Normalmente, os pesquisadores afirmam que as pesquisas utilizam mais
dos inquéritos com os moradores do que de outras fontes (como a observação de
pesquisadores treinados, fotografias ou filmagens). De acordo com os pesquisadores, em
meados de 1970, as pesquisas sugeriam que medo de crime era geralmente mais prevalente
do que o próprio crime e que isso poderia ser proveniente da vitimização indireta, mas
também poderia dizer respeito à influência das condições e eventos de desordem numa
comunidade. Registra-se que esse pensamento já era investigado antes da consolidação da
teoria das Janelas Quebradas. Taylor (1996) encontrou que bairros classificados com mais
desordem também eram bairros que havia maiores níveis de medo.
Perkins e Taylorv (1996) encontraram efeitos significativos das desordens físicas e
sociais sobre o medo do crime em Baltimore. Os autores chegaram à mesma conclusão
tanto via percepção dos moradores das desordens, coletada via entrevistas com
questionário, quanto via observação dos pesquisadores in loco. Também foi significativa a
associação entre desordens e medo encontrada por meio da investigação utilizando notícias
da mídia. Esses resultados permaneceram significativos mesmo os pesquisadores
controlando variáveis individuais importantes na literatura na discussão do medo como
sexo, raça, idade e vitimização.
Conforme Skogan e Maxfield (1981) citado por Abdullah et al. (2015), os
resultados encontrados por eles num modelo em que investigou como a integração social, a
desordem na comunidade e o crime podem afetar o medo, apontou que a desordem e o
crime teve efeito significativo e positivo sobre o medo, ou seja, quanto maior a desordem e
o crime maior o medo.
No Brasil, Rodrigues, Peixoto e Beato (2007) examinaram a percepção de risco de
ser roubado e agredido fisicamente na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG.
Foram eleitos para a investigação, fatores sociodemográficos, ecológicos e os fatores
decorrentes das atividades rotineiras. Uma das conclusões sugere que diferentes crimes e
locais corroboram diferenças nas percepções do risco de ser vitimado. Apenas os fatores
ecológicos e os sociodemográficos parecem influenciar na percepção de risco na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Os fatores ecológicos (características sociais e físicas
181
dos locais) podem alterar a percepção de risco e estão baseados nas teorias ecológicas
(Desorganização Social e Janelas Quebradas) do crime. Características físicas e sociais do
local, como lixo nas ruas, prédios abandonados, má iluminação das ruas, adolescentes sem
supervisão, falta de lazer apresentaram associações com o aumento da percepção de risco e
a taxa de vitimização. Ou seja, na pesquisa de Rodrigues, Peixoto e Beato (2007) variáveis
que normalmente são investigadas como sendo representantes da teoria das Janelas
Quebradas, apresentaram relação significativa com a percepção de risco de ser roubado e
ser agredido fisicamente na região metropolitana de Belo Horizonte. É importante notar
que os pesquisadores dividiram em duas categorias a percepção de risco de ser vitimado
em suas análises: a) na vizinhança e b) em outros lugares da Região Metropolitana de Belo
Horizonte. No caso da percepção de risco de ser agredido, por exemplo, não houve relação
significativa entre a variável resposta e as variáveis consideradas aqui, como
representativas da teoria das Janelas Quebradas. Já quanto à percepção de risco de ser
agredido em outros locais da RMBH, a situação foi diferente, sendo significativa a relação
com a variável “Gangue é uma questão problemática”, que é uma variável indicativa de
desordem social.
Silva e Beato Filho (2013) examinaram a associação entre o contexto do bairro e
medo do crime em Belo Horizonte. Grande parte das questões que Silva e Beato Filho
(2013) empregaram como constructo medo é utilizada nesta tese em tela como indicadora
de medo. Importa nesta seção a conclusão que eles chegaram sobre as variáveis que eles
denominaram de desordem social e desordem física. Os resultados encontrados pelos
autores indicam que desordem social (eles mesclaram ambiente social e físico) não tem
relação significativa com o medo, conforme foi operacionalizado, em Belo Horizonte.
Registra-se que esse resultado diferiu dos resultados apresentados no parágrafo anterior
sobre a percepção de risco de ser roubado e agredido em Belo Horizonte. Talvez isso seja
um apontamento de que de fato medo e percepção de risco devam ser examinados em
separado aqui no Brasil. Ou ainda que é necessário aperfeiçoar e retrabalhar a
operacionalização do constructo medo.
Borges (2011) ao desenvolver sua pesquisa sobre a influência das crenças de perigo
sobre o medo na cidade do Rio de Janeiro chegou a conclusões, conforme palavras do
próprio autor, paradoxais. A desordem social e física faz parte do que ele chama de crença
182
de que o ambiente é perigoso65. Realizando algumas ponderações, o autor trabalha com
duas questões em seus modelos de regressões ordinais para indicar medo: o quanto se sente
inseguro ao andar nas ruas do bairro onde reside durante o dia e a noite. Segundo o autor,
existiu uma relação de significância entre desordem social e física e andar nas ruas do
bairro durante a noite, contudo, quando se analisa as probabilidades de que o medo
aumente com o aumento da desordem social e física, a variação é baixa. Embora haja
variação. Já quando se analisa a regressão para andar nas ruas do bairro durante o dia, o
resultado é paradoxal: a probabilidade de uma pessoa se sentir segura ao andar nas ruas do
bairro durante o dia aumenta com o crescimento do índice de desordem social e física. Para
tentar explicar essa ambiguidade, Borges (2011) afirma que esse resultado pode ter a ver
com o conceito de desordem que as pessoas têm e com o fato de que as pessoas tendem a
defender o espaço, local onde residem.
Em Feira de Santana/BA, quanto à teoria das Janelas Quebradas, o modelo
estatístico investigado nesta tese é representado pela figura abaixo.
Desordem Percepção
Social de Risco
Desordem Medo
Física
65
Crenças de Perigo: crença de que o Ambiente é Perigoso; crença de que o Indivíduo está Desprotegido;
crença de que há Muita Violência e Criminalidade; crença de que um indivíduo é um Alvo Atrativo
183
o aumento na média do valor esperado do Medo e da Percepção de Risco. Contudo, a
influência dos constructos Desordem Física e Desordem Social não se dá de forma
homogênea sobre o Medo e a Percepção de Risco dos moradores. Por exemplo, a
Desordem Social influência em média mais a Percepção de Risco do que o Medo entre os
feirenses. Aliás, adianta-se que as três teorias aqui investigadas conseguem explicar mais a
Percepção de Risco do que o constructo relativo ao Medo.
A cada aumento de uma unidade na Desordem Física, espera-se um aumento de
0,098 na média da Percepção de Risco e aumento de 0,110 na média do constructo relativo
ao Medo. Neste caso, pode-se dizer que a maior influência da Desordem Física ocorre
sobre o Medo, embora a diferença seja muito pequena. 66
Conforme já mencionado, as questões que foram agregadas para compor o
constructo “Medo” têm aderência com sentimentos e emoções, referindo-se então a
aspectos emotivos e sensitivos. Já a categorização da “Percepção de Risco” envolve
aspectos cognitivos, referentes ao ato de perceber, saber e conhecer eventos considerados
como transgressões, crimes ou atos agressivos em seus bairros.
Segundo pesquisadores do enfoque Janelas Quebradas, quando há espaços físicos
em uma comunidade que pareçam estar abandonados, dando impressão de que não há
cuidado e vigilância, a probabilidade é que mais crimes ocorram e mais pessoas sintam
medo, insegurança e percebam riscos no dia a dia.
Já em relação à Desordem Social, a cada acréscimo de uma unidade desta,
presume-se um acréscimo 0,574 na média do constructo Percepção de Risco. Este é o
maior coeficiente ß registrado no modelo. Já o aumento de 0,229 em média ocorre na
medida do “Medo” quando se acrescenta uma unidade na medida da Desordem Social.
O constructo Desordem Social está relacionado a variáveis que indicam
incivilidades e pequenos delitos nos bairros, examinando se existem, principalmente,
abandono, falta de cuidado, vigilância e controle de crianças, jovens e adultos que se
envolvem em situações consideradas desordeiras. Incivilidades ou desordem social, assim
como a desordem física, indicam abandono, esquecimento e falta de controle, fazendo com
que crimes sejam cometidos já que não há quem cuide ou controle a desordem do bairro.
66
Todos os índices que representam cada constructo são variáveis padronizadas na média e pelo desvio.
Apresentam a média geral 0 e o desvio padrão 1.Aumentar uma unidade é sair de 0 e ir para 1 ou sair de 1 e ir
para 2.Quando se afirma, por exemplo: Já em relação à desordem social, a cada acréscimo de uma unidade
desta (1 desvio padrão), presume-se um acréscimo 0,574 (0.574 desvios padrões), na média da percepção
de risco.
184
Conforme visto na revisão de literatura, o Medo e a Percepção de Risco também sofrem a
influência da Desordem social segundo a Teoria das Janelas Quebradas e estas hipóteses
foram confirmadas na área urbana de Feira de Santana.
As informações sistematizadas na tabela 33 e no gráfico 4 afirmam a existência de
associação significativa e positiva entre Desordem Física e Social e os constructos
dependentes, o Medo e a Percepção de Risco. Em Feira de Santana, quanto maior a
presença de pessoas vivendo ou dormindo nas ruas; crianças, adolescentes ou adultos se
prostituindo nas ruas; pessoas jogando ou apostando dinheiro em jogos como jogo do
bicho ou briga de galo; pessoas fazendo xixi, cocô, praticando atos obscenos nas ruas;
indivíduos quebrando janelas, pichando muros, fazendo arruaça ou destruindo
equipamentos coletivos; e a existência de grupos ou pessoas que brigam por conta do
controle da rua ou espaços nos bairros, maior é o Medo e a Percepção de Risco relativos à
vitimização por crimes e violências intencionais.
A variabilidade da Percepção de Risco na área urbana de Feira de Santana é
explicada em 34,3% (R2)67 pela Desordem Social e pela Desordem Física juntas. Esta
combinação é responsável pela variabilidade em 6,7% (R2) da variabilidade do Medo.
Nesse sentido, conclui-se que a Teoria das Janelas Quebradas tem maior poder explicativo
sobre a Percepção de Risco do que sobre o Medo, já que o percentual do R2 apresentado é
maior para a explicação da Percepção de Risco do que sobre o Medo.
67
Para verificar a qualidade dos ajustes foram utilizados o R2 e o GoF (AMATO, ESPOSITOVINZi e TENENHAUS
2004). O R2 representa em uma escala de 0% a 100% o quanto os constructos independentes explicam os dependentes,
sendo que quanto mais próximo de 100% melhor. Já o GoF é uma média geométrica da média das AVEs dos construtos e
a média dos R² do modelo e também varia de 0% a 100%. Ainda não existe na literatura valores de corte para considerar
um ajuste como bom ou ruim, mas sabe-se que quanto maior o valor melhor o ajuste.
185
Todos os intervalos de confiança, não tendo algum valor que passa pelo zero,
demonstram que os resultados do ß são válidos para toda a amostra e quaisquer outras
amostras que possam ser retiradas da população pesquisada. Por exemplo, o valor do ß da
associação Desordem Social e Percepção de Risco é de 0,574, podendo variar em outra
amostra da população entre os valores 0,527 a 0,632.
68
Detalhes no capítulo 4 deste trabalho.
186
altos em todas as regiões. A pior avaliação (ruim e não ter) nas regiões, com valor médio
de 80%, foi da questão “oferta de equipamentos coletivos como orelhões e lixeiras”. A
questão “Os locais de esporte, cultura e lazer” também assinalou alta soma dos valores
“ruim e não tem”, com percentuais girando em torno de 70%.
Ao comparar as regiões dos bairros de Feira de Santana, por meio das tabelas 34 e
35, percebe-se que parece haver maior oscilação das percentagens das questões
representantes da Desordem Social do que da Desordem Física, especialmente de forma
ascendente da Região 1 para a Região 4. A questão que mais apresentou variação
percentual foi “Pessoas jogando ou apostando dinheiro em jogos como jogo do bicho, briga
de galo, carteado” com 30,9% a mais na região 4 em comparação com a Região 1. Na
tabela 35, apenas uma questão não apresentou ascendência da Região 1 para a Região 4:
“Pessoas vivendo ou dormindo nas ruas”. Todas as outras questões apresentaram menores
níveis na região em relação a Região 4. O maior percentual registrado foi na Região 2, com
41,4% das respostas que sim. A Região 1 assinalou 28,6% e a Região 4 apresentou 27,7%
de mendigos nas ruas.
Verifica-se que a relação mais intensa encontrada no modelo rodado se da entre
Desordem Social e Percepção de Risco, sendo também que foram estes dois indicadores
que apresentaram maior oscilação percentual nas diferentes regiões de Feira de Santana em
comparação com a Desordem Física e o Medo. Estes índices últimos atingem de forma
menos desigual diferentes bairros.
187
Tabela 34 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de Desordem Física segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo
de equações estruturais
188
Tabela 35 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de Desordem Social segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo
de equações estruturais
4- Pessoas fazendo xixi, cocô, praticando Sim 20,8 37,3 32,3 36,8
atos obscenos ou indecentes na rua. Não
79,2 62,7 67,7 63,2
Nível 2 Nível 4 Nível 4 Nível 4
5- Pessoas quebrando janelas, pichando Sim 8,3 22,7 24,2 26,4
muros, fazendo arruaça ou destruindo Não
equipamentos coletivos como orelhões,
91,7 77,3 75,8 73,6
placas de rua, postes de luz, lixeiras
Uma das hipóteses examinadas nesta pesquisa é de que quanto maiores os níveis de
Coesão Social, Confiança e Controle Social menores seriam os níveis de Medo e
Percepção de Risco, relacionados ao crime e violências interpessoais em Feira de Santana.
Segue modelo estatístico investigado referente à teoria da Eficácia Coletiva.
189
Figura 10- Formulação hipotética da teoria da Eficácia Coletiva
Coesão Social
Percepção de
Risco
Confiança
Medo
Controle
Informnal
190
examinada nesta tese. A Coesão Social apresentou resultado inverso do esperado e
Controle Social Informal não apresentou relação significativa.
No que se refere à variabilidade explicativa, a Eficácia Coletiva por meio dos
constructos Coesão Social, Confiança e Controle Social Informal, considerados em
conjunto, podem explicar 12% da variação da Percepção de Risco em Feira de
Santana/BA, que é menor do que o percentual encontrado nos constructos da teoria das
Janelas Quebradas, 34,3%.
Além de não ter associação significativa com a Percepção de Risco, o Controle
Social também não têm influência significativa sobre a média encontrada para o constructo
Medo, tendo 0,089 como valor-p. A Coesão Social também não apresentou relação de
significância com o Medo do crime. O valor-p foi de 0,408. A Confiança foi a única que
apontou associação significativa sobre o Medo: a associação é negativa. Ou seja, quanto
maior a Confiança menor o Medo e a cada acréscimo de uma unidade de Confiança há uma
redução de 0,219 na média do Medo.
Dos constructos que representam a Teoria da Eficácia Coletiva, Confiança foi o
único constructo que confirmou a hipótese investigada nesta tese. Tanto a Percepção de
Risco quanto o Medo caem em média quando aumenta a Confiança. Controle Social
Informal e Coesão Social não confirmaram a hipótese sobre o papel explicativo da
variabilidade da Percepção de Risco e do Medo. Controle Social não apresentou associação
significativa nem com a Percepção de Risco nem com o Medo. Coesão Social não está
associada ao Medo, mas apresentou uma relação que, de acordo com a teoria da Eficácia
Coletiva, pode ser entendida como ambígua: quanto maior a Coesão Social maior a
Percepção de Risco em Feira de Santana/BA. Uma possível explicação desse resultado é
que devido à maior Coesão Social, há troca e intercâmbio de informações sobre crimes e
violências e, isso elevaria a Percepção de Risco. A Coesão Social, Confiança e o Controle
Social Informal explicaram juntos 6,1% do Medo. Isto é metade do percentual que os três
constructos explicaram a Percepção de Risco. Ao comparar os coeficientes ß do modelo de
equação estrutural no gráfico 5, conclui-se que a Eficácia Coletiva tem mais poder de
explicação quando o constructo dependente é “Percepção de Risco” e não o “Medo”.
Dos três constructos elaborados para a Eficácia Coletiva, Coesão Social e
Confiança possibilitam e potencializam que as pessoas tenham disposição em intervir em
questões coletivas com valores comuns compartilhados. A Eficácia Coletiva é uma medida
que fala sobre a organização social de uma vizinhança por meio da propensão e objetivo
191
em intervir sobre os comportamentos desviantes sob condição de confiança mútua e
coesão. Essa intervenção é caracterizada por meio do constructo Controle Social Informal,
que não teve qualquer relação de significância em Feira de Santana/Ba com a Percepção de
Risco e com o Medo. Pode-se afirmar que no caso aqui examinado, Controle Social
Informal em Feira de Santana não atuam conjuntamente com a Confiança e a Coesão
Social para reduzirem a Percepção de Risco e o Medo.
Destaca-se que nas elaborações dos teóricos da Eficácia Coletiva, confiança, coesão
social e controle informal deveriam compor uma única variável, tendo dessa maneira, que
estarem correlacionadas entre si. Ocorre que os dados de Feira de Santana, no modelo
proposto, não assumiram essa correlação, apresentando-se como dimensões diferentes e
independentes. Isso possibilita dizer, por exemplo, que o Controle Social Informal tem
outras explicações que não a Confiança e a Coesão Social. Essa mesma conclusão foi
encontrada em outros trabalhos no Brasil. Uma das hipóteses trabalhada por essas
pesquisas é que, o nível de confiança nas instituições externas à localidade, como a
confiança na polícia, pode influenciar no controle social informal numa região. Claro,
assumindo confiança e coesão sempre como importantes no processo.
Relembrando, o controle social informal na Eficácia Coletiva é indicado por
questões que indagam sobre a capacidade e habilidade da comunidade em intervir em
situações consideradas de risco, de desrespeito e de violência, por exemplo. Se o
entrevistado intervém ou aconselha quando uma criança, jovem ou adulto do bairro
desrespeita outra pessoa na rua e se pode contar com vizinhos para resolver brigas e
conflitos foram as questões que mensuraram o controle social informal.
No que concerne ao constructo Coesão Social, as variáveis indicaram sentimentos
de pertença das pessoas à localidade. As perguntas que indicaram essa categoria são
referentes a hábitos e práticas em que pessoas sentem-se partícipes da vida social local e
estabelecem laços de reciprocidade. Por exemplo, se há festas de rua ou eventos
organizados por vizinhos, encontros com amigos em bares, clubes, reuniões ou conversas
em casas de vizinhos, se um vizinho pode contar com o outro em casos de doenças ou
outras circunstâncias adversas. De acordo com a Eficácia Coletiva, comunidades coesas
socialmente tendem a ser mais seguras, oferecendo menos riscos aos moradores. Isto
porque a Coesão Social aumenta a possibilidade de que as pessoas compartilhem valores
comuns e possam intervir em melhorias no seu bairro.
192
Tabela 36– Influências da teoria da Eficácia Coletiva sobre o Medo e Percepção de
Risco (Equações estruturais)
Percepção Risco Controle social 0,048 0,045 0,285 [-0,065; 0,149] 12,0%
Assim como na seção anterior, seguem nas tabelas 37, 38, 39 as frequências
percentuais distribuídas nas diferentes regiões de Feira de Santana que demonstram as
variáveis que em conjunto formaram no modelo rodado os índices Coesão Social,
Confiança e Controle Social Informal.
Verifica-se na tabela 37 que cada questão componente do índice Coesão Social
varia no máximo em 15,9% de uma região para outra. Ressalta-se que não há ascendência
ou descendência dos percentuais entre as regiões com maior ou menor presença de pessoas
193
em situações mais favoráveis economicamente. Considera-se então que Coesão Social se
distribui em todas as regiões de forma mais homogênea do que heterogênea. A questão que
representou o maior nível de classificação, nível 8 e 9 de Coesão social, foi a que indaga se
o entrevistado poderia ou não contar com um vizinho num caso de problema de saúde. Os
níveis mais baixos de Coesão Social nas questões da tabela 37 são aqueles vinculados às
questões que indagam não sobre a disposição em auxiliar o vizinho, mas sobre a ocorrência
de fato de um vizinho ter pedido auxílio em algumas situações, níveis 1 e 2.
Conforme pode ser visto na tabela 37, a média do percentual de participação em
atividades coletivas que indiquem Coesão Social nas quatro regiões é de 40%. Já a média
de auxílios em que se pode contar com os vizinhos é de 68% nas regiões. Quanto a média
de vizinhos que de fato pediram ajuda é de 14%.
194
Tabela 37 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de Coesão Social segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais
Variáveis Categorias Região 1 Região 2 Região 3 Região 4
respostas
1- Festas de rua ou eventos Costuma
36,0 39,3 44,9 34,7
organizados por vizinhos como Participar
churrascos, festas juninas, assistir a Não costuma
56,0 57,8 52,8 57,4
jogos com a vizinhança (Bloco 1) participar
Não tem 8,0 3,0 2,4 7,9
Nível 4 Nível 4 Nível 5 Nível 4
2- Reuniões, conversas ou encontros Costuma
36,0 44,4 51,9 44,8
na casa de vizinhos (Bloco 1) Participar
Não costuma
64,0 54,9 46,5 54,2
participar
Não tem ,8 1,6 1,1
Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 5
3- Encontros e reuniões com amigos Costuma
40,8 41,8 41,3 35,4
em bares, clubes, lanchonetes, Participar
campos de futebol. (Bloco 1) Não costuma
59,2 57,5 55,6 63,2
participar
Não tem ,7 3,2 1,4
Nível 4 Nível 5 Nível 5 Nível 4
4- Poderia contar com vizinhos para Poderia contar 79,6 89,5 80,2 82,7
auxiliar em caso de doença ou Não poderia
20,4 10,5 19,8 17,3
problema de saúde. (Bloco 2) contar
Nível 8 Nível 9 Nível 8 Nível 9
5- Poderia contar com vizinhos para Poderia contar 60,4 63,6 58,2 59,6
cuidar de alguém (criança, idoso, Não poderia
39,6 36,4 41,8 40,4
doente, pessoa contar
com necessidades especiais, etc). Nível 6 Nível 6
(Bloco 2) Nível 6 Nível 7
6- Poderia contar com vizinhos para Poderia contar 59,2 61,8 63,6 58,0
pedir alimento ou objetos Não poderia
40,8 38,2 36,4 42,0
emprestados. (Bloco 2) contar
Nível 6 Nível 7 Nível 7 Nível 6
7- Vizinho costuma pedir alimento Frequentemente 18,0 14,8 15,1 20,6
ou objetos emprestados.(Bloco 3) Raramente 38,0 45,9 47,6 40,8
Vizinho nunca
44,0 39,3 37,3 38,6
pediu ajuda
Nível 2 Nível 2 Nível 2 Nível 2
8- Vizinho costuma pedir auxílio em Frequentemente 6,0 11,2 17,5 15,5
caso de doença ou problema de Raramente 52,0 58,2 44,4 45,1
saúde (Bloco 3) Vizinho nunca
42,0 30,6 38,1 39,4
pediu ajuda
Nível 1 Nível 2 Nível 2 Nível 2
9- Vizinho costuma pedir para Frequentemente 12,0 10,4 15,0 9,0
cuidar de alguém (criança, idoso, Raramente 22,0 29,9 26,7 28,2
pessoa com necessidades especiais, Vizinho nunca
66,0 59,7 58,3 62,8
etc). (Bloco 3) pediu ajuda
Nível 2 Nível 1 Nível 2 Nível 1
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
195
Na tabela 38 as questões que ajustaram o índice Controle Informal no modelo
rodado também não exibiram grandes oscilações entre as regiões. Os percentuais, como
podem ser observados abaixo estão classificados em cada região em um nível de diferença.
Na primeira, três regiões estão no nível 7 e na segunda há duas questões no nível 4 e duas
no nível 5. Nas quatro regiões, a média de respostas que indicam controle informal com as
variáveis utilizadas no modelo está acima de 50%.
196
Tabela 39 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de Confiança segundo regiões em Feira de Santana/BA no modelo de
equações estruturais
Jeitinho e
Percepção
Pessoalidade
de Risco
Brasileiros
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
197
Pode-se afirmar, em conformidade com a tabela 40 e o gráfico 6, que a Cidadania
Hierarquizada teve mais poder explicativo sobre a “Percepção de Risco” do que em relação
ao “Medo”. Tanto o “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” quanto o “Controle Social
Hierarquizado” mostraram-se significativamente associados à “Percepção de Risco”.
À medida do aumento de cada unidade do “Jeitinho e pessoalidade brasileiros”,
acrescenta–se 0,368 na média da “Percepção de Risco”. Quando se acrescenta uma unidade
de Controle Social Hierarquizado há o aumento de 0,108 na média da “Percepção de
Risco”.
No tocante ao constructo “Medo”, o poder de explicação da Cidadania
Hierarquizada foi menor do que sobre a “Percepção de Risco”. Primeiramente, Controle
Social Hierarquizado não tem qualquer associação significativa com “Medo”, tendo
registrado valor-p de 0,282. Já o “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” apresentaram
associação significativa positiva: a cada aumento de uma unidade do Jeitinho, aumenta-se
0,111 na média do “Medo”.
Consoante com as ponderações realizadas no decorrer desta tese, a Cidadania
Hierarquizada aqui mensurada via indicadores do “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” e do
“Controle Social Hierarquizado” podem influenciar os níveis de “Medo do crime” e a
“Percepção de Risco”. Levantar esta possibilidade coloca este trabalho numa posição de
relacionar particularidades do desenvolvimento da cidadania no Brasil a um contexto
urbano que pode ser sentido e percebido como violento e criminoso.
Mesmo diante de tantas posições convergentes e conflitantes acerca da cidadania
no Brasil, é notório que a consolidação da mesma ainda tem um longo caminho para
percorrer quando o fato é fazer com que a liberdade, a participação e a igualdade possam
melhorar a qualidade de vida das pessoas, dos bairros, das cidades, enfim, do país.
Ao se trabalhar com “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” e com o conceito de
“Controle Social Hierarquizado” se quer destacar o papel e a influência que as redes
familiares, de favores e de amizade com teor pessoalizado e hierarquizado podem ter na
sociedade, na política, nas relações e nas instituições. O fato é que a melhoria nas
condições de vida que poderiam ser alcançadas via participação coletiva em arenas de
discussão e deliberação, podem ser expostas, dificultadas e até desvirtuadas pelos
meandros da pessoalidade, do clientelismo, estadadania e do patriarcalismo. Nesse sentido,
melhorias físicas, sociais, culturais, econômicas que poderiam reduzir o medo, Percepção
de Risco e crimes cometidos numa região, podem ser descaracterizadas por interesses
198
pessoais e/ou de alguns grupos. Alguns dados sobre isto poderão ser vistos na próxima
seção.
Dessa forma, quanto mais intenso o “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” e o
“Controle Social Hierarquizado”, pior o indicativo de que objetivos e projetos coletivos
possam se consolidar, dadas as fortes interferências pessoais e interesses de grupos
restritos. Consequentemente, maiores podem ser os índices criminais, o Medo e a
Percepção de Risco.
Uma comunidade onde o “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” e o “Controle
Social Hierarquizado” se fazem muito presentes, pode dificultar, por exemplo, que
processos de negociação e resolução de conflitos se façam por meio dos princípios de
igualdade, participação e liberdade, compartilhando valores comuns.
Neste estudo, “Jeitinho e Pessoalidade brasileiros” e “Controle Social
Hierarquizado” conseguiram explicar 14,3% da variabilidade da “Percepção de Risco” e
4,6% do “Medo”. Destaca-se que esse percentual relacionado à Percepção de Risco foi
maior do que o apresentado pela teoria da Eficácia Coletiva sobre a “Percepção de Risco”,
12%.
199
Gráfico 6- Representação dos resultados das hipóteses da teoria da Cidadania
Hierarquizada
200
Tabela 41 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de “Jeitinho e pessoalidade brasileiros” segundo regiões em Feira de
Santana/BA no modelo de equações estruturais
Variáveis Categorias Região 1 Região 2 Região 3 Região 4
respostas
1 - Já deu jeitinho brasileiro para alguém Sim 22,4 32,5 23,9 32,0
que more aqui no bairro ou região Não 77,6 67,5 76,1 68,0
próxima.(Bloco 1) Nível 4
Nível 3 Nível 4 Nível 3
2- Já deu jeitinho brasileiro para alguém que Sim 16,3 25,2 17,1 24,6
não conhecia. (Bloco 1) Não 83,7 74,8 82,9 75,4
Nível 2 Nível 3 Nível 2 Nível 3
3- Já pediu para alguém aqui do bairro ou Sim 12,2 23,4 17,1 24,2
região próxima para dar um jeitinho
brasileiro para o(a) Sr. (a). (Bloco 1) Não 87,8 76,6 82,9 75,8
4- Já pediu para alguém que não conhecia Sim 12,2 19,5 13,7 15,0
para dar um jeitinho brasileiro para o(a) Sr.
(a). (Bloco 1) Não 87,8 80,5 86,3 85,0
5- Alguém que faz um gato/uma gambiarra Sim 27,7 40,0 49,2 57,1
de energia elétrica, puxando um fio direto da
rede elétrica para a casa.(Bloco 2) Não 72,3 60,0 50,8 42,9
.
Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6
6- Uma pessoa que pede a um amigo que Sim 69,6 68,2 64,8 67,2
trabalha no serviço público para ajudar a
tirar um documento mais rápido do que o Não 30,4 31,8 35,2 32,8
normal (Bloco 2)
Nível 7 Nível 7 Nível 7 Nível 7
7- Alguém, que não seja policial, que faz a Sim 31,9 56,0 41,5 48,1
segurança do bairro. (Bloco 2)
Não 68,1 44,0 58,5 51,9
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
201
Tabela 42 - Percentual válido das variáveis independentes utilizadas como
indicadoras de Controle Informal Hierarquizado segundo regiões em Feira de
Santana/BA no modelo de equações estruturais
Variáveis Categorias Região 1 Região 2 Região 3 Região 4
respostas
1-Um parente ou amigo que roubou comida Com certeza
20,8 25,2 28,9 30,0
de um supermercado. denunciaria
Talvez denunciasse 50,0 39,4 33,9 34,6
Com certeza não
29,2 35,4 37,2 35,4
denunciaria
Nível 8 Nível 8 Nível 8 Nível 7
2- Um parente ou amigo que roubou Com certeza
25,0 32,3 34,7 32,6
remédio de uma farmácia. denunciaria
Talvez denunciasse 37,5 34,6 29,8 32,2
Com certeza não
37,5 33,1 35,5 35,2
denunciaria
Nível 8 Nível 7 Nível 7 Nível 7
3- Um parente ou amigo que atropelou uma Com certeza
58,3 44,9 47,5 49,0
pessoa que, depois, ficou internada no denunciaria
hospital. Talvez denunciasse 31,3 31,5 30,3 31,2
Com certeza não
10,4 23,6 22,1 19,8
denunciaria
Nível 5 Nível 6 Nível 6 Nível 6
4- Um parente ou amigo que arrombou e Com certeza
74,5 61,9 59,7 62,1
roubou uma casa quando seus moradores denunciaria
estavam viajando. Talvez denunciasse 14,9 21,4 16,9 17,2
Com certeza não
10,6 16,7 23,4 20,7
denunciaria
Nível 3 Nível 4 Nível 4 Nível 4
5-Um parente ou amigo que estuprou Com certeza
83,7 85,4 77,6 80,2
alguém. denunciaria
Talvez denunciasse 6,1 6,2 10,4 7,6
Com certeza não
10,2 8,5 12,0 12,2
denunciaria
Nível 3 Nível 2
Nível 2 Nível 2
202
8.4 Integrando os arcabouços teóricos: influências indiretas da Cidadania
Hierarquizada sobre o Medo e a Percepção de Risco.
203
No que diz respeito aos dados sobre as correlações ou não entre os constructos das
três teorias em exame, primeiramente, serão enfatizadas quais correlações foram
significativas nas relações entre os constructos da Teoria das Janelas Quebradas com a
Eficácia Coletiva.
Percebe-se, de acordo com a tabela 43, que Desordem Social (ß:0,020; p valor:
0,712) e Desordem Física (ß:-0,030; p valor: 0,545) não estão correlacionados com o
Controle Social Informal. Ou seja, entre eles não existem algo que os expliquem
mutuamente em algum sentido. Não importa o quanto há de Desordem Física e Social em
Feira de Santana o Controle Social Informal se comporta da mesma forma e vice e versa. O
Controle Social Informal parece se constituir como um indicador a ser mais bem
investigado em outros momentos e via outras metodologias e relações. Ressalta-se que no
modelo estrutural discutido na seção 3 em que se examinou a influência da Eficácia
Coletiva sobre o Medo e a Percepção de Risco, Controle Social Informal, entre Coesão
Social e Confiança, foi o que demonstrou menor poder explicativo para as variáveis
dependentes neste estudo. Indicando consistência entre os resultados encontrados, no
modelo estrutural desta seção 4 em que as teorias investigadas nesta tese foram integradas
num único modelo, Controle Social também não explicou em alguma medida o Medo e a
Percepção de Risco.
Já no que se refere à Coesão Social, tanto a Desordem Física (ß:0,100; p valor:
0,019) quanto a Desordem Social (ß:0,200; p valor: 0,000) estão correlacionados
positivamente. Ou seja, pode-se afirmar que quanto maior a Desordem Social e Física
maior também é a Coesão Social entre as pessoas. Uma possível explicação para esse dado
é que diante de tantas dificuldades sociais e físicas, a Coesão Social é uma das estratégias
adotadas pela população de Feira de Santana/BA para lidar com os problemas.
Ao mesmo tempo, as relações da Desordem Social e Física não se dão da mesma
maneira com o indicador Confiança. Desordem Social e Física e Confiança estão
correlacionados, mas de forma inversa. À medida que se tem mais Desordem Social (ß:-
0,200; p valor: 0,000) e Física (ß:-0,100; p valor: 0,020), menor é a Confiança encontrada
em os vizinhos.
Na tabela 43, ao se observar a correlação entre os indicadores da Cidadania
Hierarquizada e Eficácia Coletiva tem-se que à medida que cresce o Jeitinho e
pessoalidade brasileiros há o aumento da Coesão Social (ß:0,270; p valor: 0,000), já que
estão correlacionados positivamente. O mesmo ocorre com o Controle Social Informal
204
(ß:0,180; p valor: 0,000). Quanto maior o Jeitinho e Pessoalidade maior o Controle Social
Informal. Não existe correlação entre o indicador Jeitinho e pessoalidade e o indicador
Confiança (ß:-0,010; p valor: 0,850).
Ainda referente à relação entre os indicadores da Cidadania Hierarquizada e da
Eficácia Coletiva, na tabela 43 verifica-se que não há correlação significativa entre
Controle Social Hierarquizado e Coesão Social (ß:-0,040; p valor: 0,314). Interessante
notar que houve correlação negativa entre Controle Social Hierarquizado e Controle Social
(ß:-0,170; p valor: 0,000). Nesse sentido, quanto maior um menor o outro. Essa conclusão
pode apontar que o Controle Social quando é hierarquizado, ou seja, realiza-se a depender
de que tipo de relações de proximidade pode interferir no Controle Social Informal. Se o
Controle Social depende se o comportamento desviante vem ou não de um amigo ou
parente, faz com que o Controle Social caminhe numa direção contrária. Por exemplo, se
um jovem desrespeita pessoas na rua e não é abordado ou impedido de fazer isso por ser
filho, sobrinho ou amigo de alguém, o Controle Social naquela região sofre interferência
de uma lógica pessoalista. Não houve correlação estatisticamente significativa entre
Controle Social Hierarquizado e Confiança (ß:-0,040; p valor: 0,343).
Agora, serão apresentadas as correlações entre os constructos da teoria Cidadania
Hierarquizada e os constructos da teoria das Janelas Quebradas. O constructo Jeitinho e
pessoalidade brasileiros não tem correlação com Desordem Física (ß:-0,010; p valor:
0,740), mas tem correlação positiva com Desordem Social (ß:0,300; p valor: 0,000).
Quanto maior o Jeitinho e Pessoalidade maior a Desordem Social a ser encontrada e vice e
versa. Controle Social Hierarquizado também não tem correlação com Desordem Física
(ß:0,000; p valor: 0,923). Já com a Desordem Social a correlação encontrada é positiva
(ß:0,120; p valor: 0,006). Quanto maior o Controle Social Hierarquizado maior a
Desordem Social e vice e versa.
As correlações apresentadas nos parágrafos anteriores importam para indicar se há
alguma correlação e se ela é positiva ou negativa, mas não possibilita dizer sobre o efeito
que um constructo tem sobre o outro. O que irá possibilitar esse exame são as análises do
modelo de equação estrutural para investigar os resultados da integração entre todos os
constructos independentes com os dois constructos dependentes, Medo e Percepção de
Risco, conforme pode ser visto no gráfico 7.
205
Tabela 43– Matriz de Correlação entre os indicadores
Jeitinho e
Matriz de correlação Controle Desordem Desordem Coesão Controle Confiança Percepção
pessoalidade
hierarquizado física social Social social risco
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
De acordo com a proposta a ser investigada nesta seção 4, o exposto nas tabelas 45
e 46 tem o objetivo de possibilitar o exame dos efeitos indiretos que os indicadores da
Cidadania Hierarquizada tenham sobre o Medo e Percepção de Risco na área urbana de
206
Feira de Santana/BA. As informações sobre os efeitos indiretos estão apresentadas na
tabela 46.
Os dados que se destacam mais à frente, nas tabelas 45 e 46 e no gráfico 7, são as
associações entre os constructos da Cidadania Hierarquizada com a Desordem Social. Isto
porque a Desordem Social foi o constructo que mais teve poder explicativo nos modelos de
equações estruturais rodados. Daí destaca-se a indagação: os constructos da Cidadania
Hierarquizada influenciariam a Desordem Social? Tanto na matriz de correlação quanto no
modelo de equação estrutural, percebe-se a influência da Cidadania Hierarquizada na
Desordem Social.
Assim como nos modelos de equações estruturais em separado expostos nas seções
1, 2 e 3, a Teoria das Janelas Quebradas, especificamente o constructo Desordem Social foi
o que apresentou maior poder explicativo também quando integradas todas as teorias num
único modelo para entender Medo e Percepção de Risco.
No gráfico 7, a cada unidade de Desordem Social, tem-se o aumento médio de
0,473 na Percepção de Risco na área urbana de Feira de Santana/BA; e a cada unidade do
Jeitinho e Pessoalidade brasileiros tem-se o aumento médio de 0,303 de Desordem Social.
Isto possibilita dizer que a ordem social69 dos bairros sofre interferência da lógica
personalista e hierarquizante que perpassa nas relações sociais entre brasileiros segundo as
teorias já discutidas no capítulo 7.
Na tabela 46, além de também apresentar os efeitos diretos das relações entre os
constructos foram calculados os efeitos indiretos que existem no modelo de equação
estrutural. O Jeitinho e pessoalidade brasileiros se apresentou como o segundo constructo
com mais poder explicativo para entender a Percepção de Risco. Diretamente, Jeitinho e
pessoalidade brasileiros tem efeito de 0,171 sobre a Percepção de Risco, contudo, o efeito
total, somando efeito direto e indireto, do Jeitinho e Pessoalidade brasileiros sobre a
Percepção de Risco é de 0,355. Pode-se afirmar então que a cada unidade de aumento do
Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros têm-se o aumento de 0,355 na Percepção de Risco.
69
Conforme a teoria das Janelas Quebradas
207
Tabela 45 – Influências após a integração dos indicadores dos três arcabouços
teóricos. (Equações Estruturais -método Backward70 de seleção de variáveis)
Percepção Risco Desordem social 0,473 0,036 0,000 [0,401; 0,534] 40,1%
GoF = 27,8%
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de
Santana/Ba - GPECS/UFRB 2012
70
O método backward é um método muito utilizado para seleção de variáveis, sendo seu procedimento bem
simples: Retirar, por vez, as variáveis com maior valor-p que não apresentaram influências significativas
sobre a resposta de interesse, sendo que esse procedimento é repetido até que restem no modelo somente as
variáveis significativas
208
Gráfico 7 – Representação dos resultados da integração entre as teorias Janelas
Quebradas, Eficácia Coletiva e Cidadania Hierarquizada -método Backward para
seleção das variáveis
209
Tabela 46- Análise dos efeitos totais sobre o modelo integrado
Efeitos
Relações
Direto Indireto Total
É possível encontrar outros estudos que fazem uso da análise dos efeitos indiretos
em investigações sobre violência, medo, criminalidade e insegurança em outros países
(ABDULLAH et aL (2015); LAGRANGE et al (1992)) e também utilizam da integração
de componentes de diferentes teorias, Eficácia Coletiva e Janelas Quebradas para explicar
o medo (TAYLOR,1996). No Brasil se tem conhecimento sobre o uso da análise de efeitos
indiretos em apenas um estudo (RODRIGUES e OLIVEIRA, 2012). Sem levar em
consideração efeitos indiretos, Silva e Beato (2013) observou, dentre outros constructos
independentes, como se comportam o controle social, coesão social, confiança (Eficácia
210
Coletiva) e desordem social (Janelas Quebradas) num único modelo de regressão para
entendimento do medo em Belo Horizonte. Uma das conclusões é que a introdução no
modelo estatístico de componentes da eficácia coletiva, especialmente a coesão social,
mudou a relação significativa que existia entre taxa de crime violento e medo.
211
Abdullah et al. (2015) indaga porque mesmo em comunidades semelhantes, uma
pode registrar mais medo do que em outra. Os autores lembram Wilson e Kelling (1982)
que afirmam que num bairro as incivilidades podem parecer mais desagradáveis do que em
outros bairros. Contudo Abdullah et al. (2015) questionam que os níveis de medo
diferenciados podem estar no baixo ou alto controle social e desordem. É evidente que as
duas teorias em tela são a teoria das Janelas Quebradas e a Eficácia Coletiva. Abdullah et
al. (2015) constatam a presença limitada de estudos que relacionam a teoria das Janelas
Quebradas, a Eficácia Coletiva e o medo.
LaGrange et al. (1992) citado por Abdullah et al (2015) testaram a tese das
incivilidades (Janelas Quebradas) no contexto dos Estados Unidos e encontraram um efeito
indireto de sinais de desordem sobre o medo do crime através de risco percebido. Segundo
Abdullah et al (2015) LaGrange et al (1992) lança luz sobre o debate da relação entre os
componentes da Eficácia Coletiva da Janelas Quebradas e o medo do crime em diferentes
países, especialmente, no caso deles em países não ocidentais.
As hipóteses investigadas por Abdullah et al. (2015) são: 1- existe uma relação
negativa entre a desordem percebida e a eficácia coletiva; 2- existe uma relação negativa
entre a eficácia coletiva e o medo do crime; 3- a eficácia coletiva medeia a relação entre
desordem percebida e medo do crime. Assim como nesta tese em tela, Abdullah et al
(2015) também utilizou a modelagem de equações estruturais (PLS) para examinar suas
hipóteses.
Abdullahet al. (2015) afirma que a teoria das Janelas Quebradas postula que sinais
de desordem podem aumentar o crime e o medo. Isto se daria tanto diretamente quanto
indiretamente. Os pesquisadores afirmam a necessidade de se investigar, não só os efeitos
diretos da desordem sobre o medo do crime, mas também, examinar o efeito indireto da
percepção de incivilidades e desordens sobre o medo do crime. Esse último foco de
investigação é limitado, especialmente em países em desenvolvimento.
O objetivo da pesquisa de Abdullah et al. (2015) é avaliar a relação indireta entre a
desordem percebida (Janelas Quebradas) e o medo através da Eficácia Coletiva. Importa
investigar a influência das condições físicas e sociais do bairro na eficácia coletiva e no
medo em um contexto não ocidental. Os autores concluíram que a percepção de desordem
está associada negativamente com a eficácia coletiva (quanto maior a desordem menor
seria a eficácia coletiva); a alta eficácia coletiva está associada com baixos níveis de medo
212
do crime; e que há um efeito significativo e indireto da desordem no medo do crime por
meio da eficácia coletiva. A conclusão é que no contexto da Malásia, onde a pesquisa foi
realizada, as condições ambientais e as interações são importantes para entender o medo do
crime.
213
CONSIDERAÇÕES FINAIS
214
bairros menos vulneráveis. Os crimes violentos letais são em geral aqueles que mais
causam comoção social e, 63% dos entrevistados disseram saber que pessoas são mortas
por arma de fogo em seus bairros residenciais.
Para o exame do Medo e da Percepção de Risco nesta tese, além do trabalho com os
modelos de equações estruturais, foram realizadas regressões e correlações que apontaram
resultados principalmente em relação à associação de variáveis demográficas e
socioeconômicas com as variáveis respostas.
Da associação com variáveis demográficas, destaca-se que o Medo em Feira de
Santana/BA está relacionado com o fato de a pessoa ser do sexo masculino e se foi vítima
direta de crimes contra patrimônio e/ou contra a pessoa. Quanto a este resultado referente
ao sexo, Silva e Beato Filho (2013) encontraram resultado inverso em Belo Horizonte, ou
seja, mulheres teriam mais medo que homens. Este resultado é mais comum na literatura
do que o encontrado nesta tese. Ao menos duas ponderações sobre esse resultado podem
ser realizadas: a) os homens que participaram da pesquisa estavam em casa e isso pode ser
indicador de um perfil específico e b) os homens feirenses podem perceber que são eles,
especialmente os mais jovens, que mais têm morrido por crimes letais na cidade.
As variáveis idade e renda foram relevantes para entender a Percepção de Risco.
Quanto mais idade, maiores seriam as chances de Percepção de Risco e quanto maior a
renda, menores as chances de Percepção de Risco. Este resultado está em harmonia com a
distribuição de percentual encontrado nas quatro regiões das questões apresentadas no
capítulo 4 que foram usadas para elaborar o constructo Percepção de Risco. Concluiu-se
que o Medo, no que se refere aos estratos da renda familiar, se distribui, sempre em altos
níveis, com mais homogeneidade do que a Percepção de Risco. Esta é maior nas regiões
onde o percentual de famílias com a renda familiar baixa é mais significativa.
Paradoxalmente, desde os anos 2000, indicadores sociais e econômicos como
educação, renda, longevidade, mortalidade infantil, embora ainda preocupantes, têm
avançado na cidade em tela. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), segundo o
Atlas de Desenvolvimento Humano, em 1991 era 0,460, em 2000 registrou 0,585 e em
2010 atingiu 0,712. Este índice que leva em consideração a longevidade, a renda média e a
educação da população apresentou melhoria em seus resultados.
Contudo, o mesmo não tem ocorrido com os índices de violência e criminalidade,
principalmente, no que diz respeito aos crimes violentos letais. Dados do Data SUS e da
própria Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia demonstraram isto no decorrer
215
do texto. Destaca-se que, conforme dados do IBGE, embora a renda média da população
tenha aumentado, a desigualdade social, mensurada via Índice de Gini da renda familiar
per capita pouco avançou: 1991 foi 0,6212, 2000 registrou 0,6176 e 2010 alcançou 0,6079.
Quanto mais próximo o índice a 1, maior a desigualdade social encontrada. Destaca-se
também a taxa de desemprego entre as pessoas com 16 anos ou mais: em 1991 era 7,07,
em 2000 foi 17,90 e em 2010 alcançou 10,40. O Índice de Vulnerabilidade Juvenil -
Violência (IVJ-V) também não coloca Feira de Santana em situação confortável: 38° lugar
dos 266 municípios pesquisados.
Algumas questões que foram empregadas nesta tese para mensurar Desordem
Social e Desordem Física apontaram como e quais condições o Estado proporciona aos
cidadãos feirenses para viverem o dia a dia nos bairros da cidade. Uma das conclusões
deste trabalho é que essas condições dizem muito, em medidas diferentes, sobre o Medo e
a Percepção de Risco em Feira de Santana. Os resultados do modelo de equações
estruturais que investigou a influência da Teoria das Janelas Quebradas é que quanto maior
a “Desordem Social encontrada, maior a Percepção de Risco e Medo. Em média, a
Desordem Social e Física têm mais influência sobre a Percepção de Risco do que sobre o
Medo, mas os dois constructos dependentes possuem associação significativa tanto com
Desordem Social quanto com a Desordem Física.
Ressalta-se, segundo avaliação dos feirenses, algumas questões de Desordem
Física, que aqui se enfatiza como indicativo do descaso ou não alcance do Estado no
cotidiano da população: 58,7% afirmaram que a iluminação das ruas é regular, ruim ou não
tem; os locais de esporte, cultura ou lazer nos bairros não existem para mais de 50% dos
entrevistados; 71,9% disseram que a pavimentação e manutenção das ruas e calçadas são
regulares, ruim ou não tem; 44,3% declararam que há em seus bairros locais que não se
pode passar ou frequentar em algum horário; e 57% dizem sentir cheiros desagradáveis em
seus bairros residenciais.
Também como elemento que contribui para apontar como é a presença,
especialmente, do poder executivo na vida dos feirenses, têm-se as variáveis de Desordem
Social empregadas neste estudo: 75,5% indicam que o policiamento a pé, em viatura ou
moto é regular, ruim ou não tem; 69,5% e 64,4% declararam, respectivamente, que os
serviços públicos de saúde e educação ofertados são regulares, ruins ou não tem; 57,3%
reclamaram de ouvir ruídos, música alta ou gritaria nos bairros em que moram; 61,6%
apontaram que no bairro residencial há pessoas que quando bebem arrumam problemas;
216
59,4% afirmaram haver pessoas que vendem produtos “proibidos”, como drogas ilícitas e
remédios controlados; e 31,9% apontaram que há crianças e adolescentes se prostituindo
em regiões próximas à sua moradia.
Os percentuais apresentados nos parágrafos anteriores sobre a Desordem Social e
Desordem Física nos bairros da área urbana da cidade em questão fazem com que seja
possível, mesmo que brevemente, para o leitor, vislumbrar como os feirenses, em sua
maioria, vivem e sobrevivem. Diante desse quadro, não é difícil presumir porque -entre as
teorias investigadas neste trabalho, contrariando as hipóteses iniciais- a teoria das Janelas
Quebradas apresentou-se com maior poder explicativo para o Medo e Percepção de Risco.
Para examinar as variáveis dependentes na cidade de Feira de Santana, foi preciso olhar
para esses dados buscando enxergar para além dos elementos conceituais e operacionais
explícitos na Broken Windows, ou seja, que “Janelas Quebradas” aumentariam o crime, o
medo, a insegurança e o risco apenas porque a permanência de crimes e desordens leves
num local faz com que crimes e desordens cada vez mais graves venham ocorrer.
Quanto à segunda teoria examinada, a Eficácia Coletiva, as freqüências das
questões utilizadas para operacionalizar os conceitos de Coesão Social, Confiança e
Controle Informal na cidade de Feira de Santana mostraram como essas categorias de
análises devem ser observadas com mais atenção. Isso é verdade, tanto para os resultados
encontrados quanto para a forma com que foram mensurados. Por ora, disserta-se sobre os
resultados.
Ao analisar os percentuais de respostas dos entrevistados às questões que indicam
Coesão Social, percebeu-se que ao serem perguntados se costumam participar de diferentes
atividades em conjunto, os percentuais de respostas “não costuma participar” foi maior do
que “costuma participar”. A única exceção foi quando questionados se costumam
participar de conversas na rua com vizinhos e conhecidos. Ainda sobre Coesão Social,
perguntou-se também se os entrevistados poderiam contar com vizinhos. Todas as
respostas demonstraram maior percentual de repostas sim: eles podem contar com vizinhos
em casos de problemas com saúde, para cuidar de crianças ou idosos e para pedir alimentos
ou objetos emprestados. Interessante observar que quando indagados sobre a frequência
com que vizinhos pedem ajuda, os percentuais de respostas “raramente” e “vizinho nunca
pediu” são mais frequentes. Diante deste breve balanço, conclui-se que Coesão Social, da
maneira como mensurada aqui, não é uma forte variável entre os feirenses.
217
No que diz respeito aos resultados da modelagem estatística, rejeitando a hipótese
examinada, Coesão Social não apresentou relação significativa com o Medo por violências
intencionais e criminalidade e demonstrou, ambiguamente, associação positiva com a
Percepção de Risco. Como em outros estudos no Brasil, acredita-se que quando as pessoas
estão mais coesas socialmente, há uma maior difusão da informação dos crimes e
violências, aumentando o conhecimento e a avaliação do risco.
A Confiança como constructo a ter seus resultados percentuais interpretados,
apresenta caminhos mais sinuosos do que a Coesão Social. Duas questões perguntaram
diretamente sobre a Confiança nos vizinhos. As respostas indicaram que, nestas perguntas,
a maior parte confia em alguns deles somado à maioria deles. A maioria dos entrevistados
não poderia contar com vizinho para pedir dinheiro emprestado ou comprar fiado, 59,8%.
Já tomar conta da casa enquanto não se está, a maioria disse que poderia esperar por isso,
57,2. No que se refere às perguntas sobre a quantidade de vezes que um vizinho pediu
dinheiro emprestado ou para o entrevistado tomar conta da cada enquanto ele não
estivesse, a maioria “raramente pediu” ou “nunca pediu” esse tipo de ajuda, mais de 90%.
Entendeu-se que Confiança apresentou percentuais mais expressivos do que a
Coesão Social. Acredita-se que isso ocorre devido à já dissertada concepção restrita de
vizinhança que mais de 70% dos entrevistados têm, sendo seus vizinhos, as pessoas que
moram ao lado da casa ou na mesma rua. Os vizinhos para 58,9% dos entrevistados
também são seus amigos próximos ou parentes. As questões utilizadas como indicativos de
Coesão Social, excluindo apenas uma que citou a palavra vizinho, exprimem a ideia de
coletividade, associação, mutirão, partidos em que a concepção é mais ampliada. Assim é
importante ter mente que Confiança aqui carrega consigo uma forte ideia de proximidade,
já que faz referência a vizinhança.
No que diz respeito ao modelo estatístico da Eficácia Coletiva, Confiança foi o
único constructo que confirmou a hipótese investigada, qual seja, quanto maior a
Confiança menor o Medo e a Percepção de Risco. Mas aqui também a concepção restrita
de vizinhança se faz presente, já que se sabe que Confiança é referente, em geral, a um
círculo menor de convivência.
Ainda sobre a teoria da Eficácia Coletiva, o constructo Controle Social Informal,
embora tenha duas questões que indiquem Controle Social Informal mais presente, quais
sejam,“se um crime ocorresse no bairro se chamaria a polícia” e se “visse uma criança
desrespeitando um adulto repreenderia”, nas outras três, não se pode afirmar que exista um
218
percentual expressivo de Controle Informal. Aqui também houve o emprego em duas
questões da palavra vizinhança, que como já se disse, carrega uma forte ideia de
proximidade ou parentesco ao invés de coletividade. Referente aos resultados da
modelagem estatística, Controle Informal não demonstrou relação significativa nem com o
Medo nem com a Percepção de Risco. Este resultado rejeitou a hipótese de que quanto
maior o Controle Informal menor seriam os níveis de Medo e Percepção na cidade de Feira
de Santana.
Os resultados da modelagem estatística envolvendo a não associação entre Controle
Informal e os constructos dependentes, interessa porque se acredita, dentre as três
categorias aqui examinadas na Eficácia Coletiva, ser a categoria Controle Social Informal a
que diz mais sobre a capacidade que as pessoas possuem de intervir em problemas em seus
bairros e comunidades. Sampson (2004) defende que confiança e coesão social são
relevantes na redução do crime, na violência, medo e percepção de risco; contudo, essas
duas características sem a habilidade e disposição para intervir em comportamentos
desviantes reduziriam muito as chances de terem menores níveis de crime, violência, medo
e risco. Como se pode notar, em Feira de Santana, Coesão Social, Confiança e Controle
Informal não resultaram em eficácia coletiva. Por que esse resultado? Essa ponderação será
feita à frente.
Os resultados das questões empregadas que citavam literalmente a expressão
Jeitinho no âmbito da Cidadania Hierarquizada apresentou em média 22% de respostas
sim: as pessoas pediram ou deram Jeitinho para alguém que conheciam ou não. Já quando
foram utilizadas situações que aqui se entende como práticas baseadas no Jeitinho, como
alguém que usa de amigos ou conhecidos no serviço público para “agilizar” algum
documento, esse percentual médio sobe para 54%. Jeitinho e Pessoalidade foram
associados positivamente tanto com o Medo quanto com a Percepção de Risco investigada,
embora sobre último constructo seja maior a influência. A hipótese foi confirmada, quanto
maior o “Jeitinho e Pessoalidade” maior o Medo e a Percepção de Risco.
Sobre o constructo Controle Informal Hierarquizado, destacam-se os percentuais
de questões que apresentaram situações violentas ou criminosas envolvendo amigos ou
parentes do entrevistado. Na maior parte das questões, houve percentual significativo de
pessoas que talvez denunciasse ou com certeza não denunciariam amigos ou parentes
envolvidos em crimes como estupro (18,7%), assassinato (30,7%) ou atropelo de pessoas
(51,4%). Para mensurar Controle Informal Hierarquizado também foram apresentadas
219
situações que colocava diante do entrevistado questões como a denúncia de “filhos no
caminho errado” de amigas e comadres. “Concorda” e “concorda em parte” que não se
denuncie o filho foi resposta de 60,3% dos pesquisados. O Controle Informal
Hierarquizado na modelagem estatística se mostrou relacionado significativamente à
Percepção de Risco, mas não ao Medo. Quanto maior o Controle Informal Hierarquizado,
maior a média de Percepção de Risco.
Ainda em relação aos índices da teoria da Cidadania Hierarquizada, destacaram-se
também resultados que indicaram efeitos indiretos sobre o Medo e a Percepção de Risco.
Esses resultados foram encontrados quando ajustado e analisado um modelo de equação
estrutural que integra todos os constructos das três teorias num único modelo. Investigou-
se neste modelo integrado se “Pessoalidade e Jeitinho Brasileiros” e “Controle Informal
Hierarquizado” possuem algum efeito indireto, além dos efeitos diretos, sobre o Medo e a
Percepção de Risco. O interesse da investigação dos efeitos indiretos se fortaleceu após
notar que a Desordem Social, constructo da teoria Broken Windows, é o primeiro mais
relevante na explicação e compreensão da Percepção de Risco. Isto foi observado tanto ao
examinar os modelos ajustados para cada teoria quanto ao observar o modelo de equação
estrutural integrado.
Por meio do modelo estatístico integrado percebeu-se que o segundo constructo
com maior efeito, somando diretos e indiretos, sobre a Percepção de Risco é “Pessoalidade
e Jeitinho Brasileiros”. Considerou-se, dessa maneira, que a ordem social em Feira de
Santana sofre interferência da lógica personalista e hierarquizante que perpassa as relações
sociais entre brasileiros. Em comparação à Percepção de Risco, os constructos
independentes das três teorias examinadas explicaram pouco às oscilações do Medo do
crime e da violência entre os feirenses.
Os resultados sobre o constructo Medo vêm alertar quanto à sua limitação de ser
explicado pelas teorias aqui examinadas. Ressalta-se, por exemplo, que o poder explicativo
da teoria das Janelas Quebradas sobre o Medo foi de 6,7%, da Eficácia Coletiva foi de
6,1% e da Cidadania Hierarquizada, menor ainda, 4,6%. Além das limitações explicativas
nos modelos de equações estruturais, também se observou esses limites na maior parte das
regressões logísticas e correlações em relação ao Medo. Neste sentido, destaca-se que é
necessário repensar as formas de teorizar, mensurar e operacionalizar o que se denominou
como Medo do crime e da violência.
220
Notoriamente é relevante que pesquisadores examinem como e em que medida
teorias que foram pensadas e articuladas para explicar, majoritariamente, a ocorrência de
crimes e a violência podem auxiliar também no entendimento do Medo e na Percepção de
Risco. Em grande medida este foi o caminho trilhado neste trabalho. Acredita-se ser um
desafio para as ciências sociais desenvolver e consolidar teorias, conceitos e categorias que
possam compreender e explicar o Medo e a Percepção de Risco para além de teorias
elaboradas mais fortemente para explicar o crime e a violência.
Ao observar todos os resultados e análises realizadas nas três teorias em exame,
conclui-se que a teoria das Janelas Quebradas foi a que mais contribuiu para explicar a
Percepção de Risco e, em certa medida, o Medo na cidade de Feira de Santana. O
questionamento do por que a Desordem Social e a Desordem Física assumiram papel
relevante neste estudo ampliou os horizontes de como interpretar esses resultados na
cidade em tela.
A teoria das Janelas Quebradas afirma que a ordem social e física possui papel
fundamental na redução e prevenção da criminalidade, violência e afins. As janelas
quebradas se tornaram o exemplo mais empregado para explicar como as desordens podem
impactar nos níveis de violência, crime e insegurança. Se uma janela é quebrada e não é
consertada, há o entendimento de que não há quem cuide daquele espaço, portanto outras
pessoas poderão perceber isso como possibilidade e cometer crimes mais graves naquele
local. Há instalado então, um círculo vicioso.
Indaga-se aqui se a “desordem” na cidade de Feira de Santana como pressuposto
apresentado pela Broken Windows, além de indicar que outros criminosos poderão
visualizar como ambiente e oportunidade de cometer crimes, não apontaria sobre como o
poder público e as autoridades constituídas atuam na defesa da qualidade de vida e do
espaço público dos bairros na cidade em tela. Uma péssima iluminação das ruas ou
crianças e adolescentes se prostituindo, além de indicar que criminosos poderão usar da
situação para cometer mais crimes, não gerariam Medo e Percepção de Risco entre os
moradores por estes entenderem que, dada sua condição de cidadania precária, que não há
instituições que eles possam recorrer para se protegerem da violência e criminalidade?
Neste sentido, a Desordem Física e Social, além de apontar possibilidade de
ocorrência de crimes e violência, podem ser empregadas como indicadoras da falta de
instituições estatais que promovam e garantam os direitos dos cidadãos à uma cidade
221
segura e pacífica. A não iluminação das ruas, a prostituição infantil 71, pessoas dormindo
nas ruas, precária coleta de lixo ou ruas sem calçamento não faria com que os cidadãos se
sentissem desprovidos de qualquer proteção ou acesso a meios e instituições em que
possam barganhar proteção às suas vidas e aos seus bens? Se como cidadão ele percebe
que o Estado não consegue cuidar das ruas, do lixo, da iluminação, das crianças, por que
este mesmo cidadão acreditaria que este mesmo Estado seria capaz de cuidar e proteger sua
vida e seus bens? Concluir então que a Percepção de Risco e o Medo tendem a aumentar
nesse contexto é totalmente plausível. No que se refere ao Medo e à Percepção de Risco,
acredita-se que, diante dos percentuais elevados de Desordem Social e Física em Feira de
Santana esta interpretação seja mais sensata do que apenas que os ambientes desordenados
socialmente e fisicamente sejam ótimas oportunidades para criminosos.
Além da ideia de que não há quem cuide do espaço deteriorado ou desordenado,
Desordem Social e Física, podem ser indicativos que a pessoas residentes neste espaço
percebem não ter e não têm acesso às instituições e serviços que podem ser acionados caso
as mesmas precisem de proteção. Dessa maneira, há maior possibilidade de que o Medo e a
Percepção de Risco tenham níveis maiores.
Quanto às considerações finais sobre a teoria da Eficácia Coletiva, percebeu-se
um menor poder explicativo e até paradoxos ao que a teoria conduz. Para entender estes
resultados foi preciso fazer um link dos constructos Coesão Social, Confiança e Controle
Informal num contexto com altos níveis de Desordem Social e Física. Os feirenses
poderiam ser considerados “super heróis” caso conseguissem em média, num contexto
violento, com baixos indicadores sociais, desordenado social e fisicamente, atuar em prol
do bem coletivo. Eles estariam fazendo com que a Confiança e Coesão Social que há entre
as pessoas fossem transformadas em Controle Social Informal, resultando assim em
Eficácia Coletiva e, consequentemente, reduzindo o medo, a violência, a criminalidade e a
percepção de risco.
Esperou-se com os indicadores da Cidadania Hierarquizada apontar quão
necessário ainda parece ser o “Jeitinho Brasileiro” e o “Controle Informal Hierarquizado”
para que os cidadãos possam “navegar” na sociedade democrática em Feira de Santana.
Estes constructos podem ser entendidos como um arranjo social de autoproteção num
71
Importa ressaltar que não há condição legal de prostituição infantil. Sabe-se que, atualmente, toda
relação sexual com menores de 13 anos é considerada estupro e, que quando maiores de 13 anos pode ser
apontado como corrupção de menores caso haja alguém se beneficiando. A opção pela permanência dessa
denominação se deu com a finalidade de aproximar o formulário à linguagem popular.
222
contexto violento, criminoso e com pouca presença do Estado. Esta pouca presença do
Estado foi demonstrada pelas informações obtidas por meio das variáveis utilizadas na
elaboração dos constructos da Desordem Social e Física.
Por serem arranjos sociais diante da falta de instituições estatais que garantam
cidadania com qualidade aos feirenses, os resultados dos modelos estatísticos informam
que estes arranjos não têm atuado na redução do Medo e da Percepção de Risco, ao
contrário, tendem a aumentá-los. Isto porque atuam numa direção contrária do que se
considera necessário: o fortalecimento de instituições e serviços estatais que possam
oferecer indícios para os cidadãos feirenses de que eles não estão sozinhos na luta contra o
medo e o risco na cidade.
No futuro, quando os cidadãos feirenses visualizarem que podem contar e acessar
serviços estatais de proteção e de segurança social com cidadania, eles conseguirão
transformar Coesão Social e Confiança em Controle Informal e, já não seja mais necessário
lançar mão do Jeitinho e Pessoalidade Brasileiros e Controle Informal Hierarquizado para
viver ou sobreviver nas ruas e bairros de Feira de Santana.
223
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231
APÊNDICE
Itens Itens
Constructos AVE AC DG KMO Dim
Iniciais Finais
1ª Ordem
Bloco-
7 3 0,619 0,576 0,810 0,607
1 1
Bloco-
Coesão Social 3 3 0,689 0,575 0,877 0,635
2 1
Bloco-
3 3 0,639 0,618 0,830 0,629
3 1
Bloco-
4 3 0,562 0,385 0,743 0,552
1 1
Bloco-
Jeitinho Brasileiro 4 4 0,693 0,701 0,880 0,714
2 1
Bloco-
3 3 0,510 0,366 0,678 0,563
3 1
Bloco-
4 4 0,607 0,715 0,796 0,625
Sensação de 1 1
Insegurança Bloco-
5 3 0,623 0,472 0,814 0,602
2 1
Bloco-
3 3 0,708 0,594 0,892 0,625
1 1
Percepção do Risco
Bloco-
5 5 0,572 0,678 0,757 0,769
2 1
2ª Ordem
232
Tabela II- Confiabilidade, validade convergente e dimensionalidade dos constructos
Itens Itens
Constructos AVE AC DG KMO Dim
Iniciais Finais
1ª Ordem
Bloco-
7 3 0,619 0,576 0,810 0,607
1 1
Bloco-
Coesão Social 3 3 0,689 0,575 0,877 0,635
2 1
Bloco-
3 3 0,639 0,618 0,830 0,629
3 1
Bloco-
4 3 0,562 0,385 0,743 0,552
1 1
Bloco-
Jeitinho Brasileiro 4 4 0,693 0,701 0,880 0,714
2 1
Bloco-
3 3 0,510 0,366 0,678 0,563
3 1
Bloco-
4 4 0,607 0,715 0,796 0,625
Sensação de 1 1
Insegurança Bloco-
5 3 0,623 0,472 0,814 0,602
2 1
Bloco-
3 3 0,708 0,594 0,892 0,625
1 1
Percepção do Risco
Bloco-
5 5 0,572 0,678 0,757 0,769
2 1
2ª Ordem
Fonte: Survey Experiências e Percepções sobre Violência, Criminalidade e Segurança Pública em Feira de Santana/Ba -
GPECS/UFRB 2012
233
Número do Localização do domicílio
questionário (observe)
Domicílio Sorteado 01. Condomínio de casas,
Data apartamentos ou casas de vila P.2.a. Há quanto tempo o(a) Sr(a) reside P.3. Atualmente o(a) Sr(a) é? [LER
Hora de início nesta cidade? [NÃO LER OPÇÕES - OPÇÕES - ÚNICA]
02. Favelas ou áreas invadidas ou ÚNICA]
Hora do fim ocupadas
( ) 1. Até 6 meses ( ) 1. Solteiro(a)
03. Casas de cômodos ou cortiço ( ) 2. Mais de 6 meses até 1 ano ( ) 2. Casado(a) / vive junto com
04. Construção isolada ( ) 3. Mais de 1 ano até 3 anos ( ) 3. Desquitado(a) / Separado(a) /
Checagem 1.Checado 2.Sem 3.Telefone 4.Entrevistado não Divorciado(a)
telefone errado encontrado ( ) 4. Mais de 3 anos até 5 anos ( ) 4. Viúvo(a)
( ) 5. Mais de 5 anos ( ) 77. NA
Bom dia / Boa tarde / Boa noite. Meu nome é [NOME DO ENTREVISTADOR]. ( ) 77. NA ( ) 88. NS/NL
( ) 88. NS/NL ( ) 99. NR
Trabalho para o GPECS, um grupo de pesquisa da Universidade Federal do ( ) 99. NR
P.4. Qual das seguintes categorias P.5. Até que série o(a) Sr(a) estudou?
Recôncavo da Bahia (UFRB). Estamos realizando uma pesquisa sobre diferentes descreve melhor sua cor? [LER OPÇÕES – [NÃO LER OPÇÕES - ÚNICA]
ÚNICA]
problemas que afetam a qualidade de vida das pessoas. As respostas serão
( ) 1. Branca ( ) 1. Sem instrução
tratadas em caráter confidencial, sem nenhuma forma de identificação pessoal. A
( ) 2. Preta ( ) 2. Ensino Fundamental
incompleto(1º Grau incomp.)
entrevista terá duração média de 50 minutos. Podemos contar com sua
( ) 3. Parda ( ) 3. Ensino Fundamental completo
colaboração? (1º Grau completo)
( ) 4. Amarela (japonês,chinês) ( ) 4. Ensino médio incompleto (2º
Grau incomp.)
( ) 5. Indígena ( ) 5. Ensino médio completo (2º Grau
IDENTIDADE SOCIAL completo)
( ) 88. NS/NL ( ) 6. Superior incompleto
P.1. [NÃO PERGUNTE, OBSERVE] P.2.O(a) Sr(a) sempre morou nesta (Universidade / Faculdade
Sexo: cidade? [LER OPÇÕES – ÚNICA] incompleto)
( ) 1. Masculino ( ) 1. Sim [Pule para P.3.] ( ) 99. NR ( ) 7. Superior completo (Universidade
( ) 2. Feminino ( ) 2. Não / Faculdade completo)
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL [ PULE PARA P.3.] ( ) 8. Pós-graduação
( ) 99. NR ( ) 99. NR [Pule para P3.] ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR
P.6. Em que ano o(a) Sr(a) nasceu? [ESPONTÂNEA] |___ |___ |___ | ___| ano
1
ao todo? [ESPONTÂNEA] __________ rendimento nesta casa? ( ) 99. NR
[ESPONTÂNEA]___________
P.9. Em relação ao trabalho que tinha na P.10. Agora gostaria de saber qual é
última semana, o(a) Sr(a) era: [LER aproximadamente a renda total HÁBITOS E PRÁTICAS
OPÇÕES - ÚNICA] mensal de todas as pessoas que
[ATENÇÃO: Se possuir mais de UM trabalho. moram neste domicílio, somando HP. 1. Agora vou falar sobre algumas atividades e gostaria de saber se o (a) Sr.(a)
Critérios para definir o trabalho principal na todas as fontes como salário, costuma participar: [ LER AS OPÇÕES PARA CADA ITEM DA BATERIA – ÚNICA]
semana: 1- Maior número de horas pensão, aposentadoria, benefícios
normalmente trabalhadas por semana; 2- sociais, aluguéis, bicos? [MOSTRAR Costuma Não costuma Não NS/ NR
Trabalho que possui há mais tempo; e 3- CARTÃO 1] [NÃO LER OPÇÕES – participar participar tem NL
Maior rendimento mensal] ÚNICA HP.1.1) Festas de rua ou eventos ()1 ()2 ()3 () ()
( ) 1. Trabalhador(a) doméstico(a) ( ) 1. Até 1 salário mínimo (R$ organizados por vizinhos como 88 99
622,00) churrascos, festas juninas,
( ) 2. Empregado(a) ou Funcionário(a) ( ) 2. Mais de 1 até 2 salários assistir a jogos com a vizinhança.
Público(a) mínimos (R$ 623,00 – 1.244,00) HP.1.2) Atividades ligadas a ()1 ()2 ()3 () ()
( ) 3. Empregador(a) ( ) 3. Mais de 2 até 3 salários alguma religião sem contar missa 88 99
mínimos (R$ 1.245,00 - 1.866,00) ou culto. Exemplo, reunião de
( ) 4. Trabalhador por conta própria ( ) 4. Mais de 3 até 5 salários jovens, eventos beneficentes,
mínimos (R$1.867,00 – 3.110,00) atividades voluntárias ou
( ) 5. Estudante, aprendiz ou estagiário(a) ( ) 5. Mais de 5 até 10 salários filantrópicas
com ou sem remuneração. mínimos (R$ 3.110,00 -6.220,00) HP.1.3) Reuniões em ()1 ()2 ()3 () ()
( ) 6. Ajudante de um membro do domicílio ( ) 6. Mais de 10 até 15 salários associações, partido político, 88 99
sem remuneração mínimos (R$ 6.221,00- 9.330,00) sindicato.
( ) 7. Trabalhando no cultivo de alimento ( ) 7. Mais de 15 até 20 salários HP.1.4) Mutirão para construção ()1 ()2 ()3 () ()
para o próprio consumo mínimos (R$ 9.331,00 – 12.440,00) de casas ou limpeza de ruas e 88 99
( ) 8. Não possui trabalho (aposentado(a) ( ) 8. Mais de 20 salários mínimos valões, mudanças de casa,
está inserido aqui) (R$ 12.441,00) decoração de rua.
( ) 88. NS/NL ( ) 9. Sem renda HP.1.5) Encontros e reuniões ()1 ()2 ()3 () ()
( ) 99. NR ( ) 88. NS/NL com amigos em bares, clubes, 88 99
( ) 99. NR lanchonetes, campos de futebol.
HP.1.6) Conversas na rua com ()1 ()2 ()3 () ()
vizinhos e conhecidos. 88 99
P.11. Vou ler uma lista de religiões para que o(a) Sr(a) me indique se alguma delas HP.1.7) Reuniões, conversas ou ()1 ()2 ()3 () ()
é a sua: [LEIA ATENTAMENTE CADA ALTERNATIVA -ÚNICA] encontros na casa de vizinhos 88 99
( ) 1. Evangélico
( ) 2. Espírita Kardecista HP.2. Quais os três principais meios de HP.3. Os lugares para os quais o
( ) 3. Umbanda, Candomblé ou outra religião de matriz africana transporte que o(a) Sr(a) costuma utilizar mais (a) Sr(a) sai, geralmente, ficam
( ) 4. Católica Romana durante a semana? [NÃO LER OPÇÕES – dentro do bairro ou fora do bairro?
( ) 5. Crê em Deus, mas não tem religião MÚLTIPLA] [LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 6. Não crê em Deus ( ) 1. Carro / moto próprios ( ) 1. Dentro do bairro
( ) 7. Outra religião: _________________________________ ( ) 2. Ônibus ( ) 2. Fora do bairro
( ) 88. NS/NL ( ) 3. Ônibus Fretado ( ) 88. NS/NL
2
( ) 4. Táxi/ Moto-taxi ( ) 99. NR
( ) 7. Van / Topic / Lotação
( ) 8. Bicicleta
( ) 9. A pé
( ) 10. Outro.
Qual:___________________________
( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR V.8. Em quais das seguintes situações o(a) Sr(a) acha que poderia contar com seus
vizinhos se precisasse: [LER OPÇÕES PARA CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA]
BAIRRO Poderia Não Poderia NA NS/NL NR
Contar Contar
V.1. Há quanto tempo o(a) Sr(a) mora V.2. Qual a sua opinião sobre esta frase.
no seu bairro? [ESPONTÂNEA] “Viver neste bairro é como se estivesse V.8.1) Para auxiliar em caso de ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
Anos: ________ e/ou Meses entre familiares”: [LER OPÇÕES - ÚNICA] doença ou problema de saúde.
________ ( ) 1. Concorda V.8.2) Para pedir dinheiro ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
( ) 2. Nem concorda nem discorda emprestado ou fazer comprar a
( ) 88. NS/NL ( ) 99. NR ( ) 3. Discorda prazo ou fiado.
( ) 88. NS/NL V.8.3) Para pedir alimento ou ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
( ) 99. NR objetos emprestados.
V.8.4) Para cuidar de alguém ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
V.4. Com relação aos seus vizinhos, o(a) V. 5. Quando falei em vizinhos, o(a) (criança, idoso, doente, pessoa
Sr(a) diria que: [LER OPÇÕES - ÚNICA] Sr(a) pensou mais em pessoas que com necessidades especiais,
[LER OPÇÕES – ÚNICA] etc).
( ) 1. Confia na maioria deles ( ) 1. Moram ao lado da sua casa V.8.5) Para tomar conta da casa ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
( ) 2. Confia em alguns deles ( ) 2. Moram na sua rua enquanto não está.
( ) 3. Não confia em nenhum deles ( ) 3. Moram no seu bairro V.8.6) Para resolver conflitos ou ()1 ()2 ( ) 77 ( ) 88 ( ) 99
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL brigas na vizinhança .
( ) 99. NR ( ) 99. NR
V.9. Com que frequência algum vizinho costuma pedir ajuda ou favores ao(a) Sr(a)
como: [LER OPÇÕES PARA ITEM DA BATERIA - ÚNICA]
V.6. Essas pessoas que (dizer a resposta V. 7. O(a) Sr(a) tem familiares que
que a pessoa deu na questão V.5.) são moram neste mesmo bairro? Frequente Raram Vizinho NA NS/N NR
seus amigos próximos ou parentes? [ESPONTÂNEA] mente ente nunca L
[ESPONTÂNEA] pediu ajuda
( ) 1. Sim ( ) 1. Sim v. 7.1 Quantos: ______ V.9.1) Auxiliar em ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
( ) 2. Não ( ) 2. Não caso de doença ou
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL problema de saúde.
( ) 99. NR ( ) 99. NR V.9.2) Para pedir ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
dinheiro emprestado
ou fazer comprar a
prazo ou fiado..
V.9.3) Pedir ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
3
alimento ou objetos lixo e entulho nas
emprestados. ruas.
V.9.4) Cuidar de ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 V.10.9) Organização ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99
alguém (criança, do trânsito como
idoso, pessoa com placas, sinais de
necessidades trânsito, passarelas.
especiais, etc). V.10.10) Oferta de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99
V.9.5) Tomar conta ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 escolas públicas.
da casa enquanto
ele não está.
V.9.6) Resolver ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 V. 11. O (a) Sr. (a) conhece algum vizinho ou amigo que mora no bairro que é [LER AS
conflitos ou brigas OPÇÕES]
na vizinhança. Sim Não NS/NL NR
V.11.1) Professor (a) ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
V.10. [MOSTRAR CARTÃO 2] Como o(a) Sr(a) avalia os seguintes serviços em seu V.11.1.1) Se sim, já precisou de algum ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
bairro ou proximidades: [LER CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA] favor dele?
V.11.2) Vereador (a) ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
Ótimo Bom Regular Ruim Não NS/NL NR V.11.2.1) Se sim, já precisou de algum ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
tem favor dele?
V.11.3) Policial ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
V.10.1) A iluminação ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99 V.11.4.1) Se sim, já precisou de algum ( )1 ( )2 ( ) 88 ( ) 99
das ruas. favor dele?
V.10.2) A ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99
pavimentação e V.12. No seu bairro existem: [ESPONTÂNEA]
manutenção das ruas Sim Não NS/NL NR
e calçadas. V.12.1) Prédios, casas, terrenos, lotes ou galpões ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
V.10.3) Os locais de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99 abandonados (cercados ou não).
esporte, cultura e V.12.2) Carros abandonados, arrebentados ou ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
lazer. desmontados nas ruas.
V.10.4) A oferta de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99 V.12.3) Barulhos de tiros. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
equipamentos V.12.4) Cheiros desagradáveis ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
coletivos como V.12.5) Ruídos, música alta e gritaria ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
orelhões,lixeiras.
V.10.5) A oferta de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99 V.13. Nos últimos 12 meses, o(a) Sr(a) viu ou teve informação de que existe no seu
transportes públicos bairro: [ESPONTÂNEA]
como ônibus. Sim Não NS/NL NR
V.10.6) Policiamento ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99 V.13.1) Vendedores ambulantes, camelôs na rua. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
a pé, em viatura ou
V.13.2) Flanelinhas ou guardadores de carro. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
moto.
V.13.3) Pessoas vivendo ou dormindo na rua. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
V.10.7) A oferta de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99
V. 13.4) Crianças ou adolescentes se prostituindo ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
serviços públicos de
V.13.5) Adultos se prostituindo nas ruas. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
saúde.
V.13.6) Pessoas jogando ou apostando dinheiro em ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
V.10.8) A coleta de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( ) 88 ( )99
jogos como jogo do bicho, briga de galo, carteado.
4
V.13.7) Pessoas pedindo esmolas ou outro tipo de ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
ajuda na rua. ( ) 99. NR ( ) 99. NR
V.13.8) Pessoas fazendo xixi, cocô, praticando atos ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
obscenos ou indecentes na rua. V.18. O(a) Sr(a) acha que no seu bairro V.19. Essas pessoas que andam no
V.13.9) Pessoas quebrando janelas, pichando ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 tem pessoas que andam no caminho caminho errado e têm problemas com a
muros, fazendo arruaça ou destruindo errado, tem problemas com a polícia? polícia convivem bem com o restante
equipamentos coletivos como orelhões, placas de [LER OPÇÕES – ÚNICA] das pessoas do bairro? [LER OPÇÕES
rua, postes de luz, lixeiras. – ÚNICA]
V.13.10) Pessoas consumindo ou vendendo drogas ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
ilegais na rua. ( ) 2. Não [ PULAR PARA A1] ( ) 2. Não
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
V.14. Nos últimos 12 meses, o(a) Sr(a) viu ou teve informação de que existe no seu ( ) 99. NR ( ) 99. NR
bairro: [ESPONTÂNEA]
Sim Não NS/NL NR
V.14.1) Pessoas andando com arma de fogo na ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 V. 20. Existe associação de bairro ou V.21. O (a) Sr.(a) participa das
rua que não fossem policiais ou seguranças. associação comunitária deste bairro? atividades ou de reuniões desta
V.14.2) Mulheres, que residem na sua vizinhança, ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 [ESPONTÂNEA] associação? [ESPONTÂNEA]
sendo agredidas por seus maridos ou ( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
companheiros ou por parentes. ( ) 2. Não [PULE PARA A.1] ( ) 2. Não
V.14.3) Pessoas sendo vítimas de violência ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
sexual. ( ) 99. NR ( ) 99. NR
V.14.4) Pessoas se agredindo fisicamente. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
V.14.5) Pessoas sendo assaltadas. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ATITUDE
V.14.6) Pessoas sendo mortas por arma de fogo. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 Às vezes temos atitudes diferentes em diferentes situações, vamos falar um pouco
V.14.7) Policiais recebendo dinheiro de pessoas. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 sobre isto.
V.14.8) Policiais ameaçando ou agredindo ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
pessoas. A.1. Na opinião do(a) Sr(a) o jeitinho brasileiro é uma coisa sempre certa, certa na
maioria das vezes, errada na maioria das vezes, ou sempre errada? [LER OPÇÕES
V.15. Se o(a) Sr(a) visse acontecer um crime no seu bairro você chamaria a polícia? – ÚNICA]
[LER OPÇÕES – ÚNICA] 1 Sempre certa
( ) 1. Sim 2 Certa na maioria das vezes
( ) 2. Não 3 Errada na maioria das vezes
( ) 88. NS/NL 4 Sempre errada
( ) 99. NR 88 NS/NL
99 NR
V. 16. Aqui em seu bairro existe alguma rua V. 17. Você acha que os crimes que
ou espaço, em algum horário, que não se já aconteceram aqui no seu bairro A.2. Existe alguma pessoa aqui no bairro que é conhecida como aquela pessoa que
pode passar ou frequentar? [LER OPÇÕES foram cometidos por pessoas do resolve problemas, como brigas entre os vizinhos, entre jovens ou entre marido e
– ÚNICA] próprio bairro? [LER OPÇÕES – mulher? [LER OPÇÕES – ÚNICA]
ÚNICA] ( ) 1. Sim
( ) 1. Sim ( ) 1. Sim ( ) 2. Não
( ) 2. Não ( ) 2. Não ( ) 88. NS/NL
5
( ) 99. NR sempre morou próximo a Dona Elara. Os filhos delas cresceram juntos brincando na rua
e um na casa do outro. São como irmãos. Dona Maia e Dona Elara criaram os filhos com
A.3. Alguma vez na vida o(a) Sr(a) : [LER OPÇÕES PARA CADA ITEM DA BATERIA - muita dificuldade e sempre estavam ajudando uma a outra. José, filho de Dona Maia,
ÚNICA] está com 17 anos e está andando no caminho errado. Dona Elara não se mete nos
Sim Não NS/NL NR problemas do José. Se Dona Elara denunciá-lo á polícia ele será preso e condenado.
A.3.1- Já deu jeitinho brasileiro para alguém ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 Dona Elara sabe que ele está errado, mas prefere ficar na dela.” Então, o(a) Sr(a) com
que more aqui no bairro ou região próxima. relação a decisão de Dona Elara: [LER OPÇÕES – ÚNICA]
A.3.2- Já deu jeitinho brasileiro para alguém ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 1. Concordo
que não conhecia. ( ) 2. Concordo em parte
A.3.3 - Já pediu para alguém aqui do bairro ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 3. Nem concorda nem discorda
ou região próxima para dar um jeitinho ( ) 4 Discordo
brasileiro para o(a) Sr. (a). ( ) 88. NS/NL
A3.4 - Já pediu para alguém que não ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 99. NR
conhecia para dar um jeitinho brasileiro para
o(a) Sr. (a).
Sim Não NS/NL NR A. 12. E se for jovem ou adulto do bairro A. 13. O (a) Sr(a) tem conhecimento de
desrespeitando alguém na rua, o(a)Sr(a) algum grupo ou mais de um grupo que
A.9.1 Alguém que faz um gato/uma gambiarra de 1 2 77 88 interfere ou aconselha? [LER OPÇÕES – brigam por causa do controle de rua ou
energia elétrica, puxando um fio direto da rede ÚNICA] espaço aqui no bairro? [LER OPÇÕES –
elétrica para a casa. ÚNICA]
A.9.2 Uma pessoa que pede a um amigo que 1 2 77 88 ( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
trabalha no serviço público para ajudar a tirar um ( ) 2. Não ( ) 2. Não
documento mais rápido do que o normal. ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
A.9.3 Uma pessoa que recebe alimento, roupas e 1 2 77 88 ( ) 99. NR ( ) 99. NR
utensílios para esconder alguém do bairro que
cometeu crimes.
A.9.4 Um vizinho empresta para outro vizinho uma 1 2 77 88
panela que faltou para preparar a refeição.
A.9.5 Uma pessoa usa ou usou um cargo no governo 1 2 77 88
para enriquecer
A.9.6 Na fila de supermercado alguém deixa passar 1 2 77 88
na frente uma pessoa que tem poucas compras. A. 14. O (a) Sr.(a) tem conhecimento se existe A.14.1. Qual o bairro?
A.9.7 Alguém que quando bebe arruma problemas 1 2 77 88 algum bairro aqui em Feira de Santana que os
com outras pessoas na rua do bairro. moradores deste seu bairro não possam _________________________
A.9.8 Alguém que recebe dinheiro para comercializar 1 2 77 88 frequentar por causa de alguma disputa ou rixa?
um produto roubado. [LER OPÇÕES – ÚNICA]
A.9.9 Alguém, que não seja policial, que faz a 1 2 77 88 ( ) 1. Sim
segurança do bairro. ( ) 2. Não [PULE PARA A.14.]
A.9.10 Alguém que vende produtos proibidos, como 1 2 77 88 ( ) 88. NS/NL
drogas, produtos pirata, remédio controlado.... ( ) 99. NR
A.9.11 Alguém que compra produtos drogas, 1 2 77 88
produtos pirata, remédio controlado.... A. 15. Gostaria que o (a) Sr(a) lembrasse de seus amigos e familiares. Agora eu vou
mencionar várias situações em que um parente ou um amigo do(a) Sr(a) fez alguma
A. 10. Vou ler uma frase e gostaria que A. 11. Quando o(a)Sr(a) vê uma criança coisa errada. Se o(a) Sr(a) denunciar, ele será preso e condenado. (DAR CARTÃO 3)
o(a) Sr(a) dissesse se acha que no seu do bairro desrespeitando outra pessoa (ESTIMULADA E ÚNICA PARA CADA ITEM DA BATERIA)
bairro acontece muito, as vezes acontece, na rua você interfere ou aconselha? ( ) 1. Com certeza denunciaria ( ) 2. Talvez denunciasse ( ) 3. Com certeza não
acontece pouco ou nunca acontece: [LER OPÇÕES – ÚNICA] denunciaria
“Algumas pessoas cometem crimes, mas
sempre tem alguém para dar um jeitinho Número da NS/NL NR
para ele não ser preso e condenado”. [LER resposta
OPÇÕES – ÚNICA] A. 15.1. Um parente ou amigo que roubou comida de 77 88
( ) 1.Acontece muito ( ) 1. Sim um supermercado.
( ) 2 Acontece ( ) 2. Não A. 15.2. Um parente ou amigo que roubou remédio 77 88
( ) 3.Acontece pouco ( ) 88. NS/NL de uma farmácia.
7
A. 15.3. Um parente ou amigo que atropelou uma 77 88 SENTIMENTO DE INSEGURANÇA
pessoa que, depois, ficou internada no hospital.
A. 15.4. Um parente ou amigo que arrombou e 77 88 SI.1. Como o(a) Sr(a) se sente ao andar SI.2. Como o(a) Sr(a) se sente ao
roubou uma casa quando seus moradores estavam nas ruas do bairro onde reside durante O andar nas ruas do bairro onde reside
viajando. DIA: [DAR CARTÃO 4] [LER OPÇÕES - durante A NOITE: [DAR CARTÃO 4]
A. 15.5. Um parente ou amigo que estuprou alguém. 77 88 ÚNICA] [LER OPÇÕES - ÚNICA]
A. 15.6. Um parente ou amigo que assassinou uma 77 88 ( )1. Muito Seguro ( )1. Muito Seguro
pessoa. ( )2. Seguro ( )2. Seguro
A. 15.7. Um parente ou amigo que bate na esposa, 77 88 ( )3. Muito inseguro ( )3. Muito inseguro
namorada. ( )4. Inseguro ( )4. Inseguro
A. 15.8. Um parente ou amigo que vende produtos 77 88 ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
proibidos. ( ) 99. NR ( ) 99. NR
A. 15.9. Um parente ou amigo que comprasse alguma 77 88
coisa roubada. SI.3. Como o(a) Sr(a) se sente dentro de SI.4. Como o(a) Sr(a) se sente dentro
sua casa durante O DIA: [DAR CARTÃO 4] de sua casa durante A NOITE: [DAR
[LER OPÇÕES - ÚNICA] CARTÃO 4] [LER OPÇÕES - ÚNICA]
( )1. Muito Seguro ( )1. Muito Seguro
( )2. Seguro ( )2. Seguro
( )3. Muito inseguro ( )3. Muito inseguro
( )4. Inseguro ( )4. Inseguro
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR ( ) 99. NR
A.16. Imagine que o(a)Sr(a) seja um guarda de trânsito e que ao fazer seu trabalho
o(a)Sr(a) multa um carro estacionado em local proibido. Alguns minutos se passam e
a pessoa que estacionou chega. Essa pessoa é seu amiga e pede para aliviar a
multa. O(a)Sr(a): [LER OPÇÕES – ÚNICA]
SI.5. Como o(a) Sr(a) se sente ao andar SI.6. Como o(a) Sr(a) se sente ao andar
( ) 1. Retira a multa.
nas ruas de outros bairros durante O DIA: nas ruas de outros bairros durante A
( ) 2. Não retira a multa. [DAR CARTÃO 4] [LER OPÇÕES - NOITE: [DAR CARTÃO 4] [LER OPÇÕES
( ) 88. NS/NL ÚNICA] - ÚNICA]
( ) 99. NR ( )1. Muito Seguro ( )1. Muito Seguro
( )2. Seguro ( )2. Seguro
A. 17. Gostaria que o(a) Sr(a) dissesse se confia muito // confia // confia pouco // ou não ( )3. Muito inseguro ( )3. Muito inseguro
confia na sua família? E ... (ESTIMULADA E ÚNICA PARA CADA ITEM DA BATERIA)
( )4. Inseguro ( )4. Inseguro
( ) 1. Confia muito ( ) 2. Confia pouco ( ) 3. Não confia
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
Número da resposta NA NS/NL NR
( ) 99. NR ( ) 99. NR
A. 17.1. Na sua família 77 88 99
A. 17.2. Nos seus amigos 77 88 99
SI. 7. O(a) Sr(a) pode dizer duas coisas que contribuem para que as pessoas
A. 17.3. Nos seus vizinhos 77 88 99
possam se sentir seguras aqui no bairro?
A. 17.4. Nos seus colegas de 77 88 99
trabalho
A. 17.5 Na maioria das pessoas 77 88 99
SI. 8. O(a) Sr(a) pode dizer duas coisas que contribuem para que as pessoas se
8
sintam inseguras aqui no bairro? ( )10. Colocou caco de vidro nos muros
( ) 11. Não tomou medidas de segurança
( ) 12. Outro. Qual:
____________________________
( ) 88. NS/NL
SI.9. Por causa da violência, o(a) Sr(a): [NÃO LER OPÇÕES] ( ) 99. NR
Sim Não NA NS/NL NR
SI.9.1) Evita sair à noite ou chegar muito ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 SI.11. O(A) Sr(a) diria que, nos últimos SI.12. O(A) Sr(a) diria que, nos últimos 12
tarde em casa ou muda de caminho entre a 12 meses, a criminalidade na sua meses, a criminalidade no seu BAIRRO
casa e o trabalho ou a escola ou lazer CIDADE aumentou, diminuiu ou ficou aumentou, diminuiu ou ficou igual [LER
SI.9.2) Deixa de ir a locais da cidade ou a ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 igual? [LER OPÇÕES – ÚNICA] OPÇÕES – ÚNICA]
certos bancos e caixas eletrônicos. ( ) 1. Aumentou ( ) 1. Aumentou
SI.9. 3) Evita frequentar locais desertos ou ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 ( ) 2. Diminuiu ( ) 2. Diminuiu
eventos com poucas pessoas circulando. ( ) 3. Ficou igual ( ) 3. Ficou igual
SI.9.4) Evita frequentar locais com grande ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
concentração de pessoas. ( ) 99. NR ( ) 99. NR
SI.9.5) Evita sair de casa portando muito ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
dinheiro, objetos de valor ou outros
pertences que chamem atenção.
SI.9.6) Evita usar algum transporte coletivo ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
que precisaria usar.
SI.9.7) Evita conviver com vizinhos. ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
SI.9.8) Evita conversar ou atender pessoas ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
estranhas.
SI.9.9) Evita frequentar locais onde haja ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
consumo de bebidas alcoólicas.
SI.10. Gostaria de saber se, nos SI.10.1. Quais medidas o(a) Sr.(a) tomou? SI. 13. Vou falar algumas situações e gostaria que o (a) Sr.(a) me dissesse se sente
últimos 12 meses o(a) Sr(a) tomou [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] muito medo, sente pouco medo ou nenhum medo que aconteça quando o (a) Sr(a) anda
medidas de segurança para sua nas ruas daqui de Feira de Santana: [MOSTRAR CARTÃO 5] [LER OPÇÕES]
residência? [ESPONTÂNEA]
( ) 1.Sim ( ) 1. Grades nas janelas ou portas Muito Um pouco de Nenhum NS/NL NR
( ) 2.Não [PULE PARA SI. 14] ( ) 2. Troca de fechaduras, trancas extras medo medo medo
nas portas e janelas, além das fechaduras SI.13.1) Ser assaltado(a)/ ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
principais roubado (a).
( )88. NS/NL ( )3. Interfone SI.13.2) Ser furtado (a). ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
( )99. NR ( )4. Cães de guarda SI.13.3) Ser vítima de ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
( ) 5. Alarme sequestro ou sequestro
( ) 6. Câmeras de vídeo relâmpago.
( ) 7. Vigia(s) na sua rua SI.13.4) Ser vítima de ofensa ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
( ) 8. Aumentou a altura do muro ou grade sexual/estupro
( ) 9. Cerca elétrica sobre o muro (ou SI.13.5) Ser confundido(a) ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
grade) com bandido(a) pela polícia.
9
SI. 13.6) Ser vítima de ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99 AV.1.5) Central disque ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99
ameaça ou agressão física denúncia municipal 156
SI.13.7) Ser vítima de ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
extorsão ou violência da AV. 2. Quais devem ser as TRÊS principais funções da polícia? [NÃO LER OPÇÕES –
polícia. MÚLTIPLA]
SI.13.8) Estar no meio de um ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
( ) 1. Proteger a integridade física das pessoas
tiroteio ou ser vítima de bala
( ) 2. Proteger o patrimônio e os bens das pessoas
perdida
( ) 3. Ajudar ou socorrer pessoas em dificuldades
SI.13.9) Ter sua casa ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99
arrombada ( ) 4. Garantir que os Direitos Humanos sejam respeitados
SI.13.10) Ser vítima de ( )1 ( )2 ( )3 ( ) 88 ( )99 ( ) 5. Investigar e solucionar crimes
homicídio ou tentativa de ( ) 6. Realizar ações de prevenção a crimes
homicídio ( ) 7. Recuperar objetos roubados ou furtados
( ) 8. Realizar trabalhos de assistência social
SI. 14. O (a) Sr.(a) poderia dizer o nome de dois bairros aqui de Feira de Santana que ( ) 9. Prender pessoas que cometem ou já cometeram crimes
acha mais inseguro ou perigoso ou esquisito? ( ) 10. Dar uma surra em pessoas que cometem ou já cometeram crimes
( ) 11. Matar pessoas que cometem ou já cometeram crimes
________________________________________________________________ ( ) 12. Outro. Qual: ________________________
( ) 77. NA
SI.15. Agora, o (a) Sr.(a) poderia dizer o nome de dois bairros aqui Feira de Santana ( ) 88. NS/NL
que acha mais seguro? ( ) 99. NR
________________________________________________________________
Agora vou fazer algumas perguntas sobre a Polícia Militar. A PM é aquela que faz
policiamento fardado nas ruas, ostensivo.
AV.6. [MOSTRAR CARTÃO 2] Como o(a) Sr(a) avalia as ações da POLÍCIA MILITAR AV.8. Agora vou fazer algumas perguntas e gostaria que o Sr (a) respondesse se sim ou
em relação a(ao): [LER CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA] se não. [ESPONTÂNEA]
Sim Não NS/NL NR
Ótimo Bom Regular Ruim NS/NL NR AV.3.1) Normalmente, os Policiais Civis sabem ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
AV.6.1) Punição dos ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 como agir em situações de risco e perigo?
policiais por mau AV.3.2) Normalmente, os Policiais Civis atendem ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
comportamento. as pessoas com cortesia, rapidez e segurança?
AV.6.2) Rapidez e ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 AV.3.3) Normalmente, os Policiais Civis abordam ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
qualidade no atendimento suspeitos de forma segura e dentro da lei?
emergencial. AV.3.4) Normalmente, os Policiais Civis não ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
AV.6.3) Abordagem policial ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 estão preparados para usar armas de fogo?
em Blitz, revista pessoal. AV.3.5) Normalmente, os Policiais Civis abusam ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
AV.6.4) Apresentação ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 do uso da força e de sua autoridade?
pessoal dos policiais como AV.3.6) Normalmente, os Policiais Civis fazem ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99
maneira de se vestir e falar “vistas grossas” à desonestidade de seus
AV.6.5) Proteção dos ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 colegas?
direitos das pessoas.
AV.7. Vou citar algumas ações da POLÍCIA MILITAR e gostaria de saber se, no último
mês, o(a) Sr(a) PRESENCIOU alguma delas no seu bairro. [LER OPÇÕES PARA CADA AV.9. De uma maneira geral, em se tratando da POLÍCIA CIVIL o(a) Sr(a) confia
ITEM – ÚNICA] muito:
( ) 1. Confia muito
Sim Não NA NS/NL NR ( ) 2. Confia
AV.7.1) Apreensão de ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 ( ) 3. Confia pouco
armas, faca, drogas ou ( ) 4. Não confia
contrabandos ( ) 88. NS/NL
AV.7.2)Enfrentamento ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99 ( ) 99. NR
11
( ) 4. Polícia Rodoviária (estadual ou federal)
AV.10. [MOSTRAR CARTÃO 2] Como o(a) Sr(a) avalia o atendimento da POLÍCIA ( ) 5. Guarda Municipal
CIVIL em relação a(ao): [LER CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA] ( ) 6. Outra Polícia. Qual: _______________________
Ótimo Bom Regular Ruim NS/N NR ( ) 77. NA [Pule para F.1]
L ( ) 88. NS/NL
AV.9.1) Investigação de ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 ( ) 99. NR
crimes.
AV.9.2) Punição dos policiais ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99 EP.3. No seu último contato com a polícia, de uma maneira geral, o (a) Sr(a) diria que os
com mau comportamento. policiais: [LER CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA]
AV.9.3) Rapidez e qualidade ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99
no atendimento e na Sim Não NA NS/NL NR
elaboração dos documentos
EP.3.1) Foram educados, corteses, ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
como registro de ocorrências
prestativos, interessados.
e antecedentes criminais.
EP.3.2) Foram aproveitadores, oportunistas, ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
AV.9.4) Apresentação pessoal ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99
relaxados, displicentes
dos policiais
EP.3.3) Agiram dentro da lei. ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
AV.9.5) Proteção dos direitos ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) 88 ( )99
EP.3.4) Foram preconceituosos / racistas. ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
das pessoas.
EP.3.5) Foram rápidos. ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
EP.3.6) Foram violentos / agressivos. ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
EXPERIÊNCIA COM A POLÍCIA
EP.3.7) Respeitaram seus direitos ( )1 ( )2 ( ) 77 ( ) 88 ( )99
EP.1. Qual foi o último tipo de contato ou experiência que o(a) Sr(a) teve com a
polícia? [LER OPÇÕES - ÚNICA] EP.4. No seu último contato com a polícia, houve algum tipo de agressão ou maus-
( ) 1. Pedido de informação tratos como os que vou ler a seguir? [LER CADA ITEM DA BATERIA -ÚNICA]
( ) 2. Assistência / primeiros socorros Sim Não NA NS/NL NR
( ) 3. Acidente de Trânsito EP.4.1) Linguagem grosseira / ( )1 ( )2 ( )77 ( ) 88 ( )99
( ) 4. Intervenção em crime em andamento xingamento / humilhação
( ) 5. Comunicação de crime ou violência EP.4.2) Empurrão / Tapa / Soco / ( )1 ( )2 ( )77 ( ) 88 ( )99
( ) 6. Comunicação perda de documentos pontapé.
( ) 7.Blitz EP.4.3) Ameaça / Intimidação. ( )1 ( )2 ( )77 ( ) 88 ( )99
( ) 8. Revista pessoal EP.4.4) Apontou a arma em sua direção. ( )1 ( )2 ( )77 ( ) 88 ( )99
( ) 9. Outro tipo de contato. Qual: ________________
( ) 77. NA [Pule para F.1] EP.5. No seu último contato com a polícia, algum policial exigiu ou pediu dinheiro ou
( ) 88. NS/NL objetos? [LER OPÇÕES - ÚNICA]
( ) 99. NR ( )1. Sim
( )2. Não
( )77. NA
( )88. NS/NL
EP.2. Qual foi a polícia com a qual o(a) Sr(a) teve seu último contato ou ( )99. NR
experiência? [NÃO LER OPÇÕES - ÚNICA]
( ) 1. Polícia Militar Na sociedade em que vivemos às vezes somos vítimas de alguns crimes e violência,
( ) 2. Polícia Civil vamos falar um pouco sobre isto.
( ) 3. Polícia Federal
12
FURTO ( ) 7. No local de trabalho
( ) 8. Outro Local. Qual: ____________
F.1. Nos últimos 12 meses, alguém levou sem utilizar força ou fazer ameaça algum ( ) 88. NS/NL
objeto do Sr.(a)? [LER OPÇÕES – ÚNICA] ( ) 99. NR
( ) 1. Sim.
( ) 2. Não [Pule para R.1] F.5. Qual órgão ou instituição foi chamada ou F.6. [MOSTRAR CARTÃO 7] Quais
( ) 88. NS/NL [Pule para R.1] informada primeiramente? [LER OPÇÕES – as TRÊS principais razões que
( ) 99. NR [Pule para R.1] ÚNICA] levaram o(a) Sr(a) a chamar ou
informar à [ colocar a resposta
F.1.a. Quantas vezes o (a) Sr. (a) foi furtado (a) nos últimos 12 meses? F.5.]? [NÃO LER OPÇÕES –
[ESPONTÂNEA]__________ MÚLTIPLA]
( ) 1. Polícia Militar ( ) 1. Acredita ser um dever
As perguntas a seguir são sobre a última vez que o furto de um bem aconteceu. denunciar
( ) 2. Polícia Civil ( ) 2. Em situações anteriores, foi
F.2. O que lhe furtaram? [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] bem tratado / atendido pela polícia
( ) 1. Carro, caminhão ou caminhonete ( ) 3. Guarda Municipal ( ) 3. Não conseguiu resolver a
( ) 2. Jóias, Relógio situação por meios próprios
( ) 3. CD, discman, walkman, MP3 ( ) 4. Polícia Federal / Polícia Rodoviária ( ) 4. Conhecia alguém influente na
( ) 4. Peças de vestuário (roupas, calçados, bolsas, etc) Federal polícia
( ) 5. Celular/Bip, notebook ou tablet ( ) 88. NS/NL [ PULE PARA F.10] ( ) 5. Tentativa de recuperar o bem
( ) 6. Documentos ( ) 99. NR [ PULE PARA F.10] ( ) 6. Impedir que aconteça
( ) 7. Cartão de crédito, talão de cheque novamente
( ) 8. Dinheiro (real, dólar, etc) ( ) 7. Queria o culpado pego /
( ) 9. Motocicleta punido
( ) 10. Bicicleta ( ) 8. Outra Razão. Qual:
( ) 11. Outros. Qual? __________________________ ___________
( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR F.7. De um modo geral, a maneira com que a F.8. [MOSTRAR CARTÃO 8] Quais
[ colocar a resposta F.5.] lidou com o caso, os TRÊS principais motivos que
deixou o(a) Sr(a)... [LER OPÇÕES – ÚNICA] levaram o(a) Sr(a) a ficar
F.3. Onde o(a) Sr(a) estava? [NÃO LER F.4. O(A) Sr(a) registrou ocorrência
satisfeito(a)? [NÃO LER OPÇÕES –
OPÇÕES – ÚNICA] na polícia? [NÃO LER OPÇÕES -
MÚLTIPLA]
ÚNICA]
( ) 1. Muito Satisfeito(a) ( ) 1. O atendimento policial foi
( ) 1. Em casa ( ) 1. Sim
cordial e gentil
( ) 2. Casa de algum parente ou amigo ( ) 2. Não.[ PULE PARA F.11]
( ) 2. Satisfeito(a) ( ) 2. A polícia teve “boa vontade” /
( ) 3. Meios de transporte (ônibus, metrô, ( ) 77. NA
atenção para resolver o caso
trem, táxi, lotação, etc.)
( ) 3. Insatisfeito(a) [Pule para F.9.] ( ) 3. A polícia chegou rápido ao local
( ) 4. Locais públicos internos (banco, escola, ( ) 88. NS/NL
( ) 4. Muito Insatisfeito(a) [Pule para F.9.] ( ) 4. A polícia foi rápida e eficiente
shopping,
durante o atendimento
restaurante, bar, loja, etc) ( ) 99. NR
( ) 5. A polícia foi rápida e eficiente
( ) 5. Locais públicos externos (praça,
para resolver o caso
parque, jardim, etc.)
( ) 88. NS/NL [PULE PARA F.10]] ( ) 6. A polícia recuperou o bem
( ) 6. Andando na rua
13
( ) 99. NR [PULE PARA F.10] ( ) 7. A polícia prendeu o assaltante
( ) 8. A polícia o(a) manteve F.11 [MOSTRAR CARTÃO 10] Quais as TRÊS F.12. Quando isso aconteceu, o(a)
propriamente informado(a) principais razões que levaram o(a) Sr(a) a Sr(a) deu queixa a algum outro
( ) 9. Outro Motivo. Qual: NÃO chamar ou informar à polícia? [NÃO LER órgão, instituições ou grupos que
________________________ OPÇÕES – MÚLTIPLA] NÃO tenha sido a polícia? [NÃO
( ) 88. NS/NL LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 99. NR ( ) 1. Não foi sério o bastante / Não houve ( ) 1. Sim
perda
( ) 2. Conhecia o(s) autor(es) ( ) 2. Não [PULE PARA R1]
F.9. [MOSTRAR CARTÃO 9] Quais os TRÊS F.10. O(s) criminosos (as) /
principais motivos que levaram o(a) Sr(a) a agressor(es) foi(ram) ( ) 3. Conseguiu resolver sem ajuda da polícia ( ) 88. NS/NL
NÃO ficar satisfeito(a) com a [ colocar a identificado(s) pela polícia? [NÃO ( ) 4. O bem não tinha seguro ( ) 99. NR
respostas F.5.]? [NÃO LER OPÇÕES – LER OPÇÕES – ÚNICA] ( ) 5. O bem foi recuperado
MÚLTIPLA] ( ) 6. A polícia não podia fazer nada / Falta de
prova
( ) 1. Foi “mal tratado” no atendimento policial ( ) 1. Sim [PULE PARA F.12] ( ) 7. Falta de confiança
( ) 2. A polícia não se mostrou interessada / ( ) 2. Não [PULE PARA F.12] ( ) 8. Medo da polícia
Não deu atenção ( ) 9. Não teve coragem (por medo de vingança
( ) 3. A polícia demorou para chegar ao local ( ) 88. NS/NL [PULE PARA F.12] do
( ) 4. A polícia foi lenta / ineficiente durante o ( ) 99. NR [PULE PARA F.12] autor)
atendimento ( ) 10. Outra razão. Qual:
( ) 5. A polícia foi lenta / ineficiente para ______________________
resolver o caso ( ) 88. NS/NL
( ) 6. A polícia não recuperou o bem ( ) 99. NR
( ) 7. A polícia não achou ou não prendeu o
culpado F.12.1 – Qual grupo ou instituição? [ESPONTÂNEA]
( ) 8. A polícia não o(a) manteve propriamente
informado(a)
( ) 9. Outro Motivo. Qual:
_______________________ ROUBO
( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR R.1. Nos últimos 12 meses, alguém roubou R.1.a. Quantas vezes isso ocorreu
algum objeto seu, com ameaça ou uso de nos últimos 12 meses?
violência? [LER OPÇÕES – ÚNICA]
____________
As perguntas a seguir são sobre a última vez que o roubo de um bem aconteceu
14
( ) 2. Não ( ) 2. Não
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR ( ) 99. NR
R.2. O que lhe roubaram? [NÃO LER OPÇÕES R.3. Onde o(a) Sr(a) estava? [NÃO
– MÚLTIPLA] LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 1. Carro, caminhão ou caminhonete ( ) 1. Na sua casa R.8. De uma forma geral, o roubo mudou R.9. O(a) Sr(a) registrou ocorrência na
( ) 2. Jóias, Relógio ( ) 2. Casa de algum parente ou sua rotina de vida? [NÃO LER OPÇÕES polícia? [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
amigo – ÚNICA]
( ) 3. CD, diskman, walkman, MP3 ( ) 3. Meios de transporte (ônibus, ( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
metrô, trem, táxi, lotação, etc.) ( ) 2. Não ( ) 2. Não [ PULE PARA R.16]
( ) 4. Peças de vestuário (roupas, calçados, ( ) 4. Locais públicos internos ( ) 77. NA ( ) 88. NS/NL
Bolsas, etc) (banco, escola, shopping, ( ) 88. NS/NL ( ) 99. NR
( ) 5. Celular/Bip, notebook ou tablet restaurante, bar, loja, etc) ( ) 99. NR
( ) 6. Documentos ( ) 5. Locais públicos externos
(praça, parque, jardim, etc.) R.10. Qual órgão ou instituição foi chamada R.11. [MOSTRAR CARTÃO 7]
( ) 7. Cartão de crédito, talão de cheque ( ) 6. Andando na rua ou informada primeiramente? [LER OPÇÕES Quais as TRÊS principais razões
( ) 8. Dinheiro (real, dólar, etc) ( ) 7. No local de trabalho – ÚNICA] que levaram o(a) Sr(a) a chamar ou
( ) 9. Motocicleta ( ) 8. Outro Local. Qual: _________ informar à [ colocar a resposta
( ) 10. Bicicleta ( ) 88. NS/NL R.10]]? [NÃO LER OPÇÕES –
( ) 11. Outros. Qual? ( ) 99. NR MÚLTIPLA]
__________________________ ( ) 1. Polícia Militar ( ) 1. Acredita ser um dever
( ) 88. NS/NL denunciar
( ) 99. NR ( ) 2. Polícia Civil ( ) 2. Em situações anteriores, foi
bem tratado / atendido pela polícia
R.4. Houve algum tipo de agressão R.5. O(s) assaltante(s) tinha(m) uma faca, ( ) 3. Guarda Municipal ( ) 3. Não conseguiu resolver a
física? [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA] arma de fogo, outra arma, ou alguma situação por meios próprios
coisa que foi usada como arma? [NÃO ( ) 4. Polícia Federal / Polícia Rodoviária ( ) 4. Conhecia alguém influente na
LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] Federal polícia
( ) 1. Sim ( ) 1. Faca ( ) 88. NS/NL [PULE PARA R.15.] ( ) 5. Tentativa de recuperar o bem
( ) 2. Não ( ) 2. Arma de fogo ( ) 99. NR [PULE PARA R.15.] ( ) 6. Impedir que aconteça
( ) 88. NS/NL ( ) 4. Pedra novamente
( ) 99. NR ( ) 5. Outro tipo de arma. Qual: ( ) 7. Queria o culpado pego /
___________ punido
( ) 6. Não ( ) 8. Outra Razão. Qual:
( ) 77. NA [Pule para E.1] ___________
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR ( ) 99. NR
R.6. O(A) Sr(a) sofreu algum ferimento R.7. Houve necessidade de atendimento
durante o assalto? [NÃO LER OPÇÕES médico, hospitalar ou psicológico? [NÃO
– ÚNICA] LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
15
resolver o caso
( ) 6. A polícia não recuperou o bem
( ) 7. A polícia não achou ou não prendeu o
culpado
( ) 8. A polícia não o(a) manteve propriamente
informado(a)
( ) 9. Outro Motivo. Qual:
R.12.. De um modo geral, a maneira com que R.13 [MOSTRAR CARTÃO 8] Quais _______________________
a [ colocar a resposta R.10..] lidou com o os TRÊS principais motivos que ( ) 88. NS/NL
caso, deixou o(a) Sr(a)... [LER OPÇÕES – levaram o(a) Sr(a) a ficar ( ) 99. NR
ÚNICA] satisfeito(a)? [NÃO LER OPÇÕES –
MÚLTIPLA] R.16. [MOSTRAR CARTÃO 10] Quais as R.17 Quando isso aconteceu, o(a)
( ) 1. Muito Satisfeito(a) ( ) 1. O atendimento policial foi TRÊS principais razões que levaram o(a) Sr(a) Sr(a) deu queixa a algum outro
cordial e gentil a NÃO chamar ou informar à polícia? [NÃO órgão, instituições ou grupos que
( ) 2. Satisfeito(a) ( ) 2. A polícia teve “boa vontade” / LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] NÃO tenha sido a polícia? [NÃO
atenção para resolver o caso LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 3. Insatisfeito(a) [Pule para R.14.] ( ) 3. A polícia chegou rápido ao local ( ) 1. Não foi sério o bastante / Não houve ( ) 1. Sim
( ) 4. Muito Insatisfeito(a) [Pule para R.14.] ( ) 4. A polícia foi rápida e eficiente perda
durante o atendimento ( ) 2. Conhecia o(s) autor(es) ( ) 2. Não [PULE PARA R1]
( ) 5. A polícia foi rápida e eficiente ( ) 3. Conseguiu resolver sem ajuda da polícia ( ) 88. NS/NL
para resolver o caso ( ) 4. O bem não tinha seguro ( ) 99. NR
( ) 88. NS/NL [PULE PARA R.15.] ( ) 6. A polícia recuperou o bem ( ) 5. O bem foi recuperado
( ) 99. NR [Pule PARA R.15.] ( ) 7. A polícia prendeu o assaltante ( ) 6. A polícia não podia fazer nada / Falta de
( ) 8. A polícia o(a) manteve prova
propriamente informado(a) ( ) 7. Falta de confiança
( ) 9. Outro Motivo. Qual: ( ) 8. Medo da polícia
________________________ ( ) 9. Não teve coragem (por medo de vingança
( ) 88. NS/NL do
( ) 99. NR autor)
( ) 10. Outra razão. Qual:
R.14. [MOSTRAR CARTÃO 9] Quais os TRÊS R.15. O(s) criminosos (as) / ______________________
principais motivos que levaram o(a) Sr(a) a agressor(es) foi(ram) ( ) 88. NS/NL
NÃO ficar satisfeito(a) com a [ colocar a identificado(s) pela polícia? [NÃO ( ) 99. NR
resposta R.10..]? [NÃO LER OPÇÕES – LER OPÇÕES – ÚNICA]
MÚLTIPLA] R.17.1 – Qual grupo ou instituição? [ESPONTÂNEA]
AA.2. Dentre as agressões e ameaças que o AA.3. Onde o(a) Sr(a) estava?
AGRESSÕES E AMEAÇAS (a) Sr.(a) citou [ se o entrevistado não lembrar [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
o que ele disse, leia quais ele marcou na
AA.1. [MOSTRAR CARTÃO 11] Nos últimos 12 meses, o(a) Sr(a) foi vítima de alguma questão AA.1] qual foi a última
das situações listadas neste cartão? [SE SIM, PERGUNTAR QUANTAS VEZES] agressão/ameaça sofrida? [NÃO LER
Sim Não NS/NL NR OPÇÕES – ÚNICA]
AA.1.1) Insulto, humilhação ou xingamento. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 1. Insulto, humilhação ou xingamento ( ) 1. Em casa
N de vezes: ( ) 2. Ameaça de bater, empurrar ou chutar ( ) 2. Na casa de algum parente ou
AA.1.2) Ameaça de bater, empurrar ou chutar. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 amigo
N de vezes: ( ) 3. Batida, empurrão ou chute ( ) 3. No local de trabalho
A.1.3) Batida, empurrão ou chute. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 4. Lesão provocada por algum objeto que ( ) 4. Andando na rua
N de vezes: lhe foi atirado
A.1.4) Lesão provocada por algum objeto que lhe ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 5. Espancamento ou tentativa de ( ) 5. Locais públicos internos
foi atirado. estrangulamento (banco, escola,
N de vezes: ( ) 6. Esfaqueamento ou tiro shopping, restaurante, igreja, órgão
A.1.5) Espancamento ou tentativa de ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 público, etc)
estrangulamento. ( ) 7. Ameaça com faca ou arma de fogo ( ) 6. Meios de transporte (carro,
N de vezes: moto, ônibus,
A.1.6) Esfaqueamento ou tiro. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 8. Amedrontamento ou perseguição metrô, trem, táxi, lotação, etc)
( ) 9. Outra situação. Qual: ___________ ( ) 7. Locais públicos externos (rua,
N de vezes: praça,
A.1.7) Ameaça com faca ou arma de fogo. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 parque, jardim, etc)
N de vezes: ( ) 88. NS/NL ( ) 8. Outro Local. Qual:
A.1.8) Amedrontamento ou perseguição. ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 99. NR ________________
N de vezes: ( ) 88. NS/NL
A.1.9) Alguma outra situação ( )1 ( )2 ( ) 88 ( )99 ( ) 99. NR
N de vezes:
AA.4. Qual (ais) era(m) o(s) sexo do(s) AA.5. Entre os agressores, havia
[SE O ENTREVISTADO RESPONDEU NÃO EM TODOS OS QUESITOS ACIMA, PULE agressor(es)? [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA] algum conhecido seu?
PARA OS.1] ( ) 1. Masculino ( ) 1. Sim
( ) 2. Feminino ( ) 2. Não [PULE PARA AA.6]
17
( ) 3. Masculino/Feminino AA.7. O(s) agressor(s) tinha(m) uma faca, AA.8. Nesta agressão, o(a) Sr(a)
( ) 88. NS/NL arma de fogo, outra arma, ou alguma coisa sofreu algum ferimento? [NÃO LER
( ) 88. NS/NL ( ) 99. NR que foi usada como arma? [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 99. NR OPÇÕES – MÚLTIPLA]
( ) 1. Faca ( ) 1. Sim
AA.5.a. Quem era(m) o(s) agressor(es)? [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] ( ) 2. Arma de fogo ( ) 2. Não
( ) 1. Policial ( ) 3. Pau/Madeira ( ) 77. NA
( ) 2. Conhecido(a) de vista ( ) 4. Pedra ( ) 88. NS/NL
( ) 3. Professor(a) ( ) 5. Outro tipo de arma. Qual: ( ) 99. NR
( ) 4. Chefe(Patrão / Patroa) _____________
( ) 5. Colega de trabalho ( ) 6. Não
( ) 6. Ex-marido(Ex-companheiro) / Ex-esposa(Excompanheira) ( ) 77. NA
( ) 7. Marido (Companheiro) / Esposa (Companheira) ( ) 88. NS/NL
( ) 8. Ex-namorado(a) / Ex-noivo ( ) 99. NR
( ) 9. Namorado(a) / Noivo(a)
( ) 10. Vizinho(a) AA.9. Houve necessidade de atendimento AA.10. De uma forma geral, o
( ) 11. Padrasto / Madrasta médico, hospitalar ou psicológico? [NÃO acontecido mudou sua rotina de
( ) 12. Amigo(a) LER OPÇÕES – ÚNICA] vida?
( ) 13. Pai / Mãe ( ) 1. Sim ( ) 1. Sim
( ) 14. Outros parentes: primos, tios, avós e demais ( ) 2. Não ( ) 2. Não
( ) 88. NS/NL ( ) 77. NA ( ) 77. NA
( ) 99. NR ( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR ( ) 99. NR
AA.6. Além do(a) agressor(a), havia mais A.6.a. Quem? [NÃO LER OPÇÕES –
alguém presente? [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] AA.11. O(A) Sr(a) registrou ocorrência na polícia? [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
ÚNICA] ( )1. Sim
( ) 1. Sim ( ) 1. Desconhecido(a) ( ) 2. Não [PULE PARA AA.18.]
( ) 2. Não [Pule para AA.7.] ( ) 2. Filho(s) ( ) 88. NS/NL
( ) 77. NA [Pule para AA.7.] ( ) 3. Ex-marido(Ex-companheiro) / Ex- ( ) 99. NR
esposa(Excompanheira)
( ) 88. NS/NL [Pule para AA.7.] ( ) 4. Marido(Companheiro) / AA.12. Qual órgão ou instituição foi chamada AA.13. [MOSTRAR CARTÃO 7]
Esposa(Companheira) ou informada primeiramente? [LER OPÇÕES Quais as TRÊS principais razões
( ) 99. NR [Pule para AA.7.] ( ) 5. Ex-namorado(a) / Ex-noivo – ÚNICA] que levaram o(a) Sr(a) a chamar ou
( ) 6. Namorado(a) / Noivo(a) informar à [ colocar a resposta
( ) 7. Outro(s) Parente(s). Qual: AA.12..]? [NÃO LER OPÇÕES –
_____________ MÚLTIPLA]
( ) 8. Vizinho(a) / Amigo(a) / ( ) 1. Polícia Militar ( ) 1. Acredita ser um dever
Conhecido(s) denunciar
( ) 77. NA ( ) 2. Polícia Civil ( ) 2. Em situações anteriores, foi
( ) 88. NS/NL bem tratado / atendido pela polícia
( ) 99. NR ( ) 3. Guarda Municipal ( ) 3. Não conseguiu resolver a
situação por meios próprios
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( ) 4. Polícia Federal / Polícia Rodoviária ( ) 4. Conhecia alguém influente na Sr(a) a NÃO ficar satisfeito(a) com a [ colocar a identificado(s) pela polícia? [NÃO
Federal polícia resposta AA.12]? [NÃO LER OPÇÕES – LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 88. NS/NL [PULE PARA AA.17] ( ) 5. Tentativa de recuperar o bem MÚLTIPLA]
( ) 99. NR[ PULE PARA AA.17] ( ) 6. Impedir que aconteça
novamente ( ) 1. Foi “mal tratado” no atendimento policial ( ) 1. Sim [ PULE PARA AA.19]
( ) 7. Queria o culpado pego / ( ) 2. A polícia não se mostrou interessada / ( ) 2. Não [ PULE PARA AA.19]
punido Não deu atenção
( ) 8. Outra Razão. Qual: ( ) 3. A polícia demorou para chegar ao local ( ) 88. NS/NL [ PULE PARA AA.19]
___________ ( ) 4. A polícia foi lenta / ineficiente durante o ( ) 99. NR [ PULE PARA AA.19]
( ) 88. NS/NL atendimento
( ) 99. NR ( ) 5. A polícia foi lenta / ineficiente para
resolver o caso
( ) 6. A polícia não recuperou o bem
( ) 7. A polícia não achou ou não prendeu o
culpado
( ) 8. A polícia não o(a) manteve propriamente
informado(a)
( ) 9. Outro Motivo. Qual:
AA.14. De um modo geral, a maneira com AA.15. [MOSTRAR CARTÃO 8] _______________________
que a [ colocar a resposta AA.12..] lidou com Quais os TRÊS principais motivos ( ) 88. NS/NL
o caso, deixou o(a) Sr(a)... [LER OPÇÕES – que levaram o(a) Sr(a) a ficar ( ) 99. NR
ÚNICA] satisfeito(a)? [NÃO LER OPÇÕES –
MÚLTIPLA] AA.18.. [MOSTRAR CARTÃO 10] Quais as AA.19. Quando isso aconteceu,
( ) 1. Muito Satisfeito(a) ( ) 1. O atendimento policial foi TRÊS principais razões que levaram o(a) Sr(a) o(a) Sr(a) deu queixa a algum
cordial e gentil a NÃO chamar ou informar à polícia? [NÃO outro órgão, instituições ou grupos
( ) 2. Satisfeito(a) ( ) 2. A polícia teve “boa vontade” / LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] que NÃO tenha sido a polícia?
atenção para resolver o caso [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 3. Insatisfeito(a) [Pule para AA.16.] ( ) 3. A polícia chegou rápido ao local ( ) 1. Não foi sério o bastante / Não houve ( ) 1. Sim
( ) 4. Muito Insatisfeito(a) [Pule para AA.16.] ( ) 4. A polícia foi rápida e eficiente perda
durante o atendimento ( ) 2. Conhecia o(s) autor(es) ( ) 2. Não [PULE PARA OS.1.]
( ) 5. A polícia foi rápida e eficiente ( ) 3. Conseguiu resolver sem ajuda da polícia ( ) 88. NS/NL [PULE PARA OS.1.]
para resolver o caso ( ) 4. O bem não tinha seguro ( ) 99. NR [PULE PARA OS.1.]
( ) 88. NS/NL [PULE PARA AA.17.] ( ) 6. A polícia recuperou o bem ( ) 5. O bem foi recuperado
( ) 99. NR [Pule PARA AA.17.] ( ) 7. A polícia prendeu o assaltante ( ) 6. A polícia não podia fazer nada / Falta de
( ) 8. A polícia o(a) manteve prova
propriamente informado(a) ( ) 7. Falta de confiança
( ) 9. Outro Motivo. Qual: ( ) 8. Medo da polícia
________________________ ( ) 9. Não teve coragem (por medo de vingança
( ) 88. NS/NL do
( ) 99. NR autor)
( ) 10. Outra razão. Qual:
AA.16. [MOSTRAR CARTÃO 9] Quais os AA.17. O(s) criminosos (as) / ______________________
TRÊS principais motivos que levaram o(a) agressor(es) foi(ram) ( ) 88. NS/NL
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( ) 99. NR ( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR
AA.19.1 – Qual grupo ou instituição? [ESPONTÂNEA]
OS.3. O(A) Sr(a) estava sozinho(a) ? OS.3.1. De Quantas pessoas?
[NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 1. Sim ____________________
( ) 2. Não [PULE PARA OS.4]
OFENSA SEXUAL
Algumas vezes as pessoas agarram, tocam ou agridem outras pessoas por ( ) 88. NS/NL
motivos sexuais. Isto pode acontecer em casa ou em outros lugares. As perguntas ( ) 99. NR
a seguir são sobre agressões sexuais. Lembro-lhe que este questionário é
anônimo e sua identidade não será revelada.
OS.1. Nos últimos 12 meses, alguém fez ou OS.1.a. Quantas vezes isto ocorreu
tentou fazer isto com o(a) Sr(a)? [LER nos últimos 12 meses?
OPÇÕES – MÚLTIPLA]
( ) 1. Sim. _____________________
( ) 2. Não [ AGRADEÇA E FINALIZA O OS.4. Quem era(m) o(s) agressor(es)? OS.5. O(s) agressor(es) tinha(m) uma
QUESTIONÁRIO] [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] faca, arma de fogo, outra arma, ou
( ) 88. NS/NL [ AGRADEÇA E FINALIZA O alguma coisa que foi usada como arma?
QUESTIONÁRIO] [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA]
( ) 99. NR [ AGRADEÇA E FINALIZA O ( ) 1. Desconhecido(a) ( ) 1. Faca
QUESTIONÁRIO] ( ) 2. Policial ( ) 2. Arma de fogo
( ) 3. Conhecido(a) de vista ( ) 3. Pau/Madeira
( ) 4. Professor(a) ( ) 4. Pedra
OS.2. Onde o(a) Sr(a) estava? [Não LER OPÇÕES – ÚNICA] ( ) 5. Chefe(Patrão / Patroa) ( ) 5. Outro tipo de arma. Qual: ____
( ) 1. Em casa ________
( ) 2. Na casa de algum parente ou amigo ( ) 6. Ex-marido(Ex-companheiro) / Ex- ( ) 6. Não
( ) 3. No local de trabalho esposa(Excompanheira)
( ) 4. Locais públicos internos (banco, escola, shopping, restaurante, igreja, órgão ( ) 7. Colega de trabalho ( ) 77. NA
público, etc.) ( ) 8. Marido(Companheiro) / ( ) 88. NS/NL
( ) 5. Locais públicos externos (rua, praça, parque, jardim, etc.) Esposa(Companheira)
( ) 9. Ex-namorado(a) / Ex-noivo ( ) 99. NR
( ) 6. Meios de transporte (carro, moto, ônibus, metrô, trem, táxi, lotação, etc.)
( ) 10. Namorado(a) / Noivo(a)
( ) 7. Outro Local. Qual: __________________ ( ) 11. Vizinho(a)
( ) 12. Padrasto / Madrasta
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( ) 13. Amigo(a) ( ) 88. NS/NL
( ) 14. Pai / Mãe ( ) 99. NR
( ) 15. Primos, tios, avós e demais
parentes OS.13. De um modo geral, a maneira com OS.14. [MOSTRAR CARTÃO 8]
( ) 88. NS/NL que a [ colocar a resposta OS.11.] lidou com Quais os TRÊS principais motivos
( ) 99. NR o caso, deixou o(a) Sr(a)... [LER OPÇÕES – que levaram o(a) Sr(a) a ficar
ÚNICA] satisfeito(a)? [NÃO LER OPÇÕES –
OS.6. Nesta agressão, o(a) Sr(a) sofreu OS.7. Houve necessidade de MÚLTIPLA]
algum ferimento? [NÃO LER OPÇÕES – atendimento médico, hospitalar ou ( ) 1. Muito Satisfeito(a) ( ) 1. O atendimento policial foi
ÚNICA] psicológico? [NÃO LER OPÇÕES – cordial e gentil
ÚNICA] ( ) 2. Satisfeito(a) ( ) 2. A polícia teve “boa vontade” /
( ) 1. Sim ( ) 1. Sim atenção para resolver o caso
( ) 2. Não ( ) 2. Não ( ) 3. Insatisfeito(a) [PULE PARA OS.15.] ( ) 3. A polícia chegou rápido ao local
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL ( ) 4. Muito Insatisfeito(a) [PULE PARA ( ) 4. A polícia foi rápida e eficiente
( ) 99. NR ( ) 99. NR OS.15.]] durante o atendimento
( ) 5. A polícia foi rápida e eficiente
OS.8. De uma forma geral, o acontecido OS.10. O(A) Sr(a) registrou para resolver o caso
mudou sua rotina de vida? ocorrência na polícia? [NÃO LER ( ) 88. NS/NL [PULE PARA OS.16.] ( ) 6. A polícia recuperou o bem
OPÇÕES – ÚNICA] ( ) 99. NR [Pule PARA OS.16.] ( ) 7. A polícia prendeu o assaltante
( ) 8. A polícia o(a) manteve
( ) 1. Sim ( ) 1. Sim propriamente informado(a)
( ) 2. Não ( ) 2. Não [PULE PARA OS.17.] ( ) 9. Outro Motivo. Qual:
( ) 88. NS/NL ( ) 88. NS/NL [PULE PARA OS.17.] ________________________
( ) 99. NR ( ) 99. NR [PULE PARA OS.17.] ( ) 88. NS/NL
OS.11. Qual órgão ou instituição foi OS.12.. [MOSTRAR CARTÃO 7] ( ) 99. NR
chamada ou informada primeiramente? Quais as TRÊS principais razões que
[LER OPÇÕES – ÚNICA] levaram o(a) Sr(a) a chamar ou
informar à [ colocar a resposta OS.15. [MOSTRAR CARTÃO 9] Quais os TRÊS OS.16. O(s) criminosos (as) /
OS.11.]? [LER OPÇÕES – principais motivos que levaram o(a) Sr(a) a NÃO agressor(es) foi(ram)
MÚLTIPLA] ficar satisfeito(a) com a [ colocar a resposta identificado(s) pela polícia?
( ) 1. Polícia Militar ( ) 1. Acredita ser um dever denunciar OS.11.]? [NÃO LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] [NÃO LER OPÇÕES – ÚNICA]
( ) 2. Polícia Civil ( ) 2. Em situações anteriores, foi bem
tratado / atendido pela polícia ( ) 1. Foi “mal tratado” no atendimento policial ( ) 1. Sim [ PULE PARA OS.18]
( ) 3. Guarda Municipal ( ) 3. Não conseguiu resolver a ( ) 2. A polícia não se mostrou interessada / Não ( ) 2. Não [ PULE PARA OS.18]
situação por meios próprios deu atenção
( ) 4. Polícia Federal / Polícia Rodoviária ( ) 4. Conhecia alguém influente na ( ) 3. A polícia demorou para chegar ao local ( ) 88. NS/NL [ PULE PARA
Federal polícia OS.18]
( ) 88. NS/NL ( ) 5. Tentativa de recuperar o bem ( ) 4. A polícia foi lenta / ineficiente durante o ( ) 99. NR [ PULE PARA OS.18]
( ) 99. NR ( ) 6. Impedir que aconteça novamente atendimento
( ) 7. Queria o culpado pego / punido ( ) 5. A polícia foi lenta / ineficiente para resolver o
( ) 8. Outra Razão. Qual: caso
___________ ( ) 6. A polícia não recuperou o bem
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( ) 7. A polícia não achou ou não prendeu o
culpado AGRADEÇO SUA ATENÇÃO E DISPONIBILIDADE PARA CONTRIBUIR COM ESTA
( ) 8. A polícia não o(a) manteve propriamente PESQUISA. OBRIGADO (A)!!! TENHA UMA BOA TARDE/BOM DIA/BOA NOITE!
informado(a)
( ) 9. Outro Motivo. Qual:
_______________________
( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR
Anote aqui observações e informações que julgar serem importantes:
OS.17. [MOSTRAR CARTÃO 10] Quais as OS.18. Quando isso aconteceu,
TRÊS principais razões que levaram o(a) Sr(a) o(a) Sr(a) deu queixa a alguém ou
a NÃO chamar ou informar à polícia? [NÃO algum outro órgão, instituições ou
LER OPÇÕES – MÚLTIPLA] grupos que NÃO tenha sido a
polícia? [NÃO LER OPÇÕES –
ÚNICA]
( ) 1. Não foi sério o bastante / Não houve ( ) 1. Sim
perda
( ) 2. Conhecia o(s) autor(es) ( ) 2. Não [AGRADEÇA E
FINALIZE]
( ) 3. Conseguiu resolver sem ajuda da polícia ( ) 88. NS/NL [AGRADEÇA E
FINALIZE]
( ) 4. O bem não tinha seguro ( ) 99. NR [AGRADEÇA E
( ) 5. O bem foi recuperado FINALIZE]
( ) 6. A polícia não podia fazer nada / Falta de
prova
( ) 7. Falta de confiança
( ) 8. Medo da polícia
( ) 9. Não teve coragem (por medo de vingança
do
autor)
( ) 10. Outra razão. Qual:
______________________
( ) 88. NS/NL
( ) 99. NR
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