02 - Os Ministérios Da Palavra e Da Misericórdia

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OS MINISTÉRIOS DA PALAVRA E DA MISERICÓRDIA


Texto básico: Atos 6.1-7

Introdução

Seguindo o exemplo de Cristo, a igreja tem a responsabilidade do anúncio da Palavra


de Deus e da ação de assistência misericordiosa. Diante dessas tarefas, porém,
surgem algumas perguntas: Como o Senhor orienta o seu povo, para que
desempenhem bem essas funções? Será que essas tarefas devem ser deixadas
livremente para quem quiser ou há pessoas especificamente responsáveis por elas na
vida cotidiana da igreja?

O propósito desta lição é responder a perguntas como estas relacionando esse


aspecto central do ministério de Cristo à prática diária da sua igreja, a qual
estabeleceu distintamente dois ministérios responsáveis respectivamente por cada
uma dessas atividades.

Como esses ministérios surgiram, quais são as pessoas que devem estar relacionados
a cada um deles, como eles foram e devem ser exercidos hoje na igreja, e como cada
cristão pode se envolver direta ou indiretamente com tais atividades, são as questões
que veremos neste estudo.

I. DISTINGUINDO OS MINISTÉRIOS
O texto de Atos 6.1-7 nos mostra como os ministérios da Palavra e da misericórdia se
estruturaram na igreja cristã, e nos ajuda a compreender melhor a vocação essencial
de cada um deles.

Devido ao grande acréscimo de novos convertidos, os gentios começaram a reclamar


que as suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária, ao contrário do
que ocorria com as dos hebreus (v.1).

Tal queixa levou os doze apóstolos convocarem a comunidade cristã e explicar que
não seria razoável que eles deixassem de cumprir com o seu ministério da pregação
da Palavra de Deus para se dedicar ao cuidado social da igreja (v.2).

Sendo assim, eles propuseram que a igreja escolhesse dentre os seus membros
pessoas que dessem um bom testemunho cristão, revelando uma destacada piedade
espiritual, para se encarregarem desse serviço de misericórdia (v.3), ao passo que os
apóstolos deveriam se concentrar na oração e no anúncio da Palavra de Deus (v.4).

Esse conselho agradou à igreja, que elegeu os seus primeiros diáconos (v.5). Eles
foram apresentados aos apóstolos que, orando e impondo as mãos sobre eles,
ordenaram-nos ao ministério da misericórdia (v.6).

A seguir, o texto expressa que crescia a divulgação da Palavra de Deus, multiplicando-


se o número dos discípulos, dentre os quais havia muitos sacerdotes (v.7).

Nesse episódio que nos apresenta a instituição do ofício do diaconato, vemos a


necessária atuação da igreja em duas frentes: a primordial, que é o ministério da
Palavra, através do qual pecadores são salvos por Deus.

A própria Escritura diz: "Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que
anunciam coisas boas!

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Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na
nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo" (Rm 10.15-17).

Pelo ministério da Palavra, a igreja do Senhor é edificada, conforme Paulo nos ensina
em Efésios 2.20: "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele
mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular".

Há ainda a frente auxiliar, que é o ministério da misericórdia, através do qual as


pessoas são cuidadas pela igreja em suas necessidades naturais (2Co 9.1-5,12-15).

Houve necessidade da separação dessas duas esferas de ação porque, se antes os


apóstolos também cuidavam da assistência aos santos (At 4.34,35), o acúmulo de
atividades estava tomando inviável a qualidade do cumprimento de ambos os
ministérios.

Contudo, a separação em dois ministérios distintos não elimina a existência de


nenhum dos dois; apenas ocorreu para serem conduzidos por oficiais distintos,
presbíteros e diáconos, cujos ministérios expressam ações que devem estar presentes
na vida de cada cristão individualmente.

É importante notar que, tanto a tarefa de pregar a Palavra quanto a de exercer a


misericórdia são virtudes que devem ser cultivadas por todos os cristãos.

Enfim, embora separadas em ministérios distintos, a proclamação da Palavra da


salvação e a ação misericordiosa de compaixão devem marcar o testemunho cotidiano
da igreja cristã. Passemos agora, a estudar cada um desses dois ministérios
separadamente.

II. O MINISTÉRIO DA PALAVRA


Uma vez que os Evangelhos nos mostram que o Filho de Deus tanto ensinava quanto
pregava as Escrituras, somos alertados para o fato de que Cristo ministrava a Palavra
de Deus de maneira diversificada. Ele não o fazia apenas nas sinagogas, mas muitas
vezes ao ar livre e em casas de pessoas.

Essa atuação do nosso Senhor Jesus Cristo nos faz lembrar que toda igreja que
queira desenvolver um ministério da Palavra com relevância, seja onde for,
especialmente nos centros urbanos, precisa estar atenta às oportunidades de
proclamação e diversificar a sua forma de anunciar as verdades bíblicas.

Devido à sua importância, o ministério da Palavra precisa receber a principal atenção


na igreja local, a qual deve contar preferencialmente e na medida do possível com
pessoas que se dediquem exclusivamente a essa atividade (At 6.1,2,4).

Tais pessoas devem receber condições para exercerem esse ministério com real
dedicação (lTm 5.17,18), de tal maneira que a Palavra de Deus seja semeada com
profundidade e qualidade (lTm 4.13-16). O objetivo desse ministério não é o de
apenas alimentar os crentes (1 Tm 4.6), mas também de formar neles o caráter de
Cristo.

Paulo, orientando seu discípulo Timóteo, diz: 'Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a
infância, sabes as sagradas letras, que podem tomar-te sábio para a salvação pela fé
em Cristo Jesus.

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Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2Tm 3.14-17).

Além disso, o ministério da Palavra tem como função capacitar a igreja ao serviço a
Deus (Ef 4.11,12), chamar os perdidos à fé (At 20.21; 2Tm 4.5) e instruir novos líderes
que deem continuidade à tarefa da pregação, não retendo para si o conhecimento
(2Tm 2.2).

Isso tudo nos mostra que o ministério da Palavra deve ser variado quanto ao modo, o
que inclui pregação, ensino, debate, estudo, palestra, etc. Ele também deve ser
variado quanto ao seu meio de divulgação, que pode ser a palavra falada, escrita,
cantada, ao vivo, gravada, etc.

Esse ministério deve também ser variado quanto ao seu destino, pois muitos são os
grupos aos quais se deve anunciar a Palavra de Deus, a saber: os incrédulos, os
novos convertidos, os crentes amadurecidos e os líderes da igreja.

Deve ainda ser variado quanto aos lugares e circunstâncias do anúncio das Escrituras:
no prédio onde a igreja se reúne, nos lares dos crentes e incrédulos que aceitem, nas
classes de Escola Dominical, em lugares públicos devidamente acertados para isso ou
ainda em ocasiões oportunas e informais que apareçam, como uma conversa no trem,
ônibus ou metrô, ao passageiro ao lado em uma viagem, etc.

Deus distribuiu à sua igreja vários dons relacionados ao ministério da Palavra, os


quais devem ser exercidos nas mais variadas circunstâncias, formal ou informalmente
(2Tm 4.2), pois todos os cristãos, oficiais ou não, foram chamados para ser
testemunhas de Cristo até que esse testemunho alcance os confins da terra (At 1.8).

Para alcançarmos a nossa cidade para Cristo, precisamos restaurar essa variedade de
atuação no ministério da Palavra.

Primeiro, temos que resgatar a verdade bíblica de que cada cristão deve ser uma
testemunha de Cristo, visto que essa tarefa não é de exclusiva responsabilidade dos
ministros ordenados da Palavra, mas um privilégio de todos aqueles que conheceram
pessoalmente o Filho de Deus.

Até os mais improváveis, como o ex-endemoninhado geraseno recém-convertido (Mc


5.19,20) ou a mulher samaritana de conduta moral, até então, reprovável (Jo 4.39-42),
testemunharam a respeito do evangelho.

Segundo, temos que resgatar a verdade bíblica sobre as inúmeras maneiras de


comunicarmos a Palavra de Deus. Quando Paulo esteve com os presbíteros de
Efeso em Mileto, responsáveis pelo ministério da Palavra, disse-lhes:

"Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo,
desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda
a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me
sobrevieram, jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e
de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando
tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em
nosso Senhor Jesus [Cristo]" (At 20.18-21).

Ele deu o exemplo de como se deve diversificar a transmissão das verdades da Bíblia.

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Não devemos nos restringir (ainda que não se pretenda diminuir a importância) às
tradicionais e institucionais maneiras pelas quais vimos fazendo ao longo de séculos
(At 2.42,46).

Com a diversificação de maneiras, lugares e circunstâncias de anúncio da Palavra de


Deus, ocorrerá uma natural procura maior dos meios através dos quais as Escrituras
são coletiva e individualmente ministradas à igreja (At 20.7), que são as pregações
dominicais e os estudos bíblicos doutrinários, o que inclui a Escola Dominical (Hb
10.25; IPe 2.2).

III. O MINISTÉRIO DA MISERICÓRDIA


Os Evangelhos narram que Cristo curava toda sorte de doenças e enfermidades das
pessoas (Mt 9.35). Jesus exerceu como ninguém o ministério da misericórdia, pois
ninguém se preocupava tanto com as necessidades das pessoas como ele.

É claro que não podemos nem de longe ser comparados a Cristo no que diz respeito
ao poder de amenizar ou mesmo de fazer cessar o sofrimento das pessoas.

Ele próprio disse de si mesmo: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me
ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano
aceitável do Senhor" (Lc 4.18,19).

Mas ele também ordenou o que os apóstolos deveriam fazer ao entrarem em alguma
cidade: "curai os enfermos que nela houver e anunciai- lhes: A vós outros está próximo
o reino de Deus" (Lc 10.9). Isso demonstra que paira sobre a igreja a responsabilidade
de se preocupar com as necessidades dos outros. A isso chamamos de ministério da
misericórdia.

Toda igreja que deseja desenvolver um ministério completo e relevante, especialmente


nos centros urbanos, onde as oportunidades e também as carências humanas e
sociais se multiplicam, precisa estar atenta às necessidades daqueles que estão
próximos.

A igreja deve ir ao encontro deles e procurar, na medida do possível, demonstrar


misericórdia diante das suas dores, sofrimentos e angústias, demonstrando
concretamente o amor de Deus por elas através de palavras e atos misericordiosos
que venham a lhes aliviar os sofrimentos.

Ainda que essa prática deva inicialmente contemplar os da igreja, também deve
atender aos de fora. Paulo orienta a igreja dos gálatas: "Por isso, enquanto tivermos
oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé"
(G16.10).

Também Pedro orientou seus leitores: "Porque assim é a vontade de Deus, que, pela
prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos" (IPe 2.15). Há uma
dimensão dessa ação de misericórdia que serve de testemunho do amor gracioso de
Deus para com os pecadores.

A igreja deve refletir esse amor de forma geral a todas as pessoas (Mt 5.44-46; Rm
13.8) como legítima expressão da graça de Deus que rompe barreiras e vai atrás do
perdido, do desgarrado, do pecador, do indiferente e do ausente (Jo 15.3,5,8,9).

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O exercício da misericórdia é tanto uma demonstração aos pecadores do amor de


Deus que é derramado em nossos corações (Mt 9.13; Rm 5.5), quanto uma
consequência prática e real da verdadeira fé (Mt 5.16; Tg 2.17,18).

Para alcançarmos a nossa cidade para Cristo, precisamos resgatar a atuação do


ministério da misericórdia.

Primeiro, restaurando a compreensão de que o nosso discurso sobre o amor ao


próximo precisa vir acompanhado de atos concretos. Palavras e ações devem
necessariamente caminhar lado a lado na vida dos cristãos, assim como a expressão
de amor a Deus deve ser unida à demonstração de amor ao próximo, para não
incorrermos na hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.23).

Segundo, amando ao próximo de forma concreta como a verdadeira


manifestação de misericórdia para com aqueles que estão carentes dela. João, o
discípulo do amor registrou: "Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a
seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer
nele o amor de Deus?" (lJo 3.17).

Os nossos atos de misericórdia são, em certa medida, uma demonstração de que


fomos e somos abençoados por Deus; afinal, como disse o Senhor, "bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5.7).

Além disso, as boas obras evidenciam que somos eleitos de Deus (Cl 3.12) e que,
consequentemente, seremos salvos da condenação final: "Porque o juízo é sem
misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa
sobre o juízo" (Tg 2.13). O nosso cuidado para com o próximo, procurando aliviar as
suas dores e minimizar as suas carências é, portanto, evidência do amor de Deus por
nós ao nos transformar de pecadores egocêntricos em instrumentos da misericórdia e
do amor de Deus pelos outros.

Conclusão

A pregação da Palavra de Deus e as ações de socorro às necessidades naturais das


pessoas devem ocorrer na igreja de Deus paralelamente como ministérios distintos,
porém casados. O ministério da Palavra satisfaz sobrenaturalmente as pessoas, ao
oferecer-lhes a divina graça, visto ser o principal meio de comunicação dela. O
ministério da misericórdia, por sua vez, satisfaz naturalmente as pessoas ao oferecer-
lhes a assistência providencial expressa nos atos de cuidado, compaixão e
misericórdia, os quais confirmam a mensagem cristã de amor e acolhida. Ainda que os
oficiais presbíteros e diáconos se encarreguem respectivamente dos ministérios da
Palavra e da misericórdia, eles não cumprirão sozinhos essas responsabilidades;
apenas deverão ser os seus coordenadores na vida cotidiana da igreja.

Aplicação

Você tem aproveitado as oportunidades de pregar a Palavra de Deus às pessoas sem


Cristo que estão ao seu alcance? O que você tem feito de concreto de forma a exercer
a responsabilidade cristã da assistência misericordiosa? Como você poderia cooperar
com os ministérios da Palavra e da misericórdia em sua igreja? Trace planos e
propostas para envolver mais pessoas nos dois ministérios aqui estudados e ofereça-
os à liderança da igreja.

AUTOR: RAIMUNDO M. MONTENEGRO NETO

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