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EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

1. Lê o texto que se segue.


A questão acerca da natureza da arte é antiga. Nasceu com Platão e daí para cá não tem
deixado de uma ou outra vez inquietar os filósofos. Mas na segunda metade do século XX esta
questão impôs-se como inadiável, em grande parte devido às surpreendentes e filosoficamente
perturbantes mutações que iam acontecendo na prática artística. A perplexidade era
compreensível. Até aí, quase toda a gente sabia como decidir se um objeto era ou não uma obra
de arte porque a diferença entre as obras de arte e os outros objetos era explicitamente exibida
nas próprias obras pela via de propriedades de forma e conteúdo. Por exemplo, era uma
condição necessária, para que uma coisa fosse uma pintura ou uma escultura, que fosse uma
imagem, a duas ou três dimensões, de um objeto ou acontecimento, real ou fictício. Aquilo a que
hoje chamamos arte abstrata não seria admitido como arte por não satisfazer este requisito. A
música combinava sons de acordo com regras respeitantes à harmonia, melodia e ritmo, e
modalidades estabelecidas, como a sonata, a fuga e a sinfonia. Assim, as obras de Cage ou
Stockhausen não se enquadrariam nesse domínio. A literatura, o teatro e a dança obedeciam
também a regras próprias e não havia qualquer lugar no sistema das artes para realidades como
os happenings, os objects trouvés, os ready-made ou a arte conceptual. «Objeto ansioso» foi a
expressão inventada pelo crítico de arte Rosenberg para designar a espécie de criação artística
que visa deliberadamente manter-nos na incerteza sobre se é ou não uma obra de arte. O mais
célebre de todos foi A Fonte, de Duchamp, mas outros apareceram depois dele que continuaram
a dividir os filósofos quanto à posição que deviam tomar a seu respeito.
Carmo D’Orey (org.) (2007). O que é a arte? A perspetiva analítica. Dinalivro, pp. 9-10.

1.1.Que questões trouxe o século XX ao debate sobre a natureza da arte?

Cenário de resposta
1.1. Trouxe surpreendentes e perturbantes mutações na prática artística. Até aí sabia-se como decidir se um
objeto era ou não uma obra de arte, pois distinguia-se dos restantes objetos pela forma e pelo conteúdo.
«(…) Era condição necessária, para ser uma obra de arte, que fosse uma pintura ou uma escultura, que
fosse uma imagem, a duas ou três dimensões, de um objeto ou acontecimento, real ou fictício. (…) A música
combinava sons de acordo com as regras da harmonia, melodia e ritmo», por exemplo. A arte do século XX
trouxe para o seu seio objetos estranhos como os happenings, os objets trouvés, os ready-made ou a arte
conceptual.

2. Lê, atentamente, o texto.


O que dizes parece-me ser deveras verdadeiro, ó Sócrates.
– Tenhamos, portanto, por assente, que todos os poetas, começando por Homero, são
imitadores da imagem da virtude e dos demais assuntos sobre os quais versejam e que não
atingem a verdade; e é assim que, como ainda há pouco dissemos, o pintor fará, sem ele
próprio nada entender de sapatos, um sapateiro que parecerá verdadeiro aos que percebem tão
pouco de fazer sapatos como ele, mas julgam apenas pelas cores e pelas formas?
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– Exatamente. (…)
– Por conseguinte, o imitador, nem saberá, nem terá uma opinião certa, no que toca à beleza ou
fealdade das suas imitações.
– Parece que não. (…)
– Contudo, não deixará de fazer à mesma as suas imitações, sem saber em que sentido é que
cada uma é má ou boa; mas, ao que parece, o que ele imitará será o que parecer belo à
multidão ignorante.
– Que outra coisa há de fazer?
– Quanto a estas questões, estamos, ao que parece, suficientemente de acordo: que o imitador
não tem mais do que um conhecimento insignificante das coisas que imita, e que essa imitação
não é senão uma forma de brincadeira que não deve ser levada a sério; e que os que se
abalançam à poesia trágica, que compõem em versos iâmbicos ou épicos, são todos eles
imitadores, tanto quanto se pode ser.
– É isso mesmo. (…) – Era a este ponto que eu desejava chegar, quando afirmava que a poesia
e, em geral, toda a arte mimética, executa as suas obras longe da verdade e que, além disso,
convive com a parte de nós mesmos avessa à sensatez, sem ter em vista nesta companhia e
amizade nada de são nem de verdadeiro.
– Exatamente.
Platão (2005). A República, Livro X. Guimarães Editores, pp. 600a-603b.

2.1. Clarifica a tese presente no texto.

2.2. Mostra, com frases do texto, por que razão Platão desconsidera os poetas e os pintores.

3. Contrapõe a posição de Aristóteles à de Platão.

4. Seleciona a opção que permite obter a única afirmação adequada ao sentido do


texto.

4.1. Para Platão, os poetas são:


(A) Conhecedores da imagem da virtude.
(B) Sabedores de todos os assuntos das suas rimas.
(C) Desconhecedores da imagem da virtude.
(D) Sabedores de todas as verdades.

4.2. Segundo Platão, o imitador:


(A) Saberá mas não terá uma opinião certa sobre a beleza e a fealdade.
(B) Não saberá mas dará uma opinião certa sobre a beleza e a fealdade.
(C) Não saberá nem terá uma opinião certa sobre a beleza e a fealdade.
(D) Saberá e dará uma opinião certa sobre a beleza e a fealdade.

4.3. Para Platão, todas as artes miméticas executam as suas obras:


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(A) Perto da sensatez.


(B) Longe da verdade.
(C) Perto do agradável.
(D) Longe do falso.

4.4. Para Aristóteles, e contrariamente a Platão, a arte é:


(A) Imitação natural.
(B) Invenção do real.
(C) Purificação ou catarse.
(D) Todas as hipóteses anteriores.

4.5. Para Platão, a arte:


(A) É uma cópia imperfeita da verdade, que reside nas ideias.
(B) É uma construção do real.
(C) Imita a realidade e representa a verdade.
(D) É uma cópia fiel das ideias.

Cenários de resposta
2.1. O texto aborda a perspetiva de Platão relativamente à arte. Para ele, como fica claro no texto, a arte é
imitação e os artistas, no caso os poetas e os pintores, são maus imitadores de uma realidade que
desconhecem e, por isso, enganadores e falsos.
2.2. «Todos os poetas, começando por Homero, são imitadores da imagem da virtude e dos demais
assuntos sobre os quais versejam e que não atingem a verdade»; «O pintor fará, sem ele próprio nada
entender de sapatos, um sapateiro»; «O imitador, nem saberá, nem terá uma opinião certa, no que toca à
beleza ou fealdade das suas imitações»; «Não deixará de fazer à mesma as suas imitações, sem saber em
que sentido é que cada uma é má ou boa»; «Que o imitador não tem mais do que um conhecimento
insignificante das coisas que imita, e que essa imitação não é senão uma forma de brincadeira que não deve
ser levada a sério»; «A poesia e, em geral, toda a arte mimética, executa as suas obras longe da verdade».
3. Aristóteles tem uma opinião mais positiva do que Platão sobre a arte e os artistas. Para Aristóteles, a arte
é igualmente imitação, mas considera que esta é natural ao ser humano e que é uma imitação verdadeira, e
não falsa, com diz Platão. A arte é, para Aristóteles, uma invenção do real e tem um caráter pedagógico, já
que fortalece o sentimento de vida comunitária. Por fim, considera ainda que ela tem um efeito purificador
ou de catarse, já que pela sua expressão permite tomar consciência da vida e dos sentimentos, positivos e
negativos, que ela transporta.
4.1. (C).
4.2. (C).
4.3. (B).
4.4. (D).
4.5. (A).

5. Lê o texto que se segue.


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A atividade da arte é baseada no facto de que o homem, ao receber pela audição ou visão as
expressões dos sentimentos de outro homem, é capaz de experimentar os mesmos sentimentos
daquele que os expressa. O exemplo mais simples: um homem ri e outro homem sente-se
alegre; ele chora e o homem que ouve esse choro sente-se triste; um homem está animado,
aborrecido, e outro, olhando-o, entra no mesmo estado. Com os seus movimentos, o som da
sua voz, um homem demonstra alegria, determinação ou, ao contrário, melancolia, calma – e
essa disposição comunica-se aos outros. (…) A atividade da arte baseia-se nessa capacidade que
as pessoas têm de ser contagiadas pelos sentimentos de outras pessoas. (…) A arte começa
quando um homem, com o propósito de comunicar aos outros um sentimento que ele
experimentou certa vez, o invoca novamente dentro de si e o expressa por certos sinais
exteriores. (…) É arte se um homem, tendo experimentado na realidade ou em imaginação o
horror do sofrimento ou a delícia do prazer, expressa esses sentimentos sobre a tela ou no
mármore de tal maneira que outros sejam contagiados por eles. E da mesma forma será arte se
um homem que vivenciou ou imaginou sentimentos de regozijo, felicidade, tristeza, desespero,
alegria, melancolia, bem como as transições entre esses sentimentos, vier a expressá-los em
sons, de forma que os ouvintes se contagiem deles e os vivenciem da mesma maneira como ele
os experimentou.
Lev Tolstoi (2002). O que é a Arte? Edidouro, pp. 73-75 (adaptado).

5.1. Utilizando frases do texto, expõe as características da arte, segundo o autor.

Cenário de resposta
5.1. Para Tolstoi, «a atividade da arte baseia-se nessa capacidade que as pessoas têm de ser contagiadas
pelos sentimentos»; «é arte se um homem, tendo experimentado na realidade ou em imaginação o horror
do sofrimento ou a delícia do prazer, expressa esses sentimentos sobre a tela ou no mármore de tal maneira
que outros sejam contagiados por eles»; «será arte se um homem que vivenciou ou imaginou sentimentos
de regozijo, felicidade, tristeza, desespero, alegria, melancolia, bem como as transições entre esses
sentimentos, vier a expressá-los em sons, de forma que os ouvintes se contagiem deles e os vivenciem da
mesma maneira como ele os experimentou».

6. Observa, atentamente, a imagem.


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Pablo Picasso, Guernica, 1937.


6.1. Expõe as considerações que seriam feitas por um representante de cada uma das três
teorias essencialistas da arte estudadas.

Cenário de resposta
6.1. Relativamente ao quadro de Picasso, o representante da teoria da arte como imitação teria alguma
dificuldade em considerá-lo uma obra de arte. Afinal, o que é que está a ser imitado? Na realidade, veem-se
algumas caras humanas e focinhos de animais, mas não são imitações perfeitas, são disformes, sem
sentido. Provavelmente, ao aplicar-lhe os seus critérios de classificação e de valoração, que permitem
distinguir uma obra de arte de outro tipo qualquer de objeto, o partidário da arte como imitação não
conseguiria classificar Guernica como uma obra de arte. Ou, se a considerasse, tomá-la-ia como uma má
obra de arte, já que, em termos de imitação, no seu entender, deixaria muito a desejar.
O representante da teoria da arte como expressão ficaria impressionadíssimo com a tela de Picasso. Para
este, a arte revela os sentimentos e emoções vividos pelo artista, a que o espectador acede e (re)vive.
Consideraria que há clareza nessa transmissão de sentimentos e sinceridade, o que provocaria no
observador uma unicidade de sentimentos. Neste sentido, seria considerada uma verdadeira obra de arte.
Para o formalista, Guernica seria igualmente uma obra de arte, já que provocaria no público conhecedor
uma verdadeira emoção estética. A obra de Picasso estaria dotada de forma significante, provocando a
emoção estética. Diria: a sua estrutura, a conjugação das suas linhas com as cores e a combinação das suas
formas tornam-na esteticamente estimulante, daí que conduza ao êxtase que provoca a emoção que só as
verdadeiras obras de arte originam em quem as observa, a emoção estética.

7. Indica as afirmações verdadeiras.


A. A teoria da arte como imitação dá-nos um critério claro daquilo que pode ser considerado
arte.
B. Lev Tolstoi é um representante da teoria da arte como imitação.
C. Para a teoria da arte como expressão podem classificar-se todas as obras como arte.
D. Segundo a teoria da arte como expressão, qualquer criação artística expressa emoções.
E. Um representante da teoria da arte como forma considera que uma obra de arte provoca
uma emoção estética.
F. Para a teoria da arte como forma, todas as obras consideradas arte possuem forma
significante.
G. Para a teoria da arte como expressão, uma obra de arte imita a natureza.
H. Para a teoria da arte como forma, a natureza é a única realidade que deve ser
representada.
I. A teoria da arte como expressão define a arte a partir do sujeito – emoção estética – e não
a partir do objeto.
J. Para a teoria expressivista, a arte é um meio de comunicação de sentimentos e emoções
por parte do artista.
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Cenário de resposta
7. A; D; E; F; I; J.
8. Lê, com atenção, o texto que se apresenta de seguida.
Suponhamos que o conceito de arte de uma dada cultura incluía objetos que (…) nunca eram
observados com admiração, prazer ou um qualquer tipo de fascínio, em público ou em privado
(…), não eram alvo de nenhum vocabulário crítico, nunca eram admirados pela sua técnica. (…)
Poderíamos dizer que esta tribo tem «um conceito de arte diferente do nosso»? Não (…), eles
não «são arte num sentido diferente do sentido ocidental». Eles não são sequer obras de arte.
Para se qualificar como uma obra de arte (…) um objeto misterioso, novo para a nossa
experiência, teria de partilhar alguns daqueles aspetos – oferecer prazer sensível quando o
experienciamos, ser criado dentro de um estilo tradicional (ou contra), envolto numa intensa
tensão imaginativa, ser feito ou executado de forma talentosa, ser simbólico ou representativo,
expressar emoção ou sentimento, e por aí fora – que a arte partilha, não só na cultura ocidental,
mas também nas grandes tradições artísticas da Ásia e do resto do Mundo, incluindo culturas
tribais de África, das Américas e da Oceânia. Se não existe nenhuma ligação discernirei com este
conjunto estabelecido de ideias, o objeto misterioso não é um novo tipo de arte: nem sequer é
arte.
Denis Dutton (2010). Arte e Instinto. Temas e Debates, p. 131.

Seleciona a opção que permite obter a única afirmação adequada ao sentido do texto.
8.1. O conceito de arte de uma cultura inclui objetos que não são observados:
(A) Com admiração, sem prazer e com fascínio.
(B) Com exclamação, com prazer e com fascínio.
(C) Com admiração, com prazer e com fascínio.
(D) Com admiração, com lazer e com fascínio.

8.2. Para serem arte esses objetos teriam de:


(A) Oferecer desprazer sensível e expressar emoção.
(B) Ter um estilo ocasional e serem feitos com talento.
(C) Estar envoltos numa tensão imaginativa e serem representativos.
(D) Expressar um sentimento e serem explícitos.

Cenários de resposta
8.1. (C).
8.2. (C).

9. Identifica as afirmações verdadeiras.


A. A linguagem artística é unívoca.
B. O século XIX alterou o estatuto e a função da arte.
C. A arte é conhecimento.
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D. Não é pela história da arte que obtemos conhecimento das sociedades.


E. A obra de arte é, desde o século XX, um produto de mercado.
F. Uma das características da arte é a sua polissemia.
G. O artista é um ser afastado da realidade que o envolve.
H. O século XX trouxe novas expressões artísticas.
I. A arte é potenciadora da mudança de mentalidades.
J. Pela sua produção, o artista recria a realidade, mas não a transfigura.
K. O grafíti não é arte.
L. A arte do século XX bloqueou a imediatez da perceção sensorial e aumentou a sua
incompreensibilidade.
M. Por vezes, a arte é um produto cultural.
N. A obra de arte é passível de várias interpretações.
O. A arte é, por essência, interventiva. P. A arte é a atividade dos ociosos.

Cenário de resposta
9. C; E; F; H; I; L; N; O.

10. Considera as imagens e respetivas legendas.

10.1. Que dificuldades colocam as diferentes representações de Mona Lisa a um defensor da


arte como imitação?

Cenário de resposta
10.1. A tese defendida pela teoria da arte como imitação é a de que uma obra é arte quando é produzida
como imitação da natureza e da ação. Quando observamos diferentes representações da Mona Lisa, por
exemplo, podemos questionar-nos se estas obras imitam alguma coisa. Botero recria a obra de Da Vinci,
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parodia-a, não imita nem o original, nem, com certeza, a mulher que serviu de modelo à obra de Da Vinci,
se é que esse modelo alguma vez existiu.

11. Considera a imagem e respetiva legenda.

Edvard Munch, O Grito, 1893. A obra representa uma figura distorcida


num momento de profunda angústia existencial. O cenário é a doca de
Oslofjord, em Oslo. Munch, cuja existência foi mergulhada em tragédias
pessoais, dá-nos conta de como surgiu a obra: «Passeava com dois
amigos ao pôr do sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei,
exausto, e inclinei-me sobre o muro – havia sangue e línguas de fogo
sobre o azul-escuro do fiorde e sobre a cidade –, os meus amigos
continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito
infinito da natureza».

11.1. Que aspetos desta obra e da sua criação parecem dar razão aos defensores da teoria
expressivista da arte?

11.2. Considerando a obra O Grito, de Munch, analisa criticamente a teoria expressivista da


arte.

Cenários de resposta
11.1. A tese defendida pela teoria da arte como expressão, ou teoria expressivista, é a de que uma obra é
arte quando expressa e comunica intencionalmente uma emoção ou sentimento vivido pelo artista e quando
provoca no público essa mesma emoção ou sentimento. Parece ser um facto que Munch – à semelhança do
que acontece com muitos artistas – procurou expressar nesta tela um conjunto de emoções muito fortes que
vivenciou nesse final de tarde na doca de Oslofjord. É também um facto que muitas pessoas que observam
O Grito são capazes de partilhar com o artista as sensações de ansiedade e angústia que o conduziram à
elaboração do quadro. Estes factos parecem dar razão, pelo menos em parte, aos defensores da teoria
expressivista. Resta saber se essas razões são suficientes.
11.2. Se parece óbvio que Munch expressou intencionalmente, através de O Grito, emoções e sentimentos
pessoais e que os procurou partilhar com os observadores, já não será tão evidente que todas as pessoas
que se confrontem com a tela se sintam assaltadas por emoções semelhantes às do artista. Por outro lado,
como saber se Munch conseguiu, de facto, os seus intentos ao procurar expressar na tela as suas emoções?

12. Lê o texto que se segue.


O ponto de partida de todos os sistemas de estética tem de ser a experiência pessoal de uma
emoção peculiar. Aos objetos que provocam esta emoção chamamos «obras de arte». Todas as
pessoas sensíveis concordam em afirmar que as obras de arte provocam uma emoção peculiar.
Naturalmente, não quero com isto dizer que todas as obras provocam a mesma emoção. Pelo
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contrário, cada obra gera uma emoção diferente. Mas todas estas emoções podem ser
identificadas como emoções da mesma espécie. (…) Julgo que a existência de uma espécie
particular de emoção, provocada pelas obras de arte visual, emoção essa que é provocada por
todos os géneros de arte visual (pinturas, esculturas, edifícios, vasos, gravuras, têxteis, etc.,
etc.), não é posta em dúvida por quem for capaz de a sentir. Esta emoção chama-se «emoção
estética» e, se pudermos descobrir alguma qualidade comum e peculiar de todos os objetos que
a provocam, teremos solucionado o que considero ser o problema central da estética. Teremos
descoberto a qualidade essencial da obra de arte, a qualidade que distingue as obras de arte de
todas as outras classes de objetos.
Clive Bell (2007). “A Hipótese Estética”, in Carmo D’Orey,
O que é a arte? A perspetiva analítica. Dinalivro, p. 29.

12.1. Qual a qualidade essencial da arte, segundo Clive Bell? Justifica com frases do texto.

Cenário de resposta
12.1. O ponto de partida de todos os sistemas de estética tem de ser a experiência pessoal de uma emoção
peculiar. Aos objetos que provocam esta emoção chamamos «obras de arte»; «(…) as obras de arte
provocam uma emoção peculiar»; «Esta emoção chama-se “emoção estética”»; «Teremos descoberto a
qualidade essencial da obra de arte, a qualidade que distingue as obras de arte de todas as outras classes de
objetos».

13. Lê o texto que se segue.


Pois ou todas as obras de arte visual têm uma qualidade comum, ou, quando falamos de «obras
de arte», estamos a divagar sem nexo. Toda a gente fala da «arte», operando uma classificação
mental pela qual distingue a classe das «obras de arte» de todas as outras classes. Qual é a
justificação para esta classificação? Qual é a qualidade comum e peculiar de todos os membros
desta classe? Seja ela qual for, não há dúvida de que se encontra frequentemente em
companhia de outras qualidades; mas estas são adventícias – aquela é essencial. Tem de haver
uma qualidade sem a qual não pode haver obra de arte. Possuindo-a, ainda que em grau
mínimo, nenhuma obra é completamente desprovida de valor. Que qualidade é esta? Qual é a
qualidade que é partilhada por todos os objetos que provocam as nossas emoções estéticas? (…)
Parece-me que há uma única resposta possível: a forma significante. (…) Uma particular
combinação de linhas e cores, certas formas e relações entre formas, despertam as nossas
emoções estéticas. A estas relações e combinações de linhas e cores, a estas formas
esteticamente estimulantes, chamo eu «Forma Significante»; e a «Forma Significante» é a única
qualidade comum a todas as obras de arte visual. (…)
Os objetos que provocam emoção estética variam de indivíduo para indivíduo. Os juízos
estéticos são, como diz o provérbio, uma questão de gosto; e os gostos, todos o admitem com
orgulho, não se discutem. Um bom crítico pode ser capaz de me fazer ver, numa pintura que me
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deixou frio, coisas em que eu não havia reparado, até que, por fim, recebendo a emoção
estética, a reconheço como obra de arte. (…) Para uma discussão de estética, apenas temos de
acordar em que as formas dispostas e combinadas de acordo com certas leis desconhecidas e
misteriosas nos emocionam de um modo particular, e em que a tarefa do artista consiste em
combiná-las e dispô-las de modo a emocionar-nos. A estas combinações e disposições chamei
eu, por comodidade e por outra razão que surgirá mais tarde, «Forma Significante».
Clive Bell (2007). “A Hipótese Estética”, in Carmo D’Orey,
O que é a arte? A perspetiva analítica. Dinalivro, pp. 30-32.

13.1. Qual a qualidade partilhada por todos os objetos que provoca a emoção estética?

13.2. Em que consiste essa qualidade?

Cenários de resposta
13.1. Essa qualidade é a forma significante.
13.2. A forma significante consiste numa «particular combinação de linhas e cores, certas formas e relações
entre formas, que despertam as nossas emoções estéticas».

14. Tendo em conta as teorias essencialistas da arte estudadas, faz corresponder as


afirmações que se a cada uma delas.

1. O objeto artístico é aquele que provoca emoções estéticas no seu público.


2. As obras de arte são imitação.
3. Uma obra é arte quando expressa e comunica intencionalmente uma emoção vivida pelo
artista.
4. A forma significante é uma caraterística da estrutura da obra de arte.
5. A imitação é natural ao ser humano.
6. A atividade artística é baseada no facto de o ser humano, ao receber as expressões dos
artistas, ser capaz de experimentar os mesmos sentimentos.
7. A atividade da arte baseia-se nessa capacidade que as pessoas têm de ser contagiadas
pelos sentimentos de outras pessoas.
8. O ponto de partida de todos os sistemas estéticos tem de ser a experiência pessoal de uma
emoção estética.
9. Todas as emoções podem ser identificadas e sentidas, desde que o artista as transmita com
sinceridade.
10. É uma combinação particular de linhas e cores, certas formas e relações entre formas, o
que distingue um objeto artístico de um outro qualquer objeto.

Cenários de resposta
14. 1. Teoria da arte como forma; 2. Teoria da arte como imitação; 3. Teoria da arte como expressão; 4.
Teoria da arte como forma; 5. Teoria da arte como imitação; 6. Teoria da arte como expressão; 7. Teoria da
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arte como expressão; 8. Teoria da arte como forma; 9. Teoria da arte como expressão; 10. Teoria da arte
como forma.

15. A teoria da arte como forma significante centra a sua definição de arte:
(A) No espectador.
(B) No artista.
(C) Na obra.
(D) Na natureza.

Cenário de resposta
15. (A).

16. Lev Tolstoi defende que uma obra só é arte se:


(A) Imitar claramente uma sensação vivida pelo artista.
(B) Contagiar o espectador com as emoções e sentimentos do artista.
(C) Recriar novos sentimentos no espectador.
(D) Transmitir claramente uma mensagem.

Cenário de resposta
16. (B).

17. Para Clive Bell, a emoção estética resulta:


(A) Da capacidade de o recetor captar a emoção estética.
(B) Da maior ou menor capacidade criadora do artista.
(C) Da clareza com que a obra de arte exprime essa emoção.
(D) De uma particular combinação de linhas e cores, certas formas e relação entre formas.

Cenário de resposta
17. (D).

18. Para a teoria da arte como expressão, a obra de arte consiste:


(A) Numa ideia do artista.
(B) Numa ideia do espectador.
(C) Numa emoção do artista.
(D) Numa emoção do espectador.

Cenário de resposta
18. (C).

19. Uma das críticas à teoria formalista da arte é que:


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(A) O conceito de forma significante não existe.


(B) O conceito de forma significante não se expressa.
(C) O conceito de forma significante é demasiado vago.
(D) O conceito de forma significante é limitador.
Cenário de resposta
19. (C).

20. Lê o texto com atenção.


Os artistas são pessoas inspiradas por uma experiência de profunda emoção e usam a sua
aptidão com palavras ou desenho, ou música, ou mármore, ou movimento, para dar corpo a
essa emoção numa obra de arte. A marca do sucesso neste esforço é o estímulo da mesma
sensação no seu público. É assim que se pode dizer que os artistas comunicam experiência
emocional.
Gordon Graham (2001). Filosofia das Artes. Edições 70, p. 44.

20.1. Qual a teoria da arte a que se refere o texto?

20.2. Quais as condições necessárias, segundo essa teoria, para que uma obra seja considerada
arte?

Cenários de resposta
20.1. Teoria da arte como expressão.
20.2. As condições necessárias são: a obra exprimir os sentimentos e as emoções do artista e este, com a
sua obra, ter a capacidade de contagiar com os mesmos sentimentos e emoções o público.

21. Tendo em conta a teoria da forma significante:


a) Apresenta as linhas gerais daquilo que defende o seu principal teorizador.
b) Apresenta as críticas que lhe são feitas.

Cenários de resposta
21. a) Clive Bell é o principal teorizador da teoria da arte como forma significante. Bell defende que não há
uma característica comum a todas as formas de arte, mas que nelas existe uma caraterística que marca
todas as experiências estéticas: a emoção estética, que resulta da forma significante. Assim, para Bell, não
se deve procurar aquilo que define uma obra de arte na própria arte mas no sujeito que a aprecia. Bell
afirma que a emoção estética é provocada pela apreciação das obras de arte, mas não expressa por elas, o
que o afasta da teoria da arte como expressão.
21. b) A teoria de Bell é criticada pelas seguintes razões: há quem não sinta nada perante obras que são
consideradas arte; o critério da forma significante não é claramente explicado; é acusada de ser uma teoria
circular, pois a emoção estética é provocada pela forma significante e esta é o resultado da emoção estética;
é também acusada de ser uma teoria elitista, em virtude de insinuar que só alguns afortunados são capazes
de sentir a emoção estética perante uma obra de arte.

22. Lê, atentamente, o texto que se segue.


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O valor da arte tanto para o criador como para os consumidores encontra-se na sua capacidade
para clarificar e individualizar emoções específicas. Quando um observador sensível olha, por
exemplo, para uma pintura de Van Gogh de um par de botas velhas, a emoção que sente irá,
idealmente, assemelhar-se à de Van Gogh.
Nigel Warburton (2007). O Que é a Arte? Bizâncio, p. 63.
22.1. Esclarece as principais críticas à teoria da arte presente no texto.

Cenário de resposta
22.1. Teoria da arte como expressão. Uma obra é arte se exprime emoção ou os sentimentos do artista.
Limitadora na classificação do que é arte. Há obras que não exprimem coisa nenhuma. Como saber o que o
artista quis exprimir? Como saber se o que o espectador sente é o mesmo que o artista sentiu ao criar?

23. Lê, atentamente, o texto seguinte.


A teoria da forma significante (…) começa pelo pressuposto de que todas as obras de arte
genuínas produzem uma emoção estética no espectador, ouvinte ou leitor. Esta emoção é
diferente das emoções da vida quotidiana: distingue-se por não ter nada a ver com interesses
práticos. Que características das obras de arte fazem que as pessoas reajam daquela forma?
Porque evocam as obras de arte aquela emoção estética?
Nigel Warburton (1998). Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, p. 221.

23.1. Clarifica, justificadamente, o conceito referido no texto.

23.2. Responde às duas questões levantadas pelo texto.

Cenários de resposta
23.1. Conceito de forma significante. É uma relação entre as características que distinguem a estrutura de
uma obra de arte, e não o seu conteúdo. Todas as obras de arte produzem uma emoção estética.
23.2. É o que nos conduz ao êxtase pelo sentido da forma, da cor e do espaço tridimensional. A emoção
estética resulta da forma significante e esta só existe se provocar essa emoção estética. O espectador deve
procurar a forma significante e não a expressão da emoção. Tudo o que provoque essa emoção estética é
arte.

24. Faz corresponder o conceito à respetiva descrição.

Conceito Descrição
A. Tem origem na teoria mimética da arte, de Platão e Aristóteles.
Afirma que a representação é uma condição necessária da arte, ou seja,
uma propriedade essencial comum a todas as obras de arte: X só é uma
obra de arte se for representação (se X é arte, então é representação).
Fornece um critério classificativo de arte (estabelece o que é arte) e um
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má arte).

B. Considera que qualquer definição bem-sucedida de arte tem de partir


1. Teoria arte
dos elementos dos enquadramentos (contextos e relações) que rodeiam
como
as obras de arte e não de propriedades essenciais. A formulação mais
representação
conhecida da teoria afirma que X é uma obra de arte, no sentido
classificatório, se, e só se, X for um artefacto sobre o qual alguém age
2. Teoria da arte
em nome de uma determinada instituição (o mundo da arte),
como expressão
conferindo-lhe o estatuto de candidato à apreciação.

3. Teoria da arte C. Concebe a arte como algo intimamente ligado à expressão de

como forma emoções. Toda a obra de arte implica necessariamente clarificação

significante deliberada de um estado emocional que o artista experimentou: X só é


uma obra de arte se for expressão clarificada de uma emoção que o

4. Teoria artista experimentou. Fornece um critério classificativo de arte

institucional da (estabelece o que é arte) e um critério avaliativo de arte (estabelece o

arte que é boa ou má arte).

D. Aborda a arte como retrospetiva e estabelece duas condições


5. Teoria histórica
necessárias e conjuntamente suficientes para que algo possa ser
da arte
classificado como arte: uma visão com bons precedentes históricos e a
titularidade ou propriedade. X é uma obra de arte, se, e só se, X for um
objeto acerca do qual alguém, que tem direito à propriedade de X, tiver
a intenção não transitória de que X seja encarado da mesma forma (ou
formas) como o foram outros objetos já abrangidos pelo conceito de
obra de arte.

E. Teoria essencialista que afirma que X é uma obra de arte se, e só se,
X for concebido principalmente para possuir e exibir forma significante.
Fornece um critério classificativo de arte (estabelece o que é arte), mas
também de um critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má
arte).

Cenário de resposta
24. 1 → A; 2 → C; 3 → E; 4 → B; 5 → D.

25. Lê, atentamente, o texto seguinte.


Dizem que as pessoas não gostam das obras de arte porque são incapazes de entendê-las. Mas
se o trabalho da arte tem por objetivo contagiar as pessoas com o sentimento vivido pelo
artista, como então podemos falar de incompreensão? (…) A arte, qualquer que seja, tem em si
a propriedade de unir as pessoas. Toda a arte faz com que aqueles que captam o sentimento
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

transmitido pelo artista se unam em espírito, primeiro com o artista e depois com todos os que
receberam a mesma impressão.
Lev Tolstoi (2002). O que é a Arte? Edidouro, pp. 140 e 215.

25.1. Explora as críticas que um defensor da teoria da arte como imitação faria à teoria da arte
referida no texto.

Cenário de resposta
25.1. Para a teoria da arte como imitação, todas as obras de arte imitam algo: paisagens, pessoas, objetos,
etc. As melhores obras de arte são as que imitam melhor o que representam. Um defensor desta teoria
nunca poderia aceitar a arte como expressão de sentimentos ou emoções. Para a teoria expressivista, para
haver arte tem de haver certas condições: particularidade do sentimento transmitido; clareza na
transmissão desse sentimento e sinceridade na força com que o artista experimenta os sentimentos que
transmite. Para um defensor da arte como imitação, a arte como expressão não faz sentido. Como imitar um
sentimento? Como saber o que o artista sentiu?

26. Considerando a obra de António Palolo, como seria esta classificada pelos
defensores de cada uma das teorias essencialistas da arte que estudaste?

Cenário de resposta
26. Relativamente a esta obra de António Palolo, das três teorias essencialistas estudadas, só a teoria da
arte como forma diria que é uma obra de arte, pois as suas linhas e cores e a sua estrutura de formas, isto
é, a sua forma significante, provoca emoção estética nos observadores (pelo menos em alguns deles, os
mais sensíveis, diria Bell). As outras duas responderiam que não é uma obra de arte, pois, de acordo com a
teoria da arte como imitação, esta obra parece nada imitar, logo não possui a condição necessária para o
ser. A teoria defendida por Tolstoi, a da arte como expressão, responderia também negativamente, em
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

virtude desta obra não expressar claramente qualquer sentimento ou emoção do artista durante o processo
criativo.

27. Responde às perguntas, considerando a imagem.

27.1. O que distingue a imitação da representação?

27.2. O que defende a teoria da arte como representação? A escultura de Miró é arte, segundo
esta perspetiva?

27.3. Que objeções se podem dirigir à teoria da arte como representação?

Cenários de resposta
27.1. Toda a imitação é representação, mas nem toda a representação é imitação. Dizemos que algo é
imitação quando copia ou replica com realismo ou verosimilhança o modelo que lhe dá origem. Afirmamos
que há representação sempre que X faz intencionalmente as vezes de Y, ou seja, sempre que X está em vez
de Y.
27.2. A teoria representacionalista da arte defende que a representação é uma condição necessária da arte,
ou seja, uma propriedade essencial comum a todas as obras de arte: X só é uma obra de arte se for
representação (se X é arte, então é representação). A teoria da arte como representação fornece um critério
classificativo de arte (estabelece o que é arte) e um critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má
arte). A Mulher, de Joan Miró, representa uma mulher sem a intenção de assemelhar a escultura a uma
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TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

mulher particular. Podemos, por isso, dizer que a escultura de Miró representa, mas não imita, uma mulher.
Como para a teoria da arte como representação a obra de arte não precisa de ser uma cópia ou imitação da
realidade, podendo ser uma representação puramente convencional ou simbólica, a Mulher de Miró, porque
se enquadra na definição, é considerada arte.
27.3. A representação está presente, ao longo da história, em diversas obras que classificamos como arte e
o conceito é bastante menos restritivo que o de imitação. Contudo, desde a Antiguidade abundam
contraexemplos que derrotam a teoria. A representação não é uma condição necessária nem suficiente para
que algo seja arte. Por isso, a teoria representacionalista da arte é, à semelhança da teoria mimética, que
lhe dá origem, demasiado exclusiva.
28. Responde às perguntas, considerando a imagem.

28.1. Como se define arte na perspetiva do expressivismo?

28.2. A igreja de São Martinho de Cedofeita pode ser considerada arte na perspetiva
expressivista?

28.3. Que objeções se podem dirigir à teoria da arte como expressão?

Cenários de resposta
28.1. As teorias expressivistas são também teorias essencialistas. Há várias versões, mas as mais
conhecidas são as de Lev Tolstói e de Robin George Collingwood. Apesar das divergências entre
expressivistas, a unir as várias versões está a consideração da arte como algo intimamente ligado à
expressão de emoções. Concordam, além disso, que toda a obra de arte implica necessariamente clarificação
deliberada de um estado emocional que o artista experimentou: X só é uma obra de arte se for expressão
clarificada de uma emoção que o artista experimentou (se X é arte, então é expressão clarificada de
emoções). A teoria da arte como expressão fornece um critério classificativo de arte (estabelece o que é
arte) e um critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má arte).
28.2. A igreja de São Martinho de Cedofeita pode ser considerada um contraexemplo da teoria
expressivista. Para o expressivismo, saber se algo é ou não uma obra de arte implica que conheçamos de
modo conclusivo a história da obra. A verdade é que, em muitos casos, temos apenas alguns indícios e, na
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TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

maioria dos casos, nenhum indício sequer sobre o estado de espírito que conduziu o artista a criar uma dada
obra. Limitamo-nos a colocar hipóteses, a fazer interpretações e a retirar conclusões mais ou menos falíveis
sobre o que vemos, ouvimos ou lemos. Mesmo nas circunstâncias em que o próprio artista partilha com o
público os estados de espírito que deram origem a uma dada obra, não temos como confirmar se assim foi
de facto.
28.3. O poder expressivo de diversas obras que não hesitamos em classificar como arte e a relevância desta
propriedade para as nossas apreciações quotidianas de muitos objetos artísticos parecem oferecer suporte à
teoria. Mas a teoria expressivista, tal como a sua predecessora, não resiste a contraexemplos. A expressão
intencional e clarificada de uma emoção não é uma condição necessária nem suficiente para que algo seja
arte.
29. Responde às questões, considerando a imagem.

29.1. O que defende a teoria formalista da arte?

29.2. O que entende Clive Bell por forma significante?

29.3. Que objeções se podem dirigir à teoria da arte como forma significante?

Cenários de resposta
29.1. A teoria da arte como forma significante, ou teoria formalista da arte, é uma teoria essencialista que
foi proposta pelo crítico de arte e filósofo inglês Clive Bell. Afirma que X é uma obra de arte se, e só se, X for
concebido principalmente para possuir e exibir forma significante. Trata-se de um critério classificativo de
arte (estabelece o que é arte), mas também de um critério avaliativo de arte (estabelece o que é boa ou má
arte).
29.2. Todas as obras que classificamos como arte são objetos criados por seres humanos – são artefactos –
que têm o poder de despertar em nós – público – uma emoção estética. A qualidade essencial comum a
todos os artefactos que têm esse poder é a forma ou, mais precisamente, a forma significante, uma
configuração ou estrutura formal organizada e unificada de linhas, cores, formas, volumes, ou outros, que
suscita no público emoções estéticas.
29.3. A teoria formalista da arte é a teoria essencialista da arte que mais próximo consegue chegar de uma
definição convincente de arte. Contudo, os críticos acusam Bell de argumentar em círculos, quando procura
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TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

definir forma significante; de incorrer em erro quando afirma que um objeto será arte se, e só se, tiver sido
concebido com a função primeira ou primordial de exibir uma forma significante; de ignorar a importância do
conteúdo e dos contextos; e de a forma não ser uma condição necessária nem suficiente para que algo seja
arte.

30. Responde às questões, considerando a imagem.

30.1. Em que consiste a teoria institucional da arte?

30.2. O que entendem institucionalistas, como George Dickie, por mundo da arte?

30.3. Que objeções se podem dirigir à teoria institucional da arte?

Cenários de resposta
30.1. A teoria institucional da arte considera que qualquer definição bem-sucedida de arte tem de partir dos
elementos dos enquadramentos (contextos e relações) que rodeiam as obras de arte e não de propriedades
essenciais. A formulação mais conhecida da teoria institucional da arte deve-se a George Dickie e afirma que
X é uma obra de arte, no sentido classificatório, se, e só se, X for um artefacto sobre o qual alguém age em
nome de uma determinada instituição (o mundo da arte), conferindo-lhe o estatuto de candidato à
apreciação.
30.2. O mundo da arte é uma instituição, uma prática estabelecida que é conhecida e reconhecida pelos
seus atores, os artistas que criam as obras, os “apresentadores” que as apresentam e os “assistentes” que
as apreciam. Esta teoria estabelece um critério classificatório de arte que é capaz de ultrapassar as
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TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

limitações das teorias tradicionais e que é suficientemente abrangente para não excluir qualquer possível
candidatura a obra de arte.
30.3. A teoria institucional tem o mérito de destacar a génese social das obras de arte e de alertar para a
importância dos contextos na determinação do estatuto de arte. Porém, não está isenta de críticas. Enfrenta
as acusações de ser uma teoria excessivamente inclusiva, ao ponto de não nos permitir distinguir arte de
não arte e de se sustentar num conceito demasiado nubloso, o mundo da arte, o que acaba por conduzir os
defensores da teoria à contradição e à circularidade. Por outro lado, não lida bem com a possibilidade de
arte solitária.

31. Responde às questões, considerando a imagem.

31.1. Como aborda o problema da definição de arte a teoria histórica?

31.2. O mural de Vhils é considerado arte, à luz da teoria histórica?

31.3. Que objeções se podem dirigir à teoria histórica da arte?

Cenários de resposta
31.1. A teoria histórica da arte é uma alternativa à teoria institucional da arte e foi desenvolvida por Jerrold
Levinson. Aborda a arte como retrospetiva e estabelece duas condições necessárias e conjuntamente
suficientes para que algo possa ser classificado como arte: uma visão com bons precedentes históricos e a
titularidade ou propriedade. De acordo com Levinson, X é uma obra de arte, se, e só se, X for um objeto
acerca do qual alguém, que tem direito à propriedade de X, tiver a intenção não transitória de que X seja
encarado da mesma forma (ou formas) como o foram outros objetos já abrangidos pelo conceito de obra de
arte.
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TEMA III | FILOSOFIA DA ARTE

31.2. Podemos afirmar que sim. A obra foi realizada numa parede de um edifício, o Panorâmico de
Monsanto, em Lisboa, cuja propriedade pertence à Câmara Municipal daquela cidade. Depois de anos votado
ao abandono, o espaço foi, em 2017, requalificado e preparado para poder acolher alguns eventos,
principalmente de caráter performativo e de arte urbana, como o Festival Iminente – Festival Urbano de Arte
e Música, de que o artista visual Vhils (ou Alexandre Farto) é um dos criadores. Com a autorização do seu
proprietário (a Câmara Municipal de Lisboa), o espaço inclui obras de artistas urbanos como AkaCorleone,
Tamara Alves, Add Fuel, Wasted Rita e, claro está, também de Vhils. Assim, ainda que Vhils não tenha a
titularidade sobre o Panorâmico de Lisboa, está autorizado pelo seu proprietário a produzir esta sua obra
(uma proposta da Amnistia Internacional) nas paredes do edifício. O mural cumpre, além da condição de
titularidade, a condição de visão com bons precedentes históricos, pois é um objeto acerca do qual Vhils tem
a intenção não transitória de que seja encarado da mesma forma como o foram outras obras suas e de
outros artistas, já abrangidas pelo conceito de obra de arte.
31.3. Entre outras, a teoria histórica não resolve o problema da arte primordial e a exigência de titularidade
exclui obras que classificaríamos como arte. Além disso, a condição de visão com bons precedentes é
excessivamente inclusiva.

32. Considera o excerto que se segue.


O que a (…) definição institucional de «obra de arte» sugere é que tal como duas pessoas
adquirem o estatuto de casadas no interior de um sistema jurídico (…), um artefacto pode
adquirir o estatuto de candidato à apreciação no interior do sistema cultural denominado
«mundo da arte».
Como (…) se confere o estatuto de candidato à apreciação? Um artefacto pendurado na parede
de um museu como parte de uma exposição ou um espetáculo num auditório são sinais seguros
de que o estatuto foi conferido. Estes dois exemplos parecem sugerir que é necessária uma
certa quantidade de pessoas para que o estatuto em questão seja efetivamente conferido. São
precisas várias pessoas para formar a instituição cultural do mundo da arte, mas apenas se
requer uma pessoa para agir como representante ou agente do mundo da arte e conferir o
estatuto de candidato à apreciação.
George Dickie (2008). Introdução à estética. Bizâncio, p. 132.

32.1. Identifica uma condição que distinga as teorias institucional e histórica da arte.

32.2. A partir do excerto, apresenta uma objeção à teoria de George Dickie.

Cenários de resposta
32.1. A distinguir as teorias institucional e histórica da arte está a ideia da teoria institucional de que apenas
pode haver arte no interior de um sistema cultural ou social, o «mundo da arte».
32.2. A teoria institucional da arte considera a arte como uma prática social e cultural e exclui a
possibilidade de arte solitária. Para que o estatuto de candidato a apreciação possa ser conferido a um dado
objeto, é sempre necessário «mundo da arte».

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