FILOSOFIA - Unidade 1: A Origem Da Filosofia
FILOSOFIA - Unidade 1: A Origem Da Filosofia
FILOSOFIA - Unidade 1: A Origem Da Filosofia
O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA O termo Ética vem do grego ethike, de ethikos significando aquilo
que diz respeito aos costumes. Podemos entender o termo, ainda,
O senso moral e a consciência moral referem-se a valores como parte da filosofia prática que tem objetivo elaborar uma reflexão
(justiça, honradez, integridade, espírito de sacrifício...), a sentimentos sobre os problemas fundamentais da moral, mas fundada num estudo
provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, medo, amor...) metafísico do conjunto das regras de conduta consideradas como
e a decisões que conduzem a ações com conseqüências para nós e universalmente válidas. Está, assim, mais preocupada em detectar os
para os outros. Dizem respeito às relações que mantemos com os princípios de uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar
outros e, portanto, nascem e existem como parte integrante de nossa uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça, a harmonia e
vida intersubjetiva. sobre os meios de alcançá-las. É, portanto, a disciplina que procura
responder as questões: como e por que julgamos que uma ação é
O campo ético é constituído pelos valores e pelas obrigações moralmente errada ou correta? Que critérios devem orientar esse
que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, ele é constituído julgamento? Em sua investigação, a ética apresenta as seguintes
por dois pólos internamente relacionados: o sujeito moral e os valores dimensões: ética normativa, metaética e ética aplicada.
morais ou virtudes éticas que fundamentam a instituição de normas
morais. QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS
Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da 01. (ENEM) Panayiotis Zavos “quebrou” o último tabu da clonagem
existência moral. humana – transferiu embriões para o útero de mulheres, que os
gerariam. Esse procedimento é crime em inúmeros países.
O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no qual fazia
preencher as seguintes condições: ser consciente de si e dos outros, seus experimentos. “Não tenho nenhuma dúvida de que uma criança
ser dotado de vontade, ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como clonada irá aparecer em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-
causa interna de seus sentimentos, atitude e ações, por não estar la, mas vai acontecer”, declarou Zavos. “Se nos esforçarmos, podemos
submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, ter um bebê clonado daqui a um ano, ou dois, mas não sei se é o caso.
a querer e a fazer alguma coisa e , por fim, ser responsável, isto é, Não sofremos pressão para entregar um bebê clonado ao mundo.
reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências Sofremos pressão para entregar um bebê clonado saudável ao
dela sobre si e sobre os outros, assumi-las, bem como às mundo.”
consequências, respondendo por elas.
CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado).
Ética e Moral
A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no campo
da bioética que, entre outras questões, dedica-se a:
Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são
freqüentemente usados como sinônimos. Moral vem do latim mos,
(A) Refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os
moris, que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, daí
valores éticos do homem.
“costume”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo
(B) Legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais
aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo
espécies animais no planeta.
significado de “costume”.
(C) Relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de
certo e errado, de bem e mal.
Os problemas morais referem-se aos problemas práticos que se
(D) Legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de
apresentam nas relações efetivas entre os indivíduos ou quando se
reprodução humana e animal.
julgam certas decisões e ações dos mesmos. Exigem o
(E) Fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre
estabelecimento de normas de conduta para regular o comportamento
células-tronco para uso em seres humanos.
dos mesmos.
Resposta: (A)
Este comportamento prático-moral existe deste as sociedades Bioética corresponde ao campo de estudo que se coloca exatamente na interface entre
mais primitivas e a ele sucedem reflexões, isto é, além de agir a vida e a ética. Problemas como as pesquisas de célula-tronco, clonagem, manipulação
moralmente os homens estabelecem reflexões sobre o esse genética, eutanásia e aborto põem em questão verdades morais dos seres humanos. As
comportamento prático-moral tomando-o como objeto de seu reflexões bioéticas tentam, exatamente, refletir sobre até que ponto é eticamente
plausível de se interferir na vida ou não.
pensamento. Deste modo, verifica-se a passagem do plano prático da
moral para o plano da teoria da moral, ou seja, da moral vivida e efetiva
02. (ENEM) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e
para a moral reflexa e pensada. Instituída tal passagem, estamos no
morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela
campo dos problemas teórico-morais ou éticos.
pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as
pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que
Assim, poderemos tentar estabelecer uma compreensão
com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto)
conceitual daquilo que se entende por mora e daquilo que se entende
por ética. A moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).
determinada época ou grupo de homens. Nesse sentido, o homem
moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é
transgride as regras do grupo. Isto é, em função da adequação ou não moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as
à norma o ato será considerado moral ou imoral. normas morais são:
O comportamento moral não se estabelece como absoluto para (A) Decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
todos os tempos e lugares, ele varia espacial e temporalmente,
(B) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de 05. (UNIOESTE) “Quando dizemos que o homem se escolhe a si
obrigação. mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio;
(C) Amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si próprio,
cumpri-las integralmente. ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um
(D) Criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo
se submeter. tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher
(E) Cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos,
as normas jurídicas. porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o
bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a
Resposta: (D) existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir,
O texto publicado na Folha de São Paulo intitula-se “Ninguém é inocente” e se refere à ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem
ambiguidade inerente à moralidade, indicando o evidente distanciamento entre
é válida para todos e para a nossa época. Assim, a nossa
“reconhecer” e “cumprir” a norma moral. O princípio ético – a norma moral – resulta da
idealização do comportamento, ou seja, ele postula o comportamento ideal, aquele que responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela
corresponde o que deveria ser. envolve toda a humanidade” (Sartre).
03. (ENEM 2010) “A ética exige um governo que amplie a igualdade Considerando o texto citado e o pensamento sartreano, é
entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos INCORRETO afirmar que:
não se sentem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu
próprio lugar de nascimento”. (A) o valor máximo da existência humana é a liberdade, porque o
homem é, antes de mais nada, o que tiver projetado ser, estando
SILVA, R. R. “Ética, defesa nacional, cooperação dos povos”. In: OLIVEIRA, E. R. (Org.). Segurança & defesa
nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2007
“condenado a ser livre”.
(adaptado). (B) totalmente posto sob o domínio do que ele é, ao homem é
atribuída a total responsabilidade pela sua existência e, sendo
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e responsável por si, é também responsável por todos os homens.
integração de indivíduos em uma sociedade. De acordo com o texto, a (C) o existencialismo sartreano é uma moral da ação, pois o homem
ética corresponde a: se define pelos seus atos e atos, por excelência, livres, ou seja, o
“homem não é nada além do conjunto de seus atos”.
(A) Valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade. (D) o homem é um “projeto que se vive subjetivamente”, pois há uma
(B) Preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas. natureza humana previamente dada e predefinida, e, portanto, no
(C) Normas determinadas pelo governo, diferentes das leis homem, a essência precede a existência.
estrangeiras. (E) por não haver valores preestabelecidos, o homem deve inventá-
(D) Transferência dos valores praticados em casa para a esfera los através de escolhas livres, e, como escolher é afirmar o valor
social. do que é escolhido, que é sempre o bem, é o homem que, através
(E) Proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria. de suas escolhas livres, atribui sentido a sua existência.
( ) A ética é uma ciência prática e, portanto, sem rigor teórico. (A) Somente a afirmação I está correta.
( ) A ética ou filosofia moral é a parte da estética que se ocupa da (B) Somente a afirmação III está correta.
reflexão a respeito das noções e dos princípios que fundamentam (C) As afirmações II e III estão corretas.
a vida humana. (D) As afirmações III e IV estão corretas.
( ) Uma das definições mais corriqueiras da ética ou moral é aquela (E) As afirmações IV e V estão corretas.
que se refere ao estudo da atividade humana com relação aos seus
fins imediatos, que é a realização plena da humanidade. 10. (ENEM PPL 2012) Quanto à deliberação, deliberam as pessoas
( ) A história da moral serve de objeto de reflexão para a ética, ou seja, sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis deliberações?
a ética parte da diversidade de morais no tempo, com os seus Ou será a deliberação impossível no que tange a algumas coisas?
respectivos valores, princípios e normas. Ninguém delibera sobre coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem
( ) A filosofia moral se ocupa da conduta humana sob o aspecto, do universo; tampouco sobre coisas mutáveis, como os fenômenos
segundo o qual pode ser julgada certa ou errada, virtuosa ou dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser
viciosa, boa ou má. produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. (adaptado).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de cima
para baixo. O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante para
entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do texto,
(A) F, F, F, V, V (D) V, V, F, F, F considera-se que é possível ao homem deliberar sobre:
(B) F, F, V, V, V (E) F, V, F, F, V
(C) V, F, F, V, V (A) Coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os
acontecimentos da natureza.
08. (UNESP) A produção de mercadorias e o consumismo alteram as (B) Ações humanas, ciente da influência e da determinação dos
percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao eu; criam astros sobre as mesmas.
um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais, de ilusões cada (C) Fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu
vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito refletido faz do sujeito controle.
um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos objetos numa (D) Fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
extensão ou projeção do eu. É enganoso caracterizar a cultura do (E) Coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
consumo como uma cultura dominada por coisas. O consumidor vive
rodeado não apenas por coisas como por fantasias. Vive num mundo
que não dispõe de existência objetiva ou independente e que parece
existir somente para gratificar ou contrariar seus desejos. (Christopher
Lasch. O mínimo eu, 1987. Adaptado.)
Também chamada de teoria do conhecimento, a epistemologia é o Atribui-se a Pitágoras a distinção entre sophia, “o saber”, e a
ramo da filosofia que se ocupa da investigação sobre a natureza, as philosophia, que seria “a amizade ao saber”, a busca do saber. A
origens e a validade do conhecimento. Busca respostas às questões: filosofia propriamente dita tem condições de surgir no momento em que
o que é o conhecimento? Qual o fundamento do conhecimento? É o pensar é posto em causa tornando-se objeto de reflexão que é
possível o conhecimento verdadeiro? Na história da filosofia tais caracterizada por ser: radical, rigorosa e de conjunto. Características
questões, implícita ou explicitamente, sempre estiveram presentes. gerais: tem como objeto ideias, relações conceituais, exigências
Contudo, foi na modernidade, a partir do século XVII em diante que a lógicas não redutíveis à realidade materiais e, por isso mesmo, não
epistemologia passou a ocupar o centro da cena filosófica. passíveis de observação sensorial; utiliza o método racional no qual
prevalece o processo dedutivo e não exige confirmação experimental,
Noção de conhecimento mas somente coerência lógica; está sempre à procura do mais geral,
das leis mais universais; tem como objetivo questionar as conclusões
O ser humano é dotado da capacidade e da necessidade de da própria ciência à procura de sentido ou de interpretação mais ampla
conhecer e de pensar. De modo geral, é possível caracterizar o que responda às grandes indagações do espírito humano.
conhecimento como o pensamento que resulta da relação que se
estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, da Conhecimento científico
relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o mundo
conhecido. Também se refere ao produto, ao resultado do conteúdo A palavra ciência vem do latim scientia e significa, em seu sentido
desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem. Assim, amplo, saber ou conhecimento. Em seu sentido restrito, significa um
qualquer conhecimento é uma espécie de apropriação do mundo conhecimento que não só apreende ou registra fatos, mas também os
objetivo e subjetivo por parte do sujeito cognoscente. Pressupõe, demonstra pelas suas causas determinadas ou constitutivas. É a
portanto, dois elementos: um sujeito que conhece e um objeto que é modalidade de saber constituída por um conjunto de aquisições
conhecido. Pode ser representado pela fórmula: Sujeito x Objeto (S x intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação racional e
O). objetiva da realidade. Características gerais da Ciência: é definida
como conhecimento pelas causas; as conclusões científicas são
Tipos de conhecimento registradas através de leis, teorias e enunciados; estabelece leis
válidas para todos os casos da mesma espécie que venham a ocorrer;
O mesmo “objeto” de conhecimento pode ser atingido por diversas é sistemático, metódico e orgânico; é crítico, rigoroso e objetivo; nasce
vias e diferentes modos. O que distingue e caracteriza as diversas da dúvida e se consolida na “certeza” das leis demonstradas
espécies de conhecimento são o modo de conhecer e os instrumentos experimentalmente.
do conhecer: senso comum, mito e religião, filosofia e ciência.
As ciências classificam-se, geralmente, em ciências da natureza e
Senso comum ou conhecimento ordinário ciências humanas. As da Natureza estudam duas ordens de
fenômenos: os físicos e os vitais, ou as coisas e os organismos. As
Também denominado conhecimento empírico ou vulgar, é o modo ciências humanas referem-se àquelas que têm o próprio ser humano
espontâneo, pré-crítico de conhecer. Resulta do acúmulo de vivências como objeto.
que são adquiridas ao longo da existência cotidiana e que pode ser
caracterizado como um conhecer as coisas superficialmente, por A possibilidade do conhecimento
informação ou experiência casual. Possui as seguintes características:
é comum a todo ser humano, assistemático, ametódico, fragmentário, Quanto à possibilidade ou não de o espírito atingir a certeza (a
acrítico e intuitivo. verdade) as repostas dadas a essas questões levaram ao surgimento
de duas correntes básicas e antagônicas entre si: o ceticismo, que
Conhecimento mítico e religioso diagnostica a impossibilidade de conhecermos a verdade e o
dogmatismo, que defende a possibilidade de conhecermos a verdade.
Mito vem do grego, Mythos, e significa etimologicamente “fábula”. Elas sofrerão uma tentativa de conciliação no Século XVIII com o
Caracteriza-se como narrativa lendária pertencente à tradição cultural pensamento de Kant, também conhecido com criticismo.
de um povo e que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino O criticismo, desenvolvido pela filosofia de Kant no século XVIII,
e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e representa uma tentativa de superação do impasse criado pelo
a origem e os valores do próprio povo. É um tipo de verdade intuída ceticismo e pelo dogmatismo. Será a discussão que afirmará que há
que tem como critério a adesão pela fé, pela crença e não pela uma ordem de verdade que não podemos conhecer, nôumeno
evidência racional. É uma forma espontânea de o homem situar-se no (númeno) ou coisa-em-si, e outra que podemos conhecer, o fenômeno
mundo. ou coisa -para-nós (sujeito).
Em seu sentido geral a religião é um conjunto cultural suscetível QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS
de articular todo um sistema de crenças em Deus ou num sobrenatural
e um código de gestos, de práticas e de celebrações rituais; admite 01. (UEL 2011) O principal problema de Descartes pode ser formulado
uma dissociação entre a “ordem natural” e a “ordem sacra” ou do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso
sobrenatural. Toda religião acredita possuir a verdade sobre as conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da
questões fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na
ou crença. Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder,
ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar
que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais (E) Evidencia a importância do racionalismo, sobretudo as ideias
existido, sendo verdade agora que eu existo [...]” inatas que atestam o nexo causal dos fenômenos naturais
descobertos pela experiência.
DESCARTES. René. “Meditações Metafísicas”. Meditação Terceira.
São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.
Resposta: (D)
Hume pergunta sobre qual a natureza de todos os raciocínios humanos sobre os fatos e
Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por
qual o fundamento de todas as conclusões derivadas da experiência. O filósofo conclui
Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: que todos os fatos são exteriores entre si. Neles, não há nada de interior e intrínseco
que os relacione necessariamente uns aos outros. A relação de causalidade é uma
(A) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis crença baseada no hábito. Hume indica que os homens associam ideias e acreditam
nessa associação por força do hábito ou costume.
pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e
limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas opiniões
que se apresentam certas e indubitáveis. 03. (ENEM) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada
(B) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se como do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira
algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem
percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida
fenômenos observados. em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e
(C) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de
conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem
meio da experiência sensível possuem existência real. e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
(D) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia.
observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
Resposta: (A)
No livro Discurso do Método, René Descartes procurou encontrar fundamentos seguros
para o desenvolvimento do conhecimento verdadeiro. Dado que havia muitas dúvidas
filosóficas e científicas, estas seriam solucionadas mediante um método rigoroso.
Descartes, nisso, utilizou-se do modelo matemático, considerado o conhecimento
intelectual por excelência.
DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros
Tradução, nota prévia e revisão de Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2008, p. 25.
anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não
Com base na tira e no texto, sobre o cogito cartesiano, é correto
podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
afirmar:
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões
a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de
(A) A existência decorre do ato de aparecer e se apresenta
estabelecer um saber firme e inabalável.
independente da essência constitutiva do ser.
(B) A existência é manifesta pelo ato de pensar que, ao trazer à DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
mente a imagem da coisa pensada, assegura a sua realidade.
(C) A existência é concebida pelo ato originário e imaginativo do TEXTO II
pensamento, o qual impede que a realidade seja mera ficção.
(D) a existência é a plenitude do ato de exteriorização dos objetos, É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do
cuja integridade é dada pela manifestação da sua aparência. próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida,
(E) A existência é a evidência revelada ao ser humano pelo ato qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
próprio de pensar. gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
04. (UEL) Leia o texto a seguir:
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
(A) V, V, V, V, F.
(B) V, V, V, F, V.
(C) F, F, V, V, F.
(D) V, F, V, V, F
(E) V, V, V, F, F.
Nos séculos XVII e XVIII a preocupação dos filósofos em torno da A discussão sobre o Estado Democrático de direitos está
origem do poder nos mostra a necessidade de entender e justificar diretamente associada às concepções de Estado que se formaram ao
essas mudanças: do Direito Divino e Teocêntrico passa-se a uma longo do pensamento político moderno e que resultaram nas
explicação racional para a fundamentação do poder e sua legitimidade. discussões estabelecidas pelo modelo liberal de política desenvolvido
São destaque deste período os seguintes pensadores e suas obras: pelo pensamento contratualista que, embora divergentes, serão a base
Maquiavel e “O Príncipe”, Tomas Hobbes e “O Leviatã”, Jean Jacques para a noção de cidadania e democracia, e consequentemente, Estado
Rousseau e “O Contrato Social”, John Locke e “O Segundo Tratado do Democrático de Direitos.
Governo” e Montesquieu e o “O Espírito das Leis”.
Contratualismo
O Século XIX, do mesmo modo que o Século XVIII fora marcado
pela ascensão da burguesia, foi marcado pela experiência das O contratualismo é definido como a “doutrina que reconhece como
revoluções socialistas, que assinalaram o processo de organização origem ou fundamento do Estado (ou, em geral, da comunidade civil)
das classes trabalhadoras. Se destacam neste período os pensadores uma convenção ou estipulação (contrato) entre seus membros.” Por
Karl Marx e Friedrich Engels com “O Capital”. contrato social entende-se não só o contrato de governo que rege as
relações entre governantes e seu povo, mas também no sentido mais
A política colocada em prática a partir da Segunda Guerra Mundial amplo, como acordo tácito que fundamenta toda comunidade e que
acentuava o papel do Estado na organização da economia, por meio leva os indivíduos a conviver, ou seja, a participar dos bens, dos
de investimentos ou subsídios à indústria e pela garantia dos direitos serviços e das leis vigentes na comunidade.
sociais a todos os cidadãos e a crítica aos Estados Totalitários do
Nazismo, Fascismo e Comunismo. Na obra “O Leviatã”, Thomas Hobbes (1588 – 1679) defende a
ideia de que o estado de natureza é uma situação de anarquia,
Política: a concepção de Poder geradora de insegurança, angústia e medo no qual o homem torna-se
o lobo do homem (homo homini lupus). Assim, para garantir a
O ato de participar é uma condição humana da qual não podemos sobrevivência e o desenvolvimento social é necessário que os homens
escapar na vida em sociedade. A convivência com os outros implica a estabeleçam entre si um pacto social que consiste em “renunciar o seu
inevitabilidade dos conflitos de vontades e interesses e, normalmente, direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros
vence o conflito aquele que estiver melhor aparelhado: pode ser o mais homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em
forte, o mais bonito ou o que tiver maiores conhecimentos. Aquele que relação a si mesmo”. Para Hobbes, o poder do soberano deve ser
tiver maior poder. absoluto, isto é, ilimitado.
O poder é a capacidade de transformar as vontades dos outros na John Locke (1632 – 1704) tem como ponto de partida a concepção
sua vontade, isto é, de influenciar nas decisões dos outros a partir do individualista, pela qual os homens isolados no estado de natureza se
que se pretende. Seria a potência para realizar determinado desejo ou uniram mediante um contrato social para constituir a sociedade civil.
vontade. O poder pode se realizar pela força, mas também, e No estado natural cada um é juiz em causa própria e os riscos das
principalmente, pela hegemonia, ou seja, pelo convencimento e pela paixões e da parcialidade são grandes e podem desestabilizar as
manipulação das vontades alheias, tendo sua sustentação na relações entre os homens. Visando à segurança e à tranquilidade
concordância com a dominação. necessárias ao gozo da propriedade, as pessoas consentem em
instituir o corpo político: o poder é confiado aos governantes e é
Conceitos de Política permitido aos governados retirá-lo e confiá-lo a outrem.
No cotidiano nos referimos à política como a ação do Estado e da Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778) procura desenvolver a
organização institucional. Entende-se política como a atuação de questão da legitimidade do poder fundada no contrato social. No
entanto, sua posição é inovadora na medida em que distingue os baseados na análise científica do sistema capitalista e no estudo das
conceitos de soberano e governo atribuindo ao povo a soberania leis de desenvolvimento das sociedades, somente os trabalhadores,
inalienável: para ele o contrato social, para ser legítimo, deve se através de sua organização e de uma ação revolucionária para tomar
originar do consentimento necessariamente unânime: pelo pacto cada o poder, seriam capazes de transformar a sociedade capitalista,
homem abdica de sua liberdade, mas sendo ele próprio parte eliminando as desigualdades e a miséria. Por isso, o Socialismo de
integrante e ativa do todo social, ao obedecer à lei, obedece a si Marx e de Engels deixava de ser "utópico" para se tornar "científico".
mesmo e, portanto, é livre. O contrato não faz o povo perder a Suas ideias foram inicialmente expostas no texto do "Manifesto
soberania, pois não é criado um Estado separado dele mesmo. Comunista", lançado em 1848 na França, no "O Capital", publicado em
1867 e em numerosos outros escritos.
Mais recentemente, o contratualismo é utilizado para demonstrar a
tese de que o poder é necessariamente limitado. Encontrado nas Embora o objetivo final dos socialistas fosse estabelecer uma
teorias liberais, esta forma de contratualismo assume o contrato como sociedade comunista ou sem classes, atualmente eles têm se voltado
acordo entre os homens para unirem-se numa sociedade política, cada vez mais para as reformas sociais realizadas no seio do
assim ele é o pacto que existe e deve necessariamente existir entre capitalismo. Já no final da década de 50, os partidos socialistas da
indivíduos que se associam ou fundam um Estado. A noção de contrato Europa Ocidental começaram a descartar o marxismo, passaram a
talvez pudesse ser retomada para análise das estruturas das aceitar a economia mista, diminuíram os vínculos com os sindicatos e
comunidades humanas, tendo como base a noção de reciprocidade de abandonaram a ideia de um setor nacionalizado em continua
compromissos e do caráter condicional dos acordos dos quais se expansão. No final do século XX , o socialismo, perdeu tanto a
originam direitos e deveres. perspectiva anticapitalista original, que passou a aceitar que o
capitalismo não pode ser controlado de um modo suficiente e muito
O Liberalismo menos abolido.
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas (A) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria
relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser: natureza.
(B) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua
(A) Munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e essência natural.
aos outros. (C) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições
(B) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito sociais dependem dele.
na política. (D) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
(C) Guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis (E) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o
e inconstantes. homem é um ser político.
(D) Naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e
portando seus direitos naturais. Resposta: (A)
(E) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus O homem civil, segundo o texto de Rousseau, corresponde àquele que, desviando de
sua própria natureza, se torna um indivíduo relacional à comunidade política. Se
pares.
fizéssemos um exercício de completa abstração e pensássemos unicamente a partir do
ponto de vista do “homem natural”, então poderíamos dizer que a sua “transformação”
Resposta: (C) em homem civil seja um desvio. Porém, Rousseau não dá a entender que tal passagem
Maquiavel é considerado fundador da filosofia política moderna, pois muitas das suas para a vida civil seja simplesmente um artifício, um desvio da rota natural. Segundo um
afirmações se contrapõem à filosofia política clássica. Basicamente, a sua reflexão se trecho de sua obra, Contrato Social, a passagem é inevitável para a própria conservação
preocupa muito mais com problemas efetivos, e muito menos com reflexões utópicas do homem e, portanto, um tanto natural, isto é, ela se cria pelo movimento da própria
sobre o dever ser. De modo que a eficiência deve ser buscada na pobreza mesma das natureza do homem.
nossas cidades como elas são, e não na possível riqueza das nossas cidades como elas
poderiam ser.
QUESTÕES PROPOSTAS
04. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de 01. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que
maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa
o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes
do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais
as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a
Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite
liberdade, sendo que esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer o controle sobre a outra metade.
os referidos poderes concomitantemente.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
02. (ENEM) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que (A) IV, II e I, apenas.
quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre (B) I, III e IV, apenas.
presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A (C) II, III e IV, apenas.
liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um (D) I, II e III, apenas.
cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais (E) I, II, III e IV.
liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
05. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se
o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar
respeito as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e
(A) Ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da
decisões por si mesmo. liberdade, sendo que esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer
(B) Ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade os referidos poderes concomitantemente.
às leis.
(C) À possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
livre da submissão às leis.
(D) Ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, A divisão e a independência entre os poderes são condições
desde que ciente das consequências. necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode
(E) Ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus ocorrer apenas sob um modelo político em que haja:
valores pessoais.
(A) Exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
03. (ENEM 2010) (B) Consagração do poder político pela autoridade religiosa.
(C) Concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
(D) Estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições
do governo.
(E) Reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de
um governante eleito.
Democracia: “regime político no qual a soberania é exercida pelo povo, pertence ao conjunto dos cidadãos.”
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionario Basico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.