FILOSOFIA - Unidade 1: A Origem Da Filosofia

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O amor que se entende filosófico é aquele que se traduz por uma

FILOSOFIA | unidade 1 dedicação incessante ao conhecimento verdadeiro, à verdade. Assim,


a origem da Filosofia o filósofo é aquele que assume a atitude de dedicação à verdade,
Prof. José Rogério de Pinho Andrade aquele que a busca de modo constante e incessante. Uma busca do
saber que se faz por esforço da reflexão e da razão. Mas qual é o saber
que o filósofo busca? Qual é o tipo de saber que se entende filosófico?
A ORIGEM DA FILOSOFIA
Para responder a esta questão cabe a distinção que se faz entre
A filosofia ao surgir na Grécia antiga por volta do final do século VII as duas fundamentais ordens de saber: aquele que o adquirimos sem
e início do século VI a.C. e se tratava de uma cosmologia, isto é, uma tê-lo buscado e aquele que o temos porque o procuramos, pois se não
explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas de o fizermos não poderemos tê-lo. Assim, distingue-se o conhecimento
suas transformações em uma tentativa de superar as explicações como a simples opinião e o conhecimento racionalmente bem
míticas denominadas de cosmogonias. fundamentado que foi definida por Platão como “dóxa” e “episteme”.
Platão entendia por dóxa aquele conhecimento superficial, aparente,
As condições que possibilitaram o surgimento da Filosofia na obtido por meio dos sentidos e que o temos sem tê-lo procurado e por
Grécia. episteme o conhecimento correspondente à verdade, ao conhecimento
essencial, aquele que adquirimos por tê-lo buscado metodicamente e
As viagens marítimas, que permitiram aos gregos desvendar os com esforço. Deste modo, nos termos platônicos, a filosofia adquire o
locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis, sentido de saber reflexivo, de saber adquirido mediante o empenho e
também produziram o desencantamento ou a desmistificação do dedicação racional, obtido dialeticamente.
mundo.
Os períodos da História da Filosofia
A invenção do calendário, como uma forma de calcular o tempo
segundo as estações dos anos e as mudanças que se repetem no Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.): compreende
mundo revelando uma capacidade de abstração e uma percepção do os períodos da filosofia grego-romana que vai dos pré-socráticos ao
tempo como algo natural e não como uma força divina helenismo:
incompreensível.
 Filósofos da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto,
A invenção da moeda, permitindo uma forma de troca abstrata, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.
feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas e não mais em  Filósofos da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona
espécie de coisas. A moeda sobrepõe o caráter racional de sua e Árquitas de Tarento.
criação, pois é artifício racional produto de uma convenção humana,  Filósofos da Escola de Eléia: Parmênides e Zenão de Eléia.
noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores  Filósofos da Escola de Pluralidade: Empédocles de Agrgento,
diferentes. Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de
Abdera.
O surgimento da vida urbana, que diminuía o prestígio das
famílias aristocráticas tradicionais por quem e para quem os mitos Filosofia Patrística (do século I ao século VII): conhecida como
foram criados. Além disso, o surgimento de uma classe de Patrística porque correspondeu ao pensamento desenvolvido pelos
comerciantes ricos que precisava encontrar pontos de poder e de apóstolos Paulo e João e pelos Padres da Igreja Cristã na tentativa de
suplantação do velho poderio da aristocracia rural e de sangue, fez conciliar o cristianismo com o pensamento filosófico dos gregos e
surgir o patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos romanos. O grande tema da Filosofia patrística é o da possibilidade ou
conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia pudesse impossibilidade de conciliar razão e fé.
surgir.
Filosofia Medieval (do século VIII ao século XIV); também
A invenção da política introduzindo três aspectos novos e conhecido como Escolástica, abrange pensadores europeus, árabes e
decisivos para o nascimento da Filosofia: 1 – a idéia da lei como judeus. Conservando e discutindo os mesmos problemas que a
expressão da vontade coletiva social que decide por si mesma como patrística, neste período é acrescido Problema dos Universais. Surge
deve se organizar normativamente. 2 – o surgimento de um espaço a Filosofia Cristã, a teologia com os temas sobre a existência de Deus
público (a Ágora) no qual aparece um novo tipo de palavra ou de e da imortalidade da alma. Desenvolveu-se a justificação da verdade
discurso marcado pelo direito de debater (isegoria) e pela igualdade do conhecida como Princípio da autoridade.
cidadão (isonomia). 3 – a política estimula um discurso aberto, não
mais fechado nas condições das seitas sagradas. Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI): marcado
pela descoberta de obras até então desconhecida de Platão e de
O que é a Filosofia? O sentido da palavra “Filosofia” Aristóteles, a época se dedica ao resgate do pensamento grego e
latino.
É impossível dizer de antemão o que a filosofia é, pois ela exige
ser vivida anteriormente. A filosofia se mostra como uma vivência, Filosofia Moderna (do século XVII a meados do século XVIII):
como uma atitude. Então, definir filosofia antes de tê-la vivido, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, nasce como uma
conduzirá a algo sem sentido e ininteligível. tentativa de superação do ceticismo reinante no final do século XVI e
início do século XVII, por meio de três mudanças teóricas principais: o
Embora saibamos que é impossível de antemão definir o que é a “surgimento do sujeito do conhecimento”, o objeto do conhecimento
filosofia, a palavra “filosofia” serve para designar algo. Em sua como uma representação do sujeito, pois são racionais em si mesmas
estrutura linguística a palavra é formada pelos termos gregos “philos” e podem ser representadas pelo intelecto e a compreensão de que a
e “sophia". Do primeiro termo recebe o sentido de dedicação, de natureza é plenamente compreensível pela razão, pois é um sistema
amizade ou amor; do segundo termo recebe a designação de ordenado de causas e efeitos conhecíveis e expressáveis por meio da
conhecimento verdadeiro, de sabedoria. Assim, a palavra em seu linguagem matemática.
significado etimológico significa “amor à sabedoria”.
conforme as exigências das condições nas quais os homens se
FILOSOFIA | unidade 2 organizam ao estabelecerem as formas efetivas e práticas do trabalho
Introdução à Filosofia Moral e convivência. Evidencia-se assim, o caráter histórico e social da
Prof. José Rogério de Pinho Andrade moral.

O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA O termo Ética vem do grego ethike, de ethikos significando aquilo
que diz respeito aos costumes. Podemos entender o termo, ainda,
O senso moral e a consciência moral referem-se a valores como parte da filosofia prática que tem objetivo elaborar uma reflexão
(justiça, honradez, integridade, espírito de sacrifício...), a sentimentos sobre os problemas fundamentais da moral, mas fundada num estudo
provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, medo, amor...) metafísico do conjunto das regras de conduta consideradas como
e a decisões que conduzem a ações com conseqüências para nós e universalmente válidas. Está, assim, mais preocupada em detectar os
para os outros. Dizem respeito às relações que mantemos com os princípios de uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar
outros e, portanto, nascem e existem como parte integrante de nossa uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça, a harmonia e
vida intersubjetiva. sobre os meios de alcançá-las. É, portanto, a disciplina que procura
responder as questões: como e por que julgamos que uma ação é
O campo ético é constituído pelos valores e pelas obrigações moralmente errada ou correta? Que critérios devem orientar esse
que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, ele é constituído julgamento? Em sua investigação, a ética apresenta as seguintes
por dois pólos internamente relacionados: o sujeito moral e os valores dimensões: ética normativa, metaética e ética aplicada.
morais ou virtudes éticas que fundamentam a instituição de normas
morais. QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS

Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da 01. (ENEM) Panayiotis Zavos “quebrou” o último tabu da clonagem
existência moral. humana – transferiu embriões para o útero de mulheres, que os
gerariam. Esse procedimento é crime em inúmeros países.
O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no qual fazia
preencher as seguintes condições: ser consciente de si e dos outros, seus experimentos. “Não tenho nenhuma dúvida de que uma criança
ser dotado de vontade, ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como clonada irá aparecer em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-
causa interna de seus sentimentos, atitude e ações, por não estar la, mas vai acontecer”, declarou Zavos. “Se nos esforçarmos, podemos
submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, ter um bebê clonado daqui a um ano, ou dois, mas não sei se é o caso.
a querer e a fazer alguma coisa e , por fim, ser responsável, isto é, Não sofremos pressão para entregar um bebê clonado ao mundo.
reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências Sofremos pressão para entregar um bebê clonado saudável ao
dela sobre si e sobre os outros, assumi-las, bem como às mundo.”
consequências, respondendo por elas.
CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado).

Ética e Moral
A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no campo
da bioética que, entre outras questões, dedica-se a:
Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são
freqüentemente usados como sinônimos. Moral vem do latim mos,
(A) Refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os
moris, que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, daí
valores éticos do homem.
“costume”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo
(B) Legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais
aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo
espécies animais no planeta.
significado de “costume”.
(C) Relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de
certo e errado, de bem e mal.
Os problemas morais referem-se aos problemas práticos que se
(D) Legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de
apresentam nas relações efetivas entre os indivíduos ou quando se
reprodução humana e animal.
julgam certas decisões e ações dos mesmos. Exigem o
(E) Fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre
estabelecimento de normas de conduta para regular o comportamento
células-tronco para uso em seres humanos.
dos mesmos.
Resposta: (A)
Este comportamento prático-moral existe deste as sociedades Bioética corresponde ao campo de estudo que se coloca exatamente na interface entre
mais primitivas e a ele sucedem reflexões, isto é, além de agir a vida e a ética. Problemas como as pesquisas de célula-tronco, clonagem, manipulação
moralmente os homens estabelecem reflexões sobre o esse genética, eutanásia e aborto põem em questão verdades morais dos seres humanos. As
comportamento prático-moral tomando-o como objeto de seu reflexões bioéticas tentam, exatamente, refletir sobre até que ponto é eticamente
plausível de se interferir na vida ou não.
pensamento. Deste modo, verifica-se a passagem do plano prático da
moral para o plano da teoria da moral, ou seja, da moral vivida e efetiva
02. (ENEM) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e
para a moral reflexa e pensada. Instituída tal passagem, estamos no
morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela
campo dos problemas teórico-morais ou éticos.
pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as
pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que
Assim, poderemos tentar estabelecer uma compreensão
com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto)
conceitual daquilo que se entende por mora e daquilo que se entende
por ética. A moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).
determinada época ou grupo de homens. Nesse sentido, o homem
moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é
transgride as regras do grupo. Isto é, em função da adequação ou não moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as
à norma o ato será considerado moral ou imoral. normas morais são:

O comportamento moral não se estabelece como absoluto para (A) Decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
todos os tempos e lugares, ele varia espacial e temporalmente,
(B) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de 05. (UNIOESTE) “Quando dizemos que o homem se escolhe a si
obrigação. mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio;
(C) Amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si próprio,
cumpri-las integralmente. ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um
(D) Criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo
se submeter. tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher
(E) Cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos,
as normas jurídicas. porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o
bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a
Resposta: (D) existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir,
O texto publicado na Folha de São Paulo intitula-se “Ninguém é inocente” e se refere à ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem
ambiguidade inerente à moralidade, indicando o evidente distanciamento entre
é válida para todos e para a nossa época. Assim, a nossa
“reconhecer” e “cumprir” a norma moral. O princípio ético – a norma moral – resulta da
idealização do comportamento, ou seja, ele postula o comportamento ideal, aquele que responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela
corresponde o que deveria ser. envolve toda a humanidade” (Sartre).

03. (ENEM 2010) “A ética exige um governo que amplie a igualdade Considerando o texto citado e o pensamento sartreano, é
entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos INCORRETO afirmar que:
não se sentem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu
próprio lugar de nascimento”. (A) o valor máximo da existência humana é a liberdade, porque o
homem é, antes de mais nada, o que tiver projetado ser, estando
SILVA, R. R. “Ética, defesa nacional, cooperação dos povos”. In: OLIVEIRA, E. R. (Org.). Segurança & defesa
nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2007
“condenado a ser livre”.
(adaptado). (B) totalmente posto sob o domínio do que ele é, ao homem é
atribuída a total responsabilidade pela sua existência e, sendo
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e responsável por si, é também responsável por todos os homens.
integração de indivíduos em uma sociedade. De acordo com o texto, a (C) o existencialismo sartreano é uma moral da ação, pois o homem
ética corresponde a: se define pelos seus atos e atos, por excelência, livres, ou seja, o
“homem não é nada além do conjunto de seus atos”.
(A) Valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade. (D) o homem é um “projeto que se vive subjetivamente”, pois há uma
(B) Preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas. natureza humana previamente dada e predefinida, e, portanto, no
(C) Normas determinadas pelo governo, diferentes das leis homem, a essência precede a existência.
estrangeiras. (E) por não haver valores preestabelecidos, o homem deve inventá-
(D) Transferência dos valores praticados em casa para a esfera los através de escolhas livres, e, como escolher é afirmar o valor
social. do que é escolhido, que é sempre o bem, é o homem que, através
(E) Proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria. de suas escolhas livres, atribui sentido a sua existência.

Resposta: (A) Resposta: (D)


A alternativa A é a única correta, pois identifica o sentido correto da noção de ética para O homem está condenado à liberdade. Durante sua vida, ele não pode deixar de
o autor, que não a restringe a preceitos normativos (alternativas B e C) e sim a relaciona escolher, e ao fazer escolhas ele irá sempre escolher aquilo que considera o melhor.
com modos de viver. Na alternativa D é mal interpretado uso da expressão “em casa”, Desse modo, o homem ao se posicionar também posiciona todos os outros homens,
pois no texto ela tem sentido figurado, significando uma identificação com o lugar de pois define, juntamente com a sua escolha, quem são seus semelhantes e
nascimento, bem como a referência a estrangeiros na citação nada tem a ver com o que dessemelhantes. Se a sua posição não considerar isto, então ela irá criar confrontos dos
é afirmado na alternativa E. quais foi desde sua primeira escolha responsável. Assim, em cada escolha nos
responsabilizamos pela humanidade que escolhemos.
04. (UFSM) Os filósofos Ame Naess e George Sessions propuseram,
em 1984, diversos princípios para uma ética ecológica profunda, entre QUESTÕES PROPOSTAS
os quais se encontra o seguinte:
01. (UEL) Leia o texto a seguir: Habermas distingue entre racionalidade
O bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana na Terra instrumental e racionalidade comunicativa. A racionalidade
têm valor em si mesmos. Esses valores são independentes da utilidade comunicativa ocorre quando os seres humanos recorrem à linguagem
do mundo não humano para finalidades humanas. com o intuito de alcançar o entendimento não coagido sobre algo, por
exemplo, decidir sobre a maneira correta de agir (ação moral). A
Considere as seguintes afirmações: racionalidade instrumental, por sua vez, ocorre quando os seres
humanos utilizam as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas,
I. A ética kantiana não se baseia no valor de utilidade das ações. como meio para se alcançar um fim (raciocínio meio e fim).
II. “Valor intrínseco” é um sinônimo para “valor em si mesmo”. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria da ação
III. A ética utilitarista rejeita a concepção de que as ações têm valor comunicativa de Habermas, é correto afirmar:
em si mesmas.
(A) Contar uma mentira para outra pessoa buscando obter algo que
Está(ão) correta(s) desejamos e que sabemos que não receberíamos se
disséssemos a verdade é um exemplo de racionalidade
(A) Apenas I. (C) Apenas III. (E) I, II e III. comunicativa.
(B) Apenas II. (D) Apenas I e II. (B) Realizar um debate entre os alunos de turma da faculdade
buscando decidir democraticamente a melhor maneira de
Resposta: (E) arrecadar fundos para o baile de formatura é um exemplo de
A ética kantiana não é utilitarista, a ética kantiana é usualmente classificada como racionalidade instrumental.
deontológica, isto é, a ética kantiana propõe que as ações dos homens precisam ser
(C) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na casa de
guiadas por um senso de dever, elas precisam de um caráter necessário para serem
boas e corretas. Já a ética utilitarista propõe que uma ação boa e correta é aquela que um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa com amigos, é
maximiza a felicidade geral; Jeremy Bentham e John Stuart Mill são seus maiores um exemplo de racionalidade comunicativa.
teóricos.
(D) Alguém que decide economizar dinheiro durante vários anos a fim tomaria inflexível e cruel. Ela deve viver também da generosidade dos
de fazer uma viagem para os Estados Unidos da América é um cidadãos, de seu espírito de cooperação e de solidariedade voluntária.
exemplo de racionalidade instrumental.
(E) Um grupo de amigos que se reúne para decidir democraticamente Considere as seguintes afirmações:
o que irão fazer com o dinheiro que ganharam em um bolão da
Mega-Sena é um exemplo de racionalidade instrumental. I. Segundo o texto, generosidade e justiça podem ser
complementares uma à outra.
02. (UEL) Leia o texto a seguir. II. Segundo o texto, se uma sociedade é inflexível e cruel, então ela
está fundada apenas sobre a justiça.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha III. Já na ética aristotélica, a generosidade é uma virtude e a
e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é extravagância e a avareza são os vícios correlacionados a ela.
determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de
sabedoria prática. Está(ão) correta(s)
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim.
São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.
(A) Apenas I. (D) Apenas II e III.
(B) Apenas II. (E) I, II e III.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em (C) Apenas I e III.
Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética:
05. (UPE) Atente ao texto a seguir sobre a dimensão ético-política:
(A) Reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre
o excesso e a falta. Fala-se hoje, em toda parte e no Brasil, numa “crise” dos valores
(B) Implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é morais. O sentimento dessa crise expressa-se na linguagem cotidiana,
prazeroso na falta. quando se lamenta o desaparecimento do dever-ser, do decoro e da
(C) Consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, compostura nos comportamentos dos indivíduos e na vida política, ao
isto é, ou o excesso ou a falta. mesmo tempo em que os que assim julgam manifestam sua própria
(D) Pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de desorientação em face de normas e regras de conduta cujo sentido
preferências pragmáticas. parece ter se tornado opaco.
(E) Baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que
CHAUÍ, Marilena. Ética. 1994, p. 345.
a natureza é que nos torna mais perfeitos.
Com relação a esse assunto, analise os itens a seguir:
03. (UEL 2010) Leia o texto a seguir.
I. A ética é um sistema ideal de grande nobreza na teoria, mas
Na Primeira Secção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, inaproveitável na prática.
Kant analisa dois conceitos fundamentais de sua teoria moral: o II. A ética é algo inteligível somente no contexto da religião, pois,
conceito de vontade boa e o de imperativo categórico. Esses dois nesse contexto, a consciência religiosa responde quanto aos
conceitos traduzem as duas condições básicas do dever: o seu fundamentos dos princípios morais.
aspecto objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o acatamento III. A moral regulamenta as relações mútuas entre os indivíduos e
da lei pela subjetividade livre, como condição necessária e suficiente entre estes e a comunidade, enquanto a política abrange as
da ação. relações entre grupos humanos (classes, povos ou nações).
Disponível em: DUTRA, D. V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da moral kantiana.
IV. O homem pode renunciar à moral, porque esta não corresponde
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 29. a uma necessidade social; de igual modo, pode renunciar à
política, porque esta não responde a uma necessidade social.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria moral kantiana, V. A realização da moral como concretização de certos princípios
é correto afirmar: coloca a necessidade de relacioná-los com as condições sociais
às quais se referem, com as aspirações e interesses que os
(A) A vontade boa, enquanto condição do dever, consiste em inspiram e com o tipo concreto de relações humanas que
respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação a simples pretendem regulamentar.
conformidade à lei.
(B) O imperativo categórico incorre na contingência de um querer Estão CORRETOS
arbitrário cuja intencionalidade determina subjetivamente o valor
moral da ação. (A) Apenas I, II, III e V. (D) I, II, III, IV e V.
(C) Para que possa ser qualificada do ponto de vista moral, uma ação (B) Apenas II, III, IV e V. (E) Apenas III e V.
deve ter como condição necessária e suficiente uma vontade (C) Apenas III, IV e V.
condicionada por interesses e inclinações sensíveis.
(D) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para a satisfação 06. (UNESP) Por que as pessoas fazem o bem? A bondade está
de todas as necessidades e assim realizar seu verdadeiro destino programada no nosso cérebro ou se desenvolve com a experiência? O
prático: a felicidade. psicólogo Dacher Keltner, diretor do Laboratório de Interações Sociais
(E) A razão, quando se torna livre das condições subjetivas que a da Universidade da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões
coagem, é, em si, necessariamente conforme a vontade e por vários ângulos e apresenta resultados surpreendentes.
somente por ela suficientemente determinada. Keltner – O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da
espinha dorsal. Quando ativo, produz uma sensação de expansão
04. (UFSM) Leonardo Boff inclui a generosidade como uma pilastra de confortável no tórax, como quando estamos emocionados com a
um modelo adequado de sustentabilidade. Ele a caracteriza do bondade de alguém ou ouvimos uma bela música. Pessoas com alta
seguinte modo: Generoso é aquele que comparte, que distribui ativação dessa região cerebral são mais propensas a desenvolver
conhecimentos e experiências sem esperar nada em troca. Já os compaixão, gratidão, amor e felicidade.
clássicos da filosofia política, como Platão e Rousseau, afirmavam que Mente & Cérebro – O que esse tipo de ciência o faz pensar?
uma sociedade não pode fundar-se apenas sobre a justiça. Ela se
Keltner – Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura se (B) Representa a realidade mediante processos mentais
torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como essencialmente objetivos e conscientes.
diversão, toque, felicidade que, do ponto de vista evolucionário, são as (C) Relaciona-se com as mercadorias considerando prioritariamente
fontes mais antigas de prazer. Vejo essa nova ciência em quase todas os seus aspectos utilitários.
as áreas da vida. Ensina-se meditação em prisões e em centros de (D) Relaciona-se com objetos que refletem ilusoriamente seus
detenção de menores. Executivos aprendem que inteligência processos emocionais inconscientes.
emocional e bom relacionamento podem fazer uma empresa prosperar (E) Comporta-se de maneira autônoma frente aos mecanismos
mais do que se ela for focada apenas em lucros. publicitários de persuasão.
Disponível em: www.mentecerebro.com.br. (Adaptado)
09. (UNIOESTE) “A excelência moral, então, é uma disposição da alma
relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta
De acordo com a abordagem do cientista entrevistado, as virtudes consistente num meio-termo (o meio-termo relativo a nós) determinado
morais e sentimentos agradáveis pela razão (a razão graças à qual um homem dotado de discernimento
o determinaria)” – Aristóteles.
(A) Dependem de uma integração holística com o universo.
(B) Dependem de processos emocionais inconscientes. Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o texto acima, seguem as
(C) São adquiridos por meio de uma educação religiosa. seguintes afirmativas:
(D) São qualidades inatas passíveis de estímulo social.
(E) Estão associados a uma educação filosófica racionalista. I. A virtude é uma paixão consistente num meio-termo entre dois
extremos.
07. (UPE) A história da ética, como disciplina filosófica, é mais limitada, II. A ação virtuosa, por estar relacionada com a escolha, é praticada
no tempo e no material tratado, que a história das ideias morais da de modo involuntário e inconsciente.
humanidade. Esta última história compreende o estudo de todas as III. A virtude é uma disposição da alma relacionada com escolha e
normas que regulam o comportamento humano desde os tempos pré- discernimento.
históricos até nossos dias. IV. A virtude é um meio-termo absoluto, determinado pela razão.
VITA, Luís Washington. Introdução à filosofia, 1964, p. 143.
V. A virtude é um extremo determinado pela razão e pelas paixões
de um homem dotado de discernimento.
Sobre esse assunto, coloque V nas afirmativas Verdadeiras e F nas
Falsas. Das afirmativas feitas acima

( ) A ética é uma ciência prática e, portanto, sem rigor teórico. (A) Somente a afirmação I está correta.
( ) A ética ou filosofia moral é a parte da estética que se ocupa da (B) Somente a afirmação III está correta.
reflexão a respeito das noções e dos princípios que fundamentam (C) As afirmações II e III estão corretas.
a vida humana. (D) As afirmações III e IV estão corretas.
( ) Uma das definições mais corriqueiras da ética ou moral é aquela (E) As afirmações IV e V estão corretas.
que se refere ao estudo da atividade humana com relação aos seus
fins imediatos, que é a realização plena da humanidade. 10. (ENEM PPL 2012) Quanto à deliberação, deliberam as pessoas
( ) A história da moral serve de objeto de reflexão para a ética, ou seja, sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis deliberações?
a ética parte da diversidade de morais no tempo, com os seus Ou será a deliberação impossível no que tange a algumas coisas?
respectivos valores, princípios e normas. Ninguém delibera sobre coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem
( ) A filosofia moral se ocupa da conduta humana sob o aspecto, do universo; tampouco sobre coisas mutáveis, como os fenômenos
segundo o qual pode ser julgada certa ou errada, virtuosa ou dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser
viciosa, boa ou má. produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. (adaptado).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de cima
para baixo. O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante para
entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do texto,
(A) F, F, F, V, V (D) V, V, F, F, F considera-se que é possível ao homem deliberar sobre:
(B) F, F, V, V, V (E) F, V, F, F, V
(C) V, F, F, V, V (A) Coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os
acontecimentos da natureza.
08. (UNESP) A produção de mercadorias e o consumismo alteram as (B) Ações humanas, ciente da influência e da determinação dos
percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao eu; criam astros sobre as mesmas.
um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais, de ilusões cada (C) Fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu
vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito refletido faz do sujeito controle.
um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos objetos numa (D) Fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
extensão ou projeção do eu. É enganoso caracterizar a cultura do (E) Coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
consumo como uma cultura dominada por coisas. O consumidor vive
rodeado não apenas por coisas como por fantasias. Vive num mundo
que não dispõe de existência objetiva ou independente e que parece
existir somente para gratificar ou contrariar seus desejos. (Christopher
Lasch. O mínimo eu, 1987. Adaptado.)

Sob o ponto de vista ético e filosófico, na sociedade de consumo, o


indivíduo

(A) Estabelece com os produtos ligações que são definidas pela


separação entre razão e emoção.
Características do conhecimento mítico e religioso: geralmente
FILOSOFIA | unidade 3 funda-se em dogmas que não precisam ser comprovados ou
conhecimento - epistemologia demonstrados, pois apela para a autoridade divina que o revelou e
Prof. José Rogério de Pinho Andrade exige fé; possuem como fonte a revelação e/ou os livros sagrados.

TEORIA DO CONHECIMENTO - EPISTEMOLOGIA Conhecimento filosófico

Também chamada de teoria do conhecimento, a epistemologia é o Atribui-se a Pitágoras a distinção entre sophia, “o saber”, e a
ramo da filosofia que se ocupa da investigação sobre a natureza, as philosophia, que seria “a amizade ao saber”, a busca do saber. A
origens e a validade do conhecimento. Busca respostas às questões: filosofia propriamente dita tem condições de surgir no momento em que
o que é o conhecimento? Qual o fundamento do conhecimento? É o pensar é posto em causa tornando-se objeto de reflexão que é
possível o conhecimento verdadeiro? Na história da filosofia tais caracterizada por ser: radical, rigorosa e de conjunto. Características
questões, implícita ou explicitamente, sempre estiveram presentes. gerais: tem como objeto ideias, relações conceituais, exigências
Contudo, foi na modernidade, a partir do século XVII em diante que a lógicas não redutíveis à realidade materiais e, por isso mesmo, não
epistemologia passou a ocupar o centro da cena filosófica. passíveis de observação sensorial; utiliza o método racional no qual
prevalece o processo dedutivo e não exige confirmação experimental,
Noção de conhecimento mas somente coerência lógica; está sempre à procura do mais geral,
das leis mais universais; tem como objetivo questionar as conclusões
O ser humano é dotado da capacidade e da necessidade de da própria ciência à procura de sentido ou de interpretação mais ampla
conhecer e de pensar. De modo geral, é possível caracterizar o que responda às grandes indagações do espírito humano.
conhecimento como o pensamento que resulta da relação que se
estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, da Conhecimento científico
relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o mundo
conhecido. Também se refere ao produto, ao resultado do conteúdo A palavra ciência vem do latim scientia e significa, em seu sentido
desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem. Assim, amplo, saber ou conhecimento. Em seu sentido restrito, significa um
qualquer conhecimento é uma espécie de apropriação do mundo conhecimento que não só apreende ou registra fatos, mas também os
objetivo e subjetivo por parte do sujeito cognoscente. Pressupõe, demonstra pelas suas causas determinadas ou constitutivas. É a
portanto, dois elementos: um sujeito que conhece e um objeto que é modalidade de saber constituída por um conjunto de aquisições
conhecido. Pode ser representado pela fórmula: Sujeito x Objeto (S x intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação racional e
O). objetiva da realidade. Características gerais da Ciência: é definida
como conhecimento pelas causas; as conclusões científicas são
Tipos de conhecimento registradas através de leis, teorias e enunciados; estabelece leis
válidas para todos os casos da mesma espécie que venham a ocorrer;
O mesmo “objeto” de conhecimento pode ser atingido por diversas é sistemático, metódico e orgânico; é crítico, rigoroso e objetivo; nasce
vias e diferentes modos. O que distingue e caracteriza as diversas da dúvida e se consolida na “certeza” das leis demonstradas
espécies de conhecimento são o modo de conhecer e os instrumentos experimentalmente.
do conhecer: senso comum, mito e religião, filosofia e ciência.
As ciências classificam-se, geralmente, em ciências da natureza e
Senso comum ou conhecimento ordinário ciências humanas. As da Natureza estudam duas ordens de
fenômenos: os físicos e os vitais, ou as coisas e os organismos. As
Também denominado conhecimento empírico ou vulgar, é o modo ciências humanas referem-se àquelas que têm o próprio ser humano
espontâneo, pré-crítico de conhecer. Resulta do acúmulo de vivências como objeto.
que são adquiridas ao longo da existência cotidiana e que pode ser
caracterizado como um conhecer as coisas superficialmente, por A possibilidade do conhecimento
informação ou experiência casual. Possui as seguintes características:
é comum a todo ser humano, assistemático, ametódico, fragmentário, Quanto à possibilidade ou não de o espírito atingir a certeza (a
acrítico e intuitivo. verdade) as repostas dadas a essas questões levaram ao surgimento
de duas correntes básicas e antagônicas entre si: o ceticismo, que
Conhecimento mítico e religioso diagnostica a impossibilidade de conhecermos a verdade e o
dogmatismo, que defende a possibilidade de conhecermos a verdade.
Mito vem do grego, Mythos, e significa etimologicamente “fábula”. Elas sofrerão uma tentativa de conciliação no Século XVIII com o
Caracteriza-se como narrativa lendária pertencente à tradição cultural pensamento de Kant, também conhecido com criticismo.
de um povo e que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino O criticismo, desenvolvido pela filosofia de Kant no século XVIII,
e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e representa uma tentativa de superação do impasse criado pelo
a origem e os valores do próprio povo. É um tipo de verdade intuída ceticismo e pelo dogmatismo. Será a discussão que afirmará que há
que tem como critério a adesão pela fé, pela crença e não pela uma ordem de verdade que não podemos conhecer, nôumeno
evidência racional. É uma forma espontânea de o homem situar-se no (númeno) ou coisa-em-si, e outra que podemos conhecer, o fenômeno
mundo. ou coisa -para-nós (sujeito).

Em seu sentido geral a religião é um conjunto cultural suscetível QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS
de articular todo um sistema de crenças em Deus ou num sobrenatural
e um código de gestos, de práticas e de celebrações rituais; admite 01. (UEL 2011) O principal problema de Descartes pode ser formulado
uma dissociação entre a “ordem natural” e a “ordem sacra” ou do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso
sobrenatural. Toda religião acredita possuir a verdade sobre as conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da
questões fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na
ou crença. Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder,
ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar
que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais (E) Evidencia a importância do racionalismo, sobretudo as ideias
existido, sendo verdade agora que eu existo [...]” inatas que atestam o nexo causal dos fenômenos naturais
descobertos pela experiência.
DESCARTES. René. “Meditações Metafísicas”. Meditação Terceira.
São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.
Resposta: (D)
Hume pergunta sobre qual a natureza de todos os raciocínios humanos sobre os fatos e
Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por
qual o fundamento de todas as conclusões derivadas da experiência. O filósofo conclui
Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: que todos os fatos são exteriores entre si. Neles, não há nada de interior e intrínseco
que os relacione necessariamente uns aos outros. A relação de causalidade é uma
(A) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis crença baseada no hábito. Hume indica que os homens associam ideias e acreditam
nessa associação por força do hábito ou costume.
pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e
limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas opiniões
que se apresentam certas e indubitáveis. 03. (ENEM) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada
(B) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se como do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira
algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem
percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida
fenômenos observados. em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e
(C) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de
conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem
meio da experiência sensível possuem existência real. e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
(D) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia.
observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).

das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se


pode alcançar. Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o
(E) A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que
consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto,
possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais a investigação científica consiste em:
obstinada.
(A) Expor a essência da verdade e resolver definitivamente as
Resposta: (E) disputas teóricas ainda existentes.
Descartes tem como ponto de partida a busca de uma verdade que não pode ser (B) Oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar
colocada em dúvida, por isso, começa duvidando de tudo, começando pelas afirmações o lugar que outrora foi da filosofia.
do senso comum, passando pelas autoridades, do testemunho dos sentidos, até do
(C) Ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas
mundo exterior, inclusive da realidade do seu corpo, no entanto, só interrompe essa
cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser, do seu próprio intelecto que duvida, pois do saber que almejam o progresso.
não pode duvidar de que está duvidando, daí, a célebre máxima cartesiana: “penso, (D) Explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e
logo, existo”. eliminar os discursos éticos e religiosos.
(E) Explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor
02. (UEL 2010) Leia o texto a seguir: limites aos debates acadêmicos.

O principal argumento humeano contra a explicação da inferência Resposta: (C)


causal pela razão era que este tipo de inferência dependia da Em geral, a ciência estabelece um método de pesquisa racional que busca a construção
repetição, e que a faculdade chamada “razão” padecia daquilo que se coletiva de conhecimentos refletidos e seguros sobre a variedade da natureza, e,
pode chamar uma certa “insensibilidade à repetição”, ou seja, uma também, de conhecimentos esclarecedores sobre os fenômenos que nos parecem
familiares. Sendo assim, a ciência possui uma base racional fundante a qual todo homem
certa indiferença perante a experiência repetida. Em completo pode ter acesso e, desse modo, todos podem participar. Ela possui, além disso, como
contraste com isso, o princípio defendido por nosso filósofo, um objeto de pesquisa a perplexidade do homem perante a variância de alguns fenômenos
princípio para designar o qual propôs os nomes de “costume ou naturais e a permanência de outros, e como objetivo da pesquisa harmonizar estas
hábito”, foi concebido como uma disposição humana caracterizada diferenças em equilíbrios dinâmicos através de conceitos e sistemas de conceitos
justificados da melhor maneira possível, isto é, pela construção de experimentos
pela sensibilidade à repetição, podendo assim ser considerado um controlados e avaliações imparciais.
princípio adequado à explicação dos raciocínios derivados de
experiências repetidas. 04. (UEL) Fui nutrido nas letras desde a infância, e por me haver
persuadido de que, por meio delas, se podia adquirir um conhecimento
MONTEIRO, J. P. Novos Estudos Humeanos. São Paulo: Discurso Editorial, 2003, p. 41
claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o empirismo, é correto de aprendê-las. Mas, logo que terminei todo esse curso de estudos, ao
afirmar que Hume cabo do qual se costuma ser recebido na classe dos doutos, mudei
inteiramente de opinião. Pois me achava enleado em tantas dúvidas e
(A) Atribui importância à experiência como fundamento do erros, que me parecia não haver obtido outro proveito, procurando
conhecimento dedutivo obtido a partir da inferência das relações instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha
causais na natureza. ignorância. E, no entanto, estivera numa das mais célebres escolas da
(B) Corrobora a afirmação de que a experiência é insuficiente sem o Europa, onde pensava que deviam existir homens sapientes, se é que
uso e a intervenção da razão na demonstração do nexo causal existiam em algum lugar da Terra.
existente entre os fenômenos naturais. DESCARTES, R. Discurso do Método. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, I994. p. 43.
(C) Confere exclusividade à matemática como condição de
fundamentação do conhecimento acerca dos fenômenos naturais, O texto aponta a insatisfação que assola Descartes ao término dos
pois, empiricamente, constata que a natureza está escrita em seus estudos. Dentre os motivos que conduziram Descartes a essa
caracteres matemáticos. avaliação, pode-se citar:
(D) Demonstra que as relações causais obtidas pela experiência
representam um conhecimento guiado por hábitos e costumes e, I. A situação da filosofia, envolta em multas dúvidas.
sobretudo, pela crença de que tais relações serão igualmente
mantidas no futuro.
II. A ausência de um método adequado, inspirado na matemática, QUESTÕES PROPOSTAS
capaz de conduzir com segurança ao conhecimento do
verdadeiro. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
III. A crítica à educação, cuja base epistemológica se mantém
construída sobre pressupostos empíricos.
IV. A separação, existente desde o século XV, entre ciências do
espírito e ciências da natureza.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e II são corretas.


(B) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
(C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
(D) Somente as afirmativas I, lI e III são corretas.
(E) Somente as afirmativas I, lII e IV são corretas.

Resposta: (A)
No livro Discurso do Método, René Descartes procurou encontrar fundamentos seguros
para o desenvolvimento do conhecimento verdadeiro. Dado que havia muitas dúvidas
filosóficas e científicas, estas seriam solucionadas mediante um método rigoroso.
Descartes, nisso, utilizou-se do modelo matemático, considerado o conhecimento
intelectual por excelência.

05. Leia o do filósofo Kant e em seguida faça o que se pede:

“Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a


experiência (...). Mas embora todo o nosso conhecimento comece com
a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da
experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhe- 01. (UEL 2013) Em 2012, o Vaticano permitiu o acesso do público a
cimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por vários documentos, entre eles o Sumário do julgamento de Giordano
impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento Bruno e os Atos do processo de Galileu. As teorias desses estudiosos,
(apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, juntamente com o Homem Vitruviano, são exemplos de uma profunda
cujo acréscimo não distinguimos daquela matéria-prima antes que um transformação no modo de conceber e explicar o conhecimento da
longo exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha natureza.
tornado aptos a abstraí-Io.” Com base nos conhecimentos sobre a investigação da natureza no
início da ciência moderna, particularmente em Galileu, atribua V
Immanuel Kant – Crítica da Razão Pura
(verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
Pode-se deduzir do texto:
( ) A nova atitude de investigação rendeu-se ao poder de
convencimento argumentativo da Igreja, a ponto de o próprio
(A) Ele afirma que nosso conhecimento deriva todo ele da
Galileu, ao abjurar suas teses, ter se convencido dos equívocos da
experiência.
sua teoria.
(B) Afirma que nosso conhecimento é composto das impressões
( ) A observação dos fenômenos, a experimentação e a noção de
sensíveis somente.
regularidade matemática da natureza abalaram as concepções
(C) Para ele o nosso conhecimento é formado tanto pelas impressões
que fundamentavam a visão medieval de mundo.
sensíveis, quanto pela faculdade do conhecimento.
( ) O abandono da especulação levou Galileu a adotar pressupostos
(D) Para o filósofo não podemos distinguir entre a matéria-prima do
da filosofia de Aristóteles, pois esse pensador possuía uma
conhecimento e a faculdade de conhecer.
concepção de experimentação similar à sua.
(E) Ele afirma que o conhecimento é de característica empírica
( ) O método de investigação da natureza restringia-se àquilo que
somente, pois diz que “o nosso conhecimento começa com a
podia ser apreendido imediatamente pelos sentidos, uma vez que
experiência”.
o que está além dos sentidos é mera especulação.
( ) Uma das razões mais fortes para a condenação de Galileu foi sua
Resposta: (C)
No Século XVIII Immanuel Kant (1724 – 1804) tentará superar, com o criticismo, também identificação da imperfeição dos corpos celestes, o que contrariava
denominado de apriorismo kantiano, afirma que o conhecimento começa com a os dogmas da igreja.
experiência, mas que ela sozinha não nos dá o conhecimento. Faz-se necessário um
trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência. Ele buscou saber como é o Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência
sujeito a priori, isto é, antes de qualquer experiência, e concluiu que existem no homem
certas faculdade ou estruturas (denominadas por ele formas da sensibilidade e do
correta.
entendimento) que possibilitam a experiência e determinam o conhecimento. Para ele,
a experiência fornece a matéria do conhecimento, enquanto a razão organizaria essa (A) V, V, V, F, F.
matéria de acordo com as suas formas próprias, estruturas existentes a priori no (B) V, V, F, V, F.
pensamento.
(C) V, F, V, F, V.
(D) F, V, F, F, V.
(E) F, F, V, F, V.

02. (UEL 2010) A ONU declarou 2009 o Ano Internacional da


Astronomia pelos 400 anos do uso do telescópio nas investigações
astronômicas por Galileu Galilei. Essas investigações desencadearam
descobertas e, por sua vez, uma nova maneira de compreender os
fenômenos naturais. Além de suas descobertas, Galileu também
contribuiu para a posteridade ao desenvolver o método experimental e
a concepção de uma nova ciência física. (A) Dentre os objetos da razão humana, as relações de ideias se
originam das impressões associadas aos conceitos inatos dos
Com base nas contribuições metodológicas de Galileu Galilei, é correto quais se obtém dedutivamente o entendimento dos fatos.
afirmar: (B) As conclusões acerca dos fatos obtidas pelo sujeito do
conhecimento realizam-se sem auxílio da experiência, recorrendo
(A) A experiência espontânea e imediata da percepção dos sentidos apenas aos raciocínios abstratos a priori.
desempenha, a partir de Galileu, um papel metodológico, (C) O postulado que afirma a inexistência de conhecimento para além
preponderante na nova ciência. daquele que possa vir a resultar do hábito funda-se na ideia
(B) A observação, a experimentação e a explicação dos fenômenos metafísica de relação causal como conexão necessária entre os
físicos da natureza desenvolvidos por Galileu aprimoram o fatos.
método lógico-dedutivo da filosofia aristotélica. (D) O sujeito do conhecimento opera associações de suas
(C) A observação controlada dos fenômenos na forma de percepções, sensações e impressões semelhantes ou sucessivas
experimentação, segundo o método galileano, consiste em recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória.
interrogar metodicamente a natureza na linguagem matemática. (E) Pelo raciocínio o sujeito é induzido a inferir as relações de causa
(D) A verificação metodológica da verdade das leis científicas pelos e efeito entre percepções e impressões acerca da regularidade de
experimentos aleatórios, defendida por Galileu, fundamenta-se na fenômenos semelhantes que se repetem na sucessão do tempo.
concepção finalista do Universo.
(E) O método galileano reafirma o princípio de autoridade das 05. (ENEM) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do
interpretações teológico-bíblicas na definição do método para que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os
alcançar a verdade física. materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando
pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar
03. (UEL 2010) Observe a tira e leia o texto a seguir: duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos.
Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de
conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos
unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao


considerar que

(A) Os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.


Mas há um enganador, não sei quem, sumamente poderoso, (B) O espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
sumamente astucioso que, por indústria, sempre me engana. Não há (C) As ideias fracas resultam de experiências sensoriais
dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se me engana: que me determinadas pelo acaso.
engane o quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, (D) Os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser
enquanto eu pensar que sou algo. De sorte que, depois de ponderar e processados na memória.
examinar cuidadosamente todas as coisas é preciso estabelecer, (E) As ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são
finalmente, que este enunciado eu, eu sou, eu, eu existo é colhidos na empiria.
necessariamente verdadeiro, todas as vezes que é por mim proferido
ou concebido na mente. 06. (ENEM) TEXTO I

DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros
Tradução, nota prévia e revisão de Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2008, p. 25.
anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não
Com base na tira e no texto, sobre o cogito cartesiano, é correto
podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
afirmar:
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões
a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de
(A) A existência decorre do ato de aparecer e se apresenta
estabelecer um saber firme e inabalável.
independente da essência constitutiva do ser.
(B) A existência é manifesta pelo ato de pensar que, ao trazer à DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
mente a imagem da coisa pensada, assegura a sua realidade.
(C) A existência é concebida pelo ato originário e imaginativo do TEXTO II
pensamento, o qual impede que a realidade seja mera ficção.
(D) a existência é a plenitude do ato de exteriorização dos objetos, É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do
cuja integridade é dada pela manifestação da sua aparência. próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida,
(E) A existência é a evidência revelada ao ser humano pelo ato qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
próprio de pensar. gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
04. (UEL) Leia o texto a seguir:
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

Ao empreender a análise da estrutura e dos limites do conhecimento,


Kant tomou a física e a mecânica celeste elaboradas por Newton como A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para
sendo a própria ciência. Entretanto, era preciso salvá-la do ceticismo viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se:
de Hume quanto à impossibilidade de fundamentar as inferências
indutivas e de alcançar um conhecimento necessário da natureza. (A) Retomar o método da tradição para edificar a ciência com
Com base no pensamento de David Hume acerca do entendimento legitimidade.
humano, é correto afirmar:
(B) Questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e 10. (UEMA) Estabeleça a associação entre as possibilidades do
concepções. conhecimento (COLUNA I) e a (s) característica (s) (COLUNA II).
(C) Investigar os conteúdos da consciência dos homens menos
esclarecidos. COLUNA I COLUNA II
(D) Buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e
ultrapassados. (1) Dogmatismo ( ) Caracteriza-se pela atitude de
(E) Encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser (2) Ceticismo conhecimento que consiste em
questionados. (3) Criticismo acreditar estar em posse da certeza ou
(4) Pragmatismo da verdade antes de fazer a crítica da
07. (UEMA) Assinale a alternativa que indica CORRETAMENTE as faculdade de conhecer.
características da Filosofia e da Ciência, respectivamente. ( ) Posição epistemológica segundo a
qual o espírito humano nada pode
(A) Filosofia: dogmaticidade, rigorosidade e particularidade. Ciência: conhecer com certeza. Conclui pela
radicalidade, sistematicidade e visão de conjunto. suspensão do juízo e pela incerteza
(B) Filosofia: radicalidade, rigorosidade e visão de conjunto. Ciência: permanente.
radicalidade, sistematicidade e particularidade. ( ) Caracteriza-se por afirmar que não é
(C) Filosofia: radicalidade, generalidade e subjetividade. Ciência: possível conhecer as coisas tais como
radicalidade, generalidade e objetividade. são em si, apenas podemos conhecer
(D) Filosofia: rigorosidade, generalidade e sistematicidade. Ciência: os fenômenos, aquilo que aparece.
dogmaticidade, generalidade e objetividade. ( ) Posição epistemológica que afirma
(E) Filosofia: radicalidade, rigorosidade e objetividade. Ciência: que o intelecto é dado ao homem não
radicalidade, rigorosidade e subjetividade. para investigar e conhecer a verdade,
mas sim para orientar-se na realidade.
08. (UEMA) Coloque V (VERDADEIRO) ou F (FALSO) nas inferências
relacionadas às características da atividade filosófica: Marque a opção que contempla a sequência CORRETA das
associações de cima para baixo.
( ) A filosofia é uma forma de pensar acerca de certas questões. A
sua característica fundamental é o uso de argumentos lógicos. (A) 2, 3, 4, 1
( ) Os filósofos analisam e clarificam conceitos. (B) 1, 2, 3, 4
( ) Os filósofos ocupam-se de questões acerca da religião, da (C) 4, 1, 2, 3
política, da arte, dentre outras, que podemos chamar vagamente (D) 1, 3, 2, 4
"o sentido da vida". (E) 3, 4, 1, 2
( ) A filosofia é uma ciência da mesma forma que a biologia.
( ) A radicalidade, particularidade e visão de conjunto são
características fundamentais da reflexão filosófica.

Marque a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de cima


para baixo:

(A) V, V, V, V, F.
(B) V, V, V, F, V.
(C) F, F, V, V, F.
(D) V, F, V, V, F
(E) V, V, V, F, F.

09. (UFPA) As investigações epistemológicas reconhecem a existência


de uma incompreensão a respeito do que se considera conhecimento
objetivo. Em vista dessa afirmação, o trecho a seguir: “O que se
registra como o resultado de um experimento ou observação nunca é
o fato percebido vazio, mas este fato interpretado com a ajuda de uma
determinada quantidade de teoria”, quer dizer que:

(A) O conhecimento empírico é, necessariamente, um registro fiel e


independente de dados da nossa percepção imediata, sem
nenhuma interferência de fatores distintos dos nossos sentidos.
(B) A mensuração dos dados da nossa percepção é proporcional à
quantidade de teoria resultante das nossas observações.
(C) As inferências teóricas produzidas com ajuda de observações
diretas e isentas são determinantes para a obtenção de
resultados em pesquisa experimental.
(D) O conhecimento científico de um fato experimental é, na verdade,
um reconhecimento deste fato, e já supõe um certo conteúdo
proposto, previamente, por algum tipo de teoria.
(E) A experiência, ou melhor, o experimento rigorosamente
controlado, é a única fonte para a produção confiável de teorias
científicas.
instituições ou de segmentos da sociedade civil com a finalidade de
FILOSOFIA | unidade 4 alcançar determinados objetivos. A política apresenta-se como a arte
de governar e reduzida aos espaços institucionais dos quais os
filosofia e política indivíduos só participam ocasionalmente. Contudo, a política diz
Prof. José Rogério de Pinho Andrade respeito a todos os cidadãos. Considerando o significado etimológico,
veremos que a política deriva do grego “pólis”, que significa cidade e
FILOSOFIA E POLÍTICA se caracteriza como uma unidade de vida social e autônoma, da qual
os cidadãos participavam ativamente, decidindo sobre os seus
Política vem do latim “politicus”, do grego “politikós” e significa tudo destinos. Ao longo da história, a definição de política adquiriu
aquilo que diz respeito aos cidadãos e ao governo da pólis, da cidade, diferentes sentidos. Com o termo político designou-se: a doutrina do
aos negócios públicos. A filosofia política é, assim, a análise filosófica direito e da moral; a teoria do Estado e a arte ou ciência do governo.
da relação entre os cidadãos e a sociedade, as formas de poder e as
condições em que este se exerce, os sistemas de governo, a natureza, Atualmente a política se apresenta como a arte de governar, de
a validade e a justificação das decisões políticas. atuar na vida pública e gerir os assuntos de interesse comum. Faz
parte de nossa vida, permeia todas as formas de relacionamento
Na tradição clássica da filosofia política em geral, a política como social: no trabalho, no lazer, na escola, nas ruas e até nas relações
ciência pertence ao domínio do conhecimento prático e é de natureza afetivas. A política é a reflexão sobre os atos humanos que se praticam
normativa, estabelecendo os critérios da justiça e do bom governo, e em sociedade, na vida pública. É a tomada de decisões que visem
examinando as condições sob as quais o homem pode atingir a objetivar interesses que irão refletir na coletividade. Deve, portanto,
felicidade (o bem-estar) na sociedade. Os livros “A República” de estar atrelada à ética, pois se fundamenta no bem comum. Assim,
Platão e “A Política” de Aristóteles estão entre as obras mais famosas todos nós fazemos política e não somente aqueles que estão na esfera
da tradição filosófica sobre a política. Já na Idade Média, a finalidade do governo, do institucional.
política é a manutenção do vínculo interno entre religião e política.
Destaca-se neste período o pensamento de Santo Agostinho e a sua Estado democrático de Direitos: Contratualismo; Liberalismo,
obra “A cidade de Deus”. Socialismo Moderno e Neoliberalismo.

Nos séculos XVII e XVIII a preocupação dos filósofos em torno da A discussão sobre o Estado Democrático de direitos está
origem do poder nos mostra a necessidade de entender e justificar diretamente associada às concepções de Estado que se formaram ao
essas mudanças: do Direito Divino e Teocêntrico passa-se a uma longo do pensamento político moderno e que resultaram nas
explicação racional para a fundamentação do poder e sua legitimidade. discussões estabelecidas pelo modelo liberal de política desenvolvido
São destaque deste período os seguintes pensadores e suas obras: pelo pensamento contratualista que, embora divergentes, serão a base
Maquiavel e “O Príncipe”, Tomas Hobbes e “O Leviatã”, Jean Jacques para a noção de cidadania e democracia, e consequentemente, Estado
Rousseau e “O Contrato Social”, John Locke e “O Segundo Tratado do Democrático de Direitos.
Governo” e Montesquieu e o “O Espírito das Leis”.
Contratualismo
O Século XIX, do mesmo modo que o Século XVIII fora marcado
pela ascensão da burguesia, foi marcado pela experiência das O contratualismo é definido como a “doutrina que reconhece como
revoluções socialistas, que assinalaram o processo de organização origem ou fundamento do Estado (ou, em geral, da comunidade civil)
das classes trabalhadoras. Se destacam neste período os pensadores uma convenção ou estipulação (contrato) entre seus membros.” Por
Karl Marx e Friedrich Engels com “O Capital”. contrato social entende-se não só o contrato de governo que rege as
relações entre governantes e seu povo, mas também no sentido mais
A política colocada em prática a partir da Segunda Guerra Mundial amplo, como acordo tácito que fundamenta toda comunidade e que
acentuava o papel do Estado na organização da economia, por meio leva os indivíduos a conviver, ou seja, a participar dos bens, dos
de investimentos ou subsídios à indústria e pela garantia dos direitos serviços e das leis vigentes na comunidade.
sociais a todos os cidadãos e a crítica aos Estados Totalitários do
Nazismo, Fascismo e Comunismo. Na obra “O Leviatã”, Thomas Hobbes (1588 – 1679) defende a
ideia de que o estado de natureza é uma situação de anarquia,
Política: a concepção de Poder geradora de insegurança, angústia e medo no qual o homem torna-se
o lobo do homem (homo homini lupus). Assim, para garantir a
O ato de participar é uma condição humana da qual não podemos sobrevivência e o desenvolvimento social é necessário que os homens
escapar na vida em sociedade. A convivência com os outros implica a estabeleçam entre si um pacto social que consiste em “renunciar o seu
inevitabilidade dos conflitos de vontades e interesses e, normalmente, direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros
vence o conflito aquele que estiver melhor aparelhado: pode ser o mais homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em
forte, o mais bonito ou o que tiver maiores conhecimentos. Aquele que relação a si mesmo”. Para Hobbes, o poder do soberano deve ser
tiver maior poder. absoluto, isto é, ilimitado.

O poder é a capacidade de transformar as vontades dos outros na John Locke (1632 – 1704) tem como ponto de partida a concepção
sua vontade, isto é, de influenciar nas decisões dos outros a partir do individualista, pela qual os homens isolados no estado de natureza se
que se pretende. Seria a potência para realizar determinado desejo ou uniram mediante um contrato social para constituir a sociedade civil.
vontade. O poder pode se realizar pela força, mas também, e No estado natural cada um é juiz em causa própria e os riscos das
principalmente, pela hegemonia, ou seja, pelo convencimento e pela paixões e da parcialidade são grandes e podem desestabilizar as
manipulação das vontades alheias, tendo sua sustentação na relações entre os homens. Visando à segurança e à tranquilidade
concordância com a dominação. necessárias ao gozo da propriedade, as pessoas consentem em
instituir o corpo político: o poder é confiado aos governantes e é
Conceitos de Política permitido aos governados retirá-lo e confiá-lo a outrem.

No cotidiano nos referimos à política como a ação do Estado e da Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778) procura desenvolver a
organização institucional. Entende-se política como a atuação de questão da legitimidade do poder fundada no contrato social. No
entanto, sua posição é inovadora na medida em que distingue os baseados na análise científica do sistema capitalista e no estudo das
conceitos de soberano e governo atribuindo ao povo a soberania leis de desenvolvimento das sociedades, somente os trabalhadores,
inalienável: para ele o contrato social, para ser legítimo, deve se através de sua organização e de uma ação revolucionária para tomar
originar do consentimento necessariamente unânime: pelo pacto cada o poder, seriam capazes de transformar a sociedade capitalista,
homem abdica de sua liberdade, mas sendo ele próprio parte eliminando as desigualdades e a miséria. Por isso, o Socialismo de
integrante e ativa do todo social, ao obedecer à lei, obedece a si Marx e de Engels deixava de ser "utópico" para se tornar "científico".
mesmo e, portanto, é livre. O contrato não faz o povo perder a Suas ideias foram inicialmente expostas no texto do "Manifesto
soberania, pois não é criado um Estado separado dele mesmo. Comunista", lançado em 1848 na França, no "O Capital", publicado em
1867 e em numerosos outros escritos.
Mais recentemente, o contratualismo é utilizado para demonstrar a
tese de que o poder é necessariamente limitado. Encontrado nas Embora o objetivo final dos socialistas fosse estabelecer uma
teorias liberais, esta forma de contratualismo assume o contrato como sociedade comunista ou sem classes, atualmente eles têm se voltado
acordo entre os homens para unirem-se numa sociedade política, cada vez mais para as reformas sociais realizadas no seio do
assim ele é o pacto que existe e deve necessariamente existir entre capitalismo. Já no final da década de 50, os partidos socialistas da
indivíduos que se associam ou fundam um Estado. A noção de contrato Europa Ocidental começaram a descartar o marxismo, passaram a
talvez pudesse ser retomada para análise das estruturas das aceitar a economia mista, diminuíram os vínculos com os sindicatos e
comunidades humanas, tendo como base a noção de reciprocidade de abandonaram a ideia de um setor nacionalizado em continua
compromissos e do caráter condicional dos acordos dos quais se expansão. No final do século XX , o socialismo, perdeu tanto a
originam direitos e deveres. perspectiva anticapitalista original, que passou a aceitar que o
capitalismo não pode ser controlado de um modo suficiente e muito
O Liberalismo menos abolido.

É o sistema filosófico, político e econômico desenvolvido a partir O Neoliberalismo


do século XVIII que vai marcar o pensamento burguês e busca a
separação entre o Estado e a sociedade enquanto conjunto das Constitui, em nossos dias, a doutrina que, diante de certo fracasso
atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza do Liberalismo clássico e da necessidade de reformar alguns de seus
econômica. O que se quer é separar definitivamente o público do modos de proceder, admite uma certa intervenção do Estado, mas sem
privado, reduzindo ao mínimo a intervenção do Estado na vida de cada questionar os princípios da concorrência e da livre empresa. O
um. O liberalismo político considera a vontade individual como neoliberalismo é resultado do encontro de duas correntes do
fundamento das relações sociais, defendendo, portanto, as liberdades pensamento econômico: a escola austríaca, aparecida nos finais do
individuais – liberdade de pensamento e de opinião, liberdade de culto, século XIX tendo à frente Leopold Von Wiese e que teve
etc. – em relação ao poder do Estado que deve ser limitado. Defende prosseguimento com Ludwig von Mises e seu mais talentoso discípulo
o pluralismo das opiniões e a independência entre os poderes – Friedrich Von Hayek, e a escola de Chicago, tendo Milton Friedman
Legislativo, Executivo e Judiciário – que constituem o Estado. como seu expoente.

O liberalismo econômico, cujos principais representantes são QUESTÕES RESOLVIDAS


Adam Smith (1723 – 1790) e David Ricardo (1772 – 1823), considera
que existem leis inerentes ao próprio processo econômico – tais como 01. (ENEM) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às
a lei da oferta e da procura – e que estabelecem o equilíbrio entre a faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre
produção, a distribuição e o consumo de bens em uma sociedade. O um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais
Estado não deve interferir na economia, mas apenas garantir a livre vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em
iniciativa e a propriedade privada dos meios de produção. Defende conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente
assim a chamada “economia de mercado”. considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum
benefício a que outro não possa igualmente aspirar.
O Socialismo
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003

Socialismo é um termo que, desde o início do século XIX, significa as


teorias e ações políticas que apoiam um sistema econômico e político Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois
baseado na socialização dos sistemas de produção e no controle homens desejavam o mesmo objeto, eles:
estatal parcial ou completo dos setores econômicos, opondo-se
frontalmente aos princípios do capitalismo. O crescimento da (A) Entravam em conflito.
industrialização, em bases capitalistas, criou uma massa de (B) Recorriam aos clérigos.
trabalhadores pobre e explorada - o proletariado. Face ao aumento da (C) Consultavam os anciãos.
riqueza entre os capitalistas e da miséria do proletariado, expandiram- (D) Apelavam aos governantes.
se as ideias socialistas, como um instrumento de crítica social e de luta (E) Exerciam a solidariedade.
política, propondo o estabelecimento de uma nova sociedade que
suprimisse as desigualdades entre os homens. Resposta: (A)
Segundo Hobbes, os homens, em seu estado de natureza, permanecem em um
constante conflito. É a constituição da cidade civil que irá pôr fim a esse estado de guerra
Os primeiros pensadores socialistas eram na sua maioria de todos contra todos.
franceses e desenvolveram suas ideias no período das Revoluções
Burguesas. Entre eles, podemos destacar: Saint Simon (1760/1825), 02. (ENEM) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus
Charles Fourier (1772/1834), Robert Owen (1771/1858) Pierre-Joseph amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco
Proudhon (1809/1865) e Louis Blanc (1811/1882). negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no
errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua
Por pretenderem reformar a sociedade através da boa vontade e sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções
dos bons exemplos da burguesia os primeiros socialistas foram humanas.
classificados pelos pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels
RACHELS. J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
de "socialistas utópicos". Do ponto de vista de Marx e de Engels,
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, (B) Consagração do poder político pela autoridade religiosa.
de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado (C) Concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
de: (D) Estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições
do governo.
(A) Determinações biológicas impregnadas na natureza humana. (E) Reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de
(B) Verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses um governante eleito.
sociais.
(C) Mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições Resposta: (D)
antigas. A liberdade não pode ser definida como a permissão de fazer tudo, mas sim apenas
aquilo que se instituiu permitido através da Lei formulada por um legislador capaz. Ora,
(D) Convenções sociais resultantes de interesses humanos
se todos pudessem fazer tudo que desejassem, pensa Montesquieu, então não haveria
contingentes. liberdade, pois todos abusariam constantemente dessa permissão de fazer tudo. De
(E) Sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes modo que devemos considerar necessário um equilíbrio do poder para que não ocorra
humanas. algum abuso dele, e a disposição das instituições deve se dar de tal maneira que os
poderes se balanceiem. São livres, apenas os estados moderados, pois neles os
poderes Legislativo, Executivo, Judiciário se contrapõem garantindo a integridade e
Resposta: (D) autonomia de cada um, e a liberdade de todos os cidadãos.
O sofista Trasímaco defendia a ideia de que não haveria uma concepção ideal de justiça
nos homens. Para ele, a justiça não seria, portanto, algo universal, mas resultado de
regras aprendidas socialmente pelos homens. Tal visão é diametralmente diferente da 05. (ENEM PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade
concepção platônica de justiça. numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou
com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária
03. (ENEM) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o
temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que
seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta
ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de
dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma
volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes parte da unidade, e só seja percebido no todo.
fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas
quando ele chega, revoltam-se.
A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. expressa o texto, diz que

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas (A) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria
relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser: natureza.
(B) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua
(A) Munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e essência natural.
aos outros. (C) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições
(B) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito sociais dependem dele.
na política. (D) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
(C) Guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis (E) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o
e inconstantes. homem é um ser político.
(D) Naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e
portando seus direitos naturais. Resposta: (A)
(E) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus O homem civil, segundo o texto de Rousseau, corresponde àquele que, desviando de
sua própria natureza, se torna um indivíduo relacional à comunidade política. Se
pares.
fizéssemos um exercício de completa abstração e pensássemos unicamente a partir do
ponto de vista do “homem natural”, então poderíamos dizer que a sua “transformação”
Resposta: (C) em homem civil seja um desvio. Porém, Rousseau não dá a entender que tal passagem
Maquiavel é considerado fundador da filosofia política moderna, pois muitas das suas para a vida civil seja simplesmente um artifício, um desvio da rota natural. Segundo um
afirmações se contrapõem à filosofia política clássica. Basicamente, a sua reflexão se trecho de sua obra, Contrato Social, a passagem é inevitável para a própria conservação
preocupa muito mais com problemas efetivos, e muito menos com reflexões utópicas do homem e, portanto, um tanto natural, isto é, ela se cria pelo movimento da própria
sobre o dever ser. De modo que a eficiência deve ser buscada na pobreza mesma das natureza do homem.
nossas cidades como elas são, e não na possível riqueza das nossas cidades como elas
poderiam ser.
QUESTÕES PROPOSTAS
04. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de 01. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que
maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa
o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes
do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais
as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a
Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite
liberdade, sendo que esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer o controle sobre a outra metade.
os referidos poderes concomitantemente.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).

Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu


A divisão e a independência entre os poderes são condições tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu
necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode pensamento político e o humanismo renascentista ao
ocorrer apenas sob um modelo político em que haja;
(A) Valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do
(A) Exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
seu tempo. III. Cidadania é também acesso a uma renda adequada, que permita
(B) Rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. ao cidadão desfrutar de um padrão de vida comum a seus
(C) Afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da concidadãos.
ação humana. IV. Cidadania implica reconhecer as particularidades de gênero,
(D) Romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de cultura, raça e sexualidade.
aprendizagem.
(E) Redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. Estão CORRETAS as afirmativas

02. (ENEM) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que (A) IV, II e I, apenas.
quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre (B) I, III e IV, apenas.
presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A (C) II, III e IV, apenas.
liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um (D) I, II e III, apenas.
cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais (E) I, II, III e IV.
liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
05. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se
o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar
respeito as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e
(A) Ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da
decisões por si mesmo. liberdade, sendo que esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer
(B) Ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade os referidos poderes concomitantemente.
às leis.
(C) À possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
livre da submissão às leis.
(D) Ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, A divisão e a independência entre os poderes são condições
desde que ciente das consequências. necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode
(E) Ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus ocorrer apenas sob um modelo político em que haja:
valores pessoais.
(A) Exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
03. (ENEM 2010) (B) Consagração do poder político pela autoridade religiosa.
(C) Concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
(D) Estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições
do governo.
(E) Reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de
um governante eleito.

06. (ENEM PPL)

Democracia: “regime político no qual a soberania é exercida pelo povo, pertence ao conjunto dos cidadãos.”
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionario Basico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Uma suposta “vacina” contra o despotismo, em um contexto


democrático, tem por objetivo
De acordo com algumas teorias políticas, a formação do Estado é
(A) Impedir a contratação de familiares para o serviço público. explicada pela renúncia que os indivíduos fazem de sua liberdade
(B) Reduzir a ação das instituições constitucionais. natural quando, em troca da garantia de direitos individuais, transferem
(C) Combater a distribuição equilibrada de poder. a um terceiro o monopólio do exercício da força. O conjunto dessas
(D) Evitar a escolha de governantes autoritários. teorias é denominado de:
(E) Restringir a atuação do parlamento.
(A) Liberalismo.
04. (Adaptação - UNIMONTES 2014) O termo “cidadania” foi (B) Despotismo.
consagrado pelo sociólogo inglês Thomas Humphrey Marshall (1893- (C) Socialismo.
1981), o qual, segundo esse autor, implica um sentimento de (D) Anarquismo.
pertencimento e lealdade a uma civilização. Sobre esse assunto, (E) Contratualismo.
analise as proposições abaixo.
07. (ENEM PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade
I. A noção de cidadania se estabelece a partir dos deveres de cada numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou
indivíduo para com o Estado, mas também pelos direitos que esse com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária
Estado lhe garante. que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o
II. Cidadania é exercer a liberdade individual em todas as todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que
circunstâncias da vida social, sem nenhum empecilho jurídico. melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta
para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de
sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma
parte da unidade, e só seja percebido no todo. 10. (UEMA 2015) De acordo com a historiadora Maria Lúcia de Arruda
Aranha, a Revolução Francesa derrubou o antigo regime, ou seja, o
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
absolutismo real fundamentado no direito divino dos reis, derivado da
concepção teocrática do poder. O término do antigo regime se
A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme consuma quando a teoria política consagra a propriedade privada
expressa o texto, diz que: como direito natural dos indivíduos.
(A) O homem civil é formado a partir do desvio de sua própria ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
natureza.
(B) As instituições sociais formam o homem de acordo com a sua Esse princípio político que substitui a antiga teoria do direito divino do
essência natural. rei intitula-se:
(C) O homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições
sociais dependem dele. (A) Contratualismo.
(D) O homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. (B) Totalitarismo.
(E) As instituições sociais expressam a natureza humana, pois o (C) Absolutismo.
homem é um ser político. (D) Liberalismo.
(E) Marxismo.
08. (UFU) Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua
origem, devemos considerar em que estado todos os homens se
acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para
ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme
acharem conveniente, dentro dos limites da lei de natureza, sem pedir
permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

(A) A partir da leitura do texto acima e de acordo com o pensamento


político do autor, assinale a alternativa correta.
(B) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o estado
de servidão.
(C) Para Locke, o direito dos homens a todas as coisas independe
da conveniência de cada um.
(D) Segundo Locke, a origem do poder político depende do estado
de natureza.
(E) Segundo Locke, a existência de permissão para agir é
compatível com o estado de natureza.

09. (UNIOESTE) Em filosofia política, o contratualismo visa à


construção de uma “teoria racional sobre a origem e o fundamento do
Estado e da sociedade política”. O modelo contratualista é “...
construído com base na grande dicotomia ‘estado (ou sociedade) de
natureza / estado (ou sociedade) civil’” (cf. BOBBIO), sendo que a
passagem do estado de natureza para o estado civil ocorre mediante
o contrato social.

Considerando o texto acima e as diferentes teorias contratualistas, é


INCORRETO afirmar que:

(A) O ponto de partida, no pensamento contratualista, para a análise


da origem e fundamento do Estado, é o estado político
historicamente existente, cujo princípio de legitimação de sua
efetividade histórica é o consenso.
(B) Os elementos constitutivos do estado de natureza são indivíduos
singulares, livres e iguais uns em relação aos outros, sendo o
estado de natureza um estado no qual reinam a igualdade e a
liberdade.
(C) Para o contratualismo, a sociedade política, em contraposição a
qualquer forma de sociedade natural, encontra seu princípio de
fundamentação e legitimação no consenso dos indivíduos
participantes do contrato social.
(D) Diferentemente de Locke, que concebe o estado de natureza
como um “estado de relativa paz, concórdia e harmonia”, para
Hobbes, o estado de natureza é um estado de guerra
generalizada, de todos contra todos, de insegurança e violência.
(E) A passagem do estado de natureza para o estado civil ocorre
mediante uma ou mais convenções, ou seja, mediante “um ou
mais atos voluntários e deliberados dos indivíduos interessados
em sair do estado de natureza”, e ingressar no estado civil.

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