BABILÔNIA Entregue Ao Seu Pecado - Caroline Andrade Nodrm

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Copyright © 2024 por Caroline Andrade

Babilônia 2 | 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos
aqui são produtos da imaginação do autor. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,


distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia
autorização por escrito do escritor, exceto no caso de
breves citações incluídas em revisões críticas e alguns
outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos
autorais.

Capa: Ellfdesigner
Revisão: Gramaticalizando – Assessoria Literária
Leitura Crítica: Valdirene Gonçalves
Ilustrações: Carlos Miguel Artes
Diagramação: M. Ryu Designer

O artigo 184 do Código Penal tipificava como crime, apenado com detenção

de 3 (três) meses a 1 (hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor que

não tivesse como intuito a obtenção de lucro com a reprodução da obra

intelectual protegida.
SUMÁRIO
Sinopse
Playlist
Nota da autora
Aviso sobre ilustração
PRÓLOGO
O RESGATE
VIOLET SING
CAPÍTULO 1
VOLTE AMANHÃ
JON ROY
CAPÍTULO 2
AÇOUGUEIRO
JON ROY
CAPÍTULO 3
A DÍVIDA
JON ROY
CAPÍTULO 4
LIXO
JON ROY
CAPÍTULO 5
A PROTETORA
JON ROY
CAPÍTULO 6
MESTRE
LINDA
CAPÍTULO 7
O REFLEXO
OWEN WODEN
CAPÍTULO 8
O DESPERTAR
LINDA
CAPÍTULO 9
PERMISSÃO NEGADA
JON ROY
CAPÍTULO 10
O DEMÔNIO
JON ROY
CAPÍTULO 11
ÚNICA
JON ROY
CAPÍTULO 12
CORTINAS AO VENTO
LINDA
CAPÍTULO 13
REAL
LINDA
CAPÍTULO 14
UMA NOVA EMOÇÃO
LINDA
CAPÍTULO 15
MEU PECADO
JON ROY
CAPÍTULO 16
A LEI DE SALOMÃO
JON ROY
CAPÍTULO 17
FADA DO DENTE
JON ROY
CAPÍTULO 18
MIROU NA FADA E ACERTOU NA BRUXA
JON ROY
CAPÍTULO 19
O MONSTRO
JON ROY
CAPÍTULO 20
A CRIANÇA
JON ROY
CAPÍTULO 21
ISSO QUE QUER
JON ROY
CAPÍTULO 22
A AULA DE SUBMISSÃO
JON ROY
CAPÍTULO 23
O GOSTO DO PODER
JON ROY
CAPÍTULO 24
O GOSTO
LINDA
CAPÍTULO 25
O REI
OWEN WODEN
CAPÍTULO 26
VIVO-MORTO, MORTO-VIVO
OWEN WODEN
CAPÍTULO 27
APRENDENDO A DESAPRENDER
LINDA
CAPÍTULO 28
A DOR DE CABEÇA DO MESTRE
JON ROY
CAPÍTULO 29
ALERTA LARANJA
JON ROY
CAPÍTULO 30
LOUCO
JON ROY
CAPÍTULO 31
MINHA TORRE
JON ROY
CAPÍTULO 32
O HANGAR
JON ROY
CAPÍTULO 33
O TABULEIRO DE PEÕES
LINDA
CAPÍTULO 34
A TORRE PERDE PARA O BISPO
LINDA
CAPÍTULO 35
O TABULEIRO DO REI
JON ROY
CAPÍTULO 36
A VELHA GUARDA
JON ROY
CAPÍTULO 37
A NINHADA
JON ROY
CAPÍTULO 38
O BUNKER
JON ROY
CAPÍTULO 39
A PROTETOR
JON ROY
CAPÍTULO 40
CASA
LINDA
CAPÍTULO 41
PARA SEMPRE
LINDA
CAPÍTULO 42
O GRITO
LINDA
CAPÍTULO 43
O ACERTO
JON ROY
CAPÍTULO 44
ENTREGUE AOS SEUS PECADOS
JON ROY
CAPÍTULO 45
MEU TABULEIRO
JON ROY
CAPÍTULO 46
A PRIMEIRA TEIA
JON ROY
CAPÍTULO 47
O GAMBITO DO BISPO
JON ROY
CAPÍTULO 48
A JOGADA DO BISPO
LINDA
CAPÍTULO 49
A MASMORRA DA TORRE
LINDA
CAPÍTULO 50
RELATIVO
JON ROY
CAPÍTULO 51
PEÃO NA CASA E6
LINDA
CAPÍTULO 52
A DESTRUIÇÃO DA TORRE
JON ROY
CAPÍTULO 53
A PARTIDA DA INQUILINA
JON ROY
CAPÍTULO 54
O GAMBITO DA TORRE
JON ROY
CAPÍTULO 55
O CRÉDITO DO BISPO
JON ROY
CAPÍTULO 56
A CAPTURA DA TORRE
LINDA
CAPÍTULO 57
O OLHAR DO REI
OWEN WODEN
CAPÍTULO 58
O XEQUE-MATE DO BISPO
JON ROY
CAPÍTULO 59
A PEÇA INVASORA
OWEN WODEN
CAPÍTULO 60
O CORAÇÃO DO BISPO
GINGER ROY
CAPÍTULO 61
A JOGADA DOS MESTRES
OWEN WODEN
CAPÍTULO 62
O CORTEJO DO BISPO
JON ROY
CAPÍTULO 63
A JOGADA FINAL
JON ROY
CAPÍTULO 64
A PEÇA MESTRE
JON ROY
CAPÍTULO 65
FESTIVA DE ASTÉRIO
LINDA
CAPÍTULO 66
A CAÇADA DA TORRE
LINDA
EPÍLOGO
O PRÍNCIPE CRUEL
DAVE WODEN
AVISO DA AUTORA
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS:
SÉRIES:
ÚNICOS
Sinopse

SADISMO + DARK ROMANCE + STALKER + PITCH


BLACK
Jon Roy, marcado aos treze anos por um ato criminoso
e violento, que o rotulou como um maníaco perigoso, viveu
mais de uma década atrás das paredes sufocantes de um
hospício penitenciário.
Porém, sua vida de condenação e isolamento é
abruptamente interrompida quando uma jovem enviada por
um diplomata sombrio, que tem interesses no jovem
condenado, o resgata do hospício penitenciário.
Jon se torna um dos mercenários mais brutais de
Babilônia, uma sociedade secreta que venera o sadismo
tanto quanto o poder.
E em uma missão, onde ele infiltra-se na fortaleza de
um homem que mantém mulheres aprisionadas, como se
fossem bonecas humanas, Jon se depara com a jovem que o
libertou da sua condenação.
Resgatada por Babilônia, a jovem é confinada sob sua
proteção. Violet é o enigma que desafia a natureza
impiedosa e psicopata de Jon. E, assim, ele se vê
atormentado por um instinto protetor que rasga sua
fachada de um monstro calculista sem sentimentos, sendo
consumido por uma paixão que ameaça engoli-lo.
AVISO DE ROMANCE DARK. NÃO RECOMENDADO
PARA LEITORES SENSÍVEIS.
Contém cenas de violência física e psicológica,
relacionamento abusivo e perverso, narcisismo, estupro de
vulnerável, mutilação, tortura, morte, matricídio,
feminicídio, parricídio, problemas mentais, psicopatia,
sadismo, tráfico humano, masoquismo, parafilias,
infantilismo, pedofilia, incesto, hardcore, exibicionismo,
asfixiofilia, escopofilia, algolagnia, autassassionofilia,
dacryfilia, hibristofilia, odaxelagnia, piquerismo, pigofilia,
objectofilia, somnofilia, estigmatofilia, knife play, fisting,
agalmatofilia, bondage, ludofilia, voyeurismo e palavrões.
Pode acionar gatilhos emocionais.
Playlist

A playlist de Babilônia: Entregue ao seu pecado está


disponível no link:
https://spotify.link/FSQlNGfjbKb
Nota da autora

Meu doce amado e rebelde leitor, se chegou até aqui


é porque fez um longo caminho pela parte I de Babilônia.
No primeiro livro, lhe convidei para conhecer um amor
perverso e completamente submisso. Agora, lhe convido a
conhecer um amor verdadeiramente sombrio e cruel, tão
tóxico quanto os próprios personagens, que são tão
corrompidos por seus desejos e insanidades quanto o amor
deles.
Esqueça tudo que leu até aqui, ou não esqueça, pois
isso vai te ajudar a se preparar para o que está por vir.
Porém, garanto que nada será igual.
E, novamente, afirmo: se escolherem embarcar nesse
amor insano, mesmo depois de ter lido os gatilhos, desejo
que seja muito bem-vindo, mas ressalto que estão por sua
conta.
Com amor, Caroline Andrade
Aviso sobre ilustração

Ei, leitor!
Tenho quatro ilustrações disponíveis do livro, mas,
uma delas, não pode ser compartilhada aqui, por ter
conteúdo adulto.
Me envia o print comprovando que comprou/baixou o
livro pela Amazon (infelizmente, isso é para coibir os
usuários de pirataria) e eu te envio a ilustração por DM, lá
no Instagram: @autoracarolineandrade.
PRÓLOGO

O RESGATE
VIOLET SING

Sacramento – Califórnia
Hospício Penitenciário Federal

— Merda! — murmuro, cabisbaixa, andando depressa


e empurrando o carrinho de limpeza o mais rápido que
posso, sentindo cada parte minha completamente
assustada, comigo morrendo de medo de ser pega. —
Merda, merda...
— Porra, dá para calar a boca?! — A voz brava de
Shend, minha irmã mais velha, explode no pequeno fone
em meu ouvido, com ela brigando comigo. — Vai chamar
atenção desse jeito, apenas relaxa, ok...
— É muito fácil me mandar relaxar quando está
segura aí embaixo, na fornalha. — Ergo apenas um pouco
meu rosto, conferindo se o corredor está limpo, sem
nenhum guarda. — Tem ideia do que vai me acontecer se
me pegarem? Eu vou ser presa...
— Claro que não vai, sua tola. Agora, se concentra! —
ela briga comigo outra vez. — Apenas tenta imaginar que
daqui a algumas horas vamos estar tão ricas, tão
malditamente ricas, que nunca mais vamos saber o que é
precisar de grana; e muito, muito longe da merda dessa
cidade.
— Ou iremos estar na cadeia — argumento, sendo
mais racional, não conseguindo ser tão sonhadora como
Shend.
— Porra, Vi, você não dá uma folga mesmo! — Ela
bufa, zangada. — Vire à esquerda, e vai ter uma porta, que
estou destrancando. Não terá nenhum guarda, precisa
apenas descer um lance de degraus e vai cair no corredor,
onde nossa encomenda está...
— É uma pessoa. — Solto o carrinho, pegando o
esfregão do chão e o segurando firme em meus dedos.
Afasto-me do carrinho quando viro à esquerda e vejo a
porta que tem a luz verde ao canto, que me deixa saber que
Shend liberou a trava eletrônica. — Tem ideia de como é um
absurdo tratar uma pessoa como uma encomenda? Estamos
falando de um ser humano...
— Bom, se fosse realmente um ser humano, não
estaria trancafiado dentro desse zoológico de loucos. É
apenas uma encomenda, Vi, uma encomenda valiosa que
vai nos deixar ricas. — Ela ri, soltando uma gargalhada, ao
passo que desço os degraus. — Apenas o imagine como
uma carga que vai coletar para levar para o porto. Lhe disse
que tudo vai ser tranquilo, não vai dar nada errado. Eu
molhei as mãos de uns guardas. Os corredores estavam
limpos e as câmeras desativadas, como eu lhe avisei, não
foi?! Ninguém lhe parou...
— Sim... — murmuro, com meus ombros se
encolhendo, não gostando nem um pouco desse andar, que
é frio e tão assustador que me faz achar que estou em um
filme de terror. — É horrível aqui, como podem deixar as
pessoas nessa situação... — sussurro para minha irmã,
andando devagar e observando as celas com grandes vidros
na frente, com homens dentro delas, cada um em uma cela,
deitados na cama de cimento, que mal tem um colchão fino
em cima, com uma privada de alumínio ao lado da cama.
Alguns deles se sentam, me fitando com curiosidade,
e outros simplesmente me ignoram. Arrumo a touca em
minha cabeça e passo meus dedos por ela, nervosa,
abaixando meu rosto e esfregando o chão com o esfregão
que eu trouxe para despistar, como se esse realmente fosse
meu serviço.
— O que será que ele fez para acabar aqui? — indago,
curiosa, tentando imaginar o que a encomenda, como
minha irmã o chama, teria feito para acabar em um hospício
penitenciário.
Eu o chamo de playboy, porque é a pinta que ele tem.
Shend me fez olhar a foto dele, estudando sua face, para ter
certeza de que eu não iria acabar me atrapalhando ou
cometendo alguma merda, como ela sempre diz que é a
única coisa que faço. A verdade é que eu não faço merda,
eu apenas evito ao máximo não me meter nas coisas
erradas que minha irmã anda fazendo. Porém, de um tempo
para cá, tudo está ainda pior, desde o dia que ela conheceu
um idiota e se apaixonou por ele.
Deric é um babaca, o qual é tão tóxico para ela
quanto ácido puro, mas ela não percebe, pois morre de
amor por ele. Tanto que é por isso que estamos nessa fria.
Deric apareceu uma noite lá em casa, dizendo que tinha
recebido um trabalho grande, que envolvia tirar um rapaz
do hospício e levar ao porto, onde pessoas estariam
esperando por ele. Deric falou que ele era alguém especial
e muito valioso.
Particularmente, não vi nada de especial no playboy
chamado Jon Roy, a não ser sua cara de mauricinho, que
transparece mesmo usando um uniforme branco do
hospício. Ele tem os olhos azuis profundos e os cabelos
negros arrumadinhos, além de um ar tão aristocrata e
metido, que nem parece ser um louco, apenas só mais um
arrogante de merda.
Eu disse à Shend que era furada, que ela devia
esquecer, mas a quantia que Deric falou que pagariam pelo
resgaste do garoto foi o suficiente para fazer Shend abraçar
o trabalho. Até então, estava tudo bem. Se ela queria se
ferrar, escolha dela, mas o problema foi ela me arrastar
junto. Eu não queria vir, não mesmo, porém, Shend é tudo
que eu tenho, sempre foi apenas nós duas. Tivemos uma
infância de merda, com pais de merda e traumas que nos
acompanham até hoje.
Nunca nos separamos, e ela me conhece melhor do
que ninguém, ela sabe que eu não diria não a ela, porque
sempre consegue me convencer a fazer o que ela quer, por
ser a única pessoa que amo e que eu tenho. E quando dei
por mim, estava vestindo esse uniforme, de uma senhora da
limpeza, e usando um carrinho, para vir tirar o playboy da
cela, enquanto Shend fica na casa de fornalha do hospício,
tendo acesso a todo sistema de segurança, como portas e
fechaduras, através do computador velho que Deric deu a
ela.
— Ouvi dizer que é daqueles que gosta de dar
trabalho! — Paro de andar no segundo que uma voz sai alta,
com uma risada surgindo na sequência.
Congelo, sentindo meu coração disparar, ficando com
medo, dando um passo lento e esticando meu pescoço para
dentro da cela à minha esquerda. Vejo um guarda de costas
para os vidros da cela, perto da parede, ao canto, rosnando
para alguém, como se estivesse o acuando. A porta da cela
está aberta.
— Tem alguém aqui embaixo — sussurro, dando dois
passos para trás e me afastando sem fazer barulho.
— Claro que tem, os loucos! — ela fala com ironia,
debochando de mim.
— Não, Shend, tem alguém aqui, um guarda! — digo
para ela com temor.
— Porra! — Shend rosna, suspirando fundo. — Ok. Ele
lhe viu?
— Não... — sibilo apenas para que ela me ouça, me
aproximando devagar da porta e espiando mais uma vez. —
Ele está dentro de uma cela, com um paciente...
Meus olhos se estreitam e vejo um pé esticado no
chão, perto das botas do segurança.
— Não está tão arrogante agora, não é?! — o guarda
rosna, levando um cacetete ao alto, antes de o abaixar com
força.
Vejo sangue voar para a parede, e o guarda ruge com
ódio. Ergo minha mão e tapo minha boca na mesma hora,
enquanto retorno para trás, sentindo o suor escorrer por
minha testa.
— Ele está batendo, o guarda está batendo em
alguém...
— Tenta se esconder até esse merda sair daí, e depois
vá direto para a cela onze, onde nossa encomenda vai estar.
— Olho em volta ao escutar as palavras da minha irmã, mas
não encontro nenhum lugar para me esconder, a menos que
entre em uma cela com um desses loucos. — Faz o que
mandei agora... Porra! OUVIU... Vi ... se...
— Shend... Shend... — chamo-a, ouvindo nossa
conexão falhar, ao passo que puxo forte o ar. Não tem mais
som algum do outro lado da linha. — Merda! Merda!
— FILHO DA PUTA DE MERDA! — O grito mais alto do
guarda me faz sobressaltar, e o escuto bater mais forte na
pessoa dentro da cela, com o som horrível do cacetete o
golpeando surgindo.
Olho para cima das celas rapidamente, onde está a
numeração, e esmago meus dedos, procurando a número
onze, mas congelo no segundo que meus olhos param
acima da cela onde o guarda está.
Fecho os olhos ao escutar os gritos de raiva do
guarda, e tem apenas o som dele e de uma respiração
pesada ecoando.
— Vai aprender a se comportar aqui! — Meus olhos se
abrem quando escuto o som do cacetete indo ao chão.
Dou um passo para frente, espiando lá dentro, e o
pavor me toma, me esmaga o coração com tanta força, que
sinto como se fosse parar de bater, assim que vejo o corpo
no chão, em uma poça de sangue, de barriga para baixo. O
guarda está de pé, rindo baixinho, enquanto empurra sua
calça para baixo, o que me faz entender exatamente o que
irá acontecer e qual é a intenção dele.
Eu sei que Shend me ordenou a me esconder e
aguardar o guarda ir embora, mas não consigo. Não consigo
me virar e correr, procurando por um esconderijo, não
quando sei o que esse guarda pretende fazer ao se abaixar
e ficar de joelhos, puxando o quadril do homem caído de
bruços em seu sangue, forçando a calça dele para a altura
dos seus joelhos.
Minha respiração fica presa, e tudo se torna mais
assustador a cada passo que dou em direção à porta,
implorando a Deus que o guarda não me ouça aproximando.
Levanto a mão, apertando meus dedos no esfregão, e paro
a dois passos dele.
— Ei, idiota! — o chamo, o fazendo virar o rosto assim
que escuta minha voz, e seus olhos se arregalam em
surpresa ao me ver.
Mas antes mesmo dele tentar se levantar, acerto o
esfregão com força no seu rosto, e o golpeio mais uma vez,
com o máximo de força que meus braços conseguem ter, o
que o faz tombar para o lado, caindo. Porém, sua mão se
ergue, agarrando o esfregão, quando tento o acertar na
terceira vez.
— FILHA DA PUTA! — ele rosna com raiva e chuta
minhas pernas, me fazendo cair de joelhos quando puxa
com força o esfregão para frente.
Meus dedos soltam o cabo e giro às pressas,
engatinhando, com meu braço se esticando para o cacetete
e o pegando no segundo que ele se joga sobre mim e acerta
um soco em meu rosto. Fico zonza, o que me faz soltar o
cacetete. Levanto as mãos, tentando o empurrar e socar
seu peito, mas tenho seus dedos se fechando em minha
garganta, com ele forçando seu peso sobre mim e me
estrangulando. Me debato, com meu braço se esticando,
tentando alcançar o cacetete novamente, mas sinto cada
vez mais a respiração ficar difícil.
Um rugido feroz estoura forte segundos antes do
guarda arregalar os olhos, e fico paralisada, vendo o pedaço
quebrado do esfregão, sujo de sangue, atravessar o peito
dele e pingar sobre mim, ao passo que as mãos dele aliviam
o aperto em minha garganta. Ele se empurra para trás e fica
de joelhos, com seus dedos trêmulos se erguendo para o
pedaço de madeira estacado em seu peito. E antes que eu
possa compreender, um estalo forte se faz, quando duas
mãos se espremem ao lado da sua cabeça, a girando de
uma única vez para a esquerda, quebrando seu pescoço.
O corpo do guarda cai sem vida para o lado, e me
empurro para trás, respirando com força, tendo meu corpo
inteiro tremendo, com meu coração batendo rápido e
descontrolado, enquanto fito o guarda morto, com o
esfregão atravessado em seu corpo.
Giro o rosto para minha frente e me deparo com o
vulto alto e esguio, que é uma assustadora visão, do cara
que nesse segundo não tem pinta alguma de playboy. Ele
está parado a um passo de mim, com seu peito subindo e
descendo e sua roupa suja de sangue, esmagando outro
pedaço do cabo do esfregão em sua mão.
Fixo os olhos nele, sendo incapaz de os desviar. Ele
tem a pele pálida, quase translúcida, que contrasta com o
cabelo negro e desgrenhado que cai sobre a testa em
mechas rebeldes. Seus olhos são grandes e expressivos, em
um azul profundo, tão impactantes agora quanto eram na
fotografia. Sua face é angulosa, com maçãs altas e uma
mandíbula bem-definida, que confere uma masculinidade
quase escultural, cruel e assustadora a ele. E me sinto
congelar inteira de medo ao vê-lo diante de mim, parecendo
um animal feroz sujo de sangue, que rosna ao me encarar.
Seu rosto tomba em seu ombro e ele passa seus olhos
em mim, o que faz eu imaginar como uma gazela se sente
diante de um leão que está prestes a lhe atacar. Olho para o
cacetete, calculando quais as chances de eu conseguir o
pegar. Volto meus olhos rapidamente para ele, que agora
está com seu olhar preso no cacetete, a alguns centímetros
de mim, antes de me fitar, me deixando saber que não vou
ter chance alguma de sequer encostar no cacetete antes
dele me matar.
— Olha... Você é Jon Roy... certo? — balbucio às
pressas, e ele pisca, estreitando seu olhar para mim. — Eu
vim aqui para te tirar daqui, para te levar embora...
Ergo minha mão para o alto, o deixando saber que
não vou tentar lutar e que muito menos sou uma ameaça.
Qual é, olha pra mim, tenho nem um 1,56 m de altura! Se
precisasse o socar, teria que arrumar uma escada, de tão
alto que ele é. Ele parece ter por volta de 1,90 m de altura.
— Eu sou Violet... — Levanto com cuidado, não
desviando meus olhos dele, que se mantém imóvel, me
encarando. — Fui contratada para te levar para um lugar
seguro...
A touca em minha cabeça cai, o que faz minhas
tranças se soltarem, se desfazendo do coque que fiz com
elas, para esconder meus cabelos trançados. Ele olha para
as mechas violetas de algumas tranças, antes de retornar
seus olhos aos meus, me observando ainda mais curioso.
— Como pode ver, não sou o tipo de pessoa que
trabalha em um lugar desse... — falo, rindo nervosa,
apontando meu dedo para o uniforme. — Eu roubei o
uniforme da mulher da limpeza para poder entrar... Não
trabalho no hospício, apesar de que acho que deveria estar
aqui. E minha irmã também pensa assim, o que concordo,
porque, às vezes, também duvido da minha capacidade
mental. Aceitar um trabalho para invadir um hospício
penitenciário, tirando um louco da cela, é a prova de como
deve ter alguma coisa errada comigo... — balbucio
apressada, olhando o corpo do guarda, enquanto inalo mais
forte.
Sei que estou falando sem parar, mas não consigo me
calar, porque estou nervosa, e minha boca simplesmente
fica tagarela quando estou assim, dizendo qualquer merda
que venha em minha mente, sem filtro, como chamar um
louco de louco, após o presenciar matar um homem à minha
frente.
— Olha, não quis te ofender te chamando de louco...
— digo, negando com a cabeça. — Acho que, no fundo,
todos têm um pouco de loucura. Eu, por exemplo, já tive
uma amiga imaginária, e passei a infância inteira
conversando com ela. A chamava de Suse Caladona, e ela
amava desenhos. Ela era legal e me ouvia, o que era bom,
visto que se ela respondesse, eu me assustaria, achando
que era um fantasma... Sendo bem franca, ainda converso
com ela às vezes. Converso, por exemplo, sobre deixar
minha irmã me arrastar para essa ideia de merda de invadir
um hospício...
Calo-me, congelando quando o vejo dar mais um
passo à minha frente. Meu peito para de bater quando ele
fica a poucos passos de mim, rosnando como um animal,
tendo sua face se inclinando para frente e seus olhos presos
nos meus, me olhando com interesse.
— Me desculpa, eu falo demais quando estou
nervosa...
Arregalo os olhos quando sua mão se ergue rápida e
aperta meu queixo, com ele girando meu rosto de um lado
ao outro lentamente.
— Violetas. — Sua voz sai rouca e em um tom baixo,
com ele rosnando perto do meu rosto, me observando
atento. — O que tem em seus olhos...
A ponta da madeira quebrada do cabo do esfregão se
aperta contra minha bochecha, e arregalo ainda mais meus
olhos ao olhar do cabo para ele.
— Alexandria... — sibilo, engolindo minha saliva no
seco, sabendo exatamente o que o está fazendo me olhar
dessa forma curiosa, pois sempre que alguém vê meus
olhos, me dá esse mesmo olhar. — Síndrome de Alexandria.
É uma mutação genética que afeta a produção de melanina
nos olhos, o que resultou na coloração violeta dos meus,
não é nada demais. Mas é por isso que o meu nome é
Violet. Minha mãe me batizou com esse nome por conta
disso, o que penso que foi bem falta de criatividade da
parte dela... Porém, o que esperar de uma usuária de
crack... Oh, merda...
Puxo o ar, fechando minha boca, assim como minhas
pálpebras, quando ele empurra meu queixo para frente com
mais força e aperta a madeira em minha bochecha.
— Olha, por que a gente não conversa sem essa coisa
no meu rosto... — Meus dedos vão para seu pulso, o
segurando, e rezo para esse louco não me matar com o
resto que sobrou do cabo do esfregão. — Ou melhor ainda, a
gente nem precisa conversar, podemos só sair daqui, o que
acha?
No segundo que meus olhos se abrem, o vejo sério,
encarando meus dedos em torno do seu pulso, com sua
sobrancelha arqueada. O som alto de alarme dispara, e as
luzes ficam vermelhas, o que o faz erguer sua cabeça e
olhar para a lâmpada.
— Temos que ir agora, playboy... — murmuro, nervosa,
mirando a luz da cela, que ficou vermelha, ao passo que o
som se torna mais alto. — Merda, temos que sair agora,
antes que nós dois fiquemos presos aqui!
Afasto-me ao ir para trás, o fazendo soltar meu
queixo, mantendo meus dedos em seu pulso, o puxando
comigo e correndo em direção à porta. Não paro quando
escuto os gritos dos outros presos, muito menos largo o
homem que seguro, o fazendo subir a escada comigo. Assim
que empurro a porta para o corredor, onde tinha deixado o
carrinho de limpeza, sou pega pela lufada quente de ar, já
que o corredor inteiro está em chamas.
— OH, PORRA! — Meus olhos se arregalam ao ter
noção de que não tem como passar por ali.
Vou para trás, fechando a porta, enquanto inalo
depressa e não tenho ideia do que fazer agora, uma vez que
minha saída está em chamas. A porra do meu plano de fuga
foi para o espaço, já que era pelo maldito corredor que
fugiria com ele, ao levá-lo até a sala de limpeza e o
esconder em um cesto de roupa suja hospitalar, o qual
empurraria até a lavanderia, para fugir no furgão da
empresa de produtos de limpeza. Tento forçar minha mente
a lembrar da planta do hospício, uma vez que a tinha
repassado inteira em meu cérebro, gravando cada detalhe,
pois preciso descobrir outra rota. Retornar para onde
estávamos não tem como, visto que é sem saída, sendo
tudo bloqueado, e em segundos esse lugar vai estar cheio
de policiais e bombeiros.
— Pensa, pensa... pensa! — rosno com raiva, ouvindo
o alarme ficar mais insuportável com seu barulho de merda.
O fogo vai se alastrar tão rápido nesses corredores
abafados e sem janelas, que logo chegará até aqui, em
busca de oxigênio.
— Oxigênio! — digo alto, levantando meu rosto para o
playboy, que me encara como se eu fosse uma louca
quando rio para ele. — Oxigênio! Precisamos subir para as
saídas de ar. Tem uma porta que leva ao terraço... —
Desmancho meu sorriso, negando com a cabeça. —
Esqueça! Vem, temos que chegar ao terraço do prédio...
Já estou me virando, partindo para o lance de escada
à nossa direita, o segurando pelo pulso enquanto corro. Ao
chegar na escada, subo os degraus, o fazendo vir comigo.
Meu corpo tomba, sendo violentamente golpeado por uma
explosão, que me faz bater na parede. Porém, logo estou
sendo colocada em pé pela mão que segura meu braço por
baixo, perto da axila, e me ajuda a levantar.
— Obrigada, playboy... — Sorrio para ele, que se
mantém sério, com o olhar azul tão intenso preso ao meu,
ainda com o pedaço do esfregão quebrado em sua mão. —
Sabe que não precisa mais disso, né?!
Ergo meu rosto, com a dor tomando meu corpo por
conta do impacto, olhando para ele, que solta meu braço,
mas não puxa seu pulso dos meus dedos. Sua boca se
aperta, me deixando saber que ele vai continuar segurando
essa porcaria.
— Não é muito de falar, certo, playboy?! — Ele apenas
dilata suas narinas, inspirando fundo, com seus olhos
revirando. Toma à frente, passando por mim, e agora é meu
pulso que está sendo preso por sua outra mão, enquanto
ele sobe os degraus correndo. — Com toda certeza, não é
de falar...
Mordo meus lábios, mantendo meus passos, lutando
para conseguir o acompanhar, já que com suas pernas
compridas parece pular de dois em dois degraus, subindo
sem parar, terminando um lance e já começando outro.
— Sabe, além de ter pernas curtinhas, eu também sou
muito sedentária... — comento, com minha respiração
pesada, sentindo como se meus pulmões estivessem
queimando, de tanto esforço que estou fazendo. — Porra,
para uma pessoa que ficava dentro de um quartinho, você é
atlético, playboy...
O vejo olhar por cima do ombro para mim, não tendo
um pingo sequer de cansaço em sua feição, sendo o oposto
de mim, que estou suando como uma porca e respirando
como uma foca marinha que está à beira da morte. Sua face
retorna para frente e ele volta a correr mais rápido.
Abaixo os olhos para sua calça branca, que está suja
de sangue, do seu sangue que escorreu quando o guarda o
espancou até cair no chão. O tecido está torto, e imagino
que seja porque ele o subiu às pressas, antes de atravessar
metade do cabo do esfregão no peito do guarda. E, por um
segundo, minha mente não consegue não pensar que se eu
não tivesse chegado ali, provavelmente, ele teria sido
violentado.
O playboy nos puxa até uma porta, a estourando com
um chute e nos levando para fora. O vento fresco da noite
de Sacramento é o que me faz piscar, esquecendo meus
pensamentos, quando nos acerta. Olho em volta, tentando
me localizar, para descobrir em qual direção estamos, e giro
assim que vejo o portão de entrada ao longe. Já tem vários
carros no pátio e pessoas gritando lá embaixo.
— Sabe nadar, playboy? — pergunto pra ele, puxando
meu braço para que ele solte meu pulso, antes de prender
meus dedos aos seus.
— O quê? — ele questiona, abaixando seus olhos para
nossas mãos, com sua sobrancelha se arqueando em
confusão, como se fosse algo estranho eu segurar seus
dedos.
— Nadar? — Rio, nervosa, olhando para nossa
esquerda, tendo meu peito subindo e descendo ao ver as
árvores, pois sei que nossa saída está ali. — Sabe?
— Sim, eu sei...
— Ótimo, porque vai precisar nadar! — o corto, rindo
mais, já o puxando novamente comigo, antes que eu perca
a coragem, já que sei que existe apenas uma forma de sair
daqui.
Ele não vacila quando vê que estou o levando para a
borda do prédio, somente mantém seus pés firmes correndo
ao meu lado. Aperto mais forte seus dedos no segundo que
piso no parapeito, e meus olhos se fecham ao dar o salto
em queda livre.
Sinto meu corpo ser puxado, com seus braços me
colando ao seu peito, me deixando presa a ele segundos
antes de sermos engolidos pela água fria do rio de
Sacramento, que corta por trás do prédio do hospício. Meu
corpo inteiro treme, meu coração bate desesperado, e não
acredito que acabei de saltar do terraço de um prédio.
Nós submergimos às pressas, ao passo que meus
braços se agarram ao seu pescoço e minhas pernas se
travam em sua cintura, comigo completamente trêmula. Ele
mantém seus braços fechados em minhas costas, e
flutuamos na água. Nossos rostos viram para o prédio e o
vejo em chamas, com as sirenes de ambulâncias ao longe.
Uma explosão se faz, com os vidros estourando e
voando para todo lado. A mão dele está presa no topo da
minha cabeça quando me empurra para baixo junto com
ele, e os pedaços de vidros quebrados vão caindo no lago,
com uma imensa bola de fogo iluminando tudo acima de
nós.
— Oh, porra... — Puxo o ar com força quando ele nos
faz submergir outra vez, rindo e olhando em choque para o
prédio que tem o lado que pulamos completamente
destruído. — Porra!
Rio ainda mais em puro nervoso, ao mesmo tempo
que é de alívio e alegria por ter saído com vida daquele
lugar, não acreditando no que acabou de acontecer, que eu
realmente fiz isso.
Nossos rostos retornam para frente no mesmo
segundo, o que acaba resultando no resvalar da minha boca
na sua, que me faz compreender como estou presa a ele,
tão forte e colada ao seu corpo. Pisco rapidamente,
empurrando minha cabeça para trás, e meu peito sobe e
desce ao ver a água escorrendo por seu rosto, com ele me
encarando.
Sorrio timidamente e mordo o canto da minha boca,
não conseguindo não olhar para a dele. Acho que é a
adrenalina, o medo, a loucura dessa noite ou todas essas
coisas juntas, mas, sem compreender, acabo inclinando por
vontade própria meu rosto e o beijando rapidinho. Era para
ser rápido, apenas um selinho, mas sua língua invadindo
meus lábios me pega de surpresa, me deixando sem
reação. Sua mão vai ao topo da minha cabeça e escorrega
para trás, esmagando minhas tranças, forçando minha
cabeça a ficar parada. E sou invadida de forma possessiva
por sua língua, que toca a minha, me dando um beijo que,
literalmente, nunca recebi em minha vida.
Eu estou beijando um homem, estou realmente
beijando um homem de verdade, e não só em imaginação.
Estou tendo meu primeiro beijo. Meu cérebro dispara
enquanto sinto como se fogos estivessem estourando em
meu peito, com meu corpo ficando tão mole, que penso que
vou me desfazer e afundar no fundo do rio, até encostar nas
pedras.
Seus lábios são firmes contra os meus e sua língua
varre o interior da minha boca.
Estou sendo beijada!
Meu coração fica descontrolado, e eu compreendo que
estou beijando um total estranho, que acabei de resgatar de
um hospício; um estranho que matou um homem na minha
frente. O empurro rapidamente, quebrando o beijo, com
meus braços o soltando, assim como minhas pernas. Pisco,
confusa, não entendendo por que o deixei me beijar, nem
porque o quis beijar, mesmo que fosse apenas um selinho.
Realmente, a louca deve ser eu.
— Temos que nadar para o outro lado do rio! —
sussurro, abaixando meus olhos, não tendo coragem de
olhar os seus.
Nado o mais rápido que posso, dando longas braçadas
e batendo meus pés. Meus lábios estão doloridos, assim
como minha mente confusa. Não pretendia que meu
primeiro beijo fosse assim, escapando de um hospício
penitenciário, e muito menos com um preso do hospício.
Mas foi, e eu gostei, o que me deixa ainda mais confusa.
Começo a andar às pressas quando chego na beirada
e meus pés tocam o fundo do lago, e torço minhas tranças
antes de me virar. Vejo-o não muito longe. Ele está
realmente bem perto de mim, e quando caminha não tem
mais o pedaço de esfregão em sua mão.
— Vou te levar para o píer, onde tem pessoas te
esperando, para te conduzir para casa.
— Casa? — ele indaga baixo, olhando para trás e
soltando um riso amargo, negando com a cabeça.
— Sim, para casa — murmuro para ele. — Bom, não
sei o que significa para você, mas é o que eu ouvi o
namorado da minha irmã contando para ela. Foi ele quem
contrataram para fazer o serviço. Vou te levar para o porto,
e de lá você vai para Vancouver, onde vão te deixar em
casa...
Seu rosto retorna para mim, tornando-se sombrio,
tendo, por alguns segundos, suas íris azuis brilhando
intensas. Ele dá um passo à frente, em minha direção.
— Oh, merda, está aí! — A voz alta de Shend me faz
virar, e a vejo sair de trás das árvores. — Conseguiu, você
conseguiu trazer nossa encomenda!
Ela praticamente irradia alegria quando ergue seus
olhos para trás de mim e encara o rapaz. Minha irmã
caminha rápido, batendo em meu ombro quando para perto
de nós.
— Sabia que seria esperta!
— É, ainda bem que sou esperta e estou viva... —
digo, suspirando e levando meu dedo ao ouvido. — Porque
se dependesse dessa merda de equipamento, eu teria
morrido...
Toco minha orelha, não sentindo mais o pequeno
aparelho de conexão que tinha falhado, sabendo que,
provavelmente, ele caiu no rio.
— Ele falhou e eu quase fui pega. Precisei pensar
rápido e sair de lá, e acabei dando um jeito de abrir
caminho...
— Incendiando o prédio? — indago, a vendo rir e dar
de ombros.
— Está viva, não é?! Então, deu tudo certo. Sabia que
seria esperta e pularia no rio, por isso vim direto para cá,
lhe encontrar. — Ela olha para ele, o analisando de cima a
baixo, com um sorriso se abrindo em seus lábios. — Podem
vir! — Olho em volta quando minha irmã fala alto, e vejo o
idiota do Deric sair de trás das árvores junto com mais oito
caras, o que me faz piscar, confusa.
Não era para ele estar aqui... E de onde saíram todos
esses homens?!
— EI, EI... o que estão fazendo... — questiono,
assustada, assim que vejo Deric sacar uma arma e os outros
caras fazerem o mesmo. — Shend, que porra está
acontecendo?
— Nada, apenas vamos transportar nossa encomenda,
pirralha! — Deric é quem responde, fazendo um gesto de
cabeça para um dos homens. — O algeme.
— O que... Não! — Inalo forte, negando com a cabeça,
já correndo para perto do playboy, com meus braços se
abrindo. — Ninguém vai o algemar. Acabei de soltar esse
homem, eu pulei da porra de um prédio em chamas para
chegar aqui, e vocês querem o prender de novo...
— Não vamos o prender, apenas o algemar, para a
segurança dele e a nossa. Você que foi estúpida de sair por
aí ao lado de um maluco sem o algemar — Shend fala séria,
balançando a cabeça. — Anda, sai da frente e deixa os
rapazes o algemarem...
— Não! — Bato meu pé com força na beira do rio, me
negando a deixarem fazer isso.
Não me viro quando escuto o som do rosnado baixo se
fazendo atrás de mim, o que me deixa saber que ele tinha
se aproximado ainda mais. Apenas mantenho meus olhos
em Shend, me recusando a permitir que ela o prenda, não
depois de tudo que passei.
— Não precisa o algemar. Fomos contratados para o
libertar, não para o prender de novo...
— Garota, se toca, soltou o cara de um hospício! —
Shend aponta para trás de mim, onde o prédio está em
chamas. — Não de uma masmorra. Ninguém vai machucar
ele, mas a encomenda não pode ficar solta, Vi. Esse cara é
um perigo. Por que acha que estava preso naquela área
isolada do hospício? Ele é um psicopata, acusado de matar
três pessoas...
Pisco, confusa, olhando rapidamente para trás de
mim, encontrando os olhos dele me fitando.
— Ele não vai machucar ninguém — sussurro,
retornando meu rosto para frente. — Ele me salvou. Foda-se
o que ele é e o que fez! Você mesma matou muito mais
gente do que ele essa noite, ao incendiar a porra do
hospício. O que importa é que eu fiz a porra do trabalho e
não vou permitir que o prendam de novo...
— Shend, dá para fazer essa cadela sair logo da
frente, antes que nos peguem... — Deric rosna, apontando a
arma para mim.
— Cala a porra da sua boca, seu merda! — Cuspo em
sua direção, rangendo meus dentes. — Se estava com tanta
pressa, por que não foi você mesmo fazer o serviço, ao
invés de precisar de duas garotas?! Deixa adivinhar, porque
é um covarde de bosta, cuzão!
Deric aponta a arma para mim e dá um passo à
frente, rosnando com ódio, mas para no segundo que meu
corpo é puxado, tendo a parede grande e alta ficando à
minha frente, com o playboy rugindo para ele.
— Olha, cara, a gente está no mesmo barco. Apenas
vamos te tirar daqui em segurança. — Ele ri, negando com a
cabeça e abaixando sua arma. — Vamos fazer o seguinte:
ninguém algema ninguém, ok?!
— Cuzão! — murmuro, saindo de trás do playboy. —
Vem, vamos, playboy.
Seguro seu pulso, o fazendo caminhar comigo, nos
afastando do lago. Os olhos dele ainda estão vidrados em
Deric, e Shend dá um passo para o lado, nos deixando
passar, enquanto vou com ele em direção às árvores. Posso
ouvir sua respiração pesada, com sua cabeça se movendo
para trás.
— Está tudo bem, ninguém vai te machucar — falo
para ele quando sua face se vira para mim e me fita
taciturno. — Se machucarem você, eles não recebem a
grana. Deric é cuzão, mas não é burro, e o ouvi dizendo
para minha irmã que você é muito importante para um cara
grandão barra pesada. Alguém que, pelo visto, faz Deric se
mijar de medo. Então, acredite, está seguro, vai para casa.
Seus olhos são hipnóticos, tão claros que é quase
como se fossem transparentes, e por alguns segundos
parecem cinzas. Ele retorna sua face para frente, se
mantendo caladão, ao passo que caminha ao meu lado.
Assim que chegamos à estrada de terra, vejo dois carros
estacionados e um furgão, mas não é o da empresa de
produtos de limpeza.
— Vamos, temos poucos minutos antes desse lugar
ficar infestado de policiais. — Deric passa rápido, apontando
para o primeiro carro. — Pode ir para ele, senhor Roy. Vamos
te levar para o porto, onde tem amigos seus lhe esperando.
Ele olha Deric, que recua, dando um passo para trás.
Rio quando a cabeça do playboy se abaixa, com ele
encarando minha mão sobre seu pulso. O solto aos poucos e
dou um soquinho de camaradagem em seu ombro, rindo
ainda mais com a confusão dele ao olhar para seu ombro,
parecendo perdido com meu gesto.
— Se cuida, playboy! — sussurro, indo para trás, me
sentindo com as bochechas queimando assim que seu rosto
se ergue e ele me encara, antes de se encaminhar para o
carro junto com quatro dos caras que estavam com Deric.
Fico parada, o assistindo entrar no carro, e sua face se
gira para mim, me encarando sério pela janela do veículo.
Sorrio e aceno para ele.
— Você é estranha pra caralho, sabia?! — Shend rosna
ao meu lado. — É a única pessoa no mundo que fica
amiguinha de um psicopata assassino...
— Trepa com um cuzão que te bate e nem por isso eu
te julgo. — Giro meu rosto e vejo-a esmagar seus lábios, me
fitando chateada, antes de suspirar e balançar a cabeça.
— Anda, temos que ir, pirralha! — Ela me dá as
costas, se afastando, e a sigo. Mas ela não vai para o
segundo carro, e sim para o furgão.
— De onde apareceram esses caras? — pergunto
baixo a ela, olhando de soslaio para os outros homens que
ficaram. — Me disse que apenas nós duas faríamos o
serviço...
— Pois acabou que o plano mudou um pouco... — Ela
para na traseira do furgão e vira de frente para mim. Pisco,
a olhando sem entender.
— Do que está falando, como assim mudou...
— Deric e eu vamos nos casar. — Ela sorri e abaixa
seu olhar para sua mão. Movo meus olhos para seu dedo e
vejo um anel nele, um anel que não estava ali quando
saímos de casa para vir fazer o serviço essa noite.
— Uauuu, vai se casar com o cuzão! Realmente está
cega por causa do pau dele. — Assobio alto, desistindo de
vez de tentar alertá-la sobre esse otário.
— Vi, você não entende. Eu o amo, eu quero ter uma
vida com ele, e a gente até pensou em comprar uma casa
no México... — Ela se cala e levanta seu rosto. Seus olhos
me fixam com melancolia. — Você só tem dezesseis anos, é
tão nova, Vi, tem tanta coisa pra aprender...
Sua mão se estica e alisa minha bochecha, ao passo
que sorri e nega com a cabeça.
— Não preciso ser velha e nem aprender nada para
saber que esse cara é um merda e que não presta, Shend...
— Mas eu o amo. — Ela sorri com tristeza. — O amo, e
vamos começar uma vida juntos, uma vida...
— Na qual não me quer, é isso? — Não preciso de
muito para compreender o que está dizendo. — Tá me
chutando por causa do cuzão, não é, Shend...
Meus olhos ardem ao enxergar a verdade no olhar
dela, e me sinto uma estúpida. Não acredito que ela vai
escolher aquele merda, que vai ficar com ele e me
abandonar.
— Quer saber, eu desejo felicidades para vocês! —
Sorrio com raiva, e as lágrimas escorrem por meu rosto. — A
gente não nasceu colada uma na outra. É sua chance de ir
viver seu grande amor, então vá. Apenas me dê minha
parte da grana e me esqueça, que eu vou partir...
Viro-me, chateada, não querendo ficar aqui, não
querendo ficar perto dela. Meu coração está pequeno dentro
do meu peito. Shend sempre foi tudo que eu tive, desde o
segundo que nasci, sempre foi uma pela outra.
— Não posso te deixar partir. — Eu paro de andar, me
virando e a olhando sem entender.
— Pode apostar seu rabo que vou. Não escolheu seu
cuzão... — Sinto a picada em minha garganta, que é tão
rápida, que mal compreendo o que aconteceu. — O que...
Olho para trás e vejo Deric com uma seringa na mão.
Levo os dedos na mesma hora para meu pescoço, ao passo
que uma tontura me pega, assim como meu corpo vai
pesando e minhas pernas desabando, comigo caindo de
bunda na terra.
— Shend... — murmuro, sem entender o que está
acontecendo.
— Está tudo bem, tudo bem... — Ela se agacha e
segura meu rosto, enquanto vou tombando para trás, até
ter meu corpo esticado na estrada, me sentindo pesada. —
Vai ficar tudo bem, não precisa ter medo. É esperta, sempre
foi mais esperta do que eu, e muito mais linda. Deus, você é
tão linda, com esses olhos de boneca! Vai ficar bem, confia
em mim, não tenha medo...
— Podem levá-la! — Ao longe, escuto a voz do cuzão,
ao passo que ele se move, olhando para mim quando para
ao lado de Shend. — Anda, gata, vamos, deixa eles a
levarem...
— Levar... Shend, o que está acontecendo... — Seguro
seu pulso, a fitando com medo.
— Eu sinto muito, mas eu preciso viver minha vida. —
Ela se inclina e beija minha testa, alisando meu rosto. —
Não posso fazer isso se tiver que cuidar de você. Eu
também tenho meus sonhos... Sinto muito, Vi... Sinto
muito...
— Anda, Shend, levanta a porra do rabo e vem! —
Deric a puxa, a fazendo se levantar, e vejo um dos homens
jogando uma mochila para ele. — O dinheiro está todo aqui?
— ele indaga, rindo, ao passo que segura forte o braço da
minha irmã, que me olha.
Finalmente compreendo o que ela fez. Ela me vendeu,
ela acabou de me vender...
— Shend... — Tento esticar meu braço para ela,
implorando para que não me deixe. — Por favor...
— Quem é o cuzão agora, cadela?!
O som da voz de Deric é tudo que ouço antes da sua
bota acertar meu rosto, me jogando na escuridão.
CAPÍTULO 1

VOLTE AMANHÃ
JON ROY

Três anos depois


North Vancouver, Colúmbia Britânica – Canadá

— Todas as Cinderelas, arrumem seus sapatinhos e


retoquem o batom, princesas! — O som alto da voz de Ryan
estoura dentro do furgão. — PORQUE ESSA NOITE VAMOS
FODER PRA CARALHO. E O QUE DIREMOS À MORTE QUANDO
ELA VIER NOS BUSCAR?
— Volte amanhã! — Minha voz se mistura a dos
homens que gritam em coral, com nossos coturnos
estourando no chão, ao passo que socamos com força
nossos peitos.
— VOLTE AMANHÃ, CADELA! — Ryan pula do banco do
carona para trás, deixando Hank no volante e caminhando
agachado pela traseira do furgão, entre nós. — PORQUE
HOJE NÃO, SEUS FILHOS DA PUTA DE MERDA! PORQUE O
QUE DAREMOS À MORTE É A ALMA DE NOSSOS INIMIGOS!
— HOJE NÃO! — O som das vozes gritando mais alto é
explosivo, como um conjunto, com todos tendo um único
objetivo: trazer o caos.
Arrumo minha arma em minha coxa, conferindo se ela
está bem presa, enquanto fecho o colete e passo meus
olhos pela face de cada um dos homens dentro do furgão,
com seus sorrisos diabólicos, todos prontos para morrer e
matar, porque é isso que fazemos, porque é isso que somos:
a mais pura anarquia, degenerados sanguinários que
gostam de matar, que apreciam cada dor que causam em
seus inimigos, cães de ataque, ceifeiros da morte, o juízo
final de Babilônia, a mão cruel e impiedosa do rei.
— Nosso anfitrião não nos espera. — Ryan olha para
nós, enquanto sorri com escárnio. — Mas nem por isso
iremos o subestimar. O que estamos prestes a enfrentar é
um pequeno exército de mercenários, que fazem a
segurança do nosso novo amigo. Não é a porra de um
concurso de Miss Simpatia, é pra entrar fodendo tudo. Os
Órfãos de Babilônia não fazem reféns. O que vocês, seus
desgraçados filhos da puta, fazem?
— MASSACRE! — gritamos com fúria ao ter a porra do
furgão praticamente voando na estrada, sacodindo de um
lado ao outro.
Meu braço se abaixa para meu colo e pego o rifle, o
deixando de pé, colado ao meu peito, ao passo que Ryan
tem seus olhos em mim.
— Recebemos coordenadas de uma fonte quente, que
nosso anfitrião está mantendo um pequeno grupo de
mulheres ali dentro, acorrentadas. São bonecas humanas,
as quais ele dará aos seus convidados e que serão
removidas para outro esconderijo antes do sol nascer. Por
isso, nosso tempo é contado. Entramos limpos, as
encontramos e saímos. — Ele desvia seus olhos de mim
para os homens sentados ao meu lado, fitando a face de
cada um. — Cada homem é responsável por encontrá-las, e
no segundo que as acharem, avisem pelo comunicador e as
levem para fora. Terá uma equipe de resgate que os
encontrará, para as transportar para um local interno longe
daqui. Fora essas mulheres que viemos retirar, não quero
nenhum filho da puta respirando dentro daquele lugar. Eu
fui claro, Órfãos de Babilônia?!
— SIM, CAPITÃO! — As vozes não falham, não vacilam
um segundo sequer ao responder.
— MOSTREM A ESSES CRETINOS O QUE É DOR! — Ele
se vira, ficando de frente para a porta traseira do furgão e a
chutando. O vento nos acerta, enquanto o carro ainda está
em movimento. — VÃOOOOO!
O furgão treme, balançando ainda mais quando um a
um eles vão se levantando e correndo para a porta, se
jogando para fora, indo direto para a floresta. Já estou de
pé, seguindo meus irmãos, pronto para saltar, quando a
mão em meu ombro me impede. Os olhos de Ryan estão
presos em mim.
— Não me obrigue a entrar lá e tirar seu rabo para
fora dessa missão, Açougueiro, na base do chute, se você
não me obedecer! — ele rosna para mim, e sorrio. — Somos
uma família, e você não trabalha sozinho...
— O que quer? Trocar beijos e presentes no Natal,
papai? — Arqueio minha sobrancelha, o vendo rosnar para
mim, dando-me um tapa na cabeça.
— Tira seu rabo da minha frente, seu merdinha filho
da puta!
Salto para fora do furgão, caindo firme na terra ao
flexionar os joelhos.
— O QUE VAI DIZER À MORTE? — Levanto, esmagando
o rifle em meus dedos ao escutar o grito alto e feroz de
Ryan atrás de mim.
— Volte amanhã, cadela! — murmuro.
A adrenalina me pega, a sensação de anarquia cresce,
tendo o prazer da caçada me enchendo de euforia, assim
como o prazer da morte, de ter o sangue das minhas
vítimas escorrendo por meus dedos.
Meu corpo já está se embrenhando na floresta quando
corro, e me misturo a ela, com minha face suja de graxa
contornando meus olhos. Levo o fone comunicador ao meu
ouvido.
— Ao sul, em movimento — falo rápido, mantendo
meus passos e dando minha localização.
— Ao norte, em movimento. — O som alto da voz de
Quebra Osso se faz, com o irlandês soltando uma risada
baixa. — Tenho uma visão da festa, rapazes. Vou entrar por
trás e os pegar de quatro.
— Ao sul, oito passos à sua frente, Açougueiro — Killer
diz, enquanto corro mais rápido, com meus olhos
vasculhando o perímetro.
Os outros vão fazendo o mesmo, com cada maldito
homem dando sua localização conforme aceleramos os
passos. No segundo que saio da floresta, meus olhos se
encontram com Killer, que está parado, me aguardando. À
nossa frente, a alguns metros, há a porra de um imenso
portão todo iluminado.
— Pulamos? — Ele me olha, mas nego com a cabeça,
girando meu rosto para a estrada e vendo o furgão vindo
em alta velocidade.
— Todas as princesas prontas para o baile? — A voz
alta de Ryan entra na frequência, e todos respondem
positivamente para ele. — Se preparem, que nossa entrada
vai ser um estouro, meninas. Encontrem seus convidados e
os fodam pra caralho!
Meu rifle já está desengatilhado, com meus olhos
concentrados na mira quando ergo-o e o deixo empunhado.
Meu dedo está no gatilho, e percebo que Killer faz o mesmo.
O som do motor do furgão, que acelera ainda mais na
estrada, é alto, o que chama a atenção de dois seguranças
armados, que saem para fora da casinha de guarda, alçando
suas armas.
— VOLTE AMANHÃ! — O grito de Hank é alto. É ele
quem está no volante do furgão que está indo direto para o
portão.
Aperto o gatilho e minhas pernas correm, comigo
avançando junto com Killer. Acerto o tiro na cabeça do
guarda antes mesmo dele apertar seu gatilho e mirar em
Hank, que estoura o portão e avança com tudo, passando
por cima do cadáver, o arrastando junto com o portão
quando o destrói.
O gatilho é como a porra de uma boceta, a qual toco
sem pressa, e aperto-o a cada mudança da minha mira,
tendo dois homens ao chão assim que passo pela entrada.
Killer, em minha retaguarda, vai limpando o terreno dos
guardas que vêm pelo jardim e disparam contra nós. Vou
varrendo o caminho, tendo em alvo qualquer um que mire
em Ryan, sendo a retaguarda dele, o fazendo avançar junto
com Hank, enquanto disparam na corrida para dentro da
mansão.
O disparo vindo de cima me faz erguer a cabeça junto
com o rifle, buscando pelo atirador, e o encontro na
varanda. Seu corpo cai como um saco de merda no chão no
segundo que minha bala acerta sua garganta. O tiroteio se
intensifica, tendo balas sendo cortadas por todos os lados.
Ninguém para, nada importa, apenas avançamos até
a última porra dos nossos suspiros. Não desejamos glória,
não desejamos vitórias, apenas desejamos a morte, sangue
e a mais bela matança, com nossos demônios livres, soltos
e implacáveis.
— Entrei! — grito, me colando à parede no segundo
que passo pela porta.
Agacho-me e alço meu rifle para a escada, disparando
no segurança que vem correndo dela.
— Estou atrás de você — Killer rosna, com seu corpo
girando para a esquerda e ele pegando outro segurança que
sai da sala, vindo até nós.
— A saída de trás está limpa — Quebra Osso entra na
transmissão, repassando sua situação.
— Se espalhem, meninas, e busquem por nossa
encomenda, que eu vou atrás do nosso anfitrião! — Ryan dá
a ordem.
Olho para Killer, movendo minha cabeça para a
direita, para que ele vá, enquanto corro para o andar de
cima.
— Estou vendo pelo monitor nove assinaturas de calor
dentro da casa, fora a de vocês, e estão se movendo rápido
para o sul da mansão, no terceiro andar. — Verme, que está
nos cobrindo no ar, pelo helicóptero, repassa nossa
situação.
— Estou chegando perto deles. São nossas
encomendas, rapazes. Corram e não deixem esses filhos
das putas tirarem uma menina sequer daqui! — Ryan ruge
em comando.
— Comandante, vejo cinco carros se aproximando da
propriedade, ao leste, em alta velocidade — Verme nos
avisa da chegada de novos convidados. — A equipe aérea
pode cuidar deles?
— Mate todos! — Ryan ordena, firme.
Acelero meu passo, correndo mais depressa, e
encontro a porra da segunda escada, indo para o terceiro
andar.
— SOLTA, SOLTA A PORRA DA ARMA, FILHO DA PUTA!
— Ryan grita junto com os sons de disparos que iniciam.
Isso me faz correr ainda mais, indo direto para eles.
No segundo que entro em um corredor, encontro Hank
colado à parede, tendo Ryan perto dele, que me faz um
gesto de cabeça para a porta à minha frente.
— Janela! — ele ordena, e já estou indo para lá,
invadindo o cômodo e seguindo sua ordem.
Uso o rifle para quebrar os vidros, e passo por ela,
subindo no telhado e andando lento, seguindo para o
cômodo ao lado. Aproximo-me da janela fechada do outro
quarto, onde vejo um velho de costas, com dois seguranças
junto com ele. Miro nos guardas e aperto o gatilho, matando
o da esquerda primeiro, antes de pegar o da direita. O velho
filho da puta se assusta e se joga no chão, se esgueirando
como uma barata para debaixo da cama. E já estou
invadindo o quarto em um segundo, ao entrar pela janela.
— Limpo! — digo rápido, passando meus olhos ao
redor, vendo os seguranças mortos.
Ryan entra, seguido de Killer e Hank, e seus olhos
ficam presos nos cadáveres, antes de me olharem. Faço um
gesto de cabeça para debaixo da cama, os deixando saber
que o puto está escondido ali.
— Killer, não deixa esse merda sair daí debaixo —
Ryan ordena. — Busque pelas mulheres. — Ele faz um gesto
de cabeça para mim.
Caminho aos poucos pelo cômodo, o avaliando e
procurando por elas. Não preciso de muito para encontrá-
las, não quando chuto a porta do banheiro e olho para
dentro.
— Estão aqui — murmuro, deixando meus olhos
presos nas quatro mulheres algemadas, com seus rostos
feridos, tendo um buraco de bala no meio da testa.
Ryan para ao meu lado e seus olhos ficam presos
nelas, enquanto ele inala fundo e leva as mãos à cintura,
entrando. Na sequência, vira-se e chuta com fúria a parede,
a socando.
— A equipe de resgate está a caminho... — Verme fala
pelo comunicador.
— Não precisa! — Ryan rosna, furioso. — Tragam a
equipe de limpeza.
Ele sai do banheiro a passos firmes. Fico em silêncio,
parado, o vendo ir direto para a cama, como um trator. Killer
dá um passo rápido para trás, se afastando, e a cama é
erguida, sendo jogada para o lado por Ryan, que tem sua
face vermelha, encrustada de ira ao rugir. Vejo pela primeira
vez, nesses três anos, ele completamente fora de si.
Abaixo o rifle e o assisto chutar o velho, o jogando de
barriga para cima, antes de começar a chutar a cabeça dele
como um saco de merda, gritando com pura fúria. Killer se
mantém sério igual a mim, apenas observando Ryan erguer
e abaixar sua perna, acertando a sola do coturno em cima
do rosto do velho, que está sendo pisoteado como um
verme, tendo sangue escorrendo no chão, com sua cabeça
sendo esmagada. Olho do velho para os seguranças, antes
de fitar os corpos das mulheres mortas no banheiro, as
quais os filhos das putas mataram para não serem
resgatadas.
— Sete... — sussurro, arqueando minha sobrancelha.
— Tem apenas sete.
— O quê? — Killer indaga, sem entender.
— Sete corpos — respondo, saindo do banheiro. —
Verme disse que tinham nove assinaturas de calor fora as
nossas, mas aqui só tem sete corpos...
— Está faltando dois... — Ryan olha para mim,
parando de chutar o velho e mantendo sua bota em cima da
cabeça dele, olhando em volta. — Ninguém passou pelo
corredor. Verme, onde estão? — Ryan leva a mão ao ouvido,
perguntando rápido ao se afastar do velho.
Hank dispara na cabeça do homem, ganhando um
olhar de ódio de Ryan.
— Que porra tu fez? — Ryan ruge com fúria.
— O quê? — Hank sibila, olhando do cadáver para
Ryan. — Achei que podia matá-lo...
— Só tem três dentro do quarto. Vejo a assinatura de
calor dos outros rapazes, da equipe do lado de fora da
mansão, mas não tem mais nenhuma — Verme murmura no
comunicador, chamando a atenção de Ryan. — Eu vi nove
assinaturas, mas ninguém saiu da mansão. Os carros foram
abatidos, não tinham como sair daí...
— A saída leste está limpa, ninguém passou — Quebra
Osso repassa a informação.
— A entrada também. Por aqui, ninguém passou,
chefe! — os outros respondem juntos na linha.
Giro o rosto, estudando o quarto e o avaliando, ao
passo que eles conversam. Minha atenção se fixa na
pequena toalha de enfeite em cima de uma cômoda, que
balança lentamente. Caminho para o móvel, o fitando, antes
de arrastar meu pé em cima do tapete, o tirando do lugar e
vendo marcas no piso, de um móvel que foi arrastado.
— É porque estão aqui dentro ainda — falo, girando
meu pescoço para Ryan. — Estão escondidos aqui dentro.
Já estou empurrando a cômoda, a jogando para frente
e a fazendo estourar no chão. Encaro a porta pequena de
latão que estava escondida atrás dela, e miro o rifle,
disparando na fechadura, a fazendo estourar, com a porta
se abrindo. Agacho-me e olho para dentro, vendo o interior
pequeno, com um ar gélido vindo de lá, o que explica o
porquê Verme não detectou a assinatura de calor. A
temperatura ali dentro é baixa.
Solto o rifle no chão e saco meu revólver e uma
lanterna, apontando a arma enquanto ilumino o interior da
porta, vendo um corredor estreito. Dou um passo à frente,
mas a mão em meu ombro me impede de prosseguir. Ryan
está atrás de mim quando ergo meu rosto.
— Eu vou! — ele rosna, negando com a cabeça.
Olho da porta para ele e arqueio minha sobrancelha,
achando muito difícil um armário ambulante como ele
conseguir passar por esse corredor. Seria o mesmo que
achar que um rinoceronte caberia em uma gaiola de
cachorro.
— Não que esteja duvidando de você, mas acha
mesmo que passa ali? — o indago, lhe encarando com
deboche. — Nem o rabo gigante de Killer passa. Nesse
segundo, sou o único que consegue entrar.
— Açougueiro está certo. — Killer ri, vindo para perto
de nós. — Meus músculos vão ficar que nem uma sardinha
enlatada nessa porta, Comandante.
Killer é duas vezes maior que Ryan, sendo ainda mais
musculoso, como um gorila gigante. Meu corpo passará por
ali desconfortável, por conta da minha altura, o que me
obrigará a ficar com as costas encurvadas, andando
agachado, e só conseguirei passar por conta do meu porte
magro.
— Não aperta a porra do gatilho, a menos que seja um
filho da puta, compreende? — Ryan ruge, soltando meu
ombro. — E fica atento, não abaixa a guarda. Vai estar
sozinho lá dentro, não vou poder te proteger.
— Não se preocupe, não vou matar ninguém lá
dentro, a menos que me ataquem, capitão. E, acredite, vou
me cuidar, afinal, quem vai lhe dar um beijo no Natal e
trocar presentes, papai?! — Pisco para ele, não ficando para
escutar sua resposta e nem ouvir seu rosnado.
Ando com as costas encurvadas, mantendo a arma
erguida, com a lanterna iluminando meu caminho. Sinto o
lugar ainda mais frio, com o ar se tornando gelado a cada
passo que dou, como se estivesse dentro da porra de um
freezer.
— Estou vendo uma sala — digo baixo ao ver ao fundo
do corredor um pequeno cômodo, quando a luz da lanterna
bate no local.
Apago a lanterna e diminuo meus passos. E quando
chego ao final do corredor, paro, mantendo minha
respiração controlada, com meu dedo no gatilho da pistola.
Uma luz neon vermelha se acende, como um sensor de
presença, no segundo que saio do corredor e entro na sala.
Tenho tempo apenas de girar meu braço para a esquerda,
antes de me deparar com uma mulher acorrentada,
completamente imóvel, com os lábios roxos e cabelos loiros,
já sem vida, como se estivesse há muito tempo ali dentro.
— Tem um cadáver aqui dentro — falo sério, a olhando
e repassando o que encontrei.
— Há mais alguém? — Ryan me pergunta, e giro
devagar, estudando o lugar e vendo o cubículo pequeno
com correntes e ganchos nas paredes.
— Não, apenas o cadáver, e julgo que já está aqui há
um bom tempo. — Caminho para uma porta que vejo aberta
no canto da sala. — Tem uma porta, deve dar para o fundo
da mansão. Mande homens para lá. Se estiverem em fuga
ainda, vão sair pelos fundos...
— Eu conheço essa voz... — O sussurro quase
inaudível entra em meus ouvidos, o que me faz enrijecer,
com meu cérebro ficando confuso por conta do timbre
feminino.
É a mesma voz que apenas escuto em meus sonhos,
quando ela me visita, há três anos, e que sempre me faz a
ver sorrindo para mim dentro do lago. Ouço a respiração
rápida atrás de mim e giro rápido, com meu revólver
levantando-se, sem saber se é mais um delírio da minha
mente, que retorna sempre para aquela noite, na qual tinha
enterrado todo meu passado, o deixando para trás.
Porém, acontece tudo muito rápido, e sinto o toque
em meu peito. Meu cérebro está confuso por conta da voz, e
demoro para processar que fui empurrado. Apenas entendo
isso quando estou no chão, tendo o som do disparo dando a
localização do atirador escondido atrás da mulher
acorrentada e morta.
Já estou abrindo fogo e disparando em sua direção,
parando apenas quando vejo a arma cair no chão. Levanto
veloz e inalo fundo, erguendo a lanterna e iluminando em
volta, caçando por quem me empurrou. Paraliso no segundo
que abaixo a lanterna e vejo o corpo pequeno em uma
camisola rosa, caído de lado, com os cabelos soltos sobre
sua face, tendo uma poça de sangue se formando abaixo
dela, já que recebeu o tiro que era para mim.
— Resgate, agora! — rosno alto, pedindo por ajuda ao
ver seu peito subir e descer devagar.
Agacho-me ao seu lado e percebo o corpo magro e
pequeno, tão desnutrido, que quando toco seu braço para a
virar lentamente de barriga para cima, penso que vou o
quebrar, de tão fino e frágil que está. Sua pulsação
encontra-se baixa, e meus olhos se fixam na mancha de
sangue em seu abdômen, onde o tiro acertou.
— Merda! — xingo com ódio. — A porra do resgate
agora, Killer...
Minhas palavras se calam quando meu rosto se eleva
para a face dela e encontro o par de olhos que nunca
esqueci. São os mesmos que não tiveram medo de me
olhar, como se me vissem de verdade, como há muito
tempo eu não era olhado.
Esse olhar está preso em mim agora, e lágrimas
escorrem pelas laterais deles, mas sem aquela estranha
curiosidade com a qual me observou três anos atrás. O
sorriso que ela esboça é lento, de forma quase doce e
gentil, ao passo que arfa e tem sangue escorrendo pelo
canto da boca.
— Nós lembramos de você... — Sua voz é como uma
bala ao me acertar em cheio. — Playboy...
Seus olhos se fecham e seu peito para de se mover,
antes dela soltar o último suspiro.
CAPÍTULO 2

AÇOUGUEIRO
JON ROY

Tudo estoura junto: a dor em minhas pernas, meu


corpo suado se arrastando no chão, meu coração se
mantendo imutável, com suas batidas controladas, tendo o
grito, o choro e o caos ao meu redor. Vejo Lira, minha prima,
filha da irmã de minha mãe, minha cúmplice no assassinato
da vagabunda e inútil da minha avó e também em jogar o
idiota do Bob da escada, descontrolada, erguendo uma
tesoura em sua mão com raiva, indo para cima de Baby[1],
meu pai/minha mãe, a porra do ser que ajudou a prostituta
viciada da minha mãe a me trazer ao mundo.
Levanto o braço e pego o revólver. Percebo que Lira
levanta a tesoura para o golpear, e aponto para sua cabeça,
mirando em sua testa, pois sei que ela não é mais útil para
mim. Nesse segundo, é apenas uma vaca louca, e apenas
lhe darei o tiro de misericórdia. Ela é fraca, não iria
sobreviver um dia sequer na cadeia. Meu tio, Jonathan
Roy[2], entra na frente quando aperto o gatilho.
— JON, NÃO!
O corpo feminino se joga na frente dele, e o disparo
acerta-a. Seus olhos estão presos em mim, com uma
lágrima escorrendo, e, por um breve segundo, enquanto a
vejo escorregar pelas costas do meu tio, me olhando, sinto
meu coração parar.
— Ei, garoto! — Pisco rápido, desviando meus olhos
dos meus dedos sujos de sangue, e levanto minha cabeça
para Ryan, que toca em meu ombro. — Está tudo bem?
Repuxo meu nariz e movo a minha cabeça em
positivo, fazendo a maldita lembrança desaparecer. Eu não
pensava mais nisso, no que ocorreu naquela manhã dentro
da mansão Roy, na ilha da Austrália. Na verdade, nunca
pensava em nada daquilo, como se tivesse varrido para a
lixeira, descartando tudo do meu passado. Porém, no
segundo que desci do helicóptero no pátio, perto da ala do
pronto-socorro, duas horas atrás, dentro do palacete de
Babilônia, carregando o corpo da estranha garota que tinha
me tirado do hospício, me vi voltando para aquela ilha.
Lembrei de Ginger[3] se jogando na frente da bala.
Nunca disse e nem neguei que o tiro não era para Jonathan
Roy, pois não me importava com o que eles pensavam.
Nada importava. Mas, de tudo, a única coisa que me
marcava era Ginger preferir receber o tiro. Que tipo de
emoção levava àquilo? Que tipo de pessoa estúpida pula na
frente de uma bala? E, principalmente, que tipo de pessoa
idiota levaria um tiro por um filho da puta como eu?
— Elsa disse que ela está estável agora. O projétil da
bala se alojou na carne, mas conseguiram retirar. A garota
perdeu muito sangue do esconderijo até aqui, está fraca e
desidratada, anêmica, porém vai sobreviver. — Ele inala
fundo, girando seu rosto para o pavilhão. — Estamos há três
anos caçando essas meninas, e foi a primeira vez que
conseguimos resgatar uma com vida.
Seus olhos retornam aos meus. Ryan demorou quase
um ano e meio para me permitir acompanhar meus irmãos
em uma missão, que normalmente era para limpeza,
acompanhado dele. Essa noite foi a primeira vez que ele me
deixou participar de uma missão de resgate dessas bonecas
humanas que eles andam procurando.
— Por que estão caçando essas garotas? — pergunto
sério, abaixando meus olhos para minha mão suja com o
sangue dela.
Ainda não compreendo o que ela estava fazendo lá,
como foi parar naquele lugar, e sinto-me confuso por não
entender por que me importei com ela, por que senti meu
coração parar de bater no segundo que vi seus olhos
violetas se fecharem. Meus dedos comprimiram-se em cima
do seu peito ao esmagá-lo, e fiz uma massagem cardíaca,
gritando por ajuda, ordenando a Dante para ir aos fundos da
mansão. Ao mesmo tempo, a agarrei em meus braços e
atravessei a porta aberta, correndo pelo corredor escuro,
até chegar ao fim da propriedade.
— Anda, o chefe está aí! — Ele bate em meu ombro, o
que me faz erguer a cabeça e o encarar. Ryan não me
responde, apenas move sua cabeça para a esquerda. — Ele
quer te ver, garoto.
Inalo fundo e o vejo caminhar, passando por mim, ao
passo que olho uma última vez para o pavilhão do pronto-
socorro, antes de seguir Ryan.

Mantenho-me encostado na parede, com meus braços


cruzados e meus olhos fixos nos cadáveres das mulheres
em cima da mesa de inox, uma ao lado da outra, tendo
lençóis cobrindo seus corpos até a altura dos seios. Owen
Woden[4] está parado perto de uma mulher com traços
asiáticos, e suas mãos encontram-se nos bolsos enquanto
ouve o senhor de idade, que retira os óculos da face e
inspira fundo.
— Quem é ele? — indago baixo para Ryan, já que
nunca vi esse velho por aqui.
— Toranaga — Ryan, ao meu lado, me responde. — É
um legista aposentado, confiável, que trabalhou muitos
anos no FBI. Enquanto a garota estava em cirurgia, com
Elsa cuidando dela, eu fui buscar o velho, para vir ver os
corpos e saber se ele consegue recolher amostras para as
identificar, uma vez que tem mais acesso a bancos de
dados.
Ryan se silencia, ao passo que observo os cadáveres.
Fico estranhamente curioso, sem compreender por que
olhar para essas mulheres ali, mortas e esticadas em cima
daquela mesa, não me incomoda, assim como não senti
emoção alguma ao vê-las dentro do banheiro, assassinadas.
Porém, me senti confuso quando vi a estranha garota no
chão, chorando, olhando-me até suas pálpebras se
fecharem.
— Nós lembramos de você... — Sua voz é como uma
bala me acertando em cheio. — Playboy...
Retraio meu semblante ao ter a voz dela repercutindo
em minha mente. Não gosto disso, não gosto de não
entender por que ela me deixou confuso e por que me
importei.
— Tem certeza disso? — O som amargo e bravo da voz
de Owen chama minha atenção, e o velho se encolhe,
enquanto move rapidamente a cabeça em positivo,
assustado. — Porra!
— Eu sinto muito, mas é a mesma coisa... — o velho
balbucia, com sua face ficando vermelha. — O mesmo
padrão das outras. Não tem identificação, e essas ainda
estão mais feridas que as outras...
— Impossível não conseguir fazer o caralho de uma
identificação, Toranaga. — Owen retira as mãos dos bolsos,
esfregando sua face e rangendo os dentes. — Tente os
dentes, digitais, qualquer porra que nos ajude a descobrir
quem são essas pobres coitadas...
— Não tem... — o velho fala depressa. — Não tem
digitais no sistema, e elas não têm...
Ele se cala e abaixa sua cabeça, olhando os
cadáveres, o que faz tanto eu quanto Ryan ficarmos atentos
aos corpos.
— Veja uma coisa com seus próprios olhos, senhor
Woden. Vai entender o que estou dizendo, por que não
posso identificar elas... — Ele puxa uma pinça comprida e
ergue o lábio superior de uma, o que me faz olhar para sua
boca.
— Está sem dentes! — o senhor Woden exclama,
cético, olhando para Ryan, que na mesma hora desencosta
da parede e vai para perto dos corpos. — Arrancaram os
dentes dela...
Faço o mesmo que Ryan e me aproximo devagar,
olhando para a gengiva banguela da jovem.
— Assim como as cordas vocais. As quatro estão sem
dentes e sem as cordas vocais, senhor Woden... — Arqueio
minha sobrancelha e levo minha face ao legista.
— Por que esses doentes do caralho fariam uma
brutalidade dessas? — Ryan está chocado, e indaga com
revolta.
— Para não gritarem e, principalmente, não falarem —
sussurro e tombo meu rosto para o lado, observando os
cadáveres e vendo suas peles começarem a ficar rígidas e
brancas, sem o calor da vida, com elas tornando-se apenas
criaturas frias e mortas.
As observo com interesse, percebendo o silêncio da
sala, o que me faz erguer meus olhos até o senhor Woden,
que está me observando com o dobro de interesse com o
qual olho os cadáveres.
— É apenas um palpite — falo baixo e dou de ombros,
endireitando meu pescoço.
— Por que acha isso, jovem Roy... — Repuxo meu
semblante e comprimo minha mão fechada. Não gosto de
ser chamado pelo meu sobrenome, assim como não gosto
de ser chamado de Jon.
Isso faz eu me sentir aprisionado à porra do meu
passado. Prefiro Açougueiro. Ryan havia me batizado com
esse codinome assim que cheguei, e é como meus irmãos
me chamam nas missões.
— Porque se eu tivesse alguém sobre meu poder,
para fazer o que bem entendesse, seria a primeira coisa que
faria — respondo rápido. — Arrancaria suas cordas, para não
ter seus gritos me irritando. Mas quem fez isso não queria
apenas silenciar os gritos, meu palpite é que arrancar as
cordas vocais seria mais para caso alguma fugisse, pois
assim não poderia contar nada, pelo menos de início...
Uso uma lógica prática, que para mim é natural, tanto
quanto esses cadáveres em cima da mesa. Morte é morte,
nada mais do que um destino que todos terão. Owen olha
para Ryan, antes de mover a cabeça em positivo para mim,
quando retorna a me observar.
— Por um acaso, teria algum palpite para os dentes,
garoto? — Ryan cruza seus braços, me fitando.
Recaio meus olhos para o pulso de uma das mulheres,
vendo as marcas das algemas.
— Na Austrália, por algumas singelas horas, tive um
colega de pátio que foi jogado no hospício depois de uma
manobra que seu advogado fez, para provar que ele era
incapaz de se responsabilizar por seus crimes porque era
demente — murmuro, vendo as mesmas marcas nos pulsos
das outras três. — Ele era um professor de piano, tinha uma
certa atração por meninas entre nove e dez anos, e
arrancava os dentes delas antes de as violentar, assim elas
não o mordiam quando ele ia enfiar seu pau asqueroso na
boca delas...
Ranjo os dentes, olhando agora para as mãos finas
com unhas cortadas bem curtinhas, o que provavelmente
era para não arranharem quando seus corpos eram
violados. Porém, mesmo curtas, há uma sujeira ao canto,
preta. Retorno minha atenção para a boca da jovem e estico
minha mão para o legista, olhando dele para a pinça.
— Poderia me passar? — Arqueio a sobrancelha e o
encaro, o vendo olhar para o senhor Woden, que apenas
move a cabeça em positivo para ele.
Pego a pinça e levanto o lábio inferior da jovem,
percebendo sua gengiva crua, com todos os dentes
arrancados. O céu da boca tem riscas finas de cicatrizes
antigas.
— Interessante... — Sorrio ao analisar as cicatrizes,
admirando o trabalho cruel que deve ter causado muita dor
a elas. — Não usaram anestesia para fazer esse trabalho.
— Como? — o velho legista questiona, enquanto se
abaixa e arruma seus óculos, para olhar as gengivas.
— O céu da boca tem cicatrizes, as quais posso dizer
que têm grandes chances de terem sido causadas por um
alicate, que escapou do dente e acertou o céu da boca, o
que foi causado por ela se debatendo de dor. — Entrego a
pinça para o doutor e endireito minha postura, o vendo me
encarar. — Deveria ter olhado com mais atenção o céu da
boca, assim como as unhas curtas, que estão sujas de terra,
só que não havia terra naquele banheiro...
— Deixe-nos a sós por um momento! — O som da voz
do senhor Woden é firme, o que me faz o olhar, vendo-o
mover a cabeça para Ryan.
CAPÍTULO 3

A DÍVIDA
JON ROY

Ryan caminha até o legista e sua mão se espalma em


suas costas, o conduzindo para fora da sala. Permaneço
parado, não desviando meus olhos do senhor Woden.
— Toda vez que te vejo tem uma marca nova. — Ele
ergue seu dedo e aponta para meu rosto. — Essa lágrima
em sua bochecha é novidade. Se continuar se tatuando
dessa forma, daqui a pouco não terá mais um espaço
sequer livre de pele. Está parecendo um livro cheio de
rabiscos.
Sua voz é lenta, e passa seus olhos por mim, fisgando
o canto da boca ao abaixar os olhos para os corpos.
— O que aconteceu com seu colega de pátio, o qual
passou singelas horas com ele? — Ele volta o rosto para
mim, perguntando curioso, mesmo eu supondo que ele já
saiba essa resposta.
Lembro-me da primeira vez que o vi, lembro-me de
como ele me olhava. Não como um monstro, não como um
animal, e sim como um igual. Assim como meus irmãos, os
Órfãos de Babilônia, que são tão degenerados e
fodidamente ferrados, com a mente tão podre quanto a
minha. E, ao olhá-los, eu sabia que estava em casa.
— Eu o matei depois que o obriguei a engolir todas as
peças do meu tabuleiro de xadrez. — Lhe dou a resposta
sem rodeio. — Ele era um péssimo jogador.
Owen cruza seus braços, rindo, e sua língua se estala,
ao passo que abaixa os olhos para a boca da mulher.
— Como aprendeu sobre necropsia? — Ele arqueia sua
cabeça e pega a pinça que o legista deixou ao lado da
cabeça da mulher ao descruzar seus braços. Abre a boca
dela e olha diretamente para o céu da boca.
— Passei grande parte da minha vida aprisionado
dentro de uma caixa de vidro, em um hospício. Meu caro tio
não poupou despesas ao montar uma biblioteca digna de
Alexandria. — Dou de ombros, soltando um suspiro. — Eu lia
muito. Livros de medicina, psicologia, a arte do
esquartejamento... Tinha que fazer alguma coisa, caso
contrário, acabaria louco.
Sorrio com ironia, vendo o olhar dele ficar preso em
mim enquanto ri, retornando logo em seguida a encarar o
céu da boca da garota.
— No caminho para cá, vim ouvindo as gravações da
missão. — Ele inala fundo e se endireita, soltando a pinça e
levando as mãos aos bolsos, me fitando. — Se importaria de
me dizer de onde conhece a jovem que o salvou?
Meu rosto se endurece ao escutar a pergunta direta, o
que me pega de surpresa, ao passo que tenho o olhar
analítico do senhor Woden sobre mim. Ele a ouviu, a ouviu
conversar comigo antes de desmaiar, falando que se
lembrava de mim.
— Não a conheço — digo a verdade, porque realmente
não a conheço. — Não necessariamente. Mas ela já cruzou
meu caminho uma vez.
— No hospício? Era uma paciente?
— Não. Foi ela quem o senhor mandou para me tirar
de lá. — No segundo que falo, noto sua sobrancelha se
arquear.
— Ryan! — o senhor Woden chama alto, com seu
rosto girando para a porta, que imediatamente é aberta,
com o homem entrando na sala. — Não me recordo de ter
dado a ordem para mandar uma mulher fazer a retirada do
jovem Roy do hospício.
— Não mandamos, senhor. — Ryan pisca rápido,
olhando confuso de mim para o senhor Woden. —
Contratamos um ladrão, Deric Poits.
O nome vem em minha mente e lembro do idiota
apontando uma arma para ela, enquanto queria me
algemar. Mas a estranha garota não deixou, ela entrou na
minha frente.
— Descubra mais sobre esse ladrão. Onde está? Como
ele encontrou essa jovem? Talvez, assim, possamos a
identificar, descobrir mais sobre ela...
— Violet, seu nome é Violet — sussurro ao recordar do
seu nome. A memória pareceu ficar agarrada a mim desde a
primeira vez que a vi. — Sua mãe deu esse nome a ela por
causa da cor dos seus olhos.
— Alexandria... — sibilo, engolindo minha saliva no
seco, sabendo exatamente o que o está fazendo me olhar
dessa forma curiosa, pois sempre que alguém vê meus
olhos, me dá esse mesmo olhar. — Síndrome de Alexandria.
É uma mutação genética que afeta a produção de melanina
nos olhos, o que resultou na coloração violeta dos meus,
não é nada demais. Mas é por isso que o meu nome é
Violet. Minha mãe me batizou com esse nome por conta
disso, o que penso que foi bem falta de criatividade da
parte dela... Porém, o que esperar de uma usuária de
crack... Oh, merda...
Ela respira depressa, com sua boca e suas pálpebras
se fechando, o que me deixa irritado, porque nunca vi algo
como seus olhos e queria os observar por mais tempo.
Aperto seu queixo e a mantenho presa em minha mão,
forçando o pedaço de madeira na pele dela, para que os
abra.
— Olha, por que a gente não conversa sem essa coisa
no meu rosto... — O toque quente em meu pulso se faz, e
pisco, confuso, abaixando minha cabeça ao ter a estranha
mulher falando sem parar. — Ou melhor ainda, a gente nem
precisa conversar, podemos só sair daqui, o que acha?
Minha sobrancelha se arqueia e percebo que sua mão
está presa em meu pulso. Eu tento compreender que tipo de
pessoa estranha ela é.
— Ela tem uma irmã — murmuro, lembrando da
mulher que apareceu perto do lago, a qual achei tão
patética e descartável quanto o idiota que apontava a arma
para mim. — Shend. Ela era a namorada do ladrão.
Eu poderia ter o desarmado e matado todos aqueles
imbecis, mas não o fiz, pois fiquei intrigado com a estranha
mulher segurando meu pulso.
— Não precisa o algemar. Fomos contratados para o
libertar, não para o prender de novo...
— Garota, se toca, soltou o cara de um hospício! — a
irmã diz com raiva, apontando para o prédio em chamas do
outro lado do rio. — Não de uma masmorra. Ninguém vai
machucar ele, mas a encomenda não pode ficar solta, Vi.
Esse cara é um perigo. Por que acha que estava preso
naquela área isolada do hospício? Ele é um psicopata,
acusado de matar três pessoas...
Meus olhos desviam dela para o par de íris violetas
presos em mim, me fitando com confusão, enquanto a
encaro sério.
— Ele não vai machucar ninguém. — Escuto seu
sussurro e vejo-a retornar seus olhos para frente,
completamente enganada no que fala, porque, sim, eu
machucaria, e muito, cada filho da puta aqui, sem pensar
duas vezes. — Ele me salvou. Foda-se o que ele é e o que
fez! Você mesma matou muito mais gente do que ele essa
noite, ao incendiar a porra do hospício. O que importa é que
eu fiz a porra do trabalho e não vou permitir que o prendam
de novo...
Fico perdido ao escutar sua voz com tanta firmeza, ao
passo que a entendo menos ainda.
— Shend, dá para fazer essa cadela sair logo da
frente, antes que nos peguem... — o babaca com a arma na
mão rosna, apontando-a para o peito dela.
— Cala a porra da sua boca, seu merda! Se estava
com tanta pressa, por que não foi você mesmo fazer o
serviço, ao invés de precisar de duas garotas?! Deixa
adivinhar, porque é um covarde de bosta, cuzão!
No segundo que ele dá um passo à frente, na direção
dela, já a tenho atrás de mim. Posiciono-me entre ela e ele,
com meus olhos fixos nos seus enquanto calculo como será
fácil quebrar seu braço em três pontos, arrancando a arma
da sua mão e explodindo sua cabeça.
— Olha, cara, a gente está no mesmo barco. Apenas
vamos te tirar daqui em segurança. — Ele ri, negando com a
cabeça e abaixando sua arma, quase como se pudesse
saber o que pretendo fazer com ele. — Vamos fazer o
seguinte: ninguém algema ninguém, ok?!
— Ele as usou para fazer o serviço, porque é um cuzão
— digo ao recordar de como ela o xingou, e como eu quis o
matar.
Meu rosto se ergue para o senhor Woden, que tem
seus olhos presos em mim, antes de voltar a olhar Ryan.
— Já sabe por onde começar. Prepare uma equipe
para ir até Sacramento — ele dá a ordem, com Ryan virando
para sair assim que faz um gesto em positivo com a cabeça.
Giro, pronto para ir atrás dele, realmente querendo
caçar o idiota que é um desperdício de oxigênio para a
humanidade.
— Jon, você fica! — Sou parado pela voz do senhor
Woden, que soa firme, e olho-o confuso.
— Posso o caçar, senhor. — Fito-o, sem entender por
que ele me fez ficar.
— Tenho certeza de que pode, nunca duvidei disso. —
Ele inala fundo, negando com a cabeça. — Mas, ainda
assim, é considerado um homem morto, e a menos que
esteja pronto para retornar para o mundo dos vivos e
encarar os Roy, penso que não deva ir para a América do
Norte. No segundo que pisar em Sacramento, Jonathan vai
saber que seu sobrinho está bem vivo, o que confesso que é
tentador para mim, pois sempre imaginei como seria a cara
dele ao descobrir que você está comigo. Mas, ainda não é o
momento. Babilônia e Sodoma deram uma trégua, há outros
assuntos mais importantes em jogo.
Rujo, abaixando minha cabeça e puxando o ar,
rangendo meus dentes. Para todos, foi isso que aconteceu
comigo: morri queimado dentro da minha cela, e o que
restou foi apenas cinzas, uma vez que o guarda que matei,
ao quebrar seu pescoço, fez bem seu papel e tomou meu
lugar.
— Como sua jovem conhecida estava dentro daquela
instalação... Como ela foi parar naquela mansão e quem a
levou?
— Ela não é minha conhecida. — Olho para ele, com
meus dedos se esmagando ao lado do corpo. — Não tenho
conhecidos, tenho apenas meus irmãos de Babilônia.
— Jon, Jon... — Woden suspira, batendo seu pé no
chão aos poucos. — Há três anos acompanho seu
desenvolvimento. Ryan precisou de menos tempo de
treinamento com você do que ele teve com os outros. Você
se sobressaiu em todos os testes, desde o militar ao
intelectual; em todas as missões que foi, nunca demonstrou
ser afetado por nada, sempre controlado; mas, nessa, você
se descontrolou. Ryan me informou que não soltou a garota
por um segundo sequer, até a deixar na maca de Elsa. Quer
me contar alguma coisa, Jon? Sabe que sou seu amigo...
Meu rosto se abaixa e fito meus dedos com o sangue
seco dela, ao passo que ainda posso lembrar dos seus olhos
se fechando, da estranha emoção que me pegou, a qual não
entendo e não consigo descrever.
— Ela me tirou do hospício — falo baixo, tentando
ponderar se o que sinto é apenas uma dívida com ela, o que
seria o mais lógico.
— Somos considerados incapazes de emoções. Eu e
você, Jon. Frios e calculistas, é o que realmente somos. Tudo
e todos são apenas uma peça do jogo, um meio que nos
leva ao nosso objetivo, e a menos que algo realmente se
destaque, que seja importante, não nos prendemos a ele,
não o gravamos. — Minha cabeça levanta e o vejo sério, me
fitando. — Você a gravou, Jon. A gravou muito bem, a ponto
de saber por que ela tem esse nome, assim como para
saber qual é o nome da irmã. O que a tornou importante
para você?
Meus olhos se fecham e rosno baixo, repuxando
minha boca e girando a face para a porta, antes de abrir
meus olhos e encará-la fechada.
— Na noite em que ela me salvou, ela não me tirou só
do hospício. Havia um guarda na cela... Eu tinha mordido o
rosto de um colega dele naquela manhã, e o filho da puta
foi até lá para se vingar. Ele estava abaixando minha calça,
para me estuprar, quando ela entrou na cela e o golpeou na
cabeça — conto, recordando daquele fodido de merda. — Eu
enfiei a porra de um esfregão no peito dele, antes de
quebrar seu pescoço, depois que me recuperei. Ela não é
importante, apenas tenho uma dívida com ela.
— O corpo carbonizado na sua cela era do guarda? —
ele indaga, e lhe respondo com um gesto de cabeça.
— Eu não a soltei, porque não poderia a deixar morrer.
Ainda tenho a porra de uma dívida que ficou muito maior
agora, porque ela se jogou na frente daquela bala que era
voltada para mim. — Giro meu rosto, o encarando. — Peço
permissão para acompanhar a equipe e caçar o ladrão
pessoalmente, o trazendo para Babilônia...
— Sabe o que fez eu me interessar por você, Jon? —
Ele ri, balançando a cabeça. — É que quando olhei sua foto,
quando li seu perfil, era como se estivesse me vendo. E
nesse segundo, ao fitar seus olhos, vejo ainda mais de mim
em você, o que me deixa saber que esse ladrão pode até vir
para Babilônia, mas não será com vida, e eu preciso dele
vivo. Ryan achará algo para você fazer, não se preocupe.
O vejo se virar, me dando as costas e caminhando
lento, rindo, saindo da sala.
CAPÍTULO 4

LIXO
JON ROY

Três semanas depois

— Mandou me chamar?
Paro na frente da porta aberta, dentro do pavilhão do
pronto-socorro, e observo Ryan sentado em uma cadeira,
com um notebook aberto à sua frente.
— Entre e feche a porta, garoto — ele ordena, sem
tirar os olhos do computador, apenas movendo seu dedo
indicador.
Adentro a sala e fecho a porta atrás de mim, levando
meus dedos para trás das costas e mirando todo o local,
vendo o pequeno escritório, que tem quadros de gatos na
parede, com eles dentro de xícaras.
— Gostei da decoração — falo, irônico, repuxando
meu nariz, achando tudo colorido demais.
— É o escritório da Elsa — responde rápido,
pigarreando, finalmente erguendo sua face do computador.
— E então, como está indo no porão?
Minha boca se esmaga e sei que ele está me
sacaneando de propósito, porque sabe que odiei cada
maldito dia que fui empurrado para o andar de baixo,
ficando responsável por fazer a contagem do arsenal.
— Babilônia tem um armamento digno para declarar
guerra a qualquer país e ainda emprestar a ele, caso a bala
do inimigo acabe — rosno, o encarando. — Mas creio que
isso, meu Comandante já saiba.
— Claro que sei, mas é bom ter alguém cuidando do
almoxarifado.
— Poderia ser mais útil em outra coisa, Ryan. — Sou
direto, o deixando saber como detesto ficar lá embaixo,
quando poderia estar ajudando a caçar o filho da puta do
ladrão.
— Ordens superiores, garoto. — Ele dá de ombros,
negando com a cabeça. — Apenas obedeça. Não é tão ruim
assim ficar por aqui um tempo e socializar com seus irmãos,
sem apertar o gatilho do revólver durante uma missão...
Ele se levanta e empurra a cadeira para trás, com sua
cabeça se inclinando para o lado quando se afasta da
cadeira e aponta para ela, ao passo que fita o computador.
— Achei que gostaria de ver algo, por isso, mandei lhe
chamar. — Marcho para perto da mesa e dou a volta nela,
com meus olhos indo para a tela do computador.
Fixo-os na imagem da estranha jovem sentada na
cama do quarto hospitalar. Sua pele negra, como ébano,
reluz, sendo um contraste do cômodo branco e pálido,
mesmo sob a luz fluorescente. Fico ali, imóvel, tendo meus
olhos percorrendo a imagem dela na tela, vendo seus
cabelos cacheados soltos, como uma cascata de caracóis,
que são crespos e caem longos e livres sobre os ombros, e
têm um contraste marcante com o lençol pálido que cobre
suas pernas. São ainda mais compridos do que me
lembrava quando estavam com aquelas tranças.
Os dedos dela se esmagam ao lençol e ela olha
assustada para a doutora Elsa, que sorri para ela ao medir
sua pressão. Fico com meus olhos cravados no par de
ametistas raras tão violetas.
— Quando ela acordou? — pergunto baixo, sem
desviar meus olhos do monitor.
— Ontem de manhã. Ainda estava muito abalada e
confusa, sem saber onde estava, mas hoje pela manhã ficou
mais calma.
A vejo curiosa, olhando tudo que a médica faz
enquanto suga o canto da boca e inclina o rosto para o lado.
Sua pele não tem os ferimentos tão agressivos como tinha
na noite que a encontrei; e os lábios, que estavam rachados
por desidratação, agora têm um aspecto bem melhor.
Porém, sua face pequena ainda continua abatida.
— Está segura aqui, pequena criança. Não precisa
sentir medo, ninguém vai te fazer mal. — O som da voz de
Elsa se faz enquanto encaro Violet, que tem os olhos
atentos na doutora. — Foi atingida por uma bala, mas a
removi de você. Meus amigos lhe trouxeram para cá depois
de lhe resgatar...
A cabeça dela se abaixa e fita o dedo de Elsa, que
aponta para sua barriga. Noto a curiosidade dela ao olhar
desde o lençol que cobre suas pernas até a roupa hospitalar
em seu corpo.
— Bala... — ela murmura, erguendo seus dedos para a
alça da sua camisola e a empurrando para baixo. Mas para,
assustada, quando Elsa ri e segura seus dedos, a impedindo
de se despir.
— Sim, uma bala. Não precisa tirar a roupa. Está bem
agora, e, daqui a pouco, Nanete, minha ajudante, vai vir
para lhe levar ao banheiro, e poderá ver sua cicatriz... —
Elsa diz com doçura e sorri calma para ela.
— Cicatriz... — Meus olhos não desviam dela, que
murmura e morde o cantinho da boca, voltando a esmagar
o lençol em sua mão.
— O que tem de errado com ela? — indago para Ryan,
sem desviar meus olhos da jovem, a qual não remete nem a
um décimo daquela estranha e assustada tagarela, que
falava sem parar.
— Elsa não conseguiu se comunicar muito com ela,
disse que a jovem apresenta uma desorientação grande, o
que deve ser por conta de todos esses dias que ficou
apagada. Mal pronunciou uma sílaba, quanto mais uma
frase inteira. A garota acordou em um lugar estranho, ligada
a um aparelho, e está assustada...
— Eu sou a doutora Elsa. Você sabe quem é, criança?
— Elsa... — ela sussurra, olhando a doutora e falando
o nome devagar. — Elsa...
— Sim, eu sou a Elsa. — A médica toca seu peito aos
poucos. — Doutora Elsa. E você é a Violet. Lembra do que
aconteceu? Pelo que ficamos sabendo, seu nome é Violet,
por causa desses olhos maravilhosos. Querida, você é de
Sacramento, morava lá...
— Preferida... Olhos da sua cor preferida... — ela
sibila, ao passo que esmaga o lençol e abaixa sua cabeça, a
movendo para frente e para trás, como se não ouvisse as
palavras de Elsa. — Fada do dente, fada do dente...
— Violet, está segura, não precisa ter medo. — Elsa a
faz sobressaltar, com ela se encolhendo e indo para o canto
da maca, se colando à parede quando a médica toca em
seu ombro.
Sua cabeça balança para os lados e ela tomba seu
rosto em seu ombro.
— Não, não... — Nega com a cabeça e fecha seus
olhos, com seu semblante se franzindo e erguendo seus
dedos para sua cabeça, a esmagando. — Não... não...
— Consegue se comunicar com Elsa sem entrar
dentro do quarto? — pergunto a Ryan, o encarando, e ele
move sua cabeça em positivo. — Mande-a perguntar sobre
Shend, a irmã. Talvez, isso possa a ajudar a se lembrar.
Ryan é rápido ao retirar o celular do bolso da calça,
com seus dedos batendo ligeiro na tela, antes de o erguer à
orelha. Assisto à médica pegar seu celular do bolso do
jaleco e verificar a tela, antes de se virar e levantar sua
cabeça, o que a faz olhar diretamente para mim.
Provavelmente, está encarando a câmera.
— Pergunte sobre Shend a ela, a irmã — Ryan
comanda quando a médica leva o aparelho ao ouvido, e sua
cabeça se move em positivo, encerrando a ligação e
guardando o celular no bolso na sequência.
— Violet, queremos avisar à sua família que
encontramos você, querida... — Elsa se aproxima com
lentidão quando retorna sua atenção a ela. — Sabe nos
dizer onde Shend está? Se recorda dela? É sua irmã...
As palavras de Elsa cessam no segundo que um grito
alto, de dor, se faz, saindo dos lábios trêmulos da jovem
assustada, que tem seus dedos esmagando sua cabeça,
com ela negando rapidamente, se jogando de um lado ao
outro.
— Violet, está tudo bem, querida... — Elsa respira
rápido e estica seus dedos, querendo a tocar, mas para ao
vê-la se contrair ainda mais de dor, com os dedos bem
presos em sua cabeça. — Não queremos lhe machucar, está
segura... Segura. Apenas queríamos saber se lembra de sua
irmã...
— PARAAA... — ela grita mais alto, com as lágrimas
escorrendo por suas bochechas. — PARA, ESTÁ A
MACHUCANDO... MACHUCANDO...
O som da máquina que mede os batimentos cardíacos
dela dispara, e seu corpo tomba, enquanto ela se debate
inteira, com suas mãos apertando mais forte sua cabeça.
— Oh, merda, ela está tendo uma convulsão... — Elsa
se desespera e corre para perto dela, tentando segurá-la,
para ela não cair da maca. — Está tudo bem, tudo bem, não
vou perguntar, não vou... Está tudo bem... Não quis te
machucar...
Vejo o par de ametistas se abrirem com tristeza,
tendo as lágrimas escorrendo por suas bochechas ao
encarar Elsa, com agonia refletida em seu olhar.
— Ela... machuca ela... — Seus olhos se fecham e sua
boca se esmaga, enquanto chora e nega com a cabeça. —
Machucando-a... Machuca ela...
— Machucando-a? — Elsa balbucia, confusa, e observo
o rosto de Violet, vendo seus olhos se abrirem, marejados.
— Quem eu estou machucando, Violet?
— Lixo... Lixo... — ela murmura, e seu peito sobe e
desce rápido. — Lixo.
Meu olhar se estreita e inclino o rosto para o monitor,
vendo mais lágrimas descerem.
— Lixo? Desculpe, querida, não entendi o que tem o
lixo...
— Elsa. — Sua mão se estica trêmula para a doutora,
e bate com a ponta do seu dedo no mesmo lugar onde Elsa
tocou em seu peito, ao se apresentar a ela. — Elsa...
— Sim, me chamo Elsa, querida.
— Lixo... — A voz quebrada sussurra em meio ao
choro, com ela fungando e levando seus dedos para seu
próprio peito, o tocando devagar. — Lixo...
Meu corpo se endireita e fico rígido, ao passo que
encaro seus dedos tocando o peito, compreendendo o que
ela está dizendo à médica.
— Não, querida, seu nome é Violet. Violet... — A voz
da doutora sai rápida e ela nega com a cabeça.
— Não, não... — Ela balança a cabeça. — Violet foi
embora, sim... sim... Ela foi embora... Lixo ficou, mestre deu
o nome... Lixo, Lixo... — Ela sorri aos poucos, apontando
para seu peito. — Lixo...
CAPÍTULO 5

A PROTETORA
JON ROY

Meus passos são lentos ao andar pelo corredor do


prontuário, e observo-o vazio. Estava na porra do meu
alojamento, encarando a parede do meu quarto, quando me
peguei saindo dele e vindo direto para cá, no meio da
madrugada, sem entender por quê.
Paro diante da porta do quarto, a abrindo devagar.
Elsa não estava em sua sala, e contornei o segurança que
fica do lado de fora do prédio, quando o invadi por uma
janela aberta, não deixando ninguém me ver. Assim que
adentro o cômodo, fixo os olhos na cama vazia, o que me
faz arquear a sobrancelha. Ryan não falou nada sobre a
transferir. A verdade é que depois do que assistimos no
monitor, ele ordenou a deixar o prédio inteiro vazio,
permitindo que apenas Elsa entre no quarto até o senhor
Woden chegar.
— Presente... — O som baixo da voz me faz girar o
rosto para a esquerda, e a encontro parada perto da janela,
com seus olhos presos em mim.
Sua camisola está torta, assim como seus cabelos
estão bagunçados, e me olha curiosa, piscando
rapidamente. Olho em volta, na direção do banheiro, e vejo
a luz apagada. Descarto a possibilidade da enfermeira estar
aqui com ela.
— Deveria estar na cama — digo sério, retornando
meus olhos para ela.
A vejo olhar a maca e piscar, confusa, com seus pés
descalços se movendo devagar para lá.
— Presente... — Ela ergue seus dedos para o laço da
camisola hospitalar e a solta, enquanto pisco rápido. — Veio
me ter como presente...
— O quê?! Não... — Ranjo meus dentes, olhando
rapidamente para trás e encostando a porra da porta, ao
passo que esfrego meu cenho. — Não tire a roupa.
Esmago meus dedos ao lado do corpo e torço meu
pescoço, negando com a cabeça ao vê-la perdida, me
olhando com a porcaria da camisola aberta. Concentro
meus olhos na faixa em sua barriga, e semicerro minha
boca, por tê-la ali, mal conseguindo ficar em pé, achando
que vim aqui para tocá-la.
— Fecha isso! — comando ríspido, direcionando meus
olhos aos seus, não encarando nem uma outra parte do seu
corpo que não seja os grandes olhos ametistas confusos,
me fitando perdidos.
— Não quer presente? — Ela tenta se mover ao dar
mais um passo, mas o corpo magro e debilitado cambaleia.
Ajo por impulso quando vou até ela na mesma hora e
a seguro pelos ombros, a impedindo de cair no chão.
— Não devia estar de pé, não era nem para estar
acordada, porra! — rosno, afastando rapidamente meus
dedos dela e esfregando com raiva minha nuca, desviando
meus olhos dos seus.
Não era para ela estar acordada, muito menos de pé e
me vendo aqui. Apenas vim porque queria a olhar, saber se
estava melhor, só isso.
— Presente, agradar... Agradar... — Seus dedos se
esticam e vou para trás na mesma hora que ela toca minha
blusa, com intenção de a erguer.
— Não! — Tenho noção de como fui agressivo, pois
nesse segundo a vejo cabisbaixa, com seu corpo trêmulo. —
Porra!
Puxo o ar e esfrego meu rosto, sabendo que foi uma
ideia de merda ter vindo aqui. Posso imaginar Ryan
querendo arrancar meus órgãos se descobrir que estive
dentro desse quarto depois dele ter dado a ordem de que
apenas Elsa poderia se aproximar dela.
— Fecha a camisola — rosno, com meus olhos se
concentrando na maca, abaixando meu tom de voz na
sequência. — Não vim aqui para lhe ter como presente, e
muito menos ser agradado...
Volto meus olhos para ela e a vejo encolhida na
mesma posição, como uma estátua. Deveria me virar e
apenas sair, já que tinha a visto. Mas, ao invés de fazer
exatamente o que meu cérebro manda, me pego confuso,
sem entender por que não saio desse quarto. Estico minha
mão e seguro o laço da camisola, sem desviar meus olhos
do seu rosto, a fechando devagar e a cobrindo.
— Não está aqui para ser o presente de ninguém —
sibilo, com minha boca esmagada. — Ninguém vai lhe tocar.
Está bem, está segura...
— Está tudo bem, ninguém vai te machucar. — Sua
voz doce soa de forma gentil, enquanto fico confuso ao
sentir o toque quente dos seus dedos em meu pulso.
Ela não tem medo de mim, não tem pavor em seus
olhos ao sorrir para mim. Ela é uma criatura estranha, e eu
não lembrava mais como era ser olhado assim.
— Ninguém nunca mais vai lhe machucar. — Inalo
fundo quando a lembrança me pega.
Sua cabeça se ergue de mansinho e me fita com uma
expressão perdida, antes de recair sua atenção para meus
dedos, que estão dando um laço em sua camisola.
— Venha, deixe eu te colocar na cama. — Posso sentir
os ossos das suas costelas quando a ergo em meus braços.
Ela fica completamente imóvel, como uma boneca,
quando a tiro do chão. A deito na maca e lhe deixo esticada
nela, antes de puxar a coberta e lhe cobrir. Meus olhos se
fixam nela, que tem suas íris violetas tão brilhantes presas
em mim.
— Teia... — ela balbucia, com sua face perdida,
mirando a lateral da minha garganta, mas especificamente
a tatuagem que tenho. — Teia...
Um sorriso se forma em seus lábios e move seu olhar
para a lágrima tatuada abaixo do meu olho, com
curiosidade, assim como faz o mesmo com as outras
tatuagens em meu braço. Seu olhar é gentil e tem um
sorriso doce estampado na face, o mesmo que me deu três
anos atrás, quando me tirou daquele hospício, e novamente
não há medo nela.
Medo é sempre o que vejo no olhar de qualquer
pessoa que me olha, até mesmo dos meus irmãos de
Babilônia. Não costumo ser sociável, muito menos me
misturo com eles ou com as outras pessoas daqui. O único
com quem converso é Ryan. Anos aprisionado dentro de um
hospício me fez apreciar minha solidão e evitar pessoas,
que normalmente vejo como irritantes e tediosas. E eu
gosto de ter o medo delas, porém, nesse segundo, me vejo
confuso ao apreciar a falta de medo nela.
— Lixo gosta... Desenho... — ela balbucia, sorrindo
para mim. — Lixo gosta...
— Não. — Nego com a cabeça, com minha mão
agindo impulsiva quando se estica e toca sua face,
empurrando os cabelos para trás. — Violet, não Lixo. Seu
nome é Violet.
— Oh, não, não... não... — Ela ergue seu dedo,
curiosa, e toca de mansinho a cruz tatuada em meu braço.
— Violet foi embora. Ela foi embora e Lixo ficou, ficou por
nós...
Ela sorri e volta a olhar meu rosto, levantando com
lentidão seu dedo e tocando em cima da lágrima tatuada
em minha bochecha.
— Amo desenhos... — Sorri para mim ao murmurar. —
Lixo gosta dos desenhos do novo mestre...
— Não sou mestre! — digo rápido quando me empurro
para trás, com minha sobrancelha se arqueando. — Não sou
seu mestre... Não tem mais porra de mestre algum, está
livre.
Minhas palavras se calam e a fito. Seus olhos
arregalados em um tom violeta, tão intensos e brilhantes,
estão presos nos meus.
— Você ama desenhos! — As palavras saem da minha
boca e abaixo meu rosto para a cruz em meu braço. —
Desenhos.
— Olha, não quis te ofender te chamando de louco...
— Sua voz sai apressada e ri nervosa. — Acho que, no
fundo, todos têm um pouco de loucura. Eu, por exemplo, já
tive uma amiga imaginária, e passei a infância inteira
conversando com ela. A chamava de Suse Caladona, e ela
amava desenhos. Ela era legal e me ouvia, o que era bom,
visto que se ela respondesse, eu me assustaria, achando
que era um fantasma... Sendo bem franca, ainda converso
com ela às vezes. Converso, por exemplo, sobre deixar
minha irmã me arrastar para essa ideia de merda de invadir
um hospício...
— A amiga imaginária. — Retorno meu rosto ao seu e
minha sobrancelha se arqueia. — Você não é a Violet... —
exclamo sério, observando a mulher diante de mim,
compreendendo que não é uma desorientação por conta
dos medicamentos e das três semanas apagadas, como Elsa
suspeitou.
Ela não está perdida, ela está dizendo quem ela é, a
amiga imaginária.
— Você é Suse, a amiga imaginária da Violet —
pronuncio devagar, a vendo piscar e negar com a cabeça,
sorrindo para mim.
— Lixo, não Suse. Não mais, não, não... — Ela retorna
a olhar minhas tatuagens e sorri com doçura. — Mestre me
deu o nome de Lixo.
— Não, não é Lixo — rosno, sentindo minha boca se
esmagar, desejando muito encontrar o filho da puta que fez
isso a ela, que a quebrou tanto a ponto de fazer Suse
ganhar vida, sendo uma forma do cérebro dela a proteger.
Fiquei mais de doze anos preso na porra de um
hospício, e sei reconhecer um transtorno mental, e tenho
certeza de que a mulher à minha frente tem um. Suse não é
imaginária, ela é uma personalidade que o cérebro de Violet
deu vida, para a deixar escapar do inferno que ela estava, é
a sua protetora.
— Fada do dente... — ela sussurra, olhando a boca
aberta, com dentes ensanguentados, tatuada em meu outro
braço. — Fada do dente... Lixo é a preferida do mestre...
— Linda! — Minha mão afaga seus cabelos e a vejo
piscar ao me fitar. — Não Lixo, Linda, porque é o que você é.
— Linda... — Ela fecha seus olhos e sorri. — Meu novo
mestre me deu um nome...
— Não! — Me endireito na mesma hora e retiro minha
mão dela, enquanto fico com meu corpo rígido. — Não sou
seu mestre...
— Mas me deu um nome... — Ela pisca, confusa, me
olhando como se não entendesse que não sou a porra de
um mestre. — Linda... Meu novo mestre me deu um nome...
— Você é Linda, não Lixo, ok?! — Olho para a porta
rapidamente, antes de retornar a ela. — Não se chame mais
de Lixo. Meu nome é Jon, e não sou seu mestre.
— Mestre Jon... — Ela sorri, me fitando e falando
depressa.
— Não, Jon, só Jon. — Inalo fundo, esfregando minhas
têmporas. — Merda! — rosno, rangendo meus dentes e
abaixando meus dedos do rosto e a olhando sorrir ao me
observar.
— Sou Jon, apenas Jon. Conheci Violet alguns anos
atrás, ok?! — falo devagar, para que ela me entenda. —
Tenho uma dívida com Violet, só isso. Não sou mestre de
ninguém, apenas pretendo pagar minha dívida, e até lá vou
cuidar de você e dela, entendeu, Linda?
Ela abaixa seu rosto e olha meu braço, ficando com os
olhos fixos na boca tatuada, a qual chama sua atenção,
antes de mover sua cabeça rapidinho para mim.
— Fada do dente... Não... não... — Ela abre e fecha
sua boca, batendo os dentes e negando com a cabeça,
sorrindo para mim. — Mestre Jon vai cuidar de nós...
— Caralho, não sou... — Bufo e inspiro fundo,
rosnando. — Só feche os olhos e volte a dormir, está bem?!
Tem que descansar...
Seus olhos se fecham rapidamente, com ela os
esmagando e ficando quietinha antes mesmo que eu
termine de falar. Balanço a cabeça, virando e saindo do
quarto.
CAPÍTULO 6

MESTRE
LINDA

— Acho que alguém gostou do mingau de chocolate.


Levo a colher à boca e sinto a pasta se desmanchar
em minha boca, tendo um sabor gostoso e quentinho, que
me faz querer comer mais. Meu estômago faz um barulho, o
que tira uma risada da mulher de cabelos dourados, que são
como o sol, tão bonitos e lisos, e balançam enquanto ela ri.
— Como está indo nossa paciente essa manhã,
Nanete? — Olho rapidamente para a porta quando
reconheço a voz da mulher gentil de ontem, que me fita
com carinho e sorri para mim. Ela está toda vestida de
branco, como um anjo.
— Com fome. É o segundo prato de mingau dela. — A
mulher de cabelos dourados brinca comigo, batendo
devagar a ponta do seu dedo em meu nariz. — Ela dormiu
bem. Vim vê-la no quarto no fim da madrugada e estava
roncando, não é, querida...
— Linda! — Ergo outra colher à minha boca, chupando
meus lábios e mastigando na sequência, olhando as duas
mulheres risonhas, batendo devagar em meu peito. —
Linda...
— Sim, você é linda, querida. E ficará ainda mais
quando eu lhe engordar! — Elsa ri quando Nanete aponta
para mim.
Elas são estranhas, estão sempre rindo. Esse novo lar
é estranho, na verdade. Todos a que fui levada antes eram
escuros, e as mulheres que via estavam amarradas ou nuas.
Por essa razão, fito-as confusa, não sabendo por que estão
com roupas e por que me colocaram roupas. Será que vou
ser levada para outro lar? Apenas vestiam roupas em mim
quando iriam me levar para outro lar, para ser um presente.
Não há coleira em meu pescoço, assim como não me
colocaram uma algema. Elas me deram um prato para
comer, e antes não tinha prato, era no chão. A comida
também não tinha um sabor bom como essa comida tem,
era sempre fria e com cheiro ruim. E elas me pedem para
falar, conversar, o que eu não tinha permissão de fazer.
— Roupa. — Puxo o pano grosso que me cobre, me
sentindo irritada com ele, não compreendendo por que
estou coberta.
— O que foi? Quer tomar banho e trocar de roupa? —
Elsa se aproxima. — Não deu banho nela ainda, Nanete?
— Foi a primeira coisa que fiz essa manhã. O
problema não é dar banho, é manter ela com a roupa, já
que a tirou umas cinco vezes...
— Roupa coça... — Olho para a mulher de branco,
repuxando meu nariz. — Linda tira roupa... Sempre nua para
mestre...
Vejo as duas se entreolharem e não entendo por que
elas não tiram essa roupa de mim. Tenho que ficar nua para
meu mestre, caso contrário, ele pode ficar bravo. Mestre
novo bravo vai machucar, vai me castigar...
— Não está mais presa... — Elsa se aproxima aos
poucos, negando com a cabeça. — Não tem que ficar nua,
querida.
— Não, não. Linda! — Aponto para meu peito. —
Mestre me deu nome. Não querida... Linda, me chamou de
Linda...
Abaixo a bandeja e a deixo sobre a cama ao meu lado,
ao passo que olho confusa para o laço da roupa e o puxo,
para tirá-la de mim. Meu corpo coça por ter essa roupa me
cobrindo.
— Não, a roupa fica, meu anjo. — Nanete me impede
novamente, retornando a fazer o laço. — A roupa fica,
lembra...
— Como mestre irá tocar em Linda se ela estiver
coberta? — A olho confusa, retraindo meu semblante.
— Querida, está segura agora. — Elsa se aproxima de
mansinho e segura meus dedos. — Se lembra do que lhe
disse ontem? Foi salva, resgatada por pessoas que querem
lhe proteger, não tem mais mestre.
— Novo mestre veio ver Linda... — digo, confusa, não
sabendo por que ela não entende que Linda tem um mestre.
Mestre deu um nome a mim, e apenas os mestres
podem dar nome à boneca. E meu novo mestre me deu... Só
um mestre tinha me dado nome, e se meu novo mestre me
deu nome, é porque pertenço a ele agora.
— Novo mestre, Linda tem novo mestre...
— Nanete, que história é essa? — O rosto pequeno de
Elsa, que sempre está sorrindo para mim, tem a face
zangada agora, ao fitar Nanete. — Quem veio aqui ontem...
— Ninguém... Eu não vi ninguém entrando — Nanete
fala apressada. — Precisei ir ao meu quarto no meio da
madrugada, mas foi rápido, apenas fui pegar um absorvente
que tinha esquecido. Quando voltei, o segurança garantiu
que ninguém entrou ou passou por ele. Ela estava dormindo
quando retornei...
— Mestre! — grito ao ouvir os sons dos passos
pesados do lado de fora do quarto. — Mestre veio ver
Linda...
Empurro as cobertas de cima de mim, tentando sair
da cama ao sentir o aroma do perfume forte dele entrar em
minhas narinas. Tinha gravado em minha mente seu
perfume, que ficou ontem no quarto. É um perfume bom,
não um cheiro ruim, como o do antigo mestre.
— Que porra é essa, Ryan?! — A voz brava de Elsa se
faz, o que acaba me fazendo erguer a cabeça, com meus
olhos focando na figura alta parada na porta do quarto,
mirando a médica. — Me disse que nenhum homem entraria
aqui, mas você entrou, e ainda por cima deu um nome a
ela...
— O quê? — O homem grandão, que me lembra um
urso, retruca, assustado, olhando para a médica zangada. —
Do que está falando? Vim aqui por que acho que precisa
ouvir uma coisa que o garoto...
Observo-o confusa, fechando meus olhos e sentindo o
cheiro do perfume mais forte, sabendo que ele está aqui,
porém não o vejo. Sorrio ao abrir meus olhos assim que a
forma dele se faz, quando o grandão dá um passo à frente e
entra no quarto, deixando meu mestre aparecer atrás dele.
Ele é alto e tem os cabelos negros, com a pele tão clara
como papel, tendo desenhos lindos nela.
— Vou conversar com Owen! — Elsa esbraveja, brava,
e sorrio, descendo da cama. — Pode ter certeza de que vou
falar pessoalmente com ele. Lhe disse como era importante
não ter nenhuma presença masculina nesse prédio por
causa dela, e você vem e entra nesse quarto às escondidas,
a fazendo achar que é o seu novo mestre...
— Não... não... — Passo por ela, mas sinto uma
tontura me tomar e esfrego meus olhos. — Mestre de
Linda...
Meu braço se estica para ele, e sorrio, o olhando, mas
minhas pernas enfraquecem. Suas mãos são fortes e firmes
quando se prendem em minha cintura, tendo os olhos azuis
tão penetrantes presos aos meus, com sua pele pálida
ficando ainda mais clara quando ele arqueia sua
sobrancelha, olhando de mim para o homem grandão que
rosna para ele.
— Que porra você esqueceu de me contar, Jon?! — o
homem ruge.
— Mestre... — sussurro, com meus olhos fixos nos
seus, o vendo agora mais nitidamente, por conta do quarto
tão claro. Encontro seus olhos azuis me fitando,
semicerrados, e vejo seu peito subir e descer rápido.
Meu corpo tomba, sendo violentamente golpeado por
uma explosão, que me faz bater na parede. Porém, logo
estou sendo colocada em pé pela mão que segura meu
braço por baixo, perto da axila, e me ajuda a levantar.
— Obrigada, playboy... — Sorrio para ele, que se
mantém sério, com o olhar azul tão intenso preso ao meu,
ainda com o pedaço do esfregão quebrado em sua mão.
A lembrança me golpeia, fazendo o flash se acender
em minha mente, o qual parece um machado sendo
disparado em minha cabeça, já que os gritos altos de Violet
se fazem.
Playboy!
— Playboy... — murmuro, fechando meus olhos e
repetindo a palavra depois das lembranças que ela dividiu
comigo.
— Eu vou ter uma conversa séria com Owen. Isso não
poderia ter acontecido. Ela acabou de ser resgatada, não
temos ideia do que passou, e, agora, seu cão invade o
quarto no meio da noite, a fazendo se vincular a ele.
Tínhamos que estar tentando a fazer se lembrar dela e de
Shend, a irmã, não a deixando ligada à porra de um
mestre... — O som alto da voz de Elsa fica distante,
enquanto as imagens fazem meu cérebro doer ainda mais, a
ponto de me fazer querer bater a cabeça na parede ao ouvir
o nome da bruxa.
— Eu sinto muito, mas eu preciso viver minha vida. —
Ela se inclina e beija minha testa, alisando meu rosto. —
Não posso fazer isso se tiver que cuidar de você. Eu
também tenho meus sonhos... Sinto muito, Vi... Sinto
muito...
— Anda, Shend, levanta a porra do rabo e vem!
— Por favor, para... — Meus dedos se erguem e
esmago minha cabeça, sentindo uma dor insuportável, com
as imagens ficando mais fortes ao escutar o grito de Violet
dentro da minha mente. — Está a machucando...
Um sorriso grande se faz, tendo os olhos negros
presos em mim, com ele agarrando meu seio e o
esmagando com uma mão enquanto nos golpeia com o
cinto, fazendo a dor ser tão grande, que mal conseguimos
respirar.
— É minha boneca preferida, sabia?! E é por isso que
vai mostrar a eles como é perfeita, minha boneca rara...
Sua mão solta meu seio e agarra meus cabelos, ao
passo que me arrasta para perto do sofá. Sinto as mãos em
meu corpo, os beliscões em minha pele, e as lágrimas
escorrem por minhas bochechas, antes de ser erguida e
colocada sobre os joelhos de um homem corpulento, que
agarra minha garganta.
— Sua irmã não mentiu quando disse que era única,
pequena boneca, com esses olhos lindos que vão ficar
presos apenas em mim enquanto brincamos com você...
Olho em volta e vejo mais três homens entrarem na
sala e me observarem.
— Não, por favor... — grito, me debatendo ao sentir as
mãos deles tocando meu corpo. Meus seios são esmagados
e puxam minhas tranças. — Quero ir embora, quero ir para
casa, chama a minha irmã... por favor...
As imagens me cortam como punhos, com as
lembranças de Violet nos machucando. Os gritos mais
desesperados ecoam dentro da minha cabeça, condenando
nós duas com as imagens, com o que nos fizeram.
— Merda! A coloque na maca. Os pontos do tiro estão
abrindo, preciso de anestesia agora, Nanete... — Meu corpo
se debate e tremo, convulsionando, ao passo que os
grandes olhos azuis estão presos em mim e ele me segura
mais forte.
— Se lembrou de mim... — A voz rouca entra na névoa
de desespero, me acalmando e fazendo Violet parar de nos
torturar com as imagens, ficando concentrada na voz do
nosso mestre. — Linda, você se lembrou de mim?
— Você está de sacanagem com a minha cara, garoto!
— Elsa esbraveja, tentando nos afastar, mas meus dedos se
seguram fortes a ele.
Não quero que vá, que nos deixe nesse tormento...
— Não... boneca do mestre... Mestre fica com Linda...
— Ryan, dá para tirar esse irresponsável desse
quarto? Olha o tamanho da merda que ele fez...
Elsa se cala e pula para trás quando o mestre rosna
alto, rangendo seus dentes e a olhando com fúria, antes de
retornar seu rosto para mim.
— Se lembrou de como ela me chamou no dia que me
conheceu. — Sua mão se estica e toca meu rosto, fazendo a
dor e as lembranças que nos machucam se silenciarem. —
Me deixe falar com ela, Linda. Me deixe falar com a Violet...
— O que está acontecendo aqui, Ryan? — A doutora
Elsa me olha perdida, antes de girar o rosto para o homem
grandão.
— Linda, olhe para mim. — A mão em meu rosto me
faz fitá-lo. — Me deixe conversar com a Violet...
— Ela não quer vir para a luz... — murmuro, lhe
dizendo a verdade. — Está longe demais para voltar. Ela
partiu com ele... Oh, sim, ela partiu...
— Não se mexa! Se essa porra te ferir por dentro, vai
sangrar até morrer, está me ouvindo, cadela?!
Choro, ao passo que sinto meu corpo doer. A dor
aguda entre minhas pernas me faz gritar ainda mais alto, e
me debato, querendo me soltar das amarras. Há sangue,
tanto sangue no chão, o meu sangue, e estou deitada sobre
ele, enquanto o homem zangado me machuca, empurrando
algo estranho dentro de mim.
— Avisei que poderia a tocar, que poderia brincar com
minha boneca, mas avisei que era só isso, filho da puta! —
O mestre está com raiva, e anda pelo quarto, tendo uma
arma em sua mão. — Tira essa porra de dentro dela agora...
— Partiu... — sibilo, e uma lágrima escorre por meu
rosto, ao mesmo tempo que a lembrança nos condena a
reviver toda dor, toda angústia que ele nos infligiu quando a
matou, a fazendo nunca mais querer voltar para a luz. — Ela
partiu quando tiraram ele de nós, tiraram tudo de nós... E
ela foi embora, deixando Linda sozinha...
A imagem do sangue nos pega, e seus gritos ficam
mais dolorosos, fazendo minha mente explodir em
fragmentos, com pontadas de dor me tomando com fúria,
sendo tão agressivas que sinto o gosto de sangue em minha
boca. A imagem do feto sendo jogado ao chão, perto do
nosso rosto, enquanto olhávamos ele ali, morto e sujo de
sangue, com o cordão em volta do pescoço, é brutal, e grito,
como se pudesse a fazer parar de nos torturar ao reviver
aquela cena.
— Mataram... Mataram nosso bebê, mataram tudo
dentro de nós... — Me debato entre os gritos, tendo o pavor
de Violet se misturando ao meu, com sua dor sendo a
minha. — Mataram nosso bebê...
Sinto uma picada em meu braço e meu corpo vai
ficando pesado. Os braços fortes me prendem mais firme, e
encontro os grandes olhos azuis presos em nós, como se a
vissem, como se me vissem em meio ao desespero que nos
machuca.
— Fada do dente... — Minha voz arrastada sai
quebrada e meu rosto tomba, com meu olhar ficando preso
no desenho do seu braço. — Fada do dente... A preferida do
mestre...
— Quem é a fada do dente, Linda?
A mão em minha face me faz olhá-lo, ao passo que
sinto minhas pálpebras pesadas e tudo fica tão distante.
— Nos lembramos de você, playboy... — Sorrio, com
meus olhos se fechando, enquanto Violet nos arrasta para a
escuridão, onde é seguro, onde ninguém nos alcançará.
CAPÍTULO 7

O REFLEXO
OWEN WODEN

— Isso é muito mais grave do que imaginamos,


Owen... — Fico em silêncio, encarando Elsa, que está com
seu rosto vermelho e olha de mim para Ryan. — Ela não
deveria ter sido exposta a um homem, não quando mal
compreende que está livre.
Ergo meus olhos para Jon, que tem seus braços
cruzados e está encostado na parede, com sua boca
esmagada, encarando o chão.
— E o fato de descobrir que ela tem um transtorno
metal agrava ainda mais isso. Violet, ao que parece, tem
transtorno dissociativo de identidade. — Volto a olhar para
Elsa, que nega com a cabeça. — Não acho que ela deve
continuar aqui, muito menos perto dele!
Seu braço se estica e aponta para Jon na mesma hora
que ele ergue seu rosto, a encarando, não demonstrando
emoção alguma que não seja tédio.
— Deixa ver se compreendi. — Inalo fundo e cruzo
minhas pernas, passando meus olhos dela para ele. —
Invadiu o quarto dela na noite passada, e agora ela pensa
que é o novo mestre dela?
— Não invadi, entrei pela porta — Jon responde
rápido, dando de ombros. — A enfermeira responsável por
cuidar dela não estava lá para me dar permissão para
entrar.
— Você invadiu! — Elsa fala alterada, olhando-o
incrédula. — Passou pelo segurança sem ele lhe ver, e ele
estava na entrada do prédio, o que, com certeza, mostra
que você invadiu...
— O senhor Woden perguntou se eu invadi o quarto,
não o prédio! — Jon retorna seu rosto para frente, o
abaixando e soltando o ar aos poucos, enquanto Elsa fica
nervosa e olha de mim para ele.
Preciso contrair meus lábios, me negando a rir diante
da petulância dele, mesmo Elsa estando a um passo de o
estrangular, com a veia do pescoço dela saltada.
— Não o quero perto dela novamente — Elsa rosna,
esfregando sua face com raiva. — Ele nem sequer tem ideia
do que fez, e ainda debocha disso...
— Não foi deboche, Elsa — falo calmo para ela,
olhando Ryan, que tem seu semblante preocupado. —
Digamos apenas que o jovem Roy tem um cérebro voltado
ao raciocínio rápido, e ele apenas respondeu à pergunta que
fiz...
— O cérebro rápido dele não está compreendendo a
dimensão do que significa ser mestre para uma jovem
quebrada como ela, Owen. — Elsa me olha com dor,
soltando um suspiro triste. — A senhorita Violet não deveria
ter sido exposta a outro homem enquanto não entender que
é livre, assim como não creio que ficar aqui seja bom para
ela...
— Acreditamos que a jovem desenvolveu uma
persona que a protege — Ryan murmura, o que me faz olhá-
lo. — Na clara visita que o garoto fez a ela na noite passada,
ao entrar pela porra da porta da frente do quarto, invadindo
apenas a maldita janela do prédio, ele percebeu que a
personalidade que conversava com ele não era a jovem que
ele conhecia, e sim uma amiga imaginária, que ela falou
que tinha na infância. Jon acabou a chamando de Linda, o
que presumo que deva ter sido isso que a fez pensar que
ele é seu novo mestre...
— Ele a batizou com um nome — falo firme,
entendendo o que Ryan está falando.
Tinha mostrado a ele o que Sieta Gregovivk e
Santana[5] tinham descoberto sobre como essas jovens são
tratadas, onde apenas o mestre delas lhes dão nomes.
Levanto os olhos para Jon e o vejo em silêncio, não
argumentando, mantendo seus braços cruzados, com os
olhos no chão.
— Owen, eu não entendo sobre esse transtorno dela,
não sei como a ajudar. O mais correto seria a levar para
uma clínica...
— Se falar a palavra psiquiátrica, juro que antes
mesmo de terminar de pronunciá-la, vai estar com sua
garganta cortada, de uma ponta à outra, doutora. — Elsa se
cala e gira para trás, encarando Jon, que ergue seu rosto
para ela e a fuzila com o olhar. — E, acredite, vou fazer isso.
— Jon, está passando dos limites! — Ryan se levanta
na mesma hora, com a cadeira dele indo para trás no
segundo que Jon ameaça Elsa. Creio que Jon não sabe que
ela é o ponto fraco de Ryan.
— Não estou falando para mandá-la para uma clínica
psiquiátrica, apenas estou dizendo a verdade, que ela
precisa de ajuda médica especializada. Só que não tem
ideia do que falo, porque é um filho da puta burro, que não
escuta nada! — Elsa se levanta, olhando de mim para Jon,
enquanto nego com a cabeça, pedindo para ela ficar quieta.
Porém, ela não entende, pois continua a falar: — Ela estará
bem mais amparada em um local...
— Sabe como uma mulher é amparada em um
hospício, doutora?! — Jon descruza seus braços e a encara,
ficando com seu corpo rígido, tendo Ryan levando Elsa para
trás dele na mesma hora. — Com a porra de um sedativo
forte, a drogando vinte e quatro horas por dia, assim ela
passa mais tempo se babando e se cagando toda, do que
percebendo que cada médico e segurança filho da puta
enfia o pau no rabo dela! Isso quando não é entregue aos
outros loucos como um presente, para os deixarem se
lembrar de como é foder a porra de um cu e uma boceta! E
sabe como sei disso? Porque eu ouvi, ouvi muito bem cada
maldito grito delas nos mais de doze anos desgraçados da
minha vida em que fiquei preso em um hospício. Então,
acredite, se tentar a levar para um lugar desse, sua cabeça
será o presente de Natal que darei a Ryan!
— Espera lá fora, agora, seu filho da puta! — Ryan
explode, gritando com ele e apontando para a porta.
Jon apenas se vira, marchando, ao passo que encaro a
doutora Elsa, a vendo me olhar em choque com o que
acabou de ouvir.
— Eu não tinha ideia... Eu não sabia sobre o passado
dele... — ela murmura, tendo Ryan se virando e a
encarando. — Eu sinto muito, não quis parecer uma pessoa
indiferente ao passado dele...
— Está tudo bem, Elsa — Ryan fala baixo para ela. —
Sabe que não falamos sobre o passado dos órfãos, a menos
que eles queiram falar...
— Owen...
— Penso que tem sua resposta, Elsa. — Bato meu
dedo lentamente na mesa, a fitando, fisgando o canto da
boca e a interrompendo. — A jovem fica em Babilônia. Ryan,
leve Elsa de volta para o pronto-socorro, sim?! E mande Jon
entrar, quero ter uma conversa a sós com ele.
Ryan move a cabeça em positivo e caminha com Elsa,
a levando para fora da minha sala. Abaixo os olhos,
deixando-os presos na tela do computador e vendo a
imagem de Jon segurando a jovem nos braços, enquanto a
enfermeira de Elsa aplicava a injeção nela, que estava
agarrada a ele tanto quanto ele estava a ela.
— Senhor!
— Feche a porta, jovem Roy — ordeno, sem desviar
meus olhos da tela do computador.
Escuto-o fazer o que mandei, antes de erguer meu
rosto para ele e o fitar. Bato meu dedo na mesa e minhas
pernas se cruzam, o analisando.
— Sabia que faltou um triz para Ryan quebrar seu
pescoço?! — digo sério, vendo-o balançar sua cabeça em
positivo. — E, mesmo assim, ameaçou a única mulher em
todo mundo que já vi fazer aquele brutamontes do Ryan
esboçar um sorriso.
— Sim, senhor. — Ele não demonstra arrependimento,
muito menos preocupação pela reação de Ryan.
— Por quê? — pergunto direto, o estudando e o vendo
piscar, confuso. — Por que a preocupação, se sabe que se
eu decidir a mandar para uma clínica psiquiátrica, será um
local seguro, onde não vou permitir que nenhum mal
aconteça a ela?
Seu semblante se retrai, ficando sombrio, com ele
demonstrando irritação, assim como raiva, muito diferente
da expressão inerte que tinha segundos atrás. Isso me deixa
saber que a jovem não é a única a estar vinculada ao seu
novo mestre.
— Sabia que me apaixonei pela minha mulher no
segundo que a vi? Antes mesmo de compreender o que
sentia. Porque, até então, pessoas como eu não se
apaixonam, não se ligam a ninguém. — Encosto minhas
costas no couro da cadeira. — Cheguei a odiar ela algumas
vezes, porque ela me deixava confuso, porque fez meu
coração sombrio e sádico disparar em meu peito, porque ela
era a esposa do meu pai. Isso até descobrir que ele a
machucava, que criou algo abominável através do
sofrimento dela...
Aponto para a cadeira, para que ele se sente, ao
passo que o encaro, vendo nele a mim mesmo, a raiva e a
confusão que Emma me causava.
— Sente-se, jovem Roy. Acho que está na hora de lhe
contar uma história, a qual envolve tanto os Roy como os
Woden, assim como criou um pacto entre Sodoma e
Babilônia, que nos levou até sua conhecida. — Inalo fundo,
fisgando o canto da boca. — E quando eu terminar, irá
entender o porquê da preocupação de Elsa em relação ao
vínculo que você formou com a jovem ao dar um nome a
ela, e, principalmente, a responsabilidade que acabou de
ganhar ao ligá-la a você.
CAPÍTULO 8

O DESPERTAR
LINDA

Um mês depois

— Está linda... — Abro meus braços, mostrando minha


roupa à Nanete, que foi a doutora Elsa que me deu. — Linda
está muito linda. Apenas vamos rezar para o conselho
tutelar não vir até aqui...
Seu rosto se vira para a doutora Elsa, que tem a face
vermelha enquanto me olha, sorrindo.
— Estava comprando algumas coisas pelo celular
quando ela perguntou o que eu estava fazendo. — Ela ri, e o
olhar de Nanete fica engraçado ao olhar dela para a minha
saia branca de pregas. — A deixei escolher a roupa que
queria...
— No setor infantil? — Nanete ri ainda mais, levando a
mão à boca.
— Não, não, não... Não tinha crianças — falo depressa,
negando com a cabeça. — Apenas Linda e a doutora Elsa
olhando o aparelho que ela chama de celular...
Passo meus dedos pela camisa delicada, que tem
cerejas desenhadas nela, que me deixam feliz ao olhá-las,
uma vez que são todas coloridas. Além disso, as mangas da
camisa são curtinhas. Bato meu pé e fito meu sapato preto,
gostando de como minhas meias branquinhas ficaram
bonitas nele. Elas vêm até meus joelhos.
Eu ainda não tinha me acostumado com esse negócio
de usar roupa, mas tinha gostado das roupas com que a
doutora Elsa me presenteou. Sinto-me feliz a cada dia que
passo ao lado dela e de Nanete, que sempre fica comigo
quando a doutora Elsa precisa sair. Não saio do quarto, fico
aqui dentro, desde o dia que acordei.
Nanete e Elsa me explicaram que eu não estava mais
sendo entregue como um presente, que estava livre das
pessoas que me fizeram mal, mesmo eu não entendendo o
que significa ser livre. Meu novo mestre não veio mais me
ver, e isso me deixou triste, sem saber por que ele não
vinha me visitar. Nanete me falou que preciso me recuperar,
e ficar dentro do quarto, apenas com ela e Elsa, e que isso é
para o meu bem.
Há algumas semanas também apareceu Helena, uma
médica que é amiga de Elsa, e ela fez exames em mim.
Naquela noite, Elsa chorou, eu a ouvi chorando no corredor,
e não entendi por que ela chorava com tanta dor. Perguntei
a ela por que chorou quando entrou no quarto algumas
horas depois, e Elsa sorriu para mim, apesar de estar com
os olhos inchados e vermelhos. Ela me respondeu que eu
tinha sido machucada por dentro, que a doutora Helena,
que veio fazer os exames em mim, contou que meus
ovários tinham sido retirados e que eu nunca poderia ter um
bebê crescendo em meu ventre.
Porém, eu já sabia disso. O mestre antigo tirou nosso
bebê e disse que nunca mais deixaria aquele erro ser
cometido de novo depois daquilo. Lembro de sentir uma
picada em meu braço, e quando acordei, tinha apenas dor
em minha barriga.
Abracei Elsa e falei que eu estava bem, que não doía
mais, que minha barriga já tinha sarado da dor que aquele
homem estranho me causou quanto tirou o bebê de dentro
de mim. Elsa chorou de novo ao me abraçar, e seu rosto se
escondeu em meus cabelos, com ela ficando no quarto
comigo pelo resto da noite.
No outro dia, quando amanheceu, Brenda apareceu.
Eu nunca a tinha visto em meu quarto, mas Elsa me disse
para confiar nela, que ela iria me ajudar. Brenda vem
algumas vezes na semana conversar comigo sobre o que
gosto, o que faço nesses dias que estou aqui, e não faz
perguntas que me machucam, que machucam Violet, ela
apenas conversa sobre mim.
E, hoje, eu estou mais animada do que nunca, já que
Nanete disse que me levará para passear, pois estou
ficando deprimida por permanecer trancada no quarto. A
verdade é que não disse à Nanete que não estou deprimida
por ficar no quarto, uma vez que já tinha me acostumado a
sempre ficar presa. O que me deprime é não ver meu
mestre, não ter o toque dele em meu corpo.
— Ande, vamos, vai ser bom esticar suas pernas um
pouco. — Sorrio para ela e balanço a cabeça
apressadamente, passando meus dedos em meus cabelos
presos em uma única trança, que cai em minhas costas e
que foi Elsa que fez.
— Elsa vem passear? — pergunto a ela, sorrindo.
— Oh, não, esse passeio será apenas seu e de
Nanete! Vai ser muito bom para você ver mais do que essas
quatro paredes. — Ela caminha para mim e passa seu braço
em meus ombros. — Não está presa aqui, sim?! Aproveite
seu passeio, meu bem.
— Linda é livre para passear. — Movo a cabeça em
positivo e rio, olhando curiosa para o grande corredor.
— Sim, isso aí... — Ela sorri para mim antes de afastar
suas mãos do meu ombro. — Bom passeio, Linda.

Meus olhos ficam presos em tudo com curiosidade, já


que nunca tinha visto tantas pessoas, cheiros e cores
variadas.
— Aqui é a sala de limpeza e descanso. Costumamos
nos banhar aqui para nos preparar para os dias de festa no
palacete, ou depois de uma grande festa, como elas estão
fazendo agora.
— Festa... — Percorro meus olhos pelas enormes
banheiras redondas, uma perto da outra.
Vejo as mulheres lá dentro sorrirem enquanto se
ensaboam, e observo algumas ao canto, em cima de
grandes almofadas, se espreguiçando, tendo outras
cochilando no local também. A fragrância que tem aqui é
tão boa que faz eu imaginar se um campo de flores teria
esse mesmo cheiro. Elas não estão acorrentadas e nem
chorando, muito menos feridas, encolhidas ou aterrorizadas.
Não possuem medo de respirar e chamar a atenção dos
senhores a quem somos presenteadas, de acabarem sendo
castigadas.
Que lugar estranho esse... Não tem seguranças perto
delas, as amedrontando com chicotes ou cintos, nem
lágrimas nos rostos, principalmente daquelas dentro da
banheira, que se lavam. Eu chorava quando tinha que me
levar depois de ser castigada, pois sentia como se a água
fosse agulhas ferindo os machucados. Isso quando uma das
outras bonecas não vinha me lavar a mando dos senhores e
usava uma escova de lavar roupa para esfregar minha
boceta.
— Estão livres... — murmuro, curiosa.
— Sim, somos livres. Todas as servas de Babilônia são
livres. Ficamos aqui por escolha, Linda.
— Livre, servas livres...
— As sem coleiras. — Ela sorri e aponta para a jovem
adormecida na almofada. — Essas somos nós. Cada uma
delas, assim como eu, somos as servas sem coleiras, o que
quer dizer que não temos um mestre, mas trabalhamos e
ficamos aqui, cada uma com sua responsabilidade...
— Mestre de Linda — digo rápido, a fitando e
apontando para a lateral da minha garganta. — Teia... Meu
mestre tem um desenho de teia.
— Ok, nada de falar sobre mestre agora, sim?! — Ela
ri, nervosa, negando com a cabeça. — Nosso rei, o homem
que comanda Babilônia, ele criou essa ala inteira apenas
para nós, as servas sem coleiras. Temos uma área de
limpeza, quartos para cada uma, tudo bem-organizado e
limpo. Além de roupas e comidas, trabalhamos aqui e
recebemos dinheiro por isso. Aqui é nossa casa.
— Casa da Linda também? — indago, confusa, pois
nunca tive uma casa.
— Sim, sua casa também. Vai conhecê-lo quando for a
hora, mas, acredite, ele já lhe conhece, e muito, Linda,
tanto que foi ele que ordenou lhe tirar do quarto e sair para
passear um pouco. — Ela segura meu braço, batendo
devagar em minha mão. — Agora, vem, vamos conhecer
outros lugares! Está com fome, então o que acha de irmos
ao refeitório? A essa hora estão servindo o almoço...
Minha cabeça se move rápido e sorrio de orelha a
orelha para Nanete, porque eu sempre sinto fome, e gosto
da comida que ela me dá, principalmente porque ela me
deixa repetir.
A sigo pelos corredores quando ela me puxa para fora
da sala, e olho curiosa para tudo, desde os quadros cheios
de desenhos bonitos até as imensas cortinas vermelhas.
Tudo aqui é colorido e tem muitas luzes ao redor, sendo tão
claro que me faz sorrir, por não ter um canto escurinho que
seja. A única escuridão que vi aqui foi a que me assombra
em meus pesadelos quando retorno para os cativeiros
quando durmo.
— Merda, não sei se foi uma boa ideia... — Trombo em
Nanete quando ela para ao passar por uma porta depois de
caminharmos bastante.
— Fome... Linda está com fome... — falo, sorrindo,
inalando o cheiro bom que tem aqui, que é ainda melhor do
que o que tinha naquela outra sala, onde as meninas
tomavam banho.
Dou um passo para o lado e saio de trás de Nanete,
querendo saber de onde vem esse cheiro que faz minha
barriga roncar, mas paro assim que vejo olhares fixos em
mim. Homens estão sentados em mesas compridas e
grandes, e giram o rosto na minha direção. Viro meu rosto
para o lado e percebo um homem de cabelos vermelhos me
encarando, tendo a colher em sua mão suspensa no ar. Vou
para perto dele aos poucos e fito o seu prato, vendo
macarrão com bastante carne, como se fossem pequenos
bolinhos. Inclino e inspiro o cheiro bom que vem do seu
prato, com meu estômago fazendo um barulho mais alto na
sequência.
— Fome... — Meus olhos se abrem e sorrio para ele,
que pisca rapidamente, deixando seus olhos presos nos
meus, com suas bochechas ficando rosadas. — Linda tem
fome, serva sem coleira...
— Oh, meu Deus... — Nanete ri, nervosa, e segura
meus ombros enquanto me afasta. — Ela é nova, ainda está
aprendendo, Quebra Osso. Ela não quis te chamar de
serva...
— Seu osso está quebrado? — questiono, sem
entender, olhando para ele, que tem sua sobrancelha
arqueada. — Linda também quebrou ossos, a perna e o
braço, mas já sarou...
Movo a cabeça e aponto meu pé para ele, o mexendo
e batendo a pontinha do meu sapato no chão.
— Onde a serva sem coleira quebrou os ossos? — Ele
inala forte e sua colher se abaixa, ao passo que ergue a
cabeça para Nanete.
— Ela é tão fofa, não é... — Nanete diz, rindo, ainda
mais nervosa, me girando rapidamente e nos afastando da
mesa.
— Não vi osso quebrado nele... — murmuro para ela.
— Ele não está quebrado, este é o codinome que ele
tem aqui... — Ela fecha seus olhos e esfrega seu peito
apressadamente. — Não pode chamar os rapazes de serva,
Linda. Eles não são servas sem coleiras...
— Nanete disse para Linda que todos aqui são servas
sem coleiras... — A miro ainda mais confusa, já que ela
havia me dito tal coisa.
— Bom, sim, mas as meninas... — Ela me olha, me
segurando mais firme, enquanto fito curiosa os homens que
estão nos observando. — Alguns rapazes também, às vezes,
mas não esses. Esses com uniformes pretos, nunca chame
de servas sem coleiras, porque eles são os Órfãos de
Babilônia, tipo nossos cães de guarda, entende?! Digamos
que são nossos protetores...
— Mestres...
— Não! — Ela nega rapidamente, rindo, me fazendo
andar ao lado dela. — Eles são os carrascos. Aqui, em
Babilônia, temos carrascos, e eles são severos, muito
severos. Os carrascos não possuem servas, eles castigam
quem faz mal às servas. Alguns estiveram na operação que
lhe encontrou, e Quebra Osso era um deles.
— Mortos, os senhores foram mortos — falo rápido pra
Nanete.
Lembro-me dos tiros, dos gritos dentro da mansão, ao
passo que eu era arrastada pelo segurança do meu mestre.
— Sangue, tiros... Bum, bum, bummm...
— Sim, eles fazem isso. Por isso, nunca deve os
chamar de serva sem coleira, compreende?! Eles não se
submetem a ninguém, a não ser à Babilônia. — Ela bate na
ponta do meu nariz, e movo minha cabeça em positivo para
ela.
Mas perco meu olhar assim que encontro os grandes
olhos azuis focados em mim, no fundo do grande salão
cheio de mesas, com ele sentado sozinho, tendo sua
sobrancelha arqueada ao me encarar.
— Mestre... — Sorrio, falando apressada, com meu
coração disparando ao vê-lo e meus passos indo em sua
direção. — Mestre, Linda está aqui...
— Ei, ei, mocinha... — Nanete segura meu braço, me
impedindo de prosseguir. — Nem pense nisso. Lembra, sem
mestre? Órfãos não são mestres, não possuem servas...
— Mestre de Linda... — Giro meu rosto, confusa.
— Não, Jon não é seu mestre, ele é um carrasco. Viu o
uniforme dele? É porque ele é um Órfão de Babilônia, sendo
o último homem aqui dentro que vai querer chegar perto.
Ele não é muito sociável... — Ela me puxa, e meu corpo
endurece, pois desejo que me solte. — Na verdade, ele é
extremamente antissocial, não gosta de ninguém perto dele
e nem conversa com as pessoas. Ande, venha, Elsa me
mata se você chegar perto dele de novo...
— Não me importo... — digo rápido, olhando por cima
do meu ombro na direção dele. — Mestre de Linda...
Mestre... — murmuro ao vê-lo se levantar, com sua face se
tornando fechada e ele desviando seus olhos de mim,
virando e partindo.
Ele parece zangado, o que me deixa confusa, pois não
tenho ideia do que fiz para meu mestre ficar bravo comigo.
— Mestre de Linda está indo embora... — Pisco, sem
entender por que ele está indo sem vir até mim.
— Sim, o que foi melhor, meu bem... — Nanete alisa
meu braço. — Ande, venha! Não disse que estava com
fome? Posso jurar que ouvi essa barriga fazendo barulho...
Fico cabisbaixa e ando devagar ao seu lado, não
tendo mais curiosidade em meus olhos para querer olhar
em volta, e nem tanta fome assim. Sinto-me triste pela
forma como os olhos do meu mestre desviaram-se de mim
com tanta raiva.
— Pegue isso aqui e experimente, vai gostar. —
Nanete me entrega um pequeno bolinho para que eu prove.
— Ande, tire essa tristeza do seu rostinho, vá... Não é mais
uma escrava, meu anjo, é livre agora, como eu, uma serva
sem coleira...
— Linda não quer ser sem coleira... — Pego o pequeno
bolinho, encolhendo meus ombros. — Linda tem mestre, e
mestre disse que nos protegerá, que cuidará de nós...
Mordo o bolinho, e rapidamente meu paladar é
invadido por um gosto bom de queijo, que me faz engoli-lo
com ferocidade, antes de colocar o resto de uma vez na
boca.
— Gostou, né? — Nanete ri, e balanço minha cabeça
para ela. — Viu, às vezes, nem tudo é mestre, é só fome
mesmo...
Meus olhos focam na bacia grande de vidro cheia de
bolinhos, e minha mão se estica, a enchendo deles,
querendo comer mais.
— Ei, é aperitivo, novata! — A junção da voz brava,
com alguém disparando um tapa na minha mão, me
assusta, me fazendo derrubar os bolinhos de volta na bacia,
enquanto meu corpo todo treme, assustado.
Já estou de joelhos em segundos, sabendo que vou
ser castigada, com meus olhos se fechando e abaixando
minha cabeça, levando meus dedos para trás da minha
nuca, com minha testa se colando ao chão e respirando
rápido.
— Oh, merda, qual é o seu maldito problema, Flai?! —
Escuto os gritos de Nanete, mas não ergo meu rosto. Estou
assustada demais, apenas esperando a chicotada como
castigo. — Linda, amor, está tudo bem...
— Qual é o problema dessa louca? Eu apenas disse
que são aperitivos...
Um som alto se faz, como um rosnado, e é
estrondoso. Ouço coisas caindo, enquanto a voz do homem
se cala, antes de tudo se silenciar.
Respiro mais depressa e fecho mais forte meus olhos,
lembrando dos gritos, da pele se rasgando, da dor do açoite
em minhas costas. Tudo isso é extremamente esmagador
dentro da minha mente. O som pesado de passos surge
quando o silêncio enorme me engole, e apenas o som da
minha respiração assustada entra em meus ouvidos. O
toque em minha cabeça me pega de surpresa, e alguém
escorrega os dedos até meu queixo, o levantando, me
fazendo tirar a testa do chão.
— Abra os olhos! — Reconheço e obedeço na mesma
hora a voz em comando, encontrando o par de olhos azuis
fixos em mim. — Abaixe essas mãos, Linda, está segura.
Pisco, confusa, olhando dele para a bacia de bolinhos
em sua mão, a qual ele me estende. A seguro e observo-a,
antes do meu rosto se levantar de mansinho para ele.
Assisto-o esmagar os lábios, enquanto rosna e ergue-se tão
alto à minha frente, todo de preto, como uma sombra
negra, usando uma roupa de couro.
— Venha, querida, se levante... — Nanete se abaixa e
sussurra em meu ouvido, me ajudando a ficar de pé.
— Voltem a comer, todos aqui têm trabalho a fazer! —
O vejo rosnar, com seus olhos passando por trás de mim,
fixos no resto do salão. Os homens abaixam a cabeça
rápido, e ele retorna a olhar para Nanete. — Se não
consegue a proteger, não deveria ter a trazido até aqui.
Nanete se encolhe, e pisco, olhando o homem caído
no chão, perto da perna dele, com uma grande panela de
macarrão sobre sua barriga, tendo o rosto sujo de carne,
macarrão e sangue. Vejo meu mestre se virar e nos dar as
costas, andando a passos pesados em direção à saída.
Abaixo meu rosto para a travessa de bolinhos e sorrio,
segurando um em meus dedos, me afastando de Nanete.
— Com licença, serva sem coleira... — falo para o
homem tombado no chão, que não tem uniforme como os
outros, esticando minha perna e passando por cima dele
rapidinho.
— Linda... Linda, volta aqui... — Nanete grita, e eu
sorrio, a olhando por cima do meu ombro e mastigando meu
bolinho, segurando firme a bacia.
— Linda passear com mestre... — Ando atrás dele,
retornando meu rosto para frente e continuando a mastigar
meu bolinho.
Sorrio para o homem curioso que me olha quando
paro perto da sua mesa, e deixo um bolinho em seu prato.
— Nanete explicou que não é uma serva sem coleira,
e que seu osso não está quebrado... — Abro mais o sorriso,
jogando outro bolinho em minha boca. — Bolinho gostoso!
Não fico para conversar, volto a andar, retornando a
seguir meu mestre, exalando um suspiro e vendo os olhares
voltarem-se para mim. Saio do salão, o acompanhando,
ficando atrás dele. De repente, ele para, tendo suas costas
rígidas e soltando uma bufada, girando.
— Para de me seguir, Linda! — ele rosna, olhando de
mim para a bacia. — Não deveria estar aqui, não deveria
estar andando no refeitório, muito menos parecendo uma
colegial...
— Não, não... — Nego com a cabeça, mastigando
ainda mais meu bolinho. — Nanete disse que Linda ficou
linda...
Bato meus sapatos no chão, sorrindo quando ele
abaixa seu rosto, os olhando, tendo seu nariz puxando o ar
com mais força ainda.
— Elsa comprou roupa para Linda. — Estico minha
mão e bato meus dedos lentamente nos botões do colete
estranho que ele usa. — Pelo celular... Ela disse que é um
celular... Linda que escolheu, ela me deixou escolher...
Mestre gosta?
— Merda! — Seu rosto fica vermelho, com seus lábios
se esmagando. — Linda, não sou seu mestre, e pare de me
seguir. Volte para perto de Nanete...
Mastigo o bolinho de novo, enquanto o olho e vejo-o
sério, apontando para trás de mim, antes de se girar e
começar a andar mais uma vez. Retorno a caminhar atrás
dele.
— Linda, volte pra Nanete... não pode ficar me
seguindo...
— Livre para passear... — digo, pegando outro bolinho
da bacia e sorrindo. — Elsa disse que Linda é livre para
passear. Linda passear com mestre...
— Puta merda! — Ele para, girando, o que me faz
trombar nele. — Linda, não sou a porcaria de mestre algum!
Não tem mestre. Não precisa da porra de um mestre...
— Se Linda não tem mestre, quem vai tocar em
Linda? — Fico confusa e fito-o, vendo-o arregalar seus olhos
e dar um passo para trás.
— Ninguém, ninguém pode tocar em Linda, entende?!
— meu mestre rosna, abaixando seus olhos para a saia e
franzindo sua testa. — Linda não precisa de um mestre,
muito menos ser tocada por um...
Meu olhos se distraem das suas palavras quando viro
meu rosto para o lado e vejo uma imensa porta aberta, com
tudo tão verde lá fora, o que chama a minha atenção para a
cor bonita.
— Mestre tocar depois em Linda... — comento,
sorrindo, pegando um bolinho e o levando à boca. — Agora,
Linda passear, livre para passear...
Giro, curiosa com a vastidão de verde lá fora, que me
atrai. Caminho para lá, olhando tudo ao redor ao fazer isso.
Sorrio quando o vento toca meus cabelos e sinto o cheiro
fresco que tem aqui. Olho para baixo e vejo o manto fofinho
de grama, que parece uma coberta. Bato meus pés no chão,
com meu pé afundando um pouquinho.
— Fofinho... — Sorrio e ando, me misturando às
grandes árvores. Tudo é tão verde e vivo, cheio de cor...
Sempre fui transportada à noite para os cativeiros, e
via algumas coisas de longe, por pequenas frestas da
janela. E, agora, tudo é mágico, real e iluminado, com a luz
do sol acertando meu rosto e me fazendo sorrir quando ergo
minha cabeça e sinto a luz me tocar.
— Linda... Linda, não pode andar por aí... — Ouço a
voz brava atrás de mim, mas não paro, estou curiosa
demais para obedecer.
— Livre, Elsa disse que Linda é livre para passear...
— Passear, Linda. Livre para passear, não andar
sozinha. — Giro meu rosto por cima do ombro e pego outro
bolinho, o mastigando e vendo o carrancudo parado na
porta.
— Linda está com mestre... — Volto a andar, tendo o
som de um pássaro cantando no alto da árvore, o que
chama minha atenção, e vou para lá.
— Merda! — Seu rosnado é alto. — Linda... Linda,
volte aqui...
— Livre, Linda é livre para passear...
Sorrio, não o olhando, pois estou encantada com o
som do passarinho. Vou para perto das árvores e me sinto
como se tivesse me despertando para um mundo cheio de
cor, depois de passar muito tempo em um pesadelo
sombrio, onde não existia cor, nem sons bonitos do canto
dos pássaros. Meus passos param a alguns centímetros de
uma árvore, que é tão grande, que preciso jogar minha
cabeça para trás para olhar o alto dela. Sorrio quando meus
olhos encontram o pequeno passarinho em um ninho.
— Canta pra Linda... — falo alto, esmagando minha
bacia de bolinhos, pegando um e levando à boca.
Sorrio largamente no segundo que a melodia dele se
faz, entrando em meus ouvidos, fazendo-me sentir como se
meu coração estivesse se enchendo com o canto tão bonito
do pequeno passarinho. Dou um passo lento para perto da
árvore e fico de ladinho, encostando meu rosto nela, com
meus olhos se fechando, sentindo uma mistura de cheiros
invadirem meu nariz.
A textura grossa da casca raspa em minha bochecha,
me fazendo cosquinha, o que me leva a rir ainda mais. Abro
meus olhos e encontro meu mestre com seus olhos presos
em mim e suas mãos nos bolsos da calça, me fitando de
uma forma que faz minhas bochechas se aquecerem e meu
coração ficar ainda mais acelerado do que quando ouvi a
canção do pássaro.
— O que está fazendo? — ele indaga, sério, abaixando
seus olhos para meus pés, que estão batendo no chão aos
poucos.
— Árvore faz cócegas... — falo, rindo, jogando a
cabeça para trás e voltando a olhar o pássaro cantar. —
Linda gosta do som...
Giro, curiosa, observando as outras árvores,
retornando meu passeio e olhando curiosa os formatos das
folhas, que me fazem parar por conta da admiração. Escuto
os passos atrás de mim se silenciarem, e viro, buscando
pelo mestre, mas fico confusa ao não o encontrar.
O aroma do seu perfume entra em meu nariz, e rio
quando sinto a bufada de ar quente no topo da minha
cabeça. Giro rapidamente e o encontro diante de mim, com
seus olhos azuis tão claros como o céu focados nos meus.
Ele abaixa seus olhos para a bacia em minha mão enquanto
a encara.
— Estão bons? — pergunta, trazendo seus olhos aos
meus.
— Gostoso... O bolinho que mestre pegou para Linda é
gostoso... — Pego um e estico meu braço para ele.
O vejo revirar seus olhos e bufar, com sua boca se
semicerrando, ao passo que nega com a cabeça.
— Mestre não quer bolinho... — Empurro para mais
perto da sua boca, e meus olhos ficam presos aos seus
quando se abrem tão rápidos quanto sua mão, que se fecha
em meu pulso.
Minha pele fica quente e meu coração bate mais
rápido, de uma forma que não entendo, enquanto um
choque me corta.
— Não sou mestre, Linda — rosna ao me fitar,
mantendo sua mão presa em meu pulso, com sua boca se
abrindo e abocanhando o bolinho.
Meu corpo parece receber um grande choque quando
seus lábios sugam meus dedos, tendo sua língua os tocando
e fazendo os pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Sou a porra de um psicopata, não um mestre! —
Ele solta meu pulso e abre sua boca, libertando meus
dedos, enquanto pisco, observando-o.
— Psicopata... Mestre psicopata... — Ele fecha seus
olhos e seu peito se expande ao inalar. — O que é mestre
psicopata?
— Alguém com quem você não deveria ficar sozinha
— ele responde rápido, com seus olhos se abrindo e se
cravando nos meus. — Alguém que pode machucar muito
as outras pessoas, te machucar...
— Antigo mestre machucava Linda para prazer...
Prazer em fazer Linda ficar com dor... Linda sentia dor e
ficava machucada... — Meu rosto tomba para o lado. —
Mestre psicopata quer machucar a Linda também para ter
prazer?
Os olhos azuis que parecem o céu, estão escuros,
quase cinzas, e fixos nos meus. Sua boca semicerra e seu
rosto gira para a esquerda, com ele não me respondendo.
— Não precisa de um mestre, não precisa ter mais
medo. Linda é livre agora, livre para pedir, falar o que for da
sua vontade. Não precisa de um mestre...
Olho-o sem entender, virando meu rosto e vendo um
lago que me distrai na mesma hora. Empurro a bacia para
ele, enquanto sorrio.
— Mestre segura... — falo apressada, soltando a
bacia, a qual ele pega rapidamente. — Água...
Sorrio e caminho para lá, com meus olhos ficando
encantados e perdidos no lago.
— Linda, aonde vai... Tem que voltar, chega de
passear...
— Linda ver... água. — Rio e paro perto da beirada,
batendo meus pés e sentindo o sapato ficar molhado, assim
como minha meia. — Água gelada... Gelada e fresquinha.
Giro o rosto por cima do ombro e o vejo vir até mim,
segurando a bacia.
— Banho... — suspiro, retornando o rosto para frente e
puxando minha camisa, a jogando na grama, com minha
pele contente por não ter pano sobre ela. Abaixo o zíper da
saia.
— Oh, porra, Linda! — o mestre rosna, fazendo um
barulho engraçado, como se os dentes tivessem se batendo
ao me ver tirar a saia e a soltar na água. — Linda, nem
pense em tirar esse sutiã...
O som da água atrás de mim se movendo me faz virar
na mesma hora, e o encontro entrando na água, tendo a
bacia de bolinhos jogada no chão, junto com sua jaqueta.
— Mestre tomar banho com Linda... — Sorrio para ele
e estico minha mão, o chamando.
— Não, estou é lhe tirando daí! — Ele fecha seus
dedos para me pegar, mas me abaixo e jogo minhas costas
para trás, deixando meu corpo se afundar na água.
Meu corpo vibra e sinto a temperatura fresca da água
me engolir, enquanto sorrio e abro meus braços. O puxão
em minha cintura, me erguendo, me faz abrir meus olhos no
segundo que meu peito é esmagado em seu tórax. Seus
olhos azuis cintilam fortes, como um raio se acendendo no
céu, e os dedos apertam a minha cintura, com seu rosto a
centímetros do meu.
Ele mantém seus braços fechados em minhas costas,
e flutuamos na água. Nossos rostos viram para o prédio e o
vejo em chamas, com as sirenes de ambulâncias ao longe.
Uma explosão se faz, com os vidros estourando e
voando para todo lado. A mão dele está presa no topo da
minha cabeça quando me empurra para baixo junto com
ele, e os pedaços de vidros quebrados vão caindo no lago,
com uma imensa bola de fogo iluminando tudo acima de
nós.
— Oh, porra... — Puxo o ar com força quando ele nos
faz submergir outra vez, rindo e olhando em choque para o
prédio que tem o lado que pulamos completamente
destruído. — Porra!
Rio ainda mais em puro nervoso, ao mesmo tempo
que é de alívio e alegria por ter saído com vida daquele
lugar, não acreditando no que acabou de acontecer, que eu
realmente fiz isso.
O disparo em minha mente é como um flash me
tomando, e tenho a visão dele diante de mim, a qual ela nos
mostra e faz nosso coração disparar ainda mais dentro do
meu peito.
Nossos rostos retornam para frente no mesmo
segundo, o que acaba resultando no resvalar da minha boca
na sua, que me faz compreender como estou presa a ele,
tão forte e colada ao seu corpo. Pisco rapidamente,
empurrando minha cabeça para trás, e meu peito sobe e
desce ao ver a água escorrendo por seu rosto, com ele me
encarando.
Sorrio timidamente e mordo o canto da minha boca,
não conseguindo não olhar para a dele. Acho que é a
adrenalina, o medo, a loucura dessa noite ou todas essas
coisas juntas, mas, sem compreender, acabo inclinando por
vontade própria meu rosto e o beijando rapidinho.
— Está louca, não pode ficar por aí se jogando dentro
da porra de um lago... — ele ruge, enquanto o fito com os
olhos dela, ao ter suas memórias.
Minha atenção se fixa em seus lábios esmagados,
rosnando para mim, ao passo que seu peito sobe e desce e
ele mantém seus dedos em minha cintura. Meu rosto se
move para frente, comigo confusa, e não entendo o que foi
que vi nas memórias de Violet, porque um mestre nunca
tinha tocado em mim assim, com sua boca na minha, mas
eu queria...
Colo minha boca a dele, sentindo a textura dos seus
lábios, com meus olhos abertos não se fechando, vendo os
azuis arregalados presos em mim.
— Beijo... Linda beija mestre também, como Violet
beijou... — murmuro, abrindo e fechando minha boca,
empurrando minha cabeça para trás. — Beijo, beijo...
Volto a lhe olhar, para perguntar pra que serve um
beijo, mas não chego a falar, pois tenho sua boca se
colando à minha novamente, me fazendo gemer. Sua mão
esmaga minha cintura, me colando ainda mais a ele, e
meus dedos se seguram em seus ombros. Meu coração
dispara tão acelerado, que acho que vai sair da minha boca
e ir para a dele.
Sua língua escorrega para dentro dos meus lábios, o
que me faz suspirar e amolecer inteira, e me agarro mais a
ele. Uma das mãos em meu quadril me solta, indo para
minhas costas e a espalmando, e eu vibro, gostando disso,
de sentir sua boca na minha, assim como sua língua me
invadindo.
— LINDAAA... LINDAAAA... — Os gritos altos de Nanete
o faz separar sua boca, e abro devagar meus olhos,
encontrando os dele, comigo forçando ainda mais meu
corpo contra o seu.
Não sinto mais a água fresca, e sim quente, como se
meu corpo estivesse cozinhando dentro dela, quente e
vibrante. Seus cabelos negros desalinhados caem por sua
testa, com ele me deixando presa em seu olhar.
— Sua equipe de resgate chegou... — o mestre
murmura, puxando o ar e abaixando seus olhos para minha
boca.
CAPÍTULO 9

PERMISSÃO NEGADA
JON ROY

— Ela não terá uma vida normal, nunca terá. —


Desvio meus olhos da pasta que o senhor Woden me
entregou, para ele, que está sentado no canto da sua mesa,
perto da minha cadeira, me encarando. — Ela foi criada
para servir, para ser dependente de um mestre, e nunca
conseguirá de volta a vida que tinha. Não existe antes para
elas, existe apenas o depois...
Estico meu braço e deixo os documentos sobre a
mesa, que tem cada relato documentado sobre como meu
tio participou da porra dessa merda desde o começo,
quando executaram uma mulher em Sodoma, e que mostra
outras que foram criadas com um único propósito e
finalidade: a submissão total. E disso desencadeou algo
ainda maior: as bonecas perfeitas, bonecas que seus donos
não apenas quebram, e sim humilham, as dividem,
retirando cada essência delas e as tornando o que eles
querem que elas sejam. O senhor Woden me contou que
sua esposa foi um protótipo de boneca, que seu pai a criou,
mas ele ficou sabendo disso apenas depois, quando o velho
morreu.
— O homem na foto é Hasan Torurim. — Ele me
entrega uma segunda pasta, que pego e abro rápido, vendo
a foto de um engravatado pomposo. — Ele é presidente da
Turquia. Nós, junto com alguns conselheiros de Sodoma,
estamos no encalço dele, e por mais prazeroso que seria o
matar, ainda não posso ter esse prazer...
Alço o rosto para o senhor Woden, que tem seu
semblante sombrio ao olhar a foto em minha mão.
— Por mais esforços e competência que nossa equipe
tenha, assim como esses conselheiros de Sodoma, com
quem trabalhamos juntos para o pegar, o senhor Torurim
tem um péssimo hábito de ser escorregadio, e,
principalmente de apagar seus rastros, assim como das
jovens que ele compra, para transformar em bonecas... — O
senhor Woden se levanta e anda devagar pelo escritório. —
As mulheres que encontraram mortas na missão, na qual
salvou a vida da senhorita Violet, não foram os primeiros
cadáveres que encontramos.
Ele bate seu pé no chão e fica de costas para mim,
enquanto encara a janela.
— Se matar ele, as que estiverem sobre seu poder
morrem também. — Compreendo o que o senhor Woden diz
e o porquê ainda não matou esse homem.
— Infelizmente, sim. — Ele se vira, me encarando.
Abaixo meu rosto e olho para a fotografia, ao passo
que analiso o homem gordo com feição aristocrata.
— Se permitir, posso matá-lo, me dê apenas algumas
horas com ele e tiro a informação de onde essas mulheres
estão.
— Tentador, jovem Roy, mas, ainda assim, não posso
arriscar e permitir que mate um presidente. Não porque não
confio que seria capaz para o serviço, e sim porque estaria
saindo da proteção de Babilônia e se expondo. Além disso,
acredito que ainda não esteja pronto para voltar ao mundo
dos vivos, certo?! — Ele retorna para perto da mesa e senta-
se na ponta. — Trabalho com os conselheiros de Sodoma
nessa operação, mas apenas isso. Não confio neles, e no
segundo que um Órfão de Babilônia matar Hasan Torurim,
eles saberão, o que resultará em os Roy saberem sobre
você. E eu sou um homem de palavra, Jon. A única coisa
que me pediu em troca quando Babilônia lhe tornou um
filho dela, foi se manter nas sombras, e não vou quebrar
minha promessa com você.
Ele retira a fotografia da minha mão e me fita sério,
negando com a cabeça e soltando um suspiro.
— O único motivo para ter lhe contado tudo isso, é
porque quero que entenda que é muito maior a dimensão
do futuro da senhorita Violet, que não tem volta para ela. No
segundo que sua irmã a vendeu para um dos compradores
de Hasan Torurim, a vida dela foi ceifada...
— A irmã? — Ergo meu rosto, o encarando sério
quando me levanto. — Está dizendo que a irmã dela a
vendeu...
— Recebi essa informação na semana passada, por
um dos homens da equipe que foi mandada a Sacramento.
Eles encontraram alguns peões que participaram da sua
entrega ao porto — minha boca se esmaga, com as
informações me pegando —, que contaram que a irmã,
junto com o namorado, vendeu Violet na mesma noite que
ela lhe soltou do hospício. Enquanto estava a caminho do
Canadá, ela foi para a Turquia, para ser entregue
diretamente para Hasan. Os homens partiram de
Sacramento e estão caçando a irmã, assim como o ladrão, e
quando os encontrarem os trarão direto para cá...
Lembro-me de observar os carros e os homens
armados. Apenas alguns me acompanharam no carro, e
agora descobri que os outros não eram para mim, e sim
para ela.
— Sei que é muita coisa para você compreender, mas
entenda que para uma jovem que teve a vida destruída aos
dezesseis anos, isso foi ainda pior.
Comprimo a boca e meu peito se enche de ar
enquanto encaro Owen, com minha sobrancelha se
arqueando.
— Está dizendo que ela tinha dezesseis anos quando
aquela puta a vendeu...
O senhor Woden move a cabeça em positivo, o que
me faz sentir como se meu coração estivesse estranho, com
batidas aceleradas e ainda mais fortes, muito diferente do
normal, com uma ira me corroendo por dentro com tanta
força, que sinto como se fosse explodir.
— Ela não vai sobreviver sem um mestre, muito
menos quando os efeitos colaterais do que ela foi imposta e
forçada a se tornar começarem a fazer o corpo dela precisar
de alívio. — O olho, tendo minha mente em um turbilhão,
por tudo que ouvi e li nos documentos. — Minha esposa foi
criada para ser masoquista, foi a dor que a criou, e quando
a encontrei, ela usava um instrumento católico para se
autoflagelar, porque não entendia o que seu corpo queria.
Não sabemos qual o propósito da criação de Violet, mas o
corpo dela irá começar a cobrar o que ele foi obrigado a
gostar, o que ele foi criado a se tornar.
Ele se levanta e fica de frente para mim, com seu
peito se enchendo de ar, ao passo que fecha seus olhos e
inspira.
— Apenas o mestre dela tem o poder de dar isso a
ela, e pelo que sabemos da criação das bonecas que Hasan
Torurim criou, ele é brutal, e elas têm um mestre apenas.
Porém, são presenteadas a outros amigos, aceitando tudo
que é imposto a elas, mas apenas um mestre tem poder
sobre elas...
Seus olhos se abrem e sua mão se estica, pousando-
se em meu ombro, tendo os olhos dele cravados nos meus.
— E no segundo que você a batizou, ela entendeu que
você é seu novo mestre. Compreende o poder que tem
sobre ela, garoto, e o porquê a doutora Elsa ficou brava?! —
Owen rosna, com sua face séria. — Um submisso casado
com dois conselheiros de Sodoma contou a eles tudo que
viu e ouviu, e é assim que Hasan tem poder sobre as
bonecas perfeitas dele. Ele as quebra, as destrói e as
transforma no que ele deseja, as batizando e tendo a
lealdade delas. E pelo que sabemos, ele fez isso muito bem
com aquela pobre jovem, a ponto dela criar um alter ego
para sobreviver ao inferno que a irmã dela a jogou. Porém,
você cortou o vínculo quando a batizou, a ligando a você,
Jon.
Ele inclina seu rosto para mais perto do meu, se
mantendo sério, enquanto dá um sorriso tão frio quanto
seus olhos me fitando.
— Então, serei claro e direto. — Ele solta meu ombro e
dá um tapinha em meu rosto, rindo com frieza. — Quero seu
rabo muito longe daquela garota, ou eu mesmo vou cortar
sua garganta de uma ponta à outra, porque não vou
permitir que bagunce ainda mais a cabeça dela apenas por
curiosidade. Fui claro, jovem Roy?!
Soco com força o saco de boxe dentro do meu quarto,
com o suor escorrendo por minha face. O punho esquerdo
golpeia com o dobro de força o saco, com minha mente me
arrastando para aquele escritório. Esqueci completamente
as palavras do senhor Owen no segundo que a puxei e
tomei seus lábios, sendo governado por essa irritante
confusão que aquela garota me causa.
Tinha me mantido longe, feito o que foi me ordenado,
mesmo sentindo a porra da irritação me consumir dia após
dia. Todavia, me mantinha centrado, não me aproximando
do pronto-socorro. E achei que estava bem, que essa
confusão que ela me traz tinha passado e que o melhor
seria me manter longe dela, mas vi que estava errado no
segundo que meus olhos lhe avistaram dentro do refeitório,
curiosa, olhando tudo e chamando a atenção de todos com
seus grandes olhos ametistas.
A porra da saia não dava nem dois palmos da minha
mão no corpo dela, me lembrando as garotas do colégio
interno, que ficavam no outro lado do pavilhão, na época
que era mantido naquele lugar. Novamente, aquela peculiar
emoção de irritação me pegou, principalmente por saber
que os outros a viam também, enxergavam como ela estava
delicada e bonita, não sendo mais aquele saco de ossos que
eu segurei em meus braços quando a tirei daquele
esconderijo. Ela havia ganhado peso, o que deu volume
abaixo das suas roupas, chamando a minha atenção. E não
consegui desviar meus olhos quando ela começou a se
despir, ficando perdido entre olhar para o rabo empinado,
com a porra da calcinha fina, ou olhar para os lados, para
saber se tinha algum puto por ali que estivesse a vendo.
Maldita hora que a beijei de volta, que agi por
impulso, desejando sentir o gosto daquela boca mais uma
vez. Tê-la suspirando enquanto a beijava dentro daquele
lago me deixou tão perdido quanto a ter agarrada a mim
três anos atrás naquele rio.
— Inferno! — rujo, socando mais forte o saco e
fazendo as correntes estalarem com o impacto do meu
punho, disparando um golpe atrás do outro, tendo o suor
escorrendo por meu peito.
— JONNNN! — O som alto da voz de Artur me faz
parar de socar o saco de boxe, e olho para a porta do meu
quarto, para saber se ouvi mesmo a voz de um dos meus
irmãos. — JONNNNN!
Ando para a bancada industrial e retiro minhas luvas,
as jogando em cima da mesa e abaixando o volume do
rádio, escutando os murros dele em minha porta. Passo
meus olhos no relógio do micro-ondas, vendo que são
21h40 da noite, o que me deixa intrigado, porque Artur não
é conhecido por ser social. Assim como eu, ele detesta
qualquer tipo de aproximação desnecessária com outras
pessoas. Artur é um genocida filho da puta que raramente
fala, apenas em missão você o ouve conversando, quando
ele, assim como todo o resto de nós, se sente liberto.
Ryan tinha me contado sobre ele, que tinha sido preso
por matar um policial corrupto de propósito, porque ele
sabia que isso o faria pegar pena máxima em um presídio
federal, e ele tinha conhecimento de que só tinha um que
cuidava de matadores de policiais, dando aos criminosos
longas férias infernais. E se está se perguntando por que um
idiota faria isso, por que matar um policial sabendo que vai
parar em um lugar desses, eu lhe digo: porque era só assim
que Artur conseguiria chegar em um homem, o assassino do
seu pai.
O pai do Artur era policial, mas não corrupto, era um
bom, e foi quem ensinou o filho a ser o maior filho da puta,
rápido com um rifle de longo alcance. O pai dele morreu na
frente dele, e o cara que o matou era chefe de uma máfia
irlandesa. Artur matou mais de cinquenta e cinco presos
esmagados, quebrando seus ossos, quando ele explodiu,
com uma bomba caseira, uma ala do presídio em uma noite,
apenas para se vingar de um homem, o assassino do seu
pai.
Após isso, ele foi jogado em uma solitária, onde até
Deus e o Diabo tinham esquecido dele. E ficou lá por dez
anos. Porém, assim como eu e tantos outros, sua facilidade
para matar é quase como se fosse um esporte, e chamou a
atenção de Babilônia, que se interessou pelo potencial de
Artur, que assim como eu se sentiu em casa quando lhe foi
oferecida uma segunda chance. Não para recomeçar, e sim
para abraçar os filhos da puta que somos.
Tanto eu como ele não somos sociáveis, não nos
misturamos com os outros normalmente, e todos têm medo
de nós, porque somos considerados quebrados, os loucos
que Ryan mantém a coleira apertada.
— JONNNN... — Abro a porta no segundo que a mão
dele se estica para bater nela de novo.
O encaro sério, arqueando a sobrancelha e passando
meu braço em meu rosto suado, com minha outra mão
segurando a maçaneta. Vejo o semblante zangado do ruivo
parado em minha porta. Olho para o corredor e o percebo
vazio, tendo a porta do seu quarto, a cinco portas da minha,
aberta.
— Acabei de chegar do mercado... — fala sério,
abaixando seu rosto para seu punho, que está vermelho,
enquanto o esfrega.
— E por que isso seria da minha conta? — Olho-o sem
entender, girando meu rosto para a porta aberta.
— Acho que isso te pertence. — Meu rosto retorna
para frente quando ele rosna, dando um passo para o lado.
Meu corpo se enrijece quando meus olhos se fixam na
pequena mulher que estava escondida atrás dele e segura
um pacote de batatas. Ela sorri para mim de orelha a
orelha, empurrando as batatas na boca e as mastigando.
— Mestre... — Linda pisca seus grandes cílios negros,
dando um passo à frente, e olho-a perdido. Ela está com um
vestido branco cheio de abacaxis dourados o enfeitando,
com uma sapatilha vermelha e meias brancas até os
joelhos. — Quebra Osso encontrar Linda, dar salgadinho e
trazer para mestre...
Ela sorri, olhando para Artur e dando um passo à
frente, enquanto estica seu pescoço para mim.
— Mas ele não tem osso quebrado, é seu codinome...
— ela cochicha, rindo, enfiando as batatas na boca. Meus
olhos se arregalam, comigo ficando perplexo ao vê-la na
porra do prédio que é cheio de depravados assassinos. —
Quer batatas? Gostosas...
— Que porra você está fazendo com ela aqui? —
rosno, rangendo meus dentes e segurando o braço de Linda,
a puxando para perto de mim e encarando Artur, sabendo
que vou abrir a cabeça dele inteira, se não me der uma
explicação.
— A encontrei dentro do meu quarto. O idiota que
Ryan me obrigou a ter como colega de quarto não deve ter
visto o show na hora do almoço, com a panela estourando
na cara de Flai...
— Hank estava com Linda dentro do quarto? — Meu
lábio superior treme e minha mão esmaga forte a porra da
maçaneta.
— Linda procurando mestre, e com fome, muita fome.
Servo sem coleira disse que daria biscoito e depois me
levaria até mestre, mas não tinha biscoito. — Volto os olhos
para ela, sentindo meu peito subir e descer mais rápido ao
vê-la mastigar as batatinhas e apontar seu vestido. — Não,
não tinha biscoito... Ele queria ver os peitos de Linda. Mas
disse que ele não pode ver peitos se mestre não me
presentear a ele...
— Peitos... — rujo, enquanto a vejo sorrir para mim,
movendo sua cabeça rapidamente e enchendo seus dedos
de mais batatinhas.
— Não, não... — Ela nega rapidinho com a cabeça. —
Não pode ver peitos sem mestre deixar. Linda disse isso a
servo sem coleira e pediu para ir embora. Quebra Osso
chegou e deu biscoito à Linda. E ele fez pum, pum no rosto
do sem coleira. — Seu pulso se ergue e ela move seu punho
fino em meu peito, rindo. — E depois trouxe Linda para
mestre... Quer batatinha?
Ela me estica o pacote. Meu cérebro encontra-se
completamente em pane, e olho da mão dela para seus
olhos inocentes, que sorriem para mim. Já estou passando
por Linda, não vendo mais nada à minha frente que não seja
o mais absoluto vermelho da ira me cegando. Encontro o
filho da puta do Hank parado perto da geladeira, segurando
um saco de ervilhas congeladas em cima do seu olho. Entro
no quarto e passo rapidamente meus olhos no lugar,
percebendo a garrafa de bebida em cima da estante da
televisão. A seguro com força no segundo que Hank me vê.
— Olha, Jon, apenas para ficar claro, eu não tinha
ideia de que a garota era sua... — Ele nega com a cabeça.
— Achei que era uma serva sem coleira querendo brincar
um pouco...
Ele não termina, não quando a garrafa já está voando
direto para a cara dele e o acertando em cheio na testa.
Hank cambaleia para trás, e antes que se levante, o pego
pela camisa, com meu punho estourando em seu rosto em
uma sequência infernal, o golpeando sem parar. Ele
cambaleia para perto da geladeira e derruba as prateleiras.
O chuto com raiva em sua barriga, antes de começar a usar
a porta da geladeira, a abrindo e fechando com força contra
a barriga dele, até ela se soltar inteira, por conta da força
com que a disparei contra o filho da puta. O som alto da
porta estourando no chão quando a solto se faz, enquanto
encaro o merda do Hank, que geme, com o sangue dele
espalhado dentro da geladeira.
— Mestre fez bummmm, bummmm. — Giro meu rosto
ao escutar a voz de Linda, que está parada perto do sofá,
dentro do quarto, comendo as batatinhas, com Artur ao lado
dela, de braços cruzados. — Acho que isso foi um não do
mestre. Servo sem coleira não pode ver os peitos de Linda...
— Pode apostar, fodidamente, que foi um grande não!
— esbravejo, abaixando meus olhos para Hank e dando uma
última bicuda com meu coturno diretamente no cu dele, o
fazendo gritar.
Giro e passo meus dedos nos cabelos, os jogando para
trás, caminhando para ela e segurando seu braço, a
puxando comigo.
— Precisava quebrar o caralho da minha geladeira?!
— Artur estica seu braço com a mão aberta, apontando seu
eletrodoméstico.
— Acabou de ganhar um quarto só para você
novamente — digo para Artur, rangendo meus dentes. —
Peça para o levarem para a cela, porque se eu vir esse filho
da puta aqui, vou matá-lo...
— Batatinha gostosa... — Linda sorri, levando a mão
ao pacote e dando a Artur, enchendo a mão dele, que está
esticada para a geladeira. Ele olha dela para mim e uma
bufada de ar sai do seu nariz.
— Avise a Ryan que ela está no nosso prédio.
— Está me devendo a porra de uma geladeira e um
pacote de batatinhas, Jon! — Ergo meu dedo do meio, o
mostrando para ele e a tirando do quarto, não a deixando
parar de andar.
A solto apenas quando a tenho dentro do meu quarto.
Fecho a porta atrás dela com força, a chaveando, e rosno.
Meu peito sobe e desce rapidamente. Assim que me viro, a
encontro parada, segurando seu pacote de batatas, me
fitando.
— Que porra tá fazendo andando sozinha essas horas,
Linda?!
— Passear, Linda é livre para passear. — Ela sorri,
olhando para o saco de batatinhas, levando sua mão ao
fundo e pegando um punhado e o enfiando na boca.
— Eu vou matar aquela médica! — Fecho meus olhos
e esfrego meu rosto, me afastando da porta.
— Não pode matar, Elsa é boa para Linda... — fala
atrás de mim, enquanto caminho para perto da pia e ligo a
torneira, lavando meu punho sujo do sangue do desgraçado
do Hank.
Sei que se ela não estivesse ali, se eu não tivesse
ouvido o som dela, provavelmente teria o matado, o
espancando até a morte.
— Não pode andar por aí sozinha, ainda mais à noite
— falo com raiva.
— Linda não estava sozinha, servo sem coleira me fez
companhia, e depois Quebra Osso me trouxe para o
mestre...
Meu corpo gira com fúria, comigo pronto para a
estrangular pela porra do perigo em que se colocou. Mas
não o faço, não quando a vejo sorrir para mim, com seus
olhos ametistas brilhantes cheios de doçura e inocência,
não compreendendo que o merda do Hank queria foder com
ela, não fazer companhia, e que se Artur não tivesse
chegado, provavelmente, a essa hora, eu estaria
esquartejando o corpo de Hank por ter tocado nela.
— Linda passear, ver mestre... Mestre disse que Linda
é livre para pedir... — Ela me olha, batendo seus longos
cílios e sorrindo de lado. — Beijo. Linda veio pedir beijo.
Quero mais beijos do mestre...
Seu rosto se inclina para frente e seus lábios formam
um biquinho em minha direção, ao passo que fecha seus
olhos.
— Isso só pode ser carma... — rosno, abaixando meu
rosto e me obrigando a dar as costas para ela, não olhando
sua boca, a qual ela oferece para mim.
— Mestre não dar beijo em Linda...
— Não, não vou lhe dar beijo. — Nego com a cabeça e
vou para a geladeira, a abrindo e pegando uma garrafa de
cerveja, que abro e viro em minha boca. — E não sou seu
mestre.
Me amaldiçoo por me girar e fitar os olhos que têm
um poder sobre mim, de me deixar confuso a ponto de não
existir nada além dela à minha frente, que me olha com
confusão e tristeza por ter lhe negado um beijo.
— Linda, sente aqui. — Empurro uma cadeira para ela
e puxo a outra para mim, me sentando na mesa pequena
que tenho no canto do quarto.
Em um segundo, ela faz o que mando, e inalo fundo, a
vendo me olhar ansiosa, soltando o pacote de batatinhas
sobre a mesa.
— Não vai mais vir atrás de mim, Linda, entendeu?! —
Sou firme, tentando não cair nesse feitiço que Linda tem
sobre mim. — Não pode ficar perto de mim, e muito menos
eu posso ficar perto de você...
— É por que mestre é mau? — Ela me olha. — Nanete
disse que mestre é mau, quando contei a ela que Linda
beijou o mestre...
— É, Nanete disse a verdade... — Solto a cerveja
sobre a mesa, encarando a garrafa, tentando descobrir
como faço para me livrar dessa bagunça que esse par de
olhos violetas faz comigo. — Eu sou mau, gosto de matar,
Linda. Não apenas machucar, gosto de matar e ver a vida
saindo do corpo dos outros, e não me importo de fazer isso,
porque é no que eu sou bom. E não porque treinei, mas
porque nasci assim. Machuquei uma pessoa que foi boa
para mim, assim como matei outras que não me tinham
mais serventia, e não me arrependo, nunca tive um pingo
de remorso por nada que fiz, assim como não sinto remorso
por nada do que eu faço.
Levanto a cabeça para ela, que está me olhando
imóvel, sentadinha na cadeira, com suas pernas coladas
uma à outra. Eu sei o que sou, sei o que sou capaz de fazer
e as coisas que fiz. Não menti para ela sobre o que disse,
pois não me arrependo, assim como nunca me arrependi de
manipular, matar e arrancar a cabeça da vadia da minha
avó, assim como quase matar a aberração que me criou.
Abaixo o rosto e encaro minha barriga perto da lateral
da cintura, vendo as cruzes vermelhas tatuadas, que
representam cada olho que fechei. Não me importava com
nenhum deles, nunca me importei com ninguém. E, para
mim, eu me sentia bem com o jeito que eu era, sempre
imparcial, sempre vendo tudo como peças de xadrez que eu
movo. Porém, nesse segundo, não consigo a ver assim, e
não entendo o porquê.
Linda não é um peão que eu derrubo, ela é minha
torre, que restringe meus movimentos, me confundindo, me
deixando preso a ela e me tornando um bispo que se move
confuso pela diagonal, que sempre acaba indo em direção a
ela.
— Não deve ficar perto de mim, Linda. — Bato meus
dedos na mesa. — E sim ter medo.
— Linda não... — Sua cabeça se move para os lados
em negativo. — Não ter medo de mestre, não, não...
— Nunca vou conseguir fazer você parar de me
chamar de mestre, não é?! — falo mais para mim mesmo do
que para ela, respirando com força e a encarando, a vendo
piscar rápido, batendo seus pés no chão.
— Não, não... — Sua cabeça balança, com seus
cachos crespos se movendo, me fazendo rir da situação que
me encontro.
Estico o braço quando meu tronco se inclina para
frente, a fazendo se sobressaltar na cadeira ao arrastar e
esmagar a parte de baixo do assento, a trazendo até perto
de mim, com meus olhos sérios presos aos seus. Não
entendo por que ela não tem medo de mim, por que não
enxerga o demônio que sou.
— Mestre dar beijo em Linda agora? — murmura, com
seus olhos ficando presos em minha boca antes de os
fechar, com seus lábios fazendo um pequeno biquinho em
minha direção.
Sorrio e inclino meu rosto para perto do seu, varrendo
meu olhar em sua face delicada, aspirando o perfume doce
de tutti-frutti que vem dela.
— Sim, eu vou beijar a Linda agora — sussurro,
raspando minha boca na sua segundos antes de a tomar
para mim, quebrando a porra da ordem que recebi, de me
manter longe dela.
Minhas mãos a seguram pela cintura e a trago para
meu colo, a fazendo arfar entre gemidos, suspirando
baixinho, com suas mãos se apoiando em meus ombros, ao
passo que devoro sua boca, que é macia e perfeita e está
intensamente entregue a cada deslizar de língua,
respondendo ao meu beijo, a ponto de tirar minha paz.
Estou com ira por ela fazer isso comigo, por
desencadear o desejo de a jogar sobre essa a mesa e a
foder até suas cordas vocais estourarem, enquanto grita
meu nome a plenos pulmões, deixando cada filho da puta
saber que ninguém tem permissão para tocá-la além de
mim.
Mesmo sabendo que nem mesmo eu deveria a estar
tocando, a forço para baixo, esmagando seu quadril quando
me arrasto rápido para frente e acerto a braguilha da minha
calça entre o tecido da sua calcinha. Ela geme e arfa ainda
mais, imitando na sequência o que fiz e chocando ainda
mais forte sua pélvis sobre mim.
— Ohhh! — Linda separa seus lábios e geme quando
minha mão se fecha atrás da sua nuca, puxando sua cabeça
para trás, tendo minha boca deslizando por seu queixo e o
mordendo.
Ela comprime suas coxas contra minhas pernas,
mexendo seu quadril e esfregando sua calcinha em cima do
meu pau, que lateja um inferno dentro da calça, tão duro a
ponto de me fazer sentir que vai explodir, uma vez que
nunca desejei tanto foder alguém como a desejo. Minha
mão em sua cintura se abaixa, indo para seu rabo e
puxando seu vestido para cima. Minha nuca arde ao ter
seus dedos cravando as unhas nela, com Linda abrindo seus
olhos ametistas dilatados, cheios de desejo, e com seu
corpo queimando sobre o meu. Escorrego a boca por sua
pele e a mordo, soltando seus cabelos apenas para abaixar
a frente do vestido e libertar seus seios pequenos e
delicados. Tenho um por inteiro em minha boca quando o
capturo.
— Ohhhhh... — Linda se inclina para trás, empurrando
o tórax para frente, gemendo e movendo o quadril.
Minha mão vai para baixo da popa da sua bunda, até
raspar meus dedos sobre o tecido úmido da calcinha, e
rosno, cravando meus dentes em seu peito, com ela
gemendo mais alto.
— Linda... quer mestre... dentro dela... — ela geme,
segurando meu rosto e me fazendo o erguer para ela, me
deixando ver seus olhos dilatados em angústia enquanto
me beija.
Meu corpo já está de pé, e a tenho firme em meus
braços, com suas coxas esmagadas em minha cintura
quando a jogo sobre a mesa.
— Ohhhhh... — Ela solta um grito e geme mais alto
quando aperto sua coxa.
Uma explosão de loucura e urgência me toma, e a
quero aqui, agora, com a porra do meu pau enterrado até as
bolas dentro da sua boceta. O estouro alto na porta me faz
separar minha boca de Linda, e puxo rapidamente seu
vestido para cima, antes de rosnar com ódio e girar para a
porta do meu quarto.
O disparo de arma de choque me atinge como um raio
caído do céu, me fazendo sentir como a porra de uma
torradeira em pleno funcionamento, tendo meu corpo todo
ficando rígido e os músculos se contraindo, com a energia
correndo desde as pontas dos meus pés ao último fio de
cabelo. Cambaleio sobre meus calcanhares e meu coração
dispara. Esmago com raiva o eletrodo em meus dedos, com
as veias saltadas, rosnando como um animal, com meus
olhos focando em Killer, que olha dela para mim.
— Vou matar você... — rujo, o fazendo cambalear para
trás quando tiro com fúria aquela porra de mim, a qual
apenas me deixa irritado, por esse filho da puta invadir meu
quarto e ainda por cima achar que um tiro de arma de
choque me derrubaria.
Sou um filho da puta criado em um hospício, o que
mais tive foi tratamento de choque ao longo dos anos.
— Oh, merda! — Killer saca outra pistola quando
marcho com raiva em sua direção, acertando meu peito e
fazendo a descarga ter mais potência. Mas, ainda assim,
não paro, apenas ando até ele, apesar de estar mais
travado. — Será que podem dar uma ajuda aqui, porra?! Dei
dois tiros e ele ainda tá de pé...
Tremo, com a eletricidade me cortando, ao passo que
ergo minha mão e agarro seu pulso, o puxando com raiva.
— Desculpa, garoto. — Meu rosto gira no segundo que
escuto a voz de Ryan, que está do lado de fora no corredor,
com a porra de uma pistola mirada para minha garganta.
Meu corpo pesado como uma pedra estoura no chão,
e tremo, com minha mente se desligando.
CAPÍTULO 10

O DEMÔNIO
JON ROY

— Mata ela! Precisa matar ela! — Lorane se esconde


atrás das minhas costas, esfregando seu rosto no meu
ombro e cochichando em meu ouvido.
Em minha mão, seguro o revólver, com meus olhos
presos na mulher sentada no chão, com seus pulsos e
pernas amarradas. Olho em volta, vendo a estufa, a
escuridão dentro dela, enquanto o choro baixo se faz. Pisco
rápido, tendo meu corpo suado, meu coração batendo
disparado, e retorno a olhar na direção dela. O rosto que me
olha tem íris violetas, e lágrimas escorrem por suas
bochechas.
— Atira na cabeça, faz ela calar a boca...
Lorane afunda mais sua face no meu pescoço,
roçando o rosto na minha pele, e sinto suas unhas
esmagarem a minha cintura.
— Faça ela calar a boca, Jon. — Sua mão se ergue
sobre meu braço, segurando o revólver e apontando
diretamente para a cabeça de Linda. — Faça ela ficar longe
de você. Meu amor, você não é como eles, não é como
ninguém, sempre será sozinho, Jon, minha doce aberração.
Levo os olhos para o espelho que aparece na parede e
tem uma luz sobre ele, que ilumina meu reflexo, e me vejo
ali. Mas não sou o eu de agora. A face de Lorane está
amparada em meu ombro enquanto me encara, beijando
minha orelha.
— James te odiou, te abandonou, todos te
abandonaram, ninguém te ama, é uma aberração. Ela vai te
abandonar também, atire nela... — Meus olhos se abaixam,
encarando Linda, e a vejo chorar, com seu corpo nu e
amarrado. O sangue em volta dela cobre suas pernas.
— ATIRA NELAAAAA!
Meu dedo aperta o gatilho quando movo meu braço
rapidamente para o reflexo no espelho, e sinto o tiro me
acertar diretamente no peito.
Abro os olhos enquanto sinto meu corpo pesado, com
minha mente bagunçada, tendo meu peito subindo e
descendo ligeiro, como se pudesse sentir o tiro em meu
peito, com o grito da cadela da Lorane ainda em minha
mente. Pisco, confuso, com meus olhos se concentrando no
teto do meu quarto.
— É a segunda vez que preciso sair de Milão e vir para
Vancouver por conta de uma ligação de Ryan, na qual você
está envolvido em alguma encrenca, jovem Roy. — Meu
rosto gira na mesma hora que a voz do senhor Woden entra
em meus ouvidos. — Bem-vindo de volta.
O encaro sentado em minha cadeira, com suas pernas
cruzadas, me observando. Olho em volta, estreitando minha
sobrancelha e constatando que estou dentro do meu quarto,
enquanto meu cérebro tenta retornar à ativa. Estou
desorientado, com um gosto amargo na boca, assim como
meu corpo está pesado, e não lembro de como parei em
minha cama.
— Eu apaguei! — Ranjo meus dentes e sento na
cama, sentindo a porra da dor em minha cabeça.
— Por três dias — ele responde calmo, soltando um
suspiro. — Penso que isso seja o resultado de nove
miliamperes de corrente elétrica percorrendo seu corpo, o
que realmente é surpreendente, pois precisaram de três
disparos para lhe derrubar. O dia que testei uma arma de
choque, com um único tiro fiz um segurança chorar, caindo
no chão segundos antes de desmaiar. Já você, com dois tiros
ainda estava de pé...
— Do lugar de onde vim, tratamento de choque era
meu exercício matinal, senhor Woden. — Minha mão se
ergue e esfrego minha nuca, rangendo meus dentes e me
recordando de Ryan apontando a arma de choque para meu
pescoço, antes de tudo ficar escuro. — Linda! — esbravejo,
com meu rosto se erguendo e encarando a mesa na mesma
hora. Levanto ao me lembrar que ela estava aqui dentro
comigo.
Não chego a dar um passo antes de ouvir uma
corrente se arrastar, o que me faz olhar para meu pé
esquerdo, vendo-o preso em uma corrente.
— Mandou me acorrentarem? — Meus dedos se
esmagam ao fitá-lo.
— Oh, não... — O senhor Woden ri, apontando para
minha porta. — Isso, na verdade, foi Killer. Ele achou melhor
fazer isso, para garantir que não fosse atrás dele no
segundo que recobrasse sua memória. A propósito, se não
recobrou toda a memória, saiba que foi ele quem lhe deu os
dois primeiros disparos!
— Filho da puta! — rujo com raiva, sabendo que vou
socar aquele merda no segundo que tirar essas correntes.
— Se acalme, jovem Roy. — O senhor Woden se
arruma na cadeira, descruzando suas pernas. — Vamos
aproveitar esse momento e ter uma conversinha só nós
dois.
Ele aponta para a cama, tendo o semblante taciturno
ao me encarar. Olho a mesa, me lembrando de Linda
sentada, do som dos seus gemidos, do seu perfume
entrando em minhas narinas.
— Não quero conversar. — Olho para ele. — Onde está
a Linda?
— Linda está bem, está com a doutora Elsa no pronto-
socorro. Digamos que nem tão cedo, Elsa vai tirar os olhos
dela novamente. Agora, se sente, rapaz.
Inalo com força, soltando o ar por meu nariz em
seguida e me sentando na porra da cama a contragosto.
— Pensei que tinha lhe dado uma ordem, Jon. — Ele
fisga o canto esquerdo da boca.
— Eu a protegi, fiz muito mais do que a porra da
médica, que a deixou sair à noite — rujo, o encarando.
— Digamos que foi uma pequena falha de segurança.
— O senhor Woden me dá um sorriso.
— Não há falhas na segurança de Babilônia — o
rebato, sabendo disso. Desde o segundo que resgatei Linda,
a trazendo para cá, ela foi mantida dentro da ala do pronto-
socorro. Elsa tinha a esvaziado inteira apenas para Linda,
porque não queria que ninguém soubesse dela. Seu
primeiro passeio foi com Nanete, e se ela saiu, foi porque a
deixaram sair. — A testaram como a porra de um rato de
laboratório, para ver como ela reagiria, e a colocaram em
perigo. Se Artur não tivesse a encontrado e trazido para
mim, a essa hora eu não estaria amarrado na merda da
cama, e sim esquartejando o corpo de Hank.
A face do senhor Woden fica séria ao me fitar, com ele
movendo sua cabeça para os lados e suspirando,
esfregando suas têmporas.
— Artur repassou o incidente para Ryan, e Hank ficará
um bom tempo sem se sentar ou falar novamente, até
relembrar das regras de Babilônia — responde firme. —
Quanto à sua acusação, não a testamos como um rato de
laboratório, e sim como uma pessoa. Eu dei a ordem para
soltá-la, precisava saber como ela reagiria, como ela ficaria
sem estar em vigilância. E como calculei, ela fez
exatamente o que pensei, veio atrás do seu mestre.
Ele solta os botões do seu paletó enquanto o ar sai de
forma pesada por seu nariz, girando seu pescoço para a
esquerda.
— Sabe, garoto, eu estou em um dilema, Jon, com a
senhorita Violet. — Ele retorna seu rosto, me observando. —
O mandei ficar longe dela, porque isso não será bom para
ela. A situação está um pouco mais complexa do que
pensávamos, e não sei como pode acabar. Sou um
diplomata e preciso pensar em saídas alternativas.
— Que tipo de saídas alternativas está falando? —
pergunto sério, o olhando sem entender.
O senhor Woden puxa uma maleta, a qual apenas
agora noto, que está perto da perna da cadeira, e a leva
para a mesa enquanto a abre.
— Há uma pessoa de confiança que Helena buscou
para olhar a senhorita Violet, uma especialista em
transtornos dissociativos de identidade, o qual
suspeitávamos que era o caso da jovem, e que foi
confirmado.
— Uma psiquiatra... — rosno, compreendendo
exatamente o que o senhor Woden está dizendo. —
Trouxeram a porra de um psiquiatra para sentenciar a
Linda...
— Ela tem TDI, Jon. Linda é apenas uma criação da
mente da senhorita Violet, para a proteger do inferno que
viveu...
— Eu sei o que Linda é, caralho! — Minha cabeça se
abaixa e meus olhos se fecham.
Conheci todo o tipo de louco que se pode imaginar.
Preso em um hospício, ouvia os médicos conversando,
assim como lia bastante para passar o tempo. Sei que Linda
tinha sido uma forma do cérebro de Violet protegê-la dos
traumas e horror que ela deve ter passado nesses malditos
três anos.
— Há tratamentos com psicoterapia e medicamentos,
o qual a especialista sugeriu, em outro lugar, que seja mais
adequado à senhorita Violet, do que Babilônia. — Meus
olhos se abrem e minha face se ergue, o encarando. — Um
que pode ajudar a mente da senhorita Violet.
— Vão matar a Linda... — murmuro, sentindo como se
um demônio dentro de mim gritasse, ao passo que
compreendo o que vai acontecer a ela quando começarem o
tratamento.
CAPÍTULO 11

ÚNICA
JON ROY

— É isso, não é?! Vão matar a Linda...


Olho-o, vendo a verdade em seu olhar no segundo
que compreendo onde quer chegar.
— A porra da médica quer matar a única pessoa que
ficou ao lado de Violet, a protegendo, e depois o quê?! —
Rio com ódio. — O quê, senhor Woden? Vão dopá-la, para
ela conseguir se manter viva? Porque só assim para ela
sobreviver sem as malditas lembranças de todo o inferno
que passou, já que não terá mais Linda para a proteger...
Puxo meu pé, fazendo a merda da corrente estalar
quando meu corpo se tenciona, com a imagem de Linda
surgindo em minha mente. Vão matá-la no segundo que
começarem a fazer o tratamento. Matarão Linda, deixando
Violet vegetando para sempre, porque ela não vai conseguir
voltar a viver com tanta porra dentro da cabeça dela.
— Linda não é uma merda que se joga fora, ela existe,
ela pensa, ela sobreviveu para manter Violet viva, ela é tão
real quanto eu. E no segundo que a tirar daqui, vão matar
ela. — Fito-o com raiva, com a confusão e a ira me pegando,
além da vontade de quebrar o pescoço dessa psiquiatra, por
sequer pensar em fazer isso com elas. — Posso ser apenas
um filho da puta psicopata de merda, mas eu entendo de
loucura melhor do que ninguém, e assim que deixar essa
vagabunda colocar as mãos em Linda, ela vai matar as
duas, e não salvar Violet, mas sim matá-la junto com Linda.
E Violet vai morrer porque uma precisa da outra. E, acredite,
não vou permitir que as machuquem. Então, se tem a porra
de uma arma, senhor Woden — minha mão se ergue e a
aponto para minha testa —, a mire agora na minha cabeça
e atire, porque no segundo que eu sair desse quarto, não
vou atrás de Killer, e sim dessa médica vadia!
Vejo a expressão dele serena, enquanto me olha e
cruzas as pernas mais uma vez, balançando seu pé devagar.
— Essa é a saída alternativa que eu estava
procurando, jovem Jon. — Pisco, confuso, sem o entender,
vendo o sorriso em seus lábios se abrir. — Como lhe disse,
eu precisava saber o que ela faria, por isso ordenei Elsa a
deixá-la sozinha, com a porta do quarto aberta. Mas, agora,
o que preciso saber é o que você fará, jovem Jon. Será um
filho da puta psicopata ou um mestre?
Retraio o corpo, desviando meu rosto para a porta e a
encarando.
— Linda não precisa de um mestre, e muito menos
que eu seja o dela. — Inalo fundo, fechando meus olhos. —
Ela é esperta, está aprendendo sobre sua liberdade...
— Linda não está aprendendo sobre liberdade, Jon. Ela
aprende sobre esse novo mundo que ela está agora, mas
não sobre liberdade. Ela sempre irá precisar de um dono, de
um mestre que a proteja, e se ela não tiver um para a
proteger, não posso a deixar em Babilônia...
— Servas sem coleiras ficam em Babilônia — o rebato
rápido. — Linda pode aprender a ser como elas, a ficar
aqui...
Estaria segura e eu poderia a olhar, manter meus
olhos sobre ela, cuidando dela de longe. Eu não sou a porra
de um mestre, não sou o que Linda precisa, não quando a
única coisa que tem dentro de mim é o vazio.
— Servas sem coleiras que escolheram ficar, que
vieram aqui porque foram do seu desejo, e que não foram
fragmentadas pelo inferno que viveram. Como você, sei
exatamente a importância de Linda para a senhorita Violet.
Linda é o que as mantêm vivas, é a parte dela que lutou
para a proteger e sobreviver. — Ele inclina o rosto para o
lado. — O que preciso saber é se o mestre a quem ela se
vinculou, ao lhe dar um nome, vai lutar e proteger as duas...
Puxo o ar e esmago meus dentes, com minha face
caída encarando minhas mãos, tendo o sonho que foi tão
real surgindo em minha mente de novo. Ainda posso sentir
as mãos de Lorane em meu corpo, com sua face se
esfregando em meu pescoço, com o corpo de Linda
encolhido na poça de sangue.
— Fui diagnosticado aos treze anos com psicopatia
social, rotulado como um ser humano perigoso, que nunca
poderia viver em sociedade. Machuco qualquer pessoa sem
me importar, sem remorso e muito menos empatia pela dor
que causo a qualquer um, senhor Woden. Sei o que sou,
assim como o senhor também sabe, tanto que foi por isso
que foi atrás de mim. Não sou um mestre. — Levanto a face,
o encarando. — Sou uma aberração, um assassino. Quer
saber se mato por ela? Sim. Eu mato qualquer filho da puta
por Linda, mas é tudo que posso oferecer a ela, assim como
foi tudo que tinha a oferecer à Babilônia.
O senhor Woden fisga o canto da boca e balança sua
cabeça em positivo, se levantando. Gira a maleta sobre a
mesa, a deixando de frente para mim. Seus olhos ficam
presos aos meus enquanto fecha os botões do paletó do seu
terno.
— Tenho alguns outros assuntos para resolver. Deveria
dar uma olhada no que tem aí. — Ele move a cabeça para a
pasta. — Amanhã cedo retornarei, para finalizarmos essa
conversa, e se mesmo assim sua resposta for a mesma, a
respeitarei, jovem Jon. Mas garanto que a decisão que eu
vou tomar para o bem dela, você também irá respeitar.
Ele estufa seu peito e dá um sorriso frio, antes de
erguer seu olhar e fitar em volta do meu quarto. Na
sequência, vira, me dando as costas e indo para a porta, a
abrindo.
— Killer, venha soltar o Jon. — Fico sério ao escutar a
voz do senhor Woden, encarando a maleta sobre a mesa.
Levanto-me e estico meu braço para ela, a puxando e
retirando o envelope de lá, antes de a jogar sobre a cama.
Abro o envelope, que tem uma pasta dentro, e a abro e
folheio, lendo a análise de Linda, que foi assinada pela
doutora Helena, umas das nobres de Babilônia. O laudo
médico diz que houve remoção dos ovários de Linda, o que
a impossibilita de um dia poder ter filhos.
— Mataram... Mataram nosso bebê, mataram tudo
dentro de nós...
Lembro dos seus olhos violetas brilhando com
lágrimas, com ela tão pequena e frágil em meus braços,
enquanto chorava e balbuciava, se debatendo entre seus
gritos de dor. Solto a folha sobre a cama e meus olhos ficam
presos na fotografia grampeada em um papel, que é antiga
e tem Linda sentada ao lado de outra jovem, a qual
reconheço na mesma hora. É a irmã dela, a Shend. Linda
está pequena, não deve ter nem dez anos, e estão dentro
de uma sala.
Ergo a foto e vejo uma letra corrida com o carimbo da
polícia de Sacramento. Em vermelho, há pequenos dados no
documento sobre elas. São filhas de Sara Sing, que era
depressiva, alcoólatra e usuária de drogas, e o pai era tão
viciado quanto a mãe. Leio os pequenos laudos de maus-
tratos, as ligações de vizinhos para a polícia de cada bairro
em que moravam, o que mostra que se mudavam
constantemente. Estreito meus olhos e foco em um deles, o
qual está destacado com um canetão verde neon:

“Entrada na emergência às dezoito horas e quarenta e cinco


minutos. Protocolo 455. Crianças de dez e oito anos,
apresentando violação corporal e vaginal na mais velha. A
criança de oito anos tem presença de sangue vivo
misturado às fezes, indicando sangramento na parte inferior
e superior do sistema gastrointestinal, consequência de
grande lesão e fissura anal. Além de dores fortes e
hematomas espalhados pelo corpo, junto a uma anemia
agressiva. A progenitora alega que não existiu nenhum tipo
de violação e retirou todas as acusações do seu
companheiro, mas laudos e exames médicos comprovam a
violência sofrida pelas duas crianças.”

— Violet... — murmuro, lendo e relendo aquilo, sem


dar continuidade ao texto, sentindo como se tivesse levado
um soco a cada palavra, a cada letra que li.
Morte brutal em Sacramento, boneca assassina.
O recorte de jornal, colocado abaixo dos laudos
médicos, chama a minha atenção. Vejo a fotografia de um
trailer velho no pátio de um desmanche, com as duas
meninas sentadas, uma perto da outra, em uma
ambulância. Leio o recorte, vendo as informações dos
corpos encontrados dentro do trailer, mortos há mais de
uma semana, junto com as duas meninas presas lá dentro.
Um carteiro chamou a polícia devido ao cheiro podre dos
cadáveres que se espalhou por conta do estado de
decomposição.
Shend e Violet foram encontradas, e Shend estava
acorrentada perto da cama do casal, que tiveram suas
gargantas cortadas por uma faca enferrujada. As duas
estavam com os corpos fracos e desnutridos. Shend mal
conseguia falar, tendo a clavícula quebrada, e Violet estava
coberta de sangue dos seus pais, encolhida no outro canto.

“Criança traumatizada alega que sua boneca matou seu pai


e sua mãe para proteger sua irmã. Polícia encontrou
vestígios de drogas na casa, o que os leva a crer que foi um
acerto de contas, por conta de dívidas com traficantes.”

A frase no recorte acima da pequena fotografia, ao


final da folha, me faz encarar a boneca de pano velha e suja
de sangue, caída em cima da cama, com a arma do crime
perto dela. Estreito meu olhar para seu vestido laranja e
seus sapatinhos vermelhos. Ergo a folha, buscando por mais
informações, mas a de baixo é apenas um laudo médico
recente.

Paciente: Violet Sing


Diagnóstico: Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI)

Avaliação do alter ego “Linda”


O alter ego denominado Linda demonstra compreensão do que é o TDI e
exibe uma forte proteção quando se refere à Violet. Sua relação com Violet pode
ser descrita como fraternal. Quando questionada há quanto tempo ela tem esse
entendimento de ser uma personalidade criada pelo cérebro de Violet, Linda
relatou que isso ocorre há muito tempo, embora não tenha entrado em detalhes
específicos. Ela é extremamente curiosa e atenta, demonstrando rápido
desenvolvimento em sua compreensão das coisas ao seu redor. Notavelmente,
sua fonologia parece indicar um estado de aprendizagem mais lento do que seu
raciocínio, sugerindo que ela não conversava tanto quanto agora.
Conclusão:
Com base nas informações disponíveis que coletei em minhas conversas
com o alter ego e em um desenho que pedi a ela para fazer, de como se via, há
grandes chances de que a paciente já esteja sofrendo com o transtorno
dissociativo de identidade desde a infância. Recomendo uma internação
imediata em uma clínica adequada, onde ela possa receber tratamento
especializado e ter seu caso estudado com maior atenção.
Puxo a folha atrás do laudo, que está presa por um
clipe, e meus olhos ficam fixos no desenho da pequena
criança com tranças violetas em seus cabelos. Ela está em
um gramado verde e sorri, tendo o nome da Violet em cima
do topo da cabeça. Em seus braços há uma boneca, que
está perto do peito, com cabelos longos de tiras lilases, o
vestido laranja e o sapatinho vermelho.
— Como pode ver, não sou o tipo de pessoa que
trabalha em um lugar desse... — A estranha garota ri,
nervosa, apontando seu dedo para o uniforme. — Eu roubei
o uniforme da mulher da limpeza para poder entrar... Não
trabalho no hospício, apesar de que acho que deveria estar
aqui. E minha irmã também pensa assim, o que concordo,
porque, às vezes, também duvido da minha capacidade
mental.
Solto rápido os papéis em cima da cama, os mexendo
e buscando pelo recorte de jornal ao ser tomado pela
lembrança dela falando apressada comigo dentro daquela
cela. Assim que encontro, deixo um ao lado do outro, vendo
o desenho da boneca no braço de Violet e a fotografia da
boneca suja de sangue, percebendo a mesma cor das
roupas do desenho no vestido dela.
— Olha, não quis te ofender te chamando de louco...
— Sua voz sai apressada e ri nervosa. — Acho que, no
fundo, todos têm um pouco de loucura. Eu, por exemplo, já
tive uma amiga imaginária, e passei a infância inteira
conversando com ela. A chamava de Suse Caladona, e ela
amava desenhos.
— Linda não era uma amiga imaginária... — murmuro,
com tudo se encaixando em minha mente, enquanto solto o
recorte de jornal e meus olhos ficam fixos no desenho. —
Linda é a boneca...
Minha mente explode e tudo fica nítido. As
informações que o senhor Woden me disse naquela sala, a
forma dela falar, a sua inocência ao olhar tudo, como se
visse pela primeira vez, o jeito como parecia encantada com
a árvore e colou seu rosto no tronco, sua voz gritando no
quarto para pararem de machucar Violet, o corpo daquelas
mulheres no necrotério, sem dentes e sem as cordas
vocais...
Os filhos da puta não fizeram o mesmo com ela
porque Violet já era uma boneca. Ela tinha sua boneca, que
a protegeu, assim como a protegeu na infância. Não foi uma
dívida de tráfico que fez seus pais morrerem, foi Linda.
Linda já existia muito antes, como Suse, e voltou para
proteger Violet, a fazendo sobreviver nesses três malditos
anos, sendo realmente uma boneca humana.
Abaixo a face, olhando todas as folhas em cima da
minha cama, e é como se um tiro acertasse em cheio meu
cérebro. As letras atrás da folha do desenho me chamam a
atenção quando a viro rápido, e as leio atentamente.

Woden, essa é a primeira vez que vejo um caso de um alter ego


consciente do seu estado, sendo ele não uma personalidade humana. Linda é
realmente um caso único, o qual precisa ser estudado. Se me permitir, quero a
levar para Nova York, onde eu mesma cuidarei dela.
Ass: Doutora Brenda Kolfe

— Filha da puta! — Ranjo meus dentes, desejando


matar essa mulher maldita por sequer pensar em se
apossar de Linda, como se ela fosse um rato de laboratório
para ser estudado.
— Olha, apenas para saber, eu só recebi ordens. Elsa
estava no corredor quando a garota gritou... Até entender o
que estava acontecendo aqui dentro, eu já tinha te abatido.
— Meu rosto gira na mesma hora para Killer, e o vejo
entrando no meu quarto, jogando a chave no ar e a
deixando cair na palma da sua mão. — Sem ressentimentos,
certo...
Meu punho o acerta no meio da cara tão rápido
quanto minha outra mão agarra a chave, o tombando feito
um saco de merda, deixando-o desacordado.
— Sem ressentimento! — rosno, me agachando e
abrindo o cadeado que prende a corrente em minha perna.
Ando a passos firmes para a porta, pegando apenas
minha jaqueta antes de fechá-la atrás de mim. Minha mente
está um turbilhão, tendo apenas Linda me consumindo
depois de tudo que descobri. Sinto raiva por essa médica
achar que pode a usar como cobaia de teste.
Linda é real, tão real quanto Violet, e não deixarei a
machucarem. Sei muito bem o que aconteceria com ela em
um hospício, e nem fodendo que deixarei isso acontecer.
Linda é a minha torre, e destruo qualquer maldito peão que
tentar a roubar de mim. Paro diante da porta, que fica a
alguns metros da minha, e minha perna estoura nela. Assim
que é aberta, tenho os olhos de Quebra Osso presos em
mim, com ele segurando um pacote de batatinhas.
— Preciso de um favor. — O encaro sério, sendo
direto.
— Se está aqui porque o matou, apenas o esquarteje
dentro da banheira e jogue soda. — Ele estica o pescoço
para fora, antes de abaixar a cabeça e abrir o pacote de
batatinhas, dando de ombros. — A soda vai consumir o
corpo de Killer rapidamente. É mais fácil do que cavar um
buraco para o enterrar.
— Quero entrar e sair sem ser visto — falo rápido para
ele, o vendo erguer a cabeça, parando na mesma hora de
abrir o pacote de batatinhas.
— Me diz que não é da porcaria do prédio do pronto-
socorro, porque não estou a fim de irritar o Comandante. —
Ele franze seu cenho. — É, pela sua cara, com certeza, é da
porcaria do prédio do pronto-socorro! Não pode, pelo
menos, esperar acabar minha série?
— Não. — Pisco para ele, puxando seu saco de
batatinhas. — Pegue seus equipamentos!
Viro-me, sem esperar para ouvir sua reclamação,
atravessando o corredor. Sinto tanta coisa me tomando, me
consumindo... É como se tudo tivesse me levado para ela:
cada maldito passo que trilhei na minha vida, cada porra
que passei naquele hospício. Tudo me levou para os grandes
olhos ametistas de Linda.
CAPÍTULO 12

CORTINAS AO VENTO
LINDA

— Linda, abra essa porta! — A voz de Elsa é alta, com


ela batendo na porta do quarto enquanto bufa.
— Linda, abre a porta, por favor, não pode ficar
trancada aí, querida! — Pisco rapidinho, tendo meu corpo
parado diante da porta, a encarando e ouvindo Nanete.
— Não! Linda não abre a porta... — digo rápido,
abaixando meu rosto e batendo meus pés no chão.
— Me deixa entrar, ande, quero conversar com você.
— Meu rosto se levanta ao ouvir a voz triste de Elsa.
— Não! — falo mais alto, assim como Elsa falou
comigo, quando não me deixou ficar com meu mestre. —
Linda brava...
— Mocinha, você vai abrir essa porta! — Elsa bate
novamente, me fazendo olhar para a porta. — Abra e vamos
conversar...
— Linda não quer conversar com Elsa. — Nego com a
cabeça. — Não, Linda não quer conversar. Elsa mandar
mestre de Elsa machucar mestre de Linda...
— Oh, meu Deus, Linda, de onde tirou isso?! — a
doutora fala apressada, e o riso de Nanete fica alto do lado
de fora. — Você disse isso a ela, não foi...
— O quê? Não, claro que não... — Nanete pigarreia,
parando de rir.
— Linda, Ryan não é meu mestre, ele apenas estava
te protegendo, assim como eu e Nanete ficamos
preocupadas... — Elsa inala fundo.
— Mestre protege Linda, e machucaram mestre... —
Fecho meus olhos e encosto meu rosto na porta, enquanto
meus dedos se esticam e a espalmo.
Sinto meu coração doente, como se estivesse
machucado, e não consigo o fazer parar de doer. O líquido
quente escorrendo por meu rosto ao fungar me lembra do
mestre no chão. Linda gritou, chorou de dor, como se
estivessem machucando-a. Violet gritou, e memórias me
pegaram, com ela enchendo nossa mente de imagens dele,
de sangue, do homem mau o machucando. O que nos fez
gritar mais e chorar.
Elsa tirou Linda, junto com Nanete, de lá, a trazendo
para o quarto, não a deixando ficar com o mestre. A dor me
consumiu, assim como as lágrimas, que vieram mais fortes,
tendo Violet machucando nossa mente com as lembranças
do nosso corpo no chão, preso por homens, que agarravam
seus braços e pernas e golpeavam sua face.
Violet se escondeu, fugindo da dor, e Linda ficou,
chorou, mas ficou para a proteger, sentindo dor por ela.
Machucaram Linda, mas Linda não gritou, não gritou como
as outras lá dentro gritavam. Eu as via sendo feridas, caídas
no chão como eu, sendo seguradas, tendo homens as
tocando. Ao mesmo tempo sentia os homens entre minhas
pernas, empurrando seus dedos na minha bunda e me
machucando.
Em uma das vezes, meus olhos marejados ficaram
presos em uma jovem caída perto de Linda, que gritava,
gritava alto para o homem de pé ao lado dela, que pisava
em sua face e a silenciou quando esmagou sua boca com a
bota dele. A dor me condenava ao ver todo mal causado, e
sentia todo horror que eles me faziam, que faziam a elas.
Mordi a boca, até sangue escorrer dos lábios, enquanto o
homem mau, de olhos negros tão sombrios, empurrava sua
mão dentro de mim, segurando meu queixo e me fazendo o
encarar, ferindo Linda ao forçar ainda mais sua mão dentro
da minha bunda. Sentia tanta dor, como se estivesse sendo
rasgada por dentro, ao passo que ele me observava imóvel.
Apenas as lágrimas rolavam por meu rosto, comigo em
silêncio.
— Vou ficar com essa. — Ele sorri, puxando seu braço
e olhando para mim, retirando a luva negra que cobria sua
mão até o cotovelo.
— Não sei se quero me desfazer dela... — A voz do
homem corpulento sai baixa, e, mesmo assim, o homem
alto, de olhos negros, não desvia sua face da minha. —
Ainda nem tiramos as cordas vocais...
— Não precisa. — Ele estica sua mão, segurando meu
rosto e sorrindo. — Dê o preço, pagarei o que pedir por ela.
— Realmente vai ficar com ela?
— Sim. — Ele escorrega sua mão por minha boca, a
abrindo, tendo os dedos frios se empurrando para dentro
enquanto olha meus dentes. — Qual o nome dela?
— Ainda não a batizei — o corpulento murmura. —
Imaginei que ela chamaria atenção rapidamente, e quero
prepará-la... Quem sabe, um leilão seria mais justo por uma
preciosa belezura dessa...
— Não, ela é minha!
Ao voltar para meu quarto, chorei até o sono vir,
tendo as lembranças machucando Linda tanto quanto o
antigo mestre machucou. Eu sofria porque Violet chorava
ainda mais, gritando dentro de nós.
— Linda, abre a porta, querida — Nanete fala
baixinho.
— Não! — Fungo, afastando o rosto da porta e
negando com a cabeça. — Linda não abre a porta.
— Eu trouxe bolinhos recheados com queijo. — Elsa ri,
enquanto eu olho para a porta. — Pedi para o chef da
cozinha fazer uma bacia apenas para você. Vai me dizer que
não está com fome? Ande, abra a porta...
— Não! — a respondo, me mantendo parada perto da
porta, a olhando. — Linda brava. Não quero bolinho de Elsa.
Mestre que dá bolinho recheado com queijo pra Linda.
— Cristo! — Escuto o som do salto de Elsa, que bate
no chão. — É como ter uma adolescente birrenta.
— Não, Linda não quer adolescente, Linda quer
mestre... — digo, confusa, arqueando a sobrancelha. — O
que é adolescente, Nanete? — pergunto, perdida, me
aproximando da porta e colando meu ouvido nela,
escutando o riso de Nanete.
— É o que você está parecendo agora, querida — ela
responde, rindo. — Agora sei o que minha mãe passou
comigo, e ela tinha razão. Quanto mais proíbe, mais forte o
desejo fica. Não acha que deveria pedir para Ryan o trazer
aqui...
— Você não está ajudando, Nanete. — A voz de Elsa
se faz firme, com ela respirando fundo. — Linda, abra essa
porta agora, mocinha, ou vou mandar um segurança vir e
abri-la, e vamos conversar...
— Tem certeza de que não quer chamar Ryan? Sei que
o rei deu uma ordem, mas, Elsa, ela quer ir até ele...
Minha mão se move rápida e abro a porta, vendo as
duas, uma de frente para a outra.
— Linda não quer conversar com mestre de Elsa.
Linda brava! — Encaro as duas, que giram rapidamente
para mim. As bochechas da doutora Elsa estão vermelhas.
— Linda, não pode falar isso. Ryan não é meu
mestre... — Ela vira o rosto, brava, para Nanete. — Está
colocando essas coisas na cabeça dela, não é?!
— O quê? — Nanete nega rápido com a cabeça. — É
claro que não.
— Linda viu mestre de Elsa enfiando a língua na boca
de Elsa. — A olho, falando ligeiro, me lembrando dela com o
grande homem dentro da sala, quando Linda saiu do quarto.
— Elsa beijou o mestre dela, mas mandou ele machucar o
mestre de Linda, quando ele beijou Linda. Brava, Linda
brava, não quer conversar.
Elsa fica com os olhos arregalados, tendo a face ainda
mais vermelha, assim como o vestido de Linda, e Nanete ri,
tapando sua boca.
— Aquilo não é a mesma coisa...
— Por quê? — questiono, confusa, não entendendo
por que ela pode beijar o mestre dela e Linda não.
— É, Elsa, por quê? — Nanete cruza os braços, a
olhando e batendo seus pés no chão. — Estava de beijos
com Ryan em sua sala?
Olho meus braços, os cruzando, fazendo o mesmo que
Nanete, enquanto minha sapatilha bate no piso como ela
faz. Ergo o rosto para a doutora, que fica ainda mais
vermelha, como se a face dela fosse pegar fogo.
— Não está ajudando. — Elsa aponta o dedo pra
Nanete, cerrando sua boca, antes de retornar seus olhos
para mim. — E quanto ao que viu, foi apenas... Bom,
apenas... Olha, a adulta aqui sou eu, mocinha, e o caso é
que você não pode ficar de beijos...
— Brava! Linda brava, não conversar com Elsa! —
Descruzo os braços, fazendo um som alto, como o mestre
fez, que parece um rosnado. Estico meu braço e pego a
bacia de bolinhos da mão de Elsa, sorrindo quando ergo o
rosto para ela. — Obrigada, Elsa.
Dou um passinho rapidinho para trás, fechando a
porta novamente, a trancando e segurando a bacia,
enquanto sorrio ao ver os bolinhos que têm cheiro bom.
— Ela bateu a porta na minha cara. Linda, abra essa
porta agora, mocinha! — Escuto Elsa, ao passo que como
um bolinho, mas me viro, me afastando da porta. — Chama
o Ryan, chama ele aqui, Nanete...
— Você estava se beijando com ele e não me disse
nada?
Sento-me na cama, mastigando o bolinho, com
minhas pernas se balançando, apenas ouvindo as duas
conversando lá fora. Em segundos, o quarto fica escuro,
com a luz se apagando.
— Oh, merda! — Elsa exclama, brava. — Linda, abra
essa porta, não vai ficar sozinha no escuro. Me deixa entrar,
Nanete foi chamar o Ryan...
Levanto, soltando a bacia na cama, com meu rosto se
erguendo para o teto, antes de andar para perto da porta,
mas não a abro. Bato meu dedo na tomada, como Nanete
faz, mas a luz não volta.
— Escuro... — digo, arqueando minha sobrancelha,
não entendendo por que a luz não acende. — Quarto de
Linda está escuro...
— Sim, acabou a energia — Elsa fala com calma. —
Vá, abra a porta, querida, e me deixe entrar. Não quer ficar
sozinha no escuro, não é?
O cheiro diferente, o qual reconheço, entra em minhas
narinas, o que me faz virar e piscar, confusa, ao ver a janela
do quarto aberta. As cortinas se balançam, por causa do
vento batendo nelas, e a sombra alta, parada atrás das
cortinas, fica lá, imóvel, enquanto a encaro.
— Mestre... — Sorrio, falando alegre, tendo o cheiro
dele mais forte quando o vento balança ainda mais as
cortinas.
— Linda, vamos conversar sobre o mestre, mas, para
isso, precisa me deixar entrar...
Não escuto mais Elsa, não quando estou caminhando
para a janela e sorrindo, parando perto da cortina. Um braço
se ergue e a mão vem até mim. Estico o meu braço e toco
nela, tendo o tecido entre nossas mãos.
— Mestre de Linda... — murmuro entre o riso quando
sua cabeça se abaixa e ele toca sua testa na minha. O som
da sua respiração fica pesado. — Veio ver Linda. Mestre veio
ver Linda!
— Oi — sussurra com a voz rouca, enquanto sinto a
dor em meu coração cessar.
— Oi... — Esfrego minha testa na sua, entre a cortina.
Sua mão se estica e afasta a cortina, deixando sua
face ficar à vista, sobre a luz que vem lá de fora, do céu. Rio
quando ele ergue seu dedo à frente dos seus lábios e olha
para a porta atrás de mim.
— Quer passear? — o mestre sussurra, abaixando o
dedo, com sua mão segurando meu rosto.
— Elsa disse que Linda não é mais livre para passear
sozinha ou sem avisar a ela, e Linda brava... — falo para
ele.
— Então terei que sequestrar a Linda. — Ele abre um
sorriso, segurando minha mão.
— Sequestrar... — balbucio, perdida. — O que é
sequestrar?
— Vou te levar comigo, dar uma fugida. — Meus olhos
se fecham e sinto sua mão fazendo carinho em meu rosto.
— Mestre veio buscar Linda... — Sorrio, abrindo meus
olhos, gostando de como sua mão toca meu rosto.
— Sim, vim buscar você. — O ar quente que sai da
sua boca acerta meu rosto, fazendo eu me sentir aquecida.
— Linda, com quem está falando? — A voz alta de Elsa
grita do lado de fora, e rio, girando meu rosto.
— Mestre sequestrar Linda — a respondo, fazendo o
que mandou, avisando que vou sair. Volto a olhar para ele,
agarrando sua mão. — Depois Linda volta...
— O QUÊ? — O grito de Elsa faz o mestre rir, com ele
nos levando para a janela e passando por ela. — Linda...
LINDA, NÃO SAI DESSE QUARTO...
As mãos dele se prendem em minha cintura e ele me
senta na janela, passando uma perna e depois a outra para
fora. O mestre me desce, mantendo suas mãos me
segurando, e olho curiosa o telhado, enquanto estico meu
pescoço e miro abaixo. O assobio alto se faz da boca dele,
como do passarinho que ouvi cantando na árvore. Fito
curiosa Quebra Osso, que corre no gramado segurando uma
escada.
— Quebra Osso! — Sorrio para ele, acenando.
Ele fica sério, arrumando a escada no telhado e
erguendo o rosto para mim.
— Oi, garota! — responde, movendo sua cabeça para
frente. — Anda, Jon, tem dez minutos pra sair daqui antes
da energia voltar!
— Vem, Linda. — O mestre agarra minha cintura, me
puxando e me erguendo no colo. — Vou descer com você,
bebê.
— Não... não. Linda não ter bebê — digo, confusa,
negando rápido com a cabeça. — Nós não temos, e a
doutora disse que nunca vamos ter...
Vejo seus olhos ficarem presos nos meus, enquanto
inclina sua cabeça e raspa sua boca na minha, com o ar
sendo puxado fundo por seu nariz.
— Não me solta, está bem? — murmura, passando
meus braços em seu pescoço, assim como minhas pernas
se agarram à cintura dele.
Meus olhos ficam curiosos e meu rosto tomba em seu
ombro, enquanto rio e vejo o desenho de teia de aranha na
sua garganta. Há tantos desenhos no mestre, e eu gosto de
olhar para eles.
— Segura essa porra de escada direito, Artur, que vou
descer com ela.
Mestre se move, andando para perto da beirada do
telhado, e faço o que ele ordenou, o seguro bem forte. Ele
desce a escada com uma mão firme embaixo da minha
bunda. Fecho meus olhos e o perfume bom vindo do mestre
me faz sentir o coração ficar ainda mais acelerado.
— Pronto, acabou! — Ele abraça minhas costas
quando pisa no chão.
Meus olhos se abrem e sorrio para ele, antes de girar
meu pescoço e vê Quebra Osso nos encarando.
— Mestre sequestrar Quebra Osso também? —
pergunto a ele, que abaixa a cabeça, rindo, enquanto a
move em positivo para mim.
— Praticamente. — Seus olhos desviam dos meus
para o mestre. — Anda, vai, já avisei aos rapazes na
portaria que você está a caminho.
Mestre não me solta quando se vira, correndo na
direção que Quebra Osso veio, que agora está levando a
escada para o outro lado.
CAPÍTULO 13

REAL
LINDA

— Pronta? — Movo devagar minha cabeça, sentindo


os dedos do mestre, que cobrem meus olhos, se afastarem.
Pisco rapidamente e meus olhos ficam focados à
nossa frente, com meus lábios se entreabrindo em surpresa.
— Carrossel... — murmuro ao ver um grande carrossel
à minha frente. Não é pequeno e nem está preso dentro de
uma bola de vidro, como o que tinha visto uma vez na casa
do antigo mestre.
Lembro de olhar aquilo curiosa, e ele reparou o que eu
olhava, me explicando na sequência o que era: um globo de
neve com um carrossel. Depois, perguntou se eu queria o
pegar. Ele nunca perguntava nada para mim, muito menos
me deixava olhar as coisas, mas, naquele dia, ele deixou, e
quando peguei o que ele chamou de globo de neve, sorri,
por ver as chuvas de pontinhas brancas sobrevoando o
carrossel. Eu achei lindo e meu sorriso se alargou, estava
encantada. Mestre bateu na minha cabeça, porque não
tinha permissão de sorrir sem ele dizer que eu podia sorrir,
e meu corpo foi ao chão, com o globo rolando das minhas
mãos. Logo depois, ele ordenou ao segurança para me levar
para o porão, e nunca mais vi aquela delicada bola, porém
nunca a esqueci.
— Carrossel grande... — Rio, abrindo meus braços e o
observando. — GRANDE...
Nunca imaginei que algo tão pequeno, que pudesse
ser preso em uma bola, poderia ficar tão grande como esse
à minha frente. E parece magia, como a abóbora da
Cinderela, quando a Fada Madrinha a fez virar uma
carruagem. Vi isso em um filme com Nanete, um dia desses
no quarto, quando ela passou a noite comigo. Mas esse não
tem luz e brilho como no desenho, e nem como o pequenino
carrossel preso no globo. O vejo com as cores das montarias
já desbotadas, brilhando fracamente sob a luz do luar.
— Às vezes, venho aqui quando quero ficar sozinho —
mestre fala, parando ao meu lado. — É um parque
abandonado, que foi fechado três anos atrás. A propriedade
pertence à Babilônia. O dono do parque andava acariciando
algumas meninas, e isso chegou aos ouvidos do senhor
Woden. Esse foi o primeiro trabalho que fiz para ele. Matei o
velho dentro da casa de máquinas da roda-gigante, quando
enfiei a cabeça dele nas engrenagens.
Giro meu rosto para ele, que se mantém sério,
encarando o carrossel, soltando o ar pela boca e levando
suas mãos aos bolsos da calça. Vira o pescoço para mim,
fisgando o canto dos lábios.
— Matei... — Sorrio, murmurando para ele, o vendo
mover a cabeça em positivo e abrir um sorriso lento.
— É, eu matei. — Ele encolhe os ombros, abaixando a
cabeça e encarando o chão. — Não tinha um plano muito
completo além de ir te buscar, e acabou que esse foi o
único lugar que veio em minha mente, o qual imaginei que
pudesse gostar e que ficaríamos sozinhos.
— Linda gosta de carrossel gigante. — Sorrio,
movendo meu rosto e olhando os cavalinhos desbotados. —
Como a abóbora da Cinderela pequena, mas agora grande...
Volto meus olhos para ele e encontro seus olhos azuis
presos em mim. Sua mão se estica e alisa meu rosto, com
ele dando um passo à frente.
— Quer ver uma coisa? — Minha cabeça balança
rápido, o respondendo com um gesto em positivo. — Fique
aqui, não se mexa.
Ele abaixa sua mão e se afasta, indo para o carrossel
e subindo nele, ao passo que me mantenho paradinha, o
obedecendo. Tombo o rosto para o lado, sentindo o vento
passar por ele, o que me faz fechar meus olhos e sentir a
brisa tão fresca. Tudo é tão silencioso, que deixa o coração
de Linda quietinho, assim como o de Violet, que não chora e
nem grita em nossa mente.
Um som alto de ronco se faz, me assustando, e abro
meus olhos na mesma hora, mas fico ainda mais petrificada
ao ver que o carrossel começou a girar lentamente, com
luzes se acendendo e o iluminando inteiro. Os cabelos
desbotados, que estavam brancos, agora estão com as
crinas coloridas, cheias de cor, com as barras presas a elas
em dourado. Um tilintar surge, começando a tocar baixinho,
vindo do carrossel, com uma voz masculina cantando:

Everyday, it's a gettin' closer


Goin' faster than a roller coaster
Love like yours will surely come my way (ahey, ahey, hey)[6]

— Música... Carrossel tem música! — Sorrio alegre,


endireitando meu pescoço, com minhas mãos se erguendo
e batendo uma à outra, vendo as luzes brilhantes, enquanto
os cavalos giram devagar no carrossel.

Everyday, it's a gettin' faster


Everyone says: Go ahead and ask her
Love like yours will surely come my way (ahey, ahey, hey)[7]

— Um dia, a gente também vai brincar em um lugar


desses, Suse. — Meus olhos observam através dela, e vejo
as crianças correndo do outro lado da rua. A melodia toca
no rádio do carro da mamãe, enquanto ficamos sentadas,
observando a criançada pela janela. — Iremos brincar
muito...
— Apenas se cagar dinheiro! — Nosso rosto vira para
frente e vejo a mamãe passar batom na boca, segurando o
espelho do carro e nos encarando. — Está falando de novo
com a porra da boneca, Vi?
— Suse pode me ouvir, mamãe. — Nossa voz é alegre
ao respondê-la.
— Deus, está ficando cada dia que passa mais
estranha!
Nossa cabeça se abaixa e sorrimos com tristeza,
passando nossos dedos no sapatinho vermelho, antes de
fecharmos nossos olhos e movermos a cabeça para o lado,
ouvindo a canção do carro.

Everyday, it's a gettin' closer


Goin' faster than a roller coaster
Love like yours will surely come my way (ahey, ahey, hey)

— Eu sei que você pode me ouvir, Suse... — Sorrio,


ouvindo sua voz falar baixinho comigo.
“Suse ouve, Violet!”
A respondo em nossa mente, enquanto rimos, tendo
nossos pés se balançando no ritmo da canção.
Meus olhos se abrem e bato meus pés no chão, com
minha cintura se balançando de um lado ao outro após
Violet mostrar a lembrança para nós. Nossos olhos estão
encantados ao mirar o grande carrossel.
— Pode brincar, se quiser. — Giro meu rosto, com Vi
dentro da minha mente retornando para a escuridão,
adormecendo, quando a voz baixa surge ao meu lado. —
Segure minha mão, vou lhe ajudar a subir.
Abaixo meu rosto para seus dedos erguidos para mim,
e os seguro, o deixando me levar. Mestre agarra minha
cintura quando para perto do carrossel e me ergue,
apontando para um dos cavalos.
— Escolha um cavalo e suba. — Ele dá um passo para
trás, e o fito antes de me virar, fazendo o que ele me
ordenou.
Escolho um branquinho com pintas douradas, e rio ao
sentir o carrossel girar aos poucos.
— Segure bem firme na barra dourada. — O olho, e
ele aponta para a barra, que seguro, com minha perna
levantando-se e passando pelo cavalo, comigo sentando
nele.
Meu rosto se move por cima do ombro e busco pelo
mestre. Percebo-o caminhar para perto de uma caixa de
metal, e me agarro à barra, rindo quando o cavalo sobe e
desce. O vento bate em meus cabelos, e a sensação alegre
me toma, enquanto tudo parece tão colorido e brilhante
quando o carrossel gira, dando uma volta. Meus olhos
piscam, comigo confusa ao não o encontrar mais onde
estava parado.
— Mestre... — sibilo, perdida, não o achando quando
giro meu rosto, enquanto o carrossel dá outra volta. —
Mestre...
O sorriso é rápido em minha boca quando meus olhos
encontram com os seus assim que viro o pescoço para o
lado e o vejo encostado em um cavalo.
— Está feliz? — ele pergunta, com seus olhos azuis
brilhando.
— Sim, Linda feliz — respondo, rindo e tombando o
rosto para o lado, ouvindo a música tocar no brinquedo. —
Nos lembramos dessa música... — murmuro, sorrindo mais e
tocando minha cabeça. — Violet em paz, não grita, está feliz
também. Mestre nos deixou felizes.
Abaixo meus dedos, lhe contando o que ele fez por
nós, que silenciou os gritos de dor dela, que machucavam
nós duas.
— Violet pode me ouvir, Linda? — ele me pergunta
baixo, se afastando do cavalo e se aproximando de mim,
esticando sua mão e tocando minha bochecha.
— Adormecida... Ela está adormecida e em paz agora
— sussurro, sem desviar meus olhos dos seus dedos que
tocam minha bochecha. — Escondida, muito escondida,
longe da luz. Não quer voltar. Não, não... ela não quer, mas
está em paz.
— Como descobriu, Linda? — Ele escorrega o dorso da
mão por minha face. — Como descobriu o que é...
— Antigo mestre. Lixo... — murmuro, com meus olhos
se fechando e lembrando do som daquela voz cruel que
sussurrava em meus ouvidos. — Lixo não existe, Lixo ser
criação da mente de Violet. E por causa de Lixo, ele ficar
com ela... Ela ser a preferida. Lixo era a preferida. Mas Lixo
não falar, não, não... Apenas ouvia, assim Violet estava
segura. Mestre antigo não gostava de ouvir vozes. Bonecas
não falam.
Abro os olhos e o vejo sério, com seus olhos presos
aos meus e sua boca esmagada.
— Se mestre quiser, Linda também não fala, posso ser
a boneca preferida do mestre Jon. — Fecho meus lábios, os
esmagando como os dele, enquanto observo sua face, que
parece engraçada, por conta das suas sobrancelhas que
ficam unidas quando ele faz um som de rosnado. — Mestre
bravo com Linda?
Arqueio a sobrancelha, com minha boca fazendo o
som que ele faz, imitando sua expressão.
— Não, não estou bravo com você, Linda. — Ele fecha
os olhos e nega com a cabeça. — É real, Linda, nunca deixe
ninguém lhe dizer o contrário disso.
— Real? — murmuro a palavra, olhando-o perdida. —
Linda é real para mestre?
— É a criatura mais real que já conheci... — Seus
olhos se abrem e ele segura meu rosto em suas mãos, se
aproximando.
— Mestre vai dar beijo em Linda agora? — Sorrio,
olhando sua boca e sentindo aquela sensação quente tomar
meu corpo, como me tomou quando mestre tocou em mim
antes de o machucarem.
— Linda quer que a beije?
— Sim, Linda gosta do beijo de mestre... — Ele ri, e
fecho meus olhos, com minha boca se inclinando para
frente, para perto da dele.
É um roçar suave quando seus lábios se encostam
nos meus, e vibro, com meu coração disparando. Seus
dedos escorregam para meus cabelos e minha mão solta a
barra, comigo se segurando nele e gemendo baixo. Gosto
tanto disso, que me sinto estranha, como se minha barriga
estivesse com frio dentro dela.
A mão em meus cabelos se solta e se abaixa para
minha cintura, com ele a agarrando forte e me tirando de
cima do cavalo. Circulo seu pescoço, assim como minhas
coxas fazem o mesmo com sua cintura. Estou tão perdida
na forma como parece ter fogo dentro de mim a cada
deslizar da sua língua me tocando, que mal percebo quando
ele sobe no cavalo junto comigo.
Rio, com minha boca se afastando da sua, nos vendo
subir e descer, ao passo que o carrossel gira e a música se
repete. Minha mão se espalma em seu peito e sinto sua pele
quente como a de Linda, com meus olhos presos nos
desenhos em sua pele. Afasto a jaqueta, a empurrando para
o lado e encontrando mais desenhos.
— Linda gosta dos desenhos de mestre... — sibilo,
sorrindo e erguendo meu rosto para ele. — Por que mestre
tem tantos desenhos?
— São tatuagens. — Ele escorrega a mão por meus
ombros, com sua cabeça se abaixando e vendo minha mão
espalmada em sua pele. — Elas me fazem saber cada passo
que dei até encontrar minha liberdade. São lembranças que
gravei em minha pele.
Afasto os dedos do seu peito, tocando a pequena
gotinha abaixo do seu olho na sequência.
— Lágrima... — murmuro, o vendo fechar os olhos ao
ter meu toque em sua pele. — Desenho de lágrima,
lembrança triste...
— Não, isso é o que sou. — Ele abre seus olhos, me
observando, com sua mão se levantando e alisando meu
pescoço. — Em alguns lugares, pessoas ruins como eu têm
essa marca para deixar os outros saberem que é um
assassino, que ficou preso por isso. Normalmente, isso serve
para colocar medo, mas descobri recentemente que existe
uma pessoa que não tem medo de mim.
— Quem? — indago, curiosa, e ele abre um sorriso,
puxando minha face para perto da dele e me dando um
beijo diferente do primeiro.
Esse me faz amolecer inteira, e minha mão se agarra
ao seu ombro, comigo sentindo como se ele sugasse todo ar
do meu peito. Seu toque é diferente do antigo mestre, assim
como dos senhores para quem ele me dava, e não faz eu
sentir tristeza e nem dor, me faz o querer me tocando ainda
mais.
Gemo com angústia, sentindo meus seios
endurecerem, ao passo que ele os esmaga contra seu peito
e meus dedos agarram a sua jaqueta, comigo desejando
sentir a pele do mestre junto com a minha. Meu corpo em
seu colo se mexe e raspo minha boceta em cima da sua
calça, arfando e tendo um tremor me pegando, me fazendo
apertar ainda mais forte minhas coxas ao redor dele.
Sua mão se abaixa e segura minha cintura, com ele a
fazendo ficar quieta quando a mexo de novo, o que causa
ainda mais angústia dentro do meu corpo, por não poder
me mover e sentir o raspar da calça entre minhas pernas.
Seus lábios soltam os meus e vão para meu pescoço, o
lambendo, e tremo, sentindo minha respiração ficar mais
forte a cada inalada que sugo.
A pele queima por onde sua boca toca, e a mordida
em minha garganta me faz gemer alto, ao passo que abro
meus olhos e cubro minha boca na mesma hora. Sua
cabeça se ergue e ele olha para mim, arqueando sua
sobrancelha.
— A feri? — Nego com a cabeça. — Por que está
cobrindo a boca, então?
— Linda querer gritar. — Olho para os lados, com
meus olhos buscando por Elsa e o mestre dela, abaixando a
mão da boca. — Não quero que machuquem o mestre de
novo, porque Linda gritou...
O mestre segura meu rosto e me faz olhá-lo, enquanto
um sorriso se forma em seus lábios. Ele me puxa para um
beijo mais forte, esmagando minha boca, e sinto seus dedos
segurarem meu vestido e o puxarem para cima, soltando
meus lábios apenas para o passar por minha cabeça.
Ele abaixa seus olhos para meus seios nus, e eles
brilham. Um som de rosnado sai mais rouco da sua boca
quando ele joga meu vestido no chão, e sua jaqueta em
segundos está indo para lá também. Meu corpo inteiro
parece queimar quando sua mão segura meu seio, e os
olhos azuis o encaram, com seu dedo escorregando pelo
bico e fazendo meu corpo arrepiar, antes de o passar por
meu ventre. Ele para seu olhar em minha barriga, e abaixo
a face, vendo-o fitar minha cicatriz. Sua boca se esmaga
antes de erguer o rosto novamente.
— Nunca mais vou permitir que machuquem vocês de
novo, bebê.
— Não, Linda já disse que não tem bebê... — Rio,
negando com a cabeça. — Não tem be... Ohhh!!!
Minha voz se entrecorta, com um gemido saindo no
segundo que sua mão se move rápido para dentro da minha
calcinha, se empurrando entre minha boceta, com a outra
parando em meu pescoço e o prendendo, puxando meu
rosto para perto do seu.
— É o meu bebê, você é o meu bebê, e não vai tapar
sua boca, muito menos silenciar sua voz para mim,
compreende, bebê? — Fecho os olhos ao escutar sua voz,
com minha boca se entreabrindo e sentindo seu dedo se
empurrar para dentro do meu corpo. — Ouviu?
— Linda é bebê do mestre... — murmuro, com meus
dedos se segurando em seu ombro e sua palma da mão
achatando-se contra minha boceta. Ele leva mais um dedo
para dentro de mim e o move devagar.
— Sim, fodidamente um bebê. — Ele raspa sua boca
na minha, comprimindo os dedos em meu pescoço. — Meu
bebê!
Eu entendo de dor, agonia e desespero, e desejava a
cada segundo que acabasse logo o que meu antigo mestre
fazia comigo, mas a forma como o mestre Jon me toca me
faz desejar que ele nunca pare. Fecho os olhos quando ele
empurra meu pescoço para trás e leva sua mão para minha
nuca, com sua boca me fazendo sentir como se estivesse
com frio na barriga quando beija a minha. Ele faz eu me
sentir quente, como se uma tocha estivesse acesa dentro
de mim ao ter sua boca beijando meu pescoço, antes dos
seus dentes mordiscarem a ponta da minha orelha.
— Ohhh... — Minha respiração acelera tanto quanto as
batidas do meu coração, e seus dedos se movem dentro de
mim em um ritmo constante, que faz eu me agarrar ainda
mais a ele.
Ele retira os dedos de dentro da minha boceta e
afasta minha boca da sua, tendo os olhos azuis tão ferozes
enquanto me encara. Seu braço se estica por sua perna, e
pisco, confusa, quando ele retorna sua mão. Vejo o brilho da
lâmina de uma faca presa em seus dedos, e o ar fica preso,
assim como meu coração para de bater por um segundo.
CAPÍTULO 14

UMA NOVA EMOÇÃO


LINDA

Minha boca se abre e minha cabeça cai para trás.


Sinto seus dedos esmagarem mais forte meu pescoço,
tendo o arrepio em minha pele me pegando quando a
lâmina fria encosta no bico do meu seio. Meu corpo está
imóvel e sinto-o percorrendo a faca devagar por minha
barriga, a descendo com lentidão, até parar na lateral da
minha cintura. Quando ele a leva para a alça da calcinha,
causa um beliscão na pele ao puxar forte a faca, e sinto a
tira caindo em minha coxa, com a outra logo em seguida
sendo cortada tão facilmente quanto a primeira.
Sua mão em meu pescoço retorna minha cabeça para
frente, me fazendo encontrar seus olhos azuis presos em
mim, e ele puxa o que sobrou da calcinha que cortou, a
esmagando em sua mão e a levantando devagar, até a ter
perto do seu rosto. Ele enterra seu nariz nela, com os olhos
bem presos aos meus. Meu coração bate tão rápido, que
mal consigo me mexer, e olho dele cheirando minha
calcinha para a lâmina em sua mão. Ele traz meu rosto para
mais perto e afasta o nariz da peça íntima.
— É a única criatura que me olha e não sente medo
de mim, Linda... — ele rosna, com a ponta da faca tocando
minha garganta quando sua mão vai para trás dos meus
cabelos e agarra minha nuca. — Ainda não entendo se o
certo seria odiá-la por isso ou puni-la, por me deixar tão
confuso.
Ele empurra forte seu quadril contra o meu, e arfo ao
sentir o pau duro dentro da sua calça, que raspa entre
minhas pernas. Ele tira a faca do meu pescoço quando
retorna a cheirar minha calcinha rasgada. Fico perdida, sem
saber o que dizer, porque não compreendo como deixo o
mestre confuso. Mas não tenho tempo para perguntar, não
quando, tão rápido, ele joga a faca ao chão e puxa a minha
cabeça para trás, capturando meu seio em seus lábios e o
sugando.
— Ohhh...
Meus dedos trêmulos se prendem em seus ombros e
estufo meu peito para frente, sentindo os músculos da
minha vagina se contraírem quando ele morde o bico do
meu seio. Ele o solta e captura o outro com a mesma fome
selvagem que sugou o primeiro.
— Mestre... — Mordo meus lábios e abafo meus
gemidos, esticando minhas costas sobre o material frio do
cavalo, com minhas coxas se apertando ao redor da cintura
dele.
Minha mente está perdida na onda de prazer e dor
para a qual ele me arrasta, e fico ainda mais quente. Nunca
senti meu corpo assim, desejando tanto ser tocado. Minha
mente está nublada, perdida com a onda de choque que
percorre meu corpo, que mal compreendo quando ele leva
suas mãos entre nós e abre sua calça. Apenas sinto a ponta
do seu pau raspar em cima da minha boceta.
— Já faz um tempo que não toco em uma mulher... —
rosna, me puxando para frente antes de me alavancar,
esmagando meu rabo em sua mão e fazendo meu peito
ficar colado ao seu. — Mas nunca quis tanto foder uma
como quero foder você...
O som rouco do seu rosnado é feroz, e vibro enquanto
ele se empurra para dentro de mim lentamente. Sinto-me
cheia a cada centímetro de espaço que seu pau vai me
invadindo. Seu outro braço se prende em meu ombro,
passando por baixo da minha axila, tendo seus olhos me
prendendo a eles.
— E, acredite, vou fodê-la muito!
Ele morde meus lábios e os beija de mansinho, no
mesmo ritmo que embala nossos quadris, me empurrando
para frente e para trás, com o cavalo se movendo em seu
sobe e desce, o que aumenta ainda mais os impactos dele
dentro de mim, me fazendo gemer em seus lábios,
sentindo-o tão fundo, como se meu corpo estivesse sendo
dividido ao meio.
Meu corpo em chamas ganha vida, se movendo por
conta própria, e mexo meu quadril, o fodendo, com meus
dedos bagunçando seus cabelos quando me seguro a ele e
esfrego meu rosto no seu. Meu mestre me beija com fúria,
sendo completamente o oposto da forma que seu pau me
toma, em um ritmo lento. Fico perdida, porque nunca foi
assim que eles me tocaram. Eles nunca me incendiaram e
nunca senti meu coração palpitar.
Ele solta meus lábios apenas para mordiscar minha
orelha, libertando minha cintura do aperto esmagador dos
seus dedos, escorregando sua mão para o meu rabo e o
massageando.
— Vou fodê-la por inteira, bebê... — Sua voz rouca
entra em minha mente de forma sexy e potente, do mesmo
jeito que ele me deixa colada a ele, beijando meus lábios
com mais densidade.
Meu corpo o toma com mais luxúria, se movendo mais
rápido para frente e para trás, se rendendo ao colapso de
prazer que ele me causa. Como um prédio em ruínas,
desmorono em seus braços. Só que meu corpo congela ao
primeiro toque curioso da ponta do seu dedo no meio do
meu traseiro.
— Mestre...
Solto seus cabelos e prendo meus dedos em seus
ombros, cravando minhas unhas em sua pele, com um
gemido de dor sendo abafado por seus beijos, com ele não
me deixando mover quando empurra seu dedo para dentro
da minha bunda e causa uma queimação, algo novo, que
nunca tinha sentido.
Quando eu era tocada ali, apenas sentia dor e medo.
Porém, com seu toque, eu sinto desejo, como se meu corpo
se despertasse ainda mais. Ele solta meus lábios e respiro
com força, encostando minha testa em seu ombro, com ele
se empurrando mais fundo dentro de mim, ao passo que
seu pau se afunda na minha vagina.
— Sua boceta está lavando a porra do meu pau, bebê,
de tão excitada que está —sussurra em meu ouvido,
percorrendo sua língua em meu ombro e colando mais forte
sua pélvis na minha, me fazendo arfar a cada toque que ele
dá em meu corpo. — Erga suas mãos para a barra, Linda, e
não as tire de lá.
Desencosto meu corpo do seu e inalo mais rápido,
levando minhas mãos para lá e erguendo meus braços, o
obedecendo. Meus olhos estão presos nos azuis mais
diabólicos e lindos que já vi. Mordo minha boca, repuxando-
a, sentindo a ardência se tornar outra coisa, me sentindo
ser invadida de uma forma tão íntima, que não entendo por
que meu corpo vibra com a maneira que ele me toca.
— Amo comer boceta, mas vou foder seu rabo como
você fodeu a minha mente, bebê... — ele rosna baixo,
empurrando mais fundo seu pênis dentro da minha vagina
quando impulsiona seu quadril para cima, do mesmo jeito
que afunda seu dedo no meu ânus.
Fecho meus olhos e solto um gemido baixo, sentindo o
suor escorrer entre meu peito, com minha pele se
incendiando ainda mais, agarrando forte a barra com meus
dedos e a estrangulando.
— Não feche seus olhos, nunca os feche para mim,
Linda — ele ordena, e eu os abro na mesma hora, o vendo
sorrir de forma perversa.
Ele ergue sua mão e esmaga meus seios inchados e
mordidos por sua boca.
— Ohhh... — Me engasgo, fechando meus olhos e
respirando mais rápido.
Meu corpo vibra nos braços dele, com meu quadril se
movendo para frente e para trás, tendo seus dentes
mordiscando minha orelha.
— Quero tudo. Seus olhos presos em mim... Quero
olhar cada tremor do seu corpo. Quero ser o único fodido
nessa terra a olhar sua face quando goza, tendo esses olhos
violetas me consumindo tanto quanto sua boceta consome
meu pau. — Ele empurra mais forte seu pau para dentro de
mim, junto com seu dedo em meu rabo. — Porque sou um
filho da puta fodido, que nunca teve nada nessa vida, mas
essa noite eu vou pegar o que é meu, bebê.
Meu corpo treme e sou conduzida a um prazer novo e
perigoso, pelo qual sua voz me conduz, se apoderando das
minhas vontades e dos meus desejos, me deixando à mercê
dele, entregue ao meu mestre.
Seus lábios me castigam e me beijam com mais
desejo, com ele me possuindo de vez, e me rendo ao poder
que ele tem sobre mim. Minha mente está nublada pelo que
ele faz comigo, me fodendo e esmagando seus dedos em
meu quadril, o levantando, entrando e saindo rápido, em
estocadas fundas e brutas.
— Ohhh! — gemo com urgência, ficando ainda mais
febril ao ter meus dedos agarrados à barra, tendo,
literalmente, tudo girando ao nosso redor, no carrossel.
Porém, apesar disso, meus olhos ficam presos aos seus, e
não tem mais nada na minha mente, no meu mundo, que
não seja ele.
Seu peitoral se cola em minha pele e ele esfrega seu
nariz em meu pescoço, mordendo meu ombro, com sua mão
passeando pela lateral do meu corpo.
— Vai gozar para mim, bebê?
Ele mordisca minha orelha, me fazendo gemer com a
forma tortuosa que seu quadril se move, me fodendo sem
pressa alguma.
— Sim... — Seguro com mais desespero a barra,
sentindo minhas coxas rígidas e trêmulas, assim como
minha vagina, que fica ainda mais úmida.
— Vai gritar meu nome quando meu pau escorregar
para dentro do seu rabo, lhe fodendo com tanta força até
você gozar para mim... — Ele morde meu ombro com mais
pressão, levando sua mão para o centro do meu rabo de
novo e a esfregando entre as nádegas, entrando e saindo
de dentro da minha vagina com seu pau.
— Ohhh, sim... — Escuto minha própria voz balbuciar,
tendo minha mente sendo nublada pela voz masculina que
me conduz a desejar fazer tudo, a sentir tudo apenas com
ele.
O mestre se inclina para trás e beija meu queixo
enquanto arqueia meu corpo, retirando seu pênis de dentro
da minha vagina. O arrepio percorre minha espinha quando
ele deposita um beijo em meu pescoço, agarrando minha
bunda e a segurando em suas mãos, afastando cada lado.
Mantenho os olhos abertos e foco-os nos seus, ao
passo que mordo meus lábios e sinto seu pênis se esfregar
na entrada onde seu dedo invadia. Retraio meu rosto,
esmagando ainda mais meus lábios, percebendo que a
ardência que senti ao ter seu dedo me penetrando foi quase
nula perto da que me pega agora. Me perco em seus lábios
quando ele me beija com tanta fúria e desejo, um desejo
perverso e urgente, o qual parece nos aprisionar.
A sensação de ardência se transforma em algo mais
intenso, como uma queimadura, uma rasgadura na pele,
que vai se abrindo e se esticando no seu limite, dando
passagem para o pau dele me invadir. Sinto cada nervo do
meu corpo enrijecido, e desejo o expelir. Uma dor aguda me
corta, enquanto tremo e aperto ainda mais meus dedos na
barra.
A quentura dos seus braços sobre os meus se faz,
com suas mãos cobrindo as minhas quando ele estica seu
braço e agarra meus pulsos. Ele me beija com paixão,
colando meus seios em seu peitoral e empurrando seu
quadril lentamente para cima, pouco a pouco, me deixando
perdida por não saber o que é mais intenso: a dor a cada
centímetro que ele toma ou a lentidão com que vou sendo
rasgada de dentro para fora.
— Porra! — Ele encosta sua testa em meus seios e
respira de forma pesada ao ter seu pau enterrado dentro de
mim.
Deposita beijos em minha pele, que não são
agressivos, como os de segundos atrás, nem raivosos, com
seus dentes me marcando, pelo contrário, eles são ternos,
beijos calmos, que nunca senti e que despertam meu ser
para essas sensações novas que meu mestre me causa.
Os movimentos lentos do seu corpo se empurrando
para cima, saindo de dentro de mim e retornando a me
penetrar com lentidão, vai nos embalando, nos fundindo um
ao outro, e não consigo compreender o que sinto, o que ele
faz, apenas sei que meu corpo sente tudo com tanta
intensidade, porém sem a crueldade e a dor do
espancamento. Apenas é algo diferente, e sem
compreender, isso me faz chorar, porém não de dor, mas
como se fosse algo bonito dentro de mim.
As lágrimas escorrem por minhas bochechas ao
mesmo tempo que sinto seu pau se enterrando tão fundo
dentro do meu corpo, me marcando e me moldando a ele,
me fazendo ser apenas sua. Seus dedos apertam meu
pescoço quando solta minha mão e inclina seu rosto para
perto do meu, com seus olhos presos em minhas lágrimas
antes da sua língua percorrer minha pele, as lambendo, com
ele colando sua testa na minha e seu outro braço me
prendendo pela cintura.
Tombo a cabeça para trás, e meus olhos se perdem
nas luzes brilhantes do carrossel girando. Todas as emoções
são novas, assim como o chocar das peles e o movimento
do seu pau dentro do meu rabo, que o toma inteiro, com
meus músculos se fechando em volta dele. Os dedos que
soltam minha garganta escorregam para meus seios, os
massageando enquanto ele me possui.
— Meu, tudo meu... — ele rosna baixo e crava seus
dentes em meu ombro.
Quanto mais choca fundo seu pau em meu rabo, se
afundando dentro de mim, mais o sinto completamente
enterrado em meu ser.
— Ahhhh... — gemo alto, comprimindo meus dedos à
barra, tendo meu corpo recebendo os baques secos dos
corpos que se encontram com mais urgência.
Seus dedos forçam a minha cintura para baixo, me
mantendo no ritmo do vai e vem dos nossos corpos, no sobe
e desce do cavalo, e a agonia se transforma em fogo,
explodindo para fora do meu corpo rápida e animalesca,
tanto quanto a energia que me come por inteira, me
devorando de dentro para fora.
O formigamento nos pés faz os dedinhos se retraírem,
com as solas queimando dentro da sapatilha. Essas
sensações sobem pelas minhas coxas, que têm os músculos
trêmulos e o sangue fluindo rápido. O coração desengatilha
como uma bateria, em batidas descompassadas, disparando
em meu cérebro um bombardeio de prazer. Meus neurônios
atacam meu corpo, o fazendo convulsionar, de tão intensa
que é essa energia.
— Ohhh, JONNN... — berro seu nome, me sentindo
como se estivesse explodindo em pequenas faíscas.
Seu braço me prende com mais força e esmaga seus
dedos em meu pescoço, com seus dentes mordendo fundo
minha pele, enquanto ele treme por inteiro, igual a mim,
com devassidão, me enchendo com seus jatos de sêmen.
Meu rosto tomba para frente e colo-me ao seu peito, com
meus braços se soltando e ficando caídos ao lado do corpo,
ao passo que respiro depressa e escuto a respiração pesada
do mestre, tão descompassada quanto a minha.
— Minha, só minha, bebê. — Escuto a voz baixa dele,
que me abraça forte e beija meu ombro, onde me marcou
com sua mordida, esfregando seu nariz em meu rosto.
Eu não entendo por que meus olhos ardem, nem as
lágrimas que rolam por minhas bochechas, apenas não
consigo controlar essa emoção que meu novo mestre
acabou de me fazer sentir, mas que acabou de se tornar a
mais bonita que já senti.
CAPÍTULO 15

MEU PECADO
JON ROY

Trilho o caminho nu das suas costas, ouvindo o som


baixo de sua risada, enquanto ela suspira, com nossos
corpos esticados no chão, em cima das peças de roupas,
tendo apenas a escuridão e o silêncio à nossa volta, já que
desliguei o brinquedo. Somos apenas nós dois, não há toda
aquela merda lá fora e nem o passado fodido, tanto o meu
quanto o dela. Não existe dúvidas, nem confusão, apenas
existe a Linda.
Percorro meus olhos por seu corpo nu colado ao meu,
deixando meus dedos trilharem suas coxas e pararem em
sua bunda redonda, macia e pequena, na qual meu pau se
sentiu bem pra caralho a cada segundo que a fodi. Gosto da
sua pele macia, do seu cheiro e de como seu corpo se
encaixou ao meu. Gostei mais ainda de estar fodidamente
dentro dela, sentindo sua boceta quente e molhada se
contraindo em volta do meu pau. Amei a quentura
escaldante do seu rabo, que, como um punho, esmagou
meu pau, enquanto estourava fundo dentro dela. Ela é
perfeita.
— Era por trás, não era? — Beijo seu ombro ao
sussurrar perto do seu ouvido.
— O quê? — Sua voz está calma e baixa.
— O antigo mestre, como ele lhe tocava...
Meu corpo se move e prendo-a abaixo de mim quando
ela tenta se levantar. Está claramente com medo, o que
deixa seu corpo rígido.
— Não... não vai machucá-la... — A voz dela está
trêmula, e nega com a cabeça.
Meu rosto se enterra em seus cabelos e os aliso,
inalando fundo o cheiro de tutti-frutti que seus cachos têm,
a mantendo imóvel abaixo de mim. Eu estava há muito
tempo sem ter uma mulher. A última que toquei foi quando
dei um beijo impulsionado pela adrenalina, três anos atrás,
dentro de um lago. Foi Violet, o mesmo corpo feminino
abaixo de mim nesse momento.
Trepava com algumas garotas do hospício na
Austrália, tinha até uma enfermeira que eu fodia às vezes.
No hospício, eles não davam camisinha, a menos que fosse
trepar com uma das dopadas que os médicos autorizavam,
porém, como eu não curtia foder a boceta de uma mulher
praticamente morta, de tantos remédios injetados nelas, eu
não as fodia. Às vezes, trepava com alguma garota do pátio,
e como não desejava acabar por acidente deixando alguma
gota de porra na boceta dela, trazendo a consequência de
uma continuidade da minha linhagem fodida, eu sempre
optava por comer o cu. O que, fodidamente, eu apreciava, e
foi o que me fez saber diferenciar uma mulher acostumada
com sexo anal e uma que não faz sempre. E, nesse
momento, não consigo não me lembrar das letras daquele
documento, com elas martelando em minha cabeça.
“A criança de oito anos tem presença de sangue vivo
misturado às fezes, indicando sangramento na parte inferior
e superior do sistema gastrointestinal, consequência de
grande lesão e fissura anal.”
— Me diga, Linda, era aqui que ele lhe machucava,
não era... — Pressiono meu quadril mais à sua bunda,
deixando meu pau entre suas pernas.
— Linda quer levantar... — ela sussurra, tendo seus
dedos se esmagando perto da boca. — Não falar de
lembranças que machucam... Machucam Violet...
Minha testa se encosta em sua nuca e sinto o cheiro
doce da sua pele, ouvindo o som baixo da dor que tem em
sua voz.
— Sabe como Violet e eu nos conhecemos, Linda? —
Minha voz sai baixa e inalo fundo, a cheirando mais. — Você
estava lá naquela noite que ela me conheceu...
— Não... Não... — Ela tomba o rosto para o lado e meu
queixo fica em cima do seu ombro, comigo a olhando. —
Linda estava adormecida, adormecida no escuro...
Minha mão se estica e acaricio seus cabelos, os
empurrando para trás, me lembrando do olhar assustado
dela, do uniforme sujo de sangue, de como a vi como um
inimigo no primeiro contato. A pequena criatura estava
assustada, caída no chão, olhando o corpo do guarda.
— Violet me salvou — murmuro para ela. — Fui
transferido do lugar que eu ficava para outro lugar, e tinha
um homem lá que sentia prazer em machucar os pacientes,
assim como também...
— Machucar? Como machucaram a Linda?
— É... — Inalo fundo, me recordando do filho da puta
que me espancava com raiva, antes de começar a abaixar
minha calça. — Violet chegou no momento que ele iria me
estuprar, ela acertou a cabeça dele, o impedindo e me
dando tempo de o matar. Violet me salvou, assim como
você a salvou...
Um sorriso doce se forma em seus lábios e ela me
olha inocente, tendo o par de ametistas brilhantes preso em
mim.
— Violet salvou mestre... — Ela estica sua mão e toca
meu braço, o alisando. — Mestre nos salvou.
Eu quero machucar cada filho da puta que tocou em
algo tão puro e inocente como Linda. Meu peito apertado e
a ira me toma ao lembrar de ouvi-la me perguntando se
queria que ela parasse de falar, já que ela não falava com o
antigo mestre. Minha mente entrou em caos apenas ao
imaginá-la sozinha na mão daquele merda.
— Vou matar o antigo mestre, assim como matei
aquele homem que queria me machucar, Linda — digo
baixo, a encarando.
Só que de uma forma muito pior, minha mente
completa a frase, a qual não digo a ela.
Inclino a cabeça e esfrego meu rosto em sua pele,
tendo isso como meta para mim: machucar muito quem a
feriu. O silêncio é cortado pelo som baixo da sua respiração,
com seu rosto virando para o outro lado. Movo minha perna
e afasto a sua, encaixando-me entre seu corpo quente e
esfregando meu nariz em seus cabelos.
— Ele não tocar Linda como mestre tocou em nosso
corpo... Apenas os outros, para quem Linda era dada de
presente, tocavam com seus paus... — ela sussurra e seus
dedos se escorregam para meu braço.
Beijo seu ombro, curvando meu corpo para mais
perto, sem esmagá-la, girando meu rosto para o lado e
vendo seus dedos percorrerem minha mão.
— Antigo mestre tocava com a mão...
Fico sério e fito seus dedos, que batem em meu braço,
com meu cérebro compreendendo o que Linda diz. O filho
da puta fazia fisting nela. O filho da puta enfiava o punho
inteiro, até o antebraço, no corpo de Linda.
— Ele olhava Linda e queria ver sofrimento, e Linda
não podia chorar. Não, não... Se chorasse, ele batia, fazia
surgir dor na cabeça de Linda, até ela ir embora, porque
assim Violet voltava e ele a machucava... — Linda se cala e
um soluço escapa. — Antigo mestre dava Linda de presente
para cão, mas Linda não chorava...
Seu rosto se move quando leva os dedos à frente da
sua boca, soluçando, com sua outra mão agarrando meu
braço.
— Linda não chorava. Não chorava, mas ele
machucava Linda sempre, machucava ainda mais... — Seu
corpo está encolhido abaixo de mim, ao passo que ela
soluça, com suas palavras saindo entrecortadas. — O cão
lambia a Linda. Lambia entre as pernas de Linda, os peitos...
Sujo, corpo sujo de comida, pra cão morder e lamber Linda,
mas Linda não chorava, Linda protegia Violet...
Fecho meus olhos, com a raiva me dominando. Eu
quero machucá-lo, fazê-lo sentir dor, da mesma forma que a
fez sentir. Ele usava o amor que Linda tinha pela Violet para
machucá-la. Era com esse amor que ele a matava,
silenciando as duas a cada vez que dilacerava seu corpo e
sua alma, assim como as mentes delas.
Aos vinte e oito anos, tinha passado grande parte da
minha vida com os olhos abertos, achando que via tudo à
minha frente, mas não enxergava nada além de um monte
de merda e desprezo, que nutria por pessoas que eu
considerava inferiores. Eu me sentia poderoso ao me julgar
mais forte que elas, por ser mais frio que elas, mais
controlado e sem emoção, sem interesse em nada e nem
ninguém.
Porém, quando a vi naquela rua enquanto o carro se
afastava, pensei como alguém poderia ser tão estúpido a
ponto de fazer o que ela fez e ainda não sentir medo de
mim. Se tivesse a olhado com mais atenção, se tivesse
olhado cada rosto daqueles filhos da puta, eu poderia ter
percebido o que iria acontecer com ela, mas não me
preocupei, porque a única coisa que me importava era que
eu estava livre, longe da porra daquele inferno de hospício,
enquanto o inferno dela estava prestes a começar.
— Mestre Jon tocar Linda e fazer chorar... — Ela funga
baixinho, movendo o rosto para o lado e deixando sua
bochecha apoiada em sua mão, enquanto seus dedos
acariciam meu braço, o qual ela segura. — Fez Linda chorar,
mas não de dor ou porque machucou. Linda chorou porque
foi bonito o que Linda sentiu, um choro bom. Linda nunca
ter sentido choro bom antes...
Ela me prende em seus olhos ametistas, que estão
rasos e marejados, e sorri doce para mim, de forma
inocente. Linda se move lentamente, e arqueio um pouco
para cima, para que ela se mexa abaixo de mim e vire com
sua barriga para cima.
Seu olhar fica preso ao meu, com seu sorriso terno, e
as mãos se erguem para alisar meu rosto. Fecho meus olhos
ao sentir seu toque suave, conforme ela contorna minha
sobrancelha aos poucos. Ao abrir meus olhos, sou afogado
com a imensidão das nebulosas violetas inocentes me
observando, fazendo eu me condenar e ficar entregue
diante dos meus pecados. A mão pequena e delicada
desliza sobre meu peito, tocando cada tatuagem, parando
sobre o grande olho.
— Boa, lembrança boa, mestre Jon deu à Linda... —
Sua voz sai baixa ao levantar os olhos para mim.
Posso carregar muitos pecados em minhas costas, e
não me arrependo de nenhum, mas de ter soltado sua mão
e ido para aquele carro sem ela, eu me arrependo. E pela
primeira vez na minha vida, eu sinto essa emoção, que para
mim sempre pareceu tão banal, tão tola. Só que, nesse
segundo, ela me dilacera, tanto quanto sentir meu mundo
todo se ligando à minha pequena torre, que havia
imobilizado meu jogo e meu caminho, o cruzando com o
seu.

— Mestre levar Linda para o quarto dela agora? —


Seus grandes olhos se viram para mim, e ela tem sua mão
cheia de batatinhas, do pacote que peguei de Artur, e me
olha curiosa.
Estico-me e puxo o cinto de segurança, o passando
por ela, que está sentada no banco do carona e sorri para
mim.
— Não, não irá retornar para o quarto do pronto-
socorro — falo baixo, erguendo minha mão e alisando sua
face. — Vai ficar comigo.
Inclino o rosto e beijo seus lábios sujos de batatas, a
fazendo rir quando lambo os farelos no canto da sua boca.
— Comigo, vai ficar comigo!
O som da batida na porta do quarto me faz desviar
meus olhos da cama, onde o corpo preguiçoso de Linda, nu,
está esparramado e adormecido. Havia passado o resto da
noite em claro, a olhando ali em minha cama, depois que a
trouxe de volta para Babilônia e viemos direto para o prédio
onde vivo com os outros depravados, os Órfãos de
Babilônia. Não irei a deixar sair daqui, muito menos permitir
que aquela porra de psiquiatra se aproxime dela
novamente, e não entendi por que tomei essa decisão, mas
tinha a tomado e não voltarei atrás. Linda ficará comigo.
Puxo a pistola e a levo para trás do cós da calça, a
deixando lá antes de me virar e abrir a porta, dando de cara
com os olhos de Ryan, que estão focados em mim tão
seriamente quanto os do senhor Woden, parado ao seu
lado.
— Fez merda, garoto! — Ryan inala fundo, negando
com a cabeça.
— Foi irresponsável ao tirá-la do pronto-socorro, ao
levá-la do complexo de Babilônia. — A voz nervosa se faz,
chamando minha atenção, e giro o rosto para a esquerda,
me deparando com a doutora Elsa, que me fuzila com seu
olhar. — Vou levá-la de volta comigo, agora.
— Ela não vai sair daqui. — Dou um passo à frente,
fechando a porta atrás de mim e retornando meus olhos
para o senhor Woden. — Já tem a minha resposta, senhor. —
Volto meus olhos para a médica. — Linda fica comigo.
— Não! — Elsa tem o fôlego preso enquanto nega com
a cabeça. — Não pode a manter aqui, não mesmo. Ryan,
explique a ele que aqui não é um lugar seguro para ela...
— Há mais de trinta e cinco homens dentro desse
prédio, com um porão abaixo dos seus pés com munição
suficiente para declarar guerra a qualquer potência. — Ergo
meu dedo e aponto para a esquerda dela. — Um genocida a
cinco metros da minha porta, e do outro lado, à direita, um
estripador. Fora os trinta e dois mercenários, assassinos e
ex-presidiários, todos leais à Babilônia, nos andares acima
de você dentro dessa estrutura. Fora Hank, que nunca mais
vai colocar os pés aqui, nenhum deles será estúpido de
cometer o erro de se aproximar dela. Então, acredite,
doutora, esse prédio é o local mais seguro que Linda pode
estar.
O som de uma porta se abrindo se faz, e giro, olhando
e encontrando Artur parado na sua porta, com os braços
cruzados, encostado no batente da sua porta.
— Ryan, diga alguma coisa... — Ela recorre a ele,
enquanto nega com a cabeça. — Linda não pode ficar em
um alojamento cheio de homens, ela precisa de espaço,
algo que pareça um lar, e não da porra de um canil de
mercenários! Ela tem que ter atenção, cuidados...
— Como os cuidados que sua amiga psiquiatra quer
dar a ela? A levando para Nova York e a usando de cobaia, a
entupindo de remédios e tratamentos para matar a Linda?
— Ranjo meus dentes, a silenciando.
— O quê? — Vejo a expressão de Elsa mudar de
preocupada para confusa. — Que história é essa de Brenda
querer tirar Linda daqui...
— Brenda demonstrou muito interesse pela condição
do transtorno de Linda, doutora Elsa — o senhor Woden a
responde, mas mantém seus olhos em mim. — Seu laudo
aponta que o melhor seria uma internação, onde ela pode
ser tratada e, possivelmente, estudada, visto que o alter
ego chamou a atenção de Brenda...
— VAGABUNDA! — Acho que é a primeira vez que
concordo com algo que deixa a boca da doutora, e seu tom
sai alterado ao xingar a psiquiatra. — Eu vou chutar o rabo
daquela cadela do meu pronto-socorro, se ela se atrever a
chegar perto de Linda de novo. Linda não é um animal para
ser estudado...
Ela se cala, com seu olhar se expandido e sua boca se
fechando, ao girar o rosto para o senhor Woden.
— Pretende mandá-la embora, senhor Woden? — Ela
abaixa seu rosto, encarando o chão. — Pretende deixar a
Brenda tirá-la daqui, para estudar a Linda...
— Até então, não tomei nenhuma decisão. — Seu
olhar se mantém sério. — Como todos bem sabem, a
senhorita Sing não é como as outras sem coleiras, a
necessidade dela e dependência por um mestre é diferente.
Não poderei a manter trancada para sempre no pronto-
socorro, mais cedo ou mais tarde, os outros nobres
descobrirão sobre a estada dela em Babilônia, e isso
chamará muita atenção. Quanto tempo acha que levará
para eu ter que sair chutando cada filho da puta da porta do
pronto-socorro, quando souberem da existência dela?!
Porque formará uma fila de pretendentes a mestre
querendo cuidar e proteger a Linda...
Repuxo meu pescoço e rosno baixo, com meus olhos
se desviando dos seus e fitando meus punhos esmagados.
— E ela já se vinculou a um novo mestre, então não
aceitará outro, a menos que ele a batize. Como ela não foi
resgatada com esse intuito de ser entregue, e sim para ser
salva, minha única saída, para o bem dela, se o mestre que
ela escolheu não ficar com a jovem, será buscar um local
seguro para ela, longe de Babilônia e dos olhos de qualquer
um que possa lhe fazer mal...
— Brenda irá fazer mal, ela quer estudar a Linda —
Elsa murmura, mantendo sua cabeça abaixada. — Não
cuidar dela...
— Não pretendia a mandar para Nova York com a
doutora. — Owen é direto. — E sim para o Egito, onde tem
um local e pessoas que podem a proteger...
— Sodoma! — Meu rosto se levanta na mesma hora,
ao recordar da sua conversa, quando me contou sobre a
porra que meu tio participou anos atrás, quando uma jovem
foi morta pelos conselheiros de Sodoma. — Sodoma não vai
colocar as mãos em Linda!
Nego com a cabeça e ranjo meus dentes, sentindo
meu sangue correr mais rápido em minhas veias. Nenhum
filho da puta daquele lugar chegará perto de Linda!
— Bom, essa seria a conversa que nós dois teríamos
hoje, quando avisei que retornaria para ter sua resposta. —
O senhor Woden estala o canto da boca. — Mas o jovem Roy
resolveu dar sua resposta ontem mesmo...
— De forma irresponsável! — Elsa balbucia, com sua
cabeça se erguendo e me fitando. — A tirou do quarto sem
autorização, sem ao menos avisar. Tem ideia de como
passei a noite inteira em claro, preocupada? Ela poderia ter
se machucado...
— Mestre Jon não machucou Linda! — A voz baixa
falando atrás de mim pega todos de surpresa, e giro,
encontrando a porta aberta, a tendo nua, enquanto boceja e
esfrega seus olhos.
CAPÍTULO 16

A LEI DE SALOMÃO
JON ROY

Meu corpo já está à frente do seu em segundos, a


tapando dos olhos deles tão rápido quanto minha respiração
dispara. Rosno e giro meu rosto, com meu peito explodindo
em batidas aceleradas. Encontro o senhor Woden de costas
e Ryan com a cabeça jogada para trás, encarando o teto,
com os dois soltando uma respiração pesada.
— Oh, meu Deus, Linda, onde estão suas roupas... —
Elsa me faz rosnar ainda mais alto quando se empurra para
entrar.
Tiro minha camisa às pressas e passo por sua cabeça,
cobrindo seu corpo, a deixando longe do olhar deles.
— Linda dormir sem roupa, banho... — Ela ri,
respondendo Elsa, tombando sua cabeça para o lado depois
que a visto. — Mestre Jon deu banho em Linda depois do
passeio, não machucou...
— Deveria ter voltado para o quarto. Na verdade, nem
deveria ter saído dele, para começo de conversa. Eu fiquei
preocupada com você. — Elsa olha para mim, cerrando sua
boca.
— Mestre Jon cuidou. Linda é bebê de mestre Jon... —
Ela ri, erguendo o rosto para mim antes de tombá-lo para o
outro lado. — Mas Linda não é bebê de verdade. — Seu tom
de voz se abaixa, com ela cochichando para Elsa e sorrindo
antes de seus olhos se erguerem e piscarem rapidamente.
Sua expressão se transforma em nervosa. — Elsa trazer
mestre dela para machucar o mestre de Linda... — Giro,
deixando-a perto de mim e passando meu braço por sua
cintura quando ela está totalmente coberta com minha
camisa, que vai até perto dos seus joelhos. — Mestre de
Elsa não machucar mestre de Linda!
— Oh, meu Deus, Linda! — Olho a face vermelha de
Elsa, que fica ruborizada, e Ryan tosse, nervoso, enquanto
pigarreia e abaixa sua cabeça. — Já conversamos sobre
isso...
— Mestre? — o senhor Woden pergunta sério, girando
o rosto para Ryan e se mantendo de costas para a porta.
— Ela apenas está muito agitada... Pular a janela foi
uma aventura e tanto, não foi, mocinha?! — Elsa se
recompõe rapidamente, rindo, nervosa. — O que foi feio,
muito feio de se fazer! Eu e Nanete ficamos aflitas, e se
tivesse caído...
— Quebra Osso segurou a escada... — Linda diz, rindo,
ao passo que o senhor Owen e Ryan movem suas faces na
direção da porta de Artur, que está no corredor. — Mestre
Jon também o sequestrou. Mas não foi para o passeio, não,
não... Apenas Linda e mestre foram...
O som da porta fechando se faz ao longe, e inalo
fundo, por saber que Linda acabou de delatar Artur para o
Comandante e o rei de Babilônia, por ter me ajudado a tirá-
la do quarto.
— Está ouvindo? E ainda acha que aqui é melhor para
ela? — Elsa inala fundo, girando o rosto para Ryan. — Ela
tem que ficar comigo, Ryan.
— Não vai tirar ela daqui! — rosno, a vendo ficar ainda
mais vermelha, dessa vez de raiva, ao me fitar.
— Linda ficar brava se mestre de Elsa machucar o
mestre de Linda de novo. — Meu rosto se abaixa e sinto-a
se colar mais a mim, com seus braços circulando minha
cintura e ela ficando de lado, rente a mim. — Brava com
mestre de Elsa.
— Linda, Ryan não é meu mestre. — A médica passa
as mãos pelo jaleco e ri, olhando rapidamente para trás,
negando com a cabeça antes de olhar para Linda. — Não
pode ficar falando isso.
— Ryan não é mestre de Elsa, Linda — murmuro para
ela, a vendo jogar sua cabeça para trás e piscar ao me
olhar.
— Mestre... — ela fala, movendo a cabeça para frente
e para trás. — Beijou... Linda viu beijo...
Ela abre sua boca e sua língua se mexe nos lábios,
mostrando para mim.
— Mestre de Elsa deu beijo em Elsa, como mestre Jon
dá beijo em Linda.
Viro meu rosto para a frente na mesma hora,
arqueando minha sobrancelha, vendo a face da médica
abaixada, com ela a cobrindo, e Ryan tendo uma crise de
tosse ainda mais forte.
— Isso explica por que meu chefe de segurança pediu
para ficar em Vancouver, ao invés de me acompanhar em
Milão — o senhor Woden fala baixo, com seu corpo virando
e ficando de frente, olhando de Elsa para Ryan. — Mestre...
Interessante, Ryan... Tem mais alguma fofoca que devo ficar
sabendo, fora meu atirador de elite dar uma de cupido nas
horas vagas e meu chefe de segurança estar aos beijos com
a médica do pronto-socorro?
Ele olha entre os dois, antes de puxar um sorriso em
sua face e dar um passo à frente, penetrando seus olhos na
pequena criatura ao meu lado.
— Olá, jovem Linda — o senhor Woden fala calmo com
ela.
Ela se encolhe e se agarra ainda mais em mim, com
seu rosto se movendo e me fitando.
— Homem alto veio machucar mestre? — ela sibila, e
nego com a cabeça, apertando com pressão seus ombros e
a deixando saber que não a soltarei.
— Não, mesmo achando que deveria, visto que é a
segunda vez que ele não obedece a uma ordem minha. —
Linda gira o rosto para Owen, que entra no meu alojamento
com os olhos presos ao rosto dela, a observando curioso. —
Mas não estou aqui para o machucar, estou aqui como
amigo.
Linda mantém os olhos presos nele, ao passo que Elsa
fica cabisbaixa. A pequena criatura, completamente
ingênua ao meu lado, não tem ideia de quem está diante
dela. Vejo um sorriso doce se abrir em seus lábios e ela
piscar rapidinho para o senhor Woden.
— Então, é amigo de Linda também — fala alegre, o
vendo esticar sua mão para ela, o que a deixa confusa com
o gesto.
— Vou ficar honrado em ser seu amigo, jovem Linda.
— Os olhos ametistas voltam-se para mim, me deixando ver
a confusão neles.
— O senhor Woden quer apertar sua mão — sussurro
a ela. — Como um gesto de amizade.
— Mão... — Ela olha para os dedos dele rapidinho,
voltando a me fitar. — Apertar a mão de Linda?
Movo a cabeça em positivo, a vendo esticar seu braço
e manter o outro preso em minha cintura, na parte de trás.
Ela segura os dedos de Owen e ri quando ele balança sua
mão, em um cumprimento.
— Amigo! — Sua risada enche meu alojamento, com
ela olhando o senhor Woden. — Linda tem amigo, senhor
Wo..
— Owen! — ele diz calmo a ela, ao ver a dificuldade
que ela tem em pronunciar Woden. — Você pode me chamar
apenas de Owen, jovem Linda. É um prazer te conhecer
pessoalmente.
— Owen! — Ela abre bem os lábios ao pronunciar seu
nome, antes de sorrir e olhar para Elsa. — Linda tem amigo,
Elsa, o Owen...
— É, você tem, querida! — Os olhos da médica se
erguem para Linda, enquanto Owen solta sua mão,
mantendo o olhar preso em Linda. — Linda fez um bom
amigo.
— Bom, Owen é bom. — Ela ri. — Assim como mestre
Jon, Nanete, Quebra Osso e Elsa... Mestre de Elsa não, ele
machucar meu mestre.
Ela nega com a cabeça, encarando zangada Ryan,
com o som alto da gargalhada espontânea do senhor Woden
estourando como uma trombeta, fazendo Linda rir ainda
mais. Elsa fica vermelha, e Ryan pigarreia mais uma vez.
— Iremos ter uma conversa longa, Ryan — o senhor
Woden fala, suspirando e negando com a cabeça. — Mestre
Ryan me deixou mais surpreso que o jovem mestre Jon, que
tomou sua decisão.
— Sim! — Puxo Linda para mais perto, o encarando
sério e deixando-o saber que tomei minha decisão. — Elas
vão ficar comigo.
— Mas ela não pode ficar... — Elsa me olha, mordendo
o canto da boca. — Olha, sei que pode achar que estou
implicando... Temos pontos diferentes de pensamentos, mas
concordamos em algo, no bem dela. Linda precisa de
companhia constante, Jon. Ela está aprendendo agora tudo
que foi impedida de aprender quando ficou presa, e você
não tem como cuidar dela o dia todo...
— Mestre Jon cuidar de Linda, Elsa. — Linda sorri para
a médica. — Cuida... Ele levou linda para passear no
carrossel grande. Linda gostou de andar de cavalinho...
— Levou ela ao parque? — Ryan questiona baixo.
— Não sou irresponsável a ponto de tirá-la do
perímetro de Babilônia. Jamais a colocaria em perigo. —
Olho sério para ele, sentindo o rosto dela se esfregar em
meu peito. — Ela estava segura o tempo todo.
— E feliz. Linda ficou feliz e brincou no cavalo, e ainda
ouviu música. — Ela ri, erguendo o rosto para Elsa. — Feliz,
Linda ficou feliz, Elsa!
A médica sorri com carinho, o qual é nítido que ela
sente por Linda, e por mais que deseje a estrangular todas
as vezes que fica entre mim e Linda, sei que ela tem razão
ao dizer que nós dois nos importamos com ela.
— Você gostou do passeio, então? — Elsa sorri, se
aproximando e acariciando os cabelos de Linda.
— Sim, Linda gostou. Andei de cavalo, no carrossel, e
tinha luz, muita luz, e música... Girando e girando... — Linda
conta, animada, movendo a mão em círculos, assim como o
carrossel andou. — Depois, o mestre Jon colocou o pau
dentro da boceta e da bunda de Linda... Linda gostou
também!
Levanto o rosto na mesma hora para Elsa, que tem os
olhos arregalados. Ryan está com a boca entreaberta, me
encarando tanto quanto o senhor Woden, que esmaga os
lábios e reprime um sorriso ao olhar para mim.
— Linda é bastante franca! — sibilo, girando meu
rosto para ela e a vendo sorrir doce para mim, com seus
olhos ametistas brilhantes e sua mão espalmada em meu
peito.
— Bom, penso que com isso encerramos qualquer
assunto sobre onde a jovem Linda deve ficar — o senhor
Woden fala, segurando o riso, com sua mão se erguendo e
esfregando suas têmporas. — Acho que o mestre Jon e a
doutora Elsa conseguem chegar a um acordo sobre
cuidarem dela. Ambos. A menos que os dois queiram que eu
aplique a Lei de Salomão, dividindo a jovem ao meio.
— Não! — Elsa responde rápido, balançando a cabeça.
— Eu vou trazer algumas roupas que comprei para ela, e
será bom ela ficar aqui, com seu mestre, já que é o que ela
deseja.
— Ótimo! — O senhor Woden abaixa sua mão, me
encarando. — Temos um acordo, jovem Roy, sobre ambos
cuidarem dela?
Repuxo minha boca e fito Elsa, mantendo Linda presa
a mim, movendo minha cabeça em positivo.
— Por mim, tudo bem. Mas se aquela psiquiatra
chegar perto de Linda de novo, vai ser a última coisa que
ela vai fazer em vida — falo firme, o encarando e deixando
claro que não vou permitir que a psiquiatra trate Linda
como um rato de laboratório.
— Pode ter certeza de que eu mesma a chuto para
fora do meu pronto-socorro se ela aparecer — Elsa rosna,
esmagando seus lábios. — Aquela cobra nunca mais chega
perto de Linda!
— Bom, começamos bem, já que os dois estão
concordando com algo além de Linda. — O senhor Woden
vira o rosto para trás, mirando Ryan. — Não acha, mestre
Ryan?
A tosse de Ryan retorna, ao passo que Elsa respira
mais rápido e ri, nervosa, negando com a cabeça.
— Eu vou buscar as roupas para ela. — Sua mão
acaricia a face de Linda. — Já volto com suas roupas, sim...
— Não, não... — Linda ri e nega com a cabeça,
erguendo sua mão e a balançando para os lados. — Linda
está com mestre agora, não pode mais usar roupas. Linda
tem que ficar nua, com uma corrente e coleira, para ficar
presa...
Giro o rosto na mesma hora para o seu, a vendo se
calar e me olhar confusa.
— Mestre Jon não colocar coleira e corrente no
tornozelo de Linda ainda... — Minha boca se esmaga e meu
peito arfa. Ranjo meus dentes, compreendendo que ela está
falando o que acontecia com ela e o que imagina que irá
ocorrer agora.
Abraço-a, puxando-a para mim e acariciando seus
cabelos, escondendo minha feição dela, para que não veja a
ira que está me consumindo. Meu rosto se levanta e vejo os
olhos do senhor Woden escuros, com ele tendo claramente
a mesma compreensão que eu tive das palavras dela, assim
como Ryan e Elsa.
— Se não se importarem, gostaria de ficar sozinho
com Linda agora! — Minha voz sai baixa e em tom grave.
Elsa é a primeira a sair, cabisbaixa, tendo Ryan a
acompanhando, enquanto o senhor Woden se mantém com
os olhos sombrios fixos em Linda, que está encolhida em
meus braços. Ele leva as mãos aos bolsos da calça do terno,
antes de girar e sair do quarto, puxando a porta e a
fechando.
Minhas mãos agarram a cintura dela e a tiro do chão
ao puxá-la para mim. Aperto suas pernas em volta da minha
cintura, segurando-a bem firme, caminhando com ela para
perto da cama. Seus olhos ametistas brilham para mim com
intensidade quando a puxo e beijo seus lábios, os sugando.
Minha língua brinca com a sua, beijando-a com mais poder,
e minha mão aperta suas costas, roçando-a mais ao meu
corpo, antes de a deitar aos poucos.
— Mestre Jon bravo... — Sua voz sai baixa, com os
olhos dela me acompanhando quando me inclino para trás,
com meus dedos na frente da minha calça, a levando para
baixo.
— Não — respondo, jogando a peça para longe.
— Boca esmagada. — Ela aperta seus lábios, imitando
o som de rosnado. — Mestre bravo... bravo com Linda?
Balanço a cabeça em negativa e ergo seu pé,
acariciando seu tornozelo. Mordo a lateral do seu calcanhar
e ouço o som doce de sua risada.
— Não estou bravo com você, Linda. — Beijo seu
tornozelo antes de mordiscar a ponta do seu dedo,
deslizando minha língua pela lateral do seu pé.
Um suspiro baixo sai dos seus lábios e minha boca
trilha o caminho de suas pernas, parando em cada canto
para morder de leve, apenas para ouvir seus gemidos.
— Mestre beijar Linda? — Linda choraminga, e suas
mãos se agarram ao colchão, com ela apertando os dedos
no lençol.
— Sim, vou dar muitos beijos em você. — O colchão
balança com meu peso quando subo na cama. — Mas não
em sua boca, bebê.
Continuo dando beijos em suas pernas, até chegar ao
centro delas e raspar meu nariz em cima da sua boceta,
depositando um beijo sobre sua pele macia nua e
completamente lisa. Movo a cabeça e mordo sua virilha,
voltando meus olhos para a boceta, que faz meu pau
latejar, duro. As unhas dela cravam-se no colchão e sinto a
quentura das suas coxas quando as aperta em meu rosto.
— Mestre... — Linda geme baixo, abafando o rosto no
travesseiro, e minha língua brinca sobre seu clitóris,
pincelando-o, fazendo movimentos circulares até tomá-lo
todo em minha boca.
Sugo e mordo lentamente, e ela arqueia o corpo,
apertando mais suas coxas em mim, com seu peito arfando.
Sorrio quando suas mãos vão em desespero para minha
cabeça. Eu quero mais, então, desço por seus lábios
carnudos, mordendo-os, para vê-la se torcer mais. Sinto o
gosto da sua boceta molhada, melada por minha saliva,
junto com sua excitação.
— Linda gosta de beijo na boceta... — Ela arfa,
gemendo entre seus murmúrios, movendo o quadril contra
meu corpo e me apertando mais a ela.
Levo um dos meus dedos à minha boca e sugo o
líquido que se espalha. Gosto de prendê-la com meus
braços, enquanto a torturo ao lambê-la.
— Ohhhh... Mestre Jon... — Linda grita e quase
esmaga minha cabeça entre suas pernas, quando seu
orgasmo lhe atinge, com ela ficando trêmula.
Movo-me e beijo sua barriga, subindo por seu corpo e
empurrando minha camisa para cima, até retirá-la dela. Meu
quadril fica imóvel sobre o seu e meu pau deseja estar
fundo nela, vibrando com a sensação da entrada molhada
da sua boceta.
Passo meu braço por baixo das suas costas, trazendo-
a para mim e deixando suas pernas mais abertas, para me
receber. Movo meu quadril para frente, e meus dedos
apertam sua pele conforme meu pau entra em sua boceta,
sendo sugado por cada músculo molhado e quente, que me
aperta como um punho, com minha face completamente
cativa da sua. Ela fecha os olhos e morde os lábios,
gemendo mais alto.
— Abra os olhos... — Minha voz sai firme, em
comando, e Linda me obedece. Eu não os quero fechados
nunca, quero-os sempre abertos para mim, tendo suas
ametistas brilhando de prazer.
Meu pau a estica, e ela morde seus lábios com mais
força, até eu estar completamente dentro dela. Abaixo meu
corpo, ficando na altura do seu rosto, e descanso meus
braços ao lado do seu corpo. Movo-me lentamente, saindo e
voltando, sem perder um segundo sequer da sua reação,
sendo fascinado por Linda. O que estava lento se
transforma em urgência.
Ela ergue sua cabeça apenas o suficiente para que
seus lábios toquem os meus, buscando por minha boca, e
seus braços se prendem feito uma cobra em volta do meu
pescoço, com ela me agarrando enquanto meu pau explode
em batidas fundas dentro da sua boceta quente. Linda
prende as pernas em minha cintura, e nossos corpos se
movem juntos com a mesma urgência.
A cada estocada, nós nos chocamos, fazendo a porra
da cabeceira estourar na parede. Ergo-a e me viro na cama,
sentando-me com ela sobre mim. Seus seios esmagam meu
peitoral, e ela me engole tão quente, que chuta toda merda
para fora da minha cabeça.
É uma maldita tortura tê-la assim. Seu corpo me
recebe até o fim, a cada centímetro do meu pau enterrado
dentro dela, colando sua bunda em minhas pernas. Ela se
ergue apenas para voltar outra vez, me cavalgando. Linda
se joga para trás, deixando os seios livres para mim,
tomando ainda mais meu pau dentro da sua boceta.
Abaixo a cabeça e chupo seu seio com força,
percorrendo minha língua sobre seu bico. Meu pau lateja a
cada gemido que ela solta em desespero, pela busca da sua
libertação. Eu também estou na borda, a um passo de cair
do precipício. Linda me puxa cada vez mais para o ápice do
meu prazer, e sinto suas paredes internas se apertarem em
volta do meu pau, sugando-o mais, tão quentes e macias.
— Porra, bebê... — Mordo seu ombro e a prendo mais
forte, sentindo um inferno de prazer.
Quando ela está prestes a atingir seu ápice, é como
se tivesse me chamado para cair em seu abismo. Sugo seu
seio com mais força, sentindo seu gozo ser liberto, com sua
boceta lavando meu pau.
— Mestre Jon... — ela balbucia alto entre seus
gemidos, rouca.
Aperto sua bunda e nos levanto, ficando de pé dentro
do quarto. Minha mão sustenta firme seu rabo, permitindo-
me bombardeá-la com toda força, a penetrando sem
piedade. Linda grita mais forte e me prende a ela, tão mole
e livre, subindo feito um foguete quando goza mais uma
vez. Meu pau pulsa de antecipação e sinto a quentura da
sua boceta, que traz meu gozo junto.
Uma corrente elétrica me consome, com as pernas
tremendo junto com os jatos de porra que são libertos, com
meus músculos se contraindo, rígidos, e meu coração
estourando em batidas fulminantes. Estou com a sensação
de queda ao ar livre, sendo guiado pela minha pequena
torre. Abocanho seu ombro, cravando forte meus dentes,
com nossos corpos ainda unidos. Minha porra se mistura ao
seu gozo, escorrendo na sequência por minha perna.
Os olhos violetas preguiçosos me olham com doçura,
e caminho com ela para a cama. Sento-a na beirada e a
aperto em meus braços. Linda alisa meu rosto, observando
minhas sobrancelhas, e um pequeno sorriso inocente se
esboça em seus lábios. Seu beijo cativo na minha
sobrancelha me pega de surpresa, e a olho confuso.
— Mestre Jon não está mais bravo. Não... não... — Ela
sorri e tomba o rosto em seu ombro.
Meus braços se prendem em suas costas e esfrego
minha testa entre seus seios.
— Não é uma escrava, Linda... — sussurro, inalando
seu cheiro. — Não terá correntes e nem coleiras, bebê.
— Não vai prender Linda — fala baixinho, próximo ao
meu ouvido, encostando sua cabeça em meu ombro.
— Não. — Percorro meus dedos por suas costas após
respondê-la. — Nunca mais alguém vai lhe prender de novo,
Linda.
Afasto-me e fico com meu rosto de frente para o seu,
inalando fundo e a mantendo firme em meus braços. Seus
olhos contêm medo e insegurança enquanto me olha
perdida.
— Nem mesmo eu. — Aliso seu rosto, retirando a
pequena lágrima que escorreu por sua face e a trazendo
para minha boca, sugando devagar meu dedo.
CAPÍTULO 17

FADA DO DENTE
JON ROY

— Prometi à Elsa que você vai levar Linda todos os


dias ao pronto-socorro, antes de ir trabalhar. — Fico em
silêncio, com meus braços cruzados. Estou no corredor, mas
vejo Linda sentada em minha cama, rindo para Elsa. Ryan
encontra-se ao meu lado. — Tem o estoque de armas para
cuidar, e ela não pode ficar sozinha aqui dentro, então será
melhor para ela ter uma companhia.
Repuxo meus lábios e inalo fundo, girando meu rosto
para Ryan, o vendo com o olhar parado em Elsa.
— Tenho outra escolha? — pergunto sério a ele.
— Não! — Sua resposta é direta, com ele virando o
rosto para mim. — Não tem. Linda vai continuar perto de
Elsa, e não se preocupe, Owen já avisou a decisão dele para
Brenda, e ela não vai chegar perto de Linda novamente.
Meu rosto retorna para as duas e movo a cabeça em
positivo, vendo Elsa esticar sua mão e alisar a face de
Linda, que cochicha com ela.
— Linda gosta de Elsa, e eu não tenho nada contra a
médica. Se ela nunca ferir Linda, não terei problemas com
ela...
— Não entendeu, não é, garoto? — Ryan solta o ar
pesado, e me viro, o encarando. — Elsa jamais machucaria
alguém, muito menos a Linda.
Ele nega com a cabeça e retorna a olhar as duas, com
seus braços se cruzando acima do peito.
— Vê aquilo no rosto dela, aquele sorriso? Há mais de
dez anos eu não via a Elsa sorrir. — Ryan abaixa o tom de
voz, a olhando. — Ela preferiria se machucar inteira do que
fazer mal a alguém, principalmente à Linda, que a fez sorrir
de novo. Elsa não é uma pessoa ruim. Ela ama a Linda como
se fosse uma filha.
Fico sério e analiso Elsa. Nunca tinha estudado de
forma analítica a médica, para ser franco, mal conversava
com ela. Tenho o histórico pessoal de médicos filhos da
puta, os quais me fizeram odiar qualquer outro ser humano
usando a porra de um jaleco. Nunca tinha parado para
pensar do porquê a médica ficar aqui, a única coisa que sei
é que ela não sai para fora dos portões. Elsa jamais tinha
deixado Babilônia, desde quando se tornou uma serva sem
coleira. Mas, diferente das outras, ela não participa de nada
aqui dentro. Se não for no pronto-socorro, ninguém a vê.
— Por que a doutora fica aqui? — questiono a Ryan,
curioso agora com a médica. — Ela não tem vida lá fora?
— Ela tinha — ele responde baixo, com sua cabeça
caindo e encarando seu sapato. — Elsa é uma médica
brilhante, assim como seu marido, que era um dos nobres
de Babilônia, que foi quem deu a ideia do pronto-socorro
para Owen.
— Elsa era casada com um sádico daqui? — Fico ainda
mais curioso, observando-a.
Nunca a vi assim, como uma serva, que nem as
outras. Eu já tinha participado, nesses anos que estou aqui,
de alguns encontros de Babilônia, e Ryan foi quem me
explicou o que realmente é Babilônia.
— Hugo era um visconde, sua família era uma das
mais antigas de Babilônia. — Ryan inala fundo, me
respondendo. — Ele e Elsa estavam casados há cinco anos,
mas os dois já se conheciam desde a época da faculdade,
quando eram jovens. Uma noite, a residência deles foi
invadida por um assaltante e Hugo reagiu. Ele morreu com
uma facada no coração. Elsa estava no quarto, saindo do
banho, quando o ladrão invadiu o cômodo atrás de joias. Ela
entregou tudo a ele, mas o filho da puta, mesmo já tendo o
que queria, a espancou e estuprou. Ele estava saindo do
quarto, quando se assustou com uma sombra parada na
porta, e a esfaqueou repetidas vezes. Era a filha de quatro
anos de Elsa, que havia acordado, e ele matou a menina na
frente dela, antes de fugir da casa.
Vejo a médica sentada, rindo com Linda, enquanto
retira as roupas da pequena mala que trouxe. Compreendo
agora o laço que a médica tem com Linda. Sua preocupação
é maternal, como se Linda fosse sua filha.
— Owen a trouxe para cá porque Elsa se trancou no
quarto da filha por um mês, e quando a encontramos, ela
estava debilitada e mal conseguia ficar de pé, com o luto a
destruindo. — Ryan ergue seu rosto e solta o ar pela boca.
— Ela nunca mais saiu de Babilônia ou do pronto-socorro,
porque era o mais próximo que ela tinha do seu mestre, e
porque voltar para o mundo que tem fora desses muros a
faria reviver o que foi tirado dela.
Fico em silêncio, a fitando, entendendo agora muita
coisa sobre a médica. O porquê nunca saiu daqui e o porquê
ela tem essa ligação com Linda.
— Se deixar aquela jovem triste, vai deixar a Elsa
triste — Ryan murmura sério. — E por mais que goste de
você, garoto, se a Elsa ficar triste, vou ter seu crânio na
minha estante, dentro do meu escritório, ao lado do crânio
do ladrão que machucou a Elsa. Fui claro, Jon?
Viro o rosto e encontro os olhos de Ryan, enquanto
sorrio e movo minha cabeça em positivo, compreendendo
não só a médica, mas também que os boatos que correm
entre os rapazes, falando que Elsa é o amor de Ryan, o que
Linda confirmou quando contou que viu os dois se beijando,
é verdade.
— Tem sentimentos pela médica... — falo, pensativo, o
estudando e ficando intrigado.
Ryan pode ser tão cruel quanto qualquer um de nós.
Na verdade, ele é assim, já que todos os Órfãos de Babilônia
são assassinos sanguinários e ele tinha treinado um a um,
ganhando o respeito de todos, assim como o meu. Fora o
senhor Woden, Ryan é a única pessoa que posso dizer que
vejo de igual para igual.
— Se fizer alguma piada escrota, garoto, vou socar
sua cara, e isso vai deixar Linda brava — ele fala, bufando e
negando com a cabeça.
— Não, não é piada — sibilo, ainda sem entender
como isso funciona. — Apenas não compreendo como isso é
possível. Sempre vi esse laço afetivo com outro ser humano
como algo tão banal, medíocre, inferior e uma completa
perca de tempo. E, agora, não entendo como sinto essas
emoções, já que me julgava superior por não as sentir.
Ergo o rosto para ele, precisando entender como isso
funciona, porque nós sentimos isso, se não deveríamos
sentir. Eu não sinto pena ou medo ao matar alguém, mas
sinto raiva de qualquer um que machucou a Linda.
— Como faz isso? — pergunto a ele. — Como
consegue sentir algo por ela e, ao mesmo tempo, não sentir
nada por mais ninguém? Não sente receio de mais cedo ou
mais tarde acabar a machucando?
O vejo suavizar sua expressão carrancuda, com seus
braços se descruzando e ele batendo em meu ombro
enquanto sorri.
— Sabe, eu tive minhas dúvidas quando Owen me
falou sobre você, Jon. Não vou negar, imaginei que meteria
uma bala em sua cabeça no primeiro dia. — Ele tem seus
olhos presos nos meus, e ri, balançando a cabeça. — Mas
quando lhe vi naquela cadeira, quando você recebeu essa
marca...
Ele bate em meu braço, onde tem um B de Babilônia
gravado a ferro, e solta um suspiro.
— Foi como ver Owen, uma versão jovem dele
novamente. Estou há muitos anos trabalhando com ele,
então, acredite, vi muitas faces dele, e quando eu te olho,
me faz o ver de novo, e ele vê isso em você também
quando te olha. — Ele ri, girando o rosto para o quarto. —
Não precisa se preocupar com o que sente. Ela vai te
ensinar, e, acredite, vai sentir isso ficando mais forte a cada
dia, o instinto de proteção. Ela irá lhe ensinar a sentir, assim
como Elsa me ensinou, e como a esposa de Owen ensinou a
ele.
Fico ainda mais confuso, não tendo resposta nenhuma
para a porcaria da minha pergunta, apenas tendo mais
bagunça em minha mente.
— Não sei se sua resposta foi de grande ajuda, velho.
— Bufo pelo nariz, pois achei que ele seria mais útil para me
fazer entender essa bagunça que Linda faz comigo.
— Eu te respondi, Jon, e com o tempo vai perceber
isso. Não está mais no caminho da razão, garoto. — Ele bate
em minha testa. — Isso aqui não vai funcionar em nada que
seja ligado a ela, e se acha que você é um mestre, esqueça,
porque não é. A verdade é que acabou de se tornar um
escravo da sua Linda.
Giro o rosto e olho para o quarto, a vendo rir e se
levantar da beirada da cama, enquanto segura o vestido
que Elsa lhe trouxe, tendo seus olhos buscando os meus e
me fitando com doçura.
— Elas colocam coleiras em nós, e mal percebemos —
Ryan suspira, e pisco, confuso, ao vê-la sorrir para mim,
com meu coração disparando apenas com um simples
sorriso dela. — E de um vilão, você se vê rendido a um
conto de fadas, para o qual elas nos arrastam, e apenas
elas têm essa versão nossa...
— Fada! — sussurro, recaindo meus olhos para meu
braço e ficando com meus olhos presos no desenho da
boca, a qual ela circulou na noite que fui visitá-la no
hospital. — Fada do dente...
Já tinha me esquecido disso, mas agora, com as
palavras de Ryan, isso me vem à mente. Linda murmurou
um fada do dente, assim como comparou o carrossel à
abóbora da Cinderela. Linda usa as histórias infantis para
associar as coisas que vê.
— Fada do dente! — digo, pensativo, tentando
compreender ao que ela se referia ao citar a fada do dente,
quando entrou em convulsão dentro do pronto-socorro. Eu
tentei perguntar a ela quem era, mas ela não disse, e
depois me afastei, acatando a ordem do senhor Woden, por
isso, me esqueci disso. — Temos que encontrar a fada do
dente.
Olho Ryan, que tem sua sobrancelha arqueada e me
encara sem entender o que falo.
— Que porra está falando, Jon...
— Os documentos da missão! — Minha mente se
desperta ao lembrar do lugar que a encontramos. — Preciso
ver os relatórios sobre aquele lugar. O velho que matamos,
acho que pode ser o início para encontrar...
— Encontrar? — Ryan abaixa o tom de voz, me fitando
sério. — O que está querendo encontrar...
— A fada do dente — o respondo, com minha mente
se recordando dos cadáveres das mulheres com todos os
dentes arrancados. Elas tinham machucados no céu da
boca, ferimentos por terem se debatido, mas todas as
extrações dentárias estavam bem-feitas. Não foi uma
pessoa qualquer, aquilo foi um profissional. — Temos que
encontrar um dentista!
A porra da fada do dente é um dentista, e Linda, do
seu jeito, havia contado quem tinha machucado aquelas
mulheres, e, talvez, até ela mesma.
CAPÍTULO 18

MIROU NA FADA E ACERTOU NA


BRUXA
JON ROY

Meu punho fechado estoura na porta à minha frente, e


inalo fundo, com minha mente trabalhando como uma
máquina, tendo as engrenagens do meu cérebro em uma
velocidade descomunal diante dos relatórios que li sobre
Malcon Doble, o velho dono da mansão que invadimos na
noite que encontrei Linda. Ele era um cretino esperto, tão
limpo quanto uma folha sulfite, sem um amassado sequer,
sem vestígios ou rastros do dinheiro sujo dele, que não era
compatível com sua renda declarada como herança da sua
falecida esposa. O velho tinha dinheiro em contas de
laranjas espalhadas pelo Canadá e Turquia, e tirando os
laranjas, não havia mais nada que o aproximasse do
presidente da Turquia.
Mas entre esses laranjas, um deles se sobressaiu,
recebendo meio milhão de dólares uma semana antes da
invasão à propriedade, o que chamou a atenção ainda mais
para ele. O cacei no sistema que Babilônia tem da polícia, e
encontrei Cristofe Tuing, um especialista em periodontia de
Toronto, que vive como magnata, esbanjando uma vida
luxuosa. Ele poderia ser só mais um merda que, de alguma
forma, recebeu dinheiro participando do comércio dessas
mulheres, se não fosse o pequeno detalhe da sua profissão,
que fez eu me interessar por ele.
— Não! — A voz baixa em tom zangado rosna assim
que abre a porta. — Não e não para qualquer favor que
precise. A resposta será só uma: não.
Arqueio minha sobrancelha para Artur, que tem suas
narinas dilatadas e bufa, cruzando seus braços acima do
peito.
— Recebi uma mensagem do chefe, que quer falar em
pessoa comigo na semana que vem, por conta da língua
solta da sua garota.
— Linda não tem a língua solta — rosno, o fuzilando
com meu olhar. — Ela apenas é verdadeira, e está
aprendendo ainda como funcionam as coisas.
— Na cadeia se chama delator! — Ele mantém a face
séria. — Então, se vire e volte para seu quarto.
Minha mão se espalma na porta no segundo que ele
faz menção de a fechar, e inalo fundo, me mantendo
imóvel.
— Achei uma pista em Toronto e preciso ir até lá
conferir. Pode ser o filho da puta que era o antigo dono dela
— digo firme a ele, sem desviar meus olhos dos seus. —
Mas não posso fazer isso sem sua ajuda.
— Repasse a Ryan, Jon, ele vai montar um pelotão e
irão até lá. — Ele levanta sua mão e esfrega seu rosto.
— Não, não quero a porra de um pelotão, eu mesmo
quero conversar com esse cara. — Esmago meus dedos na
porta, rangendo meus dentes e negando com a cabeça.
Não irei deixar ninguém chegar naquele filho da puta
além de mim.
— Jon, tem ideia da porra do problema que vai nos
colocar se executarmos alguém sem ordem direta? — Ele
abaixa sua mão do rosto, me olhando sério.
— É por isso que não estou aqui para pedir isso a
você, mas sim outro tipo de favor. — Solto a porta e me
afasto, dando um passo para trás e o vendo arquear sua
sobrancelha.
Artur fica confuso, com seu pescoço se esticando e
olhando para fora do corredor, antes de retornar para mim.
— Preciso que fique de olho nela — falo sério,
movendo minha cabeça em direção à porta do meu
alojamento.
Ele abre sua boca e seus olhos se arregalam, com sua
cabeça balançando feroz para os lados assim que
compreende o que estou querendo.
— Não, sem chance, Jon! — rosna, apontando para
mim. — Teria mais chance em ter minha ajuda para caçar
esse filho da puta, do que para eu ficar de babá da sua
garota.
— Não está entendendo, preciso ir sozinho... Mas não
posso, se não tiver certeza de que ela vai estar segura...
— Ela está dentro de Babilônia, sua garota está mais
que segura. Mande-a para Elsa, no pronto-socorro...
— Linda é uma boneca — rujo, o fazendo se calar e
me olhar confuso, enquanto abaixo meu tom de voz para
ele. — É isso que Linda é, a boneca de Violet. Seu transtorno
dissociativo de identidade não é uma pessoa, é baseado em
uma boneca que Violet tinha na infância, Artur. E a vadia da
mulher que trouxeram para ver ela, é uma psiquiatra que
está querendo a estudar como a porra de um rato de
laboratório...
Giro a face para a porta do meu quarto, tendo meu
peito se estufando ao inalar forte.
— Linda não é uma cobaia, ela é tão real quanto eu e
você. Ela foi o que sobreviveu de Violet. — Solto o ar com
peso, retornando meus olhos para ele. — Preciso que cuide
dela e me garanta que ninguém vai tirá-la de dentro desse
prédio até eu voltar.
Eu sei o que tinha conversado com Ryan, mas
enquanto eu não tiver certeza de que essa psiquiatra não
chegará mais perto de Linda, eu não vou arriscar deixar ela
sair daqui. Ele rosna e esfrega seu rosto, me encarando.
— Vou apenas olhá-la, e mais nada. E se ela acabar
com meu estoque de batatinhas, você vai repor! — Ele vira
suas costas e dá um passo para trás, ao passo que giro,
indo para meu quarto.
Paro perto da porta e a fito sentada em minha cama,
observando curiosa uma revista que Elsa trouxe para ela.
— Ryan, diga alguma coisa... — Ela recorre a ele,
enquanto nega com a cabeça. — Linda não pode ficar em
um alojamento cheio de homens, ela precisa de espaço,
algo que pareça um lar, e não da porra de um canil de
mercenários! Ela tem que ter atenção, cuidados...
A voz da médica vem em minha mente, me fazendo
repuxar meus lábios. Passo os olhos pelo meu alojamento, o
qual para mim tem o necessário. Uma cama, a porra do
banheiro e uma geladeira, além da bancada das minhas
armas. Nunca precisei mais do que isso. Porém, olhando
agora o quarto cinza, que tem a pequena e delicada
inquilina distraída em minha cama, vejo alguns pontos
verdadeiros nas palavras da médica. É a porra de um canil,
realmente é, e não tenho problema com isso, mas, talvez,
para Linda, não seja realmente o melhor. Terei que,
futuramente, pensar sobre isso.
Pisco, confuso, tendo noção da mudança brusca dos
meus pensamentos, que se distraíram apenas em olhar
para Linda, quando, na verdade, deveria estar concentrado
na visita que pretendo fazer ao periodonto. Coço minha
nuca e solto o ar aos poucos pelo nariz, ainda confuso, sem
entender como ela faz isso, como consegue me
desconcentrar.

Fico em silêncio, encostado na parede, ao passo que


escuto a porta da frente da grande casa se abrir. Me
mantenho imóvel, observando a mulher amarrada na
cadeira, com sua boca amordaçada, dentro do escritório,
com os olhos dela assustados e fixos em mim.
— Merda de gato! — A voz masculina esbraveja com
raiva, e ouço seus passos ao caminhar pela casa. — Deri, a
porra desse gato desgraçado cagou nas minhas pantufas!
Abaixo os olhos para o filhote de felino nos meus
braços. Ele é branco e felpudo, e mia baixinho enquanto o
acaricio entre suas orelhas, ronronando.
— Deri... Deri... — o homem chama mais alto, e ergo
meu rosto quando a porta do escritório é aberta. — DERI! —
Sua voz sai assustada assim que ele encontra a mulher
amarrada à cadeira, que deixei diretamente posicionada
para a entrada do escritório, garantindo que realmente
fosse a primeira coisa que ele visse quando abrisse a porta.
E como imaginei, ele faz exatamente o que esperava
dele, entra sem olhar para mais nada além dela, mesmo
com ela gemendo entre as lágrimas, negando com a
cabeça. Seguro o gato por uma mão, e a outra se ergue,
comigo o tendo em minha mira.
— Você é minha mãe? — murmuro, suspirando e
destravando o gatilho do revólver, com o clique seco
ressoando no escritório.
Seus ombros se encolhem e ele vira na mesma hora
para mim.
— Você é minha mãe?! — Sorrio e pisco para ele,
apertando o gatilho assim que abaixo minha mira,
acertando seu joelho.
— OHHH, MEU DEUS... — ele grita, com seu peito
subindo e descendo, ao passo que se vira no chão e agarra
seu joelho.
Solto o filhote de gato no chão, me endireitando e
mantendo meus olhos em Cristofe Tuing, que torce sua face
com dor, me olhando assustado. Conheço esse olhar de
medo, é sempre o que tem nos olhos deles quando me
veem.
— Olha, tem dinheiro lá em cima, não...
— Gostei da sua casa. — Caminho para ele, abaixando
meu rosto, com o bico da minha bota esmagando o seu
ferimento quando ergo minha perna e posiciono-a sobre a
sua. — Uma bela casa, afastada dos vizinhos, e com um
jardim grande... Engraçado isso. Estava pensando sobre o
espaço hoje, um pouco antes de vir lhe visitar, Cristofe.
Realmente, essa casa se parece com um lar!
Fisgo minha boca e sorrio para ele, mirando a arma
em sua direção e o vendo se encolher ainda mais no chão.
— Por favor... por favor, eu tenho filho...
— Oh, sim, eu sei! — Sorrio e levanto meu rosto para
o teto, apontando a pistola para lá, antes de o encarar mais
uma vez. — Luck... Eu entrei pelo quarto dele. Deveria ser
mais cuidadoso com a segurança da casa. O lugar é bom,
mas completamente frágil.
— Seu ladrão de merda, se tocou no meu filho... — O
cano da pistola o cala quando o enfio em sua boca,
finalizando seu pequeno ato de bravura ao tentar se
levantar.
— Não me insulte. Olhe bem para mim, Cristofe. —
Tombo o rosto para o lado, o encarando. — Acha mesmo que
sou um ladrão?
Disparo no seu outro joelho, o fazendo gritar mais,
com sua face ficando vermelha e as lágrimas escorrendo
por seu rosto, com ele se contorcendo abaixo de mim.
— Eu pareço com um ladrão, Cristofe? — Sorrio,
deixando meus dentes à mostra para ele, enquanto o vejo
negar rápido com a cabeça. — É, foi o que pensei.
Afasto-me dele, tirando meu coturno de cima do seu
ferimento, vendo seu peito subir e descer, enquanto geme
de dor, com os tiros em seus joelhos vazando sangue.
— Passei no seu consultório antes de vir para cá, para
visitar sua família — falo calmo, olhando para sua esposa,
vendo seus olhos vermelhos de lágrimas, enquanto me
encara assustada. — Encontrei isso no seu cofre do
escritório, e confesso que achei uma coleção bem
interessante...
Levo minha mão ao bolso da calça e retiro o pacote de
plástico, o qual encontrei dentro do cofre dele, e que tem
não centenas, mas pelo peso posso jurar que sejam
milhares, de dentes humanos. Jogo-os em sua direção, o
que faz sua face empalidecer e sua respiração ficar presa.
— Agora já sabe o porquê estou aqui, senhor Tuing.
Levo o revólver ao coldre, o guardando e me
agachando perto dele, com meus dedos puxando minha
faca do acessório preso em meu tornozelo. Minha outra mão
vai ao bolso pequeno no peito do meu colete e retiro uma
moeda, a jogando em cima dele.
— Olá, fada do dente! — Sorrio para ele, piscando e o
vendo se arrastar de bunda para perto do sofá, com os
olhos assustados.
— Eu não sei do que está falando... — ele balbucia,
negando com a cabeça. — Está me confundindo com outra
pessoa.
— Você é minha mãe? — Giro meu rosto para a
mulher, balançando a faca em minha mão. — Não, não sou
sua mãe, respondeu o cachorro.
Retorno meus olhos para Tuing, levando a faca à
minha boca e a lambendo, o fitando.
— Quem é você... — ele murmura, com seu peito
subindo e descendo rápido.
— Alguém que vai lhe ensinar o que é muita dor,
senhor Tuing, tanto quanto você infligiu a cada mulher que
torturou — falo divertido para ele, me levantando. — Mas,
antes, teremos uma conversa, e se não me der as respostas
que quero, vai me ver causando a mesma dor que você
causou nessas mulheres, em sua esposa.
Ele gira o rosto para ela, e sorrio ao ver os dois se
entreolharem, com ele esmagando sua boca e os ombros se
encolhendo. Não era o plano ter a mulher nesse encontro,
mas como ela me viu quando saí do seu quarto, antes de eu
apagá-la, como fiz com o garoto e a babá ao usar
clorofórmio, precisei amordaçá-la e amarrá-la, o que será
um pequeno incentivo para Tuing abrir sua boca e não me
fazer perder tanto tempo. Apagarei ela da mesma forma
que apaguei o garoto e a babá, os deixando desmaiados na
casa, levando apenas Tuing comigo, onde poderei brincar
mais um pouco com ele.
— Olha, eu não sei que porra tá fazendo aqui, mas...
— Ele se cala, fechando seus olhos, e fico curioso ao vê-lo
simplesmente cerrar sua boca, enquanto a mulher grita,
mesmo estando abafada com a mordaça, e bate seus pés
no chão. — Eu não posso falar...
— COVA...RD...E DE ME...RDA! — ela berra, com sua
cabeça balançando de um lado ao outro. — A... cam...a
— Cala a boca! — ele grita, a fazendo se calar, e meu
braço se estica quando saco o revólver e aponto para ele,
que se silencia.
Vou até ela e abaixo a mordaça, a vendo respirar
rápido ao olhar para mim.
— Embaixo da cama tem um alçapão. Embaixo da
nossa cama... E vai encontrar informações lá...
— Oh, porra, cala a boca, sua cadela bur... — Ele grita
de dor quando aperto o gatilho, disparando em sua coxa, ao
passo que a observo curioso.
— O que vou encontrar embaixo da cama, senhora
Tuing? — Minha atenção fica inteiramente voltada à mulher,
a qual me parece mais útil do que o filho da puta baleado
sangrando.
— Está aqui por causa das vadias, não é?! — Ela
respira depressa. — As que ele cuida...
— Pelo amor de Deus, cala a boca, Deri...
— Eu não vou morrer, e nem lhe deixar morrer, por
conta de um bando de vadias e de sua covardia! — ela fala
entre o choro, girando o rosto para ele.
A estudo, vendo seu peito subir e descer, com seus
dedos se esmagando com força nos braços da cadeira, onde
estão amarrados.
— A senhora sabe o que ele faz! — É mais uma
constatação do que uma pergunta, e vejo-a retornar os
olhos para mim. — Interessante isso...
Olho entre os dois, me levantando e erguendo a faca,
a batendo em meu queixo com a ponta, antes de apontá-la
para a mulher.
— Tem consciência do que seu marido fez, que esses
dentes humanos são das mulheres que ele torturou... —
Aponto para o saco antes de a mirar. — E, mesmo assim,
está o protegendo...
Incrível. Olhos os dois agora, não a vendo mais como
um efeito colateral da invasão da casa, e sim como a
parceira dele.
— É claro que eu sabia — ela murmura, inalando
fundo e abaixando sua cabeça. — Olha, a gente só queria a
grana, tínhamos contas pra pagar e o negócio apareceu...
Ele me perguntou o que eu achava, a grana viria em boa
hora...
— Oh, sim, dinheiro! — Sorrio, ainda mais intrigado
com eles. — Um negócio bem lucrativo...
Olho em volta, vendo o escritório luxuoso, assim como
o resto da casa que analisei rapidamente, depois que invadi.
Paro meus olhos nela, percebendo as joias em seu pescoço.
— É, são um time e tanto. — Analiso-os rápido, não
precisando de muito para fazer uma leitura dela.
Puxo a cadeira dela e a viro, deixando-a de frente
para seu marido, ao passo que sorrio, ainda mais curioso
com essa relação.
— Não se importa de eu sentar um pouco, não é?!
Realmente fiquei interessado nesse casamento feliz — falo
para o senhor Tuing, o chutando e o fazendo cair de lado,
enquanto sento-me no sofá.
O uso como base para apoiar meu pé, com um bem
preso em sua barriga e o outro em cima da boca, mirando a
arma para a cara dele.
— Você cuidava do dinheiro e ele das garotas. — A
olho, tombando a cabeça, vendo a verdade nos olhos dela.
— Apenas ajudávamos, só isso... — Ele nega com a
cabeça. — Ninguém se importa com esse tipo de gente, são
das ruas... Algumas tinham até uma vida melhor do que
antes, e elas deveriam nos agradecer...
— Por arrancar os dentes delas, para não terem mais
nada com o que se defender quando fossem obrigadas a
aceitar a porra de um pau dentro da boca delas? —
questiono sério, a encarando. — Jura que realmente
esperava gratidão delas por isso...
— Nós temos dinheiro, muito dinheiro, e pode ficar
com tudo, apenas diga seu preço... — Seus olhos se fecham
e ela se agarra à cadeira quando levo a mira da arma para a
cara dela. — Oh... Meu Deus, eu te amo, Cris...
— Também te amo, querida... — Olho para baixo,
vendo-o murmurar abafado, tendo a sola da minha bota em
seu rosto.
Abaixo o revólver para o meu colo e o bato
lentamente em meu joelho, arqueando minha sobrancelha.
CAPÍTULO 19

O MONSTRO
JON ROY

— Há quanto tempo estão juntos? — pergunto à


mulher, intrigado.
— Quinze anos... — ela murmura, abrindo seus olhos
para mim. — Estamos juntos há quinze anos.
— Como pode o amar? — Fico curioso, tentando
compreender isso. — Como ama um homem como ele?
Porque, como nós dois bem sabemos, seu marido é tão
monstruoso quanto eu.
Aponto o saco de dentes, encarando o plástico e
imaginando quantas mulheres ele torturou, machucou e
feriu.
— Como consegue isso? — Ergo meus olhos para ela,
pensativo. — Ando tendo algumas dúvidas ultimamente.
Acho que estou em uma relação afetiva, e isso é novo para
mim. Provavelmente, a essa hora já teria lhe matado, no
segundo que me deixou saber que está envolvida nisso,
mas realmente preciso que responda como pode amar um
filho da puta como ele... E, ainda por cima, deram certo
como um casal, mesmo você ciente de tudo que ele anda
fazendo.
— Apenas queremos a mesma vida, as mesmas
coisas... — ela balbucia, olhando para ele.
Levanto rápido, o fazendo gemer quando forço meu
peso sobre ele, o encarando. As mesmas coisas... Estranho,
mas ainda assim um pouco revelador. Linda tinha
assassinado os pais de Violet na infância, tem sangue em
suas mãos tanto quanto nas minhas, e será que é isso que
faz eu me sentir ligado a ela? A morte?
Inferno, acabei tendo mais dúvidas do que respostas!
— Bom, isso foi tão útil quanto a filosofia do Ryan —
murmuro, dando um pulo no chão, o vendo gritar. —
Obrigado pelas respostas, senhora Tuing.
Uso a faca para cortar as amarras dos seus braços, e
sorrio para ela, dando um passo para trás. Ela pisca,
confusa, observando seus pulsos soltos.
— Oh, meu Deus, obrigada... — sussurra ao se
levantar, tendo as lágrimas escorrendo por sua face. —
Obrig...
Suas palavras se interrompem no segundo que meu
braço se ergue e corto seu pescoço em um risco rápido e
profundo. Mantenho os olhos nos seus, vendo-a levar seus
braços para a garganta aberta, tentando estancar o sangue.
— OH, MEU DEUS, QUERIDA... — Tuing grita enquanto
chora alto, e o olho curioso, percebendo as lágrimas que
descem por suas bochechas ao olhar dela para mim.
— Esqueci de avisar que uma dessas garotas que ela
xingou de vadia, é a minha garota! — Pisco para ele,
erguendo a ponta do meu dedo e empurrando o peito dela,
a fazendo cair sentada na cadeira.
Guardo a faca no bolso, assim como o revólver, e
meus olhos ficam fixos na agonizante senhora Tuing, que
tem os olhos arregalados e o sangue escorrendo por seu
corpo.
— Não se preocupe, ela não vai morrer agora. Vai
sangrar por mais vinte ou trinta minutos, quem sabe, e daí
morrerá. — Sorrio, a olhando, com minha mão indo a um
dos bolsos do colete e puxando um pequeno alicate. — Mas
pense pelo lado bom, não vai precisar mais da mordaça.
Agarro seus cabelos, os puxando para trás, a forçando
a abrir a boca, enquanto se debate, com o sangue jorrando
por seu pescoço aberto.
— Everyday, it's a gettin' closer — cantarolo baixo a
canção de Buddy Holly, Everyday, que tocou nos alto-
falantes velhos do carrossel, enquanto levo o alicate até a
boca da senhora Tuing e agarro um dos seus dentes. Ela se
debate na cadeira, agonizando. — Love like yours will surely
come my way...
Assobio a melodia, apertando mais forte seu dente
com o alicate, com a imagem de Linda surgindo em minha
mente. O sorriso doce em seus lábios, os grandes olhos
violetas brilhando com alegria para o brinquedo, que me fez
não conseguir olhar mais nada que não fosse ela e seu
sorriso, tão inocente e puro como seu olhar.
Tombo a cadeira, que vai para trás junto com a mulher
ao usar mais força para arrancar o dente dela, e largo o
encosto, o deixando ir ao chão, quando finalmente o
arranco. Vejo-o preso no alicate, com a raiz quebrada, e
suspiro.
— Você é minha mãe? — murmuro, sorrindo e
caminhando para Tuing, com meus olhos presos ao dente. —
Seu filho, Luck, pelo visto, ama esse livro. A babá estava
lendo, e pelo que ouvi ela reclamar, pela oitava vez, quando
invadi o quarto.
Agacho-me à sua frente, o puxando pela gola da
camisa e o fazendo se sentar, escorando suas costas no
sofá.
— O passarinho perguntou a uma vaca: “você é minha
mãe?”. — Mantenho os olhos no sangue escorrendo no
pedaço de carne preso à raiz do dente no alicate. — Não, eu
não sou mãe, como poderia ser sua mãe, respondeu a vaca.
Suspiro e giro meu rosto para a cadeira tombada,
vendo os pequenos tremores nos pés da esposa, com ela
tendo seus últimos resquícios de vida. Realmente não tinha
o plano inicial de matá-la, mas no segundo que se referiu à
Linda como vadia, ao xingar aquelas garotas, ela assinou
seu fim.
— Quando apaguei a babá com o sonífero, antes de ir
fazer o mesmo com Luck, ele perguntou se eu era o
monstro que vivia debaixo da cama dele. — Retorno meu
rosto para frente, virando o alicate e observando o dente da
sua esposa. — Ele garantiu que o monstro vive lá, mas que
seu pai olha debaixo da cama e não vê nada, que olha
dentro do armário e não o enxerga.
Sorrio e desvio meus olhos do dente para a face
pálida dele, que tem os olhos arregalados e fixos nos meus.
— Me diga, fada do dente... — rosno baixo,
desfazendo meu sorriso, com meu braço se esticando e
agarrando sua garganta. — Está vendo o monstro agora?
— Por favor... por favor, eu só fazia o que pagavam, só
isso... Eu só tirava os dentes delas... — Ele esmaga seus
olhos, chorando, enquanto vejo a urina sair entre suas
pernas, se misturando ao sangue. — Mal olhava para elas,
apenas fazia o que me pediam...
— Torturou aquelas mulheres, torturou a minha
mulher! — Ranjo meus dentes, abaixando o alicate e
empurrando a ponta dele, com o dente, dentro do ferimento
do tiro em sua coxa, o fazendo gritar e se urinar ainda mais.
— Não... não! Porra, juro que nunca toquei em
nenhuma delas, apenas fazia o que me mandavam...
O estudo em silêncio, abrindo o alicate e soltando o
dente da esposa dentro do seu ferimento, balançando o
instrumento ao lhe fitar.
— Está dizendo que só arrancava os dentes? Só isso?
— pergunto sério, o vendo mover a cabeça em positivo
rapidamente.
— Só isso, juro. Eu apenas ia, fazia o serviço e saía de
lá...
— Ia e saía de onde, Tuing? — Ergo em um movimento
rápido o alicate, prendendo-o no seu dente da frente, o
vendo arregalar ainda mais seus olhos. — Diga, pois tenho a
noite inteira para arrancar um por um dos seus dentes.
Sorrio, mantendo sua garganta presa em meus dedos,
ao passo que forço o alicate para baixo, apertando entre seu
dente e a carne superior da gengiva, o vendo tremer inteiro
enquanto chora.
— Dos donos... — ele balbucia, me fazendo parar o
puxão e olhar para ele.
— Onde?
— No alçapão tem todos os endereços... Eu marquei
todos...
— Garoto esperto. — Sorrio e solto sua garganta,
empurrando devagar seus cabelos bagunçados para trás, os
alisando. — Garantindo sua proteção, não é...
— Olha, eu não tinha ideia para quem eram esses
trabalhos, mas quando vi que tinha muita gente grande
envolvida, achei melhor me precaver... — Ele me olha com a
boca aberta, e o sangue escorre junto com a saliva da sua
boca. — Por favor, por favor, não me mata! Eu posso depor,
posso depor diante de um juiz contra todos eles...
Solto seu dente, ficando agachado à sua frente e
olhando o merda que se mijou inteiro. Tenho certeza, desde
o segundo que ele começou a falar, que o filho da puta que
torturou a Linda não foi a fada do dente.
— Uma jovem negra, pequena, aproximadamente
1,54 m de altura, com rosto delicado em formato de
coração, cabelos cacheados puxados para os crespos, com
grandes olhos violetas e cílios grossos como uma boneca —
rosno, esmagando seu joelho, o fazendo gritar ainda mais
de dor. — O dono... Quem era o dono dela?
— Eu não sei de quem está falando... — Ele fecha os
olhos, chorando e balbuciando. — Por favor...
O puxão em seu dente é brutal quando o arranco de
uma única vez, o que o faz gritar, com o jorro de sangue
saindo da sua boca.
— Tem mais trinta e uma chances de dizer a verdade,
antes de eu lhe deixar de ponta-cabeça, lhe serrando do seu
rabo até seu crânio. — Olho o dente dele quebrado no
alicate, enquanto o descarto, sorrindo. — Vamos para a
segunda chance...
— Malcon Doble! — ele fala rápido, balbuciando o
nome do velho dono da mansão que invadimos, onde
encontrei Violet, antes mesmo do alicate se aproximar dos
seus lábios.
— Se falar que ele era o mestre dela, isso vai me
deixar muito mal-humorado — rujo para ele, esmagando
mais forte seu joelho.
— Não... não... — Ele nega com a cabeça,
choramingando. — Ele me ligou dois meses atrás, e foi a
última vez que o vi. Havia um lote de garotas que ele
precisava limpar, e, entre elas, uma jovem que se parece
com essa da descrição que deu, com grandes olhos
violetas...
— E? — Afasto o alicate da sua boca, lhe fitando.
— Ela estava na mansão, mas não era para fazer a
extração dos dentes dela, apenas das outras. Ele queria que
eu a escondesse em um dos apartamentos que eu tenho
aqui em Toronto. O dono dela é alguém importante que
Malcon conhecia, e que precisava manter a jovem
escondida, só não sei o motivo. Apenas sei disso... — Ele
chora, balbuciando em meio ao soluço. — Ela estava com
ele para ser escondida. Se quer alguma resposta sobre o
dono dela, pergunte a Malcon Doble...
— Boa tentativa. — Agarro seus cabelos, os puxando
para trás, tendo o alicate prendendo outro dente, o
arrancando com força, enquanto ele grita e se esperneia. —
Nós dois sabemos que Malcon está morto. Com certeza,
você sabe ainda mais, já que a grande quantia que tem na
sua conta veio dele. Ficou com medo, receio que te
encontrasse, por isso escondeu os dentes que guarda como
recordação no cofre da sua clínica. A sacola me mostra que
foi às pressas que os tirou de onde estavam. Um serviço
porco, senhor Tuing. Muito porco!
Puxo com raiva outro dente, o arrancando com a raiz
e o fazendo chorar, ao passo que se treme, tendo a boca
lavada de sangue.
— Mas extremamente interessante. — Sorrio e fito seu
dente molar, o jogando no chão na sequência. — Não curto
dentes, e olha que meu codinome é Açougueiro. Ganhei
esse codinome porque eu não deixo sobrar nada,
absolutamente nada, de nenhum dos meus cadáveres, os
picotando como um açougueiro sanguinário, que sabe
aproveitar uma boa carne, mas não porque as como. Oh,
não, não curto esse lance de canibalismo, mas aprecio ver
cada pedaço dos membros, vísceras e órgãos carbonizando,
enquanto eu os queimo depois que os corto.
Retorno meus olhos aos seus e vejo-o chorar,
soluçando, com sua boca aberta e o sangue descendo por
ela.
— Vou ver seus membros queimarem, assim como os
da sua esposa, depois que a esquartejar — falo devagar, o
olhando sério. — Agora, a única dúvida que tenho é: vou lhe
deixar vivo enquanto a mutilo lentamente, como você
mutilou aquelas mulheres para bancar essa linda casa, ou
prefere dizer a verdade e lhe mato com um tiro na cabeça,
sendo piedoso?
Solto o alicate e retiro a faca do suporte, com meus
olhos fixos nos seus, ao passo que a ergo devagar, a
deixando na frente do seu rosto.
— Estavam com medo de encontrarem ela... — ele
balbucia rápido atrás de mim. — Foi isso que Malcon disse.
Ele estava com ela, porque o dono tinha medo dela ser
encontrada. Ele a pegaria de volta quando fosse seguro.
Ninguém podia tocar nela, nem Malcon, ele apenas tinha
que escondê-la. Olha, cara, eu juro que é tudo que sei,
porra...
Levanto e dou as costas a ele, caminhando para o
cadáver fresco da sua esposa.
— Sabe, não é difícil como pensam desmembrar um
corpo, é praticamente como um animal qualquer. Comece
sempre pelas juntas dos músculos, pois isso facilita o corte,
já que escapa dos ossos. — Estico meu braço e inclino meu
tronco para frente, agarrando os cabelos do cadáver da sua
mulher e a arrastando no chão até ele, a soltando perto das
suas pernas. — Faz muita sujeira, mas não é difícil. Difícil
mesmo é o pescoço.
Agacho-me e fico perto dela, enquanto o encaro,
parando a faca em cima do corte que fiz na garganta da
mulher.
— São muitos nervos e veias — digo calmo, o
observando. — Uma vez, me disseram que o certo é quebrar
o pescoço antes de o separar do corpo, pois isso facilita. Foi
minha avó que disse isso, enquanto preparava o jantar. —
Rio, negando com a cabeça e balançando meus ombros. —
Sabe o que é hilário nisso, senhor Tuing? É que a velha
maldita falou isso minutos antes de eu matá-la esfaqueada,
usando a mesma faca que ela estava degolando a galinha.
Só que ela realmente tinha razão, quebrar o pescoço
facilita, e muito. Minha prima por parte de mãe fez isso
antes de cortar a cabeça dela e a colocar no freezer da
geladeira. Boas lembranças em família... — suspiro,
olhando-o com calma e sorrindo para ele, erguendo a faca
até o seu pescoço e usando a ponta dela para empurrar seu
queixo para cima. — Agora, me diga, senhor Tuing, qual
lembrança o pequeno Luck vai ter? A de uma carta dos pais,
dizendo que o abandonaram, ou da cabeça deles dentro da
geladeira?
— Vancouver... — ele balbucia, chorando. —
Vancouver. O cara é de Vancouver, e ele tinha medo de
alguém a encontrar, por isso a escondeu...
— Bom menino. — Inalo fundo, fisgando minha boca e
vendo a verdade no olhar dele.
— Você é um monstro, porra... Um monstro! Não
precisava ter feito isso com minha esposa...
Faço uma cara triste e finjo um falso
descontentamento com sua acusação, puxando a sacola
cheia de dentes e a balançando no ar, chamando a atenção
dele para ela.
— Sabe qual é o problema das fábulas, senhor Tuing?
— Sorrio e giro meu rosto para o saco, vendo os milhares de
sisos, molares e caninos, todos dentro da porra da sacola,
que custaram muita dor quando foram arrancados. — É que
nunca falam do porquê os monstros se tornaram monstros.
Mas, hoje, senhor Tuing, a fada do dente irá descobrir que
nunca se deve brincar de ser um monstro, assim como a
bruxa da sua esposa descobriu — rosno, soltando a sacola
quando o agarro pelos cabelos, o deixando junto ao cadáver
da sua esposa e o fazendo gritar quando enfio a faca em
seu ombro, o cravando no piso de madeira.
Estico minha mão e pego o alicate, agarrando seu
queixo e abaixando meu rosto, até seus olhos ficarem
presos aos meus.
— Hora de terminar a extração, fadinha!
Agarro mais um dente com o alicate e o puxo, com ele
se debatendo, enquanto suas mãos socam o chão. Rio
durante o processo, no qual retiro dente por dente da boca
dele.
CAPÍTULO 20

A CRIANÇA
JON ROY

Ando devagar pelo corredor, seguindo para o meu


alojamento, enquanto ergo o meu pulso e confiro a hora. Já
passa das 00h40. Minha visita com o senhor Tuing tinha
demorado mais do que eu planejava, quando ao invés de
sumir com um corpo, tive que sumir com dois. Depois que
garanti não deixar uma única digital ou vestígio que fosse
da minha passagem por ali, joguei o casal maravilha no
banco do carona do carro deles, dirigindo por horas, me
afastando de Toronto, antes de o incinerar. Fiquei o
observando até queimar inteiro.
Nada tinha sido como eu esperava na minha visita a
Tuing, mas havia encontrado muito mais do que eu
imaginava que encontraria. Tuing não apenas guardava os
endereços de onde ele foi chamado para fazer a limpeza
nelas, como ele se referira, Tuing também garantiu
gravações. Havia vários DVDs com nomes de juízes e
governadores, tendo cada DVD com o nome e o cargo
gravado na capa. Tinha, inclusive, filmagens do presidente
da Turquia. O cretino filho da puta do Tuing me serviu
melhor que a encomenda, já que me deu rotas e
esconderijos.
Mesmo assim, me vi retornando para Vancouver,
dirigindo a moto na velocidade máxima, tendo um único
pensamento: o merda que machucou Linda é de Vancouver.
— Ladrão, ladrãoooo... — Meu passo para no segundo
que reconheço o timbre de Linda. — Ladrão!
Sua voz não vem do meu alojamento, e sim do de
Artur, o que me faz parar imediatamente na frente da porta
dele, a espancando e querendo saber que porra ela está
fazendo ali. A porta é aberta por Artur, que suspira
longamente assim que me vê.
— Graças a Deus você chegou! — Ele ergue seus
dedos e coça as têmporas. — Mais um pouco e eu iria
precisar usar a soda...
— Por que ela está aqui? E ainda por cima acordada a
essa hora? — rosno, o empurrando, procurando por Linda.
— Não disse que ela tinha hora para dormir. — Ele
bufa, falando atrás de mim, mas não o respondo, apenas
busco por ela.
E quando a encontro, fico confuso por segundos,
quando a vejo sentada na mesa pequena, perto da janela,
segurando um sanduíche na mão, enquanto na outra tem
cartas, estando de frente para Killer.
— Ela está humilhando-o. Praticamente criei um
monstro fofo do pôquer. — Artur sorri e fala baixo, rindo
para mim.
— Mestre chegou... — Seu sorriso é largo, e ela gira o
rosto para mim no segundo que me vê, balançando suas
cartas. — Linda ir com mestre agora, Killer, terminar jogo
depois.
Ela joga as cartas na mesa e se levanta, não
escondendo sua alegria em me ver, vindo direto para mim.
— Quebra Osso fazer sanduíche para Linda e ensinar
Linda a humilhar Killer, como uma garotinha chorona... —
Ela sorri, olhando para trás e apontando Killer, antes de
voltar o rosto para mim. — Mas Killer não ser garotinha, ele
é um homem, mas só que ele chorou também... — ela
cochicha, fazendo Artur soltar uma sonora gargalhada,
fechando a porta atrás de nós.
— Qual é, Linda, achei que tínhamos nos tornado
amigos?! — Killer bufa, puxando as cartas dela, enquanto as
joga com raiva na mesa e as olha. — Você me chamou de
ladrão, mas estava roubando, certeza! Não pode ter uma
mão boa dessa no mesmo dia que se aprende a jogar...
— Linda ter um bom professor — ela o responde,
apontando para Artur, que estufa seu peito.
— Eu a ensinei a falar isso para o chorão! — Giro meu
rosto para Artur, que bate seu ombro no meu e cruza os
braços, rindo.
— Eu não sou chorão! — Killer rosna, franzindo o
cenho. — Artur ensinou sua garota a roubar, foi isso que ele
fez.
— Não, Linda não ser ladra... — Ela nega rapidamente
com a cabeça. — Mas Killer chorar, sim. Linda o viu chorar
ao assistir Bambi com Linda e Quebra Osso. — Ela aponta
para a televisão, antes de dar uma grande mordida no seu
sanduíche, e retorno meu rosto para Killer, ao passo que
Artur ri ainda mais.
— Eu já disse que não chorei, que caiu alguma coisa
no meu olho, merda... — Killer joga suas cartas em cima da
mesa, ficando com seu semblante carrancudo.
— É, sim, ele chorou, e foi o auge da minha noite
poder ter algo para implicar com ele pelo resto da vida —
Artur suspira, movendo a cabeça para frente e para trás.
— Bambi, Killer, pôquer... — Olho para Artur, o
encarando sério. — Preciso saber de mais alguma coisa?
— Sim, seu alojamento está sem comida, não tinha
nada naquela despensa, então tive que trazê-la para o meu
alojamento, para nós dois não morrermos de fome, já que ir
com ela para o refeitório estava fora de cogitação — ele fala
direto, cruzando seus braços acima do peito. — Resumindo,
além de encher sua despensa, visto que sua garota é um
gafanhoto, vai ter que encher a minha também, porque ela
comeu todo meu estoque de batatinhas.
— Batatinhas gostosas... — Linda murmura, rindo,
com a boca cheia de pão e geleia de morango, olhando para
mim.
— Esse aí apareceu no final da tarde, e não tive como
chutar ele pra fora, porque estava com cerveja e biscoitos
da sorte. — Artur dá de ombros, apontando para Killer.
— Biscoito da sorte gostoso, muito gostoso... — Linda
se aproxima ainda mais, com sua mão se erguendo e
tocando meu peito, rindo e segurando seu sanduíche.
— Eles te deram muita comida, não foi?! — Aliso seu
queixo, vendo seus olhos brilhantes. Ela ri e balança a
cabeça para frente e para trás.
— Biscoito primeiro, buzzzz em Killer depois — ela
fala, sorrindo e apontando para ele. — Linda fez buzzzzz em
Killer. Ele caiu no chão e ficou buzzzzz...
Arqueio minha sobrancelha, a encarando sem
entender, a vendo tremer, rindo e apontando para o Killer.
Ele encolhe seus ombros, abaixando sua cabeça e
suspirando.
— Artur achou divertido ensiná-la a usar o taser, e ela
mirou na minha barriga ao apertar o gatilho. — Ele fisga o
canto da boca, e giro meu rosto rápido para Artur, rosnando.
— Ensinou Linda a usar a porra da arma de choque?
— O que foi?! Ela precisa saber se defender. E, outra,
ela ainda estava brava pelo que ele fez com você, então
nada melhor que colocar um ponto final em uma desavença
ao devolver na mesma moeda. — Artur dá de ombros e ela
arregala os olhos, balançando seus dedos, animada.
— Ka-boom... Quebra Osso ensinar Linda, ka-boom...
— ela fala de boca cheia, ao passo que olha ansiosa para
mim, com seus olhos violetas brilhando de alegria,
engolindo apressada seu pão, tendo seus dedos imitando
uma tesoura, os abrindo e fechando. — Azul para e
vermelho faz ka-boom...
Giro o rosto para Artur, rosnando assim que
compreendo o que ela está me contando. O ruivo tem a
expressão pálida e coça sua nuca, me dando um sorriso
amarelo.
— Nunca se sabe quando será preciso desativar uma
bomba caseira. — Ele dá um risinho baixinho, fugindo para
perto de Killer e abrindo a geladeira, pegando uma cerveja.
— Ela também assistiu TV, fez desenhos e tivemos outros
tipos de atividades, não foi, Linda?!
— Desenhos, muitos desenhos! Quebra Osso deu
caderno para Linda. — Seu braço se estica e aponta para o
sofá-cama velho, mordendo seu sanduíche em seguida.
Aliso seu queixo e a trago de mansinho para perto de
mim, com meu nariz se esfregando em sua testa.
— Deveria estar dormindo pelo tanto de coisa que
andou aprontando hoje — murmuro, espalmando meus
dedos em sua face.
— Linda viu desenho, não dormiu, não, não...
Esperando mestre Jon. — Ela encosta sua bochecha em meu
peito e seu braço se ergue para segurar minha cintura.
— Cara, não tenho nada contra, mas juro que nunca
imaginei que você tinha fetiche com infantilismo, Jon —
Killer fala enquanto ri, o que me faz erguer a cabeça na
mesma hora.
Fixo os olhos nele, ao passo que a respiração pesada
de Artur sai alta perto da geladeira.
— O que foi? — Ele olha de mim para Artur. — Não
estou criticando. Estamos em Babilônia, cada um faz o que
gosta, apenas estou dizendo que não pensava que Jon
curtia isso...
— Agora é aquele momento que você cala a porra da
boca, Killer! — Artur rosna, enquanto fuzilo Killer, tendo
apenas Linda me impedindo de ir até ele e o socar, porque
não quero a assustar.
— O que eu disse... — ele balbucia, olhando assustado
para Artur.
— O que é infa... infan...
Ela me faz abaixar o rosto quando sua voz sai curiosa,
com ela fechando seus olhos e tentando dizer a porra da
palavra, a qual Killer, de forma escrota, acabou de dizer.
Linda não tem o comportamento de uma criança,
porque ela não é uma criança, e nem é assim que ela se vê.
Linda tem um entendimento dela como uma boneca, mas
tem a porra de uma inteligência maior que a dele, que é
idiota o bastante para não entender que ela passou três
malditos anos presa, não falando uma única palavra, sendo
apenas uma boneca que um animal destruiu.
— Palavra nova, Linda não ouvir essa palavra antes...
— Inalo fundo, olhando do rosto inocente dela para o de
Killer, comprimindo meus lábios.
— É uma pessoa adulta que tem um comportamento
infantil, ou que sente atração por outro adulto que age
dessa maneira... — tento explicar de uma forma direta a
ela, pois sei que Linda está absorvendo tudo ao seu redor,
aprendendo cada dia mais depressa, de acordo com o laudo
da psiquiatra. — Mas você não é uma criança, e muito
menos tenho atração por crianças — rosno, fuzilando Killer
de novo, podendo me ver socando a porra da garrafa em
sua boca, o fazendo a engolir.
— Criança? — Ela me olha ansiosa, com seus grandes
olhos violetas brilhando para mim e sua cabeça balançando
para os lados, em negativo. — Criança não. Não, não, Linda
não ser criança...
Ela ri e abre ainda mais seu sorriso, se virando para
ele, com seu dedo se erguendo e o balançando de um lado
ao outro.
— Linda não ser criança. — Ela pisca rapidamente,
girando o rosto para o sofá e esticando seu sanduíche para
mim. — Mestre, segura o sanduíche de Linda.
Ela o empurra, e o pego, a vendo ir para o sofá-cama
de Artur e catar o caderno de capa marrom de couro. Ela
sorri e sua face se ilumina inteira quando o abre, parando
perto de Killer.
— Criança... — Ela ri, o deixando sobre a mesa
enquanto aponta. — Violet, criança de Linda. Linda não ser
criança.
Ela bate seus dedos no papel do caderno aberto, com
sua outra mão tocando o peito, sorrindo inocente para ele.
Vejo a expressão de Killer empalidecer ao olhar a folha,
antes de erguer o rosto para ela.
— Isso é o desenho de uma bon... — ele inicia, mas
suas palavras se calam ao ver o sorriso inocente dela.
— Linda. — Ela bate os dedos em seu peito, falando
alegre. — Linda não ser criança, essa ser a Linda...
Artur se aproxima e abaixa os olhos para a folha, com
a boca dele se esmagando ao encarar o que Linda mostra a
eles.
— Violet, Linda e mestre Jon. — Ela olha para mim,
com seu rosto tombando de ladinho. — Mestre, Linda
desenhou o mestre.
Artur move o rosto e me fita, levando a cerveja à sua
boca, e vejo sua outra mão se erguer e acertar a cabeça de
Killer, que apenas solta um baixo “ai”, ficando calado, com
os olhos perdidos em Linda.
— Seu desenho é muito bonito, garota. — Artur sorri
para ela.
Linda pega seu caderno, não percebendo o segundo
tapa que Artur dá em Killer, com mais força, e vem para
mim, mostrando seu caderno.
— Sanduíche. — Sua mão se estica e ela faz a troca,
me dando o caderno com uma mão e pegando seu
sanduíche com a outra. — Lembrança boa... Linda gravar
lembrança...
Fico em silêncio, observando o desenho que ela fez,
do carrossel, que tem a criança na frente dele, segurando a
boneca em seus braços, e uma imagem de um homem com
roupa preta atrás, alto, que sei que sou eu.
— Violet é a criança de Linda... — ela diz de boca
cheia, rindo. — E Linda é o bebê do mestre.
Ela tomba o rosto em seu ombro, olhando para eles.
— Mas Linda não é um bebê de verdade, Linda é
boneca. — Fecho o caderno e alço meu rosto para os dois,
ao passo que ela sorri alegre para eles, mordendo seu
sanduíche.
— Eu não tinha ideia disso, cara — Killer sussurra,
encolhendo seus ombros e me deixando ver o
arrependimento em seus olhos pelo que disse.
— Se falar mais uma merda como essa, o próximo tiro
que vai receber não será de uma arma de choque — rosno
para ele, o vendo mover a cabeça em positivo e soltar o ar
lentamente pelo nariz.
— Não, não, sem tiros... — Linda fala para mim. —
Killer amigo de Linda, um bom amigo, que traz biscoito da
sorte gostoso pra Linda comer.
— Está trocando meus sacos de batatinhas
industrializados, cheios de calorias, por aqueles biscoitos
secos e sem recheio? — Artur a faz rir ao abaixar a cerveja
da boca e negar com a cabeça. — Achei que tínhamos algo
inquebrável. Não pode deixar esse chorão entrar agora em
nossa relação e a atrapalhar...
— Te garanto que dou um dia bem mais animado que
a velha irlandesa aqui, parceira. — Killer entra na
brincadeira, a fazendo gargalhar ao ver a cara brava de
Artur, por ser chamado de velha. — Ninguém precisa
aprender a desarmar uma bomba. Será mais útil uma faca.
Uma mulher que sabe estripar é uma mulher para a vida
inteira. Podemos fazer macarrão e depois nos jogarmos no
sofá, para assistir Cinderela...
— Linda gosta de Cinderela — ela fala animada,
olhando e sorrindo para mim.
— Viu, lhe disse que ninguém mais assiste Bambi,
velhota irlandesa! — Killer bate seu ombro em Artur, que
bufa, negando com a cabeça.
— Pode até ser, mas não fui eu quem chorou com a
morte da mãe do Bambi! — Artur resmunga, dando de
ombros.
— Porra, você é chato, eu já disse que não chorei...
— Vem, está muito tarde. Vou te levar pro quarto, te
dar banho e depois te pôr na cama — falo para ela,
segurando uma mecha de seu cabelo, com ela parando na
mesma hora de levar à boca o último pedaço de pão.
— Banho? — diz, apressada, ao passo que seu peito
sobe e desce, tendo um sorrisinho no canto da boca e
erguendo a cabeça na mesma hora. — Mestre vai dar banho
com água quente, lavar cabelos e depois dar beijos na boca
e na boceta?
Minha boca se entreabre e a encaro, com o coral de
tosses se fazendo atrás dela, com Artur quase se
engasgando com a cerveja.
— Sério, Linda, a gente vai ter que conversar sobre
essa sua franqueza! — Ele limpa sua boca com a barra da
camisa, enquanto Killer tem seus olhos arregalados.
— Linda conversa com Quebra Osso depois. — Ela
caminha para Artur, que tem sua mão se esticando para
apontar para mim, mas para ao vê-la deixar o resto do
sanduíche na palma da mão dele. — Agora, mestre Jon vai
dar banho e beijo na boceta.
Sua mão com dedos finos se levanta, e bate no braço
dele, sorrindo.
— Sanduíche gostoso! — Artur olha dela para o resto
de pão em sua mão e fecha os olhos, bufando.
Linda ri e gira apressada, correndo para mim. A tiro do
chão em segundos, deixando meus braços presos em suas
costas.
— Linda gosta de banho. — Ela encosta sua testa na
minha e esfrega seu nariz no meu, suspirando baixinho. — E
beijos...
— Pode ter certeza de que vou te encher de beijos,
bebê.
Ela ri e esconde seu rosto em meu ombro, ao passo
que comprimo meus olhos e encaro os dois filhos da puta
nos assistindo com um sorriso cretino nos lábios. Levanto
meu dedo do meio para eles, e giro, lhes dando as costas e
a levando comigo para fora dali.
— Fique sabendo que essas paredes não são à prova
de som, ouviu, mestre Jon?! — Killer grita, e rio, mantendo
meu dedo esticado para ele, o mandando se foder, apenas o
abaixando para abrir a porta, para levá-la ao nosso quarto.
Paro por um segundo de andar, fechando a porta atrás
de mim e prestando atenção no que acabei de pensar:
“nosso quarto”. Eu tinha usado a palavra nosso ao invés de
meu de uma forma tão natural, como se ela sempre tivesse
estado dentro dele.
— Mestre Jon bravo... — ela sibila, me olhando
curiosa, com seus braços em volta do meu pescoço, tendo
suas sobrancelhas se arqueando e imitando minha face.
— Não, não estou bravo... apenas... — Minha mão
segura seu rosto e percorro meus olhos por sua face. —
Apenas estava pensando em como vou amar te chupar
inteira e beijar sua boceta.
Sugo seus lábios, a puxando para um beijo, a tendo
gemendo em minha boca enquanto suspira e agarra minha
cintura com suas coxas.
CAPÍTULO 21

ISSO QUE QUER


JON ROY

— Espera... — A mão de Tuing se ergue, com ele


balbuciando e a boca sangrando, tendo suas gengivas em
carne viva. — Tem uma coisa que sei... algo que pode
querer saber... Mas tem que me deixar vivo... vivo...
— A menos que seja o nome do mestre da minha
garota, sua chance de ficar vivo é zero. — Ergo a faca,
segurando-a firme e mirando em seu abdômen.
— Não... o esconderijo! — ele murmura rápido, me
fazendo parar a faca no meio do caminho, enrijecendo meu
braço e o deixando estático, levantando minha face para
ele. — É... eu sei o lugar para onde ela iria ser levada... Falei
que Malcon pediu para eu escondê-la, mas eu não podia,
não tinha como a trazer comigo. Porém, tinha alguém lá, no
dia que fui à mansão, que se ofereceu para esconder a
garota...
Agacho e fico sério, o encarando e afastando a faca
da sua barriga, enquanto a ergo no ar e uso a ponta dela
para coçar minha testa.
— Sabe, pela experiência que tenho, todos contam
mentiras quando eu estou prestes a matá-los. Alguns
imploram, outros rezam e tem até alguns que choram. Mas,
agora, tentar uma última chance de dizer a verdade... —
Fisgo minha boca e sorrio para ele. — Acho muito difícil.
Arranquei trinta e dois dentes da sua boca, um a um,
poderia ter tentado me dizer isso antes...
— Meu filho! — ele suplica. — Não estou mentindo. É
minha última tentativa de ficar vivo para cuidar do meu
filho...
— Vai por mim, experiência de vida. — Rio, negando
com a cabeça e apontando para o cadáver da mulher dele.
— Com um pai como você e uma mãe daquelas, Luck vai se
sair melhor na vida sendo órfão.
— Por favor... Não estou mentindo, eu disse a
verdade. Eu sei para onde ela seria levada...
Minha expressão enrijece e o encaro, tombando o
rosto em meu ombro e esticando a faca para seus olhos.
— Se estiver mentindo, vou abrir sua barriga de uma
ponta à outra enquanto faço um lindo laço com suas tripas,
com você ainda vivo. — Me levanto, olhando-o e guardando
a faca no meu bolso. — Diga!
— Bowen Island! — ele sibila, tossindo e tentando se
arrastar, se apoiando no sofá. — Ela seria levada para uma
cabana no meio da montanha de Bowen Island. Seferic iria
escondê-la. Pelo que entendi, ele já tinha sido presenteado
com a jovem e a conhecia. Malcon não estava a favor disso,
ele disse que o dono dela tinha ciúmes, muitos ciúmes...
— Preferida... — sussurro a palavra, lembrando de
Linda falar isso, sobre ela ser a preferida dele.
— Malcon iria entrar em contato com o dono, e depois
ele iria decidir se a mandaria para lá ou não... — O senhor
Tuing tosse, com um jorro de sangue saindo de sua boca. —
Seferic Pel vai poder lhe dizer quem é o dono, porque
apenas os donos podem presentear as garotas. Se ele a
teve como um presente, ele teve que ir buscá-la
diretamente com o dono dela...
— Em Vancouver! — digo, pensativo e atento a isso.
O filho da puta, o antigo mestre dela, é de Vancouver.
— Sim... Por favor, eu disse a verdade, acredite em
mim...
— É, eu sei que disse! — Balanço a cabeça em
positivo, o analisando.
— Vai me deixar vivo, então... — Suas palavras se
calam quando saco o revólver e disparo em sua cabeça.
— Não! Não vou, senhor Tuing! — Sorrio, olhando dele
para o cadáver da vagabunda da sua esposa, guardando
meu revólver, antes de me abaixar e segurar o pé dela e o
dele, os arrastando para fora do escritório.
Meu cérebro foca em um único nome e alvo, e sei que
vou gostar ainda mais dessa próxima visita.
Seferic Pel.
— Mestre Jon...
Ergo meus olhos, saindo dos meus pensamentos
quando ouço a voz de Linda. Seco seu corpo, e encontro-a
com o semblante franzido e as suas sobrancelhas se
juntando enquanto me observa.
— Bravo? — ela indaga, esticando sua mão e tocando
meu rosto, me deixando saber que sua expressão é uma
imitação da minha.
— Não, não estou bravo. — Vou para trás dela,
secando seus cabelos com a toalha. — Apenas estava
pensando em algo. Não estou bravo.
— Violet? — Ela me deixa confuso quando me
pergunta isso, me fazendo parar de secar seus cabelos.
Vejo-a dar um passo à frente, se virando e me olhando
perdida. — Mestre Jon quer Violet?
— O quê? — Abaixo a toalha, arqueando minha
sobrancelha.
— Killer disse que gosta de crianças, e Linda não ser
criança. Mestre Jon quer Violet, então?
— Killer é um idiota, Linda — murmuro, negando com
a cabeça. — Ele não entende que você é... você! O que
vocês duas são — falo calmo, passando meus olhos por ela,
com seu corpo nu diante do meu, me fitando com doçura
em seus grandes olhos ametistas.
— Violet adormecida... — Ela ergue seu dedo,
apontando para sua cabeça. — Longe, muito longe. Mestre
pode acordar Violet, e Linda dorme, se quiser... Linda
dorme...
Ela olha em volta rapidamente, ao passo que tento
entender o que ela está querendo me dizer. Ela gira
apressada e vai para minha bancada, e a estudo, lhe
seguindo e jogando a toalha no chão.
— Dorme... — Linda fala baixinho ao virar. Meus olhos
vão para sua mão e vejo meu taser sobre suas palmas
abertas, com ela esticando o braço para mim. — Dorme...
Buzzzz na cabeça e Linda dorme na escuridão... Dorme...
Estufo o peito e retiro rapidamente a arma de choque
dos seus dedos, rosnando com raiva assim que compreendo
o que ela está dizendo, me contando que para acordar
Violet, teria que a machucar.
— Nunca mais pegue essa porra na mão, Linda! —
rujo com raiva, esmagando minha boca, caminhando para
meu armário de metal e jogando a porcaria do taser em
cima dele. — Nunca mais!
Ao me girar, a vejo cabisbaixa, com seus dedos atrás
da nuca e os cotovelos erguidos, enquanto inala rápido e
seu peito sobe e desce, encolhida e assustada.
— Merda! — resmungo e esmago minha boca,
puxando o ar com força. — Linda, o que está fazendo...
— Bravo... Linda deixou mestre bravo. — Ela se
ajoelha rápido, como fez dentro do refeitório, se curvando
até sua testa colar-se ao chão.
Preciso de dois passos antes de estar diante dela, me
agachando e segurando seu rosto para que me olhe. Cerro
meus dentes e solto o ar com força pelo nariz, tentando não
deixar minha voz demonstrar toda ira que me consome ao
vê-la assim, achando que vou machucá-la.
— Eu não estou bravo, bebê — sussurro, vendo seus
olhos marejados presos em mim. — Não com você. Estou
bravo, mas não é com você. Apenas entenda que nunca
mais vai pegar a arma de choque, certo?! Isso é uma
ordem, Linda.
Seus olhos marejados piscam e ela move a cabeça em
positivo.
— Violet vai acordar quando ela estiver pronta para
acordar, não vou machucar você para isso, e não vou
permitir que ninguém te machuque para acordar ela. —
Minha mão espalma em sua face e a aliso, limpando suas
lágrimas. — Deveria dar uma surra em Artur por ter lhe
ensinado a mexer naquilo.
— Mestre dar surra em Linda também? — Ela pisca,
confusa, e a vejo olhar para mim, tendo um brilho se
acendendo em seu olhar.
Meu corpo já está ereto em segundos, e a observo
ajoelhada no chão, com seu tronco inteiro curvado. Não tem
medo em sua pergunta, é quase como uma ansiedade ao
ouvir a palavra surra.
— Ela não vai sobreviver sem um mestre, muito
menos quando os efeitos colaterais do que ela foi imposta e
forçada a se tornar começarem a fazer o corpo dela precisar
de alívio. — O olho, tendo minha mente em um turbilhão,
por tudo que ouvi e li nos documentos. — Minha esposa foi
criada para ser masoquista, foi a dor que a criou, e quando
a encontrei, ela usava um instrumento católico para se
autoflagelar, porque não entendia o que seu corpo queria.
Não sabemos qual o propósito da criação de Violet, mas o
corpo dela irá começar a cobrar o que ele foi obrigado a
gostar, o que ele foi criado a se tornar.
Meu peito se expande e puxo o ar, com meus dedos
se esmagando ao lado do corpo, tendo a conversa com o
senhor Woden voltando à minha mente ao observá-la
ajoelhada diante de mim, com seus olhos brilhando em
expectativa.
— É isso que quer? — pergunto sério a ela. — Deseja
que eu lhe dê uma surra, Linda?
Seus lábios se fisgam e ela os mordisca, abaixando
seu olhar, com sua cabeça indo ao chão e tocando sua testa
no piso mais uma vez, sendo esta a forma dela de me
deixar saber que, sim, é isso que ela deseja.
CAPÍTULO 22

A AULA DE SUBMISSÃO
JON ROY

Fico em silêncio, sentado na cama, encarando Linda


na mesma posição, imóvel e ajoelhada no chão, como se
fosse uma delicada estátua de mármore, como as que têm
perto do Labirinto de Babilônia. Uma escultura submissa,
não de mármore, mas de carne e osso, bela, com seus
cabelos caídos em seus ombros e suas mãos presas à nuca.
Inspiro fundo e esfrego meu rosto, me sentindo pela
primeira vez perdido, sem saber se realmente quero
machucar alguém. Eu gosto de machucar as vítimas que
mato, e isso é o que eu faço, tortura, sendo esse meu ponto
preferido do meu trabalho. Mas nunca machuquei alguém
por prazer. Não que não sentisse prazer em estripar e
desmembrar, porque eu sentia.
Senti um prazer maravilhoso ao torturar Tuing, vendo
ele e o cadáver da sua esposa se incinerando no carro, mas
foi um prazer diferente, não sexual. E não sei se hoje é um
bom-dia para tentar descobrir isso, não quando ainda posso
sentir a viscosidade do sangue deles em meus dedos, além
do cheiro, dos gritos dele berrando a cada dente que eu
arrancava.
A dor que eu gosto de causar não é nada parecida
com a dor que ela, provavelmente, deseja. E se eu a
machucar de verdade? Se perder a cabeça, entrando no
frenesi assassino que sempre me toma quando liberto meus
demônios? É como se tivesse chegado a um ponto
desconhecido, um que não sei o que acontecerá e nem
como agirei.
Abaixo o rosto para a porra do meu pau, o vendo duro,
realmente desperto por conta da posição dela, com suas
nádegas inclinadas para cima, tão empinadas que o fazem
pulsar encantado com o que meus olhos observam. Não sei
se isso acabará bem, mas, definitivamente, a foderei nessa
posição.
— Vem aqui, Linda — a chamo em comando, ficando
intrigado ao vê-la se arquear rapidamente, sem se levantar,
e engatinhar em minha direção, com sua face abaixando
quando retira seus dedos da nuca e os espalma no chão.
E o disparar em meu peito fica rápido, comigo
achando graciosa a forma que ela veio, a ponto de me
deixar hipnotizado diante dela. Nesses três anos que estou
aqui, já tinha visto festas e encontros dentro de Babilônia, e
estudava aquelas pessoas, tentando compreender o que
tanto as cativava entre a dominância e a submissão. Eu sei
o que é um mestre e uma submissa, apenas nunca tinha
pensado que me sentiria atraído em praticar a dominação.
Estico o braço para ela e seguro seu queixo, a fazendo
o erguer para mim. Vejo os olhos ametistas brilhantes, com
ela esmagando seus doces lábios, não escondendo a
euforia.
— Quer que eu te castigue? — pergunto a ela,
realmente precisando ter certeza de que é isso que vejo em
seu olhar, antes de tomar minha decisão. Inclino a face para
perto da sua e deslizo meus dedos em sua garganta,
sentindo a veia pulsar, com seu fluxo de sangue
aumentando. — É isso que realmente quer, Linda?
— Sim — responde baixinho, tendo seu peito subindo
e descendo enquanto me cativa na prisão violeta de seus
olhos.
Observo a pele que limpei ao ensaboá-la sem pressa,
a enxaguando depois, que ficou tão arrepiada quando
esfreguei a toalha nela. Curioso e intrigado pela reação dela
e seu desejo, me vejo testando mais a mim do que a Linda
quando minha outra mão estapeia seu peito com o dorso.
Linda estufa seu peito, o tendo ainda mais arrepiado, com o
bico rígido, me deixando fascinado com a reação do seu
corpo ao mais leve tapa.
Seus braços se levantam e vão para trás da cabeça,
com ela praticamente os oferecendo. Estudo como um
observador atento, e repito o tapa no outro seio, com ela
tendo a mesma reação febril, com seu corpo e os bicos
ficando mais rígidos, apontados para mim.
— Interessante...
Fisgo o canto da boca ao presenciar não apenas a
reação dela, mas a do meu pau, que pulsa forte, tornando-
se mais duro quando ela arfa.
— Não feche os olhos! — falo firme, comprimindo sua
garganta quando ergo meu rosto para sua face e vejo suas
pupilas fechadas.
E sua obediência em responder ao meu comando
rapidamente me deixa tão fascinado quanto sua pele
arrepiada. Minha mão esmaga seu seio pequeno, mas que
agora parece tão inchado e pesado por conta do tapa que
recebeu.
— Fascinante... — murmuro, abaixando meus olhos
para seu seio em minha mão.
Antes de escorregar meus dedos por seu abdômen,
desvio meus olhos dos seus por um segundo, enquanto
minha mão passeia em sua barriga, dando leves beliscões
em sua pele.
— Nunca fiz isso, Linda — falo sério, a estudando. —
Não por prazer, não esse prazer que vejo em seus olhos.
Assisto os lábios femininos entreabertos puxarem o
ar, com ela tendo suas ametistas dilatadas e comprimindo
sua boca rapidamente no segundo que minha mão para
diante da sua boceta e se enfia entre suas pernas.
— Ohh...
Ela solta um som baixo, tão doce quanto os outros
gemidos que ela já me deu, só que esse é tímido, quase
inaudível, como se ela estivesse lutando para o prender em
sua boca.
— Ohhhh... — Mas falha assim que levo um dedo para
dentro dela, a fodendo lentamente, o que a faz gemer ainda
mais alto.
Recaio o rosto, olhando minha mão entre suas pernas,
movendo meu dedo, que entra e sai da sua boceta. Ela está
molhada por dentro, encharcada, e mantenho meus dedos
ao redor da sua garganta, a asfixiando.
— Linda... — murmuro, não a chamando, e sim
dizendo exatamente o que ela é: linda e perfeita ao não
esconder de mim o que sente.
Afasto meus dedos dela e a vejo lacrimejar, com um
baixo choro escapando da sua boca.
— Deite-se na cama, Linda — falo agitado, me
levantando e dando um passo rápido para o lado.
A vejo fazer o que mando, apenas acatando minha
ordem, e sorrio ao lhe assistir engatinhar em seus joelhos,
sem abaixar seus braços, mantendo as mãos presas atrás
da cabeça e se aproximando do colchão.
— Linda — falo, absorto em seus gestos delicados ao
subir no colchão, enquanto seu corpo nu, tão feminino, se
esparrama sobre a cama, com seus olhos presos aos meus.
— Não se mexa.
Giro e me aproximo da bancada, com meus olhos
passando pelas minhas armas, procurando minha caixa
pequena de papelão. Assim que a encontro ao canto, a puxo
e a abro, jogando a tampa para o lado e pegando uma fita
de nylon. Normalmente, uso essa abraçadeira quando
preciso mutilar alguém vivo, mas, nesse segundo, a usarei
com outra finalidade.
Paro perto da cama, voltando para Linda, a olhando
imóvel, como uma delicada boneca, apenas esperando pelo
meu comando, entregue ao que eu desejo, sem esboçar um
medo sequer. Meu peito dispara e meu coração está
estranhamente palpitante. Não me lembro de uma única
vez que me senti tão agitado quanto estou agora, além de
ansioso e fascinado.
Volto meu rosto para a porta, a encarando e tendo as
palavras de Killer em minha mente, recordando do filho da
puta me sacaneando quando saí, dizendo que as paredes
não são à prova de som. Vou para perto da bancada e
rosno, puxando o rolo de fita adesiva de lá. Não quero que
ninguém a ouça, não agora.
Gosto dos sons que ela faz, da forma como meu nome
sai da sua boca, e até me sinto mais febril quando estou a
fodendo e a escuto me chamar de mestre. Porém,
estranhamente, nesse momento, não quero que ninguém
ouça os sons doces que ela dá apenas para mim.
Retorno para a cama e jogo a fita e a abraçadeira
entre suas pernas, antes de ir para os pés da cama e
agarrar a base, a erguendo um pouco antes de arrastá-la, a
distanciando da parede. Levanto o rosto e fixo meus olhos
nos dela, que se mantêm obedientes, bem abertos e presos
em mim. Ela não desvia do meu olhar quando o colchão
afunda, nem quando movo suas pernas, as separando mais
e ficando de joelhos entre elas.
Meu rosto recai para a boceta de Linda e vejo a pele
negra lisa, com pequenas gotículas brilhando em seus
lábios vaginais. Empurro sem pressa meu quadril para
frente, segurando a cabeça do meu pau lentamente entre
seus lábios, vendo a carne rosada em seu interior, que me
amaldiçoa por sentir a forma molhada que ela está, tão
pronta para me ter a fodendo. Mas me obrigo a refrear o
que desejo, não quando ainda estou fascinado com as
respostas do seu corpo.
— Me dê seus pulsos, bebê. — Solto meu pau, o
empurrando para longe da sua boceta, pegando a
abraçadeira de nylon e a esticando em minha mão.
Sorrio quando ela me obedece, quase como se fosse
da minha natureza precisar da submissão dela, que é tão
obediente. Normalmente, é sempre na base da ameaça
quando preciso fazer alguém me obedecer. Está certo que
quando faço isso, é porque a pessoa não irá sair viva, mas
Linda me cativa ao ter seus gestos rápidos, sem um traço
de medo em seu olhar, e isso me causa uma sensação
nova, uma emoção ainda mais forte, que me domina em
relação a ela ao lhe ver entregue e à minha mercê, ao passo
que eu prendo seus pulsos na abraçadeira. Ela está tão
indefesa, apenas confiando em mim.
Pensar sobre essa nova emoção, sobre essa confiança
que ela me entrega, sendo um poder tão grande que
qualquer pessoa pode dar ao outro, deveria me deixar
confuso, mas, pelo contrário, isso me deixa mais eufórico e
possessivo.
Estico seu braço quando deixo seus pulsos contidos,
os levando para cima da sua cabeça, com meu rosto
pairando sobre o seu, tendo minha mão escorregando pelos
seus cotovelos e descendo devagar por seus braços, até
raspar em suas axilas, desbravando seu corpo quente, que
parece vibrar em meus dedos. Ela arfa quando toco lento a
lateral dos seus seios, com seus pés se forçando na cama,
causando assim um raspar da sua boceta na ponta do meu
pau, que pulsa febril e totalmente inconformado de não
estar dentro dela, a fodendo.
Minha garganta seca, ficando ainda mais arranhada
com a secura que me toma ao olhar seus lábios
entreabertos, tão suculentos quanto sua boceta, que se
oferece a mim. Quase posso ouvir o que ela pensa, e,
provavelmente, está me perguntando se vou beijá-la agora.
Mas não dou o que ela me pede em seu olhar suplicante, e
muito menos o que eu desejo. Me nego, me afastando
rápido e puxando a fita prata, esticando um pedaço dela,
antes de usar meus próprios dentes para a rasgar, selando
seus lábios.
— Perfeita! — murmuro, admirando-a, com meu rosto
se inclinando para frente e comigo depositando um beijo
sobre a fita.
Linda respira rápido pelo nariz e sua cabeça se ergue,
assim como seu quadril, que se empurra para baixo contra o
meu.
— Não! — digo rápido, me afastando e apertando sua
garganta.
Retorno a ficar em meus joelhos e dou outro tapa em
seu seio, só que um pouco mais forte do que os outros que
dei. Ela expande seus grandes olhos violetas, puxando o ar
pelo nariz, ao passo que observo seu corpo se arrepiar.
— Nada de beijo agora — falo firme para ela,
beliscando o bico do seu seio, o que a faz praticamente
pular, com seu corpo se debatendo na cama quando
esmago meus dedos em seus bicos enrijecidos.
Minha mão dispara uma onda de tapas, indo de um
lado ao outro, revezando entre seus peitos, os estapeando e
os beliscando, até ela parar de se debater. Claro que
nenhum desses tapas realmente é muito forte, pois não irei
a ferir de modo algum, mas eles deixam sua pele arrepiada
e completamente avermelhada. Os seios inchados sobem e
descem apressados.
Ergo meu rosto para cima e a vejo com os braços
levantados, sem os tirar de onde os deixei, imóveis, com
sua face suada e as bochechas vermelhas ainda mais
rosadas, corando em sua pele negra, as deixando mais
destacadas por conta da tira prateada da fita. Mas o que
realmente me deixa sem fôlego são seus imensos olhos
violetas, que possuem os cílios negros abertos, cravados em
mim, e brilham, em prazer e agonia.
— É a criatura mais linda que já vi, bebê — sibilo,
acariciando seus seios, que parecem ainda mais sensíveis
ao meu toque agora, depois da pequena surra que eles
levaram. — Me faz ter vontade de lhe deixar amarrada
nessa cama para sempre, assim, exatamente como está,
nua, para lhe admirar, pois é a criatura mais linda que eu já
vi nessa porra de vida!
A vejo estremecer, com seu peito subindo e descendo
mais rápido e a face dela suada, com os cabelos
bagunçados no travesseiro, sendo a prisão mais bela e
tentadora pela qual já fui preso, e dessa vez por minha
escolha. Me rendo a esse pecado, porque sim, é um pecado
desejar possuir algo tão inocente e puro como Linda. Mas já
tenho tantos pecados em minhas costas, que nem fodendo
abdicaria desse, pelo contrário, eu cometeria todos os
pecados desse mundo para ser merecedor disso.
Estou mais preso a ela do que a fita ou a abraçadeira.
Eu me encontro muito mais entregue a ela, entregue ao seu
pecado, do que ela a mim. Minhas mãos se afastam da sua
pele quente apenas para agarrar suas coxas quando me
inclino para frente, levando suas pernas para meus ombros,
deixando uma de cada lado, retirando sua bunda do colchão
quando me endireito e fico em meus joelhos.
Seguro firme em suas coxas, me agarrando a elas e
apertando firme a carne macia da sua pele. O som baixo e
abafado do gemido, preso pela fita em sua boca, escapa,
com suas ametistas parecendo nebulosas no espaço,
brilhando intensas para mim enquanto meu pau se empurra
para dentro da sua boceta. Sinto-a escaldante e molhada, o
que faz meu pau escorregar ainda mais para o seu interior.
O som do seu gemido escapa outra vez, com ela respirando
mais forte e meu pau se empurrando ainda mais fundo, com
meu quadril parando apenas quando estou tão enterrado
dentro do seu corpo quente, a ponto de achar que vou
atravessá-la inteira.
Minhas mãos soltam suas pernas e me movo para
frente, espalmando uma mão ao lado do seu quadril na
cama, empurrando suas pernas para frente, junto com meu
tronco, vendo seus olhos ametistas marejados, com ela
inalando mais forte pelo nariz. Rosno baixo, e minha boca se
esmaga, ao passo que fecho meus olhos e escorrego meu
nariz em sua panturrilha. Meus dentes arranham sua pele, a
mordiscando, e puxo meu quadril para trás, me retirando
devagar de dentro dela.
A minha pélvis vai para frente em um golpe só, e a
penetro, fazendo a cama ranger ao ter meu pau a fodendo
em uma única tacada. Bombardeio meu pau dentro dela
com fúria, saindo com meu pau quase por inteiro da sua
boceta, antes de retornar brutal e violento, a fodendo como
um animal.
Mordo sua panturrilha e sinto suas pernas se
contraírem, ficando ainda mais trêmulas contra meu peito. A
fodo sem piedade, rosnando quando solto sua perna, com
meu pau indo e voltando dentro da boceta escaldante que o
encharca. Encontro os olhos ametistas vidrados em mim,
com suas sobrancelhas grossas e negras contraídas, com
ela inalando mais forte pelo nariz a cada explosão do meu
pau dentro dela.
Quando meu tórax vai para trás, agarro sua perna e
passo meu braço sobre os seus joelhos, enquanto minha
outra mão para sobre seu clitóris inchado e o massageia.
Minha face se vira e escorrego minha língua na lateral do
seu tornozelo, até parar em seu pé, para abocanhar seu
dedinho e o morder com força, usando a mesma pressão do
meu dedo sobre seu clitóris, o massageando mais forte.
Apenas o som da minha respiração alta se mistura à porra
do rangido da cama, que se move a cada impacto da minha
pélvis contra a dela.
Linda treme e arqueia seu tórax para cima. Sua
cabeça se enterra no travesseiro quando o orgasmo a
atinge, me arrastando para o turbilhão de emoções para o
qual ela me puxa, com meu pau a fodendo ainda mais
brutal. Sinto-a o lavar inteiro, ao passo que a fodo mais duro
e implacável, até meu próprio gozo me alcançar em uma
última estocada funda, comigo disparando jatos de porra
dentro da boceta dela.
Sugo forte seu dedinho do pé, tanto quanto sua
boceta suga meu pau, drenando cada gota de porra que sai
de mim, que parece não ter fim. Puxo o ar e abro meus
olhos, lambendo a lateral do seu pé, com meus olhos
prendendo-se a ela, que tem o rosto suado e os cabelos
colados à testa, com o peito tão arfante e a respiração
entrecortada como eu, amolecendo inteira na cama.
CAPÍTULO 23

O GOSTO DO PODER
JON ROY

Movo-me devagar, saindo de dentro dela e abaixando


suas pernas antes do meu corpo cair ao seu lado. Fecho os
olhos e aliso suas coxas, que se esticam ao meu lado. Sinto
meu corpo elétrico, ainda eufórico e agitado, com meu
coração batendo disparado, tanto quanto o dela em seu
peito. Rolo na cama, saindo dela e ficando de pé, piscando
confuso ao olhar meu pau, que mesmo tendo acabado de
ser ordenhado pela boceta de Linda, ainda está semiduro.
Giro e fito a cama, vendo-a com suas coxas
separadas, tendo minha porra escorrendo de dentro da sua
boceta e seus seios rígidos. Espontaneamente, estico minha
mão e o belisco, e ela fecha suas coxas rapidamente,
enquanto tomba o rosto para o lado e me observa com os
olhos violetas tão brilhantes quanto segundos atrás, ao
fodê-la.
Arqueio minha sobrancelha e levo meu rosto para a
bancada. Meus olhos ficam presos na alça do meu rifle, e
vou para perto da bancada, o pegando em minha mão e o
rolando em meus dedos, soltando a alça dele e a esticando
firme em minha mão, estudando a textura grossa da corda
negra.
Volto meus olhos para Linda, encontrando seus
tentadores olhos não presos em mim, e sim na alça esticada
em minha mão, com seu peito arfando e os pequenos dedos
dos pés se contraindo no colchão. Meu rosto cai para o piso,
exatamente para o lugar onde ela estava quando se
agachou, e a olho sentada na cama.
— Vem aqui, Linda. — Minha voz é mais grave e rouca
do que posso controlar ao sair em comando, e aponto o
local para ela.
Assisto-a rolar na cama e se sentar, tocando devagar
o chão com seus pés, levando os braços, que estão
contidos, para o topo da cabeça. Ela me olha e se ajoelha
pouco a pouco. Gosto ainda mais dessa doce visão dela
engatinhando, obedecendo minha ordem, e fico extasiado
com sua forma linda e perfeita ao vir para perto de mim, me
despertando para esse poder novo que rapidamente
aprecio.
Ver o medo nos olhos de alguém, quando me encara e
estou diante dele, é algo que realmente me dá prazer,
porque sei que vou machucá-lo, assim como o filho da puta
que vou machucar fica ciente disso. Como disse ao senhor
Tuing, eu conheço cada expressão de medo de cor e
salteado, além do choro, da súplica e do desespero. Todavia,
ver os olhos violetas de Linda brilhantes e doces ao vir para
mim e me obedecer, mesmo ela ciente do que eu quero
fazer, isso é uma bomba na minha cabeça. Um estouro de
poder que me domina com fúria, me fazendo sentir como
um maldito cão encarando a servidão da minha presa, que
ao invés de fugir, vem até mim por livre e espontânea
vontade.
Seus movimentos submissos graciosos param no
segundo que ela fica exatamente no lugar que apontei a
ela, de forma magnífica e altiva, com as mãos atrás da
cabeça e as costas retas. Perfeita, como uma boneca
humana, com movimentos belos me cativando a cada
gesto, com suas mãos se erguendo e saindo de cima da sua
cabeça, tendo seu tronco se curvando, até ela ter sua testa
colada ao chão e seu belo rabo empinado, oferecendo-o
para mim tão perfeitamente quanto ela ofereceu seus seios.
Arfo e meu corpo inteiro tem uma descarga de
energia. Dobro a alça do rifle quando ligo uma à outra, e me
aproximo devagar, com meus olhos não enxergando mais
nada a não ser Linda. O primeiro golpe da tira em suas
nádegas a faz ficar tensa, e fico preso em cada reação do
seu corpo. No segundo, suas coxas se colam uma à outra, e
respiro fundo, a estudando. Ao terceiro açoite da alça, me
vejo maravilhado, extasiado e totalmente encantado com as
riscas finas e vermelhas que se formam em sua pele.
Linda se mantém submissa, com seu rabo empinado,
recebendo as cintadas, tendo meu braço colocando
gradativamente mais força a cada golpe. Fico em êxtase ao
observar o belo jogo de xadrez que as riscas finas formam
em sua pele.
Eu tentava entender qual era o sentido disso nas
vezes que observava os encontros de Babilônia: o açoite, a
submissão, a doce entrega e a dor ao ter um sendo inferior
e castigado, para outro ter prazer. Porém, nesse momento,
tenho outra percepção. Não de um observador, e sim de um
executor, e noto uma grande liberdade me consumindo a
cada cintada que desfiro nela. Não por raiva, por vingança
ou nenhum outro sentimento tolo humano, é simplesmente
o mais puro e genuíno poder.
Poder sobre a força que a golpeia, poder de ter
alguém entregue ao seu poder, o que me faz apreciar o som
das tiras cortando o ar e tocando sua pele quando lhe
acerto, assim como ver a sua bunda balançando, mesmo ela
se esforçando para continuar imóvel. Ela não tem controle
algum do que eu faço, estando completamente à minha
mercê, e é bela, fodidamente deslumbrante, a minha Linda.
Arqueio ainda mais suas costas, com seu rabo se
empinando, praticamente rebolando, dançando para o
açoite da alça, não conseguindo mais se conter, com ela
tremendo inteira, enquanto geme abafada atrás da tira. Lhe
testo mais, assim como a mim, sobre meu controle diante
dela, ao lhe dar uma sucessão rápida e forte de chicotadas.
O suor escorre por meu rosto e meu coração explode, como
um trovão, ao tê-la rebolando ainda mais, gemendo a cada
golpe, sem controle.
Na verdade, ela tenta ter mais controle, porém, está
entregue inteiramente a mim, o que me faz sentir esse
poder ainda mais enraizado dentro do meu ser. E meu pau,
que estava antes semiduro, agora parece a porra de uma
rocha, de tão excitado que ela me deixou. Paro de golpeá-la,
com meu braço caindo ao lado do meu corpo, assim como
meus joelhos quando tocam o chão, comigo ficando próximo
a ela, com minha mão se esticando para seu rosto e a
fazendo erguer o olhar para mim.
Se achei que fiquei fisgado no espetáculo do seu belo
rabo quando o golpeava, nesse segundo sou aprisionado de
vez em seus olhos violetas marejados, com sua face coberta
de lágrimas. Ela tem muita doçura enquanto me observa,
me deixando ver o desejo queimando dentro dela.
Estico a outra mão para baixo de Linda e a passo pela
pele quente da sua barriga, com os músculos enrijecidos,
parando ao tocar sua boceta, que está completamente
molhada, ainda mais do que quando estapeei seus seios. A
sinto tão melada e excitada pelo açoite, que seus fluidos
escorrem em meus dedos. Isso me faz rosnar, com meu
rosto se inclinando para frente e minha língua lambendo
suas lágrimas. Minha mão sai das suas pernas apenas para
agarrar sua cintura quando a giro no chão, a deixando de
costas para mim e puxando seu rabo para trás.
Seguro-a firme pela cintura, empurrando meu pau e o
movendo para dentro da sua boceta escaldante, que o
lambuza inteiro, mas o retiro tão rápido quanto entro. A faço
se sobressaltar, com as costas vindo para trás, contra meu
peito, quando empurro meu pau dentro do seu rabo e sinto
os anéis dos músculos se contraindo, com ela me
recebendo.
Solto uma das pontas da alça que prendo em minha
mão, apenas para passá-la em sua garganta, a segurando
novamente e a deixando presa no pescoço de Linda, como
uma rédea, a qual puxo firme para trás e a impede de
tombar seu corpo para frente. Meu pau estoura em batidas
violentas dentro do seu cu, e sua bunda está quente, com a
pele fervendo ao entrar em contato com a minha, sendo a
porra do rabo mais delicioso que eu fodi em minha vida
inteira. Entro e saio brutal a cada estocada funda, a
comendo ajoelhada no chão.
Aperto as alças apenas com uma mão, levando a
outra para frente do corpo de Linda e a parando em cima da
boceta melada, esfregando em seu clitóris. Com isso, ela
goza em segundos, se tremendo inteira e esmagando mais
seu rabo em volta do meu pau, que a fode com um desejo
infernal.
Não demoro, mal consigo respirar quando o gozo vem
mais uma vez, com meu corpo tremendo junto com o dela,
tendo espasmos. Seu rabo me ordenha tão lindamente
quanto sua boceta fez, até não restar mais nada em meu
cérebro, já que tudo explode, voando para fora de mim e se
unindo a ela.
Os suores se misturam e meu rosto se enterra em
seus cabelos, comigo esfregando meu nariz e a farejando.
Solto a alça do rifle, a deixando cair no chão e a abraçando
forte, colando-a a mim, tendo a confusão me tomando ao
compreender o que acabei de fazer. Sua face se vira e me
perco em seu olhar ametista, que é tão submisso ao meu.
Movo devagar meu braço, retirando a tira da fita da
sua boca e desejando mais do que nunca a beijar. Linda me
desarma, respondendo ao beijo com ternura e suspirando,
soluçando baixinho e me entregando seus lábios, me
fazendo sentir meu pau endurecer de novo dentro dela,
tendo o prazer me dominando mais uma vez. Mas não é
feroz como antes, e sim doce como ela, que me faz ficar
duro a cada deslizar da sua língua.
A beijo, e uma estranha emoção me pega, uma que
me faz ficar verdadeiramente confuso e, pela primeira vez
na vida, apavorado, já que compreendo que a emoção
estranha e humana que ela me faz sentir é paixão.
E, por um segundo, sinto raiva dela ao beijá-la e tê-la
tão terna, suspirando em meus braços, com meu pau fundo
enterrado em seu corpo, por ousar causar isso em mim.
Porém, não consigo ficar enraivecido por muito tempo,
porque tudo, rapidamente, dentro do meu ser, se sente
poderoso.
CAPÍTULO 24

O GOSTO
LINDA

Meu corpo úmido, com os cabelos molhados, tomba


sobre o colchão quando sou empurrada para a cama. Mestre
Jon está de pé, olhando-me e levando a toalha para meu pé,
enquanto o ergue e o seca. Em seguida, seus dedos vão até
minhas pernas e ele passa a toalha devagar. Meus olhos
ficam presos nele, o observando sem medo, porque ele não
fica bravo se eu o olhar, como o antigo mestre ficava.
Eu já tinha o observado muito nesses dias que
estamos dentro do seu quarto, e gostava de vê-lo, de olhar
para ele, para seu tórax nu e molhado do banho, que agora
tem gotas escorrendo pelas suas tatuagens, como ele disse
que é o nome dos seus desenhos. Ele tem um grande olho
ao centro do peito, e várias cruzes pequenas se espalham
por seu abdômen. Há muitas delas em suas costas também,
as cobrindo por inteiras, além delas estarem presentes em
suas pernas. No seu braço tem mais tatuagens o fechando,
e eu gosto delas, as acho bonitas por se destacarem em sua
pele tão clara.
Vagueio os olhos por cada canto do seu corpo, atraída
por cada parte sua enquanto ele me seca. Paro no centro
das suas pernas e não tem como não ver o seu pau
apontado para mim, forte e ereto, com a pele rosada e as
veias laterais pulsando, quase como em resposta ao meu
olhar. Eu já tinha visto muitos homens nus, mesmo quando
evitava vê-los, uma vez que ficava com meus olhos vidrados
em qualquer outra coisa que não fosse eles, porém, o
mestre Jon, eu quero olhar, quero o ver, porque acho que
seu corpo é bonito. Na verdade, ele tem uma beleza cruel.
— Está encarando o meu pau. — Sua voz é rouca, e
ele passa a toalha por minha outra perna.
Ergo rápido os olhos, o encarando, vendo um sorriso
se abrir em sua face. Ele se move devagar e se abaixa entre
minhas pernas, fazendo o colchão se afundar com seu peso
enquanto joga a toalha longe. Aperto meus lábios quando
suas mãos alcançam minhas coxas e seus dedos deslizam
por minha cintura. Concentro-me em seus olhos, nos azuis
limpos que me engolem, me fitando com tanta intensidade.
Levanto minha mão e paro-a sobre sua pele nua,
gostando de o tocar tanto quanto ele me toca, e a espalmo
em seu peito, sentindo as fortes batidas do seu coração
sobre meus dedos. Meus braços circulam seu pescoço e
encaixo meu corpo sobre seus joelhos dobrados. Eu o beijo,
tocando seus lábios com os meus, sentindo meu coração
disparar, amando o beijar.
Suas mãos espalmam minhas costas, escorregando-as
por ela com lentidão. Gemo entre nossos beijos,
despertando-me a cada roçar de línguas, me sentindo
amolecer por completo. Meu quadril se aperta mais a
mestre Jon, e sinto o raspar das nossas peles nuas. Seu pau
está entre as minhas pernas, e toca-me lentamente,
roçando sobre minha boceta.
Aperto-me a ele como se pudesse desaparecer a
qualquer momento, esmagando meus seios doloridos em
seu peito. Sua boca é perversa ao me dominar, me beijando
e arrancando sons de mim que nem eu conhecia. Ele me faz
sentir isso, essas emoções com os toques que sempre
deram em mim, mas que nunca causaram os mesmos
sentimentos que ele causa.
O mestre Jon me move rapidamente e me deita sobre
a cama, ficando sobre mim, com minhas pernas presas em
volta do seu corpo. Solto um gemido baixo ao sentir a
cabeça de seu pau deslizar sobre os lábios molhados da
minha boceta. O beijo com toda urgência, acabando-me em
seus lábios, tendo necessidade do seu toque. Minha língua o
invade na mesma medida que meu quadril se empurra para
recebê-lo mais dentro de mim, mesmo sobre seu aperto
para me manter no lugar.
Abraço-o com força e, novamente, empurro meu
corpo contra o seu. Meu peito bate acelerado junto ao seu
quando seu pau entra por inteiro, e ele cola nossas cinturas,
com minhas unhas cravando-se em suas costas a cada
fisgada de prazer. O arranho, sentindo a pele ser dilacerada.
Seus lábios soltam os meus e ele move a cabeça, pairando
seu rosto sobre o meu, com os olhos presos a mim.
— Você está acabando comigo, Linda. — Ele abaixa
seu olhar, fixando-o nos nossos corpos encaixados. —
Porque a porra do meu pau não consegue ficar um segundo
sem desejar estar dentro da sua boceta.
Seu pau sai de mim apenas para voltar outra vez.
Fecho meus olhos com desespero, sentindo cada parte do
meu corpo ganhar vida. É uma euforia misturada com o
desejo e com a necessidade pura, que parece nunca ser o
suficiente. Mordo seu ombro e o abraço mais forte, sentindo
sua urgência se misturar à minha. Meu corpo o recebe e se
molda a ele. Mestre Jon me estica em cada canto conforme
entra e sai, voltando mais rápido e mais forte. Sua boca
desce por meu corpo e ele suga meu seio. A cada
movimento do seu pau dentro de mim, arqueio mais. Ele
morde meu pescoço e o chupa com força.
— Está fodendo com minha cabeça... — Suas palavras
se perdem como um nevoeiro conforme meu corpo é
tomado com mais vigor, e mordo seu ombro para não gritar.
Uma de suas mãos se espalma na minha bunda e a
outra me puxa para ele, erguendo-nos. Solto sua pele e não
consigo mais segurar o grito que escapa dos meus lábios
quando o sinto tão dentro de mim. Prendo meus braços no
seu pescoço, fixando-me a ele. Sua mão em minhas costas
se junta à outra, segurando uma banda da minha bunda
enquanto me move lentamente. Contraio o corpo ao recebê-
lo mais fundo. Beijo-o entre os novos sentidos e emoções
que ele me causa.
— Ohhh... — Fecho meus olhos e jogo minha cabeça
para trás, com a estocada se tornando mais firme quando
seus movimentos aumentam.
— Abra os olhos, Linda, não os feche!
Sua língua desliza da minha garganta até meu queixo,
e meu corpo é eletricidade pura nesse momento. Quando
minha cabeça volta, fixo meu olhar no seu, que é perverso e
puro, na forma mais limpa de desejo, o que faz eu me sentir
viva em seus braços. Meu corpo cai lentamente sobre o
colchão, apenas para recebê-lo mais fundo quando o mestre
Jon afasta minhas pernas, largando minha cintura. Seu pau
estoura mais fundo e forte dentro de mim. Mordo minha
boca de agonia, e seu dedo escorrega pela minha boceta.
Sinto o gosto de sangue ao apertar os dentes sobre meus
lábios, ao ter seu dedo acariciando o nervo dolorido. O
clitóris pulsa forte, dando choques que vêm a cada
movimento circular que ele faz.
— Ohh... — Arrasto meus dedos sobre o colchão,
apertando o tecido e procurando por algo que me segure,
antes de ter a descarga elétrica consumindo meu corpo.
O grito que solto quando sinto o pico chegar vem do
fundo do meu ser e joga-me em uma montanha-russa. Meu
corpo se aperta em volta do seu pau e arqueia de prazer,
como se estivesse se contorcendo. Então, vou ao ponto alto,
sendo rasgada por inteira. A sensação apenas aumenta
quando seus dedos param sobre meus joelhos, usando-os
como apoio.
Ele entra em várias estocadas, como se estivesse tão
longe do seu controle como estou do meu. Grito outra vez,
deixando os espasmos do meu corpo me pegarem. Seu pau
me fode ainda mais bruto, antes dele despejar jatos de
porra dentro de mim, com os olhos presos em meu rosto. A
liberdade acerta sua face junto ao urro grosso que sai dos
seus lábios, e seu corpo cai lentamente sobre o meu, com
ele depositando um beijo em meu ombro. Nossos corações
batem em um compasso desgovernado. Meus braços moles
o abraçam, e nunca me senti tão real como me sinto
quando estou com ele.
— JON! — A voz alta do mestre de Elsa, saindo brava,
ao passo que os socos se fazem na porta, faz o rosto dele se
virar para lá. — Tira a porra do seu rabo desse quarto agora,
já tem uma semana que estão trancados aí!
Mestre Jon retorna sua face para mim e levanta seus
dedos, alisando meus cabelos. Minha mão se ergue e toco o
desenho da lágrima em seu olho, enquanto sorrio e o vejo
ficar sério, parando o olhar em meu pulso, que tem as
marcas finas e profundas do que ele usa para prender meus
braços. Sua boca se abaixa e ele beija minha pele marcada,
antes de colar seus lábios nos meus e voltar a se mexer
devagar dentro de mim.
Inalo fundo, olhando aborrecida para a manga
comprida do vestido, que cobre meu braço, que Elsa me fez
vestir, quando ela foi junto com o seu mestre me buscar no
quarto de mestre Jon, para nos obrigar a sair de lá. Vi os
olhos dela ficarem presos em meu pescoço antes de se
concentrarem em meu pulso, e ela inalou forte, além de
esfregar sua face.
— Vai se rasgar toda se continuar se coçando assim —
Nanete fala baixinho, me fazendo a olhar e parar de coçar
meu braço, por conta da angústia que sinto com a roupa.
Tento puxar as mangas, mas ela não deixa, me
fazendo cobrir de novo meu braço.
— O que Elsa falou sobre manter o braço coberto,
Linda?! — Ela nega com a cabeça, me fitando. — Não pode
ficar mostrando essas marcas, está bem...
— Marcas do mestre Jon. — Bufo o ar com força,
arqueando minha sobrancelha, não entendendo por que
tenho que esconder, assim como não entendo por que ainda
preciso usar roupas. — Linda gosta de olhar...
— Cristo! — Fecha seus olhos e suspira, antes de os
abrir e me fitar. — Eu imagino que deva gostar, mas, ainda
assim, precisa as deixar cobertas, está bem?!
A vejo olhar em volta, com seus olhos passando pelo
imenso lugar cheio de mesas, para o qual ela me trouxe
antes, quando mestre Jon me deu bolinhos recheados com
queijo. Naquele dia estava cheio, com bastantes servas sem
coleiras, assim como alguns seguranças com os uniformes
negros, mas hoje não tem tanta gente.
— Olha, lembra quando eu te trouxe aqui e lhe falei
sobre a diferença dos órfãos para as sem coleiras, que por
isso nunca devia chamá-los de servas sem coleiras?
— Carrascos... — falo baixo, relembrando das palavras
dela. — Proteger sem coleiras...
— Sim, mas também disse que eles não têm servas.
— Ela olha para meu pulso. — Que os órfãos se submetem
apenas à Babilônia. Apenas os mestres de Babilônia têm
servas, porque têm títulos e são nobres da casa. Os órfãos
podem trepar com algumas das sem coleiras, ser for da
vontade delas, mas não podem tomar uma como sua serva,
porque eles já servem à Babilônia.
Fico em silêncio, lhe olhando, vendo-a suspirar e
negar com a cabeça, sentada no banco ao meu lado.
— Jon é um órfão. — Ela abaixa seu tom de voz,
falando apenas para mim. — Ele não pode ter uma serva. Se
por um acaso, alguma dessas abelhudas vir essas marcas
em sua pele, vão saber que Jon está praticando
masoquismo em você, e elas podem contar a algum nobre,
o que chamaria a atenção para você e Jon, e não é o que a
Elsa e o senhor Ryan querem. É importante você ficar
segura, querida. Por isso, Elsa a fez usar esse vestido...
— Linda não entende... — Olho para meu pulso. —
Mestre Jon é mestre de Linda...
— Bom, quando estão sozinhos, sim, mas quando
estão perto dos outros, não. — Ela nega com a cabeça. —
Sei que é confuso, mas é pro seu bem, entende?!
— Não — respondo rápido, realmente não
compreendendo, ficando ainda mais confusa. Mestre Jon é
mestre...
— Olha... — Ela inala fundo e esfrega o rosto. —
Apenas entenda que não pode mostrar as marcas, e o
chame de Jon quando estiver perto dos outros, sim? Mestre
Jon é apenas quando estiverem sozinhos...
— Linda não poder chamar mestre de mestre... —
Arqueio a sobrancelha, tendo Nanete me deixando ainda
mais perdida, sem entender o que ela está falando. — Se
mestre não pode ter Linda, e Linda não pode chamar mestre
de mestre, o que mestre Jon é?
Nanete abre sua boca, e agora está com a expressão
confusa, enquanto pisca e ri, nervosa.
— Ah, sei lá, pode ser seu namorado! — Ela dá de
ombros. — Não é proibido uma serva querer namorar um
guarda, desde que não pratiquem nada de
sadomasoquismo, porque isso são só os nobres da casa que
têm permissão. Acho que isso seria melhor. Vou falar com
Elsa a respeito... Isso explicaria por que vocês estão
morando juntos, e ninguém iria ficar de fofoca por aí sobre
você e Jon...
O movimento do outro lado da mesa faz Nanete se
calar, quando um prato cheio de bolinhos recheados com
queijo é deixado sobre a mesa, e sorrio de orelha a orelha,
encontrando os olhos de mestre Jon.
— Nanete disse que Linda não pode chamar mestre
de mestre, e nem mostrar minhas marcas — falo apressada
para ele. — Mestre não ser mestre, ser namorado... — Me
calo, girando o rosto para Nanete. — O que é namorado,
Nanete?
Os olhos dela estão arregalados, com sua face
vermelha, e olha de mim para mestre Jon, com ele a fitando
sério.
— Eu estava contando à Linda sobre algumas regras,
e que o certo seria ela lhe chamar apenas de Jon e evitar
mostrar algumas coisas que não serão boas os outros
verem... — Ele se senta do outro lado da mesa, ficando de
frente para mim, com os olhos presos nela. — Foi apenas
uma ideia...
— Linda pode continuar me chamando do jeito que ela
quiser — ele rosna baixo, passando seus olhos pelo salão. —
Não devo satisfação da minha vida para ninguém, e muito
menos ela precisa se preocupar com isso.
Nanete inala fundo e solta o ar, enquanto revira seus
olhos e nega com a cabeça.
— Estava apenas querendo ajudar. — Ela esmaga sua
boca, olhando para mim.
— Pode ajudar acompanhando a Linda em uma aula
que eu arranjei para ela, com uma fonoaudióloga. — Ele
retorna seus olhos para mim e fico perdida, por não
compreender o que mestre Jon está dizendo. — Artur tem o
contato de uma especialista em dicção, e ela vai vir no
pronto-socorro amanhã, por volta das 9h da manhã, ver
você.
— Aula... — pronuncio devagar. — Linda ter aula... O
que ser uma fo-fonoau..
Retraio meu rosto ao tentar pronunciar, ficando
confusa com a palavra grande.
— É como uma professora de conversa — Nanete diz,
alegre, olhando para mim. — Isso vai ser muito bom para
você, Linda. Esta especialista trabalha com a voz e a fala,
entende? Auxilia as pessoas com dificuldades de
pronúncia...
— Essa mulher vai vir te dar aula e vai utilizar
técnicas e exercícios específicos para aprimorar as
articulações das suas palavras. — Mestre Jon me olha ao
murmurar. — O que vai ser bom para sua comunicação.
Achei que poderia gostar...
— Linda gosta — falo, sorrindo, dizendo a verdade, já
que não consigo expressar em palavras as coisas que
penso. — Linda gosta de aulas. Elsa dar aula também...
Sorrio para mestre Jon, o vendo olhar de mim para
Nanete.
— Elsa acha que será bom Linda aprender outras
coisas que não seja ficar por uma semana trancada no
alojamento. — Nanete ri. — Ela ensinou Linda, hoje à tarde,
a fazer alguns curativos...
— Linda gosta de aprender a fazer curativos... —
suspiro, encolhendo meus ombros. — Mas não tem curativos
para Linda fazer... Não, não, só em Nanete.
— Eu fui a cobaia, e ela ficou triste porque não pôde
aprender mais, já que ninguém apareceu no pronto-socorro
hoje. — Movo a cabeça, concordando com as palavras de
Nanete e esticando minha mão para o prato, pegando um
bolinho.
— Sem curativos... — digo baixo, mordendo o bolinho.
— Pode treinar comigo depois do banho, se quiser.
Meus olhos se erguem para mestre Jon e engulo o
bolinho rapidamente, sentindo minha pele se aquecer ao
enxergar os olhos azuis dele presos em minha boca, dando-
me o mesmo olhar quente que me dá quando fica entre
minhas pernas, antes de beijar minha boceta. Minhas
pernas se contraem e meu coração dispara apenas por
lembrar da sua língua me lambendo.
— Linda quer banho... — falo ligeiro, respirando
apressada e empurrando o prato da minha frente, enquanto
me levanto e subo na mesa, engatinhando por ela e indo
direto para ele.
— Oh, meu Deus, Linda... — Nanete grita, tentando
me puxar de volta.
Mas mestre Jon já tem suas mãos em minha cintura,
esmagando meu quadril e o abaixando para seu colo, me
sentando em sua perna, me fazendo sentir ainda mais raiva
desse vestido grande que me cobre dos pés ao pescoço.
— Banho quente e beijo na boceta — falo, rindo perto
dos seus lábios, abraçando seu pescoço e o beijando.
Ele rosna e agarra forte minha bunda quando se
levanta, me beijando, saindo de perto da mesa sem separar
nossos lábios.
CAPÍTULO 25

O REI
OWEN WODEN

Um mês depois
Milão – Itália

— Então, como estão as coisas em casa?


Rubrico a última folha de documento que precisava da
minha assinatura, de uns acervos de telas que estou
comprando para o palacete de Babilônia, e empurro os
papéis para Ryan.
— Bem, senhor — ele me responde polido, pegando os
papéis e os guardando no envelope.
— Seja mais detalhista, Ryan. — Tapo minha caneta, a
rodando em meus dedos e o olhando. — Não solicitei que
viesse pessoalmente me trazer esses papéis, porque
realmente era necessário, e sim porque quero saber como
andam as coisas em Babilônia. Sendo mais específico, com
os filhos caçulas de Babilônia.
Sorrio debochado para ele, o vendo soltar o ar pela
boca longamente, com seus olhos passando de mim para
Helena, que está perto da janela e olha curiosa para ele,
tanto quanto eu.
— Ande, Ryan, não faça mistério. — Helena caminha
para perto da minha mesa e puxa uma cadeira. — Conte-
nos como andam nossos Romeu e Julieta.
— Terríveis até mesmo para os padrões de Babilônia
— ele responde baixo, parando seus olhos em mim,
enquanto arqueio a sobrancelha. — Preciso praticamente
andar com um borrifador de água colado no meu coldre,
borrifando na cara de um e de outro, para os manter
separados.
— Estão trepando como coelhos, nossos pombinhos!
— Helena diz, rindo.
— Penso que até coelhos conseguem se controlar
mais do que o garoto e a menina, senhora. — Ryan solta seu
peso na cadeira, encostando suas costas no couro, fechando
os olhos e negando com a cabeça. — Tive que praticamente
esmurrar a porta do quarto de Jon, quando ele e ela ficaram
lá por uma semana, sem nem colocar a cara para fora.
Achei que era apenas porque estavam no começo, por isso
não me preocupei. Mas, com o decorrer dos dias, a situação
somente piorou. Se ela não foge durante o dia do pronto-
socorro, indo atrás dele, é ele que vai até ela, isso porque
passam a noite inteira juntos.
— Estão bem vinculados. — Fisgo o canto da boca,
absorvendo as informações.
— Estão muito mais que vinculados, estão viciados
em foder — Ryan resmunga. — Estou com uma pilha de
reclamações dos outros rapazes do prédio, por conta dos
sons que vêm do alojamento do Jon, os quais eles garantem
que duram a noite inteira. E como nenhum deles tem
coragem de ir diretamente falar com ele, ou entrarem no
andar dos três terroristas, que agora são quatro, contando
com a senhorita Sing, eles vêm reclamar para mim.
Ryan esfrega sua nuca e retrai seu semblante, como
um velho carrancudo.
— Conte-me mais sobre isso. — Empurro minhas
costas para trás, rolando a caneta em minha mão.
— Notei a mudança neles por conta de Elsa... —
começa a falar, mas para assim que um sorriso se abre em
meus lábios.
— Prossiga. O que Elsa lhe fez notar, Ryan? —
Gesticulo minha mão, não querendo o sacanear por ora,
pois, primeiro, quero saber como estão se saindo o Jon e a
Linda.
— Bom, como estava dizendo. — Ele pigarreia. —
Notei por conta de uma ideia que Elsa teve, em tentar
diminuir um pouco essa carga de hora que os dois
pombinhos passam, com um colado ao outro, ao ensinar
outras coisas à menina. Linda aprendeu a fazer curativos,
como uma aprendiz de Elsa, porque assim Elsa fica mais
perto dela e a ensina algo. Inclusive, está indo muito bem. É
visível como ela evolui, aprende rápido, parece uma esponja
absorvendo tudo à sua volta. Jon também arrumou uma
fonoaudióloga, que está indo dar aulas à garota. Elsa diz
que Linda está melhorando muito. Aos poucos, mas está
melhorando, e as duas conversam bastante...
Observo o brilho de orgulho nos olhos de Ryan, ao
contar sobre o pregresso de Linda, que recebe o total
carinho da doutora Elsa.
— Elsa é paciente e ama a Linda, a conexão das duas
é tão grande quanto a que Linda tem com Jon, e ela está se
saindo muito bem como aprendiz de enfermeira, visto que,
praticamente, todo dia, um dos rapazes vai parar no pronto-
socorro, com um corte na testa, um olho roxo ou dedo
quebrado, para ela treinar o que aprendeu. — Ele retrai seu
cenho, bufando. — Misteriosamente, eles se machucam
depois de terem cruzado o caminho com Jon, Clay ou até
mesmo o senhor Artur.
— Clay? — indago, ainda mais curioso. — Clay Killer
está unido com Jon e Artur nessa repentina onda de feridos
entrando no pronto-socorro?
— Pelo que notei, sim, senhor — Ryan fala sério, e
meus olhos e os de Helena se encontram.
Sou obrigado a rir com ela, compreendendo
exatamente o que os três estão fazendo. O que realmente
me surpreende, porque pelo que consta nos documentos de
Killer, assim como nos de Artur e até mesmo nos de Jon, os
três são extremamente antissociais, brilhantes cada um à
sua maneira na matança, mas horríveis em ficar perto de
qualquer pessoa por mais de dez minutos. Tanto que foi por
isso que Ryan colocou os três no mesmo andar, os deixando
separados dos outros rapazes, que não se sentiam muito
confortáveis em ter um genocida, um psicopata e um
estripador perto deles.
Conheço a história de cada um, assim como olhei
pessoalmente nos olhos deles quando foram abraçados por
Babilônia. Praticamente, os escolhi a dedo, enxergando o
que o mundo rotulava como anormal, chamando de
imperfeições, mas que para Babilônia são perfeições. Artur,
o jovem irlandês de vinte e nove anos, tinha feito uma festa
e tanto na prisão, matando cinquenta e cinco pessoas sem
pensar duas vezes, para conseguir se vingar do assassino
do seu pai. O brilhante Jon, um jovem australiano, é um
psicopata sanguinário atestado aos treze anos, com mortes
nas costas, que precisava apenas ser lapidado e treinado
para viver com seu lado sombrio solto. Ele se mostrou um
prodígio, tendo mais baixas em suas costas do que os
outros integrantes a cada missão que participou sob o
comando de Babilônia, se igualando a Ryan em menos de
três anos. Clay, o habilidoso canadense de vinte e sete
anos, criado nas montanhas com sua mãe, seu pai e sua
irmã caçula, viveu toda sua vida na floresta, até ser preso
aos dezenove anos, depois de estripar dois caçadores que
violentaram sua irmã de quinze anos. Um dos filhos da puta
que Killer matou e estripou era um guarda florestal, que
estava de folga caçando com um amigo.
Fiquei sabendo sobre ele através de Helena, que foi
quem cuidou da irmã dele por um tempo, depois que ela
veio morar em Vancouver, quando completou dezoito anos.
Killer já estava há cinco anos preso, a caminho da sentença
de morte, e mexi uns pauzinhos, cobrei alguns favores, e ele
foi solto, tendo Babilônia o trazendo para casa algumas
semanas depois de Jon ter chegado. Ele se mostrou um
excelente órfão, ninguém se iguala a ele em uma caçada
em terreno silvestre e montanhoso, e muito menos em
estripação. Ryan me relatou que o viu fazendo isso em uma
das missões, e disse que é quase artístico a maestria que
Clay tem com uma faca.
Por isso, fico surpreso agora, ao ouvir que os três
exilados da sociedade encontraram algo que os ligue. E,
pelo visto, eles já têm um líder.
— Jon está montando sua alcateia, e seus betas já
foram escolhidos — falo, sorrindo e olhando Helena, que
move sua cabeça em concordância.
— Sim. Lembra você, quando pegou gosto por
Babilônia, descobrindo seu lugar na cadeia alimentar. — Ela
ri, negando com a cabeça. — A diferença é que escolheu
uma ginecologista sádica e um matador de aluguel, que se
tornou seu chefe de segurança.
Ela gargalha e gira o rosto para Ryan, que tem sua
expressão séria ao fitá-la.
— Qual é, Ryan, acha mesmo que não conheço seu
passado?! — Ela aponta para mim e ri. — É a mesma coisa
com o jovem Roy, assim como foi com Owen. É genético de
qualquer alfa. Eles escolhem a dedo seus betas, procurando
os mais fortes, e o garoto soube escolher bem. Ele apenas
não entende ainda, porque está sob o efeito e os encantos
da sua doce e submissa Linda.
— Eles estão praticando? — pergunto rápido, me
atentando às últimas palavras de Helena. — Jon e Linda
estão em uma relação de mestre e submissa?
Arqueio a sobrancelha, abaixando a caneta na mesa e
olhando atento para Ryan, porque esse é um ponto que
devo ficar extremamente de olho.
— É claro que estão, Owen — Helena responde no
lugar de Ryan. — Ouviu o que Ryan contou? Uma semana
trancados, sem sair do quarto... Jon e ela, com certeza,
estão em uma relação de mestre e submissa. Eu me lembro
até hoje como foi quando tive minha primeira submissa...
Fiquei três dias com ela, fechada dentro da minha casa, de
tão fixada no gosto que o poder sobre o outro tem. Você
mesmo fez isso, desapareceu por um mês, e quando
apareceu na porta da minha casa, estava magro e
completamente desnutrido, parecendo que tinha sido
sequestrado.
Pigarreio e retraio meu rosto, erguendo meus olhos
rapidamente para a porta do escritório, para ver se Emma
não está vindo, pois ela pode acabar ouvindo Helena.
— Não creio que precisamos falar sobre nossos
rompantes juvenis, Helena. — Me arrumo na cadeira e fito
Ryan, que tem um sorriso debochado no rosto. — E sim
saber se Jon e Linda estão tendo rompantes, não é mesmo,
mestre Ryan?!
Seu sorriso debochado se desfaz na mesma hora, com
ele tossindo, enquanto Helena o encara curiosa.
— Como assim? Que história é essa? — ela o
pergunta, e ele nega rápido com a cabeça.
— Ao que parece, Ryan está tendo um affair com a
doutora Elsa. — O sorriso diabólico se forma em meus lábios
ao contar à Helena sobre o que Linda disse.
Ryan fica com o rosto vermelho e respira fundo,
erguendo sua mão e a balançando em negativo.
— Isso foi apenas um mal-entendido. Tenho muito
respeito por Elsa, senhor.
— Não estou contestando seu respeito pela doutora,
pelo contrário, até achei bem interessante. Confesso que
não imaginava esse seu lado romântico — falo como quem
não quer nada, o fazendo tossir ainda mais, ficando
totalmente ruborizado. — Pare, Ryan, não é o fim do mundo
ter um romance. Elsa é uma mulher elegante, inteligente e
nova, que merece sair daquele luto eterno ao qual ela se
prendeu.
Ele inala fundo, e o olho agora não mais com deboche
ou provocação, e sim com verdade. Conheci Hugo, que era
um homem bom, e apreciava as longas horas de conversa
que tínhamos. Realmente lamentei o fim trágico que teve,
assim como da filha deles, tanto que garanti que Ryan em
pessoa cuidasse do desgraçado que tinha destruído aquela
família, tirando tudo de Elsa: sua filha e o amor da sua vida.
Mas sei que já está na hora dela se dar uma chance de ser
feliz novamente. Isso não mudará o que aconteceu em seu
passado, mas modificará seu futuro.
— Se for bom para Elsa, então não há nada que
esconder ou temer. — Sorrio, finalizando minhas palavras
para ele, deixando ao nosso modo, claro em minha fala, que
se ele a machucar, eu o machucarei.
— Sim, senhor.
— Esplêndido. — Arrumo meu terno, o alisando e
olhando-o ansioso. — Agora, retornemos ao nosso outro
casal de pombinhos! Eles estão praticando relação de
mestre e submissa, então?
— Sim — Ryan suspira, movendo a cabeça em
positivo. — No dia que tive que arrancar Jon do quarto, para
os dois se separarem um pouco, Elsa detectou marcas em
Linda, bem visíveis, em seu pescoço e pulsos. E como bem
sabe, e percebeu no dia que a conheceu, Linda tem um jeito
muito sutil de contar as coisas. Pensei que Elsa iria
desmaiar, de tão vermelho que o rosto dela ficou.
Ele pigarreia, e Helena cai na risada, ao passo que
compreendo o que ele diz. A franqueza da jovem e sua
inocência em contar tão liberta as coisas é algo inigualável,
e que tinha apreciado nela. É difícil, nesse mundo e com as
pessoas que já cruzaram meu caminho, encontrar seres
verdadeiros, com a alma tão pura quanto a jovem Linda,
mesmo ela tendo passado por todo inferno que passou.
— Elsa me obrigou a ter uma conversa com Jon,
enquanto ela tinha uma com Linda, sobre os cuidados que
um deve ter com o outro nessa relação. O que para mim,
em particular, confesso que foi bem desafiador, visto que foi
o tipo de conversa que eu nunca mais vou querer repetir. —
Ryan me olha com um sorriso amarelo. — Por um segundo,
me senti como se estivesse tendo a mesma conversa que
meu pai teve comigo, sobre a importância da camisinha, só
que ao invés de eu explicar para Jon sobre não engravidar
ninguém, eu tive que explicar para ele os cuidados que
precisa ter em relação à sua força, para não machucar e
nem matar sua submissa.
Reprimo um sorriso, não conseguindo não imaginar a
conversa de Ryan com Jon, para o introduzir no mundo
sádico, a qual presumo que não deva ter apresentado
nenhuma novidade ao jovem Roy. Mas não digo isso a Ryan,
porque sei que poderia insultar seu lado paternal, o qual ele
tem por Jon, mesmo ele garantindo que foi horrível ter essa
conversa. Mas sei que isso é mentira, porque Ryan tem um
olhar fraternal sobre todos os bastardos de Babilônia, assim
como notei o olhar maternal de Elsa sobre Linda.
Será bom ter os dois de olhos neles, cuidando para
não atravessarem nenhum ponto irreversível do sadismo.
Porém, isso apenas me faz ter certeza do que eu sabia: Jon
é um sádico nato, como seu tio, Jonathan Roy, o que não me
surpreende, visto que praticamente todo sádico tem um
lado psicopata, a diferença é que tanto eu como Jon não
temos um lado psicopata, nós dois somos inteiros
psicopatas.
— Nossa, Ryan, você e Elsa estão com um problemão
e tanto! — Helena ri, olhando-o. — Dois iniciantes em
sadomasoquismo, e que, pelo visto, estão se descobrindo
nesse novo mundo. Porque Jon, pelo que sabemos, não
tinha praticado sadismo ainda, e a senhorita Sing... Cristo,
isso vai dar uma dor de cabeça se os nobres souberem que
tem um iniciado praticando sado sem supervisão, e ainda
por cima um Órfão de Babilônia! Conhece as regras...
— Jon é um Roy, sadismo é algo que faz parte da
genética dele, Helena. Já era um sádico desde o ventre da
sua mãe — digo sério, lhe observando. — E quanto a essas
regras idiotas, verei o que vou fazer.
— Ainda assim, me preocupo. — Ela inala fundo,
abaixando seu tom de voz.
Helena me olha com pesar e suspira, se encolhendo
na cadeira e esfregando suas mãos uma outra.
— A menina, ela não nasceu submissa, tudo que
viveu, desde a infância à juventude, foi a mais pura
crueldade forçada, a tornando o que é. Ela está descobrindo
agora, o que realmente é querer ter um mestre, tanto
quanto ele deseja ter uma serva. — Helena abaixa seu
olhar, ficando pensativa.
O olhar melancólico de Helena me deixa saber que ela
está se recordando dos documentos de Linda, os quais
foram feitos em Sacramento, assim como dos próprios
exames que ela fez em Linda.
Era madrugada quando ela me ligou com a voz
embargada de choro, me repassando os testes, dizendo que
a jovem estava limpa, que não tinha doenças sexuais, mas
que os ovários dela tinham sido arrancados. A senhorita
Sing jamais será mãe. O que eu não sei se tinha sido uma
forma de Deus a poupar do que ela viveu, porque
compreendo que, dificilmente, ela teria capacidade mental
de ter um filho. Não porque a acho irracional, mas sim
devido ao seu transtorno mental.
O cérebro dela, como um último recurso de proteção,
o qual Brenda me explicou, havia desenvolvido uma barreira
para protegê-la do sofrimento que se iniciou na infância.
Criar a personalidade da boneca foi seu último ato de
desespero e inocência, com ela fugindo para dentro da sua
mente. E, como Jon, eu compreendi rapidamente que se o
alter ego de Linda for separado da senhorita Sing, ela não
aguentará a realidade do que viveu nesses três anos.
Como Ryan disse, ela evolui rápido, é inteligente, e
isso chamou ainda mais a atenção de Brenda, já que o alter
ego se vê como uma boneca, uma personalidade não-
humana. Linda é excepcional, e, de alguma forma,
conseguiu proteger a inocência de Violet, sobrevivendo
pelas duas, o que deixou Brenda ainda mais desgostosa da
resposta que dei a ela, ao lhe informar que não iria autorizar
que ela tirasse Linda de Babilônia.
Realmente não menti para Jon, quando disse que não
permitiria que a levassem para um hospício, para ser
internada e estudada. Se eu tivesse errado sobre a
avaliação rápida que fiz dele, ao ver seu interesse pela
jovem ao se negar a ficar com ela, mesmo com seu olhar
me dizendo outra coisa, iria comunicar aos conselheiros de
Sodoma que tinha encontrado Linda e a mandaria para o
Cairo, onde Sieta e Santana moram com seu submisso, sob
a proteção do conselheiro Ramsés, e eles cuidariam dela.
Linda ficaria segura e bem protegida com eles.
Mas como eu estava certo, e Jon realmente tinha um
interesse por ela, não tive que recorrer à Sodoma, e nem os
informar sobre Linda. Sabia que se contasse a eles sobre
ela, isso traria Sieta para Vancouver, o que, supostamente,
poderia resultar em Jonathan Roy aparecendo atrás do seu
sobrinho teoricamente morto há três anos, mas que está
bem vivo. E como sou um homem de palavra, e garanti a
Jon que ele continuará no mundo dos mortos para a família
Roy, a menos que seja do desejo dele os deixar saber que
está vivo, mantive Linda afastada dos olhos e ouvidos de
Sodoma.
Tudo acabou se encaixando perfeitamente bem, mais
do que esperava, já que Elsa havia se afeiçoado à Linda,
garantindo assim o isolamento dela dos membros de
Babilônia, pois ainda há um rato escondido, que eu não
tinha conseguido encontrar. E Jon ter se vinculado à Linda
foi melhor do que a encomenda.
Desconfio que o pequeno rato escondido em minha
casa não está sozinho. Por três anos, desde que fiz um
pacto com os conselheiros de Sodoma, para caçar os
esconderijos das jovens que Hasan está destruindo, meu
desejo é matar aquele turco pessoalmente, encerrando
assim a vida de merda dele. Porém, não posso fazer isso
com aquele desgraçado sem antes encontrar as jovens. E
eu nunca tinha conseguido ter a porra do sucesso de
encontrar pelo menos uma com vida, pois, quando as
encontrava, elas estavam mortas ou o esconderijo estava
vazio, o que me diz que alguém está alertando-os da
caçada de Babilônia.
Nenhum nobre ou servo e serva de Babilônia sabe
sobre o que estamos fazendo, e isso me fez ponderar que o
rato escondido em minha casa tenha procriado, e um dos
seus está metido nos bastardos de Babilônia, porque eles
são únicos a saberem sobre as missões e onde atacaremos.
Ordenei a Ryan a começar a repassar as informações a eles
sempre quando estivéssemos a poucos minutos do ataque,
mas, mesmo assim, nossas presas eram avisadas, o que
apenas confirma minhas suspeitas de que um daqueles
jovens está traindo Babilônia.
Não repassei meus pensamentos a Ryan, porque sei
que ele tem um olhar paternal pelos meninos, e como um
pai zeloso não enxergará os defeitos do seu filho traidor.
Agora, um mestre, esse sim enxergará, e a união de Jon
com a jovem senhorita Sing me garante não apenas a
segurança dela, mas também um gato cruel, que caçará
esses ratos para mim.
— Sabe o que seria bom, Ryan? Levar os dois para
uma noite no hangar. Semana que vem teremos uma
apresentação que acho que os dois vão apreciar assistir, e
será aberta para convidados — Helena fala para ele.
— Não acho que seja uma boa ideia. Nanete reportou
à Elsa que, mês passado, Linda praticamente engatinhou
em cima da mesa, dentro do refeitório, para atravessar o
espaço e pular no colo de Jon. — Ryan bufa e nega com a
cabeça. — Jon nem descolou a boca dele da dela enquanto
saía do refeitório com ela presa nos braços. São como dois
adolescentes que descobriram agora para que serve a
porcaria do pau e da boceta, fazendo tanto eu como Elsa
ficarmos de cabeça quente.
— Mais um motivo para eles irem. Vão adorar a noite
que vai ter no hangar. Você também deveria ir, pode até
levar sua doutora, se quiser, mestre Ryan. Eu deixo uma
sala vip separada para vocês... — Me concentro em Helena
atormentando Ryan, o fazendo ter uma crise de tosse. — O
que acha, Owen? Jon e Linda no hangar, participando de
uma noite livre de voyeurismo?
— O que acho é que está na hora dos dois terem um
lugar para eles — falo, pensativo, batendo meus dedos na
mesa aos poucos.
CAPÍTULO 26

VIVO-MORTO, MORTO-VIVO
OWEN WODEN

— A masmorra vermelha está vazia, não está, Helena?


— pergunto sério a ela.
— Sim — responde rápido. — Ninguém a usa, por ser
muito distante e ter todas aquelas escadas. Até chegar no
cômodo, tanto mestre como submissa já estão com as
energias lá embaixo...
— Excelente! Privacidade garantida para o casal. Pelo
relatório de Ryan, eles têm energia de sobra para lidar com
as escadas. — Sorrio, batendo minha mão na mesa. — A
redecore e a deixe apropriada para o jovem mestre barão e
sua submissa. Diga a eles que é meu presente de boas-
vindas aos novos nobres de Babilônia.
— Isso vai dar um falatório imenso, Owen, entre os
nobres. Dar uma ala inteira para um bastardo de Babilônia,
e ainda um título a ele, que nem sequer apresentou sua
serva à corte... — Helena fala apressada, tendo ela e Ryan
se entreolhando. — Não sei se isso é apropriado, já que a
intenção é manter Linda escondida. Sem falar em Roy... No
segundo que souberem o sobrenome dele, vão descobrir
que ele é da família de um conselheiro de Sodoma, e nunca
tivemos ninguém ligado à Sodoma em nossa corte.
— Pelo que me consta, Jon é filho de Babilônia. —
Fisgo o canto da boca, a olhando e sorrindo. — E faz tempo
que um barão da casa Woden não é titulado. Eu falei que
pensaria em uma forma de me livrar das regras antigas. Um
órfão não pode ter uma serva, mas um nobre sim.
Sorrio para Helena, vendo-a arquear suas
sobrancelhas, enquanto me fuzila com seu olhar.
— Não gosto quando faz essa cara, porque sei que
está aprontando, Owen. — Ela é direta, pois me conhece
muito bem para saber quando estou tendo um pensamento
diabólico. — O garoto é um Roy, arrumará uma guerra se
trazer um Roy do mundo dos mortos...
— Não posso tirar um Roy do mundo dos mortos, tem
razão — falo sério, a encarando —, mas eu posso trazer um
Woden para o mundo dos vivos.
Helena entreabre sua boca, e Ryan pisca rápido,
enquanto ergue seu dedo indicador e o balança no ar.
— Isso pode funcionar! — Ryan estala seu dedo, e um
riso escapa da sua boca.
— Não, não pode. Me diz que não está pensando em
fazer isso... — Helena olha dele para mim, negando com a
cabeça.
— Pelo que sei, meu estimado primo ainda está em
sua longa viagem pelo mundo, e não é do conhecimento
dos nobres de Babilônia a fisionomia dele, assim como
ninguém poderia reconhecer Jon, ainda mais com todas
aquelas tatuagens. — Sorrio, ficando ainda mais certo da
minha decisão. — Avise aos nobres, Helena, que a casa
Woden irá receber um barão e sua baronesa. E você, Ryan,
cuide da burocracia dos documentos, das fotos, mude tudo
que for preciso, apague lembranças, se necessário, sobre
quem conheceu meu primo e possa atrapalhar meus planos.
Porque Jon Roy está morto, mas Dave Woden está bem vivo,
e é um barão de Babilônia, que não estava viajando, e sim
sendo educado entre os bastardos. E quanto à ideia de
Helena, os teste, leve o casal até o hangar. Quero que Jon
adentre ainda mais nesse mundo. Logo ele conhecerá os
nobres, e precisa estar preparado.
— Pode deixar, senhor! — Ele move a cabeça em
positivo, se levantando e se despedindo antes de virar e
sair.
Sorrio, olhando Helena, que está séria. Ela se levanta
e vai para o bar, se mantendo de costas para mim,
enquanto inala fundo e se serve de uma bebida.
— Por que penso que não está fazendo isso apenas
para ser um cupido do jovem casal, os protegendo? — Ela
gira, com seus olhos encrustados em mim. — O que tem por
trás desse plano?
— Ratos! — falo sério, não mentindo para ela. — Há
um rato dentro de Babilônia, tanto entre os bastardos
quanto entre os nobres. Jon já tem passagem livre pelos
bastardos, mas preciso dele entre os nobres. Até hoje, não
descobri quem foi o filho da puta que tirou fotos da minha
esposa, alertando à Sodoma.
Ela vira seu copo de uma única vez na boca, tendo na
outra mão a garrafa de vodca, abaixando-a ao inalar fundo.
— Ninguém nunca irá contestar um Woden, muito
menos ele sendo meu primo. — Fico pensativo, fisgando
minha boca. — Estamos quase na época festiva de Astério,
não é? — pergunto a ela, me referindo à festa noturna que
os nobres fazem no jardim de Babilônia, em referência ao
Minotauro, tendo as oferendas das virgens, que são as
servas, sendo caçadas dentro do labirinto por seus mestres.
— Acho que sim. Daqui umas três semanas, eu creio
— ela fala rápido, me olhando por cima do ombro.
— Seria uma chance boa para apresentar o barão
Woden aos nobres. Uma festa ao luar, onde ninguém notará
nem ele e nem ela.
Jon tem a fisionomia parecida com Dave, então pode
muito bem passar por ele sem chamar a atenção.
— Owen, eu não quero parecer a que sempre pensa o
pior dos seus planos mirabolantes, mas o deixar participar
da festiva de Astério, com a garota, é ir um pouco longe
demais — diz rápido, negando com a cabeça. — São apenas
os nobres com companheiras fixas que participam, e ela
não foi apresentada à corte, assim como duvido muito que
Jon deu uma coleira a ela.
— Apenas detalhes impertinentes. — Nego com a
cabeça, não vendo empecilho algum. — Jon vai apresentá-la
na noite do festival, e a coleira, presumo que ele apenas
não deu, porque não sabe sobre alguns costumes de
Babilônia. Talvez, se alguém dissesse a ele de forma sutil,
tenho certeza de que ele rapidamente mudaria isso.
— Você está jogando isso no meu colo e nem esconde.
— Claro que estou. Se veja como a fada madrinha
sádica do casal. O leve pessoalmente à masmorra vermelha
quando finalizá-la, e apenas comente, teste o terreno e veja
se é isso mesmo que há entre os dois. Se for, ele vai fazer. E
você será responsável por ser a melhor madrinha sádica
que existe. — Rio, a olhando e a vendo me encarar por cima
do ombro.
— Ok. Indo por esse seu pensamento de cupido, que
dê certo e ele dê uma coleira a ela, a tornando a
companheira dele, como pretende esconder aquele grandes
olhos violetas de Linda? Porque pode até conseguir fazer Jon
passar despercebido — ela nega com a cabeça ao falar —,
mas Linda, com aqueles olhos, acho muito difícil!
— Não se o festival for mascarado — argumento
rápido. — Máscara de Minotauro dourada para os homens e
máscara grega para as mulheres. E antes que abra a boca
para falar sobre os nobres não quererem máscaras, e não
ser costume as usar no festival de Astério, esse ano eles
irão usar, pois o rei e a rainha de Babilônia vão participar, e
todos sabem que não permito que olhem minha esposa.
Sorrio, animado com isso, realmente podendo me
imaginar caçando Emma dentro daquele labirinto. Apenas
com essa ideia, já sinto a porra do meu pau ficar duro.
— E? — Helena me faz piscar rapidamente, e a fito
perto da minha mesa, esticando o copo de bebida para
mim.
— E é isso, todos os problemas resolvidos. — Dou de
ombros para ela. — Jon Roy está morto, Dave retorna aos
vivos, a garota se mantém uma incógnita para os nobres e
eu ainda tenho um gato caçando os ratos para mim.
— E? — ela reforça sua pergunta, estreitando seu
olhar, me fazendo a odiar às vezes, por me conhecer tão
bem.
— Tenho planos para o jovem Jon — falo baixo,
esticando meu braço e aceitando a bebida.
— Que você tem interesse no rapaz, isso eu
compreendi no segundo que olhei para ele e vi uma cópia
sua. — Ela se senta e me fita, ao passo que eu tomo a
bebida. — O que quero realmente entender, Owen, é: qual o
verdadeiro interesse que tem em Jon?
Abaixo o copo, o entregando para ela, tendo meus
olhos se perdendo na garrafa de bebida que ela coloca ao
lado do corpo.
— Nessa vida, para governar, para estar sempre um
passo à frente, não precisa apenas de inteligência, precisa
de instinto, precisa ser pior do que seus inimigos. E sempre
compreendi isso, sabendo que, infelizmente, essa genética
não tinha sido passada ao incompetente do Dave, que era
um idiota e jamais saberia lidar com o poder. — Paro meus
olhos em Helena, erguendo meu rosto. — Para se sentar em
um trono, você tem que estar disposto a sujar as mãos.
— Regente! — ela diz rápido, me olhando perdida. —
Está procurando seu sucessor, é por isso que vai
transformar o garoto em um Woden.
— Todo reinado, uma hora chega ao fim, Helena —
falo pensativo, batendo meus dedos na mesa. — Não estou
dizendo que o meu chegará agora, mas chegará um dia, e
quando isso acontecer, Jon se sentará naquela cadeira, se
ele comprovar que o que vejo nele está correto. Não mentiu
quando disse que ele é uma cópia minha, não apenas em
minha patologia, mas em caráter e espírito, ele apenas não
sabe disso ainda. Porém, ele nasceu para o poder. Onde os
Roy viram uma doença, um monstro, eu enxerguei uma
mente cruel e brilhante, que apenas precisava ser lapidada,
e não trancafiada. O verme do meu pai sabia exatamente
que eu era um psicopata, e ao contrário dos Roy, ele não
me aprisionou, ele me fez aprender a viver com o que eu
sou. E é isso que vou ensinar a Jon. E quando chegar a hora
dele assumir Babilônia, não restará nem mais um traço de
Roy nele, pois vou o tornar um legítimo Woden.
— Você realmente é um cretino e manipulador. — Ela
nega com a cabeça, suspirando.
Sorrio e encosto na cadeira, a olhando e batendo
meus dedos na mesa.
— Prefiro me ver como um visionário — falo, piscando
para ela.
— Acho bom o senhor Visionário ver essa lambança.
— A voz de Emma surge, com ela vindo para o escritório e
chamando minha atenção, soltando longamente um suspiro.
— Veja o que ela fez com seu vestido novo! Mal o coloquei e
ela já o sujou!
— Papai, Pérola sujou o vestido de princesa... — Meu
corpo já está de pé e vejo o biquinho redondo se empinando
para mim, enquanto passa seus dedos gordinhos no vestido
rosa em seu corpo, sujo de sorvete.
— Mamãe vai costurar outro novinho para você,
minha Perolazinha. — Ela já está se jogando dos braços de
Emma para os meus assim que me aproximo, e a pego em
meus braços, ouvindo o riso dela quando a encho de beijos.
— Ou a mamãe pode apenas pedir para lavar o
vestido dela — Emma fala, me dando um beijo rápido, antes
de se encaminhar para Helena. — Como está, Helena?
Não olho para as duas, apenas para minha pequena
joia redondinha, com os olhos negros grandes, que aperta
seus dedinhos em meu rosto.
— Mamãe vai costurar um novo. — Pisco para ela, a
vendo rir para mim.
— Ele está estragando a Pérola — Emma fala de forma
acusadora, enquanto giro e a olho, tendo os braços da
minha filha passando em meu pescoço.
— Eu estou vendo. — Helena ri, se levantando e vindo
para nós. — Cadê o cupcake redondinho da madrinha? Olha
só esse vestido rosa, com essa tiara, parece um cupcake de
morango redondinho e fofo!
Pérola ri para ela, tombando seu rostinho para o lado
e recebendo o beijo de Helena, que tenta a tirar do meu
colo.
— Pérola não parece um cupcake — argumento,
endireitando a tiara de princesa em cima dos seus cabelos
ondulados. — E, sim, uma princesa adorável.
O riso me faz levantar meu rosto por cima da cabeça
de Helena, e vejo Emma erguer a mão e tapar a boca
rapidamente. Arqueio minha sobrancelha e a encaro, e ela
desvia seus olhos debochados de mim.
— Owen, dá para me deixar pegar minha afilhada no
colo?! — Helena repuxa seu semblante, me encarando
zangada. — E, sim, ela é uma princesa, minha princesa
cupcake. Não é, minha bolinha fofa?
Bufo, a soltando e a entregando à Helena, enquanto
fisgo minha boca e vejo Emma segurar o riso. Aproximo-me
devagar dela, levando minhas mãos aos bolsos, passando
meus olhos em minha esposa, o que me faz sentir o coração
disparado, tendo seus olhos negros brilhantes presos aos
meus, refletindo um imenso amor.
— Está adorável hoje, meu marido. — Sua mão se
estica e a passa por meu terno, enquanto nego com a
cabeça ao ouvi-la me provocar.
— Você também está muito adorável, meu pequeno
corvo — falo baixo, empurrando a mecha dos seus cabelos
para trás, já imaginando seu belo rabo sendo castigado no
festival, quando eu a pegar durante a caçada. — E ficará
ainda mais adorável no labirinto.
— Labirinto? — Ela pisca rapidamente, me fitando
confusa. — Que labirinto...
— Oh, não se preocupe, quando chegar a hora vai
saber, minha adorável esposa! — Bato na ponta do seu
nariz, não tendo mais o riso travesso em seus lábios.
CAPÍTULO 27

APRENDENDO A DESAPRENDER
LINDA

— Empurre bem os quadris para trás! — A voz rouca


em comando sai firme atrás de mim, enquanto ergue meu
vestido e abaixa minha calcinha.
Meus dedos se esmagam na pia do banheiro dentro
do pronto-socorro, e inalo fundo, com minha boca se
apertando para não fazer barulho ao sentir o toque morno
da respiração de mestre Jon, quando ele se agacha atrás de
mim e acerta minha pele. Pisco, confusa, ao primeiro toque
gelado de um creme sendo esfregado no meio da minha
bunda, com ele abrindo-me, com apenas um dedo
esfregando-se devagar e espalhando pela popa dolorida,
que tinha sido castigada por ele na noite passada com seu
cinto.
— O que mestre Jon está fazendo... — Fico sem
entender e giro meu pescoço, o olhando por cima do ombro.
— Quer tocar em Linda de novo, como ontem à noite, aqui
dentro do pronto-socorro...
— Não, eu apenas vim para ver como está, se estava
machucada — fala baixo, erguendo seus olhos para mim,
mantendo seu dedo aplicando o creme gélido e o
esfregando entre as nádegas. — Peguei um creme no
armário de remédios de Elsa, para ajudar a aliviar sua pele,
pois supus que devia estar sensível por causa da noite
passada.
Ele retorna a olhar minha bunda, se mantendo
concentrado, com seus olhos azuis fixos no meu traseiro,
me fazendo ficar na ponta dos pés quando preciso empiná-
la, com suas mãos abrindo e afastando as nádegas. Fico
confusa ao olhar para o espelho, sem saber o que pensar ou
como expressar em palavras o que estou sentindo. Nunca, o
mestre antigo cuidou dos meus machucados depois que me
tocou. Mestre Jon me tocou ontem à noite, tocou muito em
meu corpo, me fazendo sentir a descarga de prazer, dor e
eletricidade, o que o antigo mestre também não fazia. Ainda
estou completamente eufórica com o poder que ele tem em
me deixar tão viva.
Vejo um brilho diferente em suas íris azuis, que
rapidamente é escondido, com elas ficando completamente
escuras e sombrias, o deixando ainda mais lindo com as
mechas negras caídas por sua face. Ele joga o cinto de
couro no chão e empurra sua calça para baixo com a cueca.
Sua mão puxa para baixo a corda presa em minha boca, e
seu movimento é rápido, assim como sua boca, que me
condena no segundo que ele investe contra mim, me
beijando com brutalidade.
Seu pau se afunda em uma tacada só dentro da
minha boceta, me fazendo ofegar e apertar mais forte as
minhas pernas em volta dele, chorando com dor ao ter um
pico forte me acertando, como uma queimação, ao ser
invadida de forma brutal. Esmago mais forte meus dedos à
corda, a qual me prende, ligando meus pulsos ao teto,
tendo-a queimando a carne dos pulsos. Não houve ternura,
nem um aviso do que ele faria, apenas a posse dele sobre
mim sendo aplacada em um beijo selvagem e um pau
grosso enfiado tão fundo dentro do meu corpo, que eu
poderia jurar que morreria ali, nos braços dele, por ter
minha boceta estourada em penetrações ferozes.
Perdida na linha fina da dor de ser aplacada com fúria,
e no prazer de ter minha vagina preenchida, gosto da forma
como ele está dentro dela, tanto quanto gostei de sentir
suas cintadas em meu rabo, e minha mente apenas se
concentra no prazer que ele me dá. O mais puro e
inigualável prazer que já senti. Mestre Jon me beija com
fome e escorrega sua língua por dentro da minha, me
tomando com luxúria.
Minha boceta se retrai, e tento o expulsar de dentro
de mim com a mesma agonia que o sugo para lhe manter
dentro dela. Ele leva suas mãos para meu rabo e o segura
no alto, dando acesso para as penetrações duras que seu
pau faz dentro de mim, em um sexo cru, brutal e
enlouquecedor. Quando sua boca liberta a minha do seu
beijo bárbaro, estou ofegante, completamente devastada
diante do poder que ele me fode. E meu corpo responde,
aprecia as batidas duras da sua pélvis contra a minha,
descartando rapidamente o desconforto inicial e sendo
aplacado pela forma dura que mestre Jon se afunda ainda
mais dentro da minha boceta.
Fico com os olhos presos aos seus, com meus peitos
se esmagando em seu tórax, e sinto toda a força bruta com
a qual estou sendo fodida, e eu desejo isso. Minha cabeça
tomba para trás e mordo minha boca, abafando meus
gemidos, com o som da minha respiração ficando mais alto.
Preciso dele, preciso de tudo que ele me dá. Inclino minha
cabeça e capturo seus lábios para mim, o beijando com
mais desespero e desejo do que ele me tomou.
Sua mão esmaga meu quadril com brutalidade ao lado
do corpo, me fazendo sentir dor, mas não me importo com a
dor da pressão das suas mãos, que achatam minha pele a
ponto de fazer meus ossos doerem, porque a dor que ele
me causa é tão única, que posso morrer desejando mais
dela. E o instigo a me punir com mais dureza quando
escorrego a língua por sua boca e mordisco seus lábios,
fazendo o que ele já fez comigo em um beijo. E, em
contrapartida, ele me fode com mais brutalidade.
Minhas mãos, com os pulsos amarrados, se seguram à
corda, tendo os braços esticados, tão rígidos que mal sinto
meus músculos. Meus calcanhares em sua bunda o
prendem, o usando como impulso para mover meu corpo
para baixo contra seu quadril assim que sua pélvis se choca
com a minha a cada solavanco. Ele corresponde ao beijo
com a mesma necessidade, tomando o controle e fazendo
de mim o que deseja.
Apenas solto seus lábios quando sua mão para em
meu pescoço, o esmagando com pressão, forçando minha
cabeça a ficar parada, controlando a quantidade de ar que
entra e sai dos meus pulmões.
— Como consegue foder com a porra da minha
cabeça dessa forma, bebê?! — Sua voz rouca é dominadora,
e ele leva seu quadril para trás devagar, retirando seu pau
quase por completo de mim.
Volta forte, com um estouro bruto, ao se afundar
dentro da minha boceta, como se estivesse me castigando,
mas não entendo o que fiz para ele me punir. Mordo minha
boca e sinto meu peito acelerar, e meus olhos ficam
marejados por lágrimas quando ele não para de se mexer.
Não quero parar, não quero que ele pare, não quero que ele
se afaste de mim. Meu corpo o deseja assim, colado a mim,
com seus olhos e sua boca perto dos meus. Eu gosto de
olhá-lo, gosto de sentir sua boca e de como ele faz eu me
sentir viva, tão distante de toda aquela dor que me
consumia quando eu estava com o antigo mestre. Não
tenho como explicar isso para ele, já que não entendo a
mim mesma, apenas preciso que ele me tenha assim,
porque em seus braços sou real.
— Mestre... — choramingo e nego com a cabeça,
segurando mais forte a corda, sentindo tudo me acertar
com intensidade.
Nada mais tem importância alguma quando seu corpo
retorna a se mover, me fodendo com lentidão, com ele
capturando meus lábios e me fazendo suspirar entre os
gemidos de alívio e prazer, apertando mais forte minhas
coxas em volta do seu corpo. Mestre Jon solta minha
garganta e dá um passo para trás, me levando com ele e
me deixando totalmente esticada pelo couro que prende
meus pulsos, a ponto de ficar deitada no ar, apenas presa
pelas cordas, com minhas pernas em volta da sua cintura. E
eu vou ao céu quando seu pau me fode com brutalidade,
retornando a se mover, aumentando suas estocadas.
A mordida dos seus dentes em minha boca é
anestesiada pelo prazer que o beijo dominador dele causa
na sequência, e impulsiono meu corpo para frente a cada
penetração. Ele apenas quebra o beijo quando sente minha
boceta o sugar com mais pressão, tendo meu corpo, das
pontinhas dos pés até meus dedos das mãos,
completamente retraído, sentindo a força do choque que
está me cortando de dentro para fora.
Seus olhos estão concentrados nos meus, e tudo que
eu vejo à minha frente são pequenos pontinhos de luz
brilhantes, com meu cérebro explodindo em mil partículas
na quinta estocada. Mordo minha boca com força,
desesperada, e sinto minha boceta expelir os fluidos
quentes, que jorram dela a cada penetração bruta do seu
pau. Em meio ao meu gozo, que nubla minha mente, meus
olhos ficam focados aos seus, e os vejo se comprimirem,
quase se fechando.
Ele rosna e sua boca trava, com o mestre rangendo
seus dentes e me encarando com o corpo trêmulo. Dou um
passo à frente e me endireito em seu colo. Sorrio, molenga,
e fecho meus olhos aos poucos, tombando meu rosto em
seu ombro, com meu coração palpitando em meu peito,
afrouxando minhas pernas, com os músculos gelatinosos da
sua cintura as deixando penduradas.
— Você ferrou com a minha cabeça, Linda! — ele
murmura, e sua testa descansa em meu pescoço, enquanto
ele passa sua língua em minha garganta. — Minha Linda,
apenas minha...
— Sim, sim... — suspiro ao sentir uma última onda
estranha e agitada de prazer me percorrer por causa do
toque quente da sua língua, que me lambe a pele.
A respiração pesada é solta atrás de mim, com ele
rosnando baixo e esfregando seu nariz na pele do meu
traseiro, esmagando minhas coxas em suas mãos, ao passo
que a lembrança de como ele fez eu me sentir na noite
passada me pega tão forte.
— Sua boceta está úmida, bebê — fala baixo com
rouquidão.
— Linda acabou lembrando da noite passada. —
Mordo meus lábios, com meus olhos se abrindo e o vendo
se endireitar, ficando de pé atrás de mim.
Ele me fita sério, enquanto arruma a saia do meu
vestido depois que deixa a calcinha no lugar.
— Se te tocar agora, não vou parar, e apenas vim aqui
porque queria ver se estava bem. — Ele ergue seu braço e
olha o relógio em seu pulso. — Está na hora do almoço,
Nanete ou Elsa vão vir atrás de você daqui a pouco.
Ele escorrega sua mão por meu ombro, passando-a
por meus braços até parar à frente do meu quadril. Meu
rosto tomba em seu peito e arfo, não querendo que ele pare
de me tocar. Movo a face com lentidão para o lado, com
meus olhos ficando presos em sua boca, querendo seus
beijos.
— Mas acho que podemos ter alguns minutos — ele
rosna baixo.
E vibro, querendo sentir o beijo dele, o qual faz eu me
sentir tão viva. Posso sentir o ar quente da sua boca, que se
aproxima devagar da minha, enquanto rosna e levanta uma
mão para meu pescoço.
— Linda... — A voz alta de Nanete o faz rosnar, com
seus olhos se fechando e virando sua face brava para a
porta no segundo que ela é esmurrada. — Eu sei que está aí
dentro, e Jon está com você, então podem sair daí!

— Qual é, Elsa, faz tempo que nunca mais saiu, nem


para tomar um café comigo no refeitório! — Me mantenho
de costas, ouvindo Nanete conversar com a doutora Elsa. —
Vai ser legal e divertido, tendo música para dançar e um
bom vinho. Se tivermos sorte, ainda ganhamos uns
amassos.
— Já disse que não, Nanete — a doutora Elsa a
responde, bufando. — Vá você, eu não tenho mais idade
para essas coisas. Gosto de ficar no meu alojamento,
assistindo TV.
— Tem trinta e nove anos, Elsa, não cem — Nanete
resmunga, inalando forte. — E, outra, estou lhe convidando
para irmos à noite no refeitório, não para outro local. Vai ser
legal, sabe que todo final de mês rola uma festa lá...
— Nanete, não! — Escuto a cadeira da doutora Elsa se
empurrando, com ela caminhando dentro da sala. — Linda,
está tudo bem?
Me mantenho de costas, sem me virar, e apenas
balanço a cabeça para ela, retirando as embalagens de
remédios das caixas que chegaram e as arrumando na
prateleira.
— Ela está brava. — Nanete ri baixinho, passando por
trás de mim e batendo seu ombro no meu, puxando uma
caixa do chão e a erguendo no balcão, ficando ao meu lado.
— Deixa eu adivinhar... — Giro meu rosto para a
esquerda, vendo Elsa se encostar no balcão, com seus
braços cruzados e um sorriso nos lábios. — Jon passou por
aqui?
— Na mosca! — Olho Nanete, que ri. Ainda estou
chateada por ela não me deixar dar beijos no mestre. — Na
hora do almoço, fui procurar por ela, e adivinha onde
estava? Trancada dentro do banheiro com ele. Achei que iria
precisar derrubar a porta para os dois saírem de lá.
— Linda, o que conversamos sobre beijos? — Pisco,
confusa, olhando Elsa, que sorri, balançando a cabeça.
— Não beijar na sala de cirurgia... Linda e mestre Jon
estavam no banheiro, não na sala de cirurgia — digo rápido,
recordando da conversa dela na semana retrasada, quando
pegou o mestre e eu deitados na maca.
Ouço a risada de Nanete, enquanto Elsa suspira e
segura seu riso, me olhando, tendo sua mão se erguendo e
esfregando seu rosto.
— Cristo! O que vou fazer com vocês dois? A intenção
de você ficar aqui durante o dia, é justamente para manter
um tempo para você — Elsa fala carinhosa, abaixando sua
mão. — Mas fica difícil isso acontecer, quando um vai atrás
do outro. Que você e Jon estão indo bem, isso é nítido, mas
precisa de um tempo para você também, isso é importante,
querida.
Eu não entendo por que não posso ficar com meu
mestre o dia todo, por que existem tantas regras, as quais
são diferentes das que eu tinha que obedecer quando era
chamada de Lixo. O mestre mau me fazia ficar sempre perto
dele quando ia me ver, porque era para isso que ele me
tinha, para ser sua. Só que quando mestre Jon vem ficar
comigo, Nanete ou Elsa sempre dão um jeito de o afastar,
ou vão atrás de mim, me buscar, se eu for ficar com ele. É
confuso, muito confuso, essas regras.
Tenho que usar roupas, mesmo agora eu tendo um
novo mestre, e eu não as usava perto do mestre mau
antigo, por isso, ainda não me adaptei a elas. Sinto agonia e
coceira ao passar o dia todo com meu corpo coberto,
ficando feliz quando mestre Jon vem me buscar para me
levar para o quarto e posso ficar nua com ele. Não posso o
tocar em público, perto das outras pessoas, o que para mim
é normal, pois eu não podia tocar no antigo mestre. Porém,
eu era tocada perto de outras pessoas, entretanto, aqui não
posso deixar meu mestre me tocar e nem tocá-lo perto dos
outros seguranças ou das servas sem coleiras, já que é
proibido servas serem servas dos seguranças, o que não
compreendo.
Tirando essas coisas que me confundem, porque são o
oposto do que eu fui ensinada a fazer, eu até que gosto de
passar o dia no pronto-socorro. Elsa sempre está comigo,
cuidando de mim, assim como Violet cuidava de Suse,
sendo minha mamãe. Elsa me faz sentir feliz com ela, e
Nanete também, já que sempre está alegre, rindo. Apenas
fico brava com ela quando me deixa longe do mestre ou
briga com ele, como ela fez hoje, quando ele abriu a porta
do banheiro. Ele a encarou zangado, por ela não o deixar ter
tempo de dar um beijo em minha boca. Depois, ela riu
quando ele foi embora bravo, e eu não entendo por que ela
briga com ele e depois fica rindo, achando graça da cara
dele. Porém, eu gosto dela. Nanete me ensinou a ver vídeos
de música no computador da doutora Elsa, e fica sempre ao
meu lado quando Darla vem me dar aula, para ajudar minha
fala, o que eu gosto.
A doutora Elsa me ensinou a cuidar de machucados, o
que eu gostei também, pois gosto de ajudar. Havia a
ajudado bastante com os machucados dos seguranças que
vêm aqui. No começo estava triste, porque não havia
ninguém para fazer curativos, mas então não fiquei mais
triste, porque tinha machucados todos os dias.
Eu observo as pessoas à minha volta, gosto de vê-las
conversando. Faço isso com as sem coleiras no refeitório, ou
quando Nanete me leva até a grande sala de banho, onde
tem bastante banheiras, e presto atenção nelas, em como
falam e se movem. Gosto daqui, gosto de aprender e,
principalmente, gosto de não ter gritos, de não ter
escuridão. Tudo é claro e tão vivo, com cheiros bons e
comida gostosa, além da cama quente, na qual o mestre Jon
me deita com ele. Não tem chão frio, nem medo ou
desespero.
Aqueles momentos parecem tão distantes que, às
vezes, me vejo parada, observando o céu, o que é algo que
eu amo fazer. Nunca podia ficar do lado de fora quando era
Lixo, não sentia o vento tocar minha pele, nem via as
estrelas. Porém, aqui, nesse lar, eu posso, e gosto de fazer
isso. Olho tudo com paixão, ficando encantada com cada
coisa nova que aprendo, que descubro desse mundo. Violet
também gosta, ela não grita mais e nem chora,
machucando nossa mente com lembranças, ela apenas fica
em silêncio.
À noite, quando durmo depois de sentir meu corpo
sendo abraçado por mestre Jon, o qual faz eu me sentir tão
bem, e quando fecho meus olhos, vou direto para ela, me
escondendo em nossa mente junto com Violet. Eu sinto seus
braços em volta de mim, me abraçando, com ela sentada
em um balanço e brincando comigo, sorrindo, ao passo que
a mostro o que vejo quando meus olhos estão abertos. E ali,
em seus braços, brincando no balanço, não é mais Lixo e
nem Linda, eu sou apenas a sua Suse. E não há dor, não há
medo, há apenas nós duas.
Eu conto a ela sobre nosso novo mestre e como ele é
bom para nós, que compra roupas bonitas para mim e laços
delicados para meus cabelos, que nos protege e nos cuida.
Eu falei que temos amigos e uma nova mãe que nos ama.
Não divido com ela o que acontece entre mim e mestre Jon,
porque sei que isso a machucaria, apenas a deixo saber que
estamos seguras. E eu fico com Violet até seus olhos se
fecharem, com ela deitada na grama, com seus braços
presos a mim, adormecendo e me fazendo acordar. Quando
volto para a luz, deixo-a em seu refúgio, o qual criamos em
nossa mente para a proteger. Eu fico feliz quando acordo,
porque tinha estado com ela, e me sinto ainda mais feliz,
porque quando meus olhos estão abertos, eu fico com nosso
mestre.
— Sabe, tive uma ideia. Deveríamos levar Linda com a
gente hoje à noite — Nanete fala, pensativa, me fazendo a
olhar.
— Não tem a gente, Nanete — Elsa retruca,
apressada. — E muito menos Linda vai a uma festa, à noite,
no refeitório, com um bando de servas sem coleiras
carentes e os seguranças de folga.
— Qual é, Elsa?! — Nanete ri, negando com a cabeça.
— Vai ser bom para ela um pouco de diversão, brincar...
— Mestre Jon brinca com Linda no quarto — digo,
sorrindo e a olhando. — Beija meu corpo todo, e depois
Linda beija o corpo todo dele...
— Não é bem esse tipo de brincadeira, querida — a
doutora Elsa fala apressada, pigarreando. — Está a
deixando confusa com essas suas ideias, Nanete.
— Claro que ficar integralmente com um mestre não é
o que a deixa confusa e viciada nele. — Nanete alisa meu
ombro. — A brincadeira que eu disse é com dardos, querida,
que são pequenas flechas de borracha, que a gente tem
que acertar em um alvo, não beijos no corpo todo.
— Como o pau acertando na boceta? — indago,
confusa, a olhando e não sabendo o que é essa brincadeira.
— Viu, o que eu disse? — Nanete ri, sem me
responder, olhando para Elsa. — Ela precisa urgentemente
de uma noite das meninas. Eu, você, ela e uma garrafa de
vinho e um suco de laranja, além de música, muita música.
— Linda gosta de música — falo rápido, fitando-a. —
Mestre Jon também usa fones nos ouvidos de Linda quando
bate em minha bunda.
Suspiro, sentindo minha pele se arrepiar ao recordar
dele acertando com um remo de borracha minha bunda.
Apenas de lembrar da pele ardida, minha boceta fica
molhada.
— Cristo! — Elsa suspira, esfregando seu rosto, antes
de trocar um olhar com Nanete.
— Eu disse, viciada. — Nanete dá de ombros, negando
com a cabeça e me olhando, segurando meu queixo. —
Nada de mestre na noite das meninas, apenas eu, você e
Elsa. Precisa aprender mais sobre o poder feminino, e que
ser submissa não é apenas ficar 100% presa ao seu mestre,
que pode ter outros gostos também...
— O que é poder feminino? — questiono, sem
entender essas coisas que Nanete fala.
— O que você justamente precisa. — Nanete belisca
minha bochecha. — Uma noite sem mestre, sem servidão,
sem fones nos ouvidos, enquanto apanha na bunda ou com
o pau na boceta. Só você mesma, danças e brincadeiras
comigo e Elsa.
— Sem mestre? — Olho dela para Elsa.
— Não acredito que vou dizer isso, mas acho que tem
razão, Nanete. — Elsa puxa o ar bem forte, me fitando e
negando com a cabeça. — Nada de mestre essa noite,
querida. Pode ser bom para você se divertir um pouco.
— Maravilhaaaaa! — Olho confusa para Nanete, que
dá pulinhos alegres, batendo seu quadril no meu. — Vai
balançar esse rabo hoje, Linda!
Olho para baixo e movo meu quadril como ela faz com
o dela, me aproximando de Elsa e batendo no seu como
Nanete fez comigo. Elsa gargalha e ri, jogando a cabeça
para trás e erguendo suas mãos para o alto, mexendo seus
dedos.
— Se balançar o quadril assim, no meio de uma pista
de dança, vai me fazer ter uma dor de cabeça com seu
mestre. — Ela ri, e não entendo como mestre Jon pode
causar dor na cabeça dela.
CAPÍTULO 28

A DOR DE CABEÇA DO MESTRE


JON ROY

— Nos resta apenas quatro cabanas para conferir. —


Meus olhos ficam fixos no mapa de Bowen Island, onde vejo
Killer fazer um X vermelho em cima da localização da última
cabana que ele visitou na noite passada.
Bowen Island é o local que meu amigo, o senhor
Tuing, deu a localização de onde eu poderia encontrar,
supostamente, o homem que esconderia Linda antes de eu
encontrá-la. É uma ilha com cerca de seis quilômetros de
largura e doze quilômetros de comprimento, estando a uma
hora e trinta de Vancouver. Não tem muitos habitantes, na
verdade, a população não passa de 4.256 residentes,
porém, a ilha possui um fluxo grande de visitantes, por
conta das montanhas, o que chama a atenção de
campistas, trilheiros e caçadores.
No meio da montanha afastada do píer, Artur havia
detectado quinze cabanas na floresta, com a ajuda de um
drone, e fez um mapeamento aéreo do local. Contei a ele o
que o filho da puta da fada do dente me contou, assim
como o deixei ver os documentos que achei na casa dele,
embaixo da cama, onde a esposa deu a localização. Não
repassei as informações que encontrei a Ryan. Sabia que ele
precisava daqueles documentos, que o ajudaria a achar as
outras garotas que Babilônia está procurando, mas
acontece que tinha um pequeno problema, o qual me fez
não mostrar a ele: minhas desconfianças.
Eu observei cada lugar que tinha nos documentos,
sendo muitos deles missões, os quais Artur reconheceu por
ter participado. E ao ouvir isso dele, lembrei da conversa
com o senhor Owen, onde ele disse que as meninas sempre
desapareciam ou eram mortas, o que me deixou entender
que alguém sabia para onde os bastardos de Babilônia
estavam indo e, por isso, as eliminavam.
Poderia ter desconfiado de Ryan, mas o descartei no
primeiro momento. Ele, praticamente, respira Babilônia,
vive Babilônia, e é cegamente leal ao rei. O que me levou a
um segundo pensamento: há um traidor entre os bastardos,
porque só assim para eles saberem exatamente qual
cativeiro Babilônia iria estourar. Isso me fez desconfiar de
todos, os estudando, ficando atento a cada um, os
analisando.
Os próximos que risquei da lista foram Artur e Killer.
Artur não é o traidor, ele é um fugitivo tanto quanto eu, com
uma possível vida fora de Babilônia sendo inexistente. Ele
não tem nenhum outro lugar sem ser aqui, não se encaixa
em nenhum canto do mundo que não seja servindo à
Babilônia, fazendo o que nós sabemos fazer: matar. Ele não
trairia sua casa, não quando foi a única que lhe restou.
Já Killer, o descartei no segundo que invadi a sala de
Ryan, para buscar pelos arquivos dele. Killer foi condenado
por matar e estripar os homens que violentaram sua irmã,
então ele não participaria de um negócio que envolve
justamente o que desgraçou a vida da irmã dele. Gostei de
descobrir sobre seu ponto forte: Killer é um apito rastreador
em região montanhosa, justamente o que preciso para
rastrear Pel, e como eu não poderia me arriscar deixando
Linda sozinha enquanto não descobrisse quem é o traidor,
me foi útil tê-lo junto comigo e Artur nessa busca por Seferic
Pel, o homem que se ofereceu para cuidar de Linda, e que o
senhor Tuing relatou que poderia me dizer quem era o
antigo mestre dela.
Artur descobriu que Pel não existe, que é um nome
falso, então a única coisa que nos restava era encontrar a
cabana. Não reportei aos dois que eu desconfiava que
existia um traidor entre nós, apenas os deixei saber o que
precisavam, que queria achar o desgraçado para o matar
com minhas mãos, indo depois atrás do ex-dono da Linda, e
se Ryan soubesse sobre essas pistas, ele acabaria
atrapalhando meus planos e eu perderia esse filho da puta.
Artur não se recusou em me ajudar, assim como Killer, que
praticamente se sentiu como uma criança ganhando um
presente de Natal quando disse a ele que estávamos
caçando um cara na montanha. Ele foi um batedor, indo
conferir cada cabana pessoalmente durante esse um mês,
passando por onze, mas nenhuma delas pertencia ao nosso
homem.
— Restaram apenas quatro. — Artur dá um passo à
frente, encarando o mapa colado na parede do porão, onde
fica o compartimento de armas e munições, o qual apenas
eu tenho acesso desde que Ryan me colocou para ficar
trabalhando aqui. Por isso, sei que ninguém verá nosso
pequeno mural de provas, o qual montei meticulosamente.
— Acha mesmo que esse cara está aí? — Killer
pergunta baixo, me olhando ao se virar e se afastar do
mapa. — Não acho que possa estar. Eu vi o local, andei por
aquela montanha, e apenas tem acesso por trilhas. Ele
levaria mais de cinco horas para chegar no topo se
estivesse levando uma mulher junto com ele, amarrada.
— Ele está aí. — Me concentro nas fotos aéreas dos
drones, observando a floresta. Tudo é fechado, com o
terreno desregular, tendo apenas uma subida íngreme e
lamacenta.
Ele está na montanha, eu sei disso. A cabana dele
encontra-se em algum lugar daquele terreno montanhoso,
porque tudo ali é propício para ele, sendo afastado dos
moradores da montanha e longe da cidade, então não tem
como escapar se não for a nado ou de barco pela ilha, além
de não ter polícia e o acesso até as montanhas ser difícil, se
não for pelas trilhas. Ou seja, ninguém ouviria grito algum,
sendo um local perfeito para se ter uma vítima ou uma
mulher como boneca humana, como elas são criadas para
ser.
— Jon, não pode basear-se apenas nas palavras de um
homem que estava prestes a morrer e tentava firmar um
acordo com o diabo. — Artur coça sua testa. — Já parou
para pensar que a fada do dente pode ter mentido...
— Ele não mentiu. — Jogo as fotos em cima da mesa,
encarando Artur. — E não estou me baseando nas palavras
dele, e sim no que eu faria se tivesse alguém em cativeiro e
não desejasse ninguém me incomodando ou atrapalhando.
Nosso cara não escolheu essa ilha por causa da paisagem,
ele a escolheu para ninguém achar suas vítimas.
Artur fisga o canto da boca e balança a cabeça em
positivo, enquanto compreende o porquê eu tenho certeza
de que o tal de Pel está ali.
— Esse fim de semana, fui escalado para ficar de
guarda, patrulhando o perímetro de Babilônia — Killer fala
baixo. — Na segunda de manhã, eu retorno para lá, e vou
conferir as outras quatro cabanas que faltam.
— Eu vou dar um pulo lá amanhã. — Artur se vira,
olhando para o mapa. — Vou repassar o drone de novo e ver
se não deixei nada para trás...
O som da batida na porta me faz virar na mesma
hora, e a fito. Faço um gesto com a cabeça para os dois.
Killer tira todos os documentos do balcão rapidamente, os
guardando em uma caixa de fuzil, enquanto Artur puxa um
armário de metal, onde ficam as munições, e o deixa na
frente do mapa, o escondendo.
Apenas quando tenho certeza de que nada está à
vista, vou para a porta e dou uma rápida olhada no relógio
em meu braço, constatando que já são 19h30. Preciso ir
buscar Linda no pronto-socorro. Eu a levo todo dia de
manhã, cumprindo a porra da promessa que Ryan me fez
fazer, de a deixar ficar com Elsa durante o dia, a pegando
somente às 19h30, para ela ficar comigo. No segundo que
abro a porta, o aroma de tutti-frutti me golpeia, e ergo
rápido meu rosto, porque eu sei que pertence à Linda.
— Eu estava indo te buscar agora... — As palavras se
calam em minha boca ao vê-la parada diante da porta, com
um sorriso doce nos lábios e seus olhos ametistas
brilhantes. — O que é isso na sua boca?
Puxo o ar, com minha postura ficando ereta, ao passo
que abro de vez a porta, a olhando de cima a baixo, vendo o
vestido laranja de alças finas em seu corpo, que possui
renda na saia, o qual tinha comprado para ela na semana
passada. Ela praticamente pulou dentro do quarto quando
abriu a caixa de presente. Mas não era com esse vestido
que ela estava hoje, quando saiu do meu alojamento, pois
eu mesmo a ajudei a se vestir, abotoando os botões da
frente do vestido verde que ela escolheu no armário.
— É um batom melado com brilho — diz, rindo, me
fazendo levantar o rosto para ela e encarar sua boca, que
está ainda mais carnuda e brilhosa, parecendo uma fruta
suculenta. — Nanete disse que fica bonito o brilho na boca.
Minha sobrancelha se arqueia e giro meu rosto para o
corredor, vendo ao longe Nanete, ao fim das escadas,
distraída, mexendo no celular.
— Por que está com essa roupa, Linda? — Ranjo os
dentes, retornando a fitá-la, vendo-a sorrir e passar seus
dedos no vestido, enquanto balança sua cabeça para os
lados e me deixa ver a ponta do laço laranja preso atrás da
sua cabeça, que combina com o vestido. — Foi embora do
pronto-socorro sem esperar que eu fosse lhe buscar...
— Nanete me levou para o alojamento, junto com
Elsa, para poder me arrumar, e depois elas se arrumaram
nos alojamentos delas. Saímos mais cedo do pronto-socorro.
— Ela bate seus dedos de forma animada ao lado do corpo,
empinando o nariz para frente e sorrindo para mim. — Noite
das meninas, sem mestre, porque Linda precisa aprender
sobre o poder feminino, foi o que Nanete disse.
O som das risadas atrás de mim me faz girar o rosto
na mesma hora, e encaro Artur e Killer, que estão com a
face vermelha e levantam as mãos, acenando para ela.
Rosno com raiva, tendo os dois parando de rir e abaixando
suas mãos rapidamente, enquanto retorno a olhá-la,
sentindo a minha pálpebra esquerda tremer e minha boca
repuxar.
Esmago os dedos na maçaneta, encarando o vestido
laranja em seu corpo, o que faz minhas narinas se dilatarem
ainda mais ao vê-la vestida com ele, tendo a porra de Killer
e Artur a vendo assim, tão bonita. Tinha comprado o vestido
para ela porque sabia que ficaria lindo, mas era para ela
usar para mim, apenas para mim, e não deixar esses filhos
da puta a verem.
— Que porra... — Engasgo e rosno, erguendo meus
olhos aos seus. — O que está dizendo com aprender sobre o
poder feminino, Linda? E por que se arrumou desse jeito? Eu
vou te levar para nosso alojamento, tenho que cuidar de
você...
— Linda ficar bonita para conversar e dançar. Brincar
com elas, mas não como mestre brinca com Linda, sem pau
na boceta — ela fala rápido, negando com a cabeça e me
fazendo arfar, ao passo que os dois miseráveis atrás de mim
têm uma crise de riso. — Nanete e Elsa tomar vinho e Linda
suco, e se tivermos sorte, vamos ganhar amassos. Mas
Linda não sabe ainda o que são amassos, mas vou
perguntar depois para Nanete.
Ela abre largamente seu sorriso, e minha boca se
entreabre, com minha mão estourando a maçaneta quando
solto toda minha força nela, causando um som estridente.
— Passar apenas para avisar ao mestre. — Ela se
inclina rapidamente para frente, ficando na ponta dos pés e
beijando rapidamente minha boca, me deixando sentir o
gosto de morango que o brilho labial tem. — Não precisa
esperar Linda acordado, pois Linda não tem hora para
voltar.
Ela vira antes mesmo que possa a segurar, tendo seus
cabelos soltos atrás das costas, com o imenso laço laranja
preso neles e o vestido arredondado na parte de trás,
destacando ainda mais seu rabo. Acho que meu cérebro
ainda está processando a imagem dela com o vestido, e sou
golpeado por suas palavras, vendo-a se afastar e ir para o
fim do corredor.
— Nanete, Linda disse ao mestre o que me mandou
dizer a ele. — A cabeça de Nanete se ergue e ela desvia os
olhos do celular, olhando de Linda para mim.
Rujo, esmagando tão forte a maçaneta, como eu
quero fazer com o pescoço dela.
— Oh, meu Deus, Linda... — Ela ri, nervosa, puxando
Linda pelo braço.
— Linda não soube explicar o que são amassos para
mestre. — A voz de Linda sai curiosa ao falar com ela. — O
que são amassos? E que horas vamos ganhar...
O som do estalo é ainda mais alto, com a maçaneta
quebrando quando a estouro com ódio, dando um passo à
frente e sentindo meu coração disparar, com a veia na
minha garganta quase explodindo e a dor latente em minha
cabeça surgindo.
— Linda do céu, você quer que eu morra... — Nanete
já está a levando às pressas para a escada, enquanto tudo
que vejo é a porra do rabo de Linda no vestido laranja.
— Eu vou matar a Nanete! — grunho com ódio,
voltando minha face para os dois otários, que estão ainda
mais vermelhos, com suas bocas esmagadas, segurando o
riso.
Entro com ódio na sala, puxando minha jaqueta do
gancho e jogando a maçaneta para Killer.
— Conserte essa merda e feche a porra da sala! —
Não espero sua resposta, já estou me virando e indo atrás
de Linda.
CAPÍTULO 29

ALERTA LARANJA
JON ROY

Fico escorado no pilar, no fim do que é o refeitório


durante o dia, mas que agora está uma bagunça, com as
mesas encostadas na parede, sem os bancos, tendo apenas
uma grande mesa repleta de bebidas ao centro e o som alto
estourando. Meus olhos estão bem presos em Linda, que
segura um copo de suco de laranja, o chupando pelo
canudinho, tendo seus olhos brilhando, enquanto ri ao lado
de Nanete e Elsa, jogando os dardos no alvo.
Detesto essa porcaria de confraternização que eles
fazem todo final de mês. Não passa de uma coisa chata,
com todos que se vêm todos os dias, conversando e
dançando, enquanto se esfregam um ao outro. Eu não
venho aqui, nunca vim em nenhuma dessas festas que as
sem coleiras fazem. Essa é uma forma delas terem uma
noite de folga, na qual escolhem algum idiota dos bastardos
para trepar, quase como um bônus para nós, por ficarmos
protegendo Babilônia.
Eu não gosto de multidão, assim com odeio qualquer
tipo de socialização, por isso nunca vim. E jamais estaria
aqui se não fosse pelo sorriso brilhante que se esboçou na
face de Linda quando a encontrei com Nanete e Elsa. As
três estavam afastadas, brincando com os dardos, longe do
centro onde os outros dançavam. Ela parecia irradiar luz,
iluminando todo o refeitório com seu sorriso e vestido
laranja, observando tudo com curiosidade.
— É, seu bebê está crescendo, mestre Jon. — O som
baixo da voz de Artur se faz ao meu lado, e bufo, girando
meu rosto para ele e o vendo encostado na parede, com as
mãos nos bolsos da calça.
— Achei que não gostava de participar dessas festas
— falo para ele, retornando meus olhos para frente e vendo
os pés dela baterem no chão, ao passo que suga o
canudinho.
— E não gosto, mas não poderia perder a chance de
lhe ver acertando alguém com uma panela novamente —
diz, rindo, e o ignoro, não retornando a lhe olhar. — Você
pensa sobre como vai ser?
Fico perdido com sua pergunta, sem o entender,
olhando-o a contragosto e odiando ter que desviar minha
atenção de Linda para a face dele.
— Do que está falando?
— Ela. — Ele move a cabeça na direção de Linda. —
Pensa como vai ser quando a outra aparecer? Porque, pelo
que sabemos, Linda não é real...
— Linda é bem real — rosno, o fuzilando com meu
olhar, não gostando do rumo que a porra dessa conversa
está tomando.
— Você entendeu o que eu quis dizer, Jon. Não estou
dizendo que ela não é. Ela é real para mim, assim como é
para você, mas sabe que por mais que queira, isso não é
verdade. Linda é a criação do cérebro de uma pessoa
destruída — sibila, com seus ombros se encolhendo. — Uma
inquilina que cuida da casa de alguém enquanto ele viaja.
Tecnicamente, é isso. Mas já imaginou como vai ser quando
a dona voltar e a inquilina tiver que ir embora?
— Linda não vai embora — falo firme, retornando meu
rosto para frente e a vendo sorrir, abaixando o copo de
suco, enquanto Nanete a ensina a acertar o alvo. — Ela e
Violet estão conectadas. Não sei como explicar, mas ela me
contou que Violet está adormecida, que somente não deseja
vir para a luz. E nem me pergunte o que significa isso,
porque não entendo como a cabeça delas funciona, mas eu
sei que elas estão conectadas. Linda não vai partir, e
mesmo se Violet voltar, ela ainda ficará, mesmo que seja
em algum lugar da mente das duas.
Eu não penso sobre isso, a verdade é que não gosto
de pensar, e isso ocorreu desde aquela noite dentro do
quarto, enquanto a beijava e tinha minha mente explodindo
com a emoção que foi a ter sob meu poder, constatando
que Linda tinha feito eu me apaixonar por ela. E a cada dia
me vi ainda mais preso nessa emoção que sempre julguei
tola, e me vi sendo tolo como todos os outros que eu
condenava.
Linda é como algo bom, algo bonito que,
estranhamente, sem entender como e nem o porquê, tinha
acontecido comigo. Pessoas como eu não têm coisas boas,
não somos merecedores e dignos, mas, de alguma forma, a
mereci. Mereci, nem que fosse uma vez na porra da minha
vida, saber o que é se preocupar verdadeiramente com o
outro, o que é sentir como se a porra do coração fosse parar
quando ela está longe, como é pensar vinte e quatro horas
em outra pessoa. Eu sinto que tudo em mim é ligado a ela.
Linda foi a primeira coisa pura e inocente que me
aconteceu.
— Deveria pensar sobre isso. Linda é como um
software antimalware, o qual foi criado pelo próprio
computador para proteger o disco rígido, um anticorpos
derivado da urgência de Violet em fugir da realidade. —
Esmago meus lábios, compreendendo o que Artur está
falando, mesmo ele fazendo alusões a um computador do
jeito robótico dele de pensar. — Que, normalmente, é
apenas ativado quando está em perigo. Violet não está mais
em perigo, e quando o computador não está mais em
perigo, o programa de software antimalware hiberna,
ficando em alerta para o próximo ataque.
— Que porra tá querendo com essa conversa, Artur?
— Giro meu rosto, o fitando.
— Apenas estou dizendo que devia pensar sobre isso,
Jon. — Ele move a cabeça para os lados, suspirando. — Eu
converso com Linda. A luz a que ela se refere não é uma luz,
é ela acordada. Pelo que entendi, estar com a luz quer dizer
que ela está no controle do computador, enquanto o disco
rígido está seguro, protegido em algum canto escuro da
mente dela. É uma metáfora, a qual ela usa para explicar
como ela e Violet funcionam. Eu também estudei um pouco
sobre o transtorno delas, e mais cedo ou mais tarde, o
cérebro vai reativar Violet, assim como o computador se
reinicia.
— Mas ela voltará, não é? Digo, a Linda, ela voltará
para a luz? — pergunto para ele, a olhando e imaginando
como seria nunca mais ver esse sorriso iluminado dela.
— Eu não sei. Como você mesmo disse, as duas estão
conectadas. Se a médica a tivesse pegado e feito testes e
tratamentos com ela, provavelmente, Linda nunca mais
voltaria — fala baixo, olhando para elas. — Mas a mente
dela é como um labirinto, não tem como dizer o que é
certeza ou não.
— Cervejas! — A voz de Killer se faz, e tanto eu como
Artur viramos, olhando para ele e não dizendo mais nada. —
Quem morreu?
Killer arqueia a sobrancelha, nos encarando e
rosnando, e puxo a garrafa de cerveja da mão dele, a
virando em minha boca. Ele entrega outra garrafa para
Artur, se escorando do meu outro lado da parede, enquanto
nós três ficamos observando Nanete, Elsa e Linda.
Eu não quero pensar sobre Violet, não quando estou
com Linda e é apenas ela que eu vejo, mas sei que isso que
Arthur me disse pode realmente acontecer. Apenas não
pensava se ela se lembraria de mim, se ela teria medo de
mim, sendo bem diferente da garota que me tirou do
hospício.
— Olá, rapazes... — Uma sem coleira para perto de
nós, sorrindo. É uma garota alta, da minha altura, que me
irrita por estar tapando Linda do meu campo de visão. —
Achei que nunca lhe veria por aqui, na noite de festa — ela
fala diretamente para mim, me encarando.
Olho sério para ela, fazendo uma rápida análise dela,
que tem os cabelos compridos e loiros, a pele suada e a
respiração ofegante, além de um vestido negro colado ao
corpo e dos grandes olhos azuis, que me fazem lembrar
automaticamente de Baby.
— Eu estava te olhando lá do outro lado do salão... —
Ela finge inocência, sendo diferente de Linda, que tem isso
vibrando tão naturalmente dela. — Pensei que...
— Deveria voltar para onde estava e continuar me
olhando de lá. — Minha voz não esconde meu mau humor,
mas não me importo de ser rude, o que a deixa com a face
vermelha e com seu sorriso fingido se desfazendo. — Agora,
se não se importa, saia da minha frente.
Esmago mais forte meus dedos na garrafa, a levando
para minha boca, para desviar meus olhos dela, tendo ainda
mais forte a lembrança de Baby em minha memória. Pensar
em Baby me faz sentir raiva, uma que eu não controlo, uma
que me deixa cego, comigo sendo consumido pelos meus
demônios, pela maldição de trazer a porra do sangue Roy
em minhas veias. Fui parido por uma prostituta viciada, que
se envolveu com um filho da puta covarde, que preferiu me
jogar em um colégio interno para poder ser livre, enquanto
eu era condenado a carregar a maldição dele por ter a
permitido me trazer ao mundo, sendo um feto defeituoso
com a mente fodida, tanto quanto todos os Roy.
— Olha, se quiser ficar me olhando, por mim, tudo
bem, gata. — Killer ri, falando para a serva sem coleira, que
dá as costas, virando e saindo apressada. — Uau, você
realmente é muito sensível, Jon!
— Não preciso ser sensível, preciso apenas não ser
incomodado — o respondo, abaixando a cerveja e fixando
meus olhos onde Linda está.
Mas não a encontro. Desencosto da parede e olho
pelo salão, caçando por ela.
— Garoto! — O som rouco da voz de Ryan sai alto, e
giro o rosto, o percebendo perto da porta, esticando sua
mão para mim.
— Merda! — murmuro com raiva, passando rápido
meus olhos entre o local e procurando pelo pequeno ponto
alaranjado radiante, mas não a encontro. — Achem a Linda!
— Dou a ordem para os dois ao meu lado, entregando a
garrafa para Artur e indo até Ryan, que está sério.
Fico pensativo, analisando sua postura, com os braços
cruzados, o que diz que está com sua guarda erguida, além
da sobrancelha arqueada, que aponta para algo que não
vou gostar, porque ele apenas faz essa cara quando vai me
pedir para fazer algo que sabe que eu vou odiar.
— Vem aqui fora comigo um segundo. — Ele move sua
cabeça, virando e nem sequer me esperando, indo para fora
do salão.
O sigo desconfiado, mas ainda assim o sigo. Não sabia
que ele voltava hoje, pelo que ele avisou há três dias, iria
para Milão responder um chamado do senhor Woden.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto a ele,
parando perto de Ryan quando ele para de andar e fica de
frente para mim.
— O chefe pediu para te entregar algo. — Ele leva a
mão ao bolso de trás da calça e puxa uma carteira.
A pego no ar quando ele me joga, a abrindo e vendo
que tem documentos lá dentro: uma carteira de motorista e
uma identificação. Passo meus olhos pela minha foto, assim
como pelo nome.
— Por que estou com documentos falsos e ainda com
o sobrenome Woden? — Arqueio minha sobrancelha, o
fitando.
— Porque agora é isso que é — responde, sendo
sucinto. — Dave Woden, filho de Anastacia Woden e Philipe,
primo de Owen Woden. O chefe mandou lhe dizer que: bem-
vindo à família!
— Que porra está rolando, Ryan?! — Fecho a carteira,
a esmagando em meus dedos, não sabendo se gosto disso.
— Vai saber logo. O chefe chega daqui a três
semanas, e vai conversar pessoalmente com você, até lá,
se acostume com esse nome e deixe os documentos no seu
quarto, dentro de um envelope que passei por baixo da
porta. Os estude bem, grave cada palavra e nomes que têm
lá. A partir de agora é um Woden, e Jon Roy está
definitivamente morto, compreendeu, garoto?
Bato a carteira na palma da minha mão, movendo a
cabeça em positivo para ele.
— Por que o senhor Woden fez isso? — indago,
tentando entender qual a jogada, o porquê agora preciso de
um nome novo.
— Ele vai te explicar. Por ora, apenas faça o que disse
e estude bem os documentos — Ryan suspira, esfregando
sua nuca. — Amanhã vou te levar a um lugar que o chefe
ordenou que vá, e a garota vai junto.
— Como assim? — Quem fica com a guarda erguida
agora sou eu, ao lhe encarar. — Por que querem tirar ela de
Babilônia...
— Ela não vai ser tirada de Babilônia, garoto. Vocês
dois apenas vão para um lugar, ok?! É terreno seguro, que
pertence à Babilônia, e depois os trago de volta. — Ele
abaixa sua mão, me dando um olhar cansado. — Agora,
deixa eu ir, que tenho que repassar algumas coisas para
Elsa...
— Ela está ali dentro — falo baixo, puxando um sorriso
de canto e vendo seus olhos se estreitarem.
— Que porra Elsa está fazendo aí dentro? — ele rosna,
olhando para a porta.
— Lembra que pediu para encontrar Linda? — Giro ao
ouvir a voz de Artur. — Eu a encontrei dançando com a
doutora no meio da galera. — Ele dá um sorriso amarelo
para mim, mas o desmancha rápido, assim que fita Ryan.
— Dançando! — Minha voz e a de Ryan saem
praticamente juntas, com nós dois sugando o ar com força e
indo para dentro da porra do prédio, tendo Artur batendo
em retirada, saindo da nossa frente.
Percorro tudo com os olhos ao andar, e não demoro
para a encontrar, não quando ela é a única com um laço
laranja dançando risonha, o que me faz trincar meus
dentes. Esmago os dedos ao ver o quadril dela se mover de
um lado ao outro, se jogando enquanto rebola, batendo no
de Elsa, que está dançando ainda mais animada, com Linda
segurando seus dedos e a fazendo dançar com ela.
— Girl, you're the one I want to want me. And if you
want me, girl, you got me.[8] — Rio ao ver a forma
engraçada de Ginger cantando o refrão de Want To Want
Me, de Jason Derulo, completamente desafinada, dançando
no meio do quarto. — Vamos, Jon, canta comigo!
Ela segura meus dedos e balança seu corpo junto
comigo, tendo um sorriso largo em seu rosto e me olhando
de forma carinhosa.
— There's nothin' I, no, I wouldn't do, I wouldn't do
Just to get up next to you.[9]
Eu não sei por que canto, mas faço isso, rindo e
cantando para ela, me sentindo nesse segundo como se não
fosse um animal, e sim um menino de treze anos brincando
com o mais perto que tive de uma mãe. Ela deixa o sorriso
ainda mais largo e leva os dedos aos lábios, soltando um
assobio alto, me fazendo, do jeito dela, me sentir um pouco
normal.
— ISSO, JON! — ela grita, rindo e apontando seus
dedos para mim.
— Girl, you're the one I want to want me. And if you
want me, girl, you got me! — Dessa vez, o refrão é cantado
por nós dois, que fazemos o dueto mais desafinado que já
vi.
Só que mesmo assim, eu canto, brincando com ela e
saindo da cama para dançar ao seu lado.
Repuxo meu pescoço, sentindo a dor forte
apunhalando meu cérebro, com o flash daquela tarde, na
ilha da Austrália, me pegando, quando Ginger me fez
dançar com ela. Inalo fundo, com meus olhos presos em
Linda dançando com Elsa, que a faz rir da mesma forma que
Ginger me fazia rir. Paro meus olhos à esquerda,
encontrando a plateia de bastardos bem interessados nas
duas, a três passos de distância delas, as observando.
— Então, qual dos dois vai querer que eu vá buscar a
panela? — Artur ri, esmagando sua boca assim que meu
rosnado é tão alto quanto o de Ryan, que o fuzila com o
olhar.
— Alerta vermelho! — Killer fala do lado de Artur. —
Ou melhor, laranja.
— Aquele não é Hank? Por que diabos ele está aqui?
— Artur diz, e giro o rosto para a pista novamente, com
meus olhos se cravando no filho da puta de Hank perto de
Linda, a olhando dançar, saindo de trás dos outros caras e
ficando na frente.
— Por que esse filho da puta tá aqui? — grunho,
travando meu maxilar e encarando Ryan.
— Um dos nobres de quem ele faz a segurança, não
aceitou a saída dele. — Ele franze sua testa ao me informar.
— Tive que o trazer de volta, mas Owen mandou o deixar
longe do alojamento e o colocar para dormir nas celas, além
de ter avisado a Hank o que acontecerá se ele repetir o que
fez, ou se sequer chegar perto de Linda...
— Acho que a ordem do chefe não ficou muito clara
para o Hank. Quebra Osso, Pega a panela! — Killer diz,
rindo, o que me deixa com raiva.
Viro meu rosto, pronto para o mandar se foder, mas
nem chego a fazer isso, não quando tudo que vejo à minha
frente é um vermelho puro de ódio, assim que fixo meus
olhos na mão de Hank, que toca o ombro de Linda, a
fazendo se virar, com ele sussurrando algo no ouvido dela.
Seu corpo pequeno se encolhe e ela fica paralisada ao ser
tocada por ele.
É estranho como fico cego, como não enxergo nada
mais do que a mão dele na pele dela, na minha pele,
tocando o que me pertence, tocando o vestido que comprei
para ela usar para mim, apenas para mim, e ainda por cima
sussurrando em seu ouvido.
— Servo sem coleira disse que daria biscoito e depois
me levaria até mestre, mas não tinha biscoito. — Volto os
olhos para ela, sentindo meu peito subir e descer mais
rápido ao vê-la mastigar as batatinhas e apontar seu
vestido. — Não, não tinha biscoito... Ele queria ver os peitos
de Linda. Mas disse que ele não pode ver peitos se mestre
não me presentear a ele...
Relembro dos olhos inocentes dela ao me dizer que
ele queria ver seus peitos, quando ela estava me
procurando e ele a levou ao seu quarto, e sinto a mesma
onda de ódio me subindo, o que me deixa ainda mais
furioso. Caminho como um cão, espumando de ódio e
empurrando todos da minha frente. Hank ergue seus olhos e
os cruza com os meus, tendo suas mãos se levantando e se
afastando dela rapidamente.
— Eu apenas estou me... — Ele não termina de falar,
não quando já o tenho pela camisa e o levanto do chão, o
jogando em cima das caixas de som, fazendo tudo ir para os
ares.
Meu punho fechado acerta sua boca asquerosa, que é
a primeira a receber minha ira, e logo em seguida dou mais
uma enxurrada de socos, com meu joelho se dobrando e
esmagando seu peito enquanto o golpeio. Não vejo nada,
não sinto nada, a não ser a ira me governando, tendo
apenas o vermelho do sangue dele à minha frente.
Sua mão levanta e tenta me acertar, mas agarro seu
braço e o torço com ódio, ainda mais brutal, por ele ter
usado seus dedos para tocá-la. Ele grita, e paro apenas
quando escuto o som do osso do seu braço se descolando
do seu ombro. Minha mão já está agarrando a porra do fio
da caixa de som, comigo pronto para enrolar em seu
pescoço, mas paro ao erguer minha cabeça e ver o laranja
nublando o vermelho da minha fúria.
Elevo o rosto, até ter meus olhos presos às ametistas
confusas e amedrontadas que me observam, enquanto sinto
meu peito disparar, subindo e descendo apressado. Olho
para ela ali, parada a poucos passos, com seus lábios
retraídos, sem o sorriso que irradia a luz bela dela. Abaixo
meu rosto e vejo o fio em meus dedos e a face
ensanguentada de Hank, com ele gemendo, mal
conseguindo abrir seus olhos. Afasto-me dele, tirando meus
joelhos de cima do seu peito e inalando rápido, endireitando
meu corpo rígido.
Não preciso olhar em volta para saber que todos estão
me encarando, já que só existe um silêncio imenso dentro
do lugar. Elsa tem sua face pálida e a boca entreaberta, e
para perto de Linda, a segurando pelos ombros, olhando do
rapaz para mim. Ranjo meus dentes e solto a merda do fio,
enquanto fisgo meu pescoço e fixo meus olhos apenas em
Linda, buscando pelo medo em seu olhar, o medo que tem
no olhar de todos. Porém, ela não me olha com medo.
Linda pisca, confusa, olhando dele para mim antes de
se afastar rapidinho de Elsa, correndo em minha direção.
Cola seu rosto em meu peito e seus braços me esmagam.
Aspiro o ar depressa, e meus braços se fecham em torno
dela, a mantendo junto a mim, sentindo como se toda ira
estivesse se silenciando.
— Acho que já deu o que tinha que dar essa festa. —
A voz de Ryan sai alta, e abaixo meu rosto, o esfregando
nos cabelos de Linda. — Tirem Hank daqui e o levem para o
quarto dele.
— Ryan, o rapaz precisa de cuidados... — Elsa para de
falar, enquanto vejo-a abaixar sua cabeça e desviar seus
olhos de Ryan.
— Todos para seus alojamentos, agora! — A voz
ríspida, como um trovão, de Ryan, sai ainda mais alta. —
Killer e Artur, acompanhem Hank para seu novo alojamento.
Ryan se vira para mim, com sua face carrancuda e o
peito expandindo, mas solta o ar pela boca, suspirando,
negando com a cabeça e fitando Linda, que está encolhida
em meus braços, agarrada à minha cintura.
— Sai da minha frente, garoto!
Meu olhar vai para Hank, que geme, ao passo que
Killer e Artur o erguem. Ele para seus olhos inchados nos
meus, e cerro meu maxilar, sabendo que vou ter esse filho
da puta morto antes que ele possa se recuperar. Eu avisei a
ele para ficar longe dela desde a primeira vez que o poupei
dentro do alojamento de Artur, e não vai ter uma próxima
vez.
— Linda não quer mais a noite das meninas — ela
sussurra, com sua voz saindo abafada e seus dedos se
agarrando à minha jaqueta. — Mestre pode levar Linda
embora agora.
— Vem. — A trago para meus braços, levando minha
mão para a saia do seu vestido e a mantendo presa,
sentindo suas pernas se prenderem à minha cintura.
Giro, saindo com ela, não tendo meus olhos focando
em nada além da porta.
CAPÍTULO 30

LOUCO
JON ROY

— Não precisa ficar com medo de mim, Linda —


murmuro quando finalmente estou no controle.
A seguro firme em meus braços, sentindo seu corpo
inteiro tenso e encolhido. O rosto está escondido em meu
ombro, e ela não emitiu um som sequer desde o segundo
que a tirei do refeitório. Havia optado por andar, pois não
queria ir direto para o quarto, então apenas continuei
caminhando, sentindo-a comigo, sem ninguém para tentar
nos afastar ou ficar nos olhando. Paro de andar e fecho os
olhos, deixando meu rosto tombar para frente e se enterrar
em seus cabelos, os esfregando em meu nariz.
— Linda não tem medo de mestre Jon — ela sussurra
e nega com a cabeça, apertando ainda mais seus braços em
meu pescoço. — Não quis deixar mestre bravo.
Meus olhos se abrem, com a confusão que ela me
causa me deixando perdido. Sinto-me culpado, o que não
faz parte de mim, mas me sinto. Porque, ao mesmo tempo
que queria ter estrangulado Hank com aquele fio, vendo a
vida sair do seu corpo, também não queria ter feito isso na
frente dela, porque a fez perder seu sorriso doce. Eu sou
bom nisso, realmente é algo que eu consigo fazer muito
bem: foder com todos ao meu redor mesmo quando não é
minha intenção.
— Não fiquei bravo com você, Linda — falo baixo, a
soltando, escorregando minha mão da sua bunda para a
coxa, para que ela solte meu quadril. — Eu apenas... —
Calo-me, esmagando meus lábios, não sabendo como dizer
a ela que perdi o controle, que algo ruim, que habita dentro
de mim, se apossou de cada molécula minha no segundo
que vi o filho da puta lhe tocando e sussurrando em seu
ouvido. — Eu fiquei com raiva de ver outro homem te
tocando! — admito, pois sei exatamente o que me tomou.
Ciúme. Que merda! Nunca tinha experimentado isso,
mas nada que envolve Linda é algo que eu já tenha vivido,
e não ter controle sobre tais coisas me deixa louco.
— Servo sem coleira queria pedir desculpas — ela fala
tímida, levantando seu rosto para mim quando seus pés
tocam o chão. — Pedir desculpas por querer ver meus
peitos.
Levo meus dedos aos bolsos da calça, batendo meu
tênis no chão e girando meu rosto para a esquerda,
encarando o lago. Fodam-se as desculpas de Hank, eu o
avisei para ficar longe dela!
— Ele disse que quer ser amigo, mas Linda não quer
ser amiga de servo sem coleira. — Retorno os olhos aos
seus, com essa inocência que exala dela me acertando com
tanta força. — Mestre Jon não precisa ficar bravo, Linda não
quer outro homem tocando em Linda, a não ser o mestre
Jon...
A vejo se calar e piscar rapidamente, com sua face se
girando e olhando curiosa para os lados, antes de começar
a andar, para se afastar de mim.
— Mestre Jon vem passear com Linda... — ela
murmura, indo para o jardim, e a sigo.
Puxo fundo o ar, sabendo que a seguirei para onde ela
queira ir.
— Aonde está indo? — pergunto, a observando
caminhar.
— Som, som diferente... Linda nunca ouvir essa
música... — diz, sorrindo e virando o rosto por cima do
ombro, antes de retornar para frente, andando mais rápido.
A olho seguindo para os arbustos, na direção da Fonte
de Pasífae, a qual é cercada por grandes arbustos, tem
pequenas lamparinas a iluminando e fica afastada da nossa
ala. Não a impeço, a deixo caminhar, curiosa, tendo seus
olhos observando as rosas presas nos arbustos e as
lamparinas acesas que iluminam a pequena trilha que leva
à fonte, onde a água reflete a lua alta no céu. Seus passos
param perto da fonte e ela levanta sua face, tombando o
rosto em seu ombro.
— Música bonita — murmura, e eu paro ao seu lado,
levando meu rosto para a direção que chamou a atenção
dela.
A melodia de Aerosmith tocando Crazy vem lá de
cima, do topo da masmorra vermelha, onde a janela está
aberta e tem uma luz acesa, com apenas a silhueta de duas
pessoas abraçadas, enquanto se movem ao som da batida
lenta.
— O que estão fazendo? — Linda me pergunta,
curiosa.
— Dançando — a respondo, levando meus dedos aos
bolsos da calça e arqueando minha sobrancelha, não
entendendo por que tem gente lá, já que o lugar vive
trancado e ninguém vai até ele.
É um prédio alto, longe do palacete, que foi construído
no jardim e que deram o nome de masmorra porque a
arquitetura faz lembrar uma, mas que nunca é usado.
— Não, é dança... — Meu rosto se abaixa quando sinto
seu quadril bater no meu, com ela sorrindo e imitando os
movimentos que fazia com Elsa. — Isso é dança. Nanete e
Elsa ensinaram à Linda...
— Não, aquilo é dança também. — Reprimo um
sorriso, negando com a cabeça. — É uma música romântica,
antiga, e pode ser dançada daquela forma pelos casais.
Algum mestre deve estar lá em cima com a serva dele...
Meu rosto se volta para a janela e vejo as silhuetas
das sombras, distantes, enquanto ouço a canção.

Yeah
That kinda lovin'
Turns a man to a slave
That kinda lovin'
Sends a man right to his grave[10]

— Romântica... Linda gosta de música romântica. —


Meu rosto retorna para ela.
Encontro seus olhos fechados, e ela sorri, movendo de
mansinho seu corpo de um lado ao outro, com seus dedos
presos à barra da saia, me enfeitiçando como apenas ela
consegue com sua delicadeza, parecendo com uma das
flores desabrochando que tem no jardim, com seu vestido
laranja.
— Que porra tá querendo com essa conversa, Artur?
— Giro meu rosto, o fitando.
— Apenas estou dizendo que devia pensar sobre isso,
Jon. — Ele move a cabeça para os lados, suspirando. — Eu
converso com Linda. A luz a que ela se refere não é uma luz,
é ela acordada. Pelo que entendi, estar com a luz quer dizer
que ela está no controle do computador, enquanto o disco
rígido está seguro, protegido em algum canto escuro da
mente dela. É uma metáfora, a qual ela usa para explicar
como ela e Violet funcionam. Eu também estudei um pouco
sobre o transtorno delas, e mais cedo ou mais tarde, o
cérebro vai reativar Violet, assim como o computador se
reinicia.
As palavras de Artur se fazem em minha mente
enquanto a olho sorrir, com seus olhos fechados, se
mexendo devagar, ao passo que tudo dentro de mim
compreende que é loucura que vai me tomar se ela partir.
Eu ficaria louco, completamente louco sem ela. Havia
apertado um gatilho em minha cabeça, explodindo meu
lado racional, no segundo que meu coração disparou por
ela. Sou um filho da puta completamente doente, e ficarei
ainda mais insano se perder a Linda.
— Dançar romântico... — Ela abre seus olhos, sorrindo
ainda mais ao ficar de frente para mim. — Mestre Jon
dançar romântico com Linda, como mestre e serva dançam
lá em cima?
— Quer que eu dance com você? — Pigarreio,
retraindo meu cenho, e meu peito se estufa. Olho para a
janela, vendo o casal dançando. — Eu não sou bom em
dançar, Linda, ainda mais essas músicas...
Minhas palavras se calam quando meu rosto se abaixa
e vejo seu corpo balançar de mansinho. Ela me olha
ansiosa, com os grandes olhos violetas doces fixos em mim,
e comprimo meus lábios antes de soltar o ar pela boca, não
acreditando que vou fazer isso, que não consigo dizer um
não a ela. Retiro minha jaqueta, a jogando em cima do
arbusto, e meus dedos seguram em sua mão, com meu
outro braço indo para suas costas e comigo ficando com
minha mão espalmada no tecido do vestido.
— Apenas um passo para o lado e um passo para o
outro... — falo baixo, a vendo curiosa, com sua cabeça
abaixada, acompanhando meus passos, enquanto a embalo,
nos movendo no ritmo da música. — Isso aí, bebê —
murmuro, recebendo um riso iluminado dos seus lábios
quando sua cabeça se ergue, com ela tendo seus dedos em
meus ombros, os segurando.
— Linda gosta de dançar música romântica com
mestre. — Ela ri, cochichando para mim e deixando sua face
em meu peito. Suspira, enquanto a movo devagar, sentindo
o aroma do seu perfume.
— Gosto de dançar com você também, bebê. —
Deposito meu queixo em cima da sua cabeça, a sentindo
colada a mim.

I'm losin' my mind, girl


'Cause I'm goin' crazy
I need your love, honey
Yeah, I need your love[11]
Nos conduzo, escutando apenas o som da sua
respiração calma e da melodia que toca distante. Meu
coração bate rápido em meu peito, e, por um segundo, sinto
a mesma emoção que senti naquele quarto anos trás,
enquanto ria com Ginger e me sentia normal.
Dou um passo para trás, afastando meu braço de suas
costas, a soltando. Com o outro, que seguro seus dedos, os
ergo, a vendo rir quando a giro, brincando com ela. O som
doce da sua risada me enfeitiça tanto quanto seus lábios
sorridentes e o olhar alegre.
A puxo para mim, a trazendo de volta, segurando seu
queixo, com meu rosto se abaixando e colando meus lábios
aos seus. É terna a forma como ela me entrega seu beijo,
com seus dedos se agarrando ao meu braço e ela
suspirando baixinho, com minha língua devastando sua
boca. Me afasto devagar e liberto sua boca, mas não a deixo
sair de perto de mim, mantendo meus braços presos em
sua cintura, nos balançando aos poucos.
— Beijo bom! Beijo de mestre Jon é muito bom, assim
como dançar música romântica com ele.
— É, eu também estou gostando de dançar essa
música velha com você enquanto lhe beijo. — Acaricio seu
rosto, passando o dorso da mão em sua bochecha.
— Música velha é bonita, mestre Jon gostar de música
velha...
— Não. — Paro de dançar ao escutar a música
acabando, a mantendo perto de mim. — Nunca fui de ouvir
músicas, mas conheci uma pessoa que ouvia, e ela gostava
muito dessa banda ou qualquer outra música antiga como
essa...
— Amigo do mestre? — Ela joga a cabeça para trás, e
fisgo o canto da boca, negando com a cabeça.
— Não, não era amigo. Ela era uma babá que eu tive
em uma das minhas férias, quando mais novo.
— Babá? — Ela pisca, confusa, ao pronunciar as
palavras. — O que ser babá?
— Uma pessoa que cuida. — Inalo fundo, lhe
mantendo em meus braços. — Ela cuidava de mim, passava
o tempo comigo, lendo na biblioteca do lugar que eu
ficava...
— Mamãe! — Linda fala rápido, sorrindo para mim. —
Mamãe do mestre Jon.
Meu corpo fica rígido ao vê-la sorrir para mim.
— Não, Linda. Ela não era minha mãe. Ela era só uma
babá, alguém que passou pela minha vida... — murmuro,
negando com a cabeça. — Mas ela é uma boa mãe. E ela,
provavelmente, amaria você no segundo que lhe
conhecesse.
Me silencio. Disse a verdade, já que Ginger tem uma
certa mania de amar tudo que é feio e quebrado, assim
como ela me amou e amou minha escrota família
perturbada. Eu tinha feito uma pesquisa sobre Ginger no
ano que cheguei à Babilônia. Ela tem uma vida boa em Los
Angeles, assim como uma carreira de sucesso, e vi a foto
dela no jornal ao lado do meu tio Jonathan, no funeral do
sobrinho deles, que morreu no manicômio. Foi a única foto
que achei dele e dela na internet. Nela, havia um garoto
perto das pernas dela, com a mão de Ginger em sua cabeça
e a outra em seu ventre, que estava volumoso. Sua face
estava molhada, com meu tio de óculos escuros ao seu
lado. Vi Baby perto deles, com a face vermelha, tendo um
par de óculos escuros ainda maiores do que os de Jonathan
no rosto, mas não olhei para nenhum deles por muito
tempo, a não ser para a imagem de Ginger com o menino,
onde pude ver a semelhança dele comigo. O analisei em
silêncio pela tela do computador, me perguntando se ele
era normal como Ginger ou tinha herdado a mesma
anomalia do sangue Roy que o maldito do James me passou
quando ainda era um homem, antes de finalmente se tornar
a Baby.
— Elsa cuida de Linda como uma mamãe também.
Igual a babá cuidou, como mamãe de mestre Jon. — Olho
para ela, que fala com carinho.
— Ela apenas trabalhava lá, Linda. — Seguro sua face,
a acariciando. — Ela era paga para fazer esse trabalho, não
é como você e a Elsa.
— Então sua mamãe a pagava... — A vejo mais
confusa ainda, me olhando perdida. — Não entendo o que é
pagar...
— Pagar é dar dinheiro a alguém para fazer algo que
ninguém quer fazer e que precisa ser feito. — Não gosto de
falar sobre mim, mas, de alguma forma, ela me faz fazer
isso. — Eu não conheci minha mãe, e ela também era paga,
só que para trepar com homens, e acabou se tornando uma
drogada que morreu depois que me trouxe ao mundo.
— Coisa ruim no braço... — ela diz rápido, piscando e
esticando seu braço quando dá um passo para trás. —
Agulha, droga... Mamãe colocava drogas no braço de
Linda... Lembro de ouvir papai falar para buscar mais
drogas...
— É, tipo isso. — Fisgo minha boca, levando meus
dedos aos bolsos da calça. — Só que a mulher que me pariu
cheirava cocaína, não heroína, como sua mãe. A minha
genitora, ela e o homem que a engravidou, me colocando
na barriga dela, usavam drogas juntos.
— Papai? — Ela abaixa seu braço, me fitando. — Papai
do mestre Jon usava drogas?
Giro, encarando as rosas no arbusto, não olhando
para ela, não querendo falar sobre James. Posso sentir seu
olhar em mim, com ela ansiosa, e me amaldiçoo baixo,
retornando a lhe olhar.
— Não é meu pai, era apenas um filho da puta. Ele era
um covarde de merda, que preferia se drogar com a vadia
da minha mãe viciada do que assumir o que ele realmente
queria ser, para manter as aparências da família. Ele tinha
medo do que as pessoas iriam pensar dele. — Lembro da
voz daquela velha desgraçada, que era tão culpada por ter
me amaldiçoado de vir ao mundo quanto James, quando ela
não fez nada para tirar a vadia da minha mãe daquela vida.
— Ele era fraco, covarde e incapaz de tomar uma decisão
sem ter alguém o forçando a fazer isso, a assumir o que ele
realmente queria ser. Ele era um homem, mas não se via
como um homem, ele era uma mulher por dentro, e queria
ser assim por fora. Só que ao invés dele ter coragem para
assumir isso, ele se drogava com a minha mãe e trepava
com ela. Cresci a vida toda achando que os dois tinham
morrido, mas a verdade é que ele estava vivo, bem vivo. E
da mesma forma que foi covarde para assumir o que queria,
ele foi covarde para criar seu próprio filho, o jogando em um
colégio interno. Até descobrir a verdade, eu me sentia
perdido. Eu entendia que era diferente dos outros, que
havia algo de errado comigo, já que não sentia as mesmas
emoções que os demais no colégio interno...
Recordo de como eu era, de como não entendia por
que a forma que eu me sentia em relação aos outros era
errada, era anormal. Odiei James ainda mais quando a
maldita da minha avó me contou que ele estava bem vivo, e
que era Baby, a mulher que até então se apresentava a
mim como tia. Eu a odiava, a via como uma aberração, e
não porque era transexual, mas sim porque tinha trazido
uma outra aberração ao mundo, um ser anormal, que não
se via como os outros. Eu era como James, no fundo era
igual a ele, preso em uma forma que não me pertencia, a
diferença é que não era uma mulher que tinha dentro de
mim, e sim um monstro carniceiro.
— Eu iria matar ele, só que não rolou — falo baixo,
erguendo meu rosto para ela. — Acabou que fui preso e
jogado no hospício antes que pudesse meter uma bala na
cabeça dele... Bom, quer dizer, dela, já que James se chama
Baby. Depois que Violet me tirou do hospício e eu vim para
cá, não me importava mais aquele passado, mas, às vezes,
ainda penso que deveria ter matado ela por ter colocado
uma aberração como eu no mundo.
— Linda fica feliz... — Ela me deixa surpreso, ao
mesmo tempo que confuso, quando ergue sua mão e toca
meu rosto. — Por mestre estar no mundo... Se mestre não
estivesse no mundo, Linda não teria mestre Jon.
Ela me desarma, silenciando tudo dentro de mim,
tendo apenas o calor da sua mão em meu rosto, com sua
cabeça se inclinando para frente e se aconchegando em
meu peito, causando aquele estrago que apenas ela
consegue causar em mim, me deixando falho, como se tudo
ficasse sem sentido se ela não estivesse aqui comigo.
— Ainda não consigo entender por que não sente
medo de mim, Linda — murmuro, a abraçando, tendo em
meus braços a única criatura que consegue fazer eu sentir
algo normal dentro do meu coração. — Não há nada bom
dentro de mim, tudo é feio...
A não ser ela, o que ela me faz sentir. Sempre tudo foi
tão feio e caótico dentro da minha mente, assim como em
minha vida, mas quando estou com ela, tudo parece ser
normal, e por um segundo eu me sinto assim. Mas não digo
isso, apenas a abraço, a deixando mais rente a mim e
ouvindo seu suspiro.
— Linda não ter medo de mestre, mestre também não
ter medo de Linda. — Ela esfrega seu nariz em meu peito e
alisa seus dedos em meu ombro. — Linda é feia também...
Ela se move para trás e ergue seu dedo, tocando o
peito, enquanto abaixa o rosto e olha sua mão sobre seu
coração.
— Feio, ficou muito feio aqui dentro... — Seus olhos se
concentram em sua mão e ela dá um passo para trás. —
Linda fazer coisa feia, mas Linda não queria fazer. Ela disse
que precisava, que Linda precisava fazer... Linda machucou
a mamãe e o papai. Linda não queria, mas o papai não
parava de machucar a Violet. Ela disse que Linda tinha que
fazer algo para o parar...
Minha sobrancelha arqueia e fico atento à Linda,
segurando seu queixo e a fazendo me olhar, sabendo que
ela está se abrindo, contando o que aconteceu naquele
trailer, o que li na reportagem do jornal. Eu não a tinha
perguntado e nem feito ela me falar nada, pois não queria
causar dor em Violet com as lembranças, muito menos em
Linda.
— Quem lhe mandou fazer isso, Linda?
— A bruxa... — ela murmura, fechando seus olhos,
com a face se retraindo. — Só que ela não era bruxa no
começo. Não, ela era amiga, amiga de Linda. Ela via Linda,
conversava com Linda, mesmo a mamãe e o papai não
vendo Linda...
Shend, o nome da irmã de Violet, vem na mesma hora
que processo as palavras dela em minha mente. Shend
sabia que Violet tinha um transtorno dissociativo de
identidade.
— Essa bruxa, Linda... — Seguro seu rosto, a fazendo
me olhar. — A bruxa que está falando, é aquela pessoa que
não pode dizer o nome, para não machucar a Violet...
— Não, não dizer nome dela. — Ela ergue sua mão e
toca na lateral da sua cabeça. — Dor, Vi sente muita dor e
sofre, grita, grita muito e machuca nossa mente. A bruxa
nos traiu... — sussurra, me olhando com tristeza, com seus
olhos ficando marejados, enquanto abaixa sua mão da
cabeça. — Traiu a Vi, a deixando com os homens cruéis.
Dor, muita dor ao falar o nome dela.
Ela fecha os olhos, negando com a cabeça.
— Mentiu para Linda, mentiu quando Linda ainda era
Suse. Disse que cuidaria de Vi, mas não cuidou. Eu fiz o que
ela pediu, fiz o papai parar de nos machucar... Amarrada...
Vi amarrada enquanto mamãe dormia com injeção no braço
e papai batia na bruxa. Papai era mau, muito mau, e
causava dor quando tocava em nós, mas eu não falava,
ficava quieta, porque Suse não podia falar. Mamãe ficava
brava quando Vi conversava com Suse, mas a bruxa falava,
ela falava... Conversava comigo quando ninguém via, e ela
dizia que sabia que eu estava ali quando Vi adormecia aqui
dentro, para não sentir o que papai fazia com ela...
Olha para mim com seus olhos marejados, com as
lágrimas escorrendo pelo seu rosto e apontando para sua
cabeça.
— Eu ficava no seu lugar, sempre ficava, para Violet
poder fugir e não sentir dor com as coisas más que o papai
fazia. Quando Vi voltava, mamãe já tinha acordado e papai
não machucava mais. Não, ele não nos machucava quando
mamãe estava com os olhos abertos. Mas mamãe ficava
brava, muito brava, se Vi conversasse comigo, porque eu
não existo. — Ela fecha seus olhos e funga baixinho. — Mas
a bruxa conversava, e disse que Suse tinha que fazer o
papai parar, e Suse o fez parar. Suse cortou...
Ela se cala, abrindo os olhos e abaixando o rosto para
suas mãos, enquanto fica perdida, tendo sua voz
entrecortada pelo choro, com a dicção dela ficando confusa,
igual era no começo, antes de ter as aulas com a
especialista que arranjei para ela. Mas Linda está assim por
causa do choro que a consome.
— Feio, Suse fez coisa feia. Mamãe acordou e viu o
que Suse fez, e gritou, brava. Mas Suse fez coisa feia com
ela também. Raiva, muita raiva no coração de Suse. Mamãe
não protegia Vi. — Sua cabeça se ergue para mim. — Não
protegia, dormia com injeção no braço e deixava o papai
machucar a gente. Suse machucou ela, machucou como
machucou o papai. A bruxa disse que Suse não podia voltar
mais, que se voltasse, iriam colocar Vi em um lugar ruim,
por causa das coisas feias que Suse fez. Ela prometeu que
cuidaria da Vi, então eu fiz o que ela mandou, eu parti e não
voltei mais. Suse dormir no escuro, mas Vi chamar, chamar
com dor novamente, e quando Suse abriu os olhos, não era
mais Suse, era Lixo...
Suas mãos se fecham sobre seu peito e chora ao
contar o que fizeram com ela. A vadia da Shend sabia sobre
Linda, sobre o transtorno mental de Violet, e usou Linda
para matar seus pais.
— Suse é feia aqui dentro, mestre Jon... — Ela
espalma sua mão no peito, em cima do seu coração. — Mas
Linda se sente bonita quando está com mestre, não com
medo, porque não fica feia.
CAPÍTULO 31

MINHA TORRE
JON ROY

A puxo para mim e abraço suas costas, escondendo


meu rosto dela, para não ver a feiura verdadeira que habita
em mim, a feiura do monstro que me domina. Eu sei que
vou me lavar com o sangue da cadela da Shend no segundo
que a encontrar.
— Você é linda, bebê. — Beijo o topo da sua cabeça,
esfregando meu nariz em seus cabelos. — Linda, é isso que
é, não há nada de feio no que fez.
Aperto Linda o quanto posso em meus braços,
puxando seu corpo para perto de mim quando a tiro do
chão, ouvindo seu choro baixinho. É anormal o poder que
ela tem sobre mim, sobre esse instinto voraz que me
domina, me fazendo querer protegê-la de tudo.
— Bebê... — Afundo meu rosto em seus cabelos,
ouvindo seu choro baixo e inalando seu perfume com força
para meus pulmões. — É minha Linda, só minha Linda, não
é feia.
Meus braços se movem devagar e a coloco no chão.
Seguro seu rosto em minhas mãos e vejo as marcas das
lágrimas que escorrem por suas bochechas. Linda está tão
frágil, tendo o medo refletido em seus olhos pelo que me
contou, se vendo como algo ruim, que me faz desejar rasgar
minha pele, apenas para tirar os demônios que crescem
dentro de mim e os soltar com mais fúria sobre cada um
que a machucou, que a feriu dessa forma.
Minha pequena torre quebrada, que tinha deixado
Violet longe do horror, a poupando, enquanto a mesma se
escondia dentro da sua própria mente, tendo Linda vivendo
o inferno por ela.
— Me ouviu, bebê? — Puxo seu braço, fazendo-a me
olhar, tendo a face dela se erguendo e me encarando com
dor. E como uma barragem se abrindo, ela solta um soluço
seguido de um choro, movendo sua cabeça em positivo
para mim. — Você é linda, você sobreviveu por vocês duas,
protegeu a Violet e fez o que precisava ser feito. Não é feia,
é forte, bebê.
Ela chora, negando com a cabeça e soluçando
baixinho. Seus olhos perdidos ficam mais violetas, brilhando
quando ela me olha entre o choro.
— Linda cortar pescoço... Sangue, muito sangue nas
minhas mãos...
Meus braços se esticam e a abraço, erguendo seus
pés do chão e agarrando forte sua bunda, movendo suas
pernas para cima, para circular minha cintura. Ela abraça
meu pescoço, tendo o choro se abafando e se
transformando em dor pura quando começa a soluçar em
meu peito, como se tivesse chegado ao seu limite por tudo
que passou para fazer as duas chegarem até aqui.
Eu compreendi o que ela disse, o que me contou do
seu jeito. Era Linda que era violentada pelo monstro do pai
de Violet, ficando no lugar dela para proteger sua mente, e
foi por Violet que ela matou os dois. Shend usou o amor de
Linda para fazer o que ela não teve coragem. A vagabunda
se aproveitou do desespero que Violet chegou, a ponto de
criar uma personalidade dupla para escapar da brutalidade
que acontecia dentro daquele trailer, para fazer Linda sujar
as mãos de sangue por ela. Mentiu e afastou a Linda,
dizendo que Violet iria ser culpada pelo que ela fez,
garantindo que protegeria Violet, mas Shend apenas usou a
irmã, se aproveitando dela, assim como a usou para fazer o
serviço mais perigoso, a mandando ir soltar um louco
assassino como eu de dentro de um hospício, da mesma
forma que a vendeu para os filhos da puta dos turcos
naquela noite.
E, mais uma vez, Linda teve que voltar. Ela voltou por
amor à Violet, que se manteve escondida em sua mente.
Mas quando voltou, foi para viver algo ainda pior do que ela
passou na infância na mão do pai delas. Sendo uma torre,
novamente uma torre, protegendo Violet do que ela não
suportava viver, mas Linda suportou tudo por elas.
— Está tudo bem. Está tudo bem agora, Linda. — Beijo
seus cabelos e esfrego meu rosto no dela, sussurrando em
seu ouvido: — Acredite em mim, pequena torre, está tudo
bem. Não é feia, não há nada de feio no que fez...
— Linda odeia a bruxa. — Chora mais, apertando seus
dedos em minha roupa. — Machucar, queria machucar ela
pelo que ela os deixou fazerem com Vi e Linda. Ele cortou
nosso corpo como se fosse um nada, tirando nosso bebê da
gente. Havia dor, tanta dor, e Violet acordou Linda com
desespero. Ele encarou Linda, encarou com os olhos
vidrados e as mãos sujas de sangue, nosso sangue. Linda
odeia a bruxa, odeia a bruxa mentirosa pelo que ela fez a
nós...
Aliso suas costas, a esmagando tão forte, desejando
tê-la aqui para sempre. Arrancaria qualquer pedaço meu
antes de alguém tocar em um fio de cabelo dela. Nesse
jardim, perto dessa fonte, somos apenas nós dois, eu e a
pequena boneca, que tem lágrimas escorrendo por seu
rosto e encontra-se presa em meus braços. Linda faz com
que eu me sinta sem chão e com ódio o suficiente para
enfrentar o mundo apenas para mantê-la a salvo. Eu sou um
maldito doente, sei disso, porém, Linda me faz ter todos os
sentimentos mais primitivos descontrolados dentro de mim.
— Confie em mim, bebê. Apenas confie em mim. Ela
vai pagar, vou fazê-la pagar pelo que fez a vocês. Assim
como vou fazê-lo pagar.
Seu rosto se desencosta do meu peito, se voltando
para o meu. Ela cola sua testa à minha, e sinto a respiração
morna enquanto ouço seus soluços. Quero ser sua muralha,
seu protetor, o carrasco de quem lhe causava dor, pois não
posso lidar com a ideia de perdê-la, de ver o medo em seus
olhos, a culpa pelo que ela acha que fez de errado, pois ela
não fez nada de errado.
— Linda confia no mestre Jon... — A voz dela sai baixa.
E é como se um veneno corresse solto em mim,
entrando em meus ouvidos e se espalhando por meu corpo,
fazendo meu coração voltar a bater rapidamente. Não me
importo com mais nada, não existe nada além dela e do
banho de sangue que eu farei. Todavia, nesse segundo, eu
apenas quero sentir sua boca na minha. Capturo seus lábios
com os meus lentamente, movendo minha cabeça em sua
direção. É um inferno me engolindo.
Eu tinha aguentado tudo, suportado tudo, sobrevivido
à prisão daquele hospício, aos tratamentos de choque, aos
malditos médicos me torturando como se eu fosse um
animal de teste. Mas agora, aqui, por alguns minutos, eu
compreendo o porquê. Foi por ela. Como se minha vida
tivesse sido trilhada a cada ato, a cada segundo, à espera
de Linda.
Sua boca se abre para mim, permitindo que minha
língua a invada. Sinto o gosto salgado de suas lágrimas
entre o desespero do nosso beijo. A beijo com mais força,
raspando meus dentes em seus lábios e apertando meus
dedos em sua pele, para confirmar que ela é real, que
minha pequena torre está segura, que está viva e quente
em meus braços. Não me importo com as palavras de Artur,
não me importo com o que ela é, porque, para mim, ela é
minha. Minha Linda. Ela é a única emoção bonita que tenho
dentro de mim, e ela é real. Nós temos o que precisamos,
apenas um ao outro roubando cada canto possível dos
nossos medos, libertando nossos demônios.
Solto um gemido alto quando a viro, deslocando seu
corpo, para encostá-la na parede perto dos arbustos, atrás
da fonte. Raspo minha calça entre suas pernas, sentindo o
tecido fino e frágil da sua calcinha. Uma das minhas mãos
solta sua bunda apenas para arrumar Linda em meus
braços. Suas pernas se prendem em minha cintura, e beijo
seu queixo, deslizando minha boca por sua garganta, com
meus dedos empurrando sua calcinha para o lado.
É primitiva, carnal e inigualável a fome que sinto por
ela. O desespero e o medo de perder Linda me fez sair
completamente da minha zona de conforto, da qual ela me
arrancou com fúria. Há urgência em seus dedos quando ela
esfrega minhas costas, arranhando-a sobre a camisa. Não
sinto dor em meu corpo, pois estou focado apenas no prazer
de tê-la junto comigo.
— Confie em mim. Apenas preciso que confie em
mim, bebê. — Mordo seu pescoço livre quando ela ergue a
cabeça, dando-me acesso.
Empurro sua calcinha para o lado e retiro meu pau
para fora, colocando-o na sua entrada. Pressiono seu corpo
à parede com força e impulsiono meu pau de uma única
vez. Linda solta um gemido e abre mais as pernas para me
receber. A sensação do corpo quente e molhado é
malditamente boa. É como estar em casa, como finalmente
ter um ponto fixo, um centro em meu mundo, o qual se
resume à Linda.
Aliso seu rosto com as pontas dos dedos e saio dela
lentamente. Sua boceta me suga de novo, para continuar
dentro dela, e volto a penetrá-la mais forte, empurrando
meu quadril para frente em um baque bruto, sentindo-me
vivo a cada som doce que sai dos seus lábios. Seu rosto se
vira para o lado e Linda beija minha mão devagar.
— Mais... — Seu pedido é baixo ao escapar entre seus
gemidos.
Deslizo meu polegar por seus lábios, e meu pau
explode mais forte dentro da sua boceta, com suas pernas
ainda se apertando à minha volta. Linda suga meu dedo,
passeando sua língua por ele, chupando-o mais forte. A
cada investida, meu corpo se move mais firme e mais
violento dentro dela, comigo a fodendo com posse. A cada
sensação da sua boca pequena em meu dedo e da sua
boceta quente em meu pau, esmagando-o e prendendo-o,
mais dominado eu vou ficando sobre seu ser.
Seus olhos violetas brilham fortes para mim, presos
ao meu olhar como minha pequena joia rara. Retiro-me
apenas para entrar mais forte e mais rápido, deixando
minha mão bem espalmada em seu rabo, apertando-o com
força. Seus gemidos são abafados pelas sugadas que dá em
meu dedo. O que nos consome nesse momento não é a
calmaria, nem o desejo ou paixão, mas sim o desespero de
estarmos juntos e ligados o tanto que podemos.
Sua boceta toma com luxúria meu pau, fodendo-o
duro e seco, com ela escorada na parede do jardim. Ela está
tão forte e livre, e chupa meu dedo, gozando intensamente.
Suas mãos se prendem à minha nuca e seu rosto fica
molhado por conta das delicadas lágrimas. Quando sua
boca solta meu dedo, apenas aperto-a mais forte e a beijo
com fome e desejo.
Quero que Linda saiba que estou aqui por ela, que
jamais a deixarei, que a protegerei, que tudo dentro de mim
se ligou a ela. A fodo mais denso, estourando meu pau em
seu corpo com toda força e rapidez a cada investida. Não
me importo com mais nada a não ser tê-la. Meu coração
bate forte e meu pau lateja com força a cada estocada.
Aperto meu corpo ao seu contra a parede e gozo com toda
liberdade que posso.
Linda é meu abismo, do qual me jogo sem nunca me
importar de onde cairei, contanto que esteja com ela. Ela
me abraça forte, escondendo seu rosto em meu ombro, e
ficamos em silêncio, deixando nossos corações voltarem a
bater em um ritmo normal. Mas nada em mim e nela é
normal. Somos duas almas quebradas que se sentem vivas
apenas nos braços um do outro.
Beijo a veia que pulsa em sua garganta, sentindo com
prazer sua boceta se apertar em meu pau, por conta dos
espasmos do orgasmo dela. Esfrego a ponta do meu nariz
no seu pescoço, aproveitando o cheiro dos seus cabelos.
Escuto o som baixo dos seus suspiros, que fazem com que
me sinta um fodido doente por amá-la tanto, por desejá-la
tanto. Outra vez, escuto o som baixo do seu choro. Ela me
abraça com mais urgência, e sinto seu medo voltando, com
seu corpo se encolhendo em meus braços.
— Não sinta vergonha do que fez, e muito menos do
que sente... — Afasto meu rosto dos seus cabelos para
encarar seus olhos, mas eles estão fechados.
Arrumo-a em meu colo, pois não quero sair de dentro
dela. Quero poder tê-la perto de mim para sempre.
— Abra os olhos para mim, bebê — digo baixo, em
comando, para ela.
Ela os abre lentamente, revelando as nebulosas
violetas que tem em suas íris. Esmago-a com força e solto
sua bunda para limpar seu rosto, não querendo ver sua face
assim. Não terá mais dor ou medo para minha Linda.
— Você faz eu sentir coisas bonitas dentro de mim,
Linda, coisas que eu nunca achei que seria um dia capaz de
sentir. — Acaricio seu rosto, tentando mostrar que eu estou
falando a mais pura verdade.
Eu estou caído por Linda, rendido a ela desde o
momento em que seus olhos se cruzaram com os meus
dentro do quarto do pronto-socorro, quando entrei lá
escondido para lhe visitar.
— E por causa desse sentimento bonito que você faz
eu sentir, que vou fazer muitas coisas ruins, Linda, com
cada um que machucou você e Violet — sussurro, a
olhando. — Mas, dessa vez, eu vou ter um motivo real além
dos meus demônios para ser o monstro mais cruel de todos,
bebê.
Eu havia achado um motivo real para lutar. Ninguém
nunca irá me parar. Tinha escolhido um motivo e o prendido
em meus braços, e nada e nem ninguém me tirará Linda,
ninguém a fará se sentir feia por ter matado aqueles
vermes dos pais dela. E lhe darei o que ela quer, a maldita
bruxa que a traiu e destruiu a vida de Violet.
CAPÍTULO 32

O HANGAR
JON ROY

— Ainda não entendi por que não pude trazer Linda.


— Giro meu rosto, encarando Ryan encostado no carro
estacionado na frente do grande hangar. — Não precisava
vir com você.
— Se acalme, Romeu! — Ele inala fundo, olhando o
relógio em seu pulso. — Daqui a pouco ela vai chegar.
Nanete vai trazê-la.
— Nanete? — rujo, ainda me lembrando dela parada
perto das escadas depois de induzir Linda a vir me dizer
para não esperar acordado, porque não tinha hora para
voltar.
— Jon, Nanete está trazendo Linda, apenas se acalme.
— Ele ergue seu rosto, me encarando. — Elsa achou que
seria melhor assim. Nanete teria uma conversa com Linda,
enquanto a ajudava a se arrumar.
— Por que a própria Elsa não teve uma conversa com
ela? Tem ideia das coisas que a Nanete está colocando na
cabeça da Linda? — Empurro com força meus dedos nos
bolsos da calça, não gostando disso. — Por que Elsa não
conversou com a Linda?
Viro, o indagando e indo em direção ao carro, me
aproximando dele e o fitando. Ryan levanta sua mão e
esfrega sua nuca enquanto dá de ombros.
— Ela não foi muito a favor da ideia de Helena em
querer trazer Linda para o hangar — ele murmura,
desviando os olhos dos meus e encarando seu sapato.
Eu também não tinha gostado, apenas vim porque
Ryan me disse que era uma ordem do chefe. Tinha
perguntado a Artur se ele sabia sobre esse hangar, e ele me
avisou que é um clube de BDSM comandado por Helena,
que não envolve apenas sadismo. Ele ficou um tempo
trabalhando como segurança dela quando entrou em
Babilônia, e me garantiu que as coisas que eu veria aqui,
dificilmente encontraria em outro lugar.
— Sabe que Elsa vê Linda de um jeito diferente. —
Ryan ergue o rosto, voltando seus olhos para mim. — Ela
não achou que seria tão rápida assim a iniciação de vocês
dois em Babilônia...
— Elsa sabe que a Linda tem dezenove anos, não é?
— Repuxo meu nariz, franzindo minha testa. — Ela não é
uma criança...
— Elsa sabe disso, garoto. — Ele bufa, zangado, com
suas narinas se dilatando. — Ela apenas se preocupa, assim
como você se preocupa com Linda.
Fico intrigado e o fito. Ryan é o tipo de pessoa que
nunca tem uma mudança de humor, está sempre taciturno,
mas se tocam no nome de Elsa, as emoções afloram.
— Qual é o verdadeiro lance de vocês dois, Ryan? —
Sorrio, curioso.
— Um que não é da sua conta, garoto! — ele rosna,
cruzando com força seus braços acima do seu peito.
— Penso que é da minha conta, sim — murmuro,
dando de ombros e me escorando no carro ao lado dele,
encarando a estrada de terra por onde Linda vai chegar. —
Visto que você e Elsa vivem se intrometendo entre mim e
Linda. E depois daquela estranha conversa, em como não
devo matar minha submissa e nem a quebrar, acho que já
temos intimidade para isso.
Giro meu rosto, o olhando e o vendo rosnar, com seus
olhos se fechando enquanto puxa o ar pesado, rangendo
seus dentes.
— Elsa é uma mulher boa e fiel à memória do seu
antigo mestre — ele fala baixo, abrindo seus olhos. —
Sempre fomos amigos. Eu trabalhei um tempo como
segurança dela, quando seu marido ia viajar a trabalho.
— Interessante... E você ficava fazendo a segurança
da retaguarda da doutora. — Sorrio, lhe provocando.
— Me respeita, Jon! — ele rosna, virando seu rosto e
me fuzilando com o olhar. — Sempre tive muito respeito por
ela e por Hugo. Ele era um homem bom, por mais que o
achasse estúpido por recusar a proteção dos seguranças na
propriedade dele quando não estava viajando. Se ele fosse
menos idiota, nada de ruim teria acontecido na vida de Elsa.
Proteger os nobres é um dos nossos serviços. Aqueles
que não são jogados para as missões, vão trabalhar de
segurança para os nobres da casa, e caso se destaquem,
acabam intercalando entre as missões e a segurança dos
nobres, quando são convocados por um deles.
— Ela sempre foi daquele jeito, amável e gentil. — Ele
abaixa o tom de voz, enquanto retorna seu olhar para
frente, o deixando perdido na estrada. — Era divertida.
Quando ela saia, parecia que uma luz irradiava dela, de tão
alegre que era. Eu estava com ela no dia que foi comprar o
berço para a filha deles, e nunca vi uma mulher tão feliz em
toda minha vida como Elsa estava naquele domingo. A
ajudei a montar, porque ela me pediu.
O sorriso não está mais em meu rosto, não quando
analiso Ryan e noto que, talvez, ele não tenha percebido,
mas já tem sentimentos pela médica há muito tempo. Mas
não digo isso, apenas o deixo conversar sobre sua vida
pessoal, o que é raro.
— Eu estava em uma viagem, acompanhando o chefe
no Japão, quando foi passado o que aconteceu com Hugo e
a filha deles — ele suspira pesado, retraindo sua boca. — Foi
só quando eu cheguei em Vancouver, que fiquei sabendo o
que o filho da puta fez com a Elsa, antes de matar a filha
dela na frente dela.
— Você caçou o ladrão — falo baixo, recordando dele
falar sobre o crânio do ladrão que tem guardado.
— É, eu o cacei. Tive longas quarenta e oito horas
com ele, onde o fiz gritar e chorar, arrancando pedaço por
pedaço da sua pele, violentando seu rabo com uma
espingarda, puxando unha a unha das suas mãos e pés,
antes de o deixar morrer. — Ele move sua cabeça e sorri,
mas não tem um traço de felicidade em sua face. — Mas
não importa nada do que fiz com ele, porque o que ele tirou
de Elsa naquela noite, nunca mais poderá ser devolvido a
ela. Mas sua garota conseguiu. Ela, de alguma forma,
conseguiu trazer aquela Elsa de volta, e eu acabei metendo
a porra dos pés pelas mãos quando, por impulso, a beijei no
seu escritório, dentro do pronto-socorro. Agora, Elsa está
arisca e foge de mim como o diabo foge da cruz.
— Que merda! — falo baixo, voltando meus olhos para
frente, absorvendo tudo que ele me disse.
— Que merda! — Ryan inala fundo, batendo seu pé no
chão. — Se acha que a vida é complicada, é porque não tem
ideia de como ela fica depois que uma mulher entra no
nosso coração.
— Como era antes, Ryan? — pergunto, confuso, ainda
tentando entender como lidar com tudo isso que Linda me
faz sentir, pois tudo era menos descomplicado antes dela.
— Sua vida, como era?
Olho para ele, estudando o homem de quarenta e oito
anos, o qual não aparenta a idade que tem, já que parece
muito mais novo. Ryan sempre se mostrou impenetrável.
— Violento — ele me responde calmo, girando o rosto
para mim. — Muito violento. Por muito tempo, minha vida
foi assim, ganhando grana com a morte. Era um matador de
aluguel, e um dia fui contratado para matar um jovem. Ele
tinha dezessete anos, e precisava fazer parecer acidental.
Um corte nos freios e, pronto, o garoto já era. Eu estava
saindo do estacionamento do hotel que ele estava
hospedado quando ele entrou, passando por mim. Fiquei do
lado de fora, observando o carro sair do prédio, e sabia que
o trabalho estava pronto. Nessa mesma noite, depois de ter
confirmado o acidente de carro que foi fatal, e recebido meu
dinheiro, estava me preparando para sair da cidade, quando
entrei no meu quarto no lugar que eu vivia e encontrei o
jovem sentado em minha cama, esperando por mim, tendo
seu cão parado em sentinela ao seu lado.
Ele ri e fecha seus olhos, negando com a cabeça e
descruzando seus braços.
— Era um merdinha de olhar arrogante, e tinha a
expressão petulante igual você, quando tiramos seu capuz
ao chegar em Babilônia. O mesmo ar superior. Lembro dele
se levantar e caminhar para mim, estendendo sua mão para
me cumprimentar. — Ryan solta uma gargalhada alta,
suspirando. — Tinha coragem, isso eu admito. Nunca tinha
visto tanta coragem no olhar de alguém como vi naquele
jovem. Quando perguntei a ele o que tinha me entregado,
ele disse que foi o odor de óleo hidráulico que eu tinha
quando passei por perto dele, o mesmo odor que tinha em
seu carro. O merdinha colocou o manobrista para sair com o
carro, e foi ele quem morreu no acidente. O filho da puta foi
esperto e me seguiu, descobrindo onde eu morava sem eu
perceber. Isso nunca tinha acontecido comigo, o que fez ele
ganhar, em parte, meu respeito. Perguntei o que ele queria,
por que tinha vindo atrás de mim, se era para me matar, o
que eu realmente acho que ele faria sem pensar duas
vezes, visto que o cachorro me olhava como se eu fosse um
frango assado de domingo. Mas ele não foi lá para me
matar, queria saber quem tinha me contratado para o
matar, e quanto eu recebi. Ele me pagou o dobro para
matar o mandante, pois o queria morto.
— Você o matou? — questiono sério, o fitando.
— Sim, o matei. Matei o cara naquela mesma noite,
na frente do jovem, dentro da mansão dele, cortando sua
garganta de uma ponta à outra durante um jantar. — Ele
fisga o canto da boca, me observando. — E, depois daquilo,
ele me pagou o triplo para trabalhar para ele, e continuo até
hoje o servindo.
— O senhor Woden! — digo rápido, compreendendo
agora quem era o jovem que Ryan foi matar. — Foi
contratado para matar o Owen?
— Sim, fui. — Ele dá de ombros, me olhando e rindo.
— Da mesma forma que ele me pagou muito mais para
matar o seu tio, Philipe.
Fico sem entender, demorando para compreender de
onde eu já tinha ouvido esse nome. Mas então me lembro
da pasta que Ryan tinha deixado em meu alojamento na
sexta passada, na noite da festa do refeitório, onde ele
também me entregou os documentos de Dave Woden.
— Philipe é o tio do senhor Woden, que foi casado
com Anastacia. — Fico sério e arqueio minha sobrancelha.
— No relatório que me deixou, dizia que ele morreu em um
acidente de barco...
— Não, eu o matei na sala de jantar da antiga mansão
Woden. — Ryan nega com a cabeça, sorrindo para mim. —
Ele era casado com Anastacia, mas não era um Woden, era
um chofer por quem ela se apaixonou e de quem acabou
engravidando. Mas o cara era esperto, ele sabia que Bejor
não podia mais ter filhos, por conta de um problema de
saúde que teve. Owen era seu herdeiro natural, então, se
ele morresse, tudo ficaria para a irmã, assim como para o
seu filho, Dave Woden. Ele apenas não contava que Owen
era um merdinha esperto pra caralho, e um psicopata, que
ficou jantando normalmente enquanto ele sangrava à sua
frente. A morte no barco foi o que contaram para Anastacia,
a tia de Owen.
— Matou o tal do Dave também? — indago sério, o
encarando, porque eu sei que esse cara está morto.
Nos documentos apenas dizia que ele tinha
desaparecido em uma viagem. Porém, uma coisa que tinha
aprendido do senhor Woden é que ele não trabalha com
suposições. Para ele querer que eu faça o papel do tal Dave,
seu primo, é porque ele tem certeza de que o cara não
voltará mais.
— Não. — Ele me dá um sorriso diabólico, piscando
para mim. — Por mais que realmente desejasse ter feito
isso. Mas não fui eu quem o matei.
— O que aconteceu com ele?
— Digamos que ele virou um prato saboroso. — Ryan
cai na gargalhada, batendo em meu ombro.
Antes que eu possa perguntar do que está falando, o
carro apontando na estrada e vindo para o hangar me tira a
concentração. Desencosto do carro e dou um passo à frente,
inalando fundo, tendo a ansiedade ficando forte novamente,
ao saber que, finalmente, ela vai estar perto de mim. Tinha
passado a porra do sábado inteiro longe dela, com Nanete
praticamente a sequestrando do meu alojamento logo cedo.
Quando o carro para, caminho para ele, em direção à
porta, e a abro. Mas eu congelo, fico com meus olhos
perdidos em Linda saindo do veículo com seus cabelos
soltos adornando sua face levemente maquiada. Ela sorri
tímida, parecendo uma perversão de inocência e pecado em
carne e osso. Usa um vestido branco colado ao corpo. Meus
olhos passam por cada parte dela, desde o esmalte em seus
dedos dos pés até suas mãos, e sinto minha garganta secar
a cada pedaço de pele dela exposta no vestido pecaminoso,
que não faço ideia de onde ela arrumou.
— Fala se ela não está uma gata?! — Nanete sai do
carro, sorrindo de orelha a orelha, mas não desvio meus
olhos de Linda. — Helena mandou uma caixa de presente
para ela hoje, e parece que o vestido foi feito sob medida,
de tão perfeito que ficou!
Linda sorri e gira o rosto para ela, enquanto encolho
meus ombros, a vendo retornar a face para mim.
— Mestre está bravo? — ela murmura, me olhando
ansiosa.
Meu peito está cheio, inflamado, e posso, com
certeza, garantir que estou bravo, que a minha expressão é
essa. Mas não com ela, e sim por apenas imaginar alguém a
vendo tão linda como a vejo agora.
Fico com os olhos presos aos seus, que estão tão
brilhantes, parecendo duas joias preciosas que me sugam
para ela. Sinto-me um filho da puta ainda mais doentio e
ciumento do que um dia pensei que poderia ser.
— Está linda, muito linda — murmuro apenas para ela
me ouvir.
CAPÍTULO 33

O TABULEIRO DE PEÕES
LINDA

No segundo que uma grande porta de aço é aberta,


não tendo muita luz vindo do seu interior, assim como
também é fraca a luz do corredor que atravessei ao
caminhar atrás do meu mestre, preciso de um tempo para
conseguir fazer meus olhos se adaptarem. Ele segura minha
mão sem a soltar, me fazendo o seguir, sem dizer uma
única palavra.
Está igual desde o segundo que nos trouxe em direção
ao grande prédio com uma estrutura engraçada, que parece
ter seu telhado redondo, e é alto, muito alto. Mestre Jon
seguiu para a lateral, para uma pequena porta que tinha do
outro lado, e não para a grande porta de ferro, quando
atravessou a pequena estradinha de cimento. Me vi
seguindo-o, descendo as escadas quando ele abriu a porta,
tendo a impressão de que a cada lance de escada que
descia, mais abaixo do prédio nós íamos, como se
estivéssemos em uma aventura e fôssemos para o centro
da terra, como no livro que mestre Jon tinha me dado para
ler, do Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra, que foi um
livro que eu tinha gostado. Mestre Jon disse que era um livro
de aventura, e havia mais livros em seu quarto, os quais ele
me deixou ler, mas esse foi o meu preferido.
Agora, me vejo assim, descendo em uma aventura ao
lado do silencioso professor Otto Lidenbrock, o qual é meu
mestre Jon. Mas no segundo que a porta é aberta, quando
terminamos de descer as escadas, a qual me fazia pensar
que não teria fim, eu entendo que não chegamos ao centro
da Terra, mas sim ao centro da perversão.
Reconheço o odor de sexo e de corpos suados. Mestre
Jon se vira antes de continuar a caminhada, abrindo seu
agasalho e abaixando o zíper, o retirando e o colocando em
meu corpo. Ele não fala, tem seus olhos concentrados em
arrumar a grande roupa dele em meu corpo, com as
mangas compridas tapando meus braços até as pontas dos
meus dedos. Ele também ergue o capuz do agasalho e o
endireita em minha cabeça, a cobrindo e puxando o
restante do pano para frente, a ponto da beirada dele cobrir
minha testa, assim como esconder um pouco da minha
face.
— Não solte minha mão, ouviu?! Não pode sair de
perto de mim, Linda — ele fala sério, inalando fundo.
— Linda não vai soltar a mão do mestre Jon. — Sorrio
para ele ao lhe responder, vendo sua boca se esmagar e o
azul dos seus olhos ficar escuro.
Ele gira, me dando suas costas e segurando firme
minha mão enquanto adentra pela porta que tem seu
interior escuro. A segunda coisa que noto, além do cheiro de
corpos, é o calor. O lugar é quente e abafado, e transpiro
por causa da grande roupa que ele colocou em mim, para
me cobrir. A terceira coisa é um som estranho, que me
deixa desorientada pela forma explosiva que repercute a
cada passo que damos, como se estivéssemos indo
diretamente para ele. É como se tivesse uma estaca
batendo dentro do meu cérebro, com um barulho sonoro
brutal e explosivo.
Quando ele abre outra porta, uma luz se faz, não
clara, mas vermelha, o que deixa tudo ainda mais confuso,
me fazendo esmagar ainda mais meus olhos, para
conseguir ver onde estamos. Noto uma sala grande de
paredes de tijolos, com um teto tão baixo, que mestre Jon
precisa encurvar seu pescoço para andar, para não bater
sua cabeça no teto. O lugar está lotado, com tanta gente
que me faz ficar ao mesmo tempo curiosa e assustada. Vejo
suas roupas de látex coladas bem rente ao corpo, as quais,
por algumas vezes, eu já tinha visto, quando o mestre mau
me obrigava a vestir, para deixar minha respiração difícil e
agonizante. Ela tinha apenas um furo em minha boca e
outro em minha boceta.
Percorro meus olhos pelo lugar e vejo mulheres nuas,
assim como homens também, com seus braços amarrados.
Alguns estão pendurados, e todos encontram-se em
posições desconfortáveis, mas completamente imóveis,
parecendo estátuas. Há uma mulher ao centro, de quatro,
nua, com uma redoma de vidro em cima das suas costas,
servindo como base para uma pequena mesa de centro,
onde, por baixo do capuz, eu posso a espiar com uma
focinheira em sua boca. Ao seu redor há homens sentados,
conversando com copos em suas mãos, tendo rapazes nas
coleiras, agachados, em posição de cócoras, com os braços
amarrados para trás, perto deles, completamente nus, com
anéis em torno dos seus pênis, que estão inchados, com as
veias saltadas por conta da ereção.
Outros como eles estão espalhados pelo imenso salão,
mas não de cócoras, e sim de pé. Esses não têm os braços
presos atrás das costas, apenas seguram bandejas, tendo
suas bocas amordaçadas e seus paus torturados pela argola
bem presa aos pênis; já outros possuem pêndulos de peso
amarrados em seus sacos.
Noto a postura do mestre ficar séria, com ele
esmagando mais forte seus dedos nos meus e me puxando
para ele quando os rostos se viram para nós e olham tão
curiosos para mim, que estou coberta com seu agasalho.
Mestre Jon passa o braço por meu ombro, me deixando ao
seu lado, rente a ele, e caminhamos para uma passagem
que parece um arco, onde luzes amarelas piscam.
— Um bom filho sempre acha o caminho de casa! — A
voz risonha feminina se sobressai ao som estridente da
música, e a reconheço, pois já tinha ouvido essa voz no
pronto-socorro. — E com ele vem sua delicada serva, a qual
esconde tão cretinamente como seu primo. Bem-vindo ao
hangar, Dave Woden!
Meu rosto fica abaixado, e noto a tensão no braço do
mestre Jon, que me segura mais firme ao tê-la lhe
chamando por um nome que nunca ouvi. O salto alto rosa
está parado diante de nós, com as unhas pintadas da
mesma cor da sandália. As pernas longas claras estão
cobertas por látex, que é tão rosa quanto o salto alto em
seus pés.
— Ryan me reportou que o chefe me ordenou a vir
aqui com ela. Por quê? — ele indaga, com sua respiração
sendo puxada com força.
— Tão desconfiado como seu chefe. Ande, jovem
Dave, não há nada que temer. — Ela gira, se afastando,
tendo os passos de mestre Jon a seguindo, me levando
junto, sem me deixar afastar um centímetro que seja dele.
Entramos em um corredor estreito, que me faz
sobressaltar quando uma batida forte se faz atrás de nós.
Vejo que uma porta pesada de ferro foi fechada, e viro meu
rosto por cima da cabeça, encontrando uma mulher nua,
com cordas presas ao redor do seu corpo, bem rente ao
meio das suas pernas, separando os lábios da sua boceta,
com os cabelos ruivos raspados e seios empinados, tendo
argolas presas aos bicos.
— Está segura, pequena, não se assuste. — A voz
feminina se dirige a mim, e retorno o rosto para frente,
encontrando-a parada diante de nós. — Aqui é onde a
mágica acontece.
Ela ri, soltando uma sonora gargalhada, e não tem
mais o som da música explosiva atrapalhando seu tom de
voz, o que me deixa ter certeza de que sim, já ouvi sua voz.
— Ande, garoto, deixe-me vê-la! — ela fala séria, e o
rosnado baixo sai dos lábios do mestre Jon, com ele
apertando mais forte meus ombros. — A solte logo, Jon. Não
pretendo roubar ela, por mais tentador que possa ser.
Ele bufa pelo nariz, antes de soltar meu ombro e dar
um passo para o lado. Fico imóvel, assustada, não querendo
que ele fique longe de mim, porque não entendo por que
estou aqui, nem o que querem comigo. A ponta da unha
comprida e afiada toca meu queixo, o levantando
lentamente, e meus olhos se elevam, observando cada
pedaço da sua roupa que a cobre inteira, a comprimindo no
látex rosa, antes de parar na face risonha da médica que
conheci no pronto-socorro. Sim, eu estava certa, é ela a
dona da voz, a mesma mulher que fez exames em mim e
que fez Elsa chorar depois que conversou com ela. Sua mão
se ergue e se infiltra no capuz, o empurrando para trás e o
tirando da minha cabeça.
— Simplesmente linda, como eu me recordava. — Ela
inclina seu rosto para o lado em seu ombro, me dando um
olhar gentil. — Se lembra de mim, pequena bonequinha?
— Doutora Helena — digo baixo, olhando dela para o
mestre Jon, que tem a face zangada, com sua boca cerrada,
e está parado ao lado dela.
— Gostou do presente que lhe mandei?
— Sim — murmuro, abaixando meu rosto para o
agasalho que cobre meu corpo, tapando o vestido bonito
que recebi dentro de uma grande caixa, com um cartão da
senhora Helena. — Muito bonito seu presente. Obrigada,
senhora Helena. — Tento soar calma, por mais nervosa que
esteja, para conseguir pronunciar as palavras corretamente
para ela.
A vejo sorrir para mim e recebo um beliscão em
minha bochecha.
— Oh, é uma graça essa delicada jovem! Estou quase
a roubando para mim e a levando de presente para minha
Saori. — Ela olha para o mestre Jon, rindo, mas ele não ri,
apenas rosna, a encarando sério. — Cristo, se fossem do
mesmo sangue, não pareceriam tanto!
Ela ri mais alto, revirando seus olhos e retornando sua
face para mim.
— Ficar com mestre Jon, não quero ser roubada. —
Nego rápido com a cabeça, não entendendo o que a faz rir
ainda mais.
— É doce, criança, uma pequena serva doce! — ela
suspira, me dando um olhar amável e movendo sua cabeça
em positivo. — Ouvi boatos de que precisam deixar você e
seu mestre longe um do outro para se controlarem um
pouco... Isso é verdade, Linda?
Pisco, confusa, olhando dela para o mestre Jon, que
apenas move a cabeça para mim.
— Helena é amiga, Linda — ele murmura, levando
suas mãos aos bolsos da sua calça jeans.
— Não olhe para esse ranzinza, querida, olhe para
mim. — Ela segura meu rosto, me fazendo apenas olhar
para ela. — Não estou aqui para manter vocês separados, e
sim porque quero saber se o que ouvi é verdade. Gosta de
ficar com seu mestre?
Minha cabeça é rápida ao balançar para frente e para
trás, em positivo, porque, sim, eu gosto de ficar com meu
mestre.
— Linda gosta de ficar com mestre Jon. — Sorrio,
olhando rapidinho para Jon, antes de retornar a olhá-la. —
Mas Elsa falar que Linda não pode ficar toda hora perto do
mestre Jon, e nem o tocar em público, porque isso é errado.
Deixar os outros do refeitório verem Linda tocá-lo é perigoso
para minha segurança. Mas Linda fica confusa, porque se
Linda fica muito tempo com mestre Jon no alojamento, Elsa
vai buscar Linda, porque também é errado ficar muito
tempo no quarto. Nanete disse que faz mal, mas mestre Jon
não faz mal à Linda. Linda gosta do que mestre Jon faz. Ele
toca meu corpo, faz minha boceta ficar úmida e quente,
assim como minha pele. Mas não devo falar sobre boceta.
Nanete disse que não devo falar sobre o que mestre Jon faz
comigo, mas mestre Jon disse que Helena é amiga, e amiga
não irá fazer mal à Linda.
A vejo segurar o riso quando termino de falar, girando
o rosto dela para ele, que tem seus olhos presos em mim,
com um sorriso de lado em sua boca.
— Agora entendo por que Owen se encantou pela
franqueza dela, é de uma inocência genuína — Helena diz,
retornando sua face para mim, enquanto alisa minha
bochecha. — Não é errado tocar o mestre em público, Linda.
Apenas o refeitório não é o local apropriado para isso. E Elsa
vai lhe buscar quando está há muito tempo com ele, sendo
apenas uma preocupação com seu bem-estar. Mas fico feliz
com sua resposta, porque me respondeu até mais do que eu
precisava saber. E, acredite, eu sou sua amiga, pequena
serva.
Ela arruma o capuz novamente em minha cabeça,
enquanto sorri e bate na ponta do meu nariz.
— Não a deixe se afastar de você. Uma vez que
passar pela porta atrás de nós, é como um labirinto e pode
se perder facilmente. — Ela dá um passo para trás, se
afastando de mim, tendo mestre Jon me deixando colada a
ele mais uma vez. — O hangar é um laboratório criado para
pansexuais sádicos, que buscam variados tipos de prazer
sexual. Rola algumas coisas de BDSM também, onde toda e
qualquer coisa pode acontecer, e, acredite, acontece muita
coisa aqui. Então, mantenha sua serva bem rente a você,
jovem Dave, e nem por um segundo esqueça quem é.
Não entendo as coisas que ela fala, mas percebo que
o chama por outro nome de novo.
— Mestre Jon... — sussurro, o fazendo girar seu rosto
para mim, o olhando perdida. — Por que a senhora Helena
chama o mestre Jon de Dave?
— Vou precisar ser chamado assim por um tempo,
está tudo bem? — Ele raspa seu rosto no meu, respondendo
em um murmúrio.
— Cullen, tenho dois novatos na casa! — Helena fala,
rindo e abrindo a porta do corredor, o que faz eu me
concentrar no homem lá dentro.
O vejo com um avental branco preso à sua cintura,
com a grande barba grisalha em sua face e o sorriso largo.
Ele poderia até parecer um Papai Noel, como dos desenhos
que vi na televisão com Nanete quando eu dormia no
pronto-socorro, se não fosse pelas grandes palavras
desenhadas em seu peito, que são como os desenhos do
mestre Jon. Mas no estranho senhor barrigudo com barba
comprida está gravado SÁDICO, que se estende do dorso do
seu pescoço aos mamilos.
— Preciso me preocupar com a idade dessa jovem,
para estar coberta dessa forma, com esse agasalho? —
Escuto sua pergunta, com ele rindo, tendo mestre Jon sério,
o encarando.
— Um mestre sádico iniciante. São convidados
especiais do chefe, assim como meus — ela fala baixo para
ele. — Cuide bem deles, sim?
— Os tratarei como convidados especiais meus
também. — Ele dá um passo à frente e estica sua mão para
Jon, que o cumprimenta rápido, antes do senhor barbudo
dar um passo para trás, apenas movendo sua cabeça em
cumprimento para mim. — Não precisa temer nada,
querida, aqui embaixo somos todos amigos. Chegaram na
hora, o espetáculo já começou. Venham, vou levar vocês a
uma sala vip...
— Não! — A voz de Helena se faz, o cortando. —
Deixe-os soltos com os outros, assistindo de perto o
espetáculo.
Ela se vira e sai, nos deixando com o homem de
avental, que ao se girar tem sua bunda completamente nua,
não tendo nada além do avental na frente do seu corpo. E,
novamente, retornamos a andar, seguindo-o agora. Ele,
estranhamente, conversa animado, sem parar, como se nos
conhecêssemos há anos, mesmo diante do silêncio mortal
do mestre Jon. Eu ouço o senhor Cullen, e mesmo que não o
responda, estou atenta à sua história curiosa e envolvida
com suas palavras.
Ele narra que fugia no meio da noite, depois que sua
esposa adormecia, para se masturbar na garagem com
revistas de homens pelados, porque ele apenas estava
entediado do sexo normal com sua mulher e queria buscar
outras taras. E, disso, uma coisa levou à outra, com ele
tentando descobrir com o que mais poderia sentir prazer,
desde as revistas de moda, como de jardinagem e catálogos
de carros. Ele colecionava tudo que poderia lhe dar prazer.
Um dia, em uma conversa mais informal com um
colega de trabalho da bolsa de valores, ele compartilhou
seu segredo. E descobriu ali, naquela conversa, que os dois
tinham muito em comum, porque seu amigo também tinha
desejos, que para as outras pessoas no mundo normal,
como Cullen se referiu, não eram normais. E, em uma noite,
ele o convidou para ir até sua garagem, para o mostrar, e
quando deu por si, ele e seu colega estavam se
masturbando juntos, folheando as revistas. Na outra vez
que se encontraram, seu colega trouxe mais dois caras, que
também se sentiam curiosos com os desejos estranhos que
possuíam, e, novamente, se masturbaram coletivamente.
Cullen contou como se pegou encantado com a forma
como uma vez, a roda de amigos ficou hipnotizada quando
um dos membros colocou o pau para fora e começou a se
masturbar quando folheava um catálogo agrícola, que tinha
uma página inteira sobre estrumes. E, curioso, Cullen, ao
invés de o fazer parar, o levou ao centro, o fazendo encarar
as páginas enquanto o fodia com o cabo da vassoura da sua
esposa, tendo todos os outros ao redor se masturbando ao
vê-lo foder seu estagiário. A esposa de Cullen apareceu e o
pegou ali no ato, com o cabo de madeira introduzido no
rabo do rapaz, mas, mesmo assim, ele não parou, continuou
a fodê-lo, e disse que ficou ainda mais excitado ao ver os
olhos da esposa dele observando a bizarra cena.
Na outra reunião, quem se masturbou foi Cullen,
alegando que nunca teve um gozo tão forte na vida como
teve naquela noite, ao ver oito homens fodendo sua esposa,
enquanto ele se masturbava e apenas observava. Ele
deixou claro que tudo foi feito com o consentimento dela, e
que não era apenas ele, naqueles vinte e nove anos de
casamento, que estava entediado.
Sua esposa é paciente da doutora Helena, e acabou
contando a ela o que fez, o que lhe rendeu um convite para
ela e o seu marido virem ao hangar. Uma coisa levou à
outra, e quando percebeu, Cullen finalmente tinha
encontrado um lugar no mundo para ele e seus desejos
inconfessáveis, como ele mesmo os nomeou. Aqui, eles são
libertos, e não têm julgamento, apenas a mais pura
depravação carnal, onde não importa quem são ou o que
fazem, apenas o prazer do gozo.
— Vocês não acreditam no tipo de gente que vem
aqui, da mais alta patente até a mais simples. — Ele gira o
rosto, nos olhando e rindo, enquanto continua a andar. —
Mas quando estão aqui, todos são ninguém, porque aqui
ninguém se importa com o mundo lá fora, apenas com o
que se tem dentro de nós e o que desejamos.
Ele abre outra porta quando para de andar, dando um
passo para o lado e apontando para dentro do cômodo,
entregando algo ao mestre Jon, que não consigo identificar,
pois rapidamente vai para o bolso dele.
— Será bom usar. É melhor do que o capuz. O sino vai
soar, o que lhe deixará saber que as luzes ficarão acesas
por alguns segundos. E mais um aviso: lenço amarelo
amarrado no pescoço quer dizer que gosta de mijar nos
outros — ele fala sério, olhando para mestre Jon. — Lenço
vermelho amarrado no pescoço quer dizer que gosta que
urinem em você. Se algum desses se aproximar, apenas
negue com a cabeça, a menos que curtam.
Ele pisca, e eu rio baixinho, o vendo gargalhar da cara
fechada do mestre Jon, que rosna em resposta, me levando
junto com ele. Não chego a lhe perguntar por que estamos
andando tanto, não quando as palavras ficam mudas em
minha garganta ao ter meus olhos presos a um homem nu,
com os braços erguidos e as mãos firmes presas em sua
nuca, sendo encaminhado a uma plataforma alta, como um
palco, que tem todo centro da luz, ao passo que ao redor
tem o mais puro breu. Apenas sei que tem mais pessoas ali
por causa da respiração dos demais.
Fico vidrada ao ver o jovem tendo sua bunda
castigada por uma palmatória de couro, enquanto ele sobe
os degraus da plataforma, com o rosto ereto, demonstrando
dignidade. Sinto os braços de mestre Jon passarem por
minha cintura, me deixando rente a ele quando se posiciona
atrás de mim, quase como se me deixasse abrigada em
seus braços, longe dos outros ao nosso redor, que não
vemos, mas que sabemos que estão ali.
Meus olhos curiosos ficam atentos à forca de madeira
em cima do palco, com tiras de couro, onde uma mulher
revestida com látex branco está. Ela chuta as pernas do
jovem rapaz, para que se abram, quando ele se posiciona
sobre a plataforma, sem abaixar suas mãos, passando a tira
de couro em seu pescoço e o obrigando a ficar na ponta dos
pés, com sua pele úmida brilhando por conta do suor. Seu
pênis mole parece quase não existir em meio ao chumaço
de pelos em sua pélvis, e suas pernas tremem, ficando
bambas, quando um golpe certeiro o acerta no traseiro pela
palmatória de madeira.
Automaticamente, encolho meu corpo, com meus
olhos se arregalando, e sinto os braços de mestre Jon se
apertarem ainda mais em volta de mim. Outro golpe soa
mais forte da punição que o jovem sofre, e minha boceta
pulsa, latejando. Minha cabeça se joga para trás na mesma
hora, e estou assustada, com meu corpo arrepiado.
Encontro os olhos de mestre Jon presos em mim e não no
que acontece no palco.
— Servo forçado? — Inalo rápido, perguntando
baixinho. — Servo preso como Linda, foi obrigado?
— Não — ele responde em um murmúrio, abaixando
seu rosto e esfregando seu nariz ao meu. — Tudo aqui é
consensual. Ele está ali porque é o desejo dele servir à sua
senhora, e não porque ela o obrigou.
— Mestre Jon vai desejar levar Linda lá em cima? —
Minhas pernas se esmagam, com meus lábios se
mordiscando e eu o fitando atenta.
— Nem fodendo! — Ele raspa sua boca na minha e me
abraça mais forte, me fazendo gemer baixinho ao toque da
sua língua na minha. — Nunca vou deixar ninguém lhe ver
me servindo, bebê.
O terceiro golpe da palmatória ressoando no lugar me
faz arfar entre seus beijos, com meus dedos se agarrando
ao seu pulso. Sinto não apenas minha boceta se contrair,
mas os bicos dos meus seios ficarem doloridos, desejando
que fosse meu corpo a estar recebendo aquele castigo,
comigo com os pulsos atados e com o corpo suado do
mestre Jon nu colado ao meu, dentro do quarto. Mestre Jon
separa sua boca da minha, e sua sobrancelha se arqueia
enquanto estuda minha face.
— Está excitada? — indaga baixo, me encarando.
— Minha boceta está doendo... — o respondo,
abaixando meu rosto. — E meus seios estão duros, e com
dor também — falo para ele, sem esconder o que meu
corpo está sentindo.
Levanto meus olhos para o homem no palco sendo
castigado, com a palmatória acertando seu peito e o
deixando vermelho, e quase posso sentir minha pele
queimar inteira, tendo ainda mais consciência da resposta
do meu corpo diante do castigo que assisto. E como se
fosse para confirmar o que digo, os dedos de mestre Jon
soltam minha cintura, e sua mão se espalma à frente do
meu corpo, enquanto escorrega lento entre minhas pernas,
parando apenas quando ergue a saia do vestido e empurra
seus dedos para dentro das minhas coxas, alastrando sua
mão e a parando apenas quando seu indicador esfrega a
frente da minha calcinha.
— Merda, Linda! — ele rosna baixo, depositando um
beijo em meu ombro, me fazendo arfar ao sentir sua cintura
prensar meu quadril.
Fico ainda mais quente ao ter a mão dele em mim
enquanto assisto a mulher com a roupa branca de látex
fazer o rapaz girar quando aperta algo na base da forca,
como um botão, dando a impressão de que a plataforma
está girando aos poucos. Ela muda os golpes da palmatória
para a lateral das suas pernas, acertando ainda mais forte e
disparando rápidos baques crus em sua bunda, a qual fica
agora completamente avermelhada.
Meu quadril se empurra para trás automaticamente e
minhas pernas se esmagam ainda mais, com os braços do
mestre Jon ficando mais tensos em volta de mim, com o
peito dele se estufando e se enchendo de ar.
— Não tem permissão para soltar um único som que
seja, bebê — ele ruge perto do meu ouvido, esfregando seu
rosto, tendo o capuz do agasalho abafando ainda mais sua
voz. Seu dedo empurra minha calcinha para o lado e abre
minha boceta, e ele o escorrega para dentro dela.
Posso sentir meu corpo suar ainda mais embaixo do
agasalho. Meu peito arfa e me arrepio inteira, com minha
boceta ficando mais pegajosa ao ter seu dedo me fodendo
lentamente, se infiltrando dentro de mim. Sinto como um
despertar violento que me consome, e o frenesi da dor e da
angústia me pega, o que me faz querer chorar, mas não
porque estou com dor, e sim porque queria estar sentindo a
palmatória me acertando como está fazendo no rapaz, da
mesma forma que não quero que mestre Jon pare de me
tocar.
— Afaste suas pernas, Linda — ele comanda, e vibro,
com seu outro braço ficando mais preso em minha cintura,
enquanto me fode com seus dedos. Eu o obedeço,
afastando minhas pernas.
O misto de sons baixos à nossa volta fica mais
intenso, com respirações entrecortadas e gemidos pelos
cantos surgindo, como se fossem sussurros eróticos. Outras
pessoas estão fazendo o mesmo que meu mestre. A palma
da sua mão se achata sobre meu clitóris, com ele o
esmagando, e seus dedos se movem dentro de mim,
acertando mais fundo as paredes internas da minha boceta.
Mordo minha boca para não gemer.
A plataforma gira mais uma vez, deixando o servo de
frente para nós, tendo o som alto escapando da boca dele
quando a palmatória é desferida em seu pênis, que não está
mais molenga, e sim rígido, de tão excitado que está. Seu
peito sobe e desce apressado assim como o meu.
— Ohhh... — Mordo minha boca e tento controlar
meus gemidos.
— Sem som, bebê!
Posso ouvir o rosnado baixo de mestre Jon em meu
ouvido, o que me deixa elétrica e ainda mais angustiada e
sedenta por liberdade. Aperto meus olhos com força, ao
passo que escuto os sons das pessoas gemendo à nossa
volta.
— Mestre Jon! — murmuro com euforia, e meus dedos
se agarram ainda mais forte ao seu pulso, sabendo que meu
corpo está prestes a ter uma explosão de orgasmo.
Meu corpo queima ainda mais, em uma velocidade
implacável, assim como o cheiro de sexo que conheço tão
bem exala. Junto vem o estalar da palmatória na pele, além
dos sons dos gemidos em grupo, como se pessoas
estivessem transando ao nosso redor. O mestre Jon rosna, e
sua boca morde meu ombro tão forte, que sinto a dor em
minha pele, mesmo tendo seu agasalho e meu vestido em
meu corpo.
— Ohh... — Esmago minha boca, com meus olhos se
abrindo e vendo uma mulher subir as escadas, tendo uma
coleira presa em sua garganta e seus pulsos contidos à
frente do corpo, com ela parando perto do homem na forca.
Ela se ajoelha à sua frente, me deixando compreender
o que está fazendo pelos movimentos de sua cabeça, que
vai para frente e para trás ao tomar o pau dele em sua
boca, o chupando.
— Mestre... — o chamo, com meu rosto se virando,
sentindo o pulsar mais forte entre minhas pernas, com
minha boceta latejando e vibrando a cada deslizar do seu
dedo dentro de mim.
Sua boca cobre a minha e me beija com brutalidade, a
mesma com que seus dedos usaram para me foder. E,
praticamente, amoleço, entregue ao seu toque perverso,
que me faz sentir a onda de prazer submergindo dentro de
mim. Posso sentir o prazer brutal me tomar, a ponto de
parecer que vai rasgar o meu peito pela forma que meu
coração está disparado, me obrigando a afastar minha boca
da dele, observando o que acontece no palco.
Assisto a mulher ajoelhada, que chupa o pênis do
homem na forca, ser chicoteada em suas costas, enquanto
o suga mais forte, o fazendo gemer tanto quanto ela. E meu
mestre me devasta, comprimindo ainda mais meu clitóris, o
massageando em círculos com a palma da mão. E eu gozo
aqui mesmo, não conseguindo me concentrar em mais
nada, perdendo o controle.
Um som alto toca, como de um bongô, o que faz o
mestre Jon afastar a mão de mim e abaixar a saia do
vestido assim que a luz é acesa. Minha respiração está
entrecortada e eu me sinto fraca, mal conseguindo me
manter de pé.
— Abaixe o rosto, bebê, preciso cobrir sua face — o
comando firme do mestre Jon me faz abaixar a cabeça na
mesma hora, e percebo quando afasta sua mão de mim ao
soltar meu rosto. — Vai ficar melhor se usar isso.
Olho para sua mão e o vejo puxar o que parece um
pano negro, mas que se abre em sua mão quando ele
estica, me fazendo compreender que é uma máscara de
seda.
CAPÍTULO 34

A TORRE PERDE PARA O BISPO


LINDA

Ergo os dedos e toco de mansinho minha face, ainda


sentindo meu coração disparado e minha boceta melada
por conta do gozo, além do toque do tecido frio da máscara.
O som pesado de batidas agudas me faz erguer meu rosto
com curiosidade, por conta da música estranha que entra
em meus ouvidos. Giro meu rosto para o lado e vejo outras
pessoas mascaradas, com os cabelos bagunçados e as
vestes tortas, mas rapidamente tudo se escurece outra vez,
com a luz se acendendo à esquerda, chamando minha
atenção para lá.
Eu nem pisco, nem presto mais atenção na música,
não quando vejo um sofá a alguns passos de nós, onde está
uma mulher nua, em completo abandono, sendo fodida por
um cara barbudo pequeno. O peito dela arfa, vermelho, com
marcas de mordidas, e noto em sua face um plástico que
cobre sua cabeça, enquanto o homem estoura fundo seu
pau dentro da boceta dela. Estamos tão perto deles, que
penso que se esticasse minha mão poderia a tocar, mas não
faço isso.
As mãos de mestre Jon me trancafiam novamente na
gaiola quente dos seus braços, e ele nos gira devagar, nos
deixando de frente para o sofá. As luzes ficam vermelhas,
em um tom escuro, e piscam. É como um conjunto dos
corpos deles se encaixando na mesma batida da música. E
antes que perceba, meu quadril se solta e o movo de um
lado ao outro, conforme os graves da música tocam. Meus
olhos encontram-se petrificados nela ali, totalmente
entregue naquele sofá.
— Linda! — mestre Jon rosna perto do meu ouvido. —
Pare de mexer seus quadris assim.
Jogo minha cabeça para trás, a encostando em seu
peito, piscando rapidamente, confusa, não entendendo o
que fiz.
— Linda apenas seguir o balanço da música...
— Não, não está seguindo o balanço da música! — Ele
sorri de uma forma quente, que faz meu coração disparar.
Mestre Jon flexiona seus joelhos, fazendo um encaixe
perfeito do meu rabo em seu quadril. E ouço a risada dele
quando mexe minha bunda, batendo-a em seu pau, e gosto
da forma como seu sorriso fica ainda mais devasso.
— Está me provocando, Linda.
É belo, quase demoníaco e fatal olhar muito tempo
para sua face, pois me pego encantada com seus olhos
azuis. A mente dispersa rápido, deixando apenas o corpo
governar os pensamentos, e eu fico elétrica com o olhar
mortal que ele me dá ao raspar sua pélvis nas minhas
nádegas, soltando seus braços da minha cintura, enquanto
ergue meus braços, até ter meus dedos atrás da sua
cabeça, antes de abaixar suas mãos mais uma vez e
segurar minha cintura.
— Linda provocar mestre quando dança? — indago,
rindo para ele, travando meus dedos atrás da sua nuca. —
Mestre Jon não gosta de dançar com Linda?
Mestre Jon deposita seu rosto na curva do meu ombro,
me fazendo quase engasgar com o ar quando repete o
movimento com mais pressão, do seu quadril se chocando
com força contra meu rabo.
— Eu gosto é de estar com meu pau enterrado dentro
do seu rabo.
Jogo minha cabeça para frente e gargalho, não
conseguindo não rir quando ele me faz cosquinhas ao
raspar seus dentes na lateral do meu pescoço, deixando os
pés arrepiados. Meus olhos ficam presos na cena do casal
no sofá, e percebo que uma segunda mulher aparece. Ela
rasga o plástico da face da outra que está deitada, sendo
fodida, e a vejo passar suas pernas por cima do tronco dela,
parando sua pélvis bem rente à face da mulher suada.
Abaixa seu quadril até a boceta dela estar pairando sobre a
boca da outra, que começa a lhe lamber, ao passo que
continua sendo fodida pelo homem ruivo.
As mãos firmes que seguram minha cintura
escorregam para frente do meu quadril, me acariciando por
cima do vestido e me fazendo arfar. Fecho meus olhos e
sinto o mestre Jon mover seus quadris aos poucos agora,
nos embalando na dança, não sendo mais meu quadril que
se mexe, e sim o dele. Arranho sua nuca e ouço seu gemido
excitado e rouco. Repito o movimento apenas para ouvir
outro murmúrio dele.
Mestre Jon desliza seu rosto na lateral do meu,
respirando pesado e me deixando excitada com as carícias
dos seus dedos em cima da minha boceta. O calor fica mais
forte, por conta do lugar lotado e dos corpos se espremendo
um ao outro, se mexendo perto de nós. As luzes vermelhas
diminuem, e tudo se torna mais escuro, com as luzes
apenas centralizadas no casal.
O calor que me consome não é só por conta do lugar
pequeno e cheio de gente, e sim por causa da mão de
mestre Jon, que me instiga novamente, me deixando muito
mais excitada que antes. Solto um dos meus braços atrás
da sua nuca e o levo para trás de mim, entre nós dois,
parando na frente da sua pélvis. Sinto seu pau duro, e
minha mão o massageia por cima do tecido grosso da calça,
o tocando sem pressa, igual ele está fazendo comigo,
querendo que ele sinta o mesmo efeito de prazer que me
dá.
— Linda! — mestre Jon rosna, mordendo meu ombro,
rouco.
E mesmo diante do alerta que ele me dá com seu
rosnado rouco, eu não paro de o tocar, não quando preciso
o deixar sentir o que ele faz comigo. Arfo e abro minha
boca, tendo os bicos dos meus seios ainda mais sensíveis,
latejando. Esmago minhas coxas em volta do seu pulso
quando ele me castiga, tentando se infiltrar por debaixo do
vestido até chegar em minha boceta, que está muito
sensível.
Mestre Jon me prende mais forte com seu braço,
mordendo sem dó meu ombro, e não me importo, pois
quero ele me tocando novamente, assim como o quero lhe
tocar, e faço isso ao abaixar o zíper da sua calça. Não
demora para eu ter seu pau pulsando livre e duro em minha
mão. O masturbo, fluindo meu polegar em cima da cabeça
do seu pênis, ouvindo sua respiração ficar ainda mais
densa.
— Vou te foder no meio de toda essa gente, se não
parar — ele murmura com rouquidão, levando sua outra
mão para minha bunda e apertando um lado das nádegas
com força. — Enterrando meu pau bem aqui...
Massageio seu pau, o fazendo se perder nas palavras
e ganhando um tapa estalado na lateral da minha bunda
como punição.
— Linda, está me provocando! — Ele puxa meu corpo
e cola minhas costas em seu peito, esmagando minha
garganta com seus dedos. — Me provocando de propósito.
Ergo meus olhos e encaro a cabeça de mestre Jon
abaixada, com suas pupilas dilatadas, me prometendo sexo
brutal. Sorrio e belisco o canto da minha boca.
— Linda apenas dançar com mestre! — falo baixinho,
ganhando um sorriso dele.
Sua boca se abaixa e ele cola seus lábios nos meus,
me beijando com dominância, me fazendo comprimir o
oxigênio em meu cérebro quando sua mão esmaga um
pouco mais minha garganta, me asfixiando, antes de
libertar meus lábios e afastar sua face, para me fitar com
posse.
— Abra a boca, provocadora bebê! — ele sibila e,
automaticamente, minha boca se abre, o obedecendo.
Ele introduz dois dedos dentro dela, e os sugo, os
chupando, mantendo meus olhos presos aos seus. A luz
retorna a ficar piscando entre o vermelho-escuro e o
vermelho mais claro, o que lhe dá um aspecto cruel, sexy e
ainda mais lindo. Me desfaço ao ter meu mestre fodendo
minha boca com seus dedos, os lambuzando de saliva.
Mestre Jon não se demora, não quando solta minha
garganta e para sua mão entre nós dois, empurrando a
barra do vestido branco para cima junto com seu moletom,
apenas o suficiente para lhe dar acesso à minha calcinha, a
botando para o lado.
Mestre Jon retira os dedos da minha boca, os usando
para esfregar na cabeça do seu pau, e mantenho o
movimento do meu quadril, olhando para frente, encarando
as mulheres se beijando, com o homem ruivo não fodendo a
de baixo agora, e sim enfiando seu pau no rabo da que está
por cima.
A agitação me toma e meu coração dispara, como se
fosse explodir para fora do meu peito a qualquer segundo.
Mordo minha boca quando a cabeça do pau de mestre Jon
se encaixa na entrada do meu rabo. Ele volta uma das suas
mãos para minha cintura e me enlaça, respirando pesado, e
sinto seu peito subir e descer ao passo que ele esfrega seu
rosto em meus cabelos.
Cravo os dentes em minha boca, mordendo com tanta
força para abafar o grito de dor e euforia, carregado de
adrenalina, assim que ele empurra seu quadril de uma única
vez para frente, impulsionando seu pau para dentro do meu
rabo, mantendo minha cintura presa com sua mão. Meu
cérebro está estourando com agonia e agitação, o que me
aflige por sua penetração bruta, e respiro com pressa,
congelando meus movimentos, tentando dissipar o primeiro
impacto da penetração. Ele beija meu ombro com carinho e
sinto sua mão abaixar para perto da minha.
Agarro seus dedos entre os meus, sentindo tudo,
como se meu corpo inteiro fosse tomado por uma avalanche
de emoções e entrega. Aqui, diante dessa cena, tendo as
mulheres se beijando com mais desejo no sofá enquanto
são fodidas, nada mais importa, apenas meu mestre e seu
pau enterrado dentro do meu cu, me deixando tão
preenchida que me sinto empalada.
Ele começa a mover nossos quadris para frente, me
levando com ele, e inala forte o ar. A euforia me pega ainda
mais quando mestre Jon começa a me foder, sincronizando
suas estocadas com o som das batidas agudas. Olho entre
as pessoas espremidas à nossa volta, todas coladas umas
às outras, se beijando e tocando seus corpos tanto quanto
os três no sofá, entre a luzes vermelhas que se acendem e
se apagam. Sinto-me ainda mais livre, como se aqui fosse
meu lugar, como se ser dele fosse verdadeiramente meu
mundo.
Não me importo de alguém me ver, não sinto a
mesma coisa que eu sentia quando o antigo mestre me
obrigava a tocar outros homens, com ele e seus convidados
assistindo. Não me sinto suja, não com meu mestre Jon.
Com ele, eu me sinto liberta, orgulhosa de pertencer a ele,
de o deixar me tocar, de poder o tocar diante de todos.
Quero que eles nos vejam, que eles nos olhem tanto quanto
eu olhei os casais no sofá, porque eu pertenço ao meu
mestre.
O mestre beija minha orelha, a mordendo de
mansinho, e deixo minha outra mão se unir à sua em minha
cintura. Prendo meus dedos em cima dela, relaxando meu
corpo, tendo seu peito se movendo pesado a cada
respiração forte dele atrás de mim. Gemo baixinho e fecho
meus olhos, esfregando minha cabeça em seu peito, me
sentindo bem em ter seus dedos unidos com os meus,
assim como nossos corpos. Me liberto entre as
impulsionadas do seu pau dentro do meu corpo, e mestre
Jon se move com preguiça, suspirando baixinho, me
fodendo com lentidão.
— Com toda certeza, eu amo dançar com você, Linda
— ele cochicha em meu ouvido, fazendo meu corpo todo se
arrepiar, respondendo com luxúria à sua voz grossa tão
baixa em meu ouvido.
— Linda gosta! — Um sorriso acompanha meu gemido
quando ele empurra com mais pressão sua pélvis para meu
rabo.
Mestre Jon nos conduz em nossos movimentos, me
fodendo com mais agitação, e mexo devagar meu quadril
em seu pau. Ele leva nossas mãos para baixo, se infiltrando
dentro do meu vestido, parando sobre minha boceta e
movendo seu dedo em cima do meu clitóris, massageando-
o com pressão. Minha outra mão segura mais firme sua
mão, e ele aumenta as batidas, me fodendo mais veloz,
disparando a cadência dos círculos dos seus dedos sobre
meu clitóris antes da quinta estocada. Minhas pernas estão
coladas uma à outra, com a parte superior do meu corpo
impulsionado para frente. E não consigo segurar o gemido
quando gozo, tendo o líquido quente como um jato lavando
minhas pernas.
— Jonnnn! — Mordo minha boca e gemo mais uma
vez, tremendo da cabeça aos pés, com ele aumentando as
batidas do seu pau dentro do meu rabo.
O sugo com força, tendo as paredes internas do órgão
se fechando ao redor dele, o que o faz rugir e morder meu
ombro. A quentura da sua porra inunda meu rabo a cada
jato de gozo que seu pau expulsa, me aquecendo por
dentro. Respiro com dificuldade, sentindo medo de desabar
no chão se mestre Jon se afastar de mim. Meu corpo tem
uma descarga de prazer, e tremo assim que ele escorrega
seu pau para fora do meu rabo.
Parece que minha mente se apagou, ficando com sua
concentração nas ondas de prazer que dominam meu corpo.
Sua mão abaixa meu vestido e o moletom depois que ele
guarda seu pau de volta na calça e sobe seu zíper. Inalo o ar
com dificuldade, e seu peito se afasta das minhas costas, o
que me faz segurá-lo com urgência, mantendo suas mãos
presas nas minhas, não querendo o soltar.
Sinto-me totalmente mole, como se meus ossos não
existissem mais. Mestre Jon cola seu peito em minhas
costas outra vez, me girando de mansinho até me deixar de
frente para ele, me fazendo soltar uma de suas mãos. Ele
segura meu rosto com ela, o erguendo para olhar para mim.
— Quer ficar e me provocar mais? — pergunta baixo,
tendo um sorriso largo em seus lábios.
— Linda quer ir embora... — sussurro, fechando meus
olhos, com minha boca se mordiscando, não sentindo um
músculo que seja das minhas pernas.
— É, foi o que eu pensei! — Ele ri de forma cruel.
Sobressalto-me, alarmada, abrindo meus olhos e me
agarrando ao seu ombro quando ele me tira do chão e
passa seu braço por trás dos meus joelhos de forma ágil,
soltando uma gargalhada descarada. Enlaço seu pescoço,
relaxando meu corpo e deixando minha cabeça encostar em
seu peito, suspirando baixinho, me sentindo completamente
esgotada.
CAPÍTULO 35

O TABULEIRO DO REI
JON ROY

Fico em silêncio, com as mãos nos bolsos da jaqueta,


e encaro o vasto espaço aberto do interior da masmorra
vermelha, que tem seu interior bem diferente do lado
exterior dela. A estrutura realmente parece de uma
masmorra antiga do lado de fora, com pedras rústicas e
musgos se alastrando pelas suas paredes robustas. Por
dentro, não tem nada mais que um enorme apartamento
luxuoso, tendo a luz natural invadindo pela janela e
iluminando todo o lugar, destacando tanto os móveis
sofisticados com design contemporâneo, como o piso
brilhoso de mármore.
Vejo desde a imensa cozinha até a sala, com uma
grande televisão e um escritório ao canto, sendo tudo
aberto, sem parede alguma dividindo os ambientes. Repuxo
meu semblante, ficando confuso, porque não era bem isso
que eu imaginava ter aqui. Tinha conhecimento de que era
um local usado pelos nobres para ficarem com suas servas,
mas sabia que não era muito usado devido à porra dos
cinquenta e nove degraus da escada do interior da
masmorra, que traz até a entrada do apartamento.
Paro meus olhos na escada de mármore com degraus
embutidos nas paredes, que leva para o que parece ser um
segundo andar, o qual noto que também não tem paredes,
sendo tudo aberto, assim como no andar de baixo. Me
mantenho em silêncio, observando em volta, ainda sem
entender por que fui chamado até aqui.
Ryan me disse que Helena queria falar comigo aqui,
mas não a vejo em lugar algum do apartamento. Ando
devagar e me aproximo da grande janela, com meus olhos
ficando presos no jardim, o qual esconde ao centro, entre os
arbustos, a Fonte de Pasífae. Levanto os olhos e encaro o
imenso palacete de Babilônia, que da janela da masmorra
vejo perfeitamente, mesmo distante, com toda sua
exuberância e luxúria. Observo alguns guardas patrulhando
o perímetro de motos, assim como um jardineiro perto do
muro de arbustos, o podando.
— O mate do pastor. — A voz baixa e séria falando
atrás de mim me faz virar.
Encontro não Helena, e sim o senhor Woden, com as
mãos nos bolsos, me encarando em silêncio, parado perto
da porta.
— Uma jogada de ataque concentrada no peão preto
da casa F7, a qual deu uma vitória rapidamente. Foi assim
que os Woden tomaram essas terras em um tabuleiro. — Ele
leva suas mãos aos bolsos do terno e caminha para perto de
mim, virando seu rosto para a janela e encarando o
palacete. — Cada metro quadrado desse lugar não passava
de uma mata fechada. Um dia, em uma hospedaria, durante
uma viagem, um ancestral meu encontrou um velho
solitário que estava sentado perto de uma lareira,
observando o tabuleiro de xadrez. Teve uma aposta e uma
bela partida que durou mais de cinco horas. Ao fim do jogo,
meu tetravô, o pai do meu trisavô, ganhou essas terras em
uma partida de xadrez.
O vejo inalar fundo e repuxar o canto da boca
enquanto encara a Torre de Babel e o palacete de Babilônia.
— Foi ele quem construiu a Torre de Babel, pois queria
um local digno de um rei, onde os nobres de Babilônia
poderiam ficar ainda mais livres, tendo um espaço para
eles, para servir devidamente à corte — fala sem muita
importância, retornando sua face para mim. — Seu nome
era...
— Owen Woden — o respondo sério, sabendo que ele
não está contando uma história aleatória, mas sim me
testando, para saber se eu tinha lido os documentos que
Ryan me entregou. — O senhor recebeu o nome dele em
homenagem ao seu tetravô, e ele não ganhou essas terras
em um jogo de xadrez, e sim quando se casou com a filha
mais velha de um nobre do império britânico, o qual
também era um nobre de Babilônia, os Ruche, que são a
terceira casa de nobres mais antiga de Babilônia.
— Esplêndido. — Ele abre um sorriso, batendo a ponta
do seu pé no chão. — Vejo que fez seu dever de casa, jovem
Woden.
Ele se vira e anda pelo apartamento aberto, retirando
as mãos dos bolsos e tocando sem muita importância os
móveis, como se estivesse analisando cada ponto da
estrutura. Sim, eu tinha feito. Não me demorei muito, li o
que precisava dos documentos, com meu cérebro gravando
cada história e nome que tinha lá.
— Ryan não me avisou que o senhor estaria aqui. Ele
me passou que Helena mandou me chamar — falo sério, o
estudando. Ryan tinha me dito que o senhor Woden viria de
Milão daqui a três semanas, quando me entregou a carteira
com os documentos.
— Pequenas mudanças de última hora, e resolvi vir
pessoalmente. — Ele ergue seu rosto para mim. — Então, o
que achou do espaço?
Olho em volta, arqueando minha sobrancelha e
movendo minha cabeça para os lados, avaliando o lugar.
— Grande. — Sou direto, retornando meus olhos para
ele.
— Bom, é todo seu! — Fico confuso com suas
palavras, tendo tempo apenas de tirar minha mão esquerda
do bolso para capturar a chave que é lançada em minha
direção. — Helena achou que apreciaria o ambiente aberto,
sem paredes, visto que paredes foram o que mais viu por
muito tempo.
Meu rosto se retrai e fito a chave em minha mão,
erguendo meus olhos para o senhor Woden,
compreendendo o que ele acabou de dizer e fazer. Ele me
deu a masmorra.
— Não me importo de fazer o trabalho sujo — digo
firme, estreitando meu olhar. — Mas gosto de saber o
porquê eu estou fazendo o trabalho sujo. E, com toda
certeza, isso é um pagamento para um trabalho bem sujo,
apenas ainda não entendi qual é.
O senhor Woden sorri e leva suas mãos aos bolsos do
terno, com sua face tombando para o lado e me analisando.
— Tecnicamente, é um presente meu para minha mais
nova e jovem amiga e seu mestre — ele suspira, andando a
passos vagarosos em minha direção. — Achei que gostaria
de ter um espaço para vocês.
Fico em silêncio, ainda incerto do porquê ele
realmente está fazendo isso, porque está me dando um
prédio inteiro para morar, se eu já tenho meu alojamento.
— Agora isso... — Ele retira sua mão do bolso, jogando
um controle magnético de carro, com o símbolo da Tesla, o
qual eu pego no ar. — Isso, sim, é um pagamento para um
serviço sujo. Pois, acredite, não tem trabalho mais sujo do
que ter que interpretar o papel do meu inútil primo. Porém,
tenho certeza de que você se sairá muito melhor tomando o
lugar dele do que ele mesmo foi capaz de fazer.
— Quem eu tenho que matar? — Vou direto ao ponto,
porque esse é o meu trabalho em Babilônia.
— Muitas pessoas, acredite. Sempre vai ter alguém
para matar ou estripar. É um Woden agora, o que mais terá
é inimigo. — Ele ri e retira a outra mão do bolso,
gesticulando seus dedos no ar. — Mas, por ora, apenas vai
se tornar um nobre de Babilônia, o novo nobre da casa
Woden.
Nesse segundo, fico confuso, sem entender qual é a
jogada do senhor Woden.
— Sou um bastardo, senhor — digo direto, negando
com a cabeça. — Um Órfão de Babilônia, não um nobre...
— É um Woden agora — ele me corta. — Não mais um
órfão. Pense nisso como um projeto de adoção, o qual será
vantajoso tanto para mim quanto para você.
— Desculpe, senhor. — Nego com a cabeça e dou um
passo à frente, olhando as chaves em minhas mãos. — Mas
ainda não vejo qual vantagem posso ter nisso. Visto que
pelo histórico da família Woden, nem todos terminaram
muito bem, e muito menos com vida.
— Pequenas divergências de opiniões e caráter... Toda
família tem, inclusive você. Somos iguais, Jon, removemos
os peões que não importam e não têm serventia do
tabuleiro. — Ele sorri, me fitando. — A diferença é que não
guardo a cabeça dos parentes que eu mato na geladeira,
prefiro dar como banquete para os meus cães comerem, já
que detesto desperdiçar comida.
Ele pisca para mim, rindo e gesticulando sua mão no
ar, apontando para o apartamento.
— É um Woden. Acredite, muito mais Woden do que
seu antecessor era. E isso é apenas o começo. — Ele dá de
ombros, retornando seus olhos aos meus. — Não irá apenas
interpretar Dave Woden, você será Dave Woden. Me disse
que não viu vantagem, mas terá inúmeras, e lhe direi
apenas uma delas, a qual penso que para você é a que mais
importa. Liberdade, meu jovem primo. Terá liberdade, não
mais um passado no qual precisa ficar enterrado, e sim
liberdade de uma vida nova, com um sobrenome que lhe
dará poderes que não tem ideia, o tornando intocável.
— E onde ser um nobre entra nessa história? — Sou
uma pessoa racional, e posso avaliar cada palavra, gesto e
emoção do outro, e mesmo o senhor Woden querendo fazer
isso parecer algo mágico, compreendo que tem mais
alguma coisa oculta nesse desejo de me querer como parte
da sua família.
Ele não mente quando diz que somos iguais, eu sei
disso. Sei disso desde o segundo que tiraram o capuz da
minha face e o vi. É tão manipulador quanto eu, e está
jogando em seu tabuleiro agora. O que eu ainda não sei, é
qual peça eu sou para ele.
— Três anos atrás, antes da sua chegada, quando
apresentei minha mulher à corte, a minha rainha, uma
fotografia da minha esposa foi mandada para Sodoma por
um pequeno ratinho misterioso que se esconde muito bem
nas sombras da Torre de Babel...
— Um traidor — falo direto. — Tem um traidor entre
seus nobres.
— É isso que quero descobrir, Jon... — Ele pisca para
mim. — Ou melhor, Dave! Não gosto de ratos, eles são
perigosos pela forma como se multiplicam rapidamente,
compreende?
Fico sério, o estudando, sabendo que, nesse segundo,
sua face taciturna também está me estudando.
— E se não ficamos de olho neles, se não os
exterminamos, proliferam ainda mais, e quando nos damos
conta estamos rodeados por ratos traidores. — Ele inala
fundo, levando as mãos aos bolsos da calça. — O rato que
mandou a foto da minha esposa para Sodoma usou disso
como distração para que eu não o percebesse se movendo
pelo meu palacete, fazendo pequenas jogadas. Sei que é
esperto, e já deve ter percebido que esse rato se
multiplicou, se esgueirando por todo o reino de Babilônia.
Ele sabe. Minha mente se atenta às suas palavras,
vendo nos olhos do senhor Woden que ele tem a mesma
desconfiança que eu, de que há um traidor entre os
bastardos. Porém, que há um traidor entre os nobres, isso
eu não tinha pensado, o que me faz lembrar do senhor
Tuing e da sua conversa antes da morte.
O mestre de Linda é de Vancouver, e ele disse que
estava a escondendo para ela não ser encontrada, mas e
se, na verdade, era para ele não ser encontrado... Minha
mente entra em combustão como uma máquina,
trabalhando a todo vapor, cheia de teias de aranhas se
emaranhando a cada peça que vou movendo no tabuleiro
de Babilônia. E mais certo e claro, um único pensamento vai
se sobressaindo aos outros.
— Ele é daqui... — murmuro sério, cerrando minha
boca. — O filho da puta é daqui, e ele não estava
escondendo-a, ele estava se protegendo!
— Do que está falando? — o senhor Woden me
pergunta.
Puxo o ar e elevo meu rosto para ele, enquanto minha
boca se esmaga e sinto meu peito se inflamar de ar, como
fogo me corroendo por dentro.
— O filho da puta que machucou Linda, o antigo
mestre dela... — rosno, estreitando meu olhar. — Algumas
coisas me levam a acreditar que ele é um nobre de
Babilônia.
Viro, encarando a janela e olhando fixo na direção do
palacete, tendo meu coração batendo rápido, com o sangue
fluindo como um rio furioso em minhas veias.
— Preciso te mostrar algo, senhor! — digo ligeiro,
girando meu rosto para o senhor Woden, que tem a
expressão sombria, com os olhos dele fixos atrás de mim,
na janela, fitando o palacete. — O senhor acredita em fada
do dente? Porque eu encontrei uma.
CAPÍTULO 36

A VELHA GUARDA
JON ROY

— Por que estou tendo essas informações apenas


agora? — Ryan joga os documentos sobre a mesa dentro da
pequena sala de munição, passando seus olhos de mim
para Killer e Artur. — Esconderam isso de mim? Não sou de
confiança, é isso? — A voz zangada de Ryan está
claramente ofendida, ao passo que ele inala firme e esfrega
sua face, parando seus olhos diretamente em mim. — É
isso, Jon, não confia em mim...
— Eu confio em você, Ryan. — Dou um passo à frente,
mantendo meu olhar preso ao dele, sem o desviar. — O que
não confio é no seu poder de julgamento — falo direto.
Não tenho mais por que esconder meus pensamentos.
Tinha trazido o senhor Woden até a sala de munição no
porão e mostrado o mapa e todos os documentos que
encontrei na casa da fada do dente, além de contar o que o
verme me disse, assim como os motivos que me fazem
acreditar que o antigo mestre de Linda é um nobre de
Babilônia.
— Meu poder de julgamento? — Ryan rosna, negando
com a cabeça e abaixando a mão esquerda, com a qual
esfregava seu rosto. — Está insinuando o quê, garoto...
— Que seu sentimentalismo o faria ficar exatamente
como está agora, emotivo — respondo, apontando para os
documentos sobre a mesa. — Está bravo e chateado porque
pensa que não confio em você, mas é exatamente por
confiar em você, que não lhe contei antes. Isso lhe colocaria
em risco, porque suas emoções lhe governam, e acabaria
deixando transparecer sua decepção diante dos outros
bastardos, o que seria relativamente fácil para o rato
descobrir o porquê está chateado. Suas emoções paternais
lhe entregariam. E eu não posso perder a chance de colocar
minhas mãos nele, muito menos deixar Linda em perigo.
Levo minhas mãos para as costas e fico em posição
de sentinela, vendo o peito de Ryan subir e descer, com ele
marchando direto para mim.
— Ryan! — Ele estaca, parando a poucos centímetros
de mim, quando a voz do senhor Woden se faz. — Sabe que
é verdade o que Jon fala.
O senhor Woden se afasta da parede onde está o
mapa, se encaminhando para perto de Ryan.
— Sempre cuidou de todos esses bastardos como se
fossem seus filhos, os treinou e os preparou para a linha de
frente... Sua emoção paternal, a qual nutre por eles, o faria
ficar vulnerável. — Ryan gira o rosto para o senhor Woden
na mesma hora, com os dois se confrontando pelo olhar. —
Jon apenas fez o que eu faria.
— Já sabia também, senhor? — Ryan inspira e solta
um suspiro, chateado, com sua face balançando para os
lados.
— Sim, eu desconfiava, mas sabia que seria um golpe
duro para você quando descobrisse que um dos bastardos é
um traidor. — Owen leva suas mãos aos bolsos da calça,
batendo seus pés no chão.
— Conheço cada um desses soldados, cada bastardo,
ou ao menos eu pensei que conhecia. Talvez eu esteja
ficando velho mesmo...
É um golpe duro para Ryan ter que absorver o fato de
que um de nós, os bastardos, é um rato filho da puta. Sua
decepção é visível em sua expressão.
— Vamos encontrá-lo, Comandante — Killer fala com a
voz rouca. — E vamos fazer esse rato pagar por ter traído a
família.
Viro e passo meus olhos por Artur e Killer, que têm a
expressão fria, com seus semblantes taciturnos. Eu não
tinha aberto completamente o jogo para eles, mas quando o
senhor Woden pediu para trazer Ryan até aqui, achei
melhor trazer Artur e Killer juntos, assim todos ficariam a
par da existência de um traidor em nosso pelotão.
— Poderia ter nos contado antes, quando pediu nossa
ajuda. — Artur para seus olhos em mim, me fitando.
— Não, não poderia. — Nego com a cabeça. — E não
porque não confio no controle emocional de vocês, e sim
porque quando eu colocar minhas mãos nesse traidor, não
haverá punição de Babilônia, não terá regras e nem
julgamento, pois eu mesmo vou estripá-lo. Não darei uma
morte limpa e muito menos rápida. E sei que vocês dois me
impediriam, porque são fiéis às leis de Babilônia, e iriam
tentar me convencer a entregar ele ao julgamento do rei. Só
que não darei um julgamento a esse filho da puta.
Minha face retorna para frente e passo meus olhos de
Ryan para o senhor Woden.
— Ninguém que estiver envolvido nisso terá um
julgamento, independentemente se é um bastardo ou um
nobre de Babilônia. — Ranjo meus dentes, sustentando meu
olhar e o deixando fixo no senhor Woden. — E depois que eu
esquartejar esses desgraçados, se quiserem me julgar por
ter quebrado as leis de Babilônia, não permitindo uma
morte rápida com um tiro na cabeça, apenas porque eles
eram integrantes de Babilônia, fiquem à vontade.
Vejo um sorriso se formar ao canto da boca do senhor
Woden, com ele movendo a cabeça em positivo para mim.
— Me contem mais sobre esse tal homem que estão
caçando em Bowen Island?
— É Seferic Pel. Esse é um nome falso, claro. Ele foi
um dos presenteados pelo mestre de Linda a ficar com ela...
— Minhas palavras são ásperas, carregadas de ira, e meus
olhos se cravam no mapa. — Tuing contou que os
presenteados conhecem os mestres, porque quando uma
boneca é dada de presente, isso é feito pelo próprio mestre.
Ele vai saber me dizer quem é o filho da puta que vai chorar
de emoção ao beijar minha mão com gratidão quando eu
finalmente decidir o matar quando acabar de torturá-lo.
— Só que não encontramos a localização exata dele
na ilha — Killer é quem fala, dando um passo à frente e indo
rumo ao mapa. — Já percorremos quase toda a ilha. Artur
fez o mapeamento dela pelo mapa, e verificamos os chalés,
cada um que existe, e nenhum deles tem um cativeiro,
muito menos esse Seferic.
— Como podem ter certeza de que ele está lá? —
Ryan pergunta sério para Killer, com o mesmo parando seus
olhos em mim.
— Jon tem certeza de que ele está — Killer responde e
tenho os olhos de Ryan voltados aos meus mais uma vez.
— Ele está lá, e é um predador. Pela localização e
baixa população, a montanha da ilha é o melhor lugar que
ele tem para esconder suas bonecas humanas. — Inalo
fundo, encarando Ryan. — Ele está em algum canto daquela
ilha.
— No domingo, eu retornei para Bowen Island. — A
voz de Artur soa pensativa, com ele se aproximando do
mapa. — Queria fazer uma nova varredura com o drone,
com as imagens aéreas, para ter certeza de que não perdi
nada. A contagem dos chalés continua a mesma, não perdi
nenhum, mas, aqui...
Ele aponta ao leste do mapa, onde tudo é fechado,
com sua respiração ficando forte.
— Quando o drone estava passando nessa região, eu
capitei uma onda de calor. A câmera que usei dessa vez foi
termográfica. A onda foi rápida, coisa de segundos,
apareceu e depois sumiu...
— Poderia ser um animal... — Killer diz rápido, mas
Artur nega com a cabeça.
— Não era. Eu estava com o tablet em minha mão, e a
imagem infravermelha que apareceu foi visível de um
espectro humano. — Ele olha para mim. — Acho que pode
ser nosso homem. Tem uma clareira bem aberta a poucos
metros de onde peguei o sinal de calor, uma clareira grande
o suficiente para um helicóptero aterrissar.
— O que facilitaria, e muito, a escalada da montanha
com uma vítima. — Killer estala seus dedos, tendo o
pensamento dele tão rápido como o meu, compreendendo
isso.
— Ele as leva pelo ar. Estávamos certos, as trilhas são
impossíveis de se arrastar uma pessoa, por isso é pelo ar
que ele transporta as bonecas humanas. — Caminho e paro
perto deles, olhando o mapa. — Mas onde esse filho da puta
está escondido...
— Eu passei por aí quando fiz a vistoria em campo, e
não tem nada nessa região, é apenas mata e rochas, com
tudo vazio, não tem chalé. — Killer puxa o ar e arqueia a
sobrancelha. — Eu deixei alguma coisa passar, talvez uma
caverna... Se ela for subterrânea e de temperatura baixa,
isso explica por que o sinal de calor sumiu...
— Vou retornar hoje lá — Artur fala depressa, olhando
para Killer.
— Vou com você — digo direto, querendo ver
pessoalmente o perímetro. — Podemos procurar uma
cachoeira, pode ter uma entrada atrás de uma queda
d’água...
— É um bunker! — A voz de Ryan sai séria atrás de
nós, fazendo tanto eu, como Killer e Artur, virar.
Encontro Ryan e o senhor Woden nos observando.
Ryan olha para ele, que move sua cabeça para frente e para
trás, antes de retornar seus olhos para nós e caminhar para
perto do mapa.
— Vocês não conseguem encontrar a localização dele,
porque ele está usando um bunker. — Ryan encara o mapa,
olhando diretamente para o local que Artur apontou. —
Como disseram, é um predador, e se estiverem certos e
essa montanha for o esconderijo dele, ele não vai usar uma
caverna, nem um chalé. Ele quer privacidade para ele e
para elas.
— Ryan está certo — falo baixo, ficando pensativo. Um
bunker bem construído e com equipamentos novos poderia
esconder um sinal de calor. — Na mansão onde
encontramos Linda, o local era refrigerado, por isso, o sinal
dela desapareceu. Esse filho da puta está na montanha, e
escondido dentro de um bunker.
— Porra, como não pensei nisso?! — Artur inala fundo.
— Isso faz muito sentido.
— É, parece que esse velho ainda sabe de algumas
coisas, mesmo sendo sentimental, garoto. — Meu rosto se
ergue e fito Ryan, que gira, me dando um olhar reprovador.
O vejo passar por mim e ganho um olhar debochado
com riso preso de Artur e Killer, que sabem tanto quanto eu
que Ryan está chateado por não termos contado a verdade
a ele antes.
— Se ele estiver lá, a entrada será difícil de rastrear
com equipamentos. Bunkers em montanhas são construídos
para serem imperceptíveis. — Viro e vejo Ryan parado de
costas para mim, perto do senhor Woden, conversando com
ele.
— Merda, devo ter passado por ele e sequer ter visto
a entrada! Meus drones não encontraram nada. — Artur
inala fundo, esfregando sua face.
— Acho que está na hora de levar nossas escoteiras
mirins para um trabalho de campo com a velha guarda. — O
senhor Woden chama a atenção de nós três, e o vejo sorrir,
desviando o olhar de Ryan para Artur, Killer e eu. — Chame
os gêmeos, Ryan, e vamos mostrar aos garotos como
realmente se caça!
— Se preparem, donzelas. — Ryan se vira, nos
encarando. — O helicóptero vai partir em vinte minutos!
Ele sai a passos pesados, mal me olhando, indo para
fora da sala, ao passo que fico estático, somente
observando-o.
— O quê? Como assim... — Killer fica confuso.
— Acho que o que Ryan quis dizer, senhor Killer, é
vocês devem ir preparar suas armas, pois vão caçar sob a
liderança do Comandante.
— Sim, chefe. — Artur bate no braço de Killer, fazendo
um movimento de cabeça, o levando com ele.
Fico parado, observando a porta pela qual os dois
partem, ainda podendo sentir o olhar de Ryan sobre mim, e
a forma como me senti confuso com seu olhar magoado.
— Não precisa se preocupar, ele tem a memória de
um amendoim. — Meu olhar para no senhor Woden, que
está perto da mesa e segura o pacotinho de dentes. — Ryan
vai esquecer. Ele apenas ficou chateado, com seu ego
paternal ferido, achando que você não confia nele, mas vai
superar. Esses são os dentes que a fada arrancou das
garotas?
— Não! — respondo sério, negando com a cabeça. —
São os dentes que arranquei dele e da esposa dele.
O senhor Woden arqueia a sobrancelha, desviando os
olhos do saquinho para mim e o soltando sobre a mesa.
— Sabia que tinha um traidor entre os bastardos, mas
não disse a ele, deixou que eu descobrisse para contar a
Ryan.
— Sim, eu sabia. E, sim, eu deixei. — Ele leva as mãos
aos bolsos do terno, batendo com seu sapato no chão. —
Como já disse muitas vezes, somos iguais, Jon, e estava
confiante de que chegaria a mesma conclusão que eu tão
rapidamente quanto cheguei, tanto quanto ao traidor
quanto a manter segredo de Ryan, mas não porque não
confia nele, e sim porque sabia que isso o magoaria. O
sentimento paternal que ele tem por vocês incapacita o
julgamento dele em alguns pontos. E, como disse, Ryan vai
superar. Provavelmente, ele vai te dar um soco, e depois
disso vão ficar bem.
— Como pode ter certeza disso...
— Porque o primeiro filho dele fui eu. — Ele pisca para
mim, antes de se virar, me dando as costas e indo para a
saída.
Destravo o revólver, retirando o pente e conferindo se
está carregado antes de o guardar no colete. Arrumo a
munição nos outros bolsos, tendo minhas facas de caça
bem presas ao acoplado do colete à prova de balas, assim
como em minhas calças. Caminho devagar para o banheiro
e pego o pequeno recipiente de graxa, o abrindo e
passando em volta dos meus olhos, cobrindo as pupilas,
sentindo o frenesi da caçada se agitar dentro de mim mais
do que o normal.
É estranho, porque muitas vezes me preparei para
uma caçada, que para mim é algo tão normal quanto
acordar de manhã, sendo apenas um trabalho qualquer:
matança, sangue, a gloriosa carnificina. Mas sinto algo mais
feroz dentro de mim, primitivo, que dificulta meu controle,
porque eu sei que não é uma caçada normal, não é um
desconhecido que teve sua vida sentenciada, não é um
alvo, o que vou caçar é um dos filhos da puta que
machucou Linda. Minha Linda. E isso é completamente
pessoal para mim.
Fecho o frasco com a graxa e esfrego uma mão na
outra, antes de guardar o pote no bolsinho do colete. Levo
meus dedos para trás da calça e pego minhas luvas, mas
nem chego as colocar quando giro, pois fico estático na
porta do banheiro, vendo a pequena criatura cabisbaixa e
silenciosa parada no meio do quarto.
Repuxo meu semblante, fisgando meu pescoço e
sabendo que não era para ela estar aqui, não era para me
ver saindo para a caça. Tinha pedido a Artur pra ir direto
para a doutora Elsa e pedir para ela ficar com Linda até eu
voltar. Não fui pessoalmente, porque Linda me
desconcentra ainda mais quando está perto, e preciso estar
completamente concentrado nessa caçada.
— Devia estar no pronto-socorro — falo baixo,
batendo as luvas de couro em minha mão, olhando-a
silenciosa, com seus dedos se esmagando um ao outro
enquanto seu peito sobe e desce apressado.
— Ouvi Ryan conversando com a doutora Elsa. Linda
estava arrumando os remédios no armário, não foi de
propósito. — Ela encolhe seus ombros, batucando sua
sapatilha no chão, nervosa. — Missão... Eu o ouvi dizer que
mestre Jon vai sair para uma missão.
— Sim, eu vou ter que ir. — Caminho para ela,
parando a poucos passos e segurando seu queixo, o
erguendo para mim, até meus olhos encontrarem as
delicadas ametistas que residem em seu olhar. — Eu vou
caçar. Irei lhe buscar com Elsa quando voltar.
— Matar? — Vejo seus olhos percorrerem minha faca
suja de graxa, a qual fica ainda mais infernal quando o
sangue das minhas vítimas se mistura à pasta negra que se
cola em minha pele. — Mestre Jon vai sair para matar?
— Sim. — Não minto para ela, não quando seus olhos
violetas estão presos em mim com doçura e ela me olha
apenas como Linda consegue fazer, sem medo algum de
mim. — Vou sair para matar.
Matar será a última coisa que vou fazer com Seferic,
mas não digo a ela, muito menos que é ele que vou caçar,
pois vou torturar tanto aquele filho da puta, que quando
finalmente resolver o matar, ele beijará minha mão em
gratidão.
— É o que faço, bebê. — Escorrego meu dedo por sua
bochecha e sinto a maciez da sua pele.
Isso me faz ter vontade de a beijar, de ter seu sabor
em minha boca, e, de repente, sinto meu coração bater tão
forte, que não consigo ouvir mais nada dos meus
pensamentos, da minha concentração, pois ela me rouba
tudo. E me obrigo a afastar minha mão de sua pele, dando
um passo para trás, mergulhando dentro de mim e forçando
minha concentração a ficar em alerta. Está chegando a hora
de libertar meu demônio da matança, e não posso me
distrair. Repasso mentalmente a lista de coisas que separei
em minha mochila, para ter certeza de que não esqueci
nada.
Tripas de mico, uma garrafa de gasolina, serrote, par
de luvas de metalúrgico, algemas, um metro de concertina,
machadinha e minhas facas. Tudo meticulosamente
escolhido para brincar com Seferic por muitas horas,
quando o encontrar.
— Eu tenho que ir agora — falo baixo, esticando meu
braço e pegando minha mochila, tendo seu perfume
embriagando nosso quarto. — Quando voltar tenho uma
surpresa para você.
A encaro parada, sem se mover um passo que seja,
ainda encolhida, me observando.
— O senhor Woden nos deu uma casa. — Me aproximo
de forma suave, fechando meus olhos, com meu peito se
estufando e inspirando seu perfume, me permitindo, por um
segundo, me perder nela quando abaixo meu rosto e
esfrego minha testa na sua. — Vamos ter um lugar apenas
para nós, uma casa minha e sua, bebê.
— Casa... — ela murmura, fechando seus olhos e
erguendo sua mão, a espalmando em meu peito ao inalar
mais rápido.
— Isso, uma casa. — Meu nariz se enterra em seus
cabelos e a farejo, ouvindo sua respiração e sentindo seus
dedos esmagarem meu colete. — Uma casa para nós dois, e
vou te levar lá assim que voltar.
Ela faz justamente a última coisa que preciso, porque
desarma meu controle de vez. De forma tímida, eleva sua
face e fica na ponta dos pés, alastrando a mão em meu
colete para meu pescoço, me chamando para perto dela,
com seus lábios raspando nos meus.
— Casa... — sussurra em um beijo doce, colando
ainda mais seu peito ao meu, com sua outra mão se
erguendo para meu ombro.
— Linda, eu tenho que ir. — Minha mão se esmaga
firme ao lado do seu corpo, com meus dedos rígidos
desejando a segurar, apertar sua cintura e a deixar ainda
mais colada a mim. — Vai ver a casa quando eu retornar...
— Fica com Linda... — Sua boca pequena é tão doce e
macia, como uma condenação, e ela a raspa na minha ao
sibilar entre o beijo. — Fica com Linda, mestre Jon.
Puxo o ar e solto a mochila, com meus braços
cedendo ao que desejo quando enlaço seu corpo e tiro seus
pés do chão. Meus olhos se abrem, a tendo a centímetros da
minha face, ao passo que me encara, tendo o medo ficando
expressivo em seus olhos violetas.
— Fica com Linda, mestre... — Ela toca meus lábios
com as pontas dos seus dedos, parando sua mão direita em
minha face e a acariciando. — Fica, não deixa Linda...
Preciso de um segundo para compreender suas
palavras entrecortadas, já que sua dicção fica atrapalhada
por causa do medo. Desde a noite que fui caçar Tuing não
fiquei longe dela. Por mais que fosse algumas horas, Linda
tinha se tornado, de alguma forma, uma parte minha, assim
como sou uma parte dela.
— Eu vou voltar — murmuro, observando o medo no
seu olhar. — Não vou te deixar, está ouvindo? Nunca, bebê.
Minha testa se cola à sua, pele a pele, enquanto seu
perfume é como uma droga. Minha droga única, na qual me
permito viciar, que me acalma com a mesma proporção que
me agita.
— Nunca! — Tomo seus lábios aos meus, a beijando e
me rendendo a essa fraqueza na qual Linda me condena,
sentindo seu sabor, o gosto da sua boca.
Os braços dela se movem e circulam meu pescoço, e
ela me beija com uma entrega que me desarma.
— Jon, só falta você! — A voz de Artur, vindo da porta
do quarto, me faz separar meus lábios dos seus.
Não sei se o odeio por ter nos interrompido ou se sou
grato, porque sei que não conseguiria tirar minhas mãos
dela.
— O Comandante mandou vir te buscar! — Não afasto
meu rosto de perto de Linda enquanto ele pigarreia.
— Eu tenho que ir agora — sibilo para ela, abaixando
seus pés até suas sapatilhas tocarem o chão. — Vamos pra
nova casa quando eu voltar, e, se tudo der certo, vou te
trazer um presente, bebê.
Suas mãos alisam meu ombro e ela move seus dedos,
os subindo e descendo, me deixando sentir seu toque
trêmulo, tendo os lábios sendo sugados, com ela os
mordiscando.
— Linda esperar mestre Jon. — Ela fecha seus olhos e
esfrega seu nariz em minha garganta. — Casa, casa de
Linda.
Sua mão para em meu peito e ela abre seus olhos, me
deixando ver o único ponto de paz, a única conexão real
demais perto de um ser humano que tenho, brilhando em
seu olhar.
— Mestre Jon, casa de Linda. — Demoro alguns
segundos para entender o que ela está me dizendo.
Meus olhos recaem para sua mão sobre meu peito,
com ela batendo seus dedos sobre o colete.
— Casa... — Um sussurro tímido sai da sua boca, e
levanto meu olhar para ela. — Casa de Linda.
Não é sobre a casa nova que ela está falando. A casa
que ela diz, sou eu.
— Linda...
— Jon, a gente realmente tem que ir — Artur
interrompe minhas palavras, me fazendo rosnar, desviando
meus olhos dela para ele.
O vejo pronto, movendo a cabeça para o corredor, o
que me leva a recordar da importância dessa caçada.
— Volte para o pronto-socorro — sussurro, voltando
meus olhos para ela e dando um passo lento para trás. —
Quando eu retornar, vamos terminar essa conversa, bebê.
Abaixo-me e pego a mochila, caminhando firme em
direção à porta e seguindo Artur. É uma sensação nova, tão
confusa quanto as outras, sair do alojamento e a deixar
para trás.
CAPÍTULO 37

A NINHADA
JON ROY

Giro a faca em minha mão, me sentindo inquieto,


tendo apenas o som da mata à nossa volta nos engolindo.
Killer, à minha esquerda, brinca com seu canivete, o abrindo
e o fechando, enquanto Artur se mantém em sentinela, na
mesma posição, com seu rifle em sua mão há mais de
quatro horas. Todos nós acatamos a ordem de Ryan, que
nos mandou esperar, ficando em posição de alerta, sem
fazer movimentos bruscos pelo perímetro. Usamos a mata
densa ao redor das árvores como esconderijo, para nos
mantermos camuflados.
— Por que não estamos caçando? — Killer fecha o
canivete, erguendo seus olhos para o céu. — Está
escurecendo... Se tinha alguma chance de conseguir
rastrear alguma pista ou pegada, já está indo embora junto
com a luz do dia.
— Ryan nos ordenou a esperar — falo firme, girando
meu rosto para a direita e vendo o Comandante de costas
para nós.
Está próximo a um penhasco, observando lá embaixo.
Concordo com Killer e tinha ficado irritado com a ordem de
Ryan em nos mandar ficar escondidos, mas ainda assim o
obedeci, mesmo não entendendo por que estamos
perdendo tempo, ao invés de estarmos caçando pela
porcaria de um bunker.
— Fique de guarda — digo baixo para Killer, me
levantando e indo em direção a Ryan.
Paro perto dele, deixando meu olhar ficar perdido na
clareira lá embaixo, perto do pé da montanha.
— Estamos perdendo tempo — falo a ele, guardando
minha faca no suporte do colete. — Deveríamos estar
caçando.
— Sabe por que os seres humanos sempre caçam
servos e não os ursos, garoto? — Ryan gira o rosto para
mim, me fitando.
— Por que são vulneráveis?
— Não! — Ele retorna o rosto para frente e observa a
clareira ao pé da montanha. — É porque quando se caça um
servo, ele foge, porque é da sua natureza ser fraco e fugir
dos seus caçadores. Agora, se você caça um urso, ele não
foge, pois é da natureza dele ser forte, e precisa ter em
mente que ele vai te caçar de volta.
Ele engancha seus dedos em seu colete, fechando
seus olhos e inalando fundo o ar, antes de o soltar vagaroso.
— Não se caça um predador à luz do dia, e sim à
noite. — Seus olhos se abrem e ele levanta a face para o
céu, tendo os últimos raios de sol indo embora, com a noite
tomando conta do céu sobre nossas cabeças. — É à noite
que um predador caça outro. Dei a ordem para aguardar, e
é o que vão fazer, esperar.
— Estamos esperando para caçar ou esperando os
caras que o senhor Woden mandou chamar chegarem? —
indago a ele, irritado, não gostando de ficar aqui, parado,
quando eu sei que devíamos estar caçando.
— Os dois — Ryan suspira, movendo o rosto para mim
e me fitando.
Ele gira e se afasta do penhasco, enquanto eu rosno
baixo, batendo meu coturno no chão.
— Isso vai ficar difícil se não conseguirmos ver pistas
e nem pegadas, Ryan — digo a ele, o vendo parar de andar,
girando o rosto para mim. — Estamos perdendo tempo.
— Ainda tem muito para aprender, garoto. — Ele nega
com a cabeça. — Homens no meio da natureza são tão
discretos quanto um elefante em uma loja de porcelana, e
sempre deixam marcas por onde passam.
Vou até ele, passando meus olhos pelo perímetro e
observando a escuridão engolir a mata.
— Quem são esses caras que estamos esperando? —
indago, com desconfiança, não gostando de saber que terá
outros envolvidos nessa caçada.
— Pessoas para quem você deve rezar para nunca
precisar dever favor algum. — Ryan enche o peito de ar,
negando com a cabeça.
— TIK... TIK!
O som de estalo de língua, seguido de um assobio, faz
tanto eu sacar meu revólver como Killer fazer o mesmo com
seu rifle, com ele se levantando e ficando em alerta.
— Abaixem as armas! — Ryan dá a ordem firme,
caminhando para perto das árvores, ao passo que cubro sua
retaguarda, com a arma empunhada e mirando em cada
sombra que se faz. — Mandei abaixar a porra da arma,
garoto!
Ranjo meus dentes, abaixando o revólver quando ele
me ordena, girando o rosto rapidamente para mim, antes de
voltar a olhar para as árvores.
— Wir konnten deine Jungen eine Meile entfernt laut
atmen hören, Vater Bär.[12] — O som grave de uma voz que
sai de forma ameaçadora, em outra língua, me faz girar o
rosto para nossa esquerda na mesma hora.
Encontro a sombra alta perto de uma árvore,
encostada no tronco, com os braços cruzados, nos
observando.
— Es ist ein alter, Bär, sogar sein Atem ist so laut wie
seine Jungen.[13]
Uma segunda voz, com o timbre ainda mais rouco e
potente que a primeira, surge, tendo um outro vulto
aparecendo do outro lado da árvore, o que faz Ryan rir e ir
até eles.
— Ihr verdammten Degenerierten, ich kann euch
immer noch eine Kugel ins Gesicht jagen.[14] — Abaixo minha
arma, com meu cérebro se atentando às palavras de Ryan,
tendo certeza agora que ele está falando em alemão. — Es
ist gut, wieder bei euch zu sein, Brutgenossen.[15]
Vejo os homens saírem das sombras e se
aproximarem de Ryan, onde a luz da lua, que está alta no
céu agora, ilumina suas faces. Eles abraçam Ryan com
intimidade, enquanto os avalio rapidamente, podendo supor
que os dois tenham em torno de 2,10 m de altura. O gigante
à esquerda de Ryan tem cabelos compridos pretos, que
estão soltos e passam dos seus ombros, com uma barba
negra na face, que é tão grossa quanto suas sobrancelhas.
O outro, à direita, é uma cópia fiel e idêntica do primeiro,
tendo como única diferença que seu cabelo está cortado em
um corte militar e suas roupas são estranhas, tendo peles
grossas e negras, com um couro desbotado em tom de pele,
como um colete, por cima da camisa escura. Percebo que
tem um facão preso à cintura do cabeludo, assim como uma
marreta grande na mão do outro.
— Esses homens saíram de qual época, do tempo da
caverna? — Artur fala baixo, parando perto de mim e os
fitando.
— São caçadores — respondo baixo, os estudando,
parando meu olhar no cabeludo, que gira o rosto para mim
e me encara sério.
Noto em sua cintura, preso na lateral do quadril, no
cós da calça, por um cordão de couro, o que parece ser um
pequeno pingente de uma cabeça encolhida, com a boca
costurada, assim como os olhos.
— Que língua é essa que eles estão falando com
Ryan...
— Alemão — murmuro para Artur, mantendo meus
olhos no grandão cabeludo, não os desviando. — Pelo que
entendi, são amigos ou irmãos, algo assim de Ryan. Se meu
alemão não estiver muito enferrujado, acho que Ryan os
chamou de irmãos caçulas de ninhada.
— Irmãos de ninhada? — Artur fica confuso,
abaixando o rifle. — Que porra é isso, e desde quando você
fala alemão?
Desde a minha infância, quando fui jogado em um
colégio interno na Alemanha, sendo criado por freiras e
padres desgraçados, que me obrigavam a conversar só em
alemão com eles. Eles abaixam o tom de voz, com o
grandão retornando seus olhos para Ryan e conversando
entre eles.
— Oh, porra, são os irmãos Grimm! — Killer, entre
mim e Artur, respira rápido. — Caralho, e eu achando que
era conversa de preso...
— Do que está falando? — Giro minha face para ele,
vendo seus olhos brilharem.
— Irmãos Grimm! — ele comenta, enérgico, em tom
baixo para mim. — Vai me dizer que nunca ouviu falar sobre
eles...
— Os únicos irmãos Grimm que já ouvi falar são os
escritores. — Retorno a olhar os caras, que se agacham, e
Ryan faz o mesmo, com eles conversando como se
estivessem em uma pequena reunião. — De onde saíram
esses idiotas?
— Idiotas! — Killer ri baixinho, negando com a cabeça,
não escondendo sua animação, como se estivesse diante de
duas estrelas do rock. — Cara, esses dois são uma lenda
nos presídios! Conheci presidiários que esfolariam a própria
mãe para poder ser aceito na facção dos Bravoros.
— Segura a animação, tiete, e resuma quem são os
neandertais — Artur fala rabugento, soltando uma bufada
de ar.
— Vocês dois são tão ridículos, por não terem ideia de
quem esses caras são! — Killer bufa, zangado.
— Bom, se você falasse, ao invés de ficar babando
neles, saberíamos — o respondo, não conseguindo ouvir
nada do que Ryan e eles estão conversando.
— É, Killer, abre logo o jogo. Depois do show, pode ir
atrás deles e oferecer um boquete. — Artur ri baixinho, mas
logo se cala, quando recebe um tapa na cabeça de Killer.
— Anda, fala logo, Killer! — rosno, os fazendo parar de
brigarem.
— Os Grimm são, literalmente, a cabeça de todas as
facções presidiárias da América do Norte. Os irmãos reinam
no esgoto do submundo do crime, tráfico humano,
mercenários, drogas e roubo, com tudo passando por eles —
murmura, nos dando os detalhes, finalmente. — Ganharam
esse apelido não porque são alemães, e sim por causa das
histórias macabras deles. Aquele ali, com cabelo comprido,
se não me engano, é Dragomir Bravoros, e o outro é seu
irmão gêmeo, Bratos.
— Os dois são iguais, não dá pra ter certeza dos
nomes só por causa do corte de cabelo — Artur diz sério, os
estudando.
— Mas não estou falando por causa do corte de
cabelo. — Killer abaixa o tom de voz. — Está vendo a
cabeça encolhida e pendurada na cintura dele?
Ele faz um gesto discreto com a cabeça para lá, e
Artur e eu movemos nossos rostos em positivo, enquanto eu
estudo aquela coisa, que tem a pele escura e feia distorcida,
como uma cabeça humana, além da costura com linha
grossa na boca, assim como nos olhos.
— Aquela cabeça é de Edo Bravoros, o pai deles —
Killer nos conta. — Dragomir o matou, e carrega com ele,
pra onde vai, a cabeça encolhida do pai.
Um sorriso se esboça em meu rosto ao observar
aquilo, e sinto uma certa afeição pelo estranho cabeludo.
— E se olhar no pescoço de Bratos, o de cabelo curto,
vai encontrar um colar de orelhas, as quais pertencem aos
seguidores leais do pai deles — Killer cochicha. — Bratos
matou todos na mesma noite que Dragomir assassinou o
pai, com os dois se tornando os novos líderes dos Bravoros.
— Isso que é família! — Artur murmura, repuxando
seu nariz. — E eu achando que já tinha visto de tudo.
— Eles não parecem alemães para mim. — Olho os
dois, sabendo que eles não têm sotaque e que suas feições
não parecem germânicas.
— Deve ser por causa da mãe deles, que dizem que
era peruana — Killer fala baixo. — Por isso, a Shua
pendurada na cintura de Dragomir. Pelo que ouvi, a mãe
deles era descendente de uma tribo no Peru, e eles
encolhiam as cabeças dos seus inimigos depois que os
matavam, para deixar a alma presa para sempre. Mas tudo
na boca de presidiário aumenta, e a verdade é que ninguém
realmente sabe muito deles, a não ser que Edo saiu da
Alemanha e veio para cá, se tornando um líder dos
assassinos de aluguéis, que agora respondem aos irmãos
Grimm. Tem boatos de que eles e sua facção vivem isolados
em uma montanha ao norte do Canadá, e dizem que a
montanha é uma sepultura imensa, que nem a polícia se
arrisca a ir lá para os prender, pois os caras são macabros.
— Como o chefe chegou até essas figuras? — Artur
indaga, confuso, ao ouvir tudo, assim como eu.
— Não foi o senhor Woden — o respondo, tendo meus
olhos fixos em Ryan, sabendo a resposta.
Estudei a forma como ele cumprimentou esses caras,
além do jeito deles agora, agachados, conversando.
Também tem o que Killer acabou de contar, e o que Ryan
me disse naquela noite na frente do hangar, enquanto
esperava Linda. Ryan era um matador de aluguel, e foi
assim que o caminho dele se cruzou com o senhor Woden.
E, pelo visto, se eu estiver certo, o caminho de Ryan já
estava cruzado com os Bravoros antes.
— Bom, escoteiros mirins. — Ryan se levanta e gira
para nós. — Está na hora de caçar.
Ele endireita sua postura, tendo os dois irmãos
fazendo o mesmo, com o olhar deles ficando presos em nós,
enquanto caminham e passam à nossa frente.
— Artur cobre minha retaguarda. — Ele estala o dedo,
apontando para Artur. — Killer o franco esquerdo e Jon
caminha atrás de Artur.
Fico furioso por ele me deixar no final, porque sei que
ele ainda está bravo comigo.
— Não! — digo firme, rosnando.
Artur não se mexe, e nem Killer, ficando os dois
estáticos, enquanto eu e Ryan nos encaramos. Olho os dois
irmãos parando de andar, permanecendo em silêncio perto
das árvores.
— O que disse, garoto? — Ryan estreita seu olhar e
arqueia sua sobrancelha.
— Ouviu muito bem o que eu disse, Comandante. —
Dou um passo para perto dele e esmago meus dedos ao
lado do corpo. — Não vou ficar na porra da posição traseira,
e Artur não vai cobrir sua retaguarda, porque esse é o meu
trabalho. Está bravo comigo, e nós dois sabemos disso, mas
eu lhe disse o motivo de não ter lhe contado a verdade.
Ryan rosna e dá um passo em minha direção, se
aproximando e encurtando a distância entre nós dois, com
sua face ficando zangada.
— Eu lhe dei a merda de uma ordem, Jon! — Ele me
fuzila com seu olhar.
— E eu não vou obedecer — rebato rápido, querendo
acabar logo com isso. — Agora, dê a porra do soco na minha
cara e se sinta melhor, ou me deixe fazer meu trabalho, o
qual você me ensinou a executar.
— Merdinha miserável! — Ele ri com raiva, levando
suas mãos à cintura e negando com a cabeça.
— Dê a porra do soco, Ryan, e acabe com isso! — falo
mais firme, deixando claro que não vou sair daqui sem estar
na minha posição.
Ele fica com seu corpo ereto e retira suas mãos da
cintura, com seus olhos presos aos meus, enquanto seu
peito sobe forte para cima e para baixo.
— Anda, velho, pegue seu presente de Natal
adiantado, porque sabe que não vou te dar uma chance
como essa novamente...
Minhas palavras se calam ao sentir o punho fechado
me acertar forte, em um único golpe, o que me faz cair de
bunda no chão. Esfrego meu maxilar e levanto meu rosto, o
olhando parado diante de mim.
— Está se sentindo melhor? — Cuspo no chão quando
giro meu rosto, antes de voltar a lhe olhar.
— Sabe, eu estava errado, garoto — ele rosna e
balança a cabeça. — Você não é como Owen, é uma
merdinha arrogante muito pior.
Ele pisca para mim, abrindo um sorriso, com seu
braço se esticando e agarrando meu colete, me levantando.
— E, sim, eu me senti muito melhor socando essa sua
boca aristocrata! — Sua mão bate em meu ombro, com ele
suspirando. — Não minta de novo para mim, ou, na
próxima, vou bater muito mais forte, até arrancar seus
dentes.
— Vai precisar treinar mais — falo baixo, rindo. —
Linda tem um gancho de esquerda mais forte que o seu.
— Seu bostinha! — Ele ri, me fitando.
— Eu confio em você, é a única pessoa em quem eu
realmente confiei desde quando saí daquele hospício, velho.
— Meu sorriso se desfaz ao falar sério para ele.
Ele bate sua mão em meu ombro e move devagar sua
cabeça para frente e para trás.
— Artur, no final da fila, o Jon vai cobrir minha
retaguarda. — Ele se vira e me dá as costas, tendo os
gêmeos me encarando.
— Ryan liebt immer den lästigsten Welpen im Wurf[16]
— Dragomir, o cabeludo, fala, antes de se virar com seu
irmão e se infiltrar entre as árvores.
— Das erklärt, warum ich euch nie eine Kugel ins
Gesicht gejagt habe, Brüder[17] — Ryan os responde em
alemão, os seguindo. — Andem, escoteiras, não estou
ouvindo seus sapatinhos de cristais marchando!
Ele rosna para mim, Killer e Artur, sem se virar para
nós, e faço um gesto de cabeça para os dois, os fazendo
tomar posição, ao passo que ando atrás de Ryan.
CAPÍTULO 38

O BUNKER
JON ROY

O braço esquerdo de Ryan se erguendo me faz parar,


e Killer e Artur param de marchar junto comigo. Observo os
gêmeos alguns metros à frente, agachados, debruçando
seus corpos no chão, literalmente, enquanto se movem
pelos cotovelos entre o mato, feito cobras.
— O que eles estão fazendo? — indago sério, me
aproximando de Ryan e ficando ao seu lado.
— Rastrearam algo — ele me responde, esticando sua
mão em meu ombro e me fazendo agachar junto com ele. —
Dragomir e Bratos são traficantes de escravos, eles podem
rastrear qualquer um em todos os tipos de ambiente. E,
como eu lhe disse, homens na natureza são tão
imperceptíveis quanto um elefante em uma loja de
porcelana.
— Você fazia isso? — pergunto a ele, o fitando. —
Traficava pessoas? É de onde os conhece?
A mão dele solta meu ombro e se estica para a terra,
pegando folhas secas e as levando para perto do nariz, as
farejando.
— Todos temos um passado do qual não nos
orgulhamos, Jon — responde, jogando as folhas longe. — Eu
tinha quinze anos quando comecei a trabalhar com Edo, o
pai deles. Meu pai era um dos matadores de aluguéis dele,
e depois que ele morreu, eles foram a única família que tive.
Os gêmeos ainda eram bebês, não deviam ter nem dois ou
três anos. Na época, cresci ao lado deles, e os tinha como
meus irmãos.
Ryan fecha seus olhos e balança sua cabeça para a
esquerda, ao passo que levanta seu dedo indicador, me
pedindo silêncio.
— Está ouvindo? — murmura, abrindo os olhos e me
encarando.
Fico confuso e tento prestar atenção, mas não escuto
nada, a não ser um silêncio esmagador no meio da mata.
— Não, não estou ouvindo barulho de nada...
— Exatamente. — Ele se endireita e se levanta, e faço
o mesmo, esmagando o revólver em minha mão. — Já viu
alguma mata silenciosa, sem o som de um grilo ou vento
que seja?!
— Hier starben Menschen.[18] — O gêmeo de cabelo
curto, o qual Killer disse que se chama Bratos, faz sua voz
ser ouvida enquanto caminha e gira a marreta em suas
mãos.
— Die Erde dieses Ortes stinkt nach einer Leiche.[19] —
Seu outro irmão, o cabeludo da cabeça pendurada na
cintura, para o lado dele, tendo folhas esmagadas em seus
dedos, e as leva para perto do rosto, as cheirando, igual
Ryan fez agora há pouco. — Das Versteck sollte in der Nähe
sein.[20]
Ryan consente com a cabeça e vejo Dragomir jogar as
folhas no chão e me observar.
— Befehlen Sie Ihrem Wurf, 50 Schritte entfernt zu
sein, Papa Bär[21] — Dragomir rosna baixo, estreitando seu
olhar, e seu irmão se agacha mais uma vez, passando sua
mão pelo chão.
— Garoto...
— Es kommt für mich nicht in Frage, von dir
wegzugehen, Bärenpapa[22] — falo firme, em tom baixo, mas
claro o suficiente para que Ryan e os gêmeos escutem a
minha resposta na língua deles.
— Seu merdinha! — Ryan ri, me encarando, enquanto
vejo Dragomir com seus olhos presos nos meus e seu irmão
se levantando e fazendo o mesmo, parando os olhos em
mim.
— Siehst du, sagte ich, dass Ryans lästiger Welpe
unsere Sprache verstehen konnte.[23] — Dragomir ri para
mim e levanta seu facão, o posicionando perto do seu
ombro. — Warum lässt du ihn nicht Ryan bleiben? Raubtier-
Aussehen, das Ihr Welpe bereits hat.[24]
— Cinquenta passos atrás do meu rabo, agora, garoto.
— Ryan bate em meu ombro, e o olho, vendo-o sério. —
Agora, Jon! Lhe dei a porra de uma ordem.
Ranjo meus dentes e dou um passo para trás antes de
me afastar de Ryan, acatando sua ordem. Passo meus olhos
pelo perímetro, observando tudo.
— Por que paramos? — Artur vem para perto de mim
e fica ao meu lado, e me viro, deixando meus olhos presos
em Ryan e me afastando apenas um metro deles.
— Eles acham que estamos perto — digo firme, vendo
Ryan se esticar no chão, como os gêmeos, passando suas
mãos na terra e se movendo como uma serpente.
— Por que diabos eles estão fazendo isso? — Artur fica
tão intrigado quanto eu ao fitá-los.
— É uma técnica de rastreamento, onde você usa seu
tato como base de audição, não confia apenas na visão. —
Killer parece a porra de uma colegial ao sussurrar perto de
nós. — Cara, eu nem acredito que estou vendo isso!
Algumas tribos antigas da Nova Zelândia caçavam assim...
— Cara, você está me assustando — Artur exclama,
zangado. — Mais um pouco e vai ter a merda de uma
ereção, de tão excitado que tá com esses malucos!
— Silêncio os dois — falo em comando, girando meu
rosto para a esquerda e ouvindo um estalo entre as galhas.
Mantenho meus olhos lá, ficando sério e encarando a
moita baixa, ouvindo um estalo de novo.
— Artur, cobre Ryan, e não tira a porra dos olhos dele
— digo baixo, me virando e empunhando o revólver.
Levanto o braço e dou um passo para perto da moita.
Embrenho-me na moita, andando devagar, afastando
o mato com meu pé e vendo um galho quebrado. Levanto,
avançando entre as galhas e as empurrando. O rosnado
baixo à minha esquerda me faz girar o rosto para lá, e
encontro as presas de fora do cão prateado a alguns metros
de mim. Poderia dizer que é um lobo, ou um cão selvagem
da montanha, se não fosse a coleira em sua garganta.
— Não estou querendo brigar, garoto. — Abaixo o
revólver sem fazer movimentos bruscos, permanecendo
agachado na altura dele. — Não tenho problema algum com
você.
Ele rosna mais feroz, dando um passo à frente, se
jogando direto para mim. Esquivo-me rápido para a
esquerda, dando um soco em sua cabeça e o deixando
atordoado, o fazendo cambalear para trás com o segundo
golpe que acerto em sua cabeça. Ele cai, e pego meu
revólver, o levando ao coldre.
Levanto e vou até ele, me agachando novamente e
passando minha mão por seu pelo, sentindo sua barriga,
que sobe e desce, o que me deixa saber que desmaiou.
— Jamais usaria a arma em você, garoto — murmuro,
atento ao cão desmaiado, o avaliando de perto.
É um cão malamute, uma raça resistente e preparada
para baixas temperaturas. São os mais parecidos com
lobos, não só por conta da pelagem, mas também por causa
do instinto agressivo deles, e esse era bem feroz.
— O que quero mesmo é conhecer seu dono, rapaz. —
Minha mão se alastra por seu pelo, parando na coleira em
seu pescoço, que é grosso e peludo. — Porque o hálito que
saiu da sua boca é de sangue, e acho que sei de que tipo...
Levanto e miro o local que ele estava, vendo que ele
cavava um buraco. Aproximo-me e paro diante da terra
mexida, retirando uma das minhas facas de caça que
estava presa na calça, ao passo que flexiono meus joelhos.
Reviro a terra ainda mais, a cutucando. Paro no segundo
que a ponta da faca bate em algo sólido, e o puxo com
minha mão. Fico sério ao encarar o osso sujo de terra, que
tem as marcas das presas do cão.
É um úmero, um osso humano que se estende do
ombro ao cotovelo, onde se liga aos ossos do antebraço.
Tenho certeza disso porque já tinha matado e desmembrado
corpos suficientes para reconhecer ossos da anatomia
humana. E a menos que seja de um homem pequeno, posso
garantir que, pelo tamanho, apenas de olhar esse úmero,
isso é de uma ossada de mulher.
— Ele está por aqui! — rosno, me erguendo e
encarando o animal.
— Franco à esquerda! — O grito alto de Killer, seguido
de tiros, me faz sacar a arma e correr rapidamente na
direção deles.
Minha respiração se acelera, assim como minhas
pernas correm mais velozes. O vulto se movendo em minha
direção apenas não tem uma bala sendo disparada em seu
peito, porque reconheço o brilho do relógio digital no pulso
de Artur.
— Sou eu, porra! — rosno para ele, o deixando saber
que não é para atirar. — Onde Ryan está? — pergunto a ele,
que respira depressa e abaixa seu rifle, se escorando em
uma árvore.
— Ele saiu correndo quando o tiroteio começou — ele
balbucia, enquanto seu peito está ainda mais disparado.
— ARTUR! — o chamo mais alto, o agarrando pelo
colete. — ONDE ESTÁ O RYAN?
— Jon! — O chamado alto de Killer me faz soltar Artur
na mesma hora e seguir a voz dele, que corre para o meio
da mata, onde os gêmeos e Ryan estavam fazendo o
rastreio. — JONNNN! — Me embrenho entre a mata, indo até
Killer, mas paro no segundo que vejo uma pedra falsa
tombada para trás, tendo uma entrada no chão.
Killer está de pé, com seu rifle apontado para um filho
da puta no chão, que tem o rosto coberto de sangue. Artur
vem até mim, olhando do cara para a entrada.
— Acho que é nosso cara. Peguei ele tentando fugir
por essa saída — Killer fala rápido.
Agacho-me depressa, puxando o filho da puta pela
jaqueta. Percebo seus olhos presos aos meus, enquanto o
peito dele sobe e desce depressa, além do sangue que jorra
por sua boca.
— Atirou nele, porra? — pergunto a Killer.
— Não, ele já estava sangrando. Ryan e os irmãos
Grimm entraram lá dentro. Tem outro cara, e Ryan foi atrás
dele...
— Traz esse filho da puta! — esbravejo com ira, já
indo para o buraco. — Artur, vem...
Há uma luz fraca vindo do interior, mas forte o
suficiente para me deixar enxergar uma escada de madeira.
A desço com o revólver firme em minha mão. Não olho para
trás, para ver se Killer obedeceu à minha ordem, apenas me
movo, enquanto o cheiro de sangue entra em minhas
narinas. O odor dentro do lugar é ainda mais forte, e assim
que desço o último degrau, sendo seguido por Artur, noto
que as paredes são de concreto nu e que tem vários
instrumentos cirúrgicos meticulosamente organizados sobre
inúmeras bancadas.
A iluminação vai ficando mais intensa conforme vou
andando, tendo luminárias cirúrgicas suspensas no teto,
que não deixam sombra alguma se esconder pelo grande
corredor. Posso sentir o ar gélido aqui dentro, e o ar carrega
um leve aroma antisséptico, que mistura-se ao de sangue.
As gotas de sangue no chão são como uma trilha, e assim
que paro perto de uma porta, a empurro com meu pé,
observando a sala. Ao centro dela tem uma mesa de
operação, que está cercada por monitores. Dragomir está
parado perto da maca, junto com seu irmão, com os dois de
costas para mim.
— RYAN... — chamo por ele, olhando em volta.
Bratos gira o pescoço e me fita, erguendo seu braço e
apontando para uma porta à esquerda.
— Vai, encontra o Comandante! — Dou o comando
para Artur, que já está seguindo para a porta e indo atrás de
Ryan.
Olho para a parede à direita e vejo monitores nela,
com câmeras mostrando o lado de fora da entrada por onde
acabamos de passar. Há sangue no painel. Meu olhar se
abaixa e vejo um bisturi coberto de sangue no chão, tendo
ao lado dele uma língua.
— Que porra é isso... — Giro e encontro Killer a alguns
passos da maca, segurando seu rifle e o deixando apontado
para a cabeça do miserável que sangra como um porco e
está caído ao chão.
Percebo que ele é um homem de estatura mediana,
tendo os cabelos negros bagunçados, por conta da luz da
sala. Ele está caído, com sua cabeça encostada na parede,
e seus dedos estão trêmulos, ao passo que toca sua boca.
Ando devagar para perto da maca, me aproximando de
Dragomir e Bratos, que permanecem imóveis. Mas não é
neles que meus olhos se fixam, e sim na mulher mutilada,
que tem seus olhos abertos focados em mim, com um
afastador de boca preso em seus lábios, não tendo mais
nenhum dente em sua boca, assim como não possui nem
braços ou pernas.
Seus braços tinham sido removidos por inteiro, assim
como as pernas, até a altura superior da coxa, e ela tem
apenas pequenos cotocos cicatrizados, o que me deixa
saber que não tinha sido mutilada aqui. Seus membros
foram decepados há algum tempo. Ela é, literalmente,
apenas um tronco humano. O sangue escorre entre suas
pernas, e a olho, sendo impossível não ver a mutilação que
fizeram em seu órgão genital. Os lábios vaginais, assim
como seu clitóris, haviam sido removidos, e ainda foram
despedaçados. Tem um corte de carne caído no chão, junto
do que parece um pedaço de ovário.
— Ele cortou nosso corpo como se fosse um nada,
tirando nosso bebê da gente. Havia dor, tanta dor, e Violet
acordou Linda com desespero. Ele encarou Linda, encarou
com os olhos vidrados e as mãos sujas de sangue, nosso
sangue.
A voz de choro de Linda se faz em minha mente, e
lembro de sua face, do choro dela de dor ao murmurar
essas palavras para mim. Levanto o rosto para a garota e
vejo sua face lavada com as lágrimas que escorrem por
suas bochechas, ao passo que me observa. Tem apenas
desespero em seu olhar verde, com os cabelos ondulados
em um ruivo vivo, que estão colados à face pelo suor.
— Jon, temos que ligar para a equipe de resgate. —
Killer inala fundo, respirando rápido. — Temos que pedir
ajuda para ela...
Os rostos dos gêmeos se viram para mim, com eles
me encarando em silêncio, e compreendo o olhar deles
tanto quanto eu compreendi o dela. Eles se movem, se
afastando da maca e indo em direção à porta pela qual
Artur saiu para ir atrás de Ryan.
— Jon, avisa à equipe de resgate — Killer diz, nervoso.
— Ela precisa de ajuda...
A olho ali, deitada na maca, com as lágrimas rolando
por suas bochechas, me fitando com uma súplica muda, a
qual reflete em seu olhar.
— Jon, ela precisa... — As palavras de Killer se calam
quando meu braço se move e aperto o gatilho.
Olho o sangue descendo pela testa dela, do buraco da
bala que disparei nela, e percebo que seu peito fica estático
como seu olhar, sem vida.
— Oh, porra, o que fez?! — Killer murmura e puxa o
ar, olhando o cadáver da jovem mutilada.
— Eu dei a única ajuda que ela queria — digo sério
para Killer, sem o olhar.
Me mantenho sério, fitando a garota morta. Meter
uma bala em sua cabeça era a única ajuda que ela
precisava, pois não havia mais vida para ela, e ela sabia
disso.
Retorno a atenção para o verme no chão, que tem
seus olhos arregalados e presos em mim, com sua boca
sangrando e seu peito subindo e descendo depressa.
Guardo minha arma e vou até ele, ficando a poucos passos
dele quando me agacho e o encaro. Meus olhos passam por
ele e vejo as luvas cirúrgicas em suas mãos, assim como o
avental de açougue em seu corpo. Estico meu braço e
agarro seu queixo, o fazendo se retorcer de dor quando
esmago sua boca e o forço a abri-la. Sei que o pedaço de
língua caído no chão pertence a ele.
— Seferic Pel — sussurro, rosnando com ódio, vendo
em seu olhar que é o maldito que eu estava procurando,
pois no segundo que falo o nome, suas íris se arregalam de
medo.
O som de tiros repercute, e levanto ligeiro, olhando
para a porta que os gêmeos deixaram aberta.
— Não tira os olhos desse filho da puta! — rosno para
Killer, correndo na direção que eles foram.
E assim que passo pela porta, vejo várias próteses de
pernas e braços penduradas por ganchos no teto. Corro
ainda mais rápido pelo corredor, que tem uma luz mais
baixa, vendo alguns metros à frente uma escada de metal
acoplada à parede. Paro perto dela e guardo minha arma,
subindo o mais rápido que posso na sequência, com meu
rosto se erguendo e enxergando um túnel pequeno, pelo
qual eu passo.
No final tem uma saída. O vento me acerta assim que
faço o caminho, e vejo apenas matos e folhas entre a
escuridão, com a baixa luz do céu estrelado iluminando o
local. Retiro minha lanterna da perna e a deixo presa na
arma enquanto a ergo. Abaixo-as, iluminando o chão, e sigo
os rastros das pegadas.
— PORRA, PORRA! — O som alto da voz de Artur se
faz, o que me ajuda a localizá-lo, e corro, seguindo para a
direção que sua voz veio.
E a cada passo que me aproximo em meio à minha
corrida, ouço o que parece ser um barulho de motor se
distanciando. Mas assim que empurro as galhas, paro,
ficando com meus olhos presos nos gêmeos, agachados no
chão, com Artur perto deles.
— Precisamos agora, porra! — A voz de Artur é alta ao
gritar, nervoso.
Já estou correndo para perto deles, vendo a alguns
metros a margem de um rio, onde a água ainda está
trêmula.
— Cadê o Ryan, porra?! — berro para Artur, mas não
preciso que ele me responda.
Não quando já estou perto o suficiente para
reconhecer o corpo dele caído no chão. Artur tem sua mão
agarrada ao pescoço de Ryan, enquanto Dragomir está
arrancando o colete do corpo dele.
— Velho! — A palavra é pesada ao sair da minha boca,
e meus joelhos se flexionam, comigo caindo do outro lado
de Ryan. — Não... Não...
— O helicóptero com a equipe de resgate está vindo...
— Artur diz, nervoso. — Quando eu finalmente consegui
achá-lo, ele já estava no chão. Tinha um desgraçado em
cima dele, e eu atirei no braço dele antes dele acertar uma
bala na cabeça de Ryan, mas acabou que acertou o pescoço
dele.
— Não, não... — Minhas mãos soltam a arma com a
lanterna, tomando o lugar da mão de Artur e cobrindo seu
ferimento. — Não faz isso comigo, porra... Fica comigo,
velho desgraçado!
Seus olhos estão abertos e seu peito sobe e desce
depressa, com sua mão se erguendo e se fechando em meu
pulso.
— Por que me mandou ficar afastado de você, seu
filho da puta?! — rosno com ódio, sentindo meu peito
acelerar ao passo que o vejo inalar mais fundo.
— Garo... to... — ele tenta falar, mas suas palavras se
entrecortam.
— CADÊ A PORRA DO HELICÓPTERO, ARTUR...
— Eles estão a caminho. O chefe estava na sala de
controle, e tá mandando o helicóptero dele pra cá... — Artur
balbucia, com suas mãos sujas de sangue. — Porra, porra,
eu atirei para tirar o desgraçado de cima dele, não pro filho
da puta atirar no pescoço...
— Não faz isso comigo, velho! Não se atreva a fazer
isso comigo... — rujo com ódio, segurando forte sua
garganta, tentando estancar a porra do sangue.
Eu não menti quando disse que Ryan é o único em
que eu realmente tinha confiado completamente desde que
saí do hospício. Ele é uma figura estranha, mas que, de
alguma forma, faz eu me sentir menos monstruoso quando
me olha de igual para igual.
— Segura a porra da garganta! — falo com ódio para
Artur. — Não solta a porra dessa garganta ou vai ser a sua
que vai sangrar!
Trocamos de mão rapidamente, tendo a de Artur
cobrindo a garganta de Ryan, enquanto meus dedos se
fecham sobre seu peito e faço uma massagem cardíaca.
— Não ouse morrer aqui, seu velho cretino!
CAPÍTULO 39

A PROTETOR
JON ROY

— É aqui. — Meu corpo para diante da porta do


alojamento aberta e vejo o estranho homem sério, com os
braços cruzados, me encarando. — Esse é seu quarto.
Venho te buscar amanhã cedo, para começarmos a treinar...
— Treinar? — O avalio sem entender. — Treinar para
quê?
— Para ser um merdinha muito pior do que lhe
julgaram ser. — Ele leva a mão à cintura e retira uma
pistola, a jogando em minha direção, a qual pego no ar. —
Essa será sua, cuide bem dela.
Fico em silêncio, tentando compreender quem seria
tão idiota de dar uma arma para mim.
— Por que estão fazendo isso? — questiono, erguendo
meu rosto para ele. — Me tiraram daquele lugar, agora me
dão um quarto e uma arma... Por quê?
— Preferia estar enjaulado? — Ele arqueia a
sobrancelha, me fitando.
— Sou considerado um maníaco psicopata, não um
burro. — Destravo a arma, retirando o pente dela e a vendo
carregada. — Por que escolheram a mim?
— Por que não escolher você? — Ele tomba o rosto
para o lado, me avaliando. — Olhe pra trás, garoto, não tem
ninguém atrás de você. Se olhar com mais atenção agora,
para frente, vai ver que tudo o que tem está aqui. E pode
partir se quiser, nenhuma pessoa vai atrás de você; ou pode
ficar e descobrir que nessa vida nos tornamos quem
decidimos ser, e não a porra do que somos rotulados. É um
doente de merda, que seja, então. Porém, seja o doente de
merda mais fodido que já existiu, e não porque é isso que
eles lhe consideram, mas porque é o que sua natureza é,
garoto.
— Jon, acabou, cara... — A voz de Artur fica baixa,
mas não o olho.
Muito menos paro de comprimir meus dedos sobre o
peito de Ryan. Mal sinto meus braços subindo e descendo,
apenas continuo, me negando a parar a massagem
cardíaca.
— Jon... Ryan está morrendo...
— CALA A PORRA DA BOCA E COMPRIME OS DEDOS
NA GARGANTA DELE, CARALHOOO! — rujo com fúria,
sentindo minha própria saliva escorrer por minha boca, me
concentrando em meus dedos sobre o peito de Ryan.
Não paro, é como se meus braços se negassem a
parar, assim como minha mente. O vento forte batendo
sobre nós se faz, com o som alto das hélices me deixando
saber que a equipe de resgate chegou. Mas, ainda assim,
não desvio meu foco, não olho para mais nada que não
sejam meus dedos sobre o peito de Ryan.
— Você vai ficar bem, vai sair da porra desse lugar
vivo, e quando estiver melhor, vou meter uma bala no seu
rabo, velho maldito! — digo, rindo entre a insanidade que
vai me pegando, movendo meu rosto para ele. — Não se
atreva a morrer aqui, está me ouvindo, Ryan?!
— ONDE ELE ESTÁ? — O som alto da voz gritando me
faz ficar confuso assim que a reconheço.
Giro o rosto por cima do meu ombro e percebo o
helicóptero pousado, tendo um dos bastardos carregando às
pressas uma tábua de transporte. Porém, é na mulher que
fico focado. A doutora Elsa está correndo com uma bolsa
presa em seu ombro, e tem os olhos marejados, que se
cruzam com os meus. Ela vem em minha direção com sua
face vermelha de choro.
— Sua garota está aqui, Ryan! — murmuro,
retornando meu rosto para frente. — Está me ouvindo, seu
filho da puta?! Elsa saiu de Babilônia por você. Por você, seu
miserável, e não faça isso ter sido em vão!
Os olhos marejados de Ryan estão se fechando aos
poucos, enquanto esmago mais forte seu peito,
comprimindo meus dedos.
— Oh, meu Deus! — Elsa cai ao meu lado, soltando
sua bolsa. — Me deixa seguir daqui, Jon...
Afasto-me, deixando-a tomar meu lugar, ao passo que
o outro cara para do outro lado e joga a tábua amarela
perto de Ryan.
— Preciso estancar o ferimento, daí vamos colocá-lo
na maca — ela fala baixo, com seus dedos trêmulos sendo
os mais ágeis que conseguem ao abrir desesperada sua
bolsa. — Eu disse para se cuidar, seu teimoso...
Olho as lágrimas caindo do rosto dela sobre o peito de
Ryan, e ela retira um balão portátil de oxigênio, colocando-o
em seu rosto.
— Precisa bombardear, Artur. Não para! — ela ordena,
com seus olhos parando no pescoço ensanguentado. — Oh,
merda, temos que tirá-lo daqui agora...
Levanto-me, cambaleando e me afastando, sabendo
que não posso fazer mais nada por ele. Ryan está nas mãos
de Elsa agora. Viro e olho para o chão, vendo a pistola de
Ryan caída a alguns passos do corpo dele.
— Por que não atirou? — murmuro, esticando meu
braço, com meu tronco se inclinando para frente e a
pegando.
Olho de onde estou para Ryan, e as palavras de Artur
entram em minha mente agora. Para o atirador ter o
derrubado no chão, ele tinha que estar frente a frente com
Ryan, e conheço o Comandante o suficiente para saber que
ele nunca erraria um tiro, e muito menos seria pego de
surpresa ou desarmado. Por que não atirou? Ele estava na
sua mira...
Passo os olhos pelo chão, já que as luzes do
helicóptero iluminam bem o local. Pegadas misturadas com
sangue levam direto para o lago. Artur o atingiu no braço,
por isso o tiro que o filho da puta mirou na cabeça de Ryan
acabou mudando a mira e acertando a lateral da sua
garganta.
Sigo as pegadas e paro perto do lago. Ouvi um motor
distante enquanto corria para cá, quando escutei a voz de
Artur, e era um barco. O atirador de Ryan fugiu pela água.
Dou mais um passo à frente e me aproximo da borda. Meu
coturno afunda na lama, rente à grama e ao rio. Olho para
baixo assim que sinto que pisei em algo, e afasto meu pé, o
levantando e observando abaixo da minha pegada.
Vejo pequenos dedos de plástico erguidos, e me
abaixo, pegando o objeto e fixando meus olhos na pequena
boneca suja de lama, toda molhada. Porém, eu sei que já a
vi. Já tinha visto essa mesma boneca velha e surrada, mas
que agora tem um vestido branco com sapatos rosas.
Entretanto, os olhos violetas ainda são os mesmos.
— Suse... — rosno, reconhecendo a boneca da
fotografia do dossiê de Violet, a mesma boneca que estava
na cena do crime do trailer.
Giro meu rosto para Ryan, que está sendo colocado na
tábua, com a doutora Elsa junto dele. Volto a encarar a
boneca. Ela não estava enterrada, ela caiu quando o filho da
puta que atirou em Ryan fugiu.
— Ele estava aqui! — Esmago a boneca em minha
mão, tendo compreensão de que o antigo mestre de Linda
estava aqui. Essa constatação cai feito uma bomba em meu
colo. — O filho da puta estava aqui...
Viro-me rápido, e tudo que vi dentro do bunker passa
em minha cabeça: a garota mutilada na maca, as próteses
presas no teto... O cretino estava criando uma boneca
humana novamente para ele, já que perdeu a Linda.
Caminho com ira, encarando a boneca suja. Ele não a
esqueceu, por isso estava aqui, por isso veio construir outra.
Lembro das câmeras e dos monitores na parede.
— Ele nos viu! — Me agacho, pegando minha arma e
olhando em direção ao helicóptero, para onde Ryan está
sendo levado por Artur e o homem que veio com Elsa, tendo
a médica junto deles. — Você o reconheceu, não foi, velho?!
Reconheceu ele, e por isso abaixou a guarda.
Ryan jamais abaixaria a guarda se não fosse alguém
em quem ele confia.
— Jon! — Ergo meu rosto para Artur, que vem
agachado, correndo em minha direção. — A equipe de apoio
está chegando para nos buscar. Temos que trazer o merda
que Killer pegou para cá... Que porra é essa na sua mão,
cara?
Ergo meu rosto para ele, enquanto rosno, vendo a
aeronave decolando com Ryan.
— Linda... — respondo com fúria, esmagando mais
forte a boneca em meus dedos. — Ele estava aqui, a porra
do antigo mestre dela estava aqui, e foi ele quem atirou em
Ryan. Ryan o conhece, conhece o suficiente para abaixar a
guarda!
— Oh, merda! — Ele respira fundo, com os olhos
ficando presos na boneca. — Vou repassar agora para a sala
de comando, e eles vão alertar o chefe. Eu atirei no filho da
puta, porém não consegui ver o rosto dele. Mas se ele
tentar entrar em contato com algum médico que faça
trabalho ilegal, o senhor Woden vai o encontrar.
— Faça isso! — Viro, caminhando, sentindo o ar entrar
em meus pulmões como gasolina.
— Jon, espera para onde está indo...
— Fique aqui. — Não olho para trás nem paro de
andar enquanto marcho para a porra do bunker novamente.
Não desço as escadas quando me aproximo do
buraco, apenas colo meus braços ao lado das minhas
pernas, me jogando de pé dentro dele. O coturno segura o
impacto quando aterrisso, e continuo minha marcha, tendo
a boneca esmagada em meus dedos. Ergo os braços e puxo
uma prótese de um braço do teto, a tirando do gancho de
ferro e a jogando no chão, pegando o gancho em seguida.
— O que aconteceu? — Killer, que se mantém em
sentinela, com a arma apontada para Seferic, gira o rosto
para mim quando atravesso a porta.
— Um helicóptero está a caminho — falo sério para
Killer, encarando o desgraçado sangrando no chão, sem
olhar para meu irmão de missão. — A 150 passos, a oeste,
vai encontrar Artur. Ele está te esperando para vocês
partirem.
— O quê? Como assim partirem... — Ele dá um passo
para trás quando meu pé se ergue e chuto a cara de
Seferic, o fazendo tombar no chão, vendo-o gemer de dor,
com sua boca retornando a sangrar mais. — JON, QUE
PORRA ESTÁ FALANDO?
— VAI, AGORA! — rujo para Killer e aponto para a
porta de onde eu vim. — Isso foi uma ordem, Killer!
Meu rosto desvia do seu e giro o gancho em minha
mão, o acertando com fúria no antebraço de Seferic, o
fazendo se debater. O arrasto pelo gancho e ele grunhe,
enquanto o levo comigo.
— Ele foi esperto em arrancar sua língua. — Inalo
fundo, tendo minha mente se esvaziando e meus olhos
ficando presos na escada de madeira ao fim do corredor. —
O que me faz pensar que não deve ser muito confiável, não
é, Seferic?!
Assobio e escuto o gemido dele, ao passo que puxo
com mais força o gancho de ferro preso em sua carne.
— Mas fico feliz de ele ter lhe deixado vivo. Tinha
outros planos quando te encontrasse. — Olho para as
escadas, parando de o arrastar quando chego nelas. —
Muitos planos — rujo com raiva e me agacho perto dele,
balançando a boneca em sua frente.
Os olhos dele estão apavorados, consumidos pelo
medo, enquanto pisca entre as lágrimas ao fitá-la.
— Não tem muitas pessoas que valem a pena o meu
tempo, Seferic — murmuro, desviando meus olhos dele para
a boneca, passando meus dedos sujos de sangue, o sangue
de Ryan, nas bochechas lamacentas dela. — Mas, acredite,
você e seu amigo vão ter totalmente meu tempo, e vai valer
cada segundo. Gostam de brincar de boneca, Seferic?
Abaixo meus olhos para ele e levo a boneca para trás
de mim, a prendendo em meu colete.
— Porque eu gosto de brincar, mas não de boneca.
Minha brincadeira é muito mais cruel que a sua. — Esmago
sua traqueia, o levantando, ao passo que sua boca
sangrenta geme.
O viro, o empurrando para a escada e o deixando de
frente, puxando o braço, o qual tem o gancho enfincado na
pele, para trás, fazendo ecoar seus sons grotescos ainda
mais. É como uma excitação, um prazer primitivo que me
deixa muito mais sedento, faminto por carnificina, assim
como o cheiro de sangue e o poder da matança. Inalo o ar
com força e respiro fundo, sentindo a brisa gélida da
madrugada, o som da mata, tudo sendo a porra de uma
descarga brutal me consumindo. O empurro para perto de
uma árvore, o tombando para trás.
— Eu tinha pensado muito em como iríamos brincar
quando eu lhe encontrasse, confesso que até tinha
separado meus melhores brinquedos — falo, rindo. É um
riso frio, tão vazio quanto minha alma por dentro. — Mas,
acredite, eu vou dar o meu melhor, mesmo sem eles —
rosno, puxando minha faca e a fazendo atravessar abaixo
do osso da clavícula por sua carne, até fincar-se na árvore, a
deixando presa a ela.
— AHHHH... — Ele se torce, e sua cabeça balança para
os lados, com sua outra mão tentando se levantar, para
agarrar o cabo da faca.
— Sabe, eu iria ter uma conversa com você antes... —
Rio com raiva, puxando a segunda faca da minha outra
perna, fazendo o mesmo no outro lado do seu peito,
garantindo que ele não saia da maldita árvore. — Pretendia
conversar bastante...
Seguro seu rosto e o fito com ira, com minha cabeça
tombando para o lado e vendo-o sofrer, em pura angústia,
com a boca sangrando ainda mais.
— Pena. — Nego com a cabeça e solto seu queixo,
dando um passo para trás.
Sinto como se a porra do colete me sufocasse, tendo
apenas a fúria me dominando por dentro, enquanto solto o
velcro e me liberto dele, o deixando cair no chão, junto com
a boneca. Minha camisa segue o mesmo destino, e ranjo
meus dentes, soltando um riso de alívio quando sinto o
vento gelado bater em mim.
— Normalmente, as pessoas gostam de armas. —
Passo meus dedos pelos meus cabelos, os empurrando para
trás, e inalo fundo, arrumando o cós da calça. — Mas eu não
vejo muito atrativo nelas, fazem um belo estrago. Sempre
as achei tão impessoais...
Sorrio e levanto minha perna, apoiando meu pé em
sua barriga e o esmagando, puxando a faca de caça presa
em minha canela e a rodando em meus dedos quando
abaixo meu pé. Aproximo-me dele, escorregando a faca por
sua bochecha devagar.
— Facas são mais íntimas, permitem uma certa
aproximação mais calorosa, se é que me entende. — Estalo
o canto da boca, arrumando os cabelos dele, e o vejo
balbuciar, negando com a cabeça. — Oh, não minta, nós
dois sabemos que entende isso muito bem! Facas são como
grandes bisturis, não são finas e nem pequenas e delicadas,
são grandes e pesadas, mas se estão bem afiadas fazem
um trabalho tão lindo quanto um bisturi...
Bato meus dedos em sua bochecha, me aproximando
da sua cabeça e passando a lâmina por sua boca.
— Essa sua língua, por exemplo, teria sido cortada
com precisão, não esse serviço porco que seu amigo fez em
você. — Estalo minha língua, negando com a cabeça. — Oh,
não, não mesmo! Mas irá ver, acredite, vai ver o quanto é
belo manejar uma faca. E não o deixarei perder um segundo
que seja. Vai olhar para mim, vai olhar diretamente para
mim, assim como seu amigo obrigou minha Linda a olhar
para ele enquanto você a mutilava, arrancando o bebê junto
com o útero dela.
Minha voz se abaixa e tenho a visão do ovário no
chão. Recordo da voz de Linda chorando ao me contar.
— Olhos violetas, como ametistas. — Agarro sua
garganta, o fazendo me olhar. — Pequena, com cabelos
negros ondulados mistos ao crespo... Lembra desse
presente, Seferic?
Ele para de se mexer, com seus olhos presos aos
meus e seu peito subindo e descendo depressa assim que
sussurro perto da sua face.
— É, você se lembra dela. — Aliso seu rosto e fecho
meus olhos, rindo com ódio. — Seu amigo dentista, ele
também lembrou dela, enquanto eu arrancava os dentes da
boca dele, depois que matei a vadia da mulher dele. Ele foi
específico em contar como você se ofereceu para cuidar
dela tão rápido.
Meu dedo passa por cima do seu olho esquerdo e o
aliso, ao passo que seguro sua pálpebra molenga e a puxo.
Meus olhos ficam presos na pequena membrana que se
parte como um papel sobre a lâmina da minha faca assim
que retiro sua pálpebra. Seu som é grotesco, e se debate,
tendo o sangue escorrendo por seus olhos. Repito o mesmo
com a outra pálpebra, a jogando no chão.
— Eu disse que iria manter seus olhos em mim, não
foi?! — Inalo fundo, suspirando e empurrando a faca perto
do seu olho arregalado. — Ainda estou em dúvida. Prometi à
minha Linda um presente, e, quem sabe, seus olhos seriam
um bom presente...
Desvio meus olhos dele para seu braço e encaro seus
dedos, batendo a ponta da faca em sua mão.
— Ou, quem sabe, seus dedos... A mão inteira, talvez.
— Rio, o olhando. — Isso seria um bom presente. Mas não
sei... São tantas partes para escolher, que fico indeciso.
Agarro seu braço, o torcendo, o fazendo gemer, com
seus pés se debatendo na terra enquanto retiro o gancho do
seu braço.
— Ich bin romantisch, ich würde das Herz nehmen.[25]
— A voz baixa atrás de mim me faz virar, e encontro a face
de Bratos me fitando, com ele encostado em uma árvore, ao
longe, com a marreta perto da sua perna. — Frauen lieben
eine gute Liebeserklärung.[26]
— Pelo visto, não sou o único poliglota — digo, o
encarando.
— Gostamos de ouvir o que falam, ainda mais quando
acham que não entendemos o que dizem. — O som alto da
voz séria de Dragomir é forte, assim como o cheiro do seu
charuto, e ele sai de trás da árvore. — Mas se quer minha
opinião, eu levaria a cabeça. Nada como um jantar a dois
tendo o crânio do seu inimigo servindo como candelabro.
Ele se aproxima da árvore onde Seferic está gemendo
de dor, babando e sangrando.
— Ryan entrou no bunker primeiro e nos ordenou a
ficar pra trás quando viu a mulher na maca, com ele
correndo atrás do atirador. — Seu rosto gira para mim e me
fita. — Nossos homens estão soltos pela montanha. Se o
atirador estiver tentando sair dela pelo rio, vamos o achar.
Ele retorna seu rosto para Seferic, e inala fundo,
esmagando seu rosto em sua mão antes de retirar o charuto
dos lábios, se aproximando da boca de Seferic. Fico
observando Dragomir, que faz o miserável se debater
enquanto apaga seu charuto na boca de Seferic. Ele o solta
e se move para trás, e permaneço em alerta, o vendo levar
sua mão para a cintura e retirar seu facão preso nela.
— Não confiamos em vocês, escoteiras mirins, muito
menos na raça para a qual vocês servem. Mas Ryan, por
algum motivo, confia, e vi o que fez pelo meu irmão, para o
manter vivo até a ajuda chegar. — Ele estaca o facão na
terra, próximo às minhas pernas. — Se um dia precisar de
algo, me procure e entregue esse facão para mim.
O vejo virar e fazer um gesto de cabeça para seu
irmão, ao passo que assisto os dois sumirem no meio da
mata. Olho o facão, o estudando, movendo meus olhos dele
para a faca em minha mão. Sorrio para Seferic, erguendo
devagar o gancho.
— Bom, como não vamos conversar, acho que não
precisa dessa sua boca aberta, amigão. — Pisco para ele, o
vendo se debater quando agarro sua cabeça e empurro a
ponta afiada do gancho na pele da sua boca, unindo o lábio
superior com o de baixo. — Gosta de música? — questiono,
sorrindo e admirando o gancho preso como um anzol em
sua boca. — Ultimamente, me peguei tendo uma em
especial.
Assobio, cantarolando Buddy Holy, a música que
tocou no carrossel e fez o sorriso de Linda ficar mais
iluminado do que o brinquedo. Levo minha faca à cintura e
puxo o facão em minha mão, sentindo o peso dele,
assobiando a canção.
— Como diria Jack Estripador, vamos por partes. —
Sorrio e me endireito à sua frente, segurando firme a arma,
como se fosse um taco de beisebol, e dando um golpe em
seu braço esquerdo, rente ao ombro.
O jato de sangue voa como um cano d’água aberto,
esguichando para todo lado, me lavando inteiro, tendo a
viscosidade do líquido e sua quentura me banhando, o que
me faz rir. Puxo com força a lâmina presa à sua pele, o
fazendo se debater ainda mais, antes de o golpear firme,
deixando seu braço preso por um fino nervo. Os olhos
grandes arregalados e sem pálpebras se reviram, enquanto
ele se treme e a urina escorre por suas pernas. Bato uma
terceira vez, decepando por completo seu braço e o fazendo
ir ao chão.
— Everyday, it's a gettin' closer! — cantarolo baixo,
girando para o outro lado e trocando o facão de mão,
arremessando a lâmina contra seu outro braço, enquanto a
chuva de sangue me lava. — Sabe, eu tinha separado
algumas tripas de mico para fazer torniquetes, assim
evitaria essa sujeira.
Sorrio e passo meu antebraço em minha testa,
limpando meu rosto do sangue que escorre em mim.
— Mas avaliando o lugar, não precisamos mais delas,
ainda mais depois que conheci seu amiguinho. — Puxo o
facão, fazendo um pedaço de carne rasgar, vindo junto. —
Afinal, ele vai ficar com fome. Seria feio da minha parte
matar o dono dele e não deixar nada para ele se alimentar,
não acha, Seferic?
Abaixo o facão, perguntando para ele e segurando o
gancho em sua boca, o puxando devagar, vendo-o se
debater enquanto geme.
— Desculpa, não ouvi, disse algo? — Meu braço vai
para trás e levo o gancho comigo, o que faz sua boca se
rasgar ao meio, com seus lábios se partindo. — É, ainda não
escuto nada...
Sorrio, negando com a cabeça e assobiando,
passando o gancho por dentro da boca machucada, com ele
se esperneando conforme eu furo sua bochecha de dentro
para fora.
— Sabe, lhe olhar assim me fez pensar que eu nunca
fui pescar — digo, pensativo. — Agora que tenho uma
mulher, acho que devo ter outros hobbies além de matar,
para me deixar mais apresentável. Talvez possa pescar, isso
parece bastante normal para mim.
Dou um passo para trás e vejo seu braço esquartejado
pendurado pelos nervos, e o outro amputado jogado no
chão.
— Ou não... Pensando bem, eu ficaria entediado. —
Nego com a cabeça, descartando a ideia. — Beisebol,
talvez. Tenho um bom arremesso, então, o que acha?
Esmago meus dedos no facão, o golpeando firme, e
arranco de vez seu braço, recebendo outro jato de sangue
em minha direção.
— É, com toda certeza, beisebol. — Sorrio, me
abaixando e pegando o braço dele, o balançando para os
lados. — Pensando bem, também não.
Uso sua própria mão para bater em sua face, e ele se
treme como um verme, com os olhos arregalados presos em
mim e a boca sangrando, rasgada, tendo o gancho em sua
bochecha.
— Sabe, isso me parece muito um hobby, tipo de pai e
filho. — Inalo fundo e puxo seu braço mais uma vez,
passando-o em minha cabeça e usando sua mão para coçar
minha cabeça. — Digamos que o único hobby que eu e meu
pai poderíamos ter seria o de tiro ao alvo, com ele correndo
e eu atirando, o que seria bem divertido.
Aproximo-me dele, jogando o braço no chão, ao passo
que me apoio na árvore e olho para a entrada do bunker.
— Eu poderia também brincar com meu filho, mas eu
não tenho filho... Não que eu queira, sendo bem franco, não
acho que o mundo precise de outro Roy na face da Terra —
suspiro, batendo o facão lentamente em minha perna. —
Mas teria filhos se minha garota quisesse e fosse da
vontade dela, porque eu faço tudo por aquela garota, dá pra
acreditar?! Um cara como eu, apaixonado... Eu queimaria
meu corpo inteiro se isso fosse o desejo dela. Acho que isso
é amor. Eu não sei, não entendo muito sobre essas porras
de emoções...
Inspiro fundo, retornando meu rosto para ele e
mexendo devagar no gancho, o puxando e lhe torturando
um pouco mais.
— Mas aquela garota me deu algo que nunca ninguém
me deu, ela me deu o paraíso com apenas um olhar. Eu nem
sei o que sou capaz de fazer por causa dela, para a ter
sempre ao meu lado. Às vezes penso que, se algum dia, ela
vai querer me deixar, mas não digo isso a ela. A verdade é
que não digo a ninguém sobre como ela me faz sentir, mas
gosto de conversar com você, pois é um bom ouvinte —
suspiro, soltando o gancho. — Sabe, eu acredito que eu a
mataria e depois me mataria se ela me deixasse. Ou não,
talvez eu apenas a mataria, já que sou narcisista demais
para tentar suicídio, e um filho da puta obcecado demais
também por aquela garota para matá-la, pensando bem...
Cutuco seu ferimento com a ponta do facão, vendo os
nervos à mostra, perto do seu ombro dilacerado.
— Eu a prenderia ao meu lado. — Sorrio. — Com
certeza, eu faria isso. Algemaria ela em minha cama, de
onde ela jamais sairia, e a trataria como minha rainha.
Parece um pouco louco, não é?! Porém, eu faria isso por ela.
Assim como aceitaria ser pai dos filhos dela se esse fosse o
desejo da minha garota.
Afasto-me, dando um passo para trás e o encarando
de frente, enquanto rodo o facão em minha mão.
— Mas mesmo se isso fosse o desejo dela, por mais
que ela quisesse, eu não poderia realizar. — Estico meu
braço e viro, deixando a ponta do facão rente à sua
garganta. — Porque mutilaram a minha garota por dentro,
arrancaram seu filho de dentro dela, como se fosse uma
cadela de rua. Você se recorda disso, Seferic? Porque, pelo
que vi lá embaixo, aquele ovário no chão e a mulher
mutilada naquela maca, me faz apostar sua vida que você
estava lá na noite em que machucaram minha garota...
Abaixo o facão, o rodando em minha mão e o vendo
tremer, com sua face pálida. Sua boca se entreabre e solta
um som alto no segundo que giro o facão e acerto sua
virilha, o puxando para cima e lhe serrando sem pressa ao
meio, enquanto ele se debate, lavando o chão e meu
coturno com seu sangue.
— Sejamos francos, Seferic, já temos intimidade
demais para saber a verdade um do outro — murmuro,
colando minha testa na dele. — Estava lá, não estava,
quando machucaram minha garota de olhos violetas?! Mova
a porra da cabeça e me responda.
Ele geme, se babando inteiro, com sangue escorrendo
pelo corpo dele, ao passo que eu forço o facão para cima, o
enfiando ainda mais em sua carne. O movimento da cabeça
em positivo é lento ao ir para frente e para trás, e ele
soluça.
— Dragomir tem razão, seu maldito crânio vai dar um
bom candelabro para minha mesa! — rosno, afastando meu
rosto do seu e puxando o gancho com fúria, rasgando sua
bochecha, antes de começar a cortá-lo ao meio, de cima
para baixo.
CAPÍTULO 40

CASA
LINDA

Esmago em meus dedos o copo descartável, ao passo


que olho em direção ao relógio na parede e vejo os
ponteiros parecendo que ficaram presos às duas horas da
manhã e nunca mais saíram de lá.
— Por que não vai se deitar um pouco no quarto, no
qual ficava quando esteve aqui, querida? — Giro meu rosto
para Nanete, que sorri branda para mim. — Deveria ir
dormir, Linda.
— Sem sono. — Nego rápido com a cabeça, não
querendo dormir.
Nanete dá a volta no pequeno balcão que ela estava
atrás e caminha para mim.
— Está tudo bem, querida, daqui a pouco o Jon vai
voltar — ela diz baixo, empurrando uma mecha de cabelo
para trás da minha orelha. — Killer disse que ele iria vir
depois, não foi?
Eu sei o que Killer tinha dito, mas ainda assim não
consigo me acalmar. Eu quero Jon, quero ver meu mestre,
quero o abraçar e saber que está tudo bem com ele. Eu
senti meu coração parar de bater a cada segundo que a
porta do pronto-socorro se abria e não era ele, e senti
minhas pernas ficarem fracas no segundo que Killer entrou
aqui, perto da meia-noite, e disse que Jon não tinha
retornado com ele e Artur, mas que estava tudo bem, que
ele tinha ficado para trás para resolver problemas da
missão.
Eles não falaram que tipo de missão foram fazer, mas
algo dentro de mim está apavorado desde o segundo que o
vi partir do alojamento, e ficou ainda pior quando ouvi a voz
de Artur pedindo ajuda pelo grande aparelho na sala de
comando. Elsa tinha me levado até lá, porque eu não
conseguia me acalmar e estava inquieta, e ela disse que
iríamos tentar saber se estava tudo bem com os rapazes.
Após a ligação, a vi chorar, ficando com seu corpo
paralisado quando o nome de Ryan foi dito, com Artur
reportando que ele tinha sido ferido. Eu me tremia inteira,
enquanto via Elsa completamente desesperada. Nunca
tinha a visto daquela forma, tão nervosa. Meu amigo, o
senhor Owen, estava junto na sala. Ele a acalmou, dizendo
que mandaria seu próprio helicóptero para lá, pois iria mais
rápido, e vi Elsa partir, aflita, para o pronto-socorro,
pegando uma bolsa de paramédico antes de ir para o
helicóptero.
Não demorou muito para ela voltar. Nanete, junto com
outro segurança, estava do lado de fora, perto do gramado,
com uma maca, aguardando por Elsa. Vi eles tirando o
senhor Ryan do helicóptero, com o corpo todo sujo de
sangue, assim como Elsa, que não saía do lado dele. Tentei
encontrar Jon, mas não o vi saindo do helicóptero, apenas
Elsa com Ryan e um outro rapaz, que ajudou a colocar Ryan
na maca.
Foi tudo desesperador e rápido, com eles entrando
correndo e indo para a sala de cirurgia. Ninguém disse
nada. Foram três longas horas horríveis, e fiquei somente
encarando a luz vermelha acesa em cima das duas imensas
portas duplas fechadas da sala de cirurgia. Quando
finalmente Elsa saiu de lá, a vi se escorar na parede e se
arrastar devagar, até cair sentada ao chão, chorando entre
os soluços e retirando a máscara e as luvas. Em segundos,
eu já estava perto dela, me sentando no chão e passando
meus braços em seus ombros, lhe abraçando. Ela chorou
muito mais, se tremendo inteira.
Somente depois dela se acalmar, que informou que
ele iria ficar bem, mas que ela precisou o deixar em coma
induzido, porque ele tinha perdido muito sangue. Ela contou
que o coração dele parou de bater duas vezes na sala de
cirurgia, e ela teve que o ressuscitar. Seu choro era de
medo, alívio e, principalmente, de amor. Não disse a ela que
eu compreendia essas emoções, porque é isso que sinto
dentro de mim, mas eu não tenho o alívio, porque meu
mestre não tinha retornado, e como ela já estava lidando
com suas emoções, não quis a sobrecarregar com as
minhas.
Nanete havia me contado um pouco sobre a doutora
Elsa quando ela saiu correndo para o helicóptero. Ela disse
que a doutora Elsa nunca tinha saído de Babilônia desde
que veio morar aqui. Algo ruim tinha acontecido com ela e
com sua família, e isso a tinha marcado para sempre, mas
ela saiu por Ryan.
— Acho que tem chá quente no refeitório — Nanete
fala com gentileza. — Eles estão funcionando. Acho que
ninguém vai dormir em Babilônia. Mas você pode se deitar
para apenas descansar, e eu levo um chá quente para você.
— Linda não... quer... — Fecho meus olhos e inalo
fundo, sentindo as palavras ficarem presas, tão engasgadas,
como se uma mão se fechasse em minha garganta e me
fizesse querer chorar. — Chá... não, não...
— Ei, Jon está bem. — Nanete esfrega meus ombros.
— Apenas respire fundo e solte. Lembra o exercício que sua
fonoaudióloga lhe ensinou? Isso ajuda a destravar sua fala
quando fica nervosa.
Isso não me ajuda nesse momento, nenhum exercício
me ajuda, apenas me deixa ainda mais nervosa, porque
quero falar corretamente, mas não consigo, e minha voz fica
mais presa, com as palavras demorando para sair.
— Jon... — Abro meus olhos e nego com a cabeça. —
Linda quer mestre Jon...
Não entendo por que ele não veio. Eu tinha ouvido
tudo que Killer disse quando veio até aqui, mas ainda assim
eu quero ver Jon. Ver que meu mestre está bem. A imagem
de Ryan sangrando, o choro de Elsa, tudo aumenta ainda
mais meu nervosismo e medo, pois o mestre Jon é tudo que
eu e Violet temos.
— Sim, eu sei que quer. — Ela move a cabeça em
positivo para mim, suspirando. — Logo ele vai voltar,
querida. Vem, vamos achar algo para fazer, já que não quer
descansar. Isso vai ajudar a se distrair, e quando perceber,
ele já chegou e está bem.
— Bem... — falo rápido, consentindo para ela, a
deixando me levar com ela para a sala da doutora Elsa.
— Precisamos deixar alguns kits de curativos prontos,
então, o que acha de fazer isso?
Balanço a cabeça em positivo, caminhando para o
canto da sala, onde tem o balcão com gazes, fitas e tudo
mais que é necessário para o kit. Sei que não precisamos
fazer mais kits, já que tinha feito bastante desde a hora que
Jon saiu, tanto que era isso que eu estava fazendo quando
Elsa me levou à sala de comando, mas escolho retornar a
fazer mais kits do que ficar encarando o maldito relógio que
parece congelar a hora.
— Ei, gata, fiquei sabendo que a noite está agitada. —
A voz masculina, saindo perto da porta, me faz olhar para lá
junto com Nanete. Vejo um homem alto, que tira um boné
negro da cabeça.
— Dante! — Nanete ri, alegre, abrindo seus braços e
indo na direção dele, que fecha os longos braços em volta
do corpo dela. — Quando chegou? Eu não sabia que tinha
retornado, me disseram que estava em missão...
— Pois é, cheguei uma hora atrás. Precisei levar a
encomenda que trouxe para o chefe para o subsolo, abaixo
do porão — ele comenta, rindo para ela. — Trouxe um
presente para você do México. Vai gostar, dizem que é a
melhor tequila.
Não olho mais para os dois, apenas me viro, dando as
costas para eles, tentando me concentrar nos kits. Abro as
gavetas e pego as gazes.
— México? O que diabos estava fazendo no México? —
Ouço Nanete indagar a ele. — Achei que estava nos Estados
Unidos, pois foi isso que fiquei sabendo, e depois ninguém
disse mais nada... A verdade é que ninguém fala. E, hoje,
esse lugar tá uma loucura. Ryan foi ferido em uma missão.
— Pois é, eu fiquei sabendo assim que cheguei. — Ele
inala fundo. — Estou atrás do Açougueiro, tenho que levar
ele para o subsolo, e só passei aqui antes para saber de
Ryan...
— Ele está em coma, mas está estável agora — ela o
responde. — Elsa está com ele...
— O Comandante está em boas mãos... — Escuto o
som de um pigarro antes dos passos pesados começarem a
se fazer dentro da sala. — Não sabia que Elsa arrumou uma
ajudante nova. Não vai me apresentar a sem coleira?
Permaneço de costas, sem me virar, quando sinto a
respiração baixa atrás de mim, que me deixa saber que ele
está perto demais. Me encolho, fechando a gaveta de gazes
e virando lentamente, dando um passo para o lado, me
afastando dele.
— Dante, se comporte, desse jeito vai assustar a
Linda — Nanete diz, rindo, vindo para perto de mim. —
Linda, esse é Dante. Ele foi um dos rapazes que estava na
operação que você foi resgatada.
Minha face se ergue e encontro a face do homem com
aparência jovial. Ele tem cabelos castanhos penteados para
trás, que não escondem sua curiosidade nem sua fixação
em meus olhos, os quais ele encara, surpreso.
— Uau, ela é a garota que recebeu o tiro pelo
Açougueiro! — ele balbucia, olhando de mim para Nanete.
— Está muito bem, eu diria, visto que lhe vi sendo tirada
daquela mansão.
Ele pigarreia e se endireita, dando mais um passo à
frente, o que me faz dar outro para o lado quando ele me
assusta, avançando e erguendo seu braço. Ele ri,
envergonhado.
— Eu sou Dante. — Ele passa as mãos pelo cabelo,
negando com a cabeça. — Não precisa ficar com medo,
estou a seu dispor, Linda. Gostei do nome, combina com
você...
— É, o mestre dela também acha isso, tanto que foi
ele que deu esse nome a ela. — Nanete ri, o fazendo piscar,
confuso. — Agora, se afasta, seu cretino, está a deixando
nervosa com essa sua cara de tarado, babando em cima
dela.
— Como assim mestre? — Ele arqueia a sobrancelha,
olhando para Nanete. — Como deixou ela ter um mestre,
quando poderia ter falado bem de mim para ela...
Ele pisca para mim, aumentando ainda mais seu
sorriso e esticando sua mão para me cumprimentar.
— Eu ficaria completamente ao dispor dela. — Ele
olha para sua mão erguida em minha direção, antes de
voltar a me fitar. — Pode me cumprimentar, Linda, não vou
te morder, apenas que me peça...
Respiro mais forte, mirando Nanete, que move a
cabeça para os lados e ri para mim.
— Está tudo bem, querida, Dante está apenas
brincando. — Ela se afasta, indo para perto dele e soltando
um tapa brincalhão em seu ombro. — Agora, pare de ficar a
incomodando. Pode até estar brincando, mas o mestre dela
não vai, quando ele abrir esse seu sorriso cretino de orelha
a orelha com uma faca, por estar mexendo com ela...
— Sabe que não tenho medo. Mas apenas para ficar
por dentro do assunto, de quem estamos falando? — Ele
olha para Nanete, mexendo de forma engraçada suas
sobrancelhas.
— Do mesmo homem que você está atrás. — Nanete
ri ainda mais para o segurança, principalmente quando sua
postura muda.
Ele fica ereto e recua para trás, soltando um pigarro,
olhando sério para mim.
— Ela é serva de Jon? — Ele não ri mais e nem pisca
enquanto me encara.
— Mestre Jon... — murmuro, com meus olhos se
fechando e as palavras saindo lentas por minha boca. Fico
ainda mais nervosa por não conseguir conversar. — Linda,
mestre Jon... Merda...
Esfrego meu rosto, com meus olhos queimando, pois
quero estar com meu mestre. Meu peito dói, assim como
essa sensação de tristeza me consome.
— Está tudo bem, querida. — Nanete retorna para
mim, esfregando meu braço. — Só respirar, lembra?! Inspira
e respira bem devagar.
Abaixo o rosto e me concentro nos exercícios,
respirando fundo e soltando a respiração aos poucos. Mas
isso não me ajuda, apenas me deixa ainda mais triste,
porque não consigo parar de pensar em Jon.
— Linda não tinha permissão de falar, Dante —
Nanete sussurra para ele. — Quando ela acordou aqui, no
pronto-socorro, não falava quase nada, então Jon arrumou
uma fonoaudióloga para ajudar na dicção dela. Porém,
quando ela fica nervosa, ela trava, não conseguindo
conversar normalmente, como ela aprendeu... Não vai
encontrar o Jon, pois ele ainda não voltou da missão. Ele
estava junto com Ryan. Todos retornaram, só que Jon ainda
não.
Inalo mais forte, com meus olhos se fechando e
comigo esfregando minha mão esquerda sobre meu peito.
— Quarto... — sibilo para Nanete, abrindo meus olhos.
— Linda vai pro quarto...
— Sim, querida, vá. — Ela se afasta e dá um passo
para trás. — Assim que ele chegar, eu vou lhe avisar.
Ergo meu rosto para o segurança, passando meus
dedos trêmulos em meu vestido e fungando baixinho.
— Obrigada, Dante... — sussurro com tanta
dificuldade, que sinto algo me sufocar ainda mais. — Por
salvar Linda com mestre Jon, obrigada.
— Não tem o que agradecer, Linda. — Ele sorri com
educação para mim, movendo sua cabeça para frente.
Giro e vou para a saída da sala, sentindo meu coração
bater com tanta dor, como se estivesse se quebrando a
cada compasso. Ando silenciosa pelo corredor, cruzando
meus braços à frente do corpo. No meio do caminho, paro
apenas uma vez, perto da grande janela transparente, que
me deixa ver o interior do quarto hospitalar, com as luzes
dos aparelhos ligadas, tendo Elsa sentada cabisbaixa em
uma cadeira ao lado da maca de Ryan. Há aparelhos ligados
nele, assim como uma máscara de plástico em sua face,
que Elsa me disse que o ajudaria a respirar.
— Eu nunca disse a ele como o amo, que ele foi a
única coisa boa que me aconteceu depois de tanta dor que
eu passei. — Elsa me abraça mais forte enquanto soluça. —
Não sei se posso passar por isso de novo... Por isso, nunca
disse nada a ele, por isso nunca contei o que sinto. Eu já
perdi tanto, Linda, não sei como vou viver se perder o
Ryan...
As palavras dela ecoam em minha mente, ao passo
que meu coração se aperta ainda mais. Eu também não sei
como viver sem meu mestre Jon, a verdade é que nunca
vivi, eu apenas sobrevivia a tudo, e só tinha descoberto o
que é viver, o que é ser real, apenas quando ele entrou em
minha vida e cuidou de mim e Violet. Sinto que não tenho
mais forças dentro de mim para sobreviver novamente, não
sem ele.
Uma lágrima escorre por meu rosto ao passo que
caminho devagar, me afastando do quarto onde Elsa está.
Fungo baixinho ao ir para o antigo quarto que eu ficava
quando estava aqui, dentro do hospital. Assim que chego
nele, eu entro e fecho a porta atrás de mim, encostando
minha testa na porta e ficando em silêncio, enquanto as
lágrimas rolam pelo meu rosto.
Sinto ainda mais o peso dessa dor que está
machucando meu coração. Eu não sabia antes o que era ter
mais alguém além de Violet, e sempre fui forte por ela, para
nos proteger, porque foi por isso que ela me criou, mas
agora sinto-me fraca, frágil e sem forças para ser forte, nem
por ela e nem por mim.
— Everyday, it's a gettin' closer... — O som baixo do
sussurro rouco me faz abrir meus olhos na mesma hora, e
giro depressa, olhando em direção à grande janela aberta,
com as cortinas balançando. — Goin' faster than a roller
coaster.
Meus olhos buscam tão rápido por ele quanto meu
coração, que bate em uma cadência absurda.
— Love like yours will surely come my way...ahey,
ahey, hey... — A cortina, que balançava com o vento, para
quando ele dá um passo à frente e fica atrás dela, com o
tecido se colando em seu rosto.
— Jon... — Minhas pernas já estão correndo, com seu
nome saindo como um alívio por meus lábios. Paro diante
dele.
Meus dedos trêmulos empurram a cortina e afasto-a
da frente, pois preciso o ver, lhe tocar. E é com puro
desespero que faço isso quando meus braços o circulam,
tendo meu rosto se enterrando em seu colete.
— Mestre da Linda voltou... — Meus olhos se fecham e
me agarro mais forte, precisando o sentir junto a mim.
— Oi, bebê. — Sinto o beijo em cima da minha
cabeça, com seus braços se fechando em torno de mim com
força, me esmagando tanto, que posso sentir meus ossos
estalarem. Ele suga o ar de forma profunda, esfregando seu
nariz em meus cabelos. — Eu disse que voltaria, não disse?!
— Disse... — murmuro, movendo a cabeça
rapidamente para frente e para trás, com meus dedos
trêmulos o tocando, batendo minhas mãos em seu colete e
sentindo um líquido escorrer por ele. — Mestre...
Dou um passo para trás e fito minhas mãos, vendo-as
vermelhas, completamente empastadas de sangue.
— Está ferido... — Meu rosto se ergue no segundo que
Jon dá um passo à frente, saindo da varanda e entrando no
quarto, deixando a luz do cômodo o iluminar por inteiro. —
Sangrando... mestre está ferido — balbucio em choque,
vendo seu corpo inteiro sujo, com a face coberta por
sangue, tendo as manchas negras em volta dos seus olhos
brilhando com o vermelho escarlate do sangue.
— Esse sangue não é meu. — Ele inala fundo e dá um
outro passo à frente, deixando as pegadas de sangue
marcando o chão por onde ele passa. — Eu pretendia me
limpar, mas queria lhe ver. Vim para cá assim que o
helicóptero aterrissou.
Meus olhos passam por ele e fito sua pele branca, a
qual está totalmente ensanguentada, tanto quanto suas
roupas e seus cabelos melados e empurrados para trás.
— Eu pulei a janela, pois sabia que Nanete iria me
proibir de entrar se me visse assim. — Sua mão vai ao
ombro e ele retira a alça da mochila, a deixando pendurada
em sua mão. — Lhe vi no corredor vindo para cá e vim atrás
de você...
— Mestre Jon matar... — sussurro, passando meus
olhos por ele, vendo seus olhos azuis cansados, com sua
boca se esmagando e ele movendo sua cabeça em positivo
para mim. — Sangue não é do mestre...
— Não! — Sua mão vai à mochila e a ergue, abrindo o
zíper dela e me fazendo vê-la ainda mais suja de sangue do
que ele, que a estica para mim. — Esse sangue é dele.
Meu ar para em meus pulmões, assim como meu
coração fica estático, como se tivesse parado, ao olhar a
mochila gotejando sangue no piso, suspensa no ar pela sua
mão, que tem o braço esticado para mim. Minhas pernas
estão mais trêmulas que meus dedos suados, que se
esmagam na lateral do meu vestido, e dou um passo para
frente, olhando o interior da mochila.
— Ohhh! — Comprimo meus lábios, surpresa.
Levo as mãos para minha boca e abafo um grito,
tendo meus olhos se arregalando e ficando presos na
cabeça que tem a face voltada para a abertura da mochila,
com os grandes olhos vidrados em mim e o rosto
desfigurado. Mas, ainda assim, eu poderia reconhecer até
no inferno esse maldito olhar.
— Não se mexa! Se não essa porra vai te ferir por
dentro e vai sangrar até morrer, está me ouvindo, cadela?!
Choro, ao passo que sinto meu corpo doer. A dor
aguda entre minhas pernas me faz gritar ainda mais alto, e
me debato, querendo me soltar das amarras. Há sangue,
tanto sangue no chão, o meu sangue, e estou deitada sobre
ele, enquanto o homem zangado me machuca, empurrando
algo estranho dentro de mim.
— Avisei que poderia a tocar, que poderia brincar com
minha boneca, mas avisei que era só isso, filho da puta! —
O mestre está com raiva, e anda dentro do quarto, tendo
uma arma em sua mão. — Tira essa porra de dentro dela
agora...
— Estou tirando, merda! — Os olhos maldosos brilham
enquanto me encaram, e ele empurra ainda mais fundo o
instrumento dentro da minha boceta, antes de levar sua
mão para dentro.
Grito e me debato, sentindo as lágrimas rolarem por
meu rosto, balançando a cabeça.
— Poderia deixá-la ir até o fim da gestação. Teria
compradores muito interessados por um recém-nascido.
— Mandei tirar a porra desse verme de dentro dela,
Seferic! — mestre rosna, se agachando e bufando perto do
rosto dele. — Me garantiu que ela estava limpa, que aquele
turco filho da puta não tinha passado nada para ela! Acha
mesmo que vou deixar isso estragar o corpo dela? Tem ideia
do tempo que faz que procuro por uma boneca perfeita?
— Eu não sabia que o presidente tinha a engravidado.
— As vozes deles ecoam entre meus gritos, ao passo que
sinto Violet se quebrando dentro de nossa mente, com ela
se despedaçando. — Ele garantiu que apenas brincou com
ela, só isso...
— Limpa ela, não quero porra alguma dentro dela.
Nada! — O rosto do mestre gira para mim, com sua mão se
esticando e tocando minha face. — Nada vai estar entre nós
dois, minha bela boneca.
— Isso vai levar mais tempo. — O homem com a mão
entre minhas pernas a tira, enquanto grito, sentindo ser
rasgada por dentro.
Ele ri e joga uma pelota de massa misturada a sangue
no chão, perto da minha cabeça. Meu corpo fraco vai
esmorecendo, perdendo toda a força, restando apenas as
lágrimas escorrendo por meu rosto, com minha face
tombando e eu vendo as pequenas mãozinhas, com o corpo
melado tão pequeno, que poderia caber na palma da minha
mão, em volta de sangue e gosma. Compreendo que aquilo
que ele tirou de dentro de mim é um feto, um minúsculo
bebê em formação, e me sinto morrer, tendo os gritos de
Violet dentro da nossa cabeça nos condenando por todo
horror que eles nos causaram.
— Se quiser que a limpe por dentro, vai ter que a
deixar comigo por alguns dias. — Escuto a voz baixa, e sinto
seu olhar cruel queimar em mim, mas não o olho, não me
movo.
Me sinto morta, e as lágrimas escorrem por meu rosto
ao ver a pequena vida que foi tirada de mim. Ali, descartada
no chão, em meio ao meu sangue, a minha dor é tão
desprezada quanto eu sou.
— Tem uma semana, Seferic. — A voz do mestre se
faz, e ele estala seus dedos. Sinto as mãos que me
prendiam me libertando. — Quero ela inteira, está me
ouvindo? Minha boneca é perfeita, não precisa repor peça
alguma dela.
— Uma semana!
Meus olhos se fecham e os passos pesados do mestre
se fazem quando ele se levanta, partindo.
— Não se preocupe, gracinha. — A mão em minha
perna alisa a parte interna da minha coxa, o que me faz
travar meus dentes, enquanto ele retira o instrumento de
dentro da minha boceta. — Prometo que vou ser bonzinho
com você.
Mordo minha boca e me engasgo com meu choro,
escutando o som da fivela do seu cinto sendo solta, com ele
empurrando ainda mais minhas coxas, me forçando a ficar
aberta, ao passo que seu corpo se eleva sobre o meu.
As lágrimas rolam por meu rosto e cubro minha face.
Meus ombros se encolhem ao recordar daquela noite, a
noite que Violet me acordou entre aquele horror. Lembro do
pequeno feto largado no chão, do corpo maldito sobre o
meu, me violentando deitada naquele piso lavado com meu
sangue, o que perpetuou por horas, até ele se satisfazer,
me obrigando a olhar para a vida que ele tirou de mim,
enquanto seu pau nojento me fodia.
— Eu o encontrei, encontrei o filho da puta que te
mutilou! — mestre Jon fala baixo com sua voz rouca. — Foi
atrás dele que eu fui. Estou caçando-os, e vou te trazer
cada um deles, Linda.
O som da mochila caindo no chão me faz encolher
ainda mais, e choro, sentindo tudo aquilo dentro de mim,
toda aquela dor se libertando entre as lágrimas.
— Eles vão pagar, bebê... — Minhas mãos saem da
minha face e abraço o homem coberto de sangue, que me
puxa para ele, esfregando seu rosto em meus cabelos. —
Vou fazer cada um deles pagar, e sentir o dobro de dor que
eles lhe fizeram sentir.
Sua mão se move por minhas costas, alisando-as,
enquanto sussurra em meio aos beijos em meus cabelos.
Levanto o rosto e meus olhos se perdem nos seus, comigo
sentindo o deslizar da sua mão em meu rosto, me
acariciando. O vejo aqui diante de mim, brutal, com sua
face suja de graxa, entre o suor e o sangue, mas que é a
visão mais bela que eu já vi, porque em seus olhos presos
aos meus, me sinto real.
— Todos eles vão pagar. — Ele encosta sua testa na
minha. — Todos.
Fecho os olhos e choro, o abraçando mais forte e me
agarrando a ele. E com um rápido movimento, seus braços
passam por minha cintura e me colam em seu corpo. Ele
ergue meus pés do chão, e escondo meu rosto em seus
ombros. Minhas pernas se movem para cima e circulo sua
cintura, me deixando junto a ele. Os passos lentos pelo
quarto se fazem, com ele se movendo, me carregando como
uma criança machucada na direção do banheiro, afagando
minhas costas.
Perco-me e me agarro mais ao meu mestre, sentindo
seus braços em mim, que tanto amo e me dão segurança.
Mestre Jon só me põe no chão depois de ligar o chuveiro.
Seus dedos ágeis retiram sua roupa, enquanto seus olhos
me observam quietos. Não temos palavras, é como se o
silêncio fosse tudo que precisássemos nesse momento.
Quando tento tirar a minha roupa, seus dedos me ajudam, e
ele move minhas mãos para o lado do meu corpo, retirando
meu vestido e se abaixando, para arrastar minha calcinha
para o chão.
Ele segura meus dedos e nos leva para o boxe do
chuveiro quente, tendo o vapor à nossa volta. E me deixo
ser cuidada por ele. Suas mãos alisam meu rosto, e fico sob
a água quente, deixando minha alma mais nua à sua frente.
Sinto a delicadeza que suas mãos sujas de sangue
tentam ter ao passar o sabonete pelo meu corpo devagar, e
meu rosto tomba, comigo deixando minha testa em seu
peito. Soluço a cada toque seu, vendo a água vermelha
escorrer para o ralo. Mestre Jon fica em silêncio, e apenas o
som baixo da sua respiração se faz.
Ouço o lamento da minha alma cansada. Era tanta dor
que guardava dentro de mim, que tinha suportado, e estava
tão cansada, que desabo, me apoiando diante de toda sua
força, com seus braços sendo meu amparo.
Os dedos dele lavam meus cabelos, esfregando o
creme sobre eles, com sua atenção tão presa a mim, o que
me faz sentir como se fosse a coisa mais importante da vida
dele, assim como ele tinha se tornado a minha. Mestre Jon
desliga o chuveiro e me enrola em uma toalha, puxando
outra para ele. Vejo seu corpo nu tatuado, enquanto ele se
seca rápido, e antes que caminhe para fora do banheiro,
mestre Jon me ergue no colo como um bebê, me levando
para a cama e depositando meu corpo na beirada.
Seus olhos se concentram em cada parte minha,
fazendo-me chorar ainda mais com o carinho com que ele
me seca, sendo totalmente diferente do monstro que me
destruiu e matou Violet, que agora tem a cabeça decepada
e desfigurada dentro da mochila caída no chão, aos pés da
cama.
— O fez sentir dor? — balbucio, mordendo minha boca
entre os soluços do choro. — Fez ele sentir bastante dor...
— Muita! — mestre Jon sussurra, me secando sem
pressa, com seus dedos trilhando cada parte do meu corpo.
Fico em silêncio e fecho meus olhos, sentindo sua
mão que me seca apagar cada dor, cada horror que senti
aquela noite. Ele fica um longo tempo esfregando a toalha
com calma em minha cabeça, e assim que me seca, me
move, me levando ao centro da cama. Eu não tenho forças
para negar e nem quero.
Meu rosto tomba no travesseiro e fico o admirando,
vendo-o preencher todo o quarto com sua presença
masculina. Ele vai até a porta e apaga a luz do quarto,
deixando apenas a luz do banheiro acesa. Seu peso faz o
colchão se mover, e ele engatinha pelos pés. Sinto o choque
quando sua boca se cola ao meu tornozelo, e ele a arrasta
lentamente, causando eletricidade pura. Meu corpo vai
ganhando vida, se aquecendo, e seus lábios não têm pressa
ao se alastrarem por minhas pernas.
Seus dentes raspam minha virilha, mordiscando entre
as coxas internas, pulando de uma à outra, e sinto sua
respiração quente em cima do meu clitóris. Arfo baixo,
mordendo meus lábios, sentindo meu corpo derreter tão
rápido quanto um cubo de gelo. Na primeira passada de
língua nos grandes lábios da minha boceta, mestre Jon a
beija, a fazendo pulsar para ele, sentindo saudade do seu
toque. A força da sua mão ao apertar minhas coxas as faz
se abrirem mais, e ele deixa a sua língua me invadir com
tortura, me fazendo suspirar.
Levo minhas mãos ao seu ombro e as arrasto por sua
pele. Seus cabelos molhados vão pingando e arrepiando
minha pele, enquanto sua boca me suga, me chupando, me
queimando com suas mãos que se espalmam em cada
parte do meu corpo. Ele alisa minha barriga, e seguro meus
gemidos, aguentando cada carícia dele em silêncio.
Sua língua desliza e lambe diversas vezes meu
clitóris, que está rígido, implorando por sua libertação. E,
como resposta ao meu corpo, que se move em agonia para
ele, seus dedos me invadem, entrando e saindo devagar,
em um ritmo contrário à sua língua, que circula em cima do
meu nervo, que pulsa. Viro meu rosto e mordo o travesseiro
quando sinto o formigamento que me atinge. Ele abaixa sua
boca e me suga com mais pressão, aumentando a
velocidade dos seus dedos e da sua língua, tomando todo
líquido que meu corpo deixa para ele quando o orgasmo me
atinge.
Mesmo com meu raciocínio lento e perdido, por conta
do orgasmo, sinto quando o colchão se move. Suas mãos se
espalmam uma de cada lado do meu corpo, e ele sobe
devagar, me cobrindo com seu corpo, como meu verdadeiro
e único mestre que sabe que me tem. Meus olhos se fixam
aos seus quando ele força a cabeça do seu pau dentro de
mim, e sinto a tortura e o alívio que é ser preenchida por
ele.
Abro minha boca em agonia, arqueando meu corpo
para cima, e antes que perca o controle e solte um gemido,
mestre Jon me beija, me fazendo contorcer abaixo dele, que
vai me invadindo por inteira, me empurrando para o abismo
que apenas a ele pertence. Minhas mãos seguram em seus
braços e esmago meus dedos em sua pele.
Seu corpo se movimenta devagar, me beijando com
posse, e demonstro meu amor a ele em cada toque da sua
língua que se choca com a minha. Seu pau entra e sai, me
esticando, me tomando, e nunca me senti tão completa em
toda minha vida, como me sinto ao ser possuída por ele.
Suas estocadas fundas e fortes me levam para uma queda
livre depois que meu cérebro explode, quando ele me faz
gozar.
Gemo entre seus lábios, deixando meus olhos abertos
e perdidos entre o nevoeiro que me toma. E é entre os picos
que me pego sendo sugada por seus olhos, que me
observam com tanta intensidade, não desviando um
segundo sequer dos meus. Ele entra com força e empurra
seu quadril, continuando a me rasgar a alma. Meu corpo o
engole, se apertando em volta do seu pau, o sugando para
dentro de mim, e tremo por conta da energia com que ele
me toma.
Conforme me perco em loucura, vou sendo
preenchida pelos seus jatos quentes de porra, e meus dedos
se levantam, acariciando sua face. Sinto a mordida que ele
dá em meu pulso, cravando seus dentes para prender seu
gemido rouco. Seus olhos se fecham, e seu corpo fica
trêmulo. Percebo que nada se compara a esse momento ao
ver seu abandono sem controle algum, com ele
completamente entregue e tão selvagem.
O mestre Jon cai na cama ao meu lado, me puxando
para seus braços, e sinto o peso das suas pernas sobre as
minhas, com seus dedos fortes espalmados em minhas
costas, tendo o outro braço se jogando sobre meu corpo.
Meu rosto fica colado ao seu peito, e estou
praticamente deitada em cima dele, que me move, me
puxando para mais perto, com minhas pernas se colando às
suas. Deixo meu olhar repousar em sua face, e sua cabeça
descansa sobre o travesseiro, tendo seu peito subindo e
descendo relaxado. Meus dedos se alastram e tocam sua
face, comigo alisando suas sobrancelhas com ternura.
Mestre Jon para seus olhos nos meus, e movo minha cabeça
apenas um pouco, me aproximando dos seus lábios.
— Linda ama mestre Jon... — sussurro, lhe dando um
selinho, esfregando meu nariz ao seu. — Casa, é minha
casa.
Aninho-me em seu peito e o sinto ficar estático, antes
dele inalar ainda mais forte e acariciar meus cabelos. Estou
tão exausta, que meu corpo já está ao fim da luta contra o
sono, finalmente querendo descansar agora que ele está
aqui, e vou me perdendo, caindo, sentindo seus carinhos
junto à sua respiração quente que acerta meus cabelos.
CAPÍTULO 41

PARA SEMPRE
LINDA

— Como foi? — indago baixo, soltando um suspiro


fundo. Sinto o deslizar lento da mão masculina em meu
ventre, sobre a minha cicatriz de bala.
— O quê? — Jon sussurra, depositando um beijo em
minha testa.
— A morte dele... Como mestre Jon o matou? — Meu
peito se expande, com o ar entrando em meus pulmões,
tendo meus olhos presos no teto do quarto.
Seu corpo se move e ele se arruma na cama, nos
deixando de frente, com sua mão em meus cabelos, os
acariciando.
— Seferic está morto, Linda, nunca mais vai te
machucar ou machucar qualquer outra pessoa — murmura,
e seu hálito quente toca minha pele como uma carícia. —
Não precisa pensar mais nele.
— Não penso nele... — respondo baixo, negando com
a cabeça. — Mas preciso saber se ele sofreu tanto quanto
fez Violet e eu sofrer.
Mestre Jon fecha seus olhos e solta o ar pela boca,
com sua mão se afastando da minha face e ele rolando na
cama, se sentando.
— Não vai querer saber o que fiz com ele, bebê. — O
vejo se levantar, e giro na cama, ficando de bruços, com
minha face tombada de lado no travesseiro. — Teria
pesadelos, ou finalmente teria medo de mim...
Meus olhos o acompanham, e ele vai na direção do
banheiro, pegando sua calça que estava pendurada lá.
— Linda não ter medo de mestre Jon... — sussurro
para ele. — Nunca sentirei medo — digo, fechando meus
olhos e esfregando meu nariz no travesseiro, inspirando o
cheiro intenso do meu mestre na fronha.
— Arranquei suas pálpebras primeiro, depois que
preguei seu corpo em uma árvore com minhas facas. — O
som da sua voz quebra o silêncio e sua respiração é solta
aos poucos.
Abro os olhos vagarosamente, o vendo de costas, nu,
com a calça em sua mão enquanto a segura, tendo seus
olhos presos em minha face pelo reflexo do espelho dentro
do banheiro, me encarando como se estivesse me
estudando, observando minha expressão diante do que ele
contou.
— Usei um facão para mutilar seus braços, decepando
um por um. — Sento na cama e o fito, antes de desviar
meus olhos para a mochila caída no chão, aos pés da cama.
— Desfigurei a face dele com um gancho de açougue, o qual
encontrei dentro do local onde ele estava escondido, e
rasguei seus lábios com o gancho, assim como sua
bochecha.
Meu peito sobre e desce, e meus dedos se esmagam
ao lençol ao recordar dos meus gritos, do meu corpo
naquele chão.
— O retalhei ao meio, serrando da porra das suas
bolas até o osso do quadril. — Meu rosto retorna para
mestre Jon na mesma hora. — Ele estava vivo ainda quando
o cão dele apareceu e eu dei o pau dele para o cachorro
comer...
Passo minha mão rapidamente em minha face,
tirando a lágrima que escorre, com meu peito subindo e
descendo ainda mais rápido.
— Então comecei a cortar suas pernas. Os pés
primeiro, depois as panturrilhas. — Seu corpo gira e ele me
encara com seus olhos azuis brilhantes e intensos. — Ele
desmaiou algumas vezes, mas usei o gancho para o segurar
pelo cu, o prendendo de ponta-cabeça na árvore, assim o
sangue era bombardeado para o cérebro e o deixava
acordado por mais algum tempo.
Um pequeno sorriso se forma em minha boca, com
minha face retornando a encarar a mochila. Queria ter visto
isso, queria poder ver todo sofrimento que meu mestre
causou a ele.
O som dos passos do mestre Jon se faz, e ele para
perto da mochila, com seu rosto tombando devagar e
fisgando sua boca, se agachando pouco a pouco. Não falo,
mal consigo respirar enquanto o assisto se agachar nu perto
da mochila, tendo uma faca em sua mão, levando a outra
mão para dentro da mochila e segurando a cabeça pelos
cabelos, a deixando pendurada. A pele arroxeada está
pálida, com os olhos opacos sem vida, com a carne dos
lábios rasgada, assim como sua bochecha, que tem as peles
abertas e o sangue seco.
— A língua dele foi cortada, então ele não pôde
conversar muito — mestre Jon fala baixo, fitando a cabeça.
— Mas era um bom ouvinte.
— Conversou com ele... — Pisco rápido, olhando da
cabeça para meu mestre.
— Algumas coisas. — Ele olha para mim, com seu
peito se expandindo. — Às vezes, gosto de conversar com
eles enquanto estou os torturando.
Ele parece confuso ao me olhar, antes de erguer a
cabeça, a deixando na altura dos seus olhos.
— É normal isso para mim, me sinto mais confortável
ao conversar com minhas vítimas do que com outras
pessoas. Acho que minha loucura me parece mais natural
nesses momentos. — Ele me olha, com sua sobrancelha se
arqueando. — Você me confunde, Linda. Normalmente, as
pessoas não querem conversar sobre o que faço com quem
eu mato, isso causa medo nelas.
— Linda não sente medo, nunca. — Nego com a
cabeça. — Não do mestre Jon.
Vejo suas bochechas ficarem rosadas e ele desviar
seus olhos dos meus, ao passo que abaixa seu braço, com a
cabeça presa pelos cabelos em seus dedos.
— Ele estava vivo ainda quando eu finalmente
decepei sua cabeça. — Sua face se ergue para mim e seus
olhos azuis brilham como se fossem estrelas azuis tão
lindas. — Deixei o resto do corpo dele desmembrado para o
cão comer, e fui incendiar o esconderijo dele.
Sorrio de mansinho, e movo a cabeça para ele,
deixando meu corpo retornar para a cama, suspirando
baixinho.
— Linda queria ter visto ele sofrer — falo baixo, me
espreguiçando.
— Não acho que gostaria. Não vai gostar de me ver
transformado. — Escuto o som baixo da sua voz. — Isso
poderia lhe fazer querer se afastar de mim, e eu teria que
lhe deixar presa...
— Linda fugiria — digo, rindo, tombando minha face
no travesseiro e olhando para ele. — Assim mestre Jon teria
que me caçar... — brinco, gargalhando, mas mestre Jon não
está rindo, sua face está séria, com ele arqueando sua
sobrancelha e me encarando.
Seus dedos se abrem e ele faz a cabeça rolar, caindo
ao chão, enquanto se vira e vai para o banheiro, batendo a
faca em sua perna.
— Linda nunca fugiria do mestre — sibilo para ele. —
Apenas falei brincando. Mestre Jon ficou bravo com Linda?
Viro de lado na cama, não tendo a resposta dele.
Apenas o vejo se inclinar para frente e pegar seu colete
caído no chão do banheiro, enquanto se mantém em
silêncio. Fico perdida quando ele se mantém calado, me
punindo com seu silêncio. A porta do banheiro é fechada e
giro rápido para o outro lado, esmagando meus olhos com
força, desejando poder retirar as palavras que falei.
Eu nunca fugiria dele. Mestre Jon é tudo que temos, e
não saberia como viver sem ele. Meus olhos queimam, com
as lágrimas ameaçando me pegar, mas não chego a
derramá-las, não quando minhas pernas são puxadas para o
fim da cama e fico de barriga para baixo. As mãos que se
fecham em meus cabelos são como ferro, os esmagando,
me puxando para trás e me tendo de joelhos. O peito sobe e
desce colado em minhas costas.
— Não há esse tipo de brincadeiras entre nós, fui
claro?! — O rosnado rouco perto do meu ouvido se faz, com
ele esfregando seu nariz em meu ombro, antes de me fazer
congelar, ao sentir o frio da lâmina em minha garganta. —
Não sou o tipo de homem que brinca, Linda. E, acredite,
nem por brincadeira vai dizer novamente que fugiria de
mim.
Apenas balanço a cabeça em positivo, com meus
lábios se esmagando e sentindo a lâmina mais rente em
minha pele, tendo meu coração disparado, batendo tanto
quanto o que tem em seu peito e está colado em minhas
costas.
— Não repita isso de novo. — Meus olhos se fecham
ao escutar o sussurro rouco em meu ouvido. — Não vai
querer saber o que sou capaz de fazer se tentar fugir de
mim.
— Linda sente muito... — Arfo, sentindo a lâmina
escorrer por minha pele, parando perto do meu seio. —
Sente muito...
— Sabe sobre o que conversei enquanto torturava
Seferic?! — Ele deposita um beijo em meu ombro, me
fazendo engasgar quando esmaga mais forte meus cabelos,
batendo com a ponta da faca em meu peito. — Em como eu
não sei do que sou capaz de fazer por você, Linda. Sobre
como pensamentos, de algum dia você me deixar, me faria
tomar medidas drásticas.
Sobressalto-me no segundo que sinto o aço frio sendo
preso ao meu pulso, o que faz a ardência em meu couro
cabeludo aumentar quando mestre Jon prende mais forte
meus cabelos em seus dedos.
— Muito drásticas — ele rosna, puxando meu braço
para trás. — Me dê seu outro braço, bebê. — Sua voz sai em
comando, ríspida e forte, e obedeço rapidamente, fazendo o
que ele mandou.
Meu corpo é girado na cama e ele afasta a faca de
mim, enquanto tomba seu rosto para o lado e me observa
de pé aos pés da cama.
— Não há fuga para nós, não mais, bebê. — Minha
mente é nublada por sua voz e seu poder quando ele agarra
minha garganta, tomando meus lábios e me fazendo arfar
entre seus beijos, com a lâmina escorrendo por meu corpo.
— Nem em brincadeira.
Pisco, atordoada, ainda presa na possessividade que
foi seu beijo. O vejo se afastar, saindo do meu campo de
visão, e fico ajoelhada na cama. O peso dele se faz, e giro
meu rosto por cima do ombro, pegando seus olhos presos
aos meus, antes dele agir rápido e me puxar para ele,
colando novamente minhas costas em seu peito.
— Eu mato por você, Linda, faço atrocidades apenas
por você, e colocaria fogo em uma cidade inteira, vendo
todos se queimarem, se me pedir. — Minha respiração
acelera, e a lâmina raspa por meu ventre, subindo de
mansinho. — Mas nem por um único segundo sequer, ache
que eu lhe permitiria ir para longe de mim, porque nada
nesse mundo me separaria de você, nem mesmo você,
bebê.
— Ahhhhhhh! — gemo entre a dor e a euforia que
cresce dentro de mim quando ele agarra meus cabelos, os
puxando para trás, me fazendo encontrar seus olhos.
— Eu e você. — Seus olhos azuis faíscam com
chamas, me fazendo ficar hipnotizada em seu olhar. — É
para sempre.
Seu beijo é cruel, tão raivoso quanto a força que ele
usa para agarrar meus cabelos, e gemo em seus lábios, com
meu corpo completamente elétrico, não de medo, e sim de
submissão. Uma submissão total, onde fico rendida a ele, e
da qual nunca abrirei mão, pois serei sua para todo sempre.
O pau dele escorrega entre minhas pernas, com ele se
afundando em minha boceta, que o recebe com euforia, o
sugando para dentro dela, que está encharcada, sendo tão
escrava dele quanto eu sou.
— Eu e você somos para sempre, bebê! — Sua mão
acaricia meu seio, com a outra mão mantendo firme a faca
rente à minha garganta quando ele para a lâmina em minha
pele.
— Sim... — Fecho meus olhos, vibrando e me sentindo
mais excitada, completamente abandonada, com seu pau
me fodendo, entrando e saindo de mim. — Sempre.
— Olhe para ele! — ele rosna em meu ouvido, e seu
peito arfa em minhas costas. — Olhe o que eu faço por
você, e saiba que o que farei aos outros será ainda pior,
minha torre.
Meus olhos se abrem e ficam fixos na cabeça ao chão
desfigurada, tendo o pau latente dentro da minha boceta,
entrando e saindo pouco a pouco, antes dele o puxar inteiro
para fora e esfregar a cabeça do seu pênis em meu ânus.
— Lhe darei a cabeça de cada um deles, Linda. — Sua
mão em meus cabelos me empurra para frente, me fazendo
inclinar meu tronco, e seu pau se empurra em meu cu aos
poucos, o que me faz gemer entre a dor e o prazer. — Lhe
darei a porra do mundo se me pedir, porque você é minha,
e para sempre!
Engasgo-me entre os gemidos, com meus olhos se
fechando, tendo o baque fundo da sua pélvis na minha
quando seu pau me penetra por inteiro, me preenchendo a
ponto de me fazer contrair meu corpo, como se estivesse
sendo empalada por seu pau. Ele se retira devagar, apenas
para empurrar com o dobro de força para frente, me
fazendo soluçar com as estocadas tão fundas, que posso
jurar que ele vai me atravessar inteira.
Meu corpo o responde, e se perde ainda mais no que
ele me faz. Tremo inteira, com meu coração disparado e a
pele quente encharcada de suor tanto quanto minha boceta
excitada, que é rasgada de dentro para fora pela dor e o
prazer, comigo me submetendo com paixão ao meu mestre.
O contraste gelado da lâmina em minha garganta com
minha pele em chamas me faz gemer mais, e ele volta a
repetir os movimentos, me fodendo mais brutal, mais
animalesco. Soluço entre os gemidos descontrolados, antes
dele começar a estourar em uma bateria de penetrações
incontroláveis, a ponto de fazer a cama sair do lugar. E tudo
me excita mais, me levando ao extremo: a faca, a algema
em meus pulsos, seus dedos agarrados firmes em meus
cabelos, seu pau me fodendo com urgência...
A mão em meu cabelo me puxa com brutalidade para
trás, e colo novamente minhas costas em seu peito, com
meu rosto tombando para o lado, vendo seus cabelos
negros bagunçados, ao passo que ele rosna e me fode mais
bruto.
— Não há fuga, não há separação. Eu e você
ficaremos juntos até depois da porra da morte! — ruge
perto dos meus lábios, esfregando seu nariz ao meu.
— Sempre... — Sorrio entre a onda de prazer que me
consome, emocionada com tudo que ele me faz sentir. —
Sempre, mestre Jon.
— Sempre! — Ele solta a faca e agarra meu pescoço,
me condenando ao seu beijo, me devorando ainda mais
com sua língua, a deslizando junto com a minha.
A mão em meus cabelos se solta e vai para a frente
da minha boceta, acariciando meu clitóris em uma
massagem precisa, o circulando, e meu corpo é tão dele
que mal me controlo, sentindo o orgasmo me atingir,
tremendo inteira, com meus dedos se apertando na palma
da minha mão, gozando em seus dedos enquanto seu pau
estoura dentro do meu rabo com mais loucura.
Mestre Jon me fode em mais cinco batidas duras, se
afundando por inteiro, antes de eu ter seu jato quente
sendo expelido dentro de mim, com ele gozando e
circulando minha cintura com seu braço, sem separar seus
lábios dos meus. Meu peito está descompassado, subindo e
descendo tanto quanto o dele, com nossos corações
disparados. Sua testa se cola à minha e ele mordisca meu
lábio, o soltando quando para de me beijar.
— Você é minha casa. — Meus olhos marejados se
abrem e minha mente nublada pelo prazer fica confusa,
demorando para processar suas palavras. — A única casa
que eu já tive e terei em minha vida, bebê.
Minha respiração fica presa, e meus olhos se perdem
nos seus, que brilham em um azul-claro tão limpo.
— É a minha casa, para sempre.
Mordo meus lábios e fungo, ao passo que movo minha
cabeça para frente e para trás, e fecho meus olhos,
escorando minha cabeça em seu ombro e sentindo seu beijo
em minha pele.
— Sempre! Linda e mestre Jon para sempre! —
murmuro para ele em meio a um sorriso, sabendo que
nunca serei de mais ninguém além dele.
CAPÍTULO 42

O GRITO
LINDA

Arrumo meus cabelos, que reparti ao meio e fiz uma


trança de cada lado, e olho o mestre Jon agachado,
colocando as sapatilhas em meus pés. O vejo sério, com a
camisa em seu corpo, ainda tendo o borrão escuro em volta
dos seus olhos, mesmo ele tendo tomado banho de novo.
— Vou te levar para casa agora — murmura, erguendo
sua face e me olhando. — Apenas tenho que resolver alguns
assuntos primeiro. Preciso ver como está Ryan e repassar o
relatório da missão para o senhor Woden. E, depois disso,
vamos para a casa nova.
— Sim — suspiro, abaixando meus dedos e os
passando pelo meu vestido branco, o qual encontrei
guardadinho dentro do pequeno armário. Tinha o esquecido
aqui quando saí desse quarto, e ele tinha sido um dos
presentes que Elsa me deu. — Elsa está sofrendo, sofrendo
muito por causa do seu mestre.
Recordo dela, em como estava arrasada, e sinto
aquela sensação esmagadora em meu coração mais uma
vez, por não querer nunca sentir a dor que ela sente.
— Linda nunca querer sofrer como Elsa está sofrendo
— sussurro para ele.
Eu já senti muita dor, ainda a sinto. As dores das
lembranças, tanto as minhas como as de Violet, a dor de
quando me machucaram. Mas a dor cruel que vi Elsa sentir,
eu nunca quero sentir em minha vida.
— Ryan vai ficar bem, ele é forte. — Mestre Jon se
levanta e estica sua mão, acariciando meu queixo. — E não
se preocupe, nunca vai sentir esse sofrimento.
Fecho os olhos e sinto seus lábios rasparem nos meus,
o que me faz suspirar com seu beijo. Jon se afasta e vai para
o banheiro, pegando seu colete. Estou me levantando da
cama quando o som da porta do quarto se faz.
— Linda, querida, já está acordada. — A voz de
Nanete me faz sorrir e vou para a porta, a destrancando.
— Bom dia, Nanete — digo, sorrindo para ela e
passando meus olhos dela para Artur, que está ao seu lado,
segurando um saco de batatinhas e levando uma à boca. —
Bom dia, Quebra Osso. Batatinha gostosa!
Estico minha mão imediatamente para ele, que olha
do saco de batatinhas para mim, antes de suspirar e me
entregá-lo.
— Vejo que dormiu bem, está até mais corada, Linda.
— Movo a cabeça em positivo para Nanete, enchendo minha
mão de batatas. — Sei que ainda é cedo, muito, pra falar a
verdade, já que agora que são seis horas da manhã, mas
Artur insistiu em vir aqui porque precisa saber se Jon já
voltou.
Minha boca fica cheia de batatas e eu mastigo,
olhando de Nanete para Artur e sorrindo, movendo a cabeça
em positivo.
— Mestre Jon estava com Linda. Banho quente para se
limpar depois do sexo... Linda dormiu, e acordamos e
fizemos mais sexo — respondo, sorrindo com a boca cheia
de batatas. — Mestre veio ver Linda assim que chegou.
— Viu, eu disse que ele estava aqui?! — Artur fala,
dando de ombros e puxando o saco de batatinhas da minha
mão. — Deveria ter trazido dois pacotes.
— Oh, não, apenas um pacote já deixa Linda feliz! —
Passo minha língua por minha boca, tirando o pozinho
salgado e pegando o pacote de batatinhas de volta. —
Obrigada, Quebra Osso.
— É o meu café da manhã, Linda... Esquece... — Ele
bufa, negando com a cabeça. — Preciso falar com Jon, onde
ele está?
— Mestre no banheiro, está terminando de se arrumar.
— Abro mais a porta, os deixando entrar, olhando alegre
para Nanete. — Mestre vir direto ver Linda, ele trouxe
presente para mim, Nanete.
Viro e vou para perto da cabeça, sorrindo enquanto
como as batatinhas, apontando com meu pé para ela.
— Presente para Linda! — Jogo as batatas em minha
boca e ergo o rosto para Nanete, que tem os olhos
arregalados e sua boca aberta.
— Oh, meu Deus! — Nanete respira depressa,
enquanto Artur arqueia a sobrancelha e leva as mãos à
cintura. — Que horror...
— Não, não, Nanete. — Nego com a cabeça
rapidamente. — Presente bonito. Mestre Jon trazer a cabeça
do homem que tirou o bebê de dentro da barriga de Linda.
Mestre cortou os braços dele e mutilou o corpo todo, dando
pedaços para o cão comer. Mestre Jon contou para mim.
Mas ele me trouxe a cabeça como presente, bonito
presente. — Termino de falar, orgulhosa de meu mestre, não
entendendo por que ela está ainda mais pálida, com seus
olhos se fechando e ela respirando rápido.
— Meu Deus, eu preciso chamar o senhor Woden...
— Na verdade, precisa me trazer uma sacola, pra
guardar a cabeça, até eu jogá-la dentro de um balde com
ácido. — Mestre Jon faz Nanete se sobressaltar quando abre
a porta do banheiro e fala sério com ela. — Como está o
Ryan?
— Bem. Bom, em vista do que aconteceu, ele está
vivo ainda. — Artur dá um passo à frente, se dirigindo ao
mestre Jon. — Elsa passou a noite toda com ele, que ainda
está em coma, mas ela garante que ele vai sobreviver.
Jon move a cabeça em positivo, olhando para mim e
andando devagar enquanto fecha o colete.
— O chefe quer falar com você. O helicóptero
aterrissou de madrugada e ninguém te encontrou. — Artur
coça sua cabeça, olhando o pacote de batatinhas em minha
mão. — Desconfiava que estava com Linda, mas achei
melhor esperar o dia amanhecer.
— Eu vou falar com ele — Jon murmura, abaixando
sua face para a cabeça e puxando a mochila em sua mão, a
fechando. — Preciso da sacola, Nanete, e guarde a cabeça
nela.
— Eu não vou guardar isso dentro de uma sacola! —
Nanete já está se virando, saindo apressada do quarto.
— Puta que pariu, preciso saber de quem é essa
cabeça?! — Meu rosto tomba para o lado ao ver o amigo de
Nanete, que conheci na sala de Elsa.
— Dante! — mestre Jon o cumprimenta, acenando
com a cabeça. — Não sabia que tinha retornado de
Sacramento.
— Retornei essa madrugada, e, na verdade, foi do
Novo México. — Ele ri, andando e parando ao lado de Artur.
— Que porra essa cabeça está fazendo aqui?!
— Presente de Linda. — Sorrio, jogando uma batatinha
em minha boca, a mastigando e o vendo olhar confuso para
mim. — Mestre Jon trazer presente da missão para Linda.
Linda também está mais calma agora, e não nervosa, e
posso falar direito, porque mestre está aqui.
— Falar? — Mestre Jon olha dele para mim, tendo
Artur saindo de perto de Dante e ficando ao meu lado,
catando meu pacote de batatinhas.
— É, falar. A vi ontem na sala da Elsa, com Nanete, e
ela estava nervosa... — Dante pigarreia, negando com a
cabeça. — Não foi bem falar, apenas a cumprimentei.
— Dante cumprimentar Linda — confirmo suas
palavras, girando meu pescoço para Artur e vendo-o
agarrado ao pacote de batatinhas. — Amigo de Nanete
brincar com Linda. Nanete disse que não pode brincar,
porque mestre iria abrir sorriso dele de orelha a orelha.
Linda quer batatinhas, Quebra Osso...
— Oh, não, continue! Agora que está ficando bom. —
Ele ri para mim, puxando seu braço com o pacote para o
lado. — Do que Dante estava querendo brincar com você,
Linda?
— Artur, não me fode. — Dante respira rápido, e giro
meu rosto para frente, o vendo com um sorriso nervoso
enquanto mestre Jon o encara.
— Brincar? — A voz do mestre Jon é baixa, e ele
caminha ao redor de Dante, tendo mestre Jon retirando uma
pequena latinha do colete e a abrindo, enquanto vejo a
pasta negra nas pontas dos seus dedos. — Por que Nanete
disse que eu iria abrir seu sorriso de orelha a orelha, Dante?
— Olha, não é querendo falar, mas eu tentaria
descobrir essa história a fundo, Jon! — Artur joga mais
batatinhas na boca, erguendo seu pé e o apoiando na
cabeça decepada no chão, fazendo Dante respirar ainda
mais rápido.
— Dante só disse que Linda é linda... — Puxo o pacote
de batatas de volta, o recuperando de Artur, e levo minha
mão para dentro, a enchendo e enfiando em minha boca,
enquanto sorrio e mastigo. — Mas Nanete disse que mestre
de Linda também acha Linda linda, tanto que foi por isso
que deu esse nome a Linda!
— Quer dizer que achou minha garota linda, Dante? —
Mastigo, olhando mestre Jon passar sem pressa a pasta
preta em torno dos seus olhos.
— Apenas para ficar claro, foi com todo respeito,
entende?! — Dante diz apressado, com suas mãos se
erguendo e as movendo no ar.
— Olha, não sei se foi assim não, hein, Dante, já que
sua fama de cretino te precede. — Artur ri, empurrando a
cabeça com o pé para perto das botas de Dante, tendo
mestre Jon agora pisando em cima dela, ficando sério e
encarando Dante frente a frente.
— Obrigado, Artur, realmente sua boca é algo que não
tem limites! — Dante inala fundo, e ergo meu braço, me
negando a deixar Artur catar o pacote de batatinhas
novamente. — Eu só estava te procurando, Jon, está bem?!
E acabei encontrando sua garota. Nanete me disse que
estão juntos e eu fiquei feliz por vocês.
— Por que estava me procurando? — mestre Jon rosna
baixo, ficando de costas para mim.
— Bom, ao que parece, o chefe disse que você iria
lidar com as encomendas que eu trouxe do Novo México. —
O som da respiração pesada de mestre Jon me faz perder o
pacote de batatinhas para Artur, porque fico confusa ao vê-
lo endireitar suas costas, tendo sua cabeça se abaixando.
— Onde estão? — Sua voz sai aos poucos, com ele
retirando o pé de cima da cabeça.
— No subsolo, abaixo do porão. O chefe mandou
deixar lá para você.
Antes mesmo que Dante termine de falar, mestre Jon
já está se virando, parando seus olhos em mim e tendo sua
boca se esmagando.
— Tenho que ir. — Ele passa seus olhos em mim e seu
peito se expande. — Preciso resolver um assunto. Artur,
guarde a cabeça.
Fico confusa, sem entender a mudança brusca de
comportamento dele, ao se virar rápido, como se estivesse
com raiva, puxando Dante pela camisa e o levando para
fora do quarto.
— Onde diabos eu vou guardar essa porcaria? — Artur
fala baixo, esticando o pacote de batatinhas para mim.
Mas eu nego, dando um passo para trás e me
sentando na cama. Assim que minha bunda se abaixa, sinto
o beliscar do metal frio em minha pele, o que me faz
levantar apressada e empurrar os lençóis, vendo a faca.
— Nanete, preciso da porra da sacola e de gelo antes
que essa porcaria comece a feder. — Artur caminha para
fora do quarto, enquanto eu fico perdida, olhando a faca.
A seguro e caminho para a saída, não vendo mais
mestre Jon, para poder o entregar.
Olho o corredor vazio e também não vejo Artur ali,
para pedir para ele entregar. Encolho os ombros e ando,
buscando alcançar o mestre Jon. Porém, não consigo, e por
mais depressa que caminhe, não o vejo mais no pronto-
socorro. Tenho a impressão de que ele saiu correndo, de tão
rápido que foi.
Caminho mais apressada, seguindo em direção ao
grande edifício que tem do outro lado do pronto-socorro,
descendo as escadas para o porão quando entro nele.
Escuto as portas duplas baterem lá embaixo, e paro quando
desço o último degrau das escadas, vendo ao fim do
corredor as portas de metais balançando. Ando devagar
para elas, mordendo o canto da boca, e assim que passo
pelas portas, depois de as empurrar, me deparo com a luz
bem fraca e as paredes brutas, além de uma escada caracol
de ferro.
Desço aos poucos, já que não tinha visto esse lugar
ainda, e o fito curiosa. Abaixo meu rosto quando termino de
descer as escadas e percebo que tem pedaços de plástico
no chão, além de um cheiro ruim. Olho confusa pelo
corredor, notando portas quebradas e as salas sem janelas,
o que me faz, por um segundo, recordar dos esconderijos
onde o antigo mestre me deixava presa.
Respiro fundo, ao passo que sinto meu corpo travar,
com minhas pernas ficando rígidas e meu coração
disparando. Permaneço segurando a faca do mestre Jon em
minha mão, achando melhor voltar para o pronto-socorro.
Viro apressada e corro para as escadas, querendo sair
daqui. Não quero ficar aqui, não quando Violet faz flashes
de memórias machucarem a nossa cabeça.
— OH, MEU DEUSSSS, NÃOOOOO! — Não chego a
pisar no primeiro degrau, não quando uma voz feminina
grita tão alto a ponto de me paralisar. — NÃO, NÃO, NÃO,
DERIC...
— Bruxa... — O nome escapa dos meus lábios quando
reconhecemos sua voz.
O grito ainda mais alto dela entra em meus ouvidos,
fazendo Violet estourar uma dor aguda dentro da nossa
mente, como um martelo nos estilhaçando.
— Ohhhh... — A faca cai da minha mão e esmago
minha cabeça, sentindo a dor forte demais, por conta dos
gritos de Violet em minha cabeça, que se misturam aos da
mulher no corredor.
— Shend... — murmuro, sem entender o que está
acontecendo.
— Está tudo bem, tudo bem... — Ela se agacha e
segura meu rosto, enquanto vou tombando para trás, até
ter meu corpo esticado na estrada, me sentindo pesada. —
Vai ficar tudo bem, não precisa ter medo. É esperta, sempre
foi mais esperta do que eu, e muito mais linda. Deus, você é
tão linda, com esses olhos de boneca! Vai ficar bem, confia
em mim, não tenha medo...
— Podem levá-la! — Ao longe, escuto a voz do cuzão,
ao passo que ele se move, olhando para mim quando para
ao lado de Shend. — Anda, gata, vamos, deixa eles a
levarem...
— Por favor, nãooo... — Choro, apertando com toda
força que posso meu crânio, como se pudesse a acalmar,
como se pudesse a fazer parar de nos machucar. — Para,
para...
Cambaleio para trás, com meu corpo tremendo,
sentindo os picos de dor se tornando mais intensos.
— Shend... Shend... — nossas vozes murmuram,
tendo Violet pegando controle da mente, se debatendo e
arranhando nossa face. — Não, não... Não... Ela nos traiu...
traiuuuu... Mamãe, cadê a mamãe...
Sinto-me ser rasgada, com as lembranças se
misturando, enquanto convulsiono, com Violet nos atirando
contra a parede e acertando nossa cabeça nela.
— Ele tá vindo... Ele tá vindo, papai está vindo nos
machucar... machucar...
— Para... para, por favor... — Soco minha mão com
força na parede, com minhas pernas enfraquecendo até cair
de joelhos no chão, tendo meu pescoço se repuxando,
comigo pegando o controle novamente, apenas ouvindo
seus gritos em nossa mente em meio ao choro.
— Suse... Suse, papai está vindo... — Ela engatinha,
se arrastando para dentro de uma sala, perto das escadas,
onde tem cacos de vidros ao chão, chorando. — Papai tá
vindo...
Meu pescoço se torce e o inclino para o lado,
agarrando meus cabelos e apertando meus olhos, sentindo
as lembranças dela nos ferindo, a deixando ainda mais
desesperada.
— Levar... Shend, o que está acontecendo... — Seguro
seu pulso, a fitando com medo.
— Eu sinto muito, mas eu preciso viver minha vida. —
Ela se inclina e beija minha testa, alisando meu rosto. —
Não posso fazer isso se tiver que cuidar de você. Eu
também tenho meus sonhos... Sinto muito, Vi... Sinto
muito...
— Anda, Shend, levanta a porra do rabo e vem! —
Deric a puxa, a fazendo se levantar, e vejo um dos homens
jogando uma mochila para ele. — O dinheiro está todo aqui?
— ele indaga, rindo, ao passo que segura forte o braço da
minha irmã, que me olha.
Finalmente compreendo o que ela fez. Ela me vendeu,
ela acabou de me vender...
— Shend... — Tento esticar meu braço para ela,
implorando para que não me deixe. — Por favor...
— Suse, Suse... Escuro. — Nossos dedos se erguem e
viro rápido, engatinhando apressada para a parede, olhando
apavorada para os cantos. — Escuro, Suse... No escuro, eles
não nos machucam...
— Sabe o que vai acontecer, não sabe, Lixo?! — A
mão masculina acariciando meu rosto me faz encolher,
enquanto apenas o observo. — Será um belo presente.
Meu corpo fica rígido e sinto a dor em minha cabeça,
com ele balançando o bastão de choque na minha frente,
que tem faíscas saindo da ponta.
— Se não se comportar, vou trazê-la. — Ele sorri,
alisando minha boca. — Trazer sua criança para sentir dor
em seu lugar.
Não, eu não quero o que ele me obrigará a fazer,
porque sei o que ele quer, o que ele faz, o que ele deixa os
outros fazerem com a gente. Quero implorar para que ele
não me obrigue a isso, porque estou cansada, machucada e
não consigo deixar Violet adormecida, não consigo desligar
minha conexão com ela, não tenho forças para poupar a Vi
de ver o horror que eles fazem em nosso corpo. Não
consigo, porque ele havia me espancado o dia todo e me
eletrocutado. Ele gosta disso, gosta de me torturar, torturar
nós duas, trazendo Violet, para ela saber o que ele está
fazendo em nosso corpo, não a poupando da realidade.
— Por favor, não faz isso, Vi...
Esmago meus olhos com dor, tendo ela misturando as
lembranças dela com as minhas, me torturando ainda mais,
me fazendo reviver tudo.
— Escurooo... Escurooo, Suse... — Nossa voz sai baixa
e ela toma o controle, olhando assustada para as paredes e
se arrastando ainda mais rápido no chão, procurando um
canto sem luz. — Escurooo, Suse, vem para o escuro
comigo...
Um homem alto e corpulento levanta nosso corpo do
chão, nos jogando sobre uma mesa, e as mãos dos outros
homens em nossa cintura forçam as nossas pernas a se
abrirem.
— Sim, agora sim! — Escuto o som alto da voz risonha
do mestre, que aprecia esse horror.
Fico paralisada dentro de nossa mente, sem controle
algum do que nos acontecerá, sem conseguir proteger
Violet da forma que ele nos torturará, porque estou exausta.
Porém, eu sinto tudo: o cheiro de bebida, de cigarro, as
mãos em nossa pele e o nosso corpo sendo invadido de
forma agressiva pelo pênis que se choca contra nossos
quadris em um vai e vem brutal.
Mais dedos curiosos nos tocam, alisando cada parte
nossa, e isso deixa o mestre ainda mais animado, por nos
assistir, enquanto continuamos sendo violadas, até ter o
pau transbordando dentro de nós com jatos fortes de
sêmen. Os rostos masculinos estão fixos em cada reação
que temos, e sorriem, gostando da forma imunda que
temos. E quando o pênis termina de nos foder, outro já está
tomando seu lugar. Nossa voz sai rouca aos gritos e uma
onda de prazer nos domina de forma perversa, com nosso
corpo respondendo àquilo, mas não nós, pois não queremos
aquilo, não queremos essa monstruosidade que nosso corpo
responde sem controle.
Sinto tudo, mas não posso impedir nada, e de uma
forma brutal, nossa boceta é esvaziada quando o pau sai
dela, com outro entrando. A boca faminta masculina suga o
peito, tendo outra boca machucando com mordidas meu
outro seio, de forma cruel. As mãos masculinas abrem ainda
mais minhas pernas, a ponto de causar dor, as colando à
mesa, tendo paus se revezando ao sair e entrar de dentro
de mim.
Posso ouvir a dor de Violet, posso ouvir seu desespero
enquanto ela é arrastada para um canto feio da nossa
mente. Nossa boca é aberta por dedos e uma mão agarra
nossa garganta, com um pau sendo levado para dentro
dela. Nossos olhos se fixam em sua barriga peluda, e somos
forçadas a chupar. É cruel, porque eu não consigo fazer
nosso corpo parar de sentir, não consigo parar de machucar
a Vi.
Eu compreendo que sou uma fragmentação de Violet,
sei que sou uma criação, que devia a proteger, mas não
consigo, não hoje. Não consigo a manter longe da luz, a
proteger e não a deixar ver o que eles nos fazem. Eu tento a
fazer parar de gritar em nossa mente, tento a fazer se
desconectar, para a poupar do horror, só que não consigo.
O homem de barriga peluda grita alto, com seu corpo
pulando para trás e tirando o pau dele da nossa boca
quando, por um segundo, tomo o controle por inteiro, a
fazendo ir para escuridão, e raspo meus dentes com força
no seu pau nojento. O tapa forte em nossas faces é violento,
me deixando atordoada.
— O que acha que está fazendo, inútil Lixo? — Os
olhos frios e cruéis me encaram, com a voz falando séria
comigo.
Mestre agarra forte meu pescoço e me faz olhá-lo,
com o homem que me fodia e as bocas que sugavam meus
peitos se afastando, ao passo que ele inala fundo.
— Sabe muito bem o que acontece quando é mal-
educada, não sabe, Lixo?! — O encaro em silêncio, tendo
meu peito subindo e descendo. — Acho que devo lhe
lembrar o que acontece quando me desobedece.
Sua mão solta meu pescoço e seu corpo fica ereto,
parado perto da mesa. Ele retira seu cinto e o esmaga em
sua mão. Meus braços são esticados e mãos me seguram,
assim como prendem meus tornozelos, e me sinto ainda
menor diante de todos os rostos feios, com olhos tão cruéis
presos em mim quanto o mestre, com seus corpos nus e
suados ajoelhados perto da mesa baixa.
Choro quando vejo o que está por vir, com o mestre
parando entre minhas pernas e segurando o cinto. Sinto
meu corpo sujo e melado com os sêmens desses homens,
que me seguram para ser castigada agora. O cinto acerta
precisamente entre minhas pernas, e me contraio inteira de
dor, com meu corpo se contorcendo, me debatendo com a
enxurrada de cintadas que levo. As lágrimas descem com o
açoite abrasador do couro em minha boceta, que me
condena de forma cruel, tendo o mestre golpeando sem
parar meu clitóris com o couro.
— Tenho planos para você, minha linda boneca, uma
perfeita punição para sua teimosia.
Eu não me importo de ser punida, porque sei que Vi
está segura agora, que nada do que ele fizer a machucará.
Entre as lágrimas, me mantenho em silêncio, segurando até
o último gemido de dor. O fito, e meu peito sobe rápido ao
vê-lo abaixar o cinto.
— Me traga aquele molho de carne que foi servido no
jantar. — Meu corpo gela e respiro mais forte, sentindo as
lágrimas quentes escorrerem por meu rosto. — Um presente
digno ao meu servo mais fiel. O que acha, Lixo? Você gosta,
não gosta? Por que, pelo que sua irmã Shend contou sobre
vocês, tanto você como Violet são amorosas com os
amiguinhos especiais, não são? Então, essa noite, vai
mostrar a mim e aos meus convidados o quão amorosa
você é.
Abro os olhos e esmago meus braços ao redor do meu
corpo, com os soluços baixos escapando da minha boca,
ouvindo o choro de Violet em nossa mente, com as lágrimas
deslizando por minha face.
— Vem para o escuro comigo, Suse... — ela sussurra
entre meus lábios, com nossos olhos se perdendo nos cacos
de vidros. — Escuro...
Fecho meus olhos com força e giro meu rosto para a
porta, desviando dos cacos, sabendo o que Violet está me
pedindo.
— Ela nos traiu... — Ela funga baixinho e esfrega
nosso rosto com carinho. — Traiu... Todos nos traíram, todos
que amamos nos traíram, vamos ficar juntas agora...
— O mestre cuida da gente, Vi... — digo baixo para
ela, retornando a abraçar nosso corpo. — Mestre cuida...
— Brincar comigo, vem para o escuro brincar
comigo... — Os pés batem ao chão, com ela chorando,
enquanto se agarra mais forte em nossa cintura. — Vem,
vem ficar comigo... Todos nos traem, mas aqui estaremos
juntas, ninguém nunca mais vai nos machucar...
— O mestre Jon não nos trai. — Bato a parte de trás
da minha cabeça na parede.
— Mas ele vai, todos eles acabam nos traindo.
Mamãe, papai, Shend... — Nossos olhos se abrem e ela
funga baixinho enquanto soluça. — Confiamos nela,
confiamos em todos, e eles nos machucaram...
— Violet...
— Ela nos vendeu, nos vendeu... — Ela toma o
controle, falando entre o soluço. — E deixou que eles nos
ferissem...
Seu corpo se move e engatinhamos dentro da sala,
parando perto dos cacos e pegando um de mansinho,
enquanto vejo o reflexo da sua face nele. Me olho com dor e
tristeza.
— Lembra o que papai fez? O que o outro mestre fez
com você... — Ela chora, alisando nossos cabelos. — O que
ele fez para nosso corpo responder...
— Por favor, para! — Fecho meus olhos com dor,
jogando o caco de vidro no chão, o soltando.
— NÃO! — Sua voz é brava e nega com a cabeça. —
Prometeu que ficaria junto comigo, prometeu que ficaríamos
juntas...
— Estamos juntas, Vi. Sempre estaremos juntas. —
Tapo meu rosto e choro, sentindo a dor dela se misturar à
minha.
— Não, não está comigo... — A mão se fecha em
minha trança e a puxa com força, agarrando-a forte e nos
causando dor. — Não voltou para brincar comigo. Quero que
volte para ficar comigo para sempre!
— NÃO! — Meu grito é mais alto, e meu punho soca
com fúria o chão, com meus olhos se abrindo. — Não vou
ficar no escuro, não vou nos machucar. Isso não vai nos
deixar juntas, isso apenas vai nos matar, e eu não vou me
matar, não depois de todo inferno que eu passei para
sobreviver, e não vou permitir que faça isso, Vi.
Sinto o silêncio dos meus pensamentos, com a dor em
minha cabeça se dissipando, e pisco, confusa, não a tendo
mais dividindo o controle comigo, apenas sentindo sua dor,
sua tristeza, com ela se calando e retornando para a
escuridão da nossa mente.
— Vi... — murmuro, comprimindo fortemente meus
olhos, com as lágrimas rolando por meu rosto. — Violet...
Mas ela não me responde, não me deixa mais a sentir,
apenas tem o mais completo silêncio, com ela me
ignorando.
— Eu não posso ir para o escuro, Vi... — falo em meio
ao choro. — Não posso ir, porque ir para o escuro nos
mataria... Eu prometi que iria cuidar de você, e não posso
deixar que faça isso. Vi, por favor, me responda...
— OH, MEU DEUS, NÃOOOO! EU JÁ DISSE TUDO... — O
grito alto ecoando pelas paredes me faz girar o rosto e olhar
para a porta. — EU JURO, EU JUROOO... OH, MEU DEUS...
Levanto, trêmula, com a voz me trazendo a dor, o
medo e a lembrança dela me fitando.
— Eu juro que vou cuidar dela, mas a menos que
queira que ela seja internada, acho bom nunca mais voltar,
porque o que fez foi ruim, muito ruim, e Violet vai ser
culpada pelo que você fez!
Observo meus dedos trêmulos e sujos de sangue,
enquanto respiro depressa, sentindo tanto medo, olhando o
que eu fiz, o que eu acabei de fazer com a mamãe e o
papai. Os corpos estão esticados na cama, com as
gargantas cortadas e os olhos vazios encarando o teto do
trailer.
— Precisa ir e não voltar nunca mais!
— Vi precisa de Suse... — murmuro, sentindo as
lágrimas rolarem por meu rosto. — Suse cuida de Vi...
— Eu vou cuidar dela, prometo que vou cuidar dela. —
Ergo meus olhos para a face de Shend, que olha carinhosa
para mim. — Eu juro que vou cuidar.
Meu corpo se move e escuto os gritos ao caminhar
para fora da pequena sala escura. Paro perto das escadas,
com minha face se abaixando para o chão e vendo a faca
de mestre Jon. Passo por ela quando vou para as escadas, e
seguro o corrimão, tendo as malditas lembranças me
condenando ao inferno pelo que ela nos fez.
— Me traga aquele molho de carne que foi servido no
jantar. — Meu corpo gela e respiro mais forte, sentindo as
lágrimas quentes escorrerem por meu rosto. — Um presente
digno ao meu servo mais fiel. O que acha, Lixo? Você gosta,
não gosta? Por que, pelo que sua irmã Shend contou sobre
vocês, tanto você como Violet são amorosas com os
amiguinhos especiais, não são? Então, essa noite, vai
mostrar a mim e aos meus convidados o quão amorosa
você é.
Encolho e sinto os dedos me prendendo mais forte,
enquanto afundo na mesa, sabendo exatamente o que ele
vai fazer. Seu sorriso é largo, monstruoso, ao derramar
molho de carne frio em cima de mim, nos meus seios, antes
de o jogar entre minhas pernas. Não me mexo, mal consigo
respirar no segundo que ouço a porta ser aberta, tendo o
rosnado baixo saindo do grande Dogue alemão negro. Sinto
a bufada dele perto de mim, e o mestre sorri, segurando
sua coleira e o fazendo me farejar.
Sua cabeça é movida para perto do meu peito, e me
debato inteira, tentando me soltar ao ter sua língua áspera
me lambendo, correndo em meu corpo. Meus dentes
trincam e minha boca cerra ainda mais, enquanto o cão me
lambe, indo para o outro seio e me deixando tensa, com
meu corpo ainda mais rígido, fazendo eu me sentir mais
suja e humilhada do que nunca. Prefiro mil vezes ser
espancada, ter as costas sangrando, com meu corpo sendo
violentado por seu maldito punho, do que ter o cão me
lambendo, não me deixando controlar as respostas que meu
corpo tem diante do monstruoso ato.
Minha mente grita em desespero: “não, por favor,
não”, enquanto meu corpo é consumido por uma descarga
horrível de prazer, que se mistura ao nojo, ao ódio, ao
desespero e à completa miséria. E quando acho que já tinha
chegado ao extremo da humilhação, o cão é guiado para
ficar entre minhas pernas, com seu focinho inalando fundo,
antes de começar a me lamber, com sua língua áspera
descendo ainda mais e lambendo toda minha boceta e a
minha bunda, ao passo que o maldito prazer nojento fica
agudo e insuportável dentro de mim.
Sou nada mais, nada menos do que um lixo sobre
essa mesa.
Fico amarrada por horas, e quando eles retornam a
me violentar em cima da mesa, depois que o cão é retirado,
o mestre não me eletrocuta mais, ele quer que eu sinta toda
a sujeira do que eles fazem comigo, me forçando a me
entregar, tendo uma descarga de prazer no meio desse
horror. Acho que o resto de pureza que ainda tinha dentro
de mim foi removido nessa sala fechada, cercada por esses
monstros, que me tornaram um ser tão feio quanto eles.
CAPÍTULO 43

O ACERTO
JON ROY

— Olha, Jon, apenas para esclarecer aquele lance da


brincadeira... Eu juro que não faltei com respeito com sua
garota... — Dante anda rápido atrás de mim,
acompanhando meus passos, indo em direção ao prédio de
armamentos. — Confesso que fiquei bastante surpreso
quando Nanete disse que a garota tinha um mestre e que
ele era você. Nunca passou uma vez que fosse pela minha
cabeça, que justamente você iria arrumar uma gata aqui
dentro, ainda mais uma como aquela...
Suas costas já estão estourando na parede quando
me viro, o desarmando e usando sua própria arma para
colar o cano em seu queixo, rosnando a centímetros do seu
rosto, com meu braço esmagando abaixo do seu pescoço e
o prensando na parede.
— Não chama minha garota de gata de novo. Não fale
sobre ela, e muito menos olhe para ela, fui claro, Dante? —
Aproximo meu rosto do seu, o vendo com seus olhos presos
aos meus, balançando depressa sua cabeça.
— Eu me expressei mal. — Ele ergue suas mãos ao ar.
— Onde encontrou os dois vermes? — O solto, o
libertando e dando um passo para trás, jogando a arma dele
para ele novamente, antes de me virar e retornar a
caminhar apressado na direção das escadas do porão.
— Novo México... — Ele tosse atrás de mim. —
Seguimos o rastro deles depois que partiram de
Sacramento. O cara é um idiota, e se queria se esconder, foi
terrivelmente horrível em fazer isso, já que por onde
passou, deixou dívidas. Os dois estavam vendendo drogas
para um traficantezinho local, com a garota as repassando
para os clientes dela...
— Prostituta? — pergunto sério, descendo as escadas
e indo direto para o fim do corredor.
— Sim, o idiota era o cafetão dela. Ele entregava a
droga e ela vendia para os clientes viciados. — Ouço sua
voz enquanto bato minhas mãos nas portas de metais.
Desço as escadas, indo para o subsolo do porão. — O chefe
mandou os trazer direto para cá, e assim que meu pelotão
chegou com as encomendas, ele ordenou a repassar a carga
para você.
— Ryan não me avisou que o senhor estaria aqui. Ele
me passou que Helena mandou me chamar — falo sério, o
estudando. Ryan tinha me dito que o senhor Woden viria de
Milão daqui a três semanas, quando me entregou a carteira
com os documentos.
— Pequenas mudanças de última hora, e resolvi vir
pessoalmente. — Ele ergue seu rosto para mim. — Então, o
que achou do espaço?
Minha memória puxa a lembrança do senhor Woden
dentro do prédio, no qual estava marcado para encontrar
Helena, mas foi ele que foi me encontrar. Ele já sabia que a
vadia irmã de Linda estava a caminho, junto com o
desgraçado do Deric, por isso, ele tinha antecipado sua
vinda de Milão para cá.
Bato minhas mãos em meu colete, para puxar minha
faca, quando desço as escadas caracóis, mas não a
encontro. A rápida lembrança do corpo de Linda nu na
cama, enquanto eu a fodia com a faca rente à sua garganta,
me faz lembrar do porquê ela não está comigo. Estico
minha mão até a perna e puxo a outra que tenho de
reserva, não vendo nada que não seja o frenesi assassino
que me toma, como uma puta ardilosa e gananciosa que me
abraça, me chamando para ela.
— Eu deixei os dois algemados na sala de
interrogatório — Dante me repassa. — A garota é uma
viciada, teve crises de abstinência umas cinco vezes
durante a viagem para cá... Não acho que vá falar muito...
— Não pretendo conversar muito também! — Não o
olho, apenas fixo meus olhos na porta ao final do corredor,
batendo minha mão com força nela e a abrindo.
— Olha, eu já disse que quero saber que porra
estamos fazendo aqui... — O homem de costas para a porta,
chutando a parede, fala com raiva, se virando e se calando
no segundo que fica de frente para mim.
Dou um rápido olhar dele para a mulher sentada na
cadeira, com os pulsos algemados e os cotovelos apoiados
na mesa, vendo seus olhos fundos e a pele ressecada, cheia
de feridas. Mas seu olhar ainda é o mesmo, e se prende aos
meus, com ela os arregalando e levantando apressada, o
que faz a cadeira cair ao chão.
— Encomenda... — ela balbucia, com seu peito
subindo e descendo depressa.
— Que porra de encomenda? De onde conhece esse
cretino, vadia? — Não olho para o verme, olho diretamente
para ela, com meu rosto tombando para o lado e sorrindo
com frieza.
— Encomenda, a encomenda de três anos atrás em
Sacramento... — ela sibila, indo para trás, até ter seu corpo
se colando à parede.
— Como assim? Esse aí é aquele idiota... — ele
murmura, caminhando para mim e me fazendo rosnar
quando giro meu rosto e o vejo erguer suas mãos com os
pulsos algemados. — Que merda tá rolando aqui? Que porra
acha que tá fazendo, seu... — A voz dele se cala e os olhos
se arregalam em dor quando minha mão se ergue até suas
bolas e aperto-as com toda força, fazendo-o se encolher.
Sua mão vai ao meu ombro, tentando me parar, e ele
grita de dor. Minha cabeça vai para trás e volta rapidamente
para frente, com o punho estourando seu nariz com o
impacto. O sangue escorre pela sua face vermelha, e ele
grita mais forte.
— OH, MEU DEUSSSS, NÃOOOOO! — A voz dela
repercute alto. — NÃO, NÃO, NÃO, DERIC...
Largo as bolas dele, com sua mão soltando meu
ombro e a levando até seu pau. Deric se encolhe, e minha
mão puxa a porra da cadeira, fazendo um estrago quando o
golpeio. Acerto seu rosto com a cadeira como se fosse um
taco de beisebol, e ele cai no chão feito um saco de lixo,
encolhendo-se mais. Jogo a cadeira ao chão e ergo meu pé,
o chutando com toda força, ouvindo-o gritar feito um porco
nojento no abate enquanto se encolhe.
Tremo de raiva ao olhar para ele caído no chão, e o
agarro pela camisa, o fazendo se levantar e o empurrando
com fúria para a parede, tendo meus olhos olhando bem no
fundo dos seus quando minha faca acerta sua barriga e
torço o cabo para a esquerda, o rasgando abaixo do umbigo.
— OHHHH, MEU DEUSSSSSS! — Não desvio meus
olhos dele enquanto ela grita, apenas me mantenho sério,
tendo minha mão puxando a faca com força para fora e a
descartando no chão.
— Ohhh... porraa.. — A mão trêmula dele se ergue, se
apoiando em meu ombro, ao passo que balbucia, com sua
boca se entreabrindo e a face pálida.
— Se lembra de mim agora, cuzão? — rosno baixo,
com minha mão se empurrando inteira para dentro da porra
do buraco que fiz em sua barriga e esmagando suas tripas
em meus dedos, o vendo tremer, com o sangue escorrendo
dele para meu braço.
— Ohhh... Deus...
Rujo com ódio e puxo meu braço para trás, trazendo
em minhas mãos as tripas do seu intestino, até elas
estarem para fora, penduradas em sua barriga. O solto, e
ele desliza pela parede, até seu rabo cair ao chão, com a
boca engasgada e sua barriga aberta. Estalo meus dedos,
com meu braço se esticando, ouvindo os gritos dela quando
Dante a agarra e a traz para mim.
— Não... Não, por favor. — Ela tenta erguer sua mão
para me afastar, mas a agarro pelo cabelo com ódio,
chutando sua perna.
Ela cai de joelhos, se desequilibrando perto das
pernas de seu namorado, e rosno, forçando sua cabeça para
baixo, fazendo a cara dela ficar enterrada nas tripas podres
do verme que está agonizando, cuspindo sangue pela boca.
— Ahhhhhh... — Ela se debate, mas aperto mais forte
sua cabeça, antes de puxar seus cabelos para trás, os
mantendo agarrados.
A face dela está coberta de sangue, assim como sua
boca entreaberta, enquanto chora. Esmago as tripas dele
em minha mão, o fazendo gritar quando as puxo mais para
fora, enrolando-as no pescoço da cadela da Shend, que se
debate, tendo ânsia e vomitando sobre ele, chorando ainda
mais.
Empurro a cabeça dela mais uma vez, a mantendo
agarrada pelos cabelos, e soco sua cara entre o sangue e as
vísceras dele e seu próprio vômito. Preciso de um segundo
para sacar minha pistola, antes de levar à cabeça dela e
meter o cano em sua testa.
— Vou arrancar a porra do intestino dele inteiro para
fora, não só as tripas, e depois assistir você comendo a
merda que tem lá dentro com suas próprias mãos. —
Minhas narinas se dilatam e agacho à sua frente, com ela se
encolhendo e seus olhos ficando apavorados, ao passo que
olha diretamente para mim. — E quando eu fizer isso, vou
garantir que coma até a porra do seu vômito junto, antes de
deixar Dante te despir inteira e meter o cano do rifle dele
em seu rabo, lhe fodendo com a arma, enquanto você
chupa o pau mole do seu namorado morto feito uma cadela.
E quando eu finalmente acabar de te destruir inteira, e
achar que está na hora de acabar com sua vida de merda,
você vai estar tão ferrada, com suas pernas e braços
quebrados, que vai beijar a minha mão em gratidão, por
finalmente lhe permitir morrer. Então, conta o que quero
saber, sem mentira, ou, acredite, até chegar seu fim, vai se
arrepender amargamente por ter me tirado daquele
hospício!
Bato sua cabeça na parede, a fazendo gritar e se
encolher, com suas pernas se arrastando no chão.
— Eu fui claro, cadela? — rosno para ela, socando sua
cabeça na barriga aberta do seu namorado novamente,
antes de puxá-la para cima. — FUI CLARO, CADELA?
— Sim... sim... — ela balbucia, respirando depressa,
com a face ainda mais suja.
— Ótimo! — Sorrio, soltando seus cabelos.
A mira da minha arma muda para a face do seu
namorado, e aperto o gatilho, fazendo um buraco em seu
olho esquerdo, com ele parando de agonizar quando
finalmente o mato. Levanto e me afasto dela, virando de
costas e vendo Dante pegar minha faca no chão, ao passo
que caminho para a mesa e jogo a arma sobre ela.
— Sabe, você tinha razão — falo, fisgando meu
pescoço de um lado ao outro e retirando meu colete, o
jogando sobre a mesa, fazendo o mesmo com a minha
camisa. — Quando disse para sua irmã, naquela noite que
me tiraram do hospício, que eu era um perigo e não deveria
estar solto.
Puxo a arma para minha mão e viro devagar,
erguendo a cadeira do chão e fixando os olhos nela.
— Realmente tinha razão. — Inalo fundo, sentindo o
velho cheiro de carnificina, o qual conheço tão bem e que é
como um amigo.
Ela se cola ainda mais à parede, com seus ombros
lado a lado do seu namorado morto, enquanto chora.
— Eu só soltei você, cara... só isso. Não fiz mal algum
a você...
— Sim, realmente não fez. — Sorrio, me sentando na
cadeira e depositando a arma em minha perna, estalando
minha boca. — Mas fez mal a alguém naquela noite, não
fez, Shend?
Aponto a arma para ela e aperto o gatilho, a fazendo
gritar e se encolher mais, chorando, com seus olhos se
esmagando, assim que acerto a parede, a poucos
centímetros da sua cabeça.
— Você e o cuzão aí fizeram muito mal a alguém
aquela noite! — Seus olhos se abrem e ela chora, fungando,
escondendo seu rosto no ombro do cadáver. — Vou ser
prático, Shend, e adiantar nossa conversa, que vai definir
como vou lhe matar: se é com um tiro na cabeça ou com
um tiro do rifle de Dante dentro do seu rabo.
Caminho para ela, me agachando a poucos passos
dela e vendo as tripas enroladas em seu pescoço, com ela
me fitando.
— Para quem vendeu sua irmã, cadela? — rosno,
esticando meu braço e colando o cano quente da arma em
sua bochecha.
As lágrimas escorrem por seu rosto e seu peito sobe e
desce rápido, com ela fechando seus olhos e negando com
a cabeça.
— Por favor...
Não tem clemência, não com ela, não com minha ira,
não com meu ódio.
Suas palavras se silenciam quando agarro seus
cabelos e estouro sua cabeça na parede mais uma vez.
— Dante! — rujo em comando, e ele vem para perto
do cadáver, usando minha faca em sua mão para o abrir
ainda mais.
Puxa para fora o intestino grosso dele, e ela grita, se
debatendo e se arrastando na parede, tentando se afastar.
Mas não a deixo fazer isso, aperto mais forte seus cabelos,
afastando o revólver da bochecha dela, ao passo que Dante
abre o intestino, o cortando devagar.
— Eu não a vendi, porra... — ela grita quando empurro
a cabeça dela na direção do intestino estripado, cheio de
merda, para a forçar a comer. — Não a vendi...
— Não? — questiono com ironia, arqueando minha
sobrancelha. — Porque acho que a partir do momento que
se ganha dinheiro ao entregar algo em troca, isso se
enquadra perfeitamente em venda...
— Eu não podia mais cuidar dela... Não podia... Por
isso achei que seria melhor para ela ser cuidada por outra
pessoa... — Afasto a cabeça dela, retornando a estourá-la
na parede.
— Está mentindo, cadela, e isso tá me deixando
animado, porque vou gostar, e muito, de lhe obrigar a foder
com o cadáver do seu namorado, com sua boca cheia da
merda dele... Só que também está me deixando irritado,
porque não gosto de mentiras. — Sorrio, suspirando,
negando com a cabeça. — Precisa escolher o que vai
querer, minha animação ou minha irritação, mas, acredite,
nas duas vai se ferrar!
— Um cliente... — ela balbucia rápido, suspirando
fundo. — Deric estava devendo dinheiro para umas pessoas
em Sacramento e eu o ajudei a pagar...
— Que romântico, quase posso me emocionar! — Levo
a arma para baixo do seu queixo, deixando o cano fixo em
sua pele. — Trocou sua irmã por dinheiro, cadela, vendeu a
Violet porque é uma puta gananciosa...
— Não, eu a amo. A amo e pensei em minha irmã
todos os dias. Me arrependi... — fala ligeiro, com lágrimas
escorrendo de seus olhos. — Ela é toda minha família. Eu
imploro, por favor, me escuta, eu me arrependi...
— Coisas que não funcionam comigo, arrependimento
e família. — Estalo a boca, rindo para ela e afastando o
revólver, o balançando entre minhas pernas agachadas. —
Então não apele para esse lado sentimental, porque eu não
tenho um. Agora, abre a boca e late, cadela. Para quem
vendeu sua irmã?
Ela se engasga e inspira fundo, enquanto sorrio e
retorno a arma para baixo do seu pescoço.
— Havia um cliente que me pediu para fazer um favor
para ele. Um amigo dele tinha chegado a Sacramento e
ninguém poderia saber que eu iria o atender... Ele era do
Canadá...
— Quem? — questiono sério, a fitando.
— Um padre... Shelby New. — Ela fecha seus olhos,
encolhendo seus ombros. — Esse era o nome dele. Eu que
bancava toda grana da casa, e não fiz apenas pela dívida de
Deric, já que também precisava de grana para pagar as
conta de casa. O atendi e não me importei que ele era um
homem religioso...
— Quanta nobreza! — Dante soa irônico, cuspindo em
cima do cadáver.
— Olha, eu tinha minha irmã pra cuidar, sempre fui eu
que cuidei da Violet... — Esmago seus cabelos, a fazendo
gemer de dor.
— Cuidou tão bem, que acabou a vendendo. Cuidou
tão bem, que usou ela para matar seus pais.
CAPÍTULO 44

ENTREGUE AOS SEUS PECADOS


JON ROY

A vejo arregalar seus olhos e me encarar no segundo


que falo sobre o passado dela.
— É, eu sei sobre seus segredos de família, senhorita
Sing. — Sorrio friamente. — Agora, termina de falar. O que o
padre tem a ver com Violet?
— Ele voltou... — Ela funga, fechando seus olhos. —
Voltou outras vezes para Sacramento, e me procurava para
o atender. Ele disse que estava por lá porque a igreja dele
estava ajudando algumas jovens...
Olho dela para Dante, já sacando o que ela está
falando, e posso garantir que a porra do padre não estava
ajudando, ele era o olheiro. O seletor de garotas para o
maldito esquema de bonecas humanas.
— Olha, ele me garantiu que todas eram bem-
cuidadas, disse que eram bem alimentadas, que tinham
homens que se as escolhessem, cuidariam delas. Qual é,
porra, eu fazia programa para pagar as contas de casa, me
sacrificava, então não vi mal algum em pensar em mim uma
vez... — Rujo, retornando meus olhos aos seus. — Eu
perguntei a ele se poderia me colocar no esquema, se
poderia achar alguém interessado em mim. Mas ele disse
que não funcionava assim, que seus clientes queriam
garotas novas, e ele estava procurando uma em especial,
que tinha sido encomendada para ele. Quando questionei
que tipo de garota especial ele estava caçando, ele me
disse que era alguém com problemas mentais...
Ela tomba o rosto e olha para o lado, na direção do
cadáver do Deric, ao passo que encolhe seus braços.
— Eu não dei bola para o que ele falou, deixei para lá,
mas acabei contando para o Deric. — Ela fecha seus olhos,
se encolhendo. — Ele foi atrás do padre, antes do cara partir
de Sacramento, e disse que queria entrar no esquema de
procurar as garotas, pois sabia que teria grana envolvida.
Foi quando Shelby disse a ele que se encontrasse uma com
transtorno dissociativo de identidade, ela valeria uma nota
alta, porque havia alguém que queria muito uma jovem
assim...
— E você entregou sua irmã? — rosno, rangendo
meus dentes e a olhando com desprezo.
— Não... Não. — Ela balança a cabeça. — Não, eu não
a entreguei... Não em um primeiro momento, já que me
recusei... Violet era ferrada, a cabeça dela é toda ferrada...
Nosso pai foi um desgraçado que acabou com nós duas...
— Assim como Suse acabou com ele por vocês.
— Como sabe sobre a Suse... — ela balbucia, me
olhando confusa. — Como...
Bato ainda mais forte sua cabeça na parede, a
fazendo gritar de dor e calar a porra da boca.
— Eu faço as perguntas aqui, cadela! — rujo com ódio.
— Sei o bastante para saber que você usou sua irmã, usou a
doença dela para matar seus pais, e usou Suse para fazer o
serviço sujo de vocês, assim como usou Violet depois, a
vendendo para encher a porra do seu bolso de dinheiro!
— Não, não a usei. Ela sofria tanto quanto eu, e nos
salvamos, foi isso que fizemos... — Ela nega com a cabeça
ao falar rápido. — Eu não a usei. Não conhecia os filhos da
puta dos nossos pais, eles eram monstros. Nosso pai era um
maldito monstro, e nossa mãe uma vadia desgraçada que
não conseguia ficar a porra de um dia sem se drogar...
Ela se cala quando agarro seu pulso e ergo seu braço,
olhando para as picadas de heroína nele.
— Pelo visto, seguiu bem os passos dela — sibilo, a
soltando com nojo.
— Não sabe de nada da minha vida, eu precisei
recorrer a isso para conseguir fazer por um segundo todo
inferno da minha mente se apagar, esquecer...
— Tenho certeza de que sim. — Dou de ombros. —
Mas pouco me importo com seu sofrimento, pelo que
passou, pois tudo foi pouco, cadela. Agora, continua
falando...
— Violet era uma retardada, é isso, seu desgraçado!
— Ela se encolhe, falando entre o choro. — Eu sabia que
tinha algo de errado com ela, sempre soube. Às vezes, a
expressão dela mudava quando papai a levava para o
quarto dele, ao invés de ficar no nosso, e quando ela saía de
lá, era só a Violet, risonha e brincando com a maldita
boneca. Uma noite, eu olhei, não fechei os olhos como
sempre fazia quando ele resolveu a tocar em nosso quarto.
Fui para perto da cama dela e a vi ficando rígida, com seu
corpo estático e a face tombada no travesseiro, de barriga
para baixo, tendo os olhos marejados. Enquanto aquele
porco a fodia, não saiu um único som da boca dela, nem um
movimento sequer ela fez. Quando ele saiu e voltou para o
quarto da nossa mãe, eu perguntei como ela fazia aquilo,
como podia ficar lá, deitada, sem sentir dor, sem gritar.
Quando ele me tocava, me espancava e me batia no rosto,
até eu parar de chorar, porque ele não gostava de ouvir
meus gritos, mas ela não... Ela não gritava, então quanto
mais silenciosa ela ficava, mas rápido ele acabava. Eu tentei
fazer o mesmo, porém não consegui. Era muita dor, e eu
era tão criança quanto ela, mas, mesmo assim, ela ficava
em silêncio.
Os olhos dela se fecham e funga, negando com a
cabeça, chacoalhando seus ombros.
— Eu reparava nela durante o dia, sempre agarrada à
boneca, rindo e brincando, sentada na escada do trailer,
como se não tivesse acontecido nada com ela na noite
passada, como se estivesse tudo bem, conversando com a
maldita boneca e penteando os cabelos dela. Minha mãe
batia nela, dizendo que ela era retardada, que Suse não
existia. — Ela se cala, puxando o ar com força e o soltando
em seguida. — Mas eu sabia que tinha algo errado, pois não
tinha como esquecer aquele porco tocando na gente e agir
como se nada tivesse acontecido. Em uma das noites,
quando ele saiu de perto da cama dela, eu me sentei e
fiquei a olhando na mesma posição, como a maldita boneca
largada no chão, estática. Eu a chamei de Violet, e ela
permaneceu imóvel, então a chamei de Suse, e ela me
olhou, olhou diretamente pra mim. E vi nos olhos dela que
não era Violet que estava me encarando, pois ela não tinha
o olhar brilhante e feliz de Violet, o olhar era triste.
Ela chora, soluçando e cobrindo seu rosto, com suas
pernas se esticando. Solto seus cabelos e olho para ela com
mais desprezo.
— Ela não falava, e demorou para começar a falar
comigo. Eu conversava com ela toda a noite, e durante o dia
via Violet feliz, brincando no jardim, como se tudo fosse
perfeito em nossa vida de merda. Nosso pai não a
acorrentava como fazia comigo, e nossa mãe passava dias
drogada, que era quando ele nos violentava, e foi então que
disse a ela que ela era a única que podia nos salvar... — Ela
volta o rosto para mim, abaixando a mão da face. — Ela
cortou a garganta dele primeiro, e depois esfaqueou nossa
mãe, quando a vadia acordou e viu nosso maldito pai
coberto de sangue. Todo corpo dela ficou coberto com o
sangue deles, e o olhar dela era assustador, ela era
assustadora...
— Ela salvou vocês! — esbravejo com raiva, a vendo
querer se fazer de vítima, quando foi ela que pediu para
Linda cometer o crime. — Salvou Violet, assim como te
salvou, e você a traiu quando vendeu Violet, ao invés de
protegê-la...
— Eu a protegi, porra... — Ela chora, soluçando. —
Protegi até onde eu consegui. Ficamos na rua por muito
tempo depois que fugimos do orfanato, e cuidei dela, me
prostituí e arrumei uma casa, a mantive segura o quanto
pude, até dela mesma, ou acha que ela conseguiria
sobreviver sem mim com toda aquela loucura dentro dela?!
Violet é ferrada, tão ferrada que nem ela tem consciência do
quão fodida que a cabeça dela é. Às vezes, eu chegava em
casa e ela estava sentada no chão, sem dizer uma palavra,
completamente paralisada, movendo os braços em seu colo,
igual ela fazia com a boneca quando a ninava, e depois ela
apagava. E quando acordava não se recordava de nada. Eu
não contava a ela, tinha medo dela fica ainda mais doida,
trazendo aquela assassina de volta e acabar me matando
enquanto eu dormia, igual fez com nossos pais...
— Contou ao cuzão sobre Violet, sobre o que Suse fez
para salvar vocês, não foi?! — digo, compreendendo
exatamente que foi isso que fez. — Foi assim que o tal
padre descobriu sobre ela, através daquele verme...
— Deric entendia menos do que eu das loucuras de
Violet, e quando ele perguntou ao Shelby que tipo de porra
era aquela doença que ele estava procurando, e o padre
explicou, foi então que ele contou sobre Violet. — Ela chora
mais ao olhar para o cadáver. — Shelby me procurou,
marcou um encontro, e depois da gente trepar, ele me
perguntou o quanto eu aceitaria para entregar Violet, para
ele a levar até seus amigos. Foi muito dinheiro, muito
dinheiro que eles queriam pagar por ela, e ele me garantiu
que ela seria bem-cuidada, que o homem que a queria era
poderoso, muito poderoso. Lembro apenas de dizer que era
turco...
O presidente da Turquia, foi para ele que o padre a
entregou. Fico pensativo, juntando as peças do que Shend
me contou até agora, não vendo como isso me leva ao
mestre de Linda.
— Shelby disse que esse homem pagaria o preço que
fosse necessário por ela, porque tinha um cliente, um amigo
íntimo dele, pelo que entendi na época — meu rosto se
ergue para ela na mesma hora, comigo ficando atento às
suas palavras —, que estava querendo uma mulher com a
doença que minha irmã tinha.
— Qual era o nome dele? — Agarro seus cabelos,
metendo o revólver em sua testa. — Me dê o nome desse
amigo...
— Eu não sei... — Bato com raiva na cara dela com o
revólver, a golpeando.
— Me dá a porra do nome, cadela! — rujo com ódio.
— OH, MEU DEUS, NÃOOOO... — ela grita quando bato
outra vez em sua face com a pistola. — EU JÁ DISSE TUDO!
OHHHHH, EU JURO, EU JUROOO... OH, MEU DEUS... Eu disse
tudo, cara. Shelby não disse nome algum, ele apenas me
garantiu que ela estaria segura, que esse homem cuidaria
dela, pois entendia do problema mental de Violet...
Levanto com ódio, agarrando-a pelos cabelos e a
jogando no chão quando puxo as tripas presas em seu
pescoço, a enforcando.
— Eu não sei, não sei... Shelby disse que ela teria uma
casa, comida e segurança, e isso seria muito mais do que
eu poderia dar a ela, e fiz para o bem dela...
— Nos traiu... — O sussurro dentro da sala, o qual
reconheço imediatamente, me faz erguer minha cabeça na
mesma hora para a porta.
A visão do corpo encolhido de Linda, cabisbaixa, com
seus braços presos em volta do corpo, com seu vestido
branco e sapatos vermelhos, me pega de surpresa.
— Violet... — Shend inala fundo, pronunciando o nome
da irmã, com seus braços se esticando, tendo os pulsos
algemados, balançando os dedos para ela. — Oh, meu
Deus, Vi, é você... é você...
— Mentiu para nós! — Shend se cala, abaixando seus
braços ao escutar a voz baixa de Linda, embargada pelo
choro. — Prometeu que a protegeria. Não, não, não
protegeu, nos traiu...
— Suse... — Shend respira depressa, com os braços
caindo e ela ficando de joelhos.
— Jurou que cuidaria dela. — Seus sapatos vermelhos
batem ao chão, enquanto ela se abraça ainda mais
apertado. — Mentiu, mentiu para nós, nos jogou no inferno,
um inferno pior do qual eu lhe tirei...
— Não... Não, eu juro que não traí. Deric me enganou,
me garantiu que cuidariam de vocês... — Ela se cala quando
o rosto pequeno de Linda se ergue, a fitando.
Fico imóvel, esmagando mais forte as tripas de Deric
em minhas mãos, mantendo a cadela da Shend presa pelo
pescoço com elas, dividido entre a decisão de tirar Linda
daqui ou ver até onde minha pequena torre será capaz de ir.
— Ele mentiu para mim... foi ele... — Shend nega com
a cabeça. — Disse que estariam seguras, bem-cuidadas, e
sabe que amo a Violet tanto quanto você...
— Quer que eu a tire daqui? — Dante pergunta baixo
perto de mim, se levantando, mas nego com a cabeça, não
desviando meus olhos de Linda, que caminha, fungando
baixinho.
— Amo Violet, Suse... — Shend chora, com suas mãos
se erguendo e as balançando para Linda. — Você sabe
disso. Eu a amo, e fui enganada por Deric... Por favor, me
ajuda... ajuda, Suse.
Os joelhos de Linda se dobram e ela esmaga mais
forte seus braços ao lado do corpo. Aperto mais firme as
tripas em meus dedos, pisando em cima da panturrilha de
Shend e a esmagando com meu coturno quando ela tenta
investir para frente, querendo tocar suas mãos podres em
minha Linda.
— Jon, o chefe não vai gostar de saber que tem
alguém sem permissão aqui embaixo, sabe que é uma área
restrita, apenas para os órfãos — Dante fala baixo, e rosno,
girando meu rosto para ele e o silenciando.
— Peça, bebê — digo, retornando meus olhos para
Linda, vendo suas tranças caídas, com uma de cada lado
dos seus ombros, enquanto escuto seu choro. — Me diga o
que quer que eu faça com ela.
— Não... — Shend sibila entre o choro, levantando o
rosto para mim, mas a faço abaixar ao apontar o revólver
em cima da sua cabeça. — Por favor, por favor, não... Suse,
não, não deixa ele me machucar... Lembra... Nós duas, eu e
você, naquele trailer... Eu era a única que acreditava em
você, eu... sou sua irmã também...
Aperto mais forte minha bota na panturrilha dela, a
fazendo chorar de dor, focando meus olhos em Linda.
— Merda, Jon, isso não vai ficar bom! Se matar a
garota na frente dela, o chefe vai foder nós dois... — Dante
retorna a falar. — Me deixa a tirar daqui...
— Não, por favor, não me deixa... — Shend se
desespera mais, tentando esticar seus braços para tocar em
Linda. — Não me deixa, Suse...
— Porra, Jon, temos que tirar ela daqui! — Dante diz,
nervoso, e meu braço se ergue no segundo que ele dá um
passo à frente.
— Se der mais um passo na direção da minha garota,
vou desmembrar três corpos hoje, e não apenas dois —
rosno para ele, o mantendo em minha mira, estrangulando
a cadela da Shend com a porra das tripas do seu namorado
e a fazendo se engasgar.
— Suse... Suse, por favor, eu sou sua irmã! — A voz se
engasgando em meio a uma tosse me faz olhar para frente
na mesma hora.
— Oh, porra! — Dante dá um passo para trás, com
seus olhos se expandindo.
E eu fico paralisado ao ver minha pequena torre com
sua cabeça erguida, tendo os olhos violetas brilhando em
um tom escuro, quase como se seu lilás estivesse da cor de
um vinho, presos na face de Shend. O braço esticado de
Linda tem o cabo da minha faca preso em sua mão, com a
lâmina dela enterrada na barriga de Shend.
— Suse... — Shend balbucia e sua face se abaixa.
Solto as tripas que segurava, tirando meu pé das suas
panturrilhas e dando um passo para trás, enquanto não vejo
nada mais diante de mim que não seja minha pequena e
perfeita Linda.
Ela puxa seu braço para trás, mantendo a faca presa
em sua mão, tombando seu rosto para o lado e observando
a barriga ensanguentada de Shend.
— Eu sinto muito... — Shend murmura enquanto
chora. — Me perdoa...
— Não! — Sua voz sai tão firme quanto seu braço
retornando para frente e enterrando a faca em Shend,
fazendo o corpo dela cair para trás, sobre as pernas do
cadáver de Deric.
É bela, a mais perfeita visão em que já pus meus
olhos. Minha pequena torre vibra, com seu corpo ágil se
movendo como uma predadora, puxando a faca em sua
mão, antes de agarrá-la firme com as duas mãos e erguer
seus braços para cima, esfaqueando Shend em cima do seu
útero, sem clemência e sem perdão.
A euforia do momento a consome, o calor da matança
lhe acende a cada sobe e desce do seu braço, em repetidos
ataques brutais, enquanto Shend grita e cospe sangue,
sendo esfaqueada. Meu peito se expande e meu coração
acelera, com o orgulho me inflamando.
Vejo-a tão livre quanto eu fico, com ela libertando
seus demônios em cada rosnado e espirro de sangue que
voa em sua face. É perfeita, completamente linda, minha
Linda, como uma valquíria[27] feroz, arrebatada pela
carnificina, cega em sua ira, em seu desejo de dor, de
poder, o qual ela tem em suas mãos com aquela faca.
Shend, provavelmente, morre na sexta facada, já que
tem seu útero sendo rasgado, mas não interrompo Linda,
não a privo desse momento, a deixo livre para golpear sem
parar, até ela se cansar, apenas a admirando.
Seu peito sobe desce e ela se levanta aos poucos,
com seus olhos presos no corpo imóvel e ensanguentado no
chão, tendo a faca presa em sua mão, com seus olhos
marejados vindo para os meus.
— Feia... — Seus lábios trêmulos sussurram para mim,
com suas mãos ensanguentadas se erguendo, me
mostrando como estão sujas com o sangue de Shend. —
Linda é feia, mestre Jon.
— Não. — Nego com a cabeça, indo para ela e pisando
em cima da cabeça da cadela morta no chão no processo,
agarrando minha pequena torre pela cintura na sequência.
— É linda!
Suas mãos se fecham em meu pescoço e ela larga a
faca no chão, agarrando meus cabelos com tanta força, que
chego a achar que vai os arrancar. Mas não me importo,
apenas a beijo mais brutal, sendo consumido por nossos
pecados, os quais entrego a ela, sendo condenado tanto
pelos meus como pelos dela, que está, nesse momento,
completamente entregue aos seus pecados.
— SAI! — rosno em comando para Dante, e minha
mão já está no rabo dela, a tirando do chão.
Suas pernas se enrolam em minha cintura e meu
outro braço se ergue, apertando a porra do gatilho da
pistola e mirando no teto, enquanto caminho com ela para a
mesa.
— JÁ ESTOU SAINDO, PORRA! — Dante fala apressado,
compreendendo o disparo, me deixando apenas ouvir seus
passos correndo para a porta, que é fechada atrás dele.
Não separo minha boca da dela por um segundo que
seja, nem quando aterrisso seu rabo sobre a mesa e deixo a
arma em cima, para poder agarrar sua coxa. Os dedos de
Linda seguram meus braços e ela me beija intensamente,
tanto quanto a beijo. Ela aperta seus sapatos em meu rabo,
chocando seu quadril no meu, e puxo seus cabelos, a
fazendo olhar para mim, tendo meus olhos admirando
minha mais perfeita ruína com seus olhos violetas
brilhantes. Fito-a com pura paixão, antes de capturar seus
lábios inchados novamente para mim, a tendo gemendo
entre suspiros, com suas mãos indo para a braguilha da
minha calça e a abrindo.
Arrasto seu rabo para mais perto da borda da mesa e
seguro forte suas coxas, a fazendo gemer e jogar a cabeça
para trás. Seus dedos estão em meu pau, que pulsa em sua
mão, tão duro e excitado, pois nunca desejei tanto estar
dentro da sua boceta como eu quero estar agora. Necessito
a sentir, tê-la vibrando em meus braços como a vi vibrando
enquanto esfaqueava a cadela da Shend.
Cravo os dentes em sua garganta, e ela grita, arfando
mais depressa. Levo meu pau entre suas pernas e afasto
sua calcinha com as pontas dos meus dedos. A fodo,
empurrando meu pau nela no segundo que sinto os lábios
da sua boceta sobre a cabeça dele.
— Ohhh... — Ela se agarra a mim, e seu quadril se
move junto comigo, em um ritmo animal, urgente, com ela
tão alucinada quanto meu pau, que estoura dentro dela.
— Perfeita! — rosno, beijando seus lábios, com meus
dentes os mordiscando em seguida. — Minha garota é
perfeita!
Espalmo as mãos embaixo da sua bunda, a tirando da
mesa e enterrando meu pau fundo em sua boceta,
estourando dentro dela, a tendo gemendo em minha boca
enquanto nos levo para perto da parede e a esmago contra
a estrutura. Linda agarra meu pescoço e move seu corpo
para baixo com força, ao passo que empurro meu pau para
cima e estouro em sua boceta, que o encharca.
Levo minha mão para a parede, perto do seu rosto, e
minha cabeça se afasta da sua, indo para seu decote e o
puxando para baixo, capturando seu seio em minha boca, o
sugando com força e cravando meus dentes nele, a fazendo
gritar alto enquanto a fodo mais intenso. Sua boceta me
lava, e ela geme entre o riso, com seus dedos presos em
meus cabelos, se agarrando a eles.
Seu corpo quente vibra como o meu, e rosno quando
ela puxa minha cabeça para trás e me faz olhá-la. Sua
língua lambe minha boca, e ela é meu pecado mais
prazeroso, minha união e comunhão dentro dessa boceta
escaldante que me suga para ela tanto quanto os olhos
violetas presos aos meus. A fodo tão brutal, como se não
existisse nada além dela em minha vida.
Minha pequena Linda, inocente e assassina, que me
tem como seu escravo. Eu cometeria as piores atrocidades
apenas por ela, porque, sordidamente, essa mulher é
minha, apenas minha.
— Perfeita, minha garota é perfeita! — falo em seus
lábios, a tendo me beijando com paixão, e sua boceta me
engole com luxúria, ficando ainda mais escaldante, com
seus orgasmos lhe tomando.
Ela lava meu pau ao gozar nele em meio aos seus
gemidos, me tomando inteiro, ainda mais denso a cada
entra e sai do meu pau em sua boceta. E ela me arrasta,
porra, minha garota me arrasta, me levando ao mais
perfeito paraíso, com meu próprio gozo me tomando, e a
sigo em nossa luxúria.
Os músculos das minhas coxas queimam, vibrando a
cada jato de porra que disparo dentro dela, que me abraça
mais forte. Meu peito sobe e desce rápido, com meu
coração disparado, e caminho com ela até a mesa, sentindo
meu pau escorregar para fora da sua boceta, que goteja
minha porra. A sento na beirada da mesa e raspo minha
testa na sua, inspirando o perfume dos seus cabelos.
— Perfeita, bebê... — murmuro, e a sinto esfregar seu
rosto no meu, beijando com docilidade minha boca.
Afasto-me e dou um passo para trás, cobrindo suas
pernas antes de colocar a porra do meu pau, que está
lavado com a minha porra e a dela, dentro da calça. Ando
pelo espaço e pego a faca do chão, além de arrastar a
cadeira para perto das pernas dela. Jogo meu peso no
assento e pego minha arma, entregando a faca para ela.
— É sua. — Linda pisca, confusa, olhando da faca
ensanguentada para mim. — Nunca mais se ache feia, e
isso foi uma ordem do seu mestre, bebê.
Escoro meu braço na cadeira e viro meu rosto para
frente, observando os cadáveres no chão, de Shend e de
Deric, ensanguentados, ao passo que meu peito se
expande. Puxo sua perna para perto de mim, e seu braço
passa por trás do meu pescoço, com ela se esticando por
meu peito e respirando baixinho, ao passo que olho o corpo
esfaqueado de Shend.
— Perfeita... — pronuncio devagar, admirando o que
ela fez.
Minha doce Linda, perfeita e inocente torre, que me
tem em seus pecados completamente entregue a ela. Eu
sou um doente de merda, mas um doente de merda
obcecado e apaixonado por ela.
CAPÍTULO 45

MEU TABULEIRO
JON ROY

Passo meus olhos pelo corpo nu feminino na imensa


cama de casal, com os lençóis vermelhos de seda jogados
ao chão, tendo a visão perfeita de Linda adormecida em
nosso novo quarto. Eu a carreguei em meus braços depois
de usar minha camisa para limpar suas mãos e as minhas
assim que decapitei Shend e Deric, enquanto ela me
assistia. Ordenei a Dante, que estava no porão, no andar
acima da sala de tortura, quando subi as escadas com
Linda, a jogar os corpos em um barril de soda e guardar as
cabeças para mim, que depois voltaria para buscá-las.
Andei em silêncio com Linda em meus braços,
evitando o pavilhão quando fui em direção às árvores atrás
do prédio de armamento, seguindo em silêncio minha
marcha para a torre vermelha, com minha garota em meus
braços. Ela estava em silêncio quando entrei com ela na
nova casa. Não olhamos as coisas juntos, na verdade,
apenas caminhei para o segundo andar, onde me deparei
com um grande cômodo, que, assim como o de baixo, é
inteiramente aberto.
Levei a Linda até uma porta ao fundo. Ao abri-la,
encontrei o banheiro, e a despi assim como eu, nos lavando
e depois lhe secando rápido, antes de lhe colocar na cama.
Seu corpo se aconchegou ao meu e ela bocejou, com sua
cabeça em meu peito e seu braço sobre minha barriga,
enquanto eu acariciava seus cabelos. Adormeci junto com
ela, acordando apenas pela porra da face de Lorane, que
invadiu meus sonhos, me arrastando para aquela maldita
mansão na Austrália.
Acordei e podia sentir perfeitamente bem o perfume
dela, com sua voz sussurrando em meu ouvido e ela atrás
de mim, ao passo que eu observava Linda sentada no chão,
na mesma posição que Ginger.
— Atira na cabeça, faz ela calar a boca...
Lorane afunda mais sua face no meu pescoço,
roçando o rosto na minha pele, e sinto suas unhas
esmagarem a minha cintura.
— Faça ela calar a boca, Jon. — Sua mão se ergue
sobre meu braço, segurando o revólver e apontando
diretamente para a cabeça de Linda. — Faça ela ficar longe
de você. Meu amor, você não é como eles, não é como
ninguém, sempre será sozinho, Jon, minha doce aberração.
Levo os olhos para o espelho que aparece na parede e
tem uma luz sobre ele, que ilumina meu reflexo, e me vejo
ali. Mas não sou o eu de agora. A face de Lorane está
amparada em meu ombro enquanto me encara, beijando
minha orelha.
— James te odiou, te abandonou, todos te
abandonaram, ninguém te ama, é uma aberração. Ela vai te
abandonar também, atire nela... — Meus olhos se abaixam,
encarando Linda, e a vejo chorar, com seu corpo nu e
amarrado. O sangue em volta dela cobre suas pernas.
— ATIRA NELAAAAA!
Eu podia lembrar perfeitamente de cada segundo
daquele sonho, que me fez acordar exatamente no segundo
que apertei o gatilho. Mas, dessa vez, ao invés de mirar
para o espelho no meu reflexo, eu ergui o braço e disparei
na minha cabeça. Meus olhos se abriram na mesma hora,
ficando vidrados no teto, antes de tombar minha cabeça e
encontrar Linda adormecida ao meu lado.
Saio da cama sabendo que não dormirei mais, e
caminho em silêncio pelo lugar, observando o quarto e
encontrando uma porta ao lado de um guarda-roupa. A abro
e acendo a luz de dentro. Me deparo com um cômodo de
paredes brutas, como a estrutura do lado de fora, tendo um
cavalo de atletismo ao centro, revestido de couro vermelho,
assim como um imenso X na parede e até uma roda da
morte, com algemas ligadas em cada ponto dela. Tudo tem
a sigla D.W. gravada no couro vermelho, só que em
dourado. Entendo o que elas significam, assim como todo o
cômodo com algemas, chicotes e palmatórias.
O lugar parece uma pequena casa de bonecas, só que
em uma versão sádica, o qual me pertence agora. Pertence
a Dave Woden. Apago a luz e fecho a porta atrás de mim,
me virando para a cama e ficando com meu olhar preso em
Linda mais uma vez, tendo as palavras de Owen martelando
em minha mente.
— É um Woden. Acredite, muito mais Woden do que
seu antecessor era. E isso é apenas o começo. — Ele dá de
ombros, retornando seus olhos aos meus. — Não irá apenas
interpretar Dave Woden, você será Dave Woden. Me disse
que não viu vantagem, mas terá inúmeras, e lhe direi
apenas uma delas, a qual penso que para você é o que mais
importa. Liberdade, meu jovem primo. Terá liberdade, não
mais um passado no qual precisa ficar enterrado, e sim
liberdade de uma vida nova, com um sobrenome que lhe
dará poderes que não tem ideia, o tornando intocável.
— Intocável... — murmuro, caminhando aos poucos
pelo quarto e ponderando suas palavras.
Paro perto da janela e deixo meus olhos presos no
palacete, encarando a majestosa Torre de Babel, que é
como um labirinto que esconde um rato. E, para encontrá-
lo, terei que entrar lá. Terei que ser como eles, terei que ser
muito pior do que eles. Tenho compreensão do que sou e,
principalmente, do que irei me tornar.
Não sou mais Jon Roy. O senhor Owen, de uma forma
direta e sutil, havia deixado registrado com a sigla o que me
tornei.
— Dave Woden! — sussurro, girando meu rosto na
direção da cama. — Seremos intocáveis, bebê. Vou garantir
isso.

Ando devagar dentro do corredor do pronto-socorro,


com meus dedos indo aos bolsos do agasalho. Evitei Nanete
e Elsa quando entrei pela janela dos fundos de um dos
quartos, que estava aberta. Já é quase 19h30, e Elsa está
em sua sala, conversando com Nanete. Eu passei por lá e
fiquei parado no corredor, ouvindo-as conversarem por
alguns segundos antes de seguir para outra direção.
Paro em frente à porta e retiro minhas mãos dos
bolsos, girando a maçaneta. O cheiro de álcool hospitalar
entra em meu nariz tanto quanto o ar gelado acerta minha
face quando abaixo o capuz da touca do agasalho. Não
acendo a luz do quarto, apenas caminho e encaro os
monitores cardíacos de Ryan. Ele está deitado na maca,
com um tubo de oxigênio em sua boca, com vários eletros
ligados ao seu peito. O curativo em sua garganta me faz
olhar para ela, e abaixo meu rosto, dando mais um passo
para perto da cama.
— Seferic Pel está morto... — sibilo, mas tenho apenas
os sons das máquinas como resposta. — Matei ele. Na
verdade, o torturei um tempo antes de matá-lo. Não
consegui descobrir o nome verdadeiro dele, pois a língua
dele foi arrancada segundos antes de você invadir o bunker.
Foi ele quem mutilou a Linda, arrancando o ovário dela,
assim como tirou o bebê do seu ventre...
Ranjo meus dentes, estalando meu pescoço para o
lado e esfregando minha mão em minha nuca.
— Teria gostado de ver o que fiz com ele,
Comandante. — Ergo meu rosto para sua face. — Mas não
consegui pegar o homem que você perseguiu, o desgraçado
fugiu de barco. O idiota do Artur atirou no braço dele, o que
fez a bala do desgraçado mudar a direção e acertar sua
garganta...
Inspiro e fecho meus olhos, negando com a cabeça e
rosnando, levando minha mão para o bolso do agasalho de
novo, para logo em seguida abrir meus olhos e fitar a face
de Ryan.
— Não devia ter me dado a ordem para me afastar de
você, velho. — Encho meus pulmões de ar, o soltando com
fúria na sequência. — Se estivesse acordado,
provavelmente, quem o socaria dessa vez seria eu. Bem no
meio da sua cara, por ter sido estúpido em abaixar a arma.
Eu vi sua arma caída no mato. Você é a pessoa mais
concentrada que conheço quando está em uma missão,
tinha que ser algo muito forte para te fazer abaixar a
guarda. Emotivo, lembra?! Eu disse que esse era seu ponto
fraco, velho de merda...
Rujo e esmago meus olhos, querendo o socar,
querendo o fazer se sentar e abrir seus olhos para o xingar,
ao mesmo tempo que sinto uma estranha sensação de
perda dentro de mim, uma que nunca havia experimentado.
— Não devia ter me afastado, não devia! — Abro
meus olhos e meus ombros se movem aos poucos enquanto
os flexiono. Estou rígido da cabeça aos pés, com os
músculos tensos. — Lembra o que disse quando me levou
ao alojamento pela primeira vez, velho... — Minha voz sai
em um sussurro, e o observo em coma, podendo recordar
perfeitamente dele diante de mim dentro daquele
alojamento. — Que se olhasse atrás de mim, eu não veria
nada, porque não tinha nada. Mas se olhasse à minha
frente, eu veria algo... — Rio com amargura. — Eu vi você,
Ryan. Foi isso que vi. Assim como era você que eu via nas
missões. Por isso, sempre lhe cubro, sempre mantenho esse
seu rabo grande protegido, além da minha mente limpa e
concentrada na missão, porque eu sei que enquanto eu
estiver lhe vendo, eu também me verei como você me vê,
que não é como um maníaco de merda.
Aperto minha boca e nego com a cabeça, rindo baixo.
— Eu nunca vou dizer isso pra você quando estiver
acordado, e, se morrer porque foi um idiota ao ordenar que
me afastasse, eu juro pela sua alma, velho cretino, que vou
mijar em cima do seu túmulo, e vou contar pra Elsa que
você arrastou uma corrente por ela desde a primeira vez
que a viu!
Fecho meus olhos e esmago meus dedos dentro dos
bolsos, abaixando a cabeça.
— Vou encontrar ele, Ryan — sussurro, abrindo meus
olhos e os fixando no seu rosto pálido. — Vou encontrar o
filho da puta que apertou aquela arma, e trazer a mão dele
para você, eu prometo.
O som de passos do lado de fora do corredor faz eu
me afastar da cama rapidamente, virando para sair do
quarto, mas paro ao ter os olhos do senhor Woden presos
nos meus, com ele encostado na parede, perto da porta
fechada, com as mãos nos bolsos da calça.
— Está tudo bem, eu também entrei escondido. — Ele
se afasta da parede e passa as mãos no cabelo, tendo as
luzes fracas do aparelho hospitalar iluminando seu
semblante. Penso que é a primeira vez que o vejo
desalinhado em todo tempo que o conheço. — Não sou
muito bom em deixar os outros me verem sendo humano.
Ele para perto da maca e mira o Ryan, soltando o ar
lentamente.
— Estava aqui dentro? — pergunto sério, endireitando
minha postura e ficando na defensiva. Entrar escondido
aqui, para evitar Elsa e Nanete, foi justamente porque me
sentiria estranho perto dos outros.
— É. Eu cheguei uma meia hora antes de você abrir a
porta. Quando você entrou, achei que era Elsa vindo trocar
o curativo. — Ele fisga sua boca. — Não precisa ficar assim,
está tudo bem se importar com alguém.
— Se está tudo bem, por que ficou escondido atrás da
porta? — O olho sério, o vendo sorrir sem muita emoção,
movendo a cabeça em positivo.
— Eu ouvi a vida toda que deixar outros verem que se
importa com algo é sinal de fraqueza — o senhor Woden
fala, girando o rosto para Ryan. — E na outra parte da
minha vida, de uma forma estranha e bem inusitada, me
ensinaram o que realmente é ter alguém que se importa
com você. Os dois ensinamentos foram dados por dois
homens. Um deles, sempre soube o que eu era e garantiu
que eu me tornasse ainda pior do que os médicos lhe
diziam; e o outro também sabia o que eu era, mas queria
ver o meu melhor, porque ele acreditava que até os piores
tinham algo bom dentro deles.
Seu rosto vem para mim, com ele suspirando e
erguendo sua mão, esfregando seu cenho.
— O primeiro homem, no dia que ele morreu, eu senti
puro ódio, porque não fui eu quem o matei. — Sua mão se
abaixa e ele comprime seus lábios. — E o segundo me fez,
por um segundo, ficar imóvel, sentado em uma cadeira,
completamente paralisado, sentindo como se tivesse sido
apunhalado no peito, quando descobri que ele foi baleado e
estava gravemente ferido. Senti por ele o que nem mesmo
o meu pai teve capacidade de me fazer sentir em toda a
minha vida: o medo da perda. Então, não se preocupe por
eu ter ouvido. Foi mais sincero do que eu, pois o máximo
que consegui fazer foi ameaçar de dar seu cadáver como
comida para meus cães, se ele ousar morrer e me deixar.
— Ryan o reconheceu — falo baixo, virando minha
face para a cama. — Ele o reconheceu, e isso o fez abaixar a
guarda.
— Artur me repassou o que houve. — Sua cabeça se
move em positivo, e inala fundo. — Eu estou desde a noite
passada revirando cada passo dos nobres de Babilônia,
monitorando os médicos que trabalham por fora, tirando um
dinheiro extra para fazer um atendimento desse tipo, mas
não teve nenhum sinal até agora. Nenhum nobre está ferido
com um tiro, e muito menos está perto da ilha... Talvez, eu
estivesse errado.
— Não! — Sou firme, já que não acredito nisso. —
Ryan abaixou a arma. E se ele abaixou aquela arma, é
porque é alguém que ele conhece. Ryan nunca teria
abaixado a guarda, e ele fez isso. Podemos não ter visto
com clareza, pode não ser um nobre, mas é alguém ligado à
Babilônia, e Ryan o reconheceu.
— Não existem ex-membros em Babilônia. A partir do
momento que se entra, não se pode sair, é até que a morte
nos separe. — O senhor Owen encara Ryan. — Existem dois
veterinários que conheço, que atendem por fora, nas
sombras, e vou ordenar a Tailer que vá até eles e descubra
algo. Artur garantiu que não errou o tiro, então não tem
como ficar com o buraco aberto, sem ele procurar ajuda em
algum lugar, algum atendimento...
— A menos que ele mesmo faça isso... — murmuro,
pensativo. — Havia uma mulher no bunker.
— Killer me repassou a missão. — Ele me olha sério.
— Não se preocupe, eu teria feito o mesmo pela garota, em
vista da descrição que Killer me deu da situação dela...
— Era uma cirurgia... O Seferic e o outro cara estavam
fazendo uma cirurgia nela, arrancando os lábios da vagina,
assim como o clitóris. — Lembro da cena, do lugar, da
jovem mutilada, do sangue e da língua. — A língua! —
sussurro, me apegando a esse detalhe: o bisturi no chão e a
boca ensanguentada de Seferic.
— Ele cortou a língua do Seferic para ele não falar. —
Ergo meu rosto para o senhor Owen. — Um serviço rápido,
com corte apressado, mas ainda assim preciso. Ele sabia o
que estava fazendo. Foi algo porco e rápido, só que ele
sabia o que estava fazendo...
Meu corpo já está se virando, e abro a porta, saindo
do quarto.
— Jon, do que está falando?
— A cabeça! Preciso confirmar uma coisa na cabeça!
— falo para o senhor Owen, não parando de andar.
— Jon? — Elsa, que vem pelo corredor junto com
Nanete, arregala seus olhos ao me fitar. — Pulou a porcaria
da janela de novo?! Eu não lhe vi entrando no pronto-
socorro... Senhor Woden?
As duas param de andar, tendo os olhos de Elsa
pulando de mim para trás do meu corpo.
— Nanete, onde está a cabeça? — questiono sério a
ela, não tendo tempo a perder.
— Que cabeça? — Elsa arregala os olhos, perguntando
nervosa.
— Jon trouxe uma cabeça de presente para Linda. —
Nanete esfrega o rosto, respirando veloz. — Uma cabeça
desfigurada...
— Nanete, responde minha pergunta, onde guardou a
cabeça? — rosno, falando mais firme, precisando que ela
me responda.
— Artur me forçou a ir buscar gelo no refeitório, para
ele guardá-la em um plástico, e depois disso, ele saiu, a
levando.
— Trouxe uma cabeça para o pronto-socorro...
Não respondo a Elsa, já estou andando apressado
para fora do pronto-socorro assim que tenho minha
informação.
— Bom, essa cabeça não me foi reportada. — Olho por
cima do ombro, vendo o senhor Owen me seguindo.
— Eu iria lhe dizer, mas acabou que encontrei Dante,
e acabei indo direto para o subsolo do porão, ao invés de ir
conversar com o senhor.
— Compreendo. Achei que realmente iria querer
cuidar deles, tanto que foi por isso que o ordenei a repassar
o assunto a você. — Ele respira fundo e afrouxa o nó da sua
gravata. — Eu mesmo pretendia cuidar disso, mas fiquei
focado em encontrar o filho da puta que atirou em Ryan.
Então, como foi? Descobriu algo com a irmã da senhorita
Sing?
— Algumas coisas... — Sou vago, não entrando em
detalhes. Por mais que confie no senhor Woden, não quero
lhe reportar sobre Linda ter assassinado Shend.
— Algumas coisas? — Ele olha para mim e arqueia sua
sobrancelha, ao passo que seu peito se expande e anda ao
meu lado com as mãos nos bolsos do terno. — Por que sinto
que há algo escondido por trás dessa frase...
Paro de andar quando estou diante do prédio do
alojamento, e me viro para o senhor Owen, o encarando nos
olhos, frente a frente.
— O que há escondido por trás de querer que eu seja
Dave Woden? — Ele sorri, movendo a cabeça em positivo.
— Me pegou, garoto. — Seu pé esquerdo bate no chão
e ele me observa, inclinando sua cabeça para a esquerda.
— Digamos que tenho planos para você, grandes planos, os
quais apenas um Woden pode ter competência para fazer,
não um Roy. Jon Roy ficará morto para sempre, com todo
seu passado, e se aceitar, lhe garanto que terá um poder
que lhe tornará um futuro rei.
Minha mente se atenta a cada palavra dele, e fito-o,
pensativo. Não preciso ir muito longe para compreender o
que o senhor Owen quer de mim.
— Me quer como seu sucessor em Babilônia. — Não
pergunto, apenas afirmo o que ele acabou de me dizer nas
entrelinhas.
— Não só em Babilônia, Jon. Será meu sucessor em
tudo, até fora daqui. Digamos que, talvez, eu vá ter que lhe
moldar, mas nada que uma tinta no cabelo e uma boa
maquiagem não resolva. — Ele sorri devagar ao mirar meus
cabelos. — Matar, tirar uma vida, é algo poderoso, mas
manipular nações, isso, meu jovem Jon, realmente é poder.
Não vou lhe obrigar a aceitar nada, mas se aceitar, vai se
mover no meu tabuleiro, sob as minhas ordens, até ser um
Woden por completo.
— Me quer na política. — Rio com amargura, vendo
com clareza o que ele deseja. — Não sou um diplomata,
senhor Owen, sou um assassino...
— E sobre o que você acha que se trata a política? —
Ele ri, negando com a cabeça. — É esperto, Jon,
compreenderá rapidamente o jogo de poder no segundo
que o tiver em suas mãos. E, acredite, quem tem o poder
nas mãos tem tudo. E sendo um Woden, esse poder irá
dobrar.
— Está querendo me transformar em você. — Fico
sério, o estudando.
— Estou querendo lhe tornar o que você realmente
nasceu para ser. Agora, a escolha de ficar nas sombras,
como um fantasma Roy ou um poderoso Woden vivo, será
apenas sua.
Ele vira e abre a porta do prédio do alojamento dos
bastardos, fazendo um gesto com a cabeça antes de entrar.
CAPÍTULO 46

A PRIMEIRA TEIA
JON ROY

— Onde está a cabeça? — indago assim que a porta


de Artur é aberta, com ele me encarando.
— Tive que guardar aquela merda na minha geladeira.
Não tinha ideia de onde você queria que eu a deixasse...
Já estou o empurrando, o fazendo abrir a porta e
passando meus olhos na pequena sala, vendo Killer
sentado, com uma lata de cerveja na mão, enquanto xinga
a televisão, onde passa uma partida de hóquei no gelo.
— Filho da puta, como deixou passar essa... — ele
grita com raiva antes de se virar e me ver. — Ei, Jon, está a
fim de uma cerveja...
Ele se levanta e pigarreia, ficando em sentinela, com
sua face se tornando séria, movendo a cabeça para frente e
para trás.
— Chefe! — Sua voz é firme ao cumprimentar o
senhor Woden, e leva seu braço para trás, escondendo a
lata de cerveja.
Vou até a geladeira e a abro, encontrando a cabeça de
Seferic dentro de um plástico, com a pele já começando a
ficar cinza.
— Artur, preciso de um martelo — digo para ele,
puxando o saco e o vendo fechar sua porta.
— Quem está ganhando, senhor Clay? — Olho por
cima do ombro e vejo o senhor Woden encarando Killer, com
seu braço se esticando. — Aceito a cerveja que ofereceu a
Jon.
Killer ri e relaxa sua postura, trazendo o braço à frente
e entregando a lata ao senhor Owen, que usa a gravata
para limpá-la antes de abrir. O som da tosse alta vindo do
banheiro me faz girar para lá na mesma hora, pois quero
saber quem mais está aqui. Porém, antes que possa
perguntar a Artur, a porta é aberta, com o alojamento sendo
inundado pelo cheiro de fumaça de maconha.
— Porra, Artur! Poderia de vez em quando limpar esse
banheiro... — Dante estaca na entrada do banheiro e olha
de mim para Owen, com o cigarro de maconha no canto da
boca. — Merda!
Ele tosse e retira o cigarro da boca, pigarreando
rapidamente antes de retornar para dentro do banheiro,
com o som da descarga surgindo em seguida. Reviro meus
olhos e encaro Artur, que segura o riso, vindo até mim e me
esticando o martelo.
— Cara, deveria ter fotografado a cara de Dante! —
Ele bufa, zangado, ao passo que jogo a cabeça em cima da
mesa dele, rasgando o saco plástico. — Sério, eu como
nessa mesa...
— Me dá logo a merda do martelo! — Pego-o da sua
mão, girando a cabeça sobre a mesa e acertando o maxilar
do filho da puta, para o quebrar, porque sei que pela
quantidade de horas que ele foi morto e o tempo que
passou na geladeira, os músculos já estão completamente
rígidos e a boca não se abrirá. — Preciso de um garfo...
— Nem fodendo! — Artur diz, negando com a cabeça.
— Guardei essa porcaria na minha geladeira, você está com
ele em cima da minha mesa, e agora quer um garfo?! Não!
— Ele me fez guardar duas dentro da minha geladeira.
Por que acha que eu vim para cá?! — Dante sai do banheiro,
pigarreando e fechando a porta. — Boa noite, chefe.
— Boa noite, senhor Dante — o senhor Owen fala
baixo, caminhando para perto da mesa com seus olhos
presos na cabeça. — Então, esse é o tal Seferic.
— Sim. — Me agacho, esticando minha mão para Artur
e mantendo a cabeça de frente para mim.
— Droga, Jon, poderia ter feito isso no seu alojamento!
— Artur rosna, zangado, me dando um garfo.
O viro, usando a ponta do talher para manter a boca
aberta, agora que tem seu maxilar quebrado, com meus
olhos presos no corte que sobrou da língua. E, sim, eu
estava certo. Não foi um serviço de uma pessoa qualquer.
Porco e de forma rápida, mas de alguém com conhecimento
cirúrgico.
— Ele é médico! — digo firme, me levantando e
girando a cabeça na mesa, a deixando de frente para o
senhor Woden. — O filho da puta é um médico! Veja o que
ele fez na língua de Seferic. O corte foi de alguém que tem
familiaridade com instrumentos cirúrgicos.
— Kaan! — Meu rosto levanta na mesma hora para o
senhor Owen, que está esmagando a lata de cerveja em sua
mão, como se fosse um pedaço de papel, enquanto rosna e
encara a cabeça.
Pisco, confuso, olhando do rosto sombrio dele para a
cabeça de Seferic, antes de compreender que o senhor
Owen o conhece.
— Sabe quem é esse verme que matei? — o indago. —
Conhecia esse homem que usava o nome falso de Seferic...
— Kaan Tekin, filho do senador da Turquia! — rosna,
abaixando a lata de cerveja amassada sobre a mesa. —
Conheço muito bem esse filho da puta, pois passei os
últimos três anos o caçando!
Dou um passo para trás quando o senhor Woden para
diante da cabeça, a fuzilando com seu olhar.
— Ele foi o mandante de um ataque contra mim, no
momento em que eu estava com minha esposa. — Ele inala
fundo, com suas narinas se dilatando. — Esse filho da puta
mandou atirar em meu carro e tentou me matar para a
sequestrar. No segundo que ele ficou sabendo que o
comparsa que ele tinha, um antigo amigo da família, tinha
sido assassinado, ele desapareceu do mapa. Passei três
anos vigiando o pai dele, fui pessoalmente o interrogar, e
nem uma pista sequer eu tive...
— Ele pode ter ficado escondido no bunker por todo
esse tempo. Era bem estruturado e tinha equipamentos
cirúrgicos de última geração naquele lugar... — falo sério,
ficando pensativo por um tempo.
Lembro do avental que o tal Seferic, o qual acabo de
descobrir que, na verdade, é Kaan, estava. O local era
praticamente um centro cirúrgico. Forço minha mente a
recordar de cada detalhe do bunker, o repassando em
minha cabeça, me atentando aos detalhes dele enquanto eu
andava e jogava gasolina lá.
— O que esse Kaan fazia exatamente, senhor Owen?
— questiono sério ao olhar a cabeça.
— Era um estudante de obstetrícia antes do pai
decidir o arrastar para a política, quando viu que estava se
tornando um vagabundo que mais gastava o dinheiro da
família do que estudava. — Ele inala fundo e fisga o canto
da boca. — Filho da puta! Queria ter dado ele para meus
cães comerem, enquanto eu assistia!
— Obstetrícia... — Respiro fundo, fechando meus
olhos, com minha mente tendo a visão perfeita da jovem
em cima da maca, com o órgão genital mutilado.
Forço-me a me concentrar, resgatando mais
lembranças do lugar. Não era apenas um bunker, tinha
quartos bem-arrumados, assim como uma pequena sala
cheia de livros e uma vastidão de literatura médica e
anatomia humana. Mas, principalmente, livros de
psicanálise. Alguns deles eu tinha lido no hospício, e tinha
reconhecido os títulos de André Green, Jacques Lacan e
Freud.
— Como descobriu, Linda? — Escorrego o dorso da
minha mão por sua face lentamente. — Como descobriu o
que é...
— Antigo mestre. Lixo... — murmura, com seus olhos
se fechando. — Lixo não existe, Lixo ser criação da mente
de Violet. E por causa de Lixo, ele ficar com ela... Ela ser a
preferida. Lixo era a preferida. Mas Lixo não falar, não,
não... Apenas ouvia, assim Violet estava segura. Mestre
antigo não gostava de ouvir vozes. Bonecas não falam.
Prendo-me à lembrança daquela noite no parque,
quando Linda me contou sobre seu antigo mestre, o que
rapidamente me faz pensar em Shend, nas coisas que ela
me contou.
— Deric entendia menos do que eu das loucuras de
Violet, e quando ele perguntou ao Shelby que tipo de porra
era aquela doença que ele estava procurando, e o padre
explicou, foi então que ele contou sobre Violet. — Ela chora
mais ao olhar para o cadáver. — Shelby me procurou,
marcou um encontro, e depois da gente trepar, ele me
perguntou o quanto eu aceitaria para entregar Violet, para
ele a levar até seus amigos. Foi muito dinheiro, muito
dinheiro que eles queriam pagar por ela, e ele me garantiu
que ela seria bem-cuidada, que o homem que a queria era
poderoso, muito poderoso. Lembro apenas de dizer que era
turco...
O presidente da Turquia, foi para ele que o padre a
entregou. Fico pensativo, juntando as peças do que Shend
me contou até agora, não vendo como isso me leva ao
mestre de Linda.
— Shelby disse que esse homem pagaria o preço que
fosse necessário por ela, porque tinha um cliente, um amigo
íntimo dele, pelo que entendi na época — meu rosto se
ergue para ela na mesma hora, comigo ficando atento às
suas palavras —, que estava querendo uma mulher com a
doença que minha irmã tinha.
Meus olhos se abrem e é como se uma chave girasse
em minha mente, destrancando uma porta e me deixando
ver o imenso quebra-cabeça à minha frente.
— É um psiquiatra. — Ergo meus olhos para o senhor
Woden, que me observa. — A pessoa que atirou em Ryan, a
mesma pessoa que torturou Linda e ficou com ela por conta
do seu transtorno, é um psiquiatra.
Olho para Dante, que fica sério enquanto o encaro, e
vejo por sua expressão que ele também lembrou do que
Shend nos contou. Ele balança a cabeça em positivo para
mim.
— A irmã disse que o homem que comprou a garota
de Jon tinha um amigo íntimo, e esse amigo queria muito
uma mulher com transtornos mentais. — Ele dá um passo à
frente, e o senhor Woden se vira para ele. — Temos que
caçar um psiquiatra.
— O que descobriu sobre o tal padre? — pergunto a
Dante, o fitando.
— Que padre? — o senhor Owen questiona, me
encarando.
— Shend contou que foi através de um padre que
descobriu que as meninas eram escolhidas em Sacramento.
Shelby, ela deu esse nome. O cara escolhia meninas jovens,
com vidas miseráveis, e estava atrás de uma em especial,
com os mesmos transtornos mentais que Linda tem.
— Isso facilitaria, já que ninguém as procuraria. —
Artur inala fundo, parecendo pensativo.
— Victoria! — Dante murmura. — Depois que fiz o que
ordenou com os corpos, fui fazer uma pesquisa, e achei na
capital da província de Colúmbia Britânica, Victoria, uma
pequena capela que tem um padre chamado Shelby. Até fiz
algumas ligações para uns contatos de Roma, mas tudo
sobre ele está restrito. Ele foi mandado para Victoria depois
de um caso de abuso em Chemainus, contra uma jovem que
foi denunciar à polícia. Como não tem poder jurídico sobre o
clero, o caso foi arquivado e o padre mandado para Victoria.
— Senhor Clay! — A voz do senhor Woden sai séria,
com ele batendo o pé no chão e encarando a cabeça. —
Avise ao piloto do meu helicóptero para o deixar preparado,
vou levar Jon para fazer suas confissões.
Ele se vira, com Killer saindo primeiro e passando
rápido pela porta, sendo seguido pelo senhor Woden.
— Preciso que faça um favor para mim. — Olho Artur
no fundo dos olhos.
— Eu sei, pode deixar, vou ficar de olho nela. — Ele
pisca para mim, movendo a cabeça em positivo.
— Busque Nanete, ela está no pronto-socorro, e leve-a
direto para a torre vermelha. Linda está lá, e apenas Nanete
entra. Você fica do lado de fora, e ninguém entra ou sai
daquele lugar até eu voltar — digo sério, agarrando a
cabeça de Kaan. — E quanto a você, Dante, vem comigo,
tenho um trabalho para você!
Saio rápido do alojamento de Artur, seguindo para o
meu, tendo Dante vindo atrás de mim.
— Olha, com todo respeito, sabe que tem poucas
coisas que não faço por você, mas se for para guardar a
cabeça de um padre na minha geladeira, nem fodendo —
ele diz enquanto abro a porta do meu alojamento.
O perfume de Linda está fresco aqui, vindo de cada
canto dele: das paredes, da cama e da cortina, com tudo
me fazendo ficar focado nela. Abro a geladeira e jogo a
cabeça de Kaan lá dentro, a fechando com o meu pé.
— Preciso que faça um dossiê bem meticuloso para
mim. — Caminho para a bancada de aço e puxo um revólver
da parede, confirmando se tem munição. — Brenda Kolfe é
uma psiquiatra. Quero saber tudo sobre ela, Dante. Onde
estudou, com quem falou, qual a ligação dela com
Babilônia. Mas, principalmente, qual a ligação dela com
Elsa.
— A doutora Elsa? — ele indaga, confuso, ao passo
que viro e levo o revólver para trás do cós da minha calça, o
escondendo com meu agasalho. — Quer que eu pesquise
sobre a médica? Cara, isso vai dar merda! Ryan meterá uma
bala na minha cabeça, todo mundo aqui sabe que ele come
merda pela médica...
— Sim, eu sei disso. E é exatamente por isso que
preciso que descubra tudo sobre ela também. — Recordo da
arma no chão, a arma de Ryan. — Ryan abaixaria a guarda
se fosse alguém que ele conhecesse, mas ele não soltaria a
arma por qualquer um, sem apertar a porra do gatilho. A
pessoa que atirou nele, o fez jogar a arma. Ela estava
distante do corpo dele, o que me diz que para aquele filho
da puta ter competência para fazer o velho ficar desarmado,
é porque é alguém que tem muita influência sobre ele.
Sinto como se estivesse em uma teia e tivesse
acabado de esbarrar em uma que se une às outras, finas e
interligadas, e que, ao fim, todas me levarão a uma única
pessoa: o antigo mestre de Linda.
Giro, indo em direção à saída do meu alojamento e
não aguardando por Dante, apenas descendo rápido as
escadas de incêndio, evitando o elevador, pois não tenho
paciência para esperar, com minha mente trabalhando
como uma máquina, me atentando a tudo e a todos, que
nesse momento tinham se tornado meus alvos.
E nem na porra da minha sombra eu confiarei, já que
sei que quando se puxa uma teia, todas as outras a
seguem, como um dominó.
CAPÍTULO 47

O GAMBITO DO BISPO
JON ROY

— Jon, sabe para onde sua avó foi?


— Não — respondo rápido a Ginger, sem desviar os
olhos da areia.
— Estranho. Baby está tentando ligar para ela já tem
uns dias, mas ela não atende.
É porque aquela cadela burra está morta, e, de certa
forma, finalmente tinha conseguido a fazer calar a porra da
maldita boca.
— A gente ainda não foi ver a casa do lago — falo
baixo, girando meu rosto para Ginger, mudando de assunto.
Não quero falar com ela sobre aquela velha maldita,
nem a deixar chegar perto demais dos meus planos.
Estranhamente, eu tinha apreciado sua companhia. Ela é
engraçada, e não faz eu me sentir uma aberração como o
verme do meu pai. Toda vez que olho para o covarde, que
encena ser minha tia, desejo o matar duas vezes pior do
que matei a cadela da minha avó. Eu odeio todos dentro
daquela mansão. Tirando meu tio Jonathan, o qual eu acho a
única pessoa mais parecida comigo, eu não suporto mais
ninguém, desde a cadela de Lorane até a Baby. Todavia,
sinto-me bem perto de Ginger, pois ela é diferente deles,
tão humana e cheia de emoções, as quais eu gosto de
estudar nela.
Ela é atenciosa e me faz pensar se é assim que uma
mãe deve agir. Eu penso nela, às vezes, como uma mãe, e
em outras como uma mulher, quando me masturbo ao
recordar dos seus peitos grandes, com meu tio a comendo.
Ela não devia estar naquela mansão, não quando tudo
dentro daquele lugar é amaldiçoado, feio e distorcido, com
todos tendo máscaras cobrindo suas faces, com cada um
fingindo ser o que não é.
Meu pai é um verme covarde que escolheu me deixar
em um internato e me fez acreditar que era minha tia; a tia-
avó é uma alcoólatra que finge que aceita Baby, mas, que
no fundo, não engole a ideia de que seu precioso sobrinho
prefere ter um pau fodendo seu rabo do que comer uma
boceta; meu tio é casado com Lorane, em quem ele nunca
tocou; Lorane está presa a um casamento enquanto trepa
comigo desejando que fosse meu pai; e Bob, o sobrinho de
Lorane, é inútil e o pau amigo dela. Mas Ginger não é como
eles, não esconde nada. Ela é emotiva, espontânea e
carinhosa.
Sei que tenho que tirar ela da ilha, ou acabarei tendo
que a matar junto com o resto dos vermes da minha família.
Tinha pensado em uma forma de fazê-la ir embora. Sei
sobre o que aconteceu com meu tio, já que Lorane me
contou tudo. E ela sabia, porque James, antes de se
transformar em Baby, contou para ela que minha avó
paterna tinha estuprado meu tio Jonathan quando ele era
criança. Dentro da casa do lago tem tudo dela guardado, e
foi lá que descobri que não era o único psicopata da família.
Vi os laudos da velha lá dentro, assim como uma foto dela,
e não precisei de muito para perceber a familiaridade dela
com Ginger. Meu tio está a usando, e eu compreendi isso no
segundo que vi a fotografia. Irei dar um jeito dela ver aquela
foto, para tentar a fazer sair logo daqui, antes que eu tenha
que matá-la.
— É verdade, você ainda não a mostrou para mim —
ela diz, sorrindo e me olhando com brandura. — Acha que
podemos passar a noite lá?
— Tipo acampar? — Arqueio minha sobrancelha, pois
esse não era meu plano.
— É, tipo isso! — Ela ergue sua mão para mim, em um
gesto estranho, o qual havia me ensinado, dizendo que é
um cumprimento de bate-aqui. Bato minha mão na sua e a
vejo rir, alegre, por algo tão idiota como um tapa em uma
mão, mas eu gosto de vê-la sorrindo. — Mas, me conte, o
que tem nessa casa?
— Na verdade, nunca entrei. Às vezes, vejo o tio indo
para lá — minto, desviando meus olhos dos dela. — Você
não quer ir mais lá? Parece desanimada...
— Não, eu quero — ela responde rápido. — E aí,
vamos comer algo por aqui ou quer jantar na mansão?
Queria ficar mais na praia, com ela, já que não desejo
voltar para a mansão Roy, porque quando estou lá, lembro
exatamente porque eu sou o que sou. Levanto e tiro a
camisa, a largando perto dela.
— Sei lá! Vamos ficar por aqui mais um pouco. Quer
entrar na água? — Ela ri, girando o rosto para frente.
Antes de se levantar, retira seu vestido e joga sua
peça de roupa perto da minha camisa. Abaixo meu rosto e
aperto meu cordão da bermuda, enquanto ela solta seus
cabelos, me fazendo cambalear com um empurrão em meu
ombro.
— Chego primeiro que você, magrelo! — Escuto sua
risada, com ela disparando em uma corrida na minha frente.
Corro atrás dela, conosco chegando quase juntos na
água gelada. Devolvo seu empurrão, a fazendo mergulhar,
mas antes de cair, ela ri alto e me puxa com ela. E,
estranhamente, nesse momento, brincando, eu não me
sinto uma aberração.
O som da tosse seca, vindo da cabine de madeira
colada com a minha, me faz abrir os olhos, e minha mente
se desliga da confusa memória que me pegou assim que
entrei no confessionário e fiquei sozinho aqui dentro,
apenas ouvindo o som das ondas se quebrando no rochedo
perto da pequena capela. No segundo que minha mente se
silenciou e escutei o som das ondas, sentindo o aroma da
maresia, lembrei de Ginger, e isso sempre acontecia quando
eu ficava perto do mar.
— E quais foram seus pecados, meu filho? — A voz
baixa suspira com calma.
Fisgo minha boca e me endireito no assento, deixando
as lembranças de Ginger desaparecerem, com minha mente
se concentrando apenas no agora.
— Olha, padre, não quero te ocupar a noite toda —
falo sério, levando a mão para trás da minha calça e
sacando meu revólver, o deixando sobre minha perna. —
Por isso, vou te contar apenas minhas últimas setenta e
duas horas.
Bato meu pé no chão, mantendo firme a pistola em
meus dedos, a descansando em cima do meu joelho.
— Minhas mãos estão sujas de sangue, muito sangue
— suspiro, fechando meus olhos e encostando minha
cabeça na madeira ao fundo do confessionário.
— Está falando metaforicamente, correto, meu filho?
— Escuto sua respiração aumentar, com ele parecendo
confuso pela entonação da sua voz.
— Quando preciso descobrir alguma coisa — abro
meus olhos e abaixo minha cabeça para a arma, a olhando
—, eu caço alguém que saiba mais do que eu, e vou
perguntar. Às vezes, isso acaba sendo bem violento, e
exagero um pouco.
Giro meu rosto e observo os pequenos furos na
madeira entalhada, a qual liga a cabine dele com a minha, e
vejo seu rosto virado para a frente.
— Eu vou te dar alguns exemplos, padre. — Retorno
meu rosto para frente, balançando meu joelho. — Matei três
pessoas nas últimas horas. Era para ser quatro, mas minha
garota matou a quarta pessoa. Normalmente, eu ficaria com
raiva por alguém ter interferido no meu trabalho, mas não
fiquei, não quando minha garota mandou bem pra caralho,
me deixando com o pau duro, a ponto de precisar fodê-la
com tanta urgência, antes que acabasse gozando na calça.
— Oh, Deus...
— Não acredito que Ele estava por lá — digo baixo,
negando com a cabeça. — Apenas eu, minha garota e a faca
que ela segurava firme em sua mão, ao esfaquear a minha
quarta vítima, a qual eu apenas torturei. E foi justamente
essa vítima que lhe entregou, padre.
Retorno meu rosto para ele, erguendo a arma e a
batendo nas pequenas grades de madeira do
confessionário, fazendo-o se assustar e girar o rosto para
mim quando o clique da trava se faz.
— Santo Deus, meu filho, você está em uma igreja...
— É só me dar um nome, padre — falo firme, batendo
novamente a lateral do cano da arma na grade, girando
meu rosto para frente. — Há três anos, você estava em
Sacramento, fodendo com uma prostituta enquanto
coletava garotas para o presidente da Turquia. Uma jovem
de olhos violetas, com transtorno dissociativo de identidade,
era irmã da puta que você comia, e só quero saber algo:
qual era o nome do comprador final dela? O homem para
quem o presidente da Turquia a entregaria?
— Belanger. — Giro meu rosto quando ele sussurra,
tendo sua respiração nervosa. — O nome dele é Hugo
Belanger.
— Está abusando da sorte, padre — rosno baixo, o
encarando assim que escuto sua resposta. — O único
homem com esse nome que eu conheço, está morto há dez
anos.
— Não estou mentindo, esse é o nome que Hasan
disse uma vez ao telefone — ele balbucia rápido, negando
com a cabeça. — Juro que foi esse nome que ele disse.
Hasan tem um diário na mansão dele, em Trebizonda, onde
guarda todos os documentos lá, de cada jovem, de cada
mercadoria que ele vendeu. Não estou mentindo, esse foi o
nome dito, e se for até lá, vai encontrar. Enquanto isso, se
pergunte, meu filho, se vale a pena cair em pecado profano
em um local sagrado, por essas criaturas com almas
perdidas e corpos corrompidos pela luxúria, que não têm
mais salvação.
Abaixo minha arma, a deixando em minha perna, com
meus olhos se fechando e minha mente tendo uma única
imagem brilhando dentro dela.
Linda.
— Não sei as outras, mas pela minha garota, padre...
— Abro meus olhos, movendo meu pescoço e o fitando. —
Vale a pena morrer. Vale a pena matar. Vale a pena queimar
no inferno por ela.
O som alto da arma explode dentro do confessionário
quando a ergo e miro em sua face, apertando o gatilho, com
o corpo dele tombando para trás.
— Obrigado pela confissão dos seus pecados, padre.
— Levanto, chutando a porta do confessionário e vendo a
poça de sangue no chão, que escorre da cabine ao lado. —
Lhe encontro no inferno.
Salto pela poça de sangue e ando pelo corredor da
igreja, assobiando devagar, enquanto minha mente fica
presa em tudo que o maldito padre acabou de dizer. Não
entendo como o marido de Elsa está envolvido nisso... Ele
morreu dez anos atrás no assalto, e Linda tinha sido
vendida há três anos, na mesma época em que eu vim para
Babilônia. As contas não batem.
— Presumo que já se confessou. — O senhor Owen
está parado do lado de fora da igreja, e me encara, levando
o olhar para dentro na sequência. — Jurava que levaria mais
tempo para colocar seus pecados em dia.
— Na verdade, não pretendia ter absolvição, e sim
cometer muito mais pecados. E acho que meus pecados
ficaram ainda maiores por ser um Woden. — Guardo meu
revólver e puxo o ar. — Eu aceito sua proposta, senhor
Owen. Aceito me tornar Dave Woden, aceito a política,
assim como jogar em seu tabuleiro, sob suas regras.
Ele arqueia sua sobrancelha, tendo um olhar analítico
sobre mim, e retira suas mãos dos bolsos, me olhando no
fundo dos olhos.
— E preciso saber o que vai querer em troca com essa
sua firme decisão, a qual vejo em seu olhar. — Um sorriso se
forma no canto dos seus lábios.
Viro meu rosto para a igreja, tendo as palavras do
padre martelando em minha cabeça, antes dos meus olhos
retornarem ao senhor Woden.
— Quero matar o presidente da Turquia. — Sou firme o
suficiente para ele saber que esse é o meu preço. — Matar
ele com minhas mãos, depois que ele me responder
algumas perguntas.
O senhor Woden não vacila, mal pisca ou demonstra
preocupação quando sua mão se estica para mim.
— Bem-vindo à família, Dave Woden! — Aperto sua
mão e devolvo seu cumprimento, o vendo sorrir para mim.
CAPÍTULO 48

A JOGADA DO BISPO
LINDA

Minha mente vai sendo despertada do meu sono, no


qual eu brincava entre sonhos pecaminosos, tendo o mestre
Jon como alvo principal, com ele me inundando a noite
inteira. Vou acordando de forma preguiçosa pelas carícias
quentes que recebo em minha pele, e inspiro o perfume
masculino, com o corpo úmido e forte se movendo acima do
meu.
— Mestre Jon... — sussurro, sem saber ao certo se
ainda estou sonhando ou se é real.
Os cabelos molhados pingam gotinhas de água fria
sobre minha pele, a qual está queimando, com meu corpo
sendo incendiado pela forma intensa que é tocado, comigo
ficando completamente cativa e desejando os carinhos que
recebo. A cada deslizar da sua língua, que passa pelo meu
queixo, o mordiscando, gemo baixinho, até sua boca
capturar meu seio e o lamber selvagem.
O pulsar no centro das minhas pernas dói, com minha
boceta ficando ainda mais excitada. A mão masculina
massageia meu seio, o que institivamente me faz arquear
meu tórax para cima e arfar com força. Um sorriso
preguiçoso surge em meus lábios, e tudo vai me levando à
borda, me queimando ainda mais por dentro e por fora,
assim que o pau de Jon começa a se empurrar fundo dentro
de mim.
— Ohhh... — gemo com luxúria, com minha mente se
despertando de vez, sabendo que não é um sonho.
Não quando o encaixe do pau do mestre Jon em minha
boceta, se empurrando inteiro e a fazendo se expandir para
receber seu tamanho, me pega com pura urgência. Jon
entra tão lentamente, me torturando enquanto sua boca
continua a sugar meu seio, deixando-o firme entre seus
lábios, que outro gemido mais desesperado escapa dos
meus lábios. Seguro-me em seus ombros, pois posso jurar
que estou caindo em um tortuoso precipício de prazer.
O sangue corre como fogo em minhas veias, e respiro
duas vezes mais rápido, com meus dentes mordiscando
meus lábios, me perdendo entre a agonia da entrega e de
posse do meu mestre, o qual está me levando à loucura.
Meu cérebro lateja forte, com explosões, e meu coração
bate acelerado, como se pudesse sair explodindo do meu
peito. A boca de Jon suga com mais força meu seio, com seu
pau pulsando dentro de mim com os leves movimentos
dele, que se retira e volta a entrar, me fodendo devagar.
— Jon... — Minha cabeça vira em agonia no
travesseiro, e abafo meu grito na pele grossa do seu braço,
que me prende forte a ele.
E, como impulso, ele me fode com mais brutalidade,
me tomando por completo e afundando meu corpo no
colchão.
— Era comigo que estava sonhando, por isso os
gemidos baixos... — Jon morde minha orelha, saindo e
voltando a entrar com força dentro do meu corpo, me
fodendo devagar.
— Simm... — balbucio, me agarrando mais
desesperada a ele, quando seus dentes mordem minha
garganta. — Mestre, por favor, mais rápido...
Cravo as unhas em seu ombro e imploro para que ele
me liberte dessa tortura, a qual está fazendo comigo. É
como se fogo estivesse correndo em minhas veias, e o ar é
a gasolina que entra em meus pulmões e os queima a cada
respiração. Não sei se estou perdida ou caindo em perdição
quando Jon liberta meu seio e espalma suas grandes mãos
no colchão ao lado do meu corpo, movendo com pressão
seu quadril contra o meu e me fodendo como um animal.
Minha boceta recebe com prazer e urgência as
penetrações brutas, que vão aumentando a cada batida da
sua pélvis com a minha. Minhas mãos o alisam com
desespero e deslizam por seus braços, e me aperto mais a
ele, com minha face retornando para frente e abrindo
minhas pálpebras. Meus olhos encontram os seus e não vejo
nada além das íris azuis brilhantes.
Prendo-me ao seu olhar, que consome minha alma, e
minhas pernas se esticam, se erguendo para se prender em
volta da sua cintura. Uso meus calcanhares posicionados
em sua bunda como alavanca para sentir mais fundo o
impacto do seu pau, que se afunda dentro de mim,
cravando-se em minha boceta, e tudo vira uma eterna
montanha-russa de emoções.
— Mestre Jon... — Seu nome é a única coisa que
consegue sair com algum sentido dos meus lábios trêmulos,
e meus dedos se espalmam em seu rosto.
Sinto-me extasiada com os sons grossos que saem da
boca dele, ficando ainda mais apaixonada por tudo que ele
me faz sentir. Jon suga meu dedo para sua boca e o
aprisiona entre seus dentes, me fodendo mais forte. Meu
corpo o recebe feliz, como um vício que já faz parte de mim.
Desejo mais a perdição dos nossos corpos se unindo, a dor e
a agonia, tudo misturado a cada penetração.
Colo minha mão em seu ombro e o arranho quando
me agarro a ele, com o som rouco dos gemidos de Jon se
misturando com os meus, enchendo ainda mais o quarto
com luxúria, prazer e uma necessidade animal de entrega e
pura posse. Meu corpo vibra junto ao dele, e entre batidas
latentes e rápidas, vejo tudo explodir à nossa volta, em
milhões de partículas. O gozo forte me rasga, correndo por
todo meu corpo, e Jon me fode mais fundo, com tudo me
tomando.
O cheiro de sexo, nossos corpos unidos, tudo é como
um gatilho que me liberta a cada estouro do seu pau em
mim. O som rouco ainda mais grosso e feroz escapa dos
lábios de Jon, com os olhos azuis dele presos aos meus, com
sua própria libertação o tomando e ele inundando minha
boceta com sua porra.
Meu corpo preguiçoso vai ficando completamente
mole, e meus músculos relaxam, com uma sensação tão
boa me consumindo. Seu corpo tomba sobre o meu,
enquanto nossos corações ainda estão agitados e batem
com uma força desesperadora. Minha boceta se contrai
assim que a língua dele desliza sobre minha garganta, em
cima da veia que pulsa forte.
— Comer sua boceta sempre será meu café da manhã
preferido — murmura rouco, soltando sua respiração morna
entre meus cabelos, o que me arrepia inteira. — Bom dia,
bebê.
— Bom dia... — sibilo, confusa, ainda atordoada pela
devassidão com que ele me tem, piscando rapidamente
quando tombo meu rosto no travesseiro e vejo que
realmente já é de manhã. — Eu dormi muito.
— Praticamente, o dia inteiro e a noite de ontem. —
Ele esfrega a ponta do meu nariz em minha garganta. —
Como está?
— Bem... — Viro meu rosto no travesseiro, para poder
olhar para ele, deixando meus olhos correrem por sua face
relaxada, com cheiro bom, de quem tinha acabado de sair
do banho, mas pisco, confusa, no segundo que meus olhos
se fixam em seus cabelos. — O que houve com seus
cabelos...
Os tons negros dos cabelos de Jon sumiram, e vejo a
cor nova, que deixa sua pele ainda mais pálida, uma vez
que são loiros. As mechas lisas caem em sua testa.
Seus olhos se fecham quando meus dedos se esticam
e tocam seus fios, e lhe fito com curiosidade.
— Gosta? — Ele estica seu braço e alisa meus cabelos,
os tirando de perto das minhas bochechas, ao passo que
meu peito fica agitado e inspiro mais fundo, fitando-o.
— Mestre ficou bonito... — murmuro, vendo-o abrir
seus olhos, os fixando em mim.
— Precisei deixar a cor mais clara, e os pintei ontem à
noite, enquanto você dormia. — Seu peito se expande. —
Algumas coisas vão mudar, Linda, não só meus cabelos... Se
recorda daquela noite que fomos até aquele prédio e Helena
me chamou de Dave?
Sim, eu lembro. Tanto que fiquei confusa, não
entendendo por que ela o chamava por outro nome.
— Sim, lembro disso. — Mordo meus lábios. — Mestre
Jon disse que naquele lugar era Dave...
— Serei Dave aqui também e em qualquer outro lugar
agora.
Ele abaixa seu rosto e olha entre nós dois, e sigo seu
olhar, apenas erguendo um pouco meu pescoço do
travesseiro, enxergando meu corpo com os seios marcados
por seus lábios.
— Não serei mais Jon — fala baixo, voltando seus
olhos para mim. — Apenas pode me chamar de Jon quando
estivermos sozinhos, mas em qualquer outro lugar, me
chamará apenas de Dave.
— Mestre Jon não será mais mestre Jon da Linda? —
pergunto, sem entender, deitando minha cabeça no
travesseiro de novo.
— Isso nunca vai mudar, ainda somos eu e você para
sempre, bebê. Apenas meu nome que será outro. — Ele
pisca para mim e dá um sorriso de lado. — Um nome que
vai garantir que fique ainda mais segura, nos deixando
intocáveis. E por falar em nome, Linda, eu preciso que me
diga algo. Pode me responder uma pergunta sobre seu
antigo mestre se eu fizer? — questiona sério, afastando seu
corpo do meu e retirando seu pau de dentro de mim, me
fazendo quase querer o agarrar, por estar se distanciando.
Arrumo meus cabelos e empurro as mechas para trás
da orelha, puxando a manta para cobrir meu corpo. O vejo
levantar e andar nu dentro do quarto, ficando de costas
para mim, se abaixando e pegando uma calça, antes de
virar e me olhar, aguardando sua resposta.
— Sim... — Movo a cabeça em positivo para ele.
Não sinto os gritos de Violet em minha cabeça, nem a
tristeza dela, por saber que teremos que falar sobre o
antigo mestre.
— Hugo — fala firme, caminhando para perto da cama
e jogando a calça no colchão, soltando todo seu peso
quando se senta. — Hugo Belanger.
Sua mão se estica e segura meu rosto, não me
deixando desviar meus olhos dele.
— Esse era o nome do seu antigo mestre, Linda?
— Não. — Esmago meus dedos sobre a colcha da
cama, olhando confusa para ele. — Ele não tinha nome.
Antigo mestre só se chamava mestre, apenas mestre. E
Linda era chamada de Lixo.
— Alguma vez ouviu esse nome, ou esse sobrenome,
Linda? Preciso que me responda com sinceridade. — Seu
olhar é tão intenso quanto suas palavras soando sérias. — É
importante eu saber disso. Sei que algumas coisas lhe
fazem sofrer, por lembrar junto com Violet, mas precisa me
dizer se já ouviu alguma vez alguém sendo chamado por
esse nome.
— Não, Linda nunca ouviu... — Eu fisgo meus lábios e
forço minha mente a recordar desse nome, mas, de fato,
nunca o ouvi. — Lixo não tinha permissão de falar, apenas
ouvia, ouvia mestre e senhores, mas nunca ouvi nenhum
nome deles.
— Está bem. — Ele aperta seus lábios e balança sua
cabeça em positivo para mim. — Não diga a ninguém esse
nome, está bem? É um segredo apenas meu e seu, bebê.
— Linda nunca dizer — murmuro, franzindo minha
testa, me sentindo confusa com a forma como os olhos
azuis de mestre Jon vão escurecendo. — Está bravo por
Linda não saber nome do antigo mestre...
— Não, não estou bravo. Eu apenas... — Jon esmaga
seus lábios, mantendo seus olhos presos nos meus. — Eu
apenas quero que saiba que faço qualquer coisa para te
proteger, bebê.
Mestre Jon segura meu rosto em suas mãos e o
mantém preso, não me deixando afastar dele.
— Tudo, Linda.
Meu coração para de bater por um segundo ao ouvir
suas palavras sendo ditas tão firmes, o que me deixa cativa
dele em seu olhar, que me prende ao seu. Sua face avança
para frente e esmaga meus cabelos em seus dedos, com
sua boca devorando a minha lentamente e seu peso se
empurrando contra o meu, até me ter em seus braços e
arrancar a colcha da frente do meu corpo.
— Agora, me conte mais sobre o que andou sonhando.
— Ele me mordisca, me fazendo rir.
CAPÍTULO 49

A MASMORRA DA TORRE
LINDA

Mastigo um pedaço de pão, sentada na cama, com


minhas pernas cruzadas, tendo nelas uma bandeja de café,
cheia de comida, a qual mestre Jon buscou no refeitório
depois que me deu banho. Meus cabelos soltos em minhas
costas balançam quando o vento entra pela janela, me
deixando sentir a brisa fresca em minha pele nua.
Estico meu braço e pego o copo de suco, o levando à
boca no segundo que a porta do banheiro é aberta, o que
me faz congelar meus movimentos e sentir o meu fôlego
ficando preso. Minhas pupilas se dilatam, assim como
minhas narinas, e abaixo o copo de mansinho para a
bandeja, me sentindo com a pele abrasada ao encontrar o
mestre Jon parado, me observando, com seus olhos azuis-
claros combinando com o terno em seu corpo, que parece
que foi feito sobre sua pele, de tão perfeito que é.
Espalmo a mão na cama, o olhando curiosa, já
colocando meus pés no chão enquanto caminho ainda
confusa e fito sua face limpa, sem seus desenhos. Minha
boca se entreabre e paro de andar, não entendendo como
os desenhos do mestre saíram da sua face, assim como do
seu pescoço.
— E então, como estou? — Ele caminha no quarto e
para perto de mim, levando as mãos aos bolsos.
— Os desenhos sumiram... — murmuro, tímida,
tombando meu rosto para o lado e abaixando minha face
para o sapato negro e brilhoso em seus pés. — Por quê?
— Porque Dave não tem tatuagens na face. — Ele
expande seu peito e inala fundo, retirando as mãos dos
bolsos e segurando meu ombro. — Ainda sou eu, só que
essa é minha máscara.
Rio e estico meus dedos, tocando sua bochecha e
dando uma rápida beliscada, balançando a cabeça.
— Não parece máscara... — Seus cabelos agora secos
me parecem ainda mais claros, e estão penteados
alinhadamente para trás.
— É uma maquiagem que mandei Artur me trazer,
mas, ainda assim, é uma máscara. — Ele me faz rir quando
segura minha cintura e tira meus pés do chão.
Agarro-me em seu ombro e sorrio, o tendo
caminhando pelo quarto, até parar diante do grande
espelho. Abaixo-me e me viro pouco a pouco, ficando de
frente para ele, vendo meu corpo nu refletido no espelho,
com as mãos firmes de Jon passando por baixo dos meus
braços e escorregando para a minha cintura, com ele
apoiando seu queixo em meu ombro ao olhar seu reflexo
junto comigo.
— Por muito tempo da minha vida, desde quando
entendi que algo em mim era diferente, eu tive que usar
uma máscara, e agora terei que usá-la novamente. E essa é
minha máscara: Dave Woden. Lembro que quando eu era
criança, eu gostava de estudar sobre o Halloween, porque
me parecia a única época do ano onde muito mais pessoas
usavam máscaras, não apenas eu. — Ele move seus olhos
do seu reflexo para o meu. — As pessoas acham divertido
se fantasiar e usar máscaras de monstros, enquanto eu
passei grande parte da minha vida fingindo não ser um.
Seus olhos se abaixam e sigo a direção do seu olhar, o
vendo encarar a cicatriz em meu ventre, tendo a ponta do
seu dedo a alisando.
— Linda não achar mestre monstro — sussurro,
fechando minha mão sobre a dele e encostando minha
cabeça em seu peito. — Gosto de mestre Jon como é... —
Me calo e nego com a cabeça, sorrindo e o vendo trazer
seus olhos aos meus. — Dave, mestre Dave.
— Mestre Dave, gosto disso! — Ele pisca para mim e
dá um passo para trás, retirando suas mãos do meu corpo.
Viro e passo meus dedos pelo tecido da sua roupa
bonita, a qual o deixa tão lindo, e demoro observando seu
rosto, estranhando ainda não encontrar seus desenhos. Sua
expressão fica ainda mais jovem, e ele fixa-se em cada
olhar curioso meu. Toco a gravata dele e sorrio de ladinho,
passando as pontas dos meus dedos por seus ombros e
caminhando por trás dele, o admirando, tendo a impressão
de que ele está ainda mais alto.
Passo os dedos por seus cabelos e os fios lisos e mais
claros escorregam entre meus dedos quando o acaricio. Me
ajoelho lentamente quando paro à sua frente, com minhas
mãos espalmadas em suas pernas, admirando cada parte
dele. A calça tem uma textura macia e boa de sentir na
pele, assim como a parte de cima do terno, e me inclino
para frente, esfregando minha bochecha nela, sorrindo
quando levanto meu rosto para ele e sinto os afagos da sua
mão em meus cabelos.
— Mestre Dave de Linda. — Arrasto mais minha
bochecha em sua coxa, sentindo a carícia em meus cabelos
se transformar em um puxão.
— Linda! — ele rosna baixo, arrastando minha cabeça
para trás e me fazendo o olhar. — O senhor Woden está me
esperando, tenho que sair. Agora, não pode querer me
tocar.
Ele estica sua mão e percorre a ponta do seu
indicador por meus lábios, e o pesco em minha boca, o
sugando, vendo seus olhos azuis se escurecerem ao me
encarar, com sua boca se retraindo. Seus dedos formam
uma garra de aço em meus cabelos, e puxam mais denso,
enquanto chupo seu dedo. Minhas mãos em sua coxa se
alastram, subindo pelo tecido azul da calça, e mantenho a
sucção em seu dedo, tendo a visão de meu mestre diante
de mim, tão impiedoso, com seus olhos azuis como gelos
cravados em meus lábios chupando seu dedo.
— Eu disse não — ele ruge baixo, e seu peito se
expande. Fecho os olhos e minha boca se entreabre quando
ele puxa com brutalidade minha cabeça para trás, para
libertar seu dedo. — Está sendo teimosa, bebê.
Arfo, sentindo minha boceta se contrair quando a
textura fria da ponta do seu sapato se eleva entre minhas
pernas e toca levemente na minha boceta. Um riso frio
escapa da sua boca, quando mesmo sob o aviso e do aperto
da sua mão em meus cabelos, meus dedos não param,
continuam a busca pelo seu pau, abaixando o zíper da sua
calça e se infiltrando dentro dela, até o puxar para fora.
— Linda! — Meus olhos se abrem e sou tomada de
luxúria diante da visão perfeita do meu mestre, com sua
face se retraindo e com os olhos fechados e lábios cerrados,
rosnando meu nome.
Ele me castiga com mais agressividade e me faz
inclinar meu pescoço inteiro para trás quando sua mão feroz
agarra minha nuca, raspando novamente a ponta do seu
sapato em minha boceta, fazendo minhas coxas tremerem,
com os espasmos me tomando.
— Vou te castigar se não soltar meu pau agora, bebê.
— Seu tórax se inclina para frente e sua face paira acima da
minha, mas não obedeço, mantenho meus dedos em torno
do seu pau, o massageando, o tendo duro e grosso em
minha mão e escorregando a ponta do meu dedo sobre a
cabeça. — Teimosa...
Sim, eu sou. E gosto de ser com ele, gosto de ser
engolida por esse olhar magnético que me tem presa a ele.
Amo a dor latejando no couro da minha cabeça, assim como
a textura grossa e fria do couro do sapato se esfregando em
minha boceta.
— Coloque suas mãos para trás, Linda! — ele ordena,
e em pura obediência faço o que pede na mesma hora.
Meu peito bate apressado, meus seios sobem e
descem, com a pele arrepiada e a boceta inchada,
completamente encharcada por conta do seu sapato, que se
esfrega com aspereza e rudeza em minha coxa. Minha
cabeça já está sendo puxada para frente rapidamente, com
minha boca se abrindo quando seu quadril se impulsiona
para frente, o que me faz tomar seu pau. Não há uma
prévia, uma entrada lenta, é violento e em uma única vez, e
me engasgo a ponto de o sentir tocar o fundo da minha
garganta. Mantenho minha cabeça parada, com ele
conduzindo os movimentos e saindo aos poucos.
Meus olhos lacrimejam, e choramingo, mal
conseguindo respirar pelo nariz, já que seu pau preenche
minha boca. Minha mente está tão focada nisso, que mal
noto quando ele retira seu cinto, o puxando lento, e apenas
percebo isso quando a ponta acerta minhas nádegas, assim
como parte do meu braço e minhas costas, me pegando de
surpresa e me fazendo sobressaltar. Mas a mão em minha
nuca a mantém imóvel, e outra cintada é desferida em
minha pele, que queima ao toque ríspido e cruel do açoite,
mas que me incendia inteira, tendo a dor me despertando
ainda mais, pois preciso dela tanto quanto preciso dele.
Seu corpo se empurra para trás e ele tira
completamente seu pau da minha boca, me fazendo tossir,
com meus olhos lacrimejando ao olhar para ele. Sua cabeça
tomba para o lado e ele me observa, antes de esticar o
cinto em sua mão e ficar agachado na altura dos meus
olhos.
— Deveria lhe deitar naquela cama e castigar seu
rabo, o penitenciando com cintadas até ele estar vermelho
a ponto de não conseguir se sentar, mas isso acabaria me
deixando preso nesse quarto, porque eu foderia esse seu
rabo pelo resto do dia, intercalando entre cintadas e meu
pau explodindo dentro dele — rosna baixo, empurrando
meus cabelos para trás da orelha. — Mas creio que posso
fazer algo mais rápido, que lhe deixe menos teimosa e
aguardando por minha volta, sabendo exatamente o que vai
receber como castigo, minha pequena torre.
Ele é ágil ao passar o cinto em torno do meu pescoço
e o prender como uma coleira, e logo fica de pé,
empurrando seu pau duro para dentro da calça, tendo seu
semblante franzido por conta do pau duro.
— Venha! — Ele puxa a ponta do cinto e me faz
cambalear para frente com o puxão, tendo minhas mãos se
espalmando no chão. — Perfeita! Não se levante, vai me
seguir exatamente assim!
Meu rosto se abaixa e minhas mãos se apressam,
assim como meus joelhos, e engatinho no chão, o seguindo
rapidinho, tentando acompanhar seus passos.
— Não pretendia lhe mostrar agora, faria isso à noite,
com mais tempo. — Ele não olha para mim quando fala,
apenas caminha, me fazendo engatinhar atrás dele. — Mas
nada como uma prévia das pequenas regalias que vamos
ter, minha pequena torre.
O vejo parar diante de uma porta e girar a maçaneta,
movendo sua cabeça para mim, para que eu entre. Vejo o
interior escuro, e não consigo enxergar nada lá dentro.
— Entre, Linda! — Olho para ele com receio, podendo
recordar dos esconderijos escuros que o antigo mestre me
deixava presa por dias, até ele voltar para me buscar.
— Vai deixar Linda presa no escuro até voltar? —
indago baixinho, com meu rosto se abaixando e meu
coração disparando, junto com uma sensação de medo me
tomando.
O movimento do seu corpo me pega de surpresa
quando ele se agacha e segura meu queixo, me fazendo o
olhar, com sua mão escorregando por minha boca.
— Nunca! — Jon é firme, e não desvia seus olhos dos
meus por um único momento que seja. — Nunca vou fazer
isso com você, nunca!
Eu confio nele, confio em meu mestre, e consinto com
a cabeça para frente, antes de esticar minha mão e a
espalmar no chão, engatinhando para dentro, mesmo
sentindo meu coração disparar. Não chego a me afastar
muito dele, por conta do cinto em minha garganta, que é
puxado para trás e me faz parar no segundo que a luz do
cômodo se acende. Meus olhos piscam, confusos, e olho
tudo com curiosidade, encontrando o vermelho vivo
brilhando em cada instrumento dentro do lugar.
— Essa é a masmorra vermelha, sua masmorra
vermelha, pequena torre. — A voz dele sai séria, e solta o
cinto, o deixando cair em minhas costas. — Será nosso
lugar, e apenas aqui dentro pode se dirigir a mim como
mestre Jon, e só quando eu lhe ordenar a falar, Linda.
Meu rosto vira e o caço, o vendo de costas, com seu
braço erguido, passando por vários instrumentos presos na
parede rude de pedra. Percebo as pequenas chibatas, assim
como outras grandes, além de uma variedade de modelos
de palmatórias, de algemas e de chicotes. Mas é em um
gancho prata de metal que ele para, com sua mão o
capturando e ele caminhando para a outra ponta do
cômodo, onde tem uma prateleira de cremes.
— Aqui dentro, apenas minha palavra é ouvida, Linda.
— Ele pega o frasco de creme e gira aos poucos para mim.
— Compreendeu?
Minha cabeça se move rapidinho, com meus olhos
curiosos presos em sua mão, vendo um tipo de anzol de
metal, que em suas pontas tem pequenas bolas vermelhas,
como se fossem vidros, que começam em uma ponta, onde
tem a curva e uma bola bem pequena, seguida por uma
média e outra maior, tendo a haste de aço reta, e em sua
outra ponta uma pequena argola acoplada.
— Tive uma longa conversa com o senhor Woden
durante a madrugada. — Ele bate seu pé no chão, enquanto
abre o frasco e o vira sobre as bolas do anzol. — Digamos
que algumas coisas vão mudar, e muito, e outras serão
ainda mais refinadas.
Não consigo ficar parada quando ele para atrás de
mim, e giro, olhando para ele ainda sem entender o que
pretende com aquilo em sua mão. Porém, não demoro muito
para saber qual a finalidade dele, não quando mestre Jon
vira o líquido gelado em minhas nádegas, o esfregando sem
pressa, me fazendo vibrar inteira, tanto de apreensão como
de euforia.
— Uma delas é nossa relação. — Ele gira meu rosto
para frente, o empurrando com as pontas dos seus dedos, e
esmago meus olhos, assim como meus lábios, quando sinto
a bolinha pequena do anzol ser empurrada dentro do meu
rabo. — A qual será muito, mas muito mais refinada. Não
apenas em nossa condição de serva e mestre, mas
principalmente como casal.
Sua voz calma ao falar comigo entra pela nuvem de
prazer e desconforto que me sobressalta, e sinto a segunda
bolinha entrar dentro de mim, sendo logo seguida pela
terceira, a qual me faz desejar expelir aquele corpo frio que
invade meu rabo quente. Mestre Jon puxa a alça do seu
cinto solta em minhas costas e faz eu me endireitar, ficando
de joelhos. A haste de metal do anzol bate fria até o meio
das minhas costas, e meu pescoço é castigado pelo couro
do cinto, que se esmaga mais contra minha pele, assim
como as bolas dentro de mim, que se afundam ao mesmo
tempo, me fazendo precisar ficar completamente ereta por
puxar meu rabo. Imagino-me como um pequeno peixe que
acabou de ser pescado, mas não pela boca, e sim pelo rabo,
literalmente.
Os dedos do mestre Jon raspam em minhas costas e
ele joga meus cabelos para meus ombros, enquanto os
escorrega pelo meio das minhas costas, me fazendo
arrepiar inteira. Puxa o cinto mais forte ao esticar, até ter
ele ligado à argola do anzol, o que me deixa completamente
imóvel, pois qualquer movimento que faça, por mais leve
que seja, me faz sentir as bolas dentro de mim, que puxam
meu rabo para cima.
— Perfeita! — A voz rouca masculina sai atrás de mim,
e ele deposita um beijo em meu pescoço, antes de se
levantar e ir para minha frente, o que me faz admirá-lo
diante de mim, comigo ajoelhada. — Perfeita, minha
pequena torre!
Sua mão se estica e acaricia meu queixo. Ele me
encara, com sua mão em minha bochecha subindo para
meus cabelos e os agarrando, forçando meu rosto para
frente. Isso me faz quase gritar e chorar, com meus olhos
lacrimejando ainda mais ao ter a ardência das bolinhas
dentro do meu rabo, que se movem e beliscam a pele de
dentro para fora, assim como o couro em meu pescoço se
aperta ainda mais.
— Fodidamente, eu gosto disso, bebê. — Ele sorri para
mim e se vira, e arfo, sentindo-me completamente
agonizante pelo prazer e pela dor. — Cruze os braços atrás
das costas, Linda.
Meus braços se movem, o que me faz não conseguir
segurar o grito. Preciso esmagar minha boca, e minhas
coxas tremem com o movimento do meu corpo, que causa
uma maldita beliscada dentro do meu rabo, que me queima
tanto quanto o cinto em minha garganta. Meus olhos se
comprimem e inspiro fundo, agarrando forte cada antebraço
com meus dedos.
— OHHHH!
Abro os olhos assim como minha boca e solto um grito
alto no segundo que as tiras finas acertam meu seio
esquerdo, em uma rápida batida, não forte e brutal, para
me fazer querer chorar em pavor, mas firme e direta, o
suficiente para queimar a pele e deixar meus seios
latejando tanto quanto meu rabo. Meus olhos se
concentram em mestre Jon e o vejo esmagar o chicote
vermelho em sua mão, com várias tiras de couro
penduradas nele, me açoitando novamente e me fazendo
engasgar.
Minha respiração acelera ainda mais e as lágrimas
escorrem por minhas bochechas na terceira chicotada. E
antes mesmo da quinta, estou soluçando e jogando minha
cabeça para trás, tentando de alguma maneira aliviar pelo
menos um dos castigos, fazendo assim o anzol maldito, que
me excita e me condena ao mesmo tempo, diminuir a
pressão dentro do meu cu. Na sétima chicotada, eu estou
em fogo, queimando, com a pele latejando e os seios
ardendo, além dos bicos sensíveis endurecidos, tão duros
que me dão a impressão de que meu coração está batendo
nas pontas deles, pelo latejar que pulsa nas aréolas. Porém,
ainda assim, me pego arfando, empurrando meu pescoço
ainda mais para trás, com meu tronco sendo inibido para
frente e oferecendo meus seios para serem punidos por
meu mestre.
Ele me pune, me castiga sem piedade, com uma
devoção incondicional. Nunca senti tanto amor em minha
entrega como em sua punição. Minha boceta pulsa, se
contraindo, e fraquejo, com minhas coxas e meus joelhos
escorregando para os lados, abrindo minhas pernas quando
a ponta do seu sapato tão sorrateira e perversamente toca
minha boceta.
E não sei o que me condena mais: se é a chuva de
açoite de tiras de couros, que se concentram agora apenas
em meus mamilos; a cinta esmagando minha garganta, que
deixa minha respiração ainda mais difícil; o anzol
fodidamente enterrado em meu rabo; ou seu sapato
masturbando minha boceta. Talvez seja o conjunto de tudo
que me faz explodir, simplesmente gozando entre a dor, a
angústia e a mais pura submissão, não me importando de
não ser nada mais que um corpo pequeno cheio de dor,
prazer e luxúria.
Mesmo diante da dor, da terrível sensação das bolas
dentro do meu rabo, esfrego ainda mais minha boceta
contra seu sapato. Os soluços de dor se tornam gemidos e
as lágrimas que lavam a minha face são tão intensas
quanto o orgasmo que jorra da minha boceta, que é tão
submissa ao meu mestre quanto eu. E o deixo saber que
sou dele, tão serva e devota dele, que todo controle dele
sobre mim é implacável.
Ainda estou sob o efeito dos tremores da pele
queimada e ardida pelo couro, vibrando com meu orgasmo,
quando ele para de me chicotear e abaixa seu pé devagar.
Meus olhos se abrem no segundo que sua mão se agarra
aos meus cabelos, com ele forçando seu pau dentro da
minha boca, me fazendo o engolir, enquanto me fode
brutal. Mestre Jon solta meus cabelos apenas para agarrar o
cinto em minha nuca, o puxando para cima, causando um
disparo de dor em meio ao gozo que acabou de me tomar.
Abro mais a boca, o deixando me foder tão fundo e
rápido, que até acho que vou parar de respirar, por sentir a
bateria de batidas do seu quadril contra minha face. Porém,
antes que isso aconteça, um urro alto escapa da sua boca,
antes de eu sentir a minha própria ser inundada pela sua
porra quente, que escorre por minha garganta enquanto a
engulo.
Sinto-me desmoronando, ao passo que ele se retira de
dentro de mim e empurra seu quadril para trás. Meus olhos
se abrem e pisco entre a névoa de lágrimas, a qual me
toma a mais perfeita visão do meu mestre com sua mecha
de cabelo, que estava devidamente alinhada para trás, e
agora descansa sobre sua testa, com sua boca esmagada e
as bochechas rosadas. Ele abre seus olhos e os fixa em
mim, sorrindo de lado e soltando meus cabelos, empurrando
seu pau mole para dentro da calça.
— Refinado... — rosna baixo e pisca, abaixando seu
rosto para seu sapato, do qual escorrega o líquido expelido
pela minha boceta. — Isso vai me tomar ainda mais tempo
do que estava planejando.
Sorrio, olhando para a ponta malvada do seu sapato,
que simplesmente me devastou e me fez gozar em
tremores violentos. Espalmo minha mão no chão, com meu
corpo todo se incendiando com o movimento das bolinhas
escorregando de dentro de mim, tendo o anzol se esticando,
assim como o couro em minha garganta, quando abaixo
minha cabeça. Preciso deixar minha bunda bem empinada
para cima, para conseguir lamber seu sapato. Sinto o gosto
do couro e o cheiro de sapato novo se misturar na minha
boceta. Lambo cada parte dele com adoração e servidão,
antes de me afastar e fitar seu sapato sem respingos de
mancha do meu gozo, endireitando minha postura e
retornando para a que estava, com meus braços presos
atrás de mim.
Ergo a face para mestre Jon e sorrio para ele ao
mesmo tempo que o vejo se agachar, tendo o chicote
caindo da sua mão quando ele fecha seus dedos em volta
do meu pescoço, me pegando de surpresa. Suas narinas
estão dilatadas, assim como seus olhos azuis estão
brilhando fortes para mim, com ele os deixando presos em
meus lábios ao levar seu outro braço para trás de mim,
soltando a ponta do cinto preso na argola e me fazendo
sentir o leve alívio em meu castigo, que me deixa com as
costas eretas. Pisco e sorrio para ele, sendo pega de
surpresa por seu beijo, que me faz suspirar entre gemidos,
com sua língua me invadindo, me deixando sem fôlego
quando separa nossas bocas.
— É a minha casa, bebê. — Sua voz sai firme, com seu
peito subindo e descendo e ele parando seus olhos nos
meus.
— Minha casa... — murmuro para ele, levando meus
dedos ao seu peito e os espalmando. — Casa, minha casa.
Seus braços passam por mim e ele cola meu rosto em
seu peito, enquanto vibro, ainda sentindo as bolinhas dentro
de mim, assim como a pele sensível do meu seio raspando
contra seu terno. Suspiro entre o prazer e a dor, me
agarrando mais forte a ele.
— Minha casa. — Sorrio, fechando meus olhos, com
meu corpo preso em seus braços.
CAPÍTULO 50

RELATIVO
JON ROY

— Causou uma boa impressão no Ministro da


Economia. — Desvio meus olhos da janela do carro para a
face do senhor Woden, que me encara com suas pernas
cruzadas e leva um copo de uísque à boca, dentro da
limusine. — Ele ficou realmente impressionado com sua
compreensão em Relações Internacionais, e soube levar a
conversa com ele de forma assertiva.
Na verdade, apenas disse o que o velho barrigudo
queria ouvir. Foi fácil de o ler enquanto o observava
conversando com o senhor Woden durante a pequena
reunião social.
— Ele é previsível, como qualquer pessoa tediosa —
falo sério, erguendo meus dedos para a garganta e
afrouxando o nó da gravata. — Apenas disse o que ele
queria ouvir.
— Extremamente, mas é um bom aliado para se ter.
— O senhor Woden abaixa o copo e o deixa apoiado em seu
joelho, fisgando o canto da boca. — Mas não conversou
apenas sobre o que ele queria ouvir, tinha entendimento
claro sobre suas palavras.
— Como disse, eu tive muito tempo vago para ocupar
minha mente durante minha estada no hospício. — Puxo o
lenço do bolso do terno e o passo em minha face, retirando
a maquiagem sobre minhas tatuagens. — Meu tio garantiu
que tivesse acesso a bons livros.
— E aprendeu sozinho?
— Sou autodidata, provavelmente morreria de tédio
com algum professor, assim como sentia tédio pelos
psiquiatras querendo me estudar. — Jogo o lenço no banco e
suspiro. — Tenho formação em áreas humanas como direito,
administração, ciência política, relações internacionais,
economia, letras, comunicação social, história e geografia.
Bom, Jon Roy tinha. Fiz provas on-line em algumas
faculdades da Austrália, que eram monitoradas por um
psiquiatra que ficava ao meu lado, me acompanhando...
— Dave Woden tem diplomas da Universidade de
Oxford — ele fala firme. — Resolverei isso essa semana
ainda.
— Hugo Belanger. — Mudo o assunto, realmente não
me importando com onde Dave Woden tinha se formado.
Irei interpretar esse papel, como dei minha palavra, mas
nesse segundo é esse assunto que quero resolver. —
Quando vou ter permissão para abrir o caixão dele?
— Pretendo conversar com Elsa primeiro. — O senhor
Woden é direto, ao passo que me observa. — É um pouco
mais complicado do que apenas exumar o corpo do marido
dela...
— O padre disse que o marido dela era o antigo
mestre de Linda, que ele foi o comprador, não vejo o que há
de complicado nisso. — Sou racional, não enxergando qual a
complicação existente. — Não acho que devia conversar
com ela, até porque não sabemos até onde ela pode estar
envolvida nisso...
Por mim, já teria colocado a médica contra a parede,
fazendo-a responder por que o nome do seu marido morto
há dez anos foi citado.
— Me deixe interrogar a médica!
— Jon! — O senhor Woden fisga sua boca e estufa seu
peito. — Até eu abrir aquele caixão e me certificar de que o
cadáver de Hugo está ou não dentro dele, não pode se
aproximar de Elsa. Vai aguardar minha ordem. Conversarei
com ela e depois terá sua permissão.
— Eu faço isso. Ryan disse que o marido dela era
próximo do senhor. Não precisa estar lá, abro a cova e vejo
se está dentro do caixão...
— Não se trata de abrir uma cova, e muito menos
qualquer amizade que eu pudesse ter com Hugo, mas não
vai mexer naquela cova sem a permissão de Elsa. — Ele
nega com a cabeça, fechando seus olhos e esfregando sua
testa. — Não se trata apenas de exumar o cadáver de Hugo.
É uma cova dupla, e para chegar até Hugo, terá que
primeiro passar pelo caixão da filha dela. Está entendendo
agora o que eu vou ter que pedir para Elsa? Não apenas
desenterrar o marido dela, mas também a filha, a qual ela
viu ser assassinada à sua frente. Ryan mete a porra de uma
bala na cabeça de nós dois no segundo que abrir os olhos,
por ter feito ela passar por isso.
Esmago minha boca e giro meu rosto para o lado,
franzindo meu cenho e encarando a paisagem do lado de
fora.
— Acredite, eu quero descobrir tanto quanto você
porque o nome de Hugo foi citado pelo padre, mas esse é o
tipo de assunto para o qual se usa a diplomacia, aspirante
Woden. — Rosno, retornando meu rosto para ele, o vendo
sorrir para mim. — Tenha isso como uma aula. Existem
assuntos que precisam ser tratados de outra forma, e esse é
um deles. Supondo que seja uma falsa alegação do padre, e
o corpo de Hugo esteja no caixão, isso me fará ter feito Elsa
reviver novamente todo horror que ela passou dez anos
atrás sem necessidade.
— E se o corpo não estiver? — pergunto firme, o
fitando. — Qual medida tomará?
— Uma que, infelizmente, sei que Ryan nunca vai me
perdoar, mas eu terei que fazer. — Ele cruza suas pernas e
ergue o copo em seu joelho. — Sei que não gosta da
doutora, que tiveram seus atritos, mas isso...
— Não se trata de gostar. Eu não gosto de ninguém,
tirando a Linda. — Me inclino para frente, o estudando. — Se
trata de alguém estar mentindo. Hugo morreu dez anos
atrás, pelo que até então eu sei, e apenas vou acreditar
nisso quando abrir aquele caixão. E mesmo se ele estiver lá,
ainda assim quero interrogar a médica. Elsa é a única
pessoa que poderia ter acesso às missões além dos
bastardos. Ryan e ela são próximos, e tenho certeza de que
os dois conversam. Ryan, em missão, nunca abaixaria a
arma para ninguém, não importa quem fosse...
— Jon, Elsa estava comigo no momento que passaram
a mensagem de socorro e que Ryan tinha sido ferido...
— O que apenas me faz desconfiar ainda mais, não
descartando a possibilidade de que ela sabia quem atirou
nele. Elsa está há dez anos dentro de Babilônia, nunca saiu,
nunca colocou os pés para fora daqui — sibilo, sendo
analítico —, e por mais romântico que isso possa parecer
para os outros, para mim apenas é um uma reação humana
de medo. Então, ou ela realmente sentiu medo de perder
Ryan, ou ela teve medo de termos pegado quem atirou nele.
Vejo a expressão do senhor Owen mudar, com ele
arqueando sua sobrancelha, balançando devagar seu pé.
— Continue — diz sério, me observando.
— Na primeira vez que tirei Linda de Babilônia,
perguntei a ela como sabia que era um fragmento de Violet,
que era uma criação do cérebro dela. Linda me contou que
o antigo mestre dela lhe disse o que era. E Shend, a vaca da
irmã, confessou que a vendeu para o padre Shelby, que
comprou Violet exclusivamente por conta do seu transtorno,
porque um cliente e amigo íntimo do presidente da Turquia
estava interessado em alguém com a doença de Linda. —
Inalo fundo, esmagando meus lábios. — No bunker havia
uma vasta coleção de livros de psicanálise, e aposto o meu
rabo que não pertencia a Kaan, e sim em quem atirou em
Ryan. E quem atirou nele tem muito conhecimento em
psiquiatria. O senhor mesmo disse, senhor Woden, que não
existem ex-membros em Babilônia!
A boca do senhor Woden se retrai e seus olhos azuis
se escurecem, ao passo que vira o copo de bebida na boca.
— É até que a morte nos separe — ele rosna, tendo
compreensão do que eu estou dizendo.
— E nós dois sabemos que a morte é algo relativo. Até
onde todos sabem, Jon Roy também está morto, então, o
quão fácil seria para um membro forjar a própria morte, já
que pelo que entendi quando foi falado pela boca do próprio
Ryan, se recusava a ter os órfãos como segurança?! — Volto
meu tronco para trás, o escorando no banco do carro. — Um
tanto estranho, não acha? Um homem na posição dele,
sendo membro de Babilônia, tendo todo recurso para alta
proteção e, ainda assim, a recusar? Um médico experiente
pode ter acesso a vários remédios que simulam a morte, a
laudo de óbitos, e tudo muito fácil de se conseguir, apenas
precisa saber em quem confiar. Que chacina interessante
seria um assalto qualquer, que garantiria a morte dele,
assim como a da esposa e da filha...
— Pelo que me recordo das vezes que ele ia à minha
casa, atender o verme do meu pai, Hugo era extremamente
apaixonado por sua família, principalmente pela sua filha. —
Ele inala fundo, me observando. — Hugo era um
neurocirurgião brilhante, não um psiquiatra.
— Mas nada o impedia de explorar outra área, já que
era justamente o cérebro que o fascinava. E o que é esse
amor? O amor que não se compara a nenhum outro, como o
que ele sentia pelos trabalhos voluntários em países com
extrema pobreza, que era maior do que estar ao lado da
esposa, quando ela foi comprar o berço da filha?! — Vejo o
senhor Woden analisar minhas palavras tanto quanto eu
passei a madrugada toda em claro, enquanto pintava a
porra do cabelo, refletindo sobre o histórico de Hugo, o qual
pesquisei na internet. — O doutor Belanger participou de
inúmeras viagens pela Cruz-Vermelha, e para um homem
apaixonado pela esposa e filha, ele estava extremamente
em falta com a própria família, a ponto de passar meses
distante, priorizando estar na África, Irã e Tailândia,
cuidando de crianças em condição de risco, que podiam ser
um banquete perfeito para um predador. Afinal, qual lugar
melhor para encontrar vítimas em potencial, para serem
experiências de bonecas humanas, do que aquelas que já
estão deformadas pelas bombas ou pela fome?! Friamente
analisando, o senhor Hugo estava em uma posição que
ninguém jamais iria desconfiar.
— Trabalhando sobre essa sua linha, e supondo que
esteja certo, Hugo forjou a própria morte para ser livre das
suas obrigações e continuar se dedicando à sua perversão.
— Ele inspira fundo. — É isso que acredita?
— O que acredito é que tanto eu como o senhor
sabemos que a morte é algo relativo, e estou aqui para
comprovar isso. Para muitos, Jon Roy morreu em um
incêndio, e foi feito até um velório para ele, mas cá estou,
bem vivo. — Inclino meu rosto para a janela, vendo o carro
se aproximar dos enormes portões de Babilônia. — Tenho
minhas desconfianças que Elsa não está em Babilônia
porque foi traumatizada, mas que Elsa está em Babilônia se
escondendo, e eu quero saber do quê e, principalmente, de
quem. E nesse segundo estou calculando tudo, até mesmo
suas próprias palavras, Woden.
— Minhas?
— Acabou de dizer que Hugo era médico do seu pai. E
recordo, dentro do seu escritório, quando abriu o jogo para
mim sobre Linda e o pacto de Sodoma com Babilônia, ao
falar que sua própria esposa foi um experimento do seu pai
— digo firme, o encarando. — E pelo que também me
contou naquele escritório, não foi uma ideia que ele teve do
dia para noite, e sim que levou alguns anos para colocar em
prática. Prática essa que foi pensada e analisada, e agora o
que lhe pergunto é: o quão próximo realmente o doutor
Hugo era do meu titio, primo Owen?
Friso o primo, e o vejo estreitar seu olhar ao me
encarar, inclinando seu corpo para frente, com sua boca se
esmagando.
— Muito. Hugo e Bejor eram muito próximos. O pai de
Hugo foi médico da minha família por anos, e, quando
morreu, Hugo assumiu o lugar dele...
O som dos portões se abrindo quando o carro passa
pela portaria é interrompido por um estouro alto, que tanto
eu quanto o senhor Owen reconhecemos na mesma hora
como um tiro.
— Para a porra do carro... — grito com o motorista,
que freia na mesma hora.
Meu corpo já está praticamente pulando para fora, e
saco minha arma escondida atrás das costas, abaixo do
terno, vendo, à frente, os órfãos em sentinela no portão,
com os rifles nas mãos, em alerta.
— Anda, tira o senhor Woden daqui agora! — Chuto a
porta com força, dando a ordem para o motorista, que
arranca com o carro.
Mas sou confrontado pelo par de olhos azuis do
senhor Owen, parado do outro lado, com sua arma na mão,
me encarando.
— Achou mesmo que eu ficaria no carro? — ele fala
mordaz, se virando e indo para a portaria, onde os homens
já estão em formação. — De onde veio o tiro?
— De dentro de Babilônia, senhor — um dos garotos
nos repassa, com sua mão na orelha, no pequeno aparelho
comunicador. — Pelo que estão reportando, veio do leste.
Os homens já estão se encaminhando para lá agora...
— A torre vermelha... — murmuro, com meu corpo
virando no segundo que compreendo a localização de onde
ecoou o disparo.
CAPÍTULO 51

PEÃO NA CASA E6
LINDA

— Puta merda, acho que acabei de estourar minhas


costas! — O xingamento em resmungo de Artur, seguido de
um rosnado, me faz rir. Vejo-o endireitar suas costas assim
que deposita uma caixa no chão. — Vocês me disseram que
era pouca coisa.
— Bom, da Linda, sim. — Nanete ri, piscando para
mim. — Agora, do Jon, já não se pode dizer o mesmo. Só de
revólveres deu três caixas.
— Merda, acho bom me dar um remédio para dor
muscular mais tarde, Nanete! — Artur suspira, esfregando
suas costas. — Essa porcaria de escadaria quase me mata!
— Pare de ser tão ranzinza, Artur, e quem sabe posso
até lhe dar outra coisa. — Meus olhos vão de Nanete para
Artur, que tem uma crise de tosse, ficando com suas
bochechas completamente vermelhas.
— Eu vou deixar essa caixa no andar de cima, se me
derem licença. — Ele se abaixa e pega a caixa que nos
ajudou a trazer, junto com as outras, do alojamento para
nossa nova casa, minha e de Jon, enquanto desvia seus
olhos rapidamente de Nanete.
Fico confusa, olhando-o ir para as escadas, enquanto
Nanete gargalha.
— Eu acho fofo ver esse homem desse tamanho
ficando com a face que nem tomate, de tão tímido —
Nanete cochicha, rindo mais. — Mas garanto que de tímido
ele não tem nada.
Meu pescoço se inclina para trás e ouço os passos de
Quebra Osso no andar de cima, tossindo ainda mais alto,
como se tivesse escutado o que Nanete falou. Nanete o
deixou vermelho o dia todo, enquanto ele nos ajudou com a
pequena mudança, como Nanete chamou. Killer não pôde,
porque está ficando de guarda, fazendo a ronda pela
propriedade hoje; e Artur ficou cuidando de mim a mando
de mestre Jon, que me avisou que por algum tempo, Artur
seria como minha sombra quando mestre Jon não estivesse
por perto, o que eu não entendi, porque eu já tinha uma
sombra. Porém, mestre Jon estava com pressa, porque eu o
tinha feito se atrasar para seu compromisso com o senhor
Owen, que o esperava.
Depois que saímos do quarto vermelho, mestre Jon
ainda ficou comigo por um tempo e ajudou a me limpar, me
levando no colo até o banheiro. Apenas após meu banho e
depois de eu estar trocada, ele partiu, e quando eu desci
para ir para o pronto-socorro, encontrei Artur parado do lado
de fora, na entrada da masmorra. Ele me disse que Jon
tinha dito que seria melhor eu não sair, só que mestre Jon
não tinha me dito nada sobre eu ficar dentro da casa nova,
então fiquei confusa. Foi quando Nanete apareceu, e ela me
viu chateada por não poder sair da masmorra. Artur falou a
mesma coisa para ela quando ela quis me levar para
passear.
Eu sentia falta dos meus vestidos, queria trocar de
roupa, pelo menos, e perguntei à Nanete se ela poderia ir
ao alojamento buscar uma roupa para mim, então ela teve a
ideia de fazermos minha pequena mudança. Claro que,
primeiro, ela deixou Artur vermelho com as provocações
dela, mas, por fim, ele acabou cedendo e nos acompanhou
até o alojamento. Usamos um carro que ele pegou, para
trazer as caixas com minhas coisas e as de mestre Jon.
Irei fazer surpresa para ele, que quando chegar, vai
ver que já está tudo arrumado, tendo o que é nosso aqui,
em nossa nova casa. Eu gostei muito do local, pois é tão
claro, cheio de janelas, e a luz que entra por elas ilumina
cada canto. Eu amo a luz, amo ver os raios de sol brilhando
nos móveis, no chão, sem um canto que seja de escuridão,
e tudo é lindo aqui.
— Então, aqui é onde minha Bela Adormecida se
esconde agora. — A voz doce e gentil me faz girar na
mesma hora em direção à porta, e vejo Elsa sorrir com
carinho para mim.
— Elsa! — digo, alegre, caminhando às pressas para
ela. — Casa nova da Linda e do mestre Jon! Amigo Owen a
deu de presente — lhe conto, e ela beija minha testa,
sorrindo e dando um passo para trás.
— Eu ouvi. Nanete me contou que estavam morando
aqui na masmorra agora. — Ela ergue seu braço, me
fazendo ficar surpresa ao ver que tem uma pequena sacola
em sua mão. — Eu trouxe um presente para você, querida.
Desejava vir mais cedo o trazer, mas eu...
Ela se cala e abaixa seu olhar, ao passo que encolhe
seus ombros, não precisando falar para eu saber que ela
estava com Ryan. Seus olhos cansados, com olheiras
profundas e aspecto abatido, me dizem que ela tinha ficado
novamente em claro, cuidando dele.
— Entra, Elsa. — Seguro sua mão, a prendendo em
meus dedos, e com a outra mão pego a sacola que ela me
entrega. — Mestre deixar Linda em casa, por isso não fui ao
pronto-socorro, mas quando mestre voltar, Linda vai pedir
permissão para ir, e vou te ajudar a cuidar do seu mestre.
— Oh, céus, Linda, acho que desisti de tentar lhe dizer
o contrário disso! — Ela ri com um pouco de felicidade.
Vou até a mesa da cozinha e deixo a sacola em cima
dela, ao passo que solto a mão de Elsa e olho as escadas
quando escuto os sons nos degraus. Percebo que Artur não
tem mais as bochechas rosadas, e sim uma expressão séria.
— Veja, Artur, Elsa veio visitar Linda na nova casa e
trouxe presente — digo para ele, feliz, o vendo desviar seus
olhos de mim para Elsa, mas mantendo seu semblante sério
enquanto desce as escadas.
— Adoro presentes. O que trouxe para ela, Elsa? —
Nanete se aproxima, rindo, e tamborila seus dedos no
balcão da mesa.
— Na verdade, não é um grande presente, é bem
simples. — Giro meu rosto para Elsa, que olha perdida para
a sacola. — Pertencia a Cheri, minha filha. Foi o primeiro
presente que comprei para ela, para colocar no seu quarto,
e uma das poucas lembranças que trouxe comigo. Acho que
você também vai gostar dele, Linda.
— Linda vai gostar de presente de Elsa — falo,
sorrindo para ela, lhe abraçando e dando um beijo em sua
bochecha.
Viro para frente mais uma vez e abro a sacola,
percebendo que tem um pequeno embrulho lá dentro, todo
colorido.
— O quê? — Antes mesmo que meu braço vá para
dentro da sacola, escuto a voz de Elsa, surpresa.
Meu rosto volta para ela, e a vejo parada, alguns
passos atrás de mim, tendo Artur perto dela, cabisbaixo, de
costas para mim, com os dois se encarando.
— Anda, Linda, abra, estou morrendo de curiosidade...
— Retorno minha face para frente e olho Nanete, sorrindo
para ela.
Levo minha mão para dentro da sacola e pego o
embrulho, sentindo um pequeno peso. O som baixo das
vozes de Elsa e Artur cochichando atrás de mim ainda está
presente.
— Você está brincando, certo? — Elsa exclama com
surpresa.
— Por favor, doutora Elsa, apenas estou cumprindo
ordens. — Escuto a voz de Artur sair pesada, mesmo ele
tentando a manter calma. — Por favor, não me obrigue a ter
que..
— Ordem! Ondem? Sério, Artur? Você está de
sacanagem comigo! Quem deu essa ordem...
Meu rosto se abaixa e desenrolo devagar o embrulho,
mas congelo, com meus olhos ficando presos no objeto em
minha mão ao encará-lo. Vejo a pequena foto cair no chão,
e levo meus olhos até ela.
— Eu não estou acreditando no que estou ouvindo,
Artur... — Elsa fala baixinho, mas sua voz fica distante em
meio ao disparar que sinto em meu peito e o suor gélido
que toma conta do meu corpo junto com o frio em minha
espinha.
AHHHHHHHHHHHHHH!!!
O grito alto dentro da minha mente, carregado de
pânico e de um medo aterrorizante, dispara, me acertando
como uma bala, tendo Violet nos machucando, enquanto o
pequeno globo de neve, com um carrossel, rola, caindo ao
chão e se espatifando. Meu peito sobe e desce mais rápido,
e meus olhos ficam presos na fotografia, com minhas mãos
se erguendo para minha cabeça e a esmagando.
— Linda, está bem... — As mãos tocando em meus
ombros me faz gritar, e jogo minha cabeça para trás, a
espremendo mais forte, sentindo o meu terror, o terror de
Violet, em puro medo, nos consumir.
O rosto de Artur está pálido e ele me fita preocupado,
enquanto segura meus braços. Mas ele abaixa o rosto, o
que me faz abaixar minha face com a dele. As lágrimas
rolam por meu rosto e minhas pernas ficam quentes, com a
poça de urina se formando abaixo dos meus pés.
— Mestre... — balbucio, me encolhendo e abraçando
meu próprio corpo. — Preferida, sua boneca preferida...
— O que está acontecendo, Linda? Oh, céus... — Elsa
sibila, assustada.
— Não se aproxime, doutora! — Artur rosna, girando o
rosto para ela e me deixando mais perto dele. — Linda, olhe
para mim! Jon está voltando em breve... Nanete, vai buscar
uma toalha para ela, agora!
— Mestre... Mestre... — Meus olhos se fecham e as
lágrimas descem mais fortes, e vejo sua face em minha
mente tão viva quanto na fotografia, fazendo a mim e a
Violet gritar de dor. — Preferida... preferida... Sua boneca
preferida... Ele, ele... Linda ver ele...
— Ele quem, Linda? — Artur não me solta, mantém
suas mãos presas em meus ombros. — Quem você viu?
— Mestre... antigo mestre... — falo com lágrimas nos
olhos.
Encolho o corpo e me agacho, sentindo Violet mais
assustada, gritando dentro da nossa mente. O som intenso,
tão seco e forte como uma explosão, se faz, e eu grito mais
alto, tapando meus ouvidos e me encolhendo ainda mais,
com meus olhos se esmagando, enquanto o barulho forte e
estrondoso sacode o chão, como se algo pesado estivesse
caindo.
— Oh, meu Deus, o que fez?! — A voz feminina, em
choque e terror, grita ainda mais assustada do que eu, e
meus olhos se abrem.
Vejo o corpo de Artur caído diante de mim, com uma
poça de sangue se formando abaixo dele. Seus olhos estão
presos em mim e ele tem o peito subindo e descendo
rápido, ao passo que sangue escorre por sua boca.
— Me desculpa, Linda...
O som baixo da voz surge, e meus olhos vão para a
mulher se abaixando e pegando a pequena fotografia no
chão, pisando sobre os cacos da bola de neve.
— Realmente não queria ter que fazer isso. — Ela se
endireita e inala fundo. Meus olhos se encontram com os de
Nanete, que me encara séria, tendo uma das armas de
mestre Jon em uma de suas mãos, apontando-a para minha
cabeça. — Mas eu dei minha palavra que cuidaria de você
se lembrasse de algo.
Todos eles acabam nos traindo, mamãe. Confiamos
nela, confiamos em todos, e eles nos machucaram...
A voz quebrada de Vi, cheia de tristeza e dor dentro
da nossa mente, sussurra, ao passo que nossos olhos ficam
fixos em Nanete diante de nós.
CAPÍTULO 52

A DESTRUIÇÃO DA TORRE
JON ROY

Meu pé chuta a porta e arrombo-a com um estouro, o


mesmo estouro que está retumbando em meu coração, com
meus olhos ficando presos no chão, onde o corpo de Artur
está estendido, com uma poça de sangue em volta dele.
Minha arma já está mirada para a testa de Elsa, ajoelhada
perto dele, enquanto chora, com sangue escorrendo da sua
testa.
— CADÊ A LINDA?! — rosno com fúria para ela, ao
passo que seus dedos trêmulos se mantêm posicionados no
abdômen de Artur.
— O rato... — As palavras de Artur saem
entrecortadas, com o rosto pálido dele tombando, me
fitando. — O rato é Nane... te...
— O quê? — murmuro, confuso, me aproximando e
mantendo Elsa em minha mira, que apenas chora, enquanto
me agacho e olho para Artur. — Merda, quem atirou em
você...
— N-Nanete me acertou nas costas... — Ele ergue sua
mão e agarra meu ombro. — Linda... Ela levou a Linda, e eu
não consegui impedir...
— Quando? — Tento manter minha mente
concentrada, não deixando a loucura me governar, com a
mínima probabilidade de algum mal acontecer à Linda. —
ELSA, QUANDO? — grito para ela, que me fita e soluça.
Vejo o sangue escorrer da sua testa, com um grande
corte, como se tivesse sido acertada brutalmente na
cabeça, o que me deixa saber que ela está em estado de
choque. Puxo o rádio comunicador do bolso de Artur com
rapidez.
— ARTUR ESTÁ FERIDO E A DOUTORA ELSA TAMBÉM.
RESGATE AGORA NA TORRE VERMELHA! — Passo a
mensagem no rádio. — NÃO DEIXEM NANETE SAIR DE
BABILÔNIA. ALERTA VERMELHO AGORA, PORRA!
Não tenho tempo para ficar com eles, não quando
preciso encontrar Linda e tenho tantas coisas em minha
mente me acertando, já que fui pego de surpresa ao saber
que Nanete atirou em Artur. Já estou me virando e jogando
o rádio no chão, me levantando às pressas e correndo para
a porta, sentindo cada bater do meu coração por conta da
adrenalina, descendo como um furacão as malditas
escadas. Porém, antes que passe para fora do prédio, meu
corpo tromba com o do senhor Owen, que vem com um
pelotão junto com ele.
— Elsa e Artur estão feridos, e, ao que parece, Nanete
atirou nele e levou Linda com ela — repasso para ele.
— Ordene a fecharem todas as saídas de Babilônia,
ninguém entra e nem sai até que as duas sejam
encontradas! — ele passa a ordem para um dos bastardos,
e já estou marchando para fora do prédio.
Passo os olhos por cada canto, em busca de uma pista
no chão, uma pegada, qualquer coisa que me mostre para
qual direção elas foram. E não demoro a encontrar, não
quando reconheço a pequena pegada de pés descalços
seguindo em direção à fonte. Ando para lá e me agacho,
olhando a marca dos pés de Linda, vendo mais à frente uma
risca reta, que tem a marca da mão dela ao lado.
— Ela caiu! — Meu peito bate depressa, com o
oxigênio entrando em minhas veias como veneno e
queimando meus pulmões a cada inalada. — A vadia está
arrastando-a...
Já estou de pé, correndo rápido e indo para o jardim
de rosas perto da fonte, me embrenhando entre o pequeno
labirinto de flores, seguindo as marcas dos pés descalços de
Linda. Não entendo por que Nanete fez isso. Eu havia
deixado algo passar, havia perdido alguma peça desse jogo.
O rato que eu procurava não era um bastardo, e sim uma
serva sem coleira.
— Você cometeu o pior erro, Nanete. — Corro mais,
rosnando e sabendo que vou matar aquela puta no segundo
que colocar minhas mãos nela.
Já estou saindo do pequeno labirinto de flores, quando
estaco diante do gramado, perdendo a trilha de pegadas de
Linda. Minha mente se concentra e preciso a manter limpa,
pensar como um predador. Nanete sabe que não tem pra
onde ir, que não vai conseguir sair de dentro de Babilônia.
Olho na direção das árvores e encaro a mata, descartando
esse caminho, porque sei que dará direto para o pavilhão
dos bastardos. Nanete não seguiria por ali, pois ela ficaria
encurralada.
— Encurralada — murmuro, me virando para a direita.
— Ela sabe que está encurralada...
As palavras se silenciam em minha mente ao ter a
compreensão de que Nanete não irá fugir. Ela sabe que não
tem como fugir com Linda.
— Ela não pretende fugir, ela vai matar a Linda... —
Meus passos já estão indo rápido para a direita, pegando o
caminho oposto das árvores.
Tenho meus instintos me guiando, porque sei que se
quisesse matar alguém dentro de Babilônia, com toda
certeza não seria entre as árvores, não quando, a poucos
metros, é o alojamento dos bastardos. Eu buscaria o lago,
que seria o local perfeito para matar alguém aqui, sendo
afastado e completamente distante dos pavilhões e da Torre
de Babel.
— JON, O CANTO OESTE ESTÁ LIMPO! — O som alto do
grito de Killer se faz junto com o motor de uma moto.
— O LAGO, ELA ESTÁ NO LAGO! — grito para ele,
apontando na direção do lago, pois não tenho tempo para
perder.
Killer já está movimentando a moto para lá e
acelerando, enquanto me obrigo a correr mais rápido. As
malditas imagens vívidas dos sonhos, com Lorane enchendo
minha cabeça, me atinge.
— Mata ela! Precisa matar ela! — Lorane se esconde
atrás das minhas costas, esfregando seu rosto no meu
ombro e cochichando em meu ouvido.
Em minha mão, seguro o revólver, com meus olhos
presos na mulher sentada no chão, com seus pulsos e
pernas amarradas. Olho em volta, vendo a estufa, a
escuridão dentro dela, enquanto o choro baixo se faz. Pisco
rápido, tendo meu corpo suado, meu coração batendo
disparado, e retorno a olhar na direção dela. O rosto que me
olha tem íris violetas, e lágrimas escorrem por suas
bochechas.
— Atira na cabeça, faz ela calar a boca...
Lorane afunda mais sua face no meu pescoço,
roçando o rosto na minha pele, e sinto suas unhas
esmagarem a minha cintura.
— Faça ela calar a boca, Jon. — Sua mão se ergue
sobre meu braço, segurando o revólver e apontando
diretamente para a cabeça de Linda. — Faça ela ficar longe
de você. Meu amor, você não é como eles, não é como
ninguém, sempre será sozinho, Jon, minha doce aberração.
Levo os olhos para o espelho que aparece na parede e
tem uma luz sobre ele, que ilumina meu reflexo, e me vejo
ali. Mas não sou o eu de agora. A face de Lorane está
amparada em meu ombro enquanto me encara, beijando
minha orelha.
— James te odiou, te abandonou, todos te
abandonaram, ninguém te ama, é uma aberração. Ela vai te
abandonar também, atire nela... — Meus olhos se abaixam,
encarando Linda, e a vejo chorar, com seu corpo nu e
amarrado. O sangue em volta dela cobre suas pernas.
— ATIRA NELAAAAA!
O som alto do tiro repercute, me fazendo sair das
malditas lembranças dos sonhos, com minhas pernas
diminuindo o ritmo assim que meus olhos encaram o lago.
Vejo a moto de Killer tombada na grama, com ele segurando
seu revólver e estando com o braço esticado. Na beira do
lago, a mancha vermelha se forma na água, com o corpo de
bruços de Nanete boiando. Mas é no pequeno corpo ao lado
dela, com os braços abertos, boiando também dentro do
lago, que meus olhos se prendem.
— Não... Não! — Meu peito sobe e desce, com minhas
pernas andando rápidas, reconhecendo os cabelos negros
na água. — Não, Linda...
— Jon...
Não olho para Killer, não olho nada além do corpo de
Linda boiando no lago, enquanto sinto a água me tomar a
cada passo que dou ao ir direto para ela. Empurro a
vagabunda da Nanete da minha frente, afastando-a para eu
poder chegar até Linda.
— Linda, Linda... — Meus braços a agarram e lhe giro,
a erguendo em meu colo e saindo às pressas com ela. —
Fica comigo, bebê... Fica comigo...
Seu corpo já está deitado na grama, e prendo seu
nariz, fazendo respiração boca a boca, antes de me afastar
e fazer uma massagem cardíaca nela.
— Fica comigo, garota! — rosno, com a água pingando
em meu corpo, massageando mais forte, antes de me
abaixar e fazer a respiração boca a boca novamente. —
FICA COMIGO, PORRA! — grito, sentindo as veias da minha
garganta saltadas, pulsando meu sangue com força, ao
passo que a olho deitada na grama.
Meu braço não para e mantenho a cadência da
massagem. O som baixo do seu arfar se faz, e ela abre os
olhos, tossindo e me fazendo lhe segurar em meus braços, a
virando rápido na mesma hora, para ela vomitar a água do
lago que engoliu, enquanto a sinto trêmula em meus
braços.

Meus olhos ficam fixos na foto do homem alto parado


ao lado de Elsa, dentro de um quarto de bebê, com ela
sentada em uma poltrona, amamentando a recém-nascida,
e ele parado perto dela, com a mão em seu ombro. Ele é
magro, usa óculos de grau na face e tem os cabelos negros
bem penteados para trás. Olho da fotografia para a bola de
neve quebrada em minha outra mão, e minha boca se
esmaga antes de levantar meu rosto para a cama do
pronto-socorro, vendo Linda adormecida.
— Artur vai ficar um bom tempo de castigo, mas vai
sobreviver. — Alço o rosto quando a voz baixa de Killer se
faz na porta do quarto de Linda. — Tem uma fila de sem
coleiras querendo cuidar dele.
Ele sorri sem muita felicidade, inspirando fundo e
desviando seus olhos de mim para a cama, olhando para
Linda.
— Ela ainda não acordou? — pergunta, e eu nego com
a cabeça.
Killer se move devagar e fecha a porta do quarto,
vindo para perto da minha poltrona.
— Eu queria ter sido mais rápido — ele fala baixo,
levando suas mãos aos bolsos.
Eu queria ter a protegido como prometi a ela, mas não
digo isso a ele, não quando ainda estou repassando cada
detalhe desde o primeiro dia que Linda chegou aqui em
minha mente, tentando entender como não percebi que
Nanete era um perigo para minha garota.
— O corpo de Nanete, onde está? — questiono sério,
abaixando meus olhos para a fotografia.
— Está no freezer, eu mesmo a levei para lá. — Ele
leva sua mão para as costas e saca uma arma minha, a qual
reconheço, me entregando. — Achei sua pistola perto da
margem do lago, e havia uma mordida na mão de Nanete.
Acho que Linda a mordeu, para tentar se libertar...
— Eu não entendo como não vi que ela era a traidora.
— Pego a arma em minha mão, a olhando. — Como não me
atentei a ela?! Estava tão certo que era um dos bastardos...
— Estávamos procurando o rato, tudo levava a crer
que ele era um bastardo, Jon — Killer murmura. — Não
tivemos como calcular que era uma sem coleira. Artur me
relatou que ela atirou nele pelas costas, antes de dar uma
coronhada na cabeça de Elsa, quando ela tentou afastar a
Linda...
— Por que ela não atirou na médica? — rosno,
tentando entender isso. — Se ela atirou em Artur, o que
custaria atirar em Elsa...
— Linda... — ele sussurra, parando seus olhos na
cama. — Linda não deixou, ela começou a gritar e chorar, e
Artur me disse que ela se urinou inteira de medo duas
vezes. A primeira foi logo que ela soltou essa bola de neve
no chão, e depois quando Nanete mirou a arma na cabeça
de Elsa.
Ranjo meus dentes e aperto o que sobrou da bola de
neve em minha mão, assim como a fotografia.
— Eu queria poder fazê-la se urinar de medo como ela
fez com Linda.
— Eu sinto muito. Apenas agi rápido quando a vi no
lago, compreendendo que ela estava forçando a cabeça da
Linda dentro da água. — Killer volta seus olhos para mim, e
me levanto, esfregando meu rosto.
— Você agiu certo. — Abaixo minha mão, encarando a
fotografia. — Preciso tentar encaixar esse quebra-cabeça,
descobrir qual a ligação de Nanete nisso tudo, e o porquê
ela queria matar a Linda.
— Não, isso é um erro... — A voz feminina vindo do
lado de fora se faz, e tanto eu como Killer olhamos para a
porta do quarto, nos encaminhando para ela.
No segundo que abrimos, vejo, ao fim do corredor,
Elsa, com seu corpo encolhido, negando com a cabeça, com
o senhor Owen à sua frente, sério, com as mãos nos bolsos.
— Fique aqui! — Dou a ordem a Killer, me
aproximando dos dois.
— Está errado, Owen, como pode achar isso... — Ela
chora baixo, e paro de andar, ficando a alguns passos dele.
— Elsa, irei fazer isso. Iria pedir sua permissão, mas
agora estou lhe comunicando, apenas — o senhor Woden
fala sério, erguendo os olhos dele para mim. — Se Hugo não
estiver dentro daquele caixão, nós dois iremos ter uma
conversa séria.
— Meu marido está morto, Owen — ela diz entre as
lágrimas. — Minha filha está morta. Como podem pensar
que Hugo faria uma monstruosidade dessas? Como podem
sequer...
— Qual era a ligação de Nanete com seu esposo? — a
corto, lhe fazendo sobressaltar e se virar para mim.
Vejo o curativo na testa de Elsa, que me fita
assustada.
— O que...
— Qual ligação Nanete tinha com seu marido, doutora
Elsa? — Ela me olha confusa, limpando seu rosto.
— Nenhuma. Nanete chegou aqui um ano depois de
mim, e ela nunca fez nada como o que aconteceu hoje. Eu
não entendo por que Nanete fez aquilo, e nem por que
estão querendo misturar Hugo nessa monstruosidade... —
Suas palavras se calam e meu braço se ergue, mostrando a
fotografia. — Como conseguiu isso...
— Responda à porra da minha pergunta! — rujo e dou
um passo à frente. — Qual a porra de ligação que Nanete
tinha com o filho da puta do seu marido, ou até onde você
sabia sobre o gosto dele por garotinhas?
A boca dela se entreabre, com ela inalando fundo e
seus dedos se esticando para a fotografia.
— Hugo nunca faria algo assim. — Ela nega veemente
com a cabeça. — Eu conhecia meu marido, conhecia o
homem bom que ele era... Essa foto... Me entrega essa foto,
pois ela é minha... Como a pegou...
— Quer saber onde ela estava, doutora? No chão da
minha casa, no mesmo chão onde a poça de urina da minha
garota estava, junto com o que sobrou da porra do presente
que deu a ela, que a fez sentir tanto medo, a ponto dela se
urinar inteira. — Esmago minha boca com raiva. — Então,
acho bom me dizer a verdade, ou, acredite, eu vou arrancar
ela de você...
— No chão... — Elsa pisca, confusa, girando o rosto
para Owen. — O embrulho...
Ela abraça seu corpo e soluça baixo, negando com a
cabeça e retornando seus olhos para mim.
— Jon, eu queria dar algo especial para Linda, só isso.
Eu me lembrei de como ela estava feliz quando você a levou
ao parque. — Ela fixa seus olhos na fotografia. — No dia que
Owen foi me buscar, eu não peguei nada daquela casa,
apenas esse globo de neve. A fotografia ficava no móvel ao
lado da cama da minha filha, e a embrulhei junto com o
globo, mas nunca mais mexi nisso. O carrossel no globo de
neve era o brinquedo preferido da minha garotinha, e nunca
mais tive coragem de o abrir, então me esqueci da foto. Eu
apenas coloquei o embrulho na sacola e levei à Linda, mas
isso não quer dizer que meu marido...
Ela se cala, e sua boca se fecha e se abre, com Elsa
dando um passo para trás e negando com a cabeça.
— Não... não, Hugo está morto. — Vejo a expressão de
negação em seu olhar, que é genuína e humana, e sei que
Elsa não está encenando. — Enterrei meu marido, eu o
enterrei com minha menina, Owen... Isso é mentira, não é?
Ela se vira e busca pelo senhor Woden, que tem sua
expressão se suavizando, vendo a mesma reação humana e
verdadeira que vi na face da médica.
— Elsa, vou exumar o corpo de Hugo. — Ele estica sua
mão e toca seu ombro. — Eu prometo que ninguém vai
mexer no caixão dela, que não vai ser aberto, apenas
vamos exumar o Hugo, e depois eu e você vamos
conversar...
— Isso só pode ser um engano... — Ela chora, se
negando a acreditar na teoria que seu marido possa estar
vivo. — Hugo era um homem amável e gentil, Owen, você o
conhecia...
— Jon! — Meu corpo se vira quando a voz de Killer me
chama.
Encontro seus olhos saltados, com a boca dele
semicerrada. Ele move a cabeça em minha direção, o que
me faz caminhar direto para ele.
— O que foi? — questiono sério, o vendo com a
expressão nervosa.
— Ela acordou... — ele fala rápido e dá um passo para
trás, com meu corpo já invadindo o quarto. — Mas, Jon...
— Linda? — O silencio, levantando minha mão no
segundo que olho direto para cama e a vejo vazia. —
Deixou-a sair da cama?
— É isso que ia dizer... — Ele nega com a cabeça. —
Eu não deixei, ela...
— Onde está... — A voz baixa sai assustada, e dou um
passo para perto da cama, me aproximando lentamente. —
Onde... onde está...
Meus olhos se deparam com o corpo de Linda
encolhido no chão, com seus dedos se abrindo e se
fechando perto do rosto, enquanto ela chora baixinho, com
sua face se esfregando em seu ombro.
— Não a encontro... não...
— Linda — a chamo e me aproximo ainda mais,
olhando sua forma frágil encolhida. Ela se arrasta no chão e
se cola à parede, com seus braços passando por seus
joelhos. — Linda, sou eu, bebê. O Jon.
— Eu a perdi, não a encontro... — Ela ergue sua mão
para sua cabeça e a esmaga, chorando baixinho. — Eu a
perdi...
Meu braço avança e o estico para tocar em seu joelho,
mas o congelo no segundo que seu rosto se move, com ela
cravando seus grandes olhos violetas marejados em mim.
Sua cabeça tomba para o outro lado e ela pisca
rapidamente, fitando meu rosto, confusa.
— Você a viu, viu... Eu não sei onde a deixei... — ela
balbucia, com sua mão se esfregando em sua bochecha e
soluçando. — Eu não sei onde deixei a minha boneca, você
viu a Suse...
Meu corpo inteiro se enrijece, com cada músculo
ficando tenso e meu coração parando de bater, comigo
sendo confrontado pelos olhos marejados, que me
observam com medo, antes dela abaixar seu rosto para
seus braços, os movendo à frente do corpo, como se
estivesse ninando a boneca em seus braços. É como uma
criança assustada, uma criança assustada encolhida ao
chão.
— Criança? — Ela me olha ansiosa, com seus grandes
olhos violetas brilhando para mim e sua cabeça balançando
para os lados, em negativo. — Criança não. Não, não, Linda
não ser criança...
Ela ri e abre ainda mais seu sorriso, se virando para
ele, com seu dedo se erguendo e o balançando de um lado
ao outro.
— Linda não ser criança. — Ela pisca rapidamente,
girando o rosto para o sofá e esticando seu sanduíche para
mim. — Mestre, segura o sanduíche de Linda.
Ela o empurra, e o pego, a vendo ir para o sofá-cama
de Artur e catar o caderno de capa marrom de couro. Ela
sorri e sua face se ilumina inteira quando o abre, parando
perto de Killer.
— Criança... — Ela ri, o deixando sobre a mesa
enquanto aponta. — Violet, criança de Linda. Linda não ser
criança.
Ela bate seus dedos no papel do caderno aberto, com
sua outra mão tocando o peito, sorrindo inocente para ele.
Vejo a expressão de Killer empalidecer ao olhar a folha,
antes de erguer o rosto para ela.
— Isso é o desenho de uma bon... — ele inicia, mas
suas palavras se calam ao ver o sorriso inocente dela.
— Linda. — Ela bate os dedos em seu peito, falando
alegre. — Linda não ser criança, essa ser a Linda...
Artur se aproxima e abaixa os olhos para a folha, com
a boca dele se esmagando ao encarar o que Linda mostra a
eles.
— Violet, Linda e mestre Jon. — Ela olha para mim,
com seu rosto tombando de ladinho. — Mestre, Linda
desenhou o mestre.
Artur move o rosto e me fita, levando a cerveja à sua
boca, e vejo sua outra mão se erguer e acertar a cabeça de
Killer, que apenas solta um baixo “ai”, ficando calado, com
os olhos perdidos em Linda.
— Seu desenho é muito bonito, garota. — Artur sorri
para ela.
Linda pega seu caderno, não percebendo o segundo
tapa que Artur dá em Killer, com mais força, e vem para
mim, mostrando seu caderno.
— Sanduíche. — Sua mão se estica e ela faz a troca,
me dando o caderno com uma mão e pegando seu
sanduíche com a outra. — Lembrança boa... Linda gravar
lembrança...
Fico em silêncio, observando o desenho que ela fez,
do carrossel, que tem a criança na frente dele, segurando a
boneca em seus braços, e uma imagem de um homem com
roupa preta atrás, alto, que sei que sou eu.
— Violet é a criança de Linda... — ela diz de boca
cheia, rindo. — E Linda é o bebê do mestre.
Ela tomba o rosto em seu ombro, olhando para eles.
— Mas Linda não é um bebê de verdade, Linda é
boneca.
A encaro, tendo as lembranças daquela noite no
alojamento de Artur me tomando, enquanto ela me olhava
com doçura, me mostrando seu desenho, mostrando para
mim muito mais do que eu tinha compreendido, me
mostrando o que sobrou delas, o que restou de Violet, e que
Linda me contou em seus desenhos. Só que agora vejo tudo
isso com clareza diante de mim.
— Violet — murmuro para ela, que ergue seu rosto e
me olha no fundo dos olhos, me deixando ver a criança de
Linda, me deixando ver o que sobrou da sua mente fora a
Linda.
CAPÍTULO 53

A PARTIDA DA INQUILINA
JON ROY

— Eu a perdi... — O rosto molhado pelas lágrimas


sussurra com dor, com ela se levantando apressada, tendo
seu corpo se movendo para frente e para trás, antes de cair
de bunda no chão. — Perdi ela, não encontro a Suse...
— Violet... — Tento a segurar, com meus braços se
esticando, mas paro quando ela grita alto, batendo seus pés
no chão, com puro medo de mim.
— AHHHHHHHH! — ela grita mais alto, engatinhando
para longe, tendo seu corpo se encolhendo ao canto perto
da janela. — Suse, Suse partiu, todos machucam, todos
machucam...
Ela bate sua cabeça na parede e grita mais alto, com
seus dedos se agarrando aos seus cabelos.
— Ela partiu... — Bate mais forte a cabeça uma
segunda vez, e meu corpo se move para ela, tentando a
impedir de se ferir.
— NÃO! — digo alto, com meus braços esticados,
imóveis no ar. — Ela não partiu, para!
— Jon...
Ela se encolhe e grita mais ao ouvir a voz de Killer,
com sua cabeça acertando mais forte a parede.
— SAI! — rosno alto, com Killer se levantando. Meu
peito sobe e desce, e não desvio meus olhos de Violet. —
Ela não partiu, está bem... Não partiu, Violet, pare de se
machucar...
— Está mentindo... — Sua cabeça se volta para mim e
esmago minha boca, vendo o sangue escorrer pela lateral
da sua testa, onde ela acertou na parede. — Todos nos
traíram, todos...
— Oh, meu Deus, Linda... — O som da voz de Elsa a
faz erguer seus olhos para cima da minha cabeça. — O que
está acontecendo?
— Eu a perdi... — A cabeça de Violet tomba e ela
encolhe seus ombros, se levantando e olhando assustada
para os lados, com seus olhos caçando por algo. — Ela não
está aqui, não, não... Ela se foi, e me deixou...
— Jon, do que Linda está falando? — Elsa questiona,
assustada, mas não a olho.
Ergo-me, não tirando meus olhos do corpo feminino,
que dá passos para trás, se aproximando ainda mais da
janela, com suas mãos esmagando a cabeça.
— Por que não me deixa te ajudar a encontrar a Suse?
— Estico o braço e dou um passo, vendo o sangue escorrer
de sua face, com ela me fitando entre as lágrimas.
— Todos mentem... Todos... — Ela me olha nervosa, e
seu corpo está trêmulo, com seu peito subindo e descendo
ligeiro. — Mentiu... Mentiu...
— Não estou mentindo, Violet. — Dou mais um passo,
sem fazer movimentos bruscos, para não a assustar ainda
mais, avançando para cima dela, porque a cada passo que
ela recua, mais perto da janela vai ficando.
— Violet? — A fala de Elsa a faz olhar, com ela se
aproximando de mim. — Não é a Linda...
— Não! — a respondo. — Se aproxime devagar pela
esquerda, e não a deixe se escorar naquela janela —
sussurro para Elsa, me endireitando. Ela consente rápido
com a cabeça e se move para a esquerda, chamando a
atenção de Violet.
— Oi, Violet... — Elsa tem a voz trêmula. — Eu sou
Elsa, sou uma amiga da Linda...
— Suse! — corrijo Elsa, porque é assim que Violet
conhece a Linda.
— Isso, a Suse... Certo, a Suse... Eu cuido dela desde
quando vocês chegaram aqui, e estão seguras, meu amor.
Por que não me deixa te ajudar a voltar para a cama, meu
bem? Vou cuidar de você também...
— Mamãe... — Violet olha perdida para Elsa,
abaixando seus dedos da cabeça aos poucos. — Mamãe
cuida, mas não cuidou... Mentiu, todos mentem...
Ela se encolhe, demonstrando medo e negando com a
cabeça, desviando os olhos de Elsa para mim, o que me faz
parar na mesma hora meus passos, para não a assustar.
— Mamãe, papai, Shend... todos nos traíram... todos
nos machucaram... — Ela esmaga sua boca e chora. —
Machucaram a gente, assim como vocês também a
machucaram, mentirosos...
— Não! — Abro meus braços, querendo a puxar do
maldito parapeito. — Nunca machuquei a Suse... Nunca. Me
deixa falar com ela, Violet, traga a Suse para conversar
comigo...
— Não! — Ela bate o pé no chão e levanta a mão,
limpando seu rosto lavado pelas lágrimas. — Não vai chegar
perto dela, ninguém mais vai chegar perto dela...
Ela vira rápido o rosto para trás, olhando a janela
aberta, antes de voltar sua face para mim.
— Juntas, vamos ficar juntas... — Sua boca se aperta e
preciso de apenas um segundo para compreender seu olhar.
Ela leva as mãos para trás e se segura no parapeito. — Suse
é minha...
— Violet, me deixa conversar com a Suse. — A faço
manter os olhos em mim, ao passo que Elsa anda devagar,
se aproximando dela. — Me deixa ver como ela está. Eu vou
cuidar dela, vamos trocar sua roupa e colocar um vestido
bonito em Suse, e depois a gente brinca. Confie em mim.
Suse confiava em mim, Violet...
— Não, mente... todos mentem... — Ela gira o rosto
para Elsa, se assustando ao vê-la perto.
Isso me dá tempo apenas de me jogar para frente e a
puxar pela cintura para mim, lhe prendendo em meus
braços.
— AHHHHHHHH... — O pequeno corpo se debate e ela
grita, enquanto se esperneia e leva nós dois ao chão.
Posso sentir suas mãos me arranhando, ao passo que
ela grita e suas pernas batem no piso. Mas não a solto, a
agarro mais forte, a mantendo em meus braços, sentindo o
chão abaixo de mim ficar úmido. Não preciso olhar para
saber que é urina, que Violet está se urinando inteira de
pavor por eu estar tocando-a.
— DOUTORA! — Fecho meus olhos e rosno por Elsa,
abraçando mais forte Violet, que joga seu corpo para frente,
me dando tempo apenas de nos rolar, antes que ela acerte
a cabeça na parede mais uma vez. — PRECISA APAGAR ELA
AGORA...
O som dos ecos dos gritos é infernal, e ela se debate,
me fazendo cruzar minhas pernas sobre as suas e a
imobilizando, me rodando no chão e a mantendo presa
sobre mim, para que não acerte a cabeça no chão.
— AHHHHH! — Ela chora mais alto, assim como grita,
se tremendo inteira.
Escuto Elsa correndo, com ela se jogando de joelhos
ao nosso lado em seguida.
E sinto o pequeno corpo sobre o meu, o qual
imobilizo, ir ficando pesado, com ela parando de se mexer.
Me empurro para frente, com meu tronco se movendo em
meus braços, passando meus dedos em sua face, que está
molhada, tendo os olhos violetas presos aos meus,
brilhando com tanta dor e loucura, não tendo um traço de
Linda neles.
— Linda... Linda... — chamo por ela, sentindo os dedos
fracos agarrados em meu pulso, desejando que ela me
escute, que ela volte. — Suse, Suse...
— Juntas... juntas... — As pálpebras vão se fechando e
ela solta meu pulso, com sua mão caindo ao meu lado. —
Ficaremos juntas...
CAPÍTULO 54

O GAMBITO DA TORRE
JON ROY

— Era isso que eu tentava o alertar, senhor Woden.


Fico em silêncio, com os braços cruzados, tendo meu
corpo escorado na parede enquanto ouço a voz da
psiquiatra saindo do viva-voz do telefone, com os olhos de
Owen presos aos meus.
— Brenda, o que quero saber é como ajudá-la, o que
podemos fazer pela senhorita Sing. — Ele ergue suas mãos,
apoiando os cotovelos na mesa e cruzando seus dedos.
— O que pode fazer é me ouvir e me permitir trazê-la
para Nova York!
Meu corpo já está se virando rápido, com a ponta do
coturno chutando com fúria a parede, enquanto rosno e
puxo o ar. Eu sabia que era uma péssima ideia ligar para a
porra da psiquiatra, mas o senhor Owen estava parado na
porta do quarto, e ele assistiu tudo, viu Violet tentando se
machucar, e me viu a segurando, enquanto Elsa a sedava. E
foi preciso a sedar novamente antes da madrugada chegar,
quando ela despertou e eu estava ao lado dela na cama. Por
um segundo, quando lhe vi mexer, me senti ansioso,
esperando ver o sorriso de Linda, mas foi o pavor de Violet
que tomou conta dos seus olhos, com ela gritando, voltando
a estourar a cabeça na parede de propósito. Elsa a sedou de
novo, e eu a algemei à cama, garantindo que ela não se
machucará se acordar outra vez.
— Isso está fora de cogitação, Brenda. Linda e Violet
não vão sair de dentro de Babilônia — Elsa é quem
responde baixo, e meus olhos se fecham ao escutar a voz
dela.
Ainda não confio nessa médica, da mesma forma que
não confio na porra da psiquiatra.
— Elsa, pelo amor de Deus, seja sensata! — A
psiquiatra inala fundo. — Claramente, pelo que me
descreveu, posso avaliar que Violet tem uma tendência
suicida. Pelo que me relataram, sobre o comportamento
perdido de chamar pela boneca, a caçando, posso concluir
que a mente dela regrediu. Ela não pode ficar em Babilônia,
o mais seguro para ela é um lugar apropriado para tratar
seu transtorno.
— Nem fodendo! — rujo, me virando, esmagando
minha boca.
— Desculpe, o que disse, Woden...
— Nada, apenas estou querendo entender mais a
senhorita Sing. — O senhor Owen me encara e arqueia sua
sobrancelha, negando com a cabeça. — Entender esse
transtorno dela...
— Olha, uma definição mais direta que eu posso lhe
dar é que o transtorno dissociativo de identidade se trata de
um evento em que uma pessoa vai apresentar duas ou mais
personalidades bem distintas. — A voz dela soa calma. — E
essas personalidades vão alterar o comportamento e a
consciência, variando de acordo com as personalidades. Por
exemplo, a consciência sobre ter essas personalidades ou o
entendimento de que é uma personalidade, que é o caso da
Linda, o alter ego, pois ela demonstrou saber que é um
fragmento de Violet. Enquanto a própria Violet, pelo que
vocês me relataram, vê Linda apenas como uma boneca,
chamando por ela e precisando a ter para se sentir segura.
— Violet não entende que Linda é um fragmento dela,
é isso? — Elsa inala fundo, esfregando seu rosto.
— Eu não consegui conversar com ela como conversei
com Linda, Elsa, e essa avaliação que estou fazendo é
baseada no que vocês me relataram. Para poder dizer com
clareza, preciso ver a Violet. — A linha fica muda, e Elsa
olha séria para o aparelho, não dando resposta alguma à
psiquiatra. — Sabe, a coisa mais interessante em Linda é
que ela entende que é um fragmento da personalidade
original, que no caso é a Violet. Mas Violet não tem ainda
essa compreensão, e isso, com toda certeza, é devido ao
estresse grande, forte e violento que ela teve na infância. E
esse estresse, que foi extremamente traumático, foi a chave
que girou na sua cabeça, o trauma que desengatilhou a
criação da Linda, e é o mesmo que bloqueou, eu suponho, o
desenvolvimento mental dela. Violet, com toda certeza,
regrediu muito mais, tendo ainda mais traumas violentos
por conta do que passou, de forma prolongada, o que fez
persistir ainda mais o estresse traumático dela.
Aproximo-me devagar, ficando perto do aparelho, com
minha mente se concentrando no que a psiquiatra fala.
— O transtorno está ligado a tudo isso. Para
desencadear o TDI, é preciso um imenso conglomerado de
traumas contínuos, não um que acontece apenas uma vez,
mas que se perpetua durante a infância, como o abuso
infantil, abuso psicológico, abuso físico e verbal, violência
doméstica, além de um grande pacote de intensividade
brutal — ela suspira, com a voz saindo aos poucos. — O
desenvolvimento do transtorno dissociativo de identidade
foi uma forma que o cérebro encontrou de lidar com os
traumas violentos e prolongados ocorridos na infância. É
como se a pessoa se quebrasse, tendo a personalidade dela
fragmentada em pedaços, e são esses pedaços que
começam a se comportar cada um à sua maneira. Violet foi
violentada e espancada pelo pai sistematicamente, e sua
mente se quebrou, precisando de um fragmento para
sobreviver àquilo tudo. Na maioria dos casos, são
fragmentos vistos como super-heróis, que são mais
agressivos, porém, outros podem ser dóceis, já que no caso
dela, ela fragmentou com a boneca, se vendo na boneca.
Pelo que pude compreender, pelas conversas que tive com
Linda, ela deve representar conforto e amparo à Violet, pelo
laço fraternal que demonstra ter pela sua personalidade
original.
— Ela vai voltar? — questiono sério, com meus olhos
se fechando e compreendendo tudo que a psiquiatra disse.
Eu já sabia que Linda tinha sido o que salvou Violet de
todo inferno que elas viveram, assim como eu sabia que
Linda a ama.
— Desculpe, mas quem está falando? — a médica
pergunta, pigarreando baixo.
— Brenda, esse é Dave Woden, meu primo — o senhor
Owen é quem responde, enquanto meus olhos se abrem e
vejo Elsa confusa, me fitando. — O que Dave deseja saber é
se Linda, o fragmento, vai voltar, porque, até então, apenas
a senhorita Sing se apresentou...
— Isso é muito incerto de responder, Woden — ela
suspira, e eu esmago meus dedos ao lado do corpo, pois
não era essa a resposta que queria ouvir. — Pelo que coletei
em minhas conversas com Linda, além do relatório da
infância dela a que eu tive acesso, Linda me disse que
passou um tempo dormindo e que foi Violet que a
despertou. Isso ocorreu por estar passando por um trauma
violento, mas, ainda assim, foi Violet que despertou a
Linda...
— Está dizendo o quê, Brenda? — Elsa aproxima seu
rosto, encarando o aparelho. — Linda não vai despertar...
— Não, não é tão simples assim, entra uma e sai
outra. Isso é complexo. — Vejo Elsa jogar seu tronco para
trás e levantar sua face, a esfregando.
— Defina — falo firme, encarando o aparelho e
sentindo tudo dentro de mim ruir, enquanto apenas desejo
poder olhar minha Linda outra vez.
— Bom, existe uma personalidade predominante, que
prevalece sobre as demais. Existem casos dos fragmentos
saberem que são fragmentos, como ocorre com a Linda;
assim como a personalidade original não saber sobre a
existência deles, como é o caso da Violet. Mas tem uma
delas que predomina, e é essa que fica no verdadeiro
controle.
Inalo fundo, lembrando de Violet me fitando com
medo, ao passo que soluçava baixinho.
— Juntas, vamos ficar juntas... — Sua boca se aperta e
preciso de apenas um segundo para compreender seu olhar.
Ela leva as mãos para trás e se segura no parapeito. — Suse
é minha...
Meu corpo se vira e me afasto da mesa de Owen, ao
passo que inalo fundo, tendo as palavras em meio ao choro,
sussurrando em minha mente, me deixando entender o que
a psiquiatra acabou de dizer.
— Violet está no controle. — Esmago meus lábios,
negando com a cabeça.
Violet tem o controle, ela apenas não compreende o
que Linda é, vendo-a apenas como sua boneca. E como uma
criança assustada e apegada ao seu brinquedo, ela não
quer dividir, por isso capturou minha torre.
Sinto-me perdido, tendo noção de que estava
protegendo Linda de tudo, mas que apenas não calculei que
meu maior oponente seria Violet.
CAPÍTULO 55

O CRÉDITO DO BISPO
JON ROY

Alguns dias depois

— Achei que deveria estar com fome! — Jogo o saco


de batatas industrializadas para o Artur, que estica sua mão
e o pega no ar. Ele está deitado de lado no sofá.
— Merda... — Ele repuxa o nariz e dá uma fisgada na
boca ao ter que esticar seu braço. — Fez isso de propósito.
— Levou um tiro no rabo, não no braço. — Olho em
volta do seu alojamento, fechando a porta atrás de mim.
— Tecnicamente, foi no cóccix. Mais alguns
centímetros e teria acertado minha coluna, aquela
vagabunda! — Ele ri, e geme baixo, soltando o ar devagar.
Caminho e sento na outra poltrona, de frente para ele,
o vendo me observar de cima a baixo, curioso.
— Não sei por que, mas acho que nunca vou me
acostumar com você, Dave Woden — fala de forma
debochada, olhando meu terno.
Não digo a ele que, provavelmente, nem eu me
acostumarei com Dave, com os ternos e a maquiagem
escondendo as tatuagens, não passando de uma máscara,
uma nova pele que Jon Roy habita.
— Killer me contou que os bastardos ficaram
surpresos quando souberam que você é primo do chefe. —
Ele ri e balança a cabeça, me olhando, pois é o único, fora
Killer, que sabe a verdade. — Eles já morriam de medo de
você como Jon, então, imagina agora, com o sobrenome
Woden, irão se cagar inteiros.
Artur se arruma no sofá e senta-se de lado, esticando
suas pernas e abrindo seu saco de batatas, levando-o à
boca. Mas para antes mesmo de comer a primeira.
— Fiquei sabendo que Elsa proibiu a entrada de
homens no pronto-socorro de novo, na ala que sua garota
está. — Fisgo minha boca e puxo o ar, desviando meus
olhos de Artur para a porra da televisão. — Se quiser, eu
ainda consigo roubar uma escada...
Sorrio sem felicidade, erguendo meus dedos para a
porcaria da gravata e a deixando frouxa.
— Não conseguiu se comunicar com ela? — Artur me
pergunta.
Nego com a cabeça e fecho meus olhos, sentindo o
suor na palma da minha mão, o qual me obriga a esfregar
meus dedos em meus joelhos. Estou agitado e inquieto,
como há muito tempo eu não me sentia. É como se
estivesse perdido outra vez, como aquele verme filho da
puta que cresceu no colégio interno. Como se não
encaixasse novamente em lugar algum. Mas, no fundo, sei
que é por conta dela, pela falta que sinto de Linda.
Os primeiros dias depois que Violet acordou do
sedativo foram ainda mais agonizantes, com ela gritando,
se debatendo e tendo crises de choro, que pioravam quando
me via, ficando em pânico com a minha presença. Ela não
se lembrava de mim, não se lembrava de ter me salvado no
hospício, não se lembrava de nada. A única a conseguir se
aproximar dela foi Elsa, que ganhou aos poucos sua
confiança. Eu ficava do lado de fora do corredor, como um
rato miserável se esgueirando, apenas para poder ouvir sua
voz, mesmo sabendo que não era minha Linda.
Em alguns raros momentos de calmaria, quando ela
parava de gritar e chorar, a ouvia cantarolar baixinho, como
se estivesse ninando a Suse. Elsa havia reportado para mim
que Violet lhe disse que tem oito anos. É como se sua
mente tivesse parado ali, congelado na época que ela tinha
Suse. Eu entrava sorrateiramente às vezes, à noite, dentro
do quarto, quando ela dormia, apenas para a observar, e
ficava vendo sua face adormecida. Buscava pela minha
Linda, mas nunca a encontrava.
O senhor Owen precisou voltar para Milão por alguns
dias, para ficar com sua família, mas antes de partir
garantiu que todos soubessem que Dave Woden, seu primo,
ficaria à frente de tudo, no lugar de Ryan, cuidando dos
assuntos internos de Babilônia. Killer não mentiu para Artur,
os bastardos ficaram surpresos, e muitos deles, que já me
temiam, agora sentem mais medo de mim, porém me
obedecem e respeitam minhas ordens igual respeitavam as
de Ryan.
Eu ainda não confio em Elsa, mesmo depois do caixão
do seu marido ter sido exumado e eu ver, com meus
próprios olhos, que o corpo do marido dela estava lá dentro,
o que apenas me deixou ainda mais confuso e atento a ela.
Killer me disse que, talvez, eu desconfiasse tanto da
médica, apenas porque ela tem a confiança de Violet, o que
não descarto. Pode ser por isso, já que me sinto menos
racional e dominante do meu controle com a falta que Linda
faz, o que me obriga a me agarrar a esse maldito papel de
Dave Woden, para não cair na insanidade de Jon Roy.
Sinto-me um morto-vivo de verdade agora, já que não
durmo. Passo a noite em claro, estudando o passado de
cada um dentro de Babilônia, desde os bastardos, as sem
coleiras e até os nobres. Revirei o de Nanete, pois queria
entender o porquê de ela ter atirado em Artur, o porquê de
ela ter tentado matar a Linda afogada no lago. Tudo é
estranho, já que ela não tinha ligação alguma com o marido
de Elsa, assim como não tinha com a própria Elsa, até
começar a fazer parte de Babilônia.
Nanete era uma ex-prostituta, que viveu muito tempo
se prostituindo, até um cliente a trazer para cá. Ele era um
nobre de título baixo, mas que apresentou Nanete a esse
mundo, e para fugir do cafetão que a espancava, ela pediu
exílio em Babilônia, e o senhor Woden permitiu. Logo
Nanete se aproximou de Elsa, e Ryan achou boa a
aproximação das duas. Encontrei documentos de um curso
de enfermagem que foi pago por Ryan para Nanete. Ele
custeou a capacitação profissional dela aqui dentro, para ela
ficar mais próxima de Elsa.
Olhei seu histórico aqui dentro, e tudo era limpo. Ela
não era fixa de nenhum nobre, nem do antigo cliente que a
trouxe. Assim como todas as sem coleiras, não pertencia a
ninguém, e teve casos com bastardos, coisas de uma noite
e só. Nada nela batia, nada no passado de Nanete a ligava à
Linda ou a alguém que pudesse ter feito mal à minha
garota. Nanete foi um peão, uma peça usada como descarte
para uma jogada de proteção, e não saber quem fez essa
jogada me deixa irritado.
Divido-me entre me esgueirar as noites pelo quarto de
Linda, quando ela adormece, e visitar Ryan, na esperança
de que ele tenha finalmente reagido e saído do coma,
ansiando por ele me dar respostas que apenas ele tem, de
quem havia atirado nele, de quem é o filho da puta que
estava com a boneca de Violet em suas mãos.
A cada dia me sinto como em um jogo de gato e rato,
o qual eu não sei mais quem são os ratos. Estou em um
beco sem saída, e nem Dante conseguiu me dar respostas
com os dossiês que fez da Brenda, a psiquiatra, e da
doutora Elsa. Realmente não gosto da psiquiatra, mas
tirando seu desejo em estudar Violet, por conta do seu
transtorno, não há nada na ficha dela que pudesse me
despertar algum interesse, alguma ligação que ela tivesse.
Ela fez intercâmbio aqui no Canadá, e foi assim que ela e
Elsa se conheceram. Não havia nada no histórico das duas,
o que apenas me leva a um pensamento: alguém está
usando o nome do marido morto de Elsa como laranja, mas,
ainda assim, tenho minhas ressalvas sobre tudo e todos,
pois há muitas coincidências e nenhuma ligação.
— O que pretende fazer se Linda não voltar? — Meu
rosto se move para Artur e abro meus olhos. — Sei que
conversamos sobre isso, mas eu realmente não achei...
— Ela vai voltar — digo firme, precisando acreditar
nisso, acreditar que, em algum momento, Linda pode voltar.
— Vai precisar ensinar à Violet a confiar em você
como Linda confiava. Sei lá, deve ter alguma forma de fazê-
la...
— Violet parou sua mente na infância, e acho que foi
uma forma do seu cérebro salvar o que ainda restava dela.
— Inalo fundo e estufo meu peito, batendo meus dedos no
joelho. — Ela tem crises de choro e gritos por apenas estar
na presença de um homem. Ela não quer confiar em mim, e
creio que nunca irá. Sendo bem franco, a única pessoa em
quem ela confia é em Suse.
— Talvez ache algum método, uma forma de
conseguir fazer Linda... — Ele se cala e morde o canto da
boca, soltando o pacote de batatas ao lado e me fitando
cabisbaixo. — Bom, você entende o que quero dizer. Deve
ter uma forma de ativar...
— Não! — falo firme, o olhando nos olhos e não o
deixando continuar. Sim, eu entendi o que ele queria dizer,
mas isso está fora de cogitação. — Não existe. Violet é a
única forma de chegar até Linda, da mesma forma que
Linda é a única para chegar até Violet.
Não digo a ele o que Linda me contou, sobre como o
antigo mestre a fazia trocar suas personalidades, e não é
porque não quero que ele saiba, e sim porque não quero
que ninguém descubra isso nunca. Eu prometi à Linda que
protegeria as duas, e se machucasse Violet para trazê-la,
isso a magoaria.
— Você está ferrado. — Artur puxa o ar, e apenas
movo a cabeça em positivo.
— Eu sei!
O som das batidas insistentes na porta do alojamento
de Artur me faz olhar para lá.
— Está aberta, porra! — Artur grita por cima do
ombro. — Certeza que é Killer, apenas para me irritar...
Mas não é Killer. Vejo a face vermelha de Dante, com
os cabelos bagunçados e a respiração ofegante enquanto
me olha.
— Você não tem ideia do quanto eu te procurei! — ele
fala diretamente para mim, chutando a porta com seu pé. —
Eu estou com a porra de uma informação quente, a qual
tinha de passar direto para o chefe, mas achei que iria
querer ouvi-la primeiro.
— Fale. — Me arrumo na poltrona, cruzando minhas
pernas e o encarando.
Ele retira um pequeno gravador do bolso, o jogando
em meu colo, e seu peito sobe e desce rápido, ao passo que
tenta retornar sua respiração ao normal.
— Antes de voltar para Milão, o chefe me mandou
ficar na cola do presidente da Turquia e interceptar todas as
ligações dele. — Ele ri para mim, se sentando na beirada do
sofá, perto de Artur. — Mas o filho da puta não tem celular,
então tive que clonar o do secretário pessoal dele, e
adivinha só, o presidente vai se afastar por uma semana,
por conta da saúde dele, por recomendações médicas,
porque teve um princípio de infarte. E adivinha para onde
ele vai?
— Trebizonda! — digo rápido, o olhando sério.
— Sim, exatamente. O filho da puta vai ficar na
mansão dele em Trebizonda, a mesma que você pediu para
eu arranjar a planta semana passada, quando voltou da sua
conversa com o padre. — Dante ri, levando suas mãos à
cintura. — Tenho para mim que ele não vai lá para se
recuperar. O secretário dele mandou preparar todos os
quartos da mansão para a chegada do presidente.
Levanto ligeiro, com meu peito se estufando e
encarando a porcaria do gravador.
— Ninguém ordena a preparar todos os quartos de
uma mansão, a menos que esteja esperando receber
visitas, muitas visitas... — falo devagar, sabendo que a
história do afastamento médico é mentira, e que o filho da
puta está indo lá para fazer uma orgia.
— Sim, eu pensei a mesma coisa, e queria lhe contar
antes de avisar ao chefe. Tem uma equipe pronta para
executar o presidente, apenas esperando a ordem...
— Que porra está falando? — Arqueio minha
sobrancelha, já que não sei nada sobre isso.
O maldito trato com Owen é de que eu matarei o
desgraçado do presidente.
— A equipe que está na Turquia, achei que sabia
disso... — Dante olha de mim para Artur. — O chefe os
mandou para lá...
— Filho da puta! — rosno com raiva, chutando a porra
da poltrona quando me viro. — Esse não foi o acordo!
— Ryan está fora de combate, você é quem está na
frente, Jon... Ou, melhor dizendo, Dave Woden — Artur fala
sério, me fitando. — Sem falar em Violet. O chefe apenas foi
prático, escolhendo a melhor maneira, e o importante é que
podemos pegar aquele filho da puta...
Não, não é isso que é importante. Artur não entende
que eu preciso fazer isso, que eu preciso pegar o
desgraçado, assim como os diários que ele tem naquela
mansão.
— Quem mais tem essas informações? — pergunto
sério, olhando para Dante.
— Bom, eu e agora vocês dois. — Ele fisga o canto da
boca. — E antes que me peça, a resposta é não. Nem
fodendo que eu vou mentir para o chefe. Pode arrancar
minha pele, porque eu sei que qualquer coisa que fizer
comigo não será nada perto do que o chefe vai fazer se eu
mentir para ele.
— Não vou pedir para mentir. — Esmago o gravador
em meus dedos. — Apenas que me dê tempo...
— Tempo? — Artur me corta. — A porra dessa mansão
está a treze horas daqui, isso se for de avião, porque por
terra demora quatro dias, sem falar que o lugar é
literalmente a merda de uma fortaleza, sendo encrustado
em uma montanha. Killer me mostrou as fotos, e não tem
ponto de acesso sem ser a entrada da frente da mansão. E
a menos que seja o Homem-Aranha e escale paredes
rochosas de um despenhadeiro, não tem fodidamente jeito
nenhum de invadir aquele lugar...
— Tudo tem um jeito. Assim como você, eu também vi
a mansão e estudei as plantas, e há uma entrada pelo
subterrâneo. Não precisa escalar a montanha do lado de
fora, mas a invadir por dentro — digo a verdade, pois, de
fato, eu tinha olhado tudo, cada ligação e cada ponto que
poderia ser útil.
Realmente, a única entrada a olho nu seria a da
frente, mas ao pé da montanha, perto do rochedo onde o
mar se quebra, tem uma fissura. O filho da puta do
presidente tinha construído sua mansão em uma montanha,
sendo praticamente uma fortaleza, o que me faz ter certeza
de que não era para evitar que alguém entrasse, e sim
garantir que nada sairia de lá.
— Há uma forma de entrar — falo baixo, encarando
Artur.
— Isso é a porra de uma ideia de merda! — ele rosna.
— Supondo que consiga entrar naquela bosta, ainda assim
não tem ideia do que te espera. Hasan Torurim tem
praticamente um exército trabalhando na segurança dele, e
comigo fora de combate, você vai ter poucas chances, e
acho que seria muito corajoso em contar apenas com Killer
como seu franco atirador. Invadir a mansão de Torurim e o
matar não é a missão de apenas um homem, e sim de um
pelotão...
— Pelo contrário, Artur, esse é, literalmente, o
trabalho para um homem só — rujo, balançando a cabeça.
— E eu não preciso de um franco atirador, o que preciso é
de uma grande distração no portão da frente...
Ergo meu rosto para Dante, indo para ele e lhe
devolvendo o gravador, o empurrando para seu peito e o
fitando firme.
— Vinte e quatro horas, vai me dar vinte e quatro
horas antes de repassar a informação ao chefe. — Minha
voz é sólida ao lhe dar o comando.
— Isso vai me foder, porra... — Dante segura o
gravador, o olhando.
— Não tanto quanto eu vou, se abrir sua boca antes
dessas vinte e quatro horas acabarem. — Me viro, me
afastando deles e indo para a porta.
— Jon... Porra, Jon, me escuta... — Artur grita alto
atrás de mim. — Aonde está indo...
— Atrás da minha distração. — Sorrio, abrindo a porta
do alojamento dele.
Meus passos são decididos ao atravessar o corredor, e
passo pela porta do meu antigo alojamento, parando
apenas quando estou na porta à esquerda, do outro lado da
minha. Esmurro-a cinco vezes, antes da porta se abrir e ter
Killer diante de mim, segurando a escova de dentes, com
sua boca suja de pasta e ele enrolado em uma toalha.
— São 23h da noite, por que diabos eu estou te vendo
aqui? — Ele olha o corredor vazio antes de retornar seus
olhos aos meus.
— Preciso de algo — falo direto.
— Vou ter que matar alguém? — Ele arqueia a
sobrancelha, se escorando no batente da porta.
— Não! — Nego com a cabeça, levando meus dedos
aos bolsos da calça. — Eu vou matar, mas, para isso,
preciso cobrar um favor, e quero que descubra para mim
como encontro meus devedores.
— Está falando de quem? — Ele fica curioso, se
atentando à minha fala.
— Os irmãos Grimm! — Sorrio para Killer, sabendo
que aqueles dois serão uma grande distração para os
seguranças de Hasan Torurim.
CAPÍTULO 56

A CAPTURA DA TORRE
LINDA

Na escuridão do meu subconsciente, repouso no chão


frio, largada, e não sinto um músculo que seja do meu
corpo. Estou no meio de um parque de diversões
abandonado, criado por minha mente. Meus olhos imóveis
ficam presos nas luzes fracas e distantes, como uma
memória desbotada. Não consigo me mexer, apenas
permaneço estática, mas posso sentir a escuridão, ouvir o
barulho que se faz à minha volta, tendo os gritos distantes
de Violet ecoando.
As rodas-gigantes e os carrosséis estão tão imóveis
quanto eu, com suas estruturas enferrujadas e cobertas de
teias de aranha. Observo as estrelas acima, os pequenos
pontos de luz em um vasto vazio. Meu corpo de plástico é
frágil, mas minha consciência não adormece, não se desliga
como foi das outras vezes. Não caio na escuridão longa,
adormecendo no subconsciente, nem no grande jardim
verde e ensolarado, onde Violet sempre me espera para
brincarmos no balanço.
E me sinto triste, com uma grande solidão tomando
meu peito, uma que nem mesmo eu entendo. Por que estou
me quebrando ao meio com tanta dor? Eu quero tanto
poder me mover, poder gritar, poder escapar dessa prisão,
comigo largada no chão do parque de diversão, abandonada
no corpo da boneca. Mas minhas pernas não respondem,
minhas cordas vocais permanecem imóveis, não me
permitindo me libertar.
Tudo parece congelar enquanto vejo os brinquedos
ruindo como escombros. Sinto a gota fria que cai em minha
perna plástica, e outras desabam do céu, pigando com mais
força, ao passo que o vento surge e arrasta os brinquedos,
deixando apenas o carrossel intacto à minha frente, o que
apenas faz essa grande tristeza aumentar.
Essa tristeza me envolve como um véu invisível, como
se algo estivesse me segurando, como se algo me faltasse.
Sinto-me sozinha, abandonada no escuro, como uma
boneca esquecida em um canto empoeirado. Eu sei que
minhas lembranças são fragmentos desconexos, flashes de
momentos compartilhados com Violet. Ela me criou, deu-me
vida com suas emoções e pensamentos, mas agora me
deixou nesse limbo silencioso, no qual não adormeço e nem
me sinto viva, apenas fico em uma existência suspensa,
entre o consciente e o inconsciente da nossa mente. Não
consigo chegar até ela, não consigo dizer onde estou,
somente escuto seus gritos, seu chamado. A tristeza em
meu peito me deixa sem voz, sem meus movimentos.
— Eu sinto sua falta. — Uma voz ecoa entre a névoa
da escuridão, chegando aos meus ouvidos.
A dor em meu coração aumenta, e vejo as luzes do
carrossel piscarem rápidas. Eu conheço essa voz.
— Acho que nunca senti falta de algo em minha vida
como eu sinto de você. — Há tristeza em suas palavras, e
isso me faz querer gritar, por saber de onde vem.
O estalo alto do metal enferrujado surge, e os cavalos
sobem e descem lentamente pelas barras do carrossel, com
as luzes piscando mais fortes.
— Eu tenho que partir essa noite. — As rachaduras em
meu rosto se fazem e sinto minhas pálpebras se mexerem
devagar, piscando. — Mas eu vou voltar. Porém, antes, eu
preciso encontrar ele, bebê, preciso cumprir a minha
promessa.
Observo os pequenos dedos de plástico se abrirem e
fecharem, ao passo que o plástico esfarela por meu braço,
tendo pedaços de pele abaixo dele. O grande carrossel gira
com mais força, com as luzes parando de piscar, apenas
girando e girando mais rápido. Vejo os vultos nele, a face
masculina se esboçar como um desenho, uma pintura
dentro do carrossel, e os olhos azuis me fitam silenciosos e
tão brilhantes, enquanto ele sorri para mim, com seu braço
se esticando.
Jon...
O nome perdido se faz dentro da minha mente e meu
corpo fica pesado, tombando no chão. Pisco os olhos, me
obrigando a mover meu corpo, com meus braços se
esticando, saindo da posição que estavam e agarrando o
chão com meus dedos.
— Você é a minha casa, garota.
O som da voz ecoa com mais força, e o vento fica
mais forte, como um tornado que acerta o chão. As lágrimas
escorrem por meu rosto e quero gritar, quero que ele me
ouça. Vejo o tornado tocar o solo com sua ventania, indo até
o carrossel.
Jonnnn, eu estou aqui! Estou aqui, Jon... EU ESTOU
AQUI!
Minha voz grita em minha mente, e me obrigo a
tentar me mexer, a colocar minhas pernas para se
moverem, balançando para frente e para trás, buscando me
equilibrar. Quando consigo, estico meus braços para o
carrossel.
— Você sempre será minha casa, Linda...
MESTREEEE...
O chão se abre, me engolindo antes mesmo que eu
consiga dar o primeiro passo, e me sinto caindo em uma
queda que parece nunca ter fim. Vejo os cativeiros sujos
onde fiquei presa, as correntes nas paredes, o imenso cão
que late em cima de uma mesa, os rostos que me olham,
com suas cabeças presas nas paredes, ao passo que eu
caio, continuo caindo, passando por eles, por cada
memória, antes do meu corpo estourar no chão.
Olho confusa em volta e me levanto, percebendo que
minha roupa está molhada, assim como meus cabelos.
Estico os braços e observo meus dedos, não vendo mais
meu corpo plástico e pequenino. Pisco rapidamente, girando
meu rosto para a cama que tem à minha esquerda e vendo
o lençol sujo de sangue, com os corpos do papai e da
mamãe degolados, enquanto seus olhos vidrados me
encaram.
Cambaleio para trás e inspiro fundo, me escorando na
parede do trailer e percebendo que estou dentro dele. O
cheiro de podridão, o som das moscas, tudo vai ficando
mais intenso, e minhas lágrimas escorrem por meu rosto.
Viro, porém meu corpo não se mexe, não quando uma
corrente está presa ao meu tornozelo. Em meus dedos tem
uma faca, e sangue pinga dela, manchando meu vestido
laranja e meus sapatos vermelhos.
— Não... não... Por favor, alguém me ajuda, alguém
me ajuda... — Me debato, assustada, batendo meus dedos
na janela e jogando a faca ao chão.
Mas congelo ao ver o lado de fora, pois é como se o
trailer estivesse embaixo d’água.
— Não era para você estar aqui. — A voz baixa sai
com tanta dor que me faz virar na mesma hora, com meus
olhos encontrando a jovem de cabelos trançados sentada
em uma pequena cama de solteiro.
Olho em volta, vendo que ainda estou no trailer, mas
no fundo dele, onde ficava nossa cama e a de Shend.
— Violet... — murmuro e dou um passo à frente, não
tendo mais a corrente em meu tornozelo. — Violet, você
está aqui... — falo com amor ao vê-la diante de mim, com
suas compridas tranças, usando uma calça jeans e uma
camisa amarela, sentada em nossa cama.
— Não era para você estar aqui, Suse.
Seu rosto se levanta e me fita, e vejo a marca dos
murros em seu rosto, além do lábio cortado, assim como a
dor em seus olhos, a mesma dor que ela compartilhou
comigo quando eles a mataram, a fazendo se quebrar de
vez dentro da nossa mente.
— Eu pensei que tinha ido para sempre, que apenas
restou a Vi... — balbucio, com as lágrimas descendo mais
por meu rosto enquanto me aproximo dela. — Você ficou,
você ficou...
— Precisa voltar antes que ela te encontre. — Ela se
levanta rápido, segurando meus pulsos e os erguendo,
tendo sua face se esfregando de mansinho na palma da
minha mão. — Precisa voltar, Suse.
— Volta comigo... — falo entre o choro, negando com
a cabeça. — Volta você. Violet, você tem que voltar, pode
voltar...
— Não, Suse... — Sua mão se ergue e solta meu pulso,
o espalmando em minha bochecha, ao passo que vejo as
lágrimas escorrerem pelo rosto dela. — Não posso voltar,
não desejo voltar, por isso, mais uma vez, eu tive que lhe
obrigar a sofrer no meu lugar, porque eu não tinha sua força
e sua coragem para passar por tudo que você passou...
— Não... — Soluço, balançando a cabeça. — Suse
protege Violet...
— Suse foi corajosa. — Ela ri, limpando minhas
lágrimas. — Sempre foi corajosa, mais forte do que eu, por
isso eu sabia que não iria voltar, por isso escolhi partir e
deixei você assumir meu lugar. E agora deve voltar, deve ir
antes que ela lhe encontre. Eu lhe trouxe para cá, porque
dentro do trailer a Vi não entra...
— Ficar, Suse ficar com Vi e Violet retornar... —
Esmago meus dedos nos dela, sorrindo entre as lágrimas. —
Eu protegi, protegi a Violet...
As lágrimas descem mais fortes, e sei que se ficar, eu
não verei mais meu mestre, mas Violet está aqui, ela tinha
se escondido em nossa mente, e se ela escolher voltar, eu
não irei me opor, não quando minha vida toda foi destinada
a ela, para a proteger.
— Sim, você me protegeu. — Ela sorri e sua face
machucada me olha com amor. — E é por isso que merece a
luz mais do que eu. Não vou voltar, Suse, não desejo voltar,
foi minha decisão ficar...
Ela se cala e sua cabeça se abaixa. Meus olhos a
seguem e vejo a pequena casa de bonecas no chão.
— Ela já sabe que está aqui...
— Obrigada, senhor Piter, gostaria de apenas duas
xícaras de açúcar. — A voz infantil alegre, que reconheço,
me faz virar na mesma hora.
Encontro Vi sorrindo no seu jardim, com o pequeno
urso de pelúcia, com uma boina xadrez na cabeça, lhe
servindo chá. A pequena mesa de madeira onde ela está
sentada está arrumada com seu delicado jogo de xícaras
cor-de-rosa de plástico.
— Suse, eu te achei! — Vi sorri para mim em seu
vestido rosa, levantando o rosto, com suas covinhas se
salientando em suas bochechas, tendo o laço rosado em sua
cabeça. — O senhor Piter fez chá e eu preparei um bolo
para o café da tarde.
Pisco, confusa, olhando em volta, não vendo mais o
interior do trailer nem Violet, e sim o extenso gramado
verde e brilhante, com o céu ensolarado ao longe e a
macieira com nosso balanço. Ela se levanta e corre para
mim, com seus braços enlaçando minha cintura.
— Suse, vem brincar comigo! — Sua mão se prende
em meus dedos, me levando com ela, e caminho, a
deixando me conduzir. — Eu disse ao senhor Piter que lhe
encontraria, mas ele não acreditou. Só que eu sabia que lhe
acharia, e agora estaremos juntas para sempre, Suse...
Vi sorri com mais amor para mim, me abraçando com
força e esfregando seu rosto em meu ventre. Sinto meu
corpo diminuir, minhas pernas congelarem e a minha voz se
silenciar, enquanto retorno à minha forma de boneca.
Ela me agarra e esfrega sua face contra a minha,
rindo alegre e se virando, indo para a mesa. Meu rosto
imóvel está colado em seu ombro, e observo distante o
carrossel que me seguiu, que não tem mais suas luzes
brilhando nem seus cavalinhos subindo e descendo, que
apenas está imóvel como eu.
— Vai se sentar aqui, e eu e o senhor Piter ficaremos
do seu lado. — Vi me arruma na cadeira e estica minhas
pernas, assim como arruma meus braços, deixando uma
xícara presa em meus dedos e sorrindo alegre. — Agora,
brincaremos juntas para sempre. Depois do chá vamos
brincar no balanço.
Mantenho meus olhos presos no carrossel, que vai
desaparecendo lentamente, como uma neblina se
dissipando no ar, e sinto uma única lágrima escorrer por
meu rosto de plástico.
CAPÍTULO 57

O OLHAR DO REI
OWEN WODEN

— Meu rei... — Emma sussurra em meio ao gemido


que sai baixinho, enquanto seu corpo mantém o ritmo
intenso, me cavalgando com urgência.
— Emma... — rosno entre os dentes, sabendo que da
forma que ela está me montando, não vou conseguir
aguentar por mais tempo.
Cerro meus lábios e jogo minha cabeça para trás,
apertando mais forte seu rabo em meus dedos, sentindo
sua boceta quente como o inferno estrangular meu pau ao
passo que ela me fode. Estou sentado na cadeira do meu
escritório, dentro da nossa mansão, sendo completamente
rendido pela pequena rainha feroz que me devasta.
— Owen, oh, porra... — Suas unhas apertam meu
pescoço, com seus gemidos aumentando, assim como sua
respiração, a cada sobe e desce do seu quadril.
Ela está acabando com minha mente, da mesma
forma que sua boceta explode em meu pau. É um pequeno
corvo com curvas deliciosas, cheio de luxúria, que apenas
com um olhar submisso me deixa saber exatamente o que
ela quer. E eu a venero, ficando mais dominado a cada
maldito segundo que meu pau se enterra dentro dela.
Sou como um condenado, um miserável que
reconhece o poder da sua senhora, e nunca tenho o
suficiente de Emma. A fome se torna maior a cada beijo e
carícia. Minha esposa testa meu controle de todas as
formas, me transformando em seu escravo, que precisa
tanto do prazer que ela me entrega ao se moldar em meus
braços, quanto da sua submissão.
O corpo pequeno, repleto de luxúria, se torna uma
fogueira alta e intensa, que nunca se apaga. É uma linda
devassa, que me faz salivar quando seus olhos ficam
brilhantes, com ela respirando depressa e se arrepiando
apenas de eu olhar para ela, o que me deixa saber que me
deseja tanto quanto a desejo. Pode ser aonde for, não tem
hora, lugar, controle, eu apenas lhe entrego o que ela pede.
Fodo Emma como um condenado, devorando sua boceta, e
ela me faz ficar ainda mais preso nesse amor que me
entrega.
O rosto pequeno com sorriso delicado me desencadeia
os piores instintos. E ter ela me fodendo agora é meu Santo
Graal. O tempo congela, os compromissos se tornam menos
importantes, os problemas se dissipam da minha mente, e
ela é tudo que vejo à minha frente, como um corvo delicado
que sabe que sou dela.
Levanto e a ergo comigo, aterrissando sua bunda
sobre a mesa, causando o maior barulho quando algumas
coisas vão ao chão. Rujo e a abraço forte, afundando meu
pau dentro dela.
— Meu Deus, vai acordar nossa princesa, Owen... —
Ela abraça meu pescoço e fala nervosa entre os gemidos.
Meu rosto encontra-se enterrado em seus peitos, e
empurro mais fundo meu quadril contra sua pélvis.
— Ela só vai acordar amanhã! — digo, sugando seu
seio, levando a alcinha do seu vestido para baixo. Estico
meu braço e jogo os papéis no chão, que estavam sobre a
mesa. — Pela primeira vez na vida, agradeço àquele
brinquedo barulhento que Helena deu a ela, porque a fez
brincar até cansar...
Emma cai na risada e joga sua cabeça para trás,
apertando suas coxas grossas ao redor da minha cintura.
Empurro o corpo sobre o seu e a deito na mesa, lhe fodendo
mais duro. Sua cabeça fica caída para trás, pendurada na
borda da mesa, com seus dedos se segurando na lateral
dela, me dando a perfeita visão dos seus peitos empinados
para mim, que se movem para cima e para baixo a cada
impacto.
— Ohhhh... — Ela impulsiona seu tórax para cima, e o
aperto em volta do meu pau fica mais firme.
— Não faz isso, pequeno corvo! — falo, rouco,
soltando um tapa em sua coxa e ouvindo seu gemido.
Impulsiono meu quadril para trás e tiro meu pau da
sua boceta, a fazendo soltar minha cintura, apenas para
colar suas pernas uma na outra, as deixando eretas e
apoiadas em meu peito, quando retorno a estocar sua
boceta quente. Seguro suas pernas e as mantenho presas
junto ao meu peito, respirando mais forte, a tomando com
toda força e acelerando. Sua boceta se contrai antes da
sexta enterrada do meu pau, com seu pequeno corpo
tremendo por completo.
Fixo os olhos em sua boca, que se morde e abafa seu
gemido quando seu orgasmo lhe atinge, com ela gozando
em meu pau. Viro meu rosto e mordo sua canela,
restringindo meu próprio som quando os músculos do meu
corpo se enrijecem e a penetro como uma máquina em
disparada, umas quatro vezes, antes do gozo me fazer ir ao
paraíso e explodir dentro dela. Mordo com mais força e
cravo minha arcada dentária em sua perna, com meu pau
sendo ordenhado por sua boceta apertada e escaldante,
que engole cada gota de porra.
Ainda estou respirando feito um servo castigado, que
acabou de ser torturado por sua senhora, quando paro de
me mover e abro minha boca, afastando meus dentes da
sua pele. Esfrego o rosto em sua canela e respiro fundo,
abrindo meus olhos aos poucos e olhando minha doce
rainha completamente mole, com um sorriso delicado em
seus lábios. Abro suas pernas e abaixo, deitando meu peito
sobre o seu, sentindo o coração disparado de Emma, tão
agitado quanto o meu, colado em meu tórax.
— Estava com muita saudade de ter você em casa! —
ela murmura, rindo, e abraça meu pescoço, esfregando sua
bochecha em meu cabelo. — Não gosto quando se afasta
por muito tempo, meu mestre.
Inalo fundo. Também não gosto de me afastar por
muito tempo dela e de nossa filha. Mordisco a lateral do seu
seio, arrancando um gemido suave de Emma, sentindo sua
boceta sensível se contrair em volta do meu pau mais uma
vez. Passo a ponta da minha língua no bico do peito, antes
de raspar meus dentes nele, e me impulsiono para trás, a
levando comigo e lhe sentando na mesa.
Afasto-me dela e retiro meu pau de dentro da sua
boceta, o vendo melado por nossos fluidos. Olho para ele
antes de erguer minha face para ela, e lhe enxergo tão bela
com sua face corada, olhos brilhantes e molengas, além dos
cabelos bagunçados, sendo a perfeita invocação dos
pecados mais prazerosos em um único corpo pequeno e
olhar inocente.
— Não gosto de me afastar. — Estico minha mão e a
espalmo na lateral do seu rosto, escorregando meu dedão
em seus lábios inchados. — Senti sua falta também, meu
pequeno corvo. Mas preciso resolver muita coisa em
Babilônia.
— Por que acho que não é apenas o estado de Ryan
que está lhe deixando com essa expressão preocupada,
desde que retornou para Milão, essa semana?! — Emma
ergue as alcinhas do seu vestido, tapando seus seios.
Dou um passo para trás e arrumo meu pau dentro da
calça, fechando a braguilha e o cinto. Me agacho e pego sua
calcinha, a roçando em meu rosto, sentindo o cheiro da
boceta da minha esposa entrar em meus pulmões, como a
única droga na qual sou um viciado declarado, antes de
deixá-la sobre minha mesa. Seguro sua sandália e a levo
para seu pé, elevando meus olhos para ela e calçando-a
devagar, admirando o pequeno corvo sentada em minha
mesa.
— Meu rei quer conversar?
Eu nunca tive com quem conversar, com quem dividir
meus pensamentos, além de Helena. Emma é meu porto,
ela e nossa filha são meu verdadeiro reino.
— Muitas coisas acontecendo, e as preciso resolver
com urgência. E tem outras, que por mais que quebre a
cabeça, não consigo entender — falo e abaixo meus olhos,
pegando a outra sandália. — Como se não visse claramente,
e isso me deixa irritado..
— Isso tem a ver com esse homem? — ela me
pergunta, esticando seu braço e pegando uma foto sobre
minha mesa, a qual estranhamente não foi arremessada no
chão, junto com as outras, diante da entrega da minha
rainha. — Quem é ele?
— Hugo — respondo para Emma. — Ele é o esposo de
Elsa.
— A doutora do pronto-socorro. — Ela gira a
fotografia, a fitando. — Onde está...
— Bom, a última vez que o vi, antes de voltar para
casa, estava com sua ossada dentro de um caixão. — Puxo
o ar, esfregando meu rosto.
— O quê? — Emma ri, nervosa.
— Hugo está morto, até o ponto que eu sei. O marido
de Elsa morreu dez anos atrás, em um roubo que teve em
sua casa, junto com a filha deles — conto breve, omitindo o
que aconteceu naquela casa com Elsa, e como sua filha foi
morta. Vejo que fiz bem, visto que a expressão de dor nos
olhos negros de Emma é visível. — Bom, o que acontece é
que alguém citou o nome dele como um possível
responsável por ter aprisionado a senhorita Violet.
— A jovem de quem Helena me contou? — Movo a
cabeça em positivo, e esfrego seu ombro, beijando
rapidamente sua boca, assim que seu olhar de tristeza fica
mais nítido. — Helena me contou sobre o estado dela...
— Ela está bem agora, amor. — Nego com a cabeça e
aliso a maçã do seu rosto. — Está segura em Babilônia. Pelo
menos, é o que eu tento acreditar.
— Como assim... — Emma empurra sua cabeça para
trás, para me olhar nos olhos. — Disse isso por conta desse
homem, o marido morto de Elsa? Mas ele não está morto,
Owen...
— Eu vi o corpo dele. — Fico pensativo, recordando
dos ossos dentro do caixão. — Mas se tem algo que aprendi,
é a nunca confiar no que meus olhos veem. Nem tudo é o
que parece.
Olho para ela, escorregando minha mão por seu
queixo, tendo ainda dentro de mim o pior erro que cometi, a
prova de que nem tudo que os olhos veem é verdade.
Precisei me condenar ao inferno para descobrir que Emma
era a verdadeira vítima na mão do meu pai.
— Suspeita que esse homem está vivo, é isso? — Ela
ergue sua mão, segurando meu pulso e depositando um
beijo na palma da minha mão.
— Suspeito que algo não bate nessa história, como
uma peça perdida no tabuleiro, e eu não consigo a ver... —
Retiro a foto da sua mão, a olhando, vendo Hugo na antiga
mansão Woden, sentado na poltrona da biblioteca. — E
estava tentando descobrir onde ela estava, quando meu
escritório foi invadido pela minha doce esposa, que tirou
minha concentração.
— Não fiz nada... — Ela ri, se engasgando com sua
voz, fingindo inocência quando mordo seus dedos, a
desmentindo.
Tinha mandado Tailer passar um pente fino no
passado de Hugo, assim como no de Elsa, em todos os
documentos, fotos da época da faculdade, recortes de
jornais e álbuns de fotografias que ele encontrou na velha
mansão de Hugo, que está fechada até hoje. Havia ficado
com as palavras de Jon em minha mente, e sabia que o
garoto tinha razão em alguns pontos das suas suspeitas,
então estava empenhado em descobrir o que estava se
escondendo dos meus olhos. Foi quando ergui minha face e
encontrei o rosto delicado de Emma encostado no batente
da porta, me fitando, dizendo que nossa filha tinha
adormecido, enquanto ela levava uma cereja à sua boca e
segurava o pequeno frasco de frutas em calda. Sugava
devagar em seus lábios o fruto vermelho, me encarando de
forma inocente e dando um sorriso de lado, não
conseguindo disfarçar seu olhar de desejo, comprimindo
suas coxas ao cruzar as pernas.
Eu podia praticamente sentir o cheiro da boceta
melada da minha rainha invadindo minhas narinas, e seus
seios estavam eretos e pontudos, escondidos no tecido do
vestido. Precisei de um segundo para me levantar e ir até
ela, que já se jogava em meu colo. Meu pé chutou a porta e
a tranquei, antes de ter seu corpo quente e cheio de luxúria
fodendo meu pau, com ela sentada em meu colo, jogando
minha concentração para os ares.
— Apenas tinha passado para dar uma boa-noite... —
ela diz, rindo, e me sento na cadeira.
Emma ergue seu pé para mim, esfregando o salto em
meu peito.
— Chega a ser adorável a forma como me provoca
para receber castigos. — Abaixo meu rosto e seguro seu pé
em minha mão, o lambendo aos poucos e ouvindo os
gemidos baixinhos dela ao suspirar. — E, acredite, irá os
receber, pequeno corvo.
Levo os olhos para os seus e percebo que eles brilham
com puro desejo, ao passo que me tem como o seu mais
devoto servo.
— Temos a madrugada toda, e a guilhotina seria uma
ótima punição... — murmuro para ela, farejando o ar, com o
odor do sexo dela ficando mais forte.
E isso me faz pensar seriamente que se não a tirar de
dentro do meu escritório, passarei a madrugada inteira
chupando sua boceta, com suas pernas abertas em cima da
minha mesa, ao invés de me concentrar na porra dessa dor
de cabeça por conta da incerteza que a morte de Hugo se
tornou para mim.
— Acho que gostaria, sim, de ser punida. — Emma ri e
fecha seus olhos, mordendo o cantinho da boca. — Me
sentiria muito mais adorável...
— Pequeno corvo provocador! — Levanto e a seguro
pela cintura, lhe descendo da mesa e depositando um beijo
em seu ombro. — Vou chicotear muito seu rabo, Emma.
Mas, antes, preciso terminar de resolver esse assunto —
digo a ela e dou um passo para trás, endireitando minha
roupa e arrumando a camisa dentro da calça.
— Bom, pelo que vejo, isso vai levar muito tempo da
sua madrugada. — Ela ergue suas mãos e empurra seus
cabelos para trás, deixando seu pescoço à mostra. Meu
olhar repousa na marca dos meus dentes em sua garganta,
e gosto de ver minha mordida na pele da minha esposa. —
Tudo isso é dele? — ela questiona, olhando para o chão e
vendo os papéis espalhados, se abaixando e erguendo o
grande álbum em sua mão.
— Tailer é bem detalhista. — Ando para perto da
parede e pego a garrafa de uísque no bar, me servindo. —
Ryan o treinou bem. Ele é metódico ao fazer um pente fino,
assim como Ryan — falo com pesar, sentindo falta do meu
braço direito.
Fico ainda mais irritado, porque sei que tudo está
ligado: o maldito que adestrou a senhorita Sing e o
desgraçado que atirou em Ryan, e eu irei achá-lo, irei
descobrir quem se escondeu de mim.
— Elsa estava tão feliz nessa foto... — Emma sussurra,
suspirando ao olhar o álbum. — Estranho, ele parece um
homem apaixonado perto das fotografias com Elsa... Mas,
nessa aqui, ele me deu muito arrepio.
— Como? — A olho, abaixando a garrafa e me
aproximando dela por trás, colocando meu queixo sobre seu
ombro e vendo o álbum aberto. — Oh, não, esse é o pária
de Lian Belanger, o irmão caçula de Hugo.
Nego com a cabeça e fecho meus olhos,
reconhecendo o patético irmão de Hugo. Lian é dois anos
mais novo que Hugo e eles têm os traços parecidos, desde o
cabelo preto até o corpo esguio e magro. Porém, não tem
nada de especial nele, além do seu sobrenome, com ele
sendo praticamente um desperdício para a linhagem
Belanger. Tirando seu dom para partidas de xadrez, ele não
era interessante, estava sempre à sombra de Hugo, sendo
tedioso, a decepção dos Belanger. Sempre era péssimo em
tudo que fazia, tanto que era por isso que seu próprio pai o
chamava de pária e passou a nobreza dos Belanger dentro
de Babilônia para Hugo, como seu sucessor, excluindo Lian.
— Acredite, amor, não há nada de assustador nele —
falo, negando com a cabeça. — A não ser o fato dele ter
conseguido chegar à fase adulta, pois sempre achei que se
suicidaria na adolescência, pois era um fracasso,
praticamente...
— Pode ser, mas para mim ele está bem assustador.
Olhe a forma que ele é o único na foto a ficar encarando a
Elsa.
Olho com mais atenção a foto, vendo Elsa sentada no
grande sofá da residência dos Belanger, a qual eu conheci,
pois meu pai frequentava muito aquele lugar, por ser amigo
íntimo do velho senhor Belanger. O velho está na foto,
assim como a mãe de Hugo, já que ainda estavam vivos
naquela época. Todos sorriem, provavelmente olhando para
Hugo, que devia estar batendo a fotografia, e Lian está de
pé atrás do sofá, tendo seus olhos presos em Elsa.
— Segure isso, amor. — Lhe entrego meu copo, o
trocando com ela pelo álbum e o erguendo, fixando os olhos
na foto, olhando do rosto de Lian para Elsa. — Não é para
Elsa que Lian está olhando... — rosno, compreendendo que
o olhar fixo dele não está em Elsa, e sim na recém-nascida
em seus braços.
— Hugo se formou em neurologia, seguindo os passos
do pai... — Ranjo meus dentes, trazendo o álbum para
perto, parando minha atenção no livro que ele segura, que
tem nitidamente a face de Freud estampada na capa, o que
faz minha mente se atentar em Jon novamente, lembrando
da sua conversa no carro. — Mas Lian optou por psicanálise,
como a mãe deles...
Solto o álbum sobre a mesa, com força, e minha
mente repassa tudo rapidamente.
— Filho da puta, eu te achei! — Minha mão vai ao
bolso da calça e puxo meu celular, discando. A chamada vai
para a caixa de mensagem. — Inferno, Jon! — rujo com ira,
discando novamente, com a situação se repetindo,
chamando até cair na caixa de mensagem.
Disco para Killer na mesma hora, que no segundo
toque atende.
— Senhor Clay, me coloque na linha com Jon agora! —
ordeno, com meu peito subindo e descendo.
Consegui finalmente ver a maldita peça que se
escondia em meu tabuleiro.
CAPÍTULO 58

O XEQUE-MATE DO BISPO
JON ROY

Dezoito horas depois


Turquia – Trebizonda

Meus dedos vão até a cabeça do guarda, o pegando


de surpresa, e colo uma mão em sua boca, enquanto a
outra passa firme a lâmina rente à sua garganta, rápido e
em um único golpe. Dou um passo para trás, o trazendo
comigo, até ter seu cadáver no chão, não fazendo um
barulho que seja.
— Estou dentro! — digo firme, rodando a faca e a
segurando em meus dedos, passando por cima do cadáver.
— Hora do show, filhote problemático. — A voz de
Dragomir é baixa no comunicador em minha orelha.
Aperto o cronômetro do relógio em meu braço, para
cronometrar o meu tempo de entrada e saída de dentro da
imensa mansão, e caminho ligeiro por dentro da adega
subterrânea, que foi minha porta de acesso pelo interior da
montanha. Como calculei, havia um ponto fraco na fortaleza
pelas entranhas da gruta, a qual me trouxe direto para a
grande estalagem de bebidas.
Meus pés tocam o primeiro degrau da escada que leva
direto para o interior da mansão. Tinha memorizado cada
centímetro do mapa da arquitetura interna do prédio. Sei
para onde irei, e será sem distrações, sem paradas, sem
desvios do meu alvo. Killer havia agilizado o recado para
Dragomir e Bratos através de alguns antigos contatos do
presídio, dizendo que o facão deles estaria na Turquia, os
aguardando, e junto com ele as coordenadas de onde eles
me encontrariam.
Dante foi quem preparou minha partida, a qual foi tão
rápida quanto possível depois que bati na porta de Killer.
Passei apenas para ver Linda, antes de seguir adiante com
minha missão. Dante, antes de entrar em Babilônia,
trabalhava no contrabando de armas com um tio, que foi
meu atravessador, me trazendo em seu avião de carga para
Trebizonda.
No segundo que meus pés tocaram em solo turco, e
saí do avião, meus convidados me esperavam. Não houve
perguntas de Dragomir ou Bratos ao escutarem a cobrança
do meu favor, e nem questionaram o tamanho do risco que
seria invadir a mansão do presidente, apenas me
perguntaram qual era o plano. Repassei a eles o que
precisava, os deixando livres para escolherem como iriam
chamar a atenção do pequeno exército do presidente, que
faz sua segurança, me dando os minutos que eu precisava
para entrar e sair de lá com a cabeça do porco gigante e as
anotações.
Retiro o revólver da cintura e encaixo a silenciadora
nele, não fazendo barulho enquanto subo os degraus. Paro
no último perto da porta e olho para meu pulso, encarando
o cronômetro no segundo que dois minutos se fecham. Sou
obrigado a agarrar a porra do corrimão das escadas quando
tudo sacode, com as poeiras caindo dentro da adega, me
dando a impressão de que uma bomba caiu dentro da porra
da mansão.
— Porra! — rosno, me recompondo rapidamente e
negando com a cabeça, não tendo ideia do que os dois
loucos fizeram.
Mas foram direto ao alvo, pois logo os gritos e
disparos se fazem. Empurro a porta, invadindo a cozinha
industrial, que parece mais um restaurante, vendo os
funcionários correndo. Levo a arma à cintura, com meu
braço se esticando e pegando o cabo da panela no fogão
industrial assim que um dos homens me vê e corre em
minha direção, ao invés de fugir, segurando um cutelo.
Arremesso a panela, o fazendo gritar quando a carne
quente dentro dela, junto com a panela de ferro, atinge sua
cabeça, que é estourada na parede em segundos, antes que
ele possa compreender o que aconteceu, comigo o
apagando. Quebro seu pescoço, o torcendo, antes de o
soltar no chão e olhar em volta, não vendo mais ninguém e
ouvindo apenas os gritos e os tiros ao longe, ao passo que
me agacho e desabotoo o paletó branco do cozinheiro, o
vestindo por cima do meu colete.
O abotoo rapidamente, e me levanto, puxando o
cutelo comigo. Vou para fora da cozinha e meus olhos
estudam o perímetro, percebendo o saguão vazio.
Aproximo-me devagar da janela e olho para o lado de fora,
enxergando a porra de um buraco do tamanho de uma
cratera, com o que sobrou dos seguranças disparando
contra a fumaça. Vejo o brilho potente da metralhadora, que
dispara ao longe, sem parar, contra os seguranças, e mais
dois pontos de tiros vêm pelas laterais, os quais posso
apostar que são metralhadoras automáticas. Os dois
gêmeos observam em algum canto os babacas dos guardas
atirarem apenas na fumaça.
— Pirados! — Nego com a cabeça e me viro rápido,
seguindo direto para a escada.
Realmente, os gêmeos são estranhos, mas
executaram meu pedido, e grande parte da segurança está
do lado de fora, trocando tiros com as metralhadoras,
tentando limpar a saída do local para retirar o presidente.
— Há vinte e cinco leituras de calor no andar superior,
e uma grande movimentação no corredor leste — Bratos
repassa para mim.
— Entendido! — o respondo, compreendendo onde
está minha carga.
Meus pés já estão em marcha, indo para as escadas, e
saco a arma, andando devagar, não perdendo um
movimento sequer de vista. O primeiro alvo aparece assim
que meu pé toca o degrau, e dispara contra mim. O tiro
acerta minha perna de raspão, e rosno, mirando em sua
cabeça na sequência e disparando no centro da testa.
— Filho da puta! — Abaixo meu rosto para minha
perna, vendo o sangue escorrer. — Volte amanhã, cadela.
Aperto meus dedos no cutelo e tenho o revólver bem
preso em minha outra mão, ao passo que rujo e subo as
escadas correndo. O cutelo voa da minha mão e é
arremessado diretamente no peito de um segurança no
segundo que piso no corredor, já tendo a arma disparando
contra os outros dois.
— Segure mais um pouco, sim?! — rujo para o cara
caído com o cutelo no peito, pisando em cima dele e o
enterrando por completo em seu tórax, mantendo o dedo no
gatilho e disparando contra os outros três que vêm para
cima de mim, limpando a porra do corredor. — Obrigado!
Sorrio, abaixando meu rosto para o cadáver e pisando
em sua face, puxando a porra do cutelo com força para trás
e o arrancando do seu peito.
— Três assinaturas de calor vindo à sua esquerda —
Bratos alerta, e caminho para os guardas caídos no
corredor, pegando o rifle deles e o mantendo em meus
braços.
Meu joelho já está tocando o chão, com o rifle
empunhado em minha mão e minha mira pronta. No
segundo que mais guardas aparecem, é brutal, quase como
uma sinfonia harmônica, e acerto os corpos, os derrubando
no chão, com seus gritos se misturando aos disparos.
— Três assinaturas a menos. — Sorrio, abaixando o
rifle e me levantando, falando com Bratos ao fitar os
cadáveres.
Viro-me e vou para o final do corredor, passando
meus olhos pelas portas abertas, com o rifle ainda
empunhado, não abaixando a guarda.
— Quinze assinaturas de calor ao fim do corredor, à
esquerda — Bratos repassa rápido. — Recarregue a arma,
filhote problemático.
Ando direto para a porta do último quarto, à esquerda,
e a vejo fechada, sabendo que é de dentro dela que vem as
assinaturas de calor.
— Eles estão se reagrupando do lado de fora, tem
quinze minutos, garoto! — Dragomir me alerta, e esmago
minha boca.
Encosto-me na parede e uso a ponta do revólver para
abri-la, a empurrando aos poucos. Observo pela fresta um
segurança de costas, que segura um revólver e caminha
para perto da porta. Calculo a base de tempo que tenho
para chegar até ele antes que dispare contra mim, antes de
invadir o quarto, para ser rápido, sem bagunça ou distração.
Com o rifle engatilhado, miro na nuca dele quando estouro a
porta, e o tiro o acerta, o derrubando.
Passo meus olhos pelo quarto e vejo uma quantidade
absurda de cocaína espalhada sobre os móveis, desde as
cômodas até a pequena mesa de vidro de centro e a cama
de casal ao centro, com os lençóis amarrotados. O som
baixo da descarga me faz virar meu rosto na mesma hora,
olhando à esquerda.
A voz alta turca falando em comando me faz inclinar
minha face, e caminho até lá, usando a ponta da minha
bota para empurrar a porta devagar, a abrindo e
encontrando o porco imenso de Hasan de costas,
completamente pelado, urinando no vaso sanitário. Abaixo o
rifle e me aproximo aos poucos, o pegando de surpresa, e
antes mesmo dele virar seu rosto, meu braço já está se
erguendo e agarrando sua nuca. Chuto sua perna esquerda,
o fazendo gritar de dor, e ele tomba, comigo já enfiando a
porra da cabeça dele dentro do vaso em seguida.
— Estou com o porco! — rujo, repassando a
informação para os gêmeos. — Onde estão as assinaturas
de calor?
Hasan se debate e suas mãos tentam se apoiar no
vaso sanitário, para se levantar, enquanto meus olhos
passam em volta, caçando pelo outros seguranças.
— Há quinze assinaturas de calor aí dentro — Bratos
me responde, e encaro a direção da porta, agarrando a nuca
de Hasan e o tirando de dentro do vaso, ao passo que ele
respira agitado, tossindo.
— Onde estão seus seguranças, porco de merda?! —
rujo, o fitando, o vendo com o rosto vermelho e a merda das
pupilas dilatadas, que me dizem que o desgraçado cheirou
tanta cocaína, que mal compreende o que está
acontecendo. — ONDE? — esbravejo mais alto, com raiva
para ele, e soco sua cabeça mais uma vez no vaso,
enquanto ele se debate.
Estico minha perna e chuto a merda da porta,
soltando o rifle e sacando o cutelo do bolso do jaleco do
cozinheiro. Faço Hasan gritar como um porco, grunhindo no
segundo que acerto a lâmina em suas costas, direto em sua
coluna. Meu peito sobe e desce e aperto mais forte sua
cabeça, a tirando do vaso e o jogando para trás. Ele cai de
costas, e o piso fica manchado com seu sangue, com seu
peito subindo e descendo e ele tentando se arrastar de
costas no chão.
— Não temos muito tempo. — Sorrio, o encarando,
com meu pé aterrissando forte sobre seu pau nojento e o
esmagando com minha sola do coturno, assim como suas
bolas. — Mas garanto que vamos aproveitar.
O cutelo já está sendo cravado em seu ombro, tão
fundo que o faz se retorcer enquanto grita, com ele
tremendo ainda mais. O levanto, e minha outra mão puxa
com força o cutelo, fazendo o sangue jorrar sobre mim
quando paro minha face diante da sua.
— Nós dois sabemos que me entende, e nós dois
sabemos que não vai sair vivo desse banheiro. — Pisco para
ele e forço a lâmina do cutelo em sua garganta, o vendo
com seus olhos arregalados. — Então, escolha se quer estar
vivo quando eu cortar sua cabeça ou se prefere estar
morto...
— Vai morrer, seu idiota! — ele balbucia em um inglês
pesado. — Vai morrer antes mesmo que possa me fazer
algum mal.
— Mas não vou te fazer mal. — Aperto mais forte a
lâmina, com minha outra mão indo à minha perna e
puxando minha faca de caça. — O que vou te fazer será
quase um preparo para o que vai te esperar no inferno.
O apunhalo em sua banha flácida, abaixo da barriga,
perto do quadril, e ele arregala seus olhos, com a face
ficando pálida e tendo a dor refletida em seus olhos ao
passo que torço a faca dentro dele.
— Os cadernos de anotações das bonecas humanas,
onde estão? — Começo a serrá-lo com fúria, rasgando sua
pele e forçando a faca para baixo, até parar próximo ao seu
pau murcho de merda.
— Ohhhhh! — ele grita, batendo suas mãos na parede
do banheiro.
O chão está lavado com seu sangue e ele respira
depressa.
— ONDE ESTÃO? — berro, dando um passo para trás e
afastando o cutelo do seu pescoço, antes de puxar minha
faca de caça do porco, já tendo, em seguida, a lâmina do
cutelo cravando entre suas pernas, o que o faz cuspir uma
grande bola de sangue. — Está ficando sem tempo,
presidente. Mas ainda pode escolher como sua família vai
celebrar seu funeral, se será com um caixão para seu corpo
sem cabeça, ou em vários sacos pretos para seus membros
decepados...
— Quanto quer? Quanto realmente quer, filho da
puta? — Ele ergue o rosto e me olha com dor, com sangue
escorrendo de suas pernas e de sua barriga. — Apenas diga
seu preço!
— Sua cabeça! — Mantenho meus olhos nele quando
o respondo, lhe dizendo meu preço. — Sua cabeça é o meu
preço, e se acha que eu estou lhe causando dor, imagina o
que sua esposa vai sentir, assim como suas filhas e seus
netos, quando eu for atrás deles e matar um a um, até não
sobrar a porra de uma linhagem sequer sua...
— Devia aceitar a minha oferta, garoto, não tem ideia
de quem sou...
— Acredite, eu tenho. — Sorrio e balanço a cabeça
para os lados. — E é por isso que estou aqui, porque sei
exatamente quem você é e o que fez, Hasan.
— Tem coragem, garoto, mas está morto — ele
balbucia, rindo com amargura e negando com a cabeça, se
tremendo e abaixando a face, olhando o sangue escorrer no
chão. — Morto. Servirá de comida de peixe antes desse dia
acabar.
— E sua cabeça estará fora do seu tronco. — Desfiro
um golpe com a base da faca em seu rosto, puxando o
cutelo com força, o fazendo cair sentado no chão do
banheiro, com o sangue escorrendo dele feito uma torneira
aberta, tendo seu pau mutilado.
— Meus homens vão até o inferno para caçar você.
Não tem ideia do que eles vão fazer com você, quando lhe
pegarem — ele murmura, levantando o rosto suado e
trêmulo e me fitando. — Não ache que vai ficar vivo se me
matar...
Ele ri, balançando seu corpo corpulento e
gargalhando. Inclino meu rosto para o lado e abaixo o
cutelo, o encarando sério.
— Adivinhe, eu não estou vivo. — Meu pé já está se
erguendo com força, e disparo um chute em sua barriga,
antes de esmagar o que sobrou do seu pau mutilado,
pisando com força em cima dele.
— Jon, o tempo está se esgotando! — Dragomir rosna
pelo rádio comunicador.
Não respondo Dragomir, somente me abaixo e agarro
a cabeça de Hasan, levando minha faca à sua garganta.
— Tique-taque... — Sorrio para ele e forço a lâmina
contra seu pescoço, vendo as primeiras gotas de sangue
escorrerem pela pele quando começo a empurrar a faca
contra sua garganta.
Mas paro quando o movimento vertiginoso dentro do
boxe se faz, com a imensa cortina que tapa onde fica o
chuveiro se balançando, como se alguém estivesse
espiando de lá.
— Quantas assinaturas de calor disse que tem aqui
dentro? — pergunto a Bratos, me levantando e endireitando
meu corpo, olhando de Hasan para a cortina.
— Contando com a sua, quinze... — ele me responde
depressa. — Há reforço turco chegando, Jon, aéreo e por
terra, tem que sair daí agora.
Não digo nada a Bratos, apenas caminho para perto
da cortina, a empurrando para a esquerda com força. Os
treze pares de olhos assustados, presos em minha face,
com seus corpos amontoados dentro da banheira, me fazem
ficar paralisado ao olhá-las. São garotas magras e feridas,
com coleiras de couro em suas gargantas, nuas e com os
corpos trêmulos.
— Porra! — rosno com fúria e giro meu rosto na
direção de Hasan, entendendo agora por que grande parte
da equipe de segurança estava do lado de fora.
O filho da puta estava tendo uma festinha particular.
As bocas delas estão feridas e machucadas, com
algumas sangrando e outras mal conseguindo abrir suas
pálpebras direito. Os corpos são pequenos, mal tendo seios
formados. Elas não são mulheres, são crianças, meninas
entre dez, onze e doze anos, todas frágeis e apavoradas.
Puxo a porra da cortina e viro para ele, ao passo que
rujo com raiva e me agacho, o agarrando pelos cabelos e o
arrastando para perto do vaso, o enfiando dentro de novo e
estourando a porra do cutelo em sua nuca. Meu corpo vibra
e meu peito sobe e desce, com um frenesi animal me
consumindo. Quando meu braço para, Hasan não se mexe
mais, e levanto sua cabeça, o mantendo preso pelos
cabelos, vendo o tronco deslizar como uma banha entre o
sangue no chão.
— Há uma complicação — falo firme, fechando meus
olhos e inalando com força, sentindo o ar entrar em meus
pulmões.
— Do que está falando? — Dragomir questiona, sério.
— Precisa sair agora...
— As assinaturas de calor não são dos homens de
Hasan — falo direto, o fazendo se calar, ficando apenas o
silêncio do outro lado.
— Há quatorze assinaturas de calor agora — Bratos
murmura. — Uma é sua, de quem são as outras treze?
— Crianças. — Viro devagar, encarando a cortina.
— Não tem como tirar elas — Bratos é firme. — A
mansão vai ser tomada em três minutos. Sabe que não tem
como fazer a remoção...
Sim, eu sei. Não tem como sair com as treze pela
porta da frente, já que a porra de uma invasão de perímetro
está prestes a estourar.
— Jon, sai daí agora! — Dragomir soa ainda mais
firme.
Abaixo-me e jogo o cutelo, pegando o rifle ao respirar
fundo. Ergo-o e miro na direção da cortina. Fecho os olhos e
inspiro fundo, tendo meu dedo no gatilho e a face de Linda
se formando em minha mente, recordando do seu corpo
frágil em meus braços no dia que ela se jogou na frente da
bala, recebendo o tiro por mim, quando a encontrei.
— Porra! — Abaixo a arma, olhando a merda do
cadáver de Hasan. — Não posso sair — comento, negando
com a cabeça.
Tinha vindo atrás do filho da puta não apenas para o
matar, mas porque preciso dos malditos documentos.
Porém, a face de Linda, a visão do rosto dela em minha
mente, me faz compreender que eu não irei sair daqui sem
tirar essas meninas.
— Jon...
— Vamos levá-las para Babilônia — corto Dragomir. —
Elas vão sair pelo mesmo caminho que eu entrei, e as
levaremos para o hangar. O avião que me trouxe está me
esperando para partir.
— Essa não foi a porra do combinado, garoto! —
Bratos rosna.
— Sabe como é, filhotes problemáticos nunca fazem o
combinado. — Estico minha mão e vou para perto da
cortina, a puxando com força e a fazendo cair no chão.
As vejo se encolherem e as lágrimas escorrerem por
suas faces, com seus olhos se esmagando e elas tremendo,
com uma se agarrando à outra.
— Alguma de vocês fala minha língua? — pergunto
firme, fitando-as. — Vou tirar vocês daqui, mas preciso
saber se me compreendem...
Uma delas, com cabelo raspado, como se fosse um
menino, levanta sua mão e abre seus olhos para mim.
— Entende o que digo? — questiono, a vendo olhar do
meu rosto para a cabeça de Hasan.
Ela move a cabeça para mim aos poucos, enquanto
seus dedos trêmulos apontam para sua garganta e sua boca
se abre.
Não preciso de muito para entender que elas não
falam. As gengivas sem dentes me deixam saber que elas já
tinham sido mutiladas.
— Merda! — Movo a cabeça, olhando para a porra da
porta. — Se levantem, todas, e fiquem atrás de mim.
Giro e abro a porta, não esperando para ver se elas
me obedeceram. Apenas marcho, saindo rápido para fora.
Paro perto da porta do quarto e olho na direção do corredor.
Meu rosto se volta para trás e encontro a porra da fila de
meninas me fitando assustadas, tendo a menor entre elas,
que me respondeu, me encarando.
— Porcaria de ideia! — Nego com a cabeça, voltando a
olhar para o corredor, fazendo um gesto de cabeça para que
elas me sigam.
Não temos tempo, preciso fazer a porra do percurso
com elas, até chegar na merda da cozinha e as levar para a
adega.
— Segurem uma nas mãos das outras, e não parem
de correr — digo firme para a pequena. — Não parem por
nada.
Abaixo a porra do rifle e o coloco no chão, encostado
na parede, ao passo que retiro o jaleco do cozinheiro e o uso
para enrolar a merda da cabeça do turco. A prendo em meu
braço e puxo o rifle novamente, o mantendo empunhado,
com um braço esticado na base e o dedo no gatilho. Marcho
rápido, não olhando para trás, para ver se elas estão me
seguindo, apenas ando, indo na direção das escadas que
levam para o hall.
— Atualização, Bratos. — Ando mais ligeiro, escutando
apenas os passos delas caminhando apressadas atrás de
mim.
— Há dois comboios se aproximando, estimativa de
cinquenta homens — ele fala direto.
Rio, sabendo que eu estou ferrado, e ainda por cima
não completei a porra da minha missão. Viro e faço um sinal
de pare para elas com minha mão, quando chego perto das
escadas, batendo meus dedos na parede rapidamente. A
pequena se cola nela, com as outras fazendo a mesma
coisa. Estico meu pescoço e fito a escadaria, vendo tudo
limpo.
Mexo meus dedos, as fazendo me seguir e chamando
por elas quando avanço, imaginando Artur me caçoando por
parecer a porra de uma mãe ganso, com os malditos
filhotes a seguindo em uma fila indiana. Já estou no último
degrau, e mantenho minha mira na porta principal.
— Vão, vão! — grito para elas, girando o rifle apenas
uma vez na direção da porta da cozinha, indicando para
onde elas têm que ir.
— Estão chegando, Jon! — Dragomir rosna, com sua
respiração pesada.
Mas não perco meu foco, nem mesmo desvio meus
olhos da porta. Viro, caminhando de costas e mantendo
minha mira na linha da porta quando a última criança passa
correndo. As sigo, e retiro a merda da cabeça enrolada no
jaleco do meu braço, parando perto da garota de cabeça
raspada.
— Olhe para mim — falo, a encarando. — Aquela porta
aberta tem uma escada de madeira, vocês vão descer,
andar cinco passos até a esquerda e ir direto para um
cadáver. Vão pulá-lo e seguir em frente, onde terá uma
porta que está destrancada ao fundo, colada à parede de
pedra. Vai a abrir, está me entendendo?! Vai passar todas
as garotas por dentro dela e vão continuar reto. É tudo
escuro, e tem um caminho estreito, apenas precisa seguir e
não parar de andar. Não vira, não para, apenas anda, até
ver que começou a descer. Quando chegar ao fundo, vão ter
dois ursos grandes e feios esperando por vocês.
— Acho que ele acabou de nos chamar de ursos. —
Bratos ri, falando no aparelho.
— E feios. Eu entendi isso, filhote problemático —
Dragomir rosna.
Mas não respondo a eles, apenas mantenho meus
olhos na criança que me encara.
— Eles são amigos e vão levar vocês para longe
daqui, para um lugar seguro, entendeu o que eu disse? —
Ela move depressa a cabeça, apontando na direção da porta
que leva à adega. — Isso aí. Escada de madeira, cadáver,
porta destrancada e correm sem olhar para trás.
Estico meu braço para ela e lhe entrego a camisa
enrolada na cabeça. Ela pisca, confusa, olhando da trouxa
para mim.
— Pode levar isso para mim? — Seu braço já está se
esticando rapidamente, com ela agarrando a trouxa antes
mesmo da sua cabeça se mover em positivo. — Ótimo.
Inalo fundo e as observo, enquanto bufo e nego com a
cabeça, dando as costas e levando meus dedos à orelha.
— Elas estão a caminho. Vou passar o comunicador
para uma delas, que compreende nossa língua. Ela não fala,
eles a mutilaram. Mas ela é esperta e vai levar as outras.
Mantenha ela com vocês e vão passando as direções. As
encontre na saída do rochedo e as deixem em segurança
em Babilônia.
— Não vai descer com elas? — Dragomir me pergunta,
direto.
— Vou dar alguns minutos de dianteira para elas. —
Eu sei que não tem chance de sair daqui sem elas serem
pegas se eles nos seguirem, e não consigo lutar dentro da
porra de uma montanha.
O caminho é pequeno e estreito, e minhas chances
seriam zero, assim como as delas.
— Encontro vocês em algumas horas. — Retiro o
aparelho comunicador da orelha e passo para a menina,
colocando em sua orelha. — Os ursos feios vão ajudar vocês
a acharem a saída. Escute as vozes deles, apenas as vozes
deles, e não parem de correr — falo alto o suficiente para
que Bratos e Dragomir escutem e saibam que não estou
mais com o comunicador. — VÃO! — Aponto a porta,
gritando e vendo a pequena se virar e correr para lá, com as
outras a seguindo.
Olho em volta e vou para perto do fogão industrial,
abrindo as bocas lentamente e assobiando a canção que
tocava no carrossel, tendo o odor de gás começando a subir.
Caminho para a porta que elas passaram e a fecho, usando
meu ombro para empurrar a merda da geladeira, a
deixando na frente. Sei que a explosão vai ser grande, mas
dará uma chance maior para elas chegarem até Bratos e
Dragomir.
Ando para fora da cozinha, seguindo para o hall e
parando perto de uma janela. Olho para fora e vejo os
corpos espalhados no chão. Ao longe, a poeira na estrada
me deixa ver o comboio se aproximando.
— Everyday, it's a gettin' closer. Goin' faster than a
roller coaster — murmuro, cantando, levando minha mão ao
bolso do colete e puxando o celular. — Love like yours will
surely come my way... Ahey, ahey, hey!
Disco, mantendo meus olhos na estrada, antes de
erguer o celular para minha orelha e escutar o toque da
chamada, que toca duas vezes.
— Alô... — Por um segundo, tudo congela, quando o
som da voz se faz do outro lado da linha. — Alô, quem fala?
Meus olhos se fecham e puxo o ar, apenas ouvindo
sua voz, com um sorriso se abrindo em meus lábios, não
entendendo por que desejei ouvir essa voz nem que fosse
uma última vez.
— Alô, quem está falando? — Escuto sua respiração
baixa, com o som de uma cadeira ao fundo. — Olha, se for
um trote, saiba que...
— “Não vivi dez meses aquela existência
extranatural?” — recito a última frase que Júlio Verne usou
para encerrar o livro Vinte Mil Léguas Submarinas, a qual
ficou gravada em minha mente. A voz do outro lado da linha
se emudece, tão diferente do dia que ela recitou para mim
esse trecho de uma forma alegre e divertida. — “Quem
jamais pôde sondar as profundezas do abismo?”
Me silencio, ouvindo o som de algo caindo, enquanto
a respiração fica acelerada.
— “Dois homens entre todos os homens têm, agora, o
direito de responder. O Capitão Nemo e eu." — A voz entre o
choro soluça, finalizando o desfecho final, me deixando
saber que ela ainda se lembra de mim. — Oh, meu Deus,
Jon...
O som de vidro se quebrando é alto, como um copo
que foi ao chão e se estraçalhou, e o choro fica mais forte.
— Oi, Gim — sussurro ao ouvir o choro dela.
— Jon... Oh, meu Deus, Jon, você está vivo... — ela
fala rápido entre o choro, soluçando, mas não digo a ela
que, talvez, não fique vivo por muito tempo. — Onde está?
— Nada mudou, não é, Gim?! — Mantenho os olhos na
estrada, podendo visualizar perfeitamente sua face em
minhas memórias. — Ainda continua a mesma velha Ginger,
apaixonada por coisas quebradas, que nunca terão
conserto. Acho que nunca entendi por que você sempre foi
assim, mas, estranhamente, foi o que me fez gostar de
você...
— Jon... Onde você está, magrelo, me fala?! Eu...
— Sempre li suas cartas. Nunca deixei de ler uma
única carta que fosse que você me escrevia — digo a
verdade para ela, mas não digo que ler suas cartas era
como a única fuga que eu tinha daquele hospício. — Nunca
entendi por que jamais me odiou, Gim...
— Não... Não, magrelo... — Ela soluça mais forte. — Eu
não te odeio, nunca, Jon...
— Eu não sinto remorso pelo que fiz, Gim, nunca
senti. — Fecho meus olhos e solto um suspiro fundo. — Mas
também não queria que você estivesse envolvida naquilo...
— Jon, não importa... Não importa... A única coisa que
importa é que está vivo, magrelo. Eu sofri tanto, Jon, eu
sofri tanto por achar que tinha lhe perdido... Me diz onde
está, me diz e eu vou direto para aí...
— Meu tempo está acabando, meio que estou prestes
a entrar em uma festa de arromba. — Meus olhos se abrem
e encaro o comboio de soldados que está cada vez mais
perto. — Eu sei que Roy está aí, ouvindo nossa conversa.
Rio, sabendo que é verdade, pois Jonathan nunca está
longe de Ginger.
— Jon, seu tio está tão surpreso quanto eu. Diz para a
gente onde está...
— Nunca achei que iria ligar, mas a ocasião me
obrigou a isso. Há um tesouro meu guardado com o rei,
Jonathan — digo sério, sabendo que ele vai entender o que
digo. — Um tesouro que é de valor incalculável para mim,
escondido em segurança dentro do reino.
— Tesouro, rei... Jon, do que está falando? — Gim
respira mais rápido, fungando. — Me diz onde está! A gente
vai buscar seu tesouro juntos...
— Eu sei que não tenho direito em pedir isso, Gim,
ainda mais a você, mas acho que você é a única em quem
eu confiaria para poder protegê-la.
— Ela... — ela pergunta, confusa. — Seu tesouro é
uma garota... Jon, me conta o que está acontecendo. Por
que não me diz onde está, magrelo...
— Cuida dela para mim, Gim. Você vai gostar dela,
meu tesouro é especial e único. — Vejo homens pulando
para fora do caminhão.
— Jon... Jon, por favor, me fala onde está...
— Obrigado, Gim. Acho que nunca lhe agradeci —
digo baixo, contando o pelotão e sabendo que tem mais de
cinquenta homens, como Dragomir me alertou.
— Agradecer? Oh, Jon, não tem o que agradecer...
— Você foi o mais perto de um sentimento humano
maternal que eu já tive. — Recordo do seu rosto, do sorriso
dela naquele quarto, dançando comigo. — Protege o meu
tesouro, Gim, como você me protegeu. Ela é a minha casa.
— Jon... — Ela soluça mais alto, e eu encerro a ligação,
encaminhando para ela uma pasta criptografada com
documentos.
Jogo o celular no chão e piso em cima dele, respirando
fundo e sentindo o cheiro do gás ainda mais forte, enquanto
marcho para trás e me afasto da janela. Vou até a outra
ponta do saguão e me agacho atrás do sofá, mantendo
minha mira na porta e sabendo exatamente o que vai
acontecer quando eu apertar o gatilho.
— Everyday, it's a gettin' closer. Goin' faster than a
roller coaster — canto, sorrindo, tendo em minha mente a
face de Linda. — Love like yours will surely come my way
(ahey, ahey, hey...
No segundo que a porta é arrombada, meu dedo
aperta o gatilho, mirando na direção da cozinha.
CAPÍTULO 59

A PEÇA INVASORA
OWEN WODEN

Quarenta e oito horas depois


Canadá – Vancouver
Palacete de Babilônia

— Não interessa quem eu tenha de matar, quem


preciso subordinar, caçar ou mutilar — rosno com fúria,
tendo meus dedos esmagando o telefone. — Quero
respostas sobre o paradeiro de Jon, e quero antes desse
maldito dia acabar, fui claro, Tailer?!
Não espero por sua confirmação, não quando sinto
meu sangue ferver. A pouca calma que eu tinha evaporou
de vez no segundo que dentro do carro, no trajeto para
Babilônia, quando retornei direto para cá, ao saber da
teimosia de Jon, fui pego de surpresa pelos sites de notícias
internacionais, que dispararam matérias sobre uma
explosão dentro da mansão em que o presidente da Turquia
estava, em Trebizonda, que acabou o matado.
A explosão foi ocasionada por um curto-circuito
interno. É claro que no segundo que li aquilo, sabia que era
mentira, mas mal tive tempo de absorver a matéria falsa
antes do meu celular tocar, tendo Elsa contando que
precisava de mim e que eu tinha que retornar com urgência
para Babilônia, pois uma carga de Jon havia voltado da
Turquia. Me vi diante da porra do baú do caminhão
estacionado nos fundos do pronto-socorro, enquanto Elsa,
junto com algumas servas sem coleiras, retiravam meninas
aterrorizadas de dentro do baú de carga. Dragomir Bravoros
era o motorista do caminhão, e no segundo que o vi
descendo, vindo direto para mim, eu sabia que havia dado
merda, uma merda das grandes.
— Vocês o deixaram! — rosno, esmagando minha
boca e sentindo a veia em minha garganta pulsar, com o
sangue fluindo em pura fúria ao ouvi-lo me dizer que Jon
não retornou da missão, me entregando um cooler cheio de
gelo, onde dentro dele está a cabeça de Hasan.
— O garoto disse que nos encontraria em algumas
horas, que iria ganhar tempo para retirarmos as cargas. Não
tinha como retornar, não quando ele socou essas treze
crianças dentro da montanha e as mandou direto para nós...
— Ele olha para o caminhão e balança a cabeça. — Não tive
opção, Woden...
Já estou diante dele em um segundo, rosnando com
fúria e o vendo erguer sua mão, o que faz Bratos ficar
parado. Dragomir não desvia seus olhos dos meus um
segundo que seja enquanto nos encaramos.
— Sua opção era ter me pedido permissão no segundo
que ele quis a ajuda de vocês — rujo, salivando, com
minhas narinas se dilatando de raiva.
— Não foi ajuda. — Dragomir inala fundo. — O filho
problemático do Ryan tinha um crédito conosco, e sabe
muito bem que os Bravoros pagam seus débitos...
— Tem a porra de um débito que equivale à bosta
inteira da sua vida comigo, Dragomir! — esbravejo com
ódio, estreitando meu olhar. — Pode odiar o caminho que
Ryan escolheu ao preferir a mim do que continuar fazendo
parte da sua maldita alcateia, onde Edo Bravoros enterrou
vocês, mas é graças a mim que a polícia e os federais se
mantêm distantes da merda daquela cova imensa de
montanha, a qual vocês chamam de casa! E agora vem até
mim e me diz que abandonou um dos filhos de Babilônia, e
que não teve opção, quando sua primeira opção era ter
ligado para mim?!
Desvio o rosto para Bratos, o fuzilando com meu
olhar, o desafiando a dar um passo que seja à frente, mas
ele não dá, assim como Dragomir recua, rugindo baixo.
— Vamos o encontrar — Bratos murmura, erguendo
sua face e me fitando. — Vamos descobrir onde está o
garoto de Ryan...
— Aconselho que o façam. — Dou um passo à frente e
mantenho meus olhos neles. — Ou, acreditem, a próxima
cabeça que estará em um cooler de gelo será a de vocês!
Não tive clemência, muito menos paciência enquanto
administrava tudo que aconteceu. Helena já estava em
Babilônia em poucas horas, ajudando Elsa com as crianças,
enquanto eu coloquei cada maldito contato em alerta,
informando que precisava de notícias do que tinha
acontecido dentro da mansão de Hasan, para ter um rastro
ou paradeiro de Jon.
— Vamos achar ele, chefe — Tailer fala firme, e
encerro a ligação, jogando com raiva a porra do celular em
cima da mesa do escritório!
— Chefe. — Escuto algumas batidas na porta aberta
do meu escritório, e alguém me chama, o que me faz erguer
a cabeça e fitar Dante. — Desculpa o incomodar, mas
chegou uma doutora na portaria e...
— Já mandaram ela para o pronto-socorro? —
pergunto direto, já me levantando.
— Ainda não, eu queria saber se o senhor deseja falar
com ela primeiro...
— Não, mande-a direto para o pronto-socorro! — Nego
com a cabeça. — É a pediatra de confiança que Helena
chamou para vir ajudar com aquelas crianças, até eu
descobrir para onde vou mandá-las.
Esfrego meu rosto e sinto meu corpo tenso. Nunca
senti tanta falta de Ryan como agora. Sem Ryan na ativa, e
muito menos Jon à frente dos bastardos, os comandando, e
o pronto-socorro de Elsa cheio de crianças machucadas e
assustadas, me vi tendo que ficar aqui, ao invés de ir direto
para a Turquia, descobrir pessoalmente se Jon tinha morrido
na porra da explosão ou se ainda está vivo, o que penso
que, com certeza, será ainda pior, uma vez que os turcos
podem ter colocado as mãos nele.
O som do aparelho tocando em cima da mesa me faz
esticar meu braço, e o pego, ansioso, mas rosno baixo ao
ver o nome do senhor Clay Killer na tela.
— Diga, senhor Clay! — Meus ânimos não suavizaram
com Killer desde o segundo que ele me avisou que Jon tinha
ido para a Turquia.
— Chefe, será que poderia dar um pulo aqui no
pronto-socorro... A doutora Elsa... Calma, espera... — A voz
dele se cala, tendo sons de gritos de mulheres ao fundo, e
rosno, esmagando minha boca. — É urgente, chefe.
— Que porra está acontecendo agora?! — rujo quando
escuto a linha ficar muda, levantando meus olhos para
Dante, que parece ainda mais perdido do que Killer. —
Cristo, se Ryan não acordar daquele coma, juro que eu
mesmo desligo a merda dos aparelhos!
Já estou me virando, marchando com raiva para fora,
tendo Dante dando um pulo e se afastando para que eu
passe. Ando direto pelo corredor, saindo para fora do prédio
quando atravesso o gramado, vendo ao longe o prédio do
pronto-socorro. Vou para ele e enxergo um Killer olhando
confuso para a porta, onde Elsa está alterada, com a mão
na cintura, com a psiquiatra à frente dela.
— Por que diabos aquela mulher está aqui, dentro de
Babilônia? — pergunto a Dante, que me olha, negando com
a cabeça.
— Não sei quem autorizou a entrada dela, eu nem fui
comunicado, senhor...
Esfrego meu cenho, sabendo que hoje todos estão me
dando um motivo para cometer a merda de um genocídio.
— Owen... Ainda bem que está aqui... — Elsa gira o
rosto para mim assim que me vê.
Movo a cabeça para dentro do pronto-socorro, para
que as duas entrem, ao passo que rosno baixo e esmago
minha boca.
— O que está acontecendo? — pergunto a Elsa, antes
de parar meus olhos em Brenda. — E como você entrou?
— Ela mentiu — Elsa é quem responde, com sua face
ficando vermelha de raiva. — Disse que estava vindo para
poder me ajudar com Linda, o que eu fiquei grata, visto a
demanda que estamos tendo no pronto-socorro...
A olho, já sabendo quem autorizou a entrada de
Brenda.
— Mas agora ela está me dizendo que quer levar a
Linda com ela! — Elsa respira rápido.
— Woden, sabe muito bem que aqui não é o lugar
dessa jovem... — Brenda me olha séria.
— O que sei é que lhe dei minha resposta, Brenda —
digo firme, estreitando meu olhar.
— Vocês não entendem que o melhor seria ela estar
em uma clínica, onde pode ser cuidada e seu caso estudado
mais a fundo...
— Cuidada? — Elsa a encara com ira. — Você é uma
mentirosa de merda, e mentiu para mim ao dizer que
estava vindo para ajudar. E agora nem esconde que o que
realmente quer é estudar o caso dela. Não vê Linda como
uma pessoa, o que você vê é uma porra de artigo de
psiquiatria para sua carreira...
— Como ousa?! Eu estou, sim, interessada no caso
dela. E, sim, seria um artigo muito bom se pudesse a
estudar. Mas, realmente, estou aqui pelo bem dela. Não
podem a manter mais aqui, isso é negligência. — Brenda
tem seu nariz empinado, e olha de Elsa para mim. — Fui
atrás de informações, e sei muito bem que, por lei, estão
cometendo um crime ao negar tratamento necessário para
uma jovem incapaz...
— Cristo, eu vou socar sua cara, Brenda! — Elsa dá
um passo à frente, mas Brenda recua rapidamente, se
afastando.
— O que está fazendo é antiético, Elsa, e se cair nos
ouvidos do conselho médico...
— Está realmente ameaçando a Elsa na minha frente,
dentro de Babilônia, Brenda? — indago, a fazendo abaixar
sua cabeça no segundo que a encaro.
— Não, na verdade, apenas estou dizendo que isso
pode acontecer. Elsa está agindo antieticamente diante do
caso da senhorita Sing, porque se apegou à paciente dela, e
não vê com clareza o que é melhor agora para a jovem...
— Vou lhe dizer o que é melhor — falo firme, a fitando
e dando um passo à frente, a tendo encolhendo seus
ombros. — Você esquecer que algum dia soube algo sobre a
senhorita Sing, se virar e sair da minha frente o mais rápido
que puder, e rezar para que eu esqueça o imenso erro que
você acabou de cometer. Porque não deveria se preocupar
com o conselho ético de medicina vindo atrás de Elsa, mas
sim de Babilônia indo atrás de você.
— Woden, por favor, entenda que apenas quero
ajudar... — Sua cabeça se levanta para mim, tendo a falsa
empatia brilhando em seu olhar.
Conheço Brenda, é uma psiquiatra brilhante, por isso
sabia que ela seria a melhor opção para diagnosticar a
senhorita Sing. Mas eu também sei que Brenda é uma
gananciosa de merda, que sabe que tem um caso que lhe
dará ainda mais renome diante dos profissionais da sua
área.
— A senhorita Sing, ela precisa...
— Que você fique um inferno longe dela, doutora
Brenda! — A voz alta feminina saindo atrás de mim me faz
virar rápido.
Encontro uma mulher de terno passando pela porta de
entrada do pronto-socorro, com os olhos dela bem presos
em Brenda, batendo o salto alto no chão. Os cabelos estão
arrumados no alto, em um coque, e segura uma maleta.
Arqueio minha sobrancelha e olho confuso da face dela para
Killer, que parece ainda mais perdido do que eu. Ela para
ereta, com seu peito estufado, e passa seus olhos de mim
para Elsa, antes de retornar a encarar a Brenda.
— Por que ela está aqui... — Brenda fita a mulher. —
Eu conheço você, é a doutora...
— Ótimo — a invasora interrompe Brenda, falando
firme e erguendo sua mão, a silenciando. — Porque assim
poupa meu tempo de apresentação, assim como o seu.
— Alguém pode me explicar que merda está
acontecendo? — Olho de Killer para um dos seguranças
parado na porta. — É o dia da porra da catraca aberta em
Babilônia e eu não estou sabendo?!
— É a pediatra que mandaram eu trazer para o
pronto-socorro... — O jovem rapaz pisca, confuso,
balbuciando apressado.
— Ela não é pediatra — Brenda diz firme, negando
com a cabeça. — Essa é a doutora...
— Não, realmente não sou. — A mulher a cala,
olhando dela para mim e abaixando sua cabeça, levando a
mão para a pasta e puxando uma folha. — Eu sou a guardiã
legal da senhorita Sing.
— O quê? — As vozes de Elsa e Brenda praticamente
saem juntas, em espanto.
— Não está falando sério... — Brenda segura a folha.
— Oh, sim, acredite, estou falando muito sério! — a
invasora rosna e dá um passo à frente, fazendo Brenda se
sobressaltar ao vê-la tão perto. — Disse que sabe quem eu
sou, e, acredite, eu também sei quem você é. Estudei
bastante sobre você, e garanto que se eu for até a junta
médica de Nova York, contar a eles pessoalmente sobre
como anda sua ética em relação a alguns dos seus
pacientes, que conhecem tão profundamente sua boceta,
assim como você conhece os traumas deles, o que acha que
vai acontecer com sua carreira?
A face de Brenda fica pálida, com os olhos dela se
arregalando, e a estranha mulher ganha meu interesse por
intimidar a psiquiatra.
— Vai tirar a porra do seu rabo da minha frente e vai
voltar para aquela merda de clínica onde você trabalha,
para continuar fodendo com seus pacientes, esquecendo
que algum dia conheceu minha tutelada! E se, por Deus, se
em algum segundo da sua vida miserável sequer pensar em
chegar perto dela de novo, acredite, quando eu acabar com
você, não vai passar de uma barata esmagada abaixo do
meu salto! — O som alto do seu salto estourando no chão,
perto dos pés de Brenda, repercute, ao passo que a cena
fica ainda mais interessante. — Fui clara?
Ela puxa o papel da mão de Brenda, que tem seu
peito subindo e descendo rápido, e a olha confusa.
— Você, mais do que ninguém, deveria entender. Que
tipo de profissional é, querendo... — Brenda se cola ainda
mais à parede quando a mulher rosna, deixando seu rosto
perto do dela.
— Nesse segundo, eu sou mãe! — ela ruge com raiva,
antes de se virar, passando seus olhos entre Elsa e eu. —
Agora, quem vai me dizer quem foi o cretino miserável que
escondeu meu filho de mim?!
Estreito meu olhar, a olhando com mais atenção,
tentando lembrar de onde já vi seu rosto. Mas o pigarro na
porta chama minha atenção, e encontro a última pessoa
que esperava ver dentro de Babilônia, me encarando com
seus olhos azuis: Jonathan Roy.
Sua mão sai do bolso da calça e seu dedo aponta
diretamente para mim. O som do salto batendo no chão me
faz retornar meu rosto para frente na mesma hora, e sou
fuzilado pela zangada mulher, que dilata suas narinas e
esmaga a folha em sua mão.
— Senhora Roy — falo baixo, suspirando e me
lembrando agora de onde seu rosto é familiar, dos dossiês
que Ryan tinha feito para mim do conselheiro de Sodoma,
quando seu caminho cruzou com o da minha esposa. —
Devo dizer que é uma honra lhe conhecer pessoalmente.
— Terá a honra de conhecer pessoalmente o meu
salto, estourando em sua cabeça, se não me falar onde está
meu Jon! — Ela caminha para mim, parando na minha frente
e respirando depressa, me olhando furiosa. — E, acredite,
eu vou fazer isso, porque não me importo nem um pouco
com quem seja. Vai me levar até o meu Jon, e vai me levar
agora!
Fisgo o canto da boca ao escutar o rosnado dela, com
meu rosto virando e encarando Jonathan Roy, que vem na
minha direção.
— Sua esposa é encantadora, conselheiro Roy. —
Sorrio falsamente, bufando pelo nariz.
— É o jeito encantador dela de dizer “olá”. — Ele pisca
para mim, e meus olhos retornam para a mulher raivosa à
minha frente.
CAPÍTULO 60

O CORAÇÃO DO BISPO
GINGER ROY

— Jon deve realmente confiar muito em você. — Sinto


meu coração acelerar, enquanto meus dedos trêmulos se
agarram à alça da minha pasta, comigo parando na porta
do quarto. — Sou eu que cuido dela desde quando Linda
chegou, e ele ainda não confia em mim.
Olho a mulher entrar, que se apresentou como Elsa
para mim. Ainda estou processando tudo da forma mais
racional que posso, mesmo com meu emocional
completamente instável desde o segundo que não ouvi mais
a voz de Jon.
Meu mundo inteiro tinha entrado em colapso, e por
três anos, três malditos anos, a culpa me corroeu por
dentro, e me amaldiçoei por ter insistido tanto a Jonathan
para o trazer para perto de mim. Não tinha nem sequer
conseguido o visitar naquele hospício, por conta da
gestação de Charlote, que me deixou com a pressão arterial
extremamente alta, e a médica tinha mandado eu me
cuidar, e Jonathan, como sempre, ficou como um gavião em
cima de mim, muito mais controlador do que foi na
gestação de Richard. Ele me pediu para esperar só mais um
pouco antes de ir visitar o Jon, e eu esperei, esperei porque
não sabia como estar grávida novamente poderia afetar o
Jon. Lembrei de quando o fui visitar na Austrália quando
fiquei grávida de Richard e acabei cedendo ao pedido de
Jonathan.
Me senti sendo arrastada ao inferno quando Jonathan
me contou que o hospício tinha pegado fogo, que apenas
ossos queimados e cinzas tinham sido encontrados na cela
de Jon. Eu mal consegui aguentar, sentindo como se tivesse
perdido uma parte minha, como se tivesse, definitivamente,
fracassado com Jon, entrando em uma melancolia tão
grande, que mal conseguia sair da cama. Por isso, Charlote
nasceu prematura, devido ao estresse emocional que perder
Jon me causou.
E me sentia com um pedaço morto durante esses três
anos, vivendo e sofrendo a perda dele, porque foi para
sempre. Isso até alguns dias atrás, quando meu celular
tocou e reconheci o som daquela voz, a qual nunca esqueci
por um segundo sequer da minha vida, desde que meu
mundo se cruzou com Jon. Foi um misto de emoções,
comigo tendo alegria, choro, felicidade, medo e receio.
Porém, quando a ligação se encerrou e ele desligou, eu
simplesmente desabei em choro, tendo Jonathan
completamente transtornado, com o celular na mão,
conversando com Czar.
Eu os ouvia falando sobre Woden, o homem do
Canadá que alguns anos atrás tinha deixado Jonathan
bastante preocupado. Roy contou a Czar que Jon estava vivo
e em Vancouver, sob a proteção de Babilônia. Não
compreendia o que eles falavam, apenas queria Jon, queria
ver meu magrelo, que para mim nunca deixou de ser aquele
garoto tímido por quem eu criei um amor tão grande dentro
da antiga mansão Roy, na ilha da Austrália.
Ao passo que Jonathan conversava com Czar, me vi
abrindo os documentos em uma nuvem que Jon me
encaminhou, tendo os históricos médicos, assim como
registros antigos de jornais, além de documentos falando a
respeito da jovem Violet Sing e também da psiquiatra
Brenda. Eram históricos detalhados, bem claros, que me
deixavam confusa, sem saber por que ele tinha me
mandado tanta informação sobre aquela jovem. Mas uma
coisa eu sabia: ela era importante para ele, o que
automaticamente a tornou importante para mim.
Me refiz rapidamente, pegando o telefone e avisando
à Baby que Jon estava vivo. A linha ficou muda por alguns
segundos, antes do choro dela começar, e pedi para ela vir
direto para Los Angeles, com Dexter, seu marido, porque eu
estava indo para Vancouver, atrás de Jon. Claro que
Jonathan teve seu instinto protetor implacável, querendo me
proteger, mas meu instinto maternal foi inexorável, e não
recuei um segundo sequer da decisão que eu tinha tomado.
E vendo que não iria me fazer mudar de ideia, ou
muito menos me fazer ficar em Los Angeles, Jonathan
cedeu, mas me fez esperar, pedindo para aguardar só até
eles terem certeza do que estava acontecendo. Lhe dei dois
dias, pois esse era o máximo do meu limite, antes de entrar
em um avião e vir para Vancouver, com ou sem ele.
Cancelei todas as minhas consultas e meus
compromissos, assim como estudei, lendo e relendo cada
linha daqueles documentos que Jon me mandou, lendo suas
instruções, onde ele me pedia para cuidar da jovem, que
era praticamente um testamento. E isso me deixou ainda
mais desesperada. Precisei de alguns informantes de
Sodoma, que a pedido de Jonathan, ajudaram a descobrir
mais sobre Brenda. Algumas ligações de Roy garantiram
que eu soubesse exatamente que tipo de psiquiatra ela é,
assim como me fez ter todas as documentações necessárias
para ter a jovem sob minha proteção.
Penso que nem dormi desde o segundo que ouvi a voz
de Jon, pois estava ansiosa e nervosa, precisando o ver. Mas
não foi Jon que o senhor Woden pediu para Elsa me mostrar,
e sim o motivo pelo qual Jon me mandou para Babilônia.
— Ela é... — digo, me aproximando devagar da maca,
na qual a pequena de aparência tão jovem está
desacordada. — A Violet...
— E a Linda. — A médica de olhar brando recai sua
atenção para a pequena, alisando sua mão. — O bebê do
Jon. Mas ela não é um bebê de verdade...
Ela ri com tristeza, levantando sua mão e tapando sua
boca, me deixando ouvir o soluço de choro que ela abafa,
ao passo que fico confusa, olhando da jovem na cama para
ela.
— Bebê? — questiono, soltando minha maleta na
cadeira, perto do leito.
— Me desculpa... — Ela fecha seus olhos e balança a
cabeça, inspirando fundo. — Me desculpa, é só que está
acontecendo muita coisa... Bebê é a forma como ele a
chama, e era assim que Linda falava quando Jon lhe deu o
apelido, a chamando de bebê.
— Apelido... — murmuro, olhando a menina, sentindo
meu peito subir e descer, tendo meus dedos mais trêmulos.
— Jon e ela, eles são um casal — sussurro, sorrindo e
sentindo meus olhos queimarem, ao ter à minha frente o
tesouro de Jon.
— Eles são muito mais que um casal, Linda e ele
praticamente precisavam ser afastados um do outro, de tão
colados que ficaram, mas não resolvia... — Ela nega com a
cabeça. — Ela não fica sem ele...
— Linda é o fragmento da personalidade da Violet,
certo? — pergunto à médica, tendo cada palavra daqueles
documentos sendo repassada em minha mente.
— Sim, Linda é uma parte de Violet, e foi ela quem
acordou aqui quando Jon a resgatou, depois que ela se
jogou na frente de um tiro para o salvar. — Pisco rápido,
absorvendo as palavras da médica.
— Ela tomou um tiro pelo Jon? — Meu coração dispara
ao olhar a menina com mais brandura.
— Sim, e Violet foi quem o tirou do hospício. — Movo
minha cabeça em positivo para ela, porque havia o registro
disso.
— Jon me mandou um documento e deixou notas
sobre como conheceu a menina, mas não falou sobre ter a
resgatado, e nem sobre o tiro. — Recordo das palavras
dizendo que ela estava em cativeiro e que foi Babilônia que
a encontrou.
— Oh, sim, ele a resgatou, fez parte da missão que a
encontrou! Só que não era mais a Violet quando ele a
encontrou de novo...
— A personalidade era a Linda — digo com pesar,
ainda tendo o horror da descrição detalhada da situação
que ela estava, quando foi resgatada, em minha mente.
Abaixo meu rosto e estico minha mão para a face da
jovem, sentindo carinho por ela, que se tornou importante
para mim. Porque mesmo sem eu conseguir compreender,
ela tinha se tornado importante para ele. A verdade é que
nada que é ligado ao Jon consegue me deixar racional.
— Por que ela está desacordada? — Estico minha mão
para o pulso dela, sentindo sua pulsação bem lenta. — O
que fizeram?!
Gostaria de não ter soado tão ríspida, mas não
consigo, não quando percebo que ela está apagada. Minha
mão se estica para seu rosto e a viro de um lado ao outro,
com minha face indo na mesma hora para a doutora.
— Estão drogando-a? — Ela nega rapidamente,
enquanto seu peito sobe e desce.
— Não, Linda, ela... — A médica respira pesado e
esmaga sua boca. — Violet é quem estava no controle.
Linda passou uma situação, que nem isso eu tive tempo
ainda de processar, de como pôde acontecer...
— Do que está falando?
— Uma amiga nossa, minha e até onde todos
pensavam, também da Linda, que me ajudou a cuidar dela
quando ela veio para o pronto-socorro, tentou afogar a
Linda...
A vejo se calar e abaixar sua mão, segurando os
dedos da jovem.
— Nanete era uma boa mulher, ela era minha melhor
amiga aqui dentro, e todos viam como ela gostava da Linda,
mas ninguém conseguiu entender o porquê ela fez isso... —
Ela nega com a cabeça e funga baixo. — Mas ela fez...
Conseguiram chegar a tempo e impedir que ela matasse a
Linda. Jon a salvou de novo, mas quando ela acordou, não
era a Linda...
— A personalidade original tomou controle do
consciente — digo séria, compreendendo o que ela está
falando.
— Violet não entendia onde estava, nem conseguia
ficar perto de Jon ou de qualquer homem aqui dentro, ela
gritava e chorava, chamando pela boneca dela o dia todo,
até acabar dormindo. Nas vezes que eu ia lhe dar banho, ela
se acalmava. — Ela me olha perdida, encolhendo seus
braços. — Tanto que eu dei banho nela na última vez que
entrei no quarto e ela estava acordada. A ajudei a se trocar,
penteei os cabelos dela, e depois da janta, ela adormeceu.
Só que no outro dia, quando eu vim de manhã dar o café da
manhã, ela não acordou...
Olho a médica, que esmaga a boca, apertando mais
forte os dedos de Linda em suas mãos.
— Eu tentei despertá-la, cheguei a achar que era algo
do seu corpo, e fiz exames, porém não apresentou nenhuma
anomalia física. Eu não sabia mais o que fazer, e quando
Brenda me ligou e disse que estava vindo, eu achei que ela
poderia me ajudar... — Elsa funga, fechando seus olhos. —
Mas aquela cretina não estava vindo para ajudar, e sim para
tentar levar a Violet. Eu fui burra, eu achei que ela poderia
fazer algo para acordar minha Linda...
— Meu palpite mais alto é que é um transe —
murmuro, esticando minha mão e abrindo a pálpebra dela,
conferindo seu globo ocular. — Não tenho certeza, mas acho
que ela está em um transe profundo. Normalmente, isso
acontece de forma induzida por hipnose e meditação, mas
existem algumas condições neurológicas ou psiquiátricas
que podem levar a estados semelhantes de transe
profundo. Há quanto tempo exatamente ela está
desacordada?
— Quase três dias — ela sussurra, esticando sua mão
e acariciando os cabelos da jovem. — Praticamente, desde o
dia que Jon partiu. Ela dormiu e não acordou mais, quase
como se soubesse que ele não está aqui.
— O quão próximo Jon e essa menina estão
realmente, doutora Elsa? — pergunto, preocupada, ao
compreender o que ela está me dizendo.
— O bastante para Jon desobedecer a uma ordem e ir
para a Turquia matar o homem para quem a irmã de Violet a
vendeu. — Meu corpo inteiro se endireita e fico rígida ao
ouvir sua resposta.
Minha mente se recorda do noticiário passando na
televisão enquanto arrumava minha mala, dando a notícia
da morte do presidente da Turquia em uma explosão.
— Turquia? — Inalo rápido, levando minha mão para
meu peito e o esfregando, entendendo agora por que
Woden me mandou acompanhar Elsa, e não para ver Jon. —
Deus!
Preciso esticar meu braço e me apoiar na cama, ao
passo que meu coração fica esmagado e olho a jovem.
— Olha, eu sei que você deve ser muito especial para
ele, sei que se Jon lhe mandou para cá, é porque ele confia
muito em você... — Ergo meus olhos para ela, que tem a
face vermelha, com os olhos marejados. — Mas aquilo que
falou sobre ser a guardiã, não está falando sério, não é? Eu
cuido da Linda desde quando ela chegou, eu amo essa
garota como se fosse minha filha, e sei que pode parecer
loucura, mas preciso que entenda que eu a amo como uma
mãe...
— Não, Elsa, não acho loucura — sussurro, negando
com a cabeça, reconhecendo o olhar maternal em seu rosto,
porque eu sei mais do que ninguém o que ela sente, por
amar alguém que não saiu dela, mas faz tanta parte da sua
vida, como se tivesse saído.
— Elsa... — A batida na porta se faz, e tanto eu como
ela viramos o rosto para lá. Vejo uma senhora elegante, com
um jaleco branco e cabelos grisalhos.
— Oi, Helena, essa é a doutora Roy. — Elsa sorri para
ela, girando o rosto e me apresentando. — Ela está aqui por
causa do Jon e da Linda.
Vejo a pequena mulher arquear a sobrancelha
rapidamente, antes de esboçar um sorriso.
— Realmente estamos vivendo dias surpreendentes
em Babilônia. Nunca imaginei que veria uma submissa de
um conselheiro de Sodoma aqui dentro. — Acho que minha
expressão de surpresa me denuncia, pois ela ri, balançando
a cabeça. — Não seja tímida, querida. Isso não foi uma
recriminação, pelo contrário, estou realmente animada com
sua visita. É bom fazer novas amizades...
— Sodoma? — Elsa arqueia a sobrancelha e olha para
mim rapidamente, retornando a olhar a mulher que ela
chamou de Helena, que ri e move a cabeça em positivo
para ela.
— Sim, Sodoma! — Ela levanta seu dedo e gesticula.
— Por mais curiosidade que tenha sobre algumas coisas de
lá, agora não posso querer fofocar. Estamos com problemas.
Minha amiga que estava a caminho não vai poder vir mais,
e estamos um par de mãos a menos para ajudar com
aquele assunto. Será que poderia vir me ajudar com alguns
exames...
— Claro, claro... — Elsa consente rápido com a
cabeça, voltando o rosto para mim. — Doutora Roy, se não
se importa, tenho que ir, mas volto mais tarde. Estamos
meio que apuradas por aqui...
— Apuradas? — Helena ri, suspirando. — Estamos
afundadas, isso sim. Eu mesma não sei se choro agarrada a
uma garrafa de uísque a cada exame genital que faço, ou se
grito, em pânico.
O sorriso dela é triste, e tem muito nervosismo e
histeria em sua risada agora, sendo o oposto do que
realmente ela demonstra em seu olhar.
— Olha, eu não sei que tipo de ajuda estão
precisando, mas, se quiserem, eu posso me oferecer para
ajudar...
— Não! — Elsa é rápida ao negar com a cabeça, e
sorri, envergonhada. — Pode ficar. Se eu não voltar, um dos
seguranças vai vir até aqui para lhe encaminhar à sala do
senhor Woden, onde ele está com seu marido, doutora Roy.
— Claro que sim! — Helena é mais apressada do que
ela ao esticar seu braço e me chamar. — Toda ajuda agora é
bem-vinda...
— Helena, Owen pediu para... — Elsa olha dela para
mim, me deixando ver seu olhar ainda mais envergonhado.
— Não me deixar andando por aí — digo,
compreendendo o que ela não falou. — Pelo visto, minha
presença é para ficar restrita a esse quarto.
— Eu lamento. — Ela encolhe seus ombros,
confirmando minhas palavras. — Realmente, se pudesse
aceitar ajuda, aceitaria, é só que eu não posso passar por
cima das ordens...
— Bom, ainda bem que eu posso — Helena fala
apressada, retornando a me chamar com sua mão. — Deixe
que com Owen, eu converso depois, pois agora não é
momento de ficar pensando quem mija mais longe, se é
Sodoma ou Babilônia. Há assuntos mais sérios do que egos
masculinos, e já que Jon lhe mandou para cá, nada mais
justo do que ela estar envolvida nisso.
— Jon... — Olho Helena saindo do quarto, sendo
seguida por Elsa. — Não compreendi o que está querendo
falar sobre Jon...
Ando apressada atrás dela, tentando seguir seus
passos e olhando em volta, percebendo a estrutura de boa
qualidade do hospital.
— Não é o que estou querendo falar sobre Jon,
doutora Roy. — Ela para diante de uma porta, a abrindo,
passando rápido para dentro. — É sobre o que ele fez.
Eu não tenho tempo de perguntar, não quando as
palavras ficam presas em minha garganta ao passar pela
porta e seguir Helena, tendo pequenas faces voltadas para
mim, com olhos assustados e seus pequenos corpos
encolhidos em cima dos leitos, com uma próxima da outra.
Algumas crianças estão deitadas, outras sentadas, mas
todas têm as faces abatidas e os olhares melancólicos.
— Violet não foi a única que Jon salvou, doutora Roy.
— A voz de Elsa sai baixa ao parar do meu lado. — Ele
salvou essas crianças também, que passaram pela mesma
situação que Linda, e as tirou da Turquia, as mandando para
cá.
Levo as mãos trêmulas para minha boca, a cobrindo e
sentindo meus olhos queimarem ao ver a face delas me
fitando. Cada uma tem um olhar perdido, tímido e
assustado, me deixando por um segundo ver os olhos do
meu magrelo na primeira vez em que o vi na mansão Roy. E,
por esse momento, é como se eu estivesse conhecendo
meu Jon de novo.
CAPÍTULO 61

A JOGADA DOS MESTRES


OWEN WODEN

Fico sério, tendo o copo de uísque em meus dedos e o


levando à boca. A face taciturna de Jonathan Roy me encara
do outro lado da minha mesa. Abaixo o copo e solto um
suspiro de desânimo, não escondendo meu tédio diante da
presença dele.
— Usou meu sobrinho para me atingir! — ele rosna
baixo, me fuzilando. — Mesmo eu tendo dito que não
intimidei sua esposa de propósito.
— Talvez eu tenha utilizado seu sobrinho, sim, mas
não para lhe atingir. — Sorrio com frieza, me endireitando
em minha cadeira. — E sim porque vi um propósito muito
maior nele do que ser meramente seu sobrinho.
Dou de ombros e cruzo minhas pernas, inclinando
meu rosto para o lado, o observando.
— A propósito, ele não é mais seu sobrinho, ele é um
Woden agora. — O tremor em sua boca é forte, assim como
em sua pálpebra, ao passo que ele rosna com raiva. — Ia
mandar um convite para a festa de adoção, mas acabou
que esqueci...
— Você é inacreditável, Owen! — Jonathan esmaga
suas mãos com fúria sobre o braço da cadeira. —
Orquestrou a fuga do Jon, manipulou a morte dele, o
escondendo dentro de Babilônia apenas por um mero
capricho do seu maldito ego! Tem ideia do que fez a minha
esposa passar, em como Ginger sofreu por todos esses
anos, se culpando pelo que aconteceu...
— Por mais atrativo que seja aceitar todas essas
acusações que está me dando, eu estou isento da
manipulação da morte dele. Apenas orquestrei a fuga, o
incêndio no hospício foi um bônus. — Sorrio para ele e
pisco, o fazendo ranger seus dentes. — E sejamos francos,
Jonathan, foi muito mais fácil aceitar a morte dele do que
ver que cometeu um erro ao trancafiar aquele garoto por
doze anos. Não duvido que sua esposa tenha sofrido, mas
tenho por mim que deve ter sido a única Roy a realmente
sentir a perda dele, enquanto os outros sentiram apenas
alívio.
— Não ouse dizer o que não sabe! — Ele levanta
rápido, e o olho atento, o avaliando e vendo a veia da sua
garganta pulsar mais forte. — Não ouse olhar na minha cara
e dizer o que não sabe.
— E realmente não me importo em saber, e nem
quero — digo a verdade, dando de ombros. — O que sei já
me basta, e me foi o bastante para enxergar o que você não
enxergou. O que você viu como doença, eu vi como uma
mente brilhante; o que você viu como medo, eu vi como um
grande potencial sendo enjaulado. Quer achar que fiz isso
para lhe atingir? Ótimo, ache. Afinal, talvez bem lá no fundo
esteja certo, porque sempre imaginei ver sua cara quando
descobrisse que Jon pertence à Babilônia, sendo muito mais
um Woden do que um Roy.
Ergo-me aos poucos e solto os botões do meu terno,
antes de levar as mãos para dentro dos bolsos da calça.
— E não seja tolo em querer dizer o contrário, porque,
no fundo, sabe disso tanto quanto eu, e é por isso que sua
esposa está aqui e não o genitor dele. — Minha expressão é
séria ao fitá-lo e vejo suas narinas se dilatarem.
— O que acha que ele faria se a visse na frente dele?
— ele rosna, me fuzilando com seu olhar. — Acha que ela
não sofreu, que não sentiu a perda do filho a cada maldito
dia miserável que ela passou depois que ele foi preso?! E
ainda mais quando teve a notícia da morte dele! Pensa que
não me importo com ele? Se não me importasse com meu
sobrinho, o teria deixado ir a julgamento aberto doze anos
atrás, e não movido o mundo para poder garantir que ele
ficasse vivo e seguro, mesmo depois dos crimes que
cometeu. Não diga o que não sabe, Woden!
— O que viu como crime, eu vi como negligência. Se
tivessem o olhado, se tivessem realmente estado presentes,
teriam diagnosticado muito mais cedo sua psicopatia. —
Nego com a cabeça, rindo sem um pingo de ânimo. — Não
vou colocar panos quentes para lhe amenizar, Jonathan,
porque essa é a verdade, assim como a única verdade
absoluta é que fez o que fez por Jon apenas por culpa, por
não ter visto antes o que ele realmente era. Problemas de
família, todos temos. Acredite, eu também tive, e a
diferença entre mim e Jon é que eu apenas não só tentei,
mas eu os matei, e nunca perdi uma noite de sono sequer
por causa disso. Quer vir até mim bravo porque o enganei?
Venha, mas não seja mentiroso. Não quando nas últimas
horas, tudo que estou fazendo é tentar não ir diretamente
para a Turquia e matar eu mesmo cada filho da puta que
tem naquele lugar, até eles me darem o paradeiro de Jon. E
não porque ele é uma peça do meu tabuleiro ou a porcaria
de um capricho, e sim porque ele é a PORRA DE UM
WODEN!
O som da cadeira indo para trás e caindo no chão
quando ele dá um passo à frente se faz junto com a minha
quando a empurro e avanço para mais perto dele.
— Jonathan, não! — A voz feminina vindo da porta da
sala é o que nos interrompe, nos fazendo parar na mesma
hora. — O senhor Woden tem razão.
A face de Jonathan se vira para a porta, assim como
eu olho para lá. Vejo sua esposa cabisbaixa, parada perto de
Killer, com os olhos vermelhos.
— No fundo, eu acho que sabia disso também, apenas
preferia acreditar que estávamos realmente fazendo o
melhor para ele. — Ela sorri triste, erguendo seu rosto para
mim. — Eu pensava que conhecia Jon, mas acho que o
conheci realmente só hoje.
Jonathan retorna sua face para mim e sua boca se
esmaga. Se afasta ao virar, indo para perto dela. Em alguns
segundos está parado ao lado dela, que abaixa sua cabeça
e sussurra algo para ele.
— O quê? — ele questiona, endireitando sua postura.
— Jon fez isso?
Ela move a cabeça em positivo para ele, com suas
mãos passando por sua cintura e o abraçando, ao passo que
chora baixinho.
Killer olha deles para mim, e ergo meus dedos
rapidamente para perto dos meus olhos, apontando para o
casal logo em seguida, o deixando saber que é para ficar de
olho nos dois. Disfarço rapidamente ao passar meus dedos
nos cabelos quando a cabeça de Jonathan se gira sobre seu
ombro e ele me observa sério.
— Já descobriu alguma coisa? — Ele se vira, mantendo
sua esposa perto dele, a segurando. — Gregovivk tentou
rastrear o aparelho que ele ligou para Ginger, mas não
conseguiu.
— Ainda não, mas fico feliz com essa notícia, é sinal
de que meus hackers estão merecendo o dinheiro que pago
a eles — digo, sorrindo e suspirando. — Aprendi bastante
com a última visita de Gregovivk nos meus sistemas
operacionais.
— Mas, pelo visto, não aprendeu o bastante para se
manter longe dos Roy...
— Jon é um Woden, Dave Woden! — rosno, deixando
minha face sisuda.
— Chega! — A esposa dele nega com a cabeça e se
afasta de Jonathan, limpando seu rosto e olhando dele para
mim. — Não importa o que Jon é, se é a merda de um Roy
ou a porra de um Woden, o que quero é o Jon. Eu só quero o
Jon vivo.
Ela dá um passo à frente e me fita com seus olhos
marejados, erguendo seu dedo e apontando para mim.
— Não me importo com o porquê fez isso, ou o que
iria ganhar. Não me importo com o que Jon vai querer, se é
ficar aqui ou se é voltar. A única coisa com que me importo
é com ele — ela fala firme, mesmo tendo sua voz chorosa.
— Tirou Jon vivo de mim, então é vivo que vai trazê-lo, está
me ouvindo, senhor Woden? Me prometa que vai trazê-lo
para mim, vivo, por favor...
Sua mão se abaixa e ela abraça seu corpo, enquanto
meu corpo se endireita e olho sério para ela, antes de
mover minha cabeça em positivo.
— Até o final do dia teremos uma resposta, e prometo
que vou trazer Jon de volta, senhora Roy. — Desvio meus
olhos dela para Jonathan. — O trarei de volta para Babilônia,
para a casa dele.
Aproximo-me da mesa e puxo o telefone do gancho,
vendo a pálpebra trêmula de Jonathan, enquanto sorrio para
ele.
— Peça para uma das servas preparar a suíte real
para os convidados, sim?! — peço para o segurança,
passando a informação antes de desligar. — Por favor, se
sintam em casa. Irão providenciar acomodações para vocês,
e estão seguros aqui dentro. Senhor Clay, acompanhe o
senhor e a senhora Roy até a Torre de Babel, sim?! Eles
ficarão na minha suíte.
— Sim, chefe! — Killer fica em prontidão, e Jonathan
olha sério para mim, antes de se virar e caminhar para fora,
levando sua esposa com ele, ao passar o braço pela cintura
dela.
Ergo meus dedos e aponto para a minha face e para
os dois, deixando Killer em alerta, para ficar colado neles.
— Crianças, conselheiros de Sodoma, cabeça
decepada do presidente dentro de um cooler... — murmuro,
esfregando minhas têmporas. — O que mais falta acontecer
em Babilônia?!
— Chefe... — O som alto da voz de Dante, que vem
correndo enquanto está respirando depressa, me faz rosnar,
e abaixo minha mão do rosto, fitando a porta e indo para lá.
— Se mais alguém passou pela porra daquela portaria
sem minha autorização, juro que vou empalar o filho da
puta que permitiu a entrada de estranhos! — rujo, o vendo
estacar à minha frente, com seu peito subindo e descendo e
seus olhos se arregalando. — E juro que estou torcendo para
que seja você!
Ele engole em seco, sabendo que ainda estou com
raiva por ele ter retido informações de mim, dando tempo
de Jon ir para a Turquia sem que eu soubesse.
— Ninguém entrou. Mas alguém está querendo ver o
senhor! — ele fala com a respiração cansada. — A doutora
Elsa está chamando o chefe no pronto-socorro, pois o
Comandante acordou...
Pisco rapidamente, compreendendo o que ele disse e
já o empurrando, o tirando da minha frente e indo direto
para o pronto-socorro.
— Ryan, está tudo bem, se acalme. — Perto do
corredor, a alguns passos da porta, escuto a voz de Elsa. —
Está seguro. É normal se sentir confuso, ficou em coma por
semanas...
— Coma, não... — O som da voz que reconheço me
faz andar mais rápido, e passo direto pela porta. — Como
vim parar aqui... Que porra é essa na minha garganta...
— É um curativo, você foi ferido em uma missão. —
Elsa está inclinada perto da maca, tentando fazer ele deitar-
se. — Ande, seu teimoso, por favor, me deixe cuidar de
você, e tire a mão do curativo...
— Não, eu tenho que falar com Owen... — A voz de
Ryan sai arrastada, ao passo que permaneço estático no
quarto, sentindo como se uma pedra do tamanho do mundo
saísse das minhas costas ao vê-lo bem. — Owen, eu vi...
Eu... Jon... Cadê o garoto...
— Ei, calma. — Elsa nega com a cabeça e gira o rosto
para mim, me dando um sorriso. — Veja só, Owen chegou...
Ela aponta para o outro lado da maca, e me aproximo,
percebendo os olhos de Ryan me procurando. A barba em
sua face já está bem crescida, e seu olhar confuso me
observa.
— Me diz que não perdeu a memória e que se lembra
do meu rosto, Ryan! — O encaro e seus olhos brilham
quando um sorriso se abre em seus lábios.
— É claro que eu me lembro de você, chefe. — Ele ri
para mim, e estico minha mão, segurando firme a dele,
apertando-a e sentindo sua mão tentar apertar a minha
também.
— É bom te ter de volta, meu velho amigo! — digo a
verdade, sem ele ter a dimensão de como senti sua falta.
— É bom estar de volta... — Ele tosse quando começa
a rir, e faz uma careta. Elsa rapidamente arruma sua cabeça
no travesseiro.
— O ferimento da sua garganta ainda está
cicatrizando — ela avisa apressada, balançando a cabeça.
— Nada de ficar abusando, precisa ter cuidado, e não ficar
conversando.
Os olhos de Ryan ficam brandos quando move o rosto
para ela, e suas feições se suavizam. Ele balança a cabeça
devagar, e o rubor de Elsa não me passa despercebido,
muito menos a delicadeza da mão dela ao alisar o queixo
dele.
— Tenho certeza de que mestre Ryan vai seguir à risca
suas recomendações, médica Elsa. — Pigarreio, a vendo se
afastar dele rapidamente, com o rubor ficando ainda maior
em suas bochechas. — Não é, mestre Ryan?!
Ryan me olha bravo, girando o rosto pra mim, e
esmago meus lábios, retendo o sorriso, a vendo passar as
mãos em seu jaleco.
— Eu, bom... — ela diz, nervosa. — Eu preciso pegar
alguns curativos e remédios para ele, já volto.
Bato a ponta do meu sapato no chão e vejo Elsa sair
rapidamente do quarto, ao passo que escuto o suspiro de
Ryan.
— Pelo visto, não é só do meu rosto que se lembra
bem... — digo com ironia, retornando meu olhar para ele.
— Elsa está fazendo o trabalho dela — ele sibila,
fechando seus olhos.
— Bom, depois de ter visto essa mulher entrar como
um foguete dentro de um helicóptero e ir atrás de você
assim que soube que tinha sido ferido... — Os olhos dele se
abrem rapidamente, com ele me encarando surpreso. — E
passando noite e dia ao seu lado dentro dessa sala, posso
garantir que ela está fazendo muito mais que o trabalho
dela.
— Elsa saiu de Babilônia? — ele balbucia, me olhando
em choque.
— Oh, meu caro, ela não só saiu de Babilônia, como
deixou claro para todos que não é só você que tem uma
quedinha por ela! — suspiro e puxo uma cadeira ao canto, a
trazendo para perto da maca. — Elsa lhe salvou, assim
como Jon, que foi quem garantiu que você conseguisse
resistir até a chegada dela naquela montanha.
— A montanha... — Ele fecha os olhos, fazendo uma
careta. — Eu lembro de Dragomir e Bratos, que fomos em
uma missão com os garotos...
— Sim. Jon, Clay e Artur, recorda? — pergunto a ele,
sabendo que, provavelmente, sua mente está confusa e
bagunçada por conta de todo esse tempo apagado, mas eu
preciso ouvir da boca dele o que eu tinha descoberto. —
Vocês estavam caçando um bunker. Você encontrou o
bunker, e foi o primeiro a invadir o local, mas saiu em
corrida atrás de alguém, alguém que atirou em você, e
preciso saber se você se lembra quem foi.
— Merda! — Nega com a cabeça, respirando fundo. —
Eu tenho alguns flashes...
Ele se cala e seus olhos se abrem, com sua boca se
entreabrindo e ele me fitando perdido.
— Hugo... — Ryan fica perdido, olhando o teto. — Eu
me lembro do Hugo...
Sua face tomba no travesseiro e ele me encara,
pensativo.
— Sei que pode parecer loucura, mas eu juro que vi o
Hugo naquela floresta... — fala devagar, soltando um
suspiro pesado. — Mas ele estava sem aqueles imensos
óculos de grau dele. Eu acho que minha mente está
bagunçada... Queria realmente me lembrar, mas não
consigo...
— Não, meu amigo, sua mente não está bagunçada.
— Fisgo o canto da boca, tendo minha resposta. Lian não
usa óculos de grau, apenas Hugo os usava. — Você disse
exatamente o que eu queria ouvir, Ryan.
Levanto e bato minha mão em seu ombro, o olhando
firme e enchendo meu peito de ar.
— Descanse agora, sim?! — Ryan segura meu pulso e
suspira, ao passo que é notável que ele ainda vai demorar
para recuperar totalmente suas forças.
— O garoto, peça para ele vir aqui. Sei que,
provavelmente, deve estar com Linda, mas diga que é uma
ordem, chefe — ele fala com a respiração pesada,
suspirando aos poucos. — Quero agradecer àquele
merdinha...
Meu corpo fica ereto e os músculos se enrijecem,
enquanto movo a cabeça em positivo.
— Eu vou trazer ele para você, meu amigo. — Não
conto a verdade para ele, apenas sorrio. — Descanse agora.
Afasto-me, tendo meu corpo inteiro sendo corroído por
ódio, comigo desejando matar o filho da puta do Lian, assim
como aqueles turcos desgraçados.
— Ele quer ver o Jon — sussurro, parando no corredor
e interceptando Elsa, que vem em minha direção com a
bandeja de curativos e remédios. — Não diga nada a ele, e
não deixe ninguém falar.
— Sim, eu vou cuidar disso, ninguém vai dizer nada...
— ela fala apressada, com seu rosto se abaixando. — Vai
encontrar ele, não vai?
Suspiro e levo meus dedos aos bolsos, não sabendo
se ela quer realmente a resposta verdadeira. Sou racional e
desejo encontrar Jon vivo, mas conheço o pessoal de Hasan,
e se Jon não tiver morrido na explosão, está desejando, a
essa altura, que tivesse morrido. E é por isso que estou
correndo contra o tempo, acionando cada maldito contato,
cada ponte de poder que Babilônia tem, para o encontrar.
— Não me diga que está preocupada com o Jon?! —
indago, brincando com ela, para a distrair da minha
resposta. — Pelo que lembro bem, até alguns meses atrás,
mal conseguiam ficar perto um do outro...
Elsa ri com tristeza, levantando a mão e limpando seu
rosto, não querendo me deixar ver suas lágrimas.
— Jon e eu tivemos nossos contratempos, mas nunca
tive nada contra ele. — Ela balança a cabeça. — E, bom, eu
acabei, de certa forma, me afeiçoando a ele por cuidar bem
da Linda, da forma dele... Eu só penso que...
Ela se cala e esmaga sua boca, abaixando o rosto
para a bandeja e encolhendo seus ombros.
— Penso que se perder um, vai ser o mesmo que
perder os dois. — Ela traz o rosto para mim, e inalo fundo,
girando minha cabeça para o quarto ao final do corredor.
— Ela não acordou? — Volto meus olhos à Elsa, que
nega com a cabeça.
— Não, ela não abriu os olhos desde a última vez que
ele esteve aqui. A doutora Roy suspeita que ela entrou em
um transe profundo, e eu não tenho ideia do que fazer. —
Seus olhos ficam presos nos meus, com dor. — Eu sinto
muito por ter autorizado a entrada de Brenda, Owen. Eu não
sabia mais o que fazer e achei que ela realmente tinha
vindo para ajudar. E como tem tanta coisa acontecendo, eu
não quis te levar mais problemas, ao pedir para autorizar a
entrada dela, por isso, eu mesma tomei a liberdade de
autorizar, só que foi um erro...
— Está tudo bem, Elsa, não tem o que desculpar. Sei
que fez o que achou que era melhor para ela. — Nego com
a cabeça. — Brenda não chega mais perto da senhorita
Sing, e muito menos lhe prejudicará, acredite. Depois que
as coisas se acalmarem, eu mesmo cuidarei dela. Para o
azar de Brenda, eu tenho uma excelente memória, e
dificilmente esqueço das coisas. Agora, vá, e cuide do seu
mestre, doutora Elsa.
Suas bochechas ficam rosadas e ela ri em meio ao
choro, movendo a cabeça em positivo e me contornando.
Fico parado, sério, olhando o corredor, antes de ouvir a
porta do quarto de Ryan se fechar. Giro e caminho com
passos pesados, parando ao final do corredor e fitando a
porta fechada. A destranco, porém não entro, somente
deixo meus olhos presos na cama. Vejo a luz acesa, com o
corpo da senhorita Sing imóvel. A vibração do celular no
bolso da minha calça me faz esticar minha mão para lá e
retirar o aparelho, o atendendo e o levando à orelha.
— Acho bom me dizer que ele está vivo! — falo firme,
sem tirar meus olhos da jovem.
— Capadócia. — A voz baixa de Tailer surge e solto
minha respiração aos poucos. — Qual a ordem, chefe?
— Preparem os homens. — Estico meu braço e fecho a
porta, me virando rápido. — Estou a caminho.
CAPÍTULO 62

O CORTEJO DO BISPO
JON ROY

— Anda, diga logo! — o turco grita com seu inglês


horrível, socando forte meu maxilar e fazendo o sangue
voar da minha boca, com minha cabeça indo para trás e
ficando pendurada no encosto da cadeira. — Para qual
governo trabalha?
Ele agarra firme meus cabelos e puxa minha cabeça
para frente, rosnando a centímetros de mim. Olho entre a
neblina vermelha do meu sangue e o suor escorrendo por
minha face, e mal consigo abrir minha pálpebra esquerda.
Escarro fundo, acertando a cara dele com uma bola de
sangue quando eu cuspo.
— Maldito de merda... — Ele dá um gancho forte de
direita em meu abdômen, largando meus cabelos e indo
para trás. — De novo! — berra, e logo sinto a água fria no
chão de pedra bruta, que escorre abaixo das solas dos meus
pés descalços.
Meus músculos dos braços me matam a cada pulsar
dolorido, por conta de estar com os braços puxados para
trás, com os pulsos algemados. Fixo o olhar no grande
soldado turco andando a poucos passos de mim, batendo
devagar seu coturno no chão, enquanto sorri de orelha a
orelha para mim. O bastão de choque elétrico é ligado e
toca o chão rapidamente, quando ele estica seu braço.
A condução da eletricidade na água me atinge ao ter
os pés descalços no piso molhado, e toma meu corpo
inteiro, o que me faz tremer da cabeça aos pés. Aperto
minha boca, estando com meu corpo rígido, sentindo a
descarga elétrica me consumir, ao passo que o sangue
escorre do meu nariz. Rosno em meio à dor do choque. Não
tenho noção de onde estou, ou há quanto tempo estou
sendo torturado.
— BASTA! — O idiota esguio que conduz essa
palhaçada, que penso que para eles é um interrogatório,
grita, tendo o grandão com o bastão de choque o
levantando do chão. — Está perdendo seu tempo. Diga logo
quem lhe mandou para cá, pra assassinar nosso presidente,
ou juro que a próxima descarga elétrica será ainda maior...
Rio, fazendo a dor me tomar ainda mais forte em
meio à risada, quando chacoalho meus braços, com minha
gargalhada ficando mais alta. Que otários, mal sabem que,
no mínimo, estão me trazendo lembranças da minha época
do hospício, ao usarem choque como tortura! São um bando
de imbecis, já que deveriam ter atirado na minha cabeça
muitas vezes, para ter certeza de que me matariam, se
fossem espertos. Chega a ser ridículo o que eles fazem ao
se revezarem para me espancar ou eletrocutar.
O idiota me faria o entender muito mais se
conversasse em turco comigo, do que com seu inglês
ridículo. É um padrão simples, que até um novato, Órfão de
Babilônia, poderia fazer como tortura. Me deixaram
algemado na cadeira e me espancaram por vinte minutos,
se revezando entre dois ou três guardas, não fazendo
nenhum tipo de pergunta, apenas me enchendo de porrada,
antes do otário entrar e começar o interrogatório.
Cuspi sangue na cara dele e logo veio a tortura de
choque, com eles molhando a merda do chão. E assim se
seguiu o ciclo. Eu fico só rindo, enquanto imagino como eles
realmente acreditam que vão conseguir me fazer dizer algo.
Não confirmo e nem desminto a teoria deles sobre acharem
que sou do exército americano, os deixo tirarem suas
próprias conclusões.
Acreditei que me matariam no primeiro dia, fiquei até
esperando para ver a cara do filho da puta que faria isso,
mas percebi que eles não pretendiam me matar tão rápido.
E quando me jogaram na porra de uma van, me apagando
com uma coronhada na cabeça, acordei já amarrado na
cadeira, dentro dessa sala fechada, e assim eu tive certeza
de que não morreria tão cedo.
— Vamos torturar você, lhe fazer agonizar por dias,
pois não tenho pressa... — o puto começa a falar,
caminhando devagar e pegando o bastão de choque do cara
grandão, o erguendo e vindo em minha direção. — E,
acredite, eu vou lhe ter...
— Use a porra do bastão e me eletrocute, porque está
me deixando entediado com sua voz. — Inalo fundo e minha
cabeça cai em meu ombro. Rio em meio ao sangue que
escorre da minha boca. — Lhe ouvir está me dando sono,
idiota.
Ele esmaga sua boca e rosna com raiva, fazendo
minha cabeça girar com força para o outro lado quando
acerta meu rosto com o bastão. Caio na risada, o vendo
perder a falsa calma que deseja aparentar.
— Vai implorar por sua morte, seu louco de merda! —
Ele espuma de fúria pela boca. — E quando eu terminar com
você, vou atrás de todos que você ama. Terei suas cabeças
decorando minha lareira, dando a eles uma morte pior do
que a que você terá.
— Aconselho a começar pelo meu pai. — Sorrio,
tossindo e jogando minha cabeça para trás, olhando para
ele. — Se quiser, posso até passar o endereço...
O disparar do choque em minha barriga me faz calar,
com meus dentes se trincando e o choque me rasgando
inteiro de dentro para fora. Ele solta um soco em minha
cara.
— Para quem trabalha? — Ele inspira, empurrando
seus cabelos para trás, com os olhos prendendo-se aos
meus, erguendo o bastão de choque e o deixando a
centímetros da minha garganta. — Diga!
— Para a cadela da sua mãe! — Cuspo a bola de
sangue com saliva em sua cara mais uma vez.
Ele me xinga em turco, antes de rir e negar com a
cabeça, se endireitando e girando sua face por cima do
ombro, chamando o soldado. A cadeira vai para o chão no
primeiro soco que recebo, e estouro a cabeça na parede, ao
passo que ele mantém a cadência dos golpes, mirando em
minha barriga como uma máquina, me espancando sem
parar.

— Como era esse lugar que cresceu, mestre Jon?


Viro o rosto para sua face sonolenta e aliso seus
cabelos lentamente, a vendo arfar, com seu seio nu. Suas
mãos deslizam por minhas tatuagens, contornando cada
uma e esfregando suas pernas nas minhas, enquanto se
espreguiça.
— Solitário — respondo baixo, beijando seus cabelos,
apenas para ouvir seu suspiro.
— Não tinha amigos? — Linda se vira e cruza seus
braços sobre meu peito, deitando seu rosto em cima de
mim e esmagando seus seios macios em minha pele.
As janelas abertas do meu alojamento fazem a cortina
balançar, e a noite já está alta do lado de fora. Meus braços
se esticam e corro a palma por sua coluna, traçando o
caminho por suas costas. Ela move sua cabeça e deixa seus
olhos presos aos meus, tendo seu olhar doce me engolindo
com tanta facilidade.
— Não sou o tipo de pessoa que tem amigos, e na
época que fiquei no colégio interno não era diferente, já que
muitos deles tinham medo de mim.
Seus olhos sonolentos piscam, e ela me observa,
sorrindo, antes de depositar um beijo em meu peito.
— Linda nunca terá medo do mestre Jon! — Sorrio,
fitando o teto, e ela alisa meu peito. — Não, nunca terei
medo.
— Percebi isso — falo, rindo, sentindo-a mover seus
braços e se espreguiçar sobre mim, me deixando sentir sua
boceta quente em cima da minha barriga. — Mesmo não
compreendendo o porquê nunca sentiu... Acho que desisti
de tentar entender.
— Mestre não é mau para nós. — Meu rosto se ergue
no travesseiro e me perco em sua face pequena. Os cabelos
bagunçados caem por suas costas, e os lábios estão
inchados, com seus olhos ametistas brandos. — Mestre é
bom para nós.
Eu me perco em seu olhar tão quebrado, com sua voz
baixa, e abraço-a mais forte em meus braços, como se
pudesse lhe prender para sempre comigo. A luz da lua que
reflete em sua face, brilhando do lado de fora da janela, me
faz ver nitidamente o olhar inocente refletido em seu rosto,
e se fosse menos filho da puta, a desmentiria agora, lhe
corrigindo e dizendo que não existe um único traço sequer
de bondade em mim, mas não o faço, não quando ela me
aprisiona em sua doçura e me faz querer ser bom apenas
para ela.
— E é o mestre Jon da Linda.
Sim, eu sou um grande filho da puta. E, sim, eu teria
feito as mesmas escolhas, feito as mesmas coisas que me
trouxeram até aqui, porque tudo me fez estar precisamente
nesse momento, com minha pequena torre tão perto de
mim, se tornando mais do que minha posse, se tornando
meu maior medo, meu maior desejo, meu céu e meu
inferno. Ela também é meu pecado, meu único pecado, para
quem eu me entrego de corpo e alma.
— Vou beijar sua boceta! — falo firme, a girando na
cama, tendo sua risada explodindo e tomando conta do
alojamento. O som entra em meus ouvidos, e não posso
viver sem ele.
O balde de água gelada, seguido de um tapa forte em
meu rosto, me faz acordar, e pisco rapidamente, com minha
mente retornando à lucidez e minha cabeça caindo. Estendo
meus pés e as pontas deles raspam no chão, com minhas
pernas estiradas me deixando saber que eles me tiraram da
merda da cadeira. A dor em meus braços erguidos, presos
por correntes e esticados acima da minha cabeça, me faz
gemer baixo, e sinto o suor e o sangue ficando empastados
em minha pele.
Não há mais a cama do alojamento, nem o corpo de
Linda sobre o meu, nem o som da risada ou a lembrança
vívida dos seus olhos violetas presos aos meus enquanto
ria, abrindo suas pernas em cima da cama, me oferecendo
sua boceta para eu chupá-la.
— Imagino que deva ter tido muita satisfação em
matar um pobre velho como Hasan. — A voz calma sai
baixa, com seu inglês forçado, e um assobio passa por sua
boca.
Meu rosto se levanta para o idiota sentado em uma
cadeira à minha frente e o vejo com as pernas cruzadas,
balançando seus pés.
— Matar, não. — Inalo fundo, o respondendo. —
Nenhuma satisfação em o matar, porque meu tempo com
ele foi muito curto, mas tudo que aconteceu e rolou até ele
morrer foi legal pra caralho.
Rio entre a tosse, piscando para ele, que mantém sua
face taciturna e me fita.
— Sabe, eu passei a noite em claro, pensando em
você. — Ele fisga o canto da boca.
— Lamento, mas você não faz o meu tipo. — Nego
com a cabeça. — Porém, se quiser tentar soltar meus
pulsos, garanto que vou amar foder seu rabo com a porra
daquele bastão de choque.
— Eu li de novo os relatórios da perícia a que tive
acesso, da explosão na mansão de Hasan. — Ele morde a
lateral da boca e gira seu rosto para o lado, observando as
paredes. — E ao ler novamente, sem pressa, eu percebi que
está faltando algo naquelas ossadas que encontraram no
quarto do presidente.
Sua cara está séria quando ele traz seus olhos para
frente e me analisa, gesticulando com sua mão.
— Na verdade, treze coisas estavam faltando naquele
laudo da perícia. — Ele sorri aos poucos, balançando seu
dedo indicador no ar. — E isso me fez perceber que, talvez,
eu esteja errado, meu caro amigo. Errado em achar que foi
um golpe no meu país. Não foi até aquela mansão apenas
para matar um velho, estava lá por outro motivo, não era?!
Um motivo pessoal.
Puxo o ar e jogo minha cabeça para trás, tendo meus
olhos presos nos ganchos do teto, onde as correntes que me
mantém preso estão chumbadas.
— E, como disse, tive uma longa noite pensativa, e
fiquei tentando imaginar qual tipo de motivação pessoal
levaria um homem a invadir um país, para matar o
governante dele. — Escuto sua voz sair aos poucos, e fecho
meus olhos. — Alguém muito especial, eu imagino.
Minha boca se abre e bocejo, o deixando saber que
está me entediando com sua voz quando retorno meu rosto
para frente e o encaro. Ele ri e abaixa sua face, negando
com a cabeça e descruzando as pernas.
— Sabe, quando Hasan, meu primo, veio até mim e
me contou sobre seu pequeno prazer carnal... — Ele se
levanta da cadeira e leva suas mãos para os bolsos. — Ele
era um homem atormentado pela culpa de sentir tanto
amor e prazer pelos jovens e indefesos corpos de suas
bonecas... Eu tentei aconselhá-lo, lhe mostrar que isso, mais
cedo ou mais tarde, seria seu fim.
O escuto falar, e meus olhos percorrem a sala,
caçando pelo segurança, notando que apenas o idiota está
dentro desse maldito buraco comigo.
— Mas possuí-las o enchia de luz. — Retorno meus
olhos para ele, o encarando sério. — Chorando, meu primo
me contou que sentia como se fosse um deus quando as
possuía. Penso que, talvez, você não entenderia...
— O que entendo é que a única coisa que ele devia
sentir era prazer em ser um porco de merda, fodendo com
mulheres mutiladas — digo, sarcástico. — Eu também me
senti como um deus ao arrancar a cabeça daquele corpo
asqueroso, cheio de banha, depois de mutilar o pau dele!
— Realmente não entende, não é?! — Ele caminha
devagar, se aproximando de mim. — Hasan não possuía os
corpos delas, ele possuía as almas, dando a elas um novo
propósito. Ele as tornava especiais para ele...
O som calmo e baixo da sua voz, enquanto conversa
comigo dentro dessa sala vazia sobre o porco doentio do
seu primo, me deixa saber o motivo dele estar sozinho aqui.
— Assim como eram especiais para os novos donos
que as recebiam. — Meu rosto se abaixa e fecho meus
olhos, pouco me fodendo para o que esses animais
acreditam. — E, para mim, quando me uni a ele.
No segundo que sua voz sai tão perto de mim, com
ele parando a poucos centímetros, meu rosto se ergue, e
escuto bem o que ele acabou de dizer.
— Eram almas miseráveis, e ninguém se importava
com elas, ninguém sentia falta delas, mas, para nós, eram
especiais, e cada uma era única. — Meus dentes trincam e
os olhos dele me fitam calmos. — Eu estive com Hasan na
seleção de cada uma delas, e, talvez, possa até ter
conhecido o motivo pessoal que lhe trouxe até aqui.
Fecho os dedos na palma da minha mão com força, e
meu corpo fica rígido, comigo desejando que ele apenas
seja tolo o suficiente para dar mais um passo à frente.
— Me diga quem foi a pequena boneca humana
especial que lhe trouxe aqui... Uma irmã, prima... — Ele ri,
negando com a cabeça. — Não, penso que não foi... Um
homem, para ir até o ponto que você foi, para vir atrás de
sua vingança, mesmo sabendo que não sairia vivo, veio por
causa de um amor...
Ranjo meus dentes, e ele esboça um sorriso mais
largo, erguendo seu dedo indicador e tocando bem em cima
do meu peito.
— Acho que acertei, não foi, meu caro amigo?! —
suspira baixinho. — Um amor lhe trouxe aqui. Conte-me, me
deixe saber se eu a conheci, se meu pau se afundou na
boceta dela...
Abaixo o rosto e rio, fechando os olhos, tendo o
sangue bombardeando com fúria em minhas veias.
— Deveria me matar enquanto ainda tem tempo —
sussurro, esmagando mais forte meus dedos, fazendo a
porra das correntes estalarem.
— Oh, não, não vai morrer, não tão cedo, não agora
que sei o que lhe trouxe até aqui! — Ele retira sua mão do
meu peito e dá de ombros. — Providenciarei e encontrarei
pessoalmente seu motivo especial, o que lhe trouxe até
Hasan, e quando o achar, vou garantir que me veja
mostrando o quanto ela é especial para mim e para os
cinquenta soldados que estão lá fora, que farão filas, se
revezando, com um pau saindo e outro entrando no corpo
dela. E depois que ver tanto a mim como a todos eles a
fodendo, eu meterei uma bala na sua cabeça, e levarei o
que sobrar dela para meu haras, para dá-la de presente
para os meus cavalos...
O som alto de um estouro, vindo do lado de fora, o faz
sobressaltar, com ele se assustando e girando o rosto para
a porta. Seu corpo dá um passo para trás, e minhas pernas
já estão se erguendo, comigo o puxando pela cintura e
travando forte minhas pernas em volta dele, acertando uma
cabeçada forte em seu rosto quando ele gira a face para
frente.
— Deveria ter me matado! — rosno com ira, com
minha boca se abrindo e cravando meus dentes em sua
garganta com puro ódio, o que o faz gritar e tentar se
empurrar para trás.
O gosto do seu sangue toma minha boca assim que os
dentes perfuram a carne, e esmago mais firme, com toda
força que ainda tenho, sua cintura em minhas pernas,
puxando minha cabeça com raiva para trás e rasgando sua
pele. Em seguida, o solto, o vendo cair no chão e levar a
mão ao pescoço, tremendo, com a veia rasgada jorrando
sangue. Uso meu pé para acertar sua cabeça, antes de pisar
em cima dela com meu calcanhar, com minha perna
subindo e descendo com ira.
Cuspo o pedaço da sua garganta em cima dele, e piso
com mais ódio em seu rosto, parando apenas quando ele
não se move mais. O som da porta sendo destravada me faz
levantar meu rosto para ela, e encontro o segurança quando
ele dá um passo à frente. A boca dele se abre e os olhos
arregalados ficam presos nos meus, ao passo que vejo a
lâmina o perfurar, atravessando seu peito, antes de ser
puxada. Ele cai no chão, e a imagem de Dragomir surge
atrás dele, que traz o rosto para mim enquanto limpa sua
faca.
— Como foram os dias de folga, filhote problemático?
— Ele passa por cima do corpo, sendo seguido por Bratos,
que segura a porra de uma bazuca e sorri para mim.
— Pelo visto, estava fazendo uma dieta balanceada. —
Ele ri e olha do cadáver abaixo dos meus pés para o sangue
em minha boca. — Então, o que achou da carne turca?
— Uma merda! — falo com fadiga, com meu peito
subindo e descendo pouco a pouco.
Meu corpo está ainda mais fraco, por ter usado o resto
de força que tinha para conter o filho da puta ao rasgar sua
garganta com os dentes.
Ouço o som de mais passos vindo do corredor, do lado
de fora, em uma marcha pesada, e os gêmeos ficam
parados, não se aproximando de mim. Minha cabeça se
levanta e olho a porta, vendo homens encapuzados
entrarem, com suas fardas negras sujas de sangue. Eles dão
espaço entre eles para um que vem atrás passar, e o vejo
caminhar para mim com sua face coberta, com ele tendo
uma faca pingando sangue em sua mão, esmagada entre
seus dedos, antes da sua outra mão se levantar e puxar a
máscara da cabeça. Os olhos azuis frios prendem-se aos
meus e ele tomba o rosto para o lado, olhando do cadáver
para mim e bufando pelo nariz.
— Está atrasado... — murmuro para Owen, rindo
enquanto tusso.
— Na verdade, não. — Ele vem em minha direção. —
Achei que seria bom para meu teimoso primo ter algumas
horas a mais de castigo com seus novos amigos.
Ele leva a mão para as costas e saca sua arma, a
mirando nas correntes presas no teto e apertando o gatilho.
Meu corpo desaba como um saco de merda no chão, com
minhas pernas mal conseguindo me sustentar em pé. Owen
para perto de mim e apoia seu pé no cadáver quando
inclina seu tronco para frente.
— Está pronto para ir pra casa, Dave Woden? — Ele
estica sua mão, enquanto me encara, sorrindo. — Ou Jon
Roy ainda precisa ficar mais um tempo de castigo aqui
dentro?
— Estou pronto para ir pra casa, primo! — Estico o
braço e agarro sua mão, sentindo o aperto firme dos dedos
de Owen ao me levantar em um puxão.
— Bem-vindo à família, Dave Woden. — Ele sorri,
fazendo um gesto de cabeça para os gêmeos.
Meu corpo já está sendo amparado por Bratos e
Dragomir, que apoiam meus braços e passam um em cada
lado dos pescoços dele. Owen se vira rápido, com seu dedo
se erguendo e girando o indicador no ar.
— Limpem tudo! — Ele dá a ordem, ao passo que
marcha e sai da sala, com meu corpo sendo arrastado por
Dragomir e Bratos para fora do local.
Entre minhas pálpebras que mal conseguem ficar
abertas, vejo a carnificina espalhada, com corpos no chão, e
minha visão se escurece aos poucos, enquanto tudo que
tem em minha mente é Linda.
— Linda esperar mestre Jon. — Ela fecha seus olhos e
esfrega seu nariz em minha garganta. — Casa, casa de
Linda.
Sua mão para em meu peito e ela abre seus olhos, me
deixando ver o único ponto de paz, a única conexão real
demais perto de um ser humano que tenho, brilhando em
seu olhar.
— Mestre Jon, casa de Linda. — Demoro alguns
segundos para entender o que ela está me dizendo.
Meus olhos recaem para sua mão sobre meu peito,
com ela batendo seus dedos sobre o colete.
— Casa... — Um sussurro tímido sai da sua boca, e
levanto meu olhar para ela. — Casa de Linda.
Eu estou voltando para casa.
Esse é o último pensamento que me pega antes de
apagar de vez.
CAPÍTULO 63

A JOGADA FINAL
JON ROY

A minha mente está turva e bagunçada, e os sons de


bipes entram em meus ouvidos. O cheiro de álcool
hospitalar me pega, assim como a dor em meu corpo,
quando abro meus olhos e fito o teto branco com a luz clara
acesa, sendo do mesmo tom de luz que tinha na porra do
meu quarto do hospício. Sinto a dor latente em minha
cabeça, antes da minha mente entrar em combustão, tendo
lembranças do corpo de Hasan, assim como da explosão da
mansão e do meu corpo sendo espancado e torturado.
Fico confuso, sem saber onde estou, e tento me
sentar, mas rosno com raiva. Paro assim que o toque
delicado se faz em meu braço, e meu rosto vira para o lado,
comigo encontrando a face feminina com olhos inchados
vermelhos de choro, que me observa com carinho.
— Oi, magrelo... — murmura com a voz embargada de
choro, com ela se levantando rápido e passando seus dedos
por meus cabelos, ao passo que funga e sorri entre o choro.
— Está seguro, está seguro agora.
Não me movo, não falo nada, apenas observo Ginger
diante de mim, incerto se é uma alucinação ou efeito da
bagunça que está minha cabeça, que a projetou ao meu
lado. Sinto o toque do beijo em minha testa, com ela ficando
com seus dedos trêmulos, alisando minha face e sorrindo,
afastando devagar sua cabeça da minha.
— Você realmente está aqui ou é efeito dos remédios?
— questiono baixo com a voz atordoada, a olhando.
— Eu estou aqui, magrelo. — Ela sorri em meio ao
choro e segura minha mão, não se afastando da lateral da
cama. — Estou aqui de verdade, assim como você está aqui
comigo agora, e bem.
Meus olhos se fecham e meu peito dói apenas em ter
que respirar. Pisco, confuso, olhando em volta e vendo o
quarto do pronto-socorro. Mas paro no segundo que vejo a
maca ao lado, reconhecendo o corpo feminino deitado nela.
— Linda... — digo rápido, ficando agitado.
— Ela está bem, está apenas dormindo. — Ginger me
faz a olhar quando fala baixo para mim. — Eu pedi à
doutora Elsa para transferi-la para o seu quarto assim que
chegou, pois imaginei que seria isso que iria querer...
Pisco mais uma vez, sem entender nada, olhando
novamente para Linda, a vendo imóvel, tendo apenas seu
peito subindo e descendo.
— O que tem de errado com a minha garota? —
indago firme, sabendo que algo não está certo apenas em
vê-la naquela cama, sem se mexer.
— Ela está em transe, entrou em um transe profundo
no dia que você saiu daqui, pelo que Elsa me repassou. —
Ginger olha para a cama de Linda. — Mas ela está bem
fisicamente, apenas está adormecida. Não posso dizer com
clareza o que a fez entrar em transe, mas posso garantir
que ela está bem, que somente está dormindo...
Fecho os olhos e puxo o ar, com minha mão
retornando até Gim, com meus olhos se abrindo. Observo
sua face antes de parar meus olhos em sua mão, que
segura a minha, com ela alisando devagar meu braço.
— Você veio — murmuro, confuso, olhando para seus
dedos que me afagam.
— Sim, eu vim... — Ela funga baixinho, fechando seus
olhos e tendo um sorriso se esboçando em sua boca em
meio às lágrimas que escorrem do seu rosto. — Eu sempre
vou vir, não importa onde esteja, sempre vou vir quando
precisar de mim, magrelo.
Ela abre seus olhos e os deixa presos aos meus. Eu
confesso que não pensei muito em como seria depois que
apertasse o gatilho, a verdade é que não calculei nada,
apenas queria garantir que Linda estaria segura caso eu
não voltasse. Não é que eu não confie em Owen para cuidar
dela, mas eu sabia que existia apenas uma pessoa que
poderia proteger minha Linda, cuidando dela e de Violet,
sendo capaz de amá-las tanto quanto eu as amo.
— Jon...
— Jon Roy morreu, Ginger — sibilo para ela, negando
com a cabeça, para que ela entenda que não existe mais
Jon. — Me chamo Dave, Dave Woden.
Ela ergue sua mão e limpa seu rosto, enquanto sorri
entre as lágrimas e move a cabeça em positivo.
— Olá, Dave — me cumprimenta e aperta meus dedos
que estão em sua mão, sorrindo para mim. — Sou Ginger,
Ginger Roy.
— Olá, senhora Roy. — Meu rosto vai para a porta e
vejo a sombra por baixo da fresta, e não preciso de muito
para saber que é Jonathan que está ali. — Obrigado por ter
vindo pela minha garota, senhora Roy.
Ela gira o rosto para o lado e sorri, com seus ombros
se encolhendo.
— Não tive como conversar com ela, mas tenho
certeza de que deve ser muito especial e maravilhosa. Eu
quero muito poder a conhecer ainda mais... — Ela se cala e
volta sua face para mim, me vendo sério. — Mas acho que
isso não vai ser possível.
Nego com a cabeça, confirmando suas palavras, a
deixando saber que não, ela não irá mais ver a minha Linda,
e nem a mim.
— Isso é um adeus? — Ela tomba seu rosto em seu
ombro, com tristeza.
— É, Gim, isso é um adeus. — Inalo fundo e abaixo
meus olhos para seus dedos em minha mão.
O movimento do seu corpo é rápido quando ela se
inclina, e a fito, vendo sua mão se espalmar em minha
bochecha.
— Eu te amo tanto, magrelo — murmura com carinho.
— Eu nunca vou te esquecer. Nunca te esqueci um dia que
fosse da minha vida, e sempre vou pensar em você.
Seus olhos se fecham e ela beija minha testa, antes
de se afastar, com seus dedos se soltando dos meus, tendo
seu corpo se endireitando.
— O loiro combinou com você, Dave — ela diz,
sorrindo, movendo seus dedos na direção dos seus cabelos,
me olhando de forma maternal. — Muito mais que os fios
pretos.
Seus dedos se abaixam e ela passa sua mão em suas
pernas aos poucos, esfregando seus dedos na calça e
batendo devagar seus pés no chão, virando o rosto para a
porta do quarto.
— Eu... — Ela se cala e fecha os olhos, esfregando
suas têmporas. — Eu acho que...
A mão se abaixa, com ela retornando a face para mim
e cobrindo sua boca, além de virar o rosto para o lado.
— Eu vou indo. Não vou dizer adeus, porque
realmente espero poder um dia lhe ver novamente... — Ela
se vira e caminha cabisbaixa para a porta.
— Ginger... — a chamo, a vendo parar a centímetros
da porta, com seu braço se esticado para a maçaneta e seu
rosto se virando para mim. — Adeus, senhora Roy.
Ela encolhe seus ombros, e o som baixo do seu soluço
surge, com sua face se virando por cima do ombro e me
fitando.
— Adeus, magrelo — fala rápido, com sua boca se
esmagando, antes de abrir um sorriso para mim. — E até
algum dia, Dave.
A porta é aberta e ela sai. Meus olhos se encontram
com Jonathan uma única vez, que está parado diante da
porta, me observando. Ele move sua cabeça para mim e lhe
retribuo o cumprimento, antes de Ginger fechar a porta.
Fico em silêncio, observando a porta, sabendo que Jon tinha
chegado ao seu final, que ele está partindo junto com
Ginger para sempre.
Tombo a face para o lado e já estou empurrando a
porcaria da coberta, me levantando com dificuldade e
arrancando a merda da agulha do soro do meu braço.
Manco, arrastando minha perna, me aproximando da maca
de Linda, com meu corpo se juntando ao dela. Deito
devagar, e meu braço passa por baixo da sua cabeça, ao
passo que a abraço e esfrego meu nariz em seu pescoço.
— Oi, bebê — murmuro, sentindo a quentura da sua
pele e a abraçando forte, a deixando colada a mim. — Eu o
peguei, peguei Hasan por você. Ainda falta mais um, mas
eu vou o encontrar.
Cerro os olhos, e nesse segundo me sinto inteiro
novamente, ao tê-la comigo.
O som da respiração lenta me faz abrir meus olhos, e
vejo o quarto escuro, que tem apenas uma baixa luz
iluminando a face de Linda. Pisco, confuso, virando meu
rosto e tentando ver de onde vem a luz, mas não demoro a
encontrar, não quando vejo a porta aberta do quarto, tendo
Killer parado do lado de fora do corredor, sorrindo para mim.
— Não posso nem dormir por algumas horas a mais, e
quando acordo descubro que Artur levou um tiro no rabo,
uma sem coleira em quem eu confiava tentou matar a Linda
e meu teimoso soldado foi brincar de camicase na Turquia.
Fora o idiota ali na porta, que entrou para a lista proibida de
Owen, junto com Dante. — Reconheço o timbre rouco que
me faz olhar para os pés da cama, onde encontro Ryan
sentado em uma cadeira de rodas, me observando. — Que
tipo de soldados eu treinei?!
— Do tipo que executam uma missão a qualquer custo
— falo baixo, mantendo o corpo feminino perto de mim, o
qual se vira de lado, com seu braço em minha barriga. — Oi,
velhote, é bom saber que acordou!
Sorrio para Ryan, que relaxa sua face, enquanto move
seus dedos, chamando Killer e apontando para perto da
cama. Killer entra, empurrando a cadeira de rodas, a
deixando do meu lado da cama, rindo para mim.
— O chefe me deixou de babá do Comandante... —
Killer murmura.
— Na verdade, Woden deixou em minhas mãos a
decisão de castigar ele e Dante, e só não decidi o que fazer
com os dois ainda. — Ryan inala fundo e solta o ar pelo
nariz. — Mas, acredite, vou pensar em algo divertido para
vocês. Agora, volte para a porta e fique de olho no corredor,
para ver se a Elsa não aparece...
— Engraçado, Artur também estava sabendo o que
Jon iria fazer, e nem por isso ouvi ninguém falando que ele
será punido...
— Artur levou um tiro no rabo de uma sem coleira,
então, acredite, ele vai ser punido pelo resto da vida dele,
porque nunca vamos deixar ele esquecer isso — Ryan sibila,
movendo a cabeça para a porta.
Killer bufa e nega com a cabeça, girando e
caminhando para a porta, voltando a ficar de guarda no
corredor.
— Eles apenas fizeram o que eu mandei, e a culpa é
minha, velhote — murmuro para Ryan. — Não precisam ser
punidos.
— E acha que não sei?! Owen também sabe, mas é
bom fazer um terror psicológico de vez em quando. — Ryan
sorri para mim, piscando. — Vou ficar fora de ação até me
recuperar, enquanto isso, o senhor Clay vai ser aterrorizado
ao cuidar de mim.
Ele estica seus braços, os deixando apoiados em suas
pernas, e passa seus olhos do meu rosto para o dela.
— Eu falhei com ela — sibilo para ele, erguendo minha
mão e acariciando os cabelos de Linda. — Não consegui
pegar os documentos que me levariam ao antigo mestre da
Linda, e falhei com você também. Estava tão crente que era
um Órfão de Babilônia, que julguei que você seria incapaz
de o perceber por seu lado sentimental, mas o único que
não percebeu que Nanete era o rato fui eu. Me ceguei pelo
fato dela sempre estar perto de Linda, cuidando e a
protegendo, que quase a perdi. E nem sei ainda se quando
seus olhos se abrirem, será ela quem vai acordar ou Violet
novamente, que mal consegue me ver sem gritar de medo e
terror.
Fecho meus olhos, sabendo que de todas as formas eu
falhei com Linda e Ryan, por não conseguir enxergar nada a
tempo.
— Falhou? — ele murmura para mim. — Acha mesmo
que foi isso que fez? Que falhou?
Meus olhos se abrem e sou confrontado pela face de
Ryan, vendo o curativo em seu pescoço.
— Estou vivo, bem aqui diante de você, e pelo que sei,
foi você quem garantiu que eu conseguisse ficar com a
porra do coração batendo até Elsa chegar. — Ele olha para
Linda. — Foi o único dentro daquele quarto a perceber que
tinha uma entrada escondida na parede, o que te levou até
Linda, conseguindo a encontrar e tirando-a daquele inferno.
Nesse exato momento, há treze meninas sendo levadas por
Elsa e Helena para uma van, que serão transportadas para o
avião particular de Owen, que decolará com elas, indo
direto para Milão, onde tem um local seguro para elas
tentarem aprender a viver e esquecer só o que Deus e elas
sabem que viveram na Turquia. Sem falar que matou o
homem que os conselheiros de Sodoma estavam caçando
por dez anos, e que até então era intocável. Conseguiu a
proeza de fazer Dragomir e Bratos fazerem alguma coisa
realmente decente naquelas vidas sanguinárias deles, sem
falar na façanha, a qual lhe garanto que foi única, de um
conselheiro de Sodoma atravessar os portões de Babilônia e
sair com vida, ainda por cima, daqui de dentro. Acha mesmo
que falhou, garoto?
Ele suspira e nega com a cabeça, sorrindo para mim.
Mas não consigo sorrir para ele, não quando aquela
explosão dentro da mansão do presidente Hasan levou para
os ares a última chance que eu tinha de encontrar o maldito
do antigo mestre de Linda.
— Ele ainda está vivo — falo baixo, o encarando. —
Está vivo, e eu ainda não sei quem ele é, então, sim, eu
fracassei.
Ryan inspira e solta o ar pelo nariz, levantando sua
mão e chamando o Killer.
— Vá descansar, garoto, e se recupere agora. Deixe
que os adultos vão limpar essa bagunça na Turquia, e
depois voltamos a conversar sobre sua falha — ele murmura
calmo, enquanto Killer empurra sua cadeira para fora do
quarto. — E apenas para que fique claro, isso foi uma
ordem, ouviu, garoto?! Quero seu rabo nessa cama, então
tome isso como meu presente de Natal adiantado.
Killer gira o rosto para mim por cima do ombro e
pisca, me fazendo ficar confuso com seu olhar brincalhão,
ao passo que leva Ryan para o corredor, fechando a porta
ao sair.
Fico em silêncio e fito o teto do quarto escuro,
escutando a respiração lenta da minha pequena torre em
meus braços, enquanto repasso as palavras de Ryan em
minha cabeça.
CAPÍTULO 64

A PEÇA MESTRE
JON ROY

— Mata ele! Precisa matar ele! — A voz séria atrás de


mim se faz, com meu rosto girando devagar.
Vejo-me parado, me encarando com as mãos nos
bolsos da calça do terno, enquanto movo a cabeça para
frente em um movimento. Meu rosto gira e tem um revólver
em minha mão. Meus olhos ficam presos em uma versão
minha mais jovem, sentada no chão, com as pernas e
pulsos amarrados. Olho em volta e enxergo a estufa. Há
escuridão dentro dela, enquanto um choro baixo surge em
algum canto. Pisco rápido, com meu corpo suado, e meu
coração dispara, comigo retornando a olhar na direção da
minha versão, a mesma que esteve dentro dessa estufa,
com o revólver na mão, o apontando para Ginger.
— Atira na cabeça dele.
A mão repousa em meu ombro, meu peito sobe e
desce rápido, e olho-me ali, naquele chão.
Meus olhos vão para o espelho que aparece na parede
e tem uma luz sobre ele, trazendo meu reflexo. Me vejo ali,
com meus pés descalços, o tronco nu e meus cabelos ainda
pretos. Ao meu lado, de pé, com a mão em meu ombro, está
minha cópia de cabelos claros em seu terno, que se
mantém sisuda ao me fitar.
— Mate ele. — Meus olhos se abaixam e encaro a
cópia com os olhos presos em mim.
Aperto o gatilho e acerto sua cabeça. Um buraco se
abre, ao passo que sinto o sangue escorrer por minha testa,
exatamente onde atirei nele. A mão em meu ombro se
afasta e giro devagar, encontrando a arma que estava em
minha mão agora na sua, com o cano apontado para mim.
Meu corpo voa para trás quando ele aperta o gatilho, com a
bala perfurando minha testa.
Meu corpo está suado e meus dedos se erguem
ligeiros, comigo esfregando meu rosto, ainda sentindo a
queimação do tiro que me atingiu e pareceu tão real. Sento
no quarto escuro e tento fazer minha respiração voltar ao
normal, antes de girar e esticar meu braço para tocar em
Linda. Mas congelo, me levantando no segundo que sinto a
cama vazia.
Arrasto minha perna e manco até a parede,
acendendo a luz do quarto rapidamente e caçando por ela,
pronto para abrir a porta. Mas paro, sem nem ao menos
tocar na maçaneta, girando e observando seu corpo de pé,
parado perto da janela aberta, com o rosto erguido para
cima, olhando para fora.
Sinto-me ansioso, até mesmo nervoso, e olho receoso
para ela ali, de pé, com seus pés descalços no chão. Não sei
se saio do quarto ou se vou até ela. Não sei se é minha
Linda ou se é a Violet, que fica aterrorizada apenas em me
ver.
— Eu havia esquecido como amava olhar as estrelas.
— O som baixo da voz me deixa confuso e a observo
incerto. — Lembro de ser uma das coisas que mais gostava
de fazer quando estava sozinha. Gostava de ficar na janela
do meu quarto, olhando as estrelas e imaginando como
seria ser apenas um grão brilhoso morando naquele céu tão
bonito.
Meu corpo se endireita e presto atenção em suas
palavras, percebendo a dicção de sua fala perfeita, sem a
postura assustada, com ela apenas ali, parada, observando
o céu.
— Violet? — sibilo seu nome, a vendo se virar, cruzar
seus braços em volta do seu corpo e parar seus olhos em
mim.
— Oi, playboy. — Ela sorri e esfrega a sola de seu pé
esquerdo sobre o direito, se mantendo onde está. —
Engraçado, na última vez que lhe vi, você também estava
com o rosto machucado, não tanto quanto agora, mas
estava, se me lembro bem...
Sim, eu estava. O guarda filho da puta tinha me
espancado, para me deixar desacordado no chão, pois
pretendia me estuprar.
— Só que agora acho que os papéis se inverteram...
— Ela abaixa seu olhar, com seus ombros se encolhendo. —
Não sou mais eu que vim lhe salvar. Bom, pelo menos fico
feliz que não seja dentro de um hospício.
Seu rosto se levanta para mim e permaneço onde
estou, não me aproximando dela, apenas a vendo sorrir com
tristeza para mim.
— Suse, ela... — A palavra não sai, e permaneço
imóvel, a olhando e sentindo meu corpo enrijecer.
— Ela está bem — Violet fala com brandura, negando
com a cabeça e sorrindo. — Digamos que há uma parte
nossa que não consegue ficar muito tempo longe dela...
— Uma parte? — Arqueio minha sobrancelha, a
fitando, não sabendo se compreendi.
— É, uma parte que, assim como eu, apenas
sobreviveu porque tinha Suse. — Ela gira seu pescoço,
olhando para fora da janela mais uma vez. — Mas, assim
como eu, ela sabe que o lugar da Suse não é mais com a
gente.
Dou um passo para frente, mas paro quando ela
retorna seu rosto para mim, com seus olhos violetas presos
aos meus.
— Me promete uma coisa? — Ela descruza seus
braços, soltando o ar por sua boca. — Me promete que
nunca vai deixar ninguém a tirar de nós, porque Suse é o
que nos mantém aqui ainda, e se um dia ela partir, todas
partiremos, porque essa foi a última vez que eu voltei. Eu
apenas queria ver as estrelas antes de ficar em paz para
sempre. Me promete que vai cuidar bem da minha Suse,
playboy.
Balanço a cabeça em positivo para ela e dou um
passo para frente, mancando, a vendo sorrir para mim, com
seu rosto girando para trás e olhando o céu.
— Suse, está na hora de voltar. — A voz dela é baixa e
seu corpo fica imóvel.
Cesso os passos, ainda incerto, a olhando. O
movimento rápido da cabeça, que retorna para frente, se
abaixando na sequência, enquanto ergue seus dedos e os
move lentos, com as mãos se abrindo e se fechando e o
peito subindo e descendo rápido ao inalar forte, me faz a
olhar ansioso.
— Linda?
Sua cabeça se levanta ao ouvir minha voz, e seus
grandes olhos ametistas cravam-se em mim, com seus cílios
batendo apressadamente.
— Mestre Jon! — Seu corpo é rápido ao correr
descalço para mim, com seus braços se abrindo e ela se
jogando contra mim.
A dor me pega quando empurro minha perna para trás
e forço meu corpo a se manter em pé. Enlaço a cintura dela,
a deixando presa em meus braços, sentindo a porra do meu
coração bater tão forte ao tê-la de volta, que quase sinto
como se ele fosse parar.
— Casa, Linda voltou para casa! — Seu rosto se
esfrega em meu peito e ela se agarra em mim. — Casa da
Linda...
— Minha casa. — Abraço-a mais forte, enterrando
meu nariz em seu cabelo. — Minha casa, bebê.
É meu mundo, minha vida inteira, minha absolvição,
meu pecado e poder.
CAPÍTULO 65

FESTIVA DE ASTÉRIO
LINDA

Um mês depois

— Nem pense nisso, mocinha!


O beliscar no dorso da minha mão me faz erguer meu
rosto para Elsa, que sorri para mim de orelha a orelha,
retornando a escovar meus cabelos, não me deixando tirar
a grande túnica vermelha com que ela me cobriu.
— Essa roupa está fazendo eu me coçar — digo baixo,
repuxando meu nariz e fechando meus olhos, batendo meus
pés no chão. — Por que não posso ver?
— Porque é surpresa. Prometi a Dave que não veria a
roupa que ele lhe trouxe, apenas quando estivesse na hora
certa. — Ainda não entendo por que fui proibida de ver
minha roupa.
Mas me silencio, desistindo de tentar a ver ao saber
que foi uma ordem do meu mestre. Ninguém aqui chama
mais mestre Jon de Jon, todos se dirigem a ele como Dave.
Eu tenho permissão de o chamar de Jon, mas apenas
quando estamos sozinhos na masmorra vermelha, a qual foi
praticamente nosso esconderijo por muitos dias, desde que
saímos do pronto-socorro e voltamos para casa, e dessa vez
ninguém veio nos afastar.
Não havia ninguém nos interrompendo ou dizendo
que precisávamos ficar longe um do outro, era apenas eu e
ele dentro daquela masmorra. E todas as manhãs, quando
acordava, o via acordado, deitado ao meu lado na cama,
com os olhos presos em minha face. Ele não falava, mas eu
sabia que ele ficava me olhando para ter certeza de que
seria eu a acordar. Falei a ele que vejo a Violet e a Vi em
meus sonhos, que quando durmo eu me junto a elas,
ficando no imenso gramado enquanto brincamos no
balanço. Vi não está mais sozinha e nem Violet tinha
retornado para o trailer, uma faz companhia à outra, e estão
em paz. Não há mais gritos e nem dor, elas estão seguras e
juntas.
Após três semanas que estávamos escondidos dentro
da masmorra, resolvemos sair, e o primeiro rosto que vi foi
o de Artur, o qual me fez sorrir alegre por vê-lo bem, assim
como Killer, que ria, brincando com Artur, por ele ter levado
um tiro na bunda. Eu não ri, porque lembrei de Nanete, e
lembrar dela e de como eu gostava dela ainda me fazia
sofrer, por recordar dela me arrastando para o lago,
enquanto eu chorava e não entendia por que ela estava
fazendo aquilo. Mas não quis ficar triste, quis ficar feliz por
estar com minha família, e foi rindo que encontrei Elsa
dentro do seu escritório, dando um beijo em seu mestre. E
ela não teve como negar essa informação, não quando
mestre Dave, Killer e Artur estavam do meu lado e viram os
dois se beijando também. Foi bonito ver os olhos de Elsa
brilhando, com ela toda envergonhada quando seu mestre
brigou com os três, para a defender.
Aos poucos, fui retornando àquela rotina que tinha,
saindo cedo para ir ao pronto-socorro, pra ajudar a Elsa.
Meu mestre ainda se mantém por perto, não se afastando
de mim, vindo sempre me visitar durante o dia e voltando
perto do fim da tarde, para me levar para a masmorra. Killer
e Artur ainda o provocam, o chamando de nobre algumas
vezes, e o incomodam por causa dos seus ternos e da
maquiagem que ele usa na face para cobrir suas tatuagens.
Eu não me incomodo, porque quando estamos sozinhos, a
primeira coisa que ele faz é se despir, removendo a
máscara de Dave, como ele chama sua maquiagem.
Mas hoje foi diferente dos outros dias, foi agitado
desde o segundo que acordei, tendo Elsa e seu mestre
batendo na porta da masmorra. Enquanto Elsa me levou
com ela, Ryan ficou com meu mestre, dizendo que não nos
veríamos até a noite chegar. Eu pude sentir a agitação
diferente por Babilônia. Todas as servas sem coleiras
estavam animadas e rindo, porque era o dia da festa delas,
e vi os guardas instalando tochas no jardim, além de
montarem grandes tendas.
Elsa me falou que seria a noite da festiva de Astério,
por isso, todos estão em polvorosa, porque os nobres vão se
reunir para comemorar a caçada. Ela me disse que a festa
teria sido mês passado, mas que o senhor Owen tinha a
desmarcado por conta de todos os acontecimentos, e que
nessa noite, Dave e eu seremos apresentados à corte de
Babilônia, com meu mestre ganhando um título de nobreza,
o que significa que eu serei, oficialmente, aos olhos de
todos em Babilônia, a serva do meu mestre, e que ninguém
poderá se opor, pois ele não é mais um carrasco ou um
guarda, como Killer e Artur, agora ele será um nobre
mestre.
— Oh, está linda! — Meu rosto vai para Elsa, que se
afasta de mansinho, segurando a escova de cabelo e me
olhando. — Perfeita, minha pequena!
Observo o penteado em meus cabelos, que estão
soltos, tendo uma delicada trança, que foi feita pelas
mechas laterais puxadas para trás, caindo por cima deles. O
cheiro de óleo de rosas exala deles, assim como da minha
pele, que foi esfregada, ensaboada, banhada e lambuzada
por Elsa, que me preparou. Ela não me deixou ficar na sala
de banho com as outras servas sem coleiras, porque ela
disse que agora eu serei a serva de um nobre, e que cada
serva que é ligada a um mestre se prepara separadamente
nos quartos do palácio, que são gigantes, quase do
tamanho da masmorra, e foi para um desses que Elsa me
levou.
Havia suco, comida e vários pacotes de batatinhas, e
em grande parte do tempo eu fiquei comendo, enquanto era
preparada por Elsa. Quando chegou o momento de me
vestir, ela colocou uma venda em minha face, me trocando
rapidamente. Eu sentia o tecido fino e frio me tocando, mas
eram os acessórios em meus seios e no meio das minhas
pernas que me incomodavam, quando raspavam no tecido,
o que me fazia sentir coceira. E não sabia o que era pior: a
sensação daquilo em minha pele ou não saber o que estava
em meu corpo. Quando ela tirou a venda, eu já estava
coberta com a imensa túnica, que me cobria até meus pés.
— Está muito linda. Agora, venha, temos que ir e não
pode se atrasar! — Ela segura minha mão, soltando a
escova sobre a penteadeira. — Ainda mais que hoje é sua
apresentação diante dos nobres. Não vou dar motivo para
ninguém ter uma fofoca que seja de você.
Eu me levanto, me virando, mas paro assim que meus
olhos se chocam no imenso espelho, vendo a grande túnica
vermelha de veludo me cobrindo, tendo um broche grande
nela, com as letras D.W., preso perto do meu pescoço. Meus
lábios parecem estar maiores e possuem um tom clarinho
de batom neles, que apenas ressalta minha boca. Tenho a
impressão de que meus cílios estão maiores e mais negros,
por causa da máscara de cílios que Elsa passou e que me
informou o que era. Ela disse que isso os deixou ainda mais
bonitos. Em minhas orelhas, os brincos, que são como uma
cascata, brilham com o violeta vivo das pedras da joia que é
da cor dos meus olhos.
— Ai, estava esquecendo... — Elsa fala apressada,
soltando minha mão e correndo para a bancada. — Estou
tão nervosa, que já ia me esquecendo do principal.
Ela retorna para mim com uma pequena caixa
comprida de veludo vermelho, a abrindo. Dentro dela, vejo a
delicada máscara dourada, com pequenas pedras brilhantes
a decorando, sendo da mesma cor das pedras em meu
brinco.
— É a máscara de Afrodite. — Ela sorri para mim, a
erguendo em sua mão e soltando a caixa sobre a cadeira
que eu estava. — Seu mestre a escolheu pessoalmente para
você.
Elsa vem para trás de mim e a coloca em minha face,
enquanto sorri. Fito-a em meu rosto enquanto Elsa a amarra
atrás da minha cabeça com suas pequenas tiras finas de
cetim. Depois, ergue o capuz da túnica, cobrindo minha
cabeça.
— Perfeita. — Ela beija meu ombro, rindo, antes de se
afastar. — Agora, vamos, pois tenho certeza de que tem um
Minotauro inquieto no jardim lhe aguardando!
Fico perdida, sem entender o que ela fala, mas não há
muito tempo, não quando Elsa já está me levando com ela
para fora do quarto. Vejo mais mulheres quando chegamos
a um grande salão, com algumas nuas, tendo apenas as
máscaras cobrindo suas faces. Algumas delas cochicham
com as outras, e no segundo que avistam eu e Elsa
caminhando pelo salão, meus ombros se encolhem e noto a
forma como elas estão com seus rostos voltados para nós.
— Não dê bola para elas. — Sinto o aperto da mão de
Elsa na minha. — Estão apenas curiosas com você. Nunca
uma serva foi apresentada no festival de Astério.
Provavelmente, estão loucas para saberem a qual casa irá
se apresentar hoje — Elsa cochicha para mim, rindo
baixinho e nos levando para perto de uma janela. —
Coitadas, mal sabem o que essa noite reserva para
Babilônia! — Olho-a, sem a entender.
— O que reserva? — pergunto, porque não sei o que
vai acontecer essa noite.
— Não seja curiosa, vai descobrir no momento certo.
— Ela levanta seu dedo e bate de mansinho na ponta do
meu nariz. — Não tenha medo, vai ficar tudo bem.
Giro a face e olho na direção da janela, fixando o olhar
lá fora e vendo as tochas que os guardas instalaram e que
agora queimam altas, lançando brilho por todo local, assim
como todas as tendas grandes montadas e espalhadas pelo
gramado. Posso ouvir ao longe um grande burburinho, com
risadas e conversas de pessoas bem-vestidas, que possuem
máscaras cobrindo seus rostos. Vejo alguns homens
caminhando entre eles, usando ternos e máscaras grandes,
que são de um dourado intenso e possuem imensos chifres
no topo, me lembrando a cara de um boi.
— Aqueles são os Minotauros. — Elsa se aproxima da
janela e fala para mim. — Seu mestre está por aí, junto com
eles.
Giro o rosto para ela, a olhando curiosa, querendo
saber mais sobre o que vai acontecer.
— Por que o mestre está de máscara? — indago a ela.
— Ele, assim como os outros, vão representar Astério,
um Minotauro da mitologia grega que foi aprisionado em um
labirinto. E todo ano, o rei mandava jovens para o labirinto,
para ele caçar. — Ela retorna os olhos para mim, fazendo
um gesto de cabeça para as mulheres no salão. — Vocês
serão os jovens tributos, e seus mestres, os Minotauros, irão
caçá-las dentro do labirinto.
— O mestre vai me caçar...
— Vai. — Elsa ri, movendo a cabeça em positivo. — E,
acredite, dentro daquele labirinto, eles se transformam, por
conta da adrenalina da caçada por suas servas, então tente
não facilitar para ele. Quanto mais o deixar lhe caçar, mais
agitado ele estará quando lhe encontrar.
Retorno o rosto para a janela e sinto meu corpo inteiro
se agitar ao olhar em volta. Fico curiosa e fito tudo, me
aproximando da janela assim que vejo servas e servos sem
coleiras presos a estacas, com seus braços erguidos acima
de suas cabeças. Seus corpos estão nus, e os rostos são
presos para cima pela corrente no pescoço, os obrigando a
não abaixarem as faces. Algumas pessoas bem-vestidas,
mulheres e homens, caminham entre eles, como se
estivessem em um jardim vivo de servos nus.
Nunca tinha visto tanta gente aqui, mas elas parecem
ser centenas ao estarem espalhadas pelo jardim, até onde
meus olhos veem. Alguns outros homens estão diferentes,
com calças e botas, e usam um chicote em suas mãos,
tendo um pano negro em suas faces, que possui apenas
buracos em seus olhos. Eles andam devagar entre os servos
acorrentados e alguns outros servos que estão soltos, nus,
todos com seus cabelos arrumados e joias nos pescoços ou
orelhas, tendo bandejas de bebidas em suas mãos, as quais
servem para os convidados.
Olho esses servos despidos, assim como os das
estacas, que também estão nus, antes do meu rosto
retornar para as mulheres e perceber que muitas delas
estão nuas.
— Por que não pude ficar nua como elas? — pergunto
à Elsa, sem entender, vendo que sou a única aqui dentro,
fora Elsa, a estar coberta da cabeça aos pés.
Elsa está com um vestido fresquinho branco, que tem
o comprimento até a altura das suas canelas.
— Porque seu mestre lhe quer assim. — Ela ri ao me
responder. — Alguns mestres não se importam em deixarem
os outros verem os corpos das suas servas, o que não é o
caso do seu.
Rio, encolhendo meus ombros, com meu peito
subindo e descendo apressado. Olho novamente para a
janela, observando os homens com as máscaras de boi,
tentando ver se eu encontro meu mestre.
— Não precisa ficar assustada quando sair, apenas
faça o que lhe disser. — Elsa se aproxima e aponta para
uma grande porta dupla de madeira. — Quando aquela
porta se abrir, cada serva será anunciada, e terá um grande
tapete vermelho à sua frente. Pise nele apenas olhando
para o chão, não olhe para frente e nem para os lados, e
muito menos para quaisquer outros mestres. Não os olhe
nos olhos, apenas siga andando no tapete com servidão e
obediência. Terão dois carrascos a dois passos atrás de
você, e ninguém lhe tocará. E se tentarem, serão
severamente castigados.
Ela estica sua mão e alisa meu ombro, ao passo que
olho para ela, a vendo morder o canto da sua boca.
— Normalmente, se fosse uma festa dentro do salão
da Torre de Babel, entraria de joelhos ao lado de seu
mestre, na coleira. Porém, como é a festiva de Astério,
precisa entrar andando no tapete vermelho, que vai te levar
direto para a entrada do labirinto. Quando o som da grande
corneta soar, você corre. — Ela solta o ar e sinto meu
coração bater mais forte. — Apenas corra e não olhe para
trás, e tente manter as mãos dele o maior tempo possível
longe de você.
— E se não conseguir? — questiono, confusa, ainda
incerta se consigo fazer isso. — Não sou boa em correr. O
que vai acontecer se meu mestre me pegar?
— Bom... — Elsa ri, começando a falar, mas para
assim que a porta por onde passamos é aberta.
— CHÃO! — Uma voz alta, como uma trombeta,
estoura junto com o estalo de um chicote, e sobressalto-me,
ficando assustada.
— Está tudo bem, apenas se ajoelhe e olhe para o
chão. — Elsa segura minha mão e se ajoelha comigo, com
nós duas fitando o piso.
Respiro depressa, escutando as mulheres lá dentro
fazerem a mesma coisa, ainda sem entender o que está
acontecendo.
— Oh, Deus, Tailer, isso realmente é necessário?! — A
voz feminina soa chateada.
— Ordem do rei, majestade — responde a voz
masculina, que é seguida por uma bufada feminina que faz
Elsa rir baixinho.
Fico cabisbaixa ao lado de Elsa, ao passo que escuto
os passos lentos no chão, com o som de algo pesado se
arrastando.
— Ela está ali. — Uma segunda voz se faz, antes dos
meus olhos verem o tecido negro parando diante de mim.
Os pequenos pés descalços, com joias presas a eles,
param à minha frente, e olho o outro par de pés ao seu
lado, mas esse está de salto alto.
— Oh, céus, Elsa, por favor, se levante! — A mão se
estica e segura o braço de Elsa, a erguendo. — Você
também, pequena. Ande, quero lhe ver.
Fico sem entender, apenas sentindo a mão de Elsa
presa à minha me puxar de mansinho.
— Não precisa ter medo, Tailer só faz barulho. — Ela
ri, cochichando para mim e tocando a ponta do meu queixo,
me fazendo o erguer e olhar para ela. — Aí está a nova joia
da coroa.
Vejo apenas a ponta delicada de um queixo feminino,
já que ela está com a face coberta por uma túnica preta
ainda maior que a minha.
— Olhe esses olhos! Helena não mentiu ao dizer que
ela é uma graça. — Pisco, confusa, girando meu rosto para o
lado e vendo a mulher perto dela sorrir de orelha a orelha
para mim. — Não acredito que nem me ligou para contar
sobre ela, Elsa. Fiquei dias esperando, sobrevivi apenas das
fofocas que Helena me contava.
— Tinha ordens de não falar sobre Linda. — Elsa sorri,
trazendo o rosto para mim. — Mas Helena não mentiu,
minha Linda é uma graça.
— Sim, muito. — Volto meus olhos para a mulher
diante de mim, que leva seus dedos para o meu capuz e o
abaixa, deixando meu rosto descoberto. — Vejo que deve
ser mal dos Woden querer manter suas joias escondidas.
Ela ri ainda mais, levando suas mãos para seu próprio
capuz e o empurrando para trás, me fazendo piscar ao olhar
a máscara em seu rosto, que é como a de uma ave dourada
com um bico longo, que deixa apenas sua boca e seu
queixo aparecendo. Em sua cabeça tem uma coroa brilhosa
negra, cheia de diamantes, que combina com sua máscara.
— Ouvi falar muito bem sobre você, Linda. — Ela sorri
com gentileza para mim.
Não entendo quem ela é, e recorro à Elsa, olhando
timidamente para ela.
— Linda, essa é a Emma. — Elsa ri para mim. — Ela é
a esposa do senhor Woden, a rainha de Babilônia.
— Amigo Owen, amigo da Linda! — digo apressada,
retornando meu olhar para ela, que ri, movendo sua cabeça
em positivo para mim.
— Sim, seu amigo Owen. — Ela estica sua mão e alisa
meu rosto com o dorso do seu dedo. — E espero muito que
você queira ser minha amiga, Linda.
— Eu também espero isso — a mulher ao seu lado diz,
rindo. — Sou Saori, a esposa de Helena, Linda.
Sorrio, recordando de Helena, olhando as duas e
movendo minha cabeça para elas.
— Linda tem amigas novas, e gosto de amigas. —
Sorrio, contente, para Elsa.
— Bom, então acabou de ganhar duas, e muito
especiais. — Elsa ri, batendo seu ombro no meu.
— Trouxe um presente para você, Linda — minha nova
amiga diz, sorrindo, tendo Saori erguendo uma sacola para
ela. A vejo retirar de lá uma caixa de veludo, a qual abre
para mim. — Espero que goste. Achei que seria um presente
apropriado para essa noite.
Meu rosto se estica e vejo a delicada tiara dentro da
caixa, encrustada com pedras vermelhas bem brilhantes.
— É um presente meu e de Owen para você, Linda. —
Ela a retira, enquanto estica seu braço e a arruma sobre
minha cabeça, me fazendo sorrir envergonhada. — Digna de
uma princesa.
— Cristo, é linda! — Elsa entreabre sua boca e cobre
seus lábios. — Isso será um burburinho entre os nobres,
Emma.
— E desde quando meu marido se preocupa com
burburinhos? — Ela ri, virando o rosto para o lado e
piscando rapidamente ao ver as mulheres ainda ajoelhadas,
com suas cabeças abaixadas. — Oh, merda, Tailer, dá para
fazê-las se levantarem, sim?
Olho para o homem alto e grande, um pouco maior
que o mestre de Elsa, que tem sua face coberta com um
pedaço de pano escuro em sua cabeça, tendo apenas os
buracos dos olhos aparecendo, negando com a cabeça
enquanto enrola o chicote.
— Eu desisto de falar com você... — Ela fecha os olhos
e nega com a cabeça, retornando sua face para mim.
Um som alto vem do lado de fora e faz nós quatro
olharmos para a direção da grande porta dupla, que é
aberta.
— Está na hora, Emma — Saori fala baixo para ela, se
aproximando e retirando a túnica do seu corpo.
Não consigo não a olhar, não quando seu corpo está
coberto de penas negras, como um vestido, que parece ter
sido costurado em sua pele, e a faz parecer um belo
pássaro.
— Aproveite a festiva, Linda. — Ela pisca para mim e
se vira, enquanto abaixa sua cabeça e tem o grande
homem a seguindo, caminhando atrás dela.
— Todas de pé! — ele ruge alto, fazendo eu me
sobressaltar de novo, quando seu chicote estala no chão.
— Juro que vou enforcar você e Owen com esse
chicote, Tailer! — Elsa ri ao ver Emma brigar com o
encapuzado, ao passo que todas as outras, que estavam de
joelhos no chão, vão se levantando.
— TODOS SAUDEM VOSSA MAJESTADE! — Vou para
perto da janela, olhando para lá e vendo todas as faces
voltadas para a direita, com os servos, que transitavam pelo
jardim, ficando parados, com suas faces abaixadas.
— Venha, vamos espiar, antes que seja a vez da
Linda! — Saori puxa a mão de Elsa, que automaticamente
puxa a minha, enquanto as sigo, espiando da outra janela.
Vejo o grande tapete vermelho esticado, o qual vai em
direção ao labirinto, e tem servas e servos parados em filas,
lado a lado do tapete, ajoelhados no chão, com suas faces
abaixadas, tendo apenas os bem-vestidos perto deles,
olhando para Emma, que atravessa devagar, com sua face
voltada para baixo. O homem grande atrás dela caminha
lento, e logo vejo outro ficar perto dele, com os dois
encapuzados a seguindo. Elsa sorri e solta um suspiro, com
seus olhos presos na direção do tapete.
— Achei que iria participar com seu mestre também,
Elsa, e não que ele estaria de carrasco e você escondida
aqui dentro. — Elsa tem uma crise de tosse, e fico mais
curiosa, olhando o encapuzado e vendo o rubor de Elsa
diante das palavras de Saori, percebendo que o homem que
está andando ao lado do outro é Ryan.
— Não, não vou participar. — Elsa pigarreia,
balançando a cabeça. — É a primeira festiva de Linda, então
quis estar cuidando dela, e eu acho que ainda é cedo para
voltar para alguns tipos de eventos aqui...
— Ohhhh, Elsa! — Saori a olha com interesse. — Então
quer dizer que o que Helena me contou é verdade?
Finalmente, você e Ryan saíram daquele chove e não
molha? Ele já te deu uma chicotada pra marcar seu rabo?
— Saori! — Elsa fica inteiramente vermelha, olhando
de mim para Saori e sorrindo. — Ryan e eu decidimos não
apressar as coisas, estamos nos conhecendo...
— Beijo! — digo rápido, movendo a cabeça para frente
e para trás, tendo os olhos de Saori ficando fixos nos meus.
— Elsa beija muito seu mestre no pronto-socorro...
— Linda! — Elsa me recrimina, esfregando seu rosto
quando Saori cai na risada.
— Linda vê beijos... — comento, confusa, não
entendendo por que ela ficou brava.
— É, eu sei que vê, sua curiosa, mas não precisamos
ficar falando...
— Linda não falar mais de beijos na boca. — Balanço a
cabeça para os lados, olhando ela e Saori. — Nem contar do
beijo no peito que mestre de Elsa estava dando na sala de
Raio-X...
Nego com a cabeça e olho Elsa, sorrindo, que está
com seus olhos presos nos meus e sua boca se
entreabrindo.
— Ryan estava mamando em suas tetas dentro do
pronto-socorro? — Saori pergunta, rindo, fazendo Elsa ficar
ainda mais vermelha. — Oh, merda, eu vou ter que contar
isso pra Helena!
— A gente vai conversar sobre o que pode contar do
que vê, está me entendendo?! — Elsa me olha e solta o ar
pelo nariz.
Movo a cabeça em positivo para ela, observando Saori
rir.
— E por falar em Helena, onde está ela? — questiona
séria, tentando mudar o assunto. — Achei que você
participaria, já que vocês duas participam da caçada todos
os anos.
— Bom, esse ano não rolou. Estamos fazendo outro
tipo de caçada. Helena ficou em casa, cuidando da nossa
pequena joiazinha roliça que Owen e Emma deixaram com a
gente, e eu vim para ajudar a Emma. Já vou voltar para
casa, para ficar com as duas — ela suspira e morde o
cantinho da boca. — Na verdade, eu e Helena andamos
pensando muito em aumentar a família.
— Jura, Saori? — Elsa sorri com carinho. — Tenho
certeza de que serão ótimas mães.
— É, Helena e eu acabamos ficando bastante
apegadas às meninas em Milão, já que eu fui para lá para
ajudar a cuidar delas. — A face dela retorna para mim e me
olha com carinho, me deixando ver a tristeza escondida em
seus olhos. — Muitas delas foram vendidas pela própria
família. Algumas são do Camboja, outras do Irã, e tem
algumas até do Brasil. Owen conseguiu localizar os rastros
de onde elas vieram, e descobrimos que foram os pais que
as venderam...
Elsa se encolhe e passa seus braços em meus ombros,
enquanto me encolho.
— Saori ajudou a cuidar das crianças que vieram da
Turquia, ela e Helena estavam com elas na Itália, para onde
Owen as mandou, por ser um local seguro. — Giro meu
rosto, balançando a cabeça em positivo para Elsa.
Mestre Jon tinha me contado sobre as crianças que
tirou da mansão de Hasan. Ele encontrou treze meninas lá
dentro, crianças com suas línguas cortadas, cabelos
raspados e corpos feridos. Ele me contou isso na noite que
me mostrou a cabeça do homem para quem fui vendida, a
qual ele trouxe para mim.
— Fico feliz que aquelas meninas vão ter uma família
de verdade, Saori. — Elsa ergue o rosto, a olhando com
carinho. — Você e Helena terão uma grande família
maravilhosa!
— É, a gente vai ter. Bom, está certo de que quando
ela me perguntou se eu queria ser mãe, não imaginei que
seria de treze filhas, mas quando vi aquelas meninas, me
apaixonei por cada uma delas. — Ela sorri, olhando de mim
para Elsa. — Fico feliz que encontrou sua família, Elsa! Você
merece mais do que ninguém, minha amiga!
Elsa encosta seu rosto em meu ombro, mantendo seu
braço ao meu redor, sorrindo e fungando baixinho.
— É, eu encontrei uma família. Minha família... — Ela
levanta seu dedo e toca a ponta do meu nariz.
O som alto se faz, e nós três olhamos para a janela.
Vejo Emma entrar pelo labirinto, correndo por ele.
— Vem, Linda. — Elsa segura minha mão, me fazendo
virar para ela, ao passo que sorri para mim e retira minha
túnica devagar. — Apenas caminhe e fique com os olhos
abaixados, e no disparo da corneta, corra.
Mexo a cabeça rapidamente para ela, sentindo meu
peito começar a ficar mais agitado, subindo e descendo
depressa, com minha respiração acelerada.
— E se o mestre não me achar, e se for outro... —
pergunto, nervosa, olhando assustada para Elsa.
— Acredite, ele vai te achar. — Ela remove a túnica do
meu corpo e sorri, com seus olhos parando na frente do
meu corpo.
Abaixo os olhos, vendo o tecido vermelho tão lindo,
sendo transparente e delicado. Ele cola-se à minha pele,
com os fios escorregando por minhas pernas. Em meus
seios tem joias na frente dos bicos, os cobrindo com um
sutiã de pedraria, que me deixa entender o que está
fazendo eu me sentir inquieta ao raspar em minha pele.
Abaixo ainda mais meu rosto e toco entre minhas pernas,
sentindo as pedras que estão na calcinha.
— Ande, fique paradinha ali, perto da porta. — Elsa
me leva, segurando meus dedos, mas não quero a soltar.
— Não vai vir? — indago, assustada, a vendo sorrir e
negar com a cabeça.
— Vá, vou ficar aqui lhe olhando, querida. — Ela ergue
minha mão, soltando um beijo rápido antes de se afastar.
— TODOS SAUDEM A PRIMEIRA PRINCESA DA CASA
WODEN! — A voz alta grita do lado de fora, e pisco, confusa,
olhando depressa para Elsa, que está sorrindo para mim ao
lado de Saori.
Os cochichos ficam altos, das mulheres conversando
atrás de mim, e olho para elas rapidinho. Porém, logo volto
meu rosto para frente.
— Eu disse que eles não tinham ideia do que esperar
para essa noite. Agora vá, princesa. — Elsa move a cabeça
na direção da porta.
Caminho cabisbaixa, ao passo que estou perdida. Elsa
havia me dito que Jon receberia um título de barão, e que
eu seria sua serva baronesa, só que eles me anunciaram
como princesa, e fico confusa, não entendendo o que está
acontecendo. Meu peito dispara, ao passo que vou para fora
e mantenho meus olhos presos no tecido vermelho do
tapete estendido. Se achei que os barbudos do lado de
dentro, perto das mulheres, haviam me deixado nervosa, o
silêncio esmagador que se faz do lado de fora é muito pior.
Dou o primeiro passo, sentindo a maciez do tapete
tocar as solas dos meus pés, antes de ouvir o som das botas
marchando atrás de mim. Não me viro para olhar para trás,
e nem ergo meu rosto para frente, muito menos olho para
os lados, apenas continuo marchando em servidão,
escutando os pequenos murmúrios, com os cochichos
ficando mais altos, enquanto pessoas vão se aproximando
mais do grande tapete.
Cabisbaixa, vejo os servos nus enfileirados lado a lado
do tapete, com suas cabeças abaixadas. Sons fortes de
respirações pesadas surgem, e alguns braços se esticam em
minha direção. Porém, não chegam a me tocar, não quando
o som do chicote estala, os fazendo recuar.
— RECUE, NOBRE! — Eu reconheço a voz de Artur,
que rosna e fala firme atrás de mim.
— Não pare de andar, princesa. — A segunda voz soa
baixa e reconheço o timbre de Killer, o que faz eu me sentir
menos nervosa, por saber que são eles que estão
marchando atrás de mim.
— Não precisa se preocupar, temos ordem para
arrancar a mão de qualquer um que tocar em você,
princesa! — A voz de Artur sai junto com um riso baixo.
Mantenho meus movimentos, ouvindo as vozes
conversarem mais agitadas, conforme acelero meus passos,
apenas desejando que esse tapete acabe. E é com pura
alegria que solto minha respiração, aliviada, ao ver o fim
dele diante da grande entrada do labirinto verde, o qual tem
seu interior completamente engolido pela escuridão.
— Ele mandou dizer para seguir sempre à esquerda!
— Killer cochicha quando passa por mim e para na lateral
da entrada do labirinto, com Artur ficando do outro lado.
Sorrio aos poucos, com meu peito acelerando,
sentindo minha pele queimar, o que me faz ter certeza de
que o olhar de meu mestre está em mim, e quero buscá-lo.
Quero lhe encontrar, mas não faço isso, me mantenho
obediente, como Elsa mandou, encarando o chão. E quando
o som estrondoso surge, alto e potente, corro o mais rápido
que posso, entrando no labirinto.
CAPÍTULO 66

A CAÇADA DA TORRE
LINDA

— Corra, eles entraram no labirinto!


Uma mulher passa correndo por mim, me assustando,
e um grito ao longe, alto, irrompe, seguido de um disparo.
Minha cabeça se joga para o céu, o qual tem uma risca
verde de fumaça se erguendo. Giro a face e olho de um lado
ao outro, com meu coração disparando e meu peito arfando.
Minhas pernas têm os músculos queimando tanto quanto
meus pulmões pela corrida dentro do labirinto.
O suor escorre por minha face, e alguns fios se soltam
das tranças coladas em minhas bochechas. Viro-me,
assustada, quando um estalo se faz, e colo-me ao paredão
de arbusto do labirinto, vendo ao longe o brilho dourado da
máscara de um Minotauro, que passa reto, indo em outra
direção. Respiro mais forte, voltando a andar e seguindo
sempre para a esquerda.
Um novo grito alto ecoa, seguido de um disparo, e,
dessa vez, a cor que toma conta do céu é de uma fumaça
negra misturada ao branco. Ando mais rápido, acelerando
meus passos o mais depressa que posso, chegando a uma
pequena clareira fechada, sem saída.
— Merda! — Viro-me para sair, mas paro ao ouvir os
estalos dos passos pesados.
Praticamente, me colo com toda força que posso à
moita, quase como se pudesse me esconder dentro dela,
ficando encolhida. Ouço o som se afastando antes de sair do
meu esconderijo, e ando apressada. Mais sons altos
repercutem atrás das moitas, e compreendo que são de
gemidos. Saio rapidamente do lugar sem saída que estou
presa e vou para os corredores. Um novo grito emerge,
seguido de um disparo, que faz o céu se iluminar com a
fumaça amarela.
— Ohhh... Oh... — Meu rosto gira quando um gemido
entrecortado escapa, e vejo o pequeno espaço sem saída,
pelo qual passo na frente, com um casal deitado no chão.
Desvio meus olhos deles rapidamente, andando
apressada e virando à esquerda, com minha face se
levantando. Esfrego forte meu peito, com meus passos
congelando quando dou de cara com um homem com
máscara de touro e sem camisa, apenas de calça. Abaixo
meu rosto e me colo à moita, ficando encolhida e o vendo
passar por mim, seguindo em frente. Descolo-me, e minhas
pernas ficam moles, ao passo que respiro rapidinho e
retorno a correr o mais rápido que posso.
Novamente, me vejo sem saída quando viro à
esquerda, e dou passos para trás, mas congelo quando a
respiração pesada é solta no topo da minha cabeça. O
enlace em minha cintura me faz gritar alto, a plenos
pulmões, quando meus pés são tirados do chão.
Mais uma vez, o som alto do disparo se faz, e meus
olhos vão para o céu, que tem a fumaça vermelha
brilhando, enquanto escuto a respiração pesada, com a
pessoa agarrando forte meu corpo e me girando em seus
braços. Acho que ainda estou sob o efeito do medo, da
adrenalina de correr dentro desse lugar, porque mal
compreendo até ver a única coisa que me acalma: o par de
olhos azuis presos aos meus, quando sua máscara vai ao
chão.
— Te peguei, princesa! — ele rosna, me fazendo rir e
esmagando sua mão em minha bunda, me tirando do chão
e me agarrando a ele, com minha boca se colando à sua
com tanta posse em seguida.
Seu peito se cola ao meu, subindo e descendo
depressa, no mesmo ritmo que o meu, enquanto enlaço seu
pescoço com minhas mãos.
— Mestre... — Sorrio, o beijando e esfregando meu
nariz em seu pescoço com carinho.
Ele anda comigo em seus braços, e minhas pernas se
fecham em volta da sua cintura. Meu corpo vibra, colado ao
dele. Senti tanta falta do seu toque, o qual me foi negado o
dia inteiro, por ter ficado longe dele.
O mundo ao nosso redor desmorona, e apenas meu
mestre importa, ao passo que me beija com posse, domínio
e fúria. Ele aperta suas mãos em meu rabo, trazendo seu
corpo ao meu e tendo o sabor dos seus lábios nublando
qualquer traço de lucidez que ainda possuía. Espalmo
minhas mãos em meu rosto e esmago mais forte minhas
coxas ao redor da sua cintura, quando ele flexiona seus
joelhos, comigo caindo lentamente em seus braços. Tombo
meu corpo em meio à grama e ele solta meus lábios, para
logo em seguida raspar sua boca em meu queixo, o que me
faz arfar.
— Minha pequena torre — ele ruge baixo, segurando
meu queixo em sua mão, tendo a outra se erguendo para
minha face e retirando a máscara.
Sua mão retorna para minha bunda e gemo quando
ele aperta a carne com força e cola seu tórax ao meu. Jon
abaixa seu rosto e toma meus lábios mais uma vez, fazendo
eu sentir meu coração disparar. Gemo e empurro minha
cabeça para trás quando seus dentes se cravam em minha
garganta e ele a morde, ao mesmo tempo que dá pequenas
pinceladas da sua língua sobre minha veia, a lambendo.
Ele empurra sua pélvis contra meu quadril, com as
pedras da calcinha me deixando ainda mais excitada ao
serem prensadas em minha boceta. Sua mão se levanta e
vem até o meu peito, o esmagando em seus dedos,
empurrando o tecido do vestido para baixo quando o puxa
com força, para libertar meus seios.
— Cristo... — gemo, virando meu rosto, arqueando
meu corpo e arfando mais rápido quando sua boca captura
um dos meus peitos, o sugando com paixão.
Meu mestre o toma para ele, me fazendo incendiar
inteira em meio ao fogo infernal no qual ele me joga. Meu
corpo desperta a cada deslizar da sua língua sobre o bico da
minha mama, e gemo mais, não me importando mais de
onde estou ou com o que acontece ao nosso redor. Tudo que
importa é que ele nunca pare de me tocar. Sua mão em
minha bunda a solta e vem para frente, e ele esfrega seus
dedos sobre a minha boceta, por cima da calcinha.
— Como desejei invadir a porra daquele palácio... —
ele rosna e inala o ar com força, esfregando seu nariz em
meu colo quando solta meu seio, apenas para sugar o outro.
— Meu pau sentiu tanta falta dessa boceta, que se eu não
entrar dentro dela agora, sou capaz de tacar fogo nesse
lugar...
Ele afasta a calcinha para o lado e empurra seu dedo
dentro da minha boceta, me deixando a sentir o engolindo.
Meu peito vibra e meu coração bate mais forte com a forma
que ele me acende de maneira ardente.
— Mestre... — Inspiro fundo, gemendo, com meu
corpo implorando por ele.
Ele levanta seu rosto, afasta seu tórax do meu e
segura meus braços, os levando para cima da minha cabeça
e os deixando presos com sua mão, varrendo seus olhos por
meus peitos inchados.
— Quero você para sempre, Linda.
— Jon... Dave... — Arfo, respirando mais forte, com
minha mente tão nublada pelas coisas que ele me faz, que
até esqueço que não estamos na masmorra. — Ohhhh!!!
Fecho os olhos e gemo, empurrando minha cabeça
para trás quando ele leva outro dedo para dentro da minha
boceta e os move pouco a pouco.
— Não será silenciosa, bebê, não quero que segure
seus gemidos! — Sua voz sai grossa dos seus lábios.
Jon se abaixa, colando seus lábios nos meus e
sentenciando a mim e a ele a queimar nesse fogo que nos
consome com tanta fúria dentro do labirinto.
— Mestre... por favor... — choramingo, gemendo em
sua boca, com meus peitos se soterrando em seu tórax,
enquanto ele me fode aos poucos, com seus dedos, ao
mesmo tempo que leva o anelar para meu clitóris e o
massageia em movimentos circulares. — OHHH...
Arqueio meu tórax e mordo meus lábios com força, ao
passo que sinto meu clitóris ficar rígido a cada pressão que
seu dedo faz em cima dele, tendo os outros dois dedos
fodendo minha boceta. Jon abaixa seu rosto e captura meu
seio, o sugando com mais fome e escorregando sua língua
por meu bico, antes de raspar seus dentes em cima dele.
Explodo, gozando em sua mão, que circula mais rápido meu
clitóris, me fazendo tremer abaixo dele, sem soltar meu seio
dos seus lábios.
Minhas coxas se erguem e abraço seu quadril quando
o circulo mais forte, comigo gemendo alto a plenos
pulmões. Seus dedos se retiram da minha boceta, e afasta
sua mão dos meus pulsos, os soltando, apenas para abaixar
o zíper da sua calça e libertar seu pau. E meu corpo inteiro
treme quando a cabeça do seu pênis raspa entre os lábios
da minha boceta inchada. Ele me alavanca para cima
quando passa seu braço por baixo das minhas costas, me
deixando colada a ele ao ficar de joelhos, com sua face a
centímetros da minha. Meus braços envolvem seu pescoço
e inspiro fundo, tombando devagar minha cabeça para o
lado e fechando meus olhos quando a cabeça do seu pau se
encaixa na entrada da minha boceta.
— Olhe para mim, Linda! — ele rosna, segurando
minha nuca e me fazendo endireitar meu pescoço. — Não
feche os olhos, pois os quero presos aos meus, bebê...
Os grandes olhos azuis me queimam, brilhando com
tanta paixão e luxúria.
— Quero você olhando para mim quando meu pau se
enterrar em seu corpo — ele murmura e esfrega seu nariz
no meu, raspando seus lábios por minha pele. — Quero seus
olhos nos meus quando eu lhe pedir para ser sempre
minha...
Ele me abraça mais forte e arfa seu peito a cada
respiração de ar, achatando seu tórax em meus seios
inchados e doloridos.
— Casa comigo, Linda. — Seus dedos se comprimem
mais forte em minha nuca, o que me faz o olhar. — Quer
casar comigo, bebê?
Por um segundo, meu coração para de bater, e
minhas mãos se levantam, comigo tocando sua face com as
pontas dos meus dedos, escorregando o indicador por seus
lábios.
— Quero, eu quero... — sussurro, selando para sempre
minha vida e meu destino ao seu no segundo que me inclino
para frente e tomo seus lábios, me entregando com puro
amor ao meu mestre.
Seu pau pulsa no meio das minhas pernas e é
engolido por minha boceta quando empurro meu quadril
para baixo. Sinto-me completamente sua, a cada centímetro
do seu pau que meu corpo vai tomando dentro da minha
boceta. Movo-me devagar e me ergo apenas um pouco,
para me empurrar para baixo novamente com mais luxúria,
o beijando com paixão. Seu corpo já está esmagando o meu
na grama quando ele se empurra para frente e suas mãos
agarram o meu rabo, com ele o segurando firmemente e
estourando seu pau com selvageria.
— SIMMM... — O agarro, com minhas unhas em seus
ombros esmagando sua pele, enquanto gemo entre os
lábios.
Ele solta meu rabo e leva sua mão para frente do meu
corpo, segurando o tecido do vestido e o puxando com fúria,
me fazendo sentir a costura ceder. Rio entre as respirações
aceleradas, lambendo seu queixo igual ele fez comigo. Jon
se empurra para trás e mantém seu pau fundo dentro da
minha boceta, e grito quando ele rasga de vez o vestido,
passando seus dedos por meus peitos e os esmagando em
suas mãos. Ele segura meu rosto e se abaixa sobre mim,
movendo seu quadril, entrando e saindo da minha boceta e
colando sua testa à minha.
— Minha casa! — esbraveja entre seus lábios, me
fodendo mais duro, estourando seu pau dentro do meu
corpo a cada impulsionada do seu quadril.
Entrego-me a ele e o beijo com mais perdição,
apertando minhas coxas mais forte em sua cintura, com
meus calcanhares se prendendo em seu traseiro e o usando
para alavancar e bater meu corpo contra o seu a cada
encontro dos nossos quadris. Temos um único ritmo, o da
entrega, com a posse e a ruína nos engolindo dentro desse
labirinto.
Jon me fode mais firme, e gemo em seus lábios a cada
estouro do seu pau. Ele comprime mais nossos corpos e
aperta meus seios em seu tórax, com minhas costas
colando-se à grama por completo. Solto seus lábios e
empurro minha cabeça para trás quando ele achata suas
mãos com mais densidade em meu rabo. Seu pau me come
com fúria, e a cada entra e sai fico mais contraída, o
sugando.
— Linda... — Jon rosna, colando sua testa em meu
peito e mordendo o vale dos meus seios.
Meu corpo quente e completamente febril treme
abaixo do seu quando eu gozo forte, lavando-o com meus
jatos.
— Mestre...
Meu peito se inflama e toda a urgência do calor do
momento nos consome, com cada célula do meu corpo
sendo possuída. Ele entra e sai mais cinco vezes de dentro
de mim, com pura fúria, antes de eu sentir os jatos da sua
porra sendo despejados em mim, com sua mão se
agarrando à minha coxa e com seu corpo rígido tremendo,
com ele jogando a cabeça para trás. Um gemido rouco sai
da sua boca e ele respira forte, fora de controle, antes de
cair sobre mim.
Seu rosto se enterra em meu pescoço, e Jon esfrega a
ponta do seu nariz em minha garganta. Meus olhos se
perdem nas estrelas acima de nós, e aqui, largados nesse
labirinto, não me sinto perdida e nem sozinha, mas
completamente em casa, entregue ao meu mestre, ao meu
monstro, ao meu pecado...
EPÍLOGO

O PRÍNCIPE CRUEL
DAVE WODEN

Passo os olhos pela prateleira dentro do armário, com


os crânios dos desgraçados que matei, e olho sério para
eles, antes de parar minha atenção ao centro, onde a
pequena boneca está sentada, guardando o lugar para o
crânio que ainda falta. Estico meus braços e fecho as portas
do armário, o chaveando, antes de me virar devagar, com
meus olhos percorrendo o imenso escritório que me
pertence agora e que fica dentro do palacete da Torre de
Babel.
Levo minhas mãos aos bolsos da calça e fisgo o canto
da boca, indo na direção da porta. A fecho, saindo sem
pressa, com meus passos me conduzindo pelos corredores
de mármores, que têm uma fileira imensa de quadros de
cada nobre das famílias de Babilônia. Permaneço em
silêncio quando paro diante do quadro que foi colocado na
parede essa manhã, que contém meu retrato. Estou sentado
em minha cadeira, dentro do meu escritório, e o terno
vermelho em meu corpo destaca ainda mais minha pele
pálida, assim como os cabelos em tons loiros. Fisgo o canto
da boca ao olhar a placa presa na moldura em ouro, que
tem gravado os seguintes dizeres: Dave Woden, príncipe da
casa Woden.
Observo atento o quadro, o qual me faz encarar o
homem nele, a quem estranhamente me habituei tão rápido
à sua pele. Quando Owen jogou as cartas na mesa, eu
compreendi o que ele queria, o que pretendia comigo, mas
não pensei que seria tão ligeiro.
Fui pego de surpresa, junto com os outros nobres, na
noite passada, durante a festiva de Astério, com o anúncio
dele diante de todos, me apresentando como seu herdeiro
legítimo de Babilônia, sucessor da sua linhagem, o próximo
a ascender no trono de Babilônia quando o antigo monarca
partir.
Me mantive imóvel enquanto ele falava, encarando
cada homem e mulher que estava presente naquele
gramado, interpretando bem essa nova pele que eu habito,
de Dave Woden. A cada dia que se passa, Jon Roy vai
ficando ainda mais distante. O poder é algo realmente
viciante, pelo qual é rápido tomar gosto, e eu gostei da
pequena prévia de poder que eu experimentei. Gostei de
ver seus rostos se abaixando, com eles não falando uma
única palavra sequer contra o anúncio de Owen. Mas logo
minha mente descartou os inúteis nobres, no segundo que
vi minha torre andar devagar por aquele tapete, sendo
anunciada como princesa, a minha princesa Linda.
Retiro a pequena caixa de anel do meu bolso e a abro,
tendo meus olhos presos na aliança que comprei para Linda.
Eu queria ter feito o pedido hoje, iria a pedir em casamento
no carrossel, pois tinha pensado em levá-la lá. Porém,
quando lhe vi ontem, quando meus olhos se prenderam à
minha pequena torre em seu vestido vermelho,
atravessando aquele tapete, eu sabia que não esperaria.
— Olha só esse cabelinho loiro penteadinho do
príncipe Woden! — Meu rosto se ergue e fecho rapidamente
a caixa de joias, a levando para o bolso do terno assim que
a voz de Artur surge. — É uma aliança que está escondendo
aí?
— É — rosno para ele, sabendo que está me
provocando com essa porcaria de título. — Não deveria
estar na portaria hoje, guarda?
— Engraçadinho. — Ele bufa, negando com a cabeça,
enquanto estica sua mão e bate em meu ombro. — O
Comandante me liberou do meu turno, colocando outro em
meu lugar essa noite.
Olho sério para ele, ao passo que caminhamos pelo
pátio, comigo seguindo para o pronto-socorro.
— E presumo que você esteja caçando por uma sem
coleira? — Olho para frente, com ele ficando ao meu lado.
— Não. Na verdade, eu estava caçando você, Dave. —
Ele aponta para o edifício de armas. — O Comandante
mandou vir lhe buscar.
— Ryan? — Olho para o edifício, sem entender.
Ultimamente, ele anda em uma eterna lua de mel com a
Elsa.
— Sim, em carne e osso. — Artur me faz mudar meus
passos, sendo eu a segui-lo.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não. Bom, quer dizer, aconteceu... — Ele ri, jogando
a cabeça para trás e gargalhando. — Mas vai gostar.
Imagine isso como sua despedida de solteiro, Dave.
— Não preciso de uma despedida de solteiro — rujo, o
encarando e o vendo abrir a porta.
— Essa você vai precisar. — Artur ri, e caminho ao seu
lado, o seguindo e o vendo pegar a direção das escadas,
que leva para o porão.
Mas ele não para na sala de armas quando descemos
as escadas, pelo contrário, ele continua, seguindo reto até a
segunda escadaria em caracol de metal, que leva ao
subsolo do porão. Artur não diz mais nada, apenas desce as
escadas, e eu o sigo, já reconhecendo os sons que vêm lá
de baixo, que são abafados e agonizantes.
— Quem Ryan está torturando...
— A pergunta não é quem, mas sim quantos — Artur
comenta, rindo e olhando por cima do ombro. — Não achou
que não iríamos lhe dar seu presente de casamento, não é?
Ele para de andar quando chega à primeira porta do
corredor escuro, e arqueio minha sobrancelha, olhando
atento para ela quando é aberta. E é com interesse que me
vejo observando Hank pendurado de ponta-cabeça, despido
como um coelho, tendo seu peito esfolado, com o sangue
escorrendo por seus braços e pingando ao chão. Ao redor
tem pedaços de pele jogados, e vejo Killer parado ao seu
lado, com a faca em sua mão, escorregando sem pressa a
lâmina pela panturrilha de Hank ao esfolá-lo.
O chão lavado de sangue perde apenas para Killer,
que tem seu corpo inteiro coberto de sangue, e por mais
prazeroso que seja ver essa cena, ainda fico confuso, não
entendendo o que Hank poderia ter feito para Killer a ponto
de ganhar toda atenção dele nesse belo trabalho ao qual ele
está se dedicando totalmente.
— Sabe, Killer ouviu sua conversa com Ryan no
hospital, quando ele estava de babá do Comandante. —
Artur se escora na porta, e meus olhos ficam presos na face
de Hank, que reflete agonia pura, com ele balbuciando,
tendo um pedaço da sua língua caído no chão. — E assim
como você, Killer e eu também não conseguíamos entender
como Nanete era o rato... Não havia nenhum fio que ligava
ela às bonecas humanas, então Killer se lembrou de um
pequeno detalhe.
— A missão na casa do velho, onde encontramos a
Linda — Killer rosna, virando e me olhando diretamente nos
olhos, puxando o pedaço da pele que ele acabou de cortar
da panturrilha de Hank. — Recorda do que aconteceu
naquele quarto? O que Hank fez sem receber ordem?
Minha mente repassa rapidamente nossa missão, e
lembro da invasão, das garotas mortas dentro do banheiro,
do velho filho da puta que tentou se esconder debaixo da
cama.
— Sete... — sussurro, arqueando minha sobrancelha.
— Tem apenas sete.
— O quê? — Killer indaga, sem entender.
— Sete corpos — respondo, saindo do banheiro. —
Verme disse que tinham nove assinaturas de calor fora as
nossas, mas aqui só tem sete corpos...
— Está faltando dois... — Ryan olha para mim,
parando de chutar o velho e mantendo sua bota em cima da
cabeça dele, olhando em volta. — Ninguém passou pelo
corredor. Verme, onde estão? — Ryan leva a mão ao ouvido,
perguntando rápido ao se afastar do velho.
Hank dispara na cabeça do homem, ganhando um
olhar de ódio de Ryan.
— Que porra tu fez? — Ryan ruge com fúria.
— O quê? — Hank sibila, olhando do cadáver para
Ryan. — Achei que podia matá-lo...
— Hank matou o velho — murmuro, me atentando a
isso e dando um passo lento para dentro do cômodo, com
minhas pernas se flexionando e comigo ficando agachado,
com meus olhos prendendo-se à face de Hank.
— Sim, ele matou! — Killer estica sua mão e o agarra
pelos cabelos, enquanto brinca com a faca, a raspando na
bochecha dele. — Na hora, não me importei, afinal,
estávamos todos à flor da pele ao chegar na porra daquele
lugar e ver as mulheres mortas dentro do banheiro, as quais
iríamos resgatar...
— Mas, pelo visto, Hank não estava à flor da pele,
apenas queria garantir que o velho ficaria de boca fechada.
— Artur caminha para perto de Hank e retira a sua própria
faca de dentro do colete, usando a ponta para cutucar o
músculo que está em carne viva no abdômen de Hank. —
Filho da puta! Traidor de merda!
Hank se debate ao ser chacoalhado, tendo as
lágrimas escorrendo por seus olhos e balbuciando grunhidos
por sua boca ensanguentada.
— Tinha razão, o rato era um órfão. O maldito rato,
que sempre abria a boca, avisando sobre as missões e
dando tempo daqueles desgraçados fugirem ou matarem as
garotas, para a gente não as salvar, era Hank. — Ergo meu
rosto para Artur e o vejo com a boca semicerrada, enquanto
inala fundo. — Desde o dia que Killer ouviu sua conversa
com Ryan, ele e eu ficamos repassando as missões em
nossa cabeça, até Killer recordar do que Hank fez. Passamos
então a ficar de olho nele, e descobrimos coisas bem
interessantes sobre nosso querido irmão de fraternidade.
Artur apunhala a perna de Hank, não sendo tão
cuidadoso e meticuloso como Killer, que arrancou palmo a
palmo a pele; ele o corta, rasgando-o com fúria.
— Nanete andava trepando com esse merda! — Killer
diz baixo. — Ele se aproximou dela depois daquela noite no
refeitório, em que você quebrou o braço dele. Ela ficou com
dó e foi cuidar dele, e uma das sem coleiras contou para o
Dante sobre isso. Sabe como ele é bom em arrancar
qualquer informação delas quando está com o pau dentro
de suas bocetas.
— Hank estava comendo a Nanete? — rujo com raiva,
me levantando sem tirar os olhos do filho da puta.
— Sim, e bastante. — Artur tem a face fechada de
raiva. — O suficiente para fazê-la ficar ao lado dele, o
ajudando a manter o seu segredinho.
Meu pé se ergue com fúria e chuto a cara dele,
fazendo seu corpo balançar e ele gemer de dor.
— Esse filho da puta estava metido nisso! — esbravejo
com ódio, dando outro chute com ira nele, percebendo
agora que não foi por acaso que ele levou Linda para o
alojamento com ele. — SEU MERDA!
Agarro a faca que Artur deixou fincada em sua perna e
acerto-a diretamente em seu pau, tendo-o se debatendo e
grunhindo feito um animal.
— Hank era leal, mas não à Babilônia. — Killer agarra
sua cabeça e a levanta um pouco, o fazendo olhar para ele.
— Sua lealdade pertence ao seu mestre, traidor filho da
puta!
A facada que perfura suas costas o faz se chacoalhar
ainda mais, com o sangue lavando o chão, ao passo que ele
é rasgado por Killer.
— Hank estava protegendo o filho da puta de quem
ele fazia a segurança. Mas, pelo visto, não era só a
segurança que esse chupa pau fazia.
Eu me afasto, ficando confuso, e olho sério para Killer
e Artur. Artur se vira e move sua cabeça, me chamando
para o seguir, e vou atrás dele, ao passo que escuto outros
sons ecoarem pelo corredor do subsolo do porão. Na
segunda porta que paro, encontro um homem que não
reconheço, que está com o rosto machucado e os olhos
inchados, amarrado em cima de uma mesa, com a camisa
rasgada.
— Quem é esse? — Olho para Artur, que cruza seus
braços e tomba a cabeça para o lado.
— Aldri Salamon — Artur fala baixo.
— O duque da casa Salamon — digo rápido,
recordando do nome, pois tinha estudado todas as casas. A
dele é a segunda casa mais antiga após os Woden, e só não
consegui reconhecer o rosto dele por causa dos ferimentos.
— Ele não é promotor de justiça?
Olho para Artur, arqueando minha sobrancelha, antes
de retornar a fitar o filho da puta.
— É, mas o chefe deu carta branca. Infelizmente,
nosso promotor de justiça morreu em um fatídico acidente,
quando seu carro perdeu a direção e caiu em um precipício,
explodindo. — Artur sorri. — Esse é o filho da puta que Hank
andava chupando o pau e servindo. Fiz uma limpa no
computador dele e descobri as fotos que ele andou tirando
da esposa do chefe e mandando por aí. Esse merda estava
metido no lance das bonecas, ele que era o contato grande
aqui de dentro, a quem Hank avisava sobre as missões. E,
automaticamente, Aldri avisava aos seus amiguinhos...
— Você sabia que os animais mais rápidos para
encontrar saídas são os ratos, Dave? — A voz de Dante, que
vem de dentro do cômodo, me faz dar um passo à frente,
entrando e olhando para o canto.
Vejo Dante segurar uma gaiola, onde uma ratazana
está presa, e ele ri, colocando-a dentro de uma caixa de
metal quadrada pequena, antes de se virar e olhar para
mim.
— Você ficará impressionado em saber como esses
carinhas fazem qualquer coisa para escapar. — Ele para
perto da mesa onde o nobre está amarrado, com sua boca
amordaçada. — Eles são espertos, e quando estão em
encrenca, começam a cavar sem parar, até achar uma
saída.
Dante deixa a caixa em cima da barriga de Aldri, rindo
enquanto pega um cinto preso na lateral da mesa e passa
sobre a caixa, de uma ponta à outra, garantindo que ela não
caia. Aldri se mexe, ao passo que murmura, e sua cabeça se
ergue, com ele olhando para a caixa.
— Quando encurralados, seu instinto é de
sobrevivência. — Dante fica sério e se vira, voltando para
perto da bancada, onde tem uma gaiola vazia.
Ele volta-se para mim de novo, e agora tem um
maçarico em sua mão, o qual aperta, fazendo um jato azul
de fogo brilhar em sua ponta.
— Ratos sempre cavam buracos! — Ele leva a mão
para a caixa, me deixando o ver puxar a parte de baixo da
caixa.
Aldri se debate ainda mais ao ouvir o som do animal
lá dentro, que grunhe baixinho. E logo o grunhido do rato se
torna em berros de desespero, quando o fogo do maçarico é
posicionado sobre a parte superior da caixa. O som que o
animal faz, gritando dentro da caixa de metal, por lá estar
quente, é tão desesperador quanto o corpo de Aldri se
debatendo sobre a mesa.
Ele chega a erguer seu tronco, mas o solta novamente
com força. Os olhos de Aldri se arregalam e sua boca
espuma, ao passo que se treme, convulsionando. Pela
lateral do seu corpo, onde está a caixa, bem em cima da
barriga, o sangue escorre, me deixando saber que a
ratazana está abrindo um buraco na barriga dele, para fugir
do calor da caixa.
— Ratos sempre encontram uma saída.
Dante desliga o maçarico, o abaixando e ficando com
o olhar na face pálida de Aldri, que encontra-se imóvel, com
os olhos arregalados vidrados no teto e seu peito parando
de se mexer.
— O nobre rato está morto! — Artur sorri, girando o
rosto para mim. — Vem, deixamos o melhor da despedida
para o final. Esse, Ryan fez questão de preparar para você!
Viro, com Artur caminhando à minha frente, ao passo
que o sigo. Ele vai até o fim do corredor e gira para a
esquerda, seguindo mais dois metros antes de parar na
frente de uma porta e a abrir. O cenário brutal, como uma
tela de arte, surge à minha frente, com a sala vermelha,
tendo o sangue como tinta vibrando pelas paredes, com
suas gotas escorrendo. Ryan é o pintor da tela, e me deixa
ver no lugar do pincel um facão, o qual ele prende em sua
mão com força, enquanto seu peito sobe e desce
tranquilamente. Em sua outra mão tem um braço mutilado,
que ele balança. Ryan se vira aos poucos para mim.
— Entre, garoto! — Ele sorri. — Quero te apresentar
alguém.
Dou um passo à frente, com meus olhos ficando
presos na maca cirúrgica, onde um tronco está
completamente ensanguentado, sem braços ou pernas,
tendo apenas o peito subindo e descendo ligeiro.
— Espero que não se importe, mas tomei a liberdade
de brincar um pouco com meu amigo. — Levo as mãos aos
bolsos e me aproximo da maca, com meus olhos presos na
face angulosa e ossuda.
— Hugo? — Ranjo meus dentes, com minhas mãos
saindo dos bolsos no segundo que reconheço o homem da
fotografia que estava na minha casa, perto do globo de
neve quebrado.
— Não. — Ryan joga a cabeça para trás e seus olhos
se fecham, com ele inspirando profundamente. — Esse não
é Hugo, é Lian, o cunhado de Elsa e o irmão mais novo de
Hugo.
Viro para Ryan, que abre seus olhos e joga o braço ao
canto, enquanto balança a cabeça.
— Por um segundo, eu também achei que fosse Hugo,
quando o vi na margem daquele lago na montanha. Porém,
quando percebi que era Lian, era tarde demais, e o filho da
puta me pegou de surpresa. — Ryan se abaixa perto dele,
com seus olhos arregalados ficando presos aos do homem.
— Mas não esperava que eu fosse ficar vivo, não é, seu
merda?! Nem que eu iria até o inferno atrás de você!
Minha mão se estica e agarro o pescoço do homem, o
fazendo olhar bem fundo dentro dos meus olhos, ao passo
que rosno e minha cabeça se inclina. Quero que ele me
veja, que veja bem minha face, porque será a última coisa
que ele vai olhar.
— Não tem ideia do quanto eu o queria conhecer —
sibilo para ele, puxando com minha outra mão o lenço do
bolso do meu paletó e o passando em meu rosto, para
retirar a maquiagem, pois desejo que ele olhe para minha
verdadeira face. — Não tem noção de como desejei colocar
minhas mãos em você...
Empurro seu queixo de um lado ao outro, vendo sua
pele cortada, com o peito dele subindo e descendo veloz,
enquanto sorrio e abaixo seus lábios, vendo sua boca
machucada, assim como sua língua nojenta arrancada. O
solto e me afasto, retirando sem pressa a parte de cima do
meu blazer, o jogando sobre uma cadeira.
— Eu devia ficar bravo com Ryan — murmuro,
inalando forte. — Realmente tinha muitos planos para poder
passar meu tempo com você.
Puxo o ar e solto os botões dos pulsos, dobrando as
mangas para cima.
— Mas, acredite, não estou. — Giro e tombo meu
rosto, o vendo com seus olhos presos em mim. — Lhe ver
assim me fez perceber algo, e creio que lhe dar a morte não
seria uma penitência, e sim uma absolvição.
Viro e vou para perto do braço mutilado que Ryan
jogou. Suspiro e nego com a cabeça, o pegando e o olhando
em minhas mãos.
— Morrer é uma absolvição muito boa para alguém
como você. — Volto-me sorrindo para ele.
Ryan olha para mim com confusão, e arqueia sua
sobrancelha. Aproximo-me aos poucos da maca, balançando
devagar o braço decepado e assoviando.
— Vou lhe deixar vivo, Lian. — Me abaixo perto dele e
uso sua própria mão decepada para alisar sua cabeça. —
Porque, a partir de hoje, será o meu Lixo.
Desvio meus olhos dele para seu braço que eu seguro,
e sorrio, antes de ver seus olhos se arregalarem ainda mais,
com seu tronco subindo e descendo.
— Aqui, dentro dessa sala, será seu novo lar —
sussurro para ele. — Esse ser insignificante que se tornou,
em cima dessa maca, me pertence, e eu serei seu mais
atencioso mestre. E cada vez que me ver passar por aquela
porta, o único sentimento que terá é o mais puro e glorioso
terror.
Meu corpo se levanta e agarro seu pescoço, deixando
minha face diante da sua, com minha boca salivando de
ódio e meu corpo inteiro sendo consumido pela fúria.
— E cada dor que sentir, a cada dor que eu lhe causar
aqui dentro, vai se arrepender amargamente do dia que
colocou os olhos na minha garota. Minha garota que você
torturou, machucou por três anos, enquanto se divertia com
o transtorno dela. Porém, agora, você será o Lixo. — Solto
seu corpo, antes de dar um passo para trás. — Vire-o —
peço a Ryan, sem desviar meus olhos de Lian, apertando
mais forte a porra do seu braço em minha mão.
Ryan não faz perguntas, apenas me obedece, girando
o tronco mutilado sobre a maca. Seguro os dedos de sua
mão e os fecho com raiva, ao passo que os levo entre o seu
rabo, com minha outra mão se esticando e ficando presa em
seus cabelos, comigo puxando sua cabeça para trás.
Não tenho clemência nem piedade enquanto afundo a
porra do seu próprio punho dentro do seu rabo, o que o faz
se urinar inteiro enquanto balbucia. Empurro sua cabeça
com raiva para baixo, a estourando no ferro da maca,
mantendo a porra do seu braço dentro dele, tendo o fedor
de merda e urina misturando-se ao sangue que se espalha
pela sala.
Meu tronco se curva e minha face fica de lado quando
ergo sua cabeça e olho diretamente para seus olhos. Ele
treme e lacrimeja, ao passo que sangue escorre da sua boca
podre.
— Teremos um longo e agonizante tempo juntos, Lixo
— falo tranquilo, passando meu olhar por seu rosto. — E,
acredite, quando eu terminar de lhe quebrar, será a porra
de um boneco humano. MEU boneco humano!
Não lhe darei a morte, não lhe darei nada que o faça
escapar do sofrimento que ele deu à minha Linda, o que lhe
darei será uma vida condenado a sentir cada maldita dor
que ele causou a ela, só que em uma dimensão muito pior.

Fim!
AVISO DA AUTORA

Caro leitor,
Ao longo deste livro, explorei temas complexos e
sombrios, incluindo o transtorno dissociativo de identidade
(TDI) e psicopatia. É crucial lembrar que a ficção é apenas
isso: uma criação. Os personagens e eventos aqui descritos
não refletem a realidade, são apenas parte de uma
narrativa construída para o entretenimento.
O TDI, também conhecido como transtorno de
múltiplas personalidades, é uma condição rara e complexa,
e caso você conheça alguém com sintomas semelhantes
aos da protagonista, recomendo buscar ajuda médica.
Profissionais de saúde mental podem oferecer orientação e
apoio adequados.
Os personagens com traços psicopáticos ou
sociopáticos são criações fictícias. Na vida real, esses
transtornos são muito mais complexos e variados. Se você
se deparar com alguém que apresente comportamentos
preocupantes, como falta de empatia ou impulsividade
excessiva, considere consultar um profissional de saúde
mental.
Este livro não tem a intenção de romantizar ou
minimizar a gravidade desses transtornos. Agradeço por
embarcar nesta jornada literária e espero que você tenha
apreciado a história, lembrando sempre de separar a ficção
da realidade.
Com gratidão,
Caroline Andrade
AGRADECIMENTOS

Gente, eu não sei o que dizer. Para ser franca, acho


que ainda estou em transe e em abandono, apaixonada
ainda mais por meu magrelo. Em 2 de maio de 2021,
quando lancei Sodoma: Um jogo perigoso, jamais imaginei
que dele viriam tantos mundos, onde cada um foi único e
especial. E, de surpresa, me pegando completamente em
cheio, Jon estava entre eles.
Quero agradecer a todos que fizeram parte desses
mundos comigo, que embarcaram em cada surto, plot e
paixão desses personagens. Obrigada às minhas
colaboradoras, que ajudaram a enriquecer ainda mais essas
obras.
Obrigada à minha doce Val, a qual, acreditem, mesmo
em Sodoma já passava pano para nosso magrelo.
E um obrigada mais que especial a você, meu rebelde
e amado leitor.
Beijos, Caroline Andrade!
OUTRAS OBRAS:
SÉRIES:
KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3
SPIN-OFF: HELL
SPIN-OFF - JESSE

ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que


podem gerar desconforto. não indicado para menores
de 18 anos.

•••

Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos,


nasce uma luz para guia-la. Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente
tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo deseja-lo. Conheçam Daario Ávila e
embarquem em uma aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas
de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado, pode se tornar um pesadelo?
•••

Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os


abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.

•••

Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?

•••
Um inimigo antigo uniu os irmãos Ávilas em uma derradeira vingança. Daario e
Paolo juntos, lado a lado, abriram as comportas do inferno, trazendo carnificina
e sangue para aqueles que machucaram suas famílias.
A cada percurso da caçada, em uma busca cruel e implacável pelas suas
mulheres, os monstros estavam famintos por morte e justiça, fazendo aliados
poderosos e alianças inquebráveis, deixando um rastro de corpos por onde
passavam.
A pequena bruxa Yara encontrou forças para lutar pela sua sobrevivência e do
seu filho quando a destemida pantera Katorze cruzou seu caminho de uma
forma inesperada. As duas mulheres traziam fé em seus corações de que seus
monstros iriam libertá-las, afinal nem todo predador é fatal, mas todos os
monstros Ávilas criados pelo cruel Joaquim são assassinos.

•••

Um amor além do tempo, do universo, do grande desconhecido. E se nada fosse


o que realmente é? E se entre seu mundo tivesse outro, onde magia e realidade
se chocassem? Onde uma maldição foi imposta, obrigando um príncipe do
submundo a enxergar com outros olhos a raça que ele julgava a mais inferior de
todas. Onde fosse condenado a vagar por eras e eras em busca de uma estrela
solitária.
E se nada fosse o que é?

•••
Uma maldição rogada por um erro cometido no passado faz Jesse correr contra o
tempo, para conseguir se libertar antes que a Lua de sangue se erga. Porém, o
que para ele é maldição, para Constância significa liberdade. Um segredo do
passado entrelaça o futuro dos dois, mas Jesse não imagina que a única pessoa
que poderá libertá-lo é a mesma que poderá odiá-lo pelo erro que cometeu.
•••
AMORES DO CAMPO:

Ele é o homem mais poderoso da cidade, dono de um império na


industrial canavieira.
Ela uma jovem batalhadora e sonhadora, que deseja apenas um
trabalho para ajudar a família.
Uma troca de olhar já bastou para desencadear um grande amor à
primeira vista entre eles.

Nos vastos campos de uma usina canavieira, um encontro improvável promete


transformar vidas e desafiar destinos predestinados. Maria Eloiza, uma
incansável boia-fria, estava acostumada à batalha diária da lavoura, ao esforço
sobre-humano que seu trabalho exigia. Atrás de mais uma oportunidade, ela se
depara com uma usina que parecia abençoada, mas jamais poderia imaginar
que aquele canavial lhe traria muito mais do que esperava. Perdida nos olhos
verdes como esmeraldas de Pedro Raia, dono da usina e herdeiro de um legado
familiar, ela descobre que o amor pode florescer onde menos se espera.

Pedro, um homem comprometido com as tradições de sua família, abdicou de


seus próprios sonhos para voltar ao lar convocado pelo destino. Determinado e
apaixonado pela terra, desde menino trabalhava nas lavouras, sentindo a
essência da vida pulsar em suas mãos. Porém, tudo muda quando, em meio a
mais uma remessa de trabalhadores temporários, ele se depara com a presença
marcante de uma cabocla de olhos assustados. Naquele momento, Maria Eloiza
lhe mostra o brilho puro de sua alma e desencadeia uma revolução em seus
sentimentos.

Dois mundos distintos colidem, desafiando a realidade de um e a vida do outro.


Enquanto Maria Eloiza luta para sobreviver nas árduas jornadas da colheita,
Pedro enfrenta dilemas internos, tentando conciliar suas responsabilidades com
a descoberta de um amor inesperado. Entre linhas finas, eles se encontram e
desafiam as barreiras que os separam, revelando a força transformadora de um
amor verdadeiro.

Nesta envolvente história de amor e superação, mergulhe na realidade


implacável das plantações e descubra como dois corações corajosos desafiam o
destino e encontram a felicidade em meio às adversidades. Prepare-se para se
emocionar, se encantar e se apaixonar por "Entre Canaviais e Destinos", um
romance que transcende barreiras sociais e mostra que o amor é capaz de
romper todas as fronteiras.

•••
Ele é um Agro-boy bronco e teimoso.
Ela é uma jovem decidida e responsável por cuidar das irmãs delas.
As irmãs roubaram a imagem de Santo Antônio da paroquia para
desencalhar a irmã mais velha rabugenta.

A última Lavoura é uma envolvente história que nos transporta para a vida de
Maria Rita, uma jovem forte e determinada que sempre carregou o peso do
mundo em seus ombros. Ela se tornou o pilar de sua família, assumindo o papel
de mãe e pai para suas irmãs. Com um sorriso raro e uma determinação
inquebrável, Maria Rita nunca se deixou dominar por homens.

No entanto, tudo muda quando seus olhos se encontram com os do peão rústico
e cativante, Zeca Morais. Em meio aos imensos cafezais, uma conexão intensa
nasce entre eles, desafiando todas as suas expectativas. Zeca está determinado
a conquistar o coração dessa mulher endiabrada, que faz seu próprio coração
disparar como nunca antes.

Enquanto o amor floresce sem limites entre Maria Rita e Zeca, eles terão que
enfrentar um grande inimigo, disposto a tudo para destruir a vida de Zeca
Morais. Os obstáculos que surgem em seu caminho testarão os limites de seu
amor e sua força interior.

Em uma narrativa arrebatadora, repleta de paixão, perigo e reviravoltas


emocionantes, os leitores serão levados a um mundo vibrante, imersos em uma
história de amor feroz e destino inexorável. Prepare-se para embarcar em uma
jornada intensa, onde os laços do amor se entrelaçam com a força do destino,
desafiando todas as adversidades e mostrando que, juntos, Maria Rita e Zeca
são invencíveis.

Descubra se o amor e a coragem serão suficientes para vencer as provações


que os aguardam. Uma leitura irresistível que conquistará seu coração e te
deixará ansiando por mais.
•••
Um AgroBoy cretino irresistível.
Uma jovem sonhadora e curiosa.
Uma proposta indecente.
Uma atração tão forte que eles não conseguirão mais ficar longe um do
outro.
No coração de João Paulo Guerra, a liberdade sempre foi sua maior aliada, sem
precisar dar satisfações a ninguém sobre seus caminhos. Mas, escondido por
trás dessa fachada de desapego, existe uma fraqueza que o consome. Uma
criatura pequena, de boca atrevida, que o provoca sem piedade. Maria de
Lurdes é sua perdição, o despertar de um sentimento que ele nunca imaginou
vivenciar.
A cada dia que passa, fica mais difícil para João esconder a paixão que cresce
em seu peito. No entanto, o destino parece conspirar contra eles. Intrigas,
mentiras e maldades rondam Maria de Lurdes, colocando-a sob o julgamento
cruel da cidade. Injúrias e calúnias são desferidas contra ela, condenando-a
injustamente.
Em meio a toda essa tempestade, João Paulo e Maria de Lurdes encontram
refúgio um no outro. A proximidade que surge entre eles transcende as
adversidades, e João está disposto a enfrentar tudo e todos para proteger a
mulher que ama. Ele decide revelar o lado obscuro e implacável da família
Guerra, colocando as cartas na mesa em defesa de seu verdadeiro amor.
Nesse poderoso e emocionante romance, segredos serão revelados, lealdades
serão testadas e o amor lutará contra as forças do mal que os cercam. João
Paulo e Maria de Lurdes descobrirão que, juntos, são capazes de enfrentar
qualquer obstáculo e desafiar a crueldade do destino.
Prepare-se para se envolver em uma história arrebatadora, repleta de paixão,
redenção e coragem. Será uma jornada que irá mexer com suas emoções mais
profundas e deixá-la ansiando por mais.
"A CASA GRANDE " é um romance que promete cativar seu coração e mergulhar
você em um mundo de emoções intensas.

•••
Ele foi obrigado a se tornar o tutor de uma herdeira órfã e inocente.
Ela foi obrigada a obedecer ao arrogante Prefeito.
Ele a deseja desde a primeira vez em que a vê, mas sabe que deve
manter distância.
Ela fica fascinada pelo tutor, mas acha que ele está fora do seu alcance.
Em um enredo repleto de comedia, superação e paixão avassaladora, "A
primeira-dama" narra a história de Madalena, uma jovem determinada a
escapar do domínio cruel de seu pai, Manoel Arena. Para proteger a fortuna
deixada por sua falecida mãe e se libertar do sofrimento imposto por Arena,
Madalena aceita um casamento de conveniência com o enigmático e sombrio
Tião Raia.

Este acordo prometia a Madalena a oportunidade de partir para longe da cidade,


enquanto permitia que Tião desfrutasse de todo o poder associado à fortuna de
sua esposa. Caminhos separados os levaram a seguir suas vidas
separadamente, mas cinco anos depois, Madalena retorna à cidade,
transformada e resplandecente. Ela não é mais a menina sofrida que partiu,
levando consigo apenas um beijo de despedida de seu enigmático marido.

Para a surpresa de Tião Raia, que agora se tornou o respeitado prefeito da


cidade, a mulher que bate à sua porta é deslumbrante, exalando vitalidade e
possuindo uma beleza encantadora, com olhos felinos que parecem ler sua
alma. Ela busca o divórcio, mas em nada se assemelha à desnutrida e
maltratada jovem com quem seu irmão o obrigou a casar.

A partir desse primeiro encontro explosivo, a guerra entre o prefeito e a


primeira-dama é declarada, lançando farpas e faíscas de uma atração fatal.
Amor e ódio se entrelaçam em proporções intensas, enquanto os segredos do
passado são revelados e as feridas do coração são expostas. Nessa narrativa
irresistível, os leitores serão conduzidos por um turbilhão de emoções,
envolvidos em uma história de amor e redenção que desafia as convenções e
desvenda os mistérios do destino. Prepare-se para se render a um romance
arrebatador, no qual o amor floresce em meio ao confronto de almas
apaixonadas.
•••
AVISO DE ROMANCE DARK
NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS.
CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA, SEXO, ESTUPRO DE VULNERÁVEL,
INCESTO, VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, RELACIONAMENTO PERVERSO E
NARCISISTA, TRANSTORNO MENTAL E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA
MENORES DE 18 ANOS.
PODE ACIONAR GATILHOS EMOCIONAIS.
Ginger Fox embarca para a Austrália, com destino a uma ilha remota, cheia de
mistérios e segredos escondidos entre as paredes da mansão Roy. O que
começou como uma aventura, se transforma em perigo quando recebe a
proposta de um jogo erótico e envolvente, tão pecaminoso quanto os
pensamentos devassos que ela nutre pelo seu anfitrião. O que Ginger não sabe,
é que seu oponente, Jonathan Roy, é um astuto tratante, que a prende cada vez
mais entre suas teias de sedução. E em meio à sua curiosidade descabida pelo
jogo, mais fundo ela se perde no mundo sadomasoquista, e a paixão
avassaladora por seu mestre a leva às últimas consequências. Ginger lutará
para conseguir sobreviver no mar de piche e mentiras que soterram a grande
mansão da família reclusa.

•••

Mabel embarca para Moscou atrás de esquecer o passado, mas os demônios


nunca deixam seus condenados por muito tempo. Mabel descobrirá muito mais
do que apenas prazer quando adentrar em Sodoma, sendo envolvida em um
jogo perigoso por um sedutor e charmoso russo. Czar Gregovivk despertará
Mabel da vida monótona que ela vive por tantos anos, reprimindo seus desejos.
Um enlace do destino a leva direto para o mais letal oponente que já cruzou sua
vida. De volta ao jogo em Sodoma, em uma trama repleta de sedução, luxúria,
perversidade e prazer. Com ameaça de novos e velhos inimigos que os espreita.
Até onde você aguentaria a submissão, antes de dizer GOMORRA?

•••

Spin-off de Sodoma e Gomorra:


A ORDEM DAS MESSALINAS

A busca de Sodoma pelas Messalinas se inicia, e a primeira delas é Salomé. Uma


tempestade em forma de mulher, que vai virar o mundo do controlador egípcio,
Ramsés, de ponta-cabeça, testando seus limites e seus desejos, ao se ver
enfeitiçado pela terrível criatura sexy que sempre o desafiava e que lhe cativou
com sua inocência. Uma história de amor completamente recheada de aventura,
romance e muita sedução, onde pela primeira vez em Sodoma, um mestre se
transformará no submisso de uma Messalina.

AVISO DE ROMANCE DARK. NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS.


CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA, SEXO, VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, TORTURA E
LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA MENORES DE 18 ANOS. PODE ACIONAR
GATILHOS EMOCIONAIS.

•••

A busca de Sodoma pelas Messalinas está mais acirrada, agora que descobriram
que os presentes de Elite são as filhas de Mina, a primeira submissa alfa, e que
entre o conselho de Sodoma existe um traidor. Eva foi deixada por Freire, sua
madrinha, em um colégio interno por grande parte da sua vida. Sempre
silenciosa, tímida e curiosa, não possui nenhum discernimento do real motivo
que levou Freire a deixá-la escondida por tantos anos, e qual seria o seu fim.
Mas o destino tem outros planos para a pequena Messalina, com o codinome de
Herodias. A descoberta da existência de Eva acarretará o despertar de demônios
há muito tempo escondidos na sombra, com sede de vingança, ansiando por
justiça. Hector Pellegrini retornará à Sodoma trazendo todo caos sobre seu
maior inimigo, Oliver Pellegrini, seu pai. Mas uma pequena faísca acenderá uma
paixão avassaladora no coração do amargo homem, que há muitos anos traz
apenas rancor e raiva em seu peito, quando a silenciosa Eva o cativar com sua
alma submissa.
AVISO DE ROMANCE DARK. NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS.
CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA, SEXO, VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, TORTURA,
AUTOFLAGELAÇÃO, TRICOTILOFAGIA E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA
MENORES DE 18 ANOS. PODE ACIONAR GATILHOS EMOCIONAIS.

•••

SESSÃO DA TARDE:

Rubi tira um fim de semana de folga, para visitar suas antigas amigas em
Dallas. Mas seu caminho cruza com seu irresistível e tentador paquera da época
do colégio. Crente que estaria apenas se envolvendo com ele por uma única
noite, somente para aplacar suas fantasias de adolescente, Rubi investe com
toda força no charmoso xerife de DeSeto, o provocando até fazê-lo perder por
completo seu controle. E o que era para ser diversão de uma única noite, acaba
despertando emoções antigas, há muito tempo adormecidas, e uma paixão
avassaladora vai renascer.

•••
Saila perdeu sua paz quando o novo acionista majoritário de onde trabalha
chegou para tomar posse do comando da empresa. O irresistível homem de
olhar sexy estava levando-a à loucura a cada sonho erótico que ela tinha, o
tendo como seu personagem principal, a seduzindo, acabando com sua lucidez
e encharcando suas calcinhas. E por um grande descuido de um celular com a
câmera ligada e uma ajudinha do destino, a vida de Saila vira de pernas para o
ar quando um vídeo dela desabafando seus desejos mais lascivos e
pecaminosos com seu charmoso chefe, viraliza nas redes sociais, explodindo na
internet.

•••

Um homem rude cheio de segredos.


Uma mulher inocente que busca um recomeço.
Bastou uma única noite e a paixão furiosa desabrochou entre eles,
despertando um amor irreprimível.

Tina encontra uma chance de conseguir recomeçar sua vida, zerando o placar e
esquecendo seu passado, quando uma proposta de trabalho, para ir cuidar de
quatro crianças na vinícola da família Sánchez, chega até ela. Mas o passado
nunca esteve tão presente em sua vida quanto agora, ao ter seu destino
cruzado com um espanhol mal-humorado e amargo, que também esconde
demônios que lhe assombram, os quais há muito tempo ele deseja esquecer,
mas que estarão mais vivos do que nunca quando monstros antigos vierem
atrás dele. Uma história de amor, recomeço, vingança e justiça, mas, acima de
tudo, de duas almas perdidas que buscam redenção.

Atenção: contém gatilhos para prostituição, drogas, violência contra mulher e


criança, morte, tortura física e psicológica, necrofilia e canibalismo.
Coisas leves, mais um dia normal no parquinho com a tia Carol.

•••
Bella, uma jovem e determinada secretária de vinte e cinco
anos, escapa de um casamento abusivo para recomeçar sua
vida em uma cidade distante. O medo de se envolver
novamente com alguém a atormenta, mas seu destino a
leva à Vinícola Sánchez, onde conhece Ralf, um sombrio e
enigmático homem, um dos donos da vinícola espanhola.
Entre as fileiras de videiras, em uma noite de estrelas e
segredos, uma paixão ardente surge. Bella, decidida a se
proteger do amor e com medo do passado, resiste a cada
avanço de Ralf.
No entanto, na noite de celebração de um aniversário,
regada a vinho e uma poção afrodisíaca feita pela mãe de
Ralf, uma paixão abrasadora os toma, mudando tudo. A
noite de amor que compartilham desencadeia um segredo
profundo e doce: uma gravidez inesperada.
Ao passo que Bella lida com seus sentimentos por Ralf, se
vê sendo caçada por seu ex-marido violento, seu demônio
cruel do passado, que descobre onde ela se escondeu após
fugir dele. Ralf se torna seu protetor, disposto a arriscar
tudo para manter Bella, a mulher por quem sempre foi
apaixonado, e o bebê que ela espera, fruto de uma noite de
amor, a salvos.

•••

Ela incita seu desejo.


Ele almeja tê-la em seus braços.
Uma atração explosiva desencadeará um amor ardente.
Alan Spencer é um homem sombrio e desconfiado, que carrega grandes
cicatrizes do passado em sua alma. Ele nunca acreditou na bondade das
pessoas, e muito menos dividiu sua cama com a mesma mulher por mais de
uma noite. Não se apegando a nada e nem a ninguém ao longo dos anos, seu
único objetivo de vida é punir seus oponentes.
Selina Lopez é uma jovem humilde e inocente, de coração ingênuo, que foi
criada em Havana. Desde criança ela aprendeu a ser independente, após perder
a visão em um acidente. Sorridente, gentil e alegre, foi levando sua vida, mas a
solidão sempre lhe acompanhava, tendo como único companheiro o gato laranja
e peludo, Abóbora.
Em uma noite, a vida dela muda, quando salva um homem sedutor e misterioso,
pensando que ele é apenas um marinheiro que entrou em uma briga de bar e
acabou sendo baleado, cuidando dele até o mesmo se recuperar. Só que o
homem que Selina salva não é um marinheiro, e sim um implacável mercenário
que atracou no porto de Havana em busca de vingança, que se sente em dívida
com a jovem garota inexperiente.
Alan deseja saber o preço de Selina, o valor da sua ajuda. Para ele, todos
sempre querem dinheiro em troca, nada é feito de graça, tudo tem um preço, e
basta descobrir o valor.
Só que Selina cobrará de uma forma inusitada o pagamento, o surpreendendo e
pedindo a única coisa que ela realmente deseja e nunca confidenciou a
ninguém: que ele a deixe saber como uma mulher se sente ao ser tocada por
um homem.
O que era para ser uma curiosidade saciada em uma noite, se transforma em
uma luxúria arrebatadora, a qual Alan pagará em várias parcelas
sedutoramente, não renunciando à pequena mulher que atiça seus desejos mais
primitivos. E isso o fará lutar mais ferozmente contra seus inimigos, para manter
sua pequena salvadora, que o enfeitiçou com seu olhar ingênuo, protegida e a
salva em seus braços.

AVISO: esse livro é indicado para maiores de 18 anos.


Contém gatilhos para: tortura, morte, palavrão, sexo explícito, agressão física
contra mulher, agressão física e psicológica.

•••
Um homem poderoso cheio de segredos e pecados.
Uma mulher inocente que busca um recomeço.
Bastou um único toque e a paixão furiosa desabrochou entre eles,
despertando um amor irreprimível.

Quando o convite de uma viagem para um cruzeiro de luxo surge, é impossível


de ser recusado. Tony Spencer, um respeitado e ardiloso empresário, se vê
obrigado a levar ao cruzeiro sua teimosa assistente pessoal, Donna Cortez. A
jovem mãe solo trabalha há seis anos ao lado de Tony e mora na casa dele com
Dorothy, a filha dela. Donna é a única mulher que despertou uma paixão
incontrolável no coração cafajeste e rendido de Tony. E, assim, os dois
embarcam em uma aventura inesquecível.
A sorte parece conspirar contra eles quando a rota do cruzeiro é desviada para
uma perigosa selva na Colômbia, os deixando presos em terra firme. Agora, eles
se encontram largados à própria sorte em um ambiente hostil, cercados por
perigos desconhecidos e inimigos poderosos. Enquanto lutam pela sobrevivência
contra mercenários impiedosos e inimigos sedentos por vingança, Donna e Tony
precisam confiar um no outro para saírem vivos dessa selva.
A cada desafio enfrentado, o amor entre eles fica impossível de ser escondido,
culminando em uma atração intensa, explosiva e apaixonante. Em meio a fugas
arriscadas, batalhas cheias de adrenalina e descobertas surpreendentes, Donna
e Tony sucumbem ao desejo carnal que nutriram nesses seis anos que
trabalham juntos, não conseguindo mais fugir da atração fatal que os liga.

Terra Firme é um romance cheio de ação e emoção, que cativa o leitor desde o
primeiro momento. Com um protagonista forte e determinado, capaz de tudo
para proteger a mulher que ama, além de uma paixão proibida e uma selva
cheia de perigos mortais, essa história levará os leitores a uma aventura
eletrizante, onde o amor e a coragem se entrelaçam em uma luta pela
sobrevivência.
Prepare-se para mergulhar em uma narrativa envolvente e cheia de reviravoltas,
onde o poder do amor pode superar até mesmo os obstáculos mais perigosos e
se vingar dos inimigos mais cruéis.

AVISO DE PARQUINHO PERIGOSO DA TIA CAROL.


NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS. CONTÉM CENAS DE
VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA, SEXO, TORTURA, MORTE.

•••
ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA
MENORES DE 18 ANOS Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma
híbrida latino Afro-Americana com sangue quente que desejava apenas ter uma
chance para mostrar que não veio ao mundo para brincar. Queria um lugar ao
sol entre as indústrias de construção civil. O que ela não imaginava, no entanto,
ao aceitar o estágio na Indústrias Ozbornes, era que, junto com a porta do seus
sonhos ao mundo do negócios, também se abriria a porta dos desejos e
fantasias quente como o inferno: seus dois chefões em ascensão.
•••

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS

Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não
acreditava que seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento
beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina
má justamente três dias antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito
menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar do tirano e por fim lhe dar uma
lição que nenhum deles jamais esqueceria.
•••

No Dia das Bruxas, em uma cidade onde o mágico e o


mundano se entrelaçam, Júpiter, uma jovem sensitiva, vê
seus encontros amorosos fracassarem, o que a deixa cada
vez mais desanimada.
Sozinha em seu apartamento, ela desabafa com seu fiel
companheiro, Café, um gato de pelos negros brilhantes. O
que Júpiter não sabe é que o encontro com o destino a
espera naquela noite.
Sentado nas sombras, Theron, um íncubo, a observa
silenciosamente. Ele é um ser sobrenatural, um demônio
que há anos se alimenta dos sonhos eróticos e sexuais da
pequena sensitiva. Theron tornou-se seu guardião, cuja
missão é manter a jovem a salvo de ameaças que ela nem
sequer imagina.
Porém, Theron também é assombrado por desejos
insaciáveis que Júpiter desperta nele. À medida que a magia
do Dia das Bruxas se intensifica, os caminhos de Júpiter e
Theron se cruzam de maneira irresistível.
Em um mundo onde a realidade e o sobrenatural colidem,
eles descobrirão que o desejo insaciável pode ser a mais
poderosa das magias.

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR


INAPROPRIADO PARA MENORES DE 18 ANOS, PSICOFOBIA,
MENÇÃO À VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA MULHER E MENÇÃO A
SUICÍDIO.

•••
Luna, uma jovem de beleza incomum e olhos negros
hipnotizantes, sempre acreditou ser apenas humana, até
que a morte repentina de sua mãe revela uma verdade
sombria e misteriosa sobre sua origem.
Ao ser confrontada por um demônio que se autodenomina o
General do exército de seu pai, o Rei do Inferno, Luna
descobre que uma antiga profecia a nomeia como a futura
Rainha do Submundo.
Arrastada para um mundo completamente novo e repleto de
perigos e seduções, Luna se vê envolvida em uma jornada
ao lado de Magnus, o poderoso e sedutor General demônio
que desperta nela um desejo sombrio implacável.
Em meio a um Submundo repleto de perigos sobrenaturais,
Luna e Magnus enfrentam a ameaça iminente de Lilith, a
Rainha usurpadora, que está determinada a destruir Luna e
reivindicar o trono para si.
Gatilhos: ofiofobia, zoofilia, canibalismo, palavrões, sexo
explícito, tortura e morte. Mais um dia normal no parquinho
da tia Carol!

•••
Em um mundo onde os limites entre a realidade e o Reino
dos Sonhos se desfazem, Theron, um demônio íncubo, é
arrastado para uma epopeia deslumbrante, em uma
tentativa desesperada de resgatar Júpiter, sua amada, das
garras impiedosas de seu irmão imortal, Desejo.
Júpiter é uma humana cuja alma foi roubada e escondida
nas dobras do passado, sendo a peça central de uma trama
sombria meticulosamente urdida por Desejo.
O amor inabalável e implacável de Theron por sua
companheira o impulsiona a embarcar em uma busca
temporal, determinado a convencer Júpiter de que seus
destinos estão inextricavelmente entrelaçados.
Ao conduzi-la para o Reino dos Sonhos, Theron desencadeia
uma dança sedutora entre magia e erotismo, envolvendo
Júpiter em uma teia feita de ilusões e desejos profundos.
Cada sonho se transforma em um campo de batalha, no
qual Theron luta não apenas para recuperar a alma roubada
de Júpiter, mas também para conquistar o coração relutante
da humana, utilizando-se de sedução e sonhos
pecaminosos.
Entretanto, à medida que os limites entre a realidade e os
sonhos se desvanecem, Theron se vê confrontado por suas
próprias sombras internas. Juntos, Theron e Júpiter
enfrentarão perigos inimagináveis, e o amor entre um
demônio e uma humana surge como a única esperança
contra as maquinações sinistras de Desejo.
Contém cenas de sexo, linguajar inapropriado para
menores de dezoito anos, tortura e morte.

•••
ÚNICOS

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS

Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às


promiscuidades de Chicago, como uma divindade do prazer, é proprietário do
clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e pecaminoso: a Odisseia,
onde proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para
aplacar seus prazeres mais obscuros. Mas, como todo semideus, Dom Lycaios
tem sua fraqueza, e é entre as paredes do seu templo da perdição que se vê
sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a dançarina exótica, tão silenciosa e
misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela. Uma perfeita sugar
baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz aprisionado no
canto mais obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das
manobras do implacável homem, que a envolve em suas teias de aranha. Afinal,
o prazer sempre fora o maior império de Sedrico.

•••

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS

Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um


segundo de descanso ganham, misteriosamente, um sorteio relâmpago de
rádio, que tem como prêmio uma estadia nas suítes luxuosas do novo hotel da
pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma
coisa em comum: desejos reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente
se for uma menina malvada.

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Um Juiz viúvo linha dura charmoso e sexy.


Uma falsa freira desastrada e azarada que se esconde em um
convento.
Ela vai lutar para resistir atração que sente pelo Juiz arrogante, ele vai
fazer de tudo para tê-la na sua cama.

Yane Rinna tem sua vida mudada da água para o vinho quando se torna
testemunha principal de um assassinato. Ela se vê obrigada a entrar em um
disfarce para garantir sua segurança até o dia do julgamento. E de
uma stripper desastrada, inteiramente azarada, se torna uma freira monitora de
quatro adolescentes rebeldes. O que ela não imagina é que no último lugar que
poderia sonhar, o amor e o desejo puro estarão no ar. Dener Murati, o vizinho
aristocrata do convento, tem seu autocontrole testado por uma fajuta freira
sexy, nada santa, que invade sua residência para se refrescar na calada da
noite, pelada, em sua piscina. A pequena feiticeira que o encanta vai virar sua
vida meticulosamente organizada de cabeça para baixo.

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS

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ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA
MENORES DE 18 ANOS

Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar o
rabo dele até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou
do sério e fazê-la pagar por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!
Sete dias!
E tudo foi para os ares!
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Um magnata impiedoso de coração frio 22 anos mais velho.


Uma jovem sonhadora.
O desejo avassalador entre eles irrompe em uma trama cheia de
segredos e sedução.

Um pacto incomum entre duas amigas, na adolescência, as precede na vida


adulta. Miranda Lester, uma jovem universitária gananciosa e cínica, prestes a
ter seu sonhado diploma, não vê impedimento algum em tirar da profissão nada
convencional o dinheiro que paga por seus estudos, pelo conforto da sua família
e pela vida de luxo que ela aprecia. Focada em uma meta que deseja bater
antes de largar de vez seu trabalho, cria um esquema de diferente usando sua
loja, a BDL, como fachada, entregando aos seus clientes as melhores
companhias que eles possam desejar. O caminho de Miranda se cruza com um
intenso e poderoso admirador, o qual despertará emoções e desejos antigos
nela, silenciados por sua vida adulta precoce, que a fez amadurecer
rapidamente. A chegada de Mr. Red em seu caminho a faz questionar até onde
realmente ela será capaz de ir para manter sua lealdade, sua ambição por
dinheiro e, principalmente, até qual ponto o amor pode levá-la. Um romance
intenso, envolvente, sórdido, soberbo e pecaminoso, com duas almas nefastas
marcadas por seus passados corrompidos, que acarreta em um enlace que os
liga além da moralidade da sociedade.

Aviso: Nessa história você encontrará abuso, violência, sexo explícito,


prostituição, droga ilícita, palavrões, morte, obscenidades, relação tóxica,
incesto e traição. Se você não se sente bem com a possibilidade de ser
arrastado para fora da sua zona de conforto, não lhe aconselho a ler este livro.

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Ela é uma boa menina, que cresceu dentro da glamorosa mansão da


família O’Connor, onde sua mãe trabalhava.
Ele é o herdeiro rebelde e problemático de quem ela deveria se manter
afastada.
Ela acreditou nele quando ninguém mais o apoiou, escondendo o amor
juvenil e inocente que crescia em seu coração pelo rapaz
incompreendido.

Benjamin sempre manteve Liz, a jovem sorridente e inocente que morava em


sua casa, por perto. Ela despertava seu instinto protetor, e ele nutria uma
paixão incontrolável a cada dia que ficava ao seu lado. Só que Benjamin foi
obrigado a partir, se alistando ao exército quando uma tragédia ocorreu dentro
da mansão e a culpa recaiu sobre ele, o que o fez se afastar da única pessoa de
quem desejava ficar perto.
Quando Liz reencontra o homem implacável e sombrio, que foi o grande amor
da sua juventude, o mesmo homem que ela julgava que lhe abandonou no pior
momento da sua vida, fica claro que Ben não é mais o garoto revoltado que foi
expulso de casa e foi servir ao exército, mas sim Benjamin O’Connor, o major do
Segundo Batalhão das Forças Especiais dos Estados Unidos, e, principalmente,
seu marido.
Liz descobriu, alguns anos atrás, que estava ligada a Benjamin por um contrato
que assinou às pressas, pensando ser um documento de confidencialidade,
quando a vida dos dois foi marcada para sempre por uma fatalidade. Na época,
Liz apenas desejava partir da mansão O’Connor e se afastar de todos que
viviam lá.
Mas o major que retornou para casa não está disposto a renunciar à única
mulher que jamais saiu dos seus pensamentos, nem abdicar de seu instinto de
protegê-la, e muito menos a deixar longe dos seus braços e da sua cama,
mesmo com todos os fantasmas que ele carrega dentro de si.

Um militar cheio de pecados e segredos.


Uma mulher arrebatada por um labirinto de paixão.
Ambos estão envolvidos em uma trama cheia de mistério, erotismo e
pura sedução.

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Adele Morder estava na véspera do seu casamento, quando descobriu, da pior


maneira, a traição do seu futuro marido. Em meio à descoberta da traição, uma
ligação a faz retornar para sua cidade natal, onde nasceu e viveu sua infância.
Nelly, a meia-irmã dela, faleceu ao dar à luz, e a guarda do bebê foi deixada
para Adele. Agora, ela precisa reconstruir sua vida junto com seu sobrinho na
pequena cidade, tentando esquecer as dores do passado. Mas não é apenas
Adele que busca reclusão na cidade perdida, perto das grandes montanhas de
Nevada. Tom Cheper, um ex-militar condecorado, foge das suas lembranças,
assim como foge da sua vizinha, Adele Morder, que desperta emoções antigas
nele. Adele e Tom embarcam em uma arriscada aventura repleta de ação,
perigo, adrenalina, coragem indômita, muita paixão e desejos explosivos, para
salvar suas vidas quando ficam presos dentro do coração da montanha, tendo
apenas um ao outro para poder contar e sobreviver nas mãos de
contrabandistas de armas.
Aviso: NÃO É UM ROMANCE CLICHÊ. Nessa história você encontrará
ação, abuso físico e psicológico, sexo explícito, palavrão, droga ilícita,
violência física contra mulher, morte e estupro. Se você não se sente
bem com a possibilidade de gatilhos, não lhe aconselho a ler este livro.

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Em um casarão exuberante, onde segredos e paixões se entrelaçam,
uma história de amor proibido floresce.

Cindi Parker, uma jovem sonhadora, se vê irresistivelmente atraída por um


misterioso italiano que sempre frequenta o casarão de seu pai. Mesmo com uma
diferença de idade de catorze anos, o taciturno estrangeiro desperta nela um
turbilhão de emoções que até então eram desconhecidas. Em uma noite de
destinos entrelaçados, ela foge para os braços dele, sem saber que seria o
prelúdio de uma paixão avassaladora que selaria o destino dos dois. Entretanto,
a realidade logo a separa do homem que roubou seu coração. Forçada a seguir
outro caminho e se casar com outro homem, Cindi vai embora para Nova
Orleans com o coração partido, mas sem saber que carrega um fruto daquele
amor proibido.
Seis anos depois, Cindi Parker retorna à cidade natal, divorciada e não mais a
jovem sonhadora, mas sim uma mulher obstinada, que luta para ter o controle
da sua vida novamente depois de um divórcio conturbado e traumático. Além de
tudo, ela se esforça para proteger sua filha. A morte do pai de Cindi deixa-lhe
uma herança amarga e doce: o casarão onde seu amor com o italiano floresceu.
Determinada a reerguer a majestosa propriedade, Cindi se vê novamente face a
face com o homem que nunca esqueceu: o enigmático italiano, que agora é um
poderoso banqueiro e uma figura influente na cidade. Enquanto busca
desvendar os segredos do passado e reconstruir sua vida, os mistérios da
paixão que os uniram são trazidos à tona com pura força.
Entre encontros repletos de tensão e risadas cômicas, eles precisam confrontar
o passado, ao mesmo tempo que lidam com a chama da paixão, o desejo da
carne e a luxúria que nunca se apagou e está mais forte do que nunca.

AVISO: livro da tia Carol não é receita de bolo, docinho. Se não gosta
de recheio explosivo, com confetes de dark e cobertura de gatilhos,
sugiro que não leia.
Gatilhos: violência doméstica, estupro, palavrões, sexo explícito e
tortura.

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Vanusa é uma mulher forte e bem resolvida, de trinta e nove anos, que é
apaixonada pela vida e dona do seu próprio nariz e das suas decisões. Sente
que a melhor época da sua vida chegará junto com seus quarenta anos. Mas
não são apenas os tão sonhados 4.0 que chegam para ela. A vida lhe traz
surpresas peculiares, novas experiências, conflitos, erros, acertos e um amor
do passado, que está decidido a ter uma nova chance em sua vida, para viver
ao lado dela a história de amor inacabada da juventude.
ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO.

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ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS

Tie vê sua vida mudar da água para o vinho quando uma herança inesperada
aparece em seu destino. A velha mansão rosa, que pertenceu a sua tataravó, a
escandalosa notória cortesã Juditi Luvie, no século dezoito, passou para sua avó,
madame Luvie, e agora pertence à Tie, trazendo o legado da cortesã para ela. O
amor que a aguardava entre as primaveras, finalmente, consegue florescer com
sua chegada à mansão, fazendo-a ficar dividida entre ser apenas o mais puro
desejo, que lhe faz queimar pelo arrogante francês, ou se ele realmente é sua
alma gêmea. A única coisa que ela terá como bússola para achar seu verdadeiro
caminho, será o delicado anel que já está há quatro gerações em sua família.

•••

Cristina Self viveu isolada do mundo por anos, depois de um


divórcio traumático e abusivo. Ela se sentia segura em sua
bolha, até que conheceu Ariel Miller, um advogado
criminalista famoso por sua frieza e cinismo nos tribunais.
Atraída pelo seu carisma e seu olhar penetrante, Cristina se
entregou a uma noite de paixão nos braços do sedutor
homem. Mas o que ela não esperava era que o destino os
unisse novamente, em uma situação que mudaria suas
vidas para sempre. E depois de uma noite ardente e
envolvente, Cristina irá enfrentar o céu e o inferno para
viver seu amor.

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Ela é uma mulher indomável.
Ele é um cowboy bronco que não resiste a uma boa briga.
E, juntos, eles têm uma química selvagem que os incendeia
a cada toque.

Kaice é uma analista financeira de Luisiana, que está


prestes a se tornar sócia da empresa que trabalha. Ela
sempre colocou a razão acima da emoção e nunca se
deixou levar por nenhum romance. Mas tudo muda quando
ela viaja a Montana, para fechar um negócio, e conhece um
cowboy misterioso e mal-humorado, tão sexy quanto
ranzinza, que desperta seu interesse.
Ela o desafia com uma proposta indecente para uma única
noite regada à luxúria, paixão e uma química selvagem. A
atração entre eles é explosiva e irresistível, porém, Kaice
não quer se entregar às batidas aceleradas que ele causa
em seu coração.
Ao passo que se encontra presa no rancho Green Valley,
onde o cowboy tenta domar o seu gênio indomável, Kaice
está determinada a não se render facilmente, só que o
rancheiro não vai desistir dela.
Quem vai ganhar essa briga de vontades? Ou será que o
destino tem outros planos para eles?

Ai, que sinopse fofa, nem parece que foi Caroline


Andrade que escreveu! Por isso, não se engane,
todos os meus parquinhos contêm gatilhos, e esse
não fugiria à regra.

[1]
A personagem aparece em Sodoma: Um jogo perigoso.
[2]
Protagonista de Sodoma: Um jogo perigoso.
[3]
Protagonista de Sodoma: Um jogo perigoso.
[4]
Protagonista de Babilônia: Entregue ao seu poder.
[5]
Os dois personagens aparecem em Gomorra: De volta ao jogo.
[6]
Todos os dias, é uma aproximação
Indo mais rápido que uma montanha-russa
Amor como o seu certamente virá em minha direção (ah, ah, eh)
[7]
Todos os dias, está ficando mais rápido
Todo mundo diz: Vá em frente e pergunte a ela
Amor como o seu certamente virá em minha direção (ah, ah, eh)
[8]
Garota, você é a única que eu quero que me queira. E se você me
quiser, garota, você me tem.
[9]
Não há nada que eu, que não faria, eu não faria. Para acordar ao seu
lado.
[10]
Sim
Esse tipo de amor
Transforma um homem em escravo
Esse tipo de amor
Envia um homem direto para o túmulo.
[11]
Estou perdendo a cabeça, garota
Porque estou ficando louco
Eu preciso do seu amor, querido
Sim, eu preciso do seu amor.
[12]
Podíamos ouvir seus filhotes respirando alto a uma légua de
distância, pai urso.
[13]
Está velho, ursão, até sua respiração é tão alta quanto a dos seus
filhotes.
[14]
Seus degenerados de merda, ainda posso meter uma bala na cara
de vocês.
[15]
É bom estar com vocês novamente, irmãos caçulas de ninhada.
[16]
Sempre se afeiçoando ao filhote mais problemático da ninhada,
Ryan.
[17]
Isso explica por que nunca meti uma bala na cara de vocês, irmãos.
[18]
Pessoas morreram aqui.
[19]
A terra desse lugar fede a cadáver.
[20]
O esconderijo deve estar aqui perto.
[21]
Ordene sua ninhada a se afastar cinquenta passos, pai urso.
[22]
Está fora de cogitação eu me afastar de você, pai urso.
[23]
Viu, eu disse que o filhote problemático de Ryan podia entender
nossa língua.
[24]
Por que não o deixa ficar, Ryan? Olhar de predador seu filhote já
tem.
[25]
Eu sou romântico, eu pegaria o coração.
[26]
As mulheres adoram uma boa declaração de amor.
[27]
As Valquírias compõem a mitologia dos povos nórdicos e germânicos
que habitavam a região norte da Europa. Caracterizadas como virgens
guerreiras que cavalgavam corcéis, elas estavam ligadas ao panteão de Odin.

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