Educação Física Escolar Como Espaço Inclusivo

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__________________________________________________ARTIGO

Educação física escolar como espaço inclusivo

Marina Brasiliano Salerno


Licenciada em Educação Física – FEF / UNICAMP
Prof. Dr. Paulo Ferreira de Araújo
DEAFA – FEF / UNICAMP

Resumo

O presente trabalho busca discutir a influência dos


conteúdos da cultura corporal dentro das aulas de educação
física e sua conseqüente influência na qualidade de
participação dos alunos com necessidades educativas
especiais durante as atividades propostas. Para tanto,
fizemos um breve histórico sobre esse componente
curricular diferente dos outros presentes no âmbito escolar
por ministrar conteúdos que possibilitam a presença de
ritmos variados na construção da linguagem corporal como
expressão e modo de apreensão do mundo.

Abstract

This paper hás the intend to discuss the culture of the body
during tha physical education classes and the consequent
influence in the quality of participation of students with
special needs during these classes. There fore, we did a
brief review about this component inside the school,
different of the other ones because it ministers contents
those make possible to be with people with different
rhuthms of constructing the body language as an expression
and way to comprehend the world.

Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678
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Educação física escolar

Recorremos a relatos históricos da educação física escolar, a qual teve sua


visão voltada para o desenvolvimento da aptidão física, buscando o ser
humano que rendesse, que produzisse, que pudesse oferecer às indústrias, a
mão de obra qualificada para trabalhos, muitas vezes, pesados com carga
horária desumana.
Sendo assim, quando a educação física se tornou parte integrante do currículo
das escolas sua base estava voltada para atingir o máximo do rendimento.
Com o ensino voltado para a produtividade, os alunos deixavam de refletir
sobre sua prática ficando alienados da sua condição de sujeitos históricos,
tornando-se seres apolíticos. O objetivo da educação física, então, era a de
“desenvolver e fortalecer física e moralmente os indivíduos” (COLETIVO DE
AUTORES, 1992, p.52).
No Brasil, nas quatro primeiras décadas do século XX, a Educação Física sofria
forte influência dos Métodos Ginásticos e da Instituição Militar (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
No período pós-guerra, a esportivização foi crescente nos países de influência
européia, se tornando um elemento predominante da cultura corporal. Sobre
isso o Coletivo de Autores (1992, p.54) destaca que:

(...) a influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos,


então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a
subordinação da educação física aos códigos/sentidos da instituição esportiva,
caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição
esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses
códigos podem ser resumidos em: princípios de rendimento
atlético/desportivo, competição, comparação de rendimento e recordes,
regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória,
racionalização de meios e técnicas, etc.

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Com o incentivo voltado para a vitória o que se pôde concluir é que muitos
alunos deixaram de participar das aulas por não se enquadrarem nos
parâmetros estipulados para as aulas de educação física, excluindo mulheres
por serem consideradas frágeis e aqueles que fisicamente não se adequaram.
Nas décadas de 70 e 80 movimentos interessados a mudar a concepção da
educação física se firmaram, pensando no desenvolvimento psicomotor
voltados para a construção do esquema corporal e das aptidões motoras dos
alunos da educação física escolar.
Atualmente, estudiosos começaram a pensar a educação física escolar como
sendo uma disciplina encarregada de mostrar aos alunos aspectos da cultura
corporal, não apenas do povo brasileiro, mas também da região na qual a
escola está inserida e culturas de outros países. Para além da mostra, prega-se
a reflexão crítica sobre as culturas para que as pessoas entendam que a
atividade fora de um contexto cultural pode ser marcada pela estranheza de
um grupo diferente, porém, quando colocada dentro dos costumes de um povo
há o retorno do significado da atividade.
Para o Coletivo de Autores (1992, p. 102), a Educação Física é entendida como
“(...) uma disciplina do currículo, cujo objetivo de estudo é a expressão
corporal como linguagem”.
Indo além, adotaremos o conceito de Educação Física proposto no texto
coordenado por Micheli Ortega Escobar: Contribuições ao Debate do Currículo
em Educação Física: Uma proposta para a Escola Pública (1990), apresentada
pelo Departamento de Educação Física e Desporto do Governo de Pernambuco.
O texto propõe o entendimento de Educação Física como sendo:
(...) meio para superação da compreensão unilateral para a de
omnilateralidade do homem. Jogar, dançar, vivenciar os diferentes esportes,
vivenciar as práticas corporais de diferentes culturas, se entendidas em sua
profundidade, ou seja, como fenômenos culturais, estarão contribuindo, em
conjunto com os demais componentes curriculares, para a formação de um
homem capaz de se apropriar do mundo... Jogar, dançar e praticar esportes
são também maneiras de se apropriar do mundo, e não apenas de fugir dele,
se alienar dele. (SOARES, 1989, apud ESCOBAR, 1990, p. 09).

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Os conteúdos da cultura corporal são aqueles que permeiam as danças, as
ginásticas, as lutas, os esportes e os jogos, envolvendo o entendimento do
mundo, sua reflexão, sua exploração, criação e recriação através da linguagem
corporal.
É, portanto, através da expressão corporal enquanto linguagem que será
mediado o processo de sociabilização das crianças e jovens na busca da
apreensão e atuação autônoma e crítica na realidade, através do conhecimento
sistematizado, ampliado, aprofundado, especificamente no âmbito da cultura
corporal. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.103).

Dentro dos conteúdos da cultura corporal, discorreremos sobre a


importância dos mesmos.
Iniciaremos com o jogo. Segundo texto coordenado por Escobar (1990, p.11),
o jogo “é uma invenção do homem, um ato em que sua intencionalidade e
curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a
realidade e o presente”.
Ainda sobre o jogo, o Coletivo de Autores (1992, p.66) trás que:
(...) o jogo satisfaz necessidades das crianças, especialmente a necessidade de
‘ação’. Para entender o avanço da criança no seu desenvolvimento, o professor
deve conhecer quais as motivações, tendências e incentivos a colocam em
ação.

Para refletirmos sobre o trecho acima, gostaríamos de pensar a utilização


da palavra “necessidade”. Acima, notamos que as crianças, sem distinção de
raça, gênero, classe social ou necessidades educativas especiais, possuem a
“necessidade de ‘ação’”. Assim sendo, não podemos negar aos educandos a
possibilidade de ir além de uma idéia fechada da educação física escolar que
busca descobrir novos talentos para o esporte, mas sim proporcionar a
vivência de situações que provoquem a reflexão para a solução de um
problema com a reflexão crítica sobre a prática.
A ginástica como conteúdo da cultura corporal vem sendo pouco
oferecida nas escolas devido a influência da esportivização e sendo assim, o
olhar dos profissionais para esse conteúdo se restringe a ginástica artística
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vista como esporte olímpico de rendimento e não como proporcionar aos
alunos a possibilidade de ver o mundo de “ponta cabeça”. Podemos pensar a
ginástica como um meio da participação do grupo todo para a ajuda de um
único colega. Assim sendo, movimentos poderão ser executados sem que haja
perigo e a necessidade de aparelhagem específica, será necessária apenas a
participação do grupo.
Pensando isso, podemos utilizar outras formas de ginástica com a
ginástica geral que proporciona a vivência do movimento de acordo com as
possibilidades de cada um priorizando a beleza do conjunto e não o
rendimento individualizado.
Com a ampliação da idéia de ginástica, fugindo da esportivização,
priorizaremos o grupo, a participação, a experiência e a criatividade.
A dança como conteúdo da cultura corporal é entendida:
(...) como uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do
homem e por isto pode ser considerada como linguagem social que permite a
transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da
religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra, etc.
(ESCOBAR, 1990, p.27).

Com esse conceito não priorizamos a técnica de uma dança específica,


oferecemos aos alunos o entendimento do conteúdo, sua representação
simbólica (ESCOBAR, 1990). Possibilitamos assim que cada pessoa
compreenda seu corpo como sendo instrumento que pode dar vida a
sentimentos, isto tudo no ritmo de cada um e na compreensão de mundo do
indivíduo.
As lutas, que representam muito além de arte de defesa, priorizam uma
ideologia a ser seguida por seus praticantes. Possibilitando as vivências
diferenciadas, os alunos podem conhecer diversas filosofias nas quais se prega
o convívio com o outro de forma harmônica e a busca da harmonia interna
para que não seja necessário usar a força de uma luta, mas sim a força para
não precisar entrar em conflito.
Por último, e não menos importante, encontra-se o esporte. Como
observado no histórico da Educação Física, observamos o foco do ensino desse
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conteúdo voltado para o descobrimento de grandes talentos. Citamos a
diferença do esporte da escola e do esporte na escola. Profissionais da
Educação Física desejam modificar o modo como esse conteúdo é oferecido
para que não apenas as quatro grandes modalidades sejam ministradas nas
aulas de educação física escolar, mas sim, para que além dessas, outras sejam
apresentadas da maneira como são praticadas e de modos alternativos,
possibilitando a participação de todos dentro do conteúdo.
Além dos grandes conteúdos aqui citados podemos incluir a mímica,
atividades do circo, atividades teatrais como sendo maneiras de comunicar-se
com o mundo através de nosso corpo.
A avaliação da educação física escolar é bem definida pelo Coletivo de
Autores, quando em seu entendimento usam palavras de Waiselfisz:
A superação de práticas mecânico – burocráticas (aplicar testes, selecionar
alunos, dar notas, detectar talentos) pela busca de práticas produtivo –
criativas e reiterativas, que possibilitem ‘mobilizar plenamente a consciência
dos alunos, seus saberes e suas capacidades cognitivas, habilidades e atitudes
para enfrentar problemas e necessidades, buscando novas soluções para as
relações consigo mesmo, com os outros e com a natureza, e que estas
soluções criativamente encontradas sejam estendidas a outras situações
semelhantes’ (Waiselfisz, 1990:60). As práticas avaliativas produtivo –
criativas e reiterativas buscam imprimir à avaliação uma perspectiva de busca
constante de identificação de conflitos no processo ensino – aprendizagem,
bem como a superação dos mesmos, através do esforço crítico e criativo
coletivo dos alunos e as orientações do professor. (COLETIVO DE AUTORES,
1992, p.104).

Com a análise do trecho acima, compreendemos que a avaliação


quantitativa para a educação física escolar se torna difícil quando devemos
analisar a produção crítica e a renovação do conhecimento vivido. Com isso,
podemos pensar na superação de determinadas situações propostas pelo
professor que devem ser realizadas de acordo com o contexto, com as
reflexões feitas pelos alunos e a aplicação disso em aula.

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Após a discussão dos conteúdos da educação física escolar e sua
possibilidade de vivência para qualquer aluno colocaremos um dado
encontrado no texto de David Rodrigues (s/d, p.77):
(...) em EF os conteúdos ministrados apresentam um grau de determinação e
rigidez menor do que as outras disciplinas. O professor de EF dispõe de uma
maior liberdade para organizar os conteúdos que pretende que os alunos
vivenciem ou aprendam nas suas aulas. Este menor determinismo
conteudístico é comumente julgado como positivo face a alunos que têm
dificuldade em corresponder a solicitações muito estritas e das quais os
professores têm dificuldade de abdicar devido a eles próprios se sentirem
constrangidos pelos ditames dos programas. Assim, aparentemente a EF seria
uma área curricular mais facilmente inclusiva devido à flexibilidade inerente
aos seus conteúdos o que conduziria a uma maior facilidade de diferenciação
curricular.

Compreendendo a educação física escolar como um momento no qual os


alunos terão a possibilidade de vivenciar diversos conteúdos de nossa cultura e
de outras, a reflexão crítica sobre as atividades realizadas, não há porque não
oferecer esse aprendizado para os alunos que apresentam necessidades
educativas especiais. Para isso, o professor deve obedecer ao ritmo destes,
pois é esse o ritmo que a criança apresenta para apreender o mundo.
“A relação afetiva e as propostas de vivências e experiências antes de
causarem qualquer tipo de submissão ou oposição, devem seguir no sentido de
dar autonomia ao aluno” (BOATO, 2000, p.28).

Participação dos alunos com necessidades educativas especiais: dados


obtidos

Após o estudo e reflexões sobre a Educação Física Escolar, apresentamos os


dados levantados durante pesquisa realizada em escolas da zona leste de
Campinas. Foram selecionadas escolas tanto públicas quanto particulares, e,
após envio de uma carta explicativa sobre a pesquisa, obtivemos êxito para
realizar observações em quatro escolas, sendo duas públicas e duas
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particulares. Para a delimitação de quais escolas seriam contatadas, buscamos
as que apresentassem matriculados alunos com necessidades educativas
especiais, aqui considerados aqueles em condição de deficiência tais como
física, mental, visual ou auditiva.
Delimitamos itens a serem observados durante a realização das aulas de
educação física, referentes às atividades e à qualidade de participação dos
alunos com necessidades educativas especiais e a conseqüente interação entre
alunos com necessidades educativas especiais e seus colegas.
Não foi descartada a possibilidade de observação de mais de um aluno
numa mesma escola, assim como foi suspensa a observação quando o aluno
estava ausente ou não houvesse aula de educação física, ou seja, não foram
observadas outras atividades que fossem realizadas no horário reservado à
disciplina.
A seguir, apresentamos os resultados em forma de tabelas para a melhor
compreensão e análise dos dados obtidos (SALERNO, 2003).

E1 / A1 E1 / A2 E2 / A3 E3 / A4 E4 / A5 E4 / A6 E4 / A7 E4 / A8
1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o.
Local Utilizado
Q Q Q Q Q Q --- Q Q S S P Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q
Conteúdo 1 1 1 1 1 1 --- 3 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1e2 1 1 1e2 1 1 1e2
Tempo
Observado 50' 50' 50' 100' 100' 100' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50' 50'
Tempo de 10 a até até mais mais mais até 30 a 30 a 30 a 30 a 30 a 5 a 10 a até 5a 10 a até 5a até até 10 a 30 a 30 a
Envolvimento 20' 5' 5' 60' 60' 60' 5' 50' 50' 50' 50' 50' 10' 20' 5' 10' 20' 5' 10' 5' 5' 20' 50' 50'
A: Livre X X
A: Dirigida X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Ambas X
A: Coletiva X X X X X X X X X X X X X X
A: Individual X X X X X X X
Ambas X X X
A: Cooperativa X X X X X X X
A: Competitiva X X X X X X X X X X X
Ambas X X X X X X
Não
Participação X X X X X
Participação
Fora do X X X X X X X X X X X
Participação
no Grupo X X X X X X X X X X X X X X X X
P:
Espontânea X X X X X X X X X X X X X
P: Orientada X X X X X X
P: Parcial X X X X X X X X X X X X X X X
P: Ativa X X X X

Tabela 1 – Atividades e Participação

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1 – Jogo (Escobar, 1990); 2 – Ginástica (Escobar, 1990); 3 – Esporte
(Escobar, 1990); Q – Quadra poli – esportiva; S – Salão Fechado; P – Pátio
Coberto.
Espaços sem preenchimentos demonstram atividades ou locais sem
especificação.

A1 / E1 A2 / E1 A3 / E2 A4 / E3 A5 / E4 A6 / E4 A7 / E4 A8 / E4
INTERAÇÃO 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o. 1o. 2o. 3o.
DO ALUNO
COM GRUPO
Proximidade
Física X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Verbalização
X X X X X X X X X X X X X X X
Não -
Verbalização X X X X X X X X X
Interação com
Objetos X X X X X X X X X X X X X X
Interação Física
X X X X X X X X X X X X X X X X
DO GRUPO
COM ALUNO
Proximidade
Física X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Verbalização
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Não -
Verbalização X X X X
Interação com
Objetos X X X X X X X X X X X X
Interação Física
X X X X X X X X X X X X X X
Auxílio nas
Atividades X X X X X X X X X X
Incentivo à
ação X X X X X X X X X X X
Agem pelo
aluno X
Tabela 2 - Interação

Considerações finais

A partir dos dados relacionados anteriormente notamos que o conteúdo


da cultura corporal mais utilizado durante as aulas foi o jogo coletivo e
competitivo. A presença da competição ocasionou a não participação de alunos

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como observado na Tabela 1 que nos mostra que das cinco vezes que alunos
deixaram de participar das aulas, quatro delas apresentavam atividades
competitivas. Isso nos mostra a dificuldade em fazer com que alunos com
necessidades educativas especiais participem ativamente das aulas pois essas
objetivam o acerto e não a tentativa e experiência de um momento de troca
com o meio e um momento de comunicação.
A maioria dos alunos participou das aulas de forma espontânea, ou seja,
não houve necessidade de intervenção do professor para que o aluno entrasse
na atividade. Porém, o aluno poderia iniciar a aula dentro do grupo e após isso
partir para uma atividade paralela à realizada.
A participação dos alunos com necessidades educativas especiais ainda é
de forma parcial, ou seja, o educando não expõe suas idéias para ajudar o
grupo a solucionar problemas propostos em aula.
Na Tabela 2, observamos que a proximidade física é unânime nas aulas
de educação física, porém, isso não garante interação entre os alunos. O
cuidado a ser tomado se refere à interação que pode ser negativa quando,
objetivando o acerto, professores e alunos buscam selecionar aqueles que
mais acertam, item presente em atividades competitivas nas quais alunos
escolhem para seu time os melhores para ganharem.
Intermediário dessa relação é o professor que, se admitir a educação
física dentro da escola não como extensão do esporte, pode possibilitar um
momento para experiências corporais que objetivam a compreensão do mundo
e expressão no mesmo, refletindo criticamente sobre as atividades realizadas e
compreendendo as diferentes formar de manifestação cultural.
Compreendemos, então, ser a educação física um componente curricular
com o ambiente propício à inclusão, pois busca proporcionar aos alunos a
vivência dos conteúdos da cultura corporal possibilitando o trabalho com
grupos de pessoas que apresentem ritmos diferenciados, para que os mesmos
possam compreender o seu corpo como meio de comunicação com o mundo e
apreensão do mesmo.
Assumindo a facilidade de incluir, faz-se necessário focar o compromisso
com a educação, não abandonando os alunos com necessidades educativas
especiais que desejam construir seu conhecimento aos profissionais da saúde
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que oferecem atividades ocupacionais de extrema importância mas que não
estão ligadas à educação.
Por fim, a educação física escolar deve compreender-se disciplina que
proporciona aos alunos a possibilidade de vivência crítica dos conteúdos
componentes de acordo com os ritmos de cada educando do grupo, assim
sendo, a inclusão é facilitada não apenas àqueles com necessidades educativas
especiais mas se estende aos alunos que já possuem seus lugares na escola e
ainda buscam o reconhecimento de suas potencialidades, sem sofrer
discriminações com etnias, classes social, gênero, entre outras características
ligadas ao desconhecimento do ser humano.

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