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Resumo: O câncer de colo de útero é a principal neoplasia entre as mulheres, porém, não é a única patologia que
acomete a população feminina. O programa “Previne Brasil” foi criado pelo Ministério da Saúde para traçar
estratégias e medidas preventivas a populações específicas da Atenção Primária à Saúde. Pelo programa, a
realização da coleta de citopatológicos atualmente faz parte do indicador 4 do “Previne Brasil”, que utiliza ações
estratégicas na assistência à saúde da mulher. Assim, objetivou-se identificar os impactos do indicador 4 na
assistência à saúde da mulher, através de um comparativo entre a percepção dos profissionais de saúde e das
usuárias do serviço. Trata-se de um estudo descritivo de natureza quantitativa, utilizando questionários de autoria
própria e realizado em todas as Unidades Básicas de Saúde do município de Imaculada-PB, com médicos,
enfermeiros e mulheres com idades entre 25-64 anos que realizam coleta de citopatológico na UBS. A partir dos
dados coletados, foi possível identificar que a implantação do indicador é de grande importância para melhoria na
assistência à saúde da mulher, analisar a percepção das usuárias e profissionais sobre o atendimento prestado e
expor fragilidades na realização do exame e no indicador, que não reflete bem o grupo alvo que se propõe, além
de sugerir medidas que ampliem a assistência à saúde da mulher.
Abstract: Cervical cancer is the main neoplasm among women, but it is not the only pathology that affects the
female population. The "Previne Brasil" program was created by the Ministry of Health to outline preventive
strategies and measures for specific Primary Health Care populations. Under the program, the collection of
cytopathological tests is currently part of indicator 4 of "Previne Brasil", which uses strategic actions in women's
health care. The aim was therefore to identify the impact of indicator 4 on women's health care, by comparing the
perceptions of health professionals and service users. This is a descriptive study of a quantitative nature, using
self-administered questionnaires and carried out in all the Basic Health Units in the municipality of Imaculada-
PB, with doctors, nurses and women aged 25-64 who have their cytopathology collected at the UBS. From the
data collected, it was possible to identify that the implementation of the indicator is of great importance for
improving women's health care, analyzing the perception of users and professionals about the care provided and
exposing weaknesses in the performance of the exam and in the indicator, which does not reflect well the target
group it is intended for, as well as suggesting measures to expand women's health care.
1
Médica. Centro Universitário de Patos, Brasil. E-mail autora principal: [email protected];
2
Doutora em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca, Brasil. Docente no Centro Universitário de Patos, Brasil.
E-mail: [email protected].
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Introdução
Para o Sistema Único de Saúde (SUS), as Estratégias de Saúde da Família (ESFs) são o
modelo prioritário de Atenção Primária à Saúde (APS), pautadas pelo vínculo entre a equipe
multiprofissional e os usuários de um território adscrito e que estão presentes em praticamente
todos os municípios brasileiros. As ações dos profissionais das ESFs possibilitam que o cuidado
à população seja mais resolutivo e alcance as especificidades de cada área de forma que desafios
sejam enfrentados mais facilmente e metas possam ser cumpridas (FRANCO et al., 2023).
Para custeio da APS, o Ministério da Saúde (MS) definiu um modelo de financiamento,
o programa “Previne Brasil” através da Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019, que é
baseado em três blocos: capitação ponderada, incentivos em ações estratégicas/prioritárias e
pagamento por desempenho. O componente de capitação ponderada leva em consideração o
quantitativo de pessoas cadastradas em cada ESF dos municípios, já o incentivo em ações
estratégicas e prioritárias contempla programas específicos, como saúde na hora, programa
saúde na escola, academia de saúde, entre outros e por fim, o pagamento por desempenho, que
resulta da análise de resultados de sete indicadores de saúde que contemplam ações de saúde
da mulher, saúde bucal, pré-natal, saúde da criança e portadores de doenças crônicas
(hipertensão arterial e diabetes mellitus). Sendo assim, os incentivos financeiros seriam o
somatório dos resultados obtidos pelos 03 blocos e repassados ao governo federal através dos
dados implantados no Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (SISAB) (COSTA
et al., 2022).
No que se refere à saúde da mulher, o indicador 4 avalia a proporção de mulheres entre
25 e 64 anos, que realizaram ao menos uma coleta de exame citopatológico do colo de útero no
período de 03 anos. Sendo este um item único de avaliação para a população relacionada.
O câncer do colo de útero, está entre as neoplasias mais frequentes entre as mulheres,
causado principalmente pela infecção por alguns tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano
(HPV), que junto a outros fatores, favorece o desenvolvimento do câncer (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2021).
Diante disso, o exame citopatológico é a principal ferramenta para identificar
precocemente essas lesões, proporcionando a instituição de medidas mais efetivas. O indicador,
portanto, prevê que o rastreamento deve ser feito em mulheres entre 25 e 64 anos, com uma
coleta no intervalo de 03 anos, com dois exames anteriores anuais negativos consecutivos e que
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já tiveram ou têm vida sexual ativa. Para as mulheres com mais de 65 anos o exame é
dispensado, caso os dois últimos exames anuais tenham sido negativos, tendo em vista não
haver evidências sobre a efetividade do rastreamento após 65 anos. O intervalo é recomendado
com o objetivo de reduzir a quantidade de falsos negativos. A mensuração dos dados é feita de
forma quadrimestral, agregando os dados de todas as ESFs do município através do SISAB
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
O desenvolvimento do câncer do colo de útero aumenta em 30% se as lesões precursoras
não forem avaliadas e tratadas precocemente, pois como as alterações geralmente progridem
lentamente, podem estar presentes de forma assintomática anos antes das manifestações
clínicas. Este câncer tem elevadas taxas de mortalidade, com uma incidência anual de mais de
16 mil casos por ano, com uma proporção de 15,4 casos para cada 100.000 mulheres (BRASIL,
2019). As mulheres são as maiores frequentadoras das ESFs e a caracterização do atendimento
à essa população pode identificar as fragilidades e potencialidades da assistência, contribuindo
para um direcionamento das estratégias de saúde mais eficiente.
O objetivo do estudo foi descrever os impactos da assistência à saúde da mulher a partir
da coleta de exames citopatológicos, prevista no indicador 4 do programa “Previne Brasil, no
município de Imaculada – PB, comparando a percepção dos profissionais e das usuárias do
serviço.
Métodos
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respectivas ESFs para a coleta tanto em sala de espera, como durante os atendimentos para
coleta dos citopatológicos.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário
de Patos sob o número do CAAE: 74972623.8.0000.5181, com parecer de número 6.499.844,
seguindo as normas das Resoluções nº 560/16 e 518/18 do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde. Todo o projeto foi financiado por recursos próprios. Para a análise dos
resultados foi utilizado o DataMelt e a partir disso e com os dados expostos em frequências
absolutas e relativas foi realizada a categorização dos dados e posterior análise descritiva.
Resultados
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A Tabela 3 descreve a percepção dos profissionais de saúde estudados acerca do
indicador 4 do Programa Previne Brasil, bem como a assistência à saúde da mulher. Em relação
ao aumento na coleta do exame citopatológico, 12 (100%) apontaram que o indicador resultou
no aumento de coletas nas suas unidades. Quando questionados se o indicador facilitou o
diagnóstico precoce de câncer de colo de útero, 12 (100%) afirmaram que sim. Em relação aos
impactos do indicador 4, 12 (100%) consideram que o indicador impacta positivamente na
atenção à saúde da mulher.
Ainda a respeito dos dados expostos, 12 (100%) relatam o aumento dos
encaminhamentos de mulheres para a atenção secundária e, finalmente, 12 (100%) afirmam não
achar que apenas a coleta de citopatológico não é suficiente para medidas de prevenção à
doenças da população feminina.
Tabela 3: Percepção dos Profissionais da Atenção Básica sobre o programa “Previne Brasil” com ênfase ao
indicador 4 – coleta de citopatológico, n=12.
QUESTÕES N %
Você acredita que o indicador 4 do “Previne Brasil” impacta positivamente na
atenção à saúde da mulher?
Sim 12 100
Não 0 0
O indicador acarretou o aumento da coleta e análise dos exames citopatológicos
da sua ESF?
Sim 12 100
Não 0 0
Você acredita que o indicador facilitou o diagnóstico precoce do câncer do colo
de útero?
Sim 12 100
Não 0 0
Você acha que a coleta de citopatológico é suficiente para medidas de prevenção
das principais doenças que acarretam a população feminina?
Sim 0 0
Não 12 100
O aumento de coleta de exames citopatológicos acarretou no aumento de
encaminhamentos de mulheres para a atenção secundária?
Sim 12 100
Não 0 0
TOTAL 292 100
Fonte: Dados do estudo, 2023.
A Tabela 4 discorre da percepção das mulheres entre 25 e 64 anos, que fazem parte das
unidades de saúde pesquisadas. Nela 181 (61,9%) fazem coleta de citopatológico em sua
unidade de saúde e 111 (38,1%) não fazem, 250 (85,6%) passam por avaliação médica para
interpretação dos resultados e 42 (14,4%) não são avaliadas por médicos após a coleta do
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exame, 189 (64,7%) realizam a coleta do exame anualmente, 82 (28,1%) a cada dois anos e 21
(7,2%) a cada três anos ou mais.
Percebe-se ainda que 208 (71,2%) acreditam que o exame é eficaz na prevenção de
doenças do colo do útero enquanto 84 (28,8%) não concordam, 152 (52,1%) afirmam que outras
medidas são necessárias para a melhoria da atenção à saúde da mulher e 140 (47,9%) acham
necessárias outras medidas adicionais.
Tabela 4: Percepção das usuárias sobre o programa “Previne Brasil” com ênfase ao indicador 4 – coleta de
citopatológico, n=292.
QUESTÕES N %
Você faz coleta regularmente de exame citopatológico na sua unidade de saúde?
Discussão
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que a idade preconizada pelo indicador representa a maioria das frequentadoras das unidades
de saúde.
Os resultados obtidos demonstraram que o exame citopatológico é realizado em grande
parte nas ESFs do município, assim como preconiza o Ministério da Saúde (MS), ainda assim
algumas mulheres podem enfrentar dificuldades em frequentar as unidades, seja por sua
ocupação ou atividades domésticas, deixando sua saúde em segundo plano e postergando a
realização de exames (LOPES; RIBEIRO, 2018).
A pesquisa também explorou que dentre as mulheres que não realizavam coleta do
exame na unidade, os motivos listavam desde a falha de relação de confiança com os
profissionais, até o enfrentamento de dificuldades no agendamento e frustração por conta da
falta de comunicação, o que as leva a não realizar mais o exame de forma periódica, para tanto,
é necessária uma boa interação profissional/paciente não só na coleta, como na entrega e
interpretação dos resultados e aprofundar essa compreensão é crucial para o desenvolvimento
de intervenções direcionadas à melhoria da experiência das mulheres durante todo o processo
(SANTOS; GOMES, 2022).
Em relação ao acesso das usuárias ao sistema, os impactos observados foram que apesar
de a maioria das usuárias estarem dentro da faixa etária preconizada pelo indicador, a coleta do
exame seja feita de forma regular e que seja um exame eficaz na prevenção de doenças do colo
de útero, ainda existem barreiras como a falta de informação, dificuldade de acesso, baixa
adesão e dificuldades na relação profissionais x usuárias, que fazem com que haja a necessidade
de ampliação das medidas de assistência à saúde da mulher. Apesar de todas as potencialidades
indicadas, entende-se que o Brasil ainda não possui estratégias eficazes para prevenção, tendo
um enfoque voltado para tratamento (DINIZ, A. S. et al., 2013).
Como limitações inerentes ao processo, em alguns serviços ocorre carência de
profissionais capacitados para a coleta, pode ocorrer demora no envio das amostras para análise
e consequente atraso na entrega de resultados, além de uma rede organizada para seguimento e
tratamento dos casos diagnosticados e isso faz com que a adesão das mulheres à coleta do exame
nas ESFs venha diminuindo ao longo do tempo (UCHIMURA, 2009).
A percepção dos profissionais em relação ao indicador 4, explorando não apenas os
aspectos positivos da implantação do programa, mas também identificando possíveis desafios
e áreas que necessitam de aprimoramento, mostra que eles, em sua totalidade acreditam que a
implantação do programa impactou positivamente na atenção à saúde da mulher, bem como no
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aumento da coleta de exames nas unidades de saúde e no diagnóstico precoce do câncer de colo
de útero. Isso reflete ainda no aumento dos encaminhamentos de mulheres à atenção secundária,
também afirmado por todos os profissionais pesquisados. Esses profissionais têm como
competência trabalhar a importância do indicador para que os impactos positivos perdurem,
levando à redução nas taxas de câncer devido a diagnósticos tardios (SOUZA et al., 2020).
Ainda avaliando a percepção dos profissionais, médicos e enfermeiros concordam que
apenas o indicador não é suficiente para a prevenção de outras doenças que acarretam a
população feminina. Essa análise contribuirá para uma discussão mais ampla sobre as
estratégias de prevenção de saúde para as mulheres, promovendo uma abordagem abrangente e
multidimensional no cuidado feminino. Dessa forma, o projeto de pesquisa busca não apenas
confirmar os resultados existentes na literatura, mas também expandir a compreensão sobre as
complexidades associadas à adesão ao exame citopatológico, proporcionando questões valiosas
para o desenvolvimento de políticas de saúde mais eficazes e personalizadas para as mulheres
atendidas nas ESFs do município.
Cabe às ESFs implantarem estratégias de incentivo à rotina de coleta de citopatológico
entre as mulheres, para o fortalecimento de vínculos e maior interação entre unidade e usuárias,
de forma a não só realizar o exame, bem como fazer promoção, prevenção, reabilitação e
tratamento de acordo com a necessidade da população feminina (KOURY, 2014).
De forma geral, a implantação do indicador impacta positivamente na atenção à saúde
da mulher, por propiciar aumento de busca ativa, percepção precoce de lesões e ações de
prevenção e promoção de saúde, apesar de não serem suficientes para suprir toda demanda das
usuárias, já é de enorme valia para o dia a dia das ESFs.
Conclusão
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perspectiva dos profissionais como das usuárias e isso se mostra como impactos positivos que
o indicador trouxe à rotina das unidades de saúde.
O estudo também destacou a importância em se ampliar as medidas de assistência à
saúde da mulher, com a finalidade de aumentar e manter a adesão das mulheres aos serviços
oferecidos nas ESF’s do município de Imaculada – PB.
Para isso, ações de educação em saúde, criação de grupos, busca ativa e oferta de outros
exames, podem a longo prazo reduzir a morbimortalidade das mulheres, outro ponto destacado
é a importância da humanização do atendimento, desde o acolhimento à realização do exame
citopatológico, uma vez que as usuárias demonstram tensão e vergonha durante a consulta, o
que dificulta a interação entre profissional/paciente. No que diz respeito à perspectiva
profissional, é necessário que haja melhorias no acesso à atenção secundária e a tomada de
outras medidas de avaliação da saúde da mulher, não se restringindo apenas a coleta de
citopatológico. Tais medidas são evidenciadas não como impactos negativos, porém como
lacunas que devem ser preenchidas para fortalecimento do programa e para garantir o acesso
ao cuidado da população feminina.
Por fim, a percepção das usuárias e dos profissionais em relação ao indicador corrobora
com a literatura e evidencia a nitidez dos impactos positivos e que está trazendo bons resultados
no cotidiano das ESFs, mesmo existindo fatores obstantes, o indicador estimula a melhoria dos
atendimentos e o acesso à saúde, o que se deve fazer é criar outras medidas para evitar que se
torne não apenas uma meta e sim um produtor de bons resultados.
Referências
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Acesso em: 28 nov. 2023.
•
Como citar este artigo (Formato ABNT):
AZEVEDO, Mayra Correia; SOUSA, Milena Nunes Alves de. Impactos do Indicador 4 do Programa
"Previne Brasil" na melhoria da Assistência à Saúde da Mulher. Id on Line Rev. Psic., Fevereiro/2024,
vol.18, n.70, p. 109-118, ISSN: 1981-1179.
Recebido: 05/02/2024; Aceito 12/02/2024; Publicado em: 29/02/2024.
118 Id on Line Rev. Psic. V.18, N. 70 p.109-118, Fevereiro/2024 - Multidisciplinar. ISSN 1981-1179
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