Relatorio Seminario Virtual Colo Utero Inca 2022 0

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

Seminário virtual:

Estratégias para organizar as ações de


detecção precoce do câncer do colo do
útero

RELATÓRIO

25 de março de 2022

Divisão de Detecção Precoce e Apoio à


Organização de Rede

0
Seminário virtual: Estratégias para organizar as ações de detecção
precoce do câncer do colo do útero

1. Apresentação

Em março é celebrado o Dia Internacional da Mulher (08/03), o Dia Mundial de


Prevenção do Câncer do Colo do Útero (26/03) e também o Março Lilás, oportunidades
de trazer ao debate a necessidade de se avançar no controle do câncer do colo do útero
no Brasil, cujas ações ocorrem ao longo de todo o ano.

Com cerca de 17 mil casos novos e 6.500 mortes a cada ano, o câncer do colo do útero
é ainda um desafio na agenda de saúde do País, sendo prioritário superar as
iniquidades de informação e de acesso a serviços de saúde.

A atenção primária à saúde (APS) tem papel fundamental na detecção precoce dessa
neoplasia. É na ponta onde o rastreamento, baseado em diretrizes, pode fazer a
diferença e salvar muitas vidas, quando integrado ao seguimento e ao
encaminhamento oportuno dos casos suspeitos para investigação diagnóstica e
tratamento.

Muito se conhece sobre as barreiras para a detecção precoce do câncer do colo do


útero no Brasil. Mas o que precisa ser feito para mudar essa realidade? Responder a
essa pergunta foi a intenção do Seminário virtual Estratégias para organizar as ações
de detecção precoce do câncer do colo do útero, que buscou trazer ao debate alguns
exemplos de experiências de enfrentamento e superação das barreiras e mostrar
caminhos possíveis para organizar as ações e colher melhores resultados.

O evento foi construído a partir da interlocução com as Secretarias Estaduais e


Municipais de Saúde, que trouxeram sugestões de experiências em curso em 34

1
municípios dos estados do Pará, Amazonas, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul (apêndice 1). Cinco experiências foram convidadas
para estimular e ilustrar o debate.

Na mesa de abertura do evento, mediada por Renata Santos, Arn Migowski, chefe da
Divisão de Detecção Precoce e Apoio a Organização de Rede (DIDEPRE), ressaltou a
importância da organização do rastreamento e da integração entre atenção primária e
especializada para o controle do câncer do colo do útero. A Diretora substituta do
Departamento de Atenção Especializada e Temática (DAET/SAES), Ana Patrícia de
Paula, falou sobre a importância em se pensar em novas estratégias para evitar a
detecção tardia desse câncer. Patrícia Izetti, coordenadora responsável pela
Coordenação-Geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo
(CGTAB/SAPS), abordou a importância de melhorar a capacitação de profissionais de
saúde e também o registro de indicadores de rastreamento.

A gravação do Seminário está disponível na TV INCA e, em conjunto com a síntese


apresentada neste relatório, registra esse momento de buscar inspirações para superar
barreiras e fortalecer a detecção precoce do câncer do colo do útero, no Sistema Único
de Saúde (SUS).

Link gravação do evento (TV INCA):


https://www.youtube.com/watch?v=g1Pjmn9I5NA&list=PLGGHoUAM3Mh5OHPzWm
rdgqKOJJE42nuhH&index=18

Todas as mulheres merecem o cuidado integral à saúde. Cuidado para todas!

2
2. Objetivos do Seminário

Geral
- Debater estratégias da atenção primária à saúde para organizar as ações de
detecção precoce do câncer do colo do útero.

Específicos
- Difundir o conhecimento disponível sobre as barreiras para a detecção precoce

do câncer do colo do útero.


- Divulgar experiências inovadoras desenvolvidas pelas Unidades Básicas de
Saúde ou secretarias municipais de saúde para aumento da cobertura e da
qualidade de exames de detecção precoce do câncer do colo do útero.
- Estimular a reflexão sobre a importância da inovação e diversificação de ações
para o avanço das ações de controle dos cânceres da mulher.

3. Público alvo

Profissionais de saúde da atenção primária à saúde; coordenadores da atenção


primária à saúde e de controle do câncer das secretarias estaduais e municipais de
saúde; pesquisadores, docentes e estudantes da área da saúde.

4. Programação

Para o diálogo proposto entre as barreiras para a detecção precoce do câncer do


colo do útero e estratégias que buscam superá-las, a programação (apêndice 2)
contemplou uma fala inicial baseada em revisão de literatura, seguida da
apresentação de experiências em curso no SUS e de uma síntese final.

3
5. Apresentações

A primeira apresentação do Seminário, feita por Itamar Bento Claro, abordou as


barreiras para a detecção precoce do câncer do colo do útero, com o propósito de
contextualizar os desafios nessa área.

O que já conhecemos sobre as barreiras para a detecção precoce do câncer do


colo do útero?

Itamar Bento Claro – DIDEPRE / INCA

O câncer do colo do útero é uma doença grave, que, apesar de prevenível, ainda
atinge muitas mulheres no Brasil e no mundo. No Brasil, o câncer do colo do útero
representa o terceiro tipo de câncer que mais atinge as mulheres e a quarta causa
de mortalidade por câncer na população feminina. A região Norte apresenta as
maiores taxas, configurando um grande desafio para o controle do câncer no país.
Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (2019) mostram que o câncer do colo do
útero afeta, principalmente, as mulheres negras e pardas, com menor escolaridade
e renda. As principais barreiras relacionadas a não realização do exame preventivo
do câncer do colo do útero no sistema público de saúde, de acordo com a literatura,
envolvem não apenas aspectos relacionados à mulher, mas também ao
desempenho dos serviços de saúde. A tabela a seguir, apresentada por Itamar,
sintetiza as barreiras:

4
Acesse a tese de doutorado de Itamar Bento Claro:
https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/46222/2/itamar_bento_claro_ensp_dout_2020.pdf

A sessão seguinte foi destinada à apresentação de experiências que buscam


responder às barreiras apresentadas.

Estratégias da atenção primária à saúde para organizar as ações de


rastreamento e diagnóstico precoce do câncer do colo do útero

Moderadora – Maria Beatriz Kneipp Dias – DIDEPRE / INCA

5
a) Grupos educativos de saúde da mulher
Ingrid Corte Brilho Costa - Gestora da UBS Drº Nagib Barquete / Secretaria
Municipal de Saúde de Pontal (SP)

Foi abordada a importância das atividades de educação e orientação das pacientes


por meio de grupos educativos sobre saúde da mulher. Nos grupos são abordados
temas como anatomia feminina, exames preventivos, infecções sexualmente
transmissíveis (IST) e métodos contraceptivos. A interação nos grupos permite que
as mulheres esclareçam suas dúvidas e desmistifiquem crenças e medos acerca dos
exames realizados e tratamentos disponíveis. O esclarecimento sobre o exame
citopatológico deve ser realizado rotineiramente para que a paciente não busque
o serviço somente quando sintomática e compreenda a importância da adesão ao
rastreamento, o que possibilita a detecção precoce de alterações. A abordagem
permite ainda que as mulheres entendam a importância de conhecer seu próprio
corpo e os sinais que ele envia quando algo não está dentro da normalidade. Ingrid
exemplificou que muitas mulheres acreditavam que a dor no ato sexual era algo
normal e com isso deixavam de procurar atendimento médico, agravando o quadro
e retardando o tratamento. O mesmo ocorria em relação à queixa de sangramentos
e corrimentos. Tais situações quando estendidas no tempo afetam a rotina sexual,
reprodutiva e a qualidade de vida da paciente, devido aos desconfortos e anseios
criados. A pandemia prejudicou a realização presencial de grupos, porém tornou
ainda mais claro que, tão importante quanto o exame físico, inspeção e a coleta em
si, se faz essencial a orientação e vinculação da paciente ao serviço, com linguagem
simples e acessível à população.

b) Estratégias para aumento da cobertura do rastreamento do câncer do


colo do útero em Canaã dos Carajás no Pará

Gizele Moreira Rodrigues - Coordenadora do Programa Saúde na Escola /


Secretaria Municipal de Saúde de Canaã dos Carajás (PA)
Carícia Gomes de Moraes Ferreira - Gestora de Setor dos Programas dos
Ciclos de Vida / Secretaria Municipal de Saúde de Canaã dos Carajás (PA)

6
O município está localizado no interior do estado do Pará, com população estimada
de 44.569 habitantes pelo IBGE e 58.830 pessoas cadastradas no e-SUS. Canaã dos
Carajás possui 100% de cobertura de Estratégia Saúde da Família (ESF) com 12
equipes. O município tem traçado estratégias para o aumento da cobertura dos
exames de rastreamento dos cânceres do colo do útero e de mama. Cada unidade
da ESF possui meta quadrimestral de coleta de exame citopatológico do colo do
útero, baseada no quantitativo de mulheres na faixa-etária de rastreamento
cadastradas no E-SUS. Cada unidade básica de saúde (UBS) gera o relatório de
cadastro territorial para identificar nominalmente as mulheres na faixa-etária alvo
e consulta o relatório do e-gestor que apresenta as mulheres que coletaram o
exame nos últimos três anos e as que faltam coletar. A partir desse diagnóstico,
cada agente comunitário de saúde (ACS) realiza busca ativa das mulheres através
de ligação telefônica para agendamento do exame e visita domiciliar. O município
possui atendimento aberto à demanda espontânea, garantindo que toda mulher
que chegar na UBS dentro dos critérios para coleta do exame seja acolhida e
assistida na consulta de enfermagem. As equipes, de acordo com a necessidade,
também realizam coletas nos finais de semana, para alcançar as mulheres que não
conseguem ir à unidade nos dias úteis. Através dessas estratégias, a cobertura do
exame citapatólogico do colo do útero passou de 14,9%, em 2019, para 31% no
último quadrimestre de 2021. O número de exames realizados em 2019 foi 1.762
e, em 2021, subiu para 4.926. O município realiza também amplas campanhas
educativas focadas na prevenção e diagnóstico precoce dos canceres de colo do
útero e mama, março lilás e outubro rosa. Busca-se fortalecer a Atenção Básica
como porta de entrada do sistema, coordenadora da Rede de Atenção à Saúde e
promotora da integralidade e universalidade. Mesmo durante a pandemia da
COVID-19, a rede vem conseguindo garantir às mulheres o acesso aos exames de
rastreamento e o seguimento dos casos alterados.

7
c) Rastreamento do câncer do colo do útero em áreas remotas: a
experiência do Projeto Saúde nas Comunidades

Diego Felipe Pereira Cruz - Coordenador Municipal de Programas da APS /


Secretaria Municipal de Saúde de Augusto Correa (PA)
Gelziclene Nogueira da Penha Araújo - Secretária Municipal de Saúde de
Augusto Correa (PA)

O município de Augusto Corrêa/Pará possui 18 unidades da ESF e conta com uma


cobertura de 100% do território, sendo 12 localizadas na área rural. As unidades
que estão localizadas nesta área encontram-se em pontos de difícil acesso e
algumas delas chegam a atender a mais de 19 comunidades/vilas, população
ribeirinha ou até mesmo regiões de ilhas onde pequenas comunidades de
pescadores vivem isoladas. Em 2021, o município começou a executar ações
remotas nas comunidades mais distantes das unidades básicas de saúde, levando
maca ginecológica, materiais para realização de coletas de exames citopatológicos
em ambientes como escolas, pontos comunitários e consultórios adaptados para a
realidade de cada comunidade. Através de busca ativa de mulheres na faixa etária
de 25 a 64 anos, levando o ponto de coleta para próximo da população das
comunidades, várias unidades conseguiram melhorar consideravelmente o
desempenho no indicador de exames citopatológicos do Programa Previne Brasil
em relação ao quadrimestre anterior. Assim, foi possível aumentar o rastreio e a
prevenção do câncer de colo uterino. A experiência motivou a continuidade das
ações com o projeto "Saúde nas Comunidades", lançado em 2022, cujo objetivo é
atingir todas as comunidades rurais distantes das unidades da ESF.

d) Processo de trabalho do rastreamento e do seguimento de exames


citopatológicos

Bianca Lopes Leal Hartvig – Enfermeira da Rede de Atenção às Doenças


Crônicas Não Transmissíveis / Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas (RS)
Viviane Gomes – Enfermeira do Laboratório Municipal / Pelotas (RS)
8
O processo no município de Pelotas teve início em setembro de 2018.
Implantou-se uma equipe atuante no processo de trabalho com os exames
citopatológicos, composta por um oficial administrativo e um profissional de
enfermagem. O processo se inicia pela rota em que os exames citopatológicos
coletados nas UBS são transportados ao setor onde está a equipe (Laboratório
Municipal) na capital em Porto Alegre. A seguir, os exames são recebidos e
organizados para serem enviados ao Laboratório de Citologia, com o máximo
de comprometimento por parte da equipe para que os mesmos sejam
analisados corretamente pelo laboratório. Com o retorno dos laudos dos
exames pelo laboratório, a equipe organiza e encaminha os mesmos para as
UBS, que entregarão os exames para as usuárias. As mulheres com exames
alterados são monitoradas, através do seguimento, pela equipe da Rede de
Atenção às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (RDCNT). Esse
monitoramento acontece juntamento com a equipe da Unidade de Saúde (que
gerencia o cuidado) e pela Central de Regulação do município (consulta
especializada).

e) Monitoramento e pactuação de fluxos junto aos prestadores e


municípios
Janaina Aparecida Tintori – Articuladora da Saúde da Mulher no
Departamento Regional de Saúde de Ribeirão Preto – Secretaria Estadual
de Saúde (SP)
Silvana Maria Quintana – Professora da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto – USP

A ação é realizada pelo Departamento Regional de Saúde de Ribeirão Preto para


26 municípios do Estado de São Paulo. É feito o monitoramento e a pactuação
de fluxos junto aos prestadores de serviços e os municípios. Em parceria com a
Universidade, são oferecidos treinamentos para as equipes da atenção primária
à saúde. Destaca-se a importância de integrar a rede padronizando informações

9
e garantindo que as mulheres acessem os serviços de investigação diagnóstica
em tempo oportuno, possibilitando o cuidado e a busca ativa dessas mulheres
antes da consulta médica.

Após as apresentações, várias questões encaminhadas pelo público foram


respondidas no debate. As que não puderam ser respondidas, por conta do
tempo, foram posteriormente respondidas por email.

Debate

Qual a sugestão para organizar o fluxo de entrega dos resultados de exames nas
Unidades Básicas de Saúde? Existe alguma normativa que define essa rotina?
Em nosso município fica a cargo de cada unidade organizar essa entrega, e ainda
dentro de uma mesma unidade cada equipe estabelece seu próprio processo de
trabalho. Identificamos a necessidade de padronizar esse processo e estabelecer
um fluxo único dentro das Unidades do município. Respondida no debate.

Qual estratégia para captação precoce além da proposta educativa com os


profissionais? Respondida no debate.

Como é organizada a agenda do enfermeiro para ter disponibilidade de coleta


como demanda espontânea? Respondida no debate.

Como lidar com as questões culturais, por exemplo o machismo, já que pode
interferir na adesão das mulheres ao exame preventivo? Respondida no debate.

Qual a estratégia utilizada para realizar o controle do rastreamento dessas


mulheres? Utiliza-se arquivo rotativo ou caderno com data do retorno para o
próximo exame? Respondida no debate.

As capacitações dos profissionais têm conseguido melhorar a adesão às diretrizes


do rastreamento? Respondida no debate.

Somente 40% das citologias cérvico-vaginais tem representação da Junção


escamocolunar, local onde tem início as alterações epiteliais do colo do útero. Este
10
dado é geral, mas pode ser bem mais crítico em alguns Estados ou se avaliarmos
por UBS. Não seria o momento de fazer um treinamento com finalidade de
melhorar a qualidade das amostras? Respondida no debate.

Vocês têm acesso rápido aos resultados desses exames? Respondida no debate.

Boa tarde! Como aumentar a adesão de mulheres que nunca vão para a coleta, ao
passo que sempre temos as mesmas mulheres buscando o serviço de saúde.
Comentada no debate.

Além da infecção pelo HPV, há outros fatores que aumentam o risco de uma
mulher desenvolver câncer de colo do útero?
Resposta Itamar: A infecção pelo HPV é o principal fator de risco, mas fatores ligados
à imunidade e à genética podem influenciar os mecanismos que determinam a
regressão ou a persistência da infecção, bem como a progressão para lesões
precursoras ou câncer. Ressalta-se, contudo, que é rara a evolução para câncer em
mulheres com infecção por HPV e as razões para isso ainda não são bem
compreendidas. A idade é um fator importante porque a maioria das infecções por
HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que,
acima dessa idade, a persistência é mais frequente. O tabagismo aumenta o risco
para desenvolver o câncer do colo do útero por reduzir células de defesa do epitélio
cervical, o que pode facilitar as infecções virais e favorecer a carcinogênese. O uso
de anticoncepcionais orais é um fator de risco controverso, uma vez que o câncer
do colo do útero não tem sido considerado como hormônio-dependente. No
entanto, alguns hormônios na composição de certos contraceptivos parecem
aumentar a oncogênese do HPV, interferindo na regressão espontânea das lesões
causadas pelo vírus.

Acesse: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer

Diante da importância do registro dos procedimentos de rastreamento realizados,


como inserir exames que foram realizados mediante pagamento por consórcio
(que não possui CNES) mas que agrega diversos municípios (como uma PPI, mas
não é PPI)? Já que o prestador está em um município com território diferente.
Resposta Itamar: A sua dúvida expressa uma situação que precisa ser discutida caso
a caso. Se o prestador de serviço contratado pelo consórcio é credenciado ao SUS,
poderia ser feita a vinculação das unidades de saúde a esse prestador pela

11
coordenação municipal e o BPA não ser encaminhado para ser processado no SIA.
Os dados seriam alimentados no Siscan, mas não no SIA. É uma alternativa, mas seria
melhor agendar uma conversa direta com a equipe do Siscan, para verificar os
prestadores e municípios envolvidos para uma orientação mais adequada. Você
pode entrar em contato pelo e-mail: [email protected]

Considerando que o início da vida sexual no contexto das populações indígenas


tende a ser mais cedo do que na população não indígena, faz sentido pensar na
antecipação da aplicação da vacina contra HPV, bem como na antecipação da
idade para realização do exame preventivo? O que há de discussão nesse sentido?
Pensando nos profissionais que estão em atendimento direto às populações
indígenas, que condutas poderiam ser tomadas nesse sentido na organização das
ações de vacinação, coleta de preventivo e educação em saúde?
Resposta Beatriz: A vacinação contra HPV está disponível para todas as meninas a
partir dos nove anos de idade, ou seja, é uma idade que já contempla a iniciação
sexual precoce. Quanto ao exame preventivo, até o momento não encontramos
indícios de que a história natural da doença tenha um curso diferenciado na
população indígena, que justificasse antecipar o início do rastreio.

Ainda esse exame não é acessível a muitas mulheres no nosso país, principalmente
em regiões longes da capital, isso ocorre devido a qual problemática?
Resposta Itamar: A coleta do exame citopatológico do colo do útero, também
chamado de exame preventivo, PCCU ou Papanicolaou, é um procedimento de baixa
densidade tecnológica e deveria estar disponível em todas as Unidades Básicas de
Saúde. Já a análise desse material é realizada em laboratórios especializadas que
normalmente estão localizados próximos aos grandes centros urbanos. Não é
esperado que cada município tenha um laboratório, pois é necessário um mínimo
de escala para a manutenção da expertise do profissional. A recomendação seria
concentrar a realização dos exames em laboratórios que realizassem um mínimo de
15 mil exames anuais, mas essa não é a nossa realidade no Brasil. O ideal seria que
os municípios de pequeno porte encaminhassem os exames para laboratórios de
referências regionais, como acontece em algumas localidades.

O importante é saber que a realização do exame é um direito da mulher e os


municípios precisam, de alguma forma, buscar a solução para esse problema, caso
não consigam disponibilizá-lo em sua rede própria. Para isso a articulação com os

12
movimentos sociais que atuam em âmbito nacional pode ser um elemento
importante para pressionar os gestores locais.

Tem carreta - unidade móvel - no território? Qual a estratégia para atingir a meta
do previne Brasil entre a unidade saúde e unidade móvel.
Resposta Diego: O município de Augusto Correia não conta com o programa de
unidades móveis.

Esse câncer trabalha com a privacidade maior das mulheres, é discutida a questão
da sexualidade? Do machismo? E quando o exame é feito por profissionais
homens?
Resposta Janaína: A coleta de citologia oncótica é uma ótima oportunidade de
consulta de saúde da mulher, seja pelo médico, seja pelo enfermeiro, o momento
deve ser aproveitado como oportunidade de avaliação de saúde como um todo,
podendo ser abordado questões de contracepção, informações de prevenção de IST,
educação em saúde com informações sobre o corpo e como é feito o exame, escuta
qualificada e olhar atento aos casos de violência sexual e doméstica. Pela questão
do machismo, é importante garantir o direito de privacidade dessa mulher durante
o exame e olhar atento também aos acompanhantes agressores, permitindo que a
consulta seja um espaço de direito dessa mulher onde ela se sinta confortável para
se abrir com a equipe. O exame realizado pelo profissional homem é sempre
delicado pelos fatores culturais, a orientação nesses casos é que sempre ele esteja
acompanhado por uma profissional da equipe do sexo feminino durante a coleta. O
envolvimento do profissional do sexo masculino nas atividades de educação em
saúde das unidades, visitas domiciliares, entre outras abordagens facilita a criação
de vinculo e aceitação da população feminina para a coleta.

Resposta Ingrid: No tocante à questão da sexualidade e privacidade da mulher,


tentamos trabalhar de forma individualizada, conforme as demandas e anseios de
cada paciente. Um atendimento humanizado e focado nas demandas específicas de
cada uma fortalece o vínculo entre profissional e paciente e permite que a mesma
se sinta mais à vontade e menos receosa em relação ao procedimento.
Reforçar a importância do exame, como é feito, qual sua periodicidade e
desmistificar algumas crenças, bem como fortalecer o conhecimento e autonomia
da mulher sobre o seu corpo também auxiliam que a coleta seja menos
desconfortável para a paciente. A coleta realizada por profissionais do sexo
masculino ainda é algo que gera maior anseio na paciente, mas reforço que o

13
fortalecimento de vínculo com a paciente permite suavizar tal situação. Dúvidas, me
coloco a disposição.

Qual instrumento utilizado para devolutiva das informações sobre o tratamento


para os profissionais da APS?
Resposta Janaína: Entendi que você quer saber como funciona o fluxo das pacientes
que já estão em tratamento na rede de oncologia? Nós trabalhamos com a Alta
Responsável, uma Diretriz da Política de Humanização que orienta os serviços na
contra referência qualificada. Fazemos reuniões com os núcleos de regulação
interna dos hospitais da região e todas as altas são informadas para as referências
(previamente pactuadas) das secretarias municipais de saúde do nosso território.
Não é uma coisa que funciona redondinho, mas orientamos o uso dessa estratégia
para que a atenção básica tenha informações da atenção especializada sobre sua
usuária. Para os atendimentos ambulatoriais a recomendação é universal de que a
mulher pertence àquela unidade e ela é responsável pelo seguimento também, não
temos fluxos de informações enquanto está em tratamento, somente com a "alta",
enquanto está em tratamento é orientado que a APS monitore.

Por que não se tem vacina de HPV para outras faixas etárias?
Resposta Flávia: A vacina é indicada para meninas, meninos e adolescentes que
ainda não iniciaram a vida sexual, pois apresenta maior eficácia/efetividade em
indivíduos não expostos previamente aos tipos virais vacinais. Meninas de 9 a 14
anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser vacinados gratuitamente no SUS. Após
o início da atividade sexual a possibilidade de contato com o HPV aumenta
progressivamente: 25% das adolescentes apresentam infecção pelo HPV durante o
primeiro ano após iniciação sexual e três anos depois esse percentual sobe para
70%. Para imunossuprimidos (pessoas vivendo com HIV/Aids, submetidos a
transplantes de órgãos sólidos/medula óssea e pacientes oncológicos) a faixa etária
é mais ampla: 9 a 45 anos para o sexo feminino e 9 a 26 anos para o sexo masculino.
Outros grupos etários podem dispor da vacina em serviços privados. Porém, não há
evidência científica de benefício estatisticamente significativo em vacinar mulheres
previamente expostas ao HPV. Isso quer dizer que algumas mulheres podem se
beneficiar e outras não. Nesses casos, a decisão sobre a vacinação deve ser
individualizada de acordo com processo de decisão compartilhada com profissional
de saúde, levando em conta as expectativas e a relação custo-efetividade pessoal.

14
Onde acho a planilha para controle do rotativo do preventivo?
Resposta Ingrid: Prezada, bom dia. Disponibilizo em anexo dois modelos de planilha
para controle de exame citopatológico.

Resposta Janaína: Não sei se existe uma planilha pronta, geralmente orienta-se as
unidades a criarem suas ferramentas de controle, seja por planilha Excel por mês e
com alerta para as mulheres que precisam repetir o exame em intervalos menores
e busca ativa das mulheres com 3 anos sem exame, seja com caixa de fichário (papel)
dividida por mês e ano, com monitoramento também dos casos alterados ou uso do
livro de registro da sala de coleta de Papanicolaou com uma coluna especifica para
monitoramento dos resultados (por ex. coluna com resultado e outra coluna com
próxima coleta). Outra forma e já deixar agendado o retorno ou a coleta - lembrando
a mulher com antecedência quando próxima a data da coleta.

Como lidar com a coleta em usuária durante a gestação. Vocês realizam para
aproveitar a presença da usuária?
Resposta Itamar: De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do
Câncer do Colo do Útero, "as gestantes têm o mesmo risco que não gestantes de
apresentarem câncer do colo do útero ou suas lesões precursoras". Dessa forma, os
achados dessas alterações durante a gestação refletem a oportunidade do
rastreamento durante o pré-natal. A recomendação é que o rastreamento em
gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como para
as demais mulheres, devendo sempre ser considerada uma oportunidade a procura
ao serviço de saúde para realização de pré-natal.
Você pode ter acesso às Diretrizes no site do INCA no seguinte endereço:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/diretrizes-brasileiras-para-o-
rastreamento-do-cancer-do-colo-do-utero
Aproveito para indicar também o livro Detecção Precoce que é uma publicação de
referência do nosso curso EAD Detecção Precoce de Câncer. Segue o link:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer
Espero ter contribuído para esclarecer sua dúvida e agradeço a sua participação.
AbraSUS!

Como identificar os primeiros sintomas de problemas do colo de útero?


Resposta Itamar: “A infecção pelo HPV e as lesões precursoras do câncer são
assintomáticas, mas, nos casos em que as lesões precursoras não tenham remissão
espontânea nem sejam detectadas e tratadas, a progressão poderá levar ao câncer,
quando então, surgirão sinais e sintomas:
15
• Sangramento vaginal (espontâneo, após o coito ou esforço físico).
• Corrimento vaginal (às vezes fétido).
• Dor na região pélvica, que pode estar associada com queixas urinárias ou
intestinais nos casos mais avançados.
• Perda de peso.
A investigação imediata desses sinais e sintomas permitirá antecipação do
diagnóstico, com o tratamento do câncer em estádios menos avançados com
maiores chances de cura e melhor qualidade de vida.”
Trecho do livro Detecção Precoce do Câncer, disponível em:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer

Realmente a vacina contra o HPV tem efeito nos adolescentes que já tiveram
relação sexual?
Resposta Flávia: a vacina é mais eficaz em meninos e meninas que ainda não
iniciaram a vida sexual, mas também tem efetividade junto a adolescentes que já
tiveram relação sexual. A vacina aplicada no Brasil protege contra 4 tipos virais: 6 e
11 (não oncogênicos) e o 16 e 18 (oncogênicos e responsáveis por aproximadamente
70% dos casos de câncer do colo do útero). Assim, adolescentes que iniciaram sua
vida sexual antes dos 14 anos devem receber a vacina, pois não é possível saber se
foram infectados ou não por esses tipos virais.

Eu queria entender por que no PSF não tem enfermeiros e médicos especialista em
oncologia pra colher o exame de Papanicolau, já que muitas as vezes o exame e
colhido de forma errada dificultando o tratamento precoce.
Resposta Beatriz: quem coleta o preventivo é normalmente a enfermeira treinada.
A questão da qualidade da coleta é um problema importante, porém depende do
treinamento adequado das equipes.

Por que o Inca não faz mais campanha de prevenção do câncer do colo de útero,
vocês poderiam fazer palestras nos colégios e até junto com pessoal do PSF,
explicando aos profissionais a maneira correta de colher o exame de Papanicolau.
Resposta Beatriz: além da assistência, o INCA desenvolve ações nacionais de
controle do câncer do colo do útero e sua função é apoiar tecnicamente o Ministério
da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde na implementação dessas
ações. O INCA produz conhecimento e elabora materiais informativos de referência
para uso pelas equipes de saúde. Segue o link do site do controle do câncer do colo
do útero para maiores informações: https://www.inca.gov.br/utero
16
Após o debate, Flávia de Miranda Corrêa, da DIDEPRE/INCA, pontuou a relevância
das várias estratégias trazidas pelas experiências no cenário de campanha mundial
para eliminação do câncer do colo do útero.

Síntese das Estratégias: o que podemos aprender com as experiências?


Flávia de Miranda Corrêa - DIDEPRE / INCA

Partindo do reconhecimento da história natural do câncer do colo do útero e da


necessidade de ações contínuas e sistemáticas nos diversos níveis de atenção, Flávia
destacou como elementos trazidos pelas experiências apresentadas buscam
responder às barreiras para a detecção precoce do câncer do colo do útero, vistas
na parte inicial do evento. Em relação às barreiras relacionadas às mulheres, foi
ressaltada a relevância do acolhimento, informação, vínculo, troca, relação,
educação, comunicação, captação, entre outros. No plano dos serviços de saúde,
diversos tópicos foram elencados como respostas, como mostra a imagem a seguir:

17
Flávia enfatizou a necessidade de reforçar as ações diante do retrocesso
ocasionado pela pandemia de Covid-19, concluindo com a visão da OMS de um
“futuro sem câncer do colo do útero”. Foram apresentadas as estratégias e as
metas até 2030 para o alcance dos objetivos relacionados à prevenção e à detecção
precoce dessa neoplasia.

6. Avaliação

Na avaliação do evento, por meio de formulário eletrônico, 45 pessoas relataram


satisfação, atribuindo notas 4 (17,8%) e 5 (88,2%), numa escala de 1 a 5 (pouco
satisfeito a muito satisfeito).

Todos avaliaram que o tempo de duração foi adequado. Bom grau de satisfação
também foi reportado com a programação, o debate e os palestrantes. A
divulgação e o horário foram os aspectos que receberam algumas críticas. Foram
apontadas a sobreposição com o horário normal de funcionamento dos serviços de
saúde e a falta de informação com maior antecedência sobre o evento.

Os comentários positivos destacaram a valorização das experiências locais, com


diferentes realidades, e a possibilidade de intercâmbio entre equipes que
desenvolvem ações com os mesmos objetivos. A organização dos fluxos também
foi mencionada por ser uma necessidade da rede e servir para provocar a discussão
local sobre superação das barreiras relacionadas aos serviços de saúde.

18
Comentários

Muito esclarecedor. Parabéns pelo evento.


Evento foi muito rico de informações, já no aguardo dos próximos.
Ótimo.
Adorei o formato do evento com o relato das experiências. Parabéns!
Parabéns pela condução, articulação do evento e palestrantes. Excelentes
experiências
Excelente evento de troca de experiência para avaliação de estratégias de
prevenção do câncer de colo de útero. Muito parabéns a toda equipe
organizadora do INCA, Arn, Flávia, Beatriz e Itamar, parabéns a todos!!!!
Muito bom trazer as experiências
Muito bom o evento.
Foi ótimo...porque essa é uma realidade geral...juntos poderemos vencer essa
barreira que as mulheres tanto têm dificuldade de enfrentar. Um exame
simples, importantíssimo na vida da mulher e tão cheia de barreiras.
Parabéns pelo evento, trouxe boas ideias.
Tema bastante relevante para a organização dos processos de trabalho a
partir das diversas experiências. Parabéns ao INCA e aos demais participantes.
A experiência local é de suma importância para podermos colocar em prática
na realidade de outros municípios.
Evento muito satisfatório, de grande potencial. amando demais.
O evento foi produtivo para ampliar conhecimento sobre ações passíveis de
serem realizadas. Parabéns aos envolvidos.
Ótimo seminário.
Excelente evento.
Evento de extrema importância no qual trouxe uma troca de experiência rica
de diversas localidades de nosso país.
Foi ótima a troca de experiências. Vocês estão de parabéns.
Evento de grande relevância, importante abordagem deste tema para as
unidades de atenção primária.

19
Evento de excelência. Parabéns a toda equipe organizadora.
Muito relevante, ótimas experiencias. Importante discutir os fluxos da
Rede de Atenção, ainda temos dificuldade em fechar o diagnóstico de
exames alterados em tempo oportuno. Pouca consulta na especialidade
e pouca oferta de procedimento para biopsia e muita demora.

Sugestões

Que possam vir outros.


Que tenha mais eventos como esse.
Poderiam fazer esses seminários de forma bienal, com assunto sobre o
rastreamento do colo do útero e da mama.
Que seja realizado com mais frequência esses seminários para se
necessário realizarmos ajustes e até mesmo melhorias na rede de saúde.
Mais temas para discussão. Grata
Capacitação específica sobre o SISCAN.
Poderia ter certificado no próximo.
Protocolos - discutir e apresentar também estratégias positivas.
Esses eventos devem ser feitos com certa frequência, pois a troca de
experiências só enriquece.

7. Comissão Organizadora

Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede:

Arn Migowski (chefe da DIDEPRE)


Itamar Bento Claro
Maria Beatriz Kneipp Dias
Mônica de Assis

Apoio: Serviço de Comunicação Social (SECOMSO):

Ingrid Trigueiro
Luísa Amaral
20
APÊNDICES

21
1. Municípios que enviaram experiências na consulta prévia ao Seminário

22
2. Programação do Seminário

23

Você também pode gostar