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a solução para o seu concurso!

SEED-PR
SECRETARIA DE ESTADO DA
EDUCAÇÃO - PARANÁ - PR

Professor - História

EDITAL Nº 011/2023

CÓD: SL-020AB-23
7908433234333
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;

• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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ÍNDICE

Conhecimentos Didáticos
1. A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESCOLAR: documentos curriculares do Paraná e o seu Quadro Organizador..... 7
2. Plano de aula, relação entre o planejamento da aula e o atendimento dos objetivos de aprendizagens, relação entre
o desenvolvimento das competências gerais e específicas e as estratégias/metodologias utilizadas pelo professor e a
avaliação......................................................................................................................................................................... 7
3. A METODOLOGIA VIABILIZANDO A APRENDIZAGEM: as estratégias de ensino, sua correlação com os recursos
didáticos.......................................................................................................................................................................... 13
4. Observação de sala de aula: estratégias de construção de parceria com o pedagogo................................................... 13
5. A importância das Metodologias Ativas.......................................................................................................................... 14
6. Plataformas educacionais como meio para desenvolver habilidades............................................................................. 15
7. A GESTÃO DE SALA DE AULA: a importância do Tripé (Organização da Coletividade, Cuidado com as Relações
Interpessoais e Mediação do Conhecimento)................................................................................................................ 16
8. Estratégias de gestão do tempo e da aprendizagem...................................................................................................... 16
9. A importância do clima escolar para a construção do respeito e de um ambiente acolhedor para a formação do
estudante........................................................................................................................................................................ 16
10. A AVALIAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA APRENDIZAGEM: avaliação diagnóstica, avaliação formativa e avaliação somativa;
recuperação de estudos e reavaliação; critérios, instrumentos e intencionalidade da avaliação escolar...................... 17

Estatuto da Criança e do Adolescente


1. Lei Federal nº 8.069/1990 e suas alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente): Arts. 56, 232 e 245............................... 34

Conhecimentos Específicos
Professor - História
1. Reinos e Sociedades africanas e do Crescente Fértil: Sociedades do vale do Nilo.. Sociedades da África Subsaariana.
Povos Mesopotâmicos. ...................................................................................................................................................... 39
2. Antiguidade Clássica: Grécia. Roma................................................................................................................................... 46
3. Idade Média: Europa Medieval. ......................................................................................................................................... 57
4. Os muçulmanos. Os bizantinos........................................................................................................................................... 64
5. Idade Moderna:. Renascimento e Humanismo. ................................................................................................................ 69
6. Reformas religiosas. ........................................................................................................................................................... 70
7. Grandes Navegações. . ....................................................................................................................................................... 72
8. Estados Nacionais Modernos.............................................................................................................................................. 74
9. Colonização do Brasil: Povos indígenas. Sistema colonial. . Economia açucareira. Mineração. Pecuária. ...................... 75
10. Trabalho escravo................................................................................................................................................................. 81
11. Ocupação e conquista da América: Maias. Astecas. Incas. Sistema colonial espanhol..................................................... 81
12. Brasil Império: Processo de Independência........................................................................................................................ 85
13. Primeiro Reinado. .............................................................................................................................................................. 86
14. Período Regencial. ............................................................................................................................................................. 87
15. Segundo Reinado. .............................................................................................................................................................. 89

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ÍNDICE

16. Revoluções Burguesas: Revolução Francesa. ..................................................................................................................... 93


17. Revolução Industrial. . ........................................................................................................................................................ 95
18. Independência dos EUA...................................................................................................................................................... 98
19. Conflitos e revoluções do século XX: . Primeira Guerra Mundial........................................................................................ 99
20. Revolução Bolchevique. ..................................................................................................................................................... 101
21. Segunda Guerra Mundial. .................................................................................................................................................. 103
22. Guerra Fria.......................................................................................................................................................................... 107
23. Brasil Republicano: Proclamação da República. Primeira República. . ............................................................................... 112
24. Era Vargas. . ........................................................................................................................................................................ 117
25. Governos populistas. ......................................................................................................................................................... 120
26. Regime Militar. ................................................................................................................................................................... 122
27. Redemocratização............................................................................................................................................................... 124

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CONHECIMENTOS
DIDÁTICOS
visita). Facilita a visualização da dinâmica da aula ou atividade,
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESCOLAR: DOCU- contribui para que outro docente possa utilizar-se desta referência,
MENTOS CURRICULARES DO PARANÁ E O SEU QUADRO em caso de impossibilidade ou ausência do docente responsável2.
ORGANIZADOR
— Elaboração de um plano de aula
Para Libâneo, “o planejamento escolar é uma tarefa docente
Prezado(a), que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de
organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto
A fim de atender na íntegra o conteúdo do edital, este tópico a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino”.
será disponibilizado na Área do Aluno em nosso site. Essa área é re- Portanto, o planejamento de aula é um instrumento essencial para
servada para a inclusão de materiais que complementam a apostila, o professor definir as estratégias pedagógicas, conforme o objetivo
sejam esses, legislações, documentos oficiais ou textos relaciona- a ser alcançado, criteriosamente adequado para as diferentes
dos a este material, e que, devido a seu formato ou tamanho, não turmas, com flexibilidade suficiente, caso necessite de alterações.
cabem na estrutura de nossas apostilas. Na elaboração do plano de aula devemos nos atentar para:
– Clareza e objetividade;
Por isso, para atender você da melhor forma, os materiais são – Atualização do plano periodicamente;
organizados de acordo com o título do tópico a que se referem e po- – Conhecimento dos recursos disponíveis da escola;
dem ser acessados seguindo os passos indicados na página 2 deste – Noção do conhecimento que os alunos já possuem sobre o
material, ou por meio de seu login e senha na Área do Aluno. conteúdo abordado;
– Articulação entre a teoria e a prática;
Visto a importância das leis indicadas, lá você acompanha me- – Utilização de metodologias diversificadas, inovadoras e que
lhor quaisquer atualizações que surgirem depois da publicação da auxiliem no processo de ensino-aprendizagem;
apostila. – Sistematização das atividades de acordo com o tempo
disponível (dimensione o tempo/carga horária, segundo cada etapa
Se preferir, indicamos também acesso direto ao http://www. da aula/atividade);
referencialcurriculardoparana.pr.gov.br/# – Flexibilidade frente a situações imprevistas;
– Realização de pesquisas buscando diferentes referências,
Bons estudos! como revistas, jornais, filmes entre outros;
– Elaboração de aulas de acordo com a realidade sociocultural
dos estudantes.
PLANO DE AULA, RELAÇÃO ENTRE O PLANEJAMENTO DA
AULA E O ATENDIMENTO DOS OBJETIVOS DE APRENDIZA- Ao elaborar o plano, faça um diagnóstico inicial, respondendo
GENS, RELAÇÃO ENTRE O DESENVOLVIMENTO DAS COM- a questões:
PETÊNCIAS GERAIS E ESPECÍFICAS E AS ESTRATÉGIAS/
METODOLOGIAS UTILIZADAS PELO PROFESSOR E A Para quem vou ensinar? Quem são os estudantes? Quais as
AVALIAÇÃO características (faixa etária, grau de maturidade, conhecimentos
prévios, habilidades adquiridas, contexto social em que vivem
(alunos trabalhadores com múltiplas jornadas de trabalho))?
Um plano de aula está diretamente relacionado ao plano Por que ensinar? Quais os objetivos da educação e da escola?
de ensino1, mas descreve uma sequência didática a ser seguida Do módulo ou da aula?
para o desenvolvimento integral e integrado da aprendizagem, Quais a competências a serem desenvolvidas? Na educação,
diariamente, em cada aula ou atividade prática (laboratório, estágio, decidir e definir os objetivos de aprendizagem significa estruturar,
de forma consciente, o processo educacional para propiciar
mudanças de pensamentos, ações e condutas.
Essa estruturação resulta do planejamento diretamente
1 Um plano de ensino é aquele que compreende todo o processo ensino relacionado à seleção de conteúdos, de procedimentos, de
aprendizagem durante o ano letivo, explicitando todas as disciplinas ou atividades, de recursos disponíveis, de estratégias, de instrumentos
módulos do curso. É o documento que o aluno recebe no primeiro dia de aula de avaliação e da metodologia a ser adotada no processo educativo,
descrevendo: identificação da disciplina, carga horária, objetivos, cronograma de alinhados à formação das competências, de acordo com o perfil
atividades (conteúdos), instrumentos de avaliativos, bibliografia recomendada. profissional delineado pela escola.
Eventualmente o educador não tem oportunidade de elaborar o plano de ensino,
pois, conforme a instituição é previamente elaborado e apresentado, sem espaço 2 https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4505701/mod_resource/content/2/
para ser revisitado. TEXTO%20PLANO%20DE%20AULA.pdf
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

O que ensinar? Qual o conteúdo requerido, selecionado? Como Uma estrutura de organização hierárquica de objetivos
integrar conteúdos e outras áreas do saber (temas transversais, educacionais. Essa taxonomia resultou do trabalho de uma
interdisciplinaridade)? comissão multidisciplinar de especialistas de várias universidades
Como ensinar? Quais os recursos didáticos disponíveis? dos Estados Unidos, liderada por Benjamin S. Bloom, na década de
Outros podem ser providenciados/ construídos? Qual o período 1950. A classificação divide as possibilidades de aprendizagem em
da aula (matutino, vespertino, noturno)? Como aproveitar os três grandes domínios:
conhecimentos e experiências prévias? Quais estratégias utilizar? – Cognitivo: abrangendo a aprendizagem intelectual
Como verificar a aprendizagem? Como acompanhar o processo (relacionado ao aprender, dominar um conhecimento);
educativo? Quais os critérios para definir o sistema de avaliação? – Afetivo: abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação
Quais os métodos e tipos de instrumentos de avaliação? Há de valores (relacionado a sentimentos e posturas);
coerência entre os métodos de avaliação e os objetivos delineados? – Psicomotor: abrangendo as habilidades de execução de
Consideram os resultados a serem alcançados? tarefas que envolvem o organismo muscular (relacionado a
habilidades físicas específicas).
Nessa perspectiva, em um modelo prático (mas, não único!), Para melhor compreensão do assunto vamos rever os objetivos
estruturalmente o Plano de Aula é constituído por: Identificação, de nossa aula:
Objetivos, Conteúdos, Metodologias, Recursos e Avaliação. Compreender os princípios norteadores da elaboração do
plano de aula;
1. CABEÇALHO E IDENTIFICAÇÃO
Identificar os elementos que compõem o plano de aula;
Escola:
Elaborar o plano de aula;
Turma:
Refletir sobre a importância do planejamento na organização
Disciplina:
das ações de ensino.
Professor(a):
Você pode nos dizer a quais domínios da Taxonomia de Bloom
Data:
eles se relacionam? Como você pode observar a declaração de
Horário:
um objetivo se inicia com um verbo no infinitivo que descreve o
Duração:
Tema: desempenho esperado do estudante.
Ao selecionar os verbos, precisamos considerar o que o
2. OBJETIVOS estudante deverá ser capaz de. Veja no quadro referente ao domínio
Para falarmos sobre objetivos vamos relembrar um trecho do cognitivo, os verbos associados às diferentes categorias.
filme “Alice no País das Maravilhas”, aquele em que a personagem
se encontra frente a vários caminhos para prosseguir sua busca pelo CATEGORIA VERBO
coelho que fugiu com o relógio:
Definir, escrever, selecionar, sublinhar,
Ao ver um grande gato no alto de uma árvore pergunta-lhe: selecionar, relembrar, declarar, listar,
Conhecimento
— Você pode me ajudar? reconhecer, reproduzir, nomear, rotular,
Ele diz: medir.
— Sim, pois não. Identificar, ilustrar, explicar, justificar,
— Para onde vai essa estrada, pergunta ela. Compreensão representar, julgar, selecionar, nomear,
Ele responde com outra pergunta: constatar, indicar, formular, classificar.
— Para onde você quer ir?
Predizer, escolher, encontrar, construir,
Ela diz: — Não sei, estou perdida.
Aplicação selecionar, mostrar, computar, avaliar,
Ele, então, lhe diz assim:
demonstrar, usar, explicar, desempenhar.
— Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve.
Os professores, especialmente àqueles que compreendem a Analisar, selecionar, justificar, identificar,
função social e política da educação, não podem ser estilo “Alice”, Análise separar, resolver, concluir, comparar,
ou seja, não ter clareza do que querem atingir com suas aulas. separar, diferenciar, contrastar, criticar.
Como escapar desse estilo? É necessário planejar criteriosamente Combinar, arguir, selecionar, repetir, discutir,
suas aulas. Síntese relacionar, sumarizar, organizar, generalizar,
A elaboração de um plano de aula inicia-se com a formulação sintetizar, derivar, concluir.
dos objetivos de aprendizagem, ou seja, a definição clara e precisa do
que se espera que o estudante seja capaz de fazer após a conclusão Julgar, suportar, identificar, avaliar, defender,
da aula/disciplina. A elaboração de objetivos mais adequados ao Avaliação evitar, determinar, atacar, selecionar,
ensino pode ser facilitada pelo uso da Taxonomia de Bloom3 (auxilia reconhecer, criticar, escolher.
a identificação e a declaração dos objetivos). https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4505701/mod_resource/con-
tent/2/TEXTO%20PLANO%20DE%20AULA.pdf
3 Uma das teorias de aprendizagem que auxiliam os professores no planejamento
e aprimoramento do processo educacional é a Taxonomia de Bloom, bastante sonhos com um olhar mais otimista para os alunos, sem vê-los como meros
utilizada para definir objetivos. Benjamin Bloom (1913–1999) foi um psicólogo estudantes. Considerando os aspectos cognitivos, emocionais e psicomotores da
e pedagogo norte-americano que desenvolveu diversas pesquisas ao longo de aprendizagem, bem como sua influência sobre o processo educacional e modo
sua vida profissional, abordando a educação com uma perspectiva psicológica. de auxiliar os professores na prática de ensinar, em 1956, Bloom apresentou
Ele entendia que a educação vai além do âmbito acadêmico, pois deve servir seu modelo educacional no trabalho intitulado “Taxonomia de objetivos
ao propósito de extrair todo o potencial humano, para que este alcance seus educacionais”.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Portanto, lembre-se da Taxonomia de Bloom ao definir os Certifique-se de que está contemplando o necessário para
objetivos: conforme o domínio, os objetivos são expressos por o momento, quantitativa e qualitativamente, sem exceder os
verbos que explicitam a ação esperada, de forma coerente. Ex: limites, incluindo outros assuntos que podem ser abordados
considerando o domínio cognitivo, o verbo escolhido no objetivo posteriormente, de maneira mais facilitadora, à compreensão e ao
deve expressar o que o estudante deverá conhecer; no domínio aprendizado.
psicomotor, o que o estudante deverá ser capaz de fazer e no
domínio afetivo que atitudes e comportamentos o estudante 4. ESTRATÉGIAS
deverá adotar após a aula. Corresponde aos caminhos/meios para atingir os objetivos.
Características dos objetivos bem delineados: Para a seleção das estratégias de ensino é preciso responder a
– Orientados para os sujeitos da ação; questão: Que situações de aprendizagem devo organizar para que o
– Fornecem uma descrição dos resultados desejados; estudante atinja os objetivos delineados?
– São claros e precisos; Alguns critérios devem ser considerados na seleção das
– São facilmente compreendidos; estratégias:
– São relevantes; – Concepção pedagógica adotada;
– São realizáveis. – Domínios dos objetivos;
– Tipologia dos conteúdos;
3. CONTEÚDOS – Características dos estudantes;
A seleção dos conteúdos a serem trabalhados na aula deve – Características da estratégia;
responder a questão: Para alcançar os objetivos delineados quais – Características do professor;
conteúdos devem ser trabalhados? – Características do assunto abordado;
Considere também os critérios abaixo: – Tempo para desenvolvimento da ação;
– Vinculação aos objetivos; – Recursos disponíveis: materiais, físicos, humanos e
– Validade (aplicável à vida real); financeiros.
– Significância (relação com experiências pessoais dos sujeitos);
– Utilidade para os sujeitos (atender as necessidades e Na seleção das estratégias o alcance dos objetivos se torna
interesses dos estudantes); mais fácil quando estas:
– Adequado à diversidade dos sujeitos; – Permitem resgatar o conhecimento prévio dos estudantes;
– Adequado ao tempo da ação. – Promovem a participação ativa dos estudantes;
– Valorizam os saberes dos estudantes, ainda que estes sejam
Para facilitar o delineamento dos conteúdos e seleção das do senso comum.
estratégias de ensino, propõe-se a tipologia dos conteúdos de
aprendizagem: Alguns exemplos de estratégias de ensino:
– Factuais: referem-se ao conhecimento de fatos, – Jogos, dramatização, dinâmica de grupo, roda de conversa,
acontecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e oficina pedagógica, palestra, projetos, resolução de problemas,
singulares. Envolve memorização e repetição. blogs, seminários, estudos de caso e outros.
– Conceituais: relacionam-se com conceitos propriamente
ditos e referem-se ao conjunto de fatos, objetos ou símbolos 5. RECURSOS DIDÁTICOS
que possuem características comuns. São mais abstratos e São os meios necessários à concretização da estratégia.
envolvem compreensão, reflexão, análise e comparação. Envolve Estão relacionados aos métodos de ensino e estratégias a serem
compreensão e utilização dos conhecimentos. utilizadas. Devem ser previstos os recursos materiais, físicos,
– Procedimentais: Referem-se ao aprender a fazer, envolvem humanos e financeiros.
regras, técnicas, métodos, estratégias e habilidades. Como Os recursos variam desde quadro branco, pincel e apagador,
exemplos, temos: ler, desenhar, observar, classificar e traduzir. A projetor de slides, filmes, mapas, cartazes, a aplicativos e softwares
aprendizagem envolve a realização de ações, ou seja, para aprender de última geração. É importante contemplar ainda manifestações
é preciso fazer e aplicar o conhecimento em diferentes contextos. artísticas na formação, tais como poesias, músicas, esculturas,
– Atitudinais: envolvem valores, atitudes e normas. Incluem- pinturas, fotografias para aprimorar a inserção cultural dos
se nesses conteúdos, a cooperação, a solidariedade, o trabalho estudantes.
em grupo, o respeito, a ética e o trabalho com a diversidade. A Considerando o perfil atual dos estudantes, os nativos digitais,
aprendizagem desses conteúdos envolve a reflexão, tomada de torna-se vital a inclusão das tecnologias digitais de informação
posição e avaliação, o que pode ser facilitado por meio de estudos e comunicação (TDIC) em atividades dinâmicas como jogos,
de casos, situações-problemas, júri simulado, etc. simulações, aulas virtuais, etc. Isso faz com que estudantes e
Selecione os conteúdos, baseando-se no Plano de Ensino, professores se sintam estimulados, tornando o conteúdo mais
estabelecendo uma sequência lógica para facilitar a integração agradável com vistas a facilitar a compreensão e o aprendizado.
dos demais conteúdos. Conforme o contexto pode-se estabelecer
a abordagem dos aspectos mais gerais até os mais específicos, Considere que a eleição de determinados recursos e estratégias
preferencialmente iniciando dos mais simples para os mais metodológicas expressam as concepções pedagógicas adotadas
complexos. pelo docente e pela escola, bem como as intencionalidades
subliminarmente identificadas no processo educativo.

6. AVALIAÇÃO

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Trata da verificação do alcance dos objetivos e compreende: o 8. BIBLIOGRAFIA


processo de avaliação, os critérios e os instrumentos necessários a Ao preparar a aula, o professor necessita selecionar
esse propósito. Vamos trabalhar com quatro questões fundamentais: referências atualizadas e de origem confiável oriundas de órgãos
governamentais, instituições de renome, reconhecidas nacional/
1. Por que avaliar? internacionalmente e compartilhar com os estudantes para que
Trata-se da verificação do alcance dos objetivos e compreende possam aprimorar o aprendizado.
verificar se:
– Os objetivos foram alcançados? — O planejamento como direcionador da prática pedagógica
– O que deu certo? A educação ao longo dos tempos foi se constituindo como uma
– O que pode ser mudado/melhorado? ação que não significa apenas a transmissão de informações, é vista
como responsável pela formação do sujeito como um todo, uma fonte
2. O que avaliar? de transformação que inova e que influencia o desenvolvimento do
– A aprendizagem dos estudantes; indivíduo e do país. A escola tem a responsabilidade de oferecer
– O grau de satisfação dos estudantes e do professor com a aos alunos uma formação que os contemple em seus diferentes
aula; aspectos4.
– O planejamento da aula; Para atender às expectativas, precisa-se de uma proposta muito
– A participação e envolvimento dos estudantes nas atividades bem articulada, que se materializará através do planejamento.
desenvolvidas; Esse recurso, ao chegar às instituições, irá se caracterizar como
– O impacto da aula no dia a dia dos estudantes. algo organizacional, uma importante tarefa na administração da
unidade educativa e um norteador para prosseguir com a parte
3. Como avaliar: administrativa e com a pedagógica.
– Elaborar os critérios de avaliação. Configura-se como encadeamento de ações pensadas de
– Construir os instrumentos de avaliação. maneira prévia a serem desenvolvidas em um momento futuro,
– Apresentar e discutir os critérios de avaliação com os uma antecipação consciente de etapas do trabalho previsto
estudantes no início da disciplina/aula. para acontecer. Portanto, é um recurso relevante para o bom
funcionamento da educação.
4. Quando avaliar? O planejamento é uma mediação teórico-metodológica para
– Início do processo: verificar os conhecimentos prévios – a ação consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer
Função Diagnóstica. algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isso é necessário
– Durante o processo: acompanhar a aprendizagem e ‘amarrar’, ‘condicionar’, estabelecer as condições, objetivas e
redirecionar o planejamento – Função Formativa. subjetivas, prevendo o desenvolvimento da ação no tempo (o que
– Final do processo: decisão acerca da progressão/certificação vem primeiro, o que vem em seguida), no espaço (onde vai ser feita),
do estudante) – Função Somativa. as condições materiais (equipamentos que serão necessários), bem
como a disposição interior, para que aconteça; caso contrário, vai-
É desejável que a avaliação tenha caráter contínuo e processual, se improvisando, agindo sob pressão, administrando por crise.
considerando-se a participação do estudante nas atividades Nesta concepção, o planejamento é um instrumento que
desenvolvidas, a evolução na trajetória escolar e na formação guia conscientemente a ação educativa, para que ela tenha suas
das competências. Os métodos de avaliação devem ser alinhados intencionalidades e se evite uma rotina viciada e a improvisação.
com as estratégias de ensino, os objetivos e os resultados a serem Planejar é ter um olhar minucioso, ao prever, passo a passo, um
alcançados. trabalho a ser realizado, para que se possa pensar nos recursos a
Seja qual for o método ou sistema de avaliação, considere que serem utilizados, no tempo que será necessário e na sistematização
o momento de avaliação é também um momento de aprendizado. das ações.
Requer coerência, respeito, ética e estética. Estabelecer os objetivos é relevante, porque eles agem como
uma espécie de impulso, e isso implica a busca de resultados
7. CARGA HORÁRIA satisfatórios, que dão sentido à prática e melhoram sua qualidade.
Agora que você já definiu quase todos os componentes de Quando não se planeja, corre-se o risco de se perder no
sua aula, é hora de pensar em delimitar o tempo para realização espontaneísmo, seja no campo de ensino ou em outros espaços de
de cada atividade. Para definir a carga horária da aula você deve atuação social e profissional.
considerar a complexidade de cada atividade, do assunto tratado, Sem o planejamento nossas ações acontecem de maneira
as características dos estudantes, do professor e os recursos avulsa e sem intencionalidade, por isso com menos possibilidades
selecionados. de darem certo. Ao discutir educação, essa premeditação é
Lembre-se que a distribuição da carga horária deve ser indispensável.
relativamente flexível e o professor pode e deve alterá-la conforme
o andamento da aula e as necessidades dos estudantes. Discute-se a importância do planejamento, principalmente
em tempos de precarização da educação. Numa sociedade em
que o conhecimento também deixou de ser espontâneo e passou
4 COSTA, Andreia de Oliveira Santos da Costa; e RODRIGUES, Ana Cláudia da
Silva. PLANEJAMENTO E PRÁTICA PEDAGÓGICA: UM ESTUDO ENTRE DOCENTES
DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ARARA-PB. REVISTA PEDAGÓGICA | v.22,
2020.
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a ser uma necessidade social deliberada, não é mais possível fazer É uma organização plena, que direciona todo o processo educacional,
educação sem um planejamento detalhado e rigoroso dos passos a prevê e estrutura o sistema educativo. O planejamento deve atender a
serem dados, das ações a serem realizadas, dos objetivos visados, problemática a nível nacional, regional, comunitário escolar.
das variáveis que interferem no processo, das estratégias a serem Esse é o seu grande objetivo. Deve agir diretamente sobre a
adotadas, considerando a sociedade que se tem e a que se quer pessoa, a fim de atender às exigências e atingir as grandes metas
construir. educacionais.
A vida social atual, com sua complexidade, requer planejamento. Há a necessidade de um planejamento nacional e de um
É através dele que o homem organiza e disciplina sua ação, sua vida planejamento regional; e da íntima relação desses planos são
e a sociedade. estruturados os planos curriculares das escolas que, por sua vez,
O planejamento dentro da esfera educacional irá se configurar dão as bases para a elaboração dos planos de ensino. Portanto,
em um processo por meio do qual há o estudo de ações e organização o planejamento educacional é uma construção atrelada à
delas. A ideia de planejamento se baseia naquilo que pensamos, o responsabilidade de instâncias maiores.
registro escrito será o plano, onde se tem a sistematização do que Parte das bases políticas e ideológicas do governo eleito e
foi pensado. é ligado ao desenvolvimento socioeconômico do país. É uma
sistematização de metas que são designadas para as unidades
No plano teremos a descrição do passo a passo a seguir, o
educativas e que dão subsídios para a elaboração dos demais
que vale tanto para a escola como para os profissionais que fazem
planejamentos.
educação. Nesse esquema se planeja e se elabora o plano da escola,
O planejamento escolar se subdivide em três planos: o da
que será definido como: escola, o de ensino e o de aula. Ao discutir sobre esses níveis de
– um conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem planejamento, refere-se que o planejamento, em sua relação aos
para a obtenção de certo resultado desejado; diversos níveis, deve ser o instrumento direcional de todo o processo
– um processo que consiste em preparar um conjunto educacional, pois tem condições de estabelecer e determinar todos
de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para atingir os recursos e meios necessários para a construção das metas da
determinados objetivos; educação.
– é uma tomada de decisões, dentre possíveis alternativas, Nesse sentido, o planejamento direciona o processo
visando atingir os resultados previstos de forma mais eficiente e educacional e se agrupa a uma linha de raciocínio baseada em metas
econômica. a serem alcançadas. Isso significa pensar sobre como se pretende
desenvolver a educação. O plano da escola é o plano pedagógico
Entende-se o planejamento como um agrupamento de ações e administrativo da unidade escolar, onde se explicita a concepção
ordenadas que vislumbra superar expectativas e atender ao que foi pedagógica do corpo docente, as bases teórico-metodológicas
designado nos objetivos. É a previsão e a projeção de um trabalho da organização didática, a contextualização social, econômica,
a ser desenvolvido. política e cultural da escola, a caracterização da clientela escolar,
Caracteriza-se como atemporal, visto que busca antecipar os objetivos educacionais gerais, a estrutura curricular, diretrizes
em tempo ainda não vivido, prever ações e situações cotidianas metodológicas gerais, o sistema de avaliação do plano, a estrutura
complexas e construir novas temporalidades. Essas temporalidades organizacional e administrativa.
se materializam em dois momentos articulados: o da elaboração e Esse plano compreende a dinâmica de organização
o da operacionalização. institucional da unidade de ensino e congrega informações sobre
A elaboração requer tempo para criação, análises de as características particulares da instituição e a realidade social,
possibilidades, maturação das possíveis implicações dos atos cultural e econômica do local onde está inserida. É elaborado
planejados e racionalização buscando antever os resultados. Já a para orientar os trabalhos durante o ano letivo, o que se espera
operacionalização envolve atuação. desenvolver no ensino e determinar, em linhas gerais, os objetivos
O planejamento elaborado, materializado através do que a escola almeja alcançar.
Tem por base as orientações curriculares nacionais, as
plano, projetado, encontra o tempo futuro, os sujeitos com suas
perspectivas de formação de sujeitos, as concepções de escola
singularidades, em espaços de vida concretos, em ações cotidianas
e qual sociedade se quer construir. Projeta um futuro a partir do
desenvolvidas na instituição que é imbricada de intencionalidades:
presente, da realidade local, nacional e internacional.
a escola. Por isso, planejar a educação escolar envolve não só os Em relação ao plano de ensino, cada professor, a partir dos
sujeitos que vivenciam cotidianamente a escola, mas toda uma rede direcionamentos nacionais, estaduais e ou municipais e da escola,
política que se articula para pensar e planejar as ações educativas. estabelece seu trabalho ao longo do ano. A elaboração do plano
Essa rede é responsável por elaborar o planejamento de ensino é exclusiva do docente, por isso requer uma atenção
educacional, o planejamento escolar, o plano de ensino e o plano especial.
de aula. Cada planejamento é elaborado por sujeitos em níveis O plano de ensino consiste na previsão do trabalho docente
hierárquicos distintos que articulam as políticas educacionais e a e discente na construção do conhecimento durante um período
materializam através da elaboração de planos com objetivos e letivo. Ele visa a organizar o ensino e a aprendizagem de modo a
metas a serem atingidas nos diversos espaços educativos. promover o bom desempenho do aluno e do professor na execução
O planejamento educacional corresponde à sistematização da do conteúdo disciplinar.
educação de um modo geral, feito em nível nacional, estadual ou Ele pode ser elaborado distribuindo o conteúdo disciplinar
municipal. É o mais abrangente dos planejamentos e está ligado ao longo do semestre ou do ano letivo, conforme a organização
às políticas educacionais que surgem por meio das medidas do institucional. De igual modo, o conteúdo pode ser distribuído por
governo que estabelecem metas, traçam planos para a educação e unidades, fazendo, assim, um plano de atividades a serem executadas
se interligam ao desenvolvimento do país. nos diversos momentos ao longo do ano ou do semestre letivo.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Esse plano se configura como um roteiro por meio do qual se Aula bem ministrada é aula bem planejada, por isso o plano
organizam as disciplinas, os conteúdos são distribuídos por unidades é sobremaneira importante. Desde uma perspectiva dinâmica
e sugestões de momento para as atividades serem realizadas. Para e desde o ponto de vista dos professores, essa prática deve ser
complementar, é interessante fazer uma ponte um modelo para entendida como reflexiva e não pode se reduzir ao momento em
elaborar um plano de ensino e sugere os seguintes elementos: que se produzem os processos educacionais na aula.
Nome da disciplina, série, ano, quantidade de aulas, justificativa da A intervenção pedagógica tem um antes e um depois que
disciplina, objetivos gerais e específicos, conteúdos, metodologias constituem as peças substanciais em toda prática educacional. O
e bibliografias. planejamento e a avaliação dos processos educacionais são uma
Um plano bem organizado facilita a vida do professor, durante parte inseparável da atuação docente, já que o que acontece nas
o ano ou o semestre, e servirá como referência para elaborar os aulas, a própria intervenção pedagógica nunca pode ser entendida
planos de aula diários. Porém, destacamos que não se trata do sem uma análise que leve em conta as intenções, as previsões, as
preenchimento de formulário no início do ano apenas, uma prática expectativas e a avaliação dos resultados.
quase sempre vazia de cunho pedagógico; não se resume a mais Em uma perspectiva dinâmica, o professor compreenderá
uma atividade burocrática cumprida, que depois será esquecida. a prática como reflexiva. Concordamos com esse pensamento,
Esta atividade de planejar o ensino se reveste de dimensões porque, realmente, os docentes devem ter um olhar reflexivo para
transcendentes, visto que não se baseia somente na seleção e sua prática e não se limitar a reproduzir os processos educacionais
organização do que deverá ser ensinado. Planejar o ensino é mais na aula. Tanto o planejamento quanto a avaliação são elementos
do que a organização epistemológica e metodológica dos saberes a indissociáveis, o planejamento representa o antes, e a avaliação, o
serem mediados; é, antes de tudo, o ato de estabelecer os caminhos depois, ou seja, planeja, aplica e avalia.
que trilharão os alunos, de colaborar com a constituição de suas O docente não deve esquecer que o planejamento faz parte de
identidades, de projetar parte de suas vidas. suas atribuições. É necessário seguir uma linha de raciocínio que
O plano de aula é o registro do que se almeja alcançar, a direcione o exercício da prática e a coerência das ações pedagógicas
descrição do passo a passo sobre como prosseguir a aula. É muito a serem desenvolvidas cotidianamente por esse profissional no
particular e deve ser vinculado à proposta dos planos anteriores. âmbito escolar.
Sua utilização dá mais segurança ao professor, e quando A avaliação dessas atividades se apresenta como subsídios
bem elaborado, significa que houve uma preocupação em pensar para que o docente possa compreender quais foram os resultados
na aula. A intenção desse roteiro é de buscar excelência quando obtidos, as dificuldades encontradas e, só então realizar as
estamos no momento da prática. demais intervenções. O docente, nos dias atuais, é convidado a
Os professores, ao utilizarem o plano de aula, poderão ter experimentar novas metodologias e a se desprender das que foram
maior confiança e dominar a situação a ser desenvolvida, pois o herdadas da educação tida como tradicional.
seu saber estará embasado na teoria e na prática. O planejamento Portanto, espera-se que seja ousado e crie, possivelmente,
de sala de aula desemboca na prática do professor e do aluno; por novos métodos de ensino. A reflexão adentra como forte aliada.
isso exige muito compromisso associado a algumas limitações e É preciso permitir analisar a ação educativa, sobretudo as falhas,
possibilidades. para que novos direcionamentos sejam indicados. Provavelmente
O que acontece em muitas instituições de ensino é a banalização a melhoria de nossa atividade profissional, como todas as demais,
do ato de planejar, para muitos professores se tornou um “ritual” passa pela análise do que fazemos, de nossa prática e do contraste
que deve ser comprido semanalmente. Nessa direção, o preparar as com outras práticas.
aulas é uma das tarefas que merece cautela. Mas certamente a comparação com outros colegas não será
A função do plano é guiar, algo redigido a ser usado como suficiente. Assim, pois, frente a duas ou três posições antagônicas,
ferramenta. O professor tem que pensar seus dias letivos, incumbir ou simplesmente diferentes, necessitamos de critérios que nos
propostas regadas de compromisso e significados, antes de ser uma permitem realizar uma avaliação racional e fundamentada.
resposta ao grupo que supervisiona. Nessa direção, analisar o que se faz é uma tarefa importante
Infelizmente, apesar do planejamento da ação educativa ser de para qualquer profissional. Para melhorar a prática, é necessário
suma importância, existem professores que são negligentes na sua fazer essa reflexão. Avaliar o próprio método é muito importante,
prática educativa, improvisando suas atividades. Em consequência, assim como observar as práticas de outros colegas.
não conseguem alcançar os objetivos quanto à formação do Esse é um recurso do qual se tira aprendizado e que, embora
cidadão. não seja suficiente, contribui. O docente tem que buscar suportes
Refletindo sobre a falta de planejamento e sua interferência no em teóricos para interpretar o que acontece em sala de aula, para
meio educacional, o improvisar exclui o sentido e faz desconectar a que possa fazer uma avaliação racional.
ideia de formação do cidadão. Os processos educativos são suficientemente complexos para
Esquematizar o trabalho, pensar como agir, terá forte influência que não seja fácil reconhecer todos os fatores que os definem. A
quando o papel do professor está além. O que acontece quando estrutura da prática obedece a múltiplos determinantes, tem sua
não se tem uma organização? justificação em parâmetros institucionais, organizativos, tradições
Vamos imaginar uma aula onde o docente não se organizou metodológicas, possibilidades reais dos professores, dos meios e
com antecedência, tem que criar estratégias naquele momento. condições físicas existentes, etc.
Essa prática dá brechas para uma possível aula tumultuada, Mas a prática é algo fluido, fugidio, difícil de limitar com
porquanto os alunos podem ficar dispersos, e o tempo da aula é coordenadas simples e, além do mais, complexa, já que nela se
desperdiçado, o que poderá comprometer o rendimento do ensino- expressam múltiplos fatores, ideias, valores, hábitos pedagógicos,
aprendizagem. etc. Essa reflexão nos leva a entender que os processos educativos
são abstrusos e que é difícil compreender os fatores que os definem.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Existe uma estrutura que elabora determinantes, dos quais a ras com base da estratégia desenvolvida. Para esse intuito, cabe
prática não deve ser apartada. Ela se reflete como rígida e resistente ao docente refletir sobre a forma como ele pode fazer uso de um
às coordenadas simples. dado recurso para facilitar a aprendizagem. É muito provável que
cada professor utilize o mesmo recurso de formas diferentes – daí
Por isso, a educação é influenciada pelas necessidades que a importância de trocar experiências com os pares, de conhecer o
vão surgindo a partir da atuação do docente em sala de aula. Em seu público alvo e o conteúdo envolvido na situação de aprendiza-
tempos tão complexos e globalizados não se concebe mais que o gem. Listamos a seguir alguns exemplos dos recursos didáticos e as
professor se limite e se satisfaça com o conhecimento adquirido ao estratégias de ensino mais comumente adequadas:
longo de sua formação inicial. Livro (didático ou não) e texto: esses recursos podem ser tra-
Como principal balizador do meio educacional, o professor balhados por meio da (seja ele didático ou não) e um texto são
precisa estar em constante atualização para realizar com maestria recursos de estratégias de leitura compartilhada, dividindo os capí-
a ação de educar. As leis e os documentos que regem a educação tulos entre os alunos; leitura individual ou em grupo e apresentação
enfatizam o papel da escola na vida do aluno. de tópicos para debate; leitura do texto e gravação de um vídeo
Nesse sentido, a formação do sujeito deve ser integral, com com a explicação, gravação de um podcast lendo um texto.
uma educação que o contemple em todos os aspectos, como, por Vídeo: esse recurso pode ser trabalhado como atividade prévia,
exemplo: valorizar o trabalho, a cidadania, a ética e a formação dentro da proposta de sala de aula invertida — é uma estratégia.  
cultural. Plataforma ou ambiente virtual de aprendizagem: em posse
Esses paradigmas justificam a grande responsabilidade da desses recursos, que apresentam características peculiares, o pro-
escola na vida do indivíduo. Com o peso de toda essa carga, serão fessor pode atuar como um produtor ou curador de conteúdo ou
necessários profissionais cada vez mais capacitados para atuarem um designer instrucional para direcionar o percurso de aprendiza-
nesse campo. gem do seu aluno dentro da plataforma, que pode ser adaptativa
ou gamificada. Ao professor, caberá ainda conhecer a estrutura e os
potenciais dessa plataforma para então, pensar nas estratégias que
irá propor; pensar sobre quais estilos de aprendizagem devem ser
A METODOLOGIA VIABILIZANDO A APRENDIZAGEM: AS levados em consideração e, se possível, utilizar áudios, vídeos, tex-
ESTRATÉGIAS DE ENSINO, SUA CORRELAÇÃO COM OS RE- tos diversos, infográficos, elaborar questionário rápido (quiz) com
CURSOS DIDÁTICOS vários tipos de perguntas; oferecer diferentes formas do seu aluno
interagir com o conteúdo e com a plataforma.

A METODOLOGIA VIABILIZANDO A APRENDIZAGEM


OBSERVAÇÃO DE SALA DE AULA: ESTRATÉGIAS DE CONS-
— As estratégias de ensino, sua correlação com os recursos TRUÇÃO DE PARCERIA COM O PEDAGOGO
didáticos

Definições
De modo geral, as estratégias de ensino constituem métodos A importância da observação
empregados pelos professores para auxiliar os alunos na constru- A observação de sala de aula tem o objetivo analisar as
ção do saber. Tais métodos são elementares para que se possa ex- interações que são construídas entre o docente, os estudantes e
trair o melhor rendimento do aluno, auxiliando-o na aquisição e os conteúdos trabalhados e sua importância se dá pelo fato de que
fixação o conteúdo que foi lecionado. essa estratégia auxilia com uma reflexão sobre a prática e propicia a
Quanto ao recurso didático, é um material, um instrumento busca por novas intervenções para o aprimoramento dos processos
que pode ser utilizado de maneiras diversas. Por isso, o recurso não de ensino. A observação, em suma, constitui uma ferramenta que
apresenta orientações de uso (como um manual de instrução) com permite um conhecimento mais estreito dos problemas didáticos.
uma propriedade ou funcionalidade pedagógica definida.As possi-
bilidades de utilização do recurso didático são estipuladas por uma Problemática
estratégia (que pode ser desenvolvida conforme com os atributos No exercício dessa tarefa, função do coordenador pedagó-
do recurso, da disciplina, do objetivo de aprendizagem e da criati- gico é  aperfeiçoar a atuação docente as partir das necessidades da
vidade).   equipe. Necessidades tais que podem ser identificadas pelo coorde-
A estratégia geral é experimentar usar o mesmo recurso a nador a partir a utilização de diversos expedientes, como o plane-
partir de estratégias diferentes e veja a diferença nos feedbacks de jamento dos professores, os trabalhos produzidos pelos alunos e o
seus alunos. Essa estratégia é uma oportunidade perfeita para ser resultado das avaliações. É aí que se justifica a observação.
inovador, compartilhar ideias, experiências e continuar proporcio- Esse recurso, entretanto, muitas vezes, é entendido como uma ava-
nando momentos de motivação e aprendizado. liação, e alguns docentes acreditam que a observação é feita para
supervisionar seu trabalho e expor o que está errado na sua prática.
A combinação dos conceitos Essa compreensão equivocada ganhou reforço diante da iniciativa
Assim sendo estratégia é uma das formas de se fazer uso de algumas escolas que passaram a filmar as aulas. Assim, mesmo
de um recurso para coordenar a ocasião de aprendizagem planeja- que seu propósito seja melhorar o ensino, a observação em sala de
da (por exemplo, um curso, uma aula ou um treinamento). Dessa aula pode originar a sensação de pressão e um clima de vigilância.
forma, um único recurso pode ser utilizado de inúmeras manei-
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Como construir a parceria entre pedagogo (observador) e pro- IV) aprender a ser. Eles apontam um novo rumo para as propos-
fessor tas educativas e exprimem necessidades de atualização das meto-
O uso adequado depende da forma como a atividade é dologias educacionais diante da atual realidade.
proposta e da relação que o coordenador tem com a equipe. Quan- O processo de ensino estabelece uma relação diferenciada com
do ele cria uma relação de parceria, o educador sente que essa aju- o educando, onde se observa uma trajetória de construção do saber
da é necessária e abre o espaço da sua sala. Portanto, em vez de e promoção da aprendizagem. Trata-se de uma relação “que ativa o
fiscalizar, a observação precisa ter como metas: processo de aprendizagem em função de capacidades particulares
- acompanhar e auxiliar o educador na construção de conhecimen- a adquirir”. A questão do ensino não se limita à habilidade de dar
tos didáticos, sugerindo encaminhamentos para resolver problemas aulas, também envolve a efetivação de levar ao aprender. O vín-
- favorecer a construção do conhecimento pelos alunos e professores culo entre aprendizagem e ensino não é causal, ou seja, o ensino
- tornar visíveis alguns conteúdos e atuações que ainda não são não causa a aprendizagem nem desenvolve novas capacidades que
observados pelo docente podem levar à aprendizagem. Ensinar e aprender estão vinculados
ontologicamente, assim, a significação do ensino depende do sen-
tido que se dá à aprendizagem e a significação da aprendizagem
depende das atividades geradas pelo ensino. Compreende-se que a
aprendizagem necessita do saber reconstruído pelo próprio sujeito
A IMPORTÂNCIA DAS METODOLOGIAS ATIVAS
e não simplesmente reproduzido de modo mecânico e acrítico.
Até recentemente, observava-se pequena preocupação em re-
lação às metodologias de ensino e acerca das consequências de seu
5
Atualmente, entende-se que os procedimentos de ensino são uso. Destaca-se, aqui, uma célebre frase que traduz essa questão:
tão importantes quanto os próprios conteúdos de aprendizagem. enquanto os conteúdos do ensino informam, os métodos de ensino
Portanto, as técnicas de ensino tradicional passam a fazer parte do formam. Isso porque essa opção metodológica pode ter efeitos de-
escopo de teóricos não só da área da Educação, mas de toda a co- cisivos sobre a formação da mentalidade do aluno, de sua cosmovi-
munidade intelectual que busca identificar suas deficiências e bus- são, de seu sistema de valores e, finalmente, de seu modo de viver.
cam propor novas metodologias de ensino-aprendizagem. A metodologia utilizada pelo educador pode ensinar o educando a
As metodologias ativas de ensino-aprendizagem compartilham ser livre ou submisso, seguro ou inseguro; disciplinado ou desor-
uma preocupação, porém, não se pode afirmar que são uniformes denado; responsável ou irresponsável; competitivo ou cooperativo.
tanto do ponto de vista dos pressupostos teóricos como metodoló- O ensino e a aprendizagem ganham caráter dialético, isto é, de
gicos; assim, identificam-se diferentes modelos e estratégias para constante movimento e construção por aqueles que o fazem, onde
sua operacionalização, constituindo alternativas para o processo de ensinar está diretamente relacionado com o aprender: o educador
ensino-aprendizagem, com diversos benefícios e desafios, nos dife- já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é edu-
rentes níveis educacionais. cado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também
Este estudo adotou a seguinte questão norteadora: “Como as educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo.
metodologias ativas de ensino-aprendizagem vêm sendo utilizadas O ensino exige rigor metodológico; pesquisa; respeito aos sa-
nos cenários de educação e quais são os benefícios e desafios de beres dos educandos; criticidade; estética e ética; corporeidade das
seu uso?”. Dessa forma, analisa-se, aqui, o uso das metodologias palavras pelo exemplo; risco, aceitação do novo e rejeição a qual-
ativas de ensino-aprendizagem a partir de uma revisão integrativa quer forma de discriminação; reflexão crítica sobre a prática; reco-
da literatura, com objetivos específicos: nhecimento e elevação da identidade cultural. Essas características
I) identificar os cenários de uso das metodologias ativas de en- atribuídas ao ensino se somam e são norteadoras de uma proposta
sino-aprendizagem; educacional que recusa a educação e o ensino por uma visão sim-
II) verificar as modalidades e estratégias de operacionalização plória e, aqui, vista como errônea do ensino como mera transmis-
das metodologias ativas de ensino-aprendizagem; e são de conhecimentos.
III) determinar os benefícios e desafios do uso das metodolo- Quando o professor planeja sua atuação em sala de aula, adota
gias ativas de ensino-aprendizagem. uma postura de estar aberto a indagações, à curiosidade, às pergun-
tas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto
As tendências do século XXI indicam que a característica central em face da tarefa que tenho - a de ensinar e não a de transferir co-
da educação é o deslocamento do enfoque individual para o enfo- nhecimentos. Essa conotação de ensino precisa ser compartilhada
que social, político e ideológico. A educação ocorre durante a vida não apenas pelo professor, mas pelos alunos envolvidos no ensi-
inteira, constituindo um processo que não é neutro. Um estudo nar-aprender; além de uma compreensão, essa proposta de ensino
propôs quatro pilares do conhecimento e da formação continuada, exige constante presença e vivência. O ensinar exige a consciência
considerados norteadores: do inacabamento, da infinidade do processo de conhecer; onde a
I) aprender a conhecer; curiosidade e a postura ativa do educando são imprescindíveis para
II) aprender a fazer; o processo de ensino-aprendizagem.
III) aprender a conviver; e Alcança-se, então, a ideia de educação problematizadora em
oposição à noção de educação bancária. Esse movimento não é de
“enchimento” dos educandos com um conhecimento imposto; o ca-
minho da educação problematizadora implica que o educando pos-
5 PAIVA, M.R.F.; PARENTE, J.R.F.; BRANDÃO, I.R.; QUEIROZ, A.H.B.; sa desenvolver seu processo de compreensão e captação do mundo
Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem: Revisão Integrativa. SANARE, So-
bral - V.15 n.02, p.145-153, Jun./Dez. - 2016.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

em sua relação com a realidade em transformação. Indicamos algu- Nesse modelo, o estudante tem acesso a conteúdo de forma
mas das principais propostas que se inserem em uma perspectiva antecipada, podendo ser online para que o tempo em sala de aula
de metodologias ativas de ensino-aprendizagem. seja otimizado, fazendo com que tenha um conhecimento prévio
A ideia de uma educação problematizadora ou libertadora sobre o conteúdo a ser estudado e interaja com os colegas para re-
sugere a transformação do próprio processo de conhecer, nesse alizar projetos e resolver problemas. É uma ótima maneira de fazer
momento, insere-se a proposta da resolução de problemas como com que os estudante se interesse pelas aulas e participe ativamen-
caminho para a construção do saber significativo. Compreende-se te da construção de seu aprendizado, ao se beneficiar com um me-
que a aprendizagem ocorre como resultado do desafio de uma situ- lhor planejamento de aula e com a utilização de recursos variados,
ação-problema, assim, “a aprendizagem torna-se uma pesquisa em como vídeos, imagens, e textos em diversos formatos.
que o aluno passa de uma visão ‘sincrética’ ou global do problema
a uma visão ‘analítica’ do mesmo - através de sua teorização - para Ensino Híbrido
7

chegar a uma ‘síntese’ provisória, que equivale à compreensão. O ensino híbrido consiste na união do ensino tradicional e pre-
Esse movimento de resolução de problemas exige a participação de sencial com aquele a distância (EAD). O uso da tecnologia no ensino
professores e alunos de forma ativa durante todo o processo, cujo facilita o contato do aluno com o conhecimento, permitindo que o
resultado final é, de fato, construído e a aprendizagem mostra-se estudante busque fontes, informações e dados online rapidamente
significativa para os sujeitos protagonistas da ação. com a finalidade de complementar o que foi dito em sala.

Exemplos de Metodologias Ativas Gamificação


O objetivo da gamificação é trazer a experiência dos jogos para
6
Aprendizagem baseada em problemas o ensino. O ponto principal dessa metodologia é fazer com que os
A aprendizagem baseada em problemas, project based learning alunos entrem em uma competição saudável, estimulando o pensa-
(PBL), tem como propósito fazer com que os estudantes aprendam mento “fora da caixa” e a motivação e a dedicação para o estudo.
através da resolução colaborativa de desafios. Ao explorar soluções
dentro de um contexto especifico de aprendizado, que pode utilizar As possibilidades para desenvolver metodologias ativas de en-
a tecnologia e/ou outros recursos, essa metodologia incentiva a ha- sino-aprendizagem são múltiplas, a exemplo da estratégia da pro-
bilidade de investigar, refletir e criar perante a uma situação. blematização, do Arco de Marguerez, da aprendizagem baseada em
O professor atua como mediador da aprendizagem, provocan- problemas (problem-based learning - PBL), da aprendizagem base-
do e instigando o aluno a buscar as resoluções por si só. O docente ada em equipe (team-based learning - TBL), do círculo de cultura.
tem o papel de intermediar nos trabalhos e projetos e oferecer re- Vale esclarecer que outros procedimentos também podem consti-
torno para a reflexão sobre os caminhos tomados para a construção tuir metodologias ativas de ensino-aprendizagem, como: seminá-
do conhecimento, estimulando a crítica e reflexão dos jovens. rios; trabalho em pequenos grupos; relato crítico de experiência;
socialização; mesas-redondas; plenárias; exposições dialogadas;
Aprendizagem baseada em projetos debates temáticos; oficinas; leitura comentada; apresentação de
A aprendizagem baseada em projetos (que também é funda- filmes; interpretações musicais; dramatizações; dinâmicas lúdico-
mentada na Aprendizagem baseada em Problemas) exige que os -pedagógicas; portfólio; avaliação oral; entre outros.
alunos coloquem a mão na massa ao propor que os alunos inves-
tiguem como chegar à resolução. Um bom exemplo disso é o mo-
vimento maker, “faça você mesmo”, que propôs nos últimos anos
o resgate da aprendizagem mão na massa, trazendo o conceito PLATAFORMAS EDUCACIONAIS COMO MEIO PARA DESEN-
“aprendendo a fazer”. VOLVER HABILIDADES

Aprendizagem entre times


A aprendizagem entre times, team based learning (TBL), tem O isolamento obrigatório imposto pela crise sanitária levou
por finalidade a formação de equipes dentro da turma, através do a uma alteração definitiva no cenário educacional: se, antes as a
aprendizado que privilegia o fazer em conjunto para compartilhar maioria das escolas não contava com esses equipamentos para que
ideias. seus alunos pudessem acompanhar as aulas pela internet (pesquisa
O professor pode trabalhar essa aprendizagem através de um TIC 2019), hoje as plataformas tecnológicas via internet já integram
estudo de caso ou projeto, para que os alunos resolvam os desa- todo o contexto educacional, ainda que as atividades didáticas na
fios de forma colaborativa. Dessa forma, eles aprendem uns com forma presencial tenham sido retomadas. Isso em razão de que
os outros, empenhando-se para formar o pensamento crítico, que tais ferramentas proporcionam possibilidades e oferecem recursos
é construído por meio de discussões e reflexões entre os grupos. que transpassam o ambiente virtual de sala de aula: eles facilitam
aprendizado e a interação entre os alunos.
Sala de aula invertida
A sala de aula invertida, flipped classroom, pode ser consi- Plataformas de ensino
derada um apoio para trabalhar com as metodologias ativas, que São softwares que proporcionam acesso a um ambiente
tem como objetivo substituir a maioria das aulas expositivas por digital com aspectos idênticos aos de uma sala de aula presencial,
extensões da sala de aula em outros ambientes, como em casa, no com mecanismos interativos capazes de fazer de converter uma
transporte. conferência de vídeo em uma classe virtual. Com a plataforma, pro-
6 https://novaescola.org.br/conteudo/11897/como-as-metodologias-ati-
vas-favorecem-o-aprendizado 7 https://bit.ly/33QqYze
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

fessores e alunos podem interagir e trocar informações, imagens e move a organização da coletividade. Para desenvolver esse tipo de
documentos. Para a equipe pedagógica, essa ferramenta torna pos- relacionamento, é preciso que professor e aluno sejam capazes de
sível uma melhor gestão de aprendizado, supervisão de avaliações compreender os diferentes mundos em que estão inseridos. E este
e de atividades ao vivo.   movimento deve partir do professor: é preciso demonstrar interes-
Esses recursos são denominados também de plataformas digi- se, fazer contato, conhecer e se conectar com a turma.
tais colaborativas fazem parte do presente, bem como do futuro da
educação. Ferramentas de videoconferência, que permitem colabo- Mediação do conhecimento
ração em tempo real e, ao mesmo tempo, garantem a segurança Mediar o conhecimento quer dizer mostrar aos alunos onde
das informações trocadas, têm papel central mesmo com o retorno se aplica o conteúdo recém aprendido, de que forma esse conteú-
do ensino presencia do aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito
Uma plataforma educacional engloba vários aspectos por meio pode ampliar a sua compreensão de mundo. Tudo isso é mediar o
dos seus recursos, integrados em um único sistema voltado para o significado de um conceito.
gerenciamento do ensino digital. Diante dessas definições de cada dimensão, entendemos que a
importância do tripé integrado por elas tem sua importância devido
As TIC’s à educação escolar ser um processo coletivo e de interação com
TICs é a sigla para Tecnologias da Informação e da Comu- a realidade, por meio do relacionamento humano baseado no tra-
nicação e refere-se aos dispositivos e programas geradores do aces- balho com o conhecimento e na organização da coletividade, cuja
so ao conhecimento. Elas consistem no tratamento da informação, finalidade é colaborar na formação do educando na sua totalidade
articulado com os processos de transmissão e de comunicação. As tendo como mediação fundamental os saberes que possibilitam a
TICs multiplicaram as possibilidades de pesquisa e informação para emancipação humana.
os alunos, que munidos dessas novas ferramentas tornam a apren-
dizagem ativa e passam a protagonizar o processo de educação.  

O papel do professor ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DO TEMPO E DA APRENDIZA-


O pleno avanço das novas tecnologias não minimiza a GEM
atuação dos docentes, que passam ensinar os alunos a avaliarem e
gerirem a informação. Nessa nova conjuntura, os professores pas-
sam a ser organizadores do conhecimento; fornecedores de meios No desempenho da docência, a gestão do tempo e da apren-
e recursos de aprendizado; provocadores do diálogo, da reflexão e dizagem significa a capacidade de aplicar e gerenciar estratégias de
da participação crítica. ensino que entregam resultados para os estudantes. Além disso,
consiste na experiência positiva individual de cada um, o que auxilia
a instituição de ensino na obtenção de dados analíticos importantes
para tomadas de decisão.
A GESTÃO DE SALA DE AULA: A IMPORTÂNCIA DO TRIPÉ Ao pensar na gestão de tempo, é importante que esses mo-
(ORGANIZAÇÃO DA COLETIVIDADE, CUIDADO COM AS RE- mentos não sejam longos demais, intercalem momentos expositi-
LAÇÕES INTERPESSOAIS E MEDIAÇÃO DO CONHECIMEN- vos, de produção em grupo e produção individual. Mas atenção:
TO) cuidado com as transições de um momento para o outro – elas de-
vem ter comandos claras para que sejam rápidas.
As estratégias de aprendizagem consistem em um dos proces-
Para uma atuação efetiva, o docente precisa dominar a gestão sos mais importantes de uma instituição de ensino. De maneira
em sala de aula e esta, por sua vez, somente é exercida de forma prática, podem ser definidas como os procedimentos usados pelo
satisfatória se tiver pautada em três dimensões básicas que, juntas, corpo docente com o objetivo de estimular o desenvolvimento dos
formam um tripé. Acompanhe a seguir quais são essas dimensões.   alunos. Essas estratégias de podem ser ensinadas para alunos de
baixo rendimento escolar. É possível ensinar a todos os alunos a ex-
Organização da coletividade pandir notas de aulas, a sublinhar pontos importantes de um texto,
Essa dimensão está relacionada à disciplina e ao chamado cli- a monitorar a compreensão na hora da leitura, usar técnicas de me-
ma de trabalho em sala de aula. Organizar a coletividade nada mais morização, fazer resumos, entre outras estratégias.
é do que criar um ambiente de participação, interação, disciplina e
respeito é importante para que o processo de ensino e aprendiza-
gem aconteça da melhor forma. Entre as medidas que contribuem
para a organização da coletividade e, consequentemente, para um A IMPORTÂNCIA DO CLIMA ESCOLAR PARA A CONSTRU-
aprendizado efetivo, estão a realização assembleias de classe, a ÇÃO DO RESPEITO E DE UM AMBIENTE ACOLHEDOR PARA
promoção de conversas sobre a importância da escola, fazer com os A FORMAÇÃO DO ESTUDANTE
alunos um contrato didático no início das aulas, etc.
Uma boa escola é feita de professores comprometidos com a
Cuidado com as Relações Interpessoais missão de ensinar, de alunos empenhados em aprender e de famí-
As relações interpessoais anteveem a estão à organização da lias investidas na importância de uma parceria com a escola. Esses
coletividade — e está diretamente relacionada à essa dimensão. componentes têm igual importância para a construção de um bom
Um bom relacionamento entre professor e aluno gera uma cultura clima escolar.
de respeito mútuo, de atenção e de cuidado com o outro, e pro-
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A escola é um espaço humano, de convivência e da comunida-


de. Por isso, deve-se considerar como as pessoas se sentem nesse A AVALIAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA APRENDIZAGEM:
ambiente. Segundo Joice Lamb, coordenadora pedagógica, eleita AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA, AVALIAÇÃO FORMATIVA E
coordenadora do ano em 2019, “se pensamos primeiro nos conteú- AVALIAÇÃO SOMATIVA; RECUPERAÇÃO DE ESTUDOS E RE-
dos a serem ensinados do que nas pessoas, estamos tratando-os AVALIAÇÃO; CRITÉRIOS, INSTRUMENTOS E INTENCIONA-
como robôs, e a escola torna-se um lugar que só aplica matéria”.   LIDADE DA AVALIAÇÃO ESCOLAR
Essa reflexão está estritamente relacionada ao propósi-
to de toda instituição educacional. Preparar alunos para provas e
avaliações, por exemplo, fará com que se sintam apenas executo- A avaliação8, tal como concebida e vivenciada na maioria das
res, sem a compreensão de conceitos mais amplos. Ainda segundo escolas brasileiras, tem se constituído no principal mecanismo de
Lamb, a escola precisa se entender como um espaço frequentando sustentação da lógica de organização do trabalho escolar e, por-
por crianças e adolescentes na busca por algo além do conteúdo tanto, legitimador do fracasso, ocupando mesmo o papel central
pedagógico: elas buscam aprender a viver em sociedade, a ser ci- nas relações que estabelecem entre si os profissionais da educação,
dadãos, a pensar no país, no mundo e nos outros, isso vai se refletir alunos e pais.
no clima do lugar, porque as ações que os docentes e a equipe pe- Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço relevan-
dagógica pensarem serão definidas com vistas a esse propósito.   te no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao processo de
Primeiramente, antes mesmo de se pensar sobre como ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto, não se resume à
construir um bom clima escolar, é importante ter em mente que mecânica do conceito formal e estatístico; não é simplesmente atri-
isso está sujeito à mobilização de pessoas que se envolvem a pro- buir notas, obrigatórias à decisão de avanço ou retenção em deter-
posta de pensar coletivamente nos desafios da instituição. Um minadas disciplinas.
espaço de convivência satisfatória, que acolhe e respeita a todos, Para Oliveira9, devem representar as avaliações aqueles instru-
também pode ser construído a partir de ações de valorização do mentos imprescindíveis à verificação do aprendizado efetivamente
trabalho, das ideias e posicionamento dos profissionais da educa- realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que forneçam subsídios ao
ção e dos estudantes.   trabalho docente, direcionando o esforço empreendido no proces-
so de ensino e aprendizagem de forma a contemplar a melhor abor-
Medidas efetivas dagem pedagógica e o mais pertinente método didático adequado
Existem algumas ações que podem favorecer e, até mes- à disciplina - mas não somente -, à medida que consideram, igual-
mo, garantir a construção de um clima escolar satisfatório e acolhe- mente, o contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as
dor. Conheça algumas:   condições individuais do aluno, sempre que possível.
Regras de convivência: essa medida desempenham um papel A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de decisão e
importante, desde que construídas conjuntamente. Joice ressalta a melhoria da qualidade de ensino, informando as ações em desen-
que ser acolhedor não é sinônimo de não ter limites. Entender o volvimento e a necessidade de regulações constantes.
que pode e o que não pode é papel dos alunos, professores e fun-
cionários, e ajuda a compreender o espaço de cada um na escola.   Origem da Avaliação
Tempo de intervalo: algumas escolas proporcionam quinze
minutos de intervalo para comer, ir ao banheiro e brincar, mas as Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e
pessoas precisam de mais tempo para se relacionar. É evidente que mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo
os alunos ajudam na manutenção do clima, mas isso só é possível de valor sobre a propriedade de um processo para a aferição da
se a escola tiver uma proposta voltada a ouvir as crianças e jovens qualidade do seu resultado, porém, a compreensão do processo de
e compreendê-los. avaliação do processo ensino/aprendizagem tem sido pautada pela
Assembleias escolares: ouvir a opinião de crianças e jovens lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato de avaliar ao de “me-
também é sempre relevante. Entretanto, com a volta das aulas pre- dir” os conhecimentos adquiridos pelos alunos.
senciais, Joice reforça que, além de avaliações e sondagens para ve- A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e característi-
rificar a aprendizagem, é necessário promover momentos para que cas no campo da Psicologia, sendo que as duas primeiras décadas
os alunos possam falar como estão se sentindo. do século XX foram marcadas pelo desenvolvimento de testes pa-
dronizados para medir as habilidades e aptidões dos alunos.
A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos meios
que emprega, formativa na intenção que lhe preside e independen-
te face à classificação. De âmbito mais vasto e conteúdo mais rico,
a avaliação constitui uma operação indispensável em qualquer sis-
tema escolar.

8 KRAEMER, M. E. P.- A avaliação da aprendizagem como processo

construtivo de um novo fazer. 2005.

9 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipa-

ção. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.


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Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem, um ca-


minho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de chegada, 4. Negociação: nesta geração, a avaliação é um processo intera-
naturalmente que é necessário verificar se o trajeto está a decorrer tivo, negociado, que se fundamenta num paradigma construtivista.
em direção à meta, se alguns pararam por não saber o caminho ou Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de enfocar e um modo
por terem enveredado por um desvio errado. construtivista de fazer.
É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada A avaliação é responsiva porque, diferentemente das alterna-
um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é tivas anteriores que partem inicialmente de variáveis, objetivos,
necessária a professores e alunos. tipos de decisão e outros, ela se situa e desenvolve a partir de preo-
A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou aptidões cupações, proposições ou controvérsias em relação ao objetivo da
que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do ensino já atingi- avaliação, seja ele um programa, projeto, curso ou outro foco de
ram num determinado ponto de percurso e que dificuldades estão a atenção. Ela é construtivista em substituição ao modelo científico,
revelar relativamente a outros. que tem caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais pres-
Esta informação é necessária ao professor para procurar meios tigiadas neste século.
e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver essas dificul- Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de acor-
dades e é necessária aos alunos para se aperceberem delas (não do com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo pedagógico,
podem os alunos identificar claramente as suas próprias dificulda- informações que permitam aos agentes escolares decidir sobre as
des num campo que desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com intervenções e redirecionamentos que se fizerem necessários em
a ajuda do professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação face do projeto educativo, definido coletivamente, e comprometido
tem uma intenção formativa. com a garantia da aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em
A avaliação proporciona também o apoio a um processo a de- um instrumento referencial e de apoio às definições de natureza
correr, contribuindo para a obtenção de produtos ou resultados de pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por meio
aprendizagem. de relações partilhadas e cooperativas.

As avaliações a que o professor procede enquadram-se em Funções do Processo Avaliativo


três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e somativa.
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação e de
Evolução da Avaliação apreciação.

A partir do início do século XX, a avaliação vem atravessando 1. Função diagnóstica: a primeira abordagem, de acordo com
pelo menos quatro gerações, conforme Guba e Lincoln10 são elas: Miras e Solé11, contemplada pela avaliação diagnóstica (ou inicial),
mensuração, descritiva, julgamento e negociação. é a que proporciona informações acerca das capacidades do aluno
1. Mensuração: não distinguia avaliação e medida. Nessa fase, antes de iniciar um processo de ensino/aprendizagem, ou ainda, se-
era preocupação dos estudiosos a elaboração de instrumentos ou gundo Bloom, Hastings e Madaus, busca a determinação da presen-
testes para verificação do rendimento escolar. O papel do avaliador ça ou ausência de habilidades e pré-requisitos, bem como a identifi-
era, então, eminentemente técnico e, neste sentido, testes e exa- cação das causas de repetidas dificuldades na aprendizagem.
mes eram indispensáveis na classificação de alunos para se deter- A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do aluno
minar seu progresso. face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e a aprendi-
zagens anteriores que servem de base àquelas, no sentido de ob-
2. Descritiva: essa geração surgiu em busca de melhor entendi- viar as dificuldades futuras e, em certos casos, de resolver situações
mento do objetivo da avaliação. Conforme os estudiosos, a geração presentes.
anterior só oferecia informações sobre o aluno.
Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por par- 2. Função formativa: a segunda função á a avaliação formativa
te dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo necessá- que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos estão, de fato,
rio descrever o que seria sucesso ou dificuldade com relação aos atingindo os objetivos pretendidos, verificando a compatibilidade
objetivos estabelecidos. Neste sentido o avaliador estava muito entre tais objetivos e os resultados efetivamente alcançados duran-
mais concentrado em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase te o desenvolvimento das atividades propostas.
que surgiu o termo “avaliação educacional”. Representa o principal meio através do qual o estudante passa
a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um es-
3. Julgamento: a terceira geração questionava os testes padro- tudo sistemático dos conteúdos.
nizados e o reducionismo da noção simplista de avaliação como si- Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de ava-
nônimo de medida; tinha como preocupação maior o julgamento. liação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do professor,
Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz, incorporan- principalmente através de mecanismos de feedback.
do, contudo, o que se havia preservado de fundamental das gera- Estes mecanismos permitem que o professor detecte e identifi-
ções anteriores, em termos de mensuração e descrição. que deficiências na forma de ensinar, possibilitando reformulações
Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do proces- no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo.
so avaliativo, pois não só importava medir e descrever, era preciso
julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do objeto, inclusive 11 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do
sobre os próprios objetivos.
Processo de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A.
10 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Ava- Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
liação v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994. Artes Médicas, 1996.
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Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa informar o professor e o aluno sobre o rendimento da aprendizagem no
decorrer das atividades escolares e a localização das deficiências na organização do ensino para possibilitar correção e recuperação.
A avaliação formativa pretende determinar a posição do aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de identificar dificulda-
des e de lhes dar solução.

3. Função somativa: tem como objetivo, segundo Miras e Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de aprendizagem,
o que permite outorgar uma qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada.
Pode ser chamada também de função creditativa. Também tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período de aprendi-
zagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.

A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso realizado pelo aluno no final de uma unidade de aprendizagem, no sentido
de aferir resultados já colhidos por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que permitem aperfeiçoar o processo de ensino.
Corresponde a um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos
parcelares.

Objetivos da Avaliação

Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um juízo sobre uma
pessoa, um fenômeno, uma situação ou um objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de informações úteis para tomar alguma
decisão”.
Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para este autor, é o
processo de ajuizamento, apreciação, julgamento ou valorização do que o educando revelou ter aprendido durante um período de estudo
ou de desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.
Para outros autores, a avaliação pode ser considerada como um método de adquirir e processar evidências necessárias para melhorar
o ensino e a aprendizagem, incluindo uma grande variedade de evidências que vão além do exame usual de ‘papel e lápis’.
É ainda um auxílio para classificar os objetivos significativos e as metas educacionais, um processo para determinar em que medida
os alunos estão se desenvolvendo dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade, pelo qual pode ser determinada etapa
por etapa do processo ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em caso negativo, que mudança devem ser feitas para
garantir sua efetividade.

Modelo Tradicional de Avaliação X Modelo Mais Adequado

Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questiona-
mento, reflexão, sobre a ação.
Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz necessária para que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações.
O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam como forma de controle
e de autoritarismo por diversas gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o mesmo que cumprir sua função didático-pe-
dagógica de auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem.
A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que
o professor e a escola valorizam. O autor, na tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais
adequada a objetivos contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua adoção.

Tabela 1 - Comparação entre a concepção tradicional de avaliação com uma mais adequada
Modelo tradicional de avaliação Modelo adequado
Foco na promoção - o alvo dos alunos é a promoção.
Foco na aprendizagem - o alvo do aluno deve ser a apren-
Nas primeiras aulas, se discutem as regras e os modos
dizagem e o que de proveitoso e prazeroso dela obtém.
pelos quais as notas serão obtidas para a promoção de
uma série para outra.
Implicação - neste contexto, a avaliação deve ser um au-
xílio para se saber quais objetivos foram atingidos, quais
Implicação - as notas vão sendo observadas e registra-
ainda faltam e quais as interferências do professor que po-
das. Não importa como elas foram obtidas, nem por qual
dem ajudar o aluno.
processo o aluno passou.

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Foco nas provas - são utilizadas como objeto de pres-


são psicológica, sob pretexto de serem um ‘elemento mo-
Foco nas competências - o desenvolvimento das
tivador da aprendizagem’, seguindo ainda a sugestão de
competências previstas no projeto educacional devem ser
Comenius em sua Didática Magna criada no século XVII.
a meta em comum dos professores.
É comum ver professores utilizando ameaças como “Es-
tudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia
Implicação - a avaliação deixa de ser somente um ob-
da prova!” ou “Fiquem quietos! Prestem atenção! O dia da
jeto de certificação da consecução de objetivos, mas tam-
prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer...”
bém se torna necessária como instrumento de diagnóstico
e acompanhamento do processo de aprendizagem. Neste
Implicação - as provas são utilizadas como um fator ne-
ponto, modelos que indicam passos para a progressão na
gativo de motivação. Os alunos estudam pela ameaça da
aprendizagem, como a Taxionomia dos Objetivos Educacio-
prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de
nais de Benjamin Bloom, auxiliam muito a prática da avalia-
proveitoso e prazeroso. Estimula o desenvolvimento da
ção e a orientação dos alunos.
submissão e de hábitos de comportamento físico tenso
(estresse).
Os estabelecimentos de ensino estão centrados nos Estabelecimentos de ensino centrados na qualidade -
resultados das provas e exames - eles se preocupam os estabelecimentos de ensino devem preocupar-se com o
com as notas que demonstram o quadro global dos alu- presente e o futuro do aluno, especialmente com relação à
nos, para a promoção ou reprovação. sua inclusão social (percepção do mundo, criatividade, em-
pregabilidade, interação, posicionamento, criticidade).
Implicação - o processo educativo permanece oculto. A
leitura das médias tende a ser ingênua (não se buscam os Implicação - o foco da escola passa a ser o resultado de
reais motivos para discrepâncias em determinadas disci- seu ensino para o aluno e não mais a média do aluno na
plinas). escola.
O sistema social se contenta com as notas - as notas
são suficientes para os quadros estatísticos. Resultados
Sistema social preocupado com o futuro - Já alertava o
dentro da normalidade são bem vistos, não importando a
ex-ministro da Educação, Cristóvam Buarque: “Para saber
qualidade e os parâmetros para sua obtenção (salvo nos
como será um país daqui há 20 anos, é preciso olhar como
casos de exames como o ENEM que, de certa forma, ava-
está sua escola pública no presente”. Esse é um sinal de
liam e “certificam” os diferentes grupos de práticas educa-
que a sociedade já começa a se preocupar com o distan-
cionais e estabelecimentos de ensino).
ciamento educacional do Brasil com o dos demais países.
É esse o caminho para revertermos o quadro de uma edu-
Implicação - não há garantia sobre a qualidade, somente
cação “domesticadora” para “humanizadora”.
os resultados interessam, mas estes são relativos. Siste-
mas educacionais que rompem com esse tipo de procedi-
Implicação - valorização da educação de resultados efeti-
mento tornam-se incompatíveis com os demais, são mar-
vos para o indivíduo.
ginalizados e, por isso, automaticamente pressionados a
agir da forma tradicional.

Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos no processo educativo.
Isto é corroborado por Benvenutti, ao dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e esta deverá contribuir no processo de
construção do caráter, da consciência e da cidadania, passando pela produção do conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o
mundo em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja preparado para transformá-lo.

A Avaliação da Aprendizagem como Processo Construtivo de um Novo Fazer


O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda não está refletido na avaliação. Para Wachowicz & Romanowski, embora
historicamente a questão tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais comum na maioria das instituições de ensino
ainda é um registro em forma de nota, procedimento este que não tem as condições necessárias para revelar o processo de aprendizagem,
tratando-se apenas de uma contabilização dos resultados.
Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se uma buro-
cratização que leva à perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem.
Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do processo de
aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua característica pragmática, a fragmentação e a burocratização acima mencionadas levam
à perda da dinamicidade do processo.
Os dados registrados são formais e não representam a realidade da aprendizagem, embora apresentem consequências importantes
para a vida pessoal dos alunos, para a organização da instituição escolar e para a profissionalização do professor.
Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse instituída, a
descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação prescrita com os resultados.

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A isenção advinda da necessidade de analisar a aprendizagem Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando em
(e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a constatarem o que torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou meio. Fun-
realmente ocorreu durante o processo: se o professor e os alunos da-se em uma base filosófica de natureza racionalista ou apriorista,
tivessem espaço para revelar os fatos tais como eles realmente que percebe o conhecimento como resultante de estruturas pré-
ocorreram, a avaliação seria real, principalmente discutida coleti- -formadas, de variáveis biológicas ou maturacionais e de organiza-
vamente. ção perceptual de situações imediatas. A escola psicológica alemã
No entanto, a prática das instituições não encontrou uma forma conhecida como Gestalt, responsável no início do século XX, por
de agir que tornasse possível essa isenção: as prescrições suplan- estudos na vertente da percepção, constitui umas das expressões
tam as descrições e os pré-julgamentos impedem as observações. mais fortes dessa posição, tendo deixado um legado mais associado
A consequência mais grave é que essa arrogância não permite o ao estudo da “boa forma” ou das condições capazes de propiciar
aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem. E este é o soluções de problemas por discernimento súbito (insight), em fun-
grande dilema da avaliação da aprendizagem. ção de relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste mo-
O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos ganhos delo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu estatuto de
da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias há décadas, autossuficiência e autorregulação, reducionismo que permanece
desde que as teorias da educação escolar recolocaram a questão no recusando a relação ensino-aprendizagem e se fixando em apenas
âmbito da cognição. um de seus polos.
Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para uma
avaliação de processo, indicando a possibilidade de realizar-se na “Aprendizagem é organização de conhecimentos como estru-
prática pela descrição e não pela prescrição da aprendizagem. turas, ou rede construídas a partir das interações entre sujeito e
meio de conhecimento ou práticas sociais”
Avaliação da Aprendizagem12
Esta seria uma concepção de base construtivista ou interacionis-
A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a ta, comprometida com a superação dos reducionismos anteriores
ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode ser (experiência advinda dos objetos X pré-formação de estruturas) e
compreendida em função de determinada concepção de conheci- identificada com modelos mais abertos, fundados nas ideias de gê-
mento - algo que a filosofia compreende como base ou matriz epis- nese ou processo.
temológica. A partir de tais concepções, podem ser focalizadas três Por esta razão, suas principais vertentes podem ser identifica-
possibilidades de definição de aprendizagem: das como “psicogenéticas” e são representadas pela Epistemologia
Genética Piagetiana e pela abordagem sócio-histórica dos psicólo-
“Aprendizagem é mudança de comportamento resultante do gos soviéticos (Vygotsky, Luria e Leontierv, em especial).
treino ou da experiência”
Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas ver-
Esta seria a definição mais impregnada e dominante no campo tentes:
psicológico e pedagógico e, certamente, a mais resistente às pro- 1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se identifica com
posições alternativas. Funda-se na concepção empirista formulada adaptação ou equilibração à medida que supõe a “passagem de
por Locke e Hume. Realimenta-se do positivismo de Comte, com um estado de menor conhecimento a um estado de conhecimento
seus ideais de objetividade científica, ao final do século XIX e se mais avançado” ou “uma construção sucessiva com elaborações
encarna como corrente behaviorista, comportamentista ou de es- constantes de estruturas novas, rumo a equilibrações majoran-
tímulo-resposta, no início do século XX. Valoriza o polo do objeto tes”13
e não o do sujeito, marcando a influência do meio ou do ambien- (O motor para tais processos de adaptação e equilibração seria
te através de estímulos, sensações e associações. Reserva ao su- o conflito cognitivo diante de novos desafios ou necessidades de
jeito o papel de receptáculo e reprodutor de informações, através aprendizagem, em esforços complementares de assimilação (polo
de modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e do sujeito responsável por incorporações de elementos do mundo
dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação com exterior) e acomodação (polo modificado do estado anterior do su-
motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem e ensino jeito em função das atuais demandas apresentadas pelo objeto de
têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira é considerada conhecimento). Essa posição sugere a importância de que o meio
decorrência linear do segundo (em outros termos: se algo foi en- de aprendizagem seja alargado e pleno de significado, para que se
sinado, dentro de contingências ambientais adequadas, certamen- chegue a uma congruência entre a parte do sujeito e as pressões
te foi apreendido...). Na perspectiva pedagógica, essa concepção externas, entre autorregulações e regulações externas, entre siste-
encontra plena afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e mas pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não-aprendiza-
bancárias - metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia gem seria resultante da ausência de congruência entre os sistemas
de passividade do sujeito, depositário de informações, conforme a envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem.
lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação.
2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus colabo-
“Aprendizagem é apreensão de configurações perceptuais radores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a articulação
através de insights”. fortemente estabelecida entre aprendizagem e desenvolvimen-
to, sendo a primeiro motor do segundo, no sentido que apresen-
ta potência para projeta-lo até patamares mais avançados. Esta
13 PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad.
12 http://crv.educacao.mg.gov.br/ Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993.
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potência da aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de quais, mediante comparação, o desempenho de um aluno será ava-
desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento proximal”: a liado e hierarquizado. A Avaliação Classificatória é realizada através
primeira referindo-se às competências ou domínios já instalados de variadas atividades, tais como exercícios, questionários, estudos
(no campo conceitual, procedimental ou atitudinal, por exemplo) dirigidos, trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é es-
e a segunda entendida como campo aberto de possibilidades, em tabelecer uma classificação do aluno para fins de aprovação ou
transição ou em vias de se consolidar, a partir de intervenções ou reprovação.
mediações de outros - professores ou pares mais experientes ou A centralidade da aprovação/reprovação na cultura escolar
competentes em determinada área, tarefa ou função.14 impõe algumas considerações importantes em torno da nota e da
Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino- ideia de avaliação como medida dos desempenhos do aluno. Para
-aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de outras se medir objetivamente um fenômeno, é preciso definir uma uni-
concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio privilegia- dade de medida. Sua operacionalização se dá através de um instru-
do para as mediações em direito a patamares conceituais mais ele- mento. No caso da avaliação escolar, este instrumento é produzido,
vados. aplicado e corrigido pelo professor, que acaba sendo, ele próprio,
Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere a um instrumento de medição do desempenho do aluno, uma vez
aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa realida- que é ele quem atribui o valor ao trabalho. Portanto, o critério de
de educacional: um processo marcado por contradições, conflitos, objetividade, implícito na ideia de avaliação como medida, perde
rupturas e, até mesmo, regressões - necessitando, por isso mesmo, sua confiabilidade, já que o professor é um ser humano e, como tal,
de mediações que assegurem o espaço do reconhecimento das prá- impossibilitado de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de
ticas sociais dos alunos, de seus conhecimentos prévios, dos signifi- mundo, as preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os
cados e sentidos pertinentes às situações de aprendizagem de cada afetos e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presen-
sujeito singular e de suas dimensões compartilhadas. tes nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de inúme-
As abordagens contemporâneas da Psicologia da Aprendizagem ras pesquisas que apontam desacordos consideráveis na atribuição
e dos estudos sobre reorientações curriculares apoiam-se nessas de valor a um mesmo trabalho ou exame corrigido por diferentes
categorias para a necessária reorientação das estratégias de apren- professores. E esse valor, geralmente registrado de forma numérica,
dizagem. é a referência para a classificação do aluno e o julgamento do pro-
Um enfoque superficial: centrado em estratégias mnemônicas fessor ou da escola quanto à sua aprovação/reprovação.
ou de memorização (reprodutoras em contingências de provas ou No contexto escolar, e no imaginário social também, o significa-
exames) ou centrado em passividade, isolamento, ausência de re- do da nota e sua identificação com a própria avaliação tornaram-se
flexão sobre propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação tão fortes que num dos argumentos para a sua manutenção costu-
e no acúmulo de elementos; ma ser o de que, sem ela, acabou-se a avaliação e o interesse ou
Um enfoque profundo: centrado na intenção de compreender, a motivação do aluno pelos estudos. Estes argumentos refletem,
na relação das novas ideias e conceitos com o conhecimento an- por um lado, a distorção da função avaliativa na escola, que não
terior, na relação dos conceitos como experiência cotidiana, nos deve confundir-se com a atribuição de notas: a avaliação deve ser-
componentes significativos dos conteúdos, nas inter-relações e nas vir à orientação das aprendizagens. Por outro lado, revelam uma
condições de transcendência em relação às situações e aprendiza- compreensão do desempenho do aluno como decorrente exclusi-
gens do momento. vamente de sua responsabilidade ou competência individual. Daí o
As questões mais relevantes, a partir dessas distinções seriam: fato da avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação
Por que um aluno se dirige para um outro tipo de aprendizagem? ou punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os
O que faz com que mostre maior ou menor disposição para a reali- privilégios são justificados com base nas diferenças e desigualdades
zação de aprendizagens significativas? Por que não aprende em de- entre os alunos. Fundamentada na meritocracia (a ideia de que a
terminadas circunstâncias? Por que alunos modificam seu enfoque posição dos indivíduos na sociedade é consequência do mérito in-
em função da tarefa ou da mudança de estratégias dos professores? dividual), a Avaliação Classificatória passa a servir à discriminação e
Quais os fatores de mediação capazes de produzir novos patamares à injustiça social.
motivacionais e novas zonas de aprendizagem e competência? Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de verifica-
Tais questões sinalizam para um projeto educativo comprome- ção da aprendizagem. O termo verificar tem origem na expressão
tido com novas práticas e relações pedagógicas, uma lógica a ser- latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte-se do princípio
viço das aprendizagens e da Avaliação Formativa, uma concepção de que existe um conhecimento - uma verdade - que dever ser as-
construtiva e propositiva sobre erros e correção dos mesmos, uma similado pelo aluno. A avaliação consistiria na aferição do grau de
articulação entre dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressig- aproximação entre as aprendizagens do aluno e essa verdade.
nifiquem o ato de aprender. Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de
qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo do
Definindo os Tipos de Avaliação programa. É a partir dessa escala que os alunos serão classificados,
tendo em vista seu rendimento nos instrumentos de avaliação, ou
- Avaliação Classificatória seja, o total de pontos adquiridos. De um modo geral, as provas e
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação vincula- os testes são os instrumentos mais utilizados pelo professor para
da à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível aferir, ma- medir o alcance dos objetivos traçados para aprendizagem dos alu-
temática, e objetivamente, as aprendizagens escolares. A noção de nos. A sua formulação exige rigor técnico e deve estar de acordo
medida supõe a existência de padrões de rendimento a partir dos com os conteúdos desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar.
14 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins
A dimensão diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de ava-
Fontes,1984. liação.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

conhecimento o aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a


- Avaliação de Conteúdos sobre a Dimensão Conceitual categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento como
A dimensão conceitual do conhecimento implica que a pessoa a prova objetiva.
esteja estabelecendo relações entre fatos para compreendê-los. Os Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de conceitos
fatos e dados, segundo COLL, estão num extremo de um contínuo seria a técnica de aplicação à solução de problemas, deveriam ser
de aprendizagem e a retenção da informação simples, a aprendiza- situações abertas, nas quais os alunos fariam exposição da com-
gem de natureza mnemônica ou “memorística”. São informações preensão que têm do conceito, tentando responder à situação
curtas sobre os fenômenos da vida, da natureza, da sociedade, que apresentada. Nesse caso, o instrumento mais adequado seria uma
dão uma primeira informação objetiva sobre o que é, quem fez, prova operatória, é importante, no caso da avaliação de conceitos,
quando fez, o que foi. Os conceitos estão no outro extremo (desse resgatar sempre os conhecimentos prévios dos alunos, para anali-
contínuo da aprendizagem) e envolvem a compreensão e o esta- sar o que estiver sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação
belecimento de relações. Traduzem um entendimento do porquê inicial, o momento inicial da aprendizagem. A avaliação de apren-
daquele fenômeno ser assim como é. dizagem de conceitos remete o professor, portanto, a instituir tam-
As crianças, para aprenderem fatos, apenas os memorizam. bém a observação como uma técnica de levantamento de dados
Esquecem mais rápido. Para aprenderem conceitos precisam es- sobre a aprendizagem dos alunos, ampliando as informações sobre
tabelecer conexões mais complexas, de aprendizagem significati- o que o aluno está sabendo para além dos momentos formais de
va, identificada por autores como os citados acima. Quando elas avaliação, como momentos de provas ou outros instrumentos de
constroem os conceitos, os fatos vão tomando outras dimensões, verificação.
informando o conceito. É como se os fatos começassem a ser orde-
nados, atribuindo sentido ao que se tenta entender. - Dimensão Procedimental
Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância da A dimensão procedimental do conhecimento implica no saber
concepção empirista de ensino como transmissão, a memorização fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão procedimental. O alu-
era o referencial mais comum para a avaliação. Nesse sentido, os no precisa saber observar, saber ler, saber registrar, saber procurar
instrumentos e momentos de avaliação traziam a característica de dados em várias fontes, saber analisar e concluir a partir dos dados
um espaço em que as pessoas tentavam recuperar um dado de sua levantados. Nesse caso, são procedimentos que precisam ser de-
memória. Um meio e realizar essa atividade por evocação (pergun- senvolvidos. Muitas vezes o aluno está com uma dificuldade proce-
ta direta, com resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, dimental e não conceitual e, dependendo do instrumento usado, o
quando lhe oferecemos pistas e apresentamos alternativas para professor não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a su-
as respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação perá-la, por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros
foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos fatos exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento: saber
nas memórias. Essa redução do entendimento do que é avaliar fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um texto disser-
vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos conteúdos, tativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o professor acompa-
principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e a avaliação de nhe de perto essa aprendizagem. O melhor instrumento para isso
conceitos. A construção conceitual demanda compreensão e esta- é a observação sistemática - um conjunto de ações que permitem
belecimento de relações, sendo, portanto, mais complexa para ser ao professor conhecer até que ponto seus alunos estão sabendo:
avaliada. dialogar, debater, trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa biblio-
Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação, cada gráfica, orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades
escola e cada professor precisam analisar seu alcance. Pedir ao alu- abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o aluno
no que defina um significado (técnica muito comum nas escolas), transfere o conteúdo para a prática.
nem sempre proporciona boa medida para avaliação, é uma técnica
com desvantagens, pois pode induzir a falsos erros e falsos acertos. - Dimensão Atitudinal
É uma técnica que exige um critério de correção muito minucioso. A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que indicará
Ele ainda propõe que, se a opção for por usar essa técnica, que se os valores em construção. É mais difícil de ser trabalhada porque
valide mais o que o aluno expuser com as próprias palavras do que não se desliga da formação mais ampla em outros espaços da socie-
uma reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, dade, sendo complexa por seus componentes cognitivos (conheci-
o reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na arma- mentos e crenças), afetivos (sentimentos e preferências) e condu-
dilha da mera reprodução de uma definição previamente estabe- tais (ações e declaração de intenção). Manifesta-se mais através do
lecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o que coloca comportamento referenciado em crenças e normas. Por isso, preci-
esse tipo de instrumento e questão na condição de insuficiente para sa ser amplamente entendida à luz dos valores que a escola consi-
conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra possibilidade é a da dera formadores. A aquisição de valores é alcançada através do de-
exposição temática na qual o aluno debate sobre um tema incluin- senvolvimento de atitudes de acordo com esse sistema de valores.
do comparações, estabelecendo relações. Depende de uma autopersuasão que está sempre permeada por
É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não crenças que sustentam a visão que as pessoas têm delas mesmas
está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim e do mundo. E delas mesmas em relação ao mundo. As atitudes e
usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com isso, valores envolvem também as normas.
a necessidade de se trabalhar com questões abertas. Outra técnica, Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às pessoas
- a identificação e categorização de exemplos - por evocação (aber- emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a solidarieda-
ta) ou reconhecimento (fechada), possibilita ao professor conhecer de, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos outros. Atitudes
como o aluno está entendendo aquele conceito. Na técnica de re- são tendências relativamente estáveis das pessoas para atuarem de
certas maneiras: cooperar com o grupo, respeitar o meio ambiente,
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participar das tarefas escolares, respeitar datas, prazos, horários, ou informação numérica que não envolvem cálculos, apenas me-
combinados. Normas são padrões ou regras de comportamentos morização. Para isso se usa a repetição, buscando mesmo a auto-
que as pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. matização da informação.
Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos deba- Esse processo de repetição não se adequa à construção con-
tes, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza do plane- ceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um concei-
jamento das atividades de sala de aula. to, quando o explica com suas próprias palavras. É comum o aluno
Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem de dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse caso, eles estão num
atitudes são a observação e autoavaliação. início de processo de compreensão do conceito. Precisam trabalhar
Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos, pro- mais a situação, o que vai ajudá-los a entender melhor, até saberem
cedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o momento da explicar com as suas palavras. Esse processo de construção concei-
avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico que ajudará aos pro- tual não é estanque, ele está em permanente movimento entre o
fessores e alunos conhecerem o processo de aprendizagem. O pro- conceito espontâneo, construído nas representações sociais e o
fessor deve diversificar os instrumentos para cobrir toda a tipologia conceito científico.
dos conhecimentos: provas, trabalhos e observação, para avaliar Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de abstração,
fatos e conceitos, observação para concluir na avaliação da constru- subjacentes, à organização conceitual de uma área, nem sempre
ção conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de procedi- explícitos. Atravessam todos os conteúdos das matérias, devendo
mentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes e conceitos. ser o objetivo maior da aprendizagem na educação básica. Eles
Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial em orientam a compreensão de noções básicas. Assim, por exemplo,
todo o processo de aprendizagem, usando a prática de datar o que se a compreensão de conceitos como sociedade e cultura são prin-
está sendo registrado e propiciando ao próprio aluno refletir sobre cípios das áreas de humanas, eles devem referenciar o trabalho nos
o que ele já sabe acerca de um conteúdo novo quando se começa a conceitos específicos. Dentro de um conceito como o de sociedade,
estudar seriamente sobre ele. outros específicos como o de migração, democracia, crescimen-
to populacional, estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que
Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal referenciará o trabalho do professor, será muito importante uma
Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada conteúdo revisão conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será
que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode fazer uma avalia- preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos como
ção do que realmente pode ser considerado aprendido. objetos de conhecimento.
Como são os alunos individualmente em grupos?
Que grupos sociais representam? - Avaliação Formativa
Como se comportam e se vestem? Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias teorias
O que apreciam? que postulam o caráter diferenciado e singular dos processos de
Quais seus interesses? formação humana, que é constituída por dimensões de natureza
O que valorizam? diversa - afetiva, emocional, cultural, social, simbólica, cognitiva,
O que fazem quando não estão na escola? ética, estética, entre outras. A aprendizagem é uma atividade que
Como suas famílias vivem? se insere no processo global de formação humana, envolvendo o
O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram? desenvolvimento, a socialização, a construção da identidade e da
Como se organiza o espaço que compartilham fora da escola? subjetividade.
Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores, sua
adesão/rejeição às normas, suas atitudes? Aprendizagem e formação humana são processos de natureza
social e cultural. É nas interações que estabelece com seu meio
Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes importantes que o ser humano vai se apropriando dos sistemas simbólicos, das
para a formação dos alunos na adolescência. Para mudança de ati- práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses processos têm uma
tudes é que são feitos os projetos. base orgânica, mas se efetivam na vida social e cultural, e é através
- Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às pes- deles que o ser humano elabora formas de conceber e de se rela-
soas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a solidarieda- cionar com o mundo físico e social. Esses estudos sobre a forma-
de, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos outros... ção humana e a aprendizagem trazem implicações profundas para
- Atitudes são tendências relativamente estáveis das pessoas a educação e destacam a importância do papel do professor como
para atuarem de certas maneiras: cooperar com o grupo, respeitar mediador do processo de construção de conhecimento dos alunos.
o meio ambiente, participar das tarefas escolares, respeitar datas, Sua ação pedagógica deve estar voltada para a compreensão dos
prazos, horários, combinados... processos sociocognitivos dos alunos e a busca de uma articulação
- Normas são padrões ou regras de comportamentos que a pes- entre os diversos fatores que constituem esses processos - o de-
soas devem seguir em determinadas situações sociais. senvolvimento psíquico do aluno, suas experiências sociais, suas
vivências culturais, sua história de vida - e as intenções educativas
Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão da- que pretende levar a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-
dos para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação Formativa: a -se numa prática que permite ao professor aproximar-se dos pro-
serviço das aprendizagens. cessos de aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno
Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma reprodutiva: está elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os
não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de um estado ou fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas enten-
país, data de acontecimentos, tabela de símbolos químicos. Corres- der o significado do desempenho: como o aluno compreendeu o
pondem a uma informação verbal literal como vocabulários, nomes
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

problema apresentado? Que tipo de elaboração fez para chegar a oferecer graus variados de compreensão, diferentes níveis de utili-
determinada resposta? Que dificuldades encontrou? Como tentou zação dos conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao
resolvê-las? conhecimento.
Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser to- Outro movimento importante rumo a uma Avaliação Formativa
mado como uma evidência ou uma dificuldade de aprendizagem. deve acontecer na organização dos tempos e espaços escolares. Os
E cabe ao professor interpretar o significado desse desempenho. tempos de aula (50min, 1h, etc.) os recortes de cada disciplina, os
Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a serviço das aprendiza- bimestres, os semestres, as séries, os níveis de ensino são formas
gens, da forma dos alunos. Trata-se, portanto, de uma avaliação que de estruturar o tempo escolar que têm como fundamento a lógi-
tem como finalidade não o controle, mas a compreensão e a regula- ca da organização dos conteúdos. Os processos de aprender e de
ção dos processos dos educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua construir conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma ló-
trajetória escolar. Isso significa entender que a avaliação, indo além gica. A organização escolar por ciclos é uma experiência que busca
da constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando as harmonizar os tempos da escola com os tempos de aprendizagem
necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças no seu próprios do ser humano. Os ciclos permitem tomar as progressões
planejamento e no desenvolvimento das ações educativas. Caracte- das aprendizagens mais fluidas, evitando rupturas ao longo do pro-
rizando-se como uma prática voltada para o acompanhamento dos cesso. A flexibilização do tempo e do trabalho pedagógico possibi-
processos dos alunos, este tipo de avaliação não comporta registros lita o respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e
de natureza quantitativa (notas ou mesmo conceitos), já que estes a organização de uma prática pedagógica voltada para a construção
são insuficientes para revelar tais processos. Tampouco pode-se do conhecimento, para a pesquisa.
pensar, a partir desta concepção, na manutenção da aprovação/re- Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno de
provação. Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A estruturação do
classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e compreender tempo é parte do planejamento pedagógico semanal ou mensal,
os seus processos, e promover ações que os ajudem a avançar no uma vez que a natureza da atividade e os ritmos de aprendizagem
seu desenvolvimento, nas suas aprendizagens. Sendo assim, a ava- irão definir o tempo que será utilizado.
liação a serviço das aprendizagens desmistifica a ideia de seleção O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não
que está implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma com-
avaliação que procura administrar, de forma contínua, a progressão preensão do mundo, da realidade social e humana, de nós mesmos
dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão Continuada. e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não se constitui
A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de regulação da exclusivamente no interior de uma sala de aula. É preciso alargar
ação pedagógica. Sua função é permitir ao professor identificar os o espaço educativo no interior da escola (pátios, biblioteca, salas
progressos e as dificuldades dos alunos para dar continuidade ao de multimídia, laboratórios, etc.) e para além dela, apropriando-se
processo, fazendo as mediações necessárias para que as aprendiza- dos múltiplos espaços da cidade (parques, praças, centros culturais,
gens aconteçam. Inicialmente, é fundamental conhecer a situação livrarias, fábricas, outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas
do aluno, o que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas de exposição, universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve
as intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial, adquirir diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de
organiza-se o planejamento do trabalho, de forma suficientemente diversificação das atividades pedagógicas.
flexível para incorporar, ao longo do processo, as adequações que A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que pode
se fizerem necessárias. Ao mesmo tempo, o uso de variados ins- potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa. Os grupos ou
trumentos e procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor classes móveis - em vez de classes fixas - possibilitam a organização
compreender o processo do aluno para estabelecer novas propos- diferenciada do trabalho pedagógico e uma maior personalização
tas de ação. do itinerário escolar do aluno, na medida em que atendem melhor
Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries às suas necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao agru-
finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos pro- pamento interno de uma classe ou entre classes diferentes. Na prá-
fessores. Agrupamentos de professores responsáveis por um deter- tica, acontece conforme o objetivo da atividade e as necessidades
minado número de turmas facilita o planejamento, o desenvolvi- do aluno.
mento das atividades, a relação pessoal com os alunos e o trabalho Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes tur-
coletivo. mas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de cinema, de
Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com 5 tur- teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de fotografia, de músi-
mas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas, visando favore- ca, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho também permitem que a
cer o trabalho voltado para determinado período de formação hu- turma assuma configurações diferentes, em momentos diferentes,
mana (infância, adolescência, etc.). Este tipo de organização tende de acordo com o interesse e para atendimento às necessidades de
a romper com a fragmentação do trabalho pedagógico, facilitando aprendizagem.
a interdisciplinaridade e o desenvolvimento de uma Avaliação For-
mativa. Instrumentos de Avaliação
Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de aprendi-
zagem dos alunos, um dos aspectos importantes da ação docente As provas objetivas (mais conhecidas como provas de múltipla
deve ser a organização de atividades cujo nível de abordagem seja escolha), as provas abertas / operatórias, observação e autoavalia-
diferenciado. Isso significa criar situações, apresentar problemas ou ção são ferramentas para levantamento de dados sobre o processo
perguntas e propor atividades que demandem diferentes níveis de de aprendizagem. São materiais preparados pelo professor levando
raciocínio e de realização. A diversificação das tarefas deve também em conta o que se ensina e o que se quer saber sobre a aprendiza-
possibilitar aos alunos que realizem escolhas. As atividades devem gem dos alunos. Podem ter diferentes naturezas. Alguns, como as
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provas, são instrumentos que têm uma intenção de testagem, de como processo individual de construção do conhecimento. Numa
verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele realmen- educação que parte do falso pressuposto da homogeneidade não
te estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser elaborados em há espaço para o reconhecimento dos saberes dos alunos, que mui-
dois formatos: um de questões fechadas, de múltipla escolha ou tas vezes não se enquadram na lógica de classificação das respostas
de respostas curtas, identificado como prova objetiva; outro com previamente definidas como certas ou erradas.
questões abertas. Ambos são instrumentos que possibilitam tanto O que estamos querendo dizer é que todas as questões referen-
a avaliação de aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de tes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer aluno e não
conceitos, embora, em relação à construção conceitual, o professor apenas das pessoas com deficiências. A única diferença que há en-
precisará inserir também instrumentos de observação. tre as pessoas ditas normais e as pessoas com deficiências está nos
Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica que recursos de acessibilidade que devem ser colocados à disposição
coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda obser- dos alunos com deficiências para que possam aprender e expressar
vação pressupõe registros. É um bom instrumento para avaliar a adequadamente suas aprendizagens. Por recursos de acessibilidade
construção conceitual, o desenvolvimento de procedimentos e as podemos entender desde as atividades com letra ampliada, digita-
atitudes. lizadas em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos
Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito importante da tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que
no desenvolvimento das habilidades metacognitivas e na avaliação é necessário para suprir necessidades impostas pelas deficiências,
de atitudes. sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais.
Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando as si- Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com deficiência
tuações escolares necessitarem de um aprofundamento maior para ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a finalidade de
levantamento de dados. verificar continuamente os conhecimentos que cada aluno possui,
no seu tempo, por seus caminhos, com seus recursos e que leva em
Outra questão relevante ao processo de avaliação do ensino e conta uma ferramenta muito pouco explorada que é a coaprendi-
aprendizagem é Como avaliar o aluno com deficiência? 15 zagem.
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez seja o
A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho docen- de nos convencermos de que a avaliação usada apenas para medir
te do professor. Quando falamos em avaliação de alunos com defi- o resultado da aprendizagem e não como parte de um compromis-
ciência, então, o problema torna-se mais complexo ainda. Apesar so com o desenvolvimento de uma prática pedagógica comprome-
disso, discutir a avaliação como um processo mais amplo de refle- tida com a inclusão, e com o respeito às diferenças é de muito pou-
xão sobre o fracasso escolar, dos mecanismos que o constituem e ca utilidade, tanto para os alunos com deficiências quanto para os
das possibilidades de diminuir o violento processo de exclusão cau- alunos em geral.
sado por ela, torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e De qualquer modo, a avaliação como processo que contribui
a permanência com sucesso dos alunos com deficiência na escola. para investigação constante da prática pedagógica do professor
De início, importa deixar claro um ponto: alunos com deficiência que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a partir dos resul-
devem ser avaliados da mesma maneira que seus colegas. Pensar tados obtidos, não é tarefa simples de ser conseguida. Entender a
a avaliação de alunos com deficiência de maneira dissociada das verdadeira finalidade da avaliação escolar só será possível quando
concepções que temos acerca de aprendizagem, do papel da escola tivermos professores dispostos a aceitar novos desafios, capazes de
na formação integral dos alunos e das funções da avaliação como identificar nos erros pistas que os instiguem a repensar seu planeja-
instrumento que permite o replanejamento das atividades do pro- mento e as atividades desenvolvidas em sala de aula e que conside-
fessor, não leva a nenhum resultado útil. rem seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não
Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação do se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o conhecimento
resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo, é im- à capacidade de identificar respostas previamente definidas como
prescindível a criação de uma nova cultura sobre aprendizagem e certas ou erradas.
avaliação, uma cultura que elimine: Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação inclu-
- O vínculo a um resultado previamente determinado pelo pro- siva preconiza um ensino em que aprender não é um ato linear,
fessor; continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai sendo tecida
- O estabelecimento de parâmetros com os quais as respos- pelos aprendizes, em ambientes escolares que não discriminam,
tas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se o ato de que não rotulam e que oferecem chances de sucesso para todos,
aprender não fosse individual; dentro dos interesses, habilidades e possibilidades de cada um. Por
- O caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação de- isso, quando apenas avaliamos o produto e desconsideramos o pro-
sempenha em qualquer nível; cesso vivido pelos alunos para chegar ao resultado final realizamos
- A lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade um corte totalmente artificial no processo de aprendizagem.
inexistente; Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que quere-
- A eleição de um determinado ritmo como ideal para a constru- mos avaliar: produção ou reprodução. Quando avaliamos reprodu-
ção da aprendizagem de todos os alunos. ção, com muita frequência, utilizamos provas que geralmente me-
dem respostas memorizadas e comportamentos automatizados. Ao
Numa escola onde a avaliação ainda se define pela presença das contrário, quando optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz
características acima certamente não haverá lugar para a aceitação de produzir, a observação, a atenção às repostas que o aluno dá às
da diversidade como inerente ao ser humano e da aprendizagem atividades que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que
ele é capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas uti-
15 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010. lizadas para avaliar.
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Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso, para A avaliação diagnóstica inicial da turma é uma das etapas da
avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do seu percur- avaliação formativa e visa à identificação e à análise do desenvolvi-
so escolar e a evolução de suas competências e de seus conheci- mento das aprendizagens dos estudantes. Deve acontecer no início
mentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o professor a organi- do semestre letivo e sempre que se fizer necessária, com vistas a
zar a produção dos seus alunos e por isso avaliar com eficiência é subsidiar as ações de planejamento do trabalho pedagógico que
utilizar um portfólio. será desenvolvido na semestralidade. Esse diagnóstico deverá ocor-
A utilização do portfólio permite conhecer a produção indivi- rer sempre com a intenção de orientar o professor na identificação
dual do aluno e analisar a eficiência das práticas pedagógicas do dos progressos dos estudantes e no planejamento de intervenções
professor. A partir da observação sistemática e diária daquilo que pedagógicas, de acordo com as necessidades e dificuldades de
os alunos são capazes de produzir, os professores passam a fazer aprendizagens dos estudantes. É preciso considerar nessa análise
descobertas a respeito daquilo que os motiva a aprenderem, como os objetivos das aprendizagens, apresentados no Currículo do Ensi-
aprendem e como podem ser efetivamente avaliados. no Médio (DISTRITO FEDERAL, 2014b).
No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem faci- Com o conhecimento das necessidades e dificuldades de apren-
litar a tomada de decisão sobre quais os recursos de acessibilidade dizagem dos estudantes, os professores deverão traçar o planeja-
que deverão ser oferecidos e qual o grau de sucesso que está sendo mento da proposta curricular e as intervenções avaliativas necessá-
obtido com o seu uso. Eles permitem que tomemos conhecimento rias para garantir o processo de aprendizagem, levando em conta os
não só das dificuldades, mas também das habilidades dos alunos, aspectos elencados a seguir:
para que, através dos recursos necessários, estas habilidades sejam • a aplicação da avaliação diagnóstica pode ser realizada no iní-
ampliadas. Permitem, também, que os professores das classes co- cio de cada Bloco da Semestralidade ou de acordo com as necessi-
muns possam contar com o auxílio do professor do atendimento dades observadas pelo professor em seu componente curricular;
educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam esta • na Semestralidade, os professores podem realizar dois tipos
modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam surgir a res- de diagnóstico: um específico de seu componente curricular, no
peito da produção dos alunos. qual são verificados os níveis de conhecimento dos estudantes; e
Quando utilizamos adequadamente o portfólio no processo de outro diagnóstico conjunto ou interdisciplinar (vários componentes
avaliação podemos: curriculares), no qual os professores verificarão as necessidades de
- Melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o portfólio aprendizagem em aspectos pedagógicos gerais (leitura, interpreta-
dos alunos para elaborar as atividades: ção, noções básicas de cálculos). O planejamento dessa avaliação
- Evitar testes padronizados; pode constituir-se nos seguintes momentos:
- Envolver a família no processo de avaliação; 1º momento: definição se a avaliação diagnóstica será por com-
- Não utilizar a avaliação como um instrumento de classificação; ponentecurricular e ou por Bloco.
- Incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação; 2º momento: definição dos objetivos de aprendizagem e conte-
- Possibilitar que o erro possa ser visto como um processo de údos/escolha dos conceitos ou categorias do campo científico que
construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo cada alu- serão utilizados para a elaboração do diagnóstico.
no está organizando o seu pensamento; 3º momento: escolha dos instrumentos/procedimentos avalia-
tivos para a realização da avaliação diagnóstica.
Esta maneira de avaliar permite que o professor acompanhe 4º momento: elaboração das questões.
o processo de aprendizagem de seus alunos e descubra que cada 5º momento: análise do desempenho dos estudantes para o
aluno tem o seu método próprio de construir conhecimentos, o planejamento da organização curricular e ou intervenções pedagó-
que torna absurdo um método de ensinar único e uma prova como gicas.
recurso para avaliar como se houvesse homogeneidade de apren- Após a análise do desempenho dos estudantes, o professor
dizagem. deve registrar sua análise da turma no diário de classe.
Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de for- O Diário de Classe apresenta campos próprios para registros
ma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se analisarmos do diagnóstico de avaliação. Entretanto, o professor pode realizar
com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação do aluno com a avaliação diagnóstica ao longo do trabalho, na perspectiva da ava-
deficiência, na verdade serve para avaliar qualquer aluno, porque a liação formativa. Ressalta-se que o relatório para o “Diagnóstico da
principal exigência da inclusão escolar é que a escola seja de qua- Turma” é único, da turma e de autoria exclusiva do docente respon-
lidade - para todos! E uma escola de qualidade é aquela que sabe sável pelo componente curricular.
tirar partido das diferenças oportunizando aos alunos a convivência
com seus pares, o exemplo dos professores que se traduz na qua- Autoavaliação
lidade do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento A autoavaliação é o processo pelo qual o próprio estudante
vivenciado por toda a comunidade escolar. analisa continuamente as atividades desenvolvidas e em desenvol-
vimento, registra suas percepções, sentimentos e identifica futuras
Avaliação diagnóstica ações, para que haja avanço na aprendizagem. Essa análise leva em
A realização de avaliação diagnóstica na semestralidade ob- conta o que ele já aprendeu, o que ainda não aprendeu, os aspec-
jetiva conhecer a especificidade da turma e dos estudantes, suas tos facilitadores e dificultadores de seu trabalho, tomando como
necessidades e dificuldades de aprendizagem. Para tanto, faz-se referência os objetivos da aprendizagem e os critérios de avaliação
necessário que os múltiplos atores-autores da unidade escolar - (DISTRITO FEDERAL, 2014c)
professores, orientadores educacionais, coordenadores pedagógi-
cos e equipe gestora - desenvolvam o planejamento e a realização
dessa avaliação.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Ressalta-se que autoavaliação não é autonotação, isto é, não se com precisão de sentido no contexto e, quando for o caso, incluir
trata de pedir para que o estudante atribua a si uma nota, seja por imagem/figura, gráfico, tabela, texto, entre outros. Suas questões
escrito ou oralmente. O professor deve compor juntamente com os apresentam conteúdos e informações que promovem as aprendiza-
alunos os critérios de avaliação que serão utilizados para o momen- gens também durante sua resolução. Devem ser elaboradas, levan-
to da autoavaliação. do em conta os objetivos de aprendizagem e o nível em que se en-
A autoavaliação pelos estudantes pode acontecer durante ou contram os estudantes. Os critérios de avaliação das provas devem
após a aplicação dos instrumentos/procedimentos avaliativos e ser ser comunicados aos estudantes e, sempre que possível, definidos
desenvolvida por meio de registros reflexivos ou diários de bordo coletivamente.
que poderão compor portfólios, fichas avaliativas, exposições orais, • Seminários, pesquisas, trabalhos de pequenos grupos: todas
entre outros. São procedimentos que podem ser utilizados pelos as etapas do trabalho devem ser orientadas pelo docente e por ele
professores e que os auxiliarão na análise do desempenho acadê- avaliadas com auxílio dos estudantes. A avaliação por pares ou co-
mico dos estudantes. legas e a autoavaliação oferecem grande contribuição ao processo
O fato de os estudantes se avaliarem e avaliarem as produções de compreensão do desenvolvimento dos estudantes. Cada etapa
dos colegas contribui para seu amadurecimento intelectual e pes- realizada e as diferentes habilidades dos estudantes são valoriza-
soal, ao mesmo tempo em que potencializa suas aprendizagens de das. Os critérios de avaliação são construídos juntamente com os
forma colaborativa e propositiva. estudantes.

A prática do feedback na avaliação Além dos instrumentos e procedimentos citados, as Diretrizes


Outra prática, que deve ser assumida pelos professores, é o de Avaliação Educacional (DISTRITO FEDERAL, 2014c) apontam ati-
retorno, a devolutiva ou o feedback aos estudantes em face das vidades realizadas pelos estudantes, que constituem possibilidades
produções que eles realizam. Este é um ato pedagógico repleto de avaliativas, como: pesquisas individuais e em grupo, júris simula-
aprendizagens para os professores e estudantes, bem como para o dos, produção de textos nos diferentes gêneros, lista de exercícios,
fortalecimento de processos formativos de avaliação. relatórios de pesquisas e visitas, entrevistas, montagem de curtas,
O feedback ou retorno de informações aos aprendizes é indis- documentários, painéis, entre outras.
pensável para o processo avaliativo formativo, seja em sala de aula, O processo de avaliação apresenta-se como um momento de
seja no exercício profissional, propiciando que o avaliado se mante- reflexão acerca do percurso que compreende a aprendizagem. Em
nha informado sobre suas aprendizagens. Trata- se de um recurso situações nas quais os objetivos pedagógicos não tenham sido al-
pedagógico alinhado à avaliação formativa por possibilitar aos su- cançados, torna-se comum a responsabilização do insucesso para
jeitos perceberem seus avanços e suas fragilidades e buscarem a um dos lados, passando a ser culpado o professor ou o aluno. Além
autorregulação para aprender mais. desses principais atores sociais, outros devem assumir suas funções
para serem alcançados os resultados esperados na promoção de
Instrumentos/Procedimentos Avaliativos uma educação de qualidade, entre eles, a família e o Estado.
Os Instrumentos/Procedimentos Avaliativos são estabelecidos Nesse sentido, partilhar as responsabilidades na avaliação e
pelo professor previamente para avaliar um conteúdo trabalhado na formação dos estudantes pode proporcionar melhores resulta-
com os estudantes e verificar o alcance ou não dos objetivos pro- dos no processo de construção do conhecimento. Por isso, faz-se
postos, fundamentam o processo decisório da avaliação e devem necessário o acompanhamento permanente do desempenho dos
ser coerentes com o que e como foi trabalhado em espaços de estudantes, tornando evidente a relevância do caráter formativo
aprendizagem. e processual das avaliações realizadas pela escola. Acompanhar o
Instrumentos e Procedimentos Avaliativos devem ser elabora- desenvolvimento do estudante é responsabilidade, principalmente,
dos de forma a oferecer informações sobre o desempenho e apren- do professor, mas não somente dele, uma vez que a equipe pe-
dizagens do estudante. Bons instrumentos de avaliação da apren- dagógica da unidade escolar e a família devem integrar-se a esse
dizagem são condições de uma prática satisfatória de avaliação na processo.
escola. Para isso, em sua elaboração devem ser observados aspec- A intervenção pedagógica revela-se, então, como uma das eta-
tos, como linguagem clara, objetiva e direta, correção linguística e pas do processo de avaliação, na qual o professor busca traçar e
vinculação ao que se pretende em relação à análise do processo aplicar meios diferenciados para contribuir com o processo de de-
de ensino e de aprendizagem. Os instrumentos e procedimentos senvolvimento ou aprendizagem do educando que apresenta difi-
avaliativos devem contribuir também para o aprofundamento das culdades de aprendizagem.
aprendizagens do estudante e não para dificultar sua compreensão A seguir, serão apresentadas algumas estratégias de interven-
a respeito de um conteúdo. ções pedagógicas que podem ser colocadas em prática na organiza-
A seguir, são elencados alguns instrumentos e procedimentos ção escolar em semestres.
avaliativos que podem ser utilizados na organização escolar em se-
mestres. REFORÇO E RECUPERAÇÃO
• Avaliação por pares ou colegas: consiste em criar situações em
que os estudantes avaliam uns aos outros ou realizam atividades O conhecimento escolar é compreendido como uma cons-
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em duplas ou em grupos. Pode ser acompanhada de registros escri- trução baseada no encontro - feito de conflitos e acordos - entre
tos. Qualifica o processo avaliativo sem a exigência de atribuição de diferentes tipos de conhecimento: saberes cotidianos que alunos e
pontos ou notas e potencializa a autoavaliação. professores trazem de suas vivências familiares e sociais, conceitos
• Provas: devem incluir itens/questões contextuais e instigan- e leis científicas, elementos estéticos e culturais, reflexões filosófi-
tes. Requerem análise, justificativa, descrição, resumo, conclusão,
inferência, raciocínio lógico. Os enunciados devem ser elaborados 16 https://goo.gl/Yiiqw3
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

cas e, é claro, determinações legais sobre o currículo. Sua prática se Mecanismos que possibilitam o reforço e a recuperação já es-
faz em condições muito especiais, que são dadas pelas interações tão disponíveis e até poderão vir a ser aprimorados, mas estarão
dos alunos entre si e com o professor. sendo utilizados da melhor forma? Estarão de fato resolvendo as
A Constituição Brasileira estabelece os direitos e deveres de dificuldades de aprendizagem dos alunos?
todos os cidadãos que vivem em nosso país, bem como define A recuperação é obrigatória, contudo os aspectos operacionais
responsabilidades dos Municípios, Estados, Distrito Federal e da são definidos pelo Regimento Escolar.
União, dentre os Direitos Sociais encontra-se a educação e um capí- Outro ponto que iremos destacar será a questão da dependên-
tulo específico é dedicado ao assunto. Além da Constituição Federal cia, que significa a promoção do aluno à série ou seguinte com falta
existem as Constituições Estaduais, a do Distrito Federal e as Leis de uma ou mais disciplinas do ano ou semestre passado. Ela pode
Orgânicas dos Municípios que completam a Carta Magna. ocorrer ou não, também a critério do Regimento Interno.
A regulamentação dessas normas é feita pelas leis que podem Para abordarmos o Tema de nosso trabalho “O REFORÇO E A
ser federais, estaduais (ou do Distrito Federal) ou município e, por RECUPERAÇÃO: Parte integrante do processo de ensino e aprendi-
sua vez, são mais detalhadas pelos Decretos, Portarias e normas zagem para o atendimento à diversidade de necessidades e de rit-
complementares (Resoluções ou Deliberações). mos dos alunos. ”, iremos fazer alguns questionamentos ao Sistema
Interpretando a legislação há os Pareceres, que no campo da Educacional, abordar os motivos que levam a necessidade da recu-
educação podem ser originários dos Conselhos de Educação (Na- peração e do reforço escolar, como está amparada pela lei e como é
cional, Estadual, do Distrito Federal ou Municipal). Esse conjunto de desenvolvido efetivamente na escola.
documentos constitui o direito na educação ou, mais modernamen-
te chamado, o Direito Educacional. O Que diz a Lei
No ideário dos estudiosos da educação e também nas expecta-
tivas sobre o papel da escola, nas sociedades democráticas atuais, Direito e Deveres em Educação
retratadas tanto em textos legais - Declaração Universal dos Direi- Recuperação Escolar
tos do Homem, Constituição Federal e Estadual, Lei de Diretrizes e A recuperação é obrigatória, contudo os aspectos operacionais
Bases da Educação Nacional (LDB) até Pareceres e Deliberações dos são definidos pelo regimento.
Conselhos Nacional e Estaduais - como em fóruns internacionais,
podemos perceber a intenção e o desejo subjacente que perpas- Dependência
sam todo esse conjunto de produções projetando-se por meio de A dependência significa a promoção do aluno à série ou seguin-
uma frase, frequentemente mencionada, em que três conceitos se te com falta de uma ou mais disciplinas do ano ou semestre passa-
destacam: Educação para Todos com Qualidade. do. Ela pode ocorrer ou não, a critério do regimento interno.
Que a escola é a instituição vista como o espaço, por excelên-
cia, da educação formal, parece inconteste, embora outros agentes Avaliação dos Alunos pela Escola
possam dar uma contribuição complementar. Que ela deva atender A avaliação do rendimento escolar é feita conforme o regimen-
a todos, indistintamente quanto ao gênero, etnia, credo, classe so- to de cada escola. Não há regra geral obrigatória para todos. Quem
cial e demais diversidades, sob a ótica da educação como direito hu- determina a forma é, portanto, o estabelecimento de ensino e o
mano, também é pressuposto sobre o qual parece haver consenso. aluno têm que ter conhecimento antes da matrícula. Não concor-
E, quando falamos de qualidade, de que escola estamos falando? dando, não deve haver a matrícula naquele colégio (exceto no caso
Falamos de uma escola que efetivamente garanta aprendizagem de escolas que o questionamento deve ser feito com a direção ou
para todos os alunos. no Judiciário).
É fato que a intenção sem ação cai no vazio discursivo, igual-
mente verdadeiro é afirmar que as intencionalidades dos atos hu- Ciclos: ainda um Desafio para os Sistemas de Ensino
manos, em todos os níveis, esferas e âmbitos de atuação, se cons-
tituem como força motivacional e norteadora sem a qual também A organização da escolaridade em ciclos, cujas experiências
caminharíamos a esmo. Assim, educação para todos com qualidade pioneiras surgiram na década de 60 em vários estados brasileiros,
pressupõe uma escola na qual o aluno entre, permaneça, progrida representa uma alteração radical na organização escolar estrutura-
e aprenda. Se para alguns, as concepções de ensino/aprendizagem/ da em séries, em que a evasão e a reprovação eram uma constante.
avaliação que sustentam a progressão continuada da aprendiza- Surge então, a aprovação automática, que elimina a reprovação em
gem em ciclos, já estão claras e interiorizadas, para outros que, por algumas séries e organiza o ensino em ciclos, principalmente nas
ventura, as desconheçam, ela pode ser responsabilizada pela baixa séries iniciais do ensino fundamental. A Nova LDB (Lei no. 9394/96),
qualidade do ensino. propõe a possibilidade de organizar o ensino fundamental em ciclos
Na questão da alfabetização iremos direcionar nossos holofo- e, para os estabelecimentos que utilizam a progressão regular por
tes para as séries iniciais - destacando o acúmulo das dificuldades série, propôs-se o “regime de progressão continuada”, cujas nor-
de aprendizagem que permanecem ao longo do Ensino Fundamen- mas são de competência dos respectivos sistemas de ensino (artigo
tal e posteriormente o Ensino Médio - a necessidade da interven- 32, parágrafos 1º. e 2º. da Lei).
ção imediata, no processo contínuo em sala de aula e através dos
projetos de reforço e recuperação paralela, como forma de minimi- Progressão Continuada x Promoção Automática
zar a gravidade das situações deixadas para a recuperação de ciclo, A progressão continuada é uma das mudanças propostas pela
quando, em função da demora, o apoio pedagógico tardio poderá nova Lei de Diretrizes e Base, LDB 9.394/96, e está alterando a ro-
ser inócuo. tina das escolas e fazendo com que os professores repensem seu
trabalho e mudem suas estratégias de ensino.
A progressão continuada prevê três quesitos:
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

- não-prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendiza- Rompe-se assim com as concepções rígidas e ultrapassadas
gem; de ensino-aprendizagem que faziam com que as crianças que não
- obrigatoriedade dos estudos de recuperação para os alunos tivessem dominado todos os conteúdos e habilidades ao final de
de baixo rendimento; cada série repetissem no ano seguinte tudo o que já tinha sido en-
- possibilidade de retenção, por um ano, no final do ciclo. sinado.
Se retirarmos estes três itens da progressão continuada, tere- Se pensarmos em melhoria de condições de avanço para o alu-
mos a promoção automática, ideia bastante desgastada no meio no, esta foi uma maneira de evitar a evasão escolar, a reprovação
educacional, devido às formas de sua implantação no Brasil e dos autoritária e a exclusão do aluno com relação à sociedade e ao sa-
resultados insatisfatórios, na maioria dos casos. ber.
Se para alguns, as concepções de ensino/aprendizagem/avalia- Será que esse é o caminho para a resolução dos problemas da
ção que sustentam a progressão continuada da aprendizagem em evasão e repetência? Problemas tão discutidos pelos pesquisadores
ciclos, já estão claras e interiorizadas, para outros que, por ventura, de outras décadas e que continuam dificultando a permanência de
as desconheçam, ela pode ser responsabilizada pela baixa qualida- tantas crianças na escola serão, assim, resolvidos por um simples
de do ensino. Obviamente não é tão simples assim. decreto? Se for tão simples a solução, por que será que outros go-
O mesmo sistema, que alguns ainda questionam, também foi vernos não se interessaram pela implantação de uma medida que
o impulsionador dos avanços obtidos por nosso Estado, no que diz vem causando tanta polêmica?
respeito aos baixos índices de defasagem idade/série, evasão e re- Segundo Camargo18, a progressão continuada é uma estratégia
provação. para resolver a universalização da escola básica, garantir a perma-
É importante que possamos refletir considerando todas essas nência das crianças na escola, manter o fluxo dos alunos e também
questões, para que sejam tomadas as decisões mais adequadas e a adequação idade/série. É a substituição da pedagogia da repe-
que não coloquem em risco as conquistas obtidas até o presente. tência, da exclusão, pela pedagogia da promoção, da inclusão, não
Seria mesmo a progressão continuada responsável pela crise punitiva e excludente.
de qualidade na educação? A adoção do regime de progressão continuada e a concreti-
zação de seus resultados dependem de uma alteração radical na
De onde Surgiram essas Ideias de Avanço Escolar, Progressão concepção de ensino, escola, aprendizagem e avaliação. Significa
nos Estudos e Progressão Continuada? romper com preconceitos e resistências ao que já se comprovou
Foi apontada por Anísio Teixeira em 1954, repetida em 1956 e cientificamente: que toda criança é capaz de aprender, se lhe forem
1957 por ele e Almeida Júnior e prometida em nível nacional pelo oferecidas condições de tempo e recursos para que exercite suas
presidente Juscelino Kubitschek, em 1956. Em 1958, sendo Jânio competências ao interagir com o conhecimento (Camargo).
Quadros governador de São Paulo, e Alípio Correa Neto Secretário De acordo com Oliveira19 a proposta da progressão continuada
de Educação, o Grupo Experimental da Lapa foi utilizado para iniciar é de inclusão escolar que valoriza o acolhimento das diferenças e
essa reforma de ensino. Um artigo de Dante Moreira Leite no Bo- não as converte em deficiências.
letim do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo, Na progressão continuada, os alunos, mesmo com o aprovei-
de 1959, analisa a promoção automática como uma adequação do tamento insuficiente, são classificados para a série seguinte, mas
currículo ao desenvolvimento do aluno. esse avanço precisa ser acompanhado por um conjunto de medidas
Todas essas propostas pensam o aluno da mesma maneira: pedagógicas que garantam progredir em seu percurso escolar. Ao
acesso assegurado, escola para todos, direito à educação. invés de converter as diferenças dos alunos em deficiências, trata-
A nova LDB dá autonomia aos Estados e Municípios para orga- -se de trabalhar essas diferenças e fazê-los avançar (Oliveira).
nizarem o ensino em ciclos, de acordo com as necessidades regio- Prossegue dizendo que, pensando dessa maneira, não esta-
nais. mos negando que existam alunos com problemas específicos e que
Em São Paulo, de acordo com as Normas Regimentais para as necessitam de ações específicas, mas estamos negando que esses
Escolas Estaduais (Parecer CEE 67/98), as escolas poderão oferecer problemas tenham somente como solução a repetência na escola.
níveis, cursos e modalidades de ensino que se distribuem em: En- (Oliveira).
sino Fundamental em dois ciclos: 1ª a 4ª séries e 5ª a 8ª séries; e
Ensino Médio com três séries anuais. Alguns Argumentos e Proposições
No Ensino Fundamental a forma de evolução do aluno é a pro- A reprovação acarreta problemas como a evasão escolar, des-
gressão continuada, instituída em São Paulo pela Deliberação CEE perdício de recursos financeiros e a estagnação de alunos reprova-
nº 9/97. Segundo ela o aluno deve ter um acompanhamento con- dos nas séries iniciais do curso primário que envelhecem e ocupam
tínuo da aprendizagem, com reforço e recuperação para sanar difi- o lugar destinado às novas gerações.
culdades e defasagens. É inaceitável a promoção em massa, à expulsão dos reprovados
A organização do ensino prevista na LDB respeita a flexibilidade e a promoção por idade cronológica (solução na Inglaterra) como
na organização por ciclos e o ritmo de aprendizagem de cada aluno. medida isolada, o mais coerente é tomar providências, como: aper-
Os conteúdos e os objetivos de cada série são mantidos dentro dos feiçoamento de professores e a melhoria dos cursos de formação
ciclos e da progressão continuada, com uma série de reforços para- dos mesmos, modificação da então vigente concepção de ensino
lelos e contínuos. O aluno avançará com o seu grupo - série até o primário, revisão dos programas e critérios de promoção, cumpri-
final de cada ciclo, onde deverá ter atingido um patamar de apren- mento da escolaridade obrigatória, com a convocação de todos os
dizagem. Se não atingiu os objetivos propostos, ficará retido por um
ano, para reforço das dificuldades de aprendizagem17.
18 CAMARGO, D. A. F.de. Fundamentos Pedagógicos da progressão Continuada.

19 OLIVEIRA, Z. R. de. Iniciando a conversa. Disponível em: <http://www.


17 SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Educação. A Organização do Ensino na
Rede Estadual. Orientação para as Escolas. 1998. educaçao.sp.gov.br/secretria /orgaos/cenp/Recuperaçao/pag2.htm.>
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

alunos de 7 anos para a escola. Leite (1959) em seu artigo “Pro- encontradas e para a consolidação de aprendizagens efetivas e bem
moção Automática e Adequação do Currículo ao Desenvolvimento sucedidas para todos os alunos, o reforço e a recuperação consti-
do Aluno” considera que a escola aceita a reprovação porque foi, tuem parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem e
tradicionalmente, uma instituição seletiva, assumindo que as clas- tem como princípio básico o respeito à diversidade de característi-
ses devessem ser homogêneas e por acreditar que o castigo e o cas, de necessidades e de ritmo de aprendizagem de cada aluno; a
prêmio fossem formas de acelerar a aprendizagem. Para transfor- necessidade de assegurar condições que favoreçam a elaboração,
mar a escola numa instituição eficiente, propõe a organização de implementação e avaliação de atividades de reforço e recuperação
um currículo adequado ao desenvolvimento do aluno e a instituição paralela significativas e diversificadas que atendam à pluralidade
da promoção automática (por idade cronológica). Isto traria uma das demandas existentes em cada escola.
mudança radical na escola com classes apresentando um maior O processo de recuperação escolar não pode ser uma simples
desnível entre os alunos, os vários grupos que se formariam dentro repetição de conteúdos não apreendidos, mas um trabalho realiza-
da classe receberiam diferentes tarefas, ou seja, a aprendizagem se do, através de novas estratégias, de tal maneira que o aluno sinta
tornaria mais ativa, tornando-se, o professor, um articulador para estar aprendendo algo novo. O professor deve se preocupar com o
auxiliar a aprendizagem de cada grupo. crescimento gradual da aprendizagem de seus alunos, impedindo a
Arelaro (1992) argumenta que a proposta do Ciclo Básico de permanência de falhas na aprendizagem, para que o aluno chegue
São Paulo desestrutura positivamente a seriação tradicional e co- ao final do ano, com conhecimentos suficientes para o prossegui-
labora para a construção de uma escola mais democrática. Ainda mento dos estudos nas séries posteriores.
sobre este assunto, Duran (1990), destaca que a reprovação nas A Recuperação é destinada aos alunos do que apresentem di-
séries iniciais (e em todo ensino fundamental) não se resolve com ficuldades de aprendizagem não superadas no cotidiano escolar e
a promoção automática, “ainda que o fato de se conseguir que as necessitem de um trabalho mais direcionado, paralelo às aulas re-
crianças permaneçam um ano a mais na escola, sem reprovação, gulares e também podem ser incluídos alunos, para os quais foram
por si só, seja positivo”. Silva e Davis (1993) afirmam que a polêmica atribuídos conceitos médios e que tem potencial de melhorar.
em torno da promoção automática vem se acumulando e acaba por Os projetos de recuperação paralela ocorrem em horário diver-
escamotear a realidade, impedindo o exame da questão central: a so, devem ser elaborados mediante proposta do Conselho de Classe
incapacidade da escola brasileira de abandonar suas práticas cente- e Série, a partir da análise das informações registradas nas fichas de
nárias e virar do avesso sua organização interna. As autoras defen- avaliação diagnóstica, preenchidas pelo (s) professor (es) da classe,
dem que a escola deve se reorganizar para constituir uma prática que não poderá se eximir de realizar a recuperação contínua duran-
diferente, com a organização das classes apenas por faixa etária, te as aulas. Deverá ser estabelecido um vínculo de compromisso
percebendo a vantagem dos grupos heterogêneos, desestimular os entre o professor da classe e o professor da recuperação paralela,
remanejamentos, instrumentalizar o professor para trabalhar com com relação aprendizagem do aluno (utilizar os ATPCs, os Conselhos
grupos heterogêneos, criar sistemáticas de avaliação e controle que de Classe e Série, Capacitações promovidas pela D.E.).
garantam patamares mínimos de desempenho, informar a socieda- Compete à Direção da Escola e à Coordenação Pedagógica, ela-
de civil visando dar continuidade às mudanças propostas. borar em conjunto com os Professores envolvidos, os respectivos
Vasconcellos (1999) considera a organização da escola em ci- projetos, encaminhando-os à Diretoria de Ensino para aprovação e
clos uma das mais avançadas concepções de educação escolar e publicação em D.O. das turmas de reforço.
uma grande alternativa para a organização do ensino. Todavia, não
adianta simplesmente acabar com a reprovação: “podemos cair na Atendimento a Diversidade
mera empurração se não nos comprometermos com a tarefa princi-
pal: promover a aprendizagem e o desenvolvimento de todos, pau- O Papel da Escola
tados num projeto de emancipação humana”. Entre as sugestões Estudos sociológicos sempre indicaram como função principal
está o atendimento ao aluno com dificuldades, investimento no da Escola a tarefa de promover sistematicamente o preparo das no-
professor, laboratórios de aprendizagem, participação da comuni- vas gerações à vida em Sociedade, incluindo aí o preparo para a vida
dade e possibilidade de implantação gradativa. adulta e ao mundo do trabalho. Apesar da variação desse processo
Vemos que as ideias para a melhoria do Sistema de Ensino já no tempo e no espaço, no Brasil também cabe à Escola a realização
são bem antigas. As medidas para que grandes mudanças ocorram dessa tarefa.
são sugeridas nos PCNs e o governo deveria promover mais capaci- Vamos, no entanto, buscar a definição dessa tarefa não na teo-
tações de professores e equipar melhor as escolas para que possa- ria, mas em algo mais concreto e próximo: o texto legal.
mos atender melhor as diferenças. A nova L.D.B., Lei 9394/96, define de forma abrangente e difusa
a educação como sendo “o conjunto de processos formativos que
Recuperação Paralela e Contínua se desenvolvem na família, na convivência humana, nas instituições
A Recuperação Paralela e contínua é uma reorientação que de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizados da so-
deve ocorrer com os alunos que apresentam dificuldades durante ciedade civil e nas manifestações culturais”. Coloca, também, em
o processo de aprendizagem em qualquer momento do ano letivo, seu texto: que tem como objetivo disciplinar a educação escolar,
considerando o nível de desempenho de cada um deles. Estudos a que se desenvolve predominantemente, por meio de ensino, em
mais recentes na área de avaliação denominam essa prática de reo- instituições próprias e que acima de tudo deve estar vinculada ao
rientação da aprendizagem em processo. mundo do trabalho e à prática social. Explicita igualmente os prin-
O processo de aprendizagem nas diferentes áreas do conheci- cípios que devem nortear o ensino e apresenta também como fina-
mento está respaldado no desenvolvimento de habilidades básicas lidade maior da educação o pleno desenvolvimento do educando,
e que os estudos de reforço e recuperação se caracterizam em mo- seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
mentos de atividades específicas para a superação das dificuldades trabalho.
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CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Pela análise dos textos legais, depreende-se deles como tarefa é preciso clareza sobre os mecanismos ou instituições que estão
da Escola a promoção do desenvolvimento do educando de forma ativamente envolvidos na criação da diversidade e que fixam as
a prepará-lo para a vida social e para o trabalho. Tal tarefa só estará pessoas em determinadas identidades culturais e as separam por
plenamente cumprida se a Escola for capaz de promover a escolari- meio da diferença cultural. Então, é preciso saber como a diferença
zação dos seus educandos. é atualmente produzida, antes de tolerá-la, respeitá-la e admiti-la.
Há necessidade, nesse cumprimento de tarefa, da Escola forjar Na medida em que “a diversidade biológica pode ser um produto
o nascimento de um cidadão de verdade, com condições de pro- da natureza; o mesmo não se pode dizer da diversidade cultural”.
duzir e de usufruir os bens culturais, sendo não apenas um con- De acordo com Stoer&Magalhães in Rodrigues “o que carac-
sumidor a mais. Forjando ao mesmo tempo a incorporação, pela teriza atualmente as diferenças e as suas relações é precisamente
Sociedade, da grande massa dos excluídos, elevando-os à condição a sua heterogeneidade, a sua incontrolável resistência a qualquer
de gente, de pessoas, dando a eles, igualmente o direito de terem, domesticação epistemológica ou cultural”.
de fazerem, de conhecerem, de saberem, de poderem, enfim, de Entendemos que é necessário aos sistemas educativos elabora-
serem. rem propostas e políticas de ação em que a diversidade, sobretudo
Tarefa coletiva da Escola que se inicia com a construção de sua a cultural, seja gerida tendo em conta o contexto epistemológico e
proposta pedagógica e liga-se à conquista da sua autonomia e vin- cultural ora referida para que, no correr dos tempos, a diversidade
cula-se, sobretudo a pressupostos éticos de responsabilização de e a diferença possam substituir a homogeneidade e a uniformidade
todos os envolvidos, pelo processo e pelos resultados. Deve, por- que norteiam as práticas escolares.
tanto, para isso, envolver toda a comunidade escolar - do aluno e Nessa perspectiva, a diferenciação do ensino deverá estar rela-
sua família, aos administradores dos órgãos Centrais responsáveis cionada à situação didática proposta e aos direcionamentos sobre o
pelos Sistemas de Ensino. sentido dos saberes trabalhados na escola e a sua utilização. A for-
Cabe à escola garantir a todos os seus alunos oportunidades ma de ensino tradicional há de ser substituída por uma pedagogia
de aprendizagem que possam promover continuamente avanços de atenção à diversidade.
escolares, em observância aos princípios e diretrizes estabelecidos
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nas Normas Para Sacristan,
Regimentais Básicas para as escolas estaduais, no processo de Quanto mais pessoas entrarem no sistema educacional e quan-
aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento está respalda- to mais tempo permanecerem nele, mais variações serão acumu-
do no desenvolvimento de habilidades básicas e que os estudos de ladas em seu interior. A diferença existe. As práticas educativas
reforço e recuperação se caracterizam em momentos de atividades (sejam as da família, as da escola ou as de qualquer outro agente)
específicas para a superação das dificuldades encontradas e para a deparam-se com a diversidade como um dado da realidade.
consolidação de aprendizagens efetivas e bem sucedidas para todos
os alunos; Sendo assim,
Temos que criar diferentes formas de organização da classe,
A Diversidade: Caminhos Abertos para uma Nova Escola dos tempos e espaços didáticos, dos objetos, recursos e estratégias
Trabalhar com realidades particulares, ou seja, com as diferen- pedagógicas. Temos que recuperar ou encontrar um novo sentido
ças individuais é uma oportunidade de enriquecimento pessoal. para as tarefas escolares. Temos que resgatar o desejo de aprender
Valorizar a singularidade de cada ser humano é um compromisso ou ensinar. Temos que acreditar que a escola pode se inovar e, as-
ético de contribuir com as transformações necessárias à construção sim, enfrentar o desafio de não mais perpetuar desigualdades e in-
de uma sociedade mais justa. justiças sociais, que fazem dela pura repetição ou simulacro do que
Para o professor, saber trabalhar com essa realidade, apesar já está “definido” - como destino biológico ou social - na sociedade
dos desafios, permite aprender a posicionar-se de forma a compre- como um todo20.
ender as diferentes necessidades educacionais de seus alunos. A Os autores prosseguem, enfatizando ser necessário que a
escola é o espaço em que pode dar-se a convivência entre crian- escola pense em diferentes formas de avaliação, de definição de
ças diferentes, com necessidades diferentes, e a partir daí tentar-se objetivos, criando e gerindo situações de aprendizagem, revendo
combater com o ensino discriminatório manifesto em gestos, com- costumes pedagógicos e especialmente encarando as dificuldades
portamentos e palavras, o qual muitas vezes afasta e estigmatiza e limitações como desafios, como uma possibilidade de superação,
grupos sociais. de buscas de opções, de proposição de problemas e de luta por
É preciso que haja um compromisso ético do professor ao ten- melhores condições de trabalho. Ressaltam ainda a necessidade de
tar responder adequadamente às diferentes situações que surgirão, formar professores que assumam a complexidade de sua tarefa e
na maioria das vezes, de forma imprevisível. É necessário entendi- que busquem se qualificar para bem realizá-la.
mento diante de situações que estão fora do seu próprio contexto Portanto, é necessária a redefinição da escola como espaço de
de vida, de forma a enfrentar adequadamente o ocorrido, fazendo socialização e vivências, entendendo que o significado da prática
deste uma oportunidade de aprendizagem. considere o âmbito plural em que os alunos estão inseridos, perce-
Nesse sentido, a escola não pode mais se manter com a mesma bendo o contexto social traçado pelas experiências que cada aluno
organização, currículo e formas de atendimentos inalteradas, sob tem e traz para a vida escolar refletidas em condições, interesses,
pena de acentuar cada vez mais o quadro das dificuldades, ou seja,
permanecendo com ofertas educativas homogêneas a alunos com
características diferenciadas.
Para que se possam criar possibilidades de modificar essa rea- 20 AMARO, Deigles G.; MACEDO, Lino de. Da lógica da exclusão à lógica da
lidade, fazem-se necessárias discussões sobre a constituição da di- inclusão: reflexão sobre uma estratégia. Anais do II Seminário Internacional Sociedade Inclusi-
ferença no humano que ultrapasse a diferença biológica. Para Silva, va, Belo Horizonte, M.G., 2001.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

habilidades etc., permitindo que as experiências culturais significa- reconhecê-la, trabalhá-la, e avançar na prática pedagógica a fim de
tivas aos sujeitos que delas participam se expressem legitimamen- fazer da escola um espaço plural e potente na construção do conhe-
te. cimento e da formação humana.
De modo semelhante, Cavalcante Jr. refere-se à importância da A educação, enquanto prática social, se constitui em direito so-
construção de uma escola onde a expressão externa do discurso cial do indivíduo. Historicamente muitas lutas foram desenvolvidas
interior - a sua palavra - seja plenamente realizada. (...) A sala de buscando garantir esse direito. A luta pela garantia de escola para
aula é um palco propício para a expressão do sujeito e um ponto todos se constitui em uma das bandeiras em prol da inclusão social
de apoio para a sua transformação pessoal e, consequentemente, e da efetiva participação da sociedade civil.
cultural. A inclusão de alunos especiais e com problemas de aprendi-
Ao ignorar a cultura do aluno, esquecendo de analisar o mundo zagem também faz parte desse processo de atendimento à diver-
e a situação em que vive, a escola delimita a aprendizagem, restrin- sidade. Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, sujeitos
ge sua ação aos valores e às normas de uma sociedade cristalizada, especiais porque são pessoas em desenvolvimento. O reconhe-
trazendo consequências para a eficácia da ação pedagógica. Uma cimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, a
dessas consequências é transformar a aprendizagem em um ato de serem protegidos pelo Estado, pela sociedade e pela família com
aquisição e transferência de conteúdos e não em um ato de conhe- prioridade absoluta, como expresso no art. 227, da Constituição
cimento, que permite ao homem a construção de possibilidades Federal, implica a compreensão de que a expressão de todo o seu
de conhecer e transformar sua realidade. O professor deve refletir, potencial quando pessoas adultas, maduras, tem como precondi-
pois o ato educativo e pedagógico é, ao mesmo tempo, ato social, ção absoluta o atendimento de suas necessidades enquanto pes-
político, ético, religioso, científico (Paviani). soas em desenvolvimento. Nesse sentido, a expressão da proteção
Construir uma escola aberta à diversidade implica reconhecer integral consagrada no texto constitucional. Para tanto, sobressai a
as possibilidades humanas, valorizar as potencialidades não expres- ação do Estado propiciando as políticas públicas necessárias para
sas, raramente enaltecidas pela escola por não coincidir com o mo- que o seu desenvolvimento se faça de forma plena. Registra-se que
delo ideal de aluno. Sobre isso ressalta Mantoan: a ação estatal tem de ser permanente, com recursos garantidos no
(...). Para que a educação escolar se estruture e se consolide, orçamento público para a sua realização. Sem essa ação contínua e
segundo os princípios da não exclusão, devem ser consideradas crescente não há como garantir os direitos inscritos constitucional-
as experiências e a realidade dos professores e alunos. Trata-se mente e, em decorrência, a proteção integral prevista, com a prio-
do tempo e do espaço do contexto escolar, congregando todos os ridade requerida.
elementos que o compõem - da sala de aula propriamente dita à Dessa maneira, o projeto pedagógico na autonomia constru-
comunidade em que se insere, do dia letivo aos diferentes tempos ída deve permitir aos professores, alunos, coordenadores e dire-
e ritmos de ensino e aprendizagem. tores estabelecerem uma comunicação dialógica, para propiciar a
Ao se referir a essa escola, a autora destaca algumas referên- criação de estruturas metodológicas mais flexíveis para reinventar
cias fundamentais que poderão contribuir para organizar a gestão sempre que for preciso. A confirmação desse contexto só poderá
educativa: ser dada numa escola autônoma, onde as relações pedagógicas são
- aprender em um ambiente escolar que responda adequada- humanizadas. Isso será possível pela compreensão da concepção
mente a diferentes estilos de aprendizagens, habilidades e interes- crítico-reflexiva como pressuposto da autonomia a ser construída
ses dos educandos; coletivamente e articulada com o universo “mais amplo” da escola.
- um currículo escolar que apoie diferenças culturais e sociais
e pessoais;
- frequentar uma escola que seja atraente, justa e livre de pre-
QUESTÕES
conceitos;
- professores que tenham altas expectativas com relação a to-
dos os alunos e que enfrentam os desafios inerentes a uma educa-
ção aberta à diversidade; 01. (PREFEITURA DE NOVO HAMBURGO/RS - PROFESSOR -
- avaliação de seu progresso acadêmico que seja abrangente e INSTITUTO AOCP/2020)
que valorize seus talentos e potencial de aprendizagem; As metodologias ativas são aplicadas utilizando-se de diferen-
- ampla gama de serviços de apoio, que atendam às suas neces- tes estratégias pedagógicas de ensino que visam criar oportunida-
sidades individuais. des para os alunos desenvolverem comportamentos mais ativos.
Diante disso, são estratégias das metodologias ativas:
Os aspectos descritos nesse trabalho buscam indicar pistas (A) aprendizagem por meio de jogos recreativos, aprendizagem
para essa nova organização da escola aberta à diversidade, que por meio de brincadeiras de papéis, ensino baseado no debate
exige de todos, um grande esforço no sentido da criação de uma ideológico.
comunidade escolar, onde todos, em parceria, possam comungar (B) aprendizagem em equipe, aprendizagem por projetos, en-
para o bem-estar acadêmico, social e emocional do aluno, para o sino baseado no método sincrético, aprendizagem baseada na
seu desenvolvimento global. investigação.
Diante do exposto, buscamos com essa pesquisa contribuir (C) aprendizagem por vídeos históricos, método baseado no
para a compreensão e construção de uma escola voltada para o ensino a distância, ensino por meio de aulas expositivas.
atendimento a diversidade. Se faz necessário propostas de educa- (D) aprendizagem baseada na investigação, ensino baseado
ção que levem em conta a diversidade cultural e a necessidade de na memorização de tabelas, aprendizagem por meio de obras
clássicas.
(E) aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem por
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

meio de jogos, método do caso ou discussão e solução de ca- 06. (IFC/SC - Pedagogia - Educação Infantil - IESES) No que diz
sos, aprendizagem em equipe, ensino híbrido. respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é INCORRETO
afirmar que:
02. (FUNPAPA - Pedagogo - AOCP) Sobre as metodologias ati- (A) A avaliação é constituída de instrumentos de diagnóstico
vas, assinale a alternativa INCORRETA. que levam a uma intervenção, visando à melhoria da aprendi-
(A) O educador precisa descobrir quais são as motivações pro- zagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos que sirvam
fundas de cada educando e o que o mobiliza mais para apren- de intervenção para qualificar a aprendizagem.
der. (B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz das
(B) A aprendizagem colaborativa possibilita o compartilhamen- crianças pode ter algumas consequências e influências deci-
to em diversos grupos de interesse, presenciais ou virtuais, do sivas no seu processo de aprendizagem e crescimento. Neste
que sabem, nos ajuda nas nossas dúvidas, ilumina ângulos que sentido, a expectativa dos professores sobre os seus alunos
não percebíamos, amplia nosso potencial e oferece alternati- tem grande influência no que diz respeito ao rendimento da
vas novas, profissionais e sociais. aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma visão fragmentada
(C) Os professores podem utilizar as tecnologias em sua área da criança. É aconselhável concentrar esforços no que as crian-
de atuação, incentivando os alunos a serem produtores e não ças não sabem fazer e, não, considerar as suas potencialidades.
só receptores. (C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e contínua,
(D) Por serem ativas, deve-se evitar misturar técnicas, estraté- aperfeiçoando a ação educativa, identificando pontos que ne-
gias, recursos e aplicativos. cessitam de maior atenção na busca de reorientar a prática do
(E) Em um mundo conectado e digital, se expressam através educador, permitindo definir critérios para o planejamento, au-
de modelos de ensino híbridos, blended, com muitas possíveis xiliando o educador a refletir sobre as condições de aprendiza-
combinações. gem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas
pelas crianças.
03. (TSE - Analista Judiciário - Pedagogia - CONSULPLAN) Para (D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade básica de
Cipriano Carlos Luckesi (2000), a avaliação é um ato amoroso e dia- fornecer subsídios para a intervenção na tomada de decisões
lógico que envolve sujeitos e, como tal, a primeira fase do processo educativas e observar a evolução da criança, como também,
de avaliação começa com: ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou modificar
(A) o acolhimento do sujeito avaliado. determinadas situações, relações ou atividades na sala de aula.
(B) a qualificação dos conhecimentos prévios.
(C) o julgamento das aprendizagens avaliadas. 07. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ - Professor de Ensino Fun-
(D) o diagnóstico do perfil do sujeito. damental - Artes Plásticas - Prefeitura do Rio de Janeiro) Leia o frag-
mento abaixo: Normalmente, quando nos referimos ao desenvolvi-
04. (Prefeitura de Uberlândia/MG - Professor Educação Básica mento de uma criança, o que buscamos compreender é até onde a
II - Português - CONSULPLAN) A avaliação da aprendizagem escolar criança já chegou, em termos de um percurso que, supomos, será
é um elemento do processo de ensino e de aprendizagem. percorrido por ela. Assim, observamos seu desempenho em dife-
Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a aprendi- rentes tarefas e atividades, como por exemplo: ela já sabe andar?
zagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo professor. Já sabe amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de
Numa perspectiva emancipatória, que parte dos princípios da au- diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe realizar
toavaliação e da formação, podemos afirmar que: determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de realizá-la so-
(A) os alunos também devem participar dos critérios que servi- zinha. Por exemplo, se observamos que a criança já sabe amarrar
rão de base para a avaliação de sua aprendizagem. sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe amarrar sapatos, so-
(B) os professores devem utilizar a avaliação como um zinha, sem necessitar de ajuda de outras pessoas.
mecanismo de seleção para o processo de ensino. OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvol-
(C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos cri- vimento; um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1991.
térios que possam classificar as aprendizagens corretas. Pág. 11
(D) os alunos também devem registrar o processo de avaliação O trecho apresenta uma das categorias de análise usada por Vy-
que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula. gotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
(A) a zona de desenvolvimento real
05. (Prefeitura de Montes Claros/MG - PEB I - UNIMONTES) (B) a zona de desenvolvimento proximal
De acordo com Luckesi (1999), é importante estar atento à função (C) a fase potencial do pensamento formal
ontológica (constitutiva) da avaliação da aprendizagem, que é de (D) a fase operatória do pensamento formal
diagnóstico.
Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de decisão. 08. (IFB - Pedagogo - CESP) Partindo das concepções de avalia-
Articuladas com essa função básica estão, EXCETO: ção institucional, de desempenho e de aprendizagem nas diferen-
(A) a função de motivar o crescimento. tes abordagens teóricas, julgue os seguintes itens.
(B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do A função classificatória é o principal objetivo da avaliação for-
educando quanto da família. mativa, que ocorre ao final de uma etapa ou período para verifica-
(C) a função de aprofundamento da aprendizagem. ção da aquisição de conhecimento ou habilidade.
(D) a função de auxiliar a aprendizagem. ( ) CERTO
( ) ERRADO

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

9. PREFEITURA DE GUARACIABA-SC — 2020 13. PREFEITURA DE SÃO LEOPOLDO -RS — 2020


As estratégias de ensino são o modo de organizar o saber didá- De acordo com Vasconcellos, o planejamento mais especifica-
tico, apresentando técnicas e recursos que possibilitem o alcance mente pedagógico diz respeito à sala de aula, que se caracteriza
dos objetivos propostos. Significa pensar e utilizar os recursos mais pela interação entre os sujeitos, e deve estar baseada:
adequados para não só dinamizar as aulas, mas principalmente: I. No relacionamento interpessoal. II. Em recursos audiovisuais.
(A) Aprimorar as habilidades dos educadores em lidar com tec- III. Na organização da coletividade. IV. Na construção do conheci-
nologias distintas. mento.
(B) Fazer os elos necessários entre o saber transmitido e sua Quais estão corretas?
sedimentação no repertório do aluno. (A) Apenas I.
(C) Para facilitar a compreensão dos conteúdos, que é mais (B) Apenas III.
bem absorvido quando apresentado em contextos inusitados. (C) Apenas II e IV.
(D) Fazer com que a aula apresentada seja única e não capaz de (D) Apenas I, III e IV.
ser copiada posteriormente. (E) I, II, III e IV.

10. PREFEITURA DE IPORÃ DO OESTE-SC — 2021 14. PREFEITURA DE SÃO MIGUEL D’OESTE - SC— 2018
É muito comum que se usem como sinônimos os termos mé- A organização e gestão da escola correspondem à necessidade
todo, procedimentos, técnicas, recursos, materiais, estratégias. Po- de a instituição dispor das condições e dos meios para a realização
rém, apesar da semelhança e estreita ligação entre eles, algumas de seus objetivos específicos e visam:
diferenças devem ser consideradas. Acerca desse tema, relacione a I - Prover as condições, os meios e todos os recursos necessá-
coluna 1 com a coluna 2. rios ao ótimo funcionamento da escola e do trabalho em sala de
COLUNA 1 (1)Método. (2)Técnica. (3)Estratégias. aula;
COLUNA 2 (__)Tipo de saber que se aplica, normalmente, com II - Promover o envolvimento das pessoas no trabalho, por
instrumentos e ferramentas úteis ao processo ensino e aprendiza- meio da participação, e fazer a avaliação e o acompanhamento des-
gem. (__)Conjunto de técnicas de ensino, cuidadosamente organi- sa participação;
zadas com um fim específico (objetivo). (__)Modo de organizar o III - Garantir a realização da aprendizagem para todos os alu-
saber didático, apresentando diversas técnicas e recursos que pos- nos.
sibilitem o alcance dos objetivos propostos para a atividade. Dos itens acima:
A sequência CORRETA é: (A) Apenas os itens I e II estão corretos.
(A) 3, 2, 1. (B) Apenas os itens I e III estão corretos.
(B) 2, 3, 1. (C) Apenas II e IV.
(C) 2, 1, 3. (D) Apenas os itens II e III estão corretos.
(D) 1, 2, 3. (E) Todos os itens estão corretos.

11. DEPEN — 2018 15. IF - MT— 2018


Com relação a novas tecnologias aplicadas à educação e a pla- Ilma Passos (2010, p. 2) afirma ser o “projeto político-pedagó-
taformas de aprendizagem virtuais e de avaliação educacional, jul- gico uma forma de organização do trabalho pedagógico que desvela
gue os itens seguintes. os conflitos e as contradições, busca eliminar as relações competi-
O uso das tecnologias é inovador por natureza, por isso trans- tivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do man-
forma necessariamente as concepções e os métodos de ensino e de do pessoal e racionalizado da burocracia e permitindo as relações
aprendizagem que, ao educador, parecem ineficazes. horizontais no interior da escola”. Sobre essa afirmativa, é correto
( ) CERTO considerar que:
( ) ERRADO I - O projeto, por ser coletivo, implica o desenvolvimento de um
clima de confiança que favoreça o diálogo, a cooperação, a nego-
12. MPU — 2018 ciação e o direito das pessoas de intervir nas decisões que afetam
Acerca das bases psicológicas da educação e das novas tecno- a escola.
logias aplicadas à educação, como as plataformas de aprendizagem II - O projeto político-pedagógico contempla a questão da qua-
virtuais, julgue o item que se segue. lidade do ensino, implicando repensar a estrutura de poder da es-
Um material educativo para aprendizagem autodirigida elabo- cola.
rado mediante sistemas tutoriais inteligentes e sistemas de hiper- III - O projeto político-pedagógico exige reflexão sobre as fi-
mídia adaptativos que permitem a elaboração de sistema de ensino nalidades da escola, assim como explicitação de seu papel social,
ajustado às características individuais dos alunos fundamenta-se definindo os caminhos a serem percorridos e as ações a serem de-
em uma abordagem construtivista da educação e da aprendizagem. sencadeadas por todos os envolvidos no processo educativo.
( ) CERTO IV - O projeto, como instrumento norteador das trilhas da esco-
( ) ERRADO la, dos tempos e espaços, está articulado à construção das relações
verticais no interior da escola.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS DIDÁTICOS

Está correto o que se afirma em:


(A) I, II e IV, apenas.
ANOTAÇÕES
(B) III e IV, apenas.
(C) I e II, apenas. ______________________________________________________
(D) I e III, apenas.
(E) I, II e III, apenas. ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 E
______________________________________________________
2 D
3 A ______________________________________________________
4 A ______________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 B
______________________________________________________
7 A
8 ERRADO ______________________________________________________
9 B _____________________________________________________
10 C
_____________________________________________________
11 ERRADO
12 CERTO ______________________________________________________

13 D ______________________________________________________
14 D
______________________________________________________
15 E
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

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a solução para o seu concurso!
ESTATUTO DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE

LEI FEDERAL Nº 8.069/1990 E SUAS ALTERAÇÕES (ESTATU- QUESTÕES


TO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE): ARTS. 56, 232 E 245

1. Conforme artigo 56 do ECA (Estatuto da Criança e do Adoles-


LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. cente) Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental
comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá (A) reiteração de indisciplina, roubo na instituição envolvendo
outras providências. seus alunos e desrespeito às instâncias superiores da escola.
(B) violência por parte de seus alunos, falta de participação dos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso pais em reuniões e descaso por parte dos familiares de seus
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: alunos esgotados os recursos escolares.
(C) alunos que não apresentam documentação necessária para
TÍTULO II inscrição, falta de vagas em sua unidade e inadequação do alu-
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS no a sua unidade.
CAPÍTULO IV (D) maus-tratos envolvendo seus alunos, reiteração de faltas
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO injustificadas e de evasão escolar esgotados os recursos escola-
LAZER res, e elevados níveis de repetência.
(E) descaso por parte dos familiares de seus alunos esgotados
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino funda- os recursos escolares, maus-tratos envolvendo seus alunos e
mental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: reiteração de indisciplina.
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, es- 2. Uma das transformações trazidas pela mobilização popular
gotados os recursos escolares;
da década de 1980 foi a conquista da condição cidadã para a crian-
III - elevados níveis de repetência.
ça e o adolescente, promulgada no ECA. Nessa direção, o Estatuto
dedica diferentes artigos na especificação dos direitos legalmente
TÍTULO VII
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS previstos. Assim, é que o ECA prevê o direito de acesso à escola pú-
CAPÍTULO I blica e gratuita próxima à residência da criança ou do adolescente.
DOS CRIMES Ampliando essa perspectiva, o art. 56 determina que os dirigentes
de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Con-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida- selho Tutelar, esgotados os recursos escolares, os casos de: maus-
de, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: -tratos envolvendo seus alunos, reiteração de faltas injustificadas e
Pena - detenção de seis meses a dois anos. de evasão escolar, e, também,
(A) incidência de baixo desempenho.
CAPÍTULO II (B) desrespeito ao regulamento escolar.
DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS (C) ocorrências de agressões.
(D) envolvimento com drogas.
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por esta- (E) elevados níveis de repetência.
belecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-es-
cola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos 3. Segundo o Artigo 232 da Lei Federal 8069/90, submeter
de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
de maus-tratos contra criança ou adolescente: vexame ou a constrangimento, terá com pena:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando- (A) multa de dez salários mínimos.
-se o dobro em caso de reincidência. (B) detenção de seis meses.
(C) detenção de seis meses a um ano.
(D) detenção de seis meses a dois anos.

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a solução para o seu concurso!
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
4. Considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
e os crimes contra a pessoa, julgue os itens que se seguem.
ANOTAÇÕES
O crime consistente na submissão de criança ou adolescente
sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constran- ______________________________________________________
gimento, por ser crime próprio, somente pode ser praticado por
agentes do Estado. ______________________________________________________
( ) CERTO
( ) ERRADO ______________________________________________________

______________________________________________________
5. Nas escolas brasileiras, estudantes vivenciam a violência
sexual no âmbito da família e trazem essas experiências para o ______________________________________________________
ambiente escolar. De acordo com o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (Lei 8.069/1990), Artigo 245, cabe ao professor e demais ______________________________________________________
profissionais das redes públicas e particulares de ensino, em casos
dessa natureza: ______________________________________________________
(A) comunicar às autoridades competentes qualquer suspeita ______________________________________________________
de violência ou maus-tratos contra estudantes com menos de
18 anos. ______________________________________________________
(B) encaminhar os estudantes para centros de acolhida, onde
serão ouvidos por equipe multidisciplinar. ______________________________________________________
(C) preservar a imagem da criança e do adolescente e o respei-
to à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral. ______________________________________________________
(D) promover campanhas educativas permanentes para a divul-
gação do direito da criança e do adolescente de serem educa- ______________________________________________________
dos e cuidados sem o uso de castigo físico.
_____________________________________________________
6. No artigo 245, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA _____________________________________________________
– estabelece a pena ao professor ou responsável por estabeleci-
mento de ensino fundamental, pré-escola ou creche que deixar de ______________________________________________________
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhe-
cimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos con- ______________________________________________________
tra criança ou adolescente. Segundo o ECA, a pena prevista nesse
______________________________________________________
caso é:
(A) prestação de serviços comunitários, pelo período de um ______________________________________________________
ano, nas escolas do Município
(B) processo administrativo conduzido pelo Conselho Tutelar ______________________________________________________
(C) suspensão temporária do trabalho
(D) multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o ______________________________________________________
dobro em caso de reincidência
(E) advertência e orientação do Juiz da Infância e da Juventude ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 D ______________________________________________________
2 E
______________________________________________________
3 D
4 ERRADO ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 D
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
ESPECÍFICOS
Professor - História

REINOS E SOCIEDADES AFRICANAS E DO CRESCENTE FÉRTIL: SOCIEDADES DO VALE DO NILO. SOCIEDADES DA ÁFRICA SUB-
SAARIANA. POVOS MESOPOTÂMICOS

ANTIGUIDADE ORIENTAL

Crescente Fértil

Crescente Fértil é o nome da região conhecida como o lar das primeiras civilizações. A Mesopotâmia faz parte dessa região, uma faixa
de terra junto ao Mar Mediterrâneo e o nordeste da África.

A origem desse nome é devida ao seu traçado em forma de semicírculo que


lembra a Lua no quarto crescente, além da presença de grandes rios cujos vales
apresentavam solos férteis propícios para a prática da agricultura. Essas duas
características explicam o nome: lua CRESCENTE + solo FÉRTIL.

Foram essas áreas férteis em uma região árida que atraíram o interesse de povos nômades que se fixaram e impulsionaram a agricul-
tura baseada na irrigação. Merecem destaque nesse período a Mesopotâmia e o Egito.
Foi nesses vales – todo o Crescente Fértil, junto aos rios Nilo, Tigre e Eufrates – que se desenvolveram algumas das grandes civilizações
da Antiguidade Oriental.

https://bit.ly/38OPNyY
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Vamos conhecer as principais civilizações desse período: O Médio Império (2000 a 1750 a.C.)
O Médio Império se caracterizou por uma nova dinastia e uma
Egito nova capital: Tebas.
Nesse período o Egito se expandiu em direção ao sul, aperfei-
A civilização egípcia se desenvolveu no nordeste da África às çoou sua rede de canais de irrigação e estabeleceu colônias mine-
margens do rio Nilo. Situado em meio a dois desertos (Líbia e Ará- radoras no Sinai (Península do Sinai). A procura por cobre (escasso
bia), o Egito aproveitou suas características geográficas que conta- na região) e seu consequente comércio com outros povos fez com
vam com as cheias do Nilo para tornar o solo fértil e prover grandes que o Egito ficasse conhecido – cobiçado – por outras populações
área de plantio. do Oriente Médio.
Foi ali que houveram duas grandes mudanças: Alguns povos procedentes da Ásia Menor desencadearam uma
1ª as comunidades primitivas iniciaram um processo de divisão série de investidas em direção ao Vale do Nilo. Após diversos ata-
por território (em busca das melhores terras). Foi nesse momento ques de povos diferentes, foram os hicsos[ Os hicsos foram um povo
em que surgiram as figuras dos primeiros líderes (detentores das semita asiático que já utilizava o cavalo e o ferro. Eles invadiram a
melhores terras); região oriental do Delta do Nilo durante a décima segunda dinas-
2ª dois personagens históricos surgiram como consequência tia do Egito, iniciando o Segundo Período Intermediário da história
desse fato: a figura do camponês (membros de famílias que não do Antigo Egito.], que derrotaram as forças faraônicas do Sinai e
tinham mais a posse da terra) e a figura dos nomarcas (líderes que ocuparam a região do delta do Egito, onde se instalaram de 1750
tinham o domínio das terras e abrigavam essas famílias). a 1580 a.C.
Foi durante essa dominação estrangeira que os hebreus se es-
A origem do termo normarca deriva justamente dessas áreas. tabeleceram no Egito.
As unidades de terra independentes eram chamadas de nomos,
logo, o chefe de um nomo era o nomarca. O Novo Império (1580 a 1085 a.C.)
Os nomos não demoraram para entrar em choque uns com os Foi o faraó Amósis I quem expulsou os hicsos dando início a
outros fazendo com que os nomos menores desaparecessem incor- uma fase militarista e expansionista da história egípcia. Posterior-
porados pelos mais fortes. mente, sob o reinado de Tutmés III, a Palestina e a Síria foram con-
Não tardou para que esses agrupamentos crescessem e des- quistadas, estendendo o domínio do Egito até as nascentes do rio
sem origem a apenas dois grandes nomos (trataremos por reinos), Eufrates.
e por consequência, dois grandes líderes. Divididos com domínios Durante esse período de apogeu, o faraó Amenófis IV empre-
ao sul e ao norte esses reinos ficaram conhecido como Alto Egito e endeu uma revolução religiosa e política. O soberano substituiu o
Baixo Egito. politeísmo tradicional, cujo deus principal era Amon-Ra, por Aton,
Por volta de 3200 a.C., ocorreu uma grande mudança no domí- simbolizado pelo disco solar. Essa medida tinha por finalidade eli-
nio do país: o nomarca do sul, Menés, venceu o normarca do norte minar a supremacia dos sacerdotes, que ameaçavam sobrepujar o
unificando o Egito, transformando a cidade de Tinis em capital e se poder real.
tornando o primeiro Faraó. A partir desse momento tiveram início O faraó passou a denominar-se Akhnaton, atuando como su-
as Dinastias (famílias reais que governaram o Egito por quase 3.000 premo sacerdote do novo deus. A revolução religiosa teve fim com
anos). o novo faraó Tutancaton, que restaurou o politeísmo e mudou seu
O período histórico em que as dinasticas governaram o Egito nome para Tutancâmon.
é considerado extenso, e por isso a História do Egito é comumente Com a cidade de Tebas sendo novamente a capital, os faraós da
dividida em três partes: dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) prosseguiram as conquistas.
- Antigo Império: de 3200 a.C. até 2200 a.C. O esplendor do período foi demonstrado pela construção de gran-
- Médio Império: de 2200 a.C. a 1750 a.C. des templos, como os de Luxor e Karnak.
- Novo Império: de 1580 a.C. a 1085 a.C. As dificuldades do período começaram a surgir com as constan-
tes ameaças de invasão das fronteiras. No ano 663 a.C., os assírios
O Antigo Império (3200 a 2200 a.C.) invadiram o Egito.
Os sucessores de Menés continuaram a governar por mais de
mil anos e durante esse período o Egito Antigo viveu um isolamento O Renascimento Saíta (663 a 525 a.C.)
quase completo. O faraó possuia amplos e era visto como uma en- O domínio assírio durou pouco tempo. Eles foram expulsos
carnação do deus do Sol, Rá. pelo faraó Psamético I, que também mudou a capital transferindo-a
Foi durante o Antigo Império que a classe religiosa (represen- para a cidade de Saís, no delta do rio Nilo.
tada pelos sacerdotes) conquistou poder através da influencia e As constantes lutas pela posse do trono levaram o Egito à ruína.
riqueza. As grandes pirâmides de Gizé, consideradas maravilhas ho- Os camponeses se rebelaram e a nobreza se viu disputando o poder
norárias do mundo moderno, foram construidas durante o Antigo com o clero. A falta de estabilidade seguida de novas invasões aca-
Império, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos. baram por fragmentar ainda mais o poder.
Uma nobreza privilegiada cooperava na administração e na ex- Finalmente, por volta de 30 a.C., os romanos invadem o país
ploração dos camponeses, também acumulando grande poder. Esse e colocam fim ao Egito como Estado independente nesse período.
fortalecimento a levou a tentar assumir o controle direto do Estado.
Seguiu-se um período sem estabilidade em que praticamente
cada nobre se julgava em condições de ocupar o trono faraônico.
O clero aproveitou-se para expandir seu poder político, apoiando
diferentes postulantes ao trono de acordo com seus interesses.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Economia do Egito Antigo Essa mudança fez parte de uma tentativa do faraó em limitar o
A economia do Egito estava baseada principalmente na agricul- poder do clero. Além disso, ele mudou seu palácio para longe dos
tura focada no cultivo de cereais como o trigo e a cevada. O pasto- templos e organizou um novo clero. Esse plano funcionou enquanto
reio completava os trabalhos na terra, com a criação de rebanhos Amenófis III esteve no poder. Com sua morte, as coisas retornaram
de gado bovino e ovino. ao estágio anterior e o antigo clero voltou a ter maior poder no
A agricultura foi amplamente favorecida pelo rio Nilo e seu re- Egito.
gime de cheias. A cheia do Rio Nilo era gerada por chuvas na África
Oriental e pelo degelo nas terras altas etíopes. Egito e a Relação com o Reino de Núbia
A forma como a agricultura era praticada causava espanto e
curiosidade nos estrangeiros. O historiador grego Heródoto, em sua Quando se pensa em África Antiga, automaticamente nos lem-
obra Histórias, escreveu: “O Egito é uma dádiva do Nilo”, associan- bramos da civilização egípcia. No entanto, outros povos, reinos, im-
do a formação do Egito à presença e utilização do rio. périos e civilizações destacaram-se na antiguidade. Nesse contexto,
De um modo geral, a economia egípcia é enquadrada no modo o reino da Núbia, localizado ao sul do Egito e norte do Sudão me-
de produção asiático, em que a propriedade geral das terras perten- rece destaque.
cia ao Estado e as relações sociais de produção se fundamentavam Ali habitava uma população negra com língua e origem étnica
no regime de servidão coletiva. As comunidades camponesas, pre- diferente dos egípcios[ Lorena de Lima Marques. Reinos e Impérios
sas à terra que cultivavam, entregavam os resultados da produção Africanos – Reino Núbia. Fundação Cultural Palmares. http://www.
ao Estado, representado pela pessoa do rei. palmares.gov.br/?p=53832. ].
A civilização Núbia surgiu por volta de 4.000 a.C., em meio ao
Sociedade egípcia Deserto do Saara e, assim como o Egito, pode ser considerada uma
O Egito é considerado uma Sociedade Hidráulica, cuja organi- ‘‘dádiva do Nilo’’. Por volta de 2.000 a.C., as comunidades núbias
zação está relacionada com os períodos de seca e cheia dos rios. se unificaram sob o poder de um único rei. Surgiu então o Reino
Nesse tipo de sociedade, a distinção social começou a se fazer notar de Kush (Cuxe), um dos primeiros reinos negros africanos, tendo
através do domínio das áreas férteis: os donos das terras ocupa- sido Napata, a primeira capital. Napata foi um importante centro
vam as áreas mais altas da sociedade enquanto os camponeses, sua comercial e religioso.
base. Por séculos, as riquezas do Reino de Kush foram levadas para o
O topo da pirâmide social era ocupado pelo faraó e sua família. Egito: ébano, marfim, incenso, gado, ouro e escravos.
A seguir vinham os sacerdotes. Eles ocupavam o mesmo esta- A abundância em ouro e a expansão do reino de Kush torna-
mento da nobreza que detinha a posse das terras também tinham ram-se ao mesmo tempo um incentivo e uma ameaça ao Egito que
destaque na sociedade egípcia. ocupou seu território por volta de 1500 a.C.
Com o crescimento do comércio e do artesanato durante o Neste período houve uma egipcianização da Núbia: adotou-se
Médio Império, surgiu uma classe média empreendedora, a qual a religião, o culto às divindades egípcias, os costumes funerários e
chegou a conquistar uma certa posição social e alguma influência até as práticas arquitetônicas. Em Napata e Méroe, cidades kushi-
no governo. tas, foram erguidas numerosas pirâmides.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar de destaque na Esse domínio durou por volta de 500 anos quando o reino de
administração, principalmente no que tangia ao recolhimento da Kush se libertou do domínio egípcio.
produção dos camponeses. Os escribas tinham lugar de destaque
nesse segmento e seu poder variava de acordo com a confiança que Curiosidade: após a libertação do domínio egípcio, Kush der-
a nobreza ou o faraó depositavam neles. rotou os assírios que dominavam o país vizinho e unificou ambos
Os artesãos e os camponeses ocupavam uma posição abaixo. (Egito e Kush), iniciando um reinado dos ‘‘faraós negros’’ no Egito.
Apesar de o governo manter escolas públicas, elas formavam A dinastia dos faraós negros perdurou por 52 anos.
em sua maioria escribas destinados a trabalhar na administração
do Estado Faraônico. Os vestígios dos faraós kushitas foram apagados pelos egípcios.
Por último e em pequeno número estavam os escravos que se Apesar dessa ação, no ano de 2003 arqueólogos da Universidade de
dedicavam a diferentes tipos de trabalhos, podendo ser desde es- Genebra encontraram no norte do Sudão uma cratera (fechada por
cravos domésticos até trabalhadores rurais. aproximadamente 2 mil anos) contendo várias estátuas de ances-
trais e lembranças dos faraós negros. Algumas estavam destruídas
Religião e enterradas, como forma de apagar o vestígio do domínio desta
No Egito Antigo (como em quase toda a Antiguidade), a religião civilização no Egito.
assumia a forma politeísta, compreendendo uma enorme varieda- Após o domínio egípcio, a civilização kushita renasceu aos re-
de de deuses e divindades menores. dores da cidade de Méroe, nova capital, estendendo-se por mais
A preocupação com a vida futura era grande e os cuidados mil anos.
com os mortos eram contínuos, bastando lembrar as cerimônias Os meroítas construíram mais pirâmides do que os faraós egíp-
fúnebres, nas quais se realizavam as oferendas de alimentos e de cios. Os números mostram que o Sudão conta com 255 pirâmides
incenso. enquanto o Egito tem 138[ Felipe Germano. Egito não é o país com
Por volta de 1360 a.C., o Egito passou por um período de mo- maior número de pirâmides. Revista Super Interessante. https://
noteísmo (o culto a um único deus) em que o culto foi direcionado super.abril.com.br/historia/egito-nao-e-o-pais-com-maior-nume-
a Aton. ro-de-piramides/. ].

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mesopotâmia Novas invasões estrangeiras arruinaram o Império Acádio, e


em breve os sumérios ressurgiram, com destaque para o governo
A origem do nome Mesopotâmia vem do grego (meso = no de Dungui. Este, mais curto desta vez deu lugar aos amoritas, que
meio; pótamos = rio). Ela é uma antiga região do Oriente Médio, fundariam o Primeiro Império da Mesopotâmia.
compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, e onde predominavam
condições semelhantes ao Egito, pois os dois rios forneciam facili- O Primeiro Império Mesopotâmico
dades para o transporte de mercadorias, pesca e agricultura. Os amoritas submeteram os sumério-acadianos e transforma-
Apesar da presença das enchentes periódicas dos rios, a Me- ram a sua cidade (Babilônia) em capital do Império. À força das con-
sopotâmia apresentou certas dificuldades no estabelecimento de quistas, o comércio cresceu e a Babilônia transformou-se num dos
populações ribeirinhas, pois, ao contrário do que acontecia no Egito principais centros urbanos e políticos da Antiguidade, o centro do
com o rio Nilo, essas cheias eram irregulares. Além disso, o clima Império Babilônico.
mais seco e as doenças tropicais tornavam o trabalho do solo mais O mais destacável imperador amorita foi Hamurabi (1792-1750
difícil, apesar de sua fertilidade. a.C.), que, além de estender as fronteiras do Império desde o Golfo
Outra diferença em relação ao Egito é quanto às diferentes so- Pérsico até a Assíria, elaborou o primeiro código completo de leis:
ciedades que lá habitaram. Enquanto no Egito tivemos o desenvol- O “Código de Hamurabi “.
vimento da civilização egípcia, na Mesopotâmia tivemos o desen- Considerado o maior ordenamento jurídico da Antiguidade
volvimento de diferentes povos e sociedades. *A Mesopotâmia é Oriental, ele era composto de 282 leis, muitas das quais compiladas
uma região e não um país. do direito sumeriano, e incluía a conhecida “lei de Talião” — “olho
Sumérios, acádios, amoritas, cassitas, assírios, caldeus e mais por olho, dente por dente…” Hoje, o Código de Hamurabi, gravado
um sem-número de povos lutaram pela posse das terras aráveis. Os num monumento de uma só pedra encontrado em 1901, está no
povos das planícies (agricultores) viviam assediados desde a época museu do Louvre, em Paris (França).
dos primeiros estabelecimentos humanos na área pelos povos das Após Hamurabi, o Império foi golpeado por várias invasões,
montanhas, que viviam mais do saque e do pastoreio. como a dos hititas e a dos cassitas, acabando por desaparecer.
As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam desenvolver-se
mais, notabilizando-se por seus aspectos econômicos e culturais. O Império Assírio
Surgiram, assim, importantes sociedades hidráulicas, com a insti- Os assírios formavam um povo que antes de 2500 a.C. esta-
tuição de um Estado baseado na posse das terras e no controle das beleceu-se no norte da Mesopotâmia, na região de Assur. Eram
águas dos rios. guerreiros famosos pela crueldade com que tratavam os povos ven-
Estendendo-se da Mesopotâmia em direção ao vale do rio cidos. Sob governo de Sargão II, os assírios conquistaram o Reino
Indo, encontra-se o Planalto Iraniano. Grande parte dele está acima de Israel[ Reino formado após a unificação das 12 tribos de Israel].
de 2.000 metros: aqui e ali surgem bruscas elevações, cujos vales Posteriormente, no governo de Tiglat-Falasar, tomaram a cidade da
são regados pelos rios que buscam o mar. A região toda é pouco Babilônia.
irrigada e por isso grande parte dela é desértica. Dois outros importantes soberanos assírios foram Senaqueri-
A partir do II milênio a.C., essa região foi ocupada por grupos be, que transferiu a capital de Assur para Nínive, e Assurbanipal,
de pastores de origem ariana, os quais deram origem a dois remos construtor da famosa biblioteca de Nínive e conquistador do Egito.
distintos: ao norte, a Média; e ao sul, a Pérsia. Após sua morte, o Império entrou em lento declínio, com diversas
revoltas internas.
Os Sumérios Acadianos Finalmente, Nabupolasar, comandando os caldeus e contando
Os sumérios fixaram-se na Caldéia por volta de 3500 a.C., fun- com a ajuda dos medos, destruiu o Império Assírio, inaugurando o
dando diversas cidades-Estado, como Ur, Uruk, Nipur e Lagash. Segundo Império Babilônico (612 a.C.).
Cada cidade-Estado era governada por reis absolutos (com total
poder em suas mãos), chamados Patesi, que lutavam entre si pelo O Segundo Império Babilônico
predomínio na Caldéia. Após o período assírio, a Babilônia voltou a ser a capital da Me-
Os sumérios foram os criadores da escrita mesopotâmica, a es- sopotâmia, agora sob o domínio dos caldeus. O apogeu do Impé-
crita cuneiforme. Inicialmente essa escrita era composta de marcas rio Babilônico se deu com Nabucodonosor (604-561 a.C.). Durante
simples, depois de pictogramas[ Símbolos que representam objetos o seu reinado, a Palestina foi conquistada e seu povo, o hebreu,
ou conceitos (ideias)], e evoluíram para formas mais abstratas. Os transportado como escravo para a Babilônia: episódio conhecido
primeiros documentos eram gravados em tabuletas de argila, em “Cativeiro da Babilônia”.
sequências verticais. Quando os sumérios queriam que seus regis- Nabucodonosor foi o responsável também pela construção
tros fossem permanentes, as tabuletas cuneiformes eram coloca- dos “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma das sete
das em um forno tornando-as permanentes. maravilhas do mundo antigo. Após a morte de Nabucodonosor, ini-
A escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito di- ciou-se a decadência do Império Caldeu (babilônico). Em 539 a.C.,
fícil de ser decifrada, pois possuía mais de 2000 sinais. O seu prin- a Babilônia foi conquistada pelos Persas, comandados pelo impe-
cipal uso foi na contabilidade e na administração, pois facilitavam rador Ciro I.
no registro de bens, marcas de propriedade, cálculos e transações Esse foi o fim da Mesopotâmia com autonomia política, agora
comerciais. transformada em província persa.
Por volta de 2300 a.C, os invasores acádios conquistaram a Me-
sopotâmia, dos quais se destacou o rei Sargão I, o “soberano dos
quatro cantos da terra”, e primeiro rei mesopotâmico.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A Economia mesopotâmica O Império Persa


A principal atividade econômica era a agricultura, produzindo
sobretudo trigo e cevada. O artesanato e o comércio atingiram alto No leste da Mesopotâmia, região do Planalto iraniano, convi-
grau de desenvolvimento transformando a Babilônia num dos gran- viam medos e persas, povos de origem indo-europeia que desen-
des centros comerciais da Antiguidade. A sociedade possuía uma volveram uma intensa atividade pastoril.
estrutura piramidal, como a egípcia: no topo, o rei e a elite eco- Ciro, rei dos persas foi quem unificou os dois povos e deu início
nômico-militar que faziam parte do Estado; na base, os campone- ao Império Persa, o maior até então organizado na Ásia Ocidental.
ses, servindo coletivamente o governo, e por último os escravos[ Esse império desapareceu com a expansão macedônica.
BARDINE, RENAN. Mesopotâmia. Disponível em: < https://www. Ciro foi responsável pela unificação política do Planalto Irania-
coladaweb.com/historia/mesopotamia> ]. no e a criação do Império Persa, após anexar o Reino da Média (555
O governo era uma monarquia teocrática, absoluta, mas com a.C.). Em seguida, Ciro derrotou Creso, rei da Lídia, e conquistou o
uma religiosidade menos acentuada que a do Egito. O rei absoluto, Segundo Império Babilônico, permitindo que os hebreus retomas-
os funcionários públicos e os sacerdotes formavam uma aristocra- sem à Palestina.
cia controladora das melhores terras e de toda a produção. Compu- Ciro buscou unificação econômica de seu império, além de ga-
nham a elite social mesopotâmica, subjugando a grande massa de rantir que os povos conquistados mantivessem seus próprios costu-
camponeses e escravos. mes, língua e tradição. Foi visto pelos hebreus como um libertador
do jugo dos caldeus.
Religião Cambises, filho e sucessor de Ciro, conquistou o Egito na ba-
A maior parte dos costumes dos povos mesopotâmicos descen- talha de Pelusa (525 a.C.), vencendo o faraó Psamético III. Morreu
de dos sumérios, incluindo a religião. Acreditavam em vários deu- quando se preparava para voltar à Pérsia, a fim de sufocar uma re-
ses (eram politeístas), representantes de vários astros. Os principais volta.
eram: Marduk, o deus da Babilônia e do comércio; Shamash, o sol; Em 522, Dario I subiu ao poder e com ele, o Império Persa atin-
Anu, o céu; Enlil, deus do ar; Ea, da água; Ishtar, deusa do amor e da giu o apogeu. Seus domínios estendiam-se desde a Trácia, na Euro-
guerra; e Tamus, deus da vegetação. pa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real, dando à
Os mesopotâmicos criaram o mito de Marduk e a lenda do Dilú- sua pessoa um caráter semidivino. Dividiu o império em satrápias[
vio: acreditavam que o deus Marduk fora o criador do céu e da ter- Províncias, unidades administrativas.], cuja administração civil e mi-
ra, dos astros e do homem, e que ajudara Gilgamesh a sobreviver ao litar era confiada aos nobres escolhidos; não obstante, as satrápias
dilúvio em uma arca com vários animais e membros de sua família. eram vigiados por funcionários reais (os “olhos e ouvidos do rei”),
Para os mesopotâmicos, a religião servia para obter recompen- que percorriam as províncias fiscalizando a ação dos dirigentes.
sas terrenas imediatas; não acreditavam na vida após a morte. Os Houve estímulos ao comércio e o florescimento de várias capitais
rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, faziam dos tem- (Susa, Persépolis e Pasárgada), pois a Corte persa se deslocava pe-
plos (zigurates) o eixo da religiosidade mesopotâmica. Esses tem- riodicamente.
plos às vezes compreendiam também celeiros, armazéns e oficinas, Dario envolveu-se em uma disputa pela hegemonia comercial
neles se definindo o estoque e a distribuição do excedente agrícola nos mares Egeu e Negro e, apoiado por seus aliados fenícios, deu
tomado dos camponeses. início às Guerras Médicas, sendo derrotado pelos atenienses na ba-
talha de Maratona.
Cultura A queda do grande Império Persa teve início no reinado de Xer-
A ciência foi importante para o desenvolvimento das socieda- xes, que também foi derrotado pelos gregos (batalha de Salamina);
des na Mesopotâmia. Fosse para conhecer o regime das cheias dos o fim de sua independência política veio com a derrota e morte de
rios Tigre e Eufrates ou para calcular a movimentação dos astros, Dario III perante a investida dos gregos e macedônios, comandados
os mesopotâmicos desenvolveram um conhecimento científico no- por Alexandre Magno.
tável.
Os sacerdotes, a partir das observações feitas do alto dos Zi- A economia e a sociedade do Império persa
gurates desenvolveram a astronomia, descobrindo cinco planetas, Durante o reinado de Dario I, o império persa viveu um período
dividindo o círculo em 360 graus, criando o processo aritmético da de prosperidade econômica, através do estímulo ao comércio e a
multiplicação e dividindo o dia em 12 horas de 120 minutos cada agricultura. Um dos fatores que contribuíram para o aumento da
uma. Como acreditavam na influência dos astros sobre o dia-a-dia atividade comercial foi a introdução do dárico, cunhado em ouro ou
das pessoas, criaram a astrologia e o uso dos horóscopos, elaboran- prata, de peso fixo e com a efígie do rei (inovação trazida da Lídia),
do os 12 signos do zodíaco. Na matemática, além da multiplicação, que instituiu um padrão monetário no reino.
criaram também a raiz quadrada e a cúbica. A construção de estradas, bem como um eficiente policiamen-
Na arquitetura, inovaram com a aplicação do sistema de arcos, to efetuado por tropas reais, permitiram um tráfego maior de ca-
abóbadas e cúpulas, e, na escultura, com o uso do baixo-relevo em ravanas que buscavam alcançar a Mesopotâmia, provenientes de
trabalhos de cerâmica, marfim e metais preciosos. Na literatura, partes distantes da Ásia. Os correios reais facilitavam as comunica-
destacaram-se “O Mito da Criação” e a “Epopeia de Gilgamesh”. No ções e dizia-se que “na capital podia-se comer o peixe pescado no
Direito, o “Código de Hamurabi” sobressai como a maior obra jurí- mar no mesmo dia”.
dica da região. O Império Persa nasceu do conflito entre as tribos pastoras e
agricultoras. Quando o persa Ciro se impôs pela força, a nobreza
agrária e guerreira também se sobrepôs. O povo, constituído de ar-
tesãos, agricultores e pastores, que podiam ser recrutados para a
guerra, ocupava uma posição superior aos escravos.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Entre os persas, o poder da camada sacerdotal era menor do A palavra hebreu significa: “povo do outro lado do rio”, como
que na maioria das civilizações da Antiguidade Oriental. referência ao Rio Jordão, uma vez que a base de seu povoado deu-
-se após realizarem a travessia do rio e se fixarem na chamada “ter-
Religião ra de Canaã”. A civilização hebraica foi uma das que mais exerceu
A religião entre os persas caracterizou-se pela prática do Dua- influência sobre a civilização presente em todas as partes do mun-
lismo, que segundo a tradição, foi proposta por Zaratustra (Também do, uma vez que a sua religião, o judaísmo, forneceu subsídios para
chamado Zoroastro), através dos escritos contidos no Zend-Avesta. a constituição do cristianismo e do islamismo.
O dualismo espalhou-se pela Ásia, e com algumas alterações, é pra- A população hebraica era organizada em vários clãs patriarcais,
ticado até hoje. que na verdade eram tribos seminômades. Essas tribos familiares
O princípio do dualismo é a crença na existência dos princípios dedicavam-se à criação de gado em pastagem próximas a oásis es-
opostos: o bem, representado pelo deus Aura-Mazda, e o mal, re- palhados pelo deserto da Arábia. Através de suas crenças, os he-
presentado por Ahriman. A ideia é de que ambos viviam em cons- breus fundaram uma religião monoteísta baseada no culto ao Deus
tante luta pelo controle das ações humanas. Os homens, agindo Javé (Yahweh). Os hebreus seguiam líderes “escolhidos” por Javé e
corretamente, estariam ajudando o bem a vencer o mal. Zaratustra consideravam-se uma nação santa que deveria expandir a sua po-
previa que no final dos tempos Aura-Mazda venceria e os que ficas- pulação pela terra. Desse modo, as famílias eram muito numerosas
sem ao lado do mal seriam destruídos. em integrantes. As mulheres recebiam o papel de criar os filhos e
O dualismo persa acabou por influenciar o Cristianismo, no que manter o lar, enquanto os homens tinham a função de administrar
tange à dicotomia entre Céu e Inferno. Previa a vinda de um Messias as tribos e obter o sustento da família.
e se apresentava na condição de religião revelada. A religião persa É possível dividir a trajetória dos Hebreus em três períodos:
sofreu influência da Mesopotâmia, acabando por adotar fórmulas
de horóscopos e a predição do futuro através da posição dos astros. - Período dos Patriarcas;
O culto de Mitra (auxiliar de Aura-Mazda) chegou a influenciar os - Período dos Juízes;
próprios romanos, que o representavam pelo Sol. - Período dos Reis.

A cultura Persa No período dos patriarcas, que foi a primeira parte da história
Os persas procuraram fora das suas fronteiras os elementos política dos hebreus, a população esteve sob o domínio de uma li-
que marcaram suas construções. Influências egípcias e mesopotâ- derança. Um membro de uma das tribos possuía o poder jurídico,
micas fizeram-se sentir na arquitetura e a esculturas persas e os militar e religioso. Com relação à atividade econômica os hebreus
restos de seus palácios evidenciam esse ecletismo cultural. sustentavam-se por meio de trabalhos pastoris de caráter nôma-
Os palácios do Império Persa possuíam alicerces de pedra, vas- de, ou seja, o povo deslocava-se constantemente para regiões mais
tos terraplanos, paredes de tijolos, colunas finas e elegantes, com férteis.
capitéis esculpidos com cabeças de touro ou de cavalo. O teto era Conduzidos por Abraão, deixaram a cidade de Ur, na Mesopo-
forrado com madeira pintada. Muros recobertos de baixos-relevos tâmia, e se fixaram na Palestina (Canaã a Terra Prometida), por volta
ou ladrilhos esmaltados caracterizam as principais construções exis- de 2000 a.C.
tentes. A Palestina era uma pequena faixa de terra, que se estendia
pelo vale do rio Jordão. Limitava-se ao norte, com a Fenícia, ao sul
Hebreus
com as terras de Judá, a leste com o deserto da Arábia e a oeste
com o mar Mediterrâneo.
Antepassados do povo judeu, os hebreus têm sua trajetória
Governados por patriarcas, os hebreus viveram na palesti-
marcada por migrações e pelo monoteísmo. O Antigo Testamento
na durante três séculos. Os principais patriarcas hebreus, foram
da bíblia cristã é uma das maiores fontes de informação sobre o
Abraão (o primeiro patriarca), Isaac, Jacó (também chamado Israel,
povo Hebreu, já que cria uma mitologia para a criação desse povo.
daí o nome israelita), Moisés e Josué.
Por volta de 1750 a.C. uma grande seca atingiu a Palestina. Os
A Origem dos Hebreus
hebreus foram obrigados a deixar a região e buscar melhores con-
Os hebreus originam-se da região da Palestina, localizada entre
o deserto da Arábia, Líbano e Síria. Na proximidade do Mar Medi- dições de sobrevivência no Egito. Permaneceram no Egito cerca de
terrâneo e cruzada pelo rio Jordão, a região da Palestina era con- 400 anos, até serem perseguidos e escravizados pelos faraós. Lide-
siderada um dos mais importantes centros comerciais do mundo rados pelo patriarca Moisés, os hebreus abandonaram o Egito em
antigo. Era uma região de conflito, uma vez que era habitada por 1250 a.C., retornando à Palestina. Essa saída em massa dos hebreus
diferentes povos que disputavam territórios, bens e poder, sendo do Egito é conhecida como Êxodo.
palco da histórica briga entre árabes e palestinos, que perdura até O período dos juízes tem início com a volta dos hebreus à Pa-
os dias de hoje. lestina. Sob a liderança de Josué, os hebreus tiveram de lutar contra
Os hebreus são um povo com origem semita[ Relativo ao grupo os cananeus e posteriormente, contra os filisteus. Josué (sucessor
étnico e linguístico ao qual se atribui Sem como ancestral, e que de Moisés), distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos
compreende os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios e os de Israel. Nesse período os hebreus passaram a se dedicar à agri-
árabes, ou membro desse grupo.], que se diversificaram de outros cultura, a criação de animais e ao comércio, tornando-se, portanto,
povos contemporâneos a eles por meio de uma crença religiosa sedentários.
monoteísta e por possuírem um líder religioso, Moisés. No período de lutas pela conquista da Palestina, que durou
quase dois séculos, os hebreus foram governados pelos juízes. Os
juízes eram chefes políticos, militares e religiosos. Embora coman-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dassem os hebreus de forma enérgica, não tinham uma estrutura Somente em 1948, os judeus puderam se reunir num Estado
administrativa permanente. Entre os mais famosos juízes destaca- independente, com a determinação da ONU (Organização das Na-
-se Sansão, que ficou conhecido por sua grande força. Outros juízes ções Unidas), que criou o Estado de Israel. Decisão que criou sérios
importantes foram Gedeão e Samuel. problemas na região do Oriente Médio, pois com a saída dos judeus
Os conflitos e problemas sociais criaram a necessidade de um da Palestina, no século I, outros povos, principalmente de origem
comando militar unificado, o que levou os hebreus a adotarem a árabe ocuparam e fixaram-se na região. A oposição dos árabes à
monarquia. O objetivo era centralizar o poder nas mãos de um rei existência do Estado de Israel, tem resultado em contínuos conflitos
e assim, ter mais força para enfrentar os povos inimigos, como os na região.
filisteus. Foi o início do período dos reis.
O primeiro rei dos hebreus foi Saul (1010 a.C.). Depois veio o Religião
rei Davi (1006-966 a.C.), conhecido por ter vencido os filisteus. Com Diferentemente da maioria dos povos da região, a religião he-
a conquista de toda a Palestina, a cidade de Jerusalém tornou-se a braica era monoteísta (crença em um único deus), e não politeísta
capital política e religiosa dos hebreus. (crença em vários deuses e divindades) como os egípcios, por exem-
O sucessor de Davi foi seu filho Salomão, que terminou a or- plo. Além disso, também possuíam a ideia do messianismo.
ganização da monarquia hebraica e alcançou o apogeu do reino. A ideia messiânica foi divulgada pelos profetas. Acreditavam
Durante o reinado de Salomão (966-926 a.C.), houve um grande na vinda de um messias, um enviado de Deus para conduzir os ho-
desenvolvimento comercial e foram construídos palácios, fortifi- mens à salvação eterna. Para os cristãos (católicos e protestantes)
cações, e o Templo de Jerusalém. Além das construções, Salomão
esse messias é Jesus Cristo. Os judeus não consideram Jesus como
criou um poderoso exército, organizou a administração e o sistema
messias, e sim como apenas um dos muitos profetas e pregadores
de impostos. Montou uma luxuosa corte com muitos funcionários
que existiram na época. Os judeus continuam aguardando a vinda
e grandes despesas.
do messias.
Para poder sustentar uma corte tão luxuosa, Salomão obrigava
o povo hebreu a pagar pesados impostos. O preço dessa exploração A doutrina fundamental da religião hebraica (o Judaísmo) en-
foi o surgimento de revoltas sociais. contra-se no Pentateuco, contido no Velho Testamento da Bíblia.
Com a morte de Salomão, essas revoltas provocaram a divisão O Pentateuco é composto pelos primeiros livros da bíblia: Gênesis,
religiosa e política das tribos e o fim da monarquia unificada. Êxodo, Deuteronômio, Números e Levítico. Os hebreus chamam
esse livro de Torá.
Formaram-se dois reinos: A religião hebraica prescreve uma conduta moral orientada
- Ao norte, dez tribos formaram o reino de Israel, com capital pela justiça, a caridade e o amor ao próximo. Entre as principais
em Samaria; festas judaicas, destacam-se: a Páscoa, que comemora a saída dos
- Ao sul, as duas tribos restantes formaram o reino de Judá, hebreus do Egito em busca da Terra Prometida; o Pentecostes, que
com capital em Jerusalém. recorda a entrega dos Dez Mandamentos a Moisés; o Tabernáculo,
que relembra a longa permanência dos hebreus no deserto, duran-
Em 722 a.C., os reinos de Israel foram conquistados pelos assí- te o Êxodo.
rios, comandados por Sargão II. Grande parte dos hebreus foi escra- Na literatura, o melhor exemplo são os livros bíblicos do Velho
vizada e espalhada pelo Império Assírio. Testamento, dentre os quais destacam-se os Salmos, o Cântico dos
Em 587 a.C., o reino de Judá foi conquistado pelos babilônios, Cânticos, o Livro de Jó e os Provérbios.
comandados por Nabucodonosor. Os babilônios destruíram Jerusa-
lém e aprisionaram os hebreus, levando-os para a Babilônia. Fenícios
Os hebreus permaneceram presos até 538 a.C., quando o rei
persa Ciro II conquistou a Babilônia. Os hebreus puderam então Essa civilização desenvolveu-se na Fenícia, território do atual
retornar à Palestina, que se tornara província do Império Persa e Líbano. Os fenícios foram povos de origem semita, assim como os
reconstruíram o templo de Jerusalém. hebreus. Por volta de 3000 a.C., estabeleceram-se numa estreita
A partir dessa época, os hebreus conseguiram conquistar a au- faixa de terra com cerca de 35 km de largura, situada entre as mon-
tonomia política da Palestina, que se tornou sucessivamente pro- tanhas do Líbano e o mar Mediterrâneo. Com 200 km de extensão,
víncia dos impérios persa, macedônio e romano. corresponde a maior parte do litoral do atual Líbano e uma peque-
Durante o domínio romano na Palestina, o sentimento de
na parte da Síria.
unidade dos hebreus fortaleceu-se, levando-os a se revoltar con-
Por habitarem uma região montanhosa e com poucas terras
tra Roma. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito, sufocou uma
férteis, os fenícios dedicaram-se à pesca e ao comércio marítimo.
rebelião hebraica e destruiu o segundo templo de Jerusalém. Os
Diferente de outros povos, os fenícios não chegaram a fundar
hebreus, então, dispersaram-se por várias regiões do mundo. Esse
episódio ficou conhecido como Diáspora (Dispersão). um reino. A rivalidade entre as diversas cidades-estados levou-as,
No ano de 136, sofreram a Segunda Diáspora no reinado de no máximo, a constituir uma confederação.
Adriano (imperador romano), em que os judeus foram definitiva- A cidade de Biblos alcançou prestígio por volta de 2500 a.C.,
mente expulsos da Palestina. expandindo seu comércio e poderio por uma grande área do Medi-
Dispersos pelo mundo, o povo israelita organizou-se em pe- terrâneo. Sidon teve o seu período por volta de 1400 a.C., manten-
quenas comunidades. Unidos, preservaram os elementos básicos do durante séculos sua supremacia sobre todo o comércio realizado
de sua cultura, como a linguagem, a religião e alguns objetivos co- no mar. Finalmente, coube a Tiro alcançar a hegemonia marítima,
muns, entre eles voltar um dia à Palestina. Assim, os hebreus se tendo acesso às rotas mais longínquas.
mantiveram como nação, embora não constituíssem um Estado.
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Como outros povos, os fenícios entraram em decadência, cain-


do sob o domínio dos assírios, babilônios e, finalmente, dos persas. ANTIGUIDADE CLÁSSICA: GRÉCIA. ROMA
A colônia fenícia de Cartago, no norte da África, subsistiu até o sé-
culo II a.C., quando foi destruída pelos romanos no final das Guerras
Púnicas.
GRÉCIA
As atividades econômicas e a sociedade fenícia
A proximidade do Egito, com sua grande produção de cereais, Situada na Europa Meridional, entre os mares Jônio, Egeu e Me-
a abundância de madeira de cedro e um litoral extenso fizeram dos diterrâneo, a Grécia é um país montanhoso, em cuja costa existem
fenícios hábeis navegadores. muitos golfos e enseadas. A pobreza do solo e o litoral recortado
Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o artesanato com muitas ilhas, contribuiu para que os gregos se tornassem ex-
comercial, produzindo em série objetos facilmente negociáveis no celentes navegadores, lançando-os à conquista de outras regiões
mundo antigo, tais como armas, vasos, adornos de bronze e cobre, mais produtivas.
tecidos e até mesmo objetos de vidro, que alcançavam ótimos pre- Diferente do país que conhecemos hoje, no passado a Grécia
ços. Conheciam todas as rotas de navegação do Mediterrâneo e, era formada por diversos territórios que se espalhavam pelos
transpondo o Estreito de Gibraltar, alcançaram as Ilhas Britânicas. mares que a cercavam. O próprio nome Grécia não era utilizado,
Chegaram mesmo a fazer uma viagem de circunavegação da África, pois os habitantes da região chamavam a Grécia Antiga de Hélade e
a soldo de um faraó egípcio. a si de helenos. Os povos que ali habitavam julgavam-se autóctones
O comércio de escravos propiciava grandes lucros; muitos, po- descendentes de Heleno, filho de Deucalião, que havia escapado
rém, eram trazidos para a Fenícia a fim de trabalhar nas oficinas de um dilúvio provocado por Júpiter, pai dos Deuses. Daí o nome
de artesanato. Os fenícios fundaram colônias nas margens do mar de Hélade.
Mediterrâneo, as quais funcionavam como entrepostos de comér-
cio e abastecimento. As mais conhecidas colônias fenícias foram as Grécia Primitiva
cidades de Cartago, no Norte da África, e Cádiz, na Espanha.
Os fenícios detiveram a hegemonia comercial do Mediterrâneo A Ilíada e A Odisseia, poemas atribuídos a Homero, nos forne-
(talassocracia[ Nação baseada no poder marítimo.]) e foram sérios cem muitos conhecimentos sobre a Grécia Antiga.
concorrentes dos gregos, etruscos e romanos. A Ilíada narra a guerra entre os gregos e os troianos. A causa
A maior parte da população fenícia era constituída de mari- dessa guerra foi o rapto da bela Helena, esposa de Menelau, por
nheiros e artesãos pobres, os quais trabalhavam em função de uma Páris, filho do rei de Tróia ou Ileo (daí Ilíada).
classe rica que vivia do comércio marítimo. Essa classe de mercado- Comandados por Agamenon os gregos atacaram os troianos.
res detinha não só o poder político das cidades-Estado, mas tam- Durante as lutas Aquiles foi o destaque grego enquanto Heitor
bém a riqueza e o controle das atividades comerciais. Os escravos e era o herói troiano.
mercenários eram facilmente conseguidos nas viagens pelo Medi- Protegido pelo deus Hefaísto, que lhe cedera uma armadura
terrâneo; enquanto os primeiros trabalhavam como remadores ou impenetrável, Aquiles atacou os troianos que fugiram, exceto o co-
artesãos, os segundos protegiam as naus e as muralhas das grandes rajoso Heitor, que enfrentou Aquiles. Apesar da bravura, Heitor foi
cidades-portos morto por Aquiles que acabou profanando o seu cadáver.
O irmão de Heitor, Paris, que jurara vingança, acabou matando
A religião dos fenícios Aquiles após feri-lo com uma flecha em seu único lugar vulnerável:
A religião dos fenícios, assim como outros povos da região ad- o calcanhar, daí o termo calcanhar de Aquiles que quer dizer o pon-
quiriu caráter politeísta. Cada cidade possuía um Baal (deus) pro- to fraco de uma pessoa.
tetor: Melcart, em Tiro; Adonis, em Biblos; e Eshum, em Sidon. Não conseguindo tomar Tróia pela força, os gregos usaram da
Cartago tinha como protetor Moloc. Os fenícios possuíam ainda astúcia…
divindades menores protetoras do comércio, das rotas, dos navios Após terem celebrado a paz com os troianos, os gregos en-
etc. Entre os rituais religiosos estavam o sacrifício de animais e pes- viaram à Tróia um grande cavalo de madeira como presente (daí a
soas, como forma de agradar as divindades. expressão “presente-de-grego”). Acontece que dentro desse cavalo
estavam os melhores guerreiros gregos. Estes, já dentro da cidade,
O Alfabeto abriram as portas para que o exército grego liquidasse os troianos
Os fenícios desenvolveram o alfabeto em função de suas ativi- que foram apanhados desprevenidos.
dades comerciais – a necessidade de manter registros - Foi assim que os gregos conquistaram Tróia, após uma guerra
Além das técnicas de navegação e dos conhecimentos geográ- de durou 10 anos.
ficos, provenientes da exploração das rotas marítimas, os fenícios Hoje acredita-se que apesar da aventura contada no obra, os
trouxeram um fator de inegável valor para o progresso da humani- gregos forçaram a invasão a Tróia por causa de sua localização es-
dade. A partir dos ideogramas egípcios, desenvolveram um alfabeto tratégica para o comércio marítimo no mar Egeu.
fonético de 22 letras, que mais tarde foi adaptado pelos gregos e ro- A Odisseia narra as aventuras de Ulisses (ou Odisseu), rei da Íta-
manos. Provavelmente fizeram isso buscando simplificar as opera- ca, que após a destruição de Tróia procura retornar a sua fiel esposa
ções comerciais, uma vez que não deixaram no campo literário, ou Penélope, que prometera escolher um noivo, assim que terminasse
em qualquer outra atividade artística, algo de similar importância. de tecer um manto. Acontece que na esperança da chegada de Ulis-
Também foram as inestimáveis contribuições que os fenícios ses ela desmanchava, à noite, o trabalho que fizera durante o dia.
deram para a astronomia e a matemática, que foram ciências larga-
mente aperfeiçoadas por eles.
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Finalmente, Ulisses chegou. Disfarçado em mendigo, se dirigiu Os minoicos utilizavam dois tipos de escrita, Linear A e Linear B.
ao local onde se celebrava a festa em honra do deus Apolo. Nesta O primeiro ainda não é bem conhecido, mas o segundo está ligado
festa, Penélope propôs que aquele que conseguisse disparar o arco à escrita grega.
e as flechas de Ulisses ela desposaria. Todos tentaram, sem sucesso. Atraídos pelo desenvolvimento de Creta, por volta de 1400 a.C,
Ulisses, graças à interferência de Telêmaco, seu filho, que sabia os aqueus invadiram e conquistaram a ilha. Contudo, não destruí-
de seu segredo, disparou as doze flechas. Em seguida venceu os ram a cultura cretense; ao contrário, procuraram assimilá-la e pre-
seus adversários e revelou-se a Penélope, que não acreditava ser servá-la, de onde surgiu a civilização micênica.
aquele velho esfarrapado o seu esposo. Para contornar a situação, A Civilização Micênica é considerada uma das sociedades mais
a deusa Atenéia devolveu a Ulisses a sua juventude e também a sofisticadas da cultura grega pela grande disseminação artística e
obediência a seu povo. pela avançada organização política que via as mulheres com igual-
No final do período homérico, o aumento populacional e a falta dade.
de terras acabou desagregando a comunidade primitiva. Entretanto, ao contrário das civilizações gregas mais antigas
As terras coletivas foram divididas pelo páter (chefe de família) que adoravam uma deusa-mãe, os micênicos passaram a louvar Po-
entre seus parentes mais próximos, surgindo dessa forma à proprie- seidon, que eles acreditavam ser o governador máximo da Terra.
dade privada e a hierarquização da sociedade em classes distintas. Acredita-se que nesta civilização se dá início às primeiras lendas da
Dessa forma, de um lado formou-se uma poderosa aristocracia Mitologia Grega, pois ao fim deste período o deus principal passou
que possuía as melhores terras e controlava o poder político, do a ser Zeus.
outro lado os despossuídos que passaram a trabalhar para os aristo- O sistema político e econômico era centrado na figura do rei,
cratas ou se dedicaram ao comércio e ao artesanato. Outros ainda mas pouco se sabe sobre a hierarquia social da época. Alguns es-
acabaram emigrando para novas terras. pecialistas sustentam que, abaixo dos reis, havia uma forte orga-
nização militar detentora de grandes lotes de terra. Os escravos,
Povo Grego trabalhadores livres e comerciantes faziam parte da escala social
mais baixa.
Na verdade a civilização grega resultou numa mistura de diver- Os micênicos eram grandes navegadores e construíram embar-
sos povos. cações bem mais avançadas que as iniciadas pelos minoicos. Este
Por volta do segundo milênio a.C., a ilha de Creta, graças ao povo, que se caracterizava pelo aspecto guerreiro, construiu barcos
seu comércio marítimo possuía uma civilização bastante complexa. de carga que eram propícias ao combate. Como armamento, os mi-
As comunidades neolíticas das costas do mar Egeu foram muito cênicos começaram a utilizar o ferro e o bronze.
influenciadas pela metalurgia. O comércio de metais e as novas ar- Não se sabe ao certo qual foi o real motivo de desaparecimento
mas conferiram superioridade a alguns povos, provocando mudan- dessa civilização, mas alguns historiadores acreditam que a invasão
ças em sua organização. dos dórios na região de Creta foi o principal motivo. Os dórios aca-
A civilização grega teve suas raízes mais profundas na cultura baram com toda a potência marítima iniciada pelos micênicos e a
cretense, desenvolvida nos milênios III a.C. e II a.C, baseada na agri- ilha de Creta, que se tornara uma das regiões mais desenvolvidas
cultura e em um rico comércio marítimo. da Grécia, perdeu sua hegemonia com sua divisão em cidades-Esta-
A partir de 2200 a.C, a ilha de Creta adquiriu um papel prepon- do. Os dóricos entraram violentamente na Grécia pouco depois da
derante na região do mar Egeu. Localizada nas proximidades do Egi- Guerra de Tróia, por volta de 1100 a.C. Eram mais poderosos que os
to e da Ásia Menor, seu esplendor se iniciou em torno do ano 2000 Aqueus do ponto de vista bélico, pois possuíam armas feitas de fer-
a.C, época na qual a cidade de Cnossos dominava a ilha. ro. Com a invasão de Creta as cidades micênicas foram destruídas.
A sociedade minoica era governada por príncipes, que criaram Os dóricos não conseguiram absorver as conquistas micênicas,
um império marítimo. Dentre eles destacou-se o legendário Minos como a escrita, e a urbanização praticamente desapareceu. A Gré-
(o mesmo da lenda do minotauro), que teria construído numerosos cia viveu um período conhecido como idade obscura ou período
palácios em Cnossos, a cidade mais importante de Creta. Por isso, a Homérico (recebeu este nome por conta das poucas fontes, e sendo
cultura cretense também é denominada cultura minoica. as obras Ilíada e Odisseia de Homero as principais), do qual se co-
A economia, construída sobre uma base agrícola, evoluiu para nhece muito pouco.
o comércio. A aplicação do torno à cerâmica e o domínio da meta- Com a invasão dórica muitos habitantes fugiram da Península
lurgia impulsionaram a exportação e a importação. Além de pro- do Peloponeso, essa foi a primeira diáspora grega.
dutos agrícolas, os cretenses exportavam suas manufaturas e im-
portavam matérias-primas: cobre do Chipre e estanho da Europa Cidades-Estado
ocidental. Eles eram os intermediários comerciais entre os povos
vizinhos. O comércio favoreceu o desenvolvimento da vida das pes- A história da Grécia Antiga caracteriza-se pela presença da ci-
soas nas cidades. dade-Estado (pólis). Havia ao todo cerca de 160 cidades-Estado na
A arte minoica esteve bastante presente na construção dos Grécia, todas elas soberanas, com destaque para Atenas e Espar-
palácios e sobretudo na decoração de seus interiores. As obras ta. A independência dessas cidades resultou de vários fatores: o
artísticas, que anteriormente tinham apenas inspiração religiosa, relevo montanhoso, que dificultava as comunicações terrestres; o
sofreram mudanças graças às transformações ocorridas na vida e litoral recortado e as numerosas ilhas existentes no Mar Egeu, que
na mentalidade da sociedade. Assim, elas deixaram de ter caráter estimulavam a navegação; a ausência de uma base econômica in-
apenas sagrado e passaram a ter sentido próprio, voltadas à simples terna sólida, que poderia aglutinar os gregos em um Estado-nação.
contemplação. Destacam-se as elegantes pinturas em afresco que Contudo, os gregos passaram por um processo de dispersão que os
representavam cenas da vida cotidiana. levou a fundar numerosas colônias no litoral do Mediterrâneo e do
Mar Negro.
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Essas colônias vieram a tornar-se outras tantas cidades-Esta- Essas terras foram divididas em cerca de 8.000 lotes, que foram
do, de forma que não se estabeleceu uma unidade política entre distribuídos aos guerreiros dórios, detentores da posse útil da ter-
elas. Entretanto, como havia unidade cultural (identidade de língua, ra cívica. Recebiam também cerca de seis escravos para realizar os
etnia, religião e costumes), por isso podemos falar em um Mundo trabalhos. As terras periféricas foram divididas entre os aqueus, que
Grego, mas não em um Império Grego. detinham a propriedade privada sobre a terra, podendo vendê-la
Nessa época, os gregos viviam em pequenas comunidades ou dividi-la.
agrícolas autossuficientes — os genos – cujos membros eram apa- A conquista da Planície Messênia promoveu uma reestrutura-
rentados entre si e obedeciam à autoridade de um pater famílias. ção social em Esparta. Basicamente, após a conquista da Planície,
A propriedade da terra era coletiva. O sistema gentílico desinte- a sociedade era composta de esparciatas (cidadãos e guerreiros de
grou-se quando o crescimento demográfico tornou insuficiente a origem dória, que constituíam a camada social superior e recebiam
produção dos genos. Os parentes mais próximos do pater famílias educação militar), periecos (aqueus, habitantes da periferia, que,
(os eupátridas) apropriaram-se das terras, transformando-as em apesar de serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e
propriedade privada; quanto aos parentes mais afastados, estes se hilotas (escravos). A sociedade era estamental, rigidamente hierar-
transformaram em camponeses sem terra ou então emigraram. Se- quizada e sem mobilidade social.
parando-se dos camponeses, os eupátridas passaram a morar em Até o século VII a.C., a legislação de Esparta—Grande Retra —
locais fortificados que, com o correr do tempo e o desenvolvimento estabelecia que o governo deveria ser exercido por dois reis (diar-
do comércio, deram origem às polis. quia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao tro-
Constituída por um aglomerado urbano, abrangia toda a vida no era hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e os
pública de um pequeno território e geralmente encontrava-se pro- Euripôntidas. O Conselho, denominado Gerúsia, era formado pelos
tegida por uma fortaleza. Compreendia a totalidade dos cidadãos, homens idosos e tinha um caráter apenas consultivo. A Assembleia,
exceto os escravos, metecos e membros de populações subjugadas Ápela, era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as de-
e distinguia-se de outras cidades pelo nome dos seus habitantes. cisões finais sobre todos os assuntos. A Constituição e a organiza-
A criação da pólis foi favorecida pelo progresso da agricultu- ção política eram praticamente imutáveis, pois eram atribuídas à
ra, do comércio e pelo aparecimento da indústria têxtil, bem como lendária figura de Licurgo, personagem histórica que, por ter um
pela intensificação da vida política. Quando os habitantes de po- caráter divino, imprimia essa divinização às normas por ele criadas.
voações disseminadas transferiram a sua residência para perto das Com o processo de conquista da Planície Messênia concluído no
fortalezas, a acrópole se converteu no centro político da pólis. século VII a.C., as transformações políticas foram proporcionais às
A pólis era uma organização social constituída por cidadãos li- mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma transfor-
vres que discutiam e elaboravam as leis relativas à cidade. Dentro mação conservadora e mais uma vez essas alterações foram atribu-
dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a Acrópole, além dos es- ídas a Licurgo. Esparta adotou a oligarquia como forma de governo.
paços urbano e rural. A agricultura era a base da economia da pólis. A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse momento,
A Ágora era uma grande praça pública, um espaço onde os ci- compunha-se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com
dadãos se reuniam para atividades comerciais, discussões políticas poderes vitalícios.
e manifestações cívicas e religiosas. O Poder Executivo passou a ser exercido pelos éforos, cinco
A Acrópole era uma fortificação onde estavam os monumen- magistrados escolhidos pelos gerontes, com o mandato de um ano.
tos, os templos e os palácios dos governantes. A antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação, correspon-
Atenas e Esparta foram as pólis com maior reconhecimento dendo, nesse contexto, a um órgão formal de decisões políticas, de
através dos tempos, com fama até os dias atuais. caráter meramente consultivo. A diarquia continuou a existir, mas
os seus poderes políticos foram esvaziados, restando-lhe o exercício
Esparta do poder sacerdotal e as atribuições militares. O caráter conserva-
Esparta localizava-se na região da Lacônia, que ocupava a parte dor de Esparta resultou da preocupação da minoria esparciatas em
sudeste da Península do Peloponeso, ao extremo sul da Grécia, sen- manter a maioria hilota subordinada. Daí o militarismo do estamen-
do uma das primeiras cidades-Estado. Foi fundada pelos dórios, por to dominante, a xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o laconismo
volta do século IX a.C., após a submissão dos aqueus. (forma sintética de expressão), que sufocavam o surgimento de
Durante o Período Homérico, os dórios vivenciaram o sistema ideias e restringiam o espírito crítico.
gentílico, como as demais regiões da Grécia. Nesse período, as ter- A educação espartana estava voltada para a guerra, moldan-
ras que haviam sido conquistadas aos aqueus foram distribuídas do os homens, desde crianças, que se preparavam para tornar-se
entre os guerreiros, que as trabalhavam coletivamente, sob um re- soldados.
gime patriarcal. No século VII a.C., em razão da escassez de terras e Esse processo de formação militar começava quando ainda
do crescimento da população dória, teve início a expansão vitoriosa criança, quando um grupo de anciãos observava as crianças, que
sobre a Planície Messênia; os messênios foram reduzidos à condi- não poderiam ter problemas físicos e de saúde. Caso a criança fosse
ção de escravos. Esse fato promoveu profundas alterações na estru- completamente saudável ela ficaria sob a guarda da sua mãe até os
tura econômica e fundiária de Esparta. As propriedades coletivas sete anos de idade; após, quem se tornaria responsável pela criança
desapareceram, cedendo lugar a uma vasta propriedade estatal, era o próprio Estado.
denominada de terra cívica — as terras centrais e mais férteis da Assim, ao sete anos, a criança “entrava” para o exército onde
planície. permaneceria até seus doze anos de idade, quando receberia al-
guns ensinamentos para que conhecesse a dinâmica do estado Es-
partano e principalmente as tradições de seu povo, e após esses
ensinamentos entrariam de fato em um treinamento militar.

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Aprendiam a combater com eficácia, eram testados fisicamen- Por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era orien-
te e psicologicamente, além de aprenderem a sobrevivência em tado por um pedagogo. Na escola, os jovens estudavam música, ar-
condições extremas e diversas, e principalmente aprendiam a obe- tes plásticas, Filosofia, etc.
decer seus superiores. Se por algum acaso esses jovens soldados As atividades físicas também faziam parte da vida escolar, pois
não conseguissem completar essas missões pela qual eram subme- os atenienses consideravam de grande importância a manutenção
tidos, ocorriam punições. da saúde corporal.
O teste final na vida do soldado espartano era realizado aos Já as meninas de Atenas não frequentavam escolas, pois fica-
seus 17 anos. Esse teste era conhecido como Kriptia e funcionava vam aos cuidados da mãe até o casamento.
como um jogo, onde os soldados escondiam de dia em campo para
ao anoitecer, saírem a caça do maior número de escravos (hilotas) Cidadania e Democracia na Antiguidade
possíveis.
Passando por esses processos de seleções o jovem espartano Comumente consideramos como antiguidade o período que
já poderia integrar oficialmente os exércitos e teria direito também vai do surgimento da escrita, por volta de 3000 a.C na Mesopotâ-
a um lote de terras. mia, até a queda do Império Romano do Ocidente, no ano de 476
Aos trinta anos de idade o soldado poderia ganhar a condição d.C. Diferentes povos se desenvolveram na Idade Antiga, entre elas
de cidadão e isso o dava o direito de participar de todas as decisões as civilizações do Egito, Mesopotâmia, China, as civilizações clássi-
e leis que seriam colocadas na mesa pela Apela, e aos sessenta anos cas como Grécia e Roma, os Persas, os Hebreus, os Fenícios, além
o indivíduo poderia sair do exército podendo integrar a Gerúsia. dos Celtas, Etruscos, Eslavos, dos povos germanos (visigodos, os-
trogodos, anglos, saxões,) entre outros. Ela surge como um período
Atenas histórico de fundamental importância, destacadamente por suas
De origem jônica, Atenas se apresentou como um padrão para criações e legados, muitos dos quais lançaram as bases para a cons-
o desenvolvimento para outras cidades-estados gregas. A região trução de muitas sociedades atuais.
cercada de montanhas, foi poupada de uma ocupação dos Dórios. Além de ser o período do surgimento da escrita, a antiguidade
Ao lado de Esparta, a cidade de Atenas é caracterizada como um também viu nascerem os jogos olímpicos, a organização do conhe-
modelo a ser seguido, isso pois, nessa cidade aconteceu a formação cimentos, o surgimento de diversas cidades e a criação do Estado
e o desenvolvimento da Democracia. Essa palavra em sua origem enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os
representa: DEMO (povo) KRATOS (poder), ou seja, poder do povo. homens. A partir de então, o crescente nível de complexidade das
A Democracia é até hoje o regime político utilizado na maioria dos civilizações comportou também o fortalecimento das relações po-
países Ocidentais, inclusive no Brasil. líticas.
Em 621 a.C, o legislador Drákon foi o encarregado de escre-
ver as primeiras leis escritas em Atenas, codificou portanto as an- Política
tigas leis conhecidas pela tradição oral. Nada mudou em relação à Os sistemas de governo na Antiguidade estavam baseados em
legislação, os eupátridas continuavam sendo os que detinham os elementos teocráticos, ou seja, sustentados por uma visão religiosa
maiores direitos políticos, por isso, aconteceram em Atenas várias e dominado por uma pequena elite política. O Faraó no Egito era
manifestações dos Thetas (camada social marginalizada, campone- visto como um enviado dos deuses, e, em alguns casos, como uma
ses, servos...) que queriam participar da política ateniense, lutando reencarnação divina. Nos povos mesopotâmicos, assim como em
principalmente contra a escravidão por dívida que ainda existia em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes
Atenas. as interferências do sacerdote em assuntos políticos.
Somente em 594 a.C. com o legislador Sólon, aconteceram re-
formas políticas em Atenas mais próximas dos interesses dos The- Exemplo de Esparta
tas. Sólon decretou a lei seisachtéia, a proibição da escravidão por Até o século VII a.C., a legislação de Esparta —Grande Retra
dívida, além de determinar o confisco de terras dos eupátridas e — estabelecia que o governo deveria ser exercido por dois reis
uma divisão de terras para as famílias mais pobres, isso resultou (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão ao
numa grande paz e estabilidade social. No plano jurídico decretou trono era hereditária e duas famílias dividiam o poder: os Ágidas e
a eunomia, a igualdade de todos perante a lei. Essa reforma foi de- os Euripôntidas.
cisiva para o desenvolvimento de um sentimento democrático em O conselho, denominado Gerúsia, era formado pelos homens
Atenas. idosos e tinha um caráter apenas consultivo. A Assembleia, Ápela,
A Democracia em Atenas passaria ainda por algumas reformas, era o órgão mais importante, e os cidadãos tomavam as decisões
o que aconteceu em 507 a.C com o legislador Clístenes, que rece- finais sobre todos os assuntos.
beu o título de “pai da democracia”. A Constituição e a organização política eram praticamente imu-
táveis, pois eram atribuídas a lendária figura de Licurgo, persona-
Educação gem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia essa divini-
zação às normas por ele criadas.
Na antiguidade, a cidade-estado grega de Atenas destacou-se Com o processo de conquista da Plante Messênia concluído no
nas áreas de artes, teatro, literatura e outras atividades culturais. seculo VII a C., as transformações políticas foram proporcionais às
Desta forma, a educação ateniense refletiu os anseios e valores des- mudanças socioeconômicas. O governo passou por uma transfor-
ta sociedade. mação conservadora e mais una vez essas alterações foram atribuí-
A educação ateniense tinha como objetivo principal à forma- das a Licurgo. Esparta adotou a oligarquia como forma de governo.
ção de indivíduos completos, ou seja, com bom preparo físico, psi-
cológico e cultural.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A antiga Gerúsia passou a monopolizar o poder e, nesse mo- Roma


mento, compunha-se de 28 gerontes (cidadãos com mais de 60 Em Roma, também existia a ideia de cidadania como capacida-
anos), com poderes vitalícios. O Poder Executivo passou a ser exer- de para exercer direitos políticos e civis e a distinção entre os que
cido pelos éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes, possuíam essa qualidade e os que não a possuíam.
com o mandato de um ano. A antiga Ápela aprovava as leis ape- A sociedade romana era composta basicamente de três classes:
nas por aclamação, correspondendo, nesse contexto, a um órgão Patrícios (descendentes dos fundadores);
formal de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A Plebeus (descendentes dos estrangeiros);
diarquia continuou a existir, mas os seus poderes políticos foram Escravos (prisioneiros de guerra e os que não saldavam suas
esvaziados, restando-lhe o exercício do poder sacerdotal e as atri- dívidas).
buições militares. O caráter conservador de Espana resultou da Existiam também os clientes, que eram homens livres, depen-
preocupação da minoria esparciata em manter a maioria hilota (es- dentes de um aristocrata romano que lhes fornecia terra para culti-
cravos) subordinada. Daí o militarismo do estamento dominante, a var em troca de uma taxa e de trabalho
xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o laconismo (forma sintética A cidadania em Roma era garantida aos homens livres. Apesar
de expressão), que sufocavam o surgimento de ideias e restringiam da garantia ao homens livres, não eram todos aqueles considera-
o espirito crítico. dos livres que tinham o direito de exercê-la. Inicialmente apenas os
A sociedade espartana era composta de esparciatas (cidadãos patrícios possuíam direitos políticos, civis e religiosos. O cargo de
e guerreiros de origem dória, que constituíam a camada social su- senador, por exemplo, era vitalício e exclusivo apenas para os pa-
perior e recebiam educação militar), periecos (aqueus, habitantes trícios. Essa diferenciação entre patrícios e plebeus gerou diversos
da periferia, que, apesar de serem homens livres, não eram consi- conflitos. Após a reforma do Rei Sérvio Túlio, os plebeus tiveram
derados cidadãos) e hilotas (escravos). acesso ao serviço militar e lhes foram assegurados alguns direitos
A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem políticos. Só a partir de 450 a.C., com a elaboração da famosa Lei
mobilidade social. das Doze Tábuas, foi assegurada aos plebeus uma maior participa-
A política nos exemplos citados possui uma maneira de organi- ção política, o que se deveu em muito à expansão militar romana.
zação pautada na hierarquia e na participação de um seleto grupo
de pessoas, que governavam e mantinham o poder através da justi- Direito Romano
ficativa divina e também familiar.
Apesar do caráter oligárquico da política na Antiguidade, algu- Direito romano é um termo histórico-jurídico que se refere, ori-
mas experiências merecem destaque por mudarem esse cenário, ginalmente, ao conjunto de regras jurídicas observadas na cidade
aumentando a participação da população nos assuntos políticos. de Roma e, mais tarde, ao corpo de direito aplicado ao território do
Império Romano e, após a queda do Império Romano do Ocidente
Democracia em Atenas em 476 d.C., ao território do Império Romano do Oriente. Mesmo
A democracia, governo do povo (demo = povo, cracia=gover- após 476, o direito romano continuou a influenciar a produção ju-
no), foi implantada em Atenas, por volta de 510 a.C., quando Clís- rídica dos reinos ocidentais resultantes das invasões bárbaras, em-
tenes comandou um revolta contra o último tirano que governou a bora um seu estudo sistemático no ocidente pós-romano esperaria
cidade-estado. As reformas políticas adotadas por Clístenes visavam a chamada redescoberta do Corpo de Direito Civil pelos juristas ita-
a resolver os graves conflitos sociais decorrentes da estratificação lianos no século XI.
social em Atenas. Os historiadores do direito costumam dividir o direito romano
O regime político democrático instituído por Clístenes tinha por em fases. Um dos critérios empregados para tanto é o da evolução
princípio básico a noção de que “todos os cidadãos têm o mesmo das instituições jurídicas romanas, segundo o qual o direito romano
direito perante as leis”. apresentaria quatro grandes épocas:

E quem eram os cidadãos? Época Arcaica (753 a.C. a 130 a.C.)


Somente os homens atenienses maiores de 21 eram conside- Época Clássica (130 a.C. a 230 d.C.)
rados cidadãos, ou seja, eram excluídos da vida política as mulhe- Época Pós-Clássica (230 d.C. a 530 d.C.)
res, os estrangeiros, os escravos e os jovens. A democracia de Ate- Época Justiniana (530 d.C. a 565 d.C.)
nas era, dessa forma, elitista, patriarcal e escravista, porque apenas
uma pequena minoria de homens proprietários de escravos poderia A influência do direito romano sobre os direitos nacionais eu-
exercê-la. ropeus é imensa e perdura até hoje. Uma das grandes divisões do
Os cidadãos participavam da Assembleia do Povo, órgão de de- direito comparado é o sistema romano-germânico, adotado por di-
cisão que ficava a cargo de aprovar ou rejeitar os projetos apresen- versos Estados continentais europeus e baseado no direito romano.
tados para a cidade. Esses projetos eram elaborados pelo Conselho O mesmo acontece com o sistema jurídico em vigor em todos os
dos Quinhentos, um conjunto de 500 cidadãos eleitos anualmente. países latino-americanos.
Após serem aprovados pela Assembleia do Povo, os projetos eram Durante o primeiro período da história romana, que vai até a
executados, em tempos de paz, pelos estrategos. criação da república em 510 a.C. o direito era baseado nos costu-
A democracia ateniense acabou por volta de 404 a.C., quando a mes, com a ligação do Direito Sagrado ao humano.
cidade-estado foi derrotada por Esparta na Guerra do Peloponeso, No período republicano, que vai de 510 a.C. até Augusto, em
voltando a ser governada por uma oligarquia. 27 a.C., no Direito Romano prevalecia o jus gentium sobressaindo
sobre o jus fas (Direito Sagrado, religioso), que era o direito comum
para todos os povos que habitavam o Mediterrâneo, além do con-
ceito do bonum et aequum, e o conceito da boa-fé;
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O período do Direito clássico, é considerando a época áurea Rômulo, após a fundação da cidade, preocupou-se em povoá-
da jurisprudência, indo do reinado de Augusto até o imperador -la. Criou o Capitólio um refúgio para todos os banidos, devedores
Diocleciano. Existe uma participação maior dos jurisconsultos, que e assassinos da redondeza. A notícia da nova cidade se espalhou e
são os conhecedores do Direito na época, além da substituição do os primeiros habitantes foram chegando, principalmente Latinos e
direito magistratural (jus honorarium) que auxiliava, e supria o cer- Sabinos. Rômulo, após longa batalha com os Sabinos, firmou acor-
ne originário do Direito Quiritário; no lugar deste surge o cognitio do com Tito Tácio, seu rei e com este reinou sob uma só nação na
extra ordinem, administração da justiça de aplicação particular do grande cidade de Roma.
imperador. A Rômulo também é atribuída a instituição do Senado e das
O último período do Direito Romano acontece após o impe- Cúrias.
rador Diocleciano (século IV d.C.), e vai até a morte do imperador
Justiniano. Durante este período que surgiu o direito pós-clássico, Monarquia Romana
havendo a ausência de grandes jurisconsultos, e ocorrendo uma
adaptação das leis em face da nova religião Cristã que ficou popular Durante a fase da Monarquia, a economia de Roma era base-
no império. Durante este período ocorre a formação do direito mo- ada na agricultura e no pastoreio. A sociedade era formada pelos
derno, que começa a ser codificado a partir do século VI d.C. pelo patrícios, originários das antigas famílias, que constituíam os gran-
imperador Justiniano. des proprietários de terra e rebanhos; clientes, homens livres, de
Apesar de proteger as liberdades individuais e reconhecer a famílias pobres, que viviam sob a proteção dos patrícios; plebeus,
autonomia da família com o pátrio poder, o Direito Romano não representados pelos estrangeiros, pequenos proprietários, artesãos
assegurava a perfeita igualdade entre os homens, admitindo a es- e comerciantes.
cravidão e discriminando os despossuídos. Ao lado da desigualdade Em toda a fase monárquica, as lendas falam da existência de
extrema entre homens livres e escravos, o Direito Romano admitia sete reis: dois latinos, dois sabinos e os três últimos etruscos. Nessa
a desigualdade entre os próprios indivíduos livres, institucionalizan- última fase, a cidade de Roma passou por um grande desenvolvi-
do a exclusão social. mento urbano, em decorrência do notável conhecimento de téc-
nicas arquitetônicas dos etruscos, que exerceram uma profunda
ROMA influência na civilização romana.
Até o advento dos reis etruscos, em 640 a.C., Roma era gover-
De acordo com a tradição, Roma surgiu às margens do Rio Ti- nada por soberanos que dependiam do Senado — Conselho dos
bre, em 753 a.C. Era uma espécie de acampamento militar dos po- Anciãos —, órgão formado exclusivamente por patrícios. As deci-
vos albanos contra os etruscos. Até 509 a.C., Roma foi governada sões eram aprova - das pela Assembleia Curiata, que reunia todos
por sete reis, quando o último deles, Tarquínio, o Soberbo, foi de- os cidadãos das famílias aristocráticas, cuja fina li da de era votar as
posto. Iniciou-se então a República Romana. O regime republicano leis e aprovar a guerra.
duraria até 27 a.C., data oficial do início do Império Romano, que
se extinguiu no Ocidente, em 476 d.C., e no Oriente, em 1453 d.C. Estrutura do poder na República Romana
Segundo a mitologia romana Rômulo e Remo são dois irmãos Cônsules: chefes da República, com mandato de um ano; eram
gêmeos, um dos quais, Rômulo, foi o fundador da cidade de Roma e os comandantes do exército e tinham atribuições jurídicas e reli-
seu primeiro rei. Conta a lenda, que Rômulo e Remo, eram filhos do giosas.
deus grego Ares, ou Marte seu nome latino, e da mortal Réia Sílvia Senado: composto por 300 senadores, em geral patrícios. Eram
(ou Rhea Silvia), filha de Numitor, rei de Alba Longa. eleitos pelos magistrados e seus membros eram vitalícios. Respon-
Amúlio, irmão do rei Numitor, deu um golpe de estado, apode- sabilizavam-se pela elaboração das leis e pelas decisões acerca da
rou-se da coroa e fez de Numitor seu prisioneiro. Réia Sílvia foi con- política interna e externa.
finada à castidade, para que Numitor não viesse a ter descendência. Magistraturas: responsáveis por funções executivas e judiciá-
Entretanto Marte desposou Réia que deu à luz aos gêmeos Rômulo ria, formadas em geral pelos patrícios.
e Remo. Amúlio, rei tirano, ao saber do nascimento das crianças as Assembleia Popular: composta de patrícios e plebeus; destina-
jogou no rio Tibre. A correnteza os arremessou à margem do rio va-se a votação das leis e era responsável pela eleição dos cônsules.
e foram encontrados por uma loba, chamada capitolina ou luper- Conselho da Plebe: composto somente pelos plebeus; elegia
ca, que teria os amamentado e cuidado deles até que estes foram os tributos da plebe e era responsável pelas decisões em plebiscitos
achados pelo pastor Fáustulo, que junto com sua esposa os criou (decretos do povo).
como filhos. Quando Remo se tornou adulto se indispôs com pas-
tores vizinhos, estes o tomaram e levaram a presença do rei Amú- Expansão das Fronteiras Romanas
lio que o aprisionou. Fáustulo revelou a Rômulo as circunstâncias
de seu nascimento, este foi ao palácio e libertou ao irmão, matou Iniciado durante a República, o expansionismo romano teve
Amúlio e libertou seu avô Numitor. Numitor recompensou os netos basicamente dois objetivos: defender Roma do ataque dos povos
dando-lhes direito de fundar uma cidade junto ao rio Tibre. Os dois vizinhos rivais e assegurar terras necessárias à agricultura e ao pas-
consultaram os presságios e seguiram até a região destinada a cons- toreio. As vitórias nas lutas conduziram os romanos a uma ação
trução da cidade. Remo dirigiu-se ao Aventino e viu seis abutres conquistadora, ou seja, a ação do exército levou à conquista e in-
sobrevoando o monte. Rômulo indo ao Palatino avistou doze aves, corporação de novas regiões a Roma. Dessa forma, após sucessivas
fez então um sulco por volta da colina, demarcando o Pomerium, guerras, em um espaço de tempo de cinco séculos, a ação expan-
recinto sagrado da nova cidade. Remo, enciumado por não ser o sionista permitiu que o Império Romano ocupasse boa parte dos
escolhido, zombou do irmão e, num salto, atravessou o sulco sendo continentes europeu, asiático e africano.
morto por Rômulo, que o enterrou no Aventino.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O avanço das forças militares romanas colocou o Império em Período de instabilidade política
choque com Cartago e Macedônia, potências que nessa época do- Com o fim das Guerras Púnicas, em 146 a.C., iniciou-se um
minavam o Mediterrâneo. As rivalidades entre os cartagineses e os período de intensa agitação social. Além dos escravos, povos da
romanos resultaram nas Guerras Púnicas (de puni, nome pelo qual Península Itálica também se revoltaram, só que exigindo o direito
os cartagineses eram conhecidos). à cidadania romana. A expansão das conquistas e o aumento das
As Guerras Púnicas desenvolveram-se em três etapas, durante pilhagens fortaleceram o exército romano, que então se colocou na
o período de 264 a 146 a.C. Ao terminar a terceira e última fase das luta pelo poder. Assim, esse período ficou marcado por uma acir-
Guerras Púnicas, em 146 a.C., Cartago estava destruída. Seus sobre- rada disputa política entre os principais generais, abrindo caminho
viventes foram vendidos como escravos e o território cartaginês foi para os ditadores.
transformado em província romana. Com a dominação completa da Essa crise se iniciou com a instituição dos triunviratos ou triar-
grande rival, Roma iniciou a expansão pelo Mediterrâneo oriental quia, isto é, governo composto de três indivíduos. O Primeiro Triun-
(leste). Assim, nos dois séculos seguintes, foram conquistados os virato, em 60 a.C., foi composto de políticos de prestigio: Pompeu,
reinos helenísticos da Macedônia, da Síria e do Egito. No final do Crasso e Júlio César. Esses generais iniciaram uma grande disputa
século I a.C., o mediterrâneo havia se transformado em um “lago pelo poder, até que, após uma longa guerra civil, Júlio César venceu
romano” ou, como eles diziam, Mare Nostrum (“nosso mar”). seus rivais e recebeu o título de ditador vitalício.
Durante seu governo, Júlio César formou a mais poderosa le-
Irmãos Graco e a Questão Agrária gião romana, promoveu uma reforma político-administrativa, dis-
Com sua politica expansionista Roma consegue, a cada novo tribuiu terras entre soldados, impulsionou a colonização das provín-
território conquistado, além das vitorias militares a dominação de cias romanas e realizou obras públicas.
terras que se somavam para aumentar as suas fronteiras O imenso poder de César levou os senadores a tramar sua mor-
Por dominarem a maior parte da terra conquistada, os patrícios te, o que aconteceu em 44 a.C. Os generais Marco Antônio, Lépido
passavam a estabelecer uma oferta cada vez maior e mais barata e Otávio formaram, então, o Segundo triunvirato, impedindo que o
de gêneros alimentícios, o que prejudicou os pequenos e médios poder passasse para as mãos da aristocracia, que dominava o Se-
proprietários plebeus. A competição desnivelada entre patrícios e nado.
plebeus obrigou o segundo grupo a abrir mão de suas terras e tor- A disputa pelo poder continuou com o novo triunvirato. Em 31
nar-se mão de obra barata nos centros urbanos romanos a.C., no Egito, Otávio derrotou as forças de Marco Antônio e retor-
O grande acumulo de plebeus nos grandes centros e a disponi- nou vitorioso a Roma. Fortalecido com essa campanha, Otávio pôde
bilidade de escravos, principalmente em cidades como Roma, fazia governar sem oposição. Terminava, assim, o regime republicano e
com que a inserção social e econômica dos plebeus fosse cada vez iniciava o Império.
mais limitada. Com o tempo esses fatores vão aumentar as tensões
na sociedade romana. Alto Império Romano
Com o intuito de amenizar os problemas vividos pela sociedade
romana, os tribunos da plebe e irmãos Tibério e Caio Graco esta- O Império se estabeleceu de fato em Roma quando Caio Otá-
beleceram reformas ligadas à questão agrária. No ano de 133 a.C., vio retornou do Egito com seu numeroso exército. O Senado con-
Tibério Graco conseguiu aprovar uma lei que limitou a extensão das cedeu-lhe vários títulos que legalizaram seu poder absoluto: côn-
terras pertencentes à nobreza e determinou a distribuição de terras sul vitalício, censor, imperador, príncipe do Senado e, finalmente,
públicas para os despossuídos. A repercussão da lei foi grande e Augusto (título até então só atribuído aos deuses e que permitia a
gerou descontentamento entre os grandes proprietários, que arqui- Otávio escolher seu sucessor). Embora Otávio Augusto conservasse
tetaram o assassinato de Tibério pouco tempo depois. durante seu reinado as aparências republicanas, seu poder apoia-
Dez anos após o assassinato de Tibério, seu irmão Caio Graco va-se efetivamente no imperium (comando do Exército), no poder
chega ao cargo de tribuno da plebe, com intenções de continuar o proconsular (direito de indicar os governadores das províncias) e no
projeto de seu irmão. Conquistando apoio politico de alguns grupos poder tribunício (poder de representar a plebe).
da sociedade com benefícios como dos cavaleiros romanos ao be- Augusto reorganizou as províncias, dividindo-as em imperiais
neficiá-los com uma lei que lhes concedia o direito de participar dos (militares) e senatoriais (civis). Indicava os governadores e os con-
tribunais que controlavam a administração dos recursos públicos trolava através de inspeções diretas e relatórios anuais feitos pelos
empregados nas províncias romanas e o oferecimento de cidadania sucessores dos mesmos. Criou o sistema estatal de cobrança de im-
romana a povos alidos na Peninsula Italica, Caio conseguiu apro- postos, acabando com a concessão da arrecadação a particulares
var leis que estabeleciam mudanças na distribuição de terras que (publicanos).
haviam sido conquistadas em tarento e na Cápua. Outra medida No plano social, acabou com a tradicional superioridade do pa-
importante foi o estabelecimento da Lei Frumentária, estipulando a triciado e criou um sistema censitário baseado na renda anual de
venda de trigo para cidadões mais pobres a preços menores. cada um. Os mais ricos, acima de 1 milhão de sestércios (moeda
As ideias de de ampliação da cidadania romana levaram ao de prata cunhada em Roma), pertenciam à Ordem Senatorial, que
declínio de Caio Graco. O temor da população em perder seus be- tinha todos os privilégios políticos e se distinguia pelo uso da cor
nefícios do pão e circo o fizeram perder popularidade. Após tenta- púrpura. A renda acima de 400 mil sestércios indicava o homem da
tivas infrutíferas de reeleição e um golpe de estado falho, o Senado Ordem Equestre, com menos direitos e a cor distintiva azul. Abaixo
decretou estado de sítio. Sem alternativas, Caio e seus seguidores desse índice monetário ninguém tinha direitos políticos, era a Or-
se viram acuados, o que levou o tribuno ao monte Aventino, onde dem Inferior.
ordenou sua morte pelas mãos de um escravo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Augusto procurou conter a influência da cultura oriental e gre- Difusão do Cristianismo


ga (helenística), que dominava Roma e estimulava a busca do prazer Nessa época, o clero cristão já estava estruturado. Presbíteros
(hedonismo) e o culto aos deuses místicos orientais. Tentou reavi- obedeciam aos bispos, os bispos das cidades menores obedeciam
var os valores morais do passado agrário de Roma, sem muito êxito. aos bispos das capitais de província (metropolitas) e estes, aos bis-
Para defender suas ideias, trouxe para a corte literatos como Tito pos das grandes cidades (Constantinopla, Antioquia e Alexandria),
Lívio, Virgílio, Ovídio e Horácio. os chamados patriarcas; estes, enfim, obedeciam ao papa (bispo de
Não tendo herdeiros diretos, Augusto indicou como sucessor Roma), cuja autoridade sobre os cristãos foi oficializada pelo impe-
seu genro, Tibério. Não obstante, as indicações seguintes seriam rador Valentiniano III, em 455.
em geral feitas pelos militares, notadamente da Guarda Pretoriana. Ao clero secular (que vivia em contato com a sociedade laica,
Com Augusto começou a dinastia Júlio-Claudiana do Império ou “o mundo” = “saeculum”) se contrapunha o clero regular, cons-
Romano, a qual seria continuada pelos Flávios até 96 d.C., quando tituído pelos monges — ascetas que viviam isolados nos desertos;
terminaram os chamados Doze Césares. Em seguida viriam os Anto- era chamado “regular” porque obedecia a uma “regra” que impu-
ninos e mais tarde os Severos, já no século III. nha a castidade, pobreza e renúncia aos bens materiais. A primeira
regra foi estabelecida por São Basílio, seguindo-se lhe a de São Ben-
Baixo Império Romano to (beneditinos).
Portanto, ao mesmo tempo em que enfraquecia o poder impe-
No século III tem início a crise do Império, abalado por pro- rial, o Cristianismo tornava-se a própria base legal do poder no fim
blemas econômicos, militares, políticos e religiosos. A crise econô- do Império.
mica tinha suas origens na cessação das guerras de conquista e na Mas a situação se agravava. A crise política estava intimamente
consequente redução do número de escravos. O déficit orçamentá- relacionada com os problemas militares, pois o Exército conturbava
rio, resultante do aumento das despesas, levou o poder político a a ordem nas épocas de sucessão imperial. Já na última fase do Im-
aumentar excessivamente os impostos. Os preços se elevaram, os pério, Diocleciano (284- 304) tentou contornar o problema dividin-
mercados se retraíram e a produção declinou. do-o em quatro partes (tetrarquia). Depois de sua morte, as dispu-
O Império Romano, já na época de Augusto, abrangia a maior tas sucessórias renasceram, pois Constantino reunificou o Império.
parte do mundo então conhecido. Suas legiões garantiam a domi- Outras divisões se verificaram, até à última, determinada por
nação das províncias, fornecedoras de riquezas que fizeram a gran- Teodósio, em 395, que criou o Império Romano do Ocidente (Roma)
deza de Roma. e o Império Romano do Oriente (Constantinopla). Depois dessa di-
Começou o êxodo urbano, a concentração da vida no campo visão nunca mais o Império se reunificou em sua integridade, pois
em propriedades autossuficientes, chamadas vilas, precursoras dos os invasores germânicos ocuparam a parte ocidental, enquanto o
feudos medievais. Caracterizavam-se pela economia agrária de con- Império Oriental sobreviveu até a conquista muçulmana de Cons-
sumo, com o trabalho exercido em termos de meação. Os clientes
tantinopla, em 1453.
(romanos) e os colonos (germânicos) cultivavam a terra, entregan-
O golpe final no Império Romano do Ocidente foi desfechado
do metade da produção ao dono da mesma. Os pequenos proprie-
pelos germânicos, que começaram a se infiltrar militarmente em
tários endividados (precários) tinham o mesmo estatuto, sendo
fins do século IV. Mas as chamadas “Grandes Invasões” começa-
porém livres, ao passo que clientes e colonos viam-se presos à área
ram em 406. Primeiro vieram os visigodos: liderados por Alanco,
em que trabalhavam.
saquearam Roma e se fixaram na península Ibérica e sul da Gália,
Nessa mesma época, agravou-se a crise religiosa. O Cristia-
constituindo o primeiro reino germânico dentro das fronteiras do
nismo começou a se difundir pelo Império logo após o martírio de
Império. Os vândalos seguiram o exemplo, saindo do Danúbio, cru-
Cristo, ocorrido no reinado de Tibério. Os Apóstolos iniciaram sua
difusão e São Pedro fundou o Bispado de Roma; foi martirizado zando a Gália e Espanha e se estabelecendo no norte da África. Os
juntamente com São Paulo na época do imperador Nero. Este foi o francos ocuparam o norte da Gália. Os anglos e saxões invadiram a
autor da primeira perseguição aos cristãos. Nas perseguições poste- Britânia (Inglaterra), ocupando as terras baixas.
riores, os cristãos foram acusados de não cultuar os deuses pagãos Com o Império em acelerada decadência, os bárbaros germâni-
nem o imperador (considerado divino desde que Otávio se tomou cos lançaram-se sobre aquilo que restava do esplendoroso mundo
Augusto). Além disso, atribuía-se- lhes a responsabilidade pelas ca- romano.
lamidades que ocorressem: enchentes, tempestades, pestes e in- Em 476, o Império do Ocidente reduzia-se ao território da Itália.
cêndios. A última perseguição foi desencadeada entre 303 e 304, O imperador Júlio Nepos foi deposto por Orestes, chefe do Exército,
pelo imperador Diocleciano (284-304). Quase sempre, os impera- que colocou seu filho de 6 anos no trono com o nome de Rômulo
dores tentavam colocar a população contra os cristãos, buscando o Augústulo. Odoacro (rei dos hérulos), chefe bárbaro aliado a Júlio
apoio da plebe pagã. Nepos, deu um contragolpe: afastou Orestes e Rômulo Augústulo,
Contudo, as perseguições tiveram um efeito contrário ao es- assumindo o título de “rei da Itália”. As insígnias imperiais foram
perado, pois acabavam convertendo os espectadores pagãos, im- enviadas para Constantinopla, o que significava, ao menos teorica-
pressionados com a firmeza e resignação dos cristãos diante dos mente a reunificação do Império sob o domínio de Constantinopla.
sofrimentos. Em 313, Constantino baixou o Edito de Milão, proibin-
do as perseguições aos cristãos e dando-lhes liberdade de culto. A Cultura Romana
partir de então, a difusão do Cristianismo ganhou um impulso ainda
maior: em 390, o imperador Teodósio proibiu o culto pagão e oficia- A religião romana tradicional não comportava dogmas. Era
lizou o Cristianismo. prática e imediatista. Incluía o culto dos antepassados, o culto dos
deuses públicos e a crença nos auspícios e prodígios (manifestações
divinas através da Natureza).
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As conquistas romanas na Grécia e Oriente Próximo abriram o Dinastia do Antoninos (de 96 a 192)
caminho para a introdução de divindades orientais, tais como Isis, Dinastia dos Severos (de 193 a 235)
Serápis e Mitra. Obviamente, os deuses greco-romanos tradicio-
nais, como Júpiter, Juno e Minerva, caíram em descrédito. O Mitra- A religião politeísta romana, em muitos aspectos similar à da
ísmo, uma religião de raízes persas relacionada com o culto do Sol e Grécia antiga foi a principal do Estado durante boa parte de sua
representada pelo touro, fez inúmeros adeptos. história, até 313, quando o imperador Constantino institui o Edito
O Cristianismo veio a substituir todos esses cultos pagãos. Mas de Milão, que tornaria o cristianismo religião oficial do império até
seu domínio sobre o Império somente se efetivou em fins do século o seu final. Em 395, o imperador Teodósio divide o império, estabe-
IV. lecendo uma duarquia, com um imperador em Roma, responsável
pela metade ocidental e outro em Bizâncio, responsável pela meta-
Arte de oriental do império.
A arte romana tem pouca originalidade. Em seus primórdios, Por volta do século III, inicia-se a lenta decadência do Império
caracterizava-se pela influência etrusca ou das colônias gregas da Romano, devido à corrupção dentro do governo e os gastos com
Magna Grécia. Posteriormente, foi marcada pela influência helenís- luxo, o que drenava os investimentos no exército. Com o fim das
tica, que aparece nas principais construções romanas: arcos triun- conquistas, diminui o número de escravos, e há uma queda na pro-
fais, aquedutos, teatros, anfiteatros, circos, termas, bem como nas dução agrícola. Isso gerava por sua vez um menor pagamento de
esculturas. tributos das províncias. As constantes pressões do bárbaros, aliados
aos problemas já citados culminam com o fim do Império Romano
Literatura do Ocidente, em 476.
A maior contribuição romana à história da cultura foi no setor De acordo com a leitura de muitos historiadores, porém, o Im-
literário. Não na literatura científica, na qual os exemplos são pou- pério Romano só chegou de fato ao seu fim em 1453, com a tomada
cos, mas na literatura filosófica, jurídica e política. de Constantinopla pelos turcos otomanos. Isto porque, apesar de
Na poesia destacaram-se Ovídio, Virgílio, Marcial, Juvenal e Ho- ser conhecido nos manuais de história como Império Bizantino (im-
rácio. A Filosofia teve Plínio, Sêneca e Marco Aurélio; a oratória, Cí- pério cuja capital é Bizâncio), seu nome oficial era Império Romano,
cero. Na História destacaram-se Tito Lívio, Tácito, Salústio. Suetônio e seus cidadãos geralmente se denominavam romanos, apesar da
e Políbio. Nos fins do Baixo Império, apareceram com destaque os religião estatal ser a ortodoxa grega e a língua oficial ser o grego.
escritores cristãos, como São Jerônimo e Santo Agostinho. Aliás, o adjetivo “romano” permaneceu na língua grega com o mes-
mo sentido até mesmo depois da unificação grega em 1821.
Império Romano1
Império Romano - A desintegração: Divisão e invasões bár-
Uma breve introdução baras2
Recebe o nome de Império Romano (em latim, Imperium Roma- (Veremos aqui alguns eventos e personagens anteriores ao pe-
num) o estado existente entre 27 a.C. e 476 d.C. e que foi o sucessor ríodo imperial (oficialmente falando) mas que marcaram a história
da República Romana. De um sistema republicano semelhante ao de forma a não existir maneiras de não abordá-los quando falamos
da maioria dos países modernos, Roma passa a ser governada por em Roma. Alguns desses personagens, como falamos de César aci-
um imperador vitalício, e que em 395 dividirá o poder com outro ma, apesar de nunca usarem o título de imperador, tiveram muito
imperador baseado em Bizâncio, (depois rebatizada Constantinopla mais poder sobre Roma do que alguns imperadores já no período
e atualmente Istambul). Foi em sua fase imperial (por volta de 117 do Baixo Império (235 – 476).
d.C.) que Roma acumulou o máximo de seu poder e conquistou a
maior quantidade de terras de sua história, algo em torno de 6 mi- A ascensão dos militares
lhões e meio de quilômetros quadrados, um território do tamanho Com as vitórias do exército, os chefes militares conquistaram
do Brasil, sem os estados do Pará e Mato Grosso. prestígio e começaram a ganhar popularidade (competindo com o
O império tinha por característica principal uma estrutura mui- Senado).
to mais comercial do que agrária. Povos conquistados eram escra- Mário foi o primeiro a se destacar nessa área. Com fama após
vizados e as províncias (regiões controladas por Roma) eram uma conquistar vitórias sobre a Numídia no norte da África, no ano de
grande fonte de recursos. O primeiro imperador foi Otávio, entre 106 a.C., foi eleito cônsul no ano seguinte. Uma figura que já era
27 a.C. a 14 d.C. Antes, porém, é importante citar Júlio César, que amada por soldados, principalmente de sua legião, Mário fez muito
com suas manobras políticas acabou por garantir seu governo vi- pelo exército romano. Foi ele quem instituiu o pagamento de sol-
talício, entre 49 a.C. até seu assassinato em 44 a.C. Apesar de não to aos soldados, permitiu que eles participassem dos espólios de
ser considerado imperador, César foi o verdadeiro responsável pela guerra lhes deu o benefício de receber terras como prêmio após 25
consolidação do regime; prova disso é que todos os seus sucessores de serviços.
passam a receber o título de “césar”, e seu perfil é incluído em meio Foi reeleito cônsul várias vezes (o que não era permitido) e suas
ao dos imperadores romanos na histórica obra “As Vidas dos Doze medidas desagradavam os conservadores do senado. Morre em 82
Césares”, de Suetônio. a.C., (segundo dizem, com “aprovação” do Senado e deu seu maior
rival militar na época, Sila).
O Império Romano foi governado por várias dinastias: Após da morte de Mário, Sila impõe uma ditadura em Roma e
Dinastia Júlio-Claudiana (de 14 a 68) governa até 78 a.C.
Dinastia dos Flávios (de 69 a 96)

1 https://bit.ly/2nkJDjF 2 https://bit.ly/2Maht9g
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

César, Crasso e Pompeu


Crasso e Pompeu surgem também se aproveitando do prestígio militar. Após o governo de Sila, várias revoltas ameaçaram o território
romano, o que exigiu grandes campanhas militares.
Crasso foi responsável pela vitória contra Espártaco (líder da maior revolta de escravos do mundo antigo).
Pompeu venceu uma rebelião popular comandada por Sertório na Península Ibérica entre os ano de 78 e 72 a.C.
César, que era sobrinho de Mário, vivenciou o melhor período e a queda do tio contra Sila e sofreu as consequências por isso, começou
a ganhar prestígio ligado ao partido popular (no qual Mário sempre teve maior aproximação).
Em 60 a.C. Crasso, Pompeu e César foram eleitos senadores e se uniram (cada qual com seu interesse) em um governo chamado de
Primeiro Triunvirato.
Logo após a criação do Triunvirato, César parte com suas legiões para a Gália, com o intuito de consolidar a conquista romana no ter-
ritório, e como sabia, aumentar o próprio prestígio através das conquistas militares.
Com a morte de Crasso, César e Pompeu iniciam a disputa pelo poder. Pompeu se aproveitou de sua influência dentro do senado (e
do fato de César ainda estar na Gália) para que obtivesse o título de cônsul com plenos poderes. E com o aval do senado ordena que César
desmobilize suas legiões e retorne a Roma.
César se recusa a obedecer as ordens de Pompeu e do senado e de forma rápida marchou com suas legiões contra Roma (49 a.C.)
com o discurso de que agora havia uma ditadura contra o povo governando a cidade. Pompeu e seus aliados (grande parte dos senadores
romanos) fogem para o oriente. César os persegue até vencê-los na Grécia, e a seguir conquista o Egito, que foi transformado em prote-
torado romano.
Retornando para Roma em triunfo, César foi proclamado ditador perpétuo. Em seu governo, promoveu a construção de obras públi-
cas, reorganizou finanças, fundou colônias e distribuiu terras.
Estendeu o direito de participação política aos habitantes das províncias conquistadas em uma tentativa de unificar o mundo romano.
Com um exército que o amava e com o apoio da plebe, Júlio César concentrava todo o poder em suas mãos (o que descontentava o
senado).
Uma conspiração de senadores faz com que César seja assassinado em 15 de março de 44 a.C.

Os herdeiros políticos de César


Com a morte de César, a disputa pelo poder ficou entre Marco Antônio (general popular e amigo de César desde as campanhas na
Gália) e Otávio (sobrinho de César e filho adotivo, uma vez que César não teve filhos homens e em testamento deixa seus bens para Otávio
e para o Povo de Roma).
Marco Antônio e Otávio se juntam a Lépido (um rico banqueiro romano) e forma o Segundo Triunvirato, que teve apenas cinco anos
de duração.
Os três dividiram o território romano entre si, e levados por Marco Antônio e Otávio, eliminam todos os conspiradores da morte de
César.
Após isso Otávio e Marco Antônio passam a brigar pelo poder e Otávio o vence em 31 a. C. Ao retornar a Roma, Otávio recebe os
títulos de primeiro cidadão (Princeps), divino (Augusto) e suprmo (Imperator). Augusto, como passou a ser chamado, se tornou o primeiro
imperador de Roma.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Território romano em seu auge.

Mapa extraído de “Acetato 7”, História 7, Porto Editora

O Baixo Império
O desguarnecimento do limes (ou fronteiras) tornava-se ainda mais grave naquelas regiões onde as fronteiras naturais do Império (de-
sertos, montanhas, oceano) eram mais frágeis. E essa fragilidade mostrava-se mais acentuada na fronteira do Império com a vasta região
conhecida como Germânia, a qual tinha como fronteira básica os rios Reno e Danúbio.
A região conhecida pelos romanos como Germânia abrigava uma série de povos, genericamente chamados de germânicos, como
francos, vândalos, visigodos, ostrogodos, anglos, saxões, jutos, hérulos, burgúndios, lombardos e vários outros. Tais povos representavam
um potencial numérico muito grande e uma ameaça efetiva ao Império, notadamente num quadro de retração do seu poderio militar.

Tetrarquia e divisão do Império


A crise econômica teve também uma clara manifestação administrativa. A redução da arrecadação gerou uma queda no número de
funcionários do Estado, tornando a administração mais difícil, principalmente nas províncias mais distantes de Roma.
Numa tentativa de sanar esse problema, o imperador Diocleciano dividiu o Império em duas partes: o Ocidente, com capital em Roma,
e o Oriente, com capital em Bizâncio, às margens do mar Negro. Em cada uma dessas partes havia um imperador, com o título de Augusto,
e um outro governante para as regiões mais distantes, com o título de César. Por contar com, na verdade, 4 governantes, essa forma de
divisão foi chamada de Tetrarquia.
A Tetrarquia durou pouco tempo. Já no início do século 4, o imperador Constantino reunificou o Império. Entretanto, como o risco de
invasão fosse maior na parte ocidental, ele transferiu a capital para Bizâncio, mais protegida e, na época, mais rica. Ali, ele ergueu uma
cidadela para servir de sede ao governo, dando a ela o nome de Constantinopla, nome que, durante séculos, acabou designando toda a
cidade.
Durante o século 4, o Império manteve-se unificado, com sua sede em Constantinopla. No final do século, o imperador Teodósio
estabeleceu, em 395, a divisão definitiva: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, também
chamado de Império Bizantino, com capital em Constantinopla.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Decadência e êxodo urbano Ao longo de quase um século, os hunos assolaram regiões da


Ao mesmo tempo em que o Império se debatia com toda a sor- Europa, chegando mesmo a sitiar Roma em 452. Ferozes, saquea-
te de dificuldades administrativas e militares, os aspectos econô- dores e extremamente numerosos, eles espalharam terror por vá-
mico e social da crise iam gerando uma nova realidade. O declínio rias regiões da Europa, incluindo a Germânia.
do comércio gerava uma decadência de toda a atividade urbana. Para vários historiadores, os ataques dos hunos contribuíram
E a incapacidade crescente do Estado romano de manter a ordem largamente para pressionar os povos germânicos em direção às ter-
e a paz internas transformava as cidades em alvo de ataques e sa- ras pertencentes a Roma, acelerando o processo de invasões. Tais
ques. Outro elemento era a impossibilidade de manter a política de invasões se estenderam ao longo do século 5. Os visigodos saque-
concessão de alimentos à plebe miserável, tornando impossível sua aram Roma em 410, e os vândalos em 455; os francos, após saque-
permanência em Roma. arem Roma, ocuparam a Gália; anglos, saxões e jutos invadiram a
Esses elementos vão gerar um processo de êxodo urbano. A Bretanha; burgúndios, o sul da França; lombardos, o norte da Itália;
grande massa que sai das cidades para o campo vai passar a viver e, em 476, os hérulos, seguidos pelos ostrogodos, depuseram o úl-
e trabalhar naqueles mesmos latifúndios em que, até então, utiliza- timo imperador, Rômulo Augusto.
va-se a mão-de-obra escrava. O declínio da escravidão abria espaço, Esse evento assinala oficialmente o fim do Império Romano
portanto, para o trabalho plebeu, mas em condições significativa- do Ocidente. A parte oriental do Império manteve-se unificada até
mente diferentes. 1453, quando Constantinopla foi tomada pelos turcos. Entretan-
Tais latifúndios continuavam com sua mesma extensão, sendo to, a influência do chamado Império Bizantino sobre a Europa foi
necessário que várias famílias vivessem e trabalhassem dentro de rapidamente esvaindo-se. As áreas dominadas pelos vários povos
uma mesma propriedade. Assim, a paisagem rural do Império, no- germânicos deram origem a uma série de reinos fragmentados,
tadamente no ocidente, passou a se caracterizar por um tipo de destruindo a unidade imposta pelos romanos. Também esse evento
propriedade à qual os romanos davam o nome de vilas, nas quais assinala o início da Idade Média europeia, erigida a partir justamen-
várias famílias de trabalhadores vivem e trabalham numa terra que te da integração entre elementos romanos e germânicos.
não lhes pertence.

Bases do feudalismo IDADE MÉDIA: EUROPA MEDIEVAL


Esse processo de ruralização apresentava outras característi-
cas. Esses trabalhadores, apesar de serem livres, não eram proprie-
tários da terra. Ao mesmo tempo, a escassez de moedas inviabiliza-
va o pagamento de salários. Dessa forma, a única possibilidade de IDADE MÉDIA E FEUDALISMO
vida para esses trabalhadores era extrair da terra o seu sustento,
entregando ao proprietário um excedente - como forma de paga- Feudalismo
mento pelo uso da terra. São os primeiros rudimentos econômicos
do feudalismo, já presentes na crise do Império. O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de or-
Ao lado desses elementos, outra realidade se desenrolava. ganização da vida durante a Idade Média na Europa Ocidental. Suas
Desde o início do século 3, o Império havia adotado a política de origens remontam à crise do Império Romano a partir do século III.
permitir que tribos bárbaras se instalassem dentro das suas fron- A Idade Média abrange um longo período da história europeia,
teiras. Essa relação estabelecia-se com o Império cedendo a essas e é comum dividi-la em duas fases: Alta Idade Média e Baixa Idade
tribos terras, chamadas pelos romanos de feudus. Média.
Esses bárbaros eram admitidos na condição de colonos, segun- - A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao XI,
do a qual, em troca da terra, eles se comprometiam a cultivá-la, pa- corresponde à formação e consolidação do sistema feudal;
gar tributos ao Império e, por lei, estar presos à terra, não podendo - A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV,
deixá-la. Isso se explica pela necessidade romana de usar esses po- caracteriza-se pela crise do feudalismo e início da formação do sis-
vos para a própria defesa das regiões fronteiriças. Tanto que esses tema capitalista.
bárbaros eram também considerados como federados ao Império, A formação do sistema feudal tem início com a crise do século
termo que tinha uma conotação de aliados militares. III do Império Romano e acentua-se no século V, com as invasões
Quando a crise no interior do Império agravou-se, no final do dos povos germânicos. A queda do escravismo, a formação do co-
século 3, com Roma cada vez mais dependente da produção agríco- lonato e a posterior implantação de um regime servil constituem o
la, o regime de colonato foi estendido para as próprias populações passo decisivo para a formação do sistema.
romanas. Tal medida foi baixada pelo imperador Diocleciano, tor- Por outro lado, os germanos que invadiram o Império Romano
nando o colonato uma instituição. levaram consigo relações sociais comunitárias de exploração cole-
tiva das terras e subordinação aos grandes chefes militares (comi-
Os hunos, os povos germânicos e o fim do Império tatus). As invasões, além de despovoar as cidades, aumentando a
A partir do final do século 4, a situação do Império tendeu ao população rural, dificultaram as comunicações e provocaram o iso-
colapso. Já por volta de 370, a presença de um povo asiático - os lamento das localidades, forçando-as a adotar uma economia de
hunos - no sul da Europa contribuiu para destruir o frágil equilíbrio subsistência autossuficiente.
em que ainda se assentava o Império e sua relação com os povos O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor
bárbaros. maneira, porém, é defini-lo conforme suas relações sociais básicas:
relações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), relações comu-
nitárias (entre os servos) e relações servis (que ligavam o mundo
dos senhores ao mundo dos servos).
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Esta última ligação se processava por meio das obrigações, que Na base da sociedade feudal estavam os servos, que represen-
resultavam das imposições feitas pelo senhor aos servos, de realizar tavam aproximadamente 98% da população de um feudo. Os servos
paga mentos em produtos ou serviços, e que constituem a própria viviam nas terras do senhor e a ele deviam uma série de serviços
essência do feudalismo. Tais obrigações eram costumeiras e não como a corveia, a talha e as banalidades.
contratuais, como ocorre no sistema capitalista. Note-se que o ser- Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras do
vo era vinculado ao feudo, dele não podendo sair. nobre por alguns dias da semana;
Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor feu-
Feudos dal parte de sua produção;
A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias: Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela utilização
Propriedade privada, no manso senhorial (terra do senhor); do moinho, do forno e demais utensílios pertencentes ao senhor.
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso comum Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar ao
para senhores e servos); senhor feudal para permanecer no feudo quando o pai morria.
Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso servil. (O Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia pagar à
senhor detinha a posse legal e o servo, a posse útil da terra.) Igreja de sua região.
Levando-se em consideração que a maior parte da produção
obtida pelo servo não se conservava em suas mãos, pois passava Outra classe social existente no feudo era o clero, os membros
para o senhor feudal, seu interesse era mínimo. Associando-se a da Igreja. Os clérigos eram os responsáveis pela transmissão reli-
este fato o de que os trabalhos agrícolas eram realizados coletiva- giosa e cultural. Também eram os responsáveis pelas leis, que nes-
mente, tolhendo a iniciativa individual, eles resultavam em baixo ta época eram transmitidas pela interpretação religiosa. Isto tudo
nível da técnica e pequena produtividade: para cada grão semeado, garantia ao clero a responsabilidade pelo caráter moral da socie-
colhiam-se dois. Daí o regime de divisão das terras cultiváveis em dade. E, não por acaso, que foi neste período que a Igreja Católi-
três campos, destinados alternadamente para o plantio de cereais ca se transformou na mais poderosa instituição da Idade Média. O
e de forragem, reservando-se o terceiro para o descanso (pousio). domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com acesso ao
Realizava-se a rotação trienal dos campos, com vistas a impedir o saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser instruídos
esgotamento do solo. de educação e, consequentemente, eram os poucos que sabiam ler
e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos entregues à Igreja.
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade me-
dieval reflete muito bem o pensamento da época, pois para o bispo
“na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de outros é guerrear
e de outros trabalhar”. Para a Igreja medieval, cada indivíduo tinha
um importante papel na sociedade, por isso, deveria executar a sua
função com zelo e gratidão como se estivesse trabalhando para o
próprio Deus. Com isso, a Igreja garantia a manutenção da socieda-
de tal e qual ela era.

Sociedade Feudal

De acordo com as bases materiais descritas não havia possibi-


lidade de mobilidade social nos feudos: a sociedade era, portanto,
estamental. O princípio de estratificação era o nascimento, surgindo
então duas camadas básicas: senhores e servos. Existiam também
categorias intermediárias, tais como os vilões (camponeses livres) e
os ministeriais (corpo de funcionários livres do senhor).
O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não havia
guerras de expansão para apresá-los; além disso, a Igreja condena-
va a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões tendiam a se
tornar servos, pois de nada lhes adiantava a liberdade dentro da
insegurança reinante: o fundamental era a obtenção de proteção.
No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais. Os
senhores feudais viviam com suas famílias em casas fortificadas.
Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em castelos.

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Relações Vassálicas As raízes desse conflito remontam a meados do século X, quan-


do o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, iniciou
O poder político no sistema feudal era exercido pelos senhores um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de
feudais, daí seu caráter localista. Não tendo autoridade efetiva, os fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias, nomeou seus
reis apenas aparentavam poder, pois na prática existia uma descen- titulares e, em troca da proteção que concedia ao Estado da Igreja,
tralização político-administrativa. passou a exercer total controle sobre as ações do papa.
Impossibilitados de defender o reino, os soberanos delegaram Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima
essa tarefa aos senhores feudais. Por isso, e com vistas a se prote- crescente de corrupção, afastando-se de sua missão religiosa e,
gerem, os senhores procuravam relacionar-se diretamente por um com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (no-
compromisso: o juramento de fidelidade. O senhor feudal que o meações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os
prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele que o recebesse seria seu bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumin-
suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e vassalos tinham obri- do com o soberano acima da fidelidade ao papa.
gações recíprocas, pois à homenagem prestada pelo vassalo corres- No século XI surgiu um movimento reformista, visando recupe-
pondia o benefício concedido pelo suserano. Essa relação definia-se rar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de
em um rito denominado “cerimônia de investidura” ou “cerimônia Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram ganhando força dentro
de adubamento”. da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII,
antigo monge daquela ordem reformista.
Igreja Medieval Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que jul-
gou necessárias para recuperar a moral da Igreja. Instituiu o celi-
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social bato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074, e proibiu
produzida pelas invasões germânicas e ao esfacelamento do Im- que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em
pério Romano, a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu 1075. Henrique IV, imperador do Sacro Império, reagiu furiosamen-
manter-se como instituição. Consolidando sua estrutura religiosa e te à atitude do papa e considerou-o deposto. Gregório VII, em res-
difundindo o cristianismo entre os povos bárbaros. posta, excomungou Henrique IV. Desenvolveu-se, então, um confli-
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja pas- to aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual
sou a exercer importante papel em diversos setores da vida medie- do papa.
val, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmenta- Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata
ção política da sociedade feudal. de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo imperador Henrique
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias: V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a inves-
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos mostei- tidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes
ros), hierarquizado em padres, bispos, arcebispos etc. de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar
Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que obedecia fidelidade ao imperador.
às regras de sua ordem religiosa: beneditinos, franciscanos, domini-
canos, carmelitas e agostinianos.
Inquisição
Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-se
No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o papa,
nos termos exatos pretendidos pela doutrina católica. Havia uma
bispo de Roma, considerado sucessor do apóstolo Pedro. Nem sem-
série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas heresias,
pre a autoridade do papa era aceitar por todos os membros da Igre-
que se chocavam com os dogmas da Igreja.
ja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, devido, em
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em
grande parte, à atuação do papa Gregório Magno.
1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar
Além da autoridade religiosa, o papa contava também com o
os heréticos. Os condenados pela inquisição eram entregues às au-
poder temporal da Igreja, isto é, o poder advindo da riqueza que
acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos fiéis em toridades administrativas do Estado, que se encarregavam da exe-
troca da salvação. cução das sentenças. As penas aplicadas a cada caso iam desde a
Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar um confiscação de bens até a morte em fogueiras.
terço das terras cultiváveis da Europa Ocidental. O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes eta-
O papa, desde 756, era o administrador político do Patrimônio pas: o tempo de graça, o interrogatório e a sentença.
de São Pedro, o Estado da Igreja, constituído por um território ita-
liano doado pelo rei Pepino, dos francos. Vida Cultural
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em di-
versos conflitos políticos com monarquias medievais. Exemplo mar- Quando se compara a produção cultural da Idade Média com a
cante desses conflitos é a Questão da Investiduras, no século XI, Antiguidade ou a Modernidade, ela é considerada tradicionalmen-
quando se chocaram o papa Gregório VII e o imperador do Sacro te um período de trevas. Ao longo do tempo, esse conceito tem
Império Romano Germânico, Henrique IV. sofrido algumas revisões, graças à reabilitação da Idade Média por
certos autores que nela encontram as raízes culturais do Mundo
Questão das Investiduras e o Movimento Reformista Moderno e - num sentido mais imediato - do Renascimento.
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande man-
A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem tenedora da cultura durante o Período Feudal, apesar de o fazer de
caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos, forma que justificasse suas ideias e dogmas. O privilégio da leitura e
ao papa ou ao imperador. da escrita também estava vinculado à Igreja.
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Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a cria- - O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o perigo
ção das universidades, o pensamento filosófico desenvolveu-se, que os muçulmanos representavam;
surgindo, então, a escolástica (“filosofia da escola”), produzida por - Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das In-
São Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica. O ideal tomista era vestiduras, convocar as Cruzadas demonstrava prestígio e autorida-
conciliar o racionalismo aristotélico com o espiritualismo cristão, de perante toda a Igreja.
harmonizando fé e razão.
Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II convocou a
Baixa Idade Média e as Mudanças na Sociedade Feudal cristandade para uma guerra santa contra o Islã. Foram realizadas
oito Cruzadas, entre 1095 e 1270.
Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema capi- Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são con-
talista. Ao mesmo tempo, surgiram novas classes sociais, principal- sideradas um insucesso, que se deve em primeiro lugar ao caráter
mente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo de centrali- superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio não
zação política. criou raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia
A questão fundamental para entender as mudanças durante a feudal, que enfraquecia as colônias militares estabelecidas em ter-
Baixa Idade Média é a crise do feudalismo. A produção feudal era ritório inimigo. A luta fratricida foi uma constante entre as ordens
baseada no trabalho servil, sendo limitada e estática, o que, por sua religiosas e os cruzados latinos.
vez, representava o baixo nível de técnica do sistema feudal.
No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma certa
estabilidade na Europa, além de condições de segurança para o au-
mento da circulação de mercadorias. Houve uma maior redistribui-
ção da produção, gerando um crescimento demográfico que não foi
acompanhado pelo aumento da oferta de empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a introdução
de novos artigos de luxo, os senhores feudais passaram a ter neces-
sidade de aumentar as suas rendas. Para obter mais recursos, eles
eram obrigados a aumentar as obrigações dos servos, que, pres-
sionados, partiam para as cidades em busca de uma vida melhor.
A solução para a crise seria a substituição do regime de trabalho
servil pelo trabalho assalariado, porém essa mudança incentivou a
evolução do modo de produção feudal para o capitalista, o que não
seria viável num curto período.
Dessa forma, a crise do feudalismo ocorreu pela incapacidade
da antiga estrutura econômica de sustentar as mudanças, o que foi
gerando uma nova organização do modo de vida.
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de mar- Fonte: 10 em tudo.com.br
ginalização social, quer pela fuga dos servos, quer pelos deserda-
mentos ocorridos na camada senhorial. Essa marginalização trouxe Consequências das Cruzadas
como consequência o aumento da belicosidade, marcada por assal- As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao
tos e sequestros a ricos cavaleiros. mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão, Castela, Navarra e Aragão
A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a “Paz de começavam a Reconquista da Península Ibérica contra os muçulma-
Deus” (proteção aos cultivadores, viajantes e mulheres) e a “Trégua nos. A ofensiva teve início com a tomada da cidade de Toledo, em
de Deus” (na qual os dias para realizar guerras ficavam limitados a 1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada de Granada. A vitória
90 por ano). Porém, essa intervenção da Igreja não foi suficiente dos italianos sobre os muçulmanos no Mar Tirreno e norte da África
para conter a crise e a violência feudais. fez com que as cidades italianas iniciassem o seu domínio sobre o
Mediterrâneo, lançando as sementes do comércio e do capitalismo.
Cruzadas As relações entre Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois
de séculos de bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam
Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado espe- pela Europa. O contato com o Oriente trouxe o conhecimento de
rado, a Igreja propôs as Cruzadas, uma contraofensiva da cristanda- novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e metalurgia.
de diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os séculos VIII e
XI, não teve condições de reagir contra os árabes, passava a reunir Renascimento do Comércio
nesse momento as condições necessárias:
- Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa; As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI e
- Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre o ho- XIV na Europa foram imensos. A crise do feudalismo acentuou-se,
mem medieval, que o levou a crer na necessidade de resgatar o principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem das batalhas em
Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano; terras orientais, os cruzados traziam consigo produtos de luxo,
- Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII impôs sua como tapetes persas, porcelanas chinesas, tecidos finos ou espe-
autoridade a Henrique IV, na Querela das Investiduras: ciarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a
-A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da cristandade, população europeia, proporcionado o Renascimento do Comércio.
quebrada pelo Cisma de 1054;
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afasta- Guerra, Fome e Peste
das, os europeus abriram um novo eixo comercial ligando o Ociden-
te ao Oriente. As principais rotas de comércio eram feitas pelo mar O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores so-
Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, freu um forte golpe no século XIV. As mudanças climáticas geraram
Veneza, Pisa, Constantinopla, Barcelona e Marselha. No mar Báltico um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar dos diversos
e no mar do Norte, o domínio ficava por conta de cidades como avanços tecnológicos verificados no campo, como a invenção da
Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países Baixos). charrua, da ferradura, a difusão dos moinhos de vento, a produção
não era suficiente para abastecer a população europeia, que dupli-
Burgos e Burgueses cou entre o ano 1000 e o ano 1300, levando boa parte da população
Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram o a passar fome.
campo e foram viver dentro dos burgos - vilas fortificadas com mu- Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste Negra,
ralhas, construídas entre os séculos IX e X e posteriormente aban- uma epidemia decorrente das péssimas condições de higiene das
donadas -, onde esperavam encontrar melhores condições de vida. cidades, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos-
Em pouco tempo, contudo, esses lugares tomaram-se pequenos e -pretos ou outros roedores, matando cerca de 30 milhões de pes-
as pessoas viram-se obrigadas a se instalar do lado de fora de suas soas, mais de um terço da população europeia na época. A situação
muralhas. ficou ainda mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra
Essa população, formada principalmente por artesãos, operá- deram início à chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se es-
rios e comerciantes, acabou dando origem a novos burgos em vá- tendeu de 1337 a 1453 provocando grande número de mortos em
rios pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição aos nobres ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península
que viviam em castelos, ficaram conhecidos como burgueses. ibérica, na Itália e na Alemanha.
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou
uma nova necessidade: a padronização de unidades de valor. O uso Baixa Idade Média – Crescimento Demográfico[ https://portal-
de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca doestudante.wordpress.com/2011/07/08/baixa-idade-media-cres-
de mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram também pri- cimento-demografico/]
meiras casas bancárias, responsáveis pelas operações de câmbio e
empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o dinheiro No século X as guerras que haviam assolado a Europa, nota-
passasse a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária damente as invasões bárbaras, já haviam terminado. Ao mesmo
deixassem de ser a base da riqueza na Europa. tempo, por viverem isolados nos feudos, os servos e os senhores
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos lu- feudais estavam menos sujeitos às epidemias. Deste modo, melho-
cros, os mercadores e banqueiros conquistavam maior status social raram-se as condições de vida do homem feudal, possibilitando a
e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava prestí- melhoria do cultivo e a possibilidade de crescimento demográfico.
gio e espaço, aproximando-se dos reis e emprestando-lhes dinheiro De fato, foi o que ocorreu. A partir do século X a taxa de natalidade
em troca de medidas políticas favoráveis ao comércio. Ao mesmo cresceu substancialmente enquanto a de mortalidade se mantinha
tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, muitas estável. Há, portanto, uma explosão demográfica na Europa.
delas decorrentes das altas despesas com as Cruzadas.
A expansão demográfica promove o desequilíbrio na oferta e
Humanismo demanda de alimentos. A primitiva e ineficiente produção agrícola
feudal não consegue suprir as necessidades de uma sociedade em
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato en- expansão. Surge, no interior dos feudos, o excedente populacional.
tre os burgueses e os monarcas financiou o surgimento de novas Dada a insuficiência de recursos para prover o excedente populacio-
universidades. Com a expansão comercial surgiu a necessidade nal, inicia-se o processo de marginalização social. Os senhores feu-
de formar pessoas que entendessem de direito e comércio. Com dais expulsam de suas terras a população excedente. Tal população
a criação das universidades, a difusão do conhecimento deixou de se desloca, em sua maioria, para antigos centros urbanos, passando
ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino tomou-se laico, voltado cada a viver do comércio, criando mercados latentes, verdadeiros polos
vez mais para questões mundanas. comerciais. Outros, passam a viver do saque.
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, principalmente Note-se que o crescimento demográfico iniciado no século X
os dos gregos e romanos, e as atenções dos estudiosos dirigiam- exigia melhores colheitas, estimulando o aperfeiçoamento e/ou a
-se a diversas áreas do saber e das artes. Iniciava-se o Humanismo, criação de novas técnicas. É nesse período que surge, por exemplo,
movimento cultural que viria a influenciar a Europa por quase três o arado. Contudo, o desenvolvimento tecnológico se esbarrava na
séculos. Até então hegemônico, o pensamento da Igreja passou a falta de motivação do servo, uma vez que, para ele, não haveria
ser questionado por religiosos e filósofos leigos. benefícios. Para o servo, o desenvolvimento técnico lhe traria mais
trabalho, na medida em que ele se via obrigado a pagar tributos
ao senhor feudal. Desse modo, o crescimento demográfico não é
acompanhado por um aumento na oferta. Os senhores feudais bus-
cam pela expansão territorial. Reiniciam-se as guerras de conquista,
utilizando-se do excedente populacional como “soldado” e poste-
rior ocupante do território conquistado. É nesse contexto que se
inseriram a a participação de muitos cavaleiros (nobres) na Guerra
de Reconquista, contra os árabes na península ibérica.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Também nesse contexto estão as Cruzadas, iniciadas no século Divergências. Não se originam do fato de que a palavra “crise”
XI, se estendendo até o século XIII, sob liderança da Igreja Católica. tem sido empregada para designar, indiferentemente, dois fenôme-
nos que, entretanto, são distintos? Ora se trata de bruscas depres-
sões, limitadas no tempo, e que são as únicas que merecem nome
de “crises” — ora de um movimento de declínio durável prolongado
da economia. Cremos que o século XIV conheceu os dois fenôme-
nos. Uma série de crises próximas uma das outras — crise frumen-
tária de 1315-1320, crise financeira e mone-tária de 1335-1345, cri-
se demográfica de 1348-1350 — exerceu. Ação paralisadora sobre
a economia e manteve-a, por um século, em estado de duradoura
contração.
A conjuntura favorável que se prolongou pelas primeiras dé-
cadas do século XIV merece, antes de tudo, ser caracterizada com
precisão. Por muito tempo fora sustentada por um contínuo acrés-
cimo da população, o qual permitira, ao mesmo tempo, os gran-
des desbravamentos — quase concluídos na França, mas que ainda
prosseguiram no início do século XIV na Inglaterra setentrional, a
colonização dos países novos, as aventuras coloniais das Cruzadas,
Crise do Século XIV o nascimento e o crescimento das cidades. Esse impulso demográ-
fico estimulava uma produção incessantemente aumentada para
Habitualmente se concorda em que, durante a maior parte do alimentar e vestir essa massa humana cada vez mais numerosa;
século XIV e pelo menos na primeira metade do século XV, a Europa inversamente, fornecia à produção mão de obra abundante e rela-
Ocidental atravessou uma “crise” econômica de excepcional gravi- tivamente pouco custosa — pois não havia falta de braços. Mesmo
dade. Em compensação, não há nenhum acordo quanto às causas se, ficando-se nos limites de prudente verossimilhança, não atribu-
e às modalidades dessa contração[ http://www.revistas.usp.br/re- ímos à França de 1300 mais de dez ou onze milhões de almas, e à
vhistoria/article/view/35777/38493. Inglaterra pouco mais de 3.500.000, fazemos ressaltar enorme den-
]. sidade, considerando-se que a técnica agrária e artesanal era ainda
Na França, acusam-se, antes de mais nada, as devastações da primitiva. Amplamente ultrapassado o ponto optimum, havia em
guerra, a que se atribui o afrouxamento da produção e das trocas; muitas regiões saturação de população.
ora, exceção feita de algumas regiões — o Bordelais, onde, como E impossível acompanhar os desbravamentos, que não mais se
mostrou Boutruche, a guerra assolou de maneira quase endêmica faziam a não ser em solos pobres, em terras marginais de pouco
desde 1294, a Bretanha, teatro de prolongadas hostilidades a par- rendimento; e aliás o desflorestamento atingira os limites além dos
tir de 1341 — pouco sofreu o reino desde o início da Guerra dos quais a pastagem do gado, o fornecimento da madeira de aque-
Cem Anos, sendo que o campo só começou a sofrer as depredações cimento e de construção corriam o risco de periclitar. O melho-
profundas dos guerreiros após 1356, num momento em que a eco- ramento da técnica agrária, por falta de instrumentos aratórios e
nomia conhecia há muito tempo graves dificuldades. De seu lado, de adubos, permanecia limitado. Aqui e ali (centro da Inglaterra),
os historiadores ingleses atribuíam excepcional importância à Peste passava-se do arroteamento bienal à rotação trienal; alhures (In-
Negra de 1348-1349, que a seus olhos constituía o ponto de par- glaterra, Flandres), aumentava-se a proporção da cultura das legu-
tida da evolução econômica dos últimos séculos da Idade Média; minosas, que esgotavam menos o solo: não eram senão paliativos.
sabe-se hoje, todavia, que a maioria das dificuldades que há pouco A divisão em pedaços das dependências dos feudos acentuava-se
se atribuíam a essa punção demográfica lhe são muito anteriores. perigosamente: em Weedon Beck (Northants), passara-se, entre
Mais recentemente, Calmette e Déprez atribuem todo o mal às 1248 e 1300, sem novos desbravamentos, de 81 a 110 rendeiros;
mudanças monetárias, que teriam desencadeado um mecanismo a proporção dos pequenos rendeiros, com lotes insuficientes para
bastante simplista de desordenada alta de preços, de contração das a subsistência de uma família, subira de 39 a 73% da comunidade
trocas, de perturbação material seguida de crise moral. E’ por isso total.
que fazem começar a “crise” na França com as primeiras manipu- Enfim, como a engrenagem comercial não permitia a importa-
lações de Filipe-o-Belo (1296) e não a revelam na Inglaterra senão ção em massa de cereais dos países novos para as regiões super-
em 1351, pois ignoram as desvalorizações anteriores de 1304 e de povoadas, — principalmente o trigo do Báltico, com o qual comer-
1344-1346. ciam os hanseáticos, — essa população fica à mercê de permanente
Pensamos que tomaram o efeito pela causa e que, de resto, sub-alimentação e de fomes prolongadas. Assim, a conjuntura fa-
nem todas as manipulações monetárias têm a mesma significação vorável traz consigo mesma os germes de uma crise, limitando’ ao
econômica. Enfim, Pirenne e seu discípulo Henri Laurent, cujo ho- extremo a margem de subsistência das massas rurais e artesanais.
rizonte estava limitado aos Países-Baixos, assinalam o início das Enquanto isso, gozava-se, havia muito tempo, de notável estabilida-
dificuldades na passagem do XIII para o XIV século, com a dupla de monetária. As agitações de Filipe-o-Belo e de seus filhos pertur-
decadência da manufatura de tecidos flamenga e das feiras de baram-na apenas temporariamente, porquanto com frequência se
Champagne. voltava, em seguida, à “boa” moeda do tempo de São Luiz.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A evicção progressiva da fraca moeda senhorial ou eclesiástica Assim, com mínimos empregos de capital, podem levar-se
em proveito da moeda real de bom quilate, o frequente recolhi- avante negócios muito importantes, em geral lucrativos, por vezes
mento das moedas de ouro e prata, destinado a evitar-lhe a dete- especulativos, justamente na medida em que as reservas são insufi-
rioração e o desgaste, a cunhagem da moeda sã, cujo valor unitário cientes para se enfrentar dificuldades imprevistas.
não varia, favorecem a expansão e a regularidade das trocas.
A coisa é tanto mais notável que, tanto na Inglaterra como na Expansão do Islã
França, vive-se sob o regime do monometalismo de prata. E’ ver-
dade que em 1247 houve a cunhagem, rara e não continuada, dos Na Idade Média, os árabes formaram um vasto Império que
pennies de ouro de Henrique III, imitando o escudo de ouro, igual- passou a rivalizar com o Império Bizantino (ou Império Romano do
mente raro, de São Luiz, e depois o pequeno real do início do reina- Oriente) e o Império Persa. A rápida expansão dos árabes, que cons-
do de Filipe IV; - a cunhagem, mais abundante, após 1295, da massa tituiu um dos principais aspectos da História Medieval, resultou da
de ouro, enfraquecida, aliás, a 21 quilates, também foi seguida de unificação política e religiosa da Arábia, efetuada por Maomé, que
interrupção bastante longa. Praticamente, as únicas espécies que lançou as bases da fundação do primeiro Estado nacional árabe.
circulam abundantemente são as moedas italianas, que têm por
modelo o florim de Florença. Nesse regime de moeda estável efe- Península Arábica
tua-se uma elevação dos preços lenta mas contínua, fator poderoso A Península Arábica é uma região desértica em sua maior par-
de expansão em uma economia de lucro. te. Fica localizada entre o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. Apesar
Os únicos lesados são os rendeiros, isto é, os senhores de bens
do aspecto árido da região, os diversos oásis propiciaram o surgi-
de raiz cujos lucros fixos perdem o seu poder aquisitivo — e ainda,
mento de postos caravaneiros, além de algumas cidades situadas
muito fracamente, a maior parte dos pagamentos de rendas que se
na proximidade da costa e dos portos.
fazem em bens naturais. Inversamente, o produtor vê aumentar de
A condição geográfica da região não despertou o interesse dos
volume sua margem beneficiária, já que os salários e os produtos
artesanais estão sempre em atraso em relação à alta dos preços grandes impérios da antiguidade, como o romano.
na produção. Na Normândia, de 1180 a 1260, os preços agrícolas e
o aluguel da terra aumentaram de 50%; ao passo que na Inglater- Religião na Península Arábica
ra, de 1250 a 1300, a elevação dos salários limita-se a 15%. Lucros A palavra islamita quer dizer “submisso a Deus” e muçulma-
aumentados, isto é, criação contínua de capital novo que pode ser no significa “crente. Os árabes acreditavam em espíritos (djinns),
reempregado, pelo menos parcialmente, em novos negócios. representados por árvores e pedras, e em uma infinidade de divin-
A exploração dos solares do priorado-catedral de Cantuária, dades subordinadas a um ser superior - Alá (Deus, a divindade). O
entre 1285 e 1318, produz um lucro líquido global de £ 22.446. Uma único fator de unidade religiosa era o santuário existente na cidade
vez amortizadas as antigas dívidas (20,6%), reguladas as despesas de Meca, a Caaba, em cujo interior era guardada uma Pedra Negra,
de luxo como o embelezamento da catedral (9,3%) e pagos os pe- reverenciada por todos os árabes que para lá se dirigiam em pere-
sados encargos da fiscalização real e papal (46,4%), restam ainda, grinação. Ali estavam também representados os ídolos das diversas
23,7% dessa quantia para investimentos de capital, compras de tribos da Arábia, que todos os anos eram visitados pelos peregrinos
terras, trabalhos de secamento e de drenagem, melhoramento das que aproveitavam para realizar suas práticas comerciais.
construções de exploração. Disso resulta que o lucro bruto, em ou- Com o tempo, Meca ganhou importância e tornou-se um gran-
tros termos, o volume dos negócios, aumenta de 25% em cerca de de centro comercial e parada obrigatória de caravanas e viajantes.
trinta anos. Também resulta que, com um estoque de metais pre- Aos habitantes de Meca interessavam, sobretudo, as romarias que
ciosos e um número de cunhos monetários estreitamente limitados, se realizavam ao final de cada ano, pois dinamizavam as trocas e
ainda não se sente, por volta do ano de 1300, a fome monetária que enriqueciam a cidade. Sua única grande rival era Yatreb, velha cida-
causará devastações pouco mais tarde. E’ que a velocidade de cir- de situada em um oásis, 350 quilômetros ao norte de Meca. Desse
culação das espécies é mais importante que o seu número global. afluxo de beduínos viviam os grandes comerciantes pertencentes
Não há dúvida de que elas não circulam rapidamente. Apenas a ou- à tribo dos coraixitas, que controlavam o santuário da cidade e o
rivesaria representa uma imobilização temporária, porém do metal poder político local.
precioso, pois ela é frequentemente empenhada para se liquidarem
créditos, por um processo dispendioso, aliás. Basta apenas lembrar- Maomé
mos as várias formas de crédito geradoras de capital: hipoteca de
bens de raiz, empréstimos sob penhor ou sob cauções (que sempre
Maomé era filho de uma família pobre (haxemitas), porém,
comportam um juro disfarçado, mas que têm o defeito de serem
pertencia à tribo dos coraixitas. Dedicou-se ao trabalho em carava-
feitos a curto prazo), rendas imobiliárias perpétuas ou temporárias,
nas, o que lhe permitiu viajar por toda a Península Arábica e além,
em uma ou mais vidas, empréstimos disfarçados, constituídos, para
os produtores ingleses de lã, pela compra antecipada e a dinheiro conhecendo outros povos do Oriente Médio. Em suas viagens tam-
de sua produção por vários anos. bém entrou em contato com o cristianismo e o judaísmo. Após anos
Ao lado das moedas de ‘metal circulam a moeda fiduciária, re- de trabalho nas caravanas, Maomé casou-se com uma rica viúva,
presentada pelas letras de obrigação, as apólices dos tesouros pú- Kadidja.
blicos, frequentemente negociadas com grande desconto; moeda Após o casamento, Maomé entregou-se aos retiros espirituais
escritural aumentada pelas letras de câmbio e pelas contas corren- e meditações, sem abandonar por completo a atividade profissio-
tes das firmas italianas; e, finalmente, moeda-matéria, criada pelas nal. Segundo ele, teve sucessivas visões do arcanjo Gabriel. O Ar-
operações de compensação entre os negociantes, nas feiras e nos canjo teria confiado a missão de propagar uma nova religião, cuja
principais centros comerciais. essência se consubstanciava na seguinte frase: “Maomé, tu és o
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Profeta do Deus único, Alá.” Maomé converteu primeiramente seus Expansão Muçulmana (Séculos VII-XI)
familiares e, em seguida, tentou convencer os coraixitas, porém,
não conseguindo, teve de fugir de Meca para Yatreb, que desde en- Quando Maomé morreu, deixou Arábia unificada, com sua
tão passou a ser chamada Medina en Nabi, que significa “a Cidade capital em Meca e sob a preponderância política dos haxemitas. A
que recebeu o Profeta”. morte de Maomé não provocou a dissolução do Estado árabe:
A fuga de Maomé com seus vários familiares, ficou conhecida - Primeiro, porque os adeptos do islamismo, em sua maioria,
como Hégira, que marca o início do calendário muçulmano. Apoian- eram crentes apegados à fé e à propagação dos ideais religiosos;
do-se nos habitantes de Medina. Maomé deu início à Guerra Santa - Segundo, porque surgiram de imediato dois homens, Abu
contra Meca, atacando suas caravanas. O prestigio de Maomé cres- Bekr e Omar - os dois primeiros califas - que souberam assumir a
ceu com suas vitórias e, com o apelo dos beduínos, marchou contra sucessão e a herança de Maomé, exercendo autoridade civil, mili-
Meca, destruindo os ídolos da Caaba, declarando sagrado o recinto tar e religiosa. Um ano após a morte de Maomé, Abu Bekr conse-
do santuário e implantando definitivamente o monoteísmo. Nesse guiu eliminar os focos de resistência locais e consolidar a unificação
ano de 630, nasceu o Islã. da península. A expansão islâmica, iniciada imediatamente após a
Maomé passou os últimos anos de sua vida convertendo os de- morte de Maomé, foi estimulada por diversos fatores:
mais árabes pela força das armas. Maomé morreu em 632 d.C., na - Econômico - interesse pelo saque contra os vencidos (“bu-
cidade de Medina, onde construiu a primeira mesquita do Islã, dei- tim”);
xando elaborada a doutrina islâmica, que transmitiu a seus segui- - Social - alta densidade demográfica, provocada pelo cresci-
dores. As transcrições de seus ensinamentos consubstanciaram-se mento da população e pela grande capacidade de miscigenação dos
mais tarde no livro sagrado, o Corão ou Alcorão. A doutrina islâmi- árabes;
ca é um sincretismo fundamentado no cristianismo e no judaísmo, - Político - unificação política alcançada pela unidade religiosa;
bem como nas tradições religiosas da própria Arábia. Prega a crença - Religioso - obediência ao preceito de Guerra Santa contra os
em um único Deus, nos anjos, no paraíso celestial e no Juízo Final. infiéis;
Impõe aos fiéis como princípios essenciais do dogma: peregrinar - Psicológico -atração exercida pelo paraíso muçulmano, que
à Meca, pelo menos uma vez na vida; dar esmolas; jejuar no mês prodigalizava recompensas materiais.
do Ramadã; orar e pronunciar a profissão de fé cinco vezes ao dia,
voltados em direção a Meca; fazer a Guerra Santa (jihad), que re- Consideram-se ainda elementos propulsores da expansão ára-
presentava uma obrigação ocasional. As tradições sobre a vida de be, facilitando suas conquistas, a fraqueza dos Impérios Bizantino e
Maomé foram reunidas por seus seguidores em outro livro, chama- Persa e a instabilidade política dos reinos germânicos do Ocidente.
Omar foi o principal califa da Dinastia Haxemita. Conquistou a
do Suna (Tradição), utilizado sempre que se tratava de achar argu-
Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
mentos para impor uma decisão ou definir uma norma de governo
A substituição dos califas haxemitas pelos omíadas, em 660,
para a qual o Corão não fornecesse elementos.
levou a duas mudanças: a capital foi transferida para Damasco, na
Síria, e as conquistas voltaram-se para o Ocidente. Avançando de
Jihad
forma fulminante, os maometanos conquistaram a África do Nor-
te, a Península Ibérica e até o sul da Gália, onde foram detidos pe-
É um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho.
los francos, liderados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers; as
É muitas vezes considerado um dos pilares da fé islâmica, que são
ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília também caíram sob dominação
deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão muçulmana Os árabes passavam a deter o controle sobre o Mar
a Deus. Mediterrâneo. Em 750, em Damasco, um golpe político afastou os
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos muçulma- omíadas do poder. Nesse momento, ascendia a Dinastia Abássida,
nos de disseminar a fé muçulmana. É também utilizado para indicar formada por parentes de Maomé, instalando a capital em Bagdá.
a luta pelo desenvolvimento espiritual. O Islamismo, é a religião que mais cresce atualmente no mun-
Ao contrário do que muitas vezes é dito, jihad não significa uma do, mais de 1/4 da população Mundial é Muçulmana, segundo o
guerra santa, implica mais uma luta interna com o objetivo de me- último censo Mundial realizado pela ONU.
lhorar o próprio indivíduo ou o mundo à sua volta. Considera-se países muçulmanos aqueles em que os muçulma-
Grupos extremistas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico apro- nos representem mais de 50% da população e a maioria deles são
priaram-se do termo como justificativa para as ações contra os con- membros da Organização do Congresso Islâmico, que foi fundado
siderados “infiéis” (normalmente países ocidentais, como Europa e em 1969, com sede em Jedah na Arábia Saudita. Os presidentes e
Estados Unidos) os reis destes países se reúnem a cada 3 anos.
A unidade do mundo muçulmano foi quebrada após a morte de
Maomé, com o surgimento de vários movimentos, entre os quais se
destacam os sunitas e os xiitas. A divergência inicial entre os dois OS MUÇULMANOS. OS BIZANTINOS
grupos reside na questão do direito de sucessão ao governo do Islã.
Segundo o Corão, somente os parentes de Maomé poderiam subs-
titui-lo no comando da fé. Mas na Suna não havia a mesma afirma- IMPÉRIO BIZANTINO
ção sobre a questão. Assim, os xiitas constituíram o grupo funda-
mentalista que aceita apenas as regras estabelecidas pelo Corão, O Império Bizantino foi criado no século IV, quando Teodósio
ou seja, que apenas os descendentes de Maomé possuem o direito determinou a divisão do império Romano em duas partes: Ociden-
de governo, enquanto os sunitas abraçaram a Suna e iniciaram um tal, com capital em Roma; e Oriental, com capital em Constanti-
processo de disputa sucessória com os xiitas. nopla.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Com a crise no sistema escravista e as invasões bárbaras no Arquitetura


final do século V, o Império Romano do Ocidente entrou em declí-
nio e encontrou seu fim. Enquanto a parte ocidental sucumbia, o Na arquitetura bizantina a construção de igrejas ganhou gran-
Império do Oriente manteve-se por aproximadamente mil anos, até de destaque, facilmente compreendido pelo o caráter teocrático
ser conquistado pelos turcos. (onde o imperador é tratado como divindade) do Império Bizanti-
Quando o Imperador Constantino escolheu Bizâncio como sede no. A necessidade de construir Igrejas espaçosas e monumentais,
da Nova Roma, a antiga colônia grega tinha o aspecto de um sim- determinou a utilização de cúpulas sustentadas por colunas, onde
ples povoado. haviam os capitéis, trabalhados e decorados com revestimento de
Constantino trouxe arquitetos, artesãos e valiosas obras de ouro, destacando-se a influência grega.
arte das mais diversas regiões do Império Romano, construindo a A Igreja de Santa Sofia é o maior exemplo dessa arquitetura,
cidade num ritmo frenético e dando-lhe o esplendor de uma grande onde trabalharam mais de dez mil homens durante quase seis anos.
capital: a cidade de Constantino - Constantinopla. Por fora o templo era muito simples, porém internamente apresen-
Terminada no ano de 330, Constantinopla resultou da fusão tava grande suntuosidade, utilizando-se de mosaicos com formas
de vários elementos, entre latinos, gregos, orientais e cristãos, com geométricas, de cenas do Evangelho.
uma população bastante diversificada, unida pelo aspecto religioso.

Justiniano e o apogeu do Império

Petrus Sabatus era filho de camponeses e sobrinho do impe-


rador Justino I. Em 502 foi trazido para a corte, preparado para dar
sequência a Dinastia Justiniana, já que o imperador não teve filhos.
Petrus teve seu nome mudado para Flavius Justinianus, e assumiu o
trono no ano de 527.
Seu governo foi marcado pelo controle da diplomacia, das fi-
nanças, das leis e dos negócios militares, cercando-se de uma auto-
ridade absoluta e dando ao seu poder caráter quase sagrado.

Os conflitos religiosos

As preocupações religiosas atingiram proporções exageradas


em Constantinopla. O povo discutia religião com ardor, muitas ve-
zes questionando os dogmas básicos do cristianismo e dissimulan-
do fortes competições políticas. O imperador Justiniano, consciente
dessas dissensões, procurou unificar a religião ortodoxa grega, sub-
metendo a Igreja a sua autoridade e perpetuando o cesaropapismo,
largamente utilizado pelos seus sucessores.
A construção da Igreja de Santa Sofia pretendia demonstrar a
preocupação do imperador em tutelar a igreja ao poder do Estado.
Procurando evitar que o divisionismo religioso afetasse a uni-
dade do império, combateu fortemente as heresias, as interpreta-
ções, doutrinas ou sistemas teológicos rejeitados como falsos pela
Igreja. Entre as principais heresias estavam:
O Arianismo, doutrina de Ário, padre cristão de Alexandria
(Egito), que afirmava que há apenas um Deus e que este não seria
Jesus. Jesus é filho de Deus e não o próprio Deus para os adeptos do
arianismo. Seria um superior ao homem, mas não Deus; As imagens acima mostram a Catedral de Santa Sofia. No ex-
O Nestorianismo, doutrina ligada a Nestório, monge de Antio- terior, destaque para a sua grande cúpula. O interior apresenta
quia, que fazia a distinção entre as naturezas divina e humana de elementos suntuosos, compostos de mosaicos. Após a queda de
Cristo, o que consequentemente negava a maternidade divina de Constantinopla, a igreja foi transforma em mesquita, e atualmente
Maria. é um museu. Está localizada na antiga cidade de Constantinopla,
O Monofisismo, cujos membros, concentrados principalmente atualmente Istambul, capital da Turquia.
na Síria e no Egito, acreditavam que Cristo tinha apenas uma natu- Na cidade italiana de Ravena, conquistada pelos bizantinos,
reza divina, e não humana e divina ao mesmo tempo, como afirma- desenvolveu-se um estilo sincrético, fundindo elementos latinos e
va a Igreja Católica Romana ao defender a doutrina da Santíssima orientais, onde se destacam as Igrejas de Santo Apolinário e São
Trindade Vital.
Graças à forte influência da imperatriz Teodora, adepta do mo-
nofisismo, Justiniano tentou conciliar os interesses dessa heresia
com a ortodoxia defendida pela igreja, evitando dessa forma um
choque direto com a Igreja de Roma.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mosaicos

O Mosaico foi uma forma de expressão artística de grande importância no Império Bizantino, principalmente durante seu apogeu, no
reinado de Justiniano, consistindo na formação de uma figura com pequenos pedaços de pedras colocadas sobre o cimento fresco de uma
parede. A arte do mosaico serviu para retratar o Imperador ou a imperatriz, destacando-se ainda a figura dos profetas.

Mosaico representando a figura de Jesus Cristo, com o imperador Constantino IX ao seu lado, como forma de enaltecer sua figura.

A reconquista do Ocidente

A política externa de Justiniano foi baseada na restauração das antigas fronteiras do Império Romano, por meio de guerras ofensivas.
Para garantir seu objetivo, estabeleceu uma “paz perpétua” com os persas, antigos inimigos do lado oriental. O expansionismo teve início
com a reconquista da África sob domínio dos vândalos. Seu êxito foi possível em razão não apenas da eficiência militar do general Belisá-
rio, com um exército de 15 mil soldados, como também da crise política em que se encontrava o reino vândalo, dividido em duas facções
religiosas: o arianismo e o cristianismo.
A relativa facilidade da conquista africana estimulou Justiniano a investir contra os ostrogodos na Itália. As divisões políticas existentes
no Reino Ostrogótico facilitaram a vitória dos exércitos bizantinos, comandados pelos generais Belisário e Narses.
Fundou-se na Itália o Exarcado de Ravena, centro das decisões bizantinas na Península Itálica.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em consequência do rompimento da “paz perpetua’, Justiniano voltou a concentrar seus esforços no Oriente, suspendendo tempo-
rariamente o expansionismo ocidental. Após o retorno da paz com os persas, os exércitos bizantinos conquistaram a Espanha meridional,
derrotando os visigodos.
O Império Bizantino chegava, dessa forma, ao limite máximo de sua expansão geográfica e militar. Após a morte de Justiniano, as
regiões conquistadas na Espanha e na África caíram sob o domínio dos árabes, que também conquistaram o Egito, a Síria, a Palestina e a
Mesopotâmia. Era o fim do sonho de reconstrução do Império Romano.

Declínio do Império Bizantino

A morte de Justiniano foi recebida pela população de Constantinopla com alegria, na esperança de viver um período de paz e diminui-
ção da excessiva carga tributária. Seus sucessores enfrentaram profundas dificuldades na condução da administração, o que fez com que
o Império Bizantino entrasse em um lento processo de decadência
A Dinastia dos heráclidas (610 a 717), sucessores de Justiniano, enfrentou o expansionismo do Islão, perdendo vários de seus territó-
rios. As constantes invasões e insurreições ocorridas no vasto império necessitavam de um poderoso exército, comprometendo as frágeis
finanças do reino.
Após um século de crise, a Dinastia Isáurica (717 a 802), fundada pelo imperador Leão III deu início a uma fase de reorganização
do Império, que se distanciou definitivamente das estruturas ocidentais, tornando-se cada vez mais um Estado grego-asiático. É nesse
sentido que surgiu o movimento Iconoclasta. Iconoclasta é nome dado ao membro do movimento de contestação à veneração de ícones
religiosos. O termo iconoclastia significa literalmente “quebrador de imagem” e tem origem no grego eikon (ícone ou imagem) e klastein
(quebrar). O movimento iconoclasta provocou forte reação da população e do papado romano, uma vez que o imperador proibiu a repre-
sentação e o culto as imagens sagradas, ordenando sua destruição.
Além das crises internas, o Impero continuava a sofrer ameaças em suas fronteiras. A crise econômica agravou-se com o desenvol-
vimento das repúblicas mercantis italianas, que disputavam com Constantinopla o monopólio do comercio mediterrâneo. A fragilidade
política permitiu uma quase completa autonomia das grandes propriedades, fragmentando cada vez mais o poder central, até a invasão
de Constantinopla pelo turcos otomanos, em 1453, pondo fim ao Império Romano do Oriente.

O Reino da Macedônia3

A Macedônia localizava-se na península dos Bálcãs, também chamada de península Balcânica, a nordeste da Grécia. A maioria da
população era formada por camponeses livres, cujas principais ocupações eram o cultivo de terras e a criação de gado. A língua falada na
Macedônia era parecida com a falada na Grécia, mas não era exatamente a mesma.

3 VILELA, TÚLIO. Alexandre, o Grande: Como o rei da Macedônia construiu seu império. História Geral, UOL Educação. https://bit.ly/2npOyA0

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Apesar das semelhanças culturais, os antigos gregos viam com A Conquista do Egito
desprezo o povo da Macedônia. Na visão preconceituosa dos anti-
gos gregos, os macedônios não passavam de montanheses ignoran- Em 334 a.C., Alexandre liderou um exército de milhares de
tes que pouco diferiam dos povos chamados de “bárbaros”. Em 359 homens e atravessou a Ásia Menor. Esse exército era formado por
a.C., aos 23 anos de idade, Filipe tornou-se rei da Macedônia, com macedônios e gregos. Além dos soldados, Alexandre também levou
o nome de Filipe 2º. sábios da época para estudar a fauna e flora local e cartografar o
Antes disso, ele havia passado três anos como refém em Tebas, terreno. O interesse de Alexandre pela ciência foi estimulado pelas
uma cidade grega, onde aprendeu as mais avançadas táticas milita- aulas que teve com seu mestre.
res da época e testemunhou as violentas batalhas entre as cidades Durante a campanha, o jovem rei conquistou o litoral da Ásia
gregas. Filipe 2º aplicou tudo o que aprendeu em Tebas para orga- Menor, marchou contra a Síria e derrotou o exército persa na bata-
nizar um exército poderoso e bem treinado. lha de Isso. Também dominou Tiro, cidade portuária que era consi-
derada inconquistável. Após a conquista dessa cidade, milhares de
O exército de Filipe da Macedônia pessoas foram mortas e um e outras milhares foram escravizadas,
A cavalaria do exército de Filipe 2º era toda formada por mem- pois Alexandre punia com a morte ou com a escravidão a população
bros da nobreza (o grupo privilegiado) enquanto que a infantaria (o das cidades que ousassem resistir.
grupo de soldados que lutam a pé, sem montaria) era formada por Depois disso, o exército de Alexandre avançou rumo ao Egito,
homens livres pobres. Ao transformar a Macedônia numa potência onde não encontrou resistência. Para os egípcios, Alexandre foi con-
militar, Filipe 2º deu início à conquista da Grécia, que já se encontra- siderado um libertador, porque os livrou do domínio persa. Por isso,
va enfraquecida em decorrência da Guerra do Peloponeso. os sacerdotes egípcios manifestaram sua gratidão fazendo de Ale-
O ateniense Demóstenes liderou uma união das cidades gregas xandre um novo faraó. Vale lembrar que, no Egito, os faraós eram
contra a invasão macedônia. No entanto, essa união não foi sufi- considerados deuses, o que dá uma ideia de como Alexandre era
ciente para vencer o exército macedônio, que era muito mais bem visto em sua época.
treinado, e os gregos acabaram sendo derrotados definitivamente Alexandre aproveitou a ocasião e fundou uma nova cidade no
em 338 a.C. na batalha de Queroneia, nome de outra cidade grega. Egito, Alexandria, que veio a se tornar local de uma das maiores
bibliotecas da Antiguidade e um importante centro cultural nos sé-
Guerra contra a Pérsia culos seguintes.

Após ter conquistado a Grécia, Filipe 2º começou a planejar A Queda do Império Persa
uma guerra contra a Pérsia, região que corresponde mais ou menos
ao Irã atual. Os persas eram donos de um grande império e vários Do Egito, Alexandre marchou com seus soldados em direção à
povos estavam sob o seu domínio. Os tesouros dos reis persas e as Mesopotâmia. O exército persa era mais numeroso que o de Ale-
terras férteis desse império atraíram o interesse do rei macedônio. xandre e contava com cavalaria, elefantes (que eram usados nos
No entanto, Filipe 2º foi assassinado durante a festa de casa- campos de batalha mais ou menos como os atuais tanques de guer-
mento de sua filha, quando já havia iniciado os preparativos para ra) e carruagens com rodas cujos eixos tinham lâminas pontiagudas.
a guerra contra os persas. O assassino era supostamente um ex- Quando essas carruagens corriam nos campos de batalha, es-
-amante rancoroso (tanto na Grécia quanto na Macedônia, era sas lâminas giravam junto com as rodas e cortavam os soldados ini-
socialmente aceito que um homem tivesse amantes de ambos os migos que estivessem no caminho. Apesar disso tudo, o exército
sexos). persa acabou derrotado. Uma das razões para a derrota foi o fato de
Também se suspeitou que Alexandre tivesse tramado o assas- que os persas lutavam desmotivados: o rei Dario 3º havia obrigado
sinato do próprio pai. Já segundo o historiador grego Plutarco, o os homens a se alistarem para a guerra.
assassinato foi tramado pelo recém coroado rei da Pérsia, Dario 3º. O rei persa fugiu. Depois disso, o exército de Alexandre passou
pelas cidades da Babilônia e de Persépolis. Essa última foi incen-
Alexandre Sobe ao Trono diada por ordem de Alexandre para vingar a destruição de Atenas
pelos persas mais de 150 anos antes. Quando Alexandre finalmen-
Com a morte do pai, Alexandre, que tinha então 20 anos, se te alcançou Dario, este acabou morto por membros da sua própria
tornou o novo rei da Macedônia. Antes de se tornar rei, o jovem corte.
Alexandre já tinha experiência política e militar. Aos 16 anos, quan-
do o pai liderou um ataque contra a cidade de Bizâncio (atual Istam- Ambição sem Limites De Alexandre
bul, na Turquia), em 340 a.C., Alexandre assumiu temporariamente
o reino da Macedônia. Alexandre também auxiliou o pai na batalha A ambição de Alexandre não conhecia limites. Não bastassem
de Queroneia, liderando a cavalaria. as conquistas já realizadas, ele decidiu invadir a Ásia Central, atra-
Apesar de violento, Alexandre também era culto e sofisticado. vessando o que hoje é o Afeganistão em direção ao norte da Índia.
Ele adquiriu uma sólida formação cultural graças às aulas que rece- A resistência da população local foi muito forte. Somente após três
beu de Aristóteles, um dos maiores filósofos da Antiguidade. Aris- anos de luta e massacres o exército de Alexandre conseguiu con-
tóteles estudou na Academia de Platão, importante filósofo grego. quistar uma pequena parte da região.
Foi Filipe 2º quem confiou a educação de Alexandre aos cuidados Alexandre pretendia penetrar ainda mais no território da Índia,
de Aristóteles. mas os seus soldados, tanto gregos quanto macedônios, estavam
cansados de guerras intermináveis e difíceis e se recusaram a pros-
seguir. A contragosto, em 325 a.C, Alexandre se viu obrigado a aban-
donar seus planos de novas conquistas.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como resultado de todas essas campanhas, Alexandre criou Textos de autores gregos e romanos, que nos séculos anterio-
um império que se estendia da Grécia ao rio Indo. Ele não voltou res encontravam-se sob o controle da Igreja, foram recuperados pe-
para a Macedônia, permanecendo na Babilônia. Imitando os anti- los estudiosos laicos. Obras de arte, templos e palácios, objetos de
gos reis persas, ele cercou-se de luxo e até ordenou que seus nobres decoração e peças variadas da Antiguidade clássica passaram a ser
se ajoelhassem diante dele e beijassem sua mão. a principal referência de pintores, escultores, decoradores e arqui-
Em 323 a.C, aos 33 anos incompletos, Alexandre morreu, viti- tetos da península Itálica, a partir do século XV.
mado por uma febre. Seus generais começaram a disputar o poder Como o ser humano estava no centro das atenções, tudo o que
entre si. O vasto império acabou se dividindo em reinos menores, se referia a ele deveria ser valorizado. Difundiu-se entre os estu-
dos quais os mais importantes eram os da Macedônia, da Síria e do diosos a ênfase na procura de explicações racionais (baseadas na
Egito. Os generais de Alexandre se tornaram os governantes desses razão, não na fé) para os fatos da natureza.
reinos. Essa corrente de pensamento, conhecida como racionalismo,
contrariava a ideia de que a Igreja e os livros sagrados seriam su-
O Legado de Alexandre, O Grande ficientes para responder a todas as dúvidas humanas. A partir da
península Itálica, a difusão do humanismo pelo continente europeu
Alexandre contribuiu para a difusão da cultura grega no Orien- deu origem ao Renascimento, um movimento ainda mais amplo,
te. Suas conquistas aproximaram Ocidente e Oriente, dando origem voltado à renovação intelectual e artística, que alcançou várias áre-
a uma nova cultura, a helenística, resultado da mistura das culturas as do conhecimento humano.
ocidental e oriental. Em grande parte, essa mistura foi estimulada
pelo próprio Alexandre, que além de ser tolerante em relação à re- Política e Ciência
ligião e cultura dos povos conquistados, incentivava que os homens A principal obra de ciência política do Renascimento foi O Prín-
do exército se casassem com mulheres orientais. Ele próprio deu o cipe, de 1513, escrita pelo florentino Nicolau Maquiavel (1469-
exemplo, casando-se com três princesas persas. Ele teve dois filhos: 1527). No livro, o príncipe (ou rei, governante) não deveria se deter
um com uma de suas esposas e o outro com uma de suas concubi- diante de nenhum obstáculo na luta para conquistar ou conservar o
nas. controle de um Estado, mesmo que isso implicasse o uso da força e
Por fim, a figura de Alexandre acabou servindo de inspiração da violência contra seus adversários.
para outro líder militar que viveu depois dele: Júlio César, o general Com o Renascimento, a exploração científica do corpo humano
romano que fundamentou as bases do que veio a se tornar o Im- e a prática de dissecação de cadáveres ganharam impulso: órgãos
pério Romano. até então desconhecidos foram observados e descritos e suas fun-
ções foram esclarecidas.

IDADE MODERNA: RENASCIMENTO E HUMANISMO Heliocentrismo x Geocentrismo


Segundo a doutrina da Igreja católica, a Terra (geo, em grego)
era o centro do Universo, e o Sol e a Lua gravitavam em seu redor.
Humanismo e Racionalismo Essa teoria é conhecida como geocentrismo. Levado pelo espírito
A reativação do comércio e a maior circulação de dinheiro en- investigativo do Renascimento, o astrônomo polonês Nicolau Co-
tre os séculos XI e XIV provocaram uma reforma educacional e a pérnico (1473-1543) contestou essa concepção e propôs o helio-
formação de escolas e universidades independentes do controle da centrismo, afirmando que a Terra girava ao redor do Sol (hélio, em
Igreja, que se preocupava em formar teólogos, médicos e advoga- grego).
dos4. As ideias de Copérnico foram retomadas por outros cientistas,
As novas escolas e universidades que surgiram naquele mo- nas décadas seguintes, como Giordano Bruno (1548-1600), Gali-
mento afirmavam a importância central do ser humano, conside- leu Galilei (1564-1642) e Johannes Kepler (1571-1630). Mais tar-
rado a obra suprema de Deus. Conhecida como antropocentrismo, de, apoiado no trabalho desses cientistas, em 1687 o inglês Isaac
essa concepção era coerente com o princípio grego segundo o qual Newton (1643-1727) publicou o livro Principia, que lançou os fun-
“o ser humano é a medida de todas as coisas”. O antropocentrismo damentos da Física moderna.
se chocava com a orientação das universidades controladas pela
Igreja, nas quais o pensamento era dominado pelo teocentrismo, Arte
para o qual Deus (Théos, em grego) é a fonte de todo o conheci- Um dos primeiros pintores a dar caráter artístico à sua ativida-
mento e deve estar no centro da reflexão filosófica. de e a assinar suas obras foi Giotto di Bondone (1267-1337), nasci-
O centro principal de reflexão nas novas universidades pas- do na península Itálica. Ele inovou não apenas ao retratar pessoas,
sou a ser a atividade humana e suas diversas ramificações. Dessa animais e objetos com grande realismo, mas também por ter intro-
forma, foram priorizadas disciplinas voltadas para os estudos hu- duzido noções de profundidade na pintura.
manos, como Poesia, Filosofia, Gramática, Matemática, História e Dessa forma, abriu caminho para a introdução da perspectiva,
Eloquência, além daquelas ligadas ao antigo Direito Romano. Esse desenvolvida mais tarde por Filippo Brunelleschi (1377-1446), Leon
movimento de ideias, conhecido como Humanismo, também pro- Battista Alberti (1404-1472) e Leonardo da Vinci.
curou resgatar o conhecimento e as artes da Antiguidade clássica e Utilizando princípios matemáticos, Brunelleschi criou o concei-
atingiu outras áreas do saber, como Medicina, Astronomia, Filoso- to de perspectiva exata: quanto mais distante um objeto estivesse
fia, Literatura e Artes. em relação ao observador, tanto menor deveria ser representado
na tela, para reproduzir fielmente a realidade. A perspectiva exigia
4 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo Se- do pintor conhecimentos não só de Geometria e Matemática, mas
riacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática. também de ótica. Além disso, ele deveria saber reproduzir as va-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

riações de cor, de luz e sombra que a realidade apresentava. Com Desde o final da Idade Média, a formação das monarquias cen-
todas essas mudanças, pintores, escultores e arquitetos passaram a tralizadas na Europa fragilizou as relações entre os reis e a Igreja.
ser vistos como verdadeiros artistas, não mais como artesãos. Além do domínio espiritual sobre a população% o clero detinha só-
lido poder político-administrativo sobre os reinos. Roma - isto é, o
Os Mecenas papa - recebia tributos feudais provenientes das vastas extensões
Interessadas em se impor socialmente perante a nobreza e o de terra controladas pela Igreja em toda a Europa.Com o advento
clero, as grandes famílias de mercadores e banqueiros passaram a dos Estados centralizados essa prática passou a ser questionada pe-
custear o trabalho de pintores, escultores e arquitetos e a exibir em los monarcas.
seus palacetes as obras encomendadas a eles. Esses protetores das Além disso, a Igreja enfrentou problemas com parte da burgue-
artes - encontrados também na nobreza e no alto clero - ficaram sia ascendente. A expansão comercial encontrava alguns obstáculos
conhecidos como mecenas. Com o mecenato, arte, riqueza e poder na mentalidade religiosa, que condenava a usura - cobrança de ju-
ficaram intimamente associados. ros por empréstimos - e defendia o “justo preço” das mercadorias,
Em Florença, por exemplo, o mecenas mais importante era a ou seja, produção e comercialização não pelas leis de mercado, mas
poderosa família Medici, que influenciou a vida política da cidade pelo que se considerava a correta remuneração do trabalho, sem
por quase três séculos. Cosimo de Medici (1389-1469), o patriarca, a obtenção de lucros considerados abusivos. A atividade bancária,
e seus filhos financiaram as atividades de diversos artistas. Entre por exemplo, ficava comprometida na medida em que os emprésti-
os favorecidos estava Michelangelo Buonarroti (1475-1564), um mos a juros eram considerados pecado.
dos maiores artistas de todos os tempos, que fez diversas escul- Ao mesmo tempo, a Igreja enfrentava uma crise interna, pro-
turas para a capela dos Medici e trabalhou para o Vaticano, tendo vocada pela desmoralização de parte do clero: abusos e poder ex-
redesenhado a Igreja de São Pedro e executado as pinturas do teto cessivo de vários de seus membros contradiziam abertamente suas
da Capela Sistina. Outros importantes artistas renascentistas foram pregações moralizadoras. Embora condenassem a usura e descon-
Sandro Botticelli (1444-1510), Rafael Sanzio (1483-1520), Ticiano fiassem do lucro, muitos religiosos os praticavam de forma cons-
Vecellio (1490-1576) e Paolo Veronese (1528-1588). tante.
O comércio de bens eclesiásticos, o uso da autoridade para ga-
Literatura rantir privilégios, o desrespeito ao celibato e até a venda de cargos
Uma renovação no campo das letras vinha ocorrendo na Euro- eclesiásticos não eram raros na Igreja desde o final da Idade Média.
pa desde os últimos séculos da Idade Média, devido principalmente O maior escândalo talvez fosse a venda de indulgências.
ao trabalho de três escritores da península Itálica: Dante Alighieri As indulgências eram uma velha prática da Igreja que, original-
(1265-1321), Francesco Petrarca (1304 -1374) e Giovanni Boccac- mente, consistiam em penitências que os fiéis deveriam assumir
cio (1313-1375). para compensar seus pecados. No final da Idade Média, esse con-
A (re)invenção, por Johannes Gutenberg, dos tipos móveis de ceito foi distorcido e as penitências foram substituídas por paga-
impressão no século XV foi um fator que contribuiu para consolidar
mentos a religiosos (incluindo a sede papal), tornando-se comum a
o surgimento de novas formas literárias e permitiu a publicação de
venda de indulgências por alguns membros do clero.
livros com grandes tiragens. Iniciada na península Itálica, essa reno-
vação literária logo se espalhou para países como Espanha, França,
Reforma Luterana
Portugal e Inglaterra.
O grande rompimento religioso teve início na região da atu-
Em Portugal se destacaram o poeta Luís de Camões (1503-
al Alemanha, dominada pelo Sacro Império Romano-Germânico.
1580), com a forma da epopeia greco-latina em Os lusíadas, e o
A Igreja era ali particularmente poderosa, possuindo cerca de um
dramaturgo Gil Vicente (cerca de 1465-1536), com peças satíricas
terço do total de terras. A nobreza alemã, por essa razão, estava
como a Farsa de Inês Pereira e o Auto da barca do inferno. Na Es-
panha, surgiu o escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de ansiosa por diminuir a influência do clero, além de cobiçar suas pro-
Dom Quixote e, na Inglaterra, surgiu William Shakespeare (1564- priedades.
1618), considerado por muitos o maior dramaturgo de todos os A Reforma teve início com Martinho Lutero (1483-1546), mem-
tempos e autor de peças como Hamlet, Romeu e Julieta , A megera bro do clero e professor da Universidade de Wittenberg, atual Ale-
domada, Macbeth e Rei Lear. manha. Ele pregava a teoria agostiniana da predestinação, negando
os jejuns e outras práticas apregoadas pela Igreja. Em 1517, esse
monge insurgiu-se contra a venda de indulgências, escrevendo um
REFORMAS RELIGIOSAS documento conhecido como as 95 teses, que radicalizava publica-
mente suas críticas à Igreja e ao próprio sumo pontífice.
Em 1520, o papa Leão X condenou Lutero por meio de uma
Panorama bula, exigindo sua retratação e ameaçando-o de excomunhão. Lu-
tero queimou a bula em público, agravando a situação. Estabele-
As grandes transformações pelas quais passou a Europa no co- ceu-se uma verdadeira crise política, na qual a nobreza alemã se
meço da Idade Moderna não se limitaram ao Renascimento. A Igre- dividiu: uma parte a favor do papa e outra contra.
ja também sofreu um formidável abalo com a Reforma protestante Acolhido por parte da nobreza, Lutero passou a dedicar-se à
e o surgimento de diversas outras Igrejas que, embora cristãs, diver- tradução da Bíblia do latim para o alemão e a desenvolver os prin-
giam frontalmente de certos procedimentos, valores e orientações cípios da nova corrente religiosa. Em 1529, na Dieta de Spira, os
da sede papal de Roma5. nobres alemães e o imperador Carlos V decidiram pela permissão
5 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino. José aos novos princípios de Lutero nas regiões que já professavam as
Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione. Volume 1. teses do teólogo reformista.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As regiões ainda católicas deveriam ser preservadas. Nessa A Reforma de Calvino


reunião, os seguidores de Lutero aceitaram as restrições de atuação A Suíça separou-se do Sacro Império em 1499 e a Reforma pro-
sob protesto - razão pela qual os cristãos reformistas passaram a ser testante teve início em 1529, sob a liderança do sacerdote e teólogo
denominados protestantes. No ano seguinte, em 1530, na cidade Ulrich Zwinglio (1484-1531). As reações à nova doutrina provoca-
de Augsburgo, teólogos luteranos apresentaram uma declaração ram uma violenta guerra civil, na qual o próprio Zwinglio foi morto.
redigida por Filipe Melanchthon (1497-1560) com o registro de suas Pouco depois, em 1536, chegou a Genebra o francês João Calvino
convicções - denominada Confissão de Augsburgo que fundamen- (1509-1564), intelectual humanista contestador dos valores e prá-
tou a doutrina luterana. ticas da Igreja Católica, fato que o fez ser expuIso da França. Em
Seus pontos principais eram: território suíço, logo passou a divulgar suas ideias, fundando uma
— o princípio da salvação pela fé e não pelas obras; nova corrente religiosa.
— a livre leitura da Bíblia, vista como único dogma da nova; As ideias de Calvino fundamentavam-se no princípio da pre-
— a extinção do clero regular (integrantes das ordens religio- destinação absoluta, segundo o qual todos os homens estavam
sas, chamados de frades), do celibato clerical e das imagens religio- sujeitos à vontade de Deus, e apenas alguns estariam, desde o
sas (ícones); nascimento, destinados à salvação eterna. O sinal da graça divina
— a manutenção de apenas dois sacramentos: batismo e eu- estaria em uma vida plena de virtudes, como o trabalho diligente, a
caristia; sobriedade, a ordem e a parcimônia.
— a utilização do alemão, em lugar do latim, nos cultos reli- Dessa forma, a doutrina calvinista exaltava características in-
giosos; dividuais necessárias às práticas comerciais. Suas ideias, portanto,
— a negação da transubstanciação (transformação do pão e estavam mais próximas dos valores burgueses, razão pela qual se
vinho no corpo e sangue de Cristo durante o culto religioso), acei- expandiu rapidamente por toda a Europa - mais do que o luteranis-
tando-se a consubstanciação (pão e vinho representam o corpo de mo - , chegando aos Países Baixos e à Dinamarca, além da Escócia
Cristo); (levado por John Knox, cujos seguidores foram chamados de presbi-
— a separação do poder espiritual do temporal, respeitando as terianos), da França (huguenotes) e da Inglaterra (puritanos).
autoridades seculares do Sacro Império. Inspirado em Lutero, Calvino considerava a Bíblia a base da reli-
gião, não sendo necessária sequer a existência de um clero regular.
Ao subordinar a Igreja às autoridades seculares, Lutero atraiu Criticava o culto às imagens e admitia apenas os sacramentos da
a simpatia de grande parte da nobreza alemã, ampliando o apoio à eucaristia e do batismo.
nova doutrina. Entretanto, as ideias de Lutero inspiraram as revol-
tas camponesas de 1525, dentre as quais se destacaram os anaba- A Reforma Inglesa
tistas, defensores também do batismo de adultos em vez de recém- A Reforma protestante foi desencadeada na Inglaterra pelo rei
-nascidos. Henrique VIII (1491-1547), que obteve com ela vantagens políticas.
Os revoltosos da “Guerra dos camponeses” viram na quebra da O pretexto do monarca inglês para romper com a Igreja católica foi
autoridade religiosa uma possibilidade de romper as amarras da es- a recusa do papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão
trutura feudal, passando a confiscar terras, incluindo as da nobreza. (1485-1536), já que a rainha não lhe deu um herdeiro homem. O
Contavam com vários padres partidários de Lutero, espalhando-se impasse o impedia de se casar com Ana Bolena (1507-1536), uma
pelo Sacro Império, invadindo castelos, templos e assaltando cida- dama da corte. Em resposta, o rei proclamou- se chefe da Igreja
des. Entre os muitos participantes das revoltas camponesas, milha- inglesa e, em 1534, publicou o Ato de Supremacia, criando a Igreja
res foram liderados por Thomas Müntzer dos anabatistas (1489- anglicana. Excomungado pelo papa, reagiu, confiscando os bens da
1525). Igreja. Inicialmente, a Igreja na Inglaterra permaneceu muito se-
Lutero condenou violentamente as rebeliões camponesas e melhante à Igreja católica na doutrina e no cerimonial. Apenas no
anabatistas, pregando a utilização da forca para exterminá-los, governo de Elizabeth I (1533-1603), filha de Ana Bolena e Henrique
além de repelir também a burguesia, pois considerava o dinheiro VIII, é que a Igreja anglicana se consolidaria como uma religião de
um instrumento do demônio para a disseminação do pecado. Com doutrina protestante.
o respaldo de Lutero, que pregava “contra as hordas salteadoras e Também foram incorporados muitos princípios calvinistas,
assassinas dos camponeses”, as autoridades seculares reprimiram combinados com fundamentos católicos, como o culto e a estrutura
violentamente os revoltosos, impondo a ordem e seus poderes. eclesiástica, porém com a negação da autoridade papal e a valoriza-
Estima-se que mais de 100 mil camponeses morreram nesses ção da justificação pela fé.
confrontos. O pároco Müntzer, por exemplo, foi brutalmente tortu-
rado e morto (1525), após a derrota de seus seguidores. As guerras Reforma Católica
religiosas entre os seguidores de Lutero e os setores católicos que A expansão das doutrinas protestantes pela Europa gerou uma
condenavam sua doutrina, tendo à frente o imperador Carlos V, se- reação da Igreja, que procurou reverter o quadro. Além de atuações
guiram-se até 1555, quando foi assinado a Paz de Augsburgo. contrárias à difusão do protestantismo, denominadas contrarrefor-
Por ela foi estabelecido o princípio de que cada governante ma, buscou moralizar o clero, adotando medidas que compuseram
dentro do Sacro império poderia escolher sua religião e a de seus a Reforma católica.
súditos (cujus regis gus religio, que significa “cada príncipe com sua Uma iniciativa pioneira foi a fundação, em 1534, da Companhia
religião”). de Jesus, ordem religiosa criada pelo ex-soldado espanhol Inácio de
Loyola (1491-1556). Organizados em rígida hierarquia e submetidos
a uma disciplina quase militar, os jesuítas, ou “soldados de Cristo”,
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como foram chamados, esforçaram-se em combater o protestantis- te os bandeirantes da Vila de São Paulo, interessados em escravizar
mo por meio do ensino e da expansão da fé católica. Daí derivou o os indígenas das missões, onde viviam reunidos e estavam catequi-
projeto da catequese indígena na América e em outros continentes. zados.
Em 1542, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento, que Como já estavam adaptados ao trabalho agrícola e à manufatu-
reafirmou os princípios católicos, condenando o protestantismo. ra, pela disciplina que lhes era imposta nas missões, esses indígenas
Entretanto, algumas medidas moralizadoras começaram a ser to- eram mais valiosos do que os demais.
madas, como a proibição da venda de indulgências e a criação de Além da ação evangelizadora nas colónias de além-mar, a Con-
escolas para a formação de eclesiásticos. trarreforma também significou, tanto para a Europa quanto para a
No Concílio, também ficou estabelecido o fortalecimento do América, a retomada da Inquisição. Na América espanhola, a Inqui-
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, direcionado ao combate dos sição foi instaurada por um decreto real de 26 de janeiro de 1509.
reformadores e àqueles que fossem apontados como ameaça. Nas O primeiro tribunal da Inquisição hispano-americano entrou em
décadas seguintes, a Inquisição condenou à tortura e à morte mi- funcionamento em Lima (no atual Peru), em 1570, e no México,
lhares de pessoas na Europa e nas colônias de além-mar. em 1571.
Foi criado também o Index, lista de livros proibidos pela Igreja
católica. Dele faziam parte quaisquer obras consideradas contrárias Entretanto, os governos de Portugal e Espanha não agiram
aos princípios da fé, incluindo livros científicos e as Bíblias protes- uniformemente diante das práticas ameríndias. Ao contrário do
tantes. que ocorreu nas colônias espanholas, não foi instalado na colônia
portuguesa um tribunal do Santo Ofício. Aqui, a ação da Inquisição
• Guerras Religiosas assumiu a forma de “visitações do Santo Ofício”, que consistiam na
As mudanças no cristianismo europeu não foram assimiladas vinda de inquisidores de Portugal à colônia para promover procedi-
pacificamente em todos os lugares. Na verdade, as Reformas pro- mentos e processos inquisitoriais nas vilas, sob a jurisdição do Tri-
vocaram guerras religiosas entre os próprios cristãos, pois cada lado bunal de Lisboa. Para ser processada, bastava que uma pessoa fosse
acreditava ser o detentor da verdade. Muitos soberanos aprovei- acusada de heresia, judaísmo, bigamia, feitiçaria, etc.
taram-se do ambiente de disputas provocado pelas Reformas para Quando da abertura de um processo, o acusado seguia para
afirmar seu poder e reduzir ou eliminar a concorrência do poder Lisboa, onde ficava preso e era submetido a interrogatórios, fre-
temporal da Igreja católica. quentemente acompanhado de sessões de tortura para que con-
Quando o soberano era católico, geralmente promovia per- fessasse seu “crime”.
seguições contra os protestantes. De 1618 a 1648, os vários prin- Em menos de uma década de existência o Santo Ofício lusitano
cipados que constituíam o Sacro Império Germânico tornaram-se estendeu seu braço sobre a colônia brasileira. Mas os documentos
um campo de batalha entre cristãos na Guerra dos Trinta Anos. Em mostram que, apesar de importante, o domínio da Igreja sobre a
mentalidade e as práticas dos colonos não era total. Em 1591, quan-
1572, na Franca, sob iniciativa da rainha-mãe, Catarina de Médicis
do ocorreu a primeira visita do Santo Ofício às terras brasileiras,
(1519-1589), os protestantes foram assassinados em massa na Noi-
foram abertos diversos processos contra pessoas denunciadas por
te de São Bartolomeu. A liberdade de culto só foi estabelecida na
desacatar santos, clérigos e sacramentos, cometer práticas sexuais
Franca no final do século XVI.
proibidas e realizar atos de feitiçaria.
Em Portugal e na Espanha, assim como na península Itálica, o
A Inquisição conclamava a população a denunciar os autores
protestantismo não encontrou terreno favorável para desenvolver-
desses “crimes”. Em meio a essa “caça”, muitas pessoas foram de-
-se.
nunciadas por vingança pessoal ou por práticas da cultura indígena,
como rituais de cura. Tudo podia ser visto pela Inquisição como pe-
Consequências das Reformas na América
caminoso ou criminoso. Os bens dos condenados eram confiscados
As Reformas tiveram profundas consequências no continente pela Igreja.
americano. Na América do Norte, por exemplo, a colonização teve o
suporte dos protestantes. Em contrapartida, na América espanhola
e portuguesa o protestantismo não prosperou. GRANDES NAVEGAÇÕES
Nessa região, a Igreja católica fortaleceu sua hegemonia, im-
pedindo por muito tempo a penetração das Igrejas reformadas. Na
América Central e do Sul, a grande aproximação das monarquias O período entre a segunda metade do século XIV e o século XV
portuguesa e espanhola com a Igreja católica tornou suas colónias foi marcado por adversidades na Europa. A Guerra dos Cem Anos
um território aberto para a ação evangelizadora das ordens religio- entre a França e a Inglaterra (1337-1453), a peste negra e a desor-
sas católicas. ganização da produção agrícola, que levou a um surto de fome, ti-
A Companhia de Jesus, criada no bojo da Contrarreforma, veram profundas consequências6.
chegou ao Brasil em 1549. Seria ela a principal força catequizadora Muitas rotas comerciais terrestres foram interrompidas, e a
entre os indígenas, não só na colônia portuguesa, mas também na população do continente diminuiu significativamente. A oferta de
região do atua’ Paraguai. Entretanto, a obra de cristianização das moeda se limitava cada vez mais na Europa, pois os metais precio-
terras portuguesas e espanholas na América contou também com sos eram desviados para o Oriente, em troca de especiarias e outros
outras ordens religiosas, além dos jesuítas. artigos de luxo, e as minas de ouro e prata do continente europeu
Em seu trabalho missionário, os jesuítas entraram muitas vezes se esgotavam.
em conflito com outros setores da sociedade colonial. Um exemplo 6 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino. José
disso foram as desavenças entre eles e os sertanistas, especialmen- Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione. Volume 1.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A falta de moeda prejudicou ainda mais o comércio. Além dis- Colombo chegou ao continente americano pensando ter alcan-
so, o monopólio da lucrativa rota mediterrânea das especiarias, çado as Índias. Por isso, chamou de “índios” os habitantes das novas
exercido pelas cidades italianas, especialmente Veneza, restringia a terras. Somente em 1504 desfez-se o engano, quando o navegador
possibilidade de lucros de outras cidades europeias. Américo Vespúcio (1454-1512) afirmou tratar-se de um novo conti-
Esses fatores levaram o grupo mercantil europeu em formação nente que, em sua homenagem, recebeu o nome de América.
a buscar novas alternativas para expandir o comércio. Uma delas foi A essa altura, portugueses e espanhóis, espalhados pelo Atlân-
a navegação atlântica, que originou o processo de expansão maríti- tico, detinham o monopólio das expedições oceânicas. Seriam se-
ma europeia, conhecido como Grandes Navegações. guidos por outras potências, especialmente a França e a Inglaterra,
A empreitada de enfrentar a desconhecida navegação no ocea- a partir do início do século XVI. Entretanto, os dois reinos ibéricos
no Atlântico exigia grandes investimentos, que estavam muito além já haviam decidido a partilha do mundo antes mesmo que outras
das possibilidades de qualquer cidade europeia isoladamente. Por nações começassem a se aventurar nos novos territórios: em 1493,
isso, a expansão marítima só foi possível onde havia um território com a bênção do papa Alexandre VI (1431-1503), foi editada a Bula
unificado por um poder centralizador. Esse poder adotava quase Intercoetera, substituída no ano seguinte pelo Tratado de Tordesi-
sempre a forma de monarquia centralizada. lhas.
Ambos estabeleciam uma divisão das terras “descobertas e a
As Navegações Portuguesas descobrir” entre a Espanha e Portugal. A bula privilegiava a Espa-
A participação dos portugueses no comércio europeu ganhou nha, e o Tratado de Tordesilhas corrigiu a linha demarcatória, aten-
impulso no início do século XV. A precoce centralização monárquica dendo a apelos dos portugueses. O tratado estipulava que todas as
- com a Revolução de Avis, em 1385 -, que associou o poder político terras “descobertas e a descobrir” a oeste do Meridiano de Torde-
concentrado nas mãos do rei aos interesses do setor mercantil, teve silhas (situado 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde)
papel decisivo na organização das Grandes Navegações portugue- pertenceriam à Espanha, enquanto as terras que ficassem a leste
sas. seriam de Portugal.
Esse contexto foi favorecido pelos estudos náuticos liderados Os demais Estados europeus rejeitaram o tratado e, durante
por dom Henrique, o Navegador (1394-1460). Filho de dom João I muito tempo, ocorreriam disputas pelos territórios recém-conquis-
(1357-1433), que liderou a Revolução de Avis, o infante dom Hen- tados. O monarca francês Francisco I (1494-1547), por exemplo, foi
rique atraiu para sua residência, em Sagres, na região do Algarve, o mais veemente representante. Em 1540, chegou a dizer que “o
sol brilhava tanto para ele como para os outros” e que “gostaria de
navegadores, cosmógrafos, cartógrafos, mercadores e aventureiros,
ver o testamento de Adão para saber de que forma este dividira o
desde o início do século XV.
mundo...”.
O conjunto de conhecimentos ali desenvolvidos viabilizou o
projeto expansionista português, possibilitando o ciclo das Grandes
Mercantilismo
Navegações. As viagens pelo oceano Atlântico, denominadas de ex- Interessados em promover o fortalecimento financeiro do es-
pansão marítima europeia pela historiografia, tiveram como pano tado moderno, os governantes europeus, incluindo também a Ho-
de fundo o estímulo governamental, somado ao interesse do grupo landa, adotaram um conjunto de práticas econômicas conhecidas
mercantil em ampliar sua área de atuação comercial, além do in- como mercantilismo. Vale observar que esse termo não existia na
teresse da Igreja na expansão do cristianismo. Os nobres também época; ele só passou a ser usado por economistas do final do século
se envolveram nas expedições, interessados em conquistas e novos XVIII, referindo-se às práticas intervencionistas do Estado na econo-
domínios. mia entre os séculos XV e XVIII.
O marco inicial dessa expansão foi a tomada de Ceuta, no norte Tais práticas não constituíam um sistema coeso de ideias, uma
da África, pelos portugueses, em 1415. Pouco a pouco, o objetivo teoria econômica, nem eram aplicadas de maneira homogênea na
português de realizar a viagem em torno da África ganhou corpo. A Europa, ao longo dos séculos da Idade Moderna.
cada ano, as expedições portuguesas avançavam mais milhas pela Vejamos algumas de suas características:
costa ocidental do continente em direção ao sul. • Metalismo: concepção segundo a qual a riqueza de um Es-
Em 1488, o navegador Bartolomeu Dias (1450-1500) chegou tado estava na quantidade de metais preciosos (ouro e prata) acu-
ao Cabo da Boa Esperança (que ele chamava de Cabo das Tormen- mulada no país. O metal poderia ser obtido de forma direta, pela
tas), no extremo meridional da África, demonstrando a existência exploração de minas ou pelo comércio. Neste caso, o Estado deve-
de uma passagem para o oceano Índico. ria ter uma balança comercial favorável, ou seja, deveria exportar
Em 1498, Vasco da Gama (1460-1524) alcançou finalmente as mais do que importar.
Índias. Dois anos depois, partiu a primeira grande frota destinada • Protecionismo: em função do interesse em acumular metais
a fazer comércio em larga escala com o Oriente, comandada por preciosos, muitos governantes adotaram medidas para ampliar as
Pedro Álvares Cabral (1467-1520), que chegou também ao litoral exportações e proteger as empresas nacionais produtoras de manu-
da América, na costa do território que viria a ser parte do Brasil. faturados da concorrência estrangeira. Para isso, impunham barrei-
As Navegações Espanholas ras tarifárias à importação, principalmente aos produtos que pudes-
Pouco antes de a expansão marítima portuguesa atingir o obje- sem ser fabricados no próprio reino. Essa e outras práticas mostram
tivo de chegar às Índias, os espanhóis atravessaram o Atlântico, che- um alto grau de intervenção do Estado nas atividades produtivas.
gando à América em 1492. O comandante da frota foi o navegador
genovês, a serviço da Espanha, Cristóvão Colombo (1451-1506). A
ideia era atingir as índias contornando o globo terrestre, chegar ao
Oriente navegando em direção ao Ocidente.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Colonialismo: exploração das riquezas de territórios con- Concomitantemente, os reis criaram exércitos nacionais per-
quistados em outros continentes. Portugal explorou o mercado de manentes, financiados por tributos, para substituir as tropas par-
especiarias ao estabelecer rotas alternativas para as Índias e, mais ticulares dos senhores feudais. Na esfera econômica, os soberanos
tarde, a produção de açúcar em sua colônia da América do Sul. A adotaram um conjunto de medidas e práticas comerciais e financei-
Espanha apoderou-se de imensa riqueza em ouro e prata ao iniciar ras conhecido como mercantilismo. Essas medidas incentivavam a
o processo de exploração das minas americanas, na primeira meta- circulação de dinheiro e de mercadorias.
de do século XVI.
• Industrialismo: praticado apenas por alguns países, como In- Teóricos do Absolutismo
glaterra e França, retardatários no processo de expansão marítima. Uma das primeiras teorias a dar sustentação ao absolutismo
Consistia em promover a produção de manufaturados, que rendiam monárquico foi elaborada pelo filósofo francês Jean Bodin (1529-
bons impostos para o governo e poderiam ser exportados. Portugal 1596). Somente o rei, dizia ele, poderia fazer e revogar as leis. Esse
e Espanha não se interessaram por essa prática. poder, que Bodin chamou de soberania, emanaria diretamente de
Deus.
Mais tarde, o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), em
ESTADOS NACIONAIS MODERNOS sua obra Leviatã, afirmou que em uma sociedade sem Estado im-
peraria a barbárie e a “guerra de todos contra todos”. Para ele, as
pessoas teriam estabelecido um contrato ou pacto social, por meio
do qual renunciavam à sua liberdade e se submetiam ao poder ab-
Estado Moderno soluto de um governante para que ele garantisse paz e segurança
Do ponto de vista político, as sociedades se organizaram de di- a todos.
ferentes maneiras ao longo do tempo. Durante a Idade Média, na Já o francês Jacques Bossuet (1627-1704), autor de Política se-
maior parte da Europa ocidental, o poder fragmentou-se entre os gundo as Sagradas Escrituras, afirmava que o poder do rei lhe havia
senhores feudais, que administravam a justiça em suas proprieda- sido concedido por Deus e, por isso, deveria ser ilimitado e incon-
des. A autoridade dos reis era praticamente simbólica7. testável. Era a chamada Teoria do Direito Divino.
A partir dos últimos séculos desse período, porém, alguns reis
europeus começaram a criar mecanismos para centralizar o po- Poder Absoluto
der, enfraquecendo a autoridade dos senhores feudais e da Igreja. A extrema centralização do poder originou uma forma de orga-
Formaram-se assim as chamadas monarquias nacionais. Veremos nização do Estado conhecida como absolutismo monárquico. Nas
seguir, as transformações políticas que até o século XVIII decorre- monarquias absolutistas, o rei detinha o poder de legislar, isto é, de
ram dessas mudanças e levaram à formação dos chamados Estados criar e revogar as leis. Sua autoridade era quase absoluta: só encon-
modernos. trava limites nas leis do Deus cristão e em costumes e tradições da
época.
Centralização do Governo
Apesar da Expansão Marítima e da Revolução Comercial, a Eu- • Absolutismo Francês
ropa atravessou diversos momentos de crise entre os séculos XV A transformação da monarquia francesa em Estado absolutista
e XVII. A produção agrícola, por exemplo, não cresceu na mesma teve início no reinado de Francisco I (1515-1547)1 e acentuou-se
proporção que a população. Os alimentos encareceram e a fome com Henrique IV (1589 -1610). Além de desprezar os Estados Gerais
provocou revoltas populares. Ao mesmo tempo, o continente foi (assembleia de representantes na nobreza, do clero e da burgue-
sacudido pelas guerras religiosas desencadeadas pela Reforma pro- sia), Henrique IV vigiou os governadores das províncias e deixou de
testante. lado os grandes senhores feudais, nomeando ministros oriundos da
Outras guerras deveram-se à disputa por limites territoriais burguesia.
e pela supremacia do comércio marítimo. Diante dessa situação, Ao mesmo tempo, estimulou o mercantilismo, iniciou a coloni-
pensadores políticos argumentavam que somente um governo for- zação das terras que hoje correspondem ao Canadá e incentivou a
temente centralizado seria capaz de pôr fim à desordem. agricultura e as manufaturas. Porém, foi com Luís XIV (1643-1715)
Tais ideias contribuíram para legitimar o crescente poder dos que o absolutismo francês assumiu sua forma máxima de expres-
reis. Com a centralização do poder, os interesses gerais do Estado são. Seu governo esvaziou o Conselho Real, órgão que tomava de-
nacional foram se sobrepondo às preferências dos senhores feu- cisões com o monarca; consolidou o exército permanente; proibiu
dais. Para se respaldar, o rei constituiu uma burocracia de profissio- as comunas de escolherem seus governantes; manteve e ampliou
nais especializados nos diversos setores da administração: financei- o mercantilismo; incentivou a criação de manufaturas e de compa-
ro, jurídico, fiscal (para a cobrança de impostos), etc. Começava a nhias comerciais; e envolveu a França em vários conflitos externos
surgir o Estado moderno. visando assegurar suas fronteiras e a supremacia no comércio ma-
No âmbito jurídico, esses governos gradualmente substituíram rítimo.
o direito feudal por leis inspiradas pelo Direito Romano. Com isso, Para que não restassem dúvidas sobre seu poder, cunhou a
as leis baseadas nos costumes e na tradição, que garantiam os pri- expressão “O Estado sou eu”. Considerando-se representante de
vilégios da nobreza, deram lugar a normas jurídicas impessoais, que Deus, Luís XIV criou um culto à sua imagem e tornou-se conhecido
valiam para todos. Os laços feudais de suserania e vassalagem de- como Rei Sol. Sua corte, de cerca de 6 mil pessoas, foi instalada no
sapareceram, enquanto a Igreja católica, enfraquecida com a Refor- novo e luxuoso Palácio de Versalhes. As obras, a manutenção da
ma, perdeu boa parte da influência que exercia sobre os monarcas. corte e os inúmeros banquetes, bailes e cerimónias eram sustenta-
7 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo dos pelo tesouro público.
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Absolutismo Inglês Seus métodos truculentos lhe renderam o epíteto Ivan, o Terrí-
Com o fim da Guerra das Duas Rosas (1455-1485), o trono in- vel. No século XVIII, a Rússia tornou-se um império e foi governada
glês foi ocupado por Henrique VII (1485-1509), da família Tudor, li- diversas vezes por mulheres. A mais notável foi Catarina II (1762-
gado por laços familiares a ambas as casas que disputaram a guerra. 1796), que promoveu uma grande expansão territorial, estreitou
Seria, porém, com seu filho que a monarquia inglesa se tornaria acordos comerciais e construiu uma imagem de patrona das artes.
plenamente absolutista: Henrique VIII (1509-1547) rompeu com o
papa para fundar a Igreja anglicana, subordinada diretamente a ele,
e confiscou terras e outros bens da Igreja católica. COLONIZAÇÃO DO BRASIL: POVOS INDÍGENAS. SISTEMA
O apogeu do absolutismo inglês ocorreu no reinado da filha de COLONIAL. ECONOMIA AÇUCAREIRA. MINERAÇÃO. PECU-
Henrique VIII, Elizabeth I (1558-1603). A rainha criou uma rede de ÁRIA
espionagem e só convocou o Parlamento em casos excepcionais.
Também priorizou o mercantilismo, modernizou a frota marítima,
incentivou a criação de companhias de comércio, promoveu o po- Primeiros Tempos
voamento da colónia de Virgínia, na América do Norte, e adotou a Entre 1500 e 1530, além de enviarem algumas expedições
pirataria como forma de acumular riquezas. de reconhecimento do litoral (guarda-costas), os portugueses es-
Como Elizabeth não deixou herdeiros, foi sucedida por seu tabeleceram algumas feitorias no litoral do Brasil, onde adquiram
primo, Jaime I (1603-1625), rei da Escócia. Defensor da teoria do pau-brasil dos indígenas em troca de mercadorias como espelhos,
direito divino dos reis, Jaime I perseguiu os puritanos (calvinistas), facas, tesouras e agulhas8.
levando muitos deles a se refugiar na América do Norte. Quando o Tratava-se, portanto, de uma troca muito simples: o escambo,
Parlamento se recusou a lhe conceder pensão vitalícia, o monarca o isto é, troca direta de mercadorias, envolvendo portugueses e indí-
dissolveu. Seu sucessor, Carlos I (1625-1649), criou taxas alfandegá- genas. Os indígenas davam muito valor às mercadorias oferecidas
rias para garantir o sustento da família real, impôs aos proprietários pelos portugueses, a exemplo de tesouras ou facas, que eram rapi-
um empréstimo forçado Coroa e perseguiu de forma sistemática damente aproveitadas em seus trabalhos.
seus opositores. Mas, em termos de valor de mercado, o escambo era mais van-
• Uma República Inglesa tajoso para os portugueses, pois ofereciam mercadorias baratas,
Os constantes embates entre Carlos I e o Parlamento resulta- enquanto o pau-brasil alcançava excelente preço na Europa. Além
ram, em 1640, em uma longa guerra civil. Pequenos proprietários e disso, os indígenas faziam todo o trabalho de abater as árvores, ar-
setores da pequena nobreza rural e da burguesia organizaram um rumar os troncos e carregá-los até as feitorias. Não por acaso, os
exército conhecido como cabeças redondas, devido ao corte de ca- portugueses incluíam machados de ferro entre as ofertas, pois faci-
belo de seus integrantes. litavam imensamente a derrubada das árvores.
Comandadas pelo puritano Oliver Cromwell, os rebeldes de- A exploração do pau-brasil, madeira valiosa para o fabrico de
puseram Carlos I em 1649, que acabou julgado e decapitado. Trans- tintura vermelha para tecidos, foi reservada corno monopólio ex-
formada em república e governada por Cromwell, a Inglaterra se clusivo do rei, sendo, portanto, um produto sob regime de estanco.
tornou a maior potência naval da Europa. Em 1655, Cromwell dis- Mas o rei arrendava esse privilégio a particulares, como o comer-
solveu o Parlamento, passando a comandar uma ditadura até sua ciante Fernando de Noronha, primeiro contratante desse negócio,
morte, em 1658. Apenas em 1660 a monarquia inglesa foi restaura- em 1501.
da, sob Carlos II (1660-1685), filho de Carlos I.
Capitanias Hereditárias e o Governo Geral
• Uma Monarquia Constitucional No início do século XVI, cerca de 65% da renda do Estado por-
Tanto Carlos II quanto seu sucessor, Jaime II (1685-1688), ten- tuguês provinha do comércio ultramarino. O monarca português
taram restabelecer o absolutismo. Em resposta, o Parlamento de- transformou-se em um autêntico empresário, agraciando nobres e
pôs Jaime II e entregou o trono ao príncipe holandês Guilherme mercadores com a concessão de monopólios de rotas comerciais e
de Orange, casado com Mary Stuart, filha do rei deposto. Coroado de terras na Ásia, na África e na América.
como Guilherme II em 1689, o rei comprometeu-se a cumprir a Bill Apesar da rentabilidade do pau-brasil, nas primeiras décadas
of Rights (Declaração de Direitos) estabelecida pelo Parlamento. do século XVI a importância do litoral brasileiro para Portugal era
A declaração garantia ao Parlamento o direito de votar leis, que sobretudo estratégica. A frota da Índia, que concentrava os negó-
o rei deveria acatar e respeitar. O absolutismo cedia lugar, assim, a cios portugueses, contava com escalas no Brasil para reparos de na-
uma monarquia constitucional. Por não ter envolvido batalhas, esse vios de reabastecimento de alimentos e água. A presença crescente
processo tornou-se conheci do como Revolução Gloriosa. de navegadores franceses no litoral, também interessados no pau-
-brasil, foi vista pela Coroa portuguesa como uma ameaça.
• O Absolutismo na Rússia Na prática, disputavam o território com os portugueses, igno-
Em 1547, na mesma época em que o absolutismo monárqui- rando o Tratado de Tordesilhas (1494), pois julgavam um abuso
co se consolidava na França, ascendia ao trono russo o jovem Ivan esse acordo, fosse ele reconhecido ou não pelo papa. Tornou-se
IV. Primeiro príncipe a se intitular czar, Ivan implantou um regime célebre a frase do rei francês Francisco I, dizendo desconhecer o
absolutista: subordinou a Igreja ao Estado, fortaleceu o Exército, es- “testamento de Adão” que dividia o mundo entre os dois reinos
tabeleceu relações comerciais com reinos ocidentais e submeteu a ibéricos.
aristocracia ao seu poder.

8 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Capitanias Hereditárias Porém, a maior inovação foi a criação do Governo-geral, em


Para preservar a segurança da rota oriental, os portugueses or- 1548, com o objetivo de centralizar o governo da colónia, coorde-
ganizaram a coIonização do Brasil. A solução adorada por D. João III, nando o esforço de defesa, fosse contra os indígenas rebeldes, fosse
em 1532, foi o sistema de capitanias hereditárias, que já havia sido contra os navegadores e piratas estrangeiros, sobretudo franceses,
utilizado na colonização do arquipélago da Madeira. que acossavam vários pontos do litoral. A capitania escolhida para
O litoral foi dividido em capitanias, concedidas, em geral, a ca- sediar o governo foi a Bahia, transformada em capitania real.
valeiros da pequena nobreza que se destacaram na expansão para Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil, chegou à Bahia
a África e para a Índia. Em suas respectivas capitanias, os donatários em 1549 e montou o aparelho de governo com funcionários previs-
ficavam incumbidos de representar o rei no que se referia à defesa tos no Regimento do Governo-geral: o capitão-mor, encarregado
militar do território, ao governo dos colonos, à aplicação da justiça da defesa militar, o ouvidor-mor, encarregado da justiça; o prove-
e à arrecadação dos impostos, recebendo, em contrapartida, privi- dor-mor, encarregado das finanças; e o alcaide-mor, incumbido da
légios particulares. administração de Salvador, capital do então chamado Estado do
Os direitos e deveres dos donatários eram fixados na carta de Brasil.
doação, complementada pelos forais. Em recompensa por arcar No mesmo ano, chegaram os primeiros jesuítas, iniciando-se
com os custos da colonização, os donatários recebiam vasta exten- o processo de evangelização dos indígenas, sendo criado, ainda, o
são de terras para sua própria exploração, incluindo o direito de primeiro bispado da colónia, na Bahia, com a nomeação do bispo D.
transmitir os benefícios e o cargo a seus herdeiros. Pero Fernandes Sardinha.
Além disso, eram autorizados a receber parte dos impostos de- A implantação do Governo-geral, a criação do bispado baiano e
vidos ao rei, em especial 10% de todas as rendas arrecadadas na a chegada dos missionários jesuítas foram, assim, processos articu-
capitania e 5% dos lucros derivados da exploração do pau-brasil. lados e simultâneos. Por outro lado, a Bahia passou a ser importan-
Outra atribuição dos capitães era a distribuição de terras aos te foco de povoamento, tornando-se, ao lado de Pernambuco, uma
colonos que as pudessem cultivar, o que se fez por meio da conces- das principais áreas açucareiras da América portuguesa.
são de sesmarias, cujos beneficiários ficavam obrigados a cultivar a
terra em certo período ou a arrendá-la. No caso das terras conce- Disputas Coloniais
didas permanecerem incultas, a lei estabelecia que estas deveriam Nos primeiros trinta anos do século XVI, os grupos indígenas do
ser confiscadas e retornar ao domínio da Coroa. Mas não foi raro, litoral não sofreram grande impacto com a presença dos europeus
no Brasil, burlar-se essa exigência da lei, de modo que muitos co- no litoral, limitados a buscar o pau-brasil. E certo que franceses e
lonos se assenhoravam de vastas terras, mas só exploravam parte portugueses introduziram elementos até então estranhos à cultura
delas. dos tupis, como machados e facas, entre outros. Mas isso não alte-
O regime de capitanias hereditárias inaugurou no Brasil um sis- rou substancialmente as identidades culturais nativas.
tema de tremenda confusão entre os interesses públicos e particu- A partir dos anos 1530, franceses e portugueses passaram a
lares, o que, aliás, era típico da monarquia portuguesa e de muitas disputar o território e tudo mudou. A implantação do Governo-ge-
outras desse período. ral português na Bahia, em 1549, não inibiu tais iniciativas. Mas foi
D. João III estabeleceu o sistema de capitanias hereditárias com na segunda metade do século XVI que ocorreu a mais importan-
o objetivo específico de povoar e colonizar o Brasil. Com exceção de te iniciativa de ocupação francesa, do que resultou a fundação da
São Vicente e Pernambuco, as demais capitanias não prosperaram. França Antártica, na baía da Guanabara.
Em 1548, o rei decidiu criar o Governo-geral, na Bahia, com vistas a
centralizar a administração colonial. • França Antártica
Por volta de I1550, o cavaleiro francês Nicolau Durand de Ville-
• Governo Geral gagnon concebeu o plano de estabelecer uma colónia francesa na
Foi por meio das sesmarias que se iniciou a economia açuca- baía da Guanabara, com o objetivo de criar ali um refúgio para os
reira no Brasil, difundindo-se as lavouras de cana-de-açúcar e os huguenotes (como eram chamados os protestantes), além de dar
engenhos. Embora tenha começado em São Vicente, ela logo se de- uma base estável para o comércio de pau-brasil. O lugar ainda não
senvolveu em Pernambuco, capitania mais próspera no século XVI. tinha sido povoado pelos portugueses.
As demais fracassaram ou mal foram povoadas. Várias delas Vlllegagnon recebeu o apoio do huguenote Gaspard de Coligny,
não resistiram ao cerco indígena, como a do Espírito Santo. Na almirante que gozava de forte prestígio na corte francesa. A ideia
Bahia, o donatário Francisco Pereira Coutinho foi devorado pelos de conquistar um pedaço do Brasil animou também o cardeal de
tupinambás. Em Porto Seguro, o capitão Pero do Campo Tourinho Lorena, um dos maiores defensores da Contrarreforma na França e
acabou se indispondo com os colonos e enviado preso a Lisboa. conselheiro do rei Henrique II.
A Coroa portuguesa percebeu as deficiências desse sistema O projeto de colonização francesa nasceu, portanto, marca-
ainda no século XVI e reincorporou diversas capitanias ao patrimô- do por sérias contradições de uma França dilacerada por conflitos
nio real, como capitanias da Coroa. Constatou também que mui- políticos e religiosos. Uns desejavam associar a futura colônia ao
tos donatários não tinham recursos nem interesse para desbravar calvinismo, enquanto outros eram católicos convictos. Henrique II,
o território, atrair colonos e vencer a resistência indígena. Assim, da França, apoiou a iniciativa e financiou duas naus armadas com
a partir da segunda metade do século XVI, a Coroa preferiu criar recursos para o estabelecimento dos colonos. Villegagnon aportou
capitanias reais, como a do Rio de Janeiro. Algumas delas foram na Guanabara em novembro de ISSS e fundou o Forte Coligny para
mantidas como particulares e hereditárias, como a de Pernambuco. repelir qualquer retaliação portuguesa. O fator para o êxito inicial
foi o apoio recebido dos tamoios, sobretudo porque os franceses
não escravizavam os indígenas nem lhes tomavam as terras.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Conflitos Internos A solução foi adaptar o catolicismo às tradições nativas, come-


A colônia francesa era carente de recursos e logo se viu ator- çando pelo aprendizado das línguas, procedimento que os jesuítas
mentada pelos conflitos religiosos herdados da metrópole. Os também utilizaram na China, na Índia e no Japão. Com esse apren-
colonos chegavam a se matar por discussões sobre o valor dos dizado, os padres chegaram a elaborar uma gramática que prepara-
sacramentos e do culto aos santos, gerando revoltas e punições va os missionários para a tarefa de evangelização. José de Anchieta
exemplares. compôs, por volta de 1555, uma gramática da língua tupi, que era a
Do lado português, Mem de Sá, terceiro governador-geral des- língua mais falada pelos indígenas do litoral. Por essa razão, o tupi
de 1557, foi incumbido de expulsar os franceses da baía da Guana- acabou designado como “língua geral “.
bara, região considerada estratégica para o controle do Atlântico
Sul. Em 1560, as tropas de Mem de Sá tomaram o Forte Coligny, • As Missões
mas a resistência francesa foi intensa, apoiada pela coalizão indíge- Havia a necessidade de definir onde e como realizar a cateque-
na chamada Confederação dos Tamoios. se. De início, os padres iam às aldeias, onde se expunham a enor-
As guerras pelo território prosseguiram até que Estácio de Sá, mes perigos. Nessa tentativa, alguns até morreram devorados pelos
sobrinho do governador, passou a comandar a guerra de conquista indígenas.
contra a aliança franco-tamoia. Aliou-se aos temiminós, liderados Em Outros casos, eles tinham de enfrentar os pajés, aos quais
por Arariboia, inimigos mortais dos tamoios. A guerra luso-francesa chamavam feiticeiros, guardiões das crenças nativas. Para contor-
na Guanabara foi também uma guerra entre temiminós e tamoios, nar tais dificuldades, os jesuítas elaboraram um “plano de aldea-
razão pela qual cada grupo escolheu alianças com os oponentes eu- mento”, em 1558, cujo primeiro passo era trazer os nativos de suas
ropeus. malocas para os aldeamentos da Companhia de Jesus dirigidos pe-
Em 12 de março de 1565, em meio a constantes combates, foi los padres. Os jesuítas entendiam que, para os indígenas deixarem
fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu governo de ser gentios e se transformarem em cristãos, era preciso deslo-
foi confiado a Estácio de Sá, morto por uma flecha envenenada em cá-los no espaço: levá-los da aldeia tradicional para o aldeamento
20 de janeiro de 1567, mesmo ano em que os portugueses expulsa- colonial.
ram os franceses do Rio de Janeiro. Os tamoios, por sua vez, foram Foi esse o procedimento que deu maiores resultados. Esta foi
massacrados pelos temiminós, cujo chefe, Arariboia, foi presentea- urna alteração radical no método da catequese, com grande impac-
do com terras e títulos por seus serviços ao rei de Portugal. to na cultura indígena. Os aldeamentos foram concebidos pelos je-
suítas para substituir as aldeias tradicionais. Os padres realizaram o
• França Equinocial grande esforço de traduzir a doutrina cristã para a cultura indígena,
Derrotados na Guanabara, os franceses tentaram ocupar outra estabelecendo correspondências entre o catolicismo e as tradições
parte do Brasil, no início do século XVII. Desta vez o alvo foi a capita- nativas.
nia do Maranhão. Confiou-se a tarefa a Daniel de Ia Touche, senhor Foi assim, por exemplo, que o deus cristão passou a ser cha-
de La Ravardiére, que foi acompanhado de dois frades capuchinhos mado de Tupã (trovão, divinizado pelos indígenas). A doutrinação
que se tornaram famosos: Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux, auto- colheu melhores resultados com as crianças, já que ainda não co-
res de crónicas importantes sobre o Maranhão. nheciam bem as tradições tupis. A encenação de peças teatrais para
Em 1612, os franceses fundaram a França Equinocial e nela a exaltação da religião cristã - os autos jesuíticos - foi importante
construíram o Forte de São Luís. Mas também ali houve disputas instrumento pedagógico. Os autos mobilizavam as crianças como
internas e falta de recursos para manter a conquista. Os portugue- atores ou membros do coro.
ses tiraram proveito dessa situação, liderados por Jerónimo de Al- Mas os indígenas resistiram muito à mudança de hábitos. Os
buquerque. À frente de milhares de soldados, incluindo indígenas, colonos, por sua vez, queriam-nos como escravos para trabalhar
ele moveu campanha contra os franceses em 1613 e finalmente os nas lavouras. Os jesuítas lutaram, desde cedo, contra a escravização
derrotou em 1615, tomando o Forte de São Luís. dos indígenas pelos colonos portugueses, alegando que o funda-
mental era doutriná-los, e assim conseguiram do rei várias leis proi-
Os Jesuítas bindo o cativeiro indígena.
A catequese dos indígenas foi um dos objetivos da coloniza-
ção portuguesa, embora menos importante do que os interesses • Sociedade Colonial X Jesuítas
comerciais. No entanto, a crescente resistência indígena ao avanço No século XVI, os jesuítas perderam a luta contra os interesses
dos portugueses e a aliança que muitos grupos estabeleceram com escravistas. No século XVII, porém, organizaram melhor as missões,
os franceses fizeram a Coroa perceber que, sem a “pacificação” dos sobretudo no Maranhão e no Pará, e afastaram os aldeamentos dos
nativos, o projeto colonizador estaria ameaçado. núcleos coloniais para dificultar a ação dos apresadores.
Assim, em 1549, desembarcaram os primeiros jesuítas, lidera- Defenderam com mais vigor a “liberdade dos indígenas”, no
dos por Manoel da Nóbrega, incumbidos de transformar os “gen- que se destacou António Vieira, principal jesuíta português atuante
tios” em cristãos. A Companhia de Jesus era a ordem religiosa com no Brasil e autor de inúmeros sermões contra a cobiça dos senhores
maior vocação para essa tarefa, pois seu grande objetivo era expan- coloniais. Embora condenassem a escravização indígena, os jesuítas
dir o catolicismo nas mais remotas partes do mundo. Desde o início, sempre defenderam a escravidão africana, desde que os senhores
os jesuítas perceberam que a tarefa seria dificílima, pois os padres tratassem os negros com brandura e cuidassem de prover sua Ins-
tinham de lidar com povos desconhecidos e culturas diversas. trução no cristianismo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Assim os jesuítas conseguiram conciliar os objetivos missioná- Nesse período, da União Ibérica, as fronteiras estabelecidas
rios com os interesses mercantis da colonização. Expandiram seus pelo Tratado de Tordesilhas foram atenuadas, uma vez que Portugal
aldeamentos por todo o Brasil, desde o sul até a região amazônica. passou a pertencer à Espanha. Por meio dos avanços dos bandei-
Na segunda metade do século XVIII, a Companhia de Jesus era uma rantes, os limites do Brasil se expandiram para oeste, norte e sul.
das mais poderosas e ricas instituições da América portuguesa. Mas com essa união Portugal acabou herdando vários inimigos dos
espanhóis, dentre eles os holandeses. E não tardou muito para que
A Ação dos Bandeirantes a atenção deles se voltasse para as prósperas capitanias açucareiras
Na América portuguesa, desde o século XVI os colonos foram do Brasil.
os maiores adversários dos jesuítas. Preferiam, sempre que pos-
sível, obter escravos indígenas, mais baratos do que os africanos. Um Governo Holandês
No entanto, eram os chamados mamelucos, geralmente filhos de A investida dos holandeses contra o Brasil era previsível. Ams-
portugueses com índias, os oponentes mais diretos dos nativos. Os terdã tinha se tornado o centro comercial e financeiro da Europa
mamelucos eram homens que dominavam muito bem a língua na- e se preparava para atingir o Atlântico e o Indico. Antes da União
tiva, chamada de “língua geral” , conheciam os segredos das matas, Ibérica, os portugueses haviam se associado aos holandeses no co-
sabiam como enfrentar os animais ferozes e, por isso, eram contra-
mércio do açúcar. O Brasil produzia o açúcar, Portugal o comprava
tados para “caçar indígenas”.
em regime de monopólio, vendendo-o à Holanda, que o revendia
Muitas vezes negociavam com os chefes das aldeias a troca de
na Europa.
prisioneiros por armas, cavalos e pólvora. Outras vezes capturavam
A Espanha, inimiga da Holanda, jamais permitiria a continuida-
escravos nas aldeias ou nos próprios aldeamentos dirigidos pelos
missionários. Esses mamelucos integravam as expedições chama- de desse negócio. Em 1602, os holandeses fundaram a Companhia
das de bandeiras. Alguns historiadores diferenciam as bandeiras, das Índias Orientais, que conquistaria diversos territórios hispano-
expedições de iniciativas particulares, das entradas, patrocinadas -portugueses no oceano Índico. Em 1621, fundaram a Companhia
pela Coroa ou pelos governadores. das Índias Ocidentais para atuar no Atlântico, cuja missão principal
Entretanto, os dois tipos de expedição se confundiam, seja nos era conquistar o Brasil. Em 1624, os holandeses atacaram a Bahia,
objetivos, seja na composição de seus membros, embora o termo sede do governo do Brasil. Conquistaram Salvador, mas não conse-
entrada fosse mais utilizado nos casos de repressão de rebeliões e guiram derrotar a resistência baiana, sendo expulsos da cidade no
de exploração territorial. Desde o século XVI, o objetivo principal ano seguinte.
das entradas e bandeiras era procurar riquezas no interior, chama- Em 1630, foi a vez de Pernambuco, a capitania mais rica na pro-
do na época de sertões, e escravizar indígenas. dução de açúcar. Os holandeses conquistaram Olinda e Recife sem
Os participantes dessas expedições eram, em geral, chamados dificuldade, obrigando o governador a retirar sua milícia. Tomaram
de bandeirantes. Ao longo do século XVII, as expedições bandei- Itamaracá, em 1632, o Rio Grande do Norte, em 1633, e a Paraíba,
rantes alargaram os domínios portugueses na América, que ultra- no final de 1634. Mais tarde, eles ainda tomariam o Ceará e parte
passaram a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas. do Maranhão, estabelecendo o controle sobre a maior parte do li-
No final do século XVII, os bandeirantes acabaram encontrando o toral nordestino. Na medida em que avançavam, muitos luso-brasi-
tão cobiçado ouro na região depois conhecida como Minas Gerais. leiros desertavam ou passavam para o lado holandês.
O mais célebre deles foi Domingos Fernandes Calabar, que
União Ibérica e Brasil Holandês atuou como guia dos holandeses, em 1632, pois conhecia bem os
Em 1578, o jovem rei português D. Sebastião partiu à frente de caminhos de Pernambuco. Caiu prisioneiro dos portugueses, em
numeroso exército para enfrentar o xarife do Marrocos na famosa 1635, e foi condenado à morte - estrangulado e depois esquarte-
Batalha de Alcácer-Quibir. Perdeu a batalha e a vida. Como era sol- jado, como exemplo de traidor. Muitos outros, porém, fizeram o
teiro e não tinha filhos, a Coroa passou para seu tio-avô, o cardeal mesmo e saíram ilesos.
D. Henrique, que morreu dois anos depois. As primeiras ações da Holanda foram violentas, incluindo sa-
Felipe II, rei da Espanha, cuja mãe era tia-avó de D. Sebastião, que de igrejas e destruição das imagens de santos. Afinal, os holan-
reivindicou a Coroa e mandou invadir Portugal, sendo aclamado rei
deses eram calvinistas e repudiavam o catolicismo.
com o título de Felipe I. Portugal foi unido à Espanha sob o governo
Em 1635, com a conquista consolidada, os holandeses perce-
da dinastia dos Habsburgos, iniciando-se a União Ibérica, que dura-
beram que, sem o apoio da população local, a dominação seria invi-
ria 60 anos (1580-1640).
ável. Assim, a primeira medida foi a de estabelecer a tolerância reli-
Durante esse período de dominação filipina, ocorreram modifi-
cações importantes na colónia. Em 1609, foi criado o Tribunal da Re- giosa, admitindo-se os cultos católicos e a permanência dos padres,
lação da Bahia, o primeiro tribunal de justiça no Brasil. No mesmo com a exceção dos jesuítas, que foram expulsos.
ano, uma lei reafirmou a proibição do cativeiro indígena. Em 1621, A segunda medida foi oferecer empréstimos aos senhores lo-
houve a divisão do território em dois Estados: o Estado do Brasil e o cais ou leiloar os engenhos cujos donos tinham fugido. Em 1637,
Estado do Maranhão, este último mais tarde chamado de Estado do com a chegada do conde João Maurício de Nassau, nomeado pela
Grão-Pará e Maranhão, subordinado diretamente a Lisboa. Companhia das Índias Ocidentais, inaugurou-se uma nova fase na
Outra inovação foram as visitações da Inquisição, realizadas história da dominação holandesa. Ele chegou ao Recife e determi-
para averiguar a fé dos colonos, sobretudo a dos cristãos-novos, nou a realização de inúmeras obras, como a construção da Cidade
descendentes de judeus e suspeitos de conservar as antigas cren- Maurícia, na outra banda do rio Capibaribe, onde foi erguido um
ças em segredo. palácio e criado um jardim botânico.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Patrocinou a vinda de artistas holandeses, que retrataram a Em 1649, os rebeldes pernambucanos alcançaram vitória deci-
paisagem e a vida colonial como nunca até então se havia feito no siva na segunda Batalha dos Guararapes. Em 1654, tornaram o Re-
Brasil. Mas o governo de Nassau não deixou de ampliar as conquis- cife e expulsaram de vez os holandeses do Brasil. Em 1661, Portugal
tas territoriais da Companhia das Índias. Logo em 1637 ordenou a e Países Baixos assinaram um tratado de paz, em Haia, pelo qual os
captura da feitoria africana de São Jorge da Mina, no golfo de Benin, portugueses se comprometeram a pagar uma pesada indenização
e anexou o Sergipe. aos holandeses em dinheiro, açúcar, tabaco e sal.
Em 1638, lançou-se à conquista da Bahia, que resistiu nova-
mente com bravura e não caiu. Em 1641, tomou o Maranhão e, no A Guerra de Palmares
mesmo ano, invadiu a cidade de Luanda, em Angola. Os holandeses Durante o domínio holandês em Pernambuco, começaram a se
passaram, então, a controlar o tráfico atlântico de escravos. formar os quilombos de Palmares, núcleo da maior revolta de escra-
vos da história do Brasil. Palavra de origem banto - tronco linguístico
• Tolerância Religiosa do idioma falado em Angola - kilombo significa acampamento ou
Foi no chamado período nassoviano que os judeus portugue- fortaleza.
ses residentes em Amsterdã (ali estabelecidos para escapar às per- Foi o termo que os portugueses utilizaram para designar as
seguições da Inquisição) foram autorizados a imigrar para Pernam- comunidades de africanos fugidos da escravidão. O incremento do
buco. Um grupo estimado em, no mínimo, 1500 judeus fixou-se em tráfico africano para a região, a partir da conquista holandesa de
Pernambuco e na Paraíba entre 1637 e 1644. Angola, em 1641, foi o principal fator para o aumento das fugas e
Fundaram uma sinagoga no Recife a primeira Sinagoga das o crescimento quilombos. Localizado na serra da Barriga, no estado
Américas - e fizeram campanha junto aos cristãos-novos da Colônia de Alagoas (na época pertencia a Pernambuco), Palmares cresceu
para que abandonassem o catolicismo, regressando à religião de muito na segunda metade do século XVII. Estima-se que chegou a
seus antepassados. Muitos atenderam a esse apelo; outros preferi- possuir dez fortes ou mocambos, com cerca de 20 mil quilombolas.
ram permanecer cristãos. Eles viviam da caça, coleta e agricultura de milho e feijão, realizada
Os judeus portugueses foram muito importantes para a domi- em roçados familiares utilizando um sistema de trabalho coopera-
nação holandesa no nordeste açucareiro, sobretudo na distribuição tivo.
de mercadorias importadas e de escravos. Também se destacaram Os excedentes agrícolas eram vendidos nas vilas próximas. Fre-
como corretores, intermediando negócios em troca de um percen- quentemente atacavam os engenhos e roubavam escravos, em es-
tual sobre o valor das transações. O fato de os judeus do Recife fa- pecial mulheres. Por vezes, assaltavam aldeias indígenas em busca
larem português e holandês foi decisivo para que alcançassem esse de mulheres e alimentos. Alguns historiadores viram em Palmares
importante papel na economia regional. um autêntico Estado africano recriado no Brasil para combater a
sociedade escravista dominante. Mas há exagero nessa ideia, em-
• Restauração Pernambucana bora seja inegável a organização política dos quilombos, inspirada
Em 1640, durante a ocupação de Pernambuco pelos holande- no modelo das fortalezas africanas. Exatamente por serem naturais
ses, Portugal conseguiu se livrar do domínio espanhol com a ascen- de sociedades africanas em que a escravidão era generalizada, os
são ao trono de D. João IV, da dinastia de Bragança. O rei tentou ne- principais dirigentes do quilombo possuíam escravos, reeditando a
gociar com os holandeses a devolução dos territórios conquistados escravidão praticada na África.
no tempo em que Portugal estava submetido aos espanhóis, mas os Os líderes de Palmares lutavam pela própria liberdade, mas não
holandeses não cederam. pelo fim da escravidão. De todo modo, o crescimento de Palmares
Em 1644, após Nassau voltar à Holanda, os colonos do Brasil levou as autoridades coloniais a multiplicar expedições repressivas.
resolveram enfrentar os holandeses. Motivo: os preços do açúcar Todas fracassaram, repelidas por Ganga Zumba, grande chefe dos
vinham declinando desde 1643, e os senhores de engenho e os la- quilombolas. Em 1678, o governador de Pernambuco propôs um
vradores de cana estavam cada vez mais endividados com a Com- acordo ao chefe dos palmarinos. Em troca da paz, Ganga Zumba ob-
panhia das Índias Ocidentais. Em 13 de junho de 1645, iniciou-se a teve a alforria para os negros de Palmares, a concessão de terras em
chamada Insurreição Pernambucana. Cucaú (norte de Alagoas) e a garantia de prosseguirem o comércio
João Fernandes Vieira era o líder dos rebeldes e um dos maio- com os vizinhos.
res devedores dos holandeses. André Vidal de Negreiros era o se- Comprometeu-se, porém, a devolver todos os escravos que
gundo no comando dos rebeldes. Os indígenas potiguares, lidera- dali em diante fugissem para o quilombo.
dos por Felipe Camarão, e a milícia de negros forros, liderada por O acordo dividiu os quilombolas, e Ganga Zumba foi assassina-
Henrique Dias, uniram esforços contra os holandeses. Essa aliança do pelo grupo que rejeitou os termos desse acordo, desconfiando
produziu o mito de que a guerra contra o invasor holandês “uniu das intenções do governo colonial. Prosseguiu, assim, a guerra dos
as três raças formadoras da nação brasileira”, sobretudo entre os palmarinos, agora liderada por Zumbi. A resistência quilombola foi
historiadores do século XIX. grande, mas acabou sucumbindo em 1695, derrotada pelas tropas
No entanto, houve indígenas lutando nos dois lados. Entre os do bandeirante Domingos Jorge Velho. Em 20 de novembro de
potiguares, por exemplo, Pedro Poti - primo de Filipe Carnarão - lu- 1695, Zumbi foi degolado e sua cabeça, enviada como troféu para
tou do lado holandês. Entre os africanos, nunca houve tantas fugas Recife - o maior triunfo da sociedade escravista no Brasil colonial.
em Pernambuco corno nesse período, o que encorpou a popula-
ção dos quilombos de Palmares. Nessa ocasião, partindo do Rio
de Janeiro, Salvador Correia de Sá reconquistou Angola, em 1648,
rompendo o controle holandês sobre o tráfico africano. A economia
pernambucana sob domínio da Holanda viu-se em crescente dificul-
dade para obter escravos.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Economia Mineradora Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobridor


O fim da União Ibérica em 1640 e a consequente ascensão ao deveria comunicar o fato às autoridades. Em tese, todas as jazidas
poder da dinastia de Bragança criaram mais problemas do que so- eram propriedade do rei, que poderia conceder a particulares o
luções para Portugal. Além de enfrentar uma longa guerra contra a direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as datas, sor-
Espanha, que se prolongou, com enorme custo, até 1668, os portu- teando-as aos solicitantes. O descobridor escolheria as duas datas
gueses foram obrigados a pagar indenizações à Holanda depois da que mais lhe interessassem, livrando-se do sorteio. O Guarda-Mor
vitória na Insurreição Pernambucana, em 1654, sob o risco de suas da In- tendência escolhia, em nome da Fazenda Real, a data do rei,
colónias e navios serem atacados pela poderosa marinha flamenga. que era leiloada e arrematada por particulares, os contratadores,
A situação se agravou na segunda metade do século XVII. Ape- em troca de um pagamento.
sar da recuperação das capitanias açucareiras do Brasil, os portu- Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada es-
gueses tiveram de conviver com a concorrência do açúcar produ- cravo representava, em medidas da época, o equivalente a 5,5 me-
zido nas Antilhas inglesas, francesas e holandesas. Os mercadores tros de terreno, e um proprietário poderia ter no máximo 66 metros
holandeses, por exemplo, eram os maiores distribuidores do açúcar em quadra, denominada data inteira. Para explorar as jazidas das
na Europa e, obviamente, priorizaram a mercadoria de suas ilhas datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração em grande es-
caribenhas depois de expulsos do Brasil. Na década de 1690, um cala com aparelhamento para a lavagem do ouro.
fato espetacular mudou totalmente esse quadro de penúria: a des- O ouro encontrado fora das datas, em locais franqueados a
coberta de uma quantidade até então nunca vista de ouro de alu- todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam so-
vião no interior do Brasil, numa região que passou a ser conhecida mente alguns instrumentos de fabricação simples, como a bateia e
como Minas Gerais. o cotumbê, trabalhando por conta própria.
Uma onda impressionante de aventureiros do Brasil e de Por- Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às Inten-
tugal se dirigiu para o lugar em busca do metal precioso que, de tão dências. Elas deviam recolher, fundir e retirar o quinto da Coroa,
abundante, parecia inesgotável. Os bandeirantes paulistas estavam transformando-o em barra, única forma autorizada para a circula-
acostumados, desde o século XVI, a armar expedições ao interior ção do metal fora da capitania.
do território para escravizar indígenas, e foram eles os responsáveis Desde o início, a mineração exigiu maior centralização adminis-
pela descoberta do ouro. Os paulistas solicitaram o monopólio das trativa, o que diferenciava as Minas de outras regiões exportadoras
explorações, não sendo atendidos. Não puderam controlar a entra- da Colônia. As Intendências, por exemplo, eram subordinadas dire-
da dos emboabas (estrangeiros), como eram denominados pelos tamente à metrópole, e não às autoridades coloniais. A descoberta
paulistas os portugueses vindos do reino e os que chegavam de ou- de diamantes, em 1729, no que então passou a chamar-se Distrito
tras capitanias. Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco, provocou medida ainda
Em 1707, estourou a chamada Guerra dos Emboabas, que du- mais drástica: o ir e vir de pessoas ficou condicionado à autorização
rou até 1709, com a derrota dos paulistas. Para melhorar a arreca- do intendente.
dação dos impostos e submeter a população, em 1709 foi criada a Na época da descoberta do ouro, havia dois caminhos que le-
capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada da capitania do vavam às Gerais: um que partia de São Paulo (que ficou conhecido
Rio de Janeiro. Surgiram vilas e outros núcleos urbanos para rece- como Caminho Velho das Gerais) e outro do porto de Parati; eles
ber a burocracia administrativa e o aparelho fiscal. se encontravam na serra da Mantiqueira. Para ir do Rio de Janeiro
Apesar de vencidos e, num primeiro momento, expulsos das às Minas, o viajante tinha de ir de barco até Parati e, de lá, após
áreas de conflito (vales do rio das Velhas e do rio das Mortes), o atravessar a serra do Mar, encontrar o caminho de São Paulo.
fato era que somente os paulistas tinham experiência em encontrar Era um caminho muito acidentado e, para percorrê-lo, demo-
jazidas de ouro. rava cerca de dois meses, viajando-se, como era o costume, até o
Foram formalmente perdoados pelo governador da nova capi- meio-dia. Foi determinada a construção de uma nova via, ligando
tania, o Conde de Assumar, em 1717. Os dirigentes metropolitanos diretamente a cidade do Rio de Janeiro às Minas de Ouro, conheci-
não só reconheciam sua competência nas explorações, mas tam- da como Caminho Novo das Gerais. Em todos os caminhos foram
bém avaliavam que somente com eles não era possível organizar estabelecidos registros, que funcionavam como postos de fiscaliza-
estabelecimentos fortes e duradouros. Logo que se esgotava uma ção e de cobrança de taxas sobre os produtos vendidos na região.
mina, saíam em busca de novos veios. Assim, os paulistas foram Era tarefa dos agentes conferir se o ouro que era transportado para
obrigados a compartilhar a exploração do ouro com os emboabas. o Rio de Janeiro havia sido tributado. Também os registros foram
Mas mantiveram suas andanças exploratórias, descobrindo campos objetos de contratos entre a Real Fazenda e particulares (contrata-
auríferos ainda em Goiás e Mato Grosso. dores), que poderiam, por um certo tempo, explorar a arrecadação.
O ouro do Brasil permitiu à Coroa portuguesa considerável au-
• Exploração das minas mento de suas rendas. Sua exploração possibilitou ainda uma maior
O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a ocupação do interior do Brasil, empurrando cada vez mais os limites
região aurífera. Criou em 1702 a Intendência das Minas, órgão que da linha de Tordesilhas para o oeste. Incentivou, também, o sur-
tinha entre suas funções zelar pela cobrança do quinto real, repri- gimento de atividades econômicas complementares à mineração,
mir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais - denomi- como a criação de mulas no Rio Grande do Sul, os únicos animais
nados datas. capazes de transportar mercadorias nos íngremes caminhos das
Minas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O declínio da mineração foi tão rápido quanto o aumento de


sua produção. Em 1780, a renda obtida com a mineração era menos OCUPAÇÃO E CONQUISTA DA AMÉRICA: MAIAS. ASTECAS.
da metade do que em seu apogeu, trinta anos antes. Esse declínio INCAS. SISTEMA COLONIAL ESPANHOL
se deve, basicamente, ao fato de a maior parte do ouro das Minas
ser de aluvião, facilmente encontrado e extraído e rapidamente es-
gotado. MAIAS. ASTECAS. INCAS

Ainda não sabemos exatamente quando e como os primeiros


TRABALHO ESCRAVO humanos chegaram ao continente americano. Entre as hipóteses
mais aceitas para a chegada do homem à América, a mais tradi-
cional defende que há 12 mil anos um grupo vindo da Ásia teria
— Introdução atravessado a região congelada do Estreito de Bering até a América
A organização do trabalho no Brasil é um tema de grande im- do Norte e de lá se deslocado em direção à América Central e à
portância para entendermos a sociedade brasileira. Desde os pri- América do Sul. Essa tese é embasada em descobertas arqueológi-
meiros colonizadores portugueses, até os dias atuais, a forma como cas, como a de Luzia, na região de Lagoa Santa (MG), o mais antigo
o trabalho é organizado, regulamentado e remunerado vem sendo esqueleto humano brasileiro conhecido, que teria vivido entre 11
objeto de discussões e disputas entre os diferentes grupos sociais. mil e 11,5 mil anos atrás9.
Neste tópico, serão abordadas questões sobre a história da or- Uma outra tese sugere que os primeiros americanos usaram
ganização do trabalho no Brasil desde o período colonial até o sécu- barcos para passar da Ásia para a América do Norte cerca de 15
lo XX. Abordaremos também a escravidão, o papel dos imigrantes mil anos atrás. Uma terceira teoria propõe que teriam chegado ao
no século XIX e a conquista dos direitos trabalhistas. continente há mais de 60 mil anos, vindos da Oceania, após cruzar o
Oceano Pacífico. A evidência para a data são ferramentas de pedra
A Escravidão e restos de fogueira de 58 mil anos achados no sítio arqueológico
A escravidão foi uma prática comum durante o período colonial do Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato (PI).
brasileiro. Os escravos eram utilizados para trabalhar nas lavouras Milhares de anos após o homem chegar à América surgiram
de cana-de-açúcar, nas minas de ouro e nas fazendas de gado. Os civilizações que dominaram boa parte do continente antes da che-
escravos eram comprados e vendidos como mercadoria, e eram gada dos europeus. Os incas, os maias e os astecas possuíam uma
submetidos a condições de trabalho extremamente desumanas. organização política, econômica e social muito semelhante à das
Em 1888, foi aprovada a Lei Áurea, que pôs fim à escravidão no primeiras civilizações do Oriente, apesar da grande distância entre
Brasil e abriu caminho para os novos trabalhadores. elas no tempo e no espaço.

O Papel dos Imigrantes no Século XIX Civilização Maia


No século XIX, o governo brasileiro incentivou a imigração para Origem: América do Norte.
o Brasil, com o objetivo de aumentar a oferta de mão-de-obra. Os Localização: fixaram-se na Península de Yucatán e suas proxi-
imigrantes eram obrigados a trabalhar em condições desfavoráveis, midade por volta de 900 a.C.
sendo submetidos a longas jornadas de trabalho e salários baixos. Área ocupada: pode ser dividida em duas regiões - Terras Altas,
formada pelas áreas hoje conhecidas como Guatemala e El Salva-
A Conquista dos Direitos Trabalhistas dor; Terras Baixas, formada pelas áreas conhecidas com Guatemala,
No século XX, o movimento operário brasileiro lutou pela re- México e Península de Yucatán10.
gulamentação do trabalho e pela conquista de direitos trabalhis-
tas. Com a promulgação da Constituição de 1988, os trabalhadores O processo de construção da civilização Maia é dividido em
brasileiros passaram a contar com uma gama de direitos, como a dois períodos, o primeiro ocorre entre 317 e 987 d. C. e o segundo
jornada de trabalho, o direito à organização sindical, a estabilidade ocorre entre 987 e 1697 d. C. Estas datas são marcadas através dos
no emprego, o salário-mínimo e outros. conhecimentos já existentes sobre a civilização.
Primeira Fase: os Maias foram influenciados pelas culturas: iza-
Conclusão pa e olmeca. Assim já possuíam o conhecimento de construção de
A história da organização do trabalho no Brasil é marcada por templos e pirâmides. Edificaram grandes cidades como Palenque,
disputas e lutas entre os grupos sociais. Desde o período colonial, Pedra Negra e Tekal, consideradas as cidades mais importantes. A
até os dias atuais, os trabalhadores brasileiros têm lutado para con- partir de 731 d.C. tem-se início um grande processo de expansão, o
quistar direitos trabalhistas e melhores condições de trabalho. A que levou os Maias a dominar toda a Península de Yucatán e a um
Constituição de 1988 trouxe importantes garantias para o trabalha- fantástico florescimento cultural.
dor brasileiro, e é importante que esses direitos sejam preservados. Segunda Fase: é representada pelo apogeu e pela decadência
da civilização Maia. Nesta segunda fase os Maias sofreram novas
influências vindas do Norte (Região do México), o que levou às cida-
des Maias a se desenvolverem mais, passando de centros religiosos
a cidades estruturadas militarmente.
9 Guia do Estudante. Antiguidade: Civilizações pré-colombianas. Editora Abril.
https://bit.ly/2YsniEa.
10 UFSCAR. Antiguidade na América: Povos Pré-Colombianos História Geral II:
Texto Complementar. https://bit.ly/2Cu3pnz.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No desenvolvimento da sociedade Maia destacam-se três cida- A arte maia expressa-se, sobretudo, na arquitetura e na escul-
des: Chicenitza, Mayapan e Uxnal. Em 1004 é criada por estas cida- tura. Suas monumentais construções - como a torre de Palenque, o
des a Confederação Maia, após a confederação, dezenas de cidades observatório astronômico de El Caracol ou os palácios e pirâmides
foram criadas nos dois séculos seguintes, gerando um aumento no de Chichén Itzá, Palenque, Copán e Quiriguá - eram adornadas com
poder político da Confederação. elegantes esculturas, estuques e relevos.
Entre os séculos X e XI as três principais cidades entram em Podemos contemplar sua pintura nos grandes murais colori-
guerra, na qual Mayapan sai vitoriosa. Mayapan exerce uma hege- dos dos palácios. Utilizavam várias cores. As cenas tinham motivos
monia sustentada pelo militarismo. Várias revoltas explodem na religiosos ou históricos. Destacam-se os afrescos de Bonampak e
região, levando Mayapan, em 1441, a ser incendiada. As guerras Chichén Itzá. Também realizavam representações teatrais em que
acabam gerando êxodo urbano nas grandes cidades. participavam homens e mulheres com máscaras, representando
A decadência dos Maias é gerada principalmente pelo declínio animais.
da agricultura, mas outros fatores com lutas internas, catástrofes
naturais (terremotos, epidemias etc.) e guerras externas foram in- Civilização Asteca
fluências para a decadência Maia. Origem: os astecas sofreram influências dos olmecas, estes vi-
Quando os europeus chegaram, em 1559, os sinais do enfra- veram, em tempos diferentes, na mesma região. Os olmecas cons-
quecimento era evidente e tornaram fácil a conquista. Tayasal foi a tituíram uma hegemonia na região, que após as invasões dos povos
última cidade Maia a ser tomada pelos europeus em 1697. oriundos do norte da América, chegou a seu fim.
Cidades Estados: os Maias não edificaram um Estado unifica-
do, centralizado. A realidade era que as cidades que se destacavam
Os povos do Norte (chamados de Nahua, família linguística
exerciam o controle sobre as vilas, povoados e regiões próximas.
nahuatl) construíram na região mexicana a cidade de Teotihuacán
As cidades eram geralmente controladas por famílias e possuíam
por volta de 500 e 600 d. C., influenciados pela cultura olmeca, esta
autonomia política e econômica.
Apesar da unidade estabelecida na Confederação Maia, a regra cidade é uma das grandes cidades da época com enormes cons-
era a disputa entre as cidades por independência, novas terras, tri- truções, pirâmides de homenagem ao Sol, a Lua e ao deus maior
butos, matéria-prima etc. Quetzacoatl.
Os toltecas, oriundos da América do Norte, parecem terem si-
• Economia e Sociedade dos influenciados pela cultura olmeca e se submetidos aos sacerdo-
Sua economia era baseada na agricultura, que tecnologicamen- tes da grande cidade Teotihuacán, pois deram continuidade à cultu-
te era primitiva, porém sua produtividade é grande, principalmente ra e à administração da cidade, organizando um Estado forte e uma
de milho (principal base alimentar). Essa produção gerava exce- civilização rica, chegando ao fim aparentemente devido a disputas
dentes, assim era possível deslocar um grande contingente para as internas e a guerras externas em 1194 d. C.
construções de templos, pirâmides e reservatórios de água. O povo mexica é originário da região Sul da América do Norte,
Os Maias eram obrigados a realizarem o rodízio das terras, pois denominada Aztlán, daí o nome de Asteca. Se fixaram na região do
estas eram pouco férteis, assim poderiam então garantir a fertilida- lago Texcoco, juntamente com outros povos e após 1325 começa-
de delas por até 8 ou 10 anos antes de passarem para outra área ram a construção do que seria a maior cidade do século XV, a gran-
cada vez mais distante das aldeias e cidades. de e majestosa Tenochtitlán.
A fome foi um dos fatores que levaram a civilização Maia ao
declínio, os fatores da fome foram o esgotamento do solo próximo Localização: Região do México.
as cidades e vilas e o aumento da população. Área ocupada: a área ocupada pelos astecas foi nas proximi-
A religião era a base da sociedade Maia, ela legitima o poder dades do lago Texcoco localizado no sul da América do Norte, onde
(exercido por famílias) - poder teocrático. Tenochtitlán foi construída apartir de 1325 d. C.
Formação do Império Asteca: a formação do Império Asteca
• Cultura teve como base a união de três cidades: a capital Tenochtitlán, Tex-
Os avançados conhecimentos que os maias possuíam sobre as- coco e Tlacopán, que juntas estenderam seu poder por toda a re-
tronomia (eclipses solares e movimentos dos planetas) e matemá- gião. Como eram as relações políticas entre as três cidades e as de-
tica lhes permitiram criar um calendário cíclico de notável precisão. mais não são muito claras, porém não era muito centralizada com
Na realidade, são dois calendários sobrepostos: o tzolkin, de 260
nos Incas.
dias, e o haab de 365.
O haab era dividido em dezoito meses de vinte dias, mais cinco
Na confederação Asteca conviviam comunidades de diferentes
dias livres. Para datar os acontecimentos utilizavam a “conta curta”,
culturas, costumes e idiomas, porem a unidade era marcada pela
de 256 anos, ou então a “conta longa” que principiava no início da
era maia. Além disso, determinaram com notável exatidão o ano religião, pela centralização militar e pela arrecadação de impostos
lunar, a trajetória de Vênus e o ano solar (365, 242 dias). Inventaram feitos em Tenochtitlán. As províncias da Região subordinavam-se
um sistema de numeração com base 20 e tinham noção do número aos Astecas, de maneira a não apenas pagarem impostos, mas tam-
zero, ao qual atribuíram um símbolo. Os maias utilizavam uma escri- bém serem obrigados a fornecerem contingentes militares e a se-
ta hieroglífica que ainda não foi totalmente decifrada. rem submetidos aos tribunais da capital.
O Império Asteca tem entre 1440 e 1520 o seu apogeu, antes
de ser completamente destruído pelos colonizadores, com a chega-
da de Cortez, que após várias incursões em agosto de 1521 o impé-
rio foi completamente conquistado.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma das razões da derrota dos Astecas foi o poderio militar, Civilização Inca
outro importante é que os Astecas não guerreavam para matar más Origem: entre o lago Titicaca e a cidade de Cuzco (Peru).
para submeter os demais povos à sua dominação, para os espa- Localização: Região oeste da América do Sul, voltada para o
nhóis a guerra era de conquista e extermínio. Outro fator pequeno, Pacífico.
mas importante foi a proliferação de doenças (a mais forte foi a Área ocupada: a partir da região de origem expandiram ocu-
epidemia de varíola), mas o fator realmente decisivo foi a união de pando regiões hoje conhecidas como sul da Colômbia, Equador,
alguns povos dominados pelo Astecas com os espanhóis. Peru, Bolívia, norte da Argentina chegando ao sul do Chile.
Esses povos queriam acabar com a hegemonia dos Astecas na
região e os espanhóis eram fortes aliados, porém não imaginavam O Império Inca chegou a reunir cerca de 15 milhões de pesso-
o que aconteceria após a derrota dos Astecas e a consolidação da as, povos que possuíam costumes, culturas e idiomas diferentes.
colonização espanhola. Na região viviam povos avançados denominados pré-incaicos,
estavam distribuídos por toda a costa leste da América do Sul, nas
• Guerra e Economia serras e no altiplano andino. Os povos habitavam várias regiões
A guerra tinha vínculo com aspectos religiosos e econômicos, como: os chavin que viviam nas serras peruanas; os manabi no lito-
não destruíam os inimigos e suas riquezas, pois a ideia era subme- ral do Equador; os chimu no norte do Peru; e ainda havia os chincas,
tê-los ao domínio e desfrutar das riquezas por meio dos impostos. mochicas, nazca e outros.
Desta forma as regiões dominadas pelos Astecas mantinham seus A maioria possuía centros urbanos organizados, templos ceri-
costumes, deuses, idiomas etc. Algumas vezes os Astecas negocia- moniais, agricultura diversificada (milho, batata e outros), alguns
vam a rendição de determinada região ou cidade.
domesticavam lhamas, vicunhas, alpacas e cachorros-do-mato. A
A economia era sustentada justamente pelas regiões domina-
grande cidade era Tiahuanaco, centro cerimonial que recebia mi-
das, com impostos pagos em mercadorias. Estima-se que Tenochti-
lhares de pessoas por ano, apresenta influência dos chavin e esta-
tlán arrecadava toneladas de: milho, cacau, pimenta seca; centenas
beleceu-se por volta do século X d. C.
de litros de mel; milhares de fardos de algodão, manufaturas têx-
teis, cerâmicas, armas, além de animais, aves, perfumes e papel. Expansão e Formação do Império Inca: o Império Inca absor-
A produção agrícola era baseada nos cereais, acima de tudo no veu as diversas culturas e colocou-as a serviço do crescente Impé-
milho, que constituía a base alimentar das civilizações pré-colom- rio.
bianas. Sendo a base alimentar destas civilizações talvez elas não O início do Império ficou marcado pela conquista dos chanca
teriam se constituído sem o que possibilitava o crescimento de suas pelo inca Yupanqui em 1438 d.C. Ele ocupou quase todo o Peru,
populações. chegando até a fronteira com o Equador. A expansão do Império
A posse das terras tinha uma característica muito interessante, levou à conquista do altiplano boliviano, norte da Argentina, Chile
pois o Estado detinha a posse de todas as terras e as distribuía aos (Tope Inca) e Equador, até o sul do Chile (Huayana Capac, 1493 –
templos, cidades e bairros. Nas cidades de bairros as terras tinham 1528).
um caráter coletivo, pois todos os adultos tinham o direito de culti- O processo de expansão do Império foi interrompido devido
var um pedaço de terra para a sobrevivência. No final do império os a disputas entre o irmão Huascar e Atahualpa, filhos de Huayana.
sacerdotes, comerciantes, e chefes militares se desobrigaram dessa Huascar centralizou-se em Cuzco e Atahualpa em Quito, a rivalida-
prática desenvolvendo-se assim uma forma de diferenciação social. de gerou uma guerra civil que enfraqueceu o império, a vitória de
Atahualpa de nada serviu, pois os espanhóis liderados por Pizzaro
• Religião e Cultura destruíram o que sobrou do Império.
De religião politeísta e astral (baseada nos astros), os Astecas
foram os mais religiosos da região, seu deus mais importante era • Organização da Sociedade
Uizlopochtli que representava o sol do meio-dia. O Estado Inca era imperial capaz de controlas toda a sua exten-
Mitos e ritos eram ricos e relacionados à natureza, os cultos são, o Inca era chefe do Estado, dotado de poderes sagrados here-
mais importantes estavam relacionados ao Sol. Era comum rituais ditários e reverenciado por todos.
de sacrifício, na qual a guerra era grande fornecedora de prisio- Os sacerdotes eram escolhidos por ele em meio a nobreza,
neiros destinados aos sacrifícios. A energia da comunidade estava suas funções iam da manutenção dos templos, sacrifícios, adivinha-
geralmente canalizada para as atividades que envolviam os rituais, ções, curas milagrosas até feitiçaria e oráculos. As cerimônias eram
realizados com grande minúcia nas encenações e procedimentos. na sua maioria para reverenciar o Deus Sol, cujo representante vivo
Nas atividades artísticas nota-se as influências das civilizações
era o Inca. Os sacerdotes também tinham a função de divulgar junto
olmecas e toltecas, anteriores aos astecas. A escultura em jade e
a historiadores, os mitos, lendas e histórias sobre o Inca.
as grandes construções. A arquitetura estava ligada a religiosidade,
É importante notar que havia duas religiões, uma voltada para
sendo a forma mais frequente a pirâmide com escadaria culminan-
a nobreza e outra para a população pobre.
do em um santuário no topo.
As pinturas e afrescos coloridos também tinham importância A integridade do Império foi conquistada devido a uma comple-
nas artes astecas, na qual a figura dos escribas era importantíssima xa burocracia administrativa e militar. Os cargos eram distribuídos
pois unido aos hieróglifos aparecia as pinturas. entre a nobreza e chegaram a adquirir caráter hereditário. Havia
De caráter religioso mais, a música e a poesia (intimamente uma educação e formação militar. Assim como os burocratas esta
relacionadas), eram acompanhadas de instrumentos, danças e en- camada era mantida com os tributos arrecadados.
cenações. A colonização infelizmente destruiu grande parte desta
produção cultural.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O controle da arrecadação e o poder das cidades e ayllus (ter- Os artesãos eram peritos no trabalho com o ouro. Mesmo sem
ras doadas pelo Estado) era feito pelos curacas (funcionários do conhecer o torno, alcançaram um bom domínio da cerâmica. Seus
Estado) e seus assistentes espalhados pelo Império. Os llactaruna vasos tinham complicadas formas geométricas e de animais, ou
(camponeses), cultivavam as terras dos Incas e dos curacas e paga- uma combinação de ambas. A religião inca era uma mistura de culto
vam tributos em forma de mercadoria em troca recebiam o direto à natureza (sol, terra, lua, mar e montanhas) e crenças mágicas. Os
de trabalhar nos ayllus. maiores templos eram dedicados ao Sol (Inti). Realizavam sacrifícios
Ainda o Estado obrigava-os a trabalhar nas construções de pi- tanto de animais como de humanos.
râmides, caminhos, pontes, canais de irrigação e terraços. Os Incas
utilizavam o sistema de mita para a extração de minerais, é um tra- SISTEMA COLONIAL ESPANHOL
balho compulsório, não remunerado, baseado na rotação da mão-
-de-obra, na qual os espanhóis utilizariam anos mais tarde. Conquista Espanhola na América
Havia também artesão, curandeiros e feiticeiros, os primeiros A conquista da América significou a dizimação de grande parte
eram considerados artistas, pintores, escultores, ceramistas, tape- dos povos nativos e a desintegração de sua cultura. Ali, os conquis-
ceiros, ourives entre outros; os segundos vaziam os trabalhos de ci- tadores europeus revelaram uma severa intolerância em relação
rurgiões, farmacêuticos, conhecedores de plantas medicinais entre aos diferentes modos de viver e de ver o mundo das populações
outras atividades. ameríndias11.
Os escravos eram chamados de yanaconas, a palavra é origi- As diferenças culturais e ideológicas dos colonizadores e dos co-
naria da cidade de Yanacu. Em alguns momentos alguns povos con- lonizados geraram diversos choques violentos e múltiplas for- mas
quistados tornavam-se escravos, suas funções eram domésticas e de dominação, composição e resistência. A integração da América
não trabalhavam nas plantações e nem construções. ao contexto europeu ocorreu por meio do colonialismo mercantilis-
ta. Entre as colónias e as metrópoles foi estabelecido um conjunto
• Economia e Planejamento de normas que regulamentou suas relações - chamado por muitos
A base da economia Inca provinha dos ayllu, os llactaruna de- de pacto colonial. Segundo essas normas, as metrópoles exerce-
veriam trabalhar nas terras do Estado, dos funcionários e nas cons- riam o monopólio sobre tudo o que as colônias importassem ou
truções para possuírem uma parte de terra para sua própria sobre- exportassem - o “exclusivo comercial”.
vivência. A base da produção agrícola era: milho, batata, tomate, Outro princípio estabelecia que, enquanto a metrópole se con-
abóbora e amendoim. Nas partes altas o milho era plantado em centrava no comércio, mais lucrativo, a colónia se dedicaria à pro-
terraços construídos nas encostas das serras e irrigados pelos canais dução de géneros agrícolas e à extração de recursos naturais. Dessa
de irrigação. forma, a ideia de “pacto” aqui deve ser considerada mais uma rela-
Domesticavam lhama, vicunhas e alpacas para o fornecimento ção de subordinação.
de lã, couro e transporte. O comercio era precário e restringia-se a Os europeus viam na América um vantajoso comércio colonial,
bens de luxo destinados, portanto, à corte. fundamental para a prosperidade das metrópoles e para a manu-
tenção de um Estado centralizado e forte. Submetendo os nativos
• Censos, Pontes e Caminhos e explorando seu trabalho, exterminaram grande parte das popu-
Os incas utilizavam de censo populacional para controlar o Im- lações nativas, o que causou o declínio de povos como os incas da
pério. Utilizavam o quipo (calculadora manual, constituía de cor- América do Sul e os astecas do México.
dões coloridos e nós) nos cálculos matemáticos, os funcionários Durante séculos, várias civilizações se desenvolveram no conti-
quipucamayucus realizavam o levantamento. nente. Calcula-se que, em fins do século XV, perto de 100 milhões
O Estado Inca fazia uso dos censos com base para planeja- de indígenas, pertencentes a diversos grupos étnicos, ocupavam a
mentos, pois dava condições de: controlar a relação população/ América. Na Mesoamérica, região que vai do México à Costa Rica,
arrecadação de impostos; a necessidade de mão-de-obra para sucederam-se civilizações como as dos olmecas, dos toltecas, o
determinada obra pública; controle do crescimento demográfico; Império Teotihuacán e as sociedades maia e asteca. Por volta do
planejamento de deslocamentos da população para áreas não ex- século XII, na região da cordilheira dos Andes, especialmente nos
ploradas, a fim de aliviar a densidade demográfica. territórios dos atuais Peru e Bolívia, diversos grupos quíchuas foram
Devido ao imenso Império, foi necessário uma infraestrutura reunidos sob o vasto Império Inca, que tinha como centro a cidade
que permitisse a circulação de impostos, funcionários, trabalhado- de Cuzco e era herdeiro da cultura de civilizações precedentes.
res pelo Império, desta forma foram construídas diversas pontes, Liderados por um imperador que, além de chefe militar, era
estradas, ao longo desses caminhos havia tambos, construções que considerado um deus na terra, o “filho do sol”, os incas conheceram
abrigavam alimento e água para os viajantes. seu auge entre os séculos XV e XVI, até a chegada dos espanhóis à
região, em 1531. Em 1525, antes da chegada dos espanhóis, a mor-
• Cultura te do imperador inca Huayna Cápac anunciou uma violenta disputa
O idioma quéchua serviu de instrumento unificador do império entre seus dois filhos, Huascar (c. 1491-1533) e Atahualpa (c. 1502-
inca. Como não tinham escrita, a cultura era transmitida oralmente. 1533), abalando o poder central do império.
Com um conjunto de nós e barbantes coloridos, chamados quipos, Foi em meio a esse quadro que as tropas espanholas sob o co-
os incas desenvolveram um engenhoso sistema de contabilidade. mando de Francisco Pizarro (1476-1541), vistas como aliadas pe-
Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. los homens de Huascar, capturaram Atahualpa, em Cajamarca. Na
mesma época, os exércitos de Atahualpa prenderam, em Cuzco, o
líder Huascar.
11 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino.
José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Essa situação insólita em que Huascar era prisioneiro de Outra forma de exploração do trabalho foi a encomienda. Por
Atahualpa, que, por sua vez, era prisioneiro de Pizarro, durou quase esse sistema, o rei da Espanha, por meio dos administradores colo-
um ano. niais, distribuía a encomenderos, obrigatoriamente espanhóis esta-
Em 1533, Huascar foi assassinado e Atahualpa, condenado à belecidos na América, o direito de explorar o trabalho de indígenas
morte por Pizarro. A dominação espanhola, contudo, encontrou em troca de oferecer-lhes uma educação cristã. Os indígenas sub-
ainda uma forte resistência inca que durou mais de quarenta anos, metidos ao trabalho para enriquecer os espanhóis eram os sobre-
até a morte do último imperador, Túpac Amaru, em 1572. A civiliza- viventes da conquista, pois na derrubada dos impérios, sobretudo
ção maia, cujo centro era a península de Iucatã, na região sudeste asteca e inca, milhões de nativos morreram. As estimativas mais
do atual México, teve seu apogeu entre os séculos III e X. conservadoras calculam 10 milhões de mortos, e as mais pessimis-
Organizava-se em cidades-Estado, cujo domínio político e so- tas falam em algumas de- zenas de milhões, só no período de insta-
cial, de caráter hereditário, era exercido por uma elite religiosa e lação do poder espanhol.
militar. Em torno de mais de cinquenta centros urbanos, havia al- De início, os conquistadores com a função de efetivar a domi-
deias de camponeses submetidos à servidão coletiva. Com mais de nação em nome da Coroa receberam o título de adelantados e vá-
dois milhões de habitantes, a civilização maia foi responsável pela rios privilégios. Com o sucesso dos negócios, todo o gerenciamento
criação de um sofisticado sistema de escrita e desenvolveu diversos da colonização passou a ser feito na Espanha, a cargo da Casa de
calendários. Pouco se sabe sobre as causas de seu declínio. Suas Contratação, criada em 1503 e completada em 1511, com a criação
cidades foram abandonadas e, na época da chegada dos espanhóis, das Audiências.
já não existia uma civilização maia organizada. A civilização asteca
foi a mais grandiosa das civilizações da Mesoamérica e reunia uma Com o objetivo de fiscalizar os colonos - e, em 1524, pelo Con-
população estimada em 15 milhões de habitantes. Tinha por capi- selho das Índias, órgão responsável pelas decisões administrativas
tal a cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), fundada em e pela escolha de representantes espanhóis da administração - os
1325. Entre 1519 e 1521, porém, a sociedade asteca foi conquistada chapetones.
e destruída pelos espanhóis comandados por Hernán Cortez (1485- Em 1535 foi fundado o primeiro vice-reinado - Vice-Reinado de
1547). Nova Espanha -, seguindo-se a fundação em 1543 do Vice-Reinado
do Peru, e outros, seguidos depois pelas Capitanias Gerais, sob con-
• Colonização Espanhola trole do Conselho das Índias. Na colônia, cada ayuntomento, mais
A ideia de expansão da fé católica por meio da conversão dos tarde chamado de Cabildo - um tipo de câmara municipal que fis-
indígenas foi utilizada por espanhóis e portugueses como justificati- calizava os colonos e as propriedades públicas -, se responsabilizava
va para a exploração da América. Até o final do século XVI, os espa- pela administração das cidades.
nhóis já haviam subjugado os grandes impérios Inca e Asteca, por Os grandes proprietários de terras nascidos na Espanha e os
força de sua ganância, superioridade técnica militar (uso de armas criollos, descendentes de espanhóis nascidos na América, forma-
de fogo e cavalos, até então desconhecidos na América) e até mes- vam a elite colonial espanhola. Várias outras autoridades completa-
mo habilidade política, fazendo e desfazendo alianças, jogando os vam a ordem administrativa colonial.
povos indígenas uns contra os outros. A atividade comercial e a arrecadação de impostos eram rea-
As doenças europeias, para as quais o organismo dos nativos lizadas pela Casa de Contratação, que, para melhor controlar o co-
não tinha defesa imunológica - como sarampo, gripe e varíola -, mércio colonial, instituiu o regime de “porto único”. Por esse regi-
também foram responsáveis pelo extermínio de grande número de me, somente um porto espanhol - de início o de Sevilha, onde ficava
ameríndios. a sede da instituição - faria o comércio com a América. No Novo
Durante os séculos XVI e XVII, os espanhóis se concentraram Mundo, os portos autorizados a realizar o comércio externo com
na extração de metais preciosos (ouro e prata) dos atuais México a metrópole eram os de Veracruz (México), Porto Belo (Panamá) e
e Peru, o que denotava o caráter de exploração das colônias Cum- Cartagena (Colômbia).
priam-se os objetivos das práticas mercantilistas, com a transferên- O sistema garantia o controle da metrópole sobre tudo o que
cia das riquezas coloniais para a metrópole espanhola. entrava e saía das colônias.
Além da exploração mineira, o comando metropolitano tam-
bém distribuiu terras aos colonizadores, formando as haciendas,
típicas da região que corresponde ao atual Chile e de algumas áreas
mexicanas. As haciendas eram grandes propriedades, trabalhadas BRASIL IMPÉRIO: PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA
por nativos, nem sempre dedicadas à monocultura. Assim como na
América portuguesa, também na América espanhola surgiram ou-
tras formas de propriedade agrícola, muitas dedicadas ao consumo O Dia do Fico e a Independência do Brasil
interno da área colonial.
Para explorar as minas, os espanhóis adotaram a mita, forma Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não enca-
de trabalho que já existia no Império Inca. Sob a mita, os indígenas raram bem o fato de D. Pedro I ter ficado no Brasil como regente. A
eram retirados de sua comunidade e obrigados a extrair minérios partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para Portugal e pres-
para os conquistadores em troca de uma remuneração irrisória. O tar homenagens às Cortes.
uso da mão de obra indígena arruinou a estrutura comunitária des- Por outro lado, a aristocracia brasileira sabia que a única forma
sa população, contribuindo também para dizimá-la - vitimada pelas de garantir que o país não regressasse à condição de colônia era
péssimas condições de trabalho nas minas. apoiar o movimento emancipacionista em volta de D. Pedro I.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento emanci- A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a intenção
pacionista brasileiro D. Pedro I não cumpre às exigências das Cortes de fazer uma Constituição similar à portuguesa, onde D. Pedro teria
e afirma que permaneceria no Brasil (“Dia do Fico”). Esse dia foi seus poderes limitados. Já o monarca, que era conhecido por ser
seguido de negociações e mudanças na administração brasileira até autoritário e centralizador trabalhou para permanecer com todos
finalmente em 7 de setembro do mesmo ano ser declarada a inde- os poderes em torno de si.
pendência do Brasil. Apesar da Constituição elaborada por influência dos Andrada
ter a intenção de limitar os poderes de D. Pedro I, ela garantia os pri-
O Reconhecimento da Independência vilégios da aristocracia rural. Popularmente conhecida como Cons-
O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente tituição da Mandioca12 ela garantia os privilégios à quem tivesse a
não o tornava assim. Era necessário que externamente essa inde- posse da terra e defendia a manutenção da escravidão.
pendência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No início Acontece que essa Constituição, onde o legislativo predomina-
apenas alguns reinos africanos com o qual o Brasil tinha relações ria pelo executivo nem chegou a ser concluída. Em 12 de novembro
comerciais (negociação de escravos) e os Estados Unidos (dois anos de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da Assembleia (episódio
depois) reconheceram nossa autonomia. conhecido como “Noite da Agonia”), convocou um Conselho de Es-
A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o Bra- tado e encomendou a nova Constituição do país, onde seu poder
sil não reconheceu de imediato a nova condição, uma vez que não estaria assegurado.
queria perder Portugal como parceiro/dependente dentro da Euro- A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes: exe-
pa. Visando os próprios interesses foi ela quem intercedeu para que cutivo, legislativo, judiciário e moderador. O poder moderador era
um acordo fosse realizado entre Brasil e Portugal. exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos os outros. Assim ele
Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e Alian- mantinha todas as características centralizadoras e absolutistas de
ça, em que mediante o pagamento de dois milhões de libras ester- uma monarquia e não via precedentes de verdadeira oposição.
linas como indenização, e a continuidade do título de imperador do
Brasil para D. João, Portugal reconhecia a emancipação do Brasil. A Confederação do Equador
O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição
acordos comerciais com o Brasil e conseguiu o “compromisso” do desagradaram em vários aspectos muitas províncias brasileiras. O
fim da escravidão no país, além do pagamento da própria dívida. A nordeste, já marginalizado nesse período e com histórico de revol-
partir daí outras nações da América e do mundo também reconhe- tas contra a coroa, novamente se movimentou. Com início em Per-
ceram o Brasil como nação autônoma. nambuco e com apoio popular, outras províncias se juntaram ao
movimento (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba).
Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles Cipria-
PRIMEIRO REINADO no Barata e Frei Caneca, as elites regionais também apoiaram o mo-
vimento. Do ponto de vista social foi o mais avançado do período
com reformas sociais, mudança de direitos políticos e abolição da
De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da inde- escravidão.
pendência do Brasil: Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites regionais a
- éramos o único país na América que após a emancipação da abandonar o movimento, pois temiam perder seus próprios privi-
metrópole continuamos a viver em um regime monárquico; légios.
- a população não teve participação alguma no processo e até Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão do go-
mesmo províncias mais distantes só ficaram sabendo da mudança verno, o levante foi contido com dezesseis membros sendo conde-
meses depois; nados à morte, entre eles, Frei Caneca.
- a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar.
A Cisplatina
Algumas regiões, principalmente aquelas com conservadores A região da Cisplatina13 sempre foi alvo do interesse do gover-
portugueses e acúmulo de tropas lusitanas não apenas recusaram- no português que desejava expandir suas fronteiras até o rio da Pra-
-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como lutaram contra ela. ta. Após a “bagunça” feita por Napoleão às Coroas europeias, mais
As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará re- precisamente à Coroa espanhola que teve sua continuidade inter-
sistiram ao novo governo e apenas com o uso da força aceitaram a rompida e retomada após a queda do general francês, as colônias
nova condição. americanas viviam um período de instabilidade e descentralização.
Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda vivíamos Todos os movimentos de independência dessas colônias, apesar
em uma monarquia centralizadora e mesmo os defensores de de bem sucedidos, as debilitaram econômica e politicamente. Foi
ideias republicanas só pensavam em sua projeção política e não em quando dessa instabilidade que D. João viu a oportunidade de re-
uma mudança de fato. alizar um antigo desejo português, em 1820 ele ordena às tropas
imperiais invadirem a região da Cisplatina.
A Primeira Constituição Brasileira
D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte antes
mesmo de declarar o Brasil independente. E desde o primeiro mo-
mento houve desacordo. 12 Apenas pessoas com mais de 150 alqueires de mandioca poderiam se

candidatar ou votar.

13 Província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, posterior-


mente, do Império do Brasil. A província correspondia ao atual território do Uruguai.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mesmo após o retorno de D. João à Portugal e à independên- A Regência Trina Provisória


cia, a Cisplatina continuou sendo parte do Brasil (até 1828), porém A Constituição previa que caso o soberano não tivesse um pa-
à duras custas, a região nunca aceitou o domínio brasileiro, e cons- rente próximo com mais de 35 anos para governar em seu lugar,
tantemente D. João e posteriormente D. Pedro I tinham de enviar uma regência trina (composta por três pessoas) deveria fazê-lo.
expedições para conter as revoltas. Isso não apenas gerava custos Como na época em que D. Pedro I abdicou os deputados esta-
aos cofres imperiais como também atacava a imagem do impera- vam de férias, foi formada uma Regência Trina Provisória.
dor, que se mostrava incapaz de resolver a questão. A opinião públi- Suas principais ações foram a manutenção da Constituição de
ca era avessa à causa de gastar com os conflitos e insistir em manter 1824, reintegração do ministério demitido por D. Pedro I, anistia
a posse de uma região que nem era semelhante culturalmente ao aos presos políticos e a promulgação da Lei Regencial de abril de
povo brasileiro. 1831, que limitava os poderes dos regentes.
Enfim, em 1828, com apoio do governo argentino, as forças cis-
platinas fazem com que o Brasil se retire do conflito e proclamam a A Regência Trina Permanente
República Oriental do Uruguai. Foi eleita em junho de 1831. Com o padre Digo Antônio Feijó
A imagem de D. Pedro I sai abalada após o episódio. Seguiu-se a como ministro da justiça e composta por Bráulio Muniz, Costa Car-
isso o misterioso assassinato de Libero Badaró (jornalista declarado valho e Francisco de Lima e Silva, essa regência teve como principal
opositor e crítico de D. Pedro I), maior força do movimento liberal realização a criação da Guarda Nacional.
e aumento das críticas a respeito da conduta política do imperador. A criação da Guarda Nacional gera uma série de consequências
Além da pressão política, do exército e da população, D. Pedro que serão vistas até o século XX, principalmente no período da Re-
I teve de superar uma crise sucessória. Quando D. João faleceu, D. pública Velha. A Guarda foi uma tentativa de baratear os custos da
Pedro I abdica do trono português em favor de sua filha. Em Portu- segurança no país “terceirizando” as funções de polícia e do exér-
gal é iniciado então um conflito sucessório entre D. Maria da Glória cito. Os chamados coronéis compravam suas patentes militares e
e o irmão de D. Pedro I, D. Miguel. recebiam autonomia para organizar suas próprias forças armadas
D. Pedro passa a gastar recursos brasileiros para garantir o tro- locais.
no de sua filha, o que gera mais descontentamento nacional. Com Embora na teoria seu papel fosse garantir a ordem regional,
a pressão interna e a necessidade de cuidar de seus interesses em essa força só servia aos seus interesses, como as leis garantiam que
Portugal, D. Pedro I abdica do trono brasileiro e retorna para seu apenas ingressasse na Guarda quem dispusesse de altos ganhos
país, deixando como herdeiro seu filho, D. Pedro II. anuais, e estes eram apenas os grandes proprietários de terras, ape-
nas a aristocracia rural ficou identificada com os coronéis.
A mesma administração ainda promulga a “Lei Feijó” que proi-
PERÍODO REGENCIAL bia o tráfico e tornava livre todos os africanos introduzidos em ter-
ritório brasileiro. Essa lei nunca foi respeitada de fato e a escravidão
O Período Regencial (1831-1840) permaneceu até 1888.

D. Pedro II, herdeiro do trono brasileiro tinha apenas cinco anos Ato Adicional de 1834
de idade quando D. Pedro I retornou a Portugal. A maioria dos po- O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de
líticos brasileiros ainda eram favoráveis à manutenção do império e 1824. Promulgado em 12 de agosto, possuía caráter descentraliza-
se preocuparam com as possíveis revoltas que haveriam tendo uma dor, instituindo a criação de assembleias legislativas nas províncias,
criança como governante. Ficou então decidido que o país seria go- a supressão do Conselho de Estado e a Regência Una (governante
vernado por regentes até a idade apropriada de D. Pedro II. único). O Rio de Janeiro foi considerado um território neutro. Tam-
Politicamente esse foi o período mais conturbado desde a co- bém foi reduzida a idade para o imperador ser coroado, de 21 para
lonização. Além dos grupos regionais que se revoltaram, o próprio 18 anos.
cenário político não tinha unidade. Apesar de todos fazerem parte
basicamente dos mesmos segmentos e terem interesses econômi- Regência Una
cos semelhantes, politicamente estavam divididos entre: Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em
1832, abandonando o cargo de Ministro da Justiça logo em seguida,
- Restauradores (conhecidos como Caramurus, eles defendiam o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição para Regente
a continuidade de D. Pedro I no poder e acreditavam que a tran- em 1835. Sendo empossado em 12 de outubro do mesmo ano para
quildade política passava pela ação absolutista. José Bonifácio fazia um mandato de quatro anos, não completando nem dois anos no
parte desse grupo que foi articulador do Golpe da Maioridade anos cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar
depois); e rebeliões provinciais, como a Cabanagem, no Pará, e o início da
- Liberais moderados (apesar do nome, esse grupo era com- Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com poucos recursos
posto em grande parte pela aristocracia rural. Eram contra reformas para governar e isolado politicamente, renunciou em 19 de setem-
sociais e lutavam por manter seus privilégios. Defendiam a monar- bro de 1837.
quia, porém de forma menos autoritária do que D. Pedro I empre-
gava. Eram chamados de Chimangos);
- Liberais exaltados (era o grupo mais variado, tinha desde aris-
tocratas até trabalhadores livres e sem terras. Esse grupo buscava
reformas sociais e políticas, maior autonomia das províncias e mu-
danças constitucionais. Eram conhecidos como Chapéus-de-palha).

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Segunda Regência Una O exército rebelde era formado em sua maioria, por “negros de
Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os conser- ganho”, escravos que vendiam produtos de porta em porta e, ao fim
vadores obtêm maioria na Câmara dos Deputados e elegem Pedro do dia, dividiam os lucros com os senhores. Podiam circular mais
de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de se- livremente pela cidade que os escravos das fazendas, o que facili-
tembro de 1837. A segunda regência una é marcada por uma rea- tava a organização do movimento. Além disso, alguns conseguiam
ção conservadora, e várias conquistas liberais são abolidas. A Lei de economizar e comprar a liberdade. Os revoltosos lutavam contra
Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de maio de 1840, a escravidão e a imposição da religião católica, em detrimento da
restringe o poder provincial e fortalece o poder central do Império. religião muçulmana.
Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de D. Pedro II. A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, que
Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho teve muitos mortos, presos e feridos. Mais de quinhentos negros
de 1840. libertos foram degredados para a África como punição.

Revoltas no Período Regencial Sabinada (1837-1838)


A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar uma
Em muitas partes do império a insatisfação com o governo república independente. Foi liderada pelo médico Francisco Sabino
cresceu muito, levando alguns grupos a apelarem para a luta arma- Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou conhecida como Sabinada.
da e a revolta como forma de protesto. O principal objetivo da revolta era instituir uma república baiana,
mas só enquanto o herdeiro do trono imperial não atingisse a maio-
Cabanagem (1833-1840) ridade legal. Diferentemente de outras revoltas ocorridas no perí-
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e 1839, odo, a sabinada não contou com o apoio das camadas populares e
na região do Grão-Pará, que compreende os atuais estados do Ama- nem com os grandes proprietários rurais da região, o que garantiu
zonas e Pará. A revolta começou a partir de pequenos focos de re- ao exército imperial uma vitória rápida.
sistência que aumentaram conforme o governo tentava sufocar os
protestos, impondo leis mais rígidas e a obrigação de participação Balaiada (1838-1841)
no exército para aqueles que fossem considerados praticantes de Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse nome
atos suspeitos. A cabanagem contou com grande participação da devido ao apelido de uma das principais lideranças do movimento,
população pobre, principalmente os Cabanos, pessoas que viviam Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o “Balaio”, conhecido por ser
em cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de vendedor do produto.
Belém, porém foram derrotados pelas tropas imperiais. A Balaiada representou a luta da população pobre contra os
grandes proprietários rurais da região. A miséria, a fome, a escra-
Revolução Farroupilha (1835-1845) vidão e os maus tratos foram os principais fatores de descontenta-
A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma revol- mento que levaram a população a se revoltar.
ta promovida por grandes proprietários de terras no Rio Grande do A principal riqueza produzida na província, o algodão, sofria
Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de seus líderes era de forte concorrência no mercado internacional, e com isso o produto
separar-se do restante do país. perdeu preço e compradores no exterior. Além da insatisfação po-
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do sul pular, a classe média maranhense também se encontrava descon-
em relação aos produtores estrangeiros de charque, principalmente tente com o governo imperial e suas medidas econômicas, encon-
os platinos e argentinos que comercializavam e concorriam com os trando na população oprimida uma forma de combatê-lo.
estancieiros pelo mercado do produto no Brasil, utilizado principal- Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em 1839
mente na alimentação de escravos. e estabelecer um governo provisório, com medidas que causaram
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros iniciam a grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional e a expulsão
revolta, tendo Bento Gonçalves como principal chefe do movimen- dos portugueses que residiam na cidade.
to, comandando as tropas farroupilhas que dominaram Porto Ale- Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de
gre. Com as vitórias obtidas foi proclamado um governo indepen- escravos foragidos, a classe média que apoiava as revoltas aliou-se
dente em 1836, conhecido como República do Piratini, com Bento ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o movimento e
Gonçalves como presidente. garantiu a vitória em 1841, com um saldo de mais de 12 mil serta-
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. For- nejos e escravos mortos em batalhas. Os revoltosos que acabaram
ças rebeldes, comandadas por Giuseppe Garibaldi e Davi Canabar- presos foram anistiados pelo imperador.
ro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a República Juliana.
A revolta consegue ser contida somente após a coroação de D. A Maioridade e a Tranquilidade Política
Pedro II e com os esforços do Barão de Caxias, encerrando os confli- Toda a instabilidade do período regencial colocou tanto liberais
tos em 1 de março de 1845. quanto conservadores em xeque, uma vez que ambos haviam ocu-
pado o poder mas nenhum conseguiu trazer estabilidade ao país.
Revolta dos Malês (1835) A ideia de antecipar a maioridade de D. Pedro II começou a agra-
Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os negros es- dar ambos os grupos: os liberais esperavam que com isso teriam
cravos ou libertos correspondiam a cerca de metade da população. a chance de voltar ao governo. Os conservadores viam nisso uma
Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e religiosos, entre os oportunidade de preservar a monarquia e manter a unidade do
quais os muçulmanos – genericamente denominados malês -, que império. Em 1840, com uma regência conservadora o parlamento
protagonizaram a Revolta dos Malês, em 1835. aprova adiantar a maioridade de D. Pedro II.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de um conservador para o cargo de presidente de província, os li-


SEGUNDO REINADO berais revoltam-se pegando em armas e lançando o Manifesto ao
Mundo, documento que exigia o fim dos privilégios comerciais por-
tugueses, liberdade de imprensa, fim da monarquia e proclamação
Segundo Reinado da república, fim do voto censitário, extinção do poder moderador
e Senado vitalício.
Ao contrário do que aconteceu com seu pai, a preparação polí- Com adesão popular os revoltosos chegaram a derrubar o pre-
tica de D. Pedro II parece ter sido melhor. Mesmo sem abandonar o sidente de província e controlar Olinda, porém as tropas imperiais
aspecto autoritário em seu governo, politicamente ele soube traba- os contêm em 1849.
lhar com as aristocracias rurais. D. Pedro II dava a elas a condição de
crescerem economicamente e em troca recebia seu apoio político. O Parlamentarismo às Avessas
Falamos em aristocracias porque nesse período uma nova elite Em 1847 D. Pedro II cria no Brasil um sistema parlamentarista
agrária e mais poderosa surgiu representada pelos cafeicultores do até então inédito no mundo.
sudeste frente a antiga elite nordestina. O café passou a ser o prin- Um sistema parlamentarista tradicional funciona com o rei (ou
cipal produto do país e assim permaneceu até a república. presidente) sendo o chefe de Estado, porém não sendo o chefe de
governo. Isso implica nas responsabilidades políticas do cargo, onde
Liberais e Conservadores14 o chefe de governo as têm em muito maior quantidade.
Liberais (chamados de Luzia) e conservadores (Saquarema) Normalmente é o parlamento quem elege o Primeiro Ministro
diferiam em suas teorias e aspirações políticas em seus discursos, para chefe de governo. No Brasil as coisas aconteceram um pouco
porém, durante todo o Segundo Reinado ficou claro que quando no diferentes: o Parlamentarismo às Avessas, como ficou conhecido,
contava com um novo cargo, o de Presidente do Conselho de Mi-
poder, ambos eram iguais.
nistros (que em um sistema normal seria o Primeiro Ministro), sub-
Os liberais defendiam a descentralização e autonomia das pro-
misso e escolhido por D. Pedro II, que poderia destitui-lo quando
víncias enquanto os conservadores, como o próprio nome sugere,
quisesse.
defendiam um governo forte e centralizado.
Era uma forma de manter o parlamento e o Presidente sob
controle e que acabava descaracterizando o sistema como Parla-
As Eleições do Cacete mentarista.
Ao assumir, D. Pedro II vivenciou um grande impasse político:
para auxiliá-lo em seu governo foi criado o Ministério da Maiori- A Influência do Café
dade. O problema se deu porque o Ministério tinha sua maioria O sistema de produção rural no Brasil sempre foi o mesmo,
composta por liberais, enquanto a Câmara era composta maiorita- baseado na monocultura, grande propriedade e trabalho escravo.
riamente por conservadores. Qualquer decisão a ser tomada gerava Desde a crise do açúcar e esgotamento das jazidas de ouro, o país
grande debate pelas divergências entre ambos. procurava seu novo salvador econômico. Este se apresentou na fi-
A solução encontrada para acabar com essa disputa foi dissol- gura do café, que além da mudança em relação à mão de obra, mos-
ver a Câmara e convocar novas eleições: As Eleições do Cacete. O trou poucas mudanças na estrutura de produção.
nome não foi por acaso. Para garantir a vitória, o partido liberal co- Graças ao aumento do consumo europeu, clima e solos favo-
locou “capangas” para trabalhar nas eleições e através de coerção e ráveis, além da já estabelecida estrutura de grandes propriedades
ameaças eles venceram. e monocultura, o café já na primeira metade do século XIX des-
Os liberais mantiveram-se no poder por pouco tempo. Ape- pontava como principal produto nacional. Das primeiras fazendas
sar de serem maioria, as pressões externas (Inglaterra) e internas comerciais no Rio de Janeiro, até sua expansão para o interior de
(Guerra dos Farrapos), e a má impressão que ficou após o uso da Minas Gerais, São Paulo e norte do Paraná, até quase a metade do
força nas eleições fez com que o imperador novamente dissolve-se século seguinte o café não apenas conseguia sozinho equilibrar nos-
a Câmara e formasse um novo ministério, este composto por ambos sa balança comercial, mas foi responsável pelo desenvolvimento da
os lados. malha ferroviária, algumas cidades que a acompanhavam e pela in-
trodução da mão de obra livre.
Revolução Praieira Com crescente demanda, maior necessidade de braços para a
A Revolução Praieira ocorreu na metade do século XIX (1848) lavoura, com a pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico e posterior-
em um contexto onde o nordeste já sofria as consequências econô- mente fim da escravidão, os cafeicultores não encontraram outra
micas da crise do açúcar, enquanto a região sudeste já era a “favo- solução que não trazer trabalhadores imigrantes europeus para
suas fazendas.
rita” do Império com a prosperidade econômica ocasionada pelo
Esse foi um período que marca o país em todos os aspectos:
café.
- sociais com o surgimento de novas classes;
Pernambuco era uma província conturbada na época: eram
- políticos com a mudança do eixo central da velha oligarquia
os portugueses quem controlavam o comércio e a política local. O
açucareira para a nova oligarquia cafeeira (Barões do Café); e
cenário de problemas econômicos, sociais e políticos criou o clima - econômicas com o desenvolvimento de cidades, serviços e
para um conflito entre os partidos Liberal e Conservador. ensaios de industrialização.
Os portugueses se concentravam em torno do partido conser-
vador. Os democratas e liberais brasileiros em torno do partido libe- Cultura
ral. Após as eleições de 1848 que tiveram como resultado a eleição A cultura no século XIX desenvolveu-se de acordo com os pa-
14 Adaptado de MARTINS. U. (Segundo Reinado – 1840 – 1889) drões europeus.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na literatura tínhamos o romantismo como principal gênero A Lei de Terras ainda tinha um segundo propósito: garantir
seguindo as devidas influências exteriores. José de Alencar com sua que apenas quem tivesse capital (normalmente quem já tinha ter-
obra O Guarani nos dá um bom exemplo disso, descrevendo o índio ras) conseguisse obtê-las. As terras devolutas (aquelas “desocupa-
Peri como herói que enfrenta tribos menos civilizadas. das”15) não mais seriam entregues por doação ou ação de posseiros,
No campo das artes os indígenas também eram retratados de o que garantia que os trabalhadores dependessem de um emprego
maneira ao imaginário europeu: passivos e martirizados, além de em fazendas.
características físicas distorcidas (a obra Moema – Victor Meirelles O governo arrecadou mais impostos com demarcação e vendas
- é representada com pele quase branca). e com isso conseguiu financiar, junto de cafeicultores a vinda de
No campo das instituições, D. Pedro II revelou-se grande entu- mão de obra imigrante no período.
siasta e apoiador. Sempre demonstrou interesses pelas atividades
do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) do qual chegou Imigração16
a receber o título de protetor da instituição. Pouco depois fundou a Vários são os motivos que explicam o movimento de imigração
Ópera Nacional, a Imperial Academia de Música e o Colégio Pedro para o Brasil: internamente havia o preconceito dos grandes produ-
II, onde ele frequentemente fazia visitas. tores rurais que, quando obrigados a abrir mão do trabalho escravo
Por fim, manteve incentivos financeiros em campos de estudo por motivos de lei ou econômicos, não admitiam ter que pagar para
como medicina e direito. os mesmos negros trabalhar em suas terras. Havia a desinteligência
de que a partir daquele momento o escravo não seria ideal para
O Caso Indígena o trabalho rural e ainda as aspirações do governo de uma “reco-
No século XVIII se desenvolveu um projeto civilizador que foi lonização”, principalmente da região sul ainda alvo de disputas de
incorporado à colônia. O conceito era simples à primeira vista: po- fronteiras ou povoada por indígenas.
vos que não respondiam ao poder real precisavam ser subjugados. Externamente víamos na Europa um exemplo inverso ao Brasil:
Acontece que as elites locais/regionais ao incorporar a ideia aqui tinham terras de sobra e poucos trabalhadores, lá eles tinham
não levavam em conta o fator “civilizador”, mas sim o econômico. muitos braços livres e poucas terras. A Europa do século XVIII e XIX
Caso não houvesse a possibilidade de angariar recursos (de qual- viu um aumento na taxa de natalidade, expulsão dos trabalhadores
quer natureza) a intervenção não era justificada. De uma forma do campo e pequenos proprietários, além de perseguições políticas
mais simples: o projeto só aconteceu em regiões que dariam algum e religiosas.
retorno financeiro para as expedições, para as elites ou para o go- Pareceu à época uma solução natural que os imigrantes euro-
verno central. peus arriscassem a sorte no novo continente.
Civilizar ou não o indígena tinha um segundo lugar de impor- A região sudeste, principalmente o estado de São Paulo, apesar
tância nessa empreitada. de ter tido grande influência imigrante demorou a “engrenar”. As
primeiras experiências receberam o nome de sistema de parceria.
A Questão Agrária Nesse sistema os imigrantes trabalhavam no cultivo e colheita do
Do início da colonização até o século XIX a questão e a política café, e dividiam os lucros e eventuais prejuízos com o dono da terra.
agrária no Brasil eram definidas pelas sesmarias. Ao mesmo tempo O maior exemplo desse sistema (e seu fracasso) foi o implantado
em que a concessão de uma sesmaria era a garantia legal de posse pelo Senador Campos Vergueiro. Apesar da promessa, a fazenda ti-
da terra, apenas quem tivesse relações e contatos políticos conse- nha o monopólio de tudo que os imigrantes necessitavam adquirir
guiam esse acesso. (sempre com preços mais elevados), o que resultava em uma dívi-
Outras formas como a ação de posseiros também eram co- da viciosa com o fazendeiro. Além disso, devido à proximidade do
muns, porém até o ano de 1850 ela era ilegal mediante algumas contato com o trabalho escravo, o tratamento com os imigrantes
condições. era semelhante, o que chegou a fazer com que o próprio governo
O que muda em 1850 é o advento da Lei nº 601, conhecida italiano recomendasse que seus cidadãos não viessem para o Brasil.
como Lei de Terras. A criação dessa lei não apenas afirmava a lega- Nos últimos anos do século XIX, com a situação se agravando
lidade das sesmarias como garantia o direito legal da terra a possei- na Itália e com a maior necessidade de mão de obra no Brasil, go-
ros (desde que as terras tivessem sido possuídas anteriormente à verno e fazendeiros oferecem melhores condições, o que abre as
lei e fossem devidamente cultivadas). portas definitivamente para a chegada do europeu.
A Lei de Terras veio para garantir o valor de um novo produto, a O sul, como falamos acima, mostrou uma colonização diferen-
própria terra, uma vez que a escravidão via seus dias contados des- te. Composto por pequenas propriedades familiares ou comunida-
de a aprovação da Lei Eusébio de Queirós. A lei que proibia o tráfico des rurais, a região não atendeu os interesses do mercado externo
de escravos dificultou a obtenção de mão de obra para os grandes e o governo tinha maior preocupação em garantir a posse do Brasil
fazendeiros, que então importavam escravos de outras regiões do na região do que garantir as exportações da época.
país. Com a escassez de escravos, a terra passaria a ser o principal
produto e símbolo de status (da mesma forma que ter um grande
número de escravos destacava as pessoas de maiores fortunas e
influência, agora a terra garantia essa imagem).
15 Quando falamos em terras “desocupadas” falamos do ponto de vista do

governo da época. Eram terras no qual o governo não havia recebido rendimentos.
Indígenas e posseiros sem permissão ocupavam essas terras e eram expulsos sem
cerimônia ou compensação.

16 Adaptado: UNOPAREAD < http://www.unoparead.com.br/sites/museu/

exposicao_sertoes2/Imigrantes-e-migracoes.pdf>
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Tráfico Negreiro, Lutas Abolicionistas e o Fim da Escravidão17 A sociedade também já contava com um número maior de
À época da independência D. Pedro I se viu pressionado por entusiastas que estavam dispostos a lutar pelo fim dessa prática e
dois lados muito importantes para manter seu governo: pressionar o governo. O império inglês junto desses fatores final-
- De um lado a Inglaterra, nação industrializada que via na ex- mente consegue se colocar em posição de forma que o Brasil não
tinção do comércio de escravos (e na própria instituição escravista) podia mais ignorá-lo.
maior possibilidade de capital e mercado consumidor. Seu apoio As seguintes leis são o resultado dessas pressões e mostram a
político e financeiro ao Brasil no processo de independência estava evolução do processo de abolição:
condicionado ao compromisso do país em abolir essa prática.
- Do outro lado estavam os grandes proprietários de terra, mo- Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850:
tivo pelo qual nem D. Pedro I, nem a regência e nem D. Pedro II a partir dessa data é proibido o tráfico de escravos para o Brasil.
conseguiram cumprir o acordo. Trocas internas entre províncias de escravos que já estão no país
No curto período anterior ao aumento da produção cafeeira no ainda são permitidas.
país, o tráfico de escravos de fato diminuiu em números visto que
a necessidade de mão de obra era menor. A partir do momento em Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871:
que os grandes fazendeiros sentiram necessidade de mais braços considerava livre todos os filhos de mulheres escravas nascidas a
em suas lavouras, mesmo com leis da regência proibindo a impor- partir dessa data.
tação de escravos, o volume voltou a crescer. As consequências fo-
ram a maior pressão inglesa sobre o Brasil no aspecto político, e na Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe), de
prática uma perseguição real da marinha inglesa a navios negreiros. 28 de setembro de 1885: a Lei concedia liberdade a escravos com
Sentindo a pressão britânica surtir mais efeito que a interna, mais de 60 anos de idade.
finalmente em 1850 o governo brasileiro promulga uma lei com a
verdadeira intenção de cumpri-la. A Lei Eusébio de Queiroz, que a Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888: Art. 1o É decla-
partir da data de sua publicação proíbe o tráfico negreiro no Brasil. rada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”
Como o governo não tinha intenção nenhuma de acelerar o
processo que levaria o fim da escravidão, a Lei Eusébio de Queiroz A Questão Platina19
garantia apenas o fim do tráfico de importação. O tráfico ou troca
interna ainda era permitido, o que ocasionou grande deslocamente A questão da Cisplatina foi um conflito entre Brasil e Argentina
de contingente negro escravo do nordeste para as colheitas de café pelo controle de parte da bacia do Prata, especificamente na região
no Vale do Paraíba no sudeste. Cisplatina (que corresponde ao atual Uruguai).
Uma segunda consequencia foi que com o capital que agora Deve-se entender que apesar de em parte da história o Uruguai
estava “sem destino”, uma vez que a compra de escravos se tornava pertencer ao Brasil ou ser tomado pela Argentina, o conflito nunca
mais difícil com o tempo, novas atividades econômicas começaram envolveu apenas duas partes.
a receber esse dinheiro: bancos, estradas de ferro, indústrias, com- Historicamente o que hoje corresponde ao território uruguaio
panhias de navegação... foi uma colônia portuguesa (Colônia de Sacramento). Quase um
A modernização do pensamento econômico, mesmo que de século depois (1777) a colônia passa a ter domínio espanhol, que
certa forma forçada, também provocou mudanças na política exter- dura até a transferência da coroa portuguesa para o Brasil que volta
na do país. Em 1844 o ministro da Fazenda Alves Branco promulga a anexá-lo.
uma lei que levaria seu nome, e que aumentava as taxas alfande- Acontece que o período em que a Espanha controlou a região
gárias para os produtos importados. Era uma das poucas vezes até deixou marcas mais fortes que o período colonial português (cultu-
então em nossa história que o governo tomava medidas que bene- ra e língua). Não se sentindo como parte do império português, a
ficiavam nossa indústria em relação à estrangeira. Cisplatina (Uruguai) inicia um movimento de separação.
A Argentina que já era independente e tinha interesses expan-
Processo Abolicionista18 sionistas à região não demorou a comprar o lado do Uruguai en-
Em maio de 1888, a princesa Isabel Cristina Leopoldina de Bra- viando além do apoio político, suprimentos.
gança conhecida posteriormente como “A Redentora” assina o do- O governo brasileiro não recuou, além de fazer frente ao Uru-
cumento que finalmente colocou fim à escravidão no país. guai ele declarou guerra à Argentina. Apesar de haver algum equilí-
A História normalmente nos ensina a respeito do ato generoso brio durante o início do conflito, o nosso governo sofreu com gran-
dessa figura, mas não podemos ignorar que o dia 13 de maio foi de pressão interna. O país já estava endividado com os gastos da
apenas o cume de uma empreitada que vinha sendo construída há independência e bancar um conflito em tão pouco tempo depois
muito tempo. causou insatisfação geral (aumento de impostos).
A resistência à escravidão por parte dos negros existiu sempre Em 1828, com mediação inglesa e se vendo muito pressionado,
que houve a escravidão. Fugas, violência contra os senhores e for- Brasil e Argentina chegam a um acordo e ambos concordam que a
mação de quilombos eram algumas das práticas comuns que exis- região da Cisplatina se tornaria independente. Tinha início a repú-
tiam desde a colônia. A partir da segunda metade do século XIX, blica do Uruguai.
talvez por algumas leis já existirem, elas se tornaram mais comuns.

17 Adaptado de FOGUEL, I. Brasil: Colônia, Império e República. < https://

bit.ly/2Iqul4S> 19 Adaptado de: JARDIM, W. C. A Geopolítica no Tratado da Tríplice Alian-

18 História do Negro no Brasil. CEAO/UFBA. ça. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Posteriormente Brasil e Argentina ainda brigaram indireta- A partir daí o conflito se torna desfavorável. Apesar de o Para-
mente dentro do território uruguaio: a política do novo país esta- guai estar estruturado, os números não podiam ser ignorados. O
va dividida principalmente entre dois partidos, os “colorados” e os Paraguai contava com uma população total de 800.000 habitantes
“blancos” (federalistas e unitários respectivamente) onde o Brasil no período contra 13.000.000 dos aliados. O Rio da Prata, única via
apoiava os colorados e a Argentina os blancos. de comunicação do Paraguai para fora do continente foi bloqueado
Internamente o Uruguai sofreu com sucessivas trocas no co- pelo maior número de navios aliados. Por fim, países como a Ingla-
mando por parte de generais ou de acordo com os interesses vizi- terra ofereciam apoio financeiro aos aliados enquanto o Paraguai
nhos até o ano de 1865, contando com grande contingente brasilei- se matinha sozinho.
ro (gaúcho) quando o general Flores assume o poder e cessam os A partir de 1868, muito sob o domínio de Caxias a vantagem
conflitos internos. já havia passado para os aliados e a Guerra se passou apenas em
território paraguaio. Em março de 1870, já com o conflito vencido,
A Guerra do Paraguai Conde D’Eu, genro de D. Pedro II, substituto de Caxias no comando
das tropas aliadas persegue o restante das forças paraguaias e exe-
A Guerra do Paraguai foi um conflito envolvendo Brasil, Para- cuta Solano Lopes.
guai, Uruguai e Argentina que durou entre os anos de 1864 e 1870
e teve consequências que marcam o continente até hoje. As Consequências da Guerra
O Paraguai não era o país mais rico da América Latina até o Apesar de os países aliados ganharem territórios, seu saldo co-
início do conflito, mas é correto dizer que era o mais desenvolvido mum dessa guerra foi o aumento da dívida externa além do número
socialmente e menos dependente economicamente. de vidas perdidas.
Desde 1811, ano de sua independência, o país fora governado Para o Paraguai as perdas foram irremediavelmente mais pesa-
por apenas três governantes, não encontrando a turbulência polí- das e mostram sequelas até hoje.
tica interna que aconteceu com alguns vizinhos, como o Uruguai. Cerca de 75% de sua população morreu nesse período (90%
Era Francisco Solano Lopes o líder uruguaio no período do con- dos homens). Ele perdeu 150.000 km² de seu território, teve seu
flito e assim como seus antecessores ele garantiu algumas medidas parque industrial destruído, sua malha ferroviária vendida a com-
que tornavam o Paraguai um país único na América Latina: apesar panhias inglesas a preço de sucata, reservas de madeira e erva-ma-
de não ser democrático, seu governo beneficiava as camadas po- te praticamente entregue aos estrangeiros. Por fim, todas as terras
pulares, não havia elite agrária e as terras eram garantidas aos tra- passaram para o controle de banqueiros estrangeiros que as aluga-
balhadores rurais, seus principais produtos (erva-mate e madeira) vam aos paraguaios.
eram de monopólio do Estado, a maioria das famílias tinham garan-
tido o direito a emprego, comida, moradia e vestuário. O analfabe- A Crise do Império
tismo quase não existia, não tinha dívida externa e já havia iniciado
um processo de industrialização. A partir da década de 1870 o império brasileiro vê seus melho-
res dias passarem. Uma crise iniciada com o conflito do Paraguai
As Causas da Guerra resultaria em quase vinte anos depois na proclamação da república.
O Paraguai se manteve fora dos conflitos na região desde sua A crise do império pode ser baseada em quatro pilares:
independência. Tinha um acordo com o Brasil que garantia a au-
tonomia uruguaia e um acordo com o Uruguai que garantia ajuda - Questão abolicionista e de terras: durante muito tempo a
mútua. escravidão foi a base econômica das elites que apoiavam a monar-
Foi a partir das intervenções brasileiras no governo uruguaio quia. Com a grande campanha abolicionista e as medidas graduais
tomadas pelo império, a antiga aristocracia escravista que ainda
(quando depôs Aguirre e assume Flores) que o Paraguai quebra sua
apoiava D. Pedro II ficou descontente com seu governo. As novas
política de neutralidade. Considerando que o Brasil perturbava a
elites, que faziam fortuna com o café e se adaptaram ao trabalho
harmonia da região e temendo que ele mesmo fosse o próximo alvo
livre imigrante europeu, ansiavam por mais autonomia política, e
(além do fato de Solano Lopes ser simpatizante de Aguirre, derro-
passaram a fazer grande campanha em favor da república.
tado no Uruguai com ajuda brasileira), o Paraguai direcionou vários
A sociedade, agora com crescente número de imigrantes tam-
avisos preventivos ao Brasil. Não surtindo efeito, no final de 1864
bém convivia com novas ideias (entre elas o abolicionismo).
Solano Lopes ordena o aprisionamento do navio brasileiro Marquês
D. Pedro II se viu sem o apoio da classe média da sociedade, da
de Olinda e declara guerra do Brasil, é o início da Guerra do Para-
nova aristocracia e também da antiga.
guai.
- Questão religiosa: a Constituição de 1824 declarava o Brasil
O Conflito um país oficialmente católico. A Constituição fixava que a Igreja de-
O início do conflito envolveu apenas os dois países, porém o veria ser subordinada ao Estado, razão pelo qual já haviam alguns
próprio Paraguai acabou fomentando os seus vizinhos a se junta- atritos. O problema maior se dá a partir de 1860 quando o Papa
rem a causa brasileira. Pio IX publica a Bula Syllabus, excluindo membros da maçonaria
O Paraguai mostrou clara vantagem tomando partes do terri- de irmandades católicas. Apesar de o imperador não acatar as re-
tório brasileiro (MS) e posteriormente invadindo até a Argentina comendações, os bispos de Olinda e Belém seguem as instruções
(queria através dela dominar o Rio Grande do Sul). A vantagem do do Papa. Em consequência, D. Pedro II ordena que ambos sejam
país se mantém até a formação da Tríplice Aliança, unindo Brasil, presos, o que leva a Igreja a também dar as costas a coroa.
Argentina e Uruguai.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Questão militar: até a Guerra do Paraguai o exército brasilei- Entre 1785 e 1788, os preços dos alimentos dispararam em ra-
ro não tinha qualquer influência ou importância para o governo. zão de uma forte seca e dos péssimos resultados da safra agríco-
Durante as regências a criação da Guarda Nacional garantiu que a la. A fome se alastrou, provocando morte, desolação e migrações.
necessidade de um exército forte quase não existisse. Muitos se tornaram mendigos, outros passaram a roubar e alguns
A Guerra do Paraguai vem para mudar essa situação. Forçados decidiram destruir castelos e assassinar seus proprietários. Em Paris
a se modernizar e se estruturar, após a guerra o exército não apenas e outras cidades, artesãos e operários começaram a fazer greves.
exige maior participação no governo do país como passa a ter seto- Saques a lojas e manifestações contra a política econômica do go-
res contrários às ideias monarquistas. verno se disseminaram.
Como a Coroa continuava intervindo em assuntos militares e
punindo alguns de seus membros a ponto de censurar a imprensa — Queda da Bastilha e do Antigo Regime
em determinados assuntos relacionados às forças armadas, o exér- Para solucionar os prejuízos das contas públicas, em 1789 o mi-
cito também dá as costas a monarquia e com isso deixa D. Pedro II nistro das finanças propôs que o primeiro e o segundo estados co-
sem nenhum apoio de peso. meçassem a pagar impostos. Para discutir a questão, o rei Luís XVI
Sem apoio após a abolição da escravatura por parte da prince- convocou os Estados Gerais, órgão consultivo formado por repre-
sa Isabel, em novembro de 1889 com a ação militar, sem conflitos sentantes dos três estados. Ali, nobreza e clero juntos eram maioria,
ou participação popular, termina o império brasileiro e tem início o pois cada estamento tinha direito a um voto.
período Republicano. Os representantes do terceiro estado pediram uma alteração
no sistema de contagem de votos, exigindo que fosse por cabeça.
Como o impasse se arrastava, esses representantes reuniram-se se-
REVOLUÇÕES BURGUESAS: REVOLUÇÃO FRANCESA paradamente e se autoproclamaram Assembleia Nacional, destina-
da a elaborar uma Constituição. Incapaz de dissolver a reunião, o rei
ordenou que os representantes da nobreza e do clero se juntassem
a ela. Com isso, em 9 de julho de 1789, os Estados Gerais proclama-
— Panorama da Sociedade Francesa ram a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Em fins do século XVIII, a França contava com 28 milhões de ha-
bitantes. A sociedade era dividida em três estamentos, conhecidos Nos bastidores, Luís XVI convocou o Exército para dissolver a
como estados ou ordens. O topo da pirâmide social era ocupado Assembleia. Quando a notícia se espalhou por Paris, uma multidão
pelo primeiro estado, constituído por cerca de 120 mil integrantes em revolta invadiu os arsenais do governo e se apoderou de 30 mil
da Igreja católica20. mosquetes. Em seguida, partiu para a Bastilha, fortaleza na qual o
O clero controlava 20% das terras francesas e detinha numero- governo encarcerava e torturava seus opositores. Embora estivesse
sos privilégios, como a isenção de impostos e o direito de julgamen- praticamente desativada, a Bastilha constituía um dos maiores sím-
to em tribunais próprios. Ele se dividia em alto clero (religiosos de bolos do absolutismo.
origem nobre) e baixo clero (padres e cônegos pobres). Sua queda e tomada pela população, em 14 de julho de 1789,
Com status superior ao da maioria do clero, o segundo estado transformou-se em um marco. Até hoje o episódio é comemorado
era formado pela nobreza, composta de aproximadamente 400 mil como data nacional na França.
pessoas. Faziam parte dela: a família real; os cortesãos; os nobres Levantes e revoltas de camponeses e trabalhadores urbanos
de toga, ou seja, burgueses que haviam comprado títulos de no- alastraram-se pelo país, o que levou a Assembleia Constituinte a
breza; e os descendentes das antigas famílias feudais (nobres de abolir as leis feudais ainda existentes e a suprimir privilégios da no-
sangue), muitos dos quais residiam em seus castelos. breza e do clero. Em 4 de agosto de 1789, a Assembleia decretou
Os nobres também não pagavam impostos e viviam, principal- o fim do Antigo Regime (nome pelo qual passou a ser chamado o
mente, da exploração do trabalho dos camponeses. Estado absolutista vigente até então). No dia 26, proclamou a De-
No terceiro estado encontrava-se cerca de 98% da população claração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
francesa. O terceiro estado era composto de: alta burguesia (ban- Entre outras conquistas, o documento estabelecia a liberdade e
queiros, armadores e donos de grandes negócios); média burguesia a igualdade de todos perante a lei, dois importantes princípios dos
(profissionais liberais, proprietários de negócios de médio porte e filósofos iluministas. Atualmente, esse documento é considerado
comerciantes); pequena burguesia (artesãos e pequenos comer- um dos fundamentos do Estado contemporâneo.
ciantes); trabalhadores urbanos e camponeses.
Esse grupo recolhia impostos tanto para o Estado como para a — A Criação de um Constituição Francesa
nobreza e o clero. Algumas dessas taxas vinham do tempo do feu- Nos dois anos que se seguiram, os constituintes elaboraram e
dalismo, como a corveia (trabalho gratuito do servo ao senhor) e o promulgaram a primeira Constituição da França (1791). Em outubro
dízimo (parte entregue à Igreja). de 1791, foi eleita a Assembleia Nacional Legislativa. Seguindo os
princípios iluministas, a Carta francesa estabelecia a divisão do Es-
— Um tempo de Crises tado em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e definia a
Nas últimas décadas do século XVIII, quando a França enfrenta- monarquia constitucional como forma de governo.
va uma profunda crise econômica, ocasionada principalmente pe- O rei - então confinado em seu palácio - seria o chefe do Execu-
los gastos com guerras, cerca de 80% da renda dos camponeses era tivo, mas deveria seguir as normas constitucionais e seria fiscalizado
destinada ao pagamento de impostos. pelo Legislativo, composto de 745 deputados eleitos por voto censi-
tário - isto é, pelos cidadãos que dispunham de algum patrimônio.
20 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma República Francesa Também instituiu o divórcio, decretou a liberdade religiosa e


Em junho de 1791, Luís XVI tentou fugir com sua família para a aboliu a escravidão nas colônias francesas. Mas a repressão levou
Áustria, mas foi preso. O governo passou para as mãos de um Con- os jacobinos a perder apoio junto à população. Robespierre e seus
selho Executivo Provisório, liderado pelo advogado George-Jacques companheiros foram derrubados pelos seus opositores na Conven-
Danton. A Assembleia Legislativa foi dissolvida e em seu lugar foi ção no dia 27 de julho de 1794, marcando o início da Reação Ter-
eleita a Convenção Nacional. midoriana.
Faziam parte da Convenção representantes de diversas facções
políticas. Os jacobinos, que representavam principalmente a pe- — Diretório
quena e a média burguesia, obtiveram a maioria dos votos. Em 1795, uma nova Constituição republicana, de caráter libe-
Liderados por Maximillien-Marie Robespierre e Louis Antoine ral, reinstituiu o voto aos homens proprietários. O poder Executivo
de Saint-Just, defendiam a República e o sufrágio universal. Junto ficou nas mãos do Diretório, órgão composto de cinco pessoas elei-
deles ficavam os cordeliers (cordeleiros), liderados por George-Jac- tas entre os deputados. Nesse período, a França enfrentou graves
ques Danton e Jean-Paul Marat. Outro grupo era o dos girondinos, dificuldades financeiras e forte instabilidade política.
representantes da grande burguesia mercantil, que procuravam ne- Para conter as manifestações populares, o Diretório recorreu
gociar com o rei. ao Exército, então liderado pelo jovem general Napoleão Bonapar-
te. O sucesso na repressão às revoltas e em campanhas militares no
* Os jacobinos e os cordeleiros, ala mais radical dos políticos, exterior garantiu a Napoleão prestígio suficiente para ser convidado
sentavam-se no lado esquerdo; já os girondinos, em geral mais a participar do Diretório. Logo, ele dissolveu o Parlamento e subs-
conservadores, sentavam-se no lado direito. Vem daí a divisão do tituiu o Diretório por três cônsules provisórios — entre os quais ele
espectro político entre esquerda e direita, feita ainda hoje. Na Fran- era o mais influente.
ça revolucionária havia também o grupo do pântano, formado por
políticos que mudavam de posição conforme as circunstâncias. Ti- — Império Napoleônico
nham esse nome por ocuparem a parte baixa, no centro do salão. Em menos de um mês de Consulado, foi redigida uma nova
Constituição, que deu a Napoleão o título de primeiro-cônsul da
Em 22 de setembro de 1792, a Convenção proclamou a Repú- França. O governo de Napoleão promoveu reformas visando recu-
blica. Luís XVI foi levado a julgamento por traição e executado na perar a economia e as instituições. Mas também anistiou os nobres
guilhotina. Uma Constituição republicana foi elaborada, conceden- que antes haviam se exilado, reorganizou o sistema de cobrança de
do o sufrágio universal masculino. impostos, criou uma nova moeda, promoveu reformas educacio-
nais e instituiu o código civil.
— Governo Jacobino e o Terror Em 1802, um plebiscito concedeu a Napoleão o título de cônsul
O início da República francesa foi turbulento. Tropas da Ingla- vitalício. Dois anos depois, outra consulta popular transformava a
terra, Áustria, Prússia, Holanda, Espanha, Rússia e Sardenha ataca- França em império. Em 1805 o governo de Bonaparte anexou a Re-
ram o território francês, tentando impedir a consolidação da repú- pública de Gênova, na península Itálica. Diversas nações europeias
blica e a disseminação de seus ideais. Em diversos pontos do país, se uniram para deter a expansão do Império Francês. As tropas
nobres organizavam movimentos contrarrevolucionários. Para en- francesas, entretanto, continuaram sua marcha de vitória em.
frentar essas dificuldades, em abril de 1793 a Convenção criou o
Comitê de Salvação Pública, comandado por Danton e, logo depois,
por Robespierre. Avanço sobre a Europa
O novo órgão convocou 300 mil homens para lutar contra os A França tinha como principal rival a Inglaterra, nação mais
estrangeiros - o que provocou violenta reação em províncias ainda desenvolvida economicamente da época. Sabendo que o poderio
fiéis à monarquia - e criou o Tribunal Revolucionário para julgar os britânico se amparava no comércio e na indústria, o governo de Na-
suspeitos de atitudes contrarrevolucionárias. poleão proibiu as nações europeias de comerciar com a Inglaterra.
Cerca de 300 mil franceses foram presos, acusados de serem Os países que não participassem do chamado Bloqueio Continental
inimigos da Revolução. Essa fase, de aproximadamente um ano, fi- seriam atacados pelo Exército napoleônico.
cou conhecida como Terror. Entre os principais alvos do Tribunal, Como os governos de Portugal e da Espanha não aderiram ao
estavam representantes da alta burguesia, cujos negócios e rela- boicote, em 1807 tropas francesas invadiram a península Ibérica.
ções pessoais os aproximavam da nobreza. Foram condenadas à Fernando VII, rei da Espanha, foi destituído; em seu lugar, foi coroa-
morte 35 mil pessoas, entre as quais 21 deputados girondinos. do José Bonaparte, irmão de Napoleão.
O fato repercutiu nas colônias espanholas da América, onde
— Burguesia no Poder movimentos emancipacionistas ganharam espaço. A família real e
O governo jacobino contou inicialmente com grande apoio a corte portuguesas fugiram para o Brasil.
popular, pois criou impostos sobre os ricos, fixou um teto para os
preços dos produtos, regulamentou os salários, abriu escolas pú- Rússia Decisiva
blicas, repartiu bens dos nobres que haviam se exilado e promoveu O Bloqueio Continental também atingiu a Rússia, que expor-
uma distribuição de terras que beneficiou cerca de três milhões de tava matérias-primas para a Inglaterra. Em 1811, o czar Alexandre
pessoas. I rompeu o boicote e abriu os portos do país aos navios britânicos.
Em represália, Napoleão declarou guerra à Rússia. Sem preparo
para enfrentar o rigoroso inverno russo, Napoleão retornou à Fran-
ça em 1812 com apenas 100 mil dos 600 mil soldados recrutados.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Congresso de Viena Alguns estudiosos denominam essa etapa de “revolução agrí-


Com a derrota francesa, Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria cola”. Na pecuária, a estocagem de forragens, como o feno, me-
desfecharam um ataque fulminante à França, que não pôde deter a lhorou a qualidade do gado bovino e ovino, sendo este último a
coalizão adversária: no começo de abril de 1814, Napoleão abdicou principal fonte de matéria-prima da manufatura inglesa: a lã.
do trono e foi exilado na ilha de Elba, no mar Mediterrâneo. Foi importante também o rápido aumento no processo de cer-
Enquanto a França organizava um novo governo sob Luís XVIII - camento das terras comuns, que ocorria há séculos na Inglaterra,
irmão de Luís XVI -, representantes dos países europeus se reuniam mas que sofreu enorme impulso na segunda metade do século XVIII
em Viena, Áustria, para definir as novas fronteiras entre as nações. e início do século XIX. As terras comuns eram aquelas que os cam-
Dois princípios básicos orientaram os participantes do chamado poneses e os aldeões, embora não fossem os proprietários, tinham
Congresso de Viena. O da legitimidade, que preconizava a restau- o direito de utilizar para caçar, pescar, retirar lenha e madeira e usar
ração das dinastias consideradas legítimas pelo Congresso e depois como pasto.
destituídas pela Revolução Francesa e pelo governo de Napoleão, e Por meio dos chamados cercamentos (enclosures), o governo
o princípio de equilíbrio de forças entre as grandes potências. inglês livrava os proprietários de qualquer tipo de restrição quanto
Em fevereiro de 1815, Napoleão fugiu da ilha de Elba e de- ao uso de suas terras, incluindo as comuns, podendo vendê-las ou
sembarcou na França à frente de um grupo de seguidores. O novo arrendá-las. Houve, na verdade, uma redefinição da propriedade
governo do imperador, porém, duraria pouco menos de 100 dias. agrária e das relações de trabalho no campo.
Afastado do poder, Bonaparte foi enviado para Santa Helena, pe- Como todas as terras, incluindo as comuns, passaram a ser
quena ilha no Atlântico, onde faleceria em 1821. Na França, Luís alienáveis, os camponeses não puderam mais usá-las em proveito
XVIII foi reconduzido ao trono. próprio. Passaram a trabalhar por jornada para os proprietários ou
arrendatários mais ricos ou migraram para outros lugares. O rom-
pimento da forma tradicional com a qual os trabalhadores rurais se
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL relacionavam com a terra e as novas condições agrárias representa-
ram um duro golpe ao campesinato: o contrato de trabalho passou
a ser individual, e não mais por grupo familiar.
Ficaram conhecidas como Revolução Industrial as transforma- Embora não tenha sido um processo imediato, a verdade é que
ções econômicas ocorridas na Grã-Bretanha a partir das últimas o “trabalho camponês familiar” desapareceu. Com o cercamento
décadas do século XVIII, tempo em que a máquina a vapor passou dos campos, os proprietários ou os arrendatários mais ricos pude-
a ser sistematicamente utilizada na produção de mercadorias, em ram introduzir novos métodos agrícolas e de criação de animais,
especial na fabricação de tecidos, na mineração e na metalurgia21. como o rodízio de cultura, e ampliar o uso do arado triangular, da
Tais transformações levaram à implantação da indústria con- semeadeira mecânica e de adubos.
temporânea. Criaram-se, ainda, novos mercados consumidores, Com o aumento da produtividade das terras em decorrência
muitos pela força das armas. Afinal, à medida que se industrializa- das novas técnicas, só acessíveis aos mais ricos, o preço do arrenda-
vam, os países precisavam ampliar mercados em várias partes do mento subiu muito e os pequenos arrendatários não puderam mais
mundo. Essas mudanças não foram rápidas: ocorriam desde o início arcar com o aluguel. Acabaram expulsos da terra, assim como os
da Época Moderna, com a expansão marítima, que colocou em con- camponeses proprietários de pequenos lotes, pressionados a ven-
tato regiões muito distantes. dê-los. Em 1700, estima-se que metade das terras cultiváveis ingle-
Mas foi na segunda metade do século XVIII e no início do XIX sas ainda era utilizada por meio da exploração dos campos comuns.
que as mudanças se aceleraram, configurando a Revolução Indus- Ao fim do século XVIII, eles praticamente já não existiam. O fim das
trial. Alguns historiadores distinguem, na verdade, dois momentos terras comuns e o cercamento dos campos concentraram a proprie-
da Revolução Industrial: dade fundiária nas mãos de cada vez menos pessoas.
– Primeira Revolução Industrial, compreendida entre fins do
século XVIII e a década de 1830. O foco foi a renovação do sistema Oferta de Mão-de-obra
fabril ligado à produção de tecidos de algodão; O cercamento dos campos foi elemento decisivo para o de-
– Segunda Revolução Industrial, cujo apogeu ocorreu a partir senvolvimento da indústria. Com o aumento da produtividade por
de 1850 e é caracterizada pelo avanço da metalurgia, sobretudo da meio do avanço técnico da agricultura, permitiu-se a produção de
indústria do ferro, e pela construção de ferrovias. matéria-prima para as fábricas. As transformações no campo tam-
bém resultaram em mais alimentos para a população e, como con-
— A Inglaterra sai na Frente sequência, em menos mortalidade, o que representou aumento
No final do século XVII, a Inglaterra era um país rico, com a demográfico.
maioria da população vivendo no campo. Em 1700, a população gi- Um grande contingente de trabalhadores passou a se ocupar
rava em torno de 6 milhões de pessoas, com cerca de 70% ocupadas de outras atividades, como nas minas de carvão e de ferro e nas
nas atividades agrárias. A produção agrícola, entretanto, vinha so- fábricas nascentes. O excesso de pessoas sem trabalho fez com que
frendo mudanças importantes. Nos campos e pastos antes deixados surgissem, desde o século XVI, Leis Anti-vadiagem, que podiam pu-
em pousio, introduziu-se o plantio de outras culturas, em especial a nir até com a morte pessoas que não trabalhassem. E certo que es-
do nabo e da batata, que não desgastavam o solo e forneciam mais sas mudanças transformaram profundamente o universo econômi-
alimentos. co e cultural dos antigos camponeses, que tiveram de se submeter
a uma ordem nova: a do capital.

21 História 1. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Sa-
raiva.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Tornaram-se assalariados no campo e nas cidades. A mão de Mesmo com o aparecimento das fábricas de fiação, nas primei-
obra das primeiras fábricas têxteis inglesas, no final do século XVIII, ras décadas do século XIX, a maior parte da produção ainda resul-
resultava também do aumento demográfico. Nessa época, houve tava do trabalho doméstico. O mesmo ocorria com a tecelagem dos
um aumento da população urbana e rural na Grã-Bretanha, que sal- fios, entregue às oficinas de tecelões nas aldeias ou vilas. A intro-
tou dos 6 milhões para 10 milhões de pessoas, em fins do século dução das máquinas no processo produtivo aumentou o montante
XVIII, e para impressionantes 18 milhões na década de 1840. dos investimentos no setor têxtil, restringindo o número de empre-
sários com dinheiro para montar fábricas.
Rotas Fluviais A propriedade das máquinas concentrou-se na pessoa do in-
O pioneirismo inglês na industrialização ocorreu, ainda, devido dustrial/capitalista, que contratava os operários pagando salários
à existência de amplas vias fluviais. Elas viabilizaram um rápido e pelas jornadas de trabalho. Na fábrica, os operários atuavam so-
eficiente sistema de transportes entre o interior e os portos ma- mente em uma etapa da produção - uma mudança radical na forma
rítimos, além de serem mais econômicas do que as terrestres no de realizar seu trabalho. Em outras palavras, o processo produtivo
transporte de mercadorias pesadas ou volumosas, como o carvão. nas fábricas tendia a se fragmentar: estava em curso uma nova di-
Desde o século XVI, os ingleses se preocuparam em melhorar visão do trabalho.
as vias fluviais para fornecer carvão aos moradores das cidades, que No contexto fabril, essa divisão do trabalho mostrava-se mais
o utilizavam para cozinhar alimentos e se aquecer, e às pequenas fá- produtiva e capaz de atender ao aumento do consumo - o consumo
bricas (panificações, forjas, curtumes, refinarias de açúcar e cerve- em massa. Dessa forma, os trabalhadores eram tragados por um
jarias). Para isso, alteravam o curso dos rios e abriam canais. Quan- sistema em que a máquina era o centro do processo produtivo.
do começou a industrialização, havia cerca de 2 mil quilômetros de
águas navegáveis na Inglaterra. Até o final do século XVIII, foram Situação da Classe Trabalhadora
construídos outros mil quilômetros, o que criou boas condições às Os proprietários dos meios de produção enriqueciam rapida-
novas fábricas para receber matéria-prima e escoar mercadorias. mente, mas boa parte da população inglesa se via excluída de tais
Em resumo, a Revolução Industrial ocorreu especialmente na benefícios. Os trabalhadores viviam em condições degradante e in-
Inglaterra por um conjunto de fatores. Embora restrita a alguns pro- salubres22.
dutos e centralizada em certas regiões, transformou a Inglaterra na As fábricas eram geralmente úmidas, quentes e abafadas. A
principal economia do mundo. alimentação servida era insuficiente e de má qualidade. Devido às
más condições de vida e às extenuantes jornadas de trabalho, a ex-
A Máquina a Vapor pectativa de vida era baixa, e a incidência de doenças e acidentes no
Desde o século XVI, o vapor era visto como uma possibilidade trabalho, muito alta. Os patrões preferiam contratar crianças (mui-
de fonte de energia na exploração do ferro e do carvão, em especial tas com 4 ou 5 anos de idade) e mulheres, porque lhes pagavam
para bombear as águas que com frequência inundavam as minas. salários menores.
Nenhuma das máquinas a vapor criadas, porém, mostrava-se A jornada de trabalho era de 15 a 18 horas ininterruptas. Os
eficiente. Somente em 1712, após anos de trabalho, o inglês Tho- operários eram vigiados de perto por um supervisor. Acidentes pro-
mas Newcomen aprimorou uma máquina para retirar água das mi- vocados pelo cansaço aconteciam com frequência e qualquer falta
nas e distribuí-la às cidades. O custo da máquina de Newcomen era era punida severamente.
muito elevado.
James Watt, em 1769, melhorou essa máquina, baixando os Reação dos Trabalhadores
custos de produção. Com isso, ela foi adaptada para diversos usos A reação dos trabalhadores veio em 1811, quando invadiram
industriais, alcançando sucesso num ramo específico da indústria fábricas (à noite) para destruir máquinas. Eles ficaram conhecidos
inglesa: a fabricação de fios e tecidos de lã e de algodão. Os aprimo- como luditas, pois seu líder chamava-se Ned Ludd. As máquinas
ramentos na fiação e tecelagem da lã ocorriam havia muito tempo. eram vistas como o principal responsável pela situação em que os
No século XVIII, a Inglaterra produzia tecidos de lã finos e bem proletários se encontravam, pois substituíam a mão de obra operá-
aceitos no mercado externo. O mesmo não ocorria com os tecidos ria. O movimento espalhou-se nas décadas seguintes para países
de algodão, pois não havia técnicas para produzir fios finos e resis- como França, Bélgica e Suíça. Os trabalhadores ingleses uniram-se
tentes. Para não arrebentar, o fio de algodão era feito junto com o e formaram organizações para reagir aos problemas decorrentes de
linho, o que resultava em um produto de qualidade inferior. Assim, acidentes de trabalho, doenças e desemprego. Surgiram assim as
o grande investimento tecnológico no setor têxtil se dirigiu para a associações de auxílio mútuo, que criavam fundos de reserva para
produção de tecidos de algodão. os momentos de necessidade.
Era o primeiro passo para a criação dos sindicatos trabalhis-
— O Trabalho Fabril tas. Uma vez organizados em sindicatos, os trabalhadores ingleses
A fabricação de tecidos era uma atividade tradicional na Ingla- e de outros países fariam importantes conquistas, como melhores
terra. A maioria das famílias camponesas estava, de alguma forma, salários, redução na jornada de trabalho, aposentadoria, descanso
envolvida com o processo de fiar e tecer. A introdução de uma nova semanal remunerado, férias, etc.
matéria-prima, o algodão, no final do século XVIII, não mudou em Na década de 1830, os trabalhadores ingleses reuniram suas
princípio essa organização. A nova máquina de fiar de Hargreaves, reivindicações na chamada Carta do povo. Nascia o cartismo, pri-
que se baseava no trabalho doméstico camponês, ainda manual, meiro grande movimento político do proletariado, que obteve im-
tornou possível a fabricação doméstica de tecidos de algodão no portantes avanços trabalhistas, em especial quanto à jornada de
mesmo sistema utilizado com os tecidos de lã. trabalho de adultos e quanto ao trabalho infantil.
22 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Cidades Industriais França


Os tecidos de algodão da Índia já eram conhecidos e aceitos A França era um país de grande extensão territorial, mas des-
na Europa, negociados pelos britânicos através da Companhia das provido de meios de transporte adequados para formar um merca-
Índias Orientais. Quando os ingleses passaram a produzir tecidos do integrado. Prevaleciam os negócios locais ou regionais, em geral
de qualidade semelhante à dos indianos, já havia um mercado con- em torno de uma economia agrária. A Revolução Francesa, embora
sumidor estruturado. Os preços mais baixos permitiram aos tecidos tenha destroçado o poder da nobreza e do clero, aprofundou essa
ingleses competir nos mercados. estrutura rural ao conceder terras aos camponeses.
Na Inglaterra, o centro da produção estava na cidade de Man- Assim, tudo contribuía para que os franceses não conseguis-
chester. Com a utilização cada vez maior da fiandeira hidráulica, sem deslanchar uma economia capitalista similar à inglesa, apesar
inacessível aos camponeses, as fábricas de fiação se multiplicaram, do caráter burguês da Revolução. Enriquecidos, os burgueses prefe-
mantendo um ritmo de trabalho diário e ininterrupto. Tradicional- riram adquirir cargos nobiliárquicos ou artigos de luxo, imitando um
mente, eram mulheres e crianças os principais trabalhadores do- estilo de vida aristocrático que a Revolução de 1789 havia derruba-
mésticos da fiação. E os negociantes mantiveram o emprego dessa do. A solução encontrada pelos industriais franceses foi investir no
força de trabalho em suas fábricas, cuia disciplina era muito mais que já era tradicional no mercado interno: os artigos de luxo consu-
rigorosa do que no sistema de fiação doméstico. midos pela burguesia urbana e pelos proprietários rurais aristocrá-
Com as transformações radicais no regime de trabalho, entre ticos, como mobiliário, tecidos de seda, rendas, roupas, chapéus,
os séculos XVIII e XIX, milhares de trabalhadores passaram a se con- plumas, perfumes e adereços variados.
centrar em fábricas, sob um regime de serviço intenso e rigoroso. Grande parte dessa produção era executada por profissionais
Sem uma regulamentação específica, calcula-se que a jornada diá- experientes e foi exportada para o mundo. Por volta de 1840, a ex-
ria de trabalho era superior a 12 horas. pansão da economia francesa exigia maior exploração das minas de
Somente em 1847 apareceram regulamentações que limita- ferro e de carvão, o que esbarrava na precariedade do sistema de
vam a jornada a dez horas diárias. Em 1850, outra lei estipulou um transportes. Tornou-se urgente a construção de uma rede ferroviá-
horário para encerrar a atividade semanal: duas horas da tarde de ria. Para tanto, era preciso organizar um sistema bancário, associar
sábado, com descanso no domingo - dia tradicionalmente reserva- capitais e construir uma rede comercial em grande escala. Era uma
do à religião. empreitada difícil.
O sistema de fábrica impulsionou outras mudanças. Ampliou Os poucos bancos franceses tinham sido criados nas décadas
consideravelmente a população urbana, especialmente com a ex- de 1820 e 1830 e eram dominados por um pequeno grupo de em-
pansão desse sistema para outras produções, como as de chapéus, presários de Paris.
sapatos, ferramentas e alimentos. Diversificou-se o setor de servi- A introdução da ferrovia, financiada por ingleses associados a
ços, sobretudo o comércio. uns poucos empresários parisienses, contribuiu um pouco para mu-
Também cresceu a oferta de empregos domésticos - criadas, dar o quadro. Isso só mudou de fato na segunda metade do século
cozinheiras e arrumadeiras - nas casas dos novos e ricos empresá- XIX, com fatores políticos decorrentes da ascensão ao poder de Na-
rios. Na passagem do século XVIII para o XIX, o aumento da popu- poleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, em 1852.
lação nas cidades, que não estavam preparadas para receber tanta
gente, teve repercussões sociais significativas. • Bonapartismo
Em cidades como Londres, Manchester, Liverpool e Leeds, A partir da chegada ao poder de Napoleão III, os industriais fran-
multiplicavam-se os bairros pobres, e os governos locais não conse- ceses passaram a ter reconhecimento público, a ocupar posições no
guiam atender à nova demanda e promover reformas do espaço ur- Estado e a influir nas decisões governamentais. Essa situação levou
bano. Havia ruas sem calçamento, lixo por todos os cantos, muitas a uma participação decisiva do Estado na economia, sobretudo nos
pessoas morando numa mesma casa. A situação era propícia para anos 1850, em especial nos investimentos de infraestrutura.
a disseminação de doenças, com epidemias frequentes de cólera e Ao final do século XIX, a França se apresentava como um país
tifo. Aprofundaram-se as desigualdades sociais entre ricos e pobres. industrial, com suas instituições bancárias e financeiras bastante
desenvolvidas e investindo em indústrias, em particular nas de ferro
— Mas e o resto da Europa? e aço nas regiões mineradoras, como na província de Lorena, e nas
A Inglaterra se industrializou sem planejamento prévio, utili- minas de carvão do norte. Em 1914, quando estourou a Primeira
zando o capital privado. Os empresários investiam no setor indus- Guerra Mundial, a França ocupava a terceira posição entre as eco-
trial em busca do lucro e não para transformar a economia britâ- nomias capitalistas da Europa. Na frente dos franceses, somente a
nica. O mesmo não ocorreu com os demais países europeus. Cada pioneira Inglaterra e a Alemanha.
lugar teve de lidar com suas próprias especificidades e recursos.
Foram, portanto, industrializações posteriores, e, por vezes, mais Alemanha
rápidas e eficientes. Na passagem do século XIX para o XX, alguns No início do século XIX, era considerável a diversidade entre
países já podiam concorrer com a Inglaterra na economia mundial, os Estados germânicos. Mas havia traços comuns que lembravam
principalmente Alemanha e França. os pequenos reinos ou principados dos séculos anteriores: uma
política de impostos elevados; concentração de recursos no finan-
ciamento de exércitos; economia agrária, com forte presença da
servidão camponesa.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na primeira metade do século XIX, os altos cargos nos Estados


germânicos eram ocupados, em grande parte, por homens forma- INDEPENDÊNCIA DOS EUA
dos nos princípios da Ilustração (do Iluminismo), ou seja, que com-
preendiam bem o sentido do liberalismo. Apesar do espírito conser-
vador, vários Estados germânicos, em particular a Prússia, apoiaram — Processo de Independência
ou bancaram o estabelecimento de empresas capitalistas, na explo- Diante das represálias do governo britânico, depois do episódio
ração de minas e na criação de indústrias. de Boston, representantes das Treze Colônias realizaram, em 1774,
A Prússia havia saído fortalecida das guerras napoleônicas, na cidade de Filadélfia, o Primeiro Congresso Continental, no qual
com o território intacto, ao contrário de vários outros Estados dura- se determinou o boicote total ao comércio com a Inglaterra. O en-
mente atingidos. Isso facilitou a hegemonia prussiana sobre o terri- durecimento das autoridades britânicas era esperado e os ataques
tório germânico. O primeiro grande passo para essa hegemonia foi do exército a certas cidades não tardou.
dado em 1834, com a criação de uma união aduaneira, o Zollverein. Em 1776, representantes das colônias novamente se reuniram
Incluía 38 Estados do norte e do centro do território, aos quais ade- em Filadélfia, no Segundo Congresso Continental, no qual se deci-
riram os Estados do sul, em 1867. A gradual eliminação das barrei- diu pelo rompimento definitivo das relações com a Inglaterra. No
ras alfandegárias e a centralização das decisões criaram excelentes dia 4 de julho, publicou-se a Declaração de Independência, elabo-
condições para a industrialização. rada por Thomas Jefferson e inspirada nos ideais iluministas euro-
Seguindo a onda liberal que varreu a Europa na primeira me- peus.
tade do século XIX, os príncipes germânicos aboliram a servidão, As autoridades britânicas obviamente não aceitaram pacifi-
favorecendo a difusão do trabalho assalariado. O território da futu- camente o rompimento declarado pelos colonos e partiram para
ra Alemanha possuía, assim, por volta de 1850, ao menos o esboço a guerra a fim de manter o território. Os colonos, porém, estavam
das condições fundamentais para o desenvolvimento capitalista: pouco preparados e contavam com escassos recursos para o confli-
mercado interno e trabalho livre. to contra o exército inglês. As derrotas dos rebeldes se sucederam
durante um ano de luta.
• Industrialização Em 1777, porém, os rumos da guerra se inverteram: em uma
No decorrer da década de 1840, favorecidos pela união adua- importante batalha em Saratoga, os colonos conseguiram derrotar
neira, os grandes proprietários rurais da futura Alemanha passaram os “jaquetas vermelhas” e, graças a isso, obtiveram o apoio militar
a apoiar a implantação de ferrovias, percebendo que poderiam au- e financeiro de dois países europeus: França e Espanha.
mentar suas vendas e lucros. Os militares, por sua vez, perceberam Esse apoio foi decisivo para a vitória final, em 1781, na bata-
a importância da ferrovia para o transporte de matérias-primas, sol- lha de Yorktown, quando os rebeldes venceram definitivamente as
dados e armamentos. Com isso, estimularam o Estado a investir na tropas inglesas. Em 1783, por meio do Tratado de Paris, o governo
malha ferroviária. da Inglaterra reconheceu oficialmente a independência dos Estados
O sistema ferroviário foi um dos principais responsáveis por de- Unidos da América.
senvolver significativamente a economia dos Estados inseridos no
Zollverein. A indústria têxtil, até então incipiente, tomou novo im- — Organização dos Estados Unidos da América
pulso e, embora incapaz de concorrer com os têxteis ingleses, con- Após adquirir independência, os norte-americanos precisavam
seguiu se expandir no mercado interno. Os bancos tiveram papel organizar o novo Estado – tarefa difícil, pois não havia exemplo a
de destaque no investimento de capitais em ferrovias, nas grandes seguir. A inspiração para a elaboração da Constituição dos Estados
indústrias de base e na abertura de minas, em contraste com o que Unidos foi buscada junto aos preceitos iluministas, defensores da li-
ocorreu na Inglaterra. berdade e igualdade. Todavia, o texto constitucional só foi aprovado
A indústria pesada - de bens de capital, como a de metalur- depois de intensos debates. Vale lembrar a heterogeneidade da or-
gia - foi o carro-chefe da industrialização, alimentada pelo capital ganização socioeconômica e política do território norte-americano
financeiro, com o apoio do Estado. Uma das principais inovações às vésperas da independência.
nesse processo de industrialização foi o investimento dos diversos Assim, a Constituição dos Estados Unidos da América foi ins-
governos na educação, especialmente nos níveis técnicos e científi- tituída em 1787. Previa, entre outras coisas, que os Estados Uni-
cos, criando profissionais altamente qualificados. dos teriam um governo republicano, federalista e presidencialis-
Os alemães chegaram a desenvolver tecnologia de ponta que ta: o poder seria exercido por um presidente, assessorado por um
superava, em muitos aspectos, a dos ingleses, em especial no se- Congresso que representaria as várias unidades administrativas da
tor químico. Em resumo, os Estados germânicos reuniram todas as União (Estados).
condições para um processo de industrialização eficiente: grande Cada Estado teria seu próprio governador e uma certa autono-
mercado consumidor interno; grande oferta de mão de obra, ali- mia em relação ao governo central. Além disso, cada Estado elabo-
mentada por um crescimento demográfico expressivo; recursos raria a sua própria Constituição, estabelecendo regras específicas
minerais adequados à tecnologia existente; empresas estrangeiras para o funcionamento da vida estadual. O poder estatal, nos três
interessadas em investir na economia alemã; estrutura bancária es- níveis administrativos - municipal, estadual e federal -, seria dividi-
tável; investimento na educação técnica e científica. do em três, segundo a proposta de Montesquieu: Executivo, Legis-
O processo de industrialização alemão, por conta do grande lativo e Judiciário – cada um se encarregando de fiscalizar e limitar
investimento do Estado, foi denominado de “revolução pelo alto”. a autoridade do outro. A escravidão seria mantida nos Estados que
Recebeu ainda o nome de “modernização conservadora”, por não assim decidissem.
ter removido, como na França, o poder da aristocracia rural. Ao con- O primeiro presidente norte-americano eleito foi o chefe do
trário, a aristocracia junker comandou o processo. exército rebelde durante a guerra pela independência: George Wa-
shington.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Império Austro-Húngaro era um mosaico de nacionalidades


CONFLITOS E REVOLUÇÕES DO SÉCULO XX: PRIMEIRA - havia tchecos, eslovacos, bósnios, sérvios, croatas, romenos - que
GUERRA MUNDIAL lutavam por autonomia. Os sérvios, por exemplo, identificavam-se
com os interesses nacionais e culturais dos russos, alimentando di-
ferenças e antagonismos com os austríacos. A Rússia e o Império
Como explicar a Grande Guerra? O que fez os países europeus Turco-Otomano mantinham ressentimentos recíprocos.
deflagrarem um conflito que os levaria à ruína? Urna explicação bas- A exemplo dos impérios Russo e Austro-Húngaro, o Turco-O-
tante conhecida reitera o caráter imperialista da guerra, ressaltan- tomano também abrigava povos de várias línguas e religiões. Todo
do as disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha pela redistribuição esse clima de competição e rivalidade entre os países foi intensifi-
das colônias africanas e asiáticas - e do mercado mundial também23. cado com a expansão das ideologias nacionalistas. As rivalidades
No entanto, para compreendê-la, é necessário considerar ou- políticas e o crescimento dos nacionalismos na Europa tiveram peso
tros aspectos. Por exemplo, o fato de a guerra haver se concentra- decisivo na eclosão da Grande Guerra.
do em território europeu e as batalhas em regiões coloniais terem
ocorrido como consequência do que acontecia na Europa. Também — Fim do Equilíbrio Europeu
é preciso ponderar que, às vésperas da Grande Guerra, os conflitos A partir de 1880, diversos grupos organizados - em sintonia
decorrentes das disputas coloniais não se apresentavam como inso- com a burguesia e os proprietários rurais - passaram a defender
lúveis ou inegociáveis. Além disso, é fundamental analisar a conjun- ideias fortemente nacionalistas. Recorrendo a discursos ufanistas
tura política dos países europeus naquela época. e emocionais, essas organizações acreditavam que podiam mobi-
Desde fins do século XIX, urna série de rivalidades políticas era lizar a população, reforçando o patriotismo, inclusive, entre povos
alimentada pelo clima de exacerbação nacionalista e pelo avanço que não contavam com um Estado constituído, como era o caso dos
do militarismo no continente, sobretudo na Grã-Bretanha, na Ale- sérvios.
manha, na França e na Rússia. A Inglaterra foi o primeiro país a se As ideologias nacionalistas exaltavam as qualidades do Estado-
industrializar, dispondo de vasto mercado consumidor. Além de -nação e a ideia de superioridade em relação aos demais povos.
fornecer produtos industrializados para Suas colônias, delas rece- Britânicos e franceses, por exemplo, acreditavam em uma suposta
bia boa parte das matérias-primas de que necessitava. No início do capacidade civilizadora do mundo. Os alemães, por sua vez, sonha-
século XX, porém, os ingleses passaram a sofrer a competição de vam com uma “Grande Alemanha”, apoiada no pangermanismo
outros países que também se industrializavam, corno era o caso da ideologia que defendia a anexação dos povos germânicos espalha-
Alemanha, cuias indústrias eram fortes concorrentes para as ingle- dos pela Europa Central, como holandeses, dinamarqueses (de lín-
sas. gua alemã), austríacos, entre outros.
A Alemanha investiu pesadamente na industrialização, incen- Os russos apostavam na unificação dos povos eslavos dispersos
tivando a formação de grandes empresas, mediante a associação pela Europa Oriental e pelos territórios do Império Austro-Húngaro
entre indústrias e bancos, e desenvolveu um sistema educacional - sérvios, eslovacos, poloneses, tchecos etc. Era o pan-eslavismo
técnico bastante eficiente. Na França, embora houvesse muitas russo. Mas havia também o pan-eslavismo sérvio, cuja missão era
indústrias, predominava uma economia agrária - no tocante à in- agrupar os eslavos do sul da Europa: eslovacos, croatas, búlgaros
dustrialização, os franceses estavam atrás de ingleses e alemães. A etc.
Rússia, predominantemente agrária, era a economia mais frágil en- Apesar dessas rivalidades, a paz foi garantida no continente eu-
tre os gigantes europeus. Além disso, a maioria das principais indús- ropeu nas últimas décadas do século XIX, em grande parte, pelo sis-
trias em seu território era controlada por investidores estrangeiros. tema diplomático criado pelo chanceler alemão Otto von Bismarck,
cujo objetivo era estabelecer uma ordem internacional favorável ao
— Tensões pré-Guerra Império Alemão. Para tanto, ele procurou evitar confrontos com a
Naquele cenário tenso, em que as rivalidades entre os países Grã-Bretanha, de modo a manter a neutralidade britânica na por-
se agravavam, destaca-se a que havia entre França e Alemanha. Na ção continental da Europa.
Guerra Franco-Prussiana, travada entre 1870 e 1871, os franceses Com a França as dificuldades eram maiores devido ao ressenti-
perderam para os alemães as regiões da Alsácia-Lorena, ricas em mento dos franceses após a derrota na Guerra Franco-Prussiana. O
carvão. O episódio feriu gravemente o orgulho dos franceses, que sistema de Bismarck, como ficou conhecido o modo como o chan-
julgavam ser uma questão de honra a recuperação desses territó- celer alemão conduziu a política externa do Império Alemão, ficou
rios. ainda mais claro quando, em 1879, um pacto com o Império Aus-
Com a ascensão da Alemanha à categoria de grande potên- tro-Húngaro contra quaisquer agressões vindas do leste ou do oeste
cia capitalista, as tensões aumentaram ainda mais no continente, foi firmado. Com a adesão da Itália em 1882, formou-se a chamada
acentuando o desequilíbrio econômico e social. Para proteger seu Tríplice Aliança. Na Conferência de Berlim, encerrada em 1885, Bis-
comércio exterior, a Alemanha investiu em uma marinha mercante marck também renunciou a maiores ambições coloniais, para não
e de guerra, reforçando a concorrência com os produtos ingleses. A provocar britânicos e franceses.
tensão entre a Alemanha, de um lado, e a França e a Grã-Bretanha, O sistema do chanceler, contudo, entrou em colapso após sua
de outro, aumentou quando os alemães estabeleceram uma aliança renúncia, em 1890. Negando a política de Bismarck, o imperador
diplomática e militar com o Império Austro-Húngaro. Mas esses não Guilherme II lançou a Alemanha em uma política de expansão ter-
eram os únicos focos de atrito no continente. ritorial (Weltpolitik).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em 1894, a França firmou com a Rússia uma entente, isto é, um entusiasmado, de suas sociedades. O nacionalismo exacerbado e
acordo que foi confirmado dois anos depois. Ao superar as rivalida- a crença de que o conflito era inevitável e seria curto mobilizaram
des na corrida colonial, a França também se aproximou da Grã-Bre- amplos setores sociais de cada um dos países beligerantes.
tanha. Esse entendimento deu origem em 1904 à Tríplice Entente -
que incluía a Rússia. Foi nessa tensa conjuntura política que marcou Guerra de Trincheiras
o final do século XIX na Europa que se originou a Grande Guerra. As potências que compunham a Tríplice Aliança tiveram de
A disputa pela hegemonia política, agravada pelas ideologias combater em duas frentes: na ocidental, depois que os alemães de-
nacionalistas e pelo militarismo, havia se tornado central para as clararam guerra à França, e na oriental, de modo a impedir o avan-
potências europeias, divididas em dois blocos rivais, a Tríplice Alian- ço dos russos. Na frente ocidental a guerra de trincheiras se impôs
ça e a Tríplice Entente. Qualquer guerra que viesse a eclodir no con- como realidade - e como um dos maiores horrores do conflito. Trin-
tinente envolveria um amplo conjunto de nações. cheiras foram cavadas ao longo de centenas de quilômetros, cor-
tando o território europeu de norte a sul e impedindo os exércitos
Paz Armada alemães e franceses de avançar.
Antes da eclosão da Grande Guerra, ainda na primeira década No final do ano de 1914, os envolvidos no conflito perceberam
do século XX, houve um grande investimento nas Forças Armadas que ele não seria rápido nem curto.
das principais potências europeias. Alemanha, Grã-Bretanha, Fran- O uso de novas armas também contribuiu para fazer da Gran-
ça, Rússia estimularam o alistamento de milhões de homens, com de Guerra um verdadeiro cenário de horrores. Pela primeira vez,
base nos ideais de nacionalismo e patriotismo, e encomendaram às utilizava-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventaram o
suas indústrias armas, munições, navios de guerra, uniformes etc. tanque de guerra. Já os alemães usaram lança-chamas e armas quí-
Como os países ainda não estavam em guerra, tratava-se de micas, como o gás mostarda, que provo- cavam graves queimadu-
uma paz armada. Apesar dos lucros que tal investimento gerou para ras. Mas o grande trunfo alemão foi o submarino.
a indústria bélica, é um engano supor que a Grande Guerra ocorreu Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transportavam
principalmente devido aos interesses desse setor. Às vésperas do alimentos, eles conseguiram causar grande dano à população civil.
confronto, cerca de 19 milhões de soldados estavam prontos para Com seus submarinos, a Alemanha também conseguiu afundar
as batalhas. Quando a guerra, de fato, começou, os próprios gover- quase um terço da frota britânica, em represália ao bloqueio naval
nantes ficaram surpresos com o entusiasmo que tomou conta das decretado pelas potências da Tríplice Aliança.
populações. — Os Rumos da Guerra
A despeito do uso do avião e do submarino, o conflito foi tra-
— Grande Guerra Mundial (1914-1918) vado, sobretudo, em terra. Na frente ocidental, a segunda grande
O pretexto para a deflagração da guerra foi o assassinato do ofensiva alemã ocorreu em 1916. Embora dispusessem de ampla
príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinan- superioridade militar, os alemães esbarraram na tenaz resistência
do, e de sua esposa, cometido por um nacionalista sérvio do grupo francesa.
Mão Negra, no dia 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo, Já na frente oriental, as forças alemãs e austríacas conseguiram
capital da Bósnia-Herzegovina, à época província do império. barrar os russos. A vitória tendia para o lado alemão, mas os acon-
Ao assumir o trono, Francisco Ferdinando pretendia transfor- tecimentos começaram a mudar com a entrada dos Estados Unidos
mar o Império Austro-Húngaro, então uma monarquia dual com- no conflito, em abril de 1917, após três anos de neutralidade. Havia
posta pela Áustria e pela Hungria, em uma monarquia tríplice, re- afinidade política e cultural entre os EUA e a Grã-Bretanha, além de
conhecendo as populações eslavas que o compunham. Essa ideia, interesses económicos em curso - os estadunidenses vendiam ar-
contudo, contrariava os interesses nacionalistas dos sérvios, que ti- mas e alimentos aos britânicos e aos franceses -, mas o governo só
nham a pretensão de agrupar os eslavos do sul da Europa e formar entrou na guerra quando a situação parecia desfavorável aos seus
uma “Grande Sérvia” independente. aliados.
Em decorrência do assassinato de Francisco Ferdinando, a mo- A entrada dos Estados Unidos no conflito favoreceu a Tríplice
narquia austro-húngara declarou guerra aos sérvios em 28 de julho Aliança e fez com que a guerra, a partir daí, se tornasse mundial.
de 1914. Os russos logo se posicionaram em defesa dos sérvios. Os Meses depois, contudo, em outubro de 1917, ocorreu uma nova
alemães, solidários aos austríacos, declararam guerra à Rússia no reviravolta, beneficiando a Alemanha: eclodia uma revolução na
dia 1 de agosto e, dois dias depois, à França, colocando em ação o Rússia.
ambicioso Plano Schlieffen: derrotar rapidamente a França antes Em dezembro, o novo governo, de orientação socialista, aca-
que a Rússia pudesse mobilizar suas tropas. tando a vontade da população, anunciou a retirada do país da guer-
Desse modo, evitariam lutar em duas frentes de batalha. Para ra. O custo dessa decisão foi grande para a Rússia, que teve de ce-
alcançar o território francês, invadiram a Bélgica - país que havia se der vários territórios para a Alemanha. Além disso, com a saída dos
declarado neutro no conflito. Alegando a quebra da neutralidade russos do conflito, os alemães puderam concentrar suas forças na
belga, os britânicos declararam guerra contra a Alemanha, honran- frente ocidental.
do a Tríplice Entente. A Itália, até então integrante da Tríplice Alian- Em 1917, após três anos de lutas incessantes, as sociedades
ça, mudou de lado, seduzida pelas promessas da Grã-Bretanha de europeias envolvidas no conflito estavam cansadas, e os soldados,
concessões territoriais da Alemanha na África. exaustos. O bloqueio naval franco-britânico e a guerra submarina
O conflito generalizou-se quando o Império Turco-Otomano alemã levaram a população europeia à fome. O custo de vida dis-
declarou guerra aos seus antigos inimigos russos e aliou-se aos parou, os salários não aumentavam e as mercadorias sumiam das
germânicos. Cada país beligerante contou com o apoio, por vezes prateleiras.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Estimulado pelos protestos nas cidades, um amplo movimento Em abril de 1919, foi fundada a Sociedade ou Liga das Nações,
pacifista surgiu exigindo o fim da guerra. A partir de junho de 1918, com sede em Genebra, na Suíça, com o objetivo de garantir a paz
a Tríplice Aliança acumulou sucessivas derrotas. Enquanto alemães e resolver os conflitos entre os países por meio de negociações e
e austríacos conheciam a fome, britânicos e franceses recebiam arbitramentos. Embora a iniciativa tenha partido do presidente es-
ajuda material e militar dos Estados Unidos. tadunidense Woodrow Wilson, o Congresso dos EUA não aprovou
O Império Austro-Húngaro ruiu, resultando na instauração de a entrada do país na organização, optando pelo isolamento inter-
uma república. Na Alemanha, o imperador Guilherme II abdicou e, nacional.
diante da iminente derrota, o novo governo assinou o armistício em
11 de novembro de 191 S. A Alemanha tornou-se uma república, — Os números da Guerra
conhecida como República de Weimar. As consequências da Grande Guerra foram trágicas. Calcula-se
que cerca de 10 milhões de pessoas, entre militares e civis, morre-
— Consequências da Primeira Guerra Mundial ram no conflito - desse total, aproximadamente, 1 milhão de ale-
No início de 1918, antes do término do conflito, o presidente mães e 1 milhão e 500 mil franceses, a maioria com menos de 25
estadunidense Woodrow Wilson apresentou um plano para encer- anos de idade. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos
rar a guerra. Entre os chamados 14 pontos de Wilson estavam: abo- para criar.
lição da diplomacia secreta, tornando-a de conhecimento público; Os países europeus que se envolveram no conflito saíram eco-
liberdade de navegação e fim das barreiras econômicas entre as nomicamente arruinados, sobretudo a Alemanha. Até a Grã-Breta-
nações; limitação dos arsenais armamentistas; redefinição dos limi- nha, com todo seu extenso e rico império colonial, deixou de ser a
tes territoriais italianos; reformulação das práticas colonialistas que grande potência do mundo. A partir de então, os países da Europa
considerasse os interesses dos povos colonizados; independência conheceram o declínio económico. Os EUA, que se industrializavam
da Bélgica e da Polônia; restauração da Sérvia, de Montenegro e a passos largos desde fins do século XIX, aceleraram sua ascensão
da Romênia; devolução da Alsácia-Lorena à França; autonomia dos econômica, com os lucros advindos da venda de mercadorias e do
povos submetidos ao Império Turco-Otomano; ajuda à Rússia; e, fornecimento de empréstimos para os países envolvidos no confli-
por fim, criação da Liga das Nações. to, principalmente os da Tríplice Entente.
Apesar de estar apoiado na justiça entre os povos - sem venci- Com o fim da guerra, assistiu-se ao declínio dos ideais liberais
dos nem vencedores - e atender a diversos interesses, o plano não em boa parte da Europa. Enquanto a democracia liberal sofria for-
interessou aos governos da França e da Grã-Bretanha. Aos vitorio- tes críticas, as ideologias autoritárias de direita e de esquerda co-
sos interessava condenar pesadamente a Alemanha e eles assim meçavam a ganhar prestígio. Como resultado, as décadas seguintes
fizeram. seriam marcadas pelo confronto aberto entre partidos nacionalistas
Em 19 de janeiro de 1919, diplomatas dos países vencedores radicais e partidos comunistas vinculados à orientação soviética.
encontraram-se na Conferência de Paris, com o objetivo de chegar
a um acordo que resultasse no desarmamento da Alemanha e na — O Brasil na Grande Guerra
reparação das perdas materiais provocadas pela guerra. O resulta- Apesar de ter se mantido neutro no conflito. o Brasil também
do foi o Tratado de Versalhes, que entre os alemães ficou conhe- sentiu as consequências da Grande Guerra. As exportações de café,
cido como Ditado de Versalhes, por ser impositivo e humilhante. por exemplo. caíram sensivelmente e a arrecadação de impostos
De acordo com esse tratado, fundamentado na cláusula de culpa também, já que o principal deles incidia sobre as exportações. Por
de guerra estabelecida pelos vitoriosos, a Alemanha deveria ceder outro lado, a queda de importações provocada pela guerra estimu-
à França a Alsácia-Lorena e as minas de carvão da bacia do Sarre. lou o desenvolvimento da indústria brasileira com tarifas protecio-
Deveria ceder também parte de seu território para a Bélgica, a nistas e subsídios.
Dinamarca, a Lituânia e a Polônia - que ganhou, assim, uma saída Em fevereiro de 1917, os alemães passaram a atacar inclusive
para o mar, o chamado corredor polonês, e recuperou sua indepen- os navios de países neutros. Mesmo com o protesto do governo
dência. brasileiro, o cargueiro Paraná, carregado com 4,5 toneladas de café,
As colônias alemãs na África foram divididas entre a França e foi torpedeado em abril daquele ano.
a Grã-Bretanha. Além de perder dois quintos de suas minas de car- Nesse contexto, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a
vão, dois terços das minas de ferro, um sexto das terras cultiváveis Alemanha. Em maio, dois outros navios brasileiros foram atacados.
e um oitavo de todo seu gado bovino, a Alemanha teve todos os Como o governo manteve a postura de neutralidade, nas ruas surgi-
seus investimentos no exterior confiscados para pagar uma pesada ram movimentos de protesto, exigindo uma reação do governo. Em
indenização aos vencedores. resposta, o presidente Wenceslau Braz declarou guerra à Alema-
As imposições ainda incluíam a redução do Exército alemão a nha. em outubro de 1917.
100 mil homens, no máximo, a proibição de produzir armamentos
(canhões, aviões militares e artilharia antiaérea) e a entrega de seus
submarinos e navios (mercantes e de guerra) à Grã-Bretanha, à REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE
França e à Bélgica.
Mas a Alemanha não foi a única a pagar a conta da guerra. A
cláusula de culpa também atingia o Império Austro-Húngaro. De — Rússia no Início do Século XX
seu desmembramento surgiram a Áustria, a Hungria, a Tchecoslo- A Rússia se consolidou como Estado monárquico absolutista no
váquia e a lugoslávia. O Império Turco-Otomano também desmo- final do século XVI, sob o governo de Ivan IV, conhecido como “o
ronou, dando origem ao Iraque, à Síria, ao Líbano, à Palestina e à Terrível”, que adotou o título de czar. Ele deu início à expansão terri-
Transjordânia, nações sob controle da França e da Grã-Bretanha. O torial do país, que se prolongou até o final do século XIX24.
antigo império ficou reduzido à atual Turquia. 24 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No início do século XX, a economia russa permanecia predomi- O soviete mais importante era o da capital, presidido por Lev
nantemente baseada nas atividades rurais: 85% da população total Davidovich Bronstein, conhecido como Leon Trotski. Os sovietes or-
do país era constituída por camponeses pobres e a maioria deles ganizaram greves, saques e manifestações, que eclodiram por toda
vivia sob o regime feudal de servidão. A abolição do feudalismo, em parte.
1861, não contribuiu para melhorar a situação da população, que No mar Negro, os marinheiros do encouraçado Potenkim se
continuou a viver sob o domínio dos grandes proprietários rurais. O sublevaram. Em outubro, uma greve geral paralisou o país. En-
processo de industrialização na Rússia teve início no final do século curralado pelo movimento, o czar Nicolau II legalizou os partidos
XIX. políticos e concedeu poderes legislativos à Duma (uma espécie de
Nessa época, enquanto a Inglaterra e outros países europeus Parlamento).
já contavam com parques industriais, em plena Segunda Revolução No entanto, ao mesmo tempo, reprimiu duramente os sovietes
Industrial, a Rússia dispunha de poucos centros fabris. Os operários e o movimento grevista. Trotski, líder do soviete de São Petersbur-
trabalhavam em ambientes insalubres, com salários extremamente go, e outros líderes foram presos.
baixos e enfrentavam jornadas de até 14 horas diárias. A industria- A Revolução de 1905 não chegou a derrubar o governo czarista,
lização russa concentrou-se em três pontos, todos na porção euro- mas transformou a Rússia em uma monarquia constitucional. Entre-
peia do país: na capital, São Petersburgo, em Moscou e na região tanto, o governo de Nicolau II manteve características autoritárias:
do rio Don. a polícia permaneceu exercendo o papel de instituição censora das
No começo do século XX, ainda como um país predominante- liberdades civis e o czar tinha o poder de dissolver a Duma a qual-
mente camponês com alguns pontos de alta concentração indus- quer momento.
trial, o sistema político da Rússia era arcaico - uma autocracia ab-
solutista -, o governo não demonstrava interesse na elaboração de — Revoluções de 1917
reformas políticas e sociais, enquanto se esforçava para coibir seus No dia 27 de fevereiro de 1917, a população de Petrogrado
opositores. Entretanto, mesmo com a repressão e o autoritarismo, (novo nome da capital, a antiga São Petersburgo) e de outras ci-
havia grupos clandestinos de oposição ao governo, defensores de dades se revoltou. O czar se viu obrigado a abdicar e foi implan-
mudanças estruturais que favorecessem toda a população. tado um governo provisório eleito pela Duma. Ao mesmo tempo,
operários, camponeses, soldados e marinheiros se organizaram em
— Mencheviques e Bolcheviques sovietes por todo o país.
Com o crescimento industrial, as cidades russas se desenvol- Os novos governantes, de orientação menchevique, aboliram a
veram consideravelmente: entre 1860 e 1914, a população urbana censura à imprensa, legalizaram os partidos, libertaram presos po-
passou de 6 milhões para quase 19 milhões de pessoas. Vivendo e líticos e os exilados puderam retornar ao país. O czar e sua família
trabalhando em péssimas condições, os operários começaram a se foram presos. Mesmo assim, a Rússia continuou envolvida na Pri-
organizar em associações. meira Guerra, e a principal reivindicação dos camponeses, operá-
Em 1898, intelectuais e membros da classe trabalhadora for- rios e soldados de baixa patente não foram atendidas.
maram o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), um Esses grupos sociais perceberam que pouco havia sido modifi-
grupo clandestino de orientação marxista. Em 1903, o POSDR agru- cado nas condições de vida após a Revolução de Fevereiro, e a insa-
pava membros com duas tendências ideológicas. tisfação popular crescia progressivamente. Lenin liderou violentos
Uma delas era a dos bolcheviques, liderada por Lenin (pseudô- protestos contra o governo provisório, proclamando os lemas Paz,
nimo de Vladimir Ilitch Ulianov). Essa divisão propunha a formação pão e terra e Todo o poder aos sovietes! Trotski aderiu ao Partido
de uma aliança operário-camponesa cuja resposta era implantar o Bolchevique e foi eleito presidente do soviete de Petrogrado. Os
socialismo por meio de uma revolução dos trabalhadores. bolcheviques conquistaram rapidamente o apoio das lideranças da
A outra tendência era a dos mencheviques. Mais moderados maioria dos sovietes e, em outubro de 1917, derrubaram o governo
do que os bolcheviques, eles defendiam que era preciso apoiar a provisório.
burguesia por meio de uma revolução democrática. Apenas depois
disso a classe operária seria capaz de se organizar para concretizar — URSS
uma reforma socialista. Depois da Revolução de Outubro, o novo governo, comandado
por Lenin, estatizou fábricas, estradas de ferro e bancos e confiscou
— Revolução de 1905 os bens da Igreja. As grandes propriedades foram expropriadas e
Em janeiro de 1905, durante a Guerra Russo-Japonesa (1904- distribuídas aos camponeses. No que diz respeito à política externa,
1905), os problemas internos da Rússia se agravaram devido à falta russos e alemães assinaram um tratado de paz, o Tratado de Bres-
de alimentos, requisitados para as tropas. Aproximadamente 200 t-Litovsky (1918), e os russos saíram da Primeira Guerra Mundial.
mil pessoas realizaram uma manifestação pacífica em São Peters- Logo em 1918, porém, o país mergulhou em uma sangrenta
burgo, capital russa, cuja demanda era a implantação de uma As- guerra civil que colocou em confronto o Exército Vermelho, or-
sembleia Constituinte e melhores condições de vida e de trabalho. ganizado e comandado por Trotski, e o Exército Branco, mobiliza-
Forças do governo dispararam contra a multidão, matando cer- do pelas antigas classes dominantes (senhores de terras, grandes
ca de mil pessoas. Conhecido como domingo sangrento, o massa- empresários, generais do exército czarista) e reforçado por tropas
cre repercutiu em toda a Rússia. Nas grandes cidades foram criados enviadas pela Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Japão e França,
os sovietes, conselhos formados por representantes dos trabalha- cujos governos temiam a propagação do comunismo russo pelo
dores que decidiam quais seriam as manobras políticas da luta con- mundo.
tra o czarismo.

Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.


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A guerra civil terminaria apenas em fevereiro de 1921, com a aos partidos comunistas de todo o mundo a formação de frentes
vitória dos bolcheviques, liderados por Trotski. Com o fim do confli- populares com socialistas e democratas contra a ascensão dos re-
to interno, o governo de Lenin adotou um plano de recuperação do gimes fascistas.
país, que combinava princípios comunistas com medidas capitalis- França e Grã-Bretanha viram no fortalecimento alemão uma
tas. O governo adotou medidas de centralização do poder em torno forma de conter o comunismo no limite das fronteiras soviéticas.
do Partido Bolchevique, agora chamado de Partido Comunista. Por esse motivo, calcularam que a guerra alemã em busca de seu
Foi implantada uma rígida disciplina nas fábricas; a imprensa espaço vital se limitaria ao leste, talvez provocando a destruição da
passou a ser controlada; os partidos políticos foram colocados na URSS, mas não chegaria aos países do Ocidente europeu e a seus
ilegalidade e a liberdade de discussão (até mesmo no interior do impérios coloniais na Ásia e na África. Mas os planos de Hitler logo
Partido Comunista) foi restringida. se mostraram bem mais ambiciosos.
Os sovietes deixaram de ser um espaço para a discussão demo-
crática e se transformaram em executores das ordens do Partido. Guerra Civil Espanhola
Muitos opositores do novo regime foram presos. O czar Nicolau II As democracias ocidentais nada fizeram para auxiliar o gover-
e sua família foram executados. Em 1922, o novo país passou a se no republicano espanhol, atacado pelo levante militar comandado
chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Lenin pelo general Francisco Franco em 1936. Isso porque o governo ata-
sofreu um ataque cardíaco e afastou-se pouco a pouco do poder, cado era uma frente popular, inspirada na Internacional Comunista.
até morrer, em 1924. O secretário-geral do Partido Comunista, Jo- Assim, essas democracias assistiram impassíveis à Guerra Civil Es-
sef Stalin, passou a disputar com Leon Trotski a liderança da União
panhola, que resultou no esmagamento do governo constitucional
Soviética.
pelas tropas do general Franco.
O objetivo do generalíssimo, como era chamado, era defender
A URSS e o Comunismo
os interesses das classes proprietárias e da Igreja Católica, amea-
Vencedor da disputa interna com Trotski, Stalin tinha a seu ser-
viço a burocracia do Estado e do partido e passou a dominar o país çados pelo movimento de esquerda que predominava no governo
com mão de ferro. Uma de suas medidas foi eliminar todos os seus republicano espanhol. As divergências entre as organizações e as
adversários, que eram presos ou executados. Trotski, por exemplo, lideranças de esquerda facilitaram a vitória do franquismo. No final
foi expulso da União Soviética em 1929 e obrigado a exilar-se no da guerra, Franco contou com o apoio direto de Hitler e de Musso-
México, onde morreu, em 1940, assassinado a mando de Stalin. Sob lini, com aviões da Luftwaffe (Força Aérea alemã) bombardeando
o novo governo, a União Soviética isolou-se do mundo e se transfor- cidades leais aos republicanos espanhóis, como Guernica - imortali-
mou em uma potência mundial. zada em uma obra do pintor Pablo Picasso.
A industrialização teve grande impulso por meio de planos
quinquenais. Entretanto, a formação de uma sociedade igualitária, — Guerra Política
um dos ideais dos primeiros socialistas, foi esquecida. Em lugar do As potências ocidentais europeias eram tolerantes quanto as
socialismo, surgiu uma sociedade burocratizada, controlada por reivindicações territoriais do regime nazista. Assim, Hitler remilita-
uma elite de funcionários privilegiados - a burocracia soviética -, rizou a Renânia, na fronteira com a França, em 1936, sem nenhu-
enquanto a maior parte da população vivia em condições precárias ma resistência, contrariando cláusulas do Tratado de Versalhes. Em
e se via excluída dos órgãos de participação e decisão política. 1938, anexou a Áustria, no episódio conhecido como Anschluss,
No topo dessa sociedade estava o Partido Comunista, que con- após sabotar o regime democrático austríaco, em decorrência do
trolava integralmente todos os órgãos do Estado. O chefe desse forte movimento nazista existente naquele país.
partido, Stalin, era considerado infalível, e seus opositores eram No mesmo ano, reivindicou a posse dos Sudetos, na Tchecos-
duramente reprimidos. lováquia, alegando que havia maioria alemã na região e ameaçan-
do invadir o lugar no caso de objeção das potências ocidentais. No
Tratado de Munique, assinado em setembro de 1938, Hitler atin-
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
giu seu objetivo. Em março de 1939, tropas alemãs entraram em
Praga e decretaram que a Boêmia e a Morávia fariam parte de um
protetorado alemão. Um dos poucos políticos a denunciar as inten-
— Precedentes ções expansionistas da Alemanha foi Winston Churchill, membro do
O regime nazista preparou a Alemanha para a guerra. As posi-
Partido Conservador britânico, declaradamente antissoviético, mas
ções de Hitler contra o Tratado de Versalhes (1919), o rearmamen-
igualmente crítico do regime nazista.
to progressivo do Terceiro Reich e a instituição do serviço militar
Os governos britânico e francês alertaram que, diante de qual-
obrigatório não deixavam dúvida quanto aos seus objetivos expan-
quer novo avanço territorial, seria declarada guerra à Alemanha
sionistas. Um dos primeiros atos de Hitler foi a retirada da Alema-
nha da Liga das Nações - organismo internacional fundado ao final para resguardar a ordem internacional. Porém, a essa altura, Ale-
da Primeira Guerra Mundial para resolver litígios entre os Estados25. manha, Itália e Japão já tinham firmado o Eixo Roma-Berlim-Tó-
Os nazistas não cansavam de declarar seu direito ao espaço vi- quio: uma aliança militar para atuar contra quaisquer inimigos. Ale-
tal, considerado necessário para a formação da “Grande Alemanha” manha e Itália também reforçaram sua aliança por meio do Pacto
Em 1936, a Alemanha liderou o Pacto Anti-Komintern, aliando-se de Aço, assinado em maio de 1939.
ao Japão contra o expansionismo soviético. A Itália fascista aderiu A surpresa viria com o encontro entre o ministro de Relações
no ano seguinte. Foi uma reação ao VII Congresso da Internacional Exteriores da Alemanha, Joachim Von Ribbentrop, e o ministro sovi-
Comunista, realizado em Moscou, um ano antes, que recomendou ético, Viacheslav Molotov, em Moscou, em fins de agosto de 1939.
25 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva. Nessa ocasião, os dois países firmaram o pacto germano-soviético
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de não agressão, que incluía uma cláusula secreta de divisão da Po- às vésperas da queda da França. Mas os exércitos de Mussolini, que
lônia entre as duas potências - em caso de guerra -, além de prever já haviam demonstrado debilidade na Etiópia, sequer conseguiram
o intercâmbio comercial. De fato, a URSS enviou regularmente pe- vencer sozinhos a resistência grega, sendo socorridos pelas tropas
tróleo e alimentos para a Alemanha até 1941. nazistas.
Por meio desse acordo, a Alemanha nazista conseguiu carta Não tardou para que outros países apoiassem a Alemanha,
branca dos soviéticos para invadir a Polônia. O regime soviético, como a Bulgária, a Romênia e a Hungria. Portugal e Espanha per-
por sua vez, obteve garantias mínimas de que não seria atacado, na maneceram neutros, porém simpáticos à Alemanha. Em 1941, boa
expectativa de que o esforço bélico dos nazistas se lançasse contra parte da Europa estava, direta ou indiretamente, controlada pelo
outros países, incluindo as democracias ocidentais. As potências Terceiro Reich. Apenas Suíça, Suécia e Turquia conseguiram manter
ocidentais ficaram perplexas diante da cartada de Hitler e Stalin. uma neutralidade mais consistente. Restava a URSS, no leste.

— O Nazismo ataca a Europa — Inglaterra Resiste


Em 3 de setembro de 1939, França e Grã-Bretanha declararam Os nazistas pretendiam invadir a Grã-Bretanha pelo sul, atra-
guerra à Alemanha, embora, concretamente, nada tenham feito. vessando o canal da Mancha, em uma operação batizada de Leão-
Apenas aumentaram os gastos militares e mobilizaram soldados em -marinho. A ação dependia da Luftwaffe para neutralizar as defesas
grande escala para fazer frente ao conflito. A partir de março de aéreas britânicas, e acabou sendo o maior conflito aéreo da guerra.
1940, passaram a apoiar a Finlândia contra a invasão soviética, em
A Luftwaffe dispunha de quase 3 mil aviões, entre bombardeiros e
uma ação abortada por conta do acordo firmado naquele mesmo
caças. A força aérea britânica, Royal Air Force (RAF), dispunha de
mês entre soviéticos e finlandeses.
menos aviões, embora a produção de caças tenha se multiplicado
A Grã-Bretanha ainda tentou ocupar a Noruega, sob a alegação
no país entre 1940 e 1941. No início do ataque alemão, a Grã-Breta-
de impedir o ataque alemão a esse país, com receio de que o Reich
estabelecesse uma base de operações no mar do Norte. Mas de nha foi flagelada por bombardeios quase diários, cujos alvos deixa-
nada adiantou, já que em abril a Alemanha ocupou a Dinamarca e a ram de ser militares e passaram a se concentrar em Londres. Hitler
Noruega, espalhando minas marítimas para sabotar a Marinha bri- calculava que, em poucas semanas, os britânicos não teriam como
tânica. O avanço alemão para o ocidente começava pelas beiradas. deter a invasão alemã. Dessa vez, porém, ele estava enganado.
A capacidade de resistência britânica foi extraordinária. No
Invasão na França ar, os caças britânicos provocaram pesadas perdas à Luftwaffe. No
A expansão alemã provocou mudanças sensíveis nos governos solo, houve enorme mobilização da população civil, insuflada pelos
das potências ocidentais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o poder discursos diários de Churchill. Em 25 de agosto de 1940, aconteceu
foi assumido por Winston Churchill, agora prestigiado pelos alertas o que parecia impossível: em represália aos ataques alemães, os
que vinha fazendo contra o perigo alemão. Em 10 de maio de 1940, britânicos bombardearam Berlim. Com sucessivos desgastes, em
o Exército alemão, com o apoio da Luftwaffe, deu início a outra Blit- fevereiro de 1942, Hitler desistiu de ocupar Londres.
zkrieg, agora contra a Holanda e a Bélgica. A Grã-Bretanha resistiu praticamente sozinha, recebendo o
A vitória alemã nos Países Baixos foi avassaladora. Nesse mo- apoio dos EUA em armas, navios e alimentos, apesar da posição
mento, estava claro que os alemães atacariam a França pela frontei- do governo estadunidense de não intervenção no conflito europeu.
ra belga, contornando a Linha Maginot, complexo defensivo cons- Enquanto resistiam na Europa, os exércitos britânicos eram fus-
truído pelos franceses ao longo do Reno nos anos 1930. Quando os tigados no norte da África pelos italianos, que pretendiam marchar
alemães evitaram a Linha Maginot pelo extremo oeste, a resistência da Líbia até o Egito para conquistar o canal de Suez, de onde parti-
britânico-francesa ficou dividida e o caminho para Paris, aberto. riam para o Iraque com o objetivo de controlar as reservas petrolí-
Os britânicos abandonaram a França à própria sorte, pois Chur- feras da região.
chill temia perder homens e aviões em uma batalha condenada. No Egito, os britânicos impuseram a derrota ao exército de
Ficou famosa a retirada de Dunquerque, na qual os britânicos resga- Mussolini. A guerra no deserto estava só começando. Diante do
taram mais de 150 mil soldados encurralados no nordeste da Fran- novo fracasso militar italiano, Hitler organizou o Afrika Korps, em-
ça, usando até barcos de pesca. Paris foi ocupada pelos alemães em purrando os exércitos britânicos de volta à fronteira egípcia, em
14 de junho. uma guerra que permaneceu em impasse até 1942.
O novo governo francês, comandado por Pétain, entregou par-
te do território aos nazistas, permanecendo com dois terços dele e
— Ofensiva japonesa na Ásia
com as colônias. Colaboracionista, o regime comandado por Pétain,
A partir da década de 1930, com o governo imperial sob o con-
sediado em Vichy - e por isso conhecido como governo de Vichy -,
trole dos militares, o Japão se lançou em uma ofensiva militar sem
não tardou a apoiar a Alemanha na guerra. Pétain foi então celebra-
do como “salvador da pátria”, pois a maioria dos franceses não su- precedentes. Industrializado e posto à margem da corrida imperia-
portava mais os bombardeios e as fugas desesperadas. Além disso, lista europeia, não se tratava mais de conquistar pontos estratégi-
boa parte da sociedade francesa era anticomunista e antissemita. cos na Coreia ou na própria China; o objetivo era dominar a Ásia.
Em 1937, o governo japonês lançou um ataque à China, que
Superioridade Nazista começou na Manchúria e levou à conquista sucessiva de Pequim,
Ao conquistar a França, Hitler foi saudado como grande estra- Shangai e Nanquim. Ao conquistarem esta última, os japoneses
tegista militar. O passo seguinte foi se concentrar na guerra contra massacraram a população, com fuzilamentos de prisioneiros, inva-
a Grã-Bretanha e avançar em direção ao Mediterrâneo. No início de sões de casas, infanticídios e estupros de mulheres. A vitória japo-
1941, conquistou a Iugoslávia, a Grécia e a ilha de Creta, contando nesa foi favorecida pela divisão política da China, que passava por
com o apoio da Itália, que só passou a atuar em favor dos alemães uma guerra civil desde o final dos anos 1920.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

De um lado, o partido conservador Kuomintang, liderado por Foi a batalha mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial, ar-
Chiang Kai-Shek, chefe do governo chinês; de outro, os comunis- rastando-se por meses, com avanços e recuos de ambos os lados.
tas, sob a liderança de Mao Tsé-Tung. Em setembro de 1937, os Em novembro de 1942, a contraofensiva do Exército Vermelho cer-
dois líderes fizeram uma trégua em nome da defesa da China e até cou os alemães e forçou a rendição de soldados famintos e flagela-
1945 lutaram juntos contra os japoneses. Em 1941, o Japão invadiu dos pelo inverno soviético.
a Indochina.
Em represália, os EUA impuseram sanções económicas aos ja- A vitória soviética em Stalingrado mudou o rumo da guerra,
poneses, embargando a venda de petróleo e aço. Com fortes in- sinalizando a derrota alemã em todas as frentes de batalha. A cam-
teresses económicos no Sudeste Asiático, os estadunidenses não panha na URSS absorvia enormes recursos da máquina de guerra
estavam dispostos a aceitar a concorrência japonesa. nazista. No norte da África, os alemães não tiveram como resistir
O governo japonês decidiu enfrentar os EUA e, sem nenhuma ao contra-ataque britânico. Em 1942, os britânicos atacaram o que
declaração de guerra, atacou a base militar de Pearl Harbor, no Ha- restava do exército alemão e de seu aliado italiano na segunda Ba-
vaí, em dezembro de 1941. Os caças japoneses afundaram diversos talha de El Alamein.
navios de guerra e destroçaram os aviões que se encontravam no As forças do Eixo, enfim, capitularam. Churchill saudou a vitória
solo, causando milhares de mortes. O presidente dos EUA, Franklin britânica com entusiasmo: “Este não é o fim, não é nem o começo
Delano Roosevelt, declarou guerra ao Japão e, no dia seguinte, à do fim, mas é, talvez, o fim do começo”.
Alemanha e à Itália. Mas a declaração de guerra estadunidense não
deteve os japoneses. — Invasão da Itália
Com a retomada do norte da África, os Aliados, como ficou co-
No primeiro semestre de 1942, conquistaram a Birmânia, a Ma-
nhecida a coligação de países que lutaram contra os regimes nazista
lásia e várias ilhas do Pacífico. Nessa fase da guerra, britânicos e es-
e fascista, não tardaram a invadir a Itália. Em 1943, após inúmeros
tadunidenses foram derrotados em toda parte. O esforço de guerra
bombardeios, desembarcaram na Sicília e partiram para a penín-
dos EUA foi fenomenal, com a produção de milhares de navios, avi-
sula. Os constantes fracassos militares e a iminente invasão aliada
ões e tanques. O país mostrava-se disposto a reagir no Pacífico e a abalaram o regime fascista.
enfrentar a Alemanha na Europa, mas o momento era de incerteza. Muitos líderes desejavam o fim da guerra e tramaram uma
A Alemanha mantinha intactas as suas conquistas europeias, en- conspiração, na qual até o genro de Mussolini se envolveu. O rei
quanto o Japão era o senhor do Pacífico. Vítor Emanuel III demitiu Mussolini do cargo de primeiro-ministro,
A batalha naval de Midway, em junho de 1942, foi a primei- mandando prendê-lo em um abrigo secreto em Abruzos, no centro
ra grande vitória estadunidense contra os japoneses. Mas o fim da do país.
guerra ainda estava longe. O governo foi passado ao general Pietro Badoglio, que liderava
o grupo favorável à paz e assinou um armistício com os Aliados. Os
— Reação Soviética nazistas reagiram com fúria ao que consideraram ser uma traição
Apesar das dificuldades do combate com a Grã-Bretanha, na da Itália.
frente ocidental Hitler pôs em marcha o plano de invadir a URSS - a Nas frentes de batalha, os soldados italianos foram desarma-
Operação Barbarossa. Pretendia apoderar-se dos imensos recursos dos pelos nazistas e muitos foram fuzilados. A Alemanha logo ocu-
naturais do país, incluindo as áreas petrolíferas, mas havia também pou o norte e o centro da Itália, tomou Roma e montou uma barrei-
o objetivo político-ideológico de destruir o regime comunista sovi- ra defensiva nos Apeninos - cadeia montanhosa que vai do norte ao
ético e a pretensão de ocupar o território, em conformidade com a sul da Itália pela costa leste.
teoria nazista do espaço vital. Mussolini foi resgatado por uma tropa de paraquedistas ale-
Em 1941, os alemães invadiram a URSS, com 3,5 milhões de mães e recolocado no poder em Saló, cidade próxima a Milão. Mas
soldados. As instruções para a guerra incluíam a execução de ci- o regime fascista estava derrotado, o que fez do próprio Mussolini
vis, a começar pelos comissários do partido comunista de cada área um fantoche de Hitler.
conquistada. As primeiras vitórias alemãs foram arrasadoras, mas a
resistência soviética revelou-se tenaz. — O Dia D
Embora tenham recuado e perdido milhões de soldados, en- A abertura da frente ocidental pelos Aliados foi adiada várias
tre mortos e prisioneiros, os soviéticos conseguiram deter o avanço vezes até 1944, apesar dos constantes protestos de Stalin. Meti-
alemão. Leningrado não caiu, embora a população da cidade sitia- culosamente planejada, a Operacão Overlord, também conhecida
como invasão do Dia D, ocorreu em 6 de junho de 1944, quando
da tenha sido arrasada pela fome e por doenças. Moscou também
mais de 300 mil homens desembarcaram na Normandia, norte da
resistiu, graças ao esforço do Exército Vermelho. A chegada do in-
França, abrindo caminho para a derrota do Terceiro Reich.
verno russo deteve de vez o ímpeto alemão, como ocorrera com o
Os alemães foram pegos de surpresa, pois esperavam o desem-
exército napoleónico, em 1812.
barque em Calais. O avanço dos Aliados tornou-se avassalador, com
a retomada de Paris, em 25 de agosto de 1944, e da Bélgica e da
Stalingrado Holanda, nos meses seguintes. Hitler ainda tentou uma última car-
Os alemães abandonaram o plano de conquistar Moscou e con- tada, lançando uma contraofensiva surpresa nos Países Baixos. A
centraram-se na conquista do Cáucaso, rico em petróleo, recursos Batalha de Ardenas foi a última Blitzkrieg do Exército alemão, que,
minerais, industriais e agrícolas. Essa conquista lhes daria ainda o após algumas vitórias, se rendeu na Bélgica, em janeiro de 1945.
controle do rio Volga, o maior da Europa, e acesso ao mar Cáspio. A Alemanha estava cercada, e o regime nazista se aproximava
Em agosto de 1942, a ofensiva chamada Operação Azul estava às do fim.
portas de Stalingrado, às margens do rio Volga.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Operação Valquíria diariamente pelos soviéticos. Diante do avanço dos tanques pela
A iminente derrota da Alemanha acabou apressando os planos cidade, até crianças da Juventude Hitlerista tentavam, em vão, com-
de militares do Alto Comando para derrubar Hitler e fazer um armis- bater.
tício com as potências ocidentais e livrar o país da invasão soviética. Em 30 de abril de 1945, Hitler suicidou-se com sua amante,
Trata-se da famosa Operação Valquíria, que se tornou, inclusi- Eva Braun, com quem se casara um dia antes. Os corpos do casal
ve, tema de filme. Os conspiradores usaram o nome da deusa ger- foram queimados nos jardins do Bunker, seguindo a última ordem
mânica Valquíria (ou Walquíria) para codificar sua ação, que incluía do Fuhrer. Em 7 de maio de 1945, o almirante Karl Dónitz, sucessor
a tomada de prédios públicos e da rede de comunicações na capital nomeado por Hitler, assinou a rendição incondicional da Alemanha.
alemã, após a confirmação da morte de Hitler.
— Hiroshima e Nagasaki
Em 20 de julho de 1944. o coronel Claus von Stauffenberg No início de 1942, a ofensiva japonesa no Pacífico estava no
escondeu uma bomba em uma pasta de trabalho, sob a mesa de auge, com a derrota dos EUA nas Filipinas. Mas, em junho daquele
reunião do quartel-general de Hitler, mas poucos morreram com a mesmo ano, o rumo da guerra começou a virar, com a vitória esta-
explosão e o Führer sobreviveu quase sem um arranhão. Embora dunidense na Batalha de Midway, que resultou na destruição dos
muito doente e deprimido, Hitler mandou executar os conspirado- principais porta-aviões japoneses.
res, provocando a morte de quase 5 mil pessoas.
O marechal Erwin Rommell. ex-comandante do Afrika Korps, A ofensiva japonesa durou cerca de seis meses. Todo o resto da
que havia participado da conspiração, recebeu a opção de suicídio, guerra no Pacífico foi, na verdade, uma luta dos EUA para subjugar
o Japão. Os Estados Unidos consolidaram sua vitória com a recon-
por ser muito popular entre os alemães. Aceitou e foi enterrado
quista das Filipinas, em fevereiro de 1945, e o triunfo nas batalhas
com honras militares.
de Iwo Jima e Okinawa, entre fevereiro e junho. Mas o Japão não
se entregava, multiplicando os voos kamikaze. No início de agosto,
— Auschwitz e o Holocausto
o imperador Hirohito autorizou seu embaixador a estabelecer acor-
Desde a ascensão do nazismo, em 1933, a situação dos judeus dos diplomáticos com Stalin.
na Alemanha era desesperadora, e pioraria muito nas áreas ocu- A essa provocação os EUA responderam com o lançamento da
padas, em especial no Leste Europeu. À medida que a Alemanha bomba atômica Little Boy sobre a cidade japonesa de Hiroshima,
perdia a guerra, a situação tornava-se ainda mais trágica. em 6 de agosto de 1945. Dois dias depois, a URSS invadiu a Manchú-
A matança de judeus começou na Polônia, em 1939, sendo ria, dominada pelos japoneses. Em 9 de agosto, os EUA lançaram
sistemática na URSS, após a invasão de 1941. A decisão formal de uma nova bomba atômica, a Fat Man, sobre Nagasaki. Em cada um
exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferência desses ataques, estima-se que tenham morrido 80 mil pessoas ins-
de Wannsee, realizada em janeiro de 1942. Nela, foi estabelecida a tantaneamente, sem contar os efeitos que a radiação causou nos
Solução Final para o problema judaico: o genocídio. sobreviventes. No dia 14 de agosto, o imperador aceitou a rendição
Pouco a pouco, os guetos foram desativados e os judeus, en- incondicional do Japão.
viados a campos de extermínio (como o de Auschwitz, na Polônia,
o mais conhecido deles). Nos campos, eram selecionados os judeus — Pós-Guerra
que, após dias de viagem em vagões de trens de carga infectados, A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito armado de to-
ainda tinham condições de trabalhar para a máquina de guerra ale- dos os tempos, resultando em mais de 60 milhões de mortos, além
mã, inclusive nas fábricas de munições. Os demais eram enviados às de milhões de civis e militares mutilados. Entre as forças do Eixo, es-
câmaras de gás, e seus corpos, incinerados em crematórios. tima-se cerca de 8 milhões de militares mortos (a maioria alemães)
Na tentativa de iludir os condenados, os campos tinham um e 4 milhões de civis.
letreiro grande no portão principal onde se lia: “O trabalho liberta” Entre os Aliados, 17 milhões de militares e 35 milhões de ci-
(Arbeit macht frei). vis, sobretudo no Leste Europeu. As maiores baixas dos Aliados
Cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados nos cam- ocorreram entre os soviéticos, que suportaram a guerra na Europa
pos alemães, fato que ficou conhecido como Holocausto (shoah, durante quatro anos seguidos. Estima-se que tenham morrido, no
em hebraico). Eles não foram as únicas vítimas desse programa de mínimo, 20 milhões de soviéticos, entre militares e civis. Depois da
extermínio: cerca de 800 mil ciganos também morreram nos cam- URSS, a China foi o país que mais perdeu militares na guerra contra
pos de concentração, além de um número incerto de prisioneiros o Japão: 2,5 milhões. EUA e Grã-Bretanha perderam cerca de 300
mil militares cada.
de guerra soviéticos, presos políticos, homossexuais e testemunhas
As potências Aliadas começaram a esboçar o destino do mundo
de Jeová.
em 1943, quando a derrota do Eixo se tornou uma possibilidade
concreta. Foi na Conferência de Teerã, realizada no Irã em 1943,
— A Guerra chega ao Fim
onde se decidiu o desembarque aliado na Normandia e a divisão da
No começo de 1945, a guerra estava definida a favor dos Alia- Alemanha derrotada em zonas das potências vencedoras.
dos. Hitler, doente e derrotado, recusava-se a abandonar Berlim, Reconheceu-se também o direito soviético às repúblicas bál-
onde havia se refugiado no Bunker da chancelaria. A notícia da ticas da Estônia, Lituânia e Letônia, bem como ao leste da Polônia.
morte de Mussolini, capturado e fuzilado em 27 de abril de 1945, Estabeleceu-se, ainda, a necessidade da criação de um organismo
sinalizava um desfecho trágico. internacional de segurança coletiva mais eficiente que a Liga das
O ditador italiano e sua amante, Clareta Pettacci, tiveram seus Nações. Foi a origem da Organização das Nações Unidas - a ONU
corpos pendurados de cabeça para baixo na principal praça de Mi- -, fundada em 24 de outubro de 1945, responsável pela Declaração
lão, diante de uma multidão eufórica. Berlim era bombardeada Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As conferências de Yalta, na Crimeia (URSS), e Potsdam, nas — Macarthismo


cercanias de Berlim, entre fevereiro e agosto de 1945, aprofunda- Em março de 1947, o presidente estadunidense Harry Truman
ram as decisões sobre o destino da Alemanha, em especial o seu fez um pronunciamento no qual declarava que os Estados Unidos
desmembramento em zonas: uma sob o controle britânico, outra deveriam “ajudar os povos livres” a lutar contra “movimentos
sob influência estadunidense, e uma terceira e uma quarta sob con- agressivos que buscam impor-lhes regimes totalitários”. Era uma
trole francês e soviético. alusão à União Soviética.
O mesmo foi decidido para Berlim, além de ser aprovada a des- Para muitos historiadores, esse discurso marcou o início da
militarização e a democratização da Alemanha. Guerra Fria. O discurso fazia parte da Doutrina Truman, que consis-
tia em oferecer sustentação econômica, política e militar aos países
ocidentais, de modo a criar forças de contenção ao comunismo.
GUERRA FRIA Com o mesmo objetivo, em 1947, foi criada a Agência Central
de Inteligência (CIA, em inglês), serviço secreto de inteligência que
tinha poderes para agir nos Estados Unidos e na política interna de
— Duas Potências Mundiais outros países. Em 1949, os estadunidenses lideraram a criação da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar
No período que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial, formada, naquele momento, por doze países capitalistas, entre eles
os Estados Unidos e a União Soviética se firmaram como potências a Inglaterra e a França.
hegemônicas mundiais, com suas respectivas esferas de influência:
o bloco capitalista e o bloco socialista26. Em 1950, o senador Joseph McCarthy assumiu a liderança do
Durante a guerra, os Estados Unidos lograram uma relativa Comitê de Atividades Antiamericanas, criado para identificar e pu-
expansão econômica e não sofreram prejuízos territoriais (com nir pessoas suspeitas de envolvimento com o comunismo. Ele deu
exceção de Pearl Harbor, no Havaí). Com o esforço de guerra, sua início a uma intensa campanha de perseguição e intimidação diri-
produção industrial duplicou entre 1939 e 1945. Essa expansão foi gida a intelectuais, líderes trabalhistas e funcionários do governo
acompanhada de grandes avanços tecnológicos e científicos. acusados - ou simplesmente suspeitos - de “esquerdismo”.
Com o poderio financeiro, bélico e tecnológico, o país assumiu Essa campanha ficou conhecida como macarthismo. Um dos
uma posição de liderança mundial, predominantemente imperialis- alvos do macarthismo eram os artistas e intelectuais, principalmen-
ta, a partir do período pós-guerra. te os que se relacionavam com a indústria cinematográfica. Denún-
O governo da União Soviética, sob o comando de Stalin, tam- cias forjadas e provas falsas contra essas pessoas eram alguns dos
bém havia conseguido definir uma importante e intensa área de meios de ação macarthista.
influência sobre os países do Leste Europeu. Esse processo foi ini-
ciado quando o Exército Vermelho, depois de vencer os alemães — Alemanha Dividida
em território soviético, marchou em direção à Alemanha e não Até 1948, a Alemanha foi administrada por Estados Unidos,
apenas libertou a maioria dos países do leste e do centro da Euro- França, Inglaterra e União Soviética. Em 1949, foram criados dois
pa dos nazistas, mas também os ocupou militarmente. No período Estados alemães independentes: a República Federal da Alema-
pós-guerra, esses países passaram a ser liderados por governos de nha (ou Alemanha Ocidental), que reunia as partes dos países de
orientação socialista e formaram o bloco comunista. economia capitalista, e a República Democrática da Alemanha (ou
Liderado pela URSS, o bloco comunista era formado por Polô- Alemanha Oriental), de economia estatal-socialista.
nia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia e pela Nesse processo de divisão, deu-se um dilema: a cidade de Ber-
antiga Alemanha Oriental. lim, considerada a capital, estava situada na parte da Alemanha
A Iugoslávia, cuja libertação do nazismo foi resultado da re- Oriental, e também passou por uma divisão em duas partes, uma
sistência sob o comando do comunista Josip Broz Tito - e não do socialista e outra capitalista.
Exército Vermelho, adotou um modelo socialista mais flexível, assi- Em 1961, para impedir o aumento de fugas da Berlim Oriental
milado pelos outros países do Leste Europeu. Em 1948, o governo (socialista) para a Ocidental (capitalista), os soviéticos construíram
iugoslavo, sob o comando de Tito, rompeu com a URSS. um muro que dividiu a cidade ao meio. Extremamente fortificado
e vigiado por soldados soviéticos, o chamado “Muro da Vergonha”
A Polarização Ideológica acabou se transformando no principal símbolo da Guerra Fria. Ao
Para os Estados Unidos, a expansão do regime comunista arris- longo dos anos seguintes, o Muro de Berlim foi expandido até cer-
cava a democracia e a livre-iniciativa. Para a União Soviética, o au- car completamente a porção ocidental da cidade.
mento da influência estadunidense sobre outras nações do planeta
era o tipicamente imperialista e punha em risco a ideia de igualdade — Anticapitalismo
entre os indivíduos e o fim da exploração dos trabalhadores, ideais Na União Soviética, o governo também desenvolveu um plano
da Revolução Socialista. de auxílio econômico aos países do bloco comunista para isolá-los
Nessa guerra ideológica, a propaganda foi uma das armas mais do capitalismo. Com a morte de Stalin, em 1953, Nikita Kruschev
utilizadas pelos dois blocos. tornou-se o presidente da URSS.
Em 1954, o governo soviético criou seu serviço de inteligência
e espionagem internacional, a KGB, sigla em russo de Comitê para
a Segurança do Estado. Em 1955, em reação à fundação da Otan,
os países do bloco comunista formaram uma aliança militar deno-
26 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo minada Pacto de Varsóvia.
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Corrida Armamentista e Espacial — China Comunista


Em 1949, os soviéticos fizeram seu primeiro teste nuclear, ex- O Partido Comunista ascendeu ao poder na China em 1949, de-
plodindo uma bomba atômica no deserto do Cazaquistão. A partir pois de vencer uma guerra civil de 22 anos contra as forças do en-
de então, teve início a corrida nuclear entre os governos dos Estados tão presidente Chiang Kai-shek (1887-1975). Chiang Kai-shek e seus
Unidos e da União Soviética, que passaram a investir na pesquisa e correligionários refugiaram-se na ilha de Formosa (atual Taiwan),
na produção de armas cada vez mais destrutivas, como a bomba de onde tentaram estabelecer um governo paralelo, com o apoio dos
hidrogênio e os mísseis de longo alcance munidos de ogiva nuclear. Estados Unidos.
A corrida nuclear difundiu o medo por todo o planeta. Temia-se No dia 1º de outubro de 1949, Mao Tsé-tung (1893-1976)
que a qualquer momento um dos dois países - para conter qualquer proclamou no continente a República Popular da China. O Partido
ação militar do outro - utilizasse essas armas contra seu rival, dando Comunista Chinês (PCC), entretanto, assumiu um país em ruínas.
início a uma guerra nuclear de efeitos devastadores. Apenas 0,6% da população trabalhava nas escassas indústrias chi-
Um dos desdobramentos da competição entre as duas potên- nesas. Na zona rural, a produção de alimentos era insuficiente para
cias mundiais foi a corrida espacial, cujos principais eventos ocorri- atender toda a população, de aproximadamente 580 milhões de
dos nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980. habitantes. A fome se alastrava pelo país.
Em 1950, o governo chinês assinou um tratado de amizade
— Guerra Indireta com a União Soviética e começou a pôr em prática medidas radicais
Apesar da tensão das relações internacionais na Guerra Fria, de transformação da estrutura social e econômica do país. Foram
as forças armadas dos Estados Unidos e da União Soviética sempre extintos os latifúndios, por meio de uma reforma agrária severa -
evitaram o confronto direto. No entanto, em decorrência do velho criando, ao mesmo tempo, milhares de cooperativas de campone-
colonialismo em declínio ou da própria Guerra Fria, desde o fim da ses - e foram estatizadas as grandes empresas.
Segunda Guerra Mundial eclodiram diversas guerras localizadas, Socialmente, a bigamia e o concubinato foram proibidos; o di-
conhecidas como guerras “quentes”. vórcio foi legalizado, e as mulheres passaram a ter os mesmos direi-
Nesses conflitos, a intervenção dos Estados Unidos e da União tos políticos dos homens - direito à propriedade, ao voto, à candida-
Soviética (URSS) se dava indiretamente, por meio de apoio mate- tura política, à igualdade salarial, etc. - embora muitos não tenham
rial e político às forças em luta. Em alguns casos, como na Guerra se concretizado. Opositores ao novo regime foram proibidos de se
da Coreia (1950-1953), a intervenção estadunidense se deu sob a manifestar.
bandeira da ONU, cujo Conselho de Segurança aprovou o envio das
tropas de quinze países - comandadas pelo general estadunidense O Grande Salto
Douglas MacArthur - em defesa da Coreia do Sul. Inspirado na experiência soviética, em 1953 o governo chinês
Em 27 de julho de 1953, foi assinado um armistício mantendo pôs em prática seu primeiro Plano Quinquenal (1953-1957), cujas
a divisão entre as Coreias. Em outros casos, o governo dos Estados metas foram atingidas: a produção de aço triplicou, a de carvão e
Unidos utilizou a CIA para promover golpes de Estado, como ocor- eletricidade duplicou e o país cresceu 18% ao ano.
reu no Irã (1953) e na Guatemala (1954). Uma exceção a essa “re- Com a coletivização da terra no final de 1956, as recém-criadas
gra” foi a Guerra do Vietnã (1959-1975), na qual as forças armadas cooperativas agrícolas passaram a responder por 90% da produção
dos Estados Unidos intervieram abertamente. agropecuária. Por essa época, os bancos, as grandes indústrias e o
A União Soviética, por sua vez, também apoiou guerras de li- comércio já se encontravam estatizados. Em 1958, o governo chi-
bertação nacional e levantes anti-imperialistas na África, na Ásia nês lançou seu segundo Plano Quinquenal, conhecido como Gran-
e na América Latina. Ao mesmo tempo, reprimiu movimentos de- de Salto para a Frente (1958-1962), que pretendia transformar a
mocráticos e manifestações operárias que reivindicavam melhores China em um país tão desenvolvido quanto a Inglaterra em apenas
condições de vida, eleições livres e liberdade de expressão nos paí- 15 anos.
ses do Leste Europeu. A meta era fazer a produção industrial e agrícola da China
Em 1956, por exemplo, eclodiu na Hungria um movimento po- crescer 75% ao ano até 1962. Foram formadas unidades produti-
pular contra a presença de tropas soviéticas e um grupo de comu- vas autossuficientes - as comunas populares -, que desenvolviam
nistas dissidentes criou um novo governo. Os soviéticos reprimiram atividades agropecuárias, industriais, comerciais, administrativas e
a rebelião e executaram seus líderes. Em 1968, tropas soviéticas educacionais. Cada comuna era formada por cerca de 20 mil pesso-
ocuparam a Tchecoslováquia para impedir que o governo tcheco as e tinha metas preestabelecidas para cumprir.
(comunista) continuasse a adotar medidas democratizantes. Em Ainda em 1958, 500 milhões de chineses foram trabalhar na
1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, que se encontrava construção de rodovias, fábricas, cidades, diques, represas e lagos,
em meio a uma guerra civil, realizando a primeira intervenção di- o que contribuiu para o surgimento de pequenas indústrias no in-
reta fora dos países do bloco comunista desde a Segunda Guerra terior do país.
Mundial. Na área agrícola, as metas estabelecidas no Grande Salto para
Os enormes gastos para manter as tropas no Afeganistão de- a Frente não foram atingidas, devido à precária infraestrutura de
sestabilizaram a economia soviética, piorando as já precárias con- escoamento da produção, ao esgotamento dos recursos naturais e
dições de vida da população. Esse e outros eventos, de ordem às calamidades naturais. A produção agrícola se desorganizou e, se-
econômica e política, contribuíram para a desintegração da União gundo alguns historiadores, entre 20 milhões e 30 milhões de pes-
Soviética, em 1991. soas morreram de fome e exaustão nesse período.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Separação entre URSS e China Refugiaram-se na floresta e, em menos de quatro anos, conse-
Nesse mesmo período, divergências político-ideológicas opu- guiram organizar um movimento guerrilheiro, apoiado por campo-
seram os governos da China e da União Soviética. Os soviéticos opu- neses e por grupos de resistência urbana. O movimento entrou em
nham-se a transferir conhecimentos na área nuclear para os chi- ação, tomou a capital, Havana, e chegou ao poder em janeiro de
neses, que, apesar disso, testaram, em 1964, sua primeira bomba 1959. Liderado por Fidel Castro, o governo revolucionário desapro-
atômica e produziram a bomba de hidrogênio em 1967. priou os grandes latifúndios, distribuiu terras entre os camponeses
Outra fonte de divergências era a política de coexistência pací- e nacionalizou as grandes empresas, muitas delas de origem esta-
fica defendida pelo presidente da URSS, Nikita Kruschev. Essa pos- dunidense.
tura enfatizava a importância das negociações diplomáticas com o Em 1961, Fidel Castro reconheceu publicamente o caráter so-
governo dos Estados Unidos ao mesmo tempo que reduzia o apoio cialista da Revolução Cubana. Muitos de seus opositores foram
aos movimentos de libertação nacional na África, Ásia e América mortos ou fugiram para os Estados Unidos.
Latina.
Para o PCC, as prioridades deveriam ser os princípios da Revo- Crise dos Mísseis
lução e o combate ao imperialismo estadunidense. O rompimento Depois que o novo governo cubano se declarou alinhado ao
entre os dois países comunistas ocorreu em 1960, quando os sovié- socialismo, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas
ticos retiraram seus consultores técnicos da China. com Cuba. Em 1961, exilados cubanos tentaram invadir a ilha com o
apoio da CIA, mas foram derrotados na baía dos Porcos. As relações
Revolução Cultural Chinesa e Abertura Econômica entre os dois países tornaram-se ainda mais tensas.
O fracasso do Grande Salto abalou o Partido Comunista. Em Em 1962, o governo dos Estados Unidos descobriu - por meio
1959, Mao Tsé-tung foi substituído por Liu Shaoqi na Presidência, de satélites - que mísseis nucleares soviéticos estavam sendo de-
mas manteve a influência política com o controle do PCC. Em 1966, positados em Cuba, que fica a apenas 150 quilômetros da Flórida,
com o apoio da Guarda Vermelha - formada por 10 milhões de jo- um estado estadunidense. O presidente dos Estados Unidos, John
vens que o idolatravam -, ele deu início à Revolução Cultural. Kennedy, determinou o bloqueio de Cuba por terra e por mar.
Durante essa revolução, dirigentes do PCC, intelectuais e pesso- Naquele momento, em plena Guerra Fria, o mundo corria o ris-
as comuns foram perseguidos, humilhados publicamente, enviados co de uma guerra atômica entre os blocos socialista e capitalista.
para campos de reeducação ou mortos por supostamente defender Diante dessa realidade e da pressão estadunidense, os soviéticos
valores burgueses. O número de pessoas que morreram nesse pro- retiraram os mísseis, uma vez que Kennedy garantiu que não inva-
cesso também é controverso, mas alguns especialistas estimam que diria Cuba, como tentara fazer um ano antes, no episódio da baía
aproximadamente um milhão de pessoas perderam a vida durante dos Porcos.
esse movimento, denominado Revolução Cultural. A crise dos mísseis estava resolvida. No entanto, ainda em
A Revolução Cultural desorganizou a economia do país. Com a 1962, os Estados Unidos conseguiram que Cuba fosse expulsa da
morte de Mao, em 1976, o poder foi assumido por Deng Xiaoping, Organização dos Estados Americanos (OEA), e o governo dos Es-
um dirigente mais moderado do PCC, que havia sido perseguido tados Unidos decretou o bloqueio comercial e financeiro ao país.
durante a Revolução Cultural. Ele deu início a reformas que, entre Apesar das dificuldades criadas pelo bloqueio, com o apoio técnico,
outras coisas, permitiram a criação de Zonas Econômicas Especiais financeiro e comercial da União Soviética, o governo cubano conse-
(ZEEs) regidas por princípios capitalistas, e não pela ação do Estado. guiu promover reformas e implantar importantes medidas nas áre-
Formou-se, assim, uma economia socialista de mercado, que as de educação e saúde. Do ponto de vista político, porém, o país
tem sido responsável pelo crescimento econômico da China desde continua governado pelo único partido permitido, o Partido Comu-
então. nista Cubano, o que não permite a alternância no poder e reprime
sistematicamente seus opositores.
— Revolução Cubana
Por volta de 1950, a economia de Cuba dependia das relações Com o colapso da União Soviética em 1991, Cuba entrou em
comerciais com os Estados Unidos, que comprava quase todo o açú- crise econômica, uma vez que dependia do apoio financeiro soviéti-
car, principal produto de exportação cubano. Pouco industrializada, co. Nos anos seguintes, o país conseguiu se recuperar devido, prin-
Cuba importava quase tudo dos Estados Unidos. Os reflexos do fra- cipalmente, ao investimento de empresas e países que romperam
co desenvolvimento e da dependência atingiam a população: misé- o bloqueio imposto pelos Estados Unidos e ao desenvolvimento do
ria, analfabetismo, péssimas condições de higiene e saúde. turismo internacional.
Em 1952, o ex-presidente e ex-sargento Fulgêncio Batista Em 2011, o governo cubano começou uma reforma econômica
(1901-1973), assumiu o governo, suspendeu a Constituição e im- para reduzir o número de funcionários públicos e cortar subsídios,
plantou uma ditadura por meio de um golpe de Estado apoiado pe- entre outras medidas, visando fortalecer a economia do país. No
los Estados Unidos. Ele estreitou as relações com os latifundiários final de 2014, os Estados Unidos e Cuba reataram as relações di-
produtores de açúcar e agravou o quadro de desigualdade social. plomáticas.
A corrupção se generalizou, beneficiando as pessoas próximas do
ditador.
Em 1955, o advogado cubano Fidel Castro e o médico argenti-
no Ernesto Guevara (1928-1967) organizaram um grupo armado e
tentaram um golpe para derrubar o governo de Fulgêncio Batista.
Partiram do México, onde Fidel estava exilado, mas foram atacados
no desembarque em Cuba.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— Socialismo na América Latina As denúncias tinham o objetivo de desacreditar o stalinismo.


Com o sucesso da Revolução Cubana, o governo apoiou ativa- Além disso, o novo governo pôs fim às perseguições em massa, li-
mente movimentos guerrilheiros em outros países da América Lati- bertou prisioneiros dos campos de concentração e estabeleceu a
na, incluindo o Brasil. Também enviou militares para lutar na guerra prática do cumprimento das leis. A arte e a vida intelectual também
civil de Angola, ao lado do Movimento Popular para a Libertação de foram incentivadas.
Angola. Adepto da ideia de levar a revolução a outros países, Che Apesar de a URSS ser um país industrializado, os soviéticos vi-
Guevara se envolveu diretamente em movimentos guerrilheiros no viam com níveis de consumo mínimo. Com o objetivo de aumentar
Congo (África) e na Bolívia (América do Sul). a produção de bens de consumo, o novo governo investiu na produ-
No Chile, um governo democrático com tendências socialis- ção de televisores e aparelhos eletrônicos. Kruschev também bus-
tas chegou ao poder em 1970, com a eleição de Salvador Allende cou aproximação com os EUA - espécie de trégua em plena Guerra
(1908-1973) para a Presidência da República. Ele deu início a um Fria. Em novembro de 1959, viajou oficialmente ao país, onde foi
programa de reforma agrária e nacionalizou bancos e empresas es- recebido pelo presidente estadunidense Eisenhower.
trangeiras. A reação do governo dos Estados Unidos à expansão do O governo também beneficiou os trabalhadores com reajustes
socialismo na América Latina não tardou. salariais e outras melhorias nos setores de transporte e habitação
Na Bolívia, agentes da CIA treinaram os militares que, em ou- popular. Kruschev encontrou problemas de difícil resolução. Os es-
tubro de 1967, capturaram e executaram Che Guevara. No Chile, os
forços para aumentar a produção agrícola, por exemplo, abrindo
estadunidenses agiram diretamente no golpe de Estado perpetrado
novas áreas de plantio, fracassaram, e o país foi obrigado a impor-
pelo general Augusto Pinochet que, em setembro de 1973, derru-
tar cereais do mundo capitalista. Além disso, o reformismo de seu
bou o presidente Allende e instalou uma ditadura militar no país.
governo e a nova política externa por ele adotada descontentaram
Na Nicarágua, entre 1975 e 1978, o governo dos Estados Uni-
dos forneceu ajuda militar ao governo do ditador Anastasio Somoza boa parte da nomenklatura. Nikita Kruschev foi deposto em 1964,
Debayle (1925-1980) para combater a ação das forças guerrilheiras e, em seu lugar, Leonid Brejnev, um homem da nomenklatura, assu-
da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), na Revolução miu o governo da URSS.
Sandinista.
Apesar disso, em 1979 os sandinistas chegaram ao poder. Uma Governo de Brejnev
vez no governo, os sandinistas empreenderam grandes mudanças O governo Brejnev manteve a política de apaziguamento de
socioeconômicas: promoveram a reforma agrária, combateram o Kruschev em relação aos EUA. Assinou acordos para restringir ar-
analfabetismo, investiram na saúde, nacionalizaram bancos e com- mas nucleares em 1972, estimulando a coexistência pacífica entre
panhias de seguro e fizeram a economia do país crescer 7% em me- as duas potências, também conhecida como distensão ou déténte.
nos de dois anos. Diferentemente de Kruschev, que estimulara a arte e a vida in-
Na política externa, a Nicarágua se aproximou de Cuba e da telectual na URSS, Brejnev voltou a perseguir os intelectuais que se
União Soviética, o que desagradou ainda mais ao governo dos Esta- opunham ao regime. Após o episódio que ficou conhecido como
dos Unidos. A partir de 1981, os Estados Unidos financiaram grupos Primavera de Praga, a cúpula soviética não admitia mais críticas ao
paramilitares antissandinistas, dando início a uma guerra civil que regime. Na década de 1970, a economia da URSS começou a apre-
só terminaria em 1987, com a assinatura de um acordo de paz. sentar sinais de estagnação.
Entre 1976 e 1980, dados indicavam um crescimento anual do
— Socialismo Africano PIB de 2,3%. Como a burocracia soviética considerava que qual-
A onda socialista que atingiu grande parte do mundo em me- quer mudança nos métodos de produção ou de gerenciamento
ados do século XX também chegou à África. Jovens africanos que representava um perigo para o sistema, as indústrias mantiveram
estudaram no exterior assimilaram as teorias socialistas e passaram o sistema produtivo do tipo eletromecânico. Enquanto os soviéti-
a difundi-las em suas regiões de origem. Propagou-se assim a ideia cos mantinham os antigos métodos tayloristas em suas fábricas, os
de que apenas o socialismo poderia dar fim à opressão estrangeira países capitalistas desenvolvidos avançavam na Revolução Técnico-
no continente. -Científica.
Entre as principais lideranças dessa corrente destacam-se o Nos anos 1980, a distância tecnológica entre EUA, Japão e al-
senegalês Leopold Senghor (1906-2001), ex-aluno da Universida-
guns países da Europa Ocidental e a URSS tornou-se um abismo.
de Sorbonne (França), o primeiro presidente eleito (em 1960) do
Excetuando os avanços que haviam conquistado nas corridas arma-
Senegal independente; Amílcar Cabral (1921-1973), um dos líderes
mentista e espacial, os soviéticos não tinham como competir com
da luta contra o colonialismo português na Guiné e em Cabo Verde;
os países capitalistas. O nível de vida começou a cair na URSS. E a
e Agostinho Neto (1922-1979), uma das principais lideranças do
Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e primeiro sensação de declínio dominou o mundo soviético a partir dos anos
presidente de Angola independente (em 1975). 1980.

— Mudanças na URSS — O Colapso do Comunismo


Ao assumir o governo da URSS, logo após a morte de Stalin, A crise vivida pelo mundo socialista foi agravada ainda mais
em 1953, Nikita Kruschev deu início a uma série de reformas, co- pela retomada da Guerra Fria, em especial pela política belicosa
nhecida como reformismo comunista. Inicialmente, ele denunciou adotada pelos Estados Unidos sob a presidência de Ronald Rea-
os crimes de Stalin em um documento conhecido como “relatório gan. Foi nesse contexto que, em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu
Kruschev”27. o governo na URSS. Com sua franqueza, desenvoltura e simpatia,
Gorbachev conquistou muito rapidamente prestígio no cenário in-
27 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva. ternacional.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Ao propor, por exemplo, a redução de 50% das armas nucleares Tito havia conseguido reunificar o país sob o nome de Repúbli-
estratégicas e a destruição total dos arsenais atômicos até o ano ca Popular da Iugoslávia, formada por sérvios, croatas, eslovenos,
2000, ele deixou dirigentes europeus e estadunidenses perplexos. bósnios, herzegovinos, montenegrinos e macedônios. Tratava-se de
Após surpreender com sua arrojada proposta pacifista na política um mosaico de nações, com diferentes religiões, línguas e culturas.
externa, ele se voltou para a política interna. Sérvios e croatas, por exemplo, mantinham rivalidades políticas. A
Ainda em 1985, mobilizou a sociedade soviética em torno de morte de Tito e a desagregação da URSS, alguns anos mais tarde,
uma palavra que se tornaria mundialmente conhecida: perestroika alimentaram forças nacionalistas que passaram a reivindicar auto-
- ou reestruturação, em português. A reestruturação, para Gorba- nomia política.
chev, implicava a reconstrução da economia da URSS, o atendimen- Na Polônia, nos anos 1980, o operário Lech Walesa liderou mo-
to das necessidades de consumo dos soviéticos, a observância de vimentos grevistas que deram origem ao Solidariedade - primeiro
padrões de qualidade na produção e a descentralização do sistema sindicato livre do controle do Partido Comunista na Polônia. O So-
produtivo. lidariedade cresceu com o apoio da população e do clero católico,
Com a perestroika, portanto, Gorbachev almejava alcançar realizando greves e passeatas. Em 1981, o governo comunista polo-
uma sociedade produtiva, harmônica e próspera. Seu grande pro- nês declarou o sindicato ilegal, mas o movimento continuou atuan-
blema era como fazer isso. do na clandestinidade.
Em 26 de abril de 1986, ocorreu um acidente na usina nuclear O poder da URSS já não era o mesmo.
de Chernobyl, na Ucrânia, então uma das repúblicas soviéticas, que
se revelou o maior desastre radioativo da humanidade. Naquele
— O Colapso
dia, um dos quatro reatores da usina explodiu, mas o governo sovi-
Com a fragilidade do poder na URSS, os regimes comunistas na
ético somente admitiu o acidente e reconheceu sua gravidade duas
Europa Oriental desmoronaram. O primeiro país a pôr fim ao regi-
semanas depois do ocorrido.
me comunista foi a Hungria, em 1989, com a realização de eleições
Como consequência, a atmosfera foi tomada por uma nuvem
de material radioativo que equivalia a cem vezes toda a radiação gerais livres. Naquele mesmo ano a Polônia começou sua transição
provocada pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki juntas, à democracia liberal. Em dezembro de 1990, Lech Walesa foi eleito
e atingiu as repúblicas soviéticas da Rússia e da Bielorrússia, os paí- presidente do país por meio de eleições diretas.
ses da Europa Oriental e da Escandinávia e a Grã-Bretanha. Mas o grande marco da desagregação do bloco socialista foi a
Cerca de cinco milhões de pessoas ficaram expostas à radia- queda daquele que era considerado o maior símbolo da Guerra Fria
ção. Depois que o governo da URSS admitiu a explosão, os cidadãos - o muro que impedia a livre circulação entre as duas Alemanhas, o
soviéticos críticos do regime alegaram que o acidente teria sido de- Muro de Berlim.
corrência da censura aos meios de comunicação no país, pois os Imensas manifestações em Berlim Oriental exigiam a abertu-
problemas, inclusive as condições precárias das usinas nucleares, ra da passagem para o lado ocidental da cidade. Em novembro de
eram escondidos da sociedade. 1989, depois que os alemães dos dois lados se reencontraram, o
Defendiam que, se houvesse transparência (glasnost, em rus- chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, apresentou um
so), o acidente não teria acontecido. Portanto, ao programa de plano para a unificação das duas Alemanhas, que foi imediatamen-
reestruturação de Gorbachev (perestroika) foi associada a transpa- te aprovado pelo governo da Alemanha Oriental. Logo após a que-
rência (glasnost). da do muro, caíram também os governos comunistas da Bulgária
Os problemas de Gorbachev eram graves. A perestroika não e da Romênia - embora, no último caso, os dirigentes comunistas
deslanchava. Continuava-se produzindo pouco e com baixa qua- tenham resistido. Apesar da repressão com a qual o ditador Nicolau
lidade. Em compensação, a glasnost avançava além do previsto. Ceaucescu respondeu às manifestações pela democracia que come-
Depois de décadas de censura dos meios de comunicação, a socie- çaram a eclodir pelo país, elas receberam o apoio de setores do
dade soviética podia criticar o sistema, denunciando a devastação Exército romeno.
do ambiente, a grande burocracia, o autoritarismo dos dirigentes, Ceaucescu e sua esposa foram presos e fuzilados. Na Tchecos-
a péssima qualidade dos produtos, as imensas filas nas lojas e nos lováquia, negociações políticas resultaram na Revolução de Veludo,
mercados, a dupla jornada feminina e os privilégios das elites bu- entre novembro e dezembro de 1989, que pôs fim ao regime co-
rocráticas. munista. De comum acordo, em 10 de janeiro de 1993, dois países
Essas críticas geraram uma aguda divisão no interior da no- foram formados: a República Tcheca e a Eslováquia.
menklatura: de um lado, os partidários da perestroika e da glas-
Na Iugoslávia, por conta das rivalidades étnicas internas, o pro-
nost; de outro, os conservadores do Partido Comunista contrários
cesso de desagregação do comunismo resultou em uma guerra civil
às propostas reformistas de Gorbachev.
entre sérvios e croatas, que dilacerou o país entre 1991 e 1992. Ao
Em um período de grande mobilização e fervor democrático, os
final, surgiram as repúblicas da Eslovênia, da Sérvia, da Croácia, da
problemas do país foram debatidos abertamente. Mas se a glasnost
era um sucesso, a perestroika era um fracasso. A economia passava Bósnia-Herzegovina, da Macedônia e de Montenegro. Sob a sobe-
da estagnação ao retrocesso. rania da Sérvia, foram mantidas as duas províncias autônomas de
Kosovo e de Voivodina.
Desgaste da URSS A dissolução do comunismo nos países do Leste Europeu des-
O mundo socialista apresentava sinais de desagregação desde prestigiou Gorbachev entre os círculos mais conservadores do
o início dos anos 1980. Na Iugoslávia isso ocorreu após a morte de PCUS, o Partido Comunista da URSS. Além disso e das dificuldades
Josip Broz Tito, em maio de 1980, cuja liderança, construída na re- com a economia, ele enfrentou outro grave problema: os naciona-
sistência ao nazismo nos anos 1940, unificava uma série de nacio- lismos que eclodiam em algumas repúblicas soviéticas como o Ca-
nalidades, que formavam um país muito heterogêneo. zaquistão, a Bielorrússia e a Ucrânia.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na Letônia, na Estônia e na Lituânia, exigia-se autonomia. Na Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime po-
parte da Ásia Central, repúblicas de maioria muçulmana também lítico, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judici-
manifestavam insatisfações. Entre março de 1990 e abril de 1991, a ário, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os deputados
Ucrânia, a Bielorrússia e a Geórgia proclamaram-se independentes. constituintes também elegeram o marechal Deodoro da Fonseca
A URSS se desagregava. A partir daí os acontecimentos se sucede- para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a vice-pre-
ram: junho de 1991, Boris Yeltsin foi eleito presidente da Rússia, a sidência da República. Mas o novo regime republicano enfrentaria
mais importante república da URSS. crises muito sérias até se consolidar definitivamente.
Em agosto, ultraconservadores tentaram restaurar o regime
comunista com um golpe de Estado, mas foram derrotados. Entre — República de Espadas
agosto e dezembro, novas proclamações de independência em re- Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então minis-
lação a Moscou. Em 21 de dezembro, dirigentes das repúblicas in- tro da Fazenda, a República começou com grande euforia. Com o
dependentes assinaram um documento declarando extinta a União objetivo de estimular o crescimento econômico e a industrialização
Soviética. Em 25 de dezembro, Gorbachev, que já não tinha um país do país, o governo autorizou que os bancos concedessem crédito a
para governar, declarou o fim da URSS. No Kremlin, a bandeira ver- qualquer cidadão que desejasse abrir uma empresa. E, para cobrir
melha com a foice e o martelo foi substituída pela da Federação da esses empréstimos, permitiu a impressão de uma imensa quantida-
Rússia. de de papel-moeda.
Como a moeda brasileira tinha como referência a libra inglesa,
as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) provo-
BRASIL REPUBLICANO: PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA.
PRIMEIRA REPÚBLICA caram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos empréstimos
concedidos foram usados para abrir empresas que existiam apenas
no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram negociadas na Bolsa
— Consolidação da República de Valores. Como resultado, muitos investidores perderam seu di-
Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca nheiro e a inflação aumentou, atingindo toda a sociedade brasileira.
proclamou a República. Apesar das divergências que existiam sobre Essa medida, que visava estimular a economia, mas resultou em
o tipo de república a ser construída no país, as elites que domina- desvalorização da moeda e especulação financeira, recebeu o nome
vam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul de Encilhamento.
defendiam o federalismo, em oposição à centralização imperial28. Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o
Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no libe- presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políticos
ralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estadunidense liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, em no-
como referência, em relação à autonomia dos estados e às liberda- vembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fechamento do
des individuais. Congresso Nacional e decretou estado de sítio no país. Os oficiais
No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de políticos que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não apoiaram o golpe
liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com base nos de Estado; assim como a Marinha, que considerou autoritária a ati-
ideais positivistas, a instauração de uma ditadura republicana que, tude do presidente, e diversas lideranças civis. Sem apoio político, o
ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso. Já no Rio de Janei- presidente renunciou no dia 23.
ro, a capital da República, existia um grupo de republicanos radicais, Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a presi-
chamados de jacobinos. Eram civis e militares, alguns deles positi- dência da República.
vistas, que defendiam de maneira exaltada o regime republicano e A posse do novo presidente foi muito questionada. De acordo
opunham-se de maneira contundente à volta da monarquia. com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente hou-
Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno do vesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. Caso
antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republicanos. contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Floriano
E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto alguns oficiais estava decidido a permanecer no poder, com o apoio dos florianis-
seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam a de Floriano tas, que alegavam que o dispositivo constitucional só valeria para o
Peixoto. Mas havia também os positivistas, que tinham Benjamin próximo mandato presidencial.
Constant como líder, e alguns monarquistas, sobretudo na Marinha, Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por meio
que tinham fortes ligações com o Império.
de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano ignorou
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o
o protesto e mandou prender os generais. Receosas com a instabi-
Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Constituin-
lidade da República, as elites políticas de São Paulo, representadas
te para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto de leis
pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o novo presiden-
que o regeriam.
Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira te. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte do PRP era fun-
Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados Uni- damental.
dos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Unidos, ela Ele também contou com o apoio de importantes setores do
era liberal e federativa, concedendo aos estados prerrogativas de Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha de
constituir forças militares e estabelecer impostos. Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 de
setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía de
Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e Niterói e
dispararam tiros contra as duas cidades - era o início da Revolta da
28 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva. Armada. Em março do ano seguinte a situação tornou-se insusten-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tável nos navios - não havia munição, alimentos, água nem o apoio rantia dos direitos civis e políticos, grande parte da população rural
da população. Parte dos revoltosos pediu asilo político a Portugal, - vale lembrar que a imensa maioria dos brasileiros então vivia no
a outra foi para o Rio Grande do Sul participar de um conflito que campo - buscava a proteção de um coronel e acabava se inserindo
eclodira um ano antes: a Revolução Federalista. em uma rede de favores e proteção pessoal.

— Revolução Federalista — O Poder dos Coronéis


A instalação da República alterou a política do Rio Grande do Também conhecida como coronelismo, a chamada “República
Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcançara o po- dos coronéis” era um sistema político que resultou da Constituição
der. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio de Castilhos, de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os presiden-
a agremiação de orientação positivista tornou-se dominante no es- tes de estado (hoje denominados governadores) eram nomeados
tado em que passou a governar de maneira autoritária. pelo poder central, com a República eles passaram a ser eleitos pe-
A principal força de oposição ao Partido Republicano era o Par- los coronéis. Nos municípios, eram os coronéis que, por meio da
tido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que defendia violência e da fraude eleitoral, controlavam os votos que elegiam o
o parlamentarismo e a predominância da União Federativa sobre presidente de estado, e também os deputados estaduais e federais,
o poder estadual - enquanto os republicanos pregavam o sistema os senadores e até mesmo o presidente da República.
presidencialista e a autonomia dos estados. Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para
Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas uni- nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar verbas
para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede de
ram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma sangren-
alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, parla-
ta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Federalista
mentares e o próprio presidente da República estavam atados por
(1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do Rio Grande
fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou na presi-
do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do Paraná, e só ter-
dência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do que veio a ser
minaram em junho de 1895 com a vitória dos republicanos sobre os chamado de política dos governadores Ou dos esta- dos.
federalistas. A Revolução Federalista causou muito sofrimento ao Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes nos
sul do país. Somente no Rio Grande do Sul, que contava com cerca estados, que em troca sustentavam politicamente o presidente da
de 900 mil habitantes, morreram de 10 a 12 mil pessoas, muitas República no Congresso Nacional, controlando a eleição de senado-
delas degoladas. res e deputados federais - e evitando, dessa forma, que os candida-
Passados cinco anos da proclamação da República, chegava ao tos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso acontecesse, a
fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de 1894, Comissão de Verificação de Poderes da Câmara Federal, responsá-
o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Prudente de Mo- vel por aprovar e confirmar a vitória dos candidatos eleitos, impug-
rais, conferindo novos ares à República. Pela primeira vez, um civil nava a posse, sob a alegação de fraude.
ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicultores, assumia o Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram
poder. Com a eleição de Prudente de Morais, encerrava-se o perío- importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Pri-
do conhecido como República da Espada. meiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo eleitoral,
— Modelo Político permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, porque,
A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para todos mesmo com o controle do voto, havia alguma mobilização do elei-
os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também determinou torado - com o qual as elites, mesmo dispondo de grande poder
que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os praças de pré, os político, precisavam manter alguma interlocução.
religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos, todos os cidadãos
brasileiros eram eleitores e elegíveis. Política do Café com Leite
Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante da A política dos governadores inaugurada por Campos Salles fun-
Constituição imperial, a primeira Constituição da República tam- damentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os pode-
bém excluía a maioria da população brasileira do direito de votar. O res das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo e Minas
voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça Eleitoral, na Gerais. Como o número de representantes por estado no Congresso
prática as eleições eram caracterizadas pela fraude. A organização era proporcional à sua população, São Paulo e Minas Gerais, que
da eleição dos municípios, bem como a redação da ata da seção eram os estados mais populosos e ricos - da federação, elegiam as
maiores bancadas na Câmara dos Deputados.
eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos locais, os chamados co-
Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram estadu-
ronéis.
ais e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, Partido
Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas - daí
Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Grandense etc. Ex-
o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as escolhas
pressão simbólica da aliança entre o Partido Republicano Paulista e
dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era comum, por o Partido Republicano Mineiro foi a chamada política do café com
exemplo, que nas atas das seções eleitorais constassem votos de leite, que funcionava no momento da escolha do sucessor presi-
eleitores já mortos para o candidato dos coronéis. dencial.
Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de- As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum
terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchidas. para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao mineiro. A
Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo geral, os cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e São Pau-
eleitores votavam no candidato do coronel por vários motivos: obe- lo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e interesses
diência, lealdade ou gratidão, ou em busca de algum favor, como divergentes. Por serem fortes em termos políticos e econômicos,
dinheiro, serviços médicos e até mesmo proteção. Afinal, sem a ga- formaram-se duas oligarquias dominantes no país: a de São Paulo e
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a de Minas Gerais. Embora em posição inferior à aliança entre pau- Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligarquias
listas e mineiros, destacavam-se também a do Rio Grande do Sul, a cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro
da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro. reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elaboraram, em 1906,
Houve eleições em que os vitoriosos não estavam comprometi- um plano para a defesa do produto, que, a princípio, não contou
dos com a política do café com leite, caso de Hermes da Fonseca em com o apoio do governo federal.
1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante é considerar que Pelo Convénio de Taubaté - como ficou conhecido esse encon-
as oligarquias dos estados que se encontravam fora da política do tro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela qual os
café com leite passaram a questionar o sistema político na década governos dos estados conveniados recorreriam a empréstimos ex-
de 1920. ternos para comprar e estocar o excedente da produção de café, até
que seu preço se estabilizasse no mercado internacional, de modo
— Aspectos Econômicos a garantir o lucro dos cafeicultores. Para o pagamento dos juros da
Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de ex- dívida, seria cobrado um imposto sobre as exportações de café.
portação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das lavou- Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo
ras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de 1870, a federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização do
cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamismo atraiu café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial os pau-
investidores estrangeiros, sobretudo britânicos. listas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão, charque,
Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferrovias, cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regionais, grande
estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio e de parte dos custos dessa política acabou recaindo sobre a sociedade
brasileira, que teve de arcar com os prejuízos.
exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de nave-
gação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivando a sua
Economia da Borracha
industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de tecidos, cha-
No começo da República, outro importante produto de expor-
péus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos etc. Trata-
tação era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge entre
va-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo não duráveis,
1890 e 1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o processo
que não exigia grande tecnologia ou altos investimentos de capital,
de vulcanização da borracha, por meio do qual ela se tornava en-
mas que empregava grande quantidade de mão de obra.
durecida, porém flexível, perfeita para ser usada em instrumentos
A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ainda,
cirúrgicos e de laboratório. O sucesso do produto aconteceu mes-
o aumento das importações e a expansão das cidades, com a ins-
mo ao ser empregado na fabricação de pneus tanto de bicicletas
talação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema de como de automóveis. Em 1852, o Brasil exportava 1 600 toneladas
transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo maior de borracha (2,3% das exportações nacionais). Em 1900, já ultra-
circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu foi a de São passava os 24 milhões de toneladas, o que equivalia a quase 30%
Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chegada de milhares das exportações.
de imigrantes. Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalhavam
nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com que as
Crise do Café cidades de Belém e Manaus passassem por grandes transforma-
Na década de 1920, o café, que era então responsável por mais ções: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação pública,
da metade das exportações brasileiras, sustentava a economia do bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição de água).
país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se dominante A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de origem asi-
na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos entre 1894 e 1930, ática no mercado internacional provocou um drástico declínio na
seis eram filiados ao Partido Republicano Paulista. produção amazónica. Extraída em colônias inglesas e holandesas,
A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando a borracha asiática tinha maior produtividade, melhor qualidade e
graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse período menor preço.
atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os fazen-
deiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma produ- — Disputas por Território
ção maior do que a capacidade de consumo, os preços internacio- Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas de
nais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas. disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos.
A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as- O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados
sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos.
com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na pre- A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA em
sidência em 1898, fez um acordo com os credores internacionais 1895, confirmando a posse brasileira.
conhecido como funding loan. Pelo acordo, que transformou todas Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das
as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor era a casa bancária fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in-
britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu como empréstimo 10 mi- ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900,
lhões de libras esterlinas. Além de oferecer as rendas da alfândega impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o estado
do Rio de Janeiro como garantia, o governo se comprometeu a rea- do Amapá.
lizar uma política económica deflacionária, retirando papel-moeda No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Breta-
do mercado, o que gerou recessão, falências e desemprego e não nha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou Inglesa)
resolveu os problemas da superprodução de café e da queda dos e o norte do então estado do Amazonas - que hoje corresponde ao
preços no mercado internacional. estado de Roraima.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbitro ções e práticas autoritárias sobre a população. Nos anos 1960, com
internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Desse campanhas de esclarecimento, a vacinação em massa tornou-se co-
modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Pirara, e mum no país. Em 1971, ocorreu o último caso de varíola no Brasil.
a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por meio de al-
guns de seus afluentes. Revolta da Chibata
Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssi-
região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolívia mas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação, tra-
e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que so- balhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos
friam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o látex, aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da chibata,
gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os brasileiros eram ainda mais graves.
chegaram a declarar a independência política do Acre. Em 1903, a Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado
diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o Tratado de Pe- Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega conde-
trópolis, que incorporava o Acre ao território brasileiro em troca de nado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido, eles
indenizações à Bolívia e ao Peru. tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns oficiais e
Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Para- apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos
nhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações in- do encouraçado São Paulo e de outras seis embarcações, também
ternacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve à frente ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à revolta. Os revoltosos
das negociações que envolviam disputas territoriais do país como exigiam melhores condições de trabalho e o fim dos castigos cor-
fez do Ministério das Relações Exteriores uma instituição profissio- porais.
nalizada e aproximou o Brasil dos EUA. O Congresso negociou com os revoltosos e, somente após sua
rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o ambiente na Armada con-
— Movimentos e Revoltas tinuou tenso. Em 4 de dezembro, diante de novas punições, outra
revolta eclodiu na ilha das Cobras. Os oficiais reagiram de maneira
Revolta da Vacina dura e bombardearam a ilha.
Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as do- Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que participa-
enças epidêmicas da capital da República. Com base nas então ram da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelidado de “al-
recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade de mirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vários dias, mui-
mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico sani- tos deles morreram. Os demais foram detidos em porões de navios
tarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava decidido a e mandados para a Amazónia - ou executados durante a viagem.
erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos, a varíola,
com a vacinação, e a peste bubónica, com a caça aos ratos, cujas Revolta em Juazeiro do Norte
pulgas transmitiam a doença. Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do estado
Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de lei ao do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero Romão
Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação contra a Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após receber a
varíola. Havia grande insatisfação popular contra as reformas urba- hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que teria se transfor-
nas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatoriedade de introduzir mado em sangue - espalhou-se, aumentando o prestígio do padre,
líquidos desconhecidos no corpo, imposta de maneira autoritária que passou a ser idolatrado na região.
pelo governo e sem esclarecimentos à população, que à época des- Além das funções de padre, ele desempenhava as de juiz e con-
conhecia os benefícios da vacinação, gerou forte resistência. selheiro, ensinava práticas de higiene, acolhia doentes e criminosos
Havia também razões morais contra a vacinação obrigatória. À arrependidos.
época, os homens não admitiam que, em sua ausência, suas resi- Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja che-
dências fossem invadidas por estranhos que tocassem no corpo de gou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração estimu-
suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a maioria das mu- lasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de fato, aconte-
lheres partilhava desses mesmos valores, quando a lei da vacinação ceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir em confissão.
obrigatória foi publicada nos jornais, estourou uma revolta no Rio Dois anos depois, a Congregação para a Doutrina da Fé decretou a
de Janeiro. falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, provocando a reação da
Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas população. Movimentos de solidariedade se formaram e irmanda-
logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior reação, des se mobilizaram a favor do padre Cícero. Imensas romarias pas-
entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre os dias saram a se dirigir à cidade. Beatas diziam ter visões que anunciavam
10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por manifes- a proximidade do fim do mundo e o retorno de Cristo. Surgia um
tantes populares: as estreitas ruas do centro foram bloqueadas por movimento que desafiava as autoridades eclesiásticas da região.
barricadas e os policiais, atacados com pedradas. Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero foi
A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal articula-
participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda- dor de um pacto entre os coronéis da região do vale do Cariri. Padre
do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa, e, Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, para provar que
quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de 6 mil o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido.
pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos para que Apenas em 2016, a Igreja Católica se reconciliou com o padre,
os governantes reconhecessem que nada conseguiam com Imposi- suspendendo todas as punições que havia lhe imposto.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Guerra de Canudos Muitos homens e mulheres que participavam desse movimen-


Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nordes- to conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma área dis-
tinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido como putada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, eram pe-
Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pessoas. quenos proprietários expulsos de suas terras devido à construção
Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Canudos, um de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que ligaria os estados
lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens do rio Vaza- de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa pertencia a um dos
-Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comunidade cresceu homens mais ricos do mundo, o estadunidense Percival Farquhar.
rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração dos latifundiários Como parte do pagamento à empresa construtora, o governo
da região ou abandonavam suas terras de origem devido à seca, estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha, pre-
foram para Canudos. judicando os camponeses que ali viviam. A situação era agravada
Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, mas pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em 1912, des-
haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o arraial locaram-se para Palmas, no Paraná.
recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande maioria,
mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para morar e ter- O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva-
ra para plantar. são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria,
Canudos tinha uma rígida organização social. No comando es- dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um
tava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor ou ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaruçu. A
pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as chefias liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de chefes,
dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa etc. O que difundiu a crença de que José Maria regressaria à frente de
arraial contava com uma guarda especial formada pelos jagunços, um exército encantado para vencer as forças do mal e implantar o
chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católica. Havia tam- paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército e das polícias
bém comerciantes. estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o movimento, matan-
Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comerciantes do milhares de rebeldes.
de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conselheiro
para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vingaram sa- — O Modernismo
queando a cidade. Em resposta, o governador baiano enviou duas No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida
expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas pelos conselhei- cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuário,
ristas. na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras mani-
Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam parte festações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o padrão fran-
de um amplo movimento que visava restaurar a monarquia no país cês como modelo.
chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do Rio de Janeiro e Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso começou
de São Paulo, sobretudo, insistia na existência de um complô mo- a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político dos
narquista. Na capital da República, estudantes, militares, escritores, países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Américas, a
jornalistas, entre outros grupos sociais, responsabilizavam o presi- dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos anos 1920,
dente Prudente de Morais por não reprimir Canudos. em diversas cidades do Brasil, principalmente em São Paulo e no
Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição, Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifestos publicados
chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os por artistas e intelectuais que, preocupados com a modernização
federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército bra- do país, discutiam o que era ser brasileiro. Recusavam-se a copiar
sileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas, que padrões europeus e propunham uma nova maneira de pensar e de-
mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e Canudos finir o Brasil, valorizando a memória nacional e a pesquisa das raízes
passou a ser visto como uma real ameaça à República. Formou-se, culturais dos brasileiros.
assim, uma quarta expedição, que contava com 10 mil homens. Em Era o movimento modernista, que se manifestou com grande
outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua população, massacra- impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o
da - mesmo aqueles que se renderam foram degolados. Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna.
Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais exibiram suas
Guerra do Contestado obras: houve música, poesia, pintura, escultura, palestras e deba-
Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa- tes.
receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que tinha Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Cavalcanti
sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos antes. - responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e Lasar
Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado que be- Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Goeldi (gra-
ato no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a instaura- vura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e Tinta e
ção da República e acreditava que somente a lei da monarquia era Pirralho, leu textos e poemas.
verdadeira. Apresentando-se como um continuador de suas ideias, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam-
José Maria organizou uma comunidade formada por milhares de bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o
homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximidades do município público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de
catarinense de Curitibanos. Armados e sob a liderança de José Ma- congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou.
ria, eles criticavam a República. Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência rejei-
tava os instrumentos musicais das culturas africanas e indígenas.
Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas cultu-
ras também eram formadoras da cultura nacional.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

— O Tenentismo Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota e


Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - como apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenentista
tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em um movi- no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur Bernardes
mento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam o liberalismo governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento operário e
e defendiam um Estado forte e centralizado, expressando um nacio- atuou de maneira bastante impopular nas cidades. Em 1926, dissi-
nalismo não muito bem definido. Exigiam a moralização da política dentes do PRP fundaram o Partido Democrático (PD), em São Paulo.
e das eleições e defendiam a adoção do voto secreto. Muitos se O novo partido defendia a adoção do voto secreto e obrigatório, a
mostravam ressentidos com os políticos, pelo papel secundário do criação da Justiça Eleitoral e a independência dos três pode
Exército na política nacional. A primeira revolta tenentista ocorreu O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspendeu o
no Rio de Janeiro, em 1922. Após os rebelados tomarem o Forte de estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical. No entan-
Copacabana, canhões foram disparados contra alvos considerados to, não concedeu a anistia política aos tenentes, como exigiam as
estratégicos. O objetivo era impedir posse do presidente eleito Ar- oposições. Em 1929, começaram as articulações para a nova suces-
thur Bernardes e, no limite, derrubar o governo. são presidencial. O presidente Washington Luís, do Partido Repu-
O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da blicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presidente do estado de
Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as oligarquias mineiras se
da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar- aliaram aos gaúchos e aos paraibanos, lançando o nome do gaúcho
charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final, Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para
sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes. a vice-presidência.
A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte. O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura de
Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em São Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja pla-
Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. O objeti- taforma política defendia o voto secreto, a criação de uma Justiça
vo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada do presiden- Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para os militares
te Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi bombardear revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de leis trabalhistas.
a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram marchar para Foz do
Iguaçu. Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes venceu,
mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, alegan-
A Coluna Prestes do fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o apoio dos
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís tenentes na luta contra o governo. No exilio argentino, Luís Carlos
Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de Santo Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a participar das
Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz do conversações. A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa,
Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram a em julho de 1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava
Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao interior do razões políticas locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal
país, para mobilizar a população contra o governo e as oligarquias. transformaram o episódio em questão nacional e deflagraram uma
Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Perse- revolução.
guido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes, im- Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio
pôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o derrotaram. Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Diante
Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem perspectivas, da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército e da
em 1927 os soldados da coluna entraram no território boliviano, Marinha depuseram o presidente Washington Luís e formaram uma
onde conseguiram asilo político. Por sua luta e capacidade de co- Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio de Janeiro,
mando, Luís Carlos Prestes passou a ser considerado um herói e entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento político-militar
conhecido como “Cavaleiro da Esperança “. conhecido como Revolução de 1930 saía vitorioso. Era o início da
Era Vargas.
— A Revolução de 1930
No início da década de 1920, o sistema político da Primeira Re-
pública começava a apresentar sinais de esgotamento. A realização ERA VARGAS
da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista do
Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram indícios desse
esgotamento. A própria sucessão presidencial, também no ano de — Governo Provisório
1922, foi marcada por uma forte disputa entre os grupos políticos Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoiado
estaduais. pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, dis-
Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o mineiro solveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais
Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janeiro, do e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emergência. Com
Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por lançar exceção do governador Olegário Maciel, de Minas Gerais, todos os
Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido como Rea- demais (na época, chamados de presidentes de estado) foram subs-
ção Republicana, não propunha romper com o sistema oligárquico, tituídos por interventores, pessoas da confiança do presidente, es-
mas abrir espaço para os grupos dominantes de outros estados, de- colhidos por ele entre os egressos do movimento tenentista29.
safiando o domínio de paulistas e mineiros. No entanto, os resulta-
dos das eleições eram previsíveis e Arthur Bernardes saiu vitorioso.
29 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo
Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano João Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorporou
Alberto Lins de Barros para interventor provocou descontentamen- a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a instituição
to entre as elites, que passaram a exigir um interventor civil e pau- do salário mínimo (que seria criado somente em 1940) e criou o
lista. Os desdobramentos do descontentamento da população em Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e soldados conti-
relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução Constituciona- nuavam proibidos de votar.
lista, em julho de 1932. Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio Var-
Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenentis- gas para a Presidência da República, pondo fim ao governo provisó-
mo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. Vários rio. De acordo com a Constituição, o mandato presidencial se esten-
de seus representantes voltaram para os quartéis, outros se aliaram deria até 1938, quando um novo presidente escolhido por voto livre
ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascismo. Os que con- e direto assumiria o cargo.
tinuaram no governo permaneceram subordinados ao presidente.
— Governo Constitucional de Vargas
— Legislação Trabalhista Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização po-
A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lembra- lítica, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a Ação
do é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Ministério Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacional Liber-
do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930. As leis tadora (ANL), de esquerda.
de proteção ao trabalhador regularam o trabalho de mulheres e A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população geral
crianças, estabeleceram jornada máxima de oito horas diárias de estava desacreditada da democracia liberal - o que favorecia o sur-
trabalho, criaram o descanso semanal remunerado e garantiram o gimento de regimes totalitários em diversos países -, surgiram no
direito a férias (já concedido anteriormente, em 1923, porém nunca Brasil grupos que reivindicavam a implantação de uma ditadura de
colocado em prática) e à aposentadoria, entre outras novidades. direita, semelhante à de Mussolini na Itália.
Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Con- Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi-
solidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em 1931 ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta de
0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia o con- intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das classes
trole do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os sindica- médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, o
tos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; só podiam integralismo era um movimento de caráter nacionalista, antiliberal,
funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, que, por sua anticomunista e contrário ao capitalismo financeiro internacional.
vez, tinha poderes de intervenção tão importantes nas atividades Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco-
sindicais que podia até afastar diretores. nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralidade
Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movimen- partidária e a democracia representativa. Nas eleições municipais
to sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada autoritária, de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos municí-
por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, diversos pios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre elas as de
setores sindicais passaram a acatá-la. Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP).
A legislação trabalhista - apresentada à população como uma A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935, e
“dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sindicatos tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos Pres-
faziam parte de um tipo de política que seria caracterizado como tes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande ascendên-
populista, anos mais tarde. Apresentado como autor magnânimo cia sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fileiras grupos
das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai dos pobres”, uma de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-integralistas, inte-
espécie de protetor da classe trabalhadora, desconsiderando as lectuais independentes, estudantes e ex-tenentistas descontentes
conquistas como resultado das lutas dos trabalhadores. com o autoritarismo do governo Vargas. Seu programa político era
nacionalista e anti-imperialista. Entre suas principais bandeiras es-
— A Constituição de 1934 tavam a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionaliza-
Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de ção de empresas estrangeiras e a reforma agrária.
exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um novo A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil e
Código Eleitoral que trazia algumas novidades: 100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Levine.
– criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais; Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo presi-
– instituía o voto secreto, principalmente para minar a influên- dente Vargas.
cia dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3); A partir de então, seus militantes passaram a agir na clandes-
– reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor; tinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao PC do
– garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, insurrei-
dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militantes a ções mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, com
enfermeira Bertha Lutz (1894-1976). o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo no Brasil. Mal
articulados, os levantes fracassaram e a Intentona Comunista, como
Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente ficou conhecido o episódio, levou o presidente a decretar estado de
com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil pessoas - entre as quais
eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assembleia um senador e quatro deputados.
Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-se a mé-
dica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo e primeira
deputada do Brasil.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (posterior- — O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
mente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mulher, a Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das tropas
judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi deportada nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse dos países
para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde morreu em do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de Getúlio Vargas
um campo de concentração em 1942. manteve uma postura ambígua sobre a Segunda Guerra Mundial,
pois mantinha relações econômicas com os Estados Unidos.
— Eleições Canceladas Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo
Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, em estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que se
1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de Getúlio manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da cola-
Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanência no po- boração econômica e militar. O rompimento definitivo com o bloco
der junto às Forças Arma das e aos governadores. No final de 1937, nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes brasileiros
o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elaborou um plano de foram afundados por submarinos alemães.
uma conspiração comunista para a tomada do poder e o entregou à Em agosto daquele ano, após manifestações populares e es-
cúpula das Forças Armadas. tudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado das
Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O documen- democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em julho
to era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Estado. No de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da Força
dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou o fechamento Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália.
do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Vargas declarou
canceladas as eleições presidenciais e anunciou a instauração do — O Fim do Estado Novo
Estado Novo, que ele definiu como “um regime forte, de paz, justiça Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas
e trabalho”. pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participação
A seguir, foi outorgada uma nova Constituição, que logo pas- do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um lento
saria a ser chamada de Polaca, em alusão a suas semelhanças com processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo. Outras
a Constituição polonesa, de inspiração fascista. As garantias indivi- manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo e pela
duais foram suspensas e o direito de reunião, abolido. A população volta da democracia.
ficou proibida de se organizar, reivindicar seus direitos e de ma- Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de po-
nifestar livremente suas opiniões. Sem reação popular, começava líticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso da Or-
uma nova fase do governo getulista: a de uma ditadura declarada, dem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi a vez dos
centralizada em torno da figura de Getúlio Vargas. participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Ainda
em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa, anistiou presos
— O Estado Novo políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e convocou eleições para
Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos os uma Assembleia Constituinte.
partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralista, que Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais a
apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava principal- União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das clas-
mente a ideia de reconstrução da nação - pautada na ordem, na ses médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), composto de
obediência à autoridade e na aceitação das desigualdades sociais antigos coronéis e interventores nos estados e o Partido Trabalhista
- e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade brasileira. Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais ligados ao Ministé-
rio do Trabalho, além do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que
Departamento de Imprensa e Propaganda voltou a ser legalizado.
Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propagan- Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns sin-
da (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha nazista. dicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do presi-
Os agentes do DIP controlavam os meios de comunicação por meio dente, passaram a defender a permanência de Getúlio Vargas na
da censura a jornais, revistas, livros, rádio e cinema. Eles também Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida em coro
elaboravam a propaganda oficial do Estado Novo, produzindo peças pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimento: queremis-
publicitárias que mostravam o presidente como uma figura pater- mo. Para evitar a permanência de Vargas no poder, os generais Góis
nal, bondosa, severa e exigente a fim de agradar à opinião pública. Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua renúncia.
O DIP elaborava também cine documentários, como o Cine- Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Estado
jornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os cinemas, Novo chegava ao fim.
antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares enaltecendo
a figura de Vargas e transmitindo noções de patriotismo e civismo.
Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia Espe-
cial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-tenentista
Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões arbitrárias e pela
prática de tortura contra os presos.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As importações foram restringidas e os investimentos estran-


GOVERNOS POPULISTAS geiros foram limitados, dificultando as remessas de lucros de em-
presas transnacionais para seus países de origem. Para incentivar a
indústria nacional, em 1952, foi criado o Banco Nacional de Desen-
— A Experiência Democrática no Brasil volvimento Econômico (BNDE) e, no ano seguinte, a Petrobras, em-
Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em janeiro de 1946. presa estatal com o monopólio da exploração e refino do petróleo
O início de seu governo foi marcado pela posse da Assembleia Na- no Brasil. Foi proposta também a criação da Eletrobrás, uma em-
cional Constituinte, encarrega da de elaborar uma nova Constitui- presa para controlar a geração e a distribuição de energia elétrica.
ção para o Brasil. Promulgada ainda em 1946, a Carta restabelecia
a democracia, a organização do Estado em três poderes (Executivo, Vargas nomeou João Goulart (1919-1976) para ministro do
Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos estados e municípios, co- Trabalho, em 1953, para enfrentar as rei- vindicações e a onda de
locando fim ao centralismo político que caracterizou a Era Vargas30. greves. Sob a orientação do presidente, o novo ministro propôs, em
No entanto, a nova Constituição manteve a exclusão do direito janeiro de 1954, dobrar o valor do salário mínimo, que recuperou
de voto aos analfabetos (mais da metade da população), inúmeras seu valor em relação à crescente inflação.
restrições ao direito de greve e a não incorporação dos trabalhado- Em fevereiro, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis emitiram
res do campo à legislação trabalhista. um manifesto - o Manifesto dos Coronéis - criticando o governo, o
Na área econômica, Dutra deu uma orientação liberal ao seu aumento do salário mínimo e as desordens que corriam pelo país.
governo, afastando-se da política nacionalista adotada por Getúlio Entre eles estava o coronel Golbery do Couto e Silva e vários outros
Vargas. Com a abertura do mercado aos produtos importados, as militares que, mais tarde, foram protagonistas da ditadura iniciada
reservas nacionais em moedas estrangeiras acumuladas durante a em 1964.
Segunda Guerra esgotaram-se. Diante do manifesto, Getúlio demitiu o ministro da Guerra, o
Em 1948, foi anunciado o Plano Salte, abreviatura de Saúde, general Espírito Santo Cardoso, e acordou com Goulart a sua de-
Alimentação, Transporte e Energia, considerados setores prioritá- missão, acalmando os ânimos. Contudo, no feriado de 19 de maio
rios. O plano só foi aprovado pelo Congresso em 1950, no final do de 1954, Vargas anunciou o aumento de 100% do salário mínimo,
governo Dutra, e abandonado pelo governo seguinte. Assim, foi conquistando ainda mais apoio dos trabalhadores.
implementado apenas em parte, como a pavimentação da rodovia A política populista de Vargas atraiu a oposição de liberais,
Rio-São Paulo (atual Via Dutra), a abertura da rodovia Rio-Bahia e o como os membros da UDN (União Democrática Nacional, partido
início das obras da Hidrelétrica do São Francisco. Aderindo ao clima político de orientação liberal), oficiais das Forças Armadas e empre-
da Guerra Fria, o governo Dutra estreitou relações com os Estados sários, especialmente os ligados aos interesses estrangeiros.
Unidos e, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União So- Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda (1914-
viética. Esse posicionamento acabou provocando um recuo na frágil 1977), um dos principais oponentes de Vargas, dono do jornal Tri-
e recente democracia brasileira: o governo decretou a ilegalidade buna da Imprensa, sofreu um atentado no qual morreu seu segu-
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cassando o mandato de de- rança, o major da Aeronáutica Rubens Vaz (1922-1954). O episódio
putados, senadores e vereadores do partido que foram eleitos em ficou conhecido como o atentado da rua Toneleros.
1945. As investigações apontaram a participação de Gregório Fortu-
Além disso, o governo também ordenou a intervenção estatal nato (1900-1962), chefe da guarda pessoal de Getúlio. Isso acirrou
em mais de 400 sindicatos. os ânimos dos oposicionistas, desdobrando-se numa grande cam-
panha pela renúncia de Vargas.
— O Retorno de Getúlio Vargas A campanha contou com os meios de comunicação, que ali-
Getúlio Vargas foi vitorioso nas eleições para a sucessão de Du- mentavam e impulsionavam o aprofundamento da crise. Pressiona-
tra em outubro de 1950. Ele candidatou-se pelo Partido Trabalhista do, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. A notícia da morte
Brasileiro (PT B), com o apoio do Partido Social Democrático (PSD). e a divulgação de sua carta-testamento estimularam manifestações
Assim, o pai dos pobres, como ficou conhecido, reassumia a populares por todo o país. Jornais de oposição foram invadidos e
Presidência do Brasil em janeiro de 1951, mas, desta vez, democra- depredados, assim como os diretórios da UDN e a embaixada dos
ticamente. Sua atuação política junto às camadas mais carentes do Estados Unidos no Rio de Janeiro.
país, no estilo populista, foi decisiva para sua vitória. Meses depois Com o suicídio de Getúlio, o vice-presidente Café Filho (1899-
da eleição de Getúlio, a marchinha mais cantada no Carnaval de 1970) assumiu o poder. Inconformados com o resultado das elei-
1951 era Retrato do velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, gravada ções, a UDN de Lacerda e setores militares tramavam um golpe,
em outubro de 1950 por Francisco Alves, para comemorar o resul- com apoio discreto de Café Filho e outros ministros, mas esbarra-
tado das eleições. ram no legalista ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira
Com a volta de Getúlio Vargas, o governo passou a seguir a cor- Lott (1894-1984).
rente nacionalista, com o Estado atuando de maneira intervencio- A saída de Café Filho da presidência por problema de saúde
nista e paternalista. ocasionou a transferência do cargo ao presidente da Câmara dos
Deputados, Carlos Luz (1894-1961), aliado da UDN. Este, mais fa-
vorável aos golpistas, tentou se livrar do legalista Lott, que reagiu
e o depôs.
O cargo foi entregue então ao presidente do Senado, Nereu Ra-
mos (1888-1958), que governou como presidente da República até
30 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino. a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956.
José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nas eleições de outubro de 1955, Juscelino Kubitschek de Oli- Jânio Quadros no Poder
veira (1902-1976), ex-governador de Minas Gerais, teve uma vitó- Como presidente, Jânio Quadros primou pela ambiguidade. Na
ria apertada, de 36%, contra 30% dos votos dados a Juarez Távora, economia atuava deforma mais próxima aos conservadores liberais:
candidato da UDN. cortou gastos e congelou salários em meio à contínua elevação dos
JK, como era popularmente conhecido, foi o candidato da coli- preços dos produtos. Por outro lado, sua política externa aproxi-
gação PSD-PTB. Como na época os eleitores votavam separadamen- mava-se da esquerda, ao reatar relações diplomáticas com países
te para presidente e para vice-presidente, João Goulart, o Jango, socialistas a fim de ampliar mercados.
ex-ministro do Trabalho de Vargas, venceu a eleição para Vice-presi- Um episódio reforçou essa política de independência em rela-
dência, com mais votos (3 591.409) do que o próprio JK (3 077.411). ção ao bloco capitalista. Em 1961, o argentino Ernesto Che Guevara,
então ministro da Economia em Cuba, foi condecorado por Jânio
— De Jk a João Goulart Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.
O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo desen- Essa atitude provocou reações contrárias, inclusive do próprio
volvimentismo. Apoiando-se no Plano de Metas, divulgado sob o partido do presidente. Em agosto de 1961, após sete meses de go-
slogan “50 anos em 5”, Juscelino prometia desenvolver o país em verno, Jânio surpreendeu a todos ao renunciar ao cargo, numa ma-
tempo recorde. O programa priorizava investimentos em setores de nobra política fracassada. A renúncia fazia parte de um plano que
energia, indústria, educação, transporte e alimentos. contava com o temor de setores da sociedade diante da possibilida-
Para alcançar as metas, o governo favoreceu a entrada de capi- de de João Goulart assumir a Presidência para fortalecer seu poder.
tais estrangeiros e a presença de empresas transnacionais no país.
Esse modelo abandonava o nacionalismo do período Vargas e ade- O vice, que se encontrava na China Popular, em missão de go-
ria ao capitalismo internacional. Como resultado dessa política, fá- verno, era considerado comprometido com as causas trabalhistas
bricas de caminhões, tratores, automóveis, produtos farmacêuticos - e até acusado de ser um comunista - por vários militares e políti-
e cigarros foram instaladas no Brasil. cos. Ao que parece, a expectativa de Jânio era que a população se
Destacam-se também a construção das usinas hidrelétricas de mobilizasse contra seu pedido de renúncia e o Congresso Nacional
Furnas e Três Marias; e a pavimentação de milhares de quilômetros o rejeitasse, o que o levaria a exigir plenos poderes para continuar
de estradas. Grandes mudanças ocorriam em diversos setores. No na Presidência.
dia a dia de muitas cidades e regiões. A renúncia, porém, foi aceita imediatamente e nenhum gru-
Na música, foi a época em que surgiu a bossa Nova, um novo po movimentou-se para convencer Jânio Quadros a permanecer
estilo de tocar e cantar samba com influência do jazz, juntando-se no poder. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli
aos tangos, boleros, valsas e sambas de então. No futebol, 1958 (1910-1975), assumiu a Presidência da República até a posse de
foi o ano da conquista do primeiro campeonato mundial. Passaram Jango.
a fazer parte dos hábitos dos brasileiros o consumo de produtos
industriais, como eletrodomésticos (máquina de lavar roupas, rádio — A Crise Política no Governo Jango
de pilha, etc.) A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 amplifi-
No entanto, esse desenvolvimentismo era basicamente dirigido
cou as divergências entre as forças políticas. Alguns ministros mili-
a partes do mundo urbano moderno. O enorme fosso social, pleno
tares e políticos da UON, contrariando a Constituição, tentaram im-
de desigualdades e carências (saneamento básico, escolas, saúde),
pedir a posse de João Goulart. O novo presidente era visto como um
e um mundo rural que ainda reunia a maioria da população brasi-
herdeiro de Getúlio Vargas e acusado de simpatizante da esquerda.
leira sem a proteção de uma legislação trabalhista continuavam a
Em defesa de Jango, Leonel Brizola (1922-2004), então gover-
existir. A maior obra do governo JK, entretanto, foi a construção de
nador do Rio Grande do Sul, lançou a Campanha da Legalidade,
Brasília, a nova capital federal, planejada pelo urbanista Lúcio Costa
conquistando o apoio de boa parte da população brasileira. A posse
e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
de Jango ocorreu somente após debates e negociações que levaram
A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Localizada no
Planalto Central, estava bem distante das cidades do Rio de Janeiro à alteração da Constituição. Com uma emenda, em 2 de setembro
e de São Paulo, os principais centros de pressão popular da época. de 1961, foi implantado o parlamentarismo no país. Era o acordo
A abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro e os vários para se evitar uma guerra civil: Jango assumiria a presidência, mas o
empréstimos contraídos junto às instituições estrangeiras deixaram governo de fato ficaria a cargo do primeiro-ministro, escolhido pelo
o país numa séria crise financeira, com a inflação chegando, em Congresso Nacional. Definiu-se também que, após algum tempo, o
1960, ao índice de 25% ao ano. parlamentarismo deveria ser ratificado ou não por um plebiscito.
Nas eleições de 1960, a coligação PSD-PTB indicou o marechal Em janeiro de 1963, o plebiscito sobre o parlamentarismo mo-
Henrique Teixeira Lott para concorrer à Presidência e João Goulart bilizou o país. O sistema político estava em vigência há pouco mais
à Vice-presidência. Na oposição, a UDN e outros partidos meno- de um ano e era muito criticado e impopular. Com intensa cam-
res apoiaram a candidatura do ex-governador de São Paulo, Jânio panha pelo seu fim, os brasileiros decidiram pela restauração do
Quadros (1917-1992). Seu candidato à Vice-presidência era Mílton regime presidencialista. Enquanto o presidencialismo era restabe-
Campos, ex-governador de Minas Gerais. Jânio pregava uma limpe- lecido, a situação econômica do país deteriorava-se.
za na vida política nacional com o combate à corrupção. Para sim- A inflação, que em 1962 atingira 52%, chegou aos 80% em 1963
bolizar a ideia, usava uma vassoura na campanha eleitoral. Como e afetou gravemente o poder aquisitivo dos trabalhadores. Para en-
votava-se separadamente para presidente e para vice-presidente, frentar a crise, o governo lançou o Plano Trienal, no final de 1962.
Jânio Quadros se tornou presidente com 5,6 milhões de votos. João Seu objetivo era conter a inflação e promover o desenvolvimento
Goulart foi eleito vice-presidente com 4,5 milhões de votos. Era for- do país. No entanto, os efeitos do plano foram mínimos, principal-
mada a dupla “Jan-Jan”. mente quanto ao custo de vida. As pressões populares cresceram,
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

levando Jango a defender amplas reformas nos setores agrário, ad- O primeiro passo coube ao general Olímpio Morão Filho, que
ministrativo, fiscal e bancário. Conhecidas como reformas de base, mobilizou o exército de Belo Horizonte, o mesmo que, 27 anos
essas medidas foram vistas pelos seus opositores como uma amea- antes, ainda capitão e integralista, havia forjado o famoso Plano
ça à ordem liberal vigente. Cohen. Segundo o pesquisador e historiador Carlos Fico, os revolto-
Três dessas medidas ajudam a entender os interesses que es- sos contavam com a Operação Brother Sam, que incluía a possível
tavam ameaçados. Contra a inflação, foi criada a Superintendência intervenção planejada pelo embaixador estadunidense Lincoln Gor-
Nacional do Abastecimento (Sunab), ligada ao governo e encarre- don, associado às elites económicas, políticas e militares.
gada de controlar os preços dos produtos, interferindo, portanto, A operação contava com uma forca tarefa naval estadunidense
nos lucros dos produtores e comerciantes. (porta-aviões, porta-helicópteros, contratorpedeiros) que atuaria
Para oferecer melhores condições de vida a milhões de traba- nas costas brasileiras e incluía a entrega de armas, munições e com-
lhadores rurais e ampliar a oferta de alimentos, uma proposta de bustível (quatro navios-petroleiros). O plano entraria em ação em
reforma agrária nos latifúndios improdutivos foi apresentada ao marco.
Congresso. Os latifundiários, porém, não concordavam com os me- Entretanto, o golpe teve um desfecho rápido e sem lutas. Cul-
canismos de cálculos para se chegar aos valores das indenizações minou com a deposição do presidente João Goulart, que deixou
a serem pagas pelas terras, alegando grandes perdas caso fossem Brasília, dirigiu-se para o Rio Grande do Sul e em seguida para o
efetivamente aplicados. Uruguai, onde pediu asilo. Já no dia 12 de abril, o embaixador Lin-
Outra questão polémica foi a restrição da remessa de lucros das coln Gordon foi avisado de que não era mais necessário o apoio
empresas estrangeiras para o exterior; a proposta teve oposição de
logístico estadunidense. Era o fim de uma experiência republicana
grupos ligados ao capital internacional. Diante de tantos embates,
reformista e o início da ditadura comandada pelos militares.
João Goulart aproximou-se de setores populares organizados por
Após a deposição do presidente João Goulart, uma junta mili-
operários, camponeses, estudantes e militantes de esquerda, como
tar, formada pelo general Artur da Costa e Silva (1899-1969), pelo
o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos
Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas brigadeiro Francisco Correia de Melo (1903-1971) e pelo almirante
(UBES), a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAC) e as Augusto Rademaker (1905-1985) foi instalada no poder. A primeira
Ligas Camponesas. medida tomada por essa junta foi a decretação do Ato Institucional
No lado oposto, contra Jango, os conservadores juntavam or- nº 1 (Al-1).
ganizações sociais e políticas. Entre eles, destacava-se o Instituto O decreto garantia amplos poderes ao Executivo, como cassar
de Pesquisas Econômicas e Sociais (PES), que reunia diretores de mandatos, suspender direitos políticos, aposentar funcionários ci-
empresas multinacionais, jornalistas, intelectuais, militares e a nata vis e militares e decretar estado de sítio sem autorização do Con-
do empresariado nacional. gresso. Milhares de brasileiros foram atingidos pelos expurgos, civis
Entre outros opositores a João Goulart estavam o Instituto Bra- e militares.
sileiro de Ação Democrática (Ibad), a Confederação Nacional das Em seguida, o Alto Comando das Forças Armadas indicou para
Indústrias (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). a Presidência o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
Num comício realizado em 13 de marco de 1964, no Rio de Janeiro, (1897-1967). Com o golpe de 1964, teve início uma série de gover-
o presidente prometeu o aprofundamento das reformas para diver- nos militares que permaneceu no poder até 1985. Nesse período,
sas entidades de trabalhadores e estudantes. as liberdades democráticas foram anuladas e os poderes Legislativo
Em resposta, os conservadores organizaram uma grande pas- e Judiciário foram submetidos. Também foi uma época em que es-
seata em São Paulo, chamada Marcha da Família com Deus pela tados e municípios perderam sua autonomia, passando a ser sim-
Liberdade. Os participantes da passeata declaravam estar se posi- ples executores das decisões federais.
cionando contra o que era visto como ameaça da transformação do
país numa república comunista, representada pelo presidente, suas — Governo Castelo Branco
propostas e seu grupo de apoio. Setores da Igreja e do empresaria- Castelo Branco autorizou inúmeras prisões, interveio em sin-
do participaram da manifestação. dicatos e organizações populares e cassou direitos políticos de
opositores. Também fechou o Congresso Nacional e criou o Servi-
ço Nacional de Informações (SNI). Decretou o Ato Institucional nº
2 (Al-2), que estabeleceu eleições indiretas para a Presidência da
REGIME MILITAR
República e extinguiu os partidos políticos existentes, que foram
reunidos em duas novas legendas: a Arena (Aliança Renovadora
Nacional), aliada ao governo, e o MDB (Movimento Democrático
— O Governo Militar de 1964
Brasileiro), supostamente de oposição.
Desde o início de 1964, as propostas de reformas de base in-
tensificaram as manifestações de apoio e de repulsa ao governo de
João Goulart. Disseminou-se o medo das reformas31. Decretou também o Al-3, que determinou a eleição indireta
Em 31 de marco, o alto escalão de oficiais do Exército, com dos governadores dos Estados, e o Al-4, que orientou a elabora-
apoio de vários governadores, como Magalhães Pinto (1909-1996), ção da nova Constituição, outorgada em janeiro de 1967. A Carta
de Minas Gerais, Carlos Lacerda (1914-1977), da Guanabara, e incorporava os atos institucionais e atribuía hegemonia política ao
Adhemar de Barros (1901-1969), de São Paulo, rebelou-se contra Executivo. Em 1967, a Lei de Imprensa instaurou a censura aos veí-
o governo de Jango. culos de comunicação no país. Na área econômica, o Brasil alinhou-
31 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vicentino.
-se completamente com os Estados Unidos e criou facilidades para
José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. Scipione. a entrada do capital estrangeiro.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Um exemplo desse alinhamento foi o envio de tropas brasilei- crescer o bolo para depois dividi-lo”. Era a justificativa para estabe-
ras à República Dominicana, juntando-se à intervenção militar es- lecer políticas de favorecimento e concentração da renda. O desen-
tadunidense. volvimento económico e a propaganda governamental reforçaram
o apoio da classe média ao governo, setor beneficiado pela política
— Governo Costa e Silva económica.
Para a sucessão de Castelo Branco, o Alto Comando Militar in- No entanto, foi também um período caracterizado pela repres-
dicou o ministro da Guerra, marechal Artur da Costa e Silva (1899- são e pela tortura, com forte censura aos meios de comunicação. A
1969). Com a economia em crescimento e a manutenção do conge- repressão era justificada peIo crescimento da luta armada contra
lamento dos salários dos trabalhadores, surgiram greves, como a de o regime. Entre as realizações do governo Médici, destacam-se a
Contagem (MG) e a de Osasco (SP). Esta foi reprimida brutalmente, construção da rodovia Transamazônica, a conclusão de várias hi-
com cerco policial, seguido da atuação dos soldados com metralha- drelétricas e a criação da Telecomunicações Brasileiras (Telebrás) e
doras e blindados. do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em
Ainda no início de seu governo, os protestos de rua contra o seu governo também foi aprovada uma emenda constitucional que
regime ditatorial se intensificaram. Políticos cassados pela ditadu- ampliava os poderes do presidente, cujo mandato se estendeu de
ra, estudantes e trabalhadores de diversas categorias aliaram-se. quatro para cinco anos.
A Frente Ampla, por exemplo, nasceu de uma aliança entre Carlos Desde antes do completo endurecimento do regime, com o Al-
Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que buscavam reunir 5, opositores de esquerda se preparavam para enfrentar a ditadura
a oposição contra a ditadura. com a guerrilha. Alguns focos guerrilheiros foram formados: o do
Costa e Silva decretou sua ilegalidade e proibiu suas atividades. Araguaia, no Pará, que foi descoberto em 1972 e destruído pelo
Em 1968, foram constantes as manifestações estudantis exigindo Exército em 1975; o da Serra do Caparaó, em Minas Gerais, e o do
a redemocratização do Brasil. O governo respondia aos protestos Vale do Ribeira, em São Paulo, que foram derrotados rapidamente.
com repressão policial. Em marco de 1968, o estudante Edson Luís Este último era chefiado pelo capitão Carlos Lamarca (1937-
de Lima e Souto foi assassinado durante a invasão militar de um 1971), que conseguiu fugir da repressão militar e acabou morto no
restaurante universitário. Cerca de 50 mil pessoas acompanharam sertão da Bahia.
o trajeto até o cemitério, transformando o enterro em um ato polí- Outra figura que se destacou nessa forma de atuação arma-
tico. Em outubro, foram presos centenas de estudantes e as lideran- da foi Carlos Marighella (1911-1969), líder da Aliança Libertadora
ças do movimento universitário que participavam do XXX Congres- Nacional (ALN). Ele agia na região das grandes capitais e foi morto
so da UNE em Ibiúna, SP. numa tocaia por policiais em São Paulo.
Nesse quadro, o regime acentuou o processo de fechamento
político com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Insti- — Governo Geisel
tucional nº 5 (Al-5), pelo qual, entre outras medidas de exceção, o O presidente eleito indiretamente para substituir Médici foi o
presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional. Foi a general Ernesto Geisel (1907-1996). Em seu governo a economia
mais implacável de todas as leis da ditadura: suspendeu a conces- nacional começou a mostrar sinais de dificuldades, associadas ao
são de habeas corpus e todas e quaisquer garantias constitucionais, crescimento obtido à custa do capital estrangeiro.
dando ao presidente militar o controle absoluto sobre o destino da Entre essas dificuldades estava a desigualdade social com ex-
nação. trema concentração de renda e o aumento da dívida externa, que
No mesmo dia, foi decretado o fechamento do Congresso por obrigou o pagamento de juros altíssimos, inviabilizando o cresci-
tempo indeterminado. Com a instauração do Al-5, houve o perío- mento do país.
do de repressão mais intensa no país. Com os canais democráticos Assim, enquanto o país conquistava a décima posição na eco-
fechados, uma parcela da oposição partiu para o enfrentamento nomia mundial, a qualidade de vida de boa parte da população
armado, com assaltos a bancos, sequestros e atentados. Nessas brasileira continuava em níveis baixíssimos. Parte desse quadro foi
ações, exigia-se a libertação de presos políticos e procurava-se arre- agravada pela crise internacional provocada pela alta dos preços do
cadar fundos para o movimento. O esforço pouco adiantou. Alguns petróleo nos países produtores, ocorrida em 1972.
anos de- pois, os grupos de luta armada estavam derrotados, com Essa crise provocou sérios problemas no Brasil, que importa-
muitos militantes mortos ou exilados. Quase todos os presos foram va, aproximadamente, 80% do petróleo que consumia. A situação
torturados. continuou se agravando em 1974, primeiro ano do governo Geisel É
Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um der- importante destacar que 1974 foi, também, o ano em que o conser-
rame e ficou impossibilitado de exercer suas funções. O vice-presi- vadorismo sofreu derrotas, como a renúncia do presidente Nixon,
dente, o civil Pedro Aleixo, foi proibido pelos ministros militares de nos EUA (provocada pelo caso Watergate), e a Revolução dos Cra-
assumira Presidência, que foi ocupada por uma junta militar. A junta vos, em Portugal, que depôs a ditadura no país.
permaneceu no poder até outubro do mesmo ano, quando eleições Para contornar a situação econômica, o governo Geisel estimu-
indiretas foram convocadas para escolher o novo presidente. O lou o desenvolvimento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Alco-
nome do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), apresen- ol), cujo objetivo era promover ver a utilização de uma fonte de
tado pelos chefes militares, foi aprovado pelo Congresso, reaberto energia alternativa ao petróleo.
para essa finalidade. Foi também durante seu governo que teve início a construção
de duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu e Tu-
— O Governo Médici curuí. Os impasses criados pelo modelo económico dos militares
Durante o governo Médici, houve um elevado crescimento da deu margem para o crescimento da oposição e para o início de um
economia, do denominado “milagre econômico”. Antônio Delfim processo de abertura política, lenta e gradual, que levaria à rede-
Netto, então ministro da Fazenda, afirmava que era preciso “fazer mocratização do país.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para iniciar a abertura política, o presidente precisou afastar os O objetivo do movimento era pressionar o Congresso a aprovar
militares que se opunham a isso, considerados de linha dura e em uma emenda constitucional que reinstituía as eleições diretas para
posições de comando. A reação da sociedade às mortes por tortura presidente. A emenda, porém, foi derrotada por apenas 22 votos,
do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do operário numa sessão em que vários parlamentares não compareceram.
Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, foi decisiva para o processo A escolha do novo presidente seria realizada, mais uma vez,
de abertura política. indiretamente. Formou-se então uma aliança de políticos modera-
Em 1978, uma grande greve de metalúrgicos, liderada pelo lí- dos favoráveis à abertura. Dois civis concorreram à sucessão presi-
der sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula, teve início na região do ABC, dencial: Tancredo Neves, da Aliança Democrática, que reunia tanto
em São Paulo. Entre as reivindicações estavam melhores salários opositores como colaboradores da ditadura, e Paulo Maluf, do PDS
e a abertura política. Apesar da forte repressão, outras categorias (antiga Arena). Tancredo Neves venceu, mas não tomou posse.
profissionais aderiram ao movimento, demonstrando o desgaste do Às vésperas da cerimónia, o presidente eleito foi hospitalizado
poder autoritário do governo. Antes do término de seu mandato, e faleceu em 21 de abril de 1985. A Presidência, então, foi assumida
Geisel revogou o Al-5 e determinou a extinção da censura no Brasil. por seu vice, José Sarney, um dos fiéis aliados do regime militar.
O final do governo Figueiredo e a posse de José Sarney marcaram
— Governo Figueiredo o fim do regime militar. Iniciava-se uma nova fase na vida política
O general João Batista Figueiredo (1918-1999) foi escolhido brasileira, denominada Nova República.
para a sucessão de Geisel. A dívida externa brasileira ultrapassava
os 100 bilhões de dólares e a inflação era mais de 250% ao ano. Gre-
ves e agitações políticas apareciam por toda a parte e a imprensa REDEMOCRATIZAÇÃO
trazia à tona sucessivos escândalos financeiros envolvendo mem-
bros do governo. Dando sequência ao processo de abertura políti-
ca, o governo Figueiredo aprovou, em 1979, a Lei de Anistia. — Transição para a Democracia
A partir de então, muitos presos políticos foram libertados e O fim da ditadura militar veio acompanhado por um desejo de
vários brasileiros exilados começaram a retornar ao país. Outra mudança: os brasileiros desejavam a construção de um novo país -
medida de seu governo foi a reforma partidária, que extinguiu a sem autoritarismo, sem corrupção, sem inflação, sem concentração
Arena e o MDB e autorizou a formação de novos partidos políticos. de renda, sem arrocho salarial, sem Injustiças sociais. Em um país
A maioria dos integrantes da Arena passou a compor o Partido De- ansioso por mudanças, José Sarney, o vice-presidente eleito em
mocrático Social (PDS). O MDB deu lugar ao Partido do Movimento 1985, assumiu a presidência, em decorrência da morte de Tancredo
Democrático Brasileiro (PMDB) e diversas legendas surgiram, como Neves, com a tarefa de conduzir a transição da ditadura para o re-
o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista gime democrático32.
(PDT) e o Par- tido Trabalhista Brasileiro (PTB), entre outros. O Congresso Nacional revogou leis criadas durante o regime
O fim do bipartidarismo representou a ampliação das liberda- militar, acabou com a censura aos meios de comunicação e restituiu
des democráticas. aos cidadãos brasileiros o livre exercício de expressão e pensamen-
Foram ainda autorizadas eleições diretas para governadores, as to. O movimento sindical também adquiriu liberdade de acuação,
primeiras desde 1967. Nas eleições realizadas em 1982, o PDS ven- o que levou à criação de centrais sindicais. Foi instituída, ainda, a
ceu em 12 estados, com um total de 18 milhões de votos, e a oposi- liberdade de organização partidária, incluindo a legalização dos par-
ção venceu em dez estados, com 25 milhões de votos. O avanço da tidos comunistas. Em termos de transição democrática, o governo
oposição também se confirmou no Legislativo: o governo deixou de Sarney cumpria suas obrigações.
ter a maioria na Câmara dos Deputados. Entretanto, ainda estava Na política externa, o Brasil reatou relações diplomáticas com
previsto que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o cargo Cuba e tomou a iniciativa de formar com a Argentina um mercado
de presidente da República. Vários setores sociais e militares liga- comum latino-americano, que, com a adesão do Uruguai e do Para-
dos à ditadura reagiram ao processo de abertura política. guai, daria origem ao Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991.
Essa reação foi expressa por meio da violência, com ataques a
bancas de jornais que vendiam publicações de oposição e atenta- — Economia da Nova República
dos a entidades civis, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil A Nova República se deparou com uma pesada herança do regi-
(OAB). O mais sério desses atentados aconteceu em 30 de abril de me militar: uma enorme dívida externa de cerca de 100 bilhões de
1981, quando militares da linha dura visavam explodir bombas no dólares. Sem alternativas, em 1987, o governo decretou moratória;
Rio- centro, um espaço de convenções da capital carioca, onde se ou seja, tomou a decisão unilateral de não pagar a dívida. No ano
realizava um grande festival de música em homenagem ao dia do seguinte, ela foi renegociada com o Fundo Monetário Internacio-
trabalhador. Uma das bombas explodiu no pátio da miniestação elé- nal (FMI). Outro grave problema era a inflação. Em março de 1985,
trica, sem interromper o evento. quando Sarney tomou posse, ela era de 12,7% ao mês. Os traba-
A outra explodiu acidentalmente dentro de um carro, matando lhadores eram os mais prejudicados, pois o salário recebido perdia
o sargento Guilherme Pereira do Rosário (1946-1981) e ferindo gra- parte de seu poder aquisitivo já no dia seguinte.
vemente Wilson Dias Machado, um oficial do Exército. Para enfrentá-la, o governo recorreu a planos de estabilização,
O atentado do Riocentro marcou o fim dos embates dos mi- chamados de choques econômicos. O primeiro foi o Plano Cruzado.
litares da linha dura contra o processo de abertura em curso. No Adorado em 1986, ele “congelava” os preços de mercadorias, alu-
final de 1983, os partidos de oposição começaram uma campanha guéis, salários, tarifas públicas e passagens pelo prazo de um ano,
pela eleição direta para presidente da República. O movimento, co- além de substituir a moeda do país, que era então o cruzeiro, pelo
nhecido como Diretas Já, mobilizou o país em manifestações que cruzado.
chegaram a envolver centenas de milhares de pessoas. 32 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O efeito imediato foi o desejado: uma brusca queda da infla- A nova Constituição também garantiu os direitos sociais exis-
ção. Com isso os índices de popularidade de Sarney se elevaram. tentes até então e incluiu outros, como a licença-paternidade. Na
Aproveitando-se do enorme apoio social, o presidente chegou questão dos direitos civis, houve muitos avanços, como o direito
a convocar os brasileiros pela televisão para ajudar na fiscalização à liberdade de expressão, de reunião e de organização. A impren-
do congelamento dos preços. sa tornou-se livre de qualquer censura, e as liberdades individuais
Em poucos meses, contudo, o Plano Cruzado começou a des- também foram garantidas no texto constitucional.
moronar. Primeiro, houve o desabastecimento (ausência de ofer- O racismo e a tortura tornaram-se crimes inafiançáveis. A Lei
ta de mercadorias nas lojas), depois, o chamado ágio (a cobrança de Defesa do Consumidor, de 1990, transformou-se em importan-
de um preço maior do que o tabelado por mercadorias vendidas te instrumento de defesa dos cidadãos. Outra importante inovação
clandestinamente). No segundo semestre de 1986, o plano chegou foi a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, facilitando o
ao limite. Ainda assim, dada a proximidade das eleições legislativas acesso da população à justiça, também foram ampliados os poderes
e estaduais, marcadas para novembro, Sarney manteve o congela- de instituições, como a Defensoria Pública e o Ministério Público.
mento dos preços.
Apostando no sucesso do Plano Cruzado e apoiando Sarney, os — O Caçador de Marajás
brasileiros votaram em peso no PMDB, o partido do governo, que Para a consolidação da transição democrática, restava ainda
elegeu a maioria dos governadores, deputados e senadores. Passa- a tão aguardada eleição presidencial: os brasileiros não elegiam
dos apenas cinco dias das eleições, Sarney autorizou o reajuste dos presidente da República pelo voto direto havia quase 30 anos. As
preços e dos impostos. Temendo novos congelamentos, os empre- esquerdas apresentaram seus candidatos. O do Partido dos Traba-
sários aumentaram os preços das mercadorias. lhadores (PT), na época identificado com um projeto socialista, era
Os combustíveis, por exemplo, chegaram a ficar 60% mais ca- Luiz Inácio Lula da Silva.
ros. Os índices de popularidade do presidente despencaram. A in- O Partido Democrático Trabalhista (PDT) apresentou a candi-
flação voltou, e os salários novamente perderam parte de seu po- datura de Leonel Brizola, herdeiro do projeto trabalhista anterior
der aquisitivo. Greves e manifestações de protesto ocorreram em a 1964. Outros candidatos, mais ao centro, foram: Ulysses Guima-
várias cidades. Em uma delas, na Companhia Siderúrgica Nacional, rães, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e
o enfrentamento entre operários e soldados do Exército resultou na Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
morte de três grevistas. Em meio à crise económica, intensificavam- Partidos de direita e conservadores também concorreram nas
-se os conflitos sociais. eleições. Contudo, as pesquisas foram rapidamente lideradas por
No campo, os enfrentamentos entre proprietários rurais e tra- um candidato quase desconhecido: Fernando Collor de Mello, do
balhadores sem-terra aumentaram. Latifundiários se organizaram inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Collor havia
na União Democrática Ruralista (UDR), enquanto trabalhadores feito carreira política no partido da ditadura e ganhara visibilidade
rurais formaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no governo de Alagoas, especialmente após o corte de altos salários
(MST). Atentados - a mando ou não de latifundiários - contra líderes na máquina administrativa do estado, o que o fez ficar conhecido
camponeses, padres e sindicalistas tornaram-se comuns. como “caçador de marajás”.
No final da década de 1980, o problema da inflação tornou-se Collor recebeu o apoio de grupos económicos poderosos e
crônico. Em maio de 1987, ela atingiu 23,2%; no final do ano, al- também da mídia quando subiu nas pesquisas e se mostrou capaz
cançou o índice acumulado de 366%. No ano seguinte, a inflação de derrotar Lula e Brizola nas eleições. Em suas campanhas, Lula de-
chegou ao nível estratosférico de 933%. O país vivia a hiperinflação. fendia a anulação da dívida externa e a reforma agrária; Brizola, por
Os preços eram reajustados diariamente. De fevereiro de 1989 a sua vez, ressaltava a necessidade de preservar as empresas estatais
fevereiro de 1990, a inflação atingiu 2751%. Sem ter como controlar e realizar amplos investimentos em educação; já Collor pregava a
a disparada dos preços, o governo Sarney se limitou a cumprir a modernização do país e a sua entrada no Primeiro Mundo.
tarefa da transição democrática. Collor soube aproveitar o desejo de mudança que tomara a
sociedade brasileira logo após o fim da ditadura. Como resultado,
— A Constituição de 1988 ele obteve 28,52% dos votos, contra 16,08% alcançados por Lula no
Apesar do descontrole da economia. a sociedade brasileira primeiro turno das eleições - o que os levou para o segundo turno,
continuava no caminho da democracia. Em 1988, o então deputado como determinava a nova Constituição.
Ulysses Guimarães. do PMDB. presidiu a sessão em que o Congres- Contando com o apoio de amplos setores da sociedade, sobre-
so Nacional promulgou a nova Constituição, que garantia amplos tudo dos conservadores, Collor venceu as eleições com dos votos.
direitos civis, políticos e sociais a todos os brasileiros. Com o fim da Lula, em torno do qual se uniram as esquerdas e as forças conside-
ditadura militar, cidadania havia se tornado uma palavra recorrente radas progressistas, recebeu 37,86% dos votos.
no vocabulário brasileiro.
Não por acaso, ao promulgar a nova Constituição, Ulysses Gui- — A Democracia Resistiu
marães a chamou de “Constituicão Cidadã”. De todas as Consti- Na América Latina, o Brasil não era o único país com dificulda-
tuições da história do país, ela é a mais avançada no tocante aos des de pagar sua dívida externa. Em decorrência dessa situação, em
direitos de cidadania. No âmbito dos direitos políticos, ela garantiu fins de 1989, técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
eleições diretas em todos os níveis, estendendo o direito ao voto a Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mun-
analfabetos e a maiores de 16 anos, e ampla liberdade de organi- dial (Bird) reuniram-se em um seminário com economistas latino-a-
zação partidária. mericanos com o objetivo de reorganizar a economia desses países.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As medidas sugeridas ao final do encontro, que aconteceu mia do país. Seguindo as indicações do Consenso de Washington,
em Washington, foram: não interferência do Estado na economia; FHC e sua equipe concluíram que, para alcançar a estabilidade da
abertura dos mercados nacionais para importações e entrada de moeda, era preciso reformar o Estado, reduzir os gastos do governo
capital estrangeiro; privatização de empresas estatais; equilíbrio do e privatizar as empresas estatais.
orçamento do Estado, com a diminuição de investimentos na área Em fevereiro do ano seguinte, o governo criou a Unidade Real
social, como saúde e educação; e combate à inflação. Esse conjunto de Valor (URV), atrelando-a ao dólar. Se a arrecadação de impostos
de diretrizes ficou conhecido como Consenso de Washington. se mantivesse alta, os gastos na área social fossem reduzidos e as
Fernando Collor assumiu a presidência em 15 de março de grandes reservas em dólar, preservadas, a URV se manteria estável.
1990, mostrando-se de pleno acordo com o Consenso de Washin- Em julho de 1994, o governo transformou a URV em uma nova mo-
gton e determinado a aplicar o conjunto de diretrizes. Já no dia se- eda, o real. Em apenas 15 dias, a inflação caiu drasticamente.
guinte, anunciou um novo plano de estabilização económica para O real equiparou-se ao dólar, obtendo estabilidade. Era o fim
o país, cuja inflação atingia então 80% ao mês. O Plano Collor, ou da alta constante e acelerada dos preços, beneficiando os assala-
Plano Brasil Novo, abrangia uma série de medidas para controlar a riados. Com o sucesso do Plano Real, que conseguiu derrubar a
inflação e reestruturar o Estado: reforma administrativa com demis- inflação, Fernando Henrique Cardoso foi lançado candidato à presi-
são de funcionários públicos; abertura comercial ao exterior e ao dência pela coligação PSDB/PFL. Seu principal adversário era Lula,
capital estrangeiro; eliminação dos incentivos fiscais às indústrias; novamente candidato pelo PT.
liberalização da taxa do dólar; e um programa de privatização das Exausta da inflação, a sociedade brasileira apoiou a estabiliza-
empresas estatais. ção monetária e o Plano Real, elegendo FHC já no primeiro turno
O plano também recorria a métodos já conhecidos dos brasi- com 54,27% dos votos.
leiros, como o congelamento de preços e salários e a adoção de
uma nova moeda. Saía o cruzado novo, voltava o cruzeiro. Havia — Governo FHC
um item no plano, contudo, que ninguém esperava: o confisco dos Fernando Henrique Cardoso foi eleito e assumiu a presidên-
depósitos bancários em contas-correntes, aplicações financeiras e cia com o projeto de reduzir o tamanho do Estado e seu papel na
cadernetas de poupança por 18 meses. economia. Adorando políticas neoliberais, o presidente extinguiu o
O objetivo era estabilizar a economia por meio da retirada de monopólio estatal da exploração e do refino do petróleo pela Petro-
dinheiro do mercado. A medida causou tremendo impacto. Sem di- bras, eliminou as restrições à entrada de capital estrangeiro no país
nheiro no mercado, os preços desabaram. E a recessão foi quase e implementou reformas administrativas. Era o fim da Era Vargas,
imediata: falências, brusca queda no consumo e nas vendas, perda segundo o próprio FHC.
do poder aquisitivo dos salários, demissões, desemprego. Além disso, o governo estabeleceu acordos com o FMI e deu
Apesar do elevado custo social e econômico que impôs ao país, início a um programa de privatização das estatais. Foram leiloadas
o plano não extinguiu a inflação. Ao contrário do que se previa, a empresas dos setores siderúrgico, elétrico, químico, petroquímico e
inflação retornou - e com ferocidade. O Plano Collor foi um total de fertilizantes. O mesmo ocorreu com portos, rodovias e ferrovias.
fracasso. Um ano depois, o governo Collor estava mergulhado na Bancos estaduais e empresas como a Embraer e a Companhia Vale
crise. Ao fracasso do Plano Collor somavam-se denúncias de corrup- do Rio Doce também foram privatizados.
ção, abalando ainda mais o governo. O ex-tesoureiro da campanha Segundo dados do BNDES, entre 1991 e 2002, o governo fe-
presidencial de Collor, Paulo César Farias, mais conhecido como PC deral arrecadou cerca de 30 bilhões de dólares com todas essas
Farias, foi acusado de chefiar um esquema de corrupção. vendas - 22 bilhões de dólares somente com a do Sistema Telebras
PC Farias arrecadava dinheiro de empresas, facilitava contratos de Telecomunicações. Com o Plano Real, a inflação estava sob con-
mediante elevadas comissões e, com elas, financiava as despesas trole. Mas havia um problema: manter o real equivalente ao dólar.
pessoais do presidente. As denúncias eram muito graves. Tanto que A alternativa foi aumentar as taxas de juros e atrair investimen-
foi instituída no Congresso Nacional uma Comissão Parlamentar de tos especulativos em dólares. Os juros altos, no entanto, resultaram
Inquérito (CPI) para investigar as acusações. Nas ruas setores orga- em recessão econômica e desemprego. E os recursos arrecadados
nizados da sociedade exigiam o impeachment do presidente. com a venda das empresas estatais acabaram sendo utilizados para
Milhares de jovens estudantes com o rosto pintado de verde e pagar as altas taxas de juros. Foi também no governo FHC que a
amarelo, que ficaram conhecidos como caras-pintadas, foram para emenda à Constituição que dispunha sobre a reeleição para cargos
as ruas protestar. Além do impeachment do presidente, exigiam o do Poder Executivo foi aprovada.
fim da corrupção e a ética na política. Em 29 de setembro de 1992, Isso permitiu que o presidente concorresse a um novo manda-
a Câmara dos Deputados aprovou o afastamento de Collor da pre- to nas eleições presidenciais de 1998.
sidência: foram 441 votos a favor e 38 contra. Três meses depois, Nas eleições de 1998, Lula foi novamente o maior adversário
julgado pelo Senado, Collor teve seu mandato e seus direitos po- de Fernando Henrique. Mesmo com a aliança de duas lideranças de
líticos cassados por oito anos. Vaga, a presidência da República foi esquerda - o vice de Lula era Leonel Brizola -, FHC foi reeleito com
assumida pelo vice, Itamar Franco. 53% dos votos. Em seu segundo mandato, Fernando Henrique deu
continuidade ao Plano Real, preservando a estabilidade da econo-
— O Plano Real mia.
Itamar Franco assumiu a presidência com amplo apoio político A manutenção das taxas de juros altas e a sobrevalorização do
no Congresso Nacional. Fernando Henrique Cardoso foi nomeado real aumentaram ainda mais a dívida pública nesses quatro anos.
ministro da Fazenda em março de 1993. Com um grupo de econo- Em 2001, o presidente, que gozava de boa popularidade, teve sua
mistas, ele começou a elaborar um plano para estabilizar a econo- imagem afetada pelo chamado “apagão”.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma seca inesperada esvaziou os reservatórios das hidrelétri- dias. Ao ser novamente empossado presidente, em 2007, Lula tam-
cas, resultando em falta de energia elétrica no país. Sem planeja- bém contava com uma ampla coalização de partidos políticos no
mento e sem investimentos no setor, foi necessário impor racio- Congresso Nacional.
namento de energia à população. Nos oito anos de governo FHC, Apesar dos juros altos praticados pelo Banco Central e do con-
medidas importantes foram tomadas, como o Código de Trânsito trole das contas públicas pelo governo, necessários para garantir a
Brasileiro ( 1997), a venda de medicamentos genéricos ( 1999), a Lei estabilidade econômica do país, os investimentos na área de educa-
de Responsabilidade Fiscal (2000), a quebra de patentes de remé- ção triplicaram. O governo também investiu em energia e transpor-
dios contra a Aids (2001), o Bolsa-escola (2001), o Vale-Gás (2001), te; apoiou as indústrias de exportação, obtendo saldos comerciais
entre outras. positivos; e incentivou a internacionalização de muitas empresas.
O bom desempenho da agricultura e o aumento do preço de pro-
— Mudança de Rumos dutos primários no mercado internacional beneficiaram o conjunto
Com o Plano Real, a sociedade brasileira conheceu a importân- da economia.
cia da estabilidade da moeda. As políticas neoliberais adoradas por No plano social, o governo deu continuidade ao combate à po-
Fernando Henrique resultaram no controle da inflação, mas tam- breza. Além disso, propiciou um aumento real do poder de compra
bém na alta do desemprego e na perda de diversos direitos sociais. dos trabalhadores, com a oferta de crédito à população e outras
Ao final de seu segundo mandato havia um novo desejo de mudan- medidas. O resultado foi a criação de 15 milhões de novos empre-
ça entre os brasileiros. gos, a ascensão social de milhões de pessoas, o crescimento acen-
Nas eleições presidenciais de 2002, Lula foi novamente candi- tuado da chamada classe C e o fortalecimento do mercado interno
dato pelo PT. Em sua quarta disputa pela presidência, ele deixava brasileiro.
de lado o discurso socialista dos anos anteriores e apresentava um Foi devido ao fortalecimento de seu mercado interno que o
programa moderado, buscando o apoio das classes médias e dos Brasil demonstrou capacidade de resistir à crise mundial que teve
empresários. Contando com amplo apoio político, Lula recebeu origem nos Estados Unidos em fins de 2007. Em meados de 2009,
46,4% dos votos no primeiro turno das eleições de 2002, e 61,2% o país voltou a crescer. Em 2010, o crescimento econômico foi de
no segundo turno. 7%. Ao deixar o governo, em 1º de janeiro de 2011, Lula contava
O governo Lula optou por dar continuidade à política econômi- com 87% de aprovação entre os brasileiros, segundo pesquisa de
ca de FHC, mantendo a estabilidade da moeda por meio do equilí- opinião encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes
brio fiscal e do controle dos gastos públicos. Como os números mos- (CNT).
travam-se bastante favoráveis, a credibilidade do país no mercado
financeiro internacional cresceu. Apesar dessas semelhanças, ao re- — Governo Dilma Rousseff
tomar o nacional-desenvolvimentismo característico da Era Vargas, Para concorrer à presidência da República nas eleições de 2010,
o novo governo mostrou que tinha um projeto político diferente do
o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou o nome de Dilma Rousseff,
de seu antecessor.
então ministra da Casa Civil do governo Lula. A eleição foi decidida
Nesse sentido, as privatizações foram suspensas e o papel
no segundo turno, com a vitória de Dilma com 56,05% dos votos.
do Estado, reforçado. A pesquisa científica, por exemplo, recebeu
Dilma, quando jovem, fora presa e torturada pela ditadura
apoio e incentivos financeiros. Na política externa, o governo Lula
militar. Sua vitória representou um grande avanço para a demo-
ampliou as relações comerciais e diplomáticas do Brasil com os pa-
cracia brasileira. Pela primeira vez, uma mulher e ex-integrante da
íses da União Europeia, da África, da Ásia e da América Latina. O
luta armada contra a ditadura assumia o cargo de presidente da
reforço do Mercosul também foi uma iniciativa nesse sentido.
República. O governo Dilma deu continuidade às políticas sociais
No plano social, o governo dedicou-se ao combate da pobreza,
retirando milhões de pessoas da miséria. Além da criação do Pro- e desenvolvimentistas do governo Lula, como o programa Minha
grama Bolsa Família, em que há transferência direta de renda às Casa, Minha Vida, e promoveu outros, como o Programa Nacional
famílias em situação de pobreza, o governo diminuiu os impostos de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
sobre produtos da cesta básica e materiais de construção e reajus- No final de 2011, os jornais noticiaram que o Brasil havia se
tou o salário mínimo acima dos índices de inflação, beneficiando os tornado a 6ª maior economia do mundo, ultrapassando a Grã-Bre-
trabalhadores e as camadas mais pobres da população. tanha, então na 7ª posição.
No governo Dilma foi aprovado o Marco Civil da Internet
Crise e Reeleição (2014), foram leiloados campos de petróleo do pré-sal (2013) e foi
Em 2005, no terceiro ano do mandato de Lula, vieram a públi- instituída a Comissão Nacional da Verdade (2012). Sua popularida-
co denúncias de que o governo pagava regularmente a deputados de manteve-se em alta, mas foi abalada pelos pro- testos que toma-
e senadores para que matérias de interesse do Executivo fossem ram o país em junho de 2013. Ela sofreu críticas pelo baixo cresci
aprovadas pelo Congresso. O “mensalão”, como o esquema de ar- mento do Produto Interno Bruto do país, pela alta da inflação e pe-
recadação de dinheiro ficou conhecido, envolvia empresários, mi- los gastos com a Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em
nistros de Estado e parlamentares. Em fins de 2012, muitos foram 2014. Ao final de seu primeiro mandato, Dilma Rousseff concorreu
condenados em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo à reeleição. Com dos votos, sua vitória sobre o candidato do PSDB
com a queda dos índices de popularidade do governo durante a cri- foi apertada no segundo turno.
se política, o presidente continuou a contar com o apoio de amplos Como no seu primeiro mandato, os gastos públicos aumenta-
setores da população. ram demasiadamente, e a ameaça da inflação voltou. O governo,
Em 2006, Lula lançou-se à reeleição e foi eleito para um novo então, adorou política recessiva, cortando drasticamente os gastos
mandato, com a maioria dos votos dos trabalhadores, dos setores públicos, o que gerou recessão econômica e perda do poder aqui-
mais pobres da população e de parte significativa das classes mé- sitivo da população.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A popularidade do PT e do governo Dilma diminuiu e as oposi- A vitória foi confirmada às 19h18, quando, com 94,44% das se-
ções aumentaram. Inicialmente, grupos radicais de direita pediam ções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% dos
a volta da ditadura militar. Depois, passeatas tomaram as grandes válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que naque-
cidades, criticando o governo e exigindo a saída de Dilma da presi- le momento somava 44.193.523 (44,46%). Com 100% das seções
dência da República. As investigações da Operação Lava Jato pre- apuradas, Bolsonaro recebeu 57.797.847 votos (55,13%) e Haddad,
judicaram a imagem do PT e de Dilma. As denúncias de corrupção 47.040.906 (44,87%).
na Petrobras serviram de combustível para aumentar ainda mais os No discurso da vitória, Bolsonaro afirmou que o novo governo
protestos contra a presidente. será um “defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”.
No início de 2016, a sociedade brasileira se encontrava muito Aos 63 anos, capitão reformado do Exército, deputado federal
dividida. No Congresso Nacional, a oposição entrou com pedido de desde 1991 e dono de uma extensa lista de declarações polêmicas,
impeachment, cuja instauração foi aprovada pelo Senado no dia Jair Bolsonaro materializou em votos o apoio que cultivou e am-
12 de maio. Com a decisão, Dilma foi afastada da presidência para pliou a partir das redes sociais e em viagens pelo Brasil para obter o
aguardar o julgamento final pelo Senado. O vice Michel Temer, do mandato de presidente de 2019 a 2022.
PMDB, assumiu como presidente em exercício. Na campanha, por meio das redes sociais e do aplicativo de
Muitos, porém, interpretaram o movimento oposicionista a mensagens WhatsApp, apostou em um discurso conservador nos
Dilma como um golpe contra a democracia e também foram para costumes, de aceno liberal na economia, de linha dura no combate
as ruas protestar. O clima se radicalizou, inviabilizando o diálogo e à corrupção e à violência urbana e opositor do PT e da esquerda.
colocando em risco a capacidade da sociedade de resolver suas di-
ferenças por meio de acordos e negociações políticas.

— Governo Temer QUESTÕES


A crise no governo Dilma e o impeachment
Devido à crise política e econômica que se instalou no país,
com a corrução generalizada denunciada pela “Operação Lava-Ja- 1. No final do Século XIV, o único Estado centralizado e livre de
to”, em agosto de 2015, Temer comunicou o seu afastamento da guerras, o que lhe permitiu ser o pioneiro na expansão ultramarina,
articulação política33. era o
No dia 2 de dezembro, o presidente da Câmara aceitou a aber- (A) espanhol.
tura do processo de impeachment da presidente Dilma. (B) inglês.
Em março de 2016, o PMDB deixou a base do governo para (C) francês.
apoiar o processo de impeachment que tramitava na Câmara dos (D) holandês.
Deputados. (E) português
No dia 17 de abril de 2016, com 367 votos favoráveis e 137 con-
trários, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório do impeach- 2. A expansão marítima e comercial empreendida pelos portu-
ment e autorizou o Senado Federal a julgar a presidente por crime gueses nos séculos XV e XVI está ligada:
de responsabilidade. (A) aos interesses mercantis voltados para as “especiarias” do
O Senado determinou, em sessão iniciada no dia 11 de maio de Oriente, responsáveis inclusive, pela não exploração do ouro e
2016 e concluída na madrugada do dia 12 de maio, o afastamento do marfim africanos encontrados ainda no século XV;
de Dilma. Na sessão que durou 22 horas, o resultado foi de 55 votos (B) à tradição marítima lusitana, direcionada para o “mar Ocea-
a favor do afastamento e 22 contra. no” (Atlântico) em busca de ilhas fabulosas e grandes tesouros;
(C) à existência de planos meticulosos traçados pelos sábios da
A tomada de posse Escola de Sagres, que previam poder alcançar o Oriente nave-
No dia 12 de maio de 2016, Michel Temer assumiu interina- gando para o Ocidente;
mente a Presidência do Brasil, se tornando o 37º mandatário da (D) a diversas casualidades que, aliadas aos conhecimentos ge-
República. Ainda sem receber a faixa presidencial, Temer aguardou ográficos muçulmanos, permitiram avançar sempre para o Sul
até que o Congresso realizasse o julgamento que afastaria definiti- e assim, atingir as Índias;
vamente a presidente. (E) ao caráter sistemático que assumiu a empresa mercantil,
No dia 31 de agosto de 2016, após a aprovação do impeach- explorando o litoral africano, mas sempre em busca da “passa-
ment da presidente Dilma, Michel Temer tomou posse como Pre- gem” que levaria às Índias
sidente da República, se tornando o 14º a assumir o cargo sem ter
sido eleito diretamente pelo povo. 3. A partir dos estudos realizados pelo governo português, o
Michel Temer foi Presidente do Brasil de 31 de agosto de 2016 pioneirismo na expansão ultramarina estava em suas mãos, como
a 31 de dezembro de 2018. grande marco do início da dominação portuguesa, responda qual
foi o marco que dá início a sua dominação.
— Governo Bolsonaro (A) Colonização da Guiné
Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o 38º presidente da (B) Chegada dos portugueses ao Brasil
República ao derrotar em segundo turno o petista Fernando Ha- (C) Dominação de Ceuta
ddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha desde (D) Chegada as Índias
200234. (E) Realização do chamado “périplo africano”
33 Dilva Frazão. E-Biografias. https://www.ebiografia.com/michel_temer/. noticia/2018/10/28/jair-bolsonaro-e-eleito-presidente-e-interrompe-serie-de-
34 Guilherme Mazui. G1 Política. https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/ -vitorias-do-pt.ghtml.
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4. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no 7. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no
chamado período “pré-colonial” (1500-1530), foi marcado pelo(a): chamado período “pré-colonial” (1500-1530), foi marcado pelo(a):
(A) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo (A) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo
do pau-brasil; do pau-brasil;
(B) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico afri- (B) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico afri-
cano. cano.
(C) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa (C) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa
e militar já experimentada no Oriente; e militar já experimentada no Oriente;
(D) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas (D) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas
para catequizar os indígenas; para catequizar os indígenas;
(E) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais ho- (E) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais ho-
landeses. landeses.

5. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período 8. “Apesar dos exageros e incorreções, a Lettera de Américo
pré-colonial brasileiro: Vespúcio para Piero Soderini com certeza continha várias passagens
(A) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto verídicas. Uma delas é o trecho no qual, referindo-se à sua primeira
que chegaram a se estabelecer no Rio de Janeiro e no Mara- viagem ao Brasil, realizada entre maio de 1501 e julho de 1502, Ves-
nhão. púcio afirma: ‘Nessa costa não vimos coisa de proveito, exceto uma
(B) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos infinidade de árvores de pau-brasil (...) e já tendo estado na viagem
índios tinha o objetivo de impedir a escravização do gentio. bem dez meses, e visto que nessa terra não encontrávamos coisa de
(C) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, de- metal algum, acordamos despedirmo-nos dela.’ Deve ter sido exata-
veu-se à inexistência de organização social produtora de exce- mente esse o teor do relatório que Vespúcio entregou para o rei D.
dentes negociáveis. Manoel, em julho de 1502, logo após desembarcar em Lisboa, ao fi-
(D) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilida- nal de sua primeira viagem sob bandeira portuguesa. O diagnóstico
de europeia dos portugueses, cujo objetivo metalista conduzia de Vespúcio selou o destino do Brasil pelas duas décadas seguintes.
sempre à prática da violência. Afinal, no mesmo instante em que era informado pelo florentino
(E) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao da inexistência de metais e de especiarias no território descoberto
fato de que o objetivo catequético superava os fins materiais por Cabral, D. Manoel concentrava todos os seus esforços na busca
da expansão marítima. pelas extraordinárias riquezas do Oriente.

6. (Fuvest) A colonização, apesar de toda violência e disrupção, (BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as
não excluiu processos de reconstrução e recriação cultural conduzi- primeiras expedições ao Brasil.
dos pelos povos indígenas. É um erro comum crer que a história da Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998, p. 65.)
conquista representa, para os índios, uma sucessão linear de perdas
em vidas, terras e distintividade cultural. A cultura xinguana – que A descoberta do Brasil não alterou os rumos da expansão por-
aparecerá para a nação brasileira nos anos 1940 como símbolo de tuguesa voltada prioritariamente para o Oriente, o que explica as
uma tradição estática, original e intocada – é, ao inverso, o resul- características dos primeiros anos da colonização brasileira, entre
tado de uma história de contatos e mudanças, que tem início no as quais se inclui o (a):
século X d.C. e continua até hoje. (A) caráter militar da ocupação, visando à defesa das rotas
atlânticas;
Carlos Fausto. Os índios antes do Brasil. (B) escambo com os indígenas, garantindo o baixo custo da ex-
Rio de Janeiro: Zahar, 2005. ploração;
(C) abertura das atividades extrativas da colônia a comercian-
Com base no trecho acima, é correto afirmar que tes das outras potências europeias;
(A) o processo colonizador europeu não foi violento como se (D) migração imediata de expressivos contingentes de euro-
costuma afirmar, já que ele preservou e até mesmo valorizou peus e africanos para a ocupação do território;
várias culturas indígenas. (E) exploração sistemática do interior do continente em busca
(B) várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mes- de metais preciosos
mo com alterações, ao processo colonizador europeu, como a
xinguana.
(C) a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador
europeu, foi recriada de modo mitológico no Brasil dos anos
1940.
(D) a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indíge-
nas, não foi afetada pelo processo colonizador europeu.
(E) não há relação direta entre, de um lado, o processo coloni-
zador europeu e, de outro, a mortalidade indígena e a perda de
sua identidade cultural.

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9. (Espcex - Aman) “Os primeiros trinta anos da História do 11. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período Colonial bra-
Brasil são conhecidos como período Pré-Colonial. Nesse período, sileiro, assinale a única alternativa que está INCORRETA:
a coroa portuguesa iniciou a dominação das terras brasileiras, sem, (A) Portugal só deu início à colonização das terras conquista-
no entanto, traçar um plano de ocupação efetiva. […] A atenção da das, que passaram a chamar-se Brasil, devido à pressão que
burguesia metropolitana e do governo português estavam voltados sofria com o declínio de seu comércio com o oriente e com a
para o comércio com o Oriente, que desde a viagem de Vasco da sistemática ameaça estrangeira no território brasileiro.
Gama, no final do século XV, havia sido monopolizado pelo Estado (B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado por D.
português. […] O desinteresse português em relação ao Brasil es- João III mas não teve o sucesso esperado. Entre os fatores que
tava em conformidade com os interesses mercantilistas da época, contribuíram para o fracasso das capitanias podemos citar: fal-
como observou o navegante Américo Vespúcio, após a exploração ta de terras férteis em algumas regiões, falta de interesse dos
do litoral brasileiro, pode-se dizer que não encontramos nada de donatários, conflitos com os indígenas, falta de recursos finan-
proveito”. ceiros para o empreendimento por parte de quem recebia a
Berutti, 2004. capitania.
(C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do Brasil e
Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que o(a) a sede do governo geral foi estabelecida na Bahia.
(A) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros anos de (D) A estrutura econômica brasileira do período colonial tinha
colonização, deu-se em decorrência dos tratados comerciais como principais características a monocultura, o latifúndio, o
assinados com a Espanha, que tinha prioridade pela exploração trabalho escravo e a produção para o mercado externo.
de terras situadas a oeste de Greenwich. (E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de San-
(B) maior distância marítima era a maior desvantagem brasilei- tos, fundada em 1532.
ra em relação ao comércio com as Índias.
(C) desinteresse português pode ser melhor explicado pela re- 12. (PC/SC - Investigador de Polícia - ACAFE) Sobre a economia
sistência oferecida pelos indígenas que dificultavam o desem- do período colonial do Brasil, todas as alternativas estão corretas,
barque e o reconhecimento das novas terras. exceto a:
(D) abertura de um novo mercado na América do Sul, ampliava (A) O ciclo do ouro contribuiu para a formação de núcleos ur-
as possibilidades de lucro da burguesia metropolitana portu- banos no interior do Brasil e para a transferência da capital da
guesa. colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.
(E) relativo descaso português pelo Brasil, nos primeiros trinta (B) A propriedade agrícola no qual se baseava o sistema colo-
anos de História, explica-se pela aparente inexistência de arti- nial tinha duas características básicas: a monocultura e o tra-
gos (ou produtos) que atendiam aos interesses daqueles que balho escravo.
patrocinavam as expedições. (C) O pau-brasil foi um dos primeiros produtos explorados no
Brasil, sendo obtido pelos europeus numa relação de escambo
10. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o Período Colo- com os nativos.
nial Brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA: (D) O ciclo da cana-de-açúcar foi fundamental para a criação de
(A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em torno do um mercado econômico interno, realizando a ligação comercial
pau-brasil. Após 1530, declinando o comércio com as Índias, a entre o litoral e o interior da colônia.
coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do Brasil.
(B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja, 13. (Prefeitura de Padre Bernardo/GO - Contador) Entre 1708
passou a ser um monopólio real, cabendo ao rei conceder a e 1709 o estado de Minas Gerais foi palco de um conflito marcado
permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira. pela disputa pelo Ouro. Tal guerra se baseou no conflito entre ban-
O primeiro arrendatário a ser beneficiado com o estanco foi deirantes paulistas e forasteiros que buscavam a riqueza oriunda
Fernando de Noronha, em 1502. dos metais preciosos. Tal conflito ficou conhecido como:
(C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por meio (A) Guerra das Emboabas.
do sistema de Capitanias Hereditárias. Com seu fracasso foram (B) Inconfidência Mineira.
instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as capita- (C) Levante de Vila Rica.
nias, mas para centralizar sua administração. (D) Guerra Mata Maroto.
(D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das terras
era assegurada pela Carta de Doação e pelo Foral. A carta de 14. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no
doação determinava os direitos e deveres dos donatários e o Brasil colonial resume tão bem as características básicas da grande
Foral cedia aos donatários as terras, bem como o poder admi- lavoura como o engenho de açúcar.”
nistrativo e jurídico das mesmas. Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda (org.) História
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de São geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1963, tomo I,
Vicente, fundada no litoral paulista em 1532. vol. 2..

A frase pode ser considerada correta, entre outros motivos,


porque na produção açucareira:
(A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande proprie-
dade monocultora.
(B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a agri-
cultura de subsistência.
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(C) prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e à (C) A Lei das Terras tinha o objetivo de restringir terras para os
distribuição das mercadorias nas grandes cidades. novos libertos e facilitar para os imigrantes.
(D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo e (D) Pensando em proteger os negros libertos, a Lei das Terras
prevalecia a mão de obra assalariada. seria um arcabouço jurídico que protegeria todos os brasileiros.
(E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a diversificação (E) Visando a aumentar os valores das terras, a lei foi criada di-
de culturas ficultando, assim, a compra por parte dos libertos, favorecendo
a permanência dos libertos como trabalhadores nas fazendas
15. (VUNESP) Leia o texto para responder à questão. já existentes.
O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial
resultante de uma aliança entre a burguesia mercantil, a Coroa e a 18. (SEDUC/AM – Professor-História – FGV) A Constituição do
nobreza. Essa aliança refletiu-se numa política de terras que incor- Império do Brasil, outorgada por D. Pedro I em 1824, inaugurou for-
porou concepções rurais tanto feudais como mercantis. malmente um sistema político-eleitoral que sofreu algumas altera-
(Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República, 1987.) ções ao longo do período monárquico (1822-1889).

A afirmação de que “O Brasil colonial foi organizado como uma Assinale a opção que caracteriza corretamente uma dessas al-
empresa comercial resultante de uma aliança entre a burguesia terações.
mercantil, a Coroa e a nobreza” indica que a colonização portugue- (A) 1834 – modificação da Constituição extinguiu o Poder Mo-
sa do Brasil derador, assegurando a independência dos três poderes.
(A) desenvolveu-se de forma semelhante às colonizações es- (B) 1840 – interpretação parcial da Reforma Constitucional de
panhola e britânica nas Américas, ao evitar a exploração siste- 1834, ampliando a autonomia dos legislativos provinciais.
mática das novas terras e privilegiar os esforços de ocupação e (C) 1847 – criação do cargo de Presidente do Conselho de Mi-
povoamento. nistros, inaugurando o “parlamentarismo às avessas”.
(B) implicou um conjunto de articulações políticas e sociais, (D) 1855 – reforma eleitoral denominada “Lei dos Círculos”, ex-
que derivavam, entre outros fatores, do exercício do domínio tinguindo o voto distrital da Constituição do Império.
político pela metrópole e de uma política de concessões de pri- (E) 1881 – nova reforma eleitoral conhecida como “Lei Saraiva”,
vilégios e vantagens comerciais. estendendo o direito de voto aos analfabetos.
(C) alijou, do processo colonizador, os setores populares, que
19. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido em
foram impedidos de se transferir para a colônia e não puderam,
três momentos distintos: Primeiro Reinado (1822-1831); Regências
por isso, aproveitar as novas oportunidades de emprego que
(1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). Sobre as principais
se abriam.
questões que marcaram esses momentos, assinale a alternativa in-
(D) incorporou as diversas classes sociais existentes em Portu-
correta.
gal, que mantiveram, nas terras coloniais, os mesmos direitos
(A) A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi a
políticos e trabalhistas de que desfrutavam na metrópole.
grande responsável pelo enfraquecimento do poder de D. Pe-
(E) alterou as relações políticas dentro de Portugal, pois pro-
dro I, resultando na Independência do Brasil.
vocou o aumento da participação dos burgueses nos assuntos
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve dificuldades
nacionais e eliminou a influência da aristocracia palaciana so- para se consolidar, o Primeiro Reinado foi curto e marcado por
bre o rei. tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era português com
os brasileiros.
16. (Prefeitura de Monte Mor/SP – Agente de Transito – CON- (C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em 1824,
SESP) Historicamente, o primeiro passo para o advento do Parla- por D. Pedro I.
mentarismo no Brasil, ocorreu na época do Império com: (D) A segunda etapa da história do Brasil monárquico inicia-se
(A) A Constituição outorgada em 1824 em 1831, com a renúncia de D. Pedro I em favor do filho Pedro
(B) A criação da presidência do Conselho de Ministros por D. de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.
Pedro II (E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se com o
(C) A abdicação de D, Pedro I reinado de Dom Pedro II, período marcado pela centralização
(D) A declaração da maioridade do poder de um lado e pelas disputas político-partidárias entre
liberais e conservadores, de outro.
17. (IF/AL – Professor-História – CEFET/AL) No processo cres-
cente que levou à abolição dos escravos (1888), o Brasil passou a 20. (UEL/PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o movi-
instituir uma legislação que iria culminar com a abolição. Em 1850 mento armado mais popular do Brasil [...]. Foi uma das rebeliões
foi sancionada a Lei Euzébio de Queiróz (proibição do tráfico de es- brasileiras em que as camadas inferiores ocuparam o poder.”
cravos). Em contrapartida o império instituiu a Lei das Terras, que
significou: Ao texto podem-se associar:
(A) Objetivando regularizar os quilombos que existiam no Bra- (A) a Regência e a Cabanagem.
sil, foi criada a Lei das Terras, dessa forma, os quilombolas po- (B) o Primeiro Reinado e a Praieira.
deriam permanecer nas terras ocupadas. (C) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
(B) O império objetivava com a criação da LEI DAS TERRAS faci- (D) o Período Joanino e a Sabinada.
litar a aquisição de terras pelos negros libertos e dificultar para (E) a abdicação e a Noite das Garrafadas.
os imigrantes.
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21. (FATEC) Em 4 de setembro de 1850, foi sancionada no Brasil O principal mecanismo para a consolidação da república a que
a Lei Eusébio de Queirós (ministro da Justiça), que abolia o tráfico o texto se refere foi a
negreiro em nosso país. Em decorrência dessa lei, o governo impe- (A) política de “salvação nacional”, desencadeada pelos milita-
rial brasileiro aprovou outra, “a Lei de Terras”. res ligados aos grandes fazendeiros mineiros e paulistas com a
finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do
Dentre as alternativas a seguir, assinale a correta. sudeste.
(A) A Lei de Terras facilitava a ocupação de propriedades pelos (B) “campanha civilista” que defendia a regulamentação dos
imigrantes que passaram a chegar ao Brasil. preços dos produtos de exportação e garantia os empréstimos
(B) A Lei de Terras dificultou a posse das terras pelos imigran- contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes proprieda-
tes, mas facilitou aos negros libertos o acesso a elas. des.
(C) O governo imperial, temendo o controle das terras pelo co- (C) “política dos governadores”, que consistia na troca de apoio
ronéis, inspirou-se no “Act Homesteade” americano, para rea- entre governo federal e governos locais, com a finalidade de
lizar uma distribuição de terras aos camponeses mais pobres. manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros.
(D) A Lei de Terras visava a aumentar o valor das terras e obri- (D) política do “café-com-leite”, que incentivava uma disputa
gar os imigrantes a vender sua força de trabalho para os cafei- acirrada entre os representantes dos pequenos Estados e en-
cultores. fraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros.
(E) O objetivo do governo imperial, com esta lei, era proteger e (E) política de “valorização do café” realizada pelos Estados
regularizar a situação das dezenas de quilombos que existiam contribuía para o enfraquecimento do poder local e garantia a
no Brasil. troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal.

22. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) 24. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC)
Seu Mundinho, todo esse tempo combati o senhor. Fui eu quem Ao contrário do que sucedeu na Capital da República, as primei-
mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus ras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram
do avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. já sob a inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o
Os meus e os outros amigos, para acabar com a eleição. Agora tudo anarquismo e, em muito menor grau, o socialismo reformista. As
acabou. condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias nega-
(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela) doras da organização vigente na sociedade aos olhos da marginali-
zada classe operária nascente, estrangeira em sua grande maioria.
O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, iden- (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente
tifica o organizatória do movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como
(A) tenentismo, que considerava o exército como a única força em São Paulo.
capaz de conduzir os destinos do povo. (FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/
(B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder data, p.60-62)
privado se manifestar por meio da política. A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a
(C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os con- cena do movimento operário brasileiro durante a segunda década
flitos no interior das elites agrárias do país. do século XX,
(D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de sub- (A) pode ser tratada como um sistema de pensamento social vi-
jugar a população por meio da força. sando a modificações fundamentais na estrutura da sociedade
(E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por algu-
cafeeira demonstrar sua influência e poder político. ma forma de cooperação não governamental entre indivíduos
livres.
23. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) (B) investe contra o capital e o Estado capitalista, pretenden-
Para responder à questão, considere o texto abaixo. do substitui-lo por uma livre associação de produtores diretos,
... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com possuidores dos meios de produção e na organização do sindi-
a possibilidade de contrair empréstimos externos, constituir forças cato único como meio de promover a emancipação das classes
militares próprias e uma justiça estadual. trabalhadoras.
[...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional (C) defende a coletivização dos meios de produção, a violência
ao número de habitantes dos Estados, foi outro princípio aprova- nas lutas operárias e dá ênfase ao papel que os sindicatos de-
do... sempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da
[...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, sociedade, e na luta operária para a conquista do Estado.
que marcou o início da república civil oligárquica, consolidada por (D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articula-
Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano de- dor da autogestão e um instrumento do plano econômico e da
pendia do apoio regional [...]. unidade de produção, e que as diversas associações produtivas
(Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da devem ser coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao
República (1889-1945). São Paulo: Cebrap, 1972, p. 2-4) Estado.
(E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a ne-
cessidade de realizar de imediato a tese marxista segundo a
qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser
determinada pelas assembleias sindicais de cada Estado da Fe-
deração.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

25. (SEE/AC - Professor de Ciências Humanas - FUNCAB) Leia 28. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) Em 1945 che-
o txto. ga ao fim o Estado Novo implantado pelo presidente Getúlio Vargas.
Entre as causas tivemos a(s)
“O São Francisco lá pra cima da Bahia (A) Revolução de 1945 realizada pelos sindicatos e apoiado
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar pelo Partido Trabalhista Brasileiro daquela época.
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato (B) Atuação do movimento estudantil, liderado pela UNE, que
que dizia que o sertão ia alagar assumiu o poder apoiando o partido da União Democrática Na-
O sertão vai virar mar, dá no coração cional.
O medo que algum dia o mar também vire sertão” (C) Pressões norte-americanas obrigando Getúlio Vargas a ex-
tinguir o Estado Novo e tornar o país uma democracia.
(Sobradinho. Sá e Guarabyra.) (D) Adesão de Getúlio ao Fascismo, propiciando que ele im-
plante no Brasil um regime semelhante após 1945.
A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma per- (E) Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado das de-
sonagem de um importante movimento messiânico do início da Re- mocracias, criando uma situação interna contraditória, pois o
pública brasileira. país vivia, até aquele ano, uma ditadura.
O personagem referido é:
(A) João Cândido. 29. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Assinale a op-
(B) Beato José Maria. ção correta a respeito do Estado Novo, implantado pela Constitui-
(C) Antônio Conselheiro. ção de 1937.
(D) Marcílio Dias. (A) Comparada à Constituição de 1934, a nova carta apresenta-
(E) Barão de Drumond. va como característica nítida a descentralização do poder.
(B) O Plano Cohen serviu de pretexto para o reforço do auto-
26. (MPE/GO – Secretário auxiliar – MPE/2017) Sobre o Esta- ritarismo.
do Novo de Getúlio Vargas, é incorreto afirmar: (C) A Lei de Segurança Nacional, até hoje vigente, foi proposta
(A) que foi implantado por Getúlio Vargas sob a justificativa de após a instauração da nova carta.
conter uma nova ameaça de golpe comunista no Brasil. (D) Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, foi um
(B) que tomado por uma orientação socialista, o governo pre- dos grandes beneficiados pelo novo regime político.
ocupava-se em obter o favor dos trabalhadores por meio de (E) Imediatamente após a implantação do Estado Novo, Getúlio
concessões e leis de amparo ao trabalhador. Vargas substituiu todos os governadores de estado.
(C) financiava o amplo desenvolvimento do setor industrial
brasileiro, ao realizar uma política de industrialização por subs- 30. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) “No dia 10 de
tituição de importações e com criação das indústrias de base. novembro de 1937, tropas da polícia militar cercavam o Congresso
(D) para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Nacional e impediram a entrada dos congressistas. O ministro da
Campos redigiu uma nova Constituição inspirada nas constitui- Guerra – general Dutra – se opusera a que a operação fosse rea-
ções fascistas italiana e polonesa. lizada por foças do Exército. À noite, Getúlio anunciou uma nova
(E) adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde foram fase política e a entrada em vigor de uma Carta constitucional, ela-
criados mecanismos de controle e vias de negociação política borada por Francisco Campos” (trecho extraído do livro História do
responsáveis pelo surgimento de uma ampla frente de apoio a Brasil, de Boris Fausto). O período histórico brasileiro narrado acima
Getúlio Vargas. descreve o início:
(A) da Ditadura Militar
27. (IPEM/RO – Agente de Atividades Administrativas – FUN- (B) da Política do Café com Leite
CAB) O processo histórico da formação do estado de Rondônia (C) do Tenentismo
possui muitos capítulos importantes, com diferentes atores. Um (D) do Estado Novo
dos marcos nesse processo foi a criação do Território Federal do (E) da Revolta da Armada
Guaporé por meio do Decreto-Lei nº 5.812, de 13 de setembro de
1943. O Presidente da República que assinou o referido documento 31. (TRT/MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho João
foi: Goulart provocou grande turbulência política em 1954 ao
(A) Getúlio Vargas. (A) ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de Var-
(B) Gaspar Dutra. gas, uma vez que era o principal líder do Partido Trabalhista,
(C) Juscelino Kubitschek. que nele via possibilidade de reverter o clima político desfavo-
(D) Jânio Quadros. rável em razão da oposição exercida pela União Democrática
(E) João Goulart. Nacional.
(B) propor um aumento de 100% no valor do salário mínimo,
proposta que causou a indignação de setores do Exército insa-
tisfeitos com sua situação e incomodados com o fato de que o
salário de um operário, caso recebesse o aumento em questão,
se aproximaria do salário de um oficial.

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(C) comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio, sua (D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas for-
carta-testamento, alegando que uma conspiração política anti- ças armadas.
varguista havia influenciado a população que agora culpava a (E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por seto-
ele e ao ex-presidente pela alta inflacionária e pela crise eco- res da chamada classe média, dos trabalhadores e do empre-
nômica em curso. sariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na proposta de
(D) renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do em- modernizar o país.
presariado e das Forças Armadas às suas medidas trabalhistas,
atitude que despertou o apoio da população a Jango e o clamor 34. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC)
por sua permanência no cargo, fenômeno apelidado de “que- O processo de abertura política no Brasil, ao final do período de
remismo”. regime militar, foi marcado
(E) atender às pressões dos sindicatos e propor amplas refor- (A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso ofi-
mas de base, insubordinando-se à autoridade de Getúlio Var- cial que culpava os grupos guerrilheiros e o imperialismo so-
gas por considerar que seu governo não estava tomando medi- viético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos
das suficientemente favoráveis aos trabalhadores. países vizinhos.
(B) pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição ou-
32. (SEDUC/PI – Professor-História – NUCEPE) torgada em 1967 continuou vigente, mantiveram-se os cargos
“biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos Institucio-
“Bossa nova mesmo é ser presidente nais durante a década de 1980.
Desta terra descoberta por Cabral (C) pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o governo
Para tanto basta ser tão simplesmente
encampasse uma abertura “lenta, gradual e irrestrita”, os seto-
Simpático, risonho, original”.
res populares organizaram greves nacionais que culminaram na
(Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).
realização de eleições diretas para presidente em 1985.
(D) pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que preva-
Considerando o período apresentado na composição, e o go-
verno de Juscelino Kubitschek (1956-1961), podemos afirmar COR- leceram pressões por parte dos setores afinados com o regime
RETAMENTE: e concessões dos movimentos pela democratização, em um
(A) Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino propunha complexo jogo político que se estendeu pelos anos 1980.
romper com a política econômica do governo Vargas, investin- (E) pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem as Co-
do com capitais nacionais nas áreas prioritárias para o governo, missões da Verdade que conseguiram, com o aval do primeiro
como energia, transporte, indústria e distribuição de renda. governo civil pós-ditadura, atender as demandas por “verdade,
(B) Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o go- justiça e reparação” da sociedade brasileira.
verno de Juscelino conseguiu reduzir drasticamente as dispari-
dades econômicas e sociais do país, permitindo uma tranquili- 35. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) A
dade social que perdurou até vésperas do Golpe Civil-Militar. respeito dos Atos Institucionais decretados durante o regime militar
(C) Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a no Brasil,
base monetária do país e assim custear investimentos produti- (A) sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante a di-
vos que permitiram o controle do déficit do orçamento público tadura, sendo o último, em 1968, o que suspendeu a garantia
e a redução da inflação. do direito ao habeas corpus e instituiu a censura prévia.
(D) Seu governo coincidiu com um período de forte otimismo, (B) refletiram a intenção dos militares em preservar a institu-
apoiado em uma visão de modernidade industrializante, o que cionalidade da democracia, uma vez que todos os atos eram
fez o presidente prometer 50 anos de desenvolvimento em 5 votados pelo Congresso.
anos de mandato. (C) prestaram-se a substituir a falta de uma nova Constituição,
(E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de forma chegando a 20 decretações que se estenderam até o governo
autoritária em sua forma de governar, condição que pode ser Geisel.
exemplificada com o episódio em que puniu o ministro da (D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua promulgação
Guerra, o general Teixeira Lott, por ter contrariado um de seus destaca-se o reforço dos poderes discricionários da Presidência
aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede, subordinado do da República.
general. (E) concentraram-se nos dois primeiros anos de governo militar
e instituíram o estado de sítio e o bipartidarismo.
33. (IF/AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart
(1961/1964) foi marcado pela interrupção e conseguinte instalação
36. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC)
da ditadura militar no país. O governo Goulart, na prática, ficou ca-
O golpe de 1964, que deu início ao regime militar no Brasil e que
racterizado em função das suas ações políticas, como um governo:
(A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao socialis- foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, teve, entre seus
mo chinês. objetivos
(B) Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto perío- (A) refrear o avanço do comunismo apoiado pelo presidente
do pelos partidos de esquerda, inclusive o partido comunista. Jango que, após ver concretizado seu programa reformista, ar-
(C) Conturbado, em que foi implantado o parlamentarismo, ticulava-se para adaptar o Estado aos moldes socialistas, por
fato este, que não foi suficiente para amenizar as crises políti- meio do projeto de uma nova constituição difundido e aplaudi-
cas do período. do no histórico Comício da Central do Brasil.
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(B) reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime parla- Assinale a alternativa que indica corretamente o objetivo deste
mentarista pelo qual João Goulart governava favorecia alianças movimento.
entre partidos pequenos e grupos de esquerda liderados pelo (A) Devolver à população o direito de votar nos candidatos à
PTB, que tinha representação significativa na Câmara e no Se- presidência do país.
nado. (B) Anistiar os presos políticos e permitir o retorno dos exilados
(C) destituir o governo de João Goulart, contando com o apoio ao Brasil.
do governo dos Estados Unidos e de parcelas da sociedade bra- (C) Reajustar o salário-mínimo de acordo com os índices reais
sileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da Família com Deus de inflação.
pela Liberdade organizada por setores conservadores da Igreja (D) Autorizar a justiça comum a punir políticos envolvidos em
Católica. crimes de corrupção.
(D) restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do equi- (E) Permitir que leis propostas pela população fossem discuti-
líbrio econômico, uma vez que greves paralisavam a produção das no Congresso Nacional.
nacional e movimentos de apoio à reforma agrária se radicali-
zavam, caso das Ligas Camponesas que haviam iniciado a guer- 39. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) São Membros
rilha do Araguaia. Plenos ou Estados Partes do Mercosul (Mercado Comum do Sul),
(E) iniciar um processo autoritário de transição política e eco- bloco econômico sediado na América do Sul, EXCETO:
nômica nos moldes do neoliberalismo, por meio de uma estra- (A) Brasil
tégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a Cepal, (B) Argentina
com o aval do empresariado brasileiro insatisfeito com o go- (C) Chile
verno vigente. (D) Uruguai
(E) Paraguai
37. (VUNESP) A partir dessa época, a tortura passou a ser am-
plamente empregada, especialmente para obter informações de 40. (DEMAE/GO – Técnico em Informática – CS/UFG) Alguns
pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a “assessoria Blocos Econômicos agregam países de um mesmo continente. No
técnica” de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos caso da América do Sul, onde foi criado, em 1991, o Mercado Co-
policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, in- mum do Sul (Mercosul) pelo Tratado de Assunção, poucos países
vadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias fazem parte deste Bloco, entre eles:
de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interro- (A) Equador e Suriname
gatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos (B) Argentina e Uruguai
dos presos fossem ouvidos. (C) Peru e Guiana Francesa
(Roberto Navarro – http://mundoestranho.abril.com.br.) (D) Colômbia e Guiana

Os aspectos citados no texto permitem identificar a época a 41. (IF/AL- CEFET) O Brasil, a partir do processo de redemocra-
que ele se refere como sendo a da tização (1985), definiu-se por medidas econômicas que foram sig-
(A) Repressão à Revolução Constitucionalista de 1932. nificativamente adotadas. Podemos afirmar que entre as medidas
(B) Nova República, cujo primeiro presidente foi José Sarney. citadas consta:
(C) Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. (A) Processo de privatização em ramos da economia, como co-
(D) Democracia populista, que durou de 1946 a 1964. municação e mineração.
(E) Ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964. (B) Prioridade na ampliação do comércio internacional com os
países africanos e asiáticos.
38. (VUNESP) A imagem a seguir refere-se a um movimento da (C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento de
década de 1980 que contou com grande participação popular em tarifas alfandegárias de importações.
várias cidades do Brasil. (D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos agrí-
colas nacionais.
(E) Um intenso programa de reforma agrária no país, inclusive
sem indenizações das terras desapropriadas.

42. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a demo-


cracia limitava-se à minoria da população. Os escravos e as mulhe-
res não tinham direitos políticos. Além disso, só aqueles que nas-
ciam na cidade de Atenas podiam ser cidadãos.

De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem NÃO


pode votar no Brasil atualmente são os
(A) maiores de 70 anos.
(Http://www.oabsp.org.br/portaldamemoria/historia-da-oab/ (B) maiores de dezesseis anos.
a-redemocratizacao-e-o-processo-constituinte) (C) estrangeiros naturalizados.
(D) analfabetos.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

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43. (MPE/SP - VUNESP) Com o fim da ditadura e o restabeleci- 29 B


mento da normalidade democrática, a escolha do Presidente da Re-
pública passou a ocorrer por meio do voto popular, exigindo que os 30 D
candidatos expusessem suas propostas e o histórico de sua atuação 31 B
política. Nos anos 1980 e 1990, respectivamente, o Brasil conheceu
32 D
um candidato popularmente chamado de “O caçador de marajás” e
outro que, enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade 33 C
pela implantação do Plano Real, responsável pela estabilização da 34 D
economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente,
(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves. 35 D
(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. 36 C
(C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. 37 E
(D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
(E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva. 38 A
39 C
40 B
GABARITO 41 A
42 E
43 C

1 E ANOTAÇÕES
2 E
3 C ______________________________________________________
4 A
______________________________________________________
5 A
6 B ______________________________________________________
7 A ______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 E
10 D ______________________________________________________
11 E ______________________________________________________
12 D
______________________________________________________
13 A
14 A ______________________________________________________
15 B ______________________________________________________
16 B
______________________________________________________
17 E
18 C ______________________________________________________
19 A ______________________________________________________
20 A
______________________________________________________
21 D
22 B _____________________________________________ _________
23 C ____________________________________________ __________
24 A
___________________________________________ ___________
25 C
26 B __________________________________________ ____________

27 A _________________________________________ _____________
28 E
______________________________________________________
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