Uma Onda Perfeita

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 140

Copyright© 2017 Cris Spezzaferro

Revisão: SABRYNE MATOSS


Grafia atualizada segundo acordo ortográfico da
língua portuguesa de 1990 que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Agradecimentos
Obrigada a cada pessoa que incentiva ajuda e torce pela literatura
nacional.
A minha linda Sabryne que faz um trabalho muito bom, ou melhor,
impecável. E também por ajudar a terminar o livro, quando estava empacada
e sem esperanças, rs!
Um enorme obrigada a Soraia, por sempre ler, e conversar e estar presente.
E meu muito obrigada a você lendo isso tudo!
1
Era mais um sábado de calor infernal em São Paulo, o verão ainda
não havia chegado, mas já dava indícios de como seria, Reinaldo estava
sedento por uma praia, cerveja gelada e uma sombra com brisa, de ver o mar
ir e vir, as ondas se quebrando e poder desfrutar do “dolce far niente”.
Estava tão perdido em seus pensamentos que nem notou a entrada de seus
amigos.
— E aí cara. – Saudou André.
— Tá dormindo? – perguntou de forma engraçada o Pedro.
— Desculpa, estava sonhando acordado, com uma praia, uma loira gelada
e um churrasco. – Respondeu dando vida aos seus pensamentos.
— Bem, seu sonho acaba de se tornar realidade, vamos para Maresias. –
André comunicou sorrindo.
— Maresias? Não sabia que você tinha casa na praia. – Comentou de
forma curiosa.
— Minha irmã tem, e está no Brasil. Bem, preciso ir para a loja, só vim
mesmo chamar você para a praia, à uma da tarde passo na sua casa, vamos
num carro só.
O André saiu da sala deixando um Reinaldo curioso e intrigado,
conheciam-se há 5 anos e não sabia que o seu grande amigo tinha uma irmã,
na verdade pensando bem, sabia pouco de sua vida familiar, o amigo
raramente falava de sua infância, e esta era a primeira vez que ouvia sobre a
irmã. Conhecia Luciana sua namorada há 3 anos e viu o pai, Walter, algumas
vezes na loja do amigo, mas nunca conversaram sobre família.
Curioso Reinaldo resolve tentar saber pelo amigo Pedro, mais sobre o
André.
— Você conhece a irmã do André?
Pedro e André são amigos de infância, e sempre soube como o amigo sofria
pela distância com a mãe Jussara e a irmã Isabella.
Lembrava-se como se fosse hoje, do divórcio nada amigável dos pais do
amigo, e de como foram impedidos de conviver quando Walter e Jussara
decidiram cada um ficar com um filho. Ele viu dia a dia seu amigo se
definhar até poder visitar a irmã.
A ligação dos irmãos era algo lindo de se ver.
— Sim, a Bella morava com a mãe, você vai gostar dela. Eles são aqueles
irmãos que são amigos, companheiros, mesmo com um oceano de distância,
se falam quase todo dia. Preciso ir também, nos vemos na sua casa.
Reinaldo ficou em sua sala até às 12 horas, quando o expediente aos
sábados se encerrava. Enquanto fechava a empresa e se despedia dos
funcionários, sentia o peito inflar de orgulho pelas suas poucas conquistas.
Com seus 33 anos, tinha uma empresa de sucesso, num mercado tão
competitivo como o dele, um carro, que não era novo, mas era seu desejo,
uma moto potente e seu próprio apartamento, o que lhe deu a liberdade que
na casa dos pais não tinha. Lembrou-se de seus pais que o amavam e o
apoiavam em todas as suas decisões, só sua mãe o pressionava para encontrar
uma moça e lhe fazer um rapaz direito, ria com o pensamento de ser solteiro
e não ser direito.
Essa pressão vinha porque seus irmãos mais velhos já estavam casados,
dois com filhos e um com uma menina a caminho. Ser tio era a melhor coisa
do mundo, amava incondicionalmente seus sobrinhos, mas amava a liberdade
de não ter filhos nem esposa, e, ao mesmo tempo, sentia a falta de uma
mulher ao seu lado.
Havia dois anos desde que rompera com Sabryne, e desde então não tinha
se fixado com mais nenhuma mulher, o rompimento, apesar de mútuo, deixou
marcas profundas no coração que não cicatrizavam.
O que mais amava era sua empresa, adorava o ramo que escolhera para si,
e junto com seu pai, há ١٣ anos montou a empresa “L’Arte di Espresso”, para
a venda e locação de máquinas de café expresso, além de terem cursos de
barista e serem a única empresa brasileira a conseguir ser representante da
Ferrari dos cafés, a La Cimbali, havia o setor de manutenção das máquinas e
de outras marcas também. Mas seu grande orgulho em ter as Ferraris das
máquinas de café era tanto, que fez o curso de italiano somente para poder
falar com o Giuseppe na Itália.
Em menos de 20 minutos estava em casa e morto de fome, vasculhou os
armários e a geladeira, pegou o necessário para um lanche rápido, enquanto
imaginava como seria uma versão feminina do André, fez uma careta ao
imaginar másculo e com cabelos curtos. Dirigiu-se ao quarto comendo,
separou o necessário para levar em uma mochila, quando estava fechando,
ouviu o som da campainha de seu apartamento.
— Tenho que avisar a portaria que esses dois podem ser assassinos, e não
deixá-los mais subir sem avisar. – disse antes de chegar à porta — Oi, entrem.
— E aí, vamos?
Os três amigos desceram e partiram para Maresias no carro do André, com
música alta.

Isabella estava no mar desde as 4 da manhã, apesar de não estarmos no


verão e não ter muitas ondas, não estar no mar era como não respirar.
As ondas de Maresias em nada lembravam as da Austrália, Indonésia, e
outra infinidade de lugares, ou ainda da sua casa no Havaí, mas a fazia
recordar de quando subiu na prancha a primeira vez com 4 anos, menos de
dois meses depois de mudar com sua mãe para a cidade, todos os dias depois
da escola, ia à praia com a filha da secretária que trabalhava com a mãe.
Todos os dias via os homens saindo do mar com a prancha, com sorrisos
de satisfação e muito felizes, e ela queria, precisava, ansiava por isso, longe
de seu amado pai que a rejeitara e seu irmão que partiu seu coração quando
disse: “Você não pode ficar comigo, tem que ir embora, eu não gosto mais de
você”.
Hoje aos 23 anos, sabia que não falara a verdade, somente o que precisava
ouvir para se mudar com a mãe, mas mesmo assim doíam essas lembranças.
Um dia criou coragem e foi falar com um dos surfistas.
— Oi, você pode me ensinar.
— Oi, claro, eu sou o Jair.
— Eu sou a Isa.
— Regra 1, nunca duvide do mar, ele pode ser seu amigo ou seu inimigo.
Regra 2, não se desespere se cair da prancha, essa corda fica no seu pé, e 3
divirta-se.
Isabela ria das regras, mas ouvia atentamente, tanto é que as levava
consigo até hoje. Após as regras, Jair ensinou a menina de olhos azuis como
o céu o que deveria fazer.
— Vamos treinar aqui primeiro. Vou te ensinar a subir. 1, deite de pernas
fechadas e os braços na lateral do corpo flexionados; 2, dobre uma das
pernas, a mais forte para te dar impulso; 3, com as mãos apoiadas na borda
levante o corpo; 4, erga-se e 5, está de pé!
Depois de treinarem algumas vezes, foram ao mar, Jair com todo cuidado
ajudou a linda criança triste, que sempre via na praia, a sorrir genuinamente
pela primeira vez desde que colocou os olhos nela.
Mesmo caindo, sempre se levantava e pedia para ir novamente, depois do
primeiro dia, Jair trouxe a prancha do filho, que não usava mais, para a
pequena criança, que passou a treinar somente quando estava por perto.
Isabella lembrava-se como se fosse hoje, quando levou Jair para conhecer
sua mãe, que disse que o surfe nunca seria bem visto para uma menina, que
jamais ela poderia ser alguém, somente seria uma drogada e problemática, e
até mesmo uma lésbica, se não parasse com isso. Ficou de castigo um mês.
Fora o mês mais longo de sua vida.
Quando não estava mais de castigo, fugia sempre que podia para encontrar
Jair, os anos se passavam, e Isabella se tornava cada dia melhor, aos 12 anos
teria um torneio de surfe em Maresias, e estava desesperada para participar,
mesmo sabendo a opinião de sua mãe, tentou novamente e, como já esperava,
ficou de castigo até o fim dos tempos.
Resolveu procurar o pai, que com a dor da consciência assinou a
autorização sem saber que a mãe não concordava, e comprou até mesmo sua
primeira prancha, lilás com flores em verde-limão, branco e rosa, com seu
nome em letras grafitadas, quando Jair viu a prancha, contou ser de um dos
melhores materiais e que a pintura personalizada dava mais vida a ela.
Quando retornou a casa depois do campeonato, encontrou uma mãe e um
pai muito bravos por serem enganados, mas ao contar que ganhara o
campeonato e que uma pessoa que trabalhava na empresa Billabong estava
interessada em patrociná-la, assim como outras empresas, todos mudaram de
opinião.
Após 6 meses de campeonato, Bella, como fora apelidada pela imprensa,
era conhecida no mundo todo como a promessa brasileira do surf, a primeira
criança a conquistar o coração de 4 dos 5 grandes patrocinadores do surf, e
que estavam numa disputa com os pais pelo patrocínios.
O que mais deixava Isabella triste em Maresias, não era a falta de ondas, e
sim as lembranças do divórcio, e o surf virou sua válvula de escape.
Hoje era conhecida no mundo todo pelos campeonatos que ganhara ao
longo dos anos e por sua necessidade da Onda Perfeita, mas também era
conhecida por culpa dele, nesses últimos 6 meses.
Sua vida virara um inferno e teve que fugir da ilha de Maui onde morava,
pois as lembranças dos momentos vividos a dois a perturbavam com as
imagens divulgadas pelos paparazzi, imagens que ela não conseguia esquecer
nem mesmo em cima de uma prancha.
O ódio e a raiva já haviam passado, mas a mágoa e o ressentimento por ser
traída e, ainda mais, do mundo todo saber, não conseguia fazer passar.
Ser traída já era algo incompreensível, porém ser traída com uma mulher
casada era insuportável, mas uma coisa não podia negar, a mulher era linda.
Sim, ela não negava essa verdade, Behati Prinsloo, além de linda, era casada
com um dos homens mais desejáveis do mundo, Adam Levine, e também
uma das modelos da Victoria’s Secret, ao menos havia sido traída com estilo,
pior seria se fosse uma baranga.
Resolveu de última hora vir para o Brasil, mas antes de Maresias, fez uma
parada estratégica em São Francisco do Sul, Santa Catarina e passou uns dias
nas águas. Mara, sua empresária e amiga, não gostou nada do que Shaft fez,
ou de decidir viajar quando estava prestes a surfar as ondas gigantes de
Portugal, tirando-a da concentração e levando-a a um estado de tristeza e
inércia.
Mara estava com Bella desde seus 16 anos, quando seus pais brigavam
para decidir quem seria seu empresário, André seu irmão interveio e
contratou Mara para cuidar dos interesses de Bella, e desde então é o que faz,
nunca aprovou seu relacionamento com ele, nunca aprovou nenhum
relacionamento, estava sempre a um passo de Bella, com relação as suas
necessidades, para dar a ela toda a ajuda necessária e assim somente se
concentrar no surf.
Além de empresária, ao longo dos anos, Isabella nutriu um carinho imenso
por Mara, vendo-a como uma irmã mais velha, uma amiga e conselheira.
Mesmo sendo contra surfar as ondas de Nazaré em Portugal, que já matou
surfistas e deixou outros gravemente feridos, não contestava as decisões de
Bella sobre onde surfar, mas contestava todo o resto.
Desde que ele entrou na vida de Bella sabia que boa coisa não seria! Além
da diferença de idade de quase 20 anos, havia também a diferença de vida,
mesmo ambos sendo surfistas, mesmo ambos morando em ilhas diferentes do
Havaí, sabia que ele adorava bebidas e drogas, esta última nunca teve certeza,
adorava festas e não tinha disciplina, e suas relações no passado eram com
modelos, nunca com uma surfista ou anônima, Kelvin Shaft, era veneno isso
era fato.
Quando Isabella veio ao Brasil, avisou ao irmão que ao chegar a Maresias
ligaria e ambos se veriam, fazia mais de 6 meses que não se viam a última
vez fora em Fernando de Noronha, numa breve passagem pelo Brasil,
somente para ver seu irmão.
Mesmo com 10 anos de diferença, ambos eram muito ligados, e graças à
tecnologia, se falavam pelo whatsapp, skype, facebook, e qualquer meio de
comunicação. André sempre sabia de informações pela Mara e acompanhava
toda sua vida financeira conjuntamente, nunca se intrometeu nos
relacionamentos da irmã, mas sempre ouvira de Mara que Shaft não era bom
para Bella.
Quando Shaft traiu Bella, Mara ligou e contou, mandou os vídeos e fotos
que estavam circulando nas redes sociais e nos jornais de celebridades, no
Brasil lamentavam pela jovem surfista e crucificavam Shaft, até fizeram
menção de Bella e Adam ficarem juntos e assim curar as feridas um do outro.
Semanas após a notícia, outra notícia tão triste e bombástica saiu nas redes
sociais e jornais de celebridades: “o casal Levine se separa, e ele manda
forças a surfista brasileira e diz que adoraria conhecê-la”.

Os três amigos estacionaram o carro na garagem e entraram na casa, uma


casa simples para os padrões de Maresias, uma sala ampla, uma cozinha
razoável, um jardim bem cuidado, dois quartos no andar de baixo e mais um
quarto no de cima, ao saírem para o jardim de trás, outra casa bem simples
com mais dois quartos.
— André, que bom te ver. – Mara os recepcionou, e o abraçou com
saudades, mesmo não convivendo muito tinham um respeito enorme um pelo
outro, em especial pela cumplicidade dele com a Bella, e adorava seu modo
de cuidar dela mesmo de longe.
— Mara que saudades. – A saudade era genuína, André nesses anos todos
passou a respeitar, e muito, Mara por todo seu trabalho, a admirava, mesmo
achando que ela amava um pouco demais sua irmã. — Este é o Reinaldo e o
Pedro você já conhece.
— Oi, e antes de perguntar, sim ela está no mar.
— Você agora é telepata, lê meus pensamentos.
— Não, mas eu sei que você não veio me ver, então... Ela está no mar.
Os rapazes se arrumaram para ir à praia, Reinaldo estava morto de
curiosidade em conhecer a tal Bella, e por que estaria no mar e não somente
na praia.
Todos estavam de bermuda, óculos e chinelos quando saíram da casa rumo
à praia, ao pisarem na areia fofa, André viu Jair de longe no seu quiosque e
caminhou com os amigos para lá, sabia que a Isa, sua irmã, estaria ali, ou
próximo.
— Jair meu velho, como você está.
— Que surpresa André, primeiro a Isa e agora você, ela tá no mar, se
quiser eu chamo.
— Não cara. Tem uma mesa, e uma cerveja, e duas caipirinhas no
capricho?
— É prá já. Luis arruma uma mesa para os convidados Vips.
Reinaldo morto de curiosidade e sem se aguentar mais, disparou:
— O que sua irmã faz no mar?
André engasgou com a cerveja ao ouvir a pergunta e disparou a rir. E
entendeu que nunca contou sobre Isabella para o Reinaldo, e que ele não
sabia nada sobre surf, senão teria feito associação pelo sobrenome.
— Tá vendo aquela ali, de lilás, com a prancha vermelha? – André apontou
ao longe do mar.
— Tô sim.
— Aquela é a Bella, a campeã mundial de 2013 de surf, e também minha
irmã.
— Caralho sério cara, por que nunca contou que sua irmã é esportista?
Reinaldo estava sem fala em saber que a irmã do amigo era uma esportista.
André estava muito feliz pelo amigo se referir à irmã como uma esportista e
não uma celebridade.
Os três amigos ficaram sentados bebendo e comendo, enquanto Bella
estava no mar, com seus pensamentos.
2
Isabella avistou ao longe que o mar hoje não seria seu amigo,
decidiu sair da água e remou de volta ao raso, conforme saía da água, uma
multidão que se resumia a crianças e mulheres queria autógrafos e fotos, ela
admitia para si mesma que nunca se sentia à vontade com isso quando eram
homens que pediam fotos, mas as crianças e as mulheres eram sempre bem-
vindas.
Avistou no quiosque de Jair seu irmão André e abriu um sorriso largo,
onde podia se ver todos os dentes devidamente alinhados.
Reinaldo viu quando uma linda mulher saía da água e dava atenção a todos
a sua volta, achou interessante seus trajes, seu único contato com o surf se
resumia aos filmes, e neles os surfistas usavam uma roupa preta colada ao
corpo de pernas e braços longos, mas ela usava um sem mangas, mais parecia
um maiô com uma bermuda. Ele perdeu o ar ao vê-la abrindo a roupa de
neoprene lilás revelando um corpo perfeitamente moldado, seios redondos,
pernas torneadas e uma barriga de dar inveja, coberto por um biquíni,
extremamente comportado, mas o que não deixava à vista, a imaginação
estava fluindo, tanto que seu amigo morto ressuscitou dos mortos.
Isabella fez o ritual habitual após atender aos fãs, tirou a roupa de neoprene
e foi ao chuveiro, se lavou e lavou sua prancha, colocou-a na sombra que Jair
mantinha para os surfistas, pegou um copo do seu suco favorito, melancia, e
foi ao encontro de seu irmão e amigos.
— Saudades de mim, gostoso?
— Sempre, surfista!
O abraço cheio de saudade dos irmãos era contagiante, muitas pessoas na
praia pararam para olhar, Jair sempre teve orgulho dos dois, que mesmo com
as dificuldades do tempo e da distância, se mantinham muito amigos.
André rodopiava com a Isabella em seu abraço de urso, fazendo-a rir, o
que deixou Reinaldo embevecido com a imagem, nunca havia visto esse lado
no seu amigo, sempre sério e quando amável era com Luciana, mas nunca
havia visto demonstração de carinho em público do amigo.
Este abraço caloroso dos irmãos estava cheio de conversas não ditas, de
conselhos não ditos, mas que tudo se dizia no abraço, quando se soltaram,
André lembrou-se dos amigos e que estavam na praia.
— Isa este é o Reinaldo, e o Pedro você lembra?
— Oi Pedro, quanto tempo, tem o quê, uns 3 anos que não te vejo. Dedé,
ele tá ficando gato.
— Quê? – o irmão perguntou com olhos fuzilantes, para o Pedro e a
Isabella.
Isabella começou a rir, uma risada gostosa que fez o Pedro, o Jair e o
Reinaldo rirem também, mesmo com 23 anos, André não perdia o ciúme
louco pela irmã, e ela não perdia nenhuma oportunidade de provocar o ciúme
do irmão.
— Oi Reinaldo, prazer. – Isabella deu um beijo na bochecha do amigo do
irmão, deixando-o sem graça.
Reinaldo estava extasiado com a surfista, com corpo de mulher, um sorriso
contagiante, a doçura dos seus modos e a forma gentil de tratar a todos, desde
as crianças aos idosos, passando pelos marmanjos babões. O que realmente
impressionava era que dava a mesma atenção a cada pessoa, ouvindo e
concedendo seu tempo, fotos e autógrafos.
— Juro que um dia me acostumo com os fãs. Jair sai um sanduíche
daqueles turbinados para mim.
— Claro minha linda, no capricho, e um suco de melancia com guaraná.
— Sem o guaraná, já deu para mim, hoje não volto ao mar mais.
Minutos depois, Jair levava um sanduíche de frango desfiado, alface,
maionese, cenoura ralada, agrião e batata palha no pão integral, e o suco de
melancia, Reinaldo estava impressionado com o tamanho do sanduíche, e
ficou observando enquanto Isabella devorava como se fosse o manjar dos
deuses.
— Você não muda nunca esse apetite de leão! – Pedro comentou.
— No dia que a Isa sair do mar e não devorar um boi se preocupe cara. –
André comentou.
— Ai, vocês que saem com essas magrelas que comem meio alface. –
Isabella brincou com o irmão.
Passaram algumas horas na praia conversando e se divertindo, Isabella
contou dos últimos torneios, das quedas e das situações engraçadas que
passou aos três rapazes a sua frente.

No Havaí, Kelvin Shaft se lamentava pela sua noite de bebedeira que


resultou numa tórrida noite de sexo quente com mais uma modelo, ela não
era sua primeira modelo, mas era a primeira desde que decidiu se estabelecer
com uma única mulher, Isabella.
Desde que colocara os olhos nela, sabia que era para sempre, queria casar e
ter filhos com a linda surfista. Conheceram-se na Indonésia, e foi amor à
primeira vista, pelos olhos, pela boca, demorou quase sete meses para
conseguir um beijo dela.
Sempre fora difícil, nunca caiu nas cantadas ou investidas de Shaft,
colocou como condição para namorarem, que não bebesse e não a traísse,
conhecia bem a sua reputação, o que ele se prontificou a fazer sem nem
mesmo pensar.
Adorava o modo doce, gentil e feminino dela, mesmo surfando, nunca
deixava se afetar pelos patrocinadores que queriam que fosse mais dura,
sempre dizia que não poderia ser mais dura, no entanto ela era dura sobre
uma prancha.
Nunca conhecera mulher mais entregue no sexo, era sempre mágico, algo
que ele nunca encontrou com outra mulher.
Sim, Shaft a amava e nunca havia dito, e agora ela não atendia suas
ligações, não respondia suas mensagens ou e-mails.
Shaft estava na varanda da casa de Isabella olhando o mar, e sem a menor
vontade de surfar, estava sem ânimo para nada, estava ferido por ele próprio e
estava exausto de ser tachado como cafajeste, mesmo estando certo.
Estava sendo massacrado nos últimos seis meses pela imprensa em geral,
quando saiu a notícia do fim do casamento, fora pior, a modelo que não sabia
o nome, o procurou e pediu abrigo, recusou veementemente, queria sua Bella
de volta, mas não sabia como mostrar que a amava e não faria novamente
esse crime com ela.

Desde que tinha 20 anos, via a deusa do surf, uma menina que virou
mulher, a amava, e na sua mente eram feitos um para o outro, ele somente se
lamentava que ela não soubesse.
Enviara presentes, recados, mensagens, e nunca teve retorno, sabia que
Mara era a culpada, que a sua surfista jamais o ignoraria se Mara não
existisse.
O único modo de sua musa enxergá-lo seria:
— Matando-a.
Sim, ele sabia que Mara estaria sempre no caminho. Mara faria qualquer
coisa pela surfista.

Mara estava em casa negociando a participação da surfista no programa


Paulo Vai ao Mar, do ex-competidor de surf, Paulo Doo, hoje um caçador de
ondas gigantes, para o fim de semana, após ter conversado com o produtor e
com o Doo, como era mais conhecido no surf, desligou o notebook e tirou os
óculos cansada.
Desde que se tornara a empresária de Bella, a vida mudara radicalmente,
vivia em aviões e conversas com produtores e patrocinadores, antes de Bella,
Mara nada sabia de surf, aprendeu da noite para o dia, sobre tudo, e descobriu
que Isabella era uma das melhores surfistas de free surfer feminino do
mundo, além dela, havia mais duas, uma americana, e outra australiana.
Bella só não era a melhor no ASP World Tour, errou numa manobra, o que
a eliminou na 10º etapa de 2014, mas a culpa, como Mara dissera, era dele,
Shaft, o pior pesadelo da empresária.
Desde que os dois começaram a sair, sabia que o homem era encrenca,
Bella sempre se envolvia com surfistas, e nunca fora sério, mas dessa vez ela
viu nos olhos de Bella o amor.
Sim, o amor, sabia que Bella estava apaixonada por Shaft e o odiava mais
ainda, por ter partido seu coração e ter tirado sua concentração para as ondas
gigantes de Portugal.
Bella andava distraída, e Mara sabia o nome dessa distração, tanto é que ao
virem para o Brasil, conversou diariamente com André para ajudá-la a ajudar
Bella, mas nada estava adiantando.
Essa era mais uma razão para a participação dela no programa do Doo,
assim teria alguma agitação de surfistas e poderia se focar nas ondas gigantes,
o que Mara não contava era que essa participação estivesse vinculada a um
churrasco para o programa Comida entre Amigos do Rodrigo Hilbert, aqui na
casa. Sua surpresa foi tão grande que informou que somente permitiria se os
dois, Paulo e Rodrigo, trouxessem suas esposas e filhos, exigência aceita pela
produção e estava tudo organizado para a manhã do dia seguinte.
Mara saiu do seu escritório na casa de Bella e foi até a praia encontrar com
todos, chegando, se deparou com Pedro, André, Reinaldo e Bella sentados
numa mesa conversando alegremente, enquanto Jair servia bebidas aos
rapazes e suco para Bella, além de vários petiscos que estavam na mesa, ao se
aproximar mais foi vista por André.
— Mara, vem sentar, chega de trabalho por hoje. – Saudou André.
— É verdade Mara, vem sentar aqui. – Bella disse e puxou uma cadeira ao
seu lado, o coração de Mara perdeu um compasso com o gesto tão simples,
mas cheio de significado para ela.
— Obrigada, Bella preciso te passar algumas coisas que vão acontecer
amanhã. – Mara falou baixo e bem próximo de Bella.
— Fala.
— Amanhã o Doo e a turma vêm gravar um episódio de Paulo Vai ao Mar,
e o Rodrigo Hilbert vem gravar o Comida entre Amigos, um churrasco na sua
casa.
— Como, o gato do Rodrigo Hilbert vem aqui na minha casa?! – Bella
disse se abanando com cara de espanto, o que fez os rapazes rirem.
— Sim, mas você ouviu a parte do Doo? – Mara tentou voltar ao ponto do
surf.
— Sim, sim, claro o Doo, o Paulo e os meninos vêm, mas o mar não está
bom para o surf. – Bella revelou.
— Eu vi as marés, e amanhã estará melhor, os ventos conspiram a seu
favor.
— Jair, pela sua experiência de vida amanhã dá onda? – Bella perguntou.
— Amanhã nada sei, só sei que o amanhã é incerto. – Bella riu de sua
pregação — Só posso dizer que o amanhã Poseidon poderá dizer sobre a
agitação do mar. Vamos ver o que a noite nos traz, pela lua você saberá. –
Jair respondeu de forma enigmática, o que Bella mais amava no mundo.
— No luau nós vemos. – Bella se despediu de Jair e de outros amigos,
pegou sua prancha e junto de André, Pedro, Mara e Reinaldo caminhou para
a casa.
Ao chegar a casa, Bella tomou um banho de água doce e foi cuidar da
prancha, um ritual que nunca era esquecido ou indisciplinado, lavava
cuidadosamente, com sabão neutro, os parafusos dos copinhos das quilhas
removíveis e o leash também era devidamente lavado, e sempre passava óleo
de máquina nos rotatores de metal para não oxidar e travar.
3
Reinaldo estava à beira da piscina olhando atentamente todo o
ritual que Isabella fazia com a prancha, nesse tempo desde o rompimento
com a noiva, não tivera um desejo tão forte por alguém como estava tendo
por Isabella, até mesmo pensar em seu nome o deixava alerta.
Ele não era um homem de muitas mulheres, gostava do que
relacionamentos davam, como uma companheira, uma amiga, uma parceira, o
que ele imaginou que sua noiva era, até o dia em que terminaram, sempre
imaginou que com Sabryne teria o casamento e os filhos que tanto desejava.
Sabryne nunca quis os sonhos de Reinaldo, queria e ainda quer, ser uma
celebridade, uma atriz famosa, ou socialite, algo que lhe dê prestígio sem
precisar fazer muito, o que ele nunca entendeu, achou que com o passar do
tempo ela veria que isso só existe em filmes.
Quando Sabryne ligou naquela manhã dizendo que precisavam conversar,
nunca imaginou que aceitaria tão bem o rompimento, afinal nenhum dos dois
estava feliz, ele queria mais dela, e ela não queria “um pobretão”, nas suas
palavras.
E desde então não havia conseguido encontrar alguém que o fizesse desejar
nada além de uma boa trepada, até aquele dia.
Sim, Reinaldo queria adorar o corpo de Isabella, mas também a queria
somente para ele, não queria dividir ela com o mundo. Se pudesse, a trancaria
em casa e não deixaria sair nunca mais.
O que Reinaldo não sabia sobre Bella, pesquisou em seu Iphone quando
voltaram para a casa, o Google rendeu mais de 1.000 menções ao nome Bella
+ surf, mas o que lhe chamou atenção foi sobre a traição de seu então
namorado, Kelvin Shaft, estava em todos os jornais de celebridades,
contavam tudo sobre o início do namoro há 2 anos até o fatídico dia da
traição.
Reinaldo esmurrou a pedra da borda da piscina ao imaginar a dor que Bella
sentiu ao ser traída de forma tão cruel, soltou uma maldição por entre os
lábios presos, ininteligível, e desejou que o homem sofresse.
Ficou se perguntando o que leva um homem, que tem uma das mais belas
mulheres ao seu lado, traí-la com outra, não se conformava com tal ato
impulsivo e egoísta.
Outra notícia que chamou sua atenção foi que Isabella em breve iria surfar
as ondas gigantes de Nazaré em Portugal, ondas que já tiraram a vida de mais
de uma dúzia de surfistas, e deixou outro número de acidentados.
Inconformado, esmurrou a pedra novamente e gritou de dor, ao olhar sua mão
que sangrava, retornou a casa.
Mara viu o ferimento do homem e pegou seu kit de primeiros socorros, fez
a assepsia do local, passou uma pomada e colocou uma faixa para não
infeccionar.
— Pronto, a Bella sempre volta com machucados, então tenho sempre à
mão.
— Obrigado, ela se machuca muito?
— Não exatamente, é que às vezes quando cai, a prancha volta para o
surfista e pode machucar, e no Havaí tem muitos corais e acaba machucando,
mas nada sério.
— Mara – Isabella chamava, quando viu Reinaldo sendo medicado. — O
que você fez?
— Nada, só bati na pedra da piscina. – Reinaldo respondeu, e recebeu um
sorriso.
— Mara, amanhã o vento é o Noroeste, teremos ondas rasas e irregulares,
mas ondas, pode ser um dia médio para surf. – Bella engatou o assunto
deixando Reinaldo zonzo com sua energia.
Reinaldo ficou imaginando o que seriam ondas rasas e irregulares, afinal
não entendia nada de surf.
Isabella subiu para descansar, e os três amigos ficaram na sala e Mara
também, quando André resolveu abordar o assunto que estava na sua mente.
— Mara, como ela está ele ainda tá na casa ela?
— Tá sim André, o pessoal da ilha me ligou dizendo que ele não sai da
porta da casa dela, e ela está assim como você viu, não menciona, não fala
nada, e não chora, nem nada.
— Eles iam casar né? – Reinaldo ao ouvir isso tomou um susto e se
engasgou com a água na cozinha.
— Esse era o plano, no próximo verão no Havaí. – Mara respondeu.
— E ela não fala nada, não diz nada, não fez nada?
— Ela o bloqueou em todos os meios de comunicação, deixou uma carta
na casa dele e viajamos, e desde então não disse uma palavra.
— Não gosto disso, a Bella precisa de um período de luto, afinal o mundo
sabe o que aconteceu. Todos viram as fotos e o vídeo, até o Adam mandou
forças para ela.
— Sim, ele tentou contato com ela, combinaram de se ver em Portugal,
depois de surfar em Nazaré.
— Ela vai mesmo nessa onda, não gosto disso, nunca me meti em nada,
mas em Nazaré, tô preocupado, as ondas chegam a 30 metros ou mais.
— Não estou preocupada com as ondas, sua irmã é a melhor do mundo em
Big Surf, e a única mulher na atualidade, além do mais, andamos treinando
desde que foi desclassificada do campeonato, com o Garrett McNamara na
Waimeia na Ilha de Oahu, lá em casa, no Havaí, você conhece sua irmã, uma
onda nunca é tão grande...
— Que não possa ser domada. – Isabella terminou a frase de Mara, com
seu mantra de todos os dias. — Uma onda nunca é tão grande que não possa
ser domada. A onda é como um grande chamado, quando diz o meu nome, eu
preciso estar nela, dentro dela, sentir toda a sua grandeza e majestade, não
posso deixar de domar o que Deus fez com perfeição. – Isabella resumiu o
que uma onda era para ela.
— Mas Isa, você está emocionalmente abalada, não pode surfar assim, vai
acabar se matando.
— Se uma onda me levar, é porque minha hora chegou, mas eu sei que não
será em Nazaré isso. – Isabella deu de ombros e pegou a garrafa de água
servindo-se de um grande copo.
— Isabella, você está emocionalmente abalada, o Shaft...
— Não mencione esse nome na minha casa, sim André, namorei dois anos
com Shaft, acabou, de forma horrível, mas acabou, não vou me afogar em
lágrimas, ou me condescender por ser traída, todos um dia seremos, se não
formos traídos de alguma forma, a traição, seja qual for, dói, mas passa, a
minha foi um pouco mais humilhante que o normal, afinal saiu em todos os
locais do mundo, mas passou. O passado está no passado e eu quero viver o
hoje e o amanhã, e não o passado. Em falar em hoje, tem luau, quem vem?
— Tudo bem, nem sei por que ainda perco meu tempo tentando fazer você
ser diferente, eu vou ao luau, só um banho. – André respondeu derrotado.
— Tudo bem, vocês têm 10 minutos!
Cerca de 20 minutos depois, todos estavam indo à praia.

Do outro lado da cidade de Maresias, o jovem João, de apenas 27 anos,


estava saindo de sua casa com um plano na cabeça, se declarar para Isabella
durante o luau da barraca do Jair.
Ele sabia que ela não perderia por nada, afinal, todos em Maresia sabiam
que o Jair a ensinou a surfar e que ela era grata por tudo que ensinou.

André e Pedro estavam conversando com umas fãs de Bella menores de


idade e visivelmente alteradas pelo álcool e pela maconha.
Reinaldo estava com Bella, sentados na areia conversando sobre tudo e
sobre nada, ele estava bem à vontade com ela.
Jair chamou a Bella para a roda de música que começaria em segundos,
Bella e Reinaldo foram se juntar ao grupo e começaram a cantar junto com
todos.
João estava observando de longe que Mara não estava próxima e nem no
luau, mas a Bella estava com um homem ao seu lado, que não desgrudava,
ela não podia estar namorando, havia terminado com Shaft há menos de 6
meses.
João foi em direção a Bella e se juntou ao grupo, esperou, esperou e
esperou, e o homem ao seu lado não saía, então mudou a tática.
— Oi, você pode tirar uma foto comigo? – João perguntou a Bella, que
abriu um sorriso e abraçou João.
— Re, você tira a foto. – Bella questionou, entregando o celular. Reinaldo
ficou desconcertado com ela chamando-o com um apelido e ao mesmo tempo
feliz por ela enxergá-lo.
Após alguns cliques, Bella deu um beijo no rapaz, que a segurou pela
cintura de forma animalesca, deixando-a assustada, ela empurrou o rapaz de
forma gentil. Bella voltou ao encontro de Reinaldo e o abraçou pela cintura,
que compreendeu e a abraçou pelos ombros. João inconformado tirou uma
foto do casal e questionou:
— Vocês estão namorando?
Isabella com medo do rapaz, respondeu prontamente.
— Sim, tem pouco mais de três semanas.
O rapaz saiu chutando o ar e com raiva, Reinaldo olhou espantado para
Isabella, que explicou:
— Desculpe te usar assim, mas estava com medo dele, me agarrou e não
quis me soltar. Desculpe-me por te usar.
— Isa, pode me usar o quanto quiser e sempre que quiser.
Os dois se deram um abraço de agradecimento e continuaram com o grupo,
André e Pedro se juntaram a eles, que passaram algumas horas juntos.
Quando o sono bateu, Isabella foi para casa e dormiu sonhando com o mar.
4
Na manhã seguinte, Isabella acordou no seu habitual horário das 4 da
manhã e o pessoal da gravação já havia chegado dos dois programas, e a casa
estava uma loucura, Mara estava organizando tudo.
Doo e Bella engataram um papo sobre ondas e picos de surf, pranchas,
quando Reinaldo, André e Pedro acordaram com o barulho da bagunça.
Doo, Douglas, Jonas e Bella se trocaram e rumaram com o pessoal da
gravação para o mar, Reinaldo ficou impressionado com a agilidade deles em
vestir a roupa de neoprene e sair correndo.
Os três amigos ficaram na casa ajudando Mara com tudo que era
necessário, quando recebeu um SMS de uma jornalista.
“me fale algo para publicar sobre o novo namorado da Bella.”
E a foto anexa era da Bella e de Reinaldo, Mara voou para o notebook e
abriu diversos sites com a foto dizendo que ainda não havia pronunciamento
de quem era o namorado misterioso da jovem surfista Bella.
Mara pegou no braço dele e o arrastou junto de André para o quarto mais
próximo, não se importando com nada, e mostrou o notebook a todos.
— O que é isso, esta foto: “Isabella e novo namorado em Maresias”. –
Indagou indignada.
— Merda, é só um mal-entendido – Reinaldo tentou apaziguar — Ontem
tinha um cara estranho que assustou a Isabella na praia, ela se agarrou em
mim e antes que eu percebesse, disse que éramos namorados. – Reinaldo
explicou.
— Mil vezes merda, você tem ideia do que isso vai fazer com você, vai ter
fotógrafos e pessoas vasculhando sua vida, sua família e todos os seus
podres, se você tiver, virão à tona. – Mara falou preocupada.
Reinaldo e Mara ficaram conversando sobre tudo dele, sua vida, sua
família, seus namoros, enfim, sobre qualquer coisa que pudessem descobrir.
Mara ficou mais calma ao perceber que o rapaz era um bom moço e que só
tentou proteger a irmã do amigo, mas ainda assim não gostou nada da
situação.
Enquanto isso na praia Doo, Bella e os rapazes, pegavam ondas e falavam
do futuro e de seus encontros no mar, sobre acidentes, pranchas e etc.
O pessoal do canal On estava bem contente com esse entrosamento dos
dois, e a forma fácil de conversarem, os assuntos, os locais que já surfara, o
produtor, vendo a facilidade e a simplicidade da jovem surfista, estava
pensando num programa especial com ela e as ondas gigantes. Imaginou que
Mara, sua empresária, adoraria esse tipo de repercussão sobre o esporte e
como uma mulher dominava as ondas, seria um especial, e não uma série.
Após surfarem e gravarem o programa, Bella e o pessoal retornaram a casa
onde já estavam Luci e Dom, esposa e filho de Doo, bem como Rodrigo e sua
família.
Todos estavam se abraçando e se cumprimentando, quando Mara retirou
Bella de todos para uma conversa séria, entraram no escritório, e lá estavam
André, Reinaldo e Pedro sentados com caras sérias.
— O que foi, por que estou aqui? – Bella perguntou.
Mara apontou para o computador, Bella viu as imagens e comentários e
ficou chocada, não imaginava que o rapaz faria isso, e nem sabia o nome
dele, ou se lembrava de seu rosto, mas lembrava-se do modo como a abraçou.
— E agora? – Bella perguntou.
— Bem, agora vocês serão um casal, eu vou soltar uma nota na imprensa
oficializando, e para todos os efeitos serão namorados em início, e em breve
vocês terminam amigavelmente. – Mara declarou.
— Mas... – Bella tentou falar.
— Não tem, mas, nem menos, porém é melhor assim, todos se esquecem
do Shaft e do que aconteceu, acho que será bom você ser vista com um
empresário, e não um surfista. Fora que o Reinaldo é amigo do seu irmão, é
mais uma coisa boa, está em família, afinal são amigos há mais de 5 anos. –
Mara respondeu sua pergunta não dita.
— Tudo bem. – Bella concordou. – Então namorado, vamos para a sala,
você fará o programa comigo, já que o churrasco será com toda a família, a
Mara cuida da papelada necessária.
— Então tá namorada. – Reinaldo falou rindo – Isso já tinha acertado, só
precisávamos que você soubesse.
E todos se juntaram do lado de fora onde iria iniciar a gravação do
programa Comida entre Amigos, e o Rodrigo ensinaria a fazer um churrasco
de picanha no alho.
Isabella e Reinaldo ficaram todo o tempo próximos e, sempre que possível,
ele pegava em sua mão, fazia carinhos nos cabelos, como um casal recém-
apaixonado em início de namoro. Isabella estava meio incomoda com a
situação.
Não estava acostumada com isso, Shaft e os outros não eram assim,
carinhosos, eram surfistas, e como tal, eram ótimos amigos e companheiros, e
excelentes no sexo, mas nunca em demonstrações públicas de carinho, ao
mesmo tempo era interessante ter alguém, mesmo que de mentira, carinhoso
e gentil.
Reinaldo estava adorando poder fingir ser o namorado de Isabella, poder
mexer em seus cabelos, os mais macios que já teve o deleite de mexer, e as
mãos, mesmo ásperas da prancha, eram cheirosas, do creme, não soube
identificar o aroma, mas estava em sua mão.
Mara observava de longe a interação entre Reinaldo e Isabella, viu a troca
de sorrisos quando ela sentou em seu colo, assim como Luci e Doo, observou
atenta cada detalhe do namoro falso, escreveu um release para a imprensa
sobre o namoro, deu detalhes combinados com Reinaldo e Isabella sobre a
relação e como tudo começou.
Após enviar o release, continuou a observar a interação de todos na casa,
em especial dos casais, e, como desejava ter o que os dois apresentadores
tinham com suas esposas, desejou ser menos independente para ser
dependente, cansou de se proporcionar os próprios orgasmos e cansou de
amar e não ser correspondida.
Estava arrasada pelos anos de solidão e por amar alguém tão
passionalmente que não se dava a oportunidade de amar outra pessoa, o que
mais a entristecia era que seu par não a enxergava como mulher e somente
como uma empresária.
Isabella devorava uma salada de rúcula com pepino e alho poró com a
picanha no alho, que Rodrigo fez juntamente com um suco cabelo de diva
que Fabiana e Luci faziam, era divertido ver como duas mulheres tão
diferentes e ao mesmo tempo tão iguais interagiam. Ambas eram lindas e
preocupadas com peso e beleza, casadas com homens tão lindos quanto elas.
— Humm... O suco está delicioso. – Isabella disse entre uma garfada e
outra.
—Aprendi esse com a Luci quando apresentava o super bonita, é bem
simples de fazer, 1/2 copo de suco de laranja, 1 cenoura pequena ralada, 1
col. de sopa de linhaça dourada, 1 buquê de brócolis e 1/2 copo de água
mineral gelada. – Fabiana comentou.
— Sim, é verdade, faço sempre que acho que meu cabelo precisa ficar
igual a Diva! Como é feito com linhaça dourada, ajuda o corpo a produzir
queratina, substância que funciona como base de unhas e cabelos fortes. –
Luci explicou.
— Nossa, preciso de uma aula com vocês, não entendo nada dessas coisas.
– Todas riram e continuaram a falar sobre sucos e comida.
Reinaldo estava num papo delicioso com os homens sobre carnes, cervejas
e mulheres, claro, os rapazes falavam sobre suas namoradas e esposas, mas
ele se mantinha calado, afinal, conhecera Bella ontem e não tinha como entrar
em detalhes sobre coisas pessoais.

No Havaí, Shaft quebrou a casa toda ao ver a foto de Isabella e seu novo
namorado, ficou revoltado com o fato de ela já ter superado ele tão rápido.
Estava ainda mais puto da vida! Por ela ter demorado 7 malditos meses
para beijá-lo e em menos de 6 meses já estava nos braços de outro.
Resolveu que acertaria as contas e conversaria com Isabella em Portugal,
após as ondas gigantes de Nazaré, mesmo irritado não queria que sua amada
Bella ficasse desconcentrada nas ondas, como aconteceu na 10º etapa do
circuito, quando foi sugada por um tubo, perdendo pontos e sendo
desclassificada.
Pegou seu notebook, comprou passagem aérea para Portugal e reservou um
hotel próximo ao hotel que Isabella estaria. Pela notícia, Isabella e seu novo
namorado estariam juntos em Portugal e depois partiriam para uma feira de
café na Itália.
Xingou, gritou e deu um murro na parede ao reler pela vigésima vez a
notícia e a nota oficial de sua empresária.
— Mara sua vaca, lésbica, idiota, deve estar amando ver a Bella com um
empresário do café e não um surfista! Te odeio sua filha da puta.
Shaft nunca gostou de Mara, e isso sempre foi claro e nítido por todos, em
especial Isabella, mas o desgosto era mútuo, Mara também nunca gostou
dele.
Sempre acreditou que Mara era apaixonada por Isabella, mesmo ela
dizendo que Mara era somente superprotetora, e que as duas eram amigas
como irmãs, nada mais, ele que via o que não existia.
— Essa vadia deve estar dançando no meu túmulo.

Em sua casa, João estava revoltado com a falha de seu plano, e Isabella já
estava namorando novamente, o homem ao lado dela não era como os
anteriores, surfistas, esse era diferente.
Viu a foto que tirou dos dois ser publicada em diversos sites de fofocas de
celebridades, o que o deixou mais irritado ainda, sua foto publicada no seu
instagram pessoal com a Bella não teve nenhuma curtida ou comentário, mas
na conta que mantinha como caçador de ondas, um perfil voltado somente
para as ondas e imagens de Isabella, havia mais de 1000 curtidas e 300
comentários e estava sendo republicada em diversos outros locais.
Localizou o perfil de Bella no Facebook, Instagram e Twitter, acompanhou
as postagens do dia, com fotos das gravações dos programas e com o
namorado, deixando-o mais irritado ainda.
Desejava ser o homem que ela desejava, leu mais vezes que pôde contar a
informação oficial vinda da empresária:
Havia mais duas fotos do casal, sendo uma a oficial e mais uma além
daquela que ele tirou.
João andava de um lado para o outro, quando o produtor do canal On ligou
e ofereceu a ele a vaga de fotógrafo do próximo projeto.
Sim, João era fotógrafo profissional, o que o permitia viajar sem suspeitas
e assim perseguir Isabella pelo mundo, na segunda teria os detalhes para esse
projeto, até lá estava concentrado em como separar o casal feliz.
5
Quando todos saíram da casa restando somente à bagunça, Mara
havia chamado a caseira para ajudá-la na arrumação, enquanto André, Pedro,
Reinaldo e Isabela iam para o Sirena dançar com os amigos Rodrigo e
Fabiana, Doo e Luci, e o restante do pessoal.
No Sirena, foram colocados na área VIP, porém muitos fãs de todos
vieram para tirar fotos e autógrafos, após serem atendidos, e seguindo a linha,
todos pediram sucos, exceto por Luci, André, Pedro e Reinaldo que estavam
tomando cerveja.
Luci, Fabiana e Isabella dançavam de forma sensual no meio da multidão,
Reinaldo observava de longe e seu lado ciumento começou a aflorar, nunca
tivera ciúmes de Sabryne, poderia andar nua na rua que não se importaria,
mas Isabella era diferente, queria ir lá e esmurrar a cara do rapaz que estava
olhando para ela.
Resolveu respirar fundo e se juntar a Bella na pista, puxou seu corpo
contra o dele e dançou agarrado a ela, não resistiu e passou a mão pelas suas
costas até seu pescoço, até aquele momento não haviam se beijado, e estava
sedento por sua boca carnuda.
Segurou-se para não agarrar seu pescoço e beijá-la, em vez disso pegou sua
mão e a fez rodopiar, fazendo-a rir, a fez voltar para ele rodopiando, abraçou-
a e continuaram a dançar, a sua intenção de afastar os homens ao redor dera
certo.
Isabella ficou impressionada com Reinaldo, e por ele saber dançar,
normalmente quando saía com Shaft, ele ficava olhando com cara de mau, e
ela dançava sozinha ou com as meninas.
Estava amando ser mimada pelo namorado de mentirinha, voltaram para a
mesa e enquanto andava a sua frente, observou que Reinaldo tinha uma linda
bunda, e suas costas largas deviam ser bem torneadas sem a camisa, se
perguntou por que não reparou nele ontem na praia quando estava somente de
bermuda.
Isabella repetia na sua cabeça, burra, burra, burra, devia ter reparado nele
mais cedo, sim, agora estava reparando, seus lábios eram bem desenhados e
carnudos, o que lhe causou um arrepio pelo corpo de imaginar a boca dele
pelo seu corpo.
Ficou olhando o rosto do homem que se passara por seu namorado de
mentira e pôde ver uma cicatriz no supercílio, outra no queixo e um sorriso
com dentes perfeitamente alinhados, a camisa estava agarrando seus braços,
queria vê-lo nu, para poder ter uma opinião melhor, mas sabia que seria
impossível, uma vez que o namoro era de mentira.
Perguntou-se o que levava uma pessoa a não desmentir que namora alguém
que mal conhece, deve ter ficado interessado na parte do retorno que a
publicidade fará por ele e sua empresa, ou poderia ser por lealdade ao irmão.
O que Isabella não imaginava era que Reinaldo estava encantado
genuinamente por ela, sem interesse algum, e que o acordo de ser namorado
de mentira era um absurdo para ele, passou horas contando sua vida para
Mara, o que foi terrível, pois aquela mulher apesar de parecer boa era o
diabo.
Reinaldo reparou que Isabella o olhava pela primeira vez como um homem
e não como o amigo do irmão, ou o namorado de mentira, o que estava
deixando-o orgulhoso, sabia que não era feio e também sabia que não era
nenhum modelo de cueca, mas tinha seus atributos.
Ele resolveu provocar Isabella e ver até que ponto ela aguentaria, começou
de onde estavam sentados passou o braço por trás dela e começou a fazer
carinho em seu braço até o pescoço, sabia que estava causando arrepios,
virou-se e a beijou atrás da orelha.
Isabella estrangulou um gemido do carinho que Reinaldo fazia em seu
braço, não teve o mesmo sucesso com o beijo atrás da orelha, era seu ponto
fraco, pescoço e atrás da orelha, se derretia como manteiga com carinhos e
beijos nessas áreas, e Reinaldo estava brincando com fogo, e se queria
brincar, ela entraria no jogo.
Ah, sim! Isabella sabia brincar de provocar e estava mais que disposta.
Virou-se para ficar mais aconchegada naquele homem e passou as unhas por
baixo da camisa em seu abdômen, fazendo o homem se contorcer e ter que se
ajeitar, pois seu amigo estava endurecendo se já não estivesse duro.
Reinaldo levantou-se apressado com a carícia ousada de Isabella, ele
acabara de ficar mais duro que rocha, nunca na sua vida adulta havia perdido
o controle num local público ou diante de plateia.
André estava incomodado com o modo de Reinaldo e de Isabella, afinal
era só um arranjo de mentira, não precisavam estar tão grudados, ou se
provocar, o que resultou num André muito bravo e que não iria se meter,
como sempre, mas ficaria de olhos e ouvidos atentos.
Isabella foi atrás de Reinaldo que fora ao banheiro, encontrou com ele
quando estava fazendo o caminho de volta, e fora agarrada pela cintura.
— Você sabe como provocar um homem.
— Isso é um jogo que se joga a dois, se você pode, eu também posso.
— Você é mais atrevida que eu imaginei.
— Você começou, eu só entrei no seu jogo.
— Sim você só usou as armas pesadas.
— Não tenho culpa se você é fraco.
Reinaldo estava colado com Isabella, cercado de pessoas desconhecidas
tirando fotos da surfista, ele não queria beijá-la ali na frente de estranhos,
queria sim beijá-la, mas num local sagrado, um local onde se lembrariam de e
retornariam diversas vezes.
O coro de beija, beija, beija dos desconhecidos afastou a ideia romântica
de Reinaldo. Isabella, ouvindo as pessoas ao seu redor, olhava nos olhos de
Reinaldo e não sabia qual seria sua reação se o beijasse.
Isabella, atendendo aos pedidos, beijou Reinaldo, que a agarrou com mais
força e segurou sua cabeça, aprofundando o beijo, fazendo Isabella se
derreter em seus braços.
Reinaldo pôde sentir todas as barreiras de Isabella se desmoronar, sentia a
entrega e o modo passional dela por um simples beijo.
Sim, ele estava encrencado, estava se apaixonando pela sua namorada de
mentira.
Isabella não pôde se conter e perdeu o controle no beijo com Reinaldo, ela
queria mais, agarrada nos seus cabelos, queria tê-lo ali no meio da multidão,
quando ambos precisavam de ar e se afastaram, ficaram olhando nos olhos
um do outro.
Sim, ela estava encrencada, saiu de lá em direção ao banheiro, precisava se
recompor.
6
Mara ficou acordada até às duas da manhã, quando todos
regressaram a casa, precisava garantir que Isabella estava bem, poucos
minutos depois de todos chegarem, a casa estava em silêncio, já haviam se
encaminhado para seus quartos.
A casa não era grande, mas Mara providenciou que os casais ficassem em
quartos e que André, Pedro e Reinaldo ficassem no quarto de Isabella.
Usualmente, mesmo dormindo pouco, Isabella acordou às 4 da manhã,
levantou-se e olhou a janela, estava nublado e as ondas quebravam em
cascatas, um dia perfeito para o surf, e quem sabe exorcizar o beijo de
Reinaldo.
Saiu do quarto com todo o cuidado, para não acordar os outros, era uma
segunda-feira de feriado emendado no Brasil, preparou seu mix na cozinha,
maçã, pó de guaraná e suco de laranja, bebeu e saiu em direção ao mar.
Reinaldo não pregou o olho à noite toda, revivia novamente cada segundo
do beijo e o modo desconfortável que ambos ficaram após o regresso dela,
ficaram de mãos dadas e não trocarem nenhuma palavra, mas os olhares
cheio de intenções.
Ele viu quando ela levantou, olhou pela janela e saiu de fininho, Reinaldo
esperou um pouco e foi atrás dela, que caminhava sentido à praia, ficou
observando de uma distância segura.
Observou quando Isabella fez sua prece e agradeceu ao mar por mais um
dia de ondas, e então entrou com sua prancha, viu-a remando e passando por
baixo das ondas que se arrebentavam, viu quando chegou após a arrebentação
e ficou sentada na prancha.
Isabella percebeu assim que saiu da casa que Reinaldo a seguia, achou
interessante o namorado de mentira a seguir, e como sempre fez sua prece:
“Agradeço estar viva mais um dia para contemplar a grandeza do mar,
prometo ser gentil, e honrar as ondas que a mim vierem. Agradeço a Deus e
Poseidon, por me permitirem estar aqui.”
Ela viu que ele estava observando atentamente, achou melhor fingir que
não o viu, e após a prece, entrou no mar, passou pela arrebentação e sentou-se
na prancha esperando sua onda.
Ficou pensando no beijo de ontem e em Shaft, nas diferenças entre os dois
homens, de mundos tão diferentes, não viu quando ondas maravilhosas
passavam por ela.
Estava inerte em seus pensamentos, quando fora acordada pelos demais
surfistas que chegavam ao mar.
Espantou seus pensamentos e pegou uma onda, como sempre acontecia, foi
aplaudida no final pelos colegas surfistas e pelos amantes do esporte.
Reinaldo percebeu a movimentação ao redor de Isabella de surfistas de
várias idades, mas o ciúme correu em suas veias ao ver os mais próximos a
sua idade e de Isabella, teve vontade de saber surfar pela primeira vez na vida
e poder estar ao lado dela no mar.
Levantou-se de onde estava e ficou atento às manobras que Isabella fazia
sobre a prancha, deslizava no mar e quando foi aplaudida entendeu o respeito
dos marmanjos a sua volta, o interesse deles era legítimo, ela era uma surfista
profissional, ao contrário deles.
Isabella voltou ao mar e surfou mais algumas horas, até seu corpo estar em
exaustão, saindo do mar percebeu Reinaldo vindo em sua direção.

Mara estava reservando o hotel em São Paulo para o restante da semana e


o fim de semana, Isabella tinha compromissos na selva de pedra, e sabia que
seria uma semana horrível, pois ela não conseguia viver mais que dois dias
longe do mar.
Esperava que ver seu pai a animasse, e que o irmão André a ajudasse a
mantê-la em São Paulo.
Haveria duas sessões de fotos a fazer, uma de biquínis, sabia que Isabella
iria ficar incomodada com o tamanho dos trajes, e outra de óculos, este seria
fácil.
Uma das coisas que aprendeu sobre Isabella nesses anos todos, é que ela
não se via como o mulherão que pintavam, sabia que não era feia, mas não se
via como símbolo sexual, somente como uma pessoa normal.
Outra coisa que aprendeu é que odiava fotos de biquíni e de tamanhos
pequenos mais ainda, não se importava de fazer fotos de óculos, das pranchas
ou das roupas de neoprene, mas odiava com todo seu ser fotos de biquíni em
especial quando tinha que fazer caras e bocas.
Seus dias em São Paulo seriam terríveis, havia também o desfile da nova
linha de praia de uma marca de biquínis, outra coisa que Isabella odiava,
andar numa passarela para que todos a vissem e fotografassem.
Não se importava em dar entrevistas ou ser fotografada no mar, ou em
campeonatos, até mesmo na folga não se importava, mas ela odiava essa
parte do trabalho.
Esses dias seriam infernais, com uma Isabella ranzinza e mal-humorada.
Marcou almoço com o pai, apesar de saber da última briga, por causa da
nova namorada, Isabella aceitava todas as namoradas que tinham diferença de
até 10 anos de idade dele, mas não aceitou Valéria, com apenas 25 anos, dois
anos a mais que ela.
Mara estava na mesma sala quando Isabella e o pai estavam falando pelo
skype, ouviu a briga toda, ela o acusava de não se importar com seus
sentimentos, ele a acusava de mudar de país, ela acusava ele da traição que
resultou no divórcio, por fim Isabella desligou sem se despedir e passou dois
dias sem falar nada.
Estava acostumada com o silêncio dela, quando estava chateada ou triste e
quando estivesse pronta falaria, mas o pai era um assunto que nunca
conversava com ela, e nem com André.
Outro assunto que nunca conversava com ela era a mãe, estava há cerca de
três anos sem se falar, e nunca soubera o motivo, mas mesmo assim nunca
deixou de ajudá-la financeiramente.
Sabia que a mãe estava em Paris com o novo marido, o quinto pelo que
sabia, este tinha somente 30 anos, e sabia que estava usando-a pelo dinheiro.
Isabella ganhava bem, não era rica, mas acumulou ao longo dos 7 anos
uma pequena fortuna, era sábia com o dinheiro, não esbanjava, a única coisa
que fez foi comprar para si a casa no Havaí, até Mara achou justo, afinal ela
não era uma maluca com o próprio dinheiro.
André acompanhava de perto seus ganhos e, como advogado, ele sabia
todos os contratos e as porcentagens que Mara ganhava com cada marca,
nunca interferira nos valores, somente nas cláusulas e condições, sabia que
sua empresária não deixaria os valores serem baixos.
Quando Isabella ligou e disse que queria uma casa no Havaí, ele não
discutiu nem interveio, somente perguntou se ela tinha certeza, com a
resposta, pegou um avião e a encontrou para procurar a casa perfeita, ajudou
em todo o processo de compra e voltou a sua vida.
7
Reinaldo pegou na cintura de Isabela, que estava molhada e com
a prancha embaixo do braço, e lhe deu um beijo casto, para marcar o
território.
Jair que olhava de longe ficou pasmo ao vê-la com o amigo do irmão,
imaginou como André estaria reagindo a isso. Isabella veio à barraca se lavar
e lavar a prancha, e Jair já tinha seu suco de melancia pronto e seu sanduíche.
— Bom dia minha linda, como foi ontem? – Jair na sua alegria contagiante
falou com Isabella.
— Foi bom Jair.
— Seu sanduíche e suco no capricho, e aí rapaz o que você vai querer?
— O mesmo que ela.
Ainda era muito cedo para uma cerveja, eram dez horas e estava na praia
desde as 04h30min da manhã e morrendo de fome, entendeu, quando mordeu
o sanduíche, os gemidos de ontem de Isabella ao comer, a maionese não era
comum, era artesanal e com especiarias, com seu paladar apurado ao longo
dos anos degustando café e vinho, identificou na maionese temperos
incomuns, mas que fizeram uma boa combinação.
Nunca imaginaria que salsinha, orégano, tomilho e açafrão combinassem
tanto com maionese, frango desfiado, alface, cenoura ralada, agrião e batata
palha no pão integral, estava se deliciando.
Isabella observou o corpo de Reinaldo, afinal ontem não teve essa
oportunidade, ou melhor, não prestou atenção, e percebeu que estava certa,
era bem moldado em academia, pelo modo como devorava o sanduíche, ele
devia malhar muitos dias na semana para poder ficar assim, percebeu umas
estrias e soube na hora que ele fora uma criança e provavelmente um
adolescente gordinho, ou melhor, bem acima do gordinho.
— Você está gemendo enquanto come. – Isabella riu ao comentar.
— Está delicioso, agora entendi seus gemidos ontem enquanto comia. –
Reinaldo disse rindo.
— Já convidei o Jair para morar comigo e ser meu cozinheiro, mas ele
sempre recusa.
— Deus, se ele viesse no seu pacote eu teria que abrir uma academia, e não
sairia mais de lá.
Ambos riram e comeram com vontade o sanduíche, terminaram no meio de
risadas e gemidos.
— Se não conhecesse a Isa diria que ela é comilona, mas você rapaz, sabe
comer tão bem como ela, pelo visto você já foi um gordinho.
O comentário despretensioso de Jair deixou Reinaldo sem graça, Isabella
percebeu e se solidarizou colocando sua mão sobre a dele, um gesto tão
simples que aqueceu o coração de Reinaldo.
A lembrança de ser o único dos irmãos que era gordinho, e sempre
desprezado pelas pessoas em diversas situações, lembrou-se ainda de suas ex-
namoradas que sempre brigavam por ele ser gordo.
— Não liga o Jair às vezes não tem trava na língua. – Isabella disse
olhando em seus olhos, seu tom de voz não era de pena ou de solidariedade e
sim de amizade — Vem, vamos caminhar, o mar agora está meio parado.
Os dois saíram caminhando pela praia, de mãos dadas.
— Você então foi gordinho, eu acho que seria uma baleia se não tivesse o
surf. – Isabela falou e Reinaldo riu de sua piada mal feita. — Você me viu
comer, adoro comer, ontem devo ter comido mais de um quilo em picanha. –
Reinaldo riu de sua forma simples de ser.
Sabryne controlava tudo nele, desde suas roupas, os restaurantes, até o
prato que cada um pediria, contava as calorias e exigia que ele ficasse magro
e sarado. Fora por uma namorada antes de Sabryne que emagreceu, e quando
a conheceu, no evento da empresa de sua cunhada, ela o viu pelo corpo e não
por sua pessoa.
— Eu fui gordo até os meus 23 anos, e uma namorada que era personal
trainer me fez seu projeto pessoal, passei de 140 quilos para 95 em 5 meses,
parte da gordura virou músculo, e a outra parte derreteu com tanta massagem
e comida saudável. – Ele contou com ressentimento na voz. — Depois de ter
ficado mais uns meses, ela terminou comigo dizendo que gostava mais de
mim gordo, acredita?
Isabella ria com vontade pelo motivo do término da namorada.
— Acho que ficou com ciúmes de você ter ficado assim todo gostoso,
imagino que muitas mulheres passaram a te olhar diferente.
— Sim, verdade, nunca pensei nisso, mas na época fiquei deprimido.
Isabella agarrou seu braço forte e colocou a cabeça no seu ombro, em sinal
de solidariedade. Reinaldo não era tão alto devia ter 1,80 ou 1,85, Isabella
tinha 1,69 e meio, sim, ela queria ser mais alta, mas nesse momento estava
feliz em ser relativamente mais baixa.
Reinaldo passou o braço pelo pescoço de Isabella e caminharam juntos
abraçados, como um casal, mesmo sabendo que era de mentira estava
adorando esse tempo com ela, era divertida, honesta, sincera e muitas vezes
engraçada.
— Agora me conte algo que não está nos sites sobre você, porque a Mara
me deu a sua ficha, mas quem é a Isabella por trás? – Reinaldo perguntou
curioso.
— Sobre mim? – deu um suspiro — Nossa, acho que minha vida está
catalogada na internet, se você der um Google sobre mim terá tudo. – Riu de
si mesma.
— Não Isa, algo que não acho no Google.
— Humm... tudo bem, meu pai namora uma moça que tem dois anos a
mais do que eu, odeio tirar fotos de biquíni, minha mãe está no seu quinto
casamento, com o quinto marido horrível que vai fazê-la infeliz, e você já
sabe que amo comer, em especial hambúrguer, batata frita e toda a junk food
possível, não bebo em público e adoro um vinho.
Isabella riu da reação de Reinaldo que acabou rindo com ela, nunca
imaginou que o que havia lido sobre ela estava tão errado, que a surfista que
estava em revistas de boa forma era viciada em comidas junk e que gostasse
de vinho.
— Sério que você não bebe em público. Mas por quê?
— Porque um esportista tem que dar exemplo, em especial a crianças, e
adotei o estilo fora das manchetes de celebridades, me focando mesmo no
esporte. Nunca quis que meu lado pessoal aparecesse nas revistas.
— Entendi, e o que aconteceu recentemente deve ter te deixado... –
Isabella colocou o dedo em seus lábios.
— Vamos mudar de assunto. – Isabella pediu com carinho, deixando
Reinaldo desarmado.
— Então, seu pai namora uma quase irmã sua.
Isabella desatou a rir do trocadilho mal feito, os dois sentaram no fim da
praia e ficaram olhando o mar, ela estava entre suas pernas com a cabeça
apoiada no seu ombro, Reinaldo não resistiu e lhe beijou o pescoço, passando
os dedos em seu braço.
— Para, por favor, melhor voltarmos.
Eles se levantaram e caminharam lado a lado de volta, quando estavam
próximo, Reinaldo não resistiu, agarrou sua mão e a puxou com força
fazendo-a bater de encontro a ele, agarrou seu pescoço e beijou-lhe
desesperadamente, ela se rendeu ao beijo nos primeiros segundos, agarrando
seus cabelos e aprofundando mais o beijo.
Isabella sentiu o amigo de Reinaldo entrando em ação durante o beijo e se
esfregou nele provocando um gemido dele, quando estavam sem ar se
separaram, ele não a largou, beijou-a novamente com mais intensidade que
antes, arrastando-a para o mar.
Ambos estavam no mar e beijavam-se intensamente, o amigo de Reinaldo
estava duro e Isabella o sentia em seu estômago, ela puxava seus cabelos com
a excitação que o beijo estava causando. Reinaldo estava desesperado para
aliviar seu amigo da bermuda, mas ali não era um local sábio, lembrou-se de
uma celebridade que foi pega fazendo sexo no mar, e não queria esse mal
estar para Isabella.
Ele parou o beijo, olhou em seus olhos e viu o mesmo desejo dele sendo
refletido nos dela, sabia que seria como gasolina e fogo, pura combustão, mas
não podia ser ali, queria na privacidade de um quarto, saiu de perto dela uns
centímetros sentindo um remorso enorme.
— Desculpe, eu não devia ter te beijado assim.
Isabella se aproximou novamente dele, pegou seu rosto com carinho.
— Não precisa se desculpar, mas precisar ficar mais tempo na água. – E
começou a rir da cara de dor que ele fez.
— Se você ficar não poderei sair.
— Eu saio, mas te espero no quiosque.
8
Reinaldo ficou mais de vinte minutos no mar para se acalmar, se
recusou a se dar prazer, queria ter ela e não o prazer vazio de suas mãos,
quando se acalmou foi para o quiosque, encontrou seus amigos e os demais
casais e surfistas. Sentou-se ao lado de Isabella depois de um rápido beijo em
seus lábios.
André não estava gostando dessa proximidade entre os dois, o amigo era
leal, boa pessoa, mas não era bom para Isabella, na verdade nenhum homem
seria, gostava e muito de Reinaldo desde o primeiro dia que esteve em sua
loja.
Mesmo sendo advogado, nunca gostou da profissão, abriu uma loja de
material de construção com um amigo da faculdade, e somente advogava em
favor da família, ou melhor, em favor da Isa. Sua namorada nos últimos três
anos era a pessoa perfeita para ele, batalhadora, de família simples e sem
complicações, pretendia pedi-la em casamento no natal junto da família, e
casar em maio, no mês das noivas como ela tanto sonhava.
Podia ser piegas, mas não cometeria os erros do pai e trairia sua esposa e
depois dividiria os filhos como se fossem propriedades, ele seria diferente,
seria o homem honesto e que realizaria todos os desejos de sua esposa,
mesmo que fosse casar na igreja com a pompa que ela desejava.
André precisava ter uma conversa de homem para homem com Reinaldo
sobre Isabella, não queria que ela se machucasse mais uma vez. Já vira sua
irmã sofrer algumas vezes, mesmo em silêncio sabia que seu coração havia
sido quebrado algumas vezes.
Sim, o irmão conhecia bem demais a irmã para saber o quanto ela era
romântica e passional, se apaixonava com facilidade e tinha a tendência de
acreditar em todos, mesmo seu pai sendo um cretino, Isabella não se tornou
uma mulher desacreditada no amor, ainda nutria em seu coração as ideias dos
contos de fadas e do príncipe encantado.
Mesmo ela nunca tendo falado sobre os términos, ou os motivos dos
términos, ela se curava e continuava acreditando que o próximo seria o para
sempre, mas André também sabia que desde o término com Sabryne,
Reinaldo não se fixava com ninguém, conhecia bem o amigo, mas não tão
bem para saber se ele trataria sua irmã como merecia.
Reinaldo notou que André estava olhando pensativo para ele, sabia que
teria que ter uma conversa com o amigo, afinal ele queria deixar de ser o
namorado de mentira para ser o namorado de verdade, estava com medo de
seu amigo não entender ou não gostar.
Isabella, os surfistas e Rodrigo entraram no mar com suas pranchas,
largando os não surfistas no quiosque, Luci, Fabiana, Reinaldo, André e
Pedro pediram cerveja e caipirinha, e deram início ao período da tarde.
André aproveitou que a irmã estaria no mar por algumas horas e sentou-se
ao lado de Reinaldo, era a hora perfeita para a conversa de homem para
homem.
— Estou achando que vocês dois estão passando dos limites do
fingimento.
— Estava esperando você vir me dizer algo, sua irmã é uma pessoa
maravilhosa.
— Sim ela é, mas também é uma figura pública, e uma pessoa que viaja o
mundo atrás de ondas, o campeonato mundial tem 11 etapas em 11 locais do
mundo, ou seja, viaja o ano todo, você está disposto a namorar por skype, ou
encontrá-la duas ou três vezes no ano?
— Não sei, para ser honesto estou encantado com ela, seu modo simples e
gentil e sempre doce, mesmo no mundo dos homens é extremamente
feminina, quando estou com ela posso ser eu mesmo sem máscaras, ou ser o
empresário, ou qualquer coisa assim.
Os dois passaram uma hora conversando até que André entendeu que seu
amigo estava apaixonado pela sua irmã, mesmo não sabendo. E sabia que
isso daria problemas.

Mara estava ao telefone com o produtor do canal On negociando o


documentário em 3 episódios sobre as ondas gigantes de Nazaré, que Isabella
surfaria no próximo dia 14.
Desligou e providenciou as passagens aéreas para elas de São Paulo para
Portugal, no domingo à noite, Isabella teria 13 dias para se concentrar antes
das ondas, como sempre faziam.
Ela tinha seu ritual, em campeonatos era mais simples, podiam chegar 5
dias antes e ela observava o mar todos os dias até o dia do campeonato.
Já com as ondas gigantes era diferente, precisava de uns 10 dias de silêncio
e concentração, era algo que somente quem passava pelas ondas gigantes
sabia, o medo, a angústia, e o risco de vida, ela como espectadora achava
maravilhoso, mas não conseguia saber o prazer e o medo de se estar numa
onda de mais de 30 metros.

Shaft lia diariamente as notícias e via as fotos do casal em Maresias, nunca


fora a sua casa, mesmo com todos os pedidos de Bella, sentiu remorso de
nunca atender.
Lembrou-se dos momentos que compartilharam ao longo de dois anos, na
Indonésia, na África do Sul, e em tantos outros locais do mundo.
Deu-se conta do quanto havia sido egoísta, pensando sempre primeiro na
onda e depois nela, mesmo amando-a.

Mara recebeu os motoristas que levariam os convidados de volta ao Rio de


Janeiro, e foi à praia buscá-los, depois de se despedirem, retornou a casa com
os convidados para se arrumarem e retornarem ao Rio.
Reinaldo ficou à beira do mar conversando com André e Pedro bebericando
a cerveja e vigiando, mesmo inconscientemente, tudo que Isabella estava
fazendo, viu quando um surfista invadiu sua onda, fazendo-a cair, seu instinto
em correr e salvá-la fora enorme, mas a mão ágil de André o segurando, o
impediu de ir ao encontro dela.
Isabella saiu do mar irritada, o rapaz que a cortou estava saindo do mar,
quando ela foi de encontro a ele.
— Você é louco, é isso?! Quem em sã consciência corta uma onda de outra
pessoa?
— Qual é gatinha, foi só uma quedinha.
Isabella ficou muito irritada por ser chamada de gatinha, e deu-lhe um
murro no rosto, o nariz do rapaz começou a sangrar.
— Sabe, a gatinha aqui odeia idiota, e mais ainda quando não sabem pedir
desculpas.
Virou as costas e saiu andando, foi aplaudida por vários surfistas e pessoas
que viram tudo. Reinaldo não conseguiu conter a gargalhada de ver Isabella,
a doce e gentil surfista, sendo a pugilista dos mares.
André e Pedro já conheciam de longe o temperamento explosivo de
Isabella e por isso seguraram Reinaldo, para não sobrar para ele.
— Ela é sempre assim? – Reinaldo perguntou ainda incrédulo em meio às
gargalhadas.
— Acho que você nunca leu quando um juiz tirou ponto dela, causado por
um óculos de sol que não o fez enxergar, ela não só quebrou o nariz do cara
como quebrou um dente dele, ela teve que ser segurada para conter a raiva.
— Você tá brincando comigo André.
— Não o Dedé não tá brincando, nunca entre na minha onda, nunca me
chame de gatinha, querida, fofinha, lindinha, ou qualquer inha, e nunca,
nunca mesmo, entre nas minhas brigas, são minhas e de mais ninguém. –
Isabella entrou no meio da conversa — Fazia um bom tempo que eu não
acertava ninguém, a última vez tinha uns 2 anos.
Isabella estava possessa, não por ter entrado em sua onda, e sim pela falta
de trato do rapaz, se tivesse pedido desculpas jamais bateria nele, mas ele
precisava de uma lição, e ela era ótima professora.
Reinaldo seguiu quando Isabella retornava para a casa, entendeu pelo seu
modo de andar que ainda estava brava, mesmo assim se aproximou, agarrou
sua cintura e deu-lhe um beijo sem pressa, mas intenso, Isabella se derreteu
no beijo deixando toda sua braveza e chateação de lado.
— Se toda vez que ficar brava ganhar um beijo, vou te carregar na mala. –
Disse quase sem fôlego do beijo.
Ele sorriu de orelha a orelha, seu plano dera certo, e Isabella desfez as
barreiras da braveza.
Mara observou o casal feliz chegar conversando e trocando carinhos, não
estava feliz com o que via, sabia que Reinaldo estava se apaixonando por
Isabella, mas e quanto a ela, estava somente curtindo? Precisava ter uma
conversa, e urgente, com a Bella.
Enquanto Isabella limpava a prancha, Reinaldo remoía a conversa que
tivera mais cedo com André, se ele realmente se apaixonasse por ela, seria
difícil, ou melhor, complicado, afinal ela viajava 11 meses do ano e quando
não estava surfando voltava para a casa no Havaí.
Deixar de ser o namorado de mentira para ser o real seria simples se
morássemos no mesmo estado, mas moramos em países diferentes.
9
O celular de Reinaldo tocava enlouquecidamente, e Mara
ouvia, incansavelmente, como já haviam retornado, pegou o aparelho e levou
ao dono, entregando o aparelho.
Mara, ao se aproximar de Isabella e Reinaldo, atrapalhou o casal, que ainda
acreditava estarem fingindo ser namorados, e ambos sabiam que a desculpa
uma hora não seria mais aceita.
Reinaldo prensou Isabella num canto fundo da piscina, onde ela não
alcançaria o fundo, ele a beijava com vontade, Isabella vendada pela luxúria
abraçou a cintura dele com suas pernas, fazendo as partes íntimas de ambos,
em chamas, ficarem em contato só os separando pelo fino tecido do biquíni e
da bermuda.
Quando Reinaldo pegou o telefone soltando Isabella, viu 35 ligações de
sua mãe, mais 20 mensagens de seu pai e irmãos, e mais de 1.100 mensagens
no whatsapp, dos grupos e dos amigos, Isabella olhou quando seu telefone
tocava pela 36° vez por sua mãe. Ela pegou o telefone e atendeu.
— Alô.
— Alô, quem fala?
— Isabella, boa tarde mãe do Reinaldo.
— Olá minha filha, estou tentando falar com ele, que não responde.
— Desculpe, mas é minha culpa, estávamos na praia e as ondas hoje
estavam ótimas, demoramos mais que o normal.
Ambas conversaram ao telefone e Reinaldo riu, após uns minutos de
conversa, Isabella ativou o viva-voz, e os três começaram uma conversa,
André e Pedro chegaram e riram da conversa, se meteram em tudo que
podiam e não podiam.
Isabella adorou sua mãe, achando-a agradável e carinhosa, combinaram de
se conhecer em breve.
Todos entraram em casa para almoçar, Mara se juntou ao grupo,
anunciando o itinerário de São Paulo e o hotel que estariam hospedadas.
— Não, você não vai ficar em hotel, ficará na minha casa. – Seu irmão
informou.
— Dedé eu adoraria, mas você e a Luciana moram juntos, não quero
atrapalhar, é diferente quando vocês vão na minha casa, eu tenho uma casa de
hóspedes.
— Eu sei Isa, mas...
Reinaldo estava se sentindo ofendido por Isabella nem cogitar a opção de
ficar em sua casa, sabia que provavelmente seria decisão da Mara, e resolveu
que se envolveria o máximo que pudesse na vida de sua namorada de mentira
para que se tornasse de verdade.
— Por que você não fica comigo, meu apartamento tem um quarto extra,
você pode ficar com ele o tempo que quiser.
— Não seria certo...
— Sim, seria perfeito ser fotografada na casa do namorado de mentira, já
estão assediando a família dele, bem capaz de ter gente no apartamento, iriam
amar uma foto nossa entrando no prédio.
— Isabella pense bem, você tem compromissos.
— Sim Mara, nada que o táxi não resolva, não sei dirigir mesmo.
— Espere, você não dirige? – Reinaldo perguntou entre estarrecido e
curioso.
— Não, nunca aprendi e nem tenho vontade!
Isabella e Mara caminharam para o escritório e conversaram
calorosamente, os rapazes da cozinha podiam ouvir partes da conversa.
Mara tentava colocar juízo na cabeça de Isabella, que estava encantada
pelo namorado falso, num determinado momento da conversa, ela admitiu
querer que o namoro não fosse de mentira.
— Bella, vocês não dariam certo, ele mora aqui em São Paulo, e nós no
Havaí, quilômetros de distância, além de você trabalhar viajando.
— Eu sei Mara, mas você não entende, é diferente com ele.
Isabella saiu da sala batendo a porta, saindo pela porta da sala pegou sua
prancha e andou em direção ao mar, nem a chuva que caía a impediu de ir
para o mar.
Mara saiu correndo atrás dela gritando seu nome, mas sabia que até sua
mente se acalmar não ouviria mais nada, e nem se deixaria entender. Sua
preocupação estava certa, ela estava se apaixonando e isso seria problema,
nunca viu Isabella brigar por decisões pequenas de trabalho como hotel ou
coisa assim.
André e Reinaldo ficaram olhando para Mara esperando respostas, que
talvez não quisessem ouvir.
— Se ela vai ficar com você, acho bom cuidar dela, e não deixar que falte
em nenhum dos compromissos, isso é a vida dela, e você pode destruir tudo. –
Mara informou de forma ríspida, pois sabia o que estava em jogo.
— Tudo bem, só preciso dos endereços e horários de onde deve estar.
Mara passou todas as coordenadas a Reinaldo de locais e horários, mas
continuava preocupada com tudo, em especial, porque Isabella estava no mar
no meio de uma chuva que se agravava.

João se reuniu com a produção do canal On, e acertou sua participação


como fotógrafo de making off do documentário A Onda Perfeita com Bella
Andrade.
Ele estava mais que feliz por poder fazer parte do documentário, mas mais
feliz por poder ficar perto de Isabella.
Sim, João era mais que apaixonado por ela, ele a amava, um amor
verdadeiro.
Ao regressar para sua casa, entrou em seu quarto e deitou em sua cama, as
paredes e o teto eram cobertos por fotos de Isabella, que ele tirou, ou que
saíram em revistas, jornais e rede social.
Sua obsessão começou quando Isabella não era ninguém, e somente ele via
nela o potencial de uma campeã.
Isabella estava sentada na areia olhando as ondas que se formavam, sentia
a chuva caindo juntamente com suas lágrimas, não se lembrava da última vez
que chorou, mas lembrava do motivo, mais uma decepção com sua mãe e seu
pai, e desde então prometeu nunca mais chorar.
O silêncio da praia, o quebrar das ondas, sempre a acalmavam de uma
forma que as pessoas nunca conseguiram, mesmo a chuva não tirava o brilho
de ver as ondas se quebrando, seu coração, sua alma, seu corpo pertenciam ao
mar, e junto dele conseguia se acalmar e colocar suas ideias em ordem.
Mas dessa vez seu coração não se acalmava, nem sua mente, voltava a
todas as decisões que ouviu de seus pais, relembrou de quando sua mãe fez as
malas chorando, e viajaram para essa casa de carro, todo o caminho sua mãe
chorava e dizia que homens não eram confiáveis, que eram cruéis e te traíam
de formas terríveis.
Isabella entendeu tudo, Shaft e seu pai eram feitos da mesma farinha,
traidores, homens são pessoas horríveis, e ela não iria se decepcionar
novamente, não iria se permitir amar novamente.
Lembrou-se de seu primeiro amor, Marcos, um surfista em início de
carreira, terminou com ela por estar começando a brilhar mais que ele, depois
teve Romeu, outro surfista, terminou porque queria ter mais relacionamentos,
ou seja, queria transar com muitas fãs, e depois teve o Tony, e Shaft por fim,
foi aí que ela entendeu, todos surfistas, em início de carreira, ou com carreiras
consolidadas, mas todos eram iguais a ela, e ele era o oposto e por isso havia
esperança, esperança de que fosse diferente.
Diferente, mas parecido com seu pai, que traiu sua mãe, roubou sua
confiança, sua autoestima, e seu prazer de viver, passou anos sobrevivendo,
até se casar pela segunda vez, e depois a terceira e as outras tantas vezes, e
ainda não havia conseguido ser feliz novamente.
Ela não se deixaria ser assim, seria diferente, ficaria na sua casa no Havaí e
com as ondas, e seria feliz.
10
Reinaldo via as horas passando e a chuva ficando mais forte,
começou a ficar preocupado com Isabella sozinha na praia, quando a viu
voltando toda suja de areia, correu para pegar uma toalha, quando foi
interceptado pela Mara e o André.
— Cara, se fosse você ficaria longe.
— Concordo com o André.
Isabella entrou na casa e foi direto ao banheiro, tomou uma longa ducha
quente, a água escaldante quase queimou sua pele bronzeada. Recuperada da
crise de choro e já vestida, desceu com seu computador nas mãos e sentou-se
numa das espreguiçadeiras da parte externa, o som da chuva e do mar era
reconfortante, os rapazes estavam vendo algo na televisão.
Ao abrir seu e-mail, tomou um susto, mais de 150 e-mails de Shaft, apagou
todos sem nem olhar, sobrou somente um, abriu e não havia nada, somente
um vídeo, clicou para iniciar.
A imagem de Shaft abatido a surpreendeu, estava em pé, mais magro e
com olheiras, ao fundo estava o mar, seu grande amor.
“Baby, sou o cara mais idiota no planeta, tinha você, a mulher mais linda
do mundo ao meu lado, a mais perfeita de todas, além de linda, gentil e
inteligente, uma das maiores surfistas do mundo, nunca disse isso porque sou
um grande imbecil, TE AMO. Sou um burro por nunca ter dito o quanto você
significa para mim, o quanto me faz feliz, te imploro – nesse momento ele
ficou de joelhos — Me perdoa.”
Isabella terminou de ver o vídeo com lágrimas nos olhos, entrou na casa e
pegou seu Iphone com a Mara, ligou para Shaft, que em menos de dois toques
atendeu.
— Baby, me desculpe eu sou um idiota.
— Kel, por favor, me deixe falar.
Reinaldo ouviu que Isabella falava em inglês e soube na hora que estava
com o ex-traidor, foi para a cozinha para poder ouvir parte da conversa.
— Baby, desculpe...
— Shaft deixe-me falar.
— Ok.
— Esses dois anos ao seu lado foram ótimos, sempre confiei em você,
amei você, desejei todos os nossos sonhos e planos, mesmo você nunca
dizendo em voz alta que me amava, eu sabia, pelas pequenas coisas, gestos,
somos ótimos juntos. – suspirou — Mas hoje, a confiança acabou, não iria
ficar bem sabendo que você viajou e eu fiquei, ou fui para outro local, sempre
me perguntaria se você bebeu e me traiu, enfim, uma relação sem a confiança
não existe, não quero...
— Baby, o que você me pedir eu faço, só não me deixe.
Isabella mesmo magoada não conseguia deixar de pensar que estava
magoando alguém tão querido.
— Não posso Kelvin, você morará no meu coração para sempre, mas não
posso mais, não tem como. Desculpe, mas acabou, e, por favor, não me
procure mais.
Isabella desligou o telefone ou acabaria por chorar. Apoiou-se na parede e
ficou olhando a chuva cair.
No peito de Reinaldo orgulho brilhava pela atitude de Isabella, mesmo
magoada foi gentil e carinhosa, ele tinha certeza que seria impossível, depois
de ficar com ela em sua casa, se despedir.
André a abraçou pelas costas, em sinal de solidariedade, sabia que estava
sendo difícil para Isabella, mas até ela falar não poderia dizer nada.
— Só me diz que nem todos os homens traem.
— Não querida, só os sem caráter.
— Só os sem caráter. Papai é um desses.
— Não minha linda, ele é bom, mas a mamãe e o papai juntos são ruins um
para o outro.
— Não entendo, como assim?
— Isa, quando você nasceu foi um ato de desespero da mamãe em chamar
atenção do papai, ele saía e ficava dias fora em viagens a trabalho. Eles se
casaram porque a mamãe ficou grávida de mim, e só ficaram juntos por
minha causa e aí as brigas começaram, quando eu tinha uns cinco anos, a
mamãe engravidou e você nasceu, sempre que brigavam, você lembra que eu
entrava no seu quarto e nós brincávamos de esconder com música.
— Você fazia isso para que eu não ouvisse eles brigarem, depois a coisa
desandou e vim morar aqui com ela.
— Sim, a coisa desandou, os dois não são bons um para o outro, e não
deixe o que eles são acabar com seus sonhos. Só entendi isso quando
encontrei a Luciana, ela é a minha metade, nós somos um só juntos ou
separados.
Isabella abraçou o irmão e ficaram assim um tempo, sabiam que a dor da
traição passaria, e sabiam que seria difícil para ela recuperar a fé no amor.
Reinaldo da cozinha ouviu a conversa dos dois e se sensibilizou pela
menina que Isabella foi, começou a entender a relação de André e seu pai
Walter, sempre educados, mas distantes. André, nos últimos 3 anos, passou
os natais e feriados, ou com a família de Luciana, ou com a dele, começou a
entender mais do amigo, em dois dias conhecera mais que em 5 anos.
Isabella e André conversaram mais sobre a vida e o amor, ele contou seus
planos de pedir Luciana em casamento e de realizar o sonho dela, Isabella
sentiu uma pontinha de inveja de Luciana, por ter um homem como André ao
seu lado, um verdadeiro cavalheiro, seria um excelente marido e pai.
Há muitos anos Isabella decidira não ter filhos, sua vida não comportava
fraldas, ficar 9 meses sem surfar, ou ainda levar uma criança para viajar 11
meses no ano. Essa decisão nunca a deixou triste, pois sabia que seu irmão
encheria a casa de sobrinhos, e ela seria a melhor tia do mundo.
Isabella estava com o coração mais leve depois da conversa com Shaft,
havia fechado um ciclo, sua relação de dois anos havia terminado de forma
conturbada, agora estava realmente acabado, e estava pronta para novas
ondas, surfar em novos mares, e sabia que o mar tinha nome e sobrenome,
Reinaldo Finzeto.
Mara ouviu toda a conversa de Isabella com Shaft e depois com André,
ficou mais admirada com sua forma de lidar com tudo e por saber tão pouco
de sua surfista, a verdade era que ela desejava que Isabella a visse como
confidente, uma melhor amiga e não somente como a empresária. Ela queria
mais, muito mais, e Isabella nunca nem mesmo olhou para ela como amiga.
Isso a entristecia, decidiu sair aquela noite, mesmo que fosse para procurar
algo em uma desconhecida.
Pedro e Reinaldo estavam na cozinha pegando uma cerveja quando
Isabella e André entraram, ela começou a preparar uma salada e André
acendeu a churrasqueira para preparar uns bifes, Reinaldo começou a ajudar
Isabella na cozinha, vendo o seu semblante meio triste, agarrou-a pela cintura
e deu-lhe um beijo que roubou o ar e transformou a tristeza em sorriso ao
soltá-la.
André e Pedro estavam na churrasqueira, e Pedro sabia que André estava
incomodado com a situação.
— Você não está gostando deles juntos.
— Se é de mentira ele não precisa agarrar ela. Não é certo, ele não vai ficar
com ela e está somente se aproveitando.
— Já pensou que os dois podem estar aproveitando um ao outro...
— Pensei, mas você sabe que no fim eles vão acabar.
— Eu sei, ela mora numa ilha paradisíaca e viaja para lugares
maravilhosos, e nós ficamos presos.
— Sim, você o conhece bem, não quero que se machuque, o Reinaldo é
uma boa pessoa, desejo coisas boas para ele, mas não com a minha irmã.
— Ele jamais faria mal a Isa, você sabe. Se acabar se apaixonando será
bom para ela alguém como ele, é diferente dos outros ex dela. Não é surfista,
é estável, não vai para balada, é um cara fiel, só tem um defeito grande.
— Sim, bem grande, torcer para o time errado.
Mesmo sabendo que Reinaldo estava se apaixonando por Isabella, André
não admitiu para Pedro que o medo dele era por Isabella, e não por seu
amigo.
André não conseguia ver a irmã como a mulher forte e sensível ao mesmo
tempo, ao olhá-la sempre via a menina loira de olhos arregalados e que
chorava sempre que seu urso Teddy ia para debaixo da cama.
Mesmo ela tendo 23 anos e já ter passado por problemas com homens,
André se recusava a ver que sua irmã crescera, e não era mais a menina
indefesa, por isso temia por seu coração, sabia que a imagem de
relacionamento que ela tinha era de sua mãe buscando em diversos homens o
que não conseguia encontrar sozinha, a felicidade, e sua autoestima.
11
Em seus 40 anos, Mara nunca esteve tão apaixonada por uma
mulher como estava por Isabella, nunca confessaria seu amor, viveria das
migalhas que a surfista lhe dava, mas como todo ser humano, ela tinha suas
necessidades, e hoje se esbaldaria.
Mara não era do tipo de mulher estonteante, tinha um tom de pele
indefinido por estar sempre em exposição ao sol, não era bronzeada como
Isabella, mas também não era branca, seus olhos cor de mel e seu corpo
definido por malhação, eram bem vistos aos olhos de muitos homens e
mulheres.
Arrumou-se e saiu para curtir a noite em Maresias, o bar estava cheio, o
verão ainda não havia começado no Brasil, mas as pessoas já estavam no
clima, muitas mulheres lindas, de vestidos curtos, deixando pouco para a
imaginação. Ser lésbica nunca foi um problema para ela, até conhecer
Isabella e se apaixonar perdidamente pela menina de 16 anos.
Pegou uma bebida e ficou próximo à pista de dança, uma mulher loira, bem
parecida com sua surfista, olhou para ela e deu uma piscadela, era a deixa
para se juntar, dançaram ao som da diva Beyonce, e música após música, sua
acompanhante soltava mais o corpo e mostrava o desejo por uma noite de
sexo ardente.
Ambas saíram da pista de dança e foram ao banheiro, entraram numa das
cabines, e se beijaram, as mãos ágeis de Mara subiram o vestido rosa claro de
sua acompanhante e massageou o seu sexo com os dedos enquanto a beijava,
sua outra mão beliscava o bico do seio farto, duro e inchado de prazer,
diferentemente de Isabella, sua acompanhante tinha seios fartos e uma bunda
deliciosa, sua cor de chocolate amargo do sol foi o que mais encantou Mara.
Sua acompanhante estrangulava os gemidos de prazer, Mara abocanhou
um seio e enfiou um dedo no centro do prazer, sua acompanhante gemeu alto,
o que gerou risos no banheiro e alguns comentários de outras usuárias.
Mara não queria romance, somente o sexo pelo sexo, romance queria com
Isabella, e não se importou com os risos e comentários, colocou sua
acompanhante sentada na descarga e abriu bem suas pernas, sem deixar de
massagear seu sexo, lambeu, chupou, e colocou três dedos fazendo
movimentos de vai e vem, sentiu que sua acompanhante não aguentaria
muito, chupou com mais força seu clitóris e colocou um dedo em seu ânus
fazendo uma leve pressão, sua acompanhante gozou gritando sem nem abrir
os olhos, Mara começou a rir, imaginando Isabella no lugar de sua
acompanhante.
Ambas se recompuseram e saíram da cabine, sua acompanhante estava
mole, Mara a levou ao seu carro e foram para a casa. Entraram de mansinho
para não acordar ninguém, e foram para o quarto.
Mara a despiu lentamente e depois se despiu, sua acompanhante, Gisela,
pegou o vibrador das mãos de Mara e começou uma tortura lenta no sexo de
Mara que gemia baixo e se segurava na cabeceira da cama.
Gisela colocou o vibrador somente na entrada do prazer de Mara, pegou
um seio com a boca e o sugou, lambeu lentamente, continuando com a
tortura, Mara choramingava, implorava por mais, Gisela colocou mais um
pouco do vibrador e alternou entre lamber, chupar e assoprar o seio de Mara.
Não aguentando mais, Mara agarrou Gisela e beijou-a com urgência,
Gisela colocou o vibrador por completo dentro de Mara, fazendo-a explodir
num orgasmo louco.
Gisela vestiu o cinto com pênis, Mara ficou de quatro na cama, Gisela
passou o lubrificante e inseriu lentamente no ânus de Mara, o vibrador ainda
inserido no seu prazer potencializando o orgasmo que estava por vir,
começou o movimento de vai e vem, com força.
Mara soltou um grito de prazer que poderia acordar uma manada de
elefantes, se jogou na cama e por um segundo, imaginou que Isabella a
penetrava com força, que a tocava com carinho e que estava em suas costas
passando os dedos e beijando lentamente até seu pescoço, ao abrir os olhos
voltou à realidade e viu Gisela e seu corpo de parar o trânsito, beijou-a,
levantou, colocou um robe e foi à cozinha, precisava de água.
Na cozinha encontrou com Reinaldo tomando água, não trocaram uma
palavra, Mara pegou uma garrafa e dois copos retornando ao quarto e à sua
acompanhante cor de chocolate amargo.
Ao ver Gisela deitada, Mara teve a ideia de tomar a água de um modo
diferente, jogou entre os seios e bebeu da água lambendo beijando e sugando,
Gisela se contorcia de prazer, as mãos de Mara passeavam por seu corpo.
Gisela nunca tivera sexo com tanta intensidade, calor e adoração, nunca
nenhuma mulher foi tão atenciosa como Mara estava sendo, ela arqueava o
corpo com o toque quente e delicado e com sua língua quente passando onde
a água havia escorrido.
Mara pegou outro vibrador, fechou os olhos por um instante e imaginou
que Isabella era sua acompanhante, ao abrir os olhos viu o sorriso de Isabella
e o corpo de Isabella, não vendo mais Gisela, sua adoração pela surfista
chegou a novos níveis de obsessão, beijou a barriga, descendo pela perna
direita e subindo pela esquerda, atiçando o seu sexo com as mãos, Mara ouvia
Isabella gemer de prazer por ela.
Mara nunca iria utilizar um vibrador em Isabella, o prazer dela seria com
ela e não com um objeto, e seria para ela, acariciou o centro do seu prazer
com adoração, ouvia Isabella gemendo de prazer, tocou seus seios com
devoção, segurou com delicadeza e brincou com eles com carinho, Isabela
gemia e colocou sua mão em seu sexo, massageando, Mara retirou sua mão e
passou a língua com delicadeza, lambeu, chupou, sugou, até ela explodir num
intenso prazer, ela queria sentir o gosto da excitação e do prazer de Isabella.
Ouviu em alto e bom som quando Isabella gozou em sua boca, acariciou
até se acalmar, subiu ao seu lado e beijou-lhe a boca.
Ao abrir os olhos se deu conta que não era Isabella e sim Gisela, decepção,
raiva e ódio foram o que Mara sentiu, levantou abruptamente, pegou as
roupas de Gisela e jogou para ela.
— Levanta, se veste e vai embora – Mara gritava.
Gisela sem saber o que fazer, levantou, se vestiu e saiu da casa, humilhada
e arrasada, havia feito o melhor sexo de sua vida, confusa, não sabia no que
errou, ouviu quando alguém a chamou.
— Moça, espera. – Isabella gritou.
Virou-se e viu uma moça linda, sabia quem era, mas as lágrimas e a
humilhação a impediam de identificar. Mara observava tudo de sua janela,
com mais raiva ainda, pegou o abajur e o tacou na parede.
— Calma, você precisa de ajuda, carona, alguma coisa? – Isabella
perguntou preocupada.
— Não obrigada, eu moro aqui perto. – Gisela desapareceu após sair do
portão.
Isabella estava indo à praia, um mar de ressaca e excelente para surfistas.
12
Isabella nunca perguntaria a Mara por que a moça saiu
chorando de seu quarto, sempre soube que Mara era lésbica e às vezes trazia
suas namoradas ocasionais para casa, nunca se importou ou viu algo que não
devia, mas hoje pela primeira vez sentiu vontade de perguntar por que a sua
“amiga” tinha ido embora assim.
Apesar de sentir vontade, não perguntou, foi para o mar e, como sempre,
seus pensamentos fluíam sobre a prancha, e nesse momento seus
pensamentos estavam em um mar perigoso, Isabella estava desejando ter
Reinaldo e sabia que ele também a desejava, sabia também que se o tivesse
seria impossível viver sem.
Assim como ela precisava do mar, sabia que iria precisar de Reinaldo para
viver, convenceu a si mesma que não deveria, ou melhor, não podia comer do
fruto proibido como Eva fez, seria forte e não se corromperia pela maçã, ou
melhor, pela tentação.
Reinaldo ficou imaginando como seria o sexo entre duas mulheres, apesar
de ser o sonho de todo homem, ele nunca foi dado e este tipo de fantasia,
sempre desejou que suas namoradas se vestissem de médica, enfermeira e até
empregada francesa, queria ser surpreendido num jantar com ela sem
calcinha, em sua opinião fantasias bobas, mas duas mulheres não era algo que
o fazia ficar excitado.
Após o encontro na madrugada, confirmou sua desconfiança que Mara era
apaixonada por Isabella, o olhar maligno dela para ele não deixava dúvidas, e
ao ver sua reação quando Isabella abordou sua acompanhante deixou bastante
claro.
Reinaldo estava em uma espreguiçadeira na varanda, trocando mensagens
do whatsapp com seus irmãos e amigos que queriam saber tudo sobre seu
namoro com Isabella, contou o que podia e disse que ela ficaria o restante
desta semana em sua casa, seus irmãos marcaram um jantar na quinta na casa
de seus pais para conhecer Isabella.
Mesmo não tendo falado com Isabella, imaginou que ela iria gostar de
conhecer sua família, ainda mais depois de conversar com sua mãe. Olhou
para o céu e o sol estava aparecendo, caminhou até a praia e viu de longe
Isabella fazendo manobras e depois se deixando cair na água.
Jair viu Reinaldo na praia, se aproximou com um copo de suco e entregou
para Reinaldo que o observava.
— Sabe, vi essa menina crescer, nunca perdeu o sorriso, nem mesmo em
dias ruins, ela se tornou uma mulher incrível, mesmo com o que seus pais a
fizeram passar.
— E ela é linda.
— E você, meu rapaz, está completamente apaixonado por ela, só espero
que não se machuquem, porque ela vai embora para outros mares.
Reinaldo engasgou com a afirmação de estar completamente apaixonado
por Isabella.
— Calma rapaz, se você gosta dela mesmo, vai fazer as coisas darem certo,
só não deixe o ciúme vencer. – Jair voltou para a barraca e ficou observando
Isabella nas ondas.
Reinaldo continuou ali parado e pasmo com o que tinha acabado de
descobrir, que estava louco, doido, completamente apaixonado por Isabella,
nunca sentiu-se tão bem com alguém como se sentia com ela, queria estar ao
seu lado todo dia, somente para ver o sorriso ou poder beijá-la.
Isabella saiu do mar decidida a não cair em tentação, ou melhor, manter as
coisas com Reinaldo como estavam, não podia se apaixonar, o namoro seria
difícil e não estava disposta a ser traída novamente, mesmo não sabendo se
ele seria capaz, imaginou que a distância e a falta de estarem fisicamente
juntos seria um agravante.
Reinaldo abriu um sorriso após o choque e a constatação de estar
apaixonado por Isabella, nunca sentira algo assim por alguém tão rápido, só a
conhecia há pouco mais de 2 dias, viu quando ela se aproximou e teve certeza
de seus sentimentos, pelo som do seu coração que batia mais rápido que o
normal.
— Que horas nós vamos hoje?
Mara estava com raiva, decepcionada e deprimida, tomou um longo banho
e se concentrou nos afazeres, mas a cena sempre voltava, de Isabella em sua
cama chamando seu nome.
— Merda.
Odiava a situação de não poder dizer seus sentimentos, estava exausta
dessa situação e iria contar a Isabella, caso fosse rejeitada, já sabia o que
faria, partiria.
Mara organizou tudo para que Isabella ficasse em São Paulo, na residência
de Reinaldo, enviou também uma nota à imprensa e avisou sua amiga de
infância, Karen, da sua chegada, deixou agendado um almoço na sexta e o
almoço na quinta com o pai.
Deixou tudo detalhado no e-mail, e na agenda de ambas, com notificações
e tudo que era necessário.

Shaft ficou decepcionado com a ligação de Isabella, sabia que ela era
decidida e que não teria volta, mas ainda assim tentaria quantas vezes fosse
necessário.
Além de estar em Nazaré, iria estar com ela no próximo ano nas etapas do
mundial, e sabia que voltaria a Pipeline no Havaí, nosso quintal para surfar na
entressafra, e quem sabe conversar com ela.

André e Pedro já estavam com as malas prontas e colocando no carro


quando Reinaldo chegou com a mochila dele, os três estavam conversando
quando Isabella apareceu com suas malas.
— Só isso? – André perguntou com curiosidade.
— Sim são só uns dias. Temos que ir mesmo? Não quero!!!! – Isabella
falou dengosa.
— Sei que você não está nem um pouco a fim de ir para São Paulo, mas
tem que ir, Isa, e pensa só, no domingo vai para Portugal.
Todos entraram no carro, Reinaldo e Isabella foram no banco de trás,
Isabella pegou um livro de sua bolsa e seu Iphone, conectou com o rádio do
carro e colocou Jonny Lang para tocar.
— Espera, você gosta de blues? – Reinaldo perguntou indignado.
— Já sei, imaginou que só porque sou surfista, não leio livros e não ouço
nada sem ser reggae, ou melhor, Bob Marley, só falta você estar esperando eu
acender um cigarro de maconha, ou algo assim. – Isabella falou fazendo
gestos e dando um tapa no ombro de Reinaldo.
— Ai!
Todos desataram a rir do ai de Reinaldo, ele a abraçou e deu um beijo no
topo de sua cabeça, Isabella se aconchegou em Reinaldo e começou de onde
parou a leitura.
Reinaldo curioso pegou o livro das mãos de Isabella e leu o título, Shades
of Gray de Maya Banks, o livro estava em inglês, leu a sinopse algo como:
“Shades of gray (Tons de Cinza) - livro 6 - PJ e Cole eram atiradores de
elite rivais na mesma equipe da KGI e desfrutavam de uma camaradagem
simples e espirituosa. Até a noite em que se entregaram a seus desejos e de
repente a relação deles deu um passo adiante. Ainda sob os efeitos dessa
noite, eles são chamados para uma missão que dá terrivelmente errado, e PJ
se afasta da KGI, determinada a não arrastar seus companheiros de equipe
para as sombras escuras nas quais ela está prestes a mergulhar. Seis meses
depois, Cole não desistiu de sua busca por PJ, e está determinado a trazê-la
de volta para o lugar onde ela pertence. Empenhada em vingança, PJ está
em uma missão que vai mergulhá-la em um jogo de vingança sagaz e fazê-la
questionar tudo em que ela já acreditou. Cole, e o resto de sua equipe se
recusam a deixá-la ir sozinha. Mesmo que isso signifique sacrificar sua
lealdade a KGI e suas próprias vidas.”1
— Esse livro é daqueles do 50 tons? – Reinaldo perguntou curioso.
— Não, é outra série, KGI, mas já li a trilogia de 50 tons, não gostei muito,
prefiro essa série, to no livro 6, já saiu o 7, preciso comprar.
— Espera, você leu 50 tons? – André perguntou assustado.
— Li, e tenho certeza que sua namorada também.
— Sim ela leu, e quis algumas coisas. – André falou sorrindo.
— Imagino que ela queira também ver o filme e um quarto vermelho da
dor.
Pedro desatou a rir, André fechou a cara, e Reinaldo não sabia o que
pensar.
— Calma gente, eu só li o livro depois que a Karina me mandou de
presente, não tenho essa obsessão louca pelo mocinho e achei a Anna uma
tapada. A parte do sexo é bacana, mas não é para mim.
Isabella adorava os livros eróticos, porém, para não provocar a ira do
irmão manteve seu gosto para si. Já Reinaldo não soube o que pensar, havia
ouvido muito sobre esses livros, mas nunca lera, sabia que tinha algo
relacionado com sexo violento, como prender a pessoa, ficou inseguro de
imaginar sua Isabella presa, ao mesmo tempo que muito excitado, tendo-a
somente para ele.
— Para, não quero saber de sua vida sexual e nem nada disso, vamos
mudar de assunto. Você ainda fala com a Karina Unic? – André ficou bem
incomodado com a conversa.
— Falo sempre, nos encontramos em algumas ocasiões, quando tem os
festivais de verão com surf e skate.
Isabella e André ficaram recordando de quando moravam em São
Bernardo do Campo, em São Paulo, antes de mudar para Maresias, e dos
finais de semana que passavam na pista de skate.
Apesar de Isabella ser a menor, Karina ter 7 anos a mais, e o Andre ter 4 a
mais que ela, nunca impediu os três de serem amigos, enquanto Isabella era
do mar, Karina era do asfalto.
— Chegamos! – André avisou.
13
Reinaldo, como um cavalheiro, pegou as malas e subiram no elevador ,
havia uma tensão entre eles, Isabella lembrou-se da passagem do livro onde
Christian prensa Ana no elevador e um arrepio passou por Isabella, ao
chegarem no andar, Reinaldo abriu a porta para Isabella.
O apartamento de Reinaldo não era sofisticado, era simples, um sofá e uma
televisão enorme dividiam espaço com uma mesa cheia de papéis, um
notebook e outros equipamentos que Isabella desconhecia, a cozinha de estilo
americana, em amarelo e cinza, fora a mesa, o restante da casa estava intacta.
Isabella observou Reinaldo seguir por um corredor com três portas, ele
abriu uma e entrou com sua mala.
— Este é o quarto que você pode ficar, tem um banheiro, você pode ficar à
vontade, o meu quarto é do outro lado do corredor.
— Obrigada. – Isabella disse deitando-se na cama, tirando os sapatos e se
aconchegando.
O quarto era simples, uma cama de casal, um armário e uma poltrona, tudo
em tons de bege, Isabella imaginou que a mãe dele havia decorado.
— Eu vou sair e te deixar descansar. – Reinaldo disse saindo do quarto,
louco de vontade de deitar ao seu lado.
Reinaldo percebeu ao fechar a porta que estaria sozinho com Isabella a
noite toda do outro lado do corredor estreito. Seu telefone tocou, era Sabryne,
não atendeu a 40º ligação dela, não fazia sentido atender, uma vez que estava
louco por Isabella.
Não se passou nem 20 minutos de terem chegado, e Isabella viu nas redes
sociais fotos dos dois entrando no prédio, se aproximou da janela e constatou
duas motos com duas pessoas com máquinas fotográficas, que conseguiriam
fotos de seu coração de tão potentes.
— Droga, odeio isso. – Disse para si mesma fechando a cortina.
Foi até a sala e fechou as cortinas também, caminhou até a cozinha e
constatou o que já imaginava, não havia nada além de água e cerveja na
geladeira, nos armários, somente o vazio.
— Re, você não tem comida na sua casa. – Disse gritando para ser ouvida
por ele no quarto.
Reinaldo ficou em choque ao ser chamado de forma mais íntima por
Isabella, Re, ele sentia-se nas nuvens, foi quando se deu conta que nunca
tinha comida em casa, sempre comia na padaria ali próxima, ouviu o som de
mensagem do whatsapp do grupo de amigos, abriu para ler:
“Cara já chegou com a surfista, tamo na padoca, vem.”
Fechou o celular e foi para a cozinha, encontrou Isabella somente de shorts
e a parte de cima do biquíni, o que deixou Reinaldo excitado, já estava assim
há 3 dias e não conseguia mais se controlar, deu um longo suspiro ajeitou seu
amigo e ficou do outro lado do balcão, para não ser visto de forma
inapropriada.
— Não tenho, nunca como em casa e antes de viajar acabei com o que
tinha. Mas tem uns amigos na padaria aqui perto, e podíamos nos juntar a
eles e comer algo.
Isabella fez uma careta para Reinaldo e passou pelo balcão se juntando a
ele, seus corpos estavam perto, perto demais para Reinaldo se controlar,
Isabella deu um beijo no seu rosto.
— Vou tomar banho e aí podemos ir. – estava caminhando em direção ao
quarto — Espero que seus amigos não sejam fãs enlouquecidos. – Entrou no
quarto e encostou a porta.
Reinaldo caminhou e viu sua porta entreaberta, espiou Isabella tirando o
restante da roupa, e pela primeira vez reparou em sua cicatriz na cintura, e
nas tatuagens, já tinha visto, claro, na praia, mas agora estava observando.
Isabella percebeu que Reinaldo estava espiando, o espelho o delatou,
resolveu ser mais erótica para tirar o short e a parte de cima do biquíni,
colocou uma música, não era sexy, nem para um strip-tease, era animada e do
seu cantor de blues favorito, aos primeiros acordes de Still Rain de Jonny
Lang começou a dançar de um modo divertido, nada sexy.
Tirou o short e jogou pelos ares e continuou a dançar de calcinha, sua
calcinha era do tipo sunquíni, igual seus biquínis, não gostava das pequenas
ou que incomodassem, adorava o tipo cueca boxer, e esta em especial, tinha
um desenho na parte de trás de uma boca com a língua de fora, o que deu
mais charme a sua dança.
Reinaldo não aguentou e começou a rir de Isabella, teve a certeza que ela
era uma pessoa pra cima, de bem com a vida, e teve uma revelação, não era
do tipo sexy, era como uma jovem divertida, séria nos momentos certos, uma
pessoa do bem, uma pessoa que ele queria para ele. Achou hilária sua
calcinha, suas ex estavam sempre com rendas e tangas, ela estava com uma
engraçada e ainda assim sexy.
“sexy pra caralho!” – ele pensou.
Reinaldo foi para seu quarto, entrou num banho gelado para se acalmar,
mas não estava conseguindo. Deixou-se levar pela imaginação, passou
bastante sabão nas mãos e massageou seu amigo duro como rocha, não
conseguia mais se controlar, em especial depois da dança e de ver seu corpo
com mais detalhes, estava louco para poder colocar suas mãos nela, passar os
dedos naquelas costas, saber como conseguiu a cicatriz, o significado de cada
tatuagem, moveu a mão com mais intensidade, com os olhos fechados
conseguia imaginar o beijo de Isabella, chegou ao clímax, estrangulando um
grito de prazer.
Seu pênis mesmo após a masturbação, não deixou de ficar duro, estava
ainda mais excitado que antes. Saiu do banho e vestiu uma bermuda e uma
camiseta, colocou o tênis e passou as mãos nos cabelos, estava pronto,
caminhou até a sala e encontrou Isabella lendo deitada no sofá.
— A princesa acabou? Você demora mais que uma noiva. – Isabella
brincou com Reinaldo.
— Você já está pronta? Achei que iria esperar horas, o banho, os cremes, a
maquiagem, os cuidados com o cabelo, aí escolher a roupa, enfim, toda essa
parafernália que mulher faz. – Reinaldo comentou admirado.
Isabella levantou e cheirou o pescoço de Reinaldo, fazendo-o revirar os
olhos e se segurar para não agarrá-la e jogá-la no sofá e fazer dela sua.
— Não Re, eu sou diferente, não uso maquiagem, passo creme, mas só
porque o mar resseca a pele, e não uso salto, e a roupa, qualquer short e
camiseta estão ótimos.
— Acho melhor pegar uma blusa, vai esfriar e você não pode ficar doente.
– Reinaldo disse com preocupação.
Isabella pegou um casaco e encontrou com Reinaldo no hall do elevador,
novamente a cena do elevador do livro 50 tons pairou em sua cabeça, queria
que ele a beijasse com aquela intensidade, queria ter seus braços erguidos por
ele, o arrepio de excitação voltou a percorrer seu corpo.
Entraram no elevador e Isabella estava visivelmente incomodada, Reinaldo
a abraçou e beijou-lhe o topo da cabeça.
— Meus amigos, alguns são fãs seus... humm... na verdade acho que todos,
pelo que entendi, eu sou o único deles e delas que não te conhecia. –
Reinaldo disse meio que sem graça.
— E ainda sim é meu namorado de mentira. – Isabella comentou tentando
lembrar-se que isso era somente um acordo e não era verdadeiro, que nunca
seria de verdade.
Os dois caminharam pelas ruas abraçados, foram seguidos por alguns
fotógrafos e deram alguns beijos recatados para as fotos, Isabella sabia que
em questão de horas essas fotos estariam nos sites de celebridades. Mesmo
odiando esse assédio, dessa vez se viu gostando, era um modo de eternizar o
namoro de mentira.
Chegaram à padaria e os amigos de Reinaldo estavam sentados bebendo,
na mesa havia mais de 7 garrafas de cerveja vazias e outras 3 ainda cheias,
Isabella não gostava do efeito nas pessoas com o consumo do álcool, em
especial depois do segundo marido de sua mãe, um alcoólatra.
Reinaldo a apresentou, e alguns dos garçons a reconheceram e quiseram
fotos e autógrafos, umas crianças que estavam com seus pais também, ele
ficou olhando o modo carinhoso que Isabella tratava a todos, dos mais novos
aos mais velhos, seus amigos estavam doidos para falar com ela, e ele
percebeu o Gustavo mais assanhado que o normal.
Isabella sentou-se e Gustavo trocou de lugar com o Rafael, para ficar ao
lado de Isabella, Reinaldo não gostou do que Gustavo fez, sentou-se e
abraçou Isabella. Quando o garçom veio, pediu suco de laranja para ela e
pediu um copo para ele.
Isabella estava incomodada com o assédio descarado do amigo de
Reinaldo, que não lembrava o nome, mas como política adotada há anos, foi
simpática como sempre.
— Então... – Gustavo se aproximou de Isabella e falou em seu ouvido —
Adoraria aprender a surfar com você.
Isabella se afastou um pouco, olhou nos olhos dele e respondeu
gentilmente.
— Seria um prazer, mas você está disposto a pegar ondas de verdade, ou
só marola?
— Marola? – Gustavo perguntou.
— Sim marola, é o que as praias no Brasil têm, eu surfo paredes de 30
metros de altura, estaria disposto a isso.
Gustavo, que estava se fazendo de bêbado, mudou a postura, percebeu que
Isabella não era a estrela que os jornais e revistas pintavam, e sim uma pessoa
comum, simples, mesmo sendo uma das surfistas hoje mais bem preparadas,
ela era uma pessoa comum e sua admiração pela esportista aumentou, mais
ainda quando a conheceu, e sua paixonite antes infantil, pareceu acender uma
chama maior pela surfista.
— Desculpe meus modos, só queria parecer interessante. – Gustavo se
desculpou.
Isabella percebeu que sua postura mudou, e que seu modo bêbado era só
fingimento.
— Você é mais bonita pessoalmente que nas fotos ou catálogos, vi quando
você caiu na Teahupoo no Taiti, na Polinésia Francesa.
— Sim, eu caí de uma onda e bati contra os corais.
Os dois engataram numa conversa sobre ondas, e a todo o momento
Gustavo tocava em Isabella ou mexia em seu cabelo. Gustavo estava
encantado de conhecer Isabella e com inveja do amigo por namorar ela,
queria de todo modo tirar ela dele.
Reinaldo observou a conversa dos dois, o que ouviu parecia mais um
convite para sexo que uma conversa, o ciúme por Gustavo saber tanto sobre
Isabella, e ele não saber quase nada, e mesmo assim saber mais que muitas
pessoas, podia não conhecer ou entender de surf, mas conhecia o lado
“normal” de Isabella, de irmã, amiga e simples de ser.
“MINHA” rugia em sua mente “NINGUÉM PODE TOCAR OU TER
MINHA ISABELLA”.
— Isa, que tal irmos. – Reinaldo afirmou e se levantou, pegando o braço de
Isabella.
Isabella levantou, se despediu de todos e os dois começaram a caminhar de
volta.
— Você ficou com ciúmes do seu amigo? – Isabella perguntou rindo.
Reinaldo parou no meio da calçada, olhou nos olhos de Isabella e a beijou
com vontade, com desejo, com luxúria, com ciúmes, com tesão, Isabella
degustou cada um dos movimentos, estava sedenta por aquele beijo, queria
ele dentro dela, ali, agora.
14
Isabella não sabia como haviam voltado para o apartamento,
continuava a beijar Reinaldo com a mesma intensidade da calçada, não se
lembrava de quando haviam chegado ao seu quarto ou como suas roupas
estavam espalhadas, só conseguia sentir a boca de Reinaldo passeando por
seu corpo, ainda vestia sua lingerie, e Reinaldo usava apenas boxer preta, o
que o deixava sexy.
Isabella ficou admirando o belo corpo de Reinaldo, braços largos, costas
grandes, um abdômen de dar inveja, mas a boca era o que ela mais amava, o
contorno bem delineado, os dentes que combinavam perfeitamente, e a
grossura dos lábios era perfeita para beijar e morder, macios, e para fazê-la
arquear as costas conforme ele a beijava.
Ele beijava seu pescoço com doçura, e suas mãos passeavam por seu
corpo.
— Você vai me contar o que aconteceu aqui? – Reinaldo passou os dedos
sobre sua cicatriz.
— Eu caí num coral e abriu aqui, levei 55 pontos.
Reinaldo beijou toda a extensão da cicatriz, fazendo-a suspirar e arquear
mais o corpo. Desabotoou o sutiã e retirou vagarosamente, beijando cada
pedaço que a peça revelava. Retirou completamente o acessório e observou
sua Isabella, os seios mais lindos que já vira, não eram pequenos nem
grandes, eram de tamanho perfeito, a marca do biquíni revelava uma pele
branquinha e suas auréolas e bicos rosados combinavam perfeitamente com
seus lábios rosa.
Isabella sentia-se amada com cada beijo, com cada gesto, com cada
carinho, sim, Shaft era atencioso, mas não se comparava com Reinaldo em
nada, queria demonstrar tanta devoção como ele demonstrava, subiu em
Reinaldo beijando o seu pescoço, passando suas unhas, mesmo curtas, em seu
abdômen provocando arrepios, sentia seu pênis pulsar no meio de suas pernas
diretamente em seu sexo. Massageou seu pênis com a mão enquanto beijava
seu pescoço
— Isa...
Reinaldo não conseguiu continuar, Isabella tirou seu pênis da cueca e
passou a língua em toda sua extensão, fazendo-o arfar e urrar de prazer,
nunca se sentiu tão bem com uma mulher na sua vida, Isabella realmente era
diferente, e mergulhar, ou melhor, ser mergulhado em sua boca era como um
bom café da Etiópia, doce e encorpado, e estava se deliciando com sua boca
em seu pênis.
Isabella aprendeu desde muito nova que o sexo oral bem feito num homem
poderia lhe dar diamantes, como sua mãe dizia, mas para ela se tratava de dar
o prazer para quem você está entregando seu corpo e expondo sua alma com
prazer. Ela estava se fartando com o pênis grosso e grande de Reinaldo,
quando o pegou com as mãos soube na hora que seria delicioso, seu gosto era
uma mistura de sabores e estava se deliciando.
Reinaldo não queria gozar em sua boca, puxou Isabella para um beijo e
mudou de posição na cama com ela, beijou um seio e beliscou o outro com os
dedos, passou levemente os dedos por sua barriga até chegar a seu sexo,
acariciou por cima da calcinha, que era sexy como ela, laranja com um
desenho bobo, mas que combinava com ela.
Desceu beijando sua barriga tirando sua calcinha, beijou seus joelhos, seus
tornozelos, e viu a tatuagem no seu pé, não havia visto ou prestado atenção,
mas era algo profundo quando leu a frase:
“Perdido no meio de uma imensidão de água, encalhado na mais fina
areia, o sonho persegue a sua similitude realidade. O esforço nunca é em
vão, porque as marés vêm e vão, as ondas desfazem a monotonia das águas e
as areias o repouso dos conformados.”
Imaginou a dor de fazer essa enorme tatuagem no pé, beijou todas as letras
subiu beijando sua perna até encontrar seu sexo, queria sentir seu gosto, se
aproximou devagar, colocou somente a ponta da língua em seu clitóris,
ouviu-a gemer, colocou novamente a língua, mas não conseguiu resistir e
lambeu, sugou, deu leves mordidas, inseriu um dedo nela, o que a fez
enlouquecer, Isabella agarrou os lençóis e sua cintura fazia movimentos
circulares sem nem saber como, estava agonizando de prazer com a boca e
língua do Reinaldo.
Sua cabeça se sacudia de prazer, fazendo seus cabelos terem um
movimento único e lindo, Isabella dizia coisas desconexas deixando Reinaldo
mais louco ainda de tesão, ela agarrou seu cabelo e o puxou para si, ele pegou
uma camisinha na gaveta do criado-mudo, enquanto beijava Isabella, vestiu
seu pênis, ela se posicionou e o fez deslizar para dentro dela. Reinaldo estava
em êxtase, por entrar lentamente em Isabella, seu túnel do prazer era apertado
e úmido, eles se beijavam conforme ele a invadia.
Isabella estava a ponto de ebulição, forçou Reinaldo a entrar mais rápido,
mas ele não o fez, continuou com sua tortura lenta.
Reinaldo estava se divertindo em torturar Isabella presa debaixo dele, mas
ele mesmo não estava mais aguentando e ao entrar completamente, após
alguns segundos, não resistiu mais e começou os movimentos de vai e vem,
seus corpos se encaixavam com perfeição, o ritmo tomado por eles foi
ficando cada vez mais intenso, Isabella se agarrava a Reinaldo ao ponto de
sangrar suas costas com suas unhas.
Reinaldo agarrava com mais força sua cintura intensificando o prazer de
ambos, agarrou Isabella e a sentou em seu colo, fazendo-a pular e seus seios
ficarem a sua frente, ele abocanhou um, enquanto Isabella rebolava e
agarrava seus cabelos.
— Não para, isso, assim... aiiiiii meu deus... – Isabella disse conforme seu
prazer aumentava.
— Não vou aguentar muito tempo – Reinaldo disse, já estava agonizando
para não explodir, mas não poderia até Isabella ter um orgasmo com ele
dentro dela — Caralho você é gostosa, muito gostosa! – entre um gemido e
outro Reinaldo tentava mostrar o quanto estava se deliciando.
Isabella começou a gritar de prazer e seu corpo a tremer, Reinaldo estava
se sentindo nas nuvens, por ter o corpo de Isabella sobre o seu tremendo num
orgasmo indescritível.
— Porra, caralhooooooooo!!!! – Reinaldo xingou enquanto gozava logo
após Isabella.
Isabella caiu na cama e Reinaldo deitou-se ao seu lado, ambos estavam
ofegantes, e se olhavam com cumplicidade.
Reinaldo beijou Isabella e saiu para o banheiro, tirou a camisinha e se
refrescou, voltou ao quarto e Isabella não estava, caminhou até o outro quarto
e também não estava.
— Se me procura está nos locais errados. – Isabella falou da cozinha. —
Preciso repor os líquidos perdidos.
Reinaldo chegou, a abraçou e beijou, tirando seus pés do chão, Isabella
abraçou sua cintura com as pernas.
— Você é linda, uma delícia.
Isabella beijava o pescoço de Reinaldo, fazendo-o arrepiar, Reinaldo a
colocou na pia e sem nem mesmo pensar a penetrou com força, fazendo-a
arquear e se apoiar na pia.
— Mais forte, mais forte. – Isabella exigiu.
Reinaldo sem pensar penetrava com força e mais força.
— Gostosa... delícia... – Reinaldo falava em sua orelha.
Isabella prendeu Reinaldo com mais força entra suas pernas, e com as
mãos apoiadas na pia, ergueu o corpo se posicionando melhor, fazendo-o
penetrar mais e mais.
— Mais forte... aiiiiiiii... eu vou... eu vou...
— Isso delícia... goza para mim...
Isabella gritava de prazer com Reinaldo gritando a sua frente, ela o agarrou
e beijou-o e começou a rir, ele riu junto com ela.
— Eu só tinha vindo beber água. – Isabella disse brincando.
— Eu sei, mas não consigo ficar longe de você. – Reinaldo disse em
confronto a sua afirmação.
Reinaldo, na posição que estavam, a levou para sua cama e deitaram
juntos, Isabella adormeceu minutos depois, com os carinhos dele em seu
cabelo, e seus beijos leves.
15
Usualmente às 4 da manhã, Isabella acordou, num emaranhado
de pernas e braços, tinha partes do corpo doloridas e estava muito apertada
para ir ao banheiro. Desvencilhou-se de Reinaldo e correu ao banheiro do
outro quarto.
Após um banho e colocar uma camiseta comprida, saiu vagando pelo
apartamento, na cidade não havia ondas e não iria conseguir dormir
novamente. Olhou as prateleiras próximas a televisão, fotos da família, com
os irmãos, os pais, sobrinhos, mas havia uma com uma moça linda, eles
estavam se beijando, segurou a foto por um tempo, e recolocou no lugar,
ligou a televisão e zapeou pelos canais, em menos de 30 minutos já estava
entediada.
Desligou a televisão e voltou para a cama, Reinaldo dormia
profundamente, deitou-se ao seu lado beijando seu pescoço, ele a agarrou e
colocou sobre seu corpo.
— Bom dia, delícia. – Reinaldo disse com a voz rouca.
— Bom dia. – Isabella respondeu dando beijos em sua boca.
Já estava com uma ereção gigantesca somente de ouvir sua voz e de sentir
seus beijos, jogou-a para baixo dele e, sem pedir licença ou preliminares, a
penetrou fazendo com que gemesse alto, entre beijos e gemidos e pedidos de
mais força, ambos chegaram ao clímax, Isabella primeiro, seguida de
Reinaldo.
Reinaldo rolou para o lado e olhou o relógio eram 05h20min da manhã.
— Nossa, é madrugada.
— Eu sei, desculpa, acordo cedo sempre e fiquei entediada, resolvi te
acordar.
Ele a abraçou mais apertado. — Pode me acordar sempre que quiser. –
beijou-lhe e adormeceu.
Isabella estava acordada, se revirou na cama e não conseguiu dormir,
levantou novamente, tomou um longo banho, deitou na cama vazia do outro
quarto e continuou sua leitura.
Reinaldo acordou sozinho na cama, precisava urgentemente usar o
banheiro, ao sair colocou a cueca e foi em busca dela, não a encontrou pela
casa, tentou no outro quarto e a viu adormecida com o livro sobre ela, deu-lhe
um beijo e foi preparar café.
O ritual matinal da preparação do café era sagrado para Reinaldo, pegar o
grão, moer por exatos 15 segundos, deixando alguns grãos em diferentes
tamanhos, depois colocando em sua linda máquina de café, extraindo o
melhor dos grãos da Guatemala que ele comprava especialmente para seu
prazer.
Um dos grandes prazeres da vida era uma excelente xícara de café, vinda
de uma máquina que poderia ser comparada a uma Ferrari, para Reinaldo.
Tudo começava na plantação do grão, depois a colheita, a secagem, a escolha
dos melhores grãos, e por fim torrar na temperatura correta. Ao abrir a
embalagem e sentir o aroma delicado, moer os grãos por exatos 15 segundos
assim suas propriedades como o perfume e o gosto ficariam diferentes a cada
ritual e por fim a extração do líquido, seu perfume fumegante era quase um
martírio antes de saborear o líquido, sem adição de nenhum adoçante ou
açúcar, era o toque de Midas, sublime, essa era a palavra para descrever um
bom café: SUBLIME.
Estava recostado no balcão degustando seu café, quando foi surpreendido
por um telefonema de sua mãe.
— Oi mãe.
— Meu filho, tem fotos suas e de Isabella praticamente fazendo sexo na
rua. Você perdeu o juízo. – Sua mãe falou em tom de repreensão.
— Mãe calma, somos adultos podemos fazer o que quisermos.
— Sim, mas ela é uma figura pública, vocês não podem se expor assim. –
Sua mãe continuou a ralhar com ele por um tempo.
Isabella acordou e ouviu parte da conversa, ligou o computador de
Reinaldo e buscou nos sites de celebridades as fotos, estava sentada em sua
cadeira olhando quando uma lágrima de arrependimento escorreu, não pelo
sexo, e sim por se deixar levar pelo desejo.
Em sua mente devia ter ficado na casa do irmão ou no hotel, mas seu
desejo, seu coração estavam atados a este homem, nem mesmo ela conseguia
entender como podia estar tão apegada a alguém que conheceu há menos de 4
dias. Demorou 7 meses para beijar Shaft, os outros tiveram seu tempo,
sempre gostou da conquista de ser desejada, desde muito nova viu homens se
fartarem com sua mãe e depois a dispensarem com a mesma facilidade que se
fartaram. Aprendeu vendo o que sua mãe sofria com os homens que o
importante era ser desejada, ser cortejada, assim se mantém o interesse, os
que não cortejam ou não te desejam não valem o seu tempo.
Shaft a cortejou por 7 meses, mandou flores, chocolates, levou-a para
jantar, saíram, surfaram e quando ele menos esperou, ela o beijou, e depois
disso as coisas foram bem até, bem, até ele traí-la.
Isabela ainda estava ferida e, mesmo não admitindo, não estava nada feliz
com tudo isso, queria ir embora do Brasil e deixar de ser o centro das fofocas,
queria surfar uma parede de 100 metros que seria mais fácil que lidar com
pessoas e com a imprensa. Sabia que a qualquer momento Mara ligaria ou
mandaria mensagem ou algo do gênero, e não queria lidar com ela ou com
qualquer pessoa.
Seu desejo era ficar em casa nesta quarta fazendo sexo o dia todo, já que
não tinha ondas por perto.
—Você está bem? – Reinaldo perguntou com preocupação.
— Claro – Respondeu com um sorriso, não podia e não queria que ele
visse dentro dela.
Reinaldo soube na hora que ela não estava bem e não queria compartilhar,
respeitou sua vontade e entregou uma xícara de café, a viu beber e fazer uma
careta, soube que ela não era uma apreciadora de cafés.
— Eu tenho uma reunião às 11h, podíamos ir a minha empresa, tomamos
café e depois te levo ao seu compromisso às 9h30min, que tal?
— O que eu tenho às 09h30min? – Isabella perguntou sem saber seus
compromissos, Mara havia dito, porém não prestou atenção.
— Você tem que estar no salão para coisas de mulher.
— Ah, sim, para as fotos hoje à tarde, tenho que hidratar o cabelo, mão, pé,
aff, odeio isso. Bem que você podia ir no meu lugar. – Isabella falou rindo.
— Posso sim, claro, e como eu ficaria de biquíni?
Isabella desatou a rir, imaginando-o de biquíni. Ele a agarrou e tirou sua
blusa, foram andando até o banheiro, ligou a água e ambos tomaram banho de
uma nova forma.
Pegou um punhado de sabão e passou pelo peito duro, pelo abdômen
delineado, chegando ao seu pênis, massageou entre suas mãos, ela o beijou
com paixão enquanto masturbava cada vez mais rápido, ele agarrou seus
cabelos e beijava com mais intensidade conforme estava próximo ao clímax.
— Caralho... – E gozou beijando-a mais forte. — Juro, nunca ninguém me
masturbou, você foi a primeira.
— Para tudo na vida há uma primeira vez. – Isabella disse divertida.
Reinaldo saiu do chuveiro, e Isabella continuou mais um pouco, ao sair
ficou paralisada com a visão dele de calça social preta, camisa preta, vestindo
os sapatos devidamente polidos pretos, ficou parada admirando a visão do
paraíso.
Colocou uma roupa simples, calça jeans e camiseta, calçou o tênis all star
azul, pegou a bolsa e foi para a sala, encontrou um homem completamente
diferente do que havia deixado no quarto, alinhado, com gravata cinza, e
terno de três peças preto e camisa preta, a barba alinhada e perfumado, sim,
estava deliciosamente perigoso, sua boca salivava para arrancar toda sua
roupa e jogá-lo na cama.
Ele se aproximou devagar e beijou a mulher mais linda que seus olhos já
viram, e ela era todinha dele. Desceram e pegaram o carro sem trocar
nenhuma palavra, somente beijos e carícias, qualquer um que visse, acharia
que eram um recém-casal apaixonado.
Estacionou o carro na sua vaga, desceram do carro e entraram no prédio de
três andares. Isabella ficou admirada com o que via, um prédio com a fachada
toda branca e vermelha, e o nome da empresa em letra cursiva grafitada:
“L’Arte di Espresso”.
— Arte do Expresso.
Entraram e Isabella teve um choque com uma linda, divina moça abrindo a
porta, de salto, maquiagem perfeita, cabelo alinhado num coque, e um
terninho azul marinho com o nome da empresa bordado em vermelho, o olhar
dela para ele foi de admiração, desejo.
— Bom dia, Reinaldo.
— Bom dia Larissa, esta é a Isabella.
Isabella viu o olhar mortal de Larissa para ela, o ciúme correu em suas
veias, nunca havia sentido nada assim, seus ex eram lindos e desejados por
muitas, porém Reinaldo era divino e não sabia disso, mas sua funcionária
sabia, e esse sentimento estava fervendo no seu sistema.
— Bom dia, Isabella.
— Bom dia, Re, me leva para um ritorno.
Orgulho inflou no peito ao ouvi-la falar em italiano, beijou-a com devoção,
pegou seu braço e enganchou ao seu, levando-a para um passeio, apresentou
todos e tudo de sua vida. Quanto mais conhecia as mulheres, mais ciúme
sentia, ele não percebia que elas o comiam com os olhos, ainda mais vestindo
esse terno, que modelava a bunda e as coxas, e a camisa e o paletó abraçavam
seu corpo com magnitude.
Ele emanava poder e todos ao seu redor o admiravam.
— Deixei a melhor parte para o fim, Isa, este é meu pai e sócio, Luigi.
Isabella abriu um sorriso e abraçou-o com vontade, Luigi retribuiu o
abraço calorosamente, Reinaldo ficou olhando duas das três pessoas que mais
admirava juntas, imaginou como seria quando sua mãe e ela se conhecessem.
— Minha nossa, você é mais bonita que nas fotos que a Julia me mostrou.
– Luigi comentou ainda sorrindo.
— Bem, a foto na casa dele, não faz jus ao lindo homem aqui. – Isabella
brincou com ele.
Os três estavam conversando na sala de Luigi quando foram interrompidos
por uma mulher de cabelos negros longos, maquiagem impecável, salto
agulha vermelho, e um vestido estonteante, tentou imaginar o que vestia por
baixo, provavelmente um conjunto de lingerie rendado sexy, inveja foi o que
essa mulher causou em Isabella, nunca havia se sentido ameaçada por
ninguém, muito menos pelas suas roupas.
— Bom dia, meus amores, tenho aqui alguns relatórios. – Ela começou a
falar sem nem mesmo olhá-la.
— Andressa, quero que conheça minha nora, Isabella. – Luigi a fez parar
de falar.
— Não sabia que você estava namorando, Re. – Isabella teve vontade de
socar a cara dela, pelo seu olhar de desprezo a ela e por chamar o Reinaldo de
Re.
— Andressa, já pedi que não me chame de Re, somos primos, mas aqui
sou o seu chefe. – Reinaldo ralhou com ela.
—Bem, Luigi, me desculpe, tenho que ir, tenho uma sessão de fotos e
preciso me preparar, mas soube que amanhã o jantar será na sua casa. –
Isabella disse sem nem olhar para Andressa.
Ele a levou ao seu destino no cabeleireiro nos jardins no MG Hair, onde
Isabella tinha a manhã de beleza agendada.
16
Isabella sempre que vinha no salão, era tratada como
celebridade, foi recepcionada pelo Marco, que a levou para uma área mais
reservada, longe das clientes convencionais e de fotógrafos.
Enquanto estava com a cabeça sendo lavada e colocando cremes, começou
a pensar em Andressa lado a lado de Reinaldo dia após dia, imaginou eles
fazendo sexo na mesa dele, se odiou por perceber que estava com ciúmes
dela ser glamorosa e ela não.
Até hoje, nunca havia se sentido ameaçada por lindas mulheres de salto ou
algo assim, nunca desejou tanto ser mais sofisticada, ou ter feito faculdade de
alguma coisa, revendo sua vida, o que havia feito, o que seria quando não
tivesse o surf.
Andressa era a projeção da mulher moderna, inteligente, educada,
sofisticada, estudada, e Isabella era só a esportista que não fez faculdade,
usava tênis, calça jeans e não usava maquiagem.
E ainda assim Reinaldo gostava dela, tanto que a apresentou como um
troféu para seus funcionários, e ao seu pai disse que ela era a escolhida para
mais de uma vida.
Seu cabelo estava sendo escovado, cortado, lavado e amassado, sua cabeça
doía, seu rosto estava coberto por alguma meleca, depois maquiado, estava
com as unhas prontas, cabelo e maquiagem, foi encaminhada à parte de trás
para sair num táxi e ser levada ao local da sessão de fotos.

Reinaldo percebeu a antipatia de Andressa com Isabella, na verdade, com


toda e qualquer namorada, ela era antipática, no passado os dois se
envolveram, um erro do qual ele não conseguia se perdoar, foi logo após ser
chutado pela namorada que o fizera emagrecer.
Lembrava-se como hoje, quando reencontrou Andressa após 7 anos de ela
estar morando nos Estados Unidos, seu tio pediu ao seu pai que empregasse-a
na nossa empresa, o choque de ver a menina que virou mulher.
Desde a primeira troca de olhares sabiam que era desejo, que a química
entre eles seria explosiva. Transaram tantas vezes quanto foi possível, em
todos os locais possíveis e impossíveis, fizeram diversas posições e em locais
que nunca imaginaram.
Andressa se apaixonou pelo primo e nunca aceitou que ela fosse somente
uma amiga para transar, aquela que você não leva para jantar, somente a leva
para o motel. Desde que admitiu seu sentimento para ele, estava arrasada, não
era correspondida.
Quando começou o namoro com Sabryne, soube que sua oportunidade
havia passado. E hoje solteiro nunca a procurou nem para sexo, ou amizade,
seu convívio se restringiu à empresa e festas com a família.
Reinaldo foi para o estúdio onde seria a sessão de fotos de Isabella, queria
acompanhar tudo, ao chegar conheceu os modelos que fariam as fotos com
ela e o fotógrafo, ambos os homens se deram bem, Mara chegou logo após, e
os três estavam conversando quando Isabella entrou no estúdio.
Mara levantou e ficou admirada com Isabella maquiada, sempre se
surpreendia com ela assim arrumada, amava vê-la de biquíni pela casa, mas
adorava quando estava arrumada para algum evento.
Reinaldo ficou paralisado, estava apaixonado pela moleca, mas acabou de
se apaixonar pelo mulherão que ela escondia.
— Querida, como vai? – Sebastian saudou.
— Bem, e você? – Isabella respondeu.
Reinaldo deu um beijo em Isabella marcando território, e de saudades.
— Bem, menina, vá à maquiagem. Rose leve a Bellinha para se aprontar.
Rapazes em suas posições. – Sebastian anunciou.
Isabella travava uma batalha sobre o tamanho do biquíni com o figurinista.
— Não vou usar isso, é pequeno e não combina comigo.
Mara ouviu e entrou no quarto que era a área de maquiagem e vestiário,
para tentar apaziguar a situação.
— Bella, você precisa fazer as fotos com essas peças. – E mostrou todos os
biquínis.
Indignada ela levantou, se vestiu no banheiro e voltou.
— Tá vendo, olha isso? – e virou de costas – Eu não estou queimada nessa
parte do bumbum, fica horrível. Recuso-me a fazer fotos assim.
Sebastian, que ouvia tudo, entrou no quarto e ficou horrorizado.
— Não, não e não, você não vai usar essa coisa.
— Ainda bem, alguém com juízo. – Isabella suspirou.
— Veste este. – E entregou um biquíni lindo com a calcinha grande, como
ela gostava.
Entrou no banheiro colocou, mas mesmo assim ela não estava feliz, odiava
cada segundo em que estava e os que viriam, o que mais a incomodava não
era nem tanto as fotos, eram mais as marcas que o corpo trazia, de acidentes,
as cicatrizes que seriam cobertas com maquiagem.
Saiu do banheiro com um sorriso no rosto, nunca mostraria que odiava tirar
fotos e que odiava que maquiassem seu corpo.
— Linda! Rose, só precisamos de maquiagem agora.
Rose pegou os produtos, alguns que ela nunca havia visto, suas cicatrizes
foram cobertas e as tatuagens ficaram em destaque, saíram do cômodo e
foram para o grande salão, Reinaldo ficou admirado com o trabalho que
fizeram em esconder suas marcas.
Isabella foi colocada sobre um pano branco e um fundo branco, os rapazes
chegaram de bermudas e, assim como ela, estavam maquiados, parecendo o
verão, Sebastian começou a dar ordens para todos, sobre a luz, posição.
Reinaldo estava admirado com o profissionalismo e ao mesmo tempo
estava se rasgando de ciúmes daqueles modelos que a tocavam com ganância,
seu lado homem estava louco para arrebentar a cara de cada um deles, ao
ponto de nunca mais poderem ser modelos, segurou seu lado homem das
cavernas ao lado de Mara, que não parecia nada contente.
Mara não estava gostando de nada, o modo como Reinaldo a olhava, o
modo como os modelos estavam tocando e beijando e se esfregando nela,
queria arrancar ela de lá e levá-la para o Havaí, assim voltaria a ser só as
duas, como era antes de Shaft.
A sessão de fotos terminou e Sebastian fez as duas sessões em uma de
biquínis e de óculos, liberando-a do tormento dela, Mara olhava as fotos com
Reinaldo quando Isabella voltou.
— Gosto dessa, dessa, e dessa. Nessa estou com cara de nojo. – E começou
a rir, os outros riram junto.
— Bellinha, minha musa, sabe que mesmo com cara de nojo está linda,
agora vá e abuse desse rapaz que não tira os olhos de você. – Sebastian falou
dispensando todos, era hora da sua mágica.
Os modelos e a maquiadora já haviam partido, Isabella e Sebastian
conversavam sobre as fotos, Reinaldo e Mara reviam a agenda, agora que ela
teria a tarde de quinta de folga.
17
Ao saírem do estúdio, Reinaldo informou que hoje teriam um
jantar na casa de seu irmão com seu pai e a namorada dele, o que deixou
Isabella pensativa e calada todo o caminho de volta, fora um silêncio
ensurdecedor, somente o rádio falava.
Estava entrando em desespero com o silêncio dela, não sabia mais como
chamar sua atenção, chegaram ao seu apartamento e teriam ainda três horas
antes do jantar.
— Isa, você precisa dizer algo?
— Dizer o quê? Tudo bem, o que vocês decidem está bem.
Sentia-se vazia por não ter suas opiniões sendo importantes para alguém,
ou melhor, para seu pai, sobre não querer conhecer sua ninfeta, em sua
mente, essa moça de 25 anos somente queria se valer da fama e da
notoriedade que teria ao ser vista com ele, ou ainda, com ela. Que tipo de
mulher em sã consciência se envolve com um homem que tem idade para ser
pai dela?
Ao entrar no apartamento, dirigiu-se ao quarto, tomou um longo banho
para retirar toda a maquiagem do corpo e do rosto, estava se secando quando
se olhou no espelho, suas cicatrizes contavam sua historia, suas tatuagens
contavam outra parte de sua historia.
Estava desacreditado com a falta de ânimo dela, ficou olhando enquanto
estava se secando e se olhando no espelho, pôde perceber pela primeira vez
que tinha diversas micro-cicatrizes.
— Você vai me contar sobre todas elas? – ela deu um grito de susto. —
Desculpe, achei que tinha me visto.
— Não, tudo bem, só estou distraída. – Respondeu ainda ofegante com o
susto.
— Se você não quiser não precisamos ir.
— Sim precisamos, Reinaldo, na minha vida não existe, ou melhor, não
cabe o “não precisa”, tudo é necessário mesmo que doloroso.
Ficou olhando-a admirado, tão nova e um senso de responsabilidade
enorme.
— Vai me contar ou não?
— Contar? – olhou interrogativa.
— Sim, as cicatrizes e tatuagens.
Abriu um sorriso e o olhou admirada, um dos poucos homens do mundo
que não conhecia sua história e nem suas tatuagens.
— A do pé você já viu, é um provérbio dos surfistas, eu fiz no pé meio que
como uma provação, quis mostrar que se pode ter algo grande no pé. Na
omoplata direita, tenho todas as coordenadas das ondas gigantes que peguei,
com sua altura. Aqui no dedo é um coração, no pulso é uma onda, na batata
da perna é a minha primeira prancha. Você nunca pensou em fazer uma?
— Já sim, só não conte a ninguém, morro de medo.
— Prometo não contar se você me der um beijo.
— Só um beijo, minha surfista?
Ele beijou com doçura a mulher que estava em seus braços, pela sua
valentia e pelo seu senso de responsabilidade, em meio aos beijos foram
caminhando para a cama e jogou-a de encontro ao colchão.
Os dois se amaram com desejo, com luxúria e tesão, ela estava entregue ao
homem que adorava seu corpo como se fosse a última vez, ele estava a cada
momento mais encantado e apaixonado pela mulher entregue em sua cama.
Adormeceram abraçados e sabendo que isso acabaria em breve, o relógio
despertou às 19h30min conforme programado.
— Que barulho é esse?
— O alarme, eu programei para despertar. – Reinaldo disse entre beijos a
Isabella.

André estava tenso, sabia que desde que seu pai e Isabella brigaram não
haviam se falado, Luciana, sua namorada, sentindo a tensão e o que estava
por vir tentou em vão acalmar o namorado.
Luciana conhecia pouco a Isabella, mas sabia que os dois eram
inseparáveis e que tudo que acontecia com um, o outro sabia, tentou por um
tempo lutar contra, porém acabou decidindo se conformar e não se meter na
relação deles.
Sabia que o jantar seria complicado, nenhum dos irmãos estava contente
com a nova namorada do pai, e o mesmo não estava contente em saber da
relação da filha pelos jornais de celebridades, o que gerou diversas ligações
do pai ao filho pedindo explicações, algumas das ligações ignoradas e outras
atendidas, mas sem muitas informações.
William e Odete chegaram à residência de André, a namorada do pai
estava nervosa, sabia que a família não a aprovava, mesmo assim amava
William. Como um casal qualquer, eram parecidos e diferentes na medida, o
que mais irritava era seu comportamento sobre a filha, que ele se recusava a
conversar ou tentar fazer com que ela a aceitasse.
Estava inseguro com esse jantar, conhecia bem sua filha de temperamento
explosivo, sabia que se Odete dissesse ou fizesse algo para provocar, a morte
seria sua aliada. Ao mesmo tempo em que estava animado para exibir sua
namorada para os filhos.
Isabella e Reinaldo chegaram à residência do André, após os
cumprimentos e apresentações, a conversa um tanto quanto tensa se iniciou.
—Então minha filha, você começa a namorar e nem me conta.
— Acho que não devemos entrar nesse assunto. – André tentou apaziguar,
quando olhou sua irmã.
— Ao contrário de você pai, encontrei uma pessoa que tem a mesma idade
que a minha, tanto em maturidade como intelectualmente. – Isabella
respondeu um tanto quanto arredia.
— Isabella, melhor apaziguar os ânimos. – André a repreendeu.
— Não fui eu que adotei uma filha nova. – Isabella respondeu.
— Isa, por favor. – Reinaldo falou ao seu ouvido, a agarrou para um
abraço e caminharam para a varanda. — Você não pode atacar seu pai assim,
ele está feliz, olhe para ele.
— Você não entende, seus pais têm a mesma idade, são...
— Não entendo mesmo, mas é melhor manter sua relação com ele boa, e
não em meio às brigas.
O interfone tocou e André se assustou, não esperava ninguém, o porteiro
não conseguiu informar quem estava subindo, quando a campainha tocou, e
Luciana abriu a porta.
— Oi, meus filhos. – Jussara, a mãe dos irmãos entrou com o marido Luis.
— Meu Deus Jussara, você está se tornando uma perua. – William disse
com desdém.
— Ao menos eu não preciso de PIRANHAS, para me sentir viva. – Ela
respondeu.
A confusão iniciou com trocas de acusações e xingamentos, Isabella teve a
mesma reação de quando criança, se fechar no seu mundo, André correu ao
seu encontro, e a abraçou, as mulheres estavam se batendo e xingando,
William e Luis estavam tentando apartar a briga, quando André deu um
basta.
— PAREM, vocês todos. Chega, passei anos da minha vida lidando com
vocês dois, nem depois de todos esses anos vocês conseguem parar de brigar.
— A culpa é de vocês de eu ter me mudado para o Havaí, de ter ido para
longe o bastante para não ter que conviver com nenhum dos dois. Chega,
cansei, não quero mais, quando você, pai, crescer e entender que parte da
culpa é sua e que namorar uma moça que tem a minha idade somente piora,
me liga. E você mãe, precisa parar de se enterrar em homens que somente te
amam enquanto você paga por tudo, depois de usarem, abusarem e se
lambuzarem de você te largarem na sarjeta, você me liga. André...
— Reinaldo, leva minha irmã, por favor. Isa, amanhã nos falamos.
Os irmãos se abraçaram em um gesto de fraternidade e cumplicidade que
somente os dois entendiam, e assim como o amigo pediu, Reinaldo a levou
para sua casa.
— Sabe, o pior não é eles brigarem, é a briga ser pelo mesmo motivo... –
suspirou — ciúmes.
18
— Por que você acha que é ciúme?
— Relembre a briga, minha mãe ama meu pai por mais que diga que não, e
ele também, juntos são ruins, separados são piores ainda.
— Deve ter sido difícil para você. Você parecia uma criança quando eles
começaram a brigar.
— Eu nunca me acostumo com eles brigando, volto a ter dois anos sempre,
desculpe pela falta de educação da minha família, não foi assim que imaginei
a noite. – Risos nervosos — Imaginei que meu pai e eu iríamos nos provocar
e nada além disso. Mas aí a rainha da briga chegou sem ser convidada e a
confusão foi armada.
Reinaldo começou a rir, o que mudou o clima no carro e o fez se dirigir ao
Burger King. Ela estava voltando a ser ela mesma, quando olhou a fachada
sua barriga roncou e sua boca salivou.
— Adoro esse lugar, o sanduíche é maravilhoso, você leu meus
pensamentos. – Deu-lhe um beijo.
Assim que estacionou, os dois pularam para fora do carro, nas escadas ele
a agarrou e deu-lhe um beijo de tirar o fôlego, foram subindo as escadas em
meios a beijos e abraços, chegaram à fila e Reinaldo estava agarrado a ela,
marcando território. Pegaram seu pedido e sentaram lado a lado.
— Amanhã você tem o dia livre, o que pensa em fazer?
— Você consegue a manhã de folga? Porque adoraria ficar na cama.
— Humm seria um sonho, posso ver com a Andressa se precisam de mim
pela manhã.
— Você sabe que ela gosta de você, e já me odeia.
Ele riu alto com a afirmação dela.
— Não meu amor. – Ele parou com a expressão, havia anos que não
chamava ninguém de amor — Somos primos, somente isso. – Tentou voltar
ao assunto de forma natural.
— Vocês homens não enxergam o que nós mulheres vemos, sua
recepcionista te come com os olhos, assim como todas as mulheres que
trabalham para você. Sabe que é lindo e simpático, e que todas dariam um
braço para estarem no meu lugar.
— Imagine.
— Pela postura da Andressa, imagino que ela saiba bem como é estar no
meu lugar.
Olhou-a estático com medo e receio. Isabela deu-lhe um beijo e sussurrou
em seu ouvido.
— Joguei verde e colhi maduro. Então apesar de não ter primos, sei que a
pegação entre primos é tradição quando são da mesma idade, e pelo visto o
velho ditado aconteceu com você.
Reinaldo não respondeu, pegou a bandeja e jogou o lixo, passou a mão no
cabelo imaginando a confusão que seria se seus pais e tios soubessem disso.
Entraram no carro e voltaram a casa.
— Te deixei desconfortável com o que disse dos primos.
— Na verdade tenho medo, se você que a conheceu hoje sabe, imagino se
nossos pais sabem. – Afirmou entrando no elevador, mais inquieto que antes.
Isabella o abraçou e deu-lhe um beijo cheio de fogo, ele aprofundou o
beijo puxando sua cabeça mais para junto dele, colando os corpos.
Ela sentia seu membro duro através do jeans, suas mãos foram
automaticamente para o cós da calça abrindo o zíper e pegando seu membro
com a mão. Ele gemia de prazer e excitação, estavam no elevador com
câmeras, o perigo de serem flagrados e filmados o deixando com mais tesão.
O elevador parou no andar e, sem se desgrudarem, saíram e abriram a porta
do apartamento, jogou-a no sofá, abrindo lentamente a calça tirou a cueca e
colocou seu membro na boca de Isabella, que recebeu com prazer.
Ela sugava, lambia e brincava com suas bolas, Reinaldo estava louco de
tesão, a boca dela era de veludo, sua língua era um veneno para o tesão,
estava sentindo que não iria durar, tirou seu membro de sua boca, o que a fez
gemer pela perda, agarrou seus cabelos e a beijou com vontade, enquanto
tirava sua roupa, deixando-a somente de calcinha e sutiã.
Virou-a para a parede, colocou sua calcinha de lado, passou um dedo na
sua entrada já molhada de excitação, fazendo-a arfar de tesão, e sem pensar
muito colocou seu membro de uma única vez. Isabella gritou de prazer e
gemeu com a dança que ficava cada vez mais rápida e deliciosa.
— Mais – Isabella pediu prensada contra a parede.
Reinaldo a virou para si, pegou suas pernas e colocou em volta de sua
cintura, gentilmente colocou seu membro em sua entrada, fazendo-a arquear
o corpo para melhor encaixe, quando estava totalmente dentro, agarrou seu
cabelo emaranhando seus dedos nele e beijou-lhe com urgência e necessidade
ardente pelo tesão, Reinaldo não se conteve e gozou, urrando de prazer na sua
boca.
Sem nem mesmo ter tempo de ficar mole, Isabella rebolou contra o
membro semi-ereto na posição que estavam, fazendo com que Reinaldo
ficasse duro novamente. Ele a levou, presa em sua cintura até o quarto,
jogando-se agarrados na cama.
Agarrou um seio de Isabella, lambeu, beijou, sugou, deixando-o duro e
vermelho, enquanto apertava o bico do outro seio, deixando-a cada segundo
mais perto do orgasmo.
Sem perceber como, Reinaldo ficou embaixo de Isabella, vendo-a cavalgar,
segurando e beliscando os bicos dos seios fazendo-a gemer de prazer. O tesão
de ambos estava no limite, Reinaldo se segurando para não gozar novamente
e Isabella se segurando para prolongar ao máximo o prazer, nenhum dos dois
teve êxito e explodiram em meio a gritos e gemidos de prazer.
Fazendo com que desabassem na cama, exaustos de prazer, Reinaldo
virou-se para Isabella e abraçou-a enquanto se recuperava.
Ele teve um sentimento que não sabia dizer de onde vinha, mas sabia o que
era e não queria dizer em voz alta, sabia que era amor, e que estava
completamente apaixonado pela surfista.
Isabella fechou os olhos por um instante e se permitiu ser envolvida pelos
carinhos de Reinaldo, estava exausta do sexo, e das dúvidas sobre os homens,
naquele instante de prazer, teve um momento de lucidez e decidiu-se por ser
livre, por poder fazer o que todos fazem e não se importar em ser julgada.
Seria solteira e faria sexo com todos os homens que desejasse, não se
prenderia a ninguém. Até mesmo porque todos haviam traído seus
sentimentos em algum momento, e agora seria igual aos homens, não se
apegaria a ninguém.
— Que tal um banho? – Reinaldo perguntou já com a respiração mais
regular.
Levantou-se e foi para o banheiro, Isabella o seguiu após retirar o restante
das roupas, entrou na banheira com Reinaldo e ficou entre suas pernas.
Pensativa, Isabella estava entre seus sentimentos por Reinaldo e sua nova
constatação, de ser livre como os homens.
Reinaldo continuava interiorizando o que desejava dizer em voz alta para
todos, que estava amando a surfista mais linda que já viu, e que adoraria
passar todos os dias com ela.
— Você está calado.
— Pensando.
— Dou um real pelos seus pensamentos.
— O quanto você é linda e se entrega no sexo. – Disse conforme passava a
mãos em seus braços.
Isabella virou-se e beijou-lhe a boca carinhosamente.
19
Isabella e Karina se encontraram na velha pista de skate onde se
conheceram anos antes, as amigas, mesmo com gostos e idades diferentes,
nunca perderam o contato e a paixão por esporte.
Sempre que podiam estavam juntas, compartilhavam de uma paixão
alucinante por algo que ninguém mais entendia, as ondas, podiam ser no mar
ou no asfalto, as manobras, o medo de cair, as cicatrizes pequenas ou
grandes, as tatuagens e seus significados.
Ambas estavam em um esporte dominado por homens, cada uma ao seu
modo trilhou um caminho por entre curvas e ladrilhos, sem asfalto e sem
desvios, pegaram o caminho mais longo para alcançar as vitórias e suas
conquistas ao longo do caminho trilhado, era algo que ambas se orgulham e
tinham em comum.
Mas, como toda mulher, sofriam do mal de amar demais os homens e com
isso penavam demais com suas relações, Karina hoje estava feliz com seu
namorado e sabia que Isabella não conversaria sobre nada, mas mesmo assim
estava ali solidaria para a amiga.

O dia não podia estar mais calmo, após rever a amiga de muitas ondas,
sejam no asfalto ou no mar, estava na casa de Reinaldo, vazia, passou pela
cozinha, colocou seu Iphone no Dock Station e deixou a playlist começar com
Here da Alissia Cara.
— Não poderia ser mais propícia. – Dando voz aos seus pensamentos
começou a cantar junto — Me desculpe se pareço desinteressada...
Reinaldo do corredor pôde ouvir a música e Isabella cantando desafinada,
não pôde deixar de rir com a situação. Nunca tivera uma mulher que cantasse
ou que levasse a vida na brisa2. O que o encantava e o deixava apreensivo,
sempre se perguntando por quanto tempo ainda teria essa “brisa” na sua vida.
Permaneceu mais algum tempo somente ouvindo a música com a cabeça
apoiada na porta, sem entrar.
Isabella percorria pelas prateleiras de fotos olhando uma a uma, vendo os
livros e se perguntando, quando iria ter que voltar a sua vida real, sabia que
em alguns dias estaria em Portugal, mas não sabia o depois como seria. Ainda
teria Reinaldo? Como fariam com cada um morando em um país. Teria que
voltar a treinar, os campeonatos do próximo ano iriam iniciar e ela não podia
estar longe do mar.
Reinaldo se deu conta ao entrar no apartamento, que exceto pela primeira
transa, em nenhuma outra se preservaram, não sabia se Isabella poderia
engravidar, e isso seria um problemão, ou se ambos estavam com seus
exames em dia. Sabia que ele não estava, fazia mais de 1 ano que não fazia
um checkup sanguíneo que contemplasse DST3, imaginou que Mara a fazia
fazer, devido os torneios e suas viagens para diversos países. Acreditou que
seria uma boa conversar com ela esta noite, já que o jantar com seus pais
havia sido mudado para amanhã.
Ele a agarrou pelas costas e dançou junto, dando leves beijos em seu
pescoço.
— Oi. – Ela disse sussurrando de encontro a sua boca.
Sem nem responder a beijou com desejo e tirou sua roupa, conforme
caminharam para o quarto. Isabella o parou quando estava abrindo sua calça e
o jogou na cama.
— Sabe, desde que te vi lindo no terno de 3 peças, estou louca para tirar. –
disse sussurrando.
Reinaldo passou as mãos pelo cabelo e levantou-se da cama, Isabella tirou
o paletó, e jogou na cadeira, abriu delicadamente cada um dos quatro botões
do colete e retirou, já louco de tesão e não aguentando ser torturado dessa
forma, a agarrou e beijou-lhe até que estavam ambos nus.
Jogou-a na cama e a penetrou sem permissão, fazendo-a gritar de prazer,
com movimentos rápidos e intensos chegaram ao orgasmo ofegantes.
— Você é muito malvado. – Isabella falou rindo.
— Desculpe, estava louco de saudades. Posso me vestir novamente se você
quiser. – Falou rindo.
Isabella levantou e mostrou a língua para ele como uma criança, enquanto
entrou no banheiro, conforme se molhava sentiu a presença dele no banheiro
a observando.
— Um real pelos seus pensamentos. – Ela disse.
— São dois na verdade, o jantar com a minha família mudou para amanhã,
e me dei conta pouco antes de chegar, que não estamos nos protegendo. – Ele
falou conforme entrava no chuveiro – E me dei conta também que tem pouco
mais de um ano que não faço um checkup completo. Para ser honesto, me
preocupo com você mais que comigo.
— Imaginei que nunca teria que ter essa conversa com você, mas eu não
tenho nada, se isso importa, faço exames regulares, os patrocinadores têm
isso em cláusulas, e se serve de consolo ou para te despreocupar, uso um
implante subcutâneo que me impede de ter filhos e de ter menstruação. No
tipo de trabalho, ou melhor, no esporte, seria complicado ter cólicas, TPM e
todas as coisas de mulher, sem diminuir meu rendimento. Isso te deixa menos
preocupado?
— Sim muito, você não tem ideia, estava morrendo de medo de você ficar
grávida, não que não fosse amar um filho seu. – Isabella o interrompeu com
um beijo.
— Não pretendo ser mãe Re, nem agora nem nunca.
Reinaldo a olhou sem saber como reagir a essa informação, sabia que não
queria filhos hoje, mas os queria, e muitos, uns três, ser pai seria sua última
façanha, já tinha o que mais desejava, a empresa de sucesso, agora buscava
sua metade para ter uma vida de cumplicidade e filhos, para poder vê-los
crescer e ensinar o que seus pais o ensinaram, os valores, a moral, a diferença
entre certo e errado, nunca imaginou que encontraria a pessoa depois de
Sabryne, mas agora com Isabella estava desejoso dessa vida novamente, e sua
revelação o fez ficar sem reação.
Isabella sentiu que sua revelação não deixou Reinaldo confortável, o
deixou calado, estavam no chuveiro sem se tocar, decidiu que ele precisava
de tempo, tempo para digerir a informação, saiu e foi ao outro quarto.
Pegou seu telefone e localizou uma empresa de pizza, ligou e fez o pedido,
já que não tinha comida na casa e o jantar havia sido mudado para amanhã.
Vestiu-se e foi para a sala, estava zapeando os canais, quando viu a chamada
para o especial com a Bella em dois programas.
Reinaldo chegou à sala, sentou-se ao seu lado sem dizer uma palavra,
ainda estava sem chão, imaginando como alguém decide não querer ser mãe,
como alguém abdica da maior e melhor aventura de sua vida, que é criar um
ser humano desde o seu início, dar a vida, amor, ensinar.
— Sabe, nunca quis ser mãe, adoro crianças, acho que é a melhor parte de
um casal, mas olhe para mundo, eu viajei e vi muitas abandonadas, não quero
gerar um ser, quero adotar vários, quero poder encontrar uma e dar o que ela
não tem amor, carinho, compreensão, mas ao mesmo tempo me pergunto,
será que consigo, vivo uma vida muito diferente, viajo 11 meses, passo pouco
tempo em casa, se ter uma relação já é difícil imagine criar uma pessoa.
O interfone tocou e Reinaldo levantou para atender, sem entender nada
sobre uma entrega de pizza, Isabella abriu a porta e chamou o elevador.
— Você pediu pizza?
— Claro, você não tem comida e não estou a fim de sair, mas estou com
fome, você vem?
Não voltaram mais no assunto, comendo em silêncio e depois vendo um
filme como um casal comum faria, até Isabella receber um SMS de Mara.
“precisamos conversar, me ligue”
Mara nunca mandava SMS assim, sempre eram com informações, devia
ser algo muito importante, resolveu ligar.
— Alô.
20
Mara estava vendo tudo que saíra de Isabella na impressa
nesses últimos dias, desde que chegaram ao Brasil, até poucas horas, e se
deparou com uma foto de Reinaldo, saindo abraçado a uma moça não
identificada de um restaurante no almoço e depois saindo da empresa e a
levando para sua casa no meio da tarde, e então ele saindo horas após e indo
para sua residência onde Isabella já se encontrava.
Os jornalistas especulavam que Isabella estava sendo traída novamente, e
se ela teria condições de surfar uma parede de 30 metros com tantos
problemas pessoais. Isso preocupava Mara mais que qualquer coisa, essas
ondas são matadoras, e Isabella precisava estar concentrada, decidiu adiantar
sua viagem e assim ficar mais tempo sozinha com as ondas.
Com isso em mente mandou um SMS para Isabella, que ligou de imediato.
— Oi Bella.
— Está tudo bem? Seu SMS me pareceu meio exagerado.
Pelo telefone Mara informou os últimos acontecimentos para Isabella, que
compreendeu o que estava em jogo e atendendo ao seu pedido decidiram por
cancelar sua participação no desfile e ir para Portugal antes, na madrugada de
sábado às 2h da manhã, e assim se concentrar no que realmente precisava.
Mara estava feliz com Isabella por compreender e por tomar a decisão mais
sábia.

Reinaldo somente ouviu a parte de Isabella da ligação, e não compreendeu


quase nada somente a parte de adiantar a viagem para Portugal, quando
desligou foi ao seu encontro.
— Posso ver uma coisa no seu computador? – Isabella perguntou
calmamente, mesmo com vontade de dar um soco na cara dele, como podia
agir normalmente, fazer amor, depois de passar a tarde com uma mulher
misteriosa.
Reinaldo abriu o computador e deu a Isabella, que colocou no site de
fofocas de celebridades e na primeira página estava Reinaldo deixando o
restaurante italiano com uma mulher.
Isabella não precisou dizer nada a Reinaldo quando olhou a tela do
computador, sabia que devia ter dito algo, mas estava ainda inerte aos seus
pensamentos sobre o que haviam conversado mais cedo.
— Ela é a Sabryne, minha ex-noiva, tem dois anos que terminamos, ou
melhor, ela terminou, mas quando me viu com você nos sites de fofoca,
ligou, o objetivo de vida dela e ser famosa sem precisar fazer nada.
— Você podia ter me dito. – Isabella falava fechando o computador e
colocando na mesa — Não ia achar ruim, o que não gosto é saber essas coisas
pela imprensa, não me importo de você almoçar e até mesmo ficar com ela,
afinal não temos nada. – Isabella terminou de falar e caminhou para o quarto,
fechou a porta e a trancou.
Precisava ficar sozinha com seus pensamentos, com seus devaneios, estava
presa a esta casa, não podia sair e ir ao mar. Nunca chorou tanto em sua vida
como naquela noite, sabia que não era real, mas a ferida no seu coração era
verdadeira. Shaft, Reinaldo, e todos os próximos, eram iguais, um fato que
teve que aceitar.
Reinaldo ficou na sala sem saber o que fazer, pegou a garrafa de uísque e
bebeu para esquecer, para lembrar, para amortecer a dor do coração ferido.
Não sabia nem como isso tinha acontecido, mas estava amando a surfista
mais linda do mundo e tinha acabado de estragar tudo, por culpa da Sabryne.
Odiava-a mais que qualquer coisa neste mundo, a maldiçoou em seus
pensamentos, teve vontade de arrombar a porta e dizer a Isabella o quanto a
amava e que estaria disposto a mudar sua vida radicalmente por ela, se assim
quisesse.
Esse pensamento o pegou desprevenido, nunca se imaginou abrindo mão
do que conquistara na sua vida, mas por ela, por Isabella, abriria, seria um
homem sem casa, mas seria o homem que ela precisava e merecia.
A amava com todo seu coração, bêbado, sentou-se em frente à porta do
quarto e acabou adormecendo.
Depois de chorar algumas horas e não ouvir mais nada na casa, decidiu sair
do quarto, ao abrir a porta encontrou-o caído dormindo, riu da cena, nunca
imaginaria esse homem enorme assim. Tentou acordá-lo em vão, mas ele
regia aos seus comandos.
— Vem levanta. Isso, vamos ao quarto. – Deitou-o na cama e o cobriu, deu
um beijo em sua testa, quando o ouviu murmurar.
— Isabella não me deixa, eu te amo. – Olhando para ele, viu que estava
dormindo, mas sabia, ou melhor, tinha certeza que suas palavras eram
verdadeiras. Deitou-se com ele e adormeceu.
21
No meio da noite Reinaldo acordou com o estômago revirado e
correu ao banheiro para vomitar, Isabella ouviu e foi ao seu encontro, ficou
observando ele se esvaindo na privada, e segurou a risada, a cena era hilária
do ponto de vista dela.
Um homem enorme sendo sugado pela sua bebedeira era no mínimo
engraçado.
— Por que você está rindo? – Reinaldo questionou se lavando na pia.
— Por que você bebeu? – Isabella perguntou.
— Por que você quer saber, afinal sou somente um quebra-galho que você
está transando. – Reinaldo falou de forma ríspida.
Isabella saiu do quarto, e Reinaldo deitou novamente, retornou com um
remédio e um copo de água.
— Engole e beba, e você não é um quebra-galho.
Sem dizer nada, engoliu o remédio e bebeu a água, se ajeitou na cama e
deitou, não tinha condições de conversar. Isabella levou o copo para cozinha
e ficou na sala, havia perdido o sono, pensou em sair e caminhar, mas
imaginou que não seria bom.
Quando amanheceu, deixou um bilhete para Reinaldo e saiu num táxi.
Desceu na casa do irmão e o abraçou, ele sabia que ela havia tomado a
melhor decisão para ela, sabia que precisava se focar, e sabia que esse
namoro de mentira estava tirando-a do rumo.
Os dois passaram o dia sem falar nada, mas juntos, a noite caiu e ele a
levou ao aeroporto onde encontrou com Mara e partiram para Portugal.

Ao acordar sozinho Reinaldo procurou por Isabella na casa toda, até que
encontrou seu bilhete, na porta da geladeira, escrito à mão.
Bom dia,
Espero que acorde sem ressaca, ontem dissemos
coisas que machucaram um ao outro, sei que não foi
intencional, mas as palavras machucam tanto quanto
fotos e atos.
E eu estou calejada de fotos e atos sem palavras,
somente desculpas, mas você foi verdadeiro, real, e
isso eu agradeço, não tentou medir as palavras, nem
dizer que não era isso. Para isso, Obrigada, você é a
única pessoa verdadeira que conheci.
Nós temos vidas e trabalhos que são muito diferentes
um do outro, na minha vida não cabe uma relação que
não esteja no mesmo continente, ou que não esteja
ligada as minhas questões de vida. Você é sem dúvida
um homem maravilhoso, íntegro e lindo.
Não deixe ninguém dizer que você é menos do que
você é.
Estou indo para Portugal, antecipei minha viagem,
preciso me concentrar, uma parede de 30 metros me
aguarda.
Desculpe se atrapalhei sua vida, mas o que vivemos
aí na sua casa foi verdadeiro, foi real, eu realmente
queria que desse certo. Mas sabemos que é impossível.
Jamais te pediria para me acompanhar na vida maluca
que eu tenho.
Você é um homem que deseja um lar, uma
esposa,filhos, poder voltar para casa e ter quem
abraçar, eu não posso te dar isso, eu sou do mundo, eu
sou das ondas.
Sei que ela ainda vai me levar, mas não essa e nem
hoje.
Nunca te esquecerei.
Isabella.
Terminou de ler já sentado no chão da cozinha chorando como uma
criança, e nem se lembrava de quando tinha sido a última vez que chorou.
Desejou ter o dia de ontem de volta, queria que a vida lhe desse uma nova
oportunidade.
Não sabia quantas vezes leu o bilhete ou por quanto tempo estava sentado,
quando ouviu seu telefone tocar.
— Oi Pedro.
— Abre a porta, tô na sua casa, o André me mandou aqui.
Reinaldo abriu a porta, e Pedro o olhou de cima a baixo e viu um trapo de
homem, nada parecido com o amigo de outrora, elegante e dono de si.
— O André me disse o que aconteceu, eu vim te...
— Pode ir, vou tomar banho e trabalhar.
— Porra para, eu sei o que você tá passando, ela é foda. – Reinaldo ficou
parado olhando para o amigo sem entender nada, quando ele continuou — Eu
nunca a namorei, nem nada, mas sempre a amei, sempre quis estar no seu
lugar, cara, conheço-a desde criança, sempre foi linda, geniosa, doce, e
quando eu tinha uns 27 anos e estávamos naquela casa, naquele verão eu
fiquei enfeitiçado, fiquei louco, numa noite consegui um beijo dela, aquilo foi
o suficiente para me arruinar para as mulheres, ela é única, mas vai por mim,
você nunca irá esquecer só irá adormecer.
Reinaldo o olhava atônito e sem reação, Pedro o pegou pelo braço e o
levou ao banheiro, ligou o chuveiro e numa troca de olhares, saiu do banheiro
e foi arrumar a sala.
Tirou a bagunça de bebida e de pratos, quando seu amigo apareceu com
uma aparência melhorada.
— Então, o André sabe?
— Soube anos depois, contei quando estava bêbado e a Isabella tava
namorando um surfista, ele nunca disse nada, mas eu sei que foi por isso ele
me mandou aqui.
— Ela tá com ele.
— Tá sim, mas viaja hoje à noite, cara vai por mim, melhor se afastar, ela é
do mar, é como uma sereia, atrai os homens, suga sua alma, e vai embora.
Depois de mais um tempo, Pedro teve que ir trabalhar e Reinaldo também,
chegou e entrou em sua sala, chamou seu pai e melhor amigo e contou tudo,
até mostrou o bilhete, disse tudo e chorou com ele como nunca havia
chorado.
— Sabe meu filho, ela é uma pessoa maravilhosa, a admiro mais ainda,
depois desse bilhete, sei que ela tomou a melhor decisão para vocês dois, e
vejo que ela te conhece melhor que você mesmo. A dor não vai embora, um
amor como esse não some, mas você pode viver com alguém que dará o que
você quer, mesmo não sendo seu grande amor.
Reinaldo ficou pensando no que o pai disse, o dia passou como um flash,
mergulhou no trabalho e não saiu dele.
22
João estava com a equipe do canal On em Lisboa, parte da
equipe estava em Nazaré, ele ficou para esperar e acompanhar junto com o
câmera a chegada de Isabella.
Estava ansioso, nervoso, queria saber se ela o reconheceria do luau, sabia
pelas últimas notícias que algo entre ela e Reinaldo havia acontecido. A
manhã de sexta nas mídias sociais dizia que o casal havia terminado, e
Isabella saiu da casa dele para a do irmão somente saindo para o aeroporto.
O Aeroporto estava cheio de fotógrafos e imprensa, afinal dali a 15 dias ela
desafiaria a natureza das ondas. Havia também surfistas e fãs.
A sua chegada foi como esperado e programado com Mara, da sua saída do
avião em diante, seria fotografada e filmada em tempo real, a transmissão
seria ao vivo no canal do Youtube do canal On, e teria flashes na
programação normal, bem como havia sido criado uma página toda dedicada
ao making On de tudo com fotos que João tiraria.
Isabella estava no seu habitual: linda, de tênis, short e camiseta com as
estampas dos patrocinadores e com sua mochila, desceu e os cumprimentou,
conversou com todos e começamos a gravar, sempre simpática, fez caras e
bocas para a câmera.
Falou com a imprensa local, com os fãs e com todos que a cercavam, esse
material era impagável, vê-la sendo ela era algo único, o que fazia João a
amar mais ainda.
Entrou no carro com ela e Mara, e foram ao hotel que ficaria em Lisboa até
segunda quando viajaria para Nazaré.

Mesmo cansada do voo e com a saudade matando em seu peito, desceu do


avião com um sorriso, fez o que sempre se propôs a fazer, afinal era uma
figura pública, uma esportista e não estava a passeio, estava a trabalho.
Não podia e não iria se deixar levar pela tristeza que estava no coração, ao
menos não deixaria que ninguém visse, mas sozinha em seu quarto, se
deixaria levar pela dor e o choro fácil.
Estava desacreditada que amasse alguém em tão pouco tempo, estava
infeliz por amar tão passionalmente alguém, que não entendia como havia
chegado ali.
Há cerca de 5 dias estava sofrendo por Shaft e hoje por Reinaldo, esse
martírio de confiar e não ser correspondida a matava.

Assim que amanheceu Reinaldo foi à loja de André, precisavam ter uma
conversa de homem para homem, e o tema seria Isabella, foi informado ao
chegar que ele havia partido junto de Isabella.
Resolveu ligar para o amigo, não queria que as coisas ficassem mal
resolvidas.
— Você está bem? – André perguntou assim que viu o que era o amigo no
telefone.
— Estou péssimo essa é a verdade, eu quero te dizer, que não traí sua irmã,
eu nunca...
— Eu sei, ela me disse, você não é esse tipo de homem, não se preocupe.
A Isa é uma pessoa que nós nunca iremos compreender sua mente, nem com
anos ao seu lado iremos entender.
— Sim ela é especial, eu só achei que te devia uma explicação.
— Volto a repetir, nunca quis vocês dois juntos, mais pelo seu bem que
pelo dela. Afinal ela é do mundo, do mar. Mas para ser honesto, quando ela
ligou e disse, quis ir buscá-la e te bater até sua merda sair pelos ouvidos.
Conhecendo a Bella, ela jamais me permitiria.
— Então estamos bem?
— Ficaremos.
Reinaldo desligou.
Mara estava feliz por chegarem a Nazaré, aquela manhã estava mais
radiante que as demais, a temporada de ondas gigantes começava amanhã, dia
dezenove de novembro, podia ver no rosto de Isabella, conforme passavam
pela praia, seus olhos brilharem.
— Parem, quero descer. – Isabella pediu.
Isabella desceu do carro e andou lentamente com a equipe de filmagem.
— Impressionante, daqui a 5 dias nós estaremos lá no topo. – Disse
apontando para uma onda — O mar é impressionante, não existe palavra para
descrevê-lo, é algo surreal, somente quem está aqui pode dizer.
Abraçou André como se fosse a última vez. Ele sentiu um arrepio percorrer
seu corpo, nunca havia sentido medo pela irmã, mas hoje, ali vendo as ondas
quebrarem, sentiu o poder que o mar tem sobre o mero ser que nós somos, o
quão frágil é a vida dos humanos.
Apreensivo era pouco, se sentia covarde ao lado da irmã que enfrentaria
uma onda de 30 metros, os meteorologistas diziam que este ano teriam ondas
de até 50 metros ou mais, o recorde do surf era do Francês que não sabia o
nome, por ter surfado uma onda de 33 metros. Sabia que Isabella queria e
seria a nova recordista, se a previsão continuasse a mesma.
Muitos outros surfistas, fãs, moradores e jornalistas estavam observando a
beleza do mar.
— Agora nós temos que nos preparar, para poder estar ali junto do mar.
Teremos alguns dias de trabalho árduo com o mar flat4, para podermos ter
mais swell5 daqui uns dias, estou muito nervosa, mas ansiosa pela onda com o
meu nome. Na verdade é um misto de sentimentos, estou confiante, trabalhei
muito para estar aqui, mas nervosa, afinal qualquer erro... – Deu um suspiro
longo e uma lágrima caiu — pode ser o fim.
Depois de mais um tempo, todos foram para o carro rumo ao hotel.
No Brasil, Reinaldo assistia em tempo real sobre Isabella, e não conseguia
acreditar na valentia dela de enfrentar essa onda, os jornais, programas de
esporte e sites de fofocas, todos mostravam a imagem dela com a lágrima
caindo quando disse: “pode ser o fim”.
Seu pai fazia a vez de melhor amigo junto com Pedro, sempre ao lado dele,
quando viam sobre Isabella, todos estavam apreensivos depois de sua
declaração tão verdadeira para o mundo.
23
Shaft, McNamara, Doo e até mesmo Rodrigo e muitos outros surfistas
estavam em Nazaré, alguns mais para contemplar e outros, como ela e
McNamara, para surfar.
Todos estavam junto com a equipe de segurança quando Isabella chegou e
viu Shaft, os dois se abraçaram e as câmeras pegaram tudo, ouviram todas as
recomendações e iniciaram o primeiro dia de treino com os homens que os
levariam as suas ondas.
Shaft, McNamara e Bella estavam juntos com um dos homens que iriam
pilotar os Jet skis, as instruções eram passadas com segurança, calma, e muita
atenção por parte dos três surfistas que seriam levados ao mar.
Isabella estava no seu modo surfista, sempre ligada ao mar, esqueceu-se de
tudo e todos, somente pensava que ao ouvir sua onda, iria com todo o seu ser
para dentro e para cima, e sairia maior que como entrou.
Os dias foram de relaxamento e concentração, passeios de barco no mar, e
muito silêncio e paz, Shaft e André estavam com ela todo momento.
Na noite que antecedeu ao seu grande dia, Isabella estava nervosa, com o
coração apertado, como se o mundo fosse acabar ao entrar no mar.
— André – o abraçou — Sabe que te amo, muito, sabe que isso é algo que
preciso fazer – lágrimas caíam de seus olhos — Sabe que o mundo não seria
perfeito se você não estivesse nele – André enxugava suas lágrimas que não
paravam de cair, sabia que ela precisava dizer o que vinha — Você que
sempre me deu coragem, força e o mais importante, sempre acreditou em
mim, devo tudo a você.
— Bel – Ele não se conteve e chorou junto — Você é a pessoa que mais
amo no mundo, não é só minha irmã, é alguém que aprendi a admirar,
amanhã você vai fazer algo que ficará na história, e estou morrendo de
orgulho. – Sabia que poderia ser a última vez que teriam essa conversa.

Num especial naquela noite, a conversa dos irmãos foi transmitida, e


Reinaldo sentiu no seu íntimo que era a última vez que veria Isabella, soube
na hora que devia ir até lá, pegou seu passaporte e saiu em direção ao
aeroporto.
Estacionou sem se importar muito e correu ao balcão de algumas
companhias aéreas, comprou uma passagem, por um acaso do destino, havia
um voo saindo em 20 minutos, correu ao embarque como se sua vida
dependesse disso, passou por toda a segurança com o coração apertado.
Nunca viajara sem avisar aos pais, quando entrou no avião mandou um SMS
ao seu pai.
“fui ver a Isabella, amo vcs”
Seu pai estava sentado na sua confortável cadeira lendo um livro, quando
recebeu o SMS do filho, abriu um sorriso e fez uma prece silenciosa.
“vá com Deus, encontre o seu
amor e seja feliz.”

O dia amanheceu lindo, o sol estava radiante, sem nuvens no céu azul,
todos estavam indo rumo à praia, e Isabella entre eles, ao chegarem deixou
seu grupo e estava contemplando o mar.
— Eu raramente sinto medo, para sentir a adrenalina preciso temer pela
minha vida, então raramente sinto medo, sinto isso em ondas menores,
quando estou no fundo lutando para subir e sobrevivendo debaixo da água,
normalmente quando acerto um tubo perfeito não sinto a adrenalina, se for
um tubo imperfeito que tenho que lutar para sair, eu sinto a adrenalina, nada
perfeito me faz querer voltar. E isso que vejo hoje, a adrenalina vem na
imperfeição da perfeição do mar. Minhas relações fora do mar são tão
imperfeitas como as ondas que se quebram.
Isabella voltou ao grupo e teve a mais feliz das visões, Reinaldo ao lado de
André, ela correu ao seu encontro e o beijou, o peito cheio de saudades
explodiu no beijo, arrancando palmas dos que viam a cena, até mesmo Shaft
teve que torcer o nariz e aplaudir, ele nunca a havia visto correr para alguém,
ou estar tão apaixonada como estava.
A inveja invadiu Shaft, misturado pelo medo das ondas, se desviou de
Isabella e seu namorado e olhou o mar, estava revolto, maior que nos anos
anteriores, nunca havia visto assim.
— Isabella, este ano está maior, mais poderoso, mais bravo – McNamara
falou.
— Estou vendo, as ondas estão com mais de 40 metros, e a tendência é
aumentar. – Isabella comentou.
Reinaldo ficou ali agarrado ao seu amor, ouvindo atentamente tudo que
cada um dizia, e seu medo aumentando conforme diziam que o mar estava
maior e mais agitado, como se pronunciasse a morte. Um frio percorreu sua
espinha, de imaginar sua Isabella não saindo do mar, não sabia se podia dizer
em voz alta, então permaneceu em silêncio, um silêncio ensurdecedor em sua
mente, que o alertava que esta seria sua última vez com Isabella.
Isabella saiu dos braços de Reinaldo e vestiu sua roupa de neoprene, que
cobria os braços e as pernas, o colete salva vidas, amarrou o cabelo, e foi ao
seu grupo.
— André, me prometa que será um dia lindo e que vai cuidar da mamãe. –
Olhando em seus olhos disse — Te amo, você é o melhor. – Deu-lhe um
abraço e um beijo.
Sem precisar dizer nada, abraçou Reinaldo e beijou, e num sussurro pensou
ouvir:
— Te amo.
O olhou fundo nos olhos e respondeu:
— Te amo.
Correu em direção aos demais, subiu no jet ski rumo a sua onda, seu
coração batia incansavelmente, como se o mundo fosse acabar, olhou para
trás e já não via mais ninguém, somente ela mesma podia fazer a volta com
um sinal ou dar-se a chance de sua vida e surfar a maior e mais linda das
ondas.
Desceu do jet ski e agarrou-se na alça, estava no meio de uma onda,
quando soltou, a onda dizia seu nome, Isabella, num sussurro que somente ela
e a onda ouviam, sentia-se plena, inteira, única, a adrenalina tomando conta
do seu corpo, conforme descia uma parede de 50 metros de água, água que
poderia levá-la à morte, mas hoje não era o dia que a onda a levaria, sabia
disso desde que entrou no mar, sabia que sua vida havia apenas começado e
que estaria aqui novamente, mais vezes que poderia contar nas mãos.
A descida, que fora em segundos, mas que para ela parecia uma eternidade,
acabou quando a onda quebrou e virou um enorme tubo fazendo-a se perder
da visão dos que estavam na praia e dos salva-vidas, algo que não a deixou
com medo.
Os salva-vidas pelos rádios falavam que não a estavam vendo, André,
Reinaldo, Mara, Shaft, McNamara e todos se deram as mãos em um ato de
silêncio esperando ouvir alguma notícia, a angústia no peito daqueles que a
conheciam e a espera eterna de alguns segundos, entre o viver e o morrer.
Lágrimas caíam do rosto de alguns ali, envoltos na espera de algum sinal,
até que pelo rádio ouviu-se:
— Vejo a prancha saindo do tubo. OLHEM, OLHEM...
Os que estavam na praia não podiam acreditar, ela estava saindo do tubo e
se chocaria com as pedras, numa manobra mais que ousada, Isabella
mergulhou fazendo-se ser pega pelo jet sky, na queda perdeu a prancha e o
colete, ao se chocar com algumas pedras no fundo, abriu a testa e a coxa
direita, mas não sentia nada. Pelo rádio o salva-vidas pedia a ambulância.
— Surfista machucada, assistência medica imediata.
Reinaldo e André correram ao encontro da ambulância à espera de Isabella,
que chegou carregada pelo salva-vidas e com um sorriso enorme.
— Por favor, algo simples, depois vou ao hospital, quero falar com as
pessoas. – Disse conforme era atendida.
Pulou da ambulância num abraço de reencontro com André e Reinaldo, o
sorriso não saía de seus lábios, não tinha palavras para expressar sua
felicidade, não sabia como dimensionar sua emoção em estar ali novamente.
Uma leva de pessoas, jornalistas, fãs e surfistas, veio ao seu encontro,
queriam detalhes do que aconteceu.
— Primeiro, hoje eu venci o mar, mas amanhã ele pode me vencer,
segundo, CARALHO!!!!!!!! – gritou num momento de loucura, e foi
aplaudida na praia por todos.
Sentiu uma leve tontura e se apoiou no irmão, que a olhou e a levou para a
ambulância e foram para o hospital, no caminho desmaiou.
24
Isabella foi levada para exames, Reinaldo, André e a legião de
surfistas, fãs e impressa, ficaram na sala de espera, uma espera mortal,
ninguém dizia, mas todos pensavam: “venceu a onda, mas não as pedras”.
André estava andando de um lado para outro ininterruptamente, passava as
mãos na cabeça, no queixo, os minutos se tornaram horas, angústia era tudo
que sentia.
— CARALHO! – André gritou fazendo todos o olharem, bateu no balcão
do hospital, como se isso pudesse acelerar o médico, e a enfermeira lhe deu
um olhar de simpatia.
— Calma, ela é forte, vai sair andando como se nada tivesse acontecido,
você sabe. – Reinaldo disse ao seu lado, mais pra si mesmo que para o amigo.
— Se ela morrer eu mato você Shaft, a culpa é sua, você não devia estar
aqui. – Algo brutal, meio que de homem das cavernas surgiu nele, que partiu
pra cima do ex-namorado de sua irmã e foi segurado por Macnamara e
Reinaldo — Eu mato você, a culpa é sua, você tinha o belo e o transformou
em... Merda... Só quero que ela fique bem.
Shaft saiu do saguão, sabia que não era mais bem-vindo, mesmo amando, a
veria nos mares do mundo distante, sabendo que jamais teria o belo como
André disse.

Ao chegar ao hospital, Isabella fez diversos exames, de sangue,


tomografia, raios-X, ultrassom, foi cutucada, espetada, e averiguada mais
vezes que podia contar em suas mãos.
Estava consciente desde que a espetaram a primeira vez, e agora estava
sendo costurada na cabeça pelo médico.
— Você teve uma leve concussão, sem sequelas aparentemente, mas quero
que passe a noite aqui. – O médico disse conforme a suturava, com uma voz
calma — A adrenalina baixou e por isso você desmaiou, você terá uma
sonolência em breve, quando baixar novamente, você está tendo o efeito
eufórico tardio, e nosso medo é sobrecarregar as funções cardíacas, por isso
quero mantê-la conosco e monitorar.
— Tudo bem, mas preciso do meu irmão aqui comigo, o senhor pode
mandar chamá-lo.
— Claro, assim que eu terminar, irei conversar com ele e o trago, mas
antes você precisa comer, e ingerir líquidos, já pedi uma sopa e suco. E a
propósito, meus parabéns, você é uma dessas pessoas que irá virar lenda.
Isabella olhou para o bom médico e lhe deu um sorriso daqueles que dizem
tudo sem palavras. Ficou pensando que agora ela era uma lenda.
“Eu sou UMA LENDA.” – Pensou sorrindo.
“Eu vim, vivi e VENCI.” – Sorriu mais ainda.
Queria seu telefone, um computador, queria poder ver suas imagens na
onda, queria reviver tudo, mesmo que fosse por uma tela, queria, mas não
estava conseguindo manter os olhos abertos, um sono profundo se
aproximava.
“Depois.” – Pensou antes de se entregar ao sono.

André sentava e levantava, estava quase explodindo novamente, quando a


porta se abriu e o Dr. Claudio saiu, sorrindo, alívio atravessou seu rosto,
como se o mundo tivesse voltado a girar novamente.
— Sr. André, prazer, sou o Dr. Claudio, estava cuidando de sua irmã, ela é
uma guerreira, parabéns, enfim, ela teve uma leve concussão, sem sequelas
aparentemente, mas quero que passe a noite aqui, quando a adrenalina
baixou, ela desmaiou e no momento ela está sonolenta, ela está tendo o efeito
eufórico tardio, e nosso medo é sobrecarregar as funções cardíacas, por isso
quero mantê-la conosco e monitorar, o que não informei a ela, é que se essa
sonolência não passar nas próximas 24 horas teremos que refazer sua
ressonância, e ver se não achamos nenhum coágulo. Quando acordar, tente
mantê-la alerta por mais de 3 horas.
— Doutor, se ela tiver um coágulo, o que faremos? – André perguntou
com medo das palavras.
— Vamos aguardar, ela é jovem e sadia, e acredito que isso não vá
acontecer. Se me acompanhar te levo ao quarto dela.
— Tudo bem, Reinaldo e eu vamos.
— Somente pode ficar uma pessoa, mas como o caso é excepcional, irei
permitir os dois, mas sem fazer barulho, a deixem acordar sozinha.
Ambos balançaram a cabeça entendendo as instruções e concordando com
o médico.
Entraram em silêncio e assim permaneceram, cada um de um lado da cama
sentado em uma cadeira completamente desconfortável.
Reinaldo segurava a mão de Isabella como se fosse a joia mais preciosa do
mundo, André olhava sua respiração cautelosamente, o medo ainda era uma
constante.

Mara fazia o que podia enquanto Isabella estava sendo examinada,


conversou com a impressa, deu as entrevistas na porta do hospital, relatava a
cada hora o estado de sua surfista, em todos esses anos cuidando dela, esse
foi o acidente que mais a assustou, desmaios nunca são bons.
“merda, essa menina não podia fazer isso.” – Pensava e balançava a
cabeça.
Quando o médico saiu e deu a notícia, um peso saiu de seus ombros, mas a
preocupação ainda pairava, saiu do hospital e fez seu papel de assessora,
falou com os repórteres, com os fãs, agradeceu cada um por estar ali e
assegurou que Isabella daria uma entrevista assim que estivesse recuperada.
25
João ainda estava em choque, seu amor estava em perigo e nada
podia fazer. Após presenciar a quase agressão de André em Shaft, o que o
deixou muito feliz.
Aguardou a multidão se dissipar para poder entrar e ficar mais perto,
mesmo com suas credenciais, a imprensa foi mantida fora do hospital.
Conforme o tumulto diminuía, João conseguiu entrar pela área de serviço e
pegar um avental, vestiu apressado e seguiu numa missão: encontrar seu
amor.
Passou por diversos quartos, salas, subiu, desceu, até que ouviu no
elevador duas enfermeiras dizendo que Isabella estava no 5° andar, quarto
507, esperou as enfermeiras saírem e apertou o cinco no painel do elevador.
Quando as portas se abriram, o coração de João batia tão rápido que tinha
medo que fosse explodir, estava somente alguns passos de ver sua Isabella.
André estava incomodado com o sono, levantava e sentava em silêncio sob
os atentos olhos de Reinaldo no quarto, ambos velavam o sono dela.
Num ato impulsivo André saiu do quarto e quase trombou com João no
corredor. Precisava de ar, café e poder gritar uns palavrões, além claro, de
ligar para o pai, a mãe e Luciana que lotavam seu whatsapp de perguntas.
João olhou pela janela da porta e não viu ninguém com Isabella no quarto,
entrou e trancou a porta, tirou o jaleco e a camisa, aproximou-se bem
lentamente de sua surfista, passou a mão por todo seu rosto, descendo pelo
braço direito, e olhando-a.
— Você é mais linda que qualquer outra pessoa no mundo – dizia bem
baixinho, tirando o lençol de seu corpo. — Nossa, sua pele é macia, cheira
como o mar.
Reinaldo fez barulho ao abrir a porta do banheiro e tomou um susto ao ver
aquele homem sem camisa deitado ao lado de Isabella na cama do hospital.
João ouviu a porta ranger ao ver Reinaldo saindo por ela, levantou-se
correndo, pegou o prontuário que estava pregado à cama e acertou Reinaldo,
fazendo-o cambalear e cair com o nariz sangrando, aproveitou o momento e o
empurrou para o banheiro, e bateu novamente com o prontuário fazendo-o
desmaiar, fechou a porta e colocou uma cadeira para segurá-la fechada.
Sabia que em alguns minutos André retornaria, colocou a camiseta e o
jaleco, novamente, pegou Isabella em seus braços e quando estava saindo do
quarto, um enfermeiro viu e gritou:
— Segurança, segurança, ajudem!
André viu a agitação, correu para o quarto e viu o enfermeiro colocando
Isabella na cama, e se agitando.
— Calma Isa, calma, descansa. – André dizia baixinho.
O enfermeiro e o André ouviram um som de dor bem baixo, vindo do
banheiro, tiraram a cadeira e ao abrirem a porta, Reinaldo estava numa poça
de sangue, tiraram-no de lá, colocaram no sofá deitado, e o médico foi
chamado.
João foi detido pelos seguranças e depois levado à delegacia.
Reinaldo, depois dos exames, estava feliz por voltar ao quarto e ver
Isabella acordada, alerta e conversando com André e Mara.
Sentou na cadeira ao lado da cama e segurou sua mão, enquanto
conversava animada com a Mara e com André sobre os próximos passos,
para onde ia, onde surfaria, sentiu um aperto em seu peito, sabia que ao partir
de Portugal talvez não se vissem mais, seu semblante ficou sério e soltou a
mão da amada, que instintivamente tateou procurando.
Isabela ao olhar Reinaldo, entendeu tudo e o mundo parou de girar, talvez
não se vissem por longos meses. Seus olhos estavam sendo refletidos nos
dele, que estavam com o mesmo pesar, a mesma tristeza.
André e Mara perceberam e saíram sem serem notados, sabiam que essa
conversa seria dolorosa, em especial para Isabella.

— Me preocupo com este dia desde quando eles começaram essa


brincadeira. – Disse Mara para André.
— Por quê?
— Já vi Isabella apaixonada, amando, triste, alegre, brava, mas nunca vi
isso, sabe aquele sentimento de alma, de amor eterno, esse que eles têm, só se
tem uma vez na vida. E eu sei o que ele tá passando.
— Nossa Mara, nunca te ouvi sendo romântica. Para ser honesto, estou
com medo pelos dois, o Reinaldo é um amigo muito leal, sempre esteve
presente quando precisei, e quando não precisei se fez presente, esse tipo de
amigo não é fácil de achar, e a Bel... humm... nem preciso dizer nada, é
minha irmã e não quero que sofra.
— Entendo.
Os dois ficaram mais um tempo ali em silêncio, com seus próprios
pensamentos, medos, angústias pelo que o destino reservava ao casal, que
estava amando e não se davam conta.
Conhecendo Isabella como conhecia, sabia que não iria permitir que
Reinaldo abandonasse sua vida por ela, pois um dia ela não seria mais o
bastante, e também não iria prendê-lo numa relação a distância e sem poder
estarem juntos como devia.
Shaft chegou e viu os dois.
— Oi, ela está bem? – perguntou.
— Sim está, mas não acho que deva entrar. – Mara respondeu.
— Cuide da sua vida, sua... – não conseguiu dizer o que sua mente
desejava.
— Shaft, espere, agora não é o momento de você entrar. – André disse
rispidamente.
Shaft fez que sim com a cabeça e sentou-se do outro lado da sala.
26
Maio do ano seguinte.
Como de costume, Isabella estava ao mar de sua ilha tão
querida, na sua casa, no seu “jardim”, entre seus pensamentos, não conseguia
entender como desde novembro sua vida se transformou tanto.
Algumas das mudanças eram esperadas, como seu irmão pedindo Luciana
em casamento no natal, a alegria dele em fevereiro ao ligar contando que
seria pai, e depois novamente em março quando disse que seriam gêmeos,
ainda sem acreditar que teria não um, mas dois meninos para mimar e ensinar
a surfar. O casamento aconteceria no último fim de semana do mês, sua
passagem já estava comprada, nunca perderia esse casamento, nem que
tivesse que perder o campeonato.
O que mais estava amando era ter se aproximado de Luciana, se falavam
quase todos os dias, as duas descobriram que tinham não somente o André
em comum, mas um mundo novo, trocavam muitas mensagens, e até
participou do ultrassom via skype, estava feliz por estar participando
ativamente no casamento, ajudou a escolher o vestido, entre todas as fotos
que mandaram, engraçado como a vida dá voltas, jamais imaginou chegar ali
com a Luciana, sabia que agora tinha uma irmã-amiga, não somente uma
cunhada.
Claro que não poderia deixar de lembrar também da sua conversa
definitiva com Shaft.
— Bella meu amor – disse ao entrar em seu quarto.
— Shaft, por favor.
— Não, somente me escute, por favor, entendi agora que você é muito
mais que eu poderia ter, você nunca me olhou, ou correu para mim como fez
com esse seu novo namorado, sei que fiz a maior burrada da minha vida, me
perdoe, você não merecia, prometo não te importunar, mas preciso de você
na minha vida, mesmo que seja somente como amiga. Nesses últimos 2 anos
com você aprendi mais de mim que em uma vida. Me desculpe.
— Ai querido, você irá morar eternamente no meu coração.
Depois de um abraço e algumas lágrimas somente se encontraram na
Indonésia em Fevereiro e agora aqui na ilha.
Mara sua empresária foi o pior, depois de recuperada, e já no Havaí,
deixou uma carta explicando sua partida da ilha:
Isabella,
Mil desculpas pelo que irei escrever, nunca menti
para você, mas tem uma coisa que escondi esses anos
todos, e agora me corrói mais que qualquer coisa, eu
sou completamente apaixonada por você.
Sempre escondi isso, não por vergonha, mas porque
sabia que você jamais corresponderia, guardei, enterrei
esse sentimento, de você e de mim, e hoje não consigo
mais.
Estou voltando ao Brasil, preciso de alguém que me
ame. Irei cuidar de sua vida profissional se ainda
quiser, mas da minha casa em Sorocaba, se não, posso
arrumar alguém que me substitua.
Fique em paz.
Mara
Saber que Mara era apaixonada por ela foi um choque, mas acabou
entendendo alguns atos dela durante sua vida juntas, depois de uns dias, ligou
e as duas tiveram uma conversa franca, Mara optou por não mais trabalhar
para Isabella, diretamente, abriu uma empresa de representação de
esportistas, e junto de mais pessoas iria cuidar de jogadores de futebol, golfe,
basquete, surfistas, skatistas, e diversos outros.
Estava feliz, pois Mara estava namorando a Gisela, de Maresias, resolveu
mudar de Sorocaba para lá, e as duas estavam se dando uma chance de ser
feliz.
Ria sozinha lembrando-se do tal João, ela mesma não se lembrava de nada,
mas sabia que estava preso por várias coisas que eram crime em Portugal, e
nem sabia direito. Toda semana uma nova carta dele chegava, e ela guardava
numa caixa sem abrir.
Uma onda chegou e fez Isabella acordar dos seus pensamentos, fez um giro
duplo, e deslizou pelas ondas, saltou, fez um Pump6, e saiu da água.
— Aloha7, Bella!
— Aloha, Kai!
— Estava te vendo no mar, você anda distante, não está mais com aquele
seu brilho, até o Shaft notou.
Isabella riu para o amigo de todas as horas, desde que mudou-se para a
ilha, ele a apresentou todos, as regras e os costumes da ilha. Kai é um
policial, amigo e acima de tudo leal ao seu nome o Mar, respeitando e o
adorando.
— Ai Kai, acho que a vida mudou muito nesses meses, eu estou perdida,
antes tinha um norte, sabia o que queria, mas aí...
— Aí o tal Reinaldo apareceu e mexeu com seu mundo. Como diz a minha
mãe, você devia seguir seu coração e não sua mente. Bem, tenho que ir, hoje
tem luau na barraca da minha irmã, te vejo lá.
— Até a noite.
27
Reinaldo estava desolado desde que sua conversa com Isabella
virou uma enorme briga ainda no hospital, não conseguia entender mais nada
da vida.
Vivia em modo automático, acordava, trabalhava e bebia, ligava para sua
prima para fazer sexo, sem sentimento, sem gosto, achava que uma hora ia
conseguir sentir algo novamente.
Aquela manhã não foi diferente, estava em sua sala elaborando um reality
show de baristas, que iria iniciar no próximo semestre, quando André e Pedro
e entraram em sua sala.
— Você tem somente mais hoje para ficar assim, ou eu vou te bater até a
sua merda sair pelas orelhas. – Disse André ao amigo.
— Então melhor começar a me bater agora.
— Caralho porra, já deu, você tá assim tem 6 meses, vamos. – André
pegou o amigo pelo braço puxando-o de sua cadeira.
Os três saíram da empresa, André empurrou o amigo para o carro e dirigiu
até a academia que frequentavam, não eram nem dez da manhã e os três
entraram empurrando Reinaldo para o octógono.
— Você tem que se defender. – André disse olhando o amigo.
— Reaja, caralho. – Pedro disse dando um soco no amigo.
Reinaldo ainda de terno olhava os amigos sem acreditar no que estavam
fazendo. André veio e deu um soco no estômago, fazendo-o perder o ar e
olhar nos olhos de Pedro.
— O que vocês querem, ela disse que eu... – E deu um soco no Pedro que
desviou, fazendo Reinaldo cair.
André pegou o pé do amigo e o puxou para o centro, deu a mão e o
levantou.
— O que ela disse? – André perguntou olhando nos olhos do amigo, que
caiu no chão derrotado.
— Ela disse que não iria abandonar a vida dela para ser o meu troféu, que
eu a tratei como um, que nosso tempo juntos não passou de um mero
passatempo. – disse conforme tirava a gravata.
— Você sabe que não é verdade, que você não foi um passatempo, nem
nada disso. Ela sabe como machucar as pessoas, você precisa esquecer. –
André disse sentando ao lado do amigo.
— Tente entender, para mim ela só disse essas coisas para que você
voltasse, você ia largar tudo aqui e viver no Havaí ao lado dela? Ou ela largar
os campeonatos para morar na selva de pedra? Seria como enjaular um
pássaro silvestre, qualquer um dos dois não seria feliz, e um dia ia acabar
culpando o outro. – Pedro disse dando a mão para ambos os amigos.

Isabella acordou naquela manhã com uma ressaca enorme, e com Shaft em
sua cama, não lembrava o que tinha acontecido, mas estava vestida.
— O que você faz na minha casa?
— Ontem você bebeu demais no luau, e fiquei preocupado, acabei te
trazendo para casa e fiquei aqui caso precisasse. Eu já vou embora.
— Obrigada, você não precisava.
— Sim eu precisava, você está assim triste por minha culpa, se eu não...
— Deixa, melhor não continuar, já foi, já acabou.
— Eu vou indo, qualquer coisa me chama.
Isabella deitou novamente e olhou o relógio, eram dez da manhã, não se
lembrava a última vez que acordou tão tarde, ficou ali olhando o teto, quando
ouviu vozes na sua sala, levantou-se e quando chegou na sala tomou um
susto.
— Sua casa é maravilhosa, por que eu nunca vim aqui antes?
— Acho que porque você não gosta de praia, pai.
— Minha linda, você está linda. – E abraçou-a com força.
— O que você veio fazer aqui? – Disse ainda no abraço.
— Vim te ver.
Depois de instalar o pai e tomar um banho, saíram pela ilha até a barraca
da Kaike, a irmã do Kai, para tomarem café e conversar.
— Aloha, Bella!
— Aloha Kaike, este é meu Pai.
— Aloha, pai da Bella, Haloe8.
— Oi.
Enquanto tomavam suco e comiam sanduíches de atum, olhavam o mar e
sua beleza, nenhum dos dois disse mais nada, passaram horas olhando o mar
um ao lado do outro.
— O que você acha pai, de irmos a Pearl Harbor, é um marco histórico da
ilha, e podemos passear nos navios que estão “aposentados”.
— Claro.
Levantaram, e saíram andando, pegaram um táxi e ao chegar, o pai ficou
admirado com as belezas da ilha, entendeu por que a filha amava este lugar e
por que ela chamava a ilha de hale9.
— Sabe, acho que nós dois nunca tivemos uma conversa de verdade,
minha filha.
— Acho que não, desde que vocês se separaram, eu tenho a sensação de
que tudo que você fez foi para me atingir ou me machucar. – Uma lágrima
caía dos olhos de Isabella, que olhava do píer em direção ao mar. — O mar
sempre me manteve com foco, por mais que ele se rebele, volta a ficar
calmo... – suspirou — Aqui no Havaí tem uma palavra que define família,
OHANA, mas na verdade nunca senti que fomos uma, nunca senti que somos
ligados pela mesma raiz, que é o que significa Ohana.
— Bel, eu sei, parte de você se afastar é culpa minha e de sua mãe, quando
nos conhecemos, éramos jovens, imaturos, queríamos coisas da vida, mas aí a
vida aconteceu, estávamos esperando o André, e seus avós e os pais dela,
meio que nos obrigaram a casar, e acabamos culpando um ao outro pelos
sonhos não realizados, e vocês dois ficaram no meio. – O pai ficou olhando o
mar.
— Até hoje pai, não entendi o que aconteceu, por que vocês não tentaram
fazer dar certo, por que você foi embora uma noite, e por que separaram o
André e eu.
— A verdade é que sua mãe e eu não éramos mais felizes e estávamos
somente nos maltratando. Eu estava tendo casos e sua mãe me culpava pela
falta de... bem, de... enfim, quando ela resolveu que não aguentava mais,
pegou você e foi para Maresias. Depois disso o que fizemos foi somente nos
machucar ainda mais e machucar vocês.
— Sim, em especial depois de nos separar. Eu achei no surf, o meu
kauhale, opa, lar. Em casa com você ou a mamãe nunca consegui me sentir
num lar, aqui no Havaí todos me fazem bem, mesmo nos campeonatos eu
sempre me senti parte de uma família, e com vocês é algo que não sei
explicar.
— Isso é culpa minha, filha, eu vim aqui para te dizer, que você não
precisa escolher entre o surf e o amor, entre os dois mundos, você pode e
merece os dois. Sei que você e o Reinaldo brigaram feio, o André me contou,
na verdade, ele me culpou por isso, e fiquei pensando a respeito, vi tudo de
errado que eu fiz. Lutei contra a culpa, vi o mal que fazia a vocês dois, meus
filhos, então eu demorei, mas fiz as pazes com seu irmão quando me disse
que teríamos netos. Em fevereiro fui ver sua mãe em Paris, e conversamos
muito, nós dois resolvemos ser felizes sem brigas, estou namorando uma
mulher da minha idade.
— Que bom para vocês dois, fico feliz que se acertaram. Mas não tem
como pai, o surf é minha vida e o Reinaldo pensa o mesmo do café, somos
pessoas diferentes, de mundos diferentes, que não têm como dar certo.
— Minha filha, quando se ama de verdade vocês conseguem dar certo.
— Não sei.
28
Reinaldo acordou naquele domingo sem muita vontade de
sair de casa, ligou a televisão e estava passando um especial sobre a Bella e
sua nova linha de prancha inspirada nas ondas gigantes.
Conforme assistia ao programa, falaram que ela estava classificada para a
próxima etapa do circuito WCT10 que seria no Rio, dos dias 10 a 21 de maio,
e teve a ideia de como provar para ela que o amor deles poderia driblar as
barreiras de continentes e profissões, que se existisse amor de verdade eles
poderiam vencer.
Ligou o computador e pesquisou as etapas do campeonato, e viu que, a 4º
seria no Rio e depois Fiji, e Jeffrey’s Bay, na África do Sul, e Teahupo’o no
Taiti e assim ia, entrou no sistema de reservas de hotéis e reservou suítes em
todas as cidades até o fim, provaria que poderiam estar juntos e driblar as
adversidades como a distância e seus trabalhos.
Estava empolgado para provar que poderiam fazer dar certo e estava
empolgado também por conhecer todos esses lugares paradisíacos.
Isso ia começar já, com a etapa do Rio. Pegou o telefone e ligou para o
amigo e futuro cunhado, precisava dividir com ele seu plano maluco de
seguir a Bella pelo mundo e ainda comandar uma empresa.
Combinou de almoçarem todos juntos, mais tarde.
— Oi linda, você está radiante. – Cumprimentou Luciana, ao chegar no
restaurante.
— Oi Reinaldo, e aí, qual é a sua ideia? O André disse que você estava
bem animado.
— Estou sim, pessoal, eu vou seguir a Bella pelo mundo.
— Como assim? – perguntou Pedro.
— Nosso problema, eu entendi agora, é que ela tem medo, medo de que
algo ruim aconteça depois do que Shaft aprontou, não tiro a razão dela, então
vou provar que podemos ter uma relação mesmo morando longe, e ela tendo
que viajar tanto. – Ele abriu o caderno dele e mostrou — Olhem aqui, essas
são as feiras de café que tenho que ir, essas as etapas de surf, não coincidem
em nada, ou seja, eu posso estar lá com ela, e ela comigo.
— Cara, esse plano é um absurdo, como você vai trabalhar, vai conseguir
comandar a empresa?
— Já pensei nisso também, eu tenho comunicação com a empresa por
acesso remoto, o Hermes da informática já tinha feito isso quando minha mãe
ficou doente e ficava com ela em casa, lembram? – os amigos fizeram que
sim com a cabeça — Então poderei trabalhar de qualquer lugar do mundo.
— Ai que romântico isso Reinaldo, ela será uma boba se não perceber o
que você está fazendo por vocês dois.
— Você acha mesmo que ela vai gostar, esse é meu único medo.
André estava incrédulo, acabou de ter certeza do amor do amigo pela irmã,
sabia que não poderia pedir melhor pessoa para ela.
—Se ela não vir o quanto você está se sacrificando por vocês dois, eu
mesmo bato nela. – Disse André.
Todos brindaram ao plano fantástico de Reinaldo para conquistar Isabella.

Pai e filha embarcaram para o Brasil juntos, o casamento de André e


Luciana seria depois da etapa do Rio do circuito, o avião estava repleto de
surfistas indo para o Rio de Janeiro.
Os dias que passaram juntos na ilha serviram para colocar o passado onde
ele pertencia, no passado, e agora estavam rumo ao futuro.
Mas Isabella ainda estava pensativa sobre o que o pai disse: ”se existe
amor, vocês conseguem dar certo”.
Depois de algumas longas horas, e chegada a hora de desembarcar no Rio,
com a cara amassada da viagem, saiu com um sorriso enorme para a área de
desembarque cheia de repórteres e fãs, avistou de longe Mara e Gisela, que
vieram ao seu encontro.
Deu um abraço de saudade na amiga e depois em Gisela, até avistar
Luciana e André, correu para eles, e beijou a barriga que abrigava os
sobrinhos, depois de paparicar a futura mamãe, abraçou o irmão.
Os repórteres pegaram todas as cenas e estavam aguardando ansiosos para
falar com a surfista.
Mais de 3 horas depois de desembarcar, estava no carro rumo ao hotel, seu
pai pegou outro avião e voltou para São Paulo, não poderia ficar todos os
dias, mas voltaria em dois ou três dias para vê-la surfando.
Ao entrar em seu quarto no hotel, tinha uma linda cesta com rosas e um
cartão:
“Que os ventos conspirem a seu favor. Beijos Re”
Ficou olhando o cartão e nem percebeu que Luciana estava com ela no
quarto, olhando-a e esperando que dissesse algo.
Luciana sabia que o plano de Reinaldo estava no início, ela deu a dica das
flores no quarto e um cartão que a fizesse entender que ele estava perto, mas
longe.
Mesmo sendo a amizade recente, sabia que Isabella era uma pessoa que
gostava de pequenos gestos e coisas simples, como cartões e mensagens, e
coisas que a fizessem sentir especial.
André era assim, sempre deixava bilhetes pela casa, ou pequenas surpresas
bobas, mas que a faziam se sentir especial, então imaginou que ela gostaria
do mesmo.
Ao entrar no quarto, achou um bombom bacio11 que sabia ser o favorito
dela, com outro bilhete.
“Um beijo meu, para adoçar sua boca. Re”
Isabella estava radiante com os pequenos mimos, adorou saber que mesmo
não estando juntos, ele poderia ser o cavalheiro que se lembrava.
— Acho que tem algum homem apaixonado. – Disse Luciana tirando
Isabella de sua bolha.
— Você acha mesmo? Não sei sabe, é tudo complicado, mas se bem que
não acharia ruim se o visse aqui esses dias, seria uma ótima distração.
— Meu Deus, Bella, não conhecia seu lado felina! – e as duas deitaram na
cama enorme, rindo, pediram serviço de quarto e ficaram conversando e
assistindo os filmes Sex and The City.
Falaram de amores, de sexo e claro, dos gêmeos. Luciana confidenciou que
estava ansiosa nervosa e mega feliz com o casamento e os meninos.
Pela primeira vez na vida Isabella tinha uma amiga-irmã, e pôde
confidenciar seus sonhos.
— Sabe, quero um dia poder parar de surfar nos circuitos e somente surfar
por hobby, quero poder somente fazer o que gosto, o que amo, e ter alguém
assim comigo, que queira morar no Havaí, pegar ondas, querer adotar umas
crianças, e viver na brisa. – Disse bocejando, e fechando os olhos.
— Você tem querida, só ainda não viu. – Luciana sussurrou e fechou os
olhos também.
Dormiram juntas.
29
Isabella estava surfando pelo campeonato contra outras 4
surfistas, uma delas era iniciante, seu primeiro torneio, ao sair da água teve o
resultado de quatro dez e um nove ponto cinco.
Estava satisfeita e correu de volta para a família, estava contente, seu
irmão, pai e cunhada estavam ali, conforme se aproximava, viu um rosto
familiar junto deles, Reinaldo estava ali.
— Oi, você arrasou nas ondas, parabéns.
Ficou olhando para ele como se fizesse anos que não se viam, até que
percebeu algo diferente, ele fez uma tatuagem, ela ficou imóvel, sem falas,
sabia o que significava a palavra em havaiano tatuada naquele peito, sabia
que era uma declaração a alguém.
“ʻaloha wau iāʻoe12“
— Você, você, como assim? – ela dizia olhando para a tatuagem naquele
peito.
Ele chegou bem perto do ouvido dela e como num sussurro disse:
— Por você vale a pena perder o medo.
Os demais ficaram observando que nenhum dos dois tomava iniciativa e
num ato de tentar aproximá-los, Pedro fingiu tropeçar e empurrou Reinaldo
para cima de Isabella, ele a segurou pelos braços, o que a fez segurar em seu
pescoço.
Luciana soltou um suspiro de felicidade, não sabia se estava tomada pelos
hormônios ou por saber que os dois foram feitos um para o outro, mas sabia
que estava feliz.
— Se eu te beijar agora, você vai me bater? – Reinaldo perguntou e sem
deixar que ela pensasse ou respondesse, beijou-a com saudades, esses meses
longe dela foram uma agonia constante.
A boca de Isabella estava na boca de Reinaldo, com gosto de saudade,
amor e um sentimento de kauhale isso era novo para ela, o empurrou quando
sentiu que talvez nunca conseguisse largá-lo, mas o medo falou mais alto, e
saiu de seus braços sem nem dizer nada, voltou ao encontro de Mara e Gisela,
que a olhavam com desconfiança.
— Se eu posso me meter eu não sei, mas vou me meter, esse cara tá louco
por você minha cara. – Gisela disse.
— Olha, vou ser honesta, esse e o único cara que eu vejo como merecedor
do seu amor, Bella. – Mara disse.
Isabella olhava para as duas em choque, não sabia o que pensar ou
responder.
Os dias de provas passaram, Isabella estava em segundo lugar e passou
para a próxima etapa.
Reinaldo com a notícia sobre Isabella, já providenciou passagem para a
próxima etapa, o hotel já havia reservado, e seu plano estava somente
começando.
Já em São Paulo para o casamento do irmão, ficou na casa do pai, e
conheceu Fátima, sua namorada, uma mulher adorável, da mesma idade,
advogada, viúva e mãe de dois rapazes, um morava na Austrália e o outro era
dentista.
Estava encantada com a educação dela, e o modo como cuidava de seu pai,
via-se ali que os dois eram um casal feliz.
Luciana e Isabella, foram à última prova do vestido de noiva e à única
prova do vestido de Isabella, naquele sábado seria o casamento dos seus
sonhos, na igreja Nossa Senhora do Brasil, com decoração em rosa, branco e
lilás, três daminhas de honra, uma de cada cor, todos os homens de meio
fraque, e o noivo de fraque branco, o vestido dela, não era como queria, pois
estava grávida, mas isso não impediu de ser tão lindo quanto um dia
imaginou.
Isabella ao ver Luciana de noiva ficou encantada, emocionada, extasiada,
as duas se olhavam no espelho e choraram de felicidade, até mesmo a
vendedora se emocionou com a cena.
O grande dia chegou e a mãe de Luciana estava organizando tudo.
Até aquele momento que antecedia a sua entrada na igreja, Isabella não
sabia quem seria seu par, imaginou que seria Pedro, mas ao chegar se
deparou com Reinaldo.
— Você está linda. – Reinaldo disse.
— Obrigada, – Isabella deu uma boa olhada nele – Você está muito nani13,
digo, lindo também.
Andaram para o altar lentamente, como os padrinhos anteriores, depois foi
a vez das damas de honra que jogavam pétalas de rosas, e então abriu-se as
portas e a marcha nupcial iniciou, tocada por uma harpa e um tenor, e a noiva
começou a andar ao lado do pai.
Luciana estava linda, num vestido princesa branco com pérolas e solto na
barriga, conforme andava, via-se que estava emocionada e se contendo para
não chorar, Isabella, do altar, olhava seu irmão que não se continha de
felicidade e emoção, lágrimas escorriam livremente em seu rosto olhando sua
noiva.
O padre iniciou a cerimônia, e na hora do “pode beijar a noiva” todos
explodiram em palmas. Luciana já não segurava mais as lágrimas e agora era
amparada por um marido que estava ao seu lado.
Depois que os noivos saíram rumo à festa, e os convidados começaram a
se dissipar, Isabella ficou admirando a igreja e não percebeu que Reinaldo a
observava.
Isabella sentou-se num dos bancos e numa prece sussurrada, pediu:
“Deus, que eu encontre alguém que me faça chorar de alegria e que seque
minhas lágrimas, que seja alguém de bom coração e que não me faça sofrer,
que eu tenha metade da felicidade que eles tiveram hoje, todos os dias. Que
os dias e as noites sejam intermináveis com ele. Amém.”
Levantou-se e viu Reinaldo no banco atrás dela.
— Você estava ouvindo?
— Desculpe, não queria, mas estava te esperando para te levar.
— Tudo bem, vamos.
Os dois seguiram em silêncio até o local da festa, Isabella olhava de rabo
de olho para ele com medo de que pudesse dizer algo.
Antes de entrarem no salão, Reinaldo a segurou pelo braço e a abraçou,
depois de uns minutos a soltou e entraram na festa.
Isabella dançou com o pai, com irmão, com a Luciana, com todos, se
divertiu e depois que a festa acabou foi embora para a casa do pai, com a
sensação que estava esquecendo algo.
30
Desde o casamento, Reinaldo estava inquieto e aguardando ir
para Fiji para encontrar Isabella, e não deixava de lembrar a sua prece, tão
singela, mas tão honesta.
André e Luciana não viajaram para longe, foram somente para a casa de
Isabella em Maresias, curtir a lua de mel, em breve uma aventura nova iria
iniciar para o casal.
Pouco conversou com ele nesses dias, mas teve Pedro para se apoiar e
contar o que pensava, até mesmo falou com Mara para saber onde Isabella
estaria hospedada, queria poder mandar flores e o bombom.
Isabella havia chegado ao quarto do hotel em Fiji para a próxima etapa,
quando viu as rosas e um cartão.
“Que suas lágrimas de alegria eu possa secar
aloha wau iāʻoe.”
Ficou imóvel vendo o cartão, correu ao quarto e lá estava o bombom e
mais um cartão:
“ALOHA NUI14”
Ele estava se fazendo ver, e isso ela não podia negar.
Pegou o telefone celular da bolsa e ligou para Reinaldo, o telefone somente
tocou e não foi atendida, ficou brava e jogou o telefone na cama.
Abriu o bombom e colocou na boca de uma vez, estava frustrada de não
poder falar com ele umas verdades. Queria dizer que odiava receber esses
cartões, que queria distância dele, que queria que ele não lembrasse mais
dela, queria dizer que estava com saudades, que o queria ali com ela.
— Merda, te odeio Reinaldo – Disse olhando o teto, virou-se – Não te
odeio, te amo. – alguém bateu na porta. — Já vai! Droga, quem pode ser?
Ao abrir a porta, era o camareiro com uma mesa cheia de coisas que ela
não havia pedido.
— Não pedi nada, acho que está errado. – Disse quando o camareiro abriu
um sorriso.
— Senhora, foi solicitado que entregasse, já está pago, aqui. – Entregou
um cartão e saiu do quarto.
Isabella estava intrigada, mas abriu o cartão.
"Bella meu amor pedi que entregasse todas
as coisas que você mais gosta no mundo Re”
— Tô falando, esse cara é um chato, intrometido, pentelho, lindo, gostoso
e estou morrendo de saudades. – Dizia conforme abria cada uma das
bandejas.
Tinha mousse de limão, de maracujá, bomba de chocolate, vários bombons
bacio, sanduíche de atum, de frango, salada com manga, tudo que mais
amava.
Não sabia por onde começar ou terminar a comer. Deitou-se na cama com
o sanduíche e os mousses, e colocou o filme Diário de uma paixão, antes
mesmo de terminar o filme estava ao telefone com Luciana, chorando e
comendo a bomba de chocolate depois de devorar o mousse de maracujá.
Quando o filme acabou havia terminado de devorar o mousse de limão,
estava esgotada, satisfeita e louca por um banho, entrou na banheira e depois
de um longo e relaxante banho, dormiu sonhando com Reinaldo.
Nos dois dias que se seguiram, Isabella estava focada na próxima etapa,
treinava, treinava e treinava, estava com sua concentração toda voltada ao
surf.
Reinaldo chegou à noite anterior ao início da etapa de Fiji, ficou no seu
quarto remoendo o que faria ao encontrar Isabella amanhã, se diria algo, ou
se faria algo.
Ela havia tentado ligar, mas ele não atendeu de propósito, precisava
mostrar que não se importava o que era uma grande mentira, estava louco
para ouvi-la no seu ouvido.
Naquela manhã, algo brilhava mais bonito, mais intenso, Isabella ao abrir a
cortina sentia que algo magnífico aconteceria, sabia que tinha algo no ar.
Reinaldo ao chegar à praia sentiu uma vibração como se os deuses do céu e
do mar estivessem a seu favor, aquela manhã em especial estava mais que
favorável para o surf e para o amor.
A etapa iniciou e Isabella pegou uma onda, voltou e pegou outra e mais
outra, ao sair recebeu as notas dos juízes, três dez e um nove.
Ao longe, Reinaldo via toda a movimentação em torno de Isabella, e foi
chegando bem devagar.
Isabella sentiu como se o vento mandasse que virasse, e ao longe avistou
Reinaldo, achou que estava tendo uma alucinação, e seguiu para seu
encontro.
Como num filme com uma sincronia perfeita e, contrariando o clima
nativo, ao se encontrarem uma chuva caiu sobre a praia.
— Eu sou a pessoa, que quer te ver chorar de alegria e enxugar suas
lágrimas, sou eu que quero colocar cada sorriso nesse lindo rosto, eu sou bom
de coração e não quero te ver sofrer, quero poder te proteger, quero que nós
tenhamos mais felicidade que jamais imaginamos ser possível, quero que os
dias e as noites sejam intermináveis. – Ao terminar de falar, beijou-a com
todo seu amor, com todo seu coração, com toda sua alma.
Isabella derreteu por aquele homem que fazia seu coração pulsar sem
parar, sabia que não existiria felicidade sem ele, sabia que estava kauhale15.
Epílogo
10 anos depois
— Você tem certeza que não quer mesmo se casar? – Reinaldo
perguntava pela vigésima vez.
— Tenho sim, não precisamos de um pedaço de papel para sermos felizes.
Venha, vamos passear pelas praias.
Isabella e Reinaldo estavam comemorando seu décimo aniversário em Fiji,
com seus três filhos adotivos e seus sobrinhos, além dos amigos e família.
Nos últimos anos, Reinaldo expandiu a empresa abrindo filiais em locais
estratégicos pelo mundo, como na ilha de Maui, onde Isabella já morava, Fiji,
e tantos outros, assim pôde acompanhar de perto sua amada enquanto era
surfista sem deixar de ter sua ocupação.
Isabella ganhou mais 4 circuitos e anunciou sua aposentadoria, adotou o
primeiro filho, um lindo vietnamita, com sete anos e de nome Linh e seu
significado sempre a emocionava, espírito amável, um menino que sofreu e
era a pessoa mais doce que conhecera.
Depois de um ano, adotaram uma linda menina havaiana de nome Luana, a
reluzente, sempre sorrindo e muito apegada ao Reinaldo. Nem terminaram
com os papeis de Luana, acharam numa viagem à África do Sul, um menino
de cabelos rebeldes e modos de guerreiro, perdido pela praia e com fome, e
sem nem pensar duas vezes, Reinaldo entrou com o pedido de adoção de Taú
que combinava perfeitamente com ele, bravo como leão!
Seus sobrinhos Lucas e Luciano, eram sua perdição, amavam o mar e a
ilha, e eram grandes amigos dos animais e dos primos.
André estava cada dia mais apaixonado pela esposa e seus filhos, sempre
ao lado deles em todos os momentos.
Pedro casou-se e se separou umas duas vezes, sempre dizia que a próxima
seria para sempre, ou para sempre pelo tempo que durasse.
Mara e Gisela viviam entre tapas e beijos, mas sempre presentes na vida de
Isabella e das crianças. Isabella acreditava que o grande conflito entre elas era
a falta de um filho, mas nunca se meteu.
Ao anunciar sua aposentadoria dos circuitos e a adoção das crianças,
Isabella abriu uma linha de roupas de surf para adultos e crianças, além de
continuar atrás das ondas gigantes.
Surfou e quase morreu em diversas ondas, dando grande preocupação para
Reinaldo e as crianças, que acompanhavam de perto a mãe. A pequena Luana
já dava sinais que seria surfista, já o mais velho gostava de passar horas no
escritório com o pai, e o pequeno Taú se dividia em dois o dia todo, entre
ondas e o computador.
A vida não poderia ser melhor para Isabella e Reinaldo, que depois de
terem sofrido, encontraram seu meio termo e conseguiram vencer as
adversidades da distância, pois onde há amor há uma chance de ser feliz.
Ohana hauʻoli! 16

Fim.
1. Tradução livre da autora da sinopse, esse livro ainda não foi lançado no Brasil.
2 Levar a vida numa boa, sem preocupação – gíria popular entre surfistas.
3 Doença sexualmente transmissível.
4 Mar calmo, limpo, sem ondas grandes
5 Para que se forme uma onda, é necessário que haja uma perturbação na superfície da água ou abaixo dela. Geralmente, as ondas
são criadas pela ação do vento na superfície dos mares, lagos e oceanos. No caso do Swell (palavra em inglês para bombástico, de
grande tamanho ou grande elevação) as ondas são formadas dentro de zonas de geração, região onde ocorre a formação de
tempestades.Quando isso ocorre, a turbulência destas tempestades impulsiona a superfície criando grandes ondulações que se
propagam e podem viajar por longas distâncias, aumentando de tamanho quando o mar vai ficando raso e formando grandes
ondas ao chegarem na costa
6 Um movimento de subir e descer na onda que cria velocidade ao longo da mesma.
7 Olá em havaiano.
8 Estrangeiro em havaiano.
9 Casa em havaiano.
10 World Surf League (WSL, Liga de Surfe Mundial).
11 Bombom Bacio-Perugina típico da Itália.
12 Eu amo você em havaiano.
13 Lindo, magnífico, divino em havaiano.
14 Amor supremo em havaiano que pode ser também amor eterno, como no texto.
15 Casa em havaiano.
16. Família feliz em havaiano.

Você também pode gostar