Uma Onda Perfeita
Uma Onda Perfeita
Uma Onda Perfeita
Desde que tinha 20 anos, via a deusa do surf, uma menina que virou
mulher, a amava, e na sua mente eram feitos um para o outro, ele somente se
lamentava que ela não soubesse.
Enviara presentes, recados, mensagens, e nunca teve retorno, sabia que
Mara era a culpada, que a sua surfista jamais o ignoraria se Mara não
existisse.
O único modo de sua musa enxergá-lo seria:
— Matando-a.
Sim, ele sabia que Mara estaria sempre no caminho. Mara faria qualquer
coisa pela surfista.
No Havaí, Shaft quebrou a casa toda ao ver a foto de Isabella e seu novo
namorado, ficou revoltado com o fato de ela já ter superado ele tão rápido.
Estava ainda mais puto da vida! Por ela ter demorado 7 malditos meses
para beijá-lo e em menos de 6 meses já estava nos braços de outro.
Resolveu que acertaria as contas e conversaria com Isabella em Portugal,
após as ondas gigantes de Nazaré, mesmo irritado não queria que sua amada
Bella ficasse desconcentrada nas ondas, como aconteceu na 10º etapa do
circuito, quando foi sugada por um tubo, perdendo pontos e sendo
desclassificada.
Pegou seu notebook, comprou passagem aérea para Portugal e reservou um
hotel próximo ao hotel que Isabella estaria. Pela notícia, Isabella e seu novo
namorado estariam juntos em Portugal e depois partiriam para uma feira de
café na Itália.
Xingou, gritou e deu um murro na parede ao reler pela vigésima vez a
notícia e a nota oficial de sua empresária.
— Mara sua vaca, lésbica, idiota, deve estar amando ver a Bella com um
empresário do café e não um surfista! Te odeio sua filha da puta.
Shaft nunca gostou de Mara, e isso sempre foi claro e nítido por todos, em
especial Isabella, mas o desgosto era mútuo, Mara também nunca gostou
dele.
Sempre acreditou que Mara era apaixonada por Isabella, mesmo ela
dizendo que Mara era somente superprotetora, e que as duas eram amigas
como irmãs, nada mais, ele que via o que não existia.
— Essa vadia deve estar dançando no meu túmulo.
Em sua casa, João estava revoltado com a falha de seu plano, e Isabella já
estava namorando novamente, o homem ao lado dela não era como os
anteriores, surfistas, esse era diferente.
Viu a foto que tirou dos dois ser publicada em diversos sites de fofocas de
celebridades, o que o deixou mais irritado ainda, sua foto publicada no seu
instagram pessoal com a Bella não teve nenhuma curtida ou comentário, mas
na conta que mantinha como caçador de ondas, um perfil voltado somente
para as ondas e imagens de Isabella, havia mais de 1000 curtidas e 300
comentários e estava sendo republicada em diversos outros locais.
Localizou o perfil de Bella no Facebook, Instagram e Twitter, acompanhou
as postagens do dia, com fotos das gravações dos programas e com o
namorado, deixando-o mais irritado ainda.
Desejava ser o homem que ela desejava, leu mais vezes que pôde contar a
informação oficial vinda da empresária:
Havia mais duas fotos do casal, sendo uma a oficial e mais uma além
daquela que ele tirou.
João andava de um lado para o outro, quando o produtor do canal On ligou
e ofereceu a ele a vaga de fotógrafo do próximo projeto.
Sim, João era fotógrafo profissional, o que o permitia viajar sem suspeitas
e assim perseguir Isabella pelo mundo, na segunda teria os detalhes para esse
projeto, até lá estava concentrado em como separar o casal feliz.
5
Quando todos saíram da casa restando somente à bagunça, Mara
havia chamado a caseira para ajudá-la na arrumação, enquanto André, Pedro,
Reinaldo e Isabela iam para o Sirena dançar com os amigos Rodrigo e
Fabiana, Doo e Luci, e o restante do pessoal.
No Sirena, foram colocados na área VIP, porém muitos fãs de todos
vieram para tirar fotos e autógrafos, após serem atendidos, e seguindo a linha,
todos pediram sucos, exceto por Luci, André, Pedro e Reinaldo que estavam
tomando cerveja.
Luci, Fabiana e Isabella dançavam de forma sensual no meio da multidão,
Reinaldo observava de longe e seu lado ciumento começou a aflorar, nunca
tivera ciúmes de Sabryne, poderia andar nua na rua que não se importaria,
mas Isabella era diferente, queria ir lá e esmurrar a cara do rapaz que estava
olhando para ela.
Resolveu respirar fundo e se juntar a Bella na pista, puxou seu corpo
contra o dele e dançou agarrado a ela, não resistiu e passou a mão pelas suas
costas até seu pescoço, até aquele momento não haviam se beijado, e estava
sedento por sua boca carnuda.
Segurou-se para não agarrar seu pescoço e beijá-la, em vez disso pegou sua
mão e a fez rodopiar, fazendo-a rir, a fez voltar para ele rodopiando, abraçou-
a e continuaram a dançar, a sua intenção de afastar os homens ao redor dera
certo.
Isabella ficou impressionada com Reinaldo, e por ele saber dançar,
normalmente quando saía com Shaft, ele ficava olhando com cara de mau, e
ela dançava sozinha ou com as meninas.
Estava amando ser mimada pelo namorado de mentirinha, voltaram para a
mesa e enquanto andava a sua frente, observou que Reinaldo tinha uma linda
bunda, e suas costas largas deviam ser bem torneadas sem a camisa, se
perguntou por que não reparou nele ontem na praia quando estava somente de
bermuda.
Isabella repetia na sua cabeça, burra, burra, burra, devia ter reparado nele
mais cedo, sim, agora estava reparando, seus lábios eram bem desenhados e
carnudos, o que lhe causou um arrepio pelo corpo de imaginar a boca dele
pelo seu corpo.
Ficou olhando o rosto do homem que se passara por seu namorado de
mentira e pôde ver uma cicatriz no supercílio, outra no queixo e um sorriso
com dentes perfeitamente alinhados, a camisa estava agarrando seus braços,
queria vê-lo nu, para poder ter uma opinião melhor, mas sabia que seria
impossível, uma vez que o namoro era de mentira.
Perguntou-se o que levava uma pessoa a não desmentir que namora alguém
que mal conhece, deve ter ficado interessado na parte do retorno que a
publicidade fará por ele e sua empresa, ou poderia ser por lealdade ao irmão.
O que Isabella não imaginava era que Reinaldo estava encantado
genuinamente por ela, sem interesse algum, e que o acordo de ser namorado
de mentira era um absurdo para ele, passou horas contando sua vida para
Mara, o que foi terrível, pois aquela mulher apesar de parecer boa era o
diabo.
Reinaldo reparou que Isabella o olhava pela primeira vez como um homem
e não como o amigo do irmão, ou o namorado de mentira, o que estava
deixando-o orgulhoso, sabia que não era feio e também sabia que não era
nenhum modelo de cueca, mas tinha seus atributos.
Ele resolveu provocar Isabella e ver até que ponto ela aguentaria, começou
de onde estavam sentados passou o braço por trás dela e começou a fazer
carinho em seu braço até o pescoço, sabia que estava causando arrepios,
virou-se e a beijou atrás da orelha.
Isabella estrangulou um gemido do carinho que Reinaldo fazia em seu
braço, não teve o mesmo sucesso com o beijo atrás da orelha, era seu ponto
fraco, pescoço e atrás da orelha, se derretia como manteiga com carinhos e
beijos nessas áreas, e Reinaldo estava brincando com fogo, e se queria
brincar, ela entraria no jogo.
Ah, sim! Isabella sabia brincar de provocar e estava mais que disposta.
Virou-se para ficar mais aconchegada naquele homem e passou as unhas por
baixo da camisa em seu abdômen, fazendo o homem se contorcer e ter que se
ajeitar, pois seu amigo estava endurecendo se já não estivesse duro.
Reinaldo levantou-se apressado com a carícia ousada de Isabella, ele
acabara de ficar mais duro que rocha, nunca na sua vida adulta havia perdido
o controle num local público ou diante de plateia.
André estava incomodado com o modo de Reinaldo e de Isabella, afinal
era só um arranjo de mentira, não precisavam estar tão grudados, ou se
provocar, o que resultou num André muito bravo e que não iria se meter,
como sempre, mas ficaria de olhos e ouvidos atentos.
Isabella foi atrás de Reinaldo que fora ao banheiro, encontrou com ele
quando estava fazendo o caminho de volta, e fora agarrada pela cintura.
— Você sabe como provocar um homem.
— Isso é um jogo que se joga a dois, se você pode, eu também posso.
— Você é mais atrevida que eu imaginei.
— Você começou, eu só entrei no seu jogo.
— Sim você só usou as armas pesadas.
— Não tenho culpa se você é fraco.
Reinaldo estava colado com Isabella, cercado de pessoas desconhecidas
tirando fotos da surfista, ele não queria beijá-la ali na frente de estranhos,
queria sim beijá-la, mas num local sagrado, um local onde se lembrariam de e
retornariam diversas vezes.
O coro de beija, beija, beija dos desconhecidos afastou a ideia romântica
de Reinaldo. Isabella, ouvindo as pessoas ao seu redor, olhava nos olhos de
Reinaldo e não sabia qual seria sua reação se o beijasse.
Isabella, atendendo aos pedidos, beijou Reinaldo, que a agarrou com mais
força e segurou sua cabeça, aprofundando o beijo, fazendo Isabella se
derreter em seus braços.
Reinaldo pôde sentir todas as barreiras de Isabella se desmoronar, sentia a
entrega e o modo passional dela por um simples beijo.
Sim, ele estava encrencado, estava se apaixonando pela sua namorada de
mentira.
Isabella não pôde se conter e perdeu o controle no beijo com Reinaldo, ela
queria mais, agarrada nos seus cabelos, queria tê-lo ali no meio da multidão,
quando ambos precisavam de ar e se afastaram, ficaram olhando nos olhos
um do outro.
Sim, ela estava encrencada, saiu de lá em direção ao banheiro, precisava se
recompor.
6
Mara ficou acordada até às duas da manhã, quando todos
regressaram a casa, precisava garantir que Isabella estava bem, poucos
minutos depois de todos chegarem, a casa estava em silêncio, já haviam se
encaminhado para seus quartos.
A casa não era grande, mas Mara providenciou que os casais ficassem em
quartos e que André, Pedro e Reinaldo ficassem no quarto de Isabella.
Usualmente, mesmo dormindo pouco, Isabella acordou às 4 da manhã,
levantou-se e olhou a janela, estava nublado e as ondas quebravam em
cascatas, um dia perfeito para o surf, e quem sabe exorcizar o beijo de
Reinaldo.
Saiu do quarto com todo o cuidado, para não acordar os outros, era uma
segunda-feira de feriado emendado no Brasil, preparou seu mix na cozinha,
maçã, pó de guaraná e suco de laranja, bebeu e saiu em direção ao mar.
Reinaldo não pregou o olho à noite toda, revivia novamente cada segundo
do beijo e o modo desconfortável que ambos ficaram após o regresso dela,
ficaram de mãos dadas e não trocarem nenhuma palavra, mas os olhares
cheio de intenções.
Ele viu quando ela levantou, olhou pela janela e saiu de fininho, Reinaldo
esperou um pouco e foi atrás dela, que caminhava sentido à praia, ficou
observando de uma distância segura.
Observou quando Isabella fez sua prece e agradeceu ao mar por mais um
dia de ondas, e então entrou com sua prancha, viu-a remando e passando por
baixo das ondas que se arrebentavam, viu quando chegou após a arrebentação
e ficou sentada na prancha.
Isabella percebeu assim que saiu da casa que Reinaldo a seguia, achou
interessante o namorado de mentira a seguir, e como sempre fez sua prece:
“Agradeço estar viva mais um dia para contemplar a grandeza do mar,
prometo ser gentil, e honrar as ondas que a mim vierem. Agradeço a Deus e
Poseidon, por me permitirem estar aqui.”
Ela viu que ele estava observando atentamente, achou melhor fingir que
não o viu, e após a prece, entrou no mar, passou pela arrebentação e sentou-se
na prancha esperando sua onda.
Ficou pensando no beijo de ontem e em Shaft, nas diferenças entre os dois
homens, de mundos tão diferentes, não viu quando ondas maravilhosas
passavam por ela.
Estava inerte em seus pensamentos, quando fora acordada pelos demais
surfistas que chegavam ao mar.
Espantou seus pensamentos e pegou uma onda, como sempre acontecia, foi
aplaudida no final pelos colegas surfistas e pelos amantes do esporte.
Reinaldo percebeu a movimentação ao redor de Isabella de surfistas de
várias idades, mas o ciúme correu em suas veias ao ver os mais próximos a
sua idade e de Isabella, teve vontade de saber surfar pela primeira vez na vida
e poder estar ao lado dela no mar.
Levantou-se de onde estava e ficou atento às manobras que Isabella fazia
sobre a prancha, deslizava no mar e quando foi aplaudida entendeu o respeito
dos marmanjos a sua volta, o interesse deles era legítimo, ela era uma surfista
profissional, ao contrário deles.
Isabella voltou ao mar e surfou mais algumas horas, até seu corpo estar em
exaustão, saindo do mar percebeu Reinaldo vindo em sua direção.
Shaft ficou decepcionado com a ligação de Isabella, sabia que ela era
decidida e que não teria volta, mas ainda assim tentaria quantas vezes fosse
necessário.
Além de estar em Nazaré, iria estar com ela no próximo ano nas etapas do
mundial, e sabia que voltaria a Pipeline no Havaí, nosso quintal para surfar na
entressafra, e quem sabe conversar com ela.
André estava tenso, sabia que desde que seu pai e Isabella brigaram não
haviam se falado, Luciana, sua namorada, sentindo a tensão e o que estava
por vir tentou em vão acalmar o namorado.
Luciana conhecia pouco a Isabella, mas sabia que os dois eram
inseparáveis e que tudo que acontecia com um, o outro sabia, tentou por um
tempo lutar contra, porém acabou decidindo se conformar e não se meter na
relação deles.
Sabia que o jantar seria complicado, nenhum dos irmãos estava contente
com a nova namorada do pai, e o mesmo não estava contente em saber da
relação da filha pelos jornais de celebridades, o que gerou diversas ligações
do pai ao filho pedindo explicações, algumas das ligações ignoradas e outras
atendidas, mas sem muitas informações.
William e Odete chegaram à residência de André, a namorada do pai
estava nervosa, sabia que a família não a aprovava, mesmo assim amava
William. Como um casal qualquer, eram parecidos e diferentes na medida, o
que mais irritava era seu comportamento sobre a filha, que ele se recusava a
conversar ou tentar fazer com que ela a aceitasse.
Estava inseguro com esse jantar, conhecia bem sua filha de temperamento
explosivo, sabia que se Odete dissesse ou fizesse algo para provocar, a morte
seria sua aliada. Ao mesmo tempo em que estava animado para exibir sua
namorada para os filhos.
Isabella e Reinaldo chegaram à residência do André, após os
cumprimentos e apresentações, a conversa um tanto quanto tensa se iniciou.
—Então minha filha, você começa a namorar e nem me conta.
— Acho que não devemos entrar nesse assunto. – André tentou apaziguar,
quando olhou sua irmã.
— Ao contrário de você pai, encontrei uma pessoa que tem a mesma idade
que a minha, tanto em maturidade como intelectualmente. – Isabella
respondeu um tanto quanto arredia.
— Isabella, melhor apaziguar os ânimos. – André a repreendeu.
— Não fui eu que adotei uma filha nova. – Isabella respondeu.
— Isa, por favor. – Reinaldo falou ao seu ouvido, a agarrou para um
abraço e caminharam para a varanda. — Você não pode atacar seu pai assim,
ele está feliz, olhe para ele.
— Você não entende, seus pais têm a mesma idade, são...
— Não entendo mesmo, mas é melhor manter sua relação com ele boa, e
não em meio às brigas.
O interfone tocou e André se assustou, não esperava ninguém, o porteiro
não conseguiu informar quem estava subindo, quando a campainha tocou, e
Luciana abriu a porta.
— Oi, meus filhos. – Jussara, a mãe dos irmãos entrou com o marido Luis.
— Meu Deus Jussara, você está se tornando uma perua. – William disse
com desdém.
— Ao menos eu não preciso de PIRANHAS, para me sentir viva. – Ela
respondeu.
A confusão iniciou com trocas de acusações e xingamentos, Isabella teve a
mesma reação de quando criança, se fechar no seu mundo, André correu ao
seu encontro, e a abraçou, as mulheres estavam se batendo e xingando,
William e Luis estavam tentando apartar a briga, quando André deu um
basta.
— PAREM, vocês todos. Chega, passei anos da minha vida lidando com
vocês dois, nem depois de todos esses anos vocês conseguem parar de brigar.
— A culpa é de vocês de eu ter me mudado para o Havaí, de ter ido para
longe o bastante para não ter que conviver com nenhum dos dois. Chega,
cansei, não quero mais, quando você, pai, crescer e entender que parte da
culpa é sua e que namorar uma moça que tem a minha idade somente piora,
me liga. E você mãe, precisa parar de se enterrar em homens que somente te
amam enquanto você paga por tudo, depois de usarem, abusarem e se
lambuzarem de você te largarem na sarjeta, você me liga. André...
— Reinaldo, leva minha irmã, por favor. Isa, amanhã nos falamos.
Os irmãos se abraçaram em um gesto de fraternidade e cumplicidade que
somente os dois entendiam, e assim como o amigo pediu, Reinaldo a levou
para sua casa.
— Sabe, o pior não é eles brigarem, é a briga ser pelo mesmo motivo... –
suspirou — ciúmes.
18
— Por que você acha que é ciúme?
— Relembre a briga, minha mãe ama meu pai por mais que diga que não, e
ele também, juntos são ruins, separados são piores ainda.
— Deve ter sido difícil para você. Você parecia uma criança quando eles
começaram a brigar.
— Eu nunca me acostumo com eles brigando, volto a ter dois anos sempre,
desculpe pela falta de educação da minha família, não foi assim que imaginei
a noite. – Risos nervosos — Imaginei que meu pai e eu iríamos nos provocar
e nada além disso. Mas aí a rainha da briga chegou sem ser convidada e a
confusão foi armada.
Reinaldo começou a rir, o que mudou o clima no carro e o fez se dirigir ao
Burger King. Ela estava voltando a ser ela mesma, quando olhou a fachada
sua barriga roncou e sua boca salivou.
— Adoro esse lugar, o sanduíche é maravilhoso, você leu meus
pensamentos. – Deu-lhe um beijo.
Assim que estacionou, os dois pularam para fora do carro, nas escadas ele
a agarrou e deu-lhe um beijo de tirar o fôlego, foram subindo as escadas em
meios a beijos e abraços, chegaram à fila e Reinaldo estava agarrado a ela,
marcando território. Pegaram seu pedido e sentaram lado a lado.
— Amanhã você tem o dia livre, o que pensa em fazer?
— Você consegue a manhã de folga? Porque adoraria ficar na cama.
— Humm seria um sonho, posso ver com a Andressa se precisam de mim
pela manhã.
— Você sabe que ela gosta de você, e já me odeia.
Ele riu alto com a afirmação dela.
— Não meu amor. – Ele parou com a expressão, havia anos que não
chamava ninguém de amor — Somos primos, somente isso. – Tentou voltar
ao assunto de forma natural.
— Vocês homens não enxergam o que nós mulheres vemos, sua
recepcionista te come com os olhos, assim como todas as mulheres que
trabalham para você. Sabe que é lindo e simpático, e que todas dariam um
braço para estarem no meu lugar.
— Imagine.
— Pela postura da Andressa, imagino que ela saiba bem como é estar no
meu lugar.
Olhou-a estático com medo e receio. Isabela deu-lhe um beijo e sussurrou
em seu ouvido.
— Joguei verde e colhi maduro. Então apesar de não ter primos, sei que a
pegação entre primos é tradição quando são da mesma idade, e pelo visto o
velho ditado aconteceu com você.
Reinaldo não respondeu, pegou a bandeja e jogou o lixo, passou a mão no
cabelo imaginando a confusão que seria se seus pais e tios soubessem disso.
Entraram no carro e voltaram a casa.
— Te deixei desconfortável com o que disse dos primos.
— Na verdade tenho medo, se você que a conheceu hoje sabe, imagino se
nossos pais sabem. – Afirmou entrando no elevador, mais inquieto que antes.
Isabella o abraçou e deu-lhe um beijo cheio de fogo, ele aprofundou o
beijo puxando sua cabeça mais para junto dele, colando os corpos.
Ela sentia seu membro duro através do jeans, suas mãos foram
automaticamente para o cós da calça abrindo o zíper e pegando seu membro
com a mão. Ele gemia de prazer e excitação, estavam no elevador com
câmeras, o perigo de serem flagrados e filmados o deixando com mais tesão.
O elevador parou no andar e, sem se desgrudarem, saíram e abriram a porta
do apartamento, jogou-a no sofá, abrindo lentamente a calça tirou a cueca e
colocou seu membro na boca de Isabella, que recebeu com prazer.
Ela sugava, lambia e brincava com suas bolas, Reinaldo estava louco de
tesão, a boca dela era de veludo, sua língua era um veneno para o tesão,
estava sentindo que não iria durar, tirou seu membro de sua boca, o que a fez
gemer pela perda, agarrou seus cabelos e a beijou com vontade, enquanto
tirava sua roupa, deixando-a somente de calcinha e sutiã.
Virou-a para a parede, colocou sua calcinha de lado, passou um dedo na
sua entrada já molhada de excitação, fazendo-a arfar de tesão, e sem pensar
muito colocou seu membro de uma única vez. Isabella gritou de prazer e
gemeu com a dança que ficava cada vez mais rápida e deliciosa.
— Mais – Isabella pediu prensada contra a parede.
Reinaldo a virou para si, pegou suas pernas e colocou em volta de sua
cintura, gentilmente colocou seu membro em sua entrada, fazendo-a arquear
o corpo para melhor encaixe, quando estava totalmente dentro, agarrou seu
cabelo emaranhando seus dedos nele e beijou-lhe com urgência e necessidade
ardente pelo tesão, Reinaldo não se conteve e gozou, urrando de prazer na sua
boca.
Sem nem mesmo ter tempo de ficar mole, Isabella rebolou contra o
membro semi-ereto na posição que estavam, fazendo com que Reinaldo
ficasse duro novamente. Ele a levou, presa em sua cintura até o quarto,
jogando-se agarrados na cama.
Agarrou um seio de Isabella, lambeu, beijou, sugou, deixando-o duro e
vermelho, enquanto apertava o bico do outro seio, deixando-a cada segundo
mais perto do orgasmo.
Sem perceber como, Reinaldo ficou embaixo de Isabella, vendo-a cavalgar,
segurando e beliscando os bicos dos seios fazendo-a gemer de prazer. O tesão
de ambos estava no limite, Reinaldo se segurando para não gozar novamente
e Isabella se segurando para prolongar ao máximo o prazer, nenhum dos dois
teve êxito e explodiram em meio a gritos e gemidos de prazer.
Fazendo com que desabassem na cama, exaustos de prazer, Reinaldo
virou-se para Isabella e abraçou-a enquanto se recuperava.
Ele teve um sentimento que não sabia dizer de onde vinha, mas sabia o que
era e não queria dizer em voz alta, sabia que era amor, e que estava
completamente apaixonado pela surfista.
Isabella fechou os olhos por um instante e se permitiu ser envolvida pelos
carinhos de Reinaldo, estava exausta do sexo, e das dúvidas sobre os homens,
naquele instante de prazer, teve um momento de lucidez e decidiu-se por ser
livre, por poder fazer o que todos fazem e não se importar em ser julgada.
Seria solteira e faria sexo com todos os homens que desejasse, não se
prenderia a ninguém. Até mesmo porque todos haviam traído seus
sentimentos em algum momento, e agora seria igual aos homens, não se
apegaria a ninguém.
— Que tal um banho? – Reinaldo perguntou já com a respiração mais
regular.
Levantou-se e foi para o banheiro, Isabella o seguiu após retirar o restante
das roupas, entrou na banheira com Reinaldo e ficou entre suas pernas.
Pensativa, Isabella estava entre seus sentimentos por Reinaldo e sua nova
constatação, de ser livre como os homens.
Reinaldo continuava interiorizando o que desejava dizer em voz alta para
todos, que estava amando a surfista mais linda que já viu, e que adoraria
passar todos os dias com ela.
— Você está calado.
— Pensando.
— Dou um real pelos seus pensamentos.
— O quanto você é linda e se entrega no sexo. – Disse conforme passava a
mãos em seus braços.
Isabella virou-se e beijou-lhe a boca carinhosamente.
19
Isabella e Karina se encontraram na velha pista de skate onde se
conheceram anos antes, as amigas, mesmo com gostos e idades diferentes,
nunca perderam o contato e a paixão por esporte.
Sempre que podiam estavam juntas, compartilhavam de uma paixão
alucinante por algo que ninguém mais entendia, as ondas, podiam ser no mar
ou no asfalto, as manobras, o medo de cair, as cicatrizes pequenas ou
grandes, as tatuagens e seus significados.
Ambas estavam em um esporte dominado por homens, cada uma ao seu
modo trilhou um caminho por entre curvas e ladrilhos, sem asfalto e sem
desvios, pegaram o caminho mais longo para alcançar as vitórias e suas
conquistas ao longo do caminho trilhado, era algo que ambas se orgulham e
tinham em comum.
Mas, como toda mulher, sofriam do mal de amar demais os homens e com
isso penavam demais com suas relações, Karina hoje estava feliz com seu
namorado e sabia que Isabella não conversaria sobre nada, mas mesmo assim
estava ali solidaria para a amiga.
O dia não podia estar mais calmo, após rever a amiga de muitas ondas,
sejam no asfalto ou no mar, estava na casa de Reinaldo, vazia, passou pela
cozinha, colocou seu Iphone no Dock Station e deixou a playlist começar com
Here da Alissia Cara.
— Não poderia ser mais propícia. – Dando voz aos seus pensamentos
começou a cantar junto — Me desculpe se pareço desinteressada...
Reinaldo do corredor pôde ouvir a música e Isabella cantando desafinada,
não pôde deixar de rir com a situação. Nunca tivera uma mulher que cantasse
ou que levasse a vida na brisa2. O que o encantava e o deixava apreensivo,
sempre se perguntando por quanto tempo ainda teria essa “brisa” na sua vida.
Permaneceu mais algum tempo somente ouvindo a música com a cabeça
apoiada na porta, sem entrar.
Isabella percorria pelas prateleiras de fotos olhando uma a uma, vendo os
livros e se perguntando, quando iria ter que voltar a sua vida real, sabia que
em alguns dias estaria em Portugal, mas não sabia o depois como seria. Ainda
teria Reinaldo? Como fariam com cada um morando em um país. Teria que
voltar a treinar, os campeonatos do próximo ano iriam iniciar e ela não podia
estar longe do mar.
Reinaldo se deu conta ao entrar no apartamento, que exceto pela primeira
transa, em nenhuma outra se preservaram, não sabia se Isabella poderia
engravidar, e isso seria um problemão, ou se ambos estavam com seus
exames em dia. Sabia que ele não estava, fazia mais de 1 ano que não fazia
um checkup sanguíneo que contemplasse DST3, imaginou que Mara a fazia
fazer, devido os torneios e suas viagens para diversos países. Acreditou que
seria uma boa conversar com ela esta noite, já que o jantar com seus pais
havia sido mudado para amanhã.
Ele a agarrou pelas costas e dançou junto, dando leves beijos em seu
pescoço.
— Oi. – Ela disse sussurrando de encontro a sua boca.
Sem nem responder a beijou com desejo e tirou sua roupa, conforme
caminharam para o quarto. Isabella o parou quando estava abrindo sua calça e
o jogou na cama.
— Sabe, desde que te vi lindo no terno de 3 peças, estou louca para tirar. –
disse sussurrando.
Reinaldo passou as mãos pelo cabelo e levantou-se da cama, Isabella tirou
o paletó, e jogou na cadeira, abriu delicadamente cada um dos quatro botões
do colete e retirou, já louco de tesão e não aguentando ser torturado dessa
forma, a agarrou e beijou-lhe até que estavam ambos nus.
Jogou-a na cama e a penetrou sem permissão, fazendo-a gritar de prazer,
com movimentos rápidos e intensos chegaram ao orgasmo ofegantes.
— Você é muito malvado. – Isabella falou rindo.
— Desculpe, estava louco de saudades. Posso me vestir novamente se você
quiser. – Falou rindo.
Isabella levantou e mostrou a língua para ele como uma criança, enquanto
entrou no banheiro, conforme se molhava sentiu a presença dele no banheiro
a observando.
— Um real pelos seus pensamentos. – Ela disse.
— São dois na verdade, o jantar com a minha família mudou para amanhã,
e me dei conta pouco antes de chegar, que não estamos nos protegendo. – Ele
falou conforme entrava no chuveiro – E me dei conta também que tem pouco
mais de um ano que não faço um checkup completo. Para ser honesto, me
preocupo com você mais que comigo.
— Imaginei que nunca teria que ter essa conversa com você, mas eu não
tenho nada, se isso importa, faço exames regulares, os patrocinadores têm
isso em cláusulas, e se serve de consolo ou para te despreocupar, uso um
implante subcutâneo que me impede de ter filhos e de ter menstruação. No
tipo de trabalho, ou melhor, no esporte, seria complicado ter cólicas, TPM e
todas as coisas de mulher, sem diminuir meu rendimento. Isso te deixa menos
preocupado?
— Sim muito, você não tem ideia, estava morrendo de medo de você ficar
grávida, não que não fosse amar um filho seu. – Isabella o interrompeu com
um beijo.
— Não pretendo ser mãe Re, nem agora nem nunca.
Reinaldo a olhou sem saber como reagir a essa informação, sabia que não
queria filhos hoje, mas os queria, e muitos, uns três, ser pai seria sua última
façanha, já tinha o que mais desejava, a empresa de sucesso, agora buscava
sua metade para ter uma vida de cumplicidade e filhos, para poder vê-los
crescer e ensinar o que seus pais o ensinaram, os valores, a moral, a diferença
entre certo e errado, nunca imaginou que encontraria a pessoa depois de
Sabryne, mas agora com Isabella estava desejoso dessa vida novamente, e sua
revelação o fez ficar sem reação.
Isabella sentiu que sua revelação não deixou Reinaldo confortável, o
deixou calado, estavam no chuveiro sem se tocar, decidiu que ele precisava
de tempo, tempo para digerir a informação, saiu e foi ao outro quarto.
Pegou seu telefone e localizou uma empresa de pizza, ligou e fez o pedido,
já que não tinha comida na casa e o jantar havia sido mudado para amanhã.
Vestiu-se e foi para a sala, estava zapeando os canais, quando viu a chamada
para o especial com a Bella em dois programas.
Reinaldo chegou à sala, sentou-se ao seu lado sem dizer uma palavra,
ainda estava sem chão, imaginando como alguém decide não querer ser mãe,
como alguém abdica da maior e melhor aventura de sua vida, que é criar um
ser humano desde o seu início, dar a vida, amor, ensinar.
— Sabe, nunca quis ser mãe, adoro crianças, acho que é a melhor parte de
um casal, mas olhe para mundo, eu viajei e vi muitas abandonadas, não quero
gerar um ser, quero adotar vários, quero poder encontrar uma e dar o que ela
não tem amor, carinho, compreensão, mas ao mesmo tempo me pergunto,
será que consigo, vivo uma vida muito diferente, viajo 11 meses, passo pouco
tempo em casa, se ter uma relação já é difícil imagine criar uma pessoa.
O interfone tocou e Reinaldo levantou para atender, sem entender nada
sobre uma entrega de pizza, Isabella abriu a porta e chamou o elevador.
— Você pediu pizza?
— Claro, você não tem comida e não estou a fim de sair, mas estou com
fome, você vem?
Não voltaram mais no assunto, comendo em silêncio e depois vendo um
filme como um casal comum faria, até Isabella receber um SMS de Mara.
“precisamos conversar, me ligue”
Mara nunca mandava SMS assim, sempre eram com informações, devia
ser algo muito importante, resolveu ligar.
— Alô.
20
Mara estava vendo tudo que saíra de Isabella na impressa
nesses últimos dias, desde que chegaram ao Brasil, até poucas horas, e se
deparou com uma foto de Reinaldo, saindo abraçado a uma moça não
identificada de um restaurante no almoço e depois saindo da empresa e a
levando para sua casa no meio da tarde, e então ele saindo horas após e indo
para sua residência onde Isabella já se encontrava.
Os jornalistas especulavam que Isabella estava sendo traída novamente, e
se ela teria condições de surfar uma parede de 30 metros com tantos
problemas pessoais. Isso preocupava Mara mais que qualquer coisa, essas
ondas são matadoras, e Isabella precisava estar concentrada, decidiu adiantar
sua viagem e assim ficar mais tempo sozinha com as ondas.
Com isso em mente mandou um SMS para Isabella, que ligou de imediato.
— Oi Bella.
— Está tudo bem? Seu SMS me pareceu meio exagerado.
Pelo telefone Mara informou os últimos acontecimentos para Isabella, que
compreendeu o que estava em jogo e atendendo ao seu pedido decidiram por
cancelar sua participação no desfile e ir para Portugal antes, na madrugada de
sábado às 2h da manhã, e assim se concentrar no que realmente precisava.
Mara estava feliz com Isabella por compreender e por tomar a decisão mais
sábia.
Ao acordar sozinho Reinaldo procurou por Isabella na casa toda, até que
encontrou seu bilhete, na porta da geladeira, escrito à mão.
Bom dia,
Espero que acorde sem ressaca, ontem dissemos
coisas que machucaram um ao outro, sei que não foi
intencional, mas as palavras machucam tanto quanto
fotos e atos.
E eu estou calejada de fotos e atos sem palavras,
somente desculpas, mas você foi verdadeiro, real, e
isso eu agradeço, não tentou medir as palavras, nem
dizer que não era isso. Para isso, Obrigada, você é a
única pessoa verdadeira que conheci.
Nós temos vidas e trabalhos que são muito diferentes
um do outro, na minha vida não cabe uma relação que
não esteja no mesmo continente, ou que não esteja
ligada as minhas questões de vida. Você é sem dúvida
um homem maravilhoso, íntegro e lindo.
Não deixe ninguém dizer que você é menos do que
você é.
Estou indo para Portugal, antecipei minha viagem,
preciso me concentrar, uma parede de 30 metros me
aguarda.
Desculpe se atrapalhei sua vida, mas o que vivemos
aí na sua casa foi verdadeiro, foi real, eu realmente
queria que desse certo. Mas sabemos que é impossível.
Jamais te pediria para me acompanhar na vida maluca
que eu tenho.
Você é um homem que deseja um lar, uma
esposa,filhos, poder voltar para casa e ter quem
abraçar, eu não posso te dar isso, eu sou do mundo, eu
sou das ondas.
Sei que ela ainda vai me levar, mas não essa e nem
hoje.
Nunca te esquecerei.
Isabella.
Terminou de ler já sentado no chão da cozinha chorando como uma
criança, e nem se lembrava de quando tinha sido a última vez que chorou.
Desejou ter o dia de ontem de volta, queria que a vida lhe desse uma nova
oportunidade.
Não sabia quantas vezes leu o bilhete ou por quanto tempo estava sentado,
quando ouviu seu telefone tocar.
— Oi Pedro.
— Abre a porta, tô na sua casa, o André me mandou aqui.
Reinaldo abriu a porta, e Pedro o olhou de cima a baixo e viu um trapo de
homem, nada parecido com o amigo de outrora, elegante e dono de si.
— O André me disse o que aconteceu, eu vim te...
— Pode ir, vou tomar banho e trabalhar.
— Porra para, eu sei o que você tá passando, ela é foda. – Reinaldo ficou
parado olhando para o amigo sem entender nada, quando ele continuou — Eu
nunca a namorei, nem nada, mas sempre a amei, sempre quis estar no seu
lugar, cara, conheço-a desde criança, sempre foi linda, geniosa, doce, e
quando eu tinha uns 27 anos e estávamos naquela casa, naquele verão eu
fiquei enfeitiçado, fiquei louco, numa noite consegui um beijo dela, aquilo foi
o suficiente para me arruinar para as mulheres, ela é única, mas vai por mim,
você nunca irá esquecer só irá adormecer.
Reinaldo o olhava atônito e sem reação, Pedro o pegou pelo braço e o
levou ao banheiro, ligou o chuveiro e numa troca de olhares, saiu do banheiro
e foi arrumar a sala.
Tirou a bagunça de bebida e de pratos, quando seu amigo apareceu com
uma aparência melhorada.
— Então, o André sabe?
— Soube anos depois, contei quando estava bêbado e a Isabella tava
namorando um surfista, ele nunca disse nada, mas eu sei que foi por isso ele
me mandou aqui.
— Ela tá com ele.
— Tá sim, mas viaja hoje à noite, cara vai por mim, melhor se afastar, ela é
do mar, é como uma sereia, atrai os homens, suga sua alma, e vai embora.
Depois de mais um tempo, Pedro teve que ir trabalhar e Reinaldo também,
chegou e entrou em sua sala, chamou seu pai e melhor amigo e contou tudo,
até mostrou o bilhete, disse tudo e chorou com ele como nunca havia
chorado.
— Sabe meu filho, ela é uma pessoa maravilhosa, a admiro mais ainda,
depois desse bilhete, sei que ela tomou a melhor decisão para vocês dois, e
vejo que ela te conhece melhor que você mesmo. A dor não vai embora, um
amor como esse não some, mas você pode viver com alguém que dará o que
você quer, mesmo não sendo seu grande amor.
Reinaldo ficou pensando no que o pai disse, o dia passou como um flash,
mergulhou no trabalho e não saiu dele.
22
João estava com a equipe do canal On em Lisboa, parte da
equipe estava em Nazaré, ele ficou para esperar e acompanhar junto com o
câmera a chegada de Isabella.
Estava ansioso, nervoso, queria saber se ela o reconheceria do luau, sabia
pelas últimas notícias que algo entre ela e Reinaldo havia acontecido. A
manhã de sexta nas mídias sociais dizia que o casal havia terminado, e
Isabella saiu da casa dele para a do irmão somente saindo para o aeroporto.
O Aeroporto estava cheio de fotógrafos e imprensa, afinal dali a 15 dias ela
desafiaria a natureza das ondas. Havia também surfistas e fãs.
A sua chegada foi como esperado e programado com Mara, da sua saída do
avião em diante, seria fotografada e filmada em tempo real, a transmissão
seria ao vivo no canal do Youtube do canal On, e teria flashes na
programação normal, bem como havia sido criado uma página toda dedicada
ao making On de tudo com fotos que João tiraria.
Isabella estava no seu habitual: linda, de tênis, short e camiseta com as
estampas dos patrocinadores e com sua mochila, desceu e os cumprimentou,
conversou com todos e começamos a gravar, sempre simpática, fez caras e
bocas para a câmera.
Falou com a imprensa local, com os fãs e com todos que a cercavam, esse
material era impagável, vê-la sendo ela era algo único, o que fazia João a
amar mais ainda.
Entrou no carro com ela e Mara, e foram ao hotel que ficaria em Lisboa até
segunda quando viajaria para Nazaré.
Assim que amanheceu Reinaldo foi à loja de André, precisavam ter uma
conversa de homem para homem, e o tema seria Isabella, foi informado ao
chegar que ele havia partido junto de Isabella.
Resolveu ligar para o amigo, não queria que as coisas ficassem mal
resolvidas.
— Você está bem? – André perguntou assim que viu o que era o amigo no
telefone.
— Estou péssimo essa é a verdade, eu quero te dizer, que não traí sua irmã,
eu nunca...
— Eu sei, ela me disse, você não é esse tipo de homem, não se preocupe.
A Isa é uma pessoa que nós nunca iremos compreender sua mente, nem com
anos ao seu lado iremos entender.
— Sim ela é especial, eu só achei que te devia uma explicação.
— Volto a repetir, nunca quis vocês dois juntos, mais pelo seu bem que
pelo dela. Afinal ela é do mundo, do mar. Mas para ser honesto, quando ela
ligou e disse, quis ir buscá-la e te bater até sua merda sair pelos ouvidos.
Conhecendo a Bella, ela jamais me permitiria.
— Então estamos bem?
— Ficaremos.
Reinaldo desligou.
Mara estava feliz por chegarem a Nazaré, aquela manhã estava mais
radiante que as demais, a temporada de ondas gigantes começava amanhã, dia
dezenove de novembro, podia ver no rosto de Isabella, conforme passavam
pela praia, seus olhos brilharem.
— Parem, quero descer. – Isabella pediu.
Isabella desceu do carro e andou lentamente com a equipe de filmagem.
— Impressionante, daqui a 5 dias nós estaremos lá no topo. – Disse
apontando para uma onda — O mar é impressionante, não existe palavra para
descrevê-lo, é algo surreal, somente quem está aqui pode dizer.
Abraçou André como se fosse a última vez. Ele sentiu um arrepio percorrer
seu corpo, nunca havia sentido medo pela irmã, mas hoje, ali vendo as ondas
quebrarem, sentiu o poder que o mar tem sobre o mero ser que nós somos, o
quão frágil é a vida dos humanos.
Apreensivo era pouco, se sentia covarde ao lado da irmã que enfrentaria
uma onda de 30 metros, os meteorologistas diziam que este ano teriam ondas
de até 50 metros ou mais, o recorde do surf era do Francês que não sabia o
nome, por ter surfado uma onda de 33 metros. Sabia que Isabella queria e
seria a nova recordista, se a previsão continuasse a mesma.
Muitos outros surfistas, fãs, moradores e jornalistas estavam observando a
beleza do mar.
— Agora nós temos que nos preparar, para poder estar ali junto do mar.
Teremos alguns dias de trabalho árduo com o mar flat4, para podermos ter
mais swell5 daqui uns dias, estou muito nervosa, mas ansiosa pela onda com o
meu nome. Na verdade é um misto de sentimentos, estou confiante, trabalhei
muito para estar aqui, mas nervosa, afinal qualquer erro... – Deu um suspiro
longo e uma lágrima caiu — pode ser o fim.
Depois de mais um tempo, todos foram para o carro rumo ao hotel.
No Brasil, Reinaldo assistia em tempo real sobre Isabella, e não conseguia
acreditar na valentia dela de enfrentar essa onda, os jornais, programas de
esporte e sites de fofocas, todos mostravam a imagem dela com a lágrima
caindo quando disse: “pode ser o fim”.
Seu pai fazia a vez de melhor amigo junto com Pedro, sempre ao lado dele,
quando viam sobre Isabella, todos estavam apreensivos depois de sua
declaração tão verdadeira para o mundo.
23
Shaft, McNamara, Doo e até mesmo Rodrigo e muitos outros surfistas
estavam em Nazaré, alguns mais para contemplar e outros, como ela e
McNamara, para surfar.
Todos estavam junto com a equipe de segurança quando Isabella chegou e
viu Shaft, os dois se abraçaram e as câmeras pegaram tudo, ouviram todas as
recomendações e iniciaram o primeiro dia de treino com os homens que os
levariam as suas ondas.
Shaft, McNamara e Bella estavam juntos com um dos homens que iriam
pilotar os Jet skis, as instruções eram passadas com segurança, calma, e muita
atenção por parte dos três surfistas que seriam levados ao mar.
Isabella estava no seu modo surfista, sempre ligada ao mar, esqueceu-se de
tudo e todos, somente pensava que ao ouvir sua onda, iria com todo o seu ser
para dentro e para cima, e sairia maior que como entrou.
Os dias foram de relaxamento e concentração, passeios de barco no mar, e
muito silêncio e paz, Shaft e André estavam com ela todo momento.
Na noite que antecedeu ao seu grande dia, Isabella estava nervosa, com o
coração apertado, como se o mundo fosse acabar ao entrar no mar.
— André – o abraçou — Sabe que te amo, muito, sabe que isso é algo que
preciso fazer – lágrimas caíam de seus olhos — Sabe que o mundo não seria
perfeito se você não estivesse nele – André enxugava suas lágrimas que não
paravam de cair, sabia que ela precisava dizer o que vinha — Você que
sempre me deu coragem, força e o mais importante, sempre acreditou em
mim, devo tudo a você.
— Bel – Ele não se conteve e chorou junto — Você é a pessoa que mais
amo no mundo, não é só minha irmã, é alguém que aprendi a admirar,
amanhã você vai fazer algo que ficará na história, e estou morrendo de
orgulho. – Sabia que poderia ser a última vez que teriam essa conversa.
O dia amanheceu lindo, o sol estava radiante, sem nuvens no céu azul,
todos estavam indo rumo à praia, e Isabella entre eles, ao chegarem deixou
seu grupo e estava contemplando o mar.
— Eu raramente sinto medo, para sentir a adrenalina preciso temer pela
minha vida, então raramente sinto medo, sinto isso em ondas menores,
quando estou no fundo lutando para subir e sobrevivendo debaixo da água,
normalmente quando acerto um tubo perfeito não sinto a adrenalina, se for
um tubo imperfeito que tenho que lutar para sair, eu sinto a adrenalina, nada
perfeito me faz querer voltar. E isso que vejo hoje, a adrenalina vem na
imperfeição da perfeição do mar. Minhas relações fora do mar são tão
imperfeitas como as ondas que se quebram.
Isabella voltou ao grupo e teve a mais feliz das visões, Reinaldo ao lado de
André, ela correu ao seu encontro e o beijou, o peito cheio de saudades
explodiu no beijo, arrancando palmas dos que viam a cena, até mesmo Shaft
teve que torcer o nariz e aplaudir, ele nunca a havia visto correr para alguém,
ou estar tão apaixonada como estava.
A inveja invadiu Shaft, misturado pelo medo das ondas, se desviou de
Isabella e seu namorado e olhou o mar, estava revolto, maior que nos anos
anteriores, nunca havia visto assim.
— Isabella, este ano está maior, mais poderoso, mais bravo – McNamara
falou.
— Estou vendo, as ondas estão com mais de 40 metros, e a tendência é
aumentar. – Isabella comentou.
Reinaldo ficou ali agarrado ao seu amor, ouvindo atentamente tudo que
cada um dizia, e seu medo aumentando conforme diziam que o mar estava
maior e mais agitado, como se pronunciasse a morte. Um frio percorreu sua
espinha, de imaginar sua Isabella não saindo do mar, não sabia se podia dizer
em voz alta, então permaneceu em silêncio, um silêncio ensurdecedor em sua
mente, que o alertava que esta seria sua última vez com Isabella.
Isabella saiu dos braços de Reinaldo e vestiu sua roupa de neoprene, que
cobria os braços e as pernas, o colete salva vidas, amarrou o cabelo, e foi ao
seu grupo.
— André, me prometa que será um dia lindo e que vai cuidar da mamãe. –
Olhando em seus olhos disse — Te amo, você é o melhor. – Deu-lhe um
abraço e um beijo.
Sem precisar dizer nada, abraçou Reinaldo e beijou, e num sussurro pensou
ouvir:
— Te amo.
O olhou fundo nos olhos e respondeu:
— Te amo.
Correu em direção aos demais, subiu no jet ski rumo a sua onda, seu
coração batia incansavelmente, como se o mundo fosse acabar, olhou para
trás e já não via mais ninguém, somente ela mesma podia fazer a volta com
um sinal ou dar-se a chance de sua vida e surfar a maior e mais linda das
ondas.
Desceu do jet ski e agarrou-se na alça, estava no meio de uma onda,
quando soltou, a onda dizia seu nome, Isabella, num sussurro que somente ela
e a onda ouviam, sentia-se plena, inteira, única, a adrenalina tomando conta
do seu corpo, conforme descia uma parede de 50 metros de água, água que
poderia levá-la à morte, mas hoje não era o dia que a onda a levaria, sabia
disso desde que entrou no mar, sabia que sua vida havia apenas começado e
que estaria aqui novamente, mais vezes que poderia contar nas mãos.
A descida, que fora em segundos, mas que para ela parecia uma eternidade,
acabou quando a onda quebrou e virou um enorme tubo fazendo-a se perder
da visão dos que estavam na praia e dos salva-vidas, algo que não a deixou
com medo.
Os salva-vidas pelos rádios falavam que não a estavam vendo, André,
Reinaldo, Mara, Shaft, McNamara e todos se deram as mãos em um ato de
silêncio esperando ouvir alguma notícia, a angústia no peito daqueles que a
conheciam e a espera eterna de alguns segundos, entre o viver e o morrer.
Lágrimas caíam do rosto de alguns ali, envoltos na espera de algum sinal,
até que pelo rádio ouviu-se:
— Vejo a prancha saindo do tubo. OLHEM, OLHEM...
Os que estavam na praia não podiam acreditar, ela estava saindo do tubo e
se chocaria com as pedras, numa manobra mais que ousada, Isabella
mergulhou fazendo-se ser pega pelo jet sky, na queda perdeu a prancha e o
colete, ao se chocar com algumas pedras no fundo, abriu a testa e a coxa
direita, mas não sentia nada. Pelo rádio o salva-vidas pedia a ambulância.
— Surfista machucada, assistência medica imediata.
Reinaldo e André correram ao encontro da ambulância à espera de Isabella,
que chegou carregada pelo salva-vidas e com um sorriso enorme.
— Por favor, algo simples, depois vou ao hospital, quero falar com as
pessoas. – Disse conforme era atendida.
Pulou da ambulância num abraço de reencontro com André e Reinaldo, o
sorriso não saía de seus lábios, não tinha palavras para expressar sua
felicidade, não sabia como dimensionar sua emoção em estar ali novamente.
Uma leva de pessoas, jornalistas, fãs e surfistas, veio ao seu encontro,
queriam detalhes do que aconteceu.
— Primeiro, hoje eu venci o mar, mas amanhã ele pode me vencer,
segundo, CARALHO!!!!!!!! – gritou num momento de loucura, e foi
aplaudida na praia por todos.
Sentiu uma leve tontura e se apoiou no irmão, que a olhou e a levou para a
ambulância e foram para o hospital, no caminho desmaiou.
24
Isabella foi levada para exames, Reinaldo, André e a legião de
surfistas, fãs e impressa, ficaram na sala de espera, uma espera mortal,
ninguém dizia, mas todos pensavam: “venceu a onda, mas não as pedras”.
André estava andando de um lado para outro ininterruptamente, passava as
mãos na cabeça, no queixo, os minutos se tornaram horas, angústia era tudo
que sentia.
— CARALHO! – André gritou fazendo todos o olharem, bateu no balcão
do hospital, como se isso pudesse acelerar o médico, e a enfermeira lhe deu
um olhar de simpatia.
— Calma, ela é forte, vai sair andando como se nada tivesse acontecido,
você sabe. – Reinaldo disse ao seu lado, mais pra si mesmo que para o amigo.
— Se ela morrer eu mato você Shaft, a culpa é sua, você não devia estar
aqui. – Algo brutal, meio que de homem das cavernas surgiu nele, que partiu
pra cima do ex-namorado de sua irmã e foi segurado por Macnamara e
Reinaldo — Eu mato você, a culpa é sua, você tinha o belo e o transformou
em... Merda... Só quero que ela fique bem.
Shaft saiu do saguão, sabia que não era mais bem-vindo, mesmo amando, a
veria nos mares do mundo distante, sabendo que jamais teria o belo como
André disse.
Isabella acordou naquela manhã com uma ressaca enorme, e com Shaft em
sua cama, não lembrava o que tinha acontecido, mas estava vestida.
— O que você faz na minha casa?
— Ontem você bebeu demais no luau, e fiquei preocupado, acabei te
trazendo para casa e fiquei aqui caso precisasse. Eu já vou embora.
— Obrigada, você não precisava.
— Sim eu precisava, você está assim triste por minha culpa, se eu não...
— Deixa, melhor não continuar, já foi, já acabou.
— Eu vou indo, qualquer coisa me chama.
Isabella deitou novamente e olhou o relógio, eram dez da manhã, não se
lembrava a última vez que acordou tão tarde, ficou ali olhando o teto, quando
ouviu vozes na sua sala, levantou-se e quando chegou na sala tomou um
susto.
— Sua casa é maravilhosa, por que eu nunca vim aqui antes?
— Acho que porque você não gosta de praia, pai.
— Minha linda, você está linda. – E abraçou-a com força.
— O que você veio fazer aqui? – Disse ainda no abraço.
— Vim te ver.
Depois de instalar o pai e tomar um banho, saíram pela ilha até a barraca
da Kaike, a irmã do Kai, para tomarem café e conversar.
— Aloha, Bella!
— Aloha Kaike, este é meu Pai.
— Aloha, pai da Bella, Haloe8.
— Oi.
Enquanto tomavam suco e comiam sanduíches de atum, olhavam o mar e
sua beleza, nenhum dos dois disse mais nada, passaram horas olhando o mar
um ao lado do outro.
— O que você acha pai, de irmos a Pearl Harbor, é um marco histórico da
ilha, e podemos passear nos navios que estão “aposentados”.
— Claro.
Levantaram, e saíram andando, pegaram um táxi e ao chegar, o pai ficou
admirado com as belezas da ilha, entendeu por que a filha amava este lugar e
por que ela chamava a ilha de hale9.
— Sabe, acho que nós dois nunca tivemos uma conversa de verdade,
minha filha.
— Acho que não, desde que vocês se separaram, eu tenho a sensação de
que tudo que você fez foi para me atingir ou me machucar. – Uma lágrima
caía dos olhos de Isabella, que olhava do píer em direção ao mar. — O mar
sempre me manteve com foco, por mais que ele se rebele, volta a ficar
calmo... – suspirou — Aqui no Havaí tem uma palavra que define família,
OHANA, mas na verdade nunca senti que fomos uma, nunca senti que somos
ligados pela mesma raiz, que é o que significa Ohana.
— Bel, eu sei, parte de você se afastar é culpa minha e de sua mãe, quando
nos conhecemos, éramos jovens, imaturos, queríamos coisas da vida, mas aí a
vida aconteceu, estávamos esperando o André, e seus avós e os pais dela,
meio que nos obrigaram a casar, e acabamos culpando um ao outro pelos
sonhos não realizados, e vocês dois ficaram no meio. – O pai ficou olhando o
mar.
— Até hoje pai, não entendi o que aconteceu, por que vocês não tentaram
fazer dar certo, por que você foi embora uma noite, e por que separaram o
André e eu.
— A verdade é que sua mãe e eu não éramos mais felizes e estávamos
somente nos maltratando. Eu estava tendo casos e sua mãe me culpava pela
falta de... bem, de... enfim, quando ela resolveu que não aguentava mais,
pegou você e foi para Maresias. Depois disso o que fizemos foi somente nos
machucar ainda mais e machucar vocês.
— Sim, em especial depois de nos separar. Eu achei no surf, o meu
kauhale, opa, lar. Em casa com você ou a mamãe nunca consegui me sentir
num lar, aqui no Havaí todos me fazem bem, mesmo nos campeonatos eu
sempre me senti parte de uma família, e com vocês é algo que não sei
explicar.
— Isso é culpa minha, filha, eu vim aqui para te dizer, que você não
precisa escolher entre o surf e o amor, entre os dois mundos, você pode e
merece os dois. Sei que você e o Reinaldo brigaram feio, o André me contou,
na verdade, ele me culpou por isso, e fiquei pensando a respeito, vi tudo de
errado que eu fiz. Lutei contra a culpa, vi o mal que fazia a vocês dois, meus
filhos, então eu demorei, mas fiz as pazes com seu irmão quando me disse
que teríamos netos. Em fevereiro fui ver sua mãe em Paris, e conversamos
muito, nós dois resolvemos ser felizes sem brigas, estou namorando uma
mulher da minha idade.
— Que bom para vocês dois, fico feliz que se acertaram. Mas não tem
como pai, o surf é minha vida e o Reinaldo pensa o mesmo do café, somos
pessoas diferentes, de mundos diferentes, que não têm como dar certo.
— Minha filha, quando se ama de verdade vocês conseguem dar certo.
— Não sei.
28
Reinaldo acordou naquele domingo sem muita vontade de
sair de casa, ligou a televisão e estava passando um especial sobre a Bella e
sua nova linha de prancha inspirada nas ondas gigantes.
Conforme assistia ao programa, falaram que ela estava classificada para a
próxima etapa do circuito WCT10 que seria no Rio, dos dias 10 a 21 de maio,
e teve a ideia de como provar para ela que o amor deles poderia driblar as
barreiras de continentes e profissões, que se existisse amor de verdade eles
poderiam vencer.
Ligou o computador e pesquisou as etapas do campeonato, e viu que, a 4º
seria no Rio e depois Fiji, e Jeffrey’s Bay, na África do Sul, e Teahupo’o no
Taiti e assim ia, entrou no sistema de reservas de hotéis e reservou suítes em
todas as cidades até o fim, provaria que poderiam estar juntos e driblar as
adversidades como a distância e seus trabalhos.
Estava empolgado para provar que poderiam fazer dar certo e estava
empolgado também por conhecer todos esses lugares paradisíacos.
Isso ia começar já, com a etapa do Rio. Pegou o telefone e ligou para o
amigo e futuro cunhado, precisava dividir com ele seu plano maluco de
seguir a Bella pelo mundo e ainda comandar uma empresa.
Combinou de almoçarem todos juntos, mais tarde.
— Oi linda, você está radiante. – Cumprimentou Luciana, ao chegar no
restaurante.
— Oi Reinaldo, e aí, qual é a sua ideia? O André disse que você estava
bem animado.
— Estou sim, pessoal, eu vou seguir a Bella pelo mundo.
— Como assim? – perguntou Pedro.
— Nosso problema, eu entendi agora, é que ela tem medo, medo de que
algo ruim aconteça depois do que Shaft aprontou, não tiro a razão dela, então
vou provar que podemos ter uma relação mesmo morando longe, e ela tendo
que viajar tanto. – Ele abriu o caderno dele e mostrou — Olhem aqui, essas
são as feiras de café que tenho que ir, essas as etapas de surf, não coincidem
em nada, ou seja, eu posso estar lá com ela, e ela comigo.
— Cara, esse plano é um absurdo, como você vai trabalhar, vai conseguir
comandar a empresa?
— Já pensei nisso também, eu tenho comunicação com a empresa por
acesso remoto, o Hermes da informática já tinha feito isso quando minha mãe
ficou doente e ficava com ela em casa, lembram? – os amigos fizeram que
sim com a cabeça — Então poderei trabalhar de qualquer lugar do mundo.
— Ai que romântico isso Reinaldo, ela será uma boba se não perceber o
que você está fazendo por vocês dois.
— Você acha mesmo que ela vai gostar, esse é meu único medo.
André estava incrédulo, acabou de ter certeza do amor do amigo pela irmã,
sabia que não poderia pedir melhor pessoa para ela.
—Se ela não vir o quanto você está se sacrificando por vocês dois, eu
mesmo bato nela. – Disse André.
Todos brindaram ao plano fantástico de Reinaldo para conquistar Isabella.
Fim.
1. Tradução livre da autora da sinopse, esse livro ainda não foi lançado no Brasil.
2 Levar a vida numa boa, sem preocupação – gíria popular entre surfistas.
3 Doença sexualmente transmissível.
4 Mar calmo, limpo, sem ondas grandes
5 Para que se forme uma onda, é necessário que haja uma perturbação na superfície da água ou abaixo dela. Geralmente, as ondas
são criadas pela ação do vento na superfície dos mares, lagos e oceanos. No caso do Swell (palavra em inglês para bombástico, de
grande tamanho ou grande elevação) as ondas são formadas dentro de zonas de geração, região onde ocorre a formação de
tempestades.Quando isso ocorre, a turbulência destas tempestades impulsiona a superfície criando grandes ondulações que se
propagam e podem viajar por longas distâncias, aumentando de tamanho quando o mar vai ficando raso e formando grandes
ondas ao chegarem na costa
6 Um movimento de subir e descer na onda que cria velocidade ao longo da mesma.
7 Olá em havaiano.
8 Estrangeiro em havaiano.
9 Casa em havaiano.
10 World Surf League (WSL, Liga de Surfe Mundial).
11 Bombom Bacio-Perugina típico da Itália.
12 Eu amo você em havaiano.
13 Lindo, magnífico, divino em havaiano.
14 Amor supremo em havaiano que pode ser também amor eterno, como no texto.
15 Casa em havaiano.
16. Família feliz em havaiano.