Esqueça Sua Melhor Versão - Juliana Goes - 240426 - 113047

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DADOS DE ODINRIGHT

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Diretora
Rosely Boschini

Gerente Editorial
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Editora Júnior
Rafaella Carrilho

Assistente Editorial
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Imagem de capa
Diogo Peres

Projeto gráfico
Gisele Baptista de Oliveira

Diagramação
Copyright © 2024 by Juliana Goes
Márcia Matos
Todos os direitos desta edição
Revisão são reservados à Editora Gente.
Luciana Figueiredo Rua Natingui, 379 – Vila Madalena
Andréa Bruno São Paulo, SP – CEP 05435-000
Telefone: (11) 3670-2500
Desenvolvimento de e-book Site: www.editoragente.com.br
Loope | www.loope.com.br E-mail: [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Angélica Ilacqua CRB -8/7057

Goes, Juliana
Esqueça sua melhor versão: redescubra seu valor, abrace sua singularidade e
tenha orgulho de quem você é / Juliana Goes. - São Paulo: Editora Gente,
2024.

ISBN: 978-65-5544-421-6

1. Desenvolvimento pessoal I. Título

23-5599 CDD 158.1

Índice para catálogo sistemático:


1. Desenvolvimento pessoal
Nota da Publisher

Passamos a vida inteira procurando maneiras de nos


encaixarmos em padrões que são impostos. Acabamos
vivendo em prisões de frustração e sofrimento, nas quais
estamos sempre tentando atender às mais variadas
expectativas: de parceiros, amigos, família, sociedade, grupos
sociais e por aí vai. Em vez de viver uma vida lutando contra o
medo, a insegurança e a vontade de ser quem não é, aqui você
encontrará o que precisa ser feito para que olhe com carinho
para a sua versão atual, ou seja, aquela que está sendo
construída agora.
Como criadora de conteúdo e estudiosa dedicada ao
comportamento humano, à gestão emocional e ao
autoconhecimento, Juliana Goes há mais de catorze anos vem
mostrando que é possível equilibrar os desequilíbrios que a
vida nos impõe. Quando a conheci, fiquei imensamente feliz
por poder fazer parte deste projeto e entregar um conteúdo
tão rico.
Aqui, ela será a grande maestra da sua jornada. Assim como
em um concerto musical, ela ajudará a organizar e dar o tom
de todas as notas e instrumentos para que você olhe para si
mesmo(a) e encontre a força que está perdida. É preciso
encontrar o caminho no qual você será o(a) grande
protagonista da sua caminhada e reencontrar o brilho perdido.
Como? Entendendo que a sua versão atual tem enorme valor,
utilizando um mapa de acolhimento e a sua autenticidade para
sentir-se realizado(a).
Todos sabemos que é preciso recomeçar. Mas aqui você
aprenderá exatamente como. Ótima leitura!
ROSELY BOSCHINI
CEO e Publisher da Editora Gente
À MINHA MÃE, NADJA, QUE ESCOLHEU ME DAR A VIDA.

AO MEU PAI, ANTONIO, MEU ANJO GUARDIÃO.

AOS MEUS FILHOS, ANNE LIV E LIAM, MEUS PEQUENOS MESTRES.

AO MEU COMPANHEIRO DE VIDA E DE EVOLUÇÕES, CRICA.

AOS MEUS MESTRES, GUARDIÕES E ANCESTRAIS, QUE ESCREVEM JUNTO


COMIGO, ILUMINAM MEU CORAÇÃO, GUARDAM MINHA MENTE E ABENÇOAM
MINHAS PALAVRAS.

A VOCÊ, QUE PERMITIU QUE ESTA MENSAGEM CHEGASSE ATÉ SUA VIDA.

SOU IMENSAMENTE GRATA!


Agradecimentos

São 22h12. É domingo. Mas não é qualquer domingo, é o Dia


dos Pais. O dia do ano que mais estremecia as minhas bases.
Quanta beleza existe em perceber que, após vinte e nove anos
de um luto silencioso, estou tendo a oportunidade de
ressignificar esta data. Sem ter planejado, talvez por ter
escolhido o caminho da entrega, da confiança, da aceitação e
da gratidão, cheguei até aqui e agora. Concluindo uma jornada
de entrega profunda e a realização de um sonho. Era
exatamente assim que eu intencionei me sentir, conectada
com algo maior. E assim foi o tempo todo. Acredito no
sincronismo, e você vai poder compreender isso ao longo da
leitura. É como se eu pudesse ouvir aquela voz doce que
assoviava quando chegava em casa do trabalho de novo,
dizendo para mim: “Filha, deu tudo certo! Sempre soube que
você conseguiria! Estive ao seu lado o tempo todo. Vibrando
por você!”.
Sou grata a cada ser humano e cada lindeza que também
acreditou em mim ao longo desses anos, que me ajudou a
chegar até aqui. À minha família que, onde quer que esteja, me
proporcionou valores e aprendizados importantes. Ao meu
time de ouro, Rani, Livia, Giovanna e Rodrigo Francisco, que
fazem com que minha missão chegue a tantas vidas. Juju, Lu,
Clara, Michelle e Fernandinha, a melhor rede de apoio que eu
poderia ter, além do primo Victor, que está sempre de
prontidão para nos ajudar. Maja e Martin, meus primos
queridos, que nos acolhem todos os anos na Dinamarca e
tiveram toda a paciência com a minha escrita durante as férias
de 2023. Stina e Tommy, sogringa e sogringo, meu respeito e
gratidão!
Fada na minha jornada evolutiva, Letícia Taveira, minha
terapeuta quântica. Andréia Rigo, outra fada que sempre
aparece em momentos de virada. Josy, que me alinha há anos
com acupuntura e massoterapia. Cada uma dessas pessoas
fortalece o movimento de autocuidado que eu tanto prezo!
Cerque-se de campeões. Acredito no poder da ambiência e
daqueles que são capazes de elevar a nossa média: Joel Jota e
Larissa Cieslak, queridos amigos, que vêm fazendo parte de
um momento precioso da minha carreira. Julio Pereira e Mirian
Pereira, meus mentores em Programação Neurolinguística,
que contribuem com a minha jornada há mais de dez anos.
Marcela “Titxer”, Tia do Inglês, amiga de longa data, mulher
inspiradora que já me ajudou bastante a clarear as ideias.
Lembrei com carinho das minhas professoras da escola, de
cada professora de português, da tia Rosely, minha professora
da primeira série, pois com ela comecei a aprender a ler e
escrever. Novamente minha mãe, que sempre deixou que eu
brincasse na máquina de escrever do trabalho dela e digitava
com tanta graciosidade que aquilo, desde cedo, me encantou.
Agradeço a Louise Hay, por ser uma grande mestra nessa
escola da vida, por quem tenho grande respeito e reverência.
Cris e Ale, Doug e Carol, Bruna e Humberto, Ellen e Bruno,
Vitor DiRenzo, Mari e Cata, casais e amigos que são como
irmãos de caminhada, pelos quais tenho tanto carinho e
apreço.
Matheus Benatti, Diego Santos e Matheus Velozza, meus
sócios no Zen, que acreditaram prontamente em minha ideia lá
em 2016 e a transformaram, junto com o Crica, em um
aplicativo incrível que apoia a saúde mental e emocional de
pessoas em mais de 150 países.
Ludmilla Rossi, Dani Junco, Izabella Camargo, mulheres que
admiro e que elevam a minha média! Kalina Juzwiak, grande
amiga e coautora do meu primeiro livro. Marcela Inforzato, que
esteve comigo em quase todos os principais acontecimentos
da minha vida, muitos deles relatados aqui neste livro.
Agradeço também às amigas de infância do colégio SJ, com
quem dividi vivências ao longo de mais de trinta anos.
E, se vamos falar sobre autovalidação, preciso agradecer à
mim mesma e à minha criança interior também! (Risos.) Fui
uma pessoa que viveu a maior parte da vida correndo contra o
tempo, perdida em prazos e bloqueios com a agenda cheia.
Ressignifiquei, aprendi, lapidei e evoluí. Hoje sou uma mulher
em melhoria constante, que finalizou o seu segundo livro antes
do prazo dado pela editora. Sem apoio em bengalas
emocionais, sem criar tanta interdependência, sem precisar
segurar na mão de ninguém para cumprir com as suas
responsabilidades. Sou grata por todos que me ajudaram a
chegar até aqui, nessa versão atual grandemente melhorada. E
meu compromisso é ajudar você a perceber quanto valor já
existe por aí e, provavelmente, você não esteja percebendo!
Vamos lá?
Um presente para você!

Em 2015 passei por um momento desafiador na minha vida.


Sentia falta de um apoio diário focado em bem-estar e saúde
mental. Seria maravilhoso ter conteúdos motivacionais logo
que eu acordasse e algum relaxamento antes de dormir, como
um ombro amigo mesmo. Conversando com meu marido Crica
e com três amigos sócios dele, Matheus, Veloza e Diego,
foram surgindo algumas ideias, até chegar no que hoje é o
Zen, aplicativo focado em saúde mental de que tive a honra de
ser a cofundadora. Unindo a visão e a experiência de cada um
dos sócios, desenvolvemos esse aplicativo com conteúdos
focados no bem-estar emocional. O Zen nasceu em março de
2016 e o impacto nos usuários foi imediato. Ficamos muito
contentes com a repercussão e com quanto estávamos
apoiando as pessoas que passaram a utilizar o aplicativo. Por
meio de meditações guiadas, muitas delas por mim, passamos
a receber relatos de pessoas do Brasil inteiro: o Zen estava
ajudando a acalmá-las, a dormirem melhor e a levarem a vida
com mais leveza. A partir desse momento o Zen começou a
crescer; incluímos idiomas como inglês e espanhol e fomos
eleitos um dos 10 melhores apps de 2016 na App Store. Hoje o
Zen impacta usuários não só do Brasil mas do mundo todo, e
conta com 8 milhões de downloads em 150 países. Com 46
mil avaliações na App Store, o Zen App mantém uma nota de
4.9 e é o app de bem-estar mais bem avaliado na plataforma. E
agora vem a melhor parte: este livro dará a você 1 ano grátis
de Zen para usar a hora que quiser! Basta acessar o QR code e
seguir o passo a passo para garantir a sua assinatura!

Uma feliz jornada apoiada também por


este app, que transformou minha vida e
apoia pessoas pelo mundo todo!
Sumário

Prefácio

Introdução

Capítulo 1 | O horizonte e a pedra no caminho

Capítulo 2 | Afinal, a tal da “melhor versão” existe?

Capítulo 3 | Ser a sua melhor versão é melhorar um pouco


a cada dia

Capítulo 4 | Atualização de expectativas: um olhar realista

Capítulo 5 | Identificação da versão atual: a gentileza da


auto-observação

Capítulo 6 | Validação da versão atual: a força da


autenticidade

Capítulo 7 | Pontos cegos × pontos de melhoria: a


descoberta da general

Capítulo 8 | Mapa de acolhimento: o que fazer com a


general?

Capítulo 9 | Mapa de acolhimento: diante da dor, da


ruptura e da perda

Capítulo 10 | Mapa de sustentação: alicerces do self

Capítulo 11 | Mapa de expansão: a plenitude de ser você


Capítulo 12 | Escolha fazer aquilo que preenche a sua vida
e permita-se recomeçar

Conclusão | A sua versão atual já tem muito valor


Prefácio

Estou sentada em meio a centenas de pessoas em um


auditório. É um evento de premiação da minha faculdade. Não
sei bem os critérios nem as categorias, sei apenas que recebi
um convite para estar aqui hoje. Durante os projetos finais,
recebo alguns tapinhas nas costas e sorrisos de professores,
parabenizando-me pelo belo projeto criado, mas praticamente
sem apoio do meu mentor. Ele preferiu dar atenção aos alunos
que estavam com mais dificuldade de desenvolver seus
projetos. Fiz alguns atendimentos com ele, mas
eventualmente nem isso fiz mais. Apenas segui meu coração e
criei um projeto, e hoje estou aqui, por alguma razão. Vim
sozinha. Minha família não pôde comparecer, e a verdade é
que só decidi passar rapidamente para ver do que se tratava.
Estou divagando. Mas escuto uma voz distante repetindo o
meu nome. Parece o meu nome. Quase como um despertar,
vejo que no palco alguém de fato me chama. Olho em volta
para me certificar de que o lance é mesmo comigo. Mas quem
quero enganar? Ninguém tem o nome igual ao meu. Eu me
levanto. Subo as pequenas escadas ao lado do palco, ainda
confusa. Aperto a mão de pessoas que nunca vi, recebo
abraços e palavras de incentivo. Olho para o auditório e vejo
centenas de pessoas batendo palmas. Sei que dei o meu
melhor. Eu me esforço e sempre busco ser a minha melhor
versão em tudo que me proponho a fazer. Mas, neste instante,
o som dos aplausos parece se dissolver. Olho para o prêmio
nas minhas mãos, esboço um leve sorriso totalmente
superficial ao pedirem uma foto e sou invadida por um grande
vazio. Não é o primeiro palco em que subo. Nem o primeiro
prêmio que recebo. Mas é a primeira vez que olho de frente
para este sentimento – de ter escalado uma montanha, mas
não conseguir apreciar a vista ao chegar ao topo. Ou melhor, a
sensação que cresce dentro de mim. No fundo, nem sei como
cheguei aqui. Nem por quê.
Essa situação descreve apenas alguns dos palcos em que
subi na vida. Alguns mais altos, outros em forma de conquistas
cotidianas, mas é com certeza uma sensação que se
apresentou várias vezes até eu conseguir identificá-la e dar
nome a ela. Uma busca constante por conquistas – cumes,
pódios, prêmios –, mas um vazio ao chegar no topo. Em vez de
dar atenção para essa sensação, desviava o olhar e buscava a
próxima escalada. O som dos aplausos não me tocava. As
palavras de elogio não me atravessavam. Desde criança
aprendi a ser independente e conquistei o que me propunha a
conquistar, mas até então era para impressionar. Para buscar
aprovação. Para pertencer. Para tentar arrancar uma palavra de
orgulho ou mesmo o afeto dos meus pais. Mas em tantos
desses palcos eu estava sozinha física e emocionalmente.
Outros olhavam o meu palco e me parabenizavam ou queriam
estar no meu lugar. Comparavam-se. Às vezes até invejavam.
Mas mal sabiam eles a real sensação de estar ali. Ou, na
verdade, a minha impermanência de estar ali em pé, mas ao
mesmo tempo olhando para o próximo cume. O próximo
projeto. Movimento. Diálogo. Passo. Dia.
Gastava tanta energia olhando para fora que fui me
distanciando de dentro e permitia que os outros ditassem o
meu valor. Não estava fazendo nada disso por mim. Minha
chama interna parecia se apagar a cada dia. Esperava
reconhecimento dos outros, mas não reconhecia o meu
próprio valor. Até que comecei a me perceber e aos poucos
despertar. Nesse ponto, eu sabia quem deveria ser, o que
deveria fazer, como deveria me comportar e a imagem que
deveria passar. Usei essa máscara por muito tempo sem saber
que poderia respirar sem ela. Mas quando fechei os olhos
descobri outro universo de possibilidades: aprendi a me
escolher. Inflei o peito com coragem, mergulhei e me deixei
afundar nas profundezas do meu ser. Eu me reencontrei com
passados de que já não tinha mais memória. Entrei e saí dos
meus segredos. Explorei minhas emoções, mas nunca deixei
de acreditar que o amor por mim mesma sempre esteve ali –
um tanto quanto encurralado, mas esperando para ser
encontrado. E então, ao voltar para a superfície e finalmente
expirar, encontrei a força nos meus pulmões para explorar. E
então respirar sem máscara.
Já posso dizer que a primeira vez que você se escolher vai
parecer um erro, mas um dia esse erro vai virar um hábito.
Assim como o hábito de mergulhar para dentro, nas águas
rasas e profundas que habitam os nossos mares. Olhamos de
frente para luzes e sombras. Uma dança de marés – às vezes
cheias, às vezes vazias. Toda manhã um novo dia, uma nova
vida. Um renascer no constante ciclo de vida-morte-vida que
um dia traz. Ao abrir os olhos, temos a escolha de transformar
o nosso dia em uma grande aventura: uma ida a um parque de
diversões; um barco que sai em uma direção, mas não
necessariamente com um destino, atravessando tempestades
e calmarias; uma escalada; a escrita do seu próprio roteiro. O
desenho da sua história.
A analogia que quiser usar é a que vai funcionar melhor para
você.
A verdade é que não acordei um dia e me tornei essa versão
que sempre desejei. Mergulhei procurando por ela, me
conectei a ela. Despertei, caí, levantei. De novo e de novo. E
estou aos poucos me ocupando dela. O mergulho é constante
e diário. Não se engane: todo mundo – todo mundo mesmo –
tem suas batalhas, e na maioria das vezes elas são silenciosas,
em meio a este mundo barulhento em que vivemos.
Não mergulhe para encontrar a tranquilidade. Mergulhe para
encontrar com a realidade. Ao encontrá-la, você desenvolve
clareza e aceitação, e com clareza e aceitação você deixa de
fugir daquilo que é verdadeiro. Deixa de fugir da verdade que é
ser você. Ao deixar de fugir, você encontra o silêncio, e é no
silêncio de estar consigo mesmo que se encontra a
tranquilidade.
Se eu não fizer isso por mim, quem fará?, me perguntei um
dia. E quero te perguntar isso hoje. Quem é a pessoa mais
responsável pela sua vida?
Ouse assumir essa responsabilidade, mergulhar e nadar,
mesmo que contra a correnteza. Você pode ter certeza de que
não estará sozinho nesse processo. Ao olhar para o lado,
encontrará outros nesse mesmo fluxo. Cada um no seu ritmo,
cada um no seu tempo. Mas podemos estender a mão, nos
(re)conhecer e dizer: O mergulho é seu, mas eu estou aqui,
com você.
Este livro é sobre isso. A Juliana estende a mão, provoca e
convida para uma nova perspectiva. Para que você comece, ou
continue, a mergulhar e possa descascar essas camadas que
talvez ainda estejam no seu caminho para ocupar esse lugar
que já é seu.
Para alguns o processo acontece de forma mais explosiva,
como um susto. Para outros é um deslizar preguiçoso. Há
quem deseje mergulhar todos os dias. Há quem pense nisso
de vez em quando. Há aqueles que nunca se lembram de
lembrar. Que buscam com ardor. Que preferem não nadar. Que
buscam outras direções. Que se distanciam. Que escrevem
sobre isso. Que não gostam de quem escreve sobre isso.
E há eu. E você. E estamos aqui, todos no mesmo barco.
Bons mergulhos.

Com carinho,
Kalina Juzwiak
Criadora da marca kaju.ink,
artista multimídia e palestrante sobre
empreendedorismo no mundo da arte
Introdução

Você chegou até aqui carregando muito. Carregou sonhos,


realizações, experiências, desilusões, mágoas, recomeços e
alegrias. Sua história é rica; seu repertório é imenso. Só que,
provavelmente, você já quis apagar alguns capítulos, rasgar
páginas ou até mesmo jogar fora o livro da sua vida.
Viver é, sim, um importante desafio. Independentemente do
que você esteja vivendo agora, se chegou até aqui é por um
motivo nobre e genuíno: para se dar uma chance. Saiba que
isso é precioso demais, pois nem sempre somos capazes de
enxergar o recomeço. Acreditamos que estamos fadados à
nossa realidade, seja ela boa ou ruim, que é o que temos, tudo
o que temos. Eu preciso discordar e peço licença para tal.
Podemos, a cada dia, a cada instante, criar a nossa realidade;
desde a maneira como nos sentimos até a maneira como nos
comportamos e relacionamos. Damos significados e geramos
nossos resultados. É possível ter quantos recomeços você
desejar para sua vida, justamente pelo fato dessa sua vida ser
sua. Só que insistimos em viver boa parte dela aprisionados na
dor, no sofrimento, na escassez, ao que não saiu como
gostaríamos, ao que não temos, ao que não somos ou ao que
desejam que sejamos. Quantas vezes você sentiu que
precisaria mudar e se reinventar, mas não soube nem por onde
começar? Quantas vezes você percebeu que deveria dar um
basta em determinados comportamentos e convivências,
porém acabou na mesma: se acostumando ao desconforto,
aceitando a zona de conforto?
Conformismo, muitas vezes, é a saída mais fácil, e eu
também já me vi nesse ciclo de identificar a necessidade de
ajustes nos caminhos da minha própria vida e me sentir em
uma roda de hamster. Esta leitura vai ajudar você a perceber
que muitos dos seus dilemas mentais, comportamentais e
emocionais têm explicação. Você entenderá mais a fundo
como a sua mente funciona diante de estímulos novos e como
as suas emoções se desenrolam por meio de estímulos e
gatilhos, ganhando novas formas de reagir ao que se passa nos
níveis mais profundos do seu universo interior e exterior.
São mais de catorze anos trabalhando como criadora de
conteúdo na internet, tendo contato diário com as mais
diversas indagações dessa comunidade com quem tenho a
honra de dialogar e que, de alguma forma, amparo. Confesso
que, ao longo de mais de uma década de contínuo aprendizado
sobre comportamento humano, gestão emocional,
espiritualidade e autoconhecimento, meus maiores
aprendizados foram dentro de casa. E dentro de mim mesma.
Por vezes, tentaram me colocar em um patamar distante ou
inacessível, mas eu escolho me colocar aqui, desde já, de igual
para igual, porque entendo que ainda há muito o que aprender,
o que sentir e o que superar. Uma vez que consiga acolher os
seus problemas – mais precisamente, cada um de seus
problemas, sejam eles pequenos ou grandes –, você tirará
preciosas lições. Quero que mude o seu jogo, mude a sua
vida! Aposto que você vai se dar conta de que pode muito
mais e que tem mais potencial do que, hoje em dia, é capaz de
perceber.
Avançar nessa direção, portanto, exige que façamos um
trabalho conjunto em alguns pontos importantes ao longo
desta leitura:
Atualização de expectativas: Vamos começar criando
um olhar mais realista sobre a forma como mente,
emoções e comportamentos funcionam. Dessa forma,
você passa a compreender que não está sozinho quando
sente bloqueios, medos e inseguranças, porém é possível
contornar essas limitações conforme ganha mais
conhecimento sobre as artimanhas da nossa própria
mente diante do novo.
Identificação da versão atual: Faço um convite à auto-
observação por meio de presença e gentileza. Será que
você tem sido uma boa companhia para si, será que a sua
noção de valor próprio está verdadeiramente adequada?
Reprogramar a maneira como nos enxergamos, nos
tratamos e nos validamos é uma forma de renascer e, faço
questão, de abrir esses caminhos para você ao longo
desta leitura.
Validação da versão atual: Buscamos sentir amor,
aprovação e aceitação; são desejos de qualquer ser
humano. Entretanto, usamos uma grande parte do nosso
tempo reforçando tudo o que não gostamos em nós, por
dentro e por fora. Reestabelecer uma percepção mais
saudável nos oferece a oportunidade de ressignificar a
nossa própria existência.
Pontos cegos × pontos de melhoria: O caminho do
autoconhecimento nos convida a encontrar a nossa luz, só
que, com isso, vamos evidenciar algumas sombras,
inclusive algumas cuja existência nem imaginávamos. Ao
compreender como a mente, as emoções e os
comportamentos costumam funcionar, você saberá como
se auto-observar e, minimamente, fazer uma
autovalidação, ou seja, conseguirá acessar as suas
sombras e isso não será tão assustador. Pelo contrário,
você entenderá que ter consciência é a única forma de
abrir os caminhos de cura e melhoria.
Mapa de acolhimento: Não esperar de outras pessoas
certas coisas pode poupar a você muita frustração. Criar
novas formas de se relacionar consigo mesmo, inclusive
diante das suas sombras mais incômodas, é possível.
Quando há mais autorrespeito e acolhimento,
fortalecemos uma série de outros ganhos, como
autoestima, amor-próprio e autonomia.
Lidando com a dor, o luto e a perda: Seguindo os
caminhos do acolhimento, vamos navegar por águas
densas mas necessárias. Não é nada fácil se colocar de
peito aberto diante da dor, porém conhecer mais a fundo
as etapas e profundidades emocionais do luto e de uma
ruptura pode ajudar você a fluir com um pouco mais de
conforto por entre essas correntezas.
Mapa de sustentação: Conforme avança, você também
cresce, e, para que o crescimento seja sustentável, além
de sólido, é essencial cuidar dos alicerces mais profundos.
Conhecer o que alicerça você, o que sustenta as suas
estruturas, mesmo diante dos vendavais mais
desafiadores, é saber que na tormenta você não desabará
porque teve iniciativa de se preparar e segue cuidando
bem de suas bases.
Mapa de expansão: Quando você se ouve, se entende e
se percebe, torna-se capaz de encontrar satisfação no fato
de que você já é um movimento profundo que acontece
de dentro para fora. Você expande. Expande o seu
potencial, a sua luz, os seus resultados e a sua capacidade
de criar a sua nova realidade, agora muito mais alinhada à
sua verdadeira essência. Aí, sim, começa a verdadeira vida
bem vivida. Uma vida de real protagonismo.
Ganhando mais conhecimento sobre as suas estruturas
intrínsecas, ou seja, sobre a sua essência, além de ampliar a
sua percepção sobre tendências naturais de nós, seres
humanos, você conseguirá acolher muitos dos seus
processos, porém com mais qualidade e maturidade
emocional.
Em vez de lutar contra os bloqueios, brigar com as emoções
indesejadas ou se sentir incapaz de elaborar o medo, a
insegurança e a procrastinação, como se esses sentimentos
pudessem engolir você, com a minha ajuda, você será
protagonista da sua vida e poderá liderar o seu processo
mental e emocional.
Não posso garantir que a sua vida será mais fácil, mas posso
prever uma melhora significativa na maneira como se sairá
diante daquilo que costumava paralisar você. Não posso
eliminar os problemas que, sim, vão aparecer e reaparecer,
mas posso ajudar você a conseguir melhorar a forma como vai
reagir a eles, agora com uma resposta mais consciente e
aprimorada. Por fim, não é possível transformar a vida em um
mar de rosas, imune a tombos e desequilíbrios, contudo é
possível praticar rituais de fortalecimento de nossos pontos
fortes, habilidades comportamentais, mentais e emocionais. E
isso fará toda a diferença!
capítulo 1
O HORIZONTE E A PEDRA NO
CAMINHO

Você já ouviu conselhos como “pense positivo” e “não há


razão para se sentir assim”, que parecem minimizar as suas
emoções genuínas? Ou quem sabe tenha vivido situações em
que sugeriram que os seus desafios eram culpa da sua falta de
positividade? Isso acontece – e muito.
A positividade tóxica, disfarçada de bons conselhos, tem nos
rodeado mais do que imaginamos. Mas não para por aí. Você
certamente já se deparou com um feed de rede social de dar
inveja até ao mais indiferente: o casamento perfeito, a viagem
dos sonhos e o corpo escultural. Todas as conquistas com um
único objetivo: ser a sua melhor versão. “Seja a sua melhor
versão, mas faça isso nas Maldivas.” “Seja o melhor que você
pode ser, treinando sete vezes por semana e com uma dieta
altamente restritiva.” “Viva a sua verdadeira essência, mas não
reclame.”
Bem, a verdade é que, com anúncios como esses (quem
também não tem a impressão de que conteúdos assim
parecem estar sempre tentando nos vender algo?), em um
mundo inundado por informações e padrões de perfeição, é
fácil se sentir perdido ou diminuído. Parece que, à sua volta,
todos estão bem, estão felizes, e isso faz com que você se
sinta ainda mais só, fracassado. E essa autocobrança, que
insiste em ocupar um lugarzinho especial na sua mente, vai se
deparando com mais e mais obstáculos que impedem você de
alcançar a tal “versão melhorada”, e o seu vazio só aumenta.
Essa pressão por estarmos constantemente felizes e por
termos os melhores resultados, independentemente do que
esteja acontecendo ao nosso redor, nos afasta daquilo que é
real: a vida não é uma foto, não é uma peça estática, mas um
filme em constante movimento, cheio de jogos de luz e um
roteiro elaborado que pode precisar de reescrita. E, nessa
projeção de contrastes, não devemos negar a existência de
emoções difíceis, mas aceitá-las e aprender a lidar com elas de
maneira saudável: é o que nos ensina a Psicologia Positiva.
Além disso, a própria Neurociência revela que forçar um
otimismo excessivo pode ser extremamente prejudicial para
uma mente tão complexa quanto a nossa. O que resulta disso?
Se caiu, vai doer, mas também vai sarar.
O grande problema é que, quando nos colocamos nessa
busca por alguém que não somos, mas que desejamos ser,
acabamos por supervalorizar as emoções boas e ignorar as
ruins. Sabe aquela sensação de estar em movimento, mirando
um ponto distante, como se você estivesse caminhando
vigorosamente, olhando atentamente o seu destino final,
como uma linha de chegada? Você dá o seu melhor, avança,
respira fundo, tira forças nem se sabe mais de onde e,
chegando quase lá, depois de dar o máximo de si, perto do seu
objetivo tão almejado, tudo fica nebuloso. E o objetivo não está
mais no seu campo de visão, muito menos ao seu alcance
físico. Sim, você levou um baita tombo, inesperado e dolorido,
justamente quando estava no ápice do seu engajamento físico
e mental. Nesse momento, as suas emoções vêm como uma
avalanche e percorrem cada célula do seu corpo, invadindo o
seu cerne e engolindo você.
Eu já levei muitos tombos na vida – metafóricos e literais,
afinal, fui atleta de patinação artística durante boa parte da
minha história. Mas o curioso é como esses dois tipos de
tombo, o real e o emocional, se encontraram em um episódio
específico e se tornaram um só. E é sobre ele que quero falar
com você.

QUANDO A SUA MELHOR VERSÃO


FALHA
Era o meu último campeonato brasileiro na categoria de figuras
após uma carreira de quase dez anos. Eu era a favorita para
vencer e receber esse título tão importante. Foram anos de
preparo para estar lá, inúmeras temporadas avançando nas
categorias e níveis. Fui passando pelas etapas regionais com
maestria para que pudesse me classificar para disputar o tão
sonhado campeonato brasileiro. Tudo deu certo, todo o esforço
e a dedicação. Eram aproximadamente cinco horas de treino,
cinco vezes por semana, e lá estava eu, melhor do que nunca.
Minha família estava orgulhosa e, para o meu clube, para os
técnicos e para os amigos patinadores, eu era a aposta
naquele ano.
Chegou o grande dia, após alguns treinos de
reconhecimento de pista e ambientação. Na patinação
artística, patinamos sobre rodas e, dependendo da pista, muda
a forma como nossas rodinhas aderem ao solo. Isso faz muita
diferença na performance. O pesadelo de um patinador é uma
pista escorregadia e posso dizer que aquela era uma das pistas
mais lisas, estáveis e confortáveis que já havia patinado. No
clube em que praticava, a quadra era antiga, cheia de
irregularidades e com necessidade de manutenção (por vezes,
via ratinhos passando pelos canos expostos acima da pequena
arquibancada de madeira). Quando chovia, precisávamos
colocar baldes na quadra para que as várias goteiras não
formassem poças, colocando em risco nosso treino. Foi em
uma pista ruim que me tornei uma ótima atleta, o que me faz
compreender que, quando queremos e colocamos energia em
um objetivo, são poucos os obstáculos capazes de nos impedir
de avançar.
Meia-calça novinha, brilhante, rolamentos lubrificados e
cabelo impecavelmente alinhado em um coque. Eu mesma
fazia a minha maquiagem desde os 12 anos: sombra furta-cor e
delineador. Collant de competição, branco cirrê, com tule de
lycra bege no colo, strass percorrendo o decote. Eu estava
pronta e a hora havia chegado. Ginásio lotado, pessoas de
todos os cantos do Brasil, atletas da Argentina e do Uruguai
também, que vinham participar de workshops e ver os
melhores atletas do Brasil.
Nessa modalidade não há música e é um requisito que todos
os presentes fiquem em silêncio. É uma categoria em que
concentração é primordial, pois trabalhamos com o máximo da
precisão ao contornar de maneira extremamente habilidosa
círculos desenhados no chão, realizando manobras com um só
pé, sem sair da risca. Era ali que eu realmente me destacava.
No silêncio absoluto eu entrava em um mundo paralelo,
mergulhava em mim e fluía pelas linhas com tamanha leveza e
graça.
Primeiras etapas concluídas, os círculos maiores e suas
respectivas manobras, tudo concluído com primor. As atletas
que estavam competindo comigo eram as melhores de cada
estado e, realmente, eram impecáveis. Comecei a reparar na
maneira como executavam os movimentos e percebi que o
nível daquela competição estava mais elevado do que havia
imaginado. Mas eu estava indo muito bem, era só continuar.
O último circuito era o mais desafiador para mim: o bócula,
um nome que, só de pronunciar, me dava arrepios, pois eram
círculos menores, em que existia uma voltinha no meio. Para
essas manobras, afrouxamos os eixos dos patins para poder
executar ângulos mais fechados. Já sabia de olhos fechados
quantas voltas eram necessárias dar em cada truck,1 nada que
fosse novo, mas nunca em uma competição tão importante.
Minhas mãos estavam mais geladas do que o habitual; minhas
pernas já não estavam tão firmes. O que estava acontecendo?
O ar parecia não entrar.
Então chegou a minha vez! Eu sentia frio e suava ao mesmo
tempo, com o coração acelerado. Eram quatro árbitros que
ficam literalmente do seu lado para avaliar a sua precisão e um
árbitro geral, no caso uma mulher que, só de olhar, me dava
medo. Eu devia ter uns 14 anos ali, já competia havia cinco,
mas nunca tinha sido a favorita em um campeonato brasileiro.
Dei a primeira volta, ufa. Segunda volta, feito. Cada voltinha me
fazia tremer por dentro. Perto de concluir meu percurso, ao
executar uma das últimas voltas, perdi o equilíbrio. Meu pé
esbarrou na pista de madeira. Um “aaaaa” coletivo irrompeu o
silêncio absoluto. Eu queimei. Meu mundo escureceu. Isso
significava ter meu percurso desclassificado. Significava que
eu havia perdido na última volta. Significava que o sonho havia
acabado.
A partir daí não lembro de muita coisa, não lembro de chorar
nem de dizer uma palavra, fiquei apática, derrotada, arrasada,
foi um choque. Não estava preparada para aquilo, já que havia
treinado por anos para chegar lá. Era a minha melhor versão
sonhada ali. E ela falhou.

O pior julgamento é aquele


que você recebe repetidas
vezes de si mesmo.
Depois desse episódio, nunca mais venci uma competição
dessa categoria, inclusive desisti dela depois de algum tempo,
pois me causava gatilhos horríveis e tremenda ansiedade.
Aquilo gerou um trauma dentro de mim e, além de não ter
maturidade emocional, não tive nenhum apoio psicológico para
reaver o estrago emocional que havia se instalado. Eu me odiei
e me culpei por anos por ter estragado tudo.
E você? Já levou algum tombo assim? Talvez não tenha sido
uma combinação de tombo literal e metafórico como o meu,
mas pare e reflita: você consegue se lembrar de algum
momento da sua vida em que tenha se sentido sem chão?

Quais tipos de pensamento você teve?


Quais emoções sentiu naquele momento?
Qual foi a sua reação?

Assim como nas leis da Física, tudo depende de um


referencial. Vai depender de como você estava naquele
momento, de como acordou, o que comeu, como passou o
dia. O que você tem passado na sua casa, no seu trabalho e,
de uma forma mais ampla, na sua vida, também determina o
tamanho do impacto que esse tombo tem sobre você. Pode
ser que, por ter levado esse tombo hoje, haja certa
repercussão. Se ele tivesse ocorrido ontem, teria outro
resultado.
Por mais que a gente tenha se preparado, levar um tombo
não costuma ser confortável, mas saiba que o preparo,
fortalecido por disciplina, constância, acolhimento e
autovalidação, faz diferença, sim: a maneira como você se
reerguerá será diferente. E é para isso que estou aqui, diante
de você, por meio desta leitura. Para ensinar você a cair com
mais habilidade, a não se machucar tanto e, quem sabe, caso
se machuque mesmo assim, mostrar que esse aprendizado
pode ser um bom curativo. E toda essa metáfora se aplica
também aos assuntos da mente e do coração.

1 Parte da base dos patins que faz a distribuição do peso para cada roda,
dependendo das manobras e do direcionamento do patinador.
capítulo 2
AFINAL, A TAL DA “MELHOR
VERSÃO” EXISTE?

Um tombo inesperado representa, muitas vezes, uma pausa


em nossa corrida maluca atrás dessa melhor versão. Você
mirou nela com a melhor das intenções, com o seu desejo por
uma vida melhor, por um aprimoramento dos sentidos, para ter
mais orgulho de si, além de objetivos bem pessoais e
específicos, como obter amor e aceitação. Porém, ao mirar
essa melhor versão, talvez você tenha dedicado a ela uma
positividade – devo admitir, parecida com a minha – um tanto
estranha, a famosa positividade tóxica. Aquela que nos induz a
só ver o ganho em vez de considerar também os percalços do
caminho. Energia propulsora, capaz de alavancar o avanço,
entretanto incapaz de gerar previsibilidade e defesas diante da
queda. O resultado disso é a desconexão com o momento
presente, bem como a falta de percepção sobre o aqui e o
agora. É como se, de repente, houvesse uma falha na
cooperação dos nossos sentidos, em que o excesso de visão
de futuro se torna o responsável por uma cegueira temporária.
Essa falta de percepção implica uma série de prejuízos que,
por sinal, já foram sentidos por mim e, talvez, por você
também. Quantas e quantas vezes dei mais energia do que
podia para ser o melhor possível, porém esse melhor possível
violentava os meus limites de saúde mental? Excesso de
rigidez para entregar os resultados de forma impecável,
excesso de autocrítica quando não sentia que era boa o
bastante, imensa dificuldade em receber um feedback
negativo. Uma vida em que você sente esgotamento, e a
satisfação fica em um lugar longínquo e inalienável. A
felicidade nunca chega ou, quando chega, vai embora
rapidamente e logo aparece o próximo pensamento negativo.
Com isso, vamos nos desconectando de quem somos e não
conseguimos nem perceber os sinais que estão bem à nossa
frente. Miramos tão distante e nos tornamos um tanto
impessoais – o exato oposto da autenticidade, ponto forte que
sustenta o protagonismo. Perceba que, mesmo com a melhor
das intenções, se falharmos em equalizar as nossas
polaridades comportamentais, errando a dose do nosso
esforço, obteremos mais prejuízo do que benefícios.
Quem me via de fora me considerava uma pessoa calma e
equilibrada, mas a verdade é que esse equilíbrio todo era
semelhante a estar em uma corda bamba sem aparatos de
segurança. Tensão constante, medo e rigidez são sentimentos
que anulam qualquer possibilidade de curtir o processo e
relaxar. Talvez eu até conseguisse chegar do outro lado,
atravessando do ponto A ao ponto B, mas, quando estava
novamente em segurança, desmoronava, pois havia sido duro
demais sustentar a travessia. Me sinto responsável por ter
nutrido, ao longo de anos, a positividade tóxica dentro de mim.
Responsável, não culpada. Eu mesma era o lobo na pele de um
cordeiro, tudo o que sabia era me cobrar, me culpar, me
depreciar, como um treinador rigoroso que esquece que, no
fundo, aquele atleta é um ser humano nadando em emoções
reprimidas.
Até que ponto essa busca da
melhor versão realmente vale
a pena?
Emoções reprimidas são capazes de afogar até o mais
habilidoso dos atletas; emoções reprimidas amplificam o nível
de toxicidade que percorre o nosso ser e, aos poucos, vamos
definhando, já que o sorriso no rosto provavelmente ainda está
lá, mesmo enquanto o mundo interno se encontra em
escombros. E foi só com muita terapia, conhecimento e prática
que aprendi a sentir e a pausar o sorriso no rosto quando ele
não for o que representa o meu mundo interior de maneira
congruente. Aprendi a sair de cena para lidar com as minhas
emoções em vez de sufocá-las e estourar depois com quem
mais amo. Aprendi coisas tão valiosas que escolhi não levar
tudo isso só comigo, mas, sim, dedicar o meu trabalho ao
despertar de mais e mais pessoas que merecem viver uma
vida intencional, leve e autêntica.

POR QUE MUDAR É DIFÍCIL?


Alinhar o que sentimos com o que exteriorizamos não é tarefa
fácil. Então, para preparar o nosso território para as nuances
iniciais de quebra de paradigma que surgem muito conectadas
à nossa missão de compreensão de como mente, emoções e
comportamentos funcionam, gostaria de explicar por que a
mudança pode ser tão sofrida.
Por que mudar parece tão difícil?
Por que não tomo novas atitudes mesmo
sabendo o que precisa ser feito?
Por que procrastino tanto?

Esses são questionamentos que recebo diariamente de


minhas seguidoras, alunas e mentoradas. Questionamentos
que eu mesma já repeti inúmeras vezes no início da minha
jornada evolutiva. Felizes são aqueles que, enquanto
buscadores, se permitem procurar também a compreensão
dos mecanismos naturais do ser humano. Claro que é
extremamente válido rever do que gostamos, repensar o que
fazemos, como o fazemos, recalcularmos a rota e atualizarmos
a nossa identidade. Só que, para mim, que carregava um
sentimento bem desconfortável de culpa em já “me conhecer
bem” e não conseguia entender ou mudar certas questões em
meu universo interior, fez uma imensa diferença ir além e
buscar conhecimento sobre Neurociência. Com isso, obtive
explicações sobre padrões e repetições, os quais me deixavam
em estado de frustração intensa.
Por isso, se você chegou até aqui com o desejo genuíno de
se transformar, precisamos andar alguns passinhos para trás
com o intuito de compreender algumas razões pelas quais
sentimos frustração, raiva, vergonha, incapacidade e
impotência diante do novo. E esse é exatamente o percurso
que qualquer mudança e transformação pessoal e profissional
exige. Passamos a criar camadas de resistência à mudança,
ainda que inconscientemente, até mesmo porque, de acordo
com estudos da Neurociência e da Psicologia, o cérebro
humano busca economizar energia e preservar a estabilidade
cognitiva.
A seguir, compartilho uma análise mais aprofundada sobre o
comportamento do nosso cérebro em diversos contextos mas,
antes, preciso esclarecer que trago essas informações não só
a título de conhecimento mas também no intuito de fomentar
o acolhimento pelos seus processos naturais, que, assim
como os meus, podem causar muito conflito interno e
julgamentos sobre seu valor, capacidade e identidade.
A teoria de que o cérebro naturalmente economiza energia e
evita conflitos é amplamente discutida na Neurociência e na
Psicologia, e várias pesquisas contribuíram para o
desenvolvimento desse conceito. Embora não haja um
conjunto específico de autores ou cientistas exclusivamente
associados a essa teoria, algumas linhas de pesquisa
relevantes incluem: neuroeconomia e tomada de decisão (que
estuda como o cérebro humano tende a buscar atalhos
mentais e economizar energia ao escolher algo); teoria do
processamento de informação (que considera a capacidade
limitada do cérebro de processar informações e a tendência
em buscar eficiência e economia de energia nesse processo);
teoria da minimização do erro (que sugere que o cérebro
humano busca minimizar erros e conflitos cognitivos para
economizar energia e preservar a estabilidade cognitiva); e
teoria da dissonância cognitiva (que explora a tendência do
cérebro humano em evitar conflitos cognitivos e buscar
coerência interna para reduzir o desconforto mental associado
a crenças e informações contraditórias).
Os conflitos cognitivos – gerados por dúvidas, indecisões,
crenças, informações, atitudes e comportamentos – podem
ser desconfortáveis e desafiadores, mas também podem
impulsionar o pensamento crítico, a reflexão e o crescimento
pessoal. Eles podem levar à reavaliação e ressignificação de
crenças, à revisão de informações e à busca de soluções que
reduzam esse estado de tensão mental. Em outras palavras, é
um belo lembrete de que, ao sentirmos desconforto e se
permitir encarar isso em vez de recuar, podemos gerar bons
aprendizados e oportunidade de crescimento. A ideia é que
você passe a dominar a arte de encarar seus próprios desafios,
fortalecendo, inclusive, a autoconfiança, a autonomia, a
autoestima e a resiliência.
Entender o que se passa dentro de nossas mentes e
corações é fruto do meu constante estudo e trabalho. É um
progresso libertador e enriquecedor quando somos capazes de
compreender o esperado e tornar o provável menos frustrante.
É como descobrir as rotas de um trajeto, quando você vai a um
novo destino, sem nunca ter trilhado os caminhos que levam
até ele: talvez sinta dúvidas, inseguranças e, provavelmente,
um pouco de fadiga da decisão para entender e decidir as
rotas. O conhecimento é como ter uma mínima noção do
território, como ter aprendido com um mapa ou um GPS, sem
a necessidade de depender deles. Você flui, tem
previsibilidade e mais confiança sobre o que está pela frente.
Com o conhecimento, diante de qualquer mudança de planos,
eventualmente haverá mais chances de adaptabilidade, já que
a sua energia mental e emocional não se encontra no limite
por conta da experiência, vivência e preparo obtidos como
resultado de um conhecimento inicial.
PERMITA-SE DAR O PRIMEIRO PASSO
O desejo legítimo de evoluir pode se transformar em uma
busca incessante por uma versão idealizada de si mesmo,
elevando os nossos níveis de ansiedade e até de desconforto
em relação à versão atual. Desconforto bem direcionado,
noção de realidade e pontos de melhora são essenciais, porém
dependem de uma base sólida que possa sustentar uma
transformação. Caso contrário, haverá muito mais
procrastinação do que motivação para a melhoria enquanto
seguirmos insistindo em nos colocar para baixo ou, em vez de
aprender a nos olhar nos olhos, bater no peito e reconhecer
valor em nós mesmos. Penso que a beleza da vida reside na
jornada autêntica, de constante autodescoberta, e não no
destino, a tal da melhor versão.
De nada adianta seguir buscando a sua melhor versão sem
ao menos olhar, cuidar e validar a sua versão atual. Por isso, sei
que temos uma jornada pela frente cujo objetivo é transformar
a maratona da sua vida em uma corrida com mais satisfação,
permeada por resiliência, incentivo e autovalidação. Projetar a
nossa autorrealização em uma versão melhor provavelmente
baseada em comparação, em distanciamento de quem somos
atualmente ou até em alguém inalcançável seria como projetar
a nossa felicidade em algo que ainda nem aconteceu e voltar
para o ciclo repetitivo da insatisfação constante, pois
acabamos nos esquecendo de perceber, no aqui e agora,
maneiras de apreciar o que nos farta, além de reclamar do que
nos falta.
É preciso, então, olhar com presença e consciência a partir
de agora para o relacionamento mais importante da sua vida:
você consigo mesmo. Como anda a sua relação com as suas
características mais profundas? E com as mais superficiais?
Como você tem se tratado, se acolhido? Você tem sido a sua
principal fonte de julgamento e cobranças? Nutrir um
relacionamento interno mais saudável renderá relacionamentos
interpessoais mais frutíferos e proveitosos.
Por enquanto, convido você a mergulhar de cabeça e
coração, com uma dose de esforço inteligente rumo à
harmonia, derrubando o mito da ditadura da melhor versão,
que nos afasta do nosso eu verdadeiro e autêntico. Somos
seres complexos, repletos de emoções conflituosas, e isso
pode gerar momentos de confusão que deveriam levar à
momentos de reflexão profunda. Nossa jornada não é
ensolarada nem segue uma linha reta, mas, sim, um caminho
sinuoso com altos e baixos. Por isso, nossa missão aqui é um
mergulho para dentro, e não mais para fora. Todas as suas
joias, aquelas que são únicas e insubstituíveis, estão dentro de
você, e, com elas, você terá as suas respostas mais
importantes. Olhar para dentro é como acender o farol da sua
jornada, tornando o caminho mais seguro e fazendo com que
cada próximo passo esteja mais amparado.
Bora?
capítulo 3
SER A SUA MELHOR VERSÃO É
MELHORAR UM POUCO A
CADA DIA

Antes de avançarmos, pode ser que você sinta que olhar a sua
versão atual é sinônimo de estar diante de alguém por quem
não tem muito apreço ou simpatia. Talvez exista realmente um
conflito com sua pessoa atual, sustentado por suas crenças de
identidade, merecimento, capacidade. Se me permite, não
precisa se antecipar, pois estou ao seu lado e vamos de mãos
dadas. Respire fundo e prepare-se para uma transformação
importantíssima, para que você possa viver uma relação muito
mais saudável e amorosa consigo mesmo. É aí que mora a
chance de mudar a vida: tudo se transforma quando você
muda de dentro para fora.
E essa ideia de se tornar a “melhor versão” pode, muitas
vezes, parecer um salto ousado e difícil de alcançar. Mas e se
eu disser que a verdadeira transformação se encontra nos
pequenos passos consistentes? Abra espaço para o
autocuidado, para o autoconhecimento que ilumina os cantos
mais sombrios do seu ser. Assim como uma planta que cresce
em direção à luz, cada pequeno esforço que você faz para
aprender sobre si mesmo é uma vitória.
Este é o meu convite para uma jornada de autodescoberta,
de libertação de padrões e de descoberta da magia que reside
em sermos nós, na imperfeição que sustenta a maravilhosa
autenticidade. Prepare-se para refletir e se transformar
enquanto desvendamos as camadas da positividade tóxica e
abraçamos a poderosa verdade de que a nossa autenticidade é
o caminho mais brilhante para a nossa evolução.

ACEITE A SUA VULNERABILIDADE


Uma jornada rumo à autenticidade requer autoaceitação,
exploração das nossas feridas e desafios e a coragem de
abraçar a nossa verdadeira essência, mesmo quando isso
significa ser vulnerável. Inclusive, se você me perguntar qual
fator seria decisivo em uma jornada de amor-próprio e
protagonismo, eu afirmaria sem hesitar: vulnerabilidade.

O que significa vulnerabilidade para você?


Em quais momentos ser quem você é
permitiu que a sua autenticidade
ressoasse?
De que maneiras viver uma vida sem
tantos filtros faz de você uma pessoa mais
forte?

Esse tema rompeu os meus próprios paradigmas quando


me deparei com uma abordagem totalmente diferente daquela
que havia interpretado. Foi com a palestrante e escritora
canadense Brené Brown que ressignifiquei a vulnerabilidade.
Ela define vulnerabilidade como a disposição de se apresentar
ao mundo sem máscaras, abraçando todas as imperfeições e
incertezas que compõem a humanidade. Em uma cultura que
muitas vezes associa a vulnerabilidade à fraqueza, Brené
propõe que a vulnerabilidade é, na verdade, uma fonte de força
e autenticidade.
Isso porque ela acaba sendo uma poderosa chave para
conexões reais e significativas. Quando permitimos que outros
vejam nossos medos e lutas internas, compartilhando a nossa
jornada, criamos um espaço para uma empatia genuína. Em
contrapartida, um ponto que considero importante em seus
ensinamentos é que ser vulnerável não significa se expor
indiscriminadamente. Estabelecer limites saudáveis é crucial
para proteger a nossa integridade emocional e nos manter
seguros enquanto nos abrimos para o mundo.
O trabalho de Brené Brown, ao qual me sinto extremamente
grata, ressoa profundamente em nossa busca por
autenticidade em uma era em que a perfeição é
constantemente procurada e exibida nas redes sociais. Ao
desafiar a narrativa da inabalabilidade, ela nos convida a abraçar
a plenitude de nossa humanidade, aceitando que nossa
verdadeira força reside em nossa capacidade de sermos
verdadeiros com nós mesmos e com os outros.

O ESFORÇO INTELIGENTE
Além da vulnerabilidade, o esforço inteligente é outro conceito
muito relevante para nosso início de jornada, cuja definição gira
em torno da ideia de agir de forma estratégica, eficiente e
direcionada para alcançar resultados desejados.2
Ainda que eu não seja contra mergulhar de cabeça e apostar
todas as fichas em algo, considero a harmonia uma habilidade
importantenesse contexto evolutivo. Harmonia é um termo
que descreve a qualidade de equilíbrio, concordância e acordo
entre diferentes elementos ou partes de um todo. É um
estado de coexistência pacífica e integração que resulta em
uma sensação de beleza, tranquilidade e fluidez. Acredito ser
totalmente possível mergulharmos de cabeça ainda que em
estado de harmonia, com presença e consciência. Você
observa, faz um mapa mental do trajeto, dos seus movimentos
e da distância. Prepara-se primeiro mentalmente, entra em um
estado interno favorável para amenizar o medo e a insegurança
e, enfim, dá seu salto. Talvez o primeiro não seja, de cara, o
mais satisfatório, mas tudo é treinável: dos pensamentos à
gestão emocional, dos movimentos à neuroplasticidade do
cérebro – que nos permite a adaptabilidade.
Se for para ir com tudo, o que muitas vezes na vida é
necessário, que você vá pleno e íntegro, ou seja, praticando
um esforço inteligente.

O QUE É SER A SUA MELHOR VERSÃO?


Ser a sua “melhor versão” não significa se transformar em
alguém que não reconhece. É como mirar uma estrela distante
enquanto se esquece da constelação à qual pertence.
Portanto, é validar quem você é agora, aceitar as suas
peculiaridades e abraçar a sua singularidade como um ato de
amor-próprio e crescimento genuíno.
A verdadeira autenticidade reside na aceitação de quem
somos, com as nossas fraquezas e os nossos momentos de
crescimento. A Programação Neurolinguística (PNL) foi a
primeira abordagem que me ajudou a transformar os meus
pensamentos, palavras e atitudes nos caminhos do
autoconhecimento. Com ela aprendi que a mudança positiva
começa com a aceitação do presente, sem negar a realidade.
Deixe a positividade fluir naturalmente, permitindo que as
emoções genuínas também façam parte da sua jornada. Afinal,
é essa mistura de cores que cria o quadro completo da sua
vida. Aceite cada matiz e saiba admirar essa obra enquanto ela
está incompleta, com pinceladas que vão se somando e
contando uma história única. Não perca de vista a pincelada
atual, ainda que você não sinta todo o orgulho que gostaria do
que vê.
No final das contas, a verdadeira melhoria está nas
pequenas mudanças consistentes, não em saltos imensos e
insustentáveis. Seu progresso não precisa ser um salto, mas,
sim, um passo de cada vez. E mais importante ainda é se
permitir viver no presente, enquanto mantém um olhar atento
para o futuro.
Eu costumava ser extremamente positiva, daquelas pessoas
que sentem e afirmam que vai dar tudo certo. E esse
comportamento me abriu muitas portas, ajudou a desbravar
lugares a que poucas pessoas haviam chegado, aprender
novas habilidades e ter muitas conquistas. Mas isso não
significa, por exemplo, que não existiram momentos difíceis
para mim. Desse modo, ao longo da leitura, você vai observar
que defeitos e sombras serão descritos como pontos de
melhoria, para amenizar qualquer carga limitante que eles
carreguem. Quando uma dessas polaridades se desequilibra,
no sentido de sair de uma margem de segurança e seguir para
um ponto extremo, o contexto de resultados desanda. Suas
qualidades precisam se desenvolver de modo a lidar de
maneira tranquila com os seus defeitos ou, em outras palavras,
seus pontos fortes se beneficiam de pontos de melhoria que
estão sendo cuidados e lapidados.

O perigo de buscar a melhor


versão é ir deteriorando
silenciosamente o próprio
valor de quem somos
atualmente.
Conforme você vai ganhando uma visão mais aprimorada
sobre as suas emoções, é possível aliar os dois polos e criar
um ambiente de crescimento saudável para a sua vida. Você
coloca o seu melhor para jogo e, por meio de trabalho interno,
autoconhecimento e melhoria constante, cuida dos seus
pontos de melhoria a fim de transformá-los em propulsores, e
não mais sabotadores. Em determinado ponto de sua jornada,
você entenderá que esse é o grande propósito da vida.
Costumo levar esse conceito muito a sério no meu trabalho
enquanto agente de transformação.

QUAL É O SEU PROPÓSITO?


Uma inquietação com a qual já me deparei constantemente na
minha comunidade é a sensação de ausência de propósito, de
não saber qual é o seu desígnio. Importante ressaltar que
ainda vamos nos aprofundar sobre significados aqui, pois é
bem provável que o problema não esteja na ausência de
propósito, mas, sim, em uma falha de percepção sobre ele.
Citando Marie Curie, renomada cientista polaco-francesa,
pioneira no campo da radioatividade e a primeira mulher a
ganhar um prêmio Nobel, conquistando-o duas vezes, em
Física e Química:“Você não pode esperar construir um mundo
melhor sem melhorar as pessoas. Cada um de nós deve
trabalhar para nosso próprio aprimoramento.”3
Permita-se, por alguns instantes, refletir sobre a sua vida,
sobre o sentido dela e sobre a missão comum a todos nós:
viemos aqui para aprender. Desde o dia em que fomos
concebidos, aprendemos a ocupar um espaço, nascemos,
aprendemos a respirar, descobrimos como engatinhar, ficar em
pé, andar e correr. Seguimos todos aprendendo e isso é
maravilhoso! É um sinal de que estamos vivos. Está aí um
propósito pessoal digno para chamar de seu!
Além do mais, podemos ter mais de um propósito na vida,
estendendo-se para outras esferas como família, profissão e
contribuição social. Que ele não seja uma obrigação, uma
pressão nem motivo de frustração. Que seja parte do meu, do
seu e do nosso despertar. Como a criança entusiasmada,
curiosa, espontânea e resiliente que aprendeu tanto. São
recursos como esses que nos fortalecem nessa caminhada
evolutiva.

Ã
AS QUEDAS VÃO CONTINUAR
ACONTECENDO
Minha grande escola, em que aprendi tanto sobre
consistência, resiliência e melhoria constante, foi a patinação
artística. Não bastava ter um ótimo equipamento se não
houvesse prática recorrente e afinco; não era da noite para o
dia que se aprendia um novo salto ou corrupio. E para mim
este é o maior aprendizado:

Cair é parte essencial do


jogo. Não tenha medo do
tombo! Mais importante do
que aprender uma manobra é
aprender a cair em
segurança.
Mais de vinte anos se passaram desse divisor de águas que
foi o tombo na minha apresentação de patinação. Hoje consigo
perceber o quanto o poder do acolhimento, do autocuidado e
do autoconhecimento salvaram e seguem salvando a minha
vida. Eles me salvam das minhas piores sombras e dos meus
maiores desafios, e é isso que ofereço para você neste livro.
Não é à toa que dedico a minha carreira e a minha missão a
difundir os caminhos do amor-próprio e do protagonismo como
forma de ressignificar a sua relação consigo mesmo. Quando
você se lembra que o tombo faz parte do jogo, para de se
julgar e entende que, de alguma maneira, pode se fortalecer
com ele. Mas de nada adianta seguir se martirizando e sendo o
seu próprio fruto de julgamentos duros e destrutivos.
Eu poderia ter reconhecido valor nos anos de treino, na
minha disciplina e consistência, no fato de ter sido a favorita
perante atletas tão qualificadas. Mas não tive os alicerces do
meu self bem estabelecidos para sustentar aquele episódio
que eu mesma transformei em tormenta. Além de toda a
pressão que sempre depositei em mim mesma e em todo o
dinheiro que minha mãe havia investido para que eu pudesse
estar ali, sendo atleta havia tantos anos, peguei para mim toda
a expectativa alheia, queria dar orgulho para os meus técnicos,
colegas e o meu clube. Apesar de ter sido prontamente
acolhida por eles, internalizei tamanha vergonha pois julguei
que minha falha os desapontava.

FOQUE QUEM VOCÊ É AGORA


Convido você a rever os seus conceitos sobre si, sobre a
maneira como se trata, a forma como vivencia o seu sentir e
expressa a sua essência. Vamos, lado a lado, cuidar dos seus
sentimentos mais profundos, parar de arrancar páginas do livro
da sua vida, mas, sim, virá-las, já que tudo na história importa.
Até mesmo os seus momentos de vergonha, dor e
ressentimento.
Está tudo bem. Está tudo bem não ser a versão idealizada
por você ou a versão que a sociedade muitas vezes nos
empurra para ser. Sendo que, no conceito de sociedade,
incluímos também pessoas que compartilham o mesmo teto,
os amigos e os familiares. Acontece! Mesmo querendo o
nosso melhor, quem está à nossa volta pode atrapalhar o
despertar de nosso protagonismo enquanto não tivermos
clareza sobre quem somos de verdade, o que buscamos e o
que a nossa essência reverbera. Então abrace essa verdade
com todo o seu ser! A jornada não é sobre encontrar uma
“melhor versão”, mas, sim, sobre desvendar as camadas da
sua essência e permitir que o seu valor brilhe.
Em vez de se esforçar para se encaixar no molde de
perfeição, que tal direcionar a sua energia para redescobrir e
potencializar quem você é agora? O autoperdão desempenha
um papel fundamental nesse processo. Não há necessidade
de carregar o peso de expectativas inatingíveis ou
arrependimentos passados. Você merece se libertar e permitir
que cada dia seja uma página nova na história da sua evolução.
Inclusive, não há mais necessidade de julgar o seu próprio
enredo e recriar a sua narrativa do zero. Ao escrevermos as
novas páginas que criamos, uma história única começará, e
nela é perceptível a evolução.
Somos seres dinâmicos, e nossas emoções são como as
ondas em um mar aberto. A vida é semelhante à imagem de
um eletrocardiograma: são ondas com altos e baixos. E isso
significa que não viveremos em um platô, pois isso, sim,
definiria viver em estagnação. Reconheça a beleza de ser
quem você é e saiba equalizar os fluxos que virão. A vida não é
apenas uma busca, mas, sim, uma jornada constante. A
Neurociência nos mostra que nosso cérebro é flexível,
adaptável, pronto para aprender e crescer, independentemente
da fase da vida em que nos encontramos. Nunca é tarde!
Caminhe com gentileza por esse caminho, um passo de
cada vez. A busca pelo crescimento não tem que ser uma
corrida, mas, sim, uma jornada que requer paciência e
autocompaixão. Buscar a harmonia entre o que você é hoje e o
que aspira ser é um ato de amor-próprio. Deixe de lado a
pressão de ser perfeito e abrace o poder transformador de
aceitar e abraçar a sua jornada exatamente como é.
E lembre-se: você não está só. A busca pelo crescimento
pessoal é uma jornada compartilhada por muitos. Permita-se
ser melhor a cada dia, dentro das suas possibilidades, ainda
que isso signifique ser um pouquinho melhor do que foi
ontem. Não há pressa, apenas uma maravilhosa viagem de
descoberta e autodesenvolvimento que é sua para abraçar.

2 Alguns autores que exploram ideias relacionadas ao esforço inteligente incluem


Stephen Covey, em Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes; Charles Duhigg,
autor de O poder do hábito; e David Allen, autor de A arte de fazer acontecer.
3 PENSADOR. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/Mjg3MzI5OQ/.
Acesso em: 17 ago. 2023.
capítulo 4
ATUALIZAÇÃO DE
EXPECTATIVAS: UM OLHAR
REALISTA

“Só existe frustração quando cultivamos expectativa.” Já ouviu


essa frase? Uma das minhas prerrogativas aqui é ser sincera,
então você vai ter conhecimento de relatos muito pessoais,
desafios que carreguei ou que ainda carrego. Acredito que abrir
o coração para as experiências é uma atitude poderosa. E não
é à toa que nos conectamos por meio deste livro. Há muito
entre nós que pode ser partilhado. Neste exercício de troca,
desejo genuinamente que você fique bem, do mesmo modo
como me senti ao escrever estas palavras, o que, para mim, foi
um exercício muito profundo. Durante a escrita me investiguei
um pouco mais, me observei com cuidado e, além disso,
procurei entender o que estava sentindo. Sentir é um passo
interessante no caminho do autoconhecimento. Queremos nos
sentir bem, alegres e satisfeitos. Isso sem contar que sentir
prazer, paz interior e animação costuma ser muito bem-vindo,
não é mesmo?
E sobre os desconfortos, como costumamos reagir?
Querendo, muitas vezes, eliminá-los. Querendo que o
desconforto acabe logo para retornarmos ao estado desejado,
favorável e confortável. O que mais venho percebendo ao
longo dos anos é que o impacto de uma emoção é mais
profundo do que o fato em si. Principalmente as emoções
indesejadas! Elas geram um rastro em nosso caminho e, em
algumas situações, uma fenda também. A emoção se estende
e parece não se correlacionar com a lei do tempo cronológico.
A emoção perdura. O fato se torna efêmero. E justamente
aquele sentir que costuma incomodar é o que pode se tornar
mais perene.
Se eu pudesse descrever a frustração em minhas sessões
de terapia, seria mais ou menos desta maneira:

"A frustração me quebra. Ela vem silenciosa, como aquele amigo sacana que
se esconde e não dá um pio antes de nos pegar de surpresa. Eu sou uma
pessoa que detesta levar susto. Tanto que não gosto de assustar ninguém.
Geralmente, quando acontece, não há uma mudança na frequência cardíaca,
não percebo mãos ou pés suando, nem mesmo as axilas. Não sinto
ansiedade. Na verdade, acho que não sinto nada. Mas sei que algo dentro de
mim está se movendo.
Enquanto escrevia isto, lembrei de um acontecido da época da escola.
Estudei em colégio de freiras, em uma sala só de meninas, dos meus 4 aos
meus 17 anos. Minha turma foi a última da história da escola a ter uma classe
feminina e nos anos seguintes começaram as turmas mistas, com meninos
também.
Um belo dia, durante a hora do intervalo no pátio principal, crianças correndo
para lá e para cá, eu estava andando quieta, sozinha, quando, de repente,
veio um menino da turma dos mais novos e me deu um soco no estômago.
De graça. E eu fui pega tão de surpresa que não soube reagir, não soube o
que fazer, não fui nem capaz de gritar ou xingar.
Pelas memórias que tenho, coloquei as minhas mãos na barriga,
inconformada, tentando entender o que havia acontecido, sentindo muita dor
e, no lugar da raiva, que talvez teria sido a reação mais óbvia e imediata, senti
frustração. Por não ter feito nada.
Quando relembro esse fato, é muito mais fácil lembrar da frustração do que
da dor. Talvez eu sinta a frustração tão ou mais intensamente do que a dor
física daquele momento. Não tive recursos emocionais para lidar com o que
aconteceu naquele momento e não me lembro de ter me permitido
conversar sobre isso com ninguém. Nem mesmo na escola, com a
professora. Eu apenas me senti paralisada. Completamente incapaz de sair
daquele lugar.”

E você, como descreveria a frustração? Use as linhas a


seguir para deixar as suas percepções sobre o assunto.

QUANDO A FRUSTRAÇÃO VEM DO


PASSADO
Sou filha única de uma mãe batalhadora que foi rejeitada pela
própria mãe quando engravidou. Fui uma pequena surpresa na
vida da minha mãe e do meu pai, já que eu não era um plano,
um desejo ou um sonho deles. Antes de engravidar de mim,
minha mãe foi diagnosticada com útero bicorno e essa
informação, na década de 1970, ainda não era tão aprofundada
como é hoje, então o que minha mãe sabia sobre isso é que
não poderia ter filhos. Aos 34 anos, já formada, dona de seu
próprio nariz, promovida no trabalho, realizada com a sua vida
profissional e independência conquistada, tinha vários sonhos
e objetivos a serem alcançados. Porém, no meio desse
caminho, ela engravidou do meu pai, que, por sua vez, não era
seu marido. Era 1985. Minha avó tradicionalista e religiosa deve
ter passado por um baita turbilhão ao receber a notícia e,
dentro dos recursos que possuía naquele momento de sua
vida, não reagiu com acolhimento algum. Longe disso. Não
consigo imaginar o tamanho da dor de ambas, mas sei que
peguei para mim parte da dor da minha mãe, mesmo que em
vida intrauterina. Ela foi rejeitada diante da gravidez pela
própria mãe, foi colocada para fora de casa. Se eu julgo a
minha avó? Felizmente não, mas seria errado julgar? Também
não. Toda dor precisa ser sentida para ser eliminada. Toda
emoção é um processo de elaboração. Não seria realista
desejar sumir com uma dor, sumir com uma emoção
indesejada.
Felizmente eu tive acesso a essas informações sobre o meu
passado, sobre o que minha mãe enfrentou durante a
gestação, e isso aconteceu quando eu já tinha entendido a
importância de fazer terapia, estava fazendo a minha primeira
formação em Programação Neurolinguística e já tinha algumas
ferramentas importantes para lidar com tudo isso. Talvez, por
esse motivo, tenha sido mais fácil lidar com os fatos, reagir
melhor a eles e processar esse fragmento doloroso de
passado. Esse mesmo fragmento doloroso de passado me
explicou muita coisa sobre a minha própria história e meus
desafios com rejeição. Entenda que muitas dores que você
carrega provavelmente não são suas, ainda que você as
carregue, as sinta, como se fossem suas. O exemplo é a
rejeição que minha mãe sofreu: eu senti boa parte da minha
vida. Isso acontece porque, em níveis profundos da nossa
consciência, damos significados distorcidos, na maioria das
vezes por não termos recursos suficientes para processar o
que nos acontece. O autoconhecimento é capaz de tornar os
seus significados melhores, assim como a sua forma de
separar as coisas: o que é seu e o que não precisa seguir com
você, o que não é seu ou não serve mais. No fim das contas,
isso impacta positivamente no modo como você reage ao que
lhe acontece.
SEJA REALISTA E VERBALIZE O QUE
ESPERA
Não tive aquele irmão terrível que coloca os seus nervos à
prova constantemente, e também não tive quase nenhum
amigo menino com o qual pudesse aprender a brincar em
outra intensidade, me defender, confrontar ou, quem sabe, eu
mesma aprender a colocar os nervos das pessoas à prova. Fui
uma criança dócil, assustada e obediente que tinha medo de
quebrar as regras. Tão adaptável ao ponto de abrir mão do meu
conforto, das minhas vontades, de escolhas que faria, para
agradar ao outro. Leia-se: desde cedo tive a habilidade de me
negligenciar em prol de outra pessoa. Com a ajuda dos
sinônimos de negligência percebi que, ao longo da minha vida,
fui reforçando formas de me desprezar, desatender,
desconsiderar, ignorar, deixar de lado, bem como desviar a
atenção do que realmente gostaria e queria. Por último,
reforcei também o ato de desamparar. Desamparo é realmente
algo que mexe com as minhas estruturas mais profundas.
Descobri, inclusive, em um último treinamento de
desenvolvimento pessoal, que, diante do desamparo, eu entro
em modo “morte”. Literalmente como quando falamos que
algo nos mata. O desamparo me mata um pouco até hoje. E
esse pouco dói muito. Consegue conectar os pontinhos dessa
história? Que frustração e desamparo caminham bem
próximos? É bem assim que eu costumo sentir a frustração
atualmente na minha vida, como um momento de morte
silenciosa. Digo atualmente porque não vale a pena, nem para
mim nem para você, se conformar com a maneira como
vivenciamos determinadas experiências.
Não é o que acontece com
você, mas como você reage
que importa.
– Epicteto
Não estamos aqui para nos conformar com os desconfortos,
porém o caminho ideal também não é recusar os
desconfortos. Existe um meio-termo que faz com que essa
equação mude de resultado: é uma soma de fatores e entre
eles está a nossa capacidade de reagir diferente. Para
reagirmos diferente, precisamos desaprender muitas coisas.
Inclusive tenho gostado muito da desaprendizagem. Tem sido
uma grande contribuição por aqui e vamos ter um tempo para
falar mais sobre essa prática mais adiante na leitura. Se você
sustenta as mesmas atitudes – ou a mesma falta de atitude,
como no meu caso –, insiste na mesma visão de si e de
mundo, faz tudo igual, seus resultados serão iguais. A
consequência? Inércia evolutiva. É por esse mesmo motivo
que não vamos nos conformar, porque conformismo é a chave
para o insucesso da autorrealização.
Considere valioso desaprender alguns impulsos, como a
reatividade, quando não nos damos nem a oportunidade de
raciocinar, respirar, escolher como reagir. É valioso você se
permitir desarmar defesas e entender as suas áreas mais
indefesas, sustentadas por modo automático e, mais uma vez,
irracionalidade. Por exemplo: minha reação imediata diante da
frustração é me fechar, paralisar, inclusive nas tarefas
cotidianas mais simples, como arrumar a mochila das crianças,
determinar as prioridades do dia no trabalho ou arrumar um
cômodo. Todas essas pequenas coisas, perante a frustração,
ficam muito mais complexas. Parece que levo o triplo de
tempo do que o habitual quando não estou bem. Sinto-me
empacada, confusa.
Talvez você venha se sentindo preso a formas de viver, de
reagir ou de experienciar bloqueios e paralisias como essa que
relatei, e seja bem desafiador quebrar esses ciclos. É possível
que, com intenção, cuidado, atenção e paciência, possamos
nos tornar investigadores da nossa própria história e da forma
como nos sentimos. Com prática e novos recursos, podemos
inclusive transformar o nosso estado interno, que é uma forma
de denominar um conjunto de sensações geradas por uma
emoção. É o seu sentir por dentro, diante de um estímulo,
situação, ambiente e por aí vai.
Quando o assunto é expectativa, sabemos que ela pode
gerar frustrações. E, se não há como fugir totalmente,
sabemos também que o que é possível nesses casos é nos
fortalecermos em autoconhecimento, com gestão emocional e
autorregulação para reagirmos melhor. Falar sobre as nossas
expectativas no contexto diário, em casa, no trabalho e na roda
de amigos é uma atitude que praticamos pouco, mas faria
imensa diferença para todos. Principalmente aqueles que estão
dispostos a melhorar as suas relações, tenham em mente
quem à sua volta está verdadeiramente disposto a caminhar ao
seu lado na jornada evolutiva. Nem sempre quem nos cerca
está disposto a trilhar esse caminho, e esse é um capítulo
profundo da história da nossa vida. Nesse momento é
necessário saber pesar a importância e a necessidade dos
nossos sentimentos em relação às pessoas e alterar a ordem
de importância delas em nossa vida. Esse movimento não
inspira a ruptura, mas, sim, a reflexão, e é feito com a intenção
do autocuidado, jamais por egoísmo.
Converse mais sobre o que você espera, pergunte o que
esperam de você. Treine a sua capacidade de se abrir e de criar
abertura também para a escuta ativa, para o conhecimento,
para a compreensão do outro e de suas expectativas pessoais.
Esse diálogo precisa ser uma via de mão dupla. Aposte nesse
espaço de abertura para usar a franqueza e a sensibilidade.
Diga: “Pelo que você vem passando?”, “O que vem sentindo?”,
“O que gostaria de mudar?”, “O que tem feito diferença
positiva nos seus dias?”, “De que maneira uma pessoa tem
sido importante para você?”, “O que você sente falta da parte
dela?”. Use esse espaço para reconhecimento, para ver como
as pessoas enxergam você e quais são os pontos que podem
ser melhorados, além de apontar o que não está legal, o que
não vem agradando você.
Alinhar expectativas tem sido uma maneira de caminhar
mais próxima e em melhor sintonia com aqueles que me
cercam, com aqueles que eu amo. Percebo isso no meu
relacionamento de catorze anos: entre tantas falhas da minha
parte, errei bastante em não deixar que ele soubesse o que
realmente era importante para mim, o que eu mais apreciava,
o que preferia e o que fazia falta. Hoje em dia, temos
encontros nossos, como casal, para conversar justamente
sobre expectativas, rever planos e estreitar a nossa caminhada
que, naturalmente, se afasta e conflui ao longo da jornada.
Não basta alinharmos as nossas expectativas dentro de nós
mesmos; é preciso também darmos o próximo passo para
deixar as pessoas importantes para nós saberem o que
importa, do que gostamos, não gostamos, o que aceitamos ou
não. Essa, de fato, é uma etapa fundamental para a harmonia
das convivências, seja em família, com quem você ama, seja
no seu ambiente profissional ou círculo social. Só que aqui
vamos além, porque a história não para na criação de
expectativas e no compartilhamento delas, mas ganha
complexidade na forma como vamos conviver e lidar com elas,
digeri-las e reagir a elas, principalmente quando não saem
como desejamos.
Se você pretende criar expectativas, prepare-se também
para reagir melhor a elas, especialmente quando não saem
conforme o planejado. O processo de atualização de
expectativas envolve um cuidado a mais na hora de avaliar se o
que você vem esperando de si e da vida está realmente dentro
do seu possível atual. Imagine a minha mãe e o meu pai
criando uma expectativa em acordar livres de mágoas no dia
seguinte do ocorrido. Imagine você desejar começar a correr e,
no dia seguinte, ter a meta de dez quilômetros ininterruptos.
Imagine uma empreendedora acertar de cara cada passo do
próprio negócio em fase de validação. São objetivos
inalcançáveis para a maioria dos seres humanos.
Sendo assim, alinhar expectativas e rever tudo o que
falamos neste capítulo é o tópico número um de outros sete,
porque entendo o quanto ele impacta os seguintes. Confesso
que já falhei bastante nesse aspecto, então quem sabe abrindo
um pouco dessas falhas seja possível encontrar pontos de
identificação com a sua própria vida, além de clarear as suas
ideias e as novas possibilidades a partir dos meus
aprendizados para que eles sejam atalhos perante a sua
jornada.
capítulo 5
IDENTIFICAÇÃO
DA VERSÃO ATUAL:
A GENTILEZA DA AUTO-
OBSERVAÇÃO

Tenho certeza de que existe muito valor em quem você é hoje.


Só não consigo garantir que você pense da mesma maneira. É
provável que saiba algumas de suas qualidades e pontos
fortes, porém é provável também que não tenha percebido a
possibilidade de que tem muito potencial aí dentro que você
nem conhece.
Por isso, o primeiro passo para identificar a sua versão atual
é identificar a sua luz e a sua sombra. Quais são as suas
dores? Quais são os seus alicerces? Se você continuar se
julgando duramente e perdendo a mão na autocrítica, será
impossível lidar com a sua versão atual, pois dessa maneira
você vai podando e calando a sua voz interior, sabotando a sua
intuição, criando uma força centrífuga imensa, gerada pela sua
própria rejeição. Uma força que repele e joga você para longe
do centro ou do cerne, isto é, da sua essência. A conta não
fecha. É preciso olhar com carinho e coragem. Com
sinceridade e empatia.
Muitas vezes, navegamos em níveis superficiais da nossa
capacidade, desperdiçamos potencial, seja por operar no
automático, seja por acreditar menos em nós mesmos do que
deveríamos. Entenda que também faz parte do treino dessa
escola da vida nutrir a autoconfiança, a empatia e altas doses
de coragem. Na maioria das vezes, desejamos que tais
habilidades venham naturalmente de fábrica ou caiam do céu
repentinamente. É constante o trabalho interno que faz com
que os seus alicerces estejam em dia, e isso acontece quando
você nutre questões como as que você destacou no exercício
anterior, pois elas possibilitam o fortalecimento daquilo que
mais faz falta no dia a dia e, principalmente, quando o bicho
pega!
Imediatismo permeia também boa parte da nossa frustração,
pois queremos nos sentir melhores o tempo todo, mais
confiantes, mais fortes, mais protagonistas, mas nem sempre
estamos ativando esses mesmos pontos fortes no contexto do
cotidiano por meio de desafios, desenvolvimento e
aprimoramento. Se dê um tempo. O tempo de perceber e
vivenciar cada avanço de suas próprias melhorias de maneira
constante. Trazer para o momento presente o seu valor muda
o jogo! Só que, antes disso, precisamos ajustar alguns
ponteiros em relação a distorções que costumamos cometer.
Podemos concordar que eu, Juliana, trago comigo
qualidades, pontos fortes, virtudes e competências, elementos
que vamos destrinchar em breve. Trago também comigo
sombras, pontos de melhoria e defeitos. É certo que somos
seres humanos, que viemos para essa experiência na Terra
com o propósito comum de aprender e evoluir. Quando foi que
criamos a ideia de que nossos defeitos são um grande
problema? Quando foi que passamos a acreditar que a vida
seria mais fácil sem eles? Se existe luz, haverá sombra. Isso
É
acontece na natureza, na vida e com a gente também. É
determinante nesse passo da jornada, portanto, ampliar a sua
compreensão sobre isto: as suas sombras atuais, os seus
pontos de melhoria, o que você chama de defeito, rejeita e cria
resistência na verdade podem ser vistos de diferentes
maneiras. Então, por que não olhar para as sombras de novas
formas? Veja algumas possibilidades a seguir.
Elas, de maneira alguma, invalidam a sua luz, ainda que
estejam mais sobressalentes do que você gostaria.
Ajustes são possíveis para aqueles que se colocam como
aprendiz.
Elas são oportunidades de aprimoramento e aprendizado
quando bem trabalhadas e podem render superação e
motivos para admirar a si mesmo.
Elas fazem parte do jogo, só não devem ser fadadas ou
engessadas como sendo a sua única realidade imutável.
Elas podem ganhar novos significados, mais
possibilitadores, menos pejorativos, tóxicos ou
depreciativos.
Convido você a fazer o seguinte exercício de auto-
observação:
VOCÊ É SEU(SUA) AMIGO(A) OU
INIMIGO(A)?
Costumo incentivar em minhas falas que revejamos com
bastante critério quais são os nossos maiores problemas que,
no fundo, foram criados por nossa própria interpretação
depreciativa. Aposto que existem inúmeros detalhes sobre
você que são apenas detalhes e que, por distorção, se
transformaram em problemas. Nesse cenário, os significados
que você deu ou vem dando possuem um tom mais intenso,
agravante ou negativo do que deveria. Acredite: pode ser que
isso siga acontecendo mesmo quando já existe um trabalho
interno de empatia, acolhimento, validação e ressignificação.
Da mesma forma como afirmamos que é um dia de cada vez,
eu também acredito que é um despertar de cada vez. Assim,
ao nos investigarmos com atenção, vamos percebendo o que
esteve sempre ali, na sombra, e não havia sido notado. Vou
trazer aqui alguns exemplos pessoais como maneira de
incentivar a sua autorreflexão sobre o tema.
Sempre fui sonhadora e, dentro de meus privilégios e
circunstâncias, tive uma vida em que, além da perda do meu
pai, avós e tios, nada me faltou. Tinha bolsa em uma escola
excelente, pude praticar por quase duas décadas um esporte
que me deu imensa base sobre resiliência, consistência e
disciplina. Viajei com o esporte, conquistei medalhas e, no fim
da carreira, conquistei o título de vice-campeã mundial.
Aos 20 e poucos anos, a vida me abriu portas incríveis,
oportunidades que poucas pessoas poderiam viver e eu
aproveitei, surfei uma onda daquelas, nos holofotes da maior
emissora do Brasil, pós-reality show. Sou muito grata por ter
aproveitado intensamente o momento, me joguei de cabeça,
mergulhei fundo, mas não calculei a realidade de que parte dos
meus sonhos não se realizaria. Já era formada em Jornalismo
e meu maior desejo com aquela oportunidade era me
estabelecer como apresentadora ou, quem sabe, como
repórter, para começar. Sonhava com um programa de viagens
ou de decoração. Imagine só conduzir um programa de
entrevistas! Posso afirmar seguramente que ser sonhadora me
abriu portas demais, porque eu não duvidava de que o que eu
desejava seria possível. Hoje percebo que essa mesma luz
projetou sombras e que não me dei chances de compreender
isso naquele momento. Ser sonhadora demais prejudicou a
minha capacidade de ser minimamente realista em alguns
momentos da vida.
Perceba que não é um problema ser sonhadora, mas, para
que essa luz brilhe, precisamos compreender as sombras que
estão ali do outro lado. Fui responsável por cada uma das
minhas expectativas sobre carreira e visão de futuro, só que
não tive maturidade suficiente, aos 22 anos, para arcar com as
frustrações das minhas próprias expectativas, das decepções
que tive com pessoas em que depositei a minha confiança, de
me sentir um produto de prateleira com prazo de validade. Eu
me senti usada, enganada e desamparada. O que aconteceu a
partir disso? Eu me retraí, passei a duvidar de mim, do meu
potencial, criei doses de negatividade que não conhecia ainda.
Existem problemas maiores na vida? Sim, sem dúvida. Mas só
quem vive uma queda sabe a dor que ela pode causar. No
momento em que seu mundo fica preto e branco, seus níveis
de fragilidade se elevam, e aí ficamos à flor da pele e qualquer
ferida dói demais. É um processo delicado e individual.
Após um ano de reality, meu saldo era muito positivo:
trabalhei muito bem, prosperei financeiramente, tive prestígio,
destaque, fama instantânea. Prato cheio para a minha criança
interna que sempre sonhou em ser famosa, mas que, ao
mesmo tempo, carregava como maior ferida a rejeição. Pronto:
gatilho ativado! Na primeira oportunidade em que uma ferida
latente é cutucada, abre-se um buraco debaixo dos nossos
pés, da maneira mais agressiva, e o que torna tudo mais
delicado é o fato de que essa mesma ferida ainda não foi
examinada, cuidada, cicatrizada e curada. Poderia ter
continuado na televisão naquela época, mas não fazendo o que
queria fazer. Os convites eram para programas de
entretenimento e de humor que não tinham nada a ver comigo
ou com os meus objetivos. Aqui vou dar um destaque
importante, do fundo do meu coração: seja fiel a quem você é!
Saiba os seus limites e não abra mão da sua essência. Mesmo
quando as pessoas à sua volta não entendem, não aceitam,
não apoiam, alguém ali precisará dar um passo à frente e
bancar os seus próprios valores, vontades e limites. E essa
pessoa é você. Não há quem possa tomar essa frente e
assumir esse papel. Eu poderia ter me perdido de mim,
contudo escolhi recuar uns vinte passos quando me dei conta
de que os caminhos à minha frente, caso eu escolhesse trilhá-
los, estariam me distanciando do que eu realmente buscava.
Foi um momento desafiador, pois, no auge da visibilidade,
havia também o auge das tentativas de moldar quase tudo em
mim. Existem pessoas opinando sobre como você fala e sobre
como deveria falar, sobre como deveria se vestir, em quais
ambientes deveria circular, com quais pessoas poderia se
relacionar e quais vantagens e desvantagens existem em ser
você mesma. Era muito exaustivo. Era como se eu fosse uma
pequena marionete em um palco imenso, sendo jogada de um
lado para o outro e sendo lembrada de sorrir para a plateia e
para as câmeras. Para quem olhava de fora, eu passava a
impressão de uma excelente melhor versão de mim mesma.
Por dentro, eu estava um caco. Tanta exposição, falta de
privacidade, cansaço físico, emocional e mental, desgaste pós-
confinamento e nem um vislumbre da porta que eu mais
gostaria que se abrisse.

Da porta para dentro, cada


um sabe o que passa.
O que vemos do outro lado
do palco, nos bastidores, não
sabemos.
Aquela menina cheia de sonhos estava ferida e frustrada. Só
que, dessa vez, a frustração surgiu causando um impacto
diferente: me causou inquietação em vez da costumeira
paralisia. Interessante observar como uma mesma emoção
pode vir envelopada de diferentes maneiras, inclusive de
diferentes reações, dependendo do contexto que você está
vivendo e do quão abastecida de autocuidado você se
encontra, de ferramentas de gerenciamento de estresse e
ansiedade e, incluiria nessa lista, de práticas de conexão com a
fé e com a espiritualidade. Por mais que você desperte para os
seus próprios mecanismos de luta e fuga, de retomada e
superação, não espere previsibilidade demais, não se acomode
acreditando que será sempre igual.
Nesse jogo da vida, as fases do videogame mudam, os
desafios se transformam, talvez os antigos atalhos já não
funcionem mais e você precise renovar as suas estratégias. É
quase como estar em vigília, consciente, desperto e atento, o
que aumenta a sua percepção de si e do ambiente em que
está inserido, o que permite que você seja capaz de responder
a estímulos sensoriais e realizar atividades cognitivas e físicas.
Corpo e mente alinhados, favorecendo a sua capacidade de
agir e reagir. Então, desacelere, respire, reflita e ouça a sua voz
interior, conectando-se com o que alicerça você. No seu
tempo, continue se movimentando! Movimento é a chave para
a mudança, e toda a transformação precisa de ação; então,
ainda que as suas reservas de energia estejam em níveis
mínimos, dê o que você pode em cada momento.
capítulo 6
VALIDAÇÃO DA VERSÃO
ATUAL: A FORÇA DA
AUTENTICIDADE

Quantas e quantas vezes você não esperou o momento certo


para dar um passo? Quantas vezes acaba supondo que ainda
falta o que aprender, o que melhorar, o que preparar para de
fato ter atitudes importantes? Se ao menos levássemos em
consideração que muito do que ainda precisamos aprender
está ao longo da jornada e faz parte do processo a capacidade
de evoluir em movimento, talvez em algum lugar em que
produzimos as nossas tantas dúvidas e autossabotagem
viraríamos algumas boas chaves. Poder olhar para isso com
uma perspectiva ajustada é um grande passo para o ajuste de
nossas próprias expectativas, simplesmente pelo fato de você
já saber logo de cara, antes de ser dada a largada, que, para se
jogar nessa maratona, você deve ter consigo o mínimo
necessário, em vez de buscar o máximo possível. Na maioria
das vezes, acreditando que precisamos do máximo possível,
postergamos atitudes que teriam feito grandes diferenças se
fossem tomadas a tempo; porém, na melhor das intenções (ou
não), seguimos perdendo tempo por acharmos que não é a
hora certa e não estamos prontos o suficiente.
Observe na natureza: quando um pequeno pássaro sai de
seu ovo, ele passa algum tempo no ninho, recebendo o
mínimo necessário de alimentos, proteção e refúgio para
seguir com seu desenvolvimento e sobrevivência. Esse
mesmo passarinho, logo mais, vai precisar ir para o mundo,
justamente para continuar se desenvolvendo. Imagine só: se
ele acreditasse que deve permanecer ali, no ninho, com a falsa
ideia de que é o melhor lugar para viver e sobreviver,
provavelmente não duraria muito. Estar vivo é assumir riscos e
é impressionante como olhando com atenção para a natureza
isso fica bem mais claro. Ainda que essa seja a nossa
tendência natural (lembra-se da maneira como o nosso cérebro
está programado para poupar energia diante de conflitos?),
fugir desses riscos é um grande engano.
O movimento essencial para que o pássaro, ainda tão
pequeno e indefeso, sobreviva, é voar com as próprias asas –
as quais, muito provavelmente, ele nunca nem usou e não
vieram com manual de instrução, tutorial ou aula instrutiva.
Instinto. Ele vai precisar dar alguns passos desajeitados, vai
cambalear, mas vai ter que seguir em frente. Por vezes, tudo o
que ele tem são alguns poucos metros de terra firme ou
galhos para ganhar velocidade com as suas patinhas antes de
abrir as asas e voar sobre um abismo. E ele vai. Os primeiros
instantes de voo, talvez, sejam os mais desafiadores de sua
vida, mas perceba que ele não pode desistir no meio. Ele vai,
com o mínimo necessário. E será ao longo da jornada que
realmente aprenderá a se estabilizar, planar, fazer piruetas e,
quem sabe, migrar rumo ao novo.
Na época em que comecei o meu trabalho na internet, a
produção de conteúdo era mais vista como um hobby, não
como carreira, ganha-pão, muito menos profissão. Minha
intenção era ensinar maquiagem, compartilhar dicas de beleza,
testar produtos e novidades do mercado. Muitas pessoas
achavam que eu tinha formação como maquiadora, mas,
apesar de fazer questão de enaltecer profissionais da área, eu
deixava claro que era apenas uma entusiasta e minha escola
era a automaquiagem, praticando em mim mesma e, sempre
que possível, ajudando as minhas amigas, fosse na dança, na
patinação artística, em festas ou ocasiões especiais. Gostava
de ajudar, me sentia feliz em poder contribuir e, com isso,
pude conhecer diferentes tipos de pele, formatos de rosto,
olhos e particularidades. Saí do meu mundinho individual para
explorar e conhecer novas formas de me expressar, pois assim
sempre senti: a maquiagem não deixa de ser uma arte,
enquanto a fizermos com amor e liberdade.
Para mim, a arte precisa de criatividade e é a expressão do
sentir, do ser e do traduzir o que as palavras não definem. Foi
guiada por esse sentimento que comecei nessa jornada com o
mínimo necessário: a cara, a coragem e alguns itens de
maquiagem. Eu tinha uma ou duas bases, um corretivo e uma
paleta de sombras, mas fazia o melhor que podia com os
recursos disponíveis. Não tinha curso, iluminação adequada,
cenários incríveis nem computador de última geração para
editar e minha câmera era básica. E quer saber? Era mais do
que suficiente, pois a vontade de fazer algo, de ajudar, era
muito maior do que quaisquer objeções. Imagine só se eu
tivesse esperado para começar, se tivesse inventado de fazer
um curso de aperfeiçoamento antes, juntado dinheiro para ter
a câmera e os equipamentos profissionais. Não teria chegado
até aqui. Não dessa forma, como parte da primeira geração de
criadoras de conteúdo no Brasil.
Desisti de querer me sentir
pronta. Nossa versão atual
está pronta o suficiente para
se arriscar mais e conquistar
mais a partir da ousadia de
dar o próximo passo.
Se pudesse dar a minha mão para você agora, incentivar
você e quem sabe dar até um empurrão, eu o faria. Espero que
esta leitura faça esse papel. Entenda que a maior parte dos
seus sabotadores internos e objeções, ou seja, tudo aquilo que
passa na sua cabeça e mais aproxima você da desistência do
que da persistência, está sendo sustentado pelo medo. Medo
de errar, medo de arriscar, medo de sentir, medo de fracassar.
Gostaria que o nosso medo mais comum fosse o de não se
dar chances ou o de perder oportunidades que jamais voltarão.
Vamos aceitar a maneira como a nossa mente arquiteta
pensamentos, gerando emoções e reações. Aceitar, nesse
caso, significa ter conhecimento e abrir espaço para desviar
dessas tendências, aprendendo a se colocar maior do que tudo
aquilo que faz você duvidar.

Ousadia, para mim, é muito mais competência do


que recurso interno. Competências geralmente
estão atreladas a habilidades e conhecimentos
adquiridos, que foram desenvolvidos ao longo do
tempo. Já nossos recursos internos estão
relacionados a características e atributos que já
“vêm de fábrica”, inerentes a nosso ser, aquilo
que já nasce com a gente. Talvez pelo fato de
poucas vezes eu ter sentido a ousadia como
sendo minha por natureza, eu a enxergo como
uma ferramenta desenvolvível e muito
importante para quem se sente uma pessoa mais
retraída, insegura, que opta pela estabilidade e
segurança e prefere o certo ao duvidoso. Eu,
porém, posso afirmar que esta versão atual que
escreve este livro já foi melhorada, por boa parte
da minha vida. Não gosto da ideia de afirmar que
sou uma nova mulher, porque entendo quão
importante é validar cada fase e versão, pois
todas elas nos fizeram chegar até aqui, mas a
mulher que está aqui e agora se sente
aprimorada. Por quê? Em algum lugar dos meus
escombros, nos momentos mais desafiadores,
existiu uma nuance de ousadia, ainda que fosse
um pequeno fragmento em meio a um medo
gigante. Esse feixe de ousadia foi o mínimo
necessário para que eu percebesse que o medo
engana demais, que eu poderia respirar fundo e
me agarrar ao pouco de coragem e ousadia que
havia em mim nesses momentos. Você tem
escolhido se agarrar no seu medo? Tem se
permitido encontrar algum vislumbre dos
recursos necessários para vencer esse medo?
Eles já estão aí dentro de você, prontos e
disponíveis para serem encontrados,
amplificados e fortalecidos. Isso só acontece com
ação e com prática constante.

COMO VOCÊ LIDA COM JULGAMENTOS?


Essa menina que escreve agora, recomeçando com o seu
mínimo necessário, foi bastante alvo de risadas, piadas e
críticas negativas. As pessoas que estavam à minha volta,
exceto a minha mãe e amigos mais próximos, eram as
principais a fazer comentários depreciativos e piadinhas.
Muitas vezes, eu ria junto com eles, mas quase chorava por
dentro. Já bastava o tanto de força de que precisei para
recomeçar, ainda precisava lidar com algumas péssimas
convivências que, felizmente, entendi que não deveriam seguir
comigo, já que tudo o que me traziam era toxicidade e
decepção. Saiba identificar quem está à sua volta, saiba filtrar
o que você ouve e o quanto disso você tem trazido para si
como uma verdade que, no fundo, não representa você. Não é
que eu tenha habilidades incríveis para me colocar imune a
críticas e julgamentos, muito pelo contrário; são anos em
terapia me fortalecendo e me entendendo diante do
sentimento de rejeição. O que acredito que tenha sido
imprescindível nesse momento em particular foi não ter levado
tão a sério o que eu ouvia, no sentido de não permitir que
ficasse ecoando dentro de mim até se tornar uma verdade.
Como eu, de fato, me sentia bem, útil, honesta e satisfeita,
fazendo o que fazia, não me deixei levar. Segui com as minhas
convicções de que aquele era o recomeço do qual eu precisava
para reencontrar os meus próprios caminhos.
O tamanho e a profundidade do impacto negativo de
opiniões e julgamentos estão diretamente ligados à sua
capacidade de reconhecer as suas convicções. Quando você
ainda não tem certeza de quem você é, do seu lugar no
mundo, do seu valor, do valor daquilo que faz, fica mais
desafiador se manter resiliente às controvérsias que virão e, às
vezes, elas se originam dentro da nossa própria casa, o que
agrava ainda mais esse conflito. As pessoas mais próximas de
você podem ser as que mais vão se intrometer em seus
processos e escolhas. Aí entra também um grande benefício
do autoconhecimento, da oportunidade constante de
autoinvestigação sobre quem você é e sobre os seus valores.
Tendo isso bem estabelecido dentro de você, as invasões e
opiniões alheias tendem a se tornar menos invasivas, pois é
como se você houvesse blindado a si ou ativado a capacidade
de filtrar e processar tais informações.
Quando estiver diante de opiniões e julgamentos, responda
para si a estas três perguntas:

1. ISSO ME REPRESENTA VERDADEIRAMENTE?


A intenção da autoinvestigação não é viver em uma bolha ou
se blindar a ponto de se cegar. É se dar a oportunidade de criar
espaço para diálogo interno, de obter um respiro antes de
decidir absorver ou não as críticas que chegam até você. Fazer
pausas para reflexão permite que façamos uma análise mais
cuidadosa, evitando reatividade, vitimismo e possíveis feridas
emocionais. Ao se perguntar se isso representa você
verdadeiramente, é possível revisitar a si, rever os seus valores
e verdades e olhar para a sua versão atual cuidadosamente.
Preste atenção nas convivências mais antigas que possui,
amizades antigas e colegas do passado. É muito comum que
essas pessoas tenham uma referência desatualizada sobre
você, que se refiram à sua versão antiga como alguém que
eles conhecem melhor, com quem conviveram mais ou que
até mesmo preferem. Se, para cada um de nós, atualizar a
nossa identidade pode ser um trabalho interno bem
importante, imagine para o outro, que não sabe o que se passa
dentro de nossos corações e mentes, que não faz ideia sobre
o tamanho de nossas dores e desafios. Por mais que essas
pessoas habitem o mesmo teto que você ou sejam
extremamente próximas, só você sabe o que se passa nos
seus bastidores mais profundos. Considerando uma visão
desatualizada sobre quem você é hoje, do que gosta e o que
importa, muitas opiniões deixam de representar você
verdadeiramente. Reflita sobre isso!

2. DE QUE FORMA ISSO DIZ MAIS SOBRE A


PESSOA QUE FALOU DO QUE SOBRE MIM?
Se alguém não é capaz de reconhecer bem a sua versão atual
a ponto de expressar com precisão as suas opiniões,
provavelmente o que você ouve e recebe desse alguém diz
mais sobre ele. Nossa forma de ver o mundo, de agir e reagir é
baseada em nossas experiências pessoais que incluem
valores, dores, crenças, traumas, preconceitos e paradigmas.
O outro percebe você a partir de suas próprias lentes e nem
sempre elas estão calibradas adequadamente. Captar essa
nuance sutil de distorção é um baita passo evolutivo; é uma
libertação de tudo aquilo que não deveria nos derrubar, por
nem ao menos ser construtivo ou verdadeiro.
A habilidade de perceber o que esse alguém carrega junto
com as suas palavras é semelhante à prática da dissociação,
quando você dá um passo para trás e se coloca como
observador. O observador, por sua vez, consegue captar a
essência do conteúdo sem se envolver, e observar como
espectador sem carga emocional, o que pode acabar
confundindo as coisas e influenciando na maneira como vamos
receber um comentário. Sabe quando você acha que conhece
alguém tão bem que é capaz de ter previsibilidade sobre como
ela vai pensar, falar ou reagir? Nesse momento, acabamos
pensando “isso é mesmo típico dela”, e esse é um ótimo
indício de que você já percebe as lentes que permeiam a sua
visão e opinião. Em uma roda de convivência já sabemos quem
é que vai reclamar por puro hábito, quem vai ter uma
personalidade solucionadora, quem tem senso crítico apurado
e quem é distraído até para as cutucadas que recebe. Perceba
as sutilezas comportamentais de suas convivências como
forma de criar os seus próprios filtros e previsibilidade.

3. QUAL É A INTENÇÃO POSITIVA DESSE


COMENTÁRIO?
Sabendo fazer uma análise mais cuidadosa sobre o que você
ouve e considera uma verdade, identificando tendências
comportamentais nas pessoas que cercam você, chegamos a
um ponto-chave que, no primeiro momento, pode gerar até
uma confusão mental, já que, diante de julgamentos, opiniões
e críticas, não somos capazes de ver alguma intenção positiva.
Saiba que sempre há uma intenção positiva por trás de
qualquer comportamento, inclusive aqueles que interpretamos
como errados ou maldosos. A ideia por trás da intenção
positiva é que todo comportamento, mesmo aquele que possa
parecer negativo à primeira vista, tem uma motivação interior
positiva. Isso significa que, por trás de um comportamento que
pode parecer limitante ou prejudicial, existe uma intenção
profunda de atender a uma necessidade ou desejo positivo.
Aprendi sobre essa pressuposição da Programação
Neurolinguística há mais de dez anos e constantemente me
deparo com certa dificuldade de encontrar a tal da intenção
positiva, justamente quando existe uma imensa discordância,
quando não conseguimos nem nos conectar com a verdade do
outro ou ela soa absurda para nós. Encontrar a intenção
positiva é um exercício importantíssimo para que acessemos
um lugar de empatia, não pelo outro em si, mas pelo contexto,
porque em situações de conflito nem sempre queremos
sintonizar com o outro. No entanto, saber que em algum lugar
desse ser existiu um estímulo positivo para que aquela fala ou
atitude existisse muda o jogo.
Pense, por exemplo, na procrastinação: a princípio, parece
um comportamento negativo, mas a sua intenção positiva
pode ser a busca por evitar o estresse ou a ansiedade ligados a
uma tarefa desafiadora. Lembra-se de que o nosso cérebro
tende a economizar energia diante de conflitos e algumas
demandas que ameaçam a nossa zona de conforto? Ou pense
no ato de evitar situações sociais, que pode estar enraizado na
intenção positiva de proteger-se de possíveis situações
desconfortáveis.
A beleza disso é que, ao entendermos essa intenção positiva
quase oculta, abrimos portas para a transformação e o
crescimento. Não se trata apenas de julgar ou reprimir um
comportamento, mas de explorar formas mais eficazes de
atender à mesma intenção positiva, de maneira mais alinhada
com os nossos objetivos.
A intenção positiva nos convida a ir além do comportamento
visível e a compreender as motivações e necessidades
profundas que o direcionam. Por isso, talvez quem fere você
com comentários ácidos ou invasivos somente visa à sua
proteção para que você não erre ou sofra. Também não
podemos deixar de considerar que pode haver uma
necessidade alheia de se sentir melhor ao diminuir o outro
que, provavelmente, está incomodando por ter alguma
caraterística que a pessoa gostaria de ter.

COMPARAÇÃO OU INSPIRAÇÃO?
Até quem salva vidas começou olhando atentamente alguém
as salvar. Já parou para observar como, em tantas profissões,
além da área da saúde em si, é necessário a um estudante
dedicar parte de seus estudos ao lado de outros profissionais
mais capacitados? Isso não acontece só no ambiente
profissional ou acadêmico. Observar e aprender com quem
sabe mais, com quem tem mais experiência, é de extrema
importância para a nossa evolução, mas também pode abrigar
um perigo sutil, silencioso e capaz de invalidar a nossa versão
atual, que é a comparação.
Quero que você mentalize agora situações em que esteve
com pessoas que tinham mais habilidade, conhecimento,
talento, técnica ou bagagem do que você. Como se sentiu?

a. Feliz em poder ter uma boa referência por perto.

b. Inferior ou incapaz.
c. Inspirado(a), mas com dificuldade de perceber como eu
poderia usar aquilo a meu favor.
d. Desestruturado(a) por estar ao lado de quem sabia mais.

e. Satisfeito(a) por estar em ambientes de crescimento.

f. Indiferente; não consegui identificar benefícios.

Se você respondeu A, C, E: sinal de que você já preparou o


seu território para novas sementes poderem germinar. Colocar-
se de mente e coração abertos diante daqueles mais
experientes em algum aspecto, os quais podem contribuir
positivamente para o nosso crescimento, é um grande passo
dado. É mantendo a terra fértil e pronta para novas sementes
que possibilitamos que nosso jardim floresça da melhor forma.
Temos um ponto de atenção na resposta C, pois ela
demonstra interesse e abertura, porém ainda existe algum tipo
de dispersão, seja de atenção, percepção ou prática que vem
impedindo você de sentir progresso. O que não é um
problema, já que aqui estamos falando de despertar, e cada
pessoa tem o seu próprio tempo, ritmo e intensidade. Avalie
em qual etapa do processo de inspiração e aprendizagem você
percebe que falta fluidez: em trazer a inspiração para a sua
realidade e possibilidade; em colocar em prática, dentro do seu
possível, aquilo que está sendo absorvido; ou em criar uma
rotina para implementação constante, saindo do ponto de
inspiração para o ponto de execução e integração. Executar é o
treino diário de novas habilidades, formas de ser, agir, pensar e
escolher. Integrar é partir para o próximo passo quando vamos
transformando a repetição em hábito.

Se você respondeu B, D, F: aqui temos um ponto de atenção


ao possível fato de você ainda estar batendo na trave da
comparação. O ato de comparar é natural, esperado, humano,
mas o significado e a intenção com a qual o fazemos é
determinante para os nossos resultados. Se comparar por se
comparar não nos leva a lugar algum. Talvez até acabe levando
a um lugar indesejado, em que nos confrontamos com
inferioridade, incapacidade, inveja e ciúme. Todos esses
sentimentos se conectam com o movimento de contração, ou
seja, eles nos causam limitação, nos levam a um lugar oposto
e paradoxal à expansão, a qual idealizamos. Quando não nos
sentimos aptos a digerir emoções indesejadas, é como se
ficássemos ruminando, remoendo, gerando uma repetição que
nos impede de sair desse lugar. Caso esse cenário represente
de alguma forma o seu momento atual, faça a manobra oposta:
aceite, acolha, crie espaço para digerir e compreender.
Fortalecendo a sua versão atual, você conseguirá sair desse
lugar limitante, pois trará para consciência o seu valor próprio
em vez de invalidar a si e as suas capacidades, competências e
possibilidades atuais. Por que eu insisto em bater na tecla do
atual em sua vida? Porque é a partir daí, do seu momento
presente, que você sai do lugar e, de fato, constrói o seu
futuro. Não é ruminando o ontem, nem o que já passou,
tampouco mirando inconsequentemente o amanhã de uma
versão distante da sua hoje em dia. Traga para o agora o seu
valor, a sua luz, a sua compreensão e o seu acolhimento. É um
dia de cada vez e um passo, intencionalmente dado, de cada
vez.
Quando nos colocamos em ambientes de crescimento, com
abertura, disponibilidade e vontade de crescer, faz tanta
diferença para melhor! Mas isso só acontece quando
realmente entendemos que alguém mais forte, mais
experiente e mais capacitado não invalida em nada o nosso
valor atual, caso contrário é como se fechássemos uma porta
maravilhosa que nos permite acessar avanços valiosos. Deixar-
se acuar, diminuir e inferiorizar é como optar pelo desperdício
de um ativo riquíssimo que é o poder da influência positiva,
gerado por uma ambiência saudável.

AMBIÊNCIA: COMO ESCOLHER AS


INFLUÊNCIAS CERTAS?
A ambiência, ou seja, aquilo que compõe o seu entorno, tem
grande relevância na forma como você evolui ou não. Dentro
desse trilhar do despertar, é preciso não só captar boas
influências e aprender com elas mas também ter o filtro certo
para discernir o que é real do que é apenas encenado,
principalmente nas redes sociais. Quando percebemos que
“chegar lá” não é tão fácil ou simples quanto parece, a
ansiedade bate à porta e estremece as nossas bases. Por isso,
saber escolher e atualizar criteriosamente as suas referências é
parte de uma jogada inteligente e sensata.
Nesse jogo da vida, das imagens e das redes sociais, é
muito fácil se confundir e se deixar levar. Eu mesma noto isso
e passei a reconhecer que zelar por quem nos impacta e nos
influencia deve ser parte do meu e do seu autocuidado. Então
repense as pessoas que você acompanha, tenha senso crítico
para o conteúdo que consome e reveja como tem usado o seu
tempo: isso contribui para colocá-lo(a) para cima ou para baixo?
Nem sempre é simples diagnosticar o tamanho da influência
que a ambiência nos causa, o impacto de alguém que
aparentemente é o nosso modelo ideal de ser; por isso, quero
compartilhar com você o seguinte exercício.
Se, para alguma delas, você identificou que a influência é
negativa, tenha em mente que cortar alguns laços e eliminar
algumas influências pode ser tão saudável e benéfico quanto
criar referências. Além de, claro, criar os seus próprios filtros
sobre aquilo que chegará até você, não é mesmo?
capítulo 7
PONTOS CEGOS × PONTOS
DE MELHORIA:
A DESCOBERTA DA GENERAL

O ano era 2017 e era a minha segunda ida à Índia, esse país
que tanto me atraiu, cheio de contrastes, de riqueza ancestral
e de sabedoria. Dessa vez, porém, o motivo da viagem foi
completamente voltado para o meu autodesenvolvimento e
minha espiritualidade. Sozinha, uma menina no mundão, cheia
de sonhos, conflitos, medos e muita vontade de melhorar. Lá
fui eu para Rishikesh, uma cidade pertinho dos Himalaias e da
nascente do rio Ganges – as águas sagradas (e geladas!).
Passei cerca de um mês estudando meditação, ioga, ayurveda
e tudo o que estivesse ao meu alcance. Sempre senti algo
muito forte pela Índia e realizei o meu sonho de conhecer esse
destino, ao lado da minha mãe e de um grupo de amigos, em
2012. Sabia que voltaria e, quando surgiu a oportunidade de ir
palestrar em Londres, em um evento para mulheres
empreendedoras, não hesitei em articular com as
organizadoras do evento para que comprassem a minha
passagem de ida um mês antes, de modo que eu pudesse
participar da reunião de alinhamento do evento, ir para a Índia,
com os meus próprios recursos, e voltar para a Inglaterra
alguns dias antes da data da minha apresentação. Como diria a
minha mãe: “Se vira, o mundo é de quem mete as caras!”. E
assim foi: expliquei às organizadoras minha intenção com essa
ida à Índia, meu desejo por aprender, mergulhar no
autoconhecimento, trazer ainda mais repertório para as
mulheres que estariam presentes na conferência, e elas
vestiram a minha camisa, me apoiaram e, dessa forma,
começou um capítulo muito especial da minha jornada como
buscadora.

Nem sempre você terá os


recursos e as possibilidades
para chegar aonde precisa
do zero, mas acredite
fortemente que a vida abre
portas para quem confia e se
coloca em movimento. Pode
ser que o destino leve você
até o meio do caminho. O
restante do trajeto cabe a
você. Saiba enxergar e
aproveitar as oportunidades.
Embarquei para terras inglesas, passei dois dias lá com uma
turma de mulheres animadas, alegres e queridas. Fizemos os
alinhamentos necessários para a conferência e lá estava eu
embarcando mais uma vez para um dos destinos mais
fascinantes da minha vida, a Índia. Na época, combinei com
uma amiga que praticava ioga junto comigo de nos
encontrarmos já na cidade de Rishikesh – ela passaria parte
dessa minha estada comigo e depois seguiria para outros
destinos. Pura sincronicidade: a encontrei já na conexão de
Nova Déli para Rishikesh sem nem ao menos termos
combinado. Enquanto descia as escadas rolantes do aeroporto
lotado, a vi de longe, na fila para embarque do segundo voo.
Foi mágico, nos olhamos ao mesmo tempo e rimos juntas, à
distância. A prática de ioga sempre foi, para mim, uma
ferramenta profunda de reconexão e expansão, que me ajuda a
intuir, sentir, perceber, digerir, superar e desatar. E, quando
coisas assim acontecem, me sinto conectada, aberta às
oportunidades e capaz de perceber essas sutilezas, os
pequenos milagres da vida.
Seguimos viagem juntas, sendo que pousaríamos em um
aeroporto próximo e haveria duas formas de chegar até o
nosso destino final: de trem ou táxi. Escolhemos ir de táxi até
Rishikesh, o que levaria aproximadamente uma hora e meia.
Acredito que, muitas vezes, é a partir do caos que nasce a
ordem. Por isso, pergunto a você: já viu algum vídeo sobre o

Í É
trânsito na Índia? É realmente a energia caótica que costuma
aparecer por aí, ocasionando a fama de um lugar insano para
transitar pelas ruas. São animais, motos, pessoas, bicicletas,
ônibus, automóveis e, muitos, mas muitos tuk-tuks acelerados,
buzinando, por todos os lados. Embora nada pareça fazer
sentido, vejo que é justamente desse caos que nasce uma
ordem quase que incompreensível para nós brasileiros.
As coisas funcionam deste jeito: parece uma bagunça, mas
dá certo, pois quase não se veem acidentes nem incidentes. E
de táxi escolhemos nos aventurar, para pelo menos chegar
com nossas malas na porta do albergue. Na fila para aguardar
o próximo veículo, tinha um rapaz, meio tatuado, com jeito de
quem também vinha de longe, cabelos castanho-claros, olhos
verdes, carregando um mochilão. Olhos que se cruzam,
palavras que não são ditas, aquele clima típico de quem quer
puxar assunto, mas não sabe bem como. E, de fato, não
lembro como foi, mas começamos a conversar, nós três.
Descobrimos que ele era estadunidense e estava indo para
Rishikesh, apesar de não saber ainda onde se hospedaria:
típico viajante de mente e coração abertos, decidiria na hora.
Admiro um tanto a capacidade das pessoas de não fazer
planos!
É preciso uma baita confiança no processo, na vida e na fé
para se entregar mesmo e deixar fluir. Adoro deixar fluir, mas,
com o passar dos anos, me senti mais segura em ter pelo
menos o teto garantido na maior parte das minhas viagens. No
fim das contas, combinamos de ir junto com ele no táxi até lá
para dividir os custos, o que ajudaria bastante, apesar de ser
bastante atrativo na Índia o custo dos serviços quando
comparados com os outros destinos do mundo e da Ásia.
Fomos conversando o caminho todo e percebi como é legal
encontrar alguém que compartilha uma visão de vida e de
espiritualidade semelhante à nossa. Papo bom, trajeto
tranquilo, nada de macacos ou elefantes invadindo a via de
passagem. Até onde me lembro, ele acabou se hospedando no
mesmo hostel que eu havia encontrado pela internet e lido
praticamente todas as avaliações para não dar bola fora. São
pessoas como ele, de quem não me recordo o nome nem
muito bem as feições, que cruzam o nosso caminho e
provavelmente nunca mais cruzarão novamente, que, por
algum motivo, por alguma conexão inexplicável, estavam lá na
mesma hora e no mesmo lugar compartilhando dores e
sonhos. Essas conexões são únicas e não podemos perdê-las
de vista.
Chegando à nossa hospedagem, realmente foi uma boa
surpresa, ainda que esperada por conta das minhas pesquisas
dedicadas. Dava para ir andando ao Ashram,4 onde passaria um
mês estudando, assistindo aos satsangs – palestras de
mestres espirituais –, fazendo as práticas de ioga e cursos
complementares. Todos no albergue garantiram que era
seguro ir caminhando, mesmo à noite. Indicaram as vias e
fomos, dia após dia, descobrindo aquele universo. Descobrindo
os cafezinhos, lojinhas, restaurantes, templos e grutas. O que
eu sinto dessa cidade tão especial, à beira de Ganga Ma,
Ganga Mãe, como carinhosamente é chamado o rio Ganges, é
que parecia uma universidade gigante de assuntos do
autoconhecimento e da espiritualidade. Pessoas de todo o
mundo, todas as idades, famílias, crianças, com um mesmo
objetivo e intenção: aprofundar-se no que acreditam, expandir
e evoluir. Sentia pertencimento, me sentia viva, me sentia
segura e abençoada. Passei dias a fio meditando, me
conhecendo, me entendendo, me ouvindo. Ria, chorava, às
vezes dormia enquanto meditava, tinha sonhos, muitos
sonhos. Alguns lindos e mágicos, outros bem assustadores.
Tomava todo santo dia meu chai latte, uma bebida típica
indiana à base de leite e especiarias, comia tofu mexido,
dumplings5 e naan.6 Passei muito bem, era uma vivência em
que tinha o básico garantido, teto, comida, estudo, natureza,
confiança nas pessoas e no lugar, me sentia muito livre para ir
e vir, sentir e desabrochar. Engraçado que sentia prazer, alegria
e satisfação em ser quem eu era, apesar de ter ido em um
momento de bastante confusão mental e crise existencial que
ficaram evidentes durante a minha volta para o Brasil.

Última chamada
Voltando da Índia, a palestra em Londres foi ótima, fui muito
acolhida e me senti querida. Senti um vislumbre de como era
contribuir com o coração, levar um conteúdo que qualquer
mulher naquele recinto pudesse colocar em prática
prontamente, sem a necessidade de recursos externos,
investimento ou acessórios. Falar sobre autoconhecimento, ali,
se tornou a luz que se acendeu na neblina que me engolia e
me revelou um novo caminho. Senti alívio e gratidão, me senti
eu mesma, com um vestido indiano azul-marinho bordado à
mão, de sapatilhas sem salto, pouca maquiagem e cabelo
curto. Era uma nova versão de mim que já estava lá, só
esperando para ser vista, validada. Já estava em lapidação
havia meses e meses, porém eu ainda não tinha enxergado.
A verdade é que levei tempo para enxergar valor em mim
mesma. O que acontece é que, mesmo sem a intenção, nos
invalidamos, invalidamos a nossa vida e capacidades,
principalmente diante dos desafios, quando estremecemos e
acuamos. Acredito que, pelo fato de emoções indesejadas
serem desconfortáveis e mais complexas de digerir e lidar,
esse sentimento de incapacidade afete a nossa identidade.
Misturamos as coisas e confundimos os significados. Já parou
para pensar como ser é diferente de estar? Em muitas
ocasiões, quando senti insegurança, confusão, frustração e
incertezas, levei as emoções e sensações para a minha
identidade ao afirmar “eu sou”. Eu sou fracassada, eu sou
insegura e eu sou ansiosa são exemplos de afirmações sobre a
nossa própria identidade, mas existe uma grande distorção aí.
Nesses casos, o mais adequado seria discernir o que é ser do
que é estar. Passei a entender que, ao afirmar estou ansiosa,
estou frustrada, estou confusa, permitia a mim mesma mudar,
inclusive o caráter do meu estado atual. Ser implica
permanência, profundidade. Estar abre espaço para uma nova
compreensão desse estado, como sendo passageiro e não
mais uma verdade condicionada ou rígida. Nomear as
definições de estado interno e estado atual indesejados de
maneira passageira, efêmera e impermanente, a partir do eu
estou, abre portas para que essas mesmas emoções tenham
começo, meio e fim. Você condiciona a sua mente a entender
que é um estado temporário, em vez de reforçar uma
característica indesejada à sua própria identidade, o que, nesse
segundo caso, acabaria gerando mais bloqueios, travas e
comportamentos repetitivos, capazes de reforçar essa crença
limitante.
Até aquele momento de retorno da Índia, eu já estava a par
dos meus principais pontos de melhoria. Havia identificado
todos eles por meio da terapia, do estudo, da meditação e da
auto-observação. Entendia o que poderia aprimorar, o que
precisava de cuidado, carinho, atenção e, até mesmo,
disciplina e consistência. Eu me sentia plena, até que ouvi, já
no aeroporto de Londres, prestes a embarcar para São Paulo, a
última chamada.
Estava passeando e fazendo hora para pegar o voo para São
Paulo. Adoro ver vitrines, observar calmamente as pessoas
passando para lá e para cá, imaginar de onde elas vêm, para
onde estão indo, ver a maneira como se comportam. Adoro
me colocar como observadora, inclusive das cenas mais triviais
do dia a dia, e nesse contexto costumo ter insights, pois é algo
que favorece a minha sensibilidade, percepção e até a
criatividade. O que também acontece, apesar de não ser tão
frequente, mas não deixa de ser uma tendência minha, é que
vou para um mundo paralelo e me esqueço do tempo e do
espaço. Enquanto olhava uma vitrine extremamente bem
montada que apresentava lenços coloridos, com estampas
belíssimas e outros adornos, ouvi uma voz bem distante, como
quando estamos sonhando e algo se passa fora do nosso
espaço, despertando os nossos sentidos. “São Paulo, essa é
sua última chamada.” Foi tudo o que ouvi e parecia que havia
caído da cama. Só que eu estava em um dos maiores
aeroportos do mundo. Meu Deus, qual será o meu portão?
Preciso correr. Para qual lado devo ir? A sensação que tive foi
de desespero. Todas as minhas economias para fazer aquela
viagem estavam contadas, já investidas e não havia uma
reserva para pagar uma nova passagem internacional, caso eu
perdesse aquele voo. Me ferrei, pensei na hora. Coração
pulando pela boca, mãos frias e suadas, pernas bambas.
Juliana, você precisa correr. Vai!, pensei comigo. Olhei o
bilhete do avião para identificar o portão de embarque, passei
os olhos freneticamente por todas as placas que havia naquele
saguão. Achei o caminho e corri loucamente. Só que, enquanto
corria, de dentro de mim veio uma voz imperativa, autoritária,
dura e sem dó, que me disse mais ou menos assim: “Você
não leva jeito para nada mesmo, né? Você tá aí, de novo,
fazendo tudo errado. Distraída, desatenta, no mundo da lua,
não sabe prestar atenção nas coisas e precisa mesmo se
ferrar. Para ver se aprende. Mas aposto que não vai aprender,
porque você sempre estraga tudo e não consegue fazer nada
direito. Você é uma idiota, Juliana”. Respira. Respira. Quem é
que está gritando? Quem é que está brigando comigo? O que
tá acontecendo aqui? Fui sentindo um estranhamento, me
questionando e tentando entender de onde vinha esse fluxo de
negatividade, depreciação e julgamentos. Mas continue
correndo, corre, porque isso sim é o que precisa ser feito.
Como faz para correr quando existe uma voz interior
acabando com você? Era um mix de razão, emoção e completa
confusão. Por alguns instantes pensei que estava ouvindo
vozes, me senti atordoada, com a respiração ofegante e as
pernas queimando por conta das passadas aflitas que dava
correndo. Quase não conseguia ver o que se passava à minha
volta. Meu foco era somente chegar, desviar das centenas de
pessoas andando calmamente e tão distraídas quanto eu
mesma estava havia poucos minutos. Parecia que aquele
portão não chegava nunca. Em alguns aeroportos maiores, é
comum haver não só portões como asas ou setores,
geralmente denominados por A, B, C, D e por aí vai, como
também portões denominados por números. Acontece de
você precisar ir até o portão D32 e estar no B10 ainda.
Justamente, naquele dia, parecia que eu me encontrava no
ponto mais distante possível, mas tudo o que poderia fazer era
seguir correndo, ofegante e lidando com aquela bendita voz
interior que mais atrapalhava do que ajudava.
Enfim, visualizei o portão, estava me aproximando dele, não
via mais filas, não via quase ninguém. Meu Deus, será que
ainda dá tempo? E, provavelmente por uma bondade divina, no
display do portão estava escrito LAST CALL, ou seja, ainda era
a última chamada, ainda dava tempo, mesmo que no limite do
limite. Tenho um amigo que brinca sobre as coisas sempre
darem certo para mim, mesmo quando tudo parece estar
dando errado. Já minha terapeuta sugere que eu aceite, de
uma vez por todas, que adoro viver com emoção. Querendo ou
não, estamos criando a nossa realidade o tempo todo a partir
de nossas crenças, sentimentos, pensamentos e
comportamentos. Entrei naquele avião com o sentimento de
quem estava voltando de uma luta ou uma prova física de alto
impacto. Suada, descabelada, desorientada, mas, em algum
aspecto, sobrevivente, para não dizer vitoriosa. A tal da voz
interior não me permitiria sentir nenhum vislumbre de vitória,
quanto menos me sentir bem naquele contexto todo. A maior
intenção dessa voz era me derrubar e me fazer sentir como
lixo. Mas de onde surgiu isso?
Sã e salva, sentada no meu assento na classe econômica,
respirando para retomar o fôlego, fechei os olhos, silenciei o
mundo exterior e mergulhei, ainda que com receio e um pouco
de resistência, no meu mundo interior. Passei um mês
meditando durante horas por dia; havia assistido a pelo menos
vinte palestras de mestres espirituais. Se tem algo que está
fora da harmonia e dos conformes, o melhor que posso fazer é
olhar de frente, olhar no olho e não mais virar as costas,
esperando que vá desaparecer. Isso se chama maturidade
emocional. Naquela época, percebi que tinha, sim. Tinha bem
pouca, para falar a verdade. Precisava treinar esse confronto
com nossos monstros interiores, com as vozes malignas que
surgem de repente, com os gatilhos que despertam nosso
pior.
Olhe de frente e encare. Você é adulta e se tem algo a
temer é passar uma vida fugindo daquilo que precisa ser
confrontado. É uma escolha tanto se acovardar quanto
enfrentar e crescer com isso. Era o que repetia internamente,
respirando de modo pausado, pelas narinas, equalizando as
sensações, acalmando a frequência cardíaca e, com isso,
acalmando as ideias também. Em busca daquela voz, a qual eu
ainda não conhecia. O que será que ela ecoava? O que será
que representava? Não se parecia com uma voz interior,
tampouco com a minha própria voz. Parecia mais um
megafone invasivo, dizendo tudo aquilo que você não deseja
ouvir. Parecia com uma general. General no ápice de uma
repreensão disciplinar, aplicando ação corretiva verbal
destinada a repreender erros, falhas ou comportamentos
inadequados. De onde surgiu esse turbilhão dentro de mim?
Seria semelhante aos meus técnicos do passado, no esporte?
Em partes, sim. Seria semelhante às duras broncas da minha
mãe? Possivelmente.
Essa “general”, na verdade, representa a minha parte crítica
e controladora. É a versão da Juliana excessivamente crítica,
impositiva e negativa. Para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung,
nada mais é do que o “lado sombrio interior” ou “aspecto
interior punitivo”, e todos temos isso. Essa voz interior tende a
revelar aquilo que tentamos esconder:7 no meu caso, a
autocrítica intensa, as exigências rígidas e uma tendência a me
desvalorizar. E lá estava eu, diante de uma parte de mim que
eu não conhecia. Diante de um ponto cego.

Uma coisa é você saber, lá


no fundo do seu ser, o que
você realmente precisa
melhorar. Outra coisa é você
não fazer a mínima ideia
sobre isso ainda. Ambas as
situações podem causar
desconfortos.
Da porta para dentro cada
um sabe o quanto dói se
sentir consciente sobre as
suas melhorias e mesmo assim
falhar, de novo e de novo. E
o quanto dói descobrir um
traço limitante de si, sobre o
qual não se fez ideia, jamais.
O ponto cego no contexto do autoconhecimento e da
Psicologia se refere aos aspectos de nossa personalidade,
comportamento ou características que ainda não conseguimos
perceber conscientemente sobre nós mesmos. Esses pontos
cegos podem ser desconhecidos ou pouco explorados, mas
ainda assim podem influenciar ações, decisões e interações
com os outros.
Na Psicologia, o termo “ponto cego” é frequentemente
associado à teoria do “eu cego”, que sugere que temos uma
visão mais precisa e objetiva dos outros do que de nós
mesmos. Em outras palavras, tendemos a perceber e julgar os
outros com mais clareza do que fazemos conosco. Parece até
contraditório analisar dessa maneira, já que, no meu caso, a
“general” revela o aspecto interior punitivo que, geralmente,
vem cheio de afirmações pesadas, imperativas e incisivas.
Passar uma vida sem se perceber em nossos próprios diálogos
internos pode ser um grande ponto cego. Você faz, sente,
repete e não se dá conta ou ainda não se tornou capaz de
discernir que isso é uma parte de si que precisa de ajuste, ou
seja, um ponto de melhoria.
Descobrir os nossos pontos cegos requer reflexão profunda,
feedback dos outros e, por vezes, ajuda profissional, como
terapia, para ganhar uma compreensão mais completa de
nossa psicologia interna. Reconhecer esses pontos cegos é
uma parte importante do crescimento pessoal e do
autoconhecimento, pois nos permite entender melhor nossos
comportamentos, emoções e relacionamentos, o que nos
permite fazer escolhas mais conscientes e saudáveis.
Iluminar os nossos pontos cegos, portanto, nos faz liberar
grandes mudanças de paradigma nessa jornada de
autoconhecimento. Trazer para a consciência aspectos
importantes que precisam de cuidado que ainda estão nos
lugares mais escuros e remotos do nosso ser, que ainda não
vieram à tona ou foram descobertos. Despertar para os nossos
pontos cegos não deve ser um motivo de choque, de conflito
interno ou de repulsa. Ainda que em um primeiro momento
seja, sim, chocante descobrir algo duro sobre si, entenda e
acolha o fato de que gerar essa descoberta é o primeiro e mais
impactante passo para que exista qualquer chance de
mudança, além da eventual quebra de padrões e ciclos
repetitivos que acontecerá gradualmente enquanto você vai
obtendo aprendizados por meio da consciência, das novas
formas de ver a si mesmo, agir, pensar e sentir.
Com gentileza e empatia por si, faça uma
respiração profunda e mentalize a seguinte
autossugestão:
No aqui e agora tudo está bem. Estou
seguro(a) e me sinto pronto(a) para
desvendar os meus pontos cegos, criando
cada vez mais consciência e expandindo
para melhores e mais harmoniosas formas
de ser, sentir, amar, pensar e agir.
De que forma esse comando ecoa em você,
por dentro, por fora?
Já se parabenizou por chegar até aqui?

Você só cura o que está na


consciência.
– Carl Gustav Jung
Honre-se em cada etapa da jornada. Seu valor já existe no
aqui e agora e se expande conforme você avança!

VOCÊ NÃO PRECISA DAR A VOLTA AO


MUNDO PARA ENCONTRAR A SUA
ESSÊNCIA
Em 2016, fiz a minha formação em life coaching e o mergulho
foi tão profundo que repensei o meu estilo de vida, escolhas,
mudei de planos, recalculei a minha rota e foi justamente no
autoconhecimento que encontrei novas formas de me
reencontrar e me reconhecer. Era o meu momento de
descascar camadas do meu ser que haviam sido colocadas por
influências que não filtrei, por ambiências que não questionei.
Jamais poderia culpar alguém por isso, pois assumo a minha
responsabilidade por tudo. Passei uns bons anos tendo
sucesso na internet, ganhando bem com isso, cheia de
oportunidades, bons contratos e viagens. Essa época me
lembrava até mesmo o pós-reality e, caramba, de novo, me vi
em parafusos, em conflito com quem estava me tornando,
com a pessoa que estava sendo e a forma como estava me
colocando disponível.
Qual era de fato a contribuição que deixava na internet? Do
que eu realmente gostava? O que eu realmente escolheria se
não tivesse tantas facilidades e privilégios? Por que, raios,
sinto esse vazio dentro de mim quando tudo vai tão bem?
Onde foi que me perdi?
Foi na busca pelas respostas a essas perguntas que
comecei a fazer terapia. Semanalmente, ia ao consultório de
Psicologia da Mirian Pereira,8 passei a praticar ioga e
meditação, li sobre minimalismo e essencialismo e fiz um
bazar beneficente no qual vendi cerca de 70% de tudo o que
tinha de roupas, calçados e acessórios para viver com menos
fadiga da decisão e mais foco, intencionalidade e praticidade.
Não aguentava mais gravar os meus famosos tutoriais de
maquiagem e vídeos de beleza. Nada daquilo estava me
fazendo bem, nem me preenchendo, nem me fazendo sentir
útil.
Entrei em conflito com o que fazia, da maneira como fazia e,
mesmo buscando ajuda, não foi da noite para o dia que
consegui me entender com o que se passava dentro de mim.
Parecia que eu havia sido engolida por uma névoa densa que
me impedia de ver adiante. E por uma nebulosidade interior
que também deixava tudo um pouco mais confuso. Foi preciso
tempo, paciência, tentativas, muitos testes sobre o que fazia
sentido. Tudo isso levou anos, na verdade. Mas, observando,
percebo que há uma característica que não faltou e fez toda a
diferença: o movimento. Eu não parei, apesar de ter
desacelerado e, a meu ver, dado aqueles passos para trás que
já havia experienciado no passado. De uma forma ou de outra,
houve o necessário para a mudança, o movimento.

Há feridas profundas que não


podemos curar com uma
máscara de cílios.
Estar em imersão na Índia foi um desses movimentos, que
foi memorável, valioso. Só que diante dessa vivência e desse
relato, mais uma vez, precisamos trazer clareza e reflexão:
ninguém precisa dar a volta ao mundo para se encontrar ou
reencontrar. Acreditar que o que vai nos salvar está em um
lugar distante, mediante um investimento alto, em uma
realidade contrastante, é praticamente o mesmo que voltar a
mirar a melhor versão lá longe, bem longe, sem olhar para o
presente, ignorando o que já se tem, já se pode, já se é.
Ninguém precisa dar a volta ao mundo para se fazer bem ou se
sentir melhor. Pode até ajudar, porém não é o que muda a vida
verdadeiramente. O que muda a vida verdadeiramente é a
nossa capacidade de perceber o próximo passo possível e dá-
lo o quanto antes. O que estava ao meu alcance era criar novos
rituais para nutrir a minha espiritualidade, conversar comigo,
com Deus, praticar atividades que ampliassem o meu bem-
estar ou, ao menos, reduzissem estresse e ansiedade. O
básico tem tanto valor e deixamos de fazer. Um minuto de
silêncio, uma oração pela manhã, a gratidão pelo dia que
passou, gratidão por quem já somos, uma caminhada
contemplativa na natureza, pisar na grama, banho de chuva,
banho de mar, um pedido de ajuda, colo, ombro amigo e
terapia.

O que está ao seu alcance agora?


O que faria diferença na sua jornada?
Do que você se orgulha sobre si e sobre a
sua história que impulsionaria você ainda
mais?

4 Um eremitério espiritual de um Yogi ou Sábio.


5 Espécie de bolinho com massa fina cozido no vapor. (N. E.)
6 Pão típico indiano feito à base de farinha de trigo. (N. E.)
7 NORONHA, H. Todos temos um “lado sombra” da personalidade: o que é e como
lidar com ele. Periscópio, [s.d.]. Disponível em: https://sites.usp.br/psicousp/todos-
temos-um-lado-sombra-da-personalidade-o-que-e-e-como-lidar-com-ele/. Acesso em:
31 ago. 2023.
8 Mirian é esposa de Julio Pereira, coach focado em PNL. Ambos são muito
importantes na minha jornada ao longo de mais de dez anos.
capítulo 8
MAPA DE ACOLHIMENTO: O
QUE FAZER COM A GENERAL?

Encontrar uma general na minha vida, assim de repente,


quando estava me dedicando tanto ao autoconhecimento,
mergulhando na espiritualidade, foi um banho de água fria. Isso
me faz pensar no quanto estamos sendo constantemente
enganados e enganadas sobre os nossos próprios objetivos.
Acabamos criando objetivos errados ou inatingíveis. Em um
primeiro momento, quando nos deparamos com algo
indesejado, seja uma emoção, pessoa ou situação, a vontade
de eliminar, sumir ou sublimar é predominante, já que a mente
busca o conforto, o caminho já conhecido e a economia de
energia. Emocionalmente também buscamos um lugar de
segurança, confiança e harmonia. De modo recorrente,
observo perguntas que chegam até mim, desejando
interromper ou eliminar os processos completamente naturais
e esperados, como sentir medo, raiva, tristeza, ter
pensamentos sabotadores ou negativos.

Como faço para eliminar o medo?


Como faço para parar de sentir
inseguranças?
Como impedir os pensamentos negativos?

Após explicar cuidadosamente para minhas alunas ou


mentoradas como nossa mente, nossas emoções e
comportamentos estão correlacionados e funcionam se
entrelaçando, preciso fazer a importante revelação de que
esses objetivos não são possíveis. A resposta é: não tem
como. Entretanto, é possível ajustar não só o objetivo como
também a expectativa gerada por ele. Gosto de sugerir novas
abordagens, como:

Como posso reagir melhor diante do


medo?
Como posso fortalecer a minha
autoconfiança?
Como posso lidar com os pensamentos
negativos?

Para esses questionamentos existem respostas e, por esses


caminhos, podemos trilhar essa rota de acolhimento
necessária que torna a consciência, a compreensão e a
melhoria bem mais possíveis. E foi justamente assim que tudo
aconteceu depois que a general apareceu: primeiro quis que
ela sumisse, depois quis eliminar aquela voz de dentro de
mim, sendo que nada disso dava certo ou gerava melhores
resultados. Se você tem as mesmas atitudes, terá os mesmos
resultados. Sendo assim, passei a matutar como poderia agir
diferente. E se eu – da mesma maneira como precisei encarar
essas vozes, me sentar com elas, olhando no olho, e ter uma
atitude sustentada pela maturidade emocional – conseguisse
estabelecer um acordo de paz com esse território inimigo?
Pois bem, o território está lá, não há como eliminar, não tenho
como fugir. O que me resta é desbravar e encontrar um ponto
pacífico nisso tudo. A arte de aprender a lidar!
Lidar com aquilo que é novo em nós e incomoda
grandemente é quase como conviver com alguém por quem
você sente zero afinidade e sintonia ou até mesmo sente
desconforto e contrariedade. Se julgar, se rotular ou levar essas
características recém-descobertas para sua identidade não
ajudará em nada, e parte da expansão da consciência está na
não resistência. Brigar com você, com tudo e com todos
requer muita energia e nem sempre traz os melhores
resultados.
Ahimsa é o primeiro dos cinco yamas, que são os princípios
éticos que formam a base da ioga.9 A palavra vem do sânscrito
e representa um conceito fundamental na ioga, que é o da não
violência ou não agressão. Basicamente, é um princípio ético
que envolve não causarmos dano físico, mental ou emocional a
nós mesmos, aos outros seres vivos e ao mundo ao nosso
redor. Perceba como a ideia do ahimsa não se restringe à ação
física, mas também inclui o cuidado com as nossas atitudes
emocionais, como a raiva, o ódio e a inveja. Também não
significa que seja errado sentir essas emoções ou que
devamos eliminá-las. Para mim, ahimsa é uma maneira de
coexistir com conflitos internos e externos, evitando a
reatividade, os impulsos, para que o objetivo da não violência
possa ser atingido.
Se chegamos ao passo do acolhimento, precisamos
considerar novas maneiras de implementar essa capacidade
natural que vamos perdendo por conta da desconexão com
nossa essência, nosso autorrespeito e amor-próprio. O
acolhimento em questão começa dentro de cada um de nós e
somente assim ele será possível e estará disponível para os
outros e para o mundo à nossa volta.

Não é possível oferecer ao


outro aquilo que você ainda
não cultivou dentro de si.
Se naquele momento da minha vida e do meu despertar eu
estava fazendo o melhor que podia com os recursos que tinha,
algum recurso importante estava faltando. Nem precisei ir
muito longe em minhas reflexões para perceber que aquela
general interior era um reflexo da minha falta de acolhimento
comigo mesma. São surpresas atrás de surpresas e o jogo do
despertar parece uma caça ao tesouro, só que, às vezes,
quando você comemora que achou mais um baú e vai abri-lo
na intenção de encontrar um tesouro, pula um sapo na sua
cara. Hoje em dia eu consigo ver valor até no sapo que pula na
minha cara e ainda sigo me deparando com eles. Mas quer
saber por que eu enxergo valor até nisso? Porque a descoberta
vale muito mais do que a ignorância. Só que a descoberta é
para os fortes, para aqueles que buscam, que vão de peito e
mente abertos, que se sentam para olhar no olho do medo e já
aprenderam a não mais recuar diante das ameaças. Encontre
valor no simples fato de não se deixar paralisar, encontre valor
na forma como tem ativado mais sua coragem. A intenção que
permeia suas ações determina o valor agregado que cada
movimento seu possibilita.
É um processo sem fim. Investigar-se sempre vai render
descobertas e, em vez de julgar o valor do tesouro pelo
conteúdo, apenas entenda que não é sobre ter ouro ou não
dentro do baú; é sobre ser capaz de mapear um novo território
para enfim poder trilhá-lo com maestria e sabedoria. Ao
alimentarmos a resistência e as expectativas, acabamos
transformando esse território em um campo minado, cheio de
ameaças e perigos. Ao alimentarmos o acolhimento e a
compreensão dos fatos, sem julgamentos, somos capazes de
extrair grandes riquezas dessas terras desconhecidas e
mesmo os destroços e os entulhos podem ser reparados,
consertados e transformados em relíquias. É assim que nos
reconectamos com a importância de identificar os pontos
cegos para que passem a ser pontos de melhoria.
Tendo a compreensão sobre acolher o que vier, precisamos
olhar também para o que acaba vindo do mundo externo, que
não está sob nosso controle, as surpresas da vida,
especialmente aquelas que não são agradáveis e geram dor,
raiva e inconformidade. Acolher a nós mesmos é o primeiro
movimento que precisamos fazer para exercitar essa
movimentação em nossa vida, fortalecendo essa capacidade.
Lembra-se de que não somos capazes de oferecer o que não
faz parte do nosso repertório interior? Gerando acolhimento
por você, pelo seu momento, com novas possibilidades e
resultados, você será mais acolhedor com as pessoas e o
mundo que o cerca. Saber se tornar alguém mais acolhedor
não significa jogar a general pelo penhasco, muito menos
passar a mão na própria cabeça com conformismo, mas
significa, sim, com empatia e amor-próprio extrair, por meio de
uma visão positiva, aquilo que está na sua alçada hoje e o que
pode melhorar a partir daí.
Conviver com a general exigiu de mim bastante manobra
mental e emocional, e minha intenção era fazer isso de
maneira não violenta e levemente acolhedora, já que ninguém
sai abraçando o inimigo do dia para a noite. É como ingressar
em um novo ambiente de trabalho e se deparar com alguém
no seu setor que é tudo com o que você não gostaria de
conviver, mas precisa aguentar de alguma forma. Exige
adaptação, paciência, alinhamento, fortalecimento do self
como um todo (veremos mais sobre os alicerces do self no
capítulo 10). Estar bem consigo mesmo faz com que você
esteja minimamente bem para lidar com o que se passa à sua
volta, minimizando reatividade, impulsividade, rigidez e atritos.
Percebo muito isso na maternidade. Sendo mãe de dois,
confesso que me deparei com lados de mim mesma que ainda
não havia conhecido e não foi nada agradável. Não estar bem
favorece que aquela portinha de segurança que guarda os
nossos monstros interiores seja irrompida bruscamente.
Nessas horas, parece que não dá nem tempo de pensar, e
quando vemos o estrago está feito.
Passar uma vida toda sendo reconhecida e elogiada como
uma pessoa calma, centrada, paciente e concordar com isso
tornou um choque vivenciar momentos em que uma coisinha
de nada parecia uma tempestade dentro de mim. Dias em que
o cansaço, a falta de sono, de silêncio, de espaço ou de
individualidade acabaram pesando e me levaram a perder a
cabeça e a paciência por pequenos detalhes, os quais nem
eram necessariamente um problema. Tudo isso diante de um
ser indefeso, como um bebê, uma criança, sendo eu o
exemplo de autorregulação de que eles precisam,
descontrolada e à flor da pele. Momentos como esses
aconteceram, seguem acontecendo e sei que acontecerão.
Não vamos, novamente, errar os nossos objetivos. Enquanto
mãe, já não desejo nem espero dar conta de tudo, ser
impecável, 100% centrada e plena. Eventualmente estarei,
sim, à flor da pele, mas esses deslizes já não acontecem mais
da mesma forma. Vamos nos tornando capazes de prever
quando a onda de raiva e de frustração começa a surgir, vamos
criando ainda mais sensibilidade sobre as nossas necessidades
mais íntimas, deixando as pessoas à nossa volta saberem o
que está se passando aqui dentro, já que elas não adivinham.
Se sinto que estou em meus 50% de disponibilidade e energia
emocional, meu time de trabalho e meu parceiro vão saber.
Meus filhos também vão saber. Não mais por meio de
reatividade, impaciência e picos de estresse, mas por meio das
minhas palavras antes mesmo que qualquer um desses
cenários aconteça. E quer saber? Só o fato de fazer esse
esvaziamento mental e emocional, de falar sobre o que se
sente e desabafar com transparência, já evita que muito
estrago seja feito. Guardar, lutar contra e criar resistência só
retroalimenta o estado interno indesejado, intensificando sua
força e potência.

Como posso lidar com tudo daqui para a


frente?
O que aprendo com isso?

Essas são as minhas perguntas de poder que carrego dia e


noite, que me ajudam a gerar centramento, respiro e reflexão.
Com as crianças, quando as minhas palavras, atitudes e
reações acabam sendo desalinhadas ao que gostaria, respiro
fundo, dou o meu tempo de digerir essa carga emocional e me
reporto aos meus filhos, pedindo desculpas pelo acontecido,
dizendo que, enquanto mãe, estou aprendendo todos os dias e
que juntos vamos aprender muito ainda. Pergunto como eles
estão se sentindo, explico como estou me sentindo também.

Não podemos controlar a


intensidade da ventania que
se passa em nosso mundo
exterior, mas podemos
controlar o quanto vamos
permitir que ela impacte o
nosso mundo interior.
Assim, a general foi se tornando cada vez menos presente,
cada vez menos dura, imperativa e autoritária. Interessante
pensar que mesmo uma voz interior – que mais parecia um
monstro interior – possa ser domesticada. Primeiro parei de
lutar contra, criei filtros para toda a dureza que vinha impressa
em cada bronca, para que aquilo não se tornasse uma verdade.
Entra por um ouvido e sai pelo outro? Não precisa ser bem
assim. Criei coragem para investigar de onde vinha esse tom,
de onde vinham esses julgamentos e o que isso tudo queria
me dizer. A tal da intenção positiva. E sabe qual era? Depois de
muito investigar, percebi que essa parte de mim queria me
proteger do erro, das falhas, de passar vergonha ou “fazer feio”.
Só que me proteger de tudo isso não me ensina a lidar com
nada disso. Você vai precisar errar, falhar, passar vergonha e
“fazer feio” para aprender, para evoluir, para encontrar o seu
lugar de acolhimento até mesmo quando algo dá errado.
Erramos o objetivo querendo acertar sempre, querendo ser o
melhor possível e não nos preparamos minimamente para
quando erramos ou somos quem não queremos ser. Evoluir
depende do melhor que você tira de cada deslize.
São tantos aprendizados que, somados, exprimem a nossa
evolução do ponto inicial até os dias atuais, porém eles
acontecem somente para quem se permite enxergar valor.
Quando você sabe o que se exigir, sabe o que tem para dar,
ajusta as suas expectativas e objetivos, consegue ver muito
mais valor em ser quem você é e em quem está se tornando
com melhoria constante, além de reconhecimento. Assim
vamos saindo da autocrítica excessiva para o lugar do
autorrespeito, e isso acontece a partir de doses constantes de
acolhimento.
9 Os outros quatro são sinceridade, honestidade, mover-se e ausência de luxúria.
capítulo 9
MAPA DE ACOLHIMENTO:
DIANTE DA DOR, DA RUPTURA E
DA PERDA

Aprofundando mais sobre o processo emocional, diante da dor,


de uma perda, de um luto, existem estágios que fazem parte
do processo de cura, portanto eu afirmo que não existe nada
de errado em sentir raiva. O que, nesse contexto, seria
ineficiente é, mais uma vez, o desejo de eliminar uma emoção,
rejeitando-a, criando resistências e conflitos. Observe a seguir
os estágios naturais para curar uma ferida emocional e entenda
que não precisamos e não devemos pular etapas. Isso faz
parte da nossa maturidade emocional também, é parte dos
nossos aprendizados sobre a validação da sua versão atual.
Afinal, rejeitar o que você sente é uma forma de bloquear o
acolhimento necessário que permite a sua própria cura, bem
como a sua capacidade de autovalidação, pilar importantíssimo
do autodesenvolvimento proposto neste livro.
Estudiosos do luto identificaram algumas etapas que muitos
de nós podemos experienciar nesse processo. Essas fases
foram inicialmente propostas pela psiquiatra suíça Elisabeth
Kübler-Ross em Sobre a morte e o morrer10 e acabaram
mexendo muito comigo, pois me ajudaram a entender por que
um momento de perda é regido por um tempo que não
consigo controlar. Meu primeiro contato com essa ideia foi em
uma palestra da Mirian Pereira, psicóloga que mencionei mais
cedo aqui no livro e que participou de um evento de
autodesenvolvimento que faz parte do meu calendário anual e
reúne centenas de pessoas presencialmente. Essas fases me
fizeram voltar no tempo, revisitando os momentos de dor,
quando pude sentir um entendimento que ainda não havia
experienciado. Aquela compreensão foi como uma lâmpada
que se iluminou para mim, ou seja, aquela sensação que
remete ao momento em que alguém ou algum conceito é
capaz de explicar o que você ainda não conseguiu por conta
própria. Se observar atentamente, você perceberá que os
pontos se conectam não apenas com situações de morte mas
também com momentos de tristeza, de frustração profunda,
de ruptura e outras situações de perda, como perda de
emprego, de casa, até mesmo de uma amizade.
A seguir, apresento a você as etapas do luto e as suas rotas
de cura. Lembre-se de que o objetivo não é não sentir, mas
lidar melhor com cada uma delas.

NEGAÇÃO
Essa é a fase inicial, em que existe uma dificuldade de
aceitação sobre a realidade, seja da perda, do choque vivido ou
da frustração sentida. Pode haver uma sensação de choque e
entorpecimento emocional, com pensamentos como “isso não
pode estar acontecendo” ou “deve haver algum engano”. É
aquela sensação de perder o chão, de estar desnorteado, de
estar em queda livre.
ROTA DE CURA
Respire, respire, respire. Respirar nos ajuda, imensa e
gradualmente, a retomar um estado de consciência e
presença. Pesquisas científicas recentes mostram que,
enquanto a respiração rápida, superficial e sem foco pode
contribuir para uma série de problemas, incluindo ansiedade,
depressão e pressão alta, desenvolver um controle maior
sobre os nossos pulmões pode trazer muitos benefícios para a
nossa saúde física e mental.11
BENEFÍCIOS DA RESPIRAÇÃO CONSCIENTE

Reduz a ansiedade: a maneira como você respira parece


enviar uma mensagem ao cérebro de que está tudo
bem.12 Ou seja, quando você torna as suas respirações
lentas e constantes, todo o seu corpo e mente reagem da
mesma forma.
Reduz o estresse: outro benefício é a redução do
estresse. Isso acontece porque a maneira como você
respira pode retardar a frequência cardíaca e a digestão e
promover sentimentos de calma, que controla a liberação
de hormônios do estresse como o cortisol.13
Reduz os sintomas depressivos: outro estudo, este da
Universidade de Boston, concluiu que o exercício de ioga
diário e a respiração coerente podem reduzir os sintomas
depressivos significativamente. Pacientes que foram
submetidos a esses exercícios por doze semanas tiveram
os seus níveis de ácido gama-aminobutírico, produto
químico cerebral com efeitos calmantes e anti-ansiedade,
elevados.14
TÉCNICA DE RESPIRAÇÃO CONSCIENTE
Eu levo os exercícios respiratórios muito a sério e cuido disso
em meus rituais de sustentação – que vamos ver mais para a
frente e mapear os seus também – e nos cursos que ministro,
palestras e imersões empresariais. Desde que me aprofundei
nas práticas de pranayama,15 durante as minhas práticas e
formação em ioga, me sinto enriquecida em poder criar
mudanças importantes em estado interno, no meu sentir, a
partir de técnicas de respiração. Basicamente você usa esse
ato tão poderoso para se recompor, sendo que, na maior parte
do tempo, respiramos apenas no modo automático.
Essa é uma técnica simples, poderosa, recomendada por
médicos, terapeutas e psicólogos, chamada respiração
quadrada. Ela é feita com presença e o uso otimizado do
corpo, tirando o foco da respiração superficial ou torácica.
Vamos usar o diafragma e a região abdominal também, para
alcançar o potencial da prática. O objetivo é respirar a uma taxa
de seis respirações por minuto, porém permita-se ir
praticando, conforme seu possível, combinado?
1. Sente-se com as costas eretas ou deite-se, coloque as
mãos sobre a barriga.
2. Respire devagar, aumentando a barriga, contando até
quatro.
3. Dê uma pausa.
4. Lentamente exale contando até quatro novamente.
5. Pratique nesse padrão por dez a vinte minutos por dia ou o
tempo que for possível – todo empenho é válido!
Estudos vêm concluindo que uma determinada frequência
respiratória de cerca de seis expirações por minuto pode ser
especialmente restauradora, desencadeando uma “resposta
de relaxamento” no corpo e no cérebro, benefícios extremante
bem-vindos no dia a dia, não só nos momentos desafiadores,
não é mesmo?16
Vá treinando respirar com o diafragma em vez de
movimentar o peito para encher os pulmões com mais ar. Você
pode intencionar expandir mais as costelas ao respirar, por
exemplo. Outro objetivo aqui seria diminuir conscientemente o
ritmo da respiração em repouso. Caso você tenha um
smartwatch, perceba qual é a média de respirações por
minuto. No modo automático, geralmente respiramos catorze
a quinze vezes por minuto, então procure reduzir essa média,
ok? Respirações lentas e profundas desencadeiam respostas
fisiológicas em cascata que aceleram a sua jornada a um
estado de foco, centramento e relaxamento mais completo em
comparação com exercícios mindfulness mais passivos.
Caso você enfrente desafios como sono ou insônia, esse
mesmo exercício pode ser adaptado para estimular o seu
sistema parassimpático, uma das duas divisões do sistema
nervoso autônomo, responsável pelas funções de recuperação,
repouso, relaxamento, após períodos de atividade ou estresse.
Ele é o contraponto do sistema simpático, responsável pela
“resposta de luta ou fuga”. Enquanto o sistema simpático
prepara o corpo para enfrentar situações estressantes, o
sistema parassimpático contrabalança esse efeito e ajuda a
restaurar o corpo a um estado de recuperação e repouso.
Para obter um estado de mais relaxamento, basta prolongar
a exalação, ou seja, a saída do ar. Você pode manter a
inspiração com o ar entrando em quatro tempos e, ao exalar,
faça-o em seis tempos. Lembrando-se de manter um mínimo
estado de conforto, a ideia é que os exercícios ampliem seu
bem-estar, e não o oposto. Por isso gosto de falar em
“tempos” de exalar e inspirar, e não em segundos. Assim você
encontra e respeita o seu próprio tempo e, com a prática, vai
sentindo até uma melhora nessa capacidade pulmonar,
prolongando a entrada e a saída do ar.

RAIVA
Após a negação, a pessoa pode sentir uma onda de raiva e
ressentimento em relação ao acontecido. Essa raiva pode ser
direcionada para a perda em si, para outras pessoas envolvidas
ou até mesmo para si mesma. Diante de todos os relatos de
alunas, seguidoras e, inclusive, os meus próprios relatos em
sessão de terapia, é possível perceber o quanto a raiva figura
entre as emoções indesejadas mais desconfortáveis. Ninguém
gosta de sentir raiva, pois ela faz com que a gente pulse ondas
de fúria que parecem mais fortes do que a nossa capacidade
de autorregulação e autocontrole. A raiva nos leva a ultrapassar
limites e revelar novos vieses sobre nós, capazes de
desconcertar e estremecer.
Confundir o que se sente é mais comum do que você
imagina. Nos meus principais momentos de confusão, de crise
existencial, eu mal sabia descrever o que se passava dentro de
mim mesma. Não se culpe, não se cobre, mas entenda a
importância de aprimorar a sua capacidade de observar as
tempestades e os vendavais do sentir. Ao passar por
descargas emocionais intensas, dê uma chance para ampliar a
sua percepção sobre as sensações que surgem: o que você
sente, onde você sente, de que maneira, tem peso,
temperatura, a sua emoção tem uma forma ou cor? Ir se
familiarizando com os seus processos emocionais é favorável
para que você se familiarize também com o que vai ajudar a
estabilizar o seu estado interno.

Você consegue saber e descrever o que está


sentindo?
Você se sente capaz de nomear as suas
emoções?

ROTA DE CURA
A raiva é uma emoção carregada de energia, então aprender a
direcionar essa energia por meio do esporte, com explosão
física (luta, atividades de impacto), ou gritar, socar o
travesseiro, é essencial. Canalizar a raiva é um dos processos
de maturidade emocional que eu considero mais importante.
Caso contrário, acabamos nos ferindo e ferindo quem
amamos. Lembrando que deixar de digerir emoções pode levar
à somatização e ao adoecimento, inclusive físico.
Saber nomear as emoções é um processo valiosíssimo que
nos permite, ao compreender o que estamos sentindo,
direcionar melhor as nossas ações para a gestão emocional
acontecer. Geralmente o nosso repertório para falar de
emoções é muito limitado e não é algo que somos ensinados,
além de já se encontrar inserido em nossa bagagem. Confesso
que foi depois de ter meus filhos que passei a compreender a
importância de ampliar o nosso vocabulário emocional. Para
ajudar nessa missão, gostaria de apresentar a você a roda das
emoções.
Ela é um modelo psicológico que busca representar as
diversas nuances das emoções humanas em forma de círculo.
Ela foi inicialmente criada por Robert Plutchik, renomado
psicólogo e pesquisador emocional, em 1980. A concepção
original de Plutchik dividiu as emoções em oito emoções
básicas: alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa, antecipação,
aversão e confiança. Ele acreditava que as emoções podiam
ser combinadas e misturadas, assim como as cores primárias,
gerando emoções secundárias.

Saber nomear as emoções é


um processo valiosíssimo que
nos permite, ao compreender
o que estamos sentindo,
direcionar melhor as nossas
ações para a gestão
emocional acontecer.
Posteriormente, Gloria Willcox, também psicóloga, expandiu
essa ideia ao introduzir variações na roda das emoções. Sua
contribuição resultou em um modelo mais complexo e
abrangente, capaz de capturar uma gama mais ampla de
experiências emocionais humanas. Gloria acrescentou nuances
às emoções básicas de Plutchik, reconhecendo que as
emoções não eram estáticas e lineares, mas, sim, complexas
e multifacetadas. Sua ampliação da roda das emoções permitiu
a inclusão de emoções intermediárias, abrindo espaço para
explorar estados emocionais mais sutis.
Com a contribuição de Willcox, a roda das emoções se
tornou uma ferramenta ainda mais poderosa para psicólogos,
terapeutas e estudiosos das emoções. Ela oferece uma
representação visual das complexidades da experiência
humana, ajudando a compreender como as emoções se
entrelaçam e evoluem, permitindo uma exploração mais
profunda das emoções, ajudando a reconhecer que os
sentimentos não são estáticos, mas fluidos, e muitas vezes
são influenciados por uma variedade de fatores. Foi justamente
a versão ampliada de Gloria Willcox que conheci ao estudar
Psicologia Positiva e, na minha percepção, ela é capaz de trazer
mais clareza do que uma simples nuvem de sentimentos. Ao
observarmos as derivações de uma emoção-raiz,
conseguimos, inclusive, entender melhor as nossas rotas de
descompressão, as nossas maneiras de lidar e criar gestão
emocional.
Consegue perceber todas essas nuances? Observe como
uma emoção básica pode se desdobrar de diversas maneiras,
dependendo do seu estado interno atual, da forma como você
está ou não em dia consigo mesmo e da sua capacidade de
geri-la. Assim como podemos treinar para fortalecer os nossos
músculos, fortalecer a nossa cognição e fazer gestão
emocional também requer treino constante e é possível.
Inclusive, a gestão emocional aliada a rotinas de autocuidado
nos permite evitar que aquela gota inofensiva seja o que
transbordará o copo d’água.
Vamos avançar em direção às outras etapas da regeneração
emocional?

BARGANHA
É nesse momento em que divagamos para um lugar de
conflito em que a raiva já passou, mas ainda existe a
inconformidade pelo ocorrido. Sabe quando algo dá errado para
nós e nossa mente vai criando cenários paralelos, como se
escolhas diferentes pudessem ter impedido que aquele fato
acontecesse? Entram em cena os acordos imaginários para
reverter a perda, pensamentos que trazem hipóteses como
“se ao menos eu tivesse feito isso…” ou “se pudesse voltar
no tempo…” ou “eu daria qualquer coisa para tê-lo(a) de
volta…”. É como seguir lutando contra a realidade, como
buscar anestesiar a dor com um plano B sobre o passado. Para
cada indivíduo, as etapas de regeneração emocional se darão
de maneira particular, pode ser que uma das fases dure mais
para alguém, pode ser que todas elas sejam mais longas do
que se gostaria, pode ser que nem se experiencie
profundamente alguma delas.

ROTA DE CURA
Negociar com o passado não nos trará a possibilidade de
mudar a nossa realidade. Negociar com o futuro talvez
aumente consideravelmente a ansiedade. Tudo o que temos ao
nosso alcance é o presente. O momento presente e nossa
capacidade de recomeçar de onde estivermos. Nossa rota de
fuga aqui é uma reflexão diante de algo que me aconteceu e
me serviu de lição para direcionar a minha energia do
questionamento e da resistência, que alimentam o estado de
barganha e só nos aprisionam ao que já não volta mais.
Para nos libertarmos e darmos os passos para outras etapas
desse processo emocional, viver a barganha como uma etapa,
e não como um fim, pode fazer toda a diferença. Os
pensamentos virão, as indagações virão, e a tendência é criar
um cenário em que tudo seria diferente. É ilusão. Sabendo
disso você não precisa lutar contra. Deixe os pensamentos
virem, deixe os pensamentos livres para ir também, sem se
apegar a eles. Esse é um dos preceitos da meditação. A
compreensão de que não vamos nos livrar dos pensamentos,
mas podemos deixá-los livres, sem pegar carona, sem criar
apego ou identificação.
Enquanto escrevo estas palavras, venta muito forte lá fora.
Estou no escuro da sala de casa, com uma vela acesa de
lavanda e alecrim. Uma playlist de música clássica toca bem
baixinho e, subitamente, ao refletir sobre a fase da barganha
quase me teletransportei de volta para o centro cirúrgico, em
dezembro de 2017, na minha primeira gestação, primeiro parto,
emergencial. Quero contar a você esse episódio da minha vida
para ilustrar como pode ser essa fase da barganha.

Passei uma gestação dedicada a leitura, ioga e meditação.


Estava recém-chegada da Índia quando engravidei,
inclusive antes de viajar havia intuído que, em meu
retorno, eu engravidaria e, de fato, foi exatamente dessa
maneira que tudo aconteceu. Nos primeiros dias em que
havia voltado para casa, Anne Liv, minha primogênita, foi
concebida. Diferentemente da minha própria história, de
quando fui gerada, minha filha foi planejada, desejada e,
desde o primeiro momento, foi muito bem-vinda e amada.
Como era especial poder proporcionar a ela essa chegada
ao mundo assim, amada e desejada. Fiz o meu melhor
para estudar, me preparar, vi todos os documentários
sobre parto humanizado, todos os conteúdos que pude
sobre parto normal, vaginal, na água. Criei uma ideia fixa
de que a vinda da minha filha seria o mais gentil possível,
o mais natural possível. Sonhei e sonhei e sonhei com
esse momento. Como seria sentir as primeiras contrações?
Como seria ver o meu corpo parindo um bebê e conhecer
essa força magnífica que habita em uma mulher?
Toda essa busca e esse acúmulo de novas informações
geraram bastante conhecimento e, também, bastante
ansiedade. Só que eu não soube nomear exatamente o
que sentia, não me permiti falar sobre os meus medos e
inseguranças. Acreditava que só o fato de ler e buscar
seria o suficiente para amenizar o que se passava dentro
de mim. Não externalizei nem metade do que passei, levei
alguns sustos no meio da gravidez, tive um sangramento
de início, precisei ficar de repouso por um tempo. Depois
tive uma urticária severa e crises de bronquite alérgica.
Pensava ser a imunidade que, nas gestantes, pode ficar
comprometida. Imagino que a essa altura do campeonato
você já seja até capaz de nomear o que eu não soube
naquela época. Todos os sinais do meu corpo, inclusive
insônia, algo novo para mim na época, eram um alarme
tocando baixinho. Mas eu precisava ser grata, estar com
um sorriso no rosto, afinal tive a benção de engravidar
com tamanha facilidade, tive um companheiro ao meu
lado, me apoiando, me cuidando, família e rede de apoio.
Não deveria me queixar, reclamar, seja grata, seja grata. Eu
me forcei a ser a minha melhor versão gestante possível,
do dia para a noite.
Ao me aproximar da data prevista, eu já havia
engordado mais de vinte quilos, estava bem inchada,
cansada, sentia dores na lombar. Talvez se eu tivesse
equalizado a ansiedade dentro de mim teria sido diferente.
Quem sabe fazendo terapia, criando um diário ou me
abrindo com as pessoas mais próximas, eu teria aliviado a
angústia que era sentir medo e insegurança calada.
Provavelmente gerenciando melhor as minhas emoções,
não teria descontado tanto na comida. Seguindo o
caminho do “seja grata”, segui mesmo, até o fim, porém
guardando toda essa barganha dentro de mim. Percebeu
que ali eu já estava tentando negociar uma realidade
diferente com hipóteses sobre escolhas que não voltam
mais? Para você ver que essas etapas que falam sobre o
luto se aplicam a outros desafios mais brandos também.
(Se bem que não seria justo nem coerente qualificar ou
quantificar a intensidade de um desafio, afinal, só quem
passa por ele sabe o que e quanto sente.) Eu escolhi,
naquela situação, sentir os meus desafios em silêncio.
Estava havia apenas um dia de completar as quarenta
semanas, ou seja, gestação completa. Lembro-me de estar
feliz e animada, com a mala da maternidade pronta desde
a semana 36. Tomei um banho quente bem agradável,
vesti uma camisola branca linda, passei os meus óleos na
barriga (que barrigão!). Meu corpo estava tão diferente, o
que era mágico – e um pouco assustador também. Para
quem deseja um parto natural, existem alguns caminhos
também naturais que podem ajudar nessa reta final, como
caminhada, posição de cócoras e relação sexual. Confesso
que usei todos os meus recursos, apesar de tudo o que já
era familiar parecer um tanto novo quando se carrega um
bebê na barriga. E, nessa noite, até sugeri ao meu marido
um momento para nós dois ficarmos aninhados,
namorando um pouco, pois quem sabe assim seria uma
forma de favorecer o trabalho de parto. Mas, como nós
dois já estávamos cansados, acabamos optando por
investir em uma boa noite de sono, já que não se sabia
como seria dali para a frente, com a chegada da bebê.
Dormi e não me recordo se sonhei, se me virei muito ou
não. Acordei às 3h50 da manhã, curioso horário em que eu
acordava constantemente e, dali para a frente, vinha a
insônia. Ventava lá fora, era quase verão, o tempo estava
quente e úmido. Mais uma madrugada desperta, apertada
para fazer xixi, e com uma pressão forte no baixo ventre –
devia ser a minha bexiga cheia. Fui me movendo como
conseguia para descer da cama, a luz do quarto apagada.
Ao encostar os meus pés no chão, ouvi um barulho como
o de algo estourando e senti uma água quentinha
descendo pelas minhas pernas, chegando rapidamente aos
meus pés. Gritei tão feliz, mas tão feliz: “A bolsa estourou,
amor, a bolsa estourou, chegou a hora!”. Nunca havia
sentido aquilo, era o grande momento começando que
levaria ao nascimento da minha pequena fada bebê, como
eu a chamava, já que passamos os dez meses de gestação
sem decidir seu nome. Era uma sensação de euforia
misturada com ansiedade, alegria, gratidão, medo e
curiosidade, tudo junto. Meu marido acendeu a luz e pulou
da cama para vibrar junto comigo, mas, ao olhar para o
chão, percebi que havia alguma coisa errada. Era água,
bastante água, o líquido amniótico estava ali de fato. Mas
por que raios tinha tanto sangue junto? Por que as minhas
pernas estavam ensanguentadas? Meu Deus, o que está
acontecendo?
Ligamos para a doula para avisar que eu estava
entrando em trabalho de parto e para entender se aquele
sangue todo era normal. Minha ideia era passar boa parte
do trabalho de parto em casa e ir para o hospital quando já
estivesse em estágio evoluído. A doula não atendeu e,
prontamente, ligamos para o dr. Bruno Zaher, meu
obstetra, que conheci em um exame emergencial,
sincronamente, quando tive um sangramento. Ele era o
único médico com horário disponível na clínica de
medicina fetal e teve uma abordagem extremamente
humana e acolhedora comigo, o que me marcou bastante.
Ao encerrar o exame, ele me deu um cartão com seus
contatos e disse: “Se houver qualquer intercorrência, pode
me ligar. Meu telefone dorme embaixo do travesseiro”.
Guardei o cartão dele e, quando tive as crises de bronquite
e urticária, tudo junto, foi a ele que recorri, pois não tinha o
contato do meu então obstetra e era fim de semana. Dessa
maneira, fui sentindo uma confiança imensa no
profissional que ele era e na forma como me ajudou e,
mais uma vez, sincronicamente apareceu na minha vida.
Com trinta semanas de gestação, tomei a decisão de
mudar de médico, apesar de ter muito carinho e respeito
pelo meu antigo obstetra, um grande profissional,
responsável por me colocar no mundo, inclusive. Não foi
uma decisão fácil, mas sentia no meu coração que havia
chegado a hora de fazer uma escolha, até pensando no
perfil de práticas obstétricas que cada um possuía. Dr.
Bruno seguia a linha humanizada que eu buscava e,
realmente, dormia com o telefone embaixo do travesseiro!
Às 3h55, meu marido, o Crica, ligou para o dr. Bruno, que
atendeu a ligação depois de apenas um toque. Ao saber do
sangue junto com o líquido amniótico, ele pediu uma foto
e, assim que viu, nos orientou a ir imediatamente para o
hospital. O Crica disse a ele que eu tomaria um banho e
me trocaria antes, mas a resposta foi: “Vocês precisam sair
agora mesmo”.
Os gritos de alegria se transformaram em um silêncio
ensurdecedor. Era como se tudo tivesse ficado em câmera
lenta, as palavras ecoando na minha mente, o Crica
desesperado chamando um táxi. Eu não sabia qual roupa
vestir, e o Crica me jogou uma calça velha de moletom e
uma camiseta dele. Enfiei a roupa de qualquer jeito, calcei
um par de chinelos, peguei uma toalha para me enrolar.
Parecia uma eternidade até o táxi chegar, quase batemos
na porta de um vizinho para pedir socorro. O carro chegou,
fui andando e, a cada passo, me perguntando o que estava
acontecendo. Não parecia estar tudo bem ter que correr
para o hospital. Sentei-me no carro e, quando parei para
observar e sentir os movimentos da bebê, respirei fundo,
esperei. Nada. Não sentia nenhum movimento. Desespero.
Era a única coisa que eu sentia.
O que eu posso fazer aqui e agora? Como posso me
ajudar? Respira, respira fundo, conversa com a bebê.
“Filha, mamãe tá pronta, tô aqui por você, nós vamos nos
ver muito em breve, vai ser lindo nosso encontro, cada vez
que eu respirar fundo, eu estou mandando vida para você,
tá bom?” Era tudo o que podia pensar, que ia ficar tudo
bem, mas o medo me engolia, e comecei a sentir muito
frio e a tremer. Reiki. É isso. Fiz as minhas ativações e fui
mandando reiki para a barriga e para a bebê em todo o
trajeto. Orei, pedi a Deus e aos meus guardiões, à
espiritualidade, que nos protegessem e amparassem. Ia
ficar tudo bem.
“Aqui e agora está tudo bem e assim permanecerá.” Esse
é um dos meus mantras de vida e repeti incansavelmente
até chegarmos ao hospital. Quando o motorista estacionou
na emergência, havia uma cadeira de rodas me esperando.
Crica foi dar entrada nas papeladas, não me lembro muito
bem, mas passei por um caminho longo e escuro até
chegar na sala que antecedia o centro cirúrgico. Lá estava
o dr. Bruno, com um semblante pacífico, como sempre, e,
só de olhar para ele, já me senti mais segura. Ele me
examinou, não havia dilatação. Cardiotocografia para
verificar os batimentos da bebê. Não era, de fato, o cenário
mais favorável. Os batimentos estavam fracos. Nesse
momento, olhei para os olhos castanhos e sinceros do dr.
Bruno, aqueles mesmos olhos que me acolheram quando
eu cheguei assustada pela primeira vez para investigar um
sangramento. Só que eu estava mais apavorada do que
nunca e entendi que precisaríamos ir para uma cesárea de
emergência e, em linhas gerais, entendi que estava
passando por um descolamento de placenta e que minha
filha, diante do meu cenário e nossas condições, precisava
nascer em menos de sessenta minutos do momento da
ruptura da bolsa. Agora, sim, eu havia entendido o caráter
da urgência. Pela foto, meu médico imaginou e pelo
exame clínico ele confirmou.
A partir daí as etapas são confusas em minha memória:
tira a roupa, limpa o corpo, prepara a barriga, tira anéis,
brincos, piercings, roupão descartável, cadeira de rodas.
Chegou o anestesista. Medo da anestesia. Minha filha não
está se mexendo. Doutor, por favor, não amarre os meus
braços. Me diz que vai ficar tudo bem. Visão turva. Uma
pediatra plantonista chegou. Fez perguntas, não me
lembro de nada. Comecei a tremer descontroladamente.
Frio, muito frio. Respira, respira. Pedi ajuda para Deus,
para o meu pai, para os meus ancestrais. Não queria
pensar porque os meus pensamentos me levavam para
lugares horríveis. Aqui e agora, tá tudo bem e assim
permanecerá. Começou a cirurgia, que sensação estranha,
meu corpo balançando, medo, frio. Dr. Bruno me olhava de
tempos em tempos, pedia instrumentos para a equipe,
suava. Nunca vi ele suando. Será que tá tudo bem mesmo?
O anestesista ficou o tempo todo segurando a minha
cabeça, fazendo carinho no meu cabelo e me olhando
fundo nos olhos. Seus olhos eram azuis, meio
esverdeados, parecia um anjo ali comigo. Gesticulei
apenas com os lábios e com a pouca força que tinha: estou
com medo. Minha voz nem saiu. Ele fez uma expressão
como quem diz que ia ficar tudo bem, que estava ali
comigo. E a cirurgia seguia, parecia uma eternidade. Quero
ouvir um choro, pelo amor de Deus, quero ver a minha
filha. Desespero. Respira. Respira. Reiki. Oração. E em um
movimento mais intenso, em meio a uma pressão, vejo
um bebezinho nas mãos do obstetra. Enfim, depois de
alguns segundos, era tudo de que eu precisava: ouvir um
choro. Um choro! Graças a Deus! E chorei junto, me
lembro exatamente de cada detalhe desse primeiro
encontro, da primeira vez que nos olhamos. Eu e minha
filha. Seus olhos azuis, seu cabelinho ruivo, um choro
caprichado com uma careta que me lembrava a minha avó
materna. Posso pegar no colo? A golden hour tão sonhada,
ter a minha bebê no primeiro contato pele a pele. Não foi
possível. Diante do nosso quadro, ela precisou ser levada
para uma série de exames e checagens. Eu gritei, nem sei
com qual força: “Amor, não sai do lado dela em nenhum
momento, fica com ela”, e Crica foi junto, embora, com a
nossa filha.
Quando, enfim, eu achava que a tempestade havia
passado, veio mais uma leva de trovoadas. Uma máquina
começou a apitar, parecia algo relacionado aos monitores
cardíacos. Dr. Bruno deu um comando para a equipe fazer
algo que não entendi. A máquina seguia apitando alto. O
anestesista permanecia ali comigo, era tudo o que
conseguia ver: seu rosto e um pouco da movimentação do
outro lado dos tecidos que estavam posicionados, como se
dividissem o meu corpo. Meu médico está suando, o que
está se passando? E os movimentos na minha barriga
seguiam, mas já tinha saído a bebê. Me lembro muito
pouco do que aconteceu depois, mas dr. Bruno me disse
que estava cuidando de algo que havia surgido depois que
a bebê e a placenta já haviam saído. Ele me olhava com
confiança e tranquilidade, apesar de perceber por outros
sinais que alguma coisa se passava ali e não estava sendo
um parto tão simples.
Devo ter dormido, pois acordei em uma sala de
recuperação. Parecia estar sozinha, alguém veio e falou
comigo, mas não faço ideia de quem nem do quê. Lembro
de fragmentos mesmo. Cadê a minha filha? Quero a minha
filha. Não recordo a resposta. Onde está a minha filha? O
que eu estava fazendo ali? Cochilei. Acordei um tempo
depois com os ruídos altos, exatamente os mesmos que
ouvi no centro cirúrgico. Era como um alarme tocando e,
rapidamente, entram profissionais na sala, colocam algum
medicamento no soro. Medo, medo, frio, tudo de novo.
Meu Deus, me diz que vai ficar tudo bem, me ampara, eu
quero viver, até ficar muito velhinha e prometo fazer a
minha parte, ser saudável, ser uma boa pessoa, ajudar as
pessoas. Meu Deus, me permite ver a minha filha, vê-la
crescer, por favor. Por favor. Por favor.
Não faço ideia de quanto tempo passou, se foram horas,
se foram dias: minha filha ainda não estava em meus
braços. Minha maca estava em movimento. Finalmente
estava sendo transferida ao meu quarto. Será que a minha
filha já estava lá, será que estava tudo bem? Voltei, mas ela
ainda não tinha voltado. Chorei de novo. O que está
acontecendo? Eu estava grogue e queria ficar lúcida para
pelo menos compreender o que se passava. Devo ter
dormido e, como se fosse um sonho, ela chegou. Minha
bebezinha, tão pequena, tão frágil e, ao mesmo tempo, tão
forte. Ela, enfim, veio para os meus braços. Vestida em
uma roupinha tão minúscula, seus cabelinhos meio ruivos
e seu rostinho redondo. Ela tinha um cheirinho tão
gostoso, cheirinho de neném que eu ainda não conhecia
desse jeito. Foi o melhor abraço de toda a minha vida. Foi
um encontro que renovou todas as camadas da minha
alma, pelo qual eu senti uma gratidão infinita. Obrigada,
meu Deus, o Senhor é bom o tempo todo. Obrigada por
cada anjo em meu caminho. Estamos aqui e agora, juntas.
Tudo está bem e assim permanecerá!
Sobrevivemos a um descolamento de placenta e eu a
dois picos de pré-eclâmpsia, um durante o parto e outro
após. Minha pressão chegou a números que jamais
imaginei, sendo que nunca tive pressão alta; pelo
contrário, minha pressão é baixa. Sou grata a cada ser
humano e profissional que nos salvou e nos ajudou. Eu
tive a benção de passar apenas algumas horas longe da
minha filha. Outras mães e outras famílias têm histórias
muito diferentes e não posso imaginar o tamanho desse
desafio. Só agradeço a chance de estar aqui ainda, com
uma filha forte e saudável. Mas levou um bom tempo para
que esses ponteiros se regulassem. Passei por etapas que
você está vendo aqui no livro, e, mesmo que não tenha
sido um luto, os grandes sustos da vida exigem muita
regeneração emocional e nem sempre sabemos como
fazer isso. Por isso, respeite o seu tempo de sentir, de
entender o sentir, de deixar fluir e de regenerar.
Enquanto ainda estava me entendendo com o sentir e
com aquela nova vida, sendo mãe, fiz todo o tipo de
questionamento e barganha que você possa imaginar: “Se
eu tivesse falado sobre os meus medos durante a
gestação, isso não teria acontecido”; “se eu tivesse
mantido um peso saudável, não teria nos colocado em
risco”; “se eu tivesse me preparado melhor para o pior
também, teria sabido lidar com essa situação”.

Por vezes, a barganha vai envolver pessoas à sua volta,


como se algo pudesse ter sido diferente se eles tivessem tido
outras atitudes ou agido de outras maneiras. Se não somos
capazes de criar essa consciência, sobre essa etapa do
processo, vamos transformando barganha em cobrança e
julgamento direcionados ao outro, como se ele fosse o grande
responsável por algo que nem estava sob seu controle.
Quando uma dor é muito grande dentro de nós, na tentativa de
aliviar, a despejamos nas pessoas mais próximas. Aqui em
casa mesmo, quando sinto frustração ao extremo, minha
primeira reação é tentar culpar alguém – já percebi e já sou
capaz de reconhecer isso. A jornada de mudança leva tempo,
mas não é preciso colocar uma data no calendário para mudar
um comportamento ou uma data limite para agir de tal
maneira, porque a mudança é gradual e depende dos seus
recursos e estado interno.
Você não precisa condenar a barganha, nem se condenar por
sentir essa etapa; enxergue-a como uma fase e faça o
gerenciamento das suas reflexões com a cautela de trazer a
mente de volta para o presente. Caso contrário, vamos
reafirmando mais ainda o passado como predominante, como
se aquela condição e os sentimentos que ela gera fossem
eternos e imutáveis. Paciência e acolhimento são bons aliados
para que você vá voltando a um mínimo conforto emocional.

DEPRESSÃO
A fase de depressão é caracterizada por uma profunda tristeza
e desesperança. Ainda que para cada indivíduo as sensações
decorrentes do quadro depressivo sejam bem particulares,
podemos considerar desânimo, apatia, falta de interesse e
abatimento como indícios desse processo. Um bom ponto de
observação sobre a depressão é que lugares, assuntos e
atividades que geralmente traziam bem-estar, interesse e
benefícios já não são mais atrativos ou convidativos; às vezes
sentimos até indiferença por eles.

O tempo, como um tecelão


silencioso, entrelaça as nossas
feridas com fios de
esperança, costurando a dor
à promessa de cura. E,
justamente nessas trilhas do
tempo, nossas lágrimas regam
as sementes da superação e
do crescimento emocional.
Esse movimento pode ser silencioso e ir se agravando dessa
mesma maneira, sem causar muitos estragos, porém
ganhando corpo e forma dentro de nós. Importante salientar
que tristeza, apatia e desânimo não são sentimentos e
emoções que determinam ou diagnosticam um quadro
depressivo, pois vamos sentir e vivenciar isso naturalmente ao
longo da vida. O que nos dá a pista de que a depressão está se
instalando ou realmente acontecendo é o fato de essas
emoções e sensações perdurarem mais do que três ou quatro
semanas, estendendo-se além desse período e
comprometendo a qualidade de vida, sono, apetite, humor e
relações interpessoais e profissionais. Costumo ser bastante
repetitiva sobre isso, pois a falta de informação pode piorar as
coisas aqui, já que temos a tendência a nos acostumar com os
desconfortos ou normalizar situações ao nos adaptarmos a
elas. O famoso “e tá tudo bem em não estar bem” também
pode ser um jargão perigoso, já que, nas entrelinhas, pode ser
interpretado como positividade tóxica ou conformismo
limitante.
ROTA DE CURA
Não há nada de anormal ou problemático em não estar bem, já
que vamos passar por altos e baixos inúmeras vezes na vida,
apesar de ser aquilo que menos desejamos. A questão é
aceitar não estar bem e não fazer nada a respeito disso,
tampouco para reverter o quadro. Um adendo aqui: pode ser
que, nesses casos, você não tenha nem forças para fazer algo
sobre o que esteja de fato em modo sobrevivência – entra aí a
importância de saber pedir ajuda e saber receber ajuda.
Um dos questionamentos que mais costumava receber
quando o assunto em pauta era terapia, atendimento
psicológico, era sobre o valor desse investimento e a falta de
condições atuais para arcar com as sessões ou a continuidade
dessas sessões de forma recorrente. O acesso a um
tratamento psicológico melhorou bastante, salientando aqui
que existem diferentes circunstâncias e realidades, mas, como
uma profissional nativa da internet, que fez a sua vida e a sua
carreira no meio digital, posso falar a respeito dos avanços
nesse meu nicho. Por questões de temporalidade e até de
credibilidade, não vou indicar iniciativas diretamente, mas
quero deixar você saber que elas existem, caso você ou
alguém à sua volta precise desse apoio ou atendimento.
Aplicativos de apoio psicológico: oferecem atendimento
profissional e consultas on-line a baixo custo ou gratuitas.
Algumas vezes, as primeiras consultas têm um valor de
investimento mais baixo, sendo reajustadas depois. Em
outros casos, o atendimento é 100% gratuito. Vale
pesquisar quais deles estão disponíveis atualmente.
Núcleos ou serviços de psicologia aplicada: algumas
universidades contam com núcleos de psicologia aplicada
em que são oferecidos atendimentos gratuitos à
comunidade e por meio da internet com consultas on-line.
Plataformas de saúde mental: oferecem acesso a
profissionais de saúde mental, incluindo psicólogos, por
meio de consultas on-line. Algumas dessas plataformas
costumam ter também uma seção chamada “Atendimento
Social”, que oferece atendimento com valores reduzidos
ou gratuitos para quem precisa.
Grupos de apoio e acolhimento: nas redes sociais é
possível encontrar grupos que reúnem voluntários que se
disponibilizam como uma escuta sensível e apoio
emocional a quem precisa. Não são necessariamente
profissionais da saúde, mas oferecem apoio emocional
gratuito para pessoas em situações de crise, desafios
emocionais ou risco de suicídio. Além dos grupos nas
redes sociais, que funcionam como uma rede de apoio,
existem iniciativas que atendem por meio de ligações e
chat.
Quando eu cito a importância de pedir ajuda, a meu ver,
existe uma equivalência com a importância de saber receber
ajuda. Mesmo que você não perceba, em contextos em que
não estamos bem, podemos inconscientemente levantar a
guarda e ativar a defensiva. E, nesse momento, alguém que
nos aborda tentando ajudar acaba incomodando. Nos
fechamos e evitamos expor o que se passa internamente.
Mais profundamente, pode até acontecer de querermos negar,
como vimos anteriormente.
Saiba que quem vai ajudar você vai ajudar da forma como
pode, da maneira como sabe e diante da disponibilidade que
possui. Além de recebermos ajuda, desejamos moldar essa
ajuda para a maneira como faríamos ou acreditamos que seja
melhor ou certa. Isso complica bastante o nosso cenário, pois
estamos literalmente fechando as portas para que essa ajuda
chegue até a nossa vida com eficiência e fluidez.

Você quer mudar? Quer se


sentir melhor?
Resistir jamais será um
caminho sensato.
Fortes são aqueles capazes
de reconhecer quando
precisam de ajuda.
Sábios são aqueles capazes
de aceitar essa ajuda.
Era começo de 2018 e Liliu – jeitinho que chamamos a
primogênita por aqui – estava aos prantos. Quando ela
estava com um ou dois meses de vida, nós, enquanto pais,
estávamos de cabelo em pé, nos entendendo com a
parentalidade, com a nova demanda, falta de sono – eu
com a amamentação e com um puerpério bem delicado. O
puerpério é o período do pós-parto em que uma mãe pode
se sentir emocionalmente frágil, principalmente por causa
das ondas hormonais – é uma reação química complexa,
um turbilhão de dentro para fora. Algumas mães não
sentem seu puerpério com pesar ou tristeza, outras se
veem em um lugar que beira a depressão ou, de fato,
passam pelo baby blues, que é a depressão pós-parto e
que demanda, idealmente, ajuda psicológica. Aqui foi
intenso, com choros diários, medo do fim do dia,
ansiedade quando chegava a noite, tensão pelo cansaço
latente e a falta de previsibilidade sobre o que aconteceria.
É a parte da maternidade que, na maioria das vezes, fica só
da porta para dentro e da qual pouco se fala.
Estava eu, provavelmente de sutiã de amamentação,
calçolas, cabelo amarrado e olheiras em mais um dia do
puerpério, quando precisei ir ao banheiro, ou seja, fazer
algo por mim. Nesse período, dentro do pouco que
conseguia fazer por mim mesma, qualquer ida ao banheiro
era um mix de alívio e preocupação. E vou explicar por
quê.
Em muitos momentos, ia ao banheiro e colocava a
minha filha no bebê conforto, aquela primeira cadeirinha
de carro. Levava-a junto comigo ao banheiro para
conseguir fazer o número dois com dignidade e
tranquilidade ou tomar banho com um pouco menos de
desespero e pressa. O que acontecia com frequência: lavar
o cabelo e não lembrar se passou xampu uma ou duas
vezes, errar a ordem e começar pelo condicionador. Que
fase! Naquele momento, Anne Liv precisava ser trocada e
provavelmente eu precisava ir ao banheiro. Pedi ajuda para
o meu marido, para que ele trocasse a fralda. Recordo que
era bem recente tudo isso, pois foi uma das primeiras
vezes que ele a trocaria. Feito, ele veio prontamente. O que
eu fiz? Em vez de ir fazer as minhas necessidades, fiquei
ali, de escanteio, analisando a forma como a fralda seria
trocada. Mais precisamente, a forma bem diferente da
minha como o meu marido o faria. Bastaram alguns
movimentos para eu me manifestar: “Você pode puxar
assim, olha. Passar a fralda na pele para já limpar um
pouco. Aí o lenço dá para dobrar e usar de novo. Não,
assim não”. Eis que, não de repente, recebi uma pergunta
que ficou ecoando na minha cabeça, como um replay em
câmera lenta, que repete e repete. E não era um gol sendo
reprisado; era uma falta, ou quem sabe um gol contra:
“Você quer ou não quer a minha ajuda?”, questionou Crica.
“Claro que eu quero”, respondi prontamente. “Não parece.
Deixe-me ajudar do meu jeito”, encerrou ele. Segui sem
palavras.
Tem vezes na vida que ouvir uma verdade já não gera
defensiva, nem irritação, gera um silêncio imenso. E que
bom. São silêncios como esse que demonstram que aquilo
precisava ser ouvido e, mais ainda, precisava ecoar e
reverberar para que fosse compreendido. Compreender vai
muito além de escutar. Compreender envolve ouvir. E
ouvir, por sua vez, tem bem mais profundidade.
Foi exatamente nessa ocasião que mudei todos os meus
discursos sobre rede de apoio, ajuda e suporte. Foi nesse
dia que percebi que, provavelmente, saber receber ajuda é
algo a ser desenvolvido mesmo, não vem de fábrica. É
uma competência a ser adquirida. Pelo menos para mim,
até hoje, está em fase de implementação. Receber ajuda
envolve uma dose estratégica de empatia pela forma como
o outro proverá, seu jeito de ajudar, o quanto de ajuda será
dada e de que maneira. Não é do nosso jeito, e insistir
nisso pode ser bem frustrante. Minhas seguidoras e alunas
sabem o quanto me inspiro em Brené Brown, que é uma
das minhas maiores referências sobre empatia,
vulnerabilidade e coragem. Se tiver oportunidade de ler
algum de seus livros, assistir aos seus programas e
palestras, tenho certeza de que as suas provocações
humanas e bem-humoradas servirão de contribuição para
que você amadureça sobre questões das quais costumava
fugir, especialmente sobre ser e se colocar vulnerável.
Isso se aplica à depressão e a todos os desafios perante
saúde emocional e mental. Entenda que pedir ajuda é um
ato de coragem e força. Saber pedir e receber ajuda é se
dar uma chance de mudar o que não está como deveria ou
como você gostaria, é um ato de amor-próprio, é não
desistir da pessoa mais importante da sua vida: você!

ACEITAÇÃO
Conforme ainda há a sensação de perda, de ruptura, e o
processo de luto continua, vem chegando o momento da
virada em que ocorre, ainda que sutilmente, o fagulhar da
aceitação. Aceitar a realidade da perda, do término, de um fim,
seja ele profissional ou afetivo, é necessário. E não significa
que a pessoa “superou” a dor. Ela apenas aprendeu a conviver
com a perda e a se adaptar à nova realidade.

ROTA DE CURA
Vamos mergulhar em um dos pilares mais poderosos da
jornada de autodescoberta e regeneração emocional: a
aceitação. Imagine, por um momento, um lugar dentro de você
em que o passado encontra o presente, em que as lágrimas se
encontram com os sorrisos, em que a dor se encontra com a
cura. Esse lugar é a aceitação, uma luz suave que ilumina cada
canto da sua experiência humana.
A aceitação é a arte de abraçar a vida com amor
incondicional, de acolher cada fragmento do seu ser,
independentemente das sombras ou das cores que ele
carrega. É um ato de compaixão, de permitir que todas as
emoções fluam, como rios que encontram o oceano da sua
essência.
Nos momentos de luto, perda, términos ou transições, é na
aceitação que encontramos o abrigo emocional necessário
para navegar pelas águas da mudança, em que a turbulência
vai se acalmando. Não é negar a dor ou a tristeza, mas, sim,
abraçá-las como partes legítimas do mosaico complexo que é
você.
Das cinco etapas que vimos até agora – a negação, a raiva, a
barganha, a depressão e a aceitação –, esta última etapa é a
chave que desbloqueia a porta para a cura e para a renovação.
É o momento em que você não apenas olha para trás com
saudade, ainda que existam resquícios de dor, mas também é
capaz de olhar para a frente com esperança. Não é um ato de
esquecer, ou renegar, mas, sim, de lembrar com amor e
aceitar a mudança inevitável.
Ao olhar para a sua jornada, vale lembrar que cada passo em
direção à aceitação é um presente que você se dá. Como uma
flor que desabrocha após a tempestade, a aceitação é o seu
caminho para uma nova versão de si mesmo, que não está
distante, muito menos é impossível de ser alcançada. Uma
versão de si que se fez pronta, que respeitou o próprio tempo
e se recompôs. Uma versão que não é definida pelas
circunstâncias externas, mas, sim, pela força interior que se
desenvolve ao abraçar cada aspecto do seu ser, da sua
complexidade e profundidade, com luz e sombra.
Neste momento, convido você a se permitir respirar fundo e
abraçar o momento presente. Sinta o alívio que a aceitação
traz, a sensação de que a calmaria sempre vem,
independentemente do que tenha acontecido ou do que está
por vir. Confie na sua capacidade de transcender desafios,
abraçando o que é, celebrando o que foi e acolhendo tudo isso,
juntamente com o acolhimento do que será.
Se você fizer uma retrospectiva agora, já que fomos nos
aprofundando em cada etapa do processo regenerativo do
nosso eu, procure identificar o quanto a aceitação é parte de
cada uma dessas fases, ainda que a sua manifestação se dê ao
fim dos cinco estágios. Para que a negação passe, é preciso
aceitar que ela é uma realidade temporária. A raiva não se
diluirá se contra ela insistirmos em lutar. Aceitar que ela virá,
será incômoda e também vai passar é libertador. A barganha
pode gerar reflexões importantes quando aceitamos que olhar
para o passado precisa de cuidado, caso contrário nos
aprisionaria e não geraria o movimento necessário para o
recomeço. Depressão pede acolhimento, pede atenção e
cuidado, pede a aceitação da condição para então
enxergarmos que algo precisa ser feito, abrindo espaço para
ajuda.
Para que haja aceitação, ela precisa estar inserida e bem
abastecida dentro de você. É olhando e validando a sua versão
atual que a aceitação genuína é gerada e, agora, você é capaz
de compreender quão importante ela é para todo e qualquer
recomeço. Sentir qualquer vislumbre de aceitação é um forte
indicativo de que você está se regenerando em etapas
avançadas. É a confirmação de que o recomeço chegou e você
merece cada nova chance que virá a partir daí, fora todas as
chances que você está criando ao se colocar protagonista de
sua jornada.

Vulnerabilidade é o auge da
força e da coragem de ser
quem você é. É exercer a
liberdade de recusar caber
nas caixas que as pessoas
gostariam que você
ocupasse.
9 Os outros quatro são sinceridade, honestidade, mover-se e ausência de luxúria.
10 KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm
para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.
11 ROBSON, D. Os surpreendentes benefícios de se aprender a respirar mais
devagar (e como fazer isso). BBC, 25 out. 2020. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-54538822">. Acesso em: 31 ago. 2023.
12 BROWN, R. P.; GERBAG, P. L. Respire: o poder curativo da respiração. São Paulo:
Lua de Papel, 2017.
13 Ibidem.
14 SCOTT, T. M. et al. Psychological Function, Iyengar Yoga, and Coherent Breathing:
A Randomized Controlled Dosing Study. Journal of Psychiatric Practice, v. 25, n. 6,
p. 437-450, nov. 2019. Disponível em:
https://journals.lww.com/practicalpsychiatry/Abstract/2019/11000/Psychological_Func
tion,_Iyengar_Yoga,_and_Coherent.4.aspx. Acesso em: 13 set. 2023.
15 Do sânscrito, pranayama significa prana = energia vital + yama = controle.
16 JAFARI, H. et al. Can Slow Deep Breathing Reduce Pain? An Experimental Study
Exploring Mechanisms. The Journal of Pain, v. 21, n. 9-10, p. 1018-1030, set-out.
2020. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S152659002030002X. Acesso em:
13 set. 2023.
capítulo 10
MAPA DE SUSTENTAÇÃO:
ALICERCES
DO SELF

Era um domingo ensolarado de agosto, quando estava saindo


de um treinamento de Programação Neurolinguística em que
fui resgatar uma pessoa querida. Nesse treinamento inicial,
que dura um fim de semana, aqueles que já participaram do
curso podem retornar e ajudam a receber aqueles que estão
participando pela primeira vez. Chamamos isso de resgatar,
pois ajudamos a acolher os atuais participantes após viverem a
dinâmica do rebirth, um renascimento conduzido por meio de
respiração cíclica, uma experiência muito profunda e especial.
Conversando com essa amiga, que estava dando uma
carona para mim e para os meus dois filhos, falamos sobre um
novo prédio que seria construído em Santos, cidade em que
vivo, e teria mais de quarenta andares, algo que ainda não
existia por aqui. Claro que, como toda novidade, acabou
dividindo opiniões. Havia quem estivesse apoiando essa
novidade, assim como aqueles inconformados e contrariados.
Mas nosso assunto nem era sobre ser contra ou a favor, mas,
sim, sobre a inovação em si.
Na minha cabeça passam questionamentos até sobre as
coisas mais simples. Esses dias me perguntei qual povo foi
responsável por descobrir que milho virava pipoca e como, no
futuro, poderemos transcrever pensamentos por meio da
inteligência artificial. Enfim, tenho uma mente frutífera e
curiosa, o que me levou a indagar quais seriam os avanços
tecnológicos necessários para criar uma fundação segura e
estável para esse arranha-céu santista, já que o terreno por
aqui é predominantemente arenoso, por ser uma cidade
litorânea. Além disso, temos a fama de possuir uma orla da
praia belíssima, com o maior jardim praiano urbano do mundo
e os famosos prédios inclinados e tortos por conta de um
fenômeno geológico chamado subsidência, o que compõe o
cartão-postal da cidade.
Debatemos qual seria a diferença entre as construções de
Balneário Camboriú, litoral catarinense, onde há prédios com
mais de oitenta andares também em um território litorâneo.
Seriam novas técnicas de fundação e compensação, seriam
novos materiais que compõem um preparo para a fundação,
avanços da engenharia e da tecnologia, lado a lado?
Provavelmente a união de muitos fatores, aliados a expertise.
A verdade é que existiu um primeiro modelo que foi analisado,
aprimorado e gerou oportunidade de ser replicado. Sempre
existe o ponto de partida, mas não daria para observar um
arranha-céu de Dubai, nos Emirados Árabes, copiar esse
modelo de construção e replicar em qualquer lugar, sem que
houvesse uma análise do solo, do território e de outras
condições que resultam em diversas variáveis.
O mesmo acontece com você e com a sua vida. Entenda
que você chegou até aqui em plena construção do seu ser: sua
essência, seus valores, sua história de vida, seu sentir e todos
os significados que você atribui a si, bem como ao seu entorno
e suas experiências. Você também é um edifício que passou
por vendavais, tempestades, dias ensolarados e noites de luar,
passou por mudanças e ainda passará. Como anda a sua
fundação e o solo em que seus alicerces se encontram?
Existe um prédio aqui em Santos que precisou de
intervenção, pois, de tão torto que havia ficado, estava em
situação de risco. Eu nunca havia visto algo assim, mas
basicamente ele recebeu apoio de estruturas imensas que
foram acopladas à sua base para que, gradualmente, fosse
endireitado. A estrela dessa história, que ganhou notoriedade
nacional e internacional, é o Edifício Santos Dumont,
construído em 1960. Ao longo das décadas, começou a
apresentar uma inclinação perceptível devido ao deslocamento
do solo e, em 2014, o edifício estava inclinado em cerca de 2,5
graus,17 o que causou preocupações quanto à segurança dos
moradores e à preservação do prédio. Foi então que um
projeto de recuperação e endireitamento foi desenhado.
Esse processo envolveu a instalação de macacos hidráulicos
em uma das extremidades do prédio e a aplicação de pressão
controlada para elevar essa parte do edifício. Foi realizado
gradualmente, monitorando constantemente a inclinação e a
reação do prédio. Eu me lembro de passar na avenida da praia,
onde ele está situado, e observar aquela intervenção
disruptiva, pelo menos para mim, e tentar entender se o prédio
realmente estava ficando mais reto.
O projeto foi complexo e demandou tecnologia avançada,
engenheiros especializados e meses de trabalho. Em 2015, o
Edifício Santos Dumont foi completamente endireitado,
retornando à posição vertical. A operação foi considerada um
sucesso, pois conseguiu corrigir a inclinação e garantir a
segurança do edifício.
Essa história, na minha opinião, demonstra a capacidade da
engenharia moderna em lidar com desafios únicos e
complexos. O edifício agora permanece como um marco e um
exemplo de como a inovação pode preservar estruturas
históricas e icônicas. Sempre que passo na frente do prédio,
recordo os macacos hidráulicos gigantes e minha reação
surpresa diante de um resultado que nem sabia que era
possível.
O que quero dizer aqui é que sempre haverá uma solução.
Com conhecimento, esforços bem direcionados, ação, apoio e,
naturalmente, uma boa dose de fé, é possível endireitar as
nossas estruturas mais comprometidas, ainda que a solução
seja viver cada etapa de uma profunda regeneração em busca
de um recomeço. O que não podemos realmente mudar é a
morte, ainda que seja possível ressignificá-la. O tempo não
volta, os fatos não mudam, mas podemos nos tornar líderes da
condução de toda e qualquer interpretação da realidade. Se
você se declarar desmoronando, em vez de interpretar tudo
como perdido, que tal seria elencar as maneiras mais
eficientes de obter ajuda? Se já não existem formas nem de
refletir sobre o que fazer, grite por socorro e abra-se ao
amparo, seja das pessoas com as quais você pode contar, seja
de ajuda profissional.
Nosso ponto aqui é a compreensão de como sustentar as
nossas próprias bases, como endireitar a nossa estrutura,
como recuperar nossa solidez e, assim, retomar nossa
robustez. São um conjunto de fatores que constituem, a meu
ver, o caminho da vida bem vivida. Esse percurso que vai da
sua versão atual em plena redescoberta de valor e potencial
passa pelo autocuidado, hobbies e rotina. Esses são os
alicerces do self!
Quando mergulhamos na jornada do autodescobrimento,
percebemos que há pilares essenciais que sustentam o nosso
bem-estar e o nosso crescimento pessoal.

Se você se sente um prédio


quase desabando, está na
hora de se lembrar que é
possível se reestruturar. Não
tente lidar com uma grande
obra a sós. Convoque a
ajuda de que você precisa
como alguém que zela pelo
que há de mais valioso: sua
vida e sua própria história.
O autocuidado é como um abraço caloroso que damos em
nós mesmos. É lembrar que merecemos cuidar do nosso
corpo, mente e alma. Não é egoísmo, é uma conexão profunda

É
com nós mesmos. É como regar a flor preciosa que somos,
permitindo que cresça forte e radiante. Encontrar tempo para
se cuidar é um ato de amor-próprio que não deve ser
negligenciado.
Os hobbies são o tempero da nossa vida. São como
pequenas ilhas de alegria e realização no meio da nossa rotina.
Um hobby é algo que fazemos por puro prazer, sem pressão de
performance. Pode ser cozinhar, pintar, dançar, escrever ou
qualquer coisa que nos faça sentir vivos. Os hobbies nos
lembram de celebrar quem somos além das nossas
responsabilidades.
E por falar em responsabilidades, a rotina é como a melodia
que guia o nosso dia a dia. Ela nos proporciona estrutura e
conforto, permitindo que façamos as coisas com mais
eficiência. Mas não confunda rotina com monotonia. Ter uma
rotina não significa ser entediante. Pelo contrário, ao criar uma
rotina que inclui autocuidado e tempo para hobbies, você está
construindo um alicerce para uma vida equilibrada e inspirada.

Agora chegou a sua vez de colocar a mão na massa!

Quais práticas de autocuidado você gostaria de incluir na


sua rotina? Pense no que mais faz sentido e o que mais faz
diferença na sua vida. Em quais momentos você sente
profunda conexão consigo mesmo?
(Alguns exemplos: fazer uma caminhada tranquila ao ar livre, meditar por alguns
minutos todas as manhãs, tomar um banho relaxante com óleos essenciais, ler um
livro inspirador antes de dormir, praticar alongamentos suaves pela manhã, fazer um
spa caseiro com máscaras faciais e cuidados com a pele, preparar uma refeição
saudável e nutritiva, escrever um diário para refletir sobre o dia, tirar um tempo para
se desconectar das redes sociais, praticar gratidão, listando coisas pelas quais você
é grato.)
Quais hobbies você gostaria de incluir na sua rotina? Quais
atividades preenchem e alegram você? Tem algo da sua
infância que poderia ser resgatado?
(Alguns exemplos: pintar ou desenhar, aprender a tocar um instrumento musical,
cozinhar novas receitas, dançar em casa como forma de exercício, cultivar um
jardim ou plantar em vasos, fazer artesanato, costurar, fazer tricô ou crochê,
fotografar paisagens ou detalhes que você acha interessantes, montar quebra-
cabeças ou jogar jogos de tabuleiro, escrever histórias ou poemas, fazer trabalhos
manuais.)

Quais rituais você gostaria de incluir na sua rotina?


(Alguns exemplos: acordar e dormir em horários regulares, fazer exercícios físicos
pela manhã, reservar um tempo para leitura antes de dormir, incluir pausas curtas
ao longo do dia para relaxar, planejar as refeições da semana com antecedência,
designar um horário para meditar ou praticar ioga, estabelecer um momento para
cuidados pessoais pela manhã ou à noite, criar um ritual de gratidão diário, definir
horários específicos para o trabalho e para o lazer, fazer uma revisão semanal para
avaliar metas e prioridades.)

Agora que você identificou as ações e atividades que


constituem os seus alicerces do self, é importante se
determinar alguns acordos: quando essas atividades serão
realizadas, com qual frequência, como, em qual ambiente, se
precisam de organização, preparação, recursos ou materiais.
Ter uma mínima estruturação do seu autocuidado, hobbies e
rotinas favorece que essas atividades se tornem hábitos.
Tendo clareza sobre como as incluir na sua agenda, fica mais
simples criar uma jornada consistente e, a partir da repetição,
sentir os benefícios e a integração de cada ação como parte de
quem você é, como quando algo já flui e não precisamos mais
ficar nos empurrando para executar ou incentivando para
realizar o que foi proposto.

PEQUENOS ACORDOS DIÁRIOS


Como colocar os alicerces do self em prática não é uma tarefa
fácil, quero compartilhar com você a técnica de fragmentar os
objetivos em partes menores – eu simplesmente amo fazer
isso. É importante mirar lá na frente e pensar grande. E é
igualmente importante estabelecer pequenas metas de
jornada, baseadas em seu momento e possibilidade atuais.
Quando idealizamos a nossa melhor versão, podemos
tranquilamente fazer isso de modo dedicado, nas minúcias de
melhorias na saúde, no corpo e na carreira. Do mesmo modo,
é um pequeno pulo criar uma idealização rígida e distante. Eu
mesma já desejei ter estilos de vida muito distantes do meu
atual, especialmente com a prática de corrida, literalmente
dando o passo maior que a perna, com imediatismo, altos
níveis de exigência e baixo acolhimento. Isso tudo, igualmente,
se aplica ao cenário inverso: quando você não se desafia
minimamente, não enxerga possibilidade de melhoria ou
aumento de satisfação pessoal. Onde foi que perdemos a mão
na maneira como nos relacionamos com nós mesmos? Me
parece tão corriqueiro e tão mais fácil se tratar mal do que
sustentar uma rotina de autorrespeito e autorresponsabilidade.
Percebo também, pela minha própria vida e pela vida de tantas
alunas e mulheres que me acompanham, que a melhoria pode,
sim, existir, independentemente do seu cenário atual.
Saber onde você está, aqui e agora, é fundamental para
qualquer recálculo de rota. Saber o que vem fazendo falta, o
que foi negligenciado e esquecido, é essencial. Saber em quais
áreas da nossa vida estamos exagerando e desandando
também. Para que você possa ter mais clareza sobre isso,
convido você a preencher o exercício a seguir sobre o seu
estado atual diante das atividades da sua vida e do seu
cotidiano. O objetivo aqui é investigar o que tem ficado para
trás e causa prejuízos ao seu bem-estar, saúde e satisfação; o
que tem ocupado um espaço demasiado ou prejudicial
atualmente e precisa ser eliminado ou reduzido.
Considere, ao se questionar com sinceridade, aquilo que
impacta a sua saúde e o seu bem-estar mental, emocional,
físico e espiritual, evitando, assim, confundir prazeres
imediatos, impulsos e desequilíbrios com bem-estar e saúde a
médio e longo prazo. Foque em atividades, práticas, rituais de
autocuidado, conexão com a sua fé e autodesenvolvimento.

O que tem me feito bem?


O que tem feito falta?
Exageros e excessos atuais:
Novas possibilidades que gostaria de experienciar:
Se você quer acrescentar uma atividade na sua rotina,
experimentar algo novo, retomar algum hobby antigo ou
diminuir o consumo de alimentos nocivos e de determinadas
bebidas, bem como reduzir o tempo excessivo de uso de telas,
nas redes sociais e aplicativos de mensagens, ou qualquer
excesso que esteja sendo prejudicial à sua jornada, quero
apresentar a você a ideia dos pequenos acordos diários.
No momento em que escrevo este livro, estou de férias com
a minha família na Dinamarca, onde temos parentes próximos.
Já passamos algumas temporadas aqui e tive alguns desafios
em relação à minha consistência e disciplina, pensando em
saúde e bem-estar. Ao vir para cá, por algumas vezes, me
desconectei de rituais importantes como os meus mantras,
meditação e orações, que mantêm a minha capacidade de
resiliência, harmonia, paz interior e gestão emocional em dia.
Errei a mão na comida e fui flexível demais com alimentos
nocivos, que não fazem parte do dia a dia e que foram
responsáveis por trazer inflamação e arrependimento,
aumentando a sensação de fadiga e preguiça. Deixei de
praticar as atividades físicas que me ajudam a ter disposição e
bons níveis de hormônios do bem-estar – como serotonina e
endorfina –, além de fortalecer o meu sistema muscular,
cardiovascular, respiratório e por aí vai. Dessa vez, criei acordos
comigo: estou de férias, mas quero manter minimamente os
rituais que me ajudam a estar bem. Meu acordo foi praticar
uma atividade física mais intensa – como treino de força e
corrida – pelo menos três vezes na semana. Meus furos com a
alimentação também fazem parte do acordo: durante a semana
posso ter uma refeição furo, ou seja, fora da rotina saudável e,
no fim de semana, duas refeições dessa.
Talvez possa parecer rigidez para você, eu mesma já
questionei muito a afirmação amplamente usada de que
“disciplina é liberdade”, porém revi atentamente os meus
conceitos sobre isso! Então hoje eu sei que manter
minimamente uma rotina de saúde e bem-estar preserva a
minha performance, a minha satisfação pessoal e a minha
admiração por mim mesma. Ajuda em praticamente tudo: ser
uma pessoa em harmonia, ser uma mãe, esposa e profissional
melhor. Custava caro demais deixar para trás, ainda que por
um mês, a rotina que tanto me ajuda. Retomar o ritmo, a
performance, a alimentação e até o peso era um martírio. Por
que não encontrar o caminho do meio, em que existe disciplina
e, ao mesmo tempo, flexibilidade por meio de pequenos
acordos diários? É sobre isso que gostaria de pedir que você
reflita ao completar essa atividade de auto-observação. Quero
que pense sobre como achar o seu caminho do meio, como
balancear a dose de lá e de cá, quando pensamos em bem-
estar e eventuais excessos. Comprometa-se com novos
acordos, permita-se testá-los durante um tempo, lembrando
que adaptação precisa de tempo, paciência, repetição,
validação e, talvez, ajustes. Permita-se! Vamos lá?

MEUS ACORDOS DIÁRIOS


Como posso manter na rotina o que me faz bem?
Como posso incluir o que me faz falta?
De que maneira posso reduzir excessos e exageros?
Quando vou tirar o plano do papel?
Agora, utilize a tabela seguinte para incluir em sua rotina
hobbies, práticas de autocuidado e rituais. Inclua a sua
disponibilidade, por exemplo: quantas vezes no dia, na semana
ou no mês você vai se dedicar às atividades. Quais seriam os
dias e horários ideais para que isso aconteça e o que você
pode preparar para facilitar a sua rotina. Quando tenho treino
pela manhã ou corrida no dia seguinte, já deixo a minha roupa
e os acessórios preparados, meu smartwatch carregado, fones
e até mesmo a suplementação organizada. Lembra-se de que
falamos sobre como o nosso cérebro tende a economizar
energia? Deixar tudo em ordem facilita o processo de
disciplina, consistência e evita a procrastinação e a desistência.
Vale o mesmo se você está estudando – tenha os recursos
necessários já preparados e organizados, até mesmo para
evitar a fadiga da decisão, favorecendo o seu estado de foco e
concentração no que realmente importa naquele momento e
otimizando seu tempo.

O QUE QUERO
QUAL É A MINHA
INCLUIR NA QUANDO O QUE PRECISO
DISPONIBILIDADE
MINHA ACONTECERÁ PREPARAR NA ROTINA
PARA ISSO
ROTINA

Separar roupas e
De segunda a acessórios, carregar
6x na semana, 1h
Ir à academia sábado, das 7h smartwatch e fones e
por dia
às 8h organizar a
suplementação

Eu acredito na melhoria
constante quando,
diariamente, fazemos
pequenos esforços que,
somados, se tornam grandes
alicerces do self, ou seja, da
nossa essência.
Você tem total liberdade de mudar de ideia, de “apertar” ou
“afrouxar” os acordos. Recomendo fortemente que você se
desafie, dentro de suas possibilidades, e, da mesma maneira,
se acolha, sem se acomodar. É sobre equalizar os seus
esforços e ir sentindo se está dosando da maneira adequada, e
não há quem possa mensurar isso por você. Dessa maneira,
você acaba criando uma atualização de expectativas para a sua
vida, com mais clareza do que pode melhorar, do que precisa
reduzir, cuidar ou zelar. Traga para perto do seu possível hoje,
mirando o seu amanhã e uma atualização de jornada. Eu
acredito na melhoria constante quando, diariamente, fazemos
pequenos esforços que, somados, se tornam grandes
alicerces do self, ou seja, da nossa essência.
Um ponto valioso aqui é compartilhar seus objetivos com as
pessoas que são importantes para você. Sabemos que nem
sempre somos compreendidos ou apoiados, porém o intuito
de você comunicar quem convive no seu entorno, quem faz
parte dos seus dias, é deixar que eles saibam os seus porquês.
A razão e a importância de suas escolhas, rituais e mudanças.
A maior e mais importante validação de que você precisa é a
sua. Quem estiver ao seu lado e apoiar você, consideramos
como lucro; foque nessas pessoas. Diante da falta de
compreensão e incentivo, pratique estabelecer limites
saudáveis, inclusive porque você precisará confiar em si
mesmo. A desmotivação pode influenciar a sua automotivação,
então busque se abrir mais com quem realmente vale a pena e
vá criando um entorno que ressoe com os seus valores e
ideais.
Alicerçar o seu self ajudará você a criar uma nova realidade,
o que pode ser muito mais interessante do que criar uma nova
versão de si, e é sobre isso que falaremos no capítulo
seguinte.

17 Para você ter uma ideia do que isso representa, a Torre de Pisa, famosa torre
inclinada na Itália, tem aproximadamente 4 graus de inclinação.
capítulo 11
MAPA DE EXPANSÃO:
A PLENITUDE
DE SER VOCÊ

Sabendo que estava escrevendo este que é o meu segundo


livro, meu marido, Christian, o Crica, me sugeriu estudar os
materiais do dr. Joe Dispenza, uma grande referência quando o
assunto é Neurociência, espiritualidade e transformação
pessoal. Ele é amplamente reconhecido por sua abordagem
que combina a ciência moderna, especialmente a
Neurociência, com conceitos espirituais e filosóficos, com foco
na criação de uma nova realidade por meio da reprogramação
mental e emocional.
Segundo Dispenza,18 nossos pensamentos, emoções e
crenças não apenas influenciam a nossa percepção da
realidade como também moldam as experiências que
atraímos. Ele enfatiza que podemos romper com padrões
antigos ao direcionar a nossa atenção e energia para um novo
estado mental. Quando praticamos a visualização criativa e a
meditação, podemos reprogramar o nosso cérebro e,
consequentemente, os nossos padrões comportamentais. O
autor também acredita que, ao nos comprometermos com
essa mudança interna, poderemos abrir portas para
oportunidades e transformações profundas.
Assim, Dispenza sugere que criar uma nova realidade
envolve estar consciente dos padrões de pensamento que nos
limitam para que possamos substituí-los por padrões mais
positivos e alinhados com os nossos objetivos. Esse processo
exige consistência e paciência, mas, ao longo do tempo, as
nossas ações e escolhas começam a refletir essa nova
mentalidade. É exatamente o que quero propor para você aqui,
algo que sempre usei em minha vida de modo intuitivo e com
o qual me emocionei ao compreender, por meio de uma das
maiores referências em mentalidade, que tudo isso tem
embasamento até científico.
Cultivar uma mentalidade positiva, gerir emoções e criar
uma realidade é algo treinável e possível. Por isso, encorajo
você a mergulhar profundamente em seu interior, explorar os
seus potenciais e, conscientemente, escolher o caminho que
quer seguir.

FAÇA UM PEDIDO!
Valendo sonhar alto e pensar grande, valendo
anotar para olhar para ele até que se realize.

COCRIANDO A SUA REALIDADE POR


MEIO DO PODER DO SENTIR
Prepare-se para mergulhar em um território fascinante: o da
cocriação da sua própria realidade. Cocriar é a prática da
intenção, do intencionar, uma maneira também de se colocar
no momento presente, usando a sua energia do sentir a seu
favor. Quero propor que exploremos como os nossos
pensamentos, emoções e visualizações podem moldar o
mundo ao nosso redor, e como o ato de sentir pode criar
sinapses cerebrais, conexões neurais, abrindo portas para
transformações profundas.

Prepare-se para viver a vida


que você sonhou, prepare-se
para seus desejos se
realizarem mais rápido do
que você poderia imaginar.
Nossa mente é uma força poderosa, capaz de moldar as
nossas percepções e, por consequência, as nossas
experiências. A chave para a cocriação está em como nos
sentimos em relação ao que desejamos manifestar. Quando
você cria a sua realidade, você a vê e a sente no momento
presente, como se estivesse vivendo nesse exato momento
em vez de projetar a imagem em um futuro distante. Vale
lembrar algo muito interessante: o cérebro não distingue entre
a realidade e a imaginação vívida. Então é como se você já
estivesse vivendo, ou seja, reafirmando para sua consciência
que essa realidade é possível.
Mas é importante enfatizar que a cocriação não é apenas
desejar algo e esperar que aconteça. Imagino que você
concorde que podemos facilitar as nossas realizações;
contudo, esperar que as coisas caiam do céu seria um tanto
incoerente. O caminho está em alinhar pensamentos,
emoções e ações com o que você deseja manifestar. Por esse
motivo, fomos destravando a sua mente, emoções e ações ao
longo da leitura. Se há medo de sentir ou demasiada
resistência, não é possível criar essa conexão profunda com o
poder de realização nem da cocriação. É necessário nutrir
entrega, confiança, fé e foco. É essencial ser protagonista da
própria história para aspirar e almejar o que realmente
preenche a sua essência, alinhando-se com o que
genuinamente move você, alinhando toda a confiança da sua
criança interior à esperança que seu eu do futuro deposita
amorosamente em sua versão atual. Nem a sua criança nem
seu eu do amanhã se importam com a tal da melhor versão;
ambos só esperam que você, no aqui e agora, siga fazendo
seu melhor a cada dia e se reconhecendo por tal.

VISUALIZAÇÃO CRIATIVA
Em vez de apenas pensar em nossos objetivos, precisamos
sentir profundamente as emoções que estarão presentes
quando esses objetivos forem alcançados. O caminho aqui é
se imaginar já vivendo a realidade que você deseja e, mais,
sentindo a alegria, a gratidão, o sucesso, a autoconfiança e paz
interior. Essa prática se chama visualização criativa e é um
exercício poderoso para a cocriação da realidade. Quando
visualizamos os nossos desejos e os nossos sonhos,
simulamos para o cérebro o caminho para esse lugar ainda
desconhecido, fazendo com que ele crie as conexões
necessárias para chegar lá. Ou seja, você está treinando a sua
mente, e o seu sentir faz a sua energia reverberar e atrair.
Basicamente você ensina um caminho novo para essa
realidade em seu cérebro, como fazemos ao tentar chegar a
um novo destino. Ao refazer esse caminho, você já não
precisará mais de GPS. A rota já foi toda preparada e o sentir
será a bússola capaz de levar você a esse destino, ou melhor,
realização.
A visualização criativa é uma prática que atua em diferentes
níveis de consciência, envolvendo tanto aspectos conscientes
quanto aspectos subconscientes. Ela influencia principalmente
os níveis consciente, subconsciente e pré-consciente da
consciência. A seguir, listei de qual maneira isso acontece para
que você possa se aprofundar nessa prática maravilhosa que
me possibilitou realizações incríveis!
Nível consciente: neste nível, você está ciente e
ativamente envolvido na prática da visualização. Você está
tomando decisões conscientes sobre o que visualizar,
como se sentir e como moldar a cena que está criando
em sua mente. Ao fazer isso, você está direcionando a sua
atenção e intenção para criar a experiência desejada.
Nível subconsciente: enquanto você pratica a
visualização de modo consistente, as imagens e emoções
que você gera são armazenadas no seu subconsciente,
que, dessa forma, vai acreditando em tudo como se já
fosse uma realidade presente. Essas representações
mentais podem influenciar os seus padrões de
pensamento, de crenças e de comportamentos de
maneira sutil, mesmo quando você não está
conscientemente se concentrando nelas. É como se o
efeito da prática reverberasse sincronamente para alinhar
pensamentos e comportamentos a essa nova realidade.
Nível pré-consciente (entre o nível consciente e o
subconsciente, é a parte da mente em que
informações estão disponíveis para serem trazidas ao
consciente quando necessário): neste nível, a
visualização criativa torna as imagens e emoções que você
cria mais acessíveis e prontas para serem trazidas à
mente quando você se deparar com situações
relacionadas aos seus objetivos. Por isso, é comum
começar a ter sonhos, déjà-vu e sinais do dia a dia
reforçando essa nova realidade que você está
manifestando.
Ao praticar a visualização criativa, você treina a sua
capacidade de interagir com esses diferentes níveis de
consciência. Enquanto ao envolver o consciente na prática da
visualização você está definindo a intenção e a direção, ao
acessar o subconsciente você está implantando essas
imagens e emoções como sementes que podem influenciar os
seus padrões mentais e emocionais. Ao trabalhar com o pré-
consciente, portanto, você torna essas representações
mentais prontamente disponíveis para ajudar em suas ações
diárias.
“Entendi, Ju, mas como eu pratico a visualização criativa?”
Em primeiro lugar, reserve um tempo tranquilo. Então feche os
olhos e mergulhe na cena que deseja criar. Veja, ouça, sinta e,
acima de tudo, experimente as emoções associadas a essa
conquista. Quanto mais vívida e envolvente for essa
visualização, mais profundamente ela impactará o seu cérebro.
Gosto de escolher uma trilha sonora que embale os meus
sonhos e realizações, faço o passo a passo da visualização
criativa ouvindo essa música e crio uma rotina de prática que
me leva de volta para esse estado interno, repetidas vezes.

PASSO A PASSO DA VISUALIZAÇÃO CRIATIVA

Encontre um local tranquilo em que possa


se concentrar sem interrupções.
Feche os olhos e respire profundamente
algumas vezes para se acalmar.
Comece a visualizar o objetivo alcançado,
como se estivesse assistindo a um filme.
Explore todos os detalhes sensoriais:
cores, texturas, sons e cheiros.
Sinta as emoções que essa conquista traz.
Use a sua autenticidade em suas emoções.
Mantenha-se nessa visualização pelo
tempo que for confortável para você.
Ao fim, agradeça e respire, mais uma vez,
profundamente.

Depois de concluir o exercício de visualização criativa,


permita-se alguns momentos para integrar e internalizar tudo o
que viu, viveu e sentiu. Se desejar, anote as principais
sensações e características dessa prática, com sensibilidade e
atenção aos sopros sutis que virão como pequenas
mensagens divinas que iluminam os seus caminhos. Agradeça
a você mesmo por isso e carinhosamente pergunte-se quais
foram os fatores decisivos para que você pudesse alcançar
essa realização.

O que não pode faltar na sua caminhada


para que essa nova realidade se manifeste?
Quais pontos fortes ajudam você a
manifestar a sua nova realidade?

18 DISPENZA, J.; BRITO, L. Como se tornar sobrenatural: pessoas comuns


realizando o extraordinário. Porto Alegre: Citadel, 2020.
capítulo 12
ESCOLHA FAZER AQUILO
QUE PREENCHE A SUA VIDA E
PERMITA-SE RECOMEÇAR

Ainda existem muitas pessoas que atribuem um significado


depreciativo, mesmo que inconscientemente, aos recomeços.
Eu mesma questionei demais o fato de dizer nãos importantes
para as oportunidades em que não me via ou não via futuro. Fui
criticada e julgada por fechar algumas portas com as minhas
próprias mãos. E tenho certeza de que, em algum aspecto,
você já passou por isso também. Escolhi voltar para Santos,
minha cidade natal, onde me sinto eu mesma, sinto
pertencimento, acolhimento, paz interior e bem-estar. Escolhi
voltar para a casa da minha mãe, para a minha família e
amigos. Ativei uma coragem que nem sabia que tinha para
fazer essa movimentação, só não tive coragem mesmo de
pedir colo, de pedir ajuda ou falar sobre o que eu estava
sentindo. Entendo que naquele momento, diante dos recursos
que tinha, usei toda a minha força para dar esses vinte passos
para trás. Porém, somente depois de uns sete anos consegui
enxergar valor nisso. Consegui validar a minha coragem, força
e discernimento. Depois de uma década eu me recuperei do
tombo, apesar de não parecer machucada para quem via de
fora. E foi assim que aquela menina ferida e frustrada teve um
grande recomeço. Um dia entendi que não me sentia útil, que
não era uma contribuição na vida das pessoas; eu era mais
uma carinha bonita na fila do pão. Passava noites pedindo em
minhas orações que eu pudesse entender meu real papel para
que pudesse entender para qual caminho deveria dedicar os
meus próximos passos. Foram muitas as noites em que
chorava e, em algumas dessas, parecia que Deus falava
comigo. Ao me conectar novamente com meu eu interior,
minha essência, minha fé, fui obtendo força, coragem e
respostas. Passamos muito tempo buscando fora, mas o
essencial já está disponível aqui, dentro de nós. Que bom que
me relembrei do que importa de verdade, relembrei do que
queria, de quem eu era e, mesmo ainda sem muita clareza
sobre o que fazer, não desisti de investigar, de questionar, de
orar e de me dar chances para recomeçar.
Quando comecei a minha carreira na internet em 2009, e era
tudo mato mesmo, eu era uma menina tentando se ajudar e
tentando, de alguma forma, ajudar outras mulheres também.
Assim, criar meu canal no YouTube foi o meu grande
recomeço. Gravava vídeos no banheiro com uma câmera bem
simples apoiada em potes de cozinha, pois não tinha tripé,
sem iluminação adequada, sem muitos recursos, nada além da
minha própria persistência em tentar algo novo e que me
preenchesse de verdade. Não tinha nenhum retorno financeiro
com isso, mas reconquistei a liberdade de ser eu mesma,
disponível a ajudar outras mulheres, e de sentir que eu
realmente estava fazendo a diferença. Você já teve esse
sentimento? Não é maravilhoso sentir que se pode contribuir,
que se é útil? Lembre-se disto: todas as vezes, quando
precisar de ajuda, sempre tem alguém que ficaria muito mais
feliz em ter a oportunidade de ajudar. Em muitos momentos,
seguimos insistindo em não recorrer ao apoio, em nem sequer
pedir ajuda, e isso acontece por inúmeros motivos, entre os
quais por não querer atrapalhar. Quem está disposto a ajudar
jamais se sentirá atrapalhado por isso. Quem não quiser ajudar
dará um jeito de fazer com que você saiba disso. Vida segue,
atualize as expectativas, internalize isso e bola pra frente. Não
se deixe desacreditar por já ter passado pela frustração de não
ser atendido em uma necessidade. Nem sempre as pessoas
têm para oferecer o que esperamos delas, até porque a
quantidade de indivíduos que estão negligentes de
autocuidado e se encontram em falta consigo é enorme. Eu
mesma já me incluí diversas vezes nessa lista, até tornar o
autocuidado a chave para a minha vida bem vivida: uma vida na
qual me sinto congruente com o que acredito e difundo, uma
vida na qual sei que terei altos e baixos, porém sei que posso
contar comigo e aprendi a pedir e receber ajuda, uma vida na
qual sei que vou falhar, mas ainda assim reconheço o meu
valor e gero aprendizados.
Voltando à rotina de trabalho, fazia dupla jornada na época
em que comecei com a produção de conteúdo para a internet,
porque, nessa reviravolta, estava determinada a trabalhar na
minha área como jornalista. Bati na porta da televisão local em
Santos e consegui um emprego como repórter. Esse era o
meu novo emprego e me sentia muito orgulhosa, de verdade.
Curioso pensar que meu salário como repórter era equivalente
ao que eu recebia como cachê para passar duas horas como
presença VIP em uma loja, inauguração ou festa. Aí entra a
importância em entendermos a diferença entre valor e preço.
Trabalhar na minha área, gravar vídeos para meu canal, ser
quem eu era, mostrar o meu conteúdo e a minha bagagem
profissional, tudo isso tinha um valor imenso. Recomeçar tem,
de fato, um valor imenso. Se eu colocasse na ponta do lápis o
preço do meu cachê e do meu salário, se eu deixasse a fama
subir à cabeça, se eu tivesse me deslumbrado, talvez eu não
estivesse onde estou hoje. Costumo brincar que, às vezes, é
melhor aterrissar o boeing antes que ele caia e finalizar o
trajeto como der, nem que seja a pé.
Antes de enveredar para os assuntos do autoconhecimento
e autocuidado na internet, passei cerca de sete anos
ensinando maquiagem, dicas de beleza, cuidados com a pele e
cabelo. Quer saber? Sinto orgulho. Hoje em dia sinto orgulho
de cada passinho dessa trajetória e consigo contar com mais
clareza e sensibilidade todos os meus aprendizados. Durante
boa parte do tempo, enquanto eu ainda estava vivendo, não
tinha essa percepção de valor porque ainda não tinha
compreendido o meu próprio valor. Você, provavelmente, só
sentirá o seu real valor quando essa percepção de
reconhecimento vier de dentro de si. Não importa a
intensidade dos aplausos que receberá: se não aprender a se
aplaudir também – ou, quem sabe, até ser quem puxa os seus
próprios aplausos na multidão –, com o passar do tempo
qualquer arquibancada lotada se tornará inaudível pela sua falta
de autovalidação.
Olhando para trás, percebo que desde pequena eu gostava
de ajudar: me colocar no papel de solucionadora me preenche
grandemente. Eu me recordo de tantas vezes durante a minha
carreira como patinadora que eu maquiava e penteava boa
parte das minhas amigas. Acabava ficando por último, mas, lá
no fundo, olhar para elas satisfeitas com o resultado me fazia
sentir muito mais satisfação do que ter ficado pronta,
impecável, sozinha, sem ajudar ninguém. Fiz isso nos dias de
festa e paredão durante o reality, ajudava as minhas amigas a
se prepararem, as maquiava, aconselhava e segurava a mão.
Oferecia um ombro disponível. Em contrapartida, sentia
imensa dificuldade em pedir ajuda, pedir um ombro amigo para
me acolher. Para que possa entender que, provavelmente, o
que mais preenche você deve ter estado presente em boa
parte da sua vida, será que você consegue relembrar do que
gostava de fazer quando criança? O que fazia que o(a) deixava
preenchido(a) de satisfação, orgulho e alegria?

Só você sabe o tamanho dos


seus sonhos, só você sabe o
tamanho das suas dores e
motivações. Honre cada
recomeço e conecte-se
profundamente com as suas
respostas mais importantes.
A PRÁTICA DA RECONEXÃO E A
SINCRONICIDADE
Vou deixar uma sugestão de meditação para que você possa
ir abrindo caminhos para acessar algumas memórias
relacionadas a esse tema. Você pode praticar ao som de uma
música de que goste, em silêncio, pode se deitar ou se sentar
confortavelmente. Dedique pelo menos cinco minutos para
essa prática de introspecção, focando a atenção na respiração
como forma de se manter no momento presente.

Feche os olhos por alguns instantes,


respirando profundamente, lentamente.
Coloque a sua intenção de resgatar a sua
alegria de viver e ser quem você é.
Vá dando passos para trás mentalmente,
como se cada passo pudesse levar você de
volta a momentos importantes do seu
passado.
Qual foi a última vez em que você sentiu
felicidade, satisfação e pertencimento?
Resgate essas memórias pelo seu sentir,
resgate a sensação que vem ao experienciar
felicidade, satisfação e pertencimento.
O que é que você faz por você ou por
outras pessoas que permite que sinta o
coração palpitar mais forte, repleto de
alegria e satisfação?
Se neste mundo e nesta vida você já tivesse
absolutamente tudo de que precisa –
tempo, saúde, liberdade, recursos
financeiros, satisfação pessoal,
autoconfiança, alegria de viver – e não
precisasse mais se preocupar com nada
disso, o que você faria? O que faria você
feliz de verdade?
E dentro do que você, com sua vida
totalmente harmônica e plena, pudesse
doar de alguma maneira por um bem
maior, como seria? O que escolheria?
Dê alguns passos em direção a um ponto
luminoso, que representa a sua luz, o seu
valor, a sua essência. Permita-se tocar essa
luz e receba o toque como um carinho
agradável, partículas dessa luz percorrendo
todo o seu corpo, integrando-se ao seu ser,
a cada átomo e molécula do seu ser.
Abasteça-
-se do melhor que você já tem e já traz.
Respire fundo mais algumas vezes e
permita-se sentir, visualizar, perceber,
ouvir, com todos os seus sentidos, as
mensagens de que precisa nesse momento.
Mantenha a sua conexão com a sua
sensibilidade, no contexto do dia a dia, em
seus sonhos durante a noite, com as
mensagens que possam surgir por meio de
recados e leituras. Perceba nas sutilezas da
vida os recados importantes que farão a
diferença na sua jornada atual.
Agradeça-se por esse momento,
reconheça-
-se, honre-se.
E, eu, aqui do lado, agradeço a você pela
confiança e pela entrega nessa jornada!

Criando os seus momentos de reconexão é possível ampliar


a abertura do seu canal intuitivo, ativando a sua sensibilidade e
a sincronicidade. Sabe quando você pensa em algo ou alguém
e, depois de um tempo, esse algo acontece ou essa pessoa
aparece? Quando parece que a resposta para aquilo que você
vinha matutando surge como um passe de mágica ou a
oportunidade que você tanto desejava chega antes mesmo do
que o previsto? Nada disso é somente coincidência. O que
podemos observar sobre esses pequenos milagres da vida é a
manifestação da sincronicidade.
A sincronicidade funciona como um elo mágico que une os
fios invisíveis do universo interno com as tramas do mundo ao
nosso redor. Talvez você já tenha ouvido falar de Jung ou da
Psicologia Junguiana. Carl Gustav Jung, renomado psiquiatra
suíço e um dos pais da Psicologia moderna, trouxe à luz o
conceito de sincronicidade no século XX. Para ele, esses
ocorridos – denominados conexões acausais – vão além da
causalidade linear e nos convidam a considerar que não
estamos isolados neste vasto cosmos, mas, sim, entrelaçados
com tudo que nos cerca. A sincronicidade surge em
momentos-chave de nossas vidas, como uma mensagem ou
confirmação do destino, um chamado do nosso inconsciente
para prestar atenção aos sinais que nos cercam.
Para entender a sincronicidade devemos abrir as portas da
percepção e permitir que a nossa intuição se entrelace com a
nossa mente. Muitas vezes, a nossa mente se torna tão
dominante que nos inclinamos ao racional e acabamos calando
a voz interior e abafamos o processo intuitivo. Justamente por
essa razão, essa conexão acausal que une eventos
aparentemente desconectados não pode ser compreendida
apenas pela mente racional. É no mergulho no mundo dos
símbolos, da imaginação e dos sonhos que podemos decifrar a
mensagem que o universo quer nos transmitir. Sempre me
senti fascinada pelo mundo dos sonhos. Costumo ter sonhos
premonitórios, sonho com lugares que ainda não conheci e
retorno diversas vezes, tenho vivências profundas e
memoráveis. Ainda adolescente, adorava estudar sobre os
sonhos e buscar formas de interpretá-los, então comprei
inúmeros dicionários de sonhos e, no fim das contas, até parei
de usar, porque acabava ficando sugestionada demais com
algumas interpretações ou até assustada e ainda não tinha
filtros ou maturidade suficiente para digerir tudo. Acabei
buscando outras formas de entender as mensagens que
recebia por sonhos e, também, pelas surpresas misteriosas da
vida. Até que, com meus 20 e poucos anos, ainda sendo uma
buscadora desse universo dos sonhos, me deparei com o
trabalho de Jung e, mais tarde, com a sincronicidade.
Entender a sincronicidade é como decifrar um código
secreto da alma. Cada sincronicidade é um convite para o
autoconhecimento, um chamado para nos conhecermos mais
profundamente. Elas nos mostram que não somos meros
espectadores no palco da vida, mas coautores e protagonistas
de nossa história! Ao abraçarmos a sincronicidade,
embarcamos em uma jornada de mergulho profundo em nosso
eu interior. Aprender a ouvir os nossos instintos, perceber os
padrões que se repetem em nossa jornada e decodificar os
enigmas que se apresentam diante de nós é essencial para
desvendar as pistas que o universo nos oferece.
No caminho do autoconhecimento, e diria também que no
caminho da fé e da espiritualidade, a sincronicidade é uma
bússola que aponta o norte verdadeiro. Ela nos guia na busca
da nossa essência mais profunda e nos ajuda a compreender o
nosso papel no grande espetáculo da vida. Compreender a
sincronicidade é acolher a magia e os sopros divinos que
permeiam o universo e abraçar a jornada para o nosso eu mais
autêntico.
Chegando até aqui com um chamado para se aprofundar
nessa prática de reconexão, convido você a abrir ainda mais os
olhos e o coração para as sutilezas da sincronicidade em sua
vida. Ao mergulhar nesse mundo encantador de significados e
encontros, você descobrirá que o autoconhecimento é o maior
tesouro que podemos buscar. E a sincronicidade, aliada à sua
fé, aos seus rituais e seu autocuidado, é uma chave importante
que nos permite acessar muitos segredos da nossa jornada
interior.
Abra espaço para esse canal de reconexão que é uma forma
de nutrir o seu próprio reencontro e lembre-se de que, para ser
inteira, você precisa da sua luz e da sua sombra. Conecte-se
com o seu eu mais profundo e você verá e sentirá, cada vez
mais, que ser você é uma benção!
conclusão
A SUA VERSÃO ATUAL JÁ TEM
MUITO VALOR

Talvez no início dessa jornada o céu por aí passou por


nebulosidades e tormentas. Agora é o momento de respirar
fundo e perceber que cada página, cada reflexão, cada sentir e
ressignificar foi, pouco a pouco, revelando as novas estrelas
que reluzem constituindo um novo cenário na imensidão que é
o seu universo pessoal. Você foi responsável por se dar a
chance de avançar e de reencontrar o brilho interno que estava
ofuscado em meio às cobranças excessivas e julgamentos
desnecessários. Agora é capaz de compreender que uma coisa
é saber onde se pode melhorar, outra coisa é lutar contra
quem você é, tentar ser outro alguém ou tentar desistir de
tudo.
Recomece de cabeça erguida, quantas vezes for necessário.
Você vai se orgulhar de cada chance que se deu. Seu eu do
futuro precisa de você aqui e agora, criando um amanhã
possível, digno, amoroso e respeitoso. Sua criança do passado
vibra com cada passo que você dá. Ela jamais desistiu de você,
jamais duvidou de você, então faça em nome dela também o
que tiver de ser feito para que vocês sintam orgulho dessa
trajetória, sintam a alegria e a motivação da melhoria
constante.
Não vale mais a pena insistir em se colocar para baixo,
porque essa energia só nutre desconexão e pesar, o que nos
afunda mais ainda e nos impede de colocar para o mundo o
nosso melhor. Agora, com mais clareza sobre os seus
caminhos, pontos de melhoria e tendo consciência sobre o que
alicerça seu self, é possível hastear a vela da sua embarcação
com muito mais segurança e propriedade, sabendo que,
mesmo diante do vendaval, você saberá como proceder e,
mais importante, agora você confia e sabe que é capaz de
navegar mesmo os territórios mais remotos e desconhecidos.
Permita-se dar mais risada, rir de si, pegar leve, saber
também quando ser amorosamente firme com os seus
objetivos, rotinas e compromissos. Ter consciência disso é ter
a maestria de saber comemorar cada vitória, celebrar cada
avanço e olhar para o próximo passo, mantendo-se em
movimento com maturidade e determinação.
Permita-se chorar de soluçar também, gritar de alegria ou
gritar para deixar a raiva sair. Estar vivo é sentir, sentir com
entrega. É viver com intensidade e verdade. Sua coragem e
vulnerabilidade, que impulsionam o fluir de suas emoções, são
uma forma de autocuidado, evitando que elas se acumulem e
respinguem em quem não tem nada a ver com isso. Deixe fluir
e a vida fluirá também, junto com você.
Diante dessa emancipação emocional, em que você
conquistou a capacidade de liderar a si, você conquista assim
uma das maiores dádivas que o autoconhecimento nos
proporciona: criar a nossa própria realidade. As rédeas da sua
vida estão aí para você e você está mais confiante para
assumi-las. Incertezas e frio na barriga virão, mas as suas
interpretações e reações já não são mais as mesmas. Você se
tornou gigante. Você é gigante!
Sua grande emancipação agora é compreender que a sua
melhor versão é construída no amor por quem você é agora, e
não pelo ódio, rejeição ou repulsa. Só o amor constrói, só o
amor cura, só o amor nos permite viver o nosso melhor.
Visualizando todo o seu potencial, seus pontos fortes e
qualidades, escolha como você quer se sentir a partir de agora
nessa jornada de autodescoberta.

COORDENADAS DO SEU NORTE


Agora, além de conhecer com muito mais profundamente o
seu próprio mapa, você tem as coordenadas importantes para
que alinhe as suas rotas de satisfação pessoal, liderança
emocional e autorrealização. É uma construção diária, um zelar
da sua bússola interior, na intenção de se manter em
alinhamento com o norte que você deseja para si. E lembre-se:
você tem total autonomia para recalcular a sua rota sempre
que necessário, pois você é protagonista da sua história.
É com muita emoção que escrevo estas palavras, as quais
gostaria de ter ouvido de mim mesma com uma ou duas
décadas de antecedência. Mas tudo tem a sua razão de ser e
precisamos respeitar o nosso próprio tempo, inclusive de
regeneração. Isso é um ato de amor-próprio. Não estamos
mais aqui para sermos reféns de nossas amarras, pois
sabemos que podemos nos libertar, que temos mais força e
ainda mais ferramentas para isso. No entanto, também
podemos pedir ajuda e receber ajuda. Isso só revela o quanto
nos respeitamos e escolhemos nos cuidar.
Existe uma vida pela frente que aguarda você, cheia de
oportunidades e chances de crescimento, para que você possa
encontrar em si o seu maior incentivo, cultivando no contexto
diário a autovalorização e a auto-observação. Todo tombo
ensina, toda bagunça pode ser arrumada. Confie que,
conforme se fortalece mais, você se torna capaz de superar o
que for preciso e mais saberá como se aplaudir de pé.
Nesse palco da vida, seja quem escreve o próprio roteiro e
quem decide mudar a narrativa quando bem entender. Seja
quem treina com afinco, mas não adia a estreia. Seja quem
sente o nervoso tirando o fôlego e o medo tomando conta,
mas respira fundo e sobe no palco para lembrar como é sentir
coragem. Coragem precisa de ação, não surge na inércia.
Medo só diminui diante do passo dado. Seja quem improvisa
quando esquece as falas e flui conforme a música. Seja quem
se entrega como se fosse a última apresentação e sente em
cada poro tudo aquilo que já havia sentido ao visualizar esse
grande espetáculo acontecendo, antes mesmo de se tornar
realidade. Ele foi profundamente manifestado nas camadas
mais profundas do sentir.
Seja quem assume que não está bem em determinados dias
e se respeita ao dar somente o que pode. Seja quem puxa os
próprios aplausos, quem se emociona com o enredo, mesmo o
tendo escrito um dia. Seja quem se dispõe a mudar todo o
roteiro e arriscar algo novo, quando perceber que já não faz
mais sentido. Seja quem recomeça e recomeça, com tamanho
orgulho e reverência. Seja quem jamais desistiu e está sempre
lá, pronto para um novo espetáculo, como grande
protagonista!
E eu, daqui, honro você e aplaudirei cada etapa do seu
grande espetáculo, comemorando cada passo dado da sua
jornada e vibrando alto pelos próximos que virão! Estamos
juntos!
Aqui e agora, você é a melhor versão que poderia haver da
pessoa mais importante da sua vida: você!

Resgate o valor que já existe


em sua versão atual. Celebre
seu protagonismo e tudo o
que você já viveu e já
superou até hoje!
Jornalista, escritora e apresentadora, JULIANA GOES é uma
das pioneiras na criação de conteúdo na internet brasileira.
Referência em gestão emocional, autocuidado e carreira
digital, é mãe de dois, empresária e investidora-anjo que
impacta diariamente mais de 2 milhões de pessoas.

Além de atuar como palestrante, mentora e treinadora de


mulheres, é master practitioner em PNL e coach de vida.
Estudou yoga, meditação e terapias integrativas como forma
de vivenciar uma profunda transformação pessoal e
profissional. Foi atleta de patinação artística por quase vinte
anos, conquistando o título de vice-campeã mundial.

Sua missão é ser uma agente de transformação, incentivando


o desenvolvimento do protagonismo, da autoconfiança e do
amor-próprio.

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