Comprimidos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

Desenvolvimento e

produção de drágeas
e comprimidos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:


>> Avaliar o fenômeno de compressibilidade na produção de comprimidos e
drágeas.
>> Diferenciar formas farmacêuticas em comprimidos e em drágeas.
>> Relacionar agentes de revestimento e compressibilidade com a liberação
de princípios ativos.

Introdução
A administração oral de fármacos tende a ser a via mais conveniente e segura,
sendo, portanto, a mais utilizada em comparação a todas as demais (parenteral,
pulmonar, tópica, etc.). Medicamentos sólidos podem ser administrados por via oral
na forma de comprimidos, cápsulas, pílulas, pós, entre outros. Duas importantes
formas de dosagem sólida administrada oralmente são os comprimidos e as drá-
geas. Tais formas contêm medicamentos com ou sem excipientes e normalmente
são preparadas por compressão de uma ou mais substâncias químicas na forma
de pós ou grânulos com ou sem diluentes.
Neste capítulo, você estudará os processos de obtenção de comprimidos
e drágeas, identificará as funções dos principais excipientes e conhecerá os
diferentes sistemas de liberação de fármacos.
2 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

Processos de fabricação de comprimidos


e drágeas
Os comprimidos e as drágeas são preparações farmacêuticas sólidas que
contêm um ou mais fármacos, geralmente incluindo também excipientes
farmacêuticos adequados. Essas formas farmacêuticas podem variar em
tamanho, forma, peso, dureza, espessura, desintegração e características
de dissolução, entre outros aspectos, dependendo de seu uso pretendido e
método de fabricação.
Os comprimidos constituem aproximadamente 90% de todas as formas
de dosagem clinicamente usadas para fornecer administração sistêmica de
agentes terapêuticos. Esse uso generalizado foi alcançado como resultado
de sua conveniência e pela diversidade de tipos de comprimidos. Dentre
esses tipos, podemos citar:

„„ comprimidos convencionais;
„„ comprimidos revestidos;
„„ comprimidos de compressão múltipla;
„„ comprimidos mastigáveis;
„„ comprimidos efervescentes;
„„ comprimido bucais ou sublinguais.

Os comprimidos são preparados principalmente por compressão de grâ-


nulos ou misturas de pós. Em sua maioria, são usados na administração oral
de medicamentos. Muitos deles são preparados com corantes e revestimentos
de vários tipos. Outros comprimidos, como os sublinguais, bucais ou vaginais,
são preparados para ter características mais aplicáveis à sua via particular
de administração.
Neste capítulo, vamos enfatizar dois tipos de comprimidos: os convencio-
nais e os revestidos com açúcar, também conhecidos como drágeas.
A principal técnica para produção de comprimidos é pela compressão de
pós e grânulos, o que pode ser feito de três maneiras distintas: granulação
úmida, granulação seca ou compressão direta.

Método de granulação úmida


A granulação é uma operação unitária em que pequenas partículas de pó
são reunidas para formar aglomerados chamados grânulos. Para atingir a
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 3

coesão entre os pós, é necessário incluir na formulação substâncias adesivas


chamadas aglutinantes ou agentes de granulação. Normalmente, utiliza-se
uma solução de granulação, por ser mais eficaz em comparação com a mesma
quantidade do aglutinante de pó seco. A mistura do pó, em conjunto com as
propriedades coesivas do ligante, permite a formação de grânulos que, quando
devidamente “comprimidos” em prensa especial, formam comprimidos com
as propriedades desejadas.
O método de granulação úmida (Figura 1) é um processo de aumento de
tamanho, no qual as partículas de pó fino são aglomeradas ou reunidas
em uma estrutura maior, mais forte e relativamente estável: os grânulos.
Nesse processo, utiliza-se um líquido adequado de granulação volátil e não
tóxico, como água, isopropanol ou etanol (ou misturas deles). A solução de
granulação pode ser utilizada por si só ou em conjunto com um aglutinante
contendo um solvente ou um agente de granulação. A escolha do líquido
de granulação depende muito das propriedades dos materiais a serem
granulados. A mistura do pó, em conjunto com as propriedades coesivas do
agente de granulação, permite a formação de grânulos. As características e
o desempenho do produto acabado dependem muito do nível de interação
das partículas de pó entre si para formar agregados (grânulos).

Figura 1. Fluxograma de produção de comprimidos pelo método da granulação úmida.


4 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

No método de granulação úmida tradicional, a primeira etapa do processo


envolve a pesagem e mistura dos ingredientes da formulação (excluindo o lubri-
ficante). Essa etapa envolve a pesagem, a tamisação e a adição do fármaco, do
aglutinante, do diluente e do desintegrante em um misturador de pó. Então, essas
substâncias são misturadas até que uma mistura de pó uniforme seja obtida.
Existem muitos diluentes disponíveis no mercado, mas os mais usados
no método de granulação úmida incluem lactose, celulose microcristalina,
amido, sacarose em pó, manitol, frutose, sorbitol, fosfato de cálcio e sulfato
de cálcio. Dentre esses diluentes, os mais utilizados são a lactose, por seu
baixo custo, boa solubilidade e compatibilidade com a maioria dos fármacos
e excipientes, e a celulose microcristalina, por sua fácil compactação, com-
patibilidade com a maioria dos ingredientes da formulação e consistente
uniformidade de fornecimento (AULTON; TAYLOR, 2016).
Os desintegrantes mais comumente utilizados na granulação úmida in-
cluem croscarmelose, glicolato de amido sódico, carboximetilcelulose sódica,
polivinilpirrolidona (PVP), crospovidona, resinas de troca catiônica, amidos de
milho, ácido algínico e outros materiais que neutralizam o efeito dos ligantes
e as forças físicas de compressão usadas na fabricação dos comprimidos.
A croscarmelose e o glicolato de amido sódico são frequentemente usados
por causa de sua alta absorção de água e ação rápida.
Após a pesagem, tamisação e mistura dos pós, prepara-se a massa úmida.
A essa altura, a solução ligante é adicionada à mistura de pós para formar
uma massa adesiva que pode ser granulada (malaxagem). Entre os agentes de
granulação estão as soluções de povidona, uma preparação aquosa de amido
de milho, melaço, metilcelulose, carboximetilcelulose, solução de glicose e
celulose microcristalina. Pode-se usar aglutinante seco ou solução não aquosa
para substâncias medicamentosas que são adversamente afetadas pela solução
aquosa. Em seguida, a mistura de pós já umedecida é passada por um tamil,
em um granulador oscilante. O mecanismo de granulação proposto pode ser
dividido em três etapas: nucleação, transição e crescimento de esfera (AULTON;
TAYLOR, 2016). Os grânulos obtidos são secos em uma estufa com temperatura
controlada. A temperatura de secagem e a duração do processo de secagem
dependem da natureza do ingrediente ativo e do nível de umidade necessário
para a produção bem-sucedida de comprimidos satisfatórios.
Em seguida, os grânulos secos são passados por um tamil de tamanho menor
que a usado para preparar os grânulos úmidos (calibração). Após a calibração,
realiza-se a adição do lubrificante. Exemplos de lubrificantes comumente
utilizados em granulação úmida incluem: estearato de magnésio, estearato de
cálcio, ácido esteárico, cera, óleo vegetal hidrogenado, talco e amido.
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 5

Por fim, os grânulos misturados são comprimidos em uma única punção


ou prensa de comprimidos multiestação equipada com punções e matrizes
apropriados. Os comprimidos podem ser revestidos, se houver necessidade
de mascarar o sabor de medicamentos desagradáveis, aumentar o apelo
estético dos comprimidos não revestidos, modificar ou controlar a liberação
de agentes terapêuticos dos comprimidos. Isso é conseguido envolvendo-
-se ou cobrindo-se o núcleo do comprimido ou grânulos com soluções de
revestimento.

Método de granulação seca


A granulação seca, também conhecida como pré-compressão ou compressão
dupla, é um processo de aumento de tamanho que visa melhorar as carac-
terísticas de fluxo e compressão de pós. O processo envolve a compactação
de partículas de pó em grandes compactos, que são subsequentemente
quebrados para produzir grânulos que podem ser posteriormente processados
em formas de dosagem.
A granulação seca (Figura 2) costuma ser utilizada na fabricação de compri-
midos quando os componentes da formulação são passíveis de sofrerem algum
grau de degradação pela ação da umidade ou da temperatura empregadas
no processo de obtenção por granulação úmida (BANKER; ANDERSON, 2001).

Figura 2. Fluxograma de produção de comprimidos pelo método da granulação seca.


6 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

A formação de grânulos usando o processo de granulação a seco é geral-


mente conseguida ou pela técnica de slugging ou pela compactação por rolo.
O processo conhecido como slugging envolve a compressão de partículas
primárias de pó em grandes compactos planos (em geral de 25 mm de diâ-
metro por cerca de 10–15 mm de espessura — os slugs) usando uma prensa
de comprimidos ou, mais comumente, uma grande prensa pesada rotativa.
O compacto resultante é então quebrado usando-se um moinho de martelo
ou outro equipamento de moagem convencional. Os slugs quebrados são
tamisados para separar a fração de tamanho desejado. Um lubrificante é
adicionado da maneira usual e os grânulos são comprimidos. O slugging
resulta em liberação de pós para ambiente, o que pode causar contaminações
cruzadas. Esse método vem caindo em desuso e está sendo substituído pela
granulação a seco por compactação por cilindro.
A compactação por cilindro é uma forma relativamente simples, mais
eficiente e barata, de granulação seca (AULTON; TAYLOR, 2016). É um processo
em que os componentes da formulação são continuamente passados entre
dois cilindros contragiratórios, onde são densificados e consolidados em
uma lâmina comprimida. Os materiais compactados são posteriormente
fragmentados, calibrados, lubrificados e compridos.

Método de compactação direta


O processamento do fármaco com excipientes pode ser alcançado sem
qualquer necessidade de granulação e operações unitárias relacionadas
(SHANGRAW, 1989). A simples mistura dos componentes da formulação
pode ser processada e comprimida sem que nenhum dos componentes
precise ser alterado. Esse procedimento é chamado de compressão direta
(ou compactação direta) e é usado na fabricação de comprimidos quando
os ingredientes da formulação podem fluir uniformemente para a cavidade
da matriz (Figura 3).

Figura 3. Fluxograma de produção de comprimidos pelo método da compactação direta.


Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 7

O termo compressão direta foi reservado para um pequeno grupo de


substâncias químicas granulares que possuem todas as características fí-
sicas necessárias para serem comprimidas diretamente sem uma etapa de
granulação intermediária.
A adoção da tecnologia de compressão direta é baseada nas seguintes
vantagens ou benefícios (AULTON; TAYLOR, 2016):

„„ O método de compressão direta requer menos etapas de proces-


samento (operações unitárias) e menos equipamentos. Portanto, o
método é potencialmente menos oneroso do que outros métodos
usados na fabricação de comprimidos.
„„ A fabricação de comprimidos pode ser realizada sem o envolvimento
de umidade e calor.
„„ Alguns excipientes utilizados durante a compressão direta pos-
suem propriedades de desintegração inerentes, como a celulose
microcristalina.
„„ Os comprimidos produzidos pelo método de compressão direta ge-
ralmente apresentam tempos de dissolução mais rápidos do que
aqueles preparados por granulação úmida. Isso ocorre porque os
comprimidos fabricados pelo método de compressão direta se desin-
tegram no estado de partícula primária, ao contrário dos fabricados
pelo método de granulação úmida, que se decompõem em grânulos
e, finalmente, no estado de partícula primária.
„„ Mudanças no perfil de dissolução são menos prováveis em compri-
midos fabricados por compressão direta (se armazenados por um
longo tempo) do que naqueles preparados por granulação úmida.
„„ Como os excipientes de compressão direta têm uma capacidade
de ligação relativamente alta, a pressão necessária para fabricar
a dureza desejada é, em geral, menor com veículos de compressão
direta do que com granulações convencionais, resultando em taxas
de produção mais altas e maior vida útil do equipamento.
„„ A lubrificação é realizada no mesmo recipiente que a mistura do pó, re-
duzindo as perdas de transferência e a contaminação do equipamento.
8 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

Por outro lado, existem vários motivos pelos quais a compressão direta
pode não ser adequada para uma ampla gama de substâncias, tais como
(HAUSNER, 1967; JIVRAJ; MARTINI; THOMSON, 2000):

„„ fármacos em altas doses podem apresentar problemas com compres-


são direta se não possuírem a capacidade intrínseca de compressão;
„„ a escolha dos excipientes usados na fabricação de comprimidos por
tecnologia de compressão direta é altamente restrita, uma vez que
a maioria dos materiais não tem propriedades de ligação inerentes;
„„ os medicamentos de baixa dosagem podem não ser misturados
uniformemente;
„„ excipientes de compressão direta são frequentemente mais caros do
que outros excipientes de comprimido usados em granulação úmida
ou granulação seca.

Controle de qualidade de comprimidos


Os comprimidos devem ser submetidos a uma série de testes antes de serem
considerados adequados para comercialização e consumo. Dentre esses
testes, podemos citar (LOVATO; COMARELLA, 2015):

„„ conteúdo do ingrediente ativo/teste de conteúdo absoluto do medi-


camento/ensaio do ingrediente ativo;
„„ teste de uniformidade de peso/teste de variação de peso;
„„ teste de uniformidade de conteúdo;
„„ teste de tempo de desintegração;
„„ teste de dissolução;
„„ teste de resistência ao esmagamento/teste de dureza;
„„ teste de friabilidade;
„„ determinação da resistência à tração.

Revestimento de comprimidos
O revestimento de comprimidos é um processo pelo qual uma camada externa
essencialmente seca de material de revestimento é aplicada à superfície de
uma forma de dosagem sólida para conferir benefícios específicos sobre a
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 9

variedade não revestida. Os revestimentos podem ser aplicados a várias


formas de dosagem oral, como partículas, pós, grânulos, cristais, pellets e
comprimidos.
Dentre os principais objetivos que se deseja atingir ao revestir uma for-
mulação sólida, podemos citar (ROLIM et al., 2009):

„„ mascarar o gosto amargo e o odor desagradável de algumas substâncias;


„„ melhorar a aparência do produto para fins estéticos ou comerciais
(ajudando na identificação da marca);
„„ prevenir a irritação induzida por fármacos em um local específico
dentro do trato gastrointestinal, como proteger o estômago para
medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs);
„„ proteger o fármaco do ambiente externo (particularmente do ar, umi-
dade e luz), a fim de melhorar sua estabilidade;
„„ aumentar a facilidade em deglutir formas de grandes dosagens;
„„ facilitar a rápida identificação de um produto pelo fabricante, pelo
farmacêutico distribuidor e pelo paciente;
„„ reduzir o risco de interação entre materiais incompatíveis;
„„ retardar a perda de ingredientes voláteis;
„„ modificar e /ou controlar a taxa de liberação do medicamento como
em produtos de ação repetida, liberação retardada (com revestimento
entérico) e liberação sustentada;
„„ permitir que o produto revestido (especialmente comprimidos) seja
mais facilmente manuseado por equipamento de enchimento auto-
mático e embalagem.

Existem essencialmente três técnicas principais para a aplicação de reves-


timentos a formas de dosagem farmacêuticas sólidas(AULTON; TAYLOR, 2016):

„„ drageamento;
„„ revestimento peliculado;
„„ revestimento a seco.

Neste capítulo, vamos nos deter especificamente na técnica de revesti-


mento de açúcar, também chamada de drageamento.
O drageamento tem sido o método tradicional de revestimento de for-
mas farmacêuticas. O processo teve origem na indústria de confeitaria e é
10 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

utilizado na indústria farmacêutica desde o final do século XIX (LACHMAN;


LIEBERMAN; KANIG, 2001). O processo de drageamento envolve a aplicação
sucessiva de formulações de revestimento baseadas em sacarose sobre o
núcleo dos comprimidos.
O drageamento é utilizado em aplicações de liberação imediata para mas-
carar o sabor e odor desagradável de alguns medicamentos ou para melhorar
as qualidades estéticas do produto. Deve ser entendido que o processo de
revestimento adiciona algum tempo à desintegração geral do comprimido e
pode afetar a dissolução do medicamento. Esse efeito deve ser considerado
ao formular o núcleo para garantir que o produto atenda aos requisitos de
desintegração e dissolução estabelecidos nos compêndios oficiais.
Embora o processo de drageamento seja demorado e trabalhoso, os
materiais de revestimento são baratos e prontamente disponíveis. As carac-
terísticas ideais de comprimidos revestidos de açúcar são:

„„ as drágeas devem possuir um contorno liso e arredondado, com co-


bertura cromática uniforme e alto grau de brilho;
„„ as drágeas devem atender aos requisitos especificados nos compên-
dios oficiais.

Como o processo de drageamento consiste em várias etapas (selagem dos


núcleos dos comprimidos, subrevestimento, alisamento, coloração, polimento,
impressão), uma variedade de aditivos pode ser incorporada em cada tipo
de formulação para atingir uma função particular. Como já mencionado, a
principal substância usada no processo de drageamento é o açúcar, princi-
palmente a sacarose, embora possa ser substituída por outros açúcares e
álcoois de açúcar (como glicose, lactose, maltitol, manitol, isomalte, sorbitol,
xilitol e misturas de açúcar, como açúcar invertido e açúcares de amido).
Normalmente, a sacarose é utilizada em concentrações que variam entre
50–60%, uma vez que xaropes com teor de açúcar inferior a 65% são estáveis
à temperatura ambiente sem que ocorra cristalização.
Apesar das vantagens do drageamento, esse processo é tedioso e de-
morado. Além disso, a obtenção de alta qualidade estética frequentemente
requer a experiência de técnicos altamente qualificados. Ademais, o tamanho
e o peso finais dos comprimidos revestidos resultam em maiores custos de
embalagem e envio.
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 11

Liberação controlada de fármacos


A liberação controlada de um ingrediente farmacêutico ativo normalmente
tem como objetivo direcionar o fármaco para locais ou células específicas do
corpo, a fim de superar certas barreiras teciduais e celulares e controlar a du-
ração e a concentração de fármaco no corpo dentro de uma janela terapêutica
específica. As formas farmacêuticas de liberação controlada proporcionam
liberação sustentada do fármaco (ALTINKAYA, 2010).
A liberação de um ingrediente farmacêutico ativo pode ser controlada
mediante dois métodos principais (AULTON; TAYLOR, 2016):

„„ a própria forma farmacêutica compõe o elemento de liberação


controlada;
„„ aplicação de um revestimento de liberação controlada à forma farma-
cêutica, em cujo caso o fármaco normalmente está contido no núcleo
e é liberado por meio do revestimento de liberação controlada ou por
sua dissolução.

Além das drágeas, existem outros tipos de revestimento, como o revesti-


mento pelicular (revestimento com filme, filme coating). Esse é um processo
contemporâneo e amplamente utilizado para revestir formas de dosagem
sólidas orais na indústria farmacêutica. É um processo baseado em tecnologias
associadas à química de polímeros, adesivos e tintas industriais e engenharia
química. O revestimento pelicular envolve a deposição de uma fina camada
de polímero formador de filme sobre o comprimido.
Os revestimentos com filme podem ser classificados de várias maneiras,
mas é uma prática comum dividi-los em termos de sistema de liberação de
fármacos. Desse modo, podem ser classificados como revestimentos com filme
de liberação imediata ou revestimentos com filme de liberação modificada.
Os revestimentos com filme de liberação imediata, também conhecidos
como revestimentos de filme não funcionais ou convencionais, são normal-
mente reservados para situações em que é necessário melhorar a aparência
do produto, sua deglutição, sua estabilidade ou para mascarar o sabor. Os
revestimentos não têm efeito mensurável nas propriedades biofarmacêuticas
das formas de dosagem revestidas.
12 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

Já os revestimentos de filme de liberação modificada (ou funcional) são


usados quando as características de liberação do fármaco precisam ser
modificadas. Nessa categoria, ainda podem ser subclassificados como re-
vestimentos de liberação retardada (como o revestimento gastrorresistente/
entérico) ou de liberação prolongada.
O mecanismo mais simples pelo qual um revestimento pode controlar os
aspectos temporais da liberação do medicamento é a aplicação de cama-
das de um único material capaz de erodir, fundir ou se tornar permeável à
temperatura corporal e, assim, permitir a liberação do fármaco. Por meio de
uma seleção criteriosa de misturas de pellets com diferentes espessuras de
revestimento, é possível construir um perfil de dissolução da forma neces-
sária para um determinado fármaco. Diversas ceras e materiais semelhantes
são usados para produtos de liberação controlada que funcionam dessa
maneira, e alguns desses produtos são comercializados com sucesso há
muitos anos. Apesar de serem bastante diversificadas, as formulações de
solução de revestimento são constituídas basicamente pelos componentes
descritos no Quadro 1.

Quadro 1. Excipientes utilizados no revestimento de comprimidos

Tipo de excipiente Definição Exemplos

Plastificante Usado como componente Dietil ftalato


de soluções de película de TEC
revestimento para diminuir Glicerina
a temperatura de transição
vítrea do polímero e para
ampliar a disseminação
da cobertura sobre os
comprimidos, glóbulos e
grânulos.

Solvente volátil Agente usado para dissolver Água


e permitir que os outros Isopropanol
componentes se espalhem Álcool etílico
sobre o comprimido, Acetona
enquanto possibilita a
rápida evaporação. O
solvente pode ser aquoso
ou não aquoso.

(Continua)
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 13

(Continuação)

Tipo de excipiente Definição Exemplos

Agente de brilho Usado para dar um brilho Cera branca


para comprimidos atraente aos comprimidos Cera de carnaúba
revestidos sem a
necessidade de polimento.

Agente Usado para proporcionar Dióxido de titânio


opacificante revestimento opaco aos
comprimidos; também pode
ser usado em associação
com corantes a fim de
proporcionar um “fundo
branco” ao pigmento.

Agente de Usado para revestir Hidroxipropilmetilcelulose


revestimento comprimidos, formando (HPMC)
(polímero) um filme ao seu redor. Polímeros do ácido
acrílico
Álcool polivinílico
Acetoftalato de
celulose (revestimento
gastrorresistente)

Antiespumante Usado para evitar a Simeticona


formação de espuma
em uma solução de
revestimento.

Corantes Usado para conferir Óxido férrico


coloração ao revestimento. Corante laca azul

Edulcorantes, Usado para ampliar a Sacarina


flavorizantes e aceitação do comprimido Aroma de baunilha
aromas pelo paciente, artifício de
marketing.

Fonte: Adaptado de Oliveira (2007).

Revestimento entérico
As enzimas presentes no trato gastrointestinal têm potencial considerável
para agir como agentes que estimulam a quebra do revestimento de um
produto de liberação controlada e, portanto, a liberação do fármaco em um
momento apropriado após a ingestão ou em um determinado local no trato.
14 Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos

Um revestimento entérico, também conhecido como revestimento gastrorre-


sistente, é um revestimento aplicado à formulação oral para controlar o local
no trato digestivo onde o fármaco será absorvido. O termo entérico refere-se
ao intestino delgado; portanto, os revestimentos entéricos resistem à quebra
do fármaco antes que ele atinja esse órgão.
Os revestimentos entéricos são utilizados em situações em que o fármaco
sem revestimento seria inativado ou destruído na secreção ácida do estô-
mago ou seria particularmente irritante para a mucosa gástrica. As primeiras
abordagens para a preparação de formas de dosagem entérica envolveram
o tratamento de cápsulas de gelatina com formalina ou revestimento de
comprimidos com goma-laca. Nenhuma dessas abordagens era confiável, uma
vez que a solubilidade da membrana (que é responsável pelo efeito entérico)
pode ser imprevisível. Os revestimentos entéricos modernos costumam
ser formulados com material polimérico sintético, frequentemente referido
como poliácidos. Esses polímeros contêm grupos funcionais ionizáveis que
os tornam solúveis em água em um valor de pH específico.
Existem evidências de que cadeias curtas e lineares de amilose são resis-
tentes ao ataque enzimático no intestino delgado, mas podem ser degradadas
pela microflora do cólon intestinal (RHODES; PORTER, 1998). Há, portanto,
considerável interesse em revestir sistemas de liberação de fármacos com
uma mistura de uma forma apropriada de amilose e outros materiais de re-
vestimento, como etilcelulose, de modo que o sistema de liberação resultante
seja capaz de liberar o fármaco no cólon.
Os comprimidos seguem populares como forma de dosagem, devido às
várias vantagens proporcionadas ao fabricante e ao paciente. Embora a
abordagem mecânica básica para a maior parte da fabricação de comprimi-
dos tenha permanecido a mesma, esforços são feitos continuamente para
compreender melhor as características físicas da compactação do pó e os
fatores que afetam a disponibilidade da substância medicamentosa na forma
de dosagem após a administração oral.

Referências
ALTINKAYA, S. A. Controlled release of drugs from tablet coatings. In: GAD, S. C. (org.).
Pharmaceutical sciences encyclopedia: drug discovery, development, and manufac-
turing. Hoboken: John Wiley & Sons, 2010. p. 1–46.
AULTON, M.; TAYLOR, K. Delineamento de formas farmacêuticas. 4. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2016.
Desenvolvimento e produção de drágeas e comprimidos 15

BANKER, G. S.; ANDERSON, N. R. Comprimidos. In: LACHMAN, L.; LIEBERMAN, H. A.; KA-
NIG, J. L. (org.). Teoria e prática na indústria farmacêutica. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2001. p. 509–598.
HAUSNER, H. H. Friction conditions in a mass of metal powder. Int. J. Powder Metall, v.
3, nº. 4, p. 7–13, out. 1967.
JIVRAJ, M.; MARTINI, L. G.; THOMSON, C. M. An overview of the different excipients useful
for the direct compression of tablets. Pharm. Sci. & Tech Today, v. 3, nº. 2, p. 58–63, 2000.
LACHMAN, L.; LIEBERMAN, H. A.; KANIG, J. L. (org.). Teoria e prática na indústria farma-
cêutica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
LOVATO, H. L.; COMARELLA, L. Qualidade de comprimidos distribuídos no Sistema Único
de Saúde no Brasil: uma breve revisão. Visão Acadêmica, v. 16, nº. 1, p. 39–152, 2015.
OLIVEIRA, T. M. de. Comprimidos revestidos com polímeros químicos. 2007. 73 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) — Faculdade de Farmácia, Centro
Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2007. Disponível em:
https://arquivo.fmu.br/prodisc/farmacia/tmo.pdf. Acesso em: 3 set. 2020.
RHODES, C. T.; PORTER, S. C. Coatings for controlled-release drug delivery systems.
Drug development and industrial pharmacy, v. 24, nº. 12, p. 1139–1154, 1998.
ROLIM, L. A. et al. Aplicações de revestimento em formas farmacêuticas sólidas na
indústria farmacêutica. Rev. Bras. Farm., v. 90, nº. 3, p. 224–230, 2009.
SHANGRAW, R. F. Compressed tablets by direct compression. In: LIEBERMAN, H. A.;
LACHMAN, L.; SCHWARTZ, J. B. (ed.). Pharmaceutical dosage forms: tablets. 2. ed. New
York: Marcel Dekker, 1989. p. 195–246.

Leitura recomendada
ALLEN JR., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas de
liberação de fármacos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

O seu texto aqui 1


Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos
testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar