SP 1.2 - Dor Neuropática
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O aumento de cálcio intracelular, além de causar da roupa, brisa do ar, alterações da temperatura, etc)
ativação e despolarização da membrana, determina ou desproporcional a um estímulo nociceptivo.
ativação do segundo mensageiro, alterações na
Os sintomas e sinais da DN podem ser negativos
expressão gênica e maior excitação neuronal.
(quando há perda sensitiva) ou positivos (sensações
As células de micróglia proliferam rapidamente após anormais ou exageradas).
a lesão neuronal, com consequente ativação do
sistema imunológico, liberação de citocinas SINAIS NEGATIVOS: indicam disfunções das fibras A-
inflamatórias e substâncias citotóxicas, provocando beta e A -delta.
aumento da excitabilidade medular e alterações ✓ Hipoestesia → perda da sensação normal a
neuroplásticas. estímulos não dolorosos.
Assim como em outros tipos de dor crônica, o sistema ✓ Hipoalgesia → perda da sensação à picada de
descendente noradrenérgico, serotoninérgico e agulha. É comum em neuropatias periféricas e
opioide inibidor da dor, se torna ineficaz na inibição frequentemente coexiste com dor espontânea
do estímulo doloroso. intensa, em queimação.
✓ Anticonvulsionantes;
✓ Antidepressivos;
✓ Opioides;
✓ Agentes tópicos e antiarrítmicos;
✓ Gabaérgicos (baclofeno);
✓ Antagonistas de NMDA;
✓ Bloqueios anestésicos;
✓ L-dopa, AINHS e neurolépticos.
ANTICONVULSIONANTES/ANTIEPILÉTICOS: Os
anticonvulsivantes têm seu papel como analgésicos
por serem drogas que exercem seu efeito sobre os
canais iônicos envolvidos tanto na epilepsia com o na
dor neuropática. Os canais-alvo para esse efeito são os
de sódio e os de cálcio.
BLOQUEADORES DE
TRATAMENTO DA DOR NEUROPÁTICA CANAIS DE SÓDIO
CARBAMEZEPINA Seu efeito é exercido ao
A dor neuropática requer uma abordagem bloquear a condutância
terapêutica diferente da dor nociceptiva. No iônica frequência-
tratamento da dor nociceptiva, deve-se seguir as dependente em canais de
recomendações da escada analgésica da Organização sódio, suprimindo a
Mundial de Saúde (OMS), utilizando-se inicialmente os atividade espontânea de
analgésicos convencionais e, depois, se necessário, os fibras A-delta e C e a
opióides fracos e os opióides fortes. Em qualquer atividade espontânea
etapa do tratamento, podem-se acrescentar as drogas ectópica periférica.
adjuvantes. No tratamento da dor neuropática, a Diminui liberação de
escada analgésica não se aplica, e as drogas glutamato ao bloquear os
canais de sódio.
adjuvantes assumem o papel de protagonistas. Isso
Paulo Filipe Nogueira de Queiroga
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GABAPENTINA
Paulo Filipe Nogueira de Queiroga
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Não são apenas membros superiores e inferiores que Os mecanismos que a ela conduzem centram -se em
possuem sensação fantasma. Há diversos casos de alterações neurais que levam a hiperexcitabilidade e
mamas fantasmas após mastectomias radicais e até neuroplasticidade, razão pela qual o tratamento se
mesmo vesícula biliar e apêndice fantasmas, onde baseia em uso local (lidocaína tópica),
dores continuavam a ser relatadas meses após o anticonvulsivantes (gabapentina ou oxcarbazepina,
procedimento de retirada. carbamazepina e lamotrigina em dor lancinante ou
paroxística), antidepressivos tricíclicos, opióides ou
SENSAÇÃO FANTASMA: define-se sensação tramadol.
fantasma como a existência de sensações, que não
O membro-fantasma pode ser entendido como a
dor, no membro amputado. Sabe-se que quase todos
interação entre o que se detecta ao nível periférico
os amputados a têm após a amputação de um
(corpo) e o que se integra ao nível central (mente),
membro. A sensação de membro fantasma é
sendo criada então, a aparência final do corpo no
diferente da dor do membro fantasma.
sistema nervoso. Como o ser humano está
Pode ser dividida em três categorias: acostumado a ter um corpo por completo, o fantasma
acaba sendo a expressão de uma dificuldade de
✓ Sensação cinética → sensação de movimento;
adaptação a um defeito súbito de uma parte
✓ Percepção cinestésica → noção do tamanho,
periférica importante do corpo. Além desse fator, o
do formato e da posição da parte do corpo, que
córtex cerebral, que possui um mapa sensorial das
pode estar normal ou distorcida;
partes do corpo, ainda possui uma área de
✓ Percepção exterocetiva → sensação de toque,
representação da região amputada, o que dificulta o
pressão, temperatura e vibração.
cessar das sensações corporais. Assim, as sensações de
DOR NO COTO: definida como uma dor aguda no membro fantasma são caracterizadas por fatores
local da amputação. A dor nociceptiva no coto da psíquicos e fisiológicos, que agem conjuntamente para
amputação possui etiologia relacionada ao pós- expressar tal fator.
operatório imediato, sendo uma resposta normal que
→ MECANISMOS PERIFÉRICOS: durante a amputação,
costuma reduzir após a finalização do processo
os nervos periféricos são seccionados. Isto leva a uma
cicatricial como qualquer outra dor aguda na ferida
massiva destruição de tecido neuronal, causando
operatória frente à agressão de uma cirurgia
rotura do padrão normal de aferência do nervo para a
ortopédica ou vascular.
medula espinhal. De seguida dá-se um processo de
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desaferenciação e a porção proximal dos nervos com o grau de dor e com o tamanho da região
seccionados pode formar neuromas. Há um aumento desaferenciada.
da acumulação de moléculas que reforçam a expressão
de canais de sódio nestes neuromas, que resulta em IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS DA
hiperexcitabilidade e descargas espontâneas. Assim, AMPUTAÇÃO: o paciente amputado defronta-se com
em geral, há um aumento na atividade ectópica e uma uma complexa rede de consequências psicológicas e
perda de controle inibitório no corno dorsal. enfrenta um doloroso processo de dor, de perdas, de
reconstrução da sua imagem corporal e de mudanças
→ MECANISMOS NEURAIS CENTRAIS - ALTERAÇÕES de suas perspectivas pessoais, profissionais e sociais.
AO NÍVEL MEDULAR: Reorganização Anatômica - que Consequentemente, é fundamental para esse
ocorre dentro da medula espinal após a lesão do nervo paciente, que no decorrer desse processo, receba
periférico. As fibras-C não mielinizadas envolvidas na apoio psicológico para que possa ultrapassar os limites
condução da dor normalmente fazem sinapses na de sua nova realidade.
lâmina 1 e 2 do corno dorsal. A lesão do nervo
periférico pode levar à degeneração destas fibras-C. As Os aspectos emocionais mais frequentes (encontrados
grandes fibras mielinizadas AB-fibras, que em três estudos) após a hospitalização foram o
normalmente estão envolvidas no tato, pressão e sofrimento causado pela perda de independência e,
propriocepção, enviam conexões a partir das lâminas 3 consequentemente, pela dependência do outro e a
e 4 (onde normalmente fazem sinapse, para a lâmina 1 sensação de isolamento social. Um participante no
e 2, lâminas estas que foram previamente ocupadas estudo de Seren e De Tilio (2014) relatou que a
pelas fibras C). Isto pode contribuir para o amputação o deixou muito restrito. No estudo de Silva
desenvolvimento da dor do membro fantasma, onde et al. (2009), os participantes representaram-se como
estímulos não dolorosos podem ser experienciados incapazes e inúteis por serem dependentes de outras
como dolorosos. A sensibilização central de células do pessoas.lém disso, Batista & Luz (2012) concluíram que
corno dorsal - ocorre em resposta ao aumento da havia um sofrimento nos pacientes provocado pela
barragem de estímulos dolorosos a partir do local da dependência de outros e dificuldades de realizar
amputação. Este estado de hiperexcitabilidade leva ao atividades. A sensação de isolamento social apareceu
desenvolvimento de hiperalgesia, em que o paciente nos estudos de Batista & Luz (2012), de Gabarra &
experimenta uma resposta exagerada a estímulos Crepaldi (2009) e de Sales et al. (2012): os pacientes
nocivos. Aminoácidos excitatórios, tais como o ácido relataram situações de preconceito e estigma social em
glutâmico e o ácido aspártico, podem estar envolvidos decorrência do membro amputado e de funções que
neste processo, atuando através do N Metil-D- não são mais capazes de exercer.
aspartato (NMDA). PSICOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DMF: visa,
→ MECANISMOS NEURAIS CENTRAIS- ALTERAÇÕES sobretudo, trabalhar as necessidades dos indivíduos
AO NÍVEL DO CÉREBRO: Em membros superiores amputados, com intuito de auxiliá-los da melhor
amputados, a área do córtex somatossensorial maneira possível no desenvolvimento de suas
correspondente ao membro perdido aparece para atividades de vida diária.
receber informações sensoriais de outras áreas do Uma técnica utilizada é a Terapia do Espelho para
corpo que fazem sinapse em áreas adjacentes no
tratar o alívio da dor fantasma. A técnica consiste em
córtex somatossensorial. A velocidade com que estas trabalhar com ilusão: é ocultado o membro amputado
alterações ocorrem após amputação de membros e no espelho é vista a imagem do membro oposto
sugere que esta reorganização é provável que seja um existente, o que produz, no paciente, a sensação de
resultado de desmascaramento das sinapses ocultas
possuir os dois membros saudáveis. A estratégia
no córtex somatossensorial, em vez de alterações consiste em enganar o cérebro, na tentativa de ajudá-
anatómicas diretas. A DF nos membros pode surgir a lo a reconstruir seu mapa referente ao corpo, para
partir de erros que ocorrem neste processo de fazer com que a sensação incômoda diminua.
remapeamento cortical, levando à amplificação
excessiva da dor experienciada. Também podem
ocorrer erros nas modalidades sensoriais, com o toque
a ser experimentado como dor. A extensão da
reorganização cortical está diretamente relacionada
Paulo Filipe Nogueira de Queiroga
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