Ebook Orixas
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e Divindades Caribenhas
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SOBRE A OBRA: SOBRE NÓS:
A presente obra é disponi- O Portal TOM e seus parceiros
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Portal TOM, com o objetivo domínio público de proprie-
de oferecer conteúdo para dade espiritual e cultural de
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FICHA TÉCNICA:
Realização: Portal TOM
Compilado: Portal TOM
Dir. de Conteúdo: Portal TOM
Design e Diagramação: Nikolas
Peripolli e Daniel Cattaruzzi
Iustrações: Yessica Padias
Revisão: Mariana Brasil
Índice
6 Apresentação
9 Um Estudo das Divindades Afro: do Caribe à Cuba
19 O Panteão Lucumi
25 Obbatalá
31 Os avatares de Obbatalá
45 Oddudúa (Oduá, Odúduá)
49 Eleguá
55 Os avatares de Eleguá
68 Ogún
74 Os avatares de Ogún
79 Ochosi
87 Os avatares de Ochosi
90 Orúnmila ou Orula
102 Changó
108 Os avatares de Changó
113 Oyá
121 Os avatares de Oyá
124 Obba
129 Os avatares de Obba
132 Ochún
139 Os avatares de Ochún
145 Yemayá
152 Os avatares de Yemayá
155 Babalú-Ayé
162 Os avatares de Babalú-Ayé
165 Naná Burukú
169 Osaín
175 Os avatares de Osaín
176 Oricha-Oko
178 Inle
180 Yewá
183 Los Ibeyis
185 Tabela das Formas de Sincretismo Encontradas na
Regla de Osha e seus Templos em Cuba e na
América Latina
187 Culto aos Eguns
190 Os Egguns nos Cultos Caribenhos
193 As Mitologias Lucumies
212 Reglas Conga
215 As Divindades Congo
232 Os Kimpugulo - As Divindades Congolesas
234 Algumas Divindades da Tradição de Palo Monte ou
Mayombe
240 As Divindades do Vodu Haitiano
251 O Universo dos Zumbis
252 O Vodu em Santo Domingo
253 Loas ou Lwas
253 Família Rada
255 Família Ogoun
255 Família Guede
256 Família Petro
257 Bibliografia
Apresentação
O estudo e o aprofundamento de assuntos re-
lacionados à religião são, socialmente falando, um
ponto importante de apoio ao homem no que diz
respeito ao preenchimento de espaços vazios, que
por vezes prejudica o desenvolvimento social,
humano e psicológico, levando o gênero humano a
caminhos que são diferentes do ponto de vista do
crescimento cultural e psicossocial.
O papel das grandes tradições religiosas e da
religião é o “religar” do homem a alguma crença, na
qual ele (o ser humano) deposita e garante a sua fé
e confiança, caracteriza-se como “o preenchimento
da lacuna” que o separa de Deus, e é esta religação
que traz os aspectos de transformação e maturida-
des psíquicas, que conceituam as religiões num
patamar muito acima de qualquer área ou ciência
humana.
No mesmo movimento que estreita o laço do
fiel a divindades, também se fortalecem os laços
que vinculam o indivíduo a uma sociedade ou um
grupo do qual seja membro. Isso acontece de
forma precisa nas práticas religiosas.
Esta obra é um breve estudo das tradições
6
religiosas latino-americanas. Ela parte de uma
pesquisa diversificada e incansável das tradições
religiosas africanas. Nós, brancos, negros, orientais
ou outros grupos étnico-culturais das Américas,
com pouca margem de erro, podemos dizer que
somos todos descendentes e herdeiros das
tradições africanas. A América Latina, desde o seu
início, é formada por elementos da cultura branca,
indígena (local), e em parte por elementos da
cultura negra. Em se tratando da cultura negra, as
africanidades.
Temos um caldeirão cultural, riquíssimo que
neste solo transformou-se, sempre motivado
muitas vezes pelo processo religioso, do qual nos-
sos antepassados trouxeram na grande diáspora
africana. Desde que os primeiros negros desem-
barcaram em solos americanos, a africanização
cultural e religiosa deu-se início e, de lá pra cá,
tem-se revelado um contínuo processo. Falaremos
aqui de como este processo originou grandes
tradições religiosas, como a Santeria e suas
diversidades de “Reglas”, que se formaram em solo
latino americano, principalmente de Caribe a Cuba.
Pretendo esboçar um estudo de cada um
destes grupos religiosos, quebrar mitos e trazer
7
suas diferenças daquelas tradições praticadas em
solo brasileiro. E por este caminho, traremos um
estudo de uma unidade religiosa única, mas com
uma diversidade vastíssima. Que este estudo seja a
busca da unidade, nesta diversidade que são as
tradições afro-brasileiras e afro-americanas, em
todas as suas formas de africanidades.
8
Um Estudo das Divindades Afro:
do Caribe à Cuba
As religiões da Diáspora Africana representam
todas as religiões que chegaram às Américas,
trazidas pelos escravos africanos e seus descentes.
Seu tronco matriz tem como origem as tradições
religiosas vindas da África Ocidental e da África
Central, além de uma grande influência Yoruba,
Bantu e do Culto de Vodun.
Embora à primeira vista tornem-se parecidas,
possuem características muitas vezes radicalmente
diferentes, cada uma das tradições com seu
panteão próprio de divindades, sendo elas desde
os Orixás, bem conhecidos em solo brasileiro,
graças ao Culto de Nação, e em outras partes,
como exemplo na América Central também
cultuados na Santeria. Nas tradições de influência
Yoruba, as divindades são os Orixás, nas tradições
de influência Bantu temos os Nkisis, e nas tradi-
ções do antigo Dahomey (Benin) o Vodou. Sem
falar de outras matrizes religiosas, que se incorpo-
ram ao cenário cultural religioso, trazidas do Togo,
Gana e outras regiões africanas, com influência até
de tradições antigas Islâmicas.
9
Pretendo através desta obra, comentar esta
grande contribuição cultural que culminou no
caldeirão cultural, que representa a formação
religiosa da cultura caribenha. Que é uma imensa
contribuição para a formação desta religiosidade
popular. As religiões da América Central são
amplamente praticadas por negros e brancos,
dentro e fora do continente, conhecida no país sob
as mais diversas denominações. Em Cuba, as
tradições mais importantes tem relação direta com
os grandes sistemas culturais afro-cubanos: o
Lucumí, Yoruba e Bantu origem Congo. (Ainda hoje,
a cultura iorubá estende-se por todo o sudoeste da
Nigéria, e da origem
Bantu ocupa principal-
mente a bacia sul do rio
Congo até o deserto de
Kalahari).
Neste recorte que
faço, terei como objeto
de estudo as religiões
situadas na América
Central, em especial do
Caribe a Cuba, fazendo
u m a b reve v i s i t a a o
10
Haiti. Afinal, seria incoerente falar das religiões
caribenhas e não se lembrar dos queridos Loas,
divindades per-tecentes ao Voodoo do Haiti.
Vamos conhecer mais de perto panteões
pertencentes a algumas tradições, tais como a
Regra de Ocha, Lucumí, Palo Monte ou Mayombe,
Regla de Arará, Regla de Palo e o Vodum do Haiti.
No entanto, é essencial entendermos o
processo de construção da identidade destas
tradições, resultantes de um processo aculturativo
prolongado entre as religiões trazidas pelos
escravos e seu processo de sincretização por
influência de um catolicismo selvagem. As
tradições religiosas da América Central constituem
um sinal claro das religiões de resistência cultural,
que sobrevivem à pressão esmagadora etnocêntri-
ca radical de um grupo dominante.
Daí temos um enorme esforço para manter as
raízes culturais, sendo o sincrestimo, no seu
sentido mais simples, uma regra de adaptação.
Uma forma de equilíbrio peculiar entre a resistên-
cia e a acomodação, imposto como uma forma de
cultura.
As divindades negras são escondidas por trás
das imagens católicas. As pedras dos Orixás são
11
escondidas por um suposto altar católico. E todo
mundo está feliz. Mas o processo de sincretismo é
realmente muito mais profundo: embora sempre
retardado pela rejeição da assimilação, que
culmina em uma verdadeira síntese, acaba em uma
integração de dois mundos distintos, originando na
América caribenha a criação de uma nova
ressignificação para o entrechoque de cultos tão
antigos, resultando em algo novo e original. Esta
interpretação, por sinal muito pessoal, não tem um
caráter fechado e acabado.
Lydia Cabrera1 cita
em sua obra uma das
faces desta forma de
sincretismo no cenário
das tradi-ções cubanas,
citando como exemplo
a celebração da grande
festa de “Babalú-Ayé”.
Em Santiago de Cuba,
acontece no dia 07 de
dezembro a comemo-
ração de “San Lazaro”
dentro do calendário
1
CABRERA, Lydia.El Monte.Habana: Editorial Letras Cubanas, 1993
12
católico, dias antes em um edifício localizado ao
lado do Parque Céspedes (antiga Plaza de Armas).
A grande cerimônia se ini-cia em uma manhã de
missa católica, onde os sacerdotes muitas vezes
condenavam em voz alta as "superstições que
pervertem o Cristianismo", porém os devotos do
"culto de santo africano” ouviam sempre, com
respeitosa indiferença. À noite, porém, eles
tocavam os seus tambores e bembés ou güemile-
res, numa perfeita correspondência paralela dos
supostos ritos e cerimonial, mantida a separação
ou heterogeneidade da devoção do querido
“Babalú-Ayé”, africano.
Segundo a autora, o Sacerdote dirige suas
palavras ao Deus cristão, mas o "santo" ou Orixá
reverenciado, neste caso Babalú-Ayé, convive noite
adentro em uma hamonia mágica com a divindade
cristã. Tais complexidades e contradições, dentro
das tradições da ilha cubana, coexistem de
maneira tranquila. Por sua vez, os devotos da
Santeria e os devotos da tradição Lucumí,
conseguem contruir uma base religiosa, acostuma-
dos sem crise de identidade a estes universos
paralelos.
No campo mágico espiritual, no entanto, a
13
interpenetração é mais comum e tranquila. Os
negros da América Central absorveram muitos
elementos do catolicismo popular e os incorporou
em suas práticas. Havia um certo marketing dentro
do alcance das orações católicas “poderosas”
contra todos os tipos de doenças e desastres,
feitas todos os dias, que resultavam na divulgação
dos “milagres”, realizados pela Virgem, ou santos e
santas.
Obviamente, os santos brancos tinham de
longe, uma grande consideração, e gozavam de
grandes poderes. Como Roger Bastide diz sobre
uma situação semelhante no Brasil, a conexão
entre o catolicismo representa o extraordinário
privilégio que o poder branco exercia na sociedade.
"Isso explica por que o negro convertido a tradição
católica, solidifica suas crenças em termos de
magia, que o faz enriquecidos e fortificados...
misturar ritos cristãos e africanos, além dos
indígenas locais, torna sua prática mágico espiritual
mais forte e eficaz." Além de trazer uma aura de
pseudo-aceitação do branco.
Nos países latinos, de todas as formas de
sincretismo a mais conhecida é a que integrou os
santos católicos com os orixás africanos, identifi-
14
cando (como já vimos várias vezes) nas tradições
caribenhas “Changó” com Santa Barbara, “Ochún”
com Nossa Senhora da Caridade, “Obaluaiyê” com
São Lazaro, etc. Este processo de reinterpretação
começou na África, possivelmente com a evangeli-
zação inicial dos negros por missionários europeus.
Mas, embora as determinantes desde fenô-
meno sejam mais ou menos os mesmos, cada país
americano com suas tradições africanas próprias
produziu uma variante dessas equivalências. Em
todos os lugares, o caráter de intercessão dos
santos ou da Virgem, identificados como mediador
dos orixás, ou um paralelo entre o papel de um
santo como padroeiro de atividade comercial e a
atividade humana e os orixás, bem como a ligação
do santo com certos elementos da natureza (mar,
raios, etc.), ou como patronos de algumas profis-
sões, a caça, a metalurgia ou a cura de doenças.
Mas, sem dúvida, também influenciaram certas
condições locais. Por exemplo, o querido Obaluaiyê
africano é identificado em Cuba com o “San Lazaro”
ou “El Lazarito”, como cita a população caribenha,
cheio de abscessos na pele e muito estimado
pelos católicos na ilha. Obamoró (um dos avatares
de Obbatalá) em Cuba está vestido de púrpura e,
15
portanto, é identificado
com Jesus de Nazaré,
cujas imagens tradicio-
nalmente usam roupas
dessa cor.
Ou seja, os orixás
sofreram um processo
de transformação nas
Américas, que alterou
sua posição dentro do
panteão Yoruba, mu-
dando muitas vezes seu
caráter ou personalide, eliminando e diminuindo
incrementos, alterando seus domínios naturais ou,
ainda, lhes atribuindo elementos que não são
essencialmente iorubas. Ochún, divindade dos rios,
tornou-se “dona” exclusiva de todos os rios em
Cuba. Yemayá, cultuada principalmente no rio
Ogún, tornou-se a “dona” dos mares. Oddudúa,
sincretizado com São Manoel, tornou-se o “rei dos
mortos”. Erinlé foi transformado em “médico divino”,
papel atribuído pelos católicos a São Rafael. Yewá,
por causa de alguns mitos, foi transplantada ao
cemitério.
O processo sincrético dos Orixás põe em prova
16
a força de suas características politeístas na África
e no Caribe. Estas deidades conseguiram manter
basicamente as mesmas características de ambos
os lados do oceano. Eles, poderosas divindades
imortais (não onipotente), quase sempre benéficas
a todos que a invocam e clamam por socorro, mas
muitas vezes perigosas, movidas por certas
motivações pessoais, com dramas semelhantes
aos dos seres humanos, cuja vida cotidiana os
torna totalmente envolvidos, sobre suas próprias
intenções. Solicitam de seus fiéis iniciativas,
orações, sacrifícios, mudanças morais e pessoais
além de ritos próprios.
Seus mitos legitimam a prática devocional e
representam a história de deuses, mostrando suas
relações familiares, seus negócios e seus descen-
dentes. Sua historiografia representa uma mitologia
profunda, cosmogônica e profundamente antro-
pológica, tão rica como o conjunto de mitos greco-
romanos. Antes passada oralmente, mas com o
advento da tecnologia agora também transmitida
por escrito e em vários formatos digitais, atingindo
até as telas de Hollywood. Cada divindade tem
uma cor emblemática e própria pedra sagrada
(otá).
17
Cada um representa um fenômeno natural que
se torna "dono". O número de deuses é enorme,
alguns autores que levam a fundo a pesquisa da
tradição Yorubá dizem que são quase 10002 divin-
dades (só na Nigéria), alguns antropólogos pro-
põem um total de 401 Orixás, mas em geral,
admitem que o número exato é desconhecido.
2
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás Deuses Yorubas na África e no Novo Mundo:
Bahia: Ed. Corrupio, 1981
18
O Panteão Lucumi
"Olorún oba tobi tobi". (Deus é o maior dos reis)
Frase de abertura dos rituais Lucumi
As tradições iorubás acreditam firmemente em
um Deus pessoal, supremo, criador, onisciente,
onipotente, inacessível e transcendente chamado
Olodumare, Olorun, Olofi ou Olofín e abaixo deste
deus supremo na cultura yorubá existem também
uma série de divindades intermediárias que
personificam e regulamentam as forças do Uni-
verso, conhecidas com o nome de Orixás.
“REGLA DE OSHA
LUKUMI” é uma religião
que tem suas origens
nas tribos YORUBÁS da
ÁFRICA. Os YORUBÁS
viviam no lugar que se
conhece hoje como
NIGÉRIA, ao longo do
RIO NÍGER. Durante um
tempo, tiveram uma
poderosa e complexa
estrutura organizada
em uma série de rei-
19
nos, dos quais o mais importante era em BENIN.
Este durou por 12 (doze) séculos até o ano de 1896.
Aos finais do século XVIII e princípios do século
XIX, os YORUBÁS lutaram em uma série de guerras
com seus vizinhos e entre eles também. Estas
guerras internas e os ataques externos levaram a
caída e escravidão do povo YORUBÁ. Entre 1820 e
1840, a maioria dos escravos enviados de BENIN
eram YORUBÁS. Estes foram levados para CUBA e
ao BRASIL para trabalhar nas plantações de cana-
de-açúcar. Os LLUKUMIS logo foram chamados de
“YORUBÁS” devido a sua língua ser YORUBÁ e a
dificuldade de que os europeus tinham de dizer a
palavra “LLUKUMI”. A palavra LLUKUMI tem origem
na saudação “OLOKUN MI”, “MEU AMIGO”.
1) Divindades cosmogônicas:
• Olodumare, Deus Supremo, a excelência
Criadora.
• Obbatalá-Oddudua, agentes a serviço de
20
Olodumare.
2) Divindades telúricas:
a) Meteorológicas:
• Changó, deus ígneo e do
fogo.
• Oyá, a faísca ou raio.
b) Fluviais:
• Ochún e Obba.
c) Marinhos:
• Yemayá e Olokún.
d) Minerais:
• Ogún, deus dos metais e
da guerra.
e) Plantas:
• Osaín, o senhor das ervas
mágicas e medicinais.
f) Patógenos:
• Babalú-Ayé, Senhor das
doenças.
• Inle, o médico divino.
21
3) Divindades do esforço humano:
• Ochosi, deus da caça.
• Oricha Oko, deus da agricultura.
• Agayú, deus dos carregadores, barqueiros e
dos porteiros.
4) Divindades de adivinhação:
• Orula ou Oyu, vidente do futuro.
• Elegua, que "fala" nos cocos.
22
em Cuba, falou uma vez acerca de Yemayá e seus
sacerdotes, a respeito de seu caráter, sendo
“…como as marés: por vezes altas, em outras,
baixas.” Isto, bem pode ser aplicado a todos os
orixás.
Estes atributos quase humanos dos orishas
Lucumis têm um importante papel no desenvolvi-
mento e continuidade da religião. Estas são
divindades com as quais o ser humano podem se
identificar. Elas têm virtudes e falhas. Os orixás não
são a perfeição ou a excelência personificadas. Isto
os coloca em um nível em que o devoto pode
reconhecer e empregar para entender e aceitar
suas próprias virtudes e defeitos, criando, assim,
um laço entre ele e a divindade, construído a partir
do relacionamento e identificação pessoais com
um orixá.
Analisando em todos os seus detalhes, este
panteão reconstrói um sistema de interpretação da
natureza e da sociedade, junto com os mitos que o
acompanham: são filosóficos e teológicos,
representam acima de tudo a visão de mundo da
cultura Yoruba cubana.
A “REGLA LUKUMI” é muito conhecida por sua
magia. Magia esta que se baseia no conhecimento
23
de seus mistérios e orixás e como interagir com
eles para melhorar nossas vidas e as vidas
daqueles que nos procuram buscando ajuda e a
dos Orixás. Vivemos sob as premissas de que este
mundo é um mundo mágico. Este conhecimento
parece “sobrenatural” só para aqueles que não o
entendem, pois na realidade, é completamente
natural.
Para cada fenômeno natural e social há sempre
um ou mais Orixás, um ou mais patakíes (lendas
sagradas) que explica tudo. E assim é com cada
uma das muitas vicissitudes da existência humana.
Aqui, descrevemos as características básicas dos
principais orixás Lucumis. Cada um tem, dentro de
seu simbolismo, animais, plantas, cores e números
que os representa. Além disso, os dias da semana
são dedicados a certas divindades. Em Cuba,
pedras preciosas também podem representar
algumas divindades, muitas vezes por causa de sua
cor.
Muitas vezes, encontramos mais de uma
representação católica como equivalente a um
determinado orixá. Isso ocorre porque cada Orixá
tem diferentes "caminhos", que podem correspon-
der a mais de um santo católico.
24
Obbatalá
Considerado o
maior dos Orixás,
Obbatalá é o filho de
Olodumare e seu
colaborador mais pró-
ximo na tarefa criativa.
Ele também é conhe-
cido como o Orichanla,
o grande Orixá. Alguns
sacerdotes Lucumi di-
zem que quando
O l o d u m a re c r i o u a
vida humana na Terra,
se espelhou em seu filho Obbatalá, (equivalência
mitologica a Adão) ele teve o cuidado de cuidar do
planeta e suas criaturas. Um dos vários mitos
mostra Obbatalá modelando o barro, fornecido por
Olodumare, com a ajuda de uma galinha. A
mitologia Lucumi expande poderes a Obbatalá,
conferindo a ele características reprodutivas
completas, tanto no campo da cosmogonia e
teogonia, como na antropogonia, tornando–o “O
Grande criador que foi criado ".
Durante sua vida no plano terrestre, foi rei de
Igbo. Seu nome vem do iorubá Obbatalá (Rei de
25
pureza). Este Orixá é o dono de toda brancura e
pureza. Ele não se despe na presença de ninguém
e não tolera qualquer falta de respeito, dizem que
é por este motivo que seus filhos são sempre muito
respeitosos. Os seus sacerdotes são chamados
Oshabí. Na natureza, é simbolizado pelas monta-
nhas de cumes altos. É ele que intercede antes de
qualquer OSHA ou Orixá, em prol de qualquer
indivíduo que clama ao alto por ajuda para suas
dificuldades, pois por ser o criador da humanidade,
acaba sendo o dono natural de todos Oris (as
cabeças). Quando não se sabe o anjo da guarda de
um indivíduo, é
c o m u m d a r a
Obbatalá esta função.
Seu número é o 8 e
seus múltiplos e sua
cor é a branca.
É o criador dos
seres humanos e de
tudo que tem vida e
habita o planeta.
Como criador, é
regente de todas as
partes do corpo
humano, espe-
26
cialmente a cabeça, pensamentos e vida humana,
proprietário de brancura, todos seus paramentos e
ferramentas e coisas são brancas, simbolizando a
de paz e pureza.
Obbatalá é o dono dos metais brancos,
especialmente a prata. Ela representa a criação
magnânima e superior, bem como o orgulho, a ira,
o despotismo. Por vários mitos, é patrono das
pessoas com defeitos e dificuldades físicas e
mentais. Obbatalá é um Orixá que está no grupo de
OSHAS principais donos das cabeças.
Obbatalá nas tradições latino-americanas é
conhecido por possuir 16 qualidades, ou 16
avatares (caminhos): 11 masculinos e 5 femininos.
Avatares de Obbatalás masculinos:
• Alláguna
• Asho
• Ochagriñán ou Osagrinan
• Obbamoró
• Yeku-Yeku
• Lielu
• Obalufun ou Ocha Lufón
• Olouu-ocumi
27
• Allalua
• Orolu
• Oggan
Obbatalá é um só,
porém podemos
chamá-lo pelo nome
do caminho ou quali-
dade que quiser, tanto
o Obbatalá feminino
Ly a l a c o m o u m a
qualidade de Obbatalá
masculina, todas da
mesma divindade. Essa
divisão sexual torna-se
importante, uma vez
que, de acordo com
28
seus mitos, o Orichanla é pai e mãe de uma
geração de orixás (Elegua, Ogún, Ochosi, Ochún,
Dada, Oyá e Changó) que conforme ensina a
cosmogonia, nascem a partir da união de um
homem (Obbatalá) com Yemmú, um de seus
avatares femininos.
Obbatalá é também o escultor do corpo
humano, mas a vida e a inteligência do homem
vem diretamente de Olodumare. Lydia Cabrera cita
em uma de suas obras: "Quando (Obbatalá)
terminou o trabalho, Olorun soprou sobre o corpo
do homem e o coração começou a bater, eis que o
primeiro homem teve vida". O Orichanla representa
a pureza e a paz, embora em um de seus cami-
nhos, Alláguna, é apresentado com uma personali-
dade violenta. Em virtude da construção de sua
qualidade em alguns mitos, seria o patrono de
todas as pessoas afetadas por defeitos físicos de
nascença.
Este orixá, como todos os outros, tem muitas
vezes características bem humanizadas em seus
mitos: em um deles, Obbatalá fica doente com
problemas familiares graves, especialmente na
convivência de seu filho Ogún. Algumas histórias
relacionadas a ele são recheadas com mais
29
ingredientes cubanos do que africanos.
Obbatalá é o mais importante dos orixás, uma
vez que é representante do grande Olorun na terra.
Ele é aquele que julga os homens neste mundo.
30
Obbatalá - Alláguna
Alláguna é o avatar guerreiro mais jovem dos
caminhos de Obbatalá. Seu colar ou Ekele é de
contas brancas, alternado com uma vermelha a
cada 8 brancas. Sua vestimenta também é branca
com uma tira vermelha na cintura. Obbatalá
Allaguna é um grande cavaleiro, domina sua
montaria e armas se for preciso. Entre suas
ferramentas têm uma espada e outros atributos
como o facão, uma lança, uma bengala, um rosto
divino e um escudo com detalhes em vermelho.
Alguns o consideram Oshagriñán, filho e rei de
Keto. Pois este também tem fama em seus mitos
de ser briguento, amigo, muito dado a fofocas e
sua relação com bebidas serem sempre catastrófi-
cas. No ato de ser oferendado, seus filhos, por
tradição, só devem usar a mão esquerda para
manusear as suas oferendas e objetos.
31
Obbatalá - Asho
Obbatalá Asho, também conhecido no caribe
como Baba Asholó ou Asho é uma qualidade
masculina de Obbatalá. Ele é jovem e rei de Ibadan,
onde foi nomeado Alashó Allah. Ele adora dançar, e
nos seus mitos aparece em público sempre
montado em um cavalo branco. Sua ferramenta é
um bastão envolto em contas de búzios brancas.
No seu assentamento é comum ter uma bola de
quartzo branca, 4 caracóis, 4 penas de papagaios
africano e 2 bonequinhos. É comum fazer uma
espécie de caixa ou berço onde vão seus objetos e
seu cetro. Esta caixa é forrada com couro de ovelha
branca imolada para Obbatalá, sendo decorada
com sete bandeirinhas brancas. Baba Asho é
guerreiro e veste uma fita vermelha em torno de
sua cintura, assim como seu irmão e pai Allágguna
Osha. Na terra em que ele é senhor e rei, em Arara,
é conhecido como Awodó ou Akuadó.
32
Obbatalá - Ochagriñán
Oshagriñán ou Osha GRIÑÁN é considerado um
dos mais antigos avatares de Obbatalá. Ele é o
mensageiro do Olofin e é encontrado no pico das
montanhas. É muito tranquilo e em sua manifesta-
ção está sempre tremendo de frio, demonstrando a
idade bem avançada. Um de seus simbolos é a
coruja, que simboliza a experiência, discrição e
sabedoria. É ele quem enxerga as soluções e
resolve os problemas quando ninguém consegue.
Ele é o guardião dos Ibejis, e tem acesso à casa de
Olofin.
Ele respira ofegante e caminha sempre com
muletas, mas quando atingido por raiva e ira, não
se preocupa em usar seu facão. Oshagriñan é
considerado Oddudúa, filho de rei de Egigbo e
Ogbomoshe. Entre as suas ferramentas leva 3
flechas, 3 penas de papagaio, e seu assentamento
costuma ter 8 contas de cristais, 8 pedaços de
cana, uma espada, um facão, presa de javali, presa
de leão, marfim, pérola e coral.
Também pode ter um conjunto de ferramentas
de estanho, com uma placa de Ifá consagrada, um
Idde de Orula e uma bola de cristal para adivinhar.
Quando este avatar de Obbatalá é Osha do Ori,
33
carrega junto com suas ferramentas uma coroa de
metal branco, adornada com 16 penas de
papagaio, e no seu assentamento coloca-se um sol
de prata, uma lua e uma estrela, todos de prata,
além de outros elementos. Veste vermelho e
branco. Sua eleke ou colar tem nove contas de
pérolas intercalando uma de coral.
É considerado em alguns grupos Oshanlá, mas
tinha relações com Yewá, que trouxe ao mundo seu
filho Oguiniyán. Foi este avatar quem presenteou
Or ú n m i l a co m o a xé d a a d i v i n h a ç ã o . Fo i
Oshagriñán, em um dos mitos, que removeu as
penas da cabeça do abutre. Ele é o inventor da
lança e protetor das fundições de chumbo.
34
Obbatalá - Obbamoró
Obbamoró é um avatar de Obbatalá muito
antigo. É também conhecido como Abispa. Ele era
o rei de Ibao. Seu colar ou eleke é de contas
brancas, marfim, coral e louça. Entre as suas
ferramentas pode ter 2 machetes, 2 lanças, uma
coroa de espinhos, um crucifixo, caracóis e seu
cajado. Quando um iyawô de um ano coroa
Obbamoró, deve-se consagrar uma coroa de
espinhos e lavá-la em uma cabaça com as ervas de
Obbatalá, erun, obi e água de coco seco. Entre as
oferendas dadas por seus filhos de cabeça,
Obbamoró aceita frutas secas e mandioca. Seu
sincretismo com Jesus Crucificado é grande.
Obbatalá - Elefuro
Este avatar é de um Obbatalá feminino.
Considerada a rainha de Ifé, também é
chamada Imole. Seus otás são separados e
colocados numa bacia de louça e seus fundamen-
tos todos cobertos por algodão. Suas ferramentas
são 2 caracóis, 2 cabaças, 1 pente de prata e uma
espada, e uma de suas características é monitorar
o sono.
35
Obbatalá - Yeku-Yeku
Há uma divergência entre as tradições se
Obbatalá Yeku é masculino ou feminino, mas em
ambos os casos é considerado uma pessoa idosa.
Aqueles que consideram como feminino dizem
que acompanha Oddudúa. É sincretizado com São
Joaquim e a Santísima Trindade. Sua coroa é de
metal claro comportando 16 penas de papagaio,
seu assentamento costuma ser feito numa caixa de
cedro ou prata. Todos os seus objetos sempre
devem ser envoltos em algodão, desde o otá e as
demais coisas do assentamento. Aceita muito bem
a imolação de akuko fun fun (galo branco) e na
ocasião é feito um banho de abô. Segundo alguns
sacerdotes, é uma cerimônia maravilhosa para
restituir a saúde em geral. O eleke é de contas
brancas com contas de marfim.
36
Obbatalá - Lielu
Obbatalá Lielu é um avatar masculino. Ele é
conhecido pelo nome de Yelu e Laguelú na cidade
de Ibadan. Lielu é estranhamente calmo, seus
filhos chegam a ter uma calma extrema ao ponto
de incomodar quem está em volta. Seu colar
possui 16 contas pretas com 32 contas brancas. A
comida ritualística é um galo branco e 2 pombos
negros, e 8 velas acesas em volta. O seu assenta-
mento é feito numa caixa de madeira contendo
peças de marfim, pérola, coral e um triângulo de
prata.
Obbatalá - Orolu
Obbatalá Orolu é o rei do Egwadó. Seu
assentamento é feito com uma corrente de prata a
partir do qual se pendura três ACOFA do mesmo
metal e penas de galo branco, imolado a ele
durante o processo. A terra Obbatalá Orolu é
chamada Agasako.
37
Obbatalá - Obalufun ou Ocha Lufón
Ocha Lufón é masculino, muito antigo e está
associado ao sol. É o avatar que tem a obediência
dos orixás, porque quando levanta sua mão e emite
seu comando de maneira tranquila faz o que quer.
É sincretizado com o Santíssimo sacramento. Ocha
Lufón dança totalmente curvado, muitas vezes
com o rosto a alguns centímentros do solo, mas
com muita graça e cadência.
É considerado nativo e dono das terras de Oyó,
Yebu e Egwadó e alguns mitos dizem que viveu
entre os nativos da terra do Fon. Foi o primeiro
Obbatalá que exerceu o dom da palavra e deu aos
homens a permissão para terem relações sexuais.
Ocha Lufón inventou a agulha de costura e a
arte da tecelagem, assim, uma de suas ferramentas
são 2 agulhas de prata. Ele foi o inventor da toca,
que ensinou Osha GRIÑÁN. É o filho favorito de
Oddudúa. Seu símbolo é uma folha de palmeira
grande com uma cabeça de bronze no meio,
símbolo da imagem do Orixá Ife.
38
Obbatalá - Olouu-ocumi
O avatar de Obbatalá Olouu-ocumi é o dono
dos olhos do homem, carrega em sua coroa quatro
penas de papagaio. Obbatalá Olouu-ocumi recebe
o título de Nuetodosú. “Aquele que ajuda a
enxergar”.
Obbatalá - Allalua
Obbatalá Allalua é conhecido na terra de Ife
com o nome de Alajúa. Este avatar é um bravo
guerreiro e exterminador, sempre se opõe a seu
irmão Ayala, que é quem faz as cabeças, sopra
elas, e lhes dá a vida.
Sua ferramenta é uma cimitarra, sua coroa é de
folhas de louro e prata. O seu assentamento
costuma ser uma cabaça esverdeada com as sete
cores do arco-íris para dentro. Na terra de Egwado,
ele é conhecido pelo nome de Bejueleso, aquele
que fez Changó nascer por um raio.
39
Obbatalá - Oggan
Oggán é um caminho ou avatar de Obbatalá.
E l e é s e c ret á r i o d e O d d u d ú a e Ayá g g u n a ,
proprietário da enxada. Forma uma trilogia com
Ogbón e Ogboni. Ele fala muito suavemente, é um
comerciante e gosta de comer coelhos. Ela
representa a inveja, ganância e egoísmo. Ele vive
com Obbatalá, que é seu tutor, e está sempre aos
pés dele. É invocado tradicionalmente quando se
tem problemas relacionados à justiça. Seu culto
remonta a cidade de Odduaremú, embora também
seja cultuado em Ibadã.
Suas folhas são lavadas com água de coco. Sua
pedra (otá) deve ser retirada de um pico (cume
alto). Seu assentamento leva um único otá em
forma de pico, uma concha abalone com algodão
natural dentro. A ele podem ser imolados os
mesmos animais de Obbatalá, mas também come
galo branco, inhame, obi, pipoca e 8 ovos brancos
com ori e efun, embrulhados em folha de bananei-
ras. Obbatalá Oggán também é chamado Arará em
algumas regiões.
40
Obbatalá - Agguema
Agguema é um avatar feminino, muito anciã e
delicada. Possui como animal de poder um
camaleão. Algumas tradições dizem que a ceiba
pertence a ela, é mensageira de Olofin. Acompanha
e protege Oddudúa, pois a qualidade deste avatar
consegue refletir o mal de seus inimigos na sua
pele.
Obbatalá Agguema acompanha o grande
espírito lumujé, e come a seu lado etu fun fun. Seu
assentamento pode ter 7 flechas, uma corrente de
prata com nove pombas imoladas e uma corrente
de prata com 16 seções.
41
Obbatalá - Oshanlá
Oshanlá é um dos caminhos ou manifestações
de Obbatalá. Ele é feminino e é um dos mais
idosos. Em sua manifestação física, é retratado
como uma velha tremendo de frio, que precisa ser
coberta com um lençol branco. É a esposa de
Obbatalá Oshagriñán, embora alguns Sacerdotes
afirmam que é a esposa de Olofin, de modo que
usam um colar de pérolas como Olofin, que é
completamente feito de nácar.
Seu fio pode ser de marfim. A cada intervalo de
16 contas leva firmas de marfim.
Alguns a consideram cega, porém em um de
seus mitos ensinou uma menina a ler.
Oshanlá é luz, representa o momento sagrado
de a mãe dar à luz. É assim chamada porque a sua
adoração tem como característica o uso de vários
pontos luminosos. Oshanlá protege as comunida-
des humanas e é uma protetora da criação cultural.
Existem informações e discussões se este Orixá é o
mesmo que Orishanlá, que é representado como
um velho venerável que compartilha muitas das
suas características.
42
Obbatalá - Ouch-ilu ou Iroco
Obbatalá Ouch-ilu é um avatar feminino de
Obbatalá, é uma das mais antigas e talvez a
primeira mulher Obbatalá. Entre os atributos de
Ouch-ilu está o de usar uma coroa com 16 caracóis,
um arco e flecha, e entre suas ferramentas carrega
uma bengala de cobre, razão que faz este orixá
caminhar com Oyá. Ela também é conhecida como
Dundalé, a guardiã dos macacos. Vive na areia
branca e seca.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Branco.
Dia da Semana: Quinta-feira.
Número: 8.
Pedras e Otás: Brilhantes, diamantes, cristal de
rocha e quartzo.
Metais: Prata.
Plantas: Algodão, sumaúma, jasmim, boldo.
Animais: Aranhas, aves brancas e peixes.
Sincretismo Católico: Nossa Senhora da
Misericórdia, Jesus Nazareno, São José, São
Manuel.
43
Simbologia: Criador da humanidade, senhor da
paz e da pureza.
Fio de contas: Pérolas brancas ou leitosas,
sempre naturais.
Festa principal na tradição: 24 de setembro e
25 de dezembro.
44
Oddudúa (Oduá, Odúduá)
É uma divindade
que governa os segre-
dos de Egun e Iku. Sua
representação material
faz alusão à formação
do mundo, do qual fa-
zem parte o reino ani-
mal, vegetal e mineral.
Ele vive na escuridão
profunda da noite. É
uma massa espiritual
de enorme poder que
não tem forma ou figu-
ra representativa
Ele se utiliza dos
espíritos para se manifestar. Em relação ao ser
humano, foi o primeiro Oba que pisou na terra. É
especialmente relacionado com Orúnmila,
Obbatalá e Ochún. Foi o primeiro Oni (rei) e
fundador de Ife, lugar onde nasceu. Segundo a
teologia iorubá, seu nome vem do iorubá Oddudúa
(senhor do outro mundo ou do nosso destino).
Oddudúa representa os mistérios e segredos da
morte, ele criou o mundo, juntamente com
Obbatalá, sempre caminha com Orúnmila.
45
Oddudúa é uma divindade um tanto quanto
controversa. A divindade original, Oduá, acompa-
nhou Obbatalá à Terra. Embora a maioria coincida
em dizer que foi a sua concubina, outros a colocam
como sendo um aspecto feminino ou complemen-
to de Obbatalá.
Em algum ponto da história, um poderoso
guerreiro do Norte chegou ao país iorubá,
conquistou-o e, eventualmente, instaurou a si
mesmo como o primeiro Oni ou rei de Ilé Ifé. Este
guerreiro é Oddudúa, considerado por muitos o
progenitor da raça iorubá e o ancestre do qual
todos os reis de Ifé reivindicam descender, até
nossos dias.
Como no caso de Changó, a popularidade de
Oddudúa ofuscou a de Oduá, a divindade original.
Depois da morte de Oddudúa, indubitavelmente
este passou a ser muito mais reverenciado que a
divindade original, em razão de seus méritos como
guerreiro. A adoração de Oduá foi banida. O
resultado é um tipo de sincretismo entre Oduá e
Oddudúa, em que as duas divindades fundem-se
para formar uma única. A mais forte absorveu a
mais fraca. É por isto que os Lukumis consideram
Oddudúa um orixá masculino. Acredita-se que haja
mais do que cento e vinte de suas qualidades.
46
Possivelmente pelo sincretismo com São
Manoel, em Cuba, Oddudúa tem o título de “Rei
dos mortos”. É um orixá estreitamente ligado à vida
e à morte. Na tradição Lucumi, quando é tempo de
um ser humano retornar ao orún, Oyá vem para
conduzir a alma ao além. Babalú-Ayé leva o
cadáver às portas do cemitério, onde Obba
documenta sua chegada. Boromú e Borosiá levam
o cadáver à tumba, onde Yewá o põe a descansar,
e Oddudúa leva adiante o processo de putrefação,
poupando apenas os restos do esqueleto.
Oddudúa é o mais respeitado e poderoso orixá
na prática Lucumi. Assim como para Obbatalá, a
quem está muitas vezes ligado, as oferendas para
Oddudúa são levadas aos pés de uma colina ou
montanha, e devido a sua relação com a morte,
também aceita oferendas no cemitér io ou
enterradas no solo. Seus omó são ao mesmo
tempo ordenados diretamente a Obbatalá ou
através deste. De qualquer modo, a iniciação neste
culto torna-se um fenômeno raro.
Cor Tradicional: Branco leitoso, Madrepérola e
Prateado.
Dia da Semana: Sexta-feira.
Número Ritual: 16.
Metais: Prata.
47
Animais: Bodes e cabras, galos, galinhas,
pombos e galinhas d'Angola, todos brancos.
Sincretismo Católico São Manoel.
Celebração: 1º de janeiro.
Fio de Contas: Opalas, com coral, madrepérolas
e marfim.
48
EGUA
Elegua
Elegua é filho de
Obbatalá e Yemmú,
considerado um
grande orixá na Regla
de Osha e muito res-
peitado, pois se não for
devidamente ofe-
rendado e saudado em
primeiro lugar, nenhum
r i t o p o d e s e r fe i t o .
Muitos tentam explicar
por que Elegua sem-
pre é saudado antes de qualquer outro orixá. De
acordo com algumas tradições, é ele quem curou o
próprio Olofin, graças a seu conhecimento de
plantas medicinais. Em outros mitos, ele explica
que Olofin era ainda pequeno quando distribuiu
presentes a todos orixás, mas se esqueceu de
Elegua. Percebendo o erro e não tendo mais nada
para dar de presente, ele deu o direito a Elegua de
comer antes de qualquer outra pessoa.
Elegua é o filho de Okuboro e Añagui, reis da
região de Egba. Seu nome original vem do iorubá
Eshú Elegbara (mensageiro príncipe de vida em
Egba). Diz-se também que é filho de Obbatalá e
50
Ye m b o , i r m ã o d e C h a n g ó , O g u m , O c h ú n e
Orúnmila.
Olofi entregou pessoalmente a Elegua uma
coroa e colar de contas brancas, vermelhas e
pretas, a fim de recompensar os seus serviços na
terra. A genealogia dos deuses africanos é muito
complexa e muitas vezes contraditória.
Elegua é quem abre e encerra todo ato
religioso. É encontrado nas encruzilhadas e
esquinas, na montanha, à beira do mar, no rio, no
meio-fio da calçada, ou à porta de nossas casas.
Elegua está em todos os lugares. Está sempre
presente onde existe uma manifestação humana,
observando tudo o que
ocorre, seja bom ou
ruim, para relatá-lo a
Olorun. Podemos dizer
que Elegua serve de
olhos a Olorun na Terra.
Os mitos teogônicos
se saturam de elemen-
tos históricos. Um dos
mitos antigos dizem
que Elegua des-cende
de uma família da
realeza ao explicar a
origem da pedra que
51
lhe serve de assento. Havia numa tribo africana
uma Oba (rainha africana) chamada Okuboró,
casada com o rei Anaki.
Eles tiveram seu primeiro filho e o chamaram
Elegua. Ele, desde criança, sempre foi paparicado
por um conjunto de serviçais do palácio. Um dia foi
passear com sua guarda pessoal e quando chegou
a uma encruzilhada parou quando viu uma luz
semelhante a dois olhos brilhantes, vindos do chão,
que lhe causou grande espanto e também em
s e u s c o m p a n h e i ro s , p o rq u e q u a n d o e s te s
chegaram ao local viram somente um coco seco.
Elegua levou o coco para a sua casa e contou a
seus pais que ele tinha
testemunhado um mi-
lagre, mas ninguém
acreditou nele. Abor-
recido, ele jogou o
coco atrás da porta e
o d e i xo u l á . A l g u m
tempo depois, o rei
deu uma festa no
palácio, e os convida-
dos que estavam
presentes, de repente,
ficaram horrorizados
ao ver que algumas
52
luzes saiam do coco
escondido atrás da
porta.
Três dias depois,
Elegua teria morrido.
Após esse episódio, por
muito tempo as coisas
estavam dando muito
errado no reino. Os
sábios se reuniram e
reconheceram que a
r a z ã o p a r a to d o s o s
males estarem asso-
lando o reino era o coco
deixado pelo príncipe.
Eles foram atrás do possível motivo da desgraça
do reino, mas notaram que o coco estava vazio e
comido pelos insetos. Após longas discussões sobre
aquele objeto que foi deixado ali ao longo dos
séculos, chegaram à conclusão de que um coco seria
perecível e que era melhor substituí-lo com uma
pedra ou um otá. Assim o fizeram e deixaram o coco
na encruzilhada da mesma forma que foi encontrado.
Todas as vezes que o reino está em crise, um novo
coco é colocado nesta encruzilhada até os dias de
hoje.
53
A Elegua sempre são
imolados cabras, galos
ou galinhas, jutias, ratos
p re t o s o u ve r m e l h o s .
Suas ervas mais conhe-
cidas em todo o Caribe
são croton, alfarroba,
cânfora, sementeira,
agrião, manjericão, pi-
menta do Chile, pimenta
guao, álamo, atiponlá,
amêndoa, capim-colchão,
Ceiba, Curujey, chichicate,
Bejuco guaro, jobo, peô-
nia, peregún, maravilha, pica-pica, raspa-da-língua,
sementes de pimenta em geral, alcaparra, arbusto
branco, pendejera, pinhão manso, pinhão roxo dentre
outras.
Entre os povos iorubás, Elegua é conhecido como
Eshú, enquanto que na região de Dahomey é
chamado de Legba. Em Cuba, tem muitos caminhos
ou “avatares”: Eshú Male, aliado de Orúnmila; Laroye, o
guardião dos portais; Eshú Bi, aquele que cuida das
esquinas; Alalu ou Akualú, o dono das encruzilhadas;
Aguere, que é senhor das savanas; Alaguana, o que
traz a má sorte; Elufé, o mais velho de todos; Añagui,
aquele que é chefe dos outros; Eleguas Aguanile,
54
amigo de Ogún; Eshú Barakikeño, é o menor de todos
e vive na selva.
De acordo com algumas tradições e mitos antigos,
existem sete classes de Elegua ou Eshú, cada uma
delas com três caminhos, resultando num total de
vinte. As sete categorias são:
• Añagui, a mãe de todos os Eleguas.
• Eshú Okuboro, representante da vida e da morte.
• Eshú Laguana, aquele que está em toda parte.
• Eshú Layikí, é o caminho que ninguém sabe
como começar e como terminar.
• Eshú Laroye, aquele que está sempre lutando.
• Eshú Batielle, o destruidor de tudo.
• Eshú Odde-Mata, usado para o bem e para o mal.
Elegua - Abaile
Este avatar é aquele que carrega e encaminha os
ebós e oferendas, ele as recebe e leva aos seu
destinos. Elegua Abaile é messangeiro e intermediário.
Ajuda em todas as casas de Osha.
55
Elegua - Afrá
Elegua Afra é servo de Babalú-Ayé, recebe
oferendas e come junto com ele. Ele vive em
hospitais, ajudando no trato com as doenças,
principalmente as contagiosas. Por esta razão, é
invocado para ajudar na cura de doenças infeccio-
sas na infância, como sarampo e varíola.
Este Elegua vive em uma pedra porosa (pedra-
pomes) e carrega em seu assentamento segredos
que somente os mais velhos podem ensinar, aceita
em suas oferendas vinho tinto. Dizem os mais
religiosos que Elegua Afra pode ser visto nas
esquinas e assobiando nas ruas vazias, ele usa
colar de contas pretas e brancas.
As ferramentas de Elegua Afra são um bastão
de peregrino e uma cabaça com ervas medicinais
(onde fabrica seus medicamentos). Este Elegua,
assim como Babalú-Ayé, leva o rosto coberto
porque ninguém deve olhar para sua face. Em um
de seus Pataki, ele era o único que ajudou Babalú-
Ayé quando ele estava doente, ajudando-o a
procurar seus cães de estimação com Ogún e as
muletas com Osaín e Changó, e conseguiu o
perdão a Olofin.
56
Elegua - Agbanuké
Elegua Agbanuké é da terra de Arara, é o
guardião de todos os Ilês, que lhes dá vários
presentes e comidas. Tem a propriedade de deixar
"cego" todos aqueles que vêm com más intenções
ou pedidos malignos às casas de Osha.
Diz-se que ele é o melhor aliado dos
Babalawos, junto com Barakikeño e Alaroye. Este
avatar leva uma seta que lhe adorna a testa. É o
ouvido dos Babalawos, pois ele costuma dizer tudo
o que ele vê e ouve dentro do Ilê.
É o Elegua da clarividência, através do qual
Orúnmila “enxerga longe”. Elegua Agbanuké fala
em Odu Baba Ejiogbe. Ele é o “Messias” de Ifá e o
príncipe do Reino de Exu, porque detém e conhece
os segredos do bem e do mal. Nas tradições que
cultuam seu asentamento é sempre colocado na
posição leste do Ilê.
Elegua - Akesan
Come com Changó, é servo do Reino de Oyó.
57
Elegua - Akeru
Elegua Akeru cumpre o papel de um mensage-
iro, trazendo o recado de todas divindades e
levando o pedido de todos humanos para as
divindades.
Elegua - Ala Lu
Elegua Ala Lu é o senhor do destino. Domina e
é mestre de tudo que será executado, as situações
diferentes da vida que podem ocorrer, os passos
que podem ser dados, e as consequências de
vários atos, isto não só para os seres humanos, mas
58
também para os Orixás.
E l e g u a A l a L u t e m p e r m i s s ã o e a xé d e
Olodumare para mudar caminhos e possibilidades,
é por isso que se tem o cuidado de agradá-lo em
todas cerimônias. É uma divindade muito contro-
versa uma vez que, dentro da dimensão humana,
não entendemos suas decisões. É ele quem abre
todos os caminhos e nos ajuda a ter uma vida
melhor e mais próspera, mas é ele também que é
capaz de fechar os caminhos se for determinado
que alguma ação pode nos levar a direções
indesejadas, de acordo com os desígnios de
Olodumare.
É por isso que ele,
através do oráculo,
analisa todas as si-
tuações, promovendo
a abertura de cami-
nhos para a elimina-
ção dos problemas
que atrapalham nos-
sa evolução. Sem os
conselhos dele não
podemos dar os pri-
meiros passos para
alcançar muitos de
nossos objetivos. É a
59
ele que também recorremos quando nossos
objetivos são alcançados para sabermos como
agradecer e receber as bênçãos do que foi
conquistado.
Suas oferendas são feitas de maçãs, goiabas e
doces azedos. Gosta também de comidas picantes,
rum, tabaco e charutos. Ele deve ser consultado
antes de fazer qualquer ebó. Os filhos de Ala lu
sempre triunfam se seguirem seus sábios conse-
lhos e aceitarem ajuda. Esta assistência é dada
igualmente aos Iyaloshas, Babaloshas e Babalawos
que os invocam nos seus trabalhos religiosos.
Citamos aqui as qualidades ou avatares
principais cultuados na tradição Lucumi, porém
este número pode variar de casa para casa.
Algumas tradições e autoridades religiosas do
Caribe dizem que o número de caminhos ou
avatares pode ser mais de uma centena de
Eleguas. Dependendo dos avatares, Elegua pode
ser representado por um idoso ou uma criança, e
que abre e fecha os caminhos para os humanos.
3
O santero Juan Manuel Casanova cita: o nome
deste doende africano, também chamado Eshu,
está associado a um momento em que o mundo
3
Mason , M. A. Living Santería. Rituals and Experiences in an Afro-Cuban Religion.
Washington and London, Smithsonian Institution Press, 2002
60
e s t ava e m co nfi n a-
mento solitário, por
causa do crescimento
de uma erva daninha
g i g a n t e . To d o s o s
caminhos da terra
estavam escondidos
por este mato e fecha-
dos, até que ele vem e
com suas próprias
mãos, começa a abrir
todos caminhos, usan-
do uma bengala, feita
com um galho de
árvore em forma de
gancho, ele empurrou as ervas daninhas que
ameaçavam cobrir tudo. Esta bengala é parte
fundamental e um dos objetos sagrados dentro de
um culto santeiro.
Portanto, a dança ritual desta divindade, nos
lembra aqueles movimentos rápidos, em que ele
abre o caminho através da floresta, com um facão,
fazendo rabiscos no ar e no chão. É um dos orixás
que mais lendas têm dedicadas ao seu nome.
Tanto no Caribe como na África, Eshú / Elegua
é o deus da ambiguidade, e seu simbolismo
61
valoriza essa ideia. Traja roupas metade vermelha e
metade preta, habita os cruzamentos, é péssimo
conselheiro, porém o mais poderoso aliado.
Alguns caminhos o apresentam como uma
criança travessa que pode ser facilmente satisfeito,
uma vez que é guloso e ganancioso. Neste caso,
aceita de presente pipas, bolas ou toda forma de
doces. Às vezes, se manifesta como um homem
mais velho, que prefere presentes do tipo tabaco e
rum.
É deus e príncipe, mas também pode comer no
lixo. Ele está em todos os lugares, sempre
espionando. É o eterno
malandro e enganador.
Outro mito diz: Eleggua
foi para casa de Orula
para ser feito babalaô
"Eu vim para fazer-me
Babalao, de Ifa". Orula
perguntou sobre o di-
nheiro necessário para
fazer a cerimônia.
Elegua respondeu: "Eu
não tenho nem um galo
preto". Orula respondeu:
"Sem dinheiro você não
62
pode fazer Ifa”.
Qualquer pessoa, iniciada ou não, pode ter na
entrada de sua casa um Elegua para servir-lhe de
proteção. Os Eleguas são feitos de pedra, argila ou
cimento, com búzios para no lugar dos olhos e a da
orelha, normalmente é feita uma aberta na base,
onde os "segredos" são colocados. É comum ir terra
de uma encruzilhada, terra de igreja, terra de colina,
de prisão, dentre outras, ervas específicas e alguns
elementos de orixá, mel, moedas de várias
denominações e outras substâncias.
O buraco da base é selado e a cabeça
enterrada por três ou sete dias (de acordo com a
orientação do sacerdote) em uma encruzilhada,
praia ou cemitério, em seguida é levado para o fim
da preparação, onde é oferecida uma galinha preta
e outros presentes, preparados três dias antes da
finalização para quem vai recebê-lo.
Elegua geralmente repousa sobre um prato de
barro ou panela de ferro, que é armazenado dentro
de um pequeno armário ou casinha, perto da porta
da frente da habitação. Toda segunda-feira deve-se
saudá-lo e cumprimentá-lo. Seus devotos devem
fazer uma oferta de conhaque ou rum, tabaco ou
rapé.
As ervas de Elegua são as mais diversas, dentre
63
elas encontramos ervas que também são de
significado e valor para o culto de outros Orixás. Os
tratados de Ewes não são regras gerais, podendo
variar a orientação de cada casa.
64
humanos. Os que não são iniciados, vulgarmente
chamados de aleyos, devem sempre honrá-lo
primeiro.
É ele quem possui a visão plena do caminho,
ele se torna um guerreiro formidável e feroz
quando aliado a Ogún e Ochosi, tornando-se
imbatível. Elegua é um dos primeiros Orixás que
fazem parte da fundação do templo. É deste
mesmo grupo o orixá Odde, que faz parte dos
chamados Osha guerreiros. Ele é o primeiro dos
guerreiros com Ogún, Ochún e Ochosi. Na natureza
é simbolizado pelas rochas escuras. Elegua veio
para o plano terreno com função de acompanhar o
Osha Obbatalá. É considerado o mensageiro-chave
de Olofin.
Ele é plantado na maioria dos casos na porta
principal externa, guardando o Ilê em que foi
designado. Senhor absoluto das estradas e destino,
é quem fecha ou abre o astral para a felicidade ou
infelicidade dos seres humanos. Podemos sempre
contar com ele para qualquer coisa. Ele é o
guardião do cerrado e da mata.
É um Osha que obrigatoriamente deve ser
assentado. Em todas as tradições temos uma fala
unânime, este Osha fala somente por diloggún ou
outros oráculos próprios. É também uma das
65
principais divindades que são acessadas para
interpretar os principais sistemas sérios divinatórios,
o diloggún e o búzios, além de desempenhar um
papel fundamental em alguns subsistemas
oraculares como o Biguate ou Aditoto.
Na tradição Lucumi é normal os Babaloshas e
Iyaloshas entregarem de presente aos seus
iniciados o seu otá principal. Elegua é o único que
teve a permissão de entrar e sair a hora que quiser
do mundo de “Ará ONU”. Ele ganhou privilégios de
Olofin, Obbatalá e Orúnmila para sempre ser o
primeiro a ser servido. Seu jogo de caracóis é o
maior, uma vez que consiste de 21 peças, represen-
tando seus vários
caminhos. É dono por
excelência junto com
Obbatalá do oráculo
de coco (obi).
O seu número é o
3 na tradição Lucumi,
suas cores vermelho
e preto. Na segunda-
feira ou nos dia 3 de
cada mês são feitas
suas oferendas e
festejos. O sincretismo
é comparado com o
66
Santo Menino de Atocha (1 de janeiro). Sua festa é
em 06 de janeiro e 13 de Junho.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Preto e Vermelho.
Sincretismo Católico: Sagrado Menino de
Atocha, Menino Jesus de Praga.
Celebração: 3 de Junho.
Vestimenta: Vermelha, preta e branca.
Miçangas: Vermelhas e pretas; brancas e pretas;
vermelhas, brancas e pretas.
Ferramenta Ritual: Um garabato, espécie de
bastão (parecido com um Báculo) comumente feito
em madeira de goiabeira.
Sacríficios: Bodes, galinhas ou frangas e galos.
Tabu: Óleo da amêndoa do coco do dendezeiro.
É proibido assoviar na casa onde mora Elegbá.
Números Rituais: 3, 7, 11, ou 21.
67
Ogún
Duas faces ca-
racterizam as quali-
dades principais de
Ogún na tradição
Lucumi: a violência e
rusticidade. Os sa-
cerdotes mais velhos
costumam dizer que
e s te é u m o r i xá e
grande feiticeiro, que
possui muitos segre-
dos guardados. Ogún
conhece o lugar
onde estão escondi-
das as coisas mais
valiosas, no solo, nas profundezas da terra, tudo
aquilo guardado no seu inteiror que poucos
conhecem. Fazendo uma alusão também ao
interior de cada um, dentro de si mesmo. Para o
crescimento interior e realização do pleno
potencial humano é imprescindível a assistência de
Ogún, que representa também a energia vital e o
mundo em movimento perpétuo.
Ele é o filho rebelde de Obbatalá e Yemmú, e
teve um romance incestuoso com sua mãe. Diz-se
69
que Obbatalá vivia com sua esposa e residia com
seus filhos, Elegua, Ogún, Ochún e Ochosi. Tiveram
uma filha chamada Dada, que não vivia com eles.
Obbatalá saia todos os dias para trabalhar e deixava
seus filhos em casa, encarregando Ochún de dizer
tudo o que tinha acontecido durante a sua
ausência. Ogún era o mais trabalhador deles e, por
isso, diziam que ele era o mais mimado, sendo que
todos outros irmãos lhe deviam obediência.
Passado o tempo, Ogún se apaixonou por sua
mãe e várias vezes tentou de maneira forçada ter
relações sexuais com ela. Mas Elegua estava
sempre vigilante e contava o ocorrido a Ochún, que
sempre o repreendia. Um dia, Ogún, que era
excelente cozinheiro, pôs para fora Elegua e fez a
comida favorita de Ochún, um “Gallito”, ela comeu
tanto que adormeceu. No mesmo instante, Ogún
fechou a porta da casa deixando Elegua do lado de
fora para sempre.
Um dia, Elegua esperou Obbatalá no caminho e
lhe disse que fazia muitos dias que ele não comia
nada. Eis que Obbatalá lhe perguntou por quê.
Respondeu Elegua: Porque Ogún me chutou para
fora da casa, para poder dormir com a minha mãe.
No dia seguinte, Obbatalá voltou para casa
inesperadamente e descobriu que o que Elegua
70
disse era verdade. Obbatalá chorou tanto que ele
foi forçado a usar um cajado de madeira de
mangue, porque lhe faltaram as forças. Ele bateu
na porta e Ogún respondeu indo abrir. Mas quando
viu que era seu pai, com a mão esquerda levantada
para amaldiçoá-lo, disse em desespero: "Não, baba,
não me amaldiçoe, eu mesmo me responsabilizo
pelo ato e eu mesmo vou me amaldiçoar”.
Enquanto o mundo for mundo, Ogún se
condenou a trabalhar dia e noite, sem descanso.
Obbatalá escutou e disse: "Oche" (assim seja).
Curiosamente aqui, como no mito adâmico, o
caráter de maldição de ter que trabalhar eterna-
mente é repetido: a punição de um grande pecado
é o trabalho eterno.
Depois de conversar com seu filho, o Orixá
M a i o r e n t ro u n a c a s a e c h a m o u Ye m m ú , e
novamente Ogún gritou: "A mãe é inocente, não a
culpe, eu a forcei a tudo que fiz" , ao que Obbatalá
respondeu irritado, "Vá embora, não quero vê-lo
novamente, e você não pode morar mais nesta casa.".
Ogún envergonhado, foi para o mato e começou a
trabalhar exercendo o ofício de ferreiro. O grande
Orichanla então se dirigiu a Yemmú: "Eu não vou
amaldiçoar-lhe, mas digo que, no futuro, vai matar
4
Cañizares, R. Cuban Santeria. Walking with the Night. Rochester:Destinity Books, 1999.
71
cada um que nascer de nós”. Yemmú chorou sem
dizer nada, nem uma palavra.
Ogún desfruta de grande popularidade na
África, como citam algumas obras4:
"... Na Nigéria a importância da existência de
ferreiros e fabricantes de ferramentas artesanais é
imprescíndivel e Ogún é o grande padroeiro de
todos estes artesãos, bem como de soldados,
c a ç a d o re s e p e s c a d o re s , p rofi s s õ e s m u i to
influentes. Ferreiros eram um grupo à parte,
respeitados e apreciados por toda comunidade, a
tal ponto de ter direito cativo de participar nas
reuniões do conselho de anciãos em todas as
cidades.
Ogún como pa-
droeiro de todas
estas profissões, foi
objeto de adoração
aberta em todos os
clãs e tribos, enquan-
to apadrinhou uma
casta de poder eco-
n ô m i co , p o l í t i co e
profissional.
C o m o ve r e m o s
em várias citações,
Ogún é inimigo eter-
72
no de Changó, pois este nunca o perdoou pelo que
aconteceu com sua mãe. Além disso, como
vingança, Changó roubou sua esposa, Oyá. Em uma
de suas formas, Ogún é um eremita que vive
estuprando mulheres que se atrevem a aproximar-
se dele mata adentro. Em Cuba, este orixá é muito
importante, já que é ele o dono da faca ou facão
usados na imolação ritualística, se não for de sua
vontade nenhum sacrifício é possível. Ogún está
intimamente ligado a Ochosi e sucumbe perante os
encantos e doçura de Ochún. Na natureza, é
simbolizado pelo ferro e todos os metais, represen-
tando a virilidade dos seres humanos.
Ele é o Senhor de
todas ferramentas e
correntes. Na tradição
Lucumi, Ogún é do
grupo de Oshas Odde,
comumente chamado
de Guerreiros. Este
grupo é constituído
por Elegua, Ogún,
Ochún e Ochosi.
É um dos primei-
ros OSHA a receber
qualquer indivíduo na
tradição. Ogún é
73
decisivo na confirmação cerimonial de Oloshas e na
cerimônia de confirmação de Awo. A esta divindade
é dado o direito do sacrifício, uma vez que a faca
usada no ritual lhe pertence.
Junto com Ochosi é dono das montanhas e
matas, e das estradas junto com Elegua. A Ogún
pertencem os metais, é o regente de ferreiros,
guerras e responsável por vigiar os seres humanos.
Seu nome vem do iorubá Ogún (guerra). Ele vem de
Ileshá e foi rei de Iré. Suas cores são o verde e o
roxo ou preto. Seus Elekes (colares) são feitos
alternando contas verdes e pretas.
74
Ogún - Arere
Ogún Arere significa "el carnicero", O Grande
Carniceiro.
Ogún - Onilé
Ogún Onilé significa o grande conquistador,
guerreiro e general dos exércitos. Ele é o rei da
cidade de Inlé, sendo então seu soberano senhor
Onilé.
Seu nome também significa "proprietário de
terra". É assim chamado enquanto desbrava terras
inexploradas, caçando e conquistando. O título
refere-se aquele que chegou primeiro a um lugar,
se instalou e dominou a terra.
Ogún - Alagbede
Ogún Alagbede significa "ferreiro". Este Ogún é
o padroeiro de todos daqueles que trabalham com
metais. Ele é incansável, trabalha dia e noite. Às
vezes apresenta perfil irascível, agressivo e muito
rude. Ele é o marido de Yemayá Okunte. Ele é
chamado Alagbo, Alagbede ou Alaguede.
75
Ogún - Shibiriki
Ogún Shibiriki é o avatar ou caminho responsá-
vel pela criação dos instrumentos de metal.
Também chamado de "o assassino", demonstra uma
característica de ciúmes do amor de Changó e
Yemayá. É muito forte, corajoso e de grande porte,
o cheiro de sangue na batalha o deixa enloquecido.
Ogún - Kueleko
Este caminho ou avatar significa Senhor dos
Ferros e da transformação dos metais. Esta
divindade é amante do derramamento de sangue.
Conforme consta em alguns de seus mitos, “em
uma ocasião cortou centenas de cabeças, para
acabar com uma revolta dos homens contra Olofi”.
É considerado "Montuno" (camponês). Certa vez,
Changó roubou suas roupas, fazendo Ogún se vestir
de maneira simples com folhas de mariwó e torso
nu. Seu assentamento é feito em um caldeirão de
ferro, onde suas ferramentas são armazenadas:
normalmente um martelo, uma bigorna, um facão,
uma pá, um pé de cabra, 4 ferraduras e um pedaço
de corrente.
Na tradição Lucumi, seu caldeirão é colocado
76
perto de Elegua, na entrada da casa, podendo
incorporar mais elementos a medida em que o
adepto recebe orientações do orixá ou por intuição
ou através de uma sessão de adivinhação. Algumas
casas acrescentam ao assentamento de Ogum, 7
unhas de crocodilo, patas de lobo, num total de 4,
um fole e um bisturi (o último como proteção de
possíveis cirurgias). Ogún é o patrono dos cirurgiões
e, com Ochosi, protege caçadores.
Ele dá a tenacidade fiel e força para enfrentar a
vida. Ogún também é patrono dos entalhadores e
curtidores de peles, barbeiros e motoristas de
carros e locomotivas.
Como fala o pesquisador e Sacerdote Cubano
Miguel Ramos 5 : "Em sua caçarola de ferro e
ferramentas, está o significado do trabalho bruto
desta vida”.
Características Gerais:
Cores Tradicionais: Verde e preto, roxo e
avermelhado.
Dia: Terça-feira.
Número: 7.
Pedra: Ametista.
5
Ramos, Miguel. “Shangó,” “Ogún,” and “Oyá” entries. In Holy People of the World - A Cross-
Cultural Encyclopedia, edited by Phyllis G. Jestice. Santa Barbara: ABC-CLIO, 2004.
77
Metais: Todos, principalmente ferro e aço.
Plantas: Pimenta, espada de São Jorge, quebra
pedra dentre outras.
Animais de Estimação: Cão, baratas, peixe
vermelho.
Funções: Deus da guerra, metais e hospitais,
guardião dos segredos e Senhor do potencial
humano.
Sicretismo Católico: São Pedro, São João
Batista, São Miguel Arcanjo e São Paulo.
Colares: Preto com contas verdes. De acordo
com a casa, também marrom e preto, com
intervalos de peças
avermelhadas.
Suas ferramentas
são todas feitas de
metal, ponteira, bigor-
na, machado, facão,
c o r r e n t e s , c h ave s ,
martelos, um serrote,
etc.
Normalmente são
guardadas num cal-
deirão de ferro.
78
HOSI
Ochosi
Oshosi ou Oxóssi
(Ochosi) pertence a um
grupo de Osha Odde,
comumente chamado
de Guerreiros. Este
grupo é constituído por
Elegua, Ogún, Ochosi e
Ochún. É um dos pri-
meiros orixás a receber
qualquer indivíduo nas
casas de culto. Ele é um
orixá predador por
excelência.
Relaciona-se com
prisão, justiça e perse-
guidos. Pensa-se que é capaz de se deslocar para
qualquer lugar ou em qualquer momento e capturar
ou pegar qualquer coisa.
Ele é simbolizado por armas de caça, tipo arco e
flecha, e é primariamente grande companhia de
Ogún. Ele é considerado um mágico e feiticeiro. Seu
nome vem do iorubá Osóssí (OSO: feiticeiro, Sísé:
fazedor de bruxarias), significado literal de "Aquele
que trabalha com bruxaria."
80
Na Nigéria é considerado filho de Oddudúa
(Oddua). Ochosi, em Cuba, é considerado filho de
Obbatalá e Yemmú. Esposo de Ochún com quem
ele teve de Logún-Ede.
A Ochosi é oferendado alpiste, painço, batata
doce, rum, anis, tabaco, aves caçadas, mandioca. A
ele podem ser imolados cabras, galos, codornas,
frango, carne de veado, pombo, Jutias, pé de
galinha, alecrim, manjericão, atiponlá, peregún,
peônia, abacate, goiaba, Ceiba, álamo, alfarroba,
aroeira, maravilha, pendejera, Higuereta, manobrista,
ameixa, etc.
Ochosi e Ogún são tão intimamente parecidos
nos atributos e ferramentas, e até os animais
imolados na tradição Lucumi são muitas vezes os
mesmos!
A lenda explica a origem destas duas divinda-
des: Ogún, apesar de possuir um facão não
conseguia caçar, enquanto limpava a mata ou
floresta os animais fugiam escutando o barulho de
seu trabalho, e então não conseguia caçar.
Ochosi sempre foi um grande caçador, mas a
mata densa e alta impedia que ele avançasse no
trabalho de caça aos animais, pela floresta. A fome
também o atormentava.
81
Ochosi consultou Orula, que o aconselhou ir até
uma colina e de lá fazer uma oração. Assim ele fez e
pediu para que a má sorte virasse boa sorte. Foi
então que sua má sorte caiu sobre Ogún. Ambos
sorriram e entraram num acordo.
Ogún: "Eu derrubo a mata e abro picadas e não
consigo matar, por sua vez, você pode matar, mas se
a mata estiver fechada não consegue passar. A partir
de agora, eu e você derrubaremos a mata e
pegaremos as caças." E eles assim fizeram. Então
passaram sempre a andar juntos, Ochosi acima e
Ogún abaixo.
Ochosi adquiriu suas
funções diretamente
das mãos de Olofi em
troca de um favor
prestado. Olofi queria
capturar o Rei dos
Macacos de Sete Rabos,
mas ele vivia em uma
caverna de difícil acesso
e não existia nenhuma
maneira de alcançá-lo.
Ochosi foi se con-
sultar com Orula, que o
82
aconselhou a fazer uma oração e deitar bem quieto
na porta da caverna. Os macacos, desconfiados,
olhavam de soslaio para o orixá, achando que
poderia estar morto. O grande Caçador permaneceu
imóvel e os macacos decidiram levar "o cadáver" de
presente para seu Rei...
Uma vez lá dentro e sem pensar duas vezes,
Ochosi capturou o soberano dos macacos e levou-o
para Olofi, que disse: "Enquanto o mundo for mundo,
você vai ser o responsável pela caça, pela prisão, o
Senhor dos caçadores e dono dos animais selva-
gens". Uma velha Sacerdotisa Santera, Yeniela
Cedeño Hechavarría6 endossa: "Este é o orixá da
justiça, e está o tempo todo combatendo as coisas
mal feitas. Um curandeiro que trabalha de forma
antiética, ao receber Ochosi, de nada tem valor a sua
prática. Ochosi está ligado a Obbatalá, no que diz
respeito a cumprir a sua justiça". Na verdade,
Bascom explica que Ochosi é linguista e intérprete
de Obbatalá e qualquer um que quer ir ao encontro
dele deve primeiro encontrar Ochosi.
A fidelidade prestada a Olodumare é bem
conhecida. Um “pataki” africano mostra a generosi-
6
Dime qué haces y te diré quién eres: Santería, mujeres santeras y representación social
de sus funciones - Revista Contraponto | vol. 1 n. 1 | jan./jul. 2014 - Habana
83
dade e abnegação que caracterizam: “Todos
disseram que o grande caçador Ochosi nunca seria
rico e não teria nada.
Todos os animais caçados, ele entregava
diretamente a Olofi, sem pegar nada para si. Alguns
amigos de Ochosi formaram um clube e eles
decidiram fazer alguns trajes para exibir no dia do
festival anual. Ochosi concordou.
Como ele não tinha dinheiro, aproximou-se de
Olodumare e disse: "Baba, gostaria de me vestir de
maneira boa para uma festa, mas sou tão pobre, eu
não tenho nenhuma
vestimenta adequada.”
Olodumare respon-
deu: "Não se preocupe,
Ochosi, vou arrumar uma
vestimenta para você."
Dias antes desta festi-
vidade, os convidados
começaram a preparar
suas roupas, feitas de
seda branca, outras de
algodão branco, rica-
mente decorado. Olodumare vestiu Ochosi com seu
terno de contas brancas que brilhavam à luz da lua.
84
Quando seus amigos o viram, o adoraram,
pensando até que era o próprio Olodumare os
honrando com a sua presença. Junto de Ochosi
dançaram, cantaram e os adivinhos louvaram a
Olodumare. Desde aquele dia, como uma recom-
pensa por sua lealdade, Ochosi tornou-se rico”.
Uma grande tragédia marcou a vida deste orixá,
que inadvertidamente
era acusado de matri-
c í d i o . C e r t a ve z , e l e
caçava pássaros e os
armazenava num canto,
para depois vender a
Orula. Sua mãe, sem
comunicar a Ochosi,
escondeu um. Ao des-
cobrir o roubo, enfure-
cido, disse: "Traga Alacán, minha flecha para matar a
pessoa que roubou meu pássaro”. E atirou a flecha
para o alto, que desapareceu no ar, deu voltas ao
redor da praça e terminou presa no coração de sua
mãe.
Ochosi é um importante provedor e acredita-se
que quem carrega uma pequena flecha de ouro no
pescoço será sempre protegido por este orixá.
Segundo Mercedes Cros Sandoval7, "se em Cuba é
85
dito que ele é o guardião das prisões e daqueles que
nelas vivem é devido à semelhança que se têm com
os caçadores capturando e guardando suas caças
em armadilhas.”
Entre os caminhos de Ochosi ou avatares temos
Ochosi Adebi, Ochosi Ode Mata e Ochosi Guruniyó.
Dentre seus atributos e ferramentas, os principais
são o arco e flecha, dentre outros.
Os guerreiros são frequentemente bem rece-
bebidos pelos religiosos, como forma de trazer uma
proteção ou segurança a todos durante os
trabalhos, sem que isto constitua uma iniciação
formal na tradição Lucumi. Em seguida, os fiéis
cultuam Elegua, Ogún, Ochosi e qualquer outro orixá
que faça parte das iniciações e que tenham seu
assentamento na casa.
7
LA Religion Afrocubana/the African Cuben Religion (Coleccion Plaza Mayor libre)Nov 1998
86
Ochosi - Mota
Ochosi Mota defende o território, trazendo a
caça e espantando os inimigos, tanto materiais
quanto espirituais.
Ochosi - Kayoshosi
Ochosi Kayoshosi é o avatar que mantém uma
casa ou trabalho alegre, pois com sua vigilância
nenhum ladrão ou malfeitor passará impune ao
seus olhos. Apazigua as discussões e anula os
motins dentro da tradição e supera dificuldades.
Ochosi - Alé
Ochosi Alé é aquele que protege o território,
caçando bruxas e praticantes de magia negra,
egguns perigosos e pessoas mal-intencionadas.
Ochosi - Marundé
Ochosi Marunde também é um caçador, além
de um grande guerreiro e médico. Conhece muitas
ervas curativas e tem o dom de curar enfermidades
mesmo a distância.
87
Ochosi - Ibualámo
Ochosi Ibualámo é um grande caçador, mas
também grande pescador. Diz-se que habita nas
profundezas do rio. Entre as suas ferramentas estão
um arco, flecha e uma rede.
Ochosi - Otín
Ochosi Otín é considerado um avatar feminino,
mas tem uma contraparte masculina nos outros
caminhos com as mesmas características e virtudes.
Otín é uma grande caçadora e sempre acompanha
Ochosi, seu irmão gêmeo e marido. (Era costume
dos gêmeos casar-se entre si ou com outros
gêmeos).
Ochosi - Onilé
Ochosi Onilé representa a supremacia porque,
como o próprio nome indica, é proprietário do
terreno e da casa onde todos outros se assentam.
Ele é representado como o primeiro caçador,
aquele que fundou a cidade e agora retorna
trazendo suas bênçãos.
88
Características Gerais:
Cor Tradicional: Violeta.
Dia: Terça-feira (como seu parceiro de Ogún, ao
qual está ligado).
Número: 7.
Pedras preciosas: Ametista e âmbar.
Animais: Veado, codorna.
Representação Católica: São Norberto.
Função: Deus da caça, prisões, justiça, advoga-
dos e leis.
Feriado Principal: 6 de Junho.
Colar: Contas vinho com contas verdes.
89
Orúnmila ou Orula
Orúnmila ou Orula é
o Orixá da Adivinhação,
dono do Oráculo Supre-
mo. Nas tradições cari-
benhas é considerado o
g r a n d e b e nfe i to r d a
humanidade e seu prin-
cipal conselheiro. Ele
revela o futuro através
do segredo de Ifá. É
também um grande
curador, e aqueles que
ignoram seus conselhos
podem sofrer os altos e
baixos causados p or
Exu. Orula representa a sabedoria, inteligência,
astúcia e o bem se sobrepondo ao mal. Quando
Olodumare criou o universo, Orula estava lá como
uma testemunha. É por isso que ele sabe o destino
de tudo o que existe. É por isso que ele é chamado
em alguns Itans como “Eleri-ipin ibikeji Olodumare”
(testemunha de toda a criação e o segundo no
comando de Olodumare).
Seu culto vem de Ilê Ifé e seu nome vem do
90
iorubá, Orúnmila significa "Só Deus sabe quem será
salvo”. Ele personifica a sabedoria e a capacidade de
influenciar o destino e é o mais adverso. Aqueles
que não seguirem o conselho de Orula, sejam
homem ou orixás, podem ser vítimas de Osogbo
enviados por Exu. Inseparável amigo de Changó, que
lhe forneceu, com a permissão de Olofin, o dom da
adivinhação, e Exu, seu fiel aliado. Orula forma uma
trindade importante com Olofin e Oddúa (Oddudúa).
Orula está presente no momento em que o
espírito que vai encarnar em um indivíduo escolhe
seu destino. Ele representa segurança, apoio e
conforto para a incerteza da vida. Com a sua ajuda
tudo é possível. Os seus sacerdotes em geral são
homens bem organizados, profundamente místicos
e sábios. Exu é seu assistente. Os sacerdotes de
Orula existem, assim como os sacerdotes dos
demais OSHAS e Orishas, com a diferença de que é
exclusivo para os homens, e dentro destes são
escolhidos as pessoas que não se enquadram em
estado de transe.
A vida de Orula começou com uma tragédia. Ele
foi o primeiro menino nascido de Yemmú e
Obbatalá, depois do acontecido com Ogún. Fiel a
sua palavra, Obbatalá pegou a criança nos braços e
91
o levou para o meio da mata. Ao encontrar uma
enorme ceiba, cavou um buraco e enterrou Orula
até a cintura, prendendo seus braços debaixo da
terra, acreditando que não duraria muito tempo sem
água ou comida.
Elegua que tinha seguido o seu pai, observava
tudo. "Isso não é justo! Se alguém tem que pagar com
a sua vida, deve ser Ogún e não o pobre Orula, que
não tem culpa de nada.” Ele disse a sua mãe o que
aconteceu. Yemmú, chorando, pediu a Elegua para
visitar e trazer alimentos a Orula todos os dias.
Passou o tempo... Elegua alimentava Orula e a
ceiba, Iroko, protegeu-
o sob sua sombra.
Yemmú teve outro fi-
lho, chamado Changó,
que veio ao mundo por
um grande estrondo,
pois nasceu junto com
um trovão. Changó era
um negro tão bonito
que Obbatalá se com-
padeceu dele e não
lhe fez nenhum mal,
entregou ele a sua
fi l h a Da d a p a r a s e r
92
criado. Quatro anos mais tarde, Dada decidiu levar
Changó para visitar seu pai, Obbatalá, que ficou
encantado com a criança, que sentou em suas
pernas e começou a brincar com ele. Yemmú
chorava muito lembrando de Orula.
Obbatalá disse para Dada: "Todos os dias traga
este menino para me ver." E assim foi feito. Obbatalá
o sentava em suas pernas e contava tudo que Ogún
havia feito. Então Changó cresceu odiando Ogún,
que havia sido obrigado a viver separado de seus
pais. E quando se fez homem, Elegua, que vivia
muito bem com o irmão, contou tudo o que
aconteceu com Orula.
Naquela época, o primeiro dos orixás andou
completamente esquecido e tudo estava indo
errado no mundo. Changó vendo o sofrimento de
Obbatalá e querendo salvar seu irmão que estava
agoniando na prisão, decidiu abordar o assunto com
seu pai, "Baba, faz tempo que o meu irmão mais
novo está enterrado sob uma ceiba".
Obbatalá respondeu: "Isso é uma história muito
antiga Changó, faz anos que Orula morreu”. "Não, pai,
Orula não está morto, mas está muito mal e sofrendo,
deixe-me salvá-lo." Obbatalá deu o seu consenti-
mento. Changó agarrou Orula pelos ombros e o
93
desenterrou.
Este disse: "Obrigado, irmão, mas como vou fazer
para ganhar a vida? Estive aqui enterrado todos estes
anos, e eu não sei fazer nada." Changó, que desde o
seu nascimento era o proprietário do grande
Oráculo, cortou uma tábua da ceiba e fabricou uma
placa, o Tabuleiro de Ifá, que Orula usou para dar
consultas a todos no reino. As primeiras palavras
dele foram:
"Maferefun (louvado seja) Changó, Maferefun
Elegua, Maferefun Obbatalá, Maferefun Olofi". Assim
que terminou de proferir estas palavras, um raio o
atingiu e desenhou uma coroa em torno da placa.
Orula prostrou-se e Changó deu-lhe as honras :
"Kaô, kabiesile, Oba"
Orula, desde então, tornou-se o senhor da
adivinhação8.
Segundo Mercedes Cros Sandoval9 este mito faz
parte do processo sincrético que aconteceu na
construção religiosa da ilha de Cuba. Obbatalá
aparece nele como o pai de muitos dos deuses,
para não dizer de todos. Na África é considerado
8
Quase todos as “libretas” da Santeria Caribenha tem vários Patakies desta história. Em
algumas versões é Obatalá que presenteia Orula, reconhecendo seu excesso.
9
SANDOVAL, Mercedes. Worldview, the Orichas and Santería: Africa to Cuba and Beyond:
University Press of Florida. Florida, 2009.
94
chefe hierárquico e pai de todas as divindades, não
necessariamente o pai biológico.
Na Santeria há uma tendência para “emparen-
tar” os deuses, por causa de um desejo de ordenar
e estabelecer hierarquias na família celestial,
criando um processo amplo de “miscigenação
divina”. Esta é uma das várias interpretações deste
fenômeno como explica em alguns textos Lydia
Cabrera 10 , que reconhece nos antigos patakíes
falado da própria boca de Gabino Sandoval, filho de
"egbados Lucumies", que parece ser difícil em
apenas uma geração termos a redefinição tão
radical da genealogia mítica da gênese dos Orishas.
Podemos encontrar algumas variantes regionais de
origem creole, que tardiamente chegaram na ilha.
Não descartamos que as questões de incesto, de
filhos abandonados ou condenados são constantes
na mitologia mundial. O mais conhecido de todos os
casos é com certeza o Mito de Édipo, filho de Laio,
rei de Tebas e da rainha Jocasta.
Advertido por um oráculo que a criança iria
matar o pai e casar com sua mãe, Laio e Jocasta
abandonaram a criatura ao pé de uma montanha. O
10
CABRERA, Lydia. Magia E Historia En Los Cuentos Negros, Por Que Y A Yapa - Coleccion
Ebano Ynela: 1988
95
rei de Corinto adota Édipo e, ao longo do tempo, a
previsão do oráculo é cumprida. Outro caso com
características semelhantes é a relação de Cronos e
Zeus, também personagens da mitologia grega.
Cronos, o filho de Urano, não era tão querido
pelo pai, que temia sua sucessão, uma vez já
anunciada por uma profecia. Ele próprio previu que
seria destronado por um de seus filhos. A solução
era simples, toda vez que sua mulher lhe dava um
herdeiro, Cronos em silêncio o devorava. Quando
ela foi dar à luz a Zeus, no entanto, se escondeu
numa caverna em Creta, onde a criança nasceu e
cresceu escondida na montanha.
Rea por sua vez engana Cronos e lhe dá uma
pedra envolvida em panos, dizendo que era seu
filho. Ele engole a pedra em uma só mordida. No
decorrer do tempo, Zeus, finalmente vence seu pai
e faz sair de sua barriga todos seus irmãos devo-
rados, tornando-se o rei dos deuses.
Mesmo personagens como Moisés e o rei
Sargão da Acadia são cercados por detalhes
mitológicos que reproduzem muitas destas
questões. Na história de Moisés também encontra-
mos uma situação de incesto, mas assim como no
mito afro-cubano, há uma sentença de morte para
todos os homens (neste caso, por ordem do rei do
96
Egito, Moisés foi condenado à morte, bem como
todos meninos recém-nascidos hebreus):
"Quando você trabalhar como parteira no parto
de um hebreu, ao lavar a criança observe se é um
menino ou menina, devendo assassinar o bebê se for
menino e, se for uma menina, deixe que ela viva". Os
pais de Moisés, com medo, colocaram-no em uma
cesta e deixaram-no a entre os juncos na margem
do rio11”.
Ali, ele foi encontrado pela filha do Faraó, que o
criou e o amou como se fosse seu próprio filho.
Exatamente o mesmo aconteceu com o Rei Sargão,
fundador da dinastia semita da Acadia. Alguns
textos cuneiformes encontrados datados de 2.360
A.C. dizem: "Eu sou Sargão, o rei poderoso, rei dos
Akkadianos. Minha mãe era uma sacerdotisa de
Enitu, não conheci meu pai... Minha mãe me
concebeu e criou-me em segredo. Ela me colocou em
uma caixa feita de fibras de bambu, e me deixou na
beira de um rio. Fui encontrado por um carregador de
água, que me adotou e me criou como seu filho. "
Segundo o autor alemão Werner Keller 12 , a
história do cesto abandonado com uma criança no
11
Êxodo Ex. 1:8,22 – Bíblia Sagrada, Edição Pastoral 1990.
12
KELLER, Werner. E a Bíblia Tinha Razão. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1979.
97
rio é um conto popular antigo do povo semita,
passado de geração em geração através da
tradição oral.
Na tabela abaixo podemos ver os jogos
temáticos nas histórias destes vários personagens:
Criança do sexo
masculino con-
denada à morte
Rejeição
paterna
Abandono
paterno
Criança adotada
por outros
Criança tida
como morta
Criança abandonada
quando adulta
ocupa um
cargo importante
Aparece em
histórias
de Incesto
98
Não cabe neste estudo o debate desta complexa
explicação, das mais variadas coincidências nas histórias dos
mitos e de grandes personagens de origens diversas. Fiz
somente um comparativo observando a história de Orula e
muitos outros mitos das divindades afro-cubanas, enqua-
drando-os dentro dos temas mitológicos universais, como é
meu costume.
Orúnmila é o deus da sabedoria e senhor dos oráculos.
Seu conhecimento é infinito e suas manifestações são muito
sutis. Um outro mito conta a ocasião em que deu um
banquete para Obbatalá, que lhe pediu para preparar o
melhor e o pior alimento do mundo. Quando chegou a hora
de servir o melhor prato, Orula ofereceu uma bandeja
contendo uma língua de boi deliciosamente temperada,
Obbatalá comeu com prazer. Chegou a hora de oferecer a
pior refeição do mundo e, mais uma vez, Orula serviu uma
língua. Obbatalá achou muito estranho, mas Orula explicou:
“- Baba, me pediu o melhor e o pior prato do mundo, e eu
lhe dei os dois. A língua pode ser muito bem usada para salvar
alguém e criar coisas boas como pode ser usada para matar
e aniquiliar.”
Obbatalá agradeceu satisfeito e elogiou a grande
sabedoria de Orula.
Existem inúmeros patakíes que contam a história desta
importante divindade. Quase todos concluem o mesmo
99
fundo moral: é necessário um ebó para agradecer o bem
alcançado. Em mais de uma ocasião, Orula aparece em
apuros e sempre é socorrido por uma ou mais mulheres. Em
certa ocasião ele caiu num poço e muitos passaram sem
sequer ajudá-lo. Três mulheres que ouviram seus gritos
decidiram ajudá-lo, amarraram suas três saias, mas mesmo
assim o poço era profundo e não conseguiam chegar ao
socorro dele, daí acrescentaram os três mantos que vestiam
e o resgate foi feito. Como recompensa, Orula deu a elas o
dom da fertilidade.
Orula viveu por um longo tempo com sua esposa
Ochún e tambem viveu com Yemayá. Sendo que desta
última ele se separou porque ela, na sua ausência, dava
consultas com o oráculo, que era de sua competência. Os
sacedotes dedicados ao seu culto representam a mais alta
hierarquia dentro da tradição Lucumi. Esta divindade não
incorpora nos seus fiéis, exercendo uma comunicação única
e direta através do oráculo.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Amarelo e verde.
Dia da semana: Não tem nenhum dia em especial, mas
o domingo é regido por todos os orixás.
Número: 16.
Pedras preciosas: Esmeralda, topázio, jade verde, verde
100
malaquita, âmbar.
Animais: Galinhas pretas.
Função: Adivinhação, aconselhamento.
Invocação Católica: São Francisco de Assis.
Feriado principal: 4 de Outubro.
Colares: Verde claro com pérolas amarelas. Também
podendo ser uma pulseira no pulso esquerdo.
101
CHANGÓ
Changó
Changó é um guer-
reiro Osha, um rei den-
tro da tradição iorubá e
um dos orixás mais po-
pulares de seu panteão.
Orixá da justiça, repre-
senta a força viril, tro-
võ e s , r e l â m p a g o s e
fogo, proprietário dos
tambores usados no
culto, dono da dança e
música. Ele representa,
nas tradições caribe-
nhas em geral, a neces-
sidade e a alegria de viver, a intensidade da vida,
beleza masculina, paixão, inteligência e riqueza. Ele
representa o maior número de situações favoráveis
e desfavoráveis. Foi o primeiro proprietário e
intérprete do oráculo Ifá e do oráculo Diloggún e
Biange e Aditoto. Changó tem uma relação especial
com o mundo de Eggun.
Changó foi o 4º Alafin (rei) de Oyó, a segunda
dinastia de Oddudúa após a destruição de Katonga,
a primeira capital administrativa do império iorubá.
103
Changó veio em um momento muito importante na
história iorubá, onde as pessoas tinham esquecido
os ensinamentos de Deus. Changó foi enviado com
seu irmão gêmeo por Olodumare para purificar a
sociedade e ensinar as pessoas novamente a
seguirem uma vida limpa e ensinamentos de um
único Deus.
Depois tornou-se rei e as pessoas começaram a
dizer que Changó era muito rigoroso, até mesmo
tirano. Naquela época, a lei dizia que se um rei não
fosse mais amado por seu povo deveria ser morto.
Changó terminou sua vida sendo enforcado. Seu
irmão gêmeo Angayú, com o uso de pólvora,
exterminou todos os inimigos de Changó, que
passou ser adorado como Orixá e foi chamado de
Senhor do Trovão.
Changó era um rei guerreiro e os generais de
Ibadan o amavam. Seus seguidores o viam como
possuidor de grande potencial criativo. Changó foi
um dos reis iorubás que ajudou a construir
formações de batalha e, graças a suas conquistas, o
império se estendia desde a Mauritânia ao Gabão.
Ele se tornou famoso principalmente por sua guerra
de cavalaria, que desempenhou um papel funda-
mental na construção do império. Outras lendas
104
dizem que Changó matou seus filhos e esposas nas
suas experiências com pólvora, em seguida
arrependeu-se e tornou-se um orixá. Changó foi o
primeiro Awo, em seguida, entregou o axé da
adivinhação para Orula, por isso é considerado
muito importante no culto de Ifá para Babalawos,
chamados possuidores de mão de Changó.
Changó é o irmão de coração de Babalú-Ayé
(okan okan Pelu). Changó come junto com ele.
Quando este orixá foi coroado, foi ele quem ajudou
Changó a se curar de suas doenças. Osaín é
padrinho de Changó e o nome de seu escravo e seu
mensageiro é “DEU” chamado Bangboshe.
Em algumas tradu-
ções, Changó significa
encrenqueiro. As pe-
d r a s re c o l h i d a s o u
seus Otanes (otá) são
do alto de cachoeiras
ou pedreiras. Um dos
orixás fundamentais a
ser recebido quando
feito Osha Changó é
Agayú omo Changó
Solá que tambem
pode vir como Agayú
105
Solá. Seu símbolo principal é o OSHE, que é um
boneco esculpido em cedro que em vez da cabeça
tem um machado duplo. O Oshe, com o tempo,
transporta muita energia e normalmente é passado
de Babalawos para Babalawos, da linhagem de
Changó.
No sincretismo, Changó é comparado a Santa
Barbara, que tem a sua festividade em 4 de dezem-
bro, de acordo com o calendário católico. O seu dia
é sábado, embora algumas casas também conside-
rem a sexta-feira. O seu número é 6 e seus múlti-
plos, embora alguns irão atribuir 4, talvez por causa
de seu sincretismo religioso com Santa Barbara.
Suas cores são vermelho e branco.
Na tradição Lucumi são citados alguns patakís
nos quais Changó é o filho de Obbatalá (em um
avatar Feminino) e Agayú Sola. Alguns estudiosos de
Lydia Cabrera aludem a sua origem terrena
baseados em relatos da autora: "Changó foi um rei
que virou Ocha", “Foi homem e rei, Alafin, antes de
tornar-se santo e subir ao céu." "Diz-se que Changó é
ouvido e tornou-se rei de todos os Lucumies. Esta
versão cubana coincide com algumas lendas
africana, histórias nigerianas que dizem que Changó
ganhou a concessão do título de primeiro rei de Oyó
graças a sua habilidade de ser um grande guerreiro
106
cujo poder foi sentido em
uma nação inteira."
Samuel Johnson 1 3 ,
historiador iorubá, o dis-
tingue entre reis mitoló-
gicos ou heróis histó-
ricos. Changó pertence
à primeira categoria e,
de acordo com ele, era
o quarto rei dos iorubás,
endeusado após sua
morte. Um dos nomes
pelo qual ele é conhecido em Cuba, Obakoso, quer
dizer "rei (Oba) de Koso" e Koso, uma aldeia ao lado
da antiga cidade de Oyó.
Changó é apaixonado por música e dança,
alguns patakies o coloca como mulherengo e
possuidor de muitas amantes, mas as mais
conhecidas são Oyá, Obba e sua legítima esposa
Ochún.
Changó, quando quer, sabe ser bem malicioso e
astuto. Em uma ocasião, Obbatalá procurava onde
esconder o seu dinheiro. Ochosi pegou uma caixa e
13
JOHNSON, Samuel. The history of the Yorubas : from the earliest times to the beginning
of the British Protectorate: Nigerian, 1923
107
usando uma escada que Orichanla lhe emprestou,
escondeu a caixa com todo o dinheiro e a pendurou
em uma árvore. Para proteger o local, soltou todos
os animais selvagens da savana: leões, tigres, e
outros animais perigosos.
O Ibeyis, os gêmeos, se deram conta do que
aconteceu, porque eles estavam brincando nas
proximidades. Changó lhes trouxe todo tipo de
doces e assim lhe contaram tudo o que sabiam. O
Deus do Trovão começou a preparar seus planos,
mas os animais diziam: “Estragaremos tudo, não
levará nada sem ser devorado por nós.”
Ele meditou e finalmente preparou um Jaba
junto com outros alimentos crus cozidos, açúcar,
deixando eles bem cheirosos, ao lado colocou água
e conhaque e levou estes alimentos na savana. Os
animais foram atrás deste banquete e Changó ficou
à vontade, subiu na árvore e pegou o dinheiro.
Como viajou muito, este Oricha é talvez o que
tem mais avatares ou caminhos no Panteão Lucumi.
Os principais são:
Changó - Alafi
Este avatar está associado com a realeza, a
108
legislação, o governo, lei, justiça e liderança. Changó
Alafi é altamente respeitado por sua autoridade e
senso de justiça.
Changó - Obakoso
Obakoso é o avatar que recebe o título Aganyú
depois de tomar o trono de Oyó, "o rei não se
enforcou", que significa o retorno de Changó em sua
pessoa. Ele foi associado com raios, incêndios e as
leis, mas é um caminho em que é apresentado
como um jovem mulherengo e festeiro. Ele é rei de
Koso e todos os Lucumies.
Rumba Obalubbé, que vive com Obba.
Changó - Olufina
Olufina Changó é um avatar que significa "O
criador que põe fogo nas estradas". Neste caminho
ele é apresentado como proprietário da ceiba.
Alguns dizem que este Changó é uma criança.
Changó - Obalube
Obalúbe Changó é um avatar ou caminho que
significa "O que ataca com suas facas." É neste
109
caminho que Changó conheceu a mulher que mais
tarde se tornou sua esposa, Oyá.
Changó - Bara
Bara Changó é o que foi o mestre de adivinha-
ção antes de Orúnmila. Há histórias onde as
posições e atributos mudam entre Changó e
Orúnmilá, como o dom da adivinhação. No entanto,
há outros em que Orúnmila aprendeu a arte com
Exu.
Changó - Arira
Neste avatar, Changó é o proprietário dos raios.
Ele está presente em tempos de chuva, é aquele
que apaga o fogo, retira a seca e traz a paz. Arira
Changó é considerado uma qualidade cruzada com
filhos de Obbatalá. Sua oferenda é farinha amarela
com peixe vermelho.
Como vimos, Ogún e Changó são inimigos
irreconciliáveis. A primeira vez em que os irmãos se
encontraram Obaluaiyê estava presente, cheio de
chagas. Changó cura Obaluaiyê e dá de presente os
cães que acompanham Ogún.
O orixá das guerras e metais jurou vingança.
Porém, por mais de uma vez, foi derrotado por
110
Changó. Oyá, como sabemos, vivia com Ogún, que a
maltratava. Changó, por ódio a seu irmão, partiu para
seduzi-la. Quando ela o viu "tão bonito e sedutor"
apaixonou-se em um instante e, encantada, foi
embora com ele.
A aliança entre Changó e Oyá, o fogo e o
redemoinho, o trovão e o raio é invencível.
Em uma ocasião, Changó teve a necessidade de
vestir as roupas de Oyá para escapar de seus
inimigos. Alguns fiéis afirmam que Changó não gosta
de espíritos e tem medo dos mortos, outros fiéis
dizem que as pernas deste orixá não tremem diante
de nada, sendo cheio de vida, tornando-se assim
incompatível com a morte. Como disse Lydia
Cabrera14: "Não se termina um jogo com o esqueleto
frio, porque o corpo está vivo e quente, cheio de vida,
do contrário, estaria morto."
Sua pedra (otá) caracteristíca é chamada de
"pedra de raio" e seu assentamento é feito em um
vaso de madeira adornado com muitas imagens do
deus. Muitas de suas imagens o representam com
um machado de dois gumes. Como é um ocha
muito valente, deve ter ao seu lado sempre o
14
CABRERA, Lydia. Los Cuentos negros de Cuba. Habana: Editorial VERBUM, 2014.
111
assentamento de Obbatalá, para que sua energia
fique moderada. E é por essa razão que a cor branca
de Obbatalá sempre é acompanhada do vermelho
tempestuoso de Changó em suas roupas e colares.
Seus filhos usam uma coroa vermelha em forma de
castelo, as espadas também são um simbolo de
Changó / Santa Barbara. Los Congo lhe dão o título
de Nsasi Sete Raios.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Vermelho e branco.
Dia: Quarta-feira.
Número: 6.
Pedras Preciosas: Rubi, granada vermelha,
cornalina.
Plantas: Guano branco e guano Prieto, piscuala,
banana, quiabo e tomate.
Animais: Camero, jutia e novilho.
Funções: Fogo, paixão, trovão, música, dança.
Invocação Católica: Santa Barbara.
Feriado principal: 04 de dezembro.
Colares: Vermelho e branco, alternando contas.
112
OyÁ
Oyá
Oyá na África é con-
siderada uma divindade
fluvial e a primeira
esposa de Changó. Ela é
a grande deusa do rio
Niger, também conhe-
cido na África com o
nome desta orixá. Em
Cuba, Oyá perde sua
característica de divin-
dade do rio e aparece
como a segunda mulher
de Changó (Obba é a
primeira e principal).
Também é concedido a
ela o apelido de Yansã.
Sabemos que Oyá, mulher de Ogún, foi raptada por
Changó com seu consentimento e aprovação e este
a trouxe para viver com sua irmã Dada. No nome
dela, encontramos numerosos patakíes, especial-
mente relacionados as suas aventuras e guerras
imprudentes.
Oyá é um Osha que está intimamente relaciona-
do com Iku, a divindade da morte. Propicia as
tempestades fortes ou vendavais, fortes ventos e
114
relâmpagos. Simboliza o caráter violento e impetuo-
so. Ela vive na porta dos cemitérios. Ela representa a
intensidade dos sentimentos sombrios, o mundo
dos mortos. Na natureza, é simbolizado pelo
relâmpago. Junto com Elegua, Orula e Obbatalá
domina os quatro ventos, ela é chamada ao som do
Flamboyán.
Ela representa a reencarnação de antepassados,
a falta de memória e sentimento de culpa e
ressentimento nas mulheres. A roupa, as saias e
panos de Oyá trazem uma combinação de todas as
cores, exceto o preto. Ela também é o orixá do rio
Níger, anteriormente chamado de Oyá, por seus
afluentes, que nascem em Ira. Oyá é uma das orixás
chamadas funerárias, junto com suas irmãs Obba e
Yewá. Oyá tem um poder especial sobre egguns, por
ser mãe de 9 deles. De espírito totalmente guerreiro,
lutou ao lado de Ogún e Changó nas campanhas
que eles carregavam. Ela acompanhou Changó
quando saiu de Oyó e foi nomeada rainha de Koso.
Seu culto é natural do território Tapa, Koso e Oyó.
Seu nome vem do iorubá Oyá (Olo: proprietária -
Oyá: escuridão), também conhecida como Yansã
Iyámsá (Iyá: mãe - Omó: filhos - Mesa: nove).
Seu otá deve ser da cor marrom ou vinho,
retirado do rio, seu número é 9 e seus múltiplos. O
115
sincretismo é com a Santa Virgem da Candelária e
Santa Teresa (2 de fevereiro). Sua cor é o vinho ou
marrom ,exceto o preto.
Em certa ocasião, Osaín entregou-lhe um
pequeno guizo (espécie de chocalho) e disse a
Changó: "Todos os dias, antes de sair para a rua,
coloque um dedo no guiro e faça uma cruz na
língua. " Desde então, toda vez que falava, o deus do
trovão cuspia fogo pela boca. Oyá nunca tinha
tocado os pertences de seu novo marido, mas foi
tomada de uma grande curiosidade sobre o
misterioso ritual de
todas as manhãs. Ela
aproveitou um dia que
Changó estava viajando
para fazer o mesmo. Ela
introduziu um dedo no
quirito e fez uma cruz
s o b r e a l í n g u a . Tã o
grande foi seu terror ao
notar que cada vez que
falava, saia jatos de fogo
de sua boca.
Ate r ro r i z a d a , e l a
fugiu da casa e ele se
escondeu em uma pal-
116
ma. Ao retornar, Changó observou que sua esposa
não o esperava. Dada, sua irmã, disse a ele o que
aconteceu.
Furioso, ele saiu procurando sua esposa com a
intenção de lhe dar um grande castigo. Quando
encontrou Oyá liberando chamas de sua boca, mal
começou a repreendê-la por seu desrespeito, ela
disse: "Não seja bobo, Changó, agora eu posso ir
para o seu lado para a guerra contra Ogún". E esta é
a razão pela qual há guerra no mundo (antes que o
desgosto entre Ogún e Changó, a guerra era
desconhecida). Oyá e Changó venceram Ogún, que
passou a viver na mata, deixando de trabalhar para
viver de fazer feitiços e beber aguardente.
Alguns livros sugerem que a relação entre
Changó e Oyá foi iniciada por um simples desejo de
vingança, passando a se tornar um verdadeiro amor
compartilhado.
De acordo com Lydia Cabrera15, "Às vezes Oyá,
que também é o vento Mau, o turbilhão, a tromba
d'água ou o turbilhão de ar devastador que precede
os raios de Changó, trazendo a tempestade em suas
saias, enquanto manda os raios e atira pedras, além
15
CABRERA Lydia. Koeko Yyawo-Aprende Novicia: Pequeño Tratado de Regla Lucumi.
Habaa: 1996
117
de cuspir fogo pela boca. Mas Oyá, ainda que tão
revolucionária, é mulher e gosta de um lar muito
amoroso, e em nome do seu amor pode passar anos
sem sair de casa. "
Esta é uma orixá muito ciumenta e, como
veremos, tentou várias vezes se livrar de Obba. Um
pataki muito conhecido nos diz que muitas vezes
Changó subia em uma palmeira para de lá, enviar
mensagens para todas as suas concubinas. Oyá
decidiu pegar Changó em flagrante e esperá-lo
escondida na palmeira. Este percebeu as intenções
de sua amante, enchendo a árvore de lagartixas
(Oyá tem terror a estes
animais). Quando Oyá
começou a subir na
árvore, os lagartos co-
meçaram a lhe cercar,
aterrorizada ela caiu e
imediatamente lançou
um relâmpago para o
chão. A partir deste dia
as palmeiras passaram a
atrair raios.
Ta n t o e m C u b a
como na África, Oyá esta
totalmente relacionada
118
com a morte. Em certos livros antigos, encontramos
uma interessante história: Olofi teve uma filha e a
Morte (Iku) ficou apaixonado por ela. O próprio Iku foi
pedir a Olofi a mão da menina, o qual falou: “Se você
me trouxer uma centena de cabeças, poderá se
casar com a minha filha".
Iku, que era um homem de pensamento rápido
refletiu: Deixe-lhe fazer uma proposta melhor que
uma centena de cabeças? Perguntou a Olofi: “O que
você quer, uma centena de cabeças ou um homem
que vale cem cabeças? " Olofi perguntou: "Quem é?" -
"Igui, o palero." ele respondeu. Olofi disse: "Bem,
traga-o para mim, e eu te darei a minha filha".
Igui era um cumpridor de seus deveres e
homem de muita oração. Iku se encontrou com o
Awo, “O Carneiro” e lhe pediu ajuda, "Se me auxiliar
neste trabalho, juro que nunca vai morrer". O Awo
aceitou e chamou seu amigo Oga, para ajudar: "Eu
preciso que você me faça um favor. "- " Sim, claro ",
respondeu Oga, que por sua vez, devia mesmo um
favor ao Carneiro. "Olha, Oga, trágame aqui, seu
amigo Igui, se você me fizer isso, não terá que
trabalhar mais. "
Oga bateu na porta de Igui, mas como este tinha
feito seus ebós costumeiros, foi avisado de que não
deveria abrir a porta. Veio então Awo totalmente
119
encoleirizado e foi pegar alguns cocos, comida
favorita de Igui. Eles chamaram mais uma vez na
porta. Suavemente, ele sussurrou: "Igui, se não quer
abrir toda a porta, abra uma só fresta para que você
possa ver algo bonito que eu trouxe a você." Igui
olhou e viu o coco e estendeu a mão para alcançá-
lo. Awo imediatamente o derrubou no solo e Oga o
amarrou. Eles o colocaram em uma caixa e se
dirigiram para o palácio de Olofi. Oyá, que sabia
tudo, se escondeu pelo caminho. No momento
apropriado, manifestou-se como um grande rede-
moinho causando grande confusão, porém conse-
guiu resgatar Igui. Desde então, a Morte calou-se
perante a vontade da deusa e Awo, por traição à
Morte, foi amaldiçoada por Olofi: "Para sempre, você
vai ser devorado por Changó ".
Outras versões indicam que foi Oyá em pessoa
que apresentou o Carneiro a amada de Changó.
Judith Gleason16 observa que na África, Oyá se
manifesta no rio Níger, no tornados, nos ventos, no
fogo e nas manadas de búfalo. "Também protege as
mulheres no mercado, pois é a dona da praça.”
Alguns dos seus caminhos ou avatares são:
16
GLEASON, Judith. OYA - UM LOUVOR A DEUSA AFRICANA. São Paulo: EDITORA
BERTRAND, 1999.
120
Oyá - Yansã Bi Funko
Esta é a maneira de Oyá poder fazer tudo e
conseguir o que deseja. Rigorosa com seus filhos,
pune seus inimigos com asfixia e os aterroriza. Neste
aspecto é inseparável companhia de eggun Iwin. É
muito poderosa e consegue tudo o que se passa em
sua mente. Ela também é chamada quando se quer
resolver situações envolvendo casais, relações
extraconjugais, tudo isso para o bem ou para o mal.
Suas oferendas se fazem em fontes de parques
onde namorados se encontram ou na mata, em um
córrego de águas limpas. É a esposa de Ogún.
Oyá - Dumi
Esta é o avatar de Oyá em que Changó deu-lhe
visão oracular e grande magia por toda a eternidade.
Portanto, suas filhas terrenas têm uma boa dispo-
sição para o trabalho de Osha. Dumi Oyá está
intimamente relacionada com Elegua e Babalú-Ayé.
Aprendeu os segredos de Ifá e desta forma é
grande feitora de ebós, geralmente é feito no
consultório, a fim de aumentar a capacidade na arte
da adivinhação, é grande amante do cemitério.
121
Oyá - Yansã Oriri
Este avatar de Oyá é o mais inteligente e
habilidoso de Osha. Ela tem muito ciúmes de
Changó e fará de tudo para agradá-lo, às vezes de
maneira exagerada. Todas as suas filhas se tornam
devotas do cemitérios, porque é onde elas oram e
onde ela toma suas oferendas, também é o lugar
onde os seus pedidos são enterrados. Seus filhos
são grandes líderes no mundo dos negócios.
Oyá - Obinídodo
Obinídodo Oyá é uma guerreira natural, campeã
incessante da ordem e da justiça. Ela está encarre-
gada de guiar os mortos ao cemitério e deixar suas
almas nas mãos de Babalú-Ayé. É a forma mais
conhecida de Oyá nas Reglas de Cuba e do Caribe.
Permanece dentro do cemitério e a porta lateral
dele lhe pertence. Ela nasceu na cidade de Oyó. Os
seus otás devem ser de cores diferentes, num total
de 9, sendo a principal , a pedra de raio.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Vinho, branco; ou um tom
mesclado da combinação de todas as cores.
Dia: Sexta-feira.
122
Número: 9.
Pedra Preciosa: Sanguinária ou ágata cor de
sangue.
Plantas: Mamão ou papaia, árvore flamboyant,
pau-ferro, berinjela.
Animais: Galinhas, cabras.
Funções: Proteção da morte, guardião do
cemitério, dona das tromba d'água, dos furacões e
tempestade.
Invocações Católicas: Virgem da Candelária,
Santa Teresa de Ávila e Virgem de Montserrat.
Feriado principal: 2 de fevereiro.
Colares: Contas cor de vinho, raiadas de branco
e azul.
123
Obba
Ela é filha de Obbatalá e Yembo, além de ser
irmã de Oyá e Yewá, amante de Changó, sendo que
por causa dele foi banida da casa, ao lhe oferecer
uma orelha para comer. Depois, se retirou para as
montanhas, onde morou em cavernas e mais tarde
viveu sozinha no cemitério. Ela também teve um
caso com Ogún, a quem ele deu a bigorna e lhe
ensinou a guerra.
Obba representa o amor reprimido e o sacrifício
e o sofrimento pelo ser amado e simboliza também
o controle e a fidelidade conjugal. Ela está rela-
cionada com lagos e
lagoas. Junto com Oyá e
Yewá habita cemitérios e
representa os guerreiros
imprudentes. Ela, ao
contrário de Yewá, vive
dentro do caixão, sepul-
turas de custódia.
Obba é a divindade
do rio que leva seu
nome, originalmente da
terra Takua, embora seu
culto espalhou-se pela
124
terra de Oyó e Tapa. Seu nome vem de iorubá Obba
(OBE: Soup - Oba: King), literalmente "A sopa do rei".
É uma divindade que normalmente se protege
de crianças, pois não costuma ter paciência com
elas. Normalmente as crianças, mesmo as suas
filhas, são feitas para Ochún. Obba normalmente é
quem recebe os Adimus. Seu otá são pedras claras
e planas em forma de coração ou orelha. Seu
sincretismo é relacionado à Santa Catalina de
Palermino (25 de novembro) e Santa Rita de Cássia
(22 de maio). O seu número é 9 e seus múltiplos. Sua
cor é rosa ou lilás.
Principais oferendas a Obba:
É comum as tradições latinas oferecerem a
Obba inhame cru, animais imolados que devem ser
untados com óleo de palmeira bruto, uva, ameixa,
óleo de palma, etc. Seus animais são cabra, ganso,
galinhas-d'angola e pombos, e ovelhas de lã negra.
Obbatalá estava preocupado por que seu seu
filho favorito vivia sozinho somente com a mulher
que havia roubado de seu irmão. E isto o deixava
preocupadíssimo, não conseguia descansar a sua
cabeça. Disse a seu filho: "Já é o tempo de você se
casar, Changó. É verdade que Ogún merece ter tido a
sua esposa sequestrada, mas eu desejo que você se
125
case com Obba. "
Changó aceitou a ordem
do pai, afinal esta
menina não o desagra-
dava. Era uma mulher
linda, trabalhadora e
estava loucamente
apaixonada por ele, o
achava pomposo e
galanteador. O casa-
mento foi comemorado
em todo o reino.
De acordo com
outra versão desta histó-
ria, o que Obbatalá fez
foi simplesmente mediar o amor entre estes os dois
Orixás: "Obba você ama Changó?” Perguntou
Obbatalá. E respondeu-lhe Obba: “Eu o amo!”.
Obba presenteou Obbatalá com um cavalo de
presente, e deixou-o no pátio do palácio: “Olha,
Changó, o que Obba trouxe para você.”- “Muito bonito
este cavalo, mas a mulher que eu quero é Oyá. ”, disse
Changó.
De qualquer maneira, Changó e Obba acabaram
se casando. E gradualmente ele aprendeu cada vez
mais a amar sua esposa, que era muito boa e
126
compreensiva. Oyá, por sua vez, odiava a situação e
queimava de ciúmes o tempo todo, ela queria
Changó somente para si, o que era uma coisa,
digamos, impossível de se alcançar, dada a natureza
promíscua de seu amado. Ela planejou uma
vingança. Se fingiu de grande amiga de Obba e
começou a lhe dar muitos conselhos falsos: "Agora
tudo é muito bonito e bom, mas acredite em mim,
logo Changó vai te deixar e ira atrás de outra mulher.
Em breve vai descobrir o que digo... " Obba ficou
chocada e perguntou a sua amiga: “O que eu
poderia fazer para meu marido me amar sempre e
não ir embora nunca?” – “Faça um feitiço que vai
deixar ele para sempre amarrado em você”, disse Oyá.
“Changó ama quiabos. Agora, vá para a sua casa e
faça uma sopa de quiabos deliciosa e bem
temperada. Assim que a sopa estiver pronta, você
deve cortar um de seus ouvidos e jogá-lo na sopa.
Quando ele comer esta sopa, nunca mais vai deixá-
la.”
Pobre Obba! Estava muito confiante e
acreditando nos conselhos de Oyá, ela rasgou a
própria orelha e cozinhou com quiabo bem
temperado e correu para servir Changó. Cobriu a
cabeça com um lindo turbante, para que seu amado
não percebesse que tinha mutilado uma de suas
127
orelhas, tampando assim o ferimento.
Quando Changó foi saciar sua fome e se servir
no caldeirão, viu uma orelha flutuando, no meio do
caldo de quiabos e ficou furioso, gritou colérico: "O
que é isso? Que porcaria é esta Obba? Por que me
serviu esta coisa repugnante e por que hoje você
está com esse turbante?”. Ele arrancou o turbante e
foi quando o grande Changó viu com horror o que
sua esposa tinha feito, cortado as próprias orelhas.
Ele a repugnou. "O que você fez Obba! Obba, eu
nunca te desampararei, mas na condição de uma
mulher mutilada, você não pode viver mais em
minha casa!”
Na Nigéria, Obba é
uma deusa pouco co-
nhecida, sua origem
fluvial tem se perdido
nos cultos de tradições
caribenhas e em Cuba.
Na África, o rio que leva
seu nome se encontra
com as águas do rio
Ochún. Os iniciados não
fazem Obba do mesmo
jeito que fazem os
outros santos. Em vez de se colocar o otá de Obba
128
em suas cabeças, colocam-se pedras de Ochún, e a
pedra de Obba sobre seu ombro. Ou seja, Obba não
se assenta nas cabeças dos filhos, mas os filhos
somente a recebem junto com Ochún.
Parecida com Orula, não "baixa" ou toma por
possessão os seus fiéis. As "ferramentas" ou
símbolos de Obba, que variam de casa para casa de
culto, podem ser as seguintes: uma bigorna, porque
ela é ferreira assim como Ogún, um leme de navio
ou uma bússola, porque como Yemayá, foi grande
navegadora (e deste modo guia a espécie humana
pelos bons bons caminhos da vida), um carro, que
representa a morte e uma pena, pois é sábia como
Obbatalá, uma espada que a identifica com Changó,
uma orelha, por razões óbvias e uma chave para
abrir o caminhos e as portas da casa trazendo
dinheiro e fortuna.
Obba - Laddé
Este qualidade de Obba é rainha, que é coroada
esposa do rei. Ela trabalha com pedras nas margens
dos rios e nas margens do mar.
129
Obba - Miré
Obba Miré é aquela que traz as bênçãos da
água. Entre seus atributos estão um facão e escudo.
Obba - Lubbé
Esta qualidade é de uma personagem guerreira
muito forte. Belicosa e estrategista, quando ataca e
se defende, usa somente as lâminas do facão.
Obba - Tola
Esta qualidade pertence à nobreza do palácio, é
uma mulher madura muito honrada e possuidora de
muitas riquezas.
Obba - Tunde
Obba Tunde é a grande rainha que retorna de
suas viagens, sempre disposta a ajudar e aconselhar
os seus filhos.
Obba - Omi
Obba Omí vem das águas. Vidas nos charques
de rios e mares costeiros, sempre próxima de
lugares perto de vegetação ou árvores.
130
Características Gerais:
Cor Tradicional: Rosa.
Dia: Sexta-feira.
Número: Não tem atribuído nenhum número.
Plantas: Baobá e Castanheiras
Animais: Cabras
Função: Devoção conjugal, ossos do corpo hu-
mano, também professor e escritor.
Invocação Católica: Santa Catarina de Siena,
Santa Rita de Cássia.
Feriado principal: 30 de Abril.
Colares: Contas de cor rosa e lilás.
131
H
Ochún
Ela representa a
intensidade dos senti-
mentos, a espiritualida-
de, a sensualidade femi-
nina, delicadeza, ele-
gância, amor e femini-
lidade. É protetora das
mulheres grávidas e das
mulheres trabalhadei-
ras; é representada co-
mo bela e feliz, sorrindo,
mas por dentro é a crise,
o sofrimento de uma
mulher triste. Ela repre-
senta o rigor religioso e
simboliza o castigo
implacável. É a única que trata com Olofin para
implorar pelos seres da terra. Na natureza, é
simbolizada por rios. É o Apetebí de Orúnmila. Ela
está relacionada com jóias, ornamentos corporais e
dinheiro. Ela é a deusa do rio que leva seu nome na
Nigéria. Acredita-se que tenha vivido em uma
caverna que ainda existe em Ijesa, Nigéria, ao norte
para o Rio Nilo. Foi a segunda esposa de Changó .
Na África, o seu animal mensageiro é o croco-
133
dilo. Seus seguidores trazem oferendas para o rio e
lhe pedem os mais diversos favores. Ochún é o orixá
da água doce. Seu nome vem de do iorubá Ochún.
Foi ela quem pediu ajuda a Olofin e salvou o mundo
quando Olokun mandou o dilúvio.
A divindade feminina mais venerada e querida
pelos fiéis afro-cubanos e dominicanos é certamen-
te Ochún, Yeye, Cachita, Virgem da Caridade,
padroeira da ilha.
A Vênus da tradição Lucumi, é linda, sensual,
alegre e vaidosa, mas tem avatares ou caminhos nos
quais é miserável e esfarrapada. Dizem que junto
com a irmã Yemayá divide o domínio sobre as águas.
Nas terras iorubás, a deusa do rio que leva seu
nome, tem origem de seu culto na cidade nigeriana
de Oshogbo. O cobre é o metal ritualístico usado
tanto na África como em Cuba e para fazer sua
invocação ritual utiliza-se um sino chamado agogô
feito de cobre.
Um dos seus varios Patakis 17 mostra Ochún
como a grande salvadora da humanidade. Uma
grande guerra assolava a humanidade e ninguém
conseguia adentrar no palácio de Olofi, que
17
CABRERA Lydia. PATAKI DE OFUN. Extraído de YEMAYÁ Y OCHÚN. KARIOCHA,
IYALORICHAS Y OLORICHAS
134
resguardava sua
privacidade com muitos
sentinelas e soldados.
Ochún cozinhou alguns
bolinhos e os polvilhou
com farinha de milho e
mel, (lembrando que o
m e l é u m e l e m e nto
ritualístico que lhe per-
tence). Além disso,
colocou na sua cesta
cinco novelos de linha e
várias agulhas.
Quando o primeiro soldado a abordou, ela, toda
insinuante, ofereceu-lhe um bolinho, e toda amorosa
disse: "Você tem roupas rasgadas, deixe-me costu-
rar”. Encantado, o guarda a deixou passar. E assim
fez com todos os outros sentinelas. Chegando às
portas do palácio de Olofi, Ochún começou a flertar
com os soldados e “acidentalmente” derramou os
pãezinhos no chão. Enquanto eles corriam para
ajudar aquela linda mulher, ela sem maiores
problemas adentrou nos aposentos de Olofi e lhe
disse: "Baba, seus filhos estão morrendo na guerra,
não têm o que comer e estão doentes, tenha
misericórdia deles.” Perante aquele apelo, Olofi teve
135
pena de suas criaturas e instaurou a paz novamente
na terra.
As histórias sentimentais de Ochún são extrema-
mente complexas. Ela foi esposa legítima de Orula e,
de acordo com algumas versões, todos os homens
se apaixonavam por Ochún, mas nenhum queria se
casar com ela. Ela foi se consultar com Orula, que
previu, através de seu oráculo, que ela iria encontrar
seu futuro marido num determinado caminho. Um
dia, ela ouvi gritos altos saindo de um poço que
ficava no lado direito do caminho: era Orula, que
tinha acidentalmente caído. Ela o ajudou e, em
contrapartida, o deus da adivinhação casou-se com
ela. Desde então, os filhos e filhas de Ochún estão
autorizados a ajudar o Babalaô (filho de Orula) em
sua funções. Ela também conviveu com Ogún,
embora ela não gostasse muito do seu jeito
grosseiro e rude de ser. Depois que Changó raptou
Oyá, Ogún parou de trabalhar na forja e resolveu
morar na floresta.
As mulheres que ousaram penetrar na floresta
foram vítimas inevitáveis de sua fúria. Os outros
orixás não poderiam viver sem os ferros e as
ferramentas de Ogún, mas ninguém conseguia
encontrá-lo ou tirá-lo da mata. Ochún amarrou cinco
lenços na cintura, levou uma cabaça cheia de Oni
136
(mel com calda de frutas) e foi até onde habitava o
guerreiro.
Ela começou a dançar e cantar com uma voz
doce. Ogún não conseguia olhar para outro lugar
que não fosse para ela. Então, Ochún tomou um
pouco de mel em seus dedos e esfregou-os nos
lábios de Ogún. Este a seguiu como se estivesse
enfeitiçado. Ao chegar à aldeia, os outros orixás o
seguraram e o convenceram a voltar ao seu
trabalho.
A Vênus Lucumí, manipulando seu mel, foi capaz
de conseguir que Babalú-Ayé voltasse à vida, como
veremos em breve.
Ochosi e Inle foram seus
amantes e despertou
uma grande paixão em
Agayú.
Junto com Obba e
Oyá é tambem umas das
mulheres de Changó. O
caso de amor entre os
dois foi intenso e cheio
de energia, sempre
foram apaixonadíssimos.
Cros Sandoval reprodu-
ziu um patakie onde é
137
descrito o encontro dos dois: “Ochún, mulher bonita,
gostava de ir a festas para dançar ao som dos
tambores sagrados. Todos os jovens da região
estavam encantados com ela, que os tratava com
arrogância. Um dia, Changó estava em frente dos
tambores, veio Ochún para bailar e festejar. Ela
acabou se apaixonando pelo tamboreiro, que por sua
vez demonstrava muito pouco interesse nela. Mais
tarde, Changó e Ochún se apaixonaram e se tonaram
um casal de perfeitos apaixonados.”
Deste amor ilícito nasceram os Ibeyis, os
gêmeos sagrados. Muito tempo depois, Changó se
viu envolvido em todos os tipos de dificuldades.
Desprezado e esquecido por todos, passou a ter
uma vida miserável e, em seguida, Ochún, que tinha
se separado dele, retorna, sacrificando sua proprie-
dade, riquezas e sua antiga vida em nome de um
amor verdadeiro. Changó estava tão pobre que
Ochún tinha apenas um vestido, ao lavá-lo nas
águas da cachoeira todos os dias ele perdeu sua
cor, e tornou-se amarelado. Portanto, as filhas da
deusa tem o hábito de usar a cor amarela como
forma de devoção.
Ochún tem muitos "caminhos" ou avatares que
são: Ochún Yeye Kari, a mais vaidosa de todas;
Ochún Yeye Moro, alegre e útil; Ochún Anã, que
138
dança na frente dos tambores; Ochún Sekesé, muito
séria; Ochún Olodí, vive no fundo do rio e é muito
trabalhadora; Ochún Ede, elegante e criteriosa;
Ochún Ibu Kole, gosta de águias, é pobre e muito
feiticeira. Na “libreta Nini”, Lydia Cabrera informa que
existem listadas as seguintes qualidades de Ochún
que, literalmente transcritas, são:
Ochún - Ikolé
Ochún Ikolé também é conhecida como Akalá-
Kalá, Kolé-kolé, Ikolé, Bankolé. É sempre vista com
abutres por perto, com os quais trabalha. Seu nome
significa "aquela que recolhe e recupera o lixo e o
pó" . Tem habilidade de fazer pós encantados em
um misturador de lama.
Outros textos referentes a esta qualidade de
Ochún, tratam-na como uma deusa sorridente e
exuberante, características que caem perante
vestimenta pobre e simples. Diz- se que revolve em
correntes dentro da lama, quase na miséria. É a
maior das bruxas conhecida como AJÉS, sendo
exímia em fazer e lançar feitiços. O símbolo que a
representa é o abutre, seu animal mensageiro que
transmite os seus recados.
É dito em algumas tradições que esta forma de
139
Ochún só faz coisas ruins. Em Cuba, ela é honrada
acima de todos os outros. Costuma-se oferendar a
ela com duas galinhas poedeiras brancas, duas
pombas brancas, rosas vermelhas e mel.
A maior representação do avatar de Ochún Ikole
é sua imagem acompanhada por um abutre, sendo
esta qualidade de Ochún a que macera e prepara os
pós de malefícios. Tem cinco pilões para o esmaga-
mento dos seus preparos, para encantar seus pós
faz uso de lamas e penas secretas.
É dona de um barco carregado com sacos
cheios de todos os tipos de grãos: arroz, feijão,
milho, grão de bico, lentilhas, ervilhas. Esta Ochún é
a que traz comida para dentro de casa. Suas
oferendas costumam ter pavão, codorna, galinha
amarela e bebidas doces. Suas "ferramentas" são
pequenas lanças, remos, coroa, uma cara de sol e
uma cara de lua, cinco argolas de ouro e as lanças
devem estar envoltas na coroa.
140
mais evidente é sua extrema beleza. Muitos dizem
que ele nasceu em Ika Melli, outros dizem que foi
em Oshe Ofun. Em seus assentamentos costuma-se
levar 5 cornetas e um sino de cobre, 5 lenços de
seda verde e mais 5 amarelos, 25 setas de bronze e
25 pulseiras de braço femininas. Seu animal principal
é a vespa, embora seja grande dominadora de
serpentes. Gosta muito de costurar.
Ochún Yumú usa um sino, é surda e ao se falar
com ela, é sempre em voz alta. Gosta de estar junto
dos pescadores, vive no fundo do rio. Ela costuma
sair do fundo do rio somente ao final da tarde. Não
gosta de festas e é muito velha. Ela é parceira de
Ogún. Aceita as mesmas oferendas que as demais
Ochúns, é uma senhora muito delicada e de muito
respeito. É a Ochún mais rica.
141
palavra, que consegue organizar coisas e situações,
mulher de rua, costuma ser gastadeira, consegue
criar situações de confusão e escândalos.
Sua oferenda favorita é inhame com mel.
Ochún - Olólodi
Ochún Ololodí ou Olodí significa "revolucionária".
Gosta de andar com ferros e facões, esta é uma
qualidade de Ochún guerreira. Para chamá-la,
utiliza-se um badalo com uma machete. A sua coroa
é adornada com corais. Transporta uma flauta de
chifre de veados, cobertos com contas de Orula.
Vive acima do tabuleiro de Ifá com areia do mar ou
areia de rio peneirado. Seu símbolo é a coruja.
Ochún Olólodi é caseira, muito séria, respeitosa,
gosta que suas filhas se casem legalmente. Não
costuma dar nem receber muitos mimos, ela
costuma atuar junto a casos de doenças graves. Não
se deve invocá-la para situações mundanas. Entre
suas ferramentas, pode-se oferendar um kit de
costura, porque este avatar é uma exímia dona de
casa, que se entretém com suas costuras.
Não gosta muito de festas, barulhos e bailes,
aparece pouco em público. Algumas tradições tem
o costume de colocar seu otá em um pano amarelo
142
e levá-lo a lojas, comércios, fábricas de tecidos e
sedas, lojas de tecidos e ornamentos femininos.
Seus assentamentos costumam ter ouro e coral,
penas de pavão e itens de costura.
143
vezes contraditórios. Estas divindades não costu-
mam ter um corportamento formal e planejado, são
arquétipos puros de seres multidimensionais que
ouvem, cantam, dançam e se comunicam com seus
fiéis. É difícil descrever para alguém que não esteja
familiarizado com as tradições africanistas,
explicando a proporção de intimidade, respeito e
amizade entre os orixás e seus fiéis, que acreditam
que seus orixás estão sempre presentes e vigilantes.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Amarelo.
Número: 5.
Dia da Semana: Sábado.
Pedras Preciosas: Topázio, coral, âmbar.
Metais: Cobre.
Animais: Abutre, crocodilo, camarão, pavão.
Função: Amor, dona das águas doces
Invocação Católica: A Nossa Senhora da
Caridade.
Feriado Principal: 8 de Setembro.
Colares: Contas amarelas transparentes com
intervalos de coral. Também pode ser feito um colar
feito inteiramente de coral, com várias tonalidades.
144
YEMAYÁ
Yemayá
Yemayá, segundo a
tradição Lucumi, é a
mãe de todas as crian-
ças do planeta e repre-
senta o útero em qual-
quer espécie como
uma fonte de vida,
fertilidade e maternida-
de. Na natureza é sim-
bolizada pelas ondas,
de modo que seus
movimentos e danças
se assemelham ao
movimento do mar.
Yemayá é a nas-
cente do rio Ogún que atravessa Oyó e Abeokuta, no
território Nupe, e também cobre o território de
Abeokuta, Ibadan e Shaki. Representa a intelectuali-
dade, a sabedoria e o caráter mutante, assim como
o mar. Yemayá é uma mãe punitiva e inflexível, é
palpiteira por excelência. Em uma de suas histórias,
chegou a roubar os segredos do opele de Orula,
criando o oráculo de caracóis, conhecido como
diloggún.
Ela é proprietária das águas e do mar, fonte de
146
toda a vida. Rainha de Abeokuta. Seu nome vem de
iorubá Yemanjá (Yeye: mãe - Omo: filho - Eya: Peixe),
literalmente, mãe de filhos peixes. Através dela
sabemos que somos todos filhos e irmãos, pois
durante nove meses nadamos como peixes na
placenta de nossa mãe.
Um das mais respeitadas orixás do panteão
Lucumi é chamada também de “Virgem de Regla”,
senhora dos mares e águas, em geral, considerada a
Mãe por excelência.
De acordo com várias versões dos mitos de
criação (que vamos examinar mais de perto), Yemayá
é uma das divindades que surgem durante a criação
do mundo. O universo era um mar de fogo, lava e
chamas. Olofi despejou água dos céus e, sobre a
lava que resfriava, se formaram os grandes oceanos.
Daí surgiram todas as qualidades de Yemayás no
fundo do mar desde Egute até Olokún.
Na África, Yemayá é considerada mãe de um
grande número de deuses, segundo o intectual e
sacerdote de Regla Osha, Julio Garcia Corlez 18 :
"Yemayá e Aganyú são os únicos filhos das grandes
divindades ligadas à criação Oddudúa e Obbatalá.
Yemayá e Aganyú se casaram e tiveram um filho
18
CORLEZ, Julio Garcia. OSHA - SECRETS OF THE YORUBA-LUCUMI-SANTERIA RELIGION.
Ed: ATHELIA HENRIETTA. USA, 2000.
147
único chamado
Orungan. Quando ele
cresceu, se apaixonou
por sua mãe e aprovei-
tando-se da ausência
de seu pai tentou raptár
Yemayá, que fugiu com
terror de seu filho per-
verso.
Finalmente exausta,
ela cai ao longo da
costa e morre, então
seu corpo começa a
inchar e de seus peitos
enormes dois rios de água jorraram até que
formaram um lago. Da barriga enorme de Yemayá
surgiram os seguintes orixás: Changó, deus do
trovão; Olokun, deus do mar; Ogún, deus do ferro e
da guerra; Chapanã,deus da varíola; Dada, deusa das
plantas; Oko, deus da agricultura; Ochosi, deus dos
caçadores; Ayé Saluga, deus da riqueza, Olosa, deus
da lagoa; Oke, deus das montanhas; Orun, deus do
sol; Ochún, deusa da lua e da beleza; Oyá, Obá e
Ochún, deusas dos rios que levam seu nome.
Embora este mito seja pouco conhecido em
Cuba, é interessante notar que o antropólogo
148
Calazan Jose Herrera, Bamboche, usando os dizeres
de Lydia Cabrera, afirma que "de Yemayá e Agayú
nasceram todos orixás". O mais comum na ilha
Cubana é a versão narrada que reconhece Obbatalá
e Yemmú como pais de uma geração inteira de
orixás. Múltiplas genealogias e variantes não estão,
neste caso, em um consenso, de acordo com
algumas fontes. Yemmú, na verdade, pode ser uma
Yemayá no caminho de Obbatalá. E neste caso,
Yemayá seria de fato a mãe de todos os orixás. De
qualquer forma, a deusa do mar representa a
fertilidade e o amor maternal, é descrita como uma
meia mulher com rabo de peixe, a típica sereia, de
pele muito negra, com uma barriga e sempre seios
fartos.
Como cita Celestino Gaytan, na obra de Rosa
Maria de Lahaye19, respeitado Santero: “Yemayá é a
grande Mãe criadora e a Senhora do Mundo ''.
Em algumas versões, ela quer ser a mãe adotiva
de Changó, e de maneira louca, quer que Obbatalá
entregue a ela o menino para que ela o crie como se
fosse seu. Em outro caso, ela assume a criação das
crianças gêmeas “Ibeyi - os gêmeos divinos”, filhos
19
GUERRA, Rosa María de Lahaye.El origen del orden y el nacimiento de los orichas.
Ed. Nosostros. 2012
149
de Changó com uma de suas esposas.
Esses mitos parecem sempre apontar para a
origem aquática das forças básicas da natureza.
Recordamos a mitologia grega (através dos textos
de Aristóteles em sua Metafísica) que traz relatos
falando sobre o Oceano, que é o berço do maior dos
Titãs, o pai de toda a criação; e que inspirou Thales
de Mileto, o primeiro filósofo grego, a teoria de que a
água era o princípio de todas as coisas, sua forma
original e seu destino final.
Yemayá foi casada com Orula, mas ele a rejeitou
porque ela era sua concorrente direta na arte da
adivinhação. Num mo-
mento em que o grande
adivinho estava viajando,
Yemayá come-çou a dar
consultas por conta
própria, usando a placa
de seu marido.
Este quando desco-
briu ficou indignado:
“Onde já se viu uma
mulher jogar Ifá, como se
fosse um babalaô?” E a
expulsou de sua casa
sem remorso algum. De
150
acordo com outra versão, Yemayá só desobedeceu
a seu marido para resolver uma situação crítica: o
filho de um compadre que estava morrendo
enquanto Orula estava viajando. Yemayá, usando o
Oráculo de Ifá de seu marido, salvou a criança.
Em um de seus avatares aparece como esposa
de Ogún, com quem, é claro, foi muito infeliz, porque
nenhuma mulher conseguiu ser feliz ao lado do
deus da guerra. Também em outros Patakies teve
um romance com Babalú-Ayé e em outro com o
Orixá Oko, senhor da agricutura.
Algumas das suas qualidades ou avatares são:
Yemayá Okulé, que mora nos recifes; Asesu, que
habita as águas lodosas; Mayelewo, que habita os
mananciais ou piscinas de água salgada; Yemaya
Achaba, que usa uma corrente de prata em torno de
seus tornozelos; Konlá, que habita as espumas e
Yemayá Olokun, que vive no fundo do oceano.
Alguns sacerdotes acreditam que, assim como
na África, Olokún seria uma outra divindade, ainda
que quando esta precise falar ou mandar suas
ordens use a boca de Yemayá. Para outros, pode ser
um caminho ou avatar de Yemayá de característica
mais velha e antiga. Além disso, para alguns
estudiosos da Santeria20 Olokún é uma divindade
151
masculina, outros dizem que é feminina e ainda
existe os que dizem que é um ser andrógino. Olokún
nunca "baixa" ou toma posse de seu fiel, uma vez
que estes não seriam capazes de suportar seu vigor
e coléra. Na “Libreta de Nini”, anteriormente citada
acima, encontramos os seguintes caminhos de
Yemayá:
Yemayá - Asesu
É a mais velha e gosta de dançar, ela vive no
fundo do rio. Depois de Olokun é a mais importante.
É de Olokun e de Asesu que nasce todas as demais.
Carrega correntes e, igual a Olokún, come nas
cavernas profundas aquáticas.
Yemayá - Ibu
É uma Yemayá que vive nas duas águas entre o
mar e a água doce. Para situações importantes,
costuma ser chamada na água do mar. Para
assuntos amorosos, é comumente chamada no rio,
na água doce. Excelente dançarina, tem poder de
amarrar espíritos abikús para que não façam mal a
crianças que estão para nascer.
20
GONZALEZ Wippler Migene. Santeria The Religion. Ed: Liewellyn Publication, Cuba, 1994.
152
Yemayá - Agána
Yemayá Agána, gosta de ficar sentada numa
esteira, muito cultuada no reino de Arara, costuma
dançar bem agachada e gosta de receber sua
comida favorita: manjar de coco.
Yemayá - Malléléwo
Yemayá Malléléwo, perfil guerreira, muito
parecida com Ochún Ikole, é grande mestra
preparadora de pós para todas funções. É kimbisera
e praticante de bruxaria. Ela é mulher de Ogún e
trabalha junto com esta divindade.
Yemayá - Achábbá
Yemayá Achábbá, é muito reta e intrasigente,
não gosta que seus filhos perguntem muito ou
peçam coisas sem sentido, prefere pedidos diretos e
simples, gosta de dançar e de ganhar presentes,
principalmente de prata. É bailadora e gosta de
luxos. É grande curandeira e seus filhos têm
normalmente o dom de falar com mortos, serem
grandes oraculistas e curadores.
153
Características Gerais:
Cor Tradicional: Azul claro.
Dia: Sábado.
Número 7.
Pedra Preciosa: Pérola,
água marinha ou turquesa.
Animais: Patas, baratas
(são suas men-sageiras) e
todo tipo de peixe do mar.
Função: A maternida-
de, senhora dos mares.
Invocação Católica: A
Virgen de Regla.
Feriado Principal: 7 de setembro.
Colares: Sete contas azuis seguidas de sete
contas brancas.
154
BABALÚ-AYÉ
Babalú-Ayé
Babalú-Ayé é o orixá da lepra, da varíola, das
doenças venéreas e pragas, da miséria como um
todo. Ele é bem conhecido e muito reverenciado. Ele
representa as condições da pele, doenças infeccio-
sas, especialmente as sexualmente transmissíveis e
as epidemias dos seres humanos.
156
(Benin), onde chamou Azojuano (Azowano), Rei de
Nupe, território Tapa.
Seu nome vem do iorubá uaiyé (pai do mundo).
Na África era conhecido sob o nome de Sponã ou
Sakpatã, sendo o senhor da varíola e hanseníase, as
doenças mortais da época.
De acordo com o mito Lucumi que explica a
origem do universo, Babalú- Ayé, o popular e amado
San Lazaro, nasceu da própria Terra. Assim, lemos na
obra de Andres Quesada21: "depois de muitos dias as
cinzas daquelas rochas incandescentes foram
acumuladas em partes mais altas e a partir daí foi se
formando uma gigantesca massa de lama que era a
terra, desta mistura com águas e cinzas tivemos o seu
nascimento. Após este episódio lamacento, cheirando
a enxofre e podridão, teve como resultado a origem
das epidemias, daí nasceu San Lazaro."
Tanto na África como em Cuba é considerado
Choponã (Obaluaiyê), orixá de origem dahomeyana,
profundamente ligado à terra. Num de seus
patakies, os cães de Ogún são roubados por
Changó, e este os entrega a Babalú-Ayé que, por
sua vez, os devolve ao deus do fogo. Como gratidão,
21
QUESADA, Andres. Secretos de Santeria Afrocubana. Ed: Obelisco: Espanha, 2007.
157
Ogún aconselha o deus da terra a ir para Dahomey, e
o ajuda a se tornar soberano. O conselho foi bem-
sucedido. Choponã é muito bem acolhido pelo povo
dahomeano, curando a população de várias pestes
e doenças, sendo proclamado monarca popular. De
acordo com este patakie, Changó e Babalú são
meio-irmãos.
Na África, o orixá é retratado como um velho
coxo vestido de ráfia e cheio de marcas de varíola
pelo corpo. Lidya Cabrera cita que: "Choponã é um
velho coxo, que tem uma perna de madeira e
caminha com um cajado de galho de árvore. Um dia
todos os deu-ses
estavam no palácio do
Obbalalá. Se divertiam
e dançavam. Choponã
ao tentar entrar naque-
le baile, tropeçou por
causa de sua deformi-
dade física e caiu. Os
deuses riram muito
dele e Choponã,
tomado pelo espírito
de vingança, queria
infectá-los com todas
as formas de vírus e
158
doenças. Obbatalá, para evitar o pior, tirou Choponã
de seu palácio e desde esse dia proibiu que ele
convivesse com os outros deuses. É um pária que
vive em regiões desoladas e desabitadas. É fácil
imaginar o que acontece em Cuba com sua
associação a San Lazaro. Na Igreja Católica foram
reconhecidos dois Lázaros, com comemorações
realizadas em datas diferentes. Um deles, aceito
pelas autoridades da Igreja, é San Lazaro Bispo,
irmão de Maria e Marta, ressuscitado por Jesus com
dia festivo no calendário litúrgico em 17 de
dezembro.
Isto nada tem a ver com a outra festa de San
Lazaro, da litografia popular, o Lázaro da parábola
bíblica do Evangelho de Lucas (capítulo 16,19-31). O
culto deste último tornou-se generalizado nos
tempos medievais, e o nome deste personagem deu
origem à palavra "lazarentto", no sentido de um
hospital para leprosos.
As imagens de São Lázaro chegaram a Cuba
através da Espanha e eram representadas por um
homem ferido e coxo, apoiado em muletas e
acompanhado por um ou dois cães. Aparentemente,
sua devoção voltou-se para seu homônimo, que
reivindicou para si a festa 17 de Dezembro. Os
Lucumies e os Araras evidentemente reconheceram
159
nesta imagem o grande
Obaluaiyê de suas tradi-
ções ancestrais.
Outro pataki diz que
as feridas que cobrem o
corpo de Obaluaiyê se
devem a seu encontro
com Ogún: San Lazaro
não tinha consideração
alguma ao deus dos
metais. Todos os dias ele
corria rápido de volta
para sua cidade, porque
não queria correr o risco de andar no relento da
noite.
Ogún sabia disso, e preparou uma armadilha.
Com seu facão afiado abriu um caminho que parecia
ser uma maneira nova e muito mais rápida de se
chegar ao destino. Babalú-Ayé acreditou que
chegaria mais rápido, mas foi um erro, no final o
caminho se fechava com muitas ervas daninhas.
Logo ele se viu preso no mato, e começou a
arrancar as ervas daninhas e videiras com suas
próprias mãos e acabou se ferindo todo nesta
empreitada.
160
Ogún apareceu com seu facão na mão e
Babalú-Ayé disse: "Rapaz, empresta-me seu facão
para eu conseguir sair daqui?” Ogún emprestou, mas
San Lázaro não sabia lidar com aquela ferramenta e
teve que pedir ajuda ao ferreiro. Ogún pegou seu
facão e habilmente abriu o caminho novamente. E
Babalú-Ayé disse: "Baba, a partir de hoje terá que
considerar-me e vai estar o tempo todo comigo.”
Existe uma lenda, como diz Lydia Cabrera,
desenvolvida em Cuba, que faz de Ochún a
salvadora do orixá das pragas: "Babalú-Ayé sempre
foi muito mulherengo, ele andava continuamente
em farras e bebedeiras, sendo incapaz de se sub-
meter à vida ordenada que aconselhava os mais
velhos. Em uma quinta-feira Orula o advertiu: "Hoje
domine a si mesmo e não fornique”. À noite, ignoran-
do o conselho de Orula, ele dormiu com uma de
suas muitas amantes e pela manhã, acordou
coberto de feridas purulentas por todo seu corpo.
As mulheres correram a pedir para Orula
interceder por ele junto a Olofi, que se recusou a
perdoá-lo. Babalú-Ayé morreu. Orula pediu mel a
Ochún e derramou todo o pote no palácio de Olofi,
não tendo certeza de que isso faria efeito. "Quem
derramou este delicioso mel em minha casa?” Olofi
161
perguntou. “Deve ter sido uma mulher", respondeu
Orula e Olofi chamou todos as Santas e todas as
mulheres.
Faltava Ochún e ela foi convocada. Olofi
perguntou e Yeye respondeu: “É meu o mel que tanto
gostou.” “Quero mais!” Gritou Olofi. “Dê-lhe de volta à
vida e te darei mais de meu mel.” E foi com mel que
Ochún convenceu Olofi a levantar San Lazaro. Este
Pataki, de conteúdo bem sincrético, é muito
interessante, pois mostra a fusão entre os dois
Lázaros. Babalú-Ayé é ressuscitado, assim como o
irmão de Marta e Maria, embora a sua identificação
primária é com o lendário personagem da parábola
bíblica.
Babalú-Ayé - Ajorotomi
Ele é aquele que traz a peste e as doenças das
bruxas da água.
Babalú-Ayé - Belukha
Este Babalú está associado com o mar e é
considerado um filho adotivo de Yemayá, perten-
cendo ao povo do peixe. Carrega um facão e uma
162
vara. Ele atua principalmente em barcos onde
dispersa as doenças da tripulação, como o
escorbuto e outras.
Babalú-Ayé - Boku
Babalú-Ayé Boku trabalha em cemitérios e
montanhas sagradas, onde trabalha parecido com
um morto-vivo. Seus eguns são simbolicamente
mortos, sepultados e trazidos de volta à vida. A ele
são atribuídos poderes sobre a vida e a morte.
Babalú-Ayé - Molu
Este Babalú é o que leva tanto pessoas como
animais, abatendo-os com a sua praga, não
deixando nada vivo em seu rastro.
Babalú-Ayé - Olode
Este Babalú-Ayé trabalha em lugares abertos, ao
ar livre e ataca preferencialmente nas horas em que
o sol está no seu pico mais alto, causando febre,
insolação e vírus que se espalham no ar quente do
verão.
163
Babalú-Ayé - Sapata
Este Babalú-Ayé é uma divindade cujos braços
são fortes como uma rocha. Ataca seus inimigos
com doenças mortais e epidemias.
Babalú-Ayé - Oloko
Este Babalú vive na zona rural e perto das
plantações, exerce seu poder causando pragas de
plantas e doenças nos agricultores.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Roxo.
Dia: Quarta-feira.
Número: 17.
Animais: Formigas e cupim.
Função: Senhor das doenças, especialmente a
varíola e hanseníase, e suas curas.
Invocação Católica: San Lazaro.
Feriado Principal: 17 de dezembro.
Colares: Pérolas brancas com listras azuis ou
pérolas cinzas com listras brancas.
164
NANÁ BUKÚ
Naná Burukú
Naná Burukú é uma divindade a qual lhe é
atribuida uma poderosa espiritualidade, desde a
antiguidade. É uma divindade dos pântanos e lagoas.
Entre os povos de origem Ijesá, algumas tradições a
consideram como um Obbatalá, embora em sua
maioria a cultuem como um orixá independente.
Naná Burukú dá força para a cabeça do indivíduo.
Naná Burukú é a divindade da chuva, da lama,
mediadora entre a vida e a morte. Seu culto tem
proveniência Fon, Ashanti e Arara (Daomé), e
também do território Mahi. Seu nome vem do iorubá
Naná Burukú (Naná:
grande mãe ou avó -
Burukú: mal).
Naná é anterior a
chegada de Oddudúa
em Ilê Ife, e teve um
confronto com Ogún,
por isso seus animais
não costumam ser
imolados com faca de
ferro, mas com uma faca
feita de madeira.
De acordo com o rito
Arara, Naná não se ali-
166
menta do sangue dos animais, mas de seu espírito, é
por isso que os animais a ela imolados morrem por
asfixia, e depois são cortados com a faca de madeira.
Concubina de Babalú-Ayé, em alguns Patakies,
Naná é uma orixá muito sagrada e austera. No
Daomé (atual Benin), onde a sua devoção é tida
como a mais importante, acredita-se que seja a mãe
de Mawu-Lisa, o equivalente Ewe-Fon do Ser
Supremo. Nas tradições da América Latina é
considerada a avó dos orixás.
Em Cuba, é exaltada como “descobridora”,
sendo-lhe reconhecido o poder para tornar visíveis
as doenças que possam se ocultar no corpo humano
e que a medicina moderna não consegue encontrar.
Também é conhecida como a mãe das águas frescas
e é adorada na cabeceira dos rios e na lagoa.
Segundo alguns Patakies, numa celebração que
os orixás deram para honrar Ogún, o deus do ferro
embriagou-se gravemente e como resultado,
tornou-se extremamente arrogante. Naná Burukú
recusou-se a prestar homenagem a Ogún por ter
aberto caminho para os orixás vindos do orún à Terra,
e que naquela ocasião Ogún exigia um pagamento.
Seu comportamento bêbado ofendeu-a. Desde
esse dia, ela o rejeita e se recusa a aceitar qualquer
metal em seus rituais. Desde então, os sacrifícios
167
para Naná são efetuados com um pedaço de bambu
afiado ou com uma faca de madeira.
Características Gerais:
Cor Tradicional: Branco e azul , roxo.
Dia: Domingo.
Número: 7 e 9.
Animais: Galinha Pintada, pombo.
Função: Transição entre a vida e a morte.
Invocação Católica: Senhora Santana, Nossa
Senhora do Carmo.
Feriado Principal: 16
de julho.
Colares: Rosas e
pretas, com coral, contas
de azeviche e cauris. Na
cidade de Jovellanos, na
Província de Matanzas, o
fio de Naná é confeccio-
nado com uma conta
amarela rajada de verde
e ve r m e l h o e c o n t a s
azuis-turquesa.
168
OSAÍN
Osaín
Osaín é um Orixá
que rege a própria natu-
reza e é por si só a pró-
pria natureza. Segundo
os Lucumis, no ser hu-
mano ele está do lado
esquerdo do corpo.
Com os conhecimentos
de Osaín conseguimos
salvar a vida e reforçar o
corpo para a guerra, até
a morte. Ele é médico,
dono e conhecedor de
todos os segredos das planta. É grande conhecedor
de todas as folhas, plantas, animais e minerais. Ele é
uma divindade adivinha.
Todos os orixás têm um Osaín, como tambem
têm Odus do Oráculo de Ifá. Tem que contar com
ele para qualquer consagração, sempre que usar
e r va s e p l a nt a s . S e u s fi l h o s s ã o c h a m a d o s
Adajunshe.
Osaín ou Ozain é o dono absoluto da colina, da
vegetação, da mata e de tudo que é recolhido neste
lugares, é grande caçador e conhecedor das
170
qualidades mágicas das ervas, por isso é o grande
farmacêutico da natureza. Refugiou-se no meio do
mato, onde vive sozinho. Seu culto vem da terra
Takua, Yesa e Oyó.
Não se faz a cabeça para Osaín, seu culto é
exclusivo para os Babalawos e Oloshas próprios, não
é o primeiro Osha a ser feito. Aqueles que juram
lealdade por Osaín são chamados Ossainistas e eles
devem saber de todas as propriedades mágicas das
folhas e os cantos sagrados usados para fazer os
omieros Yoko Osha. É uma das mais importantes
energias do Osha, pois está presente no Yoko Osha,
ebós, oferendas de orixá ou apenas lavar os colares
sagrados.
O Ossainistas podem ser de ambos os sexos,
mas as mulheres devem esperar até a menopausa
para receber e poder participar em suas cerimônias.
É ele o guardião dos tambores Bata. Osaín é o unico
que fornece axé para Orula. Seu nome completo é
Osaín Aguenegui Aguaddo y Kuri Kuri, embora
também é conhecido como Osaín Agguchuiye.
Grande amigo de Ogún e Ochosi pela relação
destes com a floresta.
Sua cor é verde. O seu número é 7 e seus
múltiplos.
171
Um orixá importante para os rituais Lucumíes é
Osaín, o deus das Ewés, das folhas, porque sem elas
não há cerimônia e nenhum ritual torna-se possível.
Não nasceu de mulher nenhuma, mas ele surgiu do
coração da terra. É um grande médico. Possui
apenas um pé (direito), um braço (esquerdo), um
olho e duas orelhas: uma enorme, que é completa-
mente surda e uma muito pequena que o faz
escutar até o menor ruído. Várias lendas tentam
explicar a origem da sua deformação.
De acordo com uma delas, Oyá e Changó
tentaram roubar o segredo mágico das ervas de
Osaín. Oyá, a deusa do
raio o embebedou e, o
g r a n d e e r ve i r o , s o b
torpor da bebida come-
çou a cortejá-la. Oyá
recusou os galanteios
de Osaín e chamou
Changó que veio em
seu auxílio. Com um raio
tornou Osaín coxo, com
outro raio arrancou o
braço e o terceiro raio o
cegou de um olho.
172
Esta divindade em Cuba habita as montanhas e
matas e está intimamente ligada as tradições de
Reglas Congas, particularmente Palo Monte ou
Mayombe. De acordo com um Pataki, Osaín estava
trabalhando com sua “Regla”, suas ervas secretas,
beberagens e unguentos, pólvora, não tinha
descanso, ele estava sujo e desgastado e não
conseguia ver o resultado final, apesar dele
trabalhar com muita rapidez.
Observamos que os lucumies tem por caracte-
rística andarem sempre bem vestidos e muito
elegantes e sempre tiveram dinheiro e prosperida-
de. Conta-se que Osaín foi em busca de Changó
para aconselhar-se. Changó disse que ele já tinha
sido Paleiro e que conhecia este sistema perfeita-
mente, mas depois que entrou na Regla Lucumi ele
passou a andar muito bem vestido e ao usar a cor
vermelha tornou-se muito poderoso. Com estes
argumentos convenceu Osaín e o levou para se
consultar com Orula, buscando sua redenção.
Esta lenda é muito interessante, revela em
primeiro lugar as várias interpenetrações das duas
regras afro-cubanas mais importantes e, por outro
lado, a hierarquia que os seguidores da regra lucumi
estabelecem entre “Osha” e “Palo”: ainda que um
173
Paleiro possa se tornar um Santero (nunca o inverso),
embora o poder dos Congos seja reconhecido e por
vezes desejado, “Santo” é considerado uma
categoria mais “sofisticada” do que o Palo.
Um dos atributos de Osaín é um cajado simples
que ele usa para se apoiar. Não baixa ou pratica a
possessão nos seus fiéis. O Sacerdote "ossainista"
deve ter um conhecimento profundo da vida
vegetal, das plantas e
suas propriedades
mágico curativas. Em
Cuba é normalmente
sincretizado com São
Silvestre e São José.
174
Qualidades ou Avatares de Osaín:
Osaín - Agé
Osaín Agé é um grande feiticeiro, conhece todos
os medicamentos e, especialmente, os segredos
escondidos na cabaça. Vive ao pé das árvores
exuberantes e altas com longos cipós.
Osaín - Bi
Osaín Bi é um grande feiticeiro e fitoterapeuta,
tem relações com Iyami Oshoorongá e pássaros
noturnos.
Osaín - Ajube
Osaín Ajube é um grande curador, especializado
no tratamento de todas as formas de doenças
relacionadas com os orgãos internos do corpo.
Osaín - Beremi
Osaín Beremi trabalha nas margens de rios,
árvores perto de vegetação exuberante e matas
fechadas.
Osaín - Oloógun
Osaín Oloógun é o proprietário de todos os
medicamentos, conhecido como o maior curador.
175
Oricha-Oko
Se Osain é o deus de plantas silvestres, Oricha-Oko é a
divindade da horticultura e agricultura e demais culturas.
Para os caribenhos e cubanos é uma divindade secundária,
mas entre os iorubás sempre teve grande importância. Tanto
na África quanto no Caribe, possui conotações fálicas (na ilha
cubana acredita-se que possui enormes testículos), e está
relacionado com a fertilidade. Guarda o segredo da cultura
do inhame, tubérculo altamente valorizado em Cuba e que
pertence a Obbatalá.
Oricha-Oko é uma divindade que representa a terra e a
vida a partir dos trabalhos agrícolas e culturas de planta-
ções. Ele está diretamente relacionado com a agricultura e
com o campo. Protetor dos lavradores e trabalhadores do
campo, ele dá força para a vida porque fornece os meios de
buscar comida suficiente para viver. Ele está intimamente
relacionado com Ogún e Olokun.
Provém do território de Saki, oeste de Oyó. É considera-
do o árbitro das disputas, especialmente entre as mulheres,
embora muitas vezes também seja o juiz de litígios entre os
Orixás. É um trabalhador e guardião dos segredos, dizem
que seus testículos pendem para o solo de tão grandes e a
sua castidade é de ferro. Ele é o grande fornecedor de
alimentos para o mundo, por ser a própria terra.
Garante a prosperidade das colheitas, seus mensagei-
ros são as abelhas e representa prosperidade e a fertilidade,
por isso que as mulheres estéreis recorrem sempre a ele.
176
Ele forma importante trilogia junto com Oggue Oke e é
responsável pelas colheitas, as chuvas, o fogo do interior da
terra e dos animais.
Tem duas personalidades, de dia representa o homem
puro e perfeito, à noite se disfarça de Ikú (Morte). Recebe os
cadáveres entregues por Yewá e os envia a Oyá, através de
Babalú-Ayé. Também vive nos telhados, seu nome vem do
iorubá Orisa Oko (Orixá dos lavradores).
Ele se apresentou a Yemayá, que por sua vez o seduziu.
A deusa do mar consegue extorquir o segredo de Oko e o
transmite a Obbatalá em troca do segredo dos tambores
“Bata”, para presentear seu amado filho Changó. Seus
seguidores são quase sempre mulheres e de acordo com
Lydia Cabrera, "Este santo é hereditário."
Em Cuba é sincretizado com São Isidro (ou Isodoro), o
lavrador, e sua festa é celebrada em 15 de maio. Seus
assentamentos costumam ter um boneco de lavrador num
carro puxado com seu arado, telha de barro e dois cocos
secos, também pode-se por uma cruz de madeira.
Nem sempre é assentado dentro de casa, mas se isso
ocorrer, às vezes devemos colocá-lo em contato com a
terra. Ele é a divindade relacionada aos tubérculos. O
sumiço de seu culto é explicável em todo cenário do Caribe:
as atividades agrícolas escravocratas das Américas eram
muito diferentes das realizadas na África. Obrigados a
produzir, plantar e colher para seus senhores, não teria
sentido pedir a bênção e prosperidade de Oko nas colheitas
que não os pertenciam.
177
Inle
O grande médico sagrado da Santeria é Inle, filho
de Olokun, ainda que não seja mencionado por este
nome. Inle quis receber Ifá para não ter um lugar
menor que Elegua. Seu culto foi perdendo a
importância no Caribe, onde sempre foi considerado
um deus de “cuidado” muito rigoroso. Seu principal
símbolo é o peixe, porque ele vive na água, também
pode ser representado por um tridente com três
peixes de metal pendurados. É muito casto e cobra
uma vida de castidade de seus seguidores, embora
alguns santeiros comentem lendas dizendo que ele
teve um caso amoroso com Yemayá e Ochún.
Inle ou Erinlé é um orixá que representa a pesca,
colheita e a horticultura. Protege os médicos e os
pescadores. É o médico da Regla Osha, além de
protetor dos adivinhos. É guerreiro, caçador e
pescador. É representado na natureza pelo peixe. Ele
simboliza a saúde e é recebido para evitar doenças. É
fornecedor da subsistência humana. Ele vive no solo
e na água. Orixá da economia extrativista, seu culto
vem da aldeia de Ilobu, através do qual um pequeno
rio, que leva seu nome, tem fama de ter protegido os
iorubás no período da invasão dos Fulani. É andrógi-
no e considerado muito bonito.
178
Seu nome vem do iorubá “Erinle” que significa: "O
alimento que a terra dá." Seus números são 3, 5 ou 7 e
seus múltiplos. Suas cores são os tons de verde e
azul.
Segundo Juan Manuel Casanova 2 2 , Inle é o
médico misterioso da Regla de Osha-Lucumi e está
entre os orixás mais severos do panteão iorubá”. De
acordo com alguns patakies e lendas, sua língua foi
cortada para que ele não pudesse revelar os
fenômenos que ele tinha nas profundezas das
grandes águas.
Outras fontes afirmam que a razão para a
"amputação de sua língua”, foram ordens claras de
Yemayá-Olokun, para impedir que ele divulgasse as
relações incestuosas que os dois tinham. Inle não é
uma divindade que se assenta na cabeça dos filhos, o
mesmo é dado para Yemayá. Seus colares são feitos
de pérolas verde, coral ou azuis. Ele é identificado
com São Rafael e seu dia de festa é 24 de outubro.
22
Colectivo de autores. La religión en la cultura.- DESR, Editorial Academia,
La Habana. 1990
179
YEWÁ
Yewá
Yewá ou Yegguá é uma divindade que represen-
ta a solidão, a contenção dos sentimentos, castidade
feminina, a virgindade e a esterilidade. Ela é a dona
das sepulturas, e está entre as sepulturas, covas e
os mortos, caminha pelas covas. Yewá é a dona do
cemitério e esta amplamente ligada à morte. Seu
culto vem de Dahomey e viveu em Egwadó. Habita o
cemitério, é responsável por levar os egguns até Oyá
que dança entre as suas sepulturas.
Seu nome vem do iorubá Yewá (Ye: mãe - Awa:
nosso). Adorada e cultuada principalmente nas
casas de Santiago de Cuba e na República Domi-
nicana, onde é feita orixá tutelar de seus filhos,
desfruta de grande prestígio entre os adivinhos por
encaminhar os Eguns perdidos. Diante de seu
assentamento não se pode estar com o corpo
descoberto, nem discussões, grosserias ou levantar
a voz para alguém. Seu ota, de preferência, tem que
ser uma pedra escura e recolhida no mato ou perto
do cemitério.
O seu sincretismo é dado a Nossa Senhora dos
Desamparados (30 de Outubro) e a Virgem de
Monserrat. Seu número é 11 e seus múltiplos. Sua
cor é rosa.
181
Ela faz parte das divindades e forças menos
conhecidas do Panteão Lucumi: Yewá é a donzela
que, tentada e atraída a ter relações com Changó,
pediu ao pai que a internasse em algum lugar
desolado. Obbatalá concordou com seu apelo e
enviou-Ihe a Ikú, o cemitério onde se recebem todos
os mortos. Costuma sempre repudiar os homens e
rejeita o ato sexual. Outras tradições caribenhas
fazem seu sincretismo com Santa Clara. Aceita
galetos como oferenda, ou galos. É considerada
uma guerreira e costuma avisar seus filhos e fiéis
dos perigos que os ameaçam através de pesadelos.
182
Los Ibeyis
Os Ibeyis, gêmeos sagrados, são filhos de Changó com
Oyá. Em alguns Patakis também são filhos de Ochún,
dependendo das versões. São muitos amigáveis, generosos e
de carater afável. Estes queridos deuses, sempre mimados
pelos deuses e os homens, foram identificados com os
santos Cosme e Damião e nas tradições caribenhas e afro-
cubanas não baixam ou tomam posse de seus fiéis.
O Ibeyis ou Jimaguas são orixás. Eles representam a
fortuna, sorte e prosperidade. Eles são capazes de salvar da
morte e do mal. Está nas estradas das montanhas para
proteger os caminhantes. Um dos símbolos mais importantes
dos Ibeyis são os pequenos tambores com o qual venceram
Abita. Eles podem ser representados por três combinações
de figuras, uma feminina e uma masculina, ou duas
masculinas e uma feminina.
Os gêmeos são os menores orixás, protetores de todas
as crianças, são brincalhões, travessos e gulosos. Eles vivem
em cima da copa da árvore de palma. Eles são os
queridinhos de todos os outros oOrixás, têm nomes
diferentes como Taewó e Kaínde, Araba e Aina, Ayaba e Aiba
(tanto do sexo feminino), Olori e Oroiña (também do sexo
feminino), Alawa Kuario e Eddún, Aden, Alabba, Ibbo e Igue,
Oraún, Ono Nibeyi e Idobe, Olon , Itaguo e Idou, etc.
Seu nome vem do iorubá Ibeyi (Igbo: contém Meyi: dois).
183
Eles salvaram os homens com tambores mágicos que
ganharam de Yemayá, batendo Olosí. Também salvaram
Obbatalá no Reino do Dahomey. O seu número é 2 e seus
múltiplos. Suas cores são vermelho e branco ou azul e
branco.
184
Tabela das Formas de Sincretismo
Encontradas na Regla de Osha e seus
Templos em Cuba e na América Latina
DIVINDADE EM CUBA AMÉRICA DO SUL
Santo Antonio,
Menino Jesus de Atocha,
Eleguá Menino Jesus de Praga,
Santo Antonio de Padua
São Caetano
São Paulo, São Miguel,
Ogún São João Batista, São Jorge
Santo Antonio
Virgem da Candelária,
Oyá / Yansã Santa Barbara
Virgem do Carmo,
Santa Joana d´Arc
Santa Terezinha de Jesus
São Miguel,
Changó Santa Barbara São Jeronimo,
São Marcos de Leon
São Norberto,
São Pantaleão,
Ochosi São Miguel,
São Sebastião
São Humberto
Santa Rita de Cassia, Santa Catarina
Obba Santa Catarina de Sena, de Alexandria,
Virgem do Carmo Santa Joana d´Arc
São José, São Bento,
São Sebastião,
Osaín Santo Antonio da Abadia,
Santo Onofre
São Silvestre
Virgem Maria,
Iroko São Francisco de Assis
São Francisco de Assis
São Roque,
Babalú-Ayé São Lazaro
São Lazaro
185
DIVINDADE EM CUBA AMÉRICA DO SUL
Santa Justa e Rufina,
Ibeyis São Crispim e Crispiniano, São Cosme e Damião
São Cosme e Damião
Stella Maris,
Virgem de Regla,
Yemayá Nossa Senhora
Virgem Maria
dos Navegantes
São José,
Aganyú São Miguel
São Miguel
Jesus Cristo,
Oddudúa São Manuel
São Manuel
186
O Culto aos Eguns
Os adeptos da Regla
de Ocha sustentam uma
relação muito próxima
com seus orixás. Cada
um zela pelo deus que
considera seu pai e uma
deusa que o aceita
como uma mãe. Todas
as divindades são sau-
dadas em iorubá e se
conversa com eles de
maneira muito familiar
em castelhano e muitas
vezes em inglês. O culto aos orixás se constitui em
um eixo que gira em torno de toda tradição Lucumi
e seu universo religioso. E ainda que as suas
mitologias não se reduzam a narrar as façanhas dos
deuses, as numerosas lendas tecidas e criadas em
torno destas divindades servem para proporcionar-
lhes uma "história", dando uma própria personalida-
de, claramente reconhecível e identificável. Com
elas aprenderam a numerar e a contar cada
momento importante da vida, uma vez que, de
acordo com antigas crenças ancestrais, estas
divindades governam e governaram, sempre e para
187
sempre, o destino de cada ser humano.
Falando de maneira clara e taxativa, os espíritos
dos mortos (eggun) não são divindades, precisamos
mencionar aqui e deixar bem claro, pois assim como
para os orixás, a eles existe um culto bem generali-
zado e muito complexo, enraizado na tradição
africana de prestar homenagem aos seus antepas-
sados. Sua importância é ponto indiscutível na Regla
de Osha. Acreditam firmemente que "o morto vai ao
encontro do santo" ou que "os mortos expulsam o
santo." Os “egguns” que cada praticante lucumi
reverência não são apenas os seus antigos parentes
falecidos, mas também
algo muito "maior" do
que sua família consan-
guíneas: são reverencia-
dos seu "padrinho" e
" m a d r i n h a", o u s e j a ,
todas as pessoas que
tenham sido iniciadas
na Santeria e que fize-
ram parte de uma for-
mação; ou em outras
palavras todos que
pertenceram ao seu Ilê
ou sua casa religiosa.
188
São também egguns as entidades que, além de
seus orixás, cada pessoa recebe ao nascer para
acompanhá-la e protegê-la nesta vida, os comu-
mente chamados seus "guias espirituais”. Muitos
desses espíritos acredita-se são africanos e baixam
com frequência em seus adeptos, como as
populares entidades Negrito José, Francisco Preto,
etc. Alguns estão ligados à práticas mágicas, como
antigas tradições africanas e latino-americanas.
Muitas vezes são representados por bonequinhos.
Os Santeiros se vestem de maneira muito rica. E
todos recebem orações ou oferendas e, às vezes,
são homenageados em cerimônias complexas
chamadas "missas espirituais".
Os iniciados na tradição Lucumi, em geral os
Congos e os Carabalies, vivem totalmente imersos
em uma rica e densa realidade "espiritual" formada
por seres sobrenaturais, com quem os praticantes
têm uma estreita e permanente relação: com seus
orixás, com seus queridos egguns, seus santos e
seus mortos.
189
Os Egguns nos Cultos Caribenhos
Nos países pertencentes ao antigo Império
Yorubá, algumas sociedades centravam suas
práticas no culto de Eggun (mortos), de fundamental
importância para as religiões desta cultura, porque,
como se diz no sistema religioso Osha -Ifá "Iku Lobbi
Osha" (da morte nasce o orixá), que muitas vezes
também pode ser traduzido como "O morto traz o
Santo". Para o iorubá, o conceito de morte é muito
maior do que as outras religiões. Para nós, seres
humanos, consiste principalmente em três
elementos: Emi (espírito), Ori (alma) e Ara (corpo).
Emi e Ori coexistem dentro do Ara, separados.
Ori é aquela parte que está sempre aprendendo e
guarda a sabedoria de outras encarnações,
permanecendo fechada para a consciência da
pessoa até o momento de sua morte. Durante
algumas iniciações religiosas, a pessoa que se inicia
faz um corte, que representa abrir um pouco o Ori
das pessoas para outros conhecimentos.
O Emi é aquele que nos permite o diálogo
interno, que armazena memórias desta encarnação
e cada passo que damos em nossa consciência
quando incorporamos o Orixá, saindo da Ara.
Quando morremos, Emi e Ori se tornam um só,
deixando o Ara, que se tornará Oku (o corpo morto) e
190
ambos vão seguir seu
destino retor-nando ao
Aiyê. Em seu caminho,
tornam-se primeiro
Eggun (morto), depois
Aragbá Orun (no cami-
n h o p a r a Or u n ) p a r a
depois atingir o estado
de Ara Orun (habitante
do Orun).
Sociedades Secre-
tas de culto a Eggun,
chamadas Iyami Agba (minha grande mãe), realizam
um culto da Eggun coletivo não-individual. No caso
da Sociedade Geledé esta energia que engloba o
c u l to d e Eg g u n fe m i n i n o é c h a m a d o I ya m i
Oxorongá, chamada também IYA NLA (mãe que está
no além).
A Sociedade Geledé é composta exclusivamen-
te por mulheres e apenas elas lidam com este
imenso poder de Iyami Oxorongá. Representando o
medo do culto a Iyami, algumas regiões da Nigéria
fazem os homens se vestirem de mulheres em suas
festas, com máscaras femininas, e dançarem em sua
honra para aplacar a sua raiva, a fim de encontrar um
equilíbrio entre as forças masculinas e femininas.
191
Esta sociedade não veio com o seu culto para a IIha
de Cuba, mas é encontrada em outras regiões afro-
americanas.
A sociedade de culto a Eggun é masculino e
não-individual, uma vez que não é conhecido esta
forma de culto em Cuba mas de forma generalizada,
como no caso das Geledé. É a sociedade secreta
masculina de Oro Eggun, que se baseia num culto
que representa a energia sobre os egguns, atraves
de seu chefe "ORO". No caso da sociedade Geledé,
seu culto é praticamente extinto na África; e nas
América é pouquíssimo lembrado. O poder atribuído
a Iyami Oxorongá é tão grande que deve ser
cuidadosamente controlado, às vezes com a ajuda
das Sociedades Secretas. Estas duas são as mais
importantes sociedades de Eggun, depois destas,
podemos falar de sociedades individualizadas, que
são envolvidas no culto de personagens importan-
tes da religião ou da família. São as famosas
"sociedades de Eggungún", onde a adoração é
baseada num culto a um Eggun masculino, que se
manifesta (os femininos não são autorizados a se
manifestarem) em geral usando grandes tecidos
coloridos que o cobre da cabeça aos pés. Esse tipo
de roupa na África é chamado Eku e nas Américas
recebe o nome de Opa.
192
As Mitologias Lucumies
A cultura Lucumi tem um universo vasto de
mitos que têm sido passados de geração a geração
através de sua oralidade e dos grandes manuais de
Santeria. Este conjunto de histórias de natureza
religiosa são chamados patakíes ou appatakís.
Como em todas as grandes mitologias, a Regla
de Ocha nos obriga a voltar cronologicamente aos
tempos de outrora, como o sagrado tempo da
gênese do mundo e da espécie humana. Os fiéis não
consideram estas narrativas como "histórias", ou seja,
como "ficção”; para eles estas construções históricas
fazem pleno sentido ao seu jeito de ser e a sua vida
cotidiana.
Para eles, estes mitos e lendas constituem uma
realidade plena: a verdade mais profunda, primordial
e última. Ao pôr abaixo a irrupção do silêncio de
tudo ser mistério do sagrado ou divino, os patakíes
tentam explicar os fundamentos do universo e dos
seres que o habitam. Como diz Mircea Eliade 22,
recitando os mitos o homem moderno reconstrói a
era fabulosa dos deuses e heróis.
Ao vivê-los ou revivê-los religiosamente falando,
23
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perpectiva, 1972.
193
isto é, passam a resgatar a oralidade e a memória do
grupo, saindo do tempo profano para adentrar
dentro de um universo "místico", cheio de energia
vital. A ressurreição do tempo pela via narrativa é
uma realidade pura e original, fonte primária de todo
sentido; justificar e normatizar as crenças garante a
eficácia dos ritos e estabelece uma tabela de
valores que passam a orientar a existência humana.
Assim se explicam as raízes ancestrais. E o retorno
deste passado mítico e religioso garantem a
conduta moral dentro do presente.
A variedade infinita de patakíes impede de se
chegar a uma classificação clara e exata de cada
uma delas, porém vamos citar aqui as categorias
principais:
A - Mitos Cosmogônicos
Os mitos da criação básica da Regla de Osha, os
primeiros conjuntos de mitos, poderíamos dizer a
“Genesis Lucumi”, nos leva ao início de tudo, para
nos dizer que naquele tempo não havia nem céu,
nem terra, nem plantas, nem animais, nem os
homens: somente um único Deus, chamado
Olodumare (ou OLORUN, Olofi ou Olofín). Com a
finalidade de gerar o universo, Olodumare criou
rochas em chamas que ardiam por muitos séculos,
194
até que Ele lançou sobre elas seu hálito divino,
“sopro”, que se converteu em água, produzindo
vapores grandes – as nebulosas - que existem no
espaço. Um processo de resfriamento ocorreu
naquelas regiões onde antes existia muito calor,
formando os grandes oceanos, dando assim início
aos grandes rios e lagos.
E de lá nasceram todas Yemayás e Ochúns. Ao
apagar o fogo das rochas, o mundo surgiu.
Olodumare então criou Agayú, o Sol, e quando ele
reclamou de ter trabalhado o dia inteiro, Olodumare
criou Naná Burukú, a Lua, o substituíndo durante a
noite.
Passado algum tempo (alguns dias, de acordo
com algumas versões do mito, ou milhares de anos,
de acordo com os outros mitos), as cinzas das
rochas se acumularam nas partes mais altas
formando as montanhas (Oké Oké), que fazem com
que os furacões o respeitem. O resto se tornou uma
massa lamacenta, podre e fétida, originando muitas
epidemias. Assim nasce Obaluaiyê, conhecido como
São Lazaro.
Os orixás acostumaram ir até esta região
usando enormes teias de aranha, para não pisar no
solo, até o fim deste período. O solo tornou-se uma
massa sólida e fértil onde começava a surgir ervas e
195
plantas, assim nasce Osaín. Muitas pedras do
primeiro período não se apagaram totalmente e
acabaram enterradas sob as montanhas. Até que um
dia explodiram, jogando muita massa vulcânica para
fora, junto da qual nascia Ogún, deus do ferro,
metais e da guerra. Em algumas versões dizem que
nestas explosões tambem nasceu Agayuú, o Sol.
Muitas vezes, esses mitos terminam salientando a
característica criacionista de Olodumare, que tudo
fez: o céu, terra, sol, lua, estrelas, dia, noite, mares,
rios, lagos, plantas, animais... Absolutamente tudo.
Em outras versões, depois de dividir o mundo
em uma parte elevada, uma inferior e pantanosa,
Olodumare entregou a Obbatalá um punhado de
terra seca, contida na concha de um caracol,
juntamente com uma pomba e uma galinha de
cinco dedos. Procurando um lugar para começar a
criar um terreno sólido, Obbatalá escolhe Ife. - A
cidade de Ile-Ife, berço da humanidade, é conside-
rada a Roma da tradição Lucumi-. O orixá irriga a
terra que ganhou de Deus com a ajuda do pombo e
da galinha até que desapareça quase que por
completo o pântano. Este trabalho durou quatro
dias, o quinto foi dedicado ao descanso e ao louvor
de Olodumare. Em uma segunda viagem ao planeta,
Obbatalá traz as plantas, animais e um grupo de
196
seres humanos criados pelo Supremo Criador.
B - Mitos Teogônicos
Na Santeria, a teogonia é confundida com a
cosmogonia. Muitas divindades antropomórficas
(orixás) nascem dos fenômenos naturais aos quais
estão associados com o que eles possuem, por
exemplo: Yemayá é a divindade regente do mar;
Ochún, dos rios; Obaluaiyê, as doenças e suas curas;
Osaín, o senhor das ervas, dentre outros. Obbatalá
Orichanlá é o mais importante orixá Lucumi, por ser
filho direto de Olodumare, que lhe deu a vida para
ajudá-lo em sua obra criacionista para, em seguida,
governar o mundo em seu nome. Outras divindades,
no entanto, têm raízes históricas. Como sabemos,
por exemplo, Changó é o lendário quarto rei de Oyó
(Nigéria), cuja vida é relatada em sua terra natal com
muitas lendas, incluindo uma que o faz descendente
direto de Obbatalá e Agallú Solla.
Por outro lado, em Cuba, Oyá é a deusa das
tempestades e dos fortes ventos que a acompa-
nham e, em vez de ser a primeira esposa de Changó,
como na África, é somente a segunda. Sua origem
histórica e lendária é indiscutível.
De acordo com os inúmeros patakíes dedicados
197
a Elegua, este era originalmente um príncipe, filho
de Oba Okuboro e de sua esposa Echu Añagui. Orixá
Oko, o deus da agricultura, fertilidade da terra e
patrono dos camponeses, foi contratado pelo
próprio Obbatalá para cuidar de seus inhames.
Um dos Patakis conta que Babalú-Ayé (São
Lazaro), seguindo os conselhos de Changó, mudou-
se para Dahomey onde o povo aceitou-o como rei, o
que evidencia a sua procedência histórica. Ochosi, o
deus dos caçadores, antes de ganhar este título de
Olofi, era um perito na arte de caça. Ifá parece ter
sido em vida um famoso adivinho que nasceu e
viveu em Ifá, e que no momento da morte foi
deificado e identificado com Orúnmila, o deus dos
oráculos.
A Regla de Ocha explica através de suas
construções mitológicas os poderes que possuem
cada um dos orixás. Vários patakíes revelam como
Olodumare os concedeu. Um dos mitos mais
conhecidos explica quando Oké foi criado (a
primeira montanha) ou a montanha original: uma
espécie de Monte Olimpo Lucumi surgiu. Olorun
sentou-se na parte superior sob uma palmeira, e
todos os deuses moraram embaixo dele, a cada um
foi atribuído uma função e uma parcela da realidade.
Elas foram bem distribuídas entre eles, bem como
198
os elementos e reinos da natureza, na forma
específica que vemos em vários mitos.
C – Mitos Antropogônicos
Um patakí muito pouco sincretizado (e provavel-
mente a versão mais aceita pelos seguidores da
Regla de Ocha) explica como Olodumare confiou a
Obbatalá a criação da espécie humana, fabricando
os seres humanos como um escultor que molda
seus bonecos através de um modelo matriz . Depois
de concluídos, estes corpos se moviam, andavam
mecanicamente, quase que de maneira inconscien-
te e insensível, sem entendimento. Olodumare então
através do sopro divino, soprou-lhes suas cabeças,
colocando parte de sua divindade nelas. Uma
segunda versão garante que Olorun foi ajudado
nesta parte por Oddudúa (o princípio feminino e a
mãe da nação iorubá) e um irmão seu chamado
Ibaibo.
Este último modelo, uma cabeça que inicial-
mente tinha um olho e depois passou a ter dois.
Quando Olodumare soprou e sua respiração criou o
coração humano, disse Oddudúa: "Este é o meu filho."
A terceira variante cita que outro irmão de
Obbatalá, chamado Obalufún, dono da Palavra, foi o
199
homem quem colocou sobre a língua humana o
dom da fala.
Algumas variantes destes mitos criacionistas em
Cuba mostram uma óbvia semelhança de caráter
sincrético. Sob a forte influência do dogma católico,
Olodumare, Olorun e Olofi tornam-se algo muito
parecido com as três pessoas da Santíssima
Trindade: uma espécie de "Trindade" da tradição
lucumi capaz de dialogar consigo mesma depois de
concluir a criação do mundo e todas as suas coisas,
menos o homem.
- Eu estava bem? Pergunta então Olodumare, o
Criador Supremo (que aparentemente, funciona como
a primeira pessoa). - Sim, você fez algo bem feito,
respondeu as outras duas pessoas.
- Falta algo mais para fazer?
- Há muitos animais grandes e bonitos, além de
muitas plantas, mas dentro de toda esta criação, o
grande Criador não é visto...
Imediatamente um conselho "trinitário" é
realizado. E as três pessoas divinas tomam um
pouco de argila e formam a sua imagem e seme-
lhança uma criatura chamada Omo Oba Alle, que
Olodumare dota de inteligência, Olorun de destreza
e força física e Olofi de beleza. Então os três criam
200
algo uno pela primeira vez, diz literalmente um
patakí sobre o primeiro homem a ocupar a terra. A
partir de hoje você será o mestre de tudo o que nela
existe. Como a nossa vida, a sua será eterna: nunca
vai morrer. E todos os outros seres da criação terão
que lhe render homenagem, "e assim aconteceu”.
Este ciclo de lendas é muito rico em variedades,
nele se mesclam todos os esforços cosmogônicos e
antropogônicos com as interpretações de caráter
sexual. Por exemplo, um Pataki considera o universo
como uma grande árvore composta de duas taças:
na parte superior reside Obbatalá, o aspecto
masculino; na parte inferior reside Oddudúa, do sexo
feminino. Entre os dois vagam os Egúngún, alma dos
mortos. Porém, como vimos em Cuba, muitas vezes
Oddudúa é considerado como um orixá masculino.
A importância do princípio feminino na criação do
mundo se evidencia pelo fato de muitas vezes a
tradição religiosa mencionar sobre Oddudúa, o par
de Obbatalá na Gênese do mundo. Um pataki
argumenta que Obbatalá, a caminho de executar a
tarefa criacionista que Olodumare lhe confia, ficou
com muita sede e como havia apenas vinho de
palma pelo caminho, ele tomou muito, acabou
ficando bêbado e caindo num sono profundo.
Oddudúa foi buscá-lo por ordem de Olodumare e,
201
vendo que estava totalmente toporizado pela
bebida, passou a executar a tarefa legítima da
criação, criando a terra sólida, o homem e a cidade
Sagrada dos iorubás e da Santeria Cubana: Ilé-Ifé.
D – Mitos Axiológicos
Os valores fundamentais da ética religiosa, o
conceito de bem e mal, representam, sem dúvida,
um papel-chave na mitologia Lucumi. Como em
alguns outros casos de tradições extremamente
subjugadas e dominadas encontramos uma forte
influência judaico-cristã, mais "ortodoxa", muito
sincretizada. Pertencente ao primeiro grupo
encontramos o tema da rebelião do primeiro
homem (Omo Oba Alle) contra Deus. Sentindo-se
orgulhoso de seu poder, o Omo Oba Alle começou a
pensar: "Olodumare governa o céu, mas aqui na terra
quem manda sou eu".
Quando o Ser Supremo ouviu estas palavras,
perguntou: “Quem fala assim com tanta arrogancia
no mundo?” Ao que o homem respondeu: “Descubra
você mesmo.” – “Quem é esse insolente?” Deus
perguntou novamente. “Bem, sou eu. E o que vai
fazer?”, respondeu o homem.
E então o grande Olodumare chamou o raio (Oyá
202
Kariempembe) e despejou toda a sua fúria pela
terra, com desastrosas consequências. Incendiou as
florestas, matas, bosques, todas as árvores e
animais, tudo queimou e virou cinzas. O homem, a
quem Olodumare havia concedido a imortalidade,
sofreu queimaduras graves, mas não pereceu.
Enfurecido e rebelde se escondeu nas profundezas
da terra, e ali ainda vive com o nome de Olosi, e até
hoje às vezes sai para lutar contra o Ser Supremo,
arregimentando homens para segui-lo em suas
atividades malignas.
De acordo com outro Pataki, Olodumare se
compadeceu com o tempo da desolação que
estava pela terra, convocou novamente o conselho
trinitário e a revitalizou e repovoou novamente, ao
chegar novamente na recriação do homem, o
"Conselho Trinitário" decidiu fazer novamente igual
ao primeiro, excepto que agora seria mortal. "Tenha
corpo como o do anterior” proclamou Olodumare,
mas a partir de agora, Olofi habitará em sua alma:
seu corpo um dia irá perecer, mas sua alma viverá
para sempre. Se chamará Sekume e terá uma
mulher chamada Mbonwe.” Mbonwe e Sekume
tiveram três filhos, dos quais descende toda a
humanidade.
A outra versão desta lenda é uma das mais
203
lindas histórias da mitologia universal. Mercedes
Sandoval24 cita em sua obra “Religião Afro-Cubana”
que, em primeiro lugar, o homem viveu em um
paraíso terreno. É verdade que ocorreram mortes,
mas elas vieram sem dor. As doenças e infortúnios
eram desconhecidos, o homem envelhecia
gentilmente.
Depois de uma longa vida, se envelhecia, porém
sem as deficiências físicas. Era apenas um profundo
desejo de imobilidade e silêncio. Por fim, fechavam-
se os olhos e uma doce escuridão tomava conta de
tudo. Neste paraíso tudo era de todos, portanto, não
era necessário nenhuma forma de governo. Céu e
terra estavam unidos, o mar calmo dormia sem
furacões e tempestades. Não existiam bruxas, nem
plantas venenosas, sofrimento ou dor. O rato era
amigo do gato e os escorpiões produziam mel. Eram
idênticas as almas da pomba e da hiena. E a feiúra e
maldade só chegou mais tarde, quando começou o
tempo do sofrimento.
Em um dia não muito bom, a Terra se rebelou
contra o céu (ou seja, o homem se rebelou contra
Deus). "Eu sou a base de tudo, sem minha ajuda o céu
entrará em colapso”. “Tudo sai de mim e volta para
24
SANDOVAL, Mercedes. La Religião Afrocubana.Madri: Miami Ediciones. 1975
204
mim, o céu deveria me fazer-me semideus”. Assim
gritava o homem em sua arrogância.
Quando Olorun decidiu punir este orgulho, fez o
céu ficar longe, distante e ameaçador no espaço. O
que se seguiu foi uma imensa catástrofe. Uma
densa escuridão caiu. A noite trouxe luto, tristeza,
medo e angústia. E no dia seguinte, a palavra tinha
se tornado absurda, incompreensível, incapaz de
expressar os sentimentos humanos.
Como se tudo isso não bastasse, Olodumare
derramamou sobre a terra um fogo claro e um
ardente vendaval, que fez tudo vir abaixo. A água,
origem da vida, se ausentou da terra. As árvores, os
animais e o seres humanos morreram em massa. A
felicidade passou a se esconder nas fendas escuras
da memória.
O sol implacável secava tudo o que ele podia
iluminar, fazendo tudo virar um pó inerte e sem vida.
Os poucos homens que sobreviveram a estas
pragas eram puros esqueletos. Apenas uma árvore
se mantinha em pé, forte e vigorosa: Iroko, a ceiba
sempre reverente da divindade, cujas raízes estão
nas entranhas da terra e cujos ramos se espalharam
para o alto tocando em sua intimidade o céu. Iroko
sofria ao contemplar a crise de falta de harmonia e
trato, e na medida de suas forças prestava ajuda
205
para que a ordem se estabelecesse.
Eles fugiram para se refugiar nos braços de
Iroko, tanto os mortos quanto os vivos, para
proteger-se sedentos e ressecados dos raios do Sol.
Iroko contou-lhes um segredo que residia em suas
raízes, e assim os homens reconheceram o tamanho
de sua ofensa, e se resignaram perante Olorun e
purificaram-se aos pés de seu protetor.
Em seguida, foram atrás do primeiro sacrifício e
buscaram entre eles um mensageiro para encami-
nhar suas oferendas para aquele Deus tão implacá-
vel. Montaram a oferenda e então Ara-Kolé, o abutre
conhecido também como devorador de cadáveres,
viaja em voo, incansável por dias e noites, finalmente
chegando do outro lado do infinito. Chegando lá, ele
voou mais alto ainda, colocando as ofertas e pedin-
do a misericórdia diante do “Supremo Criador ",
disse: “Os filhos da terra te pedem perdão, sabem que
são seus escravos. Do fundo do coração eles lhes
imploram misericórdia. Dê-lhes uma chance, ó
Senhor.”
De acordo com o a Obra de Cros Sandoval, de
onde foi tirado este mito maravilhoso, o céu após
ouvir esta súplica olhou para o chão e enxergou a
sua morte. E vendo que estava sendo reverenciado
zelosamente, ele aceitou a oferenda e concedeu
206
seu perdão. Então as águas começaram a cair do
abismo, formando cachoeiras enormes sobre os
humanos sedentos. Um verdadeiro dilúvio caiu
sobre a terra quase afogando Ara-Kolé em sua
viagem de retorno.
Quando parecia que um novo desastre estava
pairando sobre a terra, as águas foram armazenadas
em um grande lago. Iroko assim salvou as criaturas
terrestres. A terra se hidratou e acalmou sua sede,
com isso começou a se reproduzir de novo, cobrindo
suas terras secas e mortas por novos terrenos
verdejantes. Tudo foi renovado. Porém o ser humano
nunca mais conheceu a verdadeira felicidade de sua
época paradisíaca. O céu (leia-se Olodumare),
cansado da ingratidão do mundo que ele tinha
criado sem lhe prestar nenhuma homenagem, afeto,
atenção, carinho ou cuidado, partiu em profunda
indiferença com o mundo e as coisas humanas.
Este mito é muito rico em ideias e interpreta-
ções. O fundamental aqui é a explicação da origem
do mal no mundo e suas implicações para condição
humana. Mas este assunto aparece em vários outros
mitos até de outras culturas, sendo eles sistemas
mitológicos puramente ou religiosos. Já fizemos
referências à Santíssima Trindade, além disso,
encontramos alusões a rebelião humana contra
207
Deus, em seguida com a perda do paraíso terrestre,
o dilúvio universal, a compaixão do Criador para sua
criatura, a descendência da espécie humana a partir
de três filhos de um casal original, etc. Alguns destes
elementos podem ter sido cópias de uma forma
mais ou menos pura de cristianismo, mas outros têm
uma raiz obviamente totalmente africana.
Um exemplo muito claro é o mito da “Grande
Seca”, o fogo acaba consumindo e transformando o
mundo num grande deserto (realidade geofísica
presente na África de ontem e hoje). A mitologia
Lucumi se renova constantemente, como pode ser
verificada através da comparação de algumas
versões de seus mitos que circulam na América do
Norte, através de Santeiros de Cuba e do Caribe e
suas fontes originais do continente Africano.
208
primeiro. Segundo um mito, os Lucumis declararam
guerra contra os Congos. Idebe foi chamado para
liderar as tropas. A primeira coisa que ele fez foi
dirigir-se para a casa de Orula e pedir seus
conselhos. Orula ordenou-lhes que antes de lutar
fizessem um Ebó com três carretéis e três garrafas
de oti (aguardente) e depois colocasse este em
frente do exército Lucumi, e antes da guerra este
deveria tocar suas bateria e cornetas. Assim os
Lucumis fizeram antes de sair para a batalha.
Os Congos, que adoravam dançar ao ouvirem as
baterias e cornetas, logo começaram a bailar. Idebe
os convidou para tomar aguardente, eles ficaram
bêbados e cansados... os Congos então foram
derrotados. Essa luta entre Lucumies e os Congos é
um reflexo do corpo mitológico da concorrência que
sempre existiu e existirá em Cuba e no seu exílio,
entre as tradições de Ocha e Palo Monte ou
Mayombe.
Há uma riqueza extraordinária e abundante de
patakíes que falam sobre punição para os malvados,
pessoas que ignoram a voz dos orixás e que se
recusam a fazer ebó quando orientados. Poderíamos
citar centenas deles, mas vamos usar dois como
exemplo.
209
Olofi queria realizar uma festa, para realizá-la
precisaria de muitos peixes. Orula tinha advertido
aos peixes a fazer um ebó para se proteger. Os
peixes pequenos não obedeceram. Quando Olofi
começou a jogar sua sarrafa para pegar os peixes,
todos os pequenos foram capturados, menos os
maiores pois tinham feito o Ebó conforme solicitado.
E assim eles se salvaram.
Em outro mito, talvez o mais dramático deles,
um Babalaô levantou a bandeira vermelha de
Changó quase na mesma altura da bandeira do Rei.
Quando ele lhe perguntou com muita raiva por que
ele tinha feito isso, o Babalaô respondeu: "Um Deus
deveria adivinhar." "Pois adivinhe", disse o Rei.
Materialmente falando, o reino estava indo bem,
mas havia uma grande lacuna espiritual. Existia uma
grande sombra que oprimia a alma de todo o reino...
O que se passou com a espiritualidade virá como
uma forma de punição implacável. A cólera enrijecia
o rosto de Sua Majestade, pois ninguém nunca se
atreveu a falar desse modo com as divindades. O rei
tinha uma filha muito mimada, que vivia sozinha
todas as horas do dia e da noite. Ao passar pela
prisão, ela viu o Babalaô envolto em seu grande
casaco vermelho e disse: "Que capa tão bonita!
Poderia me dar?” - Aqui, disse o Babalaô, "leve, vou
210
ser executado pela manhã, ela não me será útil".
A menina levou a peça de roupa, achou linda e a
vestiu. E o Babalaô aguardou. Os guardas, confusos,
acreditando que o Babalaô tinha escapado,
mataram-na. O Rei começou a procurar sua filha por
todo o palácio e ao saber do ocorrido, desabou de
dor e tristeza. O povo então aclamou que a justiça
fosse feita. O Rei, com a alma destruída, retirou o
Babalaô do cárcere, admitindo seu erro sobre a arte
da adivinhação e autorizou, em respeito às divin-
dades e em especial a Changó, que a bandeira de
Changó ficasse mais alta do que a bandeira do
palácio e do reino.
211
Reglas Conga
Os negros em Cuba
e na região do Caribe,
conhecidos como
Congos, pertencem a
uma grande área da
África Ocidental, com-
preendida desde o sul
dos Camarões até a
p a r te s u l d e A n g o l a ,
incluindo a área de
Moçambique, na costa
sudeste da África. Entre
os povos que encontra-
mos nesta região Kongo ou Bakongo, cuja língua
falada é o Kikongo - formaram a base do sistema
religioso conhecido como Regla Conga.
Com suas crenças e práticas religiosas,
influenciaram decisivamente na formação das
Reglas Congas cubanas e caribenhas. O que
parece ter acontecido é uma mistura da cultura
Kongo e tudo a ela relacionada, incorporado nas
tradições do Novo Mundo com seus elementos
próprios comuns e, o mais importante, da cultura
Bantu para si mesma. Devemos lembrar que em
212
Cuba é chamado Congo todo Bantu25, por exemplo.
Chegando em Cuba, os negros congos bugio
se encontram em cidades, campos e barracões,
com outros negros de diferentes etnias, religião e
língua. Por exemplo, coexistiram com os numero-
sos Lucumis (Yoruba) que, entre outras coisas,
tinham um sistema religioso bem diferente. A
religião conga, no início, foi influenciada pela Regla
de Osha e práticas católicas. O processo de
sincretismo é compreensível: as religiões lucumi e
conga, longe de serem contraditórias, se comple-
mentam perfeitamente. Na Regla de Osha se
enfatiza o culto das divindades ou Orixás e,
embora usem magia, o resultado dela está sujeita
a vontade incontrolável dos deuses.
As regras congas carecem de um panteão de
divindades complexas, mas tem um amplo e
mullifacetado sistema de magia que, de acordo
com suas crenças, é extremamente eficaz e
adequado e que segundo suas crenças procedem
diretamente de Nzambi, de Deus, bastando-se por
si só.
25
Aqui é usado o termo Congo para se referir a cultura conga em sua forma original,
quando você fala de grupos Bantu em Cuba, tem que se lembrar de que seu tronco
étnico, faz parte outros grupos numerosos: Angunga (Reais Congos),Angola, Bakongo,
Benguela, Biyumba, Kasambo, Kimbisa, Kinfuiti, Loango, Mayombe, Mbaka, Mandongo,
Muluanda, Mundembu, Musabela, Nbanda; Ngola,Oriyumba, Quisama, Songo, etc.
213
Os Congos adotaram como seus os Orixás
Lucumies e lhes deram nomes em espanhol. Os
fiéis Lucumies, por sua vez, embora teoricamente
devessem manter-se separados das práticas
congas, muitas vezes recorriam a elas em caso de
necessidade, e não é estranho que um sacerdote
Congo se inicie na Regla Osha mais tarde.
Quando me refiro à Regla de Osha, falo no
singular, pois ela é uma só em todo o Caribe.
Quando falo das tradições dos Congos, no entanto,
precisamos usar o plural, porque há vários ramos
dentro do mesmo grupo étnico e religioso, tais
como: a Regla de Palo Monte, Regla Kimbisa, Regla
Biyumba, Regla Musunde e Regla Brillumba.
Agora vamos examinar de maneira resumida as
características gerais dos sistemas Congos: seus
deuses, seu sistema mágico, o seu sacerdócio e
ritual.
214
As Divindades Congo
Assim como os
Lucumi e bugios, os
Congos acreditam em
um Deus supremo,
onipotente e onisciente,
mas este Deus não
aceita um culto espe-
cial. Seu nome Congo na
África é Nzambi
Mpungu. Em Cuba é co-
nhecido como Nsambi,
Nsambi Mpungu ou
Sambi Sambia. Cipriano
Patricio 26 , grande autor
angolano, diz em sua obra que o conceito de
Nsambi entre os Congos foi provavelmente
influenciado pela pregação de missionários
cristãos, particularmente católicos que foram para
a África, mesmo antes de se estabelecer o tráfico
de escravos.
No século XV, os portugueses exploraram as
costas ocidentais da África, estabelecendo
missões na Costa do Ouro, região da desemboca-
26
BATSÎKAMA, Patrício Cipriano. AS ORIGENS DO REINO KÔNGO. Mayamba Editora,
Angola, 2010.
215
dura do rio Congo. Em 1491, um ano antes de
Colombo descobrir a América, o rei Kongo Nzinga
para Knuwu se converteu ao catolicismo e foi
batizado com o nome João l; seu filho, Nzinga
Mbemba, adotou o nome cristão de Afonso. A
capital do reino, Mbanza Kongo, foi dado o nome
de São Salvador.
Apesar das conquistas cristãs nas missões,
eles não foram muito bem sucedidos a longo
prazo, alguns vestígios cristãos permaneceram em
alguns grupos nativos.
Isto explica, por exemplo a desintegração do
reino Bakongo em 1702, coincidindo com o
surgimento de um movimento religioso nativista
sob a proteção de São Antonio. Então, no século
XIX, grupos católicos e protestantes renovaram
seus esforços para pregar o evangelho naquela
região. Assim podemos dizer que o primeiro
contato das tradições congas com a religião cristã
não ocorreu no Novo Mundo, mas sim no continen-
te africano. Os escravos Congos que chegaram ao
Caribe e a Cuba já chegaram "tocados" pelo
cristianismo.
Nsambi é o primeiro e antes de tudo o
Supremo Criador. De sua mão vem tudo o que
existe ou existirá. Lydia Cabrera diz: "É trabalho de
216
Nzambi tudo desde a menor a maior da criaturas, do
mais difícil ao mais suave, e o que não se pode
agarrar como o ar, fogo, pensamento. Tudo o que
está aqui na terra, mar, rios, montanhas, árvores,
ervas, animais, insetos, está lá em cima... o céu, o sol,
as nuvens, a lua, as estrelas. Tudo o que é e o que
não é conhecido foi obra de Nzambi."
Ao contrário de Olodumare, que confiou a
criação do corpo humano a Obbatalá, o primeiro
casal, homem e mulher, vem diretamente das
mãos de Nzambi, que também lhes ensinou a se
reproduzirem, a alimentar-se, a praticar mágia
tanto boa como má. "Nzambi preparou a menga (o
sangue) que corre nas veias e move o corpos, deu-
lhes vida (nkutu), soprando no seu ouvido a
inteligência para compreender.”
As tradições congas consideram o homem
como um ser dual, composto por uma identidade
externa e outra interna. O corpo externo, por sua
vez, consiste em uma concha ou envoltório
(vuvudi) que apodrecerá após a morte, e uma força
invisível que pode ser destruída pela mágica de
feiticeiros, os bandoki.
O homem interior, que é o próprio ser humano,
consiste em Nsala e Mooyo. Nsala, a alma ou
princípio vital, associado frequentemente à
217
respiração e à alimenta-
ção, se encontra pre-
sente em todo o corpo,
exceto nas unhas e no
cabelo. O Mooyo, por
sua vez, é a parte do
homem que precisa da
energia alimentar para
sobreviver.
A vida reside princi-
palmente no coração,
embora ela esteja em
todo o corpo. Mas a
Nsala (alma) e a sombra
podem viver em qualquer lugar: em uma casa, em
um caldeirão, no mato ou em rios. Esses locais são
os favoritos dos mortos para guardar suas almas,
porque quando alguém morre, primeiro Nsala
d e s a p a r e c e e a p e n a s m a n t é m o i n vó l u c r o
corporal.
Em Cuba estas tradições sincretizam-se com o
catolicismo e com o espiritismo (principalmente
este último) para produzir uma concepção original
e própria da natureza humana e suas relações com
o universo e com Deus. Para as Reglas de Palo
Monte ou Mayombe, os homens (ou Bantus) são
218
"seres compostos". Eles têm uma vida ou materiais
biológicos compostos do corpo (Nitu-Bantu) e uma
"Sombra não-inteligente" o (nkawama-Bantu), que
projeta o corpo para receber a luz.
Eles também têm uma vida espiritual cujo
centro é o “nfuiri”, ou espírito vivificante, em que os
três elementos fundamentais são integrados: uma
"s o m b r a i n te l i g e n te" ( n k awa m a - N T U ) , u m a
inteligência (NTU) e do dom da palavra e da
personalidade (Ndinga). Quando o homem morre,
seu “nitu-bantu” se corrompe rapidamente, mas
seu espírito passa por uma transformação,
tornando-se um “nfuiri-htoto”, que consiste na
nfuiri original e “nkawamar-ntu”, o “ntu” e o
“ndinga”. Quando este espírito morto é o de um
antepassado é chamado de “kinyula-nfuirintoto”.
O nkawama-ntu ou "sombra inteligente"
(também chamado de "corpo astral") é uma força
espiritual ou fluido que rodeia o corpo e tem o
capacidade de entrar e sair do indivíduo, como, por
exemplo, durante os sonhos. De certa forma, esta
força é o laço que une os elementos humano e
espiritual, material Bantu.
Enquanto isso, a “Ntu” dota o homem com sua
inteligência, racionalidade e capacidade volitiva.
Muito próximo desta força, embora diferenciando-
219
se claramente dela é o Ndinga, que representa o
dom da palavra que o homem compartilha com os
espíritos dos mortos e os deuses. A morte não
priva o espírito de sua inteligência ou sua vontade
através do seu “Ntu” ou o seu dom da palavra,
devido a sua “Ndinga” ou a sua capacidade para se
deslocar de uma realidade a outra realidade,
graças à ação do “nkawamantu” que o rodeia. O
nfuiri-Ntoto, o espírito falecido, mantém todos os
poderes possuídos na vida: sabe, pensa, sente,
quer, fala e pode subir e descer a todos os níveis
ou "planos" de existência.
Na verdade, “ngangulero” ou “paleiros”, isto é,
os iniciados nas Reglas Congas, acreditam que o
homem não convive só com os mortos, mas
também com os mpungus ou "santos" (equivalente
aos Orixás Lucumies), todas essas forças espiritua-
is as quais temos citados. A diferença é o grau. Um
“nfuiri-ntoto” tem mais força do que um Bantu, ou
seja: um morto é mais poderoso do que um
homem vivo. E uma fonte de Mpungu é sempre
mais poderosa do que um espírito falecido. Mas
entre todos eles existe um forte vínculo de
correspondência, ou seja, de comunicação.
Como cita o autor afro-espanhol Nicolas
220
Ngou 2 7 : A partir dessa
ideia, os nganguleros
estabelecem relações
de reciprocidade com o
Bantu e Mpungu, e
entre os bantos e nfuiri-
n t o t o , p r ovo c a n d o o
crescimento das forças
dos mesmos (através de
orações e sacrifícios); no
entanto, em contraparti-
da, os mpungu e nfuiri-
Ntoto acumulam as
forças dos bantu a suas
próprias forças, assim
oferecendo uma maior proteção. Deste modo, aqui
podemos falar de crescimento mútuo. É claro que,
acima de todos paira a Suprema Força e Grandeza,
de maneira distante, mas o seu grande criador
Nzambi ou Sambia, quer dizer o único Deus.
Nzambi vive no céu e quando se escuta o
trovão dizem que ele está falando. Assim como
Olodumare, é um deus ocioso, um deus "aposenta-
do", mas a partir de sua casa ele governa absoluta-
27
NGOU-MVE, NICOLAS. EL AFRICA BANTU EN LA COLONIZACION DE MEXICO,
Ed. CSIC - Espanha:1994
221
mente tudo o que existe; explica um autor que se
apresenta como “Guangueiro”28: "Outra característi-
ca comum com o Criador Lucumí, Nzambi, após a
conclusão de seu trabalho imensurável, “se
afastou do mundo." Não queria que suas criaturas o
importunassem e foi mais para o alto no céu, onde
ninguém pudesse encontrá-lo. Então, cortou todas
as comunicações entre o céu e a terra, definindo a
distância infinita que agora os separa.
Distante e desprendido de sua criação bem
como Olodumare, só aparentemente alheio a ela,
Nzambi continuou a governar tudo desde o mais
insignificante, "o ar não se atreve a mover uma
folha, ou voar uma mosca, ou acontece alguma
coisa aqui ou nas kimbambas sem que ele não
permita ". É incompreensível, inacessível e invisível,
porque ninguém o viu desde que se aposentou. Ele
vê tudo, e como diz o ditado congo, "percebe uma
formiga à noite" e não remove os olhos de nós. Ele
conhece todos os nossos segredos.
Como acabamos de observar, na África ou no
Caribe, o Deus supremo dos Congos é objeto de
culto especial, não se faz sacrifício a Ele: Nzambi
"não come".
28
Guangueiro, El. El Oficio Congo: La Religião de Palo Monte Encunia Lemba São Enfinda
Cunan Finda. Ed. Palibrio Cuba: 2012
222
Mas ele é chamado com respeito, saúdam-lhe
e pedem sua proteção. Com efeito, o suposto
distanciamento de Nzambi está longe de ser
absoluto. As Reglas Congas Cubanas e Caribenhas
veem seu Deus como uma garantia final da ordem
e da vida na natureza. E eles estão convencidos de
que sem Nzambi seriam ameaçados continuamen-
te pelas forças do mal. Nzambi intervém e garante
o pleno equilíbrio. O Deus Congo permite a luta
entre o bem e o mal no universo, mas não o
domínio do segundo sobre o primeiro. Nzambi é,
portanto, o Salvador Divino a Divina Providência, o
último recurso, que pode ser acessado em caso de
desastre iminente.
A vida cotidiana de um ngangulero (praticante
das Reglas Congas), é um debate constantemente
entre as forças do bem e do mal, a vida e a morte.
Para entender os dramas da vida, recorre-se aos
mpungos e seus espíritos, ou seja, o sistema
religioso criado por Nzambi quando ele resolve se
distanciar do mundo. Mas às vezes acontece deste
sistema falhar: ele é incapaz de resolver certas
contradições.
Então recorre-se a Nzambi. Como diz
Guillermo Calleja Leal: "O nganguleros muitas vezes
invocam o nome de Nzambi, apesar de seu
223
afastamento, talvez
como uma maneira de
atender ou intervir nas
falhas ou deficiências do
sistema religioso"...
Devemos lembrar que,
para nganguleros, a
função de Nzambi co-
mo senhor do destino é
importante, porque a
doença, ou qualquer
cataclisma natural que
não pode ser explicado
acaba muitas vezes
atribuído ao "Mpungu", à feitiçaria ou bruxaria,
também são consideradas ferramentas vindas de
Deus e para o ngangulero tudo que vem de
Nzambi deve ser encarado como natural.
Os ditados congos sobre Deus dizem: "Nzambi
para cima, para baixo Nzambi; Nzambi, nas quatro
direções". Movidos pelo sincretismo cristão, os
praticantes das reglas congas tendem a interpretar
isso como uma indicação da trindade divina. E
assim "Nzambi acima" é Nzambi-nsulu ou o Deus
do céu. "Nzambi abaixo" é Nzambi-Ntoto ou o Deus
da Terra. E "Nzambi nos quatro cantos” correspon-
224
de a Nsambi-nsasi ou o Deus do Universo, isto é, o
Deus que está em todas as partes. Isto seriam as
três manifestações do único Deus verdadeiro.
Nzambi é o Senhor da vida e da morte. Os
Congos acreditam que os homens morrem como
punição ou desobediência, e na região do Congo
encontramos diferentes versões do mito que
explica a origem da morte: “O primeiro casal criado
diretamente por Nzambi tinha um filho e logo ele
morreu. Nzambi disse-lhes para fazer um caixão e
proibiu-os de olhar para ele novamente. A mulher,
impulsionada pela dor, desobedeceu à ordem e
abriu o caixão. E para sua surpresa viu que a
criança tinha voltado à vida e estava num processo
de mudança de sua pele! Pouco depois, a criança
voltou a morrer e Nzambi desceu dos céus e
condenou a mãe... A partir de agora vocês estão
condenados a morrer. Se não tivessem ignorado
minha ordem, ninguém teria morrido, somente
mudariam sua pele como uma cobra". Este mito
enfatiza a importância de se respeitar os tabus
divinos.
Lydia Cabrera faz o seguinte comentário sobre
a importância de uma boa morte: "... Os mais velhos
sempre pedem (a Nzambi) uma boa morte. Igual
pedem os brancos ao seu Deus, que no caso é o
225
mesmo Deus, seja lá como é chamado, “Sambiam-
punga” ou Santo Cristo... Mas o sinal disto está
estampado no próprio morto com seus sinais, um
defunto com a boca torcida e olhos abertos e rosto
fantasmagórico precisa de ritos apropriados, ou
como dizem as tradições locais, será mal enterrado
o que é o pior." Estas lendas creoles reproduzem
com precisão o conceito da morte de seus
antepassados africanos.
A morte como fruto de feitiçaria (Ndoki) é lenta
e agonizante, atemoriza e surpreende o indivíduo,
que morre com os olhos abertos e semblante de
pânico. A morte natural, pelo contrário, traz um
semblante pacífico e sereno. Traz a imagem de
como se a pessoa estivesse deitada apenas dor-
mindo. A Isso é chamado de "morte em Nzambi".
Nzambi finalmente cumpre a função de juiz.
Tanto na terra como no pós morte. "... Castiga os
malvados, reprova a traição, as faltas cometidas
contra os mais velhos e idosos, e nos leva ao
encontro de Olodumare, apresentando as nossas
boas e más ações."
Na cultura Kongo, o mundo é considerado
dividido em duas partes: a terra dos vivos (Nioto) e
a terra dos mortos (Mpemba), separados pelo mar
(Kalunga). Em Mpemba, a vida continua, embora de
226
uma forma diferente. Aqueles que foram bons,
compassivos e cumpridores da lei, aqueles que
têm ajudado os membros da sua família e,
particularmente, os órfãos, são recebidos na porta
por seus familiares e compatriotas com grande
alegria e comemorações.
Aqueles que foram pessoas ruins e egoístas,
que violaram os regulamentos divinos e desrespei-
taram os mais velhos, nada os aguardará do outro
lado, nenhuma pessoa, e viverão num eterno
deserto. No outro o mal continua igual, uma vez
que não há arrependimento, esses espíritos
malignos costumam voltar à Terra para causar
sofrimento. Os justos e evoluídos, entretanto,
também visitam suas antigas moradas, e eles
fazem isso principalmente para proteger seus
entes queridos.
Como podemos ver, seria incorreto dizer que as
Reglas Congas carecem de princípios éticos. Como
veremos adiante, nelas conseguimos distinguir as
operações mágicas que procuram o bem em
detrimento de ações mágicas negativas.
O principal dever de um Congo é a sua casa e o
seu povo. Os de fora são considerados "estrangei-
ros", é permitido enganar-lhes e roubar-lhes, desde
227
que a vítima não seja de seu povoado e a ação não
seja para benefício próprio, mas sim coletivo. Mas
se ele atacar um vizinho, no entanto, é condenado
e será severamente punido, tanto aqui como no
outro mundo. O que carece de ética é a dimensão
universal, mas é muito rigorosa dentro dos limites
do próprio grupo, e com precisão reflete a orga-
nização social dos Bakongo, caracterizada por uma
extrema fragmentação.
228
violentos até com os próprios negros, sua tradição
de culto aos antepassados e apego ao grupo local
parecia abruptamente interrompido. Mas de
qualquer maneira, muitos elementos dos cultos
ancestrais e sua tabela de valores foram preserva-
dos do outro lado do oceano.
É inegável que a prática, sem dúvida, "ortodo-
xa" e bastante frequente de magia negativa (que
patrocina sentimentos desprezíveis de inveja,
vingança e ódio) contradiz o conceito de uma
"ética conga" que escrevemos. Nenhuma religião é
imune ao paradoxo doutrinal e prático. Além disso,
este processo torna-se transculturativo, primeiro
na África depois no Caribe, tendo servido para ser
criar nos fiéis uma imagem cada vez mais aceitável
de "Mayombe mal" para converter-se muitas vezes
num dilema religioso embaraçoso e com práticas
vingativas e severas.
É usada algumas práticas aos olhos da
modernidade com intenso peso de consciência.
Não parece que as Reglas Congas possuem
originalmente um panteão coerente com suas
divindades, diferente do padrão Lucumi, pela
simples razão de que também pouco fazem parte
do sistema religioso Bakongo.
229
Depois de Nzambi, os adeptos de Regla Conga
adoram as almas dos antepassados, os mortos e
os espíritos da natureza, que habitam as árvores,
os rios, as montanhas e vales. A divindade da água
se chama Nkita-Kunamasa; a divindade que habita
os rios ou lagos, Mburi; aquela que habita o mar e
desliza pelo fundo das águas é Nkisi Mboma; a
divindade dos pântanos, Dinganga; a divindade
que habita as montanhas, Kindindi; a divindade
ancestral, Kinyula Nfuiri-Ntoto; o espírito protetor,
Ndundu. E o fantasma ou espectro maligno é
Musanga. Também tem cultuado no Caribe e em
suas ilhas uma categoria chamada de Basimbi
(Simbi ou Yimbi em Cuba), seres humanos que
após morrerem seu espíritos se tornam divindades
da água e da terra.
E tanto no Caribe como na África, um Nkuyu é
um espírito mau que não permanece no Mpemba,
o mundo dos mortos, mas perambula pela terra
onde comete todos os tipos de crimes, uma
espécie de "Elegua Congo". Cita Lydia Cabrera:
“quem anda pela selva é pequeno e está caminhan-
do a chorar como se fosse uma criança."
Apesar desta surpreendente fidelidade às suas
tradições religiosas Bakongas, não podemos
esquecer que em Cuba e em todo o Caribe os
230
escravos de origem Bantu viveram em convivência
íntima junto a outros grupos étnicos, particular-
mente os odiados Iorubás ou Lucumies, e este
contato, juntamente com a excelência da magia
conga e a força de suas entidades espirituais,
promoveram mudanças significativas na constru-
ção das Reglas de origem Bantu. Elas conservaram
partes do Kikongo onde Mpungu se refere ao
Supremo, para designar certos espíritos mais
elevados, sincretizados com as Lucumis e algumas
figuras de santos católicos. Como resultado deste
processo, a quase totalidade de Mpungu ou
Mpungos tem nomes espanhóis, bem como os
Lucumis possuem seus equivalentes católicos.
231
Os Kimpugulo - As Divindades Congolesas
NOME CONGO-ESPANHOL EQUIVALÊNCIA LUCUMI EQUIVALÊNCIA CATÓLICA
Kariempembe,
Oyá Virgem da Candelária
Mariwanga, Centella
Baluandé,
Ma Kalunga, Yemayá Virgem de Regla
Madre De Agua
Chola Wengue,
Chola Nwengue, Ochún Virgem do Cobre
Mama Chola, Siete Rios
Nsambi Munalembe,
Tonde, Quatro Vientos Ifá, Orula São Francisco de Assis
232
Normalmente, cada Mpungo tem suas caracte-
rísticas ou atributos muito semelhantes ao Orixá a
ele equivalente. Mama Terra Treme Kengue
(Obbatalá) é a figura mais poderosa e influente de
todos os santos, tanto para Lucumis como para os
Congos,e é andrógino. Sua cor é branca (para
Tiempla Terra, branco e vermelho, com uma
predominância de branco) e se apresenta já em
estado avançado de velhice.
Nsasi ou Siete Raios (Changó) representa os
trovões e relâmpagos. A sua cor é vermelha, e é
representado como um jovem forte, viril, arrogante,
violento, que gosta de dançar e de caçar.
Chola Wengue, ou Mama Chola ou Siete Rios
(Ochún) é a dona das águas doces e da doçura do
mel de abelha e patrona do amor. É a verdadeira
Afrodite do panteão afro-cubano. Sua cor é o
amarelo e é representada por uma mulata bonita,
sensual e encantadora.
Tata Kañeñe, Pungun, Fútila ou Para Llaga (
Babalú-Ayé) é a divindade das doenças e epidemias.
Sua cor é o roxo e sua imagem é de um velho semi-
nu, com um corpo coberto de feridas e que se move
com a ajuda de muletas.
233
Ma Kalunga, Baluandé ou Madre de Água
(Yemayá) é a senhora dos oceanos, do mar e da
chuva. Sua cor é o azul-claro e é representada como
uma mulher negra forte e robusta.
Nkuyu Nfinda ou Lucero Mundo (Elegua) é o
guardião dos caminhos, encruzilhadas e dos
umbrais. Suas cores são o preto e vermelho e sua
representação pode variar: às vezes é menino
travesso, outras vezes se apresenta como um velho
curvado, usando na cabeça um chapéu "Guajiro"
parecido com um Panamá ... E assim por diante com
os outros Mpungos identificados com os orixás.
234
cífica. No entanto, uma vez que a Ganga está ativa
ela deve operar de acordo com as manifestações de
caráter de seu proprietário, de acordo com os
praticantes da Regla Palo Monte ou Mayombe.
Lucero Mundo
Lucero Mundo: a divindade das portas, encru-
zilhadas e fortuna. Dominador dos quatro ventos,
venerado no culto Mayombe como o senhor de
todos caminhos, é muito poderoso e consegue atrair
ou rechaçar as influências do bem e do mal. Sem
Lucero Mundo não existe ganga, pois ela é usada
por ele como guia dos propósitos são direcionadas
pelo Tata. Sua importância é tão grande dentro da
religião, que tudo que se faz é consultado primeiro
ao Nganga, que é conhecedor de tudo o que
acontece até mesmo antes de se chegar ao templo.
E de tão grande importância e magnitude é o papel
desta divindade, que a primeira força a ser colocada
a serviço do mayombeiro é um Lucero, uma vez que
ele também tem a função espiritual de orientar o
Tata a se tornar um mestre feiticeiro nos "trabalhos"
do Mayombe. Ele é usado quase como um Elegua
da tradição Iorubá.
Zarabamda
Zarabamda é a divindade do metal, da guerra,
235
da destruição e dos acidentes. Representante das
forças relacionadas ao uso dos metais, se faz
presente na força e na velocidade dos encaminha-
mentos dos trabalhos encomendados pela Tata, não
se costuma ter preferência em usá-lo em causas
destrutivas, pois também esta divindade está ligada
às construções e novos projetos e sua execução,
afinal não é o tipo de situação que jamais ficaria
inacabada com a intervenção de Zarabamda. Ele é
considerado o maior guerreiro Congo. A força desta
divindade costuma ser acessada pelos anciãos do
Palo Monte para fomentar e suprir o fundamento, já
que este seria uma divindade com características de
Ogún, manifestando desta forma toda sua força e
violência. Também se manifesta em sua Ganga.
Siete Raios
A divindade ligada aos raios, incêndios, tempes-
tades e trovões do céu, um dos mais poderosos
guerreiros, também considerado como ótima para
se acessado em questões amorosas. É uma
divindade festeira, e às vezes perigosa, pois com a
sua natureza variável pode tratar de maneira dura
um problema simples apresentado por seus fiéis.
Por vezes, suas ações são tão sutis e resolvidas de
maneira tão mágica que mais parecem ser obra de
bruxaria.
236
Divindade de elemento fogo, a melhor arma,
segundo alguns paleiros, para atacar os seus
inimigos, que morrem em incêndios acidentais ou
suicídio praticados através deste meio. Siete Raios é
também a representação do Xangô iorubá.
Mpungo
É a d i v i n d a d e d o C o n g o d e fe n s o r a d o s
antepassados do Bakongo. Mpungo foi o primeiro
do caminho Congo. Mpungo é o espírito dos mortos
e trabalha diretamente com Deus, Nzambi.
Madre de Agua
É o espirito do mar, da fertilidade e da materni-
dade, e na tradição Lucumi representa Yemayá.
Mama Chola Wengue
A divindade do amor, dinheiro, sedução, fama e
fortuna. Mama Chola Wenge é o espírito dos rios e
protetor das mulheres. É utilizada na religião Palo
Monte como um amuleto e protetor, uma vez que
raramente iniciações Mayombes são feitas para esta
divindade. Seu objetivo dentro do templo através do
sacerdote é a influência sexual, essa ganga é
acessada em casos amorosos e para fazer ou
desfazer amarrações, atendendo toda sorte de
trabalhos amorosos rapidamente.
237
Centella Ndoki
A divindade que habita o cemitério, conhecida
como a Rainha do mundo dos Eggun. Deusa conga
muito temida dentro do Mayombe, uma vez que tem
o domínio do cemitério, dos mortos e da tempesta-
de. Divindade orgulhosa e de natureza rebelde, os
mayomberos preferem ter essa Ganga enterrada no
chão de suas casas. Esta divindade é equivalente a
Oyá dos iorubás, e só é invocada num templo
Mayombe quando há ataques de nfumbes (mortos
que vagam pelo mundo) e com sua força é possível
controlá-los e encaminhá-los. Um Tata Nganga, de
acordo com suas intenções boas ou más, pode
acessá-la para o bem ou para o mal.
Tiembla Tierra
É a divindade da paz e da proteção. Muito
respeitada nas reglas, tem a virtude de equilíbrio
entre a força do bem sobre o mal, é o equilíbrio
pleno. Diferente de Zarabamda que é feroz, e
dominador das matas, colinas e montanhas. Ele é
usado para equilibrar e superar as forças negativas e
contradições, mas isso não o torna menos perigoso
do que as outras divindades, pois a sua raiva é
esmagadora para qualquer crime e injustiça
praticada por qualquer dos fiéis desta tradição. Seu
semelhante é o Obbatalá dos iorubás.
238
Cabo Rondo
É a divindade relacionada à caça e as situações
de Justiça.
Ozain
A divindade das folhas e ervas sagradas,
também grande adivinho.
Babalú-Ayé
A divindade da saúde, e da cura das doenças.
239
As Divindades do Vodu Haitiano
Vodu é uma a religião afro-americana que tem
despertado a curiosidade dos grandes setores na
América Latina e Europa. Foi muito manipulado nos
meios de comunicação. Uma série interminável de
mentiras foi escrita sobre Vodu e foram feitos filmes
e programas de televisão com o único propósito de
lucrar com um produto de fabricação comercial e
tablóide. Em certos meios, passaram a dizer que
Vodu é um equivalente a "magia negra" e a
referirem-se à cerimônias voduistas como formas
de "maldições" de cunho diabólico.
Em termos gerais, Vodu não é outra coisa senão
a adoração das divindades da natureza, como na
maioria dos ritos africanos. O voodou (plural) são as
divindades que representam o nível intermediário
entre o Deus Supremo e os homens.
240
Os cultos Vodu são sincréticos, pois desde a
época colonial eles misturam-se com as práticas
dos cristãos, sendo um processo básico que
acompanha o nascimento das tradições do Caribe.
Esses são os elementos religiosos que constituem
a base do Vodu, sua composição em geral é feita
de escravos dahomeyanos com etnias ewe e fon,
em cuja língua original o termo “Voodoo” significa
divindade.
Essa mistura foi realizada no Haiti e espalhada
por todo o Caribe. Há um cruzamento linguístico, o
crèole, que é falado por toda a população (além do
francês, a língua oficial) no Haiti. Esta língua tem
suas bases fonéticas e gramaticais nas línguas
Africano dahomeyanos e incorpora francês e inglês
e, por vezes, o espanhol.
O culto de Vodu é dividido em seitas, com seus
centros religiosos independentes. Os conceitos
religiosos que regem cada uma das casas são
diferentes, não na sua parte básica, que é comum a
todas, mas na interpretação que fazem da tradição
oral que vem da África. No Vodu existem também
algumas divindades de outros grupos africanos -
congoleses, senegaleses, minas, ewe, fon e iorubá -
introduzidos na liturgia dos cultos sem alterar seu
espírito puramente Dahomeano.
241
A geomancia é a técnica que permeia todas as
formas de oráculos iorubás, como por exemplo, o
Ifá em Cuba, e as castanhas da palma, substituem
os caracóis. O foco da vida do povo haitiano é
Voodoo e suas crenças incluem os aspectos
econômicos e sociais do ciclo de vida; os rituais são
propiciatórios de trabalho agrícola, estão orientados
para o culto dos antepassados e corretamente
relacionados ao catolicismo. Dentro deste contexto
foi adotado um sincretismo católico, no qual as
imagens dos santos aos poucos foram substituindo
as representações das divindades africanas, no
processo de transculturação forçada através da
escravidão.
As principais práticas são de inspirações
sudanesas, embora haja elementos de origem
congolesa, o que segundo alguns autores29 é bem
curioso, já que o ritual original é de origem
dahomeyana (Dahomey). Não se pode negar que,
tal como as outras grandes religiões afro-
americanas, há um número de subdivisões ou
formas de diferenciação regionais que causam
confusão para observadores casuais. Considere
agora algumas dessas manifestações como formas
29
MOULTON, Karl Cd. Magic & Voodoo Colection. Ed: Smashwor. New Orleans.2012
242
de vodus americanos.
O Vodu penetrou no Haiti desde o século XVI e
a maior parte das divindades pertencem ao culto
Dahomey, embora alguns deuses vieram da Nigéria.
Estes seres divinos são adorados em templos
chamados “hunfors” e seus sacerdotes são os
"hungans". Há também sacerdotisas que são
chamadas de "mambos" (daí vem o nome do ritmo
popular), onde os iniciados são chamados de
"hungsi".
243
O e s p a ç o s a g r a d o d o Vo d u é c h a m a d o
Houmfor e é composto de duas partes. A primeira,
ficam os altares, os Govis, que contêm os espíritos e
os tambores sagrados. A segunda parte, do outro
lado da sala, é onde acontecem as cerimônias
públicas e danças. O elemento principal do ritual é
o lugar central, em torno do qual são desenhados
os símbolos dos deuses com farinha.
Comenta este ritual o estudioso voduista
Anderson Jefrey 3 0 , “Quando você assiste uma
cerimônia, encontra vários signos desenhados, são
feitos vários desenhos com farinha e outros
componentes, são chamados Veves. A entrada do
hounfort é cheia de simbologias e no meio do
templo se localiza o que é chamado poteau mitan”.
O sacerdote é chamado Papa Loa. No Vodu, a
possessão é considerada de suma importância,
uma vez que serve para a manifestação da
divindade de seus vários deuses, pois acredita-se
que a morte é apenas uma separação forçada e
temporária. O primeiro loa que é saudado e se
apresenta é Legba, o deus que controla o trânsito
do mundo dos vivos e dos mortos. Seu veve
representa uma cruz, cujo eixo vertical situa-se nas
30
ANDERSON, Jeffrey. Encyclopedia: Magic, Ritual, and Religion.Ed: Bc-Clio, Lousiania, 2015.
244
águas abismais e sobe para estabelecer contato
com os céus. A barra transversal horizontal da cruz
simboliza o mundo dos homens, e esta é uma
breve amostra da semente profundamente
filosófica que investiga os símbolos desta velha
tradição.
A fertilidade conduzida através de uma divin-
dade chamada Dambalah, que é equiparada a São
Pedro, é uma cobra multicolorida que simboliza o
arco-íris. O loa dos mares é Agué; Azaka é o trovão,
representado, como de costume com um machado;
Ogún é o loa de ferreiros, sincretizado a Santiago
Matamouros e está associado com a cor vermelha.
Não podemos deixar de mencionar a Afrodite do
Panteão Vodu que é Erzuli, porque ela encarna a
graça e beleza em sua adoração, sincretizada com
a Virgem Maria. Seu veve é um coração e costuma
ser homenageada com as cores rosa e branca. A
morte é representada por vários loas chamados
"Família Guede".
Como é natural, este diálogo entre os vivos e os
mortos ocupa múltiplas e variadas manifestações e
funções. O cognitivo realiza a comunicação e
transmissão de informação empírica entre os
antepassados e seus descendentes. É uma
linguagem expandida e articulada para o diálogo;
245
socializadas e ritualizadas cerimoniosamente no
cotidiano a reiteração de refluxo e o reflexo da vida
e a morte.
A primeira forma de Vodu é chamada Rada, é
considerada benéfica e de caráter protetivo. Sua
função é pedir aos loas (deuses) bens ou graças a
seus seguidores e para a comunidade em geral. O
outro ritual é o Petro, que é orientado para soluções
de problemas graves e, se necessário, a destruição
dos inimigos. Embora o Vodu seja associado com a
escravidão no Haiti, é baseado em conceitos
religiosos comuns a muitos grupos étnicos
africanos, onde a religião é um misto de cura e
morte.
Os loas são mis-
térios que os houngans
e las mambos (sacerdo-
tes e sacerdotisas do
culto) conhecem por
seu nome, não são nada
mais que as deidades
que vieram da África,
mas que já fazem parte
do Haiti, e que se trans-
formaram em contato
com este solo.
246
Todos haitianos quase (75%) acreditam no Vodu
, porque esta religião é algo mais do que uma
simples prática; transcende a vida política, social e
econômica do país. Algumas histórias sobre a
independência do Haiti dizem que teriam que
manipular as poderosas forças do Vodu para
assumir o poder contra a hegemonia estrangeira.
Da mesma maneira que os escravos tem na sua
independência elementos da religião, os governan-
tes se valeram dela muitas vezes para se manter no
poder. A Igreja Católica teve que admitir a sua
coexistência com o Vodu e permitir esta miscigena-
ção dentro de seus templos.
Entre os loas ou divindades principais destaca-
se o “Bo Dieu”, que está acima de tudo e, embora
ele seja venerado, não se presta culto de maneira
direta. Depois há os outros loas que são divididos
em famílias, dependendo de sua origem africana.
Por esse motivo, em algumas comunidades rurais, o
número de divindades é maior do que em outra,
dependendo da localidade, porque cada um tem
seus próprios antepassados reverenciados.
O culto dos mortos segue a tradição iorubá da
Geledés. No Haiti é chamado Guede. Quando se
celebra a memória dos falecidos, as pessoas
caminham pelas ruas em datas específicas disfar-
247
çadas de "mortos.”
Vodum, vodun, voodoo ou vodu são termos que
se referem aos ramos de uma tradição religiosa
baseada no culto aos ancestrais que tem as suas
raízes nos povos Ewe-Fon do Benim. Além da
tradição fon, ou do Daomé, que permaneceu na
África, existem tradições relacionadas que
lançaram raízes no Novo Mundo durante a época
do tráfico transatlântico de escravos (século 16 a
século 19) e que persistem até hoje, como os
Candomblés brasileiros, o Vodu haitiano, a Santeria
caribenha, as Reglas existentes na América Central,
etc. Vodum pode designar tanto uma religião
quanto as divindades centrais nessa religião.
O Vodu haitiano, conhecido como Sèvis Gine
(serviço africano) no Haiti, é uma religião com fortes
elementos de povos africanos como os igbos,
bacongos e iorubás, além de elementos regionais
taínos. Formas de Vodu haitiano também existem
na República Dominicana, em partes de Cuba, nos
Estados Unidos e em outros lugares para onde os
escravos e negros do Haiti tenham se deslocado ao
longo da história. Embora muitos povos diferentes
ou “nações” da África têm representação na liturgia
do “Sèvis Gine”, os índios Taíno são os povos
originais das ilhas conhecida como Hispaniola.
248
É similar a outras religiões da diáspora africana,
tais como Lucumi ou Regla de Ocha (conhecida
também como Santeria) em Cuba. Todas essas
religiões evoluíram dos descendentes de africanos
transplantados nas Américas.
Para além do Benin, o Vodu africano e as
práticas que dele descendem podem ser encontra-
das na República Dominicana, Porto Rico, Cuba,
Brasil, Gana, Haiti e Togo. A tradição Fon mais ou
menos “pura” de Cuba é conhecida como La Regla
Arara.
A maioria dos africanos que foram trazidos
como escravos para o Haiti eram da Costa da Guiné
da África ocidental, e seus descendentes foram os
primeiros praticantes de Vodu haitiano. A sobrevi-
vência do sistema de crenças no Novo Mundo é
notável, embora as tradições tenham se modificado
com o tempo.
Uma das maiores diferenças entre o Vodu da
África Ocidental e o haitiano é que os africanos
transplantados ao Haiti foram obrigados a disfarçar
os seus lwa (do francês les lois, "as leis"), ou
divindades, em santos católicos romanos, como
vimos nas outras tradições ligadas à Diáspora num
processo já falado anteriormente chamado sincre-
tismo. Sob a escravidão, a cultura e a religião
africanas foram suprimidas, as linhagens foram
249
fragmentadas e as pessoas tiveram que ocultar seu
conhecimento religioso. Paradoxalmente, foi
justamente essa fragmentação que permitiu uma
posterior unificação cultural dos escravos, em
religiões de resistência.
A natureza dos ritos Rada, o Nago, Ibo, Petro,
Congo, Daomé, etc, depende da sua origem e de
seu desenvolvimento, evolução, reabilitação e a
reinterpretação que estes ritos sofreram no Haiti
desde o período colonial até o presente.
Alguns rituais, no entanto, contém uma pro-
fusão de itens mágicos muito mais do que os
outros. O campo do Vodu estende-se desde o rito
Rada, que é altamente religioso e devocional, para
o rito Petro, que é muito mais mágico do que
religioso, e o rito Congo, que é basicamente uma
prática mágica mais sofisticada.
Esta progressão reflete precisamente as
origens históricas e culturais de cada rito. Rada
deriva seu nome da região ou cidade de Arada, no
Daomé, vindo representar a estabilidade emocional
e o calor das 'mães', o coração de todas as "Nações"
de Loas do Haiti. Ao contrário dos espíritos Petro,
que acredita-se que foram forjados no ferro, fogo e
sangue na ilha durante a era colonial. Estes
refletem todo o ódio, violência e delírio que varreu
o sistema escravagista.
250
O Universo dos Zumbis
Sobre o mito dos famosos “zumbis haitianos”,
se faz necessário dizer algumas palavras sobre a
prática haitiana da zumbificação. No entendimento
geral do Vodu, podemos dizer que esta prática é
real, mas não se aplica de forma arbitrária, existem
vários segredos sobre este tema, sobre autorizar ou
proibir, de acordo com quem é, dependendo do
perigo social que representa o indivíduo para a vida
coletiva do grupo.
Para realizar uma zumbificação, os grandes
sacerdotes fazem o uso de certos pós, extraídos de
vários elementos,
animais venenosos,
combinados com
certas plantas e ve-
getais. Este tema
sempre foi, sem dú-
vida, um dos as-
pectos mais temi-
dos e misteriosos
da prática do Vodu
haitiano. E ainda é
coberta de misté-
rios dentro da tradi-
ção.
251
O Vodu em Santo Domingo
Algumas literaturas31 citam que a história do Vodu
começa com a chegada dos primeiros contingentes dos
escravos étnico fon para Santo Domingo, na segunda
metade do século XVII.
Embora a tradição de Santo Domingo, como todas as
tradições do Caribe, seja uma confluência de característi-
cas e influências tanto espanhóis como de outros que,
pela aculturação, foram adicionados no processo contínuo
de migração, a visão mais comum na maioria dos autores
consultados é que o Vodu em Santo Domingo é de origem
recente.
Importado da sua vizinha República do Haiti, seria
uma consequência da emigração de trabalhadores
braçais para as usinas de açúcar, muito superiores em
número aos trabalhadores das Índias Ocidentais Britânicas.
Por conseguinte, seus principais devotos são recrutados
de camponeses de ascendência haitiana.
Uma diferença entre o Vodu do Haiti e de Santo
Domingo vale a pena ser sinalizado: Em contraste com o
Vodu haitiano, cujo caráter mágico não impede ver nele
um culto da natureza religiosa, o de Santo Domingo
aparece sempre íntimo e intrinsecamente ligado à magia e
suas diferentes formas de feitiçaria, adivinhação, cura, e
assim por diante. Esta é a mais notável diferença entre eles.
Nesse sentido, o Vodu é uma religião mágica e, como tal,
naturalista e oculta.
31
GOSSLING, Andreas. Voodoo. Ed: Dotbooks Gmbh. Canada.2013
252
Loas ou Lwas
Loas ou Lwas são as divindades presentes no
Vodu.
Os Loas do Vodu haitiano são divididos em
Famílias de acordo com suas caracteristicas:
Família Rada
A Família Rada é composta de Loas antigos e
ligados à criação. São daomeanos. A cor cerimonial é o
branco. Dentre eles encontramos:
253
Aido Wedo: serpente do arco-íris, casada com
Dambalah.
254
Família Ogoun
Formada por Loas nagôs ou yorubás. Todos levam o
primeiro nome Ogoun:
Família Guede
Formada pelos Loas mortos (almas), incluindo o
Baron e a Maman Brigitte. A cor cerimonial é o púrpura e o
preto. O Baron é o pai ancestral da Família, tendo quatro
qualidades principais:
255
Baron Kriminel: é o mais agressivo.
Família Petro
Depois do Rada e do Ghede resta uma parte da
cerimônia dedicada para os loas do grupo Petro. Estes
loas são predominantemente do Congo e de origem
ocidental. Sua cor cerimonial é vermelha.
Eles são considerados ferozes, protetores,
mágicos e agressivos para com os adversários. Alguns
deles:
256
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Utilizada nesta obra
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