9 Panteão Yorubá
9 Panteão Yorubá
9 Panteão Yorubá
Navio negreiro
Os navios negreiros trouxeram, cruzando o oceano Atlântico durante mais de 350 anos, um enorme
contingente de cativos negros para servir como mão-de-obra a ser utilizada nos canaviais, cafezais,
plantações de fumo etc. Com os escravos vieram também a sua cultura, seus valores, hábitos
alimentares e comportamentais de modo geral, sua religião, cosmologia e mitologia. Sem sombra de
dúvida a mão-de-obra africana constituiu o embrião da economia brasileira, e como a tradição africana
orienta que os deuses de uma terra estrangeira devem ser louvados, as primeiras etnias “bantu” e
“angola” assimilaram a pajelança indígena. Os índios foram vistos por eles como os donos da terra onde
aportaram e a reverência à Mãe-Terra e ao sagrado era um traço comum a ambas as culturas. Os
africanos influenciaram profundamente a formação da nossa cultura; criaram novos costumes,
introduziram na cozinha brasileira as verduras, diversos cereais e legumes, e os pratos que são
consagrados aos orixás hoje fazem parte da culinária nacional. Eles adoçaram também o idioma
amaciando a linguagem com suas expressões idiomáticas: “dengo”, “banzo”, “kalundú”, “cafuné”,
“xamego”,“quindim”, “xodó”, somente para citar algumas, e os diminutivos carinhosos e criativos como
“pipi”, “cocô” , “nhônhô”, “nhanhá”, “neném”, “ioiô”, “Iaiá”, e outros tantos. Eles também enriqueceram
as nossas artes e folguedos populares, e contribuíram com a medicina natural para curas físicas e
espirituais devido ao conhecimento mágico ancestral sobre as ervas e raízes medicinais.
O culto aos orixás era proibido para os negros e temido pelos brancos e a religião católica dominante,
que aceitava o tráfico escravagista e tentava converter os negros cativos ao cristianismo para “salvar”
suas almas das “trevas”. Batizavam os escravos e davam-lhes nomes cristãos, embora impedissem que
eles frequentassem as igrejas, quando convertidos. Esses escravos convertidos, ao conquistar a alforria,
construíam suas próprias igrejas para poder adorar Jesus e os santos. Os navios negreiros costumavam
ter nomes de santos como Nossa Senhora da Conceição, Santo Antônio, São José, Sant’Ana e outros. São
José, segundo Pierre Verger, recebeu por volta de 1757 a posição de “protetor particular dos homens de
negócios que se dedicam ao tráfico de negros na Costa da Mina” (Os Orixás, pág 24). Por incrível que
pareça, os traficantes de escravos tinham a consciência tranquila e fé na proteção divina para sua
atividade abominável, e como se não bastasse, acreditavam ser dignos de recompensas divinas e
materiais, por isso chegaram a solicitar em 1808 benesses ao rei de Portugal, devido aos esforços
dispensados nesse tipo de atividade. A ganância e arrogância os conduziram à irreverência, à impiedade
e à degradação, o que contribuiu para a visão simplista, utilitarista e distorcida do sagrado, que é a base
da civilização iorubá.
O Sincretismo
Os escravos despistavam os seus senhores para poder praticar seus rituais de adoração aos orixás,
“voduns” ou aos seus “inkissi”, como os bantus e angolas, outras etnias importantes entre os escravos
denominam seus deuses. Utilizavam os nomes dos santos católicos nas louvações, mas na verdade
evocavam seus orixás de devoção. Não se sabe exatamente quando esse sincretismo se estabeleceu,
porém há indícios de que os iorubás procuraram encontrar identidade de atributos dos diferentes orixás
com os atributos dos santos cristãos. Os santos católicos, dessa maneira, se tornavam mais
compreensíveis para os escravos convertidos, e os demais, fieis à sua tradição original, viam nesse
estratagema uma possibilidade de efetivamente dissimular suas verdadeiras crenças e praticá-las em
segurança. A adoração aos orixás permitia que a identidade essencial e cultural do escravo fosse
preservada. Embora o indivíduo fosse tratado como propriedade do seu senhor, sem vontade própria,
como “yaô” (iniciado), durante os rituais, quando incorporava seu orixá, ele era o veículo escolhido para
que um deus se expressasse. Incorporar um deus lhe restituía a dignidade humana e divina porque
reavivava sua memória ancestral, cultural e racial. Interessante notar que com o passar do tempo,
apesar dos preconceitos raciais e sociais, africanos e brancos se miscigenaram e o número de mestiços
foi se tornando cada vez maior, e estes foram educados respeitando e freqüentando tanto as crenças e
rituais cristãos quanto africanos. A despeito da repressão policial e das confrarias religiosas e ordens da
Igreja Católica, que dividiam as etnias africanas, os escravos, libertos ou não, se reagrupavam e
praticavam, em locais mais distantes dos centros urbanos, o culto aos orixás. Nasciam assim os
primeiros Ilês (terreiros de candomblé) e o sincretismo cultural afro-brasileiro.
O CANDOMBLÉ - RITUAIS E CULTOS SAGRADOS
Um grupo de mulheres, antigas escravas libertas, que pertenciam à Irmandade de Nossa Senhora da
Boa Morte da Igreja da Barroquinha, em Salvador-Bahia, tomou a iniciativa de criar um Ilé (terreiro de
candomblé africano no Brasil). Na África, os cultos são efetuados em terrenos de chão batido, em locais
escolhidos pelos sacerdotes e sacerdotisas por seus poderes mágicos, onde o magnetismo do planeta se
apresenta poderosamente ativado. Candomblé é uma palavra que deriva de candombe, uma dança
coletiva, e foi o nome escolhido no Brasil para definir a forma e o local onde os africanos deveriam
cultuar seus orixás durante os “xirês” (reuniões sagradas).
No início do século XIX, três dessas mulheres viajaram para a África e permaneceram em Kêto sete
anos; quando voltaram, trouxeram o “axé” (poder mágico) dos seus ancestrais, e fundaram o terreiro de
candomblé “Ilê Iyanassô” (conhecido até hoje em Salvador como Casa Branca do Engenho Velho, onde
reinou soberana a primeira ialorixá – sacerdotisa - brasileira, Mãe Senhora. A celebrada Mãe Menininha
do Gantois, do Ilê Axé Opô Afonjá foi a última descendente direta dessa linhagem. Os cultos africanos
eram praticados clandestinamente e quem os frequentava era perseguido pela polícia, fosse negro ou
branco.
É importante salientar que as mulheres desempenham no Brasil um papel especial de liderança nesta
tradição. Detentoras do conhecimento ancestral de sua raça, elas transmitiam e transmitem até hoje os
conhecimentos e preceitos sagrados conservados com fidelidade extrema. O conhecimento sagrado é
transmitido para suas filhas e filhos, quer de sangue quer de “santo” (orixá), visando a continuidade da
tradição, e preservando a identidade cultural e espiritual do seu povo.
O candomblé no Brasil atua como uma comunidade solidária e unida pelo serviço aos orixás, e muitos
mantêm entidades filantrópicas de assistência a crianças carentes e outros serviços sociais. A falta de
conhecimento e consequentes informações incorretas sobre essa forma de culto, assim como a
distorção da pureza dos princípios que norteiam os rituais e práticas divinatórias, quando executadas
por falsos sacerdotes e sacerdotisas fomentou versões desabonadoras sobre a tradição iorubá e o
candomblé. Acredito que a pureza da tradição precisa ser resgatada para que possamos respeitar essa
cultura e eliminar definitivamente o preconceito racial e religioso em relação aos nossos irmãos
afrodescendentes. Afinal de contas, respeitar e acolher o diferente e interagir com ele é dar o primeiro
passo para a integração fraterna da família humana.
O Xirê
OS ORIXÁS- ORISSÁ
Orissá ou orixá significa a luz da cabeça. Para os iorubás, os orixás são potências cósmicas que regem os
poderes dos elementos da natureza. Elementos que constituem nosso organismo e todos os reinos da
natureza e que tudo mantém e de onde tudo provem. O orixá é uma força pura, imaterial que atua em
várias dimensões e se torna perceptível quando incorpora em um ser humano. São os regentes das
energias do planeta e para entrar ou sair da Terra é preciso a autorização deles. Constituem hierarquias
de elementais que zelam pela vida manifestada na Mãe-Terra. Eles adotam os seres humanos quando
suas almas estão prontas para encarnar na Terra e os protegem vigilantes durante toda a existência.
Os mitos, as lendas e definições dos orixás podem variar de região para região, mas todas as narrativas
coincidem quanto a fé na atuação deles como divindades administradoras do equilíbrio e da
preservação da vida no mundo terrestre. Divindades que estão encarregadas pelo Princípio Supremo,
Olodumare, da manutenção de sua criação no Ilê, o mundo natural, e constituem a energia emanada da
e pela Mãe-Terra para o Cosmo e vice-versa. Alguns seres, devido as suas qualidades morais e
habilidades, podem se tornar orixás; nesses casos, geralmente escolhem um descendente como veículo
para se manifestar. No Brasil o culto é prestado a 16 orixás prioritários; segundo os iorubás, eles são os
diferentes aspectos da divindade única. Alguns deles excepcionalmente podem ser manifestações desses
primordiais, e ter sido seres humanos que atingiram o estado divino em vida, e por amor retornam para
ajudar sua família e comunidade.
No Brasil, os iorubás e sua cultura predominam na estrutura das cerimônias, na mitologia e metafísica,
embora outras etnias ainda permaneçam fiéis e atuantes, cultuando suas crenças, como o culto aos
Egungun (os ancestrais) que acontece principalmente na Ilha de Itaparica, na Bahia. Os orixás são
arquétipos universais, personificam virtudes e valores fundamentais desta tradição. Eles constituem os
fundamentos do caráter desse povo que transmite sua sabedoria oralmente atravez das lendas contadas
com reverência e amor de coração a coração, da boca amorosa para o ouvido amoroso. Para os iorubás,
a Mãe-Terra é um ser vivo e sagrado. Plantar, perfurar um poço para obter água limpa, ou outro tipo
qualquer de intervenção no solo do planeta, é precedido de um ritual para obter permissão e perdão
pela agressão feita ao corpo da Mãe-Terra. Eles agradecem cantando e dançando pela obtenção da
licença e pelos resultados positivos das suas ações. Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no
trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um
elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal
mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua
cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de
oferenda, filiação, função e lugar de poder.
PRINCIPAIS ORIXÁS (MITOS, FUNÇÕES E REGÊNCIAS)
IFÁ - O senhor dos mistérios divinatórios. O porta-voz de Orumilá, ou Olodumare, o deus supremo,
que está inacessível aos homens e fora da compreensão humana. Ifá é consultado e Olodumare (ou
Orumilá) revela seus desígnios através do “opelê” um tipo de rosário divinatório que somente os
sacerdotes podem consultar. As sacerdotisas consultam os búzios cujo jogo divinatório é regido por
Oxum, uma deusa. Outro nome do deus supremo é Olorun, o senhor dos céus.
EXU – O mensageiro dos deuses. Ele é o traço de união entre os homens, os orixás e Olorum. Exu é
assistente direto do deus supremo e assessora Ifá nas consultas ao “opelê”, e no jogo de búzios inspira a
ialorixá (sacerdotisa) e leva as consultas diretamente aos orixás, trazendo para ela as respostas dos
deuses. É o mensageiro entre as dimensões mundanas e sagradas e o guardião dos templos, das casas,
das cidades e das pessoas. É o intermediário entre os seres humanos e os deuses e por isso é
homenageado em primeiro lugar nos cultos. Ele garante que os obstáculos para o bom andamento das
cerimônias sejam removidos. Esse orixá teve por parte dos colonizadores uma interpretação incorreta
que permanece ainda hoje repercutindo negativamente e prejudicando a compreensão e aceitação desta
tradição. Ele não é a incorporação do mal, pois a noção do diabo, da corporificação do mal não existe
entre os iorubas. Exu é a força que cria novas ordens e que abre caminhos para possibilidades.
OXOSSI - O senhor das florestas, o provedor da caça, pesca e da fartura de modo geral. É o orixá da
generosidade, da amabilidade, companheirismo e determinação. Como Odé, um dentre seus aspectos
mais misteriosos e secretos, é o oculto, o conhecedor das raízes e dos segredos das profundezas da
Terra. Oxossi é a força que orienta a organização da vida comunitária e a produção agrícola nas aldeias.
Oxossi agrega as pessoas e confere qualidade a convivência comunitária.
OGUM - O senhor da guerra, guerreiro do divino combate interior entre o certo e o errado, a luz e as
trevas. Ajuda na superação dos defeitos comportamentais e dos vícios prejudiciais a saúde e a elevação
do espírito. Irmão de Exu, abre caminhos para o novo, vence demandas contra as negatividades e
auxilia na realização de projetos, eliminando dificuldades eventuais. Ogum é temperamental e
intempestivo e tem como principal desafio vencer a si mesmo.
OXUM - A deusa-mãe das águas doces, a Grande Mãe. Sua energia de potencializa nas nascentes e
cachoeiras. Éo princípio feminino que se apresenta como cuidado amoroso, beleza, graça, harmonia,
doçura, prosperidade e abundância. Promove a fartura e a fertilidade e protege a maternidade e as
crianças. É também a deusa do amor e do ouro.
IEMANJÁ - A deusa-mãe das águas salgadas. Sua energia se potencializa nos mares e oceanos. É o
princípio feminino que se apresenta como beleza, impetuosidade, poder, mutabilidade, exuberância,
acolhimento, fascínio, imprevisibilidade, criatividade e força transformadora e renovadora da vida.
Protege os homens do mar, a pesca, a família, o amor entre os casais. É a deusa que reina desde as
profundezas e dos mistérios abissais.
OXALÁ - O orixá responsável pela totalidade da criação de Olodumare. A ele foi confiada a tarefa de
formar a humanidade. Ele representa a sabedoria dos mais velhos, a ponderação, a pureza, o respeito, a
paciência e a perseverança. Protege os puros de coração. Seu elemento é o éter. É um orixá fun-fun, ou
seja tudo que se refere a ele e é a ele oferecido tem que ser branco e imaculado.
OSSAIN - O Senhor das Folhas. Manifesta-se como o poder dos sons da floresta e principalmente como
o poder que se oculta nas ervas e folhas sagradas e curativas. Não há candomblé sem folhas e para que
elas permaneçam vivas e poderosas Ossaim precisa ser louvado. É o senhor da medicina que cura o
corpo, a mente e a alma. É um dos mais misteriosos dentre os deuses iorubá.
OBALUAIÊ - O Senhor das doenças e da cura. Ele revela a fragilidade humana, a instabilidade e a
necessidade dos seres vivos de estar em harmonia com as forças da natureza para permanecer saudável.
Ele se apresenta também como o curador do físico e das moléstias em geral, e das afecções de pele em
especial. É o orixá protetor e provedor do equilíbrio que gera a saúde. Quando irado, provoca epidemias
e morte. Ele tem poder sobre a vida e a morte. Seu nome significa O Senhor da Terra, Shapanam.
INHASÃ, OYÁ – A rainha de OYÓ, a senhora dos ventos. O princípio feminino transgressor do
estabelecido e provedor da coragem, autoconfiança, auto-estima, dedicação, também da iniciativa e
estratégia de superação dos obstáculos aos propósitos grandiosos. É a deusa que conduz as almas dos
mortos do sofrimento à paz eterna e afasta os espíritos perturbadores. Dançando freneticamente,
agitando com as mãos um rabo de leão, ela livra seus protegidos dos males do espírito.
OBÁ - A divina e destemida guerreira defensora das causas nobres. Combate em favor dos menos
favorecidos pela sorte. Os rejeitados, os traídos e humilhados contam com a proteção de Obá, a
poderosa deusa justiceira. É o feminino destemido que reivindica igualdade de direitos entre homens e
mulheres. Manifesta-se nas águas revoltas da confluência entre os rios.
NANÃ BURUKU ou BURUQUÊ - O princípio feminino que se apresenta como a anciã sábia, o poder
ancestral que engendrou as formas humanas amassando o barro com seus próprios pés. A senhora das
águas profundas e dos pântanos. É o mais alquímico dos orixás; representa o poder transmutador da
natureza. Ela é um orixá originário da idade anterior ao ferro e cultuada principalmente no Daomé.
IBEJI – Orixás-crianças. Regem a alegria, a descontração, a espontaneidade, a leveza, o entusiasmo, a
capacidade de se deslumbrar, a curiosidade e a vontade de aprender. Manifestam-se nos adeptos como
a criança interior de cada um dos seres humanos.
A religião dos orixás é um culto às forças cósmicas e telúricas; é uma forma de culto familiar e
comunitário. Embora seja basicamente uma religião tribal e da natureza, também reverencia os
espíritos dos ancestrais que por suas qualidades morais foram divinizados e integrados às hierarquias de
elementais que constituem as energias do planeta, possuindo por isso um axé (força mágica) poderoso.
É uma religião de aceitação e tolerância, onde não existem preconceitos, dogmas, proselitismo ou
doutrinação.
Para os iorubás, acima dos orixás está Olodumare, o deus supremo, que paira sobre tudo e todos e
contém em si mesmo tudo e todos. Esse deus representa o poder infinito do universo; é inacessível, e
está muito além da compreensão humana. Não é cultuado nem incorpora nos adeptos, mas é o mais
respeitado, pois é o criador inacessível de tudo que existe, inclusive dos orixás.
Quando resolveu criar a humanidade, Olodumare criou primeiro os orixás e a eles confiou a supervisão
de sua obra. Portanto, para chegar a Olodumare é aos orixás que os homens devem recorrer,
reverenciar e dirigir suas preces e oferendas.
Olorun é o nome dado ao governante do “orun” que é uma dimensão intermediária entre o universo
superior de Olodumare e a Terra (Ilê). Orun é um lugar muito sagrado e reverenciado porque é lá que
habitam as almas dos mortos. No orun as almas aguardam a hora de voltar periodicamente ao mundo
dos vivos para renascer.
Para os iorubás tanto a vida quanto a morte são etapas sagradas e ao oferecer sacrifícios aos seus orixás
eles consagram tanto a Terra quanto o céu, afirmando essa crença. Eles acreditam que os animais
imolados e ofertados durante o sacrifico têm a oportunidade de evoluir como energia consciente.
Como vemos, a mitologia desta tradição é altamente sofisticada e sutil na apresentação dos seus mitos,
rituais e arquétipos.
Arquétipo
Os “ogans”, conhecidos entre nós brasileiros como filhos-de-santo, vivem transes de possessão
profunda; trata-se de transe que atinge o estágio das ondas cerebrais theta. O orixá que eles incorporam
geralmente apresenta características físicas e de personalidade, assim como afinidades de
temperamento, com cada um dos seus filhos, “ogans” ou “yawôs”. Essas afinidades são perceptíveis e
também se apresentam como propensões arquetípicas da personalidade que jazem adormecidas no
inconsciente das pessoas. Muitas vezes talentos e tendências inatas são reprimidos pela educação ou
meio social, e o adepto incorporando seu orixá, cujo arquétipo lhe corresponde, durante o transe se
comporta como o orixá, dança como ele e se expressa com grandeza e majestade. Durante o transe o
“ogan” libera os traços ocultos de sua personalidade e vive um êxtase muito abrangente e alentador.
Tudo isso que ele manifesta pertence aos domínios do inconsciente e a exaltação do transe é altamente
libertadora, porque unifica os diferentes aspectos da personalidade do filho-de-santo e permite que ele
ultrapasse limites auto-impostos e solte as amarras subconscientes.
Nesta tradição, o corpo físico é compreendido como a manifestação concreta de uma ação
transcendental e deve ser tratado com carinho e respeito. Deve estar sempre limpo e em perfeita saúde
para que possa ser o veículo perfeito para o orixá incorporar. Para eles a doença é uma transgressão ou
negligência do fiel com suas obrigações litúrgicas, morais e sociais.
Os orixás, quando insatisfeitos, reportam as falhas do “ogan” a Olodumare, que determinará o que deve
ser feito. Merece destaque a refinada psicologia iorubá, cujas práticas visam a harmonia interior do
indivíduo, da família e da comunidade, a partir da harmonização de cada um e de todos em vários
níveis de realidade.
O psicólogo alemão Bert Hellinger desenvolveu o seu trabalho chamado Constelações Familiares a
partir da observação das práticas iorubás de harmonização de conflitos utilizando arquétipos quer
individuais quer religiosos para solucionar problemas pessoas atuais ou recorrentes de cada pessoa e
grupo familiar, assim como das comunidades. Portanto, não se trata de uma tradição primitiva, no
sentido de primária, mas sim de uma expressão do conhecimento universal unificado que cada
civilização apresenta de acordo com as características raciais, territoriais e culturais. No caso, os nossos
irmãos africanos revelam com beleza e alegria seu universo étnico, ético, artístico, místico, mítico,
social e religioso, através da compreensão sagrada da existência.
Sacrifícios
Para os não adeptos da tradição iorubá, é comum criticar e até rejeitar os rituais que incluem sacrifício
de animais praticados pelo candomblé, umbanda e pelo sincretismo afro-brasileiro de modo geral.
Todas as religiões praticaram sacrifício imolando animais nos seus altares desde tempos imemoriais;
algumas até imolavam seres humanos. Os sacrifícios eram comuns na Suméria, no Egito, na Pérsia,
Grécia, Índia, no império romano; não podemos esquecer da Judéia e seus rituais com sacrifícios de
animais no templo.
Dentre os sacrifícios bíblicos, o mais famoso é o sacrifício que Jeová exigiu de Abraão - a imolação de
Isaac, seu único filho -, que por intervenção de um anjo, foi transformado no sacrifício de um cordeiro.
Este sacrifício, segundo o judaísmo e o cristianismo, traz o ensinamento da submissão à Vontade do
Altíssimo; mostra que devemos colocar o que deve ser feito, pela Vontade de Deus, acima de tudo que
mais queremos e amamos.
Na época de Cristo, durante a Páscoa, os fiéis judeus imolavam grande quantidade de carneiros no
templo como ato de fé e agradecimento. Daí o Cristo ser chamado “O Cordeiro de Deus”.
Na Índia, vemos nos Vedas que o sacrifício do cavalo branco significava a rendição da mente ao divino,
e era um dos momentos altos dentre os rituais de sua tradição.
Os cristãos substituíram o sacrifício de animais pelo sacrifício da eucaristia, quando o pão e o vinho
representam o corpo e o sangue de Jesus. O sacrifício é o fazer sagrado, o sacro-oficio, e para cada povo
significa doação e oferenda reverente.
As civilizações das três Américas também ofereciam sacrifícios à Terra e ao Sol. Porém, cada tradição
exterioriza isso de acordo com sua cultura.
Os iorubás acreditam que o animal sacrificado não deve sofrer ao morrer, e que o sangue derramado faz
a ligação da energia vital terrena com o universo, de onde tudo se origina. Penso que não nos cabe
julgar tendenciosamente as escolhas humanas, e aceitar o sagrado nas suas múltiplas expressões.
IFÁ
É o orixá oculto e imanifesto, dotado do poder divinatório mais sagrado da tradição iorubá. Ifá
representa o mistério da vida e da morte, o transmissor dos desígnios do universo. Ele é a expressão da
vontade de Olodumare, o deus único e supremo.
Seu veículo para se comunicar é o “opelê”, um tipo de rosário feito de sementes a ele consagradas, que
lançadas ao solo configuram as infinitas maneiras da vida se apresentar e evoluir. Os “odus”, como são
chamados os 16 fundamentos e configurações básicos, nos quais o babalaô lê as conjunções que
correspondem ao momento de vida do consulente, funcionam vibracionalmente. Essas informações
atuam no inconsciente do consulente sem interferência do intelecto. Na África, o babalaô permanece
fiel à tradição ancestral, e confia na linguagem silenciosa dos símbolos, na geometria sagrada, sem
interferir. No Brasil, o babalaô ou a Yalorixá decifra os sinais e indica ao consulente as potencialidades,
orientando-o como agir.
Ifá, assim como Olodumare, também não incorpora no adepto, mas é reverenciado como o portavoz de
Olodumare e portador dos versos ancestrais da tradição. Os versos de Ifá contêm os mitos e as lendas
que encerram princípios e os ensinamentos transmitidos oralmente: são os fundamentos e valores
milenares. Eles constituem o livro de sabedoria desta tradição, que é basicamente oral.
É interessante ressaltar que a arte divinatória do jogo de búzios é um atributo da Yalorixá; e o opelê
(rosário divinatório) é atributo do Babalaô. No Brasil essa diferenciação não é respeitada.
EXU ELEGBARÁ
Esse orixá ganhou no Brasil uma versão totalmente distorcida pelos colonizadores católicos e
catequistas jesuítas. E hoje em dia, devido a isso e ao desconhecimento da tradição pela maioria da
população, quer seja negra quer seja branca, ele é visto como a personificação do mal e da perversidade,
mesmo entre adeptos de seitas formadas pelo sincretismo afrobrasileiro.
Para algumas seitas de origem africana e aculturadas, Exu não é um orixá. Os exus para elas são
espíritos sem luz, muito presos às sensações, que atuam para o bem ou para o mal mediante uma paga.
Atualmente, algumas correntes do cristianismo neopentecostal enfatizam esta versão, o que contribui
para alimentar o engano e a distorção do mito. Trata-se de um enorme equívoco, porque para os
iorubás não existe a concepção do diabo, a personificação do mal; não existe a figura antropomórfica do
mal, uma força externa a quem imputar as tentações, erros e malfeitos.
Exu é o orixá da dualidade na manifestação da vida; certo e errado, dia e noite, homem e mulher, bem e
mal, ou seja, a bipolaridade de modo geral. Como o Hermes grego e o Mercúrio romano, ele faz a
ligação entre o mundo material e o mundo espiritual; é o guardião dos templos, das cidades, das
encruzilhadas, das casas e das pessoas. No candomblé, é o primeiro orixá a ser homenageado nas
cerimônias do “xirê”. Ele é invocado para que neutralize eventuais mal-entendidos entre os adeptos e
perturbações energéticas de modo geral.
Os missionários cristãos o identificaram com o diabo em razão da sua representação como um homem
nu exibindo um respeitável falo ereto, ou como um cupinzeiro brotando do solo representando o órgão
sexual masculino. Ele representa a fartura, a prosperidade, a flexibilidade, a sedução, a fertilidade, a
criatividade, argúcia, e a sexualidade. Para os iorubás é fundamental casar e ter filhos, e o falo
masculino é visto como a sementeira, a fonte da descendência, da procriação e do fogo das paixões.
Execrar Exú é partir a espinha dorsal do povo iorubá, e sua concepção livre e alegre da vida. Para Exu
pede-se a interferência nas coisas materiais, porque ele sabe lidar com as peças que constituem o jogo
da vida e sabe ampliar o leque das possibilidades. Este orixá está além do bem e do mal, das perdas e
ganhos, é uma força amoral, um potencial inesgotável de energia que pode ser utilizada segundo o nível
de consciência dos homens. Exu revela que a moralidade não está sujeita à divindade, mas às escolhas
humanas e suas consequências. Para os iorubás, a ética depende da qualidade do caráter dos homens e
se exterioriza nas suas intenções e ações.
Exu é o mais complexo e contraditório de todos os orixás, tem virtudes e defeitos, e como os humanos
está sempre exercitando as oscilações entre o bem e o mal. Pode fazer o bem quando solicitado, assim
como pode pregar peças e até eventualmente fazer o mal. Exu ensina que tudo na vida tem seu valor e
seu preço no jogo de perdas e ganhos. Este orixá é uma força que atua de acordo com a consciência do
adepto, e o resultado e a ressonância das ações é responsabilidade de quem recorrer a Exu. Nele está o
princípio da comunicação; ele retrata nossa dualidade interior, e rege o uso da energia vital, o corpo dos
desejos, emoções e sensações. Exú abre caminhos, derruba barreiras e cria novas ordens.
Seu mito diz que ele veio ao mundo munido de um bastão em forma de falo (“ogó”), que tem a
propriedade de transportá-lo para onde quiser em instantes. Exu é o orixá que revela que do caos surge
a ordem, e tem função reguladora no cosmos. É o orixá que atua como fiel da balança entre as forças de
construção e de destruição. A redenção de Exu é a verdadeira abolição da escravatura de uma raça e de
uma cultura. Livrar Exu da falsa imagem demoníaca e conhecer seu real significado mítico é um passo
fundamental para a superação dos preconceitos raciais, sociais e religiosos em relação aos adeptos da
tradição iorubá e principalmente aos afrodescendentes no Brasil.
O Mito
Existem mitos que apresentam Exu como filho de Oxum criado por partenogênese, sem intervenção
masculina, e que teria recebido o axé (poder) de todos os demais orixás. Este mito diz que Olodumare
enviou 16 orixás para criar a vida na Terra, 15 homens e uma mulher. Os orixás masculinos boicotaram
as ações do único orixá feminino entre eles e por isso, a deusa se retira da Terra. O resultado da sua
saída foi fome, miséria, seca, esterilidade e sofrimento. Desesperados, os orixás vão até Olodumare e
narram a situação. Olodumare diz que sem a deusa, o princípio feminino, nada se movimentaria nem
floresceria, e que eles deviam convencer Oxum a voltar para a Terra. Então, eles foram até a deusa e
imploraram que voltasse. Relutante, ela aceitou, impondo uma condição: todos eles deveriam depositar
seus “axés” em seu ventre; seu filho seria filho de todos eles e detentor dos seus poderes. Os demais
orixás masculinos obedeceram e Oxum gestou e deu à luz Exu.
Outro mito o apresenta como filho de Yemanjá e Oxalá. As narrativas variam de acordo com a região da
África. Seu domínio está em toda parte, mas as oferendas são feitas em encruzilhadas e porteiras,
porque Exú é o orixá que indica caminhos e ultrapassa os obstáculos, as demandas e dificuldades de
optar, criar e realizar. O seu elemento é o fogo, a comida a ele oferecida é a farofa de dendê e os animais
consagrados são o galo preto e o bode preto. Suas cores são o preto (que representa a soma de todas as
cores na matéria, as trevas de onde nasce a luz) e o vermelho (que representa o fluido vital, o sangue e o
movimento, a ação). O dia da semana dedicado a Exu é segunda-feira. Sua saudação: Laroiê! Exu ê
Mogibá.
Iemanjá, a Deusa-Matriz da Criação
Iemanjá, cujo nome deriva de “Yèyé Omo ejá” (Mãe de todos os peixes), é a Grande Mãe do povo Egbá.
Na África, os Egbá formam uma nação de idioma iorubá que vivia outrora numa região entre Ifé e
Ibadan. Nessa região, Iemanjá era adorada como o orixá padroeiro, e na natureza seu santuário era o rio
Yemojá, local sagrado para seus fiéis, onde seu “axé” se assentava e emanava mais fortemente. Dali seu
poder se espalhava por toda parte, isto porque o rio, quando desaguava no mar, levava o Axé de
Iemanjá para os oceanos e irradiava o poder da deusa por todo o planeta.
Depois, em razão de guerras tribais, esse povo imigrou para Abeokutá, e como não podiam transportar
o rio consigo, levaram areia, cristais, seixos e outros objetos sagrados que ele continha em seu leito.
Carregaram tudo o que significava suporte do axé (energia, poder) da sua deusa. O axé que
transportaram eles transferiram para o leito do rio Ogun (não confundir com o orixá que tem o mesmo
nome) que atravessa Abeokutá, o qual, desde então, para eles é a morada local de Iemanjá.
Todos os anos os fiéis africanos recolhem em jarras brancas as águas sagradas desse rio para banhar-se e
lavar o lugar onde está o assentamento na terra do axé da deusa. Esse lugar é o templo a ela dedicado na
vastidão da natureza. Depois eles vão até uma fonte e enchem jarras; feito isto, seguem em procissão ao
encontro de outros fiéis que carregam estátuas de madeira representando Iemanjá como uma linda
mulher, e tocam tambores e outros instrumentos de percussão, dançando e saudando aquela que para
eles é a deusa-matriz da criação. O cortejo se dirige à cidade e segue abençoando os moradores pelo
caminho. O povo nas ruas saúda a deusa com reverência e fervor, enquanto a procissão continua indo
em direção ao local onde a esperam as autoridades locais. Para os fiéis devotos de Iemanjá, nesse dia a
deusa oferece uma emanação abundante de bênçãos sobre a humanidade.
Iemanjá no Brasil
Quando os iorubás vieram para o novo mundo, Iemanjá se tornou objeto de grande adoração
principalmente no Brasil e em Cuba. O culto a Iemanjá é muito forte entre brasileiros e cubanos afro-
descendentes ou não, e os adeptos da tradição a reverenciam como a mãe de todos os Orixás, o
princípio feminino gerador de vida, da beleza, da abundância e da mutabilidade.
Pode-se dizer que Iemanjá é o orixá mais popular no Brasil. Tanto na África quanto no Brasil e em
Cuba, ela representa o poder das águas como berçário da vida. Iemanjá é reverenciada como o generoso
e fértil útero do planeta, e também é venerada como a Grande Mãe. O mar é o sagrado colo da deusa,
que nutre e embala seus filhos no berço das ondas do mar. Iemanjá é o orixá que atua na natureza como
a força que dá forma e anima a matéria, e que transforma energia material em espiritual, e a espiritual
em cósmica, e do éter manifesta a vida primordial nas águas oceânicas. Iemanjá tem sob seu comando
todos os elementais das águas salgadas.
Aspectos de Iemanjá
Representação de Iemanjá
A representação desse orixá na África é uma mulher madura, de grande beleza, dotada de formas
voluptuosas e seios fartos. Para eles, dos seios generosos de Iemanjá jorra a água da vida. Aqui no Brasil
ela é representada como uma linda e jovem mulher com cabelos negros e longos, portando uma tiara na
cabeça, com muitas pérolas adornando seus cabelos, mãos e colo. Nas estátuas e gravuras, ela está
usando sempre um vestido azul claro salpicado de estrelas e peixinhos dourados; o vestido desenha
suas formas sinuosas.
Iemanjá é uma energia feminina portadora de beleza, mistério, amor, sensualidade, poder,
generosidade, abundância, transformações, autoridade e respeito. É uma mãe amorosa, zelosa e
acolhedora, mas firme e disciplinadora ao mesmo tempo.
O arquétipo
Oferenda
O dia da semana dedicado a Iemanjá é o sábado. As suas cores são: branco, prata, azul claro e cor de
rosa. Suas filhas, quando incorporadas, usam roupas luxuosas nas cores branco, azul claro e prata. Na
cabeça portam uma coroa prateada com uma estrela de 5 pontas desenhada em relevo; dessa coroa
pende uma franja feita de contas de cristal branco e azul que encobre o rosto da iaô. Na mão direita elas
carregam um “abebê” prateado (um tipo de espelho), no qual se olham enquanto dançam movendo os
braços e as cadeiras em movimentos ondulatórios, ora lentos ou rápidos e vigorosos. Sua dança é
solene, majestosa e graciosa. As oferendas de comida são: milho branco cozido com mel, bolo de arroz
com mel. Animais consagrados à deusa: pata, galinha e cabra, todas brancas. No sincretismo ela é
identificada com Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Candeias, variando de acordo com
algumas regiões do país. Dia 2 de fevereiro é o dia do ano dedicado a Iemanjá, quando lindos festejos
acontecem em todo o Brasil, especialmente em Salvador, Bahia. No dia 31 de dezembro no Brasil,
adeptos ou não costumam levar até o mar oferendas para Iemanjá. Entram no mar e pulam 7 ondas
antes de oferecer flores brancas, perfumes, espelhos e adereços à deusa, para que ela os abençoe com
saúde, amor e prosperidade. As casas de candomblé e de umbanda se reúnem numa grande festa
coletiva para saudar a deusa Iemanjá, a rainha do mar.
A saudação feita a esse orixá é: Odôiá! E Odô-Ífé-Iabá!
O Mito de Iemanjá
Olokun
São muitas as lendas sobre ela. Dentre tantas, existe uma nos versos de Ifá que diz: Iemanjá era uma
princesa muito linda e querida por seu pai, o poderoso senhor das profundezas dos oceanos Olokun. O
rei, zeloso de sua filha, queria para ela o melhor. Quando apareceu Orumilá, senhor das adivinhações,
como pretendente à sua mão, Olokun concedeu de imediato, e esse foi o primeiro marido dela.
Separou-se de Orumilá devido seu temperamento inconstante e depois se casou com Olofin, rei de Ifé,
com quem teve 10 filhos. Porém, ela não tem paradeiro, está sempre em transformação, e cansada de
sua permanência em Ifé, foge. Olokun, seu pai, sabendo do seu temperamento mutante e voluntarioso,
havia entregue a ela, por medida de precaução, uma garrafa com um preparado, recomendando-lhe
que, se encontrasse em enorme perigo, quebrasse a garrafa no chão.
Ela, na fuga, encaminhou-se para o entardecer da Terra, o oeste. Olofin-Odudua mandou o seu exército
atrás dela. Quando Iemanjá se viu cercada, quebrou a garrafa e um rio criou-se imediatamente,
envolvendo-a e carregando-a cuidadosamente até o oceano para junto de seu pai Olokun, de onde ela
nunca mais saiu.
Iemanjá dança eternamente nas águas do mar mostrando sua beleza, fascinando homens e mulheres e
fornecendo fartura de pesca aos homens do mar. É também a deusa do amor e do encantamento. Como
senhora das águas, segue sempre em movimento, transformando e purificando nossas águas interiores,
harmonizando nossas emoções e protegendo seus filhos e desenhando novos caminhos no corpo da
Mãe Terra pela vida afora.
Oyá- Iansã é o orixá que expressa o destemor, o poder de iniciativa, a paixão e a força inovadora do
feminino. Esse orixá, na África, tem seu axé localizado no rio Níger, e se espalha pelos seus nove
afluentes. O número 9 é ligado a Iansã por esta razão. Iansã representa o feminino na sua capacidade de
enfrentar adversidades, de ter liberdade de expressão e de decidir o próprio destino. É o princípio
feminino transgressor, portanto é capaz de ousar, romper padrões estabelecidos e apontar novos
caminhos; é a deusa cuja energia rompe convenções e costumes. Iansã é também chamada a grande
guerreira do amor porque Xangô, seu marido muito amado, tinha grande afinidade com ela, e por isso
respeitava seus dons de guerreira, a ponto de confiar à esposa missões de guerra.
Conta uma lenda que certa vez Xangô mandou que Oyá fosse até a terra dos “baribas”, com a missão de
trazer de lá um preparado feito pelos sacerdotes desse povo que, quando ingerido, concedia o poder de
lançar chamas pela boca e pelo nariz. Esse era um poder que deveria se restringir ao rei, mas, Oyá,
sempre impetuosa e rebelde, bebeu do preparado, e se tornou também capaz de cuspir e exalar fogo
adquirindo tanto poder quando seu marido.
Oyá defende o que é justo e luta pela igualdade de direitos de homens e mulheres. Seu amor por Xangô
é tão grande que quando este, depois de ter sido derrotado no final do seu reinado, abrigou-se nas
profundezas da Terra, ela o seguiu porque não saberia viver sem ele, e os dois deuses permanecem
unidos para todo o sempre.
Ela tem um aspecto chamado Iansã de Igbalé, que tem a capacidade de afastar espíritos perturbados e
perturbadores. Este orixá é o único capaz de afastar os “eguns” - os espíritos dos mortos, que ainda não
têm luz e vagam pelo mundo. Iansã, com seu poder, impede que eles perturbem os vivos; dançando
incorporada na sua iaô, Iansã os expulsa do ambiente. Dançando, ela os domina, orienta e encaminha
com movimentos rápidos dos braços e com as mãos espalmadas também os afasta da aura dos fiéis
onde eventualmente possam estar alojados. Essa limpeza ela executa usando seu “iruexim” (um chicote
feito de rabo de cavalo ou de leão, preso a um cabo de osso ou metal).
No sincretismo afrobrasileiro ela é identificada como Santa Bárbara, e também denominada a Rainha
dos Raios e Tempestades..
O Mito
Antes de casar com Xangô, Iansã era mulher de Ogum, que a amava profundamente. Quando ela
conheceu Xangô não resistiu aos seus olhares sedutores, sua elegância, e beleza; sabendo que Ogum
não lhe daria a liberdade, fugiu com Xangô, despertando a ira e a revolta de Ogum. Xangô também
tinha se apaixonado por ela perdidamente, mas por ser justo, foi pedir perdão pela fraqueza que não
permitiu que ele resistisse ao seu sentimento, e por ter ofendido Ogum prostrou-se aos pés de
Olodumare, (deus supremo). Este, chamou Ogum e aconselhou-o a perdoar os amantes, porque como
ele deveria saber, o coração é soberano, e portanto deveria aceitar o irremediável, compreender e
perdoar o casal.
Ogum não conseguiu superar seu ressentimento e perseguiu os apaixonados até encontrar Oyá-Iansã e
lutar com ela. Na luta, Ogum derrotou Oyá e dividiu seu corpo em 9 partes, que se tornaram os
afluentes do rio Níger.
Conta outra lenda que Iansã é responsável pelo sucesso da semeadura nas lavouras. Na época da
semeadura, a deusa com sua dança frenética roda sua saia e assim movimenta os ventos, renova o ar e
garante a sobrevivência das pessoas, espalhando sementes pelo solo. Ela é a deusa e senhora dos ventos,
das chuvas e das tempestades.
O Arquétipo
Iansã simboliza a intrepidez, a independência, o destemor e a autonomia da mulher. Suas filhas são
audaciosas, autoritárias, corajosas e indomáveis. São extremamente fiéis quando amam, são devotadas e
demonstram lealdade absoluta, porém quando contrariadas são impulsivas, não levam desaforo para
casa, podem perder o controle das emoções com facilidade. Adoram desafios e não temem o novo e
desconhecido. Os protegidos de Iansã, sejam homens ou mulheres, são atraentes, sensuais e
voluptuosos, e também ciumentos, vaidosos e voluntariosos. O elemento de Oyá-Iansã é o ar, os ventos.
Ela tem domínio sobre as chuvas e as energias telúricas. E como Igbalé, domina as almas errantes e as
conduz no caminho da evolução. Sua cor é o vermelho e quando seus filhos e filhas a incorporam, usam
roupas vermelhas e uma coroa de metal dourado com franja formada de contas de cristal vermelho
encobrindo o rosto; no pescoço usam colares da mesma cor. Algumas “yaôs” usam numa das mãos uma
pequena espada, lembrando o aspecto guerreiro do orixá e na outra mão o “iruechim”, o chicote ou rabo
de cavalo, símbolo de poder. As comidas oferecidas a Iansã são o acarajé e o “amalá” de 14 quiabos. Os
animais que lhe são consagrados são a cabra e a galinha. A saudação é Epahei Oyá!
O Mito
Logunedé é fruto do amor de Oxum e Oxossi e simboliza o casamento perfeito das polaridades
masculina e feminina. Ele é a integração e superação dos opostos que passam a ser, por sua intervenção
energética, complementares e acolhidos pelo orixá, sem predominância desse ou daquele gênero. Ele
promove a harmonia entre os diferentes e demonstra a unidade original existente em todas as espécies.
Arquétipo
Os filhos e “eleguns” de Logunedé são autossuficientes, exigentes na escolha dos parceiros e demoram
para eleger alguém e se casar, e quando o fazem dificilmente o casamento dá certo, embora sejam
ótimos pais e mães e companheiros solidários mesmo depois de separados. São vaidosos, criativos,
ágeis, audaciosos, elegantes e altivos. Têm o dom de compatibilizar o aparentemente incompatível; são
dotados de muita lucidez, argumentam com muita propriedade e sabem lidar com o inesperado,
inusitado e surpreendente. Quando incorporado no seu “egungun” esse orixá dança com muita graça, e
os passos são a mistura das características de Oxum e de Oxossi. Nas mãos, usa os objetos
representativos de ambos. Ele rege a criatividade, o novo e a capacidade de realização. Seus elementos
são a mata e as florestas e também as águas doces e cachoeiras. O seu domínio está na caça e na pesca
de peixes de água doce. Suas cores são azul, branco e amarelo ouro. As oferendas de comidas são as
mesmas de Oxossi e de Oxum. O animal a ele consagrado é o “odá” uma espécie de bode castrado.
No novo mundo ele não foi sincretizado.
A saudação é: Logun, Orikí!
Ogum, o Senhor da Guerra e da Energia dos Metais
Ogum está entre os mais antigos deuses do panteão iorubá. Ele é o divino ferreiro em cuja forja os
metais assumem formas e tornam-se instrumentos úteis para o trabalho e para a defesa. Como orixá, ele
nos oferece os instrumentos para obtermos o que desejamos e necessitamos. Inspira a coragem e
autoconfiança, valores indispensáveis para enfrentarmos nossos problemas e solucioná-los.
O orixá guerreiro é muito reverenciado tanto na África quanto no Brasil, Antilhas e Cuba. É o protetor
dos ferreiros, agricultores, caçadores e escultores que utilizam metais como matéria prima, e de todos
aqueles que lidam com máquinas, ferramentas e engrenagens. É o dono dos caminhos e das conexões
com diferentes pessoas e lugares. Ele exemplifica valores como verdade, honestidade, coragem,
perseverança, destreza e retidão. Ogum é irmão de Exu e junto com ele destrói os obstáculos e vence
demandas para que aconteçam realizações materiais. Este orixá é louvado como uma força
empreendedora que fortalece o poder de iniciativa e a responsabilidade pessoal dos seus fiéis.
Ogum afasta as más influências e protege as residências. Por isso, os adeptos penduram nas esquadrias
de portas e janelas folhas de dendezeiros desfiadas, simbolizando que o orixá estará sempre presente,
batalhando pelo bem-estar daquelas pessoas que lá vivem.
Os lugares consagrados a Ogum na África costumam ser ao ar livre, e às vezes fora dos templos
dedicados a outros orixás. Os símbolos de sua presença e axé são grandes pedras em forma de bigorna
que são colocadas junto de uma árvore frondosa. Essas pedras são circundadas por uma planta chamada
“peregun”, um tipo de dracena conhecida no Brasil como espada de São Jorge. Sobre essas bigornas são
oferecidos sacrifícios e feitas oferendas ao orixá.
Nas cerimônias de culto, Ogum é louvado logo depois de Exu, tanto na África quanto no Brasil, Antilhas
e Cuba. No Brasil, ele é cultuado como o deus da guerra e o protetor dos guerreiros, vencedor das
demandas, feitiços e das causas difíceis. No sincretismo afrobrasileiro é identificado com São Jorge,
exceto na Bahia onde é sincretizado com Santo Antonio. Na época da escravidão, os negros nos
quilombos viam nele o grande defensor, o estrategista e o guerreiro imortal. Quando o quilombo de
Palmares em Alagoas foi destruído e Zumbi foi derrotado e dado como morto, a escultura de Ogum foi
sua herança compartilhada pelos seus familiares. Como o corpo de Zumbi, o herói de Palmares, nunca
foi reconhecido pelos quilombolas, para alguns adeptos Zumbi teria sido uma manifestação física de
Ogum. Zumbi não teria morrido, teria virado um encantado.
O Mito
Uma das narrativas mitológicas sobre Ogum conta que muitos séculos atrás ele era um rei poderoso e
um guerreiro extraordinário. Certa vez, depois de ter conquistado a cidade de Irê, ele entregou o
governo ao seu filho, e partiu para novas campanhas em favor dos mais fracos e sofridos. Durante sua
caminhada cumpriu novas missões e viveu mil aventuras. Depois de muito tempo ele volta a Irê, e justo
naquele dia, os habitantes haviam feito um voto de silêncio, e por isso não o saudaram. Isso deixou
Ogum indignado e furioso, porque compreendeu a atitude como descaso, ingratidão e desrespeito.
Encolerizado, investiu contra os moradores, matando-os a todos, e depois incendiou a cidade.
Quando percebeu o que sua precipitação, orgulho e cólera tinham feito, Ogum entrou em desespero.
Sofrendo remorso profundo, não perdoou sua destemperança, violência e injustiça, e para punir-se
decidiu que não merecia viver mais. Decidido, sacou a sua espada, e furou um enorme buraco no chão,
entrou nele e sumiu Terra adentro. Nas profundezas do planeta, no fogo sagrado do útero da Mãe
Terra, ele conseguiu transcender seus arroubos e defeitos, vencendo as emoções destruidoras derivadas
da ira e da impetuosidade.
Tempos depois, ressurgiu das profundezas do planeta, renascido de si mesmo. Renascido e purificado,
Ogum emergiu das profundezas, divinizado como orixá.
Arquétipo
Ogum é o orixá da coragem e disposição para servir e batalhar por um objetivo digno. É a divindade que
faz prevalecer o que é justo e correto, e está sempre disposto a lutar por isso. Seus filhos costumam ser
fortes, destemidos e impulsivos. Perdoam com dificuldade as ofensas, são arrogantes, e ao mesmo
tempo francos, abertos, sinceros e leais. Um filho de Ogum não desiste de lutar por seus objetivos por
maiores que sejam as dificuldades que venham a encontrar no caminho. Seus filhos e filhas têm
compleição grande, e porte atlético. Ogum é filho de Odudwa e Iemanjá; seus domínios são os
caminhos, as estradas, os combates e demandas de toda ordem. As suas cores são: azul escuro e branco
no candomblé, e vermelho e branco na umbanda, o sincretismo afrobrasileiro. Quando incorporado no
seu “elegun” (seu ogã) veste roupas azuis, traz na cabeça um tipo de elmo e na mão direita uma espada.
Sua dança é marcial e viril. As oferendas de comidas a ele consagradas são feijão fradinho e carne crua
regados no azeite de dendê. Vinho de palma também lhe é ofertado na África. O animal consagrado a
Ogum é o galo vermelho. Seu dia da semana é terça-feira, o elemento é o ferro e a saudação mântrica é:
Ogunhê, Patacuri Ogum.
Nanã Buruku - Buruquê
a Deusa Criadora Forjadora de Todas as Formas de Vida
Na África, as mulheres idosas e respeitáveis são chamadas “nana”. Nanã Buruku é filha de Olodunare, o
deus supremo, e é considerada a deusa-mãe primordial, aquela que forjou pessoalmente os invólucros
carnais humanos que abrigam os espíritos e permitem que estes vivam sua aventura de consciência na
Terra. Esta deusa forja também todas as formas de vida que servem de instrumento para os diferentes
estágios de consciência que se manifestam na vida terrena.Este orixá tem seu culto ligado a Obaluaiê
(orixá da cura) em algumas regiões africanas, e é venerado como a deusa anciã, a portadora da
sabedoria do princípio feminino que permeia o universo e da experiência dos mais velhos. Muitos
atribuem sua origem ao Daomé, embora seja difícil afirmar isso com segurança devido aos
pesquisadores terem localizado muitos outros lugares passíveis de serem aceitos como ponto originário
deste orixá. O povo “ashanti” tem um culto à deusa primordial sob muitos aspectos, os quais
denominam “Nanã Inie”. Para essa etnia, essa deusa desempenha o mesmo papel criador do deus
supremo. Nos templos dedicados à deusa primordial existem outras entidades que são extensões dela,
mas existe um trono consagrado à Grande Mãe, e somente uma sacerdotisa de Nanã Inie pode tocar
nele.No resto da África, porém, os cantos dedicados a Nanã são em iorubá arcaico, o que denota a
antiguidade do seu culto. Por ocasião dos festivais a ela dedicados as peregrinações se dirigem a uma
região de Gana próxima à fronteira do Togo. Lá os fiéis se reúnem ao redor de uma grande árvore de
“ficus vesiculosus” (odan), onde cantam e dançam ao som de tambores e agogôs. A maioria dos
participantes é de “yaôs” da deusa. São mulheres idosas que se vestem com panos coloridos amarrados
acima do peito, têm a testa e as têmporas pintadas com giz branco, e os braços e pescoço cobertos por
colares e braceletes feitos de contas multicoloridas. Elas se apóiam em bastões, e se movimentam com
lentidão, ora para a direita ora para a esquerda, dançando conforme o ritmo.No Brasil e em Cuba
Nanã é a deusa ancestral, e também a mãe de Obaluiaê. Nanã é considerada a anciã sábia e veneranda
detentora da memória dos primórdios do planeta e dos valores espirituais e éticos. Este orixá é a deusa
e senhora das águas paradas e lamacentas, assim como do lodo dos pântanos.
O Mito
Nanã Buruku é a deusa criadora do corpo humano. Conta uma lenda de Ifá que Nanã deve a seu cargo
uma missão fundamenal. Antes de enviar os 16 orixás para realizarem na Terra a sua vontade,
Olodumare, o deus supremo, chamou Oxalá e lhe deu uma sacola contendo sementes de vida. Quando
a sacola da criação que Olodumare entregou a Oxalá foi aberta, Nanã estava presente e encarregou-se
de semeá-las. Para tal, ela forjou a argamassa para que as formas fossem criadas. Por esta razão, ela rege
a lama e o lodo, a mistura de terra e água.
Este orixá é o princípio feminino portador da força criadora e formadora do corpo físico destinado a
abrigar a sabedoria ancestral de todas as espécies que vivem no planeta. Nanã, por ser sábia, é muito
paciente, tolerante e constante. Simboliza a memória da criação. Reza o mito que com carinho e
cuidado ela amassou terra e água com seu pilão gerador, e com os próprios pés moldou e formou os
corpos humanos e também dos animais. Ela traz o poder das águas celestiais e primordiais para a Terra.
Permite a manifestação do poder cósmico na natureza diversificada.
Arquétipo
Seus filhos são tranqüilos, pacientes, meigos, gentis, compreensivos e corretos e dignos de
respeito. Costumam fazer suas tarefas lentamente, porém muito bem feitas. Caminham devagar, falam
pausadamente e possuem grande controle sobre seus impulsos e emoções. Suas “yaôs” adoram crianças
e são excelentes educadoras. Educam com competência porque são amorosas e firmes na orientação dos
seus educandos. São conselheiras cheias de sabedoria, e procuram sempre criar harmonia entre as
pessoas. Os filhos de Nanã promovem ao seu redor equilíbrio e acolhimento. São pessoas justas, calmas,
tolerantes, ponderadas, doces, amorosas e muito corajosas.
No Brasil, quando incorporada, a deusa Nanã dança de forma lenta e imita os movimentos de quem
soca um pilão. Esse orixá veste roupas roxas ou brancas e azuis, e tem o colo e os braços enfeitados com
colares e pulseiras feitos de contas de vidro brancas e azuis ou roxas. O dia consagrado a Nanã é o
sábado, a comida que lhe é oferecida é arroz branco, inhame e às vezes a oferenda é feita com quiabos
sem azeite e muito temperados. Os animais consagrados a ela são cabras e galinhas d’angola, que não
podem ser abatidas com facas nem nada feito de ferro ou aço. Este orixá é sincretizado no Brasil como
Sant’Ana. A sua saudação mântrica é: Saluba Nanã!
Obá, a Deusa Guerreira Protetora dos Desvalidos
Obá é a deusa iorubá que sintetiza o poder de luta, a coragem e capacidade de lidar com as
adversidades inerentes ao Feminino. Interessante notar que este orixá é considerado mais forte
fisicamente do que muitos orixás masculinos. Poder-se-ia dizer que esta deusa quebra o tabu da
fragilidade feminina. Seu axé se assentou na Nigéria no rio Obá, e dele emana para a África e o mundo.
Obá simboliza a força interior e o destemor da mulher na defesa de seus valores, seus ideais e
princípios. É a precursora milenar da luta feminina pela independência e autonomia.
A deusa Obá é muito combativa e grande conhecedora das artes marciais. É respeitada pela sua
destreza com as armas, tendo derrotado vários deuses com facilidade. Somente perdeu uma luta, para
Ogum, porque este lhe preparou uma armadilha temendo que ela o derrotasse e comprometesse sua
reputação de guerreiro invencível. Ogum, o orixá do ferro, desafiou Obá para um combate, ela aceitou,
e no dia marcado Ogum besuntou o chão onde a luta deveria acontecer com quiabo e azeite. Durante a
luta, Obá, ao fazer um movimento mais brusco, escorregou e caiu, e desse modo pouco ético, ela foi
derrotada.
Este episódio demonstra que o masculino e o feminino não devem se enfrentar em disputas, e sim
buscar a complementaridade, senão um dos dois sairá derrotado e sofrido. Obá simboliza também a
liberdade sexual, porque ela não se prendia a nenhum homem. Durante muito tempo, foi casada com
Oxalá, Xangô, Orumilá e Ogum. Como Ogum venceu a contenda, sentiu-se no direito de submeter a
deusa aos seus desejos e fez dela sua mulher. Ela resistiu bravamente, pois não se entrega com
facilidade, mas Ogum foi insistente e criativo nos agrados, e Obá cedeu aos encantos do deus da guerra
com quem afinal das contas tinha muitas afinidades.
Mesmo sendo guerreira valente e independente, a deusa busca seu complemento masculino e é ardente
e amorosa. Obá é basicamente a deusa que explicita a liberdade de escolha, fidelidade no que acredita, e
a defesa pelos direitos da mulher e dos mais fracos e desvalidos.
O Mito
Conta o mito que ela abandonou Ogum por Xangô, tendo se tornado a terceira esposa do rei
divinizado. Xangô era para ela o outro lado do espelho. Obá era fiel, sincera, mas não era bonita nem
sedutora, e ele era ardiloso, bonito, vaidoso, sedutor e instável. O grande rei sentiu-se desafiado e
apaixonou-se pelo destemor, pela independência e pelo espírito indomável da deusa. Diante dos
encantos e agrados de Xangô, Obá baixou a guarda e não resistiu à paixão que Xangô lhe despertou.
Ele a levou para seu reino, onde Oxum e Iansã já viviam como suas esposas. Quando Obá chegou à
corte, uma rivalidade logo se instalou entre ela e Oxum. Iansã estava ausente cumprindo uma de suas
missões. Obá era muito apaixonada por Xangô, e o queria somente para si. Oxum, enciumada com as
atenções que Xangô dispensava à nova esposa, resolveu preparar uma cilada para Obá. A deusa
guerreira não media esforços para agradar Xangô, porém ela não sabia cozinhar bem como Oxum, e
sabendo que Xangô era guloso, pediu que Oxum lhe ensinasse um prato que ele apreciasse. Oxum
costumava fazer pratos maravilhosos que faziam o deleite de Xangô e maliciosamente se propôs a
ensinar Obá. Ela disse a Obá que Xangô adorava um prato feito com quiabos chamado “amalá”, e que
ela, Oxum, havia cortado as próprias orelhas e colocado para cozinhar junto com a iguaria como prova
de amor e entrega total ao seu homem. Na verdade, ela havia colocado dois grandes cogumelos na
panela, mas Obá, que era incapaz de mentir, acreditou.
Xangô comeu com prazer a comida e se retirou feliz com Oxum, deixando Obá sozinha. Muito triste, a
deusa se sentiu rejeitada e decidiu que quando fosse a sua vez de cozinhar para o rei-deus usaria o
mesmo estratagema que Oxum e cortaria a orelha também. E assim o fez. Quando o marido viu que lhe
faltava uma orelha ficou horrorizado e, cheio de repugnância, saiu correndo ao ver que a orelha cortada
estava no meio da comida. Obá partiu furiosa ao encontro de Oxum e quando a encontrou viu que
tinha sido enganada, porque dois lindos brincos reluziam nas orelhas perfeitas de Oxum. As duas
travaram uma luta feroz e Xangô, indignado com a cena, teve uma crise de furor, e as expulsou do
palácio.
As duas se refugiaram imergindo nas águas dos rios que levam seus nomes. A confluência dos dois rios
apresenta as águas muito revoltas, e os iorubanos dizem que são os sinais da luta eterna entre as duas
deusas.
Interessante notar que nesta mitologia não existe o conceito de certo e errado como julgamento de
valor. Para os iorubanos o certo e o errado, o bem e o mal são as regras do jogo da vida. A filosofia de
vida dos iorubás é a fluidez e a flexibilidade; ganhar e perder é a alternância natural. Para eles, ambas
estavam lutando como podiam pelo que desejavam. O estratagema de Oxum é visto como coisa de
mulher, artimanhas, jogos amorosos e mistérios insondáveis que somente as mulheres possuem. Este
mito também ensina o quanto é importante estar atento ao que subjaz além das palavras, situações,
gestos e atitudes. Observar sempre o subtexto das palavras e intenções.
Arquétipo
Quando Obá se manifesta em uma das suas “yawôs”, tem sempre um turbante na cabeça escondendo a
orelha decepada, numa alusão a lenda. Suas filhas têm tendências um pouco masculinizadas; não que
sejam homossexuais obrigatoriamente, mas apresentam uma forte energia masculina nos gestos e na
maneira de andar, pensar e falar. São mulheres sem vaidade que não ligam para moda nem maquiagem,
vestem-se simplesmente, não usam jóias nem enfeites. São geralmente práticas, eficientes, competentes
e objetivas. Em geral são infelizes nas relações amorosas porque não têm jogo de cintura, nem sabem
lidar com as próprias emoções e sentimentos, portanto tornam-se vítimas dos próprios ímpetos. São
mulheres valorosas, leais e geralmente incompreendidas, mas compensam seu insucesso amoroso com
muito empenho no trabalho, e conseguem sucesso profissional e financeiro, assim como
reconhecimento social. Costumam lutar para ter bens materiais e quando os adquirem, deles são muito
zelosas.
Uma outra característica das suas yawôs é defender os mais fracos em geral e lutar pelas causas
feministas. A dança de Obá é marcial, ela carrega uma espada em uma das mãos e um escudo na outra,
e faz movimentos de luta. Sua roupa é multicolorida e sem adereços. Os animais que lhe são
consagrados são: cabras, patos e galinha d’angola. No Brasil foi sincretizada com Sta Catarina. Saudação
mântrica: Axé Obá! Obá!
Obaluaiê - Omulu - Xapanã
O deus da saúde e da doença
Ele é o deus Xapanã que pode promover a saúde ou a doença; é tão temido que os adeptos não
pronunciam seu nome sem antes pedir clemência batendo no chão com a mão três vezes. Acredita-se
que o culto a este orixá seja mais antigo do que o culto às demais divindades que vieram à Terra junto
com Odudua. Obaluayê seria um deus de uma civilização anterior à Idade do Ferro. Isto pode ser
notado pelo fato de que durante os rituais a ele oferecidos, os sacerdotes não usam facas nem nenhum
outro objeto de metal para o sacrifício de animais.
O lugar de origem deste orixá é nebuloso, mas muitos localizam seu reino em Ibadan e afirmam que ele
teria sido, quando vivo, rei do povo “tapa”. Outros indicam que ele chegou a Oyó vindo do Daomé junto
com sua mãe, Nanã Boruku ou Borukê, outro orixá muito respeitado do qual falaremos mais adiante.
Na África, Xapanã é reverentemente chamado e invocado como Obaluayê ou Omulu. Em outros locais
da África, porém ele é chamado pelos iorubás Sanponá-Obaluayê, “Rei Dono da Terra”. Talvez numa
referência a fragilidade humana diante das intempéries e das doenças durante a passagem pela vida
terrena. Depende desse orixá a imunidade e a cura de males físicos.
Mito
Conta uma lenda de Ifá que Obaluaiê era originário de Tapá, território onde reinava soberano. Um belo
dia, reuniu seus guerreiros e os levou para uma jornada pelos quatro cantos da Terra. Durante as
batalhas que travou pelos caminhos, sempre que lançava suas flexas acertava o alvo; e aquele que era
atingido ou morria ou ficava cego, surdo, manco, deformado, e, além disso, o lugar onde havia sido
atingido ficava marcado com uma ferida incurável. Por onde ele passava deixava sofrimento e doenças.
Os “mahi”, um dos povos atacados por Xapanã, romperam o ciclo de desgraças. Depois do ataque, o rei
mahi reuniu os sobreviventes e decidiu procurar um babalaô poderoso. O sacerdote consultou Ifá e
recebeu deste a orientação do que fazer para acalmar a ira de Xapanã. Ifá orientou que lhe
homenageassem e oferecessem pipocas de milho em quantidade e lhe dedicassem anualmente uma
festa denominada Olubajé. Realmente, Xapanã se acalmou e ficou satisfeito com as homenagens
recebidas, tanto que mandou construir em território mahi um palácio suntuoso para morar, e lá ficou,
tendo deixado para sempre o reino de Tapá. Ao morrer tornou-se orixá. Os “mahis” desde então o
homenageiam e, devido a isso, prosperaram e permaneceram saudáveis e imunes à varíola e demais
doenças mortais que assolavam a África.
Na África as cerimônias para este orixá acontecem ao ar livre. Os adeptos, depois de passarem por um
riacho a ele consagrado, saem do templo principal e chegam até o mercado onde uma tenda sustentada
por quatro pilastras irá abrigar o axé do deus. Uma mulher idosa, em transe, carrega o axé; outras tantas
vão atrás, carregando gamelas com comida. Um “elegun” filho de santo, incorporado pelo orixá, segue
atrás delas andando trôpego como quem sofre dores. O deus vem envolto em panos vermelhos
bordados com búzios de rio e traz o rosto coberto. No templo, Obaluaiê dança ao som dos atabaques
sagrados e os fiéis se prostam batendo a cabeça no chão. No Brasil, quando incorporado no seu “elegun”
ele se apresenta também todo coberto. Veste uma saia de palha da costa desfiada e tem na cabeça uma
espécie de capuz também de palha, que lhe cobre o rosto e chega até a cintura. Na mão direita carrega o
“xaxará” um tipo de vassoura feita de folhas de palmeira trançadas e bordadas com búzios de rio e
contas opacas brancas, pretas e marrons. Nela estão penduradas pequenas cabaças onde Obaluaiê
carregaria poções medicinais para curar as diversas doenças. Tudo que se refere a este deus é solene,
grave, triste e sombrio.
Arquétipo
O Mito
Como já disse anteriormente ao narrar o mito de Exu, Oxum é sua mãe por partenogênese, embora em
algumas versões, ele apareça como filho de Iemanjá. Porém, em todos os contos consta que os orixás
quando vieram à Terra excluíram as mulheres das decisões que seriam tomadas para cumprir a missão
que lhes foi confiada por Olodumare: organizar a vida no planeta. O resultado dessa exclusão foi a
esterilidade dele, das mulheres, das terras e também a desolação e o fracasso de todos os
empreendimentos. Somente Oxum tinha o poder de restaurar a fecundidade deles, das mulheres, das
terras e a prosperidade e êxito nos empreendimentos. Sem a intervenção do princípio feminino não
existe beleza, fartura nem felicidade, segundo os iorubás.
Os reis de Oxogbô adoram Oxum e fazem grandes festas em sua homenagem. Uma das lendas conta
que o rei Laro, o iniciador da dinastia, tinha uma filha muito amada que um dia foi banhar-se no rio
Oxum e sumiu. Depois de procurarem em vão pela moça, o rei vê a filha surgir das águas do rio
lindamente vestida e adornada com jóias. Muito agradecido, o rei dedicou a Oxum muitas oferendas.
Os peixes, mensageiros da deusa, vieram comer as iguarias ofertadas em sinal de aceitação do ritual
pela deusa, e as águas transbordaram e fertilizaram o terreno trazendo boa colheita riqueza e alegria.
Muito agradecido, o rei disse então: “Osun gbô” (Oxum atingiu a maturidade e está procriando). Esta é
a origem do nome da cidade de Oxôgbô.
Arquétipo
O arquétipo de Oxum é o das mulheres bonitas, graciosas, astuciosas, ardilosas, faceiras, dengosas,
elegantes, corajosas, amorosas e acolhedoras. Suas filhas e filhos são bonitos e também muito vaidosos
e cheios de charme. As mulheres são voluptuosas e sensuais embora sem exageros. Algumas, sob
aparente fragilidade, escondem uma vontade forte e muita determinação; lutam e até criam artimanhas
para conseguir o que desejam.
Quando a deusa incorpora em suas ‘Yaôs” usa roupas luxuosas de cor amarela, portando na cabeça uma
coroa dourada com franjas de cristal amarelo que lhe cobrem o rosto (as “iabás”, orixás femininos,
costumam trazer essa franja cobrindo os olhos para amenizar o poder devastador da sua sedução e a
força do seu olhar). Na mão direita segura o “ abebê”, um tipo de espelho dourado onde se olha
enquanto dança, fazendo movimentos sinuosos.
No Brasil os fiéis costumam colocar dinheiro na saia de Oxum. Por isso, enquanto ela dança ergue um
pouco a sobressaia e desse modo vai aparando o dinheiro. O babalorixá ou ialorixá depois utilizará esse
dinheiro para garantir o que for necessário para manter o axé da deusa ativo e poderoso.
O seu dia da semana é o sábado. O seu elemento é a água doce, e o domínio os rios, lagos e lagoas de
água doce e cachoeiras. Oxum rege a maternidade, a fertilidade, a beleza e a prosperidade. A sua cor é o
amarelo. As oferendas de comida são “mulucum” (feijão fradinho,cebola e camarão), “adun” (farinha de
milho misturada com mel de abelha e azeite doce) e xinxim de galinha. Os animais a ela consagrados
são a cabra, a pata e a galinha d’angola. No sincretismo ela é Nossa Senhora da Conceição. Sua saudação
mântrica é: Aieie wô e Ora ieiê wô!
Tanto na África como no Brasil Oxumaré é o arco-íris. A serpente multicolorida que une o céu e a Terra.
É o orixá da flexibilidade, da mobilidade, e o senhor das forças que geram transformação e renovação.
Ele simboliza a continuidade da vida, a descendência, a riqueza e a unidade na diversidade de todas as
formas da criação.
Na África Oxumaré é o orixá que zela pelo cordão umbilical dos recém-nascidos. Depois do parto, os
pais enterram o cordão e a placenta sob uma árvore que a partir desse momento torna-se uma
propriedade que estará sob a responsabilidade dessa criança por toda a vida; a criança deverá cuidar
dela com o mesmo carinho que deverá cuidar de si mesma.
Este orixá nos ajuda a aceitar a alternância natural entre o certo e o errado, o bem e o mal, a chuva e a
calmaria, a riqueza e a pobreza, o sucesso e o fracasso. Oxumaré é representado também como uma
serpente mordendo a própria cauda, como um “ouroboros”. Oxumaré enrola-se em volta da Terra para
que o planeta não se desagregue e para que toda a criação se mantenha em equilíbrio.
Para garantir boas colheitas ele recolhe a água que a chuva derramou sobre a terra e a leva de volta aos
céus para formar de novo as nuvens e garantir que não haja seca nem escassez.
Oxumaré é o integrador das diferenças, ele confere a habilidade para evitar atritos e congregar as
pessoas em nome de um mesmo propósito. É interessante ressaltar que o arco-íris é formado por
gotículas multiformes que, unidas, refletem todos os tons dos espectro da luz; assim, toda a criação se
manifesta de diferentes formas e os seres humanos, embora apresentem particulidades e diferenças
entre si, refletem a luz do mesmo Princípio Divino.
O Mito
Conta uma lenda de Ifá que Oxumaré, quando vivia na forma humana, era um babalaô muito
respeitado por seus dons mágicos, e muitos reis vinham até ele para consultar os oráculos. Dentre esses
reis, Olofin, rei de Ifé, era o mais assíduo, mas costumava pagar muito pouco pelos serviços de
Oxumaré, que vivia muito pobremente.
Um belo dia a rainha de um reino vizinho veio pedir-lhe ajuda porque tinha um filho muito doente e
ninguém conseguia diagnosticar o mal que atormentava o garoto. O menino tinha dificuldades para
ficar em pé e tinha crises inexplicáveis. Sem motivo aparente, rolava sobre as cinzas quentes dos
fogareiros ou fogueiras, quando as via. Oxumaré curou a criança e a rainha, muito grata, reompensou-o
regiamente.
Quando ele voltou para Ifé estava rico; apresentando-se muito bem vestido com tecidos suntuosos e
jóias, deixou todos os moradores espantados, e mais do que todos, Olofin. Ao saber da generosidade da
rainha, o rei ficou envergonhado e refletiu sobre o quanto havia desconsiderado e sido mesquinho e
avarento com o babalaô que tanto o ajudara. Daí, resolveu dobrar a paga que Oxumaré recebeu da
rainha.
Oxumaré viveu em abundância, mas nunca deixou de servir aqueles que o procuravam. Olodumare, o
deus supremo, satisfeito com o trabalho prestado por Oxumaré na Terra, mandou que ele fosse até os
seus domínios no infinito, e nunca mais se separou dele. Desde então, ele se tornou orixá, mora no céu
e somente de vez em quando vem à Terra, e quando o faz é para trazer aos seres humanos alegria,
renovação, esperança, riqueza e harmonia. No Daomé ele é chamado “Dan” (serpente), onde é ainda
mais venerado do que entre os iorubás de Ifé.
Arquétipo
Como Oxumaré é o orixá do movimento, assim como a cobra que se arrasta sinuosa pelo chão sentindo
as pulsações da Terra e a fluidez das águas dos rios, seus iniciados também têm intimidade com a
fluidez, as transformações e a renovação constante, assim como o desapego e aceitação do novo e do
inesperado. As serpentes trocam de pele quando esta se torna inadequada, deixando pelo caminho a
pele velha que não lhes serve mais. Os “eleguns” e yawôs de Oxumaré, do mesmo modo aceitam as
mudanças com facilidade e são desapegados. Oxumaré ensina aos fiéis como se desapegar de coisas,
defeitos e pessoas, ensina como abrir mão para poder receber o novo. Seus protegidos são alegres e
vaidosos, mas são desprendidos, leves, ágeis e elegantes. Costumam ter grandes e belos olhos e um
corpo flexível e ágil. Sua dança é graciosa e consiste de movimentos ondulatórios alternados fazendo a
ligação entre a Terra e o céu, ora apontando para baixo ora para cima. Nas mãos, este orixá carrega uma
cobra de ferro; na vestimenta, um arco-íris: suas vestes têm todas as cores. É cultuado nos rios e
cachoeiras e suas comidas são: feijão com milho, azeite de oliva e dendê; camarão cozido com cebola.
Os animais consagrados a Oxumaré são o bode e o galo. Seu domínio é o arco-íris, que prenuncia união
entre a sobrevivência e a transcendência. Seu dia é terça-feira. No sincretismo é São Bartolomeu. Sua
saudação é: Arrô Boboi.
Ossain, o Senhor das Folhas
Ossain é o orixá que rege a energia das florestas, o poder das folhas em geral e especialmente as plantas
medicinais e litúrgicas. É a divindade sem a qual não pode existir nenhuma cerimônia, porque é
detentor de um axé (poder) imprescindível, do qual dependem inclusive os outros deuses. Esse axé é o
poder mágico que está adormecido nas folhas e plantas e as palavras sagradas (ofó), ditas pelo babalaô
ou yalorixá despertam os princípios ativos intrínsecos a cada uma delas, e quem permite que a energia
de cada um desses princípios seja liberada é Ossain.
As plantas e folhas são colhidas pelos sacerdotes e sacerdotisas com extremo cuidado e respeito. As
plantas devem ser colhidas na floresta onde elas nascem naturalmente, não servem as cultivadas em
jardins. Ossain vive nas florestas virgens em companhia de Aroni, uma espécie de duende de uma perna
só, que como o nosso lendário saci pererê, pula e fuma constantemente suas folhas prediletas em um
cachimbo feito de concha de caracol.
Quando os curandeiros e sacerdotes vão colher as folhas curativas e litúrgicas devem antes banhar-se
com ervas purificadoras e evitar relações sexuais no dia anterior à colheita. As relações sexuais devem
ser evitadas porque no seu campo áurico não pode vibrar nenhuma energia alheia; a conexão ficaria
prejudicada. Durante a colheita não devem falar e quando chegam no lugar onde estão as folhas, devem
deixar uma moeda no chão como oferenda de gratidão.
Este orixá é originário da Nigéria, perto da fronteira com o Daomé. Somente os babalaôs e yalorixás
podem manipular o poder das plantas de Ossain, que somente permite que as plantas emanem seu axé
mediante saudação ritualística conhecida somente pelos sacerdotes. Entre os iorubás isso demonstra a
supremacia dos babalaôs e yalorixas sobre os curandeiros e os demais membros da comunidade.
No Brasil é um orixá mais cultuado entre os iniciados e pouco conhecido do grande público.
O mito
Uma lenda de Ifá narra que Ossain tem como auxiliar um pássaro muito poderoso que voando por toda
parte lhe traz informações sobre tudo que se passa no mundo. Ele é representado com esse pássaro
descansando em cima de sua cabeça. As mulheres conhecedoras da magia das folhas são chamadas
“proprietárias do poder do pássaro”.
Ossain recebeu de Olodumare o segredo e o poder das folhas e era muito zeloso delas, queria esse
poder somente para ele e se recusava terminantemente a repartir com os outros orixás. Um dia,
aborrecido com essa exclusividade, Xangô disse a Iansã, sua mulher, que isso não era justo e que Ossain
deveria compartilhar seu axé com os demais orixás. Iansã, que não podia ver Xangô insatisfeito resolveu
tomar uma providência. A deusa começou a agitar violentamente suas saias e obedecendo ao comando
da Senhora dos Ventos, um vento começou a soprar violentamente. O segredo da magia das plantas
ficava numa cabaça pendurada num galho de árvore e Ossain cuidava dela com muito afinco. Mas nada
resiste ao vento e a cabaça caiu no chão e se quebrou. Ossain correu para ver o que tinha acontecido e
vendo a cabaça em pedaços gritou: “Ewé O! Ewé O!” (Oh! Folhas! Oh! Folhas!), mas já era tarde, pois
elas tinham se espalhado e os demais deuses escolheram aquelas que queriam para si e as levaram.
Portanto, graças a Iansã cada orixá tem suas folhas sagradas. Mesmo assim, despertar o axé contido
nelas é prerrogativa de Ossain.
Arquétipo
Os filhos de Ossain são ágeis, descontraídos, possuem caráter firme e têm domínio sobre suas emoções.
São leves e soltos e possuem mente aberta para inovações. São abertos para o desconhecido e o
inesperado e avessos a julgamentos morais sobre as pessoas. Perseguem seus objetivos com
perseverança, estando atentos para os sinais que a vida apresenta. Seus adeptos quando incorporados
usam roupas verdes e brancas, um turbante na cabeça e enfeitam o pescoço e braços com colares e
braceletes feitos de contas também verdes e brancas. Trazem nas mãos um pássaro de ferro em alusão
ao seu mensageiro mágico. Sua dança tem coreografia variada feita de passos rápidos e saltitantes num
ritmo sincopado e ligeiro. O seu dia é sábado e os animais que lhe são consagrados são bodes, galos e
pombos. Sua saudação mântrica é: “Ewê Ô”!
Oxossi é o orixá provedor, ao mesmo tempo protetor do caçador e da caça, isto porque ele é o
responsável pelo abastecimento e pelo equilíbrio da natureza. Ele provê também as boas safras na
agricultura protegendo a lavoura contra pragas, porque é guardião e o obtentor de alimentos de
maneira geral. Na África sua maior importância é de ordem material. Ele garante a sobrevivência, é o
orixá que orienta onde encontrar o terreno propício para se formar uma nova roça, e uma nova aldeia. É
Oxossi quem define metas e objetivos para uma comunidade ser próspera e pacífica. Provê também a
saúde como senhor dos mistérios da cura, porque é conhecedor dos segredos das raízes e infusões
terapêuticas.
Odé quer dizer “caçador” em iorubá, e Oxossi Odé também atua como mantenedor da ordem e
administrador das comunidades onde reina. Sua ação espiritual nos devotos é de eliminar os defeitos e
maus hábitos e despertar as qualidades e talentos naturais.
Interessante notar que o culto a Oxossi na África de hoje é muito pouco difundido, e no Brasil e em
Cuba ele é um orixá de grande importância. Em Cuba ele é chamado o “oculto” porque na leitura do
“opelê” (rosário de Ifá) ele não se manifesta explicitamente, mas irradia seu axé como um misterioso
observador das ações dos seus filhos.
Ele é o orixá diplomata, flexível e conciliador, por isso enfrenta com facilidade o inesperado e as
situações ambíguas. Ao contrário dos seus irmãos Exu e Ogum, Oxossi é calmo, ponderado e paciente.
Ele simboliza a paciência, a atenção, a concentração, a determinação, a objetividade e a definição de
propósitos.
Quando Oxossi se apresenta e dança no “xirê”, traz numa das mãos o arco e a flexa e na outra, um
espanta-moscas feito de rabo de leão ou cavalo (o erukerê). Essas são suas insígnias e símbolos reais que
lembram aos fiéis que Oxossi foi rei de Keto. Ele dança com muita agilidade e graça imitando uma
caçada, ora erguendo o arco e a flexa, ora abanando o erukerê.
Este orixá é sincretizado no Brasil como São Sebastião.
O mito
Conta o mito que Iemanjá tinha muito carinho por seus filhos Oxossi, Ogum e Exu (como disse
anteriormente, em algumas lendas Exu é filho de Iemanjá). Exu era muito rebelde e desobediente e saiu
de casa cedo. Os outros dois eram mais dóceis e obedientes e viviam com a mãe. Ogum trabalhava no
campo e Oxossi caçava nas florestas e a família vivia em harmonia, alegria e abundância.
Iemanjá tinha muita preocupação quando Oxossi saía nas incursões pelas florestas, e consultou Ifá
sobre o que fazer. O portavoz de Olodumare revelou que Oxossi corria perigo e que deveria deixar de
caçar nas florestas, porque poderia encontrar Ossain, o Senhor das Folhas, e ser vítima de um
encantamento que o afastaria da mãe.
Oxossi, com uma personalidade muito independente, desobedeceu e voltou a caçar como costumava
fazer. Certo dia, Oxossi não voltou para casa. Ele havia encontrado Ossain, que o atraíra com seu canto
mágico e dera-lhe uma beberagem feita de folhas maceradas, provocando nele amnésia, conforme havia
anunciado Ifá. Sem saber mais quem era nem onde morava, ficou vagando na floresta.
Iemanjá, sofrendo pela ausência do filho, pede a Ogum que vá à procura de Oxossi. Ogum, que tudo
encontra, trouxe o irmão de volta, mas os dois resolveram dizer à mãe que preferiam viver fora de casa,
ao ar livre. E desde então Oxossi vive junto de Ossain na floresta e Ogum vaga pelos caminhos da vida.
Iemanjá, de tristeza chorou tanto que suas lágrimas formaram o rio Ogun (não confundir com o orixá).
Arquétipo
Xangô é um orixá que ocupa um lugar de suma importância no panteão africano. É respeitado pela
força proveniente do discernimento, do intelecto iluminado. É o orixá que inspira lucidez, as escolhas
adequadas e o senso de justiça. Xangô é também o orixá-símbolo da autoridade, do gerenciamento, da
competência, da coragem e da retidão.
Ele é muito venerado na África ainda nos dias de hoje. Fora da África, o culto a Xangô pode ser
encontrado nas Antilhas, em Cuba e no Brasil.
Na natureza Xangô tem sua expressão nos relâmpagos, raios e trovões, e o seu axé se concentra nas
pedreiras. Quando encarnado, este orixá foi rei de Oyó. Depois de morto foi divinizado devido à
grandiosidade do seu caráter.
É importante ressaltar que dentre os iorubás o caráter dos homens e mulheres é extremamente
valorizado. Xangô é sempre invocado para arbitrar entre o bem e o mal, o certo e o errado, pois ele
garante a harmonia e a ordem social. Ele é o símbolo da liderança a serviço do Bem.
O mito
Xangô era filho de um grande rei e o segundo na sucessão do trono do feudo da família. Desde criança,
demonstrava grandes qualidades de caráter e habilidades com as armas, além de ser muito bonito e
conquistador. Quando adulto, durante uma guerra, o irmão que deveria assumir a defesa do feudo
mostrou-se fraco e relutante nas decisões, e então Xangô assumiu a liderança. O jovem príncipe, com
sua competência, criatividade, estratégia e coragem, venceu a batalha. O povo que o adorava, depois
dessa vitória exigiu que o rei fizesse de Xangô o seu sucessor. Entronizado rei, ele empreendeu
inúmeras batalhas para defender seu reino que era invejado pela constante prosperidade e cobiçado por
muitos. Expandiu seus domínios, agregando ao reino muitos outros territórios, e foi assim que se
tornou o soberano absoluto de Oyó. Seu reino estendia-se do Benin ao Dahomé. Para governar com ele
escolheu 12 ministros entre príncipes e lideranças de outros reinos. Na sala do trono, seis ministros se
posicionavam à direita do rei, e seis posicionavam-se à sua esquerda. Os seis da direita mostravam um
lado da questão a ser resolvida e ou outros seis o outro. Desse modo Xangô ao centro era sempre o fiel
da balança e arbitrava com justiça.
O símbolo de Xangô é o “Oché” (um machado de duas lâminas). É um símbolo de poder semelhante a
um cetro real que indica a dualidade (a lâmina dupla) e o bastão que as sustêm simboliza a capacidade
de discernir e escolher conscientemente e com visão ampla.
Xangô era um homem muito bonito e sedutor e as mulheres se rendiam aos seus encantos. Casou-se
com as deusas Iansã, Oxum e Obá. O olho de Xangô “Oju Obá” é o olho que tudo vê, semelhante ao
olho de Hórus na mitologia egípcia e ao olho de Shiva na mitologia hindu.
Arquétipo
Seus filhos e filhas são bonitos, altivos, criativos, majestosos, seguros de si e elegantes. São refinados e
gostam do que é belo, fino, delicado e exótico. Têm temperamento forte e não gostam de ser
contrariados. Geralmente são alegres, mas podem ser dominadores e intransigentes. Seus protegidos e
yaõs abominam injustiças e defendem sempre os mais fracos e desvalidos. São líderes natos, têm tino
para negócios e costumam ser bem sucedidos financeiramente. São excelentes oradores e possuem
enorme magnetismo pessoal. Fazem muito sucesso com o sexo oposto e são muito sedutores, porém,
nem sempre são fiéis. Fisicamente têm o porte atlético, o rosto belo com feições bem marcadas, voz de
tom agradável e mãos expressivas. No Ilê, o local de culto, o axé de Xangô está no assentamento a ele
dedicado, onde os símbolos de seu poder, o Oché (o machado) e o Otá (uma pedra retirada intacta de
uma pedreira) estão expostos. A comida consagrada a Xangô é o amalá de quiabos. Sua “djina” ou
saudação é: Kaô Kabeci Ilê.
Os Ibeji são divindades gêmeas. Eles são orixás crianças, às vezes representados como um menino e
uma menina. Estes dois deuses gêmeos regem a descontração, o entusiasmo, a alegria, a curiosidade, a
leveza, a fluidez, a criatividade e a esperança.
Na natureza tudo o que brota e se transforma é regido pelos Ibeji. Eles brincam alegres nas nascentes
dos rios e dançam soltos e livres na natureza comandando os elementos, os elementais e o ciclo das
estações do ano. Os Ibeji conferem aos homens e mulheres a capacidade de se surpreender
prazerosamente, de se deslumbrar e de ter interesse constante por descobrir, aprender e compartilhar.
Para os iorubás casar e ter descendência é fundamental; a esterilidade tanto masculina quanto feminina
é considerada uma punição, o abandono da pessoa pelas forças do universo. É algo causador de um
grande sofrimento pessoal, além de ser motivo de constrangimento comunitário. Os Ibeji, para esse
povo, são os orixás que garantem a renovação da vida e simbolizam também a perpetuação da espécie e
dos genes dos ancestrais. Para um povo tribal isto é de máxima importância; os iorubás vêm nos filhos o
sentido de ter vivido e a homenagem prestada à sua linhagem. Eles têm que ser férteis como a Mãe
Terra o é, para poder considerarem-se dignos de ser feliz e cumprir o seu papel na natureza.
Os iorubás se autodefinem como ossos dos ossos dos seus ancestrais, e por isso ter descendência é
fundamental. No Brasil os Ibeji são sincretizados com os santos católicos Cosme e Damião. No dia 27 de
setembro, dia dedicado pela Igreja Católica a estes santos, os adeptos do candomblé homenageiam os
Ibeji ofertando bolos, doces, bombons, balas e refrigerantes às crianças em geral. Levam doces e
brinquedos para crianças nas creches, e costumam também deixar oferendas de doces e brinquedos
debaixo de árvores frondosas nos jardins e parques públicos. Nas casas de culto os adultos se reúnem
para comemorar partilhando um prato africano feito com quiabos, castanhas, amendoim torrado, peixe,
camarão fresco e seco, regado com azeite de dendê, e perfumado com coentro, cominho e pimenta de
cheiro denominado caruru. É muito comemorado na Bahia o Dia dos Ibeji, quando também em suas
casas as famílias formadas por adeptos ou não, servem o “caruru de dois-dois” para os amigos. Em
algumas regiões do país são servidas, para acompanhar o caruru, postas de peixe com arroz de acaçá
(um arroz cozido no leite de coco). Esta é a comida dedicada aos orixás-criança.
Suas cores são vermelho e verde. Os animais a eles consagrados são os frangos de leite.
Arquétipo
Os protegidos dos Ibeji são inovadores, curiosos, alegres, e brincalhões, mas são exigentes e facilmente
irritáveis e birrentos quando contrariados. Magoam-se à toa, porém esquecem as mágoas com
facilidade sem guardar rancor.
O dia de Cosme e Damião é a festa das crianças, e é quando a criança interna dos adeptos pode se
expressar livremente. Incorporando o seu Ibeji, o fiel se comporta e fala como uma criança. Esta é a
maneira sagrada que a psicologia iorubá encontrou para curar mágoas, frustrações e feridas que ainda
sangram no coração da criança interior dos adeptos adoradores dos orixás.
A saudação é Ibeji! Ibeji!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todas as culturas as questões humanas mais profundas deram origem às filosofias e às diferentes
mitologias. Os mitos são facilitadores para o entendimento de quem somos nós, o que estamos fazendo
aqui na Terra e qual é nosso papel na vida, no tempo e no espaço. Os mitos também se referem à
essência de tudo que existe, apontam os valores éticos e espirituais e o comportamento. Estes deuses
encarnam valores estruturais e formatam a maneira como compreendemos e sentimos as coisas, a nós
mesmos, a natureza e os outros. Eles nos apresentam diferentes níveis de realidade e descrevem não
apenas fatos, mas as possibilidades mágicas latentes em nós e em tudo que experienciamos, e por isso
ampliam a nossa percepção e compreensão do mundo. Os mitos descrevem a nossa relação com a
Realidade Absoluta, e desta com todas as demais realidades relativas. O Sagrado, sendo a base de tudo,
permeia todas as estâncias do ser humano e se revela como a vestimenta externa da natureza, e a
energia que vibra e pulsa no cosmo e na Terra.
Como em toda mitologia, os orixás são exteriorizações do Sagrado e do seu poder imanente e
transcendente. Como vimos através dos diversos orixás, a tradição Iorubá apresenta uma mitologia rica
e bela, que não precisa ser temida, mas sim conhecida e respeitada. A teogonia milenar dos orixás é
sofisticada e dotada de valores e de significados profundos.
A mitologia é integradora. As diferentes mitologias unificam as diferenças raciais, culturais e religiosas
porque se aproximam entre si, e nos reaproximam das outras culturas e da experiência mística dos
demais povos. Para nós brasileiros, é muito importante conhecer a essência dos mitos e cultos
africanos, assim como os mitos e rituais da tradição indígena, porque eles constituem o panteão mítico
que palpita no inconsciente coletivo do povo brasileiro. Quando nos afastamos das tradições ligadas à
natureza, nos afastamos do resto da criação e excluímos por preconceito e prepotência o conhecimento
ancestral e preciosas experiências religiosas e místicas. A exclusão sempre desrespeita e desconsidera
porque explicita nosso medo do diferente e da diversidade no mundo natural e humano.
É preciso lembrar que estamos entrando numa nova espiral de evolução de consciência, e é chegada a
hora de superar erros e defeitos pelo exercício das qualidades e virtudes. Desaprendemos como unificar
o homem natural, o homem intelectual e o homem espiritual. Não sabemos como reconhecer o divino
em nós e no semelhante, por isso precisamos despir as armaduras do medo, e seguir a inteligência do
coração que traduz as mensagens da nossa alma. Somos todos manifestações da natureza e da vontade
do mesmo Deus. Acolher o diferente permite autodescobertas que nos fazem aprender e sentir a
unidade na diversidade com as variadas expressões culturais e religiosas. E desse modo abrimos espaços
interiores para que o amor divino se manifeste em nossos pensamentos, sentimentos palavras e ações.
Somente assim podemos viver plenamente o esplendor da nossa humanidade.
Referências:
Mitologia dos Orixás, Reginaldo Prandi