TRABALHO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO Grupo 2
TRABALHO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO Grupo 2
TRABALHO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO Grupo 2
(Faculdade de Direito)
Trabalho de Pesquisa
Curso: Direito
Discentes:
Adolfo Chemane
Ancho Abdul
Daniel Simango
José Manuel Valoi
Patrício Mangamele
Índice
1. Introdução..................................................................................................................3
2. Conceito e surgimento do Contencioso Administrativo............................................4
3. A jurisdição administrativa em Moçambique............................................................5
3.1. Período antes e pós-independência.........................................................................6
4. Os efeitos da Constituição de 1975............................................................................8
5. A Constituição de 1990..............................................................................................9
6. A Constituição de 2004............................................................................................11
7. Conclusão.................................................................................................................13
8. Bibliografia..............................................................................................................15
1. Introdução
A história ensina que o direito pode assumir várias formas culturais. Quer o fenómeno
da recepção do direito romano na Europa a partir do Século XII, quer o direito
codificado dos Séculos XIX e XX são exemplos dessas formas. Ambos são o fruto de
uma longa evolução jurídica, filosófica, política, económica e social. Ainda, é
necessário ter presente que a própria técnica jurídica se move sempre num espaço
habitado por conceitos e teorias que exprimem valores e perseguem interesses
irremediavelmente conexionados com os fenómenos sociais e culturais.
declaratório”.
Este autor afirma ainda que o surgimento e a evolução histórica do Direito Processual
Administrativo Contencioso em Moçambique cinge, de uma forma geral, a história
geral do país, isto é para simplificar, um período colonial e um período pós-colonial.
Mas, a coincidência não é total e perfeita em termos de duração porque, depois da
independência do país em 1975, a influência do direito colonial será sempre presente até
a grande reforma do ano 2001 que culminou com a aprovação, pelo Parlamento, da Lei
sobre o Processo Administrativo. Por outro lado, o contencioso administrativo surge
com o Tribunal Administrativo, órgão competente para tomar decisões com
independência e imparcialidade e no entanto Moçambique, antes da independência era
uma província ultramarina que pertencia a Portugal, isto é, a história portuguesa
influenciada por França também é aplicável ao contencioso moçambicano naquela
época certas decisões de relevo tomadas em Portugal eram refletidas igualmente a
Moçambique.
3. A jurisdição do contencioso administrativo em Moçambique
O "chaos féodal" (Baixa Idade Média Séc. X à XV) teve, entre outras consequências, o
desmembramento do Estado. A parcialização territorial do reino em uma multidão de
"seigneuries" a partir do Tratado de Verdun em 843 continuou até o fim do Século XI
por fases sucessivas e teve por consequências, a criação, no território do reino, de
verdadeiros Estados governados soberanamente por príncipes hereditários – primores
regni - que exerceram direitos de natureza política, tributária, judicial e económica.
Nessas circunstâncias, a realeza teve que enfrentar numerosas dificuldades devido à
expansão dos grandes senhores mais poderosos do que o próprio rei. Todavia, a realeza
não desaparecera. A partir do início do Século XII a política real consiste em fortalecer
o
seu próprio domínio e iniciar, a partir daí, a reconquista territorial e política do reino.
Ela
será apoiada, neste projeto político, pela Igreja e pelos municípios que revindicam a sua
emancipação. Nesta estratégia de reconquista político-territorial, a administração da
Justiça e o controlo da Administração tornam-se de extrema importância.
Esta vontade política afirmada vai dar início à construção do Estado absoluto “na
medida em que se verificava nele (no Monarca) uma forte concentração do poder, sem
limites nem compartícipes” e ao surgimento de uma estrutura burocrática do Estado
centralizada e uniformizadora.
A doutrina da unicidade do poder e o princípio de autoridade absoluta do Estado
implicaram uma separação entre as funções judiciária e administrativa. Isto significava
que a Administração Pública não devia ser mais considerada como um prolongamento
da
Justiça mas como uma atividade específica pertencente ao Governo. Por outras palavras,
tudo que é assunto público é assunto do Governo ou dos seus representantes; como
escreve FRANÇOIS MONNIER: “Dirimir um litígio entre o Estado e um particular
pertence ainda à função administrativa ativa”.
Nesta lógica, numa primeira fase o contencioso administrativo português estava inserido
dentro da Administração Pública, o que significa um período em que a Administração
tinha poderes para resolver conflitos surgidos entre ela e os Administrados.
Assim nasce uma tradição segundo a qual, a resolução dos processos administrativos
contenciosos pertence à Administração Pública. Tradição continua desde o Cardeal de
RICHELIEU no “Édit de Saint-Germain” de Fevereiro de 1641 e do Alvará do
Conselho do Rei Luís XIV de 8 de Julho de 1661, que reserva a resolução dos litígios
envolvendo a Administração Pública aos administradores e ao Governo, até o
surgimento da Revolução de 1789 que mantém esta política herdada do regime anterior.
A consagração deste sistema do “Administrador-Juiz” significava o reconhecimento de
que o poder administrativo não podia estar sujeito ao controlo dos tribunais o que
marcou toda a evolução futura do Direito Administrativo e do direito do contencioso
administrativo à maneira a que, VASCO PEREIRA DA SILVA, chamou de “pecado
Original”.
Este período em que os litígios dos particulares perante a Administração Pública podiam
ser resolvidos pelos órgãos administrativos, precede o período em que vigorava o
sistema de Administrador-juiz. Nesta ordem, não se pode falar, nesta altura, do
contencioso administrativo, contudo, com o surgimento do sistema de Administrador-
juiz tenta-se inserir um modelo que embora ineficaz, os administrados podiam ver os
seus diferendos resolvidos por um órgão quase jurisdicional.
Nesta perspetiva, o professor Gilles Cistac refere que, “com a aprovação da Portaria
Provincial n° 398, de 18 de Fevereiro de 1856, marca formalmente o nascimento de
uma justiça Administrativa em Moçambique, no sentido moderno da palavra. Ainda,
não sendo suficiente para tratar de uma efetiva justiça administrativa e pelos outros
vários motivos, foi aprovado um o Decreto de 1 de Dezembro de 1869 que introduziu o
termo “tribunal administrativo”, (Manual do Isced, pg.15).
Depois de sucessiva legislação, veio a Reforma Administrativa Ultramarina (aprovado
por Decreto-Lei n° 23.229, de 15 de Novembro de 1933. Esta reforma veio
consubstanciar e cristalizar o Direito Administrativo de forma clara e de modo a
permitir que os tribunais administrativos tenham poderes bastante para agir nos
conflitos entre os administrados e a Administração. Nas palavras do autor em referência,
“é ilustrativo da vigência e importância deste diploma legal como fonte principal do
Direito Processual Administrativo Contenciosa, até o princípio do ano 2001, a análise
dos fundamentos dos acórdãos proferidos pelo Tribunal Administrativo na área do
contencioso administrativo”.
O autor em referência afirma que a introdução da lei acima citada foi fruto de muitas
motivações que segundo o autor CISTAC, “além do comando legal que impunha uma
reforma legal nesta matéria (Artigo 46 da Lei n.º 5/92, de 6 de Maio), o direito colonial
herdado não se adequava às novas realidades do país. A Reforma Administrativa
Ultramarina apresentava dificuldades na sua aplicação, designadamente quanto à
necessária celeridade processual e a melhor proteção dos direitos subjetivos dos
administrados. Além disso, as profundas alterações às atribuições do Tribunal
Administrativo, no contencioso administrativo, consagradas pela Lei n.º 5/92, de 6 de
Maio, nomeadamente, a introdução de figuras e institutos jurídicos até então
inexistentes no quadro legal implicava uma imperiosa necessidade de se reformular o
direito adjetivo, o direito processual, de modo a que o direito substantivo seja melhor
agilizado ou servido.
Um reformar profunda era necessária o que foi, efetivamente, realizado com aprovação
da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho sobre o Processo Contencioso Administrativo”6, já na
vigência da Constituição de 1990.
Mesmo assim, o mundo jurídico é dinâmico facto que provou que a Lei n° 9/2001, de 7
de Julho, não se mostrou eficiente até no ano 2013 o que levou a sua alteração através
da nova Lei n° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Contudo, o preâmbulo desta lei não clarifica
o erro que se pretende resolver com a introdução da lei nova, prescrevendo de forma
contundente de que a frase “havendo necessidade de simplificar os procedimentos
atinentes ao processo administrativo contencioso”, o que demonstra que a lei antiga já
estava desajustada aos parâmetros atuais.
A lei 7/2014 é uma lei que para além de simplificar alguns procedimentos manteve
algumas expressões das leis que a antecederam sobretudo no que diz respeito às
garantias dos administrados quanto a recorribilidade dos atos administrativo ao manter a
teoria da definitividade do ato, conforme mais adiante tratar-se-á.
5. A Constituição de 1990
Pode se perceber que é a Constituição que trás uma virada incondicional para as
instituições jurisdicionais, consagrando com clareza a existência dos Tribunais
Administrativos como instituição vocacionada em dirimir conflitos de índole
administrativo, concebendo o cidadão como titular de vários direitos, liberdades e
garantias, e ainda, consagrando como princípio estruturante do sistema de justiça o
acesso aos tribunais.
Esta Constituição, substituindo a concepção antiga, foi sobreposta um regime de Estado
de Direito de democracia popular, nas vertentes socialistas, para um regime de Estado
de Direito Democrático12. Segundo PEDRO SINAI NHATITIMA, a Constituição de
1990 surge numa conjuntura histórico-política demarcada no plano externo, como no
plano interno.
Nesse sentido, a Constituição de 1990 institui um modelo de Estado que para além de
democrático é também Estado de Direito Social. Esta Constituição consagra vários
princípios de defesa da própria Constituição e de elevação do Estado de Direito na sua
plenitude.
Neste sentido, a Constituição de 1990, “democrática e pluralista, elimina a referência
ideológica marxista-leninista e o monismo político-partidário, estabelecendo claramente
a nova estrutura democrática, a liberdade política e a consagração dos direitos
fundamentais”. Dentre esses direitos fundamentais destacam-se o acesso a justiça, a
defesa e a resistência contra os atos ilegais.
Foi através da Constituição de 1990 que deu azo para implementação dos tribunais
administrativo através da criação da primeira lei orgânica do Tribunal Administrativo, a
Lei n° 5/92, de 6 de Maio. No preâmbulo da mesma lei, consagrou-se os objetivos da
sua criação nomeadamente, julgar as ações que tenham por objeto litígios emergentes
das relações jurídicas administrativo, julgar os recursos contenciosos interpostos das
decisões dos órgãos do Estado, dos seus titulares e agentes e apreciar as contas do
Estado.
O artigo 81 desta Constituição, veio consagrar o princípio de que todo o cidadão pode
impugnar os atos que violem os seus direitos estabelecidos na Constituição e demais leis
e o artigo 82 consagra que o cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os
atos que violem seus direitos reconhecidos pela Constituição e pela lei. Deste modo, o
direito de recurso consagrado na Constituição pelo seu artigo 82 representa na área do
contencioso administrativo, a constitucionalização deste tipo de recurso no que refere ao
particular, cujo direito reconhecido pela Constituição e demais leis se mostre violado,
por um lado, e pelo direito do acesso aos tribunais, constitucionalmente consagrado nos
termos da primeira parte do número 1 do artigo 100, por outro Salienta que “só no
número 1 do artigo 173 da Constituição e na Lei número 5/92, de 6 de Maio é que
encontramos referência ao ato administrativo, mas este não é referido como ato
definitivo e executório”.
Assim, a definitividade vertical e horizontal do ato impugnado já não são um
pressuposto processual para a interposição do recurso jurisdicional. Deste modo, o
recurso hierárquico administrativo tem de ser meramente facultativo, sendo
constitucionalmente duvidoso que a lei possa estabelecer um recurso hierárquico
obrigatório.
Portanto, vislumbra-se uma autêntica desconformidade do artigo 27, n° 1, da Lei n°
9/2001, de 7 de Julho (lei do processo contencioso administrativo) ao consagrar que só é
admissível recurso contencioso dos atos definitivos e executório, com as disposições
constitucionais supra citados.
6. A Constituição de 2004
Como se não bastasse, através do artigo 214 estabelece que “nos feitos submetidos a
julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que ofendam a
Constituição”. Aqui, vigora o princípio da não aplicação das normas inconstitucionais o
que subsumindo e conjugando com o preceito anteriormente citado conclui-se que em
nenhum momento os tribunais devem permitir que leis ordinárias limitem o cidadão de
recorrer contenciosamente dos atos administrativos produtivos de efeitos jurídicos, ou
lesivos, mesmo não sendo definitivos.
Ainda, através desse princípio, confere-se aos tribunais “amplos poderes de pronúncia,
incluindo os de condenar a Administração ou dirigir a esta injunções”20
A Constituição de 2004 estabelece uma série de garantias e, nas palavras do professor
Diogo Freitas do Amaral, as garantias constitucionais do direito ao recurso contencioso
abrange:
Esta estabelece um conceito de ato impugnável que não suscita dúvida, conforme o n° 3
do artigo 253. No mesmo diapasão, estabelece o n° 3 do artigo 153 da Lei n° 14/2011,
de 10 de Agosto que “é assegurado aos cidadãos interessados o direito do recurso
contencioso fundado em ilegalidade dos atos administrativos, desde que prejudiquem os
seus direitos”, contudo, essa possibilidade de agir contenciosamente contra os atos
lesivos praticados por órgãos da Administração está condicionada aos termos
estabelecidos na lei do processo contencioso administrativo, conforme prevê o n° 4 do
artigo retro.
Contudo, deve ficar assente que foi através desta Constituição que o legislador ordinário
revogou a anterior Lei n° 9/2001, de 7 de Julho, introduzindo a nova lei do processo
administrativo contencioso (Lei n° 7/2014, de 28 de Fevereiro) que se espera que com a
mesma pudesse ser ultrapassada a contenda que se levantava, justamente nas
disposições que limitavam o cidadão de acesso aos tribunais. Na verdade, nada mudou,
porque manteve o mesmo raciocínio da definitividade e executoriedade dos atos
administrativo para efeitos de recursos, colocando as atuais disposições constitucionais
em crise já que é posta em causa o princípio da supremacia constitucional previsto no n°
4 do artigo 2 da Constituição da República de Moçambique.
7. Conclusão
Quanto ao que foi estudado e investigado nestas matérias chegou-se a conclusão de que
verifica-se uma ligação no âmbito do surgimento dos tribunais administrativos, visto
que em Moçambique.
A evolução do contencioso tem a sua origem na história portuguesa que influenciou as
suas colónias na introdução da reforma administrativa ultramarina onde entendeu-se
sobre a possibilidade de impugnar atos administrativos por parte dos administrados e
isto constituía uma garantia fundamental elencada no texto constitucional, e desta feita,
a maneira estabelecida limitava a impugnação de atos que não fossem definitivos e
executórios nos termos do nº1 do art.º. 33 da lei 7/2014 de 28 de Fevereiro que aprova a
lei do Processo Administrativo e Contencioso em Moçambique.
Com a emergência da independência em Moçambicano, foram profundas alterações
realizadas até ao ponto de não constituir prioridades do Estado para o estabelecimento
de um conjunto de garantias administrativas, pois, os vetores e as políticas mestres
estavam conectadas ao alavancamento da economia nacional, sendo esquecido a questão
dos conflitos que podiam surgir entre os particulares e a Administração Pública. Como
consequência disso nesta época, não haviam tribunais administrativo no verdadeiro
sentido e, só com aprovação da Constituição de 1990 é que veio enroxar e reorganizar a
criação dos tribunais em Moçambique, sendo reconhecido constitucionalmente a
existência de Tribunal Administrativo o que culminou com a produção legislativa da lei
n° 5/1992, de 6 de Maio um instrumento que regia o funcionamento e as competências
do Tribunal Administrativo em moçambique.
A evolução recente da natureza do contencioso administrativo mais preocupado,
tendencialmente, pela proteção dos direitos subjetivos públicos dos particulares,
constituiu um fator determinante para uma reforma da RAU o que foi realizado através
da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho.
Neste foi introduzida a lei do contencioso com vista a concretizar o modo de efetivação
das garantias dos administrados, como é o caso de acesso a justiça administrativa entre
outras, isto é, sobre a recorribilidade dos atos administrativos, todas as leis em apreço
limitam o recurso, ao consagrar a teoria da definitividade e executoriedade dos atos,
numa clara contradição aos comandos constitucionais.
Com a constituição de 2004, esta na sua atuação foi mais clara sobre aos atos suscetíveis
de recurso, consagrando desta forma a teoria de ato lesivo, mesmo assim, foi aprovado a
nova lei do contencioso (Lei n° 7/2014, de 28 de Fevereiro), com isso, nada mudou o
que nos leva a concluir sobre a inconstitucionalidade de todas as normas que
condicionam a definitividade do acto administrativo.
Hoje não vale limitar os recursos contenciosos a actos definitivos e executórios,
bastando que o acto seja lesivo para efeitos da sua sindicância nos tribunais
administrativos, a remota teoria da definitividade está ultrapassado, não se
compaginando com os actuais Estados de Direito e garantístico.
8. Bibliografia