Direito Do Contencioso Administrativo E Tributário
Direito Do Contencioso Administrativo E Tributário
Direito Do Contencioso Administrativo E Tributário
1. Introdução........................................................................................................................1
2. Desenvolvimento.............................................................................................................2
2.1. O Contencioso Administrativo Colonial ou de Inspiração Colonial (1832-2000).......2
2.1.1. A pré-história do Contencioso Administrativo (…-1831)........................................2
2.1.2. A resolução dos litígios administrativos na administração de Moçambique antes de
1832 ……………………………………………………………………………………..3
2.1.3. Da recepção do sistema de administração executiva em Portugal até ao surgimento
de uma jurisdição administrativa em Moçambique (1832-1856)............................................4
a) A influência profunda do direito francês.........................................................................4
2.1.4. Da Reforma Administrativa de Mouzinho da Silveira à aprovação da Portaria
Provincial n.º 395, de 18 de Fevereiro de 1856.......................................................................5
2.2. O surgimento do Contencioso Administrativo na Província Ultramarina e o seu
desenvolvimento no Moçambique independente (1856-2000)...............................................6
2.2.1. Do nascimento da justiça administrativa à aprovação da Reforma Administrativa
Ultramarina (1856-1933).........................................................................................................7
2.2.2. Da Reforma Administrativa Ultramarina à aprovação da Lei n.º 9/2001, de 7 de
Julho (1933-2001).................................................................................................................10
2.3. O novo Contencioso Administrativo (2001-…).........................................................10
3. Conclusões.....................................................................................................................12
4. Bibliografia....................................................................................................................13
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1. Introdução
No que tange a metodologia empregue no decorrer da elaboração do trabalho, este, teve como
base as pesquisas bibliográficas realizadas em livros, revistas, artigos científicos e sites da
internet, que tenham por conteúdo o Contencioso Administrativo Moçambicano. Segundo Gil
(1991), a pesquisa bibliográfica tem como objectivo conhecer e analisar as principais
contribuições teóricas existentes a partir de um determinado tema ou problema, procurando
expor a realidade estudada, suas características e princípios vinculados, (p.63).
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2. Desenvolvimento
Não se pode conceber uma administração sem litígio, seja esse o fruto de conflitos internos ou
a consequência de actividades susceptíveis de prejudicar os particulares. Mas pode-se
conceber modos de resolução de litígios administrativos ou não jurisdicionais (e
particularmente sem a intervenção de qualquer jurisdição administrativa ou jurisdicional), por
um lado, e na ausência de uma jurisdição privativa e original do contencioso administrativo,
por outro lado.
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Disponivel em: https://psicanalise-do-contencioso.blogspot.com/2010/12/evolucao-historica-do-
contencioso.html acessado aos 30/05/2023
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privado. Essas possibilidades teóricas existiram de facto no âmbito da administração colonial
antes de 1832.
A capitania era um governo pessoal feudal típico. A estrutura burocrática ainda que reduzida,
continha uma hierarquia de funcionários e outro pessoal com um ouvidor (juiz) responsável
perante o capitão.
Não existia, nesta altura, nenhum “tribunal administrativo” para dirimir qualquer litígio de
natureza administrativa e se existia era a premissa de uma garantia contenciosa através do
ouvidor (juiz local e responsável perante o capitão), ou seja, o direito aplicável e aplicado não
tinha nenhuma especificidade (era o “direito privado”).
De qualquer forma, o ouvidor estava sujeito à autoridade do capitão o que limitava a sua
independência e a eficácia das suas próprias decisões (por essa razão, os litígios originados
pela actividade da “micro-administração” da capitania eram principalmente resolvidos através
de garantias graciosas [e não tanto por garantias contenciosas]).
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regulamentação relacionada com a abolição dos Prazos da Coroa e o seu processo de
indemnização permite confirmar que o seu contencioso é da competência do Poder Judicial e
que não houve ainda nesta altura “publicização” dos órgãos encarregados de julgar os litígios
relacionados com esta matéria.
Deste modo, nasce uma tradição segundo a qual a resolução dos contenciosos administrativos
pertence à Administração Pública. Tradição contínua desde o Cardeal de Richelieu no “Édit
de Saint-Germain” de Fevereiro de 1641 e do Alvara do Conselho do Rei Luís XIV de 8 de
Julho de 1661, que reserva a resolução dos litígios envolvendo a Administração Pública aos
administradores e ao Governo, até ao surgimento da Revolução de 1789 que mantém esta
política herdada do regime anterior. A consagração deste sistema do “Administrador-Juiz”
significava o reconhecimento de que o poder administrativo não podia estar sujeito ao
controlo dos tribunais, o que marcou toda a evolução futura do Direito Administrativo e do
Contencioso Administrativo a que o Professor Doutor Vasco Pereira da Silva chamou de
“pecado original”.
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Esta tradição secular transforma-se, em França, numa verdadeira concepção da Justiça
Administrativa segundo a qual a resolução dos litígios administrativos é concebida como uma
outra forma de administrar e, consequentemente, como uma atribuição dos administradores
públicos. É o sistema do “administrador-juiz”, como escreve Grégoire Bigot, “um belo
exemplo da ditadura administrativa na resolução do contencioso”.
O Consulato (1799-1804) põe fim a este sistema. Contudo, a Justiça Administrativa não
permanecerá dissociada da Administração Pública. Não é a administração activa que será
encarregada da resolução dos litígios de carácter administrativo, mas a administração
consultiva. Esses novos órgãos serão encarregados não só de assessorar a administração activa
mas também de estatuir sobre as reclamações dirigidas contra a actuação desta. Como observa
René Chapus: “É assim que pelo julgamento dos litígios administrativos são criados não
“Tribunais” mas “conselhos”: o Conselho de Estado, no plano nacional, os conselhos de
prefectura, nos departamentos”.
Este conceito de Justiça Administrativa lato sensu foi importado por vários países europeus e
outros no mundo através da recepção do sistema de administração executiva ou regime
administrativo que pressupõe a existência de uma jurisdição administrativa. Em Portugal, esta
“importação” foi concretamente realizada no séc. XIX com a aprovação da Reforma
Administrativa de Mouzinho da Silveira em 1832.
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modelo muito idêntico ao francês (modelo de organização administrativa que se caracterizou
por uma excessiva centralização).
O Decreto centralizador n.º 23, de 16 de Maio de 1832, levantou por toda a parte uma onda de
francos protestos que culminou com a aprovação de um Código Administrativo amplamente
descentralizador – o Código de 1836 – que alargou as atribuições das câmaras municipais.
Por Decreto de 18 de Março de 1842, o Código Administrativo de 1836 foi substituído por
um outro – o Código de Costa Cabral – que tinha como principal objectivo, conforme nele se
dizia, “eliminar alguns efeitos desastrosos da administração local ocorridos durante a vigência
do Código de 1836. De tendência centralizadora, o Código Administrativo de 1842 consagra
uma maior intervenção do poder central no poder local o que implicará, além do
estabelecimento de uma tutela administrativa mais rigorosa sobre as câmaras municipais, a
passagem do contencioso administrativo para as autoridades administrativas.
O Código Administrativo de 1842 foi aplicado logo ao Ultramar e constitui, do ponto de vista
histórico, o início da introdução, em Moçambique, do sistema de administração executivo
com um modo de resolução de litígios administrativos original através de um órgão específico
– o tribunal administrativo – com regras processuais, por parte, distintas da Lei Processual
Civil.
O facto colonial, numa vontade de assimilação institucional, introduzira nas suas colónias as
instituições administrativas da metrópole e, mais particularmente, uma justiça administrativa
teoricamente distinta da justiça civil. É na segunda parte do séc. XIX que Moçambique será o
receptor deste modo original de resolução dos litígios administrativos.
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segunda fase histórica inicia-se com a aprovação da referida Reforma Administrativa (1933)
terminando com a grande Reforma de 2001. Este período é marcado pela estabilidade das
regras processuais que regulam o Contencioso Administrativo em Moçambique.
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No início do séc. XX, o Decreto de 2 de Setembro de 1901 vem, por um lado, estabelecer uma
competência de atribuição a favor do Supremo Tribunal Administrativo em matéria de
recursos dos actos e decisões das autoridades administrativas das províncias ultramarinas, e
por outro lado, regular, nas províncias ultramarinas, a forma do processo, a interposição e o
seguimento de recursos para o Supremo Tribunal Administrativo.
Ainda no início do séc. XX, o Decreto de 23 de Maio de 1907 veio implementar uma reforma
importante no domínio da “Reorganização administrativa da província de Moçambique”. Esta
reforma procurou lutar contra uma centralização excessiva, sendo que teve consequências do
ponto de vista do contencioso administrativo, no que concerne à composição e às
competências do Conselho de Província (introduzindo alterações na sua composição e alargou
as suas atribuições).
Contudo, esta reforma não conseguiu cumprir aquilo para o qual se propôs. A aprovação do
Decreto n.º 164 de 14 de Outubro de 1913 demonstrou isso claramente. Este diploma,
constituindo mais uma reforma, reorganizou os serviços do Conselho de Província de
Moçambique com base em dois tipos de medidas: em primeiro lugar, procedeu a uma
modificação da composição do Conselho de Província num duplo sentido: de se tornar o
Conselho mais “judicial” (o processo de “judicialização” traduz-se no ingresso de “Todos os
juízes da Relação de Moçambique” [nos termos do artigo 1.º, alínea a)] e “profissional” (o
processo de “profissionalização” traduz-se no reforço do corpo administrativo ao seu serviço
[nos termos dos artigos 4.º, 5.º e 6.º]); em segundo lugar, atribuiu “gratificações” aos juízes e
vogais de forma a interessar melhor os seus membros no desempenho efectivo das funções
atribuídas ao Conselho [nos termos do artigo 2.º]).
Em 1914, com a publicação da Lei n.º 277, de 15 de Agosto de 1914 (Lei Orgânica da
Administração Civil das Províncias Ultramarinas) cessou o regime do Decreto de 1869 e do
Código de 1842, o que levou “cada colónia a publicar a sua legislação administrativa”.
A colónia de Moçambique não foi excepção. No dia 28 de Janeiro de 1922, o Alto Comissário
da República da Província de Moçambique, Manuel de Brito Camacho, promulga a Carta
Orgânica da Província de Moçambique (constante do Decreto n.º 200, de 28 de Janeiro de
1922), consagrando esta, pela primeira vez, de uma forma explícita, num Capítulo
individualizado (Capítulo VI), a instituição do Tribunal Administrativo (sendo que o Capítulo
VI tem como objectivo racionalizar o funcionamento desta instituição).
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A Carta Orgânica de 1922, no seu artigo 91.º, previa a publicação de um regimento especial
pelo Governador em Conselho Executivo que regulará a ordem e forma de processo a seguir
no Tribunal Administrativo, Fiscal e de Contas de Moçambique, fixará a respectiva tabela de
emolumentos, custas e salários, e o quadro e vencimentos do pessoal da secretaria.
Este regimento é efectivamente publicado no Suplemento do Boletim Oficial de Moçambique
n.º 29, de 26 de Julho de 1922, constituindo o primeiro estatuto privativo do Tribunal
Administrativo, Fiscal e de Contas de Moçambique.
Além disso, o artigo salientado estabelece a regra fundamental segundo a qual “os seus
Acórdãos têm um carácter e efeitos das decisões dos Tribunais de Justiça”. De jure, os
Acórdãos do Tribunal Administrativo produzem efeitos processuais definidos pelo Código de
Processo Civil.
Na verdade, o facto de cada colónia ter começado a publicar a sua própria legislação
administrativa (que derivou da publicação da Lei n.º 277, de 15 de Agosto de 1914 [Lei
Orgânica da Administração Civil das Províncias Ultramarinas] que veio cessar o regime do
Decreto de 1869 e do Código de 1842), juntamente com os diplomas metropolitanos comuns a
todo o Ultramar, teve como consequência uma inconveniente dispersão legislativa. Por essa
razão, o Governo central, usando da faculdade conferida pelo artigo 108.º da Constituição da
República Portuguesa, aprovou por Decreto-Lei n.º 23.229, de 15 de Novembro de 1933, a
Reforma Administrativa Ultramarina (em diante, RAU).
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2.2.B. Da Reforma Administrativa Ultramarina à aprovação da Lei n.º
9/2001, de 7 de Julho (1933-2001)
A RAU entrou em vigor em todas as colónias portuguesas no dia 1 de Janeiro de 1934. Além
da riqueza da matéria tratada, a RAU consagra uma parte (Parte V – DO CONTENCIOSO
ADMINISTRATIVO) relativa à organização e ao regime do Contencioso Administrativo nas
colónias.
Deste modo, no início dos anos 30 do século passado, os princípios e as regras fundamentais
referentes ao regime do Contencioso Administrativo no Ultramar são estabelecidos,
codificados e, consequentemente, aplicáveis na Província Ultramarina de Moçambique. Esses
princípios estarão em vigor até à reforma realizada pela Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho (ou seja,
esses princípios perdurarão mesmo depois da independência de Moçambique).
A observação atenta do Direito Comparado demonstra que nos últimos vinte anos houve uma
corrente convergente em termos de reformas do Contencioso Administrativo. Portugal,
Espanha, França, Alemanha, Argentina, entre outros países, realizaram profundas reformas
das normas contenciosas administrativas para responder às necessidades de evolução das
formas de actuação da Administração Pública e do próprio relacionamento
Administração/Administrado.
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Na verdade, Moçambique não podia permanecer afastado desta corrente. Além do comando
legal que impunha uma reforma legal nesta matéria (artigo 46.º da Lei n.º 5/92, de 6 de Maio),
o direito colonial herdado não se adequava às novas realidades do país. A RAU apresentava
dificuldades na sua aplicação, designadamente quanto à necessária celeridade processual e a
melhor protecção dos direitos subjectivos dos administrados. Além disso, as profundas
alterações às atribuições do Tribunal Administrativo, no contencioso administrativo,
consagradas pela Lei n.º 5/92, de 6 de Maio, nomeadamente, a introdução de figuras e
institutos jurídicos até então inexistentes no quadro legal, implicava uma imperiosa
necessidade de se reformular o direito processual, de modo a que o direito substantivo fosse
melhor agilizado ou servido.
Pelos motivos anteriormente salientados, uma reforma profunda era necessária. No princípio
do ano de 1996, o Governo solicitou ao Tribunal Administrativo que estudasse a elaboração
de um Ante-Projecto de Legislação Contenciosa Administrativa. O Presidente do Tribunal
Administrativo, sensível a este interesse, decidiu constituir um Grupo de Trabalho
encarregado de reflectir sobre os grandes eixos da reforma e de apresentar um Ante-Projecto
de Reforma do Contencioso Administrativo. O referido Grupo de Trabalho elaborou a sua
metodologia de trabalho e apresentou, em debate público, o resultado do seu trabalho. Por sua
vez, o Governo aprovou o Projecto do Código de Contencioso Administrativo e a Assembleia
da República aprovou a Lei sobre o Contencioso Administrativo (Lei n.º 9/2001, de 7 de
Julho).
Foi esta Lei que efectivamente realizou a profunda reforma do Contencioso Administrativo
Moçambicano.
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3. Conclusões
Terminado o presente estudo, conclui-se que foi esgotado o objectivo do mesmo indicado a
quando do início, e desta feita fica a percepção de que o surgimento e a evolução histórica do
Contencioso Administrativo em Moçambique cingem, de uma forma geral, a história geral do
país, isto é, um período colonial e um período pós-colonial.
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4. Bibliografia
GIL, António Carlos. 1991. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3ª Edição, São Paulo -
Editora Atlas.
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