Centro Universitário de Brasília Faculdade de Ciências Da Saúde

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Centro Universitário de Brasília

Faculdade de Ciências da Saúde

AS GRANDES MIGRAÇÕES CONTINENTAIS

CYNTHIA DE OLIVEIRA PINTO

Brasília – 2002
Centro Universitário de Brasília
Faculdade de Ciências da Saúde
Licenciatura em Ciências Biológicas

AS GRANDES MIGRAÇÕES CONTINENTAIS

CYNTHIA DE OLIVEIRA PINTO

Monografia apresentada à Faculdade de


Ciências da Saúde do Centro Universitário
de Brasília como parte dos requisitos para a
obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Marcelo X. A. Bizerril

Brasília – 2002
Dedico este trabalho a todas as pessoas
que preservam a natureza e aos pesquisadores
que de alguma forma esclarecem os
comportamentos dos animais.
AGRADECIMENTO

Às diversas pessoas que me apoiaram durante a realização deste trabalho,


como familiares e amigos, aqui expresso meu carinho e agradecimentos. Em especial
aos meus pais por priorizarem a minha educação assim como o meu crescimento
moral e intelectual, participando de mais uma etapa da minha vida. Agradeço também
ao meu professor Marcelo Ximenes por ter me orientado da melhor forma possível na
conclusão deste trabalho.
RESUMO

Os deslocamentos das populações distinguem-se em várias categorias, sendo


estacionais ou anuais e regulares ou irregulares. A migração é um exemplo de
deslocamento, o qual refere-se ao movimento coletivo dos indivíduos de uma espécie
ou de uma população de um local para outro, à busca de melhores condições
ambientais de vida. Possui como característica o deslocamento periódico e reversível,
ou seja, uma viagem de ida e volta. As distâncias percorridas variam de acordo com
cada animal e cada espécie, podendo ser curtas ou longas. As longas viagens
requerem que os animais possuam um grande poder de orientação, seguindo os
fatores ambientais e fisiológicos. Os animais podem migrar através dos ambientes
terrestres e aquáticos, sendo os maiores migrantes as aves. Outros animais também
realizam extensas migrações como, por exemplo, alguns insetos, peixes, répteis e
mamíferos. Para um melhor estudo sobre as rotas migratórias, os animais são
marcados de maneiras diferentes, o que possibilita rastrear seus deslocamentos.
Entretanto, são pesquisas de difícil realização devido às longas distâncias envolvidas
e aos riscos que os animais enfrentam. A migração tornou-se hereditária e é um
fenômeno que ocorre naturalmente, pois a seleção natural favoreceu os indivíduos
que se retiravam de lugares temporariamente hostis e retornavam quando estes se
tornavam favoráveis. Trata-se de um movimento interessante e curioso, pois os
animais demonstram uma grande capacidade de determinar a posição de diversas
áreas com diferentes hábitats, e todas essas viagens apresentam um custo – benefício
bem definido para os animais. Destaca-se, no processo migratório, a importância da
capacidade de reprodução dos indivíduos.

Palavras – chaves: migração, populações, comportamento animal.


SUMÁRIO

1 – Introdução .............................................................................................................. 1
2 – Fatores Causais ...................................................................................................... 3
3 – Mecânica da migração ........................................................................................... 4
4 – Riscos da migração ................................................................................................ 5
5 – Métodos de estudo da migração ............................................................................ 6
6 – Migração em diferentes grupos animais ................................................................ 6
6.1 – Insetos migratórios .................................................................................. 7
6.2 – Peixes migratórios ................................................................................... 8
6.3 – Répteis migratórios ............................................................................... 10
6.4 – Aves migratórias ................................................................................... 13
6.5 – Mamíferos migratórios ......................................................................... 16
7 – Conclusão ............................................................................................................ 21
8 – Referência Bibliográfica .......................................................................................22
1. INTRODUÇÃO

Os organismos vivem em lugares denominados hábitats, os quais são


definidos pelas suas características físicas mais visíveis, freqüentemente incluindo
flora predominante, ou mesmo a fauna. Temos como exemplos de hábitats: desertos,
florestas e recifes de coral, porém pode-se distinguir dois tipos principais de hábitats,
os terrestres e os aquáticos (Ricklefs, 1996).
A variedade dos hábitats demonstra a grande diversidade dos organismos
vivos, pois eles experimentam condições diversas de luz, pressão, temperatura,
concentração de oxigênio, umidade, recursos alimentares e inimigos (Ricklefs, 1996).
Os animais conseguem viver nos lugares mais improváveis, o que fornece muitas
informações sobre a maneira como eles funcionam como organismos, isto é, como
interagem a morfologia, a fisiologia, a ecologia e o comportamento (Pough et al.,
1999).
Cerca de 80% da superfície do planeta é coberta pela água salgada dos mares
e oceanos. Nos oceanos a temperatura varia horizontalmente em relação às latitudes e
verticalmente com a profundidade. A temperatura é um importante fator nos
processos biológicos e na distribuição dos organismos, estes organismos variam
quanto ao grau de locomoção, distinguindo-se em animais fixos e animais que
realizam grandes deslocamentos. Segundo Ricklefs (1996), os organismos oceânicos
são classificados em bentos, comunidade de animais e plantas que vivem fixos
associados ao substrato do fundo, seja rochoso, arenoso ou lodoso, independente da
profundidade; em nécton, organismos que possuem poder de locomoção e não são
dependentes das correntes marítimas, nadam ou bóiam; ou em plâncton, organismos
microscópicos que são arrastados passivamente pelas correntezas, possuem um poder
limitado de locomoção.
A região bentônica abriga organismos sésseis e/ou incrustantes, como cracas,
mexilhões, esponjas e anêmonas, são todos dependentes da corrente da água, pois a
água trás oxigênio, alimento e retira dejetos. Esses organismos ocupam uma área de
vida bem restrita, e ainda desenvolveram larvas móveis que permitem maior
eficiência na dispersão (Barnes, 1990). Em ambientes terrestres os indivíduos
apresentam características locomotoras e podem se deslocar através de pequenas ou
grandes áreas, como por exemplo, atravessar grandes continentes.
Em muitas regiões do mundo, devido às condições adversas, animais e plantas
são impedidos de prosseguirem com suas atividades normais. Logo, esses organismos
recorrem a respostas extremas, como armazenamento de alimentos, dormência
(tornam-se inativos) e deslocamentos populacionais (Ricklefs, 1996).
Nos ecossistemas terrestres e aquáticos existem animais que ocupam uma
área de vida pequena, sendo estritamente locais, pois não há a necessidade de
deslocamento em busca da sobrevivência. Quando necessário esses animais realizam
pequenos deslocamentos para áreas próximas, como é o caso de rãs e salamandras
que migram regularmente curtas distâncias até a água para reproduzir-se e depois
voltam para a terra (Storer et al., 2000).
Segundo Pough et al. (1999), entre os animais que necessitam percorrer
distâncias enormes para a sua sobrevivência distinguem-se quatro tipos principais de
deslocamento: os deslocamentos de dispersão, onde indivíduos ocupam territórios
limitados, normalmente jovens ou adultos não reprodutivos resultando na expansão
da distribuição geográfica das espécies; nomadismo, deslocamento de indivíduos
irregular ou ao acaso para áreas favoráveis de alimentação ou reprodução; emigração
(invasão ou irrupção), que são deslocamentos irregulares de um grande número de
indivíduos, para área onde a espécie não é encontrada normalmente; e, finalmente,
migração, que é o deslocamento regular, previsível, entre dois raios de ação ou
territórios.
Não há migração sem retorno. A migração é um evento natural sazonal ou
periódico, realizado em períodos reprodutivos ou de invernada (fora do período
reprodutivo) dos animais. As distâncias percorridas variam de acordo com cada
espécie, podendo ser curtas ou longas (envolvendo milhares de quilômetros), sendo
que podem ocorrer variações no comportamento migratório. Às vezes indivíduos da
mesma população agem diferentes em relação ao deslocamento, como é o caso de
algumas aves, por exemplo, os pardais canoros (Melospiza melodia) e os pardais-de-
coroa-branca (Zonotrichia leucophrys) norte-americanos, os quais as populações do
norte são migratórias enquanto as do sul são sedentárias (Ricard, 1969).
Este trabalho tem como objetivo analisar a importância do processo
migratório, entender porque e como os animais migram percorrendo longas
distâncias.

2. FATORES CAUSAIS

Os membros de uma espécie movem-se para uma área quando ela é rica em
recursos e a deixam quando o lugar torna-se menos sustentável, independente dos
locais apresentarem uma localização distante (Alcock, 1993).
O deslocamento migratório apresenta três causas principais: alimentares,
gaméticas e climáticas. Isto porque o animal deve apresentar um comportamento
adaptativo ao suprimento alimentar e ao ambiente reprodutivo. Estes três fatores estão
intimamente ligados, pois o clima controla a produção de alimento e a maior duração
do dia na primavera é um estímulo para o desenvolvimento gonadal das espécies
(Ricard, 1969; Orr, 1986).
O clima tem uma influência evidente sobre os movimentos migratórios, onde
calor e frio extremos criam um ambiente desfavorável. Outros fatores, como duração
mutável do dia e até mesmo periodicidade lunar, podem influenciar na migração.
Algumas espécies diferem nas épocas climáticas de migração em relação à idade e ao
sexo, como é o caso de algumas aves onde, geralmente, os filhotes migram primeiro
que os adultos, e machos e fêmeas que migram em meses distintos (Orr, 1986).
O globo possui dois tipos de estação climática bem definidos. No Hemisfério
Norte o inverno ocorre de dezembro a fevereiro, a primavera de março a maio, o
verão de junho a agosto e o outono de setembro a novembro. Já no Hemisfério Sul
acontece ao contrário: o verão ocorre de dezembro a fevereiro, o outono de março a
maio, o inverno de junho a agosto e a primavera de setembro a novembro. Logo, essa
variação climática existente no globo possibilita que os animais viajem longas
distâncias entre os hemisférios a favor de sua sobrevivência (Sick, 1983). Para os
endotérmicos migratórios, como aves, morcegos e baleias, a menor duração de luz
diária no final do verão e outono, no Hemisfério Norte, está relacionada com o
deslocamento para o Sul e, inversamente, a maior duração de luz diária na primavera
está associada com o deslocamento para o Norte (Orr, 1986).
Algumas mudanças fisiológicas estão associadas à migração dos animais,
como é o caso de armazenamento de energia e do período reprodutivo. O clima
possibilita que alguns animais percebam o período migratório e relacionem o ciclo
reprodutivo com o deslocamento anual para suas áreas de procriação (Orr, 1986).

3. MECÂNICA DA MIGRAÇÃO

Os animais migram através da natação, flutuação pela corrente, do caminhar e


do vôo. Este último tipo de deslocamento, que pode cobrir metade do globo, exige
resistência e habilidade para navegar. Algumas espécies são migrantes solitários,
enquanto outras se deslocam em grupos, pequenos ou grandes, podendo ser à noite ou
de dia. O tempo total envolvido em qualquer migração, bem como a velocidade da
viagem, está sujeito a grandes variações. A maioria dos animais que empreendem
extensas migrações fazem-no de uma maneira bem lenta, porém não implica
necessariamente que se desloquem numa velocidade relativamente uniforme durante
todos os dias, além de existirem migrações ininterruptas (Orr, 1986).
A orientação que os organismos apresentam para retornarem a lugares
específicos é um dos aspectos mais notáveis da migração de longa distância. As
explicações recaem em duas categorias: (1) onde os animais aprendem a reconhecer
marcos ao longo do caminho, explorando um território além do próprio raio de ação,
e (2) a habilidade de voltar através do resultado de um sistema interno de navegação
(Pough et al., 1999).
Os animais utilizam vários estímulos para se orientarem, acreditando mais em
um ou outro segundo as circunstâncias. Dentre esses estímulos destacam-se os
fisiológicos e os ambientais. Os animais podem apresentar uma notável memória
visual e uns sentidos bem apurados como audição e olfato (Chauvin, 1977). Por outro
lado, muitos animais movimentam-se na natureza em um determinado ângulo com
relação à direção do sol, que serve como uma bússola. Os animais também seguem
outras linhas de referência como umidade, luz polarizada, gravidade, sons
ultrassônicos, corrente oceânica, campos elétricos e magnéticos (definindo pólos sul e
norte), pressão, lua e ainda as configurações das estrelas (Carthy, 1980).
Naturalmente, a posição dos astros (como o sol) muda durante o dia, isto
significa que alguns animais que utilizam esses recursos para se orientarem e
apresentam a habilidade de controlar o tempo requerem algum tipo de “relógio
interno”. Segundo as pesquisas, este relógio biológico trata-se de um ciclo circadiano,
onde os animais definem a intensidade do claro e do escuro (Carthy, 1980; Pough et
al, 1999).

4. RISCOS DA MIGRAÇÃO

Viajar é arriscado. Os riscos encontrados pelos animais migratórios podem ser


naturais ou criados pelos homens. São exemplos a tempestade, o nevoeiro e a queda
brusca da temperatura. Já os migrantes noturnos podem ser atraídos por faróis ou
luzes de altos edifícios e torres, onde se chocam e acabam morrendo. Os aparelhos de
raio de luz usados em aeroportos para determinar a altura do teto de nuvens podem
confundir as rotas migratórias dos animais, fazendo com que eles se percam ou
viajem para outros lugares fora de suas rotas (Orr, 1986).
Um dos principais riscos da migração está relacionado aos predadores, os
quais literalmente alimentam-se dos animais exaustos que percorreram longas
distâncias. Os predadores também se deslocam de seus hábitats para coincidirem com
as migrações, sendo uma distância bem mais curta. Assim, é mais comum migrantes
viajarem em grupos para ter menos riscos de serem capturados. Esta é uma maneira
que os animais encontraram para que pelo menos uma parte dos indivíduos
permanecessem vivos (Alcock, 1993).

5. MÉTODOS DE ESTUDO DA MIGRAÇÃO

Através da observação e da marcação dos indivíduos foi possível determinar


exatamente as rotas migratórias. Essas marcações são feitas através de fitas, anilhas
de metal enumeradas, corte na orelha, queimadura, pequenas mutilações e
radiotransmissores. Outro método interessante no estudo da migração é uso de
telescópio durante quatro ou cinco noites de lua cheia na primavera e outono, onde a
lua é vista como um relógio e a direção e linha do deslocamento das aves em frente a
sua face é registrada. Quando capturados por qualquer pessoa, o serviço de órgão
responsável pelas migrações deve ser avisado, comunicando o estado, data e local da
captura do animal, assim o estudo por pesquisadores tende a ser mais eficaz (Orr,
1986).

6. MIGRAÇÃO EM DIFERENTES GRUPOS ANIMAIS

A migração, movimento de deslocação coletivo dos indivíduos de uma


espécie ou de uma população de um local para outro, não é um deslocamento de um
determinado tipo de animal, mas sim de todos que necessitam viajar certas distâncias
em busca da sobrevivência e da procriação. Geralmente, esses deslocamentos
ocorrem entre uma área de reprodução no verão e uma não reprodutiva no inverno.
De insetos a mamíferos, vários grupos de animais apresentam comportamentos
migratórios específicos, diferenciando nas rotas, nas orientações e nas preparações
fisiológicas (Ricard, 1969).
6.1 INSETOS MIGRATÓRIOS

Alguns insetos realizam grandes viagens em busca de um hábitat adequado


para sua sobrevivência, com destaque para os gafanhotos e as borboletas monarcas. A
cada outono milhares de borboletas monarcas movem-se do sudeste do Canadá e do
nordeste dos Estados Unidos para pequenas áreas de florestas de pinheiros nas
montanhas do México Central, onde elas passam o inverno (Figura 1).

Fig. 1: Rota de migração da borboleta monarca. Milhões de borboletas


movem-se entre as áreas do México Central, sudeste do Canadá e do
nordeste dos Estados Unidos. Fonte: Alcock (1993).

Alguns indivíduos foram capturados a uma distância de 2500 quilômetros


embora a maior parte faz algo menos extraordinário. A migração acontece somente
com a população que confronta com as mudanças sazonais, de acordo com a
disponibilidade de uma planta herbácea chamada Asclepias tuberosa, conhecida nos
Estados Unidos pelo nome vulgar “butterfly milkweed”, as quais as fêmeas usam
para pôr seus ovos. No leste dos Estados Unidos essas plantas morrem no final do
outono e nascem de novo na primavera. Em algumas áreas dos Estados Unidos
ocidental essas plantas são presentes durante o ano todo, logo os movimentos das
monarcas são bem reduzidos (Alcock, 1993).
Centenas ou milhares de borboletas monarcas do oriente voam vários
quilômetros para passarem o inverno nas montanhas do México, pois, certamente, lá
é o lugar mais perto e adequado para procriação. Geadas são raras nas altas
montanhas de florestas de pinheiros no México durante o período de invernada, e a
temperatura varia entre 4°C a 11°C. Ocasionalmente, de qualquer maneira, as
nevadas colidem com as montanhas e então podem ocorrer mortes entre as
borboletas. Em áreas quentes e secas as monarcas usam suas reservas de água e
energia e em lugares úmidos e frios, mas sem geadas, as borboletas conservam água e
suplementos, que serão úteis no período de reprodução na primavera. Provavelmente,
a borboleta monarca tem como característica migratória à não capacidade de passar
meses em lugares com risco de vida, como no gelo, ou seja, lugares cuja combinação
não são suficientes, favorecendo o investimento de longas viagens migratórias
(Alcock, 1993).

6.2 PEIXES MIGRATÓRIOS

Muitas espécies de peixes de mar aberto espalham-se pelos oceanos, mas os


peixes litorâneos têm distribuição restrita. Logo se percebe a grande variedade de
faunas de peixes que também realização migrações periódicas (Storer et al., 2000).
Os peixes apresentam migrações diádromas, onde as espécies migram entre
as águas doce e salgada. Esse deslocamento ocorre apenas uma vez na vida. Pode-se
distinguir dois tipos de migrações diádromas: (1) anádromas, peixes que se
reproduzem em água doce e, então, migram para o mar para desenvolver-se, a
exemplo dos salmões e (2) catádromas, peixes que se reproduzem no mar e, entram
nos rios e ribeirões para chegarem à maturidade, exemplo enguias do gênero Anguilla
(Orr, 1986).
A migração dos salmonídeos e enguias podem durar a vida toda. O salmão do
Pacífico vive no mar por mais de cinco anos, após os quais retorna ao riacho onde foi
criado e lá desova. Usa o sol e o olfato bem desenvolvido para distinguir as águas do
riacho em que nasceu das de outros rios (Carthy, 1980).
De acordo com Orr (1986), os peixes migratórios mais conhecidos são os
salmões, cuja migração é puramente por motivos gaméticos. Os salmões do Pacífico,
do gênero Oncorhynchus, que estão confinados ao Oceano Pacífico Norte, não se
alimentam, uma vez que tenham retornado à água doce e, depois da desova, morrem
(Figura 2).

Fig. 2: Migração de salmões. O salmão do Pacífico, do gênero Oncorhynchus,


nasce no “Fraser River” e move-se em direção ao nordeste do Oceano Pacífico
para o seu crescimento e depois retorna ao rio. Fonte: Alcock (1993).

Esses animais acumulam grandes quantidades de gordura corporal, antes de


partirem para os locais de desova, e também usam para orientação a luz polarizada do
céu e as correntezas, além do sol e do olfato já mencionados. A velocidade média
depende de cada espécie, podendo ser de 16 milhas por dia ou até mesmo 30 milhas
por dia, e algumas espécies de salmões jovens deslocam-se rio a baixo em direção ao
mar principalmente à noite para se esconderem de vários predadores e descansam
durante o dia.
As rotas migratórias dos peixes são identificadas através da marcação dos
peixes com o uso do disco de Petersen, remoção da nadadeira adiposa e com a
utilização do sonar (Orr, 1986).

6.3 REPTÉIS MIGRATÓRIOS

Dentre os répteis migratórios os principais migrantes são as tartarugas


marinhas que apresentam um fenômeno extraordinário, pois possuem uma capacidade
de navegar por milhares de quilômetros de oceano aberto, os quais não possuem
sinais notáveis, para encontrar o caminho até as praias de nidificação. As áreas de
alimentação e nidificação estão freqüentemente muito separadas, o que dificulta mais
a orientação (Pough et al., 1999).
As tartarugas não são animais de cérebro desenvolvido, mas têm
extremamente desenvolvidos a visão, o olfato e a audição, além de usarem pelo
menos três estímulos para orientação, a luz polarizada, direção da onda e o
magnetismo da Terra. Isso faz com que, mesmo vivendo dispersas na imensidão dos
mares, saibam o momento e o local da reunião para reprodução. Nessa época,
realizam viagens transcontinentais para voltar às praias onde nasceram para desovar.
Só as fêmeas saem para a praia, enquanto os machos permanecem a vida toda na
água. A desova ocorre à noite, porque o calor da areia, durante o dia, prejudica a
postura e a escuridão as protege de vários obstáculos (Tamar, 2002).
Segundo Alcock (1993), as fêmeas adultas de tartarugas nadam
aproximadamente 1600 quilômetros em direção ao Brasil em busca de águas quentes
e rasas para se alimentarem ou para depositarem seus ovos. As cinco espécies de
tartarugas que ocorrem no Brasil possuem áreas bem definidas para efetuarem as
desovas, são elas: a Verde, Chelonia mydas, que desova preferencialmente nas ilhas
oceânicas, e seus filhotes, na fase juvenil, podem ser encontrados por toda a costa
brasileira; a Cabeçuda, Caretta caretta, que desova em quase toda a costa desde o
norte do Rio de Janeiro até o Ceará, porém se concentrando no norte do Rio de
Janeiro, Espírito Santo, Bahia e litoral de Sergipe; a Pente, Eretmochelys imbricata,
que concentra-se para reproduzir no norte da Bahia, região de recifes costeiros, até
Sergipe; a Oliva, Lepidochelys olivacea, que concentra-se em Sergipe; e a Gigante,
Dermochelys coriacea, que concentra-se no norte do Espírito Santo (Tamar, 2002).
Provavelmente, o exemplo mais notável de habilidade de retornarem às suas
praias de nidificação, com uma precisão espantosa, seja fornecido pelas tartarugas –
verdes que procuram alimentos ao longo da costa do Brasil, mas que retornam à Ilha
de Ascensão para procriarem, nadando mais de 1600 quilômetros Atlântico adentro
(Figura 3). A Ilha de Ascensão possui menos de 20 quilômetros de diâmetro, é um
pequeno pico vulcânico que emerge do oceano a 2200 quilômetros a leste da costa do
Brasil, um diminuto alvo na vastidão do Atlântico Sul. Trata-se de uma migração de
difícil entendimento, onde ainda não se sabe ao certo as explicações para a navegação
dessas tartarugas (Carthy, 1980; Pough et al., 1999).

Fig. 3: Movimentos migratórios das tartarugas-verdes no Caribe e no


Atlântico Sul. A população que nidifica no Caribe é atraída para regiões
alimentares no Golfo do México. As tartarugas que nidificam na Ilha de
Ascensão alimentam-se ao longo da costa norte da América do Sul. Fonte:
Pough et al. (1999).
As tartarugas são animais ectotérmicos. A grande massa corporal desses
animais tem duas conseqüências para a regulação da temperatura: (1) é responsável
pela enorme inércia térmica, de modo que a temperatura corporal muda lentamente; e
(2) permite ao animal mudar a espessura efetiva do seu isolamento, através da
mudança na repartição do fluxo sanguíneo para o interior versus a superfície corporal.
Quando a tartaruga está em água fria ela pode reter em seu corpo o calor produzido
pela atividade muscular, e quando se encontra em águas quentes dissipa o calor
metabólico aumentando o fluxo sanguíneo para a superfície do corpo e desvia o
sistema contracorrente nos seus membros. Esses mecanismos permitem as tartarugas
fazerem jornadas migratórias de milhares de quilômetros (Pough et al., 1999).
O Projeto Tamar vem consolidando ações específicas nas áreas de reprodução e
alimentação das tartarugas marinhas, protegendo fêmeas, juvenis e filhotes, para isto
esses animais precisam ter algum tipo de monitoramento. Um dos recursos usados é o
monitoramento por satélite, onde transmissores de sinais por satélites, de
aproximadamente 600 gramas, são colados no casco da tartaruga marinha e emitem
sinais quando o animal vem à superfície para respirar, as baterias são fatores
limitadores do processo: podem durar até 10 meses ou apresentar falhas, como
qualquer bateria. Há ainda o risco de a tartaruga ser morta, perder o transmissor ou
haver danos na antena. O transmissor tem identificação bem visível, com endereços
para contato imediato com o Projeto Tamar, caso uma dessas tartarugas seja
encontrada. Essas pesquisas, que monitora mil quilômetros de praia e cobre oito
estados brasileiros, têm ajudado de alguma forma no sucesso da ação preservacionista
das tartarugas marinhas e na importância do papel social. Em 1980, iniciou-se um
levantamento do número de tartarugas por toda a costa brasileira, através do Projeto
Tamar em 1981/82 cerca de 50.000 filhotes foram liberados para os oceanos, porém
com as pesquisas e os monitoramentos das tartarugas marinhas, nos anos de
1999/2000 o número de filhotes liberados subiu para 350.000 (Tamar, 2002).
6.4 AVES MIGRATÓRIAS

Os maiores migrantes são as aves, e poucos deslocamentos são tão dramáticos


como os desses animais. Uma característica notável da maioria destas migrações são
respostas às mudanças sazonais na disponibilidade de recursos (Pough et al., 1999).
As aves migram em bandos, cuja composição varia de acordo com cada espécie. Em
alguns casos, os adultos e jovens migram juntos, em outros, os adultos vão primeiro e
os jovens depois (Andrade, 1992).
As migrações podem ser realizadas durante o dia ou à noite. Os vôos podem
ser em grandes ou baixas alturas, dependendo das espécies. Muitas migram dentro da
vegetação e outras somente fora. Geralmente os vôos são realizados abaixo de 600m,
porém existem migrações mais altas, como em mares, desertos e cordilheiras, onde as
aves voam numa altura entre 2000 a 3000m (Sick, 1983).
Tantos as rotas de verão como as de inverno das espécies são bem definidas.
A maior parte da migração é para o norte e para o sul. Nota-se um maior
deslocamento das aves da América do Norte oriental para a América do Sul do que da
América do Norte ocidental. Os indivíduos podem voar de 50 a 80 quilômetros por
hora, usando rotas bem estabelecidas e viajando dentro de um horário, chegando e
partindo regularmente (Sick, 1983; Storer et al., 2000).
O alto gasto de energia da migração precisa ser compensado pela obtenção de
energia do outro hábitat. As aves, antes da migração, acumulam rapidamente reservas
de gorduras, ocorrendo um aumento na taxa de lipídeos, usado como combustível
extra durante os longos vôos. Os depósitos de gordura na cavidade do corpo e nos
tecidos aumentam cerca de dez vezes. O comprimento do dia – fotoperíodo - é a
indicação mais importante para a disposição migratória e a vontade migratória das
aves. A resposta fundamental às mudanças no comprimento do dia é um ritmo
endógeno (interno), onde a glândula pineal das aves controla sua atividade
locomotora diária, como um relógio biológico, presente o ano inteiro (Pough et al.,
1999).
Muitas aves que migram por rotas paralelas aos eixos das serras montanhosas,
vales ou mesmo sistemas fluviais, se orientam pelas características geográficas desses
lugares. Algumas aves possuem um grande poder de memória, como é o caso de
pombos-correio. A navegação também é orientada por vários fatores como direção do
sol, que serve como uma bússola, padrão das estrelas no céu, magnetismo da Terra e
ondas infra-sonoras, pois as aves apresentam uma grande capacidade de audição.
Interessantes experimentos sobre a orientação das aves podem perfeitamente
demonstrar a influência desses fatores sobre os movimentos migratórios, como é o
caso do uso de um planetário, onde as aves são colocadas em um “céu artificial” e se
orientam conforme os esquemas das estrelas (Chauvin, 1977; Orr, 1986).
A maioria dos migrantes é de aves aquáticas, de rapina e pequenas espécies
passeriformes insetívoras, especialmente do Hemisfério Norte deslocando-se para o
sul à procura de um hábitat mais favorável e necessário para a sobrevivência (Orr,
1986). Dentre todos os animais que fazem extensas migrações, o campeão parece ser
a andorinha-do-mar do Ártico, Sterna paradisea, que no fim do verão abandona as
costas árticas e percorre os 18.000 quilômetros que a separam das costas antárticas
onde passa o inverno para se alimentar. Na primavera retorna aos seus locais de
reprodução no Ártico (Figura 4), efetuando, portanto, a mesma distância de uma volta
completa em torno da Terra (Chauvin, 1977).
Pequenas aves também realizam longas viagens, como é o caso dos beija-
flores de garganta vermelha, Archilochus colubris, que são os menores endotermos
migrantes. Realizam um vôo, sem parar, de 800 quilômetros através do Golfo do
México, da Florida à Península de Yucatan. Essas aves se utilizam de um grande
armazenamento de energia suficiente para realizarem vôos tão longos, assim como
consumo de oxigênio e velocidade do vôo. Eles voam cerca de 40 quilômetros por
hora , portanto, cruzar o Golfo do México requer cerca de 20 horas (Pough et al.,
1999).
Fig. 4: Migração da andorinha-do-mar do Ártico. Esses pássaros voam do
Hemisfério Norte para a Antártida e voltam a cada ano. Fonte: Alcock (1993).

Segundo o CEMAVE – Centro de Estudos de Migrações de Aves - existem


quatro rotas principais no Brasil: (1) Rota Atlântica, Amapá até Rio Grande do Sul,
exemplo Batuiruçu-de-axila-preta (Pluvialis squatarola); (2) Brasil Central, divisão
da rota atlântica na altura da foz do rio Amazonas, pela qual as aves utilizam os vales
dos rios Tocantins, Araguaia e Xingu, exemplo Batuiruçu (Pluvialis dominica); (3)
Rota do Rio Negro, de Manaus em direção ao Mato Grosso, buscando os estados do
sul, exemplo Falcão peregrino (Falco peregrinus); e (4) Rota Cis-Andina, penetra no
Brasil pela Amazônia ocidental, dirigindo para o pantanal de Mato Grosso, exemplo
Triste-pia (Dolichonyx oryzivorus) (Andrade, 1992).
Todo ano, durante o verão, muitas aves habitam praias do sul do Brasil. Estas
aves são provenientes da América do Norte, como os maçaricos e batuíras, e
retornam para os Estados Unidos e Canadá quando o inverno chega, onde se
reproduzem. O Rio Grande do Sul também contém vários “locais de pernoite”, onde
várias espécies de aves param em locais específicos por alguns dias ou semanas
durante a longa viagem migratória (Rodrigues, 1998).
As aves, além dos predadores, encaram alguns riscos durante as viagens,
como o risco de caírem no mar e se afogarem, pois suas penas tornam-se pesadas com
a água dificultando o vôo e elas atravessam oceanos sem parar por milhares de
quilômetros (Alcock, 1993).
O anilhamento é uma técnica de marcação de aves com anéis numerados, que
permite conhecer quando do encontro dessas aves, o tempo de vida, as rotas
migratórias, os deslocamentos, locais de reprodução, pontos de parada, as flutuações
dos números populacionais, dentre outras informações fundamentais à conservação
das aves e de seus ambientes. O maçarico-do-papo-vermelho, Calidris canutus,
marcado com anilhas de metal por pesquisadores brasileiros na ilha de Campechá, no
Maranhão, levou apenas dez dias para chegar a Slaugther Beach, nos Estados Unidos,
percorrendo uma distância de 4.000 quilômetros. Os especialistas consideram a
viagem dessa ave migratória recorde. O maçarico recordista saiu do País com anilhas
de metal nas duas pernas e bandeirinha azul, identificando a passagem pelo Brasil.
Além disso, parte do corpo foi pintada de laranja para ser facilmente visto, em pleno
vôo, como uma ave a caminho da reprodução (Ibama, 2002). Mas muito ainda precisa
ser aprendido a respeito do mecanismo de navegação por relógio biológico das aves,
pois durante incontáveis gerações de seleção natural serão encontradas diferenças
específicas fixadas em seus sistemas nervosos (Storer et al., 2000).

6.5 MAMÍFEROS MIGRATÓRIOS

Os mamíferos que migram são especialmente os pinipédios, grandes


herbívoros, morcegos e cetáceos. Dentre os animais que realizam extensas migrações
terrestres destacam-se alguns veados do oeste dos estados Unidos que vão para a
Sierra-Cascade e para as Montanhas Rochosas durante o verão, e rebanhos de
antílopes e zebras na África que migram em busca de alimentação. Na região do
Serengeti da Tanzânia e Quênia, as principais espécies migratórias são a zebra (Equus
burchelli), o gnu (Connochaetes taurinus) e a gazela de Thomson (Gazella
thomsoni). Cada espécie prefere tipos diferentes de gramíneas e ervas, logo,
conseqüentemente, seus deslocamentos não coincidem, mas são consecutivos, o que
torna um processo migratório interessante. O deslocamento das zebras é o primeiro,
pois se alimentam principalmente das partes superior da vegetação seguido pelos
gnus, que consomem as partes médias e, por último, as gazelas de Thomson, que
comem partes inferiores. Essa rota pode envolver uma viagem de ida e volta de
aproximadamente 322 quilômetros (Orr, 1986, Storer et al., 2000).
Os morcegos lasiurinos não hibernam e realizam grandes migrações, eles
abandonam seus hábitats no verão ao norte dos Estados Unidos e migram para o sul
onde passam o inverno em busca de insetos como suprimento alimentar. Os vôos
tanto dos morcegos Lasiurus cinereus quanto dos morcegos L. borealis foram
registrados nas Bermudas, a 966 quilômetros da costa leste dos Estados Unidos. Essas
duas espécies também se deslocam regularmente para o sul ao longo da costa desde o
Canadá e norte dos Estados Unidos para um ambiente de inverno mais temperado. Os
morcegos utilizam a emissão de ultra-sons como um verdadeiro sonar (Orr, 1986).
Os maiores mamíferos migratórios são os cetáceos, os quais compreendem as
baleias. Botos e golfinhos também migram, eles seguem as rotas migratórias dos
peixes das regiões que servem de alimentos. Não fazem migrações extensas, em
geral, esses deslocamentos limitam-se à aproximação e ao distanciamento da linha da
costa (Orr, 1986). O ciclo anual de eventos na vida das grandes baleias-de-barbatana
é particularmente instrutivo para mostrar como a migração se relaciona ao uso de
energia e como ela está correlacionada com a reprodução do maior de todos os
animais. Essas baleias permanecem, durante o verão, em águas polares ou
subtropicais do Hemisfério Norte e Sul, onde se alimentam de “krill”, pequenos
crustáceos semelhantes ao camarão, consumindo grande quantidade que é convertida
em energia armazenada na forma de óleo e gordura. As fêmeas grávidas nutrem nesse
período seus filhotes ainda não nascidos. Perto do final do verão, as baleias migram
em direção às águas tropicais ou subtropicais, onde as fêmeas dão à luz e alimentam
seus filhotes, podendo ocorrer também o acasalamento de algumas baleias durante
essa temporada de inverno. Na primavera, agora filhotes e adultos realizam a
migração reversa, voltam para as águas Árticas ou Antárticas. É importante salientar
que pouca ou nenhuma alimentação ocorre durante a migração ou durante o período
de inverno, a energia para todas as atividades vem das reservas de óleo e gordura
corporal desses animais (Pough et al., 1999).
Uma das migrações de cetáceos mais longa e conhecida é a da baleia-cinzenta
do Oceano Pacífico, Eschrichtius robustus, onde as águas de verão no Mar de Bering
e no Mar de Chuckchin no Oceano Ártico servem de local de alimentação. Uma parte
da população dessas baleias move-se para a Costa da Ásia, para águas da Coréia, no
final do verão Ártico, outra parte, a maioria, move-se para a Costa Pacífica da
América do Norte, em direção ao sul para a Baixa Califórnia e partes adjacentes do
oeste mexicano (Figura 5). Elas chegam em meados de dezembro ou janeiro e dão à
luz aos filhotes nas águas quentes e em março voltam para o norte. Durante essa
temporada em águas quentes, algumas baleias também se acasalam. Os jovens
crescem rapidamente com o rico leite materno, e pela primavera, os filhotes estão
amadurecidos o suficiente para viajar com suas mães de volta para as águas Árticas.
Durante o período de viagem que representa no mínimo 9.000 quilômetros e oito
meses fora da área alimentícia, as baleias-cinzentas comem pouco ou não comem
nada. A quantidade de energia gasta por uma baleia durante essa migração anual é
fenomenal. A quantidade total de alimento ingerido por dia para acomodar as
necessidades metabólicas não poderia ser menor que 880 quilogramas de “krill”,
lembrando que é o mínimo para as fêmeas grávidas. Aparentemente, é mais lucrativo
e energeticamente mais eficaz para baleia mãe migrar milhares de quilômetros para
águas quentes para dar à luz e nutrir seus filhotes, os quais podem investir maior parte
do seu ganho energético no crescimento rápido, uma vez que os recém nascidos não
têm uma camada isolante de óleo e não se adaptariam as águas frias no norte (Pough
et al., 1999).
Fig. 5: Rota migratória da baleia-cinzenta entre o Círculo Ártico e a baixa
Califórnia. Fonte: Pough et al.(1999).

Estudos mostram que muitas espécies de cetáceos têm o Brasil como rota
migratória, sendo ocupantes sazonais, como é o caso da Bacia de Campos, localizada
ao longo da costa norte do Rio de Janeiro. Ocorrem na região 22 espécies de
cetáceos, entre eles botos, golfinhos e baleias, a presença desses animais está
associada a áreas de atividades do ciclo de vida e em função das disponibilidades de
presas. Porém, a cada período de migração ocorrem encalhes de vários indivíduos,
quase sempre no retorno às áreas de alimentação. Ao final da época de reprodução os
animais estão mais debilitados, aumentam também os riscos de ataque de predadores,
em especial para fêmeas e filhotes recém nascidos (Beneditto & Ramos, 2001).
Os mamíferos usam para orientação os sentidos olfativos, visuais e auditivos,
assim como temperatura da água e correntes oceânicas. A marcação em baleias é feita
através de disparos de transmissores para dentro de seu corpo, os quais podem
apresentar certos problemas, como corrosão e quebra devido às grandes mudanças de
pressão (Orr, 1986).
7 – CONCLUSÃO

O deslocamento migratório requer conhecimento e criatividade de


pesquisadores para montarem um quebra-cabeça das rotas de adaptações no
comportamento dos animais.
Nota-se que a migração é um deslocamento que ocorre entre duas localidades
com estações distintas apresentando diferentes hábitats. Destruir um desses hábitats,
como vem ocorrendo devido à expansão turística e imobiliária, acarretaria um
colapso na população das espécies com conseqüências imprevisíveis para a
conservação da biodiversidade do mundo.
A disponibilidade de alimento é um fator estimulante que influencia a
migração de muitos animais, assim como motivos reprodutivos. Essas viagens
regulares requerem que os animais tenham um senso muito bom de direção
utilizando-se de vários fatores para suas orientações, podendo ser ambientais ou do
próprio organismo. Como, muitas vezes, as migrações envolvem milhares de
quilômetros, os animais precisam ter uma preparação fisiológica, por exemplo, onde
passam por um período de alimentação intensa e de engorda pré-migratória, sendo a
gordura a principal fonte de energia.
É conveniente dizer que o movimento migratório é uma estratégia para a
conservação das espécies, os quais mantêm a população com a existência de áreas
suficientes de hábitats adequado para a sobrevivência, como livres de competições,
predadores e ausência de alimentos.
Finalmente, conclui-se que, apesar dos numerosos estudos, as complexidades
dos mecanismos de navegação dos animais estão ainda longe de serem
completamente entendidos, havendo muitas controvérsias sobre algumas hipóteses. A
própria redundância dos sistemas torna difícil desenhar experimentos que isolem cada
mecanismo. Quando um animal se vê privado de uma dada mobilidade é muito
provável que ele utilize outros mecanismos. Porém, pesquisadores tentam entender da
melhor forma possível às rotas migratórias marcando os animais e assim mostram a
importância da migração em suas vidas.
8 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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