Biogeografia Dos Manguezais Ocorrência Schelder e Nicóli
Biogeografia Dos Manguezais Ocorrência Schelder e Nicóli
Biogeografia Dos Manguezais Ocorrência Schelder e Nicóli
ABSTRACT
Mangroves are coastal ecosystems, present at the continental and marine interface, in a large
part of the tropical and subtropical range, colonize preferentially sheltered environments, where there is
the presence of fresh water, coming from rivers, and salt water, resulting from the entrance of the tides.
They serve as places of protection, reproduction, fallow and feeding for countless animals, being
considered a marine nursery. For effective conservation measures to be proposed, studies are needed to
make possible understand both its origin and its occurrence and dispersion process. The objective of this
work is to present a bibliographical review on the biogeography of mangroves, showing the occurrence
of the ecosystem, its distribution area and the diversity of species. This review will make possible to
understand the discussions on the mangrove ecosystem, since there are different studies on the origin
and dispersion of species, beyond to the places of occurrence and the area covered by this ecosystem.
Mangroves are unique ecosystems, with unique characteristics to the habitat in which they are found. In
the literature there is no consensus about the place of origin and more studies are needed on its
distribution area and species diversity, however, what the researches affirm is the need for conservation
of this ecosystem, so it can continue exercising its numerous environmental functions.
1
Pós doutoranda, Universidade de São Paulo, [email protected];
2
Doutora, Instituto Geológico do Estado de São Paulo, [email protected];
INTRODUÇÃO
OCORRÊNCIA DE MANGUEZAIS
A origem das espécies de mangue é controversa, para Ding (1960) a região Indo-Pacífica
seria o berço dos gêneros Rhizophora e Avicennia, que posteriormente teriam se dispersado
para as Américas, incluindo o Caribe, há cerca de 135 milhões de anos, durante o Cretáceo
Superior. Já Tomlinson (1994), considera que o táxon mais antigo é o gênero Nypa, datado do
final do Cretáceo, seguido por Pelliciera e Rhizophora, datados do Eoceno.
Para Chapman (1975), o passado geológico da Terra teria influenciado a distribuição
dos manguezais, principalmente a Teoria da Deriva Continental, assim os gêneros Rhizophora
e Avicennia teriam surgido há 120 milhões de anos, sendo que o grupo formado pelas
angiospermas teriam passado por uma evolução adaptativa no final do Cretáceo e início do
Eoceno, após essa evolução essas espécies passaram a tolerar a presença de sais no sedimento.
Os manguezais teriam se originado no sudeste asiático, tendo suas espécies se dispersado pelo
Mar de Tethys, passando pela Índia, África e Mediterrâneo, posteriormente deslocando-se pelos
Oceanos Atlântico e Pacífico, atravessando o Istmo do Panamá (CHAPMAN, 1975).
Lacerda (2001) afirmou que as primeiras espécies de mangue surgiram em águas
equatoriais no sudeste asiático entre 60 e 80 milhões de anos, distribuindo-se posteriormente
para a África e para as Américas. Provavelmente, a rota dessa dispersão teria seguido as
variações climáticas associadas aos períodos glaciais e interglaciais, regressões e progressões
correspondentes às linhas de costa, tal qual o movimento das placas tectônicas, especialmente
com relação à evolução do Mar de Tethys.
Para Herz (1999), as atuais formações de manguezais se estabeleceram sobre
sedimentos recentes, depositados no último evento de transgressão, cerca de 3.500 – 5.000 anos
antes do presente.
Contrariando a ideia que o atual centro de diversidade de espécies corresponde ao centro
de origem, McCoy e Heck Jr. (1976) defendem que ocorreu uma evolução concomitante no
hemisfério oriental e ocidental, considerando que os eventos tectônicos e climáticos causaram
mudanças importantes no ambiente. Assim, devido às mudanças na configuração da Terra, o
atual centro de diversidade pode não ser o centro de origem das espécies. Para esses autores o
estudo do atual padrão biogeográfico deve considerar a Teoria da Tectônica de Placas e os
processos ecológicos existentes ao longo do tempo.
A história da distribuição dos manguezais deve ser analisada juntamente com a história
geológica da Terra, visto que foram eventos sincrônicos. Dessa forma, faz-se necessário
considerar a Teoria da Deriva Continental na distribuição dos manguezais. Essa circulação só
foi possível pela presença das correntes oceânicas que auxiliaram no transporte de propágulos
e plântulas. Além disso, o arranjo espacial dos manguezais é uma resposta às características
ambientais: topografia, substrato, fatores climáticos e hídricos. Essa conjunção de energias
subsidiárias que existem no sistema e que em cada ambiente se apresenta de forma única,
denomina-se Assinatura Energética (ALONGI, 2009).
Ao longo da história evolutiva os manguezais sobreviveram durante as diversas
flutuações do nível do mar ocupando refúgios localizados nos litorais, onde havia condições
para sobreviverem, esses refúgios eram mais abundantes na região Indo-Pacífica, ao sul da Ásia,
e por esse motivo conservou o maior número de espécies de mangue nesses locais
(WOODROFFE; GRINDROD, 1991).
Sabe-se que os manguezais ocorrem na interface marinha/continente, preferencialmente
em locais abrigados (baías, enseadas, reentrâncias costeiras, foz dos rios, etc.), onde é possível
a presença da água doce dos rios e da água salgada do mar. O maior desenvolvimento estrutural
dos manguezais ocorre próximo a linha do equador, em ambientes com grande variação das
marés (acima de dois metros de amplitude), maiores temperaturas do ar e da água, elevada taxa
de insolação e precipitação (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2000).
De acordo com West (1956), Walsh (1974) e Chapman (1975), os manguezais
demonstra melhor grau de desenvolvimento quando o ambiente apresenta:
1- Temperaturas tropicais: temperatura média do mês mais frio superior a 20ºC e
amplitude térmica anual inferior a 5ºC.
3- Áreas abrigadas: livres do embate das ondas e ventos fortes, em ambientes como baías,
estuários, lagunas e deltas, as plântulas conseguem se estabilizar e se desenvolver.
6- Correntes marinhas: apesar de ser um requisito que ainda requer estudos aprofundados
em alguns pontos, como na costa oeste da África e na costa oeste da Austrália, o limite
dos manguezais coincide com a fronteira entre a ocorrência de uma corrente de água fria
e uma corrente de água quente.
III- conteúdo de sais na água e no substrato: cada espécie de planta de mangue possui o
seu grau de tolerância à salinidade, assim a composição vegetacional varia conforme os
sais presentes no substrato.
Pode-se considerar que esses quatro fatores, fundamentais para o desenvolvimento dos
manguezais, fazem parte da sua assinatura energética, ou seja, compõe um conjunto de forças
que estabelecem a sobrevivência desse ecossistema, determinando a sua intensidade de
crescimento e os processos ecológicos atuantes em cada ambiente de manguezal (CINTRÓN;
LUGO; MARTINEZ, 1985).
A assinatura energética é a impressão digital do bosque de mangue, depende
principalmente da radiação solar, da latitude, da quantidade de sedimentos, da natureza desses
sedimentos, da quantidade de água (fluvial e marinha), entre outros. Pode-se considerar que
quanto maior a assinatura energética em um manguezal maior a sua produtividade, seu porte e
sua estrutura. Portanto, considera-se que a assinatura energética é a conjunção das energias
subsidiárias que existem no sistema, sendo que, em cada ambiente se apresenta de forma única.
Os manguezais estão distribuídos nas regiões tropicais e subtropicais, sendo que o maior
desenvolvimento ocorre entre os trópicos de Câncer 23° 30’ N e Capricórnio 23° 30’ S
(CINTRÓN; SCHAEFFER-NOVELLI, 1983). Mas, dependendo das condições ambientais, os
manguezais podem ocorrer acima das latitudes 30° N e S. Para Rezende et al. (2009), esse limite
está entre 35° N e 38° S.
Essa distribuição é limitada principalmente pelas correntes oceânicas marinhas e pela
isoterma de 20ºC (ALONGI, 2009). Conforme apresentado na figura 1.
Figura 1: Distribuição global dos manguezais ao longo das seis regiões biogeográficas e a localização da
isoterma de 20°C.
Fonte: Maia et al. (2005, p. 5. Adaptado de SPALDING; BLASCO; FIELD, 1997).
A maior concentração dos manguezais está na região tropical, mas há algumas exceções.
De acordo com Spalding, Blasco e Field (1997), é possível encontrar bosques de mangues até
31º 22’ N no Japão e 32º 20’ N nas Ilhas Bermudas, os extremos de ocorrências de manguezais
ao sul ocorrem na costa oriental da África do Sul 32º 59’ S, Nova Zelândia 38º 03’ S e Austrália
38º 45’ S.
Ao longo da história geológica da Terra a área total de manguezais, nos diferentes
períodos, ainda é desconhecida, sabe-se somente que houve mudanças tanto na área quanto na
localização desse ecossistema ao longo do tempo (FRIES et al., 2019).
De acordo com o World Atlas Mangroves (SPALDING; KAINUMA; COLLINS, 2010),
manguezais podem ser encontrados em 123 países e territórios, cobrindo uma área total de
152.000 km². Para Kuenzer et al. (2011), os manguezais estão presentes em 124 países,
cobrindo cerca de 75% das linhas costeiras tropicais e subtropicais.
A FAO (2007) estimou a cobertura de manguezais em 15,2 milhões de hectares, sendo
as maiores áreas presentes na Ásia, África e América. O mesmo trabalho apontou que 48% da
área total de manguezais concentrava-se em cinco países: Indonésia, Austrália, Brasil, Nigéria
e México.
Na América, especificamente, os manguezais estão distribuídos de forma desigual ao
longo do litoral, na costa atlântica há um cinturão quase contínuo de manguezais, que vai do
sul dos Estados Unidos até o sul do Brasil, e na costa pacífica há uma distribuição restrita a
alguns pontos (LACERDA, 2001).
A classificação da cobertura de manguezais por país está apresentada na tabela 1.
Verifica-se que os doze países com as maiores áreas de manguezais representam mais de 68%
do total mundial (SPALDING; KAINUMA; COLLINS, 2010).
Spalding, Kainuma e Collins (2010), apresentam a Indonésia como o país com a maior
área de manguezais 31.894 km², seguido pelo Brasil com 13.000 km² e Austrália com 9.910
km², além desses primeiros colocados pode-se encontrar manguezais em mais 120 países,
cobrindo uma área total de 152.000 km².
Cerca de metade da área de manguezal da América do Sul é encontrada no Brasil e mais
de 90% encontra-se em cinco países: Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador e Suriname.
Guiana, Guiana Francesa e Peru compartilham os restantes 140.000 hectares. Os manguezais
encontram-se ao longo de baías e estuários, distribuídos a partir de Laguna, no estado de Santa
Catarina, Brasil, desde o Oceano Atlântico até a cidade de Sechura, ao longo do Rio Piura, no
Peru, no Oceano Pacífico, onde florestas monoespecíficas, principalmente de Avicennia
germinans, são encontradas (FAO, 2007).
Dados de mapeamento nacional revelam que em 2009 a área ocupada por manguezais
brasileiros representava 12.254,44 km² (BRASIL, 2010). Estudos realizados anteriormente
apresentavam 25.000 km² de cobertura de manguezais no Brasil (SAENGER; HERGEL;
DAVIE, 1983). Para Kjerfve e Lacerda (1993) essa área correspondia a 13.800 km², enquanto
para Herz (1998), essa cobertura seria de 10.123,76 km². Em trabalho mais recente essa área
foi estimada em 14.000 km² (ICMBio, 2018).
Ainda de acordo com Kjerfve e Lacerda (1993), 85% dos manguezais brasileiros
ocorrem ao longo da costa dos estados do Amapá, Pará e Maranhão, sendo que o último abriga
os mais extensos bosques de mangue em território nacional. Entre os estados do Rio Grande do
Norte até o Rio de Janeiro encontram-se 10% dos manguezais e o restante 5% localizam-se
entre os estados do Rio de Janeiro até Santa Catarina. Maia et al. (2005), afirmam que os
manguezais cobrem 6.800 km da linha da costa brasileira, desde o extremo norte (4° 30’ N) até
a Praia do Sonho em Santa Catarina (28° 53’ S).
A figura 2 apresenta a distribuição dos manguezais de acordo com Schaeffer-Novelli et
al. (2000), distribuídos desde Cabo Orange, no Amapá, 4° 20’ N, até Laguna, em Santa Catarina
28° 30’ S. Entre os estados litorâneos somente o estado do Rio Grande do Sul os manguezais
não são encontrados. Já o limite oriental dos manguezais brasileiros ocorre na Ilha de Fernando
de Noronha – PE (HERZ, 1991).
Limite norte: rio Oiapoque, no
Amapá (4° 20’ N).
DIVERSIDADE ESPÉCIES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos, assim como apresentado por Lugo (1980), que cada manguezal
apresenta um padrão original de formação e desenvolvimento, pois esse padrão depende da sua
própria “assinatura energética”, ou seja, das combinações existentes entre as forçantes
energéticas, que irão caracterizar a identidade de cada ambiente de manguezal.
Dessa forma os manguezais são considerados ecossistemas únicos, com características
singulares ao habitat em que se encontram. Como apresentado na presente pesquisa não há
consenso sobre o seu local de origem e faz-se necessário mais estudos sobre a sua área de
distribuição e diversidade de espécies, entretanto, o que as pesquisas afirmam é a necessidade
de conservação desse ecossistema, para que ele possa continuar exercendo suas inúmeras
funções ambientais.
REFERÊNCIAS