Imunofarmacologia Sanar

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Introdução à

Imunofarmacologia
SUMÁRIO
1. Definição de Imunofarmacologia................................................................................3

2. Tipos de Respostas Imunológicas..............................................................................3


2.1. Resposta imune inata..........................................................................................4
2.2. Resposta imune adaptativa.................................................................................5

3. Respostas imunes anormais.....................................................................................10

4. Classes de Fármacos Imunomoduladores...............................................................12

Referências.....................................................................................................................13
1. DEFINIÇÃO DE IMUNOFARMACOLOGIA

A Imunofarmacologia é um ramo da farmacologia que estuda as interações


entre o sistema imunológico e as substâncias químicas, incluindo os fármacos.
A imunofarmacologia busca compreender como os medicamentos alteram a res-
posta imunológica e como essas alterações podem ser manipulados com o intuito
de adquirir novas respostas terapêuticas. Este campo abrange o desenvolvimento
e a aplicação de agentes terapêuticos destinados a modificar as respostas imunes,
seja para potencializar a imunidade em casos de infecções e câncer, seja para
suprimi-la em condições autoimunes, como lúpus e rejeição de transplante.

2. TIPOS DE RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS

As células e moléculas responsáveis pela imunidade fazem parte do sistema imu-


ne, sendo sua resposta coletiva e coordenada à entrada de substâncias estranhas
denominada resposta imune. A função primordial do sistema imune é a defesa con-
tra microrganismos que possam causar infecções. No entanto, outras substâncias,
como os fármacos, também são capazes de desencadear resposta imune.
Os fármacos podem agir em várias etapas dessas respostas, tanto na imunida-
de inata quanto na imunidade adquirida, influenciando a ativação de células como
linfócitos T e B, macrófagos e células NK.

Introdução à Imunofarmacologia 3
CÉLULAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO

Sistema Sistema
imunológico inato imunológico adaptativo

Macrófago Célula dendrítica Célula T citotóxica


Célula T de memória Célula T auxiliar

Monócito
Neutrófilo Eosinófilo Progenitor de células T
Célula plasmática

Mastócito Basófilo Célula natural killer Progenitor de


células B

Célula B de
memória
Progenitor mielóide Progenitor linfóide

Linhagem mielóide Linhagem linfóide

CÉLULA-TRONCO
HEMATOPOÉTICA

Figura 1. Sistema Imune


Fonte: VectorMine/Shutterstock.com

2.1. Resposta imune inata


O sistema imunológico pode ser dividido em imunidade inata e adaptativa. A
inata é a primeira linha de defesa, rápida e não específica, sendo realizada por me-
canismos pré-existentes antes da infecção, por isso que é também chamada de
“imunidade natural”. O sistema imunológico inato reage quase instantaneamente
a microrganismos e células danificadas e exposições repetidas desencadeiam res-
postas imunológicas inatas praticamente idênticas às anteriores para os mesmos

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microrganismos. Os receptores da imunidade inata são especializados em reco-
nhecer estruturas comuns a grupos de microrganismos relacionados e não são
capazes de diferenciar pequenas diferenças entre eles. Os principais elementos que
constituem o sistema imunológico inato são: (1) barreiras físicas e químicas, como
epitélios e agentes antimicrobianos produzidos nas superfícies epiteliais; (2) células
fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células dendríticas (DCs), mastócitos, células
natural killer (células NK) e células linfóides inatas; e (3) proteínas sanguíneas, co-
mo as que fazem parte do sistema complemento e outros mediadores da resposta
inflamatória. Muitas células do sistema imunológico inato, como macrófagos, DCs
e mastócitos, estão presentes em grande parte dos tecidos, agindo como na detec-
ção de microrganismos invasores. A resposta imunológica inata realiza o combate
contra microrganismos por meio de dois mecanismos principais: recrutamento de
fagócitos e outros leucócitos para destruir os microrganismos, desencadeando a
inflamação; e impedimento da replicação viral ou eliminação de células infectadas
por vírus, sem a necessidade de uma resposta inflamatória.

2.2. Resposta imune adaptativa


Por sua vez, a imunidade adaptativa é mais tardia, específica e possui memória
imunológica. A resposta imunológica adaptativa é conduzida pelos linfócitos e seus
produtos associados. Linfócitos possuem receptores altamente diversos e específicos
que são capazes de identificar uma ampla gama de antígenos. Existem duas princi-
pais populações de linfócitos: linfócitos B e linfócitos T, que desempenham papéis
distintos nas respostas imunológicas adaptativas. A especificidade e a diversidade
são atributos fundamentais da resposta imune adaptativa. As respostas imunológicas
são direcionadas a antígenos específicos, muitas vezes envolvendo diferentes par-
tes de um mesmo complexo proteico, polissacarídeo ou outra macromolécula. Essa
especificidade é possível porque os linfócitos possuem receptores de membrana que
possuem a capacidade de distinguir detalhes minuciosos na estrutura de epítopos
distintos, porções específicas dos antígenos. Quando o antígeno é introduzido, ele se
liga às células do clone antígeno-específico preexistente, ativando-as e resultando
na proliferação dessas células, um processo conhecido por expansão clonal. O re-
pertório total de linfócitos em um ser humano é altamente diversificado, permitindo o
reconhecimento de uma vasta gama de antígenos.
Outra importante característica da imunidade inata é a memória imunológica. Cada
exposição a um antígeno estranho aumenta a capacidade do sistema imunológico de
responder a futuras exposições ao mesmo antígeno. As respostas imunes secundá-
rias, desencadeadas por exposições subsequentes ao mesmo antígeno, são em sua
grande maioria mais rápidas, intensas e diferentes quantitativamente em comparação
com a resposta imune anterior. Isso ocorre porque as células de memória específicas
para o antígeno acumulam-se e aumentam em quantidade em relação aos linfócitos
específicos para o antígeno presentes na exposição inicial, reagindo de maneira mais
rápida e vigorosa ao processo infeccioso.

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A autotolerância é outra importante característica do sistema imune inato que está
relacionado ao ataque de antígenos estranhos, enquanto evita reações prejudiciais
aos antígenos do próprio indivíduo. Esse mecanismo ocorre mediante a eliminação
de linfócitos que expressam receptores para autoantígenos, a inativação de linfóci-
tos autorreativos e a supressão dessas células por meio da ação de outras células
reguladoras. Distúrbios na indução ou manutenção da autotolerância podem levar a
respostas imunes contra autoantígenos, resultando em doenças autoimunes.
Existem dois tipos principais de respostas imunes adaptativas, denominadas imu-
nidade humoral e imunidade mediada por células, as quais são estimuladas por dife-
rentes tipos de linfócitos e atuam para eliminar diferentes tipos de microrganismos.
A maioria dos microrganismos e outros antígenos entram no organismo através das
barreiras físicas, como o epitélio. O desenvolvimento das respostas imunes adaptativas
requer que os antígenos sejam capturados e expostos aos linfócitos específicos. As
células que são responsáveis por realizar essa função são chamadas células apresen-
tadoras de antígeno (APCs). As APCs mais especializadas são as células dendríticas,
as quais capturam antígenos que entram no organismo a partir do ambiente externo,
transportam esses antígenos aos órgãos linfoides e os apresentam aos linfócitos T
não específicos para iniciar as respostas imunes.

2.2.1. Resposta imune adaptativa humoral


A resposta imunológica humoral é realizada por moléculas presentes no sangue e
em secreções mucosas, conhecidas como anticorpos, os quais são produzidos pelos
linfócitos B. Estes anticorpos têm a capacidade de identificar antígenos microbianos,
neutralizar a infectividade desses microrganismos e marcar os mesmos para serem
eliminados por fagócitos e pelo sistema complemento.
Os linfócitos B que identificam antígenos passam por um processo de proliferação e
diferenciação, transformando-se em plasmócitos que secretam diferentes categorias
de anticorpos que possuem funções específicas. Cada conjunto de células B expressa
um receptor antigênico na superfície celular, que é um anticorpo ligado à membrana,
com uma particularidade antigênica única. Vários tipos de antígenos, como proteínas,
polissacarídeos e lipídeos possuem a capacidade de desencadear respostas de anti-
corpos. A reação das células B a antígenos proteicos depende de sinais de ativação
provenientes das células T CD4+ (também conhecidas como células auxiliares). No
entanto, as células B podem responder a diversos antígenos não proteicos sem a
necessidade de células T auxiliares.
Cada plasmócito produz anticorpos que compartilham o mesmo local de ligação ao
antígeno, determinado pelo receptor antigênico da superfície celular que inicialmente
identificou o antígeno. Polissacarídeos e lipídeos estimulam a produção de anticorpos
da classe imunoglobulina M (IgM), enquanto antígenos protéicos induzem a formação
de anticorpos de diferentes classes (IgG, IgA, IgE) a partir de um único conjunto de
células B. Essas distintas classes de anticorpos desempenham funções específicas.
As células T auxiliares também contribuem para o aprimoramento da afinidade dos
anticorpos ao antígeno por meio de um processo chamado maturação, melhorando,
assim, a eficácia da resposta imune humoral.

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A resposta imune humoral enfrenta microrganismos de diversas maneiras. Os anticor-
pos se unem aos microrganismos, impedindo sua infecção celular, efetivamente neutra-
lizando-os. A neutralização mediada por anticorpos é o único mecanismo da imunidade
adaptativa capaz de interromper uma infecção antes de se estabelecer, razão pela qual
a indução da produção de anticorpos potentes é um objetivo primordial da vacinação.
A cobertura de microrganismos por anticorpos IgG os marca para fagocitose, pois os
fagócitos (neutrófilos e macrófagos) possuem receptores para porções das moléculas
de IgG. O sistema complemento é ativado por IgM e IgG, e os produtos do complemento
facilitam a fagocitose e a destruição dos microrganismos. A IgA é secretada pelo epité-
lio da mucosa, neutralizando microrganismos no lúmen de tecidos mucosos, como os
tratos respiratório e gastrointestinal, prevenindo, assim, a infecção por microrganismos
inalados e ingeridos. A IgG materna é transportada ativamente pela placenta, protegendo
o recém-nascido até que seu sistema imune amadureça. A maioria dos anticorpos IgG
permanece circulante por cerca de 3 semanas, enquanto outras classes de anticorpos
têm meias-vidas de apenas alguns dias. Alguns plasmócitos secretores de anticorpos
migram para a medula óssea ou tecidos mucosos e mantêm-se ativos por anos, pro-
duzindo continuamente níveis baixos de anticorpos. Esses anticorpos de longa duração
fornecem proteção imediata contra a reinfeção pelo microrganismo. Uma proteção mais
eficaz é oferecida pelas células de memória, ativadas pelo microrganismo e que rapida-
mente se diferenciam para gerar grandes quantidades de plasmócitos.

B-cell Ativação de
Vírus Antígeno (native) células B Linfoblasto

Anticorpo Célula plasmática Célula B

Célula B de memória

Figura 2. Células B
Fonte: VectorMine/Shutterstock.com

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2.2.2. Resposta imune adaptativa celular
A imunidade celular, também conhecida como imunidade mediada por células,
é conduzida pelos linfócitos T. Muitos microrganismos são ingeridos, mas conse-
guem sobreviver dentro dos fagócitos, e alguns, especialmente os vírus, infectam e
se reproduzem em várias células do organismo hospedeiro. Nessas localizações, os
microrganismos não podem ser alcançados pelos anticorpos presentes na circulação.
A proteção contra tais infecções é atribuída à imunidade mediada por células, que
promove a eliminação de microrganismos dentro dos fagócitos e induz a morte das
células infectadas para erradicar os focos de infecção.
Ao contrário dos linfócitos B, os linfócitos T não produzem moléculas de anticorpo.
Seus receptores antigênicos são moléculas de membrana distintas, mas estruturalmente
relacionadas aos anticorpos. Os linfócitos T possuem uma especificidade restrita para
antígenos, reconhecendo peptídeos derivados de proteínas vinculadas às proteínas
do hospedeiro, conhecidas como complexo principal de histocompatibilidade (MHC),
expressas nas superfícies de outras células e apresentados pelas APCs. O MHC classe
I apresenta para os linfócitos T citotóxicos (CD8+), enquanto o MHC classe II apresenta
para os linfócitos T helper (CD4+). Como resultado, essas células T respondem aos
antígenos associados à superfície celular, mas não aos demais antígenos.

Receptor de célula T
VHOLJDDR0+&FODVVH,
Figura 3. Célula T citotóxica
Fonte: Ph-HY/Shutterstock.com

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Receptor de célula T
se liga ao MHC classe II
Figura 4. Célula T Helper
Fonte: Ph-HY/Shutterstock.com

Os linfócitos T são compostos por diferentes subpopulações, sendo as mais distintas


as células T auxiliares e os linfócitos T citotóxicos ou citolíticos (CTLs). As células T
auxiliares realizam suas funções principalmente pela liberação de citocinas, enquanto
os CTLs produzem moléculas que resultam na morte de outras células. Existem tam-
bém as células T reguladoras, que atuam inibindo respostas imunes.
As células T auxiliares, ou células Th (T helper), desempenham um papel crucial
na regulação da resposta imune. Entre elas, as células Th1, Th2 e Th17 representam
subtipos especializados, cada um com funções distintas na resposta imunológica.
A diferenciação do Th no subtipo Th1 é estimulada pela interleucina-12 (IL-12)
e essas células são especializadas em coordenar respostas imunes contra agentes
patogênicos intracelulares, como vírus e algumas bactérias. Produzem citocinas
pró-inflamatórias, como interferon-gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral (TNF-α)
e interleucina-2 (IL-2), que, por sua vez, ativam células T citotóxicas CD8+ para des-
truir células infectadas, estimulam a ativação de macrófagos e promovem respostas
imunes de longa duração.
Já a diferenciação no subtipo Th2 é estimulado pela interleucina-4 (IL-4) e
essas células estão envolvidas na resposta imune contra parasitas, alérgenos e
também desempenham um papel em respostas imunológicas contra infecções

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bacterianas extracelulares. Produzem citocinas como IL-4, interleucina-5 (IL-
5), interleucina-10 (IL-10) e interleucina-13 (IL-13) e estimulam linfócitos B a
produzirem anticorpos, especialmente a classe IgE, a qual promove a ativação de
eosinófilos e mastócitos e é essencial para respostas imunológicas específicas
para helmintos (parasitas intestinais).
As células Th17 estão envolvidas na defesa contra patógenos extracelulares, como
certas bactérias e fungos. Produzem interleucina-17 (IL-17) e interleucina-22 (IL-
22), promovendo a ativação de células de defesa, o recrutamento de neutrófilos para
o local da infecção e a manutenção da integridade das barreiras epiteliais. As células
Th17 também contribuem para a patogênese de doenças autoimunes, como psoríase,
doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e esclerose múltipla.
Diferentes categorias de linfócitos podem ser identificadas pela expressão de prote-
ínas de superfície celular, muitas das quais são designadas por um número único “CD”
(cluster de diferenciação), como CD4 ou CD8. Após a ativação nos órgãos linfoides
secundários, os linfócitos T não ativados se transformam em células efetoras, muitas
das quais migram para os locais de infecção. Quando essas células T efetoras reen-
contram os microrganismos associados às células, são ativadas e executam funções
responsáveis pela eliminação dos microrganismos.
As células T auxiliares CD4+ secretam citocinas que recrutam leucócitos e estimulam
a produção de substâncias microbicidas nos fagócitos, auxiliando, assim, na destruição
de patógenos infecciosos. A células T auxiliares CD4+ também desempenham outras
funções, como a liberação de citocinas que apoiam as células B na produção de anti-
corpos IgE e ativam leucócitos chamados eosinófilos, que são eficazes na eliminação
de parasitas grandes demais para serem fagocitados.
Os CTLs CD8+ desempenham um papel na eliminação de células que abrigam mi-
crorganismos no citoplasma, como vírus que infectam vários tipos celulares ou bac-
térias ingeridas por macrófagos e que escapam das vesículas fagocíticas. Ao destruir
as células infectadas, os CTLs eliminam os reservatórios de infecção.

3. RESPOSTAS IMUNES ANORMAIS

As reações de hipersensibilidade, também conhecidas como reações imunes


anormais, são respostas imunológicas exageradas do sistema imune a substâncias
geralmente inofensivas, resultando em danos aos tecidos do próprio organismo ou a
substâncias estranhas. Essas reações são classificadas em quatro tipos principais,
conhecidos como hipersensibilidade tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV.
A Hipersensibilidade Tipo I (Reação de Hipersensibilidade Imediata) atua envolven-
do a ativação rápida do sistema imune, especialmente células chamadas mastócitos
e basófilos, que liberam grandes quantidades de histamina e outras substâncias
inflamatórias em resposta à exposição a um alérgeno. Esse tipo de resposta imune

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pode ocorrer nas reações alérgicas, como asma, dermatites, rinite alérgica, urticária e
anafilaxia. Inicialmente, ocorre a fase de sensibilização, durante a qual um antígeno é
processado por uma célula B, resultando na produção de IgE, que se ligará aos mas-
tócitos. Quando o IgE se une ao antígeno, desencadeia a degranulação do mastócito.
A reação de Hipersensibilidade Tipo II (Citotóxica) age pelos anticorpos IgG ou IgM,
que se ligam a antígenos em células próprias, levando à destruição dessas células
por fagocitose ou ativação do sistema complemento, que pode ocorrer na anemia
hemolítica autoimune, doença hemolítica do recém-nascido e pênfigo vulgar.
Na Hipersensibilidade Tipo III (Imunocomplexos) ocorre a formação de imunocom-
plexos (antígeno-anticorpo) principalmente compostos por IgM, que podem ocluir vasos
e se depositam nos tecidos, desencadeando uma resposta inflamatória mediada por
células e pelo sistema do complemento. Pode ocorrer nas vasculites, glomerulonefrite
e artrite reumatoide.
Por sua vez, a Hipersensibilidade Tipo IV (Tardia ou Celular) é uma resposta celular
mediada por células T, resultando na ativação de macrófagos e liberação de citocinas
inflamatórias. Esse tipo de hipersensibilidade pode ocorrer na dermatite de contato,
rejeição de enxertos, reações a alguns medicamentos.

Saiba mais! Autoimunidade e Imunodeficiência


As doenças autoimunes são desencadeadas quando o sistema imunológico do
corpo ataca seus próprios tecidos e células, incapaz de diferenciar entre subs-
tâncias próprias e antígenos estranhos, ou devido à perda da autotolerância, um
mecanismo que geralmente impede que o sistema imunológico ataque células do
próprio corpo. Essas condições resultam em uma resposta imune desregulada,
causando inflamação e danos aos tecidos. São exemplos de doenças autoimunes:
Artrite Reumatoide; Lúpus Eritematoso Sistêmico; Esclerose Múltipla; e Diabetes
Mellitus tipo 1.
Já as doenças de imunodeficiência se caracterizam pela incapacidade do sistema
imunológico em funcionar adequadamente, deixando o organismo mais vulnerável
a infecções e outras condições patológicas. Um exemplo notável é a imunodefi-
ciência severa combinada (SCID, do inglês Severe Combined Immunodeficiency),
uma doença genética rara causada por mutação no gene que codifica a deamina-
se de adenosina (ADA), enzima responsável por converter a deoxiadenosina em
deoxiinosina. Sem a ADA, ocorre um acúmulo de deoxiadenosina que prejudica
a maturação de linfócitos. Como resultado, a resposta imune fica comprometida,
tornando o indivíduo extremamente suscetível a infecções.

Introdução à Imunofarmacologia 11
4. CLASSES DE FÁRMACOS
IMUNOMODULADORES

Os fármacos imunomoduladores são substâncias que têm a capacidade de modular


ou alterar a resposta do sistema imune do corpo. Essa modulação pode envolver a
supressão ou a estimulação de componentes do sistema imunológico, dependendo
do objetivo do tratamento. Existem várias classes de fármacos imunomoduladores,
cada uma com diferentes mecanismos de ação.
Imunossupressores suprimem a atividade do sistema imune, frequentemente atu-
ando sobre células T e a produção de anticorpos. São usados para reduzir a atividade
imunológica em doenças autoimunes ou para prevenir a rejeição de transplantes.
Exemplos incluem ciclosporina e corticosteróides.
Os imunoestimulantes visam potencializar a resposta imune, úteis em vacinas e
no tratamento de certos cânceres. Exemplos são os interferons e as interleucinas.
Os anti-inflamatórios suprimem a resposta imunológica ao reduzir a atividade de
células do sistema imune e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Pode ser usado
no tratamento de condições inflamatórias, alergias, doenças autoimunes, transplantes.
Alguns exemplos são os glicocorticóides e os AINEs.
Os anticorpos monoclonais são fármacos direcionados para alvos específicos do
sistema imunológico com o intuito de modular a resposta imune de maneira precisa.
Um exemplo é o alentuzumabe, utilizado no tratamento da esclerose múltipla.

Introdução à Imunofarmacologia 12
REFERÊNCIAS
1. Abbas AK, Lichtman AH. Immunology: Basic and Clinical. 8th ed. Philadelphia:
Elsevier; 2020.
2. Kuby J, et al. Immunology. 7th ed. New York: W. H. Freeman; 2013.
3. Whalen K, Finkel R, Panavelil TA. Lippincott Illustrated Reviews: Pharmacology.
6th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2015.

Escrito por Allison Diêgo da Silva Bezerra em parceria com inteligência artificial
via chat GPT 4.0.

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Imunizações
SUMÁRIO
1. Introdução...........................................................................................................3

2. Imunização ativa.................................................................................................3

3. Tipos de vacinas disponibilizados no calendário de vacinação da Sociedade

Brasileira de Pediatria e Programa Nacional de Imunizações...................................5

4. Imunização passiva...........................................................................................17

5. Profilaxia da hepatite B......................................................................................17

6. Profilaxia pós-exposição varicela......................................................................18

7. Profilaxia pós exposição do tétano....................................................................20

8. Raiva.................................................................................................................21

Referências ...................................................................................................... 25
1. INTRODUÇÃO
A imunidade de um indivíduo pode ser de forma ativa, ou seja, o próprio indiví-
duo produz seus próprios anticorpos, podendo ser natural, adquirida após alguma
infecção ou artificial, adquirida após a vacinação. Existe ainda a imunidade passiva,
quando o indivíduo recebe os anticorpos já prontos, podendo ser natural através da
passagem transplacentária ou aleitamento materno, ou artificial através das imuno-
globulinas. Vamos iniciar nossa abordagem através da imunidade ativa e posterior-
mente abordaremos a imunidade passiva.

2. IMUNIZAÇÃO ATIVA
As práticas de imunizações são geralmente baseadas em evidências científicas
atualizadas, nas características das vacinas, na epidemiologia das doenças e nas
características do hospedeiro. Existem alguns calendários nacionais, dentre eles o
fornecido pela SBP e o programa Nacional de Imunizações pelo Ministério da Saúde.
O calendário SBP é elaborado para crianças e adolescentes hígidos (do nascimento
até 19 anos de idade). Para aqueles com imunodeficiências ou em situações epide-
miológicas específicas, as recomendações podem sofrer alterações.
Quando a vacinação ocorre fora da faixa etária preconizada, pode haver reajuste
dos esquemas podem ser adaptados de acordo com a idade de início, respeitando-
se os intervalos mínimos entre as doses.
Todas as vacinas podem ocasionar eventos adversos, em geral leves e transitó-
rios, e que devem ser informados à família. É importante que o médico pediatra in-
forme aos responsáveis das crianças e adolescentes a importância das vacinações
na prevenção de doenças e a proteção que é conferida para a população.

Se liga! Para indicar uma vacina, é importante conhecer algumas


características principais, como:
• natureza do antígeno imunizante
• presença de adjuvantes
• via de administração
• principal método de produção
• risco de eventos adversos

Imunizações 3
É importante conhecer as principais contraindicações da vacinação por vírus vi-
vos atenuados ou bactérias vivas atenuadas. São elas:
• Imunodeficiência congênita ou adquirida
• Gestantes (exceto se situação de alto risco para algumas doenças, como febre
amarela, poliomielite, sarampo)
• Neoplasias malignas
• Terapia imunossupressora (radioterapia, quimioterapia, uso de
imunossupressores).
• Uso de corticosteroides em altas doses (equivalente a 2 mg/ kg/dia ou ≥ 20
mg/dia de prednisona em crianças), por mais de 15 dias.
Além disso, é importante reconhecer quando a vacinação deve ser adiada
temporariamente:
• Episódios de doenças agudas febris (principalmente para evitar confusão entre
os eventos adversos de algumas vacinas e a evolução clínica da doença)
• Até 30 dias após o término de corticoterapia em dose imunossupressora
• Até 90 dias após o uso de outros medicamentos ou tratamentos que provo-
quem imunossupressão
Até no mínimo 3 meses (variação de acordo com a vacina de 3 a 12 meses) após
transplante de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea) para vacinas com mi-
crorganismos não vivos e 2 anos para vacinas com microrganismos vivos;
• De 3 a 11 meses após transfusão de plasma fresco ou imunoglobulinas, para
vacinas com vírus vivos, em razão da possibilidade de neutralização do antíge-
no vacinal por anticorpos presentes nesses produtos.
As vacinas podem possuir diversos componentes, dentre eles podemos citar:
agentes atenuados, agentes inativados, partes de agentes etiológicos e produtos
modificados do metabolismo (toxoides purificados).

PRODUTOS
AGENTES AGENTES PARTES DE AGENTES
MODIFICADOS
ATENUADOS INATIVADOS ETIOLÓGICOS
DO METABOLISMO

• BCG • Vacina inativada da • Hepatite B • Difteria


• Rotavírus poliomielite (VIP) • Hemófilos b (Hib) • Tétano
• Vacina oral da polio- • Coqueluche • Pneumo10V
mielite (VOP) • Influenza • MeningoC
• Febre amarela • Hepatite A
• Tríplice viral – sa- • HPV
rampo, caxumba e
rubéola
• Varicela

Tabela 1: Composição vacinal. Fonte: Elaborado pelo autor

Imunizações 4
3. TIPOS DE VACINAS
DISPONIBILIZADOS NO CALENDÁRIO
DE VACINAÇÃO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA E
PROGRAMA NACIONAL DE
IMUNIZAÇÕES

3.1. BCG – Tuberculose


A vacina BCG é produzida com bacilos vivos atenuados e liofilizados de cepa de
Mycobacterium bovis. Deve ser aplicada em dose única ao nascimento, na dose de
0,1ml intradérmica. Uma segunda dose da vacina está recomendada quando, após
seis meses da primeira dose, não se observa cicatriz no local da aplicação.
A lesão da vacina evolui em cerca e 6 a 12 semanas, podendo prolongar-se até 24
semanas. Pode ocorrer ainda enfartamento ganglionar múltiplo ou único durante a
evolução da lesão em cerca de 10% dos pacientes e aparece entre a 3ª a 6ª semana
pós-vacinação. As características do linfonodo são: homolateral à aplicação da va-
cina, móvel, mede até 3cm de diâmetro, indolor, sem sintomas sistêmicos, podendo
involuir espontanemante em 2 a 3 meses.

Saiba mais Hanseníase: Em comunicantes domiciliares de han-


seníase, independente da forma clínica, uma segunda dose pode ser aplicada
com intervalo mínimo de seis meses após a primeira dose. Em recém-nascidos
filhos de mãe que utilizaram imunossupressores na gestação, pode estar indi-
cado o adiamento da vacinação.

Contraindicações da BCG
• Relativas: RN com peso < 2.000g e lesões dermatológicas extensas afetando o
local de aplicação da vacina.
• Absolutas: imunodeficiências congênitas e adquiridas. Crianças com expo-
sição perinatal ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) devem receber
a vacina ao nascimento, porém, aquelas que chegam ao serviço ainda não

Imunizações 5
vacinadas, devem receber a BCG somente se sintomáticas e sem sinais de
imunodepressão.

3.2. Hepatite B
A vacina da hepatite B é composta pelo antígeno de superfície do vírus da hepa-
tite B (HbsAg), obtido por engenharia genética, purificado e associado ao adjuvante
hidróxido de alumínio.
Durante as 12h de vida do recém-nascido, recomenda-se aplicar a primeira dose
da vacina Hepatite B. Aos dois meses aplica-se a segunda dose e no sexto mês a ter-
ceira dose.
Desde 2012, no Programa Nacional de Imunizações (PNI), a vacina combinada
DTP/Hib/HB (Penta) foi incorporada no calendário aos 2, 4 e 6 meses de vida. Dessa
forma, os lactentes que fazem uso desta vacina recebem quatro doses da vacina
Hepatite B. Aqueles que forem vacinados em clínicas privadas podem manter o
esquema de três doses, primeira ao nascimento e segunda e terceira dose aos 2 e
6 meses de idade. Nestas duas doses, podem ser utilizadas vacinas combinadas
acelulares – DTPa/IPV/Hib/HB. Crianças com peso de nascimento igual ou inferior
a 2 Kg ou idade gestacional < 33 semanas devem receber, obrigatoriamente, além da
dose de vacina ao nascer, mais três doses da vacina (total de 4 doses: 0, 2, 4 e 6 me-
ses). Crianças maiores de 6 meses e adolescentes não vacinados devem receber 3
doses da vacina no esquema 0, 1 e 6 meses.
A vacina combinada Hepatite A+B pode ser utilizada na primo vacinação de crian-
ças de 1 a 15 anos de idade, em 2 doses com intervalo de seis meses. Acima de 16
anos o esquema deve ser com três doses (0, 1 e 6 meses). Em circunstâncias excep-
cionais, em que não exista tempo suficiente para completar o esquema de vacinação
padrão de 0, 1 e 6 meses, pode ser utilizado um esquema de três doses aos 0, 7 e 21
dias (esquema acelerado). Nestes casos uma quarta dose deverá ser feita, 12 meses
após a primeira, para garantir a indução de imunidade em longo prazo.
Recém-nascidos filhos de mães portadoras do vírus da hepatite B (HbsAg posi-
tivas) devem receber, além da vacina, a imunoglobulina específica para hepatite B
(HBIG), na dose 0,5mL, até o sétimo dia de vida, preferencialmente logo ao nascer, no
membro inferior contralateral da vacina.

Contraindicações da Hepatite B
Reação anafilática prévia a qualquer componente da vacina e púrpura tromboci-
topênica pós-vacinal.

Imunizações 6
3.3. DTP/DTPa – Difteria, Tétano e Pertussis
(tríplice bacteriana).
É uma vacina combinada composta por toxoides diftérico e tetânico e pelo com-
ponente pertussis, sendo a bactéria Bordetella pertussis inteira em suspensão celu-
lar inativada ou componentes antigênicos da bactéria (toxina pertussis, pertactina,
hemaglutinina filamentosa ou proteínas fimbriais), designada de pertussis acelular.

Se liga! Entenda o conceito: a vacina “DT” é a representação da


vacina do tipo infantil enquanto a “dt” é a representação do tipo adulto. Essa
diferença consiste na quantidade de toxoide diftérico cerca de 10 vezes maior
no tipo das crianças do que as do tipo adulto e igual quantidade do toxoide
tetânico.
Os componentes antigênicos da bactéria (toxina pertussis, pertactina, hemaglu-
tinina filamentosa ou proteínas fimbriais), são disponíveis ao grupo infantil sen-
do denominadas “Pa” e ao grupo adulto sendo denominadas “pa” – o ‘a’ vem de
acelular. As vacinas do tipo adulto possuem cerca de um terço da quantidade
de antígenos da B. Pertussis, para evitar eventos adversos

Uma das opções à DTP que possui células inteiras é a DTPa que é uma forma ace-
lular o que reduz a reação imune após aplicação e apresenta eficácia semelhante.
Ao todo são 5 doses, uma aos 2 meses, 4 meses, 6 meses e o primeiro reforço
aos 15 meses. Entre quatro e seis anos aplica-se a segunda dose de reforço.
As reações adversas são comuns a vacina DTP (células inteiras), sendo elas: ede-
ma temporário, aumento da sensibilidade e eritema (vermelhidão) no local da injeção
em conjunto com febre ocorrem em uma grande proporção de casos. Pode ainda
ocorrer vacina. Episódio hipotônico hiporresponsivo (EHH) e convulsões febris têm
sido relatados a uma taxa de 1 por 12.500 doses administradas. Tais casos de rea-
ções adversas graves devem ser notificados, mas a criança pode continuar com seu
esquema de vacinação normal, com a vacinação DTPa (acelular). Casos de encefa-
lopatia, está contraindicada qualquer dose subsequente, seja com a vacina tríplice
bacteriana de células inteiras ou acelular. Nessas situações, completa- se o esquema
vacinal com a vacina dupla infantil (DT).

Imunizações 7
3.4. dT/dTpa
Pacientes com esquema primário ou incompleto devem receber doses de reforço.
Crianças com mais de 7 anos não imunizadas ou sem comprovações da vacinação
devem receber três doses da vacina.
A dTpa faz parte das vacinas da gestante e deve ser aplicada na vigésima semana
ou no puerpério, imunizando indiretamente o recém-nascido.

3.5. Hib
A HIN inclui ação contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus in-
fluenza tipo B.
A vacina Haemophilus influenzae tipo b (Hib) é composta por um
Polirribosilfosfato (PRP) (polissacáride capsular) purificado do Hib, conjugado a uma
proteína. Existem 4 tipos de vacina de acordo com a proteína conjugada: PRP-OMP
(proteína meningocócica da membrana externa), PRP-CRM (proteína diftérica mutan-
te), PRP-T (proteína tetânica) e PRP-D (toxoide diftérico).
A vacina é recomendada em três doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade. Quando uti-
lizada pelo menos uma dose de vacina combinada com componente pertussis ace-
lular (DTPa/Hib/IPV, DTPa/Hib, DTPa/Hib/IPV,HB, etc.), uma quarta dose da Hib deve
ser aplicada aos 15 meses de vida. Essa quarta dose contribui para diminuir o risco
de ressurgimento das doenças invasivas causadas pelo Hib em longo prazo.

Contraindicações:
• Doenças febris agudas.
• Hipersensibilidade aos componentes vacinais.

3.6. VIP/VOP
A vacina injetável de poliovírus inativados (VIP) e a vacina oral de poliovírus vivos
atenuados (VOP) apresentam em sua composição poliovírus tipo 1, 2 e 3, sendo a
VOP os tipos 1 e 3 e a VIP 1, 2 e 3.
Recomenda-se que a vacina pólio inativada seja feita concomitantemente com
as três primeiras doses que são aplicadas com 2, 4 e 6 meses. Desde 2016 a vacina
VOP é bivalente, contendo os tipos 1 e 3 do poliovírus, podendo ser utilizada na roti-
na nas doses de reforço ou nas Campanhas Nacionais de Vacinação, devido a casos
associados de poliomielite viral.
Evitar VOP em todas as crianças imunocomprometidas e nos seus contatos domi-
ciliares. Nestas circunstâncias utilizar a VIP.

Imunizações 8
Contraindicações:
• VIP: em casos de reação alérgica grave prévia aos produtos contidos na vacina.
• VOP: não deve ser administrada em pacientes imunodeprimidos e seus comuni-
cantes e em indivíduos que desenvolveram pólio vacinal associados a doses ante-
riores da vacina. Os vírus da VOP podem sofrer mutações a nível intestinal, podendo
provocar poliomielite paralítica pelo vírus da vacina – VAPP. Além disso, caso os
vírus mutantes não sejam eliminados do intestino, eles continuam circulando na
comunidade e aumentam seu grau de virulência. Caso as coberturas vacinais não
sejam adequadas e elevadas, os vírus podem causar poliomielite em surtos na popu-
lação - poliovírus circulante derivado da vacina – cVDPV.

3.7. Pneumocócica conjugada


Existem dois tipos de vacina:
1. pneumococo conjugada 10-valente, que contém os sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V,
14, 18C, 19F e 23F e que faz parte do calendário do PNI;
2. e vacina conjugada 13-valente que, além dos sorotipos da 10-valente, contém
mais três sorotipos adicionais, 3, 6A e 19A, disponível somente na rede privada.
Pode ser feitas em crianças de até 5 anos. A vacina pneumocócica conjugada
10-valente é utilizada em dose dupla, uma aos dois meses e outra aos quatro, além
de um reforço com 1 ano de vida. Se possível, recomenda-se a utilização da vacina
13-valente que é mais abrangente quanto à proteção. Caso a criança tenha maior
chance de ser infectada pelo pneumococo, recomenda-se a aplicação, a partir de 2
anos de idade, a vacina polissacarídica 23-valente, com intervalo mínimo de dois me-
ses entre elas.

Contraindicações:
• Reações anafiláticas com doses anteriores.

3.8. Meningocócica conjugada


É composta por polissacarídeos dos sorotipos A, C, W, Y W e Y conjugados com a
toxina mutante diftérica (MCC-CRM197) ou com o toxoide tetânico (MCC-TT).
Recomenda-se o uso rotineiro das vacinas meningocócicas conjugadas para
lactentes maiores de 2 meses de idade, crianças e adolescentes. Sempre que possí-
vel utilizar preferencialmente a vacina MenACWY pelo maior espectro de proteção,
inclusive para os reforços de crianças previamente vacinadas com MenC. Crianças
com esquema vacinal completo com a vacina MenC podem se beneficiar de uma
dose adicional da vacina MenACWY a qualquer momento, respeitando- se um inter-
valo mínimo de 1 mês entre as doses. No Brasil estão licenciadas as vacinas: MenC,

Imunizações 9
MenACWY-CRM e MenACWY-TT a partir de 2 meses e a vacina MenACWY-D a partir
de 9 meses de vida. O esquema de doses varia conforme a vacina utilizada. MenC:
duas doses, aos 3 e 5 meses e reforço com 12 a 15 meses. Com início depois do pri-
meiro ano: dose única. MenACWY-CRM: três doses aos 3, 5 e 7 meses de idade e re-
forço entre 12-15 meses. Iniciando entre 7 e 23 meses de idade: 2 doses, sendo que
a segunda dose deve ser obrigatoriamente aplicada após a idade de 1 ano (mínimo
2 meses de intervalo). Iniciando após os 24 meses de idade: dose única. MenACWY-
TT: duas doses, aos 3 e 5 meses de idade e reforço entre 12-15 meses. Iniciando
após 1 ano de idade: dose única. MenACWY-D: licenciada a partir de 9 meses de
idade no esquema de duas doses entre 9 e 23 meses com 3 meses de intervalo entre
elas; acima de dois anos dose única. A recomendação de doses de reforço 5 anos
após (entre 5 e 6 anos de idade para os vacinados no primeiro ano de vida) e na ado-
lescência (a partir dos 11 anos de idade) é baseada na rápida diminuição dos títulos
de anticorpos associados à proteção, evidenciada com todas as vacinas meningo-
cócicas conjugadas. Não existem dados sobre intercambialidade entre as vacinas
meningocócicas conjugadas.

Contraindicações:
• Reações anafiláticas com doses anteriores

3.9. Meningocócica B recombinante


É formada pelas Proteínas recombinantes NHBA, NadA, fHbp e vesículas de mem-
brana externa (OMB) de Neisseria meningitidis grupo B.
Para paciente com mais de 2 meses de idade deve-se utilizar meningocócica B
recombinante. Para os lactentes que iniciam a vacinação entre 2 e 5 meses de idade,
são recomendadas três doses, com a primeira dose a partir dos 2 meses e com pelo
menos 2 meses de intervalo entre elas, além de uma dose de reforço entre 12 e 23
meses de idade. Para aqueles que iniciam a vacinação entre 6 e 11 meses, duas do-
ses da vacina são recomendadas, com dois meses de intervalo, e uma dose de refor-
ço no segundo ano de vida. Para crianças que iniciam a vacinação entre 1 e 10 anos
de idade, são indicadas duas doses com 2 meses de intervalo entre elas.

3.10. Rotavirus
Existem duas vacinas licenciadas: a monovalente que é composta pela cepa hu-
mana atenuada (RIX4414) do sorotipo G1P1A [8] do rotavírus, disponível na rede
pública de saúde, que apresenta alguns epítopos compartilhados comuns a outras
cepas, conferindo proteção cruzada contra outras sorotipos; e a pentavalente, huma-
no- bovina, tipos G1G2G3G-4P1A, disponível somente na rede privada.

Imunizações 10
Contraindicações
• Imunodeficiências congênitas e adquiridas (as crianças expostas ao HIV no pe-
ríodo perinatal e as infectadas que não têm sintomas e sinais de imunodepres-
são devem receber a vacina)
• Alergia a algum componente da vacina
• Doença gastrointestinal crônica
• Malformação congênita do trato digestivo ou história prévia de invaginação
intestinal.
• Em casos de doença febril aguda e em caso de vômitos e/ ou diarreia grave, a
vacinação deve ser adiada.

3.11. Influenza
A vacina influenza. É composta por vírus inativados e fragmentados.
Crianças acima de 6 meses de idade deve receber a vacina. Se a idade da criança
for menor que 9 anos recomenda-se duas doses com intervalo de um mês. O reforço
é feito anualmente devido a sazonalidade da doença.

Contraindicações
• Reações anafiláticas aos componentes da vacina
• Reações anafiláticas a proteínas do ovo.

3.12 Sarampo, Caxumba, Rubéola e Varicela


(vacinas tríplice viral – SCR; tetraviral – SCRV;
varicela).
É composta pela combinação de vírus vivos e atenuados de sarampo caxumba,
rubéola e varicela.
Aos 12 anos de idade aplica-se a tríplice viral e a varicela. Aos 15 anos realiza-se
a segunda dose. Caso haja contaminação ou casos suspeitos de contato recomen-
da-se o uso da vacina após 9 meses de vida.

Contraindicações à triplice viral e à tetraviral:


• Uso de sangue e derivados ou imunoglobulina anterior ou nos 15 dias seguintes
à aplicação da vacina
• Gravidez
• Reação anafilática à neomicina e gelatina
• Doenças imunossupressoras, como leucemias e linfomas

Imunizações 11
• Corticoterapia em altas doses ou outras drogas utilizadas na terapêutica de
neoplasias
• Imunodeficiência celular congênita ou adquirida (exceto crianças infectadas
pelo HIV assintomáticas e com percentual de linfócitos T CD4+ > 15%)

Se liga! Essas vacinas não são contraindicadas em casos de alergia


a ovo.

3.13 Hepatite A
Recomenda-se sua administração após o primeiro ano de vida em duas doses ou
dose única aos quinze meses.

Contraindicações
• Hipersensibilidade aos componentes da vacina.

3.14 Febre amarela


A vacina da febre amarela é constituída do vírus vivo atenuado. Está indicada para
residentes ou viajantes para as áreas com recomendação da vacina (pelo menos 10
dias antes da data da viagem). Indicada também para pessoas que se deslocam pa-
ra países que exigem a comprovação de vacinação.
Nas áreas com recomendação de vacina, face à situação epidemiológica atual, de
acordo com o PNI, recomenda- se apenas uma dose da vacina na vida, sem neces-
sidade de reforços. No entanto, a ocorrência de falhas vacinais primárias, especial-
mente em crianças com idade inferior a dois anos, faz com que a aplicação de uma
segunda dose seja desejável, em geral a partir dos quatro anos de idade.
Apenas uma dose é exigida em caso de viagens internacionais.
Após a vacinação de pacientes com idade menor que 6 meses, deve-se suspender
a amamentação por 10 dias.
Não se deve aplicar a vacina da febre amarela e a tríplice viral juntas por risco de
reações adversas.

Contraindicações:
• Imunodeficiências congênitas ou adquiridas
• Situações que levem a imunossupressão

Imunizações 12
• Reações anafiláticas a ovo
• Gravidez.

3.15 HPV
A vacina do HPV é composta por partículas semelhantes ao vírus HPV (virus-like
particle – VLP) inativadas.
Há duas opções vacinais no Brasil contra o HPV:

1. VLPs ( vírus like-particle) em duas doses com espaço de 6 meses entre elas pa-
ra crianças de 9 a 14 anos. Adolescentes com 15 anos devem fazer três doses..
A HPV4 está indicada para ambos os sexos (é a vacina disponível no PNI);
2. a HPV2 apenas para indivíduos do sexo feminino. Imunodeprimidos por doença
ou tratamento devem receber o esquema de três doses.

Contraindicações:
• Hipersensibilidade aos componentesda vacina
• Gestantes (caso a paciente engravide após o início do esquema vacinal, as do-
ses subsequentes deverão ser adiadas até o período pós-parto)

3.16 Dengue
A vacina dengue foi licenciada em nosso país no esquema de três doses (0, 6 e 12
meses) e está recomendada para crianças e adolescentes a partir de 9 anos até no
máximo 45 anos de idade que já tiveram infecção prévia pelo vírus da dengue.
Não é recomendado durante a gestação, mulheres que amamentam e portadores
de imunodeficiências.
A vacina não deve ser administrada simultaneamente com outras vacinas do
calendário.

Imunizações 13
Tabela 2: Calendário de vacinação 2019 da Sociedade Brasileira de Pediatria. Fonte: Adaptado da SBP

Imunizações 14
Tabela 3: Calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) de 2019. Fonte: Elaborado pelo autor

Imunizações 15
CALENDÁRIO VACINAL

Ao nascer 2 e 4 meses 3 e 5 meses

BCG Hepatite B Rotavírus Pentavalente VIP Pneumo 10 Meningo C

Contraindicado para Contraindicado em Protege contra difteria,


Contraindicado em Contraindicado em
RN com <2000g ou pacientes com tétano, coqueluche,
casos de reação casos de reações
com lesões imunodeficiência, hepatite B e
anafilática prévia a anafiláticas
dermatológicas alergia a componentes Haemophilus influenza com doses
qualquer componente tipo b (Hib).
extensas(relativas); da vacina, doença anteriores
da vacina e púrpura
imunodeficiências gastrointestinal
trombocitopênica
congênitas e crônica, malformação Contraindicações da
pós-vacinal
adquiridas (absolutas) do trato GI, história de Hib: doenças febris
invaginação agudas,
intestinal hipersensibilidade
aos componentes
vacinais

6 meses 9 meses 4 anos 9 a 14 anos

VIP Pentavalente Influenza Febre amarela VOP reforço Dengue HPV

Contraindicado em: DTP reforço Indicado para indivíduos HPV (2 doses meninas
Contraindicado em casos de que já tiveram de 9 a 14 anos/
Contraindicado em casos de reações imunodeficiências infecção prévia pelo meninos: 11 a 14
reações alérgicas anafiláticas aos congênitas ou Varicela vírus da dengue anos)
prévias a vacina componentes adquiridas, situações
da vacina que levem a
às proteínas do ovo imunossupressão,
reações anafiláticas a
ovo, gravidez
12 meses 15 meses

Pneumo 10 Meningo C Tríplice viral Tetra viral VOP reforço Hepatite A DTP reforço

Contraindicado em: gestantes, uso de sangue e Contraindicado em Pode causar: edema


Contraindicado em casos de e eritema local, febre
derivados ou Ig anterior ou nos 15 dias seguintes
imunodeprimidos e hipersensibilidade alta, irritabilidade,
à aplicação da vacina, anafilaxia à neomicina e
em casos que tenha aos componentes episódio hipotônico
gentamicina, imunossupressão, corticoterapia alta
desenvolvido pólio da vacina hiporresponsivo,
doses, drogas utilizadas em casos de neoplasias,
vacinal anteriormente convulsão febril e
imunodeficiência.
encefalopatia

Imunizações 16
4. IMUNIZAÇÃO PASSIVA
A imunização passiva é feita através de imunoglobulinas ou soros heterólogos.
A imunização passiva artificial heteróloga, é conferida por transfusão de anticor-
pos obtidos do plasma de animais previamente vacinados, geralmente equinos, ou
homóloga, conferida por transfusão de anticorpos obtidos do plasma de seres huma-
nos. A imunoglobulina humana (homóloga) é extraída de voluntários, sendo muito
menos reatogênica que os soros (heteróloga), obtidos de equinos. As imunoglobuli-
nas podem ser normais ou específicas. A imunoglobulina humana normal (gamaglo-
bulina), obtida de doadores não selecionados, tem espectro de proteção maior, pois
inclui anticorpos capazes de proteger contra mais de uma doença, como o sarampo,
hepatite A, Doença de Kawasaki. As imunoglobulinas humanas específicas (gama-
globulinas hiperimunes) são direcionadas especialmente para a proteção contra
determinados microrganismos ou toxinas, causadores de doenças tais como téta-
no, hepatite B, raiva, varicela. São obtidas de doadores humanos selecionados, que
apresentam alto título sérico de anticorpos contra a doença específica, geralmente
pessoas recentemente vacinadas contra as respectivas doenças contra as quais se
deseja proteger.

Se liga! As imunoglobulinas utilizadas são constituídas de IgG, que


tem sua concentração sérica reduzida pela metade em cerca de 21 a 28 dias,
conferindo, portanto, uma proteção variável.

5. PROFILAXIA DA HEPATITE B
O vírus da hepatite B apresenta diversos genótipos, com distribuição geográfica
diferenciada, e que estão diversamente relacionados à gravidade da infecção e à ten-
dência a ocasionar doença crônica. A transmissão do VHB ocorre: de mãe para filho
ao nascimento, por via sexual, por ferimentos cutâneos, por compartilhamento de
seringas e agulhas entre usuários de drogas, por transfusão de sangue ou hemoderi-
vados e em acidentes com materiais biológicos.
Pode ocorrer a transmissão neonatal em 90% dos casos em que a mãe é AgHBs
positivo e AgHBe positivo, e em 10% dos casos em que é apenas AgHBs positivo.
• Prevenção de infecção perinatal: crianças a termo de mães AgHBs positivas
devem receber vacina de hepatite B mais IGHAHB (imunoglobulina hiperimune

Imunizações 17
hepatite B), administradas em grupos musculares separados. Ambas devem
ser realizadas o mais precocemente possível, nas primeiras 12 a 24 horas de
vida. Nessas condições, a proteção conferida contra transmissão no momento
do parto é de praticamente 100%. A vacinação isolada nas primeiras 12 horas
após o nascimento é muito eficaz na prevenção da transmissão vertical do
VHB, mas é possível que a adição de imunoglobulina confira uma pequena pro-
teção adicional. A imunoglobulina deve ser aplicada em até 7 dias após o parto,
porém quanto mais precoce, melhor é a eficácia.

Se liga! O aleitamento materno não é contraindicado para filhos de


mãe AgHBs positivas, se eles tiverem recebido imunoprofilaxia adequada.

Eventos adversos da IGHAHB:


• Locais: eritema, enduração e dor de intensidade leve são comuns.
• Sistêmicos: febre, sintomas gastrointestinais, mal-estar, cefaleia, exantema,
ocasionalmente.
• Alérgicos: anafilaxia é rara.

6. PROFILAXIA PÓSEXPOSIÇÃO
VARICELA
A varicela, doença infectocontagiosa comum na infância, resulta da infecção pri-
mária produzida por vírus da família Herpes viridae, denominado vírus varicela-zoster
(VVZ). Após a primo-infecção, o VVZ pode permanecer latente no organismo hu-
mano por longo período. Sua reativação resulta em herpes-zoster, enfermidade que
ocorre com maior frequência em indivíduos imunodeprimidos e em idosos.
O início da varicela em gestantes no período compreendido entre cinco dias antes
e dois dias após o parto resulta em varicela grave em recém-nascidos. A profilaxia da
varicela deve ser feita preferencialmente pré-exposição, por intermédio de vacina. A
vacina também pode ser utilizada pós-exposição para indivíduos imunocompetentes
suscetíveis. Para indivíduos imunodeprimidos é indicado para profilaxia pós-exposi-
ção o uso de imunoglobulina humana específica (IGHAVZ). São 3 situações em que
pode ser utilizada a profilaxia pós exposição: em casos de profilaxia da varicela con-
gênita, profilaxia de varicela neonatal e bloqueio de surto de varicela hospitalar.

Imunizações 18
Saiba mais! A imunoglobulina humana antivaricela-zoster (IGHA
VZ) é obtida de plasma humano contendo títulos altos de IgG contra o vírus da
varicela. Na profilaxia pós-exposição, ela pode ser utilizada a partir de 9 meses
de idade. A dose da vacina (VZ) é, geralmente, de 0,5 mL, devendo ser aplica-
da por via subcutânea. A dose de IGHAVZ é de 125 U para cada 10 kg de peso
corporal, dose mínima de 125 U e máxima de 625 U, devendo ser aplicada por
via intramuscular, administrada nas primeiras 96 horas depois de ter ocorrido o
contato.

É importante que três condições sejam atendidas para a profilaxia pós-exposição:


que o comunicante seja suscetível, que tenha havido contato significativo com o
vírus varicela zoster e que o suscetível seja pessoa com risco especial de varicela
grave.

1. Profilaxia da varicela congênita: em gestantes suscetíveis (nunca foram vaci-


nadas e nunca teve a doença) e expostas a varicela durante a gestação, deve-se
realizar a IGHAVZ nas primeiras 96 horas da exposição.
2. Profilaxia de varicela neonatal:
• Casos de RN cuja mãe tenha tido varicela 5 dias antes e 2 dias após o parto
têm indicação de receber IGHAVZ. • Casos de prematuros nascidos entre 28 se-
manas e 36 semanas quando a mãe nunca apresentou varicela, que agora es-
tão em contato com um doente infectado por varicela, têm indicação de receber
IGHAVZ.
• Casos de prematuros abaixo de 28 semanas de idade gestacional ou abaixo de
1000g, independente da história materna, têm indicação de receber IGHAVZ.
3. Bloqueio de surto varicela hospitalar: todos os suscetíveis que estão em con-
tato hospitalar (face a face, mesmo quarto hospitalar ou mesmo ambiente fe-
chado por aproximadamente 1 hora) com casos infectantes de varicela devem
receber
• Vacina anti-varicela nos pacientes imunocompetentes acima de 1 ano
• IGHAVZ nos pacientes imunodeprimidos ou menores de 1 ano

Imunizações 19
7. PROFILAXIA PÓS EXPOSIÇÃO DO
TÉTANO
É importante a avaliação da história de vacinação contra o tétano e o tipo de fe-
rimento (limpo e superficial ou dealto risco – profundo ou sujo, feridas puntiformes,
corpos estranhos, presença de tecidos desvitalizados, mordeduras, queimaduras, fe-
rimento por armas branca ou de fogo, politrauma e em casos de fratura exposta).

Saiba mais! Na profilaxia pós exposição ao tétano pode ser uti-


lizada a imunoglobulina antitetânica ou o soro antitetânico. A imunoglobulina
humana antitetânica (IGHAT) é composta por imunoglobulinas da classe IgG
que neutralizam a toxina produzida por CIostridium tetani, e é obtida do plasma
de doadores selecionados (pessoas submetidas recentemente à imunização
ativa contra o tétano) com altos títulos no soro de anticorpos específicos (anti-
toxinas). Possui apresentação sob a forma líquida ou liofilizada, em frasco-am-
pola de 1 mL ou 2 mL, contendo 250 UI. Já o soro antitetânico (SAT), apesar
de ainda ser utilizado no Brasil para a imunização passiva contra o tétano, está
progressivamente sendo substituído pela imunoglobulina humana antitetânica
na rede de saúde, devido ao risco de reações anafiláticas graves em pacientes
com história de alergia a soros heterólogos ou a equídeos.

Pode ser administrada em qualquer idade, por via IM e em grupo muscular diferen-
te daquele onde for aplicada a vacina que contenha o toxoide tetânico. A dose é de
250 UI, tanto para adultos quanto para crianças. A meia vida da imunoglobulina é de
cerca de 21 a 28 dias, em indivíduos sem imunização prévia e a meia vida do soro é
de 14 dias em indivíduos normais. Na tabela a seguir você confere as indicações de
tratamento para a profilaxia pós exposição ao tétano:

Imunizações 20
FERIMENTO LIMPO E
OUTROS FERIMENTOS
HISTÓRIA DE SUPERFICIAL
VACINAÇÃO TÉTANTO
DT OU DTP IGHAT OU SAT DT OU DTP IGHAT OU SAT

Incerta ou < 3 doses Sim Não Sim Sim

VACINAÇÃO COMPLETA

Última dose há < 5 anos Não Não Não Não

Última dose entre 5-10 Não Não Sim Não*


anos

Última dose há > 10 anos Sim Não Sim Não*

*em pessoas com imunossupressão, idosos ou desnutridos graves, além de vacinação usar IGHAT OU
SAT. / Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT), soro antitetânico (SAT)

Tabela 4: Profilaxia pós exposição ao tétano Fonte: Elaborado pelo autor

Eventos adversos:
Locais: eritema, enduração e dor de intensidade leve são comuns.
Sistêmicos: febre, mal-estar, cefaleia, sintomas gastrointestinais, exantema.
Alérgicos: anafilaxia é rara.

8. RAIVA
A raiva é um problema de saúde pública no Brasil, não pelo número de casos noti-
ficados, mas por sua alta letalidade, praticamente 100%, sendo na América do Sul o
cão o principal transmissor.

REVISÃO: A transmissão do vírus da raiva resulta em grande parte das vezes da


inoculação de saliva infectada em tecido subcutâneo ou músculo por meio de mordi-
da do animal, ou inoculação de saliva em pele, ou mucosa lesada por intermédio de
arranhadura ou lambedura. Entretanto pode ainda haver o risco de transmissão por
ingestão de carne de herbívoros rábicos ou por manipulação de suas vísceras.

A vacina antirrábica desenvolve uma resposta imune ativa, que demora de 7 a 10


dias para se desenvolver, durando cerca de dois anos. A imunização passiva se dá
através de soros (imunoglobulinas heterólogas) ou com imunoglobulina antirrábica
humana (imunoglobulinas homólogas).

Imunizações 21
Saiba mais! As vacinas contra raiva podem ser de dois tipos: va-
cinas de tecido nervoso e vacinas de cultura de células. A IGHAR é composta
de imunoglobulinas específicas contra o vírus da raiva e é obtida do plasma de
doadores selecionados (pessoas submetidas recentemente à imunização ativa
contra raiva) com altos títulos de anticorpos específicos. A IGHAR é apresenta-
da sob forma liofilizada, em frascos-ampola com 150 UI (1 mL), 300 UI (2 mL)
e 1.500 UI (10 mL). Os soros são obtidos de equídeos imunizados contra raiva.
Ambos possuem meia vida de anticorpos de aproximadamente 21 dias. A dose
é única, de 20 UI/kg. Não aplicar mais que o volume recomendado, para evitar
possível prejuízo na imunização ativa. A imunoglobulina deve ser administrada
dentro ou ao redor do ferimento.

1. Profilaxia pós-exposição da raiva


• Depende das condições do animal agressor e da natureza da exposição (conta-
to indireto, acidentes leves e acidentes graves).
• Em casos de acidentes leves (acidente superficial em tronco ou membros, por
arranhaduras, mordeduras ou lambeduras em local com lesão superficial) deve-
se avaliar a condição do animal:

Cão/gato sem Cão/gato com


suspeita de raiva suspeita de raiva

Observar por 2 doses de


10 dias vacina

Sadio

Raivoso ou Cão/gato
desaparecido raivoso,
desaparecido
ou morto,
4 doses de animais
vacina (D0, D1, silvestres ou
D7 E D 14) de produção

Fluxograma 1: Profilaxia pós-exposição da raiva em acidentes leves


Fonte: Elaborado pelo autor

Imunizações 22
• Em casos de acidentes graves (ferimento nas mãos, no pescoço, nos pés, na
cabeça, profundos, múltiplos, lambedura de mucosas ou de pele com lesão pro-
funda, ferimento profundo por unha de animal ), deve-se avaliar as condições
do animal:

Cão/gato com Cão/gato sem


suspeita de raiva suspeita de raiva

4 doses de vacina 2 doses de vacina


+ soro/IGAR (D0 e D3)

Observar por
10 dias

Sadio Encerrar esquema

Completar
esquema
(D7 e D14)
+ soro/IGAR
(aplicar ao
redor da lesão
Raivoso ou
e o restante
desaparecido
intramuscular)
em até 7 dias

Morcegos

Cão/gato raivoso,
desaparecido ou
4 doses de vacina morto, animais
+ soro/IGAR silvestres ou de
produção

Fluxograma 2: Profilaxia pós-exposição da raiva em acidentes graves


Fonte: Elaborado pelo autor

Imunizações 23
Precaução pós uso das imunoglobulinas
É importante determinar o intervalo para a aplicação de vacinas atenuadas confor-
me o uso de imunoglobulinas.

Imunoglobulina humana antitetânica 3 meses

Imunoglobulina humana anti-hepatite B 3 a 4 meses

Imunoglobulina humana antivaricela-zoster 5 meses

Hemácias lavadas -

Concentrado de hemácias 5 meses

Sangue total 6 meses

Plasma ou plaquetas 7 meses

Gamaglobulinas intravenosas 8 a 11 meses

Tabela 5. Intervalo para aplicar vacinas atenuadas


Fonte: Elaborado pelo autor

Imunizações 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNTON, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª
ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012.
RANG, H. P. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
WHALEN, KAREN; FINKEL, RICHARD; PANAVELIL, THOMAS A. Farmacologia ilustra-
da. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
HOOPER, DAVID C. Fluoroquinolones. UpToDate. 2019. Disponível em: < http://www.
uptodate. com/online>. Acesso em: 25/01/2020.

Imunizações 25
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Anti-Histamínicos
SUMÁRIO
1. Mecanismos imunológicos das alergias.................................................................... 3

2. Histamina: receptores e principais ações fisiológicas da histamina ...................... 6

3. Sedativos (1ª geração) ................................................................................................ 7

4. Não sedativos (2ª geração)......................................................................................... 9

5. Anti-histamínicos de uso tópico e descongestionantes nasais ............................. 11

Referências ..................................................................................................................... 13
1. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS
DAS ALERGIAS

As manifestações e expressões das doenças alérgicas dependem de muitas vari-


áveis, entre as quais a composição genética do sujeito sensibilizado, a natureza do
alérgeno envolvido, a via de administração do alérgeno ao sujeito sensibilizado, as
propriedades biológicas dos anticorpos ou células sensibilizadas e a resposta local
do tecido à interação alérgeno-anticorpo. Os principais alérgenos encontrados no
meio ambiente são ácaros, fungos, polens, alguns alimentos, pelos de animais, me-
dicamentos, veneno dos himenópteros (vespas, abelhas, formigas e marimbondos),
látex, cosméticos e níquel. Esses alérgenos ao entrar em contato com a mucosa dos
indivíduos desencadeiam a ativação de linfócitos com uma mudança para o perfil
Th2 de resposta, com essa mudança ocorre a ativação de células Th2 e os linfócitos
B passam a secretar imunoglobulina da classe IgE. Essa imunoglobulina secretada
se liga na porção FcєRI nos mastócitos, esse processo é chamado sensibilização.
Quando ocorrem exposições posteriores a esse alérgeno gera um desencadeamento
mais rápido, gerando a degranulação do mastócito liberando os mediadores: aminas
vasoativas, mediadores lipídicos (reação de hipersensibilidade imediata que aconte-
ce de forma rápida de minutos depois da exposição repetida ao alérgeno); e citoci-
nas (reação de fase tardia 2-24 horas depois da repetição da exposição ao alérgeno).
As reações de hipersensibilidade são divididas em 4 tipos, de acordo com a
classificação de Gell e Coombs. As reações do tipo I, hipersensibilidade imediata,
são mediadas pela imunoglobulina IgE. O antígeno liga-se à IgE presente ligada aos
mastócitos nos tecidos e aos basófilos no sangue, desencadeando a liberação de
mediadores pré-formados como: histamina, proteases, fatores quimiotáticos, e a
síntese de outros mediadores como: prostaglandinas, leucotrienos, fator ativador
de plaquetas, citocinas. Esses mediadores provocam vasodilatação, aumento da
permeabilidade capilar, hipersecreção de muco, contração da musculatura lisa e
infiltração tecidual de eosinófilos, linfócitos T auxiliares do tipo 2 (resposta Th2) e
outras células inflamatórias. Esse tipo de reações se desenvolve, geralmente, uma
hora após a exposição ao antígeno. E a mesma é a base de todas as doenças ató-
picas (dermatite atópica, asma alérgica, rinite, conjuntivite) e de várias doenças
alérgicas (anafilaxia, alguns casos de angioedema, urticária e algumas alergias
alimentares e ao látex). Os termos atopia e alergia representam coisas diferen-
tes, frequentemente confundidas: Atopia é uma resposta imunitária exagerada
mediada pela IgE; todas as doenças atópicas são distúrbios de hipersensibilidade
tipo I. Alergia é qualquer resposta imunitária exagerada a um antígeno estranho,
independentemente do mecanismo. Assim, todas as doenças atópicas são consi-
deradas alérgicas, mas várias doenças alérgicas não são atópicas. Doenças alér-
gicas são os distúrbios mais comuns entre as pessoas. Doenças atópicas afetam

Anti-Histamínicos 3
mais comumente o nariz, olhos, pele e pulmões. Essas doenças incluem conjuntivi-
te, dermatite atópica extrínseca (o eczema mais comum), urticária imunomediada,
angioedema imunomediado, alergia aguda ao látex, algumas doenças pulmonares
alérgicas (asma alérgica, componentes mediados pela IgE da aspergilose bronco-
pulmonar alérgica), rinite alérgica e reações alérgicas a picadas venenosas.

Figura 1. Mecanismo de alergia. As moléculas de IgE se ligam aos mastócitos. Quando o alérgeno
entra no corpo pela segunda vez, os anticorpos IgE reagem, mastócitos liberam histamina.
Fonte: Designua/Shutterstock.com.

Figura 2. A degranulação é um processo inflamatório nos mastócitos. A interação do antígeno com


moléculas de IgE na membrana celular faz com que as células liberem mediadores como a histamina.
Fonte: Art of Science/Shutterstock.com

Anti-Histamínicos 4
Figura 3. Infográfico de sintomas de alergia. Vetor de uma mulher com sintomas de alergia.
Fonte: IgdeevaAlena/Shutterstock.com

Fatores desencadeantes das alergias respiratórias

Aeroalérgenos

Dermatophagoides pteronyssinus, Dermatophagoides


Ácaros pó domiciliar
farinae, Blomia tropicalis

Baratas Blatella germânica, Periplaneta americana

Fungos Aspergillus sp, Cladosporium sp, Alternaria sp, Penicillium notatum

Gato, cão, coelho, cavalo e roedores (hamster, gui-


Animais de pelo
nea pig, furão doméstico, camundongos)

Pólens Gramíneas – Lolium multiflorum (azevém), Phleum pratense

Ocupacionais Trigo, poeira de madeira, detergentes, látex

Poluentes

Fumaça de cigarro, material particulado (PM 10), dióxido de nitrogênio


Intradomiciliares
(NO2) derivados da combustão do gás de cozinha ou fogão à lenha

Extradomiciliares Ozônio, Nox e dióxido de enxofre

Irritantes

Odores fortes, perfumes, ar-condicionado, produtos de limpeza

Fonte: Autoria própria.

Saiba mais! O ar condicionado desempenha um papel


misto nos processos irritativos e alergênicos. Por um lado, por redu-
zir a umidade do ar, minimiza o crescimento de ácaros e fungos do
ambiente. No entanto, o ar ressecado e de temperatura muito dife-
rente do ambiente externo podem funcionar como irritantes!

Anti-Histamínicos 5
Saiba mais! Na prática clínica, é fundamental conversar
com o paciente sobre os desencadeantes de suas crises e, caso
a caso, observar quais perfumes, odores e alérgenos do ambiente
devem ser evitados visando reduzir as crises e processos inflama-
tórios mesmo que subclínicos subsequentes à exposição a essas
substâncias.

2. HISTAMINA: RECEPTORES
E PRINCIPAIS AÇÕES
FISIOLÓGICAS DA HISTAMINA

Histamina é um composto nitrogenado orgânico, de fórmula molecular C5H9N3 e


nome IUPAC 2-(3H-imidazol-4-il)-etanamina. Esta amina é originada a partir da perda
de um grupo carboxila do aminoácido histidina, processo conhecido com descarbo-
xilação. Histamina é uma amina biogênica vasodilatadora envolvida em processos
bioquímicos de respostas imunológicas, como extravasamento de plasma que acar-
reta o aparecimento de edemas, vermelhidão, coceira entre outros. Exerce, também,
função reguladora na fisiologia intestinal, além de atuar como neurotransmissor. A
histamina possui vários locais de produção. Entre eles podemos citar os mastócitos,
basófilos que servem de reservatório de renovação lenta, bem como, outras células
como as células enterocromafim-símiles da mucosa gástrica, neurônios que funcio-
nam como reservatório de renovação rápida. Existem vários tipos de receptores que
são ativados pelas histaminas, porém, o de maior importância para os mecanismos
alérgicos são os receptores H1, pois estão presentes em células endoteliais e mus-
culares lisas envolvidas com inflamação e alergias, com processos de vasodilatação
de aumento de permeabilidade. Os receptores H2, dentro da prática clínica, tem o
seu papel como participante da secreção de HCL no estômago pelas células parie-
tais da mucosa gástrica (secreção de ácido), músculo cardíaco, mastócitos. Existem
também os receptores H3, nos neurônios histaminérgicos pré-sinápticos no sistema
nervoso central e células no estômago.

Anti-Histamínicos 6
Saiba mais! Nos últimos anos, o tratamento preconizado
para a rinite alérgica é a associação de anti-histamínicos e corticos-
teróides tópicos nasais.

Receptores de histamina e seus efeitos.

Principais ações Função na inflamação alér-


Receptores
histaminérgicas gica e imunomodulação

Aumento da histamina, moléculas


Aumento prurido, dor, vasodilata-
de adesão, expressão e quimio-
ção, hipotensão; broncoconstri-
taxia de eosinófilos e neutrófilos
H1 ção; estimulação nervosa vagal
e APC; aumento da imunidade
das vias aéreas e dos receptores
celular; diminuição da imunida-
de tosse; taquicardia; diminuição
de humoral e produção de IgE;
de condução atrioventricular.
aumento da autoimunidade.

Aumento de eosinófilos e quimio-


taxia de neutrófilos; diminuição
Aumento da secreção de ácido de IL-12 de células dendríticas;
gástrico, hipotensão, rubor; au- aumento de IL-10; diminuição da
H2 mento da permeabilidade vas- imunidade humoral; diminuição
cular; broncodilatação; cefaleia; da imunidade celular; diminuição
taquicardia; atividade inotrópica. de células e citocinas Th2; função
em alergia ; autoimunidade, ma-
lignidade, rejeição do enxerto.

Aumento do prurido (sem envol- Provavelmente, envolvido no con-


H3 vimento dos mastócitos), aumen- trole da inflamação neurogênica;
to da obstrução nasal; previne aumento da capacidade pró-in-
broncoconstrição excessiva. flamatória e atividade da APC.

Aumento do prurido (sem envolvi-


H4 mento dos mastócitos), aumento Aumento da quimiotaxia de
da obstrução nasal; diferenciação eosinófilos; aumento de IL6.
de mieloblastos e promielócitos.

APC: células apresentadoras de antígenos; IL: interleucinas.

Fonte: Autoria própria.

3. SEDATIVOS (1ª GERAÇÃO)

Inicialmente os anti-histamínicos eram considerados, introduzidos por Bovet na dé-


cada de 1930, antagonistas de receptores H1. Entretanto, atualmente sabemos que os
anti-histamínicos são na verdade agonistas inversos desses receptores. No campo da
farmacologia, um agonista inverso é um agente capaz de se ligar ao mesmo receptor

Anti-Histamínicos 7
que um agonista, mas induzindo uma resposta farmacológica oposta. Os anti-histamí-
nicos, antagonistas H1inibem mecanismos inflamatórios e alérgicos e acabam sendo
utilizados para várias condições como em casos de rinite, urticária, alergia a alimentos
e outros. Os anti-histamínicos (antialérgicos) são classificados em dois grupos: anti-
-histamínicos de “primeira geração”, mais antigos, também chamados de “clássicos”
ou “sedantes”. Anti-histamínicos de “segunda geração”, mais recentes, chamados de
“não clássicos” ou “não sedantes” Em ordem de aparecimento, os anti-histamínicos se-
dativos foram desenvolvidos primeiro, seguidos dos não sedativos. Os sedativos têm
essa característica, pois conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e se liga a
receptores de histamina no sistema nervoso central e bloqueia o mecanismo de vigília.
Em razão da sua estrutura molecular lipofílica, cruzam mais facilmente essa barrei-
ra. Nesse sentido, alguns desses anti-histamínicos são utilizados com a intenção de
sedar como a prometazina (associado ao haloperidol) em emergências psiquiátricas;
a hidroxizina, por exemplo, é utilizada para sedação de crianças no caso de procedi-
mentos de exames. Contudo, devido à sua atividade em receptores muscarínicos - que
desempenham ação anticolinérgica -, adrenérgicos e serotoninérgicos, esses fármacos
possuem efeitos adversos. Na prática, conhecer tais efeitos e explica-los aos pacien-
tes é fundamental. Os efeitos colaterais dos anti-histamínicos de primeira geração (se-
dativos) são:

• Por interação com receptor H1: depressão do sistema nervoso central, expressa
em manifestações como menor rendimento cognitivo e neuropsicomotor e seda-
ção. Por outro, pode levar também a elevação de apetite;
• Por ativação de receptores alfa-1-adrenérgicos: manifestações cardiovascula-
res como taquicardia reflexa, tontura e hipotensão;
• Por ativação de receptores muscarínicos: taquicardia sinusal, diminuição do
débito urinário (retenção urinária) e diminuição da salivação (xerostomia);
• Por ativação de canais iônicos cardíacos, principalmente o IKr: arritmias ven-
triculares e possível prolongamento do intervalo Q-T;
• Por ativação de receptores serotoninérgicos: aumento importante da fome/
apetite.

Essas reações adversas desaparecem com a descontinuação do tratamento, não


sendo necessária sua suspensão.
Ainda, esses medicamentos - anti-H1 clássicos - possuem metabolização hepá-
tica, por ação do CYP, devido ao seu caráter lipofílico e são classificados de acordo
com a estrutura química que apresentam. Eles são rapidamente absorvidos e meta-
bolizados, o que significa que eles devem ser administrados três a quatro vezes ao
dia. Os anti-histamínicos de primeira geração causam conhecidos efeitos adversos,
deprimindo as funções cognitivas e causando sonolência, entre outros. Têm a seu
favor o custo monetário reduzido em relação aos anti-H1 de segunda geração.

Anti-Histamínicos 8
Efeitos adversos da estimulação dos receptores pela histamina.

Local de ação Efeito

Sedação e diminuição da atenção, cognição,


ReceptoR H1 (SNC)
aprendizagem, memória, e desempenho psicomotor.

Secura da boca e olhos, retenção urinária, taqui-


Receptor muscarínico
cardia sinusal, midríase e constipação intestinal.

Receptor de serotonina Aumento do apetite e ganho de peso.

Receptor alfa-adrenérgico Tonturas e hipotensão.

Canais iônicos cardíacos Aumento do intervalo Q-T e arritmia ventricular.

Fonte: Aula SanarFlix.

Se liga! Em razão do seu melhor perfil de segurança, os anti-hista-


mínicos orais de segunda geração (não sedantes) devem ter maior preferência
em relação aos de primeira geração (sedantes).

4. NÃO SEDATIVOS (2ª GERAÇÃO)

O fato de serem não-sedativos, com menor efeito anticolinérgico, fez com que
os anti-histamínicos de segunda geração se destacassem. Em comparação com os
de primeira geração, ou clássicos, esses fármacos possuem a vantagem de ofertar
todos os resultados terapêuticos dos primeiros, sem grande parte dos seus efeitos
adversos. Os mais conhecidos representantes dessa classe são a loratadina, deslora-
tadina, fexofenadina, ebastina, carebastina, mizolastina, epinastina, cetirizina e rupa-
tadina. Apesar do que foi dito anteriormente, como todo medicamento, eles também
apresentam alguns efeitos adversos, interação com outras drogas, e peculiaridades
em sua metabolização e eliminação que devem ser conhecidas antes de prescrevê-
-los. Alguns de seus pontos positivos são sua fácil absorção e seu menor tempo de
meia-vida, o que faz com que eles sejam excretados rapidamente.
No que tange sua composição química, eles atuam como substrato da glicoprote-
ína P (gP), uma glicoproteína expressa nos tecidos humanos e que compõem o sis-
tema de desintoxicação, removendo e secretando substâncias. Por isso apresentam
menor atividade sedativa que seus antecessores. Em outras palavras, a gP os retira
do sistema nervoso central precocemente e reduz seus efeitos corticais. Ainda, o

Anti-Histamínicos 9
sistema da gP também atua no trato gastrointestinal, na porção proximal dos túbulos
renais, nas células endoteliais pertencentes ao sistema nervoso central, nos canalícu-
los biliares e até mesmo na placenta. Outros fatores que corroboram para seu menor
efeito sob estruturas nervosas é sua baixa afinidade por receptores serotoninérgicos
e adrenérgicos e sua dificuldade em atravessar a barreira hematoencefálica (devido
ao seu caráter anfotérico).
Entre os medicamentos pertencentes a essa classe e citados anteriormente, te-
mos a fexofenadina, que se mostrou um anti-histamínico seguro, sem manifestações
cardiovasculares indesejadas ainda que altas doses sejam administradas. É uma das
únicas que não são metabolizadas pelo CYP, logo, não interagem com seus agonistas
e antagonistas. Tal qual a fexofenadina, a epinastina não depende da via CYP para ser
metabolizada e, consequentemente, não interage com substâncias dessa via hepá-
tica. Já a loratadina, diferente da fexofenadina, pode interagir com substâncias que
estão associadas à via CYP. Um importante metabólito seu, a desloratadina, merece
atenção e monitoramento mais cuidadoso quando administrada junto com inibidores
do CYP (como eritromicina e cetoconazol) pois isso pode levar a aumento de suas
concentrações plasmáticas. Contudo, não há relatos de efeitos eletrocardiográficos
indesejados. Esse mesmo processo é válido para a mizolastina. Por fim, temos a
ebastina, quimicamente comparável com a terfenadina e que sofre metabolização
plena em via hepática, por ação do CYP3A4, dando origem a compostos ativos como
a carebastina.

Diferenças entre anti-H1 de primeira e segunda geração.

Anti-histamínicos H1 de Anti-histamínicos H1 de
primeira geração segunda geração

3-4 tomadas ao dia 1-2 tomadas ao dia

Cruzam a barreira hematoliquórica Não cruzam a barreira hematoliquórica

Causam diversos efeitos adversos (seda-


Não causam efeitos adversos relevantes
ção, hiperatividade, insônia e convulsões)

Relatos de caso de toxicidade re- Virtual ausência de relatos de


gularmente publicados toxicidade grave

Dose letal identificada em


Sem relato de fatalidade em superdosagem
lactentes e crianças

Fonte: DE BENEDICTIS FM, et al., 2008).

Anti-Histamínicos 10
5. ANTI-HISTAMÍNICOS DE USO TÓPICO
E DESCONGESTIONANTES NASAIS

Os anti-histamínicos possuem também a formulação tópica. Essa forma de apresen-


tação pode ser muito útil em algumas situações específicas, nas quais a necessidade
de tratamento se faz de forma mais local. Como exemplo dessas formulações temos: o
spray tópico nasal e o colírio tópico ocular. Temos que atentar que, muitas vezes, a for-
mulação spray nasal é utilizada em associação com os descongestionantes nasais. Os
descongestionantes nasais são substâncias que agem nas receptores alfa-adrenérgicos
e podem ter ação sistêmica gerando aumento da resistência periférica levando ao au-
mento da pressão arterial sistêmica. Nesses casos devemos atentar as formulações de
associação entre anti-histamínicos de segunda geração e pseudoefedrina, por exemplo.
Entre os anti-histamínicos comumente associados temos: loratadina, ebastina, cetirizina,
desloratadina, fexofenadina. Segundo recomendações recentes, a combinação de corti-
costeroide e anti-histamínico tópicos nasais, recentemente aprovada para o tratamento
da RA, deve ser considerada nos casos persistentes e refratários ao tratamento com
monoterapia. Outro fator importante que merece atenção com relação ao uso dessas
associações com descongestionantes nasais é a congestão de rebote.

Anti-Histamínicos 11
RESUMO

Composto nitrogenado
H3 H2 H1
Reguladora na fisiologia
Células enterocromafim
-símiles
intestinal
H4
Receptores Basófilos

Ação Atravessam a barreira


Amina biogênica inflamatória Mastócitos hematoliquórica
Histamina

Vasodilatadora Primeira geração Efeitos colaterais

Neurotransmissor
N
Respostas imunológicas
ANTI - Sedação
HISTAMÍNICOS

Não atravessam a Distúrbio comum


barreira hematoliquórica
Ácaros pó domiciliar
Reações de
Ocupacionais hipersensibilidade tipo I
Baratas Alergias
Menos efeitos
colaterais Atópicos
Segunda geração Aeroalérgenos
Sem sedação
Alérgenos
Fungos Resposta exagerada

Polens Linfócitos B
Animais de pelo
Anti-H1
Imunoglobulina
Menoresefeitos anticolinérgicos Histamina
Irritantes
Mais facilmente absorvidos IgE Mastócitos
Poluentes

Fonte: Autoria própria.

Anti-Histamínicos 12
REFERÊNCIAS
DE BENEDICTIS, F. M.; DE BENEDICTIS, D.; CANONICA, G. W. New oral H1 antihista-
mines in children: facts and unmeet needs. Allergy, v. 63, n. 10, p. 1395-1404, 2008.
GOLAN, David E.; TASHJIAN Jr, Armen H.; ARMSTRONG, Ehrin J.; ARMSTRONG, April
W. Princípios de Farmacologia – A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2. ed.
Guanabara Koogan, 2009.
IV CONSENSO BRASILEIRO SOBRE RINITES 2017. Disponível em: http://www.sbai.
org.br/imageBank/consenso-rinite-9-27-11-2017_final.pdf. Acesso em: 10 jul. 2021.
NORMA DE PAULA, M. Rubini et al. Guia prático sobre controle ambiental para pa-
cientes com rinite alérgica. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, v. 1, n. 1, p.
7-22, 2017.
Figura 1: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://
www.shutterstock.com/pt/image-illustration/mechanism-allergy-result-aberrant-
-immune-response-191956637 >. Acesso em: 08 de fevereiro de 2023.
Figura 2: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://
www.shutterstock.com/pt/image-vector/mechanism-mast-cell-degranulation-during-
-allergic-1828960358 >. Acesso em: 08 de fevereiro de 2023.

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