Os Indômitos
Os Indômitos
Os Indômitos
L. G. Gonçalves
Agradecimentos
Este livro é dedicado primeiramente a Deus que me
proporcionou o dom de viver e ver as cores do mundo,
a minha esposa que muito me apoia nessa longa
caminhada e a todos os brasileiros que veem nessa
vasta nação a riqueza de seu povo que além de
indômito é alegre e batalhador.
Índice
I. Prólogo( A SITIAÇÃO NORMAL ATÉ QUE ELE RECEBE O
CHAMADO.....................................................................................
.... 1
II. O Poço das Almas ( A AJUDA O HERÓI PRECISA DO
AUXÍLIA DE ALGUÉM MAIS
VELHO.........................................................................
III.A PARTIDA NÃO ESTÁ MAIS EM
CASA...................................................................................
IV. TESTES (A SOLUÇÃO DE UM ENIGMA, MATA UM
VILÃO, ESCAPA DE UMA ARMADILHA
V. A MAIOR PROVAÇÃO O PIOR MEDO DO HERÓI
VI. A CRISE ENFRENTA A MORTE PESSOAS IMPORTANTES
MORREM MAS RENASCE
VII. RECOMPENSA COMO PRÊMIO O HERÓI REIVINDICA
UM TESOURO
VIII. DESFECHO
IX.RETORNO AO SEU MUNDO NORMAL
X. NOVA VIDA ESSA MISSÃO MUDOU O HERÓI
XI.RESOLUÇÃO TODAS AS TRAMAS DO ENREDO SÃO
RESOLVIDAS
XII. SITUAÇÃO NORMAL MAS ELEVADA A OUTRO NÍVEL
Prólogo
†
As chuvas de março caiam torrencialmente e às margens do ribeiro Pedro Borba
estava prestes a recolher as ferramentas.
- Vou tentar mais uma vez – suspirou – quem sabe dessa vez darei alguma sorte.
A peneira de estanho mergulhou nas águas turvas do ribeiro tocando no fundo repleto
de cascalho. O homem já tinha repetido aquela ação por mais de uma centena de vezes e nada
de valioso havia surgido, somente galhos folhas e cascalhos. Aquilo era um trabalho pesado,
seus braços e costas doíam. Alguns negros da mina poderiam fazer aquele trabalho, mas em se
tratando de ouro, Pedro Borba preferia se sujeitar ao labor árduo a correr o risco de enriquecer
e ser enganado. Afinal a ganância tem a sua vontade própria e corrompe até os cativos
acostumados a ver o seu brilho reluzente. Novamente a peneira vinha cheia, seria essa a
última tentativa, estava ensopado até os ossos e ansiava por um gole de água ardente.
Peneirava para um lado e para o outro e novamente seixos e mais seixos, alguns galhos,
folhas, lodo. A peneira de estanho já estava ficando quase vazia e novamente o fracasso se
apontava, não ia ser a primeira vez nem talvez a última. Pedro já estava em Cachoeira do
Campo a mais de três anos e os únicos êxitos que o homem havia conseguido foi a roça que
lhe garantia a sobrevivência, nem a criação dos poucos animais que trouxera foi bem
sucedida. O gado pequeno não durou um ano, logo morreram as galinhas logradas por toda
qualidade de bicho selvagem astuto e silencioso, o singelo rebanho de cabras logo se provou
estéril já que o único reprodutor foi abatido por uma mortal picada de cobra, sobraram alguns
poucos porcos e dois muares um deles bicheirento sem uma orelha, este Pedro Borba usava
para carregar os mantimentos. Deus parecia não tê-lo abençoado naquele lugar. O fundo da
peneira começava a aparecer, mais algumas pedras e lascas de madeira podre, mas no meio
dos objetos de sempre algo irregular e pequeno menor que a falange de seu dedo mindinho
chamou a sua atenção, era de uma cor transparente, reluzente com os raios de sol em seu
interior, mas e tão brilhante como a Estrela da Alva. - Meu Deus! Um diamante! - A sorte
parecia sorrir para Pedro Borba, o Azarão, sua avó já o chamava assim desde menino pela
data infortuna de seu nascimento: “menino duas vezes aziago nascido em 24 de agosto, mês
de desgosto no dia de São Bartolemeu, única data em que o próprio diabo engana os
arcanjos e fica livre a andar pela terra”. – Pedro riu segurando a pequena pedra brilhante na
palma da mão:
A chuva começava a diminuir e Pedro Borba não iria esquentar a cabeça com esses
problemas de agora. Arreou e carregou as duas mulas e como de praxe a Bicheirenta
carregava as ferramentas usadas no garimpo, mas dessa vez algo mais valioso estava
escondido em meio aos pratos e peneiras de estanho. Pensava consigo: Seria sensato dar
pérolas aos porcos? Quem desconfiaria?
- A benção, padre!? - O religioso olhou para o homem molhado com suas botas de
canos longos, meio de soslaio e deu sua benção sem gracejos:
- Deus abençoe e lhe faça feliz! – Pedro beijou sua mão e tomou acento. O Padre da
companhia de Jesus era esquálido com aparência de ave de rapina, graças aos poucos cabelos
brancos semelhantes a penugens e um nariz adunco, comia um ensopado de peixe com pão e
achava-se em companhia de um negro da terra, que sentado ao chão, só observava. Pedro o
Azarão percebeu também que naquela mesma mesa três homens, ao que tudo indicava
comerciantes, estavam sentados e conversavam em francês, não entendia nada, mas sabia que
era alguma discussão, pois um deles batia o punho na mesa com força enquanto apontava o
dedo na cara dos outros dois. Quem se importa! Todos temos dias ruins – pensou Pedro,
pedindo um gole de cachaça.
- De onde vens, estrangeiro? Botas de cano longo não são comuns nessas terras, a
menos que sejais de fora. – Disse um dos comerciantes, homem de sobrancelhas espessas e
dono de uma barba negra e espeça. Também estava a beber, mas de forma mais comedida
como se estivesse desinteressado com o conteúdo no fundo de seu copo, apontando para o
calçado incomum de Pedro Borba.
- Sou do nordeste do Minho, meus pais têm algumas posses por lá, respondeu o
português, meio desconfiado – Vocês são das rotas de comércio francesa? – um dos homens,
o que outrora discutira com os demais, deu um riso de escárnio e apressou-se a respondeu
antes mesmo que o outro pudesse abrir a boca:
- Digamos que sim, fazemos muitos negócios em muitos lugares, somos de todos os
lugares e não somos de lugar nenhum, vamos aonde os negócios tem melhores ares. Diga nos,
caro amigo das botas longas, o que faz tão longe de casa?
- Não parece que estais a viajar, não leva qualquer coisa de bagagem, nem qualquer
coisa de comida. Estais fugindo? - perguntou sagazmente o comerciante de barba hirsuta.
- Ora não seja tão indelicado com o nosso amigo viajante, deixai-o ir, ser livre é uma
dádiva nos dias de hoje, veja este índio, poderia ser livre mas vive como um animal doméstico
aos pés do padre – interrompeu bruscamente outro. – Desculpe os modos de meus camaradas,
sou Sebastião, este é Carvalho mas pode chama-lo pelo nome de Barba Ruim e sentado ao
lado dele Coelho, somos a Companhia de Negócios Mercadorias e Vinténs e espero que faça
uma ótima viagem de volta para casa.
- Peço licença, a vossas senhorias vou me retirar. Tenham todos uma boa noite de
prosa, disse o padre com um semblante e voz de cansaço, chamando o índio que ao seu lado
estava na posição de cócoras junto ao pé da mesa.
- Espere padre! Preciso de um favor seu. – disse Pedro Borba, segurando a ponta da
batina do padre – Estou indo embora dessas terras bárbaras, mas tenho um pedido a vossa
senhoria. Tenho um bastardo, nem nome de cristão ainda tem pois esperei por muito tempo
que um de vós viesse por aqui para que fosse batizado. O menino já tem três anos, atende pelo
nome de Xuatê, sua mãe atende por Joana, queria que o senhor fizesse a bondade de ir aonde
ele se encontra e pudesse batiza-lo com o nome cristão de Santiago, esse é o meu único
presente para aquele pobre coitado, afinal não se pode furtar de ninguém a possibilidade de
conhecer o céu. – O homem puxou o padre pelo braço até um canto reservado e explicou o
caminho que o fizera até chegar ali.
- ... mas não vou para esses rumos – disse o padre contrariado - Daqui partirei bem
cedo para a Serra do Mar, este índio será meu guia e isso haverá de atrasar em muito as
minhas obrigações, mas se na volta ainda me sobrar disposição passarei pelos garimpos. –
religioso soltou a mão de Pedro com um solavanco e retirou-se para um dos catres da
espelunca.
Pedro pegou o copo em sua mesa tomou o último gole de bebida e despediu-se. –
Senhores, também irei me retirar, não quero atrapalhar os seus assuntos de negócios e,
particularmente, prefiro viajar à noite, me sinto mais à vontade. – Os homens olharam para ele
cumprimentaram-se fazendo um último brinde e o viram sair pela porta que lavava ao
estábulo.
- Este homem deve ter algo de algum valor. – Dizia Coelho sussurrando para
Sebastião. Coelho era um dos três comerciantes da Companhia de Negócios Mercadorias e
Vinténs, homem de pele tão branca e sardenta que aos poucos raios do sol faziam-no ficar
totalmente rosa e não raras vezes cheio de bolhas, seus cabelos eram tão loiros que pareciam
brancos e seus dentes tortos e avantajados mal cabiam dentro da boca davam-lhe uma
aparência cavalar.
- Sim, meu amigo perspicaz, tenho minhas desconfianças de que aquele homem tirou
a sorte grande no garimpo, afinal ouvistes o que o padre disse, e como bons negociantes que
somos não podemos deixar nossa oportunidade de ouro fugir de nossas mãos. – Dizia
Sebastião. – Mas temos que descobrir de onde é a fonte. Tenho um bom plano, você e Barba
Ruim vão atrás daquele português idiota, matem-no e revistem tudo não deixem de olhar um
só fiapo de cabelo daquele vermezinho, enquanto isso eu ficarei e farei algumas perguntas ao
padre, pois tenho certeza que aquele velho sabe o El Dourado fica. Não se demorem, saiam
sem alarde e partam tão já antes que fique difícil de alcançá-lo.
Falando tais coisas os dois malfeitores Carvalho o Barba Negra e Coelho o Albino
saíram pela soleira da porta. Na saída os dois homens se esbarraram em um dos bandeirantes
que havia saído da Espelunca para urinar do lado de fora, o homem sem muitos modos
empurrou Barba ruim para o lado ignorando a presença de seu comparsa. – Arreda-te da
minha frente, imundo! Estais a me atrapalhar. – Barba Ruim fez umas feições de desprezo e
sumiu madrugada a fora.
- Ora, pare de reclamar Coelho! Tão logo teremos saldado a nossa dívida com o
francês. Se o Sem Vintém estiver certo essa semana limparemos nossos nomes e tiraremos
nossos pescoços da forca.
- Você diz, nossos, Barba Ruim! Mas ninguém me escuta, eu falei já ganhamos o
suficiente nesse maldito jogo de cartas, vamos embora, mas não! Você quis arriscar tudo e
conseguiu! Meus parabéns! Você conseguiu foder com as nossas finanças. Às vezes penso
que se você não fosse sangue do meu sangue já o teria matado. Nas Canárias escapamos
porque tínhamos algum crédito com os espanhóis, mas parece que você nunca aprende, está
sempre a querer falir os nossos negócios. Mas o que esperar de uma companhia de comércio
que tem por líder um judeu com a apelide de “Sem Vintém”
- Você me fala em não arranjar maiores problemas! E o que você me diz de sermos
perseguidos em todo o litoral de São Vicente por corsários franceses sádicos e sedentos pelo
sangue de três ratos trapaceiros que apostaram mais do que podiam e fugiram sem saldar a sua
dívida. – Naquele momento uma rasga mortalha saltou de um galho e fazendo um voo
macabro e noturno sobre a cabeça dos dois homens, como um vulto fantasmagórico. – Ave
agourenta, até parece que sabe que sabe o que estamos prestes a fazer.
- Deixe de ser frouxo, Coelho, vamos nos apressar, temos que voltar antes que o sol
nasça para que não levantemos suspeitas.
Os dois judeus não tardaram em montar a tocai de espera, o poço onde os viajantes
levam os animais para beber água ficava meio envolto por árvores que facilmente encobriam
uma malta de salteadores, o local não passava de um capão após uma grande curva
esgueirada, fácil de entrar e difícil de sair, dado o gargalo que se formava, local difícil de
manobrar qualquer montaria, até mesmo para um cavaleiro experiente, lugar feito de
propósito daquele jeito afim de atrasar a passagem da tropa para arrecadar o pedágio, mas
àquelas paragens não havia se quer uma viva alma se não os dois mal feitores e a rasga
mortalha que pressentia o cheiro do sangue. Não restava mais nada a eles, além de esperar o
correr da madrugada e esquecer os medos das armadilhas da mata escura.
- Você não consegue controlar-se, não ouviste que a mata calou – cochichava o
Barba Ruim – Ele está chegando, logo terá tempo suficiente para mijar ou cagar aonde quiser,
espere mais um pouco e logo tudo estará terminado.
- Não consigo é mais forte do que eu vou descer prometo que não demoro. – Desse
modo o homem desceu produzindo um baque surdo no chão, assustando a rasga mortalha que,
em protesto, alçou um vôo emitindo piados semelhantes a uma máquina de costurar. Coelho
andou alguns passos para dentro do mato procurando um lugar mais cômodo, se é que isso era
possível, já que quando baixou as calças para obrar muitos pernilongos decidiram picar as
nádegas sardentas do homem, deixando-o em uma situação desconfortável, no qual não sabia
se concentrava-se para fazer o seu trabalho ou se espantava os inconvenientes insetos, - local
dos infernos, não se pode nem cagar em paz, tomara que todo esse esforço faça valer a pena
– pensava o homem na posição de cócoras.
- Senhores Sebastião, Carvalho e Coelho, este negro da terra é tão livre quanto
vocês, já ouvi falar de seus negócios pelos portos. Você é Sebastião o Sem Vintém e estes
homens são seus irmãos, ao que me recordo estão oferecendo uma boa quantia pelo paradeiro
de vocês especialmente os franceses, então é melhor não me tomar por tolo sei que são
contrabandistas.
O DIA DA CAÇA
†
“Hora temos aqui um rato na gaiola de uma cobra”
Cena
Sequela