Ética Na Gestão Pública-Resultado

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ÉTICAI

NA GESTĂO PÚBLICA I
Ética existencialista, ioi

3.3 Ética da ação comunicativa, roy


ética da alteridadee da transcendência religiosa, rio
ética responsabilizante da civilização tecnológica, iiz

3-6 Teoria ética da justiça, iii

A gestão públicae os desafios diferenciados


da ética — mais além da visão instrumental, Iz8
4.i Éticae cidadania na gestão pública, i3o
A ética em açãoe os princípios éticos da gestão pública —
alguns conceitos necessários, 34
Moralidade públicae administrativa
e a questão da transparência no seror público, tag
Lei n.i .587/sou — aspectos ético-moraise as relações
com o Programa Brasil Transparente, i6i
A nova gestão pública, !7°

Ética, responsabilidade social, governança


e sustentabilidade — uma agenda
contemporânea, i8z
5. O impacto das teorias éticas sobrea gestão pública, i8t
Desafios éticos da responsabilidade social, das novas
formas de governançae da sustentabilidade global no
período contemporâneo, i9o

Para concluir..., aos

Referências,zo7

Respostas, zi5

Sobrea autora, eu
Ao analisarmos neste capítulo os diferentes critérios éticos da
sociedade ocidental contemporânea, temosa relevante tarefa de
refletir sobreo estudo de alguns dos pensadores mais marcantes
desse período, denominado também deperíodo pós-moderno.

3.ià 5 pC CtOS gerais

Desde osprimórdios do pensamento ocidental,o embate filosó-


fico sempre esteve voltadoà questão do ser. Para alguns pensadores,
o seré uma essencialidade (essencialismo, racionalismo, idealismo),
outros propõem queé apenas existência (existencialismo, materia-
lismo, pragmatismo). Enfim, essa questão se desenrola ao longo
da história do pensamento humano e, certamente, não é simples
resolvê-la.É um problema filosófico de base e, portanto, condicio-
nado àsvisões de mundo queo sustentam. Dessa forma, pensaro
serconsiste em ter posição clarae consistente sobrea questão deo
serse constituir em essência ou em uma existência em concretude.
A renovação contemporânea dos princípios éticos clássicos pres-
supõeo questionamento:
• dos princípios religiosos;
• da força afirmativa da vida humana;
• da realidade;
• da responsabilidade, da liberdade, da igualdadee da diferença;
• da autodeterminaçãoe do respeitoà vida;
• da ciência, da civilização tecnológicae dos fenômenos
decorrentes.
Neste início de milênio, em virtude das crises que se institucio-
nalizam, dos perigos que rondama civilização, dos problemas da
ciência, da técnicae da tecnologia, em meio aos avanços ímpares
que se apresentam com a globalização econômicae a tudo aquilo
que isso acarreta para os povos, acentuam-se as seletividadese as
separatividades, os excluídos do processo social,a fonte,a miséria,
a crise ecológica,a violência, as migrações constantese desumanas,
os riscos da não subsistê ncia dos recursos naturais, comprometendo
as obrevivência das pessoase colocandoa racionalidade cientí ficae
suas premissas determinísticas em xeque.
Enfim, diante de um sem-número de questões globaise interco-
nectadas, urge que sejam rcpensados as normase osprincípios fun-
damentais da ação humanae osvalores quea fundamentam. Como
afirma Oliveira (zooob,p 7), “se há algo que caracteriza de forma
incisiva o imundo contemporâneo é, sem dúvida,a de sproporção
entrea velocidade absurda do progresso científico-tecnológicoe o
vácuo que seformoua par tir da negação dos sistemas tradicionais
de valores”.
Permeandoa referida crise,a não sustentação de fundamenta-
çõesé tivo-morais,a parcialidade de entendimentoss obre valores
fundantes da ação huntanae finja generalização do individualismo
que se exacerbaa cada dia ttm deixado perplexos aqueles cjue, de
alguma forma, tentam ainda pensare agirà luz de uma configuração
societária justa, equânimee solidária.
Em meioa tais situaçôes de crisee de insustentabilidade, sur-
gemalguns pensadores que, ultrapassa udo as limitações de seu
mundo imediato, têm propostoe explicitado reflexões, tenderi-
ciase pe rspectivas para uma ética contemporânea. Elencamos, na
sequência, algumas dessas ideias, destacando seus pe nsadores mais
significativos, em suas categorias-chave de embasamento filosófico
e em suas pretensões de desenhar ações, todas de cunho coletivo
e de responsabilização por parte dos homense dassociedades da
conternporancidade.
As diferentes perspectivas filosóficas contemporâneas com pre-
missas ético-morais apresentam raízes que remontam aoproblema
filosófico de b'ase, porém caracterizam-se por dimensóes mais volta-
das à questão existencial dos sujeitos. Todos eles,a seu modo, abar-
cam pressupostos sob'reo agir,o refletir, o modificar a si mesmoea
suaanibiência por intermédio de açóes de in nho prático, cont:cxtua1
e emergente,a serem desenvolvidas na dimensfio coletivae social
dos espaços organizacionaise institucionais.
Portanto, alguns aspectos fundantes do pensamento filosófico
contemporâneo têm sua base nas premissas:
• da ética ex istencialista;
• de ética da açâo comunicativa;
• da ética da alteridadee da transcendêncía religiosa;
• da ótica da responsabilidade da civilização tecnológica;e
• da ética da justiça, cujos alicerces teóricos se voltam às ações
do mundo humanoe suas consequências, bem como ao seu
desenvolvimento práticoc contextnal cont base em seus vaIo-
res de sustentação.
Em todas as açõese relações humanas, háa permeabilidade
ético-moral, entendida como um conjunto de valorese critérios
fundantes que servem para atribuir em cada caso uma conotação
de ação boa ou de ação má. Tais valores nem sempre sáo clarose
explícitos, deixando ao sujeitoa liberdade para escolhê-los, sendo
que, não raro, falsos valores são mascarados por interesses de gru-
pos econômicos detentores de grande riqueza, prestígioe poder
hegemônico. Tais grupos são mantidos pelas dimensões midiáticas
e também pelo poder de difusão das novas tecnologias de informa-
çãoe comunicação.

,.z Etica existencialista

O existencialismoé uma proposição filosófica centrada na exis-


tênciae no indivíduo em sua concretudee estimulaa oposição entre
essênciae existência dos seres, privilegiando esta última. Propõe
queo indivíduoé aquilo que ele faz de sie de sua vida, nos limites
das determinações físicas, políticase histórico-sociais que pesam
sobre ele. Essa corrente de pensamento considera que não existe
uma natureza humana ideale a existéncia real está sempre em
desenvolvimento.
O cer ne do pensamento existencialista reside na quest.ao da
liberdade, pela qual cada indivíduoé de(inido por aquilo que ele
próprio faz. 0s existencialistas se inreressani pela vida políticae
entendem que somos responsáveis por nós mesmose poraquilo que
nos cerca. Sob essa perspectiva, nossa obraé aquilo clue nos cerca,
é o resultado de nossa ação.
O ponto crucial do existencîa lismo ć a percepç.ao extraordi-
nária do indivíduo contemporàneo peranceas crises dra máticas
da civiliza(ãoe a ruptura de seus horizontes pela própria capaci-
dade humans dep rover criaçõese artcfatos sociaisc industriais
destrutívos. Issoo faz relacionar-se com uma nova dimensão:a da
liberdade-necessidade-responsabilidade participativa.
É corn Søren Kierkegaar ( '3-' ss) que, em uina reaçâoà visão
sistematica da realidade do típo hegeliana (que dissolvea existćn-
cia contingentee singular do indivíduo em uni conjuntoe em u m
processo lúgico, reduzindo-o ao absoluto do sistenia),o existencia-
lismo se firma como uma forte tendência filosóflea, na dual surgem
postulados cornunse muitas divergéncias internas. De to do niodo,
o existencialis mo tern se desenvolvido conio reflexño sobrea coi-
diçâo humans, sendo,portanto, possível falarmos cm urna ética
existencialista. Apesar dasdiversas abordagens do reale da diversi-
dade das posições queo existencialisnio abriga, podenios chaniá-Io
mais amplamente dețlosoȚu da existência. Duas grandes limbas sào
evidences no existencialismo:
i, o existencialisnio ateu, cont Jean-Paul Sartre (i9o5-i98o)e
Martin Heidegger (i889 i976);e
z. o ex istencialismo cristão, corn Gabriel Marcel(i889- 973),
Emmanuel Mounier (i9o5-ig5o)e Martin Buber (i878-i96s).
Essa diversidade de posiçôes flea evidence quando contrapomos
as ideias dos pensadores desse período. Em 1-leideggcr,a preoctipa-
ção filosúfica parte da considcraç.ao do indivíduo como ser-no-mundo,
o queo levera procuraro ser absoluto no fundo da subjetividade
humans, na busca da constituição de unia ontologia do desvela-
mento das raízes da linguageni.
Em Sartre,a despeito da influência recebida do aparato teórico
fenomenológico,o senso da contingência humana cedoo conduziu
à formulação de uma noção de liberdade relativa, ou seja, “uma
liberdade em situação”, imediatamente ligadaà noção de responsa-
bilidade que estendea angústia existencial ao engajamento político.
Assim,a questão da liberdade transforma-se em elemento central
das ideias políticase filosóficas do existencialismoe coloca-se no
cerne das discussõese problemáticas existenciais.
Sãrtre(g7i) defende que, não obstantea influência de valores
externos, ideológicos ou nfio, nessa confusão de valorese visões de
mundo,o indivíduoé livree responsável por sua liberdade. Assim, ele
é livre para dar sentido às coisas, porémé obrigadoa dar esse sentido
às suas ações, exatamente em decorrência dessa mesma liberdade.

Pelo exposto, podemos observar queo existencialismo se cons-


titui com base em outra leitura sobreo mundo real, uma espécie de
retorno ao eu individual concreto.A experiência que levao homem
modernoa refugiar-se no eué dada pela insuficiência do idealismo
para responder às questõese às reais inquietações do ser humano,
pelo fato de fazer deste um mero serabstrato, destinadoa perder-se
na imensidão dos oceanos universalizantes.
Conforme Rodrigues (zoo8), em Gabriel Marcel, filósofo fran-
cêse existencialista, encontra-sea crítica mais grave feita às filoso-
fias tradicionais, ao entender que as realidades concretas do indi-
víduo (que vive, lutae sofre aquie agora) permanecem definidas
por valores externosa ele. Marcel abordao indivíduo livree suas
liberdades perdidas em sua obra de referência Os homem contra
o homem (Marcel, zooo), referindo-seà crise de valorese das for-
mas de opressão, aviltamentoe despersonalização dos homense
das realidades humanas. Entende Marcel (citado por Rodrigues,
zoo8) que, seja nos idealismos, seja nos materialismos,o conjunto
de correntes de pensamento considerae reconstróio mundo por
meio de princípios abstratose universalizantese nãoo fazem com
base em premissas relacionadas aos contatos diretos ou pessoais
com a realidade.
O sujeito que interessa ao existencialismoé o sujeito humano,
em sua concretudee cotidianeidade, ou seja, com seus problemas
concretose vivenciados em um contexto específico de ação. No
existencialismo,a existência humanaé entendida talcomo osseres
humanosa vivem em seu cotidianoe a expressam de modo ativo,
angustiante, problemáticoe complexo.

Os próprios fundamentos da existência humana sãocoloca-


dos em questão pelos pensadores exisrencialistas ao quesrionarem
qual razão perrneia as ações humanas. Para eles,a humanidade
está submersa em conflitos universais, entreguea destinos des-
conhecidos, diante da ameaça permanente da guerrae da morte,
cheia de angústias cruciais em face da escala dos acontecimentos,
sentindo-se angustiada, perdida, serti rumo; há carência de valores
de base humana,e a destruição permeiaa existência do indivíduo.
Entâo, conto reagir° Quais valores sustentar diante da rnassifi-
cação da violênciae da dcsumanizaç.ao da vida? As mídias globais
reforçar relações de poder, de desafios, de não solidaríedadee liber-
dade — essassãoalgumas das questões-chave da ética existencialista.
Ma rtinB uber (i955), na obra Eue tu, escritaa ntes da Segunda
GuerraMundia1, for mu lou uma espécie de antropologia existen-
cialista,d istinguindoa ascensãoe a queda do homerndaépoca em
dois aspectos interessantes: cm primeiro lugar, considerao aspecto
da Regeneração das formas tradicionais de convivência humana, tal
cornoa famíliae as comunidades rurais, religiosas etc.; em segundo,
considerao fato da perda de domínio do indivíduo sobreo mundo
yorelecriado. Na obra Lc yrobleme de l’l›omme, Buber (i96o, p. i9)
considera que, na corrente existencialista,o que aparece “Éo homem
ultrapassado por suas próprias obras, um mundo mais forte que seu
criador, um mundo quedele seI ib'ertae ameaça vencé-lo”.
Seguí udo na senda do p ensanaenro existencialista, surge
Emmanuel Mounier, um niontanliês convicto de seus valorese de
sua existência que, além da crença na pessoa humana, crêna nova
civilização que erriergirá da crise pela qual perpassaa sociedade
ocidental de seu tempo. Conforme Mounier (moro), nessa situação,
o indivíduo teria três perspectivas de escolha: entregar-se ao catas-
trofisiiio, larnenta r-se ou afrontar a realidadee reconstruir-sea si
e ao mundo.
A teoria personalista cristâ de Mounier (zoio)é existencialmente
situadae per meada por valores humanos, recusandoo niilismoe
convocando os sujeitos para que juntos refaçama renascença, enga-
jando-sena realização daquilo que eledenomina de rem "f° r• -
SQn tf listaC Qft1tl11 itÓI in (RPC), Ela qtlal ÜC:VCTt?i fa Zer-Se pr€Seflte Uf112
humanidade revitalizadae uma ordem social cm que desabrochem
os valores da pessoa humana em plenitude.
Mounier (zoio) acredita que a saída paraa crise de seu tempo
é existenciale deve dar-se por nuaa espécie de despertar pessoa1e
comunitário, no qual, sem ativisinose sein aIienações, os sujeitos
repensema st mesmosea sociedade em que vivem. Mounier (zoio)
considera que a arneaça sobrea existència humans nunca se naos-
trou tño terrível quanro nesse período laistórico de transiçãoe de
passagem, no qual as certezase as posiçôes seguras são fluidase
surge um mundo deangústiase incertezas. Tessa fase de transiç3o,
o indivíduo sente-se impotente ante sua própria obra, considerada
destrutivae ameaçadora,o que exige resposras convincentesà ques-
tão da existência huniana, em uma ćpoca em queo sistema de valo-
res se encontra ameaçado.O caose a catastrofe quea liumanidade
vivencia caracterizania possibilidade de um novo sentido para as
reflexõcs filosóficas existenciais.

Na an.alisc de situaçôes vitais,o sujeito est.a senipre em conflito


consigo mesmo oucomo outro ao problematizar snas dificuldades,
dúvidase contingências.O indivíduo tem de se recriar em sua fini-
tude,e dois caminhos seapresentani para tanto:
i. o da experiência do desespero, da angústia, da solidão (nfiu-
sea sar treana);e
z. o da experiéncia da comunicaç.ao, do diálogo, do amor (con-
vivéncia buberiana).
Est.a posta aía questño fulcral da ćtica existencialísta nioune-
riana:a capacidade de opção livrc do indivíduo entrca degradaç.ao,
o desesperoe a angústia, de um lado,e o encontro,a convivência,e
a intersubjetividade, de outro; ta1 questão foi posteriormente ma is
bem apresentada por filósofos contemporâneos. Kierkegaard, um
dos existencialistas mais significativos do pensamento ocidental,
considera quea liberdade, apesar de às vezes parecer ilusória,é
uma realidade e, se alguma teoria estiver em conflito com esse fato,
deve serabandonada.
Portanto,o existencialismo mouneriano também rejeita toda
e qualquer situação embasada em generalizaçõese em exclusões,
resultado de situações tradicionaise modelares, das quais as ações
propriamente humanas sãoexcluídas.
De alguma forma,o pensar existencialista mouneriano levanta
algumas categorias que se envolvem, por seu enfoque humanistae
comprometido com a modificação das ações humanas, com algu-
mas categorias do pensar habermasiano, que será apresentadoa
seguir, em suas determinações mais evidentes da importância da
ação comunicativae dialogal entre os sujeitos, na busca de um con-
senso que lhes permita serem representados na sociedade,

e.3 ética da ação comunicativa

Jürgen Habermas (i989-). filósofo alemão da segunda fase da


Escola de Frankfurt, não apresenta apenas um princípio novo em
face das crises de valorese da ética na contemporaneidade, ruaso
enraíza em uma nova concepção de racionalidadee em um modo
diferente de entender os valorese os princípios de desenvolvimento
da sociedade capitalista, com seus avanços no desenvolvimento cien-
tíficoe comunicacional.
O pensador frankfurtiano questiona: Atualmente,é fundamen-
tal comunicar-se* Como comunicar-se efetivamente? As possíveis
respostas às indagações trazem consigoa necessidade de novos olha-
rese entendimentos sobre as relações sociais, exigindoo exercício
de linguagens intercompreensivase interdialogais. Habermas(is89)
trabalha com a proposição de paradigma para urna moral societária,
com procedimentos requeridosà ação humana, caracterizando-se
pela ação dialogal comunicativa, pela reciprocidadee pela exigência
de uma postura de mao violência.
Habermas, na obra Coiisciência ino role agiy cont im icativa (ig89),
ao propor que os indivíduos contemporàneos exercitemo que deno-
mina de raptou Hipa de com tm reativa, nada mais fazque apresentar
tentativas de entendimento entre os sujeitos, de modo consenstial
e dialógico. Essa racionalidade comunicativa envolvea intencionali-
dade da consciência, que se expressa na linguagem on em princípios
de comunicação transparentes, referindo-se às normas de univer-
salização do discurso, as c¡uais deveiii esrara serviço do acesso às
dimensóes éticas. Dessa forma,é proposta uma recontextualizaçáo
dos procedimentos argumentativos, em urna revisão da supremacia
da subjetividade, na busca do consenso entre os indivíduos de uma
mesma sociedade.

De acordo cont Habermas (i989),o princípio da universalização


e o princípio ponte, que pode tornar possível o acordo com argii-
mentaçôes morais, excluindo qualquer aplicaçâo monológica na
argumentação discursiva.A aplicabilidade desse príncípío universal
comtinicativo-discursivo “levaria .a superação de mal entendidos for-
malistase leituras seletivas” (Habernuas. ig8g, p. 8q), sendo validadas
todas as proposições passíveis de universalização por encarnarem
manifestamente “um interesse comuma todos os concernidos”
(Habermas, ig89, p.8 t), merecendo reconhecimento intersubje-
tivo. “A formação imparcial do juízo exprime-se, por isso, em um
princípio que força cada um, no círculo dos concernidos,a adotar,
quando da ponderação de interesses,a perspectiva de entendimento
de todos os outros” (Habermas,›989, 9. 8¢).
Portanto, para Habermas,a adoção de certas normas morais
corno adequadase válidas leva os indivíduosa aceitar também as
consequênciase os efeitos colaterais que resultarem de sua aplicação.
Isso se caracteriza como uma ética participativae discursiva, na qual
se pressupõe que todos, sem distinção, tenhamo direito de emitir
sua opinião no grupo de argumentaçãoe deliberação.A condição de
universalidade está, pois, estreitamente ligadae vinculadaà discur-
sividade, na qual, segundoo pensador, se constitui outro grande
princípio ético, superando-se as éticas universalizantes que deter-
minam exogenamentea validade dos princípios (Habermas, i98g).
Ainda de acordo com a ética do discurso habermasiana, uma
norma sódeve pretender validez quando todos os que possam ser
concernidosa elacheguarema um acordo, como participantes de
um discurso prático. Nela, pressupõe-se que a escolha possa ser
fundamentada em princípios universais comuns, entendendo-se que
exista um conjunto de pessoas que interagem discursivamentee que
as normas norteiam asações desse mesmo grupo (Habermas, i98g).

Os conflitos no campo prático resultam de um acordo norma-


tivo perturbado.A reparação só pode consistir, portanto, em uma
argumentação intersubjetiva, não no nível monológico, mas no nível
consensual, no quala vontade comum, capaz de representaro acordo
e o assentimento coletivos, possa serexpressa. Nesse sentido,é pre-
ciso uma argumentação real, da qual sejam participantes coopera-
tivamente todos os envolvidos, presentese futuros, num processo
de entendimento mútuo, intersubjetivo, no qualo processo seja de
natureza reflexiva (Habermas, '989)-
Assim, somentea participação efetiva de cada pessoa concernida
pode prevenira deformação da perspectiva na interpretação dos
interesses próprios dos demais participantes,e isso, de acordo com
Habermas(i989). sóé possível pela ação comunicativa. Lima Vaz
(ig88, p-7o) entende quea ética discursiva habermasiana consiste em
mais um dos esforços pós-kantianos para “estabelecer um conteúdo
adequadoà forma universal do dever-ser [. . .] utilizando-se da razão
prática, por meio da Ética Discursiva fundada na racionalidade
comunicativa, unindoo discurso argumentativoe a racionalidade
histórica do mundo-vida”.
A produção filosófica contemporâneaé profícuae apresenta refle-
xões sobre as mais diversas formas de ação humana. Na sequên-
cia, entendemos que seja interessante apresentara perspectiva de
Emmanuel Lévinas sobrea ética da alteridadee da transcendência
religiosa,a qual teve forte influência no pensamento latino-ameri-
cano por meio de Henrique Dussel, com a denominada teologia da
libertação, tema de que não trataremos aqui em razão de seu cunho
teológico, que não é foco da presente obra.

j.+ EÉiCO dO OlteridDdee dO tYOnS€endétlciO


religiosa
Com foco nos princípios da açfio humana, nosaspectos comuni-
cacionaise dialogais, em meados do século XX, surgeo pensamento
de Em manuel Lévinas (i9o6-i99 ). da obra Hu ma riramo do outro
ho m i (!978), esse pensador fazuma críticaà moralidadee .a etici-
dade da sociedade contemporânea por meio dos princípios bíblicos
do judaísmoe do Talmud, cont fundamentos de religíosidade, mao
apenas embasados no passado, mas em uma crítica aos valores que
originaram seus princípios éticos.
Na ética da rranscendência religiosa de Lóvii a*( 97›),a alteri-
dadeé um dos princípios fundamentais e, segundoo autor, precisa
permearo caminho da moralidade como um dosseus fundamentos
definitivos.A necessidade de alteridade entre os indivíduosé ponto
de saída para uma crítica dupla: crítica ao totalitarismo da socie-
dade centralizada nos conceitos de ocidentalizaç.aoe aos primados
ontológicos quea sustentam (sere não ser).

Assim, Lévinas procedea u ma cr í tica radicalà totalidade dos


princípios sustentadores da sociedade ocidentale dos príncípios da
síntese universal ob servados na história da filosofia, com suas visões
unificantese globalizantes.A ética da alteridade de Lévins (*978)
propõe uma postura antidogmáticae humanizante doe sobreo
homem, baseada em princípios de encontroe reeniontro consigoe
com o outro, do lium ano com o humano, assumindo-sea respon-
sabilidade de autoe intertransformação, cm uma relação voltada ao
desvelaniento do sere ao reencontro com seus semelhantes.
Na ética da a Iteridade de Levirlas ('97^). ›‘* i•H CO H trO C: EES flOH$G -
ôííiríride são termos-chave para que, numa ação de alteridade, haja
uma re-humanização dos indivíduose da sociedade,a flui de que
sejam impedidas rodas as formas de violência, de autoritarismo
e de dominação, de modoa seconstruir uma sociedade de iguais,
de valores autorresponsabilizantese de princípios de benevolência,
de respeito mútuoe de construção de possibilidades inter-relacio-
naise de encontrose reencontros, nos quais, pelo reconhecimento
da presença do outro, cada sujeito se reencontree vivencíe valores
humanose éticos.
Vale ressaltara importância de um pensar na perspectiva do
outro. No pensamento de Lévinas (i97z,) destaca-sea dimensão
individualista vigente na sociedade contemporânea,a qual se evi-
dencia também quando HansJonas criticaa sociedade tecnológica,
como veremosa seguir, ressaltandoa responsabilidade daqueles
que constroem ciênciae tecnologia em relação àqueles que sofrem
suas consequências.

i.s Elias responsabilizante da civilização


UC 1'tOÍÔBICO

A sociedade contemporânea, orgulhosa de suas conquistase de


seus avanços, consciente de sua capacidade de construire de inovar,
perde suas referências ético-morais,e muitas de suas obrase ações
não consideramo outro,o diferente,o diverso,o que estáà margem
desses avanços civilizacionais.
Mediante constatações desse nível, surgeo constructo crí-
tico-reflexivo de HansJonas( 9°3-i993). pensador alemão que pro-
põe uma merafísica parao domínioe a reflexão sobree do campo
tecnológicoe suas conquistas na sociedade contemporânea.
A doutrina de Jonas, descrita de modo especial na obra
O princípio da i-espo nsabilidade:u ma ética paraa civilização tecno-
lógica (zoo6), tem como baseo princípio da igualdadee responsa-
bilidade entre os homens, em face de suas próprias conquistase
invenções, apresentando-se como uma dasgrandes linhas éticas da
contemporaneidadc. Assim,o autor discutee questiona os princí-
piose ideais de progressoe de tecnologia das utopias civílizacionais
contemporâneas.
Jonas (zoo6)a firma que as éticas tradicionais estão “caducas”e
que o mundo necessita de novos princípios, fundamentando seu
projeto ctico na necessidade de mudanças no agir humano, reava-
liandoo próprio conceito de subjetividade humana. Além disso, ele
questionaa tecnologiae a crência em seus modelos artificialistas
voltadasà tentativa de prolongara vida, controlar os comporta-
mentos, procederà manipulação da vida pela engenharia genética,
enfim, critica todos os procedimentos científicos que prescindem
de valores humanose hurnanizantese que reduzemo indivíduoà
condição de escravo da tecnologiae da ciência.
Outro aspecto interessante no pensamento deJonasé a substi-
tui(Sao dos imperativos categóricos kantianos por outros, que impli-
cama urgente necessidade de integridadee de novos princípios de
justiça. O pensador consideraa humanidade fragilizada em face dos
avanços das tecnologiase vista apenas conto objeto das tecnologias
inquietantes. Diante dos desafios da sociedade contemporânea, ele
resume seus novos imperativos em quatro necessidadese modos de
aç.ao entre os sujeitos, sugerindoa import5ncia de se estabelecerem
ações:
i. compatíveis com a per nianência de uma vida autênticae

z. não subscrvientes, mas de responsabilidadee solicJa riedade;


3. que não tenham efeitos destrutivos e quep ossibilitema exis-
tência de redes de comunicação colaborativase realmente
pressupostas em prol do agir coniunicativo na grande aldeia

4. integradas para possibilitar um fururo de sobrevivência glo-


balà humanidade.
Esse princípio ético de Jonas pressupõe uma ação de esperança
que responde às necessidades de enfrentamento dos problemas de
nosso tempo, situando-se na importânciae na necessidade de reava-
liar esses avanços tecnológicose repensar os princípios de desenvol-
vimento por meio de uma ética responsabilizantee equitativa. Missa
ética responsabilizante deve atuar promovendo valores diferenciados
entre os sujeitos, os povose as nações, mediantea criação,o usoe a
disseminação dos avanços da ciênciae da tecnologia, que nem sem-
presãoacessíveisa todos, colocando-osa serviço da humanizaçãoe
da minimizaçâo das misérias da existência humana.
Uma sociedade altamente tecnológica torna imprescindível uma
açáo responsabilizante, conforme propôe Jonas (zoo6),e levantaa
preocupação com a ideia de quem será responsável pelas formas
diferenciadas de estabelecer relaçôes entre os sujeitos que a cons-
troeme aqueles quea vívencíame sofrem suas consequências,o que
determinaa necessidade de reflexões éticas, mas tambéma recons-
tituição de determina(ões legais, no campo do direitoe da justiça.
Surge, nessa sequência histórica,a importância do pensamento de
John Rawls, com sua etica da justiça, que, embora náo trate ape-
ras dessa questão, envolveo consrructo englobanre dos valores da
sociedade contemporânea.
3.6 Teoris ética da justiça

Cada vezmais, temos percebidoe discutidoa importância dos


avanços científicose dos inúmeros constructos tecnológicos que
tomaram espaços ampliadose determinantes na vida das pessoas,
das sociedadese dos povos no período contemporâneo, modifi-
cando comportamentose trazendo consigo valorações nem sempre
humanizantes. As tecnologias inovadoras da atualidade são com-
plexas, avançadas, desaftadorase interessantes, porém nem sempre
têm servido para promover justiça, solidariedade, colaboraçãoe
participação de muitos sujeitos nos benefícios resultantes de seus
constantese céleres avanços.
Tais constatações levantam alguns pontos que interessame pre-
cisam serobjeto de reflexão, relacionando-se às dinàtnicas de desen-
volvimento de valoraçõese de princípios teóricos que se sucedem
e sedefinem nos constantes problemase necessidades humanase
que objetivam entender os fundamentos valorativos dessa mesma
sociedade. Entre as vertentes já citadase outras que não são objeto
das análises aqui empreendidas, háa teoria da justiça de John Rawls
(igzi-zooz), apresentada nas obras Etica da justiça ('97) e Uma teoria
da justiça (i9go). Essa teoriaé uma das mais adequadas ao entendi-
mento dessa complexa sociedade concemporáneae de seus valores
fundantes.
A ceoriae os princípios da ética da justiça proposta por Rawls
sãoconsiderados como unsdosmais importantes estudos no campo
filosóficoe ético contemporâneo. As principais questões colocadas
por Raw1s (iggo) são:
• O que é justiça*
• O que é uma ordemjustae estável*
• Como seexplicam as regras que presidema distribuição dos
bense as vantagens entre os indivíduos*
Podemos perceber queo interesse de Rawlsé analisar os prin-
cípios que propiciam as desvantagense asdiversidades sociais, bem
como asatribuições de direitose liberdade entre os indivíduos. Para
isso, sua proposição de uma teoria da justiça visa reorientar os indi-
víduos que, com a nova ordem mundial — queda das ideologias
reducionistas, do marxismo-leninismoe mediantea supremacia da
ordem capitalista —, se encontram desorienrados, tornando-os apros
a questionar quais princípios deveriam direcionara ação política.
Do mesmo modo queHabermas, Jonase Lévinas, Rawls repensa
os valores da niodernidade ocidentale se propõea analisara con-
remporaneidadee seus valores fundantes.

Ü possível afirmar ainda quea doutrina desse pensadoré de


ordem contratualista, porém encontra-se embasada num contrato
sociala ser estabelecido en trepessoas livrese racíonalmente justas.
Essa justiça seria designada corri base na necessidade de conven-
ções adequadas .aqueles que livsemente se organizam em socieda-
des políticase eticamente situadas, com a possibilidade de serem
fundamentados por um idealjusroe equânime, sem necessidade de
arbitrariedadese totalitarismos.
Tendo em vista essa finalidade, Rawls (iggo) imagina asseniF'leias
de pessoas livres, ren nidas para questionare elaborar as normase os
princípios que permitam levar os indivíduose as estruturas sociais
ao entendimento,à justa organizaçãoe à repartição equilibrada dos
bens essenciais paraa vidae a sobrevivência dignas, nas quais os
procedinientose as açöes sevoltarn ao estabeleciniento do equilÎbrio
c da sabedoria justa.
Dois principios de jusriça caractcrizamo pensaniento de Rawls —
o da diferençae o da igualdade —, os quais néo seriam idealmente
nem os principios do liberalismo capitalista nem os do socialismo
estatizante, nias os princlpios de equidade, com base nos quais ha
unia conjunçào de esfor(os dos iguais para respeitar os difcrentes.
Nas palavras dc Ra * ('99º, 9 ), nesses principios “seriam colo-
cados tarrtbé m os direitos dos menos favorecidos, cor rigindo as
distribuiçöese disson5ncias das sociedades utilitaristas contenu-
poràneas”. Isso implicaria um estabelecimento de direitose deveres
vindos de bases sociais mais justas, exigindo-se que aqueles mais
bein posicionados nào oprimissem os demais, pois suas vantagens
deveriam servirpara amenizare reduzir as desigualdades sortais.

Nesse contexto, o edifício ético da sociedade de ve ser bem cons-


tituído para que sobre elesejani levantados os auspícios da justiça,
no exercício da virtiide maior, que seriaa ordem jurídica. jesse
sentido,a sociedade seria um sistema equitativo de cooperaçáo entre
cidadños livrcse igtiais, etn que a ética consistiria em fazer cuniprir
a jtistiça. Conforme propóe Ra\vls (!99 , . 93. grifo do original),
“0 COIIVÍViOpH8 tiçn-virtu ü ‹=y rincíyi‘o con fere sentido ao son ho humano
detodas as civilizaçóes: Viver feliz numa ordena social justa”.
Para conibatera aberraçâo da ordem rnacroeconòinica atual,
injtistae excludente,a tese de Rawls conjtiga justiça corn vit-tude
pessoal, entendendo ralconjugaçfio como princípio social funda-
me ntal. Em síntese, as pessoas que praticania justiça querem viver
em estruturas sociaisjustase equitativas, significando quea ordem
políticajustaé a suprema instância ética da sociedade, cabendo-Hue
o dever de liarmonizar todas as estruturas corno princípio central:
“Uma sociedade justa para todos os cidadãos” (Rawls, 99º.p ›)

Acrcditarnos tersintetizadoo pensarnento dos principais autores


que aprcsentam reflexões ćticas sobrea sociedade contemporâneae
seus valores fundantes, corn snas premissas os seus principais cons-
trtictosé tico-valorativos que melhor atendam às relações entrea
sociedadee os sujeitos que as compõem. Compreendemos queesses
princípios sejam fontee indício da preocupação huniana de busca
constante de harnionia, de discerníinento, de capacidade de esco-
Ihase de tomada de decisões mais ćticase que possam fundamcntar
as atividades de governançae gestão de espaços sociaise públicos.
Assim, princípiose ações eticaniente fu ndainentados deveni
scrvir para buscare assegurara presença da eudairriorii‹s (felicidade),
conio finn últinio da vida humana, proposta porA ristóteles (i99ia)
nos priniórdios da civilizaçâo ocidental, no século IV a.C. Essa
felicidadeé fundamental parao equilíbrioe a justiça social que
todos desejame deve estar presence nas açôese nas decisões dos
governantese dos governados, que, juntosc cnvolvidos em uina
pe rspectiva dessa natureza, podem entendera importância dos
princípios éticos, não apenas corno fatores de controls, mas conio
elementos de valoraç.ao construtiva em prol do hem comuni.
Segundo asproposiçôes de Oliveira (zooob),o pensamento fiIo-
sófico contemporâneo nño pode furtar-se .a articulação de nuta ética
pcnsadae proposta com base em grandcs problemas que vêm mar-
cando nossa contemporaneídade. Assirn, como uma prinieira exi-
gćncia básica,é necessário refletirnios sobre as tradições éticas do
passado, mesmo queasquestões por elas tratadas nfio sejam idênticas
às atuais; conto segunda exigéncia, não podemos deixar dea reco-
nhecer as vinculações da filosofia prática corrio amplo arcabouço da
reflexão ético-filosófica em suas afirmações sobrea estrutura do ser
e suas implicações de pretensões de validade; em terceiro lugar, não
podemos situar as proposiçôes em uma ética exclusivamente indi-
vidual e/ou em uma ética exclusivamente política, pois, de acordo
com Oliveira (zooob, p.z36), “sem metafísicaa etica não poderá ser
fundamentada, sem filosofia pol ítica ela não poderá secomplemen-
tar“. E, para finalizar nossa abordagem dos principais constructos
ético-valot-ativos da sociedade contemporânea, acrescentamos que,
sem as reflexões éticas, essa tarefa será quase inatingível.
De acordo com Ladriére (i99$),é “naquilo quea hîsrória produz
que descobrimos os valoresé ticos”. Assim, podenios concluir este
capítulo considerando que os grandes constructos teóricos sobrea
ética no mu ndo contemporâneo, como um fundo de reser va moral
Itistóricae iniplicitarnente presence nas ações liuinanas, sejani índi-
viduais, sejam coletivas, permitem-nos perceber claramente que as
teorias éticas do passado se constituent em uma base para corn-
preendernios os problemas ético-valorativos que se apresentam no
contexto civilizacional da conternporaneidade.
Neste capítulo, objctivanios examiner os critérios ético-niorais
.a ltiz da sociedade corriplexae multicultural do período conteni-
porâneo, em snas diversificadas aplicações na vida das pessoas, dos
grupos sociais e/ou das sociedades, com snas organizaçõese insti-
tuições, corn as decorrerites implicações nos forrnas de fazer cićn-
cia, construir o conhecimentoe subsidiar as práticas dessa niesma
sociedade niultifacetadae controversa.
A condiçño hístórica contemporânea em seus princípios ćticos
foi analisada com base em aspecrospriniordiais do pensamcnto fiIo-
sófico, fundanienrado nas premissas das seguintes correntes: etica
existencialista, ćtica da aç.ao coniunicativa, ética da alteridadee da
transcendćncia religiosa, ética da responsabilid ade da civilização
tecnológicae ética da justiça.
É possível perceber que entre elas se estabelece uma circulari-
dade, que, atérir de revelara conrinuidade da experiência ética da
humanidade, garanteo esclarecimentoe o mút no apoio das teorias,
haja vista que s3o todas elas sempre incompletas (Ladriére, i995).
Entendemos queà reflexão filosófica contemporânea cabe des-
cobrire desvelar as premissas ético-morais que se desencadeiani no
bojo da sociedade e,a partir daí, elaborar projeções parao fururo
com aquilo que se entenda adequadoe pertinente às linhas de con-
duta que, livree conscientemente, os indivíduos constroem.
Desse modo, conipreendemos queé nas ações históricase em
seus desdobramentos que seencontram os elementos constitutivos
para o estabelecinie nto das reflexõesé ticase das normas de con-
duta consideradas adequadas .a sociedade e/ou aos grupos sociais
Eviea compõem,e não apenas em teorias criadas pelo pensamento
humano.

Questões para revisâo

i. A teoria da justiça de Rawls (ig9o) propõe dois princípios:


o da diferençae o da igualdade. Estes nfio se resurneni aos
princípios do liberalismo capitalista nem aos princípios do
socialismo estatizante, mas se constituem em princípios de
equidade social, por meio dos quais se poderia corrigir as
desigualdadese as injustos formas de organizaç.ao da socie-
dade contemporânea.
Portanto, considerando a necessidade de uma sociedade
mais justae ericamente situada, podemos afirmar que na
atualidade:
a. é preciso empenhar esforços para que haja sempre mais
respeito aos mais bem situados em diferentes contextos.
b. os direitos dos menos favorecidos nem sempre devem estar
presentes em todos os níveis das instâncias decisórias.
c. é preciso estabelecer direitose deveres adv indos de bases
sociais reais individuais.
d. os sujeitos que tom:im decisões, ou seja, os mais bem posi-
cionados social, econômicae politicamente, devem ter
a
intenção de amenizare corrigir as desigualdades sociais
e construir ações advindas de bases sociais maisjustas.
e. Todas asa firmativas estão corretas.

z. Com base nos conteúdos apresentados no capítulo, indi-


que qual dos princípios ético-morais descritosa seguir te-
ria melhor aplicaçao no atual momento histórico de nossa
sociedade:
a. Uma vidajustae equilibrada, solidáriae colaborativa, vol-
tada paraa melhoria das condições de vida para todos.
b. Uma ética pensadae proposta cont base nos grandes pro-
blemas que vêm marcando nossa conteiuporaneidadee
exigem soluções dife renciadas em relação àquelas apre-
sentadas pelas trad içõese dos costumes.
c. Reflexão sobre as tradições éticas do passado, relacio-
nardo-as àsgrandes questões da atualidadee buscando-se
alternativase possíveis soluções mais justas.
d. Superação de uma ética individual que possi6iIirea cons-
truçãoe a obtenção de urna ética mais voltada parao bem
comum.
e.Todas asa formativas estão corretas.

3. Jonas (zoo6) afirma que as éticas tradicionais estão “cadu-


cas”e que o mundo necessita de outras novas, fundamen-
tando seu projeto ético na necessidade de mudanças no agir
humanoe qucstionando as utopias civilizacionais contem-
porâneas. Conforme asproposiçôes desse autor, assinalea
alternariva incorreta:
a. Ele questiona os princípiose ideais de progressoe de
tecnologia do mundo contemporàneo.
b. Ele desresponsabiliza aqueles que constroem os avanços
tecnológicos em nome doprogressoe do desenvolvimento.
Ele questiona quemé responsável pelas consequências dos
aruais avanços tecnológicos, que nem sempre favorecem
e atingem aqueles que mais necessitam deles.
d. Ele pressupõea esperançae a capacidade humana para
o enfrentamento dos problemas de nosso tempo, ressal-
tandoa necessidade de reavaliar os avançose os princípios
do atual desenvolvimento tecnológico.
e. Ele define queé necessário estabelecer uma ética da ação
responsabilizante, com princípios ético-morais válidose
justificáveis, para atribuir sentidoe significadoa desco-
bertase avanços científicos que não sejam apenas aqueles
da ideologia do progresso mercadológico.

ç. Quais são os princípios fundamentais da reflexão ética no


período contemporâneo*

5. Em sua opinião, qual desses princípios pode melhor contri-


buir parao aprimoramento das relações sociais, políticase
organizacionaise pode seraplicado no cotidiano vivenciale
profissional dos homense dassociedades conterrrporàneas*

Questão para ref!exáo

i. Quais são as premissas da teoria personallsta de Emanuel


Mounier (2oio)e o que elapropõe*
Perguntas G respostas

i. Sintetize os princípios éticos da sociedade contemporânea,

Os avançose as inovações da sociedade corite»tporôneaa lteram


oS pr incípiose ticos clássicos. Pressupôemo quemtionamento dos
princípios religiosos› dos princípios do Jorge afirmativa de exis-
tência humana, da responsabilidade, da liberdade, da igualda-
de0 dad eret f°: • • •‹ etermina(âoe do respeitoà vida,- da
CienCiO, da rivifiZ•fa0 tecnológica e dos enàmenos decorrentes.
Também implicama exigência de uma]usti(a verdadeirae vol-
tado parao aprimoramento das reía(ôes entre os sujeitos, t'etn
comoa busca por uma vida mais equânimee adequadamente
áittfHdd, ui$OYtdOà sHpCrOÇÕO dos lfe$igtlOldOdeSe O pOs3iÜifidH-
de de uma existência plena.

z. Jonas (zoo6) entende quea sociedade tecnológica não tem


sido suficientemente capaz de atender às questões cruciais
da sociedade contemporânea. Cite as premissas básicas que
o autor propõe.

A $OCiCd0'de COHt€tTtpOTâTti•O, OrgtllÃO8O de Stta8 COHQtti8t0$0 dC


seus avanços, consciente de sua capacidade de construire inovar,
perde suas referências ético-morriis,e muitas de suas obrase
açôes nâo consideramo outro. ]onas (2006) apontaro n ecessi-
dade de reflexão sobree do campo tecnológicoe suas conquretas.
Suas premissas ético-morais embasam-se no princípio da iguol-
do dee responsebilidode, questionando os princípiose ideais de
progressoe dc ternofogio das utopias rivifizric ionais cotitempo-
râneas.O autorfundamenta seuprojeto ético na necessidade de
m vdan(as no agir bumeno cq uestionao tecnologiae a ciência
eH'l Seu$ ttlOdelOS OYtiflCiOliStHS UOltOdOSà teHtOli¥O de pTOlOHgOY
a vida, controlar os coinport‹irnetHos, procederà rnanipti ^f °
da vida pela engenharia genética. Enfim, critica todos os proce-
dimentos científicos que prcscindcm de valores bvmenose bu-
manizantese que reduzemo su)eitoà condição de escravo da
tecnologiae da ciência. Portanto,a evidCncie daquilo que Jonas
questionae marcante e› com certeza, desvefs aspectos de @tio
ciênciae de umo tecnologia opcnasa serviço dos sistemas de
produçãoe nâo dai rela(àeS humanase d‹i qu‹ifidsde de vida
das pessoas.

Cotl3tfÍtatldo II legiSlaÇão
Com foco na convivência adequadae justa,a Constituição
da República Federativa do Brasil de 9 (Brasil, ig88)
apresenta os princípios legaise necessários paraque os cida-
dãos brasileiros vivame convivam em harmoniae equilí-
brioà luz de seus preceitos. Portanto, considerando ser
imporcante ter presente suas determinações corno fonte
de pesquisa sobre direitose deveres do cidadão brasileiro,
sugerimos que esse documento seja sempre consultado.
BRASIL. Constituição. (1988). Diário Oficial da União, Brasí-
lia, DF, S out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao,htm>. Acesso
em: 22 maio 2016.
Se você estiver interessado em aprofundar os estudos sobre
os temas tratados neste capítulo, sugerimosa leitura dos
seguintes textos:

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Sfio Paulo: Ediouro, [S.d.].


(vcr y. 99-133)
FELIPE, S. Rawls: uma teoria ético-política da justiça. In:
OU VEIRA, M. A.de.Correntes fundamentais de ética
contemporânea. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p. 133-162.
“Mais uma vezseencontram os exti-emos

pela aç4o corrosivo das laipertrofiase dos

posicionanaentos unilaterais. Tanto na vida

das ideias, conto no jogo dos sentiiaientose

dos atos sociais.O difícilé n.ao confunc4no

equilíbrio dos contrários ou dos analogados

com a mediocridade,o ecletisnao com os

diletantisrrios.E tão difícil manejai- as ideias

conto pensar- com as na4os!”

(Tristão de Athayde, 1974, citado por

Corhisier, 1978, p. 13)


ß 05
Éticae cidadania na gestão pública.
A ética em açãoe os princípios éticos da gestão pública.
Moralidade públicae administrativae a questão da transpa-
rência no setor público.
Lei n. iz.5z2/zon,e o acessoa informações públicas, aplicá-
vel aos poderes da União, dos estados, do Distrito Federale
dos municípios — aspectos ético-moraise as relações com o
Programa Brasil Transparente.
A nova gestão pública.

A póso estudo deste capítulo, você seró capaz de.

i. compreender as relações entre éticae cidadania na gestão


pública;
z. entender os princípios constitucionais da gestão pública bra-
sileirae os princípios infraconstitucionais complementares;
3. estabelecer relações entre ética, moralidadee a questão da
transparência na gestão pública brasileira;
¢. entendera Lei n.iz.S87/zon,e seus desdobramentos no que
se refere ao acesso às informações públicas aplicáveis aos
poderes da União, dos estados, do Distrito Federale dos
municípios, bem comoo Programa Brasil Transparente;
f. identificar os parâmetros da nova administração/gescão
públicae seus desdobramentos no cotidiano vivenciale pro-
fissional do agente/servidor público.
Comojávimos, as questões éticase de cidadania representam
apenas algumas das inúmeras facetas que envolveme permeiam os
comportamentos dos sujeitos nas sociedades e/ou grupos sociais.
Nesse sentido, podemos afirmar que, com relaçãoà gestão pública
no período contemporâneo, não se podem desconsiderar análises
e reflexões acerca de tais comportamentose ações. Por estarem
sujeitas aos controles sociaise legais, as ações da gestão pública
requerema constituição de um sistema de acompanhamento de
suas atividades pelos cidadãos que, de algum modo, sãousuários-
dos serviços públicos.
'3°
Portanto, nestee nos próximos capítulos, trataremos das relações
implicadas nesse contexto em quea gestão pública se apresentae da
qual decorrem suas açõese seus efeitos paraa cidadania,o desenvol-
vimentoe o progresso de povose nações. Entendemos que ostemas
da éticae da cidadania na gestão pública são de extrema relevância
na formação dos sujeitos que dela participam.

+,iE ticae cidadania na gestão publica

A moralidade não seaplica somente aosindivíduos, mas também


àqueles que exercem funções administrativase de gestão coletivase
sociais, comoé bem defendido por Chaui( 99°), Meireles (zoi5)e
Vasconcelos( 993)- Com relaçãoa essa ideia, vale destacar, conforme
Lopes( 993. ^3). que “O alcance da moralidade vincula-se aos
princípios ou normas de conduta, aos padrões de comportamento
geralmente reconhecidos, pelos quais são julgados os atos dos mem-
bros de determinada coletividade”. Isso nos permite deduzir que os
membros deuma corporação profissional — no caso, funcionáriose
servidores da administração pública — também devem sersubme-
tidos ao julgamento ético-moral.
As raz6es para esse entendiniento surgem do fato de que ha
normas comuns no exercicio de unia funç.ao e/ou atividade c, no
caso da administraçfio pùblica, esta necessita pautar-se nos prin-
cipios constirucionais que a regeme que precisani estar pùblicae
legr lmenie disponiveis ao conliecimento de todos os cidadàos para
que possam respeita-lose vivencia-los.
Nesse conrexto, conforme explicarernosa seguir, destacan -se
também osprincipios constitucionais tidos como base da funçäo
pùblicae que, sem dùvida, se caracterizam como pilares de susten-
tabilidade da funçño gestora. Entendenios aqui queo Estado se
constitui em unia esfera ético-politica, caractcrizada pela uniûo dc
partes que se agregame Iheconferema caracteristica de um orga-
nisnio vivo, coinposto pela participaç.ao dos cidad3ose de todos
aqueles que se abrigam em sua circunscriçäo constitucionalc legal,
ou seja, se abrigam soba égide de uma Constitui(ào.
Corno explica Chaui (i99z, p. 36z),

O Estadoé uni seré tico-polirico porque é nina


Constituiçäo. Esta nño se confunde com documentos
ou com a lei maior de um país, inasé o conjunto dos
costumes (piores)e das instituiçôes (religião, arte, fangília,
indústria, ciência) que constituemo etbos de um povo,
scu espiritoe sua vida.

A éticae a cidadania nao se desvinculani da questão dos princí-


pios da ação do Estadoe da moral idodeadministrativa, uma vez que,
por mais alargados que pareçam os direitose as esferas individuais —
as quais parecem serextreinamente flexíveis nos atuais contextos —,
urge que sejam regulamentadas asvinculações estreitas que existem
entre esferas individuaisc esferas coletivas, pressupondo-se, assim,
níveis de avanço, no campo do progresso moral da sociedade.
Isso se caracteriza comoa grande conquista dos tempos contem-
porâneos no àmbito da gestão pública: quea sociedade esteja de tal
'3#
sorte organizada que possa vira sera esfera norteadora das relações
e da atuação do Estado em função da ampliação da representativi-
dadee da participação dos sujeitos, para além do mero exercício da
outorga de podera outrem pelo voto (democracia representativa), de
modo queseampliem asdimensões de cidadania ativa (Rodrigues,
zoo8).
Essa cidadania ativa deve serconsiderada, como define Rodrigues
(zoo8), não apenas como uma mera inserção dos indivíduos histo-
ricamente excluídose que, de alguma forma, passama termaior
acessoa instâncias decisóriase controle sobre elas. Sem ingenuidade,
entendemos que essas inserções podem servistas como efetivo motor
da mudança individuale coletivae que o ponto de partida deve ser
a compreensão do cidadão não só de queé portador de direitose
deveres, mas também de queé criador/construtor corresponsável
pelos novos direitose deveres perantea sociedade, revelando-se com
partícipee avaliador da gestão da coisa pública.
Rodrigues (zoo8) considera que essa cidadania ativa implicaa
presençae constituição de novos olhares, novos atores sociais, novos
direitose deveres, novas mediaçõese instituições, novas formas de
organizaçãoe participação da sociedade civil organizada, com vistas
a superaro entendimento de urria cidadania excludente ou regulada.
A contestação dessa ordemh istórica, excludentee regulatória
trazà tonaa necessidade de criare desenvolver novos instrumentos
teóricos, metodológicose práticos para que se oríenteme se legiti-
mem bruscas constantes de transformação social efetiva, especial-
mente nos países periféricos, nos quais as carências, os déficirse o
autoritarismo político, educacional, culturale econômico mao tcm
possib'ilitado condições paraa transformação sociale a emancipa-
ção da população.
Como defendido por Rodrigues (zoo8), no contexto contempo-
râneo, em face dos desígnios da sociedade neoliberal, com sua visão
mercadológica, seletivae excludente, uma cidadania ativaé condição
sine que non paraa superação das injustiçase dos desmandos de
todas as ordense naturezas.
Nesse sentido, embora não sejao foco da presente obra, des-
tacamos que as questões da éticae da cidadania fazem emergira
importância de estudara organização da gestão públicae algumas
de suas premissase bases conceituaise teóricas, fator que nos leva
a apontar autorese obras que tratam da temáticae que servem às
finalidades propostas.
I números autores têm voltado seus estudosà análise da questão
referidae embasam essas premissas conceituaise teóricas sobrea
administração e, em especial, sobrea gestão pública. Ressaltamos
ascontribuições de Mota( 998), Bernardes (zoom), Di Pietro (zoiz),
Cretella Júnior (zoop), Meirelles (foi ), Martins (zoo4), Reale
]unior (zoom), Vasconcelos (i993), Quintana (zoI•J), Bernardi (zoiz),
Montoro Filho (zofz), Mirshawka (zont), Bazermane Tenbrunsel
(zoii), entre outros.
Embora entendamos que seja de importância fundamental uma
melhor compreensão sobreo tema, comojádito,a questão concei-
tuale teórica sobrea administração nãoé o foco desta obra, sendo
de precípuo interesse aqui estudar as relações entrea éticae a gestão
pública em seus princípios legaise normativose seus desdobramen-
tosno campo prático da gestão pública.

.zA ética em açãoe osprincípios éticos da


gestáo pública — alguns conceitos necessários

Antes da apresentação dos princípios que embasama adminis-


tração pública no Brasil,é relevante que explicitemoso que são
princípiose no que consistea gestão pública, buscando os funda-
nientos conceituais de relevância em teóricose estudiosos brasileiros
tais como Di Pietro (zoiz), Cretella Júnior (zoor), Meirelles (zoi5),
Martins (zoop)e Reale Jú ruor (2oop).
Corroborandoa tmp ortăncia de apresentar esses conceitos,
Martins (zoop,p 9z) explica que os princípios da gestâo pública
deveni ser considerados conao os prírneiros passos

ț...] na consecuçäo de uma rcgulação, passo ao qual


devem seguir-se outros.O princípio alberga uma dire-
triz on norte magnético, muito ma is abrangentc que uma
simpler regra: alćni de estabelecer certas liniiraçôes, for-
nece diretrizes que emF'asani uma ciênciae visamà sua
correta cornpreensãoe interpretaçâo. Violar nut princí-
pioê niuito niais grave do que violar unia regra.A não
obser vância de unj princípio injplica ofensa nźo apenas
a específico niandanleiito obrigatório, mas a todoo sis-
tema de coinandos.

Reforçando essas considerações conceituais, apresentamosa a fir-


niaçfio de Cretella Júnior (zoom, p. 9z): “Princípios de unja ciéncia
sño as proposições básicas fundamentals, típicas, que condicionani
todas as estruturações subsequentes. Princípios, nesse sentido, sào
os alicerces da ciéncia“. Expandindoo conceito do que sejani prin-
cípios, destacamos aquele proposto por RealeJ únior (zoom, p. 9z):
”Princípios sño verdades fundantes de um sistema de conliecimento,
como tais admitidas, por sereni evidences ou por tereın sido corn-
provadas, mas também pormotivos de ordein prática de caráter
operational, isto ć, como pressupostos exigidos pelas necessidades
da pesquisae da pr.axis”.
N.ao podemos deixar de conceituar tanibé ni gestáo pública,
considerando quea conceituaç3o reforça bases de entendin entoe
situa as possíveis açôes prfiticas como alicerces para os progressos
científicose tecnológicos sobreo assunto em tela, que versa sobre
as ações humanase seus espaços de responsabilização pela organi-
zação da vida em sociedade.
Assim, na gestão pública brasileira, há três níveis administrativos,
as esferas federal, estaduale municipal, sendo que, em todas elase
por meio dos Poderes Executivo, Legislativoe Judiciário, devem ser
obedecidose respeitados os princípios constitucionais, os quais con-
substanciam essas mesmas ações administrativas de cunho público.
Em razão de compreendermos ser a gestâo pública uma atividade
específicae de cunho próprio, apresentamos algumas conceituações,
'3#
com base em autores como Bernardi (zoiz), Di Pietro (zoiz), Cretella
Júnior (zoom), Meirelles (zoi5), Martins (zoo4), RealeJúnior (zoo4)
e Vasconcelos( 993)
Bernardi (zoiz, p. zI6) considera quea gestão públicaé normal-
mente entendida comoo Poder Executivo propriamente diroe seus
órgãos de administração diretae indireta. No entanto, esse autor
observa,com base na categorização de Montesquieu, queo Poder
Público, embora dividido em três,é um poder unoe responsável
pela boa condução da governança pública.
Di Pietro (zoiz, p. 6i) entendea gestão pública como uma ”ativi-
dade concretae imediata queo Estado desenvolve sob regimejurí-
dico de direito público, paraa consecução dos interesses coletivos”.
Com base nisso, temos uma consideração que remete aos aspectos
reveladores da amplitude da açáo da gestáo pública, submetida
aos regimentose normativas legais que sustentam os interesses da
comunidade, não sendo permitido, portanto, que se extrapolem as
condiçõese os fundamentos daquilo que se pressupõe ser de sua
competência —o bem comum.
Com isso,a prática da gestão pública necessita contemplar os
princípios que a fundamentam, voltando-se aos assuntos de inte-
resse da populaçãoe do bem-estar coletivoe situando-se no campo
ético-moral que avaliae determina as ações efetivas entre os indi-
víduos de uma sociedade. Assim, com vistasa disciplinar suas ati-
vidades, consideramos quea gestâo pública deve estabelecer seus
limites quanto ao seupodere ao seudever, evitando excessose pro-
cedimentos abusivos, oriundos de atos ilegais e/ou discricionários,
de formaa obter maior êxito em seu dever-fazer no tocante aos bens
e serviços oferecidosà população.
De todo modo,o Estado vem encontrando, ao longo de sua
existência na gestão pública, um instrumento de apoioe de alta
imprescindibilidade paraa execução dos afazeres para os quais foi
criado, ou seja, parao atendimento aos interessese às atividades
que se voltam ao bem-estar comum, como objetivo de estabelecer
um progresso social para todaa coletividade.
Nesse sentido, surgem osprincípios constitucionais como basila-
res paraa gestão pública, visando disciplinar em normas infracons-
titucionais as basese os fundamentos que regulamentam asações
dessa instância de tal sorte que possam serconhecidas por todos
os cidadãos, tendo em vistaa efetiva oferta de serviçose bens, em
acordo com as demandas sociaise políticas, econômicas, materiais,
humanase éticas da população.
Temos como princípio base da gestão públicao entendimento
de que os funcionários, servidorese gestores públicos, no exercício
de suas funçõese atividades, encontram-sea serviço exclusivo da
comunidadee doscidadãos, prevalecendo sempreo interesse público
sobre os particulares ou de um grupo,o que revelaa relação direta
com a questão da moralidade pública.
De acordo com o art. 37 da CF e seus respectivos incisos,a ges-
tão pública, direta, indireta ou funcional, em qualquer dos poderes
da União, dos estados, do Distrito Federale dos municípios, deve
vincular-se diretamente aos princípios de legalidade, impessoalidade,
i8
moralidadee publicidade, que serâo vistosa seguir.
A CF considera que esses princípios devem seraplicados em
todas as ações empreendidas no âmbito da gestJao pública, em seus
diversos níveis (federal, estadual, distrital federale municipal)
e devem contemplar em sua plenitude os interesses de todos os
envolvidos, visandoa um exercício ético, adequadoe de qualidade
na oferta de serviçose ações da administração públicaa todos os
cidadãos.

4.z.i Princípio da legalidade


Fundamentado no arr. 5o, inciso II, da CF (Brasil, i988),o prin-
cípio da legalidade determina que: “ninguém será obrigadoa fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Conforme
Meirelles (zoi5,r ü7),o gestor público em todaa sua atividade fun-
cional estara sujeito: “aos mandamentos da leie exigências do bem
comuns,e deles ri.ao se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar
ato inválidoe de responsabilidade disciplinar, civile criminal, de
acordo cont cada caso”.
Ressaltamos que, diferentemente das atividadese ações indivi-
duais, aquelas praticadas por um gestor e/ou por um funcionário em
funçfio pública sfio providas de controle rigoroso sob os preceitos da
leie das prescrições constitucionais, uma vez que sua aplicabilidadec
deterrninante paraa obtenç.ao de sucessoe transparência em acordo
com os pt-efeitos legais.

Pela CF, temosa instituiçào oficial do Estado democr.atico de


direito e, em ses a« 3?. inciso II, cncontraniosa determinaçäo de
que “ainvestidura em cargo ou emprego pùblico de pende de apro-
vaçfio prévia ent concursos pùblicos de provas ou de provase titulos,
ressalvadas as nonieaçôes para cargo ent comissâo dcclarado de lei
de livre nomeaçäoe exoneraçäo” (Brasil, 988).O incisoV do mesmo
artigo, confornderedaçâo dada pela Emenda Constitucional ri.'9, de
q de junho de igg8, reza que “asfunçöes dc confiança, exe rcidas exclu-
sivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo,e os cargos em
comissfio,a sercni preenchidos por servidores de carreira nos casos,
condiçöese percentuais minimos previstos ent lei, destinam-se ape-
nas às atribuiçöes de direçào, chefiae assessoramento” (Brasil, i998).
Corn base nessasc nas dernais consideraçôes que se explicitant
nos incisos do referido artigo constitucional, o principio da mora-
lidade adrninistrativa levanta aspectos éticos da ad rniss3o e/ou
nomeaçâo, designaçàoe exoneraç.ao de cargose funçöes pùblicas,
considerando aspectos constitucionalmente determinados.
O principio da moralidade, ao nortear os atose contratos admi-
nistrativos, refere-sea um aspecto relativo aos novos modos deatuar
na nova faseda administraçào pùblica, uma vez que estaé passivel
de responsabilizaçào pelos arts.9 e II da Lei n. 8.4zg, dez de junho
de i99z (Brasil, ig9z), que definern de fornia exeniplificativa os atos
de improbidade administrativa que possam de alguma forma violar
os principios constitucionais.
A atençño,a obediênciae o respeito ao principio da moralidade
implicam queo adrninistrador pùblico paute sen comportaruento
nos vieses da conduta érico-moral voltada ao beni conium, fazendo
com que as açôes administratives busquemo real interesse do
público. Assim,é possível que sejam criadas no contexto interno
da administração pública demandas adequadas para separar os
dicotômicos aspectos relativos ao bom e ao mau, aojustoe ao injusto,
ao convenientee ao inconveniente, ao adequadoe ao inadequado,
pautando-se as ações na leie naquilo que realmente seja voltado aos
interesses comuns dosafetados e/ou beneficiados pelos resultados
das ações no àmbito da administração pública.
Alguns dos aspectos que precisam serconsiderados no tocante
ao princípio da moralidade na gestão pública referem-seà caracte-
rização de atos de improbidade corno aqueles ligados:
• ao uso de bense equipamentos públicos com fins particulares;
• à intermediação de destinação de verbase recursos públicos
para fins de enriquecimento pessoal;
• à contratação de serviços de forma direta, quando sedeter-
mina legalmentea necessidade de licitação;
• à venda de bens públicos sem as devidas avaliaçõese abaixo
dos valores de mercado;
• à aquisição de bense serviços acima dos valores de mercado
(superfaturamento).
Diante da presença de tais atos de improbidade administrativa,
entre outros tão ou mais graves,a CF estabelece como meios para
avaliaçãoe controle das ações no tocanteà moralidade administra-
tiva dois instrumentos:
i, Ação popular — Conformeo art. $º, inciso LXXIII, da CF,
uma ação popular pode serpropostae subscrita por qual-
quer cidadão brasileiro como parte legítima para desestimu-
lare desconstruir atos lesivosà moralidade administrativa.
O cidadão proponente deve estar no exercício pleno de sua
cidadaniae em dia com suas obrigações eleitorais.
z. Ação civil pública — Como prevêa Lei n. y.3¢y, de i4 de julho
de 9 S (Brasil, '9 s), essaé uma forma de ação legal que se
volta ao objetivo primordial de proteger os interesses trans/
metaindividuais dos cidadãos, sendo cabível sua proposição
sempre que se consolideni atos ou ações que violeiii tais
interessese seja neccss5rio, de alguma forma,o controle da
moralidade administrativa. Essasc ransgressõesà morali-
dade administrativa são, conforme prevêa CF,e m seua« 37,
inciso XXII parágrafo 9º, passíveis de quatro sanções legais
de aplicação imediatae simultânea: perda da funçâo pública,
suspensão dos direitos políticos, declaração de indisponibili-
dade dos bensc obrigação de ressarciro cr ário público.
Complementar às determinantes consritucion ais, a Lei
n.8.4°9/'9s› prevé ainda sanções específicas para cada forma de
violação de dispositivos legais, comoa aplicação de multa de até
ioovezeso valor da remuneração recebida pelo agente público, proi-
bição de estabelecer contratos conto Poder Públicoe proibiç.ao de
receber incentivos fiscais.
De todoo exposto, deduzinios que as açôese as atividades públi-
cas executadas pelo agenre público estáo subordinadasà observação
de diretrizese parâmetros legaisc ético-jurídicos que refletema
observância ao postulado que regea gestáo pública, vincuIando-se
ao princípio da moralidade, nfio sendo adequado que nelas pre-
valeçani os interesses individu ais, mas valores que primein pelo
interesse público.

4•*e /ri'nc!pio da impessoalidade


Aspecto primordial do exercício da função pública,o princípio
da impessoalidade estabelece queo agente público jamais deve pri-
vilegiar seus antigose dcsdobra-se no princípio da igualdade, pelo
‹jual sempreo interesse público dos iguais deve prevalecer.O ditado
popular “aos antigos as benessese aos não ariigos os rigores da lei”
mao se enquadra na vivência desse princípio constitucional.
A impessoalidadeé rigorosamente fundamentada na verdade
da igualdade de condições quea CF destaca em seu art. , o qual
regulamenta as condições nas quais todos os cidadãos brasileiros
devern ser consideradose respeitados em seas diferenjase especi-
ficidades, considerando ainda que isso não os inferiorize, rnas que
Hies proporcionee reserve os cuidados legais previstos consritu-
cionalme ritea cada situação, pressupondo sernpre sua condiçúo de
igualdade na cidadania.
Essa igualdade na diversidadeé fundamentada no cntendimento
de quea iinpessoalidade deve assegurar seniprea rodose a cada urn
dos cidadãos brasileiroso acesso aos benefícios da leie o respeito
aos seus determinantes, também como dever de cidadania, sent
conter rriarca pessoal do agente e/ou adniinistrador público, on
scja,a imporráncia de considerar que os atos públicos não sâo pra-
ticados pelo servidor, mas pela administraç3oà dual elese vincula
e/on pertence.
Esse princípio atrela-se, ainda,a aspectos relacionadosà publici-
dadee à transparência, os quais são imprescindíveis ao exercício da
função pública, nuta vez que esta deve tersenipre caráter cidadfioe
capacidade de publicização (de tornar público) de tudo aquilo que
seja de intercsse público, sem destaques pessoaisa nomes, sinibo-
logias e/on imagens que ressaltema pessoalidade de qua1qner dos
agcntes pú blicos. Esse aspccto freou, apósa publicação da CF, niui-
tas ações de adniinistradores públicos e, embora ainda n.ao tenlia
acabado com tais práticas, as amenizou bastante, ressaltandoo
interesse da coletividade em detrimento de interesses meramenre
pessoais.

Na atuaçño transparente do Poder Público de todas as tnani-


festações ad rninisrrativas, em to dos os setores da adniinistração
pública, constitui-seo princípio da publicidade em requisito funda-
mentalà transparênciae à ídoneidade das práticas administrativas,
vincuIando-seà eficácia de sua aplicaçãoe aos objetivos aos quais
se destinam tais ações.
Considerando -se
a iniport5ncia de tais pr áticas de transparência
e publicização,o princípio da publicidade tern destaqtic no art 37 da
CF e é sustentado em diversos dispositivos legais relacionados ao
teinae em leis coniplementarese infraconstitucionais, tais coruoa
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — LeiComplementar n.ioi,
de ą de maio de zooo (Brasil, zooo).
A LRF, visandoà transparênciae ao controle social dos aros da
administração pública em todos os seus níveise mod a lidades de
prestação de scrviçosà comunidade, estabelece:

Art. ą8. S.ao instrunientos de transparência da gest.ao


fiscal, aos quais será dada ainpla divulgaçâo, inclusive
em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orça-
me ntose leis de diretrizes or(arnentàrias; as presta(ões
de contase o respectivo parecer próvio;o Relatório
Resumido da Execuç3oO rçamentáriae o Relatório de
Gesrfio Fiscal;e as versões simplificadas desses documen-
ros. (Brasil, zooo)

O par ågrafo único do art. 48 deterrnina ainda:

Parågrafo único.A transparćncia será assegurada tam-


bčm rnediantc:

I — incentivoà participaçâo populare rea1izaç.ao de


audiências ptiblicas, durante os processor de elabora-
(áoe discussño dos planos, lei de diretrizes orçamenta-
riase or(amentos; (Incluídos pela reda(âo dada pela Lei
Complementar n.131, de zoog).
II — libcraçño ao plcno conliecinicntoe acornpanha-
mento da sociedade, em tempo real, de infornaaçöes por-
menorizadas sobrea execuçño orçamentfiriae financeira,
em meios eletrônicos de acesso público. (Brasil, zooo)
Concorriitante aos princípios constitucionais que acabamos de
ver,o princípio da publicidade determina que os atose ações da
gestão pública sejam feitos de forma legal, clarae passível de plena
divulgaçãoe publicização. Portanto, todaa publicidade sobre atos,
programas, serviços, açõese campanhas dos diferentes órgãos da
gestão pública deve ser informativase ter caráter de interessee
orientação educativae social, não sendo adequado que sefaça qual-
quer tipo de propagandae promoção pessoal de autoridades e/ou de
servidores públicos, pois estes, no cargo público, devem privilegiar
os interesses coletivos.
Considerado um dos princípios da gestão pública que confere
maior visibilidade ao administradore às suas ações,o princípio da
publicidade também pode conferir-lhe maior credibilidade, haja
vista que o gestor público pode servir-se dele para exercer maior
controle internoe externo de sua administração pela publiciza-
ção de todos os atos administrativos,o que permite aos cidadãos
conhecé-los melhore concede maior rransparénciaa atose ações
administrativas de interesse da população.

4 s princípio da eficiência
Embora nãoesteja elencado entre os quatro princípios definidos
claramente na CF,o princípio da eficiência conjuga-se com os outros
princípiose está implícito nos incisose parágrafos dO art.i7. sendo
evidente sua importância no desenvolvimento dos atose ações do
Poder Público em qualquer de suas instâncias.
Esse princípio foi posteriormente anexado pela Emenda
COnStltuCional n.i9/'998, queo acrescentou ao roldos quatro prin-
cípios já consignadose enunciados no texto constitucional:

Art- 37. administração pública diretae indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federale dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidadee
eficiência [...]. (Brasil, *99 )-

Com o acréscimo desse princípio, impõe-seà administração


pública, diretae indireta, nos três níveis de governança (municipal,
estaduale federal),a obrigação de executar suas atribuições, obser-
vando regras de boa administração, com eficiência, bem comoo
dever de buscar exercê-la com perfeição, idoneidadee rapidez, maxi-
mizando osresultadose os impactos na coletividadee minimizando
desperdícios de tempoe de recursos.
A eficiência na gestão públicaé relacionada às práticas de celeri-
dade, efetividade, qualidade, eficáciae economicidade, que devem
estar presentes em qualquer dos atos administrativos que sejam
empreendidos, em qualquer tempoe lugar do território nacional.
Sua efetividade leva ao combate ao desperdício de tempoe de recur-
sos e, vinculando-se aos aspectos de economiae presteza,é fator de
maximização de recursose de materiais necessáriosà execução de
projetose programas da gestão pública, contribuindo parao forta-
lecimento da ação administrativae de seus resultados.
Di Pietro (zoo 5) consolidaa relevância desse princípio cons-
titucional ao afirmar que, na realidade,o princípio da eficiência
apresenta dois aspectos:

pode serconsiderado em relação ao modo deatuação


do agente público, do qual se esperao melhor desempe-
nho possível de suas atribui(ões, para lograr os melhores
resultados; e, em relação ao modo deorganizar, estrutu-
rar, disciplinara Administração Pública, rambém com
o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados
na prestação do servi(o público. (Di Pierro, zooo, p. 8+)
4-2.6 Princípios do segundo grupo
Ressaltamos ainda outros enunciados que,a despeito de n.ao
serem definidos conto princípios, ser vern de parâmetro quando se
delimitam constitucionalmente aspectos sobre os desdobramentos
e a condução das açõese dos atos relativos ao exercicio da função
e/ou cargo público. Nesse sentido, entendemos relevantes os prin-
cípios de embasamento infraconstitucional, por serem fundamen-
tados em y remissas legais que complementame regulamentam os
determinantes constitucionais.
Assim, os princípios apresentadosa seguir expressam-se em leis
infraconstitucionais, comoa LRFe outras de semelhante relevância,
que visam dar solideze segurança legal ao exercício da função do
agente públicoe rn todas as esferas do Poder Público.

Vejamos, portanto, corno se definem os referidos princípios:


• Princípio do interesse público —É uns princípio base da gesráo
pública, garantindo que prevalcçam os interesses da coleti-
vidade sobre os privados. Sempre que ocorrem confrontos
e/ou contradições, deve preponderaro interesse público, pois
a respnùficné priniordialmente vinculadaà ordem coletiva.
No art.5 da CF e seus respectivos incisos,o princípio de pre-
ponderância da ordem coletivo aparece explíciroe iniplícito,
rnesnio quando questõcs vinculadas aos ínteresses de ordem
privada sfio tratadas.O princípio do interesse público deve
serconsiderado desdea fase da elaboraçúo atć os diferentes
n omenros da execuçăo e/on aplicabilîdade da lei que legi-
timeo ato gerado pela administração pública. No caso de
essas premissas implícitas serem desconsideradas, pode ser
caracterizada oinissîao quanto ao real niotivo da exisrência
da adrninistraçâo pública, ou seja,o zelo para com o bem da
coletividade.
Princípio da finalidadee da legalidade — Conforruea Lei
n.9 78a, de zg de janeiro de 1999 (Brasil, i99g), art. z°, parà-
grafo único, todo ato administrativo deve serpraticado com
vistas aos fins de interesse gerale público previstos em lei.
Relacionando-seà impessoalidade da administração pública,
esse princípio orienta que as normas adniinistrativas sempre
tenham conio objetivoo interesse ptiblico. Se, de algtini inodo,
o agente público praticar atos que não estejani em confornii-
dade coma lei, estar.a em desacordo cont as premissas legaise
será passível dc jtiízo éticoe de sançôes legais previstas para
cada caso. Sempre que um atoadministrativo for praticado
sem a finalidade explícita que o justifiquee legitime, estará
em desconforni idade com o inreresse coletivo e, n.ao raro,
trará prejuízosà população atingida pelo referido ato.
Princípio da igualdade — No exercício de seas atividades, os
gestorese funcionários públicos não podem beneficiar ou
prejudicar qualquer cidadáo em função da sua ascendéncia,
sexo, raça, língua, convicções políricas, ideológicas on reli-
giosas, situação econòmica on condição social.
Princípio da colaboraçãoe boa-fé — Os funcionários devem,
no exercício de snas funçóes, colaborar cont os cidadãos,
Por si só,a éticaé uns tenta de extrema

relevância na atualidade, sendo de interesse

de todaa coletividade, principalmente

polque, de imediato, costuma serassociada

às pr-áticas da moral c|ue, de algum modo,

remeter novamenteà necessidade de

repetir sobrea legitimiclade,a validadee a

conformidade da ética, levando-se end conta

os contextos sociopolíticos.
segundoo princípio da boa-fé, tendo em vistaa realizaç.ao
do interesse da comunidadee fomentando sua participação
na realização das atividades da gestão pública, com vistas ao
bem comum dapopulação.
Princípio da motivação — De acordo com esse princípio,a
gestâo públicaé obrigadaa motivar todos os seus atos, pois,
conto geradora do ato público, representa os interesses da
coletividadee deve proceder em prol do bem-estar da popu-
lação atingida por tais atos. Como titular da gestão da res
,¢g p u blico, o gestor público est.a seiiipre obrigadoa isso, poisé
somente pela motivação (oreal motivo do atopúblico) queo
cidadão tem condições de saber seo Poder Públicoe o Estado
estão agindo em conforunidade cont os dispositivos da lei.
Essa motivação deve estender-se aos atos públicos de caráter
dis cricionárioe também aosde caráte
r vinculado, con forme
definem Meirelles (zoi5)e Di Pietro (voos). Prosseguem os
autores afirmarido quea falta de motivação, ou seja, da expIi-
citação aos interessados do real motivo do ato público pode
levarà invalidação do referido ato da administração pública,
não podendo esta falar em contraditórioe ampla defesa sem-
pre que venham a ocorrer âmbito do Poder Judiciário, pos-
síveis contestações sobrea efetividade do ato editado pelo
Poder Público.
Princípio da razoabilidade — Com ampla relação conto prin-
cípio da rnotivaçao, este corrobora queo Poder Públicot
obrigadoa mostrara pertinência de cada ato por eleedi-
tado e, por conseguinte,a correspondência deste cont as pre-
visões abstraídas da leie dos fatos concretos que, por sua
ocorrência,o justificame são trazidosà sua apreciação. Se
por ventura n3o ocorrer essa ampla correspondência,o ato
da administração pública pode não serrazoávele sofrer as
contestaçóes previsíveis em lei, não se ndo, portanto, corres-
pondentecont sua efetiva geração.
Princípio da proporcionalidade — No exercício da gestão
pública, os funcionários podem exigir dos cidadãos somente
o indispensávelà realização das suas atividades administra-
tivas com eficiênciae qualidade, sem extrapolar os limites de
bom sensoe profissionalismo.
Princípio da lealdade — Os funcionários, no exercício de suas
funções, devem agir de forma leal, solidária, colaborativae
cooperante, visando preservare assegurara efetividade deste
princípio em relação ao bem comum.
Princípio da integridade — Os funcionários devem agir com
carátere honestidade pessoal em prol da qualidade nos ser-
viços prestados pela administração pública, assegurando que
a integridade dos prestadores de serviços públicose dos seus
usuários seja preservada, sem preconceitos de qualquer natu-
reza,e garantindo, assim,a imparcialidade no atendimento
a todos os interessados.
Princípio da justiçae imparcialidade — Nos serviços prestados
pela administração pública, os funcionários devem tratar de
formajustae imparcial todos os cidadãos, atuando segundo
rigorosos princípios de neutralidadee isenção de preconcei-
tose privilégios.
Princípio da informaçãoe qualidade — No exercício de suas
funçõese atividades, os gestorese funcionários públicos devem
prestar informações e/ou esclarecimentos adequadose lide-
dignos, de forma clara, simples, compreensiva, rápida, sempre
que estes lhes sejam solicitados, proporcionando aos usuários
e aos governadoso acesso apropriadoa tais informações.
Princípio da competênciae responsabilidade — Os funcio-
nários devem agir de forma responsável, dedicadae crítica,
empenhando-se na valorização do interesse em prestar atendi-
mento àsdemandas pelos bense serviços públicos, de tal sorte
que seus beneficiários sejam atendidose entendidos como
osmaiores interessados, visando-se, assim, ao bem comum.
Como mencionamos, os cinco princípios ad ministrativos
consubstanciados nOaF° 37 da CF e na Emenda Constitucional
n. i9/i998 são complementados por esses princípios do segundo
grupo, que se encontram esparsa, porém devidamente apontados
em normas infraconstitucionais cjue regulamentama execuçãoe a
oferta de be nse serviços na gestão pública em todas as suas instân-
ciase esferas de atendimento.
Podemos considerar que, alcm de serem princípios legais, todos
eles apresentam cunhoé tico-moral, pois preceituam aspeetos
vinculados ao exercício adequado de uma função e/ou atividade
que vise ao betn comuni, pressuposto que enibasaa atividade política
formal queé exercida pelo gestor público — ou seja, pela atividade
no àmbito da pólis —, referente ao campo da vidae da a(ão públicas.
Complementando osconteúdos atéaqui expostos, ressaltamos
a consideração de Ber nardi (zoi z) sobrea Lei n.8.¢z9/›9sz (relativa
à improbidade administrativa) no que se refere ao fato de que vem
reforçar os princípios constitucionais da gestão pública, previstos
nO B£t 37 da C F: “assim, os agentes públicos de qualquer nível ou
hierarquia são obrigadosa velar pela estrita observáncia dos princí-
pios de legalidade, impessoalidade, moralidadee publicidade [e efi-
ciência]” (Bernardi, zoiz, p. ryo). Como afirma o autor,a citada lei
apresenta premissas que preservam o interesse coletivo sobre os
interesses individuais, revelando, assim, as garantias constitucionais
e infraconstitucionais que o legitimani.
Nesse contexto, devemos destacar que, embora mao haja ga ran-
tias constitucion aispara que os princípios administrativos de cunho
ético-moral sejam consideradose respeitados nos atose ações da
gestão pública, sua existência legal, mesmo quedeforma implícita,
revelao nível cm que uma sociedade apresenta seus avançose pro-
gressos moraise sociais.
Segundo Vázquez (i986),a relação existente entre os interesses
particularese os interesses coletivosé um dos índices determinan-
tes para revelar se essa mesma sociedade obteve progressos reais
no tocanteà sua eticidadee à moralidade pública, conto indicativo
precípuo de seu progresso moral.

O progresso moral de uma sociedade se mede, em pri-


meiro lugar, pela ampliação da esíerz moral da vida social.
[. ..] em segundo lugar, pela elevação do caráter cons-
ciente livre do comportamento dos indivíduos ou dos
grupos sociais e, por conseguinte, pelo crescimento da
responsabilidade destes ind ivíduos ou grupos no seu
comportamento moral. (...] Índicee critério de pro-
gresso moral é, em terceiro lugar,o grau de artieula-
çâoe de coordenação dos interesses coletivose pessoais.
(Vazquez, i986, p. 45)

Quando deintensa compreender melhor comoa gestâo pública


pode sermu campo fértil para os déficits no âmbito etico-moral, defi-
nir seus princípios constitucionaise infraconstitucionais, conforme
foram aqui elencados,e um avanço consideravel. É, contudo, inegável
que estamos vivemos hoje “uma crise geral do Estado, que busca sua
redefiniçãoa partir da Constituição Federal de !988, que, sem dúvida,
introduziu vários avanços, inas não dirnensionou os instrumentos
necessários para alavancaso progresso alrncjado” (Mirshawka, zoi4,
p.n6). Esse não dimensionamento serefere em especial aos déficits
no atendimento das de niandase à dificuldade de acesso da popuIa-
çãoa servíços públicos de qualidade, que apresentem soluçJao para
os problemas quea afetam diretamente, como osreferentesà saúde,
à educação,à segurança pública, ao transporte coletivo,à mobili-
dade urbanae à sustentabilidade de políticas públicas de relevância,
apenas para citar os mais prementes.
Caracterizada por mu forre paradoxoe por explícitas contradi-
ções entreo existentec o desejado,a gestão ptiblica se encontra hoje
entre conceitose práticas que a restringem apenas àssuas dimensões
burocráticase gerenciais em contraponto aos avanços necessários
que deveriam levá-laa um exercício de cunho mais transparente,
democráticoe participativo. No desempenho de uma gestão parti-
cipativae corresponsável pela elevação da qualidade dos serviçose
demandas em todos os seus aspectos,o atendimento às demandas
da população deveria ocorrer de forma adequadae conforme os
preceitos legaise ético-morais. Corroborandoo exposto, Mirshawka
(zont, p. iry) entende que seria possível

o compartilhamento de responsabilidades, por meio do


diálogo, do debatee do questionamentoe que levem, por
exemplo, ao funcionamento rninimamente adequado da
escola, do hospital público, do transporte coletivo com
seguran(aà população usuária, entre outros aspectos que
permitam acreditar que os princípios da administração
pública não são apenas ditames nas esferas midíáticase
de interesses escusos.

Diante da necessidade de se modificarem as práticas de gestão


da coisa pública, como explica Secchi (zoog), são propostas modelos
para reformas administrativas com forre potencial para mudarema
gestão das organizações públicase suas formas de relacionamento
com seus usuários.A realidade atual apresenta urgênciase possibili-
dades de que essas mudanças sejam efetivadas com sucesso, demar-
cando novos caminhos possíveis, mais éticos com relaçãoà oferta de
serviçose aos negócios da vida pública contemporânea.O mesmo
autor ressalta ainda que, “no entanto, essese outros modelos mais
adequados aos desafios da gestão pública contemporânea poderão
tornar-se também formas de exacerbação da capacidade gerencial
de cunho ético” (Secchi, aoo9, p. pg).
Apesar dos avançose das modificações na gestão pública, deve-
mos estar atentos às possibilidades de manipulação ideológicae
política dessas reformas paradigmáticas, pois nelas podem estar
embutidas intenções manipuladoras, como fragmentos de outras
niodelagcns ma is controladoras, mascarando ações de corrupt.ao,
ncpotismoe dcsignação de cargos por nieio de acordos, conchavos
e favorecimentosa grupose pessoas — como não raro tern aconte-
cido na atual gestâo pública brasileira —,o que se fere as condições
ćtico-morais necessáriasa um adequado governoe a uma boa gestão
da coisa pública em todos os seus níveise modalidades.
De acordo contS ecclii (zoo9), podetuos ídentificar dois modelos
organizacionais — administração pública gerencial (AGP)e governo
empreendedor (GE) —e um paradigma relacional (PR) como alter-
natives ao niodelo burocr.atico de adrnínistração ainda vigcnte na
maioria das gestôes públicas no Brasile como condição de niclhoria
da governança da coîsa pública, de raI sorte que se incorporem pre-
missas de arripliaçáo da efetividadee da eficácia na gestão pública.
Secchi (zoos) explica que o movimento atual da governança
pública se traduz em um niodelo relacional (PR), pois este ofe rece
urna abordagent difcrenciada de conexão entreo sistema governa-
mentale oa nibiente socioculturale político que circunda os gover-
nor, caracteriza ndo, assim, uma efetiva possibi lidadc de enfrenta-
mento dasformas burocráticase tradíciona is que tém rep rescntado,
em todos os seus níveis,a niaioria das gestões pú blicas.
A despeito de seas especificidadese diferenças teórico-práticas,
os trćs niodelos de gestâo pública de finidos por Secchi (zoog) —a
AGP,o G iie o PR — podem acontecer de forma cumulativa na ges-
tâo pública conternporànea, caracterizando-se pelas niudanças do
papel do Estadoe de snas formas de governar. Essas três formas de
organização da gestăo públicaexigem práticas, princípiose valores
ma is condizentes cont as demandase evidênc ias delineadas nos
contextos organizacionais conteniporaneos, nos quaisa figura do
cidadáo ativo torna-se ma is presence em interlocuçõese na urgćn-
ciade se apresentar em maior conformidade conta distribuição de
responsabilidades entre os que governanie os que sño governados.
Säo demandas que exigem que tars relações não ocorram mais em
níveis de subserviência absolrtta, mas sejarn efctivadas mediante
uma postura ativa do cidadão em face do Estadoe de suas diferentes
modalidades de exercício da governança da coisa pública.

.3 MOYOlidOde pÉbliCOe OdministYOtivO


e a questão da transparência ito setor público

Em conformidade com os dispositivos constitucionais,o serviço


e a atividade pública são incumbências do Estadoe estão relacio-
is4 nados ao Poder Público.A CF, em seu Título III, CapítulosI a VI,
trata da organização político-administrativae suas prerrogativas,
considerandoo papele as incumbências de cada ente federativo.
Em seu Capítulo VIII, trata da organização, das responsabilidades
e dos procedimentos da gestão pública, afirmando serem estes da
ordem do Estadoe do Poder Público,
Assim, constitucionalmente,a criaçãoe a oferta dos ser viços
públicos cabem ao Estado, que deve assumira execução de ativi-
dades que sejam de relevância paraa população. Diferentes órgãos
organizam-see são responsáveis pela gestão, criação, execuçãoe
aplicabilidade dos serviços de cunho público, vinculando-se às ações
e atitudes daqueles que exercema função pública, como gestores e/
ou funcionários.

Di Pietro (zoiz) explica que a criação de serviçose atos públi-


cos que se direcionem ao bem comumeà prestação dos serviços
constitucionalmente definidos em prol da população sejam de
incumbência do Estado, devendo-se considerar que:

Em regra,o pessoal se submete ao direito do trabalho,


com equiparação aos funcionários públicos para deter-
minados fins, os contratos com terceiros submetem-se,
em regra, ao direito comum, osbens não afetadosà reali-
zação do serviço público submetem-se ao direito privado,
enquanto os vinculados ao serviço têm regime seme-
lhante ao dos bens públicos de uso especial;a responsa-
bilidade, que até recentemente erasubjetiva, passoua ser
objetiva com a norma do artigo j7,§ 6z, da Constituição
de ig88. Aplica-se tambémo direito público no que diz
respeito às relações entrea e unidade prestadora do ser-
viçoe a pessoajurídica política que a instituiu. (Di Pietro,
* !* - 78)

Portanto,a organização do Estado,a cria(âo de atose a prestação


de serviços públicos sfio de ordem constitucional, não estando isen-
tos dos juízos de ordem ético-moral, por serem vinculadosà gestão
da respv blica, colocada em prol do bem comume doatendimento
a um maior número de sujeitos. Desdeo período clássico grego,a
ordem pública vincula-se às condições da vida na pólis, sendo nela
que se estabelecem relaçõese inter-relações que definem limites,
obrigaçõese responsabilidades que cabema todose a cada um, em
sua condição de cidadãos ativose partícipes, envolvidose corres-
ponsáveis pela boa governançae pela sustentabilidade da gestão da
coisa pública.
Essa vinculação entrea ordem constitucionale a vida na pólis
pressupõea ordem ético-moral, que avalia as relações estabelecidas
entrea moralidade vivenciale a moralidade pública, exigindo trans-
parênciae práticas de avaliaçãoe controle pela coletividade sobre as
condições de sua execução.
Parafraseando Giannotti (i99z, p. zqq), entendemos quea mora-
lidade públicae administrativa consiste em tinta esfera da qual todos
nós participamose que cada sistema moral,a fim de revelar sua per-
tinência, precisa ser confrontado por outros, pressupondo-se que
todos os sujeitos sejam incluídos em seu âmbitoe estabelecendo-se
regras de convivênciae direitos que assegurem aosenvolvidos formas
para verificar, avaliare vivenciar seus sistemas de valores, de modo
quepossam serquestionados quando nccessárioe adaptados para
possibilitara convivênciae a participação coletiva na vida pública.
Disso c4ecorre que o exercício do princípio da moralidade pública
c administrativa, em face dos desmandos de ordem políticae eco-
nómica na contemporaneidade em todos os níveise instàncias da
vidae rir sociedade, constitui-se em um dos grandes desafios paraa
sociedade internacionalizada do terceiro milênio, trazendoa neces-
sidade de reflexôes sobre os vários aspectos envolvidos nesse tema.
Os impactos decorrentes da celeridade com que se desenvolvem
o indivíduoe as sociedades no período contemporâneo suscitam
inúmerose necessários questionamentos sobrea organização do
Estado,a criaçãoe a prestação de serviços públicos na ordeinestatal,
regida pelos preceitos constitucionais de cada país.A promulgação
da CF de 1988 no Brasil trouxeà tona princípiose premissas legais
das rurais diversas naturezas, tentando-se abarcar cm suas deter-
minaçõesa totalidade dos amplos aspectos da vida em sociedade
e deixando-se iniplícitos aspectos de orderir ético-moral que, em
legislações complementares, foram de alguma forma contemplados.
Apesar da vigência da CF de 1988e da constante adequação
das leise das normas legais, nâo é ainda possível afir mar de modo
incisivo sobre sua aplicabilidade. Porém, vale lembrar que com o
fcnômcno contemporâneo da celeridade da informaçâoe da comu-
nicaç.ao, exige-se que seu cumprimentoe desdobramentos sejam
regulamentados pelas estruturas administrativas do Estado, para
que seus efeitos na vida em sociedade possam seravaliadose suas
consequências na vida pessoal, profissionale política dos sujeitos
possam sermensuradas de forma niais adequada. Certarnente, lais
efeitose conseqtiéncias se revelar3o em algum inomentoe iinp1icar.ao
a necessidade de análisese reflexões mais aprofundadas, de forma
etícaniente situada.
A conduta da ação se reflete na pr.atica da moralidade, cujos
princípios são normativosc revelados pela conformidade ou não
aos bons cosrunies, relacionando-seà virtude (arrte) do cidadáo
ético, que vive em sociedadee ncla pretends exercer essa condição
do bem viver pessoale coletivo.
A ação estatalé norteada por diversos princípios,e a adniinistra-
çáo pública, em snas diversas instáncias (federal, estaduale munici-
pal), constitui-se no instrumento de base do qualo Estado dispõe
para dar consecuçào às deniandas da populaçãoe executar as prio-
ridades do governo, demonstrando, assim,o gran de aderência do
interesse públicoa essas açôese revelando também seestas esrão
em acordo com o querer da coletividac4e.
Isso, por si só, revelaa imperiosa necessidade de quea admi-
nistração pública atue em consonância corn os preceitos da ética
pública e, nesse sentido,a legalidade,a veracidadee a transparência
sáo mementos constitutivos de todos os morncntos da tomada de
decisñoe da iniplernentaçño das ações planejadase executadas, em
qualquer teiiipoe em qualquer lugar.
O princípio da legalidade ć, sem dúvida, um dos ma is deter-
minantes para que o gestor público atue com sabedoria pruden-
tial (yhrónesis) em sua conduta administrativae tarnbém para que
garantaa execuçáo da titularidade dos direitos inalienáveis do
cidadáo de participare ser informado das ações de sua gesrão. to
entanto, esse não é o úníco aspectoa se considerar — embora sedes-
taquc quando setrata de pensara eticidade administrativa de acordo
com os princípios legais que a regen —, poisa presença desse prin-
cípio na conduçâo da gestño da red puôfirti faz ciiiergir aspectos de
respeito aos direitos fundanaentais daqueles que executama gestfio
Os termos ética, morale moralidade abrangem diferentes con-
ceitos, que serão esclarecidos nesta obra. Como você teráa oportu-
nidade de vernas páginas seguintes,a éticaé uma ciência reflexiva
sobreo agir humano, sobo ponto de vista da moral (Vázquez, 986).
Jáa moral se refre ao conjunto de princípiose normas de determi-
nada sociedade ou cultura.A moralidade, por sua vez, consiste na
qualidade da ação prática do sujeito com relação aos princípiose
normas morais vigentes.
A ética está presente em todos os ambientese situações profis-
sionais. Nesca obra,é analisadaa relação entrea éticae a gestão
pública, assim comoa diversidadee a aplicabilidade dos conceitos
de ética nesse complexo campo da ação humana.
O cotidiano vivencial demonstra que, na história da sociedade,
a tecnologiae a ciência são agentes transformadores das ações
humanas. Considerando isso,a autora busca descrevera evolução
e o desenvolvimento do pensamento ético ao abordara questão da
ética nos diversos períodos da história da humanidade, desdea
Antiguidade Clássica aos tempos contemporâneos.
No tratamento do assunto deste livro, ganham destaque os prin-
cípios da administração pública previstos no art.37 da Constituição
Federal de ig88 (Brasil, i988), quais sejam, legalidade, impessoali-
dade, moralidade, publicidadee eficiência, os quais devem estar
na base do monitoramento dessa instância administrativa. Tais
princípios, associados aos demais conceitos examinados nesta obra,
constituem-se em excelentes diretrizes paraa atuação dos profis-
sionais da áreae têm o condão de conferir sustentação éticae legal
às ações dos gestores públicos.
O texto contempla, ainda, questões relacionadasà éticae à res-
ponsabilidade social que, aliadasà discussão de temas como gover-
nançae sustentabilidade, demonstrama relevância do comporta-
mentoé tico dos governantese dos demais gestores públicos.
Com isso, podemosa firmar quea peculiaridade desta publicação
estfi na forma comoo assunto centralé conduzido, com incursões
pública, os gestores, funcionáriose servidores públicos,e daqueles
que sofrem seus efeitos na vida cotidiana.
Com a edição da Lei n.iz.5›7, de i8de novembro de zon — Lei
de Acessoà Informação (Brasil, zoi i), despontaa necessidade de
serem instituídos mecanismos de controle sobrea gestao pública em
todos os seus níveis (federal, estaduale municipal), embora ainda
existam grandes dificuldades de participação, acompanhamentoe
avaliação das ações da gestão pública pela sociedade, em decorrência
de vários fatores, entre elesa falta de informaçãoe desconhecimento
das c]uestões básicas do funcionamento do Estadoe do governo da
i$8
coisa pública.
Dianre de tais constatações, surgem no Brasil organismos que
passama integrara estrutura estatal, aliadosà condição de provedo-
resde informações sobre as ações da gestão pública, visando prover
o cidadão das devidas informações sobrea condutae as ações dos
gestores públicos em uma ampla rede de agênciase instituições de
fiscalização, avalia(ãoe prestação de contas (accot‹ntabifit)'). Define-se,
assim,a necessidade de avaliação, acornpanhamentoe controle das
açõese dos atos públicos, contando-se tan beiii conta colabora-
ção imprescindível dos órgáos que compõema estrutura do Poder
Judiciário, conto os Tribunais de Contase o MinistórioPúblico, na
condiçaõ de sistema de controle interno dos poderes.
Assim, mediantea atuação de tais instâ ncias de controle,o prin-
cípio da transparência, ao Iado do princípio da legalidade, permite
e estimulao exercício da necessáría cidadania ativa, conto acesso
da população às informaçõese com a compreensão efetiva sobre
tais ações, estimulandoo exercício do adequado controle social dos
âmbitos administrativose dos atose ações públicas.
Ao nos referirmos aos princípios da legalidadee da transparên-
cia dos serviços públicos, podem surgir questões afins, tais comoa
importância de poder distinguir os âmbitos de aç.aoc avaliação da
moral social, que se caracteriza pela unilateralidade de suas normas,
dos 5rnbitos da moral legal, que se distingue pela irnposiçño de leis
c normas que definem os direitosc os deveres da vida ent sociedade.
Conforme asproposiçôes apresenradas pelos escudos de Cruz
(zoo6)e Figueirêdo (zooo),a ruoralidade, coino uni principio expli-
ciao da gestào pùblica, deve conduzir ao entendimento de que, além
da conformaçào às leis,o gestor pùblieo deve obediênciaà moral
legale pùblica,o que iniplica açöes de acordo com aquilo queo senso
comuni define como honestidade.
O cxercicio da gestäo pùblica, em conformidade com a moral
lcgale pÉiblica, esta ent interface constante conto que se pressu-
pöe ser cssencial ao cxercicio da cidadania ativae plcna, sendo esra
tanibein de dupla proposiçào.A primeiraé derivada de açöes dos
niovinientos sociais, que, por stia abrangência, encampamo conceito
clàssico de titularidade dos direitose a consolidaçào dos pressupos-
tos da deniocracia ativae efetiva (Rodrigues, zoo8; Chaui, 99^)-
A segunda relaciona-se conto republicanisino classico, no qual se
expressaa preocupaçfio com a res puhfic‹i. Revela-se nm preocupante
desconl ecirnento da populaçäo em relaçäoà primeira proposiçâo —
que se rcfereà titularidade dos direitos e, consequenternentc, dos
deveresa serem cumpridos por todos aqueles que, de algum modo,
sejarn de les titulares —, devendo-se entendez, ent.ao, que é necess.a-
rioo constante aprimoraniento desses mesmos direitose deveres.
Nesse contexto, acreditamos serrelèvende destacar que as coi-
diçöes deficitàrias de entendinie nto sobrea cidadania näo s3o des-
conhecidase que isso se relaciona, entre outros aspectos, ao baixo
nivel de escolarizaçfio da populaçäo, conforme os resultados de
pesquisas realizadas, que indicam alto indice de analfabetismo fui-
cional da populaçño brasileira. Isso mosrrao quanto temos aindaa
avançar no caminleo da construçào da cidadania ativae a aprender
pelo caniinho.
Segundo WeÍfort (zooo, p. 62), Emmanuel Kane (*72a-i8o4), nut
dos autores clássicos do pensaniento político da sociedade ociden-
tal, apresentou alguns aspectos do que seria primordial ao apren-
dizado do exercício da cidadania ativa, destacando, em primeiro
lugar,a questão da autonomia, pela dualo sujcito tern capacidade
de conduzir-se seguindo .seu próprio livre-arbítrio; em segundo
lugar,a igualdade perantea lei; e, em terceiro lugar,a independéncia,
ou seja,a capacidade de os sujeitos se sustentareme se garantirem
livrese independentes no 3rnbito pessoal, profissionale sociopolítico.
Lenibranios que soniente são possíveis do julganiento ético-moral
as ações que forem executadas niediantea livre decisfio do sujeito
e a lib'erdade para deliberar sobre quais sáo seus deveres, cont base
na consideraç fio efetiva de seus direitos.
John Stuart Mill (i8o6-i87s),outro autor clássico do pensamento
político ocidental, pressupõe dnas categories paraa cfetivação da
cidadania:a de cidadão ativoe a de cidadáo passivo. Mill (ig8i) afirma
que os governances, de modo geral, preferem os passivos, pela ausên-
cia de contestaçño que os define, sendo, poréin, importance que
se façam presences os da priineira categoria conio fundamentais
aosprincípios de vivência democráticae republicana, que tern seus
fundamentos primordiais de existência da cidadania na presença
da açáo responsávele crítica.
Reforçaruoso exposto afirmando que, quando não hå participa-
ção efctiva, niinorias corn niaior expressfio social, políricae econô-
mica sefazeni repressntare deterrnínarn os encaminhamentos dos
negócios da vida pública (a vida na pólis), referendando tambéni os
negóciose as inståncias econòmicase legais, ou seja, as instâncias
que se relacionam diretarnente cont as lets que regema vida pública
țnoin5s).

Ą., Lei a. 12.S>7/> — aspectos ético-moraise as


relaçòes com o Programs Brasil Transparente

Lei n.iz.b27/sort abrange órgáosc entidades da esfera pública


e de todos os poderese entes da federação, aplicando-se também às
entidades privadas sem fins lucrativos que recebani recursos públi-
cos. Uma das premissas fundamentais dessa lei, seguindo tendência
internacional (mais de 9o paísesjá apresentam leis dessa natureza),
é a de que o acessoà informal.ao deve sera regra; assim, as exce-
ções seriani feitas em face de qualquer forma de sigilo que possa se
apresentar nos atose rias ações de órgãos públicos. Ou seja, todae
qualquer informaçño gerada por essas cntidadese órgfios públicos
que nâo seja de caráter sigiloso (assim definida em nome da segu-
rança nacional) deve seracessívela todos os indivíduos que por ela
tenhame denionstrem qualquer nível de interesse.
De acordo com o art. q°, inciso I, dessa lei, as informações são
”dados, processados on nâo, que podem serutilizados para produção
e transmissâo de conhecimento, contidos em qualctuer nieio, suporte
ouÉoniao(Dzsİ,1oi1)AŸmdso,ronÊomtoat °dzmesma
lei: “É dever do Estado garantiro direito de acessoà informação,
que será franqueada, niediante procedimentos objetivose ágcís, de
forma transparente, clarae em linguagein de f5ciI compreensâo“
(Brasil, zoii).
Cont base em tais preniissas legais, entendemos serdever do
Estado garantiro acessoà informação pública, poisa publicidade
de atose ações públicasé preceito legal,e o sigilo, nesse contexto,
seria apenas nuta exceção. Assim, essas inforrnações devem serfran-
queadas aos cidadãos senipre de forma clara, ágil, transparentee
de fácile rápida compreensfio, sendo suagesrão aspecto primordial
paraa atualizaçúoe a abertura das ínforinaçöes aos interessados,
sem defender de solicitação prévia dos órgäos estatais.
A negação de uma informação deve sempre sermotivadac acom-
panliada da idenrificação da auroridade quea classificou conio não
acessívele da indicaçâo aos requerentes sobre prazose condições
para interposição dos recursos cabíveis, designando-se tambéma
quais órgfios devem estes ser dirigidos.
Ainda, conformeo disposto na Lei n. iz.5z7/zoi i, temos que:

Art. s°O acessoa informações públicas será assegurado


niediante:

I — criaçâo de serviço de informaçóes ao cidadáo, nos


ótgfiose cntidades do poder público, em local com con-
di(óes apropriadas para:
a)a tendere orientaro público qua nto ao acessoa

b) informar sobrea traniitaç3o de docunaentos rias suas


respectivas unidades;
c) protocolîzar docunientose requerimentos de accsso
a inforniações;e
II — realização de audiências ou consultas públicas,
incentivoà participa(.ao popular oua outrasformas de
divulgaçâo. (Brasil, now)

Cont relaçîao às incunibências cabíveis .a açño da autoridade


responsável pelas infornia(ões que devam sertornados públicas,a
niesnia lei determine em seu art. go:
Art. 4o. No prazo de 6o (sessenta) dias,a contar da
vigência desta Lei,o dirigcnte max into de cada órgâo
one ntidade da administraçâo pública federal diretae
indíreta designará autoridade que lhe seja diretamente
subordinada para, no ânibiro do respectivo órgão ou
entidade, exercer as seguintes atribuições:

1 — asseguraro cumprimento das normas relatives ao


acesso .a informaçJao, de forma eficie ritee adequada aos
objetivos desra Lei;
II — rnonitorara iniplenie ntação do disposto nesta
Lei e ap resentar relatórios periódicos sobreo seu

III — recomendar asmedidas indispensáveisà implemen-


taçaoe ao aperfeiçoamento das normase proccdimcntos
necess.arios ao correto cumprimento do disposto nesta
Lei;e
IV — orientar as respectivas unidades no que serefere ao
cuniprimenro do disposto nesta Leie seus regulamentos.
(Biasil, zoii)

A Lei n. i2 S^7/° ii traz defini(ões quantoà responsabilidade de


servidores civise militatese de terceiros, referindo-sea oito novas
condutas ilícitas, aplicáveis tambéma niilitares,e definindoa pena-
lidade niínirna de suspensãoe a penalidade disciplinar, que pode ser
cumulada com um processo civil por iniprobidade administrative.
Os denominados terceiros (pessoas físicas on jurídicas) podem ser
penalizados cont rescisào do vínculo com a adrninistraçăo pčiblica se
n.ao observareni os preceitos da Lei n. i2.5zy/zoii,e a administraçño
indenizarå possíveis danos decorrentes da divulgação não autorizada
on da utilizaçño indevida de inforniações sigilosas on pessoais que
não possam sertornadas públicas.
Com base no exposto,é relevante desracarmos os aspectos
ético-morais que permeiam aspremissas legais. Estes se relacio-
nam com os valores de civilidade, respeito mútuoe preservação da
ordem legale requeremo estabelecimento de relações de confiança
e confiabilidade, as quais, conforme define Montoro Filho (zoiz),
podem sertraduzidas como prudentese necessáriasa toda ação que
se vincule aos fatos gerados pela gestão pública. Portanto,

A confiança [ea confiabilidade náo se constituem em]


um bem que possa serfornecido apenas pelo livre jogo
i6d-
das for(as de ofertae procura dos agentes privados. [...]
Regras de conduta,e em especial regras de prudência,
regula(ão prudencíal, sfio necessárias,e eficiente super-
visão de entidades governamentaisé indispensável.
(Montoro Filho, zoiz, p. 67)

Não resta dúvida de quea maior legalizaçãoe uniformização


das informaçõese da transparência sobre os atos da gestão pública,
em qualquer de suas esferas de poder, vão ao encontro das deman-
das atuais da sociedade e, para isso, não são necessários grandes
investimentose recursos financeiros de alta monta, mas respeito aos
princípios democráticose republicanosjá contidos na Constituição
Federal, na qual estão previstoso direitoà informaçãoe a obrigato-
riedade de transparência dos atos da gestáo pública.
Ressaltamos as disposições contidas nos arts 5º, 3ie i65 da CF,
que tratam da transparênciae do controle social sobre os atos da
administração pública:

Art. 5º [...]
XXXIII — todos têm direitoa receber dos órgãos públi-
cos informações de seu interesse particular, ou de inte-
resse coletivo ou geral, que seráo prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível .a segurança da sociedade
e do Estado.

Art. 3i. (...]


§ 3º OS COntas dOS MU lxic íp tos ficardo, durante sessenta
dias, anualmente,à disposição de qualquer contribuinte,
para examee aprecio(ão,o qual poderá questionar-lhes
a legitimidade, nos ter ri os da lei.

Arr. i65. (...]


§ 3ºO Poder Executivo deverá publicar, até rrinta dias
apóso encerramento de cada bimestre, relatório resu-
tzzido de execução orçamentária. (Biasil, !988)

Mas o dispositivo mais relevante da CF é certamenteo art. 3},


que voltamosa citara seguir: “A administração [gestão] pública
diretae indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados,
do Distrito Federale dos municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidadee eficiência [.. .]”.
Essas premissas constitucionais, se levadasà prática efetiva,
são indicativos definidores do progresso moral da sociedade, pois
se refletem nos avanços dos níveis de relações existentes entre os
interesses públicose privados. Se inpre que avanços dessa natureza
ocorrem, definem-se mudanças nosvalorese nos princípios que nos
caracterizam como cidadãos ativos. Práticas voltadasà garantia do
acesso às informações emanadas dos poderese da gestão pública
refletem-se na ampliação do acesso aos direitos, em especial, àqueles
que são imprescindíveisà efetividade da moralidade pública.
Nesse processo de ampliação das esferas de avaliaçãoe con-
trole, de deverese direitos da cidadania, surgeo Programa Brasil
Transparente, especificamentevoltadoà aplicação da Lei i2 5°7/zon.
Trata-se de um excelente mecanismo de controlee avaliação dos
processos de acessoà informaçãoe do direito dos cidadãosà trans-
parência nos negócios públicos no país, estando ambas assituações
previstas em texto constitucionale em outros dispositivos legaise
normativos, entre elesa LRF (Brasil, zooo)e a Lei da Transparência —
Lei Complementar n.3 de i7 de maio dez 9 (Brasil,2°°9)
Com a promulgação dessas legislações,o Brasil passaa oferecer
aos cidadãos garantiase direitos de amplo acessoa todose quaisquer
documentos e/ou informações emitidos pelo Estadoe que por ele
sejam custodiados, desde que não estejam protegidos por sigiloa
bem do serviço públicoe não sejam de caráter pessoal.
No portal do Ministério da Transparência, Fiscalizaçãoe
Controle, informa-se que esses princípiose determinações de
ampla transparência são de cumprimento obrigatório para todos
os entes governamentais da Federação brasileirae que, se neces-
sário,a Controladoria Geral da União (CGU) poderá auxiliar no
cumprimento dessas determinações legais (Brasil, zoi6).
Conformeo art. z° da POf taria n. i77. de 7 de fevereiro de
2O!3 (Brasil, 2O'3).editada pela CGU,o Programa Brasil Transparente
apresenta os seguintes objetivos:

1 — promover uma administração pública mais transpa-


rentee abertaà participação social;
II — apoiara adoção de medidas paraa implementação
da Lei de Acessoà Informa(ãoe outros diplomas legais
sobre transparência;
III — conscientizare capacitar servidores públicos para
que atuem corno agentes de ruudan(a na implementa(.ao
de uma cultura de acessoà informaç.ao;
IV — contribuir parao aprimoramento da gestáo priblica
por meio da valorizaçiao da transparência, acessoà infor-
niaçJaoe participação cidad*a;
V — promovero uso de novas tecnologiase soluções cria-
tivase inovadoras para abertura de governose o incre-
mento da transparênciae da participação social;
VI — disseruinara Lei de Acessoà I nformaç3oe estiniu-
laro sen uso pelos cidadaos;
V II — incentivara publicaçao de dados em forniato
aberto na internet;
VI II — promovero intercâinbio de informaçõese expe-
riências relevantes ao desenvolvimentoe à promoção
da transparência públicae acesso *a informação. (Brasil,
*8!3 -)

As açõese os serviçosa serem oferecidos, no âmbito do programa,


ao público interessado são também explicitados nessa mesma deter-
mina(ão da CGU, noart. e°:

Art. q°O programa Brasil Transparente oferecerá, entre


outras, as seguintes ações:
I — realização de seminários, cursose treinamentos sobre
Transparênciae Acesso .a Informaçao, presenciaise vir-
tuais, voltadosa agentes públicos;
II — utilizaçño do sistema eletrônico do Servi(o de
Informaç.ao ao Cidadfio (e-SIC);
III — elaboraçãoe distribuição de material técnicoe
orientativo sobrea Lei de Acesso à Informaç.aoe outros
diplomas legais sobre transparência;
em conceitos históricose reflexões sobrea éticae sua aplicabilidade
na årea da gestão publica, sobrea qual se propõem questionanientos
necessáriosa um melhor entendimento da atuação do gestor público
em prol da boa governançae dos benefícios aos seus governados.
Esta obra forescrita cont base rias experiênciasp rofissionais
da autora, em especial em órgâos públicos, bem conio na gama de
conliecimen tosadquiridos sobrea érica nos vários canipos da açño
humana, con figurando-se assini, o per fil exigido paraa abordageni
de um tema tãocomplexo. Cer tamente, os concertos apresentados
podem contribuir parao aprofundaniento dos conhecimentos dos
lcitores sobrea temática, independentemente de sua årca de atuação.
Dcsse modo, fazemos votos de que esta obra seja lida quantas
vezes foreni necessarias atć que dela seja extraídoo entendimento
essencial acerca dos pressupostosć ticos adequados ao aprimora-
mento da gestäo púb'lica contemporânea, em suas consequências
direraniente relacionadas com a construçãoe o exercício de urna
cidadania ativa.
O terna é presents. Estudå-loe conipreendé-loć primordial na
realidadc contempor3nea.E a vivćncia das premissas ćtico-morais
na açáoc na gestão pública ć,a cad a dia, mais urgente!

tou too-ae In Ciê ticias]u rid icu s.


IV — promo(ão de campanhase ações de disseminaç.ao
da Lei de Acessoà I nforniação juntoà sociedade;
V — orientação sobre os requisitos parao desenvolvi-
me rito de Portais de Transparência na rede mundial de
computadores — internet;
VI — outras atividades correlatas. (Brasil, zoi3)

Quantoà nfio aplicação dos dispositivos legais relativos ao tema,


a Lei n. 8.i iz, de ii de dezembro de 9s° (Brasil, i99o), embora
i68 seja tima normativa legal anteriorà Lei de Acesso .a Informação,
já previaa possibilidade de responsabilizar civil, penale adminis-
trativamenteo servidor público que ferisse, de alguma forma, suas
responsabilidades públicase n.ao cumprisse as determinações legais.
Assim, temos que:

Art. izi.O ser vidor responde civil, penale administra-


tivanjenre pelo exercício irregular de suas atribuiçôes.
Art. izz.A responsabilidade civil decorre de ato omissivo
ou colnissivo, doloso ou culposo, que resulte end prejuízo
ao erario oua terceiros.
Art. 123. responsabilidade penal abrange os crimese
contravenções impuradas ao servidor, nessa qualidade.

Art. izq.A responsabilidade civil-administrativa resulta


de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho
do cargo ou função.
Art. iz9. As san(ões civis, penaise administrativas pode-
râo cumular-se, sendo independentes entre si. (Brasil,
Medidas dessa ri:itureza convocam os sujeitosa exe rcer sua
cidadania de forma ativae participante, inforusando-sea respeito
dos problemas de âmbito público,e pe rm item entrevero cnn ho
ético-moral envolvido na questão, mesmo quedemodo tíniido, obje-
tivando-se, de algum modo, divulgar os aspectos determinantes da
vida nap ólis.
Os novos papéis que as gestões públicas, em suasd ifercntes ins-
t.ancias, precisam desempenhar remete rirà necessidade de redefinir
os espaços, os tempose asrelações de poder da burocracia estatal,
redefinindo -setambém, consequenre mente,a funç.ao publicae seus
desdobramentos na vida em sociedade. Essa redefinição espaço-tem-
poral do Poder Público possibilita que se constituam agendas públi-
cas de m aior impacto, as quais conduzam .a ampliação tanto da
formação política do cidadão quanto da formação profissional do
ser vidore do gestor público.
A ericidade necessária parao a lcance desses novos níveis de
formação exige que se superern os âmbitos corporativose sectá-
riosa inda presentes nos servi(os públicos do paíse também quea
discussão seja remetida aos âmbitos adequados, gerando-se debates
e posicionamcntos que entrevejamo real espaço daquele que sepro-
yõea atuar na gestão da coisa pública. Esses debatese discussões
revelam um entendimento rir ais transparente sobre os significativos
impactos que a melhoria dosí ndices de formaçãoe educação dos
sujeitos envolvidos pode trazerao conjunto das açôcs decisórias
no àmbito governamentale evidenciam ;t necessidade de urna nova
visão da gestão pública.
Esse impulsoà t ransparênciae à participação, bem comoà avalia-
ç.ao dos setores da gestfio pública estatal, for talece as agendas refor-
mistase modela práticas coletivase cor responsáveis para articular
verdadeiras mudanças na esfera governa mentale na esfera das res-
ponsabilidades coletivas dos cidadãos para com o aprimoranic nto
ético da gestão da coisa pública.
O desenvolvimento de uma sociedade democrática supõea cons-
truçãoe o reconhecimento efetivo da presença de sujeitos de direitos
e de deveres, entendidos como cidadãos da pólis, sendo relevante
entender que "onúcleo da modernidade ocidental implica na amplia-
ção das esferase do rolde direitos do homeme doscidadãos, como
decorrência do surgimento dos direitos políticos sociais, civise cul-
turais”, segundo Rodrigues (zoo8, p. too).
Nesse contexto,é preciso compreendera cidadania como pro-
duto de histórias vividas pelos grupos sociaise pelas sociedades;
não se trata, pois, de algo dado, mas de algoa ser construído como:
• um produtoe um processo constituídos por diferentes tipos
de direitose instituições;
• uma aquisição conscientee livre,
• uma conquista.
Portanto,é necessário superar as concepções restritas de demo-
cracia como mero regime políticoe de cidadania como medo exer-
cício dos direitos civis (p. ex. liberdade de ire vir)e dos direitos
políticos (p. ex. votare ser votado), como explica Rodrigues (zoo8).
Uma compreensão mais ampliada de ambas, segundo Rodrigues
(zoo8), exige que se estendam osolhares para concepções mais ade-
quadas aos desafios da contemporaneidade, entendendo-sea demo-
cracia como uma forma de sociabilidade que penetra em todos os
espaços sociaise a cidadania como uma conquista significativae
constante de direitose deveres sociais, qualidade de vida, equidade
e participação. Nesse contexto se verifica uma relação estreita entre
os direitos individuaise os direitos coletivos, entre os direitos civis,
políticos, sociais, econômicose culturaise os deveres que lhes são
correlatos — entendidos todos como direitose deveres humanos
fundamentais parao surgimento,o desenvolvimentoe a manuten-
ção permanente da cidadania ativa, na qual todose cada um sáo
conconiitantemente rcsponsáveis por manner tais direitose possi-
bilidadese por ctimprir tais deverese responsabilidades, em urna
siruaçño desafiadorae insrigance que possibilitaa adesãoa práticas
transforniadorase emancipatórias dos sujeitos.
Essa cidadania ativa revela-se pela presença de novos atores
sociais, de novos olharese de enfoques mais situados sobrea reaIi-
dade dessa sociedade seletiva, excludentee regulada, apresentando
niecanismos de regulaçãoe fortes determinações exógenas aos reais
interessese modos depensare de agir dos sujeitos que a compõem.
Segundoa proposição de Rodrigues (zoo8), isso denionstraa neces-
sidade urgentc de que esses sujeitos, entendidos como cidadãos reais
e ativos, possani acoinpanhare avaliar com maior visibilidadea
qualidade de oferta dos serviços públicos.
Conforme propõeS ouza (zooi), no desenrolar do contexto his-
tórico, chegamos aosa nos zooo com expectativas de novos enfo-
quese ações que perniitan efetivas niudançase transforinações,
principalmente no tocante ’u gestão pública. Em razão do impacto
de novas tecnologias, do acesso às informaçõese da anipliaçáo das
esferas de participaçfio dos sujeitos na vida da pólis, esses novos
enfoques vćni se consolidando como reforniadores das pråticas ges-
toras, buscando-se construire reconstruir capacidadese responsa-
bilidades na gcstâo coridiana dos negócios da vida pública, tanto de
seus gestores como daqueles que usufruem/sofrem os efeitose as
consequências das referidas açôes, sendo afetados e/on beneficiados
pelos atos adniínistratívos; constittiein-sc assim novas modalidades
de ações no àmbito púlolico.
Nessa dimensão reformadora, precisam estar presentes, segundo
Souza (zooi), três pilares:a gestão pública,a sociedadee o governo,
!7*
que se constitueme se imbricam, envolvendo os diferentes atores
políticose a presença do Estadoe da sociedade civil em seus desdo-
bramentose consequénciase apontando paraa necessidade de uma
gestão mais eficiente na realizaçãoe na oferta dos serviços públicos.
Dessa maneira, seja pelas novas formas de exercício da gestão
pública, seja pelas novas formas de organização da sociedade civil —
mais consciente de seus poderes de acompanhamento, avaliaçãoe
controle (nccountaôifiíJ) —, têm sido alargados os espaços de par-
ticipação na tomada de decisão sobre os negócios da vida pública.
Essa modificação nas formas de participação, embora não esteja
acima das questões ideológicas,é forma incontestável da outorga
de podere das responsabilidadese requera explicitação transpa-
rente dos objetivose metas das ações que se consolidam nos novos
jeitos de constituiro papele o exercício da cidadania ativa em face
da gestão pública.
Assim, entendemos que tais aspectos suscitama reflexão sobre
as relações entrea éticae as novas formas de gestão pública, que,
por diversos fatores, apresentam-se como passíveis de descriçãoe de
prescrição sobre sua adequabilidade, transparênciae sustentabili-
dade, com a finalidade de se avaliarem os limitese as consequências
de suas ações sobre as pessoase as sociedades.
Ao serem expostos aspectos concernentes ao tenta da gest.ao
pública em suas relações corri os princípios constitucionais, interessa
ressaltar que o estudo da ética na gestão dos negócios do listado
deve serentendido cornoo conjunto de reflexões sobrea pertinência
dos princípios que regem asações do gestor público. No exercício
da gestão pública, conta-se tambem, atualmente, com algumas leis
específicas para que seja possível estabelecer vínculos entre esse setor
e os cidadãos, entre as quais, est.aoa Lei da Transpare ncia,a Lei de
Acessoà Informaçãoc a Portaria n.i77/2O!3.
Neste capítulo, ressalramos que, peloa« 37daCF,definem-se
os quatro princípios determinantesa serem considerados na busca
da eticidade da gestão pública, sendo eles os princípios da legalidade,
da impessoalidade, da moralidade, da publicidade. Tais princípios
são coniplerne ntados pelo princípio da eficiênc ía, tornando-se por-
tosbasilares para norteara conduta administrativa em todas as
instânciase esferas administrativas (federal, estaduale municipal).

i. O termo uccoiinfnbifitJ (ser responsavel e responsabiliza-


do concomitantemente) define-se pela necessidade de que
a gestao pública seja exercida de tal forma que os cidadãos
possam:
a. apenas exprimiro que desejam.
b. ficar alheios aos atose ações do Poder Público.
c. cumprir apenas os preceitos constitucionais de deveres
e de direitos.
d. cumprir os princípios democráticos de corresponsabiIi-
dade pelos procedimentos de acompanhamento, avaliação
e controle dos servíçose dos atos públicose responsabili-
zar-se também pelos resultados deles decorrentes, como
agentes da cidadania ativa.
e. exigir seus direitose apenas eles.
z. Segundo o art. 9º da Lei de Acesso à łnforrnação (Lei
n. izS87/2oii), temos que:

Art. s°O acessoa informações públicas será asscgu rado


niediaiite:
I — criação de ser viço de inforniaçóes ao cidadáo, nos
órgáose entidades do poder público, em local cont coi-
dições apropriadas para:
a) atender e orientaro público qua nto ao acessoa

b) informer sobrea rraniitação de docunientos rias suas


respectivas unidades;
c) protocolizar docunientose requerinientos de acesso
a inforinações;e
II — rea1iza(ão de audiências ou consultas públicas,
incentivoà participaçâo popular ona outras formas de
divulgação (Brasil, zoii).

As responsabilidades indicadas nesse artigo sâo de compe-


téncia:
a. apenas da administraçño pública fedcral.
b. de to dos os cidad.aos da sociedade envolvida.
c. de to dos os níveis — federa1, disrrital federal, estaduale
mu nicipal —, fazendo cumprir os dispositivo legais da Lei
de Acessoà łnforniaçfio.
d. apenas dos poderespúblicos niunicipais.
e. apenas de responsabilidade dos entes públicos estaduais.
3. Mediantea ediçãoe promulgação de legislações comoa Lei
de Acessoà Informaçãoe a Portaria ri i77/zoi3, apresen-
tam-se aos cidadãos brasileiros:
a. programas definidos que levam ao descompromisso com
a gestão da coisa pública.
b. ambitos que determinam apenas asresponsabilidades da
administração pública federal.
definições meramente abstratase sem efeitos práticos.
d. medidas relacionadas com a normatização de ações trans-
parentese acessíveis aos cidadãose que levam os sujeitos
a ser participantese a exercer sua cidadania de forma
ativae consciente.
e. algumas premissase paliativos em prol da superação dos
autoritarismos estatais.

q. Com base na Constituição Federal de ‹9 , cite os quatro


princípios relativosà administração públicae comente, de
forma objetiva, sua efetividade na prática da gestão pública
cotidiana.

9. Qualé o princípio complementar aos quatro princípios elen-


cados nO art.i7 da Constituição Federal de ig88* Explique
objetivamente no que ele consiste.

Questão para reflexão

i. Estabeleça relações entrea Lei de Acessoà Informação (Lei


n. iz.ç›7/zon) e os preceitos ético-morais da cidadania ativa.
PerguntasM respostas

i. Relacionea transparência no serviço públicoe as premissas


ético-morais da sociedade contemporânea.

Com as novas determinãfo*s legais sohrea transparência na


o Srta de bense S€rUiçoS pútblico$, passaa SeY deter do LStado
g0'Y0HtiTO OCeSSOà inJ0rmAfóO ptíbfiC, pois0 pHÔliCid0'dC de
atose • °es péblicase preceito legal e o sigilo, nesse contexto,
seria apenas uma exceçáo.T ssas inJorinofões devem scrdispo-
nibiliZadaSa o$ cidadâos Sempre de forma clara. ágil, ÍranSpa-
rentee de Jócile rápida compreensão, sendo sua gestáo aspecto
primordial paraa atualiza(âoe a abertura das inJorma(ôes
aos int€re$8ado5, bem depender de 3oficiiafÕo prévia do5 órgáo5
estatais.A nega(ào de uma inJorrn‹tção deve sempre sermo-
tivadae acompanhada da identifca(óo da a utoridade quea
CfO$5ÍfCO It COWO nÓO OCe5$Ívele d0' it1ÃiCO(ÃO OOS reqHerCttteS
sobre pt-azose condffo*'pera interposi^o dosrecursos cabíveis,
desigtiando -se tambéme quais órgõos devem estes ser Jirigidos.
Lsses aspectos determinam avrinçose exigemo cumprimento de
preceitos ético-morais fundamentais para uma gestáo púiblica
COmprOtfle£lÁO CO1'ttO ¥0rÃOdee O bem COlR•tiFO.

z. O que defineo Programa Brasil Transparente, estabelecido


pela Portaria n. ›77/zoi3*

O a rt.3 7 da Constituição Fcderal definc• “A administra(âo pú-


blica diretae indireta de qualquer dos Poderes da Uniâo, dos
Estados, do Distrito Federale áos Municípios obedcceró aos
p(ift€lpioS de fe ilidade, impeSSoafidOde, iftorafidode, publiCi-
dadee eficiencia [. ..]”. Essa defini(âo constitucional, se levada
à práticO,é rImJof‘te ind icativO do progre88o moral d0 Sociedede.
pois se reflete nos avanços de entendimento sobre as relaçôes
ĂL pY$S$NíOÇÓ0
entre os interesses pu blicose os interesses privados. Sempreq ue
isso ocorre, definem -se mudan(as nos valorese nos princípios
quc nos caracterizem como cidodõosa tivos. Nesse proccsso dc
°*P '°f° das esJeras de ovafi‘ofÕOe controle, de deverese di-
reitos da cidadaniae das possibilidades de progresso mor‹il da
sociedade brasileira, su rgeo Programa Brasil Transparente -
especificamente voltadaà opficnção de Lei 12. 527/2011 como
u m excelente mecanismo de controlee nv‹ifiãf"• !Os processos
de acessoà informaçãoe do direito dos cidadâosà transparên-
rionos negócios du gestdo ptíhfita no país. Ambas assituações
iy8
estõo previstas em texto constitucionale em outros dispositivos
legeise riortnotivos, entrc elcse LRF e a Lei dri transparencia.

ConSultDndoO legi5l0ção

De modoa melhor compreendero exposto neste capítulo,


sugerimosa consulta às seguintes legislações, nas quais se
encontram as determinações legais que fundamentam os
princípios da ética na gesrão pública:

BRASIL. Constitui(ão (1988). Diário Oficial da União, Brasília,


DF, S out. 1988. Disponível em: <http://www.p1ana1to.gov.
brJccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em:
22 maio 2016.
. Emenda Constitucional n. 19, de4 de junho de 1998.
Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
S jun. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emcl9.html.
Acesso em: 22 maio 2016.
BRASIL. Presidência da República. Controladoria-Geral da
União. Por taria n. 277, de7 de fevereiro de 2013. Diário
Oficial da União, Brasílra, DF, 8 fev. 2013.D isponível
em:< 13 ttp://www.cgu.gov.br/sobre/legis1acao/arquivos/
portarias/portaria_cgu_277_2013 -1.pdf>. Acesso em:
22 maio 2016.

Se você estiver interessado em aprofundar os estudos sobre


os temas apresentados no capítulo, sugerimosa leitura dos
seguintes textos:

BUARQUE, C.Daéticaà ética: minhas dúvidas sobrea ciência


econômica. Curitiba: lbpex, 2012. (ver CapítulosV e VI,
p. 89-154)
QU INTANA, F. Éticae política: da Antiguidade Clássica
à conremporaneidade. Sfio Paulo: Atlas, 2014. (ver Capí-
tulo7 — “Moral Universale o $ taatsrricl› (Estado de Direito)“,
p. 11-172)
UI 0H5A II A ß
SOCf**›

COftÉPfft Of*ĂftP4
ContaÊdOS dO capítulo.“

O impacto das teorias éticas sobrea gestão pública.


Os desafios éticos da responsabilidade social, das novas
formas de governançae da sustentabilidade global período
contemporáneo.

A póso estudo deste capítulo, você será capaz de.

i. reconhecer os impactos das teorias éticas sobrea gestão


pública;
z. compreender os desafios éticos da responsabilidade social,
das novas formas de governançae da sustentabilidade global
no período contemporâneo;
3. entender que os conceitos éticose de responsabilidade social,
governançae sustentabilidade são históricose se vinculam
ao desenvolvimento da culturae da sociedade, fazendo parte
de práticas ético-morais cotidianas;
4. ãnalisar as tensões existentes entrea ética,a gestão pública,
a políticae a economia no período contemporâneo.
A éticaé fundamental parao desenvolvimentoe a sustentabili-
dade social, políticae econômica das instituições e/ou organizações
nesses tenipos em que se sobrepôem os valorese o entendimento
daquilo queé adequado, bom e justo.Ü relevante que possamos
refletir sobre esses aspectos, os quais podem parecer paradoxais
e mesmo contraditórios, conforme Morin (zooo, 999), Martinse
Silva (ig99)e Moreira (i993), pois os conceitos éricos na sociedade
contemporânea, por sua historicidadec transitoriedade, sfio bas-
tante flexíveise parecem atendera todas as vontadese verdades, corri
premissas que revelamo c{ue seja possível legitiniar teoricamente.

s. O impacto das teorias éticas SObrea geStÓO

Conforme Vázquez (i986), cabeà éticaa reflexão sobreo con-


junto das práticas morais da humanidade, entendendo-se que os
princípios ético-morais dessa mesma sociedade sâo também fatores
de sua competência reflexiva, de modoa explicitar sua legitimidade
e validade. Ainda de acordo corri esse autor,

A ética parte do fato da existência da história da moral,


isto é, toma como ponto de partidaa diversidade de
morais no tempo, com seus respectivos valores, prin-
cípiose nor inas. Como teoria, não se ide ntifica com
princípiose normas de nenhuma moral em particulare
tampouco pode adotar uma atitude indiferente ou eclé-
tica dianre delas. Juntamente coma explicitação de suas
diferenças, devea ética investigaro princípio que permita
compreendê-las no seu movimentoe nos seu desenvol-
vimento [históricoe cultural]. (Vàzquez, 1986, p. ii-i2)
No período contemporâneo, tais premissas permitem destacar
que, no desenrolar dos acontecimentose dos constructos teórico-prá-
ticos da sociedade ocidental, as experiênciase o fluxo descontínuo
dos saberese dos conhecimentos quea caracterizam subsidiam
tambéma construção,a permanênciae a fluidez dos valorese das
bases da eticidadee da moralidade, que se modificam conforme
sãoalteradas as bases sociais, culturaise políticas, cujos reflexos se
fayem sentir em todos os campos da ação humana, entre eleso da
gestão pública.

Em tempos sombriose complexos como osquevivenciamos na


contemporaneidade,a diversidade teórica se expande e, náo raro,
confunde aqueles que por ela são atingidos. No tocante às teorias
sobre gestãoe administração, há uma diversidade de construções
teóricas que subsidiam os entendimentos epistemológicose práticos
sobre as ações administrativas efetivadas pelos sujeitos. Embora haja
essa diversidade de conceitose entendimentos teóricos, há pontos
comunse que direcionam os estudos sobrea temática da gestão
administrativa, sendo elas relativamente recentes no conhecimento
oficializado academicamente.
Conforme Bernardes (zooo), as teorias da administração relacio-
nam-seà burocracia, às relações humanaseà visão sistêmica, estando
elas vinculadas aos preceitos rígidos da prática administrativa, aos
sentimentos que envolvem essas relações humanaseà visão de tota-
lidade que está implicada no conjunto contextual da administração.
Por sua vez, Campose Barsano (zO 3) definem que as teorias da
administração atrelam-seà abordagem clássica da administração
(abordagens da administração científica, da organização racional
do trabalhoe da burocracia),à abordagem das relações humanas
(teoria das relaçoes humanas, teoria estruturalistae teoria com-
portamental)e à abordagem comportamental (teoria dos sistemas,
teoria contingenciale teoria neoclássica). Todas elas contêm seus
princípiose suas determinantes, pressupondo posturase valores que
se desenvolvem no campo prático vivencial da gestão organizacional
e institucional públicae privada.
Com relação ao desenvolvimentoe às novas formas de organi-
zação sociale institucional, desdobram-se os conceitos éticos com
base em algumas categorias que nos permitem estabelecer uma
taKonomia das mais destacadas teorias que se definem nas relações
com os princípios éticos das teorias organizacionais.A mpIiando-se
asconcepções de Moreira( 993). temos:
• Teoria contratualista — Com base nos constructos teóricos
de Jean-Jacques Rousseau (i7ii-›778), essa teoría parte do
princípio de que, no contrato social,o ser humano assume
compromissos comuns com seus semelhantes e, portanto,o
compromisso de bem agir para que todos sejam beneficiados
e para que hajaa paze e a harmonia no grupo social.
• Teoria fundamentalista — Suas bases vêm de conceitos éticos
de fontes externas ao ser humano; aspremissas se extraem
das fontes bíblicas com base nas quais se definem os princí-
pios do agire do planificara administração.
• Teoria utilitarista — Sustenta-se nas premissas de Jeremy
Bentham( 748-i83›)e Jonh Stuart Mill (i8oó-i823), com o
entendimento de que os desempenho pessoal deve seradmi-
nistrado com o intuito de promovero maior bem parao maior
número de pessoas.
• Teoria kantiana — Com base nas premissas de Immanuel
Kint ('72a-i8o¢),pressupõe que todos devem agir de acordo
conto interesse de todos, ou seja, corn atitudes exemplares
de cada um para que assim todos sejam beneficiados.
• Teoria relativista — Define que cada um deve agir de acordo
cont scu próprio ente ndimento do queé é tico e, com isso,
sustentar que seas próprías convicções säo as mais adequadas
para garantir o bem de todos. Sua condutaé o norteamenro
paraa ação queé sempre varíávele flexível, sendo por isso
que os preceitos éticos são tanibćm nialeávcise relativose se
desenrolam ao sabor do interesse pessoal.
Vale ressaltar que essas teorias, por si sós, nño poderri ser consi-
dcradas absolutese vcrdadeiras, pois tćm de ser enrendidas como
premissase base para as reflexões pernianentesa que se deve pro-
ceder no .arnbito da gestàoe da administraçño.É prcciso observar
que, sempre que necessário, snas premissase conceituações devem
serreelaboradas,o que sejustifica pela historicidade que permeia
as ações humanasem todasassnas instâncias e, em especial, no
campo da valoração sobre os princípios que sustentarna gestão em
suas implicaçóese decorrências, desvelando suas relaçóes com as
boas práticas adniinistrativase a eticidadc nccessária para legitímar
essas mesmas açôes em prol do bem de todos.
O relativismoé tico que ternos verificado rias ações da gestño
pública atéo período contemporâneo revela-se em açõese praticas
que se fundamentam em atitudes burocráticas, utilitaristas, con-
tratualistase fundanientalistas, pelas quaisa razúo das ações admi-
nistrativas se apresenta como exógenaà sociedadee aos contextos
específicos nos quais se desenrolam. Ta is práticas, de modo geral,
atendem aosinteresses individuals dos governances no exercício
de sua função pública, sem estabelecer uma relação direta com as
demandase osinteresses dos governados, indo de encontro aos intc-
resses do públicoe do bem comune aosconceitos fnndanientais das
boas práticas dc gestño que sfio exigidas no período conrcrnporâneo.
Sobre os valorese os princípios éticos considerados como ade-
quados ao desenvolvirnento de boas práticas na gest3o pública
E certo quea temática sobt-ea c{ual versao

presente livroé bastante conti-oversa quando

setrata do universo da gestão pública,

especialiaiente no atual momento vivido em

nosso país. Cientes de tal fato,a motivação

paraa elahoraçâo desta obra foi ainda

maiore levou-nosa relacioná-la com unha

necessidade que, entendemos,é premente.

Tratar da questão da ética na gestáo pública,

para muitos, pode parecer tarefa impossível,

poréiii, sem dúvida, para muitos mais,

é tarefa urgentee necessária.


contcmpor5nea, destacarmos o entendimento de Campose Barsano
(zoi3) accrca da evolução histórica desses princípios, ao considerarem
os seguintes fatores como demarcatórios dos avanços no campo da
gestáo pública:
• a concorrćncia global;
• as novas necessidades dos clientes;
• a necessidade de apriniorara qualidade dos produtose dos
scrviços;
• as novas tecnologias de produçãoe distribuição de produtos
e de prestaçño de serviços cont substanciais avanços em curto
cspaço de tempo;
• o r ápido crescîniento do setor de serviços;
• a crescente escassez de recursos produtivos;
• os deficits de nião de obra qualificada;
• as questões ligadasà responsabilidade sociale à sustentabi-
lidade hunianas.
Esses fatores atuam sob're os constructos ético-niorais, que se
sáo alteradosa cada períodoh istórico, conforme as sociedades se
niodificam, por sua liistoricidadee transitividade. Nesse sentido,
as instituiçõese as organizações, públicas e/ou privadas, tambćrn
precisana mudare renovar-se, visando atender às demandassociais
e políticas decorrentes dessas novas relações que se apresentam no
contexto da evoluçáo das sociedadese do desenvolvimen to socio-
políticoe cultural das pessoas, dos povose das nações.
Esse mesmo desenvolviniento incluio aurnento do nível de qua-
I idade na oferta de produtose na exigência por serviços cada vez
mais qualificados,o que far crescero nível de responsabilidade que
permeiaa açño do gesror público contenipor5neo. Esse aumento de
reivindicaçôes relaciona-se com as novas exigćncias das diferentes
insrâncias legaise éticas constituídas dialeticame rite no desein-
pcnho da ação administrativee gestora. Vincula-se tambćni cont
o a umento do nível de ex igćncias na formaçúoe na capacitação
dos profissionais que executam asatividades cotidianas no serviço
pùblico atendem .as dernandas daqueles que necessitani desses ser-
viços, pessoas que, de algum modo, também têm ampliado sua qua-
lificaçàoe formaçäo,o que implica maior conl ecimento sobre seus
direitose deveres.
Com a concomitante elevaçäo do nivel de exigênciase demandes,
hia necessidade do au mento do nivel de qualidade dos serviçose das
açöes dos gestores pùblicos, de modoa anipliara satisfaçño com a
eficiénciae a eficàcia na ofcrta desses serviços, que, por serem cons-
cientee livremente executados, se relacionam sempre aospreceitos
dc eticidade que ernbasama atuaçfio gestora.

Segundo Moreira (igg3), cont relaçîao às premissas sobreo


aumento da qualificaçäo dos profissionais que executam os ser-
viços pùblicos, devenios ressaltara presença dos preceitos éticos
da gest.ao püblica no periodo contenipor.aneo. Cada vezmais as
organizaçöese as instituiçöes pùblicas e/ou privadas requerem nm
coniportame nto ético que possibilitea obtençào de lucrose ganlaos
qualificados sem liavera necessidade de se recorrerà corrupçäo, ans
subornose aos conchavose arranjos polÎticos espùriose condenàveis
ou niesnio de se ernpreeiider qualquer forma de açño que venliaa
ferir os interesses das boas pr5ticas da gestao, conforrue as novas
exigûncias da governançae da imprescindivel sustentabilidade social,
políticae econômica da gestão de qualquer instituição ou organiza-
ção pública e/ou privada.

ç.z DeSO 0$étiCos dO Ye5pOnsObilidOde


SOCiOl› dOS nOVOs OrTHOS de gOveYnOnçO
e dO su$tentobilidode glObOl nO peYíOdO
contemporâneo

A grande pergunta mobilizadora da ética é: Como agir perante


os outros* No tocanteà liberdadee à responsabilidade do cida-
dão em face do desafio ético de ser partícipe das novas formas de
governança na contemporaneidade, vemà tona outra questão para
o exercício fundamental da cidadania ativa: Qual deve sera respon-
sabilidade social dos cidadãos diante das novas formas de gestão
dos bens públicos*
Não restam dúvidas de que, quanto mais envolvente fora ação
gestora da coisa pública, maiores serão os benefícios decorrentes de
participaçõese responsabilidades compartilhadas, as quais devem
serdemocráticae coletivamente desempenhadas por todos os sujei-
tos que, de uma forma ou de outra, estejam vinculados aos contextos
de sua aplicabilidadee de suas consequências,
E necessário ressaltar que os conceitos ético-niorais — conio
preceitos aplicáveisa todas as formas de conduta humana, seja no
âmbito da gestâo pública, seja no â mbito da gestão privada, desti-
nando-sea adequar as açõcs dos sujeitos às questões do bent, do
justo, do legítimoe do valido — devem seraplicados sem nenhuma
forma de coerçâo e/on coaçâo interna on externa, pois iniplicania
aç.ao livree conscience, presence sempre que ocorre unia tomada de
decisão, um a escollia ou um a opção hu manae niprol de algum fato
ou fenômeno que atinjao sujeito on ltte seja de interesse (Våzquez,
'9 6).
Há de se distinguir entáoo campo da ação legal — os fimbitos
formais da formulaçãoe aplicabilidade das leis — do campo da ação
ético-moral — os ânibitos da livree conscience decisãoe escolha.
Neste último caso, não hå obrigatoriedade formal, mas a ação deve
serresultante de uma decisão livree não arbitrária, que uorresponda
à capacidacJe decisória dos sujeitos. Por outro lado,o ârnbíto formal
é de cunipriniento obrigatórioe passível de sanções legais, com a
aplicação de penalidades fornialrnente definidas em leis.
No exercício da função pública,o princípio da não violaçáo nos
ámbitos formale ćtico-moral deve sercumprido pelo gcstor público,
em conformidade cont os princípiose as responsabilidades de sua
aç.ao;o gestor deve tersempre presence que sua açîao — por ser enii-
nentemente doâ mbito político — eståa serviço da construçãoe da
vivência das boas práticas no exercício da funçâo pública, em prol
do bent cornume do desenvolvimento da comunidade.
Segundo Moreira( 993).a gestão públicaé uma instância política
e, por consequência,é tarnbéin uma instância etico-moral, passível de
observaçfio, avaliaçñoe controle daqueles que dela particípam direta
ou indiretaniente, caracterizando-se pelas pråticas do ticcotintability.
Assim,a gestño ptiblica, por implicar roniada de decisño que envolve
não só as diiiicnsões legaise normativos, mas tambéni as diinen-
sões valorativas, gerando resultados que afetarna coinunidade, deve
divulgar as consequências presentese futuras para aqueles que serão
atingidos e/ou beneficiados por seus resultados.
Destacam-se aía presençae a relevância da responsabilidade social
no exercício da função gestora no âmbito da administra(ão pública,
o que exige semprea capacidade de apresentara melhor forma de
agir, ou seja, aquela que, no sentido habermasiano (Habermas, 989),
venhaa causaro menor dano ao maior número de pessoas.
Ao tratar de responsabilidade sociale boa governança estatal, pelo
fato de envolverem os gestorese as comunidades de sujeitos desse
mesmo âmbito público, Montoro Filho (zoiz, p. 9i) observa que

O comportamento ético da população de um país, sua


adesão espontânea àsnormas deconvivência social, con-
tribui parao bem-estar dessa coletividade em duas fren-
tes. Primeiro, pelo aumento do PIB [Produto Interno
Bruto], útil, pois reduzo volume de recursosa serem
empregados em atividades de prevenção, repressãoe
puni(ão, que, por si só, náo tem utilidade. Segundo, con-
tribui decisivamente paraa geração de um bom ambiente
[...] (imprescindívelà boa convivênciae fundamental
para que se estabeIe(a]o desenvolvimento económico
[ambos necessários ao adequado desempenho da ação
gestora públicae da qualidade administrativa].

Nesse entendimento,o bom ambiente de desenvolvimentoe de


sustentabilidade administrativa, bem comoo ambiente favorável
aos negócios da vida pública, nas dimensões econômica ou política,
são fatores preponderantes para uma boa governançae uma sus-
tentabilidade global, com base ética.
Autores como Vázquez (i986), Morin (zooo, ig99), Ashley (zooy)
e Santos (igg2), apresentam premissas que apontam paraa ideia de
queo grande fator contributivo para essa eticidadeé decorrente das
condições de criare ampliar seu capital social, entendido,juntamente
com os fatores de produção, os recursos naturals, os recursos hunia-
nos,o capital físicoe a tecnologia, como fator de boa governança
e sustentabilidade global. Esses autores defendem que rodos esses
fatores são iniprescindíveis ao desenvolvimentoe ao progresso social
e moral de sociedadese na çóes no período contemporâneo, que, por
sua complexidadee céleres transformaçóes tecnológicas, compor-
tanientaíse atirudinais, exigem que se consubstancieni nielliores
práticas, au mentando, assim, seu capital social. Segundo Montoro

Por capital social see rite ridea existéncia de um con-


junto dc valoresc norrnas adotado por niernbros de mrna
eomnidade, que Hues per mite convivere cooperar para
a con secução de objetivos cornuns on realizaçäo de ati-
ridades conipartilhadas.A con fiança mútuaê eleniento
essential para esse coniportamento.

Em relação ao crescimento dessas práticas de boa governançae


de sustentabilidade de ações prioritårias parao aumento do capital
social, fundamental parao desenvolvimentoc para uma boae sus-
tentável gestño administrative da coisa pública, Montoro Filho (zoiz,
p. q3) ressalta ma is alguns aspectos iniprescind íveise necessários,
sendo eles relacionadosà importância da:

i. conscientiza(fio da opiniäo pública das vantagens do


coinportamento ético, bem conio dos prejuízos can-
sados pelos desvios de conduta, comoa sonegaçâo de
informaçôes adequadas, verdadeirase transparentes

z. redução das tendências às transgressôes para aca-


tar sugestõese colaboratividade, facilitando assim
o desernpenho do agente públicoe o curnpriniento
dos ditamese obrigações legais, de forma tranquilae
justa, melhorandoe simplificando os procedimentos
burocrfitícos;
3. ampliação de ações que possibilitem o aprimora-
mento dos mecanismos democráticos de prevenção
e punição de desvios de condutae de ações de cor-
rupção, sem esquecer quea ausência de puniçãoe
a impunidade estimulama permanência de ações
inadequadase à revelia da lei.

Com base no exposto,é possível deduzir que acompanhare


avaliar as boas práticas gestoras, bem como delas participar, esta-
belecendo premissas de occountohifitJ sobre os negócios do Estado
e das ações relacionadasà gestão pública,é componente efetivo da
cidadania na pólis. Isso, se efetivado, de modo envolventee corres-
ponsável, estimulao entendimento de quea participaçãoé fator de
sustentabilidade éticae de agregação de valores de cidadania ativa,
pela capacidade construente, pela avaliaçãoe pelo envolvimento
em práticas de acompanhamentoe controle dos atos do gestor da
coisa pública, constituindo-se, dessa maneira, em grandes fatores
de aumento do capital social de uma naçãoe de uma sociedade.
Vale ressaltar que, embora seapresentem alguns constructos
teóricos rígidose determinantes no tocante ao cumprimento das
normas administrativas públicas, as instituiçõese organizações con-
temporâneas expressam práticas que relativizam de alguma forma
essas premissas teóricas. Esse relativismo ético-moral permite uma
espécie de oxigenaçãoe revitalização das práticas administrativas,
fazendo com que nem sempre asproposições teoricamente valida-
das se revelem adequadas aos diferentes modos de exercera gestão
pública. Assim, as práticas gestoras no setor público passama ser
uma espécie de ação inacabada, sempre em construção, cabendo
destacar aía importância da constante reflexão ética sobre sua apli-
cabilidadee sobre seus impactose desdobramentos na vida das
pessoas, dos grupos sociais e/ou das sociedades.
Nas bases teóricas dos princípios administrativos, podemos defi-
nir diferentes preceitos éticos. Extraímos de Weber( 994), em sua
magistral obraA ética protestantee o espírito do cap italismo, as duas
concepções éticas que acreditamos sernecessário trazerà discussão
neste estudo:
• a ética das convicções;
• a ética das responsabilidades.
Segundo propõe Weber (i9g4), em conformidade com os pre-
ceitos da primeira concepção —a ética das convicções —, os valorese
as determinações exógenas aos grupos envolvidos na questão admi-
nistrativa prevaleceme são assumidos como legítimose válidos em
qualquer tempoe em qualquer lugar. Assim, sãopreceitos determi-
nantese subsidiam práticas autoritáriase nada participativas. Por
sua vez, as premissas da segunda concepção —a ética das responsabi-
lidades — nos parecem estar mais em acordo com os tempos fluidos
e flexíveis que vivemos no período contemporâneo, pois advogam
quea reflexão ética deve ocorrer não pelas leis universais, mas pelas
análisese valorações sobre as consequências da ação empreendida.
Nessa perspectiva,a priori, não haveria determinantesé ticos
senão aqueles legitimados pela ação participativa, reflexivae cola-
borativae pela atuação ativa dos novos atores sociais do período
contemporâneo — os cidadãos ativos —, que devem fazer-se presen-
tesà mesa dasdeliberações e, conjuntamente, sercapazes de cons-
truire subsidiara validade da ação gestora pública, respaldada pela
busca de valores comunsa serem vivenciados por todos os envolvi-
dose interessados nos negócios da vida pública. Esse aspecto já se
explicitou nas pressuposições da ação comunicativa habermasiana
(Habermas, i989), destacando-sea importància do diálogo, da nego-
ciação, do debatee da busca do consenso em prol do bem coniu ni,
entendido como mm últinio da ação política.
Essas premissas parecem estar em niellaor acordo conto enten-
dimento daquilo que foi denominado por Rodrigues (zoo8) de riJs-
JtJniu ativae que, segundo Habermas(9 9), revelaa presença dos
concernidos (os envolvidos atuaise futuros rias consequências da
gesrão pública)e dos concernentes (osque exercema função pública
de legislare gerir os negócios do Estado), quejuntos devem deliberar
e decidir sobre as açúes de intcresse coletivo. Nessa aç.ao colaborativa
e participativa, apenas um argumentoé v*lido. Conforms Habermas
(i989),é aquele que, em sua aplicabilidade pr ática, causeo menor
dano ao maior nú niero de sujeitos envolvidos.
De acordo com Habermas (ig8g), por meio da racionalidade
eomunicativa seria possível compreender os modos como ossujei-
tos envolvidos em alguma aç3o se coniportarn, levando em contaa
intencionalidade da consciéncia,a dual se expressa na linguagem;
portanto, as ações dos sujeitos não devem serentendidase analisa-
das de forma cxógena aos interesses de todos os coniponentes do
grupo social. Essa niclhor comprcensão faria com que os sujeitos
se envolvam na construçfio das reflexões ético-moraise na execuçño
de snas premissas, pelo exercício plcno de seus direitos civise pelo
cu mprimento de seus deveres sociaise políticos para com os demais
atores do processo social.
Habermas (i989) propõe que essa recontexttia1izaç.ao dos pro-
cedimentos argumentativos, em uma revisño dos preceitosé ticos,
ocorra pela bu sca do consenso entrc os sujeitos de unia ruesma
sociedade. Ele considers ainda que esse consenso somenteé atingido
coina ampliaçáo das condições de cntendimento dos sujeitos sobre
seus direitos legítinios c sobre seus reais deveres de cidadania,o que
pcrmite que as regras dea rguinentação scjani de doniínio verdadei-
ran cute comum. Essa capacidade de argunientação tern relaçâo cont
a qualidade da educaçfio ofertada aos sujeitos, entendida também
como uma dasresponsabilidades da gestão pública, seja pela legis-
lação educacional, seja pela disseminação de políticas públicas.
As possíveise necessárias tensões existentes nessas práticas
de envolvimento, participaçãoe controle no que se refereà gestão
pública por parte desses novos cidadãos ativos, entendidos como os
novos sujeitos sociais, plenos de direitos civise de deveres sociais,
ampliariam as possibilidades de relações mais adequadas entre
aqueles que exercema função gestora públicae aqueles quea ela se
vinculam, na condição de envolvidos e/ou beneficiados, ou, no dizer
habermasiano, os concernentes (os gestores)e os concernidos (os
beneficiários) da vida na pólis.
É importante observarmos que, quanto mais livrese conscien-
tes essas ações forem, mais elas serão eticamente validadas. Assim,
entendemosa importância de ressaltara ilustre colaboração de
Quinrana (zont), ao frisar que intervenções devem serexecutadas
por sujeitos cada vez mais capazes de perseguir os diversos finse
de escolher os meios mais adequados para atingiro bem comum.
Consideramos que esses novos sujeitos da vida na pólis precisam
ser preparados para agir conforme o sentimento de justiçae equi-
dade, para cooperar na realização plena da atividade pública, refle-
tindoe clarificando os limites ético-morais presentese necessários
nas condições em que se desenvolvem as ações administrativas da
gestão da vida pública.
Essa melhoria no nível de entendimento sobrea gestão pública
e seus impactose consequências, como decorrência da melhoria do
nível de educaçãoe emancipação dos sujeitos envolvidos nas questões
referentesà vida na pólis, sejam eles os concernentes, sejam eles os
concernidos, beneficiariaa todose levariaà efetivação de gestões
públicas mais envolventes, participativase verdadeiramente demo-
cráticas, de modoa serem alcançados os ideais de justiça, equidade
e solidariedade que possibilitama vida plena, humanae justa pela
vivência dos princípios ético-morais fundamentais ao desenvolvi-
mento de consciências livrese emancipadas.
Assim, dedicamo-nosa elacom afincoe com a consciência de que
é possível apresentar aos interessados no assunto enfoques con-
dizentes com essa mesma premênciae necessidade, de modoa
abordar adequadamente aquilo que nos angustia, nos desafiae nos
desacomoda.
Objetivando refletir sobre as funçõese os propósitos da ética na
vida em sociedade, no primeiro capítulo, analisamos os conceitos
referentesà ética,à morale à moralidade, os quais, embora seapre-
sentem em diferentes nuances, encerrar pontos convergentes, pois
são históricos, culturaise parte intrínseca das diferentes etapas da
vida em sociedade. Tais conceitos, ainda que diversos, aproximam-se
e caracterizam-se pelos diferentes modos deentendimento em cada
sociedade, cultura ou grupo social, conforme ascaracterísticas orga-
nizacionais que os definem.
Em nossa análise, buscamos esclarecero espaço de ação de cada
um desses três conceitos em suas relações com a ação na vida social
e as práticas da gestão pública no contexto da sociedade brasileira.
Esse exame conceitual demonstra que os conceitos de éticae moral
sãomuitose diversose que, apesar de terem seu sentido etimológico
relacionado aoe thor grego, não se confundem, mas se articulam,
revelando dinâmicas próprias tanto no campo da reflexão filosófica
(a ética) quanto no campo da ação normativa (a moral)e no campo
da vida práticae vivencial (a moralidade).
Ampliando asreflexões iniciais, no segundo capítulo, analisamos
os diferentes modos de ver a éticae as experiências ético-morais
ao longo da história, abrangendo desdea Antiguidade Clássica,
a Idade Médiae o Renascimento atéo período moderno. Nesse
fluxo histórico de aproximação com valores cambiantese com cons-
tructos morais emergentes, destacamos que, na sociedade moderna,
delíneiam-se os contornos de novas formas de organização social,
políticae econômica, com fortes impactos na vida em sociedadee na
gestão dos negócios que envolvem as questões de interesse público.
Síntese
No que se refere .a responsabilidade sociale às novas formas de
governança,a geet‘no pública contemporânea precisa relacionar-se
com princípiose práticas de sustentabilidade que permitam seguir
premissase preceitos de comportamentos ético-morais e, conse-
quentemente,e nvolver os cidadãos, que necessitam estar ateritos
às formas de exercer essa mesma governança.
Considerando quea pergunta mobilizadora da éticaé “Como
agir perante os outros*”, no tocanteà liberdadee à responsabilidade
do cidadão em face do desafio ético de ser partícipe das novas for-
mas de governança na contemporaneidade, outorgando-lhes, assim,
maior sustentabilidade, surge outro questionamento acerca do exer-
cício fundamental da cidadania ativa: Qual deve sera responsabi-
lidade social dos cidadãos diante das novas formas de gestão dos
bens públicos*
Portanto, quanto mais envolvente fora ação gestora da coisa
pública, tanto maiores serão os benefícios decorrentes da participa-
ção ativae de avaliações pertinentes com responsabilidades compar-
tilhadas, que devem serdemocráticae coletivamente desempenha-
daspelos concernidos (osgovernados) em relação aos concernentes
(osgovernantes). Com isso, todos os sujeitos que, de uma forma ou
de outra, estejam vinculados aos contextos da gestão pública devem
acorrtpanhá-lae avaliá-la, bem como serefetivamente beneficiados
por uma gescão mais éticae legitimada pela aprovação da popula-
ção, consciente de suas responsabilidades não apenas de eleger os
governantes, mas de participar na gestão da vida pública.

Questões para revisão

i. Moreira (i993) afirma ser importanteo entendimento da


necessidadee da legitimidade de uma ação gestora pública
que considerea avaliaçãoe o controle (nccountobilitj/) da-
queles que dela participam. Eles devem terconhecimentoe
capacidade de compreender asdimensões legais, normativas
e valorativas envolvidas, além de perceber seus impactose
consequências presentese futuros na vida das pessoas, dos
grupos sociaise das sociedades. Com base no enunciado, as-
sinalea alternativa correta:
a. A gestão pública não deve considerar as consequências
presentese futuras sobre aqueles que são atingidos e/ou
beneficiados por suas ações.
b. As dimensões da administração pública são apenas legais
e normativas.
c. A gestão públicaé uma instância política, mas é também
uma instância ético-morale valorativa, pela possibili-
dade de avaliaçãoe controle daqueles que dela participam
direta ou indiretamente.
d. Não há necessidade de considerações éticas nas práticas
da gestão pública.
e. Nenhuma dasalternativas está correta.

z. Weber (i99q ), em sua magistral obraA ética Protestantee o


espíi-ito do capitalis mo, trazà tonaa questão das duas con-
cepções éticasa serem consideradas pelos sujeitose pelas
sociedades,a saber:
a. a ética negativae a da desresponsabilização com a vida
pública.
b. as diversas dimensões da gestão pública não implicam
concepções éticase valorativas.
c. uma ética da vida públicae uma ética da vida privada.
d.a ética das convicçõese a ética das responsabilidades.
e. a ética das convicções pessoaise a ética de todos.

Quintana (zoiç) considera que as açóesa serem efetivadas


em prol do bem comum devem serexecutadas por sujeitos
cada vez mais capazes de perseguir os diversos finse de es-
colher os meios mais adequados para ral,o que implica:
a. aumentara dependência dos sujeitos em relação às deter-
minações do Poder Público.
b. melhoraro nível de entendimento sobrea gestão pública,
seus impactose consequéncias, como decorrência da
melhoria do nível de educaçãoe emancipação dos sujei-
tos envolvidos nas questões referentesà vida na pólis.
c entender que apcnas os governanres (concei nenres) tên
o po der de deter minar como devem agir os concernidos
(governados).
d. considerar que os governantes (conce rnentes) sabem
corno se deve agir em relaçãoà gestão pública, pois são
mais preparados para isso.
e. fazer cont que apenas os goverriantes tenham autonomia
nas decisõese nas determinações do que deve ser feito
paraa populaç.ao.

¢. No que consisteo capital social de uma naçâo°

5. Considerando que parao exercicio fu ndaniental da cidada-


nia ativac importante saber qual deve sera responsabilidade
social dos cidadãos em face das novas formas de gestão dos
bens públicos, descreva conto vocc entende as novas formas
de governo na gestão pública contemporânea.

Questão para reflexão

I. Quais s?ao os três aspectos imprescindíveisà boa governança


e à sustentabilidade de ações prioritárias para aumentaro
capital social, entendido com fundamentalà gestão pública°
1. Explique como pode ser mensuradaa cidadania ativae
como esta pode contribuir parao aprimoramento da gestão
pública.

A CiÃOÃ0'HiO otiVo pode 8Cr ftteH5uYRdO pelo HtFel de p0'YtiCi-


pa(ão, controlee envoluimerito da sociedadee das pessoas em
práticas de acompanhamento dosatose dase ‘es da gestâo áa
coisa pftblica. Lla pode contribuir muito parao aprimorrimento
da gestâo pfiblicaà medidaq ue esse nível de participa(õo se
torne mais or,g‹tniz‹ido, conscientee corresponsáuel, mediante
a aHalia(ôo,o controlee o acompanhamento dosresultados da
§estôo pública.

z. O esnido da gestão pública permite deduzir quea disposi-


ção da população em acompanhar os negócios do Estadoe
as ações da gestão pública, de modo envolventee correspon-
sável, estimulao entendimento de quea participação socialé
fator de sustentabilidade ética. Com base no exposto, defina
como isso pode contribuir parao exercício da cidadania ati-
va pela população.

Etn face das nomes exigências de organiza(âoe perticipa(áo


Socia1,é poS5íHel deduZir queo a umento da di5posiÇão da po-
pulação em acompanhare avaliar as práticas gestores, estabele-
cendo pre»tiisrís de accountability sobre or negócios do Estedo
e dos a(ôes relacionadasà gestâo pu blica, vem ao encontro das
demandase das necessidades de opritnorare cidadarita, tor-
TtOTldO-O Oli¥O Ãe OtO e, COfYt iSSO, CJefiPanÁO nO COtttpO pYóliCO,
de tttOdO eHUOlveHÍee COYYe5pOH5ó¥el,O ettteTldift'lentO de QHe
CSSO participa •° e fator de sustentabilidade éticae de agrega-
çâO de UOlOYeS de CidOdOttiO OtiuOe Ãe COpOCidOde COHStYHliüO
das pessoase da populaçâo.
Consultandoa legislaçâo
A consulta às legislaçôes vigentes no país sempreé fonte
de esclareciinento. Portanto, sugeriinosa consults da
Constituiçño Federal:

BRASIL. Constituiçfio (1988). Diário Oficial da União, Brasília,


DF, S out. 1988. Disponível em: <1ittp://www.planalto.gov.
br/ccivil 03/Constituicao/Constituicao.htrn>. Acesso em:
22 maio 2016.

Entendendoa iniportância do terna tratado neste capítulo,


se for de sets interesse aprofundar-se no assunto, sugerimos
a leitura das scguinres obras:

BA ZERMAN,M.;
T ENBRUN SEL,A,Antiético, en*
Descubra por que núo somos täoéticos quanto pensanios
e o que podenios fazera rcspeito. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011. (ver p. 101-126)
PIVATO, P. S. Ëtica da alteridadc. In: OLI VEIRA, M. A.
de(Org.). Correntes fundamentais da ética contemporânea.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. (ver p. 79-98)
Apresentamos nossas considerações finais,

à guisa de fechamento da presente obra,

em conformidade conc os objetivos que

nos moveranae conca intenção precípua

ele possibilitar- reflexões sobre um tema que

seiuosti“a atuale controvet-soe c|ue pt-ecisa

ser estudadoe mais bem compreendido.


As açôes dos gestores públicos no período contemporâneo devem
estar em consonância com os objetivos que os movem. Tais ações
devem estar relacionadas com as proposições atuais de uma boa
governan(ae de um adequado atendimento às demandas da socie-
dade, que, de algum modo, precisa estar envolvida, não apenas como
beneficiária e/ou usuária dos serviços púF'licos, mas como partícipe
e avaliadora daquilo que cabe ao Estado oferecer.
Assim, entendendo os princípios ético-morais da cidadania ativa
como imprescindíveis ao exercício da gestão da coisa pública, ofe-
recernos também um rolde sugestões de leituras ao final de cada
capítulo que podem contribuir parao aprofundamento dos conheci-
mentos sobreo assuntoe paraa resolução de dúvidas sobre questões
referentes aos vários temas aqui aborddos.
Esperamos que asreflexões propostas tenham sido úteisa todos
aqueles que se dedicam aosestudos na áreae que se envolvem com
a gestão pública em seus aspectos organizacionais, políticos, valo-
rantes e, acima de tudo, éticos.
AGOSTO 4T, hf. Éticae evzoge4icaçfio•a din ãmica daa lrerid cdc nz rter iação
da moral. gecrapolis, R§: Vozes, t99d.

ALCANTARA,SA.,VENERAL,D.DimmzpÜ*d«Cu%ub=?=SaC‹o,
20Iã.

A LENCASTkO.M.S.C.
É tira cmgmsarial ne grMica. Curitiba:G bpex, 2010.

ARANHA. M.L.deA.s*los»ra da »duc»sã». 2. ed. São Paulo: M óerna,


í996.

ASHLBE P.cral. Ético< r<sgonssbilid«dc social nos negócios. São Paulo:


Sarciwi. 2005.

BA ZERMAN,M.H.;
TENBRUNSEL, A.E.AnciMico, <u* Dcscu+ra por
ue nio somos río+ticos uanro c nsanos c o ue o demos fiizcra res ico.

BEOZZO,j. O. (Org.). Por umc +tic¥ da liberdadec da I'bercaçéo. São Paulo:


Paulus, t996,

BERTA RDG. ].A . Organiaação municipcGc u polfticz urbana. Cur itiba:


Tnrersabe res. 20a 2.

BTTAR.E.C.B.Cu=«d«*»WG* GG=.Sa»PuÓ:Ad«v2007.

BITTAIt, E. C. B.;A LM G IDA, A. G. Cueca de fitocef+a do dígito. São Paulo:


w‹i ». zooo.
O otimismo radical burguês, embasado no mecanicisrno mate-
rialista, ao elevara racionalidade humanaà condição de fator fun-
dante das decisõese das ações individuaise sociais, colocao Homo
fazer (“horriem produtivo”) no centro das discussões da vida em
sociedade, em quea políticae a economia passama serpontos cen-
trais nas formas de pensar, fazere produzir da b'urguesia capitalista
emergenre. Essas novas formas de agire pensar alteram substan-
cialmente os modos deorganização sociale política, com impactos
significativos sobre os valores de base da sociedadee os princípios
que a regem, modificando-a em seus aspectos organizacionais, de
desenvolvimento, de progressoe de moralidade, seja nos espaços
privados, seja nos espaços da vida pública.
Avançando na senda histórica, conforntea opçJao adotada na
organização da obra, no terceiro capítulo, examinamos osdiferentes
critérios éticos no mundo contemporâneoe os defiriimos em seus
ponros constirurivos. Com base na apresentação dos conceitos-chave
propostos por vários autorese pensadores que sedebruçaram sobre
a questão ética, descrevemos os princípios da ética existencialista,
da clica da ação corrrunicativa, da etica da alteridadee da transcen-
déncia religiosa, da ética responsabilizante da civilização tecno-
lógicae da teoria ética da justiça, com uma breve análise de suas
complexas premissas de legitimaçâoe justificação. Dessa maneira,
respeitandoa diversidade de conceitos que tomamos corno objeto
de estudo, identificamos os principais constructosé ticos forma-
lizados no período contemporâneo, que podem constituir-se nas
bases paraa ação dos homens queatuam na gestão da vida pública,
possibilitando-lhes formar um entendimento mais preciso no que se
refereà frágil tessítura societária deste nosso período rnultifacctado
e controverso —a contemporaneidade.
Nesse capítulo, buscamos refletir sobrea renovação contempo-
rânea dos princípios éticos classicos, que pressupõeo questiona-
mento sobre os princípios religiosos; sobrea forçaa firmativa da vida
humanae darealidade; sobre as questões ligadasà responsabilidade,
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Ver¥aoCompIcra.gdf>.Aceeso em: 22 maio 20t6.


Capítulo1

Questões para revisão

Questão para reflexão


Res osca cssoaI.

CopJtulo2

Questões para revisão

oridcnral s*o‹a Anriguida<lc Cl*s«›ra (grega),o pcríodo mcd icvalc o


Questão para reflexão

C‹ipítofo3

Questões para revisao


Questão para reflexão

Capt’fttÍOÕ

Questóes para revisão

+. c»nrorm» o art. ›7 a con ‹i »is o rea‹r«i (sra.ii. igssj.A adminic-


rraçso pública diretac ›ndircra de qualqucr dos Poderes üa Uniso. üos
Estados, do Distrito Fedcmle dos Municípios ob<deCerã aos princípios
de legalidade, impessoalidade, momlidadc. ublicidadcc <fTcienria [...]”.
à liberdade,à igualdadee à diferença; sobrea autodeterniinaç.ao
dos sujeitose o respeitoà vida; e, ainda, sobre os valores da ciência,
da civilização tecnológicae dos fenòmenos decorrentes na vida de
todose de cada uni.
Esses questionamentos seacentuam diante das crises que se ins-
titucionalizanie se sucedcm ncste início de rnilênio, em associação
cont os riscose os perigos que rondania civilizaçfio humana advin-
dos dos problemascausados pela ccleridade dos avanços da cićncia
e das tecnologias,e da globalização econômica em seus paradoxose
contradições, que vêm fazendo aunicntar o ntimcro dos exclnídos do
ptocesso societário.A fomc,a rnisćria,a crise ecolúgica,a violência,
as migrações constantese desumanas, os riscos da nño subsistência
dos recursos naturais coniprometenia sobrevivéncia das pessoase
colocam em xequea racíonalidade científicae seas premissas deter-
minísticas. Diante dessas problemáticas, vale questioner os valores
que sustenrarri essas formas de organizaçăo social, polítícae econô-
micae seus efeitos na vida dos sujeitos, das sociedadese das organi-
za(ões, em especial daquelas que se apresentam como responsåveis
pela gestfio da vida pública, na pólis contemporânea.
Tendo em vista ir alćm das visóes instrumentaisc tćcnicas que
permeiania sociedade contemporâneae entendendoa importãncia
da vivência dc princípiose valoresć tico-morais nos variadose pre-
merites desafios da vida em sociedade, no quarto capítulo, exami-
namos asrelaçôes éticas na gestâo pública no Brasil atual.O obje-
tivoé apresentar discussões teóricase bases documentais sobrea
importància da éticae da cidadania na gestão pública, com reflexões
sobre alguns conceitose princípios éticos necessários ao exercício da
moralidade públicae administrativa. Abordamosa questfio da trans-
parência no sctor púb'lico b'rasileiro contemporàneo, destacandoa
proinulgaçfio da U1 n,i› S›7/sorte snas relações conto P rogrania
Brasil Transparcntce ressaltandoa necessidade de unia nova forma
de gestão da vida pública, com des dobramentos nos campos social,
políticoe organizational.
Questão para reflexao
A Lei de Arcssoa tn formação abrange órgãosc cntidadesd a esfera
püblic. < de rodos os poderese cnr<sd « Fcder. ção, aplíc;ndo • se r,an›-
ba•› as cnr'da des pr=«dassem £+ n• lucrar icos gus rer e bem r erursos
públicos. un a das prcmi *asrundan*< nt is dessa ui+ c xc queo aresta
à informação devc gcra regr,t, c0nsldcr4nfiO•8¥ Os cktc§ÕCs práViGrú8 n4
Consricuição E•cdc rol dc +988.A ssim. cadac qu alqucr inForn ação gcrsda
porc nridaôcsc órg?ao* público* que não seja de caráccr sigiloso (dc£i nido
cm nome de seguro nç« nac íonal) deve ser «cesel•cI* rodas os ciclaüTaoe
quc por ela rcnhan›c demonstrem qualquer nivel de inrcresse.A rcfcrid*
lei emb dc£iniçócs quantoã responsabilidade de scr\'ióores civi*c milira-
reae de rcrcciros, com oiro novas condt+raa illriras, aplicáveisr ambên*.a
m i ii‹ams.c de+ini *do« yc +.a iid mac ‹•› í» im a de e usp c»s so e a ben «i id*'c
disciplinar, que pode sercumulada com processo civil por improbidade
. J minisr ririva. Pa rr.”indo. refere-se aos pr cecilos ds ciclaüa nia ari•a, n.

Copítftlo5

Questões para revisão


Questão para reflexao
No tocante aos negócios da vida pública — da vida na pólis — sur-
gem questões vinculadasà necessidade da eticidade, da governança
e da sustentabilidade como panes de uma agenda contemporànea,
revelandoa iniport5ncia de pensar sobre os inipactos das diferentes
teorias éticas referencesà gestäo pública. Trata-se de considerar os
desafios éticos que implicama presença da responsabilidade social,
exígindo novas formas de governança na gestão pública no Brasil
conterriporàneo.
Esses aspectos são analisadosà Inc das teorias éticas no quinto
capítulo, no qual intencionanios promovcr urna corripreens.ao mais
acentuada sobre as dinaniicas da atual gestão públicae de suas
imbricações na vida em socîedade. Sfio aspecros por meio dos quais
procuramos ressaltara relev3ncia da elevaçJao do nível de cntendi-
mento sobrea adcquada gestão públicae seus impactose consequên-
cias na vida dos cidadãos, como decorrência da mellioria do nível de
consciência ético-morale do aprirnoraniento do nível educacional
da população, com a consequence elevaçúo da qualidade de eman-
cipaçâoe autonomia dos sujeitos envolvidos rias questões refcrentes
à vida na pólis. Sustentamos que essas iiielhorias podem beneficiar
a todose possibilitara efetivaçâo de uma gestão pública mais envol-
vente, participativae verdadeiramente deniocrática, alcançando-se
os ideais de justiça, eqn idadee solidariedade que perrnitam aos
cidadãoso exercício de uma vida plena, humana e justa, pela con-
jugação entrea vivência de princípios ético-morais fundamentals
às sociedadese tinia particípaçîao inais organizada, conscíentee
responsável da sociedade.
A final,a gestão públicaé parte de uni aprendizado conjunto, que
deve possibilitara todose a cada um dos cidadãose dos gestores
públicos entender sua tarefa como agcntes cnvolvidos na imensa
responsabilidade compartilliada pela adequada condtição da ges-
tño públicae pelo exercício de unia vida na pólis que seja cfetiva-
me rite voltadaà condi(ão ética que deve regê-la em todos os seus
desdobramentos.
COPIO A@Ł0VßÏłAf
Õ0 łłlÒXÏżtł0 fi3Íß ÍÏVf0
Este livro traz alguns recursos ‹jue visam enriquecero seu apren-
dizado, facilitara compreensão dos conteúdose tornara leitura mais
dinâmica. S.ao ferranient:is projetadas de acordo cont .i nat u reza
dos temas que \'amos examinar. Vejaa seguir como esses recursos
see ncontran distribuídos no decorrer desta obra.
DC Pc i OS ß Y I IIC íß O IS C OtlC G I-

tosH IItIli5HNot. Ao fIII tl1 No

ciHS com Sr HS yc4r€s


COHC$ÌÍOS Í2ÒSÍC05
ć(fi tÏłÏCA, ffł0fAÍ
ß fft0fAÍÍf(Ać(ß
Conteúdos do capítulo.

Conceituação de ética, morale moralidade.


A questão da historicidade da ética, da morale da moralidade.

A póso estudo deste capítulo, você será capaz de.“

i. compreender osconceitos básicos de ética, morale moralidade;


z. entender que estes são conceitos históricose se vinculam ao
desenvolvimento da culturae da sociedade, fazendo parte das
práticas cotidianas dos sujeitos em suas relações valorantes;
3 refletir sobrea questão básica da êtica;
4- entender os aspectos da historicidade da ética, da morale
da moralidade.
Com o objetivo de refletir sobre alguns conceitos básicos refe-
rentesà ética,à morale à moralidadee esclarecer suas funções,
objetivose propósitos, buscamos neste capítulo exporo modo como
tais conceitos se aproximam, seimbricame secaracterizam nas dife-
rentes formas de organização da sociedade ocidental e, na sequên-
cia, relacioná-los com as práticas da gestão pública no contexto da
sociedade brasileira,
Assim, entendemos que, compreendendo o espaço de ação de
cada um dos conceitos elencados, podemos retirar deles propósitos
paraa ação na vida práticae na sociedade.

Os conceitos de ctic‹ie moral são muitose diversos. Vários deles


têm seu sentido etimológico relacionado aoe thos grego; com ele
não se confundem, mas se articulame se apresentam em dinâmi-
caspróprias tanto no campo da reflexão filosófica (a ética) quanto
no campo da ação normativa (a moral)e no campo da vida prática
e vivencial (a moralidade). Afirma Agostini( 994. P. 3o): “Porque
distintos, contribuem quais agentes catalisadores ao estabelecimento
de uma relação fecunda entre eles.A morale a ctica têm aí função
própria”, sendo quea moralidade asexpressa no campo factual, real
da vivência das normas, estabelecendo-se, assim,a necessidade de
reflexões esclarecedoras.
Cada autor apresenta conceitose definições alinhados com suas
posiçóes teóricas ou filosóficas, porém, não raro, há pontos conver-
gentes sobreo sentido, os objetivose as finalidades de cada uma das
formas de ação humana. Considerando que alguns desses conceitos
são fundamentais paraa reflexão sobrea importânciae as formas
de aplicabilidade da ética, abordamos,a seguir, alguns dos concei-
tos básicos.
A ética consiste em um dos grandes campos característicos da
investigaç.aoe da reflexão filosófica, pois estuda as formas de com-
portamento dos sujeitos sob os pontos de vista da moral, dos valores,
do justo, do injusto, do bem c do mal, sempre sob mu cunho reflexivo
e críticoa respeito dos valorese dos princípios morais vigentes, no
sentido de superá-los e/ou apriniorá-los.
Assim, entendemos serimportante observar as considerações
de Bu zzi (i9gi, p. no):

A filosofiaé uma disciplina.A filosofia foie continua


sendou ma só ciência [.. .]. Sua dinâmicaé a decis?ao de
correspondência, de conjposiçâo da unidade do enlace
forte de nosso ser com a realidade. Na decisão de cor-
responderà realidade que esta juntoa nós, súplice para
quea vivamos aparece ri itidanienteo sentido de sua divi-
são —a física (pbJsirbt),a ética (epia tem e e tbiLé)e a lógica
(episte›ne log ihé) — que surgem como modos de corres-
pondência, como caminlhos de realização da existência
humana no mundo.

A divisfio defendida por Buzzi (i99i) despertaa necessidade de


conceituare estabelecer campos de ação prática para cada uma das
formas de comportamento humano, que sãofocos de análisee refle-
xão filosófica. Portanto,a éticae a moral surgem do entendimento
de quea própria etirnologia dos termos aponta alguns aspectos
comunsentre seus sentidose significados.
japiassúe Marcondes( s9°) afirmam queo termo etica deriva
do grego chios, etl› ikôs, cujo significado estaria relacionadoa habitos,
costumes, jeitos de viver de um grupo social e/ou de uma socie-
dade. Por sua vez, ainda de acordo com esses autores,a etimologia
da palavra mor‹if indica que esta vem do latim inus, i›iores, morof‹i,
cujo significado também serelacionaa habitos, costumes,jeitos de
viver, normas de conduta, valores de um grupo social e/ou de uma
sociedadee cultura.
Alguns conceitos básicose pertinentes ao que foi referido
nos possibilitam formar um melhor entendimento sobreo tema.
Vázquez (i986, p. iz) considera quea ética “éa teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade.”Já Cotrim(989,
p.z9)defende quea éticaé uma “parte da filosofia que busca refletir
sobreo comportamento humano sobo ponto de vista das noções
do bem e do mal, do justoe do injusto.” Agostini (1994) considera
que, embora etica seja uma palavra que se origine do grego (cabos)e
designe, em termos atimológicos, praticamentea mesma realidade
que a palavra m oral (relacionando-se aos costumes, aos compor-
tamentos, às regras morais), “a ética se ocupa dos fundamentos
da moral, sendo anteriora ela [. . .]e se distingue por seu caráter
mais reflexivo na sistematização dos valorese das normas morais”
(Agostini, i9gq, p. 3i).
Os conceitos básicos apresentados permitem, por si sós, definir
a condição teórico-reflexiva da ética, em conjunto com sua condição
histórico-sociale não decerminística, relacionadaà sua condição
valorativae humana.
A moral, de acordo com Vázquez (ig86)e Japiassúe Marcondes
('99 ), se constitui por meio de um conjunto de princípios, normas
e imperativos ou ideias morais de uma época, de uma sociedade ou
de uma cultura determinada historicamente.
Conforme Agostini( 994),a moral, também designa os cos-
tumes,o comportamento ou as regras que os regeme apre-
senta um sentido bastante vasto na medida em que diz res-
peito ao agir humano, aos comportamentos cotidianos e às
possíveis escolhas existenciais das pessoas, dos grupos sociais
e/ou das sociedadese culturas. “A moral trata do que é 'preciso fazer’.
[.. .]e nos faz pensar nas normas, nas regras de comportamento,
nos princípiose nos valores, buscando com isto determinaro agir
humano” (Agostini, 99+. p. 3o).
Por sua vez,a moralidade, segundo Vázquez( 986), se expressa
pelo conjunto de relações efetivas ou atos concretos que adquirem
um significado moral, com respeitoà moral vigente naquela socie-
dade e/ou naquele respectivo grupo social. Japiassúe Marcondes
(ig9o) propõem quea moralidade pode serentendida comoa qua-
lidade de uma ação práticae factual de um indivíduo ou de um ato,
no que se refereà sua relação com os princípiose os valores morais
vigentes em uma determinada sociedade ou culturae em um dado
espaço-tempo sociale histórico.
Assim, temos presente tambéma condição histórico-sociale
transitiva da morale da moralidade. Embora ambas secaracterizem
por serem determinativas,a moral se expressa por sua condição
normativa,e a moralidade, por sua condição factuale vivencial.
O Quadro i.i apresenta uma síntese sobre as relações entre ética,
morale moralidade, segundo Rodrigues (zoo8).

Quadro e.i - Relações entre ética, morale moralidade

r•,u,. 8•.fr‹ç,.„, i•v.• J' t

Diferente da moral,a ética preocupa-se em detectar os princí-


pios de uma vida conformea sabedoria filosóficae prudencial, com
reflexões sobre as razõese a necessidade de os homens desejarem
e bu scarema justiçae a harmonia, bem como sobre os meios que
dispõem para alcançá-las. Por sua vez,a moral preocupa-se com a
construçãoe a determinação do conjunto de prescriçõese normas
que sedestinama assegurara vida em comum deforma justae
harmônica.
Assim,a nioralidade se constitui no campo pr
á ticoe factual, no
qual tais norniase prescrições se desenvolvenie se expiessam rias
açoes práticase cotidianas dos sujeiros, dos grupos sociaise das
sociedadese cultures.
Podemos afirmar, conforme Rodrigues (zoo8), que a éticaé uma
espécie de filosofia da moral — constitui-see m uma dimensão refle-
xive sobrea moral —,vent depois da morale preocupa-se etn refletir
sobrea legitimidade,a per tinčnciae a adequação das norrriase das
pr escrições que se destinama assegurar uma vida liarmònicae justa
parao grupo social e/on para unia determinada sociedade.
Cont base em Vázquez (i986), Rod rigues (zoo8) define que a
moralidadeé o campo vivencial das nor mas e dos princípios morais,
canipo no qual podem ocorrer tantoo cinisnao quantoo rriora-
lismoé tico, pontos extremos da vida moral. Entendemos, portanto,
que nen laum deles seja adequado, por se constituíreni em po sturas
ex therrt:Le, de cunlio fundanaentalistae determinísra (radicalismose
reducionismos), caracterizando-sepor não possibilitara açño dialo-
gale dialética sobre as ações humanas
à luzderefiexões eticamente
siruadas.
Vázquez (ig86) propôe queo ético em sua essćnciaé algo pro-
bleniático, poisa fet
a a subjetividade, os conceitos, as postures, os
princípiose os valores dos sujeitos em um deterniinado contexto
sócio-histórico.
Distinguindo os campos de açáo da reflexño éticae da normatiza-
ção moral, podemos dízer quea reflexãoe o debate ético referein-se
à legitimidadee à validade de norniase proposições c¡ue fundamen-
tanto d isiursoe as ações hunianase quea questão da moral cuida
da nor niatizaçfio das necessidades, on pseudoneces sidades, que
levani os lioinens on os grupos e/on sociedades huniariasa agir de
unia maneiraendcertos cspaços-tempos por considerarern scr esse
o “modo correto de agir” (Rodrigties,› , '3)
A refiexão ética situa-se num a vertente que nào é a mesma das
prescriçõese das normas morais.O engajamento ético daí decorrente
pode levar os sujeitosa transgredir tais prescriçõese normatizações
morais, distanciando-se do que “é”, no sentido de propor aquilo que
entendem que possa “vira ser”. Como explica Rodrigues (zoo8),
esse engajamento ético vem promovendo profundas modificaçõese
transformações socioculturais nos grupamentos humanos nassocie-
dadese nos povos, as quais podem serevolutivas ou não, podendo
demonstrar involuçõese retrocessos em seu desenrolar histórico.

Aristóteles (38a-3zz a.C.), em Aliceo Nirômaco (Livro II), declara


que nenhuma dasvirtudes do homem surge naturalmente, pois
estamos sempre predispostosa adquiri-las, com a condição de
aperfeiçoá-las pelas consequentes ações práticase transformado-
ras, que podeme devem superar os velhos hábitos, costumes vigen-
tes pela mera tradição estabelecida pelas açõese desejos humanos
(Aristóteles, 99'ã).
O engajamento ético, conforme definem Rodrigues (zoo8)e
Vázquez (ig86), pode levar os homensa seoporem aoshábitos origi-
naise aos discursos legitimadores, entendidos comojustose válidos
pela tradiçãoe pelos costumes. Tais oposições podem ocorrer para
que proponhame adquiram novas formas de agir, no sentido de
aprimorar sua ação como sujeitos humanos, em suas dimensões de
seres sociaise políticos, mutáveise transformadores de si próprios
e de seu ambiente. Isso os caracteriza como seres de virtudese de
vícios, que se revelam em suas ações, como sujeitos que viveme
convivem na sociedade, em seus diferentes grupos e/ou categorias
de ação profissional.
Para Aristóteles( 99 a),o c tbos constitui-se em uma espécie de
ciência do caráter, podendo-se nele conjugara criaçãoe o desen-
volvimento de hábitos, na ordem particular, que convergeme se
aprimorar na convivência sociale coletivae na ordem universal de
valorese princípios comuns, legitimadose validados em sua perti-
nênciae adequação às realidades, às necessidades dos sujeitos que
vivenciam ações comuns.
Em consonância com o pensar aristotélico, Rodrigues (zoo8)
esclarece que existem alguns valores universais que cumprem fun-
ções fundamentais, apesar de suas variadas expressões nas diferen-
tessociedadese culturas. Assim, valores como dignidade, respeito
mútuo, diálogo, solidariedadee justiça devem fazer parte do caráter
humano. Devem fazer parte daquilo queo serhumanoée daquilo
que pode ser, brotando como valores reaise necessários em suas
ações,juízose expressões conceituais ou teóricas para possibilitara
verdadeira convivência.É o “estar com o outro, como seestá consigo
mesmo” (Rodrigues, zoo8, p. 3g), em perfeita harmoniae equilíbrio,
ou seja, na busca pela eiidaiinonia (“felicidade”), pressuposta como
fimúltimo da vida humana porAristóteles, na carta ao seu filho,
éticaa Nicôtnaco.
Quando, na busca incessante pela euda imonia,o sujeito desen-
volvea consciência ética, substituia perspectiva da moral como
“fabricadora da normae como definidora de hábitos” (Rodrigues,
zoo8, p.49)e estabelece ligações que o levama analisara validadee
a legitimidade dessas normase desses hábitos, rompendo com con-
formidades reducionistas, ditadas meramente pela tradiçãoe pelos
costumes. Assim,o sujeito éticoé aquele capaz de visarà existê ncia
(o existir consigoe com o outro)e de canalizar ações equilibradas
para sie para aqueles com os quais convive (Rodrigues, zo o8).
Conforme asproposições de Japiassúe Marcondes (iggo), pode-
mos considerar quea éticaé a parte da filosofia prática cujos objeti-
vos estão voltados paraa elaboração de reflexões sobre os problemas
fundamentais da moral (fundamentos da obrigação, do dever, da
natureza do bem e do mal, do valor da consciência moral etc.), com
base em proposições sobreo conjunto das regras de conduta consi-
deradas universalmente válidas. Essa função reflexiva da ética, como
detodaa filosofia, surge do espanto, da admiraçãoe da indignação,
delineados pela vontade de compreensãoe de ação, mas, acima de
tudo, pela capacidade de pensara pertinênciae a adequação dessa
mesma ação em face dos problemas da realidade. As considerações
de Giles (i98s, p. 6) nos auxiliam na ampliação do entendimento
dessas premissas:

Provocada pelo espanto original,a Filosofia nos incitae


nos desafiaa manter um constante contato com todos
os fatose todas asexperiências, numa atitude radical de
olhar crítico,e com esse radicalismo, numa verdadeira
renúncia [a posições fundamentalístas].É com essa ati-
tude quea Filosofia alcança alguns dos momentos mais
ricos da realidade, ondeo sentido (eo significado da vida
e da ação humana] residee se revela.

Com base no exposto atéaqui, podemos considerar quea reflexão


filosófica, por seu cunho não determinístico, propõe quea éticaé
algo que permitea cada sujeito adquirir maior capacidade de discer-
nimento, ou seja, aumentaa percepção crítica dos sujeitos sobreo
mundo, de tal modo quenãosedeixem massificar, escravizar, anu-
lare subjugar por seus semelhantes, vistos como seus dominantes.
Qÿ’,P rD izo a a
ø'ğ@“ intersaberes

O e Ue DIALCGICA da£ditor‹i InterSabere•s fnz


re)et€ ncia tiey u blica òes qtie y rivilegia m u ma lin-
p tteg0 In (10 qttHl o H utol“ ÙiH lo'fti cotno lEltol“por m€ io
de• recursos texttia is c• visaa is,o qu e tornn o con tell -
lo m nilo ina is diiiv m ico. Sito livros ‹}uc criam mn
atn bi‹•lite de ii'i tet-acùo co m o leitor — ccii un iverso
Esse nível de dominação conforma os sujeitose as sociedadesà
vontade externa, de tal sorte que conduz seus modos de pensare
de agir.A capacidade de reflexão ética consiste, portanto, em uma
atividade eminentemente livree consciente da qual os seres humanos
devem sempre buscar usufruir, com vistasa aprimorar seus modos
devivere convivere de agir em seus contextose em seus espaços de
atuação profissional, nos vários campos da ação humana.
Imbert(9 7) entende quea ética não é a moral, pois o indiví-
duo ético se situa próximo, muito próximo, do queé mais singular
em si mesmoe no outro, constituindoa própria condição (valores,
sentidos, significados) desse si mesmoe desse outro de sere de
existir. Considerao autor que um projeto ético verdadeiramente
humano reinscreve-se no campo prático-reflexivo, no reconheci-
mento da liberdade de sere nas singularidades de consciênciae do
livre-arbítrio de cada um dos sujeitos humanos, sem separar, sem
diminuir, sem excluir, sem castrara si mesmoe aooutro.

A reflexão ética procura abrir aquilo que apresenta tendência


a fechar-se, pois pensao “dever-ser”, interpelando os sujeitos num
processo inacabável de desimpedimento, de abertura de possibi-
lidadese de convivência plena da condição humana (Rodrigues,
aoo8).A ética desenclausura, podee deve questionare refletir sobre
a legitimidade das regrase dos princípios da morale das proposições
legais apresentadas pela Lei Maior,a Constituição da República
Federativa do Brasil (Brasil, ig88),e por suas legislações complemen-
tares, visando ao ordenamento sociale político, com a possibilidade
de uma vida justae boa para todos. São sempre necessários esses
questionamentos acerca de princípiose valores que se apresentam
historicamente como estabelecidose válidose que, não raro, são
legitimados pela tradiçãoe pelos costumes, nem sempre válidos
para os contextos cambiantes da sociedadee da cultura.
O projeto de autonomia humana seenraíza na perspectiva ética
da existência humana de sie do outro, ambos tidos como sujeitos,
abrindo-se, portanto,à dimensão sociocultural da vida humana,
como plena de possibilidadese alternativas de sempre sermais.
O projeto de criaçãoe autoprodução da autonomiae da emancipa-
ção humanas, eticamente situadas, opõe-sea uma merae simples
modelagem (ordenação) de sie do outro, pois levaa uma busca de
sentidoe de significado da própria existênciae da existencia do
ourro (Rodrigues, zoo8).
Na obra MetnJísicn, Aristóteles (iggq) afirma que os problemas
filosóficos se originaram no espanto, na admiraçãoe na perplexidade
que os seres humanos sentiam diante de uma realidade que deseja-
vam entender. As justificações míticas, então vigentes na sociedade
grega, para explicar os fenômenos da naturezae da vida humana
nãodavam mais conta de elucidá-los. Era necessário que se estabele-
cessem condições racionais para refletir sobre essa mesma realidade.
Surge daía filosofia com sua condição radical (de raiz), racional
(de razão)e reflexiva (não propositiva ou determinativa), buscando
situar os indivíduos em seus feitos, seus constructos teórico-episte-
mológicose suas formas de entendera naturezae seus fenômenos.
Como esclarece Corbisier (ig86, p. 86),

Nas primeiras linhas da Metafísica, Aristóteles nos


diz que ‘todos os homens têm, por natureza,o desejo
de conhecer’, acrescentando adiante que '[...] foi, com
efeito,a surpresa (o espanto) que levou, como ainda hoje
continuaa levar, os primeiros pensadores às especula-
ções filosóficas.’A principio, foram asdificuldades mais
aparentes que os impressionaram; depois, avançando
assim poucoa pouco, procurarain resolver problemas
rnais importances, tais como os fenómcnos do sol, da
luae das estrelas, enfima gênese do universo. Perceber
unia dificuldadee surpreender-se, continue Aristóteles,
t reconhecera própria ignorància... Foi assim, portanto,
para escaparà própria ignorância que os primeiros filó-
sofos se entregaram .a filosofia.

As premissas de Aristóteles (i994), reforçadas por Corbisier


(ig86), indicam quea curiosidade, isto é,a necessidade de com-
preendera vida,a realidade em suas causase consequentes deriva-
ções, leva os seres humanosa questioner suas próprias ações, cont
o objetivo de sempre veneera ignorànciae /ouo desconhecime nto
sobre elas.E nîao tent sido difererite corn relaç.ao às questões valo-
rativas das premissas etico-morais, pois as reflexões éticas sobreo
agir humano despertarna necessidade de definira questão básica
da ética, relacionadaà ação dos indivíduos em contextos vivenciais
comuns,a sabcr:

Segundo Giles (i98ą), para que um problems seja classificado


como filosófico:
• deve serpossível de uma formulação simples, sem pressupo-
siçúo de uni conjunto complexo, mas que seja global, de tal
forma ctue abranjao todoe nfio apenas partes do fenônaeno
observado;
• deve seraberto, flcxívele capaz de provocar novas situações
c pcrspcctivas paraa próprio rełlexño, com foco nas possibi-
lidades, rias alternatives, no dever-ser, no possível;
• nunca deve serisolado de sett contexto de origern, situando-se,
pot-tan to, no conju nto de rclações em que ocorree refletindo
as interdependências queo p ermeiam.
Assim,a reflexâo ética consiste ntima condição indispens5vel para
que se possam construír ambiences sandáveis, espaços de convivèn-
cia entre as pessoas que, nos àinbitos familiar, profissional, social,
político on instirticional, ser.ao tanto njais adequados quanto rnais
presentificarem os anseiosc os objetivos aos quais se propõem os
grupos humanos de forma deliberada, consciencee livre. Conforme
>. cq••c ('986), é somente na condiçño consciencee livre, na aç.ao
guiada pelo livre-arbítrio, que ć possível proceder aosjuízos éticos
sobreo agir huniano.
A ristóteles (i99ib), em sua obraA pofítira, defineo ser humano
como um animal político [zoon yolitikon), on seja, como aquele que
nâo é cap az de viver sozinho, que precise de seu senielliante para
exisrire para se realizar. Portanto,a convivêncía liuniana results
dessa necessidade de não estar só, de viver em comunidade. Isso,
por si só, provoca uma serie de questões, problemase indagações
de cunlio ćtico-valorativo sobre os quaisć necessário refletir:
• Quais sáoos direitos e os deveres°
• Quais s.ao as estruturas capazes de garantire regulanientar
o exercício do respeito rn.útuo°
• Quais săooscampos de ação para possíveis soluções no caso
de taisd ireitose deveres nño serem respeitados°Ë o campo
daaçào moral ono campo da san(•ao legal°
Trata-se de problemase questões sob're os cțuaisa reflexao
erico-filosó flea propõe contextualizaçôes em uma dimen são
socioculturale política, conduzindoa premissas orientativas, porćm
nunca deterniinísticas, pois ta1função não competc
a essa instància
reflexiva nenj aosjuízos ćticos.
Conforme Rodrigues (zoo8), os problemas pertinentesà dimen-
são ético-valorativa da filosofia consistem em:
• questões relativas ao agir humano sob
o prisma dos princípios,
dos valorese da liberdade huiuana;
• problemas práticos e, ao mesmo tempo, complexos paraa fiIo-
sofia, os quais se resumerna saber se existem ou nâo normas
ou regras morais determinadase válidas, de acordo cont as
quaiso ser humano deve sempre agir, ou se estas se definem
ayenas no campo dassanções legais.
Em complementação ao expostoe conto uma possibilidade de
respostaà questão colocada anteriormente, Giles (i98d-) nos envolve
em um profundo pensamento sobreo tema oratratado:

Se existem tais normas ou regras de validade universal


surgem outras questões, tais como:
Elas realmente me obrigam°
Será que elas obrigama todos de modo igual°

Mas, se obrigania todos, como explicar o desacordo


sobre os valores que tradicionalmente fundamentam
essas normas, comoo beme o mal,o ju stoe o injusto°
(Giles, rg8g, p. iT)

Tendo em vistaa transitividade das premissase das reflexões


ético-mora is, temos dea nalisar as condiçóes históricase mutáveis
e rn que se configuram, levando em contaa realidades ociopolítica
em seus contextos específicose as dimensões evolutivase cainbiantes
dos respectivos grupos sociais e/ou de cada sociedade, em especial
nas complexas sociedades contemporâneas.
iz ÇHe$tÕO dO pi$tOriCidOde dO éfÍCA, dA mOrOl
e da moralidade

Os problemas c[ue provocama reflexão ético-valorativa levantar


aspectos sobrea transitoriedadee a historicidade tarito da ética
quanto da morale da moralidadec nos colocam diante da questão
da modificabilidade dos valorese das normas morais nos diferentes
grupos sociais e/ou sociedades humanas. Tais valorese normas se
modificam conforme os estágios históricos da evolução humana
e dosgrupos sociaise de acordo com suas respectivas valorações
decorrentes das diferentes expressõese ações empreendidas indivi-
dualmente, pelos agrupamentose pelas sociedades. Nesse contexto,
devemos ressaltar dois conceitos essenciais:
Ao levantarmos os aspectos sobre os diferentes estágiose formas
de ação humana em suas relações socioculturaise políticas, surgem
diferentes níveis de comparação entre os objetivose as funções de
uma ou outra foi-ma de orientar os compor tamentos humanosc
avaliá-los, acarretando outras questões de cunho ético-valorativo.
Os costumes das pessoas, dos grupose das sociedades mudam e,
ao se modificarem, definem-se como históricose transitórios, pois
algo que ontem eraconsiderado válido amanlaâ pode serquestionado
ou considerado inadequado pelo mesmo grupo social. Do mesmo
modo queoscostumes dos esquiniós podem servistos conto estra-
nhos pelos ocidentais,o comportamento dos inc4ígenas ianomâmis
pode serconsiderado estranho ou nfio adequado pelo nfio indígena.
Isso pode nosrevelar um relativisrno ao considerarmosa ética como
um roldeconvenções provisóriase não legítimas, que se modificam
ao sabor do espaçoe do tempoe atendem aosinteresses de grupos
que sesucedem na governançae na sequencialidade histórica.
Portanto, com base no exposto atéaquie nas premissas apresen-
talas pelos autores mencionados, podemos sintetizar alguns pontos
fundamentais da temática em estudo:
Entendemos que consiste no comportamento adequado aos
hábitos, costumese valores vigentes em um grupo social e/ou na
sociedade de determinado tempo, lugare espaço sócio-histórico,
culturale político, os quais apresentam, nesse mesmo contexto, força
e legitimidade pelas convençõese tradições e, não raro, se legitimam
também pelos fundamentos legais validados naquele grupo social
e/ou sociedade.
Uma açãoé considerada contraa ética — anética — se viera ferir
tais costumese hábitos, de forma que configura uma ação discre-
pantee em desacordo com os valores vigentes naquele contexto,
revelando comportamentos também fora dos determinantes legais
em vigor. No momento em queum novo tipo de comportamento
passaa ser adotado pela maioria das pessoas ou pelo grupo social,
adquire forçae passaa constituir-se em um novo valor ético-moral,
que revela por si sóo caríter histórico da ética, da morale da mora-
lidade (Vázquez, i986).
A diversidadee a modificabilidade dos costumese das ações
humanas, individualmente ou em seus grupos sociopolíticose cul-
turais de convivência, demonstram que não sãoapenas estes que se
modificam; modificam-se também osvalores que lhes dão susten-
tação, Com isso, são alterados os hábitos, os jeitos de viver —o etbos
do grupo e/ou da sociedade em tela.
Essa modificabilidade confere historicidadee transitividade às
formas de comportamento humano. Com relaçãoà reflexão éticae
à vivcncia das normas morais, delimita os espaços de atuaçãoe de
valoração da ética, da morale da moralidade, enquanto teoricamente
explicitadose praticamente exercidos na vida cotidiana dos sujeitos
em sua convivência em sociedade.
Conforme Galvão (i996), existe uma vertente que defende uma
perspectiva de a-historicidade no campo da reflexão ética, por ele
denominada de uisüo ci‹•n tifica âu m ora 1. Considerando suavisão de
cunho religiosoe determinístico,o pesquisador define três fontes
básicas de origem da moral:
• Deus — As normas morais se definem pelo cunho transcen-
dentee sobre-humano, com leis deterrninístiias corno fonte
única da moral.
• Natureza —A moral como “direito natural”é proveniente de
aspectos da conduta natural biológica, sendo qti€ os instintos
humanos dariam origem às qualidades morais.
• Ser humano — Porsuacondição inianente de ser bom e justo
e por ser dotado de estruturae essência eterna, imutávele
racional,o ser humano seria ele mesmoa fonte da rnoi.il.
Em contraposição ao definido por Galvão( 996)e de acordo com
as premissas apresentadas, de finimos que as reflexões éticas sobre
as posturash uma nase sobre as vivências no campo dasriormativas
morais revelam, não raro, que a moralidade factual de uma socie-
dade e/ou grupo social terri cunho transitivoe adaptávele per niite
que esta seja aprirnorada ciii prol da construção de uma sociedade
maisjusta, sustentávele humanamente situada.
A história da humanidade nosapresenta interessantese ilustra-
tivos exemplos sobre essas mudançase adaptações, avanços e/ou
retrocessos no campo da moralidade. Há tempos de harmoniae
há tempos de barbaries —e todos são tempos humanos, razão pela
qual nos cabea reflexão í•tica.
N?aoc exagero afirmar queo grande esforço teórico reflexivo da
ética consiste na busca incessante da compreensâoe da apreensão
interpretativo-reflexiva dos valores que fundamentam asvariações,
a fluidez,a celeridade de mudançac astransformações nos hábitos
e nos costumes de cada agrupamento e/ou sociedade humana.
Essa questão levantaa problemática fulcral da historicidade da
ética, da morale da moralidade —e levaa outro problema funda-
mental:o da universalização da ética. Alguns valores provenientes
também doscostumese dos hábitos humanos, entendidos como
bonse adequados, são passíveis de universalização, destacando-se
entre elesa dignidade,o respeito mútuo,o diálogo,a solidariedade
e a justiça, que, conforme propõe Vázquez (ig86), podeme devem
servivenciados em diversos tempose em diferentes espaços sociais,
culturaise políticos,
E necessário refletir também sobre os âmbitos nos quais deter-
minados valores, habitose costumes que, de algum modo, ferem
direitos fundamentais do serhumano sãolegitimadose validados
em diferentes espaços sociopolíticose culturais. Nesse sentido,é
preciso discutir sobre comoe porqueasvariações dos costumes
revelame validam característicase ações não adequadasà vidajusta
e harmônica nas mais diversas culturase grupamentos humanos.

i. A questão básica da ética consiste:


a. em normase prescrições sobreo agir humano sobo ponto
de vista de seu comportamentoe dos princípios legais.
b. em uma reflexão sobre as questões básicas da convivência
e das atividades artísticas.
c. em reflexões sobre como agir peranteo outro.
d. na definição sobre as regrase normas do bem viver.
e. Nenhuma dasrespostas está correta.
z. Analise as alternativasa seguire indique se são verdadeiras
(V) ou íalsas (F).
( )A óticaé h istórica,e a moralé definitiva.
( ) Na história humana, há apenas um constructo moral para
todos os tempose espaços sociais, culturaise políticos.
( )A ctica,a moralea moralidade sào formas de aç.ao humana
de cunho históricoe adapt5vel.
( ) Apenasa moralidade se modifica na açfio humana.
( ) Ética, morale moralidade são formas de comportamento
humano, definitivoe não niodificável.

Em suas premissas, denominadas de visão científca da rno -


rale permeadas por um cunho deterniinísticoe religioso,
Galváo (i99ó) defende tres fontes básicas de origem da mo-
ral, que sâo:
a. a realidade vivencial,a humanidadee a natureza.
b. Deus,a naturezae o homem.
c. o homem, osvalorese as ciências.
d. a natureza,a sociedadee os princípios eticos.
e. as ciê ncias,a naturezae Deus.

Citee expliquea conceituação de ctica com a qual você mais


concorda.

Con base na leitura deste capítulo, procure relacionar a


ética,a morale a moralidade ao seu cotidiano vivenciale
p rofissional.
Questão para reflexão

i. A pólisé uma dimensão físico-social-político-cultural ani-


mada, dinâmica, flexívele transitiva.O que você entende ser
fundamental para que elatenha essa dinamicidade*

i. Defina, de acordo com as proposições de Giles (Ig84), as


condições pelas quais podemos classificar um problema
como sendo de àmbito filosófico.

O$ condiÇôe80 Serem ob8erF0de5 per0 qH€ um problema 8epa


classificado como filosófico sáo, segundo propõe íSiles (1984).
qtte U€ Seja p0S$ível de umo JorftIHfsfi2o simples, poréttl glob0l,
isto e› que obronjoo todoe néo apenas as partes do fenômeno
O b50r¥OdO. TOTttbéTtt pYeci8o 5eY OÔertO, pexÍHele Q He leveO nO-
UOS SitttO§ÔeS QHe O prÓprio ref!EX•âO plOSóflCO pOSSO COHteniplOr,
levantando possibilidadese alternativas. Ainda, nóo deve ser
isolado de seus contextos de origem, siluando-se no conjunto de
rela(ôeS do mundo vividoe das experiências da vida prática dos
koltleH8e eHlTe 08 ÃOftlett8.

z. Como podemos definira expressão cngajemento ético, de


acordo com Rodrigues (zoo8)e Vásquez (ig86)*

Segundo essesa atores, existe engajamento ético quando ose u-


)eitos, comprometidos com so u universo vivencial, se opôem aos
hábitose aos discursos originados das tradi(ôese dos costumes,
C Odq HiYe1'tt nO ¥O$ OT1flH$ Ãe Ogir, peH80ttdO Eftt nOUO$ pO$Sibili-
dadese aprimorando SHH "f^, em seus espaços de vida em co-
m em e em suas dimensões de seres sociaise políticos, mutóveis
e transformadores de si práyriose de seu ambiente. Desse modo,
revelem-se como seres de virtudese de uícios, em suas eçôes
como sujeitos que vivente convivem no sociedade, em seus dJe-
rentes grupos e/ou categorias de açâo profissional.

Se você estiver interessado em aprofundar os estudos sobre


os temas tratados neste capítulo, em especial sobrea ques-
tão da ética, sugerimosa leitura dos seguintes textos:

ARISTÓTELES.A política. IS. ed. São Paulo: Escala, 1991.


(ver Livro 1, Capítulo 1, p. 11-14)
CHAUI, M. Culturae democracia. 6. ed. São Paulo: Cortez,
199Z (ver p.3 S9)
A experiencia
éłico-moraİe
05

ffł0tźÍ05 tźÍß Vfif


Conteudos do capítulo.

Os diferentes períodos do desenvolvimcnto do pensamento


ético no sociedade ocidental.
A etica naA ntiguidadc Clássica.
A ética no yes todo medieval.
A ética no mundo moderno.

Apóso estudo deste capítulo, você seró capaz ‹:le.”

i. entender as diferentes experiências etico-morais da sociedade


ocidental;
z. cornpreender de que modo seexplicitaram os diferentes
períodos do desenvolvimento dae tica, desdea Antiguidade
Clássica ao lâàtlndo moderno.
Objetivarnos apresentar nesre capítulo urn panorama dosestudos
sobi-ea ética fornitilados pelos principais pensadores daA ntigtiidade
Clźssicae do período medieval relacionando seus conceitos de ética
conta realidade atuale verifÎcando sua aplicabilidade nos dias de
Iioje.
Consideremosa seguinte proposição de Rios( 994,p °4):
“A moral de nuta deteriuinada sociedade indicae norn atiza o corn-
portamento que deve serconsiderado born ou man.A ética procure
o fundamento do valor que norteiao comportamento, partindo da
historicidade dos valores de cada período histúrico]”. Essa afirmação
ilustra nossa intenção de examinaro tratamcnto dado aos ternas
da éticae da moral no decorrer da laistória da civilizaç äo ocidental,
abrangendo quatro grandes períodos:
i. AntiguidadeC lássica;
z. Idade Média;
3. Renascimento;e
ą. Idade Moderns.

i Ética na Antíguidade Cíóssica

Conformsa história da filosofia ocidental,a partir do sćculo


VI a.C., surgiu naG rćcia nuta interessantee intrigante tentativa
de explicar as questões da vida, da naturezae do honieni em suas
origens, cont base na observaçâoe no uso metódico da razäo, cons-
tituindo-se no que se denoniinou deȚlosoȚc.
Na clåssica obra Nleta)ís ica,o pensador gregoA ristóteles (i99ą,
p. 86) afirma que “Fora partir da inquietação, da perplexídade, que
se começoua filosofar. Avançando poucoa pouco, conseguiu-se
chegarà solução dos problemase das questões”.
A maior preocupação da filosofia, desde entño, consiste em pro-
por unia forma de tentar cxplicitara diversidade do aparente, do
iniprevisível, do caose da desordem, perquirindoa realidade própria
e dela extraindo condições para seu entendimento, de forma racional
e sistemática, originale metódica.

Os séculosV e IV a.C. são, na história do mundo grego,


os séculos clássicos, os séculos de ouro, nos quaiso liele-
nismo amadurecee desenvolve todas as suas potenciali-
dades. São os séculos nos quaisa instituição sociopoIí-
tica que o caracterizou, ou seja,a cidade-estado está em
plena posse de si mesma. [...] As cidades-estado helênicas
jamais conseguiram articular-se em uma unidade política
maior. Formaram-se ao longo dos séculos [.. .] ligas ou
espécies de federações de cidades. [.. .] Essa atitude tem
zeReyos culturais interessantes. (Lira, !989, p. z4-zS)

A atitude de procurae de definição de ideais humanos de vida


que partissem das condições existenciais do indivíduoe da socie-
dade constituiu-se no cerne do humanismo grego, característica
base do período clássico. Era na cidade-Estado queo homem grego,
como cidadão, exercitava sua condição concreta de racionalidade,
de liberdade de expressãoe de conhecimento, aprimorando, assim,
a dimensão da virtude (orcté) em sua plena condição, definida pela
capacidade racionale livre de julgar, de debatere de participar da
vida da pólis.
Segundo Bittar(zoo7). a filosofia surgiu como uma forma de
admiração, de espanto, de abalo em relação àquilo que aparece sim-
plesmente ao primeiro olhar, “aquilo que nos é dado”.O pensar
filosófico nos remetea pertinentes reflexões, em uma atitude que se
caracteriza pela busca da compreensão das causase consequências
da existência de determinado fenômenoe da ação humana.A res-
peito desse sentido de desvelamento do real que nos é dado pelas
primeiras impressões, Bittare Almeida (2O°7, 5, grifo nosso)
consideram que
O‹.• Elena Godoy

,J»mR# • 1i»d=yA,mb

ähg›8«*y LuanzM«8adoAmao
i*1«ș»3 *p«• zvizni.EugznzSrg=v‹Ak*ndBognVSh«=so‹k

yrr)mrcçúo ńe r+rigi+›l is • M a srcrpress

rron ogrn/io • Reginu Clauda CruzP resres


A filosofia consiste em uma atitude radical (de raiz],
perantea vidae peranteo mundo. Onde háordem ela
pode verdesordem, onde há desordem elapode uerordem.
É desta subversão que acaba por colhero espírito de sua
tarefa desafiadora, porque comprometida com a possi-
bilidade do novo, do não visto,e não experimentado, do
inovador, daquilo que desafioa ordem da regularidade
dos fenômenose da aceitação da tutela da vida desde
fora. Ou seja,a filosofia acaba por consentir uma certa
atitude peranteo mundo, que potencializa sua capaci-
dade transformadora, na medida em quedes-aliena, por
abalara estruturae refundar de sentidoa experiência
sobreo mundo.

As argumentações de Bittare Almeida (zOO7) nos direcionam


ao campo da reflexão ética, no qual, por relacionar-se com a área
filosófica, são superadas as meras opiniões (doxes)e envereda-se pelas
searas do campo, vinculado ao sabere ao conhecimento [epistéme).
A reflexão ética objetiva contrapor-se às contradiçõese às posições
determinísticas que se apresentam como verdades prontase dadas.
O cidadão da pólis necessitava exercitar suas capacidades livres,
racionaise situadas, para questionaro determinismo dessas ver-
dades e, desse modo, poder deliberare participar na vida pública.

A procura incessante pelo significadoe sentido da existência,


bem como deseus elementos constitutivos, com base na logicidade
racional levou ao entendimento de que apenasa razâo poderia, por
sua dinâmica, impor-se como crirério de busca da verdade. O pres-
suposto racional movia essa nova abordagem do real,e a verdade
passavaa ser aquilo que estivesse em acordo cont as leis do pensa-
mentoe da razão (fogos).
Enrre os primeiros filósofos estâo os pré-socráticos, cujas refle-
xões se voltaram paraa pl›ys is (natureza)e o fogos (estudo) corno
fundamentos da realidadec cujos valores de totalidade, unidadee
diversidade estavam nas bases da existência, da racionalidade, da ver-
dade. Nesse modo depensar, dcscartou-se ou mesmo aprisionoti-se
o mundo irnaginoso dos deusesc dos mitos.
Lara (i989, p. y8, grifo do original) considera então que

Era, pois, pela rota do anrropológicoe nâo mais por


aquela da pfiysis que a filosofia se re-situava. (.. .]. Era
agora necess.a rio pensaro serhumanoeo papel que lhe
cabia no universo. [.. .]O evoluir da problemática filo-
sófica [.. .] nâo esteve desligado das condiçôes concretas
da vida na pólis grega.

À medida que seestabelcciam as bases da democracia no mundo


grego, Atenas passavaa serum centro culturale o centro da filosofia,
no qual se faziam presentes contradiçõese dialeticidade crescen-
tes. Não mais centrada nas antigas tradições mitológicas, mas na
capacidadee na criatividade racional do ser humano, em seuinício,
a filosofia evidenciava-se pela capacidade de argumentação, sendo
marcada pela retórica dos sofistas.

Na Grécia clássica, os sofistas foram os mestres da retó-


ricae da oratória, professores itinerantes que ensinaram
suaarte aos cidad.aos interessados em dominar melhora
técnica do discurso, instrumento político fundamental
para os deb'atese discussóes públicas, já que na pólis
grega as dccisôcs políticas eram tomadas nasassembleias.
(Japiassú; Marcondes, 1990. p. zz7)

Wa le acrescentar que, com o nascimento da filosofia, como explica


Severino ('994,P 3i), “Criou-se uma tradi(âo de pensamento, elabo-
rando complexas visões da realidade, procurando sempre 'explicar'e
‘compreender’ o sentido das coisase fenômenos, de todos os objetos
de sua experiência, inclusive do próprio processo dessa experiência”.
Conforme Lara( 9 9. p. 8z, grifos do original), ”A sofística mar-
cou então os rumos da reflexão filosófica posterior, no intrincado
problema dos valores, poisé neles que, racionale emocionalmente,
se fundamentaa vida de pólise o problema etico-político.”
Mesmo sendo questionada como fundamento de uma educação
adequada,a sofística teve em sio meritório papel de desentranharo
serhumano dasantigas tradições míticase trazerà tonao ventre das
realidades sociopolíticas elitistase excludentes da sociedade grega
clássica. Era preciso estabelecer valores sólidos, racionalmente pen-
sados, capazes de ressignificara vida da cidade-Estadoe demonstrar
queo homem está na raiz da realidade,o que levaa outros valores
e significados. Esse pensar filosófico de bases socrático-platônicas
e posteriormente aristotélicasé aindao motor da razão filosófica,
pela quala sociedade ocidental ainda se move.
No período antigo do pensamento grego,a passagem de uma
ética tradicionalmente validada pelo respeito aos seres mitológicos
que, pelos rituais sagrados, buscavamjustificar os agires humanos
para uma ética nacionalmente situada levou ao estabelecimento da
ideia de que os homens sãoresponsáveis pelo resultado de suas ações
e não têm mais seus destinos determinados pela vontade dos deuses.
Com o pensamento socrático, apresentado nas reflexões platô-
nicas, passou-sea buscaro entendimento da importância não ape-
nas do viver em sociedade, mas das razões que levavama esse viver,
objetivando entendera alma dos homens (teoria das ideias)e fazer
deles seres melhores.A filosofia socrática reflete sobre os modos de
vida na pólis, ao considerar as origens da vida políticae ponderar
sobre como oshomens seorganizam em grupamentose passama
viver em sociedade, nas cidades, nos espaços da vida pública, cont
formas de governoe com leis que regem suas açôes.
Com SÓCrates(47°-ss9 fl.C.), iniciou-se um novo modo dejus-
tificação da ação humana. Pelo uso da maiéutica* (parto de ideias),
ele tentou ensinar aos jovens gregosa a rrte (virtude), buscando
mostrar-lhes as possibilidades de aprimorar sua formação para que
viessenia integrar o governo democrático da cidade. Os gregos
entendiam sero exercício da cidadania um valor supremoe desti-
nado aosfilósofos, os únicos tidos como capazes de governara pólis
(Platão, zooo).

Giles( 98 q)considera queo “conhece-tea ti mesmo”, de Sócrates,


forneceua basea essa posição de críticaà centralidade da reflexão
filosófica das elites gregas. Os entrcchoques de opiniões nas dispu-
tasestabelecidas entre os cidadãos gregos no espaço público (rigorti)
resultaram em compromisso ou convenção mutuamente estabele-
cidae entendida comoo melhor para sie para todos.O diálogo, no
plano concreto,e o conceito, no plano teórico, levaram Sócratesa
afirmar queo ser humano transcende as individualidades,o que
se apresenta como reforçoe críticaà relatividade dos pontos de
vista retóricos dos sofistas. O indivíduo poderia, pelo conhecimento
virtuoso, estabelecer uma norma ética universal —a necessáriai
sociedade jusra (Giles, Ig8q).
Ainda segundo Giles (i98¢, p.63), como método de reflexão
e argumentação,a maiéutica soct-5tica possibilitou que se desnu-
dassem as realidades da cidade-Estado grega, nem sempre justas,
nem sempre adequadas, nem sempreé ticas. Para Sócrates, pela
dererniinaçfio do bem e do belo, ser ía possível estabelecero bom e
o justo. Surgiram, assim, as conccituaçóes básicas da estéticae da
ética como componentes vinculadosà filosofia.
De acordo corri Lara (i9 9), ••nia morte de Sócrates, pela conde-
nação dada por um governo democrata moderado, essa democracia
atcniense revelou-se em rodaa sua crtiezae anibiguidade. Coube ao
seudiscípulo, Plat?ao, mostrare denunciarà populaçãoa crise então
vivida pela cidade-Estado, obrigandoa a redirecionara reflexão filo-
sófica na procura dos seus fundamentos, poiso momento vivido pela
sociedade grega apresentava uma profunda crise de valorese com
princípios nada convencionaise sem conformidade com premissas
verdadeiramente democráticas.
Com a intenção de referendar as premissas filosóficas do período
clássico grego, apresentamosa seguir alguns dados sobre os princi-
pais pensadores do período.

Em suas obrasA R‹•y‹’i Efica (wood)e A yologin âe Sócrates ([s/d]),


Platão$4z8/Q27-348/3¢y a.C.) apresenta denúncias sobrea injustiça,
a corrupçãoe a imoralidade reinantes na administração pública de
cidade-listado gregae alertaa população, em especial os jovens,
sobreo mau governo dos Estados gregose sobrea necessidade de
utilizara verdadeira filosofia, conta qual pudessem trilhar os carni-
ri lhos da justiça.
O pensaniento platònico, cujo protagonistaé sempre Sócrates,
concebea filosofia corno um grande projeto educativo das classes
governantes, entendendo-a como condiçño primeira parao estabe-
lccimento do Estado idealc do governo ideal volrado àjtistiça social
e política, do qual, no entendiniento platônico,a pólis grega tanto
necessitava.Para Platâo, ta1governo deveria serexercido por reis fiIó-
sofos, considerados como osúnicos aptosa desempenhar esse papel.
Segundo Lara (i989), no 3mago do pensar platònico, uma contra-
diçào dialética se estabelecee ntre dois príncípios antagònicos: por
um lado,a racionalidade,o mundo ideale o deniiurgo; por outro,
a irracionalidade, cuja representaçãoé a niatéria,a necessidade,a
imageme a corrtipçño,o ser liuniano concretoe real, conio niero
reflexo daquela imagcm ideale de perfeita har nionia ‹jue se apresen-
tava no primeiro campo decntendiniento platônico,o da idealidade.

Para aléni de todas as críticasà visăo idealistse utópica da repú-


blica ideala ser adrninistrada pelos reis filósofos, ar niados de uma
sabedoria quase infalível,o ideal do Estado éticoe justo revelado
por Platão na obraA Reptihficu, deve serapreciado como denúncia
das estruturas de dominaçãoe como alerta sobre as possibilidades
quea superação desse modelo de governo rraria ao povo. Assim,a
teoria platônica aparece conto uma espécie de crítica sociale política
e, por isso, suas premissas são ainda válidas, como base reflexivae
crítica. Como utopiae possibilidade, essa teoriaé útil para que se
pensee sejustifiquea necessidade de estabelecer governos aptose
justos, voltados aos reais interesses dos cidadãos, conto partícipes
e protagonistas da vida em sociedadee dos negócios da pólis. Na
obra Apofo§ic le Sôcrates ([S.d.]), em especial na terceira parte, há
um belo constructoa ilustraro que a firmamos.

Nascido em Estagira, Aristóteles (384-322 a.C.) foia Atenas


para aprimorar seus estudos, nâo suspeitando da derrocada da vida
política do mundo helênico, com lutas fratricidase suicidas entre
as cidades-Estados gregas. Entre idase vindas, por volta de 3is R.C.,
de voltaa Atenas, fundou suaescola,o Liceu Peripato, assim deno-
minada pelo seu costume de dar aulas caminhando noe ntorno de
Atenas. Tomandoa cidade-Estado em crise como objeto de suas
reflexões, Aristóteles periiiitiu-se filosofar sobre essa realidade con-
creta, sobre esse espaço público, dando-se conta da necessidade de
pensá-la sem perder de vista os ideais que a transcendiani.
A teoria aristottlicae profundae atinge tópicos até entâo não
esclarecidos pelo pensamento filosófico, apresentando um ainda
inédito arcabouço ético-político nesse contexto de reflexão. Mesmo
aoenfatizara possibilidade da contemplação, como virtude máxima
do homem, como propôs Platão (zooo), Aristótelesa pensa nos
limites da vida pública, da vida na pólis, na qual surgeme se esta-
belecem as grandes tensões entrea liberdadee a vida na cidadee
onde, pelo exercício da capacidade virtuosa, caberia aos sujeitos
encontrara e udaimonra(felicidade) como fimúltimo da vida, Assim,
a humanização do indivíduo consistiria em deixar-se impregnar, em
submeter-se ao jogo da razão. Desse modo, ao compreender sua
capacidade racional, ele teriaa consciência da liberdadee das neces-
sidades humanas. As premissas aristotélicas situam-se no campo das
reflexões ético-políticas essenciais parao exercício da vida pública,
poisé nela que se desencadeiaa vida política na qual os sujeitos
podem exercera condição de membros da pólis.
A tragédia grega revelava-se no confronto entre os ideais tradi-
cionais, que lutavam para sobreviver,e os novos valores propostos
paraa cidade democrática de Acenas, que levantavam tanto críticas
quanto louvores. Na obraA política, Aristóteles( 99fb) mostra que
ao cidadão ateniense interessava manter-se na justa medida, no justo
meio,o que evitaria os excessos da cobiçae do orgulho desmedidos
(Í;*)/hrís)e atrairiaa aprovação dos deusese também doscidadãos.
Questionava, então, Aristóteles sobreo que seria necessário para
serfeliz, para obtera eud«imonis,A contrapartida terrena da vida
na pólis contrapunha-se ao plano transcendente no qual se colocava
o problema destino-liberdade. Era preciso, pois, olhar parao alto,
crer nos valorese viver na medida do justo (Lara, ig8g).
Embora complementar ao pensamento platônico, Aristóteles
provocou uma significativa ruptura com a concepção idealista socrá-
tico-platónica, distinguindoo campo teórico do campo prático. No
nível da razão teórica, rodo conhecimento deve pautar-se pela evi-
dência dos princípiosc pela logicidade das conclusões. No entanto,
na razão prática, colocamo-nos diante das probabilidadese valores
que nos obrigama escolher, decidir, optare deliberar cont liber-
dade, consciênciac responsabilidade, sempre evidenciandoa jusra
medida,o equilíbrio,o bom senso, de modoa ordenar as atividades
morais tendo conto vértice último da vidaé ticaa e«doiroonin, n5o
como objeto de escolha, mas como condiçãoe fim último da vida
(Ariscóceles, huh).
Indicaro balizamento de direções no sentido ético ou virtuoso
e equilibrado do ser humanoé a base do carater situado na media-
nia aristotélica. Tais qualidades eram relativas aos homens livres,
dotados de sabedoria praticae aptosa procedera escolhas, tomar
decisõese deliberar livree conscientemente sobre elase sobre suas
consequências.

Aristóteles (i99ib) considera serem poucos os sujeitos aptosa


candidatar-sea uma vidajusta, equàninice equilibrada, sendo que
entre eles estariam apenas os prudentes, os sábios, os que de dream
suavidaà atividade política de forma livre, conscientee responsável.
Considerando quea comunidade perfeita para os gregos seriaa vida
no àmbito político — atuando conto cidadãos da pólis —, Aristóteles
(i99ib) entende que elase situaria no fim último de um processo
natural que visa levaro ser humanoà perfeição. Nesse sentido,o
sujeitojamais se realizaria em si mesmo, porem,à medida que adqui-
rissea capacidade de integrar-se na pólis, ele aprenderiaa conviver
e entenderia seu papel de cidadao conscientee livre, portanto cor-
responsável pelos destinos de sua cidadee de sua vida.

Segundo Bittare Almeida (z 7). il base teórica de Aristóteles


assenta-se sobre pilarese princípios da vida pública, da vida na pólis,
e revela pontos que evidenciama iondi(âo do serhumano conto ani-
mal político, que terri participação na vida política corrio cidadão da
r ey ‹iblica. “Nessa teoria,a república aparece conto forma mista de
governo, constitu:da da conjunç.ao das virtudes das demais formas
de governo, destacando se conto modelo na busca da mdiedade
[mediania] em política” (Bittar; Almeida, zo 7, . i io).
Essa mediania denotaa importância da equidade conto postura
políticaa ser aclotada pelo indivíduo no exercício da vida em socie-
dadee demarcaa teoria aristotclica como defundamental contributo
parao pensamentoe a teoria poI ítica que permeiam todaa história
da sociedade ocidental, ainda presente nos estudose nas reflexões
sobrea éticac a política no período contemporâneo.
› ftica na Idade Média

Cont seus enfoques profundamente naetafísicos, em razfio do


clássico embate entre fée razáo,a Idade Média fundamentoti-se
na lei divinae eterna como pressuposto má xino do bem viver, por-
tanto dos fundamentos da éticae da moral.A vontade de Deus
caracterizava-se cornoa expressão ideal da ordem do Universo, da
qual emanavam rodos os valores em sua plenitude, bem como nor-
mas e determinações da convivência cotidiana dos indivíduos em
sociedade.
Nesse contexto, Deus eraconsideradoo fundamento básico da
existência, isentandoo ser humano de suacapacidade de autor-
responsahilizaçáo por suas decisõese ações. Sol essa perspectiva,
tudo dependia de Deuseo homem deveria submeter-se às vontades
exógenase absolutas que lhe determinavam as formas corretas de
pensare agir.
Sobreo período medieval, Vals (zoo6,p 37)a firma que:

A religi(ao trouxe, sem dúvida alguma, um grande pro-


gresso moralà humanidade.A meta da vida moral foi
colocada mais alro, numa santidade, sinônimo do amor
perfeito,e que deveria ser buscada, mesmo quefosse
inatingível. Mas náo se vai negar, também, que osfana-
tismos religiosos ajudarama ohscurecer muitas vezes
a mensagem ética profunda da liberdade, do amor, da
fraternidade universal.

Assim,o que seconvencionou chamar de Ida(e Médiae uroyeia


teve seu início no período entrea 1ibera1iza(ão do cristianismo, em
3!3,pelo imperador romano Constantinoe a queda do Império de
Roma, em qy6. Costuma-se dividira Idade Média em:
• Alta Idade Mtdia, que vaidesdeo século V ao século X;e
• Baixa Idade Média, que vaido século XI ao século XV.
Com quase miI anos,a Idade Média europeia pode sereviden-
ciada apenas na Europa Ocidental, região influenciada pelo predo-
mínio da vís3o cristã de mundo.O pensamento ético-político estava
atrelado profundamenteà religião católic a,à interpretação da Bíblia
e .a teologia cristã, que sustentavania ordem política,a ordem reli-
giosae a ordem valorativa. Assim,o cristianismo dominouo período
medievale impôs seus valorese suas visões de mundo, sendo mar-
cado por grandes questões:
• a criação do mundo, como predomínio da visâo criacionista;
• a pessoa liumana, com sua natureza essencialmente depen-
dente da vontade divina;
• a imortalidade da alma, com sua dimensão dual de erroe
pecado verstts salvação eterria;
• o entendimento da orígeni divina da lei moral conta proposi-
ção da consciência de bem, inatae imutável,a qualo homem
játraz consigo ao nascer (Vals, zoo6).
Os pensadores de destaque do período medieval foram Santo
Agostinho (3s4-¢2o) e Sâo Tomás de Aquino (izz5-izyq), consi-
derados, respectivamente, representantes maiores dos períodos
da patrística (de formtilaç.ao filosófico-teológico dos princípiose
dogrnas cristãos)e da escolástica (de ensinamento pra tico-vivencial
das bases filosófico-reológicas da doutrina cristá).
Segundo Vals (zoo6), Santo Agostinho revela influências de
Platão em seus constructos filosóficos, baseados na teoria das ideias
inatas platôn icas. Em seus diálogos, Agostinhot ratou de temas
ligados às questões do conhecimento e, sem separar o saber da fe
c da religião, apresentoua essência da vida humanafundamen-
tada na vida religiosa. Na teologia, Agostinho tratou dos do guias
cristãos sobrea existênciac a naturez:t de De us; na cosniologia,
investigou as noções de tempoe eternidade; e, na ética, questio-
nou as origens do mal, da felicidade, do livre-arbítrioe do destino
humano — inipregnando todas essas questões com a centralidade
da figura de Deus.
No pensamento agostiniano, Deusé o centro de tudo —o prin-
cípioe o fim supremo do ser,a fonte de todoo conhecimentoe
a norma maior da vida. Podemos entáo, com base nisso, deduzir
uma ética de ausência de liberdade, de submissãoe de dependência
humana diante da vontade divina.

Na obra Stir;ia teológico, Santo Tomás deAquino (i99o) trata da


natureza de Deus, das questões moraise revela fortes influências
aristotclicas, revalorizando sua ideia conformeo contexto medieval
e demonstrandoa verdade da concepção crisrã de mundo. Tomás
deAquino identificao ser com Deus, apresentando cinco provas
da existência divina, deduzidas do mundo sensível,e entende que
o conhecimento sensívelé o ponto de partida paraa reflexão filo-
sóhca. Considera, assim, quea inteligibilidade de algo depende dos
dados sensíveis, devendo-se partir do efeito para se chegar às cau-
sas, do particular para se chegar ao geral, ao un iversal. lio conhe-
cimento indutivo que o move, compreendendo que razãoe fe são
coisas distintas.
O surgimento da nova burguesia (osniercadores) contribuiu para
a dissolução dos valores centrados na figura da Igrejae da divin-
dade eterna, que dom inaraino longo período medieval euroctntrico.
Embora destittiídos de poder políticoe de state social, os novos
burgueses possuíam poder econômico,o que foideterminante para
a derrocada dos valores medievaise paraa nova centralidade no
humanismo, concentrando-se na razão humana para fundamentar
a vida sociopolítica, que emergia com forte determinação no valor
econômicoe produtivo.

., ftica no Renasritneriio

Com o Renascimento (séculos XII a XVII), procurou-se esta-


belecer novas formas para quea vontade humana sereaproximasse
de uma a(ão encarnadae autorresponsâvel dos indivíduos, recons-
truindo-sea atuação políticae moral com liberdade de ação, orien-
tada por virtudese vícios. Assim, os valores já não sáo entendi-
dos conto entidades abstratas ou subjetivos, mas constituem-se em
condutores ou motores da aç.ao humana, que, pelas experiênciase
opções racíonalmente pensadas do serhumano, provocam rupttiras
decisivas na forma tradicional de encarare vivenciar os valorese os
princípios da vida hunianamente situada.
O Renascimento caracterizam-se como uma nova forma de
cultura, cont valores críticos nas artes, na literaturae nas ciências
então emergentes, despertando reflexões de ordem políticae filo-
sófica. Nesse período histórico, ocorreram Grandes Navegações
e a descoberta do Novo Mundo, grandes avanços nos estudos da
anatomia humanaea volta de estudos clássicos em literatura, filo-
sofiae arquitetura.Ü um período qrie ilustraa razáo humana pelas
luzes, cm contrapartida ao período medieval, considerado de trevas.
Com a Reforma Protestante, os dogmas do cristianismo foram
deslocados do centro das atenções. Com isso, houvea emergência
de novos saberese conhecimentos científicos, entre outros aspectos
que determinaram uma recentralização do ser humano, como serde
ram.ao, que, por sua capacidade aurônomae racional, pode deliberar,
experimentarc produzir.
Nessa reordenação do pensamento medieval, caracterizou-seo
advento do pensar moderno, privilegiandoo problema do conhe-
cimento, tanto na perspectiva racionalista qu anto na enipirista,
em detrimento de uma axiologia essencialista, vigente no período
medieval. O mé todo, as ciências par ticulares, as hipótesese as
leis científicas trouxeram novos princípiose profundas mudanças
nos modos de pensare proceder e, conseguentemente, revelarani
mudanças sobre os valores que os determinaram.
As luzes do período simbolizamo esclarecimento sobreo género
humano, tirando-o das trevas da ignorânciae levando-oa melhorias
e conquistas significativas. Pelo exercício de sua específica raciona-
lidade, os sujeitos podiam identificar qualquer influência exercida
sobre eles.
No entanto, esse enfoqueé combatido por ROusseau( 7'*-!778).
Em suas diversas obras, esse pensador volta-se contrao embate
iluminista. Suas obras encrelaçam reflexão pedagógicas, religiosas,
políticase axiológicas, aparecendo como crítica explícitaà sociedade,
à políticae aos valores da época iluminista.

Com o Renascimentoe o Iluminismo, ou seja, aproxima-


damente enrre os séculos XV e XVIII,a burguesia que
começavaa crescere a impor-se, em busca de uma hege-
monia, acentuou ourros aspectos da etica:o ideal seria
agora viver de acordo com a própria liberdade pessoal,e
em termos sociaiso grande lema dos franceses: liberdade,
igualdadee fraternidade. (...]o ideal ético se confunde
como ideal da autonomia individual.O homem racional,
autônomo, autodeterminado, aquele que age segundoa
razãoe a liberdade, eiso critério da moralidade. (Vals,
aoo6,p.4ç)

Seguindo-se ao Renascimento, temosa Revolução Francesa


(!789). rDtO das insatisfaçõese das críticas aos modos deviver, agir
e pensar dos períodos anteriores. Caracterizou-se pela ruptura da
dependência dos indivíduos aos poderes absolutistas da monarquia
francesae também como críticaà centralidade do governo monár-
quicoe da Igreja. Os ideais de liberdade, igualdadee fraternidade
passarama servalores de base da nova sociedade que emergia dessa
revolução. Esses preceitos estão também entre os que revolucio-
naram os costumes, os princípiose as normas da moralidade da
sociedade ocidental no período subsequente.
A ascensão das grandes cidades-Estados no norce da Itália, nos
séculos XIV e XV, com forte comércio revelou uma classe de ricos
comerciantes, cultos, com visão políticae laica, colocando em mar-
cha uma revolução de costumese de valores. Os horrores da inquisi-
ção,a corrupção da Igreja em conchavos com os senhores feudais,a
Reforma Protestantee o início do racionalismo moderno acabaram
por minar asbases da sociedade medieval e, em seu lugar, surgiu
um novo modo dever o mundo, com senso de investigação científica,
valores de convivênciae tomada de decisão.

›. ética rio marido moderno

Objetivando apresentar os diferentes modos de ver


a ética no
mundo moderno, vamos analisar como alguns pensadores tra-
tam questões da ética em relaçãoà realidade práticae vivencial
da modernidade no mundo ocidental. Do ponto de vista histó-
rico, esse período iniciou-se com a ruptura das característicase
das visôes de mundo medievais, iniciadas com o Renascimento,e
desenvolveu-sea partir dos séculos XVI e XV 11, com destaque para
o surgimento de pensadores como Francis Bacon (i56i-i6z6), Galileu
Galilei (i56q-i69z)e René Descartes( s96-i65o), atéo Iluminismo
do século XVIII.
Sob o prisma da ética,o surgimento da modernidade trouxeo
advento do indivíduo, da consciência, da experiênciae da atividade
racional crítica, com forte oposição aos modos tradicionais (de bases
eminentemente religiosas) que determinavam osvalores, as virtudes,
os dog mas e as verdades estabelecidas de forma exógena ao sujeito.

O desenvolvimento das economias mercantilistas,o surgi-


mento da burguesia capitalista, as grandes invenções, as Grandes
Navegaçõese a descoberta de um novo continente,a Reforma
Protestante, as novas teorias científicas no campo dafísica, da astro-
nomiae da administração, entre outros, são fatores que, entre os
séculos XV e XVII, demarcam novas visões de homem, de socie-
dadee de cultura. Essas mudanças trouxeram consigo novos valores
e novas ordens ético-morais, provocando rupturas com os valores
do período medievale estabelecendo as bases teórico-práticas do
que se convencionou chamar de modernidade ocidental.
Conforme Vals (zoo6),a modernidadeé uma característica
daquilo queé modernoe seexpressa em um sentimento geral de opo-
sição ao classicismo, ao apego aosvalores tradicionais. Identifica-se
com as bases teóricas do racionalismoe do empirismo, valorizando,
assim,o espírito crítico,a razãoe a experiéncia como fontes de
verdades absolutas. Nesse período histórico, as ideias de progresso
e desenvolvimento valorizaro indivíduoe buscam libertá-lo do
obscurantismoe da ignorância, incentivandoa difusão da ciência
e da cultura, que se expandem de modo céleree culminam com
novas descobertas, invençôese produções humanas que permitem
avanços científicose econômicos, centrando-se na curiosidadee na
criatividade humanas.
O que caracteriza urna cultura modernaé a centralidade
no futuro, nos projetos inovadores, nas açõese nas construções
humanas voltadas parao amanhã, reforçando um ideal de projeto
sociocultural que se faz, de certo modo, ainda fundado na visão
platónico-aristotélica da pólis grega. Aqueles desprovidos de con-
dições, como osservose os seres periféricos, estavam impedidos
de participar das decisões da pólis;a participação só era permitida
àqueles sujeitos dotados de conhecimento das técnicase das ciên-
cias, relevantes parao desenvolvimentoe o progresso (Susin, citado
por Beozzo, i996)

Beozzo (i996) afirma quea modernidade ocidental se concreti-


zou tendo como basea reconstituição dos valores da modernidade
grega. Tais valores eram vigentes desde os séculos IV e V, os quais
sào denominados séculos de Póricles como uma alusão ao período
cm que Péricles(49d-i›9 a.C.) goveruou Ate nas, marcado por
grande esplendor. Por cerca de i5 anos, viveu-se nessa cidade grega
um período democraticamente definido no qual, conto governante
da pólis, ou seja, comoo chefe do poder executivo, Péricles consa-
grou-se cornoa maior personalidade políticae corno estratego-chefe,
İ$HtZlÓYÌO
acumulandoa liderança civile militar de Atenas, que alcançou no
período enorme projeção política, econômicae cultural. Essa base
foireforçada nos séculos XII e XIII, na Idade Média, com o surgi-
mento de pensadores de cunho empiristae racionalista, revelando
um humanismo quevalorizavaa razãoe o espírito crítico do homem.
Nesses períodose nos subsequentes, nos séculos XIV a XVII, com
fundamento nos valores do humanismo clássico,o homem passou
a ser visto comoo valor supremoe a medida de todas as coisas.
A acentuada vinculação com a figura do homem nosconstructos
filosóficos desses momentos históricos levoua diferentes projetos de
desenvolvimento, sustentados na necessidade de mudançase trans-
formações sociais, culturaise políticas, num esforço para caracteri-
zar possibilidades de escolhas, decisõese sistemas de valores pelos
quais os sujeitos pudessem melhor produzire inventar seus mundos
futuros, supondo-se queo homem, como sercriador de seu próprio
ser, pudesse gerar sua própria naturezae definir os rumos de sua
história. Ainda conforme Beozzo (igg6, p- 43).

O sonho de igualdade, de liberdadee de fraternidade,


embandeirado pela Revolução Francesa (i789), germi-
uou no humo medieval das corpora(ões, das fraternitas,
origens das sociedades de mútuo auxílioe dos sindicatos
modernos. As comunase asrepúblicas, os alquímistas
pesquisadores, os escolásricos cont exercício complexo da
racionalidade, os pactos comunais em favor do progresso
e do alargamento dos espa(os econômicose políticos,
o incremento da produção de bens,o mercado de bens
e finalmenteo mercado financeiro [.,.] tudo isto está na
raiz econômicae política da modernidade.

Com o advento do pensamento moderno,a questão dos valores


ficou em segundo plano, embora expressões do pensamento filosó-
fico no período, como Blaise Pascal (i6z3-i66z)e Baruch Spinoza
(i63z-i677), tenham sido marcantes conto fundamentos da éticae
dos valores nesse período de profundas mutações. Foram, portanto,
as teorias das ciências,e náo as teorias dos valores, que caracteriza-
ramo período moderno. Nesse período, destacou-sea capacidade
organizacional dos sujeitos, que passarama reivind ícar maior espaço
de participaçãoe de formas de organização social que culminaram
na emancipação da rayào instrumental (Habernias,i 989).

O otimismo radical burgues, embasado no mecanicismo mate-


rialista, no questionamento das bases da fé cristãe no lateses-a ire
(“deixar fazer”) económico, assumiua racionalidade humana conto
fator fundante das decisõese das ações individuaisc sociais, colo-
cardoo Homofabe r (“horriem produtivo”) no centro das discussões.
Desse modo,a políticae a ccononiia passarama serpontos
centrais nas formas de pensar, fazere produzir da nova sociedade
burguesae capitalista, alterando substancial mente seus valores de
basee os princípios quea regiame modificando-a sob todos os seus
aspectos organizacionaise de desenvolvimento.
O período histórico que vai do final do século XVI II até mea-
dosdo sóculo XIX compõe um quadro interessante no pensamento
filosófico ocidental, tendo como nomes marcantes na retomada da
quesráo axíológica:I inmanuel Kant (*7>4-180d-),Georg W. Friedrich
Hegel( 77°-1837)e Jean-Jacques Rousseau (!7! 2-1778), pensadores
que estabeleceram as bases para uma teoria dos valores mais condi-
zente com os enfoques filosófico-episteniológicos do período.
Kant deu inícioa um novo momento da filosofia ocidental.
Conheceu as conquistas das ciências racionais modernas, valo-
rizando-as, ressaltando os valores da sabedoria metafísicae da
ética para subsidiar seu modo depensar, cujas características s.ao
fortemente fundamentadas nos princípios do dever (deontologia
kantiana).
As objeções de Kant aocericismoe ao dogniatisrno racionalista
prcsentcs na tpoca levaram-noa defendera possibilidade de urna
ciênciae de uma moral que pudessem dar bases ao dever humano
de agir corretamente. Sua filosofia crítica pode serentendida por
meio de quarro grandes questões:
• O que podemos saber°
• O que devemos fazer°
• O que temoso direito de esperar•
• O queé o homem*
Kant entende corno sendo duas as fontes do con hecirnenro
humano: “asensibilidadee o entendimento; pelo primeiro os obje-
tos sâo dados, pelo seguudo sâo pensados” (Japiassú; Marcondes,
'99,p ritz). Segundo Giles (i98q), Kant considera que o mundo
dosfenômenos sóexisteà medida que nósmesmos participamos de
sua construçJao,o que significa que a razão humana,e somente ela,
dete rniinao objeto de nosso conhecimento e, consequentemente,
de nossa ação.
As premissas kantianas partem da ideia de que o ser humano
nãoé determinado como ascoisas da natureza, pois elepossui uma
vontade e, de acordo com ela, pode representar-se, criare dar-se
leis, ou seja, estabelecer, de modo racionale livre, princípiose valo-
res para seu agir. Tais princípios são orientadores de sua ação, os
quais, constituídos por meio de sua razão, são mandamentos ou
imperativos para sua ação, Desse modo,o atomoral seriaa priori
e totalmente independente de qualquer tipo de condicionamento —
empírico, sensível, histórico, acidental ou natural. Assim, como
explicado por Cenci( 996),o imperativo moral do dever kantiano
nâoé algo apenas hipotético; supondo-se queo sujeito deva cum-
prir incondicionalmente com o dever, este mesmo dever passaa ser
um imperativo categórico, ou seja, algo que não pode deixar de ser
cumprido.
Podemos afirmar então que, nas premissas kantianas, segundo
Hessen (i98o, p. 8g), “a realidade se move em torno dos valores de
nossa consciência moral, da boa vontade na ação, passando assimo
homema ser infinitamente superior aos demais seres viventes, pois
elese constitui no fundamentoe fim último do bem, da moral, da
justiçae do dever”.
Seguindoa trilha do idealismo racionalista alemão, cujo maior
expoenteé Kant, surge Hegel, parao quala razfioé o próprio modo
deserdascoisas, sua essência, sendo que tudoo queé realé racional
e vice-versa, em uma dinamicidade dialética.
Essa dinamicidadeé históricae se potencializa em mudanças
constantes, as quais ditamo ritmo das próprias coisas;a presença
das contradições não deve serevitada, mas dela deve partiro motor
da ação, do conhecimento, da históriae das sociedades humanas
11vâ, +99s)
Assim, no pensamento hegeliano, essa dialeticidadeé tam-
bém fator de identificação, que no movimento do “dever ser” per-
meia todas as ações humanas, apresenta-se como produto do uni-
verso valorativoé tico, estético, político, religiosoe educacional.
As categorias axiológicas s.ao produzidas pela historicidade, sendo,
portanto, relativistase mutáveis. Assim,o conjunto de valores se
enriquece, se modificae se automanifesta, identificando-se com o
autoconhecimento humano.

De acordo com Giles( 984), em Hegel,a consciência moral está


no nível da construção históricae aqueles que criam ou vivenciana
novos valores não agem apenas em um plano moral, mas em um
plano historicamente situado, que é decorrente de ações humanas.
Eles pensam, ageme decidem em um deterrriinado contexto social
e históricoe dele depreendem osvalores de tais ações.
Hegel atribuiu significativa importíancia aos aspectos históricos,
culttirais, intelectuaisc políticos da modernidade, deixando desco-
bertas as questões económicase estruturais da sociedade moderna.
Karl Marx (i8i8-i883)e Friedrich Engels (i8zo-i895) viriama coi-
teniplá-las posteriormente, com seus estudos sobrea sociedade capi-
talista decorrente do seu modo racionalista-cientificista de orga-
nização,o qual iaracterizou todaa modernidade ocidentale suas
modalidades organizacionaise produtivas.
Segundoa perspectiva liegeliana, na modernidade,o sujeito ético
é aquele capaz de ditar as regras do jogo social, político, culturale
econômico, cuja éticaé a da pt-opriedade privada, do trabalhoe do
capital individual. Para esse sujeito,o progressoé o grande mito,
sendo fruto de ações de sujeitos livres para atuare para produzir,
fazendo, assim, fluira história (Susin, citado por Beozzo, i9g6). Esse
sujeitoé ticoé o burgués, laboriosoe integrado no mundo da pro-
duçãoe dono do capital produtivo, iuotor da sociedade capitalista
emergente, com base na propriedade privada.É um indivíduo his-
tórico, dotado de capacidade inventiva paraa produção de artefatos
que, pelo trabalho, niovcnia industrializaçãoe o comércio de bens.
A ciênciae a razâo,a técnicac a capacidade inventiva se incor-
yoraixi na vida do sujeito modernoe determinam osvalores de suas
ações, instrtinientalizando-as para finalidades práticase lucrativas,
moldando seuctl›os por esses novos ditamese determinantes da
modernidade ocidental.

O grande desafio aos sistemas filosóficos da modernidadeé


encontrar no próprio homem, em suacapacidade racional, em
seu livre-arbítrio, em sua autonomiae em sua experiência prática,
fundamentos para urna nova ordein ético-moral, sociopolíticae
institucional na qual tudo pode serquestion.avel, mesmoa própria
ordeme seus constructos teórico-práticos.

A reflexão ético-so cial do século XX trouxe, além disso,


uma outra observa(fio importante: na massifica(fio atual,
a maioria hoje talvezj3 não se comporte mais eticamente,
pois ri.ao vive imoral, mas amoralinente. Os meios de
comunicação de massa, as ideologias, os aparatos eco-
nômicose do Estado, já mao permitem maisa existência
de sujeitos livres, de cidadãos conscientese participantes,
de consciências cont capacidade julgadora. (Vals, zooó,

Nesses questionamentos sobre si mesmo, soF're suas produçôes,


suas formas de organização sociale produtivae tudo aquilo que
disso decorre,o ser humano moderno necessita superar suas 1imi-
ra(óese conhecer suas potencialidades. Ampliando seus limitese
competcncias de ação organizativae civilizacional, deve sercapaz
de analisar as consequências de suas açôes. No entanto, apesar dos
avanços da razão ínstrumentale de seus inqtiesrionáveis progressos
e conquistas, nem sempre essas possibilidades se concretizam.
Nesse sentido,é possível afirmar que, mesmoo indivíduo sendo
moderno, aindaé deficitário em suas formas de organizar-see de
gerír seus próprios constructos sociopolíticose culturais. Esse
indivíduo espera ainda por solucionar grandes dilemas de ordem
ético-moral, que surgem como desafios complexos, legadosa si pró-
prioe .a sequência histórica.
A modernidade consolidaa premissa de que sóé éticoo que se
fundamenta na razão humana. Assim, todae qualquer autoridade
deve pertencer ao sujeitoe às suas possibilidades racionais, obje-
tivando-se, desse modo, “desdogmatizar”o mundo, eliminando
os aspectos exógenos que contrariam seus reais interessese sua
capacidade organizacional.A ação humana passaa afirmar-se em
sua capacidade produtivae nela se centram os valores fundantes do
progressoe do desenvolvimento,o qual deve ocorrer pela capacidade
de trabalhoe de produção dos sujeitos.
Contemporâneose complementaresa Hegel, Marxe Engels
apresentam críticas ao constructo modernoe ao capitalismo, seu
fruto históricoe organizativo. Com suas teses materialista-histó-
ricase dialéticas, os pensadores pregama humanização pelo tra-
balho. As carênciase incompletudes queo ser humano apresenta
quando vem ao mundo seriam sanadas pelo trabalho, pelo qual ele
se torna capaz de “[.. .] alterara matériae as formas com que esta
assume, humanizando-a, dando-lhe sentido, realizando nelao seu
fim” (Marx; Engels, igor, p. 85).
A ética marxista (seassimé adequado denominá-la) estaria resu-
mida na célebre tese: “Até aqui os filósofos nada mais fizeram do
que explicaro mundo. Agorao queimportaé transformá-lo” (Marx;
Engels, 97'. .3O). Essa tarefaé trabalho, empenho, marco da passa-
gem humanae desuaforça criadorae construtiva, caracterizando-se
pela práxis transformadora, que se revela pelo trabalhoe pela capa-
cidade produtiva dos indivíduos, em ações revolucionárias.
Segundo Vázquez (i977), em Filosofin3 a yr-‹i.xis,

as contradiçôes fundanientais end que se debarea socie-


dade capitalista em nossa época chegarama tal aguça-
mento que os lioniens só poderão resolvê-lase garantir
para si um futuro verdadeiramente humano atuando
num sentido criador, isto é, revolucionfirio. Hoje, niais
do que nunca, os homens precisam esclarecer teorica-
inentc sum p‹aticu social,c regular conscienteniente suas
ações como sujeitos da história. (Vázquez, i977, . 47)

Considerando essa ação revolveîonáriae entendendoa importàn-


cisde os honiens agirem conio sujeitos da histúria, encontranios em
Marxe Engels (is7s)o senso ético voltado paraa dimensão coletivo,
para os trabalhadorese proletáriose para os oprimidos, emb'ora essa
ética se enquadre nos alicerces da erica rrioderna, pressupondo quea
razăo humana contempleo progresso,a emancipaçãoe a ampliação
da capacidadc produtiva da hunianidade.A críticaà burguesia capi-
talistse o desvendaniento das aspirações proletárias, de traballia-
dores que vendem seutraballio, sua forçae sua vida para sobreviver,
apresentani-se na grande obra posterior de Marx,0 cityitnl, na qual
sño discutidos os valorese as aspirações de supcração da sociedade
capitalistae da propriedade privada, pela revoluçfio do proletariado.
Na análise mar xista, todaa elaboraçño espiritual, as leis,a moral,
a religi3oe as teorias filosóficas, inclusive aquelas referentes aos
valores, são condicionadas pelo desenvolvimento das forças produ-
tivase pelo embate cntre as classes, as quais deterrninamo processo
históricoe as relações de produç.ao (Marx, i9g8).
O racionalismoe o empirismo centram suas premissas na ques-
tão da origem do conhecimento humanoe desuas possibilidades.
Os racionalistas entendem queo conhecimentoé intuído pela inte-
ligência humana, que dá suportea todo conhecimento verdadeiro
e válido,e consideram quea própria experiência sóé válidae tem
sentido quandoé estabelecidaà luz desse mundo inteligívele dado
pela razão. Assim, apenas variam os modos como cada um concebe
a realidade, mas há sempre uma base fundamentale essenciala essa
realidadee ao seu próprio processo de conhecimento. Essa baseé
a razão humana!
Os empiristas, por sua vez, negama existência desse mundo
ideale inteligívele afirmam queo realé dado aossujeitos apenas
pelo mundo dosfatose dos fenômenos, materiaise concretos, nos
quais háa inteligibilidade das coisas, ou seja, "o conhecimento só
começa apósa experiência sensível” (Aranha, *996, *99) ° *^"°°•
a experiência seriao fundamento de todos os conhecimentos possí-
veis e, na concepção dos empiristas John Locke (i63z-'7 4)e David
Hume (ry»-'776), não há outras formas de conhecimento senão
aquelas provenientes da experiênciae dos sentidos. Para os empi-
ristas, náo há qualquer possibilidade de colher si priori as essências
dos fenômenos, pois apenasa experiência concreta dará ao indivíduo
a condição de conhecimento (Japiassú; Marcondes, ig9o).
O racionalismoe o empirismo não se constituem apenas em
doutrinas filosóficas ou em teorias sobreo conhecimento, mas em
perspectivas socioculturais de cunho englobante em seu período de
surgimento, servindo como base para os valores, as atitudes, as ações
e as produções humanas, caracterizadas pelo advento do mundo do
trabalho, da ciênciae da técnica, com suas decorrentes revoluções
e modificações no mundo dosvalores ético-morais.
Epígrafe,x

Prefácio, xii

Apresentação, xvi

Como aproveitar ao ma ximo este livro, xxii

Conceitos básicos de ética, moral


e moralidade, z8
i.i Ética, morale moralidade, 3o
i.z A questão da historicidade da ética, da morale da mora-
lidade, 43

A experiência ético-morale os diferentes modos


devera ética, S4
z.i ética na Antiguidade Clássica, 96
z.z Ética na Idade Mé dia, 69

Ética no Renascimento, 7z
Ética no mundo modernO, 75

capítulo três Diferentes critérios éticos no mundo


contemporâneo, 96
3.* Aspectos gerais, g8
O mecanicismo de Galileue Newtoneo cientificismo raciona-
lista de Descartes tambérir contribu íram paraa substitui ição das
premissas anteriores, organícisrase essencialistas, ao considerarem
a ordem matemática do Universo — ordem esta que é naturale
dinàmicae que move osfen‹imenose os organiza.
O materialismo como forma de explicar os fenômenos também
teve forte influência no início do período moderno. Essa doutrina
contempla duas fortes vertentes, o materialismo dialéticoe o mate-
rialismo histórico, bases tcóricas que buscam justificara ordem
dasmudanças sociaise políticas corno produto dinâmico da aç.ao
humana transfot madora. Conforme Japiassue Marcondes (i9go,
p. i63), m ate rintreino dialéticoé termo empregado por Lênin “para
caracterizar sua doutrina, que interpretao pensamento de Marx em
termos de um socialismo proletário, enfatizandoo método dialético
em oposição ao materialismo mecanicista [pelo qual os fe nômenos
físicose sociais são explicados de forma casuístíca, deterrninística,
pois funcionam como uma máquina].” Por sua vez, consideram os
mesrrios autores queo termo m ‹iterialismo bistôricoé “utilizado na
filosofia mar xista para designara concepção materialista de histó-
ria, segundoa qual os processos de transformação social se daráo
através do conflito entre os interesses das diferentes classes sociais”
(Japiassú; Marcondes 1990, p. i63).
Síntese
Na modernidade,o sujeito éticoé o btirguês, laborioso, inte-
grado no mundo daproduçãoc dono do capital produtivo, motor da
sociedade capitalista emergente, com base na propriedade privada.
É liistórico, dotado de capacidade inventiva paraa produção de arte-
fatos que, pelo trabalho, movema industrializaçãoe o comércio de
bens. Esse indivíduo passaa ditar as regras do jogo social, político,
culturale econômico.É a ética da propriedade privada, do trabalho
e do capital individual.
O progressoé o grande mito da modernidade, sendo fruro de
ações de sujeitos livres para atuare produzir, fazendo fluira história.
A ciencíae a razâo,a técnicae a capacidade incentiva incorporam-se
na vida modernae determinam osvalores das ações humanas. Assim,
todoo processo do con hecimento moIda-se aos novos ditames da
ciênciae da recnologia,e o etcos moderno seinstrtimentaliza cont
finalidades pr áticase lucrativos.
Nesse contexto, as questõesé ticas de interesse coletivo, não raro,
são desconside radas e/ou superadas, em prol dos interesses mera-
mente individuais.

Questões para revisão

i. Assinalea alternativa incorreta:


a. As questões etico-morais são históricas.
h. Cada sociedade, cada cultura apresenta sua visão especí-
fica sobrea éticae a moral.
c. Não é possível diferenciar os valores éticos das premissas
morais.
d. Historicamente,a moral terri deterreinado as riorinas que
de íinem os comportamentose a moralidade de uma socie-
dade e, não raro, relaciona-se aos dererrir in antes legais
dessa mesma sociedade.
e.A éticaé uma forma de refletire procedera juízos de valor
so 're as ações dos indivíduos de deterrriinado período
histórico.

z. Segundo Platão, as três modalidades de estrutura de gover-

a. ditadura, democraciae o ligarquia.


b. de rnocracia, Estado nacionale oligarquia.
c. nionarquia, diradurae de mocracia.
d. nionarguia, oligarquiae derriocracia.
e. anarquisrrio, de rnocraciae autocracia.
3. Entre as conquistas da modernidade estáo desenvolvimen-
to do conceito de indivíduo, como sujeito de direitose de
escolhas livres, conscientese responsáveis. Assinalea alter-
nativa que define as premissas da ética no mundo moderno:
a. Sentimento geral de oposição ao classicismo, ao apego aos
valores tradicionais, identificando-se com a base teórica
do racionalismoe do empirismo.
b. Valorização do espírito crítico, da razãoe da experiência,
com a expansão das novas descobertas, invençõese pro-
duções humanas.
c. Centralidade nas ideias de progressoe desenvolvimento,
com a valorização da capacidade inventivae da criativi-
dade humanas.
d. Incentivoà difusão da ciênciae da cultura, culminando
com novas descobertas, invençõese produções humanas,
assim como avanços científicose econômicos.
e. Todas asalternativas estão corretas.

q. Citee comente os principais períodos do desenvolvimento


da ética na sociedade ocidental.

. Com base nos conteúdos discutidos no capítulo, qual dos


princípios ético-morais apresentados poderia ser relaciona-
do com o atual momento histórico da sociedade brasileira*
Citee explique.

Questão para reflexão

i. Qual dosperíodos históricos abordados neste capítulo valo-


riza uma ética mais individualista* Citee comente.
I. Quais seriam as capacidades primordiais inerentes ao exer-
cício da vida na pólis que Aristóteles propôs para seu tem-
po na Grécia Antigae que, ainda hoje, seriam adequadas ao
exercício da função pública?

Quando Aristóteles foia Atenas para aprimorar seris estudos,


HÓ'O $H5peilOUO dO ÜeTTOCOdO d0 vido pOlltiCO dO CidOÃe-E$lOdO
grega, com lutas r«tricidosc suicidas. Por isso, esse co ntexta
de crime morale política f:oro grande ob)eto das proposi(óes fi-
losó ca$ drisloléfiC‹1s, com abordagens perÍinettteS Sobrea Uida
pu blica dos cidaúâos. Entendendoa necessidade de pensera
vida na pólis sem perder de vistn os ideais quc ‹i transcendiame
a disposi(óo pessoal que devia tero homem péblico, Aristóteles
apontou que seri‹im a sabedoriae virtnd.es prridenciois, o
equifít›rioe a «cj)aci'dade para estabelecera justo medida as
qualidades primordiais inerentes ao exercício da vida na pólis.
COH$idCr0tTtOS QHe e$s0S COpaCidOÃeS $ÓO O itldo ÃOje DdCQHOÃOô
e riecessárias ao indivíduoe a o governante pé blico, paraq ue
possam agir coiti justiça, com desprendimentoe com os olhos
voltadosa o interessee ao bem comum.

z. De que modo Kant indicoua necessidade deo sujeito con-


templar as bases do devere como issoé denominado*

KOnté COnSideYOdOO JfósOJO Qlte p(OpÕS Ofimpefiofiitfos €OtegÔ•


ricosà sociedade de seu tempo, sendo ele mesmo um exemplo
da étic0 do de vCr, inici0'ndo,a 8$im, Hm no do momCnto dó1 Jfo-
sofia ocidental. Conheceue valorizou as conquistas das ciências
rOCiOHOi$ tttOÜeYtlO5, Wle8 5eTttpYe re$$OllOHdO 0$ ¥elOYCS dO 5O-
bedoria metaJ’sicae da ética para subsidiar seu modo depensar,
cujas características sâo fortemente embasadasnos princípios
do dever, que o pensador aÍemào denominou de deontologia
(deoniologia Contraria). Nesse perspcctiva,o maior dos pres-
5upoSto5 hipotéticos kanÍiHno$ depne que cada $u]€ito de da agir
dc• tel ormo que, em qualquer tempoe em qualquer lugar, suas
açôes possam seri-epetidas por outrem.

Se você estiver interessado em aprofundar os estudos sobre


os temas tratados neste capítulo, sugerimosa leitura dos
seguintes textos:

A RISTOTELES.A política. lS. ed. São Paulo: Escala, 1991.


(ver Livro 1, Capítulo2 a 12, p. 61-85)
BA ZERMAN, M.;TENBRUNSEL, A, Antiético, eu*
Descubra por que não somos tãoéticos quanto pensamose
o que podemos fazera respeito. São Paulo: Campus, 2011.
(ver p. 1-22; p, 61-76)
cnpítuło try
SOMUSï*0
C0Atßfft)û0¥ÔNR0
Conteúdos do capítulo.’

A experiência ético moral desdea modernidade atéo período


contemporâneo na sociedade ocidental.
Constructos éticos do período contemporâneo.

A póso estado deste capítulo, você será capaz de:

i. entendera questão da experiência ético-moral na sociedade


ocidental;
z. compreender os diferentes modos de ver a ética na socie-
dade ocidental, desdeo período moderno, em meados do
século XX, atéo contemporàneoi
3. refletir sobrea questão básica da ética como parte das práticas
cotidianas dos sujeitos em suas relações valorantes, desdea
modernidade atéo período contemporâneo;
¢. identificar alguns princípios ético-morais dos principais pen-
sadores de cada construcco ético-moral da contemporanei-
dade na sociedade ocidental;
f. analisar os diferentes critérios éticos do mundo contem-
porâneoe seus desdobramentos na organização sociale
profissional.

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