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IGREJA EVANGÉLICA DA PAZ

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CURSO PANORAMA BÍBLICO I


HISTÓRIA E TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO
1º Semestre de 2018

O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS


O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS
Prof. Ev. Cláudio Manreza Bortone

TEXTO BASE:
Panorama do Novo Testamento,
Robert H. Gundry, Edições Vida Nova, 4ª edição, 1987.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS ADICIONAIS:
A Bíblia Anotada (ARA)
Charles Caldwell Ryrie, Editora Mundo Cristão, 1ª edição, 1991.
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia,
R.N. Champlin e J.M. Bentes, Editora Candeia, 1995.
Introdução ao Novo Testamento,
D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris, Edições Vida Nova, 1ª edição, 1997.

“...crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo...” (IIPe. 3.18).
O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS – ÍNDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3
O AUTOR ........................................................................................................................... 3
AUTORIA ........................................................................................................................... 3
DATA DA ESCRITA ............................................................................................................. 4
LUGAR DA ESCRITA ........................................................................................................... 5
OS DESTINATÁRIOS ........................................................................................................... 5
PROPÓSITO ....................................................................................................................... 5
AS CARACTERÍSTICAS JUDAICAS ....................................................................................... 6
UNIVERSALISMO ............................................................................................................... 6
CONTEÚDO ....................................................................................................................... 7
MATERIAL PECULIAR A MATEUS ....................................................................................... 8
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 9

O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS – ÍNDICE


INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10
O AUTOR ........................................................................................................................... 10
AUTORIA DE MARCOS SOB A DIREÇÃO DE PEDRO ........................................................... 10
DATA ................................................................................................................................. 11
DESTINATÁRIOS E LUGAR DA ESCRITA ............................................................................. 12
O ESTILO LITERÁRIO DE MARCOS ..................................................................................... 12
O EVANGELHO DA AÇÃO .................................................................................................. 13
O PROPÓSITO EVANGELIZADOR ....................................................................................... 13
O SEGREDO MESSIÂNICO .................................................................................................. 13
A QUESTÃO DO FINAL LONGO .......................................................................................... 14
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 14

2
O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

INTRODUÇÃO
O evangelho de Mateus tem sido aceito, em todos os tempos, como uma narrativa
investida de autoridade apostólica da vida de Jesus Cristo, portanto trata-se de um documento
fundamental do Cristianismo. Nos meados do século II era o mais usado dos evangelhos, o que
se evidencia pelo fato dos escritores cristãos desse século citarem este livro mais do que
qualquer outro. Mateus parece ter sido o primeiro livro do NT reconhecido como investido da
mesma autoridade que os livros do Antigo Testamento. Desde o início obteve ascendência
sobre os demais evangelhos, principalmente porque:
- O arranjo do seu material por tópicos, e não em ordem cronológica, tornou-se um
manual apropriado para instrução;
- Ele contém a mais completa narrativa tanto das obras como dos ensinamentos de Jesus;
- Ele reflete um ponto de vista mais universal da relação entre Deus e os homens;
- Ele é o mais eclesiástico dos evangelhos, procurando enfrentar e solucionar os
problemas da igreja, e não meramente narrar a história da vida e dos ensinamentos de Cristo.

O AUTOR
Mateus é uma contração de Matatias que no hebraico significa “presente de Deus”. Ele
também era conhecido como Levi, provavelmente por ter alguma ligação com os levitas, a cujo
grupo sua família pertencia. Também aparece como filho de Alfeu, mas não se sabe se esse
Alfeu é o mesmo homem pai de Tiago, o menor. Em Mt. 10.3 é identificado como publicano
(cobrador de impostos). Os historiadores acreditam que ele foi funcionário do tetrarca Herodes
Antipas e trabalhava perto de Cafarnaum, provavelmente num posto fronteiriço da estrada que
começava no Egito, passava pela Palestina e seguia até Damasco (Síria). O nome de Mateus
aparece nas listas dos apóstolos de Jesus em quatro passagens: Mt. 10.3; Mc. 3.18; Lc. 6.15 e
At. 1.13. Segundo a tradição, Mateus evangelizou em lugares tão diversos quanto a Judeia, o
Egito, a Etiópia e a Pártia (região nordeste do atual Irã). A igreja ocidental o relaciona entre os
mártires do Cristianismo.

AUTORIA
O mesmo Papias que disse que Marcos registrou as reminiscências de Pedro, também
disse que Mateus escreveu as logias (termo grego que significa "declarações” ou “oráculos"),
em hebraico ou aramaico, que outros iam traduzindo conforme eram capazes. Neste contexto,
naturalmente logia se refere a um evangelho. Não obstante, não possuímos um evangelho
derivado da pena de Mateus em qualquer destas línguas semíticas, hebraico ou aramaico, mas
tão somente o atual evangelho em grego, que não parece ser uma tradução feita de um original
semítico. Há duas outras maneiras de entender a questão: (1) que Papias mencionara que o
nosso atual evangelho de Mateus foi escrito em grego, mas no estilo hebraico (não no idioma

3
hebraico propriamente dito), portanto não existiria qualquer tradução de Mateus feita com
base em um original semítico; (2) As logias aludidas por Papias se referem ao documento
Oráculos do Senhor, classificado como “documento Q” (ou fonte Q), escrito por Mateus.
Aceitando que as logias de Papias sejam o documento Q, alguns têm sugerido que
Mateus realmente o escreveu e seu nome foi vinculado ao primeiro evangelho do cânon,
porquanto o autor desconhecido do primeiro evangelho muito se utilizou do documento Q.
Não existem razões adequadas para negar que Mateus pode haver escrito ambas as obras,
mormente se o documento Q era um grupo de anotações frouxas, acerca da doutrina de Jesus
feitas por Mateus, posteriormente incorporado em seu evangelho formal.
A habilidade de organização exibida pelo autor concorda com a mentalidade provável de
um cobrador de impostos, como fora Mateus. Concorda também com isso o fato que esse é o
único evangelho que narra o episódio do pagamento da taxa do templo por parte de Jesus
(17.24-27). A narrativa do chamamento de Mateus ao discipulado usa o nome apostólico
"Mateus" ao invés de "Levi", utilizado por Marcos e Lucas, e omite o pronome possessivo
"dele", usado em conjunto com o termo "casa (lar)", de que se valeram Marcos e Lucas ao
descreverem o lugar onde Mateus esteve com Jesus em uma refeição (Mateus 9.9-13, em
confronto com Marcos 2.13-17 e Lucas 5.27-32). Esses detalhes incidentais são indicações
notáveis de que Mateus é o autor deste primeiro evangelho, em apoio às tradições da Igreja
primitiva, que desde o começo, e universalmente, tem atribuído a autoria deste evangelho a
Mateus, o publicano que era chamado Levi e tornou-se apóstolo de Jesus.
Este evangelho passou a ser conhecido e utilizado logo após a sua publicação, figura nos
primeiros cânons e sempre obteve larga aceitação no seio da igreja. Sua autoria, inspiração e
autoridade apostólica contam com as seguintes confirmações antigas: Papias, Inácio, Eusébio,
Irineu, Orígenes e Jerônimo.

DATA DA ESCRITA
Se Mateus se valeu do evangelho de Marcos, escrito no período de 55-65 d.C., então
Mateus pertence a uma data a partir do final dos anos 60, estendendo-se até 80. A atitude que
nega a Jesus a capacidade de profetizar, como também uma abordagem crítica geralmente
mais negativa, forçará o estudioso a pensar numa data posterior, nas décadas de 80 a 90 d.C.,
embora certo número de eruditos ortodoxos prefiram uma data posterior, devido a outras
considerações, como o argumento o interesse de Mateus pela Igreja (ele é o único evangelista a
usar o termo Igreja, e isso por duas vezes) o que deixa entrever um período posterior, quando a
doutrina da Igreja estava adquirindo maior importância, por causa da demora da volta de Jesus.
Mas a doutrina da Igreja já desempenha papel importantíssimo nas epístolas paulinas, todas
elas escritas antes de 70 d.C. E se Mateus escreveu com o fito de evangelizar os judeus, parece
menos provável que ele tenha escrito depois de 70 d.C., quando se alargou mais ainda a brecha
entre a Igreja e a sinagoga, do que antes de 70 d.C., quando as possibilidades de conversão de
judeus pareciam mais favoráveis.

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LUGAR DA ESCRITA
A natureza judaica deste evangelho sugere que o mesmo foi escrito na Palestina ou na
Síria, particularmente em Antioquia, para onde haviam imigrado muitos dos originais discípulos
habitantes da Palestina (At. 11.19,27). A notável preocupação pelos gentios talvez faça o prato
da balança inclinar-se em favor de Antioquia, a cidade onde estava a igreja local que enviou
Paulo em suas missões aos gentios. Em harmonia com isso temos de considerar o fato que o
mais antigo testemunho acerca do conhecimento da existência do evangelho de Mateus nos
chega de Inácio, o antigo bispo da igreja de Antioquia (início do século II) através da Epístola
aos Esmirneanos e da Epístola a Policarpo.

OS DESTINATÁRIOS
Mateus estava trabalhando num centro de grande população judaica, na Palestina ou na
Síria, visto que o livro apresenta grande número de aspectos judaicos. O testemunho antigo é
que Mateus visava os judeus recém convertidos ao evangelho, e este livro serviria para eles
como um manual de instrução na fé. Por outro lado, a igreja em crescimento e o discipulado
cristão também são temas abordados com destaque, o que revela a intenção do autor de
alcançar igualmente os gentios.

PROPÓSITO
A organização editorial dos ensinamentos de Jesus, o seu conteúdo incisivamente ético, e
sua ênfase no discipulado têm produzido as ideias que o objetivo deste evangelho era servir
como um manual de catequese para recém-convertidos, ou como manual escolástico para os
líderes da Igreja, adaptado à leitura litúrgica e à homilética nas reuniões das igrejas primitivas.
Paralelamente, é possível identificar com clareza a intenção de ter sido escrito para evangelizar
os judeus, confirmando-os na fé após a sua conversão.
O evangelho de Mateus é o evangelho do Messias e do novel povo de Deus, a Igreja, que
tomou o lugar da nação de Israel no antigo pacto. A partir dessa perspectiva inicial, é
amplamente aceito que Mateus deseja demonstrar que: (1) Jesus é o Messias prometido, o
Filho de Davi, o Filho de Deus, o Filho do Homem, Emanuel, ou seja, aquele para quem o AT
aponta; (2) os judeus, especialmente os líderes, pecaram quando deixaram de reconhecer Jesus
durante seu ministério e correm grande perigo se continuarem com essa postura, mesmo
depois da ressurreição; (3) o reino escatológico prometido já despontou, e seu início foi
assinalado pela vida, morte, ressurreição e exaltação de Jesus; (4) esse reinado messiânico
continua existindo no mundo à medida que os crentes, tanto judeus como gentios, submetem-
se à autoridade de Jesus, vencem as tentações, suportam as perseguições, acolhem
calorosamente os ensinos de Jesus e dão testemunho do “evangelho do reino”; (5) esse reinado
não é apenas o cumprimento das promessas do AT, mas uma amostra do reino consumado que
surgirá quando Jesus voltar. Esse conjunto complexo de temas servia para instrução da Igreja e
era eficaz como equipamento para os cristãos na tarefa da evangelização.

5
AS CARACTERÍSTICAS JUDAICAS
A contínua ênfase dada por Mateus sobre o fato que Jesus cumpriu a lei e as profecias
messiânicas do Antigo Testamento (isto e aquilo aconteceram, para que o que foi dito por este
ou aquele profeta se cumprisse), como também o fato que ele traçou a genealogia de Jesus
fazendo-a recuar até Abraão, pai da nação judaica, indicam as preferências judaicas do autor
deste evangelho. Em contraste com isso, Marcos não alude de forma alguma aos antepassados
de Jesus. Seu interesse jaz naquilo que Jesus fizera, e seus leitores gentios (à semelhança da
maioria dos leitores modernos) pouco interesse haveriam de ter pela genealogia de Jesus.
Porém, era importantíssimo que Mateus demonstrasse a seus leitores judeus o fato de que a
genealogia de Jesus, seu Messias, remonta a Abraão, por intermédio de Davi.
Ainda outras características tipicamente judaicas encontradas neste livro são: (1) a
designação judaica de Deus como "Pai que está nos céus" (por quinze vezes em Mateus, uma só
vez em Marcos, e nenhuma vez em Lucas); (2) a substituição reverente do nome de Deus por
"céus" (sobretudo na frase "reino dos céus", onde os outros evangelistas dizem "reino de
Deus"); (3) um interesse tipicamente judaico pela escatologia (Mateus usa um capítulo inteiro a
mais do que Marcos e Lucas, sobre o discurso do Monte das Oliveiras); (4) referências
frequentes a Jesus como "Filho de Davi"; (5) alusões a costumes judaicos sem qualquer
explicação (23.5,27 e 15.2, em contraste com a explanação existente em Marcos 7.2-3); (6) o
registro do pagamento do imposto do templo por parte de Jesus (17.24-27); (7) inexistem nos
outros evangelhos declarações feitas por Jesus tão claramente judaicas: "Não fui enviado senão
às ovelhas perdidas da casa de Israel" (15.24); "Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em
cidade de samaritanos: mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel"
(10.5-6) e também 5.17-24; 6.16-18 e 23.2-3; (8) Mateus parece ter narrado a história da
natividade a fim de contrariar a acusação dos judeus que Jesus era filho ilegítimo, que Ele
aprendera artes mágicas no Egito, e que proviera de Nazaré, ao invés de ter vindo do lugar
certo, Belém da Judeia (cap. 1 e 2); e (9) Mateus também combate a acusação judaica que os
discípulos de Jesus furtaram-lhe o cadáver (28.11-15).

UNIVERSALISMO
O universalismo também é uma característica do evangelho de Mateus. Ainda nos
primeiros lances do evangelho, os magos gentios adoram o Messias infante na narrativa da
natividade (2.1-12). Jesus é citado como quem dissera que "muitos virão do Oriente e do
Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que
os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas” (8.11-12). "O campo é o mundo" na
parábola do trigo e do joio (13.38). De acordo com a parábola da vinha, Deus haveria de
transferir Seu reino da nação de Israel para outros (21.33-43). E Mateus é o único entre os
evangelistas a utilizar-se do termo "igreja" em seu evangelho (16.18 e 18.17). Ele encerra sua
narração com a Grande Comissão dirigida aos seguidores de Cristo, a quem ordena fazerem
discípulos de todas as nações (28.19-20). Portanto o evangelho de Mateus é um evangelho
cristão judaico com uma perspectiva universal.

6
CONTEÚDO
Diversas propostas de esboços foram apresentadas pelos estudiosos ao longo do tempo,
de acordo com o ponto de vista de cada um, a respeito do propósito e do enfoque da narrativa
de Mateus. A única unanimidade é que o tema central é a pessoa do Senhor Jesus Cristo como
o Messias prometido, o Filho de Deus, o Rei de Israel. Deixando de lado algumas propostas
muito excêntricas, expomos abaixo as teorias mais predominantes sobre a divisão deste livro.
1 – Estrutura Geográfica Relacionada com Marcos
▪ Prólogo interligado à preparação de Jesus para o ministério – 1.1–2.23 e 3.1–4.11 (Mc. 1.1-13)
▪ Jesus ministrando na Galileia – 4.12–13.58 (Mc. 1.14-6.13)
▪ Expansão do ministério para outros locais – 4.1–16.12 (Mc. 6.14-8.26
▪ A caminho de Jerusalém – 16.13–20.34 (Mc. 8.27-10.52)
▪ A confrontação em Jerusalém – 21.1–25.46 (Mc. 11.1-13.37)
▪ A paixão e a ressurreição – 26.1–28.20 (Mc. 14.1-16.8)
Problema deste esboço: pode ser aplicado a qualquer dos evangélicos sinóticos e não
informa quase nada dos objetivos peculiares a Mateus.

2 – Divisão em Três Seções Amarradas à Cristologia


▪ A pessoa de Jesus, o Messias – 1.1–4.16
▪ A proclamação de Jesus, o Messias – 4.17–16.20
▪ Sofrimento, morte e ressurreição de Jesus – 16.21–28.20
Problema deste esboço: Desfaz de modo inaceitável a importante passagem relativa a
Pedro no capítulo 16 e o desenvolvimento cristológico não é tão claro.

3 – Divisão em Nove Seções com Foco na Pessoa do Rei Jesus


▪ A Pessoa do Rei – 1.1–4.25
▪ A pregação do Rei – 5.1–7.29
▪ A provação do Rei – 8.1–9.38
▪O programa do Rei – 10.1–16.12
▪ A pedagogia do Rei – 16.13–20.28
▪ A proclamação do Rei – 20.29–23.39
▪ As predições do Rei – 24.1–25.46
▪ A paixão do Rei – 26.1–27.66
▪ O poder do Rei – 28.1–20

4 – Divisão em Cinco Discursos


▪ Discipulado: narrativa – cap. 3–4 e discurso cap. 5–7
▪ Apostolado: narrativa – cap. 8–9 e discurso – cap. 10
▪ Segredo Messiânico (ou ocultar a revelação): narrativa cap. 11–12 e discurso – cap. 13
▪ Administração da igreja: narrativa – cap. 14–17 e discurso cap. 18
▪ O Juízo: narrativa – cap. 19–22 e discurso cap. cap. 23–25
7
Problemas deste esboço: a) deixa subentendido que os cap. 1–2 são um prólogo e 26–28
um epílogo; b) os que defendem essa divisão acreditam que Mateus teve intenção de
estabelecer vínculo com o Pentateuco, mas isso é uma conjectura muito frágil; c) deve-se
questionar seriamente qualquer esboço que relegue a narrativa da paixão, morte e ressurreição
à condição de um simples epílogo. O mais provável é que Mateus considerasse 26–28 como o
clímax de sua narrativa.

5 – Divisão em Sete Seções a Partir dos Marcadores Literários


▪ Prólogo – 1.1–2.23
▪ O evangelho do reino – 3.1–7.29
▪ O reino expandido sob a autoridade de Jesus – 8.1–11.1
▪ O ensino e a pregação do evangelho do reino: a oposição crescente – 11.2–13.53
▪ A glória e a penumbra: polarização progressiva – 13.54–19.2
▪ Oposição e escatologia: o triunfo da graça – 19.3–26.5
▪ A paixão e a ressurreição de Jesus – 26.6–28.20
Problema deste esboço: Apresenta grandes estruturas, todas elas com inúmeras
subdivisões para conseguir alcançar todos os temas narrados, ou seja, é um esboço
extremamente complexo.

MATERIAL PECULIAR A MATEUS


Existem blocos de ensinamentos e acontecimentos só encontrados neste evangelho, ou
seja, são particularidades da narrativa de Mateus:
1 – Parábolas contidas apenas em Mateus: Há 41 parábolas nos evangelhos sinóticos,
dessas 23 estão em Mateus, e 10 delas não aparecem nos outros evangelhos sinóticos:
▪ Parábola do joio – 13.36-46
▪ Parábola do tesouro escondido – 13.34
▪ Parábola da pérola de grande valor – 13.45-46
▪ Parábola da rede de pesca – 13.47-50
▪ Parábola do servo sem misericórdia – 18.23-25
▪ Parábola dos trabalhadores na vinha – 20.1-16
▪ Parábola dos dois filhos – 21.28-32
▪ Parábola das bodas – 22.1-14
▪ Parábola das dez virgens – 25.1-13
2 – Ensinamentos Peculiares: A maior parte do Sermão do Monte (cap. 5–7), os discursos
de denúncias contra os líderes religiosos (cap. 23), várias declarações isoladas e breves
comentários bastante numerosos.
3 – Milagres registrados somente por Mateus: Presume-se que derivam da fonte M: a
cura dos dois cegos (9.27); a libertação do endemoninhado surdo-mudo (9.32) e a moeda na
boca do peixe (17.24).

8
4 – Outros acontecimentos, não miraculosos: Também derivados da fonte M:
▪ Visita dos magos do Oriente – 2.1
▪ Fuga para o Egito – 2.13-14
▪ Matança dos inocentes – 2.16
▪ A volta para Nazaré – 2.19-23
▪ Visita dos fariseus e outros a João Batista – 3.7
▪ As trinta moedas de prata – 26.15
▪ Devolução das moedas de prata – 27.3-10
▪ O sonho da esposa de Pilatos – 27.19
▪ Os santos que ressuscitaram – 27.52
▪ A guarda colocada para guardar o túmulo – 27.64-66
▪ Suborno pago aos soldados – 28.12-13
▪ O grande terremoto – 28.2

CONCLUSÃO
Mateus preserva grandes blocos de ensinos de Jesus. Sem dúvida esse foi um dos
principais motivos para este evangelho ser tão popular na igreja primitiva. A igreja estaria
grandemente empobrecida sem o Sermão do Monte, as parábolas registradas por Mateus, e
sua versão do discurso escatológico.
Mateus complementa os outros evangelhos, particularmente Lucas, ao oferecer um
relato alternativo da concepção virginal de Jesus, apresentando-a da perspectiva de José. Com
exceção dos acontecimentos da narrativa do nascimento, dos quais não há outro registro (a
visita dos magos, a fuga para o Egito) todo o relato tem fortes vínculos com o Antigo
Testamento.
Num sentido mais geral, o uso que Mateus faz do Antigo Testamento é particularmente
rico e complexo. A peculiaridade que mais salta à vista é o número de citações do Antigo
Testamento (entre 10 a 14) encontradas apenas em Mateus. A apreciação que Mateus tem
pelos vínculos entre a antiga e a nova alianças caracteriza-se por nuanças extraordinariamente
evocativas. Por exemplo, não se pode reduzir sua noção de profecia e de cumprimento a mera
predição verbal e cumprimento histórico em acontecimentos isolados. Ele emprega várias
formas de tipologia e argumentos, adotando uma leitura fundamentalmente cristológica do
Antigo Testamento. Por exemplo, as tentações de Jesus (Mt. 4.1-11) são, em certo sentido, uma
reencenação das tentações experimentadas por Israel no deserto (Êx 4.22-23) — com a
diferença de que Jesus, o Filho de Deus, é totalmente vitorioso sobre elas porque é orientado
pela Palavra de Deus.
O evangelho de Mateus serve de base não apenas quando se olha atrás para as Escrituras
da antiga aliança, mas também quando se olha adiante, para aquilo que a igreja veio a ser.

9
O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

INTRODUÇÃO
Marcos é um narrador que ressalta pouco a sua própria pessoa. Ele retrata o ministério
de Jesus dando ênfase à ação. A palavra imediatamente e outros termos semelhantes fazem a
conexão entre as cenas que vão se sucedendo. Jesus está constantemente em movimento:
curando, expulsando demônios, confrontando adversários e instruindo seus discípulos. Essa
narrativa de ritmo rápido é marcada por sete tópicos: (1) os antecedentes do ministério 1.1-13;
(2) a primeira parte do ministério na Galileia 1.16–3.6; (3) a segunda parte do ministério na
Galileia 3.13–5.43; (4) a fase final do ministério na Galileia 6.7–8.26; (5) o caminho do
sofrimento e da glória 8.27–10.52; (6) o ministério final em Jerusalém 11.1–13.37; (7) as
narrativas da paixão e do túmulo vazio – 15.1-16.8.

O AUTOR
João Marcos. Não era incomum que os judeus do século I tivessem dois nomes, um de
origem hebraica e outro de origem latina. Nada se sabe sobre a família de João Marcos, seu pai
nunca é mencionado, e por isso se pensa que sua mãe era viúva. Uma das congregações da
igreja de Jerusalém se reunia “na casa de Maria”, que não seria assim chamada caso seu esposo
fosse vivo. Alguns pensam que ele era o jovem que fugiu enrolado num lençol, e acabou
ficando nu (com as roupas de baixo), na ocasião da prisão de Jesus (Mc. 14.51), mas isso é
apenas uma suposição dos historiadores.
Pelos documentos do NT sabemos que Marcos permaneceu em Jerusalém até ser levado
para Antioquia por Barnabé e Paulo (At. 12.25). Ele os acompanhou na primeira viagem
missionária (At. 13.5), porém em Perge os deixou e retornou a Jerusalém (At. 13.13). Paulo
considerou isso um deserção e não permitiu que ele participasse da segunda viagem
missionária. Depois desse incidente, só se ouve falar de Marcos bem mais tarde, encontrando-o
em companhia de Paulo em Roma (Cl. 4.10 e Fm. 24). De igual modo Pedro se refere a ele
estando em Roma (Babilônia).
Tradições posteriores indicam João Marcos como fundador da igreja de Alexandria, de
acordo com Eusébio na sua História Eclesiástica. A mesma tradição indica que em Alexandria
ele se tornou pastor e foi martirizado.

AUTORIA DE MARCOS SOB A DIREÇÃO DE PEDRO


Visto que os títulos foram adicionados aos evangelhos bem mais tarde, no final do século
II, dependemos da tradição antiga e das evidências internas no que tange a autoria. Na igreja
primitiva, cuja tendência era associar os apóstolos à redação dos livros do NT, a autoria de João
Marcos sob supervisão de Pedro nunca foi questionada. Papias, bispo de Hierápolis (130 d.C.),
escreveu: “E o presbítero costumava dizer isto: Marcos tornou-se intérprete de Pedro e escreveu
com exatidão tudo aquilo que ele se lembrava, é verdade que não em ordem, das coisas ditas e
feitas pelo Senhor. Ele não tinha ouvido o Senhor, nem o havia seguido, mas mais tarde seguiu
10
Pedro, que costumava ministrar um ensino uniforme mas não organizado dos pronunciamentos
do Senhor, de modo que Marcos nada fez de errado ao dispor fatos isolados à medida que se
lembrava deles. De uma coisa ele cuidou: não deixar de fora nada do que ouvira e não fazer
nenhuma afirmação falsa” (Eusébio, História da Igreja 3.39.15). Essas afirmações aumentam de
importância se lembrarmos que o ‘presbítero’ que Papias citou era o apóstolo João. Outros
escritores cristãos posteriores confirmam que Marcos foi o autor deste evangelho na
dependência de Pedro: Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e Jerônimo.
Outros fatores podem apontar para o relacionamento de Pedro com este evangelho: (1)
as descrições vívidas e detalhadas que indicam o relato de uma testemunha ocular, p.ex. em
6.39 diz que a grama era verde; (2) a forma especialmente crítica como os doze discípulos eram
apresentados: covardes, espiritualmente cegos e duros de coração. Somente um apóstolo teria
autoridade para criticar tão duramente os doze; (3) Pedro aparece com destaque neste
evangelho, o que sugere que a informação está sendo atribuída a ele (11.21 e 14.72 falam de
Pedro “lembrar-se”); (4) neste texto o esquema do querigma (ensinamento central) é bem
próximo daquele apresentado por Pedro, que dá fins evangelísticos aos acontecimentos da vida
de Jesus (At. 10.16-41); (5) a referência de Pedro a Marcos como “meu filho” (IPe. 5.13)
harmoniza-se com o relacionamento entre eles mencionado por Papias.
O “Marcos” a quem Papias e os outros escritores cristãos se referiam, quase certamente
é aquele João Marcos mencionado em Atos 12.12-25; 13.5,13 e 15.37 e em quatro epístolas: Cl.
4.10; IITm. 4.11; Fm. 24 e IPe. 5.13. Nenhum outro cristão primitivo de nome Marcos teria sido
tão bem conhecido a ponto de ser desnecessário identificá-lo detalhadamente. Ele era primo
de Barnabé (Cl. 4.10) e filho de uma mulher de destaque na igreja primitiva de Jerusalém. Em
sua casa os cristãos se reuniram durante a prisão de Pedro (At. 12.12).
Marcos acompanhou Paulo e Barnabé até a Panfília (At. 13.5,13), mas por alguma razão
Paulo recusou-se a levá-lo na segunda e mais longa viagem missionária. Barnabé discordou de
Paulo e separou-se dele, levando João Marcos consigo (At. 15.36-40). Depois eles se
reconciliaram, e Paulo menciona que Marcos estava com ele em sua prisão em Roma (Cl. 4.10;
Fm. 24). Pedro, escrevendo de Roma, também menciona que Marcos estava com ele e o chama
de filho (IPe. 5.13).

DATA
Quatro datas são atribuídas a este evangelho, em diferentes décadas:
A década de 40: Os que defendem essa data sustentam que "a abominação desoladora" (13.14)
se refere à ordem de Calígula para colocarem sua imagem no templo de Jerusalém, mas a
maioria dos estudiosos contesta essa correlação por ser pouco provável. A segunda hipótese
dos que defendem essa data é que Pedro visitou Roma após sair da prisão (At. 12.17),
acompanhado por Marcos, que escreveu o evangelho nessa oportunidade. O principal
argumento contra essa data é o silêncio de Paulo e outros escritores neotestamentários caso
este evangelho já estivesse circulando tão cedo na igreja primitiva.
A década de 50: Há dados históricos que mostram que Pedro visitou Roma em meados da
década de 50, o que torna possível a escrita deste evangelho no final dessa década sem
comprometer a tradição da igreja cristã. Duas pressuposições muito bem fundamentadas – que
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Lucas escreveu Atos no início dos anos 60 e que Lucas utilizou-se do evangelho de Marcos –
pesam a favor de uma data no final da década de 50 para o evangelho de Marcos.
A década de 60: A grande maioria dos estudiosos defende uma data nos anos 60, para este
evangelho, por três principais razões: (1) a tradição indica a escrita após a morte de Pedro; (2) a
evidência interna de Marcos favorece uma data durante ou logo após o início da perseguição
em Roma; (3) Marcos 13 reflete a situação na Palestina durante a revolta judaica, logo antes
dos romanos entrarem na cidade, e isso dá a este evangelho uma data entre 67 e 69 d.C.
A década de 70: O principal argumento dos que dão a este evangelho uma data tão avançada é
o entendimento que a "abominação desoladora" (13.14), se refere ao saque e à queda de
Jerusalém em 70 d.C. Esse argumento é prejudicado pela ideia que Jesus não poderia ter
previsto com precisão aqueles acontecimentos, portanto em nada ajuda na datação deste
evangelho.
A conclusão dos eruditos modernos é uma data entre o final dos anos 50 e início dos anos
60, tendo em mente o final do livro de Atos e a primazia do evangelho de Marcos.

DESTINATÁRIOS E LUGAR DA ESCRITA


Há muitas indicações de que Marcos escreveu para leitores romanos gentios. Ele traduziu
expressões em aramaico para benefício de seus leitores (3.17; 5.41; 7.34; 14.36 e 15.34),
esclareceu expressões gregas com seus equivalentes latinos (12.42 e 15.16) e fez uso de certo
número de outros termos latinos. Ele também dá explicações dos costumes judaicos (7.3-4) e
fala do fim dos rituais da lei mosaica (7.1-23; 12.32-34). Temos ainda a menção de Rufo (15.21),
que de acordo com Romanos 16.31 vivia em Roma (a menos que os dois textos se refiram a
indivíduos diferentes de mesmo nome). Acrescente-se a presença de Marcos em Roma
(simbolicamente chamada "Babilônia"), de acordo com I Pedro 5.13. A combinação da
declaração de Papias, no sentido que Marcos foi o intérprete de Pedro, com a antiga tradição
sobre o martírio de Pedro em Roma; a indicação, no prólogo anti-marcionita que Marcos
escreveu seu evangelho na Itália, e posteriores declarações feitas por Clemente de Alexandria e
Irineu, dão um testemunho externo em prol da origem romana do evangelho de Marcos e de
ter sido endereçado a leitores romanos gentios.

O ESTILO LITERÁRIO DE MARCOS


O estilo grego do evangelho de Marcos é simples, direto e repleto de semitismos, como
era de se esperar de um judeu criado em Jerusalém. Muitos eruditos encontram uma influência
teológica paulina neste evangelho, o que se explica pela convivência por algum tempo de
Marcos com o apóstolo Paulo. O modelo do arranjo literário apresentado por Marcos não é
cronológico. Em suas linhas gerais ele seguiu as palavras chaves e a similaridade dos assuntos.
Por exemplo, Marcos 2.1–3.6 contém as seguintes narrativas: (1) a cura do paralítico e o perdão
de seus pecados, com a subsequente discussão sobre a autoridade que Jesus tem de perdoar
pecados; (2) o argumento acerca do fato que Jesus comia com publicanos, após o chamamento
de Levi (Mateus); (3) o debate por causa do jejum; (4) as críticas contra os discípulos por terem
colhido e comido espigas em dia de sábado, e a defesa dos mesmos por parte de Jesus; (5) e a

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cura de um homem de mão minada, contra as objeções dos fariseus. Marcos reuniu essas
narrativas porque tratam de um tema comum: as controvérsias de Jesus com os escribas e os
fariseus.

O EVANGELHO DA AÇÃO
Marcos é o evangelho da ação e não dos longos discursos. Em uma narrativa de
movimentos rápidos, Marcos narra as atividades de Jesus na qualidade do poderoso e
autorizado Filho de Deus, particularizando Seus milagres de curas e exorcismos. O reino de
Deus invade o reino do mal, enquanto Jesus combate as forças satânicas e demoníacas. Um
advérbio, usualmente traduzido por "imediatamente" ou "logo", ou alguma expressão
semelhante, é a palavra chave. Marcos gostava tanto de usar o termo que nem sempre ele quis
dizer "imediatamente" no sentido estrito, tendo-o usado simplesmente para transmitir a ideia
que Jesus mostrava-se constantemente atarefado, na qualidade de Servo-trabalhador.
A atividade redentora de Jesus culmina na narrativa da paixão, da morte e da ressurreição
de Jesus, à qual Marcos devota um espaço desproporcionalmente grande. A confissão de Pedro
a respeito do caráter messiânico de Jesus, em Cesaréia de Filipe (8.27-30), forma um ponto
nevrálgico nesse evangelho. Dali por diante Jesus começou a predizer Seus sofrimentos e Sua
morte, como o Filho do homem, e a narrativa se movimenta inexoravelmente para o seu fim.
Os discípulos estavam acostumados a pensar sobre o Filho do homem, auto-designação favorita
de Jesus, extraída da visão de Daniel sobre uma figura semelhante a um ser humano, que viria
em glória para julgar a humanidade (Dn. 7.13-14) como um rei, e por isso os discípulos
encontraram dificuldade para compreender e aceitar as declarações de Jesus tão diferentes.

O PROPÓSITO EVANGELIZADOR
O propósito mais provável de Marcos é evangelizar. Ele narra a história de Jesus a fim de
ganhar convertidos à fé cristã. Para consecução de seu propósito, Marcos constrói seu
evangelho de modo bastante simples. Ele começa por João Batista, o batismo de Jesus e a Sua
tentação (1.1-13), prossegue falando sobre o ministério de Jesus na Galileia e seus arredores
(1.14–9.50), continua pelo ministério de Jesus a caminho de Jerusalém, ao atravessar a
Transjordânia e a Judeia (10.1-52), e conclui com as narrativas da paixão, da morte e da
ressurreição de Jesus, as quais foram divinamente planejadas (11.1-16.8).

O SEGREDO MESSIÂNICO
Historicamente é perfeitamente compreensível por qual razão Jesus teria suprimido a
publicidade em torno do Seu caráter messiânico (1.34,44; 3.12; 5.43 etc.): (1) os judeus
concebiam erroneamente o Messias como uma personagem político-militar, excluindo, para
todas as finalidades práticas, a ideia de Sua redenção espiritual - assim Jesus referiu-se à Sua
paixão e morte em termos do Servo sofredor do Senhor, descrito em Isaías (particularmente
52.13–53.12); (2) aos judeus faltava a dimensão da deidade, no conceito que faziam sobre o
Messias - assim Jesus aludiu a Si mesmo como o super-humano Filho do homem, que viria com
os símbolos da teofania das nuvens, para estabelecer domínio sempiterno sobre o mundo,
conforme uma das visões de Daniel (7.13-14); (3) se Jesus houvesse encorajado a publicidade
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em torno de Seu papel messiânico, apesar da certeza de que esse papel seria mal entendido,
quase certamente ter-se-ia arriscado a ser imediatamente encarcerado e julgado - assim, Ele
ganhou tempo e evitou o final prematuro de Seu ministério, mediante aquela supressão de
publicidade. Não é, de forma alguma necessário ou aconselhável, pensarmos que Marcos teria
"inventado" o segredo messiânico.

A QUESTÃO DO FINAL LONGO


O final do evangelho de Marcos apresenta um problema sério. Não sabemos como
terminava esse evangelho. Alguns dos melhores manuscritos e traduções antigas terminam em
16.8. Jerônimo e Eusébio declararam que os melhores manuscritos de que dispunham não
continham esse final mais longo (9-20). Algumas palavras e expressões desse trecho não são
típicas de Marcos. Se este não é o final original do evangelho de Marcos, existem três
possibilidades aventadas pelos eruditos: (1) Marcos pretendia escrever mais, porém por alguma
razão (talvez a sua prisão ou morte) foi impedido; (2) Marcos pode ter escrito um final mais
longo que se perdeu; (3) Marcos pode ter deliberadamente terminado seu evangelho no
versículo 8. Esta última hipótese vem sendo considerada a mais provável.

CONCLUSÃO
Marcos quer que seus leitores entendam que Jesus é o Filho de Deus, mas
especificamente o Filho sofredor de Deus. Ele também mostra que os cristãos devem seguir o
mesmo caminho de Jesus – o caminho da humildade e do sofrimento, e se necessário até a
morte. Ao lembrar aos cristãos que sua salvação depende da morte e ressurreição de Cristo,
Marcos vinculou inextrincavelmente a fé cristã à realidade dos acontecimentos históricos.
A importância histórica do Evangelho Segundo Marcos também deve ser considerada. Ele
foi o primeiro a redigir um evangelho, o primeiro a apresentar um relato do ministério de Jesus
neste gênero literário específico e em grande parte sem paralelo. Além de incentivar certas
convicções e ações de seus leitores cristãos, Marcos estava lhes fornecendo um registro dos
feitos e palavras de Jesus, algo que estava se tornando necessário, porque as testemunhas
oculares, como Pedro, estavam começando a sair de cena. Nesse sentido Marcos deve ser
levado a sério como historiador do Cristianismo antigo e suas informações históricas não
devem ser desprezadas. A simplicidade de estilo e a relativa escassez de adorno teológico são
indícios que este evangelho apresenta um relato mais antigo e mais factual da vida de Jesus do
que o apresentado nos outros evangelhos.

Bibliografia:
A Bíblia Anotada (ARA), Charles Caldwell Ryrie, Editora Mundo Cristão, 1ª edição, 1991.
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, R.N. Champlin e J.M. Bentes, Editora Candeia, 1995.
Introdução ao Novo Testamento, D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris, Edições Vida Nova, 1ª
edição, 1997.
Panorama do Novo Testamento, Robert H. Gundry, Edições Vida Nova, 4ª edição, 1987.

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