Evangelho Segundo São Mateus

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 4

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS

Pe. Laersio da Silva Machado

1 INTRODUÇÃO GERAL AO EVANGELHO DE MATEUS

Data de composição do Evangelho de Mateus

O Evangelho de Mateus foi escrito provavelmente entre os anos 80 e 90 depois


de Cristo. Como podemos saber? O próprio texto nos deixa entender isso, pois narra
alguns eventos posteriores ao ano 70 dC, como, por exemplo, a destruição do Templo de
Jerusalém (cf. Mt 24,1-2.7-22: a destruição foi causada pela guerra entre judeus e romanos, da qual
os cristãos não participaram e por isso foram perseguidos pelos judeus e expulsos das sinagogas; os
romanos cercaram Jerusalém, profanaram o Templo, mataram a muitos; a esta altura o Evangelho já
havia sido anunciado nas principais partes do Império Romano – “este Evangelho do Reino será
proclamado no mundo inteiro” cf. v. 14). Há vários outros elementos do texto mateano que
nos ajudam a perceber em que época ele foi redigido, mas não convém falar sobre eles
nesta breve introdução.

Lugar em que foi escrito

A redação do Evangelho de Mateus provavelmente foi realizada na cidade de


Antioquia da Síria (ao norte de Israel, próximo da Galileia), que era a terceira principal
cidade do Império Romano, depois de Roma e Alexandria (cf. Bíblia de Jerusalém, nota de
rodapé a At 11,19). Era uma região de pagãos, mas com forte presença de judeus e que, no
início da pregação do Evangelho, tornou-se uma cidade importante para os seguidores de
Jesus: “e foi em Antioquia que os discípulos, pela primeira vez, receberam o nome de
‘cristãos’” (At 11,26).

Autoria e fontes do Evangelho de Mateus

Desde aproximadamente 130 dC (século II), com Pápias, que foi Bispo de
Hierápolis, na Frígia (hoje parte da Turquia, na Ásia Menor), a autoria deste Evangelho é
atribuída a Mateus. O historiador Eusébio de Cesaréia nos transmitiu um pequeno trecho
da obra de Pápias: “Mateus então colocou em ordem os oráculos, em língua hebraica; cada
um os interpretou como podia” (História Eclesiástica, III, 39,15-16).
Para Pápias, portanto, Mateus teria completado o trabalho de Marcos; enquanto
este, ouvindo a pregação e os relatos de Pedro, havia escrito seu Evangelho sem
preocupar-se com a ordem em que Jesus havia dito e realizado as ações, Mateus, que havia
acompanhado o Senhor, colocara tudo em ordem tal e qual havia acontecido.
A hipótese mais aceita atualmente é a de que tenha sido escrito por um judeu
convertido ao cristianismo que falava grego e conhecia também o aramaico e/ou o
hebraico (pois há muitos termos originários dessas línguas da Palestina e muitos detalhes
que mostram os costumes judaicos), profundo conhecedor das Escrituras e do jeito dos
judeus a interpretarem, mas que não testemunhou pessoalmente o ministério de Jesus,
usando material já existente para produzir o seu texto.
Esta pessoa deveria pertencer à comunidade de Antioquia e lá Mateus,
Apóstolo do Senhor, deveria ser uma figura importante. Por isso a tradição atribuiu a ele a
autoria do Evangelho.
O redator do Evangelho de Mateus utilizou como fonte principal o Evangelho
de Marcos, escrito por volta de 65-70 dC, reproduzindo cerca de 80% do material desse
Evangelho. Mateus, porém, não fez uma simples cópia: ele modificou alguns detalhes,
alterou a ordem de alguns relatos, introduziu informações novas, acrescentou material
retirado de outras fontes.
Algumas coisas narradas no Evangelho de Mateus aparecem também no de
Lucas, mas não no de Marcos. Isso levou os estudiosos a acreditarem que existia outra
fonte escrita, conhecida por Mateus e Lucas, mas não por Marcos. Essa fonte é chamada de
“Q” (em alemão quelle = fonte) e reuniria uma série de “ditos” de Jesus: ou seja, expressões
que foram faladas por Jesus e conservadas na memória das comunidades, bem como
histórias sobre os seus milagres.
Um exemplo simples: a cura do servo do centurião (Mt 8,5-13) é encontrada
também em Lucas (7,1-10), com algumas mudanças (em Mateus o centurião vai pessoalmente,
em Lucas ele manda emissários...), mas não está presente em Marcos. Este é um dos dois
únicos relatos de milagres presentes em Mateus que não estão presentes também em
Marcos. Como possuem paralelo em Lucas, supõe-se que foram retirados de uma fonte
que Marcos não conheceu.
Boa parte desses “ditos”, juntamente com outras informações que apenas o
redator de Mateus obteve, foi inserida no Evangelho de modo bem organizado, formando
um texto coerente, com boa narrativa, capaz de prender a atenção do leitor e de imprimir
nele imagens fortes sobre a ação de Jesus.

Contexto histórico e objetivos do Evangelho de Mateus

Os Atos dos Apóstolos narram o martírio de Estêvão (At 6 e 7 – ano 33 ou 36


dC) e de Tiago, irmão de João (At 12,2 – ano 44 dC?), além das perseguições aos discípulos
de Jesus e das várias prisões dos apóstolos. Na década de 60 dC também foram mortos
Pedro e Paulo (em Roma) e Tiago, o “irmão do Senhor” (em Jerusalém). Essas
perseguições fizeram com que os discípulos de Jesus se espalhassem, saindo de Jerusalém.
Logo após o martírio de Estêvão, os cristãos foram evangelizar a Síria,
chegando a Antioquia. Lá se converteram judeus da diáspora, mas também gentios
(pagãos). A comunidade se tornou muito forte, mas ainda marcada pelas tradições
judaicas. Mas com a morte de Pedro e Tiago e o início da revolta dos judeus contra os
romanos (66-70 dC: Guerra Judaica), cresceu uma antipatia dos judeus da sinagoga contra
aqueles que aceitaram Jesus como o Messias (judeu-cristãos).
Os rabinos judeus de origem farisaica, depois da destruição do Templo de
Jerusalém (70 dC), formaram uma comunidade de estudiosos das Escrituras em Jamnia (ao
sul da atual Tel-Aviv) e passaram a dedicar-se ao estudo da Lei de Moisés, centralizando
nela sua fé e sua prática, com uma rejeição do cristianismo como heresia. De outro lado, os
cristãos aprofundaram sua adesão a Jesus como o Messias, Filho de Deus.
Houve divisões na comunidade, com a formação de grupos isolados de tradição
mais fortemente judaica (os ebionitas sírios, por exemplo). Os pagãos continuaram a entrar
na comunidade cristã, chegando a ser maioria em Antioquia. Por fim, os cristãos foram
expulsos da sinagoga e houve ofensas, injúrias, perseguições (como aparece no próprio
Evangelho de Mateus em várias passagens).
Para resumirmos o panorama: o ambiente era o de uma comunidade de origem
judaica (conheciam as Sagradas Escrituras e as tradições dos judeus), com a presença de
pagãos convertidos (por isso os pagãos serão “bem tratados “ no texto de Mateus); em
meio às perseguições, surgiram crises de fé e falsa segurança (“homens de pouca fé”); o
clima era de hostilidade, desconfiança, perseguição por parte de muitos judeus (“bem-
aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem...”); a comunidade
experimentava conflitos internos a partir do mal que atuava também dentro dela (o joio e
o trigo, os escândalos, as confusões, os conflitos entre irmãos).
O Evangelho de Mateus, portanto, tem alguns objetivos claros: mostrar que
Jesus é o Filho de Deus, o Messias prometido nas Sagradas Escrituras (contra os judeus
que o negavam); fortalecer a fé da comunidade, em meio aos conflitos internos e externos;
apresentar como viver a fé cristã num mundo marcado por valores diferentes, distantes do
Reino dos Céus.
Outra característica do Evangelho de Mateus é o impulso missionário: a
resposta aos problemas é o anúncio do Reino; ir e fazer discípulos; ter coragem de
anunciar; não temer as perseguições; acreditar que as forças contrárias não vão prevalecer
sobre a comunidade da Igreja.

2 DIVISÃO DO EVANGELHO DE MATEUS

Para termos uma visão geral do Evangelho de Mateus podemos observar esta
divisão, feita pelo Pe. Raymond Edward Brown, SS (Introdução ao Novo Testamento), que o
organiza em sete unidades: introdução, cinco partes, conclusão. Essa é apenas uma
proposta, mas que nos ajuda a termos em mente o caminho da narração de Mateus.

1,1-2,23: Introdução: Origem e infância de Jesus, o Messias


1. A identidade de Jesus: quem e como (1,1-25)
2. A infância e o destino de Jesus: onde e de onde (2,1-23)

3,1-7,29: Parte primeira: Proclamação do Reino


1. Narração: ministério de João Batista, batismo de Jesus, as tentações, começo da pregação na
Galileia (3,1-4,25)
2. Discurso: Sermão da montanha (5,1-7,29)

8,1-10,42: Parte segunda: Ministério e missão na Galileia


1 Narração mesclada com breve diálogo: nove milagres de cura, a tempestade acalmada, exorcismo
(8,1-9,38)
2. Discurso: Sermão sobre a missão dos apóstolos (10,1-42)

11,1-13,52: Parte terceira: Dúvidas sobre Jesus e oposição à sua pessoa


1. Cenário narrativo para o ensino e o diálogo de Jesus e João Batista, “ais!” sobre os incrédulos, ação
de graças pela revelação, controvérsias sobre o sábado e o poder de Jesus, a sua família (11,-12,50)
2. Discurso: Sermão em parábolas (13,1-52)

13,53-18,35: Parte quarta: Cristologia e eclesiologia


1. Narração mesclada com abundante diálogo: rechaço em Nazaré, comida para os 5.000 e caminhada
sobre as águas, controvérsias com os fariseus, curas, comida para os 4.000, confissão de Pedro,
primeira predição da paixão, transfiguração, segunda predição da paixão (13,53-17,27)
2. Discurso: Sermão sobre a Igreja (18,1-35)
19,1-25,46: Parte quinta: Viagem e ministério em Jerusalém
1 Narração mesclada com abundante diálogo: ensinamentos, parábolas sobre o juízo, terceira predição
da paixão, entrada em Jerusalém, purificação do Templo, enfrentamento com as autoridades (19,1-
23,39)
2 Discurso: Sermão escatológico (24,1-25,46)

26,1-28,20: Clímax: Paixão, morte e ressurreição


1. Conspiração contra Jesus, Última Ceia (26,1-29)
2. Prisão, processos judaico e romano, crucificação, morte (26,30-27,56)
3 Sepultura, guardas no sepulcro, abertura deste, suborno dos guardas, aparições do Ressuscitado
(27,57-28,20).

3 MENSAGEM DO EVANGELHO DE MATEUS

• A origem de Jesus já ensina quem ele é (cap. 1-2)


• Jesus é o Mestre do Verdadeiro Israel: por isso Jesus faz tantos ensinamentos
• João Batista prepara o Caminho
• Jesus, depois do Batismo, começa o anúncio do Reino de Deus na Galileia, curando
enfermos e expulsando demônios, perdoando pecados
• Jesus envia seus discípulos em Missão (cap. 10)
• Explica o Mistério do Reino no Sermão em Parábolas (cap. 13)
• Jesus constitui a comunidade dos discípulos
• Reúne e alimenta o povo, sendo reconhecido como Messias (14-17)
• Ensina como deve ser a vida da comunidade (18)
• Sobe a Jerusalém, onde entra em conflito com os outros grupos religiosos (19-23)
• Faz o seu último sermão, como seu testamento: cap. 25
• A conclusão do Evangelho é o Mistério Pascal
• Jesus é o MESTRE, modelo do mestre cristão, que ensina sobre o Reino de Deus,
usando coisas novas e antigas (13,52), para ensinar o povo e fazer discípulos em
todas as nações (28,20)
• Jesus ensina a NOVA JUSTIÇA: fazer a vontade de Deus, viver conforme sua
vontade
• Jesus nos ensina a estarmos disponíveis à vontade do Pai – Mt 6,10 e 26,42

Você também pode gostar