Diálogo Com Libâneo Sobre DIDATICA

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NuTECCA IFSP Itapetininga

Diálogo com Libâneo sobre


didática
Dialogue with Libâneo about didatics

Bruno Rogério Ferreira de Morais1


Douglas Eleutério Camilo1

1
Instituto Federal de São Paulo, Itapetininga, [email protected]

Submetido em 16/06/2015
Revisado em 22/06/2015
Aprovado em 29/06/2015

Resumo: Atualmente a didática tem sido muito estudada, questionada e disseminada no campo
da educação e sendo muito importante para investigar e buscar solucionar problemas na baixa
qualidade da formação de professores. Nesse sentido pretende-se tecer um diálogo com o
professor José Carlos Libâneo, através de artigos que trabalham a relação da didática com outras
disciplinas, sua importância no desenvolvimento profissional, sua valorização em cursos de
pedagogia, seu desenvolvimento histórico-cultural.
Palavras chave: Didática. Metodologias específicas. Conteúdos específicos.

Abstract: Currently the teaching has been much studied , questioned and disseminated in
education and it is very important to investigate and seek to solve problems in the low quality of
teacher education . In this sense we intend to weave a dialogue with professor José Carlos
Libâneo through articles that work the relationship of didactics with other disciplines, its
importance in professional development, their valuation in pedagogy courses, its historical and
cultural development.
Keywords: Didactics. Specific methodologies. Specific contents.

Revista Hipótese, Itapetininga, v. 1, n. 2, p. 110-122, 2015.


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Introdução
A Educação, em suas diversas manifestações, entendida como muitos como
processo de formação humana, é fundamental para a construção de uma sociedade
crítica, política e mais justa. A escolarização é parte importante desse processo, por
isso escolas com boa estrutura e valorização docente são peças-chave para o
sucesso do ensino de uma região.
Além disso, a formação docente nos cursos de licenciatura deve ser
apropriada para prover aos alunos um compartilhamento da cultura produzida no
decorrer da história de maneira eficiente e eficaz. Assim a Didática aparece como
subsídio para fazer com que isso ocorra.
Piletti (2004), no livro Didática Geral, julga importante que o docente
reflita sobre seu fundamento, razões de seu emprego e fatores que intervêm em sua
aplicação, para não correr o risco de se tornar escravo dos instrumentos.
Dentre os estudiosos de Didática no Brasil destaca-se José Carlos Libâneo,
natural de Angatuba (SP) nascido em 1945, doutor em Filosofia e História da
Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990) e atualmente é
Professor Titular da Universidade Católica de Goiás.
O objetivo desse trabalho1 é estruturar um diálogo com Libâneo,
apresentando trechos de suas obras mais recentes, em ordem cronológica, seguidos
de comentários e inferências dos autores.

Nossos Diálogos

Texto 01: Panorama do Ensino da Didática, das Metodologias Específicas e


Disciplinas conexas, nos Cursos de Pedagogia do Estado de Goiás: Repercussões
na Qualidade da Formação Profissional.

1
Este trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Ivan Fortunato.

Revista Hipótese, Itapetininga, v. 1, n. 2, p. 110-122, 2015.


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Libâneo busca compreender a importância dada à didática nos cursos


superiores partindo de uma pesquisa realizada em 25 cursos de pedagogia do
Estado de Goiás. Entender a didática como um todo requer o conhecimento de
outras disciplinas relacionadas, com base nisso investiga também a importância
dada às metodologias específicas e as disciplinas conexas.

Desde 1980 desenvolvem-se investigações em torno do campo teórico e


prático da didática visando clarear questões epistemológicas, explicitar
sua dimensão sociocrítica, inserir novos temas em debate em outras
áreas, aproximar-se das didáticas específicas. Esse movimento orientou-
se pela superação de uma visão instrumental para uma visão sociocrítica
e, dada sua ampla difusão, seria razoável supor que ele teria influenciado
os professores de didática. No entanto, ao menos pelas ementas
analisadas, persiste o caráter instrumental (Libâneo, 2011, p. 17).

O autor fez um mapeamento da estrutura curricular das escolas de Goiás,


distribuindo em categorias, sendo que cada categoria tinha suas respectivas
disciplinas, bem como as horas (em porcentagem) de cada categoria. Foi observado
que os cursos de pedagogia tinham uma carga horária em média muito baixa na
categoria “conhecimentos referentes à formação profissional específica” (28,2%),
os quais tratavam da didática, metodologias específicas e disciplinas conexas.
Mais a fundo nesse problema, constatou-se que os cursos utilizavam uma
didática instrumental, ou seja, apresentavam ainda a ideia de Comênio (séc. XIX) de
didática universal, descrevendo procedimentos técnicos, com modelos de
planejamento e procedimentos. A estrutura curricular mostrava um caráter
fragmentário, disperso e sobrecarregado, os conteúdos foram apresentados como
fundamentos, restringindo os professores do conhecimento específico para os anos
iniciais do ensino fundamental.
Com base nesses problemas Libâneo buscou justificar suas conclusões
através de teorias, entre elas, a “teoria histórico-cultural” desenvolvida inicialmente
por Vygotsky, evidenciando a importância dos conteúdos, da didática e das
metodologias específicas.

Revista Hipótese, Itapetininga, v. 1, n. 2, p. 110-122, 2015.


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Esse estudo é destinado principalmente aos coordenadores de cursos de


pedagogia, pesquisadores, professores formadores, legisladores, enfim, todos
aqueles responsáveis pelo funcionamento do sistema de ensino. E é importante na
medida em que evidencia um dos possíveis e principais problemas da educação
brasileira, pois no ensino fundamental se encontram os pré-requisitos cognitivos
essenciais no processo de aprendizagem.

Texto 02: Ensinar e Aprender, Aprender e Ensinar: O Lugar da Teoria e da Prática


em Didática

Libâneo explica a diferença entre pedagogia e didática historicamente:

A pedagogia é vista como área de conhecimento que tem por objeto as


práticas educativas em suas várias modalidades incidentes na prática
social, investigando a natureza do fenômeno educativo, os conteúdos e
os métodos da educação, os procedimentos investigativos. Ela se refere
não apenas ao “como se faz”, mas, principalmente, ao “por que se faz”,
de modo a orientar o trabalho educativo para as finalidades sociais e
políticas almejadas pelo grupo de educadores. Por sua vez, a didática
realiza objetivos e modos de intervenção pedagógicos em situações
específicas de ensino e aprendizagem. Pedagogia e didática formam uma
unidade, se correspondem, mas não são idênticas, pois, se é fato que
todo trabalho didático é trabalho pedagógico, nem todo trabalho
pedagógico é trabalho didático, já que há uma grande variedade de
práticas educativas além da escola (Libâneo, 2012, p. 4).

A diferença entre pedagogia e didática foi muito questionada desde o século


XIX com Comênio, e muitas definições foram inventadas para tentar entender qual
era o papel de cada uma. Na França em 1960 foi chamada de “ciência da
educação”, o que colocou em segundo plano a autonomia da pedagogia. Outros
defendiam a ideia de que as duas tratavam de diferentes dimensões da docência,
que não se relacionavam. Para Jean Houssaye pedagogia e didática eram a mesma
coisa. No Brasil, por influência estrangeira, segue todas essas ideias, não é à toa que
as instituições divergem tanto no que se entende por didática.

Revista Hipótese, Itapetininga, v. 1, n. 2, p. 110-122, 2015.


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Libâneo, com seus estudos, propôs essa definição de pedagogia e didática; a


pedagogia é vista como uma reflexão da atividade educativa, tendo como objeto de
estudo a educação buscando preparar o solo para se pensar nas disciplinas de
acordo com a realidade da instituição, a pedagogia forma modalidades de educação;
enquanto a pedagogia estuda a educação de forma geral, a didática estuda situações
específicas de ensino-aprendizagem, buscando, por exemplo, resolver um problema
de aprendizagem de um aluno em determinada disciplina.

Texto 03: Didática como campo investigativo e disciplinar e seu lugar na formação
de professores

Investigando a situação da didática, das metodologias específicas e


disciplinas de conteúdos específicos do ensino fundamental, em 25 instituições de
ensino superior do estado de Goiás que mantêm 41 cursos de pedagogia:

Analisando os dados em relação à didática, verificou-se que a proporção


de horas/aula destinada ao bloco “formação profissional especifica”
corresponde a 28,2 (em média), ou seja, um terço da carga horária total
dos cursos. Observa-se que o bloco “fundamentos teóricos” tem em
média 18,4% da carga horária total e o bloco “conhecimentos referentes
ao sistema educacional” 12,5% em média. Sobre as ementas de didática
(ou denominação conexa), a análise do conteúdo mostra que ao menos
70% delas expressam uma didática instrumental, no sentido de descrever
conhecimentos técnicos, mormente modelos de planejamento e de
procedimentos (regras de execução, técnicas) (Libâneo, 2013, p. 14).

Apesar de não representar todos os cursos do estado, foi uma amostragem


significativa e permite ter a noção de como se estrutura os cursos de pedagogia,
cuja análise não foi das mais positivas, pois não há segundo o autor, uma harmonia
entre as disciplinas de fundamentos e de prática, ou seja, a primeira não subsidia a
segunda, não dando importância em o que e como ensinar. Além disso, segundo os
resultados, as ementas apresentam em sua maioria didática instrumental,
procedimentos e técnicas, com pouco espaço para a reflexão da prática e do dia-a-
dia do professor em sala de aula, o que não poderia estar acontecendo pelo ano em

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Introdução
A Educação, em suas diversas manifestações, entendida como muitos como
processo de formação humana, é fundamental para a construção de uma sociedade
crítica, política e mais justa. A escolarização é parte importante desse processo, por
isso escolas com boa estrutura e valorização docente são peças-chave para o
sucesso do ensino de uma região.
Além disso, a formação docente nos cursos de licenciatura deve ser
apropriada para prover aos alunos um compartilhamento da cultura produzida no
decorrer da história de maneira eficiente e eficaz. Assim a Didática aparece como
subsídio para fazer com que isso ocorra.
Piletti (2004), no livro Didática Geral, julga importante que o docente
reflita sobre seu fundamento, razões de seu emprego e fatores que intervêm em sua
aplicação, para não correr o risco de se tornar escravo dos instrumentos.
Dentre os estudiosos de Didática no Brasil destaca-se José Carlos Libâneo,
natural de Angatuba (SP) nascido em 1945, doutor em Filosofia e História da
Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990) e atualmente é
Professor Titular da Universidade Católica de Goiás.
O objetivo desse trabalho1 é estruturar um diálogo com Libâneo,
apresentando trechos de suas obras mais recentes, em ordem cronológica, seguidos
de comentários e inferências dos autores.

Nossos Diálogos

Texto 01: Panorama do Ensino da Didática, das Metodologias Específicas e


Disciplinas conexas, nos Cursos de Pedagogia do Estado de Goiás: Repercussões
na Qualidade da Formação Profissional.

1
Este trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Ivan Fortunato.

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Libâneo busca compreender a importância dada à didática nos cursos


superiores partindo de uma pesquisa realizada em 25 cursos de pedagogia do
Estado de Goiás. Entender a didática como um todo requer o conhecimento de
outras disciplinas relacionadas, com base nisso investiga também a importância
dada às metodologias específicas e as disciplinas conexas.

Desde 1980 desenvolvem-se investigações em torno do campo teórico e


prático da didática visando clarear questões epistemológicas, explicitar
sua dimensão sociocrítica, inserir novos temas em debate em outras
áreas, aproximar-se das didáticas específicas. Esse movimento orientou-
se pela superação de uma visão instrumental para uma visão sociocrítica
e, dada sua ampla difusão, seria razoável supor que ele teria influenciado
os professores de didática. No entanto, ao menos pelas ementas
analisadas, persiste o caráter instrumental (Libâneo, 2011, p. 17).

O autor fez um mapeamento da estrutura curricular das escolas de Goiás,


distribuindo em categorias, sendo que cada categoria tinha suas respectivas
disciplinas, bem como as horas (em porcentagem) de cada categoria. Foi observado
que os cursos de pedagogia tinham uma carga horária em média muito baixa na
categoria “conhecimentos referentes à formação profissional específica” (28,2%),
os quais tratavam da didática, metodologias específicas e disciplinas conexas.
Mais a fundo nesse problema, constatou-se que os cursos utilizavam uma
didática instrumental, ou seja, apresentavam ainda a ideia de Comênio (séc. XIX) de
didática universal, descrevendo procedimentos técnicos, com modelos de
planejamento e procedimentos. A estrutura curricular mostrava um caráter
fragmentário, disperso e sobrecarregado, os conteúdos foram apresentados como
fundamentos, restringindo os professores do conhecimento específico para os anos
iniciais do ensino fundamental.
Com base nesses problemas Libâneo buscou justificar suas conclusões
através de teorias, entre elas, a “teoria histórico-cultural” desenvolvida inicialmente
por Vygotsky, evidenciando a importância dos conteúdos, da didática e das
metodologias específicas.

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Esse estudo é destinado principalmente aos coordenadores de cursos de


pedagogia, pesquisadores, professores formadores, legisladores, enfim, todos
aqueles responsáveis pelo funcionamento do sistema de ensino. E é importante na
medida em que evidencia um dos possíveis e principais problemas da educação
brasileira, pois no ensino fundamental se encontram os pré-requisitos cognitivos
essenciais no processo de aprendizagem.

Texto 02: Ensinar e Aprender, Aprender e Ensinar: O Lugar da Teoria e da Prática


em Didática

Libâneo explica a diferença entre pedagogia e didática historicamente:

A pedagogia é vista como área de conhecimento que tem por objeto as


práticas educativas em suas várias modalidades incidentes na prática
social, investigando a natureza do fenômeno educativo, os conteúdos e
os métodos da educação, os procedimentos investigativos. Ela se refere
não apenas ao “como se faz”, mas, principalmente, ao “por que se faz”,
de modo a orientar o trabalho educativo para as finalidades sociais e
políticas almejadas pelo grupo de educadores. Por sua vez, a didática
realiza objetivos e modos de intervenção pedagógicos em situações
específicas de ensino e aprendizagem. Pedagogia e didática formam uma
unidade, se correspondem, mas não são idênticas, pois, se é fato que
todo trabalho didático é trabalho pedagógico, nem todo trabalho
pedagógico é trabalho didático, já que há uma grande variedade de
práticas educativas além da escola (Libâneo, 2012, p. 4).

A diferença entre pedagogia e didática foi muito questionada desde o século


XIX com Comênio, e muitas definições foram inventadas para tentar entender qual
era o papel de cada uma. Na França em 1960 foi chamada de “ciência da
educação”, o que colocou em segundo plano a autonomia da pedagogia. Outros
defendiam a ideia de que as duas tratavam de diferentes dimensões da docência,
que não se relacionavam. Para Jean Houssaye pedagogia e didática eram a mesma
coisa. No Brasil, por influência estrangeira, segue todas essas ideias, não é à toa que
as instituições divergem tanto no que se entende por didática.

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Libâneo, com seus estudos, propôs essa definição de pedagogia e didática; a


pedagogia é vista como uma reflexão da atividade educativa, tendo como objeto de
estudo a educação buscando preparar o solo para se pensar nas disciplinas de
acordo com a realidade da instituição, a pedagogia forma modalidades de educação;
enquanto a pedagogia estuda a educação de forma geral, a didática estuda situações
específicas de ensino-aprendizagem, buscando, por exemplo, resolver um problema
de aprendizagem de um aluno em determinada disciplina.

Texto 03: Didática como campo investigativo e disciplinar e seu lugar na formação
de professores

Investigando a situação da didática, das metodologias específicas e


disciplinas de conteúdos específicos do ensino fundamental, em 25 instituições de
ensino superior do estado de Goiás que mantêm 41 cursos de pedagogia:

Analisando os dados em relação à didática, verificou-se que a proporção


de horas/aula destinada ao bloco “formação profissional especifica”
corresponde a 28,2 (em média), ou seja, um terço da carga horária total
dos cursos. Observa-se que o bloco “fundamentos teóricos” tem em
média 18,4% da carga horária total e o bloco “conhecimentos referentes
ao sistema educacional” 12,5% em média. Sobre as ementas de didática
(ou denominação conexa), a análise do conteúdo mostra que ao menos
70% delas expressam uma didática instrumental, no sentido de descrever
conhecimentos técnicos, mormente modelos de planejamento e de
procedimentos (regras de execução, técnicas) (Libâneo, 2013, p. 14).

Apesar de não representar todos os cursos do estado, foi uma amostragem


significativa e permite ter a noção de como se estrutura os cursos de pedagogia,
cuja análise não foi das mais positivas, pois não há segundo o autor, uma harmonia
entre as disciplinas de fundamentos e de prática, ou seja, a primeira não subsidia a
segunda, não dando importância em o que e como ensinar. Além disso, segundo os
resultados, as ementas apresentam em sua maioria didática instrumental,
procedimentos e técnicas, com pouco espaço para a reflexão da prática e do dia-a-
dia do professor em sala de aula, o que não poderia estar acontecendo pelo ano em

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Libâneo, com seus estudos, propôs essa definição de pedagogia e didática; a


pedagogia é vista como uma reflexão da atividade educativa, tendo como objeto de
estudo a educação buscando preparar o solo para se pensar nas disciplinas de
acordo com a realidade da instituição, a pedagogia forma modalidades de educação;
enquanto a pedagogia estuda a educação de forma geral, a didática estuda situações
específicas de ensino-aprendizagem, buscando, por exemplo, resolver um problema
de aprendizagem de um aluno em determinada disciplina.

Texto 03: Didática como campo investigativo e disciplinar e seu lugar na formação
de professores

Investigando a situação da didática, das metodologias específicas e


disciplinas de conteúdos específicos do ensino fundamental, em 25 instituições de
ensino superior do estado de Goiás que mantêm 41 cursos de pedagogia:

Analisando os dados em relação à didática, verificou-se que a proporção


de horas/aula destinada ao bloco “formação profissional especifica”
corresponde a 28,2 (em média), ou seja, um terço da carga horária total
dos cursos. Observa-se que o bloco “fundamentos teóricos” tem em
média 18,4% da carga horária total e o bloco “conhecimentos referentes
ao sistema educacional” 12,5% em média. Sobre as ementas de didática
(ou denominação conexa), a análise do conteúdo mostra que ao menos
70% delas expressam uma didática instrumental, no sentido de descrever
conhecimentos técnicos, mormente modelos de planejamento e de
procedimentos (regras de execução, técnicas) (Libâneo, 2013, p. 14).

Apesar de não representar todos os cursos do estado, foi uma amostragem


significativa e permite ter a noção de como se estrutura os cursos de pedagogia,
cuja análise não foi das mais positivas, pois não há segundo o autor, uma harmonia
entre as disciplinas de fundamentos e de prática, ou seja, a primeira não subsidia a
segunda, não dando importância em o que e como ensinar. Além disso, segundo os
resultados, as ementas apresentam em sua maioria didática instrumental,
procedimentos e técnicas, com pouco espaço para a reflexão da prática e do dia-a-
dia do professor em sala de aula, o que não poderia estar acontecendo pelo ano em

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que isso foi analisado, evidenciando falhas na formação dos novos docentes, ainda
com visão tradicional.
Neste texto também se propõe a apresentar e comentar a trajetória do
campo investigativo e disciplinar da didática e o seu lugar nos cursos de formação
de professores, com uma sucinta revisão histórica a respeito dos objetos de
investigação da Didática, desde Comênio, passando por Herbart, anos 1980 (teoria
curricular crítica), desafios nos anos 1990 (aproximação com a realidade de ensino e
salas de aula). Sobre o objeto de estudo, coloca que a didática tem como
especificidade epistemológica o processo instrucional que orienta e assegura a
unidade entre o aprender e o ensinar na relação com um saber, em situações
contextualizadas, nas quais o aluno é orientado em sua atividade de aprendizagem
para apropriação dos produtos da experiência humana na cultura e na ciência,
visando o desenvolvimento humano (mediação didática).

Texto 04: As políticas de formação de professores, o conhecimento profissional e


aproximações entre didática e currículo

Neste texto Libâneo defende a seguinte posição sobre a escola pública:

Contrariamente às orientações dos organismos internacionais,


compartilho o entendimento de que a escola pública não pode ser
reduzida a um lugar de provimento de habilidades instrumentais para
empregabilidade precária nem meramente de acolhimento e integração
social dos pobres. A escola com qualidade educativa deve ser aquela que
assegura as condições para que todos os alunos se apropriem dos saberes
produzidos historicamente e, através deles, possam desenvolver-se
cognitivamente, afetivamente, moralmente (Libâneo, 2014, p. 7).

Esse trabalho aborda, em conjunto com pesquisadores portugueses em


educação, as intervenções no sistema educacional feitas por organismos
multilaterais como Banco Mundial e Unesco, que objetivam apenas uma formação
mínima necessária para ingresso no mercado de trabalho e convivência coletiva,
condições para manter um mercado consumidor subordinado ao capitalismo

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global. Fruto disso são as avaliações externas padronizadas, que não leva em
consideração o contexto sociocultural onde a escola está inserida, como o Pisa
(internacional, no qual o Brasil ocupa uma colocação baixa) e ENEM (nacional) e
Saresp (estadual – São Paulo). Também critica uma escola que apenas supre
carências sociais e econômicas dos alunos como merenda e material, o fim principal
da escola é a apropriação de saberes acumulados pela humanidade para assim
assumirem uma postura crítica e reflexiva na sociedade.
Sintetizando: as didáticas originam-se de disciplinas científicas e suas
respectivas estruturas e lógicas; enfatizam “os modos de operacionalização e
apropriação/construção de um saber”, ocupam-se de um campo “de uma área do
currículo”, já o currículo constitui-se a partir da teorização em torno do aluno e da
sociedade e como devem ser contemplados pela escola e o currículo; enfatiza a sua
finalização em termos de objetivos datados e socialmente construídos e negociados;
considerando o todo e as interações entre as partes face ao fim visado.

Texto 05: Didática e docência: formação e trabalho de professores da educação


básica

O autor define didática segundo a teoria histórico-cultural:

Com base nessa formulação teórica, se conclui que a didática se define


como um campo científico interdisciplinar cujo objeto é o ensino
orientado para a aprendizagem e cujo propósito é prover a organização
adequada da atividade de ensino e aprendizagem com vistas ao
desenvolvimento de capacidades intelectuais e formação da
personalidade integral dos alunos. Em sua natureza, a didática oferece as
condições e os modos de mediação da relação dos alunos com os objetos
de conhecimento, com vistas à apropriação e internalização da
experiência social e histórica da humanidade expressa nos conteúdos
científicos e artísticos (Libâneo, 2014, p. 10).

Razões para a produção desse texto: desafios postos pela escola pública
brasileira, como as dificuldades dos educadores em se acertarem em relação a
objetivos, funções e formas de funcionamento das escolas, trazendo prejuízos às

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ações de ensino-aprendizagem. O texto apresenta ideias sobre os conceitos


fundantes da didática e sua aplicação pelos professores, situando-os nos embates
correntes no campo teórico da educação e tem como pressuposto que a didática
está no centro da formação profissional de professores como disciplina pedagógica,
campo de investigação e de exercício profissional. A didática é um campo
disciplinar e investigativo ainda bastante questionado no campo da educação, mas,
também, visivelmente em expansão.
Dentre as teorias de aprendizagem, a histórico-cultural se destaca, e fica
claro a importância da didática como disciplina independente, mas que se relaciona
com outras ciências humanas, ela que entra no processo de mediação entre o
conteúdo de um conhecimento (artístico ou científico) e o aluno que irá interiorizá-
lo, dentro de situações socioculturais concretas (o meio interfere). No entanto, não
é o que se observa e, às vezes, o novo professor sabe disso e não consegue
implementar esse modelo devido às condições como sala lotada, pouco tempo de
aula, pressão para passar conteúdo solicitado pelo estado, ficando então do modo
tradicional de copiar da lousa, preencher a apostila e decorar para a prova, sem a
devida contextualização e sem também respeitar o tempo de aprendizagem de cada
aluno.

Texto 06: Didática e práticas de ensino e a abordagem da diversidade sociocultural


na escola

Em resposta à pergunta “para que servem as escolas?”, escreve:

Evidentemente não se deseja o retorno a práticas que caracterizam a


escola monocultural, de memorização de informações, das tarefas pouco
estimuladoras da atividade mental, o ensino individualista, a avaliação
homogeneizadora. A aposta é numa proposta pedagógica que propicie
instrumentos conceituais aos alunos e promova mudanças qualitativas no
seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos alunos e, ao mesmo
tempo, articule os conceitos científicos aos conceitos que trazem do
meio local e da vida cotidiana. É nessa perspectiva que a didática e as
didáticas disciplinares ganham seu sentido como ciência profissional do
professor (Libâneo, 2014, p. 7).

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Apesar dessa descrição apresentada pelo autor persistir ainda nas escolas, a
mudança para uma melhor proposta pedagógica já começou, se não de nada teria
impactado as publicações acadêmicas importantes nos últimos anos. Mesmo que
falhas nas grades dos cursos de licenciaturas sejam evidenciadas, os novos docentes
entram em sala de aula cientes e preocupados com a formação recebida pelos
alunos, não apenas cognitiva, mas afetiva e moral, para que além de preparados
para enfrentar um mercado de trabalho exigente, também saibam se portar diante
dos problemas sociais ao seu redor, e seja capaz de associar o que viram na escola
para solucioná-los, e assim contribuir para a construção de uma sociedade cada vez
mais justa. Isso usando como exemplo a rede federal de educação que está em
expansão no país, que possui cursos de licenciaturas de qualidade, quanto aos
privados e à distância, outros estudos devem ser elaborados.
Sobre a globalização, dentro de interesses mercadológicos em nome do
desenvolvimento econômico, os organismos multilaterais influenciam reformas
educativas e, no caso dos países emergentes, políticas de proteção social à pobreza
e de reconhecimento da diversidade social, de modo a tornar os pobres mais
produtivos. O texto também apresenta uma posição sobre as funções sociais e
pedagógicas da escola (a aprendizagem escolar deve ser um fator de ampliação das
capacidades dos alunos de promover mudanças, tanto em si como nas condições
objetivas em que vivem, apoiando-se na ética da justiça social) e uma didática para
o desenvolvimento humano articulada com a diversidade sociocultural (os
conceitos cotidianos formados nas vivências das práticas socioculturais e
institucionais que crianças e jovens compartilham na família, na comunidade e nas
várias instâncias da vida cotidiana são, também, determinantes na formação de
competências, na apropriação do conhecimento e na identidade pessoal, sendo que
elas são caracterizadas na escola tanto como contexto da aprendizagem quanto
como conteúdo).

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Texto 07: Formação de Professores e Didática para o Desenvolvimento Humano

Na tentativa de resolver o problema da dissociação entre conhecimento


disciplinar e conhecimento pedagógico, escreve:
A teoria do ensino para o desenvolvimento possibilita [...] tem como
pressuposto que a função preponderante da escola é a de assegurar os
meios para os alunos se apropriarem dos conhecimentos e, assim,
formarem um método teórico-conceitual de pensar e atuar. Esse método
consiste da interiorização de operações mentais e se forma por meio de
conceitos adequados em relação aos objetos de estudo que, enquanto
modos de operação mental, são formados com base nos processos
lógicos e investigativos das ciências. O processo de apropriação dos
conhecimentos na forma de conceitos requer dos alunos mudanças no
desenvolvimento psíquico, propiciando-lhes novas capacidades
intelectuais para apropriação de conhecimentos de nível mais complexo.
Nessa concepção, o conhecimento pedagógico do professor é condição
necessária para ajudar o aluno a mobilizar suas capacidades intelectuais
para a apropriação dos conceitos. O professor deve não só dominar o
conteúdo mas, especialmente, os métodos e procedimentos
investigativos da ciência ensinada. Portanto, o conhecimento disciplinar
e o conhecimento pedagógico estão mutuamente integrados (Libâneo,
2015, p. 13).

Libâneo discute o problema da dissociação entre conhecimento disciplinar


e pedagógico, e a partir disso sugere a teoria de Davídov (teoria do ensino para o
desenvolvimento humano). Esse problema persiste muito até hoje, pela influencia
tradicional muito forte que se mantém na estrutura política, sociológica,
sociocultural e institucional. As instituições têm dificuldades de associar os
conteúdos específicos com os pedagógicos na formação de professores e nos
currículos.
Essa dicotomia se mostra na história e na legislação. Em 1938 se atribuiu
aos Instituídos de ensino básico o ensino dos conteúdos específicos, e para a
Faculdade de Educação os estudos pedagógicos. Em 1968 com a reforma da Lei
5540/68, ainda se persistiu o problema, na medida que instituiu a formação de
professores “especialistas em educação” os que continuassem na Faculdade de
Filosofia ou através de trabalhos com institutos ou faculdades. Há ainda hoje o
modelo 3+1 composto por três anos com disciplinas relacionadas ao bacharelado e

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um ano com disciplinas pedagógicas da licenciatura, que tenta corrigir essa barreira
entre o problema citado.
A “teoria do ensino para o desenvolvimento humano” de Davidov oferece
a ideia de conhecimento pedagógico do conteúdo como efetivação da articulação
entre conhecimento especifico e conhecimento pedagógico.
Na formação de professores é necessário estudar os procedimentos lógicos
e investigativos que deram origem ao conhecimento cientifico, pois esses
procedimentos são equivalentes às operações mentais que levam ao conceito
teórico de um objeto de estudo. A atividade do ensino, portanto, não é
necessariamente o conhecimento, mas o processo mental do conhecimento, isso
que desenvolve as capacidades e habilidades intelectuais. Desse modo, para se
aprender os conteúdos científicos, é necessário entender o processo que deu sua
origem e seu desenvolvimento até sua constituição como objeto de conhecimento,
e não vomitar conteúdos formalmente, acabados. E de que forma aplicar isso em
aula? Elaborando situações problemas em que os alunos reproduzam os
procedimentos investigativos que levaram a constituição da ciência, isso permitiria a
formação de habilidades intelectuais semelhantes àqueles procedimentos.
Nesse caso, é função da didática organizar pedagógico-didaticamente “[...]
os conteúdos em associação com sua análise epistemológica, ou seja, a análise do
objeto da ciência ensinada, seus métodos de investigação e os resultados da
investigação, junto com a análise psicopedagógica das condições de ensino-
aprendizagem” (LIBÂNEO, 2015, p. 20).

Considerações Finais
Nos textos do Libâneo estudados, referente à didática, notamos que
basicamente ele busca uma estrutura de contexto histórico, enfatiza e discute os
problemas diagnosticados, teorias que explicam o determinado estudo e concluí
com a teoria mais plausível, desenvolvendo, criticando e argumentando. As teorias

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de referência para Libâneo, nesses textos, são a teoria do ensino para o


desenvolvimento humano de Davídov e a teoria histórico-cultural de Vygotsky.
É preocupante como os cursos de pedagogia, pesquisados no Estado de
Goiás, estavam defasados no que diz respeito à estrutura curricular para a formação
de professores que irão atuar no ensino fundamental. A valorização da didática, das
metodologias específicas e dos conteúdos específicos é muito parco visto que nesse
ciclo, do ensino fundamental, é onde o aluno está em pleno desenvolvimento, onde
o professor necessita trabalhar de forma epistemológica, metodológica, os
conteúdos específicos, relacionando a experiência cotidiana com os conhecimentos
científicos, entendendo os processos didáticos que podem ser desenvolvidos de
acordo com cada disciplina e situação sociocultural, pois são esses os professores
agentes centrais para a melhoria da qualidade do ensino e consequentemente do
ciclo seguinte da vida do aluno.
Mas não são apenas os cursos de pedagogia que deixaram a desejar nos
conteúdos específicos, mas as licenciaturas específicas também acreditam que os
conteúdos pedagógicos não são tão importantes quanto os específicos. Nesse
sentido é importante rever as estruturas curriculares dos cursos de licenciatura em
geral para que haja a sobreposição de ambos (conteúdos específicos e pedagógicos)
numa aula, através da didática, do estudo epistemológico, do desenvolvimento
histórico da ciência ensinada.
Vale destacar que o autor é do lado que defende a didática como o objeto
de estudo e importante na formação docente, colocando estacomo o processo que
faz a ponte entre o sujeito ou aluno e o conhecimento a ser adquirido, em situações
contextualizadas, orientado em sua atividade de aprendizagem para apropriação dos
produtos artísticos ou científicos, visando o desenvolvimento humano (cognitivo,
afetivo e moral).
Para finalizar, o que se pode tirar dos textos de Libâneo é sua crítica à
escola de mero acolhimento social e preparação para o mercado, como sugerem
organismos multilaterais, além de avaliações padrão que não permitem cada escola

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se adequar ao contexto que estão. Outro ponto é sua defesa à didática como já
mencionado e a influência que tem da teoria histórico-cultural para explicar o
processo de ensino-aprendizagem.

Referências

LIBÂNEO, José C. As políticas de formação de professores, o conhecimento profissional e


aproximações entre didática e currículo. 2014.

LIBÂNEO, José C.. Didática como campo investigativo e disciplinar e seu lugar na formaçao de
professores. In: Maria Rita N.S., Oliveira, José Augusto Pacheco. (Org.). Currículo, didática e
formação de professores. 1ed.Campinas (SP): Papirus, 2013, v. 1, p. 7-207.

LIBÂNEO, José C. Didática e docência: formação e trabalho de professores da educação básica.


In: CRUZ, G.B.; OLIVEIRA, A.T.C.C.; NASCIMENTO, N.G.C.A.; NOGUEIRA, M.A.;
(Org.). Ensino de didática: entre recorrentes e urgentes questões. 1ed.Rio de Janeiro: Editora
Quartet, 2014, v. 1, p. 4-200.

LIBÂNEO, José C. Didática e práticas de ensino e a abordagem da diversidade sociocultural na


escola. In: XVII ENDIPE, Fortaleza (CE), mesa redonda novembro 2014

LIBÂNEO, José C.Ensinar e aprender, aprender e ensinar: o lugar da teoria e da prática em


didática. In: Libâneo, José C.; Alves, Nilda. (Org.). Temas de pedagogia: diálogo entre curriculo
e didática. 1ed.São Paulo: Cortez, 2012, v. 1, p. 35-60.

LIBÂNEO, José C.Formação de Professores e Didática para Desenvolvimento Humano.


Educação e Realidade, v. 40, p. 629-650, 2015.

LIBÂNEO, José C. Panorama do ensino da didática, das metodologias específicas e das


disciplinas conexas nos cursos de pedagogia: repercussões na qualidade da formação profissional.
In: LONGAREZI, Andrea M.; PUENTES, Roberto V.. (Org.). Panorama da didática: ensino,
prática e pesquisa. 1ed.Campinas (SP): Papirus, 2011, v. 1, p. 11-50.

PILETTI, Claudino. Didática geral. 23.ed. SÃO PAULO: Ática, 2004. 264 pp.

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